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CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA CONSERVAÇÃO INTEGRADA

 
 
DIVULGAÇÃO E 
INTERPRETAÇÃO DO 
PATRIMÔNIO: O PÁTIO DE  
SÃO PEDRO NO RECIFE 
               
Virgínia Pontual, Mônica Harchambois, Renata
Cabral, Magna Milfont, Rosane Piccolo

Volume 38 2009

TEXTOS PARA DISCUSSÃO


TEXTO PARA DISCUSSÃO V. 38
SÉRIE 3 – IDENTIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

DIVULGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO: O


PÁTIO DE SÃO PEDRO NO RECIFE

Virgínia Pontual, Mônica Harchambois, Renata Cabral, Magna


Milfont, Rosane Piccolo

Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada


Olinda, Maio de 2009
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada

Missão Texto para Discussão


O CECI tem como missão promover a Publicação com o objetivo de divulgar os estudos
conscientização, o ensino e a pesquisa sobre a desenvolvidos pelo CECI nas áreas da Gestão da
conservação integrada urbana e territorial dentro da Conservação Urbana e da Gestão do Restauro.
perspectiva do desenvolvimento sustentável. Suas
atividades são dirigidas para a comunidade técnica e As opiniões emitidas nesta publicação são de
acadêmica brasileira e internacional responsabilidade exclusiva dos autores, não
exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do
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desde que sejam devidamente citadas as fontes.
Conselho de administração Reproduções para fins comerciais são proibidas.
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Rosane Piccolo Identificação do Patrimônio Cultural
Rosane Piccolo
Conselho Fiscal
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textos@ceci-br.org
Magna Milfont
www.ceci-br.org

Ficha bibliográfica
Autores: Virgínia Pontual, Mônica Harchambois, Renata Cabral, Magna Milfont, Rosane Piccolo
Título: DIVULGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO: O PÁTIO DE SÃO PEDRO NO
RECIFE
Tipo da publicação: Textos para Discussão – Série 3: Identificação do Patrimônio Cultural
Local e ano de publicação: Olinda, 2009
ISSN: 1980-8267
CECI – TEXTOS PARA DISCUSSÃO V. 38
SÉRIE IDENTIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

DIVULGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO: O


PÁTIO DE SÃO PEDRO NO RECIFE
Virgínia Pontual♦, Mônica Harchambois♠, Renata Cabral♥, Magna Milfont•, Rosane
Piccolo♣

Resumo
O Pátio de São Pedro, bem tombado pelo IPHAN no Recife, é um dos
conjuntos mais íntegros do bairro de Santo Antônio e testemunha a
diversidade das manifestações populares tradicionais de Pernambuco.
Entretanto, apesar do seu grande potencial atrativo, o mesmo não integra
os roteiros desenvolvidos pelas agências de turismo. Para isto, a
divulgação turística e interpretação do pátio se colocam como um
caminho à propagação dos valores e conservação do espaço urbano e
arquitetônico. O site “Pátio de São Pedro: Turismo e Tradição Popular
em Pernambuco” constitui um dos produtos de um projeto selecionado
pelo Programa MONUMENTA para ser executado pelo Centro de
Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI). Por meio desse
site buscou-se divulgar os valores do lugar de modo a atrair visitantes,
acrescentando valor à experiência. O conteúdo e registro de como foi
realizado esse site é o objeto deste artigo.
Palavras chave: Patrimônio, interpretação, divulgação, Recife.

Introdução
O conjunto urbano e arquitetônico do Pátio de São Pedro, bem tombado pelo
IPHAN no Recife, é composto pela Igreja de São Pedro dos Clérigos e pelo casario que a
circunda. Além da beleza que resulta do contraste formado pela riqueza da igreja com a
simplicidade das edificações do entorno, o conjunto apresenta grande unidade urbanística
e é um dos mais íntegros do bairro de Santo Antônio. O Pátio de São Pedro testemunha,


Arquiteta, Doutora em História Urbana. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Centro de
Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
Rua Sete de Setembro, 80 - Olinda/ PE - 53020-130 – fone: (81) 88957548
vp@elogica.com.br

Arquiteta, Especialista em Gestão do Patrimônio Cultural. Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada (CECI)
Rua Sete de Setembro, 80 - Olinda/ PE - 53020-130 – fone: (81)99786534
harchambois@terra.com.br

Arquiteta, Mestra em Arquitetura e Urbanismo. Centro de Estudos Avançados da Conservação
Integrada (CECI)
Rua Sete de Setembro, 80 - Olinda/ PE - 53020-130 – fone: (81) 88763096 renatacabral@yahoo.com.br

Historiadora, Doutoranda em Desenvolvimento Urbano. Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
Rua Sete de Setembro, 80 - Olinda/ PE - 53020-130 – fone: (81) 92726138 magnamilfont@walla.com

Arquiteta, Mestra em Desenvolvimento Urbano. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI)
Rua Sete de Setembro, 80 - Olinda/ PE - 53020-130 – fone: (81) 96687373
rosanepiccolo@yahoo.com.br

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SÉRIE IDENTIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

também, a diversidade das manifestações populares tradicionais de Pernambuco, tendo


sido classificado por Gilberto Freyre como o lugar “mais recifense do Recife”. Entretanto,
apesar do seu grande potencial atrativo, não integra os roteiros desenvolvidos pelas
agências de turismo. O aumento da atividade turística poderia favorecer a conservação do
lugar, contribuindo, ainda, para a consolidação das atividades culturais incentivadas pelo
poder público nos bairros centrais do Recife.
O site “Pátio de São Pedro: Turismo e Tradição Popular em Pernambuco” constitui
um dos produtos do projeto intitulado “Divulgação Turística do Pátio de São Pedro dos
Clérigos no Recife”, selecionado pelo Programa MONUMENTA para ser executado pelo
Centro de Estudos Avançados em Conservação Integrada (CECI), com financiamento do
Governo Federal mediante contrato de empréstimo com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). O material produzido procurou diluir, em textos fluidos e
interessantes, com design elegante e envolvente, o conteúdo denso das interpretações
acadêmicas sobre a história, a morfologia e a cultura atual do Pátio.
Este artigo discorre sobre o caminho percorrido para a construção do site, que
buscou divulgar o Pátio de São Pedro de modo a atrair o visitante, acrescentando valor à
experiência da visitação.

1. A construção do site: conteúdo e forma


Partindo da idéia de que o planejamento interpretativo, em parceria com a
dinamização econômica de um lugar, pode ser uma forma criativa de atender à demanda
pela sustentabilidade do patrimônio, o site procurou estabelecer interfaces entre o turismo
e a preservação patrimonial, ajustando as necessidades da comunidade e dos visitantes. A
criação do site obedeceu a uma lógica de construção baseada na interpretação histórica, na
interpretação morfológica e na interpretação da cultura atual do Pátio de São Pedro,
realizadas em interação com a comunidade local.
A metodologia adotada envolveu a comunidade local nas decisões a serem tomadas,
desde a concepção do material informativo até a formatação do produto final. Para isto, a
equipe técnica do CECI empenhou-se em sensibilizar os diversos atores sociais presentes
no Pátio de São Pedro (entidades religiosas, moradores, proprietários de bares e
restaurantes, gestores municipais), sobre a relevância do valor histórico e estético
imanente ao lugar, chamando atenção para o seu significado cultural e para a importância
do papel da comunidade como “guardiã do patrimônio”.
As atividades referentes às diversas etapas do trabalho (identificação do lugar,
definição das temáticas; análise da relação da comunidade com a história do local e
construção da narrativa) ocorreram, por vezes, de forma simultânea.
Na etapa de identificação do lugar, foram selecionadas para o site, dentre o vasto
material bibliográfico e iconográfico consultado durante as pesquisas, informações pouco
trabalhadas até então. Na definição das temáticas, o que se queria comunicar sobre a
essência do lugar foi se delineando aos poucos. Tomando como ponto de partida a
interpretação histórica e morfológica e passando pelo entendimento das formas de
integração entre a história e o turismo, a abordagem do tema da transformação do Pátio
ao longo do tempo adquiriu grande relevância. Nos encontros com a comunidade, ficou
resolvido que todo o conteúdo do site deveria estar permeado pela história do lugar,
incluindo a história mais recente, da qual fazem parte os eventos culturais de caráter
profano, como o carnaval, o pastoril, as quadrilhas juninas e outras manifestações

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SÉRIE IDENTIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

tradicionais populares, características de Pernambuco. Esta decisão exigiu dos técnicos do


CECI uma pesquisa complementar, voltada para interpretação da cultura atual.
Os resultados das interpretações histórica, morfológica e da cultura atual, a seguir
expostos de forma resumida, são apresentados no site com riqueza de detalhes.

2. A interpretação histórica
O Pátio de São Pedro é considerado um dos conjuntos arquitetônicos e urbanísticos
mais expressivos da cultura barroca em Pernambuco, destacando-se, principalmente, pela
importância da Igreja de São Pedro dos Clérigos. A igreja de traços barrocos e o casario
que a circunda, foram objeto de inúmeros estudos no campo da história da arte e da
arquitetura, que conferiram ao monumento religioso e ao conjunto arquitetônico uma
grande valorização, reconhecendo-o como patrimônio histórico e artístico nacional. A
interpretação das fontes históricas destaca, especialmente, atributos histórico-culturais
que marcaram o lugar ao longo do tempo: a ocupação do lugar e a Cidade Maurícia; a
igreja e a reinvenção do pátio.
O Pátio de São Pedro dos Clérigos guarda, na sua configuração urbanística,
vestígios do barroco neerlandês, que marcaram profundamente a história da Cidade do
Recife. Estudos arqueológicos realizados em fins da década de 90, século XX, mostraram
que parte da disposição do casario do pátio integrava a chamada Cidade Maurícia ou
“Mauritiopolis”, projetada e construída no período do governo de Maurício de Nassau
(1637-1644).
Conforme o Plano da Cidade Maurícia, elaborado pelo arquiteto holandês Pieter
Post, em 1639, a expansão da ilha de Antônio Vaz (atual bairro de Santo Antônio)
abarcava o trecho considerado entre o Forte Ernesto, incluindo o Grande Alojamento e a
fortificação de Cinco Pontas. A ocupação urbana seguiu a prática do urbanismo holandês,
tendo por eixo central o sistema fortificado e a regularidade geométrica, que orientou a
configuração de parte do casario do futuro Pátio de São Pedro.
A relação da disposição do casario localizado na Rua das Águas Verdes, nas
cercanias do Pátio, com a Cidade Maurícia é um dos fortes atributos históricos que
destaca o lugar como parte do acervo urbanístico ainda existente da antiga cidade
holandesa.
A irmandade de São Pedro dos Clérigos financiou as obras do plano da Igreja de
São Pedro dos Clérigos, edifício elaborado pelo “mestre-pedreiro”, depois arquiteto,
Manuel Ferreira Jácome em 1728. A construção se arrastou até 1782. Segundo Mota
Menezes em “Dois monumentos do Recife: São Pedro dos Clérigos e Nossa Senhora da
Conceição dos Militares”, traços construtivos típicos da arquitetura pernambucana
estavam alicerçados na tradição construtiva de Antônio Fernandes de Matos, com quem
Jácome obteve sua formação. Dentre esses traços marcantes podem-se destacar:

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• A desproporção da altura em relação à


largura das torres das igrejas, característica
singular que permitiu à sociedade
pernambucana principalmente durante os
séculos XVIII e XIX, utilizarem as torres
como mirantes e pontos de orientação.
• As torres altas e esguias em contraponto
com a baixa altura do casario circundante
acentuavam a verticalidade e
monumentalidade da Igreja de São Pedro
dos Clérigos.
• O verticalismo da fachada que leva a obra
a ser considerada pelo historiador
Germain Bazin em “Originalidade da
arquitetura barroca em Pernambuco”,
como a mais monumental do Brasil.
• O frontão com nicho, onde se encaixa uma
imagem de corpo inteiro em solução Fig. 1: Verticalismo da Igreja de São Pedro dos
tipicamente pernambucana influenciada Clérigos
pela arquitetura franciscana. Fonte: CECI, 2006

• A monumental portada entalhada em pedra e madeira, considerada pelo escritor


pernambucano Padre Antonio Barbosa como “a mais expressiva em seu estilo em toda
a América do Sul”.
Elementos do barroco foram agregados harmonicamente à arte interpretada como
maneirismo, estilo este aplicado excessivamente na planta do interior dos edifícios
religiosos de Pernambuco. A forte marca do maneirismo na Igreja de São Pedro dos
Clérigos está presente na planta idealizada pelo arquiteto Jácome.
A partir das primeiras décadas do século XX, o Pátio de São Pedro é redescoberto
por intelectuais pernambucanos, destacando-se Gilberto Freyre e seu “Movimento
Regionalista” (1926). Com a publicação do referido autor “Guia Prático, Histórico e
sentimental da Cidade do Recife” (1934), foi inaugurado um novo sentido para o lugar,
calcado nos seus atributos artísticos e arquitetônicos. O Pátio de São Pedro foi então, pela
primeira vez, apontado como relíquia da arte e arquitetura nacional (FREYRE, 1934).Um
novo interesse vai sendo aos poucos construído pela intelectualidade – a narrativa
turística em torno do pátio.
Em 25 de maio de 1969, Gilberto Freyre elabora um artigo no Diário de
Pernambuco que destaca o Pátio de São Pedro como centro cultural e de turismo. As
palavras do intelectual estimularam os empreendimentos de recuperação do pátio nas
gestões dos Prefeitos Geraldo Magalhães de Melo entre os anos de 1969-1970 e Augusto
Lucena no período de 1971 a 1975. A idéia era transformar o Pátio de São Pedro “num
centro cultural, além de turístico” conforme as palavras de Freyre (Diário de Pernambuco,
25/06/1969, caderno 1: 04).
Os “brasileiríssimos valores” idealizados para o Pátio de São Pedro, por aquele
cientista social, influenciaram as iniciativas das autoridades e círculos intelectuais, criando
uma atmosfera distante da história e tradição do lugar. A partir dos anos de 1970, o pátio

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SÉRIE IDENTIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

passa por momento de efervescência cultural, tornando-se ponto de encontros de


intelectuais e artistas; marcado por diversões e manifestações da cultura regional
nordestina.
Entretanto, na década de 1980 ocorreu o abandono daquelas atividades artísticas e
culturais, repercutindo negativamente na vida do pátio. No final dessa década e início dos
1990, as autoridades municipais elaboraram projetos de recuperação do pátio. A herança
do pensamento de Gilberto Freyre ainda pairou sobre a execução desses projetos culturais
que relacionavam o pátio ao atributo histórico e turístico.

3. A interpretação morfológica
O conjunto urbano e arquitetônico do Pátio de São Pedro é composto pela Igreja de
São Pedro dos Clérigos, pelo pátio e por 63 edificações, entre casas térreas e sobrados que
circundam os quatro lados da igreja.
Este conjunto está sob a proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN). A igreja e o pátio estão enquadrados na categoria de Conjuntos
Antigos, inscritos no livro de tombo do IPHAN sob o número 187, Livro de Belas Artes,
folha 33 em 20 de junho de 1938.
Os edifícios que cercam a igreja são na maioria casas térreas, registrando-se a
presença de três sobrados de dois pavimentos e doze sobrados de um pavimento. A maior
incidência de sobrados altos está na quadra frente à fachada da igreja, criando um diálogo
entre volumes de altos gabaritos. Os sobrados, de uma forma geral, se destacam no
conjunto pela sua altura diferenciada do restante e pelo requinte de suas fachadas, que se
apresentam como as mais ornadas, com frisos, entablamentos, balcões e número superior
de vãos.
As casas térreas são edifícios vernaculares tradicionais de duas portas, geminadas
dos dois lados, com fachadas em argamassa, excetuando-se poucos edifícios que se
apresentam revestidos por azulejos, cerâmica e ladrilho. As portas e janelas das casas
térreas apresentam vergas retas ou em arco abatido, sendo marcadas por molduras em
pedra ou argamassa. Os telhados, na maior parte, são cobertos por telha cerâmica canal,
tipo calha e bica, e exibem suas cumeeiras paralelas à rua, ou seja, paralelas às faces da
igreja. Praticamente todos os telhados encontram-se parcialmente escondidos pelas
platibandas que se elevam das fachadas e criam calhas para o escoamento de águas
pluviais. O desenho urbano do pátio de São Pedro constitui-se em um dos principais
elementos invariantes do local.
O estado de conservação (quanto à integridade física) e preservação (quanto à
caracterização) destes imóveis ilustra uniformidade em certos trechos. Os edifícios que
estão localizados em torno ao Pátio de São Pedro são aqueles que apresentam o melhor
estado no conjunto, com exceção dos imóveis que estão sendo recuperados. As demais
edificações em torno da igreja encontram-se razoavelmente conservadas e preservadas,
apesar de terem sido observadas algumas intervenções.
Enfim, o traçado urbano e o conjunto edificado ainda mantém bom nível de
integridade, constituindo-se em um lugar de grande valor rememorativo, embora os usos
tenham sido bastante modificados desde o final da década de 1960.

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4. A interpretação da cultura atual


O Pátio de São Pedro tem sido palco das mais diversas manifestações populares
tradicionais. Para realizar a interpretação da cultura atual com relação ao Pátio, foi
necessário adquirir conhecimento sobre as principais manifestações culturais que
acontecem no local, como musicas e danças populares tradicionais, profanas ou sagradas;
arte e gastronomia; instituições que ali funcionam; caráter e tipos de serviços oferecidos.
As pesquisas sobre essas expressões culturais foram realizadas em vários acervos da
cidade, onde foi encontrada uma ampla produção bibliográfica e icnográfica.
Sabe-se que, na metade do século XIX, manifestações de caráter profano, como o
carnaval, que até então estavam limitadas às ruas, praças e pontes da cidade, estenderam-
se aos pátios de igrejas, como a de São Pedro, dando novo significado ao espaço. Nos anos
70 do século XX, a municipalidade, no intuito de revitalizar o Pátio, promoveu diversos
programas culturais tornando o espaço um local de visitação obrigatória para os turistas
que chegavam ao Recife. Nos anos seguintes, o Pátio alternou fases de marasmo com fases
de grande efervescência. Atualmente, a Prefeitura do Recife nele mantém uma intensa
agenda cultural, com eventos fixos, que ocorrem semanalmente, e programações
especiais, durante os ciclos carnavalesco, junino e natalino.
No Pátio de São Pedro, funcionam três instituições de relevância na área da
cultura: a Casa do Carnaval, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães e o Centro de
Formação em Artes Visuais. A primeira trabalha com cultura popular e as outras
trabalham com o desenvolvimento contemporâneo das artes visuais, organizando
exposições, performances, e trabalhando com a formação em Artes Visuais. Cada uma
delas ocupa um lugar de destaque no site.
No final da década de 1960, um projeto municipal de revitalização do Pátio
estimulou a abertura de vários estabelecimentos que valorizavam as tradições culinárias
da terra, tornando o Pátio um centro de convergência da intelectualidade, da poesia e da
boêmia. A efervescência cultural daqueles anos veio a repetir-se em meados da década de
1980. O turista que, hoje, vem ao Pátio pode contar com bares e restaurantes, nos quais é
possível desfrutar, além da culinária representativa da região, o espírito boêmio que
sempre reinou no local.
As pesquisas documentais realizadas para a interpretação da cultura atual foram
complementadas por depoimentos colhidos em entrevistas com pessoas que estiveram
ligadas ao Pátio de São Pedro por muitos anos. Pessoas que moraram, trabalharam ou
freqüentaram o lugar, acompanhando suas mudanças ao longo do tempo. Mais que o
tempo, é o sentimento de pertencer ao local que as torna, de fato, “donas da casa”, os
“anfitriões do Pátio”. O registro dessas memórias afetivas compuseram para o site um
banco de dados da memória oral, importantíssimo para futuras pesquisas sobre o Pátio.

5. A participação da comunidade
Paralelamente às pesquisas históricas e morfológicas, foram realizadas três oficinas
pedagógicas e decisórias, com a participação da comunidade e de autoridades
governamentais. Nesses momentos, os técnicos do CECI puderam analisar a relação da
comunidade com a história do lugar. Foi possível observar, a partir do contato com os
proprietários e locatários de imóveis do Pátio de São Pedro, que o aspecto da história mais
lembrado por eles era o da história da boemia, vivenciada a partir da década de 1960.
Temas ressaltados nas pesquisas acadêmicas realizadas, como manifestações religiosas,
presença negra, vestígios do urbanismo holandês e da ocupação portuguesa, riqueza

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artística do barroco, não eram suficientemente conhecidos pela comunidade, que se


mostrou admirada com a relevância dos valores presentes no lugar em que vivem.
O lançamento oficial do produto final do projeto ocorreu na terceira e última
oficina. A comunidade mostrou-se extremamente sensibilizada ao ver o seu cotidiano
retratado nos vídeos e depoimentos que integram o site.

6.Estrutura do site
O site resultante do Projeto de Divulgação Turística do Pátio de São Pedro está
assim estruturado: na página principal do site, o internauta encontra um ambiente virtual
que remete à essência do Pátio; há uma faixa superior construída a partir do desenho das
fachadas do casario e da igreja (planta do final do século XX, pertencente ao acervo do
IPHAN) e ouve-se uma música barroca; o menu de navegação é composto pelos links:
Visita Virtual; Eventos Culturais; Arte e Gastronomia; Anfitriões do Pátio; História do
Lugar e Saiba Mais.
O site www.patiodesaopedro.ceci-br.org é uma peça de multimídia elegante,
convidativa aos internautas, com informações confiáveis e de qualidade, tendo atendido
aos propósitos estabelecidos pelas instituições financiadoras.

Fig.2: Página principal do site


Fonte: CECI, 2006

Referências
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