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ANÁLISE DA POROSIDADE E DE PROPRIEDADES DE TRANSPORTE DE

MASSA EM CONCRETOS

Autor: Neide Matiko Nakata Sato

Orientador: Prof. Dr. Vahan Agopyan

RESUMO
O desempenho do concreto, enquanto barreira para diminuição do transporte de agentes
potencialmente causadores de corrosão das armaduras, está relacionado com a sua
porosidade. Assim, modificar a porosidade do concreto pode ser um solução
econômica, eficiente e simples para aumentar a durabilidade do concreto armado.
Dentro deste contexto, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de analisar a
influência do volume total de vazios e das dimensões dos poros nas propriedades de
transporte de água, de íons cloreto e de CO2 em concretos, sendo abordado em maior
profundidade, o transporte de água. Neste aspecto, foi proposto e avaliado um modelo
de transporte de água em concretos não saturados visando estabelecer um método para a
previsão da quantidade de água absorvida por concretos em função do tempo. Foi
também desenvolvido um método de medição da difusividade hidráulica, que é um
parâmetro necessário para o modelo proposto.
O estudo foi conduzido com concretos com dois níveis de porosidade total tendo, em
cada nível, duas distribuições distintas de dimensões de poros. A modificação na
porosidade total foi feita alterando-se a relação água/cimento e as dimensões de poros
foram modificadas utilizando-se dois tipos de cimento: o Portland comum, disponível
comercialmente, e o Portland com adição de escória, preparado em laboratório.
Foi avaliada a influência da porosidade total e das dimensões de poros no transporte de
massa, analisando-se a penetração de íons cloreto, a profundidade de carbonatação, o
teor de umidade de equilíbrio, a difusividade de água, a absortividade de água e a
penetração de água sob pressão, em função das dimensões e volume de poros dos
concretos.
O modelo de transporte de água em meios não saturados foi avaliado, comparando-se os
valores de concentração de água medidos, com os valores calculados teoricamente a
partir de valores de difusividade hidráulica medidos.

ABSTRACT

Concrete’s porosity is related to its performance as a barrier to reduce the transport of


aggressive agents which can give rise to the steel reinforcement corrosion. Thus, the
alteration of concrete porosity can be a single, economic and efficient way to increase
the durability of reinforced concrete.
This research was developed with the aim of analysing the influence of concrete total
pore volume and pore dimensions on water, chloride ion and CO2 transport though it.
The water transport properties were investigated in more detail.
In this aspect, a model to describe the water transport through initialy unsaturated
concrete was proposed and evaluated in order to give allowances to predict the quantity
of water absorved as a function of time.
It was also developed a method for the measurement of hydraulic diffusivity of
concretes which is necessary to the proposed model.
The study was carried on with concretes having two levels of total porosity. In each
level of porosity, there were two different pore dimensions.
The alteration of total porosity was obtained with two w/c contents and the pore
dimensions were changed using two types of cements: usual Portland (commercial) and
Portland cement + slag (prepared in laboratory).
The evaluation of the influence of total porosity and pore dimensions on mass transport
was done with the analysis of chloride ion penetration, carbonation depth, equilibrium
humidity content, water diffusivity, water absortivity and water penetration penetrated
under pressure as a function of total pore volume and pore dimensions.
The water transport model through unsaturated materials was evaluated by the
comparison of the measured water concentration in concrete with the theoretical
concentration calculated with the measured hydraulic diffusivity.

1 INTRODUÇÃO

O concreto contém em seus poros uma solução de elevada alcalinidade, com pH


variando de 12 a 13, devido principalmente ao hidróxido de cálcio formado nas reações
de hidratação dos silicatos do cimento e aos álcalis incorporados no clinquer. Em razão
de sua natureza alcalina, esta solução proporciona um meio adequado para a formação
de uma camada de óxidos, fina, compacta e aderente, na superfície da armadura.
Enquanto a solução presente nos poros do concreto conservar o seu caráter básico e for
isenta de agentes agressivos, essa camada de óxidos continua presente, protegendo a
armadura contra a corrosão.
Assim, o concreto tem que manter a estabilidade química da solução intersticial e ao
mesmo tempo, servir de barreira física contra a penetração de agentes agressivos ao
metal, como os íons cloreto que, quando em presença de água e oxigênio, possuem a
capacidade de destruir localmente esta camada, iniciando o processo de corrosão da
armadura. Os íons cloreto podem ser provenientes da água do mar em contacto com o
concreto, da atmosfera marinha ou industrial ou mesmo da lavagem de fachadas e pisos
com ácido muriático (HELENE, 1993) .
O CO2 presente na atmosfera, constitui-se num outro agente agressivo pois, ao reagir
principalmente com o hidróxido de cálcio do concreto, faz com que o pH da sua solução
intersticial diminua, podendo levar à despassivação da armadura. Este processo de
reação é conhecido como carbonatação.
O transporte destes agentes agressivos para o interior do concreto se dá principalmente
por mecanismos de absorção capilar, permeabilidade1 e difusão, podendo ainda ocorrer
migração iônica no caso da penetração de cloretos.

1
O termo permeabilidade foi utilizado para representar o mecanismo de transporte que ocorre quando um

meio saturado está submetido à ação de pressões externas.


A taxa de transporte de agentes agressivos por meio da absorção e permeabilidade é
governada pela taxa de penetração de água, pois somente através da umidade é que os
agentes são transportados para o interior do concreto.
Além da água no estado líquido, a presença de umidade nos poros do concreto na forma
de vapor influi também no ingresso dos agentes, principalmente o gás carbônico. Isto se
deve ao fato de que a difusão é o principal processo pelo qual o dióxido de carbono
penetra no concreto, atravessando os poros com ar e também com água. Ocorre que a
difusão do CO2 na fase líquida é de aproximadamente 104 vezes menor que na fase
gasosa (HELENE, 1993). Por outro lado, poros muito secos favorecem a difusão,
porém dificultam a reação de carbonatação.
A umidade desempenha então um papel preponderante na taxa de carbonatação bem
como de ingresso de cloretos. Para proteger a armadura é necessário, portanto,
controlar a entrada dos agentes agressivos e também da umidade, agente interveniente
no processo de deterioração do concreto armado.
Além de outras técnicas menos empregadas no país, como a proteção catódica, a
proteção pode ser conferida pela utilização de revestimentos aplicados sobre o concreto,
ou buscando a melhoria do seu desempenho enquanto barreira ao transporte de agentes
agressivos e intervenientes o que, de uma forma genérica, implica na alteração de sua
estrutura porosa. Dentre estas duas alternativas, a modificação na porosidade é ainda a
solução mais econômica, eficiente e mais simples de ser executada.
A mudança na estrutura do espaço poroso pode ser feita tanto por meio da diminuição
do volume total de vazios como também com modificações na distribuição de tamanho
de poros.
O desenvolvimento do espaço poroso do concreto não depende somente da sua
composição mas, também, das condições de cura e de exposição. Nos concretos curados
ao ar, observa-se que a porosidade varia com a distância em relação à superfície
exposta, devido às alterações no grau de hidratação, consequentes ao gradiente de
umidade, que existe nesta região em função do transporte de umidade que ocorre entre o
material e o meio externo. Pode haver ainda alteração na porosidade em decorrência de
reações químicas entre as substâncias presentes no meio ambiente e no concreto, como é
o caso da reação de carbonatação, com diminuição da porosidade do concreto.
As considerações citadas mostram a importância de pesquisas visando o estudo da
influência da estrutura porosa na taxa de transporte de água e agentes agressivos para o
interior do concreto. Com a prática comum, nos últimos anos, do emprego de adições
minerais ao cimento, como as pozolanas e a escória de alto-forno, permitindo a
obtenção de concretos com poros de dimensões menores e, consequentemente, de
maior durabilidade, este assunto passou a merecer maior destaque.
Dentro deste enfoque, este estudo foi realizado com concretos de cimento Portland
comum e de cimento com escória. Escolheu-se a escória por ser um rejeito industrial de
volume significativo no Brasil (JOHN, 1995). Além disso, os últimos trabalhos
realizados no país não abordam a questão da porosidade e dos fenômenos de transporte
de massa (MARQUES, 1994 e BAUER, 1995). Em outros países, esta questão é mais
estudada em cimentos com adição de cinza volante e materiais pozolânicos.

2 OBJETIVO

Considerando-se que a melhoria no desempenho do concreto enquanto barreira para


diminuição do transporte de agentes agressivos está relacionada com modificações de
sua estrutura porosa, esta tese foi desenvolvida com o objetivo de analisar a influência
do volume total de vazios e das dimensões dos poros nas propriedades de transporte de
água, de íons cloreto e de CO2 em concretos, sendo abordado em maior profundidade,
o transporte de água. Neste aspecto, foi proposto e avaliado um modelo de transporte
de
água em concretos não saturados, visando estabelecer um método para a previsão da
quantidade de água absorvida por concretos em função do tempo. Foi também
desenvolvido um método de medição da difusividade hidráulica, que é um parâmetro
necessário para o modelo proposto.
O estudo foi conduzido com concretos com dois níveis de porosidade total tendo, em
cada nível, duas distribuições distintas de dimensões de poros. A modificação na
porosidade total foi feita alterando-se a relação água/cimento e as dimensões de poros
foram modificadas utilizando-se dois tipos de cimento: o Portland comum, disponível
comercialmente, e o Portland com adição de escória, preparado em laboratório.

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL, MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Programa experimental


Até a década passada, considerava-se que o desenvolvimento do espaço poroso de
pastas moldadas com agregados era semelhante ao de pastas sem agregados. Assim, os
estudos de porosidade do concreto eram realizados com amostras de pastas de mesmo
traço do concreto de interesse, o que facilitava muito as pesquisas devido à menor
quantidade de material utilizado e também às menores dimensões dos corpos-de-prova
necessários para os estudos.
Atualmente, sabe-se que a porosidade ao redor dos agregados é maior que nas regiões
mais distantes destes elementos, fazendo com que a porosidade da pasta sem agregado
seja diferente daquela com agregado. Em função disto, decidiu-se realizar este estudo
com amostras de concreto.
A seleção dos materiais a serem estudados foi feita visando a obtenção de materiais
com dois níveis de porosidade total, tendo em cada nível, duas distribuições distintas de
dimensões de poros.
Para a obtenção de concretos com os dois níveis de porosidade total diferentes, foram
selecionados para o estudo, dois traços de concreto com cimento Portland comum, com
resistência à compressão característica de 20 MPa e 40 MPa que correspondem,
respectivamente, ao concreto de resistência média de uso no mercado (entre18 MPa e 22
MPa) e a um concreto com porosidade significativamente menor. O cimento escolhido
foi o CP - I, por não conter adições.
Para a obtenção de concretos com porosidade total semelhante, mas com distribuição de
dimensões de poros menores, com os mesmos traços dos concretos de cimento Portland
comum, foram preparados concretos substituindo-se 70% de cimento Portland por
escória. O teor de substituição foi definido com base na Norma Brasileira - EB-208 -
Cimento Portland de alto forno que estabelece este limite de adição. Além da obtenção
de dimensões de poros diferentes, a escória foi selecionada considerando-se a tendência
mundial de uso de concretos de cimento com adição.
Na Figura 3.1 está esquematizada esta forma de definição dos materiais utilizados e dos
concretos a serem estudados:
- Dois níveis de porosidade total
- Distribuições de dimensões
de poros diferentes

Traço 1 Traço 2

Cimento Portland Cimento Portland (30%) + Cimento Portland Cimento Portland (30%) +
comum escória (70%) comum escória (70%)

Figura 3. 1 – Esquema síntese de seleção de materiais

Além dos materiais empregados, da dosagem e da idade, o desenvolvimento do espaço


poroso do concreto depende também das condições de cura e de exposição.
Os concretos expostos ao ar apresentam porosidade diferente nas regiões próximas à
superfície quando comparada com as regiões mais internas, devido às diferenças no
processo de hidratação e às reações químicas que podem ocorrer entre as substâncias
presentes no meio ambiente e no concreto, como é o caso da reação de carbonatação.
Um outro fato a ser considerado é a interação que existe entre o teor de umidade
ambiente e a porosidade, o primeiro influindo na hidratação do cimento e na ocorrência
de reações químicas e em consequência na porosidade e esta afetando a quantidade de
umidade retida no material. Estas inter-relações, estão representadas na Figura 3.2:

Exposição

Materiais
Porosidade Teor de umidade
Dosagem

Transporte de massa

Figura 3. 2 – Fatores que interferem na porosidade e no transporte de massa

Tendo em vista a análise do comportamento dos concretos em condições de uso,


definiu-se que os concretos a serem estudados seriam moldados em forma de placas e
expostos em estação de envelhecimento natural.
O estudo foi realizado com os concretos apresentando idade superior a 240 dias. Esta
etapa foi conduzida visando analisar a influência da porosidade total e da distribuição de
dimensões de poros no comportamento do concreto quanto ao transporte dos principais
agentes que interferem na corrosão da armadura, ou seja, o transporte dos agentes
agressivos, que são os íons cloreto e o gás carbônico e os agentes intervenientes que são
a água e o vapor de água. Os concretos foram então estudados quanto ao seu
comportamento em relação a:
- penetração de íons cloreto;
- profundidade de carbonatação;
- teor de umidade de equilíbrio;
- difusividade de água;
- sortividade;
- penetração de água sob pressão.
Com o objetivo de poder fazer uma previsão da quantidade de água absorvida por
concretos em função do tempo, foi desenvolvido um método de ensaio para
determinação de características do concreto com relação ao transporte de água no seu
interior, conforme apresentado na seção 3.3.9. Além disto, os dados medidos foram
utilizados para a aplicação e validação de modelo de transporte de água no interior do
concreto.
Um esquema do programa experimental está resumido na Tabela 3.1:

Tabela 3. 1 - Resumo do programa experimental


Objetivo Variáveis consideradas
Distribuição de dimensões de poros
Índice de vazios
Caracterizar a porosidade
Dimensões observadas em
Microscópio eletrônico de varredura
Penetração de íons cloreto
Profundidade de carbonatação
Avaliar o comportamento do Teor de umidade de equilíbrio
concreto em relação ao Sortividade
transporte de massa Penetração de água sob pressão
Difusividade de água
Avaliar modelo de transporte de Difusividade de água
água líquida

3.2 Materiais
3.2.1 Cimento Portland
O cimento Portland selecionado foi o CP- I, por não conter adições.

3.2.2 Escória de alto forno


Utilizou-se neste estudo a mesma escória proveniente da COSIPA, caracterizada em
pesquisa realizada anteriormente (JOHN, 1995). De acordo com essa pesquisa, a escória
apresentava relação CaO/SiO2 = 1,24, com teor de vidro determinado por contagem ao
microscópio de 97% e índice de refração de 1,65. A difração de raios X (CuKα) não
revelou a presença de produtos cristalinos, apenas o halo vítreo centrado em 31o (2θ ).
A escória foi moída em moinho de bolas de laboratório, em lotes de 20 kg, sendo
posteriormente homogeneizadas. A moagem foi feita até a obtenção de 513 m2/kg de
finura Blaine (NBR 7224/ 84), de modo que, misturada ao cimento Portland CP- I do
estudo, resultou num cimento composto com finura de 441 kg/m3, valor representativo
de um cimento de alto forno usualmente encontrado no mercado.

3.2.3 Areia
Empregou-se areia média proveniente do rio Tietê.

3.2.4 Brita
Para a confecção dos concretos utilizou-se brita 1 (granito) proveniente da pedreira
Riúma.

3.2.5 Concreto
A partir de dosagem experimental, realizada pelo método do IPT ( TANGO, 1993 )
foram determinados os traços de concreto de cimento Portland comum com resistência à
compressão característica de 20 MPa e 40 MPa pré-fixadas. Na Tabela 3.1 estão
apresentados estes traços:

Tabela 3.1 - Traços dos concretos


Traço Consumo de Resistência à
Relação
(cimento:agreg. Agreg.total/ cimento compressão
miúdo: agreg. A/c cimento - (Portland I)
“m” “C” (MPa)
graúdo)
(kg/kg) (kg/kg) (kg/kg) (kg/m3) 7 dias 28 dias
1 : 1,4 : 2,6 0,44 4,0 443 37,1 41,0
1 : 2,84 : 4,16 0,76 7 271 15,8 20,6

3.2.5.1 Preparação de amostras


Com os traços definidos na dosagem experimental, foram preparados os concretos com
cimento Portland comum e com escória, os quais estão identificados nesta tese na forma
indicada na Tabela 3.2:
Tabela 3.2 – Identificação dos concretos
Traço
Identificação Relação
(aglom.:agreg. Aglomerante
do concreto a/c
Miúdo:agreg.
Graúdo)
CP 20 1 : 1,4 : 2,6 Cimento Portland 0,76

CPE 20 1 : 1,4 : 2,6 Cimento Portland (30%) + escória (70%) 0,76

CP 40 1 : 2,84 : 4,16 Cimento Portland 0,44

CPE 40 1 : 2,84 : 4,16 Cimento Portland (30%) + escória (70%) 0,44


Todos os concretos preparados apresentaram consistência medida com abatimento do
tronco de cone (NBR 7223) de (60±10) mm e teor de ar incorporado de 1,5%.
Visando a obtenção de superfícies que simulam o acabamento obtido em obra, os
diversos traços de concreto foram preparados em forma de painéis. A moldagem foi
feita através do lançamento do concreto em formas posicionadas verticalmente e o
adensamento foi efetuado em mesa vibratória. Os painéis foram moldados com
dimensões de 70 cm x 70 cm x 10 cm de forma a possibilitar a extração de vários
corpos-de-prova para ensaios, sem possuir tamanho excessivo que prejudicasse o
manuseio e transporte das placas. Após a moldagem, os painéis foram mantidos em
câmara úmida por um período de 7 dias, considerado suficiente para a obtenção de
resistência necessária para o transporte das placas. A partir deste período de cura, os
painéis foram expostos em estação de envelhecimento natural do IPT, localizado na
Cidade Universitária, em São Paulo, latitude 23o 30’S e longitude 46o 37’W. A
exposição foi feita com os painéis posicionados verticalmente e orientados para a
direção norte
Para a realização de todos os ensaios, os corpos-de-prova foram extraídos da parte
superior, média e inferior das placas, de modo a eliminar eventuais diferenças existentes
em função de adensamentos heterogêneos do concreto ao longo da altura da placa. A
extração foi realizada com serra ou broca diamantadas em função das geometrias e
dimensões dos corpos-de-prova necessários para os ensaios.

3.3 Métodos de ensaios


Os métodos de ensaio que serviram de base para o desenvolvimento da pesquisa estão
descritos a seguir:

3.3.1 Determinação de dimensões de poros de concretos por intrusão de mercúrio


A determinação das dimensões de poros dos concretos foi efetuada pelo método de
intrusão de mercúrio. Após o ensaio com o porosímetro de mercúrio, foi determinada a
quantidade de agregados presente nos corpos-de-prova ensaiados. Os resultados de
porosidade foram expressos em volume de mercúrio intrudido em relação ao teor de
pasta presente nos corpos-de-prova.

3.3.1.1 Preparação e condicionamento dos corpos-de-prova para ensaio


Foram extraídos da região central das placas de concreto, cilindros com diâmetro de 10
cm. Foram retirados destes cilindros, duas fatias de 1 cm de espessura, cortadas
paralelamente à cada uma das bases do cilindro. Os cortes foram feitos na região
próxima às bases de modo a garantir que as fatias contivessem a superfície de
acabamento dos painéis, ou seja, a superfície em contacto com as placas do molde. Da
região central destas fatias, foram retirados novamente, corpos-de-prova com 2 cm de
diâmetro e espessura de 1 cm. Em cada ensaio, foram utilizados 2 destes corpos-de-
prova.
Para a utilização desta técnica, é necessário que os corpos-de-prova estejam
previamente secos. No entanto, dependendo do procedimento utilizado na remoção da
água dos poros podem ocorrer alterações na microestrutura do material. Assim foi
utilizado o seguinte método para secagem dos corpos-de-prova (FELDMAN &
BEAUDOIN, 1991):
a) retirada da água dos poros e substituição por solvente através da imersão total em
isopropanol anidro técnico por um período mínimo de 10 dias;
b) imediatamente após retirada da imersão em álcool, secagem a vácuo em estufa a
100oC por 20 horas.

3.3.1.2 Determinação do teor de pasta nos corpos-de-prova


No ensaio de porosimetria de mercúrio, o resultado é expresso em volume de mercúrio
intrudido em relação à massa total do corpo-de-prova. Em função disto, considerando-se
que a porosidade dos agregados é praticamente nula, corpos-de-prova de massas iguais,
extraídos de um mesmo concreto, podem apresentar porosidades diferentes devido à
maior ou menor quantidade de pasta contida nos mesmos. Na determinação da
porosidade de concretos é necessário determinar então a fração de pasta presente nos
corpos-de-prova ensaiados.
Para efetuar esta determinação, após a realização dos ensaios, as amostras foram
pesadas para calcular a massa de mercúrio penetrada no corpo-de-prova. As amostras
ainda impregnadas com mercúrio foram então levemente trituradas, tomando-se os
devidos cuidados para não haver perda de massa durante este processo. As porções
assim obtidas foram imersas em solução de HCl, na concentração de 0,33% em massa,
e posteriormente aquecidas a fim de se dissolver o cimento do concreto. A solução foi
filtrada, de forma a separar os agregados e o mercúrio do cimento. Com este
procedimento foi possível determinar a proporção da pasta no concreto e calcular a
porosidade em relação à massa da pasta e não do corpo-de-prova, eliminando as
possíveis diferenças nos materiais em função da maior ou menor quantidade de
agregado presente na amostra ensaiada.

3.3.2 Determinação de porosidade total por imersão em água


Tendo em vista as pequenas dimensões dos corpos-de-prova para ensaios através de
porosimetria por injeção de mercúrio e considerando-se que as propriedades de
transporte de massa de concretos não dependem somente da porosidade da capa do
concreto, foi medida a porosidade das amostras do estudo conforme a norma NBR
9779/93 - Determinação de absorção de água por imersão, do índice de vazios e massa
específica. As medições foram efetuadas com corpos-de-prova cilíndricos, de 10 cm de
diâmetro e 5 cm de altura.

3.3.3 Observação de porosidade por análise de imagens de microscopia eletrônica


As micrografias foram determinadas conforme procedimento descrito na seção 2.3.2, no
Laboratório do Depto. de Engenharia de Minas da Escola Politécnica da USP, com o
microscópio eletrônico marca Leica, modelo STEREOSCAN 440, utilizado no modo de
elétrons retroespalhados. Nas imagens de elétrons retroespalhados as fases de maior
número atômico presentes na pasta aparecem mais brilhantes enquanto os poros ficam
escuros. Quando o interesse está voltado para a observação da porosidade por esta
técnica, é importante uma preparação cuidadosa da amostra pois eventuais diferenças de
nível existentes na superfície podem comprometer a análise uma vez que as partes mais
elevadas apresentam-se brilhantes na imagem obtida, independentemente da presença de
poro nesta região.

3.3.4 Determinação de penetração de íons cloreto


Para a avaliação da resistência à penetração de íons cloreto tem sido muito difundido o
método proposto pela Norma ASTM (ASTM C 1202/ 94). O ensaio é realizado com
corpos-de-prova cilíndricos, com de 10 cm de diâmetro e 5 cm de altura. O método
consiste em medir, ao longo do tempo, a corrente que passa através do corpo-de-prova,
inicialmente saturado com água, quando uma das faces planas é imersa em uma solução
de cloreto de sódio e a outra em solução de hidróxido de sódio e se aplica uma tensão de
60 V entre as superfícies. A partir da integração da curva de corrente em função do
tempo é calculada a carga elétrica total que passa pelo corpo-de-prova num período de 6
horas. O método caracteriza um processo de difusão de cloretos forçada pela aplicação
de diferença de potencial, ou seja, o mecanismo de migração de cloretos (HELENE,
1993). A Norma permite ainda classificar o concreto quanto à sua susceptibilidade à
corrosão em função da carga elétrica calculada.

3.3.5 Determinação de profundidade de carbonatação


A determinação de profundidade de carbonatação foi efetuada após submeter amostras
em câmara de carbonatação de circuito aberto e alimentação contínua (JOHN, 1995). A
concentração de CO2 na câmara foi mantida em 5% e a uma temperatura de (21,5 ±
1,5)oC. Embora muitos ensaios acelerados sejam realizados com níveis mais elevados
de concentração, a concentração de CO2 no ensaio foi mantida em 5%, para que um
maior número de medições pudesse ser realizado, antes da ocorrência da carbonatação
total.
Os corpos-de-prova consistiam de prismas com dimensões de 5 cm x 10 cm x 35 cm,
cortados das placas de dimensões maiores. A profundidade de carbonatação foi medida
aplicando-se fenolftaleína diluída em álcool etílico (5 %) em seções transversais do
corpo-de-prova imediatamente após fratura.

3.3.6 Determinação sortividade


No presente trabalho, os ensaios foram realizados com corpos-de-prova cilíndricos, com
10 cm de diâmetro e 5 cm de altura, impermeabilizados na superfície lateral, mantendo-
se as bases sem vedação. Os corpos-de-prova foram então colocados sobre hastes de
alumínio, imersas em água, de forma a manter uma das bases em contacto com o líquido
para permitir a sua penetração por capilaridade. As pesagens foram feitas na primeira
hora de ensaio, a intervalos regulares de 10 minutos, e depois a cada hora até completar
3 horas de medição.

3.3.7 Determinação de teor de umidade de equilíbrio


O ensaio consistiu na determinação do teor de umidade de equilíbrio de concretos
expostos em câmara climática, mantida à temperatura de (23 ± 2)oC e umidade relativa
de (55 ± 5)%. Corpos-de-prova de 10 cm de diâmetro e 5 cm de altura foram mantidos
neste ambiente e pesados a cada 24 horas. Considerou-se atingido o equilíbrio de massa
dos corpos quando a diferença entre duas pesagens consecutivas foi inferior a 0,05% do
valor da última massa medida. O teor de umidade foi calculado pela diferença entre a
massa nas condições de equilíbrio com o ambiente e a massa do corpo-de-prova seco. A
secagem foi feita em estufa mantida à temperatura de 105oC, até atingir a mesma
condição de estabilidade de massa definida anteriormente.

3.3.8 Determinação de penetração de água sob pressão


O ensaio foi realizado de acordo com o procedimento especificado na norma NBR
10787/94 – Concreto endurecido – Determinação de penetração de água sob pressão. É
recomendada a realização de ensaios com corpos-de-prova medindo (250 x 250 x 125)
mm, previamente secos ao ar, por um período de 24 horas antes do início do ensaio. O
ensaio consiste em fixar o corpo-de-prova entre dois perfis metálicos, mantendo-se a
superfície inferior , com dimensões de (250 x 250) mm, em contacto com água sob
pressões crescentes e consecutivas, da seguinte forma:
c) 48 horas à pressão de (0,1±0,01) MPa;
d) 24 horas à pressão de (0,3±0,03) MPa;
e) 24 horas à pressão de (0,7±0,07) MPa.
Após estes períodos de aplicação de água sob pressão, o corpo-de-prova é partido ao
meio, ortogonalmente à face onde foi exercida a pressão, medindo-se a profundidade
máxima de penetração de água, em milímetros, e o perfil de distribuição da água
penetrada.

3.3.9 Difusividade de água


Para a realização do ensaio, foram preparados corpos-de-prova em forma de cilindros,
aplicando-se impermeabilizante à base de silicone nas suas superfícies externas,
mantendo-se apenas uma das bases dos corpos sem vedação. Após secagem em estufa
ventilada mantida à temperatura de (105±5)oC, os corpos-de-prova foram imersos em
água destilada, acoplados a um dispositivo de balança que possibilita a pesagem do
corpo-de-prova imerso. A balança utilizada estava acoplada a um microcomputador que
fazia leituras da massa do corpo-de-prova imerso, em intervalos sucessivos de 30
minutos. Durante a imersão, os corpos-de-prova foram mantidos com as bases
posicionadas verticalmente e com uma coluna de água de 5 cm sobre os mesmos.
Nestas condições, a massa de água absorvida pela face não vedada do corpo-de-prova
pode ser determinada calculando-se, a cada instante, o volume de poros abertos
preenchidos com água pela fórmula:
m i ( t ) − m cp + c − M isat + M sat
Vabs (t) = (3.1)
ρ
Considerando-se que a densidade aparente da água é igual a 1 g/cm3, tem-se que a
massa de água absorvida até o instante t, é dada por:
mabs = m i ( t ) − m cp + c − M isat + M sat (3.2)
Onde:
mcp+c é a massa do corpo-de-prova seco, com o impermeabilizante (g);
mi (t) é a massa do corpo-de-prova imerso, no instante t (g);
ρ é a densidade aparente da água (g/cm3);
Msat é a massa do corpo-de-prova com impermeabilizante, saturado (g);
Misat é a massa do corpo-de-prova com impermeabilizante, saturado e imerso
(g);
Vabs (t) é o volume de água absorvido pelo corpo-de-prova até o instante t (cm3);
mabs é a massa de água absorvida até o instante t (g).

A partir dos valores de massa de água absorvida, desde o início da imersão até a
saturação do material, foram calculadas a cada 30 minutos (intervalo de tempo entre
registros sucessivos de massa imersa do corpo-de-prova), as concentrações médias de
água no corpo-de-prova, pela equação:

1 e massa de água absorvida até o instante t


C (t) =
e 0 ∫
Cdx =
massa do material seco
(3.3)
Considerando-se o modelo de Fick válido para descrever o transporte de água nas
condições de ensaio, esta concentração de água no instante t, está relacionada
teoricamente com a espessura do corpo-de-prova, com a concentração de água inicial e
na saturação, bem como com a difusividade conforme apresentado anteriormente (seção
3.1.2.3) pela equação:


C (t) − Ci 8 exp (-(2j + 1) 2 π 2 D t / (4 e 2 ))
Cs − Ci
= 1−
π 2 j=0
∑ (2j + 1) 2
(3.4)

Onde: C(t) é a concentração de umidade no instante t (g água/g CP);


Ci é a concentração inicial de umidade (g água/g CP);;
Cs é a concentração de umidade do material saturado de água (g água/g CP);;
e é a espessura do corpo-de-prova (cm);
D é a difusividade de água ( cm2/min0,5).
Como os corpos-de-prova foram secos antes de serem imersos na água, a concentração
inicial foi assumida como sendo igual a zero, assim a equação (3.4) se torna:
 2 2 D 
 ∞ exp (-(2j + 1) π 2
t )
8

(4e ) 
C (t) = Cs 1 − (3.5)
 2
π j=0 (2j + 1) 2 
 
 
Assumindo-se então que o transporte de água se processou segundo a lei de Fick, existe
uma uma relação de dependência funcional teórica de C (t ) com t, expressa pela
equação (3.5). Esta função de dependência de C (t ) com t pode ser determinada neste
caso, estimando-se apenas o valor de D, uma vez que os outros parâmetros são
conhecidos experimentalmente. Esta estimativa foi feita pelo método dos mínimos
quadrados2, segundo o qual, a função que correlaciona C (t ) com t, deve ser aquela que
torna mínima a soma dos quadrados das distâncias da função aos valores experimentais
medidos (NETO, 1990).

4 RESULTADOS E CONCLUSÕES

Neste estudo, a utilização da escória em substituição a uma parcela de cimento Portland


visou a obtenção de concretos com poros menores que aqueles obtidos com cimentos
Portland comuns, sem objetivar o aprofundamento do estudo do efeito da escória no
desenvolvimento do espaço poroso. No entanto, considerando-se que foram utilizados
os mesmos traços de concreto com e sem escória, foi possível verificar, para estes
traços, o efeito da escória na porosidade e nas demais propriedades analisadas.

2
Utilizou-se o programa de computador denominado Statistica for Windows, versão 5.0, desenvolvido

pela empresa americana STATSOFT.


No aspecto referente à porosidade, medida por meio da imersão de corpos-de-prova em
água, observou-se que os concretos com escória apresentaram volume total de poros
maior que os concretos sem escória de mesmo traço, conforme valores médios obtidos
em ensaios com três corpos-de-prova, apresentados na Tabela 4.1:
Tabela 4. 1 – Porosidade total dos concretos
Concreto Porosidade total (%)
CP20 13,7
CPE 20 15,8
CP 40 12,8
CPE 40 13,7

No entanto, a frequência de ocorrência de poros menores foi maior nos concretos com
adição, conforme ilustrado nas Figuras 4.1 e 4.2:

0.14
C P 20 C P E 20
0.12
Volume de mercúrio (mL/g)

0.1

0.08

0.06

0.04

0.02

0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 100
D iâm etro de poro (m icrom etros)

Figura 4. 1 - Volume de mercúrio intrudido em função das dimensões de poros –


Concreto CP 20, sem escória e CPE 20 com escória

0.14
C P 40 C P E 40
0.12
Volume de mercúrio (mL/g)

0.1

0.08

0.06

0.04

0.02

0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
D iâm etro de poro (m icrom etros)

Figura 4. 2 - Volume de mercúrio intrudido em função das dimensões de poros –


Concreto CP 40, sem escória e CPE 40, com escória
Poros com dimensões maiores que 0,1 micrometros, contribuem para o transporte de
massa por difusão, migração iônica, capilaridade e permeabilidade, enquanto que os
poros menores influem apenas no processo de difusão gasosa e de difusão e migração
iônicas (MENG, 1994; HELENE, 1993), conforme apresentado na Figura 4.3.

Permeabilidade

Difusão gasosa

Difusão e migração iônica

Capilaridade

10-9 10-8 10-7 10-6 10-5 10-4 10-3 10-2


Dimensão dos poros (m)

Figura 4.3 – Dimensões de poros/ transporte de massa (MENG, 1994; HELENE, 1993)

Tomando-se por base esta classificação, observou-se que a escória diminuiu a


quantidade de poros com dimensões maiores e que mais contribuem no transporte de
massa, como mostra a Figura 4.4:

Figura 4. 4 – Efeito da adição de escória na diminuição de dimensões de poros

Para efeitos de comparação dos concretos, os dados da Figura 4.4 estão apresentados na
Tabela 4.2, em porcentagem. Os valores referem-se aos concretos expostos durante mais
que 240 dias na estação de envelhecimento natural.
Tabela 4. 2 – Fração de poros com diâmetro maior que 0,12 micrometros

Porcentagem de poros com


Concreto diâmetro maior que 0,12
micrometros (%)3
CP 20 61
CPE 20 39
CP 40 49
CPE 40 31

Os dados da Tabela 4.2 permitem comparar os concretos quanto ao conteúdo de poros


que contribuem mais efetivamente para o transporte de massa, o concreto sem escória
(CP 20) teve 61% de seus poros com diâmetro maior que 0,12 micrometros (poros
“grandes”) enquanto que o concreto com escória, de mesmo traço (CPE 20) apresentou
39% de poros “grandes”. A mesma comparação pode ser feita para os concretos com
relação a/c de 0,44 (CP 40 e CPE 40).
Esta fração de poros “grandes” , no caso dos concretos analisados, mostrou contribuir
diretamente na penetração de íons cloreto, medida de acordo com o método ASTM C
1202, conforme ilustrado na Figura 4.5, tanto na fase exploratória quanto na segunda
fase:
Foram efetuados os cálculos tomando-se como referência o valor de 0,12 micrometros, medido em todos

os concretos.

5000

4000 y = 47373x - 4363.9


Carga (C)

3000 R2 = 0.9586

2000

1000

0
0 0.05 0.1 0.15 0.2
Volume de poros > 0,12 micrometros (mL/g)

Figura 4. 5 – Carga medida em ensaios de penetração de íons cloreto em função do


volume de poros com diâmetro maior que 0,12 micrometros

3
Foram efetuados os cálculos tomando-se como referência o valor de 0,12 micrometros, medido em

todos os concretos.
Da Figura 4.5 observa-se que a penetração de íons cloreto ocorreu em proporção direta
com o volume de poros maiores que 0,12 micrometros. Naturalmente, quanto maior a
quantidade de poros maiores, o transporte de água ou de íons ocorre com maior
facilidade e com maior velocidade, influindo também nestes fenômenos a conectividade
entre os poros. Embora conceitualmente o mecanismo de transporte de íons envolvido
no método de ensaio utilizado seja basicamente de migração iônica, ou seja, de difusão
forçada de íons em decorrência da imposição de diferença de concentração e de um
campo elétrico (HELENE, 1993), observou-se que ocorreu também transporte de
solução de uma célula para outra, principalmente nos ensaios com os concretos de poros
maiores. A quantidade de poros com dimensões maiores que 0,12 micrometros
possivelmente teve um papel relevante no transporte de íons nos casos em que
simultaneamente ocorreu transporte da solução, pois o mecanismo envolvido neste caso,
é o da permeabilidade. A complexidade dos fenômenos de transporte envolvidos
justifica a realização de estudos adicionais mais aprofundados, bem como o
desenvolvimento de um maior número de ensaios para confirmar os resultados obtidos.
O efeito da porosidade do concreto nos processos de carbonatação não pode ser
analisado sem se considerar o tipo de cimento empregado. O fato de que a carbonatação
está fortemente associada também à quantidade de hidróxido de cálcio presente na
solução intersticial do concreto, já é bastante difundido no meio técnico. Os resultados
do estudo, apresentados na Tabela 4.3, confirmaram que, mesmo com poros bem
menores, os concretos com escória, por apresentarem menor reserva alcalina, sofrem
maior carbonatação que os concretos sem escória, fato este já observado após a
exposição em estação de envelhecimento natural, sem submetê-los à carbonatação
acelerada.
Tabela 4.3 – Profundidade de carbonatação
Profundidade de carbonatação (mm)
Inicial (> 240 dias em Em câmara de carbonatação acelerada
Concreto estação de envelhecimento
natural ) 7 dias 21 dias 35 dias

CP 20 5 10 15 17
CPE 20 10 13 16 27
CP 40 0 0 1 1
CPE 40 2 2 5 7

O efeito do tamanho dos poros no teor de umidade de equilíbrio dos concretos foi
verificado pelos resultados dos ensaios realizados e apresentados na Tabela 4.4:

Tabela 4. 4 – Teor de umidade de equilíbrio


Teor de umidade de equilíbrio (%)
Concreto
Corpo de prova 1 Corpo de prova 2 Corpo de prova 3 Média
CP 20 1,96 1,96 1,80 1,9
CPE 20 2,94 3,17 2,75 3,0
CP 40 3,21 3,17 3,17 3,2
CPE 40 4,19 4,40 4,10 4,2
Os concretos de mesma relação a/c, com maior quantidade de poros menores,
apresentaram maior quantidade de umidade ao ser exposto ao vapor de água presente na
atmosfera. Vale ressaltar que o teor de umidade do concreto controla o acesso dos
agentes agressivos para o interior do concreto, e também do oxigênio, elemento
necessário para a ocorrência das reações de corrosão. O teor de umidade influi ainda na
resistividade elétrica do concreto que, por sua vez, influi na velocidade de corrosão das
armaduras. Entretanto, não existem ainda, resultados correlacionando teores de umidade
com velocidades de corrosão.
Nos ensaios de penetração de água sob pressão, não foi observada diferença
significativa entre os concretos de mesmo traço e com poros de dimensões diferentes.
Resultados de estudos indicaram que as adições minerais diminuem tanto a porosidade
da zona de transição, quanto a conectividade entre os poros (WINSLOW & COHEN,
1994). No entanto, as pressões aplicadas nos ensaios possivelmente foram suficientes
para que a água atingisse os poros menores e também os menos conectados dos
concretos com escória. Como o volume total de poros destes concretos era maior do que
o dos concretos sem escória, a altura de água penetrada nos dois concretos não
apresentou diferenças significativas.
No caso da difusividade de água, parâmetro que foi utilizado para caracterizar a
penetração de água em concretos também não saturados, sem a aplicação de pressões
externas, observou-se que o concreto de maior volume de poros maiores (CP 20)
apresentou difusividade bem maior que os outros concretos, havendo também uma
indicação de que os concretos com poros menores apresentam menor difusividade à
água. Neste caso, sem a aplicação de pressões externas, possivelmente a menor
conectividade entre os poros dos concretos com escória contribuiu no sentido de
diminuir a taxa de penetração de água, uma vez que, se os poros menores estivessem
conectados, haveria uma absorção maior, pois as forças capilares em poros de diâmetro
menor são maiores.
O modelo utilizado para representar o transporte de água em meios não saturados,
baseado na lei de Fick, apresentou uma boa correlação com os resultados experimentais,
conforme exemplos de concentrações medidas e calculadas, ilustradas nas Figuras 4.6 a
4.9:

0.080
0.070
Concentração (g/g)

0.060
0.050
0.040
0.030
0.020
0.010
0.000
0 50 100 150
0,5
Raiz quadrada do tempo (min )

Medida Estimada

Figura 4.6 - Concentração de água medida e estimada – Concreto CP 20


0.08
0.07

Concentração (g/g)
0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
0
0 50 100 150
0,5
Raiz quadrada do tempo (min )

Medida Estimada

Figura 4.7 - Concentração de água medida e estimada – Concreto CP 40

0.08
0.07
Concentração (g/g)

0.06
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
0
0 50 100 150
0,5
Raiz quadrada do tempo (min )

Medida Estimada

Figura 4.8 - Concentração de água medida e estimada – Concreto CPE 20

0.08
0.07
Concentração (g/g)

0.06
0.05

0.04
0.03
0.02
0.01
0
0 50 100 150
0,5
Raiz quadrada do tempo (min )

Medida Estimada
Figura 4.9 - Concentração de água medida e estimada – Concreto CPE 40

Na realidade, quando o concreto está em contacto com a água, o mecanismo de


penetração por capilaridade deve prevalescer apenas nas camadas superficiais, que
apresentam poros abertos e conectados. Mesmo estando estes poros conectados até as
camadas mais internas, o transporte não ocorre indefinidamente por capilaridade pois os
poros opõem uma resistência ao escoamento de fluídos, determinada fundamentalmente
pelas suas dimensões, sendo que poros menores apresentam maiores resistências
hidráulicas que os maiores. Além disso, os poros podem assumir diferentes formas, e
assim, à medida em que a interface água/ar se movimenta através do poro, pode ter o
seu movimento interrompido ao atingir uma situação de menisco estável, resultante de
um aumento no diâmetro e consequente redução da força capilar, conforme mostra a
Figura 4.10:

Direção do fluxo de água

Menisco estável
Menisco instável

Figura 4. 10 – Menisco estável e instável num poro

A partir da interrupção no escoamento do líquido, o transporte ocorre somente por


difusão até que, por adsorção e condensação de vapor difundido, seja formada nova
continuidade de líquido. Possivelmente, por esta razão, é que o modelo físico
classicamente utilizado para modelar fenômenos de difusão pura, representou bem o
fenômeno de penetração de água nos concretos não saturados.
Deve ser observado ainda, que a difusividade depende da concentração de umidade
existente no material e é um parâmetro difícil de ser determinado. Os valores de
difusividade média, determinados neste estudo, foram admitidos constantes e ainda
assim, apresentaram resultados satisfatórios.
O modelo da sortividade, ao se basear em medidas realizadas durante um intervalo de
tempo de contacto com a água pequeno, quando comparado com o tempo necessário
para a saturação do concreto, deve representar apenas as características superficiais do
concreto. Os resultados de ensaios de penetração de água sob pressão servem para
reforçar esta hipótese, uma vez que, mesmo com as pressões impostas nesse ensaio,
durante o período de 4 dias, somente nos concretos CP 20 e CPE 20, expostos na
estação de envelhecimento natural é que a água penetrou por todo o corpo.
Com relação às técnicas utilizadas para a caracterização do espaço poroso constatou-se
no trabalho que, embora a porosimetria de mercúrio não tenha sido ainda muito
utilizada para o estudo de concretos, este método mostrou ser adequado para
caracterizar a distribuição do volume de vazios do concreto em função do diâmetro dos
poros desde que, após o ensaio, seja determinada a quantidade de agregados presente na
amostra ensaiada. Esta determinação é necessária pois, devido às reduzidas dimensões
das amostras utilizadas nos ensaios, pode haver uma variação muito grande de volume
de agregado presente em diferentes amostras. Consequentemente, a porosidade expressa
em volume de poros medidos em relação à massa total da amostra pode ser maior ou
menor em função da quantidade de agregados contida na amostra.
Por outro lado, observou-se que a porosidade total de concretos, medida com
porosímetro de mercúrio, é subestimada pois os poros com diâmetros inferiores a 0,003
micrometros não são medidos por esta técnica. Por esta razão, principalmente nos casos
de concretos que têm uma quantidade significativa de poros com dimensões inferiores à
menor dimensão medida com o porosímetro de mercúrio, esta técnica não é adequada
para a medição de porosidade total, sendo mais recomendável, a sua determinação
através de imersão em água.
A técnica de microscopia eletrônica com posterior análise e tratamento de imagens
digitalizadas e binarizadas, possibilitou a observação qualitativa dos espaços porosos.
No entanto, a determinação quantitativa da porcentagem de poros não foi possível
devido às limitações do programa disponível para tratamento de imagens. Para utilizar
este programa, o usuário precisa identificar os contornos dos poros, envolvendo
portanto, fatores subjetivos que levariam a resultados imprecisos.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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