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A concepção de desenvolvimento

humano na teoria da personalidade


de Carl Rogers.

Elizabete Cristina Monteiro Ribeiro


(Profª.MsC.)
As contribuições de Rogers à Psicologia são notáveis:
- Sua teoria enfatiza as relações humanas;
- Nossa existência é vista como um processo contínuo e não
episódico;
- Contribuição no plano da relação interpessoal e grupal;
- Necessidade do contato e da compreensão de si para melhor
compreender o outro;
- Crença no desenvolvimento positivo do ser humano;
- Contribuições: prática clínica, área pedagógica e pesquisas
científicas (examinou diversos aspectos da personalidade
humana);
- ACP sustenta uma filosofia que busca resgatar o respeito à
pessoa humana.
(MOREIRA, 2007, p.29)
•A teoria da personalidade foi publicada em 1959, mas a
elaboração de seus postulados já era reconhecida nas obras
anteriores principalmente na fase reflexiva na obra Terapia
Centrada no Cliente.

•“Essa teoria tem um caráter basicamente fenomenológico


e está fortemente fundamentada no conceito de Self como
conceito elucidativo”.(ROGERS,1951,p604)

•Ainda assim é preciso considerar as influências no pensamento


de Rogers nesta elaboração.
Teoria organímica, fenomenológica, psicanalítica, empírico-
analítica...
•Não foi sistematizada na sequencia da evolução do pensamento
de Rogers. Tem posicionamentos a partir de teóricos contemporâneos
Wood(2008); Cury e Messias (2001); Moreira(2010).
Organização da personalidade
(desenvolvimento humano)

Desorganização
(desajuste psicológico)

Reorganização
(mudança e crescimento)
“Todo indivíduo vive num mundo de experiências, em
constante mutação, do qual ele é o centro”

(ROGERS, 1951, p. 549).


“Todo indivíduo vive num mundo de experiências, em constante
mutação, do qual ele é o centro” (ROGERS, 1951, p. 549).

Campo Fenomenológico

Compreende tudo o que é experimentado


pelo organismo em qualquer momento e
que está potencialmente disponível à
consciência.
“Minha consciência e meu conhecimento efetivos
de meu campo fenomenológico são limitados.
Ainda é verdade porém, que, potencialmente,
sou a única pessoa que pode conhecê-lo na
totalidade. Uma outra pessoa nunca poderá
conhecê-lo tão completamente quanto eu”.
(CARL ROGERS, 1951, p.550)
Organismo

“Organísmico”

Totalidade da pessoa em sua relação com o meio

CONDIÇÃO MULTIFACETADA, INTERATIVA,


SISTÊMICA, MUTÁVEL, COMPLEXA.
O organismo reage ao campo da maneira como este é
experimentado e percebido. O campo perceptivo, é para
pessoa “realidade” (P2)

percepção

“realidade” comportamento

- Hipótese
-Confrontado
-Testado
“Mapa”
-Não-testado
O organismo reage ao seu campo
fenomenológico como um todo organizado

 Tendência do organismo para respostas totais.

 Qualquer alteração em uma das partes pode


produzir modificações em qualquer outra.

Ex: fenômenos fisiológicos de compensação;


conflitos interpessoais, insegurança, estresse e
desenvolvimentos de doenças (asma, úlcera, etc).
O organismo tem uma tendência e impulsos
básicos - concretizar, manter e aperfeiçoar o
organismo(P4)

 Há uma força direcional observada na vida


orgânica.

 Tendência de preservar-se (assimilar comida,


comportar-se defensivamente diante de ameaças,
autopreservação mesmo que por via não usual) e
mover-se na direção da maturação (diferenciação
maior de órgãos e de função, independência, auto-
regulação e autonomia maiores).
“Autoconcretização do organismo parece ser na
direção da socialização” (ROGERS, 1951, p.555).
“Os processos da vida não tendem meramente a
preservar a vida, mas transcendem o status quo
momentâneo do organismo, expandindo-se
continuamente e impondo sua determinação
autônoma a um âmbito cada vez maior de eventos”
(ANGYAL apud ROGERS, 1951, p.556)

O organismo move-se, em meio a lutas e dores, na


direção do aperfeiçoamento e do crescimento
(ROGERS, 1951, p.557)
Postulado central da Teoria da Personalidade

O ser humano tem uma tendência intrínseca para


desenvolver todas as suas capacidades a fim de manter ou
desenvolver seu organismo.

Tendência Atualizante
A tendência à atualização:
- Preside todas as funções do organismo como um todo, sejam elas
físicas ou experienciais;

- Objetiva diferenciação e complexidade constantes;

- Força motriz (motivação) do comportamento humano;

- Capacidade de compreender-se a si mesmo e de fazer escolhas


construtivas na vida;

- Enquanto potencial é inerente ao ser humano, no entanto, ela não é


completa e absoluta;

- Sua potencialização requer condições interpessoais favoráveis /


limites e condições do meio; percepções do indivíduo.
“Existe uma fonte central de energia no
organismo humano....talvez isto seja melhor
conceitualizado como uma tendência na direção da
satisfação , da realização, da manutenção e
aperfeiçoamento do organismo”
(ROGERS, 1980, p. 123)
A tendência à atualização deve ser entendida a partir de
uma perspectiva fenomenológica, ou seja, “o que ela
procura atingir é aquilo que o sujeito percebe como
valorizador ou enriquecedor, não necessariamente o
que é objetiva ou intrinsecamente enriquecedor”
(ROGERS & KINGET, 1959, p.41)
Características da T.A (Brodley, 1999):

- Individual e universal: expressão única para cada indivíduo,


elemento motivacional de todos os organismos;

- Ubíqua e constante: motiva o funcionamento do indivíduo em


todos os níveis e em todas as circunstâncias; atua tanto em
condições favoráveis quanto desfavoráveis.
Pode ser distorcida ou interrompida, mas não destruída;

- Processo direcional: é um processo seletivo que objetiva uma


diferenciação e complexidade crescentes visando à integridade,
a manutenção e o desenvolvimento do indivíduo;
Características T.A (Brodley, 1999):

-Tendência para a autonomia e não para a heteronomia:


move-se no sentido da auto-regulação organísmica;

- Atualização do eu (self): é um subsistema da tendência à


atualização da pessoa como um todo;

- Natureza social: dirige-se para o comportamento social


construtivo, dada a própria condição social do ser humano, mas
sofre influências do contexto sócio-político-cultural.
TENDÊNCIA ATUALIZANTE

Ampliação

TENDÊNCIA FORMATIVA
Defendo a hipótese de que existe uma tendência direcional
formativa no universo, que pode ser rastreada e observada no
espaço estelar, nos cristais, nos microorganismos, na vida orgânica
mais complexa e nos seres humanos.
Trata-se de uma tendência evolutiva para uma maior ordem, uma
maior complexidade, uma maior inter-relação.

[...] É muito provável que essa hipótese seja um ponto de partida


para uma teoria da psicologia humanística. Mas ela é, sem dúvida,
o fundamento da abordagem centrada na pessoa [...] Essa
tendência se confirma ainda mais quando descobrimos que ela não
se encontra apenas nos sistemas vivos, mas faz parte de uma
poderosa tendência formativa do nosso universo, evidente em todos
os seus níveis (ROGERS,1980, p.50)
A complexidade desse processo, observado em psicoterapia, não
depende apenas de fatores internos,mas inclui interações
complexas e mútuas, as quais aumentam a possibilidade de
surgimento de novos padrões, em acordo com uma série de
condições.

Em uma atualização ocorre uma mudança organísmica: é um


evento não-linear, em que muitos fatores interagem ao mesmo
tempo, não havendo apenas uma mudança psicológica
(CASTELO BRANCO, 2008, p. 85)
Organismo
A totalidade da experiência constitui o
Campo Fenomenal – Quadro de
Referência individual.

O organismo, psicologicamente concebido,


é o locus de toda experiência.

A experiência inclui qualquer coisa


potencialmente ao alcance da consciência
do organismo em um dado momento.
Experiência

Experiência
Experiência
Self
Experiência
Experiência

Organismo
Experiência
Experiência
Experiência

Experiência Self Experiência

Organismo
Uma parte do campo da percepção total
tornar-se gradualmente diferenciada como Self (P8)

Organismo

Self
Campo
fenomenológico

Gênese: criança, paulatinamente, começa a perceber os


objetos de seu ambiente e a ligar significados a esses
objetos.
O SELF
Self ou Autoconceito é a parte do Campo
Fenomenal que gradualmente torna-se
diferenciada.

É o conjunto organizado, porém mutável, de


percepções referentes ao próprio indivíduo; é
a idéia ou imagem de si (noção do eu);
características atualizadas ou possíveis
(qualidades, falhas, capacidades, limitações,
valores, recordações, ...); a consciência de
ser, de funcionar.
SELF - configuração experiencial composta de
percepções referindo-se:
1. ao indivíduo;
2. às suas relações com os outros;
3. com o ambiente; Condições de
4. e a vida em geral; Valia

5. assim como aos valores por ele atribuídos a


essas percepções.
Interação com o ambiente
Interação avaliativa com os outros,
principalmente pessoas socialmente significativas (pessoas-
critério)

ESTRUTURA DE SELF
O Self pode ser concebido como
uma configuração experiencial
que se constitui e reconstitui em
contínuo processo (self em
relacionamento), sob a égide
complexa de múltiplos fatores.
Características do Self:

- Encontra-se em fluxo contínuo;


- Esta configuração experiencial acha-se
disponível à consciência;
- É também abrangido pela tendência ao
desenvolvimento: tendência à
atualização ou realização do self;
- É o elemento regulador, orientador do
comportamento.
Como o self está ligado a valores, muito deles não são
experienciados de forma direta, mas introjetados dos
outros, principalmente de pessoas socialmente significativas

O afeto dispensado por elas é de


certa forma condicional Acolhida,
confirmada
pelo outro
Para manter sua necessidade básica de apreço
e consideração positiva

A criança passa a introjetar os valores dessas pessoas,


incluindo-os em seu autoconceito, mesmo que eles não
provenham de suas próprias experiências organísmicas.
Resultante do processo de socialização

Valores, concepções e ideologias aprendidas


também constituem os modos de ser e agir no mundo

“A rede de pensamentos, sentimentos, opiniões,


conceitos, valores; a conexão biológica entre as pessoas
influenciam a maneira como uma pessoa se expressa”
(WOOD, 1995, p. 211)
Criança posturas e concepções rígidas

introjeção de valores dos outros

falseamento e distorção
daquilo que ela experimenta
Conflito entre o que ela experiencia
e o seu autoconceito (self)

Atribui a certos comportamentos um valor positivo que, a nível


organísmico, experimenta como negativo ou desagradável.
A pessoa tenta ser o “eu” que as outras pessoas querem que
ela seja, em lugar do “eu” que ela é realmente.
Por isso a família e outras relações institucionalizadas em
nossa cultura parecem ser responsáveis por algumas áreas
férteis para o desenvolvimento das “doenças” psicológicas
(ROGERS, 1978, p. 197) .
A medida que ocorrem as experiências
podem ser:

a) Simbolizadas (alguma relação com o self);


b) Ignoradas por não ter relação com a
estrutura de self ;
c) Negadas ou distorcidas porque são
incoerentes com a estrutura de self.
Aceita as Rejeita as
que lhe que acha
convém nocivas

O Self seleciona as
experiências

Ignora as que
Distorce as não lhe
ameaçadoras interessam
Organismo e Self: Congruência e
Incongruência

Uma pessoa é congruente quando as experiências


simbolizadas que constituem o seu self espelham fielmente
as experiências do organismo. As experiências
organísmicas são aceitas sem ameaça ou angústia. Se está
apto a pensar realisticamente.

A incongruência entre o Self e o Organismo faz com que


os indivíduos se sintam ameaçados ou ansiosos.
Comportam-se defensivamente e seu pensamento se torna
restrito e rígido.
A Dinâmica da Personalidade

 Se o Self e a experiência total do Organismo são


relativamente congruentes, a tendência de realização fica
relativamente unificada. Em caso de incongruência, a
tendência geral de realização do Organismo poderá
chocar-se contra o subsistema daquele motivo – a
tendência para realizar o Self.
A Pessoa dividida tende a tensão, se sente
pouco a vontade, de mau humor.

Self
Experiência

Organismo
Para proteger a integridade do Self, as experiências
ameaçadoras não são simbolizadas, ou então são
simbolizadas de modo distorcido.

Nem sempre o intelecto dá conta daquilo que é


experimentado diretamente pelo indivíduo. Essas
experiências encontram-se no nível do pré-reflexivo, do
vivido.

 Segundo Rogers o objeto ou situação da ameaça pode


ser percebido inconscientemente, ou subceptado
(registro organísmico prévio à simbolização).
SUBCEPÇÃO: capacidade do indivíduo de discriminar
entre estímulos ameaçadores e de reagir de acordo com
isso, mesmo que não seja capaz de reconhecer
conscientemente os estímulos a que está reagindo.
A Subcepção do objeto ou situação ameaçadora pode
produzir reações viscerais, como palpitações
experimentadas conscientemente, como sensações de
ansiedade, sem que a pessoa saiba identificar a causa
do distúrbio.

Tensão pelo conceito


organizado do self quando
ANSIEDADE “subcepções” indicam que a
simbolização de certas
experiências seria destrutiva
para a organização.
Maior parte
dos compts. Estrutura de self
adotados

Alguns casos:
necessidades não comportamento
simbolizadas pela
incoerência com a
estrutura de self
Não é “dono”.
Desorganização da Personalidade

Alto grau de incongruência entre o self e a experiência

Experiências não são organizadas na estrutura do self

Comportamento do indivíduo torna-se confuso e dividido


Responsáveis
Tensão psicológica nem sempre
aparentes
básica ou potencial

Desajuste psicológico, comportamento neurótico


ou desorganização da personalidade
Experiência incoerente com a organização do Self

Ameaça Rigidez
perceptiva

Mais rigidamente estrutura


do Self é organizada para
preservar-se.
Teoria de Richard Hogan (1948):
comportamento defensivo
Abertura à
experiência Ameaça
Experiências percebidas
incoerentes com o Self

Ansiedade
Aumenta a
Suscetibilidade à
ameaça Defesa
(percepções Negação/ distorção
recorrentes) incongruência
Rigidez Perceptual
Necessidade de Simbolização incorreta ou
deformar certos dados discriminação perceptual
da experiência insuficiente.

O homem que se abre a si mesmo “transforma-se,


se enriquece” (Heidegger)

Liberdade Experiencial

Condição em que a pessoa se sente livre para reconhecer e elaborar


suas experiências e sentimentos pessoais sem que se sinta obrigada a
negar ou deformar suas opiniões ou atitudes intimas para manter a
afeição e o respeito de
pessoas socialmente significativa para ela.
O processo de desorganização psíquica

Desacordo entre o
Eu e a experiência
Em conseqüência
de alguma experiência Processo de defesa
crítica, é desvendado de impotente
maneira súbita e irrefutável
Inicialmente o desacordo é
experimentado no nível da
Experiência corretamente “subcepção” (ansiedade)
simbolizada - Choque e a A intensidade da angústia é
desorganização psíquica se proporcional á extensão do
produz. eu afetado
Reorganização ou Ajustamento Psicológico

 Como pode ser melhorada essa situação?


 Como integrar harmoniosamente Self e experiência
organísmica?

Conceito de Self Flexível, aberto, aceita e


simboliza experiências
Redução da tensão interna; antes negadas ou
integração; aberta; sensação de distorcidas.
autonomia; confiança;
espontaneidade; consideração
de si e do outro.
“Sob determinadas condições que incluem,
fundamentalmente, a ausência da ameaça à
estrutura pessoal, as experiências que estejam em
desacordo com ela podem ser percebidas e
examinadas, e a estrutura do Self revista para
assimilar e incluir tais experiências” (Rogers, 1951,
p. 587)

Expansão do Self
Segurança na exploração da
experiência/campo fenomenológico
Aceitação
“À medida que a pessoa percebe e aceita em sua
estrutura de Self uma maior parcela de suas
experiências organísmicas, verifica que está
substituindo seu sistema atual de valores –
baseado amplamente em introjeções, que foram
deformadamente simbolizadas – por um
processo contínuo de avaliação”
(ROGERS, 1951, p. 593)
A concepção de desenvolvimento humano desta teoria já
apresentava ainda que de maneira embrionária a visão do homem
como “ser em processo “em devir constante”, na medida em que
Não se detinha em fases ou estágios ...Entretanto apresentava a visão
dualista interno/externo ou conteúdo reprimido e não reprimido,
deixando de abranger de forma mais efetiva a complexidade dos
Diversos sistemas e conjuntos de forças atuantes no desenvolvimento
humano.O conceito de experiêmciação a partir da contribuição de
Gendelin e ampliação do conceito de tendencia atualizante/formativa
representaram pistas significativas de Carl Rogers considerando a
a fase experiencial de seu pensamento nesta direção.

Elizabete Cristina Monteiro Ribeiro.

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