Isaac Levitan (1860-1900)

Outubro de 2021

Filipe Suspiro
Introdução

Isaac Ilyich Levitan nasceu em 1960 numa *shtetl na Kibarty (atualmente cidade da
Lituânia), pertencia ao Congresso da Polónia que, por sua vez, fazia parte da
Rússia.

Foi um importante pintor Russo que cresceu numa família judia pobre, mas
educada, que no final da década de 1860 mudou-se para Moscovo onde Isaac
vinha a aprender e técnicas de pintura clássica, importantes para o
desenvolvimento do seu papel, como principal inovador do género paisagístico- o
chamado “mood landscape”.

*Antes da Segunda Guerra Mundial, chamavam-se "shtetl" às povoações ou

bairros de cidades com uma população predominantemente judaica,
principalmente na Europa oriental nos países como a Polónia e Bielorrússia.

Filipe Suspiro
Biografia

 Inícios Académicos

Isaac Levitan frequentou a Escola e Escultura de Moscovo desde 1873 a 1883.

Neste período, a sua mãe falecera em 1875 e o seu pai em 1877, cujas mortes
tiveram um impacto negativo na sua situação financeira. Sem fundos e sem casa
em Moscovo, pernoitou alternadamente nas casas de parentes e amigos, às vezes
passando a noite nas salas de aula vazias da escola. Um vigia noturno, com pena
de Isaac, deixou-o dormir na sua arrecadação. A Escola dispensou-lhe o
pagamento de propinas devido à sua extrema pobreza e em reconhecimento ao
seu sucesso singular na arte.

Durante a estadia escolar, o maior papel na formação da sua criatividade foi o

professor Alexey Savrasov, o mais lírico entre os pintores de paisagens russos das
décadas de 1860 a 1870, que influenciou muitos artistas conhecidos da geração de
Levitan (Mikhail Nesterov e Constantin Korovin).

O amor apaixonado de Levitan pela poesia e música, o seu estudo persistente do

*pleine-air e, as pinturas ensolaradas de Alexey Savrasov e Vasiliy Polenov, que
também lecionava na Escola, foram de grande importância para o jovem artista.
Com todo o grande talento, Levitan absorveu todas as influências à sua
personalidade, e mesmo os seus primeiros trabalhos são muito individuais.

*Ato de pintar no exterior, este método contrasta com a pintura de estúdio e

na sua teoria acabou por desenvolver o conceito da pintura paisagista, onde o
artista se coloca no local de interesse e pinta os elementos exteriores.

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  Primeiros Trabalhos (1877-1883)

Em 1877, as obras de Isaac Levitan foram exibidas pela primeira vez publicamente
e ganharam o reconhecimento por parte da imprensa. Após a tentativa de
assassinato contra Alexandre II (Czar da Rússia), em maio de 1879, as expulsões
em massa de judeus das grandes cidades do Império Russo forçaram muitas
famílias a mudarem para os subúrbios em Omsk (cidade Russa), e, mais tarde, as
autoridades deram liberdade às publicações de arte, no qual, Levitan retomou o seu
trabalho. Durante este ano, Levitan pintou “Dia de outono”.

Na academia escolar, o seu professor Alexey Savrasov levava os alunos para fora
para pintar ao ar livre, mas entre os alunos, os campos não lhes eram de
interessante para a pintura, mas, para Levitan as paisagens tornaram-se o centro
do seu trabalho. Logo então, Savrasov ensinou Levitan a pintar detalhes nas suas
paisagens e a associar emoções nas suas obras.

Em 1883, Levitan ficou desanimado com a postura da Escola de Pintura em relação

ao setor de trabalho onde aprendera e, decidiu ingressar na pintura de paisagens
com a esperança de ganhar uma medalha de prata que o qualificaria como um
artista de classe. Levitan mostrou uma pintura recente a Savrasov, que bebia muito
e havia parado de lecionar na escola, que então escreveu "medalha de prata" no
verso da tela. A escola rejeitou a pintura e Levitan parou de frequentar as aulas. Um
dos motivos para esta rejeição foi o comentário de Savrasov (que começara a ter
má reputação com a sua vida boémia).

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  Relações e entrada para o Grupo Peredvizhniki

Na primavera de 1884, Levitan participou numa exposição de arte do grupo

Peredvizhniki e em 1891 tornou-se membro da parceria entre artistas.

O grupo, que fora fundado em 1870, Sociedade de Exibições de arte Itinerantes,

conhecida como Peredvizhniki - que significa "Itinerantes" ou "exploradores" -
acreditava na representação de temas extraídos da vida quotidiana, com precisão e
empatia que refletia suas visões sociais e políticas igualitárias. Eles trabalharam em
vários tipos de pintura, de paisagem e retrato a gênero e pintura histórica, que vinha
a influenciar ainda mais o estilo de Levitan.

Muitos dos participantes deste grupo estudaram na Escola de pintura, escultura e

arquitetura em Moscovo, no qual Levitan tinha conhecido: Konstantin Korovin,
Mikhail Nesterov (já com reconhecimento no mundo de pintura paisagista), o
arquiteto Fyodor Shekhtel e, mais importante o pintor Nikolay Chekhov, no qual
Levitan conhecera Anton Chekhov e estabelecera amizade durante as suas
visitas.

Retrato de Isaac Levitan,

pintado por Valentin Serov
Filipe Suspiro em 1893.
  Amadurecimento das suas obras e amizade com Anton
Chekhov

Isaac Levitan criou alguns dos mais belos trabalhos associados ao grupo e é um
dos grandes responsáveis por inaugurar uma era dourada da pintura de
paisagem russa.

Obteve sucesso cedo, exibindo com o Grupo Peredvizhniki como estudante

afiliado e foi afetado pelos objetivos desse movimento: criar uma arte
distintamente russa que representasse a beleza da paisagem nacional e a força
do caráter nacional, afastando-se dos modelos europeus e neoclássicos de valor
estético. A sua própria contribuição distinta para essa fase da arte russa foi o
que podemos chamar de "mood landscape": representada com precisão
naturalística, mas imbuída de uma profunda carga emocional e espiritual.

Se as suas primeiras obras eram principalmente de caráter íntimo e lírico, o seu

amadurecimento nas suas obras tornou-se filosófica, expressando a meditação
do artista sobre o homem e o mundo. Durante esta fase, nos meados dos anos
1880, Levitan desenvolveu algumas das suas obras caracterizantes através das
viagens pelo exterior com o seu amigo, Anton Chekhov, pois encontrou no
dramaturgo e nas suas obras literárias, significados profundos que se traduziu
nas suas pinturas de rios, com o uso de cores escuras e mais sombrias.

A amizade entre os dois vinha a acabar em 1892 por um desentendimento:

Anton publicou na revista Norte (“Sever) a obra “O Gafanhoto” - uma história que
Levitan acreditava ser baseada no seu relacionamento amoroso com Sofia
Kuvshinni (mulher que conhecera durante as suas viagens pelo exterior).

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 Rio, desconhecida localização, pintada por Isaac
Levitan em 1900. Demonstra o uso de cores mais
sombrias, principalmente o azul.

Devido ao sucesso e ao reconhecimento publico das suas obras, em 1890, Levitan

viajou para a Europa pela primeira vez. Ele visitou as cidades europeias de Berlim,
Paris, Nice, Menton, Veneza e Florença. Ficou impressionado com as pequenas
aldeias na Itália e encantado com os Alpes. Ele manteve um caderno de viagens e
executou várias pinturas "europeias". Regressaria novamente em 1894 e em 1897.

Em setembro de 1892, os judeus foram expulsos de Moscovo mais uma vez e

Levitan recebeu ordem de partida. Foi apenas em virtude dos pedidos dos seus
amigos e colecionadores de arte que poderia voltar para casa no final do ano. Uma
permissão oficial para retornar foi concedida em janeiro de 1894, graças à
mediação do artista Pavel Bryullov, membro do Conselho da Sociedade
Peredvizhniki. Levitan foi 'aceito' de volta principalmente pelo seu talento e
começou a obter reconhecimento internacional nesta época, com algumas de suas
pinturas nas Feiras Mundiais de Chicago (1892), Londres (1894) e Paris (1900). Em
1896, ele expôs com a *Secessão de Munique, um grupo vagamente associado à
Arte Nova.

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*Fundada em 1892-1893 por um grupo progressista de artesãos, cuja
influência se estendeu às artes visuais e ao design de produtos.

Foto de Isaac Levitan nos

anos 1890.

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Estilo e o modelo landscape
As pinturas de paisagens de Levitan são diversas em termos de estilo e de assunto.
A formação acadêmica permitiu-lhe ser um pintor versátil e, como muitos dos outros
mestres russos, parece que não tinha timidez em experimentar seu estilo e técnica.
Algumas pinturas são delicadamente convertidas e realistas, enquanto outras são
ousadas e impressionistas.

Quando jovem, Levitan recebeu uma notável influência por parte do seu circulo de
artista, que soube transmitir com um profundo sentimento telúrico às paisagens
caracterizantes russas. Ao regressar ao seu país começou a trabalhar febrilmente e
muitos ousaram assegurar que ninguém podia sentir a alma da paisagem russa
como Levitan, que só cultivava esse género pictórico. Ele é atualmente considerado
o auge da pintura de paisagem russa do século XIX porque, além disso, em sua
pintura ao ar livre, capturou com pinceladas leves: o realismo admirável; as
gradações sutis da espessura da luz solar e as finas camadas de cor nas sombras.

No modelo landscape, as obras de Levitan foram uma resposta profunda ao

charme lírico da paisagem russa. Levitan não pintou paisagens urbanas; com
exceção da vista do Mosteiro Simonov, embora, os seus últimos trabalhos
mostraram familiaridade com o impressionismo, a sua composição nas obras
geralmente muda e suas tendências eram mais naturalistas e poéticas do que
óticas ou científicas.

Filipe Suspiro
 Vista sobre o Mosteiro Simonov, pintura de Isaac Levitan (ano
desconhecido).

Filipe Suspiro
Obras e suas análises

Esta obra, pintada quando Levitan tinha 19

anos baseia-se num arranjo composicional
simples, mas eficaz, com as duas linhas
convergentes formadas pelas bordas do
caminho encontrando-se com as da linha
das árvores no centro da tela. As cores,
embora suaves, são quentes e divididas que
acentuam a profundidade da composição e
sugerem a solidão da cena.

Sokolniki é um parque fora de Moscovo onde

Levitan se estabeleceu por algum tempo
com a sua irmã, tendo sido expulso de
Moscovo como judeu após a tentativa
fracassada do assassinato do czar
Alexandre II por um revolucionário judeu.
“Dia de Outono” (Sokonilki), 1879

Filipe Suspiro
 Esta pintura mostra a importância do
espaço negativo. Os espaços entre
as árvores interrompem uma área
escura e monótona. Os usos de
diferentes cores dentro do espetro
verde também desempenharam num
papel importante em dar contexto e
forma às árvores.

“Floresta”, 1880

Filipe Suspiro
 Esta pintura representa a
Estrada Vladimirka ou Vladimir
que se situa a leste de Moscou
até a cidade de Vladimir. Foi
por acaso que Levitan
descobriu a estrada pela
primeira vez enquanto caçava
com sua amante Sofia, e então
decidiu retratá-la. Isaac pintou
a estrada como ele a viu pela
primeira vez: vazia e desolada,
num dia nublado. Trata-se de
uma paisagem geral sombria: a
personagem feminina que
espera a meia distância evoca
uma sensação de presença
“A Estrada Vladimir”, 1892
humana, mas sublinha ao mesmo tempo
a imensa quietude e solidão do lugar.

Filipe Suspiro
 Esta obra é uma das mais
famosas de Levitan, pois
transmite uma sensação de
calma. As cores são
sombrias e há um contraste
poderoso no topo da pintura,
onde a luz do sol projeta-se
sobre as nuvens dramáticas
que alinham no horizonte. A
igreja na parte inferior, que
aparece relativamente
pequena e insignificante, dá
uma sensação da escala na
pintura.

“Acima da paz eterna”, 1894

Filipe Suspiro
 Esta é uma das últimas obras de
Levitan, publicada no ano da
sua morte. As qualidades
formais da pintura são
impressionantes, sugerindo uma
mudança experimental tardia no
seu estilo. No último período da
sua carreira, Levitan criou várias
obras retratando palheiros. Esta
obra, parece ser a expressão
final do efeito que ele estava
tentando alcançar: uma
simplificação extrema de forma
e de cor. As suas últimas
pinturas indicam o seu
reconhecimento e dívida para
com os impressionistas.
“Pilhagens de feno”, 1900

Filipe Suspiro
Período final de vida e legado
Em 1895 foi um ano de tragédia para Levitan, sendo diagnosticado com uma
doença cardíaca grave que o deixou profundamente chocado. Isaac tentou-se
suicidar duas vezes, "como consequência de uma neurastenia agravada", segundo
um de seus biógrafos. Depois de sofrer um ataque cardíaco, viajou para o exterior
para tratamento médico, principalmente passando um tempo num resort alpino na
Itália, onde ficou impressionado com a vista das montanhas.

Em 1898, começou a lecionar na Escola de Moscovo, onde foi nomeado Chefe de

Estúdio de Paisagismo, seguindo o caminho dos seus mentores. O seu estado de
saúde não estava a melhorar, mas continuou a trabalhar diligentemente, pintando,
desenhando e produzindo paisagens repletas de luz pacífica. Ele viajou e participou
em exposições, notadamente a abertura da 28ª exposição Peredvizhniki, onde
queria ver as obras dos seus alunos ao lado das suas. Isaac era amado como
professor, envolvendo-se intimamente na carreira e no futuro de seus alunos.

Levitan é considerado um dos artistas mais importantes da história recente da arte

Russa, conhecido em particular pelas suas contribuições para o gênero paisagístico
russo. Como o seu antigo professor e mentor Savrasov, colocou o campo russo no
centro do seu trabalho num momento em que o Império estava indeciso entre a
ocidentalização e a identidade cultural nativa.

Filipe Suspiro