Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Bruna Lara Aparecida Desiree Silva

Legislação Social - Atividade Avaliativa II

Belo Horizonte

2018
ANÁLISE DA REFORMA TRABALHISTA

Questão 1. Explique em que consiste a chamada “crise estrutural do capital” e quais


foram as respostas do capital a essa crise, segundo o sociólogo Ricardo Antunes. Em
seguida, relacione esse atual contexto capitalista global, delineado por Antunes, com a
Reforma Trabalhista brasileira de 2017 (valor: 8 pontos).

Referências bibliográficas obrigatórias:


ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São
Paulo: Boitempo, 1999. Capítulos III e IV (p. 35-60).
MAIOR, Jorge Luiz Souto. A quem interessa essa "reforma" trabalhista? 1º de maio de 2017.
Disponível em:<https://www.jorgesoutomaior.com/blog/a-quem-interessa-essa-reformatrabalhista>
Acesso em: 06/11/2018.
Outras referências utilizadas:

A partir de 1970, o modelo de regulação dos sistemas produtivos taylorista e fordista


passou a apresentar indícios de extenuação em meio a um contexto de crise estrutural do
capitalismo (NAVARRO, 2007). Assim, o período de acumulação de capitais
vivenciado desde o início do século XX foi interrompido por uma série de
manifestações que delineavam um cenário capitalista instável, como:

a) Surgimento de uma tendência decrescente da taxa de lucro, devido, entre outros


fatores, ao aumento do preço da força de trabalho, conquistado através das lutas
sociais dos anos 60;
b) Exaustão do padrão de acumulação da produção taylorista/fordista, dado pela
incapacidade de resposta ao estreitamento do consumo, ocasionado pelo
desemprego estrutural;
c) Desenvolvimento da esfera financeira, que ganhava relevância sobre dos capitais
produtivos e tornava-se alvo para especulação no processo de
internacionalização;
d) Concentração de capitais gerada pelas fusões entre companhias monopolistas e
oligopolistas;
e) Declínio do Estado de Bem-Estar Social e dos seus instrumentos de manutenção,
levando a crise fiscal do Estado capitalista e a urgência na retração dos gastos
públicos, motivando sua transferência para o capital privado;
f) Elevação significativa das privatizações, caracterizadas por um comportamento
generalizado de desregulamentação e flexibilização do processo produtivo, dos
mercados e da força de trabalho (ANTUNES, 1999).

Em reação a esse ambiente de instabilidade, iniciou-se um movimento de reorganização


do capital e do seu método ideológico e político de hegemonia. Esse processo se
traduziu com a implantação do neoliberalismo, a privatização do Estado, a
desregulamentação dos direitos do trabalho e a decomposição do setor produtivo estatal.
Ocorreram várias transformações no sistema produtivo do capital, através do
estabelecimento de modos de acumulação flexível, do downsizing – técnica de
restruturação organizacional que visa eliminar processos desnecessários, das formas de
gestão organizacional, do avanço tecnológico, dos modelos alternativos ao
taylorismo/fordismo. Em sua obra, Antunes afirma que “Essas transformações,
decorrentes da própria concorrência intercapitalista [...] e, por outro lado, da própria
necessidade de controlar as lutas sociais oriundas do trabalho, acabaram por suscitar a
resposta do capital à sua crise estrutural” (ANTUNES, 1999).

Em seu trabalho, Navarro (2007) pontua que no decorrer de todo o desenvolvimento do


processo de trabalho no capitalismo é possível testemunhar a perda progressiva do
controle do trabalhador sobre a cadeia produtiva e, por conseguinte, perda do controle
sobre seu próprio trabalho. Para ela, o modo como ocorre tal retração é que se altera em
diferentes momentos, e é esse contexto que podemos observar na crise estrutural do
capitalismo na década de 70 e na Reforma Trabalhista Brasileira em 2017.

Ao longo da evolução do processo de trabalho nos séculos XIX e XX, ainda que com
algumas alterações e crises, não houve uma grande ruptura com a natureza capitalista do
modo de produção e com seu intricado plano ideológico de fragmentação subjetiva que
viabiliza seu projeto de dominação. Como exemplo, temos o enaltecimento do
individualismo, o aumento do desemprego e o fortalecimento da precarização do
trabalho nos diversos setores da economia (NAVARRO, 2007).

Maior (2018) assinala críticas à Reforma Trabalhista e atribui um carácter falacioso nas
propostas do documento. Para ele, o incentivo às negociações coletivas motivadas pela
crença de que o livre ajuste refletirá o interesse público vai contra experiências
históricas nas quais os preceitos civilizatórios mínimos não foram observados. O
afastamento da Justiça do Trabalho enfraquecerá a atuação das políticas públicas
constitucionais criadas para sustentabilidade das relações de trabalho. A exortação do
individualismo, também colocado como medida adotada na crise do capital da década
de 70 aniquila a lógica da solidariedade social, instaurando uma mentalidade de que
aqueles que estão, aparentemente, bem colocados economicamente, não necessitam de
medidas sociais de proteção frente ao capital. A nova política de flexibilização de
empregos, gera, na verdade, subempregos de relações intermediadas, temporárias,
fragmentadas, ausentes de poder de pressão e negociação com os empregadores no
momento da admissão e ao longo contrato de trabalho.

Você também pode gostar