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COLÉGIO ESTADUAL PROFESSORA: ANA FEITOSA

JACKSON FIGUEIREDO

ALUNO: DATA: SÉRIE E TURMA:

DISCIPLINA: PORTUGUÊS AULA NÚMERO:

AUTOBIOGRAFIA

CONCETO: Assim como a Biografia, a AUTOBIOGRAFIA é um gênero da esfera


literária, mas, nesse caso, o autor é a personagem principal da história que
conta, baseada em acontecimentos da própria vida que considera relevantes.
Por esse motivo, todo o texto é apresentado sob sua perspectiva ou de acordo
com o seu ponto de vista. Isso faz com que a linguagem tenha marcas de
subjetividade e do estilo do autor. Os textos autobiográficos podem ser lidos em
livros, revistas e sites.

A seguir, vamos ler uma linda autobiografia, intitulada


“O ARCO ÍRIS”, escrita por Frei Betto. Ao lado está a
capa do livro, onde Frei Betto conta sua própria
história com muita cor, lembranças e detalhes sobre
sua vida.

“Debruçado no chão, abri o álbum de desenhos


vazados que ganhara de aniversário, derramei em
volta a caixa de lápis de cor e, em fúria policrômica,
preenchi de cores que sugeriam bichos, nuvens
semáforos e paisagens campestres. As cores forte,
como o vermelho e o roxo, expressavam com maior
nitidez a ênfase criativa que me inundava o peito.
Rompi os limites das gravuras e aqueles que a própria

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natureza impôs à sua harmonia, pintando as montanhas de violeta e as estradas de azul.

Findo o álbum, peguei folhas de rascunho na escrivaninha do papai, deitei-me na


copa e, absorto, entreguei-me ao delírio, traçando arcos e linhas, curvas e hipérboles,
círculos e triângulos, retorcendo a geometria e enlouquecendo o próprio Euclides, caso
visse aquilo.

Desenhar eu nunca soube. Jamais tive o domínio da forma das mãos. Nem o olho
da perspectiva. Em compensação, o mundo coloria-se através dos meus dedos, que
subvertiam a estética divina, pintando as árvores de vermelho, o oceano de amarelo, o
céu de marrom, o sol de azul. Enchia folhas e folhas com linhas esdrúxulas, perfis
surreais, astros impressionistas, cujos significados só existiam em meu espírito.

Reproduzi o arco-íris que coroava os céus de Belo Horizonte na época das chuvas,
mapeando tesouros inidentificáveis. Estiquei paralelamente os traços de cores variadas,
até gastar a ponta dos lápis. Não coube nas folhas espalhadas pelo chão da copa.
Prossegui sobre o piso de cerâmica e subi parede afora. Todos os tons de minha caixa
estavam representados naquele borrão forte, espectro de serpente alada.

Mamãe deu um suspiro ao entrar na copa. Por um momento, acometeu-me a dúvida


se de admiração ou indignação recobrada a fala, deserdou-me em zangas. Correu a
molhar o pano na torneira da pia e obrigou-me a limpar a parede e o chão. Fiquei
inconsolável. Aquilo era uma obra de arte, que me exigira esforço e criatividade. Só não
merecia reconhecimento porque eu era criança.

Ao preparar-me para limpar “essa sujeirada”, como exclamou minha mãe,


adentrou meu pai, vindo do trabalho. Espantou-se ao ver o filho, sob o olhar severo da
mulher, esfregando na parede o pano de chão. Meteu-se em nossa discussão, inteirou-se
do motivo, contemplou o que restava do meu arco-íris.

__ Uma beleza, meu filho! __ reconheceu para desagrado de minha mãe. __ Vamos
deixar aí para que todos possam apreciar.

Irritada, minha mãe bateu boca com meu pai sobre o modo de educar os filhos.
(Teria gostado que me consultassem, mas isso estava fora de cogitação, uma vez que
todos os adultos se julgam mais sábios que as crianças). Contudo, enchi-me de orgulho
com o arco-íris exposto na copa.

Cecília, minha mãe, também olhou e, virando o rosto, encaretou-se, como quem se
depara com uma porcaria. Não me importei, sabia que as mulheres nada entendiam de
obra de arte. Nunca ouvira papai citar uma mulher artista. Ele só falava em pintores: Di
Cavalcanti, Portinari, Marcier, Guignard, Segall, Velázquez, Cézanne, Matisse, Van Gogh
e outros.

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Meu pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte. Um amigo dele
expunha pinturas abstratas. Vi lá borrões muito piores do que os meus. Mas ninguém
ousou pedir ao artista que apagasse aquilo. Pelo contrário, todos o cobriam de sorrisos e
cumprimentos elogiosos.

No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de paleta, com um
arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis finos e um copinho de cerâmica
para pôr água. Revesti as paredes da garagem de obras, se perenizadas com as pinturas
rupestres, possivelmente, me garantiriam ao menos o reconhecimento da posteridade.
Contudo, levei boas palmadas de papai quando, ao sair do banho, encontrou-me estirado
em sua cama, aquarela em punho, transformando em estampado o lençol branco. Desta
vez, ele concordou com o desgosto artístico de minha mãe”.

FREI BETTO. Alfabeto: autobiografia escolar.


São Paulo: Ática, 2202. p. 48-50

ATIVIDADE PROPOSTA

1 – Assinale o trecho que apresenta uma opinião do autor.

a) “Meu Pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte”.


b) “No Natal, ganhei uma aquarela”.
c) “(Teria gostado que me consultassem, mas isso estava fora de cogitação, uma vez
que todos os adultos se julgam mais sábios que as crianças)”
d) “Debruçado no chão, abri o álbum de desenhos vazados que ganhara de
aniversário [...]”

2 – O argumento utilizado pelo autor para explicar por que não compreendia o
desagrado da mãe está em:

a) “Meu pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte. Um amigo dele
expunha pinturas abstratas. Vi lá borrões muito piores do que os meus”.

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b) “No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de paleta, com
um arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis finos e um copinho de
cerâmica para pôr água”.

c) “Não me importei, sabia que as mulheres nada entendiam de obra de arte. Nunca
ouvira papai citar uma mulher artista”.

d) “Aquilo era uma obra de arte, que me exigira esforço e criatividade. Só não
merecia reconhecimento porque eu era criança”.

3 – Releia:
“Ao preparar-me para limpar “essa sujeirada”, como exclamou minha mãe, adentrou
meu pai, vindo do trabalho”.

Qual é o efeito de sentido provocado pelo uso das aspas na expressão


destaca?
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 Releia a introdução do texto, observando a linguagem.

“Debruçado no chão, abri o álbum de desenhos vazados que ganhara de


aniversário, derramei em volta a caixa de lápis de cor e, em fúria policrômica,
preenchi de cores que sugeriam bichos, nuvens semáforos e paisagens
campestres. As cores forte, como o vermelho e o roxo, expressavam com maior
nitidez a ênfase criativa que me inundava o peito. Rompi os limites das gravuras
e aqueles que a própria natureza impôs à sua harmonia, pintando as montanhas
de violeta e as estradas de azul”.

4 – Com base no trecho lido, identifique a pessoa do discurso e explique o uso dela
nos textos autobiográficos.
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5 – Ao afirmar que [...] “retorcendo a geometria e enlouquecendo o próprio Euclides,


caso visse aquilo”, o que o autor expressa? Por quê?

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6 – Para o transcorrer da história, qual é a importância de o autor ter pintado um
arco-íris no piso e na parede? Justifique sua resposta.

7 – Releia este trecho:

“No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de


paleta, com um arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis
finos e um copinho de cerâmica para pôr água. Revesti as paredes da
garagem de obras, se perenizadas com as pinturas rupestres,
possivelmente, me garantiriam ao menos o reconhecimento da
posteridade”.

A principal informação desse trecho é:

a) a quantidade de pincéis que o autor ganhou no Natal.

b) o autor ter pintado as paredes da garagem com a aquarela.

c) o formato da aquarela que o autor ganhou no Natal.

d) o material de que é feito o copo para pôr água.

8 – Complete:

 Em “(Teria gostado que me consultassem, mas isso estava fora de cogitação


[...])”, a palavra empregada para expressar a oposição de ideias é a conjunção
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