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Pequena História dos Direitos Humanos - 3

Proposta Pequena história dos


direitos humanos
V ivemos um momento de forte onda
conservadora, preconceituosa e reacionária
no país. Ao mesmo tempo a violência civil e
aquela promovida por agentes do Estado
aumentam. As periferias da cidade de Direitos humanos são uma série de direitos termínio de milhões de judeus e outros grupos
São Paulo quase sempre são palcos considerados básicos e fundamentais para na Europa sob o domínio do Nacional Socialis-
de cenas de violência e morte, o que todo ser humano, sem qualquer distinção, mo Alemão entre 1939 e 1945, chocou os diver-
desdobra o alto índice de mortalidade de em qualquer lugar do planeta. Sua existên- sos estados do mundo, principalmente os euro-
jovens, em especial negros, classificada cia considera que a todo ser humano tem igual peus que viram em seu território pela primeira
como causas externas. Nesse contexto direito à dignidade. Existem até hoje diversas vez em séculos uma tragédia desta magnitu-
percebe-se uma forte desvalorização dos discussões sobre quais seriam estes direitos de. O tamanho da catástrofe como que exigiu
Direitos Humanos e uma, cada vez maior, fundamentais que garantem a dignidade hu- a criação de órgãos e legislação internacional
banalização da violência e da morte. mana e sobre como eles podem e devem ser que defendessem a dignidade da vida huma-
garantidos. Do ponto de vista principalmente na, traumatizada pelos diversos campos de
Em regiões como a Zona Sul, Norte e Leste,
da política internacional, eles são considera- concentração e de extermínio. A então recém
mais precisamente nos bairros do Capão Redondo,
dos orientadores para discussões, tomada de criada Assembléia Geral das Nações Unidas
Brasilândia, Cidade Adhemar, Pq. São Francisco, São
decisões e a criação de tratados. Embora haja lançou em 10 de Dezembro de 1948 em Paris
Mateus, Cohab II Itaquera, Itaim Paulista e Guaianases a
discussão sobre formas anteriores de direitos a Declaração Universal dos Direitos Humanos1.
descrição acima se faz realidade. A violência e as desigualdades sociais, raciais e
humanas na história da filosofia política, sua O texto é constituído por 30 artigos e por um
de gênero, quase que naturalizadas, geram uma total desvalorização do conceito
versão moderna tem origem imediatamente preâmbulo do qual citamos trechos:
de Direitos Humanos, que também em razão da campanha midiática, transforma-
após a Segunda Guerra Mundial.
se em “direitos para bandidos”. Já a juventude, principal vítima, e os negros 1 Declaração universal dos direitos humanos, tradução oficial em por-
tuguês, disponível em: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_in-
principalmente, em sua grande parte reproduzem o discurso conservador. A A Shoa, termo hebraico que se refere ao ex- ter_universal.htm
repetição do discurso cria um caldo de mentalidade e uma prática cotidiana que,


no fim das contas, os auto-condena enquanto grupo social e racial.
“Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família
Diante desses fatos, que são notórios na cidade de São Paulo, e em todo país, humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da
entendemos que a presença dos Núcleos de Educação Popular, sejam eles pré- paz no mundo, (…) que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em
vestibulares, prática de esportes ou cultura ou grupos de estudo, são importantes atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo
por se constituírem como espaços de reflexão, formação, valorização das relações em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo
humanas. A prática do estudo formal e do objetivo acadêmico, misturada à do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,
reflexão da realidade da comunidade, dos seus problemas, da busca por soluções considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito,
e do envolvimento familiar, proporcionam um clima positivo à criação de vínculos
para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a
mais consistentes e de disputa da mentalidade da juventude.
opressão, considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre
Mais ainda a formação dirigida à valorização e prática cotidiana dos Direitos as nações, considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos
Humanos. É deste entendimento que surge a presente proposta. direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de
direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla, (…) que uma compreensão comum
desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse
compromisso, a Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos
Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade (…) se esforce, através do ensino e
Autor e editor: Tomaz Amorim Izabel da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
Contato: tommy.amorim@gmail.com
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
Colaborador: Lucas Page Pereira (Consumo e Direitos observância universais e efetivos.”
Humanos)
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Os itens que se seguem a esta introdução garantem uma série de direitos às pessoas, tanto
positivos – ou seja, garantias de que as pessoas podem ter ou ser -, como negativos – ou seja, XXIII. Todos tem direito ao trabalho, em condições livres e favoráveis, e à proteção contra o
garantias de que as pessoas não poderão ser ou ter. No fim deste material encontra-se o texto desemprego. Todos receberão remuneração igual por trabalho igual sem distinção qualquer.
completo da Declaração. Resumimos agora alguns de seus pontos principais: Todos receberão o salário necessário para sua sobrevivência digna e humana, ao qual será
acrescentado, se necessário, outros meios de proteção social. Está assegurado o direito de se
associar em sindicatos e de nele ingressar.


I. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. XXIV. Todos tem o direto ao repouso, ao lazer, ao limite razoável de horas de trabalho e de
II. A Declaração vale para todos, independente de: raça, cor, sexo, língua, religião, opinião férias periódicas.
política, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição. XXV. Todos tem direito a um padrão de vida digno para si e para sua família, incluindo acesso
III. Direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. à saúde e bem estar, alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos, além de segurança
em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez e velhice. A maternidade e a infância tem
IV. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. direito a cuidados especiais. Todas as crianças gozarão da mesma proteção social.
V. Ninguém será torturado, nem receberá castigo cruel ou desumano. XXVI. Todos tem direito à educação gratuita nos graus elementares e fundamentais. Ela se
VI, VII e X. Todos serão reconhecidos igualmente como pessoas diante da lei e terão direito pautará no desenvolvimento pleno da personalidade humana e fortalecimento do respeito
de proteção dela, com audiências justas e públicas por tribunal independente e imparcial. pelos direitos humanos, liberdades fundamentais e paz entre os diversos povos.

IX. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. XXVII. Todos tem direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir
as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.
XI. Todos serão inocentes até provado o contrário dentro da lei.

XII. Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, família, lar ou correspondência, Como se vê, a maior parte destes direitos todas as camadas da população, a segurança
nem a ataques à sua honra e reputação. faz referência a garantias mínimas necessárias pública é violenta e pouco eficaz. O quinto item
para a vida livre e digna dos indivíduos. Algunstambém, que proíbe a tortura e os maus tratos,
XIII. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência, assim como de deixar
pontos, no entanto, em sua formulação, tra- foi absolutamente esquecido durante nossa
qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.
zem pressupostos políticos com os quais al- Ditadura Militar, quando centenas de civis fo-
XIV. Toda vítima de perseguição tem o direito de procurar asilo em outros países. guns grupos discordavam. Um caso exemplar ram assassinados e brutalmente torturados
é o do artigo XVII que garante o direito à pro- por agentes do estado, e também em nosso
XV. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. priedade como um direito humano, em sentido presente, a partir da ação ilegal de carcereiros
XVI. Todos tem o direito de contrair matrimônio.
contrário, portanto, ao que os países da União e policiais, como denunciou recentemente o
Soviética passariam a defender (estes países, relatório da ONG Human Rights Watch2. O dé-
XVII. Todos tem direito à propriedade. Ninguém será arbitrariamente privado dela. inclusive, se abstiveram ao votar a aprovação cimo segundo item, por fim, que garante igual-
da Declaração). De acordo com sua ideologia e mente a todos o direito à segurança social e à
XVIII. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; de mudança com outras, a propriedade individual era por si realização de seus direitos econômicos, sociais
de religião ou crença e de manifestá-las através de prática, ensino, culto ou observância, em só uma violação dos direitos comuns, daí sua e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao
público ou em particular. expropriação e controle pelo estado. livre desenvolvimento de sua personalidade,
XIX. Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão, incluindo o direito de parece, infelizmente, um sonho ainda distante,
Vemos lamentavelmente que muitos objeti- considerando a brutal desigualdade do país, a
procurar, receber e transmitir informações e idéias. vos deste texto de 1948 ainda não foram alcan- décima maior do planeta.
çados em muitos lugares do mundo, incluindo
XX. Liberdade de reunião e associação pacífica. Ninguém será obrigado a ser parte de uma
o Brasil. O terceiro item da Declaração, por Como comentário, contraposição ou com-
associação.
exemplo, garante o direito à vida, à liberdade plementação da Declaração surgiram diversos
XXI. Todos tem direito de ser parte do governo de seu país, de acessar o serviço público e de e à segurança pessoal de todos. Em nosso país, outros tratados internacionais que a tomaram
votar livremente por seus representantes. estes três direitos estão ameaçados pela preca- como referência. Uma delas, importante para
riedade de nossa segurança: somos o décimo tratar de Direitos Humanos no Brasil, foi a Con-
XXII. Todos tem direito à segurança social e à realização de seus direitos econômicos, sociais primeiro país no mundo em número de homicí- ferência Mundial contra o Racismo, a Dis-
e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade. dios intencionais, temos a quarta maior popu- criminação Racial, Xenofobia e Intolerância
lação carcerária do mundo, o clima de insegu- 2 World Report 2014, p. 218, publicado pelo Human Rights Watch, disponível
rança (como discutiremos adiante) toma quase em: http://www.hrw.org/sites/default/files/wr2014_web_0.pdf, p. 218
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Correlata, que aconteceu em paração financeira aos países que sofreram com a Escravidão.
2001, em Durban, na África do O rapper brasileiro Ba Kimbuta faz referência à Conferência em particular, a pobreza, o subdesenvolvimento, a marginalização, a exclusão social, a
Sul. Pela primeira vez, sob tute- na sua música “Resíduos do Ódio”: homogeneização cultural e as disparidades econômicas que podem ser produzidas segundo
la da Organização das Nações critérios raciais, dentro e entre Estados e têm consequências negativas;
Unidas, em uma conferência
13. A escravidão e o tráfico escravo, incluindo o tráfico de escravos transatlântico, foram
internacional deste porte fo-
“Ele fica lendo essas besteiras tragédias terríveis na história da humanidade, não apenas por sua barbárie abominável,
ram discutidos os efeitos do
Colonialismo e do Racismo no e sai cobrando. mas também em termos de sua magnitude, natureza de organização e, especialmente,
mundo. As discussões giraram pela negação da essência das vítimas. A escravidão e o tráfico escravo são crimes contra a
Vocês dão continuidade no massacre colonial, humanidade e assim devem sempre ser considerados, especialmente o tráfico de escravos
em torno das grandes tragé-
dias históricas, com destaque português, francês, caucasóide, transatlântico, estando entre as maiores manifestações e fontes de racismo, discriminação
para o tráfico de escravos no às claras, sem óleo de madeira, racial, xenofobia e intolerância correlata; e que os Africanos e afrodescendentes, Asiáticos
Atlântico, que geraram os de- e povos de origem asiática, bem como os povos indígenas foram e continuam a ser vítimas
quando ouviu “reparação” na Conferência Africana em Durban, destes atos e de suas conseqüências;
safios sociais presentes nos pa-
íses subdesenvolvidos. O texto tristeza,
14. O colonialismo levou ao racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata,
busca reconhecer as causas foram os primeiros a tirar o cu da mesa3” . e que os Africanos e afrodescendentes, os povos de origem asiática e os povos indígenas foram
destes problemas e sugerir me-
vítimas do colonialismo e continuam a ser vítimas de suas conseqüências. Reconhecemos o
lhorias. Os países europeus, no
entanto, em conjunto com os sofrimento causado pelo colonialismo e afirmamos que, onde e quando quer que tenham
Estados Unidos, se recusaram ocorrido, devem ser condenados e sua recorrência prevenida.
3 Esta canção e o álbum inteiro de Ba Kimbuta estão disponíveis para download no endereço: http://bakim-
a se comprometer com uma re- buta.wordpress.com
18. A pobreza, o subdesenvolvimento, a marginalização, a exclusão social e as disparidades
econômicas estão intimamente associadas ao racismo, discriminação racial, xenofobia e
Mesmo assim, o texto final traz uma Declaração4 e um Plano de ação muito importantes para
intolerância correlata, e contribuem para a persistência de práticas e atitudes racistas as quais
nortear o debate sobre os responsáveis pelo racismo e sua superação. O Brasil teve papel impor-
tante durante o debate e o teor final do tratado foi importante para reconhecer as dificuldades geram mais pobreza;
sociais brasileiras em relação ao nosso passado e às dificuldades presentes, principalmente em 25. Expressamos nosso profundo repúdio ao racismo, discriminação racial, xenofobia e
relação aos descendentes dos povos africanos e indígenas escravizados. Resumimos alguns pon- intolerância correlata que persistem em alguns Estados no funcionamento dos sistemas
tos importantes da Declaração que dizem respeito ao nosso presente no Brasil (a versão comple- penais e na aplicação da lei, assim como, nas ações e atitudes de instituições e indivíduos
ta se encontra disponível na internet, no endereço indicado): responsáveis pelo cumprimento da lei, especialmente nos casos em que isto tem contribuído
para que certos grupos estejam excessivamente representados entre aqueles que estão sob


2. Racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata ocorrem com base na custódia ou encarcerados;
raça, cor, descendência, origem nacional ou étnica; as vítimas podem sofrer múltiplas ou
agravadas formas de discriminação calcadas em outros aspectos correlatos como sexo, língua, 32. Reconhecemos o valor e a diversidade da herança cultural dos africanos e afrodescendentes
religião, opinião política ou de qualquer outro tipo, origem social, propriedade, nascimento e afirmamos a importância e a necessidade de que seja assegurada sua total integração à vida
e outros; social, econômica e política, visando a facilitar sua plena participação em todos os níveis dos
processos de tomada de decisão;
7. Qualquer doutrina de superioridade racial é cientificamente falsa, moralmente condenável,
socialmente injusta e perigosa, e deve ser rejeitada juntamente com as teorias que tentam 33. Consideramos essencial que todos os países da região das Américas e de todas as outras
determinar a existência de raças humanas distintas; áreas da Diáspora africana, reconhecerem a existência de sua população de descendência
africana e as contribuições culturais, econômicas, políticas e científicas feitas por esta
9. Racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata podem ser agravados, população e a reconhecerem a persistência do racismo, discriminação racial, xenofobia e
entre outros, pela distribuição desigual de riqueza, pela marginalização e pela exclusão social; intolerância correlata que os afeta especificamente, e reconhecemos que, em muitos países,
11. O processo de globalização constitui uma força poderosa e dinâmica que deveria ser a desigualdade histórica em termos de acesso, entre outros, à educação, ao sistema de saúde,
utilizada para o benefício, desenvolvimento e prosperidade de todos os países, sem exclusão, à moradia tem sido uma causa profunda das disparidades sócio-econômicas que os afeta;
mas, (…) no momento, seus benefícios são partilhados de forma muito desigual, e seus 39. Reconhecemos que os povos de origem indígena têm sido, durante séculos, vítimas de
custos são desigualmente distribuídos. Os efeitos negativos da globalização podem agravar, discriminação e afirmamos que eles são livres e iguais em dignidade e direitos e não devem
sofrer qualquer tipo de discriminação baseada, particularmente, em sua origem e identidade

4 O texto completo da declaração traduzido oficialmente para o português está disponível em: http://www.unfpa.org.br/Arquivos/declaracao_durban.pdf
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indígena, e enfatizamos a necessidade de se tomarem medidas constantemente para superar fundamental para a erradicação do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância
a persistência do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata que os correlata;
afetam;
88. Reconhecemos que os meios de comunicação devem representar a diversidade de uma
43. Reconhecemos, também, a relação especial que os povos indígenas mantêm com sua terra sociedade multicultural e desempenham um papel na luta contra o racismo, discriminação
como base de sua existência espiritual, física e cultural e incentivamos os Estados, sempre racial, xenofobia e intolerância correlata. Neste sentido, chamamos a atenção para o poder
que seja possível, a assegurarem que os povos indígenas possam manter a propriedade de da propaganda;
suas terras e dos recursos naturais a que têm direito conforme a legislação interna;
89. Lamentamos que certas mídias, ao promoverem imagens falsas e estereótipos negativos
56. Reconhecemos, em muitos países, a existência de uma população mestiça, de origens dos indivíduos e grupos vulneráveis, particularmente de migrantes e refugiados, têm
étnicas e raciais diversas, e sua valiosa contribuição para a promoção da tolerância e respeito contribuído para difundir os sentimentos racistas e xenófobos entre o público e, em alguns
nestas sociedades, e condenamos a discriminação de que são vítimas, especialmente porque casos, têm incentivado a violência através de indivíduos e grupos racistas;
a natureza sutil desta discriminação pode fazer com que seja negada a sua existência;
95. Reconhecemos que a educação em todos os níveis e em todas as idades, inclusive dentro da
59. Reconhecemos com profunda preocupação a intolerância religiosa contra algumas família, em particular, a educação em direitos humanos, é a chave para a mudança de atitudes
comunidades religiosas, bem como a emergência de atos hostis e de violência contra tais e comportamentos baseados no racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância
comunidades por causa de suas crenças religiosas e sua origem racial ou étnica em várias correlata e para a promoção da tolerância e do respeito à diversidade nas sociedades; Ainda
partes do mundo, o que limita, particularmente, o seu direito de praticar seu credo livremente; afirmamos que tal tipo de educação é um fator determinante na promoção, disseminação
e proteção dos valores democráticos da justiça e da igualdade, os quais são essenciais para
66. Afirmamos que a identidade étnica, cultural, lingüística e religiosa das minorias, onde
prevenir e combater a difusão do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância
elas existam, deve ser protegida e que as pessoas pertencentes a tais grupos devem ser
correlata;
tratadas igualmente e devem gozar dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais
sem discriminação de qualquer tipo; 99. Reconhecemos e profundamente lamentamos os enormes sofrimentos humanos e o
trágico padecimento de milhões de homens, mulheres e crianças causado pela escravidão, pelo
68. Reconhecemos com grande preocupação as manifestações de racismo, discriminação
tráfico de escravos, pelo tráfico transatlântico de escravos, pelo apartheid, pelo colonialismo
racial, xenofobia e intolerância correlata em curso, incluindo a violência contra os Roma,
e pelo genocídio, e convocamos os Estados a se preocuparem em honrar a memória das
Ciganos, Sinti e Nômades; e reconhecemos a necessidade de se desenvolverem políticas
vítimas de tragédias do passado, e afirmamos que onde e quando quer que tenham ocorrido,
eficazes e mecanismos de implementação para o pleno alcance da igualdade;
devem ser condenados e sua recorrência evitada. Lamentamos que estas práticas e estruturas
69. Estamos convencidos de que o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância políticas, sócio-econômicas e culturais tenham levado ao racismo, à discriminação racial, à
correlata revelam-se de maneira diferenciada para mulheres e meninas, e podem estar entre xenofobia e à intolerância correlata;
os fatores que levam a uma deterioração de sua condição de vida, à pobreza, à violência,
100. Reconhecemos e profundamente lamentamos o sofrimento e os males não-ditos
às múltiplas formas de discriminação e à limitação ou negação de seus direitos humanos.
infligidos a milhões de homens, mulheres e crianças como resultado da escravidão, do
Reconhecemos a necessidade de integrar uma perspectiva de gênero dentro das políticas
tráfico de escravos, do tráfico de escravos transatlântico, do apartheid, do colonialismo,
pertinentes, das estratégias e dos programas de ação contra o racismo, discriminação racial,
do genocídio e das tragédias do passado. Observamos ainda que alguns Estados tiveram
xenofobia e intolerância correlata com o intuito de fazer frente às múltiplas formas de
a iniciativa de pedirem perdão e pagaram indenização, quando apropriado, pelas graves e
discriminação;
enormes violações perpretadas;
74. Reconhecemos que o trabalho infantil é ligado à pobreza, à falta de desenvolvimento e a
108. Reconhecemos a necessidade de ser adotarem medidas especiais ou medidas positivas
condições sócio-econômicas correlatas e que, em alguns casos, poderia perpetuar a pobreza
em favor das vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata
e a discriminação racial ao, desproporcionalmente, negar às crianças dos grupos atingidos a
com o intuito de promover sua plena integração na sociedade. As medidas para uma ação
oportunidade de adquirir as qualificações humanas requeridas para a vida produtiva e para
efetiva, inclusive as medidas sociais, devem visar corrigir as condições que impedem o gozo
o benefício do crescimento econômico;
dos direitos e a introdução de medidas especiais para incentivar a participação igualitária de
76. Reconhecemos que a desigualdade de condições políticas, econômicas, culturais e sociais todos os grupos raciais, culturais, lingüísticos e religiosos em todos os setores da sociedade,
podem reproduzir e promover o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância colocando a todos em igualdade de condições. Dentre estas medidas devem figurar outras
correlata, e têm como resultado a exacerbação da desigualdade. Acreditamos que a igualdade medidas para o alcance de representação adequada nas instituições educacionais, de moradia,
de oportunidades real para todos, em todas as esferas, incluindo a do desenvolvimento, é nos partidos políticos, nos parlamentos, no emprego, especialmente nos serviços judiciários,
na polícia, exército e outros serviços civis, os quais em alguns casos devem exigir reformas
eleitorais, reforma agrária e campanhas para igualdade de participação;
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Alguns itens desta Declaração de Durban fa- referência a sobrerepresentação de negros no


lam intimamente à realidade social brasileira. sistema carcerário, como efeito direto da dis- Consumo e direitos humanos
Como país com a maior população de descen- criminação racial. A Declaração também faz
dentes de africanos fora da África, como último referência à descriminação religiosa (item 59) e O crescimento econômico recente do Brasil dá conta de assegurar os direitos humanos? Lem-
país das Américas a abolir a escravidão, o Bra- cultural de diversos grupos presentes no Brasil bremos o artigo XXV da Declaração Universal de Direitos Humanos:
sil é exemplo evidente do impacto negativo e como os povos indígenas, afrodescendentes,
nefasto do Colonialismo e Racismo, que ainda orientais, mestiços e ciganos. Por fim, o item


permeiam as nossas sociedades contemporâ- 108 refere-se a medidas tomadas pelos gover- 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e
neas (item 13). Nossa presença e participação nos que podem ajudar a superar a diferença bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
privilegiada neste fórum realizado em 2001, social entre os grupos étnicos. Entre elas, no indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez,
mostra, no entanto, que existe uma tomada Brasil, há um amplo debate sobre as cotas para velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.
cada vez maior de consciência em relação ao negros, tanto no funcionalismo público, quan-
nosso passado e presente de abusos e viola- to na entrada no vestibular de universidades 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças
ção de direitos, principalmente, considerando públicas. A Declaração também se refere à po- nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
o elemento racial. Esta Declaração, ao mesmo sição das mulheres e de outros grupos oprimi-
tempo, em que aponta contradições gritantes, dos, dentro das vítimas do racismo (item 69).
também mostra possibilidades de reparação Falaremos mais adiante sobre esta importante A primeira vista, o artigo XXV pode nos levar a uma confusão: ao apre-
e transformação, algumas das quais já se ini- consideração no momento de combate ao ra- sentar o acesso a determinado padrão de vida como direito humano, ele Segundo os dados do IPEA,

ciaram no Brasil. O item vigésimo quinto faz cismo e outras violações dos direitos humanos. nos faz pensar que o amplo processo de mobilidade social pela qual passa em 2013, a nova classe média
compreende a parcela da
o Brasil na última década traz consigo uma ampliação proporcional dos
população com rendimentos
direitos humanos – já que, segundo dizem, a ascensão de mais de 50% da familiares mensais entre
população à famigerada nova classe média teria feito com que esses tra- R$1.315,00 e R$5.672,00, o
balhadores e trabalhadoras se tornassem consumidores de uma ampla que representa uma renda

gama de produtos que até então lhes eram inalcançáveis. Mas tão logo per capita mensal variando
entre cerca de R$400,00 e
nos aproximamos um pouco para ver em detalhe o que dá substância a
R$1.720,00 – de modo que
tal discurso, tudo que era tão solido se desmancha no ar. qualquer brasileiro que receba
atualmente um salário mínimo
Nesse sentido, o primeiro problema a que devemos nos ater é onde se
(R$724,00) já faz parte da nova
dá a mobilidade social recente. Dado que as pesquisas do IBGE não con- classe média.
seguem captar significativamente o montante dos rendimentos dos ricos
(lucros, rendas, bonificações etc.)5 , cruzando rendimento com o tipo de
atividade realizada temos a seguinte evolução:

5 ANTUNES, Davi. J.; GIMENEZ, Denis; QUADROS, Waldir. “O Brasil e a nova classe média dos anos 2000”. Disponível em:
http://www.politicasocial.net.br/index.php/textos-para-discussao/173-textos-para-discussao5.html
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A mudança na forma do gráfico (de uma “pirâmide” para um “pinheiro”) indica que a redução aquelas ocupadas por brancos que estudaram de apenas pouco mais de 38% da população8 .
significativa do volume da “ralé” (que recebiam menos de um salário mínimo e desempenha, em mais, mas se a remuneração é algo que compete
geral, um trabalho precário) é acompanhada pelo aumento, sobretudo, do volume da massa tra- sobretudo à vida adulta, o que é determinante Tal problema agrava-se ainda mais quando
balhadora e da baixa classe média. Essas mudanças importantes vinculam-se diretamente à polí- no processo de formação que gere tais diferen- olhamos para um bem mais complexo como o
tica de elevação real do valor do salário mínimo e aos diversos programas sociais realizados pelo ças? Porque a maior parte dos negros ocupam direito à moradia digna.As políticas do gover-
governo federal, tais quais o PROUNI e o Bolsa Família, cada um deles impactando de maneira profissões menos remuneradas e também per- no para o setor, desde 2009 articuladas no Pro-
distinta sobre cada um desses estratos. manecem menos tempo no interior do sistema grama Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), não
educacional7 ? Isso não se deverá ao fato de se- conseguem atingir os estratos de renda da po-
Do mesmo modo que os programas sociais, os efeitos dessa mobilidade impactam de modo rem, em grande medida, filhos de negros que pulação onde encontramos o maior déficit habi-
diferente cada um dos estratos da população. Observemos o comportamento de algumas variáveis provavelmente ocupam postos menos remune- tacional. Segundo indicam Mariana Fix e Pedro
quando estratificamos a população por categoria sócio-ocupacional, segundo o modelo EGP6 : rados e, assim, não têm condições de lhes pos- Arantes, o déficit habitacional urbano de famí-
sibilitar uma dedicação exclusiva aos estudos? lias entre 3 e 10 salários mínimos corresponde a
Tabela 1: Média da Renda, cor, escolaridade e bens de consumo Composição Sócio-Ocupacional (EGP) Será que isso não se vincula também ao fato de, apenas 15,2% do total (dados da Fundação João
do Chefe de Domicílio no Brasil, 2002 dispondo de maiores rendimentos, a população Pinheiro para o ano 2000), mas receberá 60%
Escolaridade Média, branca possa oferecer, além da dedicação exclu- das unidades e 53% do subsídio público. Essa
Renda Cor Consumo
EGP
Ano
em anos
siva à escola, escolas de melhor qualidade a seus faixa poderá ser atendida em 70% do seu déficit,
(6 classes)
Média Var. % Média Até 4
12 ou
Brancos Negros* Celular Computador
Máq. de
Carro
filhos? satisfazendo o mercado imobiliário, que a con-
mais Lavar
Profissionais
sidera mais lucrativa. Enquanto isso, 82,5% do
2002 3522,9 13,4 5,8 61,9 76,3 23,7 77 58 71,4 ---
altamente Interessa-nos destacar algo a mais sobre o déficit habitacional urbano concentra-se abaixo
qualificados e
2,7
Administradores
2009 3616,4 14,2 2,5 71,8 71,7 28,3 97,4 84 79,4 67,6 acesso aos bens de consumo conforme expos- dos 3 salários mínimos, mas receberá apenas
Trabalhadores 2002 1317,8 10,7 11,8 20,6 62,1 37,9 53,4 23,8 49 ---
tos na tabela acima. Na medida em que o bem 35% das unidades do pacote, o que corresponde
não manuais de 1,6 de consumo torna-se mais caro, maior é a desi- a 8% do total do déficit para esta faixa. No caso
rotina 2009 1339,2 11,7 7 28,5 55,1 44,9 94,2 57,2 59,7 39,3
gualdade de sua distribuição entre as categorias do déficit rural, como veremos adiante, a por-
Pequenos 2002 2349,5 9,3 25,6 18,2 67 33 58,6 31,8 53,8 --- de maiores rendimentos e educação e aquelas centagem de atendimento é pífia, 3% do total
proprietários
4,2
2009 2448,4 10 19,6 20,4 62,1 37,9 91,6 57,1 62,3 50,9 diametralmente opostas. Assim, a proporção necessário9 .
Trabalhadores 2002 959,3 7,5 36,6 4,7 54,2 45,8 36,8 11,8 34,5 ---
manuais 13,3
de profissionais e administradores que dispõem,
qualificados 2009 1086,5 8,8 25 7,7 47,9 52,1 88,3 39,3 49,2 32,5 em 2009, de micro computadores é quase 8 ve- Assim, o que vimos e vemos é uma amplia-
zes maior que a categoria rural – diferença essa ção drástica de um pequeno poder de compra
Trabalhadores 2002 817,7 6,8 44,1 2,2 50 50 30,8 6,3 27,2 ---
não qualificados
9,8
que reproduz no que toca à propriedade de que, em seu volume total, transformou milhões
2009 897,6 7,9 32,2 4,4 43,2 56,8 85,7 29,2 38,6 25,1
máquinas de lavar (4,3 vezes maior) e a de au- de batalhadoras e batalhadores brasileiros em
2002 508,5 4 78,9 1,2 43,2 56,8 12,8 2,5 9,2 ---
Rural 15
tomóvel (3 vezes maior). Essa diferença não diz proprietários de celulares, secadores de cabe-
2009 585 4,9 68,1 2,7 38,5 61,5 56,9 9,4 14,8 16,7
respeito somente ao preço de tais produtos in- lo, televisores mais novos, ventiladores, roupas
* A categoria negro agrega “pretos” e “pardos”
dividualmente, mas à posse conjunta deles que mais adequadas à moda, de alimentos antes
Fonte: PNADs, 2002, 2009 / IBGE
leva cada uma dessas categorias a priorizar cer- um pouco mais rareados na dieta (como queijo,
Segundo podemos ler na tabela, os três extratos mais baixos da tabela foram aqueles que tive- tos bens em detrimento de outros. carne e iogurtes) etc. Mas, seja na reprodução
ram a maior variação proporcional em suas rendas médias, bem como na ampliação do nível educa- das desigualdades que tocam a relação educa-
cional (variação de 22,50%, para a categoria rural), acesso a celular (variação de 344,53%, para a ca- Não há dúvida de que tais bens interferem no ção-renda, seja nas desigualdades que tocam a
tegoria rural), acesso a microcomputador (variação de 363,49%, para a categoria dos trabalhadores acesso a maiores níveis e rendimentos educacio- possibilidade de acesso à moradia, o que temos
não qualificados), acesso a máquina de lavar (variação de 60,87%, também para a categoria rural). nais: a criança que desde a primeira idade está é que, apesar de importante, a mobilidade social
Essa ampliação proporcional no interior das categorias de base, no entanto, não foi suficiente para em contato com microcomputadores não só vivida no Brasil da última década não consegue
que se observasse uma mudança significativa nas desigualdades em relação às categorias mais bem desenvolverá habilidade que são positivamente atingir o âmago dos problemas essenciais que
remuneradas. valoradas no mercado de trabalho (saber utili- possibilitariam melhores condições de vida e
zar um editor de texto, uma planilha eletrônica, uma maior igualdade de oportunidades para os
Conforme podemos ler, num país em que mais da metade da população se auto-declara preta ou navegador de internet etc.), como poderá apri- indivíduos pertencentes aos diferentes estratos
parda, as categorias mais bem remuneradas são majoritariamente ocupadas por brancos, enquan- morar suas pesquisas e estudos regulares (os – sejam eles estratos de renda, de cor, de profis-
to as menos remuneradas são preponderantemente negras. A diferença quanto à cor se expressa trabalhos de escola) – problema agravado pelo 8 Segundo a reportagem “Número de pessoas com acesso à internet em casa cresce
4%”, do site do Ibope disponível em:
também no que toca ao nível educacional, em que um verdadeiro abismo separa as categorias mais acesso a internet em casa,em 2013, ser privilégio http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/paginas/numero-de-pessoas-com-acesso-
bem remuneradas das menos, de modo que a retroalimentação entre remuneração, nível educa- a-internet-em-casa-cresce-4.aspx
9 ARANTES,Pedro &FIX, Mariana. “Como o governo Lula pretende resolver o
cional e cor colocam um problema do seguinte gênero: as profissões de maiores remunerações são 7 ANDRADE, Cibele &DACHS, José Norberto. “Acesso à educação por faixas problema da habitação: Alguns comentários sobre o pacote habitacional Minha
etárias segundo renda e raça”, in Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 131, p. 399-422, Casa, Minha Vida”, in União nacional por Moradia Popular. Disponível em http://
6 SALATA, André &SCALON, Celi. “Uma nova classe média no Brasil da última década? O debate a partir da perspectiva sociológica”, in Revista Sociedade e Estado - maio/ago. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v37n131/a0937131. www.unmp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=297:co-
Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012. Disponível em: pdf mo-o-governo-lula-pretende-resolver-o-problema-da-habitacao&catid=40:materi-
http://oglobo.globo.com/politica/censo-2010-populacao-do-brasil-deixa-de-ser-predominantemente-branca-2789597 ais-sobre-politica-de-habitacao&Itemid=68.
14 - Pequena História dos Direitos Humanos Pequena História dos Direitos Humanos - 15

são, de gênero etc. tamento, veem os filhos brincar no total de 206.005 vítimas de homicídios, número Nas classes mais baixas, o trabalho excessivo
parque ao lado? bem superior aos 12 maiores conflitos armados e mal remunerado cria famílias desestrutura-
Isso se deve, em grande medida, acontecidos no mundo entre 2004 e 2007. Mais das que, mesmo com algum apoio do Estado,
ao fato de tais problemas se vincula- Para podermos falar em am- ainda, esse número de homicídios resulta quase não conseguem impedir mais uma volta de um
rem ao acesso a certos bens e con- pliação de direitos humanos seria idêntico ao total de mortes diretas nos 62 confli- círculo vicioso: jovens que estudaram pouco,
dições que não são suficientemente necessário que as condições para tos armados desse período, que foi de 208.349”. trabalham muito desde cedo e constituem pre-
rentáveis para poderem ser solucio- uma igualdade que esteja além da- Além da amplitude absurda deste número, es- cariamente uma nova família, sem perspectiva
nados através da economia de mer- quela observada na posse dos bens tas vítimas estão representadas de maneira de ascensão social. Este ciclo permite algumas
cado. Fato este que é agravado de consumo visíveis ao nível da rua, desigual segundo sua raça e classe. De 2002 a variações: raríssimas vezes, por mérito próprio e
pelos programas de governos que uma igualdade no que toca a possi- 2011, por exemplo, o número de assassinato de nadando contra a corrente, jovens conseguem a
tocam essas duas áreas muito sen- bilidade efetiva de melhores condi- negros cresceu enquanto a de brancos diminuiu, oportunidade de estudar e se qualificar tecnica-
síveis (educação e moradia) opera- ções de vida reprodutíveis, fossem sendo a maioria destas vítimas jovens. mente para uma posição melhor remunerada. É
rem para o mercado, ou seja, o que ao menos esboçadas. O que vimos e possível que seus filhos, nesta situação, tenham
temos não é o Estado construindo vemos é que as medidas voltadas a O efeito principal desta guerra é a violação mais chance de ingressar no círculo da socieda-
moradias populares, orientado pela possibilitar tais condições, da forma constante dos direitos humanos, aqueles direi- de para quem o Estado oferece serviços e o mer-
manutenção dos direitos humanos, como tem sido e estão sendo trata- tos mais fundamentais, ligados à dignidade e ao cado de trabalho não fecha logo de cara suas
mas subsidiando a compra de imó- das, apresentam limites vinculados direito de sobrevivência garantidos na Constitui- melhores posições. Infelizmente, esta variação
veis baratos por parte da população; a sua concepção que, retocando o ção e em tratados internacionais. Estes direitos é a mais rara. Uma variação muito mais comum
tampouco o que temos é uma am- verniz, vende o móvel sem tratar os não são violados apenas pela violência brutal da é a do jovem frustrado que se recusa a repetir o
pliação qualitativamente controla- cupins que o consomem por dentro. luta entre os diferentes grupos econômicos da mesmo círculo social maldito (falta de oportuni-
da das vagas nas universidades pú- cidade, mas também pelo Estado – instrumento dade de estudos e formação; exploração brutal
blicas visando sua universalização, de grupos nesta luta – que deveria garanti-los.
mas o oferecimento de subsídios Violência nas de seu trabalho; formação familiar desestrutu-
rada) e é cooptado pela alternativa sempre pre-
para que universidades privadas
ocupem suas cadeiras vacantes.
classes em conflito sente do crime.

Ora, se os direitos humanos têm Vivemos em uma sociedade bru-


como essencial que todas as pesso- talmente violenta. A cidade de São
as nascem livres e iguais em digni- Paulo como maior metrópole do
dade e direitos, como é possível que país concentra em si, além de gran-
tais expectativas se realizem quan- de parte da riqueza do país, uma
do mais de 10 milhões de crianças forma amplificada e intensificada Segundo a reportagem

não dispõe de vaga em uma creche, desta violência. O cenário atual é “Déficit de vagas para

impossibilitando que seus pais pos- de uma guerra civil disfarçada entre crianças em creches no país
chega a 10 milhões” do G1,
sam desempenhar suas atividades os diversos grupos que compõem
disponível em:
da melhor maneira possível? Com nossa sociedade. Segundo o Mapa http://g1.globo.com/
um sistema público de educação bá- da Violência 201310 , o Brasil é o séti- profissao-reporter/

sica a tal nível precário, como é pos- mo país com maior porcentagem de noticia/2013/06/deficit-de-

sível que estudantes da rede pública homicídios por população no mun- vagas-para-criancas-em-
creches-no-pais-chega-10-
das regiões periféricas possam não do. Este número é absurdo, prin-
milhoes.html
enxergar o ENEM e os vestibulares cipalmente se comparado a países
como um abismo intransponível? em conflito. Segundo o Mapa, “no
Como é possível que, morando em Brasil, país sem disputas territoriais,
condições precárias e horas distan- movimentos emancipatórios, guer-
te de seus trabalhos, os pais possam ras civis, enfrentamentos religio-
dar a atenção necessária ao acom- sos, raciais ou étnicos, conflitos de
panhamento escolar de seus filhos? fronteira ou atos terroristas foram
Como é possível que, sob o perigo contabilizados, nos últimos quatro
iminente do despejo, os indivídu- anos disponíveis – 2008 a 2011 – um
os possam desenvolver-se tal qual 10 WAISELFISZ, Julio Jacobo. Homicídios e Juventude no
Brasil,2013. Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.
aqueles que, de seu tranquilo apar- br/pdf2013/mapa2013_homicidios_juventude.pdf
16 - Pequena História dos Direitos Humanos Pequena História dos Direitos Humanos - 17

Os Racionais MCs retratam estas ses dominantes ao segregarem, ativa distinguir das classes baixas. ência a programas populares que trazem como
duas possibilidades em um RAP clás- e passivamente, estes jovens da parti- notícia principal o assassinato e encarceramen-
No meio desta tensão constante, da classe to das classes baixas e outros instrumentos que
sico, “To ouvindo alguém me chamar”: cipação social, criam as próprias forças em situação um pouco melhor aterrorizada por sirvam para aniquilar o risco do outro que ela
que investirão, pelo lado de fora e com
força, contra ela, em um meio termo sua própria semelhança com a imediatamente não deseja ser.
entre vingança e justiça. a baixo, surge a violência pavorosa do crime: a
Pela janela da classe eu olhava lá fora, classe baixa contribui na tensão com seus mem- No centro e no topo deste círculo social está
a rua me atraia mais do que a escola. A classe média, por sua vez, se en- bros esporádicos que buscam romper as barreias a classe alta, detentora dos meios de produção
contra na periferia do tal círculo social estabelecidas. Querem extrair à força os poucos e comunicação, elite financeira, econômica e
Fiz dezessete, tive que sobreviver,
e, sem perspectivas de adentrar os benefícios que a classe média possuí e que lhe política deste jovem país há séculos. Isolada
agora eu era um homem tinha que correr. círculos mais internos e exclusivos, se são negados. Não por acaso alguns dos objetos socialmente, esta classe não tem semelhança
No mundão você vale o que tem ocupa basicamente em não recair na mais furtados e roubados são aqueles bens de nenhuma com as duas anteriores. Seu acúmulo
eu não podia contar com ninguém, pobreza que lhe é visível a cada mo- luxo, mas de custo médio, que distinguem uma de dinheiro e poderes permite que ela viva em
mento, seja por ela mesma ter vindo classe da outra: carros, celulares, roupas, tênis uma sociedade paralela: a ausência do serviço
cuzão, fica você com seu sonho de doutor,
das classes baixas, seja por freqüentar de grife, etc. A violência da classe excluída quer público de qualidade é preenchida com o serviço
quando acordar você me avisa, morou? cada vez mais os mesmos espaços que dizer à classe média que elas são idênticas, que o privado de excelente qualidade. Suas crianças
Este é o quarto
(...) ela. O aumento da capacidade de con- RAP do álbum que as separa é muito pouco e frágil. A resposta freqüentam colégios particulares, vão a even-
Vivi sete anos em vão, sumo recente no Brasil, principalmen- “Sobrevivendo no assustada da classe média ao ver-se distorcida tos, exposições, museus e apresentações quase
tudo que eu acreditava não tem mais razão.
te da classe trabalhadora, como vimos inferno” de 1998. no espelho social é estraçalhá-lo com balas, cas- exclusivas, tem acompanhamento médico pri-
anteriormente, serviu para mostrar setetes, sprays de pimenta, bombas, caveirões, vilegiado, além de cuidarem preventivamente
Mano, meu sobrinho nasceu. que a distância entre classe baixa e grupos de extermínio, justiceiros, prisões, cartas de sua saúde através da prática constante de
Diz que o rosto dele é parecido com o meu, é. média não é tão grande quanto pa- de apoio a tablóides grandes e pequenos, audi- esportes, de viagens, de alimentação saudável e
Diz que um pivete sempre quis, recia. Uma camada mista que saiu há controlada. O único preço
meu irmão merece ser feliz. pouco das classes baixas se aproxi- social, que este grupo paga
ma aos poucos das classes chamadas sem hesitar, é a segregação
Deve estar a esta altura
médias no Brasil (muito distantes das social: suas escolas e casas
bem perto de fazer a formatura classes médias na América do Norte são construídas em áreas
acho que é direito, advocacia, e Europa, por exemplo). Ambas tem isoladas e devidamente
acho que era isso que ele queria, acesso dificultado aos serviços precá- cercadas de muros, cercas
rios do Estado ao mesmo tempo em e agentes de segurança
sinceramente eu me sinto feliz,
que não tem acesso aos serviços de treinados e fortemente
graças a Deus não fez o que eu fiz. qualidade do setor privado. As crises armados. Esta classe vive
Minha finada mãe proteja o seu menino, econômicas que se repetem, o medo em uma Suíça, em uma
o diabo agora guia o meu destino. do desemprego, a tentativa de desfru- pequena nação isolada
tar de uma vida menos completamen- do resto do país que tam-
te esgotada pelo trabalho pesado e bém poderia ser chamada
O narrador, aquele que conta a mal remunerado, são representantes de gueto de luxo. Contra
história de sua vida e de seu envolvi- do eterno pavor da classe média: a ida este grupo, os dois abai-
mento com o crime, se lembra do seu ou retorno às classes baixas cada vez xo não tem nem meios e
irmão que conseguiu, com muito es- mais próximas. Este pavor leva quase nem consciência. Não são
forço, melhorar de vida. O não cum- sempre a um conservadorismo extre- vistos como inimigos ou
primento dos deveres básicos do Es- mo: a um desejo de aniquilação da ou- como perpetuadores das
tado para esta gigantesca parcela da tra classe que a ameaça. Sem informa- diferenças sociais. Apesar
população, como direito à moradia, ção de qualidade, a classe média acha de sua fortuna ter origem
ao saneamento básico, à educação e que as ameaças, de fundamento eco- na maior parte dos casos
saúde de qualidade, ao esporte e lazer, nômico e político, vêm através da vio- em heranças, este grupo é
à segurança e dignidade, ao emprego lência esporádica das classes baixas. A visto como exemplo moral
humano, produzem o agente perfeito impaciência, a incompreensão, o nojo, para o resto da sociedade,
para o crime: jovens sem perspectiva o preconceito escancarado e militante como se fossem os únicos
de transformação e com sentimento acaba por acreditar que a única coisa que realmente trabalhas-
de rancor diante do resto da socieda- que pode impedir sua decadência é sem e produzissem a ri-
de que se beneficia da miséria de sua a eliminação daquele que se parece queza do país.
classe sem reconhecê-la e sem desejo cada vez mais consigo. A recente po-
de transformá-la. “Você sabe o que é lêmica dos “rolezinhos” em São Pau- Charge de Zé Dassilva. Mais charges e informações sobre o autor em:
frustração? Máquina de fazer vilão”, lo é a última versão da aversão que a http://wp.clicrbs.com.br/zedassilva/?topo=67,2,18,,,67
como diz outro rap. O Estado e as clas- classe média tem de não conseguir se
18 - Pequena História dos Direitos Humanos Pequena História dos Direitos Humanos - 19

Partindo do pressuposto de que a desigualdade social gigantesca do Brasil e de São Paulo produz Falamos da violência em nossa sociedade. Veremos em seguida como as violações aos direitos
e reproduz nossos níveis também gigantescos de violência, podemos nos utilizar do exemplo de humanos vão além da violência e como, neste cenários, existem níveis de desigualdade dentro
uma situação de ficção para entender o choque entre as mentalidades. Nos diversos filmes e qua- dos grupos que mais sofrem.
drinhos do Batman ouvimos a história de que o jovem Bruce Wayne, herdeiro da família mais rica
da grande cidade de Gotham, assiste ao assassinato de seus pais em um assalto. Traumatizado e
revoltado, Bruce cresce e utiliza a fortuna da família para se transformar em um herói vigilante que
faz justiça com as próprias mãos, bate, reprime e prende diversos criminosos da noite de Gotham.
Interseccionalidade: A luta de raças, gêneros e
Seu trabalho é incansável e também sem fim, já que as gangues sempre se renovam – devido, po-
deríamos dizer, à crise econômica e política que sempre assola a cidade – e já que o próprio Batman,
identidades na luta entre as classes
em sua ação violenta, acaba por criar novos vilões, como é o caso do seu arquiinimigo, o Coringa. Do
lado de fora das telas e dos quadrinhos, se encontra o público admirador do Batman: morador de Muitos pontos de vista podem ser escolhidos apenas uma das linhas da opressão, mas mais de
cidades violentas pertencente ou às classes baixas ou às classes médias que vê no herói mascarado para analisar a sociedade brasileira. Podemos, uma delas. Assim, não bastaria, para superar a
uma reação heróica ao clima de insegurança. Seu combate aos vilões e ao perigo iminente acalma como no exemplo, anterior, buscar separá-las desigualdade social e a violação dos direitos hu-
e ao mesmo tempo seduz os espectadores com uma sensação de justiça. Bruce Wayne, portanto, o em classes econômicas a partir da renda men- manos no Brasil, levar em consideração a classe
representante da classe alta como exemplo de moral e salvador de toda a comunidade, de maneira sal, propriedades, etc. Poderíamos também social do sujeito, mas as outras categorias me-
semelhante ao que acontece com a exaltação das classes altas das famílias tradicionais brasileiras, buscar caracterizar os grupos a partir de sua po- nos favorecidas em que ele se encontra. Não le-
exemplo de vitória, trabalho e ética. sição político-partidária, religiosa ou até mesmo var em conta estas diversas linhas (classe, raça,
cultural. O que se faz relativamente pouco, no gênero, religião, orientação sexual, etc.) leva ao
Se voltarmos, no entanto, ao nosso pressuposto, “desigualdade social produz e reproduz violên- entanto, em um país de diversas raças como o o risco de sustentar preconceitos e opressões ao
cia”, somos obrigados a levantar questões tanto ao Batman quanto à classe alta brasileira: quem Brasil, é uma análise baseada em seus diferentes lutar contra elas. Desconsiderar a especificidade
concentra mais dinheiro e poder político em nossa sociedade? Por que este dinheiro e este poder grupos étnicos. Muitos analistas sugerem que a da situação da mulher negra, por exemplo, ao
não são mais bem distribuídos? A guerra declarada entre classe baixa e classe média não tem um análise de grupos econômicos já conteria a aná- tratar sobre o racismo, tem como conseqüência
terceiro elemento escondido produtor desta guerra? O verdadeiro combate ao crime não seria uma lise racial. O argumento é de que, como os ne- indesejada fomentar certo machismo, um pri-
distribuição de renda mais equilibrada? O gráfico abaixo, produzido pelo Banco Mundial11 , mostra gros são os mais pobres, bastaria igualar negros vilégio aos homens negros, em relação a estas
a relação entre desigualdade social e número de assassinatos intencionais entre os anos de 1965 e e pobres para se ter uma análise realista da situ- mulheres.
1994: ação étnico-econômica no país. A solução para a
desigualdade também seria via econômica: bas- Lutar por igualdade, portanto, sem conside-
taria diminuir a diferença entre as classes para rar as diferenças dentro dos diversos grupos,
diminuir a diferença entre as raças. Infelizmen- acaba por fomentar estas diferenças. As so-
te, a história recente mostra que isto não é ver- luções práticas para a questão da interseccio-
dadeiro e ao mostrá-lo exige um olhar social que nalidade são complexas, pois exigem análises
leve em conta simultaneamente etnia e classe específicas para cada grupo. Isto não significa
econômica, e não que derive uma da outra. A que esta tarefa seja impossível, secundária ou
experiência mostra que existem desigualdades desimportante. Pelo contrário. Como dissemos
dentro das classes econômicas. Que entre os po- anteriormente, é impossível solucionar a desi-
bres, os negros são os que tem os direitos mais gualdade social que produz violações aos direi-
violados. Que entre os pobres, as mulheres são tos humanos combatendo apenas um critério de
as que tem os direitos mais violados. Que entre desigualdade. Esta solução promove uma reor-
os pobres negros, as lésbicas, gays, bi e transgê- ganização em torno de um grupo, sem mexer na
neros são os que tem os direitos mais violados. estrutura da desigualdade. A grandeza do ideal
Que entre os pobres negros, as mulheres são as dos direitos humanos reside em sua radicalidade
que tem os direitos mais violados. Que entre os na igualdade: estudar as diferenças e especifici-
pobres negras, as lésbicas, gays, bi e transgêne- dades para que todos possam ser iguais. A igual-
ros são os que tem os direitos mais violados, etc. dade só surge depois da verificação da desigual-
dade e de sua superação específica. O risco de
Ou seja, não é possível lutar por igualdade e se perder em segmentos e grupos cada vez me-
direitos iguais para todos sem considerar os di- nores pode ser superado através da orientação
ferentes grupos historicamente oprimidos nos por igualdade radical entre todos: um mergulho
quais os sujeitos se encontram ao mesmo tem- profundo no oceano rico e diverso das diferen-
po. Há um conceito político chamado intersec- ças e um retorno à superfície quente em que os
cionalidade que tenta dar conta deste problema. direitos fundamentais de todos são oferecidos
Uma intersecção significa um ponto em que di- igualmente a todos, considerados em suas es-
versas linhas ou caminhos se encontram, como pecificidades.
uma encruzilhada. A idéia de interseccionalida-
de propõe que ao considerar grupos oprimidos
11 FAINZYLBER, Pablo; LEDERMAN, Daniel. “Inequality and violent crime”, p. 5. O gráfico e o estudo estão disponíveis em: http://siteresources.worldbank.org/DEC/
Resources/Crime&Inequality.pdf
na sociedade não se pode levar em consideração
Machismo e Homofobia - 21

ciente. Reconhecer que viemos de uma cultura extremamente machista e homofóbica (ou seja,
uma cultura que busca rebaixar as mulheres e deslegitimar sexualidades diferentes da sua própria)
é o primeiro passo para transformar nossa realidade social. E ela, infelizmente, é uma das mais bru-
tais do mundo.

Machismo A idéia que o Brasil vende para o exterior e também para os próprios brasileiros, de que somos
um país tolerante, alegre e pacífico, enche as propagandas na televisão, mas não sobrevivem a uma
comparação com a realidade das estatísticas. Morrem aproximadamente 5664 mulheres por morte
e Homofobia violenta (diversos tipos de assassinato) no país todos os anos. Um terço destas mortes acontece
na residência da própria vítima. Destas, 61% são de mulheres negras. Já o número de agressões
físicas registradas são da ordem de aproximadamente 100 mil por ano. Mais de 70% destas agres-
sões aconteceram na casa das vítimas. Os agressores são majoritariamente homens: Os pais são os
agressores principais até os 9 anos de idade. O papel paterno é substituído pelo marido, cônjuge ou
A luta pela igualdade das mulheres e pelo ser seguida. Ele exige uma mulher, inferior a ele, namorado a partir dos 20 até os 59 anos da mulher. Já a partir dos 60 anos, são os próprios filhos
direito à diversidade sexual tem um adversário que lhe obedeça às vontades. Como chefe de que assumem o papel de agressores. Dos 20 aos 50 anos de idade da mulher, o parceiro é o principal
em comum: o patriarcado. Por isso optamos por Estado ele também quer controlar o corpo das agente da violência física. Até os nove anos de idade e a partir dos 60, os pais e filhos são os princi-
concentrar estas duas lutas sob um único eixo. mulheres. Ele não aceita formas de sexualidade pais agressores das mulheres no Brasil.
O que chamamos aqui de patriarcado é o siste- diferentes das dele, já que ele é a figura central.
ma social que tem como figura central de domi- Gays, lésbicas, travestis e transgêneros devem Somos também um país ultraviolento contra homossexuais e transgêneros (pessoas que opta-
nação o homem, pai de família. Este homem é ser punidos ou reeducados. O Senhor de Enge- ram por uma identidade de gênero diferente daquela atribuída ao gênero designado de nascimento;
tanto o pai, quanto o chefe, quanto o presiden- nho odeia tudo o que é diferente dele. por exemplo travestis e transexuais). Estamos na primeira posição no ranking mundial de assassina-
te. Não cabe aqui uma longa digressão histórica, to de pessoas em função de sua orientação sexual. Em 2013, foram 312 assassinados (homossexuais
ressaltamos apenas que a mistura entre a esfera Esta figura um pouco exagerada que traça- estatisticamente são assassinados em casa; transgêneros nas ruas). O número de agressões a pes-
pública e a privada no Brasil, durante nosso pe- mos, existe um pouco dentro de cada um de soas em função de sua orientação sexual é incalculável, mas crescente a cada ano. Vemos manifes-
ríodo colonial e posteriormente, gerou a figura nós. Infelizmente, estas idéias tradicionais que tações públicas de homofobia vindas de políticos, líderes religiosos e programas de televisão que
do Senhor de Engenho. Ao mesmo tempo pai e oprimiram por séculos mulheres e pessoas de caricaturizam, estigmatizam e humilham grupos inteiros semanalmente. No Brasil, ao contrário da
coronel, ele trata da coisa pública como privada todo tipo de orientação sexual, que desejam Rússia, da Arábia Saudita e de Uganda, aos quais gostamos de nos comparar positivamente, não
e vice-versa e é como que uma figura modelo estabelecer o homem heterossexual como refe- existem leis especificas que criminalizam a homoafetividade. Mesmo assim, há uma permissividade
do patriarcado em nossa país. Sendo pai, ele é rencial de todo o resto, figura mais importante, coletiva que nos coloca na pior posição mundial neste quesito.
homem, e sendo pai, é também heteronorma- poderosa e que submete todas as outras, ainda
tivo, ou seja, toma a heterossexualidade, o de- resistem, de maneira variada, no nosso cotidia-
sejo sexual entre sexos opostos, como norma a no e, mais difícil de perceber, em nosso incons-
Ao mesmo tempo em que uma
onda conservadora e violenta bus-
ca violar direitos das mulheres e de
grupos oprimidos em função de sua
sexualidade, há uma tomada pública
de consciência em andamento. No
Brasil, os direitos garantidos na Cons-
tituição de 1988 (amplamente apoia-
dos em tratados internacionais e
noções baseadas nos direitos huma-
nos) começam a ser implementados.
Nova legislação vem sendo proposta
e aprovada para defender direitos de
grupos historicamente oprimidos e
a opinião pública começa a se abrir
mais em função a temas até então
muito polêmicos como: punição se-
vera para violência contra a mulher,
casamento civil entre homossexu-
ais, aborto e formas não tradicionais
de família. A Convenção de Belém
do Pará (Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Vio-
lência Contra a Mulher, adotada pela
OEA em 1994) definiu nos seguintes
22 - Machismo e Homofobia Machismo e Homofobia - 23

termos a violência contra a mulher: “qualquer diferente do que se trata os outros considerados
ato ou conduta baseada no gênero, que cause capazes.
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psi-
cológico à mulher, tanto na esfera pública como Um exemplo infeliz e comum no Brasil é o
na esfera privada”. A ONU vem desde 1993 re- assédio moral às mulheres nas ruas, a conhe-
alizando esforços para combater a opressão à cida cantada. Um grupo de homens se acha no
mulher. A Declaração sobre a Eliminação da Vio- direito de gritar para mulheres na rua gracejos
lência contra as Mulheres, Resolução da Assem- e insinuações sexuais supostamente elogiosas.
bleia Geral das Nações Unidas, dezembro de Este ato toma como pressuposto que as mulhe-
1993, afirma que a violência contra as mulheres res andam na rua, não para ir à escola, ao traba-
é uma manifestação de relações de poder histo- lho, ao lazer, a compromissos, mas para deleite
ricamente desiguais entre homens e mulheres dos homens. O homem que grita para uma mu-
que conduziram à dominação e à discriminação lher na rua não considera que ela é uma pessoa,
contra as mulheres pelos homens e impedem o que tem seus pensamentos, seus problemas, e
pleno avanço das mulheres...”. No mesmo ano, que não quer ter relação nenhuma com aquele
em Conferência sobre Direitos Humanos, a ONU que atrevidamente atinge sua privacidade nas
reconheceu formalmente a violência contra as ruas. O homem que canta mulheres na rua cer-
mulheres como uma violação aos direitos hu- tamente não permitiria que sua mãe, filha ou
manos. Desde então, os governos dos países- irmãs fossem cantadas porque acha que elas,
membros da ONU e as organizações da socieda- sob sua guarda pessoal, são pessoas. Eis a face
de civil têm trabalhado para a eliminação desse clássica do patriarcado: as mulheres que se rela-
tipo de violência, que já é reconhecido também cionam proximamente comigo são pessoas e eu
como um grave problema de saúde pública. as protejo (como minha posse); as outras estão
disponíveis a qualquer tipo de gracejo que eu,
Apesar do reconhecimento, os países sub- no centro do mundo, faço para ela, que não tem
desenvolvidos ainda sofrem com uma profunda outra subjetividade além daquele momento em
desigualdade entre homens e mulheres. A mu- que passa perto de mim. Uma pesquisa de 2013
lher brasileira, dentre outros problemas, sofre realizada pela jornalista Karin Hueck12 com mais
especificamente com uma ultrasexualização e de 7000 mulheres brasileiras mostra a reação
objetificação, tanto dentro quanto fora do país. negativa e apavorada das mulheres às cantadas:
Objetificar alguém significa tratá-la como se ela
não fosse um sujeito, uma pessoa humana com
pensamentos, sentimentos, desejos, potencial e
capacidade própria. Significa tratá-la de forma 12 Mais informações sobre a campanha, suas imagens e resultados podem ser
encontradas no site: http://thinkolga.com/chega-de-fiu-fiu/
24 - Machismo e Homofobia Machismo e Homofobia - 25

“A mocinha quer saber por que ainda ninguém lhe quer


Se é porque a pele é preta ou se ainda não virou mulher
Ela procura entender porque essa desilusão
Pois quando alisa o seu cabelo não vê a solução
(…)
Dona Maria levanta cedo de segunda a segunda A canção “Marias” e outras de Karol
ConKá podem ser ouvidas no site:
Segue acostumada com uma rotina que nunca muda https://soundcloud.com/karolconka

De joelhos olhos fechados pede pro santo uma ajuda


Que ilumine a cabeça de sua filha caçula
Que sai de saia justa salto alto mini blusa
Se sentindo madura com vergonha da pele escura
Se decepcionando com o reflexo do espelho
E querendo o mesmo visual dourado da modelo”

Mesmo comparada com critérios que não lhe bia, denominação específica para o preconceito
dizem respeito, a mulher negra ainda sofre com e ódio a lésbicas, é motivada pela idéia patriar-
a sexualização constante. Gilberto Freyre cita cal de que as mulheres servem não a si mesmas,
em seu Casa Grande & Senzala um triste e signi- mas aos desejos dos homens. Assim, na men-
ficativo ditado popular do Brasil colonial: Branca te patriarcal é absurdo que uma mulher possa
para casar, mulata para f*der e negra para traba- não se interessar sexualmente por um homem.
lhar. Desde os abusos sexuais sofridos na época Neste sentido, a luta pelos direitos das lésbi-
A cantada bloqueia a participação da mulher mento do pré-natal e do parto. Das entrevistas,
da escravidão, até as propagandas contemporâ- cas é uma das lutas mais progressistas da pau-
do espaço público: põe em risco sua dignidade, foram maioria as negras que tem não tinham
neas de cerveja (como no caso emblemático da ta feminista, pois bate de frente com o desejo
sua autoestima e seu direito de ir e vir. Aquele que trabalho remunerado, viviam sem companhei-
propaganda da marca Devassa), a imagem da patriarcal de dominação do corpo feminino. A
canta a desconhecida resume a existência dela ro, sofriam agressão física, fumavam, tentaram
mulher negra é representada como a de escrava transfobia, preconceito e ódio a travestis e trans-
inteira ao seu passar em frente dele. A estatística interromper a gravidez e peregrinaram em bus-
sexual do homem. Nunca suas características in- sexuais, também tem fundamento semelhante.
mostra que as mulheres são cantadas não apenas ca de atenção médica. Além disso, o dado cho-
telectuais são ressaltadas: ela é apresentada, no É incompreensível para a mentalidade patriarcal
na rua, mas nos locais de trabalho. O efeito psico- cante de que mulheres negras recebem menos
ideário do patriarcado, apenas como corpo se- que alguém nascido homem deseje tornar-se
lógico repetido das cantadas, da objetificação é anestesia do que as brancas ao realizar o parto
xual. As consequências disto para a vida pessoal mulher, passar, em sua ideologia, de dominador
uma autoobjetificação da mulher: a infeliz crença vaginal (natural).
da mulher negra são muitas: dificuldades em ser para dominado. O processo oposto, de mulher
de que a função de uma pessoa é viver em função
Do ponto de vista estético a mulher negra levada a sério na vida da escola e do trabalho, para homem, é tomado como uma apropriação
dos desejos e necessidades de outras. A cantada,
também sofre rejeição por pertencer a um pa- maior frequência de assédios e inclusive menor indevida.
no limite, desumaniza a mulher e também aquele
drão de beleza diferente do hegemônico (aquele estabilidade em relacionamentos. Uma estatís-
que a objetifica, porque o faz crer que metade da Vê-se nestes exemplos a absurdidade da
que aparece e é exaltado nos meios de comuni- tica assustadora mostra que “as mulheres pretas
população do planeta não é humana como ele. mentalidade patriarcal, sua violência e ódio con-
cação de massa): a da européia branca. A negra se casam mais tarde, apresentam maior índice
de celibato e demoram mais para terem um re- tra o diferente e sua problemática para a nossa
É importante ressaltar que neste contexto da é comparada constamente com padrões feitos
lacionamento”, segundo a socióloga Bruna Pe- sociedade. O pensamento que acha, no fundo,
objetificação, a mulher negra sofre ainda mais. para um corpo diferente do seu. Seus traços ca-
reira, pesquisadora colaboradora do Núcleo de que os homens tem de dominar as mulheres é
Primeiro porque sua imagem é terrivelmente racterísticos são considerados, por uma arbir-
Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem), da o que legitima cotidianamente a cantada, mas
associada (como herança inconsciente do perí- trariedade histórica, inapropriados e feios. Não
Universidade de Brasília14 . também, em casos extremos, o estupro. O estu-
odo de escravião) a uma pessoa menos humana. apenas por homens brancos, mas também por
pro é a crença última de que o corpo do outro
Pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz13 , fi- homens e mulheres negras que, imersos na pro-
Esta objetificação tem também efeito sobre não pertence a um sujeito, mas é apenas um ob-
zeram um amplo levantamento entre 1999-2001 gaganda constante do ideal europeu branco de
a vida pública das mulheres lésbicas. A lesbofo- jeto de satisação sexual. Para se ter a noção da
no Rio de Janeiro mostrando como as mulheres beleza, acabam por desenvolver uma repulsa às
14 A afirmação é citada no contexto da reportagem de Flávia Duarte para o Cor- tragédia no Brasil, o número de estupros é ainda
negras recebem atentimento inferior no mo- próprias características. A rapper Karol Conká reio Braziliense intitulada “Racismo: A cor da relação”, transcrita no site:
maior do que o de homicídios, chegando a mais
13 LEAL, Maria do Carmo; GAMA, Silvana Granado Nogueira da; CUNHA, Cyn- expressa esta situação na canção “Marias”: http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option=com_content&view=ar-
thia Braga. “Desigualdades raciais, sociodemográficas e na assistência ao pré-natal ticle&id=99996393:racismo-a-cor-da-relacao&catid=139:mulheres-ne- de 50 mil por ano. Isto significa que aproxima-
e ao parto, 1999-2001”, in Rev. Saúde Pública. Disponível em: http://www.scielosp. gras&Itemid=546
org/pdf/rsp/v39n1/13.pdf damente a cada dez minutos uma pessoa é es-
26 - Machismo e Homofobia Machismo e Homofobia - 27

tuprada no Brasil. Infelizmente, este problema não é colocado publicamente com sua gravidade. Infelizmente, no Brasil e em grande par- que eu brinquei quando era criança moldou o
Muitas vezes, principalmente em comunidades menores, ainda ocorre a culpabilização da vítima. te do mundo, iniciamos desde cedo a fixação que eu sou hoje. Contribuiu para eu me tornar
Como se o culpado por ter havido o estupro fosse a estuprada e não o estuprador. Ainda ensinamos das crianças em papéis de gêneros bastante uma médica e me inspirou a querer ajudar os
no Brasil, infelizmente, a mulher a se proteger do estupro, ao invés de ensinar aos homens, desde estabelecidos. Meninos podem correr, pular, outros a alcançar a saúde e o bem estar. Eu sou
cedo, a não estuprar. pendurar-se, montar e desmontar brinquedos co-proprietária de dois centros médico em Se-
e sujar-se. Meninas, desde a primeira infância, attle. Kits médicos costumavam ser para todas
são educadas se portar com cuidado, evitando as crianças, mas agora eles estão na prateleira
correr e suar, evitando sujar-se, evitando falar dos meninos. Eu só acho que eles deveriam ser
em público; enfim, evitando ser criança. Os pais anunciados para todas as crianças de novo, as-
não fazem esta distinção por maldade, mas por sim como os Legos e outros brinquedos”15.
acharem natural que meninos e meninas sejam
tratados de maneira diferente. Não há nada, no Desde pequenos, portanto, é que fomenta-
entanto, de natural nesta distinção. Apenas há mos a diferença que encontraremos depois no
crianças com desejos e comportamentos dife- mercado de trabalho entre posições de lide-
rentes, independente do gênero. Muitas vezes rança nas profissões consideradas masculinas,
ocorre que uma menina de comportamento como engenheiro, médico, político. No Brasil,
mais ágil e dinâmico seja reprimida para não pa- as mulheres representam apenas 18% dos pro-
recer masculina demais. “Parece um menino!”, fissionais da área tecnológica. Qual a responsa-
diria alguma tia. O mesmo ocorre com meninos bilidade da diferenciação radical entre gêneros
que tenham uma inclinação mais contemplati- na infância sobre este número?
va ou delicada do que os outros. “Fale que nem Estas posições estereotipadas nas quais
homem, menino”, diria algum tio. Não é raro tentamos encaixar a força pessoas que são
observar que muitas vezes os brinquedo desti- indivíduos únicos – em um longo processo de
nados a meninos envolvem pensamento estra- violência, tristeza e repressão – obedecem ao
tégico, montagem e ação, enquanto os destina- imperativo do patriarcado: meninos tem de se
dos a meninas, além de terem todos a mesma tornar pessoas fortes (e violentas) que domi-
cor, rosa, fazem referência a funções esperadas narão em casa e em público as outras pesso-
da menina na vida adulta: maternidade, afaze- as, especialmente as mulheres (e, por exten-
res domésticos e cuidados estéticos. Não nos são, “afeminados” em geral). Neste momento
perguntamos se a menina quer ser mãe, dona de formação, os homossexuais e transexuais
de casa ou modelo; apenas dissemos a ela que começam a sofrer uma perseguição que lhes
isto é o esperado que ela faça. Um caso recente acompanhará pelo resto da vida: seu interesse
é exemplar dos riscos desta fixação da infân- sexual se encontra diferente do que aquele que
cia em gêneros. Uma propaganda de 1981 da a sociedade quer lhe impor. As duas alternati-
Lego mostrava uma pequena garota exibindo vas possíveis produzem distúrbios psicológicos
Outro aspecto trágico da objetificação fe- diretoria executiva são ocupados por mulheres,
orgulhosa o objeto que montou. Os blocos de e desafios grandes: a primeira, assumir-se e re-
minina é o pressuposto de que seu trabalho é mesmo que elas sejam uma maioria de traba-
menos eficaz, valioso ou importante do que o lhadores qualificados (correspondem a 63% dos montar do Lego representavam então um brin- ceber a gigantesca e violenta carga de crítica
masculino. Estatísticas oficias mostram que mu- diplomas universitários brasileiros). Algumas quedo sem gênero definido, apropriado tanto de pessoas queridas como amigos e familiares;
lheres recebem em média menos do que os ho- empresas e governos europeus tem tentado para meninos, quanto para meninas. Recente- a segunda, é reprimir e esconder seus próprios
mens ao realizar trabalhos iguais. Ou seja, traba- balancear esta situação através de medidas afir- mente, no entanto, foi criada uma linha especí- desejos, gerando um ciclo interno de confu-
lham mais do que os homens – já que a grande mativas como cotas. A Alemanha e a Noruega fica de brinquedos Lego baseados em gênero. são, dor e tristeza. Um estudo estadunidense
maioria delas ainda faz a terceira jornada de tra- passaram recentemente legislação exigindo das Um dos brinquedos desta linha é uma van, com mostra que crianças LBGT rejeitadas pelos pais
balho ao chegar em casa e cuidar dos filhos e dos empresas uma porcentagem mínima de 30% de um gigantesco espelho e equipamentos de correm um risco seis vezes maior de sofrer com
afazeres domésticos (para o qual ela não recebe, mulheres nos cargos mais altos de administra- maquiagem para que a jornalista pudesse estar
vale ressaltar) - e recebem menos. Esta discrimi- ção. Estas medidas ajudam, pois chamam aten- níveis altos de depressão e tentam oito vezes
sempre bonita. A pequena menina da propa- mais o suicídio.
nação salarial vem ainda acompanhada de uma ção para o problema e tentam solucioná-lo. Infe-
discriminação hierárquica: frequentemente as lizmente, o problema parte de uma organização ganda, agora uma mulher, participou então de
uma campanha para evidenciar a limitação da O primeiro passo para superar esta separa-
mulheres são trocadas por colegas masculinos estrutural e, neste sentido, não se deixa resolver
em promoções e no momento de ocupar car- sem mudanças profundas e radicais na maneira feminilidade a certos estereótipos. Agora com ção falsa e não natural entre os sexos, portan-
15 Nossa tradução da reportagem “The Little Girl from the 1981 LEGO Ad is All
gos de liderança ou de poder. Um estudo do ano com que as identidades de gênero são construí- 37 anos e médica, Rachel Giordano deu o se- Grown Up, and She’s Got Something to Say”, disponível em:
passado mostra que apenas 17% dos cargos de das em nossa sociedade. guinte depoimento: “Eu sei que a maneira com http://www.womenyoushouldknow.net/little-girl-1981-lego-ad-grown-shes-got-
something-say/
28 - Machismo e Homofobia Machismo e Homofobia - 29

to, é mudar a maneira como tratamos a infância. A infância é tempo de autodescobrimento, de Lesão Corporal
autoformação. É neste momento em que descobrimos nossas particularidades. É também neste
momento que formamos nossa autoestima. O papel do educador não é dizer à criança o que ela Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pena: detenção de 3 (três) me-
deve ser por ter nascido macho ou fêmea, mas de ajudá-la no processo de construção da própria ses a 1 (um) ano.
identidade, respeitando suas inclinações e decisões. Estupro
Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena:
Como proceder em casos de abuso de gênero e reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

identidade sexual Atentado Violento ao Pudor


Art. 214. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que
O portal de DHnet, Rede Direitos Humanos e Cultura, disponibiliza em seu site perguntas e com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: reclusão de 6 (seis) a 10
respostas sobre violência e opressão à mulher16 , que reproduzimos com alterações a seguir. (dez) anos.
Assédio Sexual

A mulher que vive com um homem mesmo sem casar possui direitos? Lei Nº 10.224, de 15 de maio de 2001. Art. 1º. Constranger alguém com o intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se da sua condição de superior hierárquico ou
Mesmo sem casar, a mulher que vive com um homem tem direitos decorrentes dessa união. A ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena: detenção de 1 (um) a 2
Lei nº 9.278/96 concedeu às pessoas que vivem em união estável duradoura direitos iguais como (dois) anos.
se fossem casados. Por exemplo, na divisão do patrimônio, a mulher tem direito à metade de
tudo que foi adquirido durante o tempo que viveram juntos. Há direitos e deveres comuns a am- Abandono Material
bos os conviventes como o respeito e consideração mútuos, assistência moral, guarda e sustento Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge ou de filho menor de 18
dos filhos comuns etc. (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou valetudinário, não lhes
E quanto aos filhos? proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judi-
cialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
A Constituição Federal igualou os direitos dos filhos tanto os havidos dentro do casamento ascendente, gravemente enfermo. Pena: detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, de uma a
quanto fora. Todos são legítimos e não há mais “filhos ilegítimos”. Se o pai não quiser reconhecer dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
a paternidade, a mãe da criança deverá procurar um advogado ou defensor público e ingressar
com uma Ação de Investigação de Paternidade. Essa ação é possível mesmo que o pai já tenha Lei Maria da Penha
falecido. O reconhecimento da paternidade implica dever de pagar pensão alimentícia, direito de Além das leis citadas acima, há uma série de leis específicas sobre a violência contra mulher na
visitas, acompanhamento do desenvolvimento da criança etc. Lei Maria da Penha, denominação popular da Lei número 11.340. O Conselho Nacional de Justiça
Se a mulher for vítima de violência, o que pode fazer? oferece as seguintes recomendações sobre como denunciar casos de violência:

Infelizmente, muitas mulheres se acostumaram a suportar muitos abusos tanto por parte dos “As mulheres que sofrem violência podem procurar qualquer delegacia, mas é preferível que elas
homens quanto dos pais, tutores, chefes etc. Mas, toda mulher precisa saber que há uma va- se dirijam às Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), também chamadas de
riedade de condutas muito comuns praticadas pelos homens que são crimes, segundo a nossa Delegacias da Mulher (DDM). Há também os serviços que funcionam em hospitais e universidades e
legislação. que oferecem atendimento médico, assistência psicossocial e orientação jurídica.

Que providências tomar no caso de violência? Se for registrar a ocorrência na delegacia, é importante contar tudo em detalhes e levar testemu-
nhas, se houver, ou indicar o nome e endereço delas. Se a mulher achar que a sua vida ou a de seus
A primeira providência é denunciar o crime e o agressor à polícia. A autoridade policial enca- familiares (filhos, pais etc.) está em risco, ela pode também procurar ajuda em serviços que mantêm
minhará a mulher para fazer exames de lesões corporais. Provas como depoimentos de parentes casas-abrigo, que são moradias em local secreto onde a mulher e os filhos podem ficar afastados do
e vizinhos também são importantes para o processo. A mulher precisa se conscientizar de que agressor.
a menor violência já é crime e que o agressor, em geral, se torna, cada vez mais violento com o
passar do tempo. Dependendo do tipo de crime, a mulher pode precisar ou não de um advogado para entrar com
uma ação judicial. Se ela não tiver dinheiro, o Estado pode nomear um advogado ou advogada para
defendê-la ou a Defensoria Pública”.
A violência, independente de motivação, já é punida em ampla legislação. Para fazer a lei bas-
ta denunciar à polícia. O código penal conta com as seguintes determinações:
16 Estas perguntas e uma série de outros materiais relacionados aos direitos humanos podem ser encontrados neste portal no seguinte endereço:
http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/dh/br/cdhcf/cartilha_cdh/09_mulher.htm
30 - Machismo e Homofobia Machismo e Homofobia - 31

O Governo do Estado de São Paulo ainda informa que todas as vítimas de violência sexual são
encaminhadas ao Hospital Pérola Byington a fim de serem devidamente medicadas e receberem Homofobia
atendimento psicossocial (Programa Bem-Me-Quer).

Vê-se que a legislação ga- é contraditória do ponto de vista jurídico: são direito garantiu aos casais direitos de herança e
Mapa das Delegacias da Mulher na cidade de São Paulo
rante o apoio à mulher e a cidadãos como todos os outros e, assim, deve- pensão, além de poderem tornar-se dependen-
sua família. A denúncia é es- riam ser vistos iguais pela lei. Na prática, infe-tes em planos de saúde e previdência. Em 2012,
tressante e por vezes teme- lizmente, muitos direitos garantidos a todos o INSS concedeu pela primeira vez licença-ma-
rosa, mas fundamental. Sem são negados a esta camada da população em ternidade a um pai adotivo que vive em união
ela não será possível mudar função simplesmente de sua orientação sexual. estável homossexual. Em 2013, a Secretaria de
a situação das milhares de Direitos que deveriam valer para todos como: Direitos Humanos da Presidência da República
mulheres que fazem parte de casamento, união civil, adoção, compartilha- apresentou um projeto de lei que trata da cri-
relacionamentos abusivos. mento de benefícios em função de relaciona- minalização da homofobia, a lésbicas, gays,
Agredir uma mulher não é um mento, são negados a este grupo, em princí- bissexuais, travestis e transexuais. Também em
excesso, uma exceção, um pio, por interpretações homofóbicas do texto 2013, o Conselho Nacional de Justiça aprovou
descuido, uma infelicidade: da Constituição. uma resolução que obriga cartórios de todo o
é uma tragédia constante na país a converterem uniões estáveis homoafe-
realidade social brasileira que Felizmente, recentemente, a partir da pres- tivas em casamentos civis, o que autoriza na
só será transformada quanto são da sociedade civil e de grupos organiza- pratica a celebração de casamento civil entre
todos perdermos o medo e o dos, alterações vem sendo feitas nas leis a fim pessoas do mesmo sexo17.
receio de denunciar achando de garantir o mínimo de igualdade para estes
que, uma agressão, de vez em grupos. Do ponto de vista da sociedade civil, A Constituição Federal brasileira não cita a
quando, é normal. Nenhuma iniciativas de inclusão também começam a ser homofobia diretamente como um crime, mas
violência deve ser normal. A criadas. Um exemplo é são as igrejas inclusi- define como “objetivo fundamental da Repú-
conhecida frase “em briga vas como a “Igreja Cristã Contemporânea”, no blica” (art. 3º, IV) o de “promover o bem de to-
de marido e mulher não se Rio de Janeiro, que atende o público cristão dos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
mete a colher” foi inventada predominantemente gay – impossibilitado de cor, idade, ou quaisquer outras formas de dis-
no auge do Patriarcalismo no freqüentar outros templos em função de sua criminação”. Assim, precisamos ter consciência
Brasil. A transformação social sexualidade. Do ponto de vista estatal tam- de que a homofobia está inclusa no item “ou-
em nossa sociedade só será bém houve avanços. Em 2008, o Sistema Único tras formas de discriminação” sendo conside-
possível quando nos tornar- de Saúde (SUS) passou a realizar a cirurgia de rada crime de ódio e passível de punição. Em
mos todos agentes públicos, mudança de sexo, gratuito e com acompanha- São Paulo, a Lei Estadual 10.948/2001 estabe-
guardiões da dignidade hu- mento psicológico. Em 2010, houve precedên- lece diferentes formas de punição a diversas
mana e dos direitos humanos. cia jurídica para a adoção de crianças por casais atitudes discriminatórias relacionadas aos gru-
Não interessa se somos filhos, homoafetivos, com um caso no Rio Grande do pos de pessoas que tem manifestação sexual
vizinhos ou só alguém an- Sul e outro no Mato Grosso. Também em 2010, perseguida por homofóbicos e intolerantes,
dando na rua: devemos com- os servidores públicos federais transgênero como manifestação de discriminação, violên-
preender a posição sensível ganham o direito de usar seu “nome social” cia, intimidação, atendimento discriminatório
da mulher e nos colocarmos (nome pelo qual preferem ser chamados) em proibição de entrada ou permanência em es-
ao seu lado na superação da cadastros dos órgãos em que trabalham, cra- tabelecimento público ou privado. Atualmente
opressão cotidiana. Isto só é chás e outros meios de identificação. Ainda em também está em tramitação no Congresso o
possível nos utilizando da le- 2010, o Ministério da Fazendo permitiu aos ho- Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006 que
gislação já existente e, se for o mossexuais a inclusão de companheiros como tem como proposta a criminalização da discri-
caso, produzindo nova legis- dependente na declaração do Imposto de Ren- minação gerada por diferentes identidades de
lação que defenda os direitos das mulheres. Organizações feministas, núcleos de bairro, centros da (benefício desde sempre disponível a casais gênero e orientação sexual.
de convivência voltados à mulher também são um refúgio ideal para a prevenção, a discussão e o heterossexuais). No mesmo ano, o INSS garan-
tiu o direito de casais homossexuais recebe- Além do boletim de ocorrência, feito pre-
combate à opressão à mulher. As mulheres organizadas e seus aliados são fundamentais na luta por ferencialmente com testemunha, vítimas de
um país mais igualitário. rem pensão pela morte do cônjuge. Em 2011,
a União Estável de casais homossexuais foi re- abuso também podem ligar para o Disque 100
A situação das pessoas agrupadas na sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero) conhecida pelo Supremo Tribunal Federal. Este 17 Informações encontradas na reportagem “A trajetória contra o preconceito”
do Terra, disponível no endereço: http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/
direitos-homossexuais/
32 - Machismo e Homofobia Racismo - 33

para denunciar homofobia. O Disque Direitos defesa e responsabilização em Direitos Huma-


Humanos (Disque 100) é um serviço de utilida- nos disponíveis no âmbito Federal, Estadual e
de pública da Secretaria de Direitos Humanos Municipal. O serviço funciona 24 horas, todos
da Presidência da República destinado a rece- os dias da semana, inclusive domingos e feria-
ber demandas relativas a violações de Direitos dos. A ligação é gratuita e atende ligações de
Humanos LGBT e outros. Ao serviço cabe, tam-
bém, disseminar informações e orientações
todo o território nacional. Racismo
acerca de ações, programas, campanhas, direi- O portal Guia de Direitos18 ainda dá as se-
tos e de serviços de atendimento, proteção, guintes recomendações para denúncias e casos
de abuso: Este segundo eixo, ao mesmo tempo em que aprofunda as questões raciais surgidas ante-
riormente, também é completado pelo eixo seguinte que trata de violência institucional e sua
incidência principalmente sobre a população negra no Brasil. Assim, este eixo tentará mostrar


de quais formas o racismo está presente no Brasil, o que tem sido feito para superá-lo e como se
“Não há justificativas para qualquer tipo de discriminação causada pela homofobia. Os
comportar diante de abusos.
LGBTI têm direito à expressão amorosa e sexual, e a explicitação desta não é desculpa para
um comportamento agressivo. É muito importante denunciar qualquer tipo de atitude Para entender a relação entre as diferentes etnias no Brasil, é importante ter em mente a atual
homofóbica. Toda Delegacia tem o dever de atender as vítimas de homofobia e de buscar por proporção da população brasileira. Segundo o IBGE 2010, nosso país é constituído de 47,51% de
justiça. Além de ser um direito, é dever de todo cidadão denunciar esse tipo de ocorrência. brancos, 43,42% de pardos, 7,52% de pretos, 1,1% de amarelos (asiáticos) e 0,42% de indígenas
Através da denúncia protege-se não apenas uma vítima, mas todo um grupo que futuramente (ameríndios), sendo que pardos e pretos juntos formam a categoria na qual está inscrita mais da
poderia ser atacado. A vítima deve exigir seus direitos e registrar um Boletim de Ocorrência. metade da população do país: 50,94% de negros.
É de essencial importância buscar a ajuda de possíveis testemunhas na luta judicial a ser
iniciada. Em caso de agressões físicas, a vítima não deve lavar-se nem trocar de roupa, já que
tais atos deslegitimariam possíveis provas que devem ser buscadas através de um Exame de
Corpo de Delito (a realização desse exame é indispensável). Se a violência acontecer através
de danos à propriedade, roupas, símbolos, bandeiras e etc., deve-se deixar o local e os objetos
da maneira como foram encontrados para que as autoridades competentes possam averiguar
legitimamente o acontecido. Há também em São Paulo uma Delegacia especializada em
Delitos de Intolerância. As informações deste local seguem abaixo.

Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI)

Rua Brigadeiro Tobias, 527 – 3º andar Luz – SP

Tel: (11) 3311-3556/3315-0151 – Ramal 248


No ano de 2013, como conse- negra tem menos acesso aos be-
qüência da Conferência Mundial nefícios deste crescimento. Re-
sobre o Racismo em Durban, produzimos a seguir os pontos
um grupo de observadoras veio mais importantes do comunica-
Disponível no site: http://www.onu.org.br/
ao Brasil relatar as condições do oficial do Grupo de Trabalho grupo-de-trabalho-da-onu-sobre-afrode-
de sua população negra, afim da ONU sobre Afrodescenden- scendentes-divulga-comunicado-final/
de produzir um futuro relatório tes que visitou o Brasil.
mundial sobre a situação dos
Afrodescendentes ao redor do Segundo as relatoras, duran-
mundo. As conclusões iniciais, te os últimos 10 anos, o Brasil
apresentadas publicamente em mostrou vontade política para
dezembro, estão de acordo com superar o racismo e abordar as
as denúncias dos movimentos questões de igualdade racial
sociais: o Brasil cresce econo- enfrentadas pelos afro-brasilei-
micamente, mas sua população ros. Desenvolveu um conjunto
18 Endereço: Fonte: http://www.guiadedireitos.org/index.php?option=com_con-
tent&view=article&id=1039&Itemid=262
de iniciativas consagradas pela
34 - Racismo Racismo - 35

Constituição, legislação infraconstitucional e superior, e as atuais discussões no Congresso O fim da desigualdade racial, do racismo, da mercado de trabalho, a taxa de desemprego é
políticas públicas de promoção da igualdade ra- sobre as cotas para cargos públicos, também discriminação, da xenofobia e das intolerâncias de 10% entre negros e 8% entre os brancos. O
cial, cuja face mais visível seriam as chamadas são medidas para corrigir as desigualdades his- correlatas beneficiará não só os negros brasilei- Relatório Global sobre a Igualdade no Trabalho,
ações afirmativas: medidas especiais e tempo- tóricas que têm impedido que os afro-brasilei- ros, mas também o conjunto da população do de 2011, aponta que embora seja 45,5% da po-
rárias, tomadas pelo estado com o objetivo de ros tenham acesso a tais espaços. Brasil. Reforçará a democracia, a primazia do pulação ativa, a participação de negros na po-
eliminar desigualdades historicamente acumu- direito e o desenvolvimento social e econômi- pulação desempregada total é de 50,5%. Outro
ladas, garantindo a igualdade de oportunidades Os afro-brasileiros constituem mais da me- co. As relatores ainda esperam que os progres- importante indicador, o perfil das 500 maiores
e tratamento, bem como de compensar perdas tade da população brasileira, no entanto, são sos alcançados no combate ao racismo no Bra- empresas do país, traçado pelo Instituto Ethos,
provocadas pela discriminação e marginaliza- sub-representados e invisíveis na maioria das sil tenham um impacto profundo e duradouro mostra que quanto maior o nível hierárquico,
ção, decorrentes de motivos raciais, étnicos, estruturas de poder, nos meios de comunica- em todos os países da América Latina que com- menor a probabilidade de negros no quadro
religiosos, de gênero e outros. A adoção da lei ção e no setor privado. Esta situação tem ori- partilham o legado de racismo. de direção. Em 2010, negros representavam
10.639, em 2003, sobre o ensino da história e da gem na discriminação estrutural, que se baseia 5% dos executivos e 13% dos gerentes das 500
cultura da África e dos afro-brasileiros nas esco- em mecanismos históricos de exclusão e este- Comparamos agora esta imagem traçada maiores empresas. A mulher negra segue sen-
las, é um passo importante no reconhecimento reótipos negativos, reforçados pela pobreza, pelas representantes da ONU com sua con- do, para usar a expressão de Sueli Carneiro, “a
da contribuição dos negros para a construção marginalização política, econômica, social e firmação aprofundada através da análise de última da fila depois de ninguém”. Elas simples-
da sociedade brasileira. O decreto nº. 4887, de cultural. conjuntura no texto “Desconstruir o racismo e mente não existem, representam apenas 0,5%
2003, e os decretos posteriores, reconhecem e forjar a utopia revolucionária negra”1 , de Jaime dos cargos de chefia ou gerência. No geral, as
Embora o Brasil tenha avançado na redução Amparo Alves e Douglas Belchior.
definem os títulos de propriedade das comuni- da pobreza, da pobreza extrema e das taxas de mulheres negras ganham em média 70% me-
dades quilombolas, têm por objetivo enfrentar desigualdade, processo do qual os afro-brasi- Todos os indicadores sociais apontam para nos do que ganha o homem branco e a metade
a desigualdade socioeconômica e o direito à leiros se beneficiaram, há um grande contras- um padrão consistente de vulnerabilidade so- do que ganha o homem negro. Para a pergunta
terra de um dos grupos mais marginalizados do te entre a precariedade da situação dos negros cial de negras e negros, seja no mercado de tra- “qual o lugar da mulher negra na força de tra-
país. A adoção do Estatuto da Igualdade Racial brasileiros e o elevado crescimento econômico balho, no acesso à educação formal, no aces- balho?”, a resposta é relativamente simples: o
em 2010 é um passo crucial na promoção da do país. Os afro-brasileiros não serão integral- so à moradia urbana, à terra ou à justiça. No mesmo lugar que ocupava em 1888 quando da
igualdade para os afro-brasileiros. A decisão da mente considerados como cidadãos plenos abolição da escravidão, ou seja, na cozinha.
Suprema Corte em 2012 sobre a constituciona- sem uma justa distribuição do poder econômi-
lidade das cotas raciais para acesso ao ensino No que diz respeito ao acesso à educação
co, político e cultural. formal, embora tenha havido uma expansão
universal do ensino básico e médio, de acordo
Com frequência, o racismo institucional assume a forma de uma repartição desigual dos gas- com o IBGE os negros representam 70% dos
tos públicos. Manifesta-se também nos baixos indicadores socioeconômicos e no baixo nível de cerca de 14 milhões de analfabetos do país. No
participação na administração pública e de representação na vida política. Afro-brasileiros se be- ensino superior não é diferente: em 2007, entre
neficiam proporcionalmente menos de instalações educacionais e de saúde, da administração da a população branca com mais de 16 anos, 5,6%
justiça, do investimento público e privado, infraestrutura básica e outros serviços. frequentavam o ensino superior, enquanto en-
A discriminação múltipla afeta tanto as mulheres e meninas negras quanto os indivíduos tre os negros esse percentual era 2,8%. As uni-
LGBT, manifestando-se em desigualdades no acesso à saúde e ao emprego nos setores público e versidades públicas brasileiras têm feito pouco
privado. A sociedade civil denunciou a feminização da pobreza, a elevada proporção de mulheres para mudar este abismo; apesar das políticas
afro-brasileiras que trabalham em condições precárias, principalmente no serviço doméstico, e a afirmativas, entre 1997 e 2007 o ingresso de
dificuldade de acesso a saúde que acarreta taxas elevadas de mortalidade materna. negros com mais de 16 anos aumentou apenas
1,8% (de 1 para os atuais 2,8%). O aumento na
Deve-se observar que o racismo institucional continua presente no sistema de justiça e segu- matrícula de jovens negros no ensino superior
rança em todos os níveis. É ele que impede a igualdade de acesso à justiça para afro-brasileiros deveria não ofuscar um aspecto importante
quando vítimas de violações. Além disso, manifesta-se na prática de perfil racial, nos números aqui: as iniciativas negras autônomas, como os
desproporcionais de prisões e representação excessiva de negros na população carcerária. pré-vestibulares comunitários, que tem prepa-
rado jovens para o seleto vestibular. À revelia
Nota-se graves violações de direitos humanos perpetradas pelas forças de segurança, em par-
da comunidade acadêmica, tais organizações
ticular pelas Polícias Civil e Militar, contra os jovens e adolescentes negros. Muitas dessas vio-
têm pressionado o governo e os gestores uni-
lações ficam impunes. Funcionários governamentais denunciaram a violência devastadora e os
versitários a adotarem políticas de inclusão e
assassinatos, no entanto, isto continua sendo uma prática generalizada. Um dos pilares centrais
começam, ainda que lentamente, mudar a con-
dos direitos humanos é o respeito ao direito à vida e à integridade física. As normas imperativas
figuração monocromática das universidades
dos direitos humanos proíbem os Estados de cometerem execuções sumárias, extrajudiciais e 1 A maior parte dos dados citados e dos argumentos são retirados do artigo, dis-
ponível no endereço: http://www.uneafrobrasil.org/?pg=opiniaonot&id=197 públicas.
arbitrárias.
36 - Racismo Racismo - 37

Ainda assim, e apesar da luta, um menino Talvez a morte prematura da juventude ne- números equivalem a 400 mortes por mês. É tes do Estado a cada mês. Ainda segundo o es-
pobre, negro, morador do Capão Redondo, na gra seja a face mais visível e mais cruel do ra- como se todo mês dois aviões Air Bus, lotados tudo, Rio de Janeiro e São Paulo concentram
periferia de São Paulo, ou na favela da Maré, cismo Brasil. Qual seria a reação se os papéis se de jovens de até 18 anos, caíssem em algum lu- 80% dos assassinatos cometidos por policiais
no Rio de Janeiro tem pouquíssimas chances invertessem e a vitimização de jovens brancos gar do Brasil, sem nenhum sobrevivente. no Brasil. Segundo a Human Rights Watch, en-
de entrar na USP ou na UFRJ, as universida- entre 15 e 24 anos fosse três vezes maior do tre 2005 e 2009 as forças policiais de São Pau-
des-símbolo da exclusão educacional no país. que entre jovens negros vivendo sob a mesma Embora a polícia em si não seja a única força lo e Rio de Janeiro juntas assassinaram 11.000
Ambas insistem em protelar o debate sobre as bandeira nacional? Jovens negros são as princi- letal contra a juventude negra, ela é certamen- pessoas sob a justificativa legal de ‘resistência
ações afirmativas e seguem imbatíveis, ferindo pais vítimas não apenas das políticas oficiais de te uma das mais incisivas. Apesar de ser visto seguida de morte’ ou ‘autos de resistência’. Nos
o princípio republicano da igualdade de oportu- extermínio, como também da violência homici- como exagero pelos setores conservadores da últimos cinco anos, a polícia paulista assassi-
nidades e de direitos que supostamente defen- da em geral. Nos últimos dez anos o pais regis- sociedade, a política programada de elimina- nou mais pessoas (2176) do que toda a polícia
dem. Quando no muito, aceitam cotas raciais trou 522 mil homicídios, o que equivale a cinco ção de negros pelas forcas policiais já é admi- sul-africana (1623).
mascaradas ou apenas cotas sociais. guerras no Iraque. Se o quadro já é assustador tido por parte imprensa nacional, a exemplo
com o país ocupando a sexta posição mundial do jornal Correio Braziliense, que após cruzar Esta análise mostra o que chamamos de ra-
O acesso à terra continua sendo uma prer- no ranking de homicídios entre jovens, não se- dados de mortalidade por força policial do Mi- cismo institucional: nossas instituições, e não
rogativa dos senhores brancos. A chamada ria exagero afirmar que nenhuma outra nação nistério da Saúde e das ocorrências registradas apenas os indivíduos, é que são racistas, é que
‘bancada ruralista’ no Congresso Nacional, re- fora do continente africano assassina tantos nas secretarias de Segurança Pública do Rio de promovem a falsa idéia de que uma raça é infe-
presentada por figuras como Ronaldo Caiado e negros. Em alguns estados brasileiros, o pa- Janeiro e São Paulo, revelou que a uma pessoa rior a outra. Um exemplo de como as próprias
Kátia Abreu é o principal, embora não o único, drão de vitimização de jovens negros chega a é morta no Brasil pela polícia a cada cinco horas instituições, pública e privadas, divulgam esta
entrave ao processo de afirmação dos direitos quase 2000% em relação aos jovens brancos na e que 141 assassinatos são realizados por agen- idéia e prática, é o de um estudo recente feito
das comunidades quilombolas. No lado oposto mesma faixa etária, como mostram os exem-
da trincheira estão populações tradicionais or- plos da Paraíba (1.971,2%), Alagoas (1.304,0%)
ganizadas através da Frente Nacional em Defe- e Bahia (798,5%), os estados líderes no assassi-
sa dos Territórios Quilombolas. O acesso à terra nato de jovens negros.
urbana também continua inalterável. A oferta
de crédito imobiliário, uma política dos gover- Os dados do Ministério da Justiça reve-
nos Lula/Dilma, desvirtuou a questão transfor- lam que, em 2002, em cada grupo de 100 mil
mando o solo urbano em mais uma fronteira negros, 30 foram assassinados. Esse número
para a contenção emergencial da crise finan- saltou para 33,6 em 2008; enquanto entre os
ceira. São as construtoras, e a emergente clas- brancos, o número de mortos por homicídio,
se média branca, as principais beneficiárias do que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9. Em
Programa Minha Casa Minha Vida. Por outro 2002, morriam proporcionalmente 46% mais
lado, a população negra segue vivendo majo- negros que brancos. Esse percentual cresce de
ritariamente em áreas urbanas desprovidas de forma preocupante uma vez que salta de 67%
infraestrutura básica. De acordo com a ONU- para 103%. Constata-se que o grau de vitimiza-
-HABITAT, o Brasil possui 28,9% da sua popu- ção da população negra é alarmante: 103,4%
lação urbana vivendo em favelas. maiores as chances de morrer uma pessoa ne-
gra, se comparada a uma branca; sendo 127,6%
Com os mega-eventos esportivos surgem a probabilidade de morte de um jovem negro
no país agora uma nova categoria de vítimas: [de 15 a 25 anos] à de um branco da mesma fai-
os ‘refugiados internos’. São os moradores xa etária.
expulsos do entorno de áreas nobres das ci-
dades-sede da copa do mundo de 2014 e das Ao publicar os dados, o governo federal de
olimpíadas de 2016. São Paulo, Rio de Janeiro certa forma também já admite a sua cumplici-
e Salvador, se tornaram lugares comuns de in- dade com a matança. Um estudo conjunto en-
cêndios inexplicáveis de favelas localizadas em tre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
pontos estratégicos da cidade. Assim como as a UNICEF e o Observatório de Favelas revelam
políticas de ‘pacificação’ das “geografias pro- que 33,5 mil jovens serão executados no Brasil
blemas”, os incêndios aparecem como uma entre 2006 a 2012. Os estudos apontam que os
ótima oportunidade para ‘resolver’ a questão jovens negros têm risco quase três vezes maior
política inadiável: abrir a cidade para a circula- de serem executados em comparação aos
ção de mercadorias e de capital. brancos. Se distribuída a chacina no tempo, os
38 - Racismo Racismo - 39

nos Estados Unidos e facilmente aplicável ao origens étnicas. ajuda a desvendar esse engano é o dos preconceitos “positivos” em relação ao negro: elogia-se
Brasil que mostra que meninos negros são vis- as características físicas, o corpo e a destreza, evidentes na dança e no futebol. O preconceito
tos como adultos mais cedo do que jovens bran- Estes pequenos adjetivos começam mais ou “positivo” traz consigo, escondido, o negativo: japoneses não sabem se divertir, são antipáticos,
cos. Uma raça, de acordo com a visão policial menos ingenuamente, mas tem um efeito de- assim como negros não tem talento para atividades intelectuais. Do menino japonês espera-se
analisada no estudo, perde a “inocência” mais vastador sobre aquele que não é considerado que não goste de futebol, do negro que não goste da escola. Esta triste expressão de ignorância
cedo do que outra: “Como a superestimativa como igual pelos outros, mas diminuído por que afasta indivíduos talentosos de certas áreas apenas porque na mentalidade da maior parte da
média de idade para os meninos negros che- uma marca étnica que o impede de ser trata- população o grupo étnico do qual ele faz parte (ou apenas aparenta fazer parte) historicamente
gou a quatro anos e meio, em alguns casos, as do por outras características que não as físicas. não tem relação com aquela área acaba por ter um efeito real contraproducente para toda a nos-
crianças negras podem ser vistas como adultos Neste sentido, o racismo desumaniza o indiví- sa sociedade: o de impedir indivíduos talentosos de seguir seu talento, o de impedir pessoas de se
e tratadas como tal quando eles têm apenas 13 duo e o animaliza porque leva em conta apenas dedicarem ao que elas querem pelo motivo animalesco de ter a cor de pele errada.
anos de idade. Em contrapartida para o jovem características físicas, corpóreas, e não intelec-
branco, de classe média, o período de tempo tuais, de personalidade ou carisma. A história
em que não são considerados plenamente res- individual é substituída completamente por
ponsáveis por seus atos pode se estender até uma história coletiva do grupo ao qual o indi-
os seus 20 anos” . Esta pesquisa mostra um tris- víduo pertence que, na maioria das vezes, não
te processo: tratar jovens como se eles fossem tem qualquer base na história real, trata-se de
mais velhos do que realmente são tem como uma caricatura de história, um preconceito so-
efeito devastador que estes jovens cresçam bre toda uma coletividade.
mais cedo do que o normal, perdendo assim Assim, grupos que foram perseguidos du-
o período de livre desenvolvimento e experi- rante séculos no resto do mundo, encontram
mentação infantil. O rapper Emicida canta no no Brasil uma versão cordial de perseguição:
seu rap “Triunfo”: “Eu nasci junto a pobreza que marginalização, estereotipação, etc. Ciganos
enriquece o enredo. Eu cresci onde os muleque e judeus, por exemplo, chegaram ao Brasil por
vira homem mais cedo”. fruto do preconceito e ódio racial contra estes
Falamos especificamente do racismo contra grupos em Portugal. Apesar de sua contribuição
negros porque a história do nosso país, infe- importante para o país, em diversos aspectos,
lizmente, é atravessada pela violência, discri- paire sobre estes dois grupos, para exempli-
minação e abandono deste grupo que é hoje ficar, uma sensação de que não são legitima-
a maior parte da população de nosso país. O mente brasileiros, que vivem em um mundo a
racismo é evidente quando se trata do negro, parte, que sua cultura é exótica e, especifica-
mas não se resume a ele. Já que a imagem mente sobre os ciganos, que levam uma vida
construída política e midiaticamente do cida- criminosa. Não importa quantos contraexem-
dão ideal é a do homem europeu branco, ou- plos sejam dados, o preconceito fundado na ig-
norância de nosso povo sobre a história destes A medida que novos ciclos de imigração com desconfiança pela população e com pou-
tros grupos brasileiros, chegados há muito ou acontecem, novos desafios relacionados ao ca ajuda do governo para se estabelecerem no
pouco tempo, também são tratados através diferentes povos que nos constituem e sobre a
nossa própria história nos leva sempre de volta combate do racismo também surgem. Apesar país. Nossas leis trabalhistas, já de difícil fiscali-
de estereótipos. Como minorias, muitos des- de se considerar uma metrópole internacional, zação para brasileiras, são esquecidas no caso,
tes grupos mantém-se em isolamento, político aos preconceitos: cigano ladrão, judeu ganan-
cioso. São Paulo parece ainda não estar preparada por exemplo, de bolivianos que trabalham até
e cultural, do resto do país, que lhes dedica o para lidar com os migrantes e imigrantes que seis dias da semana em turnos de até doze ho-
papel de gringos exóticos, tratando-os muitas Alguns tentam argumentar que nem todos vem buscar oportunidades de vida melhor por ras dentro da indústria têxtil da cidade. Não é
vezes por apelidos ou nomes depreciativos, os preconceitos são ruins. Alguns seriam “po- aqui. Os três grupos de migração que chamam raro ouvir de seguranças, comerciantes e poli-
mesmo quando estes grupos já se encontram sitivos” como aqueles que dizem que os japo- mais a atenção recentemente vem de três con- ciais comentários negativos a respeito dos imi-
há gerações no país. Não enxergar estes trata- neses são um povo trabalhador, dedicado aos tinentes distintos: chineses e coreanos, vindos grantes que vem até aqui “arrumar confusão
mentos como maldade, mas como descontra- estudos e avesso às diversões de nossa cultura, da Ásia; angolanos, moçambicanos e indivídu- ou roubar nossos empregos”. O governo, por
ção, como chamar descendentes de imigrantes como a música e o futebol. A verdade, no en- os de outros países da África; bolivianos, peru- sua vez, toma medidas tímidas de integração
asiáticos por “japonês” ou descendentes de tanto, é que nenhum preconceito é “bom”. Esta anos e haitianos, vindos da América Latina. As destes grupos. Medidas mais arrojadas, como
árabes de “turcos”, é não compreender a vio- caracterização supostamente positiva, como principais dificuldades que estes grupos encon- aulas de português como língua estrangeira,
lência sutil do racismo: diminuir a subjetividade dissemos anteriormente, ignora a pessoa, o tram são lingüísticas, condições precárias de facilidade na legalização e acesso a documen-
e especificidade de cada sujeito, que é único, indivíduo, o sujeito e o submete às supostas trabalho e diferenças culturais. Em geral, estes tos, acompanhamento escolar desde a primei-
por uma generalização estereotipada de suas características do seu grupo. Um exemplo que grupos de jovens trabalhadores são tratados ra idade para os filhos, etc., são exemplos de
40 - Racismo Racismo - 41

medidas que funcionam e ajudam a superar as acontecimentos históricos fossem critério para me for enquadrado como de racismo. O crime de racismo no Brasil é inafiançável2.
dificuldades da imigração. Pesquisas mostram julgar indivíduos pertencentes a certos grupos,
que jovens imigrantes, como os que chegam os preconceitos de nossa sociedade teriam de
agora no Brasil, são uma força poderosa no ser virados de cabeça para baixo. Ninguém tra- 2 Estas e outras informações foram extraídas da Cartilha de Direitos Humanos do Portal DHNet, disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/dh/br/cdhcf/
cartilha_cdh/13_discriminacaoracial.htm
crescimento econômico. Esta força, no entan- balhou e produziu mais na história deste país
to, não deve ser explorada como se faz tradi- do que os grupos chamados hoje de marginais,
cionalmente no Brasil, sem a oferta de direitos ladrões e preguiçosos. As elites do país, no en-
e qualidade de vida. Aqueles que optaram por tanto, que roubam, espoliam e parasitam nos-


vir viver e trabalhar no Brasil merecem ter to- so estado desde a chegada da primeira carave- LEI Nº 7.716/89
dos os seus direitos respeitados e sua diversi- la, são tidos como liderança moral e exemplo
Define os crimes resultantes de preconceito de raça e de cor.
dade cultural respeitada. O Brasil, como país para o resto do país.
de população miscigenada, tem a possibilida- Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou
de única de contribuir internacionalmente com preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
uma visão e política mais humana aos direitos
dos imigrantes. Como proceder em casos de Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da
abuso institucional administração direta ou indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.
O racismo e a discriminação racial são fer-
ramentas de opressão e poder dos grupos do- (polícias, instituições públicas Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
minantes, servem para diminuir ainda mais a e privadas)
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
autoestima dos grupos oprimidos e, principal-
A discriminação racial ocorre quando a pes- ou procedência nacional.
mente, dividi-los. A quem domina interessa
que os grupos dominados não se entendam soa sofre preconceito ou discriminação em ra- Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
como um grande grupo, mas como diversos zão da cor de sua pele ou etnia. Todo tipo de
pequenos grupos sem relação entre si, separa- discriminação e preconceito é vedado pela le- Código Penal
dos por pequenas variações como religião, tra- gislação brasileira. A Constituição Federal, no
Injúria
dição, costume, gostos que apenas camuflam seu art. 5º, dispõe que todos são iguais peran-
a verdadeira divisão: aquela entre dominados te a lei, sem distinção de qualquer natureza. A Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.
e dominadores. A prova mais evidente disso é Declaração Universal dos Direitos Humanos,
que os critérios (se é que existem critérios) de de 1948, no seu art. 1º, dispõe que todos os 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, etnia, religião ou origem:
formação de preconceitos, como um aconte- seres humanos nascem iguais em dignidade e
Pena: reclusão de 1(um) a 3(três) anos e multa.
cimento ou costume específico (pensemos na direitos. O art. 2º ainda assevera que todos os
imagem dos muçulmanos do mundo inteiro, seres humanos estão aptos a exercer os seus
1,6 bilhões de pessoas, estigmatizadas pela direitos sem distinção de nenhum tipo ou gê- O único antídoto efetivo contra o racismo justiças passadas geram dificuldades presentes
ação infeliz de uma dezena de pessoas em 11 nero, seja por raça, cor, sexo, língua, orientação é o estudo da história. A educação. Só conse- que precisam ser superadas através de incen-
de Setembro de 2011), não valem para os gru- política etc. A Constituição Federal, no 47.seu guimos demonstrar a falsidade do preconcei- tivos específicos aos grupos oprimidos. A úni-
pos dominantes: ninguém esconde a carteira art. 5º, incisos XLI e XLII, dispõe que a lei punirá to conhecendo a história. Entendendo nosso ca solução não violenta, que permite superar o
ao passar por um rapaz branco na rua, já que qualquer discriminação atentatória aos direitos presente como estado formado a partir de di- círculo vicioso da violência na qual está inserida
ele pertence ao grupo que mais roubou rique- e liberdades fundamentais e que a prática do versos acontecimentos, de batalhas, de lutas, a sociedade brasileira é justamente a educa-
zas de outros países na história da humanida- racismo constitui crime inafiançável e impres- de revoluções fracassadas, de rebeliões repri- ção. Neste sentido, a luta pelas ações afirma-
de; ninguém no Brasil atravessa a rua ao avistar critível, sujeito à pena de reclusão. midades, de vitórias, podemos entender que tivas como cotas em vestibulares e concursos
esse mesmo rapaz, pois ele descende do grupo a posição atual dos diferentes grupos sociais públicos, o incentivo à manifestações culturais
A prática de uma discriminação em virtude não é natural, mas construída historicamente. historicamente oprimidas, o debate público so-
responsável pelo maior genocídio da história,
de cor ou etnia poderá ser enquadrada na Lei O reconhecimento de que alguns grupos opri- bre o racismo estrutural e camuflado brasileiro
o tráfico transatlântico de africanos escraviza-
nº 7.716/89, que define os crimes resultantes miram e exploraram outros, com foi o caso do são obrigações não apenas dos oprimidos, mas
dos; ninguém esconde suas crianças ao ver um
de preconceito de raça ou de cor. Nesse caso, europeu com o africano no Brasil, e que esta de todo o cidadão. O problema do racismo é
padre, com medo de que ela seja violentada ou
a ação será pública e bastará que a vítima co- exploração tem conseqüência ainda no nosso de todo brasileiro, de quem o sofre, de quem
que sua língua e cultura sejam forçosamente
munique o crime à autoridade policial ou ao presente, é fundamental para transformar o o faz, de quem se beneficia dele. Sua solução,
apagadas dela; as mulheres do mundo não dei-
promotor de Justiça para que este tome as pro- abismo racial que no Brasil é tão grande quanto portanto, também tem de ser coletiva. Não
xam de se relacionar com homens, apesar dos
vidências legais cabíveis. Não é preciso que a o social. Esta compreensão justifica e exige po- será possível viver em um país verdadeiramen-
séculos de estupro, assassinato, tortura, cerce-
vítima contrate advogado, visto que o promo- líticas de ações afirmativas que nada mais são te democrático, progressista e respeitador
amento de liberdades, aprisionamento, etc. Se
tor é que ingressará com a ação penal se o cri- do que o reconhecimento coletivo de que in- dos direitos humanos sem enfrentar de fren-
42 - Racismo Violëncia Institucional - 43

te, com medidas radicais, a desigualdade racial: pilar fundamental


da desigualdade social nesta ex-colônia escravocrata. Assim como
a luta por uma sociedade democrática passa pela revelação dos cri-
mes cometidos nas duas últimas ditaduras militares, a luta por uma
sociedade humana tem de passar pelo trabalho ainda pouco feito e
pouco claro de esclarecimento da magnitude da calamidade que foi a
escravidão no Brasil e suas conseqüências nefastas que se lançam em
Violência
todos os aspectos de nossa vida social.
Novamente, apenas o estudo coletivo da história e sua compre-
Institucional
ensão, um esforço educativo pautado não apenas no academicismo
hegemonicamente branco das universidades públicas, mas no relato
autônomo dos sujeitos dos diversos povos oprimidos como os índios e Em 2011, jornais nacionais e internacionais espaço à selva liberal na qual quem pode pagar,
suas narrativas, as canções do candomblé, a análise estrutural do RAP, publicaram com euforia a notícia de que o Bra- leva, e quem não pode, desaparece.
o encontro das comunidades periféricas, a divulgação e preservação sil passou a Grã Bretanha e se tornou a quin-
ta maior economia no mundo. O crescimento Assim, apesar do sistema público brasileiro
dos relatos de aldeias, quilombos e colônias, os núcleos de educação garantir direitos básicos como saúde, educa-
popular, permitirão ao Brasil fazer justiça aos povos que aqui foram e econômico trouxe consigo a esperança de que
a vida da maior parte da população fosse me- ção, moradia, segurança e transporte, o Estado
são esmagados em benefício parasitário, salvo engano, de um mesmo
lhorar. Esta camada da população que vive na ao mesmo tempo permite que estes direitos
grupo que está há séculos no poder. Apenas reconhecendo a pluralida-
beira da miséria, lutando para conseguir atra- sejam vendidos, muitas vezes fazendo parte do
de e a especificidade dos povos que compuseram, compõem e virão a
vés do esforço pessoal o que o Estado garante negócio, como é o caso dos leitos de hospitais
compor nosso país, fazendo a justiça das injustiças passadas e presen-
como direito, mas não consegue cumprir. públicos utilizados por planos privados de saú-
tes, reescrevendo os livros de história e os discursos políticos, é que
elevaremos nosso país à altura que ele pode, em sua condição quase de. As elites que dominam o país usam a má-
única de nação miscigenada no cenário mundial, alcançar. Mostramos anteriormente como o aumen- quina pública, direta ou indiretamente, para fa-
to no poder de consumo não consegue, por si zer crescer a venda de produtos de qualidade.
só, melhorar o acesso aos direitos humanos. Clínicas e hospitais privados para clientes de
É possível ter uma televisão de plasma, mas planos de saúde. Escolas, cursinhos e univer-
não é possível trabalhar menos de quarenta sidades privadas. Condomínios fechados e se-
horas semanais. É possível freqüentar a praça gurança particular. Carros e helicópteros para
de alimentação do shopping uma vez por mês, locomoção fora do caos do transporte público.
mas não é possível oferecer educação de qua- O país divide-se, portanto, entre aqueles que
lidade para as crianças. É possível até comprar recebem o serviço de péssima qualidade, ga-
um carro, parcelando em três anos e pagando rantido pela Constituição de 1988 e mal aplica-
o preço de dois, mas parece impossível viver do pelo Estado, e aqueles que recebem serviços
em segurança. É possível fazer um churrasco de excelente qualidade, pagos à indústria pri-
no aniversário da esposa, mas não garantir que vada, com patrocínio público (Leitos públicos,
ela será atendida dignamente em caso de uma hospitais e médicos pagos pelo Estado; PROU-
emergência médica. O crescimento econômi- NI que sustenta o ensino superior privado; Po-
co faz crescer o consumo, sem garantir a dig- lícia Militar que controla de maneira violenta e
nidade ou os direitos. Eles não fazem parte do genocida a população da periferia; Redução de
acordo financeiro, do sistema político orienta- IPI e aumento no crédito para a compra de car-
do sobre compra e venda, e não sobre direitos ros; entre muitos outros exemplos possíveis de
e deveres. O cidadão se torna aos poucos con- investimento público em grupos privados que
sumidor, não só do ponto de vista da indústria e comercializam o que é garantido por lei).
do comércio, mas do próprio Estado. O direito,
aquilo que é garantido, aquilo sobre o que não A população que não tem acesso aos ser-
se discute porque já é estabelecido, se torna viços privados perde duplamente, portanto,
produto: aquilo que pode ou não ser adquirido porque além de receber um serviço ruim do
através de dinheiro. No momento em que di- Estado, ainda vê o dinheiro de seus impostos
reitos se tornam produtos, a noção iluminista apoiar os serviços privados dos quais ele não
de igualdade de dignidade da vida humana dá poderá usufruir. E este dinheiro não é pouco.
Uma pesquisa recente encomendada pela
44 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 45

BBC Brasil19 , mostra que, como muitos dizem, Fazemos esta ressalva sobre impostos para Falamos antes sobre o círculo tamente da enormidade dos ho-
o Brasil tem uma das maiores cargas de impos- mostrar que direitos não caem do céu. Eles são vicioso, fortemente baseado na micídios cometidos por policiais
tos do mundo. Na média do G20 (grupo dos 20 pagos com o suor do trabalhador e, através de desigualdade histórica entre as militares em São Paulo, mas ajuda
países mais ricos), 26% da renda gerada no país diversos mecanismos políticos, são utilizados raças e classes no Brasil, que leva a compreender que o problema é
vai para os governos por meio de impostos, en- no auxílio daqueles que mais concentram renda os jovens de periferia ao crime e mais institucional do que individu-
quanto no Brasil o índice é de 35%,, valor com- no país. É absolutamente necessária uma polí- ao tráfico de drogas. Esta minoria al. Sem o preparo adequado para
parado apenas ao de países da Europa ociden- tica em nível federal de transformação estrutu- de jovens desiludidos serve como lidar com situações de risco, a vio-
tal como França e Itália que tem mais de 40%. ral. Enquanto isto não acontece, as injustiças e a desculpa ideal para a ocupação lência da polícia ajuda a criar um
A diferença entre o Brasil e os países europeus, as demandas sociais continuam a se acumular militar das periferias. Porque uma ambiente de revolta social ainda
no entanto, é dupla: primeiro, na Europa estes na imensa montanha de absurdos humanitá- minoria de jovens se rende à ten- maior.
altos impostos são devolvidos para a popula- rios de nosso país. tação do crime, comunidades in-
ção com serviços públicos de excelente quali- teiras de trabalhadores e trabalha- Já mostramos anteriormente
dade. Segundo, e o mais revelador, ao contrá- Mas esta precariedade no oferecimento de doras são colocados no grupo de como nossos números de assas-
rio do que acontece nos países desenvolvidos serviços não significa que o Estado está com- pessoas suspeitas pela segurança sinatos são de países em guerra.
e mais igualitários, aqui os pobres são mais pletamente ausente. Apesar de não oferecer cada vez mais militarizada do nos- Cabe agora ressaltar o papel da
taxados do que os ricos. Além disso, o que é postos de saúde de qualidade, hospitais pre- so país. Militarizada porque, vale Polícia Militar nesta guerra civil
mais absurdo, é possível abater do imposto de parados para atender a população, escolas que ressaltar, a polícia brasileira que não declarada. Segundo o Anuá-
renda gastos privados com saúde e educação. formem verdadeiramente cidadãos, meios de lida com a população não tem or- rio Brasileiro de Segurança Públi-
Na prática, isso significa que o Estado subsidia transporte próximos ao lar, confortáveis e ba- ganização, ideologia e treinamen- ca 201320 , 984 pessoas foram as-
serviços privados justamente para a parcela da ratos, apesar de mal cumprir com suas obriga- to especializado para lidar com sassinadas “em confronto” (não é
população de maior renda, ou seja, que precisa ções, o Estado está presente nas periferias com civis, mas traz ainda as marcas do possível verificar se houve mesmo
menos. Resumindo: por poder pagar pelos ser- o aparato policial. Esta presença não é para regime totalitário militar que tive- confronto ou se apenas foi regis-
viços de qualidade, a camada mais rica da po- oferecer segurança ao morador, mas frequen- mos no Brasil entre 1964 e 1985. trado dessa maneira) com a Polí-
pulação ganha desconto nos impostos, ou seja, temente para reprimi-lo. Este aparato enche as A disciplina rígida dentro da cor- cia Militar nos anos de 2011 e 2012
paga menos impostos proporcionalmente do ruas dos bairros com armamento caro e de alta poração da Polícia Militar e o trato apenas no estado de São Paulo.
que aqueles que dependem dos serviços públi- tecnologia empunhado por policiais mal pagos violento com a população são as Nos mesmos anos morreram 32 Segundo reportagem de

cos de qualidade ruim. e mal treinados. A fórmula ideal para um cená- marcas mais evidentes desta he- policiais em serviço e 114 fora de Luciana Sarmento para o R7
rio já tenebroso. rança. Os números de homicídios serviço (índice que tem crescido intitulada “Em cinco anos,

e os números de policiais mortos nos últimos anos sem que a orga- PM de São Paulo mata mais

são a prova real de como a estra- nização da polícia dê uma respos- que todas as polícias dos EUA
juntas”, disponível em:
tégia adotada nas últimas décadas ta satisfatória aos policiais). Para http://noticias.r7.com/

pela política de segurança pública efeito de comparação , entre os sao-paulo/noticias/em-cinco-

tem sido equivocada. Recente- anos de 2005 e 2009 a Polícia Mi- anos-pm-de-sao-paulo-mata-

mente, o treinamento policial foi litar do Estado de São Paulo ma- mais-que-todas-as-policias-

colocado em questão para ten- tou mais pessoas do que todas as dos-eua-juntas-20110607.html

tar compreender o alto índice de forças policias dos Estados Unidos


letalidade das polícias militares. no mesmo período, país com po-
Segundo Tânia Pinc, doutora em pulação quase oito vezes maior
ciência política e major da reserva que a do nosso Estado. Seguindo
da PM , “nem todos os resultados na comparação, Guaracy Mingar- Segundo reportagem de
Afonso Benites para o El País
letais são intencionais. Eles estão di, ex-subsecretário nacional de intitulada “Polícia brasileira

relacionados à falta de preparo. A Segurança Pública, afirma que a mata cinco pessoas a cada

maioria dos policiais não quer ma- diferença no total de mortes do dia”, disponível em:

tar, mas, sob forte stress ele acaba Estado e dos Estados Unidos se http://brasil.elpais.com/

usando a arma de fogo e matan- deve à própria cultura geral da brasil/2014/02/27/politi-


ca/1393533362_626474.html
do. Ao invés de ser um instrumen- sociedade brasileira que tende a
to de proteção da sociedade a apoiar os assassinatos cometidos
arma acaba se tornando um obje- por policiais e prega que “bandi-
19 De acordo com reportagem de Mariana Schreiber intitulada “Rico é menos 20 Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicação
taxado no Brasil do que na maioria do G20”, publicada na BBC Brasil e disponível to de defesa pessoal”. Talvez esta do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disponível em:
em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/03/140313_impostos_ri-
cos_ms.shtml
informação não dê conta comple- http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//
anuario_2013.pdf
46 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 47

do bom é bandido morto”. “Nós temos uma ro, ao sair de casa para comprar pão. Cláudia Distribuição das Populações Negras e Não Negras por Faixa de Renda
diferença. O júri americano tem uma tendên- foi alvejada por tiros de três policiais militares.
Percentis de Renda da popu- % da População Negra em Cada %% da População Não Negra em Cada
cia a inocentar o acusado porque ele desconfia Pessoas presentes afirmam que não houve tro-
lação em geral Percentil de Renda Percentil de Renda
do Estado. Aqui, apesar de o nosso Estado ser ca de tiros com nenhum outro grupo.
pior, o júri tende a condenar o acusado porque 10% mais pobres 11,66 5,41
ele considera que, se a polícia pegou, é porque Cláudia carregava um copo de café na mão
e seis reais para pão e mortadela. Seu corpo foi 10% a 25% 32,77 20,96
ele tem culpa no cartório”. Ou seja, conscientes
de que o sistema corrompe e é corrupto, ainda jogado, sob protesto de vizinhos, no porta-ma- 25% a 50% 10,85 9,21
sim nos colocamos normalmente do lado dos las do camburão por três policiais. No meio do
50% a 75% 25,34 27,23
mais fortes, sem questionar a ordem. A taxa caminho, seu corpo caiu do carro e foi arrasta-
de encarceramento no Brasil também é assus- do por 250 metros por uma avenida movimen- 75% a 90% 12,58 19,37

tadoramente alta: a quarta maior do mundo, tada. O negro periférico sai de casa para com- 10% mais ricos 6,80 17,82
com mais de meio milhão de presos. Um terço prar pão na esquina e não sabe se voltará vivo
e se seu possível cadáver e memória serão res- 100,00 100,00
destes presos está no estado de São Paulo em
presídios, em geral, acima de sua capacidade, o peitados. Ser negro e pobre no Brasil é crime, Fonte: Censo Demográfico do IBGE, 2010. Elaboração IPEA/DIEST.

que contribui para a violência no interior do sis- julgado nas ruas pelo destreinado e preconcei-
tema, disseminação de doenças e crescimento tuoso agente público. CERQUEIRA, Daniel; MOURA, Rodrigo. “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”, p. 3, na Nota Técnica Nº10 do IPEA, disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/131119_notatecnicadiest10.pdf
das facções criminosas. Temos 1,7 preso para
cada 1 vaga no país, ou seja, próximo do dobro Verifica-se, por razão da ausência de políti- o racismo encarnado em instituições, é o racis-
de presos para o número de vagas. A resposta cas públicas pós-escravidão, uma sobrerepre- mo que vai além do indivíduo e que se escon-
da população para este cenário de terror é uma sentação negra nos baixos estratos da socieda- de, às claras ou escondido, em normas, defini-
desconfiança irrestrita em relação à institui- de. Esta condição social é efeito e ao mesmo ções e posicionamentos de instituições como
ção. Em pesquisa realizada no primeiro semes- causa do racismo contemporâneo. A baixa es- polícia, empresas, secretarias, órgãos estatais
tre de 2013, 70% de brasileiros consideraram a colaridade deste grupo, somada a uma dificul- e privados em geral. O racismo institucional
polícia como não confiável21 . dade causada pelo racismo em ocupar melho- presente na polícia brasileira é um gigantesco
Neste contexto, ser pobre no Brasil produz res posições de trabalho, dificulta a ascensão problema porque a própria instituição que ser-
efeitos semelhantes a ser criminoso. Perde- social de negros, de maneira diferente do que ve para garantir a isonomia de tratamento ao
se o direito constitucional de ser considerado acontece com brancos pobres, por exemplo, cidadão é que ajuda a perpetrar desigualdades.
inocente até provado o contrário. Perde-se o que enfrentam apenas a discriminação social Os seguintes indicadores, agrupados pelo re-
direito de ser respeitado em abordagens. Per- institucional e não a discriminação racial insti- latório “Vidas perdidas e Racismo no Brasil”
de-se o direito de interrogação e de livre ex- tucional. de 2013 do IPEA, mostram indicadores do ra-
pressão. As recentes manifestações no Brasil, O que chamamos de racismo institucional é cismo institucional da polícia:
principalmente aquelas da periferia, deixam
claro que qualquer pobre, especialmente os Racismo Institucional? Indicadores Slecionados
negros e pretos, são primeiro suspeitos e de- Indicadores Selecionados
(1) (2) (3)
pois cidadãos. O que a segurança pública cria, Negros e Pardos Não Negros Proposção (1)/(2)

portanto, é uma tensão constante para uma Vimos anteriormente que ao analisar opres- Produção 95,795,294 93,953,897 1,03

parcela gigantesca da população, que de ma- sões precisamos ter em mente os diferentes
Taxa de Suicídio 4,2 5,3 0,78
neira alguma ajuda a manter calma a situação. grupos oprimidos aos quais os indivíduos per-
Taxa de mortes por acidentes 14,8 15,4 0,96
tencem. Uma análise simplesmente econô-
Um exemplo trágico e, infelizmente, fre- mica, vale lembra, não dá conta de descrever % de pessoas que foram agredidas 1,8 1,3 1,38

qüente da situação da guerra civil não anuncia- com precisão as injustiças sofridas no Brasil. É Distribuição das vítimas de agressão que não procuraram a polícia 61,8% 38,2%

da no Brasil. No momento em que esta apostila importante ressaltar que se as periferias e os Distribuição dos que não procuraram a polícia porque “não acreditavam na polícia” 60,30% 39,70%
está sendo escrita, o país inteiro está em cho- pobres são alvos privilegiados da violência do Distribuição dos que não procuraram a polícia porque “não queriam envolver a polícia por medo
60,70% 39,30%
que pelo assassinato brutal e injustificado de crime e da polícia, os negros são os que mais ou represália”

Cláudia da Silva Ferreira, mãe de quatro filhos, sofrem. A seguinte tabela prova a relação en- Número de Detentos 252,796 169,975 1,49
auxiliar de limpeza, morta em seu bairro, Mor- tre baixa renda e raça no Brasil: Taxa de Detentos 261,20 180,9 1,44
ro da Congonha, na periferia do Rio de Janei-
Taxa de Homicídios 36,50 15,5 2,35
21 Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicação do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/storage/ Fonte: Censo demográfico do IBGE 2010. PNAD 2009. Informações do Depen/MJ e do SIM/MS, relativas ao ano de 2010. Elaboração DIEST/IPEA
download//anuario_2013.pdf, p. 104
48 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 49

Negros e brancos sofrem agressão quase na mes-


insegurança da população negra é explícito nos seguintes dados do mesmo relatório do IPEA: 6,5%
ma proporção, mas apenas metade dos negros vai à
dos negros que sofreram uma agressão no ano anterior tiveram como agressores policiais ou segu-
delegacia por não confiar na polícia e por medo de
ranças privados (que muitas vezes são policiais trabalhando nos horários de folga), contra 3,7% dos
represálias. Cabe, portanto, perguntar quais as bases
brancos23; os brancos representam 70% da população da cidade de São Paulo, mas apenas 30% dos
desta desconfiança. Três exemplos recentes deixam
assassinados pela polícia24; apesar de representarem 50,94% da população brasileira, negros (pre-
claro que o racismo internalizado que os policiais car-
tos e pardos) são quase 60% do total de encarcerados no Brasil.
regam em si (como quase todos em nossa sociedade)
é amplificado por posturas declaradamente racistas Segundo reportagem intitulada “Circula ainda no DF cartilha
da polícia. No Distrito Federal, militantes dos direitos racista da Polícia Militar”, disponível em:

humanos e do movimento negro protestaram contra http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racis-


mo-no-brasil/12292-circula-ainda-no-df-cartilha-racista-da-poli-
uma cartilha da Polícia Militar intitulada “Previna-se
cia-militar
Como proceder em casos de abuso institucional
contra furto e roubo a pedestre na rodoviária” que (polícias, instituições públicas e privadas)
continha ilustrações consideradas discriminatórias
com a figura de dois homens negros e pobres portan-
do arma de fogo e assaltando um homem branco. Ou-
tro caso grave foi o acontecido na cidade paulista de
Campinas em que um comandante da Polícia Militar Reportagem de Ricardo Brandt disponível em: Abordagem Policial
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pm-de-campinas-deter-
assinou uma ordem determinando a abordagem de
mina-abordagem-de-suspeitos-de-cor-parda-e-negra,987908,0.htm
suspeitos de “cor parda e negra”. Isto significa que indi-
víduos passariam a sofrer abordagem policial por ne-
AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl
nhum outro critério de desconfiança que a sua cor de
pele. Por fim, um exemplo recente, que infelizmente Busca dentro de casa
ainda pode ser encontrado em prédios e condôminos Reportagem disponível em: O que podem e não podem fazer os (as)
da cidade de São Paulo, é o cartaz abaixo com “dicas http://www.redebrasilatual.com.br/cidada- policiais? Para a lei, casa é o lugar que a pessoa mora, incluindo a laje, varanda, etc.
nia/2014/03/pm-retira-do-ar-folheto-so- Qualquer policial, civil ou militar, só pode entrar na sua casa nas seguintes
de segurança” da Polícia Militar, que mostra como bre-seguranca-em-condominios-que-suge- LEMBRE-SE DE SEUS DIREITOS situações:
único negro o funcionário (que, ainda diz o cartaz, re-discriminacao-a-funcionarios-9094.html Com autorização do(a) morador(a), os(as) policiais podem revistar a casa
Constituição Federal: a qualquer momento, desde que com a sua presença. O(A) policial não
deve ter seus antecedentes criminais verificados): pode te intimidar para conseguir a autorização.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei (…)

A instituição da Polícia Militar, como se


vê, reproduz o preconceito da sociedade.
Aquele que se sabe inocente e que é se-
guidamente parado por batidas desmora-
lizadoras em função de sua classe social,
sua vestimenta e sua cor de pele não pode
respeitar a instituição que o pára. As polí-
cias, ao discriminar, criam adversários de
todos os tipos para si mesma.
Infelizmente não é apenas nas batidas Atenção!!
e na desconfiança que a polícia discrimi-
Todo(a) policial deve andar identificado(a) e quando
na, mas na própria letalidade de sua ação.
Se a situação de segurança geral do país solicitado(a) deve apresentar sua carteira funcional.
já é a de guerra civil, como mostramos Isso vale para qualquer um dos casos a seguir.
anteriormente, neste cenário é ainda pior 3 4
ser negro: dois de cada três assassinados
no Brasil são negros, segundo estudo do
IPEA22. O papel da polícia no aumento da
23 IDEM, p. 23.
22 JÚNIOR, Almir de Oliveira; LIMA, Verônica Couto de Araújo. “Se- 24 Segundo reportagem intitulada “Negro é vítima maior de crime e polícia”, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento disponível em: http://
gurança Pública e Racismo Institucional”, p. 21, in Boletim de Análise www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=621. Estas e outras informações relacionadas à Defensoria podem ser encontradas no site:
Político-Institucional 4, disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/ http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=3094
images/stories/PDFs/boletim_analise_politico/1301017_boletim_anal-
isepolitico_04.pdf
50 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 51

AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl


Com ordem do(a) juiz(a) (Mandado de busca e apreensão)
Com ordem do(a) juiz(a) (Mandado de busca e apreensão) Em caso de desabamento, incêndio, desastres ou Busca Pessoal
O(A) juiz(a) pode autorizar a entrada de policiais na sua casa mesmo Se não tiver ninguém em casa, os(as) policiais deverão chamar para socorrer alguém.
sem a sua autorização somente por meio de um documento chamado dois vizinhos(as) para acompanharem a busca. No final, os(as)
Mandado de Busca e Apreensão. Este documento deve ser mostrado vizinhos(as) devem assinar o relatório de como foi a revista e Rua Mrechal Francisco

pelos(as) policiais antes de entrarem na casa e só é válido se estiver IMPO RTANTE:


de Moura.

completo. Para isso, deve constar: endereço exato da residência em que o que foi apreendido na casa.
será realizada a busca; nome do(a) morador(a); motivo da busca; as- Em caso de mandado, os(as) policiais só podem entrar durante o dia.
sinatura do(a) juiz(a). Nos demais casos podem entrar de dia ou de noite.
Os(As) policiais não podem rasgar documentos, fotografias, quebrar
objetos. Todo objeto, dinheiro, documento ou fotografia que eles(as)
pegarem em sua casa deve ser apresentado para o(a) delegado(a).
Atenção! Os(As) policiais não podem te intimidar ou ameaçar para
poder entrar na casa.
Atenção! Existe uma prática comum dos(as) policiais entrarem
na casa sem mandado e sem autorização do morador(a). Neste
caso,pegue todas as informações(identificacao do ploicial, horario,
local, etc) e denuncie.

Atenção!
Para cada casa deVe HaVer um mandado. a Lei Proibe o uso do mandado de busca e
Atenção!!
O(A) policial não pode constranger ninguém.
aPreensao Para mais de uma casa. o mandado coLetiVo e iLeGaL, Pois cada mandado de
busca e aPreensao so Pode ser diriGido a uma unica casa. aPesar disso, a PoLícia carioca
Atenção!! Assim, é proibido passar as mãos nas partes íntimas, se
fizer isso, estará praticando ato libidinoso e abuso de
costuma usar o mandado coLetiVo, que continua sendo assinado Por aLGuns Juízes, mesmo No caso do morador(a) não estar em casa, a busca autoridade. Além disso, também é crime de abuso de
sendo contra a Lei. caso aLGum(a) PoLiciaL VÁ a sua casa com um mandado em que não
conste o seu exato endereço e nome de aLGum(a) morador(a), anote as informações do
deverá ser realizada durante o dia. autoridade te mandar tirar a roupa, obrigar a ficar com
documento e Procure seus direitos. as mãos na parede ou para o alto depois da revista.

5 6 9 10

AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl

Sem ordem do(a) juiz(a) (Mandado de busca e apreensão) Sem ordem do(a) juiz(a) (Mandado de busca e apreensão) Busca pessoal é o que conhecemos por “geral” ou “dura”.
Os(As) policiais, civis ou militares, só podem te “dar uma dura” SEM ORDEM DO(A) Os(As) policiais não podem gri-
PRETO
tar com você ou te xingar, te xin-
Quando os(as) policiais estiverem perseguindo Quando os(as) policiais tiverem certeza de que dentro JUIZ(A) quando tiverem fundadas suspeitas de que você está escondendo armas,
objetos destinados à prática de crimes ou drogas ilícitas.
SAFADO
gar de ladrão(a), vagabundo(a),
alguém que acabou de cometer um crime e esta da casa estão guardadas drogas ilícitas, armas de fogo. piranha, etc. Isto é crime de
injúria, difamação, calúnia e
pessoa entrar na casa Nestes casos, os(as) policiais devem te parar e mandar você colocar as mãos para o
alto ou na parede enquanto fazem a revista. mesmo abuso de autoridade.
Os(As) policiais não podem te parar porque simplesmente “acham” que você Se te chamar de “PRETO SA-
é suspeito(a), ou seja, por preconceito. Se não exisitr fundada suspeita, não po- FADO” estará cometendo crime
dem te parar só porque você é morador(a) do Santa Marta, ou porque é negro(a), de injúria racial. Ninguém pode
nordestino(a), jovem, tem tatuagem, está de chinelo, casacão ou boné. te tratar como suspeito(a) por
causa da cor da sua pele ou da
Os(As) policiais durante a revista devem te tratar com respeito. Qualquer pessoa sua origem.
que se aproximar durante a abordagem para saber o que está acontecendo também
deve ser respeitada.

Fala .Cadê o
baseado?

Se te AMEAÇAR OU BATER para


que você confesse alguma
coisa, ou forneça informações
sobre alguém o(a) policial está
cometendo crime de tortura.

7
7 8 11 12
52 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 53

AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl

Mandar você sair correndo sem olhar para trás é crime de Não há lei no Brasil que te obrigue a andar com documentos. No entanto,
Na Delegacia de Polícia Em caso de qualquer distorção peça para dar a sua versão sobre o que foi
abuso de autoridade. os(as) policiais podem te pedir os documentos e, se você não estiver com distorcido, caso voce queira falar.
eles, os(as) policiais podem perguntar o nome do seu pai, da sua mãe e Quando você for conduzido(a) a uma delegacia por um(a) policial, você deve
sua data de nascimento. Você não é obrigado(a) a responder nada além ser imediatamente levado(a) à presença do(a) delegado(a) de polícia. Tudo
disso. Não precisa dizer de onde vem, para onde vai, se tem passagens o que acontecer com você dentro do pátio da delegacia é responsabilidade
pela polícia, se conhece fulano de tal, pois isto foge da finalidade da “dura”. dele(a). Se você for agredido(a) nas dependências da delegacia ele(a) também
Recomenda-se andar com documentos. poderá responder por abuso de autoridade/ e/ou tortura.
Corra sem olhar Se o escrivão(ã), investigador(a), policial civil e até mesmo o(a) delegado(a)
para trás!
exigir ou solicitar dinheiro da pessoa responderá por crime de corrupção pas-
siva ou concussão.

Se você é mulher, só poderá ser revistada por policial feminino.


Em casos de fundada suspeita, em que não tenha um policial
feminino por perto, a lei permite que o policial te reviste.

Atenção:
- Você só pode ser leVado(a) para a delegacia se estiVer preso(a)
em flagrante delito ou se houVer ordem judicial. o(a) policial
não pode te leVar simplesmente para “puxar tua ficha”.
- o(a) policial não pode te prender por Você estar sem docu -
mento e se isto acontecer estará cometendo crime de abuso de
autoridade. Não reagir a provocacões!
ATENÇÃO
- os(as) policiais só te podem algemar se Você tiVer mais de Muitas vezes, mesmo cometendo abusos, os policiais podem responsabilizar a
Nao agredir verbalmente e nem fisicamente ninguem
dezoito anos, estiVer sendo preso(a) em flagrante ou se for vítima acusando-a de resistência, desacato e desobediência. Nesse caso, é fun-
Ligue imediatamente para alguem da sua familia, amigo ou conhecido para
foragido(a) da justiça. a lgemar por outro motiVo é crime de damental que você junte testemunhas dos fatos e que peça, ainda na delegacia,
comunicar em qual delegacia voce esta e peça ajuda para conseguir um ad-
abuso de autoridade. um contradito da versão dos policiais.
- após Verificar os documentos e nada constando, os policiais vogado ou defensor publico
deVem deVolVê- los imediatamente. Voce tem o direito de ficar calado(a).

13 14 17 18

AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl AbordAgem PoliciAl A


AbordAgem
bordAgem P
PoliciAl
oliciAl

Denúncias
LGBTT-Lésbicas, Gays, Bissexuais,Travestis e Transexuais Busca no carro Como denunciar.
Para denunciar anote estes dados
A revista em automóveis é permitida nas mesmas situações da revista Se o (a) policial estiver atuando fora da legalida-
A abordagem policial não pode acontecer baseada em sua orientação sexual (gay, pessoal. O carro só pode ser revistado em caso de fundada suspeita. núcLeo d
lésbica) ou identidade de gênero (travesti ou transexual). Qualquer pessoa tem o di- A pessoa que estiver conduzindo o carro deve acompanhar a revista. de, você tem o direito e o dever de denunciar aos órgãos LocaL: de
reito de ir e vir e a liberdade de se relacionar afetivamente com alguém do mesmo sexo. competentes. A Defensor
Ninguém pode ser abordado porque usa roupas curtas e decotadas, de Janeiro
maquiagem ou porque namora em público. Os casais homossexuais devem ser É fundamental anotar as características do(a) po- por missão
respeitados por todos. Travestis e transexuais não podem sofrer discriminação, HorÁrio: necessitad
licial como altura, cor da pele, identificação – se havia ou que por alg
constrangimento ou agressão por sua aparência, comportamento ou identidade. acesso a u
Não aceite xingamentos ou ridicularizações, exija respeito! E se a discriminação não –, o horário do ocorrido e todos os demais detalhes seus direi
continuar, colete as informações informações necessárias sobre o (a) policial possíveis de lembrar. dia: na Defenso
Direitos H
(nome, placa da viatura, batalhão, etc) e denuncie.
Acontecendo esse tipo de arbitrariedade aqui no atender ca
direitos hu
Santa Marta, procure se juntar com mais pessoas, fale com Juntaram a associação de moradores, igrejas, por agente
características físicas: criminação
amigos(as) e familiares, busque o apoio de organizações professores(as), agentes de saúde, lideranças comunitá- razão da o
atuantes na comunidade e dê o seu apoio a quem está de-
(cicatriz, branco, neGro, baixo, aLto, cor do cabeLo etc.)
ras e agentes culturais para organizar audiências públicas laborativa (
disto, reali
na própria comunidade para denunciar às autoridades ati- das unidad
nunciando. Cada denúncia é importante para acabar com Rio de Ja
os abusos. tudes erradas de alguns(mas) policiais. verificar a

identificação do PoLiciaL:
outra possibilidade é organizar uma Assembléia
itos huma
Um bom exemplo a ser seguido é o das Audiên- conta com
cias Públicas Comunitárias. Através dessas Audiências
(
obserVar
Popular se nãoMarta,
do Santa HaVia identificação )
aonde não só se discutam as
na criação
por exem
questões de segurança pública, mas a partir daí a comuni- moradores
Públicas Comunitárias, em algumas comunidades de São estatutos
Paulo, por exemplo, as pessoas que sofriam se uniram dade exija políticas públicas de garantia de direitos e me- Av. Marech
identificação da Viatura:
lhoria das escolas, hospitais, tarifas populares de luz, água Centro, Rio
para conversar sobre casos de abuso e procuraram solu-
(
números e Letras nas Laterais da Viatura ) (21) 2332
ções juntas para dar fim a esses casos. e todas as demais políticas necessárias para garantir uma
direitoshu
vida digna. www.dpge
15 16 19 21 20
54 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 55

Defensoria Pública
O primeiro atendimento realizado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo na
Capital é centralizado, devendo o usuário comparecer no seguinte endereço:

O que é a Defensoria Pública? enviados à Ouvidoria-Geral da Defensoria, Avenida Liberdade, 32 - Centro - São Paulo-SP
que é um órgão independente criado para
É uma instituição pública que presta as- receber as opiniões do público, apontar Telefone: (11) 3105 – 5799
sistência jurídica gratuita àquelas pessoas problemas e cobrar soluções. Contatos De 2ª à 6ª, das 07h00 às 09h30 (retirada de senha) Estas e outras informações relacionadas à
que não possam pagar por esse serviço. (011) 3105-5799 (ramais 328 e 272). Defensoria podem ser encontradas no site:
Basta comparecer pessoalmente quando Atendimento a partir das 8h00 http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/
Default.aspx?idPagina=3094
necessitar de uma orientação jurídica ou Recebi um mandado de citação
no caso de propositura de uma ação ou (ou intimação) pelo oficial de Justi-
realização de uma defesa num processo. A
Defensoria também atua na realização de
ça. O que devo fazer para ser atendi-
acordos extrajudiciais. do pela Defensoria Pública?
Defensoria Pública
Quem pode ser atendido pela De- Você deve ir a um dos locais de atendi-
fensoria Pública do Estado? mento. Dá assistência jurídica gratuita às pessoas lheres vítimas de violência, proteção a crianças
carentes. Possui núcleos especiais para atendi- e adolescentes, pessoas portadoras de necessi-
Aquelas pessoas que não tenham con- Preciso levar as testemunhas ao mento aos consumidores, pessoas idosas, mu- dades especiais, etc.
dições financeiras para pagar um advoga- atendimento da Defensoria Pública?
do. Em geral, são atendidas pessoas que
ganham até 3 salários mínimos por mês. O Não é preciso levar as testemunhas até Ouvidoria de Polícia
Defensor Público poderá pedir documentos o atendimento da Defensoria Pública, por-
para comprovar essas informações – tais que elas serão ouvidas apenas na Justiça.
como carteira de trabalho, holerite e etc. Mas você deve levar até o local de atendi- Recebe denúncias da população contra po- te punição dos policiais culpados. O importante
mento o nome completo e o endereço de liciais militares e civis que tenham cometido é saber que, a denúncia também pode ser feita
Quem são os Defensores Públicos? cada uma das testemunhas. Não se esque- atos arbitrários e/ou ilegais; Promove as ações anonimamente, por meio de carta e-mail ou te-
ça de lembrar as testemunhas sobre o dia para a apuração das queixas com a conseqüen- lefone.
São formados em Direito e prestaram de audiência na Justiça para evitar que elas
um concurso público específico para pres- faltem.
tar assistência jurídica gratuita nas áreas Corregedoria da Polícia Civil e da Polícia Militar
cível, família, criminal e execução criminal.
A Defensoria Pública de São Pau-
Os Defensores Públicos possuem prerro-
gativas, destacando-se: a independência lo atua em casos de acidente de tra-
Órgão correcional responsável por apuração é cometido por um agente da polícia e encami-
funcional, o acesso irrestrito a estabeleci- balho? de todo e qualquer desvio de conduta do poli- nha para a justiça comum.
mentos prisionais e de internação de ado- cial. Instaura inquérito policial quando o crime
lescentes, poder de requisitar documentos Sim, esses casos são atendidos pela De-
a órgãos públicos, examinar autos sem pro- fensoria Pública de São Paulo.
curação, solicitar auxílio de demais autori-
dades para o desempenho de suas funções, Quais são os casos de direito de Ministério Publico - MP
entre outros. família e cíveis mais comuns na De-
fensoria Pública? O MP é o advogado da sociedade defen- O acesso ao MP pela população é via Pro-
Tenho reclamações/sugestões/
dendo-a em juízo e fora dele. É também o fis- motoria sem a necessidade da representação
elogios para fazer sobre os serviços Pensão alimentícia, divórcio, separação, cal da Lei, encarregado dentre outras funções de um advogado. Existe um promotor público
prestados pela Defensoria Pública. investigação de paternidade, fixação de de processar aqueles que cometem crimes, e responsável por cada região do Estado. Para ter
Com quem devo falar? guarda, regulamentação de visita de filhos também fiscalizar as ações dos órgãos públicos acesso ao número de telefone do promotor da
e inventário. Despejo, rescisão de contrato, envolvidos em investigação criminal, tais como sua área ligue para o telefone central do MP.”
As reclamações, sugestões e elogios so- indenização, reintegração de posse e usu- polícia, órgãos técnicos de perícia, etc.
bre os serviços da Defensoria podem ser capião.
56 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 57

Direitos e Deveres das Pessoas Presas Auxílio à família da pessoa presa


se estiver preso (a) na Capital, ou as Re-
gionais da Defensoria Pública, se estiver
preso (a) no Interior ou Grande São Paulo
Quem são os Defensores Públicos? O que fazer para falar com advo- (endereços no final). Quando há viola-
O que é auxílio-reclusão?
gado(a) conveniado? ção de direito você também pode entrar
São formados em Direito e prestaram um com AÇÃO DE INDENIZAÇÃO CONTRA
concurso público específico para atuar na O ESTADO. O auxílio-reclusão é um beneficio da
Você deve mandar ou pedir aos funcio- Previdência Social para a proteção dos
defesa (cível, família, criminal e execução cri- nários do presídio/CDP para levarem uma
minal) daqueles que não têm dinheiro para dependentes carentes do(a) beneficia-
mensagem (pipa) para que o(a) advogado(a) Como faço para mover ação do(a) preso(a) que trabalhava e pagava
pagar um advogado. Todos os presídios do te chame. de indenização contra o Estado? INSS. O auxílio reclusão pode ser recebi-
Estado de São Paulo têm um Defensor Coor-
denador da Execução Criminal. do durante todo o tempo de prisão.
Se o advogado não me chamar, Você pode ir ou pedir para a Sua fa-
passados mais de 30 dias de mi- mília procurar a Defensoria Pública Cível
O que os Defensores Públicos fa- Como minha família pode pe-
nha entrada no presídio/CDP, o que nos endereços que constam ao final.
zem na área da Execução Criminal? dir o auxílio-reclusão?
devo fazer?
É necessário pagar alguma
Na Vara das Execuções Criminais (VEC) Se você estiver preso (a) na Capital deve Deve pedir nas Agências da Previ-
fazem a defesa das pessoas presas nos pro-
coisa aos funcionários do pre- dência Social, e para isso é preciso saber
pedir a seus familiares que compareçam à sídio, aos Defensores Públicos
cessos de execução penal (pedidos de bene- Defensoria do Fórum da Barra Funda, e se quais são os documentos necessários
ficio etc.) e a defesa das pessoas condenadas estiver preso(a) no Interior ou Grande São
ou aos advogados conveniados nas próprias Agências (telefone ao final).
que não estão presas (cumprindo prestação Paulo que procurem a Regional da Defenso- para obter assistência ou infor-
de serviço à comunidade, em livramento ria Pública (endereços no final). mações?
condicional, etc.), e nos presídios/CDP coor-
Quando o auxílio-reclusão
denam o trabalho dos advogados de entida- deixará de ser pago?
Punições Não. Nada no presídio é pago. Os fun-
des conveniadas com a Defensoria Pública. cionários e os Defensores Públicos são
pagos pelo Estado para atendê-lo gratui- Em caso de fuga, livramento condi-
Punições que NUNCA podem ser impos-
Se eu não for bem atendido pe- tamente. Os advogados conveniados são cional, transferência para regime aber-
tas para quem é acusado de ter praticado ou
pagos pelas entidades que têm convênio to, cumprimento de pena e quando o
lo(a) Defensor(a) Público(a) o que praticou falta disciplinar:.Sanção que colo-
(a) preso(a) morrer, (nesse caso o auxílio
devo fazer? que em risco a vida;.Sanção que coloque em com a Defensoria Pública para atendê-lo
gratuitamente. reclusão será convertido em pensão por
risco a saúde física e mental (corpo e cabe-
morte).
Ligue, peça para alguém ligar ou escreva ça); Ninguém pode ser colocado em cela es-
para a Ouvidoria da Defensoria Pública. cura;.Ninguém pode ser colocado em RDD
sem que o juiz autorize; Ninguém pode ser
É necessário pagar alguma A família da pessoa presa tem
punido coletivamente; Ninguém pode ser coisa aos funcionários do pre- direito a outros auxílios?
Quem são os advogados que tra- punido sem prova; Ninguém pode ficar no sídio, aos Defensores Públicos
balham dentro do presídio/CDP? castigo por mais de 30 dias; Ninguém pode ou aos advogados conveniados Preenchendo as condições exigidas
sofrer maus tratos ou tortura. para obter assistência ou infor-
São advogados de entidades conveniadas pelo governo a família tem direito a bol-
com a Defensoria Pública e que foram con- mações? sa família, PETI, renda cidadã, ação jo-
Se essas regras e meus direitos vem etc.
tratados pelas entidades para fazer atendi-
mento jurídico, dentro do presídio/CDP, das não forem respeitadas no presídio
Não. Nada no presídio é pago. Os fun-
pessoas presas que não têm dinheiro para em que estou, o que posso fazer? cionários e os Defensores Públicos são
pagar um advogado. pagos pelo Estado para atendê-lo gratui-
Você deve imediatamente avisar o advo- tamente. Os advogados conveniados são
gado conveniado que trabalha no presídio/ pagos pelas entidades que têm convênio
CDP e pedir para seus familiares procura- com a Defensoria Pública para atendê-lo
rem a Defensoria no Fórum da Barra Funda, gratuitamente.
58 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 59

Mulher presa Lista de endereços e contatos úteis na


defesa dos Direitos Humanos
A mulher presa tem direitos específicos? As informações a seguir foram catalogadas na 8ª edição do Guia de Direitos Humanos e Cidadania
de São Paulo , publicado pela Comissão Extraordinária Permanente de Defesa dos Direitos Humanos,
Sim. Além de ter direito à visita íntima, à necológico periódico, pré-natal, direito de Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais da Câmara Municipal de São Paulo.
saúde; a defensor público nos processos re- ficarem com seus filhos durante o período
lativos à guarda de filhos e a pátrio poder, de amamentação (no mínimo por 120 dias), Acesso à Justiça
PRINCIPAIS PONTOS DE CONCENTRAÇÃO

Principais praças da região central (Sé, República, Patriarca, Anhangabaú eLargo São Francisco) e
as mulheres presas tem direito aos progra- de cumprir pena em presídios separados e adjacências do Mercado Municipal.
Centro Acadêmico XI de Agosto - Departamento Jurídico
mas estaduais de prevenção e controle do direito a trabalho adequado à sua condição Praça João Mendes, 62 - 17° Andar - Centro - CEP: 01501-902 EQUIPES E SERVIÇOS
câncer feminino (útero e mama), exame gi- de mulher. Fone: 3241 4461 • CAPE (Central de Atendimento Permanente e de Emergência) funciona 24 horas por dia,

Área de atuação: Jurídica. atendendo solicitações de munícipes relativas às pessoas em situação de rua e encaminhando para

Serviços Oferecidos: Orientações jurídicas (14h às 18h, 2ª a 6ª f). a rede de acolhida e saúde quando for o caso.

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos • CATI (Central de Atendimento Telefônico Ininterrupto) - 3228-5554 / 3228-5668. Atende pes-

Endereços da Defensoria Pública Rua Dom Rodo, 140 – Ponte Pequena - CEP: 01109-080 soas em situação de rua de forma integrada com a CAPE, fazendo abordagens e encaminhamentos

Fone: 3326 2643 / 3313 4944; Fax: 3228 8604 para a rede de serviços socioassistenciais.

CAPITAL Site: www.gaspargarcia.org.br

E-mail: gaspargarcia@gaspargarcia.org.br Assistência Social


Área de atuação: Moradores de cortiços e habitações precárias; catadores de materiais recicláveis;
Cível, Família e Fazenda Pública: Av. Liberdade, 32, Centro, Tel: (11) 3105-5799 população em situação de rua no centro da cidade de São Paulo.
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

O Centro de Referência de Assistência Social – CRAS é uma unidade pública estatal de base terri-

Criminal: Complexo Judiciário Ministro Mario Guimarães (Fórum Criminal da Barra Funda), Av. Dou- Serviços Oferecidos: Plantão Jurídico - acompanhamento de causas judiciais, assessoria aos
torial, localizada em áreas de vulnerabilidade social. Executa serviços de proteção social, organiza
movimentos de moradias; cooperativa de catadores.
tor Abraão Ribeiro, 313, Barra Funda, Tel. (11) 2127-9496 CORSA - Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor
e coordena a rede de serviços sócioassistenciais, locais da política de assistência social. É a porta de

entrada dos usuários à rede de proteção social do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.
Av. Interlagos, 6538 – CEP 04777-000
GRANDE SÃO PAULO Site: www.corsasp.org.br
Rede CRAS email: redecras@prefeitura.sp.gov.br

CRAS SANTANA / TUCURUVI - (Unidade Própria)

Carapicuíba: Cível, Família, Criminal: Fórum, Av. Desembargador Dr. Eduardo Cunha de Abreu, 215, Fone : 5666-5842
Rua Voluntários da Pátria, 4649 - Mandaqui
E-mail: corsaasp@corsasp.yahoo.br
Vila Municipal, Tel: (11) 4164-3265 Área de atuação: Direitos humanos: gays, lésbicas, travestis e transexuais.
Tel.: 2283-1198

crassantana@prefeitura.sp.gov.br
Serviços Oferecidos: Conscientização e emancipação das minorias sexuais;
Diadema: Criminal: Av. Sete de Setembro, 399 Tel: (11) 4057-4440 luta contra o preconceito; discussões regulares sobre auto-aceitação;
CRAS SÉ

Avenida Tiradentes, 749

Guarulhos: Cível e Família: R. Maria Lucia Vita, 65, Tel: (11) 2229-1657 / Criminal, Execução Penal e relacionamentos afetivos e seus desafios; resgate da cidadania e da auto-estima.
Tel.: 3396-3500
Procuradoria de Assistência Judiciária – PAJ
Infância e Juventude: Fórum, R. José Maurício, 103, Centro Tel: (11) 2229-8232 Av. Liberdade, 32 – Centro
crasse@prefeitura.sp.gov.br

CRAS SANTO AMARO - (Unidade Própria)


01502-000 – São Paulo/SP
Itaquaquecetuba: Criminal: Estrada Santa Isabel, 1170-1194, Vila Zeferina, Tel: (11) 4647-4287 fone: 0800-178989 – fax: 3107-9270
Rua Padre Anchieta, 802

Tel.: 5524-7765 / 5523-8760 / 5523-9305


e.mail: pgepajcivil@pge.sp.gov.br
Mogi das Cruzes: Cível, Família e Criminal: R. Francisco Martins,30, Bairro Socorro, Tel: (11) crassantoamaro@prefeitura.sp.gov.br
site: www.pge.sp.gov.br
4799-5089 Área de atuação: Defensoria Pública
CRAS ITAQUERA

Rua Sábado D’Angelo, 2085 - Itaquera


Serviços oferecidos: Assistência Judiciária gratuita nas áreas civil e família perante a justiça
Osasco: Cível e Família: Av. dos Autonomistas, 3094, Tel: (11) 3698-5544 / Criminal: Fórum de Osas- estadual.
Tel.: 2524-2916 / 2527-1999

crasitaquera@prefeitura.sp.gov.br
co R. das Flores, 703. Jd. das Flores Procuradoria Geral do Estado de São Paulo
CRAS PENHA
Rua Pamplona, 227 – Jardim Paulista – CEP: 01405-000
São Bernardo do Campo: Cível e Família: Av. Barão de Mauá, 251, Tel: (11) 4332-9693 / Criminal: Fó- Fone: 3372 6401; Fax: 3372 6409 / 6403
Rua Candapui, 492 - Vila Marieta

Tel.: 2957-2031 / 2957-2143


rum de São Bernardo do Campo. R. 23 de Maio, 107, Sala 16, Tel: (11) 4122-4045 Site: www.pge.sp.gov.br
craspenha@prefeitura.sp.gov.br
Acesso à Justiça do Trabalho
OUVIDORIA DA DEFENSORIA PÚBLICA Defensoria Pública da União – Área Trabalhista e Benefícios Previdenciários
Criança e Adolescente
R. Fernando de Albuquerque, nº 157 - Consolação
Av. Liberdade, 32, Centro, Tel: (11) 3105-5799, ramal 285 Fone (011) 3231-0866.
Casa Vida I

Rua Serra de Jairé, 1433 - Água Rasa - CEP: 03175-001

www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/ouvidoria Fone/fax: 2606 2185

Albergues e Abrigos Site: www.acolhe.org.br:


DISQUE-DENÚNCIA FUNCIONAMENTO
E-mail: socialcasavida@bol.com.br; casa.vida1@ig.com.br

Área de atuação: Atendimentos de crianças e adolescentes com HIV-AIDS.


24 horas por dia, ininterruptamente.
Tel: 181 CONVENCIMENTO
Serviços Oferecidos: Inclusão de crianças e adolescentes com HIV/AIDS na escola e na comu-

nidade, oferecendo tratamento médico-odontológico, psicoterapia, fonoaudiologia, fisioterapia,


INSS Equipes técnicas e agentes de proteção fazem a abordagem ao morador em situação de rua para
ecoterapia, cursos extracurriculares e exercício da cidadania.
levá-lo a um dos serviços de acolhida ou da rede de saúde.

Tel: 135, Atendimento das 7h às 22h, de Segunda à Sábado


60 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 61

Centro de Referência às Vítimas de Violência - Instituto Sedes Sapientiae Telefone: 2981-7770 / 2987-3844 ramal 142 Fax: 2981-4496 coordenação / superação da violência.
Idoso
Rua Ministro de Godói, 1484 – Perdizes Celular de Plantão: 7283-6476 / 7283-6563 Serviços Oferecidos: Apoio aos movimentos, cursos e seminários; palestras a grupos, escolas e
Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso
05015-900 – São Paulo Pirituba (Jaraguá, São Domingos) movimentos.
Estação República do Metrô - 1° Piso - Lojas 516/ 517 – Centro.
Tel.: (11) 3866-2756 de segunda a sexta, das 8h às 21h Avenida Mutinga, 1425 CDHS - Centro de Direitos Humanos de Sapopemba
CEP: 01045-000
cnrvv@sedes.org.br home-page: http://www.sedes.org.br Cep 05110-000 Rua Vicente Franco Tolentino, 45 - Parque Santa Madalena.
Fone: 3237 0666 / 3256 3540
CERCA - Centro de Referencia da Criança e Adolescente Telefone: 3904-8742 Fax: 3904-3344 CEP: 03982-180
Atendimento: das 9h às 18h, dias úteis.
Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 554 – Térreo – Bela Vista Celular de Plantão: 7283-6520 / 7283-6538 Fonefax: 2703-6654
Grande Conselho Municipal do Idoso
CEP: 01318-000 – São Paulo – SP Jabaquara E-mail: cdhs@terra.com.br
Rua Líbero Badaró, 119; Edifício São Joaquim, 3º andar
Tel: 3241-0411 / 3104-4850 / 3115-6119 / Fax 3104-7685 Avenida Engenheiro George Corbisier, 839 Área de atuação: Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania.
CEP: 01009-000
E-mail: cerca@oabsp.org.br / cerca@cerca.org.br Cep 04345-000 Serviços Oferecidos: Recebe denúncia de violações; formação de agentes
Fone: 3113 9631 / 9635; Fax: 3313 9634 (Ramal: 2262)
Site: www.cerca.org.br Telefone: 5021-6868 / 5021-5151 Fax: 5021-6509 comunitários na questão da defesa dos direitos humanos e cidadania.
E-mail: gcmidoso@prefeitura.sp.gov.br
Área de Atuação: Atendimento telefônico ou pessoal das denúncias; análise de denúncia para Celular de Plantão: 7283-6694 / 7283-6579 Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo
Site: www.prefeitura.sp.gov.br
verificação do agressor e tipo de violência; atendimento lúdico à criança e ao adolescente; Avenida Higienópolis, 890 - Sala 19 – Higienópolis
Área de Atuação: Representar os idosos junto aos poderes públicos; propor políticas públicas
nomear, quando necessário, Curador Especial para criança; acompanhamento jurídico dos casos;
Mães da Sé CEP: 01238-000
específicas para este segmento; lutar em defesa dos direitos constitucionais do idoso.
acompanhamento social dos casos de denúncia; efetivação do direito à cidadania; inserção na rede Fone: 3826 0133 (Ramais 245 / 246); Fax: 3667 4956
Rua São Bento, 370 - 9º Andar, cj 91 - Praça da República NAI – Núcleo de Atenção ao Idoso do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo
pública de atendimento. E-mail: csdiasdh@uol.com.br
CEP: 01010-001 Rua Ministro de Godoy,180 – Parque da Água Branca.
Serviços Oferecidos: Assistência jurídica gratuita a crianças e adolescentes; orientar, esclarecer Área de Atuação: Violência Policial e Tortura.
Fone: 3337-3331 CEP: 05015-000
e investigar denúncias de violência e maus tratos a crianças e adolescentes; oferecer assistência Serviços Oferecidos: Assistência jurídica; acompanhamento político.
Site: www.maesdase.org.br Fone: 3874 6904 / 3874 6875
psicológica às crianças e adolescentes vitimizados; oferecer assistência social às crianças e Clínica Psicológica de Apoio aos Vitimizados
E-mail: maesdase@globo.com CRI – Centro de Referência ao Idoso
adolescentes atendidos e suas famílias para reintegração familiar. Praça Virgílio Lúcio, 21 – Vila Cleonice - CEP: 03286-240
Serviços Oferecidos: Atendimento jurídico e psicológico. Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, 34 – São Miguel Paulista
Defensoria Pública de São Paulo – Área da Infância e Juventude Fone: 2910 1540; Fax: 2910 1540
E-mail: projespsm@uol.com.br CEP: 08011-010
R. Piratininga, 105, sala 126 – Brás – CEP 03042-001 - São Paulo Área de Atuação: Atendimento psicológico às vítimas de violência sexual, física e psicológica.
Área de atuação: Saúde. Fone: 2297 8460
Fone: 3207-2789 / 3271-7400 E-mail: izsapiragibepsico@yahho.com.br
Serviços Oferecidos: Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social, especialmente MANDACRI – Centro de Referência ao Idoso
Atendimento: segunda a sexta, das 13h às 17 h. Serviços Oferecidos: Atendimento a crianças, adolescentes, adultos, inclusive vítimas de violência
aos portadores do HIV/AIDS e familiares, na Zona Leste de São Paulo. Rua Voluntários da Pátria, 4301 – Mandaqui.
PLANTÂO em finais de semana e feriados para adolescentes em cumprimento de medida, nestes doméstica.
Mudança de Cena Fone: 2972 9255/9236
dias, das 9h às 13h. Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP
Rua Ibéria, 642 - Vila Isolina Mazzei - CEP: 02082-070
CEDECA “Luiz Gonzaga Junior” - Santana Rua Anchieta, 35 - 1º andar - Centro - CEP: 01016-900

Rua Dona Beatriz Correia, 63 - Santana - CEP: 02035-040


Fonefax: 3487 0501. Fonefax: 2979 7441.
Fone: 3244 2361 / 2362 / 2363 / 2364; Fax: 3244 2010
Indígenas
E-mail: mudanca_de_cena@yahoo.com.br CECI – Centro de Educação e Cultura Indígena “Jaraguá”
Fone: 2971 1163; Fax: 2973 8283 Site: www.oabsp.org.br
Área de Atuação: Prisões, crianças e adolescentes em conflito com a lei e em situação de risco, co- Rua Comendador José de Matos, 386 – Jaraguá - CEP 05177-100
E-mail: cedecasantana@uol.com.br E-mail: direitos.humanos@oabsp.org.br
munidades carentes, escolas/ educação. Serviços Oferecidos: Promoção da cidadania e dos direitos Fone: (11) 3902-3682
CEDECA “Mariano Cleber dos Santos” - Sé Área de atuação: Criança e Adolescente; Segurança Pública; Habitação; Sistema Prisional.
humanos; criação de metodologias de teatro para a intervenção social; elaboração de projetos e Coordenadoria de Educação de Pirituba / Jaraguá - Subprefeitura de Pirituba.
Rua Djalma Dutra, 70 - Luz - CEP: 01103-010 CONDEPE - Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
programas para o desenvolvimento social e educativo. CECI – Centro de Educação e Cultura Indígena “Krukutu”
Fonefax: 3229 3935 / 3229-4045 Largo Pátio do Colégio, 148 - 2º Andar - Sala 24 – Sé.
PAVAS - Programa de Atenção à Violência Sexual - Centro de Saúde Estrada do Curucutu s/n -Colônia - CEP 04895-070
E-mail: aacrianca@uol.com.br CEP: 01016-040
Escola “Geraldo de Paula Souza”, da Faculdade de Saúde Pública da USP Fone:5978-4325
CEDECA Jardim Ângela Fone: 3291-2645; Fonefax: 3105-1693
Avenida Doutor Arnaldo, 925 - Cerqueira César - CEP: 01246-904 Coordenadoria de Educação da Capela do Socorro Subprefeitura de Parelheiros .
Rua Dr. Luis Baldinato, 09 - Jd. Ângela E-mail: conselhocondepe@ig.com.br
Fone: 3061 7721 (informações sobre cursos); 3061 7726 (agendamento) CECI – Centro de Educação e Cultura Indígena Tenonde Porã”
Fone: 5834 1335 Área de atuação: Defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana.
E-mail: csgps@edu.usp.br Estrada João Lang, 153 – Barragem
E-mail: cedecajdangela@terra.com.br Serviços Oferecidos: Investigar as violações dos direitos humanos no território do Estado de São
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62 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 63

Fone: (11) 2063-7064 Hospital do Servidor Público Municipal E-mail: umtse@prefeitura.sp.gov.br Serviços Oferecidos: Inclusão de negros e pobres no ensino superior, em defesa dos direitos

Site: www.pastoraldomigrante.com.br Rua Castro Alves, 60 - Liberdade - CEP: 01532-000 Área de atuação: Tradicional Medicina Chinesa para a população em geral, e, em especial na área humanos e combate à discriminação étnica e ao racismo.

E-mail: spm.nac@terra.com.br Fone: 3207 1562/3397-7700 de saúde da mulher, em cumprimento à Lei 13.536/2003 que cria o Programa de Atendimento FUNDACAM - Fundação Nacional de Cultura Negra e Miscigenação Brasileira

Área de Atuação: Articular o trabalho de migrantes em nível nacional priorizando a organização Área de atuação: Serviço de Aborto Legal. Integral e Humanizado às Mulheres em estado de Climatério ou Pós-Climatério. Rua Barão do Rio Aba, 6969 – Guaianases, Vila Medeiros

dos mesmos por seus direitos; acolhe denúncias de ações preconceituosas contra os migrantes. Hospital Municipal Dr. Artur Ribeiro de Saboya (Hospital do Jabaquara) Serviços Oferecidos: Acupuntura, Homeopatia e práticas corporais. Lageado. -CEP: 08431-410

Avenida Francisco de Paula Quintanilha Ribeiro, 860 - Vila Campestre Fone: 2983 1987; Fax: 2553 5126 / 2553 0216

Mulher CEP: 04330-020 Pessoas com deficiência E-mail: waldirmsantos@bol.com.br

Fone: 5012 0021 / 5013 5302 Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Área de Atuação: Educacional/ Cultural
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Área de atuação: Serviço de Aborto Legal (das 8h às 17h, dias úteis). Prefeitura de São Paulo Serviços Oferecidos: Rede de movimento negro de moradia; assistência social filantrópica.
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Hospital Municipal Dr. Carmino Caricchio Viaduto do Chá, 15 - 10º Andar - CEP: 01002-020 Grupo Solidário São Domingos
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maneira continuada, em especial a mulher, a criança e o adolescente.
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violência doméstica da região de Guaianases, Cidade Tiradentes e Itaquera. Fax: 3101-5799 r.357
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Centro de Cidadania da Mulher da 25 de março Serviços oferecidos: prestar informações acerca de discussões jurídicas atuais (legislação,
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Rua 25 de Março, 205 - Centro jurisprudência e doutrina); elaboração de pareceres sobre assuntos relacionados à matéria penal,
E-mail: ittc@uninet.com.br Fone: 2146 3320; Fax: 2280 9151
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Tel: (11) 3106-1100 medidas judiciais e extrajudiciais, visando à proteção de interesses individuais, coletivos e difusos
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e-mail: contato@ccmcentro.org.br de presos e transtornados mentais; entre outros.
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CEP: 05403-000 Fone: 2741 9699
jurídico e psicológico a mulheres, com ênfase a vítimas de violência doméstica.
Fone: 3069 6242 / 3069 6000
Questões Étnicas Área de Atuação: Movimento negro, direitos humanos, escola de samba, formação cidadã,
Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde
ACRAB - Associação Cultural de Resistência Afro-Brasileira.
E-mail: 4c@hcnet.usp.br comunicação alternativa, juventude; jornalismo: Jornal Consciência Negra.
Rua Bartolomeu Zunega, 44 - Pinheiros - CEP: 05426-020
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Serviços Oferecidos: Núcleo de atendimento à violência sexual (24 horas, todos os dias). Serviços Oferecidos: Palestras, seminários, debates, pesquisas, cursos de formação, capacitação
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Pastoral da Mulher política de combate à fome e a miséria.
E-mail: cfssaude@uol.com.br
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Área de Atuação: Cultural e Educacional.
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E-mail: pastoralmulher@uol.com.br Telefone: (11) 4111-9383 ou 3105-2516 ramal 2
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Área de atuação: Violência doméstica contra mulher; valorização dos direitos das mulheres. E-mail: uneafrobrasil@gmail.com
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Fax: 5587 4319
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Serviços Oferecidos: Assistência social; fortalecimento da cidadania e direitos humanos; cultura
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debate político em outros campos, tais como trabalho e educação (das 9h às 18h, dias úteis).
afro-brasileira.
E-mail: smm@smm.org.br
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E-mail: educafro@franciscanos.org.br
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64 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 65

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


Artigo III

Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
10 de dezembro de 1948
Artigo IV
Preâmbulo Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos
serão proibidos em todas as suas formas.
Considerando que o reconhecimento da dig- res condições de vida em uma liberdade mais
nidade inerente a todos os membros da família ampla, Artigo V
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis
é o fundamento da liberdade, da justiça e da Considerando que os Estados-Membros se Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
paz no mundo, comprometeram a desenvolver, em coopera- degradante.
ção com as Nações Unidas, o respeito universal
Considerando que o desprezo e o desrespei- aos direitos humanos e liberdades fundamen- Artigo VI
to pelos direitos humanos resultaram em atos tais e a observância desses direitos e liberda-
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante
bárbaros que ultrajaram a consciência da Hu- des,
a lei.
manidade e que o advento de um mundo em
que os homens gozem de liberdade de palavra, Considerando que uma compreensão co-
Artigo VII
de crença e da liberdade de viverem a salvo do mum desses direitos e liberdades é da mis alta
temor e da necessidade foi proclamado como a importância para o pleno cumprimento desse Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da
mais alta aspiração do homem comum, compromisso, lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente
A Assembléia Geral proclama Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Considerando essencial que os direitos hu-
manos sejam protegidos pelo Estado de Di- A presente Declaração Universal dos Diretos Artigo VIII
reito, para que o homem não seja compelido, Humanos como o ideal comum a ser atingido
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para
como último recurso, à rebelião contra tirania por todos os povos e todas as nações, com o
os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição
e a opressão, objetivo de que cada indivíduo e cada órgão ou pela lei.
Considerando essencial promover o desen- da sociedade, tendo sempre em mente esta
volvimento de relações amistosas entre as na- Declaração, se esforce, através do ensino e Artigo IX
ções, da educação, por promover o respeito a esses
direitos e liberdades, e, pela adoção de medi- Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Considerando que os povos das Nações das progressivas de caráter nacional e interna- Artigo X
Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos di- cional, por assegurar o seu reconhecimento e
reitos humanos fundamentais, na dignidade e a sua observância universais e efetivos, tanto Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte
no valor da pessoa humana e na igualdade de entre os povos dos próprios Estados-Membros, de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do
direitos dos homens e das mulheres, e que de- quanto entre os povos dos territórios sob sua fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
cidiram promover o progresso social e melho- jurisdição.
Artigo XI


1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até
Artigo I que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no
qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não
constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta
Artigo II
pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Artigo XII
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na
outra condição.
66 - Violëncia Institucional Violëncia Institucional - 67

sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à Artigo XX
proteção da lei contra tais interferências ou ataques. 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.
Artigo XIII 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de Artigo XXI
cada Estado.
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. intermédio de representantes livremente escolhidos.
Artigo XIV 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa
países. em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por equivalente que assegure a liberdade de voto.
crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Artigo XXII
Unidas.
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo
Artigo XV esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade
e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar
de nacionalidade. Artigo XXIII

Artigo XVI 1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer retrição de raça, nacionalidade
ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais 2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e
a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
Artigo XVII
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. interesses.
2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XXIV
Artigo XVIII Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito trabalho e férias periódicas remuneradas.
inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião Artigo XXV
ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente,
em público ou em particular. 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde
e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços
Artigo XIX sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.
de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças
por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
68 - Violëncia Institucional

Artigo XXVI

1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade


humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em
prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instrução que será ministrada
a seus filhos.

Artigo XXVII

1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de


fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XVIII

Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades
estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIV

1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento
de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e
respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da
ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente
aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento


a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar
qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
www.franciscana.org.br

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