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Introdução à Geotecnia
Goiânia
Maio/2019
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 3
1.1 OBJETIVOS 4
2 INFORMAÇÕES GERAIS 4
2.1 DEFINIÇÃO DE UMA BARRAGEM DE TERRA 4
2.2 PRINCIPAIS ELEMENTOS DE UMA BARRAGEM DE TERRA 5
2.3 TIPOS DE BARRAGENS DE TERRA 6
2.3.1 BARRAGEM DE TERRA HOMOGÊNEA 6
2.3.2 BARRAGEM DE TERRA ZONEADA 6
2.3.3 BARRAGENS DE ATERRO HIDRÁULICO 7
2.3.4 BARRAGEM DE ENROCAMENTO 7
2.3.4.1 BARRAGEM DE ENROCAMENTO COM NÚCLEO ARGILOSO 8
2.3.4.2 BARRAGEM DE ENROCAMENTO COM NÚCLEO ASFÁLTICO 8
2.4 ESCOLHA DO LOCAL PARA A IMPLANTAÇÃO 9
3 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS 9
3.1 INVESTIGAÇÕES DAS FUNDAÇÕES 9
3.2 INVESTIGAÇÕES DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 11
3.3 ELEMENTOS DE VEDAÇÃO E DRENAGEM 13
4 CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM 15
4.1 TIPOS DE EQUIPAMENTOS 15
4.2 MÉTODOS CONSTRUTIVOS 17
4.2.1 LIMPEZA E PREPARO DO TERRENO 17
4.2.2 CONSTRUÇÃO DO ATERRO 17
4.2.2.1 NÚCLEO E TRINCHEIRA DE VEDAÇÃO 17
4.2.2.2 ATERRO 18
4.2.2.3 DESVIO DO RIO 20
5 ANÁLISE DE SEGURANÇA E IMPACTOS AMBIENTAIS 20
5.1 GESTÃO DE RISCOS 21
5.2 IMPACTOS AMBIENTAIS 21
6 ESTUDO DE CASO - BARRAGEM DE FUNDÃO, MARIANA-MG 22
6.1 CIRCUNSCRIÇÃO DO PROBLEMA 22
6.2 ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DOS FENÔMENOS PRESENTES 25
6.3 FORMULAÇÃO DE SOLUÇÕES 26
6.4 ACOMPANHAMENTO DA IMPLANTAÇÃO 28
6.5 MONITORAMENTO DO DESEMPENHO 29
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 31
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34
1 INTRODUÇÃO
As barragens de terra são estruturas de barreiras artificiais que o homem utiliza desde o início
das civilizações. Foram elas as responsáveis pelo armazenamento de água que mantinham as
plantações, fato fundamental para evolução da sociedade de nômade para sedentária. No
Brasil, apesar de mais tarde, essa técnica também foi fundamental para agricultura e, hoje,
com os avanços tecnológicos, as barragens de terra possuem muitos outros objetivos, como
aproveitamento hidrelétrico, regularização de cursos d’água, abastecimento industrial e
controle de inundações.
1.1 OBJETIVOS
Os objetivos específicos deste trabalho são:
2 INFORMAÇÕES GERAIS
2.1 DEFINIÇÃO DE UMA BARRAGEM DE TERRA
As barragens de terra são as mais comuns no mundo devido sua simplicidade, por permitirem
fundações menos resistentes e por serem mais adequadas para áreas onde os movimentos do
solo são comuns. Elas consistem em grandes estruturas constituídas de materiais naturais
como argila, areia e silte ou de materiais processados como britas e rochas disponibilizados
em áreas de empréstimos próximo ao local a obra.
Seu formato trapezoidal, de base larga, contribui para distribuir as cargas nas fundações,
aumentando a estabilidade, e a presença de um sistema de drenagem interna contribui para
evitar a erosão interna ou a ruptura por cisalhamento. A escolha do tipo de barragem a ser
construída em determinado local é influenciada pela topografia, materiais disponíveis nas
proximidades e condições ambientais e climáticas.
Dessa forma, segundo Cruz (2004), a arte de projetar barragens parece ser a arte de controlar
o fluxo de água através do corpo e da fundação da barragem, evitando que o solo seja
carregado pela água. Por isso, requer todo um cuidado, planejamento e conhecimento da
mecânica dos materiais antes de sua implementação, uma vez que acidentes em barragens
podem causar danos ambientais e perdas de vidas humanas.
A crista é localizada no topo da barragem (acima da borda livre) e sua principal função é
evitar a erosão do talude de jusante. Além disso, ela evita o empoçamento, contribui com a
estabilidade da estrutura e permite o acesso humano à barragem.
Denomina-se borda livre a distância vertical entre a superfície livre do fluido que ocupa a
barragem e a crista. Sua incumbência é impedir o transbordamento do fluido em caso de
ventos fortes.
Devido a estarem sob constante exposição à águas pluviais e ainda, no caso da montante, ao
contato ininterrupto com o fluido, os taludes precisam de elementos que reforcem suas
estabilidades. Para isso existe o rip-rap (protege a montante através de um conjunto de pedras
localizados da crosta até um metro abaixo do nível operacional da barragem) e também por
isso a estrutura do talude de jusante descontínua, tendo ainda em sua superfície externa a
presença de vegetação rasteira.
O núcleo aparece como o que diferencia zonas de materiais com propriedades distintas na
barragens não-homogêneas. Nesse caso, nas partes mais externas ficam cascalhos e solos
arenosos (já que esses compostos apresentam maior resistência ao cisalhamento, garantindo
maior estabilidade aos taludes); enquanto no interior (ou núcleo propriamente dito) se
localizam solos argilosos, que quando submetidos a intensas tensões em geral não se fissuram,
colaborando novamente para a estabilidade.
Segundo Massad (2010), trata-se de uma melhoria da seção de uma barragem de terra, para
aproveitar as características do solo seco, utilizados nos espaldares, onde se deseja mais
resistência (estabilidade), e do solo úmido, no núcleo, onde se quer baixa permeabilidade
(estanqueidade).
Figura 2: Barragem de terra zoneada (Fonte: Gaioto, 2003)
Nesse tipo de barragem o solo é transportado por meio de tubulações com água, formando
lama que quando lançado ocorre a segregação do material. A areia forma os espaldares do
aterro e os materiais mais finos constituem o núcleo (MASSAD, 2010).
Dependendo da constituição do seu núcleo, pode ser classificada como argilosa ou asfáltica.
Figura 4: Barragem de terra - enrocamento com núcleo central (Fonte: Massad, 2010)
Figura 5: Barragem de terra - enrocamento com núcleo inclinado para a montante (Fonte: Massad, 2010)
No Brasil, esse tipo de barragem, apesar de ter mostrado eficiência em relação ao tempo de
obra, ainda é pouco disseminado. Existem apenas dois exemplos de barragens com núcleo
asfáltico no país, ambos para geração de energia: a UHE de Foz do Chapecó, construída no
Rio Uruguai, entre os estados do RS e de SC, e a UHE de Jirau, em Rondônia.
Outros fatores que também contribuem para a escolha do local é a construção do vertedouro
isolado do maciço da barragem que pode ser uma vantagem econômica e as condições
geológico-geotécnicas do local pois são elas que ditam a forma como serão tratadas as
barragens para conseguir estabilidade, melhor percolação da água e evitar que a barragem se
deforme.
3 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS
3.1 INVESTIGAÇÕES DAS FUNDAÇÕES
As investigações das fundações das barragens de terra são de essencial importância e os
resultados delas podem interferir até na decisão final relativa a se construir ou não a estrutura
naquela localidade. Isso porque, segundo Gaioto (2003), a fundação do maciço apresenta três
dos principais parâmetros que influenciam de maneira mais efetiva em obras, sendo eles:
resistência, permeabilidade e compressibilidade.
Também são feitas algumas sondagens. Na sondagem à percussão são realizadas perfurações
e fixados amostradores a cada metro de profundidade do solo. A partir de testes laboratoriais
nas amostras indeformadas retiradas são determinados os tipos de solo presentes em cada
nível, sua deformabilidade e resistência à penetração. Ademais, nos furos realizados nesse
procedimento são feitos ensaios de permeabilidade. Quando o nível da fundação já é inferior
ao em que a sondagem à percussão acontece, ocorre a sondagem rotativa. Nela, sondas
rotativas retiram amostras de rochas (“testemunhos”) e testes feitos com elas determinam por
exemplo sua permeabilidade, grau de alteração e número de fraturas por metro. Há ainda a
sondagem sísmica, onde análises da velocidade com a qual o solo ou a rocha propagam ondas
causadas por explosões geradas na redondeza possibilitam a caracterização em perfis
retilíneos desse elemento, além de indicarem a existência de descontinuidades na rocha.
Poços e trincheiras de inspeção são aberturas verticais que permitem a retirada de amostras
deformadas ou não do subsolo e a análise visual dos elementos ali presentes, sendo vitais para
os projetos de escavação das fundações.Só são feitas trincheiras caso a extensão da área que
se deseja analisar a partir desse método investigativo for ampla.
Os dados observados são colocados em gráficos, que indicam se é preciso irrigar ou secar os
materiais.
2) Materiais granulares: são usados para filtros e drenos e podem ser de origem natural (areia
e cascalho) ou artificial (pedras britadas). Quanto aos ensaios realizados, há as seguintes
investigações:
a) Granulometria
b) Massa específica dos grãos
c) Densidade máxima e mínima
d) Permeabilidade
3) Materiais de enrocamento: são importantes para evitar
a erosão causada pela água em movimento dentro das barragens. Podem ser encontrados
em escavações das fundações de concreto e túneis ou em pedreiras específicas. Os ensaios
básicos são:
a) Desagregabilidade
b) Análise petrográfica
c) Britagem
A partir dos resultados de todas as análises, são selecionados os materiais a serem utilizados
para a construção da barragem. Geralmente, a maioria dos solos pode ser usada para esse tipo
de construção, com exceção de matéria orgânica, silte, rocha moída e as argilas com limites
de liquidez acima de 80%.
Para o transporte, são usados caminhões basculantes, vagões, correias transportadoras, calhas
e tubulações. Esses caminhões são importantes para a mistura dos componentes, já que
basculam o conteúdo em seu interior em todas as direções. Já os vagões, que transportam
materiais terrosos, têm basculação no fundo de seu interior e podem ser operados em altas
velocidades, mas seu uso pode gerar laminação superficial do solo. As correias
transportadoras precisam de uma diferença de nível para funcionar bem, portanto são
indicadas em terrenos nos quais essa característica é marcante.Por fim, calhas e tubulações
são usadas, principalmente, em casos de barragens de rejeitos, sendo que na primeira o
transporte é feito por ação da gravidade e no segundo ele é realizado com base em sistemas de
bombeamento.
Na fase de separação de materiais, o processo pode ser feito manualmente, com uso de
equipamentos na obra ou em usinas. Tudo depende das diferenças de granulometria, por
exemplo, dos materiais ali presentes. Um dos equipamentos que pode ser usado para isso é a
peneira vibratória mecânica, que, por meio de movimentos verticais e horizontais, separa os
materiais em uma malha de tela através de seu tamanho.
A fim de corrigir a umidade, a maioria dos processos deve ser feita fora do local da barragem.
Como no transporte é perdida umidade, deve-se escavar material com maior teor de água do
que o desejado no final. Quando é preciso hidratar os componentes no local da obra, podem
ser usados caminhões-pipa. Já nos casos em que a umidade está excessiva, a secagem ao sol é
o principal método utilizado. Em casos extremos, pode ser necessária a retirada da camada
solta do solo e posterior reconstrução dela.
4.2.2 CONSTRUÇÃO
DO ATERRO Figura SEQ Figura \* ARABIC 13: Limpeza de
4.2.2.1 NÚCLEO E TRINCHEIRA DE VEDAÇÃO
Inicialmente, prepara-se a trincheira de vedação. As dimensões dela são definidas no projeto,
de acordo com as especificações da barragem, como o seu tamanho, e com o equipamento
utilizado na construção. As escavações devem ser realizadas até que se atinja uma camada
impermeável, formada de rocha sólida ou argila. Essa impermeabilidade deve ser garantida
para que não ocorra nenhum tipo de infiltração através do aterro, porquanto a má execução ou
a escolha de materiais inadequados nessa fase pode acarretar grandes prejuízos quando a
barragem estiver funcionando.
As barragens de aterro homogêneo normalmente não possuem núcleo, já que são construídas
de modo que todas as camadas sejam feitas do mesmo material.
Após verificar a qualidade da escavação e atestá-la, inicia-se o aterramento. Escolhe-se o
melhor solo argiloso para ser utilizado nesse processo. De acordo com STEPHENS (2011),
ele deve ser compactado em camadas que possuem entre 50 e 75 mm, ao longo de toda a
extensão da trincheira, até que atinja-se o nível do solo. Executar essa etapa no período de
estiagem é mais viável, para que a erosão seja minimizada.
4.2.2.2 ATERRO
O sistema de drenagem interna da barragem é utilizado para permitir o escoamento das águas
que percolaram pelo interior da fundação e da barragem. Ele é composto por filtros apoiados
sobre a fundação, e composto por várias camadas de materiais de permeabilidade elevada que
drenam e filtram. Normalmente, são construídos em finas camadas, lançadas junto ao aterro e
compactadas com este.
A compactação deverá ser realizada de modo que nenhuma camada possua espessura
excedente à recomendada, e o monitoramento constante da barragem durante sua construção é
elementar para garantir que os tipos de solos corretos são utilizados nas seções apropriadas.
Para assegurar que essas características do aterro sejam obedecidas, a correção da umidade
das camadas é essencial e pode ser realizada por meio de aeração ou irrigação, mas deve-se
tomar cuidado para que esses processos não diminuam a resistência da barragem, caso esta
fique muito úmida, por exemplo. Além disso, deve-se atentar à conformidade dos taludes em
relação aos limites do projeto, principalmente em relação à inclinação. Essa verificação é feita
para garantir a estabilidade da estrutura do aterro e pode ser feita com a ajuda de moldes,
estacas e instrumentos que indicam o prumo.
O coroamento da barragem deve ser construído com geometria inclinada para o lado montante
do aterro, o que possibilita o escoamento da água da chuva para o reservatório. A soleira
também deve ser levemente convexa, de modo que o solo fique centralizado e confira um
maior assentamento. De acordo com o projeto, segundo STEPHENS (2011), há a necessidade
de um enrocamento de pedra arrumada ou betonagem na base do aterro e de um dos lados do
vertedor, para assegurar que a erosão seja mínima.
Nas barragens zonadas, o material de terraplanagem é dividido em três, retirado, de
preferência, de locais de empréstimo distintos. Impermeável para o núcleo (argila ou material
asfáltico), permeável para a face jusante e semipermeável para montante (concreto ou
polietileno de alta densidade, no geral).
Finalmente, instala-se uma cobertura de vegetação rasteira na camada superior do aterro, que
deve ser composta de solo superficial de boa qualidade, para estimular uma densidade maior
de plantas. Assim, reduz-se o desgaste da camada externa do aterro por ação de intemperismo,
e a agregação das camadas que compõem o aterro é elevada pela ação das raízes.
Quando essa cobertura vegetal não é suficiente para evitar a erosão da barragem, utiliza-se um
rip-rap. Materiais de transição são postos entre o aterro e o enrocamento de pedra, lançados
em camadas com uma transição gradual de tamanho dos blocos, e compactados por rolos
vibratórios ou pneumáticos.
O rip-rap pode ser lançado ou feito com pedras arrumadas. O primeiro tipo é constituído de
uma camada de blocos rochosos lançada sobre um filtro, que serve de obstáculo para a fuga
de materiais mais finos que formam o maciço da barragem. Esses blocos não podem ser
arredondados, para que não ocorra deslizamento. Já o segundo tipo é utilizado quando é
possível organizar uma camada de blocos de pedra bem definida, em que os vazios são
preenchidos por pedras menores, e a qualidade desses blocos deve ser ótima. Em ambos os
casos, a rocha constituinte deve possuir alta resistência e dureza, para suportar os fatores
climáticos.
5
ANÁLISE DE
SEGURANÇA E IMPACTOS
Figura AMBIENTAIS
SEQ Figura \* ARABIC 15: Desvio de rio por estrangulamento em
A construção de barragens comumente é tida como um processo de alto risco, podendo
resultar em grandes tragédias ambientais e humanitárias. Os desastres recentes ocorridos no
Brasil apenas reiteram essa perspectiva, colocando em foco os potenciais riscos dessas
estruturas. Dessa forma, é necessário que certos cuidados sejam tomados a fim de garantir o
bom funcionamento e a segurança dessas construções e, para isso, foi criada a Lei n.
12.334/10, estabelecendo a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB).
De acordo com A. Veiga Pinto (2008), o risco é um valor atingido a partir de considerações
de acontecimentos indesejáveis aliados à probabilidade de intervenções externas ou internas
no processo de construção e funcionamento da barragem. É impossível admitir um risco nulo
na construção de uma barragem. Assim, o objetivo da análise de segurança é, não anular, mas
oferecer transparência quanto aos riscos da estrutura e reduzi-los ao mínimo.
[...] como a Engenharia de Barragens não é uma ciência exata a ponto de se poder
eliminar completamente o risco de um acidente ou incidente, a segurança de
barragens deve ser a prioridade máxima em todas as fases de seu desenvolvimento
e uso, incluindo o planejamento, projeto, construção e fases de operação e
manutenção. [...] O propósito dos programas de segurança de barragens é
reconhecer os perigos potenciais oferecidos pelas estruturas e reduzi-los a níveis
aceitáveis. (MÔNICA SOARES REZIO ZUFFO, 2005)
A BRF foi construída a partir do método de alteamento à montante, método no qual a crista da
barragem é deslocada, a partir de uma barragem inicial (dique de partida), na direção do
reservatório. Após a formação do dique de partida, são construídos novos diques a partir da
deposição dos rejeitos à montante da crista (figura 17).
Figura 18: localização dos diques (Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência Social - Relatório de Acidente)
Durante as obras de fundação foi detectada a presença de muito solo mole na região. Esse solo
precisou ser removido, o que atrasou a construção dos diques e exigiu mudanças no
posicionamento dos drenos de fundo, a fim de colocá-los em local de fundação mais estável,
bem como a substituição deste solo por aterro compactado nas regiões de galeria. As figuras
19 e 20 mostram, respectivamente, as obras de fundação dos diques 1 e 2.
Figura 19: construções das fundações do dique 1 (Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência Social - Relatório de
Acidente)
Figura 20: construção das fundações do dique 2 (Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência Social - Relatório de
Acidente)
Além disso, houve também causas secundárias que contribuíram para o acidente como a
mudança do eixo da barragem sem que houvesse novos estudos e cálculos, manutenções
precárias, drenos entupidos, ausência de canaletas e vazamentos. Há também hipóteses de que
tremores sísmicos auxiliaram no desabamento da barragem, que é um processo natural, mas
quase não produz interferências. Porém, com o uso de equipamentos pesados, como
caminhões, próximo do local e detonação de minas também próximas da barragem, houve
tremores suficientes para propiciar a liquefação (processo que transforma um material sólido
em líquido). Assim, o excesso de água fez com que o rejeito apresentasse características mais
fluidas, diminuindo a resistência mecânica oferecida à barragem. Outra irresponsabilidade da
empresa Samarco foi o fato de ignorar as medições dos piezômetros, que apresentavam níveis
de riscos acima do normal, além da falta de controle na elevação de alteamentos, que foi
necessária devido ao aumento na produção de rejeitos. A recomendação era que as obras
deveriam subir de 5 a 10 metros por ano, mas a empresa elevou o aterro a um ritmo de 15
metros por ano.
Diante das análises e diagnósticos desse desastre, mesmo após tanta repercussão do caso e
alertas às mineradoras, houve uma outra situação semelhante que foi o caso da mina Córrego
de Feijão, em Brumadinho, em janeiro deste ano. O tipo de construção era a mesma
(montante), as fiscalizações eram dos mesmos donos e a falta de amparo caso houvesse algum
rompimento foi igualitária. Isso mostra, portanto, que entre responsabilidades e economias, as
empresas preferem gastar menos.
O fato da empresa ter alteado a barragem para comportar um volume maior de rejeitos em um
ritmo mais acelerado que o recomendado também influenciou para o ocorrido. A necessidade
da drenagem efetiva do rejeito antes dele ser utilizado no corpo do talude é o que guia o fato
da cota máxima de alteamento ser fixa a 10 metros / ano: se o ritmo de alteamento é mais
intenso que o recomendado, o tempo necessário para a drenagem completa não é respeitado.
Assim, a estabilidade da estrutura é mais uma vez prejudicada. Portanto, deve-se seguir à risca
as indicações para esse procedimento, de modo a evitar desastres. Além disso, o método
construtivo de alteamento à montante, utilizado em uma parte significativa das barragens de
terra e na do Fundão, apesar de mais barato, é menos seguro e portanto deve ser evitado.
Entende-se que outra medida que evita a ocorrência de mais episódios do tipo é, então, a
substituição do alteamento à montante por algum método mais seguro, como o alteamento à
jusante. Em Minas Gerais, após o desastre de Mariana, foi estabelecido que não seriam mais
fornecidos licenciamentos a obras em barragens que utilizassem tal método.
Figura 22: Esquematização do curso do rio, barragens e dois dos diques instalados (Fonte:
https://www.samarco.com/segurancas/)
Para os drenos é necessário que a água que percola pelo corpo da barragem seja drenada com
a máxima eficácia. Dessa forma, os drenos devem ser verificados com freqüência e, em caso
de entupimento podem ser utilizados jatos de água ou ar para desobstruí-los. Uma alternativa
para os efeitos causados pelo nível freático muito próximo ao talude de jusante é a instalação
de drenos sub-horizontais, dispositivos introduzidos nos taludes, encostas ou aterros que
possibilitam o escoamento das águas presentes nos maciços de maneira a aliviar os empuxos
que comprometem a estabilidade dos taludes.
Esse monitoramento é dado por meio de avaliações visuais e de instrumentação. Esta deve ser
instalada numa seção de controle de localização justificada e a análise e interpretação dos
dados devem ser feitas de maneira metódica e coerente, para que sejam extraídas informações
úteis e importantes na verificação da estabilidade de uma barragem. Os principais
instrumentos utilizados são medidores de recalque, células piezométricas, inclinômetros,
medidores de vazão e medidores de nível. Além disso, nos últimos anos, vários métodos
numéricos computacionais foram implementados na análise de dados, como o método de
elementos finitos e redes neurais artificiais.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das pesquisas efetuadas para a realização deste trabalho, foi possível uma
compreensão adequada por parte do grupo a respeito das barragens de terra como um todo e
de como elas são construídas.
Uma barragem de terra é uma estrutura de porte variado, constituída essencialmente por areia,
argila, silte e alguns elementos rochosos. Podem ser classificadas em: barragens de terra
homogêneas, zoneadas, de aterro hidráulico, de rejeitos ou barragens de enrocamento. Seus
principais elementos são crista, borda livre, taludes de montante e jusante e núcleo (caso de
barragem zoneada). A escolha do local da barragem segue a lógica de minimizar custos e se
baseia em aspectos topográficos e geológicos da região.
A fundação do terreno deve ser investigada minuciosamente, através de uma série de métodos
como: investigação superficial, sondagens, abertura de poços de inspeção e realização de
ensaios e, os materiais de construção do aterro também devem ser investigados. O
dimensionamento e necessidade de atenção especial aos elementos de vedação e drenagem da
barragem também são definidos a partir desses estudos. Alguns desses elementos são
trincheira de vedação, cortina de injeção, tapete impermeável, filtros, drenos de pé e poços de
alívio.
Por exemplo, quando é decidido o tipo de barragem a ser construído, leva-se em consideração
o tipo de solo presente na área de empréstimo. Em caso de material que, quando compactado,
gera baixa permeabilidade (como argilas) é feita uma barragem homogênea (quando o solo do
terreno é também seco e profundo), já quando há variedade nos materiais oferecidos, constrói-
se barragens zoneadas, com taludes formados por cascalhos e areias (mais permeabilidade,
menos retenção de água) e núcleo argiloso. Na construção de barragens de enrocamento, os
assuntos vistos em Introdução à Geotecnia também se fazem necessários: as rochas usadas
devem apresentar uma resistência alta ao intemperismo. Ademais, outra prova dessa intensa
inter-relação é o fato de que as investigações das fundações do terreno de construção são
muitas vezes gatilho para a troca do local de implantação da barragem, além de guiarem
completamente cada uma das etapas construtivas, sendo utilizadas até mesmo para a escolha
adequada do equipamento utilizado.
8 REFERÊNCIAS
MARANGON, M., D. Sc. Tópicos em Geotecnia e Obras de Terra. Juiz de Fora:
Universidade Federal de Juiz de Fora.
FAO - Food and Agriculture Organization. Manual sobre pequenas barragens de terra.
Roma, 2011.
CRUZ, Paulo Teixeira da. 100 Barragens Brasileiras. São Paulo: FAPESP, 2004.
MASSAD, Faiçal. Obras de Terra: cursos básicos de geotecnia. São Paulo: Oficina de textos,
2010.
GEOSUL 2012, 2012. Barragem de Enrocamento com Núcleo de Asfalto na UHE Foz do
Chapecó. Porto Alegre.
NETO, Francisco Alberto Davi Duarte de Souza. Concreto asfáltico para núcleo de
barragem: caso da UHE Jirau, RO. 2013. 140f. Dissertação (graduação em Engenharia Civil)
- Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
ARMELIN, João Luís; FERREIRA, Ricardo. Classificação das Barragens. Disponível em:
http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/15030/material/
puc_barragens_02_classificacao_2013-2.pdf. Acesso em: 4 jun. 2019
ALDAY, Andressa. O desastre continua: quarenta municípios em dois estados foram atingidos pelo
desastre de Fundão. Jornal da Unicamp, 2018.
ALVARENGA, Darlan; CAVALINI, Marta. Entenda como funciona a Barragem da Vale que se
Rompeu em Brumadinho. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/28/entenda-como-funciona-a-barragem-da-
vale-que-se-rompeu-em-brumadinho.ghtml