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PARÂMETROS ANTROPOMÉTRICOS PARA O DESIGN DO SUTIÃ

Anthropometric parameter for bra design

Amaral, Denyse; Bacharel; Universidade Federal de Pernambuco,


denysediodato@outlook.com
Alves, Rosiane; Drª; Universidade Federal de Pernambuco,
rosipereiraa211@yahoo.com.br

Resumo: O objetivo desse trabalho foi investigar o uso do sutiã entre estudantes
universitárias e verificar uma forma de obtenção de medidas para projetar um sutiã
capaz de contribuir para o conforto. Foi aplicado questionário a fim de identificar os
principais problemas no uso do sutiã. Foram testados o método tradicional de aferição
e o método sugerido por Pechter. Este último apresentou resultados satisfatórios.
Palavras chave: Sutiã; ergonomia; vestibilidade.

Abstract: The aimed this study was to investigate the use of the bra among university
students and to verify a way to achievement measures to design a bra capable of
contributing to comfort. A questionnaire was applied in order to identify the main
problems in the use of the bra. The traditional method of admeasurement and the
method suggested by Pechter were tested. This latter presented satisfactory results.
Keywords: Bra; ergonomics; wearability.

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Introdução

Este artigo apresenta dados da investigação sobre o uso do sutiã por um


grupo de estudantes universitárias, desenvolvido durante o trabalho de conclusão
de curso da graduação em design na Universidade Federal de Pernambuco.
O sutiã é um roupa íntima e de acordo com Rossetti (1995), a roupa íntima
pode ser definida como aquela que está em contato direto com a pele, tais como
calcinha, sutiã, dentre outros. Interessa, neste artigo, o papel do sutiã como
vestuário do cotidiano de estudantes universitárias.
Em pesquisa anterior, Alves e Martins (2016), identificaram que, no espaço
laboral, há uma adesão de 100% do uso do sutiã pelas mulheres. Entretanto,
Pechter (1998), também havia encontrado que 70% das mulheres usavam o sutiã
no tamanho errado.
Esses dados, aliada a elevada quantidade de mulheres que fazem uso
dessa peça o dia inteiro, são precedentes para condução de novas investigações
relacionadas a adequação do tamanho do sutiã às usuárias.
Portanto, o objetivo dessa pesquisa foi investigar o uso do sutiã no
cotidiano de estudantes e verificar uma forma de obtenção de medidas para
projetar um sutiã adaptado às necessidades das usuárias.
Ha indícios de que o uso de peças semelhantes ao sutiã teve início por
volta de 2.500 anos a.C. na ilha de Creta. Entretanto, o sutiã é uma criação do
século XX. Desde então, tem acompanhado as transformações sociais da mulher e
os ditames da moda. Atualmente é possível encontrar uma grande diversidade
desse produto. No entanto, sua produção no mercado brasileiro, em termos de

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medidas antropométricas não está padronizado. Isso dificulta a idenficação do
tamanho correto do sutiã pelas usuárias.
Por exemplo, numa análise exploratória, foi verificado que as tabelas de
medidas disponibilizada por algumas empresas, denominadas nesta pesquisa de
E1, E2 e E3, apresentam valores referenciais da mama e do tórax, diferentes entre
si para identificação do tamanho correto do sutiã.
Além disso, de acordo com Lopes (2015) as mamas apresentam variações
ao longo da vida da mulher, o que leva na maioria das vezes, a formação de
ptoses. A ptose de acordo com a Dream Plástic (2017) é termo médico para
mamas com diferentes graus de flacidez.
Neste caso, o sutiã passar a ser um aliado, dadas as funções que pode
exercer para melhorar a aparência das mamas, cobri-las, sustenta-las, moldá-las,
dentre outras. Todavia, o uso do sutiã pode ser prejudicado, quando há problemas
de vestibilidade. Uma vez identificados, a ergonomia pode contribuir com a
adaptação dessa roupa íntima às características e necessidades das usuárias.
Pois, segundo Kagiyama (2011), a ergonomia almeja o bem-estar, o
conforto e integridade física (saúde) do ser humano em sua relação de utilização e
consumo de produtos. Enquanto que, o termo vestibilidade, apresentado como
parte da ergonomia e resultante da transposição teórica e metodológica da
usabilidade foi uma proposição de Alves (2016).
A vestibilidade, de acordo com Alves e Martins (2017, p.69) é a medida na
qual uma roupa pode ser vestida e usada por um grupo de usuários ou um usuário
individualmente, para alcançar objetivos específicos, com eficácia, eficiência e
satisfação. As autoras definiram esses componentes da seguinte forma:

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− Eficácia: relação entre os objetivos dos usuários ao usar
determinada roupa e a exatidão e completude com que estes
objetivos podem ser alcançados.
− Eficiência: relação entre o nível de eficácia alcançado usando a
roupa em um contexto específico e o consumo de recursos. Além
do ótimo ajuste ao corpo durante o uso.
− Satisfação: o quanto os usuários estão livres de desconforto
usando a roupa em determinado contexto e as atitudes positivas
em relação a roupa usada. A preferência e frequência de uso
também estão inclusas nesse componente.

Metodologia

Foi realizada uma investigação de natureza qualitativa, subsidiada pelas


pesquisas bibliográfica e de campo. Esta última dividida em três principais fases: 1)
levantamento das necessidades relacionadas ao uso do sutiã e aferição
antropométrica de 10 estudantes universitárias, utilizando os métodos de medição
tradicional e direta. Todas assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido; 2) desenvolvimento do protótipo; 3) teste de vestibilidade com a
respondente que apresentou maior desconforto no uso anterior do sutiã.
O método de aferição direta da mama foi proposto por Pechter (1998), que
ao testá-lo com 100 mulheres, verificou maior correspondência com a
determinação do tamanho correto (84%), do que utilizando o método tradicional.

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Resultados

Foram entrevistadas 10 universitárias com idade média de 21 anos. De


acordo com as mesmas, as principais funções requeridas do sutiã são: sustentar
(4), modelar (3) e pudor (3). Ou seja, se estas funções forem atingidas, seu uso
terá sido eficaz.
Para construção do novo protótipo foi utilizada a modelagem industrial de
Duarte e Saggese (2008). Foi selecionada para teste o tamanho 50. Pois a
realização de avaliações com mamas maiores, facilita a identificação de um maior
número de problemas possíveis, devido a maior necessidade de sustentação.
Com base nas tabelas estudadas, de três empresas (E1, E2 e E3), foi
verificado que a usuária selecionada para o teste de vestibilidade, poderia usar três
numerações diferentes. Ou seja, com base em E1, usaria o tamanho 50C; pela
tabela de E2, a numeração 50; e por E3, usaria um sutiã de tórax tamanho 46.
Pelo método de Pechter (1998) a respondente usaria uma taça de
tamanho C. Com mama de 24cm = 9 polegadas = Taça C. De acordo com Duarte
e Saggese a mesma usaria um tamanho 50. Portanto, nossa suposição foi pelo
uso do tamanho 50C.
Para os testes, foram produzidos protótipos de sutiãs modelo Cobertura
total de 4 tamanhos diferentes: 1) Protótipo 1 com tórax 46 e busto 50; 2) Protótipo
2 com tórax 50 e busto 50; 3) Protótipo 3 com tórax 52 e busto 50; 4) Protótipo 4
com tórax 50 e busto 52. (Figura 1).

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Testes de vestibilidade

Os testes de vestibilidade foram realizados por aproximadamente 4 horas


diárias, no período de aulas da respondente selecionada para teste, das 19h00 às
22h00, durante quatro dias consecutivos. A mesma estudante usou os 4 tamanhos
diferentes.
De acordo com a respondente, o Protótipo 1 (Figura 1) possui as faixas
laterais e das costas largas e confortáveis, ajuda a modelar busto e costas.

Figura 1: Teste de vestibilidade


Protótipo 1 Protótipo 2 Protótipo 3 Protótipo 4

Fonte: Elaborada pela autora

No Protótipo 2 (Figura 1), a respondente avaliou positivamente as taças,


porém afirmou que a faixa exerceu pressão e alertou para necessidade do
tamanho maior.
Em ambos os modelos - Protótipo 1 e Protótipo 2 - a faixa e as alças,
exerceram forte pressão no tórax e nos ombros, respectivamente. A ponte nos dois
modelos, provocou o afastamento das mamas, mais nitidamente quando usando o
protótipo 1, do que usando o protótipo 2. (Figura 1).

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Quando usando o Protótipo 3 (Figura 1), a respondente afirmou que as
alças estavam folgadas. A faixa e as alças desse sutiã não pressionaram a pele
nem os músculos, porém a sustentação das mamas não foi satisfatória.
O Protótipo 4 (Figura 1), de tórax 50 e busto 52 (C), segundo a
respondente, proporcionou conforto e apresentou um ajuste ótimo em todas as
partes. Portanto, foi confirmada a suposição de Pechter (1998) sobre a
determinação correta do tamanho do sutiã com base na medição direta da mama.
As respondentes avaliadas no primeiro questionário, com mama de
tamanho médio à grande, haviam afirmado que as principais funções do sutiã
estavam entre sustentar e modelar. Similar ao achado de Kagiyama (2011).

Considerações Finais

Este trabalho investigou o uso do sutiã no cotidiano de estudantes


universitárias e verificou uma forma de obtenção de medidas para projetar um sutiã
adaptado às necessidades desse grupo de usuárias.
Com a análise das tabelas de medidas de três empresas, aliada aos testes
de vestibilidade, verificou-se a necessidade de padronização de medidas entre
diferentes empresas, para facilitar a identificação do tamanho correto do sutiã pelas
usuárias. Neste caso, um estudo antropométrico adicional é recomendável.
Quanto ao método tradicional de aferição, concluímos que em alguns
casos pode apresentar falhas. Todavia, mais testes serão necessários para
resultados com maior precisão.

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Referências

ALVES, R. P. Vestibilidade do sutiã por mulheres ativas no mercado de


trabalho. 2016. Tese (Doutorado em design). Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 2017.
ALVES, R. P.; MARTINS, L. B. Hábitos de uso do sutiã no APL de confecções
e suas implicações na satisfação. Blucher Engineering Proceedings, [s.l.], dez.
2016. Editora Blucher. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5151/engpro-
conaerg2016-7464.> Acesso em 06 Set 2017.

ALVES, Rosiane P.; MARTINS, Laura B. Vestibilidade: transposição teórica e


metodológica com base na ABNT NBR 9241-11/210. In: 13o Colóquio de Moda.
2017. Anais eletrônicos... - Bauru - SP. 2017. Disponível em: <
http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/13-Coloquio-de-
Moda_2017/GT/gt_6/gt_6_VESTIBILIDADE.pdf>. Acesso em 15 nov 2017.

Dream Plástic. Disponível em:


<https://www.plasticadosonho.com.br/blog/ptose-mamaria/>. Acesso em 20 de
setembro de 2017.
DUARTE, S; SAGGESE, S. Modelagem Industrial Brasileira. 4ª ed. Rio de
Janeiro, Editora Guarda Roupa, 2008.
KAGIYAMA, W. O sutiã sob abordagem do conforto. 2011. Dissertação
(Mestrado em design). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2011.
LOPES, R. G. C. Condutas em ginecologia. 1º ed. São Paulo. Editora
Atheneu, 2015.
PECHTER, E. A. A new method for determining bra size and predicting
postaugmentation breast size. Plastic and Reconstructive Surgery. v.102, n.
4, p. 1259-1265, September, 1998.
ROSSETI, A. Roupas íntimas: o tecido da sedução. 2º ed. Editora Martins
Fontes. Rio de Janeiro. 1995

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