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JACKSON FIGUEIREDO
AUTOBIOGRAFIA
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natureza impôs à sua harmonia, pintando as montanhas de violeta e as estradas de azul.
Desenhar eu nunca soube. Jamais tive o domínio da forma das mãos. Nem o olho
da perspectiva. Em compensação, o mundo coloria-se através dos meus dedos, que
subvertiam a estética divina, pintando as árvores de vermelho, o oceano de amarelo, o
céu de marrom, o sol de azul. Enchia folhas e folhas com linhas esdrúxulas, perfis
surreais, astros impressionistas, cujos significados só existiam em meu espírito.
Reproduzi o arco-íris que coroava os céus de Belo Horizonte na época das chuvas,
mapeando tesouros inidentificáveis. Estiquei paralelamente os traços de cores variadas,
até gastar a ponta dos lápis. Não coube nas folhas espalhadas pelo chão da copa.
Prossegui sobre o piso de cerâmica e subi parede afora. Todos os tons de minha caixa
estavam representados naquele borrão forte, espectro de serpente alada.
__ Uma beleza, meu filho! __ reconheceu para desagrado de minha mãe. __ Vamos
deixar aí para que todos possam apreciar.
Irritada, minha mãe bateu boca com meu pai sobre o modo de educar os filhos.
(Teria gostado que me consultassem, mas isso estava fora de cogitação, uma vez que
todos os adultos se julgam mais sábios que as crianças). Contudo, enchi-me de orgulho
com o arco-íris exposto na copa.
Cecília, minha mãe, também olhou e, virando o rosto, encaretou-se, como quem se
depara com uma porcaria. Não me importei, sabia que as mulheres nada entendiam de
obra de arte. Nunca ouvira papai citar uma mulher artista. Ele só falava em pintores: Di
Cavalcanti, Portinari, Marcier, Guignard, Segall, Velázquez, Cézanne, Matisse, Van Gogh
e outros.
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Meu pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte. Um amigo dele
expunha pinturas abstratas. Vi lá borrões muito piores do que os meus. Mas ninguém
ousou pedir ao artista que apagasse aquilo. Pelo contrário, todos o cobriam de sorrisos e
cumprimentos elogiosos.
No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de paleta, com um
arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis finos e um copinho de cerâmica
para pôr água. Revesti as paredes da garagem de obras, se perenizadas com as pinturas
rupestres, possivelmente, me garantiriam ao menos o reconhecimento da posteridade.
Contudo, levei boas palmadas de papai quando, ao sair do banho, encontrou-me estirado
em sua cama, aquarela em punho, transformando em estampado o lençol branco. Desta
vez, ele concordou com o desgosto artístico de minha mãe”.
ATIVIDADE PROPOSTA
2 – O argumento utilizado pelo autor para explicar por que não compreendia o
desagrado da mãe está em:
a) “Meu pai levou-me, um par de dias depois, a uma galeria de arte. Um amigo dele
expunha pinturas abstratas. Vi lá borrões muito piores do que os meus”.
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b) “No Natal, ganhei uma aquarela. Uma cartolina branca em forma de paleta, com
um arco de botões de múltiplas cores na borda, dois pincéis finos e um copinho de
cerâmica para pôr água”.
c) “Não me importei, sabia que as mulheres nada entendiam de obra de arte. Nunca
ouvira papai citar uma mulher artista”.
d) “Aquilo era uma obra de arte, que me exigira esforço e criatividade. Só não
merecia reconhecimento porque eu era criança”.
3 – Releia:
“Ao preparar-me para limpar “essa sujeirada”, como exclamou minha mãe, adentrou
meu pai, vindo do trabalho”.
4 – Com base no trecho lido, identifique a pessoa do discurso e explique o uso dela
nos textos autobiográficos.
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6 – Para o transcorrer da história, qual é a importância de o autor ter pintado um
arco-íris no piso e na parede? Justifique sua resposta.
8 – Complete:
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