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GESTÃO DE PESSOAS
NO SETOR PÚBLICO
© 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
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Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Hâmila Samai Franco dos Santos
Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Dias, Renato Traldi


D541g  Gestão de pessoas no setor público/ Renato Traldi Dias
– Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
170 p.
ISBN 978-85-522-1054-2
1. Recursos humanos. 2. Administração de pessoal.
I. Dias, Renato Traldi. Título.
CDD 300

Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
GESTÃO DE PESSOAS NO SETOR PÚBLICO

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 04

Tema 01 – Provimento 05

Tema 02 – Vacância, remoção, redistribuição e substituição 28

Tema 03 – Remuneração, férias, licenças, afastamentos e concessões 45

Tema 04 – Tempo de serviço, direito de petição e vantagens 70

Tema 05 – Regime disciplinar 98

Tema 06 – Processo administrativo disciplinar 124

Tema 07 – Seguridade social 146

Tema 08 – Contratação temporária e disposições finais 174

Gestão de Pessoas no Setor Público3


Apresentação da disciplina

O propósito desta disciplina de Gestão de Pessoas no Setor Público é de


providenciar a você, aluno, informações sobre a figura do servidor público
e seu posicionamento na Administração Pública, de modo que, munido
desta base de conhecimento, você possa compreender como melhor ge-
rir esses indivíduos.

Serão estudadas diversas peculiaridades sobre o assunto, cobrindo os tó-


picos de: provimento; vacância, remoção, redistribuição e substituição; di-
reitos do servidor; vantagens; regime disciplinar; processo administrativo
e penalidades; seguridade social; e contratação temporária.

Esta divisão dos conteúdos programáticos da disciplina não é arbitrária,


pois segue a linha lógica dos títulos e capítulos da Lei nº 8.112/90, que
dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, de
suas autarquias e das fundações públicas federais.

Assim, é evidente que esta lei será o principal objeto de estudo da discipli-
na, porém não será o único, já que serão analisados dispositivos constitu-
cionais e de outras leis, normas, decretos e até decisões judiciais que te-
nham relação com os temas abordados. Contudo, ressalta-se que, apesar
da grande presença de textos legais, serão explicados em detalhe todos
os dispositivos referidos, de modo que o conteúdo possa ser facilmente
compreendido por alunos que não sejam oriundos da área do Direito.

4 Gestão de Pessoas no Setor Público


TEMA 01

PROVIMENTO

Objetivos

• Estudar os aspectos peculiares e não imediatamen-


te aparentes de cada um dos requisitos básicos de
investidura em cargos públicos.

• Compreender as diferenças existentes entre cada


uma das formas de provimento de cargos públicos.

• Tomar conhecimento de aspectos gerais acerca dos


conceitos de posse, exercício e estabilidade em rela-
ção aos servidores públicos.

5 Gestão de Pessoas no Setor Público


Introdução

Nesta aula você estudará sobre o tema do provimento de cargos públicos,


que é o preenchimento de cargos por servidores, através de formas pre-
determinadas pelo artigo 8º da Lei nº 8.112/90.

Antes de abordar o tema do provimento propriamente dito, serão analisa-


das as peculiaridades de cada um dos requisitos básicos para investidura
em cargo público, como nacionalidade, nível de escolaridade e aptidões
necessárias. Estes requisitos, já se adianta, compõem apenas um rol míni-
mo, de modo que pode-se exigir mais de um candidato ao cargo público
por meio de lei.

Após a introdução destes requisitos básicos, serão analisadas as diversas


formas de provimento presentes na lei, que compõem um rol exaustivo
– ou seja, não pode haver outras formas além destas – e que aparecem
em número inferior ao que se tinha antigamente, pois foram revogados
os provimentos nas formas de ascensão e transferência. Assim, os tipos
restantes abordados serão: a nomeação, a promoção, a readaptação, a
reversão, o aproveitamento, a reintegração e a recondução.

Por fim, serão abordados os conceitos de posse, exercício e estabilidade,


para que você tome conhecimento e compreenda a definição legal, preci-
sa, desses termos que são importantes para a temática.

1. Requisitos básicos para investidura em cargo


público

Em termos de requisitos básicos para a investidura em cargo público, a


Lei nº 8.112/90, que “dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públi-
cos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais” traz
em seu artigo 5º um elenco de requisitos mínimos, ou seja, um elenco
não exaustivo. Não exaustivo, pois o legislador deixou explícito, já no § 1º

6 Gestão de Pessoas no Setor Público


deste artigo, que as atribuições particulares, únicas, a cada cargo podem
justificar a exigência de mais requisitos que sejam estabelecidos por outras
leis. Portanto, pode-se exigir mais do que aqui previsto, mas não menos.
Ademais, o § 2º do artigo 5º determina que serão reservadas até 20% das
vagas de concursos públicos para pessoas portadoras de deficiência, ou
seja, 20% tratam-se do percentual máximo para isto. Neste caso, o legis-
lador fez bem ao deixar em aberto a questão da definição exata de quem
pode ser considerado portador de deficiência, já que isto é algo que muda
com relativa frequência de acordo com as sensibilidades da sociedade;
assim, a matéria acaba por ser disciplinada em decreto – podendo, desta
forma, ser mais fácil e rapidamente alterada do que se a definição esti-
vesse contida no texto daquela lei – juntamente com a possibilidade de se
estabelecer um percentual mínimo de vagas.

PARA SABER MAIS


Se você tiver interesse em saber mais sobre as especificida-
des da temática portadores de deficiência, pode conferir o
Decreto nº 3.298/99 (com alterações feitas pelo Decreto nº
5.296/04), que dispõe sobre o tema; o artigo 4º elenca diver-
sas categorias do que se enquadra como deficiência e o § 1º,
do artigo 37, estabelece que devem ser reservadas, no mí-
nimo, 5% das vagas de concursos públicos para candidatos
portadores de deficiência.

Por fim, o § 3º daquele artigo faz menção à possibilidade de universidades


e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais utilizarem-se
das disposições da Lei nº 8.112/90 para prover seus cargos com professo-
res, técnicos e cientistas estrangeiros, se não tiverem métodos específicos
próprios de fazê-lo.
Feita esta ilustração inicial, passa-se, então, para explicação quanto às pe-
culiaridades de cada requisito básico para investidura em cargo público,
seguindo a ordem do elenco do artigo 5º.

Gestão de Pessoas no Setor Público7


1.1. Nacionalidade brasileira

Não é permitida a investidura de estrangeiros em cargos públicos; contu-


do, é importante que se ressalte que ambos os brasileiros natos e os na-
turalizados são considerados como possuindo nacionalidade brasileira, já
que, salvo casos excepcionais previstos na Constituição Federal, eles são
tratados como iguais perante ela e todas as normas infraconstitucionais –
conforme o disposto no § 2º do artigo 12 da Constituição Federal.

De acordo com o artigo 12, alínea I, são considerados brasileiros natos os


nascidos: a) no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que não es-
tejam a serviço de seu país; b) no estrangeiro, de pai ou mãe de nacionali-
dade brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil; c) no
estrangeiro de pai ou mãe de nacionalidade brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.

Para os brasileiros naturalizados, a alínea II daquele mesmo artigo estabe-


lece somente dois casos: a) os que, na forma da lei, adquiram nacionalidade
brasileira, sendo que para originários de países de língua portuguesa basta
apenas residência por um ano ininterrupto no Brasil e idoneidade moral; b)
os estrangeiros residentes no Brasil há mais de quinze anos ininterruptos
e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

A característica de idoneidade moral, vale notar, é um requisito subjetivo


que envolve análise do caráter e reputação do indivíduo, que geralmente
é presumida a todos que não tenham comprovada ausência dela.

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo claro de falta de idoneidade moral é o de uma
pessoa que comprovadamente cometeu crime hediondo. É
possível até mesmo, aliás, pensar em caso que não tenha sido

8 Gestão de Pessoas no Setor Público


o indivíduo condenado pelo crime devido a problemas proces-
suais – ou seja, não da matéria do caso – e que, por isso, ainda
possa ser considerado como não moralmente idôneo para fins
de obtenção de nacionalidade brasileira. Este último seria caso
um pouco controverso, mas, devido à subjetividade da análise
do requisito de idoneidade moral, é possível que ocorra.

1.2. Gozo dos direitos políticos


A ideia de gozo dos direitos políticos não se limita à possibilidade de votar
para eleger um candidato político, ela se estende à ideia de elegibilidade
do indivíduo.

PARA SABER MAIS


Se você tiver interesse em saber mais sobre este tema da ele-
gibilidade, pode conferir as disposições da Lei Complementar
nº 64/90, que “Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da
Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de ces-
sação, e determina outras providências”. Vale notar que ela
teve seu texto alterado pela Lei Complementar nº 81/94 e de-
pois pela Lei Complementar nº 135/2010, esta última sendo a
chamada “Lei da Ficha Limpa”.

Contudo, apesar desta exigência do artigo 5º, “em rigor de verdade não
parece em princípio ser necessário o pleno gozo dos direitos políticos a
qualquer cidadão como indispensável à sua investidura em cargo público”
(RIGOLIN, 2012, p. 64). Basta que o indivíduo não tenha os seus direitos
políticos cassados para que preencha este requisito.
Assim, um analfabeto poderia, em tese, candidatar-se para cargo público,
pois sua condição de inelegibilidade não decorre de cassação de direitos
políticos. Todavia, vale ressaltar que dificilmente um analfabeto preen-
cherá outros requisitos, como o de nível mínimo de escolaridade.

Gestão de Pessoas no Setor Público9


1.3. Quitação com as obrigações militares e eleitorais

A quitação das obrigações militares verifica-se quando se presta o servi-


ço militar obrigatório ou se obtém dispensa do mesmo – evidentemente,
apenas os homens. A prova desta quitação se dá na forma de certificado
de dispensa ou certificado de reservista.

Já quanto às obrigações eleitorais, tem-se o preenchimento do requisito


quando o cidadão votou em todas as eleições relativas a onde está re-
gistrado como eleitor, que ocorreram desde que atingiu dezoito anos de
idade, ou, pelo menos, que tenha justificado o voto no caso de não com-
parecimento às urnas. Evidentemente, comprova-se esta quitação com os
comprovantes de todas aquelas respectivas votações e justificativas.

Vale notar, todavia, que apesar da obrigação de voto para os maiores de


dezoito anos disposta na alínea I do § 1º do artigo 14 da Constituição
Federal, a alínea II determina que o voto passe a ser facultativo a partir
dos setenta anos de idade e que o é também para os analfabetos e os que
têm entre dezesseis e dezoito anos de idade.

1.4. Nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo

Apesar de frequentemente se resumir à noção de graus de escolaridade,


como “1º grau completo”, “2º grau completo” ou “curso superior comple-
to”, não se limita este requisito necessariamente a isto.
Esta exigência é de uma aptidão mínima para o exercício do cargo público
que será preenchido. Ela pode ser mais específica que um mero nível de
escolaridade, contendo limites também por áreas, como, por exemplo,
curso superior em biologia completo ou curso de mestrado completo em
alguma área de engenharia.
Trata-se, contudo, de um requisito de tipo que poderá ser comprovável
por meio de diplomas, já que a análise de habilidades mais específicas
para o cargo se dá por outras vias – por exemplo, provas escritas em âm-
bito de concurso público.

10 Gestão de Pessoas no Setor Público


1.5. Idade mínima de dezoito anos

O requisito da idade mínima de dezoito anos não requer explicação.


Contudo, há uma ressalva interessante que se pode fazer, que é quanto
à idade de candidatura e investidura de candidato para cargo público.
Conforme o disposto na decisão do Recurso Extraordinário 184.425, in-
terposto junto à segunda turma do Supremo Tribunal Federal, em 1996,
em que foi relator o Ministro Carlos Velloso, o requisito de idade mínima
de dezoito anos contido na Constituição refere-se à data de investidura
no cargo público, não à candidatura para o mesmo. Assim, é possível que
um indivíduo se candidate com dezessete anos de idade e seja investido
no cargo público, devido ao fato de ter feito dezoito anos entre a data de
candidatura e a de investidura.

LINK
Se você tiver interesse em procurar decisões do Supremo
Tribunal Federal sobre qualquer tema, pode o fazer pelo
link a seguir, utilizando-se de expressões temáticas como
“aptidão física” e “idade” no campo de palavras chave.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pesquisa Avançada de
Processos. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/juris
prudenciaRepercussao/pesquisarProcesso.asp>.
Acesso em: 7 jul. 2018.

1.6. Aptidão física e mental

Este requisito de aptidão física e mental não se trata de ampla exclusão


de portadores de deficiência – até porque, como já se mencionou, há, in-
clusive, exigência de reserva de certo percentual de vagas para este públi-
co –, mas sim de exclusão única e tão somente daqueles cujas faculdades
mentais e físicas específicas prejudicariam significativamente o exercício
do cargo público que se pretende preencher.

Gestão de Pessoas no Setor Público11


Também não se trata aqui de comparação da aptidão física e mental dos
que se candidatam a um cargo público, mas meramente de comprovação,
através de critérios técnicos e científicos da suficiência mencionada; o que
se dá por meio de inspeção médica oficial, conforme o disposto no artigo
14 da Lei nº 8.112/90.

1.7. Outros requisitos

Como se mencionou, além dos requisitos básicos delineados pelo artigo


5º da Lei nº 8.112/90, pode-se demandar outros requisitos previstos em
leis e regulamentos que as complementem.

Não há muitas limitações explícitas quanto a estas exigências adicionais,


contudo é lógico que estas não podem se exceder de forma irrazoável e
evidente que, muito menos, sejam estabelecidas de modo a contrariar
disposições constitucionais e infraconstitucionais sobre discriminação ra-
cial, religiosa, de gênero etc. Ademais, quanto à ideia de razoabilidade,
julga-se que, por exemplo, as exigências devem ser oriundas de particula-
ridades relativas ao cargo público cuja investidura se regulamenta.

2. Formas de provimento de cargo público

O termo “provimento” refere-se à ideia de preenchimento ou ocupação


de cargos públicos pelas hipóteses enumeradas no artigo 8º – e tão so-
mente por elas – da Lei nº 8.112/90 (RIGOLIN, 2012).

Assim, passa-se para a explicação de cada uma das hipóteses do referido


artigo, que possibilitam o preenchimento de cargos públicos.

2.1. Nomeação

A nomeação, disciplinada pelo artigo 9º da Lei nº 8.112/90, é forma origi-


nária de provimento de qualquer cargo público (RIGOLIN, 2012). Por meio

12 Gestão de Pessoas no Setor Público


dela, um indivíduo pode ser investido em um cargo de caráter efetivo –
quer se trate de cargo isolado ou de carreira – ou em um cargo em comis-
são – comumente chamado de “cargo de confiança”.

Nos casos de cargos de carreira ou isolados, a nomeação efetiva do indi-


víduo no cargo público, que então entrará em período de estágio proba-
tório. Ainda, conforme o disposto no artigo 10, ele já deverá ter passado
em concurso público de provas ou de provas e títulos.

A forma precisa do concurso público estará disciplinada pela lei ou regu-


lamento referente ao cargo específico que se pretende preencher, mas,
conforme o artigo 11, terá sempre a forma de provas ou de provas e tí-
tulos e poderá ser realizado em duas etapas. Ademais, o artigo estabele-
ce que deve haver pagamento de inscrição, quando indispensável para o
custeio do concurso – salvo hipóteses explícitas de isenção.

O artigo 12 determina também que os concursos terão validade máxima


de dois anos, com possibilidade de prorrogação por período igual ao ini-
cial – portanto, se for de um ano, será prorrogável por mais um ano e, se
for de dois anos, será prorrogável por mais dois anos. Ainda, o § 2º des-
te artigo determina que não poderá ser aberto novo concurso enquanto
houver candidatos aprovados em concurso cujo prazo de validade ainda
não expirou.

Embora esteja presente na Lei nº 8.112/90, esta determinação quanto à


necessidade de se realizar concurso público origina-se no inciso II do arti-
go 37 da Constituição Federal que, inclusive, deixa explícito que esta exi-
gência não se estende para os cargos em comissão.

Não faria sequer sentido haver exigência de concurso público para cargos
em comissão devido à sua própria natureza, que é a de cargos que são de
livre nomeação e exoneração; ou seja, indivíduos podem ser nomeados
livremente para estes cargos por aqueles que têm competência para fazê-
-lo, mas também não há nenhuma garantia de estabilidade para o cargo.
Exemplos clássicos destes cargos em comissão são os de Ministros e de
diretores de autarquias.

Gestão de Pessoas no Setor Público13


Por fim, a nomeação pode ocorrer por meio de dois tipos de atos: porta-
rias e decretos. Via de regra, ela se dá por meio das primeiras, mas em
casos específicos de altos cargos de grande importância deve ocorrer por
meio de decreto, que é ato de competência exclusiva dos chefes de poder
executivo – o presidente, os governadores e os prefeitos.

2.2. Promoção

Promoção é um fenômeno exclusivo para cargos de carreira. É a investi-


dura de um indivíduo em um novo cargo, da mesma carreira e necessaria-
mente superior, previsto em um plano de carreira preestabelecido.

Leis específicas, referentes aos inúmeros cargos de carreira existentes,


disciplinam a possibilidade de que a promoção possa ocorrer, a periodici-
dade com que ocorre, as condições e requisitos particulares necessários
para que um servidor seja candidato para a promoção, bem como quem
vai realizá-la e todas as outras regulamentações. Por fim, vale ressaltar
que, muitas vezes, este regulamento adota o nome de regimento de pro-
moções (RIGOLIN, 2012).

Um exemplo de promoção é a que existe no caso de procuradores cuja


carreira prevê diversas categorias de procurador e cuja promoção pode
se dar “por merecimento” ou “por antiguidade”. Assim, verifica-se que
uma promoção pode se dar até mesmo por meio de vias alternativas e
não necessariamente por somente uma via.

2.3. Readaptação

A readaptação, disciplinada pelo artigo 24 da Lei nº 8.112/90, é uma hi-


pótese de provimento em que um servidor público, após sofrer limitação
significativa em sua capacidade física ou mental – verificada em inspeção
médica –, é investido em um cargo de atribuições e responsabilidades
compatíveis com a limitação do indivíduo.

14 Gestão de Pessoas no Setor Público


Em primeiro lugar, é importante que se ressalte que não há menção al-
guma quanto à necessidade de a limitação física ou mental ter origem
relacionada à função que o servidor público exercia e, por uma questão
de justiça e razoabilidade, deve ser feita interpretação favorável aos indi-
víduos objetos deste artigo para crer que o legislador não pretendeu fazer
esta restrição quanto à origem da limitação.
Ademais, a intenção do legislador de conferir benefícios adequados àque-
le que se encontra em situação penosa ficou ainda mais clara após o ad-
vento da nova redação do § 2º do artigo, que determina que o cargo para
o qual se readapta o servidor público limitado deve ser tão similar ao
anterior quanto possível – consideradas as limitações, evidentemente –,
com atribuições afins, habilitações e nível de escolaridade exigidos simi-
lares e até mesmo equivalência de vencimentos – o que não poderia ser
diferente, já que não se trata de promoção e as leis trabalhistas não per-
mitem a redução salarial para cargo similar.
Ainda, é possível até que o servidor continue a exercer suas atribuições
como excedente até que abra vaga para que seja investido efetivamente
no novo cargo.
Por fim, é evidente que, se ele for julgado incapaz para exercer suas atri-
buições pela inspeção médica, não poderá haver readaptação e ele deve-
rá ser aposentado por invalidez – conforme o § 1º – e, a partir daí, aplicam-
se as devidas disposições legais referentes à previdência.

2.4. Reversão

Conforme o disposto no artigo 25 da Lei nº 8.112/90, a “reversão é o retor-


no à atividade de servidor aposentado” e o artigo prevê somente dois ca-
sos em que isto pode ocorrer; porém, nenhum deles permite a reversão
de aposentado que já tiver completado setenta anos de idade, devido à
proibição presente no artigo 27. Ademais, o § 1º também deixa claro que a
reversão só ocorre com relação ao cargo anterior que o aposentado ocu-
pava, não obstante a possibilidade de que este tenha sido transformado.

Gestão de Pessoas no Setor Público15


O primeiro, da alínea I, é aquele em que junta médica oficial declare in-
subsistentes os motivos da aposentadoria por invalidez, ou seja, que a
causa que gerou a aposentadoria não mais persiste. Vale notar que isto
é um direito do servidor, pois a insubsistência dos motivos que ocasiona-
ram a aposentadoria por invalidez resultará – com as devidas ressalvas e
depois de realizados os respectivos procedimentos legais – na cessação
da concessão de benefícios de aposentadoria, portanto o indivíduo ne-
cessitará novamente de trabalho, já que não mais poderá depender da
aposentadoria.

Não há delimitação dos casos que se encaixam nesta hipótese, mas po-
dem-se imaginar situações em que, por exemplo, uma doença que im-
pedia o servidor de continuar a exercer suas atribuições foi curada ou
suficientemente reduzida por meio de medicamentos ou procedimentos
médicos que antes não existiam, fazendo com que a doença que era con-
siderada incurável passe a ser tratável. Outro exemplo poderia ser o de
deficiência física que, por meio de avanços tecnológicos, passa a não ser
mais tratada como caso de invalidez, como parece ser a tendência com
relação à produção de membros sintéticos cada vez melhores, que pos-
sam substituir membros amputados com movimentos suficientemente
precisos para o retorno a cargos que demandem o uso desses membros.

O outro tipo de reversão é o da alínea II do artigo 25, que se refere à pos-


sibilidade de reversão em caso de interesse da administração – que, pre-
sume-se, não seja interesse qualquer, desprovido de motivação razoável
–, caso sejam preenchidas todas as exigências previstas no artigo; qual
seja: de que a) o indivíduo tenha solicitado a reversão; b) a aposentadoria
tenha sido voluntária; c) o servidor, quando estava investido no cargo an-
teriormente à aposentadoria, tinha estabilidade; d) o indivíduo não esteja
aposentado do cargo há mais de cinco anos; e) haja cargo vago.

Vale notar, contudo, quanto à alínea “e” deste inciso, que o § 3º prevê a
possibilidade de o indivíduo exercer suas atribuições como excedente até
que surja vaga para o cargo.

16 Gestão de Pessoas no Setor Público


Do mais, os § § 2º e 6º são redundantes ao que já existe em outras legisla-
ções e na Constituição e não têm nenhum efeito prático e o § 4º assegura
ao servidor a reversão também de todos os benefícios que ele tinha quan-
do antes ocupava o cargo, com a correspondente cessação do recebimen-
to de proventos da aposentadoria.

Quanto ao § 5º, que estabelece regras diferenciadas para o cálculo de pro-


ventos de aposentadoria do servidor revertido no cargo, é dispositivo que
deve ser ignorado, pois se trata de conteúdo de lei infraconstitucional que
tenta disciplinar de forma diversa sobre matéria tratada pela Constituição.

2.5. Aproveitamento

O aproveitamento, conforme o disposto no artigo 30 da Lei nº 8.112/90,


envolve o retorno à atividade de servidor em situação de disponibilidade,
o que ocorre mediante a investidura em cargo de atribuições e vencimen-
tos compatíveis com o anteriormente ocupado.

Vale notar que o aproveitamento, de acordo com o texto do artigo, é


obrigatório, o que significa que há dever do Estado de realizar o aprovei-
tamento quando surgir vaga compatível com as exigências delineadas.
Assim sendo, deduz-se também que ele “prevalece sobre qualquer outra
forma de provimento de cargo público” (RIGOLIN, 2012, p. 138).

Ademais, fala-se em investidura em cargo de atribuições compatíveis, não


necessariamente similares, pois não faria sentido haver cargo similar a
um considerado desnecessário – que é uma das causas de extinção de
cargo que pode gerar a disponibilidade, como se verá.

A disponibilidade é situação em que um servidor público está inativo,


esperando ser aproveitado, enquanto recebe remuneração proporcio-
nal ao seu tempo de serviço. Os dois casos gerais que podem ocasio-
nar a disponibilidade estão previstos nos § § 2º e 3º do artigo 41 da
Constituição Federal.

Gestão de Pessoas no Setor Público17


O primeiro prevê caso em que a demissão de um servidor estável tenha
sido invalidada por sentença judicial e ele retorne ao seu cargo original,
fazendo com que o ocupante da vaga tenha de ser imediatamente apro-
veitado ou posto em disponibilidade.

Já o segundo refere-se a caso em que o cargo do servidor público foi extin-


to ou simplesmente declarado como desnecessário – ressalte-se, o cargo
foi declarado desnecessário, não o servidor especificamente –, o que tam-
bém coloca o servidor em situação de disponibilidade se não puder ser
imediatamente aproveitado.

Por fim, o artigo 32 determina, salvo em caso de doença comprovada por


junta médica oficial, sem efeito o aproveitamento e cassada a disponibili-
dade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal, que é o mesmo
da posse – sobre a qual se falará mais adiante –, de trinta dias contados
da publicação do ato de provimento.

2.6. Reintegração

Prevista no artigo 28 da Lei nº 8.112/90, a reintegração refere-se à reinves-


tidura de servidor estável no mesmo cargo que anteriormente ocupava
– com todas as vantagens que possuía –, ou em cargo resultante de sua
transformação, quando invalidada a sua demissão por decisão adminis-
trativa ou judicial.

Se aquele cargo tiver sido extinto, o servidor público ficará em disponibili-


dade, de acordo com o disposto no § 1º e com a remuneração menciona-
da anteriormente quanto à disponibilidade.

Contudo, se o cargo estiver provido, o novo ocupante retornará ao car-


go de origem, se for o caso, senão será aproveitado em outro cargo ou
posto em situação de disponibilidade, conforme o disposto no § 2º. Estas
possibilidades seguem o que já se mencionou sobre aproveitamento e
disponibilidade.

18 Gestão de Pessoas no Setor Público


2.7. Recondução

Por fim, a recondução é, conforme o artigo 29 da Lei nº 8.112/90, o retor-


no do servidor estável ao cargo que anteriormente ocupava. Pode ocorrer
por dois motivos: inabilitação – ou, acrescenta-se, desistência – em está-
gio probatório quando o servidor estiver se investindo em outro cargo
ou reintegração do ocupante anterior do cargo em que ele está – que é a
hipótese que se mencionou como “retorno” no parágrafo acima.

Diferentemente do caso anterior, de reintegração, se o cargo de ori-


gem encontrar-se provido, este servidor será aproveitado em outro –
ou seja, não é o novo ocupante que deixará o cargo. Evidentemente,
se não puder haver aproveitamento imediato, incorrerá na situação
prevista nos artigos referentes a ele, portanto será o servidor posto em
disponibilidade.

ASSIMILE
Para fins de assimilação ressalta-se novamente que o servi-
dor em disponibilidade recebe remuneração proporcional
ao seu tempo de serviço e que ele deverá ser aproveitado
imediatamente assim que abrir vaga em cargo adequado,
tendo isto prioridade em relação a qualquer outro tipo de
provimento.

3. Posse

Conforme o artigo 13 da Lei nº 8.112/90, a posse se dá pela assinatura,


por parte do servidor, do termo de posse, em que constam todas as atri-
buições, deveres, responsabilidades e direitos do cargo ocupado – que,
salvo exceções, não podem ser alterados unilateralmente.

Gestão de Pessoas no Setor Público19


É este ato exclusivo à nomeação – como informa o § 4º –, pois as demais
formas de provimento não requerem assinatura de termo. Ademais, ele
poderá ser realizado por meio de procurador com procuração específica
para fazê-lo, segundo a permissão do § 3º.
O § 1º estabelece um prazo de 30 dias da data de publicação do ato de
provimento no Diário Oficial da União para que isso ocorra, contagem
esta que exclui o dia da publicação para, em verdade, começar a partir do
encerramento deste dia. Contudo, em caso de servidor público em licença
ou afastado, a contagem só começará após o término da licença ou afas-
tamento, de acordo com o § 2º.

Já o § 5º determina que o servidor deve apresentar declaração dos bens


e valores que constituem o seu patrimônio e declaração que informe a
Administração sobre o exercício de cargo, emprego ou função pública; o
que é feito como forma de coibir o peculato (RIGOLIN, 2012), que se refere
a crime de desvio de bens ou valores por parte de funcionário público que
utiliza de sua função para fazê-lo.

O § 6º só ressalta que a não observação do prazo do § 1º tornará o ato de


provimento sem efeito, o que, vale notar, é desnecessário, pois o mesmo
ocorreria se o parágrafo não existisse.

Por fim, o artigo 14 meramente aponta a necessidade de realizar inspe-


ção médica oficial em tempo anterior à posse, para que seja verificado o
cumprimento do requisito básico de aptidão física e mental para o cargo.

4. Exercício

O artigo 15 e § § da Lei nº 8.112/90 determina que o exercício é


o efetivo desempenho das atribuições do cargo público ou função de
confiança, que, para o primeiro, deve se iniciar em até quinze dias contados
da data de posse, sob pena de exoneração e, para o segundo, inicia-se de
imediato no dia da publicação do ato de designação – exceto se estiver de
licença ou afastado –, sob pena do ato ser tornado sem efeito.

20 Gestão de Pessoas no Setor Público


Qualquer que seja a forma do exercício, cabe à autoridade competente
do órgão ou entidade para onde for nomeado ou designado o servidor
dar-lhe exercício, ou seja, cabe a ele ou ela dar atribuições que o servidor
deve desempenhar.
Ademais, o início, a suspensão, a interrupção e o reinício do exercício de-
vem ter devido registro, conforme o disposto no artigo 16, e o artigo 17
deixa claro que a promoção de um servidor não deve interromper a con-
tagem de seu tempo de exercício.
Quanto ao servidor que passará a ter exercício em outro município, o ar-
tigo 18 estabelece um prazo mínimo de dez dias e máximo de trinta para
que ele retome o efetivo desempenho de suas atribuições; ressalvadas
as hipóteses de licença e afastamento, em que, novamente, o prazo será
contado do seu final.
O artigo 19 e § § trazem delineamentos sobre a jornada de trabalho, de-
terminando que deve ser respeitada a duração máxima de oito horas por
dia, totalizando quarenta horas semanais e o mínimo de seis horas por
dia. Além disso, ressaltam que o cargo em comissão tem funcionamento
diferenciado, podendo ser convocado em momento que houver interes-
se da Administração e que leis especiais podem estabelecer jornadas de
trabalho diferenciadas para certas profissões que assim demandam pela
sua própria natureza, como é o caso dos médicos plantonistas.
Por fim, o artigo 20 determina os fatores que, para determinar a aptidão
e capacidade do servidor para o cargo, serão considerados no período de
24 meses de estágio probatório, sua assiduidade, disciplina, capacidade
de iniciativa, produtividade e responsabilidade – fatores estes que, evi-
dentemente, têm certo grau de subjetividade.
Vale notar, contudo, que o § 1º determina que a avaliação de desempe-
nho do servidor já será submetida para a autoridade quatro meses antes
deste período se encerrar e que os parágrafos seguintes determinam que
há alguns casos em que este servidor pode receber licença ou ser afas-
tado – suspendendo, com isto, o período de estágio probatório – e que,
se não aprovado ao final, o servidor será exonerado ou reconduzido ao
cargo anterior.

Gestão de Pessoas no Setor Público21


5. Estabilidade

Os artigos 21 e 22 da Lei nº 8.112/90 tratam da estabilidade, que é condi-


ção em que o servidor público, estável, só poderá perder o cargo por meio
de sentença judicial transitada em julgado ou de processo administrativo
disciplinar.
Apesar de o artigo 21 determinar que são necessários apenas dois anos
de efetivo exercício para obter esta condição, ele contradiz o que está con-
tido no artigo 41 da Constituição Federal, que determina que este tempo
é de três anos; portanto, o dispositivo é inconstitucional.
Por fim, o artigo 22 meramente reproduz as duas hipóteses dos incisos I
e II do § 1º do artigo 41 da Constituição Federal, ignorando a hipótese de
perda de cargo do inciso III. Este problema, contudo, ainda não é grave,
pois esta última hipótese ainda não pode ser aplicada, já que tem de ser
regulamentada por lei complementar que ainda não existe.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Para melhor compreender e fixar os conceitos aprendidos nesta
aula, reflita sobre diversos casos reais de preenchimento de cargos
públicos para determinar em quais das formas de provimento eles
se encaixam.

6. Considerações finais

• O rol de requisitos básicos necessários para a investidura em cargos


públicos não é opcional nem exaustivo, devendo o candidato preen-
cher todos os requisitos, mas podendo ser feitas maiores exigências
dele, além destas.
• Por outro lado, a lista de formas de provimento de cargos públi-
cos enumerada pelo artigo 8º da Lei nº 8.112/90 é sim exaustiva, de
modo que não pode haver outras formas além das ali previstas.

22 Gestão de Pessoas no Setor Público


• Cada forma de provimento aplica-se a um caso muito específico, de
modo que não deve haver confusão entre elas.

• Há que se ter cuidado com a leitura de alguns artigos da Lei nº


8.112/90, como no caso dos artigos que tratam da estabilidade, pois
há contradições com relação à Constituição Federal, fazendo com que
os referidos dispositivos devam ser considerados inconstitucionais.

Glossário

• Provimento: é o termo que se refere ao preenchimento ou ocu-


pação de cargos públicos pelas únicas vias possíveis, que são os
casos estudados, enumerados no artigo 8º da Lei nº 8.112/90.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. Levando em consideração o que foi estudado com relação
à forma de provimento de promoção, pode-se afirmar que:
a) é forma de provimento para cargos de carreira ou iso-
lados, que investe o servidor em um novo cargo, neces-
sariamente superior. Ademais, é disciplinada por leis
específicas, referentes aos inúmeros cargos existentes.
b) é forma de provimento para cargos de carreira ou isola-
dos, que investe o servidor em um novo cargo, necessa-
riamente superior. É disciplinada exclusivamente pelas
disposições da Constituição Federal e da Lei nº 8.112/90.
c) é forma de provimento exclusivo para cargos de carreira,
que investe o servidor em um novo cargo, superior ou em
nível paralelo, de acordo com um plano de carreira pre-
estabelecido. Ademais, é disciplinada por leis específicas,
referentes aos inúmeros cargos de carreira existentes.

Gestão de Pessoas no Setor Público23


d) é forma de provimento exclusivo para cargos de car-
reira, que investe o servidor em um novo cargo, ne-
cessariamente superior, de acordo com um plano de
carreira preestabelecido. É disciplinada exclusivamente
pelas disposições da Constituição Federal e da Lei nº
8.112/90.
e) é forma de provimento exclusivo para cargos de car-
reira, que investe o servidor em um novo cargo, neces-
sariamente superior, de acordo com um plano de car-
reira preestabelecido. Ademais, é disciplinada por leis
específicas, referentes aos inúmeros cargos de carreira
existentes.
2. “A readaptação e a reversão são similares no sentido de
que ambas envolvem o retorno de servidores aposenta-
dos a cargos públicos, mas não são formas de provimento
idênticas PORQUE a primeira envolve o retorno do servi-
dor devido à insubsistência da causa de sua aposentadoria
e a segunda envolve o retorno do servidor por interesse
da Administração”.
Analisando as duas afirmações acima, conclui-se que:

a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifi-


ca a primeira.
b) as duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) a primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é
falsa.
d) a primeira afirmação é falsa, mas a segunda é verdadeira.
e) as duas afirmações são falsas.

24 Gestão de Pessoas no Setor Público


3. Considerando-se o que foi estudado com relação às formas
de provimento de reintegração e de recondução, pode-
se perceber uma importante distinção entre o tratamento
que elas dão ao servidor público, no sentido de que:
a) em caso do cargo que o servidor público anteriormente
ocupava estar provido, na recondução, o novo ocupan-
te deixará o cargo e será aproveitado, mas, para a rein-
tegração, infelizmente, a lei não previu solução para
este problema.
b) em caso do cargo que o servidor público anteriormen-
te ocupava estar provido, na recondução, quem deixa-
rá o cargo e será aproveitado é o novo ocupante, mas,
na reintegração, o novo ocupante permanece, sendo o
servidor que tenta retornar quem será aproveitado.
c) em caso do cargo que o servidor público anteriormente
ocupava estar provido, na reintegração, quem deixará
o cargo e será aproveitado é o novo ocupante, mas, na
recondução, o novo ocupante permanece, sendo o ser-
vidor que tenta retornar quem será aproveitado.
d) em caso do cargo que o servidor público anteriormente
ocupava estar provido, na reintegração, ele será trata-
do como excedente, mas, na recondução, o novo ocu-
pante permanece, sendo o servidor que tenta retornar
aproveitado.
e) em caso do cargo que o servidor público anteriormente
ocupava estar provido, na reintegração, o novo ocupan-
te deixará o cargo e será aproveitado, mas, na recondu-
ção, o novo ocupante permanece, sendo o servidor que
tenta retornar tratado como excedente.

Gestão de Pessoas no Setor Público25


Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 7 jul. 2018.
. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de
24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>.
Acesso em: 7 jul. 2018.
. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 7 jul. 2018.
. Lei complementar nº 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com
o art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e
determina outras providências. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/lcp/Lcp64.htm>. Acesso em: 7 jul. 2018.
. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário 184.425. Segunda Turma,
Rel. Min. Carlos Velloso, Brasília, 12 jun. 1998.
. Supremo Tribunal Federal. Pesquisa Avançada de Processos. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/pesquisarProcesso.asp>.
Acesso em: 7 jul. 2018.
RIGOLIN, I. B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei n.
8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gabarito – Tema 01
Questão 1 – Resposta: E
As duas primeiras alternativas estão incorretas logo de início, pois
afirmam que a promoção pode ocorrer em cargos isolados, o que
é absurdo, já que, por definição, eles não fazem parte de uma car-
reira dentro da qual o servidor pode ser promovido para um cargo
superior. A segunda alternativa também está incorreta pelo mesmo

26 Gestão de Pessoas no Setor Público


motivo que torna a quarta alternativa incorreta, que é devido à afir-
mação de que a promoção é disciplinada apenas pela Constituição
e a Lei nº 8.112/90, o que não é verdade e seria até inviável, dado o
grande número de carreiras diferentes que precisam de regulamen-
tação própria. Por fim, a terceira alternativa também está incorre-
ta, pois afirma que a promoção pode investir um servidor em car-
go não superior, o que é falso e vai contra a própria ideia do termo
“promoção”.

Questão 2 – Resposta: E
A primeira afirmação é falsa, pois a readaptação não consiste no re-
torno de um servidor já aposentado. A segunda afirmação também é
falsa, pois os casos listados não correspondem aos dois provimentos
mencionados; são dois casos de reversão que nada têm a ver com a
readaptação.

Questão 3 – Resposta: C
A primeira alternativa está incorreta, pois descreve a solução da rein-
tegração para a recondução e afirma que a lei não dá solução para
caso que, em verdade, dá. Já a segunda afirmativa está incorreta,
pois estão trocados os termos reintegração e recondução. Por fim,
as duas últimas alternativas estão incorretas por mencionar a ideia
de “excedente”, que só ocorre nos casos de readaptação e reversão.

Gestão de Pessoas no Setor Público27


TEMA 02

VACÂNCIA, REMOÇÃO,
REDISTRIBUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO

Objetivos

• Tomar conhecimento de todas as hipóteses das quais


decorrem a vacância de cargos públicos.

• Compreender os conceitos de remoção, redistribui-


ção e substituição.

• Estudar os problemas inerentes à redação de alguns


dos dispositivos legais que tratam dos institutos da
vacância, remoção, redistribuição e substituição.

Gestão de Pessoas no Setor Público28


Introdução
Nesta aula você estudará os conceitos de vacância, remoção, redistribui-
ção e substituição, bem como as normas que regulamentam estes institu-
tos; que serão explicadas de modo a serem compreendidas por leigos na
área do Direito.
De início será abordada a temática da vacância, que pode decorrer de
diversas hipóteses delineadas no texto da Lei nº 8.112/90. Algumas des-
tas correspondem às formas de provimento, que já foram explicadas em
detalhes na aula específica sobre o assunto; outras correspondem a fe-
nômenos novos que serão analisados; mas, algumas dessas hipóteses
referem-se a institutos que serão mencionados de modo relativamente
menos detalhado, pois constituem objeto de estudo de aulas posteriores.
Após a vacância, será estudada a ideia de remoção, que em um primeiro
momento pode parecer constituir forma de provimento não prevista no
artigo 8º da Lei nº 8.112/90, mas que, em verdade, disto não se trata.
Em seguida, você aprenderá sobre redistribuição, que é um instituto cujos
dispositivos legais, infelizmente, não têm uma redação muito boa e que, des-
ta forma, causam alguns problemas que apontaremos ao longo do texto.
Por fim, se falará da substituição, que é um importante instituto, apesar
de só haver dois curtos artigos na Lei nº 8.112/90 que tratam dele.

1. Vacância

Vacância é a característica de um cargo público considerado como vago,


ou seja, não ocupado por um servidor público, e que, portanto, pode ser
preenchido por meio de uma das hipóteses de provimento listadas no
artigo 8º da Lei nº 8.112/90. Acrescenta-se até que deve ser preenchido o
cargo público vago, pois se não há razão para ser extinto é evidente que
há, então, motivo para o cargo existir e, consequentemente, há atribuições
importantes a ele ligadas que devem ser cumpridas por um ocupante.
O artigo 33 da Lei nº 8.112/90 é o que enumera em cada um de seus in-
cisos as hipóteses das quais decorre a vacância e este rol é considerado

Gestão de Pessoas no Setor Público29


como exaustivo, de modo que não há outras possibilidades fora das lista-
das para que seja vago um cargo público.
Posto isto, passa-se, então, para a análise de cada uma das hipóteses que
ocasionam a vacância, presentes no referido artigo.

1.1. Exoneração
Como se verifica com a observância do inciso seguinte ao que lista a exo-
neração, que traz a demissão como causa de vacância de cargo público,
estes dois fenômenos não se confundem.
Aliás, é importante que se ressalte que a ideia de exoneração em si não
tem sequer caráter negativo, pois o primeiro dos casos de exoneração
para servidores em cargos efetivos é, inclusive, aquele que se dá por pedi-
do do servidor. Assim, por meio de mero pedido o servidor público pode
ser exonerado, deixando seu cargo vago. E diferentemente não poderia
ser, já que ninguém pode ser forçado a ocupar cargo público e desempe-
nhar as atribuições que a ele correspondem contra a sua vontade; por-
tanto, enquanto permanece o servidor no cargo, permanecerá também
sempre a possibilidade de pedir sua exoneração.
Há, contudo, ainda mais dois casos de exoneração para servidores em
cargos efetivos, que são os que se dão de ofício. “De ofício” é uma expres-
são legal originária do latim ex officio, que se refere a um ato que se reali-
za em virtude do cargo – ou seja, do ofício – que se ocupa.

EXEMPLIFICANDO
Exemplos de atuação “de ofício” encontram-se frequente-
mente no dia-a-dia da Administração e no Judiciário, pois au-
toridades administrativas variadas e juízes tendem, devido
ao cargo que possuem, ter amplas oportunidades para atua-
rem de ofício, utilizando-se dos poderes que decorrem exa-
tamente dos cargos que ocupam para fazer demandas, por
exemplo, de indivíduos envolvidos em processos judiciais ou
administrativos, sem precisarem consultar terceiros.

30 Gestão de Pessoas no Setor Público


Assim, o cargo aqui mencionado é o da autoridade administrativa, que, no
primeiro caso de exoneração de ofício, deve exonerar o servidor que não
satisfaz as condições do estágio probatório.

ASSIMILE
Lembre-se: para ser aprovado em estágio probatório, o servi-
dor deve, ao longo de um período de 24 meses, demonstrar
aptidão e capacidade para o desempenho do cargo, sendo
avaliado pelos quesitos de assiduidade, disciplina, capacida-
de de iniciativa, produtividade e responsabilidade – confor-
me o disposto no artigo 20 da Lei nº 8.112/90.

Quanto a esta forma de exoneração, Rigolin traz uma boa explicação para
o fato de que não se trata de penalização, ao afirmar que, assim como
a reprovação em um concurso qualquer, a reprovação em estágio pro-
batório atesta “apenas que o servidor foi insuficientemente hábil para o
desempenho das atribuições do seu cargo, sem com isso envolver alguma
culpabilidade do servidor” (RIGOLIN, 2012, p. 144).

Além desta última há também a exoneração de ofício de servidores em


cargo efetivo por motivo de perda do prazo para entrar em exercício, que
é o prazo de quinze dias contados da posse – salvo exceções – definido no
§ 1º do artigo 15 da Lei nº 8.112/90.

Vale ressaltar que ambos os casos de exoneração de ofício são hipóteses


que tratam de atos vinculativos por parte da autoridade administrativa,
ou seja, se verificadas aquelas circunstâncias, não meramente pode ser
exonerado o servidor, mas deve ser. Contudo, há que se notar que, dado
o maior grau de subjetividade na avaliação dos fatores do estágio proba-
tório em comparação com a objetiva averiguação do não cumprimento
do prazo para exercício, o caráter vinculativo mostra-se mais importante
no segundo caso.

Gestão de Pessoas no Setor Público31


Deste modo, é possível debate quanto à suficiência de fatores como assi-
duidade ou capacidade de iniciativa de um servidor em estágio probató-
rio, o que faz com que a obrigatoriedade de exonerá-lo fique dependente
deste julgamento da autoridade; mas o não cumprimento daquele prazo
é praticamente indebatível e, consequentemente, a obrigatoriedade de se
exonerar o servidor, no caso, também é.
As duas últimas hipóteses referem-se à exoneração daqueles que ocupam
cargos em comissão e a dispensa da função de confiança, e se dão por
meio de juízo da autoridade competente ou pedido do próprio servidor.
O primeiro caso decorre da própria natureza dos cargos e funções trata-
dos, que determina que são cargos e funções de confiança em que a au-
toridade pode investir alguém e remover do cargo ou conferir e remover
funções conforme seu interesse e confiança referente àquele servidor.
Já o segundo caso, por fim, é um que decorre do mesmo fato que se men-
cionou ao se falar da possibilidade de servidor em cargo efetivo deixar o
cargo por meio de simples pedido de exoneração. Simplesmente, não se
pode forçar alguém a ocupar um cargo público em comissão ou exercer
função de confiança contra a sua vontade.

1.2. Demissão e aposentadoria

A demissão, como se mencionou anteriormente, difere da exoneração.


Ela é uma das formas de penalidade disciplinar listada no rol do artigo
127 da Lei nº 8.112/90, que ocorre em razão de uma ou mais das situa-
ções enumeradas pelo artigo 132 da mesma lei.
Já a aposentadoria é a garantia de inatividade e remuneração ao servidor
público que ocorre por motivo de invalidez, por se completar setenta anos
de idade ou voluntariamente segundo o disposto nas alíneas do inciso III
do artigo 186 da Lei nº 8.112/90.
Ambas, evidentemente, ocasionam a vacância dos respectivos cargos pú-
blicos dos servidores demitidos ou aposentados. São tópicos complexos
que serão abordados em maiores detalhes nas aulas específicas sobre
penalidades e seguridade social.

32 Gestão de Pessoas no Setor Público


1.3. Promoção e readaptação

São duas das hipóteses de provimento já tratadas em aula anterior sobre


aquele tema. Como em ambos os casos os respectivos servidores públi-
cos investem-se em cargos novos – na promoção, cargo superior, e, na
readaptação, cargo compatível com a limitação adquirida pelo servidor –,
é evidente que os cargos antigos que eles deixam para trás ficarão vagos.

1.4. Posse em outro cargo inacumulável

São considerados como inacumuláveis quaisquer combinações de cargos


públicos remunerados que não as explicitamente previstas no rol de exce-
ções do inciso XVI do artigo 37 da Constituição Federal. Assim, em termos
de cargos públicos, só podem ser acumulados: a) dois cargos de profes-
sor; b) um cargo de professor com outro técnico ou científico; ou c) dois
cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde com profissões.

Vale notar que, de acordo com o inciso XVII, esta proibição “abrange au-
tarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista,
suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo
poder público”.

É, aliás, exatamente devido a esta vasta proibição de acumulação de car-


gos que se exige para a posse a apresentação de declaração que informe
a Administração sobre o exercício de outro cargo, emprego ou função pú-
blica; pois, tendo conhecimento disto e verificando não se tratar de caso
excepcional, a Administração informará o servidor que ele deverá solicitar
exoneração de seu cargo anterior, se quiser se investir no novo, o que,
consequentemente, resultará na vacância do cargo que ele ocupava.

1.5. Falecimento

Não há muito o que dizer sobre esta hipótese de vacância. Simplesmente,


atestado oficialmente o falecimento de um servidor público, restará
vago o cargo que ele ocupava, podendo, então, ser preenchido por outro
ocupante.

Gestão de Pessoas no Setor Público33


2. Remoção

O artigo 36 da Lei nº 8.112/90 define remoção como sendo “o desloca-


mento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro,
com ou sem mudança de sede”. Assim, trata-se de mera mudança de lo-
calidade do servidor, que terá o mesmo cargo, trabalhando para o mes-
mo órgão, porém em outro lugar.
Pode, por exemplo, o diretor de uma universidade ser removido do campus
de um município para o de outro, ou até de um campus para outro dentro
do mesmo município, de modo que sequer interessa a análise da distância.
A remoção tem três modalidades descritas nos incisos do artigo menciona-
do e a primeira delas é a que se dá de ofício, por interesse da Administração.
Como já mencionado, a expressão “de ofício” implica ato que se dá em
virtude de um cargo ocupado. Ou seja, a autoridade administrativa – que
varia dependendo da entidade para a qual o servidor trabalha –, no caso,
tem autoridade decorrente do cargo ocupado para determinar a remoção
do servidor, independentemente da vontade dele, satisfazendo os inte-
resses da Administração através daquele ato administrativo.

PARA SABER MAIS


Se você tiver interesse em se aprofundar no tema mais geral
dos atos administrativos pode conferir a classificação deles
– quanto à natureza da atividade, do conteúdo, quanto aos
destinatários etc. – contida em capítulo específico sobre isto
na obra Direito Administrativo de Gasparini (2012).

Já a segunda modalidade é a que se inicia com pedido do servidor, que


por qualquer motivo deseje ser deslocado. Contudo, é necessário deferi-
mento pela autoridade administrativa deste pedido que, embora consti-
tua ato simples, efetivamente faz com que a remoção fique condicionada
ao critério da Administração.

34 Gestão de Pessoas no Setor Público


Todavia, na terceira modalidade isto não ocorre, pois se trata de caso em
que o mero pedido de deslocamento para outra localidade do servidor
gera a sua remoção, independentemente do interesse da Administração.

Evidentemente, são limitadas as condições em que isto pode ocorrer, pois


se trata de caso extremo em que a vontade de um servidor público preva-
lece sobre a da Administração.

Assim, de acordo com as alíneas do inciso III do artigo 36, isto ocorre apenas:
quando o servidor acompanha cônjuge ou companheiro, também servidor
público, deslocado no interesse da Administração: por motivo de saúde –
comprovado por junta médica oficial – do servidor, cônjuge, companheiro
ou dependente que viva às suas expensas; ou em caso em que o servidor
seja aprovado em processo seletivo interno, realizado devido à existência
de número excessivo de interessados em remoção para certa localidade.

Vale notar que, embora a alínea “c”, que define este último caso, mencio-
ne “vagas”, não se trata de “cargo vago” – afinal, a remoção não é forma
de provimento –, mas sim de “vaga de remoção”. É evidente que um órgão
ou entidade pública não pode aceitar um número elevado de pedidos
de deslocamento nem pode receber muitos servidores deslocados, caso
contrário haveria, respectivamente, falta e excesso de servidores; deste
modo, limita-se o número de pedidos que serão aceitos e realiza-se pro-
cesso seletivo interno para determinar quais servidores terão seus pedi-
dos de remoção deferidos.

3. Redistribuição

A redistribuição é regida pelo artigo 37 da Lei nº 8.112/90, cuja redação


atual, infelizmente, gera alguns problemas. Trata-se de fenômeno de des-
locamento de um cargo, ocupado ou vago, de provimento efetivo – ou
seja, não do servidor, como é o caso da remoção – para outro órgão ou
entidade do mesmo Poder.

Gestão de Pessoas no Setor Público35


O primeiro dos problemas mencionados encontra-se logo no caput do ar-
tigo, que determina que para que possa ocorrer a redistribuição é neces-
sária “prévia apreciação do órgão central do SIPEC”, embora só o Executivo
e as autarquias federais a ele se submetam. Rigolin (2012) oferece duas
interpretações alternativas para esta questão, preferindo a primeira: ou,
dos três Poderes, só o Executivo poderá realizar redistribuição, ou não se
deve dar atenção para esta parte do caput.

PARA SABER MAIS


Conforme o artigo 24, inciso II do Decreto nº 9.035/17, atu-
almente, o órgão central do SIPEC é a Secretaria de Gestão
de Pessoas. Se você tiver interesse em saber mais sobre este
órgão, pode conferir os outros incisos do artigo que determi-
nam as suas competências.

Passa-se para os incisos do artigo que delineiam seis preceitos que de-
vem ser observados ao redistribuir um cargo.

O primeiro, do interesse da Administração, implica que não são conside-


rados os interesses do servidor – se houver, pois o cargo pode estar vago.

Os preceitos do segundo ao quinto são problemáticos, pois sugerem que


deve haver várias formas de equivalência e manutenção de característi-
cas, o que não faz nenhum sentido, já que não se fala de criação de cargo
novo, mas de redistribuição de cargo existente. Como pode ser feita aná-
lise equivalência de um cargo com ele mesmo? Aliás, se as características
do cargo forem alteradas, será caso de transformação ou reclassificação,
não de redistribuição. Portanto, estes preceitos podem ser ignorados,
pois sempre serão cumpridos.

36 Gestão de Pessoas no Setor Público


Já o último preceito, do inciso VI, tem utilidade, pois determina que o car-
go redistribuído deve ser compatível com as finalidades do órgão ou enti-
dade para o qual foi deslocado. É um dispositivo que pretende evitar que
órgãos e entidades se descaracterizem com os cargos que os compõem
formando um conjunto desorganizado de cargos sem relação lógica uns
com os outros.

Quanto aos § § do artigo, o § 1º meramente determina que a redistribui-


ção ocorre de ofício e que serve para ajustar a força de trabalho às neces-
sidades dos serviços.

O § 2º determina que o SIPEC deve trabalhar em conjunto com os órgãos


e entidades envolvidos na redistribuição – o que incorre no mesmo pro-
blema já mencionado do caput –, ou seja, os órgãos de onde são desloca-
dos os cargos e para onde vão.

O § 3º é outro problemático, primeiro, porque fala em redistribuição do


servidor, que não existe; segundo, porque fala sobre extinção e declaração
de desnecessidade de cargo público, o que não tem relação com redistri-
buição; e terceiro, porque só repete o que está disposto na Constituição,
que determina que o servidor, nestes casos, será posto em disponibilida-
de até que possa ser aproveitado – assunto já estudado em aula anterior.

O § 4º traz a última estranheza daquele único artigo sobre redistribuição


da Lei nº 8.112/90, pois dá mais determinações para o inexistente “servi-
dor que não for redistribuído” – novamente, a redistribuição é de cargos,
não servidores – e para aquele colocado em disponibilidade, criando a
possibilidade de serem “mantidos sob responsabilidade do órgão central
do SIPEC”, tendo “exercício provisório, em outro órgão ou entidade, até
seu adequado aproveitamento”.

Por fim, vale notar que leis específicas podem trazer vedações à redistri-
buição, como é o caso da Lei nº 10.871/04, cujo parágrafo único do artigo
6º veda a redistribuição para Agências Reguladoras.

Gestão de Pessoas no Setor Público37


LINK
Se você tiver interesse, pode conferir no site governamental
um resumo de uma grande quantidade de portarias, normas
técnicas, notas informativas e ofícios do órgão central do
SIPEC, bem como outras leis, que juntos trazem detalhes mui-
to específicos sobre o tema das redistribuições. BRASIL. Portal
do Servidor – Governo Federal. Seção II – Da Redistribuição.
Disponível em: <https://www.servidor.gov.br/gestao-de-pes
soas/lei-8112-anotada/titulo-ii-do-provimento-vacancia-
remocao-redistribuicao-e-substituicao/capitulo-iii-2013-da-
-remocao-e-redistribuicao/secao-ii-da-redistribuicao>.
Acesso em: 3 jul. 2018.

4. Substituição

A substituição é disciplinada pelo artigo 38 da Lei nº 8.112/90, que determi-


na que servidores em cargo ou função de direção ou chefia e aqueles em
cargo de Natureza Especial deverão ter substitutos – incluindo, de acordo
com o artigo 39, os “titulares de unidades administrativas organizadas em
nível de assessoria”. Estes substitutos estarão indicados em regimento in-
terno, mas se dele não constar, deverão ser previamente designados pelo
dirigente máximo do órgão ou entidade.

Quanto a esta definição, primeiro, é preciso ressaltar o fato de que não é


necessária a ocupação de cargo de direção ou chefia para que decorra a
obrigação de substituto, bastando que haja atribuições que configurem
função de direção ou chefia de modo adicional a um cargo que não tem
essa natureza específica.

Segundo, é preciso definir o que são exatamente os cargos de Natureza


Especial, pois a Lei nº 8.112/90 não o faz. Infelizmente, é algo de difícil

38 Gestão de Pessoas no Setor Público


definição precisa devido ao fato de a legislação sobre eles ser esparsa;
assim, basta que se compreenda que se tratam de cargos em comissão
cuja natureza é explicitamente definida como Natureza Especial nas leis
que os regem.

Exemplos da menção explícita desta natureza podem ser verificados na


Lei nº 13.502/17 que, além de extinguir três cargos de Natureza Especial
com o artigo 73, transformou através do artigo 75 outros oito cargos de
Natureza Especial em novos cargos do mesmo tipo, todos eles sendo car-
gos de Secretário-Executivo ou Secretário Especial de vários Ministérios, da
Secretaria-Geral da Presidência da República e da Casa Civil da Presidência
da República.

Voltando ao assunto próprio da substituição, nota-se que o § 1º do artigo


38 determina que, nos casos de afastamento ou impedimento do titular
do cargo ou de vacância, o substituto assumirá automática e cumulativa-
mente, sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício daquele cargo ou
função para o qual foi designado a substituir. Contudo, se acumular dois
cargos, ele não poderá acumular a remuneração de ambos – lembre-se, a
proibição do artigo 37, XVI, da Constituição Federal é especificamente vol-
tada para a acumulação remunerada –; portanto, deverá optar pela que
corresponde a um deles.

O § 2º determina que, nos casos de afastamento ou impedimento do titu-


lar que se estender por mais de trinta dias consecutivos, o substituto fará
jus a uma retribuição “pelo exercício do cargo ou função de direção ou
chefia ou de cargo de Natureza Especial”, proporcional aos dias de efetiva
substituição que excedem aquele período.

Aqui, o legislador foi novamente descuidado, pois ao mencionar que em


um dos casos esta retribuição é “pelo exercício do cargo”, isto se conside-
ra como vencimento, portanto como constituinte de remuneração – como
se verá em aula seguinte. Isto pode gerar caso de acumulação remunera-
da de cargo se o servidor tiver optado por manter a remuneração do seu
cargo original, ao invés daquela do cargo em que substitui o titular. De tal

Gestão de Pessoas no Setor Público39


forma, acredita-se nesta situação o servidor será novamente chamado a
fazer opção entre uma das duas remunerações, a do cargo de origem e a
da retribuição do § 2º.

Por fim, embora se trate de assunto que será estudado em aula posterior,
vale notar que a retribuição que se justifica “pelo exercício de função de
direção ou chefia” não compõe remuneração – conceito definido no artigo
41 da Lei nº 8.112/90 – por não se encaixar na definição de vencimento e
nem ser vantagem pecuniária de caráter permanente.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Considerando o que foi estudado nesta aula, leia os artigos de lei
mencionados e reflita sobre os problemas apontados na redação de
alguns deles. Pense em como eles poderiam ter sido melhor redigi-
dos para evitar confusões e conflitos.

5. Considerações finais

• A vacância, que é a característica do cargo público vago, pode decor-


rer de certas formas de provimento, de penalidades e até outras
circunstâncias especiais.
• A remoção envolve o deslocamento de servidor, não cargo, e não com-
põe forma de provimento, já que o servidor continua no mesmo cargo.
Ele meramente passa a exercer suas atribuições em outro local.
• A redistribuição consiste no deslocamento de um cargo, não de um
servidor, pois pode até ocorrer em caso de cargos vagos.
• A substituição acontece automaticamente nos casos delineados e
implica na substituição do servidor titular, quer em termos de sua
função ou cargo. Em caso de cargo, há acumulação, porém esta acu-
mulação não deve ser remunerada, para que não seja contrariado
dispositivo constitucional.

40 Gestão de Pessoas no Setor Público


Glossário
• Caput: termo em latim usado em Direito para se referir ao enun-
ciado de um artigo de lei, ou seja, o texto que vem logo após o
número do artigo e que antecede os parágrafos, incisos e alíneas.
• Ex officio: termo em latim cujo equivalente em português é “de ofí-
cio”. Refere-se a um ato que se realiza em virtude do cargo ocupado.
• SIPEC: Sistema de Pessoal Civil da Administração Pública Federal.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. De acordo com o material estudado, as três modalidades
de exoneração de cargo público efetivo dão-se:
a) A pedido do servidor; a juízo da autoridade competen-
te; e de ofício, quando não satisfeitas as condições do
estágio probatório.
b) A pedido do servidor; de ofício, quando, tendo tomado
posse, o servidor não entrar em exercício no prazo es-
tabelecido; e a juízo da autoridade competente.
c) A pedido do servidor; de ofício, quando, tendo tomado
posse, o servidor não entrar em exercício no prazo es-
tabelecido; e de ofício, quando não satisfeitas as condi-
ções do estágio probatório.
d) A pedido do servidor; a pedido do servidor, quando,
tendo tomado posse, ele não entrar em exercício no
prazo estabelecido; e de ofício, quando não satisfeitas
as condições do estágio probatório.
e) A juízo da autoridade competente; a pedido do servi-
dor, quando, tendo tomado posse, ele não entrar em
exercício no prazo estabelecido; e de ofício, quando
não satisfeitas as condições do estágio probatório.

Gestão de Pessoas no Setor Público41


2. “O inciso II do artigo 37 da Lei nº 8.112/90, que determina
que, em caso de redistribuição, deve haver equivalência de
vencimentos é desnecessário PORQUE, essencialmente,
está demandando que haja equivalência de vencimentos
de um cargo com ele mesmo”.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que:

a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justi-


fica a primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) A primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é
falsa.
d) A primeira afirmação é falsa, mas a segunda é
verdadeira.
e) As duas afirmações são falsas.
3. De acordo com o material estudado, as hipóteses de remo-
ção em que o servidor se desloca a seu pedido, indepen-
dentemente do interesse da Administração, conforme a
presente redação do artigo 36, inciso III, da Lei nº 8.112/90:
a) São indeterminadas, de modo que as hipóteses são
analisadas caso a caso.
b) São três e elas estão contidas em rol exaustivo, de modo
que podem ser aceitas hipóteses além das listadas.
c) São três e elas estão contidas em rol expansivo, de modo
que podem ser aceitas hipóteses além das listadas.
d) São três e elas estão contidas em rol expansivo, de
modo que não podem ser aceitas hipóteses além das
listadas.
e) São três e elas estão contidas em rol exaustivo, de modo
que não podem ser aceitas hipóteses além das listadas.

42 Gestão de Pessoas no Setor Público


Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 4 jul. 2018.
. Decreto nº 9.035, de 20 de abril de 2017. Aprova a Estrutura Regimental e
o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, remaneja cargos em comis-
são, substitui cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores
- DAS por Funções Comissionadas do Poder Executivo - FCPE e transforma cargos em
comissão. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/decreto/D9035.htm>. Acesso em: 5 jul. 2018.

. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos


servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 4 jul. 2018.

. Lei nº 10.871, de 20 de maio de 2004. Dispõe sobre a criação de carreiras


e organização de cargos efetivos das autarquias especiais denominadas Agências
Reguladoras, e dá outras providências. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.871.htm>. Acesso em: 4 jul. 2018.

. Lei nº 13.502, de 1º de novembro de 2017. Estabelece a organização básica


dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios; altera a Lei no 13.334, de
13 de setembro de 2016; e revoga a Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, e a Medida
Provisória no 768, de 2 de fevereiro de 2017. Brasília. Disponível em: <http://www.pla
nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/Lei/L13502.htm>. Acesso em: 4 jul. 2018.

. Portal do Servidor – Governo Federal. Seção II – Da Redistribuição. Disponível


em: <https://www.servidor.gov.br/gestao-de-pessoas/lei-8112-anotada/titulo-ii-do-
-provimento-vacancia-remocao-redistribuicao-e-substituicao/capitulo-iii-2013-da-
remocao-e-redistribuicao/secao-ii-da-redistribuicao>. Acesso em: 3 jul. 2018.

GASPARINI, D. Direito Administrativo. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.


RIGOLIN, I. B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei n.
8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gestão de Pessoas no Setor Público43


Gabarito – Tema 02

Questão 1 – Resposta: C
A modalidade de exoneração que se dá a juízo da autoridade com-
petente refere-se aos cargos em comissão, não aos cargos públicos
efetivos, portanto é modalidade incorreta. Ademais, as supostas mo-
dalidades de pedido do servidor condicionadas à não entrada em
exercício no prazo estabelecido ou à não satisfação das condições
de estágio probatório não fazem sentido, pois são hipóteses em que
a exoneração se dará, na verdade, por via da autoridade administra-
tiva, de ofício, ao verificar estas circunstâncias problemáticas. Assim,
só resta uma alternativa em que estão listadas todas as modalidades
corretas de exoneração de cargo público efetivo.

Questão 2 – Resposta: A
De fato, ambas as afirmações são verdadeiras e a segunda justifica
a primeira. Como a redistribuição consiste no deslocamento de um
cargo de um órgão ou entidade para outro do mesmo Poder, o cargo
permanece inalterado; do contrário, não seria caso de redistribuição,
mas de transformação ou reclassificação do cargo.

Questão 3 – Resposta: E
A primeira alternativa está incorreta, pois não são indeterminadas
as hipóteses nem poderiam ser, já que se trata de caso que deve
ser mantido como excepcional, que é o que ignora por completo os
interesses da Administração. Ademais, as alternativas que mencio-
nam rol “expansivo” ou que afirmam que podem ser aceitas mais
hipóteses além das três listadas também estão incorretas, pois o rol
é exaustivo, o que significa exatamente que só devem ser aceitas as
hipóteses listadas.

44 Gestão de Pessoas no Setor Público


TEMA 03

REMUNERAÇÃO, FÉRIAS, LICENÇAS,


AFASTAMENTOS E CONCESSÕES

Objetivos

• Compreender a diferença entre termos como remu-


neração, vencimento e retribuição, bem como outros
que têm conceito legal específico, possivelmente dife-
rente do uso cotidiano.

• Tomar conhecimento das regras que regulamentam


os institutos da remuneração, férias e concessões
referentes aos servidores públicos.

• Estudar individualmente cada um dos vários casos


delineados pela Lei nº 8.112/90 para licenças e afas-
tamentos dos servidores públicos.

Gestão de Pessoas no Setor Público45


Introdução
Nesta aula você estudará alguns dos direitos do servidor público que es-
tão disciplinados sob o título III da Lei nº 8.112/90 que trata “dos direitos
e vantagens”.
Vale ressaltar que não serão examinados nesta aula todos os direitos do
título III, pois, devido à extensão do conteúdo, alguns deles serão estuda-
dos junto com o que aquela lei chama de “vantagens” do servidor.
Desta forma, a presente aula começará com a análise dos conceitos acer-
ca da remuneração do servidor público, que é um tópico que envolve tam-
bém o de vencimentos.
Após isto, serão vistas as peculiaridades acerca das férias do servidor,
que é um dos tópicos mais simples desta aula, mas que não deixa de ser
importante.
Em seguida, serão estudados as licenças e os afastamentos, que são os dois
assuntos mais complexos da aula, pois abrangem diversas formas e casos,
sendo que cada um deles comporta uma série de exceções específicas. Vale
notar, inclusive, que a própria definição do que são licenças e afastamentos
é um tema complexo, tanto que o próprio legislador que criou e alterou a
Lei nº 8.112/90 parece fazer confusão entre os dois institutos.
Por fim, a aula se encerrará com a análise das concessões que se faz ao
servidor público para que ele possa, por exemplo, aproveitar seu dia de
casamento ou se recuperar emocionalmente da morte de um conhecido.

1. Remuneração

Logo de início é preciso ressaltar o que aqui já se faz evidente: que ven-
cimento e remuneração, apesar de serem termos comumente usados
como sinônimos, não o são.

Conforme o disposto no artigo 40, da Lei nº 8.112/90, vencimento nada mais


é que a retribuição pecuniária – ou seja, retribuição relativa a dinheiro –, com
valor fixado em lei, que se obtém devido ao exercício de um cargo público.

46 Gestão de Pessoas no Setor Público


É o vencimento, aliás, no caso dos servidores em cargo efetivo, parte que
compõe a remuneração, conforme o artigo 41; sendo a outra parte com-
posta pelas vantagens pecuniárias de caráter permanente – portanto, não
temporárias – estabelecidas em lei. As vantagens serão o foco específico
de outra aula, mas já se adianta que constituem as parcelas de retribuição
pelo trabalho do servidor que não configurem vencimento.

Esta remuneração referente aos cargos efetivos é irredutível, por força


do § 3º daquele mesmo artigo; portanto, remuneração não é somente o
vencimento. Ademais, através do § 5º determinou-se também que ela não
poderá ter valor inferior ao salário mínimo, determinação que se estende
até para os cargos em comissão.

Importante se faz ressaltar a distinção entre cargos efetivos e em comis-


são, pois a disciplina da remuneração dos servidores investidos em fun-
ção ou cargo em comissão é feita pelos § § 1º e 2º, que determinam, por
via de remetimento ao artigo 62, que eles terão também retribuição pelo
exercício de seus cargos, mas que a composição de sua remuneração é
definida por leis específicas, e via o § 1º do artigo 93, que em casos de ces-
são de um servidor de um órgão ou entidade para que ele possa exercer
função ou cargo em comissão em outro, será este último o encarregado
da remuneração do servidor.

Merece atenção especial também o § 4º do mesmo artigo, que determi-


na que os vencimentos – não remuneração – de cargos de atribuições
iguais ou meramente assemelhadas devem ser equivalentes, por questão
de isonomia, ou seja, de tratamento igual perante a lei. Destarte, ainda há
margem para diferenciações por meio de vantagens adquiridas por ser-
vidores por diversos motivos específicos a cada um deles. Ademais, vale
notar que este § menciona que deve haver isonomia até entre cargos de
Poderes distintos; porém, por mais admirável que seja esta última parte
do § 4º, na prática trata-se de “utopia absolutamente fantasiosa, sem o
menor lastro de factibilidade” (RIGOLIN, 2012, p. 166).

Gestão de Pessoas no Setor Público47


Muda-se agora do tema dos benefícios e garantias referente à remunera-
ção para o do seu limite. Apesar de ter sido definido pelo artigo 42, o que
vale é o que está no inciso XI do artigo 37 da Constituição Federal, cuja
redação é até posterior à do artigo da Lei nº 8.112/90, que reflete inteira-
mente o texto antigo da Constituição – e deixa em evidência o problema
em haver dispositivos deste tipo inútil em legislação.

Assim, o teto último de remuneração de todos os servidores públicos é o


subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF); porém, há inúmeras determinações de tetos mais baixos. Nos
Municípios, o teto é o subsídio mensal do Prefeito. No caso dos servidores
a nível dos Estados e do Distrito Federal há grande complexidade, pois,
para aqueles no âmbito do Poder Executivo, o limite é o subsídio mensal
do Governador; para os referentes ao Poder Legislativo é o subsídio men-
sal dos Deputados Estaduais e Distritais; e para os do Poder Judiciário,
incluindo os membros do Ministério Público, Procuradores e Defensores
Públicos, o teto é o subsídio mensal dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, que por sua vez é limitado a noventa inteiros e cinco centésimos
por cento do subsídio mensal dos Ministros do STF.

Um último apontamento sobre estes tetos é o benefício do parágrafo úni-


co do artigo 42 – que em si não contraria a Constituição – que determina
que as gratificações natalinas e os adicionais de férias são excluídos do
cálculo do teto de remuneração do servidor.

Em termos mais gerais do valor da remuneração, o artigo 44 da Lei nº


8.112/90 determina hipóteses em que o servidor perderá remuneração
diária em caso de falta sem motivo justificado e parcela dela, proporcional
aos atrasos do servidor, às suas ausências mesmo que justificadas – ex-
ceto quando se encaixam nas concessões previstas no artigo 97, que se
estudará em aula futura –, e às saídas antecipadas, salvo se, até o mês
subsequente à saída antecipada, o servidor realizar a compensação do
horário a critério de seu chefe imediato.

48 Gestão de Pessoas no Setor Público


Por fim, menciona-se a disposição do artigo 45, que assegura ao servi-
dor que nenhum desconto incidirá sobre sua remuneração ou provento –
este, decorrente de aposentadoria ou situação de disponibilidade –, salvo
por força de lei ou mandado judicial.
Exemplo deste último verifica-se no caso que é também exceção refe-
rente ao artigo 48, que determina que “o vencimento, a remuneração e o
provento não serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos
casos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial”. Arresto,
sequestro e penhora, vale notar, são três formas diferentes de apreensão
judicial de bens.

PARA SABER MAIS


Se você tiver interesse em aprender sobre as particularidades
dos institutos do arresto, do sequestro e da penhora, pode
ler a respeito destes e outros temas relacionados à apreen-
são judicial de bens na obra “Manual de Direito Processual
Civil”, de Cassio Scarpinella Bueno (2017).

2. Férias

O direito a férias está assegurado para o servidor público no artigo 77 da


Lei nº 8.112/90, que lhe concede trinta dias de férias que, salvo exceções
legais, poderão ser acumuladas até o máximo de dois períodos em caso
de necessidade de serviço.

Estes períodos de que o artigo fala são os períodos aquisitivos de férias,


ou seja, o tempo de exercício que tem de decorrer para que o servidor
adquira mais trinta dias de férias. Estranhamente, a Lei nº 8.112/90 só
definiu a extensão do primeiro período aquisitivo, no § 1º do artigo 77,
determinado em doze meses; portanto, cabe às determinações internas
de cada órgão ou entidade definir os seguintes.

Gestão de Pessoas no Setor Público49


Assim, é possível que, após o exercício completo de seu primeiro ano no
cargo, um servidor público passe a adquirir direito de usufruir de seus
trinta dias de férias logo no início do novo ano, ao invés de ao final dele.
Ademais, conforme o disposto no § 3º, ele poderá até parcelar estas férias
em um máximo de três etapas, se desejar e se isto estiver de acordo com
os interesses da Administração, etapas estas que, vale ressaltar, não pre-
cisam ter igual duração.

Quanto às férias em si, o § 2º veda a consideração de dias que o servidor


falta ao serviço como sendo parte daqueles trinta dias de férias – ou mais,
se acumulados – a que ele tem direito, e os § § 3º e 4º do artigo 78 deter-
minam que o servidor exonerado receberá indenização relativa ao perío-
do de férias a que ele já adquiriu direito e ao período que está incompleto,
“na proporção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração
superior a quatorze dias” e calculada com base na remuneração do mês
em que for publicado o ato que o exonerou.

Já o artigo 79 traz um benefício especial para o servidor que trabalha direta e


permanentemente com Raios X ou substâncias radioativas, ao determinar,
por questões evidentes de risco à saúde, que ele deverá obrigatoriamente
desfrutar de vinte dias consecutivos de férias por semestre de exercício.

Por fim, o artigo 80 determina que as férias de quaisquer servidores públi-


cos não poderão ser interrompidas, exceto pelos motivos nele listados. São
eles: a calamidade pública, que é situação que deve ter declaração explí-
cita e confere à Administração a possibilidade – não obrigatoriedade – de
convocar os servidores em férias; a comoção interna, que tem caráter não
muito bem definido, mas que implica perturbação da ordem pública que,
evidentemente, não caracteriza calamidade pública; a convocação para júri,
serviço militar ou eleitoral; e a necessidade do serviço declarada pela auto-
ridade máxima do órgão ou entidade do servidor que está em férias. Esta
última hipótese é vaga e efetivamente se traduz na existência de um inte-
resse significativo e bem motivado da Administração, autorizado pela via
mencionada, em ter os servidores em férias retornarem para o serviço.

50 Gestão de Pessoas no Setor Público


3. Licenças
Embora comumente se associe a licença à ideia de uma ausência remune-
rada do servidor, ela não necessariamente confere este benefício. Aliás,
podem ter tempo determinado ou indeterminado e uma série de outras
características que variam entre cada uma das sete hipóteses dispostas
no rol exaustivo do artigo 81 da Lei nº 8.112/90.

ASSIMILE
Como se aprendeu em aula anterior, rol exaustivo é aquele
que não permite a existência de outras possibilidades, casos
ou hipóteses além dos enumerados naquela lista. Portanto,
como o rol de licenças do artigo 81 é exaustivo, não podem
ser admitidas outras licenças que não as nele mencionadas.

É comum que se confundam licenças e afastamentos e esta confusão não


é injustificada, pois o próprio legislador menciona casos em que o ser-
vidor “afasta-se” ou “é afastado” em dispositivos que teoricamente tra-
tam de licenças. Ademais, não se pode sequer fazer distinção no sentido
de que licenças seriam facultativas e os afastamentos compulsórios, pois
embora esta seja a tendência, nem sempre a lógica se aplica.
De tal forma, julga-se mais adequada a divisão prática de se seguir o ar-
bítrio do legislador e aceitar tudo que está no capítulo IV, “Das Licenças”,
da Lei nº 8.112/90, como sendo caso de licença, independente do uso de
termos que mencionam afastamento do servidor; e o mesmo se fará com
os afastamentos, disciplinados no capítulo V, “Dos Afastamentos”.
Do mais, antes de se analisar cada uma dessas formas de licença, vale res-
saltar o disposto no artigo 82, que se aplica a todas elas e que determina
que se uma licença for concedida antes de decorridos sessenta dias do
término de outra licença da mesma espécie – por exemplo, duas licenças
para capacitação, seguidas uma da outra – será considerada como pror-
rogação da primeira licença.
Posto isto, analisa-se, em seguida, as peculiaridades de cada licença.

Gestão de Pessoas no Setor Público51


3.1. Licença por motivo de doença em pessoa da família

Família, neste caso, entende-se qualquer uma das pessoas listadas no ar-
tigo 83, quais sejam: cônjuge ou companheiro – portanto, não é necessá-
rio casamento formalizado, bastando união estável –, pais, filhos, padras-
to, madrasta, enteado ou dependente que viva às expensas do servidor e
conste do seu assentamento funcional.
A doença em si deve ser comprovada por perícia médica oficial, mas esta
mera comprovação não basta para que seja concedida a licença, pois,
conforme o disposto no § 1º do artigo 83, é necessário também que a as-
sistência direta do servidor seja indispensável para o familiar e que seja
incompatível esta prestação de assistência ao exercício de seu cargo, mes-
mo considerada a possibilidade de compensação de horários.
Há, portanto, certo grau de subjetividade na concessão desta licença, pois
fica em aberto na lei o que se considera como “assistência direta indis-
pensável do servidor” e diferentemente não poderia ter sido, pois é difícil
a previsão do agravamento da condição de um enfermo e, consequente-
mente, é complexo o trabalho de se estimar quanta atenção presencial
ele de fato requererá.
Do mais, os § § 2º, 3º e 4º disciplinam que esta licença só poderá ser con-
cedida a cada doze meses – contados da data do deferimento da primeira
licença – e terá duração máxima de noventa dias, consecutivos ou não, in-
cluídas nisto as prorrogações; com a remuneração do período de licença
se estendendo somente para os primeiros sessenta dias e se limitando ao
valor a eles correspondente.
Por fim, o § 3º do artigo 81 veda o exercício de atividade remunerada
durante o período desta licença. Vale notar que não é esta uma determi-
nação inútil, pois é possível que o servidor não pudesse compatibilizar o
exercício do seu cargo junto à provisão de assistência médica ao enfermo,
mas que pudesse realizar outra atividade remunerada sem prejuízo da-
quela assistência, como é o caso de uma atividade que pudesse exercer
de sua casa. Todavia, a lei proíbe que o servidor faça isto durante o perío-
do de licença, independentemente da possibilidade sugerida.

52 Gestão de Pessoas no Setor Público


3.2. Licença por motivo de afastamento do cônjuge

Apesar do nome da seção que trata desta licença – reproduzido pelo sub-
título acima – referir-se ao afastamento de cônjuge, o artigo 84 menciona
explicitamente que se trata de cônjuge ou companheiro; portanto, não há
que se fazer distinção de tratamento entre os dois.
Trata-se de licença que pode ser concedida, a critério da Administração,
para que o servidor possa acompanhar seu cônjuge ou companheiro quan-
do este for deslocado para outro local dentro ou fora do território nacio-
nal, incluindo hipótese de deslocamento para exercer mandato eletivo dos
Poderes Executivo e Legislativo – como prefeito, deputado estadual etc.
Permite-se que o servidor mantenha seu cargo por prazo indeterminado
e sem remuneração – conforme o § 1º –, de modo que possa eventual-
mente retornar a ele.
Ainda, o § 2º determina que, no caso do cônjuge ou servidor também
ser servidor público, civil ou militar poderá haver exercício provisório
do servidor em licença em cargo compatível em órgão ou entidade da
Administração Federal direta, autárquica ou fundacional.
Outro ponto interessante deste § 2º é o fato de que ele só se aplica no
caso específico do cônjuge ou companheiro ser também servidor públi-
co, o que reforça a ideia já presente na omissão de qualquer qualificação
deste tipo no caput do artigo de que a concessão desta licença, de modo
geral, não requer que o cônjuge ou companheiro trabalhe no setor públi-
co. Neste sentido, esclareceu, em 1991, a Orientação Normativa nº 78 da
Secretaria de Administração Federal que de fato é esta a interpretação
que deve se dar ao artigo 84 da Lei nº 8.112/90.

3.3. Licença para o serviço militar

O artigo 85 da Lei nº 8.112/90 determina que “ao servidor convocado para


o serviço militar será concedida licença, na forma e condições previstas
na legislação específica” e no parágrafo único estabelece prazo de trinta

Gestão de Pessoas no Setor Público53


dias não remunerados para que, findo o serviço militar, reassuma seu
cargo público. É algo que pode ser necessário, por exemplo, quando um
servidor que é reservista é convocado para o serviço militar em caso de
guerra, ou em situação excepcional em que houve adiamento do serviço
militar obrigatório – enquadrada em uma das raras hipóteses legais para
isto –, de modo que o homem de dezoito anos tenha oportunidade de se
tornar servidor público antes de ser inscrito no serviço militar obrigatório.

Quanto a este pequeno tratamento que a Lei nº 8.112/90 dá para esta li-
cença, há pouco que se possa acrescentar. Primeiro, ressalta-se que “será
concedida licença” é determinação obrigatória, não sendo facultado à
Administração indeferir a concessão da licença por quaisquer motivos.

Segundo, se fica determinado por legislação específica “forma e condi-


ções” da licença para serviço militar, nota-se que, por consequência, ficam
também determinadas por essa legislação específica as particularidades
quanto à remuneração do servidor em licença durante o período de ser-
viço militar.

EXEMPLIFICANDO
No caso de Minas Gerais, por exemplo, o artigo 177 do
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Minas
Gerais (Lei estadual nº 869/52) determina que aos funcioná-
rios estaduais é concedida licença para serviço militar “com
vencimento ou remuneração e demais vantagens, descon-
tada mensalmente a importância que receber na qualidade
de incorporado”, ou seja, complementa-se o valor recebido
como incorporado no serviço militar para que ele chegue ao
nível do que o indivíduo recebia no cargo público do qual ti-
rou licença.

54 Gestão de Pessoas no Setor Público


3.4. Licença para atividade política

Esta licença é regulamentada pelo artigo 86 da Lei nº 8.112/90 e, em ver-


dade, pode-se considerar que ela tem três formas diferentes.
Começar-se-á pela segunda forma, do § 1º, por questão didática. Neste
dispositivo determina-se que, caso se torne candidato a cargo eletivo na
localidade em que tem exercício, o servidor investido em função ou cargo
de direção, chefia, assessoramento, arrecadação ou fiscalização deverá
obrigatoriamente ser afastado – termo utilizado pelo próprio dispositivo
legal – a partir do dia subsequente ao do registro de sua candidatura, até
o décimo dia após a eleição.
O dispositivo legal, infelizmente, não é claro sobre algumas particularida-
des referentes a este caso; desta forma, é necessário fazer alguns aponta-
mentos. Primeiro, quanto à palavra localidade acrescenta-se que é prática
jurídica presumir que ela se refere não a uma região como “norte” ou “su-
deste”, nem a um estado, ou sequer toda uma região metropolitana, mas
sim a uma área mais restrita como a de um único município.
Além disto, há mais dois problemas com relação a este §, pois em seu tex-
to o legislador não especifica se há ou não remuneração referente àquele
período e, infelizmente, utiliza o termo “afastado”. Quanto ao segundo
problema já se deu tratamento no início desta parte sobre licenças; assim,
não se repetirá o que lá está escrito.
Já no caso da remuneração, a questão é complexa. Rigolin (2012) afirma
que a licença é não remunerada e na Orientação Consultiva Nº 38/98/
DENOR/SRH/MARE afirmou-se, quanto aos servidores em cargo em co-
missão, que “é inaplicável o direito ao afastamento remunerado de seu
exercício, nos termos do art. 1º, II, “l” da Lei Complementar nº 064, de 18
de maio de 1990, qualquer que seja o cargo eletivo ou município onde
venha a concorrer”.

Porém, não se deve esquecer que o § 1º também se aplica a alguns ser-


vidores em cargos efetivos e o § 2º determina que “a partir do registro
da candidatura e até o décimo dia seguinte ao da eleição, o servidor fará

Gestão de Pessoas no Setor Público55


jus à licença, assegurados os vencimentos do cargo efetivo, somente pelo
período de três meses”; o que implica que quaisquer servidores em cargo
efetivo de licença devido à candidatura deverão ser remunerados até o
limite de três meses. Contudo, na prática, isto não se aplica aos servidores
efetivos enquadrados no § 1º, sendo eles obrigados a sair de licença sem
remuneração como os em cargos em comissão.

Posto isto, a terceira forma da licença é esta mencionada do § 2º, com a


devida exceção dos enquadrados no caso do § 1º e a primeira forma da
licença é a do caput do artigo 86, que determina que entre “a sua escolha
em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do
registro de sua candidatura” o servidor terá direito à licença sem nenhu-
ma remuneração.

3.5. Licença para capacitação

A licença para capacitação é disciplinada pelo artigo 87 da Lei nº 8.112/90.


O servidor de cargo efetivo – portanto, não em comissão – adquire direi-
to a ela a cada cinco anos de exercício e ela permite que, se interessar à
Administração, ele se afaste de seu cargo por até três meses – não acu-
muláveis – para participar de um curso de capacitação profissional, sem
prejuízo de sua remuneração.

Vale notar que não há qualificação sobre quais cursos de capacitação pro-
fissional especificamente serão aceitos e que da linguagem do artigo que
diz que o servidor “poderá” se afastar “no interesse da Administração”
presume-se que a licença deve ser requerida pelo servidor e deferida pela
Administração; de modo que é necessário, portanto, vontade de ambas
as partes para que a situação se efetue.

3.6. Licença para tratar de interesses particulares

Conforme o artigo 91 da Lei nº 8.112/90, esta licença é concedida pela


Administração para o servidor de cargo efetivo que não esteja em situação

56 Gestão de Pessoas no Setor Público


de estágio probatório e que a requisite para o fim de trato de assuntos
particulares. Ela não permite remuneração e pode perdurar por até três
anos consecutivos, mas pode ser interrompida a qualquer momento pelo
servidor ou pela Administração.

Esta licença existe para conferir à Administração a faculdade de conferir


licença ao servidor por, essencialmente, qualquer motivo não previsto na
Lei nº 8.112/90. Se não existisse esta previsão legal não haveria esta pos-
sibilidade, devido ao fato de que o rol de licenças do artigo 81 é exaustivo.

Assim, criou-se esta licença para cobrir casos excepcionais não previstos,
mas, devido à falta de requisitos rígidos para a concessão dela, o legislador
determinou que ela não pode ser concedida com remuneração, pois do
contrário poderia ser facilmente abusada para conferir licenças remune-
radas para servidores por quaisquer motivos e por prazos muito longos.

3.7. Licença para o desempenho de mandato classista

Esta licença, sem remuneração e disciplinada sucintamente no artigo 92


da Lei nº 8.112/90, permite que servidores desempenhem mandato em
confederação, federação, associação de classe de âmbito nacional, sindi-
cato representativo de categoria ou entidade fiscalizadora de profissão,
ou participem de gerência ou administração em sociedade cooperativa
constituída por servidores públicos para prestar serviços a seus membros.

Há, contudo, limite do número de servidores que podem ser licenciados


para cada entidade. Atualmente, para aquelas que têm cinco mil associa-
dos, somente poderão haver dois licenciados; para as que têm entre cinco
mil e um a trinta mil associados, quatro licenciados; e para as com mais de
trinta mil associados, oito licenciados.

Ademais, a licença tem a mesma duração do mandato – mesmo no caso de


reeleição – e as referidas entidades devem ter cadastro em órgão oficial.

Gestão de Pessoas no Setor Público57


4. Afastamentos

Como já se mencionou, é frequente a confusão entre afastamentos e li-


cenças, por uma série de motivos que inclui a má redação do texto da
Lei nº 8.112/90. Assim, a forma mais adequada de diferenciá-los julga-se
pela simples presença dos dispositivos legais que regulamentam um ou
outro instituto sob o capítulo que se refere às licenças ou o que trata dos
afastamentos.

Posto isto, passa-se, então, para a análise das hipóteses previstas para o
afastamento de servidores públicos.

4.1. Afastamento para servir a outro órgão ou entidade

Como o seu nome sugere, esta hipótese de afastamento trata do caso


em que um servidor é cedido para servir em outro órgão ou entidade de
qualquer Poder. Há, teoricamente, inúmeras formas pelas quais isto pode
ocorrer, pois o segundo inciso do artigo 93, que regula este tipo de afas-
tamento, determina que leis específicas podem prever outros casos para
este afastamento.
O mais comum, no entanto, é o caso do inciso I, que estipula que o servi-
dor pode ser cedido para exercer cargo em comissão ou função de con-
fiança no outro órgão ou entidade.
Aplicando-se somente a este caso do inciso I, o § 1º acrescenta que, se a
cessão for para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito Federal ou
dos Municípios, quem ficará encarregado de remunerar o servidor cedido
é quem o recebe; contudo, devido ao disposto no § 5º, esta regra também
se estenderá para a União quando ela tiver requisitado o “servidor ou em-
pregado” – empregado, aqui, refere-se a quem tem trabalho regido pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Ademais, o § 2º determina que, se o servidor que tenha sido cedido nestas
condições para uma empresa pública ou sociedade de economia mista
optar pela remuneração de seu cargo efetivo – que é algo que não está

58 Gestão de Pessoas no Setor Público


previsto, então se presume que o possa ser em lei específica referente à
empresa pública ou sociedade de economia mista –, deverá aquela em-
presa ou sociedade realizar o reembolso de quaisquer despesas realiza-
das pelo órgão ou entidade que cedeu o servidor; despesas que se pre-
sumem estar relacionadas com a referida cessão, pois do contrário seria
absurdo este dispositivo.

PARA SABER MAIS


Se você tiver interesse em saber mais sobre as empresas
públicas e as sociedades de economia mista, pode conferir
o “Manual de Direito Administrativo” de Alexandre Mazza
(2017) que tem capítulo sobre as entidades da Administração
Pública indireta e até subcapítulo específico que trata do
Estatuto Jurídico da Empresa Pública, Sociedade de Economia
Mista e Subsidiárias.

Já o § 4º confere uma faculdade específica ao Presidente da República,


que pode autorizar que um servidor do Poder Executivo tenha exercício
em outro órgão da Administração Federal direta que não tenha quadro
próprio de pessoal, contanto que esta cessão seja para um fim e por um
prazo predeterminados.

Por fim, há duas grandes exceções, previstas nos § § 6º e 7º, em que se


ignora o disposto nos § § 1º e 2º. A primeira é a da cessão no caso de em-
pregados de empresa pública ou sociedade mista que receba recursos do
Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial da sua folha de pagamen-
to de pessoal, que só requer autorização do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (MPOG) e nada mais; e, ainda, se for caso de cessão
em que o indivíduo passa a ocupar cargo em comissão ou função de con-
fiança – que o texto chama de “função gratificada” – não é necessário se-
quer esta autorização do MPOG.

Gestão de Pessoas no Setor Público59


Já a segunda é o caso em que o MPOG, com a finalidade de promover a
composição da força de trabalho dos órgãos e entidades da Administração
Pública Federal – portanto, não dos Estados, Distrito Federal ou Município
e, presume-se, que não dos Poderes Legislativo e Judiciário –, poderá por
si só determinar a lotação ou o exercício de empregado ou servidor.

Contudo, vale notar que, apesar do texto legal ainda mencionar o MPOG,
este foi alterado em 2016 para se tornar o Ministério de Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão (MPDG), e, portanto, deve-se aplicar ao MPDG
tudo o que a lei atribui como sendo de competência ou faculdade do an-
tigo MPOG.

LINK
A título de curiosidade, você pode conferir no link a seguir a
história dos ministérios de planejamento do Brasil que, ao
longo dos anos, sofrem constantes transformações – o que,
aliás, não raramente gera problemas em termos de leis que
mencionam ministérios extintos. BRASIL. Ministério do pla-
nejamento, desenvolvimento e gestão. História. Disponível
em: <http://www.planejamento.gov.br/acesso-a-informacao/
institucional/o-ministerio/historia>. Acesso em: 12 jul. 2018.

4.2. Afastamento para o exercício de mandato eletivo

O artigo 94 da Lei nº 8.112/90 traz não só os casos em que esse afasta-


mento ocorre, mas também exceções em que ele não se aplica.

Qualquer servidor que se eleger Presidente da República, Senador,


Deputado Federal ou Estadual, Governador de Estado ou do Distrito
Federal, ou Prefeito será necessariamente afastado de seu cargo pela du-
ração do mandato. Já os vereadores poderão exercer ambos os cargos se
for compatível o horário, do contrário serão também afastados.

60 Gestão de Pessoas no Setor Público


A remuneração destes servidores afastados deverá ser a do cargo eletivo,
exceto no caso de Prefeito e vereador, que podem optar por esta ou a
remuneração dos cargos dos quais foram afastados. No caso de vereador
não afastado, que exerce ambos os cargos, receberá as vantagens do car-
go não eletivo e a remuneração do eletivo.

Ainda, o § 1º do artigo determina que a contribuição para seguridade so-


cial destes afastados será relativa ao cargo do qual foram afastados, não
ao cargo eletivo.

Por fim, o § 2º determina que ambos os servidores investidos em manda-


tos eletivos mencionados e os em mandatos classistas – em confederação,
federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato represen-
tativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão – não poderão
ser removidos ou redistribuídos de ofício para município que não aquele
onde exercem aqueles mandatos.

4.3. Afastamento para estudo ou missão no exterior

O artigo 95 determina que é necessária “autorização do Presidente da


República, Presidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do
Supremo Tribunal Federal” para servidor afastar-se para estudo ou mis-
são fora do país – o que o § 3º deixa claro que não se aplica para servido-
res em carreira diplomática.

Apesar do uso da expressão “e”, entende-se que o legislador errou na


redação e quis dizer “ou”, de modo que só é necessária a autorização de
um daqueles listados, dependendo do Poder ao qual o órgão do servidor
pertence. Esta também é a interpretação de Rigolin (2012) e da maioria da
doutrina jurídica.

Este afastamento remunerado só pode ter duração máxima de quatro


anos e não poderá ser novamente autorizado antes de decorrido perí-
odo igual ao do afastamento anterior. Portanto, se foi de dois anos, por
exemplo, deverá passar mais dois anos após o fim do afastamento para

Gestão de Pessoas no Setor Público61


que seja permitido outro. Ademais, antes de decorrido este período, tam-
bém não poderá ser concedida exoneração ou licença para tratar de in-
teresse particular, salvo caso em que o servidor ressarcir as despesas à
Administração – embora a lei não esclareça como isto se realiza exata-
mente, como bem aponta Rigolin (2012).
Por fim, o § 4º do artigo deixou todos os demais detalhes a respeito des-
te afastamento a serem disciplinados por regulamentos específicos e o
artigo 96 determinou que há perda total de remuneração do servidor –
referente ao período do afastamento, evidentemente – em caso de afas-
tamento para servir em organismo internacional de que o Brasil participe
ou até mesmo com o qual só coopere.

4.4. Afastamento para participação em programa de


pós-graduação stricto sensu no país

Esta hipótese, regida pelo artigo 96-A, permite que, conforme o interesse
da Administração, um servidor possa se afastar de seu cargo, com re-
muneração, para cursar mestrado ou doutorado, se for titular de cargo
efetivo há pelo menos três anos no primeiro caso e quatro no segundo;
incluído o período de estágio probatório e se não tiver tirado licença para
tratar de assuntos particulares ou de capacitação ou usufruído deste afas-
tamento nos últimos dois anos antes do pedido.
Para cursos de pós-doutorado aplica-se o mesmo referente ao de dou-
torado, exceto que o servidor não deve ter tirado licença para tratar de
assuntos particulares ou usufruído deste afastamento nos últimos quatro
anos antes do pedido – ou seja, o período é maior do que o referente ao
doutorado. Vale ressaltar que, neste caso, não está mencionada licença
de capacitação.

Ademais, apesar do nome dado a esta hipótese de afastamento, ela se apli-


ca à participação em programas de pós-graduação no exterior, conforme
o § 7º que determina que para isto se exige autorização na forma prevista
no artigo 95, referente ao afastamento para estudo ou missão no exterior.

62 Gestão de Pessoas no Setor Público


Do mais, este afastamento não se aplica para casos em que a participa-
ção no curso possa ocorrer simultaneamente ao exercício do cargo e o
servidor beneficiado deve permanecer neste exercício por período igual
ao do afastamento. Se ele solicitar exoneração ou aposentadoria antes de
decorrido este período, ou se não obtiver o título ou grau correspondente
ao curso, ele ficará obrigado a ressarcir os gastos que o órgão ou entidade
teve relativos a este afastamento.

Por fim, é o dirigente máximo do órgão ou entidade do servidor que defi-


ne que programas são aceitos e outros critérios que são analisados – que
são avaliados por um comitê constituído exatamente com o fim de avaliar
estas definições. Pode até o dirigente máximo, a seu critério, determinar
que o servidor não precisa ressarcir os gastos em caso de não obtenção
do título ou grau, caso seja comprovada hipótese de força maior ou caso
fortuito – ou seja, em caso de ocorrências absolutamente irresistíveis ou
imprevisíveis.

5. Concessões

As concessões, regidas pelos artigos 97, 98 e 99 da Lei nº 8.112/90, são


casos em que o servidor pode ausentar-se do seu serviço ou ter flexibili-
zação de seu horário sem qualquer prejuízo.

Desta forma, pode ele ausentar-se: por um dia, para doar sangue; por
dois, para alistamento ou recadastramento eleitoral comprovadamente
necessário; por oito consecutivos, em razão de seu casamento, ou de fa-
lecimento de cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou padrasto, filhos,
enteados, menor sob guarda ou tutela, ou irmãos.

Ademais, ao servidor portador de deficiência ou com cônjuge, filho ou


dependente com deficiência é concedido horário especial de serviço para
acomodar quaisquer necessidades decorrentes da deficiência, desde que
comprovadas por junta médica oficial.

Gestão de Pessoas no Setor Público63


Similar concessão se faz para servidores que sejam estudantes ou instru-
tores em curso de formação, desenvolvimento ou treinamento instituído
no âmbito da administração pública federal; ou que participem de banca
examinadora ou de comissão para exames orais, para análise curricular,
para correção de provas discursivas, para elaboração de questões de pro-
vas ou para julgamento de recursos intentados por candidatos. Contudo,
nestes casos deve ser comprovada a incompatibilidade de horários des-
tas respectivas atividades com o exercício do cargo e será exigida com-
pensação de horário.
Por fim, concede-se ao servidor estudante que for deslocado para outra
localidade o direito de se matricular, independentemente de vaga, em ins-
tituição de ensino próxima, similar àquela de sua origem. Ainda, por meio
de autorização judicial, esta concessão poderá ser estendida também ao
seu cônjuge ou companheiro, filhos, enteados que vivam na sua compa-
nhia, e menores sob sua guarda.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Considerando-se o que foi estudado sobre licenças e afastamentos
de servidores públicos, reflita sobre as hipóteses listadas para julgar
se a lei contemplou mais ou menos hipóteses do que deveria, ou se
as hipóteses contempladas são de número e forma adequados.

6. Considerações finais

• O vencimento é uma das partes que compõem a remunera-


ção; a outra é composta por vantagens, mas só as pecuniárias e
permanentes.
• Há que se ter atenção especial para os regulamentos internos de
férias, pois a Lei nº 8.112/90 só define a duração do primeiro perí-
odo de aquisição, podendo os demais serem diferentes daquele
período de doze meses.

64 Gestão de Pessoas no Setor Público


• Licenças e afastamentos não se confundem, mas têm difícil diferen-
ciação conceitual. Assim, considera-se simplesmente que licenças
são aquelas do rol exaustivo que as prevê e afastamentos são aque-
les listados como tal, independentemente do uso inadequado de
termos que possam sugerir o contrário no texto legal.
• As concessões são concedidas sem qualquer prejuízo ao servidor,
mas não se deve esquecer que algumas delas – geralmente, refe-
rentes a estudo – requerem uma subsequente compensação de
horários por parte do servidor.

Glossário
• Caput: é a “cabeça” de um artigo, ou seja, o texto localizado logo
após o número do artigo e antes de quaisquer parágrafos, alíneas
ou incisos.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 03
1. Considerando-se o que foi estudado sobre a licença por
motivo de doença em pessoa da família, qual é a alternati-
va que contém todos os requisitos para que seja concedi-
da esta licença?
a) A doença deve ser comprovada por qualquer médico;
a assistência direta do servidor ao doente deve ser in-
dispensável e incompatível com o exercício do cargo;
e o servidor não pode ter usufruído desta licença nos
últimos doze meses.
b) A doença deve ser comprovada por qualquer médico;
a assistência direta do servidor ao doente deve ser in-
dispensável e incompatível com o exercício do cargo;
e o servidor não pode ter usufruído desta ou qualquer
outra licença nos últimos doze meses.

Gestão de Pessoas no Setor Público65


c) A doença deve ser comprovada por perícia médica ofi-
cial; a assistência direta do servidor ao doente deve ser
recomendada por médico oficial; e o servidor não pode
ter usufruído desta licença nos últimos doze meses.
d) A doença deve ser comprovada por perícia médica ofi-
cial; a assistência direta indireta do servidor ao doen-
te deve ser indispensável; e o servidor não pode ter
usufruído desta ou qualquer outra licença nos últimos
doze meses.
e) A doença deve ser comprovada por perícia médica ofi-
cial; a assistência direta do servidor ao doente deve ser
indispensável e incompatível com o exercício do cargo;
e o servidor não pode ter usufruído desta licença nos
últimos doze meses.
2. “É possível que, pouco tempo após o exercício completo de
seu primeiro ano em cargo público, um servidor logo adqui-
ra mais trinta de férias PORQUE não existe regulamentação
sobre os períodos aquisitivos de férias após o primeiro”.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que:

a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justi-


fica a primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) A primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é falsa.
d) A primeira afirmação é falsa, mas a segunda é
verdadeira.
e) As duas afirmações são falsas.
3. Considerando-se o que foi estudado sobre as concessões
que se faz aos servidores públicos e, por vezes, aos seus
familiares, qual das alternativas a seguir está correta?

66 Gestão de Pessoas no Setor Público


a) Não pode ser estendida a concessão de direito à ma-
trícula em instituição de ensino do servidor a ninguém.
b) É estendida a concessão de direito à matrícula em ins-
tituição de ensino do servidor somente ao seu cônjuge
ou companheiro e aos seus filhos.
c) É estendida a concessão de direito à matrícula em ins-
tituição de ensino do servidor ao seu cônjuge ou com-
panheiro, aos seus filhos ou enteados do servidor que
vivam na sua companhia, bem como aos menores sob
sua guarda.
d) Pode ser estendida a concessão de direito à matrícula
em instituição de ensino do servidor ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus filhos ou enteados do servidor
que vivam na sua companhia, bem como aos menores
sob sua guarda; por meio de autorização da autoridade
máxima do órgão ou entidade do servidor.
e) Pode ser estendida a concessão de direito à matrícula
em instituição de ensino do servidor ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus filhos ou enteados do servidor
que vivam na sua companhia, bem como aos menores
sob sua guarda; por meio de autorização judicial.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 12 jul. 2018.
. Departamento de Normas/Secretaria de Recursos Humanos/Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado. Orientação Consultiva Nº 38/98.
Assunto: afastamento, investidura e movimentação. Brasília. Disponível em: <https://
conlegis.planejamento.gov.br/conlegis/Downloads/file?7E07698F1DECEB9B83256D
10004CB3A8%3D%3DOrienta%E7%E3o%20Consultiva%3D%3DOC-038-98%20
-elei%E7%E3o.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2018.

Gestão de Pessoas no Setor Público67


. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 4 jul. 2018.
. Ministério do planejamento, desenvolvimento e gestão. História. Disponível em:
<http://www.planejamento.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/o-ministerio
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. Secretaria de Administração Federal. Orientação normativa nº 78. Brasília.
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BUENO, Cassio S.. Manual de direito processual civil. 3ª ed. São Paulo: Saraiva,
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MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 7ª ed. São Paulo: Saraiva,
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MINAS GERAIS. Lei estadual nº 869/52/MG. Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários
Públicos Civis do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte. Disponível em: <https://
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RIGOLIN, I. B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei n.
8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gabarito – Tema 03

Questão 1 – Resposta: E
A primeira alternativa está incorreta, pois a doença deve ser com-
provada apenas por meio de perícia médica oficial. A segunda alter-
nativa está incorreta, pois repete o mesmo erro e também impõe
restrição que não existe na lei, sobre o uso de licenças de outras es-
pécies. A terceira alternativa está incorreta, pois a assistência direta
do servidor deve ser indispensável, não meramente recomendada e
falta também o requisito de que esta assistência seja incompatível
com o exercício do cargo. Por fim, a quarta alternativa está incorreta
por também ignorar o requisito de incompatibilidade do cargo com

68 Gestão de Pessoas no Setor Público


a assistência e por impor restrição adicional sobre outras licenças, o
que não existe na lei.

Questão 2 – Resposta: C
A primeira afirmação é verdadeira, pois as regulamentações internas
dos órgãos ou entidades dos vários servidores públicos podem de-
terminar períodos aquisitivos menores do que de doze meses, após
o primeiro período. A segunda afirmação é falsa, pois regulamenta-
ções sobre os períodos aquisitivos de férias após o primeiro existem,
mas só não estão contidas na Lei nº 8.112/90.

Questão 3 – Resposta: E
A primeira alternativa está incorreta, pois pode sim ser estendida a
concessão mencionada. A segunda alternativa está incorreta, pois
afirma que “é estendida” a concessão, quando em verdade “pode”,
no sentido de que ela pode também ser negada; ademais, a lista dos
indivíduos aos quais se pode estender a concessão está incompleta.
A terceira alternativa está incorreta, pois repete o erro da segunda ao
afirmar que “é estendida” a concessão. Por fim, a quarta alternativa
está incorreta, pois não é a autoridade máxima do órgão ou entidade
que confere a autorização, mas sim autoridade judicial competente,
independente do órgão ou entidade em qual o servidor ocupa cargo.

Gestão de Pessoas no Setor Público69


TEMA 04

TEMPO DE SERVIÇO, DIREITO DE


PETIÇÃO E VANTAGENS

Objetivos

• Tomar conhecimento das peculiaridades sobre a con-


tagem de tempo de serviço dos servidores públicos.

• Aprender o que é o direito de petição e quais as


garantias que a legislação e a Constituição estabele-
cem para este direito do servidor.

• Conhecer os principais tipos de vantagens existentes,


quais sejam, as indenizações, as gratificações e os
adicionais, os quais podem ou não compor a remu-
neração do servidor, dependendo de sua natureza.

Gestão de Pessoas no Setor Público70


Introdução
Nesta aula você aprenderá sobre os temas restantes a respeito dos direi-
tos listados sob o título III, “Dos Direitos e Vantagens”, da Lei nº 8.112/90,
cujo primeiro olhar iniciamos na aula passada. Além disso, serão estuda-
das também, por completo, as vantagens disciplinadas pelo referido título
daquela lei que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da
União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Assim, a aula iniciará com a análise dos dispositivos legais que tratam da
contagem do tempo de serviço do servidor, que não tem funcionamento
único, de modo que existem contagens diferenciadas para casos específi-
cos. Alguns períodos são contados para todos os fins, mas outros só para
o propósito de aposentadoria, por exemplo.
Em seguida, se analisará o texto legal que trata do importantíssimo di-
reito de petição, que é o que possibilita ao servidor público entrar com
requerimento para que possa defender ou fazer efetivar um direito seu,
em caso que este direito foi ofendido ou que não se realizou em situação
que deveria.
Por fim, serão estudadas as vantagens, que são tratadas na forma de inde-
nizações, gratificações e adicionais, mas nada impede que se manifestem
com configuração diversa, contanto que acompanhada de previsão legal.

1. Tempo de serviço

O capítulo da Lei nº 8.112/90 sobre tempo de serviço inicia-se com o arti-


go 100, que determina que “é contado para todos os efeitos o tempo de
serviço público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas”.

Julga-se, contudo, mais fácil a percepção da importância desse dispo-


sitivo quando analisado através de via reflexa, pois o que ele implicita-
mente determina é que, em regra, é proibida qualquer tentativa de se
ignorar o serviço público federal prestado em termos de contagem de
tempo de serviço.

Gestão de Pessoas no Setor Público71


O artigo seguinte traz uma definição técnica de que o tempo é contado
em dias que, quando somados trezentos e sessenta e cinco, são conver-
tidos em anos. Portanto, a ocorrência de anos bissextos não deve afetar
dispositivos legais que mencionam tempo em anos, ao invés de dias.

Ademais, o artigo 102 reforça o que a lei mencionou sobre as concessões,


quando determinou que o servidor pode tirar proveito delas “sem qual-
quer prejuízo”, ao definir que aquelas hipóteses de ausência do servidor
são consideradas como efetivo exercício. Ainda, elas se somam a uma sé-
rie de outras hipóteses, listadas nos incisos, para as quais se dá o mesmo
tratamento, quais sejam:
I. férias;
II. exercício de cargo em comissão ou equivalente, em órgão ou entidade
dos Poderes da União, dos Estados, Municípios e Distrito Federal;
III. exercício de cargo ou função de governo ou administração, em qualquer
parte do território nacional, por nomeação do Presidente da República;
IV. participação em programa de treinamento regularmente instituído ou
em programa de pós-graduação stricto sensu no País, conforme dispuser o
regulamento;
V. desempenho de mandato eletivo federal, estadual, municipal ou do
Distrito Federal, exceto para promoção por merecimento;
VI. júri e outros serviços obrigatórios por lei;
VII. missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afastamento, con-
forme dispuser o regulamento;
VIII. licença:
a) à gestante, à adotante e à paternidade;
b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte e quatro meses,
cumulativo ao longo do tempo de serviço público prestado à União, em car-
go de provimento efetivo;
c) para o desempenho de mandato classista ou participação de gerência
ou administração em sociedade cooperativa constituída por servidores
para prestar serviços a seus membros, exceto para efeito de promoção por
merecimento;
d) por motivo de acidente em serviço ou doença profissional;
e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento;

72 Gestão de Pessoas no Setor Público


f) por convocação para o serviço militar;
IX. deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18;
X. participação em competição desportiva nacional ou convocação para in-
tegrar representação desportiva nacional, no País ou no exterior, conforme
disposto em lei específica;
XI. afastamento para servir em organismo internacional de que o Brasil par-
ticipe ou com o qual coopere.

A maioria destes casos é autoexplicativo e muitos já foram ou serão objeto


de estudo de aulas específicas. Contudo, vale fazer alguns apontamentos.

Primeiramente, é preciso ficar atento quanto à diferença entre cargos e


funções, pois, como se mencionou em aulas passadas, estas últimas são
atribuições extras conferidas a um servidor cujo cargo não ordinariamen-
te as envolve; e à existência de exceções como nos casos dos incisos V e
VIII, alínea “c”, que não se aplicam à contagem de tempo de serviço feita
para averiguar a possibilidade de promoção por merecimento do servidor.

Ademais, embora sejam objeto da aula sobre seguridade social, já se


adianta que licenças como a de gestantes ou por motivo de acidente em
serviço, que não compõem o rol do artigo 81 da Lei nº 8.112/90, têm na-
tureza diferente que não se confunde. Tratam-se de benefícios de segu-
ridade social. Porém, infelizmente, o legislador decidiu utilizar o mesmo
termo para descrever ambos os institutos, gerando estranheza, como fre-
quentemente o faz no texto da referida lei.

Do mais, quanto a essa lista do artigo 102, acrescenta-se que a hipótese


do inciso IX refere-se àquele servidor que se encontra em processo de
deslocamento para outro município, em razão de seu cargo ter sido re-
distribuído, ou de ele ter sido removido, requisitado, cedido ou posto em
exercício provisório.

O artigo 103, por sua vez, traz casos que só devem ser considerados quan-
do se faz contagem para efeito de aposentadoria e concessão de disponi-
bilidade remunerada:

Gestão de Pessoas no Setor Público73


I. o tempo de serviço público prestado aos Estados, Municípios e Distrito
Federal;
II. a licença para tratamento de saúde de pessoal da família do servidor, com
remuneração, que exceder a 30 (trinta) dias em período de 12 (doze) meses.
III. a licença para atividade política, no caso do art. 86, § 2o;
IV. o tempo correspondente ao desempenho de mandato eletivo federal, es-
tadual, municipal ou distrital, anterior ao ingresso no serviço público federal;
V. o tempo de serviço em atividade privada, vinculada à Previdência Social;
VI. o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
VII. o tempo de licença para tratamento da própria saúde que exceder o
prazo a que se refere a alínea “b” do inciso VIII do art. 102.

Somado à determinação do artigo 100 de que o serviço público federal


é contado para todos os efeitos, este inciso I determina, essencialmente,
que “qualquer tempo, sob qualquer regime jurídico, prestado por qual-
quer atual servidor federal, será necessariamente computado em favor
deste para efeito de aposentadoria ou concessão de disponibilidade re-
munerada, às expensas da União” (RIGOLIN, 2012).

Quanto ao inciso III, vale notar que se refere à hipótese já estudada de li-
cença, com vencimentos assegurados por até três meses, de servidor em
cargo efetivo que tenha registrado sua candidatura para cargo eletivo; e
tão somente ela, à exclusão das demais hipóteses de concessão de licen-
ça para atividade política.

Por fim, os § § do artigo 103 trazem algumas estranhezas e complexida-


des sobre a contagem de tempo de serviço relativa à aposentadoria e
a disponibilidade que merecem explicação; começando com o § 1º, que
afirma que “o tempo em que o servidor esteve aposentado será contado
apenas para nova aposentadoria”.

É algo que só se imagina aplicável em situação extraordinária em que o


servidor aposenta-se e, depois, tem esta aposentadoria cancelada, para
que, assim, aquele tempo em que esteve aposentado seja contabilizado
para uma próxima aposentadoria – hipótese pensada por Rigolin (2012).

74 Gestão de Pessoas no Setor Público


Já o § 2º sofre de problema de outra natureza, pois, ao criar caso de conta-
gem em dobro de tempo de serviço para as Forças Armadas para fins de
aposentadoria e disponibilidade, entrou em conflito com a Constituição
Federal que, conforme o § 10º do artigo 40, estabelece que “a lei não po-
derá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição
fictício”. Contagem de tempo em dobro é contagem de tempo real, mais
tempo fictício de igual duração; portanto, o § 2º é inconstitucional.

O § 3º, felizmente, não padece de quaisquer problemas. Ele veda “a con-


tagem cumulativa de tempo de serviço prestado concomitantemente em
mais de um cargo ou função em órgão ou entidade” de qualquer Poder,
“incluindo em autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista
e empresa pública”. Isto se relaciona a o que acabou de se escrever sobre
tempo fictício, pois, embora possa eventualmente ocupar dois cargos ou
funções, o servidor público não se exerce, de fato, as atribuições de am-
bos ao mesmo tempo, de modo que a forma de contagem proibida seria
inconstitucional.

EXEMPLIFICANDO
Imagine um servidor que, respeitando os estritos limites
constitucionais, acumula dois cargos públicos remunerados:
um de professor e um técnico. Embora ele continue sendo
considerado professor enquanto exerce as atribuições de seu
cargo técnico, neste período só haverá contagem de tempo
de serviço referente ao cargo técnico. O mesmo ocorrerá na
situação contrária e, ao final, irão se somar estes tempos de
serviço, já que prestados de forma não concomitante. Assim,
se em um dia ele trabalha em seu cargo técnico por quatro
horas durante a tarde e como professor por quatro horas
pela manhã, contabilizam-se oito horas naquele dia.

Gestão de Pessoas no Setor Público75


2. Direito de petição

O artigo 104 da Lei nº 8.112/90 reflete parte do disposto na Constituição


Federal, que no artigo 5º, inciso XXXIV, determinou que a todos são asse-
gurados: “a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões
em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situ-
ações de interesse pessoal”.

Assim, teoricamente, aquele artigo de lei não precisaria existir, pois se a


todos é garantido este direito, então, evidentemente ao servidor também
é. Contudo, o artigo acrescentou algo que causa estranheza que é a men-
ção, ao invés de “interesse pessoal”, de “interesse legítimo”, que não tem
definição clara, mas que também não deve trazer qualquer mudança prá-
tica, considerando-se a existência do dispositivo constitucional.

Já o artigo 105 traz algo mais interessante que é a determinação de que o


requerimento do servidor deve ser encaminhado pela autoridade imedia-
tamente superior a ele para a autoridade que tem competência para de-
cidir sobre aquele pedido. Destarte, a autoridade imediatamente superior
ao servidor tem o dever de encaminhar o requerimento, mesmo que seja
contra ela, não cabendo obstá-lo por quaisquer motivos, independente-
mente de seu conteúdo ou fundamentação.

Vale notar que, conforme o parágrafo único do artigo 106, o requerimen-


to deve ser encaminhado em até cinco dias e decidido em trinta, sen-
do ambos estes prazos contados da data de quando o servidor fez o
requerimento.

Se for indeferido o pedido do servidor, caberá a ele pedir – uma única vez
e no prazo de trinta dias – a reconsideração da decisão, por meio de pro-
cedimento idêntico ao anterior. Não se deve subestimar a importância do
pedido de reconsideração, pois confere à autoridade competente a opor-
tunidade de alterar sua decisão, frente à implicação de que o servidor
está insatisfeito e provavelmente entrará com recurso.

76 Gestão de Pessoas no Setor Público


Outro aspecto importante desse pedido de reconsideração é o fato de
que ele deve necessariamente ocorrer para que o servidor passe a ter di-
reito de interpor recurso, já que o artigo 107 não menciona via direta de
recurso do requerimento indeferido. As duas únicas hipóteses previstas
são o recurso do indeferimento do pedido de reconsideração e o recurso
das decisões de recursos; ambos os quais devem ser interpostos em trin-
ta dias, contados da publicação ou ciência da decisão.

O recurso das decisões de recursos é sempre direcionado à autoridade


imediatamente superior à que indeferiu o recurso e não há necessidade
nem previsão legal de pedido de reconsideração para isto. Deste modo,
o servidor vai sucessivamente entrando com requerimento para autori-
dades cada vez mais altas; no entanto, ressalta-se que o recurso continua
sendo encaminhado por intermédio daquela autoridade imediatamente
superior a ele.

Ademais, o artigo 109 confere ao servidor a possibilidade de requerer que


o recurso seja recebido com efeito suspensivo; ou seja, que se suspenda
procedimento administrativo ou judicial que irá prejudicá-lo se continuar
durante o julgamento de seu recurso. A autoridade competente, neste
caso, deverá decidir sobre o efeito suspensivo logo que receber o recurso,
de modo a prevenir o prejuízo.

Importante se mostra também o parágrafo único deste artigo 109, que


determina que os efeitos da decisão que acata o recurso ou pedido de
reconsideração retroagirão à data do ato impugnado. Portanto, se o ser-
vidor estava sendo pago em valor inferior ao devido desde março do ano
anterior, após a decisão confirmar este fato, ele passará a receber remu-
neração no valor correto e será ressarcido pela diferença que não rece-
beu desde março do ano anterior.

Nos artigos 110 a 112 encontra-se disciplinada a prescrição, qual seja, a


ocorrência de perda do direito de ação, de lutar para defender ou efetivar
um direito, não a perda do direito em si.

Gestão de Pessoas no Setor Público77


PARA SABER MAIS
Como mencionado, a prescrição é a perda do direito de ação,
que é usada para defender ou efetivar um direito. A deca-
dência – ou caducidade – é um instituto similar, mas que não
se confunde, pois ocasiona a perda do direito em si. A dife-
rença pode parecer pequena, mas não é, pois há casos em
que aquele que sofreu prescrição pode ainda ter seu direito
protegido ou efetivado por outros que tenham direito sobre
a mesma coisa, ou até por mudança de conduta voluntária
da parte que antes ofendia aquele direito.

Assim, o artigo 110 define que a prescrição do direito de requerer ocorre


em cinco anos, quando se trata de “atos de demissão e de cassação de
aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial e
créditos resultantes das relações de trabalho” e cento e vinte dias nos de-
mais casos, a não ser que legislação fixe outro prazo; prazos, estes, que são
interrompidos por pedido de reconsideração ou recurso, mas só quando
respeitados os prazos e hipóteses que já se mencionou para estes reque-
rimentos. Ademais, conforme o artigo 112, não cabe à Administração per-
doar ou ignorar a prescrição, de modo que se o servidor não agiu quando
deveria, com certeza não poderá mais fazê-lo.

O artigo 113 simplesmente assegura ao servidor – ou seu procurador – o


direito à vista de processos ou documentos referentes ao seu direito de
petição, mas somente na repartição onde se encontram.

Já o artigo 114, por sua vez, traz uma disposição de grande importância,
que é a de que a Administração deve rever quaisquer atos ilegais que te-
nha realizado, independentemente de quando tenham sido realizados.
Desta forma, dada a ciência da ilegalidade, ela fica imediatamente obriga-
da a tomar providências para que seja reparada a situação.

78 Gestão de Pessoas no Setor Público


Por fim, o artigo 115 estabelece que todos os prazos referentes ao direito
de petição – tanto para o servidor quanto para a Administração – são fa-
tais e improrrogáveis; no entanto, julga-se que a parte mais interessante
do dispositivo é a última, que afirma que aquela determinação é excetua-
da em caso de força maior, ou seja, da ocorrência de fatos inevitáveis ou
irresistíveis – mas não necessariamente imprevisíveis –, como os decor-
rentes de forças da natureza.

3. Vantagens

O artigo 49 da Lei nº 8.112/90 lista três tipos de vantagens: indenizações,


gratificações e adicionais. Apesar disso, fato é que no artigo 61 da seção
que trata “Das Gratificações e Adicionais” encontra-se também um caso
explícito de retribuição. Ainda, o rol de vantagens do artigo 49 não é ta-
xativo, de modo que pode “ser categorizada, sem muita precisão técnica,
mas sem desacerto, como vantagem qualquer parcela de remuneração
que se soma ao vencimento básico, devida ao servidor público em ra-
zão do vínculo profissional que mantém com a Administração” (RIGOLIN,
2012, p. 162).
Vale ressaltar também que aqui se manifesta o mesmo problema que se
encontrou na aula sobre licenças e afastamentos, pois o legislador nova-
mente confunde vários termos, de forma que o único método adequado
pelo qual se pode distingui-los é pelo que foi arbitrado na lei. Portanto, se
um dispositivo legal diz que algo se trata de gratificação, assim deve ser
considerado, mas se mencionar ser adicional, deve ser aceito como tal.
Aponta-se, então, para o disposto no § 1º e § 2º do artigo 49, que deter-
minam que as indenizações jamais se incorporam ao vencimento ou pro-
vento, e que as gratificações e adicionais o fazem quando a lei – qualquer,
não só a Lei nº 8.112/90 – indicar que devem. Incorporação ao vencimento
significa a transformação definitiva dele, de modo que o novo vencimento
passa a ter o valor do original somado ao da vantagem incorporada; e a
versão atual da Lei nº 8.112/90 não prevê nenhum caso em que isto ocorre.

Gestão de Pessoas no Setor Público79


Por fim, antes de se analisar cada um dos tipos mencionados de vanta-
gens, nota-se que o artigo 50 determina, essencialmente, que se igno-
ram as vantagens pecuniárias de mesmo título ou idêntico fundamento
para o cálculo de novos acréscimos; porém, o inciso XIV do artigo 37 da
Constituição afirma que isto se estende também para acréscimos de ou-
tros tipos. Portanto, não obstante o que diz o artigo 50, acréscimos devem
calculados somente com base no vencimento.

3.1. Indenizações

Quatro formas encontram-se enumeradas no rol exaustivo (RIGOLIN,


2012) de indenizações do artigo 51 da Lei nº 8.112/90: ajuda de custo, di-
árias, indenização de transporte e auxílio-moradia.
O artigo seguinte determinou que aquelas três primeiras terão seus va-
lores e as condições para sua concessão estabelecidos em regulamento
– como por via decreto –, que é o que o legislador tende a fazer quando
pretende deixar algo aberto para fáceis e rápidas modificações, sem que
se requeira edição de lei para fazê-lo.
Posto isto, passa-se, então, para a análise de cada uma das formas de
indenização.

3.1.1. Ajuda de custo

A ajuda de custo, conforme o texto do artigo 53, é uma indenização que se


destina a compensar as despesas de instalação que um servidor tem com
mudança permanente de domicílio devido a deslocamento no interesse
do serviço – não a pedido do servidor – para outra sede. Nota-se, contudo,
que ela não é concedida para cônjuge ou companheiro que também seja
servidor, pois já se consideram as despesas de todo o conjunto familiar
na primeira indenização concedida.

Para esclarecimento do que se inclui na ideia de “despesas de instalação”


volta-se para o § 1º, que determina que estas são “as despesas de trans-
porte do servidor e de sua família, compreendendo passagem, bagagem

80 Gestão de Pessoas no Setor Público


e bens pessoais”. Fala-se em passagem, portanto, presume-se que não se
inclui ressarcimento de gastos com transporte próprio.

Ademais, o § 2º confere à família do servidor ajuda de custo nos mesmos


termos, para retornar à localidade de origem em caso de morte dele, es-
tabelecido prazo de um ano para que a família possa tirar proveito desta
ajuda, contado do óbito.

O artigo 54 é estranho, pois determina que a ajuda de custo deve se base-


ar na remuneração do servidor, ignorando o fato de que as despesas de
instalação incorridas pelo servidor e sua família têm pouca ou nenhuma
relação com o quanto ele ganha. Do mais, deixa o cálculo exato do valor
da ajuda a ser estabelecido por regulamento, mas fixa um limite no valor
de três meses de remuneração – que, devido à disposição constitucional
mencionada anteriormente, deveria ser relativo ao vencimento, pois se
ignoram as vantagens nos cálculos de vantagens posteriores.

Por fim, o artigo 55 proíbe a concessão desta indenização para servidores


que se afastam ou reassumem cargos em virtude de mandatos eletivos, o
artigo 56 estende a possibilidade de concessão para servidores que não
sirvam à União, mas que sejam nomeados para cargo em comissão que
implique em mudança de domicílio, e o artigo 57 obriga o servidor a resti-
tuir os valores da ajuda de custo quando não se apresentar na nova sede
dentro de trinta dias.

3.1.2. Diárias

Conforme o artigo 58, as diárias visam compensar o servidor pela realiza-


ção de despesas com passagens, estadia, alimentação e locomoção urbana,
quando ele estiver eventual ou temporariamente afastado da sede a serviço.

Embora o cálculo exato do valor das diárias fique a encargo de regula-


mentos próprios, o § 1º estabelece limites, no sentido de que as diárias
devem ser, como sugere o nome, concedidas por dia – não por semana,
mês ou outra unidade de tempo. Contudo, em casos em que o servidor

Gestão de Pessoas no Setor Público81


se desloca e retorna no mesmo dia – independente do período de tempo
que permaneceu deslocado dentro daquelas vinte e quatro horas – deter-
minou-se que a diária será paga pela metade e o mesmo ocorre em casos
em que a União já providencia outras formas de compensação daquelas
despesas do servidor.
O § 2º determina, contudo, que não cabem diárias para os casos em que
estes deslocamentos forem uma exigência permanente do cargo do ser-
vidor, pois se isto é algo da própria natureza do cargo, então, o valor de
ressarcimento daquelas despesas considera-se como incluído na remu-
neração que se atribuiu àquele cargo. No entanto, é importante ressaltar
que esta característica deve “estar escrita expressamente na descrição
de atribuições de cada cargo, a qual deverá constar do termo de posse”
(RIGOLIN, 2012, p. 194).
Por sua vez, o § 3º exclui, em casos que não seja necessário pernoite,
a concessão de diárias para servidores que se deslocam dentro de uma
mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião; que
são agrupamentos de municípios que podem ser instituídos, median-
te lei complementar, pelos Estados – conforme o § 3º do artigo 25 da
Constituição. O mesmo se aplica para o servidor que se desloca dentro de
uma mesma “área de controle integrado mantida com países limítrofes,
cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores brasilei-
ros considera-se estendida”.
Do mais, o artigo 59 e seu parágrafo único determinam que o servidor
que receber diárias e não se afastar da sede e aquele que retornar anteci-
padamente deverão restituir, no prazo de cinco dias, as diárias recebidas
em excesso.

3.1.3. Indenização de transporte

A indenização de transporte é disciplinada por um único artigo da Lei nº


8.112/90, o 60, de modo que a maior parte da regulamentação sobre o
tema encontra-se difusa em outros instrumentos – como, atualmente, no
Decreto Federal nº 3.184/99.

82 Gestão de Pessoas no Setor Público


Essencialmente, trata-se de indenização para aquele servidor que realiza
despesas ao utilizar, para o exercício das atribuições de seu cargo, seu pró-
prio meio de locomoção. Conforme o § 2º do artigo 1º do Decreto Federal
nº 3.184/99, este meio de locomoção deve constituir veículo automotor –
como carro e moto, não, por exemplo, bicicleta – e ser veículo não dispo-
nível à população em geral; o que não significa que deva ser veículo único
em termos de tipo, mas no sentido de não ser veículo de utilização pública.

3.1.4. Auxílio-moradia

Conforme o artigo 60-A da Lei nº 8.112/90, o auxílio-moradia é concedi-


do a título de indenização correspondente às despesas do servidor com
aluguel de sua moradia ou com hospedagem, mas esta, ressalta-se, so-
mente em caso que seja em estabelecimento administrado por empresa
hoteleira. A indenização é paga em até um mês contado da comprovação
daquela despesa e, segundo o artigo 60-B, só se aplica para casos que
necessariamente preencham todos os requisitos listados em seus incisos,
quais sejam:
I. não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor;
II. o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel funcional;
III. o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou tenha sido pro-
prietário, promitente comprador, cessionário ou promitente cessionário de
imóvel no Município aonde for exercer o cargo, incluída a hipótese de lote
edificado sem averbação de construção, nos doze meses que antecederem
a sua nomeação;
IV. nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba auxílio-moradia;
V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocupar cargo
em comissão ou função de confiança do Grupo-Direção e Assessoramento
Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Especial, de Ministro de Estado
ou equivalentes;
VI. o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função de confian-
ça não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em relação ao local de
residência ou domicílio do servidor;
VII. o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido no Município,

Gestão de Pessoas no Setor Público83


nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo em comissão ou fun-
ção de confiança, desconsiderando-se prazo inferior a sessenta dias dentro
desse período; e
VIII. o deslocamento não tenha sido por força de alteração de lotação ou
nomeação para cargo efetivo.
IX. o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006.

Os imóveis funcionais a que se referem os incisos I e II tratam-se de imó-


veis residenciais de propriedade do Poder Público que são destinados à
residência de servidores. Grande parte dos imóveis deste tipo estão loca-
lizados no Distrito Federal – há, por exemplo, mais de quatrocentos imó-
veis disponíveis para deputados federais – e estes são administrados con-
forme os ditames do Decreto nº 980/93.

LINK
A título de curiosidade, você pode conferir no link a seguir
informações acerca dos processos de solicitação e devolu-
ção de imóveis funcionais, bem como outras informações
quanto a obrigações do ocupante e determinações acerca
da seleção do imóvel. BRASIL. Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão. Imóveis funcionais. Disponível
em: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao/patri
monio-da-uniao/destinacao-de-imoveis/imoveis-funcionais
#6--como---selecionado-o-im-vel->. Acesso em: 15 jul. 2018.

A disposição do inciso III é evidentemente voltada para prevenir casos


em que o servidor poderia tirar proveito indevido do auxílio-moradia, por
exemplo, ao vender imóvel na localidade onde exercerá o cargo para o
qual foi nomeado só para fins de preencher os requisitos da indenização,
ao mesmo tempo que lucra com a venda do imóvel. Seria indevida esta
conduta, pois o intuito do auxílio-moradia é, evidentemente, o de indeni-
zar aquele servidor que deste auxílio necessita, em razão de não ter resi-
dência no município para onde foi deslocado.

84 Gestão de Pessoas no Setor Público


Quanto ao requisito do inciso V, vale notar que, como mencionado em
aulas anteriores, cargos de Natureza Especial são simplesmente aqueles
que em lei são assim definidos, de modo explícito. Ademais, quanto à dú-
vida que naturalmente surge de quais seriam os cargos “equivalentes a
Ministros de Estado”, afirma-se que “salvo os cargos do Executivo criados
e declarados em lei como de nível de Ministro, não existe resposta a esta
pergunta” (RIGOLIN, 2012, p. 200).
Já para a leitura do inciso VI, cabe lembrar que o artigo 58, § 3º, é aquele que
se refere à limitação de diárias em deslocamentos dentro de uma mesma
região metropolitana ou aglomeração urbana e outras hipóteses similares.
O inciso VII, acrescenta-se, é, de modo similar ao III, também um que apre-
senta requisito voltado para prevenir o uso indevido do auxílio-moradia.
Contudo, a leitura deste dispositivo deve ser feita junto à do parágrafo úni-
co, que exclui da consideração de prazo deste inciso eventual período du-
rante o qual o servidor tenha ocupado algum dos cargos listados no inciso V.
Por sua vez, o artigo 60-D e seus § § estabelecem limites para o valor do
auxílio-moradia. O mínimo é de R$ 1.800,00 e o máximo é o equivalente
a 25% da remuneração do cargo do servidor – aquele relativo ao auxílio-
moradia, evidentemente –, contanto que isto não ultrapasse 25% da re-
muneração de Ministro de Estado.
Por fim, o artigo 60-E assegura ao servidor ou sua família o pagamento
de um mês de auxílio-moradia caso o servidor faleça, seja exonerado,
tenha imóvel funcional colocado à sua disposição ou caso ele adquira
imóvel próprio.

3.2. Retribuições, Gratificações e Adicionais

Foram agrupadas retribuições, gratificações e adicionais neste subtítulo,


pois assim estão dispostos estes tópicos, na seção II, “Das Gratificações
e Adicionais”, da Lei nº 8.112/90. Ademais, como se mencionou anterior-
mente, o legislador que editou e alterou a referida lei frequentemente
confunde em seu texto os vários institutos nela estabelecidos, de modo
que se torna inviável a realização de uma separação didática adequada
destes tópicos.

Gestão de Pessoas no Setor Público85


Posto isto, passa-se para a análise das vantagens previstas no rol do arti-
go 61, que não é exaustivo, pois o inciso VIII deixa claro que é permitida a
criação de outros tipos de gratificação ou adicionais “relativos ao local ou
à natureza do trabalho”. Vale ressaltar, ainda, que o artigo não dispõe de
um inciso III, já que a antiga previsão de “adicional por tempo de serviço”
foi revogada.

3.2.1. Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e


assessoramento

O artigo 62 disciplina este instituto – que não é nem gratificação nem adi-
cional, mas que junto a eles se encontra, pois antes era considerado gratifi-
cação –, determinando essencialmente que somente os servidores efetivos,
quando se encontrarem em situação em que forem investidos de “função
de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento em comissão
ou de Natureza Especial”, deverão ser pagos pelo exercício desta respectiva
função ou cargo. Ou seja, não serão forçados a trabalhar de graça.

ASSIMILE
Para fins de assimilação, vale lembrar mais uma vez que função
diferencia-se de cargo, pois é um conjunto de atribuições a se-
rem exercidas. Ademais, cargos de Natureza Especial são sim-
plesmente aqueles que leis explicitamente assim os definem.

Por fim, o artigo 62-A refere-se a um instituto criado para o fim único e
muito específico de lidar com os antigos “quintos” e “décimos”; portanto,
têm aplicação restrita a casos específicos anteriores ao ano 2000 e não
merece análise aprofundada nesta aula, pois para isto seria necessária a
explicação de diversos dispositivos legais contidos em todo um conjunto
de normas há muito tempo revogadas.

86 Gestão de Pessoas no Setor Público


3.2.2. Gratificação natalina

Comumente chamada de décimo terceiro salário, a gratificação natalina dis-


ciplinada nos artigos 63 a 66 é o valor pago ao servidor até o dia 20 do mês de
dezembro de cada ano em proporção aos meses integrais de seu exercício.

Um mês integral, para este fim, é considerado como quinze ou mais dias
de exercício e a proporção da gratificação é, segundo o artigo 63, de “1/12
(um doze avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de de-
zembro, por mês de exercício no respectivo ano”.

A linguagem do artigo mencionado é importante e, à exceção do uso da


palavra “remuneração” que deveria ser “vencimento” já que as vantagens
não podem ser contabilizadas, é precisa e adequada.

Ao invés de somar os vencimentos de cada mês integral de exercício e divi-


dir por doze o resultado da soma, multiplica-se o vencimento equivalente
a um mês a que o servidor faz jus, em dezembro, pelo número de meses
integrais de exercício e, então, divide-se por doze o resultado da soma. Por
este segundo método, que é o previsto na lei, o servidor cujo vencimento
aumentou ao longo do ano receberá uma gratificação natalina maior.

No artigo 65, o legislador determinou que o servidor exonerado também


receberá gratificação natalina proporcional aos meses de exercício no
ano, mas calculada com base no mês da exoneração.

Por fim, o artigo 66 determina, de modo desnecessário frente ao texto atual


do inciso XIV do artigo 37 da Constituição, que a gratificação natalina deve-
rá ser desconsiderada no cálculo de qualquer outra vantagem pecuniária.

3.2.3. Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou


penosas

Conforme o artigo 68 e seus § §, o servidor cujo cargo demandar que tra-


balhe “com habitualidade em locais insalubres ou em contato permanen-
te com substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida” faz jus a um

Gestão de Pessoas no Setor Público87


adicional sobre o vencimento de seu cargo efetivo, que é devido somente
enquanto perdurarem as condições ou riscos que deram causa a esta
concessão.

Neste caso, o legislador fez algo raro, pois determinou, no artigo 12 da Lei
nº 8.270/91, que a definição de quais atividades demandam o pagamento
de adicional de insalubridade ou periculosidade se dá de acordo com as
normas que tratam do tema referente aos trabalhadores em geral, não
servidores. Assim, as normas sobre limites de barulho, toxicidade do ar,
trabalho em locais muito frios etc., que servem para definir quais ativida-
des são consideradas perigosas ou insalubres no âmbito dos trabalhado-
res em geral, aplicam-se ao caso dos servidores públicos.

PARA SABER MAIS


Se você tiver interesse em saber mais sobre as referidas nor-
mas que tratam dos assuntos de insalubridade e periculosi-
dade referentes ao trabalho em geral, para além dos servi-
dores públicos, pode conferir a obra “Manual de Direito do
Trabalho”, de Neto e Cavalcante (2017), que aborda este as-
sunto em capítulo específico e, inclusive, traz lista de uma sé-
rie de leis e normas regulamentadoras que disciplinam este
aspecto do trabalho.

Ademais, não poderá o servidor receber adicionais de insalubridade e pe-


riculosidade simultaneamente, devendo ele optar por um dos dois; to-
davia, vale ressaltar que não se proíbe a cumulação de um destes com o
adicional de atividades penosas.

O adicional referente às atividades penosas é aquele previsto no artigo


71, que diz ser penoso o “exercício em zonas de fronteira ou em localida-
des cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, condições e limi-
tes fixados em regulamento”. Portanto, cabe à regulamentação específica

88 Gestão de Pessoas no Setor Público


determinar que condições de vida consideram-se penosas; porém, zona
de fronteira tem conceito na Constituição Federal, cujo artigo 20, § 2º,
como “faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo
das fronteiras terrestres” que “é considerada fundamental para defesa do
território nacional”.

Posto isto, o artigo 69 da Lei nº 8.112/90 continua com determinação de


que a atividade de servidores em operações ou locais considerados insa-
lubres, perigosos e, adicionalmente, penosos deverá ser objeto de contro-
le e fiscalização pelo Poder Público; o que não poderia faltar, claro, dadas
estas características que apresentam risco à saúde e vida do servidor.

Ainda, o parágrafo único deste mesmo artigo determinou que servidoras


gestantes ou lactantes deverão ser obrigatoriamente afastadas daqueles
locais, para exercer suas funções em outro local não insalubre, perigoso
ou penoso.

Por fim, o parágrafo único do artigo 72, que determina que deve haver
controle permanente dos servidores que trabalham com Raios X ou subs-
tâncias radioativas e seus locais de trabalho, estabelece que estes servi-
dores devem ser submetidos a exames médicos a cada seis meses.

3.2.4. Adicional pela prestação de serviço extraordinário

Serviço extraordinário não é aquele realizado de forma bem feita, o termo


refere-se ao serviço realizado fora do horário normal daquele cargo que o
servidor ocupa; ou seja, trata-se este de adicional por “hora extra”.

Quanto a ele, o artigo 73 meramente repete o que está contido no inciso


XVI do artigo 7º da Constituição, determinando o acréscimo de 50% sobre
o vencimento para o trabalho realizado além do horário normal. Ademais,
o artigo 74 estabelece limite de motivação e tempo para o serviço extraor-
dinário, pois afirma que só é permitido para o atendimento de situações
excepcionais e temporárias e, no máximo, de duas horas extras por jor-
nada de trabalho.

Gestão de Pessoas no Setor Público89


3.2.5. Adicional noturno

Simplesmente, conforme o artigo 75, o serviço realizado entre as dez da


noite e as cinco da manhã terá adicional de 25% sobre o vencimento e
cada hora será computada como sendo de cinquenta e dois minutos e
trinta segundos. Ademais, o adicional noturno e por serviço extraordinário
podem se somar, resultando em 75% de acréscimo sobre o vencimento.

3.2.6. Adicional de férias

Todo servidor recebe este adicional, equivalente a um terço do vencimen-


to do período de férias e disciplinado pelo artigo 76, quando sai de férias.
Via de regra, o cálculo é sobre o vencimento do cargo efetivo, mas se exer-
cer função de direção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em
comissão será calculado sobre o vencimento pelo qual optou.

3.2.7. Gratificação por encargo de curso ou concurso

Conforme o artigo 76-A, esta gratificação será obrigatoriamente concedi-


da para servidor que, em caráter eventual:
I. atuar como instrutor em curso de formação, de desenvolvimento ou de
treinamento regularmente instituído no âmbito da administração pública
federal;
II. participar de banca examinadora ou de comissão para exames orais,
para análise curricular, para correção de provas discursivas, para elabora-
ção de questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por
candidatos;
III. participar da logística de preparação e de realização de concurso público
envolvendo atividades de planejamento, coordenação, supervisão, execu-
ção e avaliação de resultado, quando tais atividades não estiverem incluí-
das entre as suas atribuições permanentes;
IV. participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame vestibular
ou de concurso público ou supervisionar essas atividades.

90 Gestão de Pessoas no Setor Público


Não precisa o servidor exercer estas atividades sequer habitualmente,
com frequência, mas é importante ressaltar que aquela atividade especí-
fica não deve ser inerente ao cargo que ele ocupa, pois, do contrário, não
se constituiria caráter eventual.
Ademais, o § 1º determina que fica a cargo de regulamentos específicos o
estabelecimento de critérios de concessão e limites para esta gratificação;
porém, o dispositivo define alguns parâmetros que devem ser observa-
dos, quais sejam:
I. o valor da gratificação será calculado em horas, observadas a natureza e
a complexidade da atividade exercida;
II. a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a 120 (cento e vinte)
horas de trabalho anuais, ressalvada situação de excepcionalidade, devi-
damente justificada e previamente aprovada pela autoridade máxima do
órgão ou entidade, que poderá autorizar o acréscimo de até 120 (cento e
vinte) horas de trabalho anuais;
III. o valor máximo da hora trabalhada corresponderá aos seguintes percen-
tuais, incidentes sobre o maior vencimento básico da administração pública
federal:
a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se tratando de ativida-
des previstas nos incisos I e II do caput deste artigo;
b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tratando de atividade
prevista nos incisos III e IV do caput deste artigo.

Por fim, o § 2º determina que não será concedido o adicional nos casos
em que as atividades listadas nos incisos I à IV do caput são realizadas
com prejuízo das atribuições do cargo do servidor.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Como se mencionou nesta leitura fundamental, é possível que haja
outras gratificações e adicionais relativos aos servidores públicos.
Considerando-se este fato, reflita sobre quais outros adicionais po-
deriam ser concedidos para os servidores ou se alguns dos existentes
deveriam ser alterados ou revogados – como ocorreu com o antigo
“adicional por tempo de serviço”.

Gestão de Pessoas no Setor Público91


4. Considerações finais

• Há que se ter atenção para as variadas circunstâncias acerca do


tempo de serviço, pois alguns períodos não são contabilizados para
todos os fins. Ademais, é preciso lembrar que a Constituição Federal
veda qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício.

• O direito de petição previsto na Lei nº 8.112/90 tem proteção a nível


constitucional e há que se ressaltar que, apesar de se oferecer ao
servidor ampla oportunidade para impetrar sucessivos recursos,
este processo só pode se iniciar com o pedido de reconsideração.

• Todas as formas de indenização fora o auxílio-moradia são regu-


lamentadas por normas próprias, mas, independentemente desta
distinção, não se admite nenhum caso de incorporação de indeniza-
ções a vencimentos.

• É admissível que haja mais hipóteses de concessão de gratificações


e adicionais para o servidor fora do escopo da Lei nº 8.112/90; con-
tudo, estas também devem estar previstas em lei. Ademais, quanto
a estes, diferentemente das indenizações, é possível previsão legal
de caso de incorporação ao vencimento, apesar do fato de que a Lei
nº 8.112/90 não contenha nenhum destes casos.

Glossário

• Caput: é a “cabeça” de um artigo, ou seja, o texto localizado logo


após o número do artigo e antes de quaisquer parágrafos, alíneas
ou incisos.

• Localidade: em termos jurídicos, geralmente refere-se a um


Município.

• Serviço extraordinário: é o serviço realizado fora do horário for-


malmente estabelecido para um cargo. Comumente chamado de
serviço em caráter de “hora extra”.

92 Gestão de Pessoas no Setor Público


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 04
1. Conforme o material estudado sobre a contagem do tem-
po de serviço do servidor público, pode-se afirmar corre-
tamente que:
a) o tempo de serviço público federal, estadual, municipal e
no Distrito Federal é contabilizado para todos os efeitos.
b) para os fins de contagem de tempo de serviço, um ano
é considerado como composto por trezentos e sessen-
ta e cinco dias, independentemente da ocorrência de
ano bissexto.
c) o período em que o servidor público sai de férias não é
considerado como tempo de serviço.
d) o período em que o servidor público sai de férias é
considerado como tempo de serviço somente para os
fins de aposentadoria e concessão de disponibilidade
remunerada.
e) o período em que o servidor permanece de licença
para tratamento de saúde de pessoal de sua família,
com remuneração, conta como tempo de serviço para
todos os fins.
2. “A definição legal de que a gratificação natalina correspon-
de a ‘1/12 (um doze avos) da remuneração a que o servidor
fizer jus no mês de dezembro, por mês de exercício no res-
pectivo ano’ é mais vantajosa para o servidor do que uma
que simplesmente determinasse que ela corresponde a
‘1/12 (um doze avos) da soma da remuneração de cada
mês de exercício’ PORQUE, para o servidor que obteve au-
mento de seu vencimento ao longo do ano, a gratificação
natalina terá valor mais elevado se calculada pelo primeiro
método”.

Gestão de Pessoas no Setor Público93


Em relação ao texto, assinale a alternativa correta.
a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justi-
fica a primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) A primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é falsa.
d) A primeira afirmação é falsa, mas a segunda é
verdadeira.
e) As duas afirmações são falsas.
3. De acordo com o material estudado sobre as indeniza-
ções concedidas ao servidor público a título de vantagens,
pode-se afirmar corretamente que:
a) a ajuda de custo é concedida para compensar as despe-
sas de aluguel que o servidor público tem quando muda
permanentemente de domicílio, devido a deslocamento
para outra sede, realizado no interesse do serviço.
b) as diárias são concedidas para compensar as despesas
de aluguel que o servidor público tem quando muda
permanentemente de domicílio, devido a deslocamen-
to para outra sede, realizado no interesse do serviço.
c) as diárias são concedidas para compensar o servidor por
despesas unicamente de alimentação e estadia, quando
ele estiver temporariamente afastado da sede a serviço.
d) a indenização de transporte é concedida para compen-
sar o servidor pelas despesas que ele tem com trans-
porte público ou próprio para o exercício das atribui-
ções de seu cargo.
e) a indenização de transporte é concedida para com-
pensar o servidor pelas despesas que ele tem com
transporte próprio para o exercício das atribuições de
seu cargo.

94 Gestão de Pessoas no Setor Público


Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 15 jul. 2018.
. Decreto nº 3.184, de 27 de setembro de 1999. Dispõe sobre a concessão de
indenização de transporte aos servidores públicos da Administração direta, autárqui-
ca e fundacional do Poder Executivo da União. Brasília. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3184.htm>. Acesso em: 15 jul. 2018.

. Decreto nº 980, de 11 de novembro de 1993. Dispõe sobre a cessão de uso


e a administração de imóveis residenciais de propriedade da União a agentes políti-
cos e servidores públicos federais, e dá outras providências. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d980.htm>. Acesso em: 15 jul. 2018.

. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos


servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 15 jul. 2018.

. Lei nº 8.270, de 17 de dezembro de 1991. Dispõe sobre reajuste da remune-


ração dos servidores públicos, corrige e reestrutura tabelas de vencimentos, e dá ou-
tras providências. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
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. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Imóveis funcionais.


Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao/patrimonio-da-
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NETO, Jorge Francisco F.; CAVALCANTE, Jouberto de Q. P.. Manual de direito do tra-
balho. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.

RIGOLIN, I. B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei n.
8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gestão de Pessoas no Setor Público95


Gabarito – Tema 04

Questão 1 – Resposta: B
A primeira alternativa está incorreta, pois, dentre os listados, é só o
tempo de serviço público federal que é contabilizado para todos os
efeitos. Já a terceira e quarta alternativas estão ambas incorretas,
pois o período em que o servidor sai de férias é considerado como
tempo de serviço para todos os fins. Por fim, a última alternativa está
incorreta, pois o período de licença mencionado só conta para fins
de aposentadoria e disponibilidade e somente no que exceder trinta
dias em período de doze meses, conforme o inciso II do artigo 103 da
Lei nº 8.112/90.

Questão 2 – Resposta: A
De fato, ambas as afirmações são verdadeiras e a segunda justifica
a primeira. Para se entender melhor porque o primeiro método de
cálculo é mais vantajoso para o servidor que tem aumento de venci-
mento durante o ano, imagine-se um exemplo em que ele teve dez
meses de exercício integral e que, nos primeiros cinco, tenha rece-
bido vencimento no valor de R$5.000,00 e nos demais R$7.000,00,
sendo que o último mês foi dezembro. Pelo primeiro método multi-
plica-se R$7.000,00 por 10 (número de meses de exercício integral)
e divide-se o resultado por 12, totalizando R$ 5.834,00 (valor arre-
dondado). Já pelo segundo método, somar-se-iam cinco meses de
R$5.000,00 e cinco meses de R$7.000,00 e se dividiria o resultado por
12, totalizando R$2.918,75 – valor muito inferior.

Questão 3 – Resposta: E
A primeira alternativa está incorreta, pois a ajuda de custo é voltada
para a compensação das despesas de instalação que o servidor tem
com a mudança, não a aluguéis. A segunda alternativa também está
incorreta, pois as diárias são concedidas para casos de deslocamen-
to temporário do servidor, não permanente, e se referem a despesas

96 Gestão de Pessoas no Setor Público


com passagens, estadia, alimentação e locomoção urbana. Assim,
está incorreta também a terceira alternativa, pois, como menciona-
do, as despesas compensadas pelas diárias não são unicamente de
alimentação e estadia. Por fim, a quarta alternativa está incorreta,
pois a indenização de transporte não compensa as despesas que o
servidor tem com transporte público, mas somente com o transpor-
te próprio.

Gestão de Pessoas no Setor Público97


TEMA 05

REGIME DISCIPLINAR

Objetivos

• Tomar conhecimento dos diversos deveres e proibi-


ções a que estão sujeitos os servidores públicos.

• Aprender que tipo de responsabilidades incidem


sobre o servidor que comete irregularidades, bem
como quais as penalidades que a Administração pode
aplicar para aquele servidor.

• Estudar em maiores detalhes o tema da acumulação


de cargos públicos, incluindo limites e exceções para
este fenômeno.

Gestão de Pessoas no Setor Público98


Introdução
Ao longo desta aula você estudará todo o título IV da Lei nº 8.112/90, in-
titulado “Do Regime Disciplinar”. Vale ressaltar que isto não se confunde
com a ideia de processo administrativo disciplinar, que é o tema da aula
seguinte e do título V daquela lei.
Primeiramente, serão vistos os deveres do servidor público que, embora
sejam de cumprimento obrigatório, são de difícil exigibilidade, pois ten-
dem a ser vagos e, por vezes, até de cumprimento subjetivo.
Após isto, você aprenderá sobre as proibições que, de caráter mais ob-
jetivo que os deveres, são utilizadas como fundamentação legal para a
aplicação da maioria das penalidades estabelecidas pela Lei nº 8.112/90.
Em seguida, serão analisadas as características da tão importante veda-
ção constitucional de acumulação de cargos públicos, cujo tratamento é
estendido e detalhado pela Lei nº 8.112/90 – que, adianta-se, até excede
em sua competência em alguns momentos.
Disto, passaremos para o tema das responsabilidades, que não se tratam
de mais obrigações para o servidor, mas de métodos de responsabiliza-
ção dele pela realização de atos irregulares.
Por fim, serão abordadas as variadas penalidades que incidem sobre múl-
tiplos casos diferentes e que têm, cada uma delas, várias exceções e re-
gras próprias.

1. Deveres

O título IV, “Do Regime Disciplinar”, da Lei nº 8.112/90, que trata dos ser-
vidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas
federais, abre com o capítulo sobre os deveres que aqueles servidores
estão obrigados a cumprir.
Eles estão listados nos doze incisos do artigo 116, mas, apesar de sua
obrigatoriedade, não está prevista punição direta para aquele que não
os cumpre, o que afeta negativamente a ideia de exigibilidade desses

Gestão de Pessoas no Setor Público99


deveres. Contudo, ressalta-se que poderá haver aplicação da penalidade
de advertência – que será estudada em momento posterior –, cuja falta de
requisitos rígidos permite ampla utilização; ademais, como se verá, a cada
um dos deveres geralmente corresponderá alguma punição indireta, pelo
não cumprimento de outra disposição legal relacionada.
Posto isto, traz-se a referida lista:
I. exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
II. ser leal às instituições a que servir;
III. observar as normas legais e regulamentares;
IV. cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;
V. atender com presteza:
a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas
as protegidas por sigilo;
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclareci-
mento de situações de interesse pessoal;
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública.
VI. levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhe-
cimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimen-
to desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração;
VII. zelar pela economia do material e a conservação do patrimônio público;
VIII. guardar sigilo sobre assunto da repartição;
IX. manter conduta compatível com a moralidade administrativa;
X. ser assíduo e pontual ao serviço;
XI. tratar com urbanidade as pessoas;
XII. representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.

Como se pode perceber, os deveres contidos nos incisos I e II são de cum-


primento de difícil averiguação, dado o caráter de subjetividade das no-
ções de “zelo”, “dedicação” e “lealdade”.
Determinar se um servidor exerce as atribuições de seu cargo com zelo e
dedicação é, no mínimo, uma tarefa difícil, mas se ele sequer exerce suas
atribuições ou realiza o que se espera dele fora de prazos estabelecidos
ou de maneira incorreta, é certo que ele não cumpre com aquele dever.
Esta lógica, no entanto, não auxilia na compreensão da exigência de “le-
aldade às instituições”, sobre a qual, objetivamente, só se pode dizer que

100 Gestão de Pessoas no Setor Público


não envolve lealdade a indivíduos, pois os deveres seguintes deixam claro
que o servidor deve agir contra irregularidades e ilegalidades decorrentes
das ações de qualquer outro servidor – até mesmo seu superior.
O inciso III, por sua vez, traz um dever mais objetivo, de que sejam obser-
vadas todas as normas legais e regulamentares, mas que é tão amplo e
genérico que também não tem exigibilidade direta.
Já o dever do inciso IV é mais interessante, devido à exceção explícita nele
contida, de que o servidor não deve obedecer às ordens manifestamente
ilegais. Não deveria mesmo que este inciso inexistisse; porém, a sua exis-
tência é útil para que o servidor possa, através deste dispositivo, facilmen-
te justificar o descumprimento de ordem ilegal.
Vale ressaltar, todavia, que a ordem deve ser manifestamente ilegal, o que
significa que, se há dúvida quanto à sua legalidade, o servidor deve cum-
pri-la. Isto, evidentemente, não obsta a possibilidade de ele levar esta pre-
ocupação ao conhecimento da autoridade imediatamente superior, pois é,
inclusive, dever do servidor fazê-lo com relação a qualquer irregularidade –
conforme o inciso VI. Ademais, se o servidor tiver suspeita de envolvimento
de sua autoridade imediatamente superior na irregularidade, poderá até
levar a questão diretamente ao conhecimento de outra autoridade compe-
tente para apurá-la, como aquela autoridade superior à primeira.
O dever do inciso V, de atender com presteza àquelas determinações, tem
caráter subjetivo ou objetivo dependendo da situação, pois casos como
os que se encaixam nas alíneas “b” e “c” certamente terão prazos preesta-
belecidos em lei para serem cumpridos.
Por sua vez, os deveres dos incisos VII, IX e XI têm exigibilidade limitada
pela determinação em regulamentos internos do órgão ou entidade do
servidor, que podem estabelecer regras para, por exemplo, conservação
de papel ou conduta ao lidar com outras pessoas.
Já os deveres dos incisos VIII e X, de certo modo, correspondem a outras
determinações da Lei nº 8.112/90, como àqueles que tratam de eventuais
faltas do servidor e a previsão de demissão para o servidor que revela in-
formação sigilosa que obteve em razão do cargo.

Gestão de Pessoas no Setor Público101


Por último, há o dever do inciso XII, de o servidor “representar contra ile-
galidade, omissão ou abuso de poder”, para o qual o parágrafo único do
artigo acrescenta que a representação “será encaminhada pela via hierár-
quica e apreciada pela autoridade superior àquela contra a qual é formu-
lada, assegurando-se ao representando ampla defesa”.
Além da estranheza de não se permitir o acesso direto à autoridade com-
petente para julgar a decisão em hipótese similar à do inciso VI, acrescen-
ta-se que o servidor que representa contra a ilegalidade omissão ou abu-
so de poder não deveria precisar de ampla defesa, pois a representação
não é contra ele. Assim, da forma como está escrito o dispositivo, presu-
me-se que o legislador está “reconhecendo expressamente que o repre-
sentando, que é o autor da representação contra alguém, estará sujeito a
retaliação, vingança, represália, perseguição” (RIGOLIN, 2012, p. 297).
É um dispositivo preocupante que, na prática, faz com que todo servidor
que tenha conhecimento dele evite representar como a lei pretende que
faça – especialmente em caso de subordinado que teria de se posicionar
contra seu superior – para evitar ser alvo de represália.

LINK
A título de curiosidade, segue em seguida o Estatuto de
Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo. Como se
pode ver na sua seção sobre deveres, é comum a reprodução de
vários desses dispositivos federais analisados no âmbito esta-
dual. Ademais, é interessante notar as diferenças, como neste
caso, em que o legislador estadual julgou necessário adicionar
dever de “apresentar-se convenientemente trajado em servi-
ço”. SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Lei n. 10.261,
de 28 de outubro de 1968, consolidada e anotada. Estatuto
dos funcionários públicos civis. São Paulo, Disponível em:
<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavir
tual/Estatuto%20do%20funcionarios%20publicos.pdf>.
Acesso em: 20 jul. 2018.

102 Gestão de Pessoas no Setor Público


2. Proibições

O artigo 117 da Lei nº 8.112/90 proíbe ao servidor, por meio de seus incisos:
I. ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do
chefe imediato;
II. retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer docu-
mento ou objeto da repartição;
III. recusar fé a documentos públicos;
IV. opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo
ou execução de serviço;
V. promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição;
VI. cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei,
o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu
subordinado;
VII. coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação
profissional ou sindical, ou a partido político;
VIII. manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, côn-
juge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;
IX. valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detri-
mento da dignidade da função pública;
X. participar de gerência ou administração de sociedade privada, personi-
ficada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de
acionista, cotista ou comanditário;
XI. atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas,
salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de pa-
rentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro;
XII. receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie,
em razão de suas atribuições;
XIII. aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro;
XIV. praticar usura sob qualquer de suas formas;
XV. proceder de forma desidiosa;
XVI. utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou ati-
vidades particulares;
XVII. cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa,
exceto em situações de emergência e transitórias;

Gestão de Pessoas no Setor Público103


XVIII. exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício
do cargo ou função e com o horário de trabalho;
XIX. recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado.

Do não respeito a qualquer destas proibições decorrem penalidades para


o servidor, que variam em termos de gravidade – como se verá ao se tratar
deste assunto específico. Ademais, sendo, de modo geral, mais objetivas
estas proibições do que os deveres listados no artigo anterior, mais fácil
é a averiguação do respeito a elas e a sua compreensão; assim, julgam-se
autoexplicativas proibições como aquelas dispostas nos incisos I, II, XII e
XIII. Contudo, alguns apontamentos clarificadores ainda são necessários
e o primeiro deles é sobre o inciso III.
A proibição de “recusar fé a documentos públicos” deste inciso pode ser
entendida como uma obrigação do servidor de aceitar todos os documen-
tos produzidos por membros de entidades ou órgãos públicos ou quais-
quer outros que tenham competência para emitir documentos com fé
pública, como cartórios. Não se deve, portanto, duvidar da validade de
tais documentos ou da veracidade das informações neles contidas, nem
recusá-los por completo; o que não significa que deve ser aceito docu-
mento que se diga ter fé pública, mas que evidentemente não tem, como
aqueles obviamente falsificados ou adulterados.
O inciso V traz uma proibição que deve ser interpretada à luz do princípio
geral da razoabilidade, pois “manifestação de apreço ou desapreço” im-
plica aprovação ou desaprovação de alguém ou algo, o que é uma ideia
muito ampla. Há que se aceitar “manifestação” como algo maior que um
mero comentário ocasional de um servidor para outro que não gera rea-
ção significativa no segundo; do contrário seria quase impossível respei-
tar o presente dispositivo legal. O intuito da proibição é o de preservar a
civilidade no recinto da repartição e a proibição do inciso VII oferece um
exemplo de que tipo de manifestações pretende-se prevenir, pois da ma-
nifestação de apreço por um indivíduo ou ideal político frequentemente
se seguirá manifestação contrária por outros, gerando uma situação de
animosidade improdutiva e, consequentemente, indesejável no exercício
do serviço público.

104 Gestão de Pessoas no Setor Público


A proibição do inciso VIII, por sua vez, visa coibir a ocorrência de nepotis-
mo, pois cargos e funções de confiança são de nomeação livre, sem a ne-
cessidade, por exemplo, de avaliação objetiva da qualificação do servidor
para o cargo por meio de concurso público. Vale ressaltar que a proibição
não se estende para cargos efetivos, pois, como se mencionou, há com-
provação objetiva da adequação da pessoa ao cargo, portanto o legisla-
dor julgou que seria excessiva a proibição nestes casos.
Quanto à proibição do inciso X, vale notar que, apesar de já apresentar
algumas exceções no próprio inciso, são acrescidas mais duas no pará-
grafo único – ou seja, não se tratam de exceções às exceções. A primeira
é para o servidor que participa de “conselhos de administração e fiscal de
empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamen-
te, participação no capital social ou em sociedade cooperativa constituída
para prestar serviços a seus membros” e a segunda é para o gozo da li-
cença para o trato de interesses particulares, contanto que a situação não
se enquadre em nenhum caso definido em lei de conflito de interesses.
Esta licença não confere remuneração, portanto é compreensível que se
permita ao servidor fazer o que quiser durante o período que goza dela.
O inciso XIV, como bem coloca Rigolin, “constitui um dos mais ridículos,
e a palavra é esta, dispositivos de todo o texto” (2012, p. 305). Usura é
simplesmente o empréstimo com cláusula que prevê pagamento de juros
e seria absolutamente absurdo proibi-la “sob qualquer de suas formas”
como a interpretação literal do inciso sugere. Assim, para que não se su-
gira o completo esquecimento do dispositivo, faz-se interpretação de que
a usura proibida é a que constitui crime, em qualquer das formas que
possa assim ser considerada; como no caso previsto no artigo 4º da Lei nº
1.521/51, que dispõe sobre crimes contra a economia popular.
Infelizmente, o inciso seguinte, que é o último que merece detalhamen-
to, é outro dispositivo de qualidade questionável. Neste caso, porém, por
ser excessivamente vago e, consequentemente, inaplicável, pois “proce-
der de forma desidiosa” significa meramente agir de forma negligente ou
descuidada.

Gestão de Pessoas no Setor Público105


3. Acumulação

O tema da acumulação de cargos está disciplinado nos artigos 118 a 120


da Lei nº 8.112/90, que devem ser lidos em conjunto com as determina-
ções dos incisos XVI e XVII do artigo 37 da Constituição Federal.
Deste conjunto de normas, extrai-se que é vedada a acumulação remune-
rada de cargos, empregos – que se referem àqueles que estão sob o regi-
me da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – e funções em autarquias,
fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista,
suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pela
União, Distrito Federal, Estados, Territórios ou Municípios. É, inclusive,
proibida a acumulação de vencimento destes cargos, funções e empre-
gos com proventos de inatividade, que são os referentes à aposentadoria
e situação de disponibilidade.

PARA SABER MAIS


Como mencionado, emprego é o termo usado para aqueles
trabalhadores que estão sob o regime da CLT. Se você tiver in-
teresse em saber mais sobre essa consolidação de leis, pode
conferir a obra “CLT Comentada” (ALMEIDA et al., 2015) em
que quatro advogados colaboraram para fazer apontamen-
tos e detalhamentos para este imenso texto legal de mais de
800 artigos e vários anexos.

As únicas exceções a essa regra geral são as previstas na Constituição,


que permite a acumulação remunerada de dois cargos de professor; de
um cargo de professor com outro técnico ou científico; ou de dois cargos
ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regu-
lamentadas. Contudo, conforme disposição do § 2º do artigo 118, mesmo
nestes casos ainda é necessário que seja comprovada a compatibilidade
de horário entre os cargos acumulados.

106 Gestão de Pessoas no Setor Público


O artigo 119, por sua vez, determina que não se pode exercer dois cargos
em comissão nem de modo não remunerado, exceto se temporariamen-
te, optando-se pela remuneração de um ou outro. O dispositivo também
proíbe que o servidor seja remunerado por participar de colegiado de
órgão de deliberação coletiva.

Contudo, há outra exceção no parágrafo único, que ressalta que é pos-


sível a acumulação de remuneração de cargo em comissão com o que
se percebe a título de participação em conselhos de “empresas públicas
e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem
como quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou indire-
tamente, detenha participação no capital social”.

Por fim, o artigo 120 determina que o servidor que acumulou licitamente
dois cargos efetivos deverá ser afastado de ambos quando for investido
em cargo citado. A segunda parte do dispositivo excetua da proibição a
acumulação remunerada de um dos cargos efetivos com o cargo em co-
missão, mas ela é manifestamente inconstitucional, pois tenta permitir
algo que a Constituição proíbe.

PARA SABER MAIS


Para saber mais sobre este tema de conflito de normas com
a Constituição Federal, você pode ler o capítulo XII sobre a
“Teoria da Inconstitucionalidade” da obra “Curso de Direito
Constitucional” de André Ramos Tavares (2017) que, entre
outros assuntos, trata da tipologia da inconstitucionalidade
das leis, dividindo os tipos de inconstitucionalidade do modo
clássico: em formal e material, total e parcial, originária e su-
perveniente, e expressa e implícita.

Gestão de Pessoas no Setor Público107


4. Responsabilidades

Responsabilidade, aqui, é termo utilizado no sentido de um servidor que


responde civil, penal e administrativamente por exercício irregular das
atribuições de seu cargo, conforme ressalta o artigo 121. Contudo, vale
lembrar que não é da Administração a competência pelo julgamento de
casos nas esferas civil e penal.

Assim, o artigo seguinte, que determina que o servidor será responsabilizado


civilmente por “ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em
prejuízo ao erário ou a terceiros”, em verdade, significa que a Administração
irá se movimentar para ajuizar ação civil indenizatória contra o servidor.

Ato omissivo caracteriza-se quando o servidor não age em situação que de-
veria, ato comissivo é uma ação de fato. Doloso, por sua vez, é o ato intencio-
nal e culposo é aquele ocasionado por negligência – descuido ou desatenção
–, imprudência – ação fora dos limites do bom senso – ou imperícia – falta de
conhecimento, técnica ou habilidade do indivíduo que os deveria ter.

Na esfera administrativa, a indenização ao erário se dá na forma do artigo


46 que confere prazo de trinta dias para o servidor fazê-lo, com a pos-
sibilidade de parcelar o valor em parcelas de, no mínimo, dez por cento
de sua remuneração, provento ou pensão. Contudo, nos casos em que
o prejuízo ao erário é resultado de ato doloso do servidor, estas formas
benéficas de pagamento só se aplicam se o servidor não tiver bens que
assegurem a execução judicial do débito.

Ademais, embora o artigo 122 mencione a responsabilização civil do servi-


dor por prejuízo a terceiros, conforme elucida o § 2º, esta só se dá perante
a Fazenda Pública, na forma de ação regressiva. Portanto, é necessário
que o terceiro prejudicado pelo servidor seja, primeiro, ressarcido pela
Administração – que tem o dever de agir para corrigir suas irregularida-
des e ilegalidades –, que só depois irá ajuizar ação contra o servidor, para
que ressarça a Administração pelo valor referente ao ressarcimento que
ela teve de fazer, em razão do ato irregular do servidor.

108 Gestão de Pessoas no Setor Público


O § 3º, por sua vez, traz disposição inspirada pelo Direito Civil, que deter-
mina que, em caso de falecimento do servidor, estende-se aos sucessores
o dever de reparar o dano causado por ele, até o limite do valor da heran-
ça recebida.
Os artigos 123 e 124 são dispositivos, francamente, inúteis; o primeiro,
por afirmar o óbvio de que crimes e contravenções são abrangidos pela
responsabilidade penal, e o segundo por, estranhamente, repetir parte
do artigo 122.
Os artigos 125 e 126 também não têm razão de existir na Lei nº 8.112/90,
pois são determinações já abordadas em outros instrumentos legais, mas,
não sendo a presente disciplina de curso de Direito, vale ressaltar o que
neles está disposto.
O primeiro artigo reafirma que é possível cumularem-se sanções das es-
feras civis, penais e administrativas. Já o segundo ressalta que, no caso de
absolvição criminal determinar que o fato não ocorreu ou que o servidor
não cometeu o ato irregular, não caberá à esfera administrativa negar
esta realidade, portanto será afastada a responsabilidade administrativa
junto à penal – e vale notar que o mesmo deverá ocorrer na esfera civil.
Finalizando o tópico das responsabilidades, o artigo 126-A determina que
o servidor que leva irregularidades ao conhecimento de autoridade –
como no já tratado caso do artigo 116, VI – não poderá ser responsabiliza-
do civil, penal ou administrativamente. Todavia, embora o legislador pos-
sa fazer esta determinação para a esfera administrativa, não poderia tê-lo
feito para a civil ou penal, já que não cabe à lei ordinária, por exemplo,
obstar o direito de um servidor ajuizar ação civil contra outro. Portanto,
esta proteção do servidor denunciante só tem efeito com relação à res-
ponsabilidade administrativa.

5. Penalidades

Conforme o disposto no artigo 127, as penalidades de que trata a Lei nº


8.112/90 têm caráter disciplinar. São elas: a advertência, a suspensão, a
demissão, a cassação da aposentadoria ou disponibilidade e as destitui-
ções de cargo em comissão ou função comissionada.

Gestão de Pessoas no Setor Público109


Antes de analisar as características de cada penalidade, no entanto, faz-se
importante mencionar o disposto no artigo 128 que lista os fatores que
deverão ser considerados para que a aplicação da penalidade se adeque
ao ato que a gerou. Assim, é necessário que se tenha em mente, primei-
ramente, a gravidade da infração cometida; de modo que não se permi-
ta que uma infração grave seja punida com penalidade mínima – o que
poderia incentivar sua reincidência – ou, pior, que uma pequena infração
não resulte em penalidade grave, injusta, para o servidor.
Além disto, são analisados também os danos cometidos para o serviço
público, o que significa que a intenção do servidor não é tão importan-
te quanto o que de fato ocorre, já que os danos podem, porventura, ser
maiores ou menores do que o pretendido. Ademais, são consideradas
quaisquer circunstâncias acessórias ao caso, que podem agravar ou ate-
nuar a pena – como o servidor ter sido forçado a cometer a irregularidade
– e também os antecedentes funcionais do servidor.
Ainda, o ato de imposição, por força do parágrafo único, terá de trazer
toda a fundamentação legal e as causas da sanção disciplinar, para que
o servidor possa estar ciente destas informações, pois é só munido delas
que ele terá capacidade de se defender adequadamente. Isto é impor-
tante também, pois como se faz necessário o embasamento legal, pre-
vine-se, por meio desse parágrafo único, a possibilidade de aplicação de
penalidades sem devida justificação.
Para finalizar esta introdução sobre o tema das penalidades, trazem-se
as disposições dos artigos 141 e 142 que determinam, respectivamente,
quem são as autoridades que devem aplicar as penalidades e quais são
os prazos de prescrição da ação disciplinar.

ASSIMILE
A título de assimilação, lembra-se aqui o que já se explicou em
aula passada sobre prescrição. Ela constitui a perda do direito
de ajuizar ação. Assim, perde-se a possibilidade de se defender
ou tentar se fazer efetivar um direito em juízo, não se perde este
direito em si. Embora seja sutil, esta diferença é importante.

110 Gestão de Pessoas no Setor Público


Assim, os referidos artigos determinam que as penalidades serão aplicadas:
I. pelo Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do Poder
Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República,
quando se tratar de demissão e cassação de aposentadoria ou disponibili-
dade de servidor vinculado ao respectivo Poder, órgão, ou entidade;
II. pelas autoridades administrativas de hierarquia imediatamente inferior
àquelas mencionadas no inciso anterior quando se tratar de suspensão su-
perior a 30 (trinta) dias;
III. pelo chefe da repartição e outras autoridades na forma dos respectivos
regimentos ou regulamentos, nos casos de advertência ou de suspensão de
até 30 (trinta) dias;
IV. pela autoridade que houver feito a nomeação, quando se tratar de des-
tituição de cargo em comissão.

E que a Administração não poderá disciplinar administrativamente o ser-


vidor – ou seja, não se fala aqui das esferas civil e penal – se transcorrido
prazo, contado de quando o fato se tornou conhecido, de:
I. em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação
de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão;
II. em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
III. em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.

No entanto, há uma exceção importante para estes prazos, que é a do § 2º


do artigo 142. Se à infração disciplinar corresponder algum crime – que é
o caso de várias das situações punidas com demissão –, este prazo pres-
cricional da esfera administrativa corresponderá ao prazo equivalente da
esfera penal.
Por fim, antes de entrar na análise de cada penalidade, acrescenta-se que
o § 3º e o § 4º determinam que estes prazos prescricionais administrativos
são interrompidos pela abertura de sindicância ou instauração de proces-
so disciplinar – sumário ou ordinário – e continuam após estes processos.

5.1. Advertência e suspensão

Expostas as regras gerais sobre penalidades, passa-se, então, para a ex-


plicação sobre a advertência. De acordo com o artigo 130, ela deve se dar

Gestão de Pessoas no Setor Público111


por escrito e aplica-se “nos casos de violação de proibição constante do
art. 117, incisos I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional previs-
to em lei, regulamentação ou norma interna, que não justifique imposição
de penalidade mais grave”, como é o caso de vários dos deveres genéricos
do artigo 116, como se mencionou na parte sobre eles.

Já a suspensão, que tem duração máxima de noventa dias, é utilizada em


três casos diferentes. O primeiro é aquele em que o servidor repetida-
mente comete faltas que são punidas por advertência – uma mesma ou
várias diferentes. Não há, estipulação sobre quantas advertências devem
anteceder uma suspensão, mas evidentemente deve ser mais de uma.

O segundo caso é mais preciso, pois determina que é punido com suspen-
são o servidor que viole quaisquer das proibições do artigo 117 que não
sejam punidas com advertência ou demissão; ou seja, somente as dos
incisos XVII e XVIII.

Único, o terceiro caso tem prazo máximo menor, de quinze dias, e se apli-
ca em circunstância em que o servidor injustificadamente se recusa a ser
submetido a inspeção médica, quando isto for determinado por autori-
dade competente. Diferentemente também dos outros dois casos, esta
suspensão cessa logo que o servidor se submete à inspeção.

Outra característica interessante da suspensão é que, nos três casos, ao


invés de suspender o servidor, a autoridade competente poderá deter-
minar que ele seja mantido em serviço, por razão de conveniência, e que
seja aplicada multa no valor de cinquenta por cento por dia sobre a re-
muneração dele. Assim, se suspensão de noventa dias for convertida, o
servidor, essencialmente, perderá valor equivalente a quarenta e cinco
dias de serviço.

No artigo 131, a Lei nº 8.112/90 confere ao servidor o benefício de cance-


lamento de registros, “após o decurso de 3 (três) e 5 (cinco) anos de efe-
tivo exercício, respectivamente, se o servidor não houver, nesse período,
praticado nova infração disciplinar”.

112 Gestão de Pessoas no Setor Público


É evidente que cancelamento de registros significa o simples “esqueci-
mento” daquelas ocorrências por parte da Administração e nada mais.
Desnecessária se faz, portanto, a determinação do parágrafo único da-
quele artigo, que afirma que “o cancelamento da penalidade não surtirá
efeitos retroativos”, já que isto sequer ocorre – o registro é cancelado, não
a penalidade.

5.2. Demissão

A penalidade grave de demissão, por sua vez, só se aplica nos treze casos
enumerados pelos incisos do artigo 132, quais sejam:
I. crime contra a administração pública;
II. abandono de cargo;
III. inassiduidade habitual;
IV. improbidade administrativa;
V. incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição;
VI. insubordinação grave em serviço;
VII. ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima
defesa própria ou de outrem;
VIII. aplicação irregular de dinheiros públicos;
IX. revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo;
X. lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional;
XI. corrupção;
XII. acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas;
XIII. transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.

Os crimes contra a administração pública são todos aqueles assim defini-


dos, que se encontram sob o título XI, “Dos Crimes Contra a Administração
Pública”, do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/40), que têm penas pró-
prias que se somam à penalidade administrativa de demissão. Dentre
aqueles vários se encontram crimes como o de peculato, corrupção pas-
siva, violência arbitrária e abandono de função.

É interessante a verificação deste último crime, estabelecido pelo artigo


323 do Código Penal como o ato de “abandonar cargo público, fora dos

Gestão de Pessoas no Setor Público113


casos permitidos em lei”, pois o inciso II do artigo 132 da Lei nº 8.112/90
lista o abandono de cargo como outra hipótese de demissão. É, portanto,
desnecessário o inciso, pois o caso já estava abordado pelo inciso I.

Contudo, no artigo 138, a Lei nº 8.112/90 acrescenta algo que o Código


Penal não traz, que é a definição exata de abandono de cargo como “a
ausência intencional do servidor ao serviço por mais de trinta dias conse-
cutivos”. Assim, se o servidor puder comprovar que não teve intenção de
se ausentar não se configurará o crime nem será aplicada a penalidade
administrativa.

Ademais, não constitui abandono de cargo a ausência que não é consecu-


tiva. Esta poderá, mas não necessariamente irá, enquadrar-se na hipótese
do inciso III, de inassiduidade habitual, pois, conforme o artigo 139, “enten-
de-se por inassiduidade habitual a falta ao serviço, sem causa justificada,
por sessenta dias, interpoladamente, durante o período de doze meses”.

EXEMPLIFICANDO
Considere-se um servidor que faltou ao serviço por um total
de 45 dias, dentro de um período de doze meses. Se estas
faltas foram intencionais e consecutivas, estará configurado
o abandono de cargo, pois totalizaram mais de trinta dias de
falta. Porém, se as faltas não foram consecutivas, isto não
ocorrerá, e nem estará configurada a inassiduidade habitual,
pois a inassiduidade habitual tem como requisito a soma de
sessenta dias de falta, não trinta.

Quanto a estas duas hipóteses dos incisos II e III, há procedimento sumá-


rio que deve ser seguido para apurar os fatos e julgar a intencionalidade
da ausência do servidor público. Este procedimento também é utilizado
para lidar com casos de acumulação ilegal de cargos, empregos ou fun-
ções públicas; no entanto, há uma diferença nestes últimos, pois neles se

114 Gestão de Pessoas no Setor Público


oferece ao servidor a possibilidade de optar por um dos cargos acumu-
lados, dentro de um prazo de dez dias contados de quando é notificado
– por meio de sua chefia imediata – para fazê-lo; o que irá obstar a instau-
ração do procedimento.
O referido procedimento sumário está disciplinado pelo artigo 133 da Lei
nº 8.112/90 e é conduzido pela autoridade competente para promover
sindicância ou processo administrativo disciplinar – que será estudado
em momento.
A instauração do procedimento se dá com a publicação de um ato especí-
fico. Este ato deve: constituir uma comissão composta por dois servidores
estáveis; indicar o nome e a matrícula do servidor contra o qual se instau-
ra o procedimento, bem como qual foi a sua transgressão – acumulação
ilegal de cargos, abandono de cargo ou inassiduidade habitual –; e descre-
ver os fatos pertinentes para o caso.
Feito isto, se iniciará a fase de instrução sumária, em que será lavrado um
termo de indiciação nos três dias seguintes, no qual a comissão deverá
transcrever as informações contidas no ato que instaurou o procedimen-
to. O uso do termo “transcrever”, vale ressaltar, significa que devem ser
copiadas as informações sem qualquer modificação. Ademais, será citado
o servidor – diretamente ou por meio de sua chefia imediata –, para que
no prazo de cinco dias apresente defesa escrita.
Apresentada a defesa, a comissão elaborará relatório que será remetido
à autoridade instauradora para julgamento, contendo: resumo dos fatos
e argumentos; indicação dos dispositivos legais pertinentes; e opinião so-
bre a licitude da acumulação, intencionalidade da ausência ao serviço ou
justificativa para a inassiduidade habitual – conforme o caso.
Após receber o relatório, a autoridade julgadora terá cinco dias para pro-
ferir sua decisão; contudo, o § 4º do artigo 133 abre uma exceção que é tão
ampla que quase constitui regra. Dispõe ele que, em caso de a penalidade
ser de demissão, será uma das autoridades do artigo 141, I – Presidente
da República, pelos Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos
Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República; de acordo com

Gestão de Pessoas no Setor Público115


o órgão ou entidade do servidor – que proferirão o julgamento. Conforme
o artigo 132, a penalidade de demissão é a regra para os casos abrangi-
dos pelo procedimento sumário; portanto, só não serão essas autorida-
des do artigo 141, I, encarregadas desse julgamento em situação em que
existirem atenuantes que justificam a redução da penalidade.
Do mais, o § 7º estabelece prazo máximo de trinta dias para a conclusão
do procedimento sumário – o que faz sentido, pois do contrário ele não
seria “sumário” –, prorrogáveis por quinze dias. Ademais, o § 8º determina
que as disposições sobre procedimentos administrativos ordinários de-
vem ser utilizadas subsidiariamente às aqui mencionadas.
Ademais, o artigo 136 determina que, nos casos de improbidade adminis-
trativa, aplicação irregular de dinheiros públicos, lesão aos cofres públi-
cos e dilapidação do patrimônio nacional, e corrupção, o demitido terá de
ressarcir ao erário os valores referentes à infração. E somente isto, pois a
outra parte do artigo, que pretendia colocar em situação de indisponibi-
lidade os bens do demitido, é uma determinação que lei nenhuma pode
fazer, pois isto só pode decorrer de ordem judicial.
Por fim, o artigo 137 estabelece que o demitido que violou a proibição
de valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em de-
trimento da dignidade de sua função, ou a de participar de gerência ou
administração de sociedade privada ou exercer o comércio, será conside-
rado incompatível para investidura em novo cargo público federal por cin-
co anos. O parágrafo único do artigo, vale notar, é inconstitucional, pois
pretende estabelecer pena perpétua – para o servidor não poder nunca
mais retornar ao serviço público federal –, o que é absolutamente proibi-
do, conforme a alínea “b” do inciso XLVII do artigo 5º da Constituição.

5.3. Cassação de aposentadoria ou disponibilidade, destituição


de cargo em comissão e destituição de função comissionada

Além do que já se mencionou sobre as penalidades em geral, acrescentam-


se alguns apontamentos particulares sobre as penalidades de cassação
de aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e

116 Gestão de Pessoas no Setor Público


destituição de função comissionada. Estas penalidades estão agrupadas
por uma questão meramente didática, já que há poucos dispositivos le-
gais especificamente sobre elas.

Primeiramente, o artigo 134 determina que as faltas puníveis por demis-


são ocasionarão a cassação da aposentadoria ou disponibilidade de um
servidor. Contudo, considera-se inaplicável este dispositivo com relação
à aposentadoria, pois “quando concedida regularmente, a aposentadoria
não pode ser prejudicada por atos ou fatos subsequentes, relativos ao
servidor” (RIGOLIN, 2012, p. 333), só pode ser cassada quanto obtida por
modo irregular ou quando a Administração cometeu erro.

Com relação à cassação de disponibilidade, não estão definidas as conse-


quências exatas deste ato e todas as alternativas que se imagina encontram
obstáculos – como de caráter constitucional, já que a Constituição determi-
nou que a disponibilidade perdura até o aproveitamento do servidor, sem
abrir exceções – que obstam a sua aplicabilidade (RIGOLIN, 2012, p. 334).

Disto passa-se para o artigo 135, que determina que, nos casos que ser-
vidor em cargo em comissão cometer infração sujeita às penalidades de
suspensão e de demissão, será destituído do cargo.

Por fim, menciona-se que os artigos 136 e 137, que foram abordados no
final da parte sobre demissão, aplicam-se igualmente ao servidor que foi
destituído de cargo em comissão.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Reflita sobre o que você estudou nesta aula para julgar se são ade-
quadas ou excessivamente amenas ou graves cada uma das penali-
dades estabelecidas para cada infração do servidor. Alguns autores
afirmam, por exemplo, que há muitos casos em que o legislador foi
excessivamente benevolente com o servidor que age irregularmente.
Você concorda com isto?

Gestão de Pessoas no Setor Público117


6. Considerações finais

• Os deveres dos servidores públicos definem linhas gerais de compor-


tamento que devem ser seguidos. Embora seus descumprimentos
possam ser penalizados com advertências, é mais comum que sua
exigibilidade se dê de forma indireta, através de outras normas mais
objetivas relacionadas a eles.

• As proibições têm maior exigibilidade do que os deveres, por terem


caráter mais objetivo. Contudo, mesmo elas não devem ser todas
interpretadas de modo literal, pois do contrário gerariam absurdos
como a proibição de usura genericamente considerada.

• Embora a Lei nº 8.112/90 discorra sobre responsabilidade civil e


penal, deve-se focar nos dispositivos sobre a responsabilidade admi-
nistrativa, que a esta lei cabe adequadamente regular. Do mais, é
necessário cuidado na leitura daqueles dispositivos que tratam de
responsabilidade.

• Há várias determinações precisas e repletas de exceções para a apli-


cação de penalidades, mas não se deve esquecer que, ao final, a
penalidade deve ainda ser proporcional à falta cometida, os danos
causados e os fatos agravantes e atenuantes de cada caso.

Glossário

• Ato omissivo: é o ato daquele que não age quando tem dever de
agir.

• Ato comissivo: é ato daquele que de fato age, ou seja, não se omite.

• Ato doloso: é o ato que é intencional.

• Ato culposo: é o ato que não é intencional e que resulta de negli-


gência, imprudência ou imperícia.

• Negligência: é a característica de falta de atenção, o descuido.

118 Gestão de Pessoas no Setor Público


• Imprudência: é a característica da ação fora dos limites do bom
senso, que não se espera de uma pessoa qualquer comum, em
situação ordinária.

• Imperícia: é a característica da ação prejudicada pela falta de téc-


nica, conhecimento ou habilidade de um indivíduo.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 05
1. “Não deve ser feita interpretação literal da proibição de
prática da usura, do inciso XIV do artigo 117 PORQUE esta
interpretação geraria uma proibição excessiva e absurda,
já que a usura se constitui em qualquer empréstimo com
cláusula de juros”.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que:
a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifi-
ca a primeira.
b) as duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) a primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é falsa.
d) a primeira afirmação é falsa, mas a segunda é verdadeira.
e) as duas afirmações são falsas.
2. De acordo com o material estudado, com relação aos de-
veres do servidor público, que estão contidos nos incisos
do artigo 116 da Lei nº 8.112/90, a única alternativa dentre
as seguintes que apresenta uma afirmativa inteiramente
correta é:
a) O dever de exercer com zelo e dedicação as atribuições
do cargo é considerado como uma exigência de caráter
preciso e objetivo.

Gestão de Pessoas no Setor Público119


b) O dever de observar as normas legais e regulamenta-
res comporta exceções.
c) O dever de levar irregularidades ao conhecimento de
autoridade prevê que esta deverá ser sempre a autori-
dade imediatamente superior ao servidor.
d) O dever de atendimento com presteza das hipóteses
delineadas nas alíneas “a”, “b” e “c” do inciso V, é um
dos que tem mais direta exigibilidade de cumprimento,
pois àquelas hipóteses frequentemente correspondem
prazos preestabelecidos em lei.
e) Ao dever de representar contra ilegalidade, omissão ou
abuso de poder corresponde proteção legal que previ-
ne represália civil, penal e administrativa do represen-
tado contra o servidor representante.
3. “Os artigos 134 e 136 e o parágrafo único do 137 são to-
dos dispositivos problemáticos. O primeiro, pois a cassa-
ção de disponibilidade é sem sentido e a da aposentadoria
só pode ocorrer em caso que o servidor . O segundo
artigo, pois, embora a sua segunda parte determine ade-
quadamente que o ressarcimento de valores ao erário não
prejuíza eventual ação penal, sua primeira parte estabe-
leceu caso de indisponibilização de bens, o que .Eo
parágrafo único daquele artigo que incompatibiliza o ex-
servidor para investidura em cargo público por 5 anos, é
problemático, pois estabelece pena , o que é absoluta-
mente proibido no Brasil”.
A partir do texto, assinale a alternativa que contém as pa-
lavras que completam as lacunas.

a) comete crime contra a administração pública; só pode


decorrer de decisão judicial; perpétua.

120 Gestão de Pessoas no Setor Público


b) comete crime contra a administração pública; só pode
decorrer de decisão judicial; grave.
c) a obteve de modo irregular; só pode decorrer de deci-
são penal; grave.
d) a obteve de modo irregular; só pode decorrer de deci-
são penal; perpétua.
e) a obteve de modo irregular; só pode decorrer de deci-
são judicial; perpétua.

Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Amador P. de. et al. CLT comentada. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 20 jul. 2018.
. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>.
Acesso em: 20 jul. 2018.
. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis
do Trabalho. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 20 jul. 2018.

. Lei nº 1.521, de 26 de dezembro de 1951. Altera dispositivos da legislação vi-


gente sobre crimes contra a economia popular. Brasília. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l1521.htm>. Acesso em: 20 jul. 2018.

. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos


servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 20 jul. 2018.

RIGOLIN, I. B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei n.
8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gestão de Pessoas no Setor Público121


SÃO PAULO. Procuradoria Geral do Estado. Lei n. 10.261, de 28 de outubro de
1968 consolidada e anotada. Estatuto dos funcionários públicos civis. São Paulo.
Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/
Estatuto%20do%20funcionarios%20publicos.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2018.
TAVARES, André R.. Curso de direito constitucional. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

Gabarito – Tema 05

Questão 1 – Resposta: A
De fato, ambas as afirmações são verdadeiras e a interpretação li-
teral daquele dispositivo legal geraria uma proibição absurda. A in-
terpretação que se deu no material é a de que o inciso refere-se ao
“crime de usura”, não à usura propriamente dita e que, portanto, o
crime de usura, em qualquer de suas formas, não deve ser praticado
por servidor público.

Questão 2 – Resposta: D
A primeira alternativa está incorreta, pois o dever mencionado é vago
e a análise de seu cumprimento é subjetiva. Por sua vez, a segunda
alternativa está incorreta, pois não há exceções para o dever de ob-
servar normas legais e regulamentares. Já a terceira alternativa está
incorreta, pois, no caso de suspeita de envolvimento da autoridade
imediatamente superior na irregularidade, o servidor pode levá-la
ao conhecimento direto de outra autoridade competente. Por fim, a
última alternativa está incorreta, pois a lei só protege de represália o
servidor na esfera administrativa.

Questão 3 – Resposta: E
A primeira alternativa está incorreta devido ao fato que, quando con-
cedida regularmente, a aposentadoria não pode ser prejudicada por
nenhum fato superveniente a ela; portanto, o cometimento de crime
contra a administração pública não gera sua cassação. A segunda al-
ternativa, também incorreta, repete este erro e acrescenta outro ao

122 Gestão de Pessoas no Setor Público


sugerir que o estabelecimento de “pena grave” é proibido no Brasil,
o que é absurdo. A terceira alternativa está incorreta por repetir este
último erro e também por sugerir que a indisponibilização de bens
só pode decorrer de decisão penal, o que excluiria a decisão de pro-
cesso civil. Por fim, a quarta alternativa também está incorreta, mas
só por repetir este último erro.

Gestão de Pessoas no Setor Público123


TEMA 06

PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR

Objetivos

• Tomar conhecimento sobre as disposições gerais


que tratam da aplicação de sindicância e instauração
de processos administrativos, bem como preveem a
figura do afastamento preventivo.

• Aprender como se dão as três fases do processo


administrativo disciplinar: de instauração, inquérito e
julgamento.

• Descobrir as peculiaridades acerca da admissão de


revisão de processos administrativos e de como este
processo é conduzido.

Gestão de Pessoas no Setor Público124


Introdução

Nesta aula você aprenderá sobre o tema do processo administrativo dis-


ciplinar, que é o instrumento disciplinado no título V da Lei nº 8.112/90,
utilizado para apurar a responsabilidade do servidor público que pratica
ato irregular.

Antes de analisar os artigos específicos sobre o referido processo, no en-


tanto, serão abordadas disposições gerais, que tratam de vários assuntos
menores como a abertura de sindicância, que é um instrumento muito
mais simples de apuração de irregularidades que complementa o traba-
lho que é feito em meio ao processo administrativo disciplinar.

Embora tenha capítulo próprio composto de um único artigo na Lei nº


8.112/90, o instituto do afastamento preventivo será tratado junto às dis-
posições gerais. Este instrumento, vale ressaltar, difere, em termos de na-
tureza, dos afastamentos estudados em aula anterior e com eles não se
confunde. Trata-se de mais um exemplo em que o legislador da Lei nº
8.112/90 utilizou-se de expressões sem qualquer preocupação com os di-
tames da boa técnica legislativa.

Por sua vez, serão estudadas as três fases do processo disciplinar, defi-
nidas em lei: instauração, inquérito e julgamento. Contudo, é importante
notar que a fase de instauração não envolve nada além do ato que ins-
taura o processo, portanto não tem tratamento à parte como as demais.

Finalmente, a aula se encerrará com a análise da revisão de processo dis-


ciplinar, que é um instrumento de importância significativa para a corre-
ção de eventuais injustiças que tenham ocorrido em meio a processos ad-
ministrativos disciplinares, mas cuja admissão é restrita para casos bem
específicos.

Gestão de Pessoas no Setor Público125


1. Disposições gerais

Antes de tratar do tema específico do processo administrativo disciplinar,


a Lei nº 8.112/90 traz alguns dispositivos cujas determinações aplicam-se
aos momentos imediatamente anteriores a ele, quais sejam, os artigos de
número 143 a 147.

Primeiramente, o artigo 143 determina que, da ciência de alguma irre-


gularidade no serviço público, deverá decorrer sindicância ou processo
administrativo disciplinar e ser assegurada ao acusado a ampla defesa.

Como o artigo 145 define que a instauração de processo administrati-


vo é também um dos possíveis resultados da sindicância, há, assim, três
cenários que podem decorrer do conhecimento de irregularidades: a)
promoção de sindicância; b) promoção de sindicância seguida da instau-
ração de processo administrativo; e c) instauração direta de processo
administrativo.

A competência para a apuração – não julgamento – de irregularidades é,


via de regra, da própria autoridade que tiver ciência da ocorrência, quem
quer que seja ela. Contudo, o § 3º do artigo 143 confere a esta autoridade
a possibilidade de solicitar, de acordo com o respectivo Poder a que ela
serve, que o Presidente da República, os presidentes das Casas do Poder
Legislativo e dos Tribunais Federais, ou o Procurador-Geral da República,
delegue a competência de apuração para outra autoridade, de órgão ou
entidade diverso daquele em que a irregularidade ocorreu.

Quanto à sindicância, o artigo 146 determina que ela não deve ser utili-
zada para casos mais graves, particularmente aqueles que, se comprova-
dos, ensejariam “a imposição de penalidade de suspensão por mais de
30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilida-
de, ou destituição de cargo em comissão”. Portanto, nestes casos deve-se
logo instaurar processo administrativo e, consequentemente, presume-
-se que nos demais casos a regra é a de apuração de irregularidade por
via de sindicância.

126 Gestão de Pessoas no Setor Público


Foi boa esta determinação do legislador, pois, diferentemente do processo
administrativo, a sindicância é um procedimento de forma relativamente
livre, sem grande rigidez em termos de sua condução. Aliás, os únicos de-
lineamentos que a Lei nº 8.112/90 faz para ela são o estabelecimento de
prazo de trinta dias para sua conclusão – prorrogável por igual período,
por autoridade superior – e a determinação que da sindicância só pode
resultar: seu arquivamento, se os fatos ou a autoria relativos à irregulari-
dade comprovarem-se falsos; aplicação de penalidade de advertência ou
suspensão por até trinta dias, se justificada pelo que se apurou; ou instau-
ração de processo disciplinar, se for verificado que o ato irregular ou suas
consequências foram mais graves do que inicialmente se pensava.
Vale notar, ainda neste tema de formalidades, que no artigo 144 o legisla-
dor determinou que “as denúncias sobre irregularidades serão objeto de
apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do denun-
ciante e sejam formuladas por escrito”; porém, esta exigência não deve
ser aceita, já que não tem sentido no contexto da Lei nº 8.112/90, que em
vários momentos deixa claro que a Administração deve agir logo que tiver
ciência de qualquer ato infracional de servidor, portanto seria absurdo
não fazê-lo devido à não atenção àquela formalidade.
Há também importante apontamento que deve ser feito quanto à aplica-
ção daquelas penas leves como resultado de sindicância. Autores como
Rigolin (2012) julgam absurda esta possibilidade, já que sindicância é ordi-
nariamente considerada como um ato unilateral de investigação de fatos,
portanto a aplicação de pena neste cenário, por menor que seja, seria
contrária ao inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal que estabelece
que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.
Embora seja pertinente esta consideração, há quem aceite a existência de
“sindicância especial” – como mencionado no Mandado de Segurança nº
22.791/MS, em que foi relator o Ministro Cezar Peluso –, que seria aquela
em que, verificada a intenção de se aplicar uma daquelas penalidades

Gestão de Pessoas no Setor Público127


leves, oferece-se ao servidor a oportunidade de se defender ainda no âm-
bito da sindicância. Não é uma solução elegante, mas parece ser mais
razoável do que a de Rigolin (2012), que resultaria na instauração de pro-
cesso administrativo disciplinar em todos os casos que haja aplicação de
penalidade, até mesmo mínimas, como de advertência.
Por fim, com relação à instauração de processo disciplinar propriamente
dito, o artigo 147 cria a figura do afastamento preventivo do servidor que
supostamente cometeu a irregularidade, para que ele não influa no pro-
cedimento de sua apuração. Este afastamento tem prazo de até sessenta
dias – prorrogáveis por igual prazo – e é remunerado.

2. Processo disciplinar

Expostas aquelas considerações iniciais, passa-se então para a análise do


processo administrativo disciplinar ordinário.

ASSIMILE
Vale lembrar que, conforme se estudou em aula anterior,
para os casos de acumulação ilegal de cargos, empregos ou
funções públicas, abandono de cargo e inassiduidade habi-
tual é utilizado um procedimento sumário, mais célere, ao
invés deste processo administrativo ordinário.

Conforme o texto do artigo 148, ele “é o instrumento destinado a apurar


responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas
atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se
encontre investido”; portanto, vale ressaltar que nesse processo haverá ou-
tra apuração daquelas mesmas circunstâncias examinadas por sindicância,
se uma o tiver procedido. As conclusões desta sindicância informarão o
processo disciplinar, mas não vincularão o julgamento ao final dele.

128 Gestão de Pessoas no Setor Público


O processo disciplinar é conduzido por uma comissão que, segundo o ar-
tigo 149, é composta por três servidores estáveis – de cargo de nível igual
ou superior ao indiciado, ou de nível de escolaridade igual ou superior ao
dele – que, se necessário, poderão se dedicar em tempo integral a este
trabalho, sem qualquer prejuízo, conforme o § 2º do artigo 152.
De acordo com o § 2º do artigo 149, membros da comissão não poderão
ser cônjuges, companheiros, pais, avós, bisavós, filhos, netos, bisnetos,
sogros, cunhados, padrastos ou enteados do servidor acusado. Ademais,
embora a lei não os mencione, presume-se que estão incluídos os adota-
dos, já que a intenção do legislador foi de prevenir que quaisquer suspei-
tos compusessem a comissão.
Quem indica os membros da comissão é a autoridade competente, que
também deve indicar quem dentre eles atuará como presidente e este,
por determinação do § 1º do artigo 149, indica um servidor para atuar
como secretário – que pode ou não ser um dos membros da comissão
apontados pela autoridade. A Lei nº 8.112/90 não define as atribuições es-
pecíficas deste secretário, mas ele tende a agir como “um escriturário que
apenas datilografa o que se lhe determina” (RIGOLIN, 2012, p. 360), como,
por exemplo, as atas que, segundo o § 2º do artigo 152, deverão registrar
o que se delibera nas reuniões da comissão.
Pelas disposições do artigo 150 e parágrafo único, a comissão deve agir
de modo independente e imparcial, mas também sigiloso, se houver ne-
cessidade, conforme o interesse da Administração. É esta última uma de-
terminação ampla, que pode ter base em inúmeros fundamentos, mas
vale ressaltar que este sigilo só deve perdurar enquanto persistir o pro-
cesso administrativo, por respeito ao princípio da publicidade dos atos da
Administração, e que isto não deve impedir que o servidor acusado tenha
acesso às informações de que necessita para se defender.
O artigo 151 arbitrariamente divide o processo disciplinar em três fases:
instauração, inquérito administrativo e julgamento. Desnecessário, pois
ele nada acrescenta além do que já está contido nos dispositivos seguin-
tes e ainda sugere que há uma “fase de instauração” que, efetivamente,
inicia-se e termina com a mera publicação do ato que constitui a comissão.

Gestão de Pessoas no Setor Público129


Finalmente, no artigo 152, o último que antecede a parte que cobre a
fase de inquérito, a Lei nº 8.112/90 estabelece um prazo máximo para a
conclusão do processo administrativo de sessenta dias – prorrogáveis por
prazo igual, se houver justificativa para isto –, contados da publicação do
ato constituinte da comissão.

2.1. Inquérito administrativo

No artigo 154, o segundo da seção da Lei nº 8.112/90 que trata desta fase,
encontra-se a anteriormente mencionada previsão de que os resultados
da sindicância deverão integrar o processo disciplinar, com fim meramen-
te informativo – ou seja, o julgamento final não fica vinculado às conclu-
sões da sindicância – e em complemento à apuração própria realizada no
âmbito do processo disciplinar.
Contudo, conforme o parágrafo único do mesmo artigo, o relatório da sin-
dicância terá mais um propósito, que é o de informar possível processo
penal, pois, caso o relatório aponte que o ato irregular do servidor violou
a legislação penal, a autoridade competente para o processo administra-
tivo deverá encaminhar cópia para o Ministério Público.
O artigo 153, por sua vez, é mais um dentre os vários dispositivos em que
o legislador julgou necessário reforçar uma ideia já existente. Neste caso,
deverá ser assegurada ao servidor acusado a oportunidade de se defen-
der por todos os meios admitidos em direito.
Evidentemente, os mesmos meios estão disponíveis para a Administração,
na posição de acusadora, e alguns deles encontram-se listados no rol exem-
plificativo – portanto, não exaustivo – do artigo 155 que menciona que “a
comissão promoverá a tomada de depoimentos, acareações, investigações
e diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo, quando
necessário, a técnicos e peritos”. O custo deste referido uso de técnicos e
peritos, vale ressaltar, fica a cargo da parte que o requisitar (RIGOLIN, 2012).

Ainda neste tema de provas, o artigo 156 determina que ao servidor é as-
segurado “o direito de acompanhar o processo pessoalmente ou por inter-
médio de procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas e
contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova pericial”.

130 Gestão de Pessoas no Setor Público


O servidor pode acompanhar o processo por conta própria e até se defen-
der, mas lhe é facultado indicar procurador – ou seja, alguém que tenha
poderes específicos para agir no nome dele, no âmbito daquele processo
–, que poderá ou não ser advogado. Aliás, vale notar que não é necessária
a constituição de advogado em nenhum momento do processo adminis-
trativo, conforme determinação da Súmula Vinculante nº 5 do Supremo
Tribunal Federal.

PARA SABER MAIS


Esta questão é extremamente controversa na doutrina jurídi-
ca e na jurisprudência, pois muitos afirmam que a ausência
de advogado configuraria ofensa ao princípio constitucional
do contraditório e da ampla defesa e o Superior Tribunal de
Justiça até concordou com esta opinião na Súmula nº 343
que menciona que “é obrigatória a presença de advogado
em todas as fases do processo administrativo disciplinar”.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal pacificou a questão na
Súmula Vinculante – ou seja, que deve ser seguida obrigato-
riamente – de nº 5, que determinou que “a falta de defesa
técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a Constituição”.

LINK
Se você tiver curiosidade em ler a mencionada súmula vincu-
lante do STF, ou quaisquer outras súmulas vinculantes, que
são as de maior importância, pois obrigam as demais cortes
do país a seguir o entendimento do STF – ao contrário de
súmulas não vinculantes –, pode fazer isto no link a seguir,
que contém todas elas. BRASIL. Supremo Tribunal Federal.
Súmulas Vinculantes. Brasília, Disponível em: <http://www.
stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudencia
SumulaVinculante>. Acesso em: 26 jul. 2018.

Gestão de Pessoas no Setor Público131


Do mais, em relação ao conteúdo do artigo 156, “arrolar testemunhas”
significa indicá-las para compor um rol e a mencionada “formulação de
quesitos para prova pericial” significa que é facultado à Administração e
ao acusado elaborar questões para seus próprios peritos ou até para os
trazidos pela outra parte.

O § 1º deste mesmo artigo traz uma determinação importante, que é a


de que o presidente da comissão pode indeferir pedidos impertinentes –
que não se relacionam ao caso –, protelatórios – feitos unicamente com
a intenção de prolongar o processo – ou de nenhum interesse para o es-
clarecimento dos fatos. Este último caso inclui o indeferimento de pedido
de prova que seja incapaz de esclarecer os fatos ou desnecessária para
fazê-lo, e ele torna o § 2º redundante, pois este se refere à ocorrência na
produção de prova pericial.

Os artigos 157 e 158 definem os procedimentos de convite e oitiva de


testemunhas. Conforme o primeiro, as testemunhas deverão ser chama-
das para depor, no dia e hora marcados, mediante mandado expedido
pelo presidente da comissão – com segunda via sendo anexada aos autos
do processo, após o indiciado dar ciência – e, se forem servidoras, serão
obrigadas a depor e a expedição do mandado deverá ser imediatamente
comunicada para o chefe da repartição de onde servem.

Já no outro artigo, define-se que os depoimentos deverão ser: orais, pois


é mais difícil produzir testemunho falso cara a cara com a autoridade do
que por escrito; reduzidos a termo, ou seja, transcritos em documento; e
prestados separadamente por cada testemunha, para que as declarações
de uma não influenciem as das demais. Ainda, ao final, serão confronta-
dos os eventuais depoentes cujos depoimentos forem contraditórios, uns
com os outros, para que se possa chegar à verdade dos fatos.

Os mesmos procedimentos serão seguidos na etapa seguinte, que é a de


interrogatório do acusado – ou dos múltiplos acusados, se for o caso –,
conforme o disposto no artigo 159 e seu § 1º.

132 Gestão de Pessoas no Setor Público


Ademais, vale notar que, de acordo com o § 2º, o procurador do acusado
poderá estar presente durante os depoimentos dele e das testemunhas;
contudo, acusado ou procurador não podem interferir nas perguntas e
respostas, podendo somente agir por intermédio do presidente da co-
missão. Isto é similar ao que ocorre em processos judiciais e a intenção
desta vedação de interação direta do acusado e seu procurador com as
testemunhas é de evitar que sejam intimidadas ou desrespeitadas e que
as perguntas sejam feitas de forma adequada, compreensível.

Aqui, é interessante mencionar o artigo 173, que está no capítulo que tra-
ta da fase de julgamento, mas que, em verdade, aplica-se à de inquérito.
Por força dele, são assegurados valores a título de transporte e diárias
para quaisquer servidores convocados para prestar depoimento fora da
sede de sua repartição e para os membros da comissão – incluindo o se-
cretário –, quando eles forem obrigados a se deslocar da sede dos traba-
lhos da comissão para realizar algo que é essencial para esclarecer fatos
pertinentes ao caso de que trata o processo disciplinar.

Por sua vez, o artigo 160 e seu parágrafo único cuidam de caso muito
mais específico, que é o de potencial insanidade mental do acusado. Se
houver dúvida quanto a isto, deverá a comissão simplesmente propor à
autoridade competente que seja realizado, por junta médica oficial, com
a participação de pelo menos um psiquiatra, exame cujo processamento
se dará em auto apartado, que depois será apenso ao processo principal.
Quanto a este assunto, é importante lembrar que os mentalmente insa-
nos não são imputáveis sequer no âmbito penal – por força do artigo 26
do Código Penal – e, então, menos sentido teria ainda em penalizá-los ad-
ministrativamente, de modo que a única consequência que se vislumbra
para acusado que assim seja considerado é o seu aposentamento.

Configurada infração disciplinar e formulado o indiciamento do servidor


que contenha os fatos e provas que demonstram aquela infração, o ar-
tigo 161 e § § determinam que o indiciado terá dez dias para apresentar
defesa escrita, contados de quando receber a citação – que é expedida

Gestão de Pessoas no Setor Público133


pelo presidente da comissão. Além de assegurar-lhe vista do processo na
repartição, são ainda garantidos prazo estendido de vinte dias se houver
mais de um indiciado, e prorrogação em dobro dos prazos, se necessário,
para que os indiciados possam realizar diligências – ou seja, tomar provi-
dências para produzir provas – consideradas indispensáveis.

Não obstante a intenção do legislador em respeitar os princípios do con-


traditório e da ampla defesa, ainda falhou, pois se aquelas diligências são
indispensáveis para a defesa dos indiciados, deverá ser dado tempo hábil
para que sejam realizadas e mesmo quarenta dias podem não ser su-
ficientes. Assim, se não quiser contrariar princípio constitucional, deve-
rá a comissão permitir que os indiciados tenham prazo suficiente para
produzir quaisquer provas consideradas indispensáveis para sua defesa
(RIGOLIN, 2012). Evidentemente, se a realização de diligências não é uma
que demanda prazo extenso ou elas são consideradas dispensáveis, man-
tém-se a exigência dos prazos legais.

Por sua vez, artigo seguinte, o 162, simplesmente obriga o indiciado a


informar a comissão sobre onde pode ser encontrado, caso mude de
residência.

Se não for encontrado para ser citado regularmente, incidirá o disposto


no artigo 163, que determina a citação por edital, que se dá por meio de
publicação no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação na
localidade do último domicílio conhecido do servidor. O prazo para apre-
sentar a defesa, então, será de quinze dias contados da última publicação
do edital; contudo, infelizmente, o legislador não indicou quantas vezes
este deve ser publicado, portanto presume-se que o presidente da comis-
são o fará a seu critério.

Por outro lado, se o servidor não apresentar defesa no prazo legal – e aqui
se aplicam os apontamentos já feitos sobre as diligências indispensáveis
– será considerado revel, após declaração por termo nos autos do pro-
cesso; o que significa que ele terá que aceitar todos os fatos trazidos pela
Administração como verdadeiros.

134 Gestão de Pessoas no Setor Público


No entanto, a aceitação dos fatos não impede a arguição sobre direito e,
após a declaração de revelia, haverá novo prazo para defesa, que se dará
por meio de defensor dativo, que é o apontado pela autoridade instaura-
dora do processo – não a comissão – e que deverá ser servidor com cargo
efetivo superior ou de mesmo nível que o indiciado, ou com nível de esco-
laridade igual ou superior.

Após a apreciação da defesa, ao final da fase de inquérito, a comissão ela-


borará, conforme o artigo 165, relatório no qual: resumirá o que ocorreu
no processo; concluirá sobre a inocência ou responsabilidade do servidor
quanto ao ato irregular; mencionará as provas em que se baseou para
formar a convicção; indicará o dispositivo legal ou regulamentar violado;
e mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes.

Por fim, os autos do processo disciplinar serão remetidos junto ao relató-


rio da comissão para a autoridade competente que instaurou o processo,
para julgamento.

2.2. Julgamento

Para o julgamento do processo administrativo disciplinar, o artigo 167 es-


tabelece um prazo de vinte dias contados de quando a autoridade com-
petente o recebe. É um prazo que pode ser considerado excessivo, pois,
vale ressaltar, deve-se respeitar também o limite máximo de duração de
todo o processo administrativo, contido no já mencionado artigo 152, de
sessenta dias prorrogáveis por prazo igual.

O artigo 167 contém, ainda, em seus § §, determinações sobre a compe-


tência para o julgamento do processo. Via de regra, será a autoridade que
instaurou o processo, mas se a aplicação da penalidade exceder a compe-
tência da autoridade instauradora, então esta deverá encaminhar o pro-
cesso para julgamento pela autoridade competente. Ademais, se houver
mais de um indiciado com penalidades diferentes, o processo será enca-
minhado para a autoridade com competência para julgar a penalidade
mais grave.

Gestão de Pessoas no Setor Público135


O § 4º do artigo 167 e o artigo 168 tratam do relacionamento do julga-
mento com o relatório da comissão. Da mesma forma que a conclusão
da sindicância não vincula o julgamento, não o faz também o relatório da
comissão. Contudo, a lei demanda maior respeito a este último, pois de-
termina que a sua conclusão deve ser acatada, arquivando-se o processo
ou aplicando-se a penalidade indicada, salvo se contrariada pelas provas
já presentes nos autos do processo.
Se ocorrer esta hipótese absolutamente excepcional, que deverá ser
bem justificada pela autoridade julgadora, a lei permite que a autorida-
de agrave ou abrande a penalidade sugerida ou até isente o servidor da
responsabilidade.
Por sua vez, o disposto no artigo 169 não deve ser interpretado de forma
literal, sob pena de gerar consequências absurdas. Determina ele que de
qualquer vício insanável – basicamente, um problema que não possa ser
resolvido, como a perda de um prazo pela Administração – a autoridade
instauradora do processo, ou até qualquer outra superior a ela, deverá
declarar a nulidade, total ou parcial, do processo; e, ainda, no mesmo ato,
terá que constituir outra comissão para instauração de outro processo.
Quanto a isto, primeiro, aponta-se que as partes não prejudicadas pelo
vício, em caso de nulidade parcial, poderão ser aproveitadas; do contrá-
rio, não faria sentido a declaração de nulidade parcial, ao invés da total.
Segundo, ressalta-se que não há proibição quanto ao uso dos membros
da comissão anterior para a composição da nova comissão, de modo que
se a ocorrência dos vícios não se deu por má fé ou erro grave, julga-se
adequado o reuso daqueles que já estão familiarizados com o caso, por
questão de eficiência.
O § 2º do artigo 169 traz determinação simples de que a autoridade que
der causa à prescrição de prazos relacionados a infrações disciplinares
com equivalência penal deverá ser responsabilizada na forma prevista
pelo capítulo da Lei nº 8.112/90 que trata de responsabilidades; ou seja, a
autoridade só será responsabilizada se houver nexo que liga diretamente
as suas ações à prescrição.

136 Gestão de Pessoas no Setor Público


Se o § 2º traz dispositivo que visa responsabilizar a autoridade que atua
de forma inadequada, o § 1º tenta fazer o contrário. Seu texto determina
que “o julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do processo”,
que é algo absurdo, pois efetivamente inutiliza inúmeros prazos defini-
dos na Lei nº 8.112/90 para a Administração e, como bem aponta Rigolin
(2012), pode fazer com que o processo administrativo – do qual o julga-
mento é fase, conforme o artigo 133 –prolongue-se eternamente, sem
haver recurso – na esfera administrativa – contra isto para o servidor que
aguarda julgamento.

O artigo 170 é outro de técnica legislativa e utilidade questionáveis. Seu


texto afirma que “extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade jul-
gadora determinará o registro do fato nos assentamentos individuais do
servidor”. Contudo, a punibilidade só passa a existir quando o servidor é
julgado responsável por ato irregular, mas o § 3º do artigo 142 determi-
na que “a abertura de sindicância ou a instauração de processo discipli-
nar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por autoridade
competente”; ou seja, o artigo só terá efeito quando o servidor, julgado
responsável, não for punido dentro do prazo – em muitos casos, de anos
– determinado no artigo 142 para aquela penalidade.

No próximo artigo a lei determina algo similar ao que se estabeleceu para


a sindicância, que “quando a infração estiver capitulada como crime, o
processo disciplinar será remetido ao Ministério Público para instauração
da ação penal”, devendo ser mantida cópia na repartição.

Encerrando esta parte sobre a fase de julgamento – pois o artigo 173 já foi
abordado na parte adequada, sobre inquérito –, traz-se o artigo 172. Ele
foi criado para solucionar alguns problemas que poderiam surgir durante
o processo disciplinar, mas apesar de fazê-lo em dois casos, cria mais um
problema no terceiro. Em seu parágrafo único estabelece que, ocorrida
aquela exoneração de ofício, quando o servidor não satisfaz as condições
de estágio probatório, este ato será convertido em demissão.

Gestão de Pessoas no Setor Público137


Porém, no caput determina que “o servidor que responder a processo
disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado voluntaria-
mente, após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade,
acaso aplicada”. Embora a primeira determinação, referente ao servidor
que pede exoneração, seja válida, a segunda é inconstitucional, pois o di-
reito à aposentadoria é garantido pela Constituição Federal, portanto não
pode ser obstado por lei infraconstitucional.

2.3. Revisão do Processo

O artigo 174 da Lei nº 8.112/90 prevê que os processos administrativos


disciplinares podem ser revistos “a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justifi-
car a inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada”.

A possibilidade de revisão a qualquer tempo é adequada, pois a


Administração tem, de modo geral, dever de corrigir erros e injustiças e é
disto que se trata a revisão de processo. É uma oportunidade de corrigir
erro com relação ao servidor injustamente penalizado, tanto que só se
pode suavizar a penalidade aplicada – ou até isentar a responsabilidade
do servidor –, pois o parágrafo único do artigo 182 até veda o agravamen-
to de penalidade por meio da revisão de processo.

PARA SABER MAIS


A proibição de agravamento de penalidade por meio de revi-
são do processo é similar ao que se tem no Direito Penal que,
no artigo 617 do Código de Processo Penal, proíbe o que se
chama de reformatio in pejus; ou seja, proíbe a possibilidade
do réu que entra com recurso de sentença se ver mais preju-
dicado após isto. Se esta proibição não existisse, a impetra-
ção de recurso por parte do réu constituiria, efetivamente,
uma aposta, já que poderia receber sentença pior ou melhor
após o recurso.

138 Gestão de Pessoas no Setor Público


No tópico de quem pode requerer a revisão, aplica-se novamente essa
última ideia para justificar o pedido de ofício, por parte da Administração.
No caso do pedido do servidor penalizado, é evidente que ele tem interes-
se em melhorar sua situação, mas vale ressaltar que o pedido de revisão
pode ser negado – do contrário, não seria “pedido”.
Há, todavia, mais dois casos. O primeiro é o adicionado pelo § 1º, que é
o de familiar do penalizado que seja falecido, ausente ou desaparecido
requerer a revisão do processo.

EXEMPLIFICANDO
O pedido de revisão de processo por familiar de falecido pode
ocorrer, por exemplo, por uma questão moral, de ver a injustiça
corrigida e ter o nome do falecido “limpo”; ou até por uma ra-
zão mais concreta, relativa a valores que não foram recebidos
ou foram recebidos em quantidade menor pelo familiar que é
sucessor do servidor falecido, devido à aplicação incorreta de
penalidade de demissão ao servidor quando ele estava vivo.

Já o outro é o do § 2º, em que o pedido de revisão é feito pelo curador de


servidor que é mentalmente incapaz.
Ainda, apontamentos devem ser feitos em relação às três hipóteses que
podem ensejar a revisão. A primeira, de fato novo, refere-se à descober-
ta de fato pertinente, capaz de alterar o julgamento, sobre o qual não se
tinha conhecimento na época do processo. A segunda, um pouco mais
vaga, refere-se a circunstâncias que “podem não constituir fatos novos,
mas simples rotinas ou procedimentos, inadequados quando do proces-
so, que se de outro modo fossem praticados poderiam igualmente modi-
ficar a decisão afinal proferida” (RIGOLIN, 2012, p. 394). Já a terceira hipó-
tese é de penalidade que foi excessiva, desproporcional à infração come-
tida. Conforme o esclarecimento do artigo 176, esta alegação deve trazer
“elementos novos ainda não apreciados no processo originário”.

Gestão de Pessoas no Setor Público139


Segundo o artigo 177, o requerimento deve ser “dirigido ao Ministro de
Estado ou autoridade equivalente que, se autorizar a revisão, encaminha-
rá o pedido ao dirigente do órgão ou entidade onde se originou o proces-
so disciplinar” e, conforme o artigo 175, cabe ao requerente, quem quer
que seja, provar o que ele alega.

Embora o artigo 178 determine que a revisão correrá em apenso ao pro-


cesso originário, o parágrafo único do artigo 177 define que será constitu-
ída nova comissão para conduzi-la. Contudo, não obstante a estranheza
da possibilidade, novamente se ressalta que a lei não proíbe que a nova
comissão seja composta por membros da comissão anterior.

Por questão de eficiência, o parágrafo único do artigo 178 determina que


logo na petição inicial – que não se confunde com o pedido de revisão, já
que ocorre após o deferimento deste – o requerente já deverá pedir dia e
hora para a produção de provas e inquirição de testemunhas.

Do mais, aplicam-se as determinações gerais sobre processo administra-


tivo disciplinar, exceto que a comissão tem sessenta dias não prorrogá-
veis para concluir seu trabalho e que quem realizará o julgamento será a
mesma autoridade que aplicou a penalidade, que deve fazê-lo no prazo
de vinte dias contados do recebimento do processo.

Por fim, cabe um último apontamento sobre o texto do artigo 182, que
determina que “julgada procedente a revisão, será declarada sem efeito a
penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos do servidor, ex-
ceto em relação à destituição do cargo em comissão, que será convertida
em exoneração”.

A segunda parte é autoexplicativa, mas a primeira deve ser lida com cuida-
do, pois se interpretada literalmente daria entendimento de que a autori-
dade julgadora só poderia julgar improcedente o caso ou, se procedente,
nulificar por completo a penalidade. Do contexto dos demais artigos so-
bre a revisão, não parece ser esta a intenção do legislador; portanto, con-
sidera-se que, na procedência, a autoridade julgadora declara sem efeito
a penalidade para, se for o caso, em seguida aplicar a adequada.

140 Gestão de Pessoas no Setor Público


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Considerando-se o que foi estudado nesta aula, reflita sobre a via-
bilidade de cumprimento adequado dos diversos prazos que a Lei
nº 8.112/90 estabelece para cada etapa do processo administrativo
disciplinar, frente à existência do prazo máximo para conclusão do
processo como um todo. Os prazos estabelecidos são realísticos? E
o que você pensa sobre a existência de previsão de prorrogação por
período igual para vários deles?

3. Considerações finais

• A sindicância é utilizada para a apuração em casos de ciência de irregu-


laridade que, inicialmente, parece ser menos grave. Ela pode resultar
em arquivamento, instauração de processo administrativo ou na apli-
cação de penalidades leves; e, neste último caso, não se deve deixar
de assegurar o contraditório e a ampla defesa ao servidor.

• O afastamento preventivo é uma medida cautelar, utilizada para


processo administrativo e deve obrigatoriamente ser remunerado.

• O processo administrativo disciplinar tem forma muito mais rígida


do que a sindicância e, por isto, cabe para apurar casos mais graves.
Não se pode esquecer que ele tem prazo máximo para sua conclu-
são, que deve ser respeitado juntamente aos demais prazos de cada
etapa e fase que compõem o instrumento.

• Não obstante o número restrito de casos que podem ensejar a


revisão de processo disciplinar, é importante lembrar que ela pode
ser pedida a qualquer tempo após o encerramento do processo
administrativo e, inclusive, pode ocorrer de ofício, em respeito ao
dever da Administração de solucionar os problemas que ela mesma
ocasionou.

Gestão de Pessoas no Setor Público141


Glossário

• Autos: são todas as peças produzidas em meio a um processo judi-


cial ou administrativo, como as petições, os termos, as certidões etc.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 06
1. De acordo com o que foi estudado sobre as disposições
gerais que tratam da verificação de irregularidades, da sin-
dicância e do processo administrativo disciplinar, pode-se
afirmar corretamente que:
a) da ciência de irregularidade no serviço público decorre-
rá sindicância, que será seguida da instauração de pro-
cesso administrativo disciplinar.
b) da ciência de irregularidade no serviço público decor-
rerá sindicância ou processo administrativo disciplinar,
de modo que se o ato irregular for apurado por um não
será apurado novamente pelo outro.
c) da ciência de irregularidade no serviço público decor-
rerá sindicância ou processo administrativo disciplinar;
e o ato irregular poderá, porventura, ser apurado por
ambos, em sucessão.
d) da ciência de irregularidade no serviço público poderá
decorrer sindicância ou processo administrativo disci-
plinar; e o ato irregular poderá, porventura, ser apura-
do por ambos, em sucessão, ou não ser apurado, se a
autoridade julgar isto como desnecessário.
e) da ciência de irregularidade no serviço público poderá de-
correr sindicância ou processo administrativo disciplinar,
de modo que se o ato irregular for apurado por um não
será apurado novamente pelo outro; mas, se a autoridade
julgar isto como desnecessário, poderá não ser apurado.

142 Gestão de Pessoas no Setor Público


2. “O prazo para a apresentação de defesa na fase de inqué-
rito varia. Normalmente, o prazo é de dias, mas se
houver será de vinte; contudo, ambos estes prazos
são prorrogáveis em dobro, se for necessário para a rea-
lização de diligências indispensáveis. Ademais, vale notar
que este prazo também é diferente no caso excepcional
do acusado ser , pois será de quinze dias”.
A partir da frase acima, assinale a alternativa que contém
as palavras adequadas às lacunas.

a) doze; defensor dativo; revel.


b) dez; revelia; defensor dativo.
c) dez; revelia; citado por edital.
d) dez; múltiplos acusados; citado por edital.
e) dez; múltiplos acusados; defensor dativo.
3. “Há um limite de tempo, estabelecido em lei, para que pos-
sa ser pedida a revisão de processo administrativo discipli-
nar PORQUE a previsão de que esse pedido pudesse ser
feito a qualquer tempo não seria razoável, já que isto gera-
ria situação em que a Administração seria incessantemen-
te chamada para rever processos”.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que:

a) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifi-


ca a primeira.
b) as duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) a primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é
falsa.
d) a primeira afirmação é falsa, mas a segunda é verdadeira.
e) as duas afirmações são falsas.

Gestão de Pessoas no Setor Público143


Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 25 jul. 2018.
. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>.
Acesso em: 25 jul. 2018.
. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.
htm>. Acesso em: 25 jul. 2018.

. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos


servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 25 jul. 2018.

. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 343. É obrigatória a presença de advo-


gado em todas as fases do processo administrativo disciplinar (prejudicada). Brasília,
2007.

. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº 22.791, Tribunal Pleno,


Relator Ministro Cezar Peluso. Brasília, 2008.

. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 5. A falta de defesa técni-


ca por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição.
Brasília, 2008.

. Supremo Tribunal Federal. Súmulas Vinculantes. Brasília, Disponível em:


<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumulaVin
culante>. Acesso em: 26 jul. 2018.

RIGOLIN, Ivan. B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei
n. 8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

144 Gestão de Pessoas no Setor Público


Gabarito – Tema 06

Questão 1 – Resposta: C
A primeira alternativa está incorreta, pois ignora o fato de que será
instaurado processo administrativo sem ter havido sindicância em
casos que ensejariam a aplicação de penalidades graves. Já a segun-
da alternativa está incorreta, pois se for instaurado processo admi-
nistrativo após sindicância haverá sim apuração da irregularidade
por ambos. Por fim, a quarta e quinta alternativas estão incorretas,
pois criam possibilidade que não existe na lei, de que a autoridade
não apure a irregularidade de que tem ciência; ademais, a quinta al-
ternativa também repete o erro da segunda alternativa.

Questão 2 – Resposta: D
Via de regra, o prazo para apresentação de defesa na fase de inqué-
rito é de dez dias, não doze. Ademais, a nomeação de defensor dati-
vo não altera o prazo de defesa e é algo que só ocorre, aliás, após o
acusado ser declarado revel por perder este prazo. Por fim, a revelia,
como mencionado, só ocorre após a perda do prazo de defesa, por-
tanto não faz sentido menção a este instituto em nenhuma das três
lacunas. Assim, a primeira, segunda, terceira e última alternativas
estão todas incorretas, pois mencionam um ou vários dos termos
incorretos mencionados.

Questão 3 – Resposta: E
Ambas as afirmações são falsas, pois não há qualquer limite de tem-
po para o pedido de revisão de processos e, ainda, é sim considerada
como razoável esta determinação, pois ela está de acordo com o dever
da Administração de agir para corrigir as irregularidades de seus atos.

Gestão de Pessoas no Setor Público145


TEMA 07

SEGURIDADE SOCIAL

Objetivos

• Estudar as disposições gerais sobre a seguridade


social do servidor público federal que estabelecem,
entre outras determinações, a quem se aplica o Plano
de Seguridade Social do Servidor.

• Analisar cada um dos benefícios a que tem direito


os beneficiários do Plano de Seguridade Social do
Servidor, para compreender suas peculiaridades e
limites.

• Compreender no que consiste e qual é o escopo da


assistência à saúde provida aos beneficiários do Plano
de Seguridade Social do Servidor.

Gestão de Pessoas no Setor Público146


Introdução

Nesta aula você aprenderá sobre o tema da seguridade social do servidor


público federal.

De início, serão analisadas as disposições gerais da Lei nº 8.112/90 so-


bre o assunto, que estabelecem a quem são os beneficiários do Plano de
Seguridade Social do Servidor público federal e se o vínculo destes perma-
nece quando o servidor está afastado ou licenciado, bem como definem o
que, de modo geral, a seguridade social pretende assegurar.

Feito isto, se passará para o estudo da aplicabilidade, admissibilidade, va-


loração e limites de cada um dos benefícios da seguridade social, quais
sejam: a aposentadoria; o auxílio-natalidade; o salário-família; a licença
para tratamento de saúde; a licença à gestante, à adotante e licença-pa-
ternidade; a licença por acidente de serviço; a pensão; o auxílio-funeral; e
o auxílio-reclusão. Vale notar, ainda, que na introdução desta parte serão
diferenciadas as licenças aqui mencionadas daquelas que foram estuda-
das em outra aula, as licenças que se incluem no rol de vantagens da Lei
nº 8.112/90.

Por fim, se voltará a atenção para a parte da Lei nº 8.112/90 que trata da
chamada assistência à saúde, que em verdade tem tratamento mais es-
pecífico em legislação esparsa, mas que é abordada de modo geral neste
contexto.

1. Disposições gerais

Logo no início do capítulo I, “Disposições Gerais”, do título VI, que trata do


Plano de Seguridade Social do Servidor Público federal, da Lei nº 8.112/90,
o artigo 183 determina que este será mantido pela União para servidores
e suas famílias.

Gestão de Pessoas no Setor Público147


Porém, ao contrário do que se pode imaginar da leitura do caput do arti-
go, não é exatamente todo servidor público federal que tem acesso a esse
Plano, pois o § 1º esclarece que aquele que exclusivamente ocupa cargo
em comissão só tem acesso à parte de assistência à saúde e nada mais.

Outra exceção é a do § 2º, temporária, que trata do servidor afastado ou


licenciado, sem remuneração. O vínculo deste servidor com o Plano é con-
siderado suspenso durante aquele afastamento ou licença; a não ser que,
conforme o disposto no § 3º, ele continue a contribuir mensalmente, com
o mesmo percentual que deveria se estivesse em atividade, baseado na
remuneração de seu cargo. Ademais, se optar por continuar contribuindo
desta forma, deve fazê-lo “até o segundo dia útil após a data do pagamen-
to das remunerações dos servidores públicos”, pelo que informa o § 4º.

Este § 4º, no entanto, peca ao trazer uma segunda parte completamente


inaplicável, que determina que se não forem pagos esses valores opcio-
nais, haverá sua cobrança e execução. A cobrança e execução de valores
cujo pagamento é opcional não tem sentido. Como bem coloca Rigolin,
este é mais um caso – dos inúmeros presentes na Lei nº 8.112/90 – em
que o legislador se “revela insano, ou ao menos de crassa e imperdoável
ignorância jurídica” (2012, p. 406).

No artigo seguinte, o 184, encontra-se um texto que tem função quase


que principiológica, pois nele estão delineados os objetivos do Plano de
Seguridade Social. Assim, embora o artigo não tenha aplicabilidade direta,
ele tem função hermenêutica, já que os demais dispositivos legais sobre
o tema da seguridade social dos servidores públicos federais deverão ser
interpretados à luz desses objetivos de: “I - garantir meios de subsistência
nos eventos de doença, invalidez, velhice, acidente em serviço, inativida-
de, falecimento e reclusão; II - proteção à maternidade, à adoção e à pa-
ternidade; III - assistência à saúde”.

Ao final desta parte introdutória geral, o artigo 185 lista os benefícios do


referido Plano de Seguridade Social, incluindo apontamento para quem
exatamente eles são devidos:

148 Gestão de Pessoas no Setor Público


I. quanto ao servidor:
a) aposentadoria;
b) auxílio-natalidade;
c) salário-família;
d) licença para tratamento de saúde;
e) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade;
f) licença por acidente em serviço;
g) assistência à saúde;
h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho satisfatórias;
II. quanto ao dependente:
a) pensão vitalícia e temporária;
b) auxílio-funeral;
c) auxílio-reclusão;
d) assistência à saúde.

Todos serão estudados a seguir, com exceção do benefício de “garantia


de condições individuais e ambientais de trabalho satisfatórias”, pois não
há nenhum dispositivo na Lei nº 8.112/90 que se referira a ele e, como é
amplo e genérico, parece algo que deveria ter sido incluído no rol do arti-
go anterior, de objetivos.

Ademais, é preciso dar atenção ao fato de que há menção de licenças


nessa lista, que estão fora do capítulo próprio “Das Licenças” da Lei nº
8.112/90, estudado em outra aula. Tratam-se de institutos diferentes, não
obstante o uso do mesmo termo. Aquelas que estão no capítulo próprio
são consideradas vantagens e têm natureza de benefício securitário.

Do mais, antes de entrar na análise de cada um dos benefícios, os § § do


artigo 185 trazem duas determinações que aqui somente se encontram,
pois se aplicam a mais de um benefício. Simplesmente, o § 1º estabele-
ce que “as aposentadorias e pensões serão concedidas e mantidas pelos
órgãos ou entidades aos quais se encontram vinculados os servidores” e
o § 2º determina que aquele servidor que se beneficiou indevidamente
da seguridade social deverá devolver ao erário o total dos valores que

Gestão de Pessoas no Setor Público149


foram por ele auferidos; deixando claro, contudo, que a realização desta
devolução ainda não impede que o servidor seja punido criminalmente,
por exemplo, por fraude que permitiu a referida obtenção indevida de
benefício.

2. Benefícios

2.1. Aposentadoria

A seção da Lei nº 8.112/90 que trata do benefício da aposentadoria inicia-


-se com artigo cuja técnica legislativa sofre do mesmo problema que ou-
tros dispositivos da lei. O legislador, sem necessidade, copiou o texto do
artigo 40 da Constituição Federal no artigo 186 da Lei nº 8.112/90, o que
fez com que, após a alteração do dispositivo constitucional, o artigo da lei
infraconstitucional tenha se tornado parcialmente inconstitucional, pois
ainda reflete o texto antigo.

É inconstitucional também por força do § 4º do atual artigo 40, que expli-


citamente veda a adoção de critérios e requisitos diferentes dos presen-
tes naquele artigo, salvo em caso de leis complementares que tratem de
servidores portadores de deficiência, que exercem atividade de risco, ou
cujas atividades sob condições que prejudiquem a sua saúde ou integri-
dade física.

Assim, salvo em caso de aposentadoria cujo direito já foi adquirido an-


tes da edição da emenda constitucional, deve-se ignorar o caput e inci-
sos do artigo 186 e focar no dispositivo equivalente do atual artigo 40 da
Constituição, o § 1º, que determina que:
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este
artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores
fixados na forma dos §§ 3º e 17.
I. por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo
de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia pro-
fissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;

150 Gestão de Pessoas no Setor Público


II. compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribui-
ção, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de ida-
de, na forma de lei complementar;
III. voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de
efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se
dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições:
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cin-
quenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher;
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se
mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.

Os mencionados § § 3º e 17 determinam, respectivamente, que o cálculo e


a atualização dos proventos de aposentadoria são estabelecidos por meio
de lei criada para este fim específico. Contudo, mesmo esta deve respei-
tar os limites do § 2º, que estabelece que os proventos de aposentadoria
e pensão não podem ultrapassar a remuneração do cargo efetivo em que
se deu a aposentadoria ou pensão, e do § 6º, que determina que é vedada
a percepção acumulada de aposentadorias deste mesmo regime de pre-
vidência, salvo nos poucos casos de cargos de remuneração acumulável.

PARA SABER MAIS


Atualmente, é a Lei nº 10.887/04 que determina as formas de
cálculo e atualização dos proventos de aposentadoria e o tra-
tamento contido nela não se limita aos servidores públicos
federais, pois afeta os servidores com cargo efetivo em qual-
quer Poder da União, Estados, Distrito Federal e Municípios
e, inclusive, de suas autarquias e fundações.

Ademais, o § 5º do referido artigo constitucional confere redução de cin-


co anos do requisito de idade para a aposentadoria voluntária do “§ 1º,
III, “a”, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo
exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fun-
damental e médio”.

Gestão de Pessoas no Setor Público151


Posto isto, retorna-se para o contexto da Lei nº 8.112/90, já que volta a ter
utilidade e aplicabilidade no § 1º do artigo 186, que traz um rol de doenças
consideradas graves, contagiosas ou incuráveis, para fim de enquadramen-
to no disposto no § 1º, I, do artigo 40 da Constituição, que trata de aposen-
tadoria por invalidez permanente. Assim, descreve o § 1º do artigo 186 que:
§ 1o Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a que se
refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, alienação mental, esclero-
se múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço
público, hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson, paralisia ir-
reversível e incapacitante, espondiloartrose anquilosante, nefropatia gra-
ve, estados avançados do mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na
medicina especializada.

Ainda, o § 3º do artigo 186, embora se refira ao caput, vale para o mencio-


nado dispositivo equivalente da Constituição. Determina ele, simplesmen-
te, que para a aposentadoria por invalidez deverá haver atestado emiti-
do por junta médica oficial que comprove a permanência da condição de
invalidez e a impossibilidade de readaptação do servidor para cargo de
atribuições compatíveis.

O artigo 187 da Lei nº 8.112/90, mais sucinto que o anterior, estabelece


que a aposentadoria por idade, compulsória, é automática; de modo que
o ato que a declara é meramente isto, declarativo de algo que já ocorreu
automaticamente, não constitutivo da aposentadoria.

Apesar de poder se pensar na aposentadoria por invalidez como compul-


sória, ela não será automática, pois o artigo menciona explicitamente que
o texto se aplica à aposentadoria por idade; de modo que a aposentado-
ria por invalidez, portanto, só passa a vigorar após a publicação do ato
que a constitui. E o mesmo ocorre no caso da aposentadoria voluntária,
conforme o disposto no artigo 188.
Os § § 1º e 2º deste último artigo trazem uma determinação de caráter um
pouco arbitrário do legislador, de que “a aposentadoria por invalidez será

152 Gestão de Pessoas no Setor Público


precedida de licença para tratamento de saúde, por período não exce-
dente a 24 (vinte e quatro) meses” e que só após este período, verificada
a impossibilidade do servidor reassumir o cargo ou ser readaptado, é que
haverá aposentadoria por invalidez.

Estranhos os dispositivos, pois será forçado o servidor a tirar licença mes-


mo quando já se sabe que ele não poderá retornar ao cargo ou ser re-
aproveitado. Ainda, o texto fala em prazo máximo, mas não mínimo, e
a licença para tratamento de saúde em si também não estabelece este
limite; portanto, julga-se que basta que o servidor saia de licença por um
único dia para cumprir o requisito. No entanto, vale ressaltar que, mesmo
que fosse forçado a esgotar os vinte e quatro meses da licença, não have-
ria, na prática, nenhum prejuízo para o servidor (RIGOLIN, 2012).

O § 5º fecha o artigo 188 com determinação de que o servidor em licença


para tratamento de saúde, ou mesmo já aposentado por invalidez, pode
ser convocado a qualquer momento, a critério da Administração, para
avaliação das condições que ensejaram a licença ou aposentadoria por
invalidez. Isto ocorre independentemente da vontade do servidor, mas,
evidentemente, deve haver consideração com respeito à possibilidade de
locomoção dele.

O artigo 189 é um que se encontra prejudicado por completo pelo dispos-


to no artigo 40, § 8º, da Constituição que determina que “é assegurado o
reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanen-
te, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei”. Assim, o texto
constante do artigo da Lei nº 8.112/90 só se aplica aos casos de aposenta-
doria anteriores à atual versão do artigo constitucional, que remete à lei
ordinária o reajustamento mencionado.

No artigo seguinte, o legislador criou um grande benefício para o servidor


aposentado com provento proporcional ao tempo de serviço, ao estabe-
lecer que, se acometido por uma das doenças graves, contagiosas ou in-
curáveis listadas no § 1º do artigo 186 e comprovado como inválido por
junta médica oficial, o servidor passará a receber provento integral.

Gestão de Pessoas no Setor Público153


Do mais sobre este tema da aposentadoria, o artigo 191 é outro prejudi-
cado pela nova redação da Constituição, da mesma forma que o caput do
186 e o artigo 194 estabelece que ao servidor aposentado também será
concedida gratificação natalina, na mesma forma que o ativo recebe, mas
referente ao provento de aposentadoria e até o dia vinte de dezembro.

2.2. Auxílio-natalidade

Disciplinado por um único artigo, 196, o auxílio-natalidade é um benefício


pecuniário que é concedido para servidora após a comprovação, por meio
de certidão de nascimento, de que ela deu à luz a uma criança – mesmo
que seja natimorta, ou seja, caso de feto que morreu dentro do ventre da
mãe ou durante o parto.

O valor a ser pago é o equivalente ao menor vencimento do serviço públi-


co naquele mês; ademais, curiosamente, pelo disposto no § 1º a lei deci-
diu acrescer 50% sobre este valor para cada gêmeo.

Controverso pela falta de técnica legislativa adequada (RIGOLIN, 2012), o


§ 2º determinou que “o auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro servi-
dor público, quando a parturiente não for servidora”. Não obstante quais-
quer críticas que se possa fazer por este texto merecer estar no caput na
forma de exceção, é evidente que a intenção do legislador foi de ligar a
concessão do benefício ao fato do servidor ter um novo filho – ou mais de
um – e não em razão de ter passado por trabalho de parto. Assim, lógica é
a concessão para o servidor do auxílio-natalidade, mesmo se foi a cônjuge
ou companheira, não servidora, que em verdade deu a luz à criança.

Vale ressaltar, contudo, que se a intenção foi esta mencionada, pecou o


legislador por não abordar casos como os de gestação de substituição – a
chamada “barriga de aluguel”, em que uma parturiente dá luz a um bebê
para um casal que não tem capacidade física para fazê-lo – e até casos de
adoção de recém-nascidos.

154 Gestão de Pessoas no Setor Público


2.3. Salário-família

Este salário-família do servidor público federal não se confunde com o


benefício de seguridade social de mesmo nome concedido para o traba-
lhador em geral, que tem outros requisitos.

Conforme o artigo 197 da Lei nº 8.112/90, o benefício é concedido para


o servidor ativo ou inativo – que é o aposentado ou em situação de dis-
ponibilidade –, tem valor que é atualmente determinado pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), e é pago por cada dependente econômi-
co que o servidor possui. Estes dependentes são os que se enquadram no
rol exaustivo do parágrafo único, quais sejam:

I. o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive os enteados até 21 (vinte


e um) anos de idade ou, se estudante, até 24 (vinte e quatro) anos ou, se
inválido, de qualquer idade;
II. o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante autorização judicial, viver
na companhia e às expensas do servidor, ou do inativo;
III. a mãe e o pai sem economia própria.

Embora se fale em mãe e pai, não pode haver interpretação para se es-
tender o enquadramento para padrastos e madrastas (RIGOLIN, 2012).
Ademais, os fatos que geram o enquadramento nestas hipóteses devem
ser comprovados e o artigo 198 estabelece que nenhuma das pessoas da-
quela lista poderá ser considerada como dependente econômico se tiver
rendimento de qualquer fonte, inclusive pensão ou provento de aposen-
tadoria, que seja igual ou superior ao salário mínimo.

Há também dois limites referentes ao próprio servidor. O primeiro, é o


limite de remuneração mensal que foi definido pelo artigo 13 da Emenda
Constitucional 20/98 e que é atualizado pelo INSS; se o servidor tiver re-
muneração maior do que este limite, não terá direito ao salário-família,
não importa quantos dependentes econômicos ele possa ter.

Gestão de Pessoas no Setor Público155


LINK
O valor limite para a remuneração do servidor, bem como o
valor que é pago por dependente a título de salário-família,
podem ser conferidos no link a seguir, do site do INSS. BRASIL.
Instituto Nacional do Seguro Social. Valor limite para direito
ao salário-família. Brasília, Disponível em: <https://www.inss.
gov.br/beneficios/salario-familia/valor-limite-para-direito
-ao-salario-familia>. Acesso em: 26 jul. 2018.

O segundo limite referente ao servidor está presente no artigo 199 da Lei


nº 8.112/90, que determina servidores pai e mãe – neste caso específico,
inclui-se padrasto e madrasta, conforme equiparação do parágrafo úni-
co – que morarem juntos só terão direito ao recebimento de um salário-
família. Se viverem separados, o salário-família será dividido entre eles
conforme a distribuição dos dependentes.
Outro tipo de limite para o benefício é o de seu valor máximo, que foi fixa-
do, no artigo 14 da Emenda Constitucional 20/98, em R$1.200,00, mas que,
desde então, tem de ser “reajustado de forma a preservar, em caráter per-
manente, seu valor real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos be-
nefícios do regime geral de previdência social”, segundo o texto do artigo.
Do mais, a Lei nº 8.112/90 determina, nos artigos 200 e 201, respectiva-
mente, que “o salário-família não está sujeito a qualquer tributo, nem
servirá de base para qualquer contribuição, inclusive para a Previdência
Social” e que nem o afastamento não remunerado de cargo efetivo gera
suspensão do salário-família; revelando-se nestes o caráter protetivo e
moral do benefício.

2.4. Licença para tratamento de saúde


A licença para tratamento de saúde não se confunde com a licença por
motivo de doença em pessoa da família, pois, além de ter natureza dis-
tinta, securitária, é também voltada para caso em que o próprio servidor
adoece, não seus familiares.

156 Gestão de Pessoas no Setor Público


É ela concedida, segundo o artigo 202, sem prejuízo da remuneração do
servidor e em razão de pedido dele ou até mesmo de ofício. Portanto,
mesmo que, por qualquer motivo, o doente não peça a licença, pode a
Administração concedê-la.

EXEMPLIFICANDO
Um caso que pode se imaginar de concessão da licença de
ofício é o de servidor que tem orgulho de jamais faltar ao
trabalho, que adoece e continua indo trabalhar, sem sequer
pedir a licença; mas, por uma questão de risco de saúde dos
demais servidores, que ficam expostos ao doente, a autorida-
de administrativa determina de ofício a concessão da licença.

Para a concessão, é indispensável também embasamento em perícia mé-


dica oficial. Esta, se necessário, poderá ser realizada na residência do ser-
vidor ou no estabelecimento hospitalar onde estiver internado, pelo dis-
posto no § 1º do artigo 203. E será aceito até mesmo atestado de médico
particular, no caso excepcional do § 2º, em que inexiste médico oficial em
órgão ou entidade onde o servidor se encontra ou onde ele tem exercício
permanente, e em que não se enquadram as hipóteses do artigo 230 –
que serão analisadas mais à frente, quando for abordado o tema da as-
sistência à saúde. Contudo, neste último caso só se produzirão os efeitos
do atestado após o seu recebimento por unidade de recursos humanos
do órgão ou entidade, conforme determinação do § 3º.
Por sua vez, o § 4º cria maior rigor para as licenças que perdurem por
mais de cento e vinte dias – dentro de um período de doze meses, conta-
dos do primeiro dia de afastamento – ao determinar que para estas não
basta a perícia médica de um único profissional, seja ele oficial ou não; é
necessário que seja feita avaliação por junta médica oficial. Entende-se,
no entanto, que se este requisito foi preenchido logo quando se concedeu
a licença, inicialmente, não haverá necessidade de fazer nova avaliação
por junta após transcorridos os cento e vinte dias.

Gestão de Pessoas no Setor Público157


Ao contrário do dispositivo anterior, o artigo 204 traz suavização das exi-
gências da concessão da licença para tratamento de saúde, mas para o
caso de licença de prazo inferior a quinze dias. Para estas, determina que
poderá – ou seja, não necessariamente deverá – ser dispensada a perícia
oficial, conforme o que for determinado em regulamento.

Como o artigo menciona dispensa de “perícia oficial” e não de “qualquer


comprovação”, parece que o legislador pretendeu que a licença por aque-
le prazo curto pudesse ser concedida com base em alguma forma sim-
ples de comprovação da condição do doente, como atestado de médico
particular ou mesmo indícios visuais que deixam evidente a condição de
doente do servidor – ele regurgita, tem inchaço, tem aparência pálida etc.

O artigo seguinte, 205, é um que foi incluído para preservar a privacidade


do servidor, pois determina que “o atestado e o laudo da junta médica
não se referirão ao nome ou natureza da doença, salvo quando se tratar
de lesões produzidas por acidente em serviço, doença profissional” ou
alguma das doenças listadas como graves pelo já estudado artigo 186, §
1º, da seção que trata de aposentadoria. Por mais admirável que se pos-
sa considerar essa determinação arbitrária do legislador, Rigolin (2012)
sugere que talvez seja inconstitucional, frente ao princípio da publicidade
dos atos da Administração.

Por fim, os artigos 206 e 206-A deliberam sobre hipóteses de obrigatorieda-


de de submissão do servidor à inspeção médica. Pelo primeiro determinou-
se que isto se aplica a qualquer “servidor que apresentar indícios de lesões
orgânicas ou funcionais” e, pelo segundo, estabeleceu-se que todo servidor
será submetido a exames periódicos, conforme termos e condições de re-
gulamento, que atualmente se dá na forma do Decreto nº 6.856/09.

158 Gestão de Pessoas no Setor Público


PARA SABER MAIS
O Decreto nº 6.856/09 determina periodicidades diferentes
para exames, considerando-se vários critérios como idade do
servidor e exercício de cargo que opera com substâncias ra-
dioativas. Lista também alguns dos tipos de exames que po-
dem ser exigidos dos servidores, como hemograma completo,
exame de colesterol, mamografia, avaliação clínica geral etc.

Faz-se isto, pois é do interesse da Administração que seus funcionários


sejam saudáveis, por questões de saúde pública e até de eficiência, já que
servidores doentes não podem exercer suas atribuições ou o fazem de
modo reduzido e podem até contaminar outros, se for o caso de doença
transmissível.

Tamanho é este interesse da Administração que o parágrafo único do arti-


go 206-A, que lista formas pelas quais se pode facilitar a realização daque-
le fim, traz até hipótese de celebração de convênio com planos de saúde,
como se pode verificar do texto do dispositivo, que citamos na íntegra por
questão didática:
Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, a União e suas entida-
des autárquicas e fundacionais poderão:
I. prestar os exames médicos periódicos diretamente pelo órgão ou entida-
de à qual se encontra vinculado o servidor;
II. celebrar convênio ou instrumento de cooperação ou parceria com os ór-
gãos e entidades da administração direta, suas autarquias e fundações;
III. celebrar convênios com operadoras de plano de assistência à saúde, or-
ganizadas na modalidade de autogestão, que possuam autorização de fun-
cionamento do órgão regulador, na forma do art. 230; ou
IV. prestar os exames médicos periódicos mediante contrato administrati-
vo, observado o disposto na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e demais
normas pertinentes.

Gestão de Pessoas no Setor Público159


2.5. Licença à gestante, à adotante e licença-paternidade

Conforme o artigo 207 e § §, a licença à gestante é concedida sem prejuízo


de remuneração e dura cento e vinte dias, necessariamente consecutivos.
Apesar do nome, ela poderá ter início em três momentos diferentes: no
primeiro dia do nono mês de gestação; em data anterior, se houver prescri-
ção médica de “junta oficial ou médico servidor público” (RIGOLIN, 2012, p.
440) que recomende esta antecipação; ou a partir do parto, se prematuro.
Para casos excepcionais, de natimorto e de aborto, a Lei nº 8.112/90 esta-
beleceu que a licença será de trinta dias; contudo, não poderia tê-lo feito,
devido ao inciso XVIII do artigo 7º da Constituição Federal, que criou a li-
cença. A licença é definida como para gestantes, não para quem dá luz a
bebê saudável, tanto que normalmente se inicia antes mesmo do parto; e
se a Constituição estabeleceu duração de cento e vinte dias – como o fez –,
então não cabe à lei infraconstitucional limitar este direito constitucional.
As demais licenças presentes naquela mesma seção da Lei nº 8.112/90
são para adotantes e para licença-paternidade.
No caso do pai biológico ou adotivo, devido a nascimento ou adoção – aqui,
ressalta-se, não se distingue idade do adotado – concede-se licença de cin-
co dias consecutivos para que ele possa aproveitá-los com o novo filho.
A lei é silente quanto à remuneração desta licença, mas presume-se que
seja remunerada, pelo contexto das demais que ocupam a mesma seção
e porque, se fosse o caso contrário, este detalhe deveria ser mencionado.
Já para a mãe servidora, que adota ou obtém guarda judicial de criança,
são concedidos noventa dias de licença remunerada, caso a criança tenha
até um ano de idade, e trinta dias caso a criança tenha mais de um ano.
Por fim, a seção que trata destas licenças traz também, no artigo 209, uma
determinação não sobre nenhuma licença, mas com assunto ainda rela-
cionado à maternidade. Neste artigo, o legislador estabeleceu que a ser-
vidora lactante tem direito a uma hora de descanso – que pode ser parce-
lada em dois períodos de meia hora – durante a jornada de trabalho, para
que ela possa amamentar filho que tenha idade de até seis meses.

160 Gestão de Pessoas no Setor Público


2.6. Licença por acidente de serviço

A licença por acidente de serviço é disciplinada pelos artigos 211 a 214 da


Lei nº 8.112/90. Ela confere remuneração integral ao servidor enquanto
perdurar e se configura pela ocorrência de acidente direta ou indireta-
mente relacionado ao exercício das atribuições do cargo do servidor, que
lhe cause danos físico ou mental.

Quem decidirá quanto à existência ou não de nexo – direto ou indireto –


entre o exercício do cargo e o dano será a junta médica oficial e, desta for-
ma, a ela recai grande poder decisório. Por um lado, na maioria dos casos
é difícil arguir-se pela existência do nexo – especialmente em se tratando
de dano mental –, mas, por outro, a consideração de relação indireta am-
plia bastante a margem de admissibilidade para a concessão da licença.

O parágrafo único do artigo 212 traz, ainda, duas hipóteses específicas em


que o dano deverá ser equiparado com acidente de serviço, mas mesmo
nelas a decisão poderá ser subjetiva. A primeira é a decorrência de agres-
são contra o servidor no exercício de seu cargo, contanto que ele não a te-
nha provocado; o sofrimento de agressão é claro e facilmente averiguado,
mas o mesmo não se pode dizer para a questão da provocação.

Já a segunda hipótese específica é a do servidor sofrer dano “no percurso


da residência para o trabalho e vice-versa”; é um caso de análise decidida-
mente mais objetiva, mas, como sugere Rigolin (2012), pode haver dúvida
quando o servidor faz algum desvio no caminho para sua casa, por exem-
plo, para comprar algo.

Por fim, os artigos 213 e 214 trazem duas determinações de grande valor
para o servidor que sofreu acidente, pois o primeiro permite que, se das
circunstâncias particulares do caso houver necessidade, a junta médica
oficial poderá, excepcionalmente, recomendar que o servidor seja tratado
em instituição privada, à conta de recursos públicos, ao invés de institui-
ção pública.

Gestão de Pessoas no Setor Público161


O segundo, por sua vez, demanda a apresentação de prova do acidente
em até dez dias para que se conceda a licença; porém, permite a prorro-
gação deste prazo para caso em que as circunstâncias o exigirem, sem
determinar qualquer limite para esta prorrogação. Assim, deve-se inter-
pretar que, a critério da Administração, este prazo poderá ser prorrogado
indefinidamente.

2.7. Pensão

A pensão é o benefício concedido por morte do servidor. Além da sua


forma mais comum, permanente, ela também pode ser concedida em ca-
ráter provisório para os casos de morte presumida, listados no artigo 221,
de: ausência declarada por autoridade judiciária competente, desapare-
cimento em desabamento, inundação, incêndio ou acidente em serviço,
fora dele, ou em missão de segurança. Se o desaparecido reaparecer, será
cancelada a pensão, mas se continuar desaparecido por cinco anos será
transformada em pensão permanente.

Seja qual desses casos for, são beneficiárias as pessoas relacionadas ao


servidor elencadas no rol do artigo 217, quais sejam:
I. o cônjuge;
II. o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato, com percep-
ção de pensão alimentícia estabelecida judicialmente;
III. o companheiro ou companheira que comprove união estável como en-
tidade familiar;
IV. o filho de qualquer condição que atenda a um dos seguintes requisitos:
a) seja menor de 21 (vinte e um) anos;
b) seja inválido;
c) tenha deficiência grave; ou
d) tenha deficiência intelectual ou mental, nos termos do regulamento;
V. a mãe e o pai que comprovem dependência econômica do servidor; e
VI. o irmão de qualquer condição que comprove dependência econômica
do servidor e atenda a um dos requisitos previstos no inciso IV.

162 Gestão de Pessoas no Setor Público


Contudo, o § § do artigo fazem alguns adendos a isto. O § 1º determina
que se for concedida pensão para cônjuge, companheiro ou filho, ela não
será concedida para pais ou irmãos; e o § 2º, que se for concedida para
um dos pais, não será concedida para irmãos. Já o § 3º, estabelece que “o
enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração
do servidor e desde que comprovada dependência econômica, na forma
estabelecida em regulamento”. Ainda, a falta de dispositivo similar ao an-
terior, para padrasto ou madrasta, sugere que eles não devem ser equi-
parados aos pais.

Ademais, existem duas vias pelas quais os beneficiários perderão acesso


ao benefício: a perda do direito à pensão ou da qualidade de beneficiá-
rio. A primeira se dá pela condenação transitada em julgado – ou seja,
sem possibilidade de interposição de recurso – por crime que resultou
intencionalmente na morte do servidor; ou pela simulação ou fraude em
casamento ou união estável, comprovada em processo judicial, que foi re-
alizada com o fim de constituir relação de cônjuge ou companheiro para
receber a pensão.

Já a perda da qualidade de beneficiário se dá por uma grande variedade


de motivos, listados no artigo 222:
Art. 222. Acarreta perda da qualidade de beneficiário:
I. o seu falecimento;
II. a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer após a concessão da
pensão ao cônjuge;
III. a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiário inválido, o afasta-
mento da deficiência, em se tratando de beneficiário com deficiência, ou o
levantamento da interdição, em se tratando de beneficiário com deficiência
intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, res-
peitados os períodos mínimos decorrentes da aplicação das alíneas “a” e “b”
do inciso VII;
IV. o implemento da idade de 21 (vinte e um) anos, pelo filho ou irmão;
V. a acumulação de pensão na forma do art. 225;
VI. a renúncia expressa; e

Gestão de Pessoas no Setor Público163


VII. em relação aos beneficiários de que tratam os incisos I a III do caput do
art. 217:
a) o decurso de 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o servidor
tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o casamento ou a
união estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do
óbito do servidor;
b) o decurso dos seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade
do pensionista na data de óbito do servidor, depois de vertidas 18 (dezoito)
contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamen-
to ou da união estável:
1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade;
3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade;
4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade;
5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade;
6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade.

Ocorridas quaisquer destas hipóteses, a cota da pessoa que perdeu


o benefício de pensão reverte, conforme o artigo 223, para os demais
beneficiários.
Neste tema de valores, é importante lembrar que o inciso XI do artigo 37
da Constituição – já estudado em aula sobre remuneração –, que deter-
mina o valor máximo da remuneração dos servidores públicos, também
se aplica ao valor da pensão. Ademais, o § 7º do artigo 40 da Constituição
estabelece que lei específica irá dispor sobre os valores exatos da pensão
– e mantê-los atualizados, em respeito ao artigo 224 da Lei nº 8.112/90 –,
mas que eles devem ser iguais:
I. ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite má-
ximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social
de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente
a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou
II. ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em
que se deu o falecimento, até o limite máximo estabelecido para os benefí-
cios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido
de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade
na data do óbito.

164 Gestão de Pessoas no Setor Público


Sejam quais forem estes valores, o artigo 218 da Lei nº 8.112/90 esclarece
que eles deverão ser distribuídos igualmente entre todos os beneficiários;
e o artigo 225 determina que, ressalvado eventual direito legal de opção,
não se pode acumular mais de duas pensões, de modo geral, ou mais de
uma, se concedida por motivo de morte de cônjuge ou companheiro.
Por fim, o artigo 219 determina que a pensão pode ser requerida a qual-
quer tempo, mas que o beneficiário só pode exigir as prestações antigas
de até cinco anos anteriores ao requerimento. No entanto, esclarece o pa-
rágrafo único que os beneficiários que já recebem pensão, anteriormente
a um outro que requereu tardiamente o benefício, só serão afetados por
nova prova que os exclua como beneficiários ou reduza as pensões deles
desde a data em que as provas foram trazidas.

2.8. Auxílio-funeral

Este benefício, disciplinado pelos artigos 226 a 228, é concedido a qual-


quer pessoa que houver custeado o funeral de servidor público, quer este
tenha falecido ainda em atividade ou já aposentado. O valor do auxílio é
equivalente a um mês de remuneração – do cargo de maior remunera-
ção, em caso de acumulação legal – ou provento do servidor, e deverá ser
pago em até 48 horas, contadas da comprovação do custeio do funeral.
Ademais, a União – ou autarquia ou fundação pública, em que o servidor
trabalhava –arcará com as despesas de transporte do corpo, caso o ser-
vidor tenha falecido em serviço, mas fora do local de trabalho. Quanto a
isto, vale ressaltar que não é feita nenhuma restrição quanto à distância
ou sequer país.

2.9. Auxílio-reclusão

Conforme o artigo 229, o único que trata do benefício, o auxílio-reclusão


é concedido à família do servidor ativo – ou seja, não aposentado, em dis-
ponibilidade – e perdura até que ele seja posto em liberdade, ainda que
meramente condicional.

Gestão de Pessoas no Setor Público165


Há dois valores para o auxílio, que se referem a dois casos diferentes. O
primeiro tem valor de dois terços da remuneração do servidor e é con-
cedido quando o servidor for afastado, em razão de prisão em flagrante
ou preventiva. Pelo disposto no § 1º, se o servidor depois for absolvido,
poderá pedir a integralização de sua remuneração – ou seja, o pagamento
de toda a remuneração que deixou de receber enquanto estava preso.

Já o segundo caso é aquele em que o servidor for afastado – sem a per-


da de cargo, evidentemente – por condenação em sentença que julgou
o mérito da questão. Nesta situação, a família receberá auxílio de valor
equivalente à metade da remuneração do servidor; valor menor do que
no outro caso, devido à certeza de responsabilidade do servidor, dada a
condenação.

Por fim, no § 3º, de recente inclusão e péssima técnica legislativa, ficou


estabelecido que as disposições do artigo 229 sobre auxílio-reclusão es-
tendem-se a todos que são considerados dependentes do servidor preso,
conforme a mesma definição feita para a pensão por morte, no artigo 217.

3. Assistência à saúde

A Lei nº 8.112/90 só trata genericamente da assistência à saúde do ser-


vidor público federal, deixando o detalhamento de várias de suas partes
para outras normas.

Assim, no artigo 230 definiu-se que a assistência à saúde é conferida para


servidor ativo ou inativo, bem como para sua família. O artigo ainda esta-
belece, de modo extremamente amplo, que ela compreende assistência
de cunho médico, hospitalar, odontológico, psicológico e farmacêutico.
Ademais, também envolve a implementação de quaisquer tipo de ações
preventivas que sejam voltadas para a promoção da saúde, como campa-
nhas de vacinação.

166 Gestão de Pessoas no Setor Público


ASSIMILE
Não se deve esquecer que, como se viu no estudo da parte
de disposições gerais sobre a seguridade social do servidor
público, ao servidor que exclusivamente ocupa cargo em co-
missão é conferida assistência à saúde. Este servidor que não
tem cargo efetivo só não tem acesso aos ditos “benefícios”,
como a aposentadoria, auxílio-natalidade etc..

Esta assistência é prestada, via de regra, pelo Sistema Único de Saúde


(SUS) ou diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o
servidor, ou na forma dos auxílios já estudados.
Porém, pode ser realizada também mediante convênio – possibilidade
autorizada pelo inciso I do § 3º, embora já pudesse ser feita mesmo se o
dispositivo não existisse – ou contrato – na forma da lei de licitações, Lei
nº 8.666/93 –, e mediante o ressarcimento do valor despendido pelo ser-
vidor com planos ou seguros privados de assistência à saúde, conforme
regulamento.
Quanto ao último caso, o § 5º traz uma obviedade, que é a de que o ressar-
cimento não pode ser superior ao valor despendido; e cada Poder pode
estabelecer outros limites, como no caso do Poder Executivo, em que
a Portaria nº 8/16 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG) – que ainda tem vigência, não obstante o fato de que o MPOG foi
transformado em Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
– atualmente define valores máximos desse ressarcimento em reais, divi-
didos em diversas faixas.
Por fim, o § 1º define que, na ausência de médico ou junta médica oficial
para qualquer caso exigido na Lei nº 8.112/90, deve, para realizar a perí-
cia, avaliação ou inspeção médica necessária, ser feito convênio, prefe-
rencialmente, com uma das entidades que lá estão listadas, quais sejam:
unidades de atendimento do SUS, entidades sem fins lucrativos declara-
das de utilidade pública e o INSS.

Gestão de Pessoas no Setor Público167


Se até isto não for possível, deve-se justificar o porquê e então promover,
conforme o § 2º, a contratação de uma pessoa jurídica privada – da área
de atendimento à saúde, evidentemente – para constituir uma junta mé-
dica para aquele fim específico, “indicando os nomes e especialidades dos
seus integrantes, com a comprovação de suas habilitações e de que não
estejam respondendo a processo disciplinar”.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Reflita sobre o que foi visto nesta aula para considerar se os bene-
fícios concedidos pelo Plano de Seguridade Social do Servidor são
adequados, bons ou se necessitam ser expandidos. Reflita também
sobre o escopo de aplicabilidade dele. Por exemplo, é justo que al-
guns dos benefícios sejam estendidos para os pais do servidor, mas
não para padrastos e madrastas?

4. Considerações finais

• Não se deve esquecer que os benefícios da seguridade social do ser-


vidor público federal são devido ao servidor e sua família, mas não
em caso em que o servidor ocupa exclusivamente cargo em comis-
são, ou seja, sem ter cargo efetivo.

• Deve-se ter atenção para o fato de que benefícios diferentes são


concedidos para beneficiários diferentes. Nem sempre o beneficiá-
rio é o servidor diretamente e sua família indiretamente, em alguns
casos esta é beneficiária direta.

• É importante ressaltar que as licenças presentes na parte de seguri-


dade social não se confundem com as licenças que são concedidas a
título de vantagem do servidor. Assim, a lógica de interpretação que
se utiliza para umas não necessariamente se aplica às outras.

168 Gestão de Pessoas no Setor Público


• A assistência à saúde envolve uma imensidão de tratamentos, exa-
mes e ações preventivas voltadas para a saúde do servidor e sua
família, e pode ser realizada de diversas formas, inclusive, em caso
excepcional, através de convênios e contratos com instituições
particulares.

Glossário
• Natimorto: termo que se refere ao feto que morreu no útero ou
durante o parto. Não deve ser confundido com a criança que mor-
re logo após o nascimento, pois há consequências diferentes para
o Direito.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 07
1. De acordo com o que foi estudado sobre o benefício de
seguridade social do servidor público federal de aposenta-
doria, é correto afirmar que:
a) Aposenta-se o servidor público federal: por acidente de
serviço; compulsória e automaticamente, aos 70 ou 75
anos de idade, conforme o que define lei complemen-
tar; ou voluntariamente, conforme a idade e o sexo do
servidor.
b) Aposenta-se o servidor público federal: por acidente de
serviço; a pedido, aos 70 ou 75 anos de idade, confor-
me o que define lei complementar; ou voluntariamen-
te, conforme a idade do servidor.
c) Aposenta-se o servidor público federal: por invalidez de
qualquer tipo; compulsoriamente, mas não automati-
camente, aos 70 ou 75 anos de idade, conforme o que
define lei complementar; ou voluntariamente, confor-
me a idade do servidor.

Gestão de Pessoas no Setor Público169


d) Aposenta-se o servidor público federal: por invalidez
permanente; compulsória e automaticamente, aos 70
ou 75 anos de idade, conforme o que define lei com-
plementar; ou voluntariamente, conforme a idade e o
sexo do servidor.
e) Aposenta-se o servidor público federal: por invalidez
permanente ou temporária; compulsória e automati-
camente, aos 70 ou 75 anos de idade, conforme o que
define lei complementar; ou voluntariamente, confor-
me a idade do servidor.
2. “O auxílio-natalidade é concedido ao servidor, em razão
de nascimento de filho, mesmo que natimorto, e mesmo
que quem tenha dado a luz à criança tenha sido cônjuge
ou companheira que não é servidora, PORQUE o que dá
ensejo ao auxílio-natalidade é o fato de ter havido nasci-
mento, não o fato de servidora ter passado por situação
de parto”.
a) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justi-
fica a primeira.
b) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda
não justifica a primeira.
c) A primeira afirmação é verdadeira, mas a segunda é
falsa.
d) A primeira afirmação é falsa, mas a segunda é
verdadeira.
e) As duas afirmações são falsas.
3. “O benefício mais adequado para o caso de servidor que
sofre acidente no caminho de volta do trabalho para sua
casa é o da licença . Ela é concedida , pelos/por
e pode até ser concedida para caso de dano mental,
não só físico”.

170 Gestão de Pessoas no Setor Público


Assinale a alternativa que preenche as lacunas respec-
tivamente.
a) por acidente de serviço; sem remuneração; toda a du-
ração da licença.
b) por acidente de serviço; sem prejuízo da remuneração;
toda a duração da licença.
c) por acidente de serviço; sem prejuízo da remuneração;
primeiros trinta dias da licença.
d) para tratamento de saúde; sem remuneração; toda a
duração da licença.
e) para tratamento de saúde; sem prejuízo da remunera-
ção; primeiros cento e vinte dias da licença.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em: 29 jul. 2018.
. Decreto nº 6.856, de 25 de maio de 2009. Regulamenta o art. 206-A da Lei
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mes médicos periódicos de servidores. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.
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mília. Brasília. Disponível em: <https://www.inss.gov.br/beneficios/salario-familia/
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servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8112cons.htm>.
Acesso em: 29 jul. 2018.
. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Brasília, disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/CCivil_03/Leis/L8666cons.htm>. Acesso em: 29 jul. 2018.

Gestão de Pessoas no Setor Público171


. Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004. Dispõe sobre a aplicação de disposições
da Emenda Constitucional no 41, de 19 de dezembro de 2003, altera dispositivos das
Leis nos 9.717, de 27 de novembro de 1998, 8.213, de 24 de julho de 1991, 9.532, de
10 de dezembro de 1997, e dá outras providências. Brasília. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.887.htm>. Acesso em: 29
jul. 2018.
. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Portaria nº 8, de 13 de ja-
neiro de 2016. Brasília. Disponível em: <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visu
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Acesso em: 29 jul. 2018.

RIGOLIN, Ivan B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei
n. 8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gabarito – Tema 07

Questão 1 – Resposta: D
A primeira alternativa está incorreta, pois o acidente de serviço não
constitui, diretamente, motivo para aposentadoria, já que deve de-
correr invalidez permanente do acidente para isso. Já a segunda al-
ternativa está incorreta, pois repete o erro da primeira e acrescenta
mais erros ao dizer que a aposentadoria aos 70 ou 75 anos de idade
se dá a pedido, ao invés de compulsoriamente, e ainda omite o fa-
tor de sexo para a aposentadoria voluntária. Por sua vez, a terceira
alternativa está incorreta, pois não há aposentadoria por invalidez
“de qualquer tipo” já que é só a invalidez permanente que consti-
tui motivo para aposentadoria; ainda, erra também ao omitir o fator
sexo para a aposentadoria voluntária e erra novamente ao negar o
caráter automático da aposentadoria compulsória. Por fim, a última
alternativa repete erros anteriores relacionados à aposentadoria por
invalidez permanente e à voluntária.

172 Gestão de Pessoas no Setor Público


Questão 2 – Resposta: A
De fato, ambas as afirmações são verdadeiras e a segunda justifica
a primeira. Embora o artigo 196 tenha técnica legislativa questioná-
vel por mencionar que “o auxílio-natalidade é devido à servidora por
motivo de nascimento de filho”, utilizando a expressão “servidora” ao
invés da expressão neutra “servidor”; o § 2º do artigo deixa claro que
“o auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro servidor público,
quando a parturiente não for servidora”.

Questão 3 – Resposta: B
Não se trata de licença para tratamento de saúde, pois o caso des-
crito, embora não seja acidente de serviço propriamente dito, equi-
para-se a ele por força do artigo 212, parágrafo único, II, da Lei nº
8.112/90. Esta licença é concedida sem prejuízo da remuneração e,
aliás, também o é a licença para tratamento de saúde, então não se
poderia falar em licença sem remuneração em nenhum destes ca-
sos. Por fim, quanto à última lacuna, a remuneração se dá por todo o
período da licença e o mesmo ocorreria até se fosse caso de licença
para tratamento de saúde, pois os 120 dias de que se fala dela são
referentes à necessidade de avaliação do servidor por junta médica
oficial, não à remuneração da licença.

Gestão de Pessoas no Setor Público173


TEMA 08

CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA E
DISPOSIÇÕES FINAIS

Objetivos

• Estudar os casos de necessidades temporárias e de


excepcional interesse público que ensejam a contra-
tação de servidores por prazo determinado.

• Compreender as diferenças do tratamento legal dos


servidores temporários em comparação ao dos servi-
dores efetivos.

• Tomar conhecimento das disposições gerais e finais


da Lei nº 8.112/90.

Gestão de Pessoas no Setor Público174


Introdução

Nesta aula você aprenderá, primeiramente, sobre a contratação de ser-


vidores por prazo determinado, que se dá, atualmente, pela disciplina da
Lei nº 8.745/93, pois os artigos da Lei nº 8.112/90 referentes a isto foram
revogados.

Assim, no contexto da Lei nº 8.745/93 serão estudados os motivos que


ensejam esta forma de contratação que é excepcional. Eles vão desde a
necessidade urgente de mais servidores para atendimento adequado a
situações de calamidade pública e emergências ambientais, até casos ain-
da excepcionais, mas menos graves, como o de falta de professores para
atender a um aumento de demanda e casos de ocorrência relativamente
comum, mas de grande âmbito, como o de realização de pesquisa de cen-
so demográfico em todo o país.

Feito isto, serão analisadas as peculiaridades relativas aos servidores


temporários, que diferem dos servidores efetivos por realizarem funções
públicas sem, no entanto, ocuparem cargos públicos. Como se verá, em
razão de seu caráter temporário, eles têm formas de contratação e remu-
neração únicas e simplificadas, mas a eles também se estendem alguns
dos deveres e benefícios dos servidores efetivos.

Por fim, você tomará conhecimento das disposições finais da Lei nº


8.112/90. Devido ao tamanho reduzido desta última parte, serão agrupa-
das também as disposições gerais referentes ao penúltimo título da Lei
que tratam de tópicos como o da criação do Dia do Funcionário Público e
da forma como se dá a contagem dos prazos presentes na Lei.

Gestão de Pessoas no Setor Público175


1. Contratação temporária de excepcional interesse
público

A Constituição Federal estabeleceu, no seu artigo 37, inciso IX, que “a lei
estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para aten-
der a necessidade temporária de excepcional interesse público” e, para
atender a essa disposição, a Lei nº 8.112/90 trazia os artigos de número
232 a 235. Contudo, após três anos, todos esses artigos foram revogados
por determinação expressa do artigo 18 da Lei nº 8.745/93, que é o diplo-
ma legal que passou a disciplinar esse instituto da contratação tempo-
rária de excepcional interesse público e que, em si, tem sofrido diversas
alterações ao longo do tempo.
Assim, no artigo 1º a Lei nº 8.745/93 determinou que, para atender a um
interesse público de caráter excepcional e temporário, “os órgãos da
Administração Federal direta, as autarquias e as fundações públicas po-
derão efetuar contratação de pessoal por tempo determinado” – tempo
que, já se adianta, é contado como tempo de serviço para todos os efei-
tos, por força do artigo 16.
Deve-se ter atenção para o fato de que a contratação é necessariamen-
te por tempo determinado, o que não significa que, em todos os casos,
haverá termo exato prefixado, como de um ou dois anos etc. Para expli-
car esse conceito de prazo determinado, faz-se conveniente emprestar a
definição que consta da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para os
trabalhadores em geral, em seu artigo 443, § 1º, de que prazo determina-
do é aquele “cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução
de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento
suscetível de previsão aproximada”.
Embora este último dispositivo, ressalte-se, não se aplique ao presente
caso, considera-se razoável a interpretação de que a Lei nº 8.745/93 – que
não traz definição exata do que considera como prazo determinado – acei-
te que prazo determinado possa ser aquele que está ligado à conclusão
de um serviço ou ao acontecimento de evento previsível; contanto que,
claro, sejam respeitados os prazos máximos contidos na Lei nº 8.745/93.

176 Gestão de Pessoas no Setor Público


A outra parte do artigo 1º refere-se à “necessidade temporária de excep-
cional interesse público” para as contratações temporárias, o que, feliz-
mente, a lei define no artigo 2º, através de rol detalhado e extenso de
casos. Assim, passa-se para a análise dos vários incisos deste artigo.

1.1. Casos de necessidade temporária de excepcional interesse


público

O caso do inciso I é o de assistência em estado de calamidade pública,


que é situação que deve ser decretada pelo Presidente da República, para
o país todo, ou pela autoridade local competente, para aquela localidade
específica.

Já o do inciso II é de assistência a emergências em saúde pública, como


epidemia de doença grave. Quanto a este caso, vale notar que o § 4º de-
termina que o Poder Executivo deve constituir ato para dispor sobre a
declaração de emergências em saúde pública para efeitos únicos desta lei
de contratação temporária.

Por sua vez, o inciso III estabelece como necessidade temporária de excep-
cional interesse público a “realização de recenseamentos e outras pesqui-
sas de natureza estatística efetuadas pela Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística” (IBGE); ou seja, trata-se de pesquisas como o
censo demográfico, cujo objetivo é de adquirir conhecimentos quanto
à composição da população em termos de números, estrutura familiar,
sexo, gênero, idade etc. Evidentemente, depois de realizada a pesquisa
não haverá motivo para manter o contratado a serviço da Administração;
deste modo, a atividade naturalmente envolve contratos temporários.

Outros dois casos são os dos incisos IV e V de, respectivamente, admissão


de professor substituto e professor visitante, e admissão de professor e
pesquisador visitante estrangeiro.

O § 1º dá tratamento para a contratação de professor substituto especifica-


mente, estabelecendo que pode decorrer de: vacância de cargo – embora

Gestão de Pessoas no Setor Público177


seja necessário ressaltar que o cargo não será propriamente preenchido
pelo substituto –; afastamento ou licença do professor regular; ou no-
meação do professor regular para ocupar cargo de direção de reitor, vi-
ce-reitor, pró-reitor ou diretor de campus. Estes professores seguem os
limites de vinte ou quarenta horas de trabalho, conforme o § 10º, e pelo
§ 2º, qualquer instituição federal de ensino não deve ter número total de
professores substitutos e visitantes não-estrangeiros que ultrapasse vinte
por cento do número de docentes em cargos efetivos.

Quanto aos professores unicamente visitantes, estrangeiros ou não, têm


tratamento especial pelos § § 5º a 8º. Eles são contratados com o fim de
contribuírem com o aprimoramento de programas de mestrado, douto-
rado, ensino geral, pesquisa e extensão e até programas de capacitação
de docentes; bem como para viabilizar iniciativas de intercâmbio científico
e tecnológico entre as instituições de onde se originam e as que visitam.

Ainda, para ser contratado, um professor visitante deve: ser docente ou


pesquisador com renome em sua área profissional, atestado por delibe-
ração do Conselho Superior da instituição contratante; ter título de dou-
tor há, pelo menos, dois anos – embora não se compreenda a utilidade de
se diferenciar uns doutores de outros pelo mero decorrer de tempo –; e
ser docente ou pesquisador com produção científica relevante – requisito
um pouco vago –, preferencialmente nos últimos cinco anos – ou seja, se
houver dois professores com produção similar, deve-se dar preferência
ao convite daquele que tem produção mais recente.

Abre-se, no entanto, exceção para o caso de Instituições da Rede Federal


de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em que, pelo disposto
no § 8º, poderá se dispensar o requisito de título de doutor, desde que o
professor visitante possua “comprovada competência em ensino, pesqui-
sa e extensão tecnológicos ou reconhecimento da qualificação profissio-
nal pelo mercado de trabalho, na forma prevista pelo Conselho Superior
da instituição contratante”.

178 Gestão de Pessoas no Setor Público


Finalmente, para encerrar este tratamento surpreendentemente detalha-
do sobre os professores substitutos e visitantes, estrangeiros ou não, que
a Lei nº 8.745/93 dá, o § 9º determina que a contratação destes profes-
sores pode ser autorizada pelo dirigente da instituição de ensino contra-
tante, contanto que existam recursos públicos suficientes para fazê-lo e
que seja respeitada a quantidade máxima de contratos estabelecida para
aquela instituição federal de ensino.

Continuando, então, a lista do que se considera como necessidade tem-


porária de excepcional interesse público, o inciso VI traz uma série de ati-
vidades que se enquadram nessa definição. São elas atividades:
a) especiais nas organizações das Forças Armadas para atender à área in-
dustrial ou a encargos temporários de obras e serviços de engenharia;
b) de identificação e demarcação territorial;
d) finalísticas do Hospital das Forças Armadas;
e) de pesquisa e desenvolvimento de produtos destinados à segurança de
sistemas de informações, sob responsabilidade do Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações - CEPESC;
f) de vigilância e inspeção, relacionadas à defesa agropecuária, no âmbi-
to do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, para atendimento de
situações emergenciais ligadas ao comércio internacional de produtos de
origem animal ou vegetal ou de iminente risco à saúde animal, vegetal ou
humana;
g) desenvolvidas no âmbito dos projetos do Sistema de Vigilância da
Amazônia - SIVAM e do Sistema de Proteção da Amazônia - SIPAM.
h) técnicas especializadas, no âmbito de projetos de cooperação com prazo
determinado, implementados mediante acordos internacionais, desde que
haja, em seu desempenho, subordinação do contratado ao órgão ou enti-
dade pública.
i) técnicas especializadas necessárias à implantação de órgãos ou entidades
ou de novas atribuições definidas para organizações existentes ou as de-
correntes de aumento transitório no volume de trabalho que não possam
ser atendidas mediante a aplicação do art. 74 da Lei no 8.112, de 11 de de-
zembro de 1990;

Gestão de Pessoas no Setor Público179


j) técnicas especializadas de tecnologia da informação, de comunicação e de
revisão de processos de trabalho, não alcançadas pela alínea i e que não se
caracterizem como atividades permanentes do órgão ou entidade;
l) didático-pedagógicas em escolas de governo; e
m) de assistência à saúde para comunidades indígenas;

Dentre estas, atenção especial se deu à atividade da alínea “h”, pois o § 3º ve-
dou explicitamente o aproveitamento em qualquer área da Administração
de quem seja contratado para aquela atividade. O legislador provavel-
mente julgou necessário incluir esta determinação devido ao fato de que
a alínea menciona a “subordinação do contratado ao órgão ou entidade
pública”, portanto poderia haver confusão quanto à natureza do contra-
tado. Assim, o § 3º essencialmente serve para ressaltar que o contratado
por ocasião do descrito na alínea “h” não se torna servidor público efetivo
e que, se quiser sê-lo, deverão ser seguidas as normas para provimento
de cargo público da Lei nº 8.112/90.

ASSIMILE
É importante lembrar que a única forma legal de provimen-
to originário de cargo público é a nomeação. Portanto, não
tendo o contratado do caso da alínea “h” sido anteriormente
nomeado para cargo público, não poderá ser “aproveitado”.
A Lei 8.745/93, aliás, usa este termo incorretamente, pois o
“aproveitamento” constitui hipótese não originária de provi-
mento de cargo público em que o servidor em situação de
disponibilidade retorna à atividade.

O inciso seguinte, VII, do artigo 2º da Lei nº 8.745/93 menciona ainda caso


de “admissão de professor, pesquisador e tecnólogo substitutos para su-
prir a falta de professor, pesquisador ou tecnólogo ocupante de cargo
efetivo, decorrente de licença para exercer atividade empresarial relativa
à inovação”. Quanto a isto, é necessário fazer apontamento de que se

180 Gestão de Pessoas no Setor Público


aplicam as regras já mencionadas no caso de professor substituto, e que
a licença mencionada é uma criada pelo artigo 15 da Lei nº 10.973/04 so-
bre incentivos à inovação e pesquisa científica e tecnológica.

PARA SABER MAIS


A referida “licença para exercer atividade empresarial relati-
va à inovação”, em verdade, não tem nome próprio. Ela tem
o fim de permitir que pesquisador público possa constituir
uma empresa que desenvolva atividade empresarial relacio-
nada ao tema de inovação, é concedida sem remuneração,
e tem duração de três anos consecutivos, prorrogáveis por
igual período.

O inciso VIII descreve necessidade de se admitir pesquisador, técnico com


formação em área tecnológica de nível intermediário ou de tecnólogo,
quer sejam estrangeiros ou nacionais, para utilização em pesquisa com
prazo determinado em instituição de pesquisa, desenvolvimento e inova-
ção. Assim, não se trata de admissão por mero interesse da instituição, é
necessário que haja um projeto, que não deve ser tão ambicioso a ponto
da data de sua conclusão ser imprevisível.

No inciso IX descreve-se uma hipótese interessante, de necessidade de


contratação temporária para combate a emergências ambientais declara-
das pelo Ministro de Estado do Meio Ambiente para região específica. Um
caso que se imagina deste tipo de emergência seria o de alagamento de
uma grande área urbana em razão da ocorrência de chuvas constantes,
enchentes.

Já os incisos X e XI trazem dois casos de admissão de professores que


não devem ser confundidos com os de substituição. Ambos são casos
de contratação temporária de professores para suprir falta de professo-
res, devido ao surgimento de demanda excepcional. No primeiro caso, ela

Gestão de Pessoas no Setor Público181


decorre da expansão de uma instituição federal de ensino e, no segundo,
da criação de “programas e projetos de aperfeiçoamento de médicos na
área de Atenção Básica em saúde em regiões prioritárias para o Sistema
Único de Saúde (SUS), mediante integração ensino-serviço”.

Em ambas as hipóteses, cabe ao Ministério do Planejamento, Orçamento


e Gestão (MPOG) – que foi transformado no Ministério de Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão (MPDG), sem prejuízo do dispositivo legal – e
ao Ministério da Educação determinar, em ato conjunto, os limites e con-
dições para esta contratação temporária de professores.

Por fim, no último inciso do extenso artigo 2º da Lei nº 8.745/93, estabe-


lece-se como necessidade temporária de excepcional interesse público
a admissão de profissional de nível superior especializado, para auxiliar
pessoas com deficiência matriculadas em cursos técnicos de nível médio
e em cursos de nível superior nas instituições federais de ensino. A con-
tratação destes – que são profissionais como os especialistas em Libras,
que auxiliam alunos deficientes auditivos – também é regulamentada por
ato conjunto dos dois Ministérios previamente mencionados.

1.2. Contratação, remuneração, deveres e benefícios dos


servidores temporários

Definidas as hipóteses em que se verifica necessidade temporária de ex-


cepcional interesse público, passa-se então para o estudo das demais pe-
culiaridades relativas aos servidores temporários.

O artigo 3º determina que, salvo exceções, deve haver processo seletivo


simplificado – que tem forma livre, sem regulamentação própria –, am-
plamente divulgado, para a contratação de servidores temporários. Não
há violação do requisito constitucional de aprovação em concurso para
investidura em cargo público, pois o servidor temporário exerce função
pública sem ocupar cargo público.

182 Gestão de Pessoas no Setor Público


Assim, não há problema sequer com a determinação do § 1º, que dispen-
sa a realização de processo seletivo simplificado para os casos referen-
tes às calamidades públicas, emergências ambientais e emergências em
saúde pública; o que é completamente razoável, dado o caráter urgente
destas contratações.

Ademais, há duas situações de contratação temporária diferenciada. A


primeira é a do § 2º, que pode se dar pela análise de currículo com fim
de determinação da capacidade técnica ou científica de profissional – o
dispositivo legal menciona capacidade “notória”, mas isto não faria senti-
do, pois notório é o que é sabido por todos e não requer verificação. Este
tipo se aplica aos professores visitantes, às atividades das alíneas “a”, “d”,
“e”, “g”, “l” e “m” do inciso VI do artigo 2º e aos pesquisadores, técnicos ou
tecnólogos contratados para atuar em projeto de pesquisa com prazo de-
terminado em instituição de pesquisa.

Já a segunda situação de contratação temporária diferenciada é a das ati-


vidades das alíneas “h” e “i” do inciso VI do artigo 2º, que têm processo
seletivo simplificado com forma própria, disciplinada, atualmente, pelo
Decreto nº 4.784/03.

O artigo seguinte e seu parágrafo único trazem, respectivamente, os pra-


zos máximos do tempo de contrato e as hipóteses de prorrogação destes.
O artigo é autoexplicativo, mas cita-se ele integralmente, aqui, para fim
didático:
Art. 4º As contratações serão feitas por tempo determinado, observados os
seguintes prazos máximos:
I. 6 (seis) meses, nos casos dos incisos I, II e IX do caput do art. 2o desta Lei;
II. 1 (um) ano, nos casos dos incisos III e IV, das alíneas d e f do inciso VI e do
inciso X do caput do art. 2º;
III. 2 (dois) anos, nos casos das alíneas b, e e m do inciso VI do art. 2o;
IV. 3 (três) anos, nos casos das alíneas “h” e “l” do inciso VI e dos incisos VII,
VIII e XI do caput do art. 2o desta Lei;

Gestão de Pessoas no Setor Público183


V. 4 (quatro) anos, nos casos do inciso V e das alíneas a, g, i e j do inciso VI
do caput do art. 2o desta Lei.
Parágrafo único. É admitida a prorrogação dos contratos:
I. no caso do inciso IV, das alíneas b, d e f do inciso VI e do inciso X do caput
do art. 2o, desde que o prazo total não exceda a 2 (dois) anos;
II. no caso do inciso III e da alínea e do inciso VI do caput do art. 2o, desde
que o prazo total não exceda a 3 (três) anos;
III - nos casos do inciso V, das alíneas a, h, l e m do inciso VI e do inciso VIII do
caput do art. 2o desta Lei, desde que o prazo total não exceda a 4 (quatro) anos;
IV. no caso das alíneas g, i e j do inciso VI do caput do art. 2o desta Lei, desde
que o prazo total não exceda a 5 (cinco) anos;
V. no caso dos incisos VII e XI do caput do art. 2o, desde que o prazo total
não exceda 6 (seis) anos; e
VI. nos casos dos incisos I e II do caput do art. 2o desta Lei, pelo prazo ne-
cessário à superação da situação de calamidade pública ou das situações
de emergências em saúde pública, desde que não exceda a 2 (dois) anos.

Pelo disposto nos artigos 5º e 5º-A, todas as contratações de que trata


a Lei nº 8.745/93 devem ter dotação orçamentária específica autorizada
pelo Ministro de Estado do MPDG e pelo “Ministro de Estado sob cuja
supervisão se encontrar o órgão ou entidade contratante” e requerem
que a síntese dos contratos efetivados seja enviada para a Secretaria de
Recursos Humanos do MPDG.

O artigo seguinte proíbe a contratação temporária de servidores da


Administração direta ou indireta da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, bem como de empregados ou servidores de suas subsidiárias
e controladas, sob pena, segundo o § 2º, de responsabilização do contra-
tado e da autoridade contratante, inclusive com obrigação solidária de
devolução dos valores pagos ao contratado. Obrigação solidária, neste
caso, significa que qualquer dos envolvidos – contratado ou autoridade
contratante – pode ser cobrado por toda a dívida, ao invés de, por exem-
plo, só se poder cobrar metade de cada um.

184 Gestão de Pessoas no Setor Público


PARA SABER MAIS
Em casos em que um, dentre vários devedores solidários que
estão obrigados ao pagamento de uma mesma dívida, acaba
por ter de pagar a dívida por completo, sozinho, é frequente
que se siga ação regressiva – ou de regresso – em que ele re-
queira dos demais o pagamento da parte da dívida que eles
não tiveram de pagar.

Há, no entanto, exceções, dispostas no § 1º do artigo 6º, caso haja com-


provação de que os horários da função temporária são compatíveis aos
do exercício regular do seu cargo público.
Sob esta condição, é possível a contratação temporária de professores
substitutos, desde que o servidor não ocupe cargo efetivo da carreira de
magistério tratada pela Lei nº 7.596/87; e de profissionais de saúde em
unidades hospitalares administradas pelo Governo Federal, em caso de
calamidade pública – ressalte-se, não de emergências ambientais ou de
saúde –, desde que o servidor “não ocupe cargo efetivo ou emprego per-
manente em órgão ou entidade da administração pública federal direta
e indireta” – ou seja, pode servidor federal com cargo em comissão ou
servidor estadual ou municipal.
Por sua vez, o artigo 7º define, em seus incisos, como se dará a remunera-
ção dos servidores temporários:
I. nos casos dos incisos IV, X e XI do caput do art. 2o, em importância não
superior ao valor da remuneração fixada para os servidores de final de
Carreira das mesmas categorias, nos planos de retribuição ou nos quadros
de cargos e salários do órgão ou entidade contratante;
II. nos casos dos incisos I a III, V, VI e VIII do caput do art. 2o, em importância
não superior ao valor da remuneração constante dos planos de retribuição
ou dos quadros de cargos e salários do serviço público, para servidores que
desempenhem função semelhante, ou, não existindo a semelhança, às con-
dições do mercado de trabalho; e

Gestão de Pessoas no Setor Público185


III. no caso do inciso III do art. 2º, quando se tratar de coleta de dados, o va-
lor da remuneração poderá ser formado por unidade produzida, desde que
obedecido ao disposto no inciso II deste artigo.

Estas determinações são complementadas pelos § § do artigo. O § 1º es-


tabelece algo importante, ao estabelecer que a mencionada análise de re-
muneração de servidores efetivos, para fins de definição da remuneração
máxima dos servidores temporários, não deve levar em consideração as
vantagens individuais daqueles primeiros; o que seria absurdo, já que as
vantagens individuais são particulares a cada servidor e ocasionam uma
grande variabilidade de remuneração, de modo que a escolha de um ou
outro servidor como paradigma poderia alterar drasticamente as conse-
quências para os servidores temporários.
O § 2º traz uma determinação específica para as contratações referentes
às atividades das alíneas “h”, “i”, “j”, “l” e “m” do inciso VI do artigo 2º, que
é a de que a remuneração destes contratados será fixada por tabelas do
Poder Executivo.
O artigo 8º determina que os servidores temporários têm, essencialmen-
te, regime securitário similar ao dos servidores que ocupam exclusiva-
mente cargo em comissão – ou seja, só têm acesso à assistência à saúde
dos servidores com cargos efetivos e, do mais, vinculam-se ao Regime
Geral de Previdência Social.
O artigo 11 determina que um número vasto de dispositivos legais que
tratam dos servidores públicos federais efetivos aplicam-se aos servido-
res temporários, principalmente em termos de vantagens, alguns deveres,
algumas proibições, responsabilização e algumas penalidades; de modo
que, na íntegra, ele dispõe:
Art. 11. Aplica-se ao pessoal contratado nos termos desta Lei o disposto nos
arts. 53 e 54; 57 a 59; 63 a 80; 97; 104 a 109; 110, incisos, I, in fine, e II, pará-
grafo único, a 115; 116, incisos I a V, alíneas a e c, VI a XII e parágrafo único;
117, incisos I a VI e IX a XVIII; 118 a 126; 127, incisos I, II e III, a 132, incisos I
a VII, e IX a XIII; 136 a 142, incisos I, primeira parte, a III, e §§ 1º a 4º; 236; 238
a 242, da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.

186 Gestão de Pessoas no Setor Público


No artigo 10, contudo, diferenciam-se novamente os servidores temporá-
rios dos efetivos, determinando-se que suas infrações são apuradas so-
mente por meio de sindicância especial, com contraditório e ampla defe-
sa, e concluída em trinta dias.

Ainda, além das proibições já trazidas da Lei nº 8.112/90, o artigo 9º da Lei


nº 8.745/93 cria novas proibições para os contratados por prazo determi-
nado; quais sejam, as de:
I. receber atribuições, funções ou encargos não previstos no respectivo
contrato;
II. ser nomeado ou designado, ainda que a título precário ou em substitui-
ção, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança;
III. ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de decor-
ridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior,
salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2o desta Lei, mediante prévia
autorização, conforme determina o art. 5o desta Lei.

Como se pode perceber, muitas destas, na verdade, são proibições que


visam proteger o servidor temporário, pois não permitem que dele seja
exigido mais do que consta do contrato ou que ele seja contratado repeti-
damente em curto prazo, para que não acabe, na prática, exercendo car-
go efetivo sem a correspondência formal deste fato, estando desprovido
de muitos dos seus benefícios.

A Lei nº 8.745/93 delineia, ainda, no artigo 12, as formas de extinção, sem


direito a indenização, do contrato temporário de excepcional interesse
público. São elas: o término do prazo; a iniciativa do contratado – já que,
evidentemente, não pode ser obrigado a exercer função que não quer –,
que deve ser comunicada com pelo menos trinta dias de antecedência;
e a extinção ou conclusão do projeto de cooperação, implementado me-
diante acordo internacional, a que se refere a alínea “h” do inciso VI do
artigo 2º, que também deve ter comunicação com antecedência de pelo
menos trinta dias.

Gestão de Pessoas no Setor Público187


Por fim, determina o § 2º que a Administração também pode extinguir o
contrato antecipadamente, conforme sua conveniência, mas não sem pa-
gar ao servidor temporário indenização de metade da remuneração que
lhe caberia pelo restante do contrato.

2. Disposições gerais e finais

Antes de suas disposições finais, a Lei nº 8.112/90 contém um título com


capítulo único de disposições gerais relativas ao servidor público federal
que, sendo relativamente curto, decidiu-se analisar junto àquelas dispo-
sições últimas da Lei.

Posto isto, o artigo 236 é de um texto simples que meramente estabelece


o dia 28 de outubro como “Dia do Servidor Público”. Via de regra, isto não
gera qualquer efeito prático, mas tradicionalmente é decretado ponto fa-
cultativo neste dia, de modo que não possa contar como dia útil para efei-
to algum (RIGOLIN, 2012).

LINK
É interessante apontar que, apesar da disposição legal, há
casos – com certo grau de controvérsia – em que se deter-
minou a comemoração do Dia do Servidor Público em dia di-
verso, para não coincidir com fim de semana. Exemplo disto
pode ser conferido no link a seguir em que você pode ler a
Portaria nº 183 de 23 de outubro de 2017 do diretor-geral da
secretaria do Supremo Tribunal Federal. BRASIL. Secretaria
do Supremo Tribunal Federal. Portaria nº 183/17. Brasília,
disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/norma/porta
riaferiado183-2017.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2018.

188 Gestão de Pessoas no Setor Público


O artigo 237, por sua vez, é um que cria uma possibilidade interessante,
já que permite o uso de prêmios, medalhas, diplomas de honra ao mérito,
condecorações e elogios para incentivar ou celebrar a excelência no ser-
viço público, como no caso exemplificado no inciso I de “apresentação de
ideias, inventos ou trabalhos que favoreçam o aumento de produtividade
e a redução dos custos operacionais”.
No artigo seguinte, o 238, encontra-se a regra de contagem dos prazos que
constam da Lei nº 8.112/90. Estabelece o dispositivo que os prazos são con-
tados em dias corridos – ou seja, sequenciais, sem pular dias, contabilizan-
do-se fins de semana –, excluindo-se o dia do começo do prazo – pois, do
contrário, se estaria contando um dia não inteiro – e incluindo-se o do seu
vencimento; contudo, se este último dia for um em que não haja expedien-
te, haverá prorrogação do vencimento para o primeiro dia útil seguinte.

EXEMPLIFICANDO
Se o fato que deu início a um prazo de 15 dias ocorreu em
uma segunda-feira, dia 6, então o primeiro dia da contagem
será o dia 7 e o décimo quinto dia, que é o do vencimento,
será a terça-feira, dia 21. Portanto, seja lá o que for que o
servidor tiver que fazer neste prazo, ele poderá fazê-lo ainda
dentro do horário de expediente do dia 21.

O artigo 239 tem natureza dúplice, pois reafirma proteção e obrigação


ao servidor público quanto a temas de crença religiosa e convicção filo-
sófica ou política. Por um lado, determina que o servidor não pode sofrer
discriminação por estes motivos e, por outro, obriga-o a cumprir seus de-
veres independentemente de alegações de cunho religioso, filosófico ou
político. É razoável esta determinação, pois não é obrigatório a ninguém
ser servidor público federal civil e, desta forma, se alguém opta por sê-lo,
compromete-se a exercer todas as atribuições do cargo que ocupa e a
cumprir todas as ordens que lhe são dadas – que não sejam manifesta-
mente ilegais, evidentemente.

Gestão de Pessoas no Setor Público189


Sumariamente, o legislador decidiu tratar de algumas questões sindicais
do servidor público federal civil no artigo 240. Nele, listam-se alguns direi-
tos assegurados pela Constituição Federal, e omitem-se outros. Assim, o
que vale na verdade são as garantias maiores do texto constitucional, não
devendo ser as omissões deste artigo da Lei nº 8.112/90 interpretadas
como proibições.
Desta forma, o artigo 240 ressalta que os servidores podem se associar
livremente em sindicatos e ser representados por eles, através da figura
do substituto processual. Ainda, podem ter desconto em folha do valor
das mensalidades e contribuições de sindicato, conforme o que foi defi-
nido em assembleia geral da categoria. E, por até um ano após o final de
mandato de dirigente sindical, o servidor tem direito a não ser removido,
exceto a seu pedido.
Como alguns dos dispositivos da Lei nº 8.112/90 referem-se à família do ser-
vidor, sem esclarecer sobre quais membros dela se trata – como o fazem
alguns outros dispositivos –, o artigo 241 define para fins desta Lei o que se
considera como família. Assim, define que são, “além do cônjuge e filhos,
quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e constem do seu assenta-
mento individual”, bem como esclarece o que já se mencionou em outras au-
las, que é o fato de que os companheiros, em situação de união estável com-
provada, equiparam-se aos cônjuges – ou seja, têm o mesmo tratamento.
Finalmente, fechando o capítulo único de disposições gerais para se pas-
sar, então, para o de disposições transitórias e finais, tem-se o artigo 242
que também traz definição de ordem prática. Segundo ele, para os fins da
Lei nº 8.112/90, “considera-se sede o município onde a repartição estiver
instalada e onde o servidor tiver exercício, em caráter permanente”.
Transitórias são aquelas disposições legais que tentam ajustar a situação
daqueles que tinham tratamento regido por lei antiga às determinações
da nova lei. Assim, já tendo a Lei nº 8112/90 décadas de vigência, os arti-
gos referentes a este assunto são de aplicabilidade extremamente restrita
atualmente, portanto o estudo deles – que necessitaria da análise conjunta
dos documentos legais revogados – não é pertinente para a presente aula.

190 Gestão de Pessoas no Setor Público


Por este motivo, ignoram-se os artigos 243, 244, 245, 247, 248 e 250 para
finalizar com o 249, que ainda está presente na Lei nº 8.112/90, mas que
certamente já não tem mais nenhuma utilidade, pois se refere ao artigo
231, que foi inteiramente revogado. Estabelece este artigo que, até que
fosse editada lei para determinar a forma de contribuição – e seus per-
centuais – para custeio da seguridade social do servidor público federal,
estes fatores seriam estabelecidos por meio de regulamento próprio. No
entanto, atualmente o tema já é disciplinado pela Lei nº 10.887/04, que,
entre outras determinações, fixou em onze por cento aquele percentual.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

Como se aprendeu nessa disciplina, o servidor temporário tem tra-


tamento diferenciado do servidor público que ocupa cargo efetivo,
conforme o que está disciplinado pela Lei nº 8.745/93.

No entanto, embora sua contratação, remuneração e outros aspec-


tos sejam únicos à ele, o artigo 11 da referida lei confere ao servidor
temporário muitas das vantagens que ordinariamente só se aplica-
riam ao servidor público federal, bem como estabelece que vários
dos deveres, proibições e penalidades também se estendem de um
ao outro; fazendo com que o servidor temporário tenha tratamento
misto, com algumas regras próprias e algumas compartilhadas com
os servidores efetivos.

Considere, então, para esta situação problema, o caso de um brasilei-


ro, que ocupa cargo de professor em universidade pública estadual, e
que é admitido como professor visitante em uma instituição de ensi-
no federal, com um contrato com prazo inicial de dois anos, em razão
de sua extensa produção científica e seu renome como profissional
de sua área, para o fim de contribuir com o aprimoramento de pro-
gramas de extensão na instituição contratante.

Gestão de Pessoas no Setor Público191


Ambicioso, este professor pretende futuramente deixar seu cargo na
universidade estadual para passar a ocupar cargo efetivo na institui-
ção de ensino federal e espera que seu serviço temporário como pro-
fessor visitante nesta instituição lhe forneça uma forma facilitada de
atingir seu objetivo.

Por fim, outra pessoa, não relacionada diretamente com a realiza-


ção do contrato por prazo determinado mencionado, mas que ocupa
cargo de servidor público na instituição contratante, fica sabendo do
ocorrido e suspeita que há irregularidade em relação a uma caracte-
rística do servidor temporário.

Diante deste cenário hipotético, reflita sobre os seguintes questio-


namentos:

1. Foram respeitados os prazos estabelecidos na Lei nº 8.745/93


para a contratação temporária por prazo determinado? E o requi-
sito de excepcional interesse público? Foi preenchido?
2. Qual é a irregularidade verificada pelo servidor público que ocupa
cargo efetivo na instituição federal de ensino?
3. Como deve o servidor público efetivo agir, frente a esta suspeita
de irregularidade no serviço público?
4. Qual o instrumento administrativo que deve ser utilizado para
apurar a irregularidade?
5. Se for confirmada a ocorrência da irregularidade, quem respon-
derá administrativamente por ela? E que forma terá a obrigação
de devolução dos valores pagos ao contratado?
6. Se não houvesse irregularidade no contrato temporário, como
poderia o contratado realizar seu objetivo de ocupar cargo efetivo
na instituição de ensino federal?

192 Gestão de Pessoas no Setor Público


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Reflita sobre as formas de contratação de servidores temporários
para julgar se a Lei nº 8.745/93 traz uma quantidade adequada de casos
em que seja necessária a contratação deste tipo. Será que caberiam
mais casos? Ou será que, talvez, deveria haver menos, reservando-se
este tipo de contratação excepcional para casos extremos como o de
calamidade pública?

3. Considerações finais

• A contratação de servidores temporários só pode se dar em caso


de necessidade temporária e excepcional interesse público e, via de
regra, não podem ser contratados aqueles que já são servidores da
Administração direta ou indireta da União, Estados, Distrito Federal
e Municípios.

• Os servidores temporários têm remuneração e forma de contratação


diferenciada, com processo seletivo simplificado, mas compartilham
de alguns benefícios e deveres dos servidores efetivos.

• A diferenciação do regime dos servidores temporários é legal e consti-


tucional, pois os contratados por prazo determinado não ocupam cargo
público, eles meramente exercem temporariamente função pública.

• Embora se assegure que o servidor público federal não será alvo de


discriminação em razão de suas crenças religiosas ou convicções
políticas ou filosóficas, o servidor não pode se utilizar destas crenças
e convicções para deixar de cumprir com suas obrigações relativas
ao serviço público.

• A forma de contagem de prazos e a definição genérica de família,


contidas em artigos das partes finais da Lei nº 8.112/90, só se apli-
cam para os fins específicos do que nela se disciplina.

Gestão de Pessoas no Setor Público193


Glossário

• Solidariedade: é um fenômeno do Direito, definido no artigo 264


do Código Civil, que determina que “há solidariedade, quando na
mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um de-
vedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda”.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 08
1. De acordo com o que foi estudado sobre o tema da contra-
tação temporária de excepcional interesse público, disci-
plinada pela Lei nº 8.745/93, pode-se afirmar corretamen-
te que a admissão de professores visitantes:
a) é feita, entre outros motivos, para que o professor vi-
sitante – que não pode ser estrangeiro – possa contri-
buir com programas de capacitação de docentes, ensino
geral, pós-graduação stricto sensu e de pesquisa e ex-
tensão. Ainda, apesar de haver vários requisitos de qua-
lificação do professor visitante, é possível, excepcional-
mente, que se dispense a exigência de título de doutor.
b) é feita, entre outros motivos, para que o professor visi-
tante – que pode ser estrangeiro – possa contribuir com
programas de capacitação de docentes, ensino geral,
pós-graduação stricto sensu e de pesquisa e extensão.
Ainda, apesar de haver vários requisitos de qualificação
do professor visitante, é possível, excepcionalmente,
que se dispense a exigência de título de doutor.
c) é feita, entre outros motivos, para que o professor vi-
sitante – que pode ser estrangeiro – possa viabilizar
iniciativas de intercâmbio científico e tecnológico entre
instituições de ensino. Para isto, há vários requisitos de
qualificação do professor visitante e não é possível a
dispensa deles.

194 Gestão de Pessoas no Setor Público


d) é feita, entre outros motivos, para que o professor visi-
tante – que não pode ser estrangeiro – possa viabilizar
iniciativas de intercâmbio científico e tecnológico entre
instituições de ensino. Para isto, há vários requisitos de
qualificação do professor visitante e não é possível a
dispensa deles.
e) é feita, entre outros motivos, para que o professor visi-
tante – que não pode ser estrangeiro – possa viabilizar
iniciativas de intercâmbio científico e tecnológico entre
instituições de ensino. Ainda, apesar de haver vários re-
quisitos de qualificação do professor visitante, é possí-
vel, excepcionalmente, que se dispense a exigência de
título de doutor.
2. “A contratação temporária de professores tem tra-
tamento detalhado no âmbito da Lei nº 8.745/90. Eles são
contratados em casos de vacância de cargo, ou licen-
ça de professor regular e de nomeação de professor regu-
lar para ocupar cargo , seja de reitor, vice-reitor, pró-
-reitor ou diretor de campus”.
A partir da frase acima, assinale a alternativa que contém
as palavras adequadas às lacunas.

a) substitutos; demissão; de prestígio.


b) visitantes; afastamento; de direção.
c) substitutos; afastamento; de direção.
d) visitantes; demissão; de direção.
e) regulares; demissão; de prestígio.
3. Conforme o que foi estudado com relação às disposições
gerais e finais da Lei nº 8.112/90 que trata do servidor pú-
blico federal, é correto afirmar que:

Gestão de Pessoas no Setor Público195


a) os servidores públicos federais não têm direito à asso-
ciação sindical.
b) os servidores públicos federais têm direito à associação
sindical, mas isto depende de autorização do Ministério
do Trabalho.
c) os servidores públicos federais têm direito à associação
sindical, mas isto depende de autorização do Ministério
do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
d) os servidores públicos federais têm direito à livre as-
sociação sindical, mas isto depende de autorização de
autoridade competente.
e) os servidores públicos federais têm direito à livre as-
sociação sindical, dispensando-se, para isto, qualquer
forma de autorização.

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RIGOLIN, Ivan B.. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis: Lei
n. 8.112, de 11-12-1990. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Gabarito – Tema 08
Questão 1 – Resposta: B
A primeira alternativa está incorreta, pois, ao contrário do que seu
texto sugere, pode sim o professor visitante ser estrangeiro. Por sua
vez, a terceira alternativa está incorreta, pois nega a existência da
possibilidade de dispensa do título de doutor para o professor visi-
tante, o que pode ocorrer, excepcionalmente, na hipótese que cons-
ta do artigo 2º, § 8º, da Lei nº 8.745/93. Já a quarta alternativa está

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incorreta, pois repete os dois erros anteriores. Por fim, a última alter-
nativa está incorreta, pois, embora acerte com relação à possibilidade
de dispensa do título de doutor e ao motivo que enseja a contratação
temporária de professor visitante, erra ao negar a possibilidade do
professor visitante ser estrangeiro.

Questão 2 – Resposta: C
A primeira alternativa está incorreta, pois comete dois erros; pri-
meiro, “demissão” de professor regular geraria vacância de cargo, o
que tornaria a frase redundante; segundo, o fato dos cargos men-
cionados serem ou não considerados como “de prestígio” não tem
nenhuma relação com o que se trata e, assim, não cabe o uso dessa
expressão naquela lacuna. Por sua vez, a segunda alternativa está
incorreta, pois preenche a primeira lacuna com “visitantes”, o que
está errado, como se conclui da leitura do resto do texto que lista os
motivos pelos quais se contrata temporariamente professor substi-
tuto. Já a quarta alternativa está incorreta, pois repete dois dos erros
anteriores. Por fim, a última alternativa está completamente incor-
reta, pois repete erros anteriores e ainda acrescenta mais um erro,
ao sugerir que possam ser contratados professores regulares para
substituir outros professores regulares; o que iria contra a proibição
de contratação temporária de servidores efetivos.

Questão 3 – Resposta: E
A primeira alternativa está incorreta, pois têm sim os servidores pú-
blicos federais direito à associação sindical, e não só por força da Lei
nº 8.112/90, mas também do artigo 37, VI, da Constituição Federal. A
segunda, terceira e quarta alternativas estão incorretas por motivos si-
milares, pois todas elas dizem que é necessária alguma forma de auto-
rização para a associação sindical, o que não é verdade – embora, vale
ressaltar, que, no passado, era necessária a autorização do Ministério
do Trabalho. Ainda, a quarta alternativa é mais sem sentido do que
as anteriores, pois fala em direito à “livre” associação sindical, mas li-
vre ela não seria se estivesse condicionada à autorização de terceiro.
Assim, correta é a última alternativa que não menciona restrição para
a associação sindical de servidores públicos federais.

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