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XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA

ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015

Efeitos da ordem de parto e dos períodos seco e chuvoso sobre características de produção e
composição do leite de vacas da raça Holandês
Effect of the parturition order and rainy and dry seasons over milk production and composition
traits of Holstein breed cows

Matheus Henrique Vargas de Oliveira1, Eula Regina Carrara1, Mayara Salvian2, Juliana Petrini2,
Laerte Dagher Cassoli3, Gerson Barreto Mourão4, Paulo Fernando Machado4 e Leila de Genova
Gaya5
1
Graduando do Curso de Zootecnia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), São João del-Rei,
MG, Brasil. e-mail: matheusvargasoliveira@hotmail.com
2
Pós-graduando do Programa em "Ciência Animal e Pastagens", Departamento de Zootecnia, Universidade
de São Paulo (ESALQ), Piracicaba, SP, Brasil.
3
Pesquisador Dr., Clínica do Leite, Departamento de Zootecnia, Universidade de São Paulo (ESALQ),
Piracicaba, SP, Brasil.
4
Prof. Dr., do Departamento de Zootecnia, Universidade de São Paulo (ESALQ), Piracicaba, SP, Brasil.
5
Profa. Dra., do Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), São João
del-Rei, MG, Brasil.

Resumo: A qualidade nutricional e as propriedades tecnológicas do leite são influenciadas por sua
composição que, por sua vez, pode ser dependente de uma série de fatores genéticos e ambientais. Assim,
o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da ordem de parto e dos períodos seco e chuvoso ao
nascimento, ao parto e à coleta do leite sobre a produção de leite e seus teores de proteína e gordura em
uma população de vacas da raça Holandês, oriundas de uma fazenda no Estado de São Paulo. Mais de três
mil informações de produção e mais de seis mil informações dos teores de proteína e gordura compunham
o banco de dados. A avaliação dos efeitos destas fontes de variação foi realizada utilizando-se o método
dos modelos lineares generalizados e o teste de Tukey, assumindo-se o nível de significância estatística de
5%. Mostraram-se significativos os efeitos da ordem de parto e dos períodos ao nascimento, ao parto e à
coleta do leite sobre a produção de leite no dia controle. Porém, sobre os teores de proteína e gordura do
leite somente a ordem de parto e o período à coleta foram significativos. A ordem de parto e o período de
coleta do leite são fontes de variação que devem ser levadas em consideração nas decisões do produtor que
visa um melhor manejo e uma melhor produção e composição do leite.

Palavras-chave: bovinos de leite, gordura, proteína

Abstract: The milk composition affects its nutritional quality and technological properties, which may be
influenced by genetic and environmental factors. Thus, this study aimed at evaluating the effect of
parturition order and the rainy and dry seasons at birth, at parturition, and at milk collection over the milk
production and its protein and fat contents in a population of Holstein breed cows from a farm in the state
of São Paulo. More than three thousand production and six thousand protein and fat data compounded the
database. The evaluation of these sources of variation was performed by the generalized linear models
method and the Tukey test, assuming the statistical significance level of 5%. There were significant effects
of parturition order and season at birth, at parturition, and at milk collection over milk production. Only the
parturition order and the season at milk collection were significant over milk protein and fat contents. The
parturition order and the milk collection period are sources of variation that should be taken into account
in the producer’s decisions aiming at a better management and milk production and composition.

Keywords: dairy cattle, fat, protein

Introdução
O Brasil é um dos principais exportadores de produtos lácteos e, dessa forma, os produtores e a
indústria devem atentar-se às exigências quanto à qualidade do leite por parte do mercado consumidor. A
composição do leite é uma característica essencial para a determinação de sua qualidade, visto que tem uma
relação direta com o rendimento industrial e o preço do leite (Noro et al., 2006). Outro fator importante é o

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quão cada componente do leite interfere na saúde do consumidor, buscando-se conhecer seus efeitos
benéficos ou maléficos. Neste sentido, pesquisas têm sido desenvolvidas na tentativa de aumentar os níveis
de componentes que são benéficos à saúde humana.
Somente a genética do animal não é suficiente para que haja expressão de seu potencial produtivo
e o manejo pode contribuir para que ocorram modificações nos componentes do leite. A qualidade
nutricional e as propriedades tecnológicas do leite são influenciadas por sua composição que, por sua vez,
é dependente de fatores como a raça, o estágio de lactação, a época do ano, a idade e o número de lactações
do animal (Andrade et al., 2007; Noro et al., 2006). Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar
o efeito da ordem de parto e dos períodos seco e chuvoso ao nascimento, ao parto e à coleta no dia controle
sobre a produção de leite e seus teores de proteína e gordura em uma população de vacas da raça Holandês.

Material e Métodos
Os dados utilizados foram cedidos pelo Departamento de Zootecnia da Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (LTZ – ESALQ/USP). O banco de dados
continha informações referentes à identificação dos animais, ordem de parto (1 a 7 partos), períodos (seco
ou chuvoso) ao nascimento, ao parto e à coleta do leite no dia controle, produção de leite (PL), em kg, teor
de proteína (PR), em g/100g de leite e teor de gordura (GO), em g/100g de leite de amostras de leite de
vacas da raça Holandês de uma fazenda localizada no Estado de São Paulo, coletadas no ano de 2012. O
período seco foi compreendido entre abril e setembro e o período chuvoso entre outubro e março.
As informações de produção de leite contidas no banco de dados foram obtidas por meio de coleta
única em dia controle e as amostras foram analisadas através da espectrometria em infravermelho médio
para determinação dos teores de proteína e gordura.
Avaliou-se o efeito da ordem de parto, do período ao nascimento, do período ao parto e do período
à coleta do leite no dia controle sobre as variáveis PL, PR e GO. Para todas as variáveis foi testado o efeito
dos dias em lactação como covariável, de modo linear, quadrático e cúbico. A avaliação da significância
dos efeitos estudados foi realizada por intermédio do pacote estatístico SAS® - Statistical Analysis System,
versão 9.2 (SAS Institute, 2008) utilizando-se o método dos modelos lineares generalizados (PROC GLM)
e o teste de Tukey, assumindo-se o nível de significância estatística de 5%.

Resultados e Discussão
As estatísticas descritivas das variáveis estudadas são apresentadas na Tabela 1. O efeito cúbico
dos dias em lactação foi significativo para todas as variáveis estudadas.

Tabela 1. Número de observações (N), média (M), desvio padrão (DP), coeficiente de variação (CV),
valores mínimo (MIN) e máximo (MAX) para as características produção de leite, teor de proteína e teor
de gordura.
Característica N M DP CV (%) MIN MAX
Produção de leite (kg) 3.078 34,08 8,90 26,11 4,70 60,30
Proteína (g/100g de leite) 6.274 3,03 0,27 9,02 2,10 3,90
Gordura (g/100g de leite) 6.238 3,45 0,70 20,32 1,16 5,77

Nesta população, sobre PL, tiveram efeitos significativos as fontes de variação período ao
nascimento, ao parto e à coleta. A média da PL foi maior no período de nascimento chuvoso (34,45 kg) em
comparação ao período seco (33,78 kg). Condições favoráveis proporcionadas pelo período chuvoso, como
maior oferta de forragem, podem ter influenciado positivamente no desenvolvimento da bezerra, levando a
mesma a possuir maior produção de leite quando adulta. Quanto ao período ao parto, foi observada uma
média maior da PL no período seco (34,56 kg) em comparação ao período chuvoso (33,67 kg). Por uma
menor oferta de forragem no período seco, pode ter havido uma intensificação da suplementação das vacas
para minimizar efeitos do balanço energético negativo das vacas, aumentando a produção de leite no dia
controle. No período à coleta do leite, foi observada uma média da PL maior no período chuvoso (35,25
kg) em comparação ao período seco (33,00 kg), o que era esperado, pois no período chuvoso há maior
oferta de alimentos, contribuindo para o aumento da produção de leite.
A ordem de parto teve efeito significativo sobre a PL (Tabela 2), com médias de produção superior
nas ordens de 2ª a 5ª, possivelmente devido ao fato de que a idade da vaca está relacionada ao

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desenvolvimento fisiológico da glândula mamária e também ao desenvolvimento corporal, podendo levar


a menores produções em idades mais jovens e mais avançadas (Souza et al., 2010).

Tabela 2. Médias para as variáveis de produção de leite, e teores de proteína e gordura em função da ordem
de parto.
Ordem de Parto
Característica
1 2 3 4 5 6 7
b a a a a ab
Produção de leite (kg) 31,658 34,734 35,995 35,645 34,145 34,050 32,616ab
Proteína (g/100g de
3,026a 3,031a 3,015a 2,951bc 2,995b 2,986ab 2,816cd
leite)
Gordura (g/100g de
3,449b 3,459b 3,538a 3,485ab 3,445b 3,425b 3,497ab
leite)
Médias seguidas de mesma letra dentro da mesma linha não diferem entre si pelo teste Tukey a nível de
5% de significância

O período à coleta do leite teve efeito significativo sobre PR, o qual foi maior no período seco
(3,00 g/100g de leite) em comparação ao período chuvoso (2,93 g/100g de leite), o que pode ter ocorrido
devido à maior ingestão de alimentos concentrados no período seco em função da escassez de plantas
forrageiras. O efeito da ordem de parto também foi significativo sobre PR, com médias maiores no 1º, 2º e
3º parto e a menor no 7º, contudo o mesmo não foi observado por Teixeira et al. (2003) no teor de proteína
em vacas Holandês em função da ordem de parto.
O período à coleta do leite teve efeito significativo sobre GO, sendo observado uma média maior
no período chuvoso (3,50 g/100g de leite) em comparação ao período seco (3,43 g/100g de leite),
possivelmente devido a uma maior ingestão de plantas forrageiras ou outros alimentos ricos em fibras no
período chuvoso. O efeito da ordem de parto também foi significativo sobre GO, onde foi observada a
maior média em vacas de 3ª ordem. Vacas de 1ª, 2ª, 5ª e 6ª ordens apresentaram menor média para GO. Ao
contrário do observado neste estudo, Teixeira et al. (2003) não reportaram diferenças no teor de gordura
em vacas Holandês em função da ordem de parto.
Não houve diferença significativa entre as médias de PR e GO para período ao nascimento e ao
parto, o mesmo observado por Souza et al. (2010) para vacas Holandês.

Conclusão
A ordem de parto e o período à coleta do leite são fontes de variação que devem ser levadas em
consideração nas decisões do produtor, o qual deve ficar atento para estas variações, que podem causar
flutuações em sua produção e nos teores de proteína e gordura do leite neste rebanho. Com isso, poderá
submeter seu rebanho a técnicas de manejo adequadas sob estas circunstâncias.

Literatura citada
ANDRADE, L.M.; EL FARO, L.; CARDOSO, V.L.; ALBUQUERQUE, L.G.; CASSOLI, L.D.;
MACHADO, P.F. Efeitos genéticos e de ambiente sobre a produção de leite e a contagem de células
somáticas em vacas holandesas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.2, p.343 - 349, 2007.
NORO, G.; GONZÁLEZ, F.H.D.; CAMPOS, R.; DÜRR, J.W. Fatores ambientais que afetam a produção
e a composição do leite em rebanhos assistidos por cooperativas no Rio Grande do Sul. Revista Brasileira
de Zootecnia, v.35, n.3, p.1129 - 1135, 2006.
SAS INSTITUTE. Statistical Analysis Systems User’s Guide. Version 9.0. Cary: SAS Institute Inc., 2008.
SOUZA, R.; TADEU, G.S.; ANTÔNIO, A.V.; LESEUR, A.S.; GASPARINO, E.; CRISTINA, D.S.;
BARBACENA, W.R.S. Variação na produção e qualidade do leite de vacas da raça holandesa em função
da estação do ano e ordem de parto. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.11, n.2, p.484 -
495, 2010.
TEIXEIRA, N.M.; FREITAS, A.F.; BARRA, R.B. Influência de fatores de meio ambiente na variação
mensal da composição e contagem de células somáticas do leite em rebanhos no estado de Minas Gerais.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, n.4, p.4911 - 499, 2003.

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