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O novo empirismo - 08/09/2015 - Luli Radfahrer - Colunistas - Folha de S.

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É professor-doutor de

luli radfahrer Comunicação Digital da ECA


da USP. Trabalha com internet
desde 1994. Hoje é consultor
em inovação digital.
Escreve às terças.

O novo empirismo

08/09/2015 07h22

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Não é preciso ser filósofo para imaginar que as ideias surgem de algum lugar.
Mesmo abstrações da Matemática ou Física, em suas dimensões invisíveis,
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/2015/09/1678886-o-novo-empirismo.shtml[08/09/2015 09:03:28]
O novo empirismo - 08/09/2015 - Luli Radfahrer - Colunistas - Folha de S.Paulo

derivam de uma observação da natureza.


Foi dessa constatação que surgiu o Empirismo, uma corrente de pensamento
que diz que todo conhecimento é derivado de uma experiência direta do
mundo. Ao enfatizar o papel da evidência para a formação de ideias, essa
forma de pensar deu origem ao que conhecemos por Método Científico.


O Empirismo se opõe ao Racionalismo, um ideal que acredita ser possível
chegar a conclusões independente de experimentos, ou pelo menos antes que
sejam possíveis. Apesar de parecer coisa de místico, o Racionalismo também PUBLICIDADE

é fundamental para a ciência, ao estipular ideias, como as de Einstein ou


Higgs, e depois esperar que os experimentos as comprovem.
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O debate entre empirismo e racionalismo é antigo, cada um acreditando ser a
única visão possível do mundo. Desde Aristóteles e Platão, muitos pesos-
pesados da filosofia se debateram a respeito desse tema. Nos séculos 17 e 18, o
Reino Unido foi um celeiro de empíricos, que ajudaram a levar as ideias do

Método Científico proposto por Isaac Newton para boa parte das inovações
da Revolução Industrial.
A Miséria da

John Locke, um de seus principais proponentes, via o ser humano como uma Política
folha em branco, "tábula rasa" sem compreensão do mundo. Somente através
Em livro de crônicas,
de sensações vividas e da reflexão tirada a partir delas que ele seria capaz de PUBLICIDADE FHC traça um
aprender. Sua proposta levou a linhas de pensamento como o Positivismo panorama da "crise
Lógico, segundo o qual a ética faria pouco ou nenhum sentido, uma vez que moral" do Brasil
nenhuma observação poderia confirmá-la.
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Foi só no começo do século 19 que Immanuel Kant, em sua Crítica da Razão
Pura, propôs por fim ao debate ao declarar que ambas as partes são
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importantes. Segundo ele, o conhecimento humano começa pelos sentidos, Manual de Persuasão
passa pela compreensão e se complementa com a razão. O raciocínio do FBI
analítico (derivado da razão) e o sintético (derivado da experiência) não Jack Shafer e Marvin Karlins
seriam capazes de explicar o mundo por conta própria. Em outras palavras,
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Não existe o concreto sem o abstrato e vice-versa.


Mais de dois séculos depois da morte de Kant, o Empirismo Radical ressurge
com força total, dessa vez anabolizado pela fúria econômica das tecnologias
digitais. Sistemas de "Big Data" e análises de métricas complexas se propõem Crime Organizado
a analisar todos os dados existentes e, a partir dos resultados coletados, Cleber Masson e Vinícius
Marçal
verificar hipóteses. Seus principais defensores alegam que não é mais preciso
desenvolver teorias, uma vez que as evidências provenientes das enormes Comprar
bases de dados seriam suficientes para descobrir padrões e propor soluções.

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Essa forma de pensamento parte de uma simplificação perigosa: que há uma
divisão essencial entre as conclusões baseadas em raciocínio e as baseadas Lições de Vida:
em fatos. Essa visão reducionista elimina a especulação e leva a um Nietzsche
gigantesco pragmatismo, em que se busca tirar a maior vantagem possível John Armstrong
das coisas como estão, já que não é possível imaginá-las de outra forma.
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John Stuart Mill, pai do Liberalismo, propôs no século 19 que o raciocínio a
partir de evidências seria fundamental para todo conhecimento significativo.
Segundo ele, verdades matemáticas nada mais eram do que generalizações
Problema no Paraíso
confirmadas de experiências. Todas as pessoas, objetos físicos, suas
propriedades e eventos poderiam ser completamente redutíveis a símbolos. Slavoj Zizek

Em sua filosofia não havia lugar para o conhecimento baseado em ideias. Sua Comprar
visão "científica" da sociedade e das relações humanas não considerava válida
nenhuma possibilidade além das propostas por experimentos, medições,
fórmulas e funções matemáticas.


No começo do século 20, uma forma de pensar chamada de Positivismo Uma História do
Lógico partiu da mesma premissa. Empirismo radical, ela tentou aplicar Comunismo Duplo
(DVD)
ideias de lógica matemática a relações sociais, influenciando experimentos
sociais perigosíssimos como os vistos no Taylorismo, Socialismo e Nazismo. Vários

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Embora seja fundamental para o Método Científico que todas as hipóteses e
teorias sejam testadas contra observações do mundo natural, há mais
mistérios entre o céu e a terra do que pode supor a nossa vã ciência. O
Empirismo, ao acreditar que a experiência sensorial seja a única fonte de
ideias, rejeita a capacidade de transcendê-las e de inventar coisas
completamente novas que não condizem (quando não contradizem) a própria
experiência.


O Empirismo Radical anda de braços dados com a desigualdade econômica e
o desenvolvimento industrial. Ao se mover no espaço "lógico", ele expande a
definição do que seria "científico" para além do razoável, transformando as
pessoas em peças de fácil reposição. Ele não se preocupa em valorizar
qualquer forma de acontecimento ou raciocínio que não possa ser
diretamente medido, quantificado e equacionado.

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O que poucos parecem levar em conta é que a ciência mudou ao longo do
tempo. Boa parte dos filósofos gregos fazia uma forma de ciência. Foi só
depois da Renascença que a "Filosofia Natural" começou a se separar da
Metafísica, criando nos séculos seguintes divisões cada vez mais restritas e
especializadas. Ganha-se em especialidade, perde-se em abrangência.


As visões racionalista e empírica não devem conflitar, mas ser relativizadas
em busca de um raciocínio mais amplo e multidisciplinar. Ao se oporem,
quem perde é a ciência, que apesar de se tornar específica, parece incapaz de
verificar problemas sistêmicos, como a falta de água, explosão populacional
ou aquecimento global.


Boa parte dos grandes danos feitos a populações humanas e ao planeta veio
de visões utilitárias, reducionistas, que deixavam de considerar o que
realmente acontecia em nome do que "deveria acontecer". Ao se desvalorizar
boa parte da visão global, inquisitiva e dedutiva das humanidades em nome
de algoritmos e bases de dados, perde-se boa parte da sensibilidade e reflexão
com relação ao mundo. Ao se desenvolver uma visão mercantilista e
financeira que rejeita ocupações ou tarefas que não gerem ganhos imediatos,
cria-se uma visão instrumental da educação e vida social que a torna vazia de
sentido.


Não é de se espantar que a depressão seja pandêmica.


Boa parte da Cultura de uma sociedade não é derivada de seu poder militar
ou industrial, mas de sua capacidade de refletir a respeito do que é feito,
apreciando aspectos da vida que vão muito além de carreiras e salários, e
tomando decisões políticas para o bem de todos. Quando isso não acontece o
que sobra é um conjunto de peças em uma engrenagem, a reclamar com toda
razão que a vida não faz muito sentido nem é satisfatória.

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A Miséria da Política Capitalismo: Modelo de


Usar
Fernando Henrique Cardoso
Fabio Giambiagi
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