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Uso de agrotóxicos no Município


de Cachoeiras de Macacu (RJ)

Pesticide use in Cachoeiras de Macacu,


Rio de Janeiro, Brazil

Jane S. Maia Castro 1


Ulisses Confalonieri 2

Abstract It was surveyed the use of pesticides in Resumo O artigo apresenta um levantamento
40 rural properties in the municipality of Ca- efetuado no ano de 1997 em 40 propriedades ru-
choeiras de Macacu, State of Rio de Janeiro, in rais de Cachoeiras de Macacu (RJ) acerca da per-
1997. The collection of data in the field was done cepção de risco e das práticas de uso dos agrotóxi-
through the use of questionnaires with rural cos. A pesquisa de campo foi feita com agriculto-
workers as well as through interviews with au- res (40 questionários) e com autoridades (entre-
thorities. The survey showed that 22,5% of the vistas abertas). A análise dos resultados demons-
farm workers have suffered chemical intoxication. trou que 22,5% dos agricultores reportaram já te-
The most common agrochemical products in the rem sido intoxicados por agrotóxico, sendo o inse-
region are the insecticide Decis 25 CE (highly tox- ticida Decis 25 CE e o herbicida Gramoxone (am-
ic), and the herbicide Gramoxone (extremely tox- bos extremamente tóxicos) os mais utilizados na
ic). We also found that 85% of the farm workers região. Verificou-se que 85% dos agricultores não
do not use Individual Protection Equipment utilizavam Equipamentos de Proteção Individual
(IPE). Other preoccupying statistics were: 27,5% (EPI), que 27,5% jogavam embalagens de agro-
of the empty agrochemical containers are simply tóxicos no rio ou no mato, que 60% de entrevista-
thrown into the rivers or into the bush; 60% of dos nunca foram treinados para manusear agro-
the farm workers have had no training whatsoev- tóxicos e que 85% disseram não precisar de recei-
er in manipulation of the agrochemical products; tuário agronômico para comprá-los. Quanto à
and, 85% of those interviewed said that they were percepção do risco do uso de agrotóxicos, foram
able to buy the agrochemical products without an identificadas três categorias: 70% percebem, mas
agronomic prescription. As to the perception of continuam usando; 27% não percebem o risco;
the risks involved in manipulating agrochemicals, 3% percebem e não utilizam mais. Discutem-se
we identified three major categories: 70% are as razões para estas práticas de risco, comparan-
aware of the danger, but continue regardless; 27% do-se com achados de outros autores.
are unaware of the risks; are, 3%, being aware of Palavras-chave Uso de agrotóxicos, Saúde pú-
1 Universidade
risks, have stopped using toxic agrochemicals. blica, Trabalhador rural, Percepção de risco
Castelo Branco. Key words Use of pesticides, Public health, Rur-
Av. Brasil 9.727, al workers, Risk perception
Campus Penha, 21021-020,
Rio de Janeiro RJ.
janemaia@globo.com
2 Fundação Oswaldo Cruz.
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Introdução A informação e a notificação de intoxica-


ções agudas produzidas por agrotóxicos conti-
Os agrotóxicos são substâncias que, apesar de nuam sendo deficientes no país devido à pre-
serem cada vez mais utilizadas na agricultura, cária assistência médica na área rural e à seme-
podem oferecer perigo para o homem, depen- lhança dos sintomas de intoxicação por agro-
dendo da toxicidade, do grau de contaminação tóxicos com os de outras doenças, segundo o
e do tempo de exposição durante sua aplicação. Ministério da Saúde (1997).
Em muitos países, principalmente naqueles Dados oficiais recentes colocam o Brasil co-
em desenvolvimento, o uso indiscriminado dos mo o 7o consumidor mais freqüente no mun-
agrotóxicos é generalizado e tem chamado a do, tendo sido consumidos no país, em 2001,
atenção dos governos, das agências de proteção 328.413 toneladas destes produtos (Anvisa,
do meio ambiente e de trabalhadores. Igbedioh 2002).
(1991), em seu estudo, relata que a exposição Rozemberg (1994) realizou um estudo so-
aos agrotóxicos por longo tempo em homens, bre o consumo de calmantes e os chamados
plantas e animais tem efeitos nocivos e indese- “problemas de nervos” entre 93 lavradores, em
jáveis. Aponta como medidas para redução de 25 comunidades rurais da região serrana do
riscos na sua utilização: a educação e treina- Estado do Espírito Santo. Constatou que 30%
mento dos agricultores, a regulação da propa- dos lavradores entrevistados se diziam com
ganda, a limitação do uso de substâncias alta- “problemas de nervos” e os principais sinais e
mente tóxicas, o monitoramento da população sintomas descritos eram: tonteira e tremores,
mais exposta ao agrotóxico e a inspeção dos insônia, fraqueza e cansaço. Sintomas seme-
produtos nas lojas de venda e no campo. lhantes aos encontrados nas intoxicações por
Segundo Trapé (1993), ocorreram no mun- inseticidas organofosforados.
do cerca de três milhões de intoxicações agu- Uma pesquisa realizada pela Secretaria de
das por agrotóxicos, com 220 mil mortes por Agricultura do Estado do Paraná (Siqueira et
ano. Destas, cerca de 70% se dão em países do al., 1983) mostrou que, no período de agosto
chamado Terceiro Mundo. Além da intoxica- de 1982 a março de 1983, ocorreram cerca de
ção dos trabalhadores que têm contato direto 1.500 casos de intoxicações por agrotóxicos na-
ou indireto com esses produtos, a contamina- quele Estado, dos quais 1.268 (84,5%) na cul-
ção de alimentos tem causado intoxicações e tura de algodão. A faixa etária entre 20 e 30
mortes. anos foi a que apresentou o maior número de
No Brasil, um fator se destaca na análise das intoxicações. Outro dado importante se refere
informações sobre intoxicações e envenena- às tentativas de suicídio por ingestão de agro-
mentos no meio rural – a distância, que difi- tóxicos, muito comuns no meio rural. De 41
culta o acesso dos trabalhadores aos centros de casos constatados, 24 foram de óbito, represen-
atendimento médico-hospitalar. Essa situação tando 1,5% do total das pessoas intoxicadas.
faz com que inúmeras vítimas de acidentes gra- Também foi constatada a permanência de resí-
ves acabem morrendo sem qualquer assistência duos de agrotóxicos nos alimentos produzidos
médica. Os acidentes mais leves acabam fre- no Paraná.
qüentemente não sendo sequer comunicados Labont (1989) realizou uma pesquisa sobre
ao Funrural (Fundação de Previdência ao Tra- o uso de agrotóxicos entre os fazendeiros no
balhador Rural). Este fator é relevante para ex- Canadá e verificou que, no ano de 1983, houve
plicar a baixa incidência, apenas aparente, de 3.404 casos de intoxicação entre os trabalhado-
acidentes leves entre os trabalhadores rurais res rurais, sendo que 1.458 fazendeiros foram
(Bortoletto, 1990). hospitalizados.
Outro fator a ser considerado na análise do McConnel & Hruska (1993) relataram um
sub-registro é a gravidade. Muitas vezes, as in- aumento epidêmico de intoxicações por pesti-
toxicações por defensivos não são graves a pon- cidas em uma área da Nicarágua. Dos 548 ca-
to de exigir internação; e são freqüentes os ca- sos identificados em 1987, cerca de 91% se de-
sos em que os trabalhadores rurais, embora veram à exposição ocupacional, geralmente em
com sintomas de intoxicação, continuam sua pequenas propriedades rurais (menos de 140
jornada de trabalho sem procurar atendimento hectares). Atribuem o aumento de casos à falta
médico. Mesmo para casos de intoxicações gra- de proteção individual na aplicação manual
ves, a falta de atendimento médico é causa co- dos produtos, à autorização local para uso de
mum de sub-registro. substâncias altamente tóxicas e de uso restrito
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em vários países, bem como à existência de sentamentos se reflete nas semelhanças e desse-
subsídios agrícolas que encorajam o uso de melhanças existentes no processo produtivo e
agrotóxicos. também nas “visões do mundo” dos trabalha-
Garry (1994) estudou 1.000 aplicadores de dores que produzem com agrotóxicos (em São
agrotóxicos em Minnesota, nos Estados Uni- José da Boa Morte, Cachoeiras de Macacu, RJ)
dos, e constatou que a diminuição da acetilco- e daqueles que produzem sem agrotóxicos (El-
linesterase era 20% mais freqüente nos aplica- dorado, Seropédica, RJ). Observou-se que os
dores que pulverizavam os agrotóxicos em lu- lavradores de Eldorado, do assentamento Casas
gares fechados do que naqueles que o faziam Altas, possuíam mais conhecimento sobre os
em áreas abertas. Foi concluído nesse estudo riscos dos agrotóxicos para a saúde humana e
que as doenças crônicas de pulmão também ambiental do que os de São José da Boa Morte,
eram mais freqüentes nos aplicadores de agro- que os utilizavam intensamente e não os asso-
tóxicos em lugares fechados. ciavam ao aumento de pragas e à produtivida-
Mwanthi (1993) analisou, entre 1987 e 1990, de reduzida.
os padrões de manuseio de agrotóxicos e as res- Tinoco-Ojanguren & Halperin (1998) ob-
postas comunitárias no Quênia, África. Os da- servaram que no México os produtores rurais
dos levantados demonstraram que apesar dos de subsistência apresentavam níveis menores
seus conhecimentos limitados sobre segurança de colinesterase sangüínea, indicando maior
no manuseio e armazenamento, 100% dos en- exposição aos inseticidas organofosforados do
trevistados usavam os agrotóxicos de forma in- que os que adotavam outros sistemas de pro-
tensiva. Acredita o autor que a falta de cons- dução agrícola.
ciência dos indivíduos e da comunidade em re- Guillette et al. (1998) constataram uma re-
lação aos riscos associados ao uso destas subs- dução na capacidade mental, bem como um
tâncias foi o fator que contribuiu para o apare- incremento do comportamento agressivo de
cimento dos casos de intoxicações relatados. crianças mexicanas de 4 a 5 anos de idade ex-
McDougall (1993) estudou o uso de agro- postas aos agrotóxicos, em áreas de uso inten-
tóxicos e a percepção dos riscos para a saúde sivo desses produtos (mais que 45 aplicações
em agricultores na Ilha de Santa Lúcia, no Ca- anuais).
ribe, onde observou que 60% dos entrevistados Araújo et al. (2000) estudaram as práticas de
nunca usavam roupas de proteção e que 25% uso de agrotóxicos em plantadores de tomate de
fumavam enquanto aplicavam os agrotóxicos. duas localidades do Estado de Pernambuco. Em
Popper et al. (1993) analisaram o conheci- uma das localidades, observaram que as emba-
mento dos riscos à saúde entre os fazendeiros e lagens vazias dos produtos não tinham um des-
suas esposas na Guatemala, e identificaram que tino estabelecido previamente (44,5%): ou eram
eles usavam produtos altamente tóxicos e que a enterradas no próprio local (37%) ou eram ar-
dosagem dependia da quantidade de pragas so- mazenadas para queima posterior (18,5%). Na
bre a terra e sobre as plantas. A maioria deles outra localidade, os autores constataram que
tinha um baixo conhecimento dos riscos de 13,2% dos agricultores já tinham sofrido al-
uso dos mesmos. A maior parte das donas de gum tipo de intoxicação. Por outro lado, neste
casa aplicava agrotóxicos para combater os mesmo local, só 36% dos entrevistados utiliza-
piolhos em suas crianças, quando já tinha sido ram o Receituário Agronômico; apenas 13%
mencionado que esses produtos causavam pro- receberam instruções sobre a utilização dos
blemas de saúde como náuseas, vertigem e dor produtos e 64,2% informaram que não faziam
de cabeça. uso de equipamentos de proteção individual.
Stewart (1996) organizou uma pesquisa so- Moreira et al. (2001), em uma avaliação in-
bre as práticas do uso de agrotóxicos entre os tegrada do regime de uso de agrotóxicos no
trabalhadores rurais do Egito e observou que município de Nova Friburgo, no Estado do Rio
58,2% desses agricultores não usavam equipa- de Janeiro, estudaram um grupo de agriculto-
mento de proteção, que somente 7,7% dos fa- res expostos a mais de 100 produtos (adultos e
zendeiros usavam luvas e que 42,5% dos entre- crianças). Notaram que 62,3% dos adultos e
vistados lavavam a embalagem do produto e a 38,6% das crianças não usavam equipamento
reutilizavam. de proteção e que 47,8% dos primeiros e 52%
Sartorato (1996) analisou os riscos da apli- das crianças não haviam recebido nenhum tipo
cação de agrotóxicos em dois assentamentos de treinamento para manipular agrotóxicos. O
rurais e constatou que a caracterização dos as- relato de aparecimento de sintomas após o
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processo de aplicação foi de 47,8% nos adultos ram feitas semanalmente junto com a equipe
e 34% nas crianças. da Emater, do Escritório Local de Papucaia.
Oliveira-Silva et al. (2001) analisaram amos- Foram realizadas 20 visitas ao campo. O
tras sangüíneas de um grupo de 55 agricultores número de entrevistas alternou entre o míni-
do município de Magé, no Estado do Rio de Ja- mo de uma até cinco em uma mesma visita. A
neiro. Utilizando métodos enzimáticos para duração das entrevistas variava de acordo com
detecção de intoxicações por agrotóxicos anti- os agricultores, podendo durar de meia hora
colinesterásicos, observaram que cerca de 45% até três horas. Três visitas foram feitas acompa-
apresentavam sinais de intoxicação, mais co- nhadas pelo médico veterinário da Emater, e as
muns em indivíduos com baixa escolaridade. demais, pelo engenheiro-agrônomo.
As 20 idas ao campo que resultaram em en-
trevistas foram classificadas neste trabalho co-
Material e métodos mo “visitas” ou “campanhas”, servindo como
exemplo destas últimas a campanha da febre
O município está localizado na porção centro- aftosa (setembro de 1997). Assim sendo, não
sul do Estado do Rio de Janeiro; limita-se ao havia uma programação de atendimentos que
norte com Nova Friburgo e Teresópolis, ao sul tivesse como pressuposto a visita periódica a
com Itaboraí e Rio Bonito, ao leste com Silva cada uma das comunidades em um determina-
Jardim, e ao oeste com Guapimirim. do espaço de tempo, visando obter uma cober-
As localidades estudadas foram Papucaia, tura total, de forma sistemática, nos dois distri-
Marubai, São José da Boa Morte, Soarinho e tos. As entrevistas abertas realizadas com os
Vecchi. profissionais da saúde, da agricultura e do
Utilizamos como metodologia a pesquisa meio ambiente, foram feitas em três dias sepa-
qualitativa e a quantitativa. A combinação des- rados.
sas metodologias permite a investigação das A área de cobertura de atendimento do es-
práticas de uso dos agrotóxicos, dos impactos critório local da Emater em Papucaia abrange
causados na saúde e no ambiente, associando- 17 comunidades do 2o e 3 o Distritos de Ca-
os com dados subjetivos da percepção que a co- choeiras de Macacu. As entrevistas deste traba-
munidade pesquisada tem sobre essas práticas. lho foram feitas em sete dessas comunidades:
Empregamos, como instrumento de coleta vinte e quatro em três glebas (C, F e G) do As-
de informação, dois tipos de entrevistas: aberta sentamento de São José da Boa Morte, sete na
e semi-estruturada. As entrevistas abertas fo- Comunidade de Marubaí, na Nova Ribeira,
ram realizadas com os representantes do poder cinco em Soarinho e quatro na Comunidade
local (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Vecchi. O planejamento de trabalho feito pelo
Agricultura e Saúde, Coordenação de Vigilân- escritório local da Emater é que determinou
cia Sanitária e Emater – Empresa de Assistência quais as localidades que deveriam ser visitadas
Técnica e Extensão Rural – Escritório Local de para a realização das entrevistas. Segundo in-
Papucaia), gravadas em fitas cassete e transcri- formações obtidas no referido local, os atendi-
tas. As entrevistas semi-estruturadas foram fei- mentos (ou contatos com a comunidade de
tas com os agricultores através de questioná- produtores) podem ser classificados em 18 ti-
rios, por tratar-se de um número maior de en- pos, denominados “métodos de extensão”, tais
trevistados. como: “reunião”, “visita”, “curso”, “campanha”,
Os questionários foram aplicados durante “demonstração de método”, etc.
as entrevistas, e divididos em dois segmentos A Emater é um órgão do Governo do Esta-
para compreensão do objeto de estudo. No pri- do do Rio de Janeiro que presta serviço de ex-
meiro segmento, tabulou-se dados sobre o per- tensão no meio rural, e a sua intermediação foi
fil socioeconômico-ambiental dos entrevista- uma importante estratégia de entrada no cam-
dos e as suas práticas de uso dos agrotóxicos; po, pois o fato de termos sido apresentados pe-
no segundo segmento, mais qualitativo, inves- los profissionais da Emater local, conhecedores
tigou-se a percepção de riscos no tocante à uti- da região e das pessoas da comunidade, em
lização dos mesmos. muito facilitou o trabalho de pesquisa.
Foram efetuadas 40 entrevistas semi-estru- Durante as visitas às propriedades, o crité-
turadas nos próprios estabelecimentos rurais. rio de escolha dos informantes foi aleatório
O trabalho de campo foi realizado no período não importando o sexo, mas um representante,
entre julho e novembro de 1997. As visitas fo- agricultor ou agricultora, que se dispusesse a
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responder o questionário, no momento da en- Dos estabelecimentos rurais investigados,


trevista, sobre a prática de uso dos agrotóxicos. 52,5% têm como atividade econômica, exclusi-
vamente, a agricultura; sendo que 22,5% prati-
cam a agricultura e a pecuária consorciada,
Resultados 20% praticam só a pecuária e 5% não respon-
deram.
Analisando o perfil dos entrevistados, verifica- Na tabela 1, reunimos as respostas referen-
mos que 35% situam-se na faixa etária entre 40 tes à questão dos problemas vivenciados pelos
e 50 anos. agricultores. É interessante notar que nenhum
Quanto à escolaridade, 25% dos entrevista- dos entrevistados identificou o uso de agrotó-
dos estudaram até a 4 a série do ensino funda- xicos como um problema para a região. Esses
mental e 22,5% eram analfabetos. agricultores não incluíram os agrotóxicos no
Quanto à condição do produtor, verifica- rol de problemas vivenciados no trabalho e no
mos que 87,5% eram proprietários e 12,5% modo de vida, quando solicitados a falar sobre
eram empregados. A região pesquisada apre- os mesmos de forma espontânea.
sentou características próprias de pequenas Quanto ao preparo do solo para um novo
propriedades que praticam a agricultura fami- cultivo, os agricultores da região pesquisada
liar. Identificamos que 45% das propriedades não mencionaram a utilização de nenhuma
investigadas possuíam até 10 hectares. prática de conservação do solo.
Quanto à infra-estrutura da região pesqui- Perguntamos aos agricultores se eles conhe-
sada, verificamos que 55% do abastecimento ciam algum outro método de controle de pra-
de água é feito por sistema de poço; 25% usam gas que não fosse agrotóxico. Verificamos que
água tratada pela Cedae (Companhia Estadual 55% dos entrevistados desconheciam outro
de Água e Esgoto), na localidade do Assenta- método, que 20% conheciam e 25% não res-
mento de São José da Boa Morte; 17,5% usam ponderam.
água de nascente e 2,5% usam água de outras Dos que conheciam outro método de con-
procedências (captação de rio). trole de pragas, 12,5% disseram que utilizavam
Quanto ao sistema de esgotamento sanitá- a rotação de cultura como uma prática de re-
rio: 60% é feito por fossa, 20% por sumidouro dução do uso de agrotóxicos: 5% utilizavam o
e 20% a céu aberto. fumo nas culturas, 2,5%, o controle biológico e
Na área rural, não existe sistema de coleta de 2,5% usavam o sabão em pó em vez de agrotó-
lixo feita pela prefeitura e 52% dos entrevistados xicos.
disseram que queimam o lixo, 2,5% o enterram Uma percentagem de 82,5% dos entrevista-
e 42,5% o levam para o lixão de Japuíba. dos declararam saber da existência de pragas

Tabela 1
Problemas vivenciados pelos agricultores entrevistados.
Problema No de ocorrência Percentual (%)
Péssimas estradas, quando chove muito 15 37,0
Falta de transporte, pouco horário dos ônibus 9 22,5
Falta de drenagem, alaga a plantação 7 17,5
Falta de energia elétrica 6 15,0
Não tem como escoar a produção 3 7,5
Pragas na plantação 3 7,5
Falta de preço e de incentivo 2 5,0
Falta de apoio do Governo para plantar 2 5,0
Preço da mercadoria não está bom, é muito baixo 2 5,0
Falta médico no posto de saúde 2 5,0
Falta de lazer 2 5,0
A terra não é boa, não é produtiva 2 5,0
Falta de comunicação, telefonia rural 1 2,5
Falta de limpeza da vala entupida 1 2,5
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nas lavouras, 10% não responderam e 7,5% dis- usada com a extensão da infestação da praga e
seram que não ter problemas com pragas na outros disseram que já têm a dosagem certa (10
plantação. ml para 20 litros).
Entre as pragas citadas pelos produtores, Dos entrevistados, 52,5% liam os rótulos
destacamos a lagarta, o pulgão, a mosca branca do produto e 47,5% não liam. Dentre os que
e os carrapatos nos bovinos. não liam os rótulos, 30% não o faziam por fal-
ta de vontade, 15% não sabiam ler, 5% não
Uso de agrotóxicos achavam importante e 2,5% disseram não en-
xergar a letra, por ser muito pequena.
Quanto às propriedades rurais, entre aque- Em relação à freqüência da aplicação dos
las que foram investigadas, 92,5% utilizavam agrotóxicos, 35% disseram que aplicavam toda
agrotóxicos e 7,5%, não. Duas propriedades, semana e 25,5% aplicavam duas vezes ao mês.
dentre as que não usavam o produto, eram es- Quanto ao tempo gasto durante o dia na
tabelecimentos que praticavam apenas a pe- aplicação de agrotóxicos, 13 dos entrevistados
cuária. Além disso, os entrevistados não consi- relataram que gastavam mais de quatro horas
deravam os produtos empregados no combate nessa tarefa. Em relação às condições do tem-
aos ectoparasitas no gado como substâncias po, todos os agricultores entrevistados tinham
que podiam causar danos à saúde. o critério de só pulverizar as plantações com
Na concepção destes trabalhadores rurais só agrotóxicos se o tempo estivesse bom; em caso
são considerados agrotóxicos os produtos es- de chuva ou muito vento, eles preferiam evitar
pecíficos de combate às pragas das plantações. a aplicação do produto.
O produto mais utilizado nas plantações é Cerca de 85% dos agicultores aplicavam e
o Decis 25 CE, com uma percentagem de 65% preparavam o produto, 12,5% não responde-
de uso entre os entrevistados. Segundo o Com- ram e 2,5% possuíam um empregado que apli-
pêndio de Defensivos Agrícolas (1993), o Decis cava e outro que misturava o agrotóxico.
25 CE é um inseticida pertencente ao grupo Durante a aplicação do agrotóxico, 90%
dos piretróides, de classe toxicológica II. dos entrevistados disseram apenas aplicar o
O segundo produto mais empregado nos produto, sem fumar e sem nada comer durante
estabelecimentos rurais investigados é o Gra- a aplicação, e 10% não responderam.
moxone (42,5%), herbicida de classe toxicoló- Após a aplicação dos agrotóxicos, 45% des-
gica I, do grupo químico dos Bipiridilios, o Pa- ses trabalhadores rurais tomavam banho, 20%
raquat. só mudavam de roupa, 17,5% disseram que to-
Nos estabelecimentos que praticam agricul- mavam um copo de leite e 17,5% não tomavam
tura foram encontrados durante as pesquisas de cuidado nenhum.
campo, 25 nomes de produtos comerciais em- Quanto à indicação do tipo de agrotóxico
pregados no controle de pragas (Tabela 2). utilizado, 40% utilizavam o produto indicado
As pesquisas indicaram que 37,5% dos en- pelo agrônomo; 15%, pelo vendedor da loja;
trevistados calculavam a quantidade utilizada 12,5%, sugerido por outro agricultor e 7,5%
do produto de acordo com o rótulo, 20% são era o proprietário das terras onde trabalhavam
orientados no cálculo pelo agrônomo e os de- que indicava o produto a ser comprado; 85%
mais não responderam. dos entrevistados disseram que não precisavam
Foi difícil analisar a quantidade dos produ- do receituário para comprar agrotóxicos, mes-
tos usados porque os agricultores não têm um mos os mais tóxicos; 5% já tinham a receita e
critério de dosagem em relação ao tipo de cul- 10% não responderam.
tura e ao tamanho da plantação. Eles utilizam Para a armazenagem dos agrotóxicos, 47,5%
os agrotóxicos de maneira inadequada e, na dos agricultores o faziam em local separado;
maioria das vezes, não respeitando o período 22,5% colocavam o produto junto com outros
de carência. Empregam produtos não específi- materiais, 14% guardavam em diferentes luga-
cos para uma determinada praga ou doença, e res como: na moita de bambu, ao ar livre, na
ainda fazem “coquetéis de agrotóxicos”, mistu- varanda ou na roça. Só 5% dos entrevistados
rando produtos de diferentes composições quí- guardavam na própria residência e 10% não
micas. responderam.
Alguns agricultores colocam uma quanti- Em relação ao destino das embalagens,
dade maior do que aquela indicada pelo rótulo 27,5% queimavam as embalagens, 27,5% joga-
do produto. Outros relacionam a quantidade vam fora no rio ou no mato, 25% enterravam
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Tabela 2
Agrotóxicos nas propriedades que praticam a agricultura.
Nome Comercial No de Percentual (%) Composição Química Tipo Classe Classe
Ocorrência de Agrotóxico Toxicológica
Decis 25 CE 26 65,0 Piretróide Inseticida II
Gramoxone 17 42,5 Bipiridilios Paraquat Herbicida I
Manzate 13 32,5 Ditiocarbamato Mancozeb Fungicida III
Tamaron BR 12 30,0 Organofosforado Inseticida Acaricida I
Methanidophos
Roundup 12 30,0 Derivado de glicina Herbicida II
Reconil 3 7,5 Cúprico Fungicida Bactericida IV
Cercomil PM 3 7,5 Chlorothalonil Fungicida II
Afugan 3 7,5 Organofosforado Fungicida Inseticida II
Microsol 2 5,0 Enxofre Fungicida Acaricida IV
Folidol 2 5,0 Organofosforado Inseticida Acaricida I
Parathion Methyl
Thiovit 2 5,0 Enxofre Fungicida Acaricida IV
Meothrin 300 2 5,0 Fenpropethrin Inseticida Acaricida I
Daconil 500 2 5,0 Chlorothalonil Fungicida I
Malathion 2 5,0 Organofosforado Inseticida III
Isca para Formiga 1 2,5 Sulfonamide Inseticida IV
(granulado)
Recop 1 2,5 Cúprico Fungicida Acaricida IV
Thiodan 1 2,5 Organoclorado Endosulfan Inseticida Acaricida I
Trigard 750 1 2,5 Grupo de triazinas Inseticida IV
Ridomil 1 2,5 Ditiocarbamatos Alaninatos Fungicida II
Benlate 1 2,5 Benzimidazóis Fungicida III
Dipel 1 2,5 Produto Biológico Inseticida IV
Sevin 480 SC 1 2,5 Carbamato Inseticida II
Dipterex I 1 2,5 Organofosforado richlorfon Inseticida II
Trichlorfon 1 2,5 Organofosforado Inseticida II
Curzatem 1 2,5 Grupo de Acetaminas Fungicida III
Ditiocarbamatos

as embalagens, enquanto apenas um entrevis- dual) completo e 17,5% o utilizavam. Desses


tado assumiu reaproveitá-las, e os demais não agricultores, 35% não usavam nenhum tipo de
responderam. proteção, manuseavam o agrotóxico só de short
Na região pesquisada, 75% dos agricultores e descalços, 12,5% usavam botas, short e cha-
utilizavam, como equipamento mecânico para péu, e 10% usavam macacão e bota (Tabela 3).
a aplicação dos agrotóxicos, o pulverizador O motivo alegado pela maioria dos traba-
costal manual. Só 5% utilizavam o pulveriza- lhadores para não usar os EPI é que a região é
dor estacionário motorizado, 15% utilizavam muito quente, tornando o equipamento des-
os dois tipos de equipamentos nas suas pro- confortável.
priedades e 5% não responderam. Constatou-se que 60% desses agricultores
Quanto ao local de lavagem dos equipa- não recebem nenhum tipo de treinamento pa-
mentos, só 5% dos entrevistados possuíam um ra a utilização dos agrotóxicos; 25% recebem
tanque próprio para lavagem, 7,5% não lava- treinamento e 15% não responderam.
vam o equipamento, enquanto que 72% dos Dos agricultores que tiveram treinamento,
agricultores o faziam na própria lavoura, em quatro trabalhadores disseram ter feito um
valões, nos riachos ou no próprio terreno onde treinamento no Incra há mais de dez anos, na
moravam. época da implantação do assentamento de São
Em relação à autoproteção na aplicação de José da Boa Morte.
agrotóxicos, 82,5% dos agricultores não utili- Em relação à assistência técnica, 67,5% dos
zavam EPI (Equipamento de proteção Indivi- entrevistados recebem assistência técnica da
480

Tabela 3 Percepção do risco no uso


Uso de Equipamento de Proteção Individual – EPI. de agrotóxicos
EPI No de Percentual
Ocorrência (%) Na percepção do risco à saúde e ao meio
ambiente, os agricultores foram divididos em
Não usam (short, descalços) 13 32,5 categorias.
Usam completo 7 17,5
Há uma categoria de trabalhadores rurais
(bota, chapéu, macacão,
que não percebe o risco causado à saúde e ao
luva e máscara)
Bota e chapéu 5 12,5 meio ambiente pelo uso de agrotóxicos (27%).
Bota e macacão 4 10,0 Para esse grupo, o agrotóxico não é um vilão, é
Bota, calça comprida 3 7,5 a solução mais prática e eficiente no combate
e camisa às pragas e também a de menor custo.
Não responderam 3 7,5 Podemos observar no relato desse agricul-
Bota e lenço no rosto 2 5,0 tor de Vechi, de 32 anos, com ensino funda-
Bota, luva e lenço no rosto 1 2,5 mental completo: É mais barato e mais rápido
Tênis, camisa, boné e lenço 1 2,5 colocar o herbicida (Tordon 2,4-D) do que pagar
no rosto um empregado para capinar. O empregado vai
Bota, macacão e boné 1 2,5
levar quase 30 dias para capinar, dependendo do
Total 40 100,0
tamanho da área.
O segundo grupo reconhece o risco da uti-
lização dos agrotóxicos, mas não se dispõe a
mudar (70%). Ao entrevistarmos um agricul-
Emater, 15% não recebem nenhuma assistên- tor de São José da Boa Morte, de 45 anos, e per-
cia técnica, 10% recebem do Incra, 2,5% rece- guntarmos se ele já tinha sentido alguma coisa
bem assistência técnica da Idaco (organização ao usar o agrotóxico, ele respondeu: Sim, já tive
não-governamental que atua no assentamen- quase morrendo... Faltou o ar, queimação, ton-
to), e 5% dos entrevistados não responderam. teira... Foi o Gramoxone. Não tem solução, só
Observou-se que 22,5% dos agricultores com o uso do agrotóxico.
entrevistados relataram ter sofrido intoxicação Essa categoria de trabalhadores reconhece
por agrotóxicos. Os sintomas mais comuns o risco, mas não propõe mudanças, estão con-
mencionados pelos agricultores ao se intoxica- formados em continuar se intoxicando com os
rem são: tonteira, dor de cabeça, dor no corpo agroquímicos.
e visão turva (Tabela 4). A terceira categoria de trabalhadores reco-
Segundo os entrevistados, 62,5% conhecem nhece o risco depois de sofrer uma intoxicação
alguma pessoa que passou mal utilizando agro- aguda por agrotóxicos (3%). Essa categoria
tóxico, 27,5% disseram que não conhecem nin- percebe e evita outra intoxicação, quando mu-
guém e 10% não responderam. da para um tipo de plantação que requer pou-
Identificamos que os agrotóxicos que mais co ou nenhum agrotóxico. Essa foi a única ca-
causaram intoxicação na região foram: Gramo- tegoria que utilizou a palavra veneno em rela-
xone, Tamaron BR, Decis 25, Meothrin 300, ção aos agrotóxicos.
Rhodiatox e Roundup. Na fala de um agricultor de São José da Boa
No que tange à observação de animais mor- Morte, de 52 anos, observamos o temor pelo
tos após a aplicação dos pesticidas, 50% dos risco: Eu vi a morte de perto... Não uso mais esse
entrevistados não observaram nenhum animal veneno... A boca ficou seca, sem saliva, a pressão
morto. Dos agricultores que observaram a exis- abaixou, a vista escureceu e eu quase morri!
tência de animais mortos, 25% notaram só a No que diz respeito à percepção dos danos
presença de insetos e 7,5%, a morte de passa- do agrotóxico ao meio ambiente, os agriculto-
rinhos. res entrevistados não percebem o impacto cau-
Dos entrevistados, 5% observaram a ocor- sado por estes. Eles adotam, de forma generali-
rência de morte de peixes no açude que, segun- zada, o uso dos agrotóxicos e não conhecem
do um agricultor, foi causada pelo Roundup; outra forma de combater as pragas.
12,5% não responderam. Esses agricultores são de uma geração de-
pendente de insumos químicos na agricultu-
ra, são filhos dos agricultores que utilizavam
os organoclorados. São da geração dos que
481

usam os piretróides, organofosforados e carba- Tabela 4


matos. Sintomas relatados pelos nove agricultores intoxicados.
Ao entrevistarmos esses agricultores, iden- Sintomas No de Percentual
tificamos que 97,5% chamam os agrotóxicos Ocorrência (%)
de “remédio”.
Nessa concepção, os remédios não fazem Tonteira 9 100,0
Dor de cabeça 7 77,7
mal e podem ser usados à vontade, sem prote-
Dor no corpo 6 66,6
ção e sem risco. Para esses agricultores, os agro-
Visão turva 5 55,5
tóxicos estão “remediando” porque combatem Dor de coluna 5 55,5
as pragas. Foi encontrado somente um agricul- Dor de estômago 4 44,4
tor consciente de que o agrotóxico era um ve- Queimação 4 44,4
neno, que matava as pragas e podia matar as Falta de ar 2 22,2
pessoas também. Encontramos outro grupo de Vômitos 2 22,2
usários do produto, que dizia precisar usar ca- Dor nas juntas 2 22,2
da vez mais “remédio” para combater as pragas. Infecção nos rins 2 22,2
Esses agricultores não percebiam a resistência Urticária 1 11,1
adquirida pelas pragas por causa da utilização Tremores 1 11,1
Cansaço 1 11,1
inadequada do produto.
Pressão alta 1 11,1
É interessante notar que 62,5% dos entre-
Problemas de fígado 1 11,1
vistados, apesar de conhecerem alguém que foi
intoxicado por agrotóxicos, não consideraram
esses produtos como um problema na região.
Os dados obtidos por este trabalho concor-
dam, em geral, com constatações feitas por ou- pendência dos agrotóxicos, foi analisada por
tros autores, em pesquisas com grupos de agri- outros autores como sendo resultado do dis-
cultores em diferentes partes do Brasil, no que curso de fabricantes e comerciantes, de técni-
diz respeito às facilidades para obtenção dos cos, que justificam a necessidade pelos interes-
produtos, o seu mau uso e os relatos freqüentes ses comerciais envolvidos (Peres et al., 2001).
de intoxicações (Araújo et al., 2000; Oliveira- Entretanto, Moreira et al. (2001) enfatizam a
Silva et al., 2001; Brega et al., 1998; Paumgar- complexidade das questões implicadas na ex-
ten et al., 1998; Faria et al., 1999; Moreira et al., posição aos agrotóxicos, com uma multiplici-
2001; Sarcinelli, 2003). Os resultados do traba- dade de rotas cuja compreensão demanda uma
lho, revelados principalmente no percentual avaliação integrada. Além da pressão da propa-
dos usuários que se expõem desnecessariamen- ganda, já mencionada, teriam um papel impor-
te a intoxicações, são também em parte simila- tante a precariedade das políticas de fiscaliza-
res às verificações feitas com agricultores de ção e acompanhamento técnico; a dificuldade
outros países em desenvolvimento (Popper et de entendimento das informações por parte
al., 1993; McDougall, 1993; McConnel & Hrus- dos usuários e o desconhecimento de técnicas
ka, 1993; Mwanthi, 1993; Stewart, 1996; Tino- alternativas e eficientes de cultivo (Moreira et
co-Ojanguren & Halperin, 1998) ou com aque- al., loc. cit).
les de países já desenvolvidos (Garry, 1994; La- Acreditamos que devido à natureza multi-
bont, 1989). facetada do problema do uso abusivo de agro-
Também foi constatado um baixo índice de tóxicos no País, dos riscos para o meio ambien-
conscientização sobre os riscos inerentes ao te e para a saúde humana por eles produzidos,
uso dos produtos que, quase sempre, era consi- apenas uma ação multissetorial de médio a
derado inevitável. A origem desta visão deter- longo prazo seria capaz de reduzir os impactos
minista dos trabalhadores, em relação à sua de- negativos destas substâncias.
482

Colaboradores

JSM Castro foi a responsável pela coleta e análise dos da-


dos de campo e pela redação do texto; e U Confalonieri,
pelo desenho da pesquisa e pela revisão do texto para pu-
blicação.

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