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RIBSP- Vol 2 nº 4 – Jan/Jun 2019 Dequex Araújo Silva Júnior

A CRISE SACRIFICAL DO SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO E OS


REFLEXOS NA SEGURANÇA PÚBLICA
Dequex Araújo Silva Júnior

RESUMO: O artigo analisa a crise do sistema judiciário brasileiro, aquela conduzida por juízes
gnóstico-marxistas, que utilizam o garantismo penal para estabelecer uma política criminal
bandidolátra e democida. A hipótese da pesquisa é de que parte do sistema de justiça criminal
fomenta a violência indiferenciada na atual realidade nacional por não cumprir sua função de
afastar a possibilidade do círculo da vingança por meio dos princípios da retribuição e da
vingança como princípio de justiça. O argumento é que se a violência no Brasil chegou a um nível
insustentável de mais de 65 mil homicídios por ano, sem contar outras formas de violência, então
é porque o sistema judiciário não está cumprindo a sua função essencial: a preservação da ordem
e da segurança do grupo através do controle da vingança privada e recíproca. A análise toma
como fulcro a teoria mimética da violência de René Girard desenvolvida em sua obra A violência e
o sagrado, onde demonstra que os homens são movidos por um desejo mimético gerador de
rivalidades que, quando não controlado, pode desencadear violência indeterminada e o ciclo da
vingança.

Palavras-chave: Teoria Mimética. Crise sacrificial. Sistema Judicial. Violência.

THE SACRIFICE CRISIS OF THE BRAZILIAN JUDICIAL SYSTEM


AND THE REFLECTIONS ON PUBLIC SECURITY

ABSTRACT: The article analyzes the crisis of the Brazilian judicial system led by the gnostic-
Marxist judges, who use criminal guaranty to establish a criminal policy banditolátra and
democida. The hypothesis of the research is that the Brazilian criminal justice system foments
undifferentiated violence in the current Brazilian reality for failing to fulfill its function of ruling
out the possibility of the revenge circle through the principles of retribution and revenge as a
principle of justice. The argument is that if violence in Brazil has reached an unsustainable level
of more than 65,000 homicides a year, not counting other forms of violence, then it is because
the judicial system is not fulfilling its essential function: the preservation of order and group
security through private and reciprocal revenge control. The analysis takes as a fulcrum the
mimetic theory of violence of René Girard developed in its work the violence and the sacred,
where it demonstrates the men are moved by a mimetic desire that generates of rivalries and that
if it is not controlled can unleash indeterminate violence and the cycle of the revenge.

Keywords: Police Mimetic Theory. Sacrificial Crisis. Judicial System. Violence.

 Doutor e Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. Especialista em Segurança Pública pela
Academia de Polícia Militar da Bahia/ Universidade Estadual da Bahia. Especialista em Gestão Publica pela
Universidade Salvador. Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Licenciado em Filosofia pela Faculdade
Batista Brasileira. Diretor Regional na Bahia do Instituto Brasileiro de Segurança Pública (IBSP). Currículo Lattes: <
http://lattes.cnpq.br/1455748373661314>.

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círculo da vingança mediante uma


1. INTRODUÇÃO intervenção judiciária que adota a retribuição
como princípio de justiça.

E
Para um maior e melhor
m um artigo recente, intitulado O que
entendimento dessa relação causal entre
esperar do novo governo federal no campo
esses dois elementos, é necessário conhecer
segurança pública?1, afirmamos que o
a real função do poder judiciário, no que
crime no Brasil é estimulado por um sistema
tange especificamente ao controle da
de justiça criminal bandidolátra, democída e
violência. Esta se constituiu e continua se
gnóstico. Isso significa que a elevação
constituindo na principal preocupação
contínua da criminalidade está relacionada
humana para a garantia da ordem
com o modelo político-jurídico criminal
sociocultural. Nesse sentido, tomou-se como
implantado no país que vê o bandido como
referência de análise apenas a parcela dos
vítima de um sistema socioeconômico
magistrados que limitam sentenças penais.
considerado maligno, visão esta atrelada ao
Dentro do sistema de justiça criminal essa
pensamento marxista que hoje norteia a
ala da magistratura é a responsável por evitar
maioria das leis penais e do entendimento de
que a violência prolifere por meio do ciclo
juristas e aplicadores do Direito. Entretanto,
da vingança. Se a violência no Brasil chegou
no artigo citado, não foi objetivo aprofundar
ao nível da anormalidade de mais de 65 mil
o tema da maneira que ele requeria.
homicídios por ano, além de milhares de
Ao afirmar que haja uma relação de
outras formas de violência, então é porque
causalidade entre a atuação da aludida
essa fração do poder judiciário não está
parcela do sistema de justiça criminal (causa)
cumprindo a sua função essencial, que é a
e a elevação da criminalidade (efeito), não se
preservação da ordem e da segurança do
está aqui levantando a hipótese de que o
grupo através do controle da vingança
judiciário, o qual consiste no mecanismo de
privada e recíproca.
controle formal, criado dentro da estrutura
Para o desenvolvimento dessa
do Estado moderno para racionalizar a
análise, recorreu-se à teoria mimética da
violência, não esteja sendo eficaz por
violência de René Girard, desenvolvida em
qualquer incapacidade técnica ou humana.
sua obra A violência e o sagrado. Nessa obra
Parte-se aqui de uma proposição
Girard vai mostrar que os homens são
estabelecida em outro trabalho2: de que uma movidos por um desejo mimético gerador de
parte do sistema de justiça criminal está a conflitos e rivalidades, onde a violência pode
serviço da mentalidade revolucionária que há se espalhar se não houver mecanismos para
mais de três décadas visa criar um modelo de contê-la. Estes mecanismos são, nas
sociedade socialista no país. sociedades primitivas, o sacrifício, e nas
Com isso, este artigo tem como sociedades civilizadas, o sistema judiciário.
objetivo ampliar o entendimento do O artigo, além da Introdução, está
problema partindo da seguinte hipótese: dividido em seis seções: a segunda trata de
parcela significativa do sistema de justiça forma introdutória da teoria do desejo
criminal brasileiro tem sido a grande mimético de René Girard e sua relação com
fomentadora da violência indiferenciada na a violência e a vingança miméticas; a terceira
atual realidade brasileira, por induzir ao diz respeito à função do sacrifício como
afastamento pelo Judiciário da sua função mecanismo de controle da violência e do
originária, que é afastar a possibilidade do círculo da vingança por meio dos rituais
direcionados para as vítimas expiatórias, cujo
1 Esse artigo foi publicado em 13 de janeiro de 2019 objetivo é a paz e a harmonia social; a quarta
no site do Instituto Brasileiro de Segurança Pública. trata da substituição do sacrifício pelo
Cf. http://ibsp.org.br/pensamento-socionormativo- sistema judiciário, que passa a racionalizar a
da-seguranca-publica/o-que-esperar-do-novo- violência e monopolizar a vingança mimética
governo-federal-no-campo-seguranca-publica/.
2 Silva Junior; Reis (2018). na sociedade moderna; a quinta descreve a
crise sacrificial e o reflexo dessa crise na

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ordem cultural e na segurança individual e amigos, sua nação, sua profissão ou seu
coletiva das pessoas dentro das sociedades nome” (1974, p. 70).
primitivas; a sexta explica a crise sacrificial René Girard (1990), na esteira de
do sistema judicial brasileiro, relacionando Hobbes, diz que há na natureza humana um
esta crise ao processo revolucionário em desejo mimético que leva os indivíduos à
curso, cujos condutores são os juízes que violência. Esse desejo se direciona para um
aderem ao idealismo gnóstico-marxista, objeto já desejado por outra pessoa e sua
tendo como consequência o aumento estrutura é, conforme Jim Grote e John
exponencial da violência por causa do McGeeney, triangular: “(1) objeto do desejo,
estímulo recorrente da adesão desses (2) aquele que deseja o objeto, ou seja, o
magistrados, que essa ala idealista fomenta sujeito, e o (3) modelo que gera o desejo do
no próprio sistema, à vingança recíproca sujeito” (2011, p. 79-80). Nessa estrutura
entre os componentes das facções rivais; por triangular delineada por Girard (1990), o
fim, a sétima seção, conclui a análise a partir objeto não é desejado pelo sujeito
da proposição e da argumentação iniciais. diretamente como ocorre, por exemplo, na
explicação tentada em Hobbes, mas apenas
por meio da mediação do desejo de outra
2. A VIOLÊNCIA MIMÉTICA pessoa, onde este passa a se constituir no
modelo. Grote e McGeeney exemplificam a
A violência sempre foi uma estrutura do desejo mimético girardiano (à
preocupação humana, pois a tendência desse qual eles denominam de desejo emprestado)
fenômeno, quando deixado sem o devido a partir do romance E o Vento Levou:
controle, é destruir não somente os
indivíduos de per si, mas também todo o seu Em E o Vento Levou, Scarlett O’Hara é a
legado sociocultural. É para evitar incorporação viva do desejo emprestado. O
inicio da história retrata a sua obsessão em ter
justamente essa destruição que os homens o único homem inacessível em seu mundo
buscam mecanismos de ludíbrio à violência, enclausurado – Ashley Wilkes. O interesse de
que visam controlá-la saciando-a de forma a Scarlett em Ashley atinge o seu ápice depois
não se expandir. que descobre que ele está comprometido com
A preocupação com a violência é uma mulher, Melanie Hamilton. Melanie é o
modelo que exacerba o desejo de Scarlett por
justificável, pois em todo grupo humano a Ashley (2011, p. 82).
possibilidade de conflito é sempre iminente,
visto que há na natureza humana elementos Na estrutura triangular do desejo
causais que levam à discórdia. Hobbes mimético girardiano, o conflito é iminente,
(1974) parece ter sido o primeiro a onde gera uma rivalidade mimética e, por
identificar na natureza humana esses conseguinte, uma violência mimética. Nas
elementos causais, inclusive cita três: palavras de Girard: “A rivalidade não é o
“Primeiro, a competição; segundo, a fruto da convergência acidental de dois
desconfiança; terceiro, a glória”. A desejos para o mesmo objeto. O sujeito deseja
competição, a desconfiança e a glória, levam o objeto porque o próprio rival o deseja” (1990, p.
os homens a atacar os outros objetivando, 180). Desta forma, o “rival é o modelo do
respectivamente, o “lucro”; a “segurança” e sujeito, não tanto no plano superficial das
a “reputação”. Desta forma, os homens maneiras de ser, das ideias, etc., quanto no
utilizam da violência, no caso da: plano essencial do desejo” (1990, p. 180).
competição, “para se tornarem senhores das Entretanto, o desejo mimético não
pessoas, mulheres, filhos e rebanhos de fica limitado a uma estrutura triangular
outros homens”; desconfiança, “para simples, ou seja, de duplo vinculo: sujeito –
defendê-los”; e, glória, “por ninharias, como objeto – modelo. Esse desejo mimético se
uma palavra, um sorriso, uma diferença de amplia em vários duplos vínculos
opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, indefinidamente, pois muitos passam a
quer seja diretamente dirigido a suas pessoas, desejar aquilo que aquele um deseja. Nas
quer indiretamente a seus parentes, seus palavras de Girard: “Este desejo mimético

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coincide com o contágio impuro; motor da Nas sociedades primitivas, onde,


crise sacrificial, ele destruiria toda a grosso modo, os grupos são reduzidos e impera
comunidade se não houvesse a vítima o que Émile Durkheim (1999) denominou
expiatória para detê-lo e a mimesis ritual para de consciência coletiva, cuja integração
impedi-lo de se desencadear” (1990, p. 183). social se dá pela semelhança em virtude das
A estrutura triangular, a partir dos vários crenças e dos sentimentos comuns, o menor
duplos vínculos, move-se, conforme Grote e conflito pode desencadear catástrofes e o
McGeeney, da seguinte forma: “(1) de um sacrifício, segundo Girard (1990), se
desejo pelo mesmo objeto, (2) para uma apresenta como o mecanismo de
preocupação com a própria rivalidade, (3) convergência das tendências agressivas para
para a busca de um bode expiatório para as chamadas vítimas sacrificiais, que são
resolver a crise” (2011, p. 101-102). A nova aquelas “sempre não susceptíveis de serem
estrutura triangular agora é: sujeito – modelo vingadas” e que por isso se mostram
– vítima. “sempre uniformemente neutras e estéreis
Em suma, o desejo quando não é no plano da vingança”. Ademais, ressalta
satisfeito torna-se frustração, onde esta, por Girard:
sua vez, torna-se também desejo acusatório,
que engendra um sentimento de raiva sobre O sacrifício oferece ao apetite de violência,
uma terceira pessoa, a vítima expiatória ou que a vontade ascética não consegue saciar,
um alívio sem dúvida momentâneo, mas
sacrificial. Sobre esta, como se vê mais indefinidamente renovável, cuja eficácia é tão
adiante, cairá toda a responsabilidade pelas sobejamente reconhecida que não podemos
frustrações causadas pela não satisfação do deixar de levá-la em conta. O sacrifício
desejo mimético, evitando, assim, que a impede o desenvolvimento do germe da
violência recíproca prolifere por toda a violência, auxiliando os homens no controle
da vingança (1990, p. 32).
comunidade.
Na sociedade sacrificial, qualquer
situação de crise é respondida por meio do
3. MECANISMO DE CONTROLE DA
sacrifício. Esta atua justamente para impedir
VIOLÊNCIA NAS SOCIEDADES
a propagação desordenada da violência,
PRIMITIVAS
evitando, assim, uma espécie de contágio.
Nesse sentido, os rituais de sacrifício têm,
Nas sociedades primitivas, o
conforme Girard, duas preocupações:
mecanismo adotado para evitar que a
“evitar este tipo de difusão” e, “proteger na
violência se espalhe, por conta do desejo
medida do possível aqueles que se
mimético, e ameace a ordem sociocultural, é
encontram inesperadamente envolvidos em
o sacrifício. Todo sacrifício visa, diz Girard,
uma situação de impureza ritual, ou seja, de
restaurar a harmonia e reforçar a unidade
violência” (1990, p. 45-46).
social da comunidade; a sua função social é
Como foi citado acima, o sacrifício
abrandar as diversas violências intestinas e
se direciona para uma vítima sacrificial, que
evitar a explosão de conflitos. O autor
é, conforme Girard, uma “vítima
argumenta que:
relativamente indiferente, uma vítima
Se não existe, entre as sociedades primitivas,
‘sacrificável’, uma violência que talvez
nos momentos em que o equilíbrio foi golpeasse seus próprios membros [da
conturbado, um remédio definitivo ou uma sociedade], que ela pretende proteger a
cura infalível para a violência, podemos supor qualquer custo” (1990, p. 16). Essa vítima
que as medidas preventivas, e não as curativas, sacrificável pode ser animal ou humana,
aí ocupem um lugar de destaque. Assim,
reafirmamos a definição de sacrifício proposta sendo ela canalizadora da violência e cuja
acima, segundo a qual ele é um instrumento morte pouco ou nada importa para os
de prevenção na luta contra a violência (1990, membros da sociedade. É nesse sentido que
p. 31). Girard argumenta: “Só é possível ludibriar a

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violência fornecendo-lhe uma válvula de de impedir o ciclo da vingança. Não há uma


escape, algo para devotar” (1990, p. 16). supressão da vingança, “mas limita-se
O sacrifício, aduz Girard, “baseia- efetivamente a uma represália única, cujo
se na semelhança entre as vítimas atuais e as exercício é confiado a uma autoridade
vítimas potenciais, e essa condição pode ser soberana e especializada em seu domínio”,
perfeitamente preenchida quando, nos dois onde as decisões dessa autoridade “afirmam-
casos, trata-se de seres humanos”. Em certas se sempre como a última palavra da vingança”
sociedades, a sistematização da “imolação de (1990, p. 27).
certas categorias de seres humanos com o Conforme Girard, não existe, “no
objetivo de proteger outras categorias não sistema penal, nenhum princípio de justiça
tem nada de surpreendente” (1990, p. 23). real diferente do princípio de vingança”, pois
Deve-se “oferecer ao apetite da violência um o “mesmo princípio funciona nos dois
alimento conveniente, todas as vítimas, casos: a reciprocidade violenta, a
mesmo animais, devem assemelhar-se retribuição”. Esta ideia girardiana de que o
àquelas que substituem” (1990, p. 25). Sobre sistema penal segue o princípio da vingança
a escolha da vitima sacrificável, diz Girard: e, por conseguinte, da retribuição, já estava
contida no pensamento de Durkheim, mais
Para que uma determinada espécie ou especificamente na sua teoria da pena3, onde
categoria de seres vivos (humano ou animal) ele analisa esta como ela é ou foi e não como
mostra-se como sacrificável, é preciso que
nela seja descoberta uma semelhança tão
deve ser, afirma que a pena é um ato de
surpreendente quanto possível com as vingança, pois se constitui numa expiação e
categorias (humanas) não sacrificável, sem que
a distinção perca sua nitidez, evitando-se 3 O princípio da retribuição já estava contido no
qualquer confusão (1990, p. 25).
Velho Testamento como bem esclarece Hans Kelsen
em seu estudo sobre a justiça: “Jus talionis. O princípio
Ainda sobre as vítimas sacrificáveis, da retribuição – como essência da justiça de Javé – é a
Girard argumenta, que quando se considera expresso por Moisés nesta breve fórmula: ‘Vede, hoje
o panorama geral do sacrifício humano, por estou colocando diante de vós uma benção e uma
exemplo, deparamo-nos com uma lista maldição: uma benção se obedecerdes aos
mandamentos de Javé, vosso Deus, que vos dou hoje,
extremamente vasta e heterogênea: “os e uma maldição se não obedecerdes aos
prisioneiros de guerra, os escravos, as mandamentos de Javé, vosso Deus, e se vos
crianças e os adolescentes solteiros, os desviardes do caminho que vos estou apontando
indivíduos defeituosos, ou ainda a escória da hoje, e correrdes atrás de desuses estranhos que não
sociedade, como o pharmakos grego” (1990, conheceis’ (Deuteronômio 11, 26 ss.). Como em
quase todas as religiões, a punição e a recompensa
p. 25). O que há em comum entre essas não têm a mesma importância. A punição está em
vítimas, prossegue o autor, é “um vínculo primeiro plano, a recompensa em último, nesse
muito frágil ou nulo com a sociedade” sistema de justiça, especialmente se tiver de ser
(1990, p. 25), bem como sua não aplicada, não diretamente por Deus, de maneira
susceptibilidade de serem vingadas. transversal, mas por homens, na forma de sanções
socialmente organizadas. Que a justiça como
retribuição signifique em primeiro lugar punição é a
consequência do fato de ser a ameaça de punição por
4. MECANISMO DE CONTROLE DA conduta indesejável – não a promessa de recompensa
VIOLÊNCIA NAS SOCIEDADES pela conduta contrária – a técnica específica do
CIVILIZADAS Direito positivo; e a ideia de justiça sempre reflete
mais ou menos a realidade social tal como
manifestada no Direito positivo. Portanto, o princípio
Se nas sociedades primitivas o da retribuição é apresentado também como jus talionis:
mecanismo de controle da violência é o ‘Arrancarás os maus de teu meio, e, quando os que
sacrifício, nas sociedades civilizadas ou sob a restarem souberem, terão medo e nunca mais farão
forma de Estado esse mecanismo é o maldade como esta em teu meio. Portanto, não deves
ter piedade: vida por vida, olho por olho, dente por
sistema judiciário, diz Girard. O sistema dente, mão por mão, pé por pé’ (Deuteronômio 19,
judiciário nasce para afastar a ameaça de 19 ss.). O mesmo princípio é proclamado no Êxodo
vingança, substituir o sacrifício como forma 21, 23-25, e no Levítico 24, 19-21” (KELSEN, 2001,
p. 43).

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que sua natureza permanece a mesma dentro O sistema judiciário apresenta-se


da sociedade orgânica ou sociedade mais racional do que os procedimentos
moderna, tal como era na sociedade curativos rudimentares adotados nas
mecânica ou sociedade primitiva: “a pena sociedades primitivas, segundo Girard,
permaneceu, para nós, o que era para nossos justamente “por se conformar mais
pais: ainda é um ato de vingança, já que é estritamente ao princípio da vingança”, pois
uma expiação. O que vingamos, o que o ao “invés de tentar, como todos os
criminoso expia, é o ultraje à moral” (1999, procedimentos propriamente religiosos,
p. 60). impedir a vingança, moderá-la, iludi-la ou
Para Girard, o sistema judiciário, ao desviá-la para um objetivo secundário”, vai
substituir os procedimentos rudimentares racionalizar “a vingança, conseguindo
curativos das sociedades primitivas, teve um dominá-la e limitá-la a seu bel-prazer”.
objetivo pragmático bem visível: “não é o Assim, o sistema judiciário manipula a
culpado que mais interessa, mas as vítimas vingança sem perigo, “transformando-a em
não vingadas; é delas que vem o perigo mais uma técnica extremamente eficaz de cura e,
imediato”. Com isso, torna-se necessário secundariamente, de prevenção da violência”
“oferecer a estas vítimas uma satisfação (1990, p. 36), bem como racionaliza a
rigorosamente avaliada, apaziguando seu violência por se basear “na independência
desejo de vingança sem despertá-lo em outra soberana da autoridade judiciária, outorgada
parte” (1990, p. 35). de uma vez por todas, e cujas decisões não
O sistema judiciário dentro da podem, pelo menos em princípio, ser
teoria girardiana não evolui dos contestadas por nenhum grupo, nem mesmo
procedimentos curativos rudimentares, mas pela coletividade unânime” (1990, p. 37).
rompeu com eles: “O ponto de ruptura Dentro das sociedades civilizadas
situa-se no momento em que a intervenção ou modernas, o sistema judiciário passa a
de uma autoridade judiciária torna-se possuir, diz Girard, o monopólio absoluto
obrigatória. Somente então os homens estarão sobre a vingança, conseguindo, grosso modo,
livres do terrível dever da vingança” “abafar a vingança ao invés de exasperá-la,
(GIRARD, 1990, p. 35). A partir desse ao invés de alastrá-la e de multiplicá-la, o que
momento, a “intervenção judiciária deixa de este tipo de conduta inevitavelmente
possuir a mesma característica de urgência provocaria em uma sociedade primitiva”
terrível; sua significação não se altera, mas (1990, p. 37), tendo assim a mesma função
ela pode se atenuar ou até desaparecer do sacrifício, sendo, entretanto,
completamente.” Ou seja, o sistema judicial infinitamente mais eficaz, pois está associado
mascara a sua verdadeira função para o seu a outras instâncias estatais de controle
melhor funcionamento, organizando-se formal como, por exemplo, a polícia.
“imediatamente em torno do culpado e do
princípio de culpabilidade”, não deixando de
girar em torno da retribuição, “que será 5. A CRISE SACRIFICAL E
entretanto erigida em princípio de justiça PROLIFERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
abstrata, que os homens vão se
encarregando de fazer respeitar” (GIRARD, O surgimento do sistema judiciário
1990, p. 35). Desta forma, quando o sistema se deu mediante uma crise sacrificial, que
jurídico torna-se exclusivo e começa a significou a decadência do sacrifício pela sua
ocultar suas funções, da mesma maneira que incapacidade de purificar o impuro e, por
o sacrifício, dissimula “aquilo que o conseguinte, de canalizar a vingança e
identifica à vingança, uma vingança apaziguar a violência. Segundo Girard, a
semelhante a todas as outras, diferente crise sacrificial se constitui na “perda da
somente por não se perpetuar, por não ser diferença entre violência impura e a violência
ela própria vingança” (GIRARD, 1990, p. purificada”, pois não sendo mais possível a
36). purificação permite que “a violência impura,
contagiosa, ou seja, recíproca, alastre-se pela

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comunidade” (1990, p. 68). Desta forma, a Hobbes já traz à baila alguns


“crise sacrificial deve ser definida como uma séculos antes a ideia girardiana do desejo
crise das diferenças, ou seja, da ordem cultural mimético:
em seu conjunto”. E não sendo a ordem
cultural outra coisa senão um sistema Portanto se dois homens desejam a mesma
organizado de diferenças, “são os desvios coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela
ser gozada por ambos, eles tornam-se
diferenciais que dão aos indivíduos sua inimigos. E no caminho para seu fim (que é
‘identidade’, permitindo que eles se situem principalmente sua própria conservação, e às
uns em relação aos outros” (1990, p. 69). vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se
A crise sacrifical ou a crise das destruir ou subjugar um ao outro. E disso se
diferenças está atrelada à decadência da segue que, quando um invasor nada mais tem
a recear do que o poder de um único outro
ordem religiosa, que, ao se decompor, diz homem, se alguém planta, semeia, constrói ou
Girard, ameaça não apenas a segurança possui um lugar conveniente, é provavelmente
individual, mas a própria ordem cultural. de esperar que outros venham preparados
Com isso, com forças conjugadas, para desapossá-los e
privá-los, não apenas do fruto de seu trabalho,
As instituições perdem a vitalidade; a armação mas também de sua vida e de sua liberdade.
da sociedade desmorona e se dissolve; Por vezes, o invasor ficará no mesmo perigo
inicialmente lenta, a erosão de todos os em relação aos outros (1974, p. 78-79).
valores precipita-se; toda a cultura ameaça
desabar e um dia inevitavelmente desmorona Girard cita o mundo moderno
como um castelo de cartas (1990, p. 69). como aquele que aspira à igualdade4 entre os
homens, considerando as diferenças como
Com a crise sacrifical o ambiente obstáculos à paz e à harmonia entre eles. De
torna-se propício à proliferação da violência, forma contrária, a diferença é o princípio
pois são as distinções, e não a igualdade, que sustentador de qualquer ordem natural e
fundamentam a ordem e a paz. Como alerta
Girard: “Não são as diferenças, mas sim o
seu desaparecimento que provoca a
rivalidade demente, a luta extrema entre os
homens de uma mesma família ou de uma 4 Essa aspiração pela igualdade data mais
mesma sociedade” (1990, p. 69). A não precisamente da Revolução Francesa, mas será mais
utilizada pela retórica socialista e seus assemelhados.
diferença, que coloca todos na condição de Richard M. Weaver ressalta que: “A igualdade é um
igualdade e, por conseguinte, de guerra de conceito desorganizador, na medida em que as
todos contra todos, já havia sido alertada por relações humanas supõem uma ordem. Ela é a ordem
Hobbes: destituída de fim. Ela tenta estabelecer uma
arregimentação sem sentido e infrutífera daquilo que,
A natureza fez dos homens tão iguais, quanto desde tempos imemoriais, recebeu uma ordem por
às faculdades do corpo e do espírito que, meio do esquema da criação. Nenhuma sociedade
embora por vezes se encontre um homem pode ante a lei oferecer – de modo justo – algo
manifestamente mais forte de corpo, ou de inferior à liberdade, mas não pode haver igualdade de
espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, condições entre a juventude e a velhice ou entre os
quando se considera tudo isso em conjunto, a sexos. Nem mesmo entre amigos pode haver
diferença entre um e outro homem não é igualdade. A regra é a seguinte: cada um deve agir
suficientemente considerável para que onde se mostra competente. A designação de papeis
qualquer um possa com base nela reclamar idênticos produz, em primeiro lugar, confusão, e, em
qualquer benefício a que outro não possa seguida, alienação, como temos cada vez mais
também aspirar, tal como ele é. Porque quanto oportunidades para observar. Essa heresia
à força corporal o mais fraco tem força desordenada não está apenas destruindo ativamente
suficiente para matar o mais forte, quer por os arranjos sociais mais naturais; ela também está
secreta maquinação, quer aliando-se com criando um reservatório de inveja venenosa. Quanto
outros que se encontrem ameaçados pelo da frustração do mundo moderno não procede dar
mesmo perigo (1974, p. 78). por pressuposta a igualdade entre todos, da
subsequente percepção de que isso não é possível e,
então, do reconhecimento de que já não podemos
recorrer ao elo da fraternidade!” (WEAVER, 2016, p.
56-57).

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cultura5. É ela, diz Girard, “que permite que p. 72). Com a crise das diferenças, arremata
os seres situem-se uns em relação aos outros o autor:
e que as coisas tenham sentido no seio de
um todo organizado e hierarquizado”. É ela é a força que domina a fraqueza, é o filho que
“que constitui os objetos e valores que os golpeia mortalmente o pai; portanto, é
também o fim de toda justiça humana, que é
homens transformam, trocam e manipulam” também definida, de forma tão lógica quanto
(1990, p. 70). inesperada, em termos de diferença. Se o
A crise sacrificial, definida como equilíbrio é a violência, como na tragédia
crise das diferenças, pode significar ora o grega, a não-violência relativa garantida pela
enfraquecimento, ora a ocultação da justiça será necessariamente definida como
desequilíbrio, como diferença entre o “bem” e
diferença, cujas consequências são nefastas. o “mal”, paralela à diferença sacrificial do
Essa crise, diz Girard, “arremessa os puro e do impuro. Assim, não há nada mais
homens em um confronto perpétuo, estranho a esta concepção que a ideia de
privando-os de qualquer característica justiça como balança sempre igual,
distintiva, de qualquer ‘identidade’” (1990, p. imparcialidade nunca perturbada. A justiça
humana enraíza-se na ordem diferencial e
71), fazendo com que tudo esteja em sucumbe ao mesmo tempo que ela. Onde quer
oposição. “Não se pode mais falar de que o equilíbrio interminável e terrível do
adversários no sentido pleno do termo, conflito trágico se instale, desaparece a
somente de ‘coisas’, dificilmente nomeáveis, linguagem do justo e do injusto. De fato, o
que se chocam contra uma teimosia que dizer aos homens quando eles chegam a
esse ponto, senão reconciliem-se ou punam-se
estúpida, como objetos soltos de suas uns aos outros (1990, p. 72).
amarras no convés de um navio sacudido
pela tempestade” (1990, p. 72). Dentro desse Essa noção girardiana de crise
contexto de crise, prossegue Girard: “Todas sacrificial como crise das diferenças,
as formas de associação dissolvem-se ou geradora da violência desmedida e
entram em convulsão, todos os valores incontrolada, bem como desencadeadora do
espirituais e materiais deterioram-se” (1990, desejo mimético e, por conseguinte, da
violência mimética e do círculo da vingança,
pela ausência de um mecanismo de
5 Há ordem nos ambientes natural e social, primeiro, canalização da violência, nos permite,
quando existem elementos diversos e, segundo, entendo assim, definir também a crise atual
quando esses elementos não estão desvinculados no sistema de justiça criminal, de forma
entre si, mas seguem um princípio de unidade, geral, e no sistema judiciário, de forma
conforme Marcel Conche, “que os faz participarem, específica, como crise sacrifical ou crise das
ao mesmo tempo, de um conjunto único”. No
âmbito mais geral, as coisas do mundo natural ou
diferenças.
social se agrupam de forma ordenada em espécies,
categorias, classes, conjuntos etc. Se elas não
estiverem inseridas em um desses agrupamentos, as 6. A CRISE SACRIFICIAL DO
coisas individualmente não poderiam ser pensadas e SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO
nem ditas. Para reforçar ainda mais esse
entendimento, Conche traz o seguinte argumento: se
“um estudante faz parte de uma classe, um soldado, Vimos acima que a perda da função
de um exército, um operário, de uma fábrica, uma catártica do sacrifico e das diferenças
célula, de um organismo, o Sol, do conjunto dos culturais, frutos da crise sacrificial, propaga o
corpos celestes”, então, “quando é que há desordem círculo vicioso da violência. “Este círculo”,
numa classe, num exército, num organismo, etc.?
Quando o estudante, o soldado, a célula se
diz Girard, “pode ser definido em termos de
comportam como se a classe, o exército, o organismo vingança e represálias ou suscitar várias
não existissem, quando se recusam a representar seu descrições psicológicas” (1990, p. 106). A
papel, a aceitar sua inserção num conjunto e, em vez de partir dessa constatação, mostra-se razoável
submeter-se à lei do conjunto, atuam separadamente” (2000, o seguinte argumento: se o Brasil vivencia
p.299-300). Desta forma, se conclui que a ordem se
estabelece por meio do princípio da diferença entre
uma onda crescente de violência e barbárie,
os grupos, as classes, as espécies, as categorias etc. e onde o número de assassinatos cresce
não através do princípio da igualdade. exponencialmente ano após ano, onde a

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maioria dessas mortes está relacionada com cultura estabelecida, não por meio das
o círculo da vingança contida na rivalidade armas, mas de subterfúgios jurídicos e da
das facções criminosas espalhadas pelas politização do Direito. Dentro do processo
periferias das cidades, cuja morte de um revolucionário gramsciano, a intelligentsia8
integrante de uma facção culmina na morte
seguinte de um integrante da facção rival, “que uma revolução da mente deve preceder a
desencadeando, assim, a vingança recíproca, revolução política; que é mais importante solapar as
então há uma crise sacrificial dentro do bases morais e culturais do adversário do que ganhar
sistema de justiça criminal, mais votos; que um colaborador inconsciente e sem
especificamente dentro do sistema judiciário, compromisso, de cujas ações o partido jamais possa
ser responsabilizado, vale mais que mil militantes
pois este está deixando de cumprir sua inscritos”. Por fim, aprenderam com Gramsci “uma
função primordial que é de racionalizar a estratégia tão vasta em sua abrangência, tão sutil em
violência mediante o monopólio da seus meios, tão complexa e quase contraditória em
vingança, ou seja, de aplicar a pena sua pluralidade simultânea de canais de ação, que é
equivalente ao dano sofrido pela vítima. praticamente impossível o adversário mesmo não
acabar colaborando com ela de algum modo, tecendo,
Qual foi o motivo dessa como profetizou Lênin, a corda com que será
transformação? O motivo é o aparelhamento enforcado” (2014, p. 23). Foram esses intelectuais
do sistema judiciário pelos intelectuais ativistas gramscianos que passaram a dominar as
orgânicos ou coletivos6 travestidos de juízes, universidades a partir da década de 60, disseminando
que passam a aplicar os mandamentos de os ensinamentos do mestre aos diversos profissionais
durante o período de formação acadêmica,
Antônio Gramsci7 visando a destruição da transformando-os em intelectuais orgânicos.
8 O termo intelligentsia, conforme Raymond Aron,
“foi empregado pela primeira vez na Rússia, no
6 O intelectual orgânico ou coletivo se apresenta,
século XIX em referência àqueles que tinham passado
conforme Olavo de Carvalho, como “o aparelho por uma universidade e adquirido alguma cultura,
partidário de agitação e propaganda, onde a sobretudo de origem ocidental, constituindo um
distribuição de frases feitas, de preconceitos e de grupo pouco numeroso, fora dos quadros
cacoetes mentais faz as vezes de vida intelectual” tradicionais. Eram principalmente caçulas de famílias
(2018, p. 42). Esse tipo de intelectual é o que o autor aristocráticas, filhos de pequenas burguesias ou até
denomina de imbecil coletivo, definindo-o como “uma mesmo camponeses abastados. Desligados da antiga
coletividade de pessoas de inteligência normal ou sociedade, sentiam-se unidos pelos conhecimentos
mesmo superior que se reúnem movidas pelo desejo obtidos e pela atitude que adotavam diante as ordem
comum de imbecilizar-se umas às outras” (2018, p. estabelecida. O espírito científico e as ideias liberais
43). Em outra obra, Olavo de Carvalho enfatiza que o igualmente contribuíam a tornar propensa à
conceito gramsciano de intelectual “funda-se revolução a intelligentsia, que se sentia isolada, hostil à
exclusivamente na sociologia das profissões e, por herança nacional e como que forçada à violência”
isto, é bem elástico: há lugar nele para os contadores, (2017, p. 219-220). O termo intelligentsia, entretanto,
os meirinhos, os funcionários dos correios, os na atualidade adquiriu uma conotação mais próxima
locutores esportivos e o pessoal do show business”. daquilo que Thomas Sowell (2011) denomina de
Esses intelectuais “são o verdadeiro exército da grupo de pessoas (professores, jornalistas, ativistas
revolução gramsciana, incumbido de realizar a sociais, funcionários do judiciário e outros) que
primeira e mais decisiva etapa da estratégia, que é a fundamenta suas crenças ou ações a partir das ideias
conquista da hegemonia, um processo longo, produzidas pelos intelectuais de primeira grandeza.
complexo e sutil de mutações psicológicas graduais e Ou seja, enquanto o trabalho dos intelectuais é
crescentes, que a tomada do poder apenas coroa produzir ideias sem se preocupar com a influência
como uma espécie de organismo político” (2014, p. que elas possam exercer sobre a vida concreta; a
59). O intelectual orgânico também é conhecido intelligentsia usa as ideias produzidas pelos intelectuais
como intelligentsia. para atender aos interesses do universo ideológico
7 Os intelectuais ativistas brasileiros que aderiram ao dominante. Olavo de Carvalho (2018), tomando
gramscismo ainda no período do regime militar como referência a obra A rebelião das elites e a traição
aprenderam com o mestre italiano, segundo Olavo de democrática de Christopher Lasch, define a intelligentsia
Carvalho, o seguinte: “abdicar do radicalismo como uma elite que detém o domínio da informação,
ostensivo para ampliar a margem de alianças”; que não se contenta apenas com o poder sobre a
“renunciar à pureza dos esquemas ideológicos riqueza material e a força do trabalho, como a
aparentes para ganhar eficiência na arte de aliciar e burguesia, mas quer moldar as mentes, os valores, a
comprometer”; e, “recuar do combate político direto vida e o sentido da vida das pessoas; a intelligentsia
para a zona mais profunda da sabotagem não quer somente dominar o mundo, mas reinventá-
psicológica”. Eles também aprenderam com Gramsci lo através da engenharia social.

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utiliza o que eu denomino de “cavalos de existir, pois as normas jurídicas passam a ser
Troia”, que são artifícios destrutivos interpretadas a partir dos critérios de
aplicados dentro das organizações pelos seus valoração ideológica do juiz. Sobre essa
próprios integrantes. Por exemplo, na Igreja, interpretação judicial da lei, o jurista marxista
o cavalo de Troia é a Teologia da Libertação italiano Luigi Ferrajoli diz o seguinte:
pregada pelos padres; na escola, o cavalo de
Troia é o socioconstrutivismo ensinado é também sempre um juízo sobre a própria lei,
pelos professores; na mídia, o cavalo de que corresponde ao juiz, junto com a
responsabilidade de eleger apenas os
Troia é a desinformação propagada pelos significados válidos, ou seja, compatíveis com
jornalistas. O cavalo de Troia no sistema as normas constitucionais substanciais e com
judiciário é o garantismo penal aplicado pelos os direitos fundamentais por elas
juízes mancomunados com a revolução estabelecidas. Era isto, e não outra coisa –
cultural. diga-se de passagem – o que entendíamos há
vinte anos com a expressão “jurisprudência
O garantismo penal é uma vertente alternativa”, recordada por Perfecto Ibañz, e
do direito alternativo de inspiração em torno da qual se produziram tantos
gramsciana, que, segundo Gilberto Callado equívocos: interpretação da lei conforme à
de Oliveira, não rompe com a velha ordem Constituição e, quando o contraste for
positivista, mas realiza uma “astuta insanável, dever do juiz de declarar a
invalidade inconstitucional; e, portanto, nunca
teorização dos princípios legais, que vão sujeição à lei de forma acrítica e
assumindo a cultura autogestionária, incondicionada, mas sujeição sobretudo à
desvinculada dos formalismos e da Constituição, que impõe ao juiz a crítica das
dogmática tradicional”, de maneira que “o leis invalidas através da reinterpretação em
direito possa ser interpretado em termos sentido constitucional e a denúncia de sua
inconstitucionalidade (apud OLIVEIRA,
estritamente culturais e históricos, isto é, 2012, p. 77).
como uma luta permanente de hegemonias
culturais”. Com isso, as “leis vão cedendo
espaço aos princípios, muitos dos quais A revolução realizada pelo direito
desvinculados do próprio texto legal” (2012, alternativo, primeiro, e pelo garantismo
p. 74). jurídico, depois, segue, conforme Oliveira
Se a lei dentro do garantismo penal (2014), o mesmo ritmo da revolução cultural
não é mais parâmetro para a aplicação da dirigida pelos intelectuais orgânicos
pena, mas o que prevalece é a interpretação gramscianos, onde os juízes revolucionários
do juiz sobre a própria lei, onde aquele buscam promover o pseudoigualitarismo
inclusive estabelece a validade desta, então a socialista através da manipulação das leis,
separação entre norma e valor, no sentido “mas com a vantagem tática de ajustar a lei a
dado por Hans Kelsen (2009)9, deixa de determinados princípios constitucionais que
afiançam a igualdade democrática em todos
os escalões da vida política e social” (2014,
9 Kelsen estabelece uma divisão tripartite na sua p. 93).
Teoria Pura do Direito: norma, fato e valor. A norma Para Oliveira (2014), a diferença
é o objeto de estudo da Ciência Jurídica, o fato é o entre alternativismo e garantismo jurídicos é
objeto de estudo da Sociologia e o valor é o objeto de apenas de método, onde no segundo “põe-se
estudo da Filosofia. Ou seja, ele depura da ciência
jurídica fato e valor para estudar exclusivamente a
a máscara do Estado Constitucional de
norma. Nas palavras de Kelsen: “Quando a si própria Direito para condicionar a validade e a
se designa como ‘pura’ teoria do Direito, isto significa eficácia das leis à garantia dos direitos
que ela se propõe garantir um conhecimento apenas
dirigida ao Direito e excluir deste conhecimento tudo
quanto não pertença ao seu objeto, tudo quanto não ciência jurídica é o Direito, está contida a afirmação –
se possa, rigorosamente, determinar como Direito. menos evidente – de que são as normas jurídicas o
Quer isto dizer que ela pretende libertar a ciência objeto da ciência jurídica, e a conduta humana só o é
jurídica de todos os elementos que lhe são estranhos. na medida em que é determinada nas normas jurídicas
Esse é o seu princípio metodológico fundamental” como pressuposto ou consequência, ou – por outras
(2009, p. XVIII). Em outro trecho ele afirma o palavras – na medida em que constitui conteúdo de
seguinte: “Na afirmação evidente de que o objeto da normas jurídicas” (2009, p. 79).

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fundamentais de todos”, que por meio “de “No direito penal contemporâneo”, diz ele,
um sistema artificial de garantias, alteram-se, “de acordo com o individualismo radical da
nesse argumento falacioso, as condições de sociedade burguesa, temos um conceito de
validade das leis penais e processuais”. Desta responsabilidade estritamente pessoal”,
forma, os “dogmas, antes vinculados a diferentemente do Direito antigo, que
critérios de existência e de validez formal, “estava repleto do princípio da
passam a sujeitar-se a postulados de responsabilidade coletiva: os filhos eram
coerência com os princípios inscritos na castigados pelos pecados dos pais, o clã
Constituição”, denominando-se isso “de respondia por cada um de seus membros”
direito sobre o direito, de modo que os (2017, p. 175). O princípio da
limites da produção jurídica não se responsabilidade, no Direito Penal moderno,
encontram apenas na forma, mas também diferencia-se de duas formas:
no seu conteúdo” (OLIVEIRA, 2014, p. 93- “responsabilidade pelo resultado que foi
94). previsto (dolo) e responsabilidade pelo
É sempre importante relembrar resultado que não foi previsto, mas que
que na teoria marxista, o Direito, juntamente poderia ter sido previsto (culpa)”. Ainda há
com todo o sistema estatal, é considerado “o conceito de inimputabilidade, ou seja, a
uma forma de dominação de uma classe total ausência de responsabilidade” (2017, p.
sobre a outra e está situado na 175). Essa introdução no Direito Penal
superestrutura da sociedade, juntamente contemporâneo do que ele chamou de
com a educação, a arte, a religião, a política momento psicológico dentro do conceito de
etc., pois a estrutura é a economia ou os responsabilidade significou a luta racional
modos de produção10. No caso do contra os crimes, onde essa distinção entre
marxismo ortodoxo o pressuposto é de que ações imputáveis e inimputáveis possibilita a
o Direito legaliza a exploração da classe construção de uma teoria da prevenção do
burguesa sobre o proletariado. O Direito crime. Entretanto, alerta ele, “na medida em
Penal, construído sob o princípio da que a relação entre o infrator e o poder que
vingança, direciona-se para disciplinar e pune constrói-se como relação jurídica e
dominar a classe proletária. Segundo assume a forma de um processo judicial,
Evguiéni B. Pachukanis, um dos mais esse novo momento não exclui de modo
importantes pensadores marxista do direito, nenhum o princípio da reparação
“os interesses de classe imprimem a marca equivalente” (2017, p. 176), pois a gradação
da especificidade histórica a cada sistema de da responsabilidade torna-se o fundamento
política penal” (2017, p. 172). Com isso, da gradação da pena:
somente “a completa extinção das classes
dará a possibilidade de se construir um Em um ato cometido dolosamente, a
sistema de política penal do qual serão responsabilidade é mais grave e,
consequentemente, em iguais condições, mais
excluídos quaisquer elementos de grave será a pena; em um ato cometido por
antagonismo” (2017, p. 173). mera culpa, a responsabilidade será menos
Entretanto, o próprio Pachukanis grave, e caeteris paribus, a pena diminui;
(2017) questiona se com a extinção das finalmente, em caso de responsabilidade
classes antagônicas haveria a necessidade inexistente (infrator inimputável), o castigo
não é aplicado (2017, p. 176).
ainda da existência do sistema penal. Para
responder a essa questão, ele toma como
Criticando os princípios da
ponto de análise dois princípios: o da
responsabilidade e da equivalência punitiva,
culpabilidade e o da reparação equivalente.
Pachukanis diz que se torna desnecessário o
primeiro princípio quando a punição perde o
10 Para Marx e Engels até as ideias são produto das
seu grau de equivalência e que “a partir do
relações de produção e da propriedade burguesa, bem
como o Direito não passa da expressão da vontade da
momento em que nem os resquícios desse
classe dominante erigida em lei, cujo conteúdo dessa princípio são, de fato, conservados, o crime
vontade é determinado pelas condições materiais da deixa de ser crime no sentido jurídico da
classe burguesa (MARX; ENGELS, 2010).

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palavra” (2017, p. 176). Quanto ao princípio conceito de delito, pois os dois conceitos
da responsabilidade ele declara o seguinte: estão, diz Pachukanis, atrelados a forma
jurídica, “das quais poderemos nos livrar
O conceito jurídico de culpa não é científico, somente quando dermos início à eliminação
pois conduz diretamente às contradições do da superestrutura jurídica em geral”. Ou seja,
indeterminismo. Do ponto de vista do
encadeamento de causas que geram este ou
a proposta de Pachukanis de eliminação da
aquele evento, não há o menor fundamento superestrutura jurídica casa com a
em dar preferência a um elo em detrimento do eliminação do próprio Estado, que por sua
outro. As ações de um homem vez está dentro do bojo da teoria marxiana
psicologicamente anormal (inimputável) se da sociedade comunista.
devem a uma série de causas, ou seja,
hereditariedade, condições de vida, meio etc., A forma como Ferrajoli e
tanto quanto as ações de um homem Pachukanis estrutura suas teorias marxistas
completamente normal (imputável) (2107, p. do Direito Penal, principalmente a deste
176). último, promove a negação dos princípios da
vingança e da retribuição equitativa, que,
Para substituir esse sistema jurídico conforme é razoável concluir, engendrou a
penal, Pachukanis propõem substituir a crise sacrificial do sistema judicial. Essa
pena, que busca a reparação equivalente ao negação dos dois princípios teve enorme
dano. por medidas pedagógicas: “[...] a pena ressonância no pensamento político-jurídico
aplicada como medida pedagógica (ou seja, marxista brasileiro, exemplificado nas
excluído a ideia jurídica de equivalência) não propostas legislativas e nas formas
está de modo nenhum ligada às noções de sentenciais que visam provar a ineficácia da
imputabilidade, livre arbítrio etc., tampouco pena por meio de propostas como a
necessita dessas noções”. Essa forma descriminalização de certos delitos, o
pedagógica “defini-se exclusivamente pela desencarceramento, penalidades alternativas
presença suficientemente desenvolvida da etc., propostas estas que só beneficiam o
capacidade de perceber a ligação entre seus criminoso e, por conseguinte, estimulam o
atos e suas consequências desagradáveis, crime. Com isso, reafirma-se o que foi dito
além de guardar na memória tal ligação” na introdução desse artigo: o crime no Brasil é
(2017, p. 176-177). estimulado por um sistema de justiça criminal
Baseando-se nos princípios da bandidolátra, democída e gnóstica.
legislação penal soviética, Pachukanis diz Sobre a característica bandidolátra
que lá houve a substituição do termo “pena” do atual sistema jurídico, Diego Pessi e
pelo termo “medida de defesa social de Leonardo Giardin de Souza dizem que
caráter jurídico-corretivo”. Ele ressalta que dentro do imaginário dos marxistas de toga,
essa mudança da “pena de retaliação e “o delinquente é considerado uma vítima da
reparação em medida de defesa social sociedade”, por sua vez, esta “é considerada
apropriada e em correção de dada delinquente por haver negado oportunidade
personalidade socialmente perigosa significa ao criminoso” e, por fim, a “vítima do crime
uma enorme tarefa organizacional”, pois tal não passa de uma estatística, do dano
transformação “não só reside fora da ação colateral na luta desse representante da nova
puramente judicial, mas, principalmente, se classe revolucionária (eis a visão de Herbert
bem-sucedida, torna-se desnecessários o Marcuse sobre o criminoso) contra um
processo judicial e a sentença judicial, que sistema perverso”. Dentro desse contexto,
sanciona este ou aquele crime”, tornando-se ressaltam eles: “Autoridade é sinônimo de
uma “função social perfeitamente autônoma autoritarismo, e a polícia um bando
de ordem médico-pedagógica” (2017, p. criminoso a serviço da opressão” (2017, p.
181). 59).
A medida de defesa social, em Os autores reforçam ainda mais
suma, dispensa o conceito de pena enquanto essa característica bandidolátra ao afirmarem
implicada nos princípios de culpabilidade e que para “a militância jurídico-penal, passa a
de equivalência, bem como dispensa o ser obrigação de todo indivíduo ‘politizado’

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RIBSP- Vol 2 nº 4 – Jan/Jun 2019 Dequex Araújo Silva Júnior

e ‘conscientizado’ de seu papel ‘crítico’ na Dentro desse cenário de extrema


sociedade combater as bases dessa mesma violência provocada pela crise sacrificial, a
sociedade, e apoiar o bandido em sua luta intelligentsia, atuante dentro e fora do sistema
contra o sistema”. Dentro dessa lógica de justiça criminal, tem um papel
revolucionária, “a propriedade privada é preponderante em transformar a polícia em
vista como usurpação, o roubo deve ser bode expiatório, pois desvia dela própria
tratado como expropriação, um ato de toda a responsabilidade pelo caos,
distribuição de renda e justiça social”; a direcionando os rancores e os
“vítima assassinada, por fazer parte do grupo ressentimentos da sociedade justamente para
ideologicamente ‘alienado’, merece o um órgão estatal cujo monopólio da
‘justiçamento’ promovido pelo bandido”; violência lhe fora conferido para controlar a
por fim, a “polícia, como agente responsável própria violência.
pela defesa de um estado ilegítimo, é o maior Não são poucos os exemplos em
inimigo, o adversário a ser odiado, batido e, que a intelligentsia coloca em xeque a atuação
se possível eliminado” (2017, p. 136). da polícia, principalmente aqueles que
Sobre a demonização da polícia, resultam em morte. No início de fevereiro,
referendada no final da citação dos autores, em uma operação realizada pelo Batalhão de
na atual política criminal marxista e, por Operações Especiais (BOPE) do Rio de
conseguinte, bandidolátra, onde o Janeiro, onde houve a morte de 14 pessoas
lumpemproletariado torna-se o agente histórico envolvidas com o crime de tráfico de drogas,
da revolução cultural, eleito pelos a mídia questionou não só o número de
gramscianos e frankfurtianos, o bode mortes no confronto, mas também
expiatório ou a vítima sacrificial passou a ser, considerou estranho não ter havido mortes
sem dúvidas, a polícia, mais especificamente de policiais na operação. Ou seja, para a
a polícia militar, que conjuga em seu nome intelligentsia, a vida do bandido é mais valiosa
dois termos vistos pelos marxistas como do que a vida do policial. Outro fato
símbolos da repressão estatal, polícia e comprobatório recente foi a celeuma sobre o
exército, este representando os militares. projeto de segurança pública do Ministro da
Não é por acaso que a opinião pública, Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro,
manipulada pela imprensa, também que dá mais segurança jurídica para a ação
dominada pela intelligentsia, direciona sua policial em situação de enfrentamento. Essa
violência simbólica mimética para a polícia. maior segurança foi interpretada pela
Além disso, o Judiciário e o Ministério intelligentsia, especialmente os “especialistas”
Público cada vez mais exercem os seus na área, como um salvo conduto para a
poderes de coerção sobre as ações policiais, polícia matar.
principalmente aquelas onde há situações de Sobre essa questão de pessoas
enfrentamento reativo e que resultam em leigas tratarem de coisas que não estão
morte dos bandidos. Essa inversão do bode capacitadas para falar – isso se tornou muito
expiatório, passado do criminoso para o comum no Brasil –, Thomas Sowell cita os
policial, teve consequência extremamente especialistas na área do Direito, mais
maléfica para os responsáveis por garantir a notadamente juízes e advogados, quando
ordem e a segurança públicas, pois deu um vão além dos seus limites funcionais para
salvo conduto para que os marginais não só avaliar questões que fogem às suas esferas de
reajam violentamente quando da intervenção conhecimento e competência profissional.
policial, mas também assassinem Ele cita um exemplo nos Estados Unidos de
premeditadamente policiais de serviço ou de uma conferência judicial em 1960, onde um
folga para a obtenção de reconhecimento comissário de polícia aposentado tenta
dentro dos seus grupos criminosos (bandido explicar para juízes e professores de Direito
que mata policial é visto como herói entre os que ao adotarem a extensão dos direitos dos
seus pares). Com isso, nos últimos anos, criminosos, isso acabou por prejudicar as
observa-se uma elevação da mortalidade de atividades policiais, provocando um
policiais. aumento da criminalidade:

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sociedade com o risco da própria vida,


Antes da revolução nas interpretações judiciais tornou-se um morto vivente ou um devoto
criminais que se deu no começo da década de sobrevivente, que, nas palavras de Agamben,
1960, a taxa de homicídio nos Estados Unidos
estivera em declínio por décadas e, por volta
de 1961, era menor que a metade do que fora é um ser paradoxal que, parecendo prosseguir
em 1933. Porém, essa longa tendência numa vida aparentemente normal, se move, na
decrescente nos índices de homicídio foi realidade, em um limiar que não pertence nem
interrompida repentinamente durante a década ao mundo dos vivos nem ao dos mortos: ele é
de 1960 e, em 1974, já era o dobro do que um morto vivente ou um vivo que é, na
havia sido em 1961 (SOWELL, 2011, p. 52- verdade, uma larva [...] (2002, p. 106).
53).
Essa estereotipagem da polícia,
No que se refere ao enfrentamento juntamente com a crise instalada no interior
reativo de policiais contra criminosos, onde do sistema de justiça criminal, está
ocorrem disparos de arma de fogo, Sowell relacionada com o que Pessi e Souza (2017)
(2011) diz que há um misto de surpresa, denominaram de processo de subversão
indignação e revolta por parte da intelligentsia ideológica e que ocorre em quatro etapas:
com a quantidade de disparos efetuados pela desmoralização, desestabilização, crise e
polícia (fato esse também muito comum normalização.
aqui no Brasil). Entretanto, ressalta Sowell, A desmoralização “compreende o
ataque à religião, ao sistema educacional,
esses intelectuais, em sua maioria, nunca vida social, economia e aos sistemas de
usaram uma arma na vida e muito menos governo representativo e de persecução
enfrentaram situações de perigo desse tipo, legal”; ou seja, “consiste em estimular todas
nas quais a diferença entre morrer e viver
depende de decisões tomadas num átimo de
as ações e movimentos que vão na direção
segundo. Raramente, se muito, a intelligentsia oposta aos princípios e valores básicos da
considera necessário buscar informações sociedade”. No que concerne ao sistema de
sobre a precisão dos tiros, quando disparados justiça criminal, “os policiais devem ser
em situação de estresse e perigo, antes de estereotipados como figuras estúpidas,
proferir sua indignação e exigir mudanças
(2011, p. 54). raivosas e psicóticas (porcos maníacos e
violentos)”; os “criminosos, por sua vez,
Em suma, a polícia, ao ser devem ser vistos como boas pessoas, tipos
transformada em categoria sacrificial pela criativos, que só não se tornaram produtivos
intelligentsia, passou a ser submetida ao para a sociedade porque foram injustamente
sacrifício ritual, que se baseia, segundo oprimidos” (PESSI; SOUZA, 2017, p. 72-
Girard, em uma dupla substituição: 73).
A desestabilização “se opera
a primeira, nunca percebida é a substituição de mediante radicalização das relações
todos os membros da comunidade por um humanas: violência e ódio passam a ser, cada
único; ela se funda no mecanismo da vítima vez mais, vistos como algo normal, na
expiatória. A segunda, propriamente ritual, mesma medida em que o consenso se torna
superpõe-se à primeira; ela substitui a vítima
original por uma vítima pertencente a uma raro”. O Estado passa a ter o monopólio da
categoria sacrificial (1990, p. 130). mediação, ficando as cortes judiciais
abarrotadas de casos irrelevantes dentro de
Com isso, o policial se transformou uma sociedade cada vez mais antagônica e
numa espécie de homo sacer, aquele cuja vida incapaz de resolver seus conflitos. “Nessa
pode ser ceifada sem que se cometa fase”, dizem os autores, “grupos de auto-
homicídio, onde sua vida deixa de ser vitimização passam a demandar sua inclusão
politicamente relevante para ser tão somente no processo político, a fim de que seus
vida sacra, coforme Giorgio Agamben (2002). interesses específicos sejam erigidos à
Isso significa que o policial é, ao mesmo condição e ‘direitos humanos’” (PESSI;
tempo, puro e impuro, fasto e nefasto, santo SOUZA, 2017, p. 73).
e maldito; e que ao jurar defender a

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A crise se dá a partir da tensão O gnosticismo nasceu, conforme


gerada pelos grupos antagônicos, divididos, Bruce L. Shelley, nos primórdios do
grosso modo, por idade, classe social, cor de Cristianismo como forma de modificar o
pele, opção sexual etc.: “os órgãos que Evangelho, logo, é uma heresia cristã. O
detêm a legitimidade (oriunda do voto termo é utilizado para identificar uma série
popular) para o exercício do poder são de movimentos que proporcionavam alguma
substituídos por estrutura artificiais (comitês maneira de esclarecimento prescrito por uma
não eleitos, mídia, tecnocratas, ONGs etc.) pessoa que possuía a gnose, ou seja, o
que levam a sociedade ao colapso”. Com conhecimento: “os gnósticos aceitavam a
isso, “a população, exausta com a ideia de salvação, a ideia de uma divindade
instabilidade do país, estará clamando por suprema e a ideia de seres celestiais
uma salvador: um governo ‘forte’ e operando no universo” (SHELLEY, 2018, p.
centralizador não lhe parecerá má ideia” 67).
(PESSI; SOUZA, 2017, p. 73). Os gnósticos antigos acreditavam
Por fim, a normalização; ela é que o mundo era dividido em duas forças
“levada a efeito através da supressão da cósmicas (dualismo), o bem e o mal. Este
liberdade da população e eliminação era identificado, segundo Shelley, com a
(eventualmente física) dos agentes matéria, logo, qualquer deus criador era mal:
desestabilizadores (que já cumpriram seu “Uma vez que a divindade máxima não
papel)” (PESSI; SOUZA, 2017, p. 74). poderia ter contato nenhum com o mundo
Dentro desse contexto, onde a material, os gnósticos explicavam a criação
mentalidade revolucionária estimula a crise por meio de uma série de emanações” (2018,
no sistema judiciário, tendo como p. 68). Ele exemplifica:
protagonistas os garantistas penais, que se
constituem na intelligentsia e, por conseguinte, Se pensarmos em Deus como um tipo de sol,
nos subversivos ideológicos do sistema, as essas emanações seriam raios de sol, extensões
de sua própria natureza, porém distintas.
consequências pelo desvio da sua função de Esses poderes sobrenaturais, entretanto, eram
racionalizar a violência e monopolizar a capazes de produzir outros poderes inferiores
vingança são nefastas: a violência mimética até formar – como Charles Bigg, o estudioso
passa a se proliferar descontroladamente por de Oxford, disse certa vez – “uma longa
meio do círculo da vingança promovido pela cadeia de criaturas divinas, cada uma mais
fraca do que a anterior”, e chegar, por fim,
rivalidade, mais notadamente, entre os “àquela que, embora poderosa o suficiente
grupos criminosos vinculados ao tráfico de para criar, é tola o bastante para não entender
drogas. É justamente nessa disfunção que se que criar é errado”. Esse era o Deus desse
instala a crise sacrificial no sistema judiciário, mundo, o Deus dos judeus (2018, p. 69).
transformando-o não só em bandidolátra,
mas também em democida por estimular o Benjamim Wiker, a partir de Eric
assassinato de forma descontrolada ao invés Voegelin, traz excelentes contribuições para
de proteger os indivíduos dele. o entendimento do gnosticismo moderno:
Entretanto, além dessas duas “Para Voegelin, Gnosticismo define a
características (bandidolátra e democida), há natureza da modernidade, ou mais
uma terceira: o gnosticismo. O sistema exatamente, de uma corrente particular,
judiciário é gnóstico porque os marxistas virulenta e destrutiva do pensamento
togados buscam recriar o mundo a partir das moderno, uma corrente que inclui o
leis, como forma de eliminar o mal criado liberalismo, o marxismo, e nacional-
por uma força cósmica maligna, ou seja, eles socialismo” (WIKER, 2016, p. 60). O
visam, por meio do garantismo jurídico, criar gnosticismo antigo subverteu, como já foi
um paraíso na Terra. Nesse sentido, eles dito acima, o Cristianismo com o seu
seguem não só os marxistas, mas também os dualismo, “afirmando que havia duas
positivistas, pois são ambos progressistas e divindades, o Deus do Antigo Testamento,
anti-espiritualistas. que criou um mundo material mau, cheio de
sofrimento, e o bom Deus do Novo

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Testamento, que estava tentando arrebatar Entretanto, há diferenças entre os


almas humanas puras do cativeiro material” gnósticos antigos e os gnósticos modernos,
(WIKER, 2016, p. 60-61). A partir desse segundo Eric Voegelin. Os gnósticos antigos
dualismo, os seres humanos eram tidos “acreditavam que a matéria era má”; os
como espiritualmente bons, mas gnósticos modernos “acreditam que a
aprisionados em corpos maus: “Jesus Cristo matéria é a fonte de todo o mal”. Para os
não era Deus feito homem, mas espírito gnósticos antigos “devemos fugir da matéria
puro enviado para resgatar os eleitos”, onde para o mundo espiritual”; para os modernos
estes eleitos “tinham uma centelha divina “temos de recriar o mundo material para
dentro deles”, que “receberam de Jesus eliminar o mal”. Para os gnósticos antigos,
Cristo um conhecimento especial (em grego, “o mundo material foi criado pelo terrível
gnosis) de todo o plano redentor”, sendo esse Deus do Antigo Testamento; para os
conhecimento “tudo que ele necessitava” modernos, “o mundo material como nós o
(WIKER, 2016, p. 61). concebemos foi criado pelo inconstante
Voegelin cita três características, deus do ‘acaso’, e portanto, contém defeitos
segundo Wiker (2016), do devoto gnóstico: infinitos na natureza e na natureza humana,
primeira, “é a convicção inabalável de que, que só podem ser remediados pela recriação
em virtude de sua ‘faísca divina’, ele próprio tecnológica e política” (apud WIKER, 2016,
é divino e oniciente”, pois “sua sabedoria e a p. 62).
sabedoria de Deus são idênticas”; segunda, o Partindo dessas semelhanças e
gnóstico “é completamente redimido”, pois diferenças, Voegelin diz que o “gnóstico
não é ele “um homem equilibrado moderno aplica o mesmo zelo religioso para
precariamente entre dois destinos possíveis, a criação do mundo material, que o gnóstico
a virtude e o vício, o céu e o inferno”, mas antigo gastou para fugir dele”, onde
aquele “que tem a centelha divina, a gnose argumenta “que a paixão secular moderna
divina”; e, terceira, o gnóstico é um para criar um paraíso na Terra é, na verdade,
simplificador, substituindo “seu próprio uma reformulação de uma antiga heresia
sistema simples de entender pelo dogma cristã” e que não “é acidental que o
complexo, equilibrado e em última análise marxismo prevê um reino glorioso (o
misterioso do cristianismo ortodoxo” comunismo) introduzido por um apocalipse
(WIKER, 2016, p. 61). (revolução)”. Essa “tentativa do gnosticismo
Há dentro da análise de Eric moderno para investir neste mundo com
Voegelin um paralelo entre os gnósticos todos os elementos que o cristianismo
antigos e os gnósticos modernos, pois estes, ortodoxo considerou viável apenas no
nas palavras de Wiker, “dão para suas próximo mundo é o que Voegelin chama de
próprias teorias políticas reducionistas a ‘re-divinação’ da esfera política”, onde o
categoria de revelação divina (científico); eles Estado passa a ser tratado “como um
“reivindicam a onisciência – eles já substituto da divindade” (apud WIKER,
descobriram tudo, desde as leis da física às 2016, p. 62).
leis da história humana e da mente humana”; Essa compreensão do gnosticismo,
eles também “acham que sua sabedoria é bem como a comparação entre gnósticos
idêntica à de Deus, exceto sem a parte de antigos e modernos já nos permite adentrar
Deus (para o moderno, gnosticismo acaba mais especificamente no argumento central
em ateísmo)”; da mesma forma que os deste artigo de que o sistema de justiça
antigos, “eles acreditam que sua ‘teoria criminal, de forma geral, e o sistema
gnóstica” os coloca além do pecado, judiciário, de forma específica, são gnósticos.
portanto eles podem fazer qualquer coisa por Os juízes marxistas, assim como os juízes
causa de sua teoria”; por fim, aqueles “que positivistas, buscam não só subordinar a
discordam deles não são apenas errados, mas religião aos objetivos laicos, mas substituir a
irremediavelmente errados, e podem, religião pela ciência, no caso aqui, a ciência
portanto, serem eliminados” (2016, p. 62). jurídica de viés garantista, estabelecendo
uma ditadura do judiciário apoiada na

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Constituição. Eles se autodenominam criminal brasileiro é o grande fomentador da


detentores da gnose, logo acreditam estar violência indiferenciada na atual realidade
acima do bem e do mal e planejam poder nacional por deixar de cumprir sua função
fazer tudo que lhes apraz, desconsiderando o originária que é a de afastar a possibilidade
ordenamento jurídico, pois supõem possuir do círculo da vingança através de uma
a sabedoria. Para eles, o mundo material (a intervenção judiciária que aplica a pena a
sociedade capitalista) é a fonte de todo o partir do princípio da retribuição como
mal, fazendo-se necessário recriar esse princípio de justiça.
mundo (a sociedade socialista) para que se Foi tomada como referência de
afaste o mal. análise explicativa a teoria mimética de René
Dentro da nova estrutura gnóstico- Girard, mais especificamente quantas às
marxista, não são mais os trabalhadores os descrições e explicações dos mecanismos de
eleitos pelos sábios por possuírem a centelha violência benéfica, o sacrifício e o sistema
divina, mas o lumpemproletariado (ou judicial, em suas respectivas épocas, para
pharmakós). Estes são os eleitos pelos conter a violência maléfica. Procurou-se essa
marxistas gramscianos e frankfurtianos para via explicativa porque esses mecanismos têm
fazer a revolução sob a direção dos como função conter o ciclo da vingança para
gnósticos. É a partir dessa nova estrutura manter a ordem cultural e os sistemas de
que o garantismo penal tornar-se-á de vital autoridade e de hierarquia.
importância para o processo revolucionário, Vimos que a crise sacrificial se dá
pois garantirá, no âmbito que lhe cabe, que quando os mecanismos de controle da
os eleitos (não só os infratores da lei, mas violência e da vingança perdem sua eficácia,
também os depreciadores da moral) tenham destruindo a ordem cultural por conta da
garantias jurídicas para implantar o caos por destruição das diferenças. No caso da crise
meio da violência física e simbólica, tendo sacrificial do sistema de justiça brasileiro, ela
como motor propulsor o ressentimento é estimulada pela revolução cultural dirigida
engendrado pela destruição dos sistemas de pelos juízes marxistas, adeptos do
autoridade e hierarquia existentes em garantismo penal. Por meio deste, os
qualquer ordem cultural, promovendo, magistrados gnósticos desviaram o sistema
assim, a crise da diferença ou a crise judicial da sua função de aplicar a pena por
sacrificial dentro da ordem cultural do Brasil. meio dos princípios da retribuição e da
vingança para ele mesmo estimular os
conflitos e as rivalidades através do laxismo
7. CONCLUSÃO penal, transformando-o em um sistema
penal bandidolátra e democida. O resultado
Este artigo foi iniciado com uma é o aumento anual dos assassinatos no
proposição já estabelecida em outro Brasil, cujos números chegam a mais de 65
trabalho11, de que o sistema de justiça mil mortes por ano.
criminal atua em prol da revolução cultural Ao negar o livre arbítrio, o sistema
implantada pelos intelectuais orgânicos há judiciário gnóstico nega também três
mais de três décadas no país. A partir dessa princípios fundamentais do direito penal: a
proposição, foi possível afirmar em outro responsabilidade, a imputabilidade e a
trabalho12 que esse sistema é bandidolátra, retribuição. É a partir da vontade humana
democida e gnóstico. Essa afirmação, que pode se mensurar a culpa. Se o
entretanto, careceu de um maior e melhor transgressor foi condicionado por uma força
aprofundamento, tendo a necessidade de exterior maligna a cometer um ato ilegal,
desenvolvê-lo aqui. Para tanto, formulou-se então não há como responsabilizá-lo pelo
a hipótese de que o sistema de justiça seu ato. Sem culpa não há imputabilidade,
logo não pode haver punição. Impera, com
11 Silva Junior; Reis (2018). isso, não somente a sensação de impunidade,
mas a impunidade real, onde os indivíduos
12 Silva Junior, 2019.

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se sentem amparados legalmente para Aquino, deixa de coibir o mau e conservar o


cometer os mais horrendos crimes. bem comum. Isso possibilita (como já está
Em suma, se o Estado, através do possibilitando) o retorno da vingança
seu sistema judiciário, retira da pena o seu privada e, por conseguinte, o ressurgimento
caráter vindicativo (justiça vindicativa) por da violência indiferenciada, onde os números
meio do alternativismo jurídico ou de mortes entre facções rivais, vinculadas ao
garantimos jurídico, então a pena deixa de tráfico de drogas, comprovam
exercer sua função expiatória e, por empiricamente a nossa hipótese.
conseguinte, como afirma São Tomas de

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