Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FAU-USP
1
Luciene Ribeiro dos Santos
Resumo
Alessandro Ventura, nascido em Torino (Itália) em 1938, formou-se arquiteto em 1962 pela Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Ao graduar-se, trabalhou nos escritórios de
Vilanova Artigas e de Carlos Cascaldi, nos quais aprendeu a dar os primeiros passos na profissão. No
período entre 1967 e 1968, atuou como estagiário no escritório do arquiteto e designer George
Nelson. O contato com o tipo de detalhamento americano ensinou a usar novos materiais e técnicas
construtivas, com detalhes mais precisos, decorrentes da grande variação climática ao longo do ano.
A convivência no escritório com desenhistas industriais e comunicadores visuais o introduziu nesse
novo universo até então completamente desconhecido. Lentamente, esse contato com os
desenhistas industriais do escritório levou-o a decidir por uma dedicação integral ao estudo das
técnicas de projeto industriais. Matriculou-se no curso de pós-graduação em desenho industrial da
Pratt Institute, e em 1968 defendeu a sua dissertação de mestrado: Mechanization and Architecture.
Foi docente do grupo de disciplinas de Desenho Industrial do Departamento de Projeto na FAU-USP
de 1970 a 1980, quando afastou-se das atividades docentes para dedicar-se exclusivamente à
atuação no mercado industrial. Após quase vinte anos de atuação na indústria, retomou a carreira
docente na FAU-USP em 1998, obtendo os títulos de doutor (2000) e livre-docente (2002) na área de
desenho industrial. Em virtude de sua experiência, foi convidado em 2003 para coordenar as
atividades da criação do curso de Design da FAU-USP, que iniciou suas atividades em 2006. Este
artigo buscará retomar a trajetória pessoal de Alessandro Ventura, aspectos de sua formação, de sua
obra e de sua atuação como professor de projeto, na área de Desenho Industrial. Pretendemos
investigar as tensões e os desafios enfrentados na produção e transmissão do conhecimento, no dia-
a-dia e nas atividades do ensino de projeto na FAU-USP, a partir das memórias e histórias de vida do
professor. Este estudo é realizado à luz dos conceitos da História Social e da História Oral, tomando o
sujeito como ser concreto, lançado em uma cotidianeidade, na qual o sujeito é, a um só tempo,
produto e produtor. Interessa-nos, no âmbito da pesquisa maior, conhecer como e por que
profissionais de diversas áreas do conhecimento se encontram, em algum momento de suas
trajetórias de vida, exercendo o oficio da docência de Projeto.
Abstract
Alessandro Ventura, born in Torino (Italy) in 1938, graduated in architecture from the School of
Architecture and Urbanism of the University of São Paulo in 1962. After he graduated, he worked in the
offices of Vilanova Artigas and Carlos Cascaldi, in which he learned to take the first steps in the
profession. In the period between 1967 and 1968, he worked as an intern at the office of architect and
designer George Nelson. The contact with the American detailing type taught him to use new
materials and constructive techniques, with more precise details, due to the great climatic variation
throughout the year. The coexistence in the office with industrial and visual designers introduced him
in this new universe completely unknown until then. Slowly, this contact with the office's industrial
designers led him to decide for a full dedication to the study of industrial design techniques. He
1
Mestra em Design e Arquitetura pela Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Bacharel em Letras
com dupla habilitação (Língua Portuguesa e Língua Francesa) pela Universidade de São Paulo. Especialista em Ensino e
Aprendizagem de Língua e Literaturas de Expressão Francesa pela PUC-SP. Atualmente é professora de Língua Portuguesa e
Literatura na educação básica e no ensino superior, e secretária do Departamento de Projeto da FAU-USP.
lucyene@usp.br
2
enrolled in the master course in industrial design at the Pratt Institute, and in 1968 he defended his
master's thesis: Mechanization and Architecture. He was a lecturer in the Industrial Design disciplines
group of the Design Department at FAU-USP from 1970 to 1980, when he moved away from teaching
activities to dedicate himself exclusively to the industrial market. After almost twenty years of work in
the industry, he resumed his teaching career at FAU-USP in 1998, becoming PhD (2000) and Associate
Professor (2002) in the area of industrial design. Due to his experience, he was invited in 2003 to
coordinate the creation of the Design course at FAU-USP, which began its activities in 2006. This
article will seek to recapture Alessandro Ventura's personal trajectory, as well as aspects of his
formation, his work and his role as teacher in the project area of Industrial Design. We intend to
investigate the tensions and challenges faced in the production and transmission of knowledge, in the
day-to-day and in the project teaching activities at FAU-USP, from the teacher's memories and life
stories. In the light of the concepts of Social History and Oral History, we take the individual as a
concrete being, launched in a daily life, in which he is both a product and a producer. We are
interested, in the scope of a larger research, to know how and why professionals of different areas of
knowledge are, at some point in their life trajectories, exercising the office of teaching in the Design
area.
Nas Reformas de 1962 e de 1968, que definiram a estrutura curricular da FAU-USP com base
em uma visão multidisciplinar da arquitetura e do urbanismo, as articulações entre conteúdos se
deram esquemática e respectivamente em dois planos. Primeiro, no plano da convergência entre os
saberes das humanidades, das artes e das técnicas para a formação de um profissional que não era
apenas um humanista, um artista ou um tecnólogo, mas um pouco dos três simultaneamente.
Segundo, no plano da incorporação de conteúdos de desenho industrial, comunicação visual e
paisagismo, ampliando o espectro de escalas e práticas de projeto, desde o sistema
regional/ambiental até o objeto isolado e seus componentes. O profissional formado a partir dessa
amplitude de abordagens capacita-se para responder às necessidades do processo de
desenvolvimento, seja pela satisfação direta das necessidades de reprodução social – em projetos de
habitação, sistemas urbanos e outros – seja por meio da produção econômica de bens e serviços
para os quais suas habilidades são requeridas.
Essa formação ampla e multifacetada permite que o arquiteto e o designer formados pela
FAU-USP atuem como profissionais e como intelectuais, podendo optar entre a trajetória profissional
no mercado de trabalho e a carreira acadêmica em docência e pesquisa, ou mesmo conciliar as duas
atividades. No entanto, esse caráter dual pode também gerar tensões vivenciadas entre a atividade
profissional e a atividade acadêmica, bem como oposições entre a atividade de projeto propriamente
dita e a análise/crítica da arquitetura e do design. O próprio edifício da FAU-USP, exemplo máximo e
principal referência para as atividades de ensino de projeto, é uma matriz geradora de conflitos a
serem enfrentados durante a formação de arquitetos, urbanistas e designers, por sua condição de
mito e paradigma:
A maneira como o AUP procura responder a esses desafios é pela articulação das finalidades
acadêmicas com temas de interesse social, que perpassem a pesquisa, o ensino e a atividade de
extensão. Nos últimos anos, temas como a habitação de interesse social, a urbanização de favelas, a
reutilização de edifícios ociosos, o projeto de moradia e mobiliário emergencial após a ocorrência de
catástrofes, as novas demandas da vida metropolitana, o projetar para a sustentabilidade, a
preservação e restauração do patrimônio construído (com destaque para os estudos sobre a recente
reforma estrutural do Edifício Vilanova Artigas) e a interação entre a cidade, a paisagem e o meio-
ambiente, entre outros, têm sido investigados nas atividades de Estúdio das disciplinas do AUP, com
propostas de projeto que são reformuladas ano a ano, apoiadas em um corpo de conteúdos estáveis
a orientá-las.
2.1. Formação
Alessandro Ventura nasceu em Torino (Itália) no ano de 1938, e veio com sua família para o
Brasil com apenas um ano de idade. Prestou vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo da
FAU-USP em 1957.
Nesse contexto, o curso de Arquitetura da Escola Politécnica da USP havia dado lugar à
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que iniciara suas atividades em 1948.
A Reforma de 1962 representou um papel decisivo não apenas para a FAUUSP, dando ao
curso uma nova identidade e rompendo com os padrões da antiga carreira de engenheiro-arquiteto,
como também foi um marco no próprio ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, uma vez que
essa estrutura se tornou referência para as reformulações da maioria das escolas de arquitetura no
país (NARUTO, 2007, p. 39). Nessa ocasião, as Cátedras do curso de Arquitetura e Urbanismo foram
distribuídas em quatro unidades autônomas: o Departamento de Projeto, o Departamento de História,
o Departamento de Ciência Aplicada e o Departamento de Construção.
Alessandro Ventura formou-se em 1962, ano da grande reforma particular da FAU-USP. Após
se graduar, trabalhou nos escritórios de Vilanova Artigas e de Carlos Cascaldi, nos quais aprendeu a
dar os primeiros passos na profissão. Ao participar como arquiteto estagiário, trabalhou em vários
projetos, entre os quais os vestiários das piscinas do São Paulo Futebol Clube, o ginásio da
Portuguesa de Desportos e a Colônia de Férias do Sindicato dos Metalúrgicos.
Ventura trabalhou com Artigas até que o 31 de março de 1964 os obrigou a separar-se. O
envolvimento político anterior de Ventura (havia sido presidente do DCE da USP e representante dos
alunos da USP no Conselho Universitário) forçou-o a um afastamento temporário de São Paulo.
Foram meses de angústia, porque não se sabia o que lhe reservava o futuro. Ao retornar à vida normal
em São Paulo, a falta de oportunidades de trabalho levou-o a executar alguns projetos de menor
importância.
Em 1967, em uma viagem em que acompanhava a sua esposa Dora, surgiu a oportunidade de
um estágio nos Estados Unidos. Ventura nunca fora muito entusiasta pela arquitetura americana. A
única qualidade que podia lhe interessar nos Estados era sua indústria. Após algumas articulações,
Alessandro Ventura foi trabalhar como estagiário no escritório do arquiteto Gerorge Nelson.
Em sua estada em Nova York, no escritório de George Nelson, Ventura participou de vários
projetos, principalmente em arquitetura, aprendendo as técnicas de projeto americanas muito mais
precisas do que as no Brasil. O contato com o tipo de detalhamento americano ensinou-o a usar
novos materiais e técnicas construtivas, com detalhes mais precisos, decorrentes da grande variação
climática ao longo do ano. A convivência no escritório com desenhistas industriais e comunicadores
visuais introduziu-o, lentamente, nesse novo universo até então completamente desconhecido por ele.
Lentamente, esse contato com os desenhistas industriais do escritório levou-o a decidir-se por uma
dedicação integral ao estudo das técnicas de projeto industriais.
Após o término do mestrado em Nova York, Alessandro Ventura decidiu voltar para o Brasil.
“O meu primeiro filho ia nascer, e eu não queria que ele fosse americano, então eu voltei pro Brasil, em
meados de 1968”, declarou em entrevista à autora.
O primeiro trabalho de desenho industrial desse período foi um rádio portátil feito para a
Semp, em 1969, que tentava inovar, lançando seu primeiro produto fabricado em plástico. No período
de 1968 até 1969, Ventura executou projetos de embalagens, caixas plásticas para transporte de leite,
expositores, uma pia para cozinha em fiberglass e um conjunto de ventiladores para a Eletromar.
Os anos 1970 foram marcados por projetos de maior expressão. Pela primeira vez executou
um projeto de alta complexidade em desenho industrial – uma motocicleta de 150cc para a
representante da Lambretta no Brasil. Outro cliente importante desse período foi a Baumer, fabricante
de equipamentos hospitalares, para quem executou vários trabalhos durante os anos seguintes.
O cliente mais importante e duradouro dessa época foi a Frata, fabricante de acessórios para
fotografia, especializada, e a única fabricante de flashes no Brasil. Os projetos com a Frata se
estenderam até o ano de 1995.
No ano de 1970, Alessandro Ventura foi convidado pelo professor Lúcio Grinover para
ingressar como docente no grupo de Desenho Industrial do Departamento de Projeto da FAU-USP, e
teve a oportunidade de trazer para a escola sua experiência adquirida nos Estados Unidos e no início
de sua prática profissional. Nesses primeiros anos dedicou-se com entusiasmo ao ensino, aplicando
em suas atividades didáticas as pesquisas realizadas em seu escritório.
Nos anos de 1975 e 1976, chegaram ao seu escritório as primeiras solicitações de projetos
para computadores. “Eu projetei vários computadores. Toda a primeira geração de computadores do
Brasil, com exceção do Patinho Feio da Poli, durante muitos anos”, declarou à autora.
O escritório foi, por outro lado, um laboratório experimental de importância não apenas
pessoal, mas também na formação de muitos profissionais, os quais, depois, atuaram no mesmo
setor, e alguns também se tornaram, posteriormente, professores da FAU-USP.
A tradição de fazer modelagem ainda não existia na FAU-USP, e, certamente, Ventura foi um
dos primeiros professores a tentar consolidar sua necessidade. A falta dessa técnica na escola se
justificava porque os arquitetos, trabalhando com grandes volumes e massas, não podiam reproduzir
em modelos seus projetos. O máximo que podiam almejar era uma simulação visual dos mesmos,
para uma verificação de volumes e proporções. No caso dos produtos industriais, suas dimensões
menores permitem ir além dessas verificações e examinar também outros aspectos, como, por
exemplo, o comportamento funcional do conjunto e de suas partes, eventuais movimentos dos
componentes, detalhes construtivos, etc. “Era preciso acrescentar esse tipo de treinamento para os
alunos, sem deixar de lado as outras formas de representação, das informações de ordem técnica e,
acima de tudo, dos conceitos básicos a orientarem a concepção de um projeto.” (VENTURA, 2009, p.
321).
Além dessa ênfase sobre a utilização do modelo, Ventura sempre trazia para os alunos as
pesquisas e descobertas surgidas a partir das atividades profissionais em seu escritório, bem como
as discussões sobre componentes antropológicos e culturais que envolvem os produtos, a forma
como os objetos eram usados e qual o significado para aqueles que os usavam.
Em uma aula magna proferida aos alunos do curso de Design da FAU-USP, em 2009,
Alessandro Ventura sintetiza a sua visão sobre a concepção de projeto, com base na sua experiência
profissional em concomitância com a atuação docente:
Nos primeiros dois anos de operação da fábrica, Alessandro Ventura ainda atuava como
docente na FAU-USP. As atividades de docência e pesquisa demandavam muito de seu tempo, além
da participação em comissões e colegiados e da coordenação do TGI – Trabalho de Graduação
Interdisciplinar. Por fim, em 1980, Ventura decidiu desligar-se da FAU-USP para dedicar-se
integralmente às atividades na indústria. “Eu comecei a perceber que o tempo que eu perdia nas
reuniões era um tempo que eu precisava na fábrica, então por isso eu saí”, declarou à autora.
A empresa operou com sucesso durante vinte anos, tendo produzido uma linha de mais de 30
produtos em plástico injetado e alguns em plástico soprado. Os produtos se tornaram muito
conhecidos e divulgados, tendo alguns deles atingido a marca de três milhões de unidades vendidas.
Ao longo desses anos, Alessandro Ventura adquiriu uma série de novos conhecimentos sobre o
processo industrial e familiarizou-se com seus problemas, características e formas de operação.
Esses conhecimentos se refletiram em seu modo de pensar os projetos de produtos, concedendo-
lhes uma característica mais atualizada e pertinente a uma organização industrial. De forma sintética,
o incremento de conhecimento adquirido nesse período da vida industrial foi conhecer, em detalhes, o
processo completo da tradução de uma ideia em um produto acabado. E, em seguida, como esse
produto é encaminhado, recebido e utilizado pelo usuário.
Em 1997, Ventura decidiu vender sua fábrica e retornar à Universidade, onde poderia sintetizar
e transmitir toda a experiência acumulada durante esses anos. Podendo dedicar-se exclusivamente à
9
2
vida acadêmica, prestou concurso e reingressou como docente no grupo de disciplinas de Desenho
Industrial do Departamento de Projeto (AUP) em 1998. No ano 2000 defendeu sua tese de doutorado,
intitulada “Produção Seriada e Projeto Arquitetônico”, e em 2002 obteve o titulo de livre-docente, com
a tese “Arquitetura, Indústria e Produção Modular: sistematização crítica”.
Neste segundo período na vida acadêmica, de 1998 até os dias atuais, Alessandro Ventura
tem se dedicado à docência, à pesquisa, à participação na organização de novos cursos de
graduação da Universidade (com destaque para os cursos de Design e de Tecnologia Têxtil e da
Indumentária) e às atividades externas de cooperação universitária. As atividades docentes na
graduação, encerradas em 2008, foram dedicadas à visão dos problemas de projeto sob a ótica da
indústria, abordando temáticas do design em produtos industriais e temáticas industriais do projeto
de edifícios. Na pós-graduação, vêm sendo desenvolvidas discussões sobre a temática da produção
modular aplicada à arquitetura, tema central de suas pesquisas recentes.
Se você não tem a experiência externa, você vai ser um bom teórico
do assunto, mas você não conhece a realidade. Existe uma série de
componentes que fazem parte de um produto, e de técnicas e de dificuldades
que existem, que você não domina. Você pode ser o melhor professor do
mundo, mas você não sabe. Na indústria, você tem o segredo industrial. Na
indústria você tem as patentes, que são feitas pra você ter proteção. Coisas
que você não tem na arquitetura, ou pelo menos não é tão extenso. (...) Por
exemplo, o cara que fabrica um liquidificador há muito tempo, ele conhece os
problemas que tem, ele sabe que se ele usar um plástico x, depois de 6 meses
ele vira y. Ele sabe que o tipo de motor que ele usa é um motor que tem uma
durabilidade x, enfim, ele conhece os segredos do produto. Você como
professor não conhece os segredos do produto. Então, se você vai dar um
projeto para um aluno, seja um computador, seja um liquidificador, você vai
estar falando em tese, em teoria. (idem).
2
1º contrato: (MS-1, em RTP) de 01/05/1970 a 01/03/1980 (solicitou rescisão). 2º contrato: (MS-2, em RDIDP) a partir de
16/02/1998, no claro decorrente da aposentadoria da Profa. Elvira P. S. de Almeida (GDDI). Tornou-se estável em 2003 - claro:
202703, decorrente de exoneração da Profa. Maria Angela Faggin P. Leite. Aposentado em 22/12/2008. Professor Sênior a
partir de 2010.
10
se você não conhece os meandros, você pode estar falando besteira. O tipo
de produto que eu tinha que fazer, não podia usar, por questões de
segurança. Esses problemas muitas vezes são segredos industriais. (idem).
Por outro lado, Ventura destaca que a carreira acadêmica também tem extrema importância,
por representar a vanguarda do pensamento em determinada área:
Em virtude de sua vasta experiência na área de Desenho Industrial, Alessandro Ventura foi
convidado em 2003 para coordenar as atividades da criação do curso de Design da USP, a ser
sediado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Para esse trabalho foi organizada uma equipe multidisciplinar, composta por professores da
FAU, Escola Politécnica, ECA (Escola de Comunicação e Artes) e FEA (Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade).
Existia uma corrente que queria levar o curso de Design para a ECA, e
então nós juntamos forças para trazer ele pra FAU. E eu acabei sendo o
coordenador, com muita luta interna, porque as pessoas não concordavam
muito, existiam opiniões diferentes. Não foi fácil. (Alessandro Ventura, em
declaração à autora).
O curso foi organizado a partir de sugestão da Fiesp, encaminhada à Reitoria da USP, com a
intenção de constituir-se em referência no país e formar quadros para a indústria, com sólida base
cultural e técnica. Segundo Ventura, o design, na época, era uma força muito importante para o
desenvolvimento da indústria brasileira, e tinha apoio governamental.
A ideia inicial de Alessandro Ventura para o curso de Design era que esse novo curso pudesse
alavancar a FAU-USP, tornando a escola conhecida em vários setores da indústria, bem como dando
novas perspectivas ao curso de Arquitetura e Urbanismo, expandindo seus horizontes.
O curso de Design da FAU-USP iniciou suas atividades em 2006, tendo já completado dez
anos de existência. No entanto, na opinião do professor Alessandro Ventura, o curso ainda não
ingressou na sociedade produtiva.
Conclusões
O projeto nunca é um trabalho terminado em si; ele é sempre fruto de trabalhos anteriores,
ligados prospectivamente aos projetos que virão, nem que leve muitos anos para serem retomados. E
o sentido maior da palavra projeto é tentar reconhecer um problema em sua forma mais simples, de
maneira a que tenha um sentido didático: todo projeto é uma forma de aprendizado. Essa maneira de
trabalhar nos permite afirmar que, sem dúvida, projeto é pesquisa. Essa postura pressupõe um
método, uma atitude consciente e deliberada anterior ao próprio projeto.
Alessandro Ventura construiu, ao longo de seu trabalho como designer e professor de projeto,
os mecanismos para registrar o fazer de sua obra, de modo a tornar, tanto sua postura como seus
projetos, referências para muitos outros professores e designers.
Referências
Entrevista realizada com Alessandro Ventura, em 08 de julho de 2016, na cidade de São Paulo, com
26 minutos de duração.
Processos da Universidade de São Paulo, nº 70.1.10823.1.0 (vol.1) e 04.1.420.16.1 (vol.2). Contrato
docente de Alessandro Ventura.
Programas do curso de Arquitetura e Urbanismo – FAU-USP (1948-1961).
Programas das Disciplinas do Departamento de Projeto – FAU-USP (1962-2008).
SANTOS, Luciene Ribeiro dos. Os professores de projeto da FAU-USP (1948-2018): esboços para a
construção de um centro de memória. Dissertação (Mestrado em Design e Arquitetura). São
Paulo: FAU-USP, 2018.
SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos. “Design e Pesquisa: celebrando vinte anos”. Estudos em
Design, Revista (online). Rio de Janeiro: v. 22, n. 3 [2014], p. 49-56
SILVA, Helena Aparecida Ayoub. Abrahão Sanovicz: o projeto como pesquisa. Tese (Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo). São Paulo: FAU-USP, 2004.
VENTURA, Alessandro. Uma trajetória no campo do desenho industrial. Pós, v.16, n.25. São Paulo,
junho 2009, p. 310-332.
__________. Arquitetura, Indústria e Produção Modular: sistematização crítica. Tese (Livre Docência).
São Paulo: FAUUSP, 2002.