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Ministério da Saúde

FIOCRUZ
Fundação Oswaldo Cruz

Coordenadoria de Cooperação Social


Presidência/ FIOCRUZ

Proposta de parceria para desenvolvimento de cursos com a


Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)

Valéria Cristina Gomes de Castro


valeriacastro@fiocruz.br

José Leonidio Madureira de S. Santos


leonidio@fiocruz.br

Rio de Janeiro
Novembro de 2016.

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Atividades Educativas Previstas

As ações aqui descritas se referem a apresentação de três planos de cursos


desenvolvidos atualmente pela Coordenadoria de Cooperação Social da Presidência
da FIOCRUZ, voltados a questões referentes a participação popular em territórios e
populações vulnerabilizadas. Consta aqui o detalhamento das três propostas
destinadas a este objetivo, os quais poderão contribuir para qualificar e ampliar a
participação democrática em territórios em situação de risco econômico, ambiental e
vulnerabilidade social, que envolvam desigualdades no acesso a serviços e exposição
a fatores de risco individuais e coletivos, que interfiram na plena capacidade de
participação e identidade de grupos e populações tradicionalmente excluídas de
processos decisórios em nossa sociedade.

As propostas aqui apresentadas poderão ser cursadas exclusivamente ou poderão


compor uma extensão formativa em diferentes tempos. Os cursos apresentam trajetória
distintas quanto a sua idealização e construção, além de diferentes perspectivas
pedagógicas. No entanto, apresentam similaridades quanto a objetivos e público a que
se destina, tendo como perspectiva a formação de pessoas que atuem em territórios
marcados pela exclusão social, vulnerabilidade e conflitos de interesses, como podemos
observar, por exemplo, na prática dos conselhos e conferências de saúde.

O curso de Participação Social e Gestão em Saúde teve início no ano de 2012 na


Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), a partir de projetos voltados a
representantes de um conselho gestor do território de Manguinhos (RJ). Esta atividade
foi incentivada por um edital da VPPLR/Presidência da FIOCRUZ com apoio da
Cooperação Social e a partir do ano de 2015, o curso passou a compor as atividades da
coordenadoria como uma estratégia institucional voltada também a outros territórios,
conforme previsto inicialmente no edital de fomento que originou aquele edital.

Já o curso de Governança Democrática, Território e Saúde, busca contribuir para


construção de parcerias capazes de fortalecer sujeitos, grupos e redes sociais em
territórios comprometidos com a garantia ampla e irrestrita de direitos sociais
fundamentais. As atividades pedagógicas preveem a realização de oficinas e espaços
dialógicos para aprofundamento de questões sociais vivenciados no cotidiano, criação

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de novas metodologias e soluções para problemas vividos nas comunidades e
instituições em que a questão das desigualdades sociais e iniquidades estejam presente.
O terceiro curso, o de Elaboração de Projetos Sócio comunitários, tem como
objetivo fortalecer a formação de lideranças e focalização de ações para elaboração de
projetos, captação de recursos e pactuação de parcerias. Estas atividades compreendem
um conjunto de ações educativas voltadas a construção de espaços mais democráticos,
participativos e compartilhados, em que a criatividade e valorização de demandas e
concepções de diferentes origens possam ser consideradas na construção de uma cultura
de paz, de justiça inclusiva e desenvolvimento sustentável. Bem como, uma educação
equânime que promova uma vida saudável a todos.

As propostas educativas descritas, buscam desenvolver metodologias


pedagógicas e de tecnologias sociais, que a partir de ações estratégicas da Cooperação
Social estimulem em unidades da Fiocruz, atividades de educação que alinhadas a
objetivos e metas institucionais, definidas por deliberações das instancias
deliberativas ou por questões emergenciais e de interesse sanitário, constituam
necessidades prioritárias para ações de educação e saúde. Assim, projetos e práticas
que envolvam construção compartilhada de conhecimento, aplicabilidade e
participação social, são fundamentais no estabelecimento de parcerias e
fortalecimento de identidades que busquem diminuir desigualdade de gênero, raças e
etnias, possibilitando ações inovadoras e esclarecidas em diferentes campos da
ciência.

Consideramos que as metodologias desenvolvidas poderão ampliar a


capacidade de ação dos sujeitos de direitos em territórios com vulnerabilidades sócio
ambientais e marcados pela violência, na construção de espaços de troca, nos quais, o
compartilhamento de ideias e práticas de técnicos especialistas com sujeitos locais e
militantes, criam a possibilidade de reformulação de conceitos e estratégias a partir de
uma práxis transformadora.

Desta forma, a presente proposta objetiva trazer para o diálogo institucional,


sujeitos sociais com experiências em movimentos sociais e projetos comunitários,
para que conjuntamente com docentes e pesquisadores da Fiocruz, possam discutir
propostas de governança democrática em territórios sócio ambientalmente

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conflituosos. Espera-se que essas ações possibilitem aos sujeitos conhecer, participar,
decidir e apontar políticas públicas necessárias para uma vida melhor em sociedade.
As três propostas envolvem a prática e formação em gestão social a partir de
diferentes enfoques, seja, com foco em políticas sociais intersetoriais, voltados à
saúde e/ou a formação de técnicos em saúde. A seguir descrevemos resumidamente os
três cursos aqui descritos para posteriormente apresentarmos o detalhamento de cada
uma delas:

1. Curso de Participação Social e Gestão em Saúde

Destinado a conselheiros e profissionais de saúde, o curso busca qualificar os


atores sociais que desempenham funções junto aos serviços de saúde e educação para
maior controle social das políticas públicas e gestão territorializada do Sistema Único
de Saúde (SUS). Ao longo do curso, são abordados temas relativos à participação
social e gestão do SUS; território e saúde; Estado e políticas públicas, e
Intersetorialidade. Também são bem-vindos representantes da sociedade civil
interessados nos temas de forma geral.

2. Curso de Governança Territorial Democrática

Este curso visa contribuir para a formação política de lideranças, representantes


do terceiro setor, e de organizações de base comunitárias com o objetivo de dar
subsídios teóricos, práticos e instigar reflexões para uma governança democrática dos
territórios vulnerabilizados aonde atuam. Dentre os conteúdos previstos na ementa,
estarão em foco as técnicas e princípios do diagnóstico sócio histórico; o planejamento
estratégico para enfrentamento das iniquidades presentes nos determinantes sociais da
saúde e a territorialização de políticas públicas.

3. Curso de Elaboração de Projetos Sócio comunitários

O objetivo do curso é capacitar e estimular a formação de lideranças sociais


residentes e/ou atuantes em territórios de favelas para a elaboração de projetos sócio
comunitários. As aulas abrangem teoria e prática da concepção e formulação de
projetos, e os temas abordados são: formação do Estado, políticas públicas, participação
social, economia solidária, o processo de favelização da cidade do Rio de Janeiro,

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metodologia de planejamento e elaboração de projetos, captação de recursos financeiros
e pactuação de parcerias para desenvolvimento de projetos.

Plano de Curso I
Qualificação em Participação Social
E Gestão em Saúde

Coordenação: Valéria Cristina Gomes de Castro (Coord. de Cooperação

Social)

INTRODUÇÃO

Este projeto propõe a realização de um curso de Qualificação em


“Participação Social e Gestão em Saúde” destinado a Conselheiros de Saúde, Gestores e
Trabalhadores de Saúde e demais representantes da Sociedade Civil que atuem em
territórios ou com populações vulnerabilizadas, preferencialmente com formação de
ensino médio ou fundamental, com interesse no tema. Trata-se de uma proposta que
busca ampliar e qualificar a participação de representantes dos diferentes segmentos,
nos mecanismos participativos da gestão em saúde.

O controle social é um mecanismo fundamental na organização do Sistema


Único de Saúde (SUS), no entanto, desde sua implantação permanece o desafio de se
desenvolver mecanismos efetivos de participação de segmentos populares nas políticas
públicas de saúde. Nesse contexto, temas relacionados à gestão em saúde são muito
importantes, no sentido de viabilizar as diretrizes previstas constitucionalmente. Desta
forma, desenvolver propostas pedagógicas que possibilitem uma participação mais
efetiva de segmentos tradicionalmente excluídos das arenas decisórias das políticas
públicas torna-se imprescindível.

1. JUSTIFICATIVA

Este curso surge de nossas experiências relacionadas à saúde pública e em


experiências pedagógicas na EPSJV, onde enfocamos a questão da Participação Social
em Saúde. Destacamos algumas experiências que nos possibilitaram o amadurecimento
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da proposta que apresentamos na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
(EPSJV), tendo como destaque o componente curricular - Trabalho de Integração em
Participação Social em Saúde para alunos do ensino médio (TI) “Participação Social e
Educação em Saúde”, a disciplina de Planejamento do Curso Técnico de Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) de Manguinhos, e o curso de Políticas Públicas para
Trabalhadores do Campo do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST). E em
outros cursos, ministrando temas relacionados à gestão em saúde, como os Cursos de
Especialização Técnica em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde e Gestão
Hospitalar, Rede de Frio de Imunobiológicos, Registro e Informação em Saúde,
Citotécnicos, Cuidadores de Idosos, Eixo Trabalho e Eixo Política (Iniciação à
Educação Politécnica - IEP), entre outros. Além da participação como docente, no ano
de 2010, no curso da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) sobre “Gestão Social”
destinado a moradores de Manguinhos.

A partir de nossas participações em espaços de discussão, como o Fórum


Social de Manguinhos, cursos e reuniões com participação de moradores e trabalhadores
da Fiocruz, é que surge a proposta deste curso. Em 2010, encaminhamos um projeto
para o edital da Vice-Presidência de Pesquisa da FIOCRUZ, para projetos relacionados
ao TEIAS-Escola Manguinhos. A partir de então, esta proposta passou a ser debatida
com pesquisadores da EPSJV, de outras unidades da Fiocruz, moradores e profissionais
de saúde que atuam no território de Manguinhos.

É nesse contexto que foi pensado este plano de curso, como um curso de
qualificação, a fim de permitir adequação ao perfil de escolaridade dos educandos e da
carga horária proposta. A perspectiva de educação aqui descrita se baseia no
entendimento de que qualificação vai além da formação para o trabalho, envolvendo
diferentes perspectivas, como a formação de sujeitos capazes de agir ética e
politicamente nas relações sociais, buscando alcançar melhores condições de vida para
si e para coletividade.

Assim, a proposta do curso é refletir com o aluno sua importância no


contexto político da sociedade, buscando trazer conhecimentos sobre a organização e
fundamentos das políticas públicas que afetem seu cotidiano, em especial a política de
saúde, incluindo discussões relativas ao conceito ampliado de saúde, o processo de luta
por cidadania e democratização no Brasil, história e organização do SUS, os novos
modelos de gestão, e a intersetorialidade como fator de promoção da saúde. Os temas

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propostos, assim como a metodologia a ser desenvolvida, foram debatidos em oficinas
temáticas que anteciparam a realização do curso, cujo enfoque seria a aproximação do
conteúdo com a realidade vivenciada pelo aluno.

1.1 Controle Social no SUS

No Brasil, os mecanismos de participação na saúde foram efetivados por meio de


regulamentações constitucionais, as leis 8.080/90 e 8.142/90 que são exemplos de
mecanismos que poderão ser utilizadas pela sociedade em busca de participação. No
entanto, apesar de mais de duas décadas, ainda se reconhece os inúmeros desafios diante
da perspectiva de garantir uma participação crítica, que possibilite a autonomia e o
debate político em todas as esferas do SUS. O conceito de Participação Social é
polissêmico, envolvendo diferentes concepções sobre a importância da participação
popular, da educação como possibilidade de transformação de práticas, a construção de
instrumentos de comunicação e gestão, e a discussão sobre os mecanismos de cooptação
política e de controle do Estado.
Segundo Stotz, “definir participação social implica entender as
múltiplas ações que diferentes forças sociais desenvolvem com o
objetivo de influenciar a formação, execução, fiscalização e avaliação
de políticas públicas na área social (saúde, educação, habitação,
transporte, etc.). Tais ações expressam, simultaneamente, concepções
particulares da realidade social brasileira e propostas específicas para
enfrentar os problemas da pobreza e exploração das classes
trabalhadoras no Brasil” (Stotz, 2008, p.295).

A formação de conselheiros é aqui pensada, não como forma de repasse de


informações e conteúdo, mas como fortalecimento de uma perspectiva de educação que
privilegie a utilização de processos pedagógicos que possibilite ao sujeito aprender e
refletir sobre sua realidade, buscando soluções para os problemas enfrentados em seu
cotidiano. Na buscar de coerência com os objetivos propostos no curso, montamos três
oficinas com a finalidade de debatermos com os conselheiros, técnicos, gestores e
outros segmentos interessados, a estrutura do curso sugerida. Solicitamos que eles
avaliassem a estrutura proposta e incluíssem temas que gostariam que fossem
trabalhados ao longo do curso.

Construímos essa proposta a partir de algumas concepções políticas sobre


Estado, organização da sociedade, políticas públicas e educação. Entendemos que o

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Estado constitui-se hegemonicamente em espaços de defesa de interesses de segmentos
da sociedade detentora de capital, a qual viabiliza por meio de estratégias ideológicas
culturais, educativas e até mesmo coercitivas, a defesa de seus interesses. No entanto,
até mesmo para sua manutenção na situação de classe dominante, os interesses de outros
segmentos populacionais não detentores de capital, precisam ser considerados. O Estado
se constitui assim, em expressão de constante tensão na sociedade.

“O fato da hegemonia pressupõe indubitavelmente que sejam


levados em conta os interesses e as tendências dos grupos
sobre os quais a hegemonia será exercida, que se forme certo
equilíbrio de compromisso, isto é, que o grupo dirigente faça
sacrifícios de ordem econômico-corporativa; mas é também
indubitável que tais sacrifícios e tal compromisso não podem
envolver o essencial” (...). (Faleiros apud Gramsci, Vol.3,
2002, p.48)

É nessa relação complexa que projetos contra hegemônicos, que possibilitem a


participação popular no interior do Estado podem possibilitar a conquista de melhorias
importantes para a vida. No entanto, o conceito de participação é amplo e controverso,
para alguns autores a participação da população em projetos de saúde ocorre de forma
assimétrica, horizontalizada, onde a população aparece como receptora de
conhecimentos. E mesmo quando se faz presente o discurso de protagonismo da
população, a direcionalidade das ações continua sendo exclusivamente do poder
público.

Na área da saúde, a participação social foi implementada principalmente com o


processo de municipalização ocorrido a partir do Sistema Único de Saúde (SUS),
ocorrendo posteriormente, também em outras áreas das ciências sociais. No modelo de
descentralização administrativa ocorrida no Brasil, em que se considere às
argumentações em contrário, a principal definição é a de que o real executor das ações
seriam os governos municipais, os quais teriam comando único no nível local.

A implementação de mecanismos legais de participação e controle da sociedade


não foi capaz, no entanto, de possibilitar o engajamento de uma grande parcela da
população em questões referentes aos seus problemas de saúde, os serviços necessários
e as condições para resolvê-los. A própria municipalização dos serviços, trouxe novos
desafios a serem superados, como o fortalecimento do poder local (vinculados a

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interesses diversos) e todas as implicações para efetiva participação da população nos
processos decisórios.
“(...) a descentralização, quando entendida como a municipalização
da saúde, ou como a constituição do Sistema Único da Saúde no nível
municipal, não significa automaticamente a democratização da saúde,
nem sua constituição como um direito universal e equânime. Até
porque a tradição altamente centralizadora do Estado reproduz-se
fortemente no nível local, tendendo o poder executivo a predominar e
dominar sobre os demais.” (Cohn, 996, p. 319).

Em boa parte das cidades brasileiras, principalmente nos grandes centros


urbanos, a questão da violência tem impossibilitado a garantia de acesso a serviços
básicos de saneamento, saúde e alimentação, que possibilitem condições dignas de
sobrevivência, constituindo verdadeiros territórios de exceção, em que direitos sociais e
de cidadania são subordinadas as leis locais. É nesse contexto que se insere a
comunidade de Manguinhos, na qual iremos desenvolver o projeto piloto do curso. Um
território marcado pela violência, que limita a atuação das pessoas, cujos dados
epidemiológicos posicionam a localidade como um dos piores Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH) do município do Rio de Janeiro. Um novo contexto
político em que ocorrem altos investimentos em infraestrutura e em projetos sociais no
território reacende a esperança de moradores na construção de outro espaço para viver.
Assim, buscamos com esse projeto, enfrentar o desafio de conjugar a perspectiva
de participação social em território com intensos problemas sociais e um projeto de
educação emancipatório que possibilite a construção de conhecimentos entre
educadores e educandos na perspectiva de um projeto comum, reconhecendo, no
entanto, limites, possibilidades e contradições dessa realidade, condicionadas pelas
circunstâncias históricas e o jogo de interesses em questão. Portanto, existem as
intencionalidades dos indivíduos, mas também as externalidades subjacentes às relações
sociais de cada sociedade.

2. Objetivos

2.1- Objetivo Geral

Contribuir para ampliar e qualificar a participação social na gestão do SUS.

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2.2 - Objetivos Específicos:

 Desenvolver metodologias participativas que contribuam para construção de


proposta curricular e pedagógicas voltadas à justiça inclusiva e valorização
identitárias em situações de vulnerabilidade social;

 Desenvolver um curso de qualificação que contribua para o debate sobre


participação social e a interface entre gestão e saúde;

 Contribuir para formulação de materiais educativos voltados ao público a que o


curso é destinado.

3.0 - A QUEM SE DESTINA

Conselheiros de Saúde. Representantes de Movimentos Sociais e trabalhadores


da saúde e educação, preferencialmente com formação de ensino médio, interessados
em projetos sociais territorializados e demais interessados no tema.

4.0 - NÚMERO DE VAGAS

25 vagas, podendo estender até 30, dependendo da análise por parte da coordenação do
curso.

5.0 – SELEÇÃO

Será priorizada a atuação como conselheiros, trabalhadores do SUS e


representantes da sociedade civil organizada (sindicatos, entidades de classe, e pessoas
de áreas e população vulnerabilizadas). As vagas excedentes poderão ser distribuídas
para os demais interessados no tema.

6.0 - DESCRIÇÃO

O curso tem carga horária total de 96 horas e as aulas distribuídas em uma ou


duas vezes por semana.

7.0 - ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

A organização curricular do curso foi elaborada com base em um projeto


desenvolvido inicialmente em Manguinhos, tendo como referência as oficinas de

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organização curricular realizadas juntamente com profissionais de diversas áreas da
Fiocruz e Conselheiros do Território de Manguinhos/Conselho Gestor Intersetorial
(CGI). As aulas ocorrerão na modalidade presencial, podendo intercalar atividades de
campo, visitas e participação em reunião de um conselho de saúde local. O curso está
estruturado em quatro eixos temáticos conforme a seguinte descrição:

Eixo 1 – Contexto Histórico e Social do Território e as Concepções de Saúde da


População.
Eixo 2 – Estado e Políticas Públicas.
Eixo 3 - Saúde Pública e Participação Social.
Eixo 4 – Participação Social e Gestão em Saúde.

Eixo 1 – Contexto histórico e social do território e as concepções de saúde da


população.
Carga horária: 20 horas.
Oficina Eixo I
Professores do Eixo I e discentes
Territorialização, Participação e Saúde.
Resgate histórico do território e sua relação com o contexto mais amplo da sociedade.

Organização dos espaços urbanos no Brasil e questão social.


Pobreza e desigualdade no acesso aos serviços saúde e educação.

Concepções de saúde e doença.


Discutir as concepções de saúde presentes na população e os principais problemas de
saúde existente.
Participação Social como processo educativo
Educação e transformação da realidade – construção compartilhada de conhecimento e
trabalho coletivo.
Trabalho de sistematização do Eixo

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EIXO 2 – ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS
Carga horária: 20 horas.
Oficina Eixo II
Professores do Eixo II e discentes
Estado, políticas públicas e sociedade civil.
Diferenças entre as principais concepções de Estado, Instituições Públicas e Sociedade
Civil.
Participação Social e Cidadania.
Contradições sobre o conceito de cidadania, limites e possibilidades da participação no
interior do Estado.
Estado e relação com o território.
Ideologia e cultura política no Brasil.
Diferentes formas de Participação Social
Participação direta e participação representativa.
Identidade coletiva, participação e defesas de direitos.
Trabalho de Sistematização do Eixo

EIXO 3 - SAÚDE PÚBLICA E PARTICIAÇÃO SOCIAL


Carga horária: 28 horas.
Oficina Eixo III
Professores do Eixo III e discentes
História da saúde no Brasil
Do Movimento Sanitário Campanhista ao INAMPS.

Reforma Sanitária e o SUS


Histórico e perspectivas da Reforma Sanitária no Brasil.
Problematização sobre a atuação dos conselheiros na saúde
(CIB, CIT, Conselhos de Saúde).
Participação e Controle Social em Saúde
Histórico e mecanismos de participação e decisão no SUS.

Intersetorialidade e saúde
Mudanças constitucionais e políticas setoriais (assistência social, educação, saúde

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ambiental, entre outros).
Saúde e Território
Perspectivas da Regionalização em saúde TEIAS-Escola Manguinhos.
Trabalho de sistematização do Eixo

Eixo 4 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL E GESTÃO EM SAÚDE


Carga horária: 28 horas.
Oficina Eixo IV
Professores do Eixo IV e discentes
Desafio para participação popular na gestão em saúde e necessidades locais.
. Tecnicismo e participação;
. Dificuldades de acesso às informações em saúde.
Financiamento em Saúde
. Descentralização administrativa, Lei Orgânica, Pacto de Gestão e EC-29;
. Formas de financiamento dos principais programas do SUS.
Modelos de Gestão em Saúde
. OSCIPS, Fundações Estatais, OSS, ONG’s entre outros.
Comunicação em Saúde
. Educação em saúde (cartilhas, folder, rádio comunitária entre outros).
Gestão Social / Participativa em Saúde.
Instrumentos de participação (ouvidoria coletiva; consulta pública, entre outros).
Trabalho final de síntese do curso
Professores e discentes

8.0 - CORPO DOCENTE

A definição do corpo docente ficará a cargo da equipe responsável pelo curso. Com
participação de docentes da Cooperação Social, da EPSJV, de outras unidades da
FIOCRUZ e de professores convidados.

9.0 - AVALIAÇÃO
A avaliação do curso se dará nas atividades de síntese de cada eixo e da síntese final do
curso. Será exigido

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10.0 - CERTIFICAÇÃO
“Qualificação em Participação Social e Gestão em Saúde”.

11.0 - Referências Bibliográficas

COHN, Amélia. 1996. Saúde e Cidadania: Análise de uma Experiência de Gestão


Local. In: Política de Saúde: o Público e o Privado (EIBENSCHUTZ, Catalina org.).
Rio de Janeiro: FIOCRUZ, p. 315-27.

FALLEIROS, I; CASTRO, V.; FONTES, V. Ciência e método de trabalho científico –


Marx o marxismo. In MATTOS, R. A.; BAPTISTA, T. W. F. Caminhos para análise
das políticas de saúde, 2011. p. 93-110 . Online: disponível em w.ims. uerj.br/ccaps.

STOTZ, Eduardo. Participação Social in Dicionário da Educação Profissional em


Saúde. Isabel Brasil Pereira e Júlio César França Lima (orgs.), 2ª.ed. - Rio de Janeiro:
EPSJV, 2008.

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2. Plano de Curso II
“Governança Democrática, Território e Saúde”
Coordenação: Felipe Eugênio dos Santos Silva (Cord. De Cooperação
Social)

1. Justificativa

Esta proposta resulta de um conjunto de diálogos, trocas e parcerias que vêm


ocorrendo, desde 2008, entre os seguintes atores:

 Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz da Mata Atlântica


(PDCFMA), situado em Jacarepaguá, numa região de grande complexidade
socioambiental da zona oeste do Rio de Janeiro, para onde a cidade se expande
demograficamente com assustadora velocidade, com base em um modelo de
desenvolvimento privatista e desigual, que vem promovendo toda sorte de
ajustamentos territoriais, com graves impactos sobre os direitos humanos,
sociais e políticos da população e a situação de saúde do território;
 Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz (CS), situada em Manguinhos,
bairro da zona norte do Rio de Janeiro, onde se localiza o Campus sede da
Fundação, lugar que registrou nas últimas três décadas um processo de
esvaziamento econômico e o maior crescimento da população residente na
cidade – a partir da edificação de conjuntos habitacionais e ocupações. Os
resultados dos significativos investimentos públicos dos três níveis de governo
(PAC e UPP) vem sendo questionados pelo movimento social quanto a efetiva
garantia de acesso aos sistemas de direitos humanos, econômicos, sociais,
culturais e ambientais;
 Integrantes de movimentos e organizações sociais identificados neste processo
como legítimos mantenedores da luta social democrática nestes dois contextos
territoriais e, mais amplamente, da cidade, apesar das dificuldades e restrições
impostas a sua atuação pelo conjunto de fatores acima expostos;

Partimos da concepção de que em contextos de desenvolvimento urbano, como o


observado na condição de “cidade negócio”, a produção social dos problemas de saúde

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pública e das vulnerabilidades socioambientais não se explica somente pela
insuficiência das políticas públicas, ou pela sua má gestão. As políticas de Estado
implantadas nestes territórios se encontram geralmente orientadas por uma lógica de
eficiência privatista em detrimento da gestão pública, com controle autoritário sobre a
vida de territórios e populações, tendo em vista garantir e ampliar a efetividade das
dinâmicas urbanas de expropriação e produção de desigualdades territoriais inerentes a
este projeto de cidade.

“É cada vez mais frequente a realização de grandes intervenções


urbanos com diferentes dimensões e impactos sobre os territórios.
Trata-se de um fenômeno que guarda relação com novos
ordenamentos associados à globalização e à redefinição de
posicionamentos dos gestores urbanos. Ajustes espaciais estão sendo
realizados numa velocidade cada vez mais acelerada e com
transformações territoriais que promovem novos significados para
governos, empresas e cidadãos, especialmente nos países centrais.
Novas territorialidades são conformadas a partir do movimento de
atores que detêm a hegemonia dos processos decisórios voltados para
os investimentos em projetos urbanos. Nesse contexto, os
megaeventos esportivos podem ser abordados enquanto grandes
projetos urbanos (GPUs) que orientam o ordenamento territorial das
cidades sedes”. (Raeder, S.)

Diferentes territórios são mantidos à margem de políticas básicas de saúde,


como o que ocorre em relação aos serviços de saneamento básico, por exemplo, no
intuito de garantir a provisoriedade dos vínculos residenciais, frente aos ajustamentos
territoriais promovidos pela especulação imobiliária e “modernização” das cidades.
Alguns projetos, como de segurança observados com as Unidades de Polícia
Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro (RJ), ganharam centralidade no controle social da
vida política e cultural das favelas pacificadas; onde o sistema político representativo se
encontram territorialmente controlado por milícias e grupos do crime organizado,
ocupando e/ou influenciando diretamente associações de moradores, conselhos, regiões
administrativas, fóruns etc.; torna-se necessário repensar a práxis a partir do campo da
saúde pública, com vistas a uma compreensão/ação mais concreta da afirmação de
Sérgio Arouca segundo a qual o Sistema Único de Saúde (SUS) é um ‘processo
civilizatório’.

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Este contexto impõe uma leitura mais consequente dos processos sócio
territoriais de determinação social da saúde, para além da pretensa neutralidade dos
esquemas epidemiológicos causais, cujos resultados se reduzem à mera identificação de
padrões relacionais entre eventos socioambientais e a ocorrência de agravos e/ou
doenças. Estas questões foram observadas diante dos megaeventos ocorridos na cidade
do Rio de Janeiro nos últimos anos, e as tentativas frustradas de se construir um
chamado ‘legado cidadão’ composto por um conjunto de bens tangíveis e intangíveis,
que possibilitassem melhorias urbanas e redução das iniquidades sociais.

É neste escopo que se insere a presente proposta. A noção de Governança


Democrática empresta sentido emancipatório a este processo, pois resgata o sentido
originário da participação como um dos princípios fundantes das políticas sociais no
Brasil, sobretudo em sua dimensão territorial. As experiências até aqui constituídas
neste contexto de parceria buscaram igualmente se estruturar em projetos político-
pedagógicos comprometidos metodologicamente com a participação como princípio
diretor dos conhecimentos, saberes e ações produzidos. Não no sentido de implementar
ações que possibilitem a restruturação do espaço urbano conforme os objetivos
previstos na readequação das cidades para os megaeventos, mas buscando resgatar a
importância da educação e do diálogo como pactuação de garantia de direitos sociais.

Neste sentido, tendo em vista reforçar o diálogo entre diferentes matrizes de


conhecimento e viabilizar parcerias possíveis a partir do reconhecimento ético e político
entre sujeitos com atuações e papéis distintos no mesmo contexto territorial, o curso se
destina a participantes de movimentos sociais atuantes em áreas territórios em favelas.
A própria proposta de oficina, escolhida como processo pedagógico tem como propósito
favorecer um sentido político dialógico e coletivo aos encontros, no intuito de legitimar
uma construção compartilhada de conhecimentos e delineamento de ação a este
processo. É o que discute Paulo Freire no livro Pedagogia da Liberdade sobre a visão
pedagógica e método de ensino em um contexto de ditadura no Brasil

“Parecia-nos, deste modo, que, das mais enfáticas preocupações de


uma educação para o desenvolvimento e para a democracia, entre nós,
haveria de ser a que oferecesse ao educando instrumentos com que
resistisse aos poderes do “desenraizamento” de que a civilização
industrial a que nos filiamos está amplamente armada. Mesmo que
armada igualmente esteja ela de meios com os quais vem

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crescentemente ampliando as condições de existência do homem.
(Freire, P. 1967: 89)

Finalmente, o intento mais profundo desta proposta está exatamente em


contribuir, não somente para a produção de conhecimentos stricto sensu, mas para que
estes possam engendrar diálogos e parcerias capazes de fortalecer sujeitos, grupos e
redes sociais nos territórios comprometidos com a garantia ampla e irrestrita de direitos
humanos fundamentais, em que todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à
segurança.

2. Objetivo Geral:
Contribuir para consolidação de processos participativos e a gestão democrática
de instituições e projetos sociais em territórios vulnerabilizados.

2.1 - Objetivos específicos:

 Estabelecer espaços dialógicos para troca de experiências e compartilhamento de


saberes em territórios em que a participação de diferentes atores sociais esteja
limitada por questões de violação de direitos fundamentais;
 Fortalecer processos indentitários e reconhecimento de direitos em populações
excluídas das formulações e implementação de políticas sociais;
 Identificar situações de diferentes tipos de violência e debater formas de solução
para o problema;
 Favorecer o empoderamento de populações e grupos na discussão de alternativas
sócio educativas e reconhecimento de agravos que impossibilitem viver com
saúde.

3.0 - A QUEM SE DESTINA

Representantes de Movimentos Sociais, moradores de favela e trabalhadores da


saúde e educação, preferencialmente com formação de ensino médio, interessados em
projetos sociais territorializados e demais interessados no tema.

4.0 - NÚMERO DE VAGAS

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Serão oferecidas 32 vagas por turma. As aulas serão realizadas uma vez por
semana na sede da Fiocruz no Rio de Janeiro, em horário integral

5.0 – SELEÇÃO
Os discentes serão selecionados pela coordenação do curso, sendo priorizados os
candidatos que estiverem dentro do especificado no objetivo acima descrito.

6.0 – Descrição

Carga Horária total: 45h

7.0 – Organização Curricular

1ª Oficina) Pactuação - 5 horas

Participantes: Equipe de Projeto, palestrantes e participantes


• Apresentação da Proposta
• Apresentação dos Territórios Pactuação do Processo /Metodologia

2ª Oficina) Território, Saúde e Conhecimento - 5 horas

Abordagem Temática:
• Território (conceito)
• Saúde Coletiva
• Construção Compartilhada do Conhecimento
• Participação Social e Conhecimento

3ª Oficina) Saúde e Democracia - 5 horas

Abordagem Temática:
• Conceito Ampliado e Determinação Social da Saúde
• Lutas Sociais em Saúde e Reforma Sanitária
• Democracia, Participação e SUS.

4ª Oficina) Estado, Direitos e Lutas Sociais - 5 horas

Abordagem Temática:
• Conceito de Estado Ampliado / Hegemonia

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• Lutas e Movimentos Sociais Urbanos
• Direito à Cidade

5ª Oficina) Desafios para a Governança Democrática de Territórios Urbanos –

5 horas

Abordagem Temática:
• Território e Globalização
• Desigualdades Sociais e Ordenamento Territorial
• Governança Territorial e Participação Social

6ª Oficina) Gestão Sócio-Territorial - 5 horas

Abordagem Temática:
• Contexto Geopolítico dos Territórios e Desafios Intersetoriais
• A Tecnologia Social é um caminho? (Participação – Transformação –
Replicabilidade)
• Planejamento Estratégico para Governança Democrática Territorial
• Bloco Sócio Territorial e Agenda Promotora da Qualidade de Vida e Saúde

7ª Oficina) Gestão Sócio Territorial 2– 5 horas

• Manhã: Debate em Grupo por território para estruturação da Agenda


• Tarde: Apontamentos para construção da Agenda

8ª Oficina) Construção Coletiva da Metodologia – 5 horas

Abordagem Temática:
• Estruturação do Bloco Sócio Territorial
• Agenda Promotora da Melhoria de Qualidade de Vida e Saúde

9ª Oficina) Avaliação e Desdobramentos – 5 horas

Equipe de Projeto, palestrantes e participantes


• Avaliação de Processo (Debate)
• Estratégia de desdobramentos estruturante
• Agenda de Continuidade.

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8. Corpo Docente:
A definição do corpo docente ficará a cargo da equipe responsável pelo curso.
Com participação de docentes da Cooperação Social, da EPSJV, de outras unidades da
FIOCRUZ e professores convidados.

9. Regime e Duração

45 horas divididos em 5 horas uma vez por semana

10. Avaliação

Os alunos serão avaliados pela frequência de 75% e participação nas atividades


desenvolvidas em sala de aula.

11. Certificação

Os alunos concluintes do curso receberão a certificação em “Qualificação em


Governança Democrática, Território e Saúde”

12.0 - Referência Bibliográfica

Freire, P. Educação como Prática da Liberdade, Ed. Paz e Terra. 1967


Raeder, S. Planejamento Urbano em sedes de Megaeventos Esportivos.
Disponível in http://pluris2010.civil.uminho.pt/Actas/PDF/Paper201.pdf . Acesso em
18/11/2016.

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Plano de Curso III

Curso de Elaboração de Projetos Sociocomunitários


Coordenação: Luciane Ferrareto (Coord. De Cooperação Social)

1. Justificativa

O presente documento constitui o Projeto Político Pedagógico do Curso


Elaboração de Projetos Sociomunitários, na modalidade presencial. Esse plano se
propõe a contextualizar e definir as diretrizes pedagógicas para o respectivo curso no
âmbito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mais especificamente nos fundamentos
políticos, teóricos e metodológicos que orientam as práticas e as ações da
Coordenadoria de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz (CS – Presidência)
Consubstancia-se em uma proposta curricular que aspira uma formação crítica que
permita a mudança de perspectivas de vida por parte do aluno; a compreensão das
relações que se estabelecem na realidade onde vivem; a ampliação de sua leitura de
mundo e a participação efetiva nos processos democráticos.

Coerente com os objetivos de encaminhamento definidos por ocasião do 7º


Congresso Interno da FIOCRUZ, em que foi elaborada uma carta política com o
objetivo de reafirmar o compromisso institucional dos desafios do Sistema Único de
Saúde (SUS), e da saúde como direito humano e fator decisivo para a inclusão social e
para o desenvolvimento, buscamos com a presente proposta reafirmar o caráter de
instituição pública que trabalha em prol da vida e da democracia, sendo
estrategicamente importante na construção de um Estado democrático de direito que
garanta à população serviços de saúde públicos, gratuitos e de qualidade.

A Fiocruz entende a saúde como um fator estruturante e um importante


articulador de políticas públicas, avanço do conhecimento científico e de políticas
industrial, tecnológica e de inovação. Sendo uma forma de articular estas demandas,
parte do comprometimento com os territórios que compõem o entorno dos campi
Fiocruz, implantando diversas iniciativas e projetos relacionados à redução das
vulnerabilidades civis e ambientais, com o objetivo de promover a saúde e a cidadania

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em territórios vulnerabilizados, corroborando com o enfrentamento dessas questões
(Termo de Referência em Cooperação Social, 2014)
Na definição de seu plano estratégico, a Cooperação Social incorpora ao debate os
territórios vulnerabilizados em centros urbanos densamente povoados e os sujeitos
coletivos de políticas públicas para nortear a construção de suas iniciativas. Aponta
ainda um conjunto de diretrizes estratégicas para orientar as diversas iniciativas em
desenvolvimento:
a) Indução à articulação intersetorial e colaborativa entre poder público, empresas
e organizações da sociedade civil presentes nos territórios vulnerabilizados do entorno
dos campi da Fiocruz, para desenvolver ações estratégicas e estruturantes voltadas para
o enfrentamento e redução das iniquidades e riscos à saúde;
b) Incentivo às iniciativas colaborativas direcionadas para a articulação e
dinamização da integração interinstitucional, visando o compartilhamento de
conhecimentos e a disseminação para a sociedade de resultados, impactos e avaliações;
c) Estímulo às organizações de base sociocomunitária e movimentos sociais locais
para ampliar sua capacidade de mobilização e proposição de políticas públicas voltadas
para gestão social participativa e territorializada; e
d) Estímulo ao desenvolvimento de tecnologias sociais intensivas em participação
social e transetorial, que possam ser exploradas em redes de cooperação, para promoção
da saúde em territórios urbanos densamente povoados e em situação de vulnerabilidade
socioambiental. (Termo de Referência em Cooperação Social, 2014)
Justificativa

BREVE HISTÓRICO DO CURSO

O curso de Elaboração de Projetos Sociocomunitários vem sendo desenvolvido


na Fundação Oswaldo Cruz desde 2009, tendo ao longo desse período algumas
variações quanto a denominação, carga horária, objetivos, conteúdo programático,
dentre outros. Essa iniciativa foi construída inicialmente na Diretoria de Administração
(DIRAD) e face às demandas do próprio curso e do público participante, foram
buscadas nesse período parceria com outras Unidades da Instituição, tais como a
Coordenadoria de Cooperação Social (CS) da Presidência, Assessoria de Cooperação e
Diretoria da Escola Nacional de Saúde Pública – Sérgio Arouca (ENSP), como forma
de ampliar e fortalecer as ações, inciativas, estratégias propostas. Para viabilizar essa

23
iniciativa, a DIRAD criou o Programa de Desenvolvimento em Gestão Social (PDGS).
A motivação desse Programa se deu pelo envolvimento da DIRAD na promoção e
viabilização de ações sociais, que permitiriam além do alcance de benefícios
socioeconômicos para as comunidades, também o enriquecimento dos objetivos e das
propostas do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização - GesPública
(2009 – 2012) no que tange a Responsabilidade Social e Ambiental. A ideia foi por
meio do Programa, buscar o desenvolvimento da consciência crítica e cidadania,
formação de lideranças, trabalho em equipe e o senso de colaboração/cooperação e
participação social, dentre outros.

A primeira edição do PDGS em 2009 foi uma Oficina de Elaboração de Projetos


Comunitários (40 horas/aula). A Oficina teve como objetivo capacitar líderes
comunitários (Representantes de Pastorais, de Bairros, de Organizações não
governamentais ONGS, dentre outros) na elaboração de projetos que buscasse o
atendimento das demandas de suas comunidades. A aprendizagem dessas lideranças no
desenvolvimento de projetos comunitários foi de suma importância na busca de
soluções para os problemas sociais existentes.

Em 2010 foi promovida a primeira turma do Curso Livre em Gestão de Projetos


Sociocomunitários (56h /aula) oferecida pela Diretoria de Administração (DIRAD) em
parceria com a Coordenadoria de Cooperação Social (CS) da Presidência. Teve como
objetivo oferecer aos participantes os conhecimentos necessários para gerenciar projetos
comunitários e Organizações Não Governamentais (ONGs). Este curso marcou a
primeira parceria firmada entre DIRAD e Presidência. O curso teve como público os
alunos que concluíram a Oficina de Projetos Comunitários promovida pela DIRAD em
2009. O curso buscou dar continuidade a oficina de Elaboração de Projetos
Comunitários e aprofundar o conhecimento comunitários relacionadas aos processos de
gestão vivenciados nessas organizações Foram ministradas aulas sobre legislação,
noções de gestão financeira, contábil e recursos humanos, além de princípios
norteadores para administrar recursos destinados a um fim social. Esse curso foi
desenvolvido nessa formatação até 2011, e em 2012 foi criado o Curso Livre Formação
em Elaboração e Gestão de Projetos Comunitários (132 horas), originado da fusão das
questões discutidas na Oficina de Elaboração de Projetos Comunitários, e do Curso em

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Gestão de Projetos Sociocomunitários, essa iniciativa marcou o início da parceria da
Assessoria de Cooperação Social da ENSP no projeto O curso tinha como objetivo a
elaboração e a gestão de projetos sociocomunitários, apresentando alternativas de
fortalecimento dos valores e ações comunitárias.

Esta mudança na estrutura do curso buscou integrar esforços com a finalidade de


realizar uma iniciativa única, visando a otimização do planejamento, gestão e execução
do mesmo, bem como, a ampliação do conhecimento e troca de experiências dos
participantes. Em 2013, a Cooperação Social da Presidência com apoio da DIRAD
lançou o Curso Livre: Elaboração e Gestão de Projetos sociocomunitários (132 horas).
Nessa formatação houve uma mudança de denominação em relação ao curso anterior,
mas o objetivo permaneceu o mesmo. Em 2014 o curso foi lançado novamente com
nova carga horária, agora de 150 horas/aulas, o que resultou no acréscimo de alguns
temas na estrutura curricular.

2 . APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA

Em 2015 a proposta é a viabilização de um curso mais direcionado para a elaboração de


projetos comunitários, alinhado com a política e cultura em cooperação social,em que a
carga horária do curso foi rediscutida. Se buscou maior ênfase a conteúdos voltados ao
planejamento, implantação e implementação de projetos sociocomunitários. Nessa
perspectiva, o curso pretende reunir pessoas com experiência de realização de projetos
sociais em territórios vulnerabilizados, ampliando e fortalecendo essas capacidades, a
fim de viabilizar políticas públicas de interesse coletivo.

Assim, esperamos contribuir para compartilhamento de ações de cunho


comunitários, que permita contribuir por meio de pedagogias teóricas e práticas,
subsidiar ações voltadas a formulação de políticas e programas sociais participativos. A
metodologia a ser utilizada contribuirá para sistematização e formulação de ideias e
práticas e a formalização em projetos que possuam possibilidade de concorrer a editais e
ofertas de financiamentos, discutindo formas de apresentação e organização de
objetivos. Nos propomos a oferecer recursos para que os participantes do curso
vivenciam e compartilhem experiências, destacando a importância da participação

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organizada e consciente no combate às desigualdades. Os projetos serão construídos a
partir dos interesses e necessidades dos proponentes, a partir dos diagnósticos realizados
nos territórios. Sendo este Trabalharemos não apenas a capacidade de elaboração de um
projeto, mas também a capacidade crítica e a percepção dos aspectos fundamentais e
relevantes a que se destina, considerando a realidade e particularidades de cada
território.

3. OBJETIVOS
Objetivo Geral: O Curso tem como objetivo qualificar pessoas a formular e
desenvolver projetos sociais em territórios socioambiental mente vulnerabilizados,

Objetivos Específicos:

 Possibilitar aos participantes o conhecimento das diversas etapas que


compõe a construção de projetos comunitários;
 Contribuir para o aprendizado a alunos realização de diagnósticos críticos
e da realidade;
 Aumentar a autonomia e apropriação de ideias dos alunos em proposição e
prospectiva de projetos sociocomunitários;
 Incentivar o fortalecimento dos vínculos de solidariedade entre
representantes de territórios e populações específicas;
 Favorecer a formação de competências técnicas, sociais, políticas e
intelectuais para o uso socialmente útil do conhecimento;

4 . A QUEM SE DESTINA

Representantes de Movimentos Sociais, moradores de favela e trabalhadores da


saúde e educação, preferencialmente com formação de ensino médio, interessados em
projetos sociais territorializados e demais interessados no tema.

5. NÚMERO DE VAGAS
Serão disponibilizadas 30 vagas.

6. SELEÇÃO

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Faremos ampla divulgação da inscrição, com uma pré-inscrição com
preenchimentos de um questionário. As fichas recebidas serão avaliadas pela
Coordenação docurso. Os participantes pré-selecionados serão entrevistados pela
coordenação do projeto e deverão trazer no dia da entrevista a xerox dos seguintes
documentos: comprovante de residência, CPF ou Identidade, comprovante escolar
(maior titulação) e o currículo (máximo 2 páginas). Em caso de desistência dos
selecionados, as vagas serão preenchidas pelos que ficaram na lista de espera. Fica a
critério da Coordenação do Projeto preencher ou não o quantitativo de vagas.

7. DESCRIÇÃO
O aluno deve estar qualificado atuar em diversas esferas sociais,com autonomia e
capacidade crítica e criativa.

8. ESTRUTURA CURRICULAR
O curso tem uma carga horária total de 190 horas. A organização curricular
compromete-se com uma perspectiva crítica-emancipatória, ao estabelecer a interface
dos eixos sociedade, trabalho, educação, cidadania, ética, sintonizando social e
profissional, com vistas à aquisição de conhecimentos científicos, técnicos, tecnológicos
e políticos, propícios ao desenvolvimento integral do indivíduo. Evidencia-se a
importância de buscar permanentemente uma estrutura curricular que permita
incorporar constantemente formas de aprendizagem e formação presentes na realidade
social, entendida como uma ampla abrangência desde a metodologia de ensino até a
relação aluno-instrutor. Desta forma, o curso será dividido em módulos segundo
inicialmente a seguinte composição:

Módulo 1: Formação Sociopolítica (50 horas/aula)


- Estado, Políticas Públicas e Participação Social (15 horas/aula)
- Formação de Redes, Território e Economia Solidária (15 horas/aula)
- Educação popular e cidadania para orientação comunitária (5 horas/aula)

Módulo 2: Técnicas de Elaboração de Projetos Comunitários (50 horas/aula)


- Diagnóstico e Planejamento Sociocomunitário ( 10 horas/aula)
- Metodologia de Indicadores Sociais (10 horas/aula) e atividades em campo (externas)

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Módulo 3: Dinâmica de Elaboração de Projetos Comunitários (50 horas/aula)
- Metodologias de Elaboração de Projetos Sociais (15 horas/aula)
- Elaboração de projetos comunitários (40 horas/aula)
Módulo 4: Editais e Captação de Recursos (40 horas/aula)
- Apresentação e Análise de Editais (10 horas/aula)
- Articulação Institucional e Captação de Recursos (15 horas/aula)

8 . AVALIAÇÃO

A avaliação dos alunos se dará pela participação dos mesmos em aulas por meio
de dinâmicas de grupos, debates, discussões, confecção de exercícios, bem como, pela
assiduidade e elaboração do Projeto. A sistematização do trabalho será apresentada na
modalidade de seminário. O critério para certificação discente será de acordo com os
critérios descritos e frequência mínima de 75% em cada módulo e formulação de um
projeto que deverá ser elaborado em grupo.

9 . CERTIFICAÇÃO
Os alunos serão avaliados de acordo com os critérios acima descritos e conferido
um certificado de “Qualificação em Elaboração de Projetos Sócio comunitários”.

10 . INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS
As instalações disponíveis para o curso deverão conter: salas de aula com cadeiras
para 30 alunos, data show, computador, lousa, caneta pilot, ar condicionado, biblioteca,
laboratório de informática e banheiros.

11 . LOCALIZAÇÃO, DIAS, HORÁRIOS E DURAÇÃO


As aulas serão presenciais e realizadas nas dependências da FIOCRUZ na cidade
do Rio de Janeiro. Acontecerão duas vezes por semana com duração aproximada de 4
meses.
12 . PERFIL DO CORPO DOCENTE

O corpo docente do curso será formado por técnicos e militantes de movimentos


sociais com experiência em suas áreas de atuação, considerando a afinidade desses
profissionais com os princípios e objetivos aqui descritos.

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Parceria da Coordenadoria de Cooperação Social com a Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)

A parceria da Coordenadoria de Cooperação Social com a Escola Politécnica de


Saúde Joaquim Venâncio, vem se consolidando por meio de projetos institucionais na
área de educação, onde principalmente duas atividades marcam este objetivo: a
realização de turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para o território de
Manguinhos, e o apoio a realização de duas turmas do curso de Qualificação em
Participação Social e Gestão em Saúde, anteriormente referido neste projeto. A
realização do EJA, tem sido uma importante experiência de consolidação de atividades
no período noturno na EPSJV, e de construção de proposta pedagógicas inovadoras e de
integração com a comunidade do entorno dos campi Fiocruz. O curso de qualificação é
assim, a consolidação de um projeto participativo voltado a territórios vulnerabilizados.

Esta parceria se fortaleceu a partir da transferência do curso em questão para


Coordenadoria de Cooperação Social da Presidência em 2015, favorecendo a
articulação desta proposta para outros territórios e unidades da Fiocruz. Esperamos com
isso a manutenção da parceria institucional com a EPSJV, concretizada por meio da
certificação, formulação e reuniões conjuntas de docentes para realização das turmas e
discussão de metodologias pedagógicas.

Desta forma, esperamos contribuir para continuidade e fortalecimento de


expertises institucionais descentralizadas, potencializando redes de cooperação e ações
voltadas a movimentos sociais e populações em situação de vulnerabilidade,
principalmente em territórios e regiões com as quais a Fiocruz desenvolve ações.
Esperamos também favorecer a discussão e estruturação institucional sobre a
regulamentação e oferta de cursos e gestão acadêmica na Fiocruz e instituições que
realizem formação profissional na saúde. A proposta do curso que apresentamos baseia-
se em uma metodologia participativa, na qual o conteúdo será debatido e consolidado
durante todo o processo, tanto entre os técnicos envolvidos na proposta como em
relação aos potenciais alunos, possibilitando um processo mútuo de ensino-
aprendizagem. A primeira turma deste curso se configurou como um projeto piloto, por
meio da experiência de conselho gestor do TEIAS-Escola Manguinhos, com o intuito de
constituir uma referência para projetos e estudos nessa área, em que a pactuação de

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diferentes interesses alcance o objetivo de promover efetivas melhorias para a vida dos
usuários. Este processo é complexo, contraditório e desafiador, e para tanto,
acreditamos em metodologias construídas com envolvimento dos diferentes atores
mediante ação coletiva.

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