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P i e r r e R o s a n Y a l l o n

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0. L ib éralism e
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économ ie©

h is to r ié da 1 4 'e i a -m ^ r c 'a d o
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\ Tradu^ao
, A n to n io P e n a lv e s Pocha

R evisâo çéo n ica ••••,.


K o r b e r to l u i z G ru a rin ello
1
tR78$9L Rosanvallon, Pierre^- y ,
■ : O liberalismo econórtljcq: histórja da idéia de mercadò:/,
Píené RosUfívaHoq.{ tradução Antonjo Pènalves Rocha, -r
"■ Bauru, SP,: EDUSG, 200á. ' 1 " ' «,■ , ■ ■' «,
280 p. ; 21 cm. :ç-(Çdlèção Ciências Sociais)1
o.
iSBN 8 5 -7 4 6 0 -1 ^ T ■-,

n\ Título o)iglnal;tf.fc’libépilismé éconòmicjüe; hlstoii^


/ de Fidéedetnarfehé,,' ’ • ■" c .,
, ') ,j'T. ■ '•
1. Capitalismo. .2. Libeíalismo. I. Tífulo. IL Série.'
1 'W"1"1/ J."!I„I,L|I .
CDIX 330.122

ISBN 2-02-010527^6 (original)

Copyright *p\ Éditions du %tiil, 1979, 1989 pi, 2000 ,


Copyright © «raduçãó) EDtiSÇ,. 2002^ ’

Tradução realizada a pattitsde originais-fornecidos por Édltionp du SeUil,


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7 f Pensar o libèraíjsmo <, , 1

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!9 ;,primeira parte * * ’ ^ v r
Economia e sociedade de mercado ‘v J

"•■•■- - i- 2 1 2* Capítulo ■
....*'« 1*■ ^ - _ -i ij > -d
fi *“
i•'f\,'''•' * *»K
ÍV*?'
- A, questão da instituição ©'da regtífeç^õ^lo ? j <ti
social n o s s ô c tílo s ^ e t f f

.* 7 Í J - . 2 ? ^ ° á 1 ~’ r
, A economjacomoi reaái^açüjò^da^fjolítí^rY^, <f-;íU 7 ,,,
(o mercado e o cobtratO)^ K - , • n ' t,
h , - •• - , ; .■ ',', 7 ;vf t í % '' ’ '
1,s 1 ^ 7 7 9 Capítulo 3 , *' ' 1 jI 1’(' / *r t t
'j 1 . Q ftoyo coirtêrcio õu a sociedade civil
, 1 ' como mercado , " - - '
1 1‘
• ■' ’ " 1 0 7 Capítulo 4 , ^ ■1
\ A desterritorialização da eeonomiá
v ' * . i
Capítulo 5
O Estado-nação e'o mercado

: ,7J 6f segunda parte


Os avatares da ideologia econômica
7*!.. ■- .«vos , : ;:. - V y v-, ■ 1 •. . . >. . ■

r , l 6 7 Capítulo 6
Paine, Gbdwin e o liberalismo utópico

Capítulo 7
Hegel, tía mão invisível à astúcia da razão

, 2 Q 9 Capítulo 8
.
,-iMarx■ re a inversão
'• ■.V- ,
do liberalismo
' - . X . - ‘I V. \ t- .

2 4 1 Capítulo 9 ' ' ^■


Capitalismo, socialismo e idéôlogia econômica

2 6 5 Bibliografia ,
; iteasar, ollibétaliamo

' Liberalismo. Suspensa na atmosfera da época, a


palavra apárçícè átí correr das penas fdãs, o qUe desig­
na permanece opaço e indefinido, subjacente a jím apa­
rente cortejo de evidências* Opacidadç,"em primeiro lu-
gàr, ligada à dificuldadp de se encontrar um dénommai*
dor comym verdadeirâmente significativo 'entre os ífiúl-
ítipíps usos dá expressão. iDe'fatp', o que bã dp qohiuns,
. entre u m “liberalismo ecònõmico” qUe remete ap mef-
••• ’ cãdo, um, “libèfa^smo políticdVyque consagm o pluçtíis*
»'(no dos partidosgaV apte1os* áirèitos dos indivíduos e
um “liberâlism,o rhofal* de caráter quase laxista? Mais
1 ainda, cpmo explicar, que o adjetivo “liberal” "désigna
1 nos listados Unidas o que chamamos de “esquerda’' na.
França quando,",para os ffariçeses, ele tem prinçipalmen-
te uma conotação de “direita’? Áo refletirmos sobre á
noção de liberalismo rapidamente pêrcèbernòs que ,se
trat^ cte uma noção falsamente simples: Ver nela ynqa
' afirm ado da liberdàde sob todas as suas fphnâs é algo
’ dmraSiacjampnte vago e ,nadá esclarecedor. îariibégi é
usual a tentatiya dè superar essa perplexidade median-
té a distinção de dois liberalismos que só fedam rela­
ções distantes: de um lado, o liberalismo eçonómiço, de
outro, o liberalismo político. Mãs,.assim, uma dificulda--
y de sé trapstorma em tipologia, e á questão pénnaneée
sem solução» Como avançar? Temos, pois,' a forte sensa­
ção de <^ue -qualquer coisa de essência! está presa nes­
sa.imprecisão e nessa indefinição, fqjjue raízes muito pro­
fundas embrqnham-^e em confusões e equívocos
Comn^ssas interrogações em mérité, tomeva ini­
ciativa, nos anos de 1970, de escrever este livro^ mqvi-
da pela intuição' de qtíeoeSci&recimento da questão dà
• liberali^ífio erav uínâ m anará privilegiada^dè^êompreífen-
’ dér meftl^r a" modernídàda: 'Itera desembaraçar a rtié ^
da,<resotv^ explorar ia idéia mefeadò e üsárfet com o
guia e condutor. As ca^âe^cfessa eScolhá foram simr
pies:, nurq mergulho pouco profundo na literatura eço-
nQjrnka.i do século 18 pocH»|évvt&iqueâ;'noçãode \mer- ,
■ Cãdo não é somente “Eéenieã”, mas remete a uma pro-
- blemátíça implícita da regulação social e política'no seu' -
cqnjunto. A pesquisa € á ‘’história Intelectual que aqui,
exponho, veio confirmar’..essa intuição. -Cf liberahsmo
econômico nasceu não" apenas como uma teoria - òu
uma Ideofogia - 'que açbrhpanhou, o desénvolvimçrito .
das forças produtivas ascensão dá bqiguesja à .cqn-'
1 dição de classe dominante; mas copio reivindicação e ^
tjãduçào da efühandpacâò dã atividade «cofrôriijcá em
relação èdàièral, devendo ser compreendido, antes ele,
tudo, como urha resposta aos, problemas não resolvidos
pelos teóricos políticos do contrato social. A meu Ver, é
a partir dessa perspectivâ-que deve 'sér apreendido o
conceito de mercado- taf como sq forma no sécúlo 18.
Trata-se-de ura conceito sociológico e político^ què se
opõé ao'conceito de contrato, e não um conceito “téc­
nico” (modo de regüjáçào da alividade econômica por
um sistemá íle preços- JiVrênienfe formado)., A áfiririãção,
do Ubéfgljsmq epqnqmíeõ traduz aaispiraçãò ao adven­
to íàêTíínã sociecfedê civil, sem mediações, áutt>regula-
dã. Essã perspeÇtlVaj apolífica ho sentido precisòdo ter-lí
mo, fax da sociec&de d&Vneríeàíio b arquétipo dé üma c
nova representação do social; o mercado (econômico) je
... v * . Í','J ■ ’ T! í ï : V'-"'
pensar o liberalismo ' ': ■q .-j

nãô O contrat^'jfpòlítíco) tofrià-èe » verdadeiro regula­


dor da sociedade (e.-tião somente dá economia).
Gessa fôrma,' a idéiaçlé mercado remete a toda a ■
história Intelectual da modernidade.. A partir do*século
16, o pensamento político moderno centrou-se na no-
,pào dé contrato social que fundamentou a própria exis-’
tência-da sociedade num paeto político. O grande pro­
blema jdá filosofia política de$sà época era com efeito
entender a instituição autônoma da sociedade, indepen­
dentemente de qualquer garantia exterior (notadamenté;
de ordem religiosa). Mas,, todas as teorias do contrato
social, de Hpbbes a Rousséaú, se chocam com nürftero- *■ ’
sas dificuldades teóricas de grande? amplitude. Desta­
quemos particularmente duas delas. A primeira: se às(
teorias do contrato social fundamentam o princípio da
paz civil, não permitem tratar da questão da paz e da :
guerra entre as nações. Se o contrato social pen$á a so­
ciedade como o resultado de "uma soma diferente de
zero (todos “ganham” em^ermos de segurança e paz cí-t
vil), 3s redações entre as-nações continuam a Ejfer consi­
deradas como resultado dè uma somá ;ZeroX^ há gà- i
nho se outros perdem). A, segunda: a) noção de que p
.pacto social está centrado na questão da instituição dá
sociedade, e não. se define a partir do problema da re­
gulação da sociedade.
: A representação dá sociedade civil como merca­
do fornecerá Uma resposta a-essas duas çlificuid^des |jK
gadas à representação dá sôciedade como corpo políti­
co. A teoria da troca permite conceber que. contraria-,
mente, às relações-militares, asfe}áçôes ecqnômicas en-
tf^ as nações constituem uma soma cie resultado dife­
rente dè zero. Por outro lado, torna possível o trata­
mento simultâneo e coerente do duplo problema da
instituição e da regulação do social: a necessidade e ó
interesse regem às relações entre os homens. A forma­
ção dessa representação da sociedade como mercado
alcança seu pleno dpsenvolvirneníp ha eSscma'escoceSa
Js.vc,
do séçulp 18r majs partjcularmente na obra de Smith-.-A
çcmseqüêndaessençiàf de tal concepção resicle no fato
dê que traduz uma reciisa global,do politico■ Nãp.é^
mais a pplíticá/o diféitpe o coíiflíto que devem gover-
nar a sociçdade, mas sim o mercado. O mefcado não é,
portanto, dé acordo coin essa perspectiva, reduzido à
condição, de sinales instrumento técnico de organizar
ção’ da'ádvidade ecónômicá,’ porque adquire urp sena­
do,, muito mais^ profundamentc sociológico -e político,
pèsse ponto, de vista, Àdaip ámjth é menós o pãl fun;
dador da econpmia política que o teórico do definhai
mento dà política. 'Nãp é dm economista que faz èfpso-
•.
fiãi•: é qm
‘\
filósofo
• •. .
que se
V* •
torna economista
• •!' . Í S\ ?■ nv '. v'
nom
j \
ovi-
'
mento de realização d asu a filosofia. Smith é um anti-'
ItonsSeau pof expelência. 7 x ‘
O elogio à “commercial society"’, que se acha na
obra de numerosos autores doxséculo Ififdeye sfe com­
preendido-a partir daí. Não expressa uma. visâó estrita-
mente mercantil e, de resto, a revolução industrial nfto ti­
nha ainda verdadeiramente produ^idd efeiíòS neséa épipi
ca. A idéia de mercado constitui então principalménte
vum tipo d& modelo político alternativo; ^s figurasfOrrnaís
e hierárquicas de autoridade e dé cqmando, o-mercado
opõe a possibilidade de um tipo de órganizaçào e de to-
rniada de decisão amplamente dissociados de qualquer
forma de autoridade: realiza ajustes autoiriátieoC^Sua
transferências ;e retribuições, serp qué"ã~vontade*dos, in-
divíduos em geral e dos chefes da sociedade em particu-
lâr desempenhem qualquer papel. Õ~^sêntido aSpIp^T
palavra “comércio”, no século 18, testemunha essa situa­
ção. O termo engloba de ^to-tudò^o-^&^.c^nisistêm.'''
-cia ao vínculo sociai, independentementé da^fòrmàs de
poder e de autoridade. Aliás, neste sentidò, freqqente-;
mente se opõe o “doce”>cõmércio às durezas das Rela­
ções de poder. ÍVfontesquieu foi Um dos primeiros a de-

ia
pensar ó Uberatemo

sepvolvee.esfee ^rahde topos liberal ttó. Espírito dns leis


(í?48^: ó cpmércio edvilép^r^ co$tunilesí?e estabelece à
m i--i^ m ;z p â ra elé, pérfila^ái^ tM a‘*vèrdâdeira 'mü-:-
dança-da1n n Jd d a ^ i^ n o ^ ò ^ p aoVtentQ de uqrç sòcie-^
dadeedét mercado, à era. dafe áutGrídades domifiadpms.
sucedia a dp mirto'do& mecanismos hçutrdã íos do pier-
cado), desaparecia :o tempõ das corifrontações entre as
grandes potenciais, dándò lugar fà um pérfódò dê cóope-
raçâo eptre hàçõea^omèmiántésí THonias Palpe ií^ aol
fundo.dessá idéia aô explicar que as revoluções têm pôr
fim acelerar essa. iíàqdançá aô , substituir WVgoveírnos
v ohuhdos Jda yiolêndâ por sejcjfedádéí? fpridadàs na har-1
rporila natural doa interesses. VisãoÔitópitáda econo­
mia? Hòjb, estamos naturalmente propensos à formular
esse diagnóstico e pòdé no$ patecér ih^ênuo opor as vir­
tudes de um dõcé coméfdp e de uma bpa economia aoè
vícios de uma má pbiítica (por fcausa disso, aliás, a. pri­
meira edição deste liyfó, publicada ;em 1979, Ihtifujáva-
se Capitalismo úiópico). Mas, por esSe caminho, esque­
ce-se que os homens do século. 18 viviam, numa socier
dade pré-capimlista, mercado^ pode-se dizer, era uma
' idéia nova, quá^M rgém de experiência. Deixou de ser?
í^íão pretendo formüíar um juízo de valor a esse respeh
tò.';S^eçe-p^.mals-interéSsanté procurar compreender o
qüè estava1em jogo, e o que: côptinua talvez em jogo;
por trás-da atração .exercida pelo niodelo da sociedade
de mercado. Pode-se até mesmo falar, a propósito disto,
de"■umà

verdadeira
. 'ç-
sedução.
-
.
i: *• v* A
1 1
' : /•. \1
A que cofresponde essa sedução? A uma das ca-
rácte^sticas ntó^ imptortantes da sociedade moderna
desde há três séculos: a aspiração de ehçontrar o meio
de desdramatizar as relações diretas cios indivíduos, de
desapaixonar süas relações, de desarmar a violência vir-,
tual das relaçõés de for£a. O meifcãdô prçteridè réápop-
der a essas exigências. Visa erigir o poder de uma mão
invisível,» neutro por natureza, pois'riào é personalizado.
Instaura um modo d e regulação abstrata: “leis” objçtivas
que regulam as, jelaçôes-entre os indivíduos/ sem que
exista entré eíes- qualquer- relação de subordinação ou
comandõ. No seq livro Free to Cbbpse,, Milton Friedman '
explica o porquê da áupèrioridade põlítiça do mercado
sobrq todas outras formas dei organização da seriedade
da seguinte maneira; “Os-preços, que emergem dás tran­
sações voluntárias entre compradores e vendeclorês -
em sumia, rio mercado livre ■? são capazes de coordenar
a atividade de milhões de, pessoas-; sencto que cada uma
conhece apenas o seu' próprio interesse, -de modo que
a situação melhore-(...). O sistema de preços realiza essa
tarefa pela falta de/qualquer jlireçâo central, e sem que
seja necèssárioque as pessoas falem entre si, ou qu e se
amem A ordem econômica é um indejente, é a con­
sequência nãq intencional e não desejada das ações de
um grande nùjnero'de- péssaâs movidas somente pe)os
seus interesses (...). O sistema de- preços fupciona tão
bem e com tanta' eficácia que na maior parje dó^em po.
não estamos conscientes de que ele funcionâ” jçiéia
(je mercado realiza de um certo modo um ideal de aU-,
tonomia dos indivíduos ;ao clespersonalizar a relação sqt
/ciai Ôrqercadorepresentp oarq u étip od eú m sistema
de organização ánti-hieráfquica, dc um modo de .toma­
da de"dècisàto rto qubl nenhuma intenção intervém.*12 Òs
procedimentos e as lógicas profissionais’ substituem as
injervençòéA. pérsonalizadâs. Esse deslocamento, que-
não cessa de, ser perseguido e constitui uma das mais
importantes características da sociedade errç que vive­
mos, explica igualmente a nova relação tecidá entre os

1, Apud DUPIJY, J.-P. “La mâin invisible et l'indétermination


de la totalisatiòh sociale”.' Cahiers àu. CREA,’ n. 1; Oct. Í982V .
2. Daí todos os debates dos meaçlos dos anos 70 sobre as re­
lações entre liberalismo e autogestão (tf. sobre esse ponto,
méü livro L ’a g e d e i 'autogestion, Seuil, 1976); <
"pensar o liberalismo
-< :■. | .. . y\. - ... .K -- .-. -V. f - \ ■* . ,

„ ' ' ' ' i


indivíduos e ç> poder. A idéia de revolução tende s ^de­
saparecer. Estandb ligada a uma apreensão personaliza­
da do poder, bastavar destituir umaairtoridácie pára "mu­
dar a sociedade. Num universo de proàedimentòs è de
regrãsf ôu seja, num universo* de uma só vez desperso­
nalizado' e jurisdicionado, nãotiã mais lugar para ás aft-
-íigas revoluções. Nem mesmo, às vezes, para as verda-
, deirãs revoltas; como testemunha, por exemplo/ o j$ta~ '
Èsjna sdcial frente ao problema do deSempregõ. Cpmo
insurgir,/pensamos, contra o que resulta aparentemente
dê pròcedimçntos neutros, de mecanismos- puramente
objetivos? Este é também um dos principais traços,que
qualificam possas sociedades como liberais.
Ao que me parece, a perspectiva indicada, mui­
to rapidamente esboçada nesta introdução, permite •
apreender á' questão do liberalismo a partir de novas
bases. Às- idéias de -mercado, de pluralismo polítiço; dé
tolerância religiosa e liberdade mpral compartilham de
umà mesma recusa: a dé acelfatr qm cepo fripdo Qé ins­
tituição dç autoridade sòbrè os indivídUos. Eth cada 1
um déssés domínios/ um mesqt& prlnclpip seafiím àno
dã autonomia iniííividüãE fundàda pa rejeição detodaj
, as ^óbem niasa b so lu t^ titoncb-comum. que
permite falar de. liberalismo nd singular -é çertamehté í
çsse. Isto porquê, em.princípio^ não líá oposiçáiõ entré
a ftlosofia da proteção ïdps djrèitos dp indivîddo que
veicula d liberalismo político e. a constatação feita pelo
liberalismo êépçômiòb; do caráter organizador das leis >
e das fopçiçts econômicas qué regulam o merçado. Em
ambos os casote, há o, reconhéç'imento dé qué taão exis­
te ürii grandè senhor, dos hòmens e clãs coisas e qué
nenhum pod^i: pessoal dé sujeição diga os indivíduos
entre si. Èxigé"-se q u e'oiu gár central do poder perma­
neça vazio pel^ recusa de todos os comandos pessoais
e de .todòs oi monopólios que restauram as relações
de obrigação entre bs hpmens. “O Estado representati-
' X t v ^ s— • #■'
vo e o mercado”, escreve muko ct^rjretamente Pierre
Manent, “pertencem um ao outro e se correspondem. >
O indivíduo sq ganha a sua- liberdade; ’p se emancipa
dos_poderes pessóais,ao dtyidir sua fé^eptre essás^duas.
instâncias impessoais: Nos dois papéis, não ob ed ecí íQ
ordens d è ninguém; as, (ndicaçdes do mercadb não são
desejadas por. ntoguém, mas sim o resultado, dãsações
'dír cada üm e de^tódos- as íeis do ^ ta d o sãd leis ge*
rais. que não dizem respeito ao consentimento das
•pessoas, e, de resto, graças à representatjvidade, cada
um e tpdos sãQ seus autores. Pelo/Estado) o indivíduo)
interdita 'ps oytttjs^le p-governarem - ímpedin^p-o de"
ser livre; n<Qnercack>ele encontra seus motivos para
agir, para escolhero que fazer''/
, O liberalismo que se afirma na Europa a partir do
século 17 marca assim um novo passo na representação,
das rejações entre o indivíduo e a autoridade. Dá conti­
nuidade ao trabalho, de secutânvação política e de afir­
mação da preeminência do indivíduo que se processa,
desde q '^século l 4 Caraétértza,'iiestè;Sentidorj;irtna cul­
tura, muito mais dó que encarna urna doutrina especia­
lizada, O liberalismo acómpanha a entrada das socieda-
1des modernas numa nova era, de representação do vín­
culo social, haSeada qa utilidade e na igualdade e h àò
mais na existência de umá totalidade preexistente. Con­
tra 0 universo rousseauniano ,do contrato, torna-se o
motor de uma crítica ao comando e à vontade. De uma
certa.maneira, o UperaUsthò:f»z d a'&es^sçn^^tação<áo'
m undo a éogâi^^pam 'P |>i^íésàÉ)':é--^iia a Uberdade.
Nos iseus EnsqiÓs Políticos; Hump>,proyavelfflénte o
maior filosofo liberal do século 18, dentro desse espíri­
to, elogiou10 hábito e o costume. Para que a, ordem não
seja. mais baseada pa dependência dos indivíduos freri-

3r MANENT, Pierre. Les, Libém úx. Paris:. Piuriel," 1986..2 y.


>■ Prefácio à antologia. _ )/
\ ■>^ V r^ i /
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• ' ■> ■ j
'■i v pensaró Uberáíi8»jo V \, A
r 'k w s* ~ ^ »* > M( *

\ y •‘ " 1 s > j., > < (t


‘ ^ t ç à u p ^ e r ^ ^ ou religioso, $eguftdò súa’ejXpít-,
. cação, é pfecfsó defato'que acôncíuta dg sociedade seja'
, ■regulad^'pela 'tradíçãQ.jstó é/p éiq quçqhS de rnàis íji>
pessôal, dè qftaps aproprfável 0«. m,anij>íÍÓyeí ' PK3r "
quem quej sela.‘ A procura <3é uma akerngflVa às'refà-
çõgstradiçionais de poder ed^-dependência, dá unida-
,é é '¥v.Nstdda- ^fesociar'%■'-v
^ ^ S ^ ^ o p k ititiv d ^ S ^ m '^ c ie d ia d e , o'ptivadodo'if
público, â “moral individual dás regras d» vida sdcial, o
peçadp dq 'crime, % liberalismo procurpg redefinir as
fôrmas da^elaçjiô sociál. Por issô,, pode-se faladde libe-
'ráli^ino nô singular. Entre as Cartas, sóbreaTolerâtickr
de Ldçkè, A Riqueza das Nações de Smith', OEspírito das
Leis de Montesquieu e os Prtncípios dtt Política de Bem
jamin Constant, uma mesma empresa está erri atividade.
Çssa é a razãõ pela qüal tfeiW;e-.mebôucó^ birodotik> : >
opor jçy~libferálisrfto econômicq ao liberalismo politico1)"
ou, como's.e fez mais recentértjente, o liberalismo dos
coptrapoderes ao'liberalismo da' regulação automática.4
A história intelectual-da idéia de mercado,-.-pessa perS- íj
péctiva* contribui não só para-iescjarecer úfna “dímeinV,
sàtí” dó liberalismo; executa t^mjbém um cóhe transver-.v
sai qpje permitié compreender melhor o seu movimento .
e as suas contradições. ' ' ■ , . ■ ■■^
V Há utqa, jíificuldade tSeímànentprnente ènfrèntáí? !:
da quando se'tenta abordar' a qúestãosdo libdmUsmó: /
a do caráter prolífico, às/Vezes contraditório, dos gran­
des textos que podem ser ligados a essa tradição. Ma^
esse caráter prolífico è cdntraditório só incómoda
quando sé trata de compreender o liberalismo conio
uma dotítrina, òú seja, como4 um corpo ao mesmo
tempo coereftte e diferenciado de julgamentos e de
anãlíáes. De fato, hão existe unidade doutrinai f^í li-.

£.■ Cf KlANIN, periiardT' “Les dèux libéralismes: rriarcké ou


contrepi^eiislift^^ n.- £, /«ml 3984;
\'l
■õ

beralismo. O libéralism e é uma cultüm , e não uma-


.doutrina. Deriyaíri daí Os .traços distirttois que djle dàô
unidade e tecem suas contradições. O. liberalismoré a
•cultura ejrn atividade no mundo moderno que, a partir
do sécùlp 17,' procura simultaneamente' ^e êfnaneipar
do absolutismo reâl e dasuprem ada dá- Igreja (daí ás
relações' essenciais entre" p‘ liberalismo "e a Reforma
quç não é nosso propósito abordar aqui). $ua unida­
de-apresentasse-como um campo problemático, como
uma atividade, como uma soma de aspirações. Por
isso, é difícil tentar apreendê-lo na imobilidade: ele só
existe relativamente a um movimento, a iim processo
de "ação e derefléxão. De um ponto de vista metodo­
lógico,. parece-me inteiramente impossível tratar o
próbléma dô^ liberalismo atrtívés da ótiça clássica da
história das idéias. Para apreender o trabalho da cul­
tura liberal é. necessário cqih efeito1opor uma aborda­
gem dinâmica :a uma obseryaçap estática.5 Trata-se do
objetivo da história íntelqçtual*; tál^çoijio tento praticá-
la: çqmpreendçr a fcama^ãp e a eyoluçãp das tacip-
tráífàgtàes.polfti^ás e sociais,.pu seja, dps?sisíem0istde
•represqntaç|Q qye comapdaím-o modo jáSelo, qual umar
épòçaf um. país, ou grupòs sociais conduzem suas'
a(ões e encaram o futuro. Partindo da idéia de que es- '
sas representações não formam um envoltório fora da
consciência dos atores,- como, por exemplo, as men­
talidades - , mas que, ao çdntrárío, resultam de um tra-'
balbo permanente de reflexão da sociedade sobre si
niesnjia, 'história tçm por fim: ^ Ç
V-.-yÍ. fazer a história da maneirâ pela qual uma épo­
ca, um país, ou'grupos sociais procuram propor solu­
ções ao que percebem ser,; de modo mais ou menos
confuso, um problema;

| 5.-Permito-me remettír a propósito disso a Pierre Rosanvdlon


: “Pour une histoire -conceptuelle du politique”. Revue d e
synthèse, n. 1-2, j^n./jùin 1986: Nouvelle série. ' '

16
peoèar o liberalismo

2. fazer a História dó trabalho executado pela ln-

seu obfetivp é identificar os “nps históricos” |m ,torrio


dos, quais as nçfras ígCiónaHdades jiç>lí{íças e sp d à íssç
organiza m /as( representações do político se modificam '
em relação ^ trájrtsformaçõeS m s institoiçôes, nas ’téenf-
X cas çle è nas formas à& tùat&a socíâl._Tístar
■é upia história ’paj^lc^-nà me<^dá • dòs
político é o lugar da articu lação oõ àoéial ^om á sua fe-
presfentação. ÉjtamHerto uma história çoncfeitual' pòrque
em;tõrn% dq cpncéitos’'- igualdade, sç^bèram^, áemoera-
. eia, mercado, etç. - se enpeláçàíme seH i^rim ènfam a 1
inteligibilidade das situações è o princípio: dás suas atp
vaçõés. Fòi isso o qué eu tentei, fazer nesse enSaiô, ao,
rhostrar, de uma só vez, como a idéia de m ercadosç im­
pôs no séçulo 18 e como a aspiração à auto-regulaçâó
da sociedade.civil que ela veiculava atuou sobrç a cul­
tura política do século 19 e continua percorrendo as
nossas preocupações contemporâneas. ,
v’ Â, primeira parte desta obra, centrada .em Adüm
Smith, retraça a gênese'e o desenvolvimento'da icíéia de
mercado como princípio de organização Social. A se­
gunda parte é consagrada â exploração da sua difusão,,
principalmente no séculõ 19- A imagem de uma soeie»
dade auto-regulada abandona então' o campo econômi­
co - o mundo do capitalismo triunfante não podé mais
ser iguglado cQm o do doce comércio - e se apossa de
todas as grandes visões sobre'o definhamento da políti­
ca e sopre a , substituição do ^ç^erno dpS; hoptehs ppr
uma administração das coisas: neste sentido, Marx é o
herdeiro natural de Smith. A utopiíi econômica liberal
,do século 18 .e a utopia socialista do século 19 partici­
pam paradoxalprente de uma mesma representação da.
sociedade sobré o ideal da abolição da política Neste
sentido, alétreídas .suas divergêndás, õ liberalismo e o
\

CjiUtabro de i$ m
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mercado
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instituição e '
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do social nos
séculos 17 e 18

Y -m y m ,
a aritmética das paixões e a •■■■•
instituição do social

A desagregação da ordem social tradicional ^


de suas representações, que vinha se efetuando, lenta­
mente,- desde o século 13, acelerou-se no século 17.
Com à recusa de umà ordem sòcM qtfe fepbusa,-
va sobre & lei divina* a própriè ítijagerd : da ^sociedade
como corpo social se desagregou progressivamentè. Pa;
rece-me que é a partir .desse problema bem conhecido
que a emáricipaçâo prògressiva da política face à moral
e à religião e a afirmação econômica da sociedade mo­
derna devem ser compreendidas num mesmo quadro
de análise. '
■ A grande questão da modernidade é pensar uma
sociedade laica, desencantada, rétoniando uma expres­
são de Maxjptebei? Mais precisáménte nindá; p ensar a
sociedade como du^-institu0di l»oni\ repcm s^ ^spbre
Cãpítulol

qualquer ordem exterior ao hofnem. Neste sentido, Grp-


tluft falava de estabelecimento humano, por oposição a ,
urn estabelecimento 'diVmq. ‘ >' s v -
' Pór fnekS da em àt^>açâa cfo pofeico, sdefetuaa'
afirmação «tefigura oenttai áq indivídüo,acdmpaob4n- ;
do a passafgem dâ universitas à súcietas. Ao mesmo tem­
po qüe a política âe autonomiza, o sujeito se distingue
do corpo social. “0 ' Estado" pão é mais derivado, Tomo
; um todo. parclãí do. tõdo urijvereal harmonioso desejado
por Deus”, .para empregar,uma expressão sugestiva de s
Ottp Gierke, ,É pòf si mtesárò suà própria fonte è sô-có-*
nhece corpo fundamento uma reunião dos rjndivíduos,
ordenada pelo direito .nptural, que fòrmam uma comu­
nidade detentora de todí> popef sobre st mesma. Esta
concepção foi desenvolvida por toda-a escola do direir
to1natural qúê trata os hofriéfâs/como indivíduos auto-su- -
firientes, e rnão mais como setés sodais que São aperias
peças de um aufebra-cabeça.1 Adam Ferguson resumiu
1essa. mutaçãovao escrever: “entre o$ gregos ,é os roma­
nos ,o pútollço é tudo e o indivíduo nada; entre os mo­
dernos,- o Indivíduo é tüdd e o pdblico nada” CEssai sur
l’bistoire de la société civil. p. 151, VO-
; í, A partir dò indivíduo e,d e sua natureza/ portan­
to, dçve sçr pensada e resolvido o probiemsMía institui­
ção do sõcial. Com efeitp, pensar em termos, âó direito
natural" é, antes de tudo, partir de uma antropologia na- /
tural. “Não há questão importante cuja solução riào es­
te# compreendida na ciência do homem”’ escreve

■"v j ' ■ i ' . . i ,, , ;v


'' i . Sobre eSsa questão cf. DUMONT^ Louis, “La conception mo- -
1 dèrnede l'individu”, Esprit, fév, 1978, e a obra .monumental
de GIEtofêE, Ôtto, püblfe#da do dm do séculç.19, tíãtuM lLàu>.
' ; anAshe Tbeçty:of Spciet)>, JSOQ b Î80Ô, /
N.B.: as referências , précisas, de todas as obras citadas neste
~ livro estão indicadas na bibliografia no fim do volume. , \
N.T.: por isso-mesmo, não serão traduzidos os títulos dps li­
vros citados. ... - -- ■ ' ' S,
Hume nas|>rimeiras. páginãs. do seu Traitçdela náfure
butnaine (t.T* p. 59). Essa grande questão mobiliza tó^
dos os filósofos dós SéCulosT7 é 18» de Hóbbes a Lçk>
ke, de Hum ea Smith, de-Helvetius a Rousseau.,* ■>■;}~

portanto’, outò pdssíbUidade ^ ra íp e n s ^ a instituiçãb


,dá sociedade senão, apartirdaquilo que eíã é, Esta p reo
cupaçâo se inscreve pà maior pátte dos livros importan­
tes da épdça.' O tèfíiatãxde Hobbes se.abrè çbm dezes-^
seis capíftilbs intitulados “Do Homem” que'retomam
'ãfiàs dmplàmente Séú primeiro trâtádo - D a natuírezq
humana. Do mesmo modo, é com uni capítulo çorisa-
•grádo âò ‘dstado de natureza”,que começà o Segundfyy
TmtadodoGovernaGiviLàe Lòcke. '
■ x '.O-pensamento' sobre a origem d asociedàdee o
pensamento sobre a harmonia,do Sjeu furieíqnamento são
as duas faces inseparáveis de uma mesma ínvestig^ção
Essa análise da natureza humana se quer cierttífi*_
ca, para dar uni fundamento sólido e indiscutível à so­
ciedade. Assim, Hobbes afirmou se inspirar em Galileu
ná sua dedicatória ao Da Natureza Humana. Hume fa^
igualmente da “aplicação da filosofia experimental às
ciências morais” (Jraité^ f. 1, £>• S^. HelVeíiUS escreve no
■ÚeVesprit: “Creio que a moral deve ser tratada como to­
das as outras çiêndàs, ".ea moral dèvê />$eí çlêsenvolvída
como uma física <^peTin^ntal”:.(£?., 6i7*É>. ''|MEjw'tvgç$e!5.
dèssa riaturezà poderiám ser-citadas’a04nfinitOí
Em uma pàlavra, tratàíse déelabbrar 'uma. ciêriçia
dás paixões, como já há uma ciência dá razão com as
.matemáticas. Toda a literatura sobre os afetos sociais, as
paixões e os sentimentos, que floresce no século 18
deve ser assim adeqüadámente*eompreendida, Não se
trata de uma moda psicológica ou de uma diversão
mundana. É apenas o signo de uma tarefa filosófica
prioritária para pensar o fundamento de uriia sociedade
humana. Trata-se de completar e de assentar a noVa vi-
‘ capítulo 1
r 1 . r l ' i ■ ' ^ ,'
sâod e mfundòimplicada nã revolução Coperhicana. *As 'í
paixões são. para a moral aquilo que o movimento é
para a física”, proclama Significativamehte Helvetiys (Pe ,
P.149J , v !/ “ , ./* , i +-< ^
’ 1.falar 4 o homém é, com èfeíto, fáfar dé^suas (paf-
xõesj e- falar científicamente, recusando fundar a socie-
, dadê sobre uçna ordpm normativa e exterior. Não se tra- '
taxle ensiparraq hôWm^o^oue-efe^d^vé fâKíeq/é 'pf^eK
só antes compreender aquilo q u f ele é. Esse “programa”
t está na orcfem do dia desde Maquíãvel. ,,
: £om efeito, Wúnoral: ,é recònh^ida jcomo írtipo- .
rtencé^poir-atik* p arte-4o ,homem e . de suas paixões.
Hume resume bem esse pomo de vista largamente ad- ■
mitído no séqulo 18: “Aphp”,, escreve, “qué a filosofa
móral, transrqifida a nóçífs^ds Antigos, sofre da mdSma
desvantagem que sua filõsafia natural; é esseádalménte
hipotética e depende rri&is da imaginação que dà expe­
riência.-Todos consultafan);» imaginação daqueles ho­
mens paraveohsfhiir1prograiíj^ d é v to defélicidá-:
4dê, Sem^comideràr a-nátüreza humana da qual dépen-
df necessariamente toda conclusão moral Decidi, por- ■>
tanto, tomar essa naturçza humana cpmò objeto princi­
pal de estudo e considerá-la ct>mo a fonte da quàl ex*-
tmireí todas ás verdades tampada crítica cpmo da moral*
(Extrato de uma carta citada por André Leroy, t.I, p. l í
do Traité de la nàture hum aine), ■
Por essa razão, a filosofia moral só pode* existir
como ciência das leis dá natureza humana. “A ciência
dessas leis é a verdadeira e a única filosofia moral”, jâ
enunciara Hobbes (Léviáthan, p. 159).
Essa concepção marca upa transtorno considerá­
vel ná posição do problema político. A .política, com o •
instituição do social, fiâO: pode mâis ser considerada
como parte do domínio da moral. Nãç basta, mais ter a
esperançai de regular aspaixõespéla razão, como Des­
cartes,: ainda desejava no seu, Tratado daí paixões da ;
aúna. Tambéiivnào se tfatam aísde ter àvesperançácie v
moderar as paixões.- Hdfcbes escreverá a ^esse’respeito
n o Leviatã- "ps autores de filospflãmoral, ainda que jneK
conheçam as mesmas^vittudes e vícios, nem-sempre
vendo no quê cPrisijSteVa bondade dessas vipudes, nein
que elas se tornem objeto de elogio como meio de uma'
vida possível, social e agradável, fazem-nas çõnsistir na
moderação ,das páixõés: como se' esta dosse o grau da'
aüdácia, e n íô à sua causa, que constituísse a força dá
alma” (p. l60).
' Assim, desde o século 17. começa a se afirmar a ;
idéia de* qué é a partir das oaixões d&bomem e não àpe-
jsgr delas quê é preciso pensaria instituição e o funcio -.
namento da sociedáde. ^ ‘ *
^. política portamd nadfr mais é que um arm te

. cõftibirúit6ría da^ paixões- Seu objetivo é comdpr aà ;
paixoes de tal modo que a ^oCiedade possa funcionar. Ã
,A atítmética das paixões tornasse; a pahir,do sèóuló 17^
p meio de dar um fundamento sólido ao ideal do bem
comum do pensamento escolástico. As paixões consti­
tuem d material sobre o qual trabalham os políticos. “O
poder é .a sagacidade dos políticos, e ó esforço labo­
rioso que empregam para civilizar â^sociedadó”,, escre­
ve Mandeville, -*se rèVèlam, em qualquer ou­
tra parte, na feliz intenção' de‘dançar nOss^s páíxões
• umas contra as outras” (La Fabledesabéitles, remarque
N, p. 116). v’
Do mesmo modo, a instituição original da, socie-
, dade só pode ser pensada nesses termos, Se p homem
é;^uma composição de páixÇ ô diverèas” (MándeVille, p.
41), a instituiÇáo do soçial só pode ser o resultado de
um modo de composição neceSsáriadas paixões, r
Nesse sentido, pode-se compreender todá a mo­
dernidade, nos seusfcliferentes aspectóé, como.urfiá ten-!
tativá de dar uma resposta à questão da. instituição do
social. É a essa/única è mesma questão que Hobbes; e
capítülòl
',v
Rousseau, MahdéviUe € rS«rith, --Helvetius e Beniham
apfesentam respostas difèrehtes. , , - ~ •(*>
;< / Assirii, minfia tè se é de qúe 6'iLèviatã. e A Rique­
za dq$iNações devenf sér lidos da, mesma/manèira. 'Qu’
de pfeferénçia, qué o çpftt^ato socíM e ú mercado s^o
lapüánas- <tó^”vai$abti^d^fresjS&s&a.' um am ésm aquesr
ião. O Leviatã\ respósta política; A^RtquékU dpSNàçoes-.
resposta eçonômica. Njais prpcisamente aíftda, te/ttarei
mostrar que o H ^ ã d ^ sjg, apresen^no dó ^éçujpr
l8 coiÁo a rèsppsta globaf às-questôes que^aS teorias do’
pactô-social não podiam resolver de modo totalmente
Satisfatório^ ópkt^ónor/ V 1 ^ 'ZJ - V /
■" l Pod ís$Q,'a seqüêiicià deste capitulo será conSa-,
rgrada à. análise das tèspostas políticas à questão, da ins^
fitqicãp do sfòcial de Hófoibés a Rousseab- ' 1 V*
'n' v> / Z '< -V) i ' 1 ( .... i',1 "■
' % "A ■' i n t*r ; ■ '

^ política corap instituição da


sóei^l, de hobbès a^rOusseaü
^ T Forjaáa no século-17 pelosteórrcqs dó difeito. pa-
tpral, a noção tjle pactosócial se expande amplàménte
íioséculo 18, A teoria do contrato social, sob a forma
clássica do pacto dç subtpissàó,-possui então autorida-
- de. Praticamente faz parte do senso comym.- (\
- Lpcke e Rousseau, dar-llíe/íp um novct sentído.
Mas sabe-se que essa noção tinhájámm sentido muito
diferente para Hobbes e Pufendórf. Num certo sentido,
tódos os filósofos políticos dos séculos 17 e 18 pode­
riam-ser estudados a partir das suas teorias do pacto so- ,
cíal. Mâs esse não é o objetivo dô nossp trabalho,
. Em compensação, nos parece importante mostrar.
,coftio essas diferentes cx>rtcepçõés'do contrato spçial rè-,
poüsám ém última análise Sobre visões divergentes do es-
tado de natureza e das paixões humanas. Assim, podp-se
a questáo dá ii^jtuâf6pedji regulâçào do social noaséçulosI7 e 18 >

compreender I^obbeô, Pufendoif^ locke é-Rousseau .de


unt^i maneira, qnifiçàdaç OprQcedimentp. deles 'é üm sós
pôern a questão-dà iristiwiçàoldasoçied^de sóbre Sybase
Única dte umá ciepcia realista ,do homem.,, J>* s, lJ> '
* 1-Cpma $íaquiavel, Hobbes! abandona a procura da
boa sociedade. Torna sua a critica maquiavélica da tradí-
çãp utópica. Mas Hobbes recusa o rfeàlismo de Maquia- ■
vel que súbstitúj as'yjrtudes moraisJmdíciOpais pelas vir­
tudes puramente políticas. A originalidade' de Hobbes,
segundo a formüla de Xéo Strauss, está‘ em? “transplantar
a lei natural para o terreno de Maquiavel” (JDrottfaturei
et Histoire, p, 497). Tentará assim conservar a idéia de lei
natural, dissociando-a da idéia de perfeiçãodnlmâna. Re­
cupera a doutrina filosófica da lei natural, Coricebéndo-a-.
com o yma doutrina do estado de natureza. Inverte a(
doutripa do direito natural, ap áut>stituir pela distinção ;í
èstad^de.aatureza'/stx^edade pi^l a'dísúnção tradicional,
estado de natureza/estado de Rssá ínversãp traduz.
o movimento da modernidade que pretende substituir a
instituição divina pela instituição humana. Não é mais â
-graça divina, mâs sim urri bqm goyerdo que pode reme­
diar os erros dò estado de natureza. ■' ' : , ,
Por isso, a lei natural dève ser investigada nas dri-
gens d ° hPmem é não mais no séuídeístino. Assim, Hob­
bes criou um tipo inteitaménte no^o de doutrina polítí-
caV párté dos direitos naturais e h|iO mais dos deveres
nàtúidis. Ôrá, pará ele, o qpe há de mais-influente no
homem não é a razãò, é a paixão. A lei natural não terá,
portanto, nenhuma' eficácia se seus princípios. forem
corttradítados pdas paixões; por isso, a lei natural deve
ser déduZída dâ rijais poderosa das paixõès. Hobbes é
um realista. Para.ele, a sociedade não pode ser pensa­
da fbra desse realismo radical. : . ^
' .T E Hobbes constata que o estado de natureza é
um estado de guerra, que “os homens são levados por
suai paixões naturais a se chòcár úná contra os outros”
:íj-s ■H
-
Qe CÓrdspoíttiqué. c h .í $ A qúeséõ dá instituição

( pm ' a - ____
' Hob$esé3tá mujtò fíróxjpo de Maquiavéí nessé porto.
Corno 0 ultimo', "ele deduz s^doutrinafda observação _
.de casos extrehao^; é. spbrç a experiência da guepa civil
que ftirtdâ áçu pensaiíientó sobre o.dstado.de natureza. _
æ pensarhehtxi , tem uma difejfençã fundamentai
Eáquiavel, sobrirá qual vqltarémos a falara ele
ctesloçapara oestado (te fiqtuteza oqùëM&qufcwel des-\
cheveu na sqcíèdade civikéòt isso, nèdui a intefrogáçâo,
maquiavélica sobre o poder e a política ao preciso mo­
mento de instituição da Sociedade.
t Párâ Hobbes^ “o estado dd& hòmepá na .jib^dádé
nâtyrâKé; pOitânto, estadò de guepa (je Cbrps poHtiqug,
l|ë partie', eh. I, f 11). Nãp é a razão que permite superãr
•esse estado de guerra; ele sé pôde spí superado para in$q
títüir nqmf mesjmófinavimèrtdt a socjedáde e„a paz,pelá
' força deum á'paixã'0 aírtdk mais poderoèa. iEsáa páiXâo
cpmpensadora e salvadonq è aos séus olhòs o ttied&da >
:mortè <3Ma desejo dé cot^rvàçãq. É O “dfsejo natural de
>-:,se Gtínservajr’’^què plerinj^e^fundar a soÇiédade. Po^ temer
não poder se conservar porfnutó tempo sem ela, ds ho- „
mer -fôrmaram os corpos políticos. Ao formar um cprpo
pdlidcQ, instituem1d-paz civil que é a corídiçãoparaá sp-
bre^ivênciá de cada um: “a páixão pela qual nos encarre­
gamos de nos acomodar aos interesses dos outros deve
sera causá da pai” (le Çorjpspolftique, ire.partie, ch. III, §
' 10). Mas essa paz não pòde ser garantida.somente pela'
paixão de Cada qm pela sua própria conservação. Deve
ser instituída e garantida: para isso o único meio é estabe^
íecér “um poder superiorè geral que possa còhstranger os
particulares a guardar entre eles a paz estabelecida.e unir
suas forças Contra üm inimigo comum” (le Corpspolitiqve,
Ire partie, ch. IV, § 7). ‘
a tfuestão da instíttnçáõ e êà refflilaçfto QÒaoàal nos séciltos 17 e 1.8
' r* * v ,1 - ; -> ^ r^ 7
O objetivo do pacto social é “Cada'um^$e tíbriga ‘
pof uln còntíato explícito e pèfmite a um homem ou a
uma assembléias feita e 1estabelecida, pof um comum
.cbnsentidienlo de tódos, fazer ou «JeíXãrííe -fazèr o p u £
éstè hòmeth, -Ou esta assembléia, ordenarábu proibjrã”
(Le CotpspoUtique, Ire partir,'ch VI, § 7).
O pacto sóciai é portanto necessariamente; e
nüth úhicQ movimento, um pacto de Submissão e ~üm
pacto â ê associação;-^om efeito, umà convenção erttre
os- hròmens não seria suficiente para tç>cnar -o acordo'
eonstanté e ydurâvd. Deve haver, portanto, “uní poder
comum qué o s mantenha juritos e dirija suas afeóes, teq-r
do em vistà uma Vantagem éomum”^ Em uma paiavçaí ^
. ó desejo de se, conservar só é mutuamente garantido»
pdfo medo. . .• '■> ' -c 1 - ■ • c' '
': Hobbfes expHca isto longahtente no Leviütã: *‘Q *
Pplco modo de erigir um tal poder çorhum, apto para
défender as pessoas; do aíaque dos estrangéiroS f llòS'; ;
males que poderiam causar umas as outras (...) é con­
fiar todo o seu, poder a um único homem, ou a Uma ,
única assembléia, que possa reduzir todas as voftta-
.des, pela regra da maioria, a'um a só vontade. Isto '
eqüivale dizer: designar um homem, ou uma assem- -
bléia, para assegurar as suas personalidades .(...). Vai
além do consenso , otí da ephcofdâ^ciá: “tíatà-^e dé 1
uma unidade real de todos numa só e mesma pessoa, ‘
unidade realizada pof uma Convençãocle cada úm -
com cada uift, passada de tal modo que é como se
cada um dissessea cada um: áutorizo e ^ e homem, ou
essa asséilibléia^é concedo-lhe mep direito de gover­
nar a mim-mesmo, desde que você abandonè o seu di- '
reito e que autorize todas as áçpes da-hfêsm^niane^
ra. Feito isso, a multidão assim unjda n q m a® pessoa?'
é chamada de yma república, em latim çimtaS. Assim
é que se dá a'geração desse grande Leviatã, ou para
falar com mais referência, désSe, deus qual
capítulo 1,

devqmos, sob o. Deus imortal, nossa paz è nossa pro­


teção” (.Léviathtpt, ,2re partie, eh. XVjá, p. 177-8}. ’ ^ _
'l' Ifréquentiemente HÕbbes é apresentadaíõm o utp.
teórico-- dò absolUtismOr % preciso compreeríder i^ern
esse julgafriento,- Hobbeè não prqéüi^ ju stiçar o pqder
absoluto do soberano. Deduii esse p o ^ rab so h ito “dás
i^oridiç^ssne^esSáriás paira a, instituição da .SQciqdáde.
Prefere o regfrné monárquico ac? regime aristocrático,
pOrque o ptímeipoestá mais aptó paia assegufar a paz
civil, tendo epr? vista o q u ç s ã ó aSpaixõesdos horaens:
“Se á$ paixões dç m uítossãom âis violentas quapdo es­
tão’reunidos,' quetaquelas,de um homem só, segue-se
que os inconvenientes que .pascem das paixões serão ^
... menos suportáreis num fitad o aristocrático ;que numa
, monarquia”' (le Córps pqttíique^lrz paTÚe:, ch. V, $4). E-
.a democracia é mais insuportável ainda porque acentua,
do ponto deVista da dinâmica das paixões, os proble­
mas postos por um regimè ábstocfático.’ A, demonstrar
.ção de Hobbes é portanto lógicâ de cabo a rabo. Mes­
mo ítousseáu nâQ^cpntestará á validade do seu procedi*
mérito. Revisârá a sua economia das paixões e a sua
concepção de estado de‘natureza; e é sotnente basean­
do-se numa tal revisão que'Se desenvolverão novas con­
cepções tio pacto social. , - ■,
.Maé todo o século 17 e o 18 concordam com
HobbesVao considerar que “a arte de estabelecer-e de
manteí as, repúblicas répousá,, cpmo a .aritmíétifca e a
geometri^, sobre regras dçterminadas; e’ não, como o '
jogo de Pela, somente sobre a prática” (Léviathan, 2re
partie, ch. XX, p. 219). Ninguém contestará que o direi- .
to civil deve ser fuodadcTsobre “os interesses é as pai- '
xôes dos homens”, como ele mostra na sua conclusão
dò Leviatã.. , . /■ •. * •'■■■> -
' De.sse ponto de yista deve ser apreciada a dife­
rença entre Hobbes ePufepdorf. Sabe-se què Pufendorf,
que pode. igualiriente ser considerado um teóricp doab-
(

.a qu eço da Instituição e da regulaçâó do sOcial nos séculos-17 e 1&

solutiàmo, explica a formação do Estado pplítico pefa


realizaçãq çíp um duplo contrato. O primeiro contrato é
um, p ad o d e união-, assoçiá os homens e lhes impõe
obrigações mótuas,; rifistib^indcr portapto a sociedade.>0
segundo» étin^pacto d e submissão-, ê a convençào' pela
qüal oa cidadãos já associados se submêWm a- um sobe-,
rano que eácolherafn e ad: qual manifestam, sói> certas
condiçoês, obediência total. Acrescenta portanto ao pac­
to de submissão cie tíbbbes um contrato anterior, que é >
iim pacto de união Vê-se o interesse dessã teoria: per-
mite evitar a consideração de que' a'dissolução de-um
governo Conduza ao desaparecimento da sociedade.
Vê-se iguajmente' o problema que coloca aojnstituir um
dualismo de legitimidade, pois-à personalidade do Esta- »
dq.se acha repartida entre o, plòvo e o soberano.2 , *
/ ' Mais importante para o nosso objetivo Ȏ'W>strar
que essa diferença em relaçãp a Hobbes, com todos os
problemaá 'que. coloca, reside na teoria pufendorfiana
do estado de natureza. Para Pufendorf, ao contrário: de
Hobbes, o jiomem é naturalmente soHável. Isso não dig­
nifica opõr um homem natufalrriente bom a um homem
naturalmente màu, Não se trata somente da afirmação
de um otimismo, sobre o homem contra o pessimismo
de Hobbes. A concepção de Pufendorf fícairia, com
efeito, na velha utopia moral que consiste cm igualar di­
reito natural e deyèr natural. Q raçiocíhio de-Pufendprf
sê mbaa nõ mesmo plano que o de Hobbes, mantendo-
se no quadro de uma economia das paixões naturais.
Mas,; substitui ã Otíónomia de guerra e de paz de Hob­
bes por uma. economia de bbnçVolênçiá e d§r interesse.
Se o homem é naturalmente sociável, não ,tí! é somente
por sqntimento dêsintereSàado - ainda que esse benti-
mento exista para Pufendorf - , é também porque tem o

j 2. Sobre essa questão, ver DERATHÉ, R. Rousseau et la Scien­


ce politiqu e d e son temps. . ; ?

31
', ’ . _ _/capítulo 1
'
1M
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n.
ihterefsse çte ser
-
sóciáveL* "A
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jflatureza
v
nas maqda
,1 \ r
ser
,
so- 1
ciáveis,' mas p ão pretende'gue nos esqueçamos dê nós
mesmos. Ao contrário,' b propósito da sociabilidade é
que, por meio de iam comércio de auxílios e de servi-.
Çoé, cada um .possa mèlhor realizar os seus próprios in­
teresses’ (jDroiLdè la nfltyre et des gens, 1.1, livre íí, ch.
U I, § 18, p. 229)VO intèresse é para Puferdorf uflaa con-
Seqüência positiva dessé-desejo de conservação, princi­
palmente negativo pãfa, Hobbes. -‘
A instituição dá, Sociedade, precedente à do go-
Verno, repousa assim sobre uma dinâmica do interessei
e não mais sobre 0 medò. Essa concepção da soçieda-
‘ de desempenha aliás um papel importante para explicar
o sucesso de Pufendórf. Anuncia autores como Helve-
tius ou La-Rochefoucaud, e m esm a Adam Smith, como
veremos. ' ' -■ ’
As teorias absolutistas de Hobbes e de Pufendórf
parecem sumarias sob rrítiitqs aspectos. Mas, não se
devè espuecer a dimensão pqlêmica de.suás opras. O
combate que reali3aran| eátflVa pnoritãriamente centra-
-do corttra â doutrina do direitp divino e tinham como
preocupação, maior,, libertár deflnitíVamente á ciênçià
política das suas tunarrasçom a teologia pela teoria do
contrato social, a o pensar a auto-instituição da socieda­
de como diferença em relação a um-hipotético estado,

/Ç -íig ck ^ è inscreverá naturahnénte nessa tradição.


Cãonêébe'^ialmente: o -governo civil como- “verdadeiro
remédio para o» inconvenientes do estado de piatureza”.,
Mas sua concepção, do pacto social é profundamente di­
ferente da de Hobbes ou de Pufendórf, mesmo reconhe­
cendo coino eles qüe só há sociedade política, ou socie­
dade civil, quando cada um dos indivíduas que dela fa­
zem parte se'desfaz dos seus poderes naturais pafa os
confiar à comunidade. 'O Segundo Tratado dojGovemo
C7íW/ é( Cbm éféifo, uma Virulenta crítica, ao pacto de sub- \
miséâo. Esta Cntica dfe-
utpa tfa^üciji?aç30 da ruptura cot» asfeoriasíd© íj
.’dferapq. ‘^ *
.^«WcTser^itoprèepdK^,cèaTO4úèia\r^ca4o‘LèVÍatàdoínríó.' , A
- “dêifó1niprtar'»'rèrofnaodo.^ :.expressed , d e ' -,*,' N f
ke prooedç a^sim a um l^ici?ação radical da lÉosofla jp o-” ' 1 1
ICtie^.'.’ttpr i§s^, critica amònarqufr absçiytífcòmojhma V <v

Hobbes sijst«jtam vCO«í:*foí^i /téfà?- deste J;


modo, D jyíftdpe. absoluio se difeíenpjíi e sp-separa da „
'
sociedade tíiyil, Fiça, portanto, “flo estado de ríàtjrrezà,. A ' rVC'
tantrí face a todos seus sâditos, quàntoface à hymanfda\
de” CDeuxième Tmtté, Cfi/VÍL, &{Myp, 125). Com ^feijtd^ ' "
se o príncipe está acima cia lei, nãò há Jbarreira^álguipp !(i ' ‘
contra a. violência ç a, opressáo^ desse chdfo- afesòte);!' •(_* !
qyem demanda justiça pode ser tratado cómo uirí 'fee- '
doso” ou um “rebejde’”. Se o príncipe nào está na.i©cid- > ''
dade c i v i l A a medída em" que não é possível “spHçíâr
qualquer socorro, neste mundo, para reparar ou limitar '
R ' todos os males que ele cometerá” - há, portanto, de cer- '
V ’
to modo, a *dissoluçáa da sociedade de civil, porque
“ninguém, na sociedade civil, podería ser dispensado ,de
obedecer às leis que a regem”. Locke será, neste senti­
do, ó teórico da monarquia
/ . .. . . . . . . . . . .
constitucional,
' i i
até mesmo o i -■ ■
precursor do individualismo democrático.
Mas sua crítica a Hobbes e Pufendorf não se
apóía somente sobre a.denúncia de um eiró lógico. Só
adquire seu sentido verdadeiro se for compreendida^ná
sua relação com a teoria lockeana do estado de nature­
za. Locke não partilha a concepção hqbbesiana da guer- -
ra no estado de natureza! Em compensação, concebe,
/ comb Hobbes, que o. fundamento do direito natural re^
side no instinto de conservação do indivíduo. Mas còn-

33

•■vs.
capítulo,!

cebeéssa 'vontade .de conservação'de modqmuito dife­


rente traças à sua teoria da projníédude. Ao definir à
propriedade como .produto do trabalho,, o due é.Uma
novidade,' Locke faz da propriedade .um prolongamerito A
db indivíduo. A prbpriedãde .existe^ poijaoto, nO estado >
de natuçezà, pois nela o trabalhpíexiste. Por isscr, o ho­
mem ‘"carrega em si mesmo a justificação principal da-
propriedade,- porque é o próprio senhor e proprietário -
da spa-pesisoa, do que faz e do-trabalho que realiza”' -
(Deuxième^Trdtté, ch. V, § 44, pOlQÒ). Locke chèga, nes^
fe sentido, ao movimento de emancipação do' indivíduo,
. afirmado pe]a"modernidade ,'Não é maí£ somente -qf in­
divíduo que se distingue do^earpOsocial que. anterior-,
mente o anulava, mas sim o indivíduo com todos -Os
seus atrjbutos. Num sentido, Locke autonomiza, privafi-
za e personaliza o conceito de ^propriedade,. rompendo
com a dòncepção tradidonâ} de propriedade, do mèsmp'
modo que Hobbes hàvia consagrado a emancipação, è a' x
-aútonomia do,su)eito^ -, '
-. Resulta daí que. Locke’ não-distjjigue a consefya-
ção de, si da conservação da^ propriedade. A .instituição
da sodedade tem Por fim indissociável assegurar a oaz
civil e garantir a ' propriedade. O conceito de proprieda-
dc resume è amplià< o torí ceifo déjndivídudii£\termò
^pk^hedade engloba por sua vez ^vipa^ àJmerd^iae e a
^Q«te^^NàÓ'^..iãMii. razão qúe o homem solícita e çon- )
^Kte' SéáíSsp€iaf com outros horáenS, que já estão reu­
nidos, ou que projetam Se reunir, a fim de salvaguardar ‘
mütuamente suásvidas, suas liberdadesesuas fortunas,
é isto que eü designo cobt o nome geral de propriedade"
W etixièm é Traité, eh. IX, $'123, p.. 146^ '
O conceito de propriedade faz inascer, portanto,
uma aritmética das paixões diferente da de Hobbes. F.
sobretudo dá um novo sentido à instituição da socieda­
de civil: “0 fim capital q pnfecipal, em vista do qual Os
homens se ássocialn nas repúblicas e se submetem aos ,
'ST'
a cKièStãa d^lnstituiçãO e da regulação drpãociat nos séculos 17 448 ;

,’ í> •'• ‘ ' '’%/, - , «


governos,'é a consérvação tias suas propdedãdes,” (DéwV
xièm e Traité, cfr, IX, § 124, p. ’446>. 0 pòder do soberà-,
no é portanto liniitacjo por aquele qüè requer a conser­
vação dás propriedades. Por isso', o contratosdciai de
Locke é ufn-páctade associação e não iinxoacto de sut>
missão. Q pactõ ,de associação é suficiente Vas seus
. olhos para assegurar, a paz civil e a defeSa da proprie­
dade, na-ifaèdida em-que compartilha no fyndo ã GOn-
_cepção' 'de sociabilidade natural de Pufendorf, que é ;
, . também a defirotius, como da maior parte dos escrito-
• res dos séculos 17 e 18, à exceção de, Hobbes e dq
. Rousseau. De Certo rnodo,^ Locke completa Pufendprf,
- devolvendo-lhe toda coerência, na medida em que se íi-
y . mita ao primeiro pacto de associação, eliminando todas
as inconsequências ligadas à definição pufendprfiana dû
. pacto de submissão. > 'm
Mas um outro deslocamento começou a süfgir'
com Locke. Sua, questão não é mais .penáaf somente a
instituição da sociedade; é sObretudoa de pensãr o. fun­*1
cionamento desse estado civil. Deste ponFo de vista, sua'
problémática ihairca uih desvío decisivo. Ele “trabalha”.
tanto sobre a sociedade ciyil propriamente dita,-■quanto
i, sobre d corte: estado de natureza/sociedade civil. Esse,
■ desvio mostra igualmentp que a teoria do pacto social .
tornou-se urrt^ idéia geralmenie admjtida,- mesmo cjue
: suas-LgqWaa ùsqs fins continuent a ser discutidos, s
1 1 Q T Rousseajj/deve ser entendido a partir desse terre-
- i no jáTrabalfiado por LÍpbbés, ïWendorf e Locke.* Seu
ponto dé partida ë o mesmo que o deles. Desde as pri-
, , meifas; liphas do dbrâ/n^ó i&:t<^ afirnia que quer invesi-
tigar se há na ordem civil “qualquer regra de constitui­
ção legítima é segufã, Considerando os hdmeiis tal
como eles são é,as leis,^ais comò e l^ podem ser”.

3- Cf. DÉRATHÇ. op. cit.,.ao (|ual muito, devemos em todas as


análise que se seguem. ■ '■■■' -•
capítula 1

. CpmQ Hobbes e Locke, Rousseau rejeita 9 teoria


dq-duplo contrato. Entretanto, para ele, a soberania1não
reside apenas originariamente no povo, domo pensava
HobbeS: eía, deve continuar sentpre residindo no. p o v o .
e nãòjjode-ser delegada. Assim, critica de uma só vez
o despotismo de Hobbes-e sua concepção de estado de
natureza, sendo os dois elementos interdependentes,
como. vimos. Mas não entraremos no detalhe da' sua
concepção do corttrato social. O que nos interessa so-
bretudo-é compreender como ela e engendrada pela
.economia roussfeauniana das paixões^ ,
.^grande originalidacie de Rousseau, desse ponto
de vista, é a de subverter totalmente as concepções an­
teriores de estado de natureza', ;Seja como um “estado de
guerra (Hobbes.), seja como uni est^dõ de-sociabilidade
instável’ (Pufendorf, Locke), o estado de natureza era
sempre concebido como um e^tadoque implicava rela­
ções entre os homens, relações reguladas' pelo direito,
natural. Para Rousseau, GVestádo de nãtureza é, ao, cort-
trário, caracterizado prlmeiraménte como um estadp dç
solidão, de autonomia e de liberdade. Assim, üão dá ra­
zão nem a Hobbes, nem a Pufendorf. Resulta daí uma
dupla conseqüênçia dé grande fuíipprtância. : ^
A primeira é qüè Rousseau, considera que o . ho­
mem natural maMesta páixoéâ nàtiito moderadas, ç ne­
cessidades limitadas/ Paíá èle, a máior parte das “paixões
é de origem social e Se desenvolve apenas com a socie­
dade e com a multiplifca'çâo das trqças nela, implicada.
Assim, çscreve significajivamente nòlpisçurso Spbreà, de­
sigualdade: “É, pqrtàntpí incontestávél -quçy o ámoí;
éomo também. todas as outras paixões, só adquire cm
sociedade aquele ardor, iippetUosO que o tornà tão fre-
: qüentemente fynesto ábs homens”; Np'èstado de natu­
reza, com efeito, a satisfação das necessidades, que são
limitadas, contribui mais pára dispersai oS'homens que
para os unir. Podem serti dificuldade ê sem ajuda exte-

36

í
a questão da intòtuição e da regulação do social nos séculos 17 e 18 '
J. ' . .. * « ,.i . ^ ■. ■. *■- v j I - I ‘' y ' - ' ' .

f \ \< x ) I >f \ »
rior. ôtr sefa, sem auxilio mútuo, satisfazer as necessida­
des- que àãó lirnitadaspelàs suas próprias forças.
A segunda é qtíe atribui à sociedade çivil as teo­
rias do direito natUral que Hobbes e Pufendorf tinham
sitúadb no- esfado de natureza, Reconhece o estado ,de
guérra,m as o ooncebefcomo uma característica aa so-
ciedád&eivil. .“Q erro de HobbeaT, escreve, “não é por­
tando o de ter estabelecido o estado de guerra entre os
hotnens que se 'tornaram independentes e Sociáveis;
más de ter suposto que esse é um estado natural da es­
pécie, e de ter lhe dado a condição de causa dos ví­
cios quando eîe é o efeito” {M anuscrit de Genèbe, livré
I, ch. II, p. 288). Rêtóma paralelamente as concepçóè^
de Pufendorf sobre à sociabilidade e as de Lockfc so­
bre a propriedade, sittíando-as1na sociedade civil^Trá- ■ ’
tá-se .de um deslocamento capital que permite" eXpkè^r
(cf, capítulo seguinte) o” modo pelo- qúaj o jovem
Adam^Smith leu Rousseau e notadamente seu £Hscdit]
$ò sobre a Desigualdade, -
A instituição do social ppto,pòMcd assumíè aásim
um sentido particular para RousseàuVEle CQUàiaera, hão
o contrato social combler .
ciedade, mas como um irieio què permitç ao homem ga­
rantir su'a liberdade ameaçada.no estado denatureza^d
por isso ele rejéita o pâcfo de subttósèãp como! áliena*
ção da liberdade); mais profundamçrite ainda» o consi­
dera como uma necessidade engendrada pelas primei­
ras relações entre os homens. O contrato está mais liga­
do à questão da regulação dò sòçiaf quq à.instituição dó
social. Para Rousseau, o contrato social pode até mes-
mo ser considerado çornó o produto de uma crítica da
sociedade çivil. Este aspecto, do &eu pensamento não é
sèmpf^ fácil de.discerriir, na medida em que é» sobre d.
terreno de uma,-crítica das concepções antepores do
pacto social, sempre concebido cpm o'de passagefn do
estado de natureza à sociedade, civil, q,ue Rousseau de- '
AN
capítulól

I sènvplve su^s,próprias èoncepçõçs. Ne^e ^ntkJoj pbde


sèr formulada a seguinte hipótese: am p tu rad è RtíUs-
seáu còm asconcepções tradiciopáis/do estado dc! ,natu­
reza tem pof íunçâo.principal deslocar o lugar das inter­
r o g a te s dd ^ua.^,lôsc^aí política. A: questãoi decisiva
paia^u sseât|, e nisso elç ,é rriãis;eAi herdeiro de to ç-
ke e de i^bbesv é: pensar a-cdtica da sqctedad^ çivii a
partir dp -tuqá inverno da tteòria do estado de natureZa.
Eri4uantó Hobbes pe/isou á ’sqdedâdé civil' em oposição
aò ósfado de natureza; Rousseau penSa Ö estado de.na-
: éurèza çm opos;ção à sociedade’ civil. De certó modo, a
Oposição estado dè /nathre^a/soçiedade icivil funcióna,
de maneira inversa para e lç ,'
, , Seu verdadeiro problema é pensar o funciona­
mento dã- sociedade ciyihdq $eu terúpb. Deste pontd dè
; vista, sua posiçào pode parecer ambivalente, Çom ^ ei­
to, compartilha parte das„ concepções, do ,utilitarisrpo
nascente. -‘A utilidadejçqmurn é o fúndapientoda socie-,
dade civil”, escreve ^ ikayfàctit tfefienèvpXiiiyrèl,'c\i,.
V, p. 304). Se 'a opqsiçãodòá iptèreáses particulares tor­
nou necessário o estabelecimento de spciedadé^é-Ó
acordo destes mesmos injtèrèsses que a torpoii possível,
É isso que há de comum nesses diferentes interesses
que formam o vínculo social; e se não houvesse algum
ponto em torno ^ qUál tòdoS os irttéfesses concordas­
sem nenhuma sociedade existiria. Ora, é unicamente s o
bre esse' interesse comum que a sociedade deve ser gó-
vernada”XCvntt-atÇüçiul, livíé II, ch:I, p. 368). ■ \
Mas, num mesmo movimento, critica essa con­
cepção da formação do vínculo social. Isto está particu­
larmente explícifo no seu Preface à Narçise fT o d qs os,
nossos escritores”, escreve, “consideram como obra-pri­
ma da política do nosso século as ciências, as artes, , o
luxo, o comércio, ás leis e òs' outras vínculos que, es-
treitandò entre os homens os laços da sociedade pelo
interesse pessoal, os colocam em dependênciamútua,
.. V •' •• .-I • ». J - - í . y ' . -V T- ... •'■',4 ■:/;
l|te$ dão ryfce|ísicfades reçíprocas e interesses comyns, &
ôbjigarh çãdá' tm txleles í êôrtCQrrçr para' 9 felicidade
>^^,ettít'roS p á^’ pòder;ob^F a fíi^píiíí: ESsaá' iíiéigsi são y
bel^ísfetn^dúvííla/e ajsreséhtàdas favórá-;'
vel; ifiáá, éxámifiandoas com átençãò e sem pafciálida-
de eftjçontra-se muito g subtrair das vantagens 'que pare?
cetrí apVéseníar a-princípio (...)
"' v Porquê; paia dcfts homens cujos interesses co n -,
cordam, cem - mil podem lhes ser opostos, e o único
meio para realizã-los é enganar ou arntinar estes' últi?
mos”- (Narclse, QZüvnes, t. II). Esse texto é anierioq erit
dez anos, ao, Çontmto Social.
' - -Daí se pbde tirar uma conclusão importante,- Há
uma forina de regressão ha crítica de Rousseau à socie­
dade civil, e esSã regressão acompanha paradoxalménte ■
a fórmaçãq do seu pensamento político dâ maturidadè.
. ■ Sua teoria do Contrato social é, portanto; ao
mesmo tempo, uma resposta antecipada à concepção
>dá harmonia p a tq ^ dos interesses qufe Snaith desen­
volverá e o signo de unta hesitado, diante da natuüezá*
de^sa resposta. Assibi, Roqsseau parece se-dividir je p -;,
trè unta concepção,.econômica e utha çqncepção pólí-
.tica dô social. E se no fim das contas, escolhe, a sòju-
çâo, polítÍca,é talve? porque tem ta-intuição;indoydè
ertcdntra-SÍ opinião, qué se tornáva dominante no séu
tempo, de que o Ejstítdo não é simplesmente um ins-‘
trumento de dèfesa e de preservação da sociedade,
mas é 0 seu instituidor necessárjò. Deste modo está, de
uma' só vez, à frente e atrasádo em relação à sua épo­
ca ao. perseguir a liberdade antes do bem-estar. Se ele
se deixou seduzir intqleçtualmente pela teoria da iden­
tidade de interesses, resistiu sempre a essa sedução
pelo exame práticp da aociecíade dó seu tempo: , *- ■
■ De Hobbefeá Rousseau há, portanto, umà inegá- t
vel continuidade, ho sentidp de oüe é a política ouc Íris-
càpítulo 1 '

' (itui o social. Suas diferentes concepçôés do pacto social


remetem mais,díretamente às- composições diferentes da
relação entre a .política e o social, sobrç a base dè uma;
economia das paixões, qufe às diferenças políticas.
Mas Rousseau está num ponto d? viragenfi. Con-''
tinua a pensarem termos políticos o qqe a opihião do-
■. minapte conjeça a apreender em termos jurídicos e ecc?
nômicoS. A questão da" instituição do, social começa a
passar parâ spgundo plano no século 18. A grande ques-
. tão toma-se a da regulação do social. A economia das
paix0es.se desloca portanto do terreno do'estado de nár
türeZa para o da sociedade civil. De um certo ponto de
‘vista, é um retomo à política concretafA referência im­
plícita'não é mais Hobbes. e sim Maquiavel. A questão
é a do poder e da lei como regulação'do social. Acredi-
tamos poder enèontrg-la de modo significativo em Hel-
vetius, que anunçia Bectaria e Bentham.

\s. r y' 1 ' r . 1/ '


a lei como regulação d&social, de .
helvetius a bentham ■
Com Montesquieü a política recomeça a serç pen­
sada como arte é como ciência no século 18. Sua pon­
deração e clafivid[ên|cia causaram a ádmiraçãò dos gran­
des espíritos do seu século. Súa economia das paixões
ê muito mais sutil que a de seus predecessores. Isto, em
grande parte, foi lima consequência do fato de que a
elabora sobre o próprio terréno da. soçíedade ■civil. A
questão do' pacto social originário, qualquer que seja a
sua forma, deixa de ser importante para ele. Pode se :
' consagrar inteiraniente à análise da soçíedade de súa
época (um únieâ -{^áf^graíÉ&.dêJO^Estfrtto^das,Lei$é <x>£
■sagrado às leis naturais). Como a maior parte das seus
contemporâneos, procura a via de uma monarquia mo-
-a questão da iftstítuição e da regulação <&>sogal nos séculos 17 e 18
■i \ .) ■-S >- 1- .• < . . ■■,■■ ' ■' ' 'i . ''

/ V" ^ * - ’ fs ' i , I" > V(


derâda qué/* torne o despotismo ’ihipossfveL Çom essa
preocupaçlb escreve p Espírito dás Leis. Constata que o
aihor aò poder é natural e que a lógjtía do podeiqé a de
crescer írícessantemente. Desse ponto de vista, não está
longe d e pensar que o_despotismo .-é a”ce>risequêncúr na-^
tural de "um poder entregue a si rnesqio,- que não é re­
gulado por leis positivas. O conjunté do seu sistema re­
pousa spbfe duas idéias principais é'pre^iso combater
o poder pelo poder e é preciso se apoiar sobre paixões
compensadoras para conter o podçr e manter a,paz. Suâ
teoria da distjnção e da separação dos poderes ,Será a /
. primeira consequência disto. Sua concepção db cctniér^
cip como' suavizador dos costumes'e pbrtãdor da paá,
serâ a segunda. ~ ’ 1*
( Toda a sua economia das paixões repousa sohré
essas duas idéias. É censurado sobretudo por chegar" à
resultados complicados. O jséculb 18 'defnán<|ã, aptes
-,kde tudo, soluções simples, um princíj>ip orgapizadorj
da sociedade tão simples quanto o dai orderri divina
contestada, É isáo-que mostra muito claramentp H elve-.
tius numa carta a-Montesquieu, Confessa n^o mai?,
comprfeender “as •sutisr distinções incessantemente re­
petidas sobre as diferentes formas de governo*. Para
Helvetius, há apenas dois tipos de governô: os bons,
qüe estão ainda em construção, e os maus, cujos resul­
tados podem sei vistos em todos os lugares. 'Escreve
significativamente: “cieio entretanto na possibilidade
de, um bom governo,, no qual, sendo a liberdade e-a
propriedade respêitadas, se Veria o interesse geral re­
sultar, sem tantas pscilações de interesse particular. Se­
ria uma máquina simples, cujos motores, fáceis de di­
rigir, não exigiriam -essç grande aparelho de engrena­
gens ê contrapesos tão, difíceis de operar pelas pessoàs
inábeis que se metem quase sempre a governar’- (cita­
do na Introdução do De l’Esprit, p 15). Uma máquina
simples? fdas qual?
■>/
capítulo 1

Como Montesquieu,fpelvetius tnáa as paixões no


quadro da sociedade ctvilSyrráo xe&rts como Hobbes no
quadro dp estado de natúfeza., Continua assim a pensar
no quadro de ec<momjacj.as paixões: a regulação
da sociedade sé pode ser encarada a partir de uma aM-
' lise lúqda das paixões dps hqmens e não em oposição
a elas. O apelo à virtude e à mõral nâo tem, pòrtanto,
' qüãlquer utilidade se não se apoiar sobre as paixõés.'
“Entre’ ós moralistas”, escreve,, "sâo poucos os q ue,sã-
bem, armando nossas pãixões umas contra as outras,_se.
servir disto utilmente para faízÊr còm que opiniões sejarm
adotada&, a maior parte dos sglis conselhos são muito
ofensivos. Deviam, entretanto, sentir que as ofensas não,
podem vantajosamente combater õá sentimentos; que
sdmente yma paixão pode,1triunfar sobre uma -paixão” '
(.De.l ’E sprit,.discours second, <bh> 15, p. 135). '
Para ele, os homens não nascem nem bon;s, nem
maus; são, anteá dg, tildo, motivados pelo “sentimento
de amor por si’V Esta paixão fundamental fez nascer, to-
: das- as outras paixões, Helvetius chajna ainda .essa pai- :
xão de interesse. Assim, 'está,1nesse ponto, muno proxt-
mo de Rousseau-oü mesmo dé Hobbes. Mas inverte o
sentido que este último dava ao desejo de conserv ação
ao atribuir-lhe pm sentido positjvô: o interesse tem o
sentido dê uma aquisição mais que de uma proteção.
Esta' distinção deve-se igualmente ao feto de que Helvé­
tius raciocina a pafh^ dtf; situaçõe/, m edirias, quando
Hòbèes pensava a paftjr cie skuáçõés éXtrèmas (a guep
ra no estado de natureza). - •'11
Assim, para Helvetius, o interesse é "a medida da
ação dos homens”. É portarito áobre o interesse, forlte
de todas as paixões, que deve ser fundada a sociedade,
“sutóstitpindo o. torn da injpriá pela linguageip- do iíifé-
resse,'os moralistas poderiam fazter suas máximas ser&n
adotadàS?, írata-se^ é um princíjíSio simples qüe pçrmi-
te pensar a ordem social. A felicidade ou a miséria pú-
à questão da Instituição e da regulação do social ngs sécttlos 1? e 18
“f ^ J. I 'k
« n w, ^ * 'Ílí'' '
blicaá^dêp^ndem assim unicamente jia conformidade ou
da oposição do interesse' de'particy lares com q interes*
se gérai. A economia das paixões se„fecjuz: a uma eco*
nòmia dos interesses. A arte política pôde tiesse sentido
ser defuüda copio uma arte-d a composição dos intéres­
sés. Helvetius vái até o fim de^s^ iogica,‘na rfiédída em
que define a côrrupçàopoKtica comova anarquia deita­
dos os interesses’V a disjunção entre os interé&sçs parti-
culare&e o ifiteresse públicQ. ^ • .-'
j ' Mas," como assegurar essa convergências do inte- '
resse geral com os interesse&.particulares? Para Helye-
tius, èste è o atyô da iegisiaçfà/“Vaíá se tornarem úteis^
f ao qniverso'V escreve,- "os filósofós deô,etn:cónsi4erar o® 1
objetos do mesmo popto de Visèa qtie' a legislaçâoJosV
contempla’’ . {D e l’Esprit, discours seconde, c h .'1 5 ,p : (
/ llól.D este-poríto de vista, ã mofai e a legislação ior-
: mam vurqa pnlca e mêsma ciência. & legislador devê
dèscobriiv “o mèjoi de, .implicar peç^ssáriairtifentè os" hbiv
mens na probidade^ foiçando a$ paixões ,a dar apenas
.frutos de virtudé e de sabedoria” (De l’Esprit, discours
second, ch; XXIV, p. 125X Tornar-os homens,virtuosos
■e assegurar a convergência dos'interesses envolve um
fnesrao pròcedimento. Ass^m, ‘motivoadeinteresse pes-
lsoal, manipulados còfii destreza’por um legisladònhãhil,
bastam pata J fòrmar homens virtuosos”. Se <cada - um
pode com efeito abusar dós princípios da religião,1pão
pode abusar dos dofsèbinteresse pessoal’’.
A 'ei deve, portanto, instaurât um sistema de pe-
n a sfid éreco m p en sei <jue:;p#mita-assegurar essa con-
, yergênciá de interessès qúe riâo é espontaneam&nte ãd- i
, quifida.V“Pèrcebò”, èsçrevê,, "quê toda convenção, ná,
qual o ifiteresse pessoal se acha em oposição ao inte­
resse geral, séria sempre violada se os legisladores-não
tivessem propõStb grandes recompensas à virtude, e*
que à-1'tendência natural que leva todos os homens à
Usurpação não tivessem inçessanteménfe contido com
’ ‘V
* „ k
capítulo ï
.' ' ? , 4í ^ J J.Y <<■V' " i , , '- ,^~
)Q diqyç da\cjesonra,£d<a^up^do. .Vejo. poitaritô, quiè %
pena.q (9 ' íetooóípensa sãp b s doisdM cos Jítços pelós'
quais ^les^^dqram?ínáátef^oihtèrpisse particular urtidó-
jaoí interèisç' geral” (D e i’Eàprff, discours ^troisième, ch;
4IV, p {w % ? ^ ' v*. 4 > v - v ^ w1 ;
v< Pam ^rielvétiuá/^^teiía se cxmftinde assim ct>tn
a legislação,-. Ela nâo ç mais,', como para tòusseaií, utn
pdrtóípib dejegulaçào e de construção da sociedade. A
pdlftlçaj, nãó é a infta-estruturà xèt sbcledadè, més^so-
’'fX -:.',' -x • -, ','v jy "O’ _ ,fo (Tr- •••". i-
ipente^unãa supetestmlurà.qué se redU? %;;pi3nutettçí?ó
üb poder necessário à. e^pcução \ias leis. ò . ’ ; p p-ur'
.Esseá-s^io aos, princípios que< Betcaria retomará,
publicando alguns-ahos mais"tarde,-em 176^, Dosjdeli-3
tos e das penas,~‘q üe sistematizará as concepções, cie-
Helvetius.- ■'
Mas é,sobretudo com Bentham que a concepçào-
da legislação como regulação,ndo sôcial encontrará sua.
forma' mais bem afcabada. Bentham desejava ser copsi-
jddradoi, segundo sua própria expressão, como um “g&s
niQ ek legislaçâô^. Pretendia J'undar uma verdadeira
“aritméticáf mOra|- ijuç. pudeSãe fornecer Üina base nja-,
temática à teoria dgs penas legais-. Formulou assim o
princípio utijítárista da identificação artificial dos interes­
ses, já presSepttóe pof Helvetius e Beccaria. Escreveu
nos seus Princípios da Legislação que “a função do go­
verno é de promover a felicidade da -sociedade por per :
has e*recompensas.’”' Bentham conceberá sua pesquisa
ide modo científico. Para ele, a medida “natural” da pena
resulta'da comparãçãp entre a quantkiadé dp dor física '
infringida pelo juiz e á quantidade de dor físíea-cjuc re­
sultou do delito. Disto resulta uma Verdadeira economia
da justiça e da legislação que será admiràda por muitos
dós revolucionários de 1789-

4. Apud HAIiÉVY. filie. La jàn n ation du raditalisrhe philosô-


■p btqu e: '‘3 ‘ ' ' 1
a qiiestão da ifts<3tüíçãQ,e(ia reglilaçâo dòsòcial nos séeiíoís; 17 e 18 <

■' ".v!j ■• ■> j r '■ ■ '■■■■■ 'A';« ■ •


: De Hobbeá a Bentham^ podetsé asáim çlèmartar í
um redirecionamehto contínuo no tratamento' .çla ques-
tão,^à Instituição fej èm 'segtrfd]a,: cki réguláção do ^ocial. -
Rédirèfcionam^nfef que SééXplica em parte peia riattire-
za dos problemas-.em paiita. N o'séculol7, de Hobbes a --
fjodsè, a qyest^o da .iristitulçãoy db^òciaJ eia a-qnbstão !
essencial tratafVárse* aritesvdé'tudo, de perisar o, e s ta b e ­
lecimento hymano da sociedade, introduzindo a disfin~
Çã© entre estado djs naáireza è sociedade civil/No-sécu-,
lo 18, a- teõria do< pacto fündador riao;é tóais posta e-m
questão em si riiesma. O copjuftto dâs preocupaçbesse
volta para á regulaçàp da sociedade civil; trataíSe de.,
pénsar àhamíbnia sòciaí e de'dar-lhe um fundamento^
simples e sóljdo/ Nèstã perspectiva, o Contrato-Sòeíal de
Rotísséau èhcpptra seu Verdadeiro $igriiflcad.o, naéám^b'
que dependa áihdá irrèxtficayqímente das. teorias anfofí^
riôres do pacto fühdadòf.ilgiialnaente néstescomèirta in­
telectual, trabalham Montésquieu e ' Bentham pensando
a política (Rousseau) ou a legislação (Helvetius, Bèn-
tham) como lugar detesoluçãò da questão do funciona­
mento e do desenvoivímentò da sociedade.
' Mas suas teorias não rèspondém totalmente a o -'
projeto quê tinham. Levantam’numerpsas questões que
não podem, ter >re$pòsta. Minha hipótese é que a repre­
sentação econômica da, sociedade deva ser compreendi­
da como a resposta a essas..(^íestòes e que possa assim
ser concebida como uma forma de remate da filosofia
política e da filosofia mora) dos sécúlos 17 e 18. Ela está '
em .plena continUidade, e não em ruptura, com o. pen-
sampptó político e moral do seu tempo. O mercado é o
niodo de representação cia’ sociedade *que permitirá
pénsar seu radical desencantamento.
capítülo 2 \
^ r ^ * : ■r: ;,

laeconomia
como realização
da política ;
(o mercado e
o. contrato)
huirte e smith, filósofos do século. 18 .

' —/ século 18 inglês traduziu tím vasto tnovimertV v


to de retomo ao cortcreto. Mais daçamente ainda, dp qpe
na França, sua atenção se concentra sobre o funcionamen­
to real da sociedade civil. Não é difícil explicar essadefasa*-'
gem entre a França e a Grã-Bretanha.'A França vive ainda, y>
. o tempo da monarquia absoluta, é a crítica ao despotismo
é aí mais urgente e necessária. <A questão da instituição da .
sociedade perftianece ainda iffi^rtarit©;»,Na Grã-Bretanha
as idéias de Locke expandiram-se rapidamente e sobretudo
uma monar­
quia constitucional. O .terreno ^ tmató fayprável a uma fefle-
xão inovadora, mesmo que-as trocas intelectuais recíprocas,
extremaménte ricas entre os dois laçfo&da kancha, sugiram
que ã diferença não seja muito^çéntuadaA1

1. A monarquia constitucional tóglesá dò século .18 não deve ser,


além do mais, idealizada; 0 podería géntty, como oligarquia ti­
rânica permanece deterítjinantai' 'A' Inglaterra do século, 18 está
longe.de ser regida por um íV^dadeipa í^ádo de direito. H'.t. so­
bre este ponto o notável livro de BOUTMY, Le Développemem de
lã constitutim et de lasociété polltíquê en%Angleterre.
! '> '', ' ■' v • ’ ,. A. capítulo 2r
x, ( , r\ ” l 'r**:
' ** v í ( >* «
I^sde o eomeço 4 o século, Mátfdpville emprega,
úma linguagem nova. Não fala mais das paixões" e do
homem em geral. Fala do trabalho e da Indústria, da rb
qúeza e dsí pobreaa,, do lülto £ ’do comércio, na sua vi­
gorosa denúncia de todas as hipocrisias moralistas e
moralizantes. Suas concepções ariunciam as de Helve-'
tius, qúe ipareçe^aliás, pelas ter se iüspiradòísrgamente
em Í)o Espírito-, mas há nele uln tom mais corrosivo, um,
áentjdo mais\ra4teal dos vícjos e das^virtudesitjue estru­
turam a 'socjedâde. ' , *
O mesmo movimento, senão o mesmo tom, sê
encoptra em Flume, Como Mapdéville, estima que os
homéns devem ser'governados pelo interessél Seu en­
saio de" 1741, sobre a Independência do Parlamento, é
particularmente significativo a esse respeito. “É preciso
consider&r todos os homens como tratantes1;, escreve aí
(Vritt^ p. 67) e tahibém "é preciso tomar, Vantajosos ao
bem público sua. insaciável ávarézáj spã! ambição ifes-.
mesurada e todos os^seus vícios1' (ibid.):.jvjas qsehtidb'
do conceito de interesse permanece ainda indiferéncia-;
4 o nòs textos dessa época e não tem conotação paçticu-
larmente econômica. Hume situa assim, muito clara-
mente dentro do campo político, a questão da compo­
sição do interesse púBjico com os interesses privados.
íPrqpõe significativámente a composição' de um governo
em quê. a distribuição do ^pder entre as diferentes clas­
ses de pessoas e, portanto, entre as diferentes classes de
intétesliê, seria a garantia da adéquaçlp doS intéresses,
; particulares com o interesse geral. Concebe, portanto,
âindá: nessa época, a regthaçâo dõ social dê uma manei­
ra política. . ’ ' .
Seu pensamèntjô yái progressivamente evoluir so­
bre esse pontõ por meio, notadamente; da clarificação
da sua distãnciá face à filosofia política clássica do sécu­
lo 17 . No sêu ensaio de 1748 sobre o Conftatò>Primpi-
' vo, Hüiqetoma suas distâncias frente a tòda& aS intérro-
♦' I
a economiaCÇW90 realização c^pólígca (o mercado 0 o contrató)

gações 4o século precedente, de Hofobes a Loçfée, sobre


o ffocèsso de instituição.política da sociedade!', Não í
nega á teoria do contrato primitivo, mas não aconside- ,
{.ra operatórâ. “Segurãtpènté1esse cofitratp existiu/ mas
! t enyefli^ceii'muiío”vCver p. 3$5)./Nã© erfcpfitra,. com eíei-
tOy.em psytealguma o traçofáíivo desse conteato. ,Çonsi A
tata, ao contfário, qpfe* os governos §âo pondretamente
, fundados na usurparão, cpncpaistã e força. Deste modo,
. está "mais próximo de Maquiavel Que de Hobbes.
•A-seu yer, a filosofia política §ó produziu “siste-
- mas especulativos”. E vai mais longe. “Que.esses cliscur-
, sadores”, esfcréve a propósito desses edificadores de sj$-
tqmís, “abram os pífios por um m óm ento a fim clever
o que se passam© mun4 o. Èn^bntfarào aí algo que res-,
ponda às suas idéias, algo que sirva para confirmar um.
Sistema tão abstrato e tão refinado?” (ver p. 322-3).
Dessa forma, indica muito clàrâtperite o deslocamento
da sua problemática da questão da instituição da socie­
dade para a do sèu funcionamento, desipcamento carac­
terístico da filosofia política do século 18, còmo já sublh
fihamòs diversas vezes. Mas Hume vai mais longé, com-
preendendò-'dé :um poyo modo,nesse ifiomentb, a i*&-
çãpiclássicâ de interessÇ: mâreà,; com éféitó, uma virada
ao passar dó interesse/fiaixão àtx interfâsè/nè&ssfdade.
Essa müdança é ' decisiva fio piensamento fie ífiúme.
Constata, com efeito, os limites do conceito cláçsico de
interesse para pensar a harmonia social Se os homens
estivessem efetiyamente bem esclarecidos e jamais’ se
enganassem sobre seus verdadeiros interesses, não ha­
veria problema. Mas não estão, constata justamente
Hume.
Sendo assim, a noção de necessidade permite su­
perar essa dificuldade, Para ele, a. necessidade toYna-se
o guia 4ò interesse, preenchendo assim a função que
Helvetips conferira à legislação. A necessidade assüme
força de lei, no sentido próprio do termo. Pode-se lqca-

.49
capítulo 2

; v.q v- 4^- A . • >~A ,■ : ... ,', 'j ; . •;.? • í~- V


- lizar aí utn prlmêirtí elemento de substituição dopolífir
ço pelo econòmicq para assegurar o bom fi/nciottamen- '
, to da sociedade. “A,necessidade f o iqteressç dâsocie-
dadéí»' ésçteve, ‘'são os ptiticipqi$ vínculo«* qhe nQS' li­
gam ao governb; e sâb vínculos muito .sagrados” Qe„
ContranSftm ^, ver p. 352). q _,
f fi h k m $ havia tentado aprofundar essa noVa coív
eiqsçãíxde-itíteresse no seu Trfltádo âa naturèzahum a-
ruf íYJòty que deslocavíi reáolutáidentev a questão. da
ciência das paixões dó terreno tío estado dê rtatureza,
' em que havia sido alojada pêlos autores clássicos do é
■' século 17.
, Nesse texto, é jt Simpatia quepenhite reconciliar *
" o interesse como amor d e si yneshto ;(o selfiinteresi),
, còm Ojínteiesse da sócie|daiife de um modo hàtúial.' Es-
' creve no seu Tratado-, “Nenhuma qualidade da nãturá-
za humana é-mais notável, (ao mesmo tempo nçla mes­
ma ei em suás consequências, que-a tendência natural
: que temos de simpatizar com os outros e dé deles rece­
ber- pctf cofauhtcagâo suas iáclinaçoes e seUs sentimen-
.■ tos;. Pór miais diferentes que ou meétqò «se forem >
contrários' aos nossos” iTraité dp la nature hw naine; í.
II, livre II, spctíon XI, p. 417). Teoria da simpatia que,
aliás, se acha já subjacente em Mandevillé, .quêT^SÇréVe
em A Fâfrula das Abelhast"O desejo de, Íéfmoís a èstima í
■ dos outros e o entusiasmo que qos dá o pensamento de ,
sermos amadoS, de-sermos adUiirados, são compensa­
ções que nos pagam, com sobra, por-termos dominado
as paixòes mais fòrtes” (remarque C, p. 62). Esta fusão
simpática dos interesses; que Eli Halévy chamará de teo­
ria da identidade natural dos interesses, permite assim'
sistematizar todas as idéias amplamente difundidas ho
século 18 sobre a piedade e a compaixão como funda­
mento da sociabilidade. A teoria da simpatia retoma e
racionaliza a teoria da identidade de natureza comeí
base da Sociabilidade (tese aliás extraída^e Aristóteles).
A economia com a realização da pólíticá (jo mercado e o contrato)
.. : ( .. : A V- • ; \ í j- i>

, s ~ r- ' V' ^ , C *.
Fizemos esse recuo no pensament?) de Ffuitie, ríão
s á forque çssa npção de simpatia continuará a. fundar
sua filosofia, mesnio -quando desefvVplvefà teoria d á irt* ...
teresse-rípcessidade, ,inas„ sobretudo para lembrar que
Adam Smith escreverá sua Teoria dos SefttiMgntoéfâlorais
a partif de, idéias intuito amplamente compartilhadas ,ira
stiá, época. Sabe-se! éom fefeitty que o primeiro cápítulp,
dêssa obra se itititula Da stíripatía. Nos seus desenvolvi*
mentos, Smith se inspira largamenté nas teorias de Marí-
deville è de Humèvque era.um dqs seus amigos (foi até
mesmo o executor do seu testamento). Se Smith julga,
Mandevillè algumas vezes chocante na sua exprèssãó;
não faz coro, por outro lado, com a opinião de todoà
aqueles que este último escandalizou. Como justijménte
ríotpu Élie Halévy, Smith retoma de fato a doutrina dp
MandèviHe, más a expõe “sobtim a foqna não mais pa-
ràdqxal e literária^tms racional e científica” Q& Fôrma?
: H cdidüi^icalism èphihsóplnqüe,^ 1, p. l6l2). ,De rdstõ,.
isso fará o sücesso considerável da obra. ,
,\i Uy Çorn a Jeo ria dos Smtimentos Morais, Adam
Smith, aHméntava, com efeito, grandes, ambições filo­
sóficas. Cpttcebia seu livro, até mésmo explidtamente,
como um tipo de ^rremáte da filqsofia moral,. Falando
de Hobbes Pufendorf e Mandeville, escteve significa­
tivamente: “A idéia de que dela se aproximaram sem
poder compreendê-la distintamenjie, é a idéia dessa
simpatia indireta que experimentamos por aqueles
que receberam algum bçnefício, om sofreram algum
mal; é em direção a esfea idéia que marchavam confu­
samente, quando diziam que não é a lembrança do
que ganhamos,ou sofremos que determina nosso re­
conhecimento ou desprezo pelos herbis o celerados
que nos precederam, mas à concepção e a imagem
das vantagens e das misérias que experimentaríamos
se tivéssemos de vivm cõm eles” FThéoríej7* partíé,1
ch‘. 1. section III, p. 372). \
, Áo. formalizar a nocàoW sim rotW Sm fthlncpn-
tra assim um fundamento natui^gé^ora&iii^arf&ai sem
tgr çlè j-ecorrer ao rpolftiòo, cornó RousSêau, ou ao legis- .
* líidbr, com o Melvetius e sobretudo mafe tarde ÍJenthanE.
, (que ehfcáma nésse sentido a filosofia1“utilitarista cia
identidade artificia} dós interesses).
1 ’ < v Mas essa t^òria da simpatiaencoritra. úma grande
parte da sua validade^ no .fato de tfúe é acqntpanhada
por üma certa apologia da,fnigalidade,Xípicà da sçottish
enlig^fenment. dõ século 18. “O estpmago do riço” es-
tíreve, “nâp é proj^rciPnal aps seuS desejos e não pode •
tarifei. t a k f o qyé p,- '
. 211). Góncepção que faz lembrar >a de Rousseau sobre
a. limitação e a relativa igualdade das .necessidades no
estado de nafurezai Para Smith, com efeitp, o rico so­
mente pode ConsumlrcpisaSmelhores ê mais' fafás, mas
. não pode consumir yma quantidade maior do que o/põ- .
bre. Esse aspecto do seu pensamento, que tem sido frè-
, qüenterijente elidjidd em/hümercfâòs/ còmtehtários, de-
/•semperiha de fato um papel rriuito importarít£. Pàra
Smith, a , frugalidade, é um instrumento de moderação
. das paixdesè de regulação da vida social. Essa coricep-
. ção'de frugalidade lheperm itedesenvqlver sua tporia
fundamental da igualização relativa dos 'interesses e dàs
necessidades, que exprime numa célebre passagem ser
>guinte, àà^ Teofiq dç& Stypmentos Moxais; *uma mãd in­
visível: parece forçar (os riçps) â contribuir pára a mes-
ma distribuição ;das coisas nécegsãriâs à vida que teriã
tido lugar .se as [terms tivéssem sido dadas em porções (
; iguais a cada um dos seus habitantes; e, assim; sem ter
a intenção, sem' mesmo saber, o rico s^rve aò interesse

2. Notemos aliás que as cohcepções uttíitaristas estáyamjã £uL


ficientementc difundidas quando Smith escreveu sua. Teoria
dos Sentimentos Morais-, a elas consagrou desenvolvimentos é
as refutou muito longamente (cf. notadamente o.-começo da
4“ parte).- -

52
W, 'ífez,
a economia eomó realização da política Xo mercado e o contrato)1

social & à muítipHcáçãb da’ Espécie humana. À provÊâêo-


'cia, aovíüviçlir, por assinvdizer, â terra entre úm(peque-
nò wúmerod^; homens ricos, não abándondu aqueles a
quem parece te / çequeçidq de destinar upi quinhão,«
eles têm a sua parte de' tudo* 0 'que ela produz. Parfi
tu^o o 'qqe -çonstitui>a verdadeifa felicidade, estes últi­
mos em pada sãò inferiOrea áps que parecem estar cç>- -
locados àcitna defes.T odasas categOriàs d3tsociedade
estão no megmo nível quanto ao bem-estar do cofpo e
a sereniç^dç da alma, e o mendigo que se-aquece ao
sol ria beira dò caminho possuiu ordinariamente aquela
paz e, aquela tranqüilidade pelas quais os ~rpjs/comba­
tem” ( T h éo rie^ p artie, p. 2 1 2 )., . ^ .
- .Sabe-se, aliás!,1q u e ií ® Tedpiia apareèé rèéorrente*/
mente a noção de “mâo invisível", ao passo que há ape­
nas um referência a eiáem A Riqueza das NaçõesJ
.'X se tiyesse Ficadp por aí, Adam Smith., não_ teria,
acrescentado'grande coisa às idéias dominantésdp sèu ^
tempo. Teria Somente tido o mérito de dar-lhes uma
formulação precisa p argumentadã, e a sua ajpblçào de ‘
pôrièrrtib à filosofià'moral pareceria demasiadamente '
exagerada. ~ • -

a economia como realização da


filosofia e da política
-W v 'd- - 1 -'V » V i- - : ••
'; Mesmo .quemão seja tão lúcido çpjno Mandeyille
oü Rousseau a respeito dos caracteres, reais da sociedá-
de civil do seu tempo,.Smith não é cego. O conjunto da
Teoria dos Sentimentos Morais é assim marcado por uma

.- 3. A propósito da aoçâO: de mâo;ihvisíyèl em Smith, que evo-


; Mul nòtavelmente entre à TüórUi dos Sentifneíntós M ofais, e A
Riqueza' das Nações, pode-se se reportar à análise de Víner:.
“Adam Smith e o Laissez-faire”, na. The Lç>ng View an d the
.1
'ir' Â?) -a■**' '(
7
u»,.
Vr ■;%A -< v V ‘ éapítulo;?
i t m
■/,-A-

ck? arnor ç dã

/■ Aáeu ver,, cotíi efiéife mesfnóçjUe não haja bene­


volência recíproca entre, os homens, o ' vínculo l^oçial
‘ ^ “ ' -l—W-_____________ »

sem nenhum VínÇulo dejafeíção; ainda que nenjhim h o -,


mem çonte tóm t> outro pelos deveres ou pelos’ laços
da gratidão, a sddedade poderá aihda sê systentár pelo
éonèursoyda trdca interessadà cie seTvjçps mútuos, ao^<
quais àe atribui um válof convencionado” CFbéoria, 2 a
„partie, ,p. 97).' •- . * - , ,
v , , Parecé-ihe que sé pode leh nesseJë x to a Verda­
deira vitada do pènsamehto de Smtói/ Não há, como
muito frequentemente se diz, um verdadeiro corte entre
a Teoria dos Sentimentos Morris e a Riquezqdas Nações
que traçaria(unía linha dividindo Um, texto idealista e um
■tpctq realista, ,e mesmo cíôieo, entre um texto filosófico
e qm texto econômico. A Riqueza .das Mações nada mais
-fez que ampliar er desenvolver o que aihda éra uma in- a
tuiçãana Teoria. Há uma continuidade total entre a pas­
sagem quç aÇabamos de citar, e a célebre passagem de
A Riqueza das Nações-, "Não é da benevolência do açou­
gueiro, do merceeiro ou do padeiro que; esperamos nos­
so jantar, mas sim do cuidado que dispenâàm aos seus
interesses. Não noá dirigimos à humanidade, mas aór
egoftmo deles; e jamais lhes falamós dás nossas neces­
sidades, mas sempre das suas vantagens” (livré I, ch: II). ;
Assim, )no Interior’-da problemática da Teoria dós n
Sentiméntos'Momis nasce a questão econômica; dentro
.a economia como realizaçãoda pqlítiÇa (o mercado e o çofttrato)''
■ •>1 ' i * ' 'V.*. ! ' • !*' * 1 V*>.' • *'' Hy■■.í V . ■-1 .-'.i.
\ ■^ * VK ; tv ■" ,,
' 5 ‘ / . • " \ < <; , ,v - \ ’ .
der seu próprio- limitei 'Smith não construiu, portanto,
urna iilo|ófia ,daT eaqnorriia .qu ereria sínpfesmente o
profongamento, ou ocomplerhento da sua filosofia mo-
raj; E lç s e to m o u e c q m m ís tq n a s u a filo S o fia ^ n q m o-
,mento da áu<a íealiza$ío.e da -mia, verificado. Realiza em
’ si mesmo uma mutaçãõ qup também pode ser. lida no
seu século, resumida,na T eo ria . Deverrios insisti^ sobre
essé ponto^que está no coração do. nosso raçiocmid.
S m ith to^ n ou -se e c o n o m is ta q u a s e sem s a b e r . Á èfconp^
mia nàõ será paia" fele um domínio separado da investi­
gação Científica:-Verá aí o resumo e a essência da.«ocie-
dadeflo terreno splidõ sõbie- o çjpal a -harmonia' social
ppder4 ser pensada e pràticâda.. ' De fato, S m ith q tta b e-
to m o u -s e ec o n o m ista p o r n e c e s s id a d e filo s ó fic a . Cremos
póder ler,cnesse movimento interior e necessárioquejez
,dò filósofo um economista, a figura da modernidade tal
como ela se dispõe, no'fim, do século 18t •
V. Com Smith; a economia se apresenta com o ,ò
enigma resolvido de todas as constituições, párâ para-
: frasear a expressão famosa de Marx sobre a democracia,
No coração, e não i» v-petifeiria, -do pensapierto inottef-
no nasce o qu^ podemos chamar, acompanhando Louis
Dumont. de icjeologia ecbnômica * A ideologia econô­
mica não se introduz por arrombamento,no pensamen­
to moderno, mas se afirma no seu movim.ento mais in­
terior e mais necessário. Á ideologia èconômlcà> á ecp-,
nomia coirió filosofia, se apresenta. com efetto.pcogres-
siyamente como a solução concreta dós problemas, mais
decisivos dos séculos
'.I ■Iip.-ini^ r itT^iii.1 ■»' *'iiy
17 e 18:“"Vos da i.instituição
— y i mim.;. ?
e da tw
te-"
,,- /
gulação do social. ■ 1 C. • ■ '■
, - 'E$sa liipótésé impíiç^ piécisaf pem dqás coisas da
ordem da história das idéias, sobre as quais retornaremos:

- 4. DUMONT, Louis. H o m o aequalis, genèse et êpanouisse-


m m u deV ideologleécohotn iqu e.
ÍJ V (. 'i , 1 v
'ji - Nao hâ .yïnculp ittecãniço entre' o~desenvolvi-f
meijtõ dq “espírito .capitalista” è ,a ^rm àçãq da- Idqdloy
giâeconôsmicã Acreditámos mesma podeípsustenjtar quq
sãoduãs noçpes que rècobrem realidades bém éSs^AM
.p" espírito capitaífem tradoz meMaocípaç^a 4a mbíaL co;
^mercial fkce à moral cristã ' È, cie atnasp vpz, a finaliza-;
^çãd da distinção éntrg ápriprdí social e a nioraiprivàda,
e da tramfòrmã&ãG em Çeposxasos da morgl cristã;pr<>'
pdattifente diîa'Çilax Wéberjnsistíu-sobrelesse últiipo às-,
' peeto). A ideologia econômica ê dyïra -toísá^ não ejstá,
baseada nècessariainente nà; justificação haoráb dq enri-
quecimeKto, com o tintos,-ão contrário,, nopapéf desem-
- penbado, pela' frugalidade no pensameutode Smith. A,
'Ideologia ecoriômica traduziarites détudo ò fato de qué
as relações entre os' hoipens são compreendida^ comõ
relações entre valores mercantis. •
- Não se /pode1sustentar uma "concepção pufg+
mertte difusionista do* desfetwolvrmento do cápitalísmó.
. 'A'”àfeologiái ecònômiea não é um elemento marginal na ?
Çormáçào do pensamento moderno què- se tem amplia­
do progressivártiente esedifundido ná sociedade a par:
tir- de “germes” inidalm^nxe; localizados e dispersos, •à
■ imagem do desenvolvimento progressivo dp comércio e/
da troca, mercantil. 1- > . f .
'' Estando determinados esses dois pontos, é preci­
so avançar e mostrar de quç.m odò á-ideolpgia econô^
micá responde concretamente áos problemas da institui-/
ção e da, regulação do social. Parece-me qué essa res- '
‘ posta se éstendè em duas direções principais.. O CónceU
to de mercado? tal cpmo o pensa Srrijth, pérmjte respl-
vef duas questões sem resposta na filosofia política do
seu tempo: a questão da guerra e da pãz entre as na-

" ■ ^ Y J. . ***
5. Pálamos de Conceito de mercàdo na medida em quo-tele re­
sume, a nosso ver, a ideologia econômica m odela,; Tomo ;
'// mostraremos mais adiahte.' .■ ■ • ••
a eeonoHtia como realização dtfpolftica (o mercado e ©contrato) ,!
« \ ? ,, ' \ 'V ^
goes e a qufestaó çlb fuhdaméntoída obrigação no pac­
to social. Alénü xiisso, permite pensar ènx, termos nóvos
a questão da instituição dp-soçiab ' ' ^'
, .1. O coa^itQ dgfflerçado permite tratar de am a
nova.maneira a guerra^e-a-eggentre as nacõés. C om “
efèitò, riã maktf paite dõ$ autores dos sécutos'17 p Í8 -
.a paz,entre as nações só podè ser çompreéndida com
os conceitos qiíe permitem pénsar a' paz civil,1Isto é
particularmente notável em, Hobbes. ,Se o pacto .social
instaura a paz oÍvil,; não garante de modo-áigum a paz
entre; asínações.\ Além do ma*?» há ;em Hobbes upaa
contradição entre q direito natural’ çla própria conser­
vação,1sobre a qual sé funda o pacto social; e -a fide­
lidade ao Estado em caso de gyerra que -implica a ,
acéitação de colocar a própria vida em périgo. Hob-.
bes destrói, assim todo fundamento m o ra l4a idéia >4év•
defesa nacional. É paradoxálmente obrigado a réçor-/
rer à lei da honra para' resolver 'esta dificíildade. Ná;-f.
reglidade, sua filosofia só seria verdãdeiramepte coç-
rente se a guerra fosse colocada fora da lei pelo está-/
beíeciiÈ^tO ;4e: üm Estado mundigl. De um ponto de
v^ta : difèréritèj, Marideville et Helvetiusr 'enfrentaram o
mesmo, tipo de dificuldade. “Um bom governo pode
mantér á trãríqüíli4ade interior numa sociedade”, ob­
serva Mandevílle, “mas ninguém jairfais poderá asse-'
güraf ^ páz e4eri,0r? Ci» Fable dès AJmlles, remarque '
R, p. 160) Do mesmo modo, Helvétius fèconhecia que ,
“as. idéjas de justiçar consideradas dë naçât> a ngçào
ou de particularaparticular, devem ser extremamente .
diferentes!’ (.Be l’Esprit, discours troisième; çh. IV, p.
132). Vê como única solução deste problema o desen­
volvimento de “convenções gerais'” e de ^comprome-
timentos recíprocos” entre as nações; faz referência, a r
este respeito, às teorias do padre de Saint-Pierre, .ex­
postas eín sudM èm & riápafá d a ra p a z perpétua a Eu­
ropa (1712). Mas este esboço de uma doutrina da se-
gufapça troi^iy^-eriire aá' .naçoés qüé f
toíalrríente utópícanã sua èpócar
' *' ,'v A superiorjdadeáa íd^Ogià^econÔmicâ se ^ dé

" ' gico desse problema, “D,o ponto âe Vftta, do èomérriof ' ”
• 'Ç oríiyodo inteiro é apenas uma unica nação oü ufti uni- ■
y C9, poyp, no interior d o qual as naçdes são como pes-
' „ soas",^escrevia já ’em lí&t Sit .Dudley North nçis seus
lí?
{' .Discourses upon trade b p e antecipam ã$ teqrias çcpnô-
' micas qlteiríQfefe sobtç q efeitò.d^ destetritaríaJização tía
- ‘ ' eçonoqua.dSssé jtílgamçnco tornou-se largamente partí-
111} lhado:ho século IÇ.Sqbre essa base numerosós autpres
7 desenvolverão o tema das, “armas- da paz", ainda hoje"
mditp tãvo; :Montósqui®q/esefeveráV«por ékemplo, qqe ■
*’ “o efeito natural do comércio é d e levar à paz" -(Esprit ,
■des Loís., 5&, 2, p. 651). No seu Ensaio sobre a Inveja C o
i ntebciafy Hiime proçlamatáj rium memento em qrié ás ,
relações estão muito -tenSas entre a França e a Inglater-
r' ■, ra! “Çomo südito inglès.ífeço ^òtas de que floresça o co-
- ' ‘ - mércio da Alemanha,-4a Espanha, da Itália^e da propria
- Ffança” (Méldnges d ’econom ie politique, Ü , p. 102). O
’J cdnéeito de mefcado permite assim repensaras relações
7 internacionais .sobre uma nova base; substituindo a ló­
gica de um aconta de soma zero (a do poder), por uma
, de soma positiva (a do coméreio). É uma revolução in-
, ' telectual,decisiva no interior do pensamento 4» Ilustra-
, çãq. Voltaire notava, com efeitor ainda em 1769, no ar- -
* tigo “Bátria" do seu DiéionáriaFitosófko-. "Tal é.aèò rt- ■ >.
: dição humana! desejar a grandeza do seu país é desejar
o mal dos seus vizinhos (...). É claro que rim país nãó
' . pode ganhar sem que um dütro perça”. , „
Os fisiocratas irão até o extremo Iimite déssa revj- ■
são da percepção das relações políticas entiSè as Hações.
Não se contentarão, como Montesquieu, em íãéer do cd-,
mércio um elemento corretor e moderador dos instintos ‘
belicosos dos povos. Pàra eles, a guerra torna-£e impen-

p
\

*** 1
' 58 ,
f. í
a economia cpmeíjealização da polític^ (o mercado e o contrato)

sável; porque é tboriéamente impossível Vêem, Com


, efeitó; que“cádanaçãoé apenas uma província ck> gran-
r de reino _da natureza” (Merçier de la Riyière)..Seni ado-
tar tijrf ponto de yista( tão- radical, numerosos autores,’
contudo, se/inscreverão nessa pérspectiVa de substituí- ''
çàò dò ..político'pdo econômico parajfúndaf utpa nova v
ordem' internacional A distinção éntre a paz civil, garan-' „
tida politicamente e a paz entre as naçõès, /agitad a, se­
não garantida, pelo comércio, tende assim a se esfumar.
- A^idèología econômicar permite if mais lòngè e cortj-
preender nuim mesmo movimèrtto a jiaz civil e ãpaz eti- .
- tre as nações, problema contra o qual se batia a filpsofia :■*
(polftica clássica. Ap, desterritprializar ps conceitos' ecopô-
micos, a “novidade econqmica” do século 18 abole os
sistemas (pòmo p.de.Moritesquieu} que pensavam-aipda
em termos de articulação da balança dè comércio je da.
balança de podèn Adam Smità completã'esse movimenT
, to ,ao dissolver õ conceifpj político de nação no coneeifq
econômico de mercado.^ ■
É vçrdade, entretanto, que essa paz entre as na­
ções, fundada sobre o comércio, não exclui uma “guer­
ra da indústria”,, para reíÒmar nmaiçxptéssãq de BetíCa-
ria que considera aliás essa>forma de guerra como “a
itfprs bümana e a mais díjg^a dSè homem razoáveis” (Des
■\ délits et des peines, p. 8), Mas eása fonna de guerrá é de
um tipo novo: é a concorrência. Ora, a concorrência *
“conci}ía todos Os interesses”, é um instruntento de igua­
lização'tanto entre as classes Sociáis quantp entre as ná-
.. çõès, organizando «t justiça e a paz com mais perfeição
ao ser exercida 'senítentraves; A guerra redefinida torna-
se assim instrumento da paz; com esta proclamação, a
ideologia econômica subverte, talvez da forma mais
profundamente possível, a representação política do "
mundo. ..J ; ■ ; v.
> / 2. O conceitode mercado permite' rçsolver a difícil
questão do fuh^mento dá òbdg^âo no piacto social
V ’ ’ capítulo 2
•f ■ /tl •* t J 'r'r' '■ s*’í *1* ^1 ' * • ' J"

t v • i , / -i , * . f , ~ / i
-Para Hobbes, essa questão é facilmente resolvida. Na me­
dida em que «JSáctO social Originário nào é, pára ’ele, um
'contrato n o sentido jurídico cjo termo entre o soberano e
<«eus súditos, m^s yma açàode; desistência: mútua em: fa­
vor dê um terdeirò benêõdáfio, nào se çptòcá á questão
da obrigação. Hdbbes. pensa em termos dé coerçãp e hão
v depbrígaÇão. A Soeiedadecivil, ríãpèstá ffíajs ameaçaáá
de dissolução, dado <que o sqberapo está ácima das leis e
gbvçrna por meio dp medo. O •Leviatã' garante a boa or-
dera social. A crftiçà ao despotisrtidnh séculplSím plica-
va encontrar uma- solução. A de Jtousseãu é â máis notá-
Vyel.Para ele, a obrigação,de respeitar ò pacto Social' e ("te
se submeter à’ vontade fgeral está simplesáaênte' funçjada
Sòbre o livre comprometimènto de cada ura. Não implica,
portanto,' qenhuma autòrídade exterior ou superior. A
obrigação é,çom efeito,; a afirmação, maisçlevada dá -li»..
•herdade1. )\|as o indivíduo só a' reconhece na medlda em
qúe compreende a coincidência do seu interesse próprio
, com o interesse coletívo. O paçto social não é, pbrtanto*
. umã troca, urría simples balança, é um ^acordo admirável
do interesse ,e da justiça” (Çdrítràct social, livre II, ch. IV,
p. 374). Não há contradição entre a 'liberdade è a necessi-
„ dade. Rousseau cc^mpreéride já a liberdade como intefio-.
rização da/peç^fsidade: “À essência do coipo político esta
no açOrJdo dà ófediência. e da liberdade” (Contmct sociaí,.
livre III^ çh^lZj p. 427).,Assim, "abole a distância entre o 1
interior e o exterior do político. Essa concepção será finalf
mente mal compreendida e sobretudo mal conhecida no
século l à O; gs^dd liégêllario â tornará cònCretámente
operacional ao mediatizá-la. A teoria rousseauniana da
imedlaudadê erifreó indivíduo e o corpo poKtícq nèêessí-
ta da concepção hegelianá do Estado modérpo Conyo fi­
gura necessariamente separada da idèntidjide. dò uníyér-:
sai e do particular. ■„ ç;
A necessidade da “'mão invisível” permite superar
essa dificuldade do fundamento da obrigação no pácto
a economia çomo realização da política (o mercado f o contrato)/

- \ N ' í- -/O i* y J •
sqeial^etfi retomar a^qia concepçà,o despótica. Permi-
te õénsar uma1sociedade sem centro/aboíír pratícátnen-
te a distinção entre interior e efttérior, entre o indivíduo '
e a sociedade. Realiza a imediatidade que Rousseauper-
seguiâ sem pOder lhe dar ofunàam çnto efetivamente
Operacional Os mecanismos.do ^mercado, substituindo
os procedimentos dos compromissos recíprocos do c i ­
trato, pfermitem, com efeito, pepsar a sociedade biologl-
•ramente e não mais politièamenie (mecanicamente), Do
mesmo modo, o conceito de mercado inverte a proble­
mática dà lei. Se jdelvptjus, antes çle Beccaria, e de Sen-
tham, ;pènsa poder regular a ordem social ..por um ale-
gislaçàó que distribua um sisteipade penas e de. recQin-.
pehsasy-fa^ndp coincidir'õ intèfessd\geral com ° lnte»'.
re^se'partiiçular, não pode; eliminar a qnestàò do legis-*
ladof^corhp sujeito, Becéaiia deslocátá a ^yestào,,
tufhdcpapuin tenr^np próximo ao de ítoussèau; cahàí-
' derando que o legislador “representa toda a sociedade'
Unida por um èontiato social” (£}es délits ei des peines,
§ 2, p. 10). ' „ -
. ^ Ò mercado constitui assim uma lei reguladora da,
ordem social sem legislador. Á lei do valor regula as reP
lações de trocas entre as mercadorias, é as relações en­
tre as pessoas são entendidas como relações entre mer­
cadorias, sem nenhuma intervenção exterion s ■
/ O conceito de mercado é, portanto,, de umh fe-
cuncíidade política muito grande. A representação eco­
nômica dasoeiedadepermite subverter o sentido das in*
. terrogações políticas do século 18. Realiza nesse sentido
a filosofia e a política aos olhos de Adam Smith. ; '
"> Mas a representação econômica da sociedade
hão traz spmenfe uma -resposta teofjca ao problema da
harmonia social. Permite igualmente renovar a teoria
da instituição do social. Isto está particularmente mani-
;festo nos trabalhos dá escola histórica escocesa do sé­
culo 18. Além dc Adam Smith, estão nessa mesma es-
capítulo 2^

« . , , : \ ) r, i ' , . !;
ccáa jAd^m Feigüsoh >iEssay oh thç hi$totyofàivil so­
ciety^ 1767), William 'Robertson .( The History p f Sco?
tland, 17Ô?i íiistory o f America, 1777)' è Jobrt Millaf
(An fífstorical Viçw o f tbe Engiisb fSpvernmenp, 1787;'
Observations concem m g thè DistiúctioH o f Raúks^in
Society, 1771). .Todos qstes autores pfdCuraram genera­
lizai <h dejernjihisrtio de Montesquieu- John- filia r es-
creverá^ aliás a este respeito:"“O .gfande\Mdqtesquidh
mostrpu O caminho. Foi o Bacon desse ramo da filoso­
fia- Smith foi o îtewtop” (An HfstoHcalVtéiú o f the £n-
glish Government, vôl. i|» p..429)- Eles. irão até-o-fim
da intuição de Mandeville que escrevia desdé o cpme-
ço do4sééuló que' “o cimento, dá sqciedade civil reside
no fato de "que cada um é obrigado á beber e a comer,”
' (La Fable de&AheilleS, édition Kaye, Vol.H, p. 35Ò). Em
muijtos- aspectos fiobertsoq. e Millar. notadamente. apa^
récèm como precursoras, do marèrfalisiho histórico.'
Não é mais na política, mas sim na ébonomia ciue pro-
CM-ram os fundainentos da sociedadë. Algumas'de suas :
fórmulas nàó destoariam das áaldèologia Alemã ou da
Çngem da fam ília, ‘da propriedade privada è.do Esta­
do. Na .sua•Hístoty o f Aivi^Hcdi Robertson estima, por
exemplo, qu^-fem- toda investigação conçernéntè á
ação dos homens, quando eles se uhénr na:‘sociedade,. '
é preciso' a princípio chamar a atenção sobre o seu
modo de subsistência” (Ire éd. 1777, vol.i, p. 334). k
Rensam, antes dç Marx, que a anatomia da sociedade
civil deve ser procurada nçi economia política. Ao con­
ceber o homem nò estado de natureza com a sendo já
utp hotno oecom m icm , pbòlem num mesrnd golpe a
distância èhtre éstádqidé' qatuifeza e sociedade ciyii.
Não têm mais necessidade do conceito .de es&do de
natureza como Hipótese; Compreendem de'\imafarma
.unificada a quéstão da instituição do sociaí e a da re­
gulação do social, evitando assim todas aS dificuldades
tèóricas nascidas do contínuo desencontro d? ecòpo-1
a erónoRiia«cttjrô realizaçáp da política (p.ntércado e d còrttíato)

raia das páixões^entre êstadp/ de nãtuícza e^estadòcb


tfil qôe^cámèteriza a' fUosofia polííica dq£ sêcqUjs *1> e ^
18. "í^ião (Sãó somente as testemunhas da ascensão 'da
burguesia coipepriantê, sào os primeiros a compreen­
der a soeiédade como um rrierCado ecbnôm icô, não 1
mais instituídiã peia política. Stepart; eíríbòra nãotfbsse
membro íia escola pistórica inglesa,» dpsenvolve infra^
tese análoga na suã Investigação pabré os Princípios (ta ,
Economia Política*. Tentá, a partir dá economias Com­
preendei as díferenteã íqr^ias de regimes políticos. E, .
por issO, é levado a i;ejçitar a tepria do contrato primi­
tivo por inopérâricia- Para. Sted^rt, '“com efeito, <o conL
trato pri^hitivo, "tácito- òu explícito, 'implicaria lo g itá-, ’
mertte' uma similitude entre diferentes, formas de go- ’
' v ero a Ora, constata que esse nâo é o daso. Assim, é-
levaclo a introdtlzir uma lèitura histórica da política; ch-;
mensão histórica quê era praticamentè negada pelá re-
djição àsiduas grandes ifases estáveis do estaco de nask
turezà e da sociedade çivil pa teoria política dominan- '
te do seu tempo. Num capítulo muito penetrante dá ,
sua Investigação desenvolve: assim toda uma teoria his-' v
tórica' da evolução dos regimes políticos a partir dp
uma análise das estrutufas econômicas. Mostra como". ;
á$ diferentes formas de subordinação põlítica podem ''
Set expUcá^ar pártir^de fdjfèrentès tnódoS dé dependên­
cia econômica ao distinguir quatro principais tipos de
depíèndência: a dependênciá de úm em reláçãp a o u -,
tro para a conservação da própria vida; a dependência
dé um em reiaçâo a outro para toda a subsistênçiá; a
ajbutro conip meio. de
ganhar o •necessário à subsistência; a dependência
frente ã vepda dtí produto da própria indústria. A cada
um dessés ttpos êorresponde uma. relação social parti- ■
eular (sehhor/íes^çraVoP pai/filhó; trãbalhador/senhor -
feudál; ;manufaturadof/patrãò) e uma forma específica
de goyerno político (escravista, patriarcal, feudal, d e -,
■ ü capítulo 2
,/VV
^'á 'I
i4moteíátiçô). ^evârt-cbm prgende àssim ecoriofljiçaiiietv ■
te o apárecimeiito d » Sjtíjeitb Comb çategoria polític^: ’
4 l%SJfd^de; modçma-riãp é, ! seuvêr sepâo pmgpcoft-
seqyê^ciá ;da indépendémia eôtmômicã, traduzida ^
pelo fato'de se ptôduzir para o marcado. Afirma qüe .
' “toda autbriçlade está em proporção da''dependência
< (econôm ica), e deve variar segupáo,^? cireun^tâo^as"
Qtecljerehe, U , ch>XllJ, p. 440'to v érte a problemática

vamenfe ao Comércio^ e ,à indústria”; escreve, “não pro-*


véríi da desigualdade que feia estabelÇce"entre os cida­
dãos, , mas é a cattseqüêtidia dessa desigualdade, fre-
qüçntemeijté acompanhada de uma subordinação arbiT
traria e indeterminada entre os indivíduos das classeé .
superiores e inferiores, ou ,entre os que são encarrega­
d a da execução das leis é o-corpo do povo” (ibid, p.
446). A seu ver, o,advento, de iam regime «republicano,,
que é o mais favorável ao cómércio e’ à' indústria, !pu ’
de um regàne democrático, qup >é q melhor para fazer ‘
nàseer o; comércio esriaí^eíid* se-inscreve asshn ttotifr-
ralménte* vn o : quadro do. desenvolvimento das forças >.
■}>rodyfi\fas: 5 0 pomércto é a indústria são solicitados
em todos oslugares, e ?b se estabelecerem produzem ,
uma fermentaçâo assombrdsa nos restos da ferocidade '
dâ cônstituição.;£eudal’f.(ibid.„ 454). Steuart dèsen-
volve loogamertte a contradição, histórica da moiíar-
quià. Ao mesmo tempo èm que aam bição dos.sbbera-
nos os leva à reduzir o $òderidos -grandes senhoreS%N
a desenvolver o cqmérciçi e a indústria,- explica, cavanC , ■
com efeito, suas próprias sepulturas, pa medida em
que estç desenvolvimento reduz- ps lsgbS d e /depen­
dência econômica e modifica, por eonSèguükeí os iter-
mos da subordinação política. Para Ste^ãpj p merCado
não ápenas substitui o contrato, toma-se a força motriz
do advento da democracia.
a economia (oVo conttatA)*

do £>aíado^b
fisiocrátieó 7t\

'' I^araíelaraente à economia política in^lésa, os fi- .


sipcratas afirmarão lima concepção determinista da polí-
ti'eg. “'to d a a 'pçlíticajjarte de pin gjrâo de trigo”, esttè- ■
verá Mirabeau. Sup “agrômarfía” deve ser çortipreendida *
' desta perspectiva; Sua ligação ã terra tnánífe^tá antes? de ’
tudo a vontade de.retdfná/ à realidade ecppômica clásua '
época, que./se encontra efetivamente centrada na agricul­
tura, estando o comércio e a indústria relativa mente na
, infância. Mas,'nos mêhdos do século 18, o entusiasmo
peia agricultura tem também uma significação filosófica
profunda. % o. signo d ç urpa mutação intelectual. A te m
simboliza o ,enraizamento dâ vida sdcial no áubsolb.,das
vnecessidadesí ^enquarito a fik>s<^ia^potítica> nâo -o&saee?..
mais-pontos de referência,Atáveis e segufost Só assina <
parece-nos;- pode-se compreender a constataçãp de Vòk -
taire qyando escreve: "Cerca de. 1750, a nação, farta dé
versos, tragédias, 'comédias, óperas, romances, histórias f-
romapescas, refiexõesrmorais mais romanescas ainda,e
dediSputas teólógfcassobre a graça e as,convulsões, se ?
pôs a raciocinar sobre os grãos.”"' O re,torno à agricultu­
ra, à economia agrícola, apenas desviou e utilizou em
sep benefíciô certos sentimçritos bucólicos por outro
lado em voga. O essencial é afirmar, comb Quesnay, que
. 7o fundamento da .Sociedade é a subsistência dos" ho­
mens” (Droit Nàtuivlj INEÍp, t.ü,.p. 74l'>. “Á fôrma das
sociedades”, escreve também Quesnay, depende da
quantidade maior ou menor de bens que cada um pos~'
Sut; Òvi pode possuir; é ; sobre ids',quais qUpr assegurar a
cohséiVaçãò e'a pròfidedkde”Xibidi, p. 738).,

6. Apuei WBULERSSE. te Mouvejnent pliysíperatique erti Fran­


ce. p. 25. t.I. .. ■>. ■'
Capítulo 2

' 1 ,- ' ,i '


\ ' . Jvíaso que carteeterizaós ftéiocrataS ê-mdi<\alizar
ao extremo adnVersão das relações entre, ar economia e
: a política, até suprimir compfetamènte/õ próprio conçei-
, -to de política abperisarqvie “épeías coisas que os ho-
tríens sáò govèrnádps’’ (Mirabeau>^Quesnay tem a am­
bição de fundar umãiéiêneia qué envolva de uma só vez
,t. ps homens e as, cojsas, o que não tinha sido feito ante-
/riopnente nem jpela política nepi pela filosofia. Encon­
trando as “leis da ordem'1, Queria criar o que Jean-Bâp-
tiste Say chamará d e1“ciência fisiológica cia sociedade”.
Propondo racionalizar absolutamente, a política, os fi-
‘ sjocratas praticamente abòlem-na. Para eles, não se irar
ta da questão do equilíbrio entre a política'e a econo­
mia, é verdadeiramente em termos de fusão e de supe-
ração qye, eles pensam. É por isso-quequerem progres-
sivameíite deixar. de‘ lado o ’emprego dos conceitos de
pqlítica e de economia política, e que Dupont de Ne­
mours forja cr termo físiocm cia, que significa literalmen­
te governo da natureza, das coisds. • '
V & reconheckpento da correlação íntima da ordem
física com a ordem moral e social funda-o oonjünto das
suas representações. Recusam, em consequência, toda
distinção entre o direito natural e o direito positivo. Para
Quesnáy, asileis positivas são apenas “simples comentá­
rios” das leis naturais è príMfívas qüè estão inscritas na
í p t j d e n i ' 8 § f c â e s s a base da ordem físi-
*' /<&”,. escreve, “nada há ;dé sõíidõ, tudo é confuso e :arbi-
• trário na ordem da socjedáde: dessa confusão advêm tp-
idãs af çottstitòiçóéá Wregular^ e extrayagantes\ dos.go-
vemos (...); as leis naturàis da ordeni das socíedacíessão
as leis físicas da reprodução perpétua dos bens neces­
sários à subsistência, à conservação e à cornodidade dos
homen$’’ ^ ^ s^ tism è de la GÍ>Íne, INED, t II,‘ch.yill, p.
921). Ó goVerno não temí portanto, simplesmente de sé
conformar a essas leis físicas, como Se pudesse'ser ex­
terior a elas, Reduz-se á ess^s leis' que p, exprimem ín-
a economia como realização da política (o mereadcf eo

teifamente'; é "“a ordem natural ©"positiva mais vãptajosa


aos homeps reunidos eíft sociedade e* regfâos por unia
V
aytoridad^ soberana
caq u é pensam;
qôê pmá tepila ecohôntka, é ipeSrtid) irtaiè qü£ ufha -
ciência^ instituf dé fjátó toda unta br.dêm-db ciêhcia^jque.
Baudeau será o primeiro a chamar de “ciências matais
e.polípeas?. . v "■*- - ^ ,Í '
A política como iate do governçç ou colno pensa-,
mento da Trredutibiikiacle da divisàp social, torna-se setn ,
objeto", e rjão é anais encontrada. Mettjer de/ ia Riyière-
aceita qúándo Ühuito reduzfi-ia à- origem da spciédaçle ' í
quando- distirigoe na Ordem Natufol è Essenctdl $Q*. \ ■,
cíedades :PoSttçdr> a>.noção de “saÇiedàde masceníe# o.a“ •,>;j
de “sociedade formada”'. Para ele, com eféitb/desdeqüa
uma sociedade es|á fofmada só pode se conformar àtSr- <f „
■ííemi física*, A poiítiCano sentipp tradieiònalié cpfiçebidas
como uma sobrevivência çlo estado de barbárie/da ,
manidade. Süa negação da política sç.dá assim numa gi- -
gantesca repressão da história. -O tempo está ^uspepsp ;v *•
para os^fisíocratàs. O que Qutísnay mais-admira, ha tjtíi-'
na é que ela seja governada pelas mesmas máximas des­
de há vinte e quatrb séculos. Ela toma-se, refúgio' e inb-
delp, porque ihes d á à ilusão de e§tar fora dp tempo e
das>convulsõeS da hiêtória. “A ordem física éuiria ordènii L €
absoluta, uma ordem imutável dá qual só podemoíí nos
afastar com prejuízo”, escreverá Mercier de la Riyière
. 'ÇQrãrà-^di^fvif- cb Hl, p 463)- O iimpq^p céíeste lhe pa­
rece cbmp a realização dessa imutabitidade/impbilidade.
Assim, não é de se admirarájue Bpúdeau acreditou levar
Qüesnay ao pináculo ab qualtfiçá-lode “Gpnfúcio da Eu-*
ropaVA ordem natural arremata assim a história, como
i fará mais tarde o comunismo de /Mârx. ' *.
r PàraJelamente \ essa negação da história, os fisio-
/ cratas pensam o inundo na süa evidência. &mp. jü^a-
, mente observou Weulersse, os fisiocratás' enipfègam iq-

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67
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, ' ' capítafò 2.

cessãhfrimente 6.<sub$tântivo “evidência*, ó adjetfvptevi­


dente”-# qádvéibio “evidentemente". CVartigo “pvjdêç^
^-tía" da iEncicbpédia ( l i756) %. aliás, sígnificàtivamente p
primeiro textò-çíe Qaesnay, se forem deixadas de lado t o v
das as sua primeiraè 'obras eíínicas demovem mé£pco.-A
evidêndaasSegura aharmoniado^interéssespartieülares >
■e dp intereè^e gfera^d^- acordo cpm; a Justiça. A eVid^ncia
guia o mundo e b fundá sobre $■òrdfem pátural/Evidêri-
- cia que contraàta a seu ver com o caráter tortuoso da vi­
são política dó mundo (Mercler de la Rivière falará, aliás,
da política-como de uma ^ciência cuja obscuridade deter­
mina sua profundidade"). Com- pfeiíò,/eomo Helvetius, os,
fisiocrafâs' qrocurahrpepsaf o goveçno como uma triáqu}-'
na simples, Por isso, erteçrama democracia que asseme­
lham áo íumulto das multidões. “Todo bom governo”,
' nota Mirabeau, “consiste era haver o mínimo possível de
assuritos piíblicos; e a democracia torna tudo assunto' pú­
blico”7 É igualmente por isso* que 'eles criticam Montes-
, quieU que teoriza a distinção e á divisão dos poderes. “O
sistema, de forças oppstas ruim governe^ d uma opiniãO
funesta”, enuricia QueSnaynaSsuas Máximas Gerais do
Governo Ecdnômico de um Reino Agrícola (INED, t. II ■pv
, 949). A, ordem natural só pode desenvolver-se-em uma
sociedade unificada-e homogeneizada. Condorcet reto­
mará esta idéia capaz de-influenciar' uma época rias suas
Reflexões sobre o comércio de grãos (1776). “Em matéria .
de governo”, escreve, “toda complicação ê ameaçadora.
Quanto mais molas tçver uma-máquina,'mãis ^la ^estãfá,
sujeita a fricções”. Não será possível ir mais longe na re­
dução da política ao governo e ria redução dq ^overno á
uma íttíecâriiça tanto- mató M à ordem' nátjtiral qüanrç>
...mid$^«£tt$jès'-' fòn Desse >ponto de vistamos' flsiocrátas
ariundám tanto Sairifc-Simon quanto Marx. " x
• ' v- ■ > - - ■ ^
7. Apud WEUIiERSSE. La Phvsiocratíe sou$ les íríin.istères d e
Turgp$ et-d e Necker. (pc 110). .• V"v *
wr*.

1 - a 1d (
1 & 1 1'
."V ^ yã : '.^ ;í 1^ ,. a f. n
vü - j Y v f'
a e c fo m te -c ^ g ^ mercifo e
ST T '-- -V ' -I ; ', :»! (V-' ,‘ „ w ,* ,’, . --K-
<-. <. M is*6 jústamènté V « e WicaliáíftjQ qué, fragiltea
os fisfocrataiXotn efeito, nâo p p d e m ^ i t ó i j : 1

cGiifins dá nistóríá e daypatUreza,' Não chegahr vèrda*


deiraÂ^nte aNe^pulsá-la^^âlittente da rÇalidadç.jEsse ê
n & p ^ ta iá ^ to ã á ò^ím tkia‘d& de-J^etd*ef'de ‘ í

gem" da história da humanidade,' devolvem-lhe^ com


‘; efeito Sua razãoÁâe ser à4 distinção que aliás rççuáami
entre eátado de náture^á e sociedade civil, entré direi^
■'-;•••-■: .v\v; •~1''• >' *■ ■, ;V"M ■■:.rYt. Y r ••.ó,-- ' •
' - '•*bv' •■, *- . ■-.>A ;>
to natural e direita* poshiyo. • ->' * ,. / ' ,- , ,
? ’> ’ - Essa ê ufha contradição teóriça.yque .ngo pcm^eíd, ’ -- ’
transpór. A escola escocesa ou ^tçuart parecem, a esse v
^ respeito muito mais lógicos, na mèdida em que- seá;qn- -
) tentam em derivar a. política dó ecoridtnipoitÁcK!st)b^^'^« \<i
, nar/:ao englol>ar à ipconomla ,$em a dissolver verda^è^ ' ■/ ;
e totaimentevna política, e ao inscrever suas relações
; jQüma dimensâg histérica, evitam, com efeito, cair n»
contradirão físiÓcrâticav Y * ' 7 '' * *
'Mas, o paradoxo fisibcrâtico mantém-se mais
áinda pò verdadeiro-retorno d o reprimido político sob ’ . -/
a forma de um despotismo global. Nào é evidéntemen- 11
te fácil compreender p senticjo real dessa contradição
. ènfre a afirmação da necessidade do governo da or- ^ • y-
dem natural e, portanto, do- laissez-faire e á defesá •
5 çonstante do “despotismo'pessoal é legal”-. F.m gfcandè
; parte, com efeito, essa contradição è a .tradução da sua
própria- situação social que os torna materiaímente de- e .
-••''"’PÍ^djentes-;,dq soberano, notadamente qo que coricer-» ■
• ne a Qüesnày. É, entretanto, difícil aceitar essa expli­
cação um poúco limitada. A apologia que fazem do ' ,
despotismo ê\ com efeito, igualmepte o pró^utp de 1 /
uma constçução lógica,., Sópodem diSsolver a política '
. .ao instituir, o déspota como njúralha e guardião de

69
, ' /, ■ , ^ ,-^ tu | q rt2 ,
"rt:. /> ./..• /■■”■'■■••.J/y' . <jf Ç-r<■ -v •■,"••••.• .•-»..i/i
' ‘ W ~V i , ' *' - <- J )'
üfna ordem natural à qual consideram implicitamenté
q ae.os horriçns nào estão ^indamatyr^lmente Jigados.,
, Assim,í‘a-fu rtçâo prfnçipal dpidéfpota évjgiar para què
, a política nào 'desperte, èonftssão implícita cio fato de
v ?que ela está,-,a pada jnstante, pronta para-despnéadeatf
- ■sç. O déspota n|ó tém, 'portahtp, de ékdrdeSr co pòder
político, pois o poder racional só pode ser o da con­
formidade cóm á ordem frapufal, tendo corpofu rtçâo, à ,
- príricpíõ, Manter o desaparecimento d e político. t O
despotismo absoluto marcaia põssibitidade de uma ex-?.
tinçâo absoluta da política. Òessa perspectiva, é preci­
so igualménte epmpreender a denúncia dç Mifabeau às ;
assembléias dós ‘EstadoS. À dissolução da política Jm-
v plica, tom efeito, á negação dás distinções socíais e '
sya expressão, para reduzir a sociedade a um mercado J
- fluido de iriteresSes fragmentados que nenhuma èstru- *
/ tyra social fcuermédi&ria
á ." ' entrave. , \ ií .•••'♦.' •• \J) .
ição dos" fisiocratas é, portanto, ainda
'; > mais profunda, pois só pode ser superada por uma mar-
ginalizaçào de toda realidade que „contradiga Sua repre- ,
sehtaçào do rmindo. O modo pelo qual Aíerder de la Ri-
‘ vièrfe trata, a'ségurança coletiva,na Europa é exemplar a :
essse. respeito. “Pode-se dizer”, escreve, “que àté hoje
cada nação tomou por base’da sua política ^ determina- i
çào de ,sè às expépsas clamou- ?
. tras” Assim, sua'ppsiçâo i
crítica dç partida a yãesma dé todos os autores^ anti-
mercantilistas. Mostra, como eles, que se trata de uma
“falsa política”, due ^i dè ^átò desfavetfãveL fhãÀ tbdos.
Mostra, como eles, os limites do »‘sistema da balança da
Europa” que pretende estabelecer a paz sonteníe pela
força da ra?ão. Mâs Mercier de la Rivfèfe sç^sçpara^de-
les no sentido de xque rçeusa ver as nòvas,aríifl$s dg P^z
nas trocas comerciais. Estima que uma “confederação :
geral de, todas as pótêndàs da Europa" e&t^de fato na ■
ordem da natureza^eidrevendó significatijra$aen$e:‘ «Ela

■S-a •
; aäcöftönjiacomö jteaiizaíáoda_pôfâicà(pttkÇirca^o è ocoptraça) .>■.■
r> 7 ^ . ' V,«- , V1 t ■ » ,.,»•!’ •
> } ''? ■
’ , ~ \ \i v , *r*- V~ ,
(^st4 ';.flç ,t3J forma rfà -prdiemdai-piltuKâa W.<fcr#er-
•...sup&jâ' sempre\feltápbu artete sétnprp e^stèçte sem a
. «rêd&çáó <te [quaisquer\ çonvçpçõeí a ^ ^ e f íespeito, '■»:•
^somente petó força da neçéssidáde de que,elá/ ê à sègu-
‘ rança política de cada riaçpb eip^particulá^ fíbtd.; p.
528).-A seu?-vtífi sãí> fomente “o s planus mal combinai
ddslde Ü19 peíüjticâ artificiai e^rfeitrárià’- quqprcWocárahv
guerras na IJúfpjSa. A põlítjicC oppcreta, á da: felaçãbdç)
' Forçasy éi ^ort^ntOj q^gílda,: porque não ‘-eotre^pntíe à ?
te©daiíhào teân íexistêp^ia-prâtítaipófqju^hãò?;tpm valí*
dadè teórica; pénsàn^entq.
num gigantesco movróentô dè représáão da realidade^
rppressão que lhe -é necessária pára transpor essí^/con*,
tradições. O úhicò pontò còftcretd sobre o qual Afeitjer
de Rivière se apoia pará defender á sua tese da realida­
de, “real, mas não desenvolvida”, dá upidade da Euro­
pa reside,, com efeito, ha evdcáçãò do fato de qtié.ós
reis da íEuropa se tratam mutuaihentçt de, ifmàosiyè-se
assim, com os fisiocratas, a que ptíhto a utopia liberal'
violentando a realidade, pode ser suscetível- de levar a
um totalitarismo assipxque o trabalho- da democraciáhi-'
ver suprimido a figura do déspota legâl.E é difícil nãtí
aproximar a naturalização da moral que realizaram fmo-
vimento pelO qual resolvem num sentido diferente de
Maride^lle' ä qhestão da autonomia do ecqnôihicp èm
relâçlô, mptál) ê á naturalização da utopia qpe;é' jáára
^Már^bíf^éljh''^ a integrar1ao seu projeto dentflicoç.éc»
locando-se como o momento cio coite entre o socialis- .
mo utópiço e osocialismo científico. - > ,> ;; ■
- A força cio .liberalLsmòde Smith, em relação ao
dos fisipcratasç paradoxãlrhente, ,é de ser menos absolu­
to. Ö Libeçalismo de Smith, é. mais realista e menos ujtõr
•vpico que ò dös fisiocratas. A crítica de $mith/cÒm éfeir
■ to, não se Hlnita simplesmente à sobrévalórízação da
agricultura pelos teóricos do ^sistema agncola’V CertstF-
ra-os igualmente por só conceber o bom funcioríamem
capítulo 2

to'da sociedade num quadro de uma perfeita' liberdade,


de uma pqrfcita justiçã e de, uma, perfeita igualdade. “Se
uma. nação”, escreve, “não pudesse prosperar sem o
gozo de uma perfeita- liberdade e dejjm a pèrfeita justi­
ça, não bavéna notpundo urfrà só naçâóquetivèsseal-
guina Vez conseguido prosperar. Felizmçnte, no corpo
sppial/.a sabedoria da naiüreza cofócdu inna .^bundân-'
cia dè defénsivòs adequados para remediar a rikior par­
te dos miaus efeltós dà loucura e da injustiças-humana,'
^da mesma''maneira que'os colocou nos-corpos .físicos
para .pemediã-los da intémperançã ç da oçjosidade” (Ri­
chesse, t, II, livre IV,;ch)lX, p. 322). Assim, Smitfí pensa
á ordem a partir da dèsordem, e nào à ordem a partir
da ordkpn comó òs fisiocratas. Sua representação da so­
ciedade é muito piais biqiógiça qde física, ^ e pensa em
termos de autdfegjulaçãó mais do. que em termos de leis
mecânica&.Çém AÊtyuezà, jamais fala de leis naturais ou
de leis eçonôrniças). Pobissq se sente fundamentalmep-
te estranho ao sistema dos fisiocratas com o qual parti­
lha,. contudo, a aspiraçào fundamental .do /íiKrse^-yiííre.
. H todo interesse da Sua crítica provém justamente do
fato. de que. çontrariamentê a Turgot, por exemplo, não
se,:lpase:ta de uri^ poritO de vista político, sobre; a Üenún-
cia do despotismo que o pretxupa menos que aos au­
tores franceses da sua época. Neste sentido é muito
mais rica e multo mais fecunda. ’* \
t,-

smith, o anti-màquiavel
- Dessa perspectiva que começamos a traçar,
pcxle-se Compreender a verdadeira contribuição de
Adam jSmith e sua originalidade. Se considerarmos
Adam^Stnith como um economista, sua „contribuição
pode, cpm éfejtô, parecer limitada. Tomqu grandes
empréstimos de CantiUon, dé Boisguilbért, do autor
“ «5» , ^ t ^ ' *
^aeccaiomlacOitMj-TealizaçSo dapolítica(p mercádoeo cfjntjjíto) ,...
--vt ' *■"*->' lf w ^ ^ < „ s"
lr„•■V
.,v.■
iU--... --„-K
•.'/ v . >■•••••. v ••
■■ . r xk*.•••• ■f.. . •
• y v
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•■

anôtumo das ConSideŸations upon Thé Ba$t-lndia trade
( 1702% de Wílliàn P'étty, de Mandeyillé, de Fergusou e
1 dòsk fisiocratas. Nãò inventor nem a teoria do v^lor-tra- •
balho, nem d da djvisãQ dp trabalho; dão foi o, primei­
ro, nem de-lóliíg^, à faizíer à\ap6h>gii^dQ^vi^com^ib)'
não inovou' fta' compreensão do sistem a'de 'preçós«
como mecanismo alocadòr'de recursos ú regulador dá.
esfera da, prodpção e dás trocas, d o ponto de vista
' .. f econôm ico,'o julgamentoi de Sçhumpetçr, mbítasvêztés.'
1 inexplicavelmente severo, parece1muito justo. “Ele Só
percorreu caminhos batidos”, escreve; '‘ytilizpu osiele*-
mentos preexistentes, míaspsepdo úm espírito dd clarf*, ;
•. dadeluminosa, elaboroti Aima obra grándiosa^fnaió^do'
y., trabalho denoda a sua existência. Seu livro veio -na
i hdra fcerta è troiixe à suá êpocâ exatapiente pí que.e|a ,
necessitava,, nem' mais, nem menos” {Esquisse d^tinë
histoire de la science économique, p.,75). E, de fato, lôi
dessa maneira que'seus contemporâheps Içrarh d' Ri%
queza das Nações.'Na sua História Econômica, Schum-
^ /*>. peiér fépon^ituiu, convsuaàinvestigações, o .itrtpaefp
da obfa de Îynith ’sobre a sua époça. Estima que 'd for-
1 ça ^ô Uÿrp vém. do que o .homem culto,,poderia, dizêr
depois de b ter {ido: “É iréalmente assjmpé realmente o
que Sempre pensei”. , ■ ,
. Smith não inova tampouco ao separar,a econo-
- mia da morál.. Nadà mais faz-que retomar Mandeville
nesse poíito. É herdeiro de uma tradição muito mais ah-
tiga. Haies 'háIhjglatçpa.k Mphtdw0tien:: fi Laffemás na
França tinham desde há muito tempo afínpadp á riéces-
* sidade de colocar a sociedade econômica acima das r'e-
x gfas morais. Haies escrevia no Século K) que “se é rea*-
niendável ao homem privado, d o p on tod e vista pura-
? mente moral, evitar na medida do possível b usò da
moeda, pão é nêçessáriõparaaR epública que todo
múrido ajâ da mesípa maneira,'-assim como hão êbbrip
gatório que todos sejam castos,: ejnbora individualmen-

' .j.id,■>._- ^ .■y ! ■ ' ;v
v. • "•/'f»r } j V ^ V - ' ' ‘ ^ \ / .x •v

■b s ' - ; i 7 ' s 1 l?- ' 7%


capitulo 2

tè^seja prtferível^iw Disbourse o f the (Son^tnon 'teea^ f'


íbis fealm o f Englanái escrita pòtvoíta de 15.4le publi­
cado? çrhlSSlX A iiás, vêhse^aparecer icoro este autor-a
noçãoide uma RepúblicâiCCbmmdri weat) na qual o laço
êntr^yosyíndivícluos, é dtf natuyeza econômica, e nào
Ttnqk ráígiosa e p p lítica.'/l i ■■ ,
Como eçonomista,rimith foi o homepvque feziipia''
' vasta-e notável síntesei toas ^ u g^mo riãp foi tal que pu­
desse écjjpsar o de Çantillon, o d e Steuartôüo de Petty.
Emgmnde parte uni tipo dè preguiça intelectual está na
origem dessa imagem de Smith como pai fundador da eco­
nomia pplítica. O fato de o economista contemporâneo se"
remetér a uma obncqqe sintetiza podais ás contribuições do
seu tempo pode, com efeito, dar a ikisão retrospectiva, de
qug. ela .é a fonte decisiva da economia moderna. <
Nesse sentido, nafla é mais limitado que ver Smith
apenas como uni "futero da economia política”, segundo
a fórmula de Engels retomada por Márx. Smith não é o
appstolo do capitatísmO nasefrite ou o arauto cfe'-burguer
áia comercial. Nâo há entusiasnpb algum ria sua descober­
ta do'sentido profundo da sociedade moderna. Nào.é sem
aniaígor; qüe èsse pròfessór distraída e e&e fen^iorifeiO
. aplicado pensa a modernidade. É um testemunha de uma
: só vez lúcido e distante, como quase todos os seus cole­
gas de Glasgow, membros da Select Society. Em muitos as­
pectos, Smitfe partilha á driticasda sociedade civiitdesénvol-
vida por Rousseau, notadamenfe no seu primeiro Discur-
SOiSobre dpesigua^iade. £> primeiro ,texto de Smith, a Çar-
tà que èsçréve em 1755 àos.áut<^•.é|à'^íní)«rgfe/^e^í^,:'■
é eloqüente desse ponto de vista.* Ne^se aspecto, fez lem­
brar muito Rousseau e Mandeville, traçando ripipanorama
das origens da filosofia do seu tempo. Smith hão nega em

8 Apud CHALK, a ; F. no N atural L ate an d thp Rt$e p f econ o­


m ic individualism in E ngland.. * •>' ? ,
9- Cf. 'Bssais phtiosopijiques. p.27^r9& v. II. 1'
a'econorhia comOçreálizaçào da política {<3mercado é o contrato)
’^ 5 N .f ^ 1 * ^ f u v ■* \
momento algpm as desigualda<|ps e á$ injustiça^ da sya
' época é consagrâ âíé mesmo longas jSàssagçrtS de A Rique­
za da$iblaçêe$ para,, as derjyndai' Näo .ré,_ pprtanto, cego,
cortib sãcix^s teioprajas. 1 . 1 _ - K' v ('
•r Sua Originalidade primeira é de ter. transposto, 3 *.
realização dâ 'filòsofia t da -política patrá o teiréno da;
economia. Não jé{ nem mesmo o pensador da-redução
da vidâ social' à ecoftohiick; còmo' são aitijjlamehte p s 1
difereptes -autores da escola, lástónca escocesa. É mais,
profu ndámerite o qpé este#i4e a socíédade ao eCôoôriU-
co,, pehsapdp filQspficamente a identidade’'da -tfída eò<>
hôpiica e.dít filosofiaiírtoral. ~ „
ito, contestamos um pouco a tese
■fann desenvolve num liVrö, aliás sedyfcbr fe
°aixõçs e os Interesses Hirschcftanp. ten*-,
■ta. mostrar, pr/ncipaknente Se; apoiando em;’ Steuart Çi
Montesquieu, que ps interesses (econômicos) são pas^'
sò a passa compreendidos no; século 18 coipp o úniçp'
meio de domar as paixões (políticas),', sendo a a.tivída-"
de eçônômká progfessivamente çonsrderada côm ot^d
instrument^ de compensação e de canalização das pai-
*xôes políticas, Assim,pretende, eiiticar á tese dp ,NÍax’
Weber;' mostrando cómo o desenvolvimento do espirito
capitalista se enraíz?' no coração da sociedade e., por­
tanto, não se afirma como um életóiento iniçlaímente es-'
tranho e periférico que teria prpgressivamente se apos­
sado de tóda a sociedade.Partilhamos dá tese e igual-
meüte á temos desenvolvido. Mas é sua dempnstraçào
'’què^rios pareçe cntíçá^él' Çom efeito,- Hirsdimann te-
r duz a economia a um “podercompensador da política”?
e é verdade que está .concepção em parte é a de. Mon­
tesquieu e de<;Steuart, .que ele cita abunuantemente, e
. mésmo^de óáliaôi.. Aliás, pode-se sublinhar que para
Montesquieu a éçonomia é um meio entre outros dfc
moderação dás /paixòés políticas (h a 1medida ém que
-elas levam ao déspotismo,ou à anarquia)..O princípio
^ , v'. capítglo 2 .
'T-. . ? * . ,’Çí, - '/ -yW
j~.X-- Ÿ- :-:i<^»»iW
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|da separação dos poderes é pelòínenps igpálménte iriv
portâmes a seu ver. Do mesmo naodo, para Steuart, não-
é igutúmenteá eeortomia,' masSim à çomplexidàde da
' economia moderna que dèsempeiíha uih papeU aliás y,
muito arítbiyaJentte, de moclefação do político. “Uma
vez que um Ekado conheça a subsistir em CQOSequên- .
cia da sua, indústria”, ,escreve, a propósitos, “há. menos ,
‘pengo a teçper do poder do soberano. O mdcanisníò da- d
suã admintstraçãb tpíría^se m^istomplícadó HÍe se .
achá ligado pelas leis da sua' economia política; de ma­
neira que, cada ofensa sua .neste campo p imerge em
novas dificutdafles” (Recherchent. I,. livre II, eh. XII, p.
457)- Mas, prossegue,, “os governos são conio máqui- ",
^nas: quantp mais simples, m^is solicías s e duráveis;
quanto mais construídas com arte, mais úteis, porém
mais'expostas a se desregularem. O .governò lacedémô-
nio pode ser comparado a uma cunha, o mais sólido e
o mais compacto de todos os poderes mecânicòà; os
governos dos Estados modernos, a relógios que desre-
gulam-se contmuamente;. quanto mai^ forte a molá,
mais fraca ; a máquina" vCiJbid.'; p. 458). !A~inteip>retaçào
•que iîhætm ïahn fez ^ central na sua
tese,, p^di:^ assitíi pèjb merios discMvel. Mas o essen­
cial está hum outro lugar. O problema central no riasci-
mentp e ná afirníaçaO-da ideologia econômica não rési­
de nuiq mecanismo de 'equilíbrio das paixões, npm jogo
de paixões econômiCas (os interesses) contra às paixões
políticásV É-mais profundamenté o acesso a r è ;.
dúçãb) da sociedade intefra ao eeqnômico cothOsft uni- , r
co espaço possível da. realização da harmOhià sôcjal, -A
virada decisiva reside na compreensão eqònômjca *da
Çplítica e de tÓda a vída sécigjí. Para Smith, à'economia
résolve nela mesmo, pelo mehos no essencíajíi a ques- . <
tãb do político é da regulação do social,^ >, ' 1
Por isso, parece-nos também imposante helér
hoje Adam Smith como pensador da rhodefnidade. E o v
3. , ó\ ■ . ■ ;v <1 W - l

76
y f\ -,
„vVi i: :>lí-“ó
■* / 7^- * ''V /.(•. lr*9: y-A> r
' ■ >W ' VY‘ * 'J *
a economia ccflfeo‘realização da-política (o mercado p o bmtrato) '
4,1 - 'A
, . íatQ «k qv^ f ^ 's ê o ik a '^ h a réeêbtdo a suã pbr^ ç o p p ,
se fizesse panfe^quasç imedtatanWntè ido seínsp comum*'
mpsíra a que panto seu perísan^nto/oi' em seguida' as-' *
semelhado a uma ideologia 1 .' / - ^ /
. ‘ ^DiCprítrárid dp Maquiavplí bb qual seMprp'fSrq*
curdu des^n&Vaçaifâe<'cqímo se ençíuna^se^toda a kpítl,
.consciência da Modernidade, Smith conhêêerá Ú sucest ,
so imediato dos qrie> se libedám de inquietudes sono-
íeqfâ^. À Sua fevelia,/£#hM> ^ècoioca, con^ efeito, çotrio f
v urn(veráedeiro<intt-Maquiável, Térrfunh 'a rçilidanÇa-de /
>fumo .começada - por Hobbes, -Transpondo^ Maqui^vel

da divisão sociáí que o flprentino incessahtemente co-^


lpcava. Hlminapdo ’a d istingo eifyre spciedadé; -e 1
■eátado de natureza que Hobbes precisa para exorcizar
Maquiâvel, a idqologia econ^mipa, que se afirm ãnosê- ■
culo 1 $ , suprtMe definítivâmentê todá relação C^m oV
autor do Príncipe. Nesse sentido, a ideologia éconôrríi- '
pa, coMó emancipação radical, se apresenta como o
ponto alto-da modernidade erií toda sua Cegueira.’Ce­
gueira absoluta para ps fisiocratas que não é senão par-
cta lmente compensada por Smith pela desconfiança a
, ■todo pensamento utópico. Mas o liberalismo só pode
excluir a utopia interioriZando-a (por isso, aliás; ele,per-,
'7 manfecê' fbndamehtalmênte uma utopia);-é um realismo
im aginário;
' Más <é verdádè que dç Ebiísseau "a MaPc o fen^as-
ma da sociedade transparente se apresentará cpipo uma
teMív^V W eól^ia cpnÇorrénte. A tráfisparência do mer-
cadp se opõe àtransparêhda do contrato;- mas nos^dois
cascís sê.impâie a rôsão de um Múndo imediatb^què, n o ,
finrdas contas, abole a política. Se. Smith é o putro de ■
I^òusseàu^ arribos são anti-MaquiaveL Todo o-século |9
e o século 20 hão fcéssafão de kitar, contentando-se ém
opor essas v<Iuqs' cegueiras -qúe cpnstituem a sociedàde

M
S
íí if-
-f ' 77
•■' " -I11
capítulo 2

- de mercadp e a sociedade-Estado, em todôs^os casos,' '


contia a corâpsa lucicjez d$ Maqüjavel. , '
- _ / Porissò, a solução. econômica s e impôkcohi fof-
ça^ao século, 18 à sombra dosew duplo. Mas nàç se im- *
’ pôs aiffda cqifiOÍSolu^ão econômita. É como filosofia ej
, 'sociologia que ek triunfà. ‘ 1 - ‘ i'" ' s '
■" 'A sociedade de mercado precede f eçonomía dé. ,
mercado, e nãò 'ó-inverso. A teoria ck harmonia natural
): dos inteares^es de ^mith^deve1essençialmente ser çóm- 1
preéndida sociologicamente. “A'Sociedade humana*, ps-^
creye, “é parecida com yma imensa máquina, eujos-mo^
yimentos harmoniosos & regulares produzem Uipagráh-
- de quahtidade 'de efeitos agradáveis” (ThéQrie, p. 371). '
Compreendendo-a sociedade cit/il como merca- -
do; Smith revolucionou © mundo. , J ; • i
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capítulo
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3 \ , 5 J, *V ’ i- 4'- -
o novoeomérckr J - r *■ ( - > r
> , i< ,
* vi? 1i***

o ^ / cqdiércio realizã ástrocas, eporisao mesnSó ■*&■*


\ A
àcâtíou por tornar-se o laçõ essencial entre os homens?; ' ,
escreve, em 1788,, 9 autor anônimo do pspírttò áo S^thçr'- r
N eckêHpf 25Õ), Assim, ó cbmértío é compreendido óomo<; >'r'
a forma mais bem acabada das relações ehtrç os homens,? '
A evolução, dã' fralai^ra “com êfdo” é paftkulár- v< ,
mente significativa da revolyçãc^ sociológica que acom­
panha V> naSdméritoda ideologia eeónõmica. v ^
Qqginaríamente, o cpmérdo é antes.de tudp o ne-
gÇcio, literalmente a ausêAciá de lazer {tfég-ofííim). Eti-
mologkaménte a definição da atividade coryerdal é,1por-;
tanto, essenciafinente negativa; trate-se -dp uma?atividade / ;
que não pode ser definida ppsitivameníe' No seu Vocci- -
s bulârio das Instituições Eurcpéiás, Émile Benveniste mos- ■ ,

tra cqm precisão íjue hãò se encontra em nehhuma l£n-


güa.êurbfiiéía uma expressão'própria'para qualificar de
uma maheira' específica os assuntos comerciais. Com efei­
to, na origem essas atividades não correspondem a iíie- '
, rihuma das atividades sociais tradicionais (cultivar, gover­
nar, combater, irezarpeted, Como nota Benveniste; “os as- ;
suntos comerçiafe" sé colocam fora' de-todas as profissões, ' ;
de todas as praticais, cie todpíás^técnteas; é por isso que

' •' , V H , 79
, • ‘""d* /'> —
„jjí\ W?
cspftulQ3

só se jk)dé de^jná-k^ p^lp feito. de 'testar. #aujpa8Q»fet-


" algo a fazer>' (\>. 145).'Assim, férmos extrómamente vagos-
*é'gerais -^business, qffdires - Sao empregados pafa^qualí-
flcar práticas soéiais que dão se ihscrévèàl em normas réj
conhecidas. <lsso não significa qtie as iodedackfe 'antigas,
.não tív^sem atividades econômicás. Há, aliás, todo um
■ vocabulário para qualificar as ações de ,comprar ,e vender, -
para falar de!riqueza. .Más çssas ações, só inscrevem nas-
' instituições e nos estatutos .spdaió recortheddosí- Q cò-
fnérckf nào ;é uma. atividade separada, esta “eriglobàd©*'
nas félaçõóS' sociais} para retomar á expressâd sugestiva
de Karl Poianyi. Ói desenvplvimento dõ contércio np Me-
'diterrâneo e aliás raramente, pelo menos no ihícip, feito-
•por cidadãos gregos e rojriarios. Sâp estrangeiros- e nota-
daméhte fenícios ê libertos íqúese dedicam ao tiáfico. .
: -, ,0 , renaspiniénto do cpiriéttio^naEuropâ dà Idade 1
Mé<üa se traduz lentamente pela autonomização das ati­
vidades cpiperciais. Georges E>uby mostra, bem que ps
aprovisionamentos dos centros de .corfsumo, mesmo*
^qttandp 'vinham de.pròcedêndá remota,, eratj) assegura­
dos pór um jogo ,de instituições' serijapriais que escapa-'
vam em grande parte das atividades comerciais propria­
mente ditas. Os primeiros çomerciantes ítineiqntes que
cifçulam e se deslocam cpm mercadorias sãp na maio­
ria das vezes gefrte põbre .e’ pouco considerada sáo,
marginais, pés-empoeirados comp serão chamados na
Inglaterra. Muito progressivamente o comércib passa a
ser considerado comóuma atividade social entre outras
ê, o fato de ser' comerciante reconhecido soclglmente
1 como uma condiçâp distinta.
O. movimento de autonomização dó Cpmércio,
paralelo ao cio econômico, é suficientemente conhecido
paia que valha á pena insistir •s'dbre ele áqüi.' ^ - -
/ O ípals surpreendente consiste, conv.èfeito, na
verdadeira “reviravolta” do sentido da palavfa “ comér­
cio” no conjunto dé relações sociais que se. firmam no
o novo Gòmércib ou ;ã sociedade civil como méTcáck»

século 18. DepóíS de afirmar o.seu vinfculo com uma a ti"


vidade Soci^l-autchtofha, ú palavra “comércio”' pareçe^
com efeito, íMquirirum outro,significado no $.ertsocp-
mum pafaqüaíificâr toda a1relação pacific« e equilibra-’
da entre o s honiens. O século 18 falará muitò de M oce,
comércio1* de “comércio de idéias”, de amor, dp mun­
do, dòs homens, etc. Desde o flrcfdo SécUio lfr, ^aliás,.
Montaigne empregava' pós seus Ensaios a - p r e s s ã o
“comércio'dos homens’'. ^ -• . • *’ - ^
; Assímp ftúm\ primeirO mompnto,; houve um&:.e*èei
tensão dp sentido econômico, da -palavra“comércio VA
edição'de 4694 d ó Ltíckmâríõ da Ácddemia Francesa
no(a, por exemplo, que “cpméfcio significa também
(nós que sublinhamos) comunicação «^correspondên­
cias comuns com qualquer uny seja somente1para as!§p^
ciedade, çeja também p^ra determinados assuntos”, jiao
sé trata, porta.nto, de um térmo genérico que é progres­
sivamente económicizado, mas sim o ínverso.')Evolq$a®^
significqtivadessa mutação dp murtdo -moderno no qual.
não é mais 6 econômico qué é eriglobâdo pelo social,
mas, O'-contrário, é o social que está. englobado pelo
econômico. A interiorização dessa evolução é de tal or­
dem" que a origem éconômioá da palavra 'íom érdo”
: será, aos poucos, praticamente ocultada. No artigG*“eo-
mérçiò” da Enciclopédia (1753), Veron de Forbohnais
escreve:1“Enténde-se por essa palavra, no sentido geral,
uma comunicação recíproca. Aplica-se mais particular­
mente à comunicação que os homens fazem entre si dòs
produtos da sua tefra e da sua indústria’! A comunica­
ção entre os homens foi a tal póntò compreendida a
partir do modéio econômico qüe a troca propriamente
econômica acaba pòr1ser concebida comò um ramo par- '■
ticülar de um tipo de economia geral dasJreláÇões So­
ciais, portanto, não há forçosamente contradição entre o
fat.ó de reconhecer o limiteJda ésfeía econômica de pro­
dução e de eonSumo e o fato de compreender de um
.n
»ftutoS

jiiiodo econ^míco a íípcíedíitie cotnoti.Àí tedo. A ideolo­


gia econômífca nâô se âéguiü à sociè<^de mercantil, ma?
a.jprec^deu. Cooib ajnrfakir jjarte ko$ ieeqpbmista? iç des i,
filósofos da súâ^éppca, Adám Sffiith riàotiftija euj abso- •/
luto pressentido\a revolução industriar Pof isso, sua
obra é.profundameftte arifecípadora' pias nâo profética.
<C-<.. vr... v-..> , V • » ^ , J Á 'U „ •' , <*.' , ' v, \r
a e ¥ o l t í g ã 0 j d o ;^ n c e i t o d ç s o é i è d a d e
,d ^ d e 'i ^ c k e a ^ t j > ’^ ^ " í;
r r? v " *
Sabe-Se que para john.Loçke, sociedáde civil e
sociedade política são dois termos intefcamhiáveis. As­
sim, *o capítulo áo tSegUndo Tratddq sobre o Gover­
no Civil intitulava-se; “Da sociedade política ou civil".
Cpm èfeitoi o |ibjBlema ^ha^e j<£e Locltp è cOHípreender '
corno os horhérispodem formar uma sociedade, saindo
do estado de. natureza^e tendo sòménte como base a
rejBigaçao d o s$eu s direitos naturais. Suâ atarefa drá,,
òómo forã^a dé Hobbes,’:pensar laicamerite a política. Na
' oposição entre o estado de natureza e sociedade civil/a
política se autonomiza e se e n ^ cip a ^da religião. Essa
posição será a de todos os jurisconsultos do século 17,
comq já mostramos^ -E continuará sendo âftiphtnente
.partilhada no século 18. O artigo “sociedade civil" da
fyíçtçlQÇédüt, redigido ^por :Diderót, é pártifcularmentè
.significativo deste ponto de vista. Faz grandes empréstí-
« rrtós de PUfendorf e de Lqcke eliada inova em relação
a estes autores. Esse artigò aparece, ao contrário, como .
uma sirriples condensação das, idéias geralmérttê,,âdrriiti-
das pelo? filósofos, da época. “Sociedade cMl’*, escreve
Diderot, “significa o corpo político que ós homèns de
uma mesma nação, de um mesmo Estado, dé Q.ma mes­
ma cidade ou de outío lugar, formam em ^pnjtiri]|;o, e bs ,
laços políticóS que os prçndèm uns apsou&osj é ò 'co-
mérçió ciVil do mundo, as ligações que ps híSjnens tfem
o novo com éício ou Asóciedade dyil coi«p í)(ierçado ,
r' , ‘ \ >, V ^
em, conjunto,' como sujeitos às mesmas lèis' e partieipáh- ]
tes db&direitds e privilégios
què compõèm festa mesma sociedade”;J 0 Conceito de ,
sociedadpçivihpermahece^assim um cqnceito-esseneial-
meoté polteco eJílospfíco. Recòbre tfês prinfeíptós in ters'
depfehdentésr ^ ' * Ü* '.'" V A ' "V*
—Reconhecimentoda igualdade naturalevfàe. os ”
hotqens. Sopre a >ase d esig u ald ad e natural, os hp^ <
mens podem instituir á, sociedade ío> Seunirerii?ÍEsta
igualdade é , portanto, uma igualdade de dkeitos ê de
devetes,e não.úma igualdade de condiçõeS-Xcí p artigo
de Jaucourt na £ncíeiopéãia), „ ' • ' -
s í- - ÀfirínaÇâp do p rin cíp io âeau tfy instituição da
sociedade. Instituindo jl ’sociedade civil, òs; homens re<r
nunciaram ao seu/estàdo de natureza para sé ^b m éter
a^úm Soberano civil proveniente do pacto comum. Ó-
princípio sje opõe,, portanto, a toda concepção religiosa
da ordem sociaL ... ! - y i: ,*
- Distinção entre a moral privada e a.política. A
sociedade temaím fim próprio, o bem púplico, que é dé;'
ordem política. Por isso, “a saúde das almãs hàò é ném ,
a causanpmq f&n das sociedades cÍvis” |Díderot)>v /'
Rousseau retomará essa concepção' nas suas ’
grahcjes linhas, propondo uimà nova concepção do con­
trato social. Mas dará um sentido dinâmico à socie­
dade eivi). isíão a concebç sèrtriente còriio umã .condiçãp
da emancipação, humana Concebe-a como lugar do dé-'
senvolviméntQ das faculdades humanas. Para Rqusseau,
a^òéiedadfe civil tem iiteralmente como objet^b réfeõns- ’
truir o homem, criar um homem novo. Èsçfeve numa
céld^e^passagem do ousa,,
assupitr a tarefa de institúif um povo deyè se sentir ca-
‘ paz de mudar, por assim dizer, a natureza humana; de
Ntran^foripar cada iddivídyo, que por si mesmp é uirt /
todo perfeitp e solitário, em parte de um todo maior do ,
qual este indivíduo recebe dóâlgum modo sua vida e o
r' * *I f ,, t - / „
I ur - M. // t r /n ^ ^
^ ..KV,, \ A / , • .(-"‘ Sr capítula3-

Nseu Sérrde áikeràf a éonstimiçãodo homem, fdrfelecen-


>'(;:d<3ra;,:,de;'íéufci ‘
que reeébemos <
;e moral” ÇHvxe II, cit^Vïf, p. 3S^h Bsíépofito 4|e vista d n * .
nàmicp traduz. uma/subyersgP ptàrimda do^ significado , ■
de sociedade Civil. Ela-n&o é mais' cémente utnaméces- 1’-
sldade para $air dq estado de guerra natural, comp para
Hobbes, où 'para preservar a propriedade^ conto para. '
ICÁcké. Te«) por. fiât principal constitifr utn futuro e riâq

(estadb.de natureZa/socledade ciyil),, mas. nadefioiçào


dév uma tarefe hi^tórW / Kant traduzirá perféitamente
'essa,, mudaiíça . ao subsqttíir’ Ídupíp bsíadd de' naturèr -
za/speiedade .civil pelo-duplp natureza/çultura. Nptará
‘em süa Crítica da Faculdade d ê Julgar., “ft única còhdi-
' çàp formal para que a natutózaj^ossã alcançar o seu'fim-
último reside na constituição da-relação dos Homens en-
tré si; áo prejuízo que causa àliberdade em conflitò^sfe
opõe um poderlegal numa totalidade que se-ehamà s o -,
eiedade dvilf com' efeito, unicamente nesta última' se
ppdèfá èfetüar um màidr desenvõhHme^o1d a s /d ls ^ ly »'
£ões naturais* (§£3, p. 42). Mas, desse modo. Kánt cpn- / ?
tinú a ;a pensar á bürgerlichê Gesdlschqft no ^nipó po-*.
lítico, mesmo que a àpfeenda dé modo dinâmico e não i
'mais estático/' ' . ’
Ada'm Smith ser^ o primeiro>muitp antós dé He­
gel, a compreender economicamente ’a Sociedade civil. .
Dèvé-Se nòfár, entretanto, que ele, jamais, emprega a ter­
mo “sociedade civil”.em A Riqueza dc^ JVaçêes.i Faja ge- .
nericamente de Sociedade, nada mais. Este problema de
vocabulário não deve nos deter. Para Spatth^com efeito,
a noção de sociedade civil está definitiVamehte adquiri-'
da como . pára. toda a filosdfia inglesa descfe tqüâse há
uip século, É preciso, portanto, ler socled^cl© civil onde
escreve sociedade. Mas raramente empregai esse termo.
o novo comércio ou a sociedade civil como mercado <
tv ' j « r ' - i ^ / j ~ u ’ r
Em compensação, feia sem cessar da nagãò-, a nação è
a feociçdade d vit' são duas realidades idêníícaà para .
Smith, Cohfudò, pode-se pêrguntar: 4 que, jüstifica; para
ele,' este dè&viò em relação à iínguágerft dominante? 'A, •
resposta ^Simples; Stnith sp^etve do' terpio,naçàp’pata -
passar de um senado jurídico-política. da sociedade e,ivi|
para um sentido econômico' Para evitar equívocos fãláf
fessiirí de nação, éendo O sentido de $odedade cfvíf ftiui/
to preciáb no‘espírito dos seus contemporâneos. Ô'tej-
mb ■ ‘nação” é^iao ccmtrádç^,ainda muito vago nb sécur .
lo 18; é, além do mais, uma palavra relativamente pou-> ‘
oo usada. Permanete1próximo do sèu sentfdò etimoló­
gico ihdscere). O artigo que Diderot consagra â elç^na 4
Enciclopédia é signTfiçativámente muito breve:-“Palavra
. coletiva usada para exprimir uma quantidade considera-- i
vel de gente que habita ümã certa extensão do pafe eh- r
cerrada dentro de certoS limites, e que obedece ao mes-
mo goVçrno”. d;ala-se í'maiS comumente- de Estado que / -
de nação no século 18; a idéia de nação se desvencilha'
ainda m al da 'idéia de Estado*. ^Uás, a palavra “nacíonál” ;
nem m é s m Ó - na ■- - ,f y 4 ’
" A minha hipótesé e a de que Adam Smith prefe- -
riu se servir de um termo pouco utilizado, de definição
ainda vaga.j que empregar- ò termo ‘'sociedade civil?, ,
■^ÒjpfâdckM^if® .•pyeéiso,
t Assim, ;à sociedade; civil jurídlco-pblítiéa, Smith-
opõe a nação econômica. Para ele, a riqueza constitui a
nação. Compreende a nação como espaço do livre co -:
mércio circunscrito pela extensâo da divisão do trabalho .
e movido pelo sistema sócio-èconômíco das necessida­
des. Para Smith, com efeito, o vínculo econômico liga -os
. homens como produtofes de, mercadorias para ô merca­
do, considerado como o verdadeiro cimento da socieda­
de. A sociedade existe porquê cada um diz-, ‘^ai-méAa
que necessito, e terás o que necessitas” (Richesse, livre I,
ch ,® ..P ãra Smith, a distinçàa cHavesnào é mais entre a
u '‘ • , . **,*"'' 1 ' ' - t Capítxdo3
íf (_{ \* > [ í / \ ^ ^ W" l-v «*<>1. th«.*. vifc*«-
' ■:, '/■- .;*■>. Z"-•! . ,■■■■{.■■■ •
!■
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•~'. ■u>7 ; •íç.\;.!b
’ ' " ’ ■' ^ ' v ^ ' ' L f‘ h
sociedade civil e q estado de 'jiatufeza> mas entíe a s(>
ciedade é.o, gcíverho, ou aindâOntre £~nÍç&ò -é o Esta­
d a Toda A Riqiiezçi dai Mações atesta, estia distinção.'
/Vê-se issjm que 0 conceito Wgeliáqo, de sociedade ci­
vil, çpm ó Sistema. das neçessidadesapenas retoma- o '
concèito de nação de SnSíth. ,E o etdprego deste termo
por Smididietre ^rçotnjpreêndidfc» cam oum ã StmpJífícà-
,çâô - de fingpagem destinada a evitar eqníyqços, Mas,'
iparanós, é passível fer a Riqueza substiWindd o terfnb'
“nação” por “sociedade civii”. Pode-se notar, aliás; para
ser historicamente preciso, que os" fisiocratas já'haviam
cOnteÇado a utilizad o tertno ^naçãd*’, lígãndò-o, a prò-
bieiqa^ econômicos. Quesrtay fala de “consufho nacio­
nal” e de “comerciantes^ nacionais”; lylercier de la Riviè-
ré evoca os “agentes nacionais” do comércio na- Ordêrh
Natural e Essencial daS Sóçièddde Poidieas. StrúxYi estz-
va, portanto, mais que justificado áo empregar cr.termo
“nação”. Ütilizânâo o termo “sociedade çivil”, teria pro­
vocado a surpresa que sente p leitor de hoje, para quem
ã palavra “nação” tem um sign(ficado esstenCiatmente ■
, político.1, ' . >■- 1
Passando fie um-sentido jurídico-político para
um sentido econômico, â noção de sociedade civil/pa-
çãò torna-se igualmente dinâmica para Smithí a socie­
dade se constrói coiq b desenvolvimento da divisão
do trabalho,, tornando-se cada vez mais interdepen­
dente. A razãq desse desenvolvimento é que a socie­
dade passa a ser compreendida como uma soçiedade
de mercado. ,-; ,

a sociedade de mercado .<


generalizado , -\
*-M .i *jrt t.v
Como já tínhamos sublinhado^ o copcqlto de mer­
cado muda de significado com Adam SmJth- Não é mais
- - - ->? '.v Sb**; . >•>;. -- ■
o novo comérdõou a sociedade civil còmo mercaáo <i'

simplesmente um lugar particular e loeaIÍzado:de trocas:


é toda a sociedade, queconstitui o, mercado. Não é so­
mente um modo db alocação de rqçursós pór meio de
uma Jivre determinação do sistema dfe preços: é um.fhe-
cgnismo de organização sócxál mafs que um meéanismiQ
dç rçgulaçâp econômica. , /
Para SmitH, o ' naèrcàdo é ^ym cônceitb político- e
sodOlógiço, e é apepas como tal .que tem úma dimen-
sãoveconômíca. Com efeito’ conCebe as relações.entre
os homens como relações entre mercadoras, definindo-
a naçao com o sistema das nécessidadés. Parece-nos nfe-
cçssário insistir sobre este ponto. Smith nàó faz a apo­
logia do capitalisnfio nascente, nào dissimula as relações
entre os indivíduos por detrás das relações êntre as meo
: cadorias, não réduz a vida social às atividades econômiÇ
cas: pensà à economia como fundamento da sociedade1
t é p m^ifcádb como operadpr da vida social. Por issp"
mçsmo, não é üm economista como os' oütrbs, sõ é eoò-
nomi^ta na medida ém que v| np Sistema das necessi­
dades a verdade prática da filosofia, da política e da his--
tõria. ^ o se in­
titulou, cqmo táhtos outros, Tratoú?o de Economia Polí­
tica, mas Inve%igaçôe$)sobrè à Naiutiezae;as -Caystp da
Riqwezifãa?{tiaío&. ■> ,!' - v . ;>,w .
"' É duplamente revolucionário, Substitutiído - a
noção de contrato pela de mercado e compreenden­
do a sociedade economicamente e nâò m ais'politica­
mente. .Assim, Adám Smith completa, de um modo
particular, o movimento da modernidade. Dá $éu sem
tido mais radical, à distinção clássicá de Tõnníés entré
comunidade p spciedáde, t répfesentando impllcitar
mente esta ültim^ com o uma “companhia por ações”.
Com efeito, sobre o terreno econômico Smith desen­
volve a aritmética das paixões familiar à sua época;
aliás, sem distinguir paijxõesde intçressesj :epmo já
sublinhamos. * - , ' : - "V
f , CapítlllO 3

Mas sua çoncepçãó dos mecanismos do mercado


nãó é simplesmente ;ecónqmica, é iguálmente sociológica.
Podçiií^se ctar diversos exemplos disto. Para Srftith, a lei db-
valorç a mecânica da igualização das taxas de, lucro tfegu-
- lam á alocação ótima' dps recursos, de tal sorte que “psiri-
teressés.privados e âs paixées dos indivíduos os levaíh na-
^tujalmente a dirigir seus capitais para os empregos fcjue,-
nas drcunstâricias çomuns, são os mais vantájosos.à-soçie»
dade” (Rlçhesse, t livrè IV* çh.'cynt'p. 265), 'Mas não vê,
. nessã ^rtião if>visrvel” um reáuáfKfo-piWln^nte econômííjo.
Sua 'crítica â ^ monf^polios como eptrkves aodxtth fühcio
>namento dp metçaçloépailJOTlarmente signifkativzíneste
,âspecto. S^jram ente, os combate désdè; estepont» de
i vista., mostrando'que désordénam à distribuição naturàl do
capital da sociedade e que, assim reduzem á-tiqueza nacio­
nal. Maá não faz esse .raciocínio em abstrato. Sublinha ais
conseqüências'sociais desse estado de coisas. Seu capítulo
“As Colônias” (livro IV, capi VII) abunda em observaçõés
neste sentido; mostra aí, reeprrentementej que o mqnopó- ■
lio tem iguálmente como efeito violar a)gualdade.soçial,;
; “Paia favorecer os pequenos interesses dê uma pequei»
ciasse de hqhrei^í'num! úmçojpafe, ele (o monopólio) Íèiíê
os interesses de todas as outras classes desse país, e ôs de
iodos os homéns èm todos os outros países” (t' II, pi. 241).
- #aj|(^ .Smíth.çoq5^ ^irçito, Igqaly
dade natiiral, como igualdade dos diré^d^ph&priedaãB^
Funda suá Sódologja numa teoria dos direitos de-proprie­
dade. A influência de Ixjtke ê visivelmente muitçifoáe des-
,se ponto: nêól cóncebe .os direitos de propriedade como
simples relações entreos homens e a s coisas rèas- còmo
relações codificadas èn fe os hopiçns qu^ «e réferêm âo
_ uso das coisas.1 Paira Siriith, o ser do homem e seu poder

•••;•-1; Aí se encontra ajorjgém de toda a (éofla'^'escOlà contem­


porânea de Chicago sobre os direitosde prcpíl^dade. Cf. Si-,
' mon e Tézenas du Monteei. “Revue de la théoíie des droíts„de
propriété”. Revue Économ lque, n. 3, mal 4977.
o novo comercip ou a sociedade eivil como mercado

se identificam còm a sua propriedade. O homerní só é IF


vre como proprietário. A áçâo do mdnopplicKSe identifica,
portanto, com a do despotismo: combate á-primeira corri
o mesmo vigor que ás Luzes combatem o :segurido. Com-
, preende, por assim dizer,' os'monopólios corftb continua­
ção do despotismo e dos privilégios por outros meios. For
issõ, a seu ver, o mercado é “o acordo admirável do irite-
resse e da (justiça”? é o artesãp.do interesse comuna 0*0
substituto dicaz e silenciosó dà vpJáade géral dòcicl^dãci
de Genebiri. Certàrnente Smith não confunde ds interesses
v dosj comerciantes,, e i n d u s t r i a i s çojn.Qsda nação; hão
se omite, 'em oóaçiâo algum^, .-.em. deriünciar' o divórcio
quando existe. Falando dos tkatádóS de comércio, que con-
eèdein. direítps prçfeíerieiais, riòta^ por exemplo: esteis
;>í abà mercadores e majhufa-*'
turapõreS dopais faitoiècido, são necessariamente desvan­
tajosos aos habitantes do paísqúé permite íessie favor* (W*.-
cBesse, t. II, livre IV, çh. IV, p. 150). - 'i • V * J
Não é éxagerado ver rio “monopólio” um tipó de
encarnação dó mal. Nele se acha a fonte de todos
males da sociedade e é para a sociedade econômica o
que o despotismo é para a sociedade política. >v
. Essa denúncia político-econômica do monopólio
Se énçpritra iguaiimente na sua crítica às corporações
aos estatutos de aprendizagem. Falando do célebre “é S ';
tafuto dos aprendizes”, Smith critica as medidas que
“restringem a concorrênda a um menor número de pes­
soas do que haveria sem esses entraves, que têm a mes-
' ipá jténdêpcia dè um monopólio, se bem que ríumj-nè^
nor grau” (Richçssè, t,I, livre I; ch. Vli,í p. 81). Para ele,
as corporações desempenham no plano social, o mesmo
papel que os direitos e os contingenciamentos de im­
portação no comércio. São, no sentido próprio do te r-;
mo, um obstáculo à sociedade de mercado. Este parale-^
ío que Smith traça nos mostra «laramente què o merca­
do é para efe.um conceito tão sociológico como econô-
' ' \ 't
)
- . éapftulmp

miGG;fSQdeda<le iq e ica ^ W é 'é c o n < ^ ^ ^ ! ,^ a s { ç M o íbr-iV


ruaín uma fónica -e, mesma realidade, Ssjiui «xplicita,
aliás/ mais uma vez, a propósito das corporações, sua
teoria ^unpUada dos direitos de.propriedadi^,"A mais sa*
grada e ffl^iá inviolável de todas às propriedades”,>es- <
crgVe, “é a dmprõpria indústria de cada uço, porque é a
fonte originária de todas as putras propriedades. O pa-
tdpiômo dò pobJ-e está na força e ná habilicíadedassuas
: mãos^ impedi-lo de eriiprêgar éssá toíçà e habííidadeda>
maneira que julgue maíjs conveniente, desde que náo
cause prejuízo a ’ninguém, é uma violação manifesta
dessa pròpfiedade primitiva. É uma usurpação escándar 1
losa d? liberdade légítima, tanto dó trabalhador quaqto
dos que estariam dispostos a lhe dar trabalho” iRiches-
se, x I, livre I, <th iK, p>. JóO). :Por, issd, Smitp se pporá; .
ocom vigor a todas as íeis(do domicílio (açt ç f settfemeni) ,
que constituíam üm obstáculo à mobilidade do trabalho.
Nessas demonstrações torna-se difícil dissociar a .defesa
da liberdade dó trabalho do poríto de vista do^ direitos -
do homem' e do ponto de vistla economSco. Ofe doísia^:-.^;
pectos aparecem constantemente ligados para ele. É iúa!
denúncia dos entraves ao funcionamento, do mercado
de trabalhò não é unilateral. Denlmc^a ígualmente as
çóa{izões'dq^ émprègadorès: “Os senhores fazem em to­
dos, os tempos e Ipgarês ttiiia espécie de acordo tácito,
maç constarite e uniforme, p^ra não aumentar' os 'salá­
rios áci/xia da taxa atual Ç,p.>Jamais se~púveifi$iar'desse
acordo porque é o estado habitual"(/?/obesse, t. I, livre I,
jch, VII, p. 87). ,
'^JHu^láigenteúSinitb mpstra a spperiòrldade, do ‘
trabalho livre; Mas seu argumento cohtrásta nesse pon­
to com os da maior parte-dos filósofos da sua época. As
Luzçs condenam a escravidão em nome ;dDS'direitos do
homem. Parà Jaucourt, por exemplo, a( escrayidão é a
“Vergonha da humanidade”, sendo contrária, â^lberdade
do homem eaossèü s dírêitos"'natuhiis. %nith.mostra an-

■•V
$0.
V, i:
'V.r- '.
1-.•*^ ■■
o novo comércio, ou a sociedade civil como mejgado

Y - 'Y - .\ ‘ -Y , ' Y n/ -
tés dfe; tucfc) quê “p trabalho feito ppr mãosdivíte sáj ínais.
.em contá-que o.feito gor escravos’’-Gbid,- p. L12>..As-
-^sUi^';OK'ineioaéõr4|i4f^«fe. c^m oo abordo enke.a‘liberda-’
de e a justiça., - ‘ . • y ,
, •• Essa representação d a sociedade, como pfercado
não & Simplesiiíetrte estática, é . dinâtftica. Ò mercado
qàp estitjtura someote a sociedade, ~é também o m eipe
0 fim.dójseu desenvoivjmento.. Smith^pótifc assim, cón-
cçbê-lo na medida em que pensa a troca vantajosapapt
,@s dois,parceiros, ou seja, não a concebe mais co p o um ,
resultado de soma ?éro, ura.1tjpo de equijftrtio pu det
compromisso., Inverte, com qjgfto, a. concepção tradido-1
; nálida rélâção.entre a trpca e ;a .divisão do trabalho-: .Aô
' contrário de Mandeville, considera a divisãofdo trabãQio *
como umâ cpnsequêhcia ç não com oum a pausa da tro-
cá..E a famosa tendência á'com erdaí, a Fazer trocas que,,
a Seu. Ver, prodpz a divisão çlo trabalhos Essa itese rçvpí-
lucionária esta nO coração da sptiotógia dê Sfnkh, exfròY.
'inindo sua ponta mais avançada. Expliquemos anplhor..
Se a^tfoça é considerada como unia conseqüêneia dadP
visag do trabalho, o pènsainento pérmaneçe-muito prfe-
7ximo do. da sociedade de ordens medieval. A sociedade
é concebida como um organismo glqbal no interior dò
.qual os papéis e as funções estão previamente reparti­
dos; a divisão do trabalho é de certo modo um dado de
base dá representação social. O corpo social da Idade
Média é mantidp ppf víih sistema dg obrigações mútuas
e de trocas de serviços que .defíváfii. ^;<#visãá;ftlfii^ó-
nal^;sbciedççte'. A afirmação do indivíduo e da teoria
, éã autó-in§titííição do social sobre a báse da realiêaçap
dos direitos naturais n|o subvertia, radipaiméntg essaTfe-
i presentáção; destruía o fundamento, mas não colocava
verdádeiraínente em causa o fuftciortamelito.
Pensando a divisão do trabalho como consequên­
cia cja. troca, Adam £mith conclui a secuiarlzação do
mündo. Somente neste quadro, com efeito', pode-se
t 1/,!&£*.

capítulo 3

%
, ' f< \ 1 V
-penSar a autoconstrução^e nSo mais unicamente a auto*
institqiçíodQ munda. Se*o divisão d à tatfatho* précédé '
ra mudança, ^jpreSdmanto da-^ddjedadç está,limitado
pela' figidçz spçial que implica* N ^sé sentido/ a tro ca/
*sdb a forma de*mei^<tot constnH a socáeíiíide. Têm;.n<* '
limite, por fim construir unjtá sociedade èm qqe eaçja um
' estaria/qip tódòsí e tódoS estariam em cadáfüirt, Àssim,
Smith, fala/ongaménte, tnos primeiros capítulos da í{i-
quezfyy da* ?abupc(ânt:ía uhiversal" que a divisão do! tra- J
bglho cria. Mas seu'ponto de víçta é mais' amplo que o
dos seus predeeessorés/MandevUíe e Fèrgíison tinham
desenvolvido lopgamçnte.^sse tema, mpstraqdo^a quq '
ponto a .divisãdd» trabalho pehnitia eáimentíaf a'prôdu-
tivjdade vMas falavam lucidamente ,deía jfo ponto de, vis-
ta. do manufaturador que organiza a divis^d do t|abã-
Iho parà diminuir seus custos e aumentar, seus ganhos.
CpncèbiaftMjài'portanto, cò m o ^ n 0M id c0 partit; de; um t
centro de decisão regulador do trabalho. e da produção.,
■Esta concepção acha-se lòngamênte explicitada ,em A
Fáhuly das Abelhas. Mandeville 'desenvolve aí notada-
;-./•
< mente:
> ' ■ ■-*toda
v ,v.uma
«j-V teòrià da :divisko,
o.-. . •■'■:'•:do
•:■ trábalhòí
-v '• p;* comoj- ■
KLmeitt dé aumèiitar o controle social sobre os funcioná­
rios na administração, dos négocias dq Estado: Mostra
como a divisão do trabalho permite que os negócios
mais importantes/eps mais complicados sejam conduzi-
, dos por homtíns comuns. “É assim?’, esçrevp, ‘‘que. se'
1 pode manter.uma regularidade e uma õrdem sürpreen-
, dentes numa grande administração, e.em cada uma das .
suas partçs; ao mesmo tempo que sua economia inteira
parece extremamente complexa e imbricada, não so-'
mentei aos estranhos, mas"tamfc>ém paramMãlót'parte
dos empregados que , áí trabalham” (6e !xKàIogtiéV éd.
Kaye, t. H, p. .326). Para Mandeville,*a divisão dO'traba­
lho se, desènvolvea partir.de um, centre^ únpíièa^qm
grande organizador que divide ãS ítarefas dfe tal modo
que é o úhico que pode controlar o conjunto, do 'procesr-

9 2 '*
o novo comércio ott-a sociedãde civ# corno ynercado
A^
I..»aoTV.-I\
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'’. f’ • * ' ’ •j•
> A
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V v ‘ ^i * \4 , ^ ^
so. Ò plano dâ a^minisfráçào,deite, pÓrtanÍQ, áervirô^fei %
seu gpnsedho quê “devem ter os olhos sobre tudo jer
h^o^irigrr’"'(ib «is p. 3^7).2i.' \ -■
- Nada »mais disso se acha em Smith. Ê o quê ex- *
pli£a claráhtefttenasprím eiraíf páginas de, A RiqiXçza <
dw^Nqçôçs. '“A" divisão do trabalho"; pota, “pâp/devfe ^
ser considerada na'sua origem coibo êfeito de umt£ sa­
bedoria htímana que fivesse previsto e que tivésse p o r, <
fim a opulência gçraj que dela resulta; é, a consequên- ^
cia necessária, embora lenta e gradual ,d e uma ce rta '
tendência natural, d e ’todos os hom enscjue nãptêrn
çm vista'utilidade tão ampla;,é a tendência q u eosleva
a fraftcar,'a fazér trocas''evcâmbios de unta coisa por , "
*outra”; (t.I, livre I;. ch; II, p. 185. Smith ínvefte \assi^aja;
relação tradicional entre troça e divisão do trabalho '
Mas, o mais importante é que;para .ele a çliviçãojjfo'’,
trabalho se eleva ao nível de um verdadeiro conCéito
filosófico <é essa, aliás, a razão pèla quál aefá ip ca p a ^
de prestar contas teoricamente dos efeitos praticamen- '
- te negativos des^a divisão do tràbálho levada ao extre-
mo). No quadro do mercado - pois a divisão doutra1'
balho está limitadà peta extensão do mercado, dia '
traduz a interdependência crescente entre os homens.
A divisão doi trabalho é, nesse sentido, para.Smith, um
verdad^irq trqnsftírm adqr sQçielógicói e por tnéio delá
<Jue á troc| produz uma verdadeira spbializaçàq. Éle
se" maravilha que, “sem á ajuda e o concurso •dè mi- .
Ihares <^e ^esèóàs^ó menor pártíçulaf, num país civili-
zado, não poderia ser vestido e provido” (Richesse, t.
I, livre I, p. 18). A divisão dò trabalho não é sim ples-1-
. Atente uma economia de tempo e de trabalho. Cons-
' : -: .■J5, ■‘ •• ■ , . ^ 1í■ , * • . ,-,-r ■
' '_At •V

2, Sobre ess^ ponto a análise de Marx, qyg oJhavia lido, pàr ^


rece àrpreendentemçnte próxima, rna.s sè desenvolvendo no
terreno da organização da pfadwçào. - ' .
, capftuÍQiS

, > < ,x ? ■> 1W íj .


trót ásodédade até a$üa Ônafldadè dltMa:
.teia íealizada p ^a deptndêns^a generalizada. Reen-
edptra-áe eptão a figura íousseàúóiafia d e uma vorita- '
\çte gêfâl que riãb seria -mais dissoei^el da lihçrcladé
, dfeí-,capta ém ., Yê-sp aí também a qúe ppntçjfgs “^g^u?
çôes" de Snüth e TtottsSeaU podem Ser iidàsaô mésirio'
riísjef, t^essfs dòis,càst>s, a liberdade se-tfçsehvoiviç ria'
interiorizaçãò pta dependência. O imercgáo é o aveèso
■e ’o &métrico- síleftdoàb áo eöritratöi ’' " ^ s . >
’ , 1 Se Rôusseau p e n sã a dempcracia cojnp p enig­
ma resolvido dq todas as constituições, Smith pensa o ~
mercado com o a fornia erifirn enêontrada da) realiza?
Çlp da,filosofias da história.^Nada mais re$taráa Marx-'
'què tiVar daLá iduplâ cohclüsào na fígurá bqica. dà-
.transparência dOfcomunismo. Smith se contentará em
escrever a filosofia da sociedade dè mercado, estiman-
liçlo' qpe, co te a disíisão do'trabáího, ?cadá' fiomem sub­
siste pelas trocas, ou tom a-se uma espécie de merca-
’ dog e a soídedade épropríám ente umá sociedade co­
merciante” (Rfchesse, t. I, livre I,* ch.iV, p, 28). i

a sociologia ^o mundo novo


* A represèntaçãoeconôm icàdá socíedadeitepli-
ca uma profunda subversão sociqlógica. Os diferentes
,estados'tradicionais (nobreza, burguesia, clero, etc.)
nãp êprfespondem mais à nova visão que a fpciedade
tem de si mesma. A assunção da riquezà convida a
peflsaf a organização <social com noèãs";. categorias.
Para Quesnay e os fisiocratas, a naçãp é, por exemplo,
reduzida* a três novas classes de cidádljos^ a classe
' produtiva, a classe dos proprietários é íjfic^ssfe eStéril.
A classe produtiva é_ composta de agrícultôres, arren­
datários e trabalhadores do campo. A ^ s s e ‘rfóís pro­
prietários compreende o soberano, os proprietários de
o novo comércio ou a sociedade civil como mçrcado

1 i „ ""o * ^ ^ ^
terras^ ps, que spben^ficiàíp do dízimo.’ A- classe es­
téril é formada pelçs artesãos, manufaturadores, mer­
cadores e ipais geralmente por todos os cidátíãos o cii-
padòs em trapalhos qüe nâò sejam os da agricultura.'
O. mesmo procedimento enéonpa-se em Sfnith: *sàç>
também as. categorias- econômicas que. definem as
classea sociais. Mas, para ele, a agricultura não é-a
única fbnté da riqueza. Sabg-sç que ele diyide ojpro-
díBto anual da nação em írés partes: a fend a da térra,
os lucros do capital é os salários do trabàlho. Esse
'produto' constitui assim » rendimento de ítrêsdjferen-,-
tes classes: ossque vivem de rendas, og quevivem dê/
salápose os que vivem de lucros. Portanto; são òs di­
ferentes tipos de rendimentos que definem as claáses
sociais. “Essas très grahdes classes”, escreve, “sa p a s
classes primitivas e cpostituintês de toda sociedade ci­
vilizada, de cujo rendimento qualquer outra classe tira
enfim seu -rendimento” (Rlchesse, t. I, tivre f,c h . XIVp.
321). Estabelece^ além, disso, uma certa pierarquiaen-
trè essas três classes sociaisT Estima, com, èfeito, que
os interesses^^dà 'prímeim classe (rérída) fe da segvmdá-s
ciasse ê^aJMçd èstreitán^rite'^ a d ò s ifo interes-.
se1geral da sociedade, ao passo que o interesse da.ter*
ceira classe (lucfo) “nãd tem am esm a ligação què ás
duas outraS com o interesse gerar^.4 i
Essa é uma ruptúra'pàdícal com a visão tradido-
nal de u*úa sociedade de ordens, na qual q& papéis es­
tão definitivamentè distribuídos. £©m .êfeitp, dar um-
fundamento ecoriômic» à sociologia, implica pensar a

.|"„ 3. Sabe-se quç para os fisiocratas, 0 sobèrapo é Considerado


; como co-proprieiário de todas as terras do reino. É isso que
justifica O fato de que ele pode elevar o iniposto. , v ,
4,Encontrá-se aí a suspeita geral de Smith em relação aos
; mercadores: -desconfiança que estava em grande parte igual­
mente .já'na base das regulamentações mereaptis (çf. VWER,,
SÍudies in the thèory o f internacional & atie).‘
y/.
capítulo 3

sódedâde Cotnb'rwdbsTEm relà^ão s,à socibiogiá dosJ fb


sipcr^tas, Smith introduziu três modificações què eçtão
prepheSfdl consequências,-'' i- Y-> 4 , ; '
„ ' 1, Rejeita a prit|êfpk» ^ ariáiíse deles sobijé âs -fori^
. tes da ríqüezay para ele, a terra é umk fonte de riqüeza
entré as'outras Este ponto- é.bastâríte Cohhecido para-
que.tenhaihc^ d^jiçssçqvolvê-lp. „ r-
1 '2/Smíth elabora em 'sêgúidapjrn típb de soeiolo-

mertto do consumb “Ó cbnsumo”, eáctçve/ “é o único


* objetivo^ o único termo de toda a produção, p nurfca se
dêv;eriá'j^§tah.dt^Çâp^no intqpeÁse do pTOd^tór. sehãb
na medida -necessária para favorèter o interessie do con­
sumidor” (Richesse, t. II,/ livré IV, ch.-VIII, p. 307). Essa
concepção doconsum o i^O/enuricia. sòmenté" Um trufs-
mo econômico. Smith lhe dá uma vçrdadeira dimensão
social e política. Gqrn efèito'.os produtores representam
intéressé f>áciiculares, enquanto bs eonsumidoresencarr
.riam o interesse gerai. £ por qué a riqüeza é'o motor da
socièdade e o consumo, 0 objetivo da riqueza, qqe a so­
ciedade econôrpicá é o lugar dâ realizarão do interesse
.geral, Toda sua erítiêa ao mercantSismo, que. ê igualmem
■tp uma crítica ao despotismo, se furida nesse popto. Se
á riqueza éurrt instrumento do, podef político, é neces­
sariamente obtida no momento mesmò da ,sua produção
e não-serve, portanto; ao interesse geraL >, ,
O consumidor é o cidadão da socieçlade de mer­
cado: os direitos superiores dos consumjidoibs são para
, Smith b que-a vontade geral é para Rousséàu. Ò mer-
cántillsmo supunha implicitamente trpcaá dimitadas à
nobreza e à burguesia; na sociedade., de mercado b o
conjunto' da nação que está envolvido pélaç trocas que
a constróem. * . ^ J -, ,, '
3- Smith retoma a distinção produdto/improduti-
"vo dos fisioçratas. Mas lhe dá urn senútlp ppvôi Nãb a
o novo Comércio ou a sociedade civil como mercado
- - s ' ) , /"■ l /
ií u f rtiais nô intéfcipr da, esfera da riíjufza, masáazidela
'a linha de separação entre 6 Estado e a sociedade civil
Este ponto é sufírientementeimportanté pata que o de-
senvoívamós trials amplamente, que o precedente.
, '-A distinção trabalho produtivo/trábálho nãp-prp-
dutivo permite? àntp£ de tpcfp que-Smith subverta re-í
presentações tradicionais das hiérarqpias e daá utilida­
des sociais. Sua concepção é, /neste pontc^ profunda-,
mente revolycjõnápa. Eòf isso, vaie a pena cjtâr a este
respeito uma longa passagem da fiq u e m *Q trábálho5
,de algumas das classes mais-respeitáveis dá socieçfaçle,,
mesmo a dòs -domésticos”, esctéve, “não produz valor'
álgum O soberano, jDor exemplo, assim corno, to­
dos os outros magistrados civis 6 «tilitáreS que sgrvfem
sob seu poder, todos os que servem o exército e a ma­
rinha de guerra, são do mesmo modo trabalhadores, nàcr
produtivos.' São servidores do Estado, e são" mantidos-*
por uma parte do produto^anuai da indústria dos outfos.
Seus serviços, por mais honrados, úteis e necessários1
que sejam, nada produzem còm que se possa em segui-*
da obter uma semelhante quantidade de serviço, A pro­
teção, a tranqüilidade, a defeça da coisas públieay que re­
sultam dò trabalhóí de uin anbçpãõ podem servir pata
fcomprar a prpbççãb, a trâhqüilidadèyá defesa rteceSsária^
aó ano seguirtté. Algumas das profissões mais grayes e
niaiáimportátites 6 al^m ás das mais fríyplasj ^eyem ser
colocadas nessa mesma elasse: os eclesiásticos, os juris­
tas, os médicos e letrados de toda espécie, bem como
os atores, os comediantes, os músicos, os cantores, os
dançarinos da ópe^i etc.”át. lVlis^ 111, ch: III,ip. 4t4f)/
Esta tese provocará escândalo, Os funcionários e
os militares; oá padres e ps juizes ficaraín chocados ppç
serem consideradas economicamente cortio os come­
diantes 6u os dpmésticòs e cie. apareperem eomõ para­
sitas dos vefdadfeirbs'-produtores. Mark $é Colocara nes­
se ponto como defenspr de Smith e não esconderá nas

97
x ; capítulo 3
■‘ L/'.V,,' í ' ' ^ :.'
p N -/: '~V ' *á'-
r 4' , ' '/
Teorias dqMate-valícL SuaeOftcordânda.copí o lado ra*-
dical da análise de^Smith. - ~\
A sociedade de mercado inverte asprecedêndas^
e as distinções sociais estabelecidas. Srnltlí formula asr
sim, de um ponto de vjsta deritífieo, a mafrforte das crí-,
ticas à sociedade tradicional. Sua crítica à® doméstico é
particularmente interessante neste aspectq-Com- efeito,,
sábe'-se que no fim do século 18 os domésticos eram
muito mais numerosos que òs empregados ctas manufa­
turas e os, artesàos. Nos njéados do século 19 esta situa­
ção perdura. Um relatprio oficial de 186? recenseia cer-
cá dê 775000 pessoas, empregadas nas fábricas (incluin­
do ós diretores) em todo o Reinò Unido, enquanto o nú­
mero de domésticas é; de um milhão somente na Ingla­
terra..5 A crítica cio trabalho-domésticp como improduti­
vo é, portanto, um elemento' eeritraUpam $mith. O d*fc„
mésticò é o símbolo de todo uni mo^7dé^vída e dé um
tipo de sociedadé. Criticar odom^stieòécritiCar o se­
nhor <5(úç o emprega e dèntinciar a esterilidade dõ seü
modo de Vida; M Um particular se enriquece ao empregar
uma multidão trabalhadores que fabricam algo; em­
pobrece ao manter umá multidão de. domésticos” U?i-
chesse, t. í, livre II, ch. lll, p. 412). Smith não- pensa
como Montesquieu que “se os. rieps não esbanjarem
muito, os pobres morrerão de fome”. - v
, O «jgpítulo de A Riqueza sobre o trabalho produ­
tivo e o trabalho improdutivo s e rf continúamçhte; ataca­
d o ..;e :criticado pelos economistas liberais dõ 4écuk> 19.
Tentarão incessantemente modificar os conceitos de
Smith de mpdò a reduzir o sèu alcance *sociológico.
Aliás, é verdade que há tima fragilidade na definição de
•Spiith'do trabàlliq produtivo. Define-o a.piindpio como
o trabalho que produz capital (ao passò*que;ó trabalho

5. Cifras ap\\Á}farXy Theories $ur la plus-veflttí?. p, 221.1.1.


.onov5»coraércío ou a Sociedade civöcömö mçréado
K

impfodutivp é imepiaterhentè trbcadp pela.rendã/por- ' '


$n to peto sálártoou peto Jücro). Mas defih.e-<> aíguínãs ~ '
v e z e s c o m a o t o 6att)|p‘f»íÓ4M jor:d#w b^-^'^ '
, material durSVèl (aopassô q^p ô ’^trabâiho imprôclutivo ;
■ pròduá àlgo qúe" “se dissipa rip momento mesnxí em,, 1 ^
qUe é produzido”). Daftdp era ceítos' momtentos^priori-, '
, dade à 1àègunda definição, torria assim mãis frágil süab j
dtètinçàp. Numerosos ècohomistas sê apoiarão, nesse, >'
potíto pára mostrar q ladó não, operatório dar' dfcdnçãô , 1 ^
entre-bem material e bem imaterial Garnier, BtónqUí, > ■ 1
;Nassau Sentof,“Storch desenvolveram essa crítica, mosr *■ * *
irando que a sòçiedacle não tonsomè somente prodütõs' •- ‘
materiais e que “tem necessidade-dos usufrutos dajrttef ■
Ügência, dos nobres prazeres das artes, 4 â proteção tíos , i ,
? magistrados, tanto quaqtjo dos pães e das roupas" .(Gap > , 1
nier), No Seu Gqnso~dè Écònotrfto Política (1815), .'áfòftáí , -y.
desenvolverá uma teoria da p ro ^ çâ o imàteriali o ^di-'^Á.r -,
' co produz "saude, o sobbrano produz segurança, o pá-, ■
• dre produz culto, o pintor produz gôsto, etc. Era precí-
•sq dissolver a distinção entre trabalho produtíyo e tra­
balho improdutivo para justificar a organização social ,
existente.'A distinção de ,Smiih entre Valor é utilidad^ , v '
parecia assim subversiva^O rètorno ao conceito deigb '}
lidade coimo conceito econômico 'çentrál (epi- lUgar dò
valor) será, no século* 19, 0 prinCipäl supofae teórico
para permiãr. recondlíár a Ordem-sOciál e á teoria ecor
nômlca. O ladqradicálda sociedade de tnercadó smi-
thiana1erà, cóm efeito, inaceitável para a burguesia do
século 19. •" _ y' >: >
; ) Sabe-se, ao contrário, que Maix reconhecerá que
;um dcjs principe méritq^dé Smitli é de ter definido o
trabalho prodiftivo como um trabalho que se troca ime-
diatamente eom o capital.
Mas a dísfírtção entre trabalho produtivo e paba-
Iho não produtivas'rião teín1somente um séntídosocio-
c lógiçq; tem Qfnbém um conteüclo político de prímeífà > '

/? ■ v ’ ' 99 ' V.,^r


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T - I \ / capítulo 3
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V.'/t7V.;.
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J. N
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( .; : ;'*■'
- importance^ Serve prati^m^nte ^ t ) ^ ^ ^ .a distin­
ção entfe'o,E$tadçt e a soidedade jçivil. É pofqué o Esta-;
do consome trabalho e não ptodu#capijtai"que rsieve ser
limitado. Com efeito, o Estado *pode se definir pat?
Smjth como a ésfera da dissipação dariqu&Te Se o Es­
tado é útil, deve por outrp lado ser reduzido aojpínimo
e não deverá intervir na'vida econômica;'“É, portanto,
umá soberana Inconsequência e. uma' extrema presun­
ção da parte-dos príncipes é dos ministros, pretender vi-’
giará economia dos particulares (...). São sempre, e sem
exceção, os maiores dissipadores da spcledade. Que vi-;
giem somehte suas próprias despesas, e poderão dormir
serrt medo"que cada particular regulará a sua. Se suas
próprias-dissipações, hãç>'Vierem, no final das contas, arT
ruinar.Q Estado, certameníe a dos sudi|os jamais o aríbi-
_narão” (Richesse, t. I, livre IF, ch. III; p, 433-4). A socie­
dade civil se distingue-assirti do. Estado (os nümstros),
excluindo inteiramente as antigas calhadas sociais eco­
nomicamente parasitárias tios príncipeá). -Ap compreem'
dér eeõnpimcamente a'sociedade civil'Smith, pode dife^
repçiã-lã d ° Eslado. • ( ' 1

laissez-faire e faire aller


,^ v 7 7 7 ' . 's , ’ 7 7 . . ...... .,
V O delfim queixou-se um dià a Quesnay de que o
cargo real era difícil de sér exercido,' e o médico do1rei
respondeu que essa não era a sua opinião. “Ah! O que
faríeis, portanto, se fôsseis rei?’’, perguntou qdptfini. “Se­
nhor”, disse Quèsnay, “não faria nada”; “E qtiem goVer-
ríaria?“, prosseguiu o delfim. “As leis”, responds Ques-
nay.” Essa anedota exemplar é freqüentemênté citada
para caracterizar o liberalismo. 7 famdsá fórmufci
sez-fairé”, geralmente atribuída a Gournay, ócesymiria

6. Este diálogo é relatado por WEULERSSE- Lem ouvem ent


- physiocratique em France. p, 41. t. II/ - V

100
^ :7 7 7 7 ';
(, ti; -i-’ .
‘ 1.
r.
o novo comércio ou a sociedade civilcpmo mercadq \ -,-\j
<*»»»-p«*»&
‘ " 1 'r■ - .• \.V; . :, .V..* ’•>•3.><I?
V' , ' ') 'A < ^ , *O ' U *' V
v Assiíp/pãra os fisiocratas, são as leis da qrdfjns
íiaiural, 'e q à o o sQbèrano,-quoqe.vèm ‘gqvbrparcltes?
sas feis estão “iroeirament&feitáè”,1segurído aexprbsh,
sâotfte' Dtipònt de^Nferbours.’,.,Q gõvemb‘deve,vpòtian-^
tçÇapagar-$e atr^s delas., ‘Pará" Qáésnây,’ a^,aqtpridàde
«(OTeram “nãd se^ b rep ôr à sfastix rvwiiraí i<^i
eied|die,’>iAos s e ^ olh©^,
q u e ç>,governo d çvàáçr tQjalmeftté inativo. “Q jaírdinei^.
■p à cw ú é- "dpvf tSra'è-r» rni»6ímViriíeí
•fb”■ ir lic íf aíâüvftó?

vdre recebe a seiva que a faz vegetaç.”\(Despotj$ínè 4%


la jChinç, INED, t> II,', ch. VIII; R- 922): ,Ma$ os disçípu-í
k)S>de?<5.ueániy :tódicalizario'eâisá çotícppçáo êi^iiavôr'
dq utn lai&ézifaítp intransigente? e absoluto.' íalafkjiô'
da , agriçülfurã, C ercler de: la Rivière: esprm/fycáj^jpQxr

cultura'nem'da'liberdade, nem. das franquias quéibè


sâp-essenciais”. E, sobretudo, estendiam essa conaesR*
ção aò conjunto de funções do governo, mesmo asque t
- estavam fora da esfera econômica. “No geral, o que é -
preciso para a .prosperidade' de qma nação?’’, se inter ­
roga’ Quesnay: “cultivar a terra com b maior’sucesso
pcfesível e preservar a sgçtedadè dos ladrões e dos per­
versos. A primeira partè é ordenacía pelo interesse, a
segunda é, confiada ao governo civil" (Despotisme de la
Chine; p. 922). -A função-política é, portanto, puramen­
te defensiva: consiste na defesa da propriedade que
está na base da organização social. Os fisiocratàs, mes­
mo levando-se ein conta b desvio introduzido pelos
discípulos de Quesnay, parecem assim à primeira vista

'7. Para Dupbot de Nemours ©.Mercier de Rivière, elas não de-,


vem ser instituídas. Para' Quesnay, ao contrário, devem ser
instituídas peió spbèranò; mas ele deve se contentar em esta­
belecê-las conto,“deduçôçs éxatas" ou ‘simples comentários”
da lei primitiva) , ,. - -
' - capítulo 3

como ois çampeôes* d ç lais^ezfaúçe. quando reivindi-


cám =o estabdljedjnento de Uma %copCott&nci^ livre' p
uimeiïsa*’ ç- a r^uçâO :do .papel dp E§Wde> ã^defe$a> da
propriedade. Essa interpretação dominante merece-, no
entanto; ser nuançada. Com efeito, a coníepçào que ti­
nham desordem natural implica praticariaente um go­
verns, de uma só, vez todo-paderpso e muito ativo, para
copãtranger realidade a-^se conformar a essa ordem //
Sua teoria leva cie fatqa Um liberalismo forçado e im~ ,
postí qqé nada tem de natural. A própria còncepção
do quadro economico de Quésnfly é esclarecedora , a-
esse respeito, Qüesnay nào apenas descreve pof meio J
de cifras o funcionamento do cifçuito econômicó,, mas
O ^ÒhstrÓi de. imàneira^i normativa. íji quadro .ecónômi-
, ccí Solicita a ação de um grande organizador que o utk s -,
liza como instrumento de governo. Isto permite expli­
car que Quesnay tenha sido paradQ3®mente coin*
preendido pelos historiadores da 'economia como-um
apóstolo do liberalisrpOj e pelos praticantes, modernos
da dcoppmia como uni ancestral da ContãbiUdadp na­
cional e da planificação. Com 'èfeitó, póde pfrecer ao
íhesmo tempo com um liberal e cptU um' planificador, (
de acordo com o nível segundo ò qual se apreende a
sua obra. Na realidade,’ o qué defendem os ftsiocratas
e / o. tro c a do ‘sofypkm iflçaçào) a livre concorrência,
“qye concilia todexs os interesses” (Le Trosne) no qua­
dro do despotismo da Ordem. Aliás, a obra deles se
appsehta em1(muitos aspectos eomo umlipo de sínte-
s^ entre a- aritmética úòlílièaAradicional ê a,nova ciên-
cia econômica. “A evidência da ordejh Ccónômica’?, es- _
crevem significativamente, “é a do cálcUlo^Os pbjetos
relativos aos 1qossòs interesses recíprocos (•>..) é uma
évidência gèÓÀéfriÚái è mitn^ética”,8 O Kbeçalismo dos f
V ■ .-V , ^ y
•■■S.y-'i! ’ tf'./-' '
8. Éphéniérides, at>út 1768, apud WEViÉP&S^.féMüuvement >
pbpsiocratiqúe em France, p. 122. t II. - * ’? * ^
A
o novo eomémòotí À sociedade civil côi^o mèrcadò ''
*‘**?\<*i'-

$stócn|f^s', èy portanto, -paradoxal. "Será. piais Justo falar,


em iplaçãb a ele^de urii’:énjèrfo der idéias liberais q q .
■terrenõ tnMlcíonaPpá áritm<j^ápolitica'.A, Ir< A _^
' r' O fg,' ê1 justaritente eõniíra, a -larítn^étiicà política ■
puè o í”verdadeiros autom ^liberais do séçúlo Ifiü deff-^,
sêm suas téprias; -^níes j^fe^tudo pof-qup, a, aritmética
jpplípeírp&mcp! nâtíísei* fíóúdi^titíli^ív^ívridunii-jgwsMid^.-HefK-
que a- ecòdprhia ed f tqfndii muito pompiêxa. ^utgõt.j,^ ;
por ejíempÜo, sè ressentirá fortemêntè désSâ defãsageim Q "
entre o lado tecnicaW pte rudimentar do quadro eccA
ríômico e a realidade muito maiS Çomplexa da êconp- i-
mia. “O qu e deve fazêr a verdadeira'política.”, nota nes^
'te séntido, “é sè. deixar levar pelo curso da' natureza/e . s
do çom ércio(,,d sem prçtçnder dirigi-lo pc^ exclusões, . '
proibições; òsí pretenSõs ènçOra|amentos,' porqüe pâpjf i .
( o dirigir sem sè deSordêríãf*müito e sem prejudicada '§i ’
,mesma, pnecisafia podqr sèguir tod^s as variações è&g -
néçessidades; dos interesses e da indústria d d s ^ ó ^ A \
mens, precisaria reconhecê-las com detalhes quê são t ,
fisicamente impossíveis de se obter, e sobre as quais o
governo mais hábil, mais atiyo, mais- preocupado com
0 dete^he, sé aríiséaríir sempre5, pé)p rrtenpa,acometer.<*»■ 1
mteio engano. E, §e 'tivesse éSsa multidão^de .conhecK;'
: mentos sobre tpdqs esses detalhes, que e impossível ^
reunir, o resultado seria deixar as coisas irem precisa- '
mente como vão por si mesmas, somente pela ação
dos interesses dos homens animados e equilibrados
peja livre concorrência”.? Essa donga citação de Turgot
mostra bent a dupk-^rítica1ãSaritmética política pelos
livre-cambistas: crítica técnicavde uma parte (à ifripoS- ■'
Slpi^dàdé de ;reqnir inforrçiàçòes precisas e çonfi^yêis),
;; ctífÊéa/filòsófipa de outra-parte (.teoria da harrrioníá, na­
tural dos interesses)’, ,< ■'"■■■ . 1 ! ‘ ,

1 9 Lettreà 1’abbé Terray sur la marque des fers (1773)’ In-


DAIRÇ (ed .if R. 376. .tí. I, '
î ■ -'"'J capítulo 3
/, •' j %
, Mas orçpríjynto cíesse, debate ffcaçirçunscrito na
oposição difigiamo/libçrdade. Ò iiberalísitto-de Smith, e
essa é'-sua grahde originalidade, ’traduz um deslocgmen- '
to c}a problemátiCâtem relação à essa questâ® Sua teoria
não se inscreye mais apená^no quadro do debate entre,
o intervencionismo e o livpç cainbismb^mesmo que' ,à
primeira vista elà se apresentg corho um “laissez-faire". ■
, É Q primeiro a çqmpreender,que o íiberalísmo econômi­
co' não consiste simplesmente <na “sistema simples e iük
cil da liberdade natural” e que s6f tein sentido se for ins­
crito no pfocesso de criação d e uma verdadeira socieda­
de de mercado. Aos seus píhos, portanto, o Espado libe­
ral não é .inativo, devendo, ao contrário/ ser^éxdema-
mente ativo para construir o mercado. ‘Nó.liyro JV de A
Riqueza, desenvolve longamente essa questão, pára
Smith, o soberano tem assim três deveres para executar: .
1. Deve defender a sociedade d^ todo ato dp yid-
lênci&oy do 'inva$ãa:por parte de outras sociedades in-
' dependentes. , , , -r ■ "> '
2. Deve proteger, tanto, quanto possível,y cádá
meinbrO da sociedade ,contra a injustiça e çfoptessão d e
qualquer outro níêmbro da sòciedade pof meio dê uma
: administração exata da juátiça.
$. Deve erigir e - manter certas* obras públiças e
certas instkpiçõês dêVjque ó intèrès$é pdváido, não se
ocuparia jamais, na medida em que hãó permitem um
lucro suficiente, ' , ' ■
O primeiro desses deveres é om gi? clássico, e
não há nedessidade de insistir sobre çlê. O -segúndo é
mais interé§sante; Manifesta, çoirn efefto^para Smith/ a
unidade profunda entre sua visão liberal de eçonomia e
a teoria do Estado de direito (unidade qüè será frequen­
temente negada no século 19, sendo o ifts^alismo eco­
nômico considerado como prioritário so]3re o Éstado de
direito). Aós. seus olhos, a igualdade diãiite dã justiça é
uní -meio necessário para a realizaçàO'ddaima soçiecla-
o nov&éomérCio oo a sociedade civR Çòm&mercádo A >

de de/mçrcádo, Reconhçce, entretanto, que es^a igUãiy 1


dactç 'sd ^fôticainente para reforçar a d©sigualda-<, v} >
dedianfjé <^,,^^fevSição dos difdifos dç pr/àpriedáde,
*Ò $>or opjetpa íiég ^ n ^ a jb s !''pr<>(^
príèdadésÇé; 'na- tteá^dade, instruído pára CMentíer os „V
íçõ á com res.’â cop&Eãtyj cdiâmentp. Se deplora

sòbèran,ojqüe mariífestamáis ctaramenté a


vernamejfital, Para Smith suã ação deve principalrtíente
sè desdobrar em dóis dohiíniòsfr construção de obras
(grandes"estradas, pontes, portos, etc.) Çjue facilitem o
comércio, -.Educar a juventude e a massa do povo, noteV
dâmenteypara lutar “contra o,veneno do entusiasmo- e '
da superstição” (ibid, p. 4 6 5 )^ 0 governo podê assim',
estabelecer uma sociedade social e cuítuialmente hbtno- fiiV *'
\„j \ • , / /. ', t i V* vl f' ' - , * i mv>íç i "ï j \'r v
gênea e um espaço ecónômico estruturado, as duas
condições necessárias para instaurât uma sociçdà^e de ’.i
mçtcado, -- - /<•.. ■- v. .
, " . i^rii,Smith, o-RStado libéral nãtiò é portanto õ db '
''îüissez-fiçiirè” tio sentido mais 'trivial. Dçye antes éjè »'■
tudo cônspdir'e preservar ó mercado. Tarefa tão, maisf ,
•iv '
importante que 0 Smith de A Riquèzh não. partilha mais '• &
o ptímishao do Smith da A Tçoriay sek>re a automatismo
da hajmonia natural dos interesses. Em Á Riqueza,
Stpíth jamais'dcixoh d^ insistir ãobfe os conflitos e os ^
desequilíbrios que uma economia, deixada, à §uá pr&T ’
pria conta, podb desenvolver entre q interesse privado- *
e o geral. Não está longe de pensar, arttès de Marx/ que
a concorrência deve sér proibida quando há uma forte
tendência para a constituição de monopólios. Proporá,
aliás, a esse respeito, què o governo encoraje as socie­
dades por açòès etfrlugar de'sociedadès particulares de
comércio ou de soçièdadês’exclusivas. É é sobretudo
contra o govefno do Seutémpo, que elé julga' aristocrá­
tico e cínico, atendehdó aos interesses da gentry, que

J ' ’V 105
VCfV / . ■■Jj >4-.

i,-'/Æ
,capitule 3

ele pretende defender*# soMedadê. >Ó.lado "laissez-fai-


ré' mais tradicional, Jpafa-ele,' estâ-rèladcfaada-com essa
sitaaçãb. .Como- justamente nototí Viner,- “os -demônios
do egoísmo sém Limites podém sdb preferíveis a um go-'
. Verno corrupto e incofnpetente”.® ^ "lAissez-fairé" sei- ’
vagem é, para Strtith, uppnas ac-eitáyel na falta de algo -
melhor aspira de fatospbr um goyerno ativamènte im­
plicado na construção pie uma verdadeira sociedade de
mercado. Este ponto, é suficientemerite .importante para ,
merecer ser sublinhada,-Permitè Superar p critério'ino­
perante do interyenciqnismo ou do pão intervencionis- ^
mo para qualifidar o liberalismo. ^ N~
Smith concebe assiip a ação do govéfflo como
um momento de construção de urna sociedade civil que
seja uma sociedade de mercado. O que, recusa é o Esta­
do coriio corpo parasitário. O que o motiva é a constrtt- "
ção do mercado. Realizada essa tarefa, o definhamento
do Estado poderá entrar ná brdem do dia,' pois'o mer-
i cado reinará sozinho na sociedade. Sniith é pèsse senti-
do, de uma~$ó vez, o, teóricp dá ecotiomia de mercado
e da transição para eáse tipo de económia. Mas a urgên­
cia e o radicalismo das transformações a serem realiza--,
dãs ,nessa direção mascafam a questão da sociedade de
mercado çomb utppia. É nesta medida, como veremos ;
mais adiante, que a*obra de Marx pode sér íida èomó
um prolongamento e realização da de Smith,

■v ;
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10. VINER, J. W e lxing \^w 'and:theS bqr^ p. 235. ‘
r. ■ . V - --- -, J. ;■ ,,’fí x i ' I
Xj 'X .V ï . C x -x:;-/ ' K
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106
< k M t á píftilo 4
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, J/ rializaçãoda ■i j-
v --
• ' ' U economia
:í|,
,r - - 1Yk v J
i ' f.
e$pãçó èópnôrmco e território
pòlítico .s

íompfeendendp a'nação coíqto mercadq,


Spn^th realtóáüma dissociado conceituai cie priírteiraim­
portância èntrç a noção dd território te a de espaço. iSpth
efeito, toda á tradição mercantilista anterior refkxisãvasol
bre o postulado da coincidência eíitre espaço econômico
e território político. Q território era ao mesmo tempo ins-.
trumento de poderio e medida de riqueza. Para Smith, o
espaço ecoriômico é construído, e não geograficamente
dado domo o território. É a partir dçssa perspectiva que
deve ser compreendido o seu cónceitó de extensão do
mercado A extertsâo do mercado não é definida por suas
fitjnteirás ou por-seus limites, é produzida desde o intqrior
pelo sistema de.comunicações e de localizações humanas.
Assim, ò mercado pode sèr apreendido por efe como uma
rede, e^ião«maiS'phícãmèrite como um lugar, e ele pode
elaborar uma geografia econômica que não tem mais rela-
, ção alguma com a geografia política. Para Smith, a exten-
. são dq mercado e não mais a dimensão do território tor­
na-se a chave da riqueza, pois ã divisão do trabalho cômo
motor da prosperidade está ligada à dimensão desse mer­
cado. Reçkjfe a^fodã, a’ importância da inversão que ele
Í-.

capítulo 4
A
opera na ordern das relações entre^ propensão à troca e
a’divisão dotrabalho. “poiâ é a faculdade de troçar que dá
lugar à divisão, do trabalho”, escreve? “séndo que o cresci­
mento desta-divisào,deve por eonsedjyência sempre estar
limitado pela faculdade de trocar,' ou, em outros termos,
pela extensão dò mercado” (fiicbès$&; t.' I, ch III, p. 22-3).
Resulta daí uma renovação complete da compreensão das
bases do poder. Da mtóma perspectiva Arthur Young es­
creverá de modo expressivo que “os manufaturadores fe­
chados no intendi das' muralha^, produzem para o gover­
no o mesmo efeito que um aumento de território” (Aritb-
métiquepolitique] t. I, p. 401). Ésta intuição se reencontra
no conjunto dos debates da época sobre a questão dá'di­
mensão dos Estados. No seu Ensaio sobre a População das .
Nações Antigas, Hume foi um dos primeiros filósofos' a
mostrar a inutilidade dp crescimento desmesurado do ter-,
ritóno do Estado. Áliás, é Isso que torna os fisiocratas yul-
/ neráveis na medida em que, .concebendo aagricylnjra
comô única fonte de' riqueza, ficam prisioneiros de urna
análise territorial da economia. Galiani poderá zombar de­
les ao escrever “Genebra não tem territprio. Há outros rei­
nos que também fião o tem. Portanto, a agricultura não é
a riqueza desses países?”(Dialogues sur le commerce des
blés, p. 2Ó). Arthur Young notárá no mèsirro sentido: "Di-:!
zer que a Holancfa seria maiS poderosa- se pudesse subsis­
tir pelas produções do seu solo, é yma pretensão insusten­
tável, O comércio fez da Hojanda uma potência bem mais
: temível; qye'muitos putrps Estados que possuem um terri-
tório' rtíafts extenso e mais tico"(Àrithmétiquepolitique, 1. 1,
v p ! 412)/ Isto leya-nos a dizer que não é tantcfoppsíçàp
entre dirigismõ e Jaissçz-fàire, mas sim a distinção eqtrp es-
pptçõide mercado e território gqográfico quê’,marca a: vêr;
.., dadeira ruptura entre p libeíalismo e o/nercan§l;smó. Des-
' te ponto de vista, Galiani é efetivamentq-maisdiberal que
Quesnay. Nesse ponto, a história clássica cfeá doutrinas
econpiíúcas ficou prisiqheirá de Uma visão do UÍSerálísmo'

108 ‘
A't’ig-'ii-i'i ' '
vr-
extrèmamêote littitada e finalmente poyce esclarecedora.
: Do mmma «âo ê muitO:ôperatório pensaií a di$tínK
•ção entre liberalismo,e meitaWlllsmo eoma tima siijiple?
inversão das relações entre os dois objetivos do poder p o
i lítíco e da riqueza econômica (esta-éa tesle de Heckscjier).
V A analise qpe desenvolve Smith ê-jnulto mais ra-'
drcal: ntfose contenta em proceder a uma redistribuição
aos fatojees'económicos e políticos do poder. À fofça de
Smlthfe^tá em práceder, numm€sipo mòvÍitiento, a ufoa!
^ compreensão, econômica *da política e a Uma desterrifo-
. fiaíização da economia. O modo pelo qual apreende o
problemas'das çolônias é particularmente interessante
nesté^spèctqí Aliás; é importante suWfobár qyefo'capi-
tulo “Das, colônias” é o mais longp da sua obra. Vê, corii
éfeito, no que.se pôde chamar de ilusão colonial o re­
sumo^ das ' concepções econômicas tradicionais', quç
combate. ,'7' /
Para Smith, as colônias foão têm' interesse como
nlanifestaçàò depm poder'inscrito na posse de novos
territórios. -Escrevendo pouco tempo antes da declara­
rão de independência^ fa£ pfofericáméhte foa'pblogià,
das ántigas côlôntós giteggs. Contebe o estabelecimento
de colônias distantes como um movimento natural, a
p&ttífí-jlo .a população de um país
mostrà-se multo grande em relação àaq que o território
pode sustentar. Ao separar-se da mãe pátria, a colônia é
,, üípia ^criáôçà emançipada” que dévé rápidãmèntè sé^tor-
nar ym "Estado independente’'. Reconhece igualmente,
sem subscrevê-la' a lógica militar que presidiu o estabe­
lecimento das colqnias romanas. 1nterroga-se, áo contra-.
J rio, sobre, a utilidade das colônias européias na Améri­
ca e nas índias, Qçidentais que não foram um ‘‘efoifo da
necessidade’^, como foi o caso do estabelecimento .das
colônias gregãs e romanas, -1 1 / , f.
? sEâra Sfoith, a lógica da .pilhagem dos conquista­
dores encontra'1rapíclãmente /eu s dimites. Se foi fácil

í- ‘J -

^ '
í+ r
■ ■ jj» 'V
y ,
> A 1v
*V,

■óí capítulo 4
1* l -AOfL \ .

, despojar os- indígenas, dè jfjós^üíam, ,o qué foi ■


fejtòeija^lgjLuis ajiosyb m e ^ d j^Q OCprreuquando foi
necessário explorar as minàs Âa entradas fiscais que os
Estadoseuropéus jesperavâm õíetais’ cojônias mingua-•
ram, portanto,r rapidamente.,;1A* sfe^pí^os, o interesse
pelas coiôóías é outro. Vbm' sqpretudo do' fato de que
abrem um mercado novo-, “Tocfòs éáàes países <da Eu-
ropa)gaoharám evidenCemçnte üm rt^rcadò mais exv
tehso -para 'q excedente dos seus prbddfos e, em con­
sequência, foram encorajados a auméhta? á sua quanti­
dade” (JRiöbess'e, t. II, livre IV, ch. yíl, p .'212). A lógica
da troca, portanto, e não a da pilhagem» é-que traz ver-
dadeiramentè yáiitageris! Para Smith, as çólõnias são in­
teressantes porque aumentam a extqnsão do mercado.
São-os homçns, qsconsurnidores,enâoasçoisas, õuro
pu matérias-primas, ‘<|ué permitem às colônias atimen-*
taf a riqueza da Europa, tanto .qué abrem novas pers­
pectivas no campo da divisão dò trabalho, .“No seu es­
tado livre e natural”, escreve, “o comércio das colôrtiãs
téndè a aumentar a quantidadé* do, trabalho produtivo
na Crrã-Bretanha, mas''sçiti lIpdár^em:tóäd^'''difeç|o
daqüèle que antes já estãvaem atividadé. No estado li-
: , yre ç natural do comércio das colônias, a concorrência
de todas as outras nações impediria que a taxa de lu-
’croí se ejevasse do nívèl eomum,i -Qmqyó merca­
do, sem nada retirar do antigp, criaria por assim dizer
um npvo produto para'seu próprio abastecimento; e
esse novo,produto constituiria um noyo capital, para
abrié novbsí émprego&i que, da rnesma fofma, em liada ,
afetariam os antigos” (ibid., p. 236-7). Por isto Smith cri­
tica,o comércio exclusivo das metrópoles. Vê’ até mes-,
mo nas companhias comerciais, que se, beneficiam dos
x privilégi«^ exclüsiyps, q símbolo :do sistem%.>mereantil
que destrói ós equilíbrios1dó mercado ^ pfpvóca graves *
peiturbações nós mecanismos naturais dê alocaÇao dos
recursos. O monopólio do comércio cpm as colônias

v:v ,
110
.' '•t■
V
temi a§sim, efcjtos profundamente,,n^|a§U>s S só tem,
hmm%,qicá qò&^atteá- í permittr 0 erífitefuedmfentQ.,de'
uma,dassé sodál particular em detrimento da nação-, “Á
úhtea vantagem qúe omonopplio oferece a uma àUts^
p única de pessôàs é prejudicial ao interesse gepal do
país de mil maneiras diferentes’’ (ibid./p.' £43)--Com
^efeitoi osmçmòpólió dó comércio coin ás colônias arras­
ta uíma pQjjçào do çâpitaKnaciónál muito mmor.-qüèd
1aquela que aí 'seria paturátmente empregada, prejudi^
1canüd grã^emente arepartíçãodestecápitaLehtre os d’i-
Verçof rampsda ihdjústrià da metrqppíe. Se p copíérciõ ;
. com as. édiônjas foi?algímpias vestes- ygrâa$o«OK à naÇao’’,?
nota, “hão é ,seguramente graçasao monópólio; mas é
nâo obstante o monopólio” (ibid.^p. 238). A manuten-/
Ção de colônias é, portanto, a seus olhôs, um" temível
erço politico eecçnômico, As nações européias pagam-'
- hiuitoiçarò pelo fatô de manter em tempo de p az,e de .
‘defender eth teiíipo d e 1gíierta ó ! “podef/opieáslvqA(flt
expressão é dê Smith) que se arrogaram sobre às colô*-
níâs.íO .preço pqlütjco das colônias é, portanto,, muito
' elevado; e é tantoímais que não tem verdâdeiramente,.
' contrapartidas reàis, pois o comércio sob monopólio'
l apenás Realiza uma 1redis^ibuição/dos capitais e daS
repdas ém; beddfício de uma,classe particular. “C^uantp
1 aos inconvenientes resultantes da pôsse das colônias”,'
conclui logicamente Smith, “cada raçào os reserva’ ple-
namente paib si; qpanto as vantagens, qué são frutos
do seu comércio, éjpbí3ga<|t a pârtiihá-las com diversas
outras nações” (ibid., p. 260). Para Smith, com efeito, a s'■
v ppde e x tra ir^ extensão do .
espaço do seu mercado nào podem sèr confiscadas so- :
mente para seü próprio benefício. Ö mercado Só pro­
duz seus. plenos efeitos quando pertehce” a todps.
Neste sentido,'Smith 'proCécie conceitualplente a uma
dèstéíríteíiaUZaçáô radical da éconòmiai Suá denúncia
da ilusãOj Cplonia^. constitui a ilustração mais marcante
t , %1t ' 1 • 1 , , - ’
V>7‘ ' I ' -1 1 1
- , „ capítulo.4
* ' 'v ^ ■>i.1—“ »“
/ÂV5; y -r ; , '' y] ‘ ^ / V V ’_ :'
disito. Sua defesa terp algumasvezes traças premonitó­
rios, por exèmpla, quandoderiunçia com ^eemêpcia o '
modelo político colòriíal-que a Éürapa çontinuàrá a de-
jsenvolvef até o século 20. “Fundar um .vasto império,
tendo emyista somente .criar una.povo, de compradores
e fregueses”, escrève, “parece à primeira vista, um pror
jç\o queseónvfria scuiaente a unía^riaçao^derlojisias!. £sfe
projeto^ eritretarito, se acomòc|aria extreifiandepté m^l, á
uma mação ,composta apenas por lojistas, mas*se ãjdsca'
perfejtameníe a unja nação cujo governo ésteja soB a
-influência dejes. É preciso hom ens de Estado desta, es­
pécie, e somçnte dela, pará poder imaginar que há vari-c
tagem em empregar o sangue e o tesouro dõsséus con­
cidadãos pára' furidar e sjistentár unrt império sefhelhah-;
te”(ibid., pY 243). O único império '^ué Smklh àceita é ■©>
de um mercado /econômico mundial, que seria susçetí-
vel de restituir aos povos uma identidade comum álém
clé todàs. ás divisões territoriais.,-SônhaiCom um mupdo
que seria recomposto pela.dinaipjea piOdutiva de uma
divisão cjjq trabalho que eljminasse fronteiras: “Sfe todas
᧠nações seguissem o nobre sistema, dá, liberdade das
impç>ít0ões e exportações, os diferèhtes Est»$os, quê
dividfem* um grande continente^ ãSsèmelhar-se-iam, á;
éste respeitòpa diferehfes ;paxt^&á$ de um meshíò im­
pério” XJRietiesse, t. II, livre IV, ch. V, p. 144X O fantas­
ma universalista, outrora vivo na imagem da cristanda­
de, reénçpntra com |mith uma nova feição e um novó
ímóètp de um modouadicalmente laicizadpr £ áambém
neste sentido que Smith constitui uma dás formas de
reálizâçâp çpirípfeta da modernidade. A^etótoriatózaçãõ
dò mundo ocidental foi, com efeito, efetuada com a
êmefgênci^Ydos Estádos-riações. Esta territorializaçâo
é^rim ia então uma fojrmá necessária..d* emancipação!
do ,político, fáçe ao religioso, hurii mj^pdcr dominado
por urria çultqra cristã politicamente ligada à*forma di­
fusa de império. A autonomização do poKticó sô podia
cxo— ■* ne* ppts

. ritòriaUzando' a economia, çqncebida como reaUzaçãcf '


da política, Adam .Smith restitui ao muqdo ocidental sua ;
' abertura, attündafido a,lenta e difícil supressão da figu- ^
' ra transitória do Es|ado*nação. É o primeiro internacio- >
, nalista- consequente. Este novo mundo aberta já tem pç
' setfs primeiros cidadãos contasses apátridas que são bs
mertíádores: “Um mercadór não é uecfessariàmente ci-
•# dadãô de nenhum país empãrtiCular„‘A e le ^ emgran-
: de parte, indiferente em q u elp g arjazq sêu coftiércfó,
" e basta um' pèqueno de$go^O :(pãca que. décida "levar
seu capital de,um pãfe para outib,.jühtamerkê. côrrítoda 1
indústçia que'este capital ativou " {Richesse, t .1, livre IH,
ch: IV„p. 517). Por seu lado, os fisiocratas farão um elp- ‘ V ‘7
gio çüScreto do Cosmopolitismo. Le Trosne falará np Zto
Interesse Social dos^agentes do comercio comq de uma
“classe cbsmopòlitâ^, cujáfortuna não tem “pátria riem
. fronteira”..

o interior eoexterior
1- .V ' ■/ -V ■■ * ' , • ■■
Com aç grandes descobertas, o mundo ociden­
. ■] . - •• f

tal se exteriorizou. O e$tábelédmepto de Colônias foi


uipa das principais; formas tomadas por éssa exterio­
rização. No século 18, o liberalismo se traduziu, ao
^cbpítórib/j^iíi^p^lttte^té por um tipo de retorno qo
i irítefior. ]Steüãri é o ècpnomistà, que melhor exprimiu
çsse mòvimento ém terrhós filosóficos. Na sua Inves­
tigação sobre os Princípios da .Economia Política de­
senvolveu tímá visão histórica que distingue três eta­
pas da evolução da^humanidade: . t
" í. Óf cbmércio nascente. Tem por fim respondér
a necessidades --localizadas;, a nação ainda é virtual, a
ecpnomia pouco desenvolvida. Traía-se de um tipo de
coméitib .praticado em iodos-bs. tempos.

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113
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v p , 2 j O comércio. ^ 'e x tè ç io r tií;/,
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> t^ iL .? i '^ ^ Ö Comérçtéí ; lado
" >. • '•'r'’ ^ "'.-V */ ' >' 'I Jk Ti •
stiafc ©jçíerioifeãçâo pára e/volta sobre si ^^
mesma, E^te*retoco seéfetuaí5^ ia diferen-
", dação interria; é uihmovirríentõ- gdiferenda-
ção e de ttoesão que então se cm to deve en- '
' : tontrar uma- forfna orgânica nos doestados e ,
\s, ' das profissões, ^. 1 1 ^ 'is»
Este1esquema de confdrma r-hegeliana1 »
. parece notável. Tepi o mérito de auxiliai; tßOfttpreender ^ M ,
• • '" v7-"' '
\ melhor^ sentido cb liberalismo. Com éfeí&vfreqüentç-
mente o liberalismo foí,concebido cornos ideologia da :
, P ' abertura do mundo, e ‘mostramos, num primeiro mo-. .
mento, cómo esta questão podia ser àprefendida a partir
1 dos desenvolvimentos dg' Smith sobre o problema das
,, ' colônias. Parece-me, contudo, que esta representação
não está imediatatnente conformada'»à realidade e que
‘ . nàô permite compreende^ o môvimejnto próprio do li-
v •„n?'.' •Ú r- *• b ■. ;
;; - 1 - 1 . .Para o mercantilismo à frónteifa baSta pára dâr x
: 'globaM ente extetênçia ao interior na Sua diferença com d
í ò extérior. O Estado-nação /se realiza primeiramente nos
,, r; seus limites exteriores, antes de ser verdadeimmente es- .
truturado/no íntei^or. Histori(^mentç,c0 mefeitc\é'mui-
, v:Jt<3Í - - ã p t í í i j n a f t í mí ^ ^ Q' da^esputuras políticas ^
em estruturas econômicas. Aiçórrespphdêhçía^ entreíó
tèrritório'político e o eSpaçó econômico só cómeçará
V verdadeiramêôte -‘a se, feaii?ar no século 18.< Embora,
• , ÁíotjitdM©tíentenha’dÍt)ô'no começo do século 17 que “a
Franca d um mundd’ e tenha esboçado umá teoria das
relações econômicas intèrprovinciais, seu pensarrientp
èçoi^riyfip permaneçeu ainda centrado, no problema da
* ' 1
-,A
1 Ver a propósito & cdpítulo ulterior consagrado a Hegel.

iA/T'í $cULP»\kl
a destçiritqdaBaaçãpdsi èpònonüa

5ffontêira. Gomifeito, era múfto mais fácil na sua época


propor Unja' política econômica orientada pelds temas
dõ protecionismo e da política aduaneira qu© empregar
uma política'ecpnômica que estruturasse õ. espaço inter­f >
no d a n a çá a . - *
No sééulp 18, torna-se possível flxâr 0 objetivo de
“preencher'1 economicamente a nação," A tarefa 4 a eco­
nomia, política reduz-se â pensar o funcionamento e a
construção 'esjpagp •econômico infémb , da nação.
Com poucos aríos 'dp ipteivalo, Cantilfcwí St^uarte .
Smith desenvohemmma teoria da economia interippA;
sepSiOlhos rlãô Ripais a diyagem iptenipr/exterior que é
dj^b^ijm às.'»; distinção^ cictó^/cán}pQ,i isíessé desliza--
inepto, a noção propriamente dita de comércio muda.de ;
sentido:, á atenção se çónceritra has trpcas próximas é
não friáiS nas distantes; “<G > passo mais extenso e ínais
importante do cómérdò de uma rtaçâo”, escreve Smith,„
“é 'o comércio estabelecido entre os habitantes da cida-' '•
de e os do campo’* (Ríchesse, t. II, livre IV, ch. IX, p:
33^). Jb d o o !^;.]f^j^o4pv'8bbre as colônias é marcadó^
por este julgamento. consagra, aliás, longas pági­
nas ao desenvolvimento desse tema para'afirmar a su- <
perioridade do còméreio interior. Mostra, .por exemplo*
.que esta superioridade é devida ao fato de-que a rota-
, ção do capital é tdóítd rápida no comércio interior (cf.
Richesse, t II, livre II, ch. ; V, p. 460-4). Mas, sua argu-
méntaçáo .prehd^se sobretudo ao fatò de que’vê na tro­
ca entre os habitantes da cidade e òs do Camppvb ele-
mèntcKmotor e originário da divisão do.trabalho. A
preocupação-cpm á balança cidade/ckmpo e. corna ba­
lança produtó/anual consumò/anual substitui, para
Smith, como bara Cantillón, o exame dá balança das tro­
cas comerciais externas. Para Smith, 0 comérdçf exteiiqr
, torna-se até mesmo aparentemente secundário; .só o en­
cara, na ntaíória das vezes, pelos efeitos interiores quç
; produz. “Por ele”, ercrevév'Nos limites1estreitos dO mér-
§8
1;*.*

V'
cader interior não impei •- W t e oto do trabalho ^
j seja levada aq mais alcb g em todòsos
ramos particuíafçSdasarte ^fatui^àiAjirindO ’
>âm mèfcado «jaisexttensO do trabár \í
“lho que çxceda o consumo |i{#íeieç&^}:í
d é a aperfeiçoar o trabâHlo, a eley jtó ep rò -í >
dutiva, a aumentar o produto ânu ifcart^'?';
" sim js riquezas e a renda riacional” e ,x II, livre ^
j IV, eh. I, p. 25r6).
25rõj. O mercado extériof.sétpode ser um
Ulterior .
ip-contér--

; “d c ò s e ifídustriosôs”: “Umáigrandíe hâçâp cércada por


todos os lados de selvagens vagabundos e povps ainda •>
riálrãfbáffe poderia incontestavelmente adquirir grandes
=-rtepieza$ pela cultura das suasderras e pelo seu comér-
i ’ çte interior, mas certamente não pelo comércio exterior”
<fc 1, livre IV, ch. III, p. 5(1). Srtutb fica signiftcativamenT >
' 1tp faáciriadot pelo Egito, pela índia e pela China. Fala n u - ,
\ ívxinerpsító/íífezes da mteli^qhcia dos seus governantes qye
^' -sçmjijreideram prioridade àmaVegaçào interior, preocu-
p^ndO-Se pouco em çncorajar o éonjéfcip com o estfan- (
$eirq. Na éxtensãç e facilidade/ da navegação iritériorVêj. i
■■■■ a causa da Opulência de und país comò o
" i". Egitor o^tneiQs de navegação interior permitem abrir a
cada produto,das divérsas províncias "o mercado nacio- .j
* nál na sua extensão mais perfeita”. Esta desçbiifiàriça do ,
comércio exterior se encontra também entre oS fisiocra-
tâs. Para Quesnay, é apenas um “mal menor para as na-
, çòes cujq comércio interno não basta”; para Mêrcier de
^ Rivière, é um “mal necessário”
■ Essa concepção é incompreensível no sentido dê ,
qtie não corresponde à representação vujgar do libera- '
lismo, sé não se tom aro liberalismo comó -üipa verda-,
deira reconstrução da sociedade a partir dçf tttecanismo
da troca e da divisão’ do trabalho. "Reduzir o liberalismo

116
ão livrecómêreio significa, não compreendê-lo. A-repre-'
sentaçâo libéral dp homem e da socièdade encontra an- •
tes -de tudo sua origem na concepção da troca econômi­
ca çonío estrUtüfadóra da realidadesocial. O livre co:
rnéfcio é apenas uma das suãs consequências. Nã<9 tèm ,
na sua- fprite a simples vontade <4è suspender as bafrei-
ras adüanéirasfsp impõe como consequêriciàçlaaboll-
çãO' da díStihçãói entré o interior q ;èxteriqr; assemelha >
comércio interior^ao 'êxterior. Cantilloq fqi oqífimein»,’
antes dê Smith, a pensar o comércio de modo unificado
" ao analisar Pmovitpento das trocas como seçdò estru-
turadp pelas diferençaá de preço no espaço e mi tempo
(cf. Essai sur le nature<tu comtúerce em général, 2a par­
tie, chrll, pp; 6 6 8 ), A famosa-análise de Galiani Sobre,
a localização das províncías expòrtadoras Voltàrá igujil-
; équivalentes còtnéíèio
rior -p comércio intèrioF (cf Discoitr&sur lê CQtnmercëxtè
blê$, p . l ï - 5 ) . t ' ' L :
, V 1 O conpèito de mérçâdó pefmite pensar eâsa eqqí-:
valênciáí totp&do pf^p^ço cómõ estruturado por uma'
’ géòlràfiír^eràíidos pt|èços e não niais pelos limites po:
lítico§. $ apenas ao efetuar previamentè um “retorno ao
interioï”, que o liberalismo, em seguida, podê pretender
romper as fronteiras. Ao retomar o problema da troca na
origem pode dar ao comércio Aexterior” um sentido rá-
dicalmente diferente,daquele que lhe fora dado pelos
mercantilistas. • ,
‘. Não é possível, portanto, compreender o libera­
lismo como uortipo de produto ideológico da exten­
são do comércio intèrriacionál./ Ao contrário, çlé
acompanha a constituição de verdadeiros" mercados
interiores nos diferèntes países europeus. No século
18, com efeitp', , o comércio exterior àumêntou, sem

2 Como fez DEVÈZE, Michel no L'Eujxpe et le Monde ã lafin


çlu XVine siècle P&rls: Albin Michel, 1970.
$ f'l capítulo 4

vverdadeiramente mudar, suatdjidlírezapqifando o co-


•méxcio interior se tm nsform o^pç^hd^nente e ocu-
pouVerdadeiramente à nação.«py seréáMza assim, de­
certo muito progressivamente, cq^eiO' un$í verdadeira
sóciêdãde de mercado, , í< ,,
A, \ y k> t. K $ <
<' . M JJ-* “V, [vu .
a constituição de um ^spàço
homogêneo , j "‘V ),o1
i i. - •.»• (.. / r. .^S.1 V ••>.. ' ^ .I^Ís*'-- ' v.; .(k. ^
V) j^ràjeto ;dé dma piedade'de^niçre^ío é inse­
parável dfe‘ tuna cortòtruçjp .lógiça dò éspaçó econpmi-
‘CO. És&t; preocupaçãb aparece {á fortemente patetVwitil-.
lon. Com efeito, eie analisa, cüidádosamçnte a relação
entre os movimentos do comércio e a ordenação do ter-
rltóríó. A economia de CantiUok se funda sobre uma
teoria da localipção çjas vilas, burgos, eijdades e capitais'
(cf. a primeira parte do Ensaio).'. * ,
Dessa perspectiva, p •libefalismo-sé vCaracteriza
peja reivindicação de um /eSpáço difusó ;e contínuo. Ó
|ftigo;VPeira” dâ ^ncU :lo^diã, redigiáú por Túrgot, é
particularmente significativo, déssa nova apreensão do
espaço. Faz,,da distinção entre a noção de feira e a de
mercado p símboiovâe duas; concepções diférçntós d°
teçido econômico, se bem qüe\bs dois tehnps~irbjálÍ-
quem pm mesmo “concurso de merçadorqs ie comprar
dpres nos lugares e Çempos marcados”. Mi^s, a-feira
ápresenta a idéia “de um cpnçqrso mais numeroso, mais-
suJetie e,< por-consequência, mâis raro”. Iristaujra tim es­
paço descontínuo e fortemente polarizado. Turgot mos­
tra, aliás, ,què sua rentabilidade econômica só'pode sér
/ra ça , pòjr causa dos grandes custos de ^iagem e de
f tránspqrte que implica. Soí encontra, .Iporet^tp; aüa justi­
ficação nuim país em que “o comércipVVónstrangido,
sè^recarregado de direitos e, em consequência,, medío-
cfe’\ Avfeira só é viável num sistema estruturado pelos
dá economia
V
méeanisgííos i^^isénçôçS e de privilégios»* É, portanto, o
símbolo' de üçjfínterwencionismo econômico qué pro-
duz'_dçsperdíc^ é desigualdades ' no espaço, ^nversá-
, .mente, .bs mçrcádos se iôrrïiam naturalmente. <lA con­
corrência dos marcadores”, escreve, “átrai os comprado­
res pela esperança de baixos preçós] é ambos- conti­
nuam aumentando rputuâmenteaté <fue » desvantagem
da distâneia' compènaepara pacompçádores-distanteso
baixo preçocda mercadoria produzida péla cóncoírêri-
Çia”. Assim^se fdrmâutoã jrè^e de merGados, esárutbjâefôy
peto' e^tadcr, ^as comtínic^çôe^,' ,pe^s localizações^ da '
populaçãp e pela^Àature2a das mercadoriasí A multipli­
cação natural dòs mdlüpjps rtierèsados que ;se enredatn
* se opõe' deste'modo, pata Turbot, ã's grandes feifas.,^
essa f(iiStlnç|o no espaçó pcresceotá-sç igualhiçrite uma
diferériçá no tpmpo: as feiia^1,são ielaWamente raias, áb[,
passo que os'ímetciai^|^.,iD^'’c ^ iter nfoiitò; ntais fr^-„
quente. Assimy$ara- T^igot, o vptoíhte dp, co m ício é^n-
separável de sua estrutura,,As grattées féirás dão aperças
a ilusão"de üm"comércio átivo: “Pouco importa que'se-
.faça. um grande comércio numa certa cidade num certo
' momento, se este comércio momentâneo só ê grande
pelas causas que constrangem d comércio e tendem a
diminuí-lo num outro tempo, é ém todo a extensãb do
Estado.” ’ . -
ï Para os liberais, toda essa concepção de comér­
cio se encontra também rio plano da localização das ati­
vidades industriais. O capital em si cíeve ser igualmente
repartido no território para constituir um espaço homo­
gêneo. Por isso mesmo, Smith denunciava os desequilí­
brios na loCalfZaçãó pós capitais^ induzida peto comér­
cio com áá'cqlôr^as, aumentado antociátoientè pêlos
' mecanisiZ^'k|êi:.inon^MiQ^;!l ^ lugar de semcomòdar

Bretarma ésita princípalmerite adaptada unicamente ,às


’ -', ,(> J
/ r m v; ,i x r.

*< - / k T ’ >' N ,v f r Í ! » ; i , , «apít»do4 l y®


fi,t w. ;
j>i f' *
ádp.^u.çomércio, èvçi 1 -
1S ' 1 • vez' Ira d r ^ u W ^ ç a - , <
r^fliçèk^rlcte. ca- - .
V ; nal” lMívbe&>;$A\ ' ^ í 4 ^ 0 ^ j | e r a ^ ;''J
' J li$flao ,s6 ftindã dgü •JL,; t ó i y o y f v J
yf'*' * , industrial qué
'') 4 trii^l. E^este pofite dé. v á ^ tò. tíkto^ , j r J
'■■, r> c a m ^ ;Í p d títíf e a :d è '^
t b d rt^ 4 ^ tó ^ # líá s ^ u 1 /V ,v3
- íio reinado <Je Jytjs ^£(V, a : láçôeá pfe "
tíoltffiittínhain desaparecido, d,.ao con-
,tráriç>, os pequenos fabricantes da ípd -v^i
qüè permitem à França sají da crise ecp^micpjpfovo- ^
cada péla decadência das manufaturas. ^
’ ' ' ^ncontra-sè ainda a «lesma dj£ereíáÇa-na percep-
ção d,ò papel da capitai, Na sUa memória sobre Alm por-
‘ tâticla de Paris,pára a Fm nça, Vauban escrevia, por ,
•p.
N1 exemplo: “Se o príncipe ê para o Estado ,q que a cabe-
h V ça é para. o cprpo, humano (coisa que não se pode du­
vidar), podè-se dizer queta /capital desse Estado d para
* ele o que o centro, é para o mçsmocorpo’’ t<Euvres, t.I,■,M.
b p, Í 7 è ) :^ imagéih^e uma'sòcièdade irri^da ppr uni ?,
centro permanece'ainda rió coração de suas representa-
■>' • ções econôrrlicas e políticas. Algumas décadas depòis,
. Turgòt estimará, ao contrário, que “Paris é üm sorvedõur
y;' í;
-ro”, e proporá implantar manufaturaé rias províncias po-
bresA' Esta-áabordagem librai é, aiiás, imp^citamentè/ .
uma críticâ píolítica; À mqnáíqtíia absoluta pojíariza a &> .
ciedade corrio' polariza a economia. A ecoiiómia, como, >
realização' dá política, funda, ao contrário, um espaço
homogêneo, capilar. “As "águas represadas artifkialmen-
te nas bacias e nos canais’-, escreve primorosamente .

f 3-,Seus fragmçntos“Sobre a Igeografia polftica-^ogeralrneiT-


te dé’gránde< ínteriísse (cf. (Eúvrès,J p. 32t-8 , t' í e p. 436-11)
Turgoi teve aliás durante muito tempo o projeto cfe çscrever
uma obra.de geografia política. ■

■í v-.., ‘J- s
y'
o zíoI

'r - \ i ,
r /tó ia r
■'S&; .‘.í>r-
a da ecpnomijia . 1 V f ■

, \'' ^^rÎT' i '


Turgot, “divèrtëmjôs viajantes por exibirem um luxo fri-
-, vòípi rçiaS asjtguasqwe ás, chuvas espalham uhifofme-
' fhentér. ádbfeí a.supeífíeie dos' campps e qiie cr deçjive
dos terrenos: apeiïas dirige e distribui a todos os vâlezi-
' nhos para aí fbrrôarfontes, feyam, para todos os lugares- >
á,ríqüezae a feçdndidade”(arfígo “Feírá*); }$á nesiaaneti;
— táfora um fes^iïîo muitd predso da nova representação
liberal éo espaço. < „ -,
v Mas, este espaço homp^êneo não é aígo dado, S^.
* ^ é riormalffiehífe pfòduzidor pelo !moviíuettto riaturafda
• éCoriomiá;' está trripedido Betse* d^sdobraV .pelos pitflti-
plos entraves à circulação das mercadorias ê dos h »
- mens que' çausam estrados na Europa do século 18.
, \ Desde o início do sécujõ 18, Poisgujlberfdenun-
__ vciará no s e u Factum da Frdtiça -as ;adu|nas inferna^;,
que “sào iridigrias e causam vergonha à fazãOV A seus''’
’ olhos, as aduánasfsõ ;Sé‘justificariam se còrrespondeSr '
sem a fronteiras políticasirttérnas; não têm, portanto., 3
mais razão de ser quando a unidade db reino se reali-
zóu (cf. Factum, INED., t. II, ch, X, p.. 932-41). Aliás,
desse ponto, de vi6ta, a França estava muito atrasada;
em relação a Inglaterra. Apesar dos esforços de'Col­
bert, que desejava .constituir .um espaço econômico*
centralizado e polarizado, mas unificado, uma grande
' quantidade de pedágios, der direitos de barreira, de
adpanas intèfiorès continuava, com efeito, a constran­
ger o Comércio e a torná-lo lento. Compreende-se, por­
tanto, comq esta questão estava no centro de todos os
debates econômicos. A livre circulação das mercado­
rias, e notadamente do trigo, ^rà a cóndiçãó necessár
ria à realização deUma economia de mercado. Contu­
do, é discutível assemelhar o liberalismo a esta simples
reivindicaçãõ de livre cjrculação. Colbert e Turgot ado­
tavam, dessjípOnto de vista, «m esm a posição, tendo
concepções~:rá4icalmente diferentes do significado da
econopiia Be mercado. Para Colbert, a economia de
s7! '7 '

^ ;
J yx \,\ cap$ulp4
í>>/» rj 1<* -•<*)
' i ' a. ví \v h V < w Y*í Í í :
merca4o;£i$riffie de »'rti.
espaç© üiüQcado, oi ílização real.
^ a^ T W g fR í^ ó f^ -' ^ ájecotíomia de a
^mercado , £ -qm t«,p,WVf. fe^tjomogêneo, mas
"' sèi^i oeritrò, PortaMo/ é v' "Wúgsáavíjües-- -
,*■ tàõ da liberdade de c l * P íema „
'pM; Aiiâs/ por1fAodvos ( _ ^ ^ mais cjue
' néódedüSy,' d que sè, dranifes&míj .as'dpbsi-’j','
- ^ P à üvre-^{jPcüí^p^dosjR%w«S:|
/4, >
' " 1 A situaçàõ é um pòuco í"1*1
;.'r,;- JPpr>du£|s razões. Primejtd porqufeí adua-- *
rieirás iptertoreS^sãò^aí^ioe^is^riteSí-^s^àçâó està(
4 ■’> - ; , aliás,‘ que1não tem Relações Com â detíilkíadç áa rede
r de comufíicaçõès terresttesíinteriores relâ^ívãíttente à -/'/
frança. As comparações que Àrthur Ypung, estabelece ,
daSsüas anotações de vfàgens skó particulàrmèftte ex-?
; plícitas,spbrè esse ponfovEm sçgúidàppprqpebas^en?: '
tfadàs fiscais do rejno estão essepciálmente fundàdis
rias trocas exteriores. A(fraqueza do cothércio interior
inglçs nãt> esjá, portanto, artíficiaiinente pre?a pelos
■'Múltiplos entrages-fiscais e administrativos. Â econo­
mia pdlítka iòglesa ré, isSirn* níais sepsível Aoconstrii*
Ção do mercado intçrno, eriqpantp a economia políti-' ,
' ca francesa está sobretudo preocupada com a libera-
ção do comércio íntéríor, Esta diferença não é- sem ini- ’
portância: Ela permite compreender uma ce#a ambi-
„güidâde do liberalismo francês que & edá,níais" como
um movimento de m odernização, combatendo arcaísr '
mos, que còmo um verdadeiro movimento dé trans­
form ação-jdu mais que isso, só etímpreende a irans-
! formação liberajda sociedade como um sitjriplés m ó - ,
vimento de modernização (problema que aliás jamais
perdeu a sua atualidade na França). O liberalismo in-' *
. glês é mais explícito porque é confrontado com'omâ ,
situação •diferente. Por isso, compreende melhor o
ihòvimehto único da volta ao interior e ^ epmeqüen-

" -lrv M, )
JE>
% ÍS 1/1-
%%
ter^oÍiçâ<í ^ à 4i^ teÇ ^ «ntre interior ^ rexteridrí'1 Do
, ‘ m esm om odí^é levadoa dar destaque prioritário aos
obstáculos à óbtjsÜtviíçãO' de, pmá sociêdade dê btèjrca* ,
' do qup reprèsentám. os diferentes entravés à cirèula-
çào des honten^ p libeialtátop iáglês tem uma visão
ciará* da7rçlaçãovfeutre ecbhomfa ^ w ie rca é q espete-,
, dade. de niercádo. Isjtp *ê par^cylaymente claro para
...M
, Adamf Sitnitb qqe ponsagrá longosdçsenyom m entò^i
A y esta questão. (Üritïca num Mesmo ittovítpento d polícia
nos países da feuropa qup const^angè ^a livre circiílá-
; ção do trabalho ê-dos Capitais, tantó d e unt emprégo
' A a putro,'.quanto-derqm lugaPa otiUo^C/íícfeesspiVt. II,
, í livre J, ch. X, 26 section, p. 176) e o s entfaveS à reiali-
/ zação.de ufpk sôçiedade/de.m^readc)í< ,’ - .
• . No contexto da Ihglaterra do sécülo 18, a qupç-
tào.dós entraves ao niercádo.é, com efeito, principd-
rmente sociolõgifea.Um conjunto de lèis e de reguia-
mèntações limita a circulação dás pessoas. e'a cófteor-
rêneiada força dp trabalho, O Estatuto dos Aprendizes,
_ de 1563, LStatute ofArtíficets) fixava regras imperativas
para todas âs profissões estabelecidas em todas as ci-
? dades de rrÍ6reàãò^J(ín^fí)prated towns}; tratava-se de
um verdadeiro código de trabalho, que fixava as con­
dições de acesso a umà profissão, o desenvolvimento
S da aprendizagem e ás obrigações recíprocas do-tnestre
< c do aprendiz; Para Smith, essas regras malthusianas
constituem um obstáculo grave ao direito^ de proprie-
/ dade e à prosperidade econômica. “A mais sagrada e a
mais inviolável de todas as propriedades”, escreve as-

4. :Á plopósiré dísso, € preciso sublinhar que as trocas interio­


res são essehciãlmente marítimas e fluviais, por cabotagem ou
. por navegação intéríòã Còmércio interior e comércio exterior
empregavam os mesjmòs meios de comunicação. Foi, portan­
to, parado^airriènte,. por ser uma ilha, que a Inglatérra perce­
beu mais daramèntç os limites da distinção entre o interior e
o exterior. / j v' ■
/i f /'
V
A*rt' - i #„ 123
V , V .1 i 'sílr
v/
■ fv&Ætl
i
sim, “é a da)1própria indi^t^a^porque está na força ê
na destreza das. suas m íj^us' Í^pee(irxíí emprego des­
ata forçá*e desta for mais
conveniente, desde a ríim
gúém é uma violação m^üíésti^dest^nf^^iêdade. pri­
mitiva. É uma usuif>açãaevídenle (d^jïî^erdade légiti­
ma, tapto do,traKalb^pr-q^ai^pt^o^^e e n fia m dis­
postos a llje dar^mbalhoí L.~h'M ^^^^dpK^i^a{qaet,
sodédade, co n fiará prudência 'da-qtifcfe^è emprega
urii trabalhador, para fulgaçse esse tmb§mádor merece
p empregò,.pois isto é feito de acordo édãfc o seu pró­
prio ipteresse”, {R ícbes^ ibid, p, 2$2X .Assim, as con*
, porações e osÆstatutpa de apreddfeagem ss^r vigorosa-:
mente crítieádoá por Smith como obstáculos à consti­
tuição de uma sociedade dè mercado, sem a qual seria
impossível haver uma econdmia de mércado. Para ele,
as corporações désempenham ao nível social-um pâpel
equivalente ao do$ direitos e contingenqiamentos no-
comércio, como já íhavíamfeé sublinhado. )E^,)ássirn,
uma'leitura de uma* só vez socjológic^t $ econômica do
coflceito de monopólio. Do mesmo modo,, denuncia
çqm força o conjunto] das leis sofcre o$ pobrês (poór
laws) que foram urüfiéàdas em 1601 sob o reinado de
Elisabeth, cujo objetivo era. fixar ás classes perigosas
por medídas lidadas à caridade (lei de 1536 impondo
às paróquias o aijiparo dos indigentes) e ao controle
social (generalização, da instituição das casas de corre­
ção, as w o rk h o u sepelas leis de 1576 e. 1597).-Mostra­
rá o caráter economicamente estéril de tais instituições
em relação à exte'nsào do trabalho assalariado. Mas, é
sobretudo à lei do domicílio de 1662 (AcPpfseulement)
que ele se opõe mais vivamente. Esta lçidinha por fim
impedir as concentrações de vadios sem traóaftio. As-
sim, qualquer indivíduo qüe mudasse de residência
podia ser, pòr decisão administrativa, mandado de vol­
ta à paróquia onde tinha o domicilif* legal. Deste

. “ - ‘< Í 0 :
s' .
/■Asiitõs
niodo. esta lèílijtiplicava umaexlraordinária Rigidez fia
repartição ,da tóbàlhc)<é constituía úm obstá*.
cülo Objetivo .à ^edêssária mobilidade humana dê um ^
' socied^e. de: mercado* , WiIllã^ Pitt resumir^ .^ta,,pdw
cá aodèclãraft èfn 1796, na Gârdam dos Comuns:. “A iei
do'' domicílib iínpede o "trabalhador de entrar no, mer?
cado opdé poderá Vender séu trabalho em melfiores
condições', ç o cápitaliStade empregar o homçmcom-v
petertte, cap azd e lhe ássegurar a Temuneração 'mais
alta, pelos investimentos que fez*.* i \ ; •
i „A denúpcia dos entraves à circulação' dos traba­
lhadores è à ;constiturção de uma sociedade de merca^
PQsições de Túr-(
got sobre as detenções de força ídépôt 46 fo tcé) aa
detenções 4fe mèndieid4 dé|M çpôt de m en'dtcifé),:équU
valente às jwiMi^hvüfés.ihglésás^ pareçem moderadas
em relação às de Srtiith,* Não há dúvida,\ entretanto,
qüe.Turgpt compreendeu a importância désta questão.
Aliás, um dos seus famosos editos de 1776 estipula á '
supressão das jurandas e comunidades de comércio,
artes e ofícios. O *preâmbulo deste edifò dêsenvolvç
uma visão próxima dá de Smith. Assim, pode-se aí ler:
“Devemoá sobretudo proteção à classe de homens,
que, tendo apenas a propriedade do séu trabalho e da
' sua indústria, estão tarito mais diante da necessidade
e do direito de çmprègar em toda a sua extensão os
únicos recursos que têm para subsistir”; de um outrò
ladó, “todas as .classes de cidadãos são privadas do di-
reito de escolher os trabalhadores que quetem empre­
gar, e as vantagens que lhes dariam a concorrência
pelo preço, baixo e perfeição d o trabalho” (editp de
fevereiro de 1776). Masesteedito* como a maior par-
. j lty. ' Vp. • - _.y " V- •, ' • . - •

$. Sessão de 12 dfe fevereiro de 1796. Citado por Mantoux, La


RêvokOiQn industrielle au XVUIe siécle, p. 459. '
6. Cf. SCHELLE, G. (éd.). CEuvres:p, 560. t V, ■
<! C,

h1 7*1 id
'T^ 7 capítulo 4
. ?■t '
y
v p f c ®
te dps.#ütros de 5 da queda de
'Ebi -prèeiso Íf(i7 9 1 )p a ra
que à$ Corporações t|tivaníeqte su pri mi-
‘ das, AÍémldo mais,' a pbWdtãv ite, pois, rio
mesmo ^no, em julho de; ; , iinação le­
gaí obrigava' qug ps meridigo^ ^'Jîetif^sSein para ò. 1
gar em que n a r r a m , bu domicíliO;
, os buigos, cidades e còmunaã d^faten lhés “fornecer à
possibilidade de ganhar a vídà^por tíatraíhds propor­
cionais |s sua idadés e às suas’ foj-^tóí^-lhedo .das
v-' >?clas^eé: perigeis» (os vãdfoa ■<
:■ t\ põe, np flm das contas, à vontatte deisaíij^ir uma so­
ciedade de mercado. IV^âs é verdade qbe q$á"Vontade
ainda se apóia apenas sobrd princípios è qué a índús-
•, triâ não tem’ qitydà heçessidade dessa força de, traba- -
~ v lho de preço baixo graças'à qüáf ela edificará no 1
sécujo 19.
\Na própria Inglaterra, pòr outra parte, o debate
só tõmaráuma 'grande 'amplitude depois dá lei de Sped-
■. ■. nháimland(1795) que ii^tihiiujbm -tijsô de renda rniphna
garàntidâ. Todo homem, declararam os magistradôs; de
Berkshire quefomaramestá retumbante dècisãòrtem di- -
reito a Uma subsistência mínírna: se seu trabájho só. lhe
' fornece umá/pâi^é dela; á sociedade deve lhé fòrriecer ;
7 7" - o resto. Esta antecipação de uma política de Welfare.sp d
foi abolida em 1854, pélapoor dmencinient iàtv, na qual
Polányi, v.ê com justéza- O elemento histórico decisivo da
constitt^|ã0 de pma verdadeira sociedade de mercado
na Inglaterra.' ...d " ‘
, A cptica às leis sobre os pobres desempenhou de
, fato na Inglaterra uma papel equivalente ao da crítica
aos ^obstáculos* à liv^e Circulação das mercadorias na.
Frànça da mesma epoca.época. Á V

7. Gf, notadamente o excelente capítuio de A Qnthtje Trans­


fo rm a ção consagtadaa Speenhaml^nd. A .

126 ï’-f i*:


■A4*i•
YAw/íd-V■ {'ï-i
' d.'O
.. 7 '■ílí-í/
- th ■tfív-S.
da economia

desteròtoíiallzação da eoonojmia e ,
teíTitoilalIzaçãò rios direitos dè •
propriedade . - •, ■A :1 1
O liberalismo como ideologia da sociedade de
mercado se afirma assim no combate-para desterritoriár
lfzâr d ecoiptriia econstrufr.um espaço fluido-e homo­
géneo, estruturado spmênte; p&aí- dbs^préçoá.
Trata-sé^pprtaptd; dei inutilizar o terriforió; de, o despó-'
litizar no sentido forte do'termo, Más, como fazêdo? A
solução liberal é simples. Consiste em preconizar úma'
privatização gènerali2ada do território, de modòr a divi­
di-lo num mosaico de propriedades individualizadas.
Está solução' aliás está dè acordo com a teoria ;dá pro--
priedade desenvolvida desde Locke. a afirmação dósdi-
reitos dó indivíduo é indissociável dp seu direito'à £fo~
páedáde,vDiz^r; indívídup e dizervpróprie<iade,. passgíit
díSèr no %ndo ã(Im^esínã ccrfsa. Por isso a abertura does- ■)
paço econômico e o fechamento do território jurídico
caminham lado a lado. A sociedade de mercado só
pode sej; realizada neste duplo movimento; Somente a
ábertura do espaço nãp basta mais. Ela pódèrá estabe­
lecer uma economia de mercado, rrias não,úma socieda­
de. de mefcadp. Estamos aqui no coração da represen­
tação liberal da sociedade. I 1 1 ,; ;
O movjmènto' dos '‘fechamentos” {enclosures)
na Inglaterra do século 18 deve assim ser compreendi­
do como um elemçnto dçcísiyo da áfirntkção do libe­
ralismo: Os “fechamentos” do século 1.6 foram caracte- ’
rizadps por seu lado-selvagem. Os grandes pfbprietá-
riòs ocuparam então pela força numerosos campos co­
munais, ápesárda viva ppòsiçào d o poder real. Quân-
do há a retomada do movimento, -no século 18, ele é
legalizado èncbrajdtdo pelp Parlamento. Teoricamen-
:«y •i \
/ \
\.

Hl■ S & .& l capítulo 4


v \ â ' K§>
• - v-1'' - ■ h * * > :\.*#.. '"%5í v P -
te,- trata-s^iobretudo.cte^^SgSTtefc^^^ re^Titeiribramento '
"' eficaz àq^openfield. Q c^ P ^ ^ i^ ^ ^ o p ^ n fielés eram
çqnsdtufdOs^por urtà çle pro- í
priedacfes» cujo .extrerpò ije^^tn^n^obrigava piara- - :
i. dóxahnentea jrina éx^ÜQp^i^: ,í^g^í|á®-'regj^ ôotmj.-
■* i nais» 9 ? pf^s.-iécrA
nicas a^ícoíasvíwai^âda^} \ ílíl% | j6^ v ^ l^ râ ccortió
uni obstáculo profundo pài^ a Vj^Bàí&lòídas suas tet-
i ,t 'f- * * ) , "V *y-,*/ *
1 , das;xjufrfèJ^rnac part£' e s t ^ v W ^ ^ í jjes^es opèn* v
A •indivldualizaçào jurídica ^s^t#i^Q®vimbriça-
do6 uns nòs-íoptroS seppüfiha as^iai á|w ^ :vfrdadeira*
afirmação dos direitos de prôpriedade.'^e$mo repou- '
sando."“1— --------- í »-j — —;— ^ ^ -^u
permitia o
direitos e notadamente do direito de escolher suãs cul­
turas e suas técnicas ~de exploração. O movimento dos
enclosures do-século 18 reestrutura assim pelo remétn-
bramento a propriedade do solo para lhe' dar sua ple­
na-.significação. Tem, portanto, o mesmo significado
prático que a individualização dos direitos dé pròprie- .
,1dade'sobre um campo comunál. , 1
A esse arguméfttQ jurídico e fjlosôfiçò;se. sòma
igualmente um argumento econômico: a reestruturação
, dos direitos de propriedade permite, uma produtividadé ,
agrícola mais elevada, sqbíetudo em matérta de criação
de animais, (cf. sobré eése ponto Smith, Ricbesse,’ tivrç /*
I, ch. XI, Ire section)- Aliás, é esse último aspecto que
permitira”prâticamente eludir o probleflia social trazido
pelas enclosures.9 " . ,

,8ãQ nKnimento d<K en clf^ u ^ /«5oinu»fiat|«eiite à visão jn-


gênua de certos economistas libéraís, é gedrupanhado cofn
efeito em quase tòdòs os casps de. um áçangbarcàmèrije das
; ine|hòres terras pelos grandes proprietários,^pdr! rètompras
forçadas e a babo» preçp d*$ terras dos camponeses pòbres,
assim como peio roubo puro e siráple^;de 'Certos campos
: comunais.
v
P):
">'X

,:ÍT
ífdWÁr -
1 posqomwuiaiS: ^áeus plbos, é,Utp princípio fáq jtisc- , , I

abrigo das incursões tle cjuàlquer outro-posSuidor, pons-


tatá, com efeito, -que os befts çofnunáísjprôctozem póü-
cô e que muitos são estéreis, porque não são objeto,dê
^enbat&a;sepataçãa e nenhuma nu^tençãò, Aléto, çliip
4

território trazendo de(voItà,par^> camp^uma.páffe^dd^ s


habítantêísdas cidades superpovoadas; encofajar o s » - s ^
sarnentos e, portanto,'provocar dm crescimento demc^ rK
gráfico; alimentar a produção agrícola pdr uma ifteihpH - 1
ria da çultura. Mas, paia Essuileessa divisàasó têrá,efei-
tos positivas se for igualitária, e não se ffeer etn béhefí- f
cio dos grandes proprietários. A vantagem do pequeno
proprietário advém do fato de que ele não esquece “ne- •
nhym pequeno meio de manter e de conservar e berl-
Teiiorizafsua terra “Três árpentes“ de terras'comunais, •
entregues ao simples particular”, conclui Essuiley “serão
cuípadas por toda uma família, da qual cada um terá
parte ao seu produto, dancfo-lhe as atenções assíduas de
um proprietário. O rico arrendatário, encarregado de.

' "v . ( , (
9. Esta questão, já mçuto debatida no século 17, tornou-se ob
jeto de uina deternjinaÇão legal de l667que tinha por objetivo ,
evitar que o? senhores a£ámbaicassejn»as terras comunais.
Urra outra determmaçae d e 1669 lhes concedeu a pennissão
de se apossârde um terço dessas renas (droit d e tnage)
10. Medi&á antiga da terra na França; cada arpente media cer­
ca de 50 ares (N.J \ ' f

129
-capítulo 4

muitas terras,- $& ganha £ 6 ? $ua empresa, e ”


'pela modíçidade do pçeçb ‘ ^ ■ ’Vmafltém seus ar»
rêndamentôs” (Trqité, ch. Assim, Essüile^
propõe logicamente uma K ^^çlçH ^ialtt^ria das terrai "
comurtais entre as diferente^.f^p^S^de deteriúihadas
paróquias. Os fisiocratas nàcL-sèg^^p este ponto de'
, vista. Propuseram- uma repartiçâÓ^^p(#õlópajl às prq.-
pnedades já adquiridas, e m esm qd ^feídâpiçntò a ri-
cos proprietários, soluções estas' Ópr Essuilê. '
Justificavam esta proposição aò çóns^à^Srem; que uma
repartição igualitária seria ilUsória.-^êm dïSSP, de um
ponto de vista finais “técnico1",i penSpvâp^Uq ínalienár
veis ou não, pequenos 'lotes ftps*mãos dêlgêfite pobre
ficarão quase incultos”.11 Mas "seus açguríi^itqô não fh
cam somente neste terænb.'Jem em igualmente que- õ
acesso à /propriedade to rn e e i irabalhadoíes aglícQÍaSr;
muito independéntes; enquanto para elèS,. segundo .a
expressão de Mirabeau, “é de trabalhadores pobres que
a agricultura precisa”. Orà, para Essuile. o qué há de po­
sitivo nO aces^ îà propriêdadó;é4ustáhfenté esse acesso
' à autonomia. Nào separa, portarito, a abordagem econô­
mica e a abordagem-social do problértía, mostrando que
!nâo pode haver economia de mercado sem uma verda­
deira sociedàde dé mercado, Compreende assim, num
fc iWesmo movimento, a dèsterritõrialização da economia e
a autonomização de uma sociedade civil/ sobré a qual
pão se pode exercer nenhum controle social. "Poder-se-
ia pensar”, escreve com 'amargura diante das reticências^
qdé sente em relação a uma repartição igualitária, “que
o medo de não mais dispor com tanta facilidade do tra-
, balho e das pepas desses miseráveis seja o mais pode­
roso motivo da oposição dos ricos às repartições das co-
, mxiaà$” (Traité, p; 123).; i - ^ V/ w ''

U. Épbémêrtdesx n. 12, ,1770, apud.WEULERSSE::Ln Pb.Kio-


cm lièdt la fin du règne d e Louis XV/- p, 37. --\-y
* vVi h m CS- _

-X'
da economia

' , » O-destípg. dos fisiocratas na aplicação do- pííhcí-'


pio da privatização das terras- é das florestaîr comuns ê
significativo- dádtendênda historicamente cònsfante do
pensamento liberai. Fundada sobre princípjos individua­
listas, revolucionários na época, de fato' acaba sejnpre -,
por se transformar, em ideologia dás novas "ciasses- as-'
cendentes O liberalismo, como representação da spcfe- '
dade como merqado, constantemente “derrapou”, "de­
sempenhando o papel de uma ideologia no Seritido frá-
dicionaLdo termò.Aliás, pof isso mesrno o tetornô a, ujp
liberalismo “puro” poderá continuar a constityir, ao lon\ .
go de todo o século" 19, para Marx inclusive, o horizon- -
, te aparentemente intransponível da modernidade.12 S, í
ti 4
,,A relação ..entre desterritorialização dtr ‘e spaço, * r «
econômico e territorialização dos direitos de proprieda- .
de parece tão-lógica ao século 18 que o$ fisiocrãtassõ '
podiam formylar ‘seti projeto aparentemeAte contra^ió-j
rio dè monarquia econômica que' aliava o libçjraliSfno "
econômico ao despotismo pòlítico, tornando 0 monarca
co-proprietário universal do reino. Esté artifício teórico .
lhes permitiu limitar as èonsgquências political de üina
verdadeira sociedade de mercado e os manteve' fiéiá .a
->-
uma monarquia tradicional. Mas’é isso rpesmo que os
torrià vulneráveis e, por fim, historicamente marginais.
O pehsamento fisiocrático fica inacabado e nàò terá, por
esta razão, a fecundidade-do de Adam Smith que reali­
za a profecia do poeta escocês Drÿden: “as molas da
propriedade 'serãq arqueadas e afrouxadas çom tal for­
ça que quebrarão',© governo”,1'

7
*12, Êssa* íj&éstàoi ^éfá Jongamente desenvolvida no capítulo
copsagradõ a Marx. ; '
lã.Emyt&ofom et Ácpüopel (X&SÏ), apud LASKI, H J LeLi-
béralismé^europêen. j>, 1 6 1 . '

'0
' - V *% { , . 131
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- ' 'J‘Ç* >AV,Ví 'Vt.A ■•ív
./ - A m ", capítulo 4;
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aastúeiageogr iémlismo
='- - ’ Tv •■\y
.. . »' ■■^r.£Crt
A V rt ' v , '
5\ r , , A r^pres^íitaéáej ljbehíj adOiyraíSUaforça.
,<k> fato de qüe apreende*# t e social
corií Wri‘olíiar npvô ào destéírfi l.pçonomia po-
■ lírica, Èlá se constrói río dupjójíjtó >'de ..dissocia*
/
^çâfe e de, inversão espaços.;;'^
c ' ^áritmêtíca política clássica 3re asü-
. perposiçâò e a coincid(êrtc1a'(iósi í
cos, mllitarês eeèonômiços de ;um,t 3.;OjJrÒ-
jeto mbnánjuico esteva, in^írámêpte’) *e esquè-
ma. Seu fim era um sé: Corístfuir úrp ^rèâf únjco.
Assim, assemelhava os conceito de E s te a i
co), de mercado Çespaço econômico)^ de teífitârip (espa-. :
ço militar) e de na(âo (espaço cultural).' As teori#s ecohô- j
miças mereantilistas exprii^ein«í^sa coincidência mais (ftie ■
qualquer outra çpisa,- còipp jíí tínhamos sugerido'.1 ; . V.
A economia liberal quebía essa unidade,' diSSo- .
ciando os espaços econômicos, os espaços jurídicos e
os espaços politicos. A arma intelectual chave dessa dis-
, tinção reside,- a nossos olhos, na análise do mercado
como úma realidade geográfica de dimensões variáveis
que 'é, de uma só vez, inferior e superior às múltiplas
fronteiras fixadas pela política e pela natureza. Ou po­
demos dizer, mais exatamente, que ela tende a esta. rê*
presèntação fundando-a conceitúatrpénte. Num primei*
ro estágio, com efeito, o liberalismo se cpntenta em
substituir uma geografia política por urra geognrfi^ éeo-
nômica., Isto está particuiarmente jcla.ro para Adam
Smith, quando'mostra longamente a estruturação do
mercado pelos meios de comunicação rlàturais (fluviais
e marítjínos). A geografia é, lida pèlo qué une (o rio, o
:-K- , piár) e não pelo qüe separa (a níontànlia, oi deserto); é
pensada como um saber da comunicação é oão da se-
. páraçãP. Em om ãpalavra, ela torná-sè umã çfôncla eco*
..nômica e riãofmais upia ciência miUtes^^o^tfca. t

132 r
ytr-
. ^
a desterritorialiZação da economia
** ^

'Mas o quadro intelectual corjstruído é suficien- í


temente forte^para permitir ir mais longe e pensar, de
\im làdo, a Superação do Estado-nação e, de outro, a
construção da sociedade civil até o nível microsocial. Á
economia pode tornar-se, a partir daí, ciência da çom- \
posição dos seus espaços diferenciais e o capitalista es--'
trategista de um gênero novo, operando sobre um espa­
ço abstrato é não mais''-sobre um território estruturado '
petas màrcas da'mera localização.
Devemos, portanto, sublinhar que essa dissocia­
ção só é possível por uhia espécie de invenção de um
teititório de tipo novo: o que o institui é o direito de
propriedade. No mundo feudal, por exemplb, p tetTiió^
rio está Unificado em pequenos espaços, enquanto oá
direitos de propriedade estão dissociados (direito de ‘
pastagem, direito de colheita de frutos e cereais, dífeitò
de coleta, direito de colher bolotds, êtc):>0 liberalismo
Inverte essa realidade: fraciona p território para unir è
unificar os direitos de propriedade. Assim, a sociedade,
e não mais o sob, torttd-se o verdadeiro objeto do terri­
tório. Désterritorializahdo a economia, territoríaliza ÓS:
indivíduosího è^páço juridico <âp propriedade. A pto-
pnedàde privadá o spló da sociedade atoínizadá: -
Es|átnos cònsciehtes de ter sopiénte entreaberto,
ndste capítulo, uma nova via de interpretação do. libera-
lismo. Restaria ainda muito a se fazer, epotadam ente
operar èsSesVconceitQs de modohistoricameríte niàis
preciso. Mas, já teríamos feito hastantçsê hvíêssemós co­
meçado a responder ao desejo que exprimia F. Perroux
de escrever “uma1breve história do libei^lismo sób o âh-
gulo dá dissociação dos espaços econômicos e huma-
nos, pu, se quisermos, além da deslocalização das uni-1
dades e das réiaçó.es econômicas”,14 /
í V
--, vv
\.O
"- ' \ i ■/. ; ' 't .► -

i - „.r.v^X V '
I 14, Cp l Écónom ie dú XXe síècte, p. 176.
j “ *„ \ V
•ggpítu|o §

o estado-nação
e o mercado

f \ * 'T j r r ,' i N
■■ ^ . ' V ; ' - ; '• • ■- . ^ V . X ;-\ i . :•i 1 ' ■ .. } .

N o s capítulos precedentes, mostramos como ó


concçitp de mercado foi progressivamente formado n o !
quadro da'filosofia'política" mpderna, fazendo nascer
uma nova representação do’ mundo e da Sociedade.
Mas, 'ò trabalho dos conceitos não pode ser tíqrripreen-
dido abstratamente. Deve igualmente ser apreendido
em sua relação histórica com a' geografia ,dOs. espaçqg ,,
econômicos e políticos quevestrhturarama Kuropa d)j
sécbíô 13 ao 18. ^ questão das rplaçõ^s entre o pertóa^
: mento econômico e o ' pensamento político modérpo
estáççom éfèito; estreikmehte ligdda à htétóriada inte­
ração entre o mprcado (espaçoda troca éconômicâ) e o
f^stã<^n^& <térrit6fto c£ spberania política) comei su­
gerimos no çàpítülo precedente; ‘ -f ^-
f >?VA. cóiWdêniçia^entrè essas duas realidades.> Eá-
tado é m ercado'- é, coni efeito, histórica' e geografica­
mente bçm partiçularí . kão .Se poclem encontrar Outros
exemplos a ^ teírtpó .e nò espaço. Essa particularidade
européia é ^rávim^de significações. Devemostentar dar
conta dela. Nossa hipôtese é que toda a modernidade'
pode sef lidá ha relação entre essas duas realidades. So­
mos asáíro tentados a compreerfdér de modo unificado
a formação dos Estados-naçõesje ô nàscimentp da eco­
nomia de mercado. .
•' ‘ ’ capítulo 5
^ i ï, -1

a formação do estaáo^ação e o ..«


desenvolvimento d|i s6ci^dadé
de mercátio: o easó dafradça
, 0 Estado-naçào constitui umafortna particular de
blôqueio do espaço pela política,. É.constryído pela pro­
dução de um território, ou seja, de uip espaço de sobe-f
1rania política homogêneo ,e daramefttp delimitado. Dis­
tingue-se assim, de uma só vez, do império e das cída-
des-Estados jnedievais (nas quais o verdadeiro território;
’ é um espaço comercial -e não um espaçopolítída). Suai
homogeneidade se dá primeiramente por mejtpvd b ^ íra-
■to: a unidade do território não ë produto de uma geo­
grafia natural, resulta antes de tudo da uniformidade e
da validade de normas jurídiças. Aliás, sabe-se que os
juristas reafe desempenharam um papel ínotbr nâ forma­
ção do fistado. Historicamente^ as primeiras instituições
estatais foram assim cortes de justiça; o jxxJer real)co­
meçou á se afirmar a partir do morhento. iqué justi­
ça sè tornou uma justjçg d<? apelação. paralelameritè a
esse enquadramento jurídico do espaço, produtor do
.território estlatal, o Estado-naçào se constrói geografica­
mente por uma política de redução dos enclaves e de
delitiaitàção da? fronteiras que çonhibui para' èòrtstruir
ünj, interior ná sua diferença com o ekterior. Córrto ju^
tamente notou Lucien Febvre: "Pouco importa o quadro,
a margem. Ò que vale é o coração, que deve se consi-
defar afrtês de tudo. Èm outros termos,. é preSEíiSp abdn-
.dar o problema das fronteiras do interior - jamais de
fora, do exterior”.1 Além do mais, se os límites^hà Idade
Médig tinham um sentido jurídico impreciso (cf. o ema­
ranhado de títulos de todos os tipos) e eram concebidos

I:-,.. . . . . . . .’ ' ' 'J *■.


1 Cf La Terre et l Évolution hum aine, p, .337,' ■
CA/— >^ t\o*> Of«v Co
•V'-N\ k â^ k r-isílcr
: '.i'j/.- w w ; ' ^.
*>:„
,p , -'rJ'V ■>'j,. ,^ VJ t ', <"•^
;V f ■s/ j» rt

-
? o'Vfestíwí^S^^-JIú;«terea<io
'* - ;v ;; \ x

çofflO espaços de separação, zonçís limítrofeá muito va- /-


gas, a frorítéira estatal assume um preciso sejntidb jurídí-
■ca, político,: militar e fiscal. Constituindo'um espaço ter-;
ritorial', afirma o -Estado no seu papel de organizadores*^ n
tratégicq. AltáSy não foi1por açaspque OsqiririfpifaS &á- , 1c
'' pihlsttàçôes/(guerra, enfreio-, pQttitep e entradas, etc.j
’* ^rtèrá c^pio^funçãd) príneipaf e^trüánar o ! èspaçp çòm q , 1 ;
/ ttieip 4 e ação dq Estaipp. O teditódo^cossa^Ssim,cleisér , r
sòpiente pmsufjorte ipassjvd dá soberâiiia políticaj, íim
qúadrp geofísieq de competênçía;. torfta*se mm ínstru* • ,(
" mdníqt diriâmiçp eeaíivo de ccatstrüç?àd âq- Estado cômo
fm óda padleplar da-relação polífteâ eiítrê òíespaçop a ,/
■/ f& x to â tà llfe, .v;;
^ ‘ <\ -•! ( v - '^ - X . / . V ; 4'
sr
■ 'Assim ,'o Estado,persegue o trabalho de desterií- *'
r> .í
1toríatízãÇãp das relações feudais operado .vt-*-.
1 !' . daddpg; e®é movimento üm senado ip teir^tf^j^p p ^^ i ^ r
f * i 4Más o Istado não se íimita a produzir um%ttitÓH 1lv - ■ y.:,
' '
rio político e jurídico homogêneo, rompèndò qótriyá'< ,
geografia hçteiogênea do mundo fçudal. Procura tèrri-
torializaráp seu modo a própria sociedade. Concebe a
sociedade como seu “território profundo’ ,' por assim di­
zer.. Òessa perspectiva, deve-se compreender a ação, do
Estado para desestruturar as relações sociais feudais. O.
poder do Estadp só tem^sentido se é exercido sohrè sú­
bditos e não apbre grüpas dotados de,, unia certa autono- .
■' mia. Aliás, aduta éntre os grapdessenhores ’< apenas o v
.aspectoímais qspe^ular desse^ombat6 fêalização
de uma sociedade uniforme. Nãò basta ao Estado súb-. |
metef os prífícipes pàra se afirmar, pois dève recompor
toda a Sociedade. Por isso, não parará antes dè destruir
nieçpdicamepte todaS, as formas de socialização interme- <
diárias. formãid^ç^;mundoçfeudafquè con 3tituíam 'ço- „
munidadeS, rtóWaífc sufidcnterriente importantes na sua L
dimerisãó pára^ séreto relativamente auto-sjifícientes: ' 1
clãs familiares; comunidades aldeãs (que desempenham
-entre os çatri^oneses o papel da linhagem para os rto-
: ‘.'-tr 'íiA-ífe1.-*.'’'. i ’' :( '<~y: ■' i", ■< '■

í -Ví *(> *■
137
rf.VWTvísW.SVWiV.',

■M Ê k * * ; . t: .r>
- % w-«?- capituloS
\ '"'■V
' M - , l

breS),’ confrarias, ofícios, etc,, tjó^los estes gru­


pos, corpos ou ordens, aindaufto sé'culo;;íp , faziam que
o grupo sociálde baáe .fosse- a^lp^intçík), ultrapassan-
do quasé semprei-a. moderno dò ter-
,md" 0 Estado só ^j^pd^i^níê^bí^^í-^^^isfae- coinô seu,
território píofupdo sç dissolver K^QS-Ês$eslíjgares para-
tornado ihdivtduô ^upi filEoCda s@ciçdS|dè cíviP (Hegel),
Participando da libertação, flõ inilívtãtf(ilx^M ja$ fornias
arítçnores cie dependèndá e de k^daiíái^O^deSertV/OK'
ve à atomizstçâo „da socipcfyde da qual prèttóf bara exis­
tir. Com qfeito,-rio móvtoientQvdesta atomja&çâo o. Esta­
do pode ,se afirmar como mega-estrutúra diferenciada
de sociabilidade; tende a igualar a sociedade no sentido
dè que seu. objetivo é imppr a todos,, os indivíduos a :
mesma fraqueza diante de si.'Sua formação é assim ift-
dissodávél da constituição defuma sociedade civil'indi­
ferenciada, fragmentada, atomizada. Obstado acompa­
nha, â; afirmação do indivíduo como sujeito suficiente,
rCcebèndó qs tiividendo&,de-ürn^ mutação Cultural qju.e
contribuiu pafa acelerar, é mèsfnó súseítâr, na medida
em quê seu' esfoiçópara âutónònuzar á política frente à
réíigiãó; implica iguálmerite a aútpnomizaçãiO dò indiví­
duo ènt-relação às' formas dé sociabilidade intermediá­
rias.-ptepara neste sentido a sociedade de mercado &
qual sua existên&a está ligada. A liásdeste ponto de vis­
ta, seria possível tomár a história da família, considera-
dã comei a forma de sociabilidade' elementar, para me­
dir o gráu.de realização da sociedade de mercado. Com :
efeito, sem entrar em simplificações prematuras, _é notá-
, vql ver com o, a pásSagem do domus à fainíüa ,conjugal'
nuclear seguê quase sempre exatqmenté ó desenvolvi­
mento da ecpnomia e da sociedade de méfcadõc
, Essa ação do Estàdo para reatoát/batá sociedade
d e mercado era ?já jplenamenfe justfflcada apenãs em
função dos objetivos políticos que perseguia. Mas será
consideravelmente fortalecida e racionalizada por ra-
C y p -^
o eSlãdò-níiçãq feó mercado

aparelho ca]Üítí^er''ijèüá èustqso. tjlao pode se Contentar^


- com aS recursos 'oferecidos pela exploração doá seus •
dlómírtíps parãfazer face ãS exp eças tfe^èçntesvA p iãv ’
tica feydal das corvçias,,óti a prápea antiga jdp tr a lh o ■
dos prálOnèirõSj rtàó parçterii ser tolUçôefs;'satlsfaf^)t1às. '
Implicariam.' uma gigantesca mobilização para obter ré-
suítadbSdièdtãdos. E í&tíbrêtudp sjUa rííteáéão l^ cb óçg* r
fia'rapidaibente com limiteíTfísicôs edemograficós. Nes-"
sa dífbçâo> ftoréjn/Se' órierítop a polftíèa da Rússia. O
desenvòíximehto do trabalho forçado, da Setvidãp e do'
domicílio forçàdp ría Rússia so^ejíplica essencialrpehte,
. nasua relãçãóto n /a Questão dó pnaqdairíentc) dos fp - ■
cargpsdo Estado. Gabriel Ardant èlafoorou a estêprtipó-*
si^p umá hipótese sugpstiva: analisa a origem dg servi-'
dão cémo pfpduto: da impèrfeiçãd do sislémafisçal náwíri
contexto d e erèsciménto das dèspèsas do: Estadorífturtó
mais-rápido Que o progresso da economia. Ardant m òsf
1tra assim quê os soberanos que mais conttibufrápi pára.
inátitufr e reforçara servidão pão>aqueles que pòdçm ser
'considerados conto ps principais fundadoresdo Esfetdó,
empenhados eiri aumentar os meios de ação e de po-'
der; Ivah o Terrível, Bóris Godoupov, Pedro q Grande,
Catariría II.2 .' ■ ' , ',
j O mpdo de‘financiamento,: do Estado foi diferen­
te nos outros países éüropeús. Repousou sopré a defi­
nição de um iprbjetp fiscal adequadp. Nesses países,
portantri, 'a história ^do imposto páreed indisspdátrel da
história do E 0 tfl^ e da sò ^ á a d k v ^ v '
v Eáté pre^etp'fiáçal náo pod^repòusar exclusivá-
mente sSbre psdmpostos pessoa isousbbre ps impostos
em espécie'.,EfSm..ao mesmo tempo impopulares, difí­
ceis, de cob ^ r te de'um rendimento limitado, dado, que
-V'.,

capítulo 5
'-; < «> /• A i y<! 5,í- '• w«~ w >- ^ v*.S<f *«íf- V'W -* •íf
>A
■t ' , T jA *(’ i
a população era màl recenáeada, è^ yofan ie das colhei-
' tys só conhecido aproxiièsr^utn^fòií £$n função desses.
^ imperativos e desses consl/ãngtajef^bs, QS impostos so-
brç a cijrculaçaD parece^m -ps ^ai^Vpfânejáveis e os
íp#is prpdutivos e o progíôss^/Sa- ^ n p jjóia dó trocas*
to^nãvãçalérii do mais^ ^ rd tu lá i^ ^ té |uçtatlvo oesta-
belecipiénto de uip, sistèma fiç^fdSs^se^fj^., ' ' , x - '
S, i '
n Besta perspectiva o ,Eátadec ^tpjfaq^ehjnina políti-
*% ,' <• ' -

f\;.ar ' ~■ tadfe ãtri^liiu :a/i;ái mèsmo, primejixtnióhl^fkr<ataiK& 'de


mover yma Iqta oontia a eçonomia fcmiliáf, iniciada já
' em certos pontos desde a Alta Idade Média (cf. o esta­
*

belecimento das banalidades, por exemplo). Com efei­


to, as trpcas nãó mercantis,dntracomunitárias,' eram ín -,
Controláveis, não podendo, portanto, darlugar a uma
arrecadação fiscal moderna.5 O Estado e.stá, portanto, yi- „
talmente interessado no desenvolvimento da economia ,
"de m^fcadp e na rédução das troças;nap mercantis»5
Syty> aipbiçòÇs ípólíticas e suas aãibiçõesfisçaís se con-- , -
jugam assim para Ugar sua sorte Com a do mõrcado. Esta; ' -
■\ r. : ' 'Constatação é ó fundamento das políticas mórcaníilistas
-que se desenvolvem na Europa' do século 18. Contraria- ,
.mente ao que^muitas vezes sç disse sobre este assunto,
que, na verdadé, é rtiuítò Controvertido-5 p mercantilís- .
mo n ^ sp d éfin e primeifatfiéoteçoÉhoyyha política pro­
tecionista ou pela atração de metais preciosos. O mer- .
catftilismo é antes/dètudò^m a política fiscal. Seu ohjjt*- / '

•3. Pode-se tèr uma ideia dessa questão, considerando toda a


política de fiscalização da éçonòmia comunitária qué realiza
hoje a maior partedos Estados do Terceiro Mundo.
4. Ver jgualmçnté hojç cp pròtyemas fiscais! prov^ados peíis
associações que oiganizam para seus asâoqiados.p , ofereci­
mento mútuo de sçrviços fqra do mercado.1 .
5. Sobrp esta questão, se reportar na büpfiogftifia às òbras dè
■Cole, Çoleman, Hèçkschér e Vinen ' ,v
, • ':r < . ' ■ ■ '

140 * b" U -
r. C '
^ 'W £ r 7 , ‘' A -V ~
,-df N ', 7 V r,
‘^ e ò ínércádo

' ->l‘‘ ’ ^ TjW ”NW|' /t~' i ^i v i


tiv o ê^ êtetáêy a íefldâAft.4eais estimuiando^d-ee^nainia t -
c o, ComérCip^Ò fcqrttfolç: da ^fconpmia e"o estabelecí- 9
- ínéítto de t^flüfàtUfaà têm por pbjetfvo favóréèer aS i ' - . -
' condições próprias ao aumento do rendimento d©6 ipv “7 -
* postos muito mais que' instaurar um dirigismo eàonõi^í-'
co cpnSidérado como ufrtbêm em sç ‘'O comérciò é a ' ^ ‘
fonte daêiinàrigás, e as finanças sãõ'p nêrvo daigperra”,
epcrêvia Çolbert numa jrísitrução qélejbhí. Súa divisa pó- /
deiía ser o, pue é bom para o fisco é bom para a socie-
, dade, e de nada serve ir Biiscar ouro no fim dcrmundo < ■
qUando pê tem à ríião uma riqueza inexplorada. O sis- ,
tema fiscal é "o “Peru -da' França”, -escreve significativa- ‘
> ' mente um economista Inglês contemporâneo dê Gol- - '
bert.V“A administração do maior Reino, a cpnstruçàp.de "
' • um grande Estad° absorveram duratate muito tempq as ' ,
eêergías dç todo "um povo”,., nota Chaumi. “Pára quê a >
América? O Estado na França éajma Amépcà* (Histoinf q 1 ■ " <■
, êcohim kfue et soòiale, .t.I, p., 22$). O “retomo-ao^flíp^».?•'••.•'•r.•.
rior”,- dç -qual já falamos Ao çapítuk» anterior, se esboça ■' ,
p assim desde aquela época. .É acompanhado põr um gfí; v.
1 , 1 garitesco trabalho de recomposição da sociedade, pari \, "k>
. ' obrigá-la, a exteriorizar no comércio õ qué escondia sob , '
o mercado, para pressioná-la a “exprimir’'^suas trocas'
fora do mercado. . >. - k , .. ’ , -
' ,' , Desse pontd dê v*s,ta, é preciso sublinliar o papel .
determinante do Estado na organização das feiras e dos
<mercados, essqs cóndensaçòçs periódicas de troca. ,Gs
imperativos da'política fiscál explicam’em grande parte - :
. seu desenyolvimentò/Àssimj desde o fim do Século 14,
o çstabelecim êntade feiras e mercados está ligado a
uma'autorizgçâo reál. O Estado moderno se nutre do '
ccmtêrckJjí iaiisãò peiai qual o encoraja e vê na sua liber-

6,,Apu4- Wplfp/M. French Views on Wealth an d taxes from


the M iddle Ages to the Old Regime (p. 196. In COLEMAN Re-
viiot^in^nerbdpiiltstni. ! .•/•••< . >■■■

'" f , \-.n:À
-; ",•-T. J •, ,. vlv;,- '1- •• t7 • 141;
■•'. e'j CV.'-W:- . ! >t.'.\r ^ ri . . S,
V^ ^ ^^ ^ \ 1*t 1 ^
. , t-'VT)

capítulo 5
d , cif
dadé a Condição dâ 'suá Colbert
ameaçãrá, em 1671, demitir ào^.ímen^Qjje-1itinerante-,
que era culpado, a seus.olhqs, ÍÇj|ejrA^vjt)licado. urti
mandado destipadcCde fatôa. “ácbrferitapa liberdade de
, epm érdpV Sei müito bem”, e£cre^‘,;“qye o^ mercado-^
- rçs jamais poderão ser o b tid o s .« , comerciar, e é por-
' isso que doü a eles uma tão to^rafeliberdade. Estou
' apenas ansioso pára ajuda-lós rnbip^^afedsanj e enco- ’
‘ rajã-los para que. tenhaní v a n t a g e n s » m p d o ”.’ A'
política econômica mercantilista ‘não tdírifpdrtantb. seh-
tido fora db desenvolvimento da ecbnqrrüa dd mçtcado.
Testtetnunba a intimidade dos laços que únem a forrmt
política do Estado-naçâo à forma ecoçôm ica e social do
, mercado. A crítica dos econpmLstas liberais a seu resper
tó hão teria sido, aliás,- tão violenta como foi se ô merr
cantilismp hão tivesse produzido importantes efeitos
perversos. O encorajamento do. comércio, com efeito,
- tornou-se prògrpssivamente uní obstáculo ao comérçio
por causa do efeito destruidof doá pedágios que anula-
,ram, na maioria dos cásos, qs efeitos ppsitiyps' das; vias\
de comunicação fluviais ou terrestrús. O declínio econô­
mico dbs fins do século11? acelerou esses efeitos, quan­
do se tentou em vão compensar a diminuição das tro­
cas' pela multiplicação das taxas e dos pedágios. Todas
as proposições fiscais do fim do século 17 e do começo
do 18 se explicam por esta situação. jE>ê ainda para .ser­
vir ao rei que Boisguilbertproporá reduzir o papel ecoT
. nômico do Estado. De uhla perspectiva de1reparação fiá-
cál escreve o -Detalhe da França (1695) e o Factum da
França (1707); esta ultima obra trazia como subtítulo:
"’"‘òü .^í^ds^miiitâb^fâcèis' .;de -fazer o Rei receber oitenta
milhões acima da capitação, praticável põr duas horas
de trabalho dos Senhores ministros, e-pm mbs'de exe-
; êução por parte dos povos, sem despedir benhum ár-

7. Apud HECKSCHER, M ercantilism p. 294, v„JI.

( / rA Vít
.‘â í j L 1
|ô,^omerèado
. ; \ ''-.f
'*'■ • . 1^4r •" * sJ\ 1 '"•C■. .' . -1 ^.' t_>/ . ' , -j11
rendatliriqgera(mem particular...'Mostrando ao mesmo
tem ppa imppSjybilidadè decair de outromôdo da don-
.juhtura prdsfepte”, Vauban publica, no mesmo espírito, o
Dízitko Réal (1707). Escreve iguflmenté para o íei,’ teh-~
do os plhos fptadbs nele. ~ ~r ' .
t No casod à Franca, pèlo teenOs, não ç,, portaintò,'
exagerado falar do Estado como uro inátrumentp dqde-
•sehvolyimento db mercado. 'Mesmo\qs^.reformadores,
, como Boísguilbert;. rompendo com ©'' mercantilismo,
; coníjijuâm à petear np.’qi^f§'.dte8Sá:'te^ má
, política íiscfal vo lugar dá harmonização dòs interesses
privados (o mercãdó)' com o interesse pilblico (bEsta-"*
doj. Os écohoiriistas liberais, como Adam Smith, hão,
.saíram fiUalmente .deste quadro intelectual, senàò para.
coriceber de um outro modo, o interesse comumfque é i
apreendido áo mvel da nação ,.e não mgis do ES$tàdo)/èA
as condições da sua realização; Como Qdlbeít, pensa a
sociedade como um cdniuntd dp indivíduos cuja Unida­
de só podé ser global. Só fala de outro modo porque
não se coloca mais dõ ponto de vista do soberano.“E so-
* bretudo .r^ id e‘num .putro lugar, na ..Inglaterra, onde as
;.;;^ à ç^ ,.e n ^ ^ ,^ s^ b ;:é )d ,'d te n ^ d o sãp profundameh-
te diferentes. Aliás, elas se articulam de modo particular
- em cada um dbs paíseseuropeus. Isso nosr incita a for­
mular uma proposição de generalização dos vínculos
entre ò E$tad«| e o mercado na Europa moderna que
não seja uma simples extensão de uma,cias configura-'
ções-próprias a um país particular/ ' 1 /

generalização: o mercado na geo-


grafia dos espaços econômicos e .
políticos
/ / *si 1 r /i ■ ■ ... ■., ,/ ■.',r
'Nd êasd da França,'o merçàdo é, portanto, em
grandè' partej tjttprproduto do Estado. Estè moviméntqsõ
-V • -VA.'' y

J v <'/!•'/' -i ■
143
-1
1 ■.i -rv, rJ:• .^ i^• -•;í~ b /v

’ 1 , ' ‘d e.'A ■
' ' '' 'L/1 > V'* / ; } v ' ,
^ 1 "/-v ■* ^ * () '■ ' capítulo 5

' ' " ,1 c7 '\ * V


se repete na Espanha, e ocorre dfe^outro modp na Grã-
, lv
Bretanha, na Itália, ou na Al<3triánhaw .
" ' Podem-se grosséíraménte distinguif dois outros -
'“modelos'” de relações' histddpas.enjre p mercado ei;
Estado, . \ ^ ' rv * > t/
■i ..lílv.O tnòdefoUpaliatt®'.<w :AT,ecohotniá de - ,
, mercado foi edificada sem a .ajudaiídõ Estado. -Mais, de- -
sertvolveu-se graças, àff^queza è Içdi^são dps espàçOs
de soberania política., ájs teses dexBáeqhlejr.e de, Landes®
párecem-nos muito esclarecedoras sobre essè ponto,(só '
se pode censurá-las por terem Sido^rnüito' ápressada-
mente generalizadas para o yconjunto doá .cásos eurcr-'
peus). Para Baechler e Landes, i explicação última da
extensão das atividades econômicas na Europa, ho sen-
tido do. capitalismo de mercado, reside na: çlefasagem ,
entre a homogeneidade do espaço cultural e a hetero­
geneidade; do espaço políticoLandès escreve neste sen- -
tido; “Por causa do seu, papfhcrucial de parteirae de
instrumento do poder npm contexto de ^isfen^ias^dé go­
vernos múltiplos e concórrèfijtes ipsíés sistemas diversos
contrastam com os. im péííi^''4o^lC ^$e^ àn-;
tigo, que englobavam todo ò universo conhecido), a ,
empresa privada se achou dotada no Ocidente de uma
vitálidade social e política sem precedente e sem equi­
valente” (p. 28); Landes e Baechler mòstram, apoiando- i
se„, notadamentè ria diFerença ém relação aó ,caso chi­
nês,9-como a„ ciênda e a técnica puderam ser ecònomi-
caríiehte. pródutivãs núm espaço político frá’gmentado#o
que hão teria sido, possíve l,<no quadro de um império
ecumênico e unificado. É verdade que no século 18, por
exemplq, os centros dá indústria têxtil da jtenânia co-

i 8. J. BAECHLER, j. íe s Origines du capitalism o LANDES, D.


The Prom etbeus vnboutid. ( “L Europe tedinicierme ’).
9- Dp quál se sabé que apresenta a característica de não ter
transformado economicamente suas aquisições tecnológicas;
i ' cf. sobre esse ponto os trabailio.s de NeedMtne de Baiazs.
o esfçdo-naçãtfe o mercado

nhéceram um ëresdmento muko mais rápidd qüe, as fá­


bricas dè Frederico. ÏÏ.10 Mais globalmente, os prjjneirols
eixos de desénvOlvimento econômico da Europa se ins­
crevem ptéssas ' "cavidades” políticas constituídas pelas
cidades-Estados, as cidades cotftefciantes e os pequenos
dúcadqs.. Assim»-ã margém dos ■ÉsfâdqsrPaçõea ení for-»
mação, se construiu a Europa do cqmérôiq ec}a iqdús-
tria ?cf. a Itália db Norte, a Flandres, o Báltico). Restes
casòs, d !justo qjensár cotia BaeçJWer;qóe a áolução. do
problértia das Origens do Capitalismo CÔmOecOftomia.
de mercado deve se? procufada no sistema político. Mas .
V relação-histórica fentre o econômico- é à política; se .
funciona no mesmo sentido que no Caso francês,'opefa '
. muito difercntemente. De um lado é o Estado-náçàò
que cria o mercado, de outro é a aqsência do Esjadoi
nação que lhe permite se afirmar. -
os efeitos pçrverj»qs li­
gados ao funcionamento da relação espaço pólítico/es-
paço econômico se reencontramónvertidos. A partir, do.
sécuio 18, à marchetaria de reinos, de ducados e de -
prinçipàçios, que edmtftui o èspaçô'pbiítícó italia^P
álemão/torna-se um obstáculo ao desenvolvimento eco­
nômico; o comércio estava paralisado pelás barreiras
aduaneiras Úgádas á esta fràg|nèQta^o polítíca. Â reava-'
liação do vínculo entre o. espa^O econômico e o espaço
político traddziu-$e; então,1prinçfpalmentena, álerqanha
nò início do século 19, pelo desenvolvimento de teses
mércantilistas. Os Hvròs de EichteAQ Estado Comercial
Fechado) e de List {S istep^ N acip^ ldeE com m iaE òlír
tica - ■184D-' tomam páttiçúlarmenté esse ?sentido. List
propôs assim Se apoiar sobre o espaço èconômicó - a
zona do Zollverein - para constituir um espaçb político

ld. Quando falamos aqui da Alemanha e da Itália, evidente­


mente feJtemç» desses países cpmoespâ^os heterogêneos, di-
vididos epi úpi grande números de reinos; seguramente isso
exclui a Prússia. ■ ". ■
itf

■* >/ ‘ ~^ \ 'us, ^ <; i v


> capaz de garanti-la e.dè pfotegê*}a. De çetto rfiodo, è o
mercádo nue constrói a- I&tâàb$N& Erahcá <áú fita do sé-

tilistas. Mas o essencial dessa política fiscal é que se tra-'


ta de fato de utaa política aduapeira. O tesouro real im
glêavive de itapostos sojbre a lã (próduto chave nas tro­
cas exteriores). Durante o mesmo período, era sobre o
solo, prôduto de comércio internei, que se Construía a
üscalidãde francesa. A diferença é significativa e explica
■ia relação müito particular que se estabelece entre o Es?
tado-nàção e o triercadçríiá Iri^latéria. Pelo menos até b
século 18, a fiséaíid^de sbbre o comércio interno é rela-
. 'tivámente fracá^ e òa direitos dè pedágio pfaticamênte
inexistem'Ca retífede põtauniçaçãqq, na^verdade, muito
. menos desenvolvida que na França). , .\ - 'r ■
>' Paralelamente a esses'.eleméntos’ propriamente
ecoriôriiicQs, o Estado inglês não é tão onipresente e
onipotente quanto o Estado francês da mesma época,
pois na Inglaterra a «sociedade civil se dê^envolteu/mráis
livre e fortementè. A,partit da^relaçãoriistprícanierité ex­
cepcional bntre Estadomaçãò e mercãçfo, podé-se« com­
preender a vitatídáde da ecqnornia e o efeito ^parjticulari
menté rápido da sua revolução industrial. Nesse sentido,
pode-se iguaímente analisar o caráter muitoí aténuãdo
dos efeitos perversos, provocados em òutros lugares
pelo modo de articulação entre o éspaço efebkômicò é
o êspaçppolítico. i ...i, \r.
! Não é, pbrtanto, possívél tra.tar genéricamente
das relações entre Estado-náçãp e p mefcadb sèm levar
em conta a diversida.de e a complexidade -desses dife-
6 estatio^iaçÃoré 0 mercado
ii^
y.:■ ... V
*> .!*• iíse
rentes mõdejos históricos. Unia finalise éxplicátíva' glc^ ,
bal desse -^eÂôrttówo só pode ser avançada , se thos-
trarmos;;qúe <0 Éstado. p 1t> mèrcadq remetem à;um tipo
de" realidade.idêhttea..lsío não ê pensável rio <|uadrd de
Uflta definição1puràmente jnstituciomfi dessas duas.ndr
ções. Nestè nível,, qòm efeito, o Estado e p mercado se
excluem e remeterri a dois fnõdbs diamétralmente opps-^
tos .dp. regúlaÇão da economia e de funcionamento dsf
sódedade. Nossa hipótese é que o fistado e' o merfcado
podem ser compreendidos, tanto-no nascimento, quan­
to no dêsenvoiyimento, de modó unificado desde qüe
sejam compreendidos espacíalmènte. O modo pelo quaT
expusemos* historicamente seus ’‘arranjos?, no sentidó'
matemático dp termo,, se inscreyia já-çm conceitos espa­
ciais, Precisamòs agora raeronàíizar esse procedimento ’
^ . -O Estado e o mercado não são; “coisas", sãq tela*,
ções dd soçiedade com ela mestria Inscritas num rriodo
veipecí/ico de ofganizaçãodos espaços sÓcinis.ExpIique*;
mos esta definição. O Estaclp, por exemplo, só é uma
instituição, uma ôrganizaçãd diferenciada e 1centralizada
do poder spbre a sociedade na medica’em que produz,
'um território, ou çeja, uma forma particular' de üíiifica-
ção dos espaços ecohômicosi, políticos,vmilltâres e cul-
vturaisV O Estado-naçào é um modo de composição e de
articulação, do espaço global.D o mefetho modo, o mer-
çado é primeiramente um modo de representação e de
estruturação dô èspaço social; só secundariamèrite é um
mecanismo,de regulação descentralizada das atividades
econômicas pêlo sistema depreços, Desse póhto de vis­
ta» o Estado-naçào e o mercado remetem â uma mesma
fbrmà de socialização .dos>indiv0úos no espaço. Só são
pensáveis rip qdadro de uma sociedade atpmizada, na
qual õ indivíduo é compreendido como autônomo. Não
pode, portaht0,.haver Estado-naçao e mercado, no sen­
tido ao mesmo tempo scfeiolpgico ,e econômico destes
termos, nds espaços em que a soçiedade se manifesta

. f ' V*', 147


^ *>• "

:f!w m í\ . his
■ V' Capftulp5

^ \ i ,-, ) , > ' * ’ " " 1" ■• , ■’


como uni ser social global. O comênciq,?%#oca eras for-i
más fié ptganfzaçãò pbfítica assljmeHg;aí pèeessaríatneri-
te-ovltras fpfmas. O Estado-nãçãò W .e$aift$hia de mèr-
cadp^só tépíasslm séntídp ~nówquadro dfepina socieda­
de de- mgfcãdo, A sociedade' d e,rt^ ràd o ^ 'p feced e,'
tornando possível uma ftova réiáção d o ^Spâço1do pb-
. der .político e dás atjvidaçlesi§qciais.‘ ,
, E>e ufna tal pérápectíva, 'parece-fne:> é possível
Cpmpréeoder de modo urufieadó ós difbéWés tnodejós
^hi8tóripps“-què' eVocamp^. As configurações próprias qqe
íepresentâto liganj-se a dpis elementos:
'-! lí A localização geógráfiea èriip-elaçâp à désagre-,-
gação <io Inapérío.Qs Bstadós-fiações, .(França, Espanfia,
Inglaterra) fpEarq formados, na periferiá de; um .anfigo
império. folmis do Controle”poíítlcb do espaço na
Europa,.-a' partir do século l4, podem geràlmertte ser
. compreendidas a; parti|\ de uma análise dp processo der
decomposição da forma política do império.11 .Assim,
historiadores, como René Fòlz, estimam que aò império
semddvida, n^js,ainda À^uadptèrpretaçâp v co u -.
be a ,responsabilidade de tér impedido a Alemanha de
se transformai ein Estado-naçao, como putros reinos do
Ocidente, a.paxtir do século 13. Com efeito, o império
implica sempre uma multjpliçidade de códigos e de lèis,
uma grande diversidade jurídica; trata-se de uma.estru­
tura muitò Frouxa de investimento pólíticõ e cultural do
espaço (sobretudo quando se' confunde, /'eomo no Oci­
dente, com a cristandade). Assim, sua,,decomposição
prodüz nò interior dos seus antigos limite^ um espaço
desmembrado, n'o interior do qual a (disseminação de re­
lações de forças conduz ,a um tipo dQ Stàtu$y(pio. t di­
ferente o que, oçorre na sua periferia, dt>dç -ps .'pólos de

■ •' ..." • ■':'v ‘ - '•V - ' ' ■* -'V


11. .Spbre esse pontp. de vei. as penetrantes ^niiise^de Rok-
kan,“Dimensibfis of state formation and N^fibn-buHding”.'In:
TILLY (ed.). Theform ation N ation al ß tatesfy %uShte^n Etim pe.
„ ,í t‘ '
o estadonação è^iftercado

dominação ftjíàíà iínpoytantês puderam, se constituir. “Os


Esfâdbs-ristç?^ ^constrtííram a partir deles. • ' *
2yE$ás£ cbfenèntes modalidades dereorganizaçlo
do espaço ppiftko europeu produziram5igualmente di-
-Jerqpças dimensionais eníre psespaçospotíticc^s ê o » es­
paço» ecpftômicos. O tamanho do territórfp do B^tacjb- ,
nação tqpia-o de fato um tipo de recinto^ fechado,que .
'epcerra ps ospaços económicos mai§ reduzidos; o espa-~
ço econômico das ddades-estadosou dos pequeno#'rei-
nós da Itália* e dá Áléjháflha uítrápaSsa, ao* contrário, -/
muito arriplarnenteseus territórios' políticos, ^
: A relação dimensional dos espaços permite ex- *
pliçar a particularidade européiaL da dinâmica das rela- f*
ções- entre o econôm ico e o político, mas no quádro de
uhr> mesmo trabalho em profundidade da soçíedade de
mercado^ *, ' * ' , -
Essa abordagem geográfica do nascimento da'
eçonómia de mercado e do Eátado-nação não permite- ’
somente desenvolver uma análise explicativa global do
seü desenvolvimento. Permite igualmente pens«k nos '
mesmos tennos sua orígem, cm seja, as condições^histó-1
ricas que bs tornaram possíveis. 1 • ' -
Avmudança hisUfcica, com efeito, nàõ pode ser
compreendida como uma necessidade^2 O historiador .
está, no entanto, condenado a trabalhar dessa perspec­
tiva,-guando nãp pehsa geograficamente.* Não há mu­
dança histórica possível ãenâb por-cataclismo ou lento
desenvolvimento, !se *o espaço não é !apreendido nas
suas cavidades e* falh ^ .s^ .;'cb ^ (^ ,é''y i| 2^ ^ ,seu a In-,
terstícios è desníveis. É preciso trabalhar sobre as super- ;
posições, as intersecções; raciocinar em termos de hete­
rogeneidade,_dé, homogeneidade, de densidade. A no-
■/ ' .a ^
■>12. ^sèôré'^sta '<qttestâd, se importar-ao penetrante artigo àe
FUR^^F.^I^ca^hism^^de la- Révolütioh, ftançaise*. Anria-
Ies,tscm ryàvtil,‘ 1971. _ (
càpítuloS '
J Ú^mr

çâ ó d é possltktíéíaêe hislÔHig#1® ufiíízável apenasdentro


de iam qdadró de ápfeensãó espâtcial' das refeições s o - "
ciais- e dás instituições. $qbrè esté-pontç> pode-se subS; -
r>*~
z .1
ív
crever aá„obsèfVâçÕes deíitcoste a^sp è^> defidên-
ciíndas análises geògráfigas de Matx íomo^elemento.,ex- "
■ • , V,
plicativo do seu dderm}nismo histórico^ Um mundo AS

, f
í !',; /;ï* de urna S&VéZ er^ériar a histotia e ciraeritítr p; espaçqv'
11. ' é ràcidciriage'm termos-da l^a^riv-cte drfi tëiripo e- de
K umrés^aço ihdifemnpiadosr ^^ibifidtK ie da mudgn- -
r-i, rçad$i$t0ríc3y
■/
^re^ntrário^ e x ista * partírdas
‘ ''T 1 'U îê lK w / n v . / n À ^ iT iO Íw ffV ÍiH rv i < & irlb à m - o - / îr t e
cavidades é■
/ JÀ o -A -

das falhas Uína cónoepgãò geográficá da História mos­


tra a origem como possibilidade.' Uma teoria historiei?
zante está, áo. contrário,- condenada f localizar um ger­
me necessário do íiituro no passado. O modò pelo qual
se trata .gerálmçnte a história do capitalismo é significa- ''
tivo. neste aspecto, A maior parte, das análises, Volta-se %
X J- pkrâ a dòcalizaçãp de um ‘"geime^ (p’comércio,{as cída-í
^ÿO-'AjC- ? f' -
des, -etí.), ;m okrandÓ,èi^*seguída,o ptsoêeeso, do seu
Pi 4 Crescimeritò. Isto conduz'-de fato à ocultação da questão
da origem, qu, o)qpe é o mesmo, à corisklemçãõ de quev
é totalmente exteripr (6 germe é então “importado”' é
produz “efeitos- dissòlventes” no seio de uma. estrutura-
supostamente homogênea; cf., pòr exemplo, a teoria de
Piienno sobre o renascimento do'com ércio e d desen-^
;vòlvimentp das cidades na -Idade Mêdià). O germe não
é apreendido çqmo tál, évnaturalmênte indizível, como
se fosse uma virtualidade inscrita na htótõria desde d co-
m eçd do^ içundè. que-éstivésse a espera-de sua horá. -
Esta função d e enunciação do começo da; história, con-

13. LACOSTE. La Géographie ç a serf, d'ahor^, à fa ir e la gfier-


. rè.^ A ^undidacle^çlcl pensamento de%ÇJÇnpatiçi RriítWe-se^a
nósso ver, em grande parte áò fato de que uite^roùfde modo
çeritral os proWeriias espadai;;. '

: *v -
< ./ ' *
-líf? - "
1■ - , . ’ ■
v- -- li *yi' i, s \
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ew ^ c^ ai^ ^ e-b-merc^ck» v . ‘ ^ . f. *• **\

' ' •' ,-^lS ••_•%..Vk -<••:-<-nÇ-J ' - ’í f ( ;.'. . . — • i. . -••• ' "-iV ' 1' 1 /• • .-.;*• ■, ' v ?-•

cebidaçGÍjgp rééomeço, desempenha,4 por exemplo, 'a


representarão implícita de uma “noite das mudâriças”
da quabseáipõte que a Ocidenteestá se emancipaádo
ienlam énteav^ídr db “de^pertar^comérei^i dos séculos"
l í e f N oíl^ite, à‘ medida que os.írabáltíaá histórico^
progridem ^-^ stroém essaim ágem muito simples!, q'
historiador historidsta acabari pqr.,confundir a origem
do capitalismo com a do mundo conhecido, a nada ex-
pítcar de’ coisa alguma. Uma ânãliáe geográfica, parece,
ao ■contrário,*muito piais frutuosa. Mas, depois/dessp.
parfntésèunetodológico, $ preÉÍsp voltar aoEstado-na-
çãoeV p meécado para mostrar çomò o desenyoivimeii-;
to da teoria eüonômica do século 16 ao 18 traduz e, ^
portanto, esclarece a dinâmica das aélações entre éstas i
duas realidades: .

o nascimento da economia còmo


aritmética política .'
;
O nascimento da çam oipia se traduz por um du-
,e de confusão, ,Dç um
lado, a economia corho prática se afirma corno'uma ati-
vidade social autônoma. O comércio e a indústria sã o 1
pensados ern si mesmos, na sua diferença com.a econo­
mia doméstica. A economia como atividade própria se
emancipa assim dé toda referência à moral privada. Par
ralelamentè, ,a óeònomià còpio d$ncfy. se çonstfój e se
confuadecòm a,política. Torna-se economia polítiça. As
obras cie Bóçlin e de MÕntchrétien na França è de Halès
na,Inglaterra* traduzem bem .esse dupío movimento fun­
dador que instaura uma rupturá radical com as concep­
ções aristptélicas reabilitadas na Idade Média.
Para Áristótples, com efeito, a atividade econômi­
ca na-^eptidõ ájnplo, que, chama de “crematística”, está
capítulo 5

.X' ■ énglpfiaáá g o r a is . ,J3istíiiig^' a, çre-


, matísüca hatpral, Ç^|tH ^cáv;da;cftfeatí$tiGa -
r1 artrite»! quê co itó tq it^ ^ iilçÉ ctó s èomer&ais14 Consh
dera p primeira >cqrèb‘ik^Üiipáíj fo rq u e é destinada ã A - 1)1

um
/em>qk:L.:
qqe estáteenttãdana Jiicfo. ISIesfe' ^^
•par.íítetinçâió, onde sè pódéfv b r f e s b b ç o dos/ '
coneeitos de valor 4 4 u so e de vífc-r dferájtoca,*Aristóte­
les" não se çontenta em emltirum julgaméftto píjramen-
\ te moral. Não 4 someqtp eàv ncajiè 4èfâ0.$jí< & da^fru- ' "
gaíidade qye critica o artífíció 4aS attVidsp^corperciais
e a sede de riqueza que implicam para 'fis,,’m ercadores.
O ponto de vista de Aristóteles é , ète ,fato„mais comple­
xo. Só, pode ser ver^depam ente1compreendido, a meu w,
' vqr, ha rélaçào com a sua concepção da organização so­
cial. Criticando a crematística pura, Aristóteles talvez' de­
fenda antes de tudo a estrutura familiar, Tem a ihtuiçãq .
do efeito sodalmente destrutivo idas formas de tp ca ar­
tificias e inúteis. Para ele, a limitação do comérció e a
preservação das estruturas sociais tradicionais vão a par.
Assiqi, pensa as atividades sociais .rict, quadro das duas ' '
úrucas forjmas de socialização naturais a Seus olhos:,a fa­
mília e a cidade. Por isso, a distinção centre a eçonomip
e a política é fundamental pará ele. Tem um sentido es- '
senciaítnente sociológico. “A economia e â política”, es-
creve, .“diferem não somente na medida em que diferem '
qma sociedade doméstica e uma cidade (porque são os
objetos -respectlvps destas d&iplihas), mas. também por-í ,
que a política' p aíarte do governo de niuitòs, e a éco-
' nomia a adniiriistmçãa de um ünicó” (íes & oriem iques^ ,
livre I,- §. 1, p.' 17). ' ' 'J ' ^
A economia moderna se afirmará antes de tudo
qa negação dessa diferehça.O TrátadQ de Èconomia Po-

' 14. Cf. La Pólitique. livre I,.ch..:II. .

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f H/''' ■■!■ ■ '■■••■•.■ ■ ■;.\ . ;VV ■ ■/■*:': ‘ ^ '
Utica d©' ÍVfiiricChrétien é particuiãrménte significativo
nèsse a$pec|ò. Montchrétien estende o cónceita de/eCo-z
nomia a té ia ^ la ^ p in cid irco m o dâ política.' “Muito á '
propósito, pode-se manter, çpntraa opinião de*Aristóte- ■
le£>e, dç Xenqlonté’’, ^firnia, “que é imppssfvel separar a ,
WonotTBa dá po^cla (i^to da política) sçm desmem-
- brar a parte principal do séy Todo, e que a d e n d a de ,
adquirir bens, assim norneadà, é comum; tanto às- repú-
’ blicaà quarito às famílias” (jPratíê, p .:31). A àboiiçào dà
'separação /entre, a econóiriia'; e a poética traduz -ufná '
nova representação da sociedade sa qual ádistância en-
. tre o privado e o público é reduzida.a uma questão de
dimensão social: .“As ocupações privadas' formam “a pú­
blica/'A cas^vem antes da cidade; a/ cidade^ntesidà,,
província; a província antes dp reino. Asáim, a arte po­
lítica depende indiretamentp da economia; e, como está
muito era conformidade com èla, deve'também,%om?r
emprestado seu bom exemplo. Porque o bom goverrío
doméstico, no fim das contas; é um padrão e modelo do
púbilcõ'’. Então, Opdè Aristóteles vía üma diferença qpa-,
íitatiya, Mofttçtuêtíen ^conhece ápenasmma diferença
quantitatíva,>dímènsionaÍv Pensa a sociedade soiíiente a
partir do indivíduo o do Estado, negando à adtonomia ;
. e|à espedficid^dè dé qualquer forma de soçialifcaçãp in-
termediária. Fala, portanto, lògicamertte de economia
<política e considera a economia como um negócio de
Estado. Aliás, sabe-sé qué seu' livfó é dedicado Luís 13
e a Maria dó Medieis. A economia só podéser política'
,porqUe a sociedade só existe por meio do Estado que .
lhe dá sua consistência e sua unidade. Somente o Esta­
do pode intervir-para resolver o paradoxo que sublinha
Montchrétien éntre uma França “superabundante de ho- .
mens”- e ò fato de que está abatida, no momento mes­
mo que o trabaiho é reconhecido como a única fonte de
riqueza, “O jrhais réal exercício que podem fealizar suas
majestades”, conclui, trazer de'volta à ordem o que

153
r>4'i,v.,:. ••>••• ;• -
,f-> ' 1 - '. s:4,
y
w iA t ?
>
•capítulo 5-

está desarranjado, regrar’,e /distinguir as artes càí^âs


•nurng fnbnstíóósa œnfijèâoi 'restabelecer os negócios e
comércios interrompidos ^.perturbados desde há muito
tempo* (Traité4 p. ío ). 4 ' *,
\ ,, líjas è>e as intuições de Móntchíétien são fõrtéé,
seu- pensamento econômico é praticamente3mpito íudi-
mentaf, SeuTívro-só vaÍe peia afirmação geral do cará­
ter poiítieo^ da teconomia (idéia,qué ratpnia aliás êm
grande' parte de Bpdln). Com Petty,- Vaubân, BoisguiU
arnià moderna se afirma Wrdadèíramenté, '
foert >al économià
compreendida como uma aritmética política.? <',
Vodos esses aíjtdres pensatn a economia do pon­
to de vista do poder, Bscrevfem pata o soljerahpi-quê qsí'
perarti convencerjs aconselhar. A obra de -pioneiro de
Williarrt Petty, que data dd.ftm do sécujo 17, é particu- .
larmente notável nesse aspecto. Para ele,-"os que se ocu-
' pain da política sem conhecef a estrutura, a, anatomia do
corpo §ocial, praticam uma arte tão conjectural quanta a
medicina praticada pot mulheres velhas e por. empíricos”
, (Pré/ace‘ de, YAnatomiç pâtyfque 'de 'llthçnde', (Euvresf
til). Considera que?govémaií' é, ántes de tudo, contar e
; recensear. Ã escola aritmética que funda tem assim por
objetivo “raciocinar por çifrás sõbre as matérias qu'e têm -
telação com ogovèrno”. Um dos seus discípulos, Char-.
ies I^veóant,’ esçrévêrã; ’^ ia ciência d o CáloilO- feita pe£,
los ministre» hábeis; sem éla* nãò é passíTelyfonçluzir-
bem ós negócios/seja na paz, sejâna ga^ttà^W ousa da
áríitoiética política no corfiérçio :e nqs fihanças). Còro
efeito, para íázer a guérra, explica também, é^preciso co ­
nhecer a riqueza fèal e a população dóíbíipjgo, a fim de
avaliar “quanto tempo lhe será possível sustentar uma
guerra éom-segurança”. “Tudo ê redutiyel go cálculo”,-
aíírmará Jean-François Melph no seit Etpsaió. Político so­
b re o ÇomérCip, ,cújo''çgp^òv& iIV se intitula “Da arit­
mética eçfc^dmià, ;CÓmo arit­
mética pblrticâ,' se funda sobre a estatística e se tòncebe.

' 'T' r- . :Â;y •

154 sc>

XX
em' çanséquêóf&fy como científica. Petty èxpjiçou isto
^laranletite:. * 0 método que em prego'(...) não é ainda
muito çonWnvporcíue ém lugar dem e sfervirsomentede
termos eoirti^ativos p superlativos e ;de argurfiefttds pu-
rarnente vraciÓpais, adõtei ,o método (comp, espécie cia
arítmétitía pòjàfca.que tinha áá^muito tempo em (vista)
que;consiste em e?cprimir-me em termos 4é números,.
pesQs e mediâás: em m êsérvir uniçaméhté de argumen-.,
tos dados pelos sentidos, e considerar exclusiyamente
Causas que ^tèáham bases visíveis na^naturezá; deixo ã
consideração, de. outros os argumentos quedependem-
das idéias, das opiniões, doS desejos, das paixões variá­
veis dos indivíduos1'. (Atitbmétiqu^ polítkjU^, CEuvres* .
--f.il, p. 268). Até os rfieádos do século 18, nãpse encon­
tra assim nephuma Verdadeira obra de - economia! n d ;
sentido que. damosvhójte a este termo, Petty*, Daveqanfi
Boisguilb.ert, Vauban e todos seus contemporâneos ja ­
mais estiveram de fato /interessados na teoria ectmômiCa
como tal. Não. procuravam estabelecer aimà explicação
. global de conjunto do processo econômico. Tinham por
objetivo, em primeiro lugar, exercer úma influência ime­
diata e concreta, sobre os poderes públicos. Sua tájefa se
limitava a mdstrar toda a uilidadç, especialmente militar
e fiscal, que o soberano podia retirar de um bom conhe­
cimento dà população e das juqueças’ do séb. reino. Por
isso, a maior parte das suas obras é de fato formada por
coleções de estatísticas demográficas è âgríeblas. A maior
parte dos trabalhos de Petty é, por exemplo, consagrada
' a tentativas1de cálculo da população das grandes cidades
pela verificação de dados sobre alojamentos, natalidade
, e mortalidade. j • .^ . ,J 'V , ■;
Já no século 16, Bodin reclamava era A República
sobre a necessidâdp.dò recenseamento regular dá popu-
lação para servir -ao príncipe. Todos os grandes eçónp-
mlstas dõ çopaeço do século 18 sistematizaram esta abor-
dagerit. Vauban proporá no seu Dízimo Real o estabèle-
capítulo 5.

.cimehto de “oficiais ou de comissários, pára o recensea­


mento dos povQs”. Q clérjgadé Saint Pierre, que tinha o
costumede se apropifiar idêfásde seujem po queihe
pareciam’avançadas, pübiicáfá «m a Memària sobre a ufa
lidáde dos recensea niéntps. “Ètão houve governo bem or­
denado que não tiveSse considerado q recenseamento -
como a base e a sustentação ' república"Vnota Dupin,’
referindo-sç aosroriianüs (fEeonomkjdés^t lí, p. 214). ,
Assim, a' estatística é coftcebida eomO ym^méio de go-
VernO/a base de toda verdadeira política^ fiscal. Com
éfeito, Petty, Vauban ou Bòisguilbert. desenvolvem seus
cálculos com objetivos fiscais. Quefem mostrar ao sobe­
rano qqe seu reino, é- mais rico que parece! Petty de­
monstrará que “a nação podé suportar a cafga de quatro
mílhõds pof ano quando as'circunstâncias Ho governo
exiglçem”. Vauban tinha igualmente o projetòxie provar
,que a França é muito niais rica do que se pensa na svla
época. Bòisguilbert se sentiu frustrado toda süa-yida por
•não ter conseguido queChamillárt, quando era controla­
dor geral, tentassg aplicar o novo modo de percepção
^fi&çal que ptrléonizaia. Todòs es^is^efeortotriistas* estão
ligados ao poder que sonham esclarécer te Servir. A arít-
mética política é pensada soiftente do ponto de Vista do
Príncipe e para ele: é um, saber para o Estado. As defini­
ções qué sãó dâdas a é s s a ^ ^ r e s i^ s f e .s/gftifi^ítiVBsW
Articulam-seiàpré ò sápei; qüte a aritmética política pro­
duz ao poder qué elá tornapossíyçl.Didefot dá-lhe a se-
gèinte definido na Enciclopédia (que aliás tõrria eiji*
prestada quáse literalmente do IMcjoHário\Vkwersai d ò ‘
Comércio de Savary dés Bruslons): “é àquela cujas ope­
rações tèm por fim fazer investigações üteis f arte de go­
vernar os povos, tais como as do núm^O tfjp homens
que habitam o país; da quantidade dea^merttos que de*
vem consumir; do trabalho que'podem r^ízár? do fem-
po que têm para viver; da fertilidade das turrãs; da fre-
■quência dos naufrágios, etc.(...). Um ministro hábil ttfará
daí^uiM-T^liíte. qiianticlack' de consequências paíà fa
perfe^âq ds^àg^çjjlturá, para o comércio’ tanto interior
quanto «exterior, pára. gs. colônias, para a círçiilaçãq. e q

'/ . ■ Eíesàe seriHdo. a economia como ciência da.pque-


,za nâo. existe ^pdaqntre todos e$ses autores’. Como arir-'
~ métlca potttícav depende da estatística e do cálcylo;
çomq economia política^ se confunde com a filosofia po­
lítica:. O-artigo qufe Rousseau consagra à econortúa pòlí-
tican a Enciclopédia é sintomático hg,ste aspecto-. Depois
dp ter distinguido a econojnia ■particular ou domésticír da
/ economia pública ou política, ,refeririáo-sé implicitamen­
te' a Aristóteles, define muito áimplesmentp esta última
como o governo. Seu artigo é de fato um artigo de-filç-
. sofia polítiça que tem mais a!ver coxtí o Cçnfrato Soçiái
-que dom A Riqueza das NàçÕeS\ só‘de passagem abofda
prqblemas fiscais'ou questões econômicas propriamente,
ditas. Em 1767, as "Memórias secretas” falam.mesmo dos
fistcfcratas como da “seita dos economistas”, dizendo so­
bre eles: “São filósofos,político$. que ; escreveram sobre
matérias'àgrarias ou administração interior.”^
• A aritmética política só se impõe como disciplina .
na medida em que recorre a cálculos sofisticados. Com
•efeito, os cálculos úteis ào legislador são considerados
como muito mais complexos que os que devem fazer ps
çOrt\efciantes que fazerit cálculos de arbitràgeAs e de
transposés.' “Na$ finanças”; esfcreve Melon, 7o mais su­
balterno escrevente sabe calcular a receita e a despesa
(...) trata) de... ••mukó
J-
mais
\ j.
que isso, mesmo
4 ...
a menor.ciên-
1" •• •. r>.
cia de governo” (.Essaipolitique sur le commerce, p. 809-
10). P o r esta 'simples razão, não há aritmética comercial
comq há uma aritmética. política, mesmo que existarti
manuais simples”para, oa»negociantes. ■•

;' r li, Ápud BRUNCTÇ, F. H istoire d e la langue fran çaise. Paris:,


ArmandCçiírv, 1966. t, YT:,Le XVUlç siècle.
■,*' - ' ?/> I
' $ t'&\
,$ xyS ^ ;,»
fé capítulo ß ,

a ,'^ ^ ^ ( - > ^ . r -Y "V J ^


epítfásim rplatfya/nentôiriei)-
corttiâyeï np s^cutó Í8, A áp tpèúóà âté Smith* Só se ;Co- >
nheeeoíéom érdo de unfíladó« a*p©lftica dpóutro? lima
abundante literatpraé consagrada apijfmnfejrõ cóm um >
fim püramepeutilicário, £ itmjg&fr dp pélebre Neqocian-
tèS>erfeitõ de Jafcquesfsavary, qyè sàisf reeditado nume-
rèslas veztss depóis da sua pttmtítá^iáiçãô-ííe 1675 {feste
liv r a i um guíâ prático, úra miwôa^cçntéííído numpro-

medidas êm^díferentesipyísesrfoí cbncèbidtí “com o'ob­


jetivo depermitíSf aostmerçadores e n égociâtes gerir. sa-,
bi^mepte suas atividades e ' sair-se bem no comércio
com o estrangeiro").' Dè um outro ladovhá Ígualfhente '
abundância de-livros que trátam seja. de filosofia pfcâíti-
ca, sjeja dóarjtmética política. Mas de verdadeiros livros-.
de ecpnpmiaf, realmepte nada. . • , \ *
, Esta “ausência” da economia tem diversas razões
quê já comèçámos a evòcaf.1A primeira reside nó fato
1dp que á economia é pensada do ponto de vista do pp-
cler. de urha persppctiva prinApaWentediscal. O próprio
coméfcio é Corisidèrâdo em termos fiscais: porque -seu
desenvolvimento pode acèlérar as entradas de impostote,
deve ser encorajado e sustentado, É secundária, a quesr
tâo de saber se deve ser exercido Iivremçnte, com me­
nos intervenção possívpl da parte do Estado, como de­
seja ■Bplsguilbert, ou se deve ser èncorajado- por meio da
c<áfetityiçãQ de wipL.SeatgtattotBcoijôm icv,* como pro- .
põe Óupin, ou por uma Direção Geral <$ú Comércio,n
com o, sugere Boulainvilliers, Q importante e que nos
dois' casos a economia é de uma só vez e rium' meSmo

\6:&. I^<^(iomiques. p ’289-300 t l * . ' Vc


17- Cf. Mémoire pour rendre l’État pulssaHt ^t y»vincible, et
toüs les sujets de ce même État heureux;et nettes,' ïi\rA(émoi-
res présentés à M onseigneur le. d m d'O tléàn sfX li p. 1,5-7$■

W V ' . lv
>t A\r , 1
ít> niercado

moviméntp reduzida' ao comérdo e estendidffà política,


comô se estNesçe^cortada eth duaâ. A segunda razão
dessa'“ausênciã^da eéonorhia, qvte é consequência da
prtnteira^^ide fíq fátó dçcjisivo deqtie 3 WonomW sõ }
pode ser verdkieiraEmente pensada com o,ciência da ti-
, queza, dado q u eà economia dqpjéstica e àsiòrm as d e . ,
■: socializàçâo tfuè implica -dstão’ eijn^regr^ssão, p&qdacbx»^ .
'de uma sociedade ciyil relativamente autônoma esufi-
cientejtieníe consistente. $è ,o príncipe é, o sujeito da r
aritmética política, se o negociante é e^sujeitô dO'comér­
cio / a economia fípa sem sujeito ènqyarito- hão houver
uma verdadeira‘‘sociedade civil. Pôr isso, não temobje-i ;
to. Nestè sentido hàose pode eompreender a formação
da ciênçja econômica como uma lenta maturação dèv -
conegitòs que seriam progreSsivaménte afinados e coris- vy
truídos. Seu- desenvolvimento está igualmenteligado' à ■'->
natute2^'das réláçÔés entre á sociedade e .o Estàdo-À v/
partir destè elemento torna-se; poíssívpl/i por; efcemp^q, g :
compreender a v economia política inglesa. Sõ, está .
“adiantada” em relação à economia política francesa na
ítíedida em que a sociedade Civil inglesa está.è Irerite da ,
sociedade civil francesa, A aritmética política, contmúará-
se impondo na França muito tempo depois da. publica­
ção de A Riqueza das Nações. Durante a ^Revolução d
Francesa haverá até mesmo unia multiplicação das
obras çlesse tipo. Com efeiço,.o noyo poder tem todo in-,
teresse em obter materiais estatísticos sobre a população
e sobre a Rfodução com objetivo fiscal e político/ En­
saios de aritmétícã política de Lagrange e de Lavpisier
serâo até mesmo impressos por ordem da Assembléia^ "
Nacional, Ma advertêhcia à suã memória Da Riqueza
Nacionat do Reino ãa Fm nça iU ^ ), Lavoisier mostra
com muitos detálhesa importância da aritmética polítt-
ca,para 130.homem de Estado, A partir dos cálcülos e das
combinações <fornecidas, a nação francesa poderá, a
seys oS os, erbpreender trabalhos que “causarão adpii-
1 .' • s
159
, *-■> i"*’ ■{' ■ * •* wMtí*'/ , ,h
- ' /'-l *''f. -' /. \ . ' ví '^ xJ è & ** ' *• j, r >$3

.ve.y■:a^\\t l' <: ,ir«vV


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-vjr.$&- /I .^i--.’■ /
■/ capftplòs
* T^ ;^ ■* ^ ) f^ #
rgÇão às, taças, fü m j^ J^ èvá^ k gp M écati^ ain én t^ ' 'feri
Vi - *; . ‘^om'p^te «5 íi efes (os rep^flsèQtarite3^}a iiaçâo) fufedár
no futuro um estabejeciméíjto jàübliccs nó qual seriiô as-
( soeiâdós agiiaríiurrí, do.ço^
mércfcfè da população; ko qúál á situação' doreino, sua
- riqueza em homens, em píbduçóes, ,ém indústria, em
capitais acum ula^» esferão afiad os num quadióresu-
piiàò. Í*3ía. foçmar esse grande1estáh'èlecímçnto?^que
riâo existe erp nação aigumà.ç: só pode existir. n ^ ra n -
çâ, st Assembléia ííacionâl teím apenas de ,p desejarão d
querer. A organizaçãb ^itúal cte> réino parecei ter-sidcrdis-
- ppsta antecipadamente pára se prestar aiÒdáá esáasrift-
' VèsúgaçÓes. AmdmiríistrãçâQ geral pocfe por ifitermédio
dos diretórios dp^ cfepaáameptós je dos distritos, akarn
"Çar còm facilidade até ás .últimas ramiflcàções da árvore
polítíça, até as municipalidades: corrí uma correspon­
dência patriótica desta- espécie; não há; jnformâçào que
\ não .se possa obter, não há .trabalho que não se possa.
: reaLizái^CfteA? Richesse Territorialfe,..pi £Ô4).
Assim, Tá economia se reduz à aritmética política,
‘ quaridq o Estado ^pãretç copio órínicp lugaftefèrívo de
.iniciativa ná soçiedade, e como a forma intransponível
da Ldentidadeda nação, quando domiha uma .sociedade
civil fraca que só tem existência ao nível de atividades
sociais limitadas. í K

a économia çpmo ciêrícià da riqueza


i - - 1. ív vV _ J-.-- . .v -ó A - ^ ,£ t; .,: ;
m ’ ' A crftitíá da aritmética política na Inglaterra não se
traduz somente por uma desconfiança faravao Estado e
uma pfeóçti^áção,çpiri a instauração devujtría maior li­
berdade de comércio, tíeste ponto de vista, com efeito,
a clivagem clássica entre/mercantiUsípo-e 'liberalismo
não é esclarecedora. Poder político e desenvolvimento
, do comércio'aparecem em todos ostcáso^ cpfflô inter-r
dependentes. Seria até mesmo fácif m o ^ çr, com apoio

i -w
jr r

llÉd )
o estádo-rtaçâçíe o mçreado

de,,citações^ bu^Gpibert é, spb muitos aspectos, partidá-


fid de ufna«)Mfeer^de de cqméreío tâp çòmpieta, quanto
aí que fedat^ía Sípith; dom a .diferença paraboxal que> ■
Smith suspeita“mais dos negociantes qtie Colbert. É.vèh-
ciadé, no entanto, que há na Europa âo século' 18 .uma
recrudescência . do interesse. pqlo Odmérçio. Gaiíáni
, pode qbsertpr CQÍm jiiã o í “Nqssos1ancestrais observa­
vam o trigo apenas às lyzes da política e dárazãodeEs-:
tado;> hoje queremos observá-lo somente com o um ob-'
jeto deccxftêrcio’’ (Dia/Qgue surtes btéç, p, 25); Kfes^este
julgamento não nos devè enganar, 'ífíesmo-sendb ainda-
mais significativo por ter sido fórmuládó por um .autor
gehilmenté considetsydo qpmó merqantilista. jA. pblíticá1è
o cómércio, São duas fades de uma mesma -representa-'
ção da sociedade centraçLa no Estado.
’ A economia política jrtgíesá não se áfirma, por-
tantb, com um deslocamento dessa relação entre a pof
lítíca e o. comércio, ?dando mais.desrtaque^sobre a-áutpjjA
nomía deste último.. Constrói^se mais fundamentalmép-
le numá noya. representação da próprfà políticábcojariq
mostratoos nos capítulos precedentes. 'ílm á nova' prátj-
ca e uma nóya representação da política permiteri» <ex­
plicar a fortnação da êeohòmia i^tifefeihgj.èsa de Lòc-
ke a Smith. Enquanto o Ivstadq-nãçàO se. çbnfunde na
Ffançá b°m b EStàdo-admíriistração e p Èstàdo-goverho,
o Èstadosnaçãò inglês, se ,quèr antes de tudo, com o qpj-
Estado dfe direito. Está diferéhba é essçhcial: não se fala
da mesma coisa a propósito do Estado inglês e do Esta­
do francês. A relação entre o Estado'como forma social,
o Estado como forma jurídica e o Estado com© forma
política é pfoftíjndamente diferente nosf dò$s casoé.-'
! y ifetá distinção está aliás muito, claramente formu­
lada pbr Steuàrt. Como Roüsseau, Steuaft récphheçe,
contudòj què ^-a economih polítiea é, çni relação ao Es­
tado, o que a economia simples é em rejação á uma
casá” '(KecbercÊe des príncipes de Vécorioiniè pQÍitique,
j : capítulo f>
"• . V -* - jr'” 5 - í- ! . . . . - 1■ '-.N '

1.1, pc3>- Mas Steuart nota logo;qúe a ecônomía e o go­


verno, mesmo numa família 'particular, .apreseptam.
çluàs idéias distintas e perseguem dois objetivos- difé-
rentes^Mostra como' o chefe de família tem uma dypla
funÇào: é de uma só vez senhor e administrador. As­
sim, é levado a distinguir a economia política, que ne<
cessita de talento para à execução,^ e o governo que im­
plica um poder de comando': o administrador se ocupa
da primeira, o príncipe da segunda. Steuart não é um
economista “liberal”, mas sua representação das rela­
ções entre a economia e a política não tem, rto entan­
to, nadã a vèr com a de todos os autores da aritmética
,política. Pensa a partir da existência de uma sociedade’
civil relativamente autônoma e de um Estado conside­
rado como um Estado de direito.
Nèsse quadro deve-se compreender a revolução
na ecoiíomi| qUe tem Smith corno^ímbqj^cx^AdamSmith
suspeitou sempre da,.
' Riqueza que éla não 1hé inspirava grande confiança.
Esta posição deve. ser compreendida em termos políti­
cos e nãd em termós técnicos: Não são somente ás limi­
tações e as fraquezas da estatística que ele ataca, mas
também a representação do funcionamento da socieda­
de que impBeam. Daí o porquê de não apresentar seu
livro comonm livro de eçonomiã políticá, diséiplina que
define conto sendo “um ramo dos conhecimentos cfc> le­
gislador e do homém-de Estado” (Jtichesse-, irttroduction
aü livre IV). Se prefere “o sistema sirnplês é fãcil da li­
berdade haturàl” a todos os sistemas de economia .polí­
tica, seja o mercantilismo, seja a fisiocracia, é porque,
antes de tudo, não se coloca mais na pòsiçlio dõ homem
de Estado. Pensa a partir da. nação, Çãf
partir da sociedade civil. O saberqueq)rodu2é um sa­
ber, sobre a sociedade civil e para ela. Fala, em conse­
quência, da ciência dá riqueza e nãOsmàisq3a.ecopóJi[iia
políticáj O mercado, e nãç niais o Estãtte, ê a seus olhos
' 1* 'o qtàmktffeátâio nfercado /‘ , ». '*V : ''ri ''
' ’ ^ v *,/( ,v ... ./... ..jb ' , s..r,-# â ’ . (. .
o vg£dâdei?<£|$paça de socialização^ Não pensa mais a '
- ■( paön\dä xUva^éjn' edodoiijia* dórrjéstida/ecònoniyã polí- ~j, -• ,
v Uta como á x&lér parte ilos stíuç predecessores. A dên-„
\'v ,, cia dà ríquèra £tSWituj, umâ e òutra-í concebe-^’ como i ' ' r
v ■■ "ciência do funcionamento da sociedade civfl moderna ■.
1 nó quadro de ur^^Estad^de clirépiív11 ' ■ j ' '
‘ 1 ' Vê-se, portariro^ a partir "daOepma1» utilização ‘>

. dos-preceitos do liberalismo económído, num contexto', -
, v^dctele pdíítícp <^ue'hão reâpondfe â§/éoSdiçí^es fiistóri- +■» <,
; ’ ~ caS (aliás idealizadas)partir das 'quatefemth tíaéalhô- ■ ?
' va, pode tofnãfum sentido totalriaente diferente. Á red u --
’ „ ção do pensamento dg Smith >a um simples liberalismo*- v.v,^.;
* econôintco, prodqZiu, 'alias, ha 'Europa, efeitos" quepte \ r,
‘ , nemmesmó podia supor. - 1 1 v < , ■■. ■■■>■' -Z ■„/ ; i\.
.. Força da»ciên$a da-riqueza fpi a 'de pfo^u&
uma “cultyta” irtterrtacionál, ultrapassando tpdas •7
, V „ vagens políticas. Sem'saber, talvez; ela íez^ssirçireasU^t:?
glr a lembrança dp Império, dantfö à EuropSar.-um^Öfe^.'-^-i;?: £
; lo comum qüe havia perdido coro-a desagregação da -1
/ cristandade. O rpercado estáVa prontÓ para se tornar a ■ /
, ,nov3. páfrià c&rhmiinisiéa húmatftldadè, i ' ,

4;C'
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capítulo 6 jií» \ I í »-+*►- «tr* j. « * •* «»»«

jpaine, godwin tí\


^lifceraiisBáti»
yL . J r * ^
•!' <‘i
UtÓpiCO
^ , J‘ - ,1 ‘ ^ / r* - * * <
sociedade tíe merca^o extinção j
' do ppItiÇD J v \Y*' ^ySK r:< *'' ;\ \
" m» i ' í *•
J á mostramôs Ipngatuente que er^ felsó réjçtàzicÓ- ^ Si
mercado a urrisimplçs Mecanismo econômico de aloçàçãb
otimizada dos recursos num' universo de táodatle, àióm*
sistema de regulação dos circuitos de produção ,e de dis­
tribuição das riquezas. Com efeito, o conceito cie m ercacld/
deve antes.de tudo ser-compreendido sociológica e politi­
camente. Ele só se apresenta para Smith. áob uma forma
econômica, na mecjida em que este considera implicita­
mente a economia, como realização da política. Aliás, neá-
te ponto, a. maior parte dos leitores contemporâneos nào
se enganaram. As idéias de A Riqueza das Nações serão re­
tomadas principalmente na ordem política.,-5ó mais tarde,
em meados ydô século 19, Smith será confinado ao papel
de pai fundador da economia: política, anexado como um
profeta e anfcèstrãl do, liberalismo econômico que se de­
senvolve então em torno de Bastiat na Erançâ e da escola
de Mãnçhpçtef pa prà-Pretanha. Esta “normalização’' de
, Sinith não eStá-ísénta^e segundas intenções. Participa da
vasta^empífeSa de constituição do liberalismo econôniico'
cómp ,idéÔlogia' dorpinante em benefício da bui^uesiá, .se­
parado1de tódos os seus vínculos coin o, liberalismo polí- ? .
1 i '

A::
> ... 1Ô7
v -% V ; M i r /.i- ,

■tyUéjíS..;/;- M
'j capítulo, 6 '
■Wjʧ.
' rW 1
tico. Npfimdo século 1®, ^|c^C^riÓ,l as'teses de Smith
aparçcem cpmo muitjò fe’icurí^ya4 '( ^ í t ^ d^ ^losofia por ,
lítica. Sob muitos aspectos étg-é 9 'acop^ánhajritê, até mes­
mo o inspimdor^das idéias librais r$djcãi$|què se desen­
volvem' então rta Çrã^Bijetante;i%í^í|íVÇ^üdòmm eco po-
pufar proíuncjp.1 MesmcVria -Frápçi, hãq, '46'pOde, negligen­
ciar ò impacto diretó dos «seus escritos ^ct^e^lguns dós
mais célebres teóricos da Revolução. .Assim*^ Épfaeza das
NOções foi um dos livros de cabeeeirá de Si^yèS que via nã
harmonia dowmundç da ecOnofnia o fuqdàft^nto da nova
ordem sblliãl2 11 - 1 ( ^
v j ,v.Ma& éWbfetudo nà4Grâ*BrètatthaájneÀ fecundi­
dade pplítica de Smtóh foimaif dar*. O radicalismo in­
glês, do fim dbiséçulo 18, márcado por Godwin, Paine, •
Price, Priesüey, pode, com éfeito, ser analisado como ;
uma tentativa de utilização doS conceitos de Smith para
tratar da qhestâo da'política. Çstp movimento ,é particu-
larmente-'claro para Godwjn e Paine dos quais pode^se
dizer que! explicitam e. desenvolvem a filosofia política
subjacente nã òbradè Smith. j .
Erp particular, dão1seü plenòsefçíto à distinção
concepuül entre sociedade e govérndftsbôçada por este
úkijnOi distinção fundadantí reconhecifflénto)db caráter
autbdpstituído e auto-regulado da sociedade de merca­
do. Esta questão está notóÈíffiiime no coração do Com-
m on Sense dp Ibonrá^Paine, phblicado^em, 1776, ano
do aparecimento de Jtüiqtteza das Nações. Desde as
primeiras lihhàs doMiyro, censura certos escritores qúe

, 1-, Sobre esta questão reportar ao livro de THOMPSON, -E. P.


\Th^ M aking o f tW english working class. Lqrtdres. 1963, em
. particular aos capítulos IV: “lh e free-born ehglishm an” e V:
P lantinglh e [libertytre^ . : , /■ » !£■
2.* Cf. ^ introdução de R. Zapped ao Qu esfrcé <fue‘le Tiers
État!' Gënèvc: ©roz, 1970. Zapperi mostra aide forma detalha­
da como SieyèS concebeu a ambiçãp de iqjplàrttafisua políti-
: ça sobre o terreno da economia de mercado., ’ - ,
beralismo utópico i V' ; i , ’7
, ' j - ' -T' v ~ “f
í r \ 'i> , v / . ’ ‘ ‘S ' t ■ \ ' :M
>eonroh<^f#ifc$^cieplade com o governp. Farafiéle, “a s o
de,dadè é^cf^^e^no^nltQ são^omente reãjidades díf^
•;••’ (netífeis,,têhá-pfga&i)?'diferehtesK A sociedade pi'oduto ,.■■
' dás d^asiis^fesi^adesí»^::p governo1çlie ftcsssás fraquér
- za§” (p. govèrnd, üuáéja, a ’política, é; portanto, -
\ apçáas;i»fta'^a|idadè secdndáríà, repi&i^l, “A’ sôeieda-,
. de”, escreve* "e em todds* ds. Cásos pthà benção, en-
■r q^antq o àOveçiws; mesmqaO se^ melbor,e$|^do,'é ape- ,
nas uramaLnecessárto*’. Assim; é auto-suficiência 'daTso-
ciedáde fõhdava perspectiváçdè! bfna ejmhçàò dá, polítk
; > ta, de üm definhafneaítOí^dQ' E&atifc? ;®m.'berieftcio. da s o
- ciedade èiVil: ."Mais um goVefnp sé aproxima da forma

tânciâ separadavde regulaçáâie d ç qi/ientaçâo da ardegt


-? social (to, governo) no qbadro deVymá sociedade cprtçé~'
bidá como um mercado.' A^im,- a aplicaçàò $òs pfirtcí-
pios de Smith conduz ao anarquismo nò sentido origi­
nal do termo, ou seja, à representação' de uma socieda-
de imediata a |í mesma, qtíe não precisa de organização
separada de direção. Transposto para a política, o prin­
cípio cia identidade natural dos interesses fünda direta-
mente a tese anarquista.3*5’ ■ •
O paralélo entre Paine' e Smith; já legível no,
Çompion Sense,'%parece ainjla cpm muito mais darezá
. na sè^qnda parte do Rigbfá b f AÍan Í1791). Paine dé*
piora aSfiqoe tudo que sè relácíona com a vida da nár
ção tenha sido “absorviclà" e çonfüddidd soh o nòme
geral-de governo”. No seu célebre capítulo “Da socie­
dade e da civilização” se empeiihd èm mostra,r que a
sociedade não teve necessidàde do goverho para sè
desenvolver.'“A maior parte da ordem que reina na hu-

3 Esta rejáção entre liberalismo e anarquismo, sublinhada por


HÀLÉVY erti L a Jbrm ation du radicalism e philosoplrique, pa- ,
rece-nbs çbmb uma das chaves de muitas das ambigüidades
sobre aíaútógestão. , , ^ '
capítulo 6

manidade’7 esoreve, “não éproduto do gqvernó. Tem


sua .origem nõs princípios dg sociedade ema constitui­
ção natural do homem. Existir antes de Qualquer g o -'
yernp, è continuara a existir s e ò governo fonnal desa­
parecer, A.dependência m'Gtual'e o interesse recíproco, -
que os homens experimeritaril, ççiam a gfande cadeia
que-liga a sociedade. O proprietário de tefras, o arren-
dãtário', o manufaturacior, o comerciante, e tòdas as-atí-,
vidades'prosperam graças àajuda que cada um recebe,
década u m e de todos. Ointereske çomum regula suas ,
relações e forma suas leis ■(...). Em'resumo,.a sociedár
de' realíza*para si mesma quase tudo o que é atribuído
ao goyerpp!!;(p. 185). Tais enunciados parecem ter sido
tirádbs quase’ literalmente de A Riqueza dqs Nações. Se
a let desinteresse recíproco, gòvérnà Sozinha a socieda­
de, pãb llá, portanto, necessidade ide um organismo se-
parado, salvo para responder “ao muito pequeno nú-,
mero de casos que a sociedade e a civilização nâo po­
dem regular ^comodamente” (p. 186). Os princípios da
troca e da divisão do trabalho bastam para garantir a
coesão e a paz da ordem social. -Com èfeito, é “da! cir­
culação incessante dos interesses, passando através de
milhões de canais e irrigando a humanidade muito ’
mais dq que podé fazer o melhor' governo, que depen­
dem a segurança e a prosperidade cio indivíduo e da
coletividade" (p. 187). Aliás, Paine nào sé contenta ém
:^!^-HítoUtiCgffiéi^':^,.'qua5|átò. da relação ^eqtre a so-
ciedade e o governo. Apoiando-se no exemplo ameri­
cano, mostra também longamente que o principal re­
sultado de Uma abolição eja fõriha govèrriamental clás­
sica permitiria uma- redução fantástica, dq^ iqiposttísi':
deixando à ,cada um o essencial do fruto do seu traba-!
lho. ídentificandq o combaté revokiciohãriõ cOih a luta
pela abolição ú ò govsm o,''Paine identifica as$4m a de­
mocracia com a sociedade de mercado ( A seuç olhos,
esfas duas realidadés se confundem. A relação mefeán-

170 c.
paiue, godwine p liberalismo utópiòo

1til,torna^O pfíiá';ele ò arquétipo das’nQyas íreiações £0 -


ciaisa serérrf-instauradas; o comércio é b instrumento
de còrívívênçia' éntre os hoinens e de paz entra-as na­
ções. .Pàra d âdtQf do Rights ç f M an, a revoiuçâo de-
mocrátièa e ç^}desemvo!vipiénto doçpmérçiõ vão dpart
O pensamèntçfpótíticoile Paine permãrfèce, no entan­
to, rfiais complexo do que-sugerem as numerosas pas­
sagens, do Rifyhts q f M an decalcadas de A Riquegct das
-NaçÓéSí iàacfk ;èféifoç Cíftjca\o pHfrápip <ie todp gbveV
nó* çaipei£^dO| alSiíiftas vezéàtápenas^rejeifar os gover­
nos “tais como éxistiram lno ’mundo até o presente’’.
Assim, sua çrMoa parecerem certos momentos, se re­
duzir ã denúncia dos “velhos-governos” fundados' so­
bre à violência, enquanto fala da necessidade dq £nS-r
Jáurat goVernos fundados sopre a representaçâpqopüM
laí. Se admite- que O objetivo da Revolução sémpre %
claramente derrúbar ps governos fundadòs Sobre a. v i o ­
lência ou sobre o- prirtcípió hereditário, pârecê,, eih se»,
guida, hesitar entre a constituição defuma, sociedade
fundada unicamente na harmonia natural dos interes­
ses e a instalação de um governo representativo. Para
superar esta dificuldade, recorre a uma simples troca
de palavras, substituindo o termo “governo”, para qua­
lificar â situação pós-revolucionária, por "associação
“ “A partir do momento que o governo formai é
abolido”, escfçve, “a sociedade começa a funcionar.
Uma asSociáção geral se instala, e o interesse comurrt
produz a segurança mútua” (p. 186). O “novo” gover­
no não é senão “uma associação ftaciónal que fimcio-
ná sobre oévprincípioy da sociedade”, (p. 189). Marx e
Engels utilizarão unais tarde q mesmo procedimento ao
estabelecer a diferença entre a comunidade (o novo
Estado) c o Estado (o antigo Estado). Com Paine, por­
tanto, se encontra *a- origem de- tòdá ambiguidade do
pensamento marxist^ sobrê p festad^v queppárece as­
sim pelo qué.é; o puro produto da regressão da ques-
capítulo 6
1*.
tãó-do politico no <JuadfCrpe vjmfpensamento da socie-
. ' dade de mercado'^ Masè^^mbigüidaçle não é a úni-
v. ca de Paine.» Çom eTejí^J- h^sfta coflitihuamente entre
dofeJ princípips ccmtradit$rfòs|í.ai.afiríhaçào dos direitos
. do hoínem de uma parted a f$&imáçã€> do princípio *tíe
utilidade geral de Outra. à ^$o&p£ã<de,ponto <le Vista
entre as.dúas-partes d&Rightsòfm qtyé eloqüente nes­
te aspecto. Só supera parcialrt^ente){eáfa cpniradiçàô ar­
ticulando os dois princípios qo téíft^oT' NóSquadro da
luta contra ç> Antigo Regime, oiiiQíinÇentd democráti­
co se identifica com a reivindicação de d i t t o s , a o pas­
so que a npva sociedade-é governará pfekjt pjrtncípio
da utilidade ’e da .harmonia doS interésses.* A, idéia de
democracia é, portanto, ambivalente para Pginéi é ao
mêsmo tempo acesso si esfera do direito por meio da
afirmação dos direitps do homem e superação desta
esfera dó direito pèio reconhecimento do governo1da1
> lei natural. Deste moclq, Paine não pode pensar o fu­
turo da demòcrada no sentido dejhOvimento pelos di-
réitõs do homem; ela, se extingue logo após a revolu­
ção. A' democracia ér, ^^an^Ppãlãai-daòmento do com-'
batçconfra a antiga sociedade .uÈhcóhtrarse aí ainda á
origçtri de toda teoria í&arxi^ta e léninista do defihha-
rneqtó çla democracia sobre-a. ba,se da ■cjistinçào entre
, ■ os direitos .formais Cos direitos dohom em para Paine)
e os direitos reais (o reiqo'da lei natural da sociedade
sem elassès.). Igualmente, vóltaremósào,: assunto; Bas­
ta por ora sublinhar o sentido profundo das ambigui­
dades de Paine no seu ensaio de aplicação das idéias
fundamentais de Smith para, a resolução da questão do
'■.político,.;' ' ■ ' ,;v
íêsfèx momento, tpma-se necessário abordar
/'•Godwjp^ m eféito, Godwiqíadicaliza as idéias de Paia
ãêfeíiminando toda sua ambigüidade. Na sua obra, En-

4. Voltaremos d essa qyeslão no capítülo consagrado á fvtórx.


liberalismo utópico '

qüity càfàépmtig P düicai Justicel opta dalramente por


!u m a^ O d ^ aáf^ m . governo ao escolher 0 princípio cie
identidãüç d<^hteífe$se&. contra -0, cie igualdade de di-
í^itõè. PperaTassirn a íuáío éoln|)ietá da 'idéia, utifitàrisr
com a’ idéiã^démoerática, logípáírjehte confu4didaj epm
, o anarquismó; 4^0 coíaçãpdo racioríriío de Gocíwíft e$tá
a rejelçâ^ da/pi^Iertiâyea doS idireitos dohom^m; .-Paiçá t
ele; reconhdcer que o homem té^n direitos ^ acèitàt' qpe
.possa fázér vqualqpèr coisa^de irifitóto oi^ de afeurdo^<1
^én\o‘homjem, fteftv aforttoriaSociedáde, têm direitos,
prppriamétite ditos. S4 podem sé ponforrtiar à “voz 'imu­
tável da rázãoí d da justiça”)p ò r isso, não há tágár
a política po’dniverso de Godsvin.! Mas seq anaEqüisího'. ■
ir há poucos aútofek que tehijiam idõ tão longe tdjihp'eh* «
nesta direpàow não sígníqca a rejeiçàçi de qualqqtet^-c/'
demc Muito ad contráriò,.distingue; cóín efeito; '

do original do tèrtno. Çõnçebe-a comó legítima;, sè n^o


for cega. A autoridade da razão; o indivíduo limita-sé ã ;
obeçtecer a Si mesmo. Esta é a seus olhos.a fôrma supe-'
rior de autoridade que èstá-necessariamente ijgada à'ay-
sência de todo governo, como autoridade política cons­
trangedora, exterior ào indivíduo. À terceira fôrma de
autoridade - a autòrídade política - é absolutamente re­
jeitada por Godwin còmo contrária à.natureza,. O gover­
no, qualquer que seja o regime, é, com efeito, uma for­
ma de autoridade, que não oferece garantia alguma de
conformidade com á-justiça e a moral universais. Além
disso, priva- o indivíduo do exercício do seu julgamento
prlvàdo; o que ele tèm de mais precioso:* “O exercício
■universal do julgamento ■privado é uma doutrina tão
bela c/ue apenas a idéia da possibilidade de adotá-la
causa certamente um infinito desgosto aos verdadeiros
políticos”(£n^Mí'G4, p. 208). Godwin pode, portanto,
concluir Jogicamphte^que “o governo, ,em todos os ca-
t r L l
capítulo 6
->VI» r T .
v, v. _ * f? -?v ^v- , 1' W A /{' / ( i,
sos, é um-raai” íEnquiry^ $ ' M6).‘ RadicâIiza absoluta-'
ménje a desconfiança d& £^íçá*Qanfe da idéia de go-
v.erno, tendo eomo base as"áctéias.de Smith
y . O radicalismo e a d ã £ ^ ^asçiáâs teorias contras*
, tám assim com O lado in aéa& ^ ^-lubblguo de Paine,
Mâs os dois lipmens não sedidggga ao ^jesmo público.
Godwin se,concebe como .um pufó^eóprio e pensa es­
crevei para Um público limitadp,esí^l|tefíd© até mesmo1
pâblícar o seu livro numa ediçldtaça^de^equéna tira-,-
ge'm. Paine/ao contrário, é um 'èseritòfy?|Jí^ular. Com-i
mon Sensf e Rigbts ofM an são prodigips^sucessos de
livraria. V iveis combates e as revokiçôes i^á França, na
Grã-Bretanha è rios Estados Unidos. Ele deve compor,
com a realidade, se deseja influenciá-la; , ■ ,
TaritP um quanto o outro-, no entanto, apesar de
todas as sqas diferenças, refletem uma mesma imagem
dá sociedáde e do seu futuro em desénvolvimento. Q
pensamento ieórico deles tem um horizonte intranspp-
' nível: a sociedade de mercàdò. con\o lugàrda extinção
do político. ...■■■■■_ ,s ' \ i.1

o süxiples e o complexo * \
/ 1 v>’ ' í / á á V : V
; Essa representação da redução e da extibção da
política, rio sentido tradicional do termo, traduz-se
igualmente pela difusão de unta
düde política. íLsí-à questão está no centro da obra de
ÇjOdvrin é de Paírié. A noção de simplicidade polítipa re­
cobre dois aspectos para ambos. Antes de tudo, a limi­
tação do campo propriamente político na sociedade.
Trata-se do tema da redução do governo qúejá abordá­
mos. Mas é igualmente a afirmação da sirhpficicjade da
xfunção pólíticâ num mundò novo. Com efpèo, são as
leis que devem governar. É © que Paine;ád$hirã na Amé­
rica nasceritó. fNa Aiuériça”, escreve em údmmqn Sen-
,se, '*é a lei qüè reina.- D.ò mesmo módo qüpintim gover-
«ff. ;í<si,»»

. '.} Ik'-
^ ;~ír! '
•Vpíaine^-ígÓ^, , ïfeihoutôpicq - , \r< / \ ! \U ' 4 ‘‘
‘^ ï lt} , , v. . . , , ,,,„, ,S, 1</.
fao abs'aWf^fó'%Qber0no se i<fe)tifica com bler, nos pãí-
i:--------J ~yeser rainhâ; não deve hàyêr aí outrfcí
$te&livres

4
\ gylaçáò' pm àq}*^ pota tapabém tíòdwin,1“nada n j ^ é ‘ '
qiie uma ,^aíte'da ter piorál” íFnquirj), p. 166-). <.
‘■Essa síkipliddadé”hâO" está dm cbntradíçãb édm ©
recoftheeimeQto da complexidade social." Aocontrário, *
pois esta complexidade social é auto-regtilada pelas leis ^
do mercado', desde que íião seja imobilizada,e perturba- J
, , da pelas Fo/mas de social^Èaçào particulares, Por isso,,
P&lne critica còm uiba violèncfe ;^àal ^ de Stbjthdodaái
as- cartas de cbrpoíáçdes que4mpèdem a socíedaâe à é

tidos políticos, que, ítseus olhos, interferem de forüíá ^i* & \


tolérávelpa difuàâo'da leimoraL, Este d uná,pQntú,déêl-n v
sLvo de clivagem filosófica c o à Burke. Para Bwke','eám
efeito, a política'-é .irredutível porque ê urna arte e, não' '
uma ciência local-que podèíia ser englobada numa ÔÜ-
tra ciência global, a da sociedade, ou da economia, por
exemplo. A política é, portanto, necessariamente Com-,
plèxa para ele/ “A natureza do hornem é.muito confu­
sa”, escreve, “os objetos da sociedade são também ião
complexos quanto possam- Ser; por isso, um poder sim­
ples na sua disposição ou sua direção1não pode ser con­
veniente, nem à natureza do homem, nem à qualidade
dos seus negócios” (Réflexions sur la Révolution de
France, p. 110). Esta questão está no centro da polêmi­
ca .que Paine desenvolve com ele na primeira parte do
Rights o f Man. Para Paine a oposição entre o velho e o
novo é ' equivalente à'oposição entre o complexo é o
simple^: a revolução tem, pof objetivo simplificar o mun­
do, Por'isso, sonha em cortbater urti inimigo que seja, a
puro ihverso dã sirttpliddadd que seus votos clamam,
Escreve. Sigttificativarnaqte no Common Sense-, “Os go-i

475
capítulorv 6
*
Vi«*'
vérnos. absolutos tem ãrVãflt; :|tl de sejem simples- se
s ò povo «ofoe,1sabe -.dóridé^p sofrtenéntoá e iabe
como remediarsem.sçf^esctflé^tarip..Mas constituição
'da Ingkttertà é'tào excesi^'atneift^ (íomplexá que a na-
t ç|o pode sofrer durante ar^^genyspr Capaz dç desço:
' l$ir donde'vem q mal; cada médico pòHticojfsíc) acoti-
Selhará sUm' remédio difqrente* (pl ffêpQiáutor deseja
uma revolução que seja .ürtia simples 'inyersão do mun-
• dOv A séus ólHos? a Sociedade completa ^/|JQpanto,du:
'piamente perigosa, de uma só vez, filosófica e tatiça-"
, ' ménte. Burk«' parece maisí lúeidó quaqdo fcpndena as"
teorias simplistas que Confundem o direito do povp com
seu pòder real, aq percèber a âátureza do processo que
cónduz da simplificação teórica ao desvio prático. “D
gosto depravado de usar os caminhos mais curtos e as ,
pequenas facilidades enganosas”, nota, “criou governos
1 arbitrários em muitas partes do mVtido; isto? produziu d
antigo governo arbitrário da França e também engen-
< dróu.a rèpúbljcadrbitrária de Paris” (Omsidératmts', p.
308-9). É .o primeiro a compreender ovmecanismo por
meio do qual a simplicidade democrática pode rèverter-
sè em totalitarismo, pois diferentemente do" déspota,
que não é invulnerável, “o povo inteiro jamais pode «er-
'\vir cfe exemplo a si mesmq”
. - Godwin, .çommriamèntéva P^ine, não teria, aliás,
renegado umã tal análise, Political Justice CQntém até
mesmo" críticas muito vigorosas aos revolucionários,ja­
cobinos, acusados dè quererem fazer a sociedade entear
à força nos planos pré-fabricados por sua imaginação
' política. Para ele, a simplicidade política se traduz, com .
efeito, prmcipalmente por uma intetiorização absoluta
‘ dà, política na sociedade civil. A política se djssolve, li-
V- .):■■■ ■' . . 1; i • 'V , •> v i ■ •• -,q.

teratenente, no julgamento privado do Gopji^itp rips ia-'


idivíauQS. Pbr isso, a “sinceridade positjVteK e^beontrole
público éstãb no cotaçãó de seu sistema filosófico.'A or­
dem social está totálmente no interior da sociedade: -é o
*/ Vf
päine,goi &p liberalismo utópico

b'rodutodä? ^stência'cle Gada Urhsöb d ólháfdé tödps.


-"<$ controle^e cada um sobre à conduta dês Seus vizi­
nhos”, escçèye, “constituirá uipa censura côn>pletamen-
te irresistível*’ iBiyquiry, p 554). feara. òodsyfm % leá,pp- <
sillva-e o gpverno^ou' seja à pOÍítica, são, sulbstituKÍQS^
fem ultima instância pelo olho 'atento e .censor da opi­
nião publicai Assim,, pstima q u e a política e a jüsti£a
como instituições podem ser eliminadas da vida sqciab
Sya denúncia do, princípio da punição •Sôcial, corno
-meio de fazer os homens praticarem o bem .(princípio
sistematizado jpor Bentham^é logicamente acdmpanha-'
da de uma interrçrizaçâo absoluta da repressão social.
S£u “olho do julgamento público” torna tõda a. socieda­
de àimá vasta priáaó, à imagem do- pahóptíco que so­
nhava Bentham. Sèu anaitpiismo democrático, $e trans­
forma diretamente num totalitarismo com feição Jiumà-
nac o da repressão invisível,' onipresente^ sem teiMte^ }
que a sociedade inteita faz pesar spbre sí mesmá, apâ“
garido^qualquèr fronteira entre o domínio privado e p
dòmínfo público. x v •v ■ -í ,
i Godwin espera ditosámente, por assim dizer, que
essa visão se realize progressivamente, por uma lenta
transformação moral dos indivíduos, /epelindo 'Severa-
, mente a concepção dos radicais da sua época, aos quais
cerisúni por quÇfe|eitt Súpdrmr a {^M ça jtela política,
autocontrole radical da sociedade celebrado
por Godwin é,. entretanto, contraditório nos seus ter­
mos: com efeito, imRÍicaVa s ^ ólhpsV umá redução dp
píapel da economia na ^bdiedade qüãhdp suà filosofia
social é d ponto final do resultado de únaa representa­
ção da soCiedadé como mercado. Expliquemos. A rejèi-
ção da política é pensada por Godwin a partir dos con-
eeifos dè^Smitl>.r Ora, Godwin concebe a réáliZ&ção do.
sCü pfõjeto oomo indissociável de uma igualdade de
condições, única garahtia, a seus olhos, de uma perfei-,
tâ flüidez spciàl.'Ao mesmo tempo, reconhéce que é no
V; 1 - 1 . *í -‘ v .
capítuíp 6 < .‘I
_, - ;• , : - ' J ^ <?
-' V $

'• e sfó n o a f j è ^ j ^ s p t p q # ,J~ _


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LA *aí VaLí^ ’ «i<* xWÍ


‘.\ p t t J t ^ c a ^ a r a »• .
',-, a íJifei^nçá entre,o, ir aôé:f<»ír?-:-:^4-
tisía e o-aradór substitua bid^gvatdadè, erftry ô ricoe ‘-‘
1 \ .)’ ^ is ~ tL > t r * i i?S\*- lid
o pobre. Mbstrà-se/ m & n ’,'l'ÉSiÉrtiííffiÍ*fl?&aGiSrfã?tóJb^i*|^j dei j?-- ü v.'.
portanto^
, mitação do'cteséhyo^iine^Ççj' ^ ''■'^ , db. , " ^
iV
Sf „ particulámieiite a teçnòlogla raode|j^|s^i#è aqm índi- , -
> retamente a hipótese implícita, da consentí- -
í% ,„•clasobrey tqual fepoqsa a Teória do$.:$0tj$$to&tòs Mo- ? „-J
m is de" Smithi a respeito da «qiial faiambsphhi edpítuto ' k^
, precedente)/Más,-deste modq‘, frãgllizd d princqiio pa '
hármoniã naturál dosjhtéresses solbre á qu^i^e apóia o ty ,>•,
conjunto da suâ1filosofia que parece, portanto, ihfqrior-
' mente qontraditória. , ,■ -o - -
, l i m todo o,Caso, quer se trate,de Godwin, quei
de Paine,: a ideologia da sirhpKcidade política se;reve|'a' ^
como uma transposição das idéias de Smith pára d ter- ' * "M
- reno político,i fundando, p idealismo liberal <ou ainda o
liberalismo Utópifco cpitto realizâçaó da démocraciã.
* j. " ^ ^ ^' i ^ f

a/mão Invisível e o sufrágio <


universal - ■
■, C> exercício do-sufrágio universal é um dós prin­
cípios fundamentais da democracia. Mas pode-se consi­
derá-lo como equivalente ná ordem política à mão invi-
síyel na ordèm econômica e social? A rêsposta a esta
questão é ' decisiva para ' compreender osvlaças que
unem a opção moderna de democracia à representação
da, sociedade como mercado. As análises de Godwin e
de Paine sào particuiarmente esclarecedoras sobre esse
ponto? i :■v::-,, «o: >;•)/-.•■
- ' . * "
N ^ lí U" ) ^
, \ »* ^ -
i á .,
fA j j. fi * < e ) y , { 1
'n ‘ f r
, > » ,*•'
VJ \ J■ !A'('
x \ 1 . rJ
\
Paine, go IOutópico . ~ / ,’ v v ,
' >, < 4 r ^ ‘ '5 ’
.-,■ : w'" :-** i Vh".:--1CS^v^v--. '^/ •.
a democracia # é umí regime p o ,
lítítop | dito, ê um estado social. E>eftne-á,
1 coiho “um sike^a|de^o^e|«daegtifi-
do o qual jçád^tmembra da sociedade ó considerado*vr\*,
comd um htírnet)ri, ;e nada maj^T ÍJBnquéry,- p . ,486). ‘A de-
mocrada seiMentifíca afssíih gqarêt: fèUatdfkiè v
fõesi d estado no qual “cada hoirtçm #, considerado
■j:/
cOjiiloKigttáK' <ibkj:). A seus olbos^ tiada tem .^ver^ojn \
um modo dédçcisao toletíva; nãO 6 uma fôrma de exer?
cíçio pópojap da soberania'. -"A voz do ppvq^yescreve; •>••
“nâd éycontp algumas VepesJtem sido ridiculãinente sus^
tentado,( ‘a vo^, da verdadfe e ^eDéàis,|o consenso uni- ■
versai «âJopodé mudar o fálsO para o verdadeiro** (£»?■.
'qupy, p; 196). Com efeito, é . somente a lei natural qué ,
,pQÍ^e governar Os hõineiís pó fiodepi interpretar, e •se* /
g^ir esta lei que constitui uma autoridade da ^ualy^âq ec-' v A-
podem escápar. Por is6p, “o foro rnais cheio de ^erttej . ^
ou o màiá vêperável senadohâò podem/èlâbíâáf umá '? A
única regra de justiça què já não tepha exjstido çomO tal x ' '
antes da^sua decisão” (ibkh, p. 197).1 A democracia; ’f \ %
como exefcício coletivo da. Uberdade, se reduz, portan­
to,<áo reconhecimento da superioridade da lei moral.
Não existe como intelecçãb da necessidade, para em­
pregar uma linguagem hegeliana. A democracia como, .
exercício da soberania popular, que nào reconhece au- ,
toridade alguma exterior a si mesma, é, portanto, peri­
gosa; pode levar a humanidade à sua perda. f ».
Godwin reconhece, no entanto, que a verdadeira
democracia, a jgualdade de condi^ões ligadá à extinção
do político, está por serealizar. Aceita, portanto, a exis­
tência de uma forma de tensição.dvías tanto se mostra -
radica) na sua perspectiva, quanto se mostra prudejnte e
moderado sobre as caminhos que seguirá para realizá- A f:
la. Rejeitapdo, diferçnteniente dos radicais ingleses, n\:
qualquer á^t^ão política para a extinçãdv|íò' político,
cpnfía a ul^a élíte o cuidadp de levâr progrêèsivai^ente
/i‘^\

1V . .J •-
r\ . \ 17 9
v ...... .. ■ r: ^
‘ \V' »
■■V‘‘-
\,/£$•£$*yú\t0M&%■<
/ ‘ ; S, t r , , , i . .... . ,
' ' a .liu ítía n ^ è àsd
jCJkjéét- *" '•* r4- ’

-, ' ^ desfofóririas

dévastante perfeita para guiara SQçjeágj^Eètti direção


- , ao sey futúro. Para ele.vnàorfiá çoeíráâS^è^igüma en-'
ÎX tfe o fim e os meips nesta -propdsiÇão/; compreen­
dera democracia como 'um estado so d af^ íião como
uma-forma de regime' ppljtieo. A d em o crà^ política, \
Stricto sensu, é até mesind a seus olhos ò, contrário da
democracia,'pois 'implica fatalmente aí aceitação dos
princípios cíe representação e máidria. Çpmo'ftousseau,
•r . pensa, com efelfo, qiteà soberania ,não ífode ser deler. ’=
gadâ á représentantes,, M as,, enquanto Rousseau se
apóiá numa, visão ÿobal da sociedade para fundar essa
U impossibilidade, Godwin sebasèia numa r^pijèsentaÇâô TO
■'•o ' • M r l i V n i ü t t À n t o n f jk n iW r il/ ín Vf/i e r v ^ iâ r í/ ir lia C '’a / J« "J
*--<r

de é (apenas üm ^grpgado de indiVíduos; é contràditqrjo \ , ^


corif q afirmkçâp/da sõberanlá absoluta dò julgamento 1 r-;\
privadp. te la Smtesiría razão; rçcusa o prihcípto da m^ío- |
■;ria que alienaria o direitp ao' éxerdcjodb ■>julgamento ■ ã
privado da minoria J l maior parte dos teórtcqs clássicos yU ■
“dó contrato social, de Mobbes a Rousseau, tinham, aliás,-' 1 m
cuidadbsamerite evitaÓo enfrentar eséè problema .4a ie<'
fação maioria^mínoria aoinsistír sobfe o cqrátêrconsen-
sucfl. do cpptfato original qiie era fundado sobre ,uma ,i
, deCisão voluntária. Nesse quadro, a apliçaçâó do princí->
pio majoritário teria, com efeito, sjdo equivalente a'um
verdadeiro'direito'a exclusão social. ' í.' ’ '

v /4 H
"V
5- TheE nqutierX liyjX apud KRAMNICK, I. na'introdução do A]
PòlttícçdJustice. .. 1 v i. ■ '1

m .K 'iV "V-
v ::v \ v ;. ■
| p ',|
y, ^ óv< ■■
- A^,|»siçães-cle Thomas Paine sobre a questão
são mais difíceis /d^ delimitar. Partilha cpm efeito, dè
uma só^vez^Stíàs,visão cota a de Godwin é co&i â visão
política tmcEcioqal. Para, ele, a democracia, é, ao mesmo
tempo, um éstadcrçpèial e um regime político., IVlás toma
muito cuidado ád distinguir démoCrada e representa­
ção, afirmando que são duas realidades diferentes, -ifeto
lhe permite copcifiar" as duas concepções de demoçra-r
cia. Compreende a democracia cômo estado'social e a '
represepfaçào como fôrma política. Esta últirpa lhepã-
rece tecnicamente indispensável, tendo como . objeto
constituir uin.governo cujo campo de intervenção este-.
ja estritaxneáte limitado e cuja posiçãp não seja superior
a da sociedade. 1 ^ i , 'i
/ ' O conjunto da argumentação de Paine repoyísa,-
aliás, e.é isto que lhe dá toda a lógica, sobre umã-con-
qepçãp putamehte . ^çoitôinica dp papel do governo,
Nâò sé esquece dp slb^ià “no taxation without rêf/rp.
sentation” - que’ mobilizou os-colonos da .América con­
tra a Grã-JBretanha., A política nâot tem, portanto,, q ob­
jetivo de dirigir a sociedadé; é apepas o lugar de gestão
dos, ^tei^Ses èçõftômicõs cctaiuns àp conjunto dos ci­
dadãos (são estes í;^tereSse§ econômicos comuns que
: definem a cidadania). Sua abordagem da questão políti­
ca é sobre este ponto totalmentê idêntica à' desenvolvi­
da por Smith no livro V dp A RíquezadasNações. Esta-
redução da função política permite-ihe tratar de modo
original á questão das relações entre maioria e minoria:
e superar a denúncia do risco da opressão da minoria
pela maioria. As escolhas políticas, reduzidas aos inte­
resses econômicos comuns dos diferentes membros da
;.sOciédade, são apreendidas, ,com efehoj por ele rips
mesmos termos que os da trOfea écòriômiea hormal, ’
“Çada homem’( escreve, “é um proprietário do governo
e o. considera ;cómo uma parte necessária dos negócios
que devé. gerir. Examina o custo e o compara com ápas
capítulo 6

vantágensj, êr j ^ a d o t b o eòstume que


'S consiste em seguir Çègatoei^e òs qye $ào chamados nos
outros góvemos>de \ $ $ ^ f (jà g b teo f Mun, p 206>*
Qqando a vicà ^líutíá ^ ^ S u ^ g k ) .uftiversaf são redu-
zidqs a um cálculo dê ctfâto^^^éneíbf. a ndção maio*
ria e de mlnorijr perde; 'fytvk' t<âáè <jí sdu sentido^
f> Não há mais minoria, tàl ciS^hc^ttãóAáí^rdKfâfes nutna
-)
troca econômica. Dessa ,fori^'dclítoesigá |aodq que há
.sempíe um ganhó mdtuo n^ fr^^ ^ f ^ r c ã d o r ia s , o ■
resultado do ^üfrágfcyuttWerSal -é ^ettJ^W^ahWjbsó^para
todos. Acompanhando seuraciocMo,p©dêr-se-ta dizer
que os conceitos de maioria e 'de niiitóriasfào.ria ordeth
política 0 eçjuivalente ao “preço justo” néjíeftsamento-
econômico medieval! só têm jvalidade enquanto a troca,
econômica ou o sufrágio político, são ÇonSidèradõs
,cc«ró so i^ s de/resultado zeroí A grande ruptura de
Smíth na1teoria econômica-tinha justamente consistido
neste pontoçmostfar qpe a troca.cfesqnvolvida sobre a
|aase da 'extehsão da divisão- do trabalho, é vantajosa
jáafa o conjunto dosjparcelros envolvidos. Aó transpor
esta concepção de Smith para a ésfera política', transpo­
sição tornada possível por uma compreensão econqmi-
,-ca da função política, Paine* fünda assim uma nova re­
presentação da democracia. É aliás interessante subli­
nhar' que a escqla americana contemporânea da.*Public
ckoice"‘ rçtoma çste procedimento,Jixando comcrobjê-
tiVo generalizar a aplicação dos conceitos econômicos -
clássicos à análise de conjunto das atividades sociais e
políticas.6 - - - ;
-De uma tal pêrspeCtiva, não há mais contradição -
entre á mão invisível m o sufíágiò universal.- o. princípio
da harmonia natural dos, interesses governa ambos de

:t 6. Cf., por exeinplo, BUCHANAN, J. }~G. TULLO.CI< G. The


Calculus o f Conseti( (lpgiCip fdunddtions of constiCutjdnnal de-
mocraey), Chicago,' 1^62; notadamente o cap-■XVH, -“The or-,
ithodox mpdel of majority rule”. , .' - '

132
• t X,
IP s
if T:
■ U.)
, '. t,p’Xf rto»
paine, godtotoé o fiberalismô utópico
to■
' *.'•■-<■:'ï~■\í;\ .
* r >
iîtodO sufrágio universal produz aptomatiea- r
ntentè :dçdis$es ; oônsfnsuais e unânimes, pjbrque se a ,
fîm é determinar ,opreço (ou seja, à taxa) do imposto e
• 'este preço,'^pmo tôdps os demais, enContra necessaria-
• mente, por ineiqido' mecanismo do mercado pòlítieq,
•seu ponto de equilíbrio. Votar é, em suma, exprimir upia v
demanda sobrç o mercado do imposto. Essa superação )■
do antagonismo èntrê princípio de* maioria e princípio '
de Unanimidade implica, portanto’, limitar to campo po­
lítico à gestão das atividades necessárias à perseguição
dd intéressé econômico de cada um dos indivíduos .
(infra-estrutura^v educação, etc:). A política se ïfeduz à
' ■fiscalidades, : • ■1

janus liberal - .
- . \■ i . • (- ■.■ • - v £> , ■v

* ... ;*È habitual distinguir liberalismo políticq e liberai


lismo econômico. O primeiro é tido como uma teoria ;
pólítica de essência democrática enquanto o segundo
é ápènas uma dqqtlriçiã, a tí mesmo somente uma ideo-
: ltogia 'econômica- qde idstific^tO desenvolvimento do
càpitalismo selvagem. Esta distinção; não me paíece
verdadeirameftte operatória. €òm efeito, distingue
hüjn a />n’on axiológiéo e metodológico duas, réalida-
des cuja relação: é justamente essencial compreender
com precisão. Q tiberalismo econômico* é frequente­
mente visto como “desculpado” pelo liberalismo polí-
tico, como se não fossem as‘ duas faces ipdissoqiávèis
de uma mesma doutrina da liberdade. É conhecida
: toda a força desta argumentaçâo quando se trata de
: -justificar o capitalismo como um mài mênor.^ambém
se sabe praticamente que o liberalismo econômico pre­
domina quase sempre sobre o liberalismo político
quando^ps doi§ entram em conflito. A história das so­
ciedades' modernas tem mostrado tragicamente, isto
muitas ve^ps. to-

183
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VciO
capítulo 6
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' L - j s-
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' "N^ ' 1 !' 1 d ■..■.•íí?,.: t-
iâíi io ecqnôípiçp/é
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d o capitalteínói fepte^ír)üitQ.amiúde, de teia
para .a crítica ‘ _ *íttço propriamente dito.
v .„'V
<5v fe ia : ía da signi-
;'
fitaçãojyofúnda, scegravg. Minha '.: - / >
hipótese' é cpie o fátí ^ ^ bran-
c a nessa crítica pert- o senti-
} dòdá idéoldscia mc iâtürezados
-V. ' yíncufos,qtje;p^em préistaretíi^^
dèftrA:'
cracia':em tptàüMsmo e m^géra^rièíw^.i^'sçümpHc}-'
dades ^trat^aaque se fecem algumàs w ^ j^ p tré idéo^
logias fióiíticas inimigas, , '< > * ' ■ » ■_
É preciso, antes de tudo, que sublinhemos que
não se pode definir o liberalismo como uma apologia
-dá'liberdade ém todos os domínios, fundada sobre a
afirmação concomitgntè do sujeito é.do, direito natural,
O que se Convencionou chamar em geral de libetalismo
político ^emète cie fato a duas doutrinas: a afirmação,, *M
dos direitos jdp tíomem de uma; p a rté e a aftrmàção da ■;
sociedade de mercado de outrâ partç. Çhajnatemos o
jprimeiro áe li^emlfsmofiòsitiuy eso Segundòide Hbèm-í
ti$m® upÇfrico. Estas duas fojrmas de l^seralismo se dis*,
tinguem em tliversos níveis. Mantêm, primeiramente,
uma relação1diferente com a história. O liberalismo p o -!
sítivo é uma doutrina; de defe&a dps direitos do homejp;
reconhçce, jxMtanto, implicitarpenie que o seu òhjeto
não, se esgota,; que semprfe e çrá fodos os lugares Será ,■
netessàriò. veiar para defépder, desehvolver ou réstábè-
lecer .esses direitos que são incessantemente ameaçados
por todas as fonnas de dominação econômicas, políticas
ou sociais. O liberalismo. utópico, ao contrário, tem
como objetiyo realizar uma sociedade de.mercado, re-
presentanclo a idade adulta da felicidade d| humanida­
de. Tende, assim, a pôr um fecho na história,,-Essas duas
formas de liberalismo são tidas como demjocfátiças. Mas
remetem à duas conccpções diferêntes de democracia:

184 ,$ l
, R
; ô ■'
\' S% u
«í-
.pâme, j »liberalismo iitôpico

CjV /4< s i > \i i


a depiócftit^ óqttió estado, sociàl ^ejutjn^^aitç (libç-
ralismó •tHÔpiepJj'a democracy ycômodefpisa-e exten-|
' sãó dos homéjtn de outra parte (liberalismo
pósitiyo); „/•;-, f 1 >, ^ ' j r
- A a o ^ i^ d a d e liberai advém da cpnfusão ou <M
semelhança dessas düasconçepfões que'mantêm rçla^,
ções comptetgineRte diferentes com ©liberalismo eco1,
nómieoi p Ub^mjUjama positivo^t^o ^m^vínculb'com q r
Hberaíisnfió econófaico} costyma’ ser éóntfadjtórip éópi
este ultimo' é é muito fréqüentemente sacrificado em
nomé dos interesses capitalistas que se apoiam na defe­
sa do libéralisme econômico. Tudo é diferente para o li­
beralismo utópico. Como mostramos nas páginas prece­
dentes* ele é uma extensão dos princípiósrde Adaip
-Smith, para à, política, Pode-se iguaimejjite qualifíc^jój
nes(e sentido de anarquismqdemoCrático. É a réalisât1
ção política da fepfesçntaçãb da sociedade éçmo .'níér* \
cado. Êxeste liberalismo utópiqq q u e me párècé' pehgo-y
só, e é a partir dele que é preciso compreendera inVéf- ’
áâo possível da democracia em totalitarismo. Esta inver- f
são' nêm sempre é -fácil de apreender, pois nada mais^é
que uma possibilidade lógica. Em muitos casos, com
efeito, o anarquismo democrático se limita á. uma ideo­
logia sem efeito6 práticos. É uma utopia distantè, cujos;
efeitos teóricos parecem paradoxalmente- moderados»
pelas contradições ou prudências dos que o.desênvol-
veaft. È, pór exemplo, ô éasó dè Podwin que sonha çoh?
traditoriarhente'•*'com
A-.' r_"> i
uina sóéiedade de mercado
. ■ r". ... \
na-• qual
..

a troca econômica desempenharia apenas um papel res­


trito e que espem sua rbalização por lentos efeitos de
, uma' reforma rnoj-al do indivíduo. Do mesmo modo, o ;
Eberaiismo eponõmiço felvagerrç ao1qual Smith abre
teoricamènte b ,caminho, é compensado na sua obra
pela suà apologia da frugalidade. Pará Thomas Paine, é
sua ambigüíclãde ,que o impede de “derrapar politica­
mente” ná medida, em que se refere quase sempre de
JViW
Capítulo Ô A
m m ^
vw w -
üma só v é z á ô « ao liberalismo utó- „~
pl,cp., Córifrontadas èt e„ súas teorias .são,
>'ajiás, fád&pente apto nãô cessa no "f
Cómmõn àènse e no de^denuqciar o gp- '
'vernô àue^fouba da.tóí qüe lhe sgo de-'

' fundo nacipriaLdo E s t a d o à s desigualda-


" des ligadas à defesa .doídir§itPt3e'ípfGf^dade",'-anteci*
pánpo assim todas Ás póHtióás'de' Wèîfisre. ■ “
Mas todos os iuiidamentós irtteíèftuaiá do’ libera­
lismo' utópico perrtikem jr -pòr caminhos muito mais-
brutais. Recusa dp ptílftico, útopia dasobiedadé transpa­
rente', crítica das estrutura?sociais intermediárias autô­
nomas, tudo está río lugar para qüe a influência política ;
dç uma tal ideologia possa' con^uZir a /-uma sociedade
totalitária. Neste‘sentido e a partir destas características
doanarquismo democráticò, derivado da’ representação n '
dasçteiedade como mercaçto, é possível analisar as çon-.

é, de uma f e vez, a ppreppctiva clè uma socüedade dè'vi­


gilância generalizada (Cf. Oodwin) e a multiplicação de
.jêpressóps políticas e sociais requeridas pàça .tentar 'fa-..v
•péireása qtopip entràr â forçána^ realidade. Çom.éfeito'
p totálitârismo.é produtòide um ésfòrço político irispn-
sato para^dlsfoiver a, políticã. Vêrse, portanto, que Sriiith
nây conduz principalmerite ao capitalísqao selvagerh, o ;
quâlele nãq poderia supor que se eàpahdiria rto áécü- r
lo qqe iria seguir ao seu^tanto quesçú üqivefso etá es­
tranho ao das possibilidades abertas pela revolução in­
dustriai. Se Adam Smith está na encmziíhâí^ada moder-,
nidade é muito mais profundamente potiguje sita obra
Constitui a matriz a partjrdaquaH e desfenvolveo libe­
ralismo utópico. O prolongamento,polítiCp;dèSmiíh
dè S im-
plicava, com efeito, romper pbm o que s^ jpóderial cha-
Paine, óBberalismo utópico1

rn^r íle íké& fçm ínação do seu liberalismo. Çxpliqyçe* "


mos. pata ^e^íiWrãiísmo positivo ë UberaUshrçt êcotiËP' v
mîcô.ëst^bainda retetivanjente indiferçticiados na me- >
cücfa erp , c^ue >j^çSepVolvp sua içoria-da soçiedadé 'de -
mercado se& ^ ãtísar sya relação com a tradição cOns- '
títucionaf in g ira do Estado dé diréito ã qüal -adere, es­
pontaneamente; Pressupõe assim çonstanteipente a pos-
. sibilidadé dejustaposíçãò, até-mesmcLde tífiidade, mes^
1mo. se algumas vezes1perde a corisdência ,dá natureza
extremamejrite instável e frágil çlesse vínculcr (cf.~capítu-
‘ lq III).. Seu -pensamento, neste sentido, é inacabado7'e
por ïstç Paine e Gòdwin, sêus herdeiros, serão levados
a.tentar superar a contradição pr^tiça eptre Estado cie di­
reito e sociedade de mercado na figura do liberalismo-
utópico.
t-/-

' * ü/ -
, Vv'
v'I- -,
'‘V<V . V "! >?"■ ‘v." ":f

7. É preciso tembrar a este respeito ,que Smith manifestava^


ainda pouco tempo antes da súa morte, o projeto de escrever
; un» grande: Hvro'ctë “feoria è histeria dó dirèto.e do gover-
no”(cf. má çafta a um correspondente de 1 de noVembro de
1785>. Mas não há nenhuma indicação precisa, trecho dei má-
nuscrito qu outro qualquer, que permita formar Umas idéias '
' ' do conteúdò que' Smith pretendia dar a este livro. Minha hi- .
pótesep que ser& 7c^tcam ente levado a àe; engaja*- numa via
próxima da dç Godwin. Não teria interesse algunt pèrguntar
se o conhecirnçntó do que iria ser pratícairíénte, o capitalismo
teria, aõ contrário,» incitadoa se aproximar das teorias de Es­
tado de direito democrático, Smith, com efeito, só é possível
. como pensador précapltalista Cspbre este ponttrse reportar aq
capitulerÍXb ' . ... -
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T. astúcia da razãó
'' ‘ \ J
, x ’ • \'■
hegel, herdeiro da economia
política inglesa -
‘-:i . ;- ' ■■ ; • 1 -.}' v A
rf ‘ i X
r
á
í
.
sgel ocupa um lugar determinante em reli
ção à questão que nos preocupa, a da representação"

, nha epm efeito uri»,papel central na sua Formação in- “ • '


(electuaj. Será o primeiro.fUpspfa a elabojrár d áçu pen­
samento sobre *esse teneno», teu os grandes .autores va
alemães do seu tèrripo, Herder, Fichte, Kant, Schelting,' / .•'
mas é no contato com Fergusdn, Hume,’ Steuart e..,.,
‘ '50)1$ »jpk>^ss^aihenté ps elemqntós ; \•
chaves
V-.
do
"
seu
lí* * •**
sistema.
'•**" *•**',*
Em
A.
Berna,
*
de
\.v. 'V
1793 a Í796Í
.* * * - ,« ! 0 !
dés-
I' "* f
;v a
TÍN *•* í

còbre a economia política Inglesa. Seu primeiro biógra- r y


fo, Karl Rosenbranz, fala até tnesmo de ura Gloséieren-
^erCbmwenr^rque teria sidQ escrito por Hegel. de fe-
y Vereiro a março de 1799, sobre o principal livro de -
■ Stéuart, An Inqülry into the Pfinçiples o f Poltíical Oè- ■
conomjv tradu?ido, pára o alemão de 1769 a 1772'*
Sâbe-se igualmçnte que estudou córri atenção, durante1 .>
\ ésse

v;r. LpBÈN, |Íegels. p. 85 \fer igualmentç CHAMLEY, P. Écor


‘ .....i ^ Pbikmphte chez Steuart ètjiegel,

.n x 189
'J ' i 7 V.*!vÁs -àiúú.
'..-.■tViVj W
..•.:V7\-
c ,Kv- í ' A l l..|,

b*h~,'
capítulo 7-,-

la -Sociedade Civil
ffén tâ j&r ’Carvev '
eCófiomlà.ÇQifto tal que lhe
valor ou
<1%ãgrícàltura e''
^é^domistas”. A origi- ,
«•\ 1 \* >. \ w ‘ V'■'•ts O V / - *
nalldade de Hegel esta na «‘u a^qnap^ettsão da eco*
itorrâa política’ cotíip á Sciéi^dtféâftòa- ÿos tempos
modernos. Como-escfeverá mais tap S ^ fi^ Princípios
jta, Élkisofia d o p tréfto " “é uma dèsf^5® nç$gs que
nasceram nos Çempós modernos ntot^^tl^ítô^que
lhes será píóprlo”. Talvez- alfrtado p & tGrávv&,? eom-
preehdfer o imenso alcance filosófico dos principais
ensinaíhentos1 dessá ciência •do,. mundo ' novo. Com
efeitó,\ o mundo do trabalho e o sistema das necessi­
dades lhe parecem como o lugar daiunffieaçâo do su­
jeito e do objeto, da reconciliação do espírito» com a
naiiíreza, ,do acesso dõ particular ap, universal. A Pri- ' '
tneira Filosofia doE spíritoe, mito grau inferior, -fy Sisr
tema da Vida Ética ,e O D ireito Natural, traduzem '
essa “descoberta. Desde ■esse período,^tpmpfleende o '
sisteina'da necessidade “como sistéma da universal
dependência física recíproca de uns em relação a ou­
tros” (Systèmç d e la vie éthique, p. 188). Escreve em O
Direito Natural'. Mh s necessidades, na sua implicação
recíproca ínfihita, obedecem a uma necessidade ê for­
mam um sistema em qué. todos depénden^de1todos
do ponto de vista cia necessidadç natural, trabalhan­
do e acumulando para ele; como ciência ê o que .Se

2. CiARVE notou, com efeito, na sua tradução de 1794 da Ri­


queza das Nações: “Fui atraído por este iivro-ddmo jx>r pou­
cos outros nps meus estudos, não spmènte pelo numero de,
visões «ovas, que contém spbfe séu assunto próprio, mas,
igualmente portudo o que depende da filòsófia dviíesòciar.
Apud HASEK,‘W. The Introduction o f Adapt Smith’s doctrines
into Germany, p. 69. - . -
chaiâa dp siêfema- de economia polftica” (p. 119). He- , ,
get ieftígoil^êví^ssitn ma_ edbnomia pòlíticu asíTeferên-,
c ia ^ t^ fl^ ^ e rm ite m - dár um papel ípentral^ praxis,,
e romper eq^ú <? ddealisrpo álemãp tjadíeipnall Oesde '
« sse período,"0 jrabatho é o cônceito central a partir
do qual çpncebè o desenvolvimento da sociedade. N1
Desse ponto de, vista, A Prím eira Tílosofiq do Espírita
(1803-1804) pode ser lida como úm, ensaio de tradu- ,
ção filosófica da economia política de Adàm Smiths
Com efeito, só- póde compreender, 'que o ^trabalho
tOfba4Se n^t sua singularidade úm trabalfeo universal”
(p. ;1 2 4 Í ’à ‘, medida què integ^ a descoberta funda­
mental dejr Smith, segundo a qual a troca precede o
trabalho e údivisão do trâbalhoj e n ã° ô inverso.’R e-'
fere-se àliás expHçitamente a Smüh nesise. liWo,,vmenteí -
ciónarido seu nome na margem diante dç uma passà- •v.
gem em qué retoma o celebrei exemplo dà divisão*<Ío:
- tra^ lb òn u m a rhanufatura de alfinetes (cf. 128X Çh»m
printeiro momento, Hegel parecêsí retomar ap' Seu \ ,
modo o conceito de “mãó ihúisíyeTv^ ttânsfqrmando^a ’
em “astúcia da razão”, A universalidade da‘ riqueza,
desòtíta;nfcW ehomenolbgia)do Espírito pròVem, a seus
plfcjòs, dp Um Üpp dè astúcia da razão diáíédça:pÉada
•éptidade singular acredita verdadeiramente no; exté-
;ríbr;ÚessP momento (da riqueza) agir em vista dp seu
fntefesse egoísta [...] mas,.considerado ainda soménte
do exterior, esse momento se mostra tal que o desfru­
te de cada um leva ao desfrute- de todos, e que, no
se,u trabalho, cada upi trabalha tanto para todos como
para Si e todos por ele”(t. II, p. óO-i). :
Há, portanto, uma harmonia escondida que resul­
ta da interação do trabalho e do desfrute individual de
todos os membros.da sociedade. Hegel está aqui real- .
mente no terreno de Adam Smith.
,; Trata-se de compreendei, nesse cpntejdô, o con- -
ceito hegeliano de sociedade civil Ijup-setâ: desenvolvi-
capítulo 7
;^7v O„ j . s* ftV_b<! /, >f '1
do nos ^Princípios tfa :f ^ ^ ^ f^ y
âa>Pir&iÍQ.! Sobre a ori­
gem doTtprmo,, parçcè pd^^fbmpu emprestado ou de
, Ferguson, óu-de Steuá$.* ^afSm,ida^^uín'seiitido novo.
Çom efeito, para Fefgüsoo^^ísè-^rriao j^árdà o sentido
clássicò que tem na fíl6s<rfiã>^)fejièav'itígIeÉa"(ef. ri* par­
te). Çarà Steuart, o termo ^õdtè^aidP civiFtpm, ao contrá­
rio^ um sentido muito restrifiir ^feSigna ^ cáasse social
particular, subdividida em cojppmçdiès profissionais,
que se consagra à atividade? econ6n»Q$,Asèotíedade ci­
vil de Hegel retoma d e fato a nação défiífíí$>: ê consti­
tuída pelos sistema sócio-ecoriômibo dãá jftebèssidades'
Limita-se ao que está implicado, pela “mpdígçâo ,da' ne­
cessidade e a satisfação do irtdivfduo pe],ÉVsevr trabalho
e a satisfação' das necessidades -de todçjfe os outros
(Príncipes de laphilosophie dudroít,- § 188). Hegel com­
preende assim historicamente a sociedade civil, idéia
que será retomada, com força por Marx. Vê nela o pro­
duto dà economia moderna^ ela não é mais confundida
com o movimento ^le civilização,que instáurâ a-ruptura ^
cpihp éstádó selvagem primitivo^ Prplongàndo^a$ irefl.e-
xões de Smith sobre o/trabalhodivie, bqmpreende o laço
que Une o desenvolvimento da sòeiedade civil, como
sociedade nòva, e a ascensão da reivindicação de liber­
dade política que está no coração dos movimentos re­
volucionários do seu tempo. Á seus olhos, a afirmação
da idéia revolücidnáriá dè {iberdade pára todos é solici­
tada pelo advento da sociedade modérna fundada sobre
o trabalho e a divisão do trabalho. Sômentejja spcieda-
de civil "o homem valé porque é hoímem, não, porque é
judeu, çatólicó, protestante, alemão ou italiario” (§ 209)-

3. As traduções. )das suas obras dão bürgerliçhe Gesdlschaft


como civil society; é o primeiro termo quê-será empregado
por Hegel, Não há portanto por que retradá?lr em francês por
“sociedade civil buiguesa”, como fez I,EFÈVWEvJ.-P. na sua re­
cente tradução de certos parágrafos d o i Prfttícíptos d a F^/oso-
f l a do D ireito. Masperof 1975. ' i, i
iTFÍ*
hege^fe ma^iovtetvel à astúcia dá razão

_Ela realiza,- ■portanto-, o princípio de universalidade áo


'desá&K$(turkr 'às-’dïstinçôes anteriores dé raças, ordens e
■relied#, aboliçdo aAbarreirãs e tonteiras geográficas.
...C oa t;# Ââyètítàf-ân sociedadfer,dvil, o inundo inteiro
pod® tornar-ife tàb fluido quanto'o piar que leva o de-
^nvblyirxfehfti^o seu -copiérçio; acaba- por adquirir sua
' tfan§parêríèíá' é sua liquíc^É. Aliási ê admjráyél vgfttodp
“ift Sentido qqe^ldgel dá aceita Oposição êtSfíé\é sâfidõe
o lípíiído/ èiWê á tetra e<b map como se>fosse a eítpfeá-
; Isão Simuítaiteâritónte m<^áfl1dca^íreàl da diferença en­
tre umÿ ísQdçdacte^dé qfdeftS e uma ’sociedade dé" met-
-cadd. 'ASsiiP(i\OScr^ver ^p/rhesmo' piodo pue o princíptó
da vi^afahïi^ar/tem' como éortdiçãQp tejrrã; os. fitodós é Á
o sold,1para, a indústria q eleWento qpe a anima lhe é .:
ekterfotÿ o mat; A procura do'gàojip, na iriedida em Cjutev
comportá uift íljscd para obtê-fq;ï a eleva adina -dp sep';
.objetivío e,substitui.âii^açãòià;glel^a-e>ao círculo Umka-À
do da vida civil por prazeres e désejôS’partitulares'squ^
' acompanham o fator de fluidez,-de perigo e de possí^éf
nâufrágio. (■•■)• Todas as grandes'nações que fazem um
'esforço Sobre si mesmas tendëm'ao mar".(§ 247).
O homo oeconomicm. què'Hegel chama de bür- ;
guês, é portanto o fundamento doputuro do homem li­
vre e universal. Ele é a condição para o pleno reconhe­
cimento do homem pelo homem, movdmento sem íím
na medida em que define-as nedessidades como produ-
zidas pela dialética necessidade de imitaçãp/necessida-
de de diferençasfcf. A tfOca ê á diyisâp:dohaba-
lho.. tornam assim pará Hegeí um sentido filosófico es-
scnciai. Transcende fllosbfi^itíénte a êçqnothià política
de ’Sm^th. Njeste sqntidõ, pode-sé còmpféender Smith
cqmo o grande interlocutor de Hegel. Este úítiqiri èstá
visivelrnenté fãáçinado pelo ijue compreende ser o mer-
. cadq:,q grap^q princípio de otimização do mündo mó-
deipo e<n^ppimplesméqte um mecanismo econômiço.
Aliás* ; muif&íyezp&j nada mais faz que copiar Smith.
W >V ■ :’r ' V ■
capítulo 7
^ -y 1 a
; V, ,K '.--'A
Quando bscrevç, e Kfo,objetivo egoísta
fuhdà um sistema ia -recíproca que iaz a
subsistência, o b em -e^ f e têi&Sia jhfídica tío índi-
vfcíuo estarem misturado nciaj d hem-es- ;
tar e # -existência ■de fo^osí' ^.é^fícdrnàopensar
■r ‘>-
na célebre formula cje >ê"dà 'bennvólência do
açougüeito, ; etc. Perjsa ai .. r_ - ao&.
de, Smith a haffnonia naturaí
^cadoreàliza* nojand© foesmo qu& f‘~
nheoer tna esfera das necessidades;, essàfa
darão d e racionalidade que-se éncontraè A

derno. a.que diz sua verdade e indica séu futúfoíé urqa


ciência) perfeitamente adequada ao seu objéto. Àliásyiex- ;
prime 'sem volteios: “À abundância de arbítrios engen­
dra a _partxr de si mesmó determinações úniyersais, e .
esta aparente dispersão e ausência' de idéia condutora é
mantida por uma necessidade que. intervém esporitai ,
rtéamente. Dôscobrir’âqui e^ár necessidàdç é objeto
da economia, política*, ciência que faz honra a o ’pensa- , *
mento, porqlie açha leis q ú é prestam Co4ta de uma
tqassa,de contingências (...); a passagem dé um para o \
outro, a qual não Se vê à primeira Vista porque tudo pa­
rece est# abandonado ao,arbítrio do indivíduo singular,
é particularmehte notável e apresenta semelhança com /
o sistema planetário que só mostra aos olhos os movi- ?
mentos irregúfares; mas cbjas leis podem ser conheci-
das"(additif Gàns, p. 189). - v
A filosofia hegeliana oode assim ser Compreendi^
dá como um trabalho sobre a economia política inglesa. ’
Hegëhë um des únicos fílâsofos, senãoo> único, a- com- /
preender ó seu verdadelrb alcance. Ora,' mostramos na
prjpieira parte como a écóhotnia polítjca-tfevia ser cbm-
;|>foei#ti^iiQ.'.ih^rior')#» movimento da filosofia política
clássica é como Smith só se tornou'de certa modo eco-
' - ■

194
t., yV »
'ÏS, J /

1 í
W. í ■
■ -À1ÍÍ
- 4 A

ifvel à astúcia da razão

^ x do
$ue cotífirta^fa trabaihaf filWofieairtente, mas é está me-.
dláçâp rC|Ufè^;pel^te inoVarv éíò tugár a partir dó qúal ’
, ' pode^saítaí j^áf esiantífiar do idealismo alemão tradiciç*-
<tjâpsê t^eá^^tm anteddo aí, Só teria; no éntanto, tía$-
s do pa^W AtóspSanlja a filosofia poral inglçsa dó século
• - 18,çoníefltandp-se èmcqrotrairverdadeiramentejemter-
- 1 mos filosiáficôs á conceito dé íiiqipàtia fef. ó tema da luta. ’
pelo reêonheckrjento em ’a. Fénomeriolqgla) e o'cie har-> ',
' ún^-(fesqat)fo ijuaátócia.da razão) _
- num quadro deum pensamentotóstoricío-da filpsofia.4 Só i
, seria pntap umà síntèísè" filosófica de Smíth e dé Steuai^ ,■
i Ma,s a fórça detHegel ê tçr ido^íjáais lórfge, éin piptf do . '4'
Seq' interesse péla,economia poiítica. /^.pesacdè estar iq ^ v
teirarrtente..fâScinado pela-descoberta da sqciedadç-de ■
..mprçadp cpíiio> lugàr de"realizaçãp)do t^niyers^t^<i>nv'‘ '(
pteende melhor quê qualqüer oútro economista d^sisá ,
época' seus limites e suas cçntradiçóes. É justaménte nis- 1
to que Hegel nos interessa aqui: a força do* seu pertsa-
mento vem do fato de quç é>de uma só vez q produto
cie uma fascinação pela economia política ingjesa è o . •
produto de uma resistência a esta fascinação.
\ I •' v. ■

■" j - .'vá. ' . 1 ■■ ' - í- ' . ■
■■
■'. Yf

a crítica da sociedade civil e o í


retomo dp político / ‘
• Pode-se ^encontrar jã em Adam Smith os elemen-
tos de umã crítica a divisão do trabalho. Notadamente
' sob a influência de Rousseaq, esse aútpr 1fei. leyadò a-;; '
'considérar seus aspectos*negativos e aliepantes.- ^ssim, ;•

| .4. Tofpando. este ponto .emprestado de Steuait, como bçm ,


mostrou Paulo Chamley. . '
■ 5ÇfRdsenherg, N. “Adam Smith, on the dtvision o í labour.
two views or One?” In: RIláAy I. ;H (ed ). Readings in bístpty
o f eco n o m íò s ideas. New York, 4$70. ( . . -/-'i

'. ' -4ÍV


195
fA Wjt,f
’f . a t
'vV"íW ' capítulo 7

no livro V de A Riqueza, falá, do trabalho' das pessoas-


do povo como “tão simjílesie t|o uniforme que exerci-,
ta pouco, sua inteligência^ encanto-, ao Inesmo tempo,
o trabalho que exercem é, defuma só>ez,.,tâo duro e
tão constante que não lties permite, lazebpmenos ainda
disposição para que se apliquem, ouiqèsm ò pensem,,
,em alguma outra coisaM í^ir, p, 445). Mááísfe,contenta
em propor remediar isto pelaeduçaçào; C^qúé àliás pro­
porcionará a vantagem, sègurrdo Smith/cfe pfcevenir a
superstição e o entusiasmo “que são pará âS nàçòes ig;
norantes •as fontes comuns das mafs temíveis, desor­
dens”oEsta atitude de Smith não é isolada. Esboça inú­
meras vezes uma crítica às desigualdades e à alienação;
que a sociedacle.de mercado engendra, retomando'aliás'
sobre este ponto as análises frequentemente virulentas
de Ferguson no seu Ensaio sobre a História 4 4 Sócieda-
de Civil. Mas como seu quadro teórico não lhe permite
tratar e dar conta delas, acaba sempre por excluí-las, mi-
nimizàndo-as. fem definitivo, é a"virtude e a frugalidade
quçperm iternsalvar o princípio da harmonia natural
dòs interesses. Toda a sua teoria repousa no fim das
contas sobré um “sofisma de composição”, para retomar
a expressão esclarecedora de Samuelsqn: é uma genera­
lização abúsivá de um princípio que só se realiza em,
condições sociais e morais particulares.
A preocupação de Hegel será, .ao contrário, de
poder integrar o conjunto desseS^“efeitos ^perversos” e
de os tratar como uma consequência normal'e nàò aci­
dental do desenvolvimento da sOçiedacle civil. Com­
preende, por èxeínplo, qUe->a divisâÓ do tíàb^lho pro­
duz neçèssariamente de uma Jsó vez a riqueza social e a
alienação. Com a divisão do tfabalho, observa, “o .traba­
lho torna-se ainda mais âbsolutamente mortõ, torna-se
trabalho de Uma máquina; a habilidàde do^ tmbaíhador
sihèular tornâ-sé ainda m^ià infinltameníe lipiitada, e a
CÒnsçiência dq trabalhadpr da fábrica é rebaixada ao úl-
I
' ' w 1' capítulo 7

l • J .S . ■■ . ^ ...
Cèsso, de ;fjguezá, aj.i$ddfejdí»%^VU nâçdé bastaqte rica,
píí seja, a sua Tiquei:â rião J>ò^ui haStánte bens para pa­
gar tributo áo eXCesso ,de,;np#rià‘ Çjà plebe qué ela en*.
gendra”CS 2^5). Aliás, é Wteressante assinalar deste pon-
to-de vista que Hegel está^uítodjtteressàdo ém todo o
sistema inglês daspoor. kttts,.lendo notaeÈm^nte a tra?
duçâo feita por Garve do Wk> çf® J», ^MdcFarian, inqui­
ries concerning (be^pooT:~\Oílimite, ^^oéfedade^civil é
ser obrigada aconsagrar é instituir g'pObri^GUÔ invés
de poder reduzi-la, „ ':j: ■
2. -0 mecanismo econômicojKopríàmente dito
está sujéito a diferentes íopçnas de desequjltbrio que
não podem se restabelecer e^ponmneamehtévflutüa-
ções- de j tnerbados, mudanças de hábitos, inovações
técnicas, etc. , ' ;x . ; ’ v
. 3. O conjunto da economia obedece ajuma lei ,çíe
desequilíbriodendenciaí: O paradoxo desse desequilí­
brio é ter sua forit^ na miséria dos que mais são atingi­
dos por ela. Há, portanto, um ciclo infernal que ldva das
desigualdade» de renda ao isúbcónsumo. TEsfe movimeri-
to nàodemfSbluçãd. Com dfeito, se fdsse imposto à clas­
se' rica a obrigação de ipanter òs pobres, à sociedade ci­
vil CQntradirfã~~seu princípiodebase/segundo õ~quãí s ó ,
é membro dá 'sociddadê quem assegura, suã subsistência
pejo seu trabalho independente. Sendo assistido, ,;*o po­
bre é socialmente excluído, recaindo na sftuaçào de de­
pendência anteriòr. (cf. § 245). ,
v Hegel compreende assim que a sociedade civiH
por uma dialética, que lhe é ptópria, é “'empurrada alérii
dela mesma”. K levada a buscar consumidores fora dela
mesma; precisa encontrar novos mercados. Deve, pot-
tantõj-se exteriõrizar absolutamente para se pre^ejvar.
Mas uma ial extériorizàçãò nâdserá suficiente: a socie­
dade civil, deixada ao seu livre desenvplViméhto, dão
pode ser um meio de realização do universal.
ftegel, . à âstúciada-razão
l '>V.
'dessa análise sie desénfeplve q pen-
>sarnento jgftapp como alternativa para g libéfalísmQ
éi ,ser compfeencitdq, deseje &JFèho-
eómo umá> téntativa dé assumir
a até o fim a f&^ternidade, 'resolvendo a contradiçãÓ fenJ
' -tre a univérsãôjtáção ckj homètn abstraio (o hotho oecb-
nomíífUs daà/rtééésisjdadéíb' que feaítea e' émpobrdci-;,
bUent&dôdoment7concreto 'que provoca, *■ >
' v' Para-tèVar a bolri termo-^sta tgntátiva, tijegfl efe.-
. tua uma volta ab poiíticd. (kontratfetmente à repre$en^a-
çâó íibéral da sociedadé conió rbérc^do, nãoeàperaque
- a eeonqmia realize a política. A esfera da riqueza épára
eje apenas qfci dos dois momentos da Consciência òbje-
1 tiva) somente um dos dois1, (Tíéiós de tealizaçãb ;do qnb'
versaLPor isso,•compreende a questão do rtiUridb iria"* W
dernò como a da oposição entre 6 Estado (no qual o in-V ,7
diyíduo é Uiretatnénte universal), e a sociedade civibipa^ /
qtíal © indk^ddd s õ ‘realizado uftiver^^ in d itetári^ ^ l vV
Aliás,- compreende melhor1a tentaçãçf liberal da reduÇào ;
dtí mpndo à esfefa da riqueza, pois elè mesmo ficoq fa£
>JGÍnado plelo mújtidb econômico da sodedâste civil e pér-: ~
cebeu edmo histórica á “natureza” da sociedade civil. ,
Para os filósofos Iterais, com efeito, tudo- se passa -
ÈPfaio se á dialética Estado/soeiedade civil se, redpzi^se.
à manifestação dè Uma transição histórica: e o novo .,
' mundo -fosse construído sobre as ruínas do antigo po- »
. der d a Estádo. Hegél. mesmo estando algumas vezes ,
muito próxim© çjèsta ariál^é (efi notadamente na Feno
menologiai th^ dela úf£ia coridusão (íiferei^te; se conce­
be a sociedade civil como superação do"mundo antigo.

A em:erra. Seu desehvolvimentó. adquirido no


moviiqeríto de çmançipação das estruturas históricas da
família e d ó ^stado, sqliéita de volta a constituição de
uma noVa órdem políticas adequada aos problemas que
apresenta. Evita asSÍm rçfcair cobfusão êntre a políti­
ca em geral e a'polftká tal. e£>m é, quete$tá na base da
íbnda seu prt>
áemçlhadp à vè-
Iha política (cf. em particúlar Th^asL^ainêí^
Pode s u p e r a i harfzqnte liberal d^ Representação
da socje.dade como-mercado por^ué~^Ôo^rçeitde histo­
ricamente esta representação. A crítiça" dp çpnceito de
utjidade que.desepvolve na Fenotnen&togifydo Espirita
■é partípulâiímente srgnißcatjva "nesse éspeÈtbs^o^Seu ca-°
pítulo .$ehrc a “Aufklärung”,. mòsfra bebi comb o con­
ceito de utilidade^ foi, uma ferramenta pöderqsa" para va
emancipação'cia vis&o' religiosa do; muAda;,*>ha(Vfndo a
necessidade de instituir o vinculo social somente para a <
-utilidade natural dos homens uns parcos ostros. “Como,
tudo é útil ao hpraem”, escreve, “o homem é igualmen-
tê útil ao homem e seu destino é igualmente de fazer de
Si mesmo um membro da tropa útil à comunidade"e uni-
: ttersalmente prestativo”: (t. II, p. 113). Cadã homem tor­
na-se assim, de uma só vez, uni fim e um meio: a mo­
rai social se exprime portanto pelo utilitarismo. Mas He­
gel concebe este conceito de utilidade cpnió üm çopcei-
to de combate. Cumpre tinia função positiva como um
instrumento de emapclpação, mas de çohstrôi.
Mostra -assim ^-iihpoisisdáfi^ibe de traps^prmarlum, con­
ceito polêmico em cóncçito positivo. “A própria sabedo­
ria da Âufldâpttng manifesta”,esçrey e, “necessaria­
mente; ao mefemo tempo cbôlib â; platítude e! com ° a
confissão desta platitúde” (ibid.R/A AüfkíârUrig só pro­
gride,: portão^, reduzíndô a complexidade e a riqueza
clás; relações; spcíais ap qsquéma abstrato da utilidade.
Ao fazê-lo, escamoteia a questão essencial, a, do movi­
mento de reãllzâçâó desta utilidade. Qra, para Hegel tra­
ta-se justameíite dé resolver esta questão.^Nàa se trata
parà éle, simplesmente de criticar o mundo antigO, mas
de querer tornar o mundo moclerno vivívef* ;
t
■ Á " *' " X : f - r .

à.'astúcia da>azão

a da éoéiçdÊtdè dè
i '■: -■■■ •■ ■ S*1. t -iiv M5 ■I i ■r . V,Ç■ e. ■ . ' . . ■■-i : . » . ■. . ii 1 i- .■ _■>■■■i «. .. i ■

, v1 ^ 4 ' í * * ^ , ’ * í ' ,’v


.A ^ s ^ Hegçl è o primeira fiíõsofo ajporúpreeiider'
■apmpórtâqjpia' dlf^copísníja .política cotytb ci,ênçia çlà'sq-
dedade civil,3 igualmente o primeiro a própor uma crí- 1
tica cvòrts<aqôehte,‘ depundaddc» a, ditadura da^abjstrá^o; t
, .produzida por um modõ de emançipação que reciuZ"p
' -íhameul cohçrètp ao homem ybstratò das necessidade.
^ Cotppreendé que a repressão da política implicada no"
Übêmlfçmo.eqiiiytíÇÁa sey, íéinvestitttentp dissimulado
•da pior forma que há: a da guerra .»A gudrça econômica
entre os pqvos, a, guerra econômica entre as çlassqs. $Or
dató' torna-se, com efeito, a sehs olhqs, d 'fônsçqáêpciaq'
.. natural do desenvolvimento da<ssciedqde civil', j
q V ; ^ Mas.cpmOjSuperar pssá situação?, A, origínijíiUdade
do pensamento hegel|ano.está.<«a concepção d<? qufe ^fc
devir do mundo moderno se dará dp um modo nofro.
Assim, sua ÀÚfhebung de Smith baseia-se assím numa-
P , 7. tríplice.recusq*: * ri ' ' < ‘ ^
i ' . 1. Recusa a •,atitude rpmântica que se expíiiqe7
'.ftesde èm Díe Christiqríheit odér Eumpa (a Çrís?:
tandadé ou a tíuropaíj de Nôvaliis que Celebra as “belas;
e brilhantes épocas em que a Europa era ym país cris-'
1tão”. No moviqiehto, romântico, a crítica da sociedade
• civil e da sociedade industrial se refugia numa simples
nostalgia da Gèmeinschaft. Esta atitude não tèm sèntído
algurri. para Hegel, porque nãcí é possívej negar assim a
história. Por igsp, criticará igualiqente a Restauração p o -:
lítica que é contraditória: quer se opor ao priqeípip pre-
septe e nega i^ssim a ^ubstânçi|i histórica que, entretah-
, ,to,/quer salvaguardar e restauíãp6 Contudo, como os t o

6 C f Sobre çste ponto o excelente livro de RI ITEtí, J. H eg el,


0 lq& éixüàéon fra n fá ise. , . . , ■i

3-
201 í
■ÍUí;
capítulo 7

novo mundo econômico daçsócifet$àde Civil e a incapa­


cidade dá-Alemàhha pqra fo rn ir, úpijEsfa^ò^Mas não,
vçnce est^ decepção par1uma ájppfegía.^ódmpébó ou
-da cristandade,
if,, “ . . . . . : i' *> p
mostrando
■' .■■' i ’.'
o • •caráter
k
derrisório
•: . r Í ■•r/.3*!í <•. " í *N- ■
de juma
I: ■. 1 -

tal atitudç. Aliás,, é ímportantesüblínfyár que^ aalpngo


de tçdô o século .19, numerosos agiotes, .entre os mais
-' lúcidosem suas 'análises da sociedade modêína, sé mos-
, traram incapazes de superar yfna tal perspectivâ nqstáb
" gica. Notadamentè peste sentido, pode-ise leoa obra mo-
, numehtal de Gierke. De trrn modo geral, o nascimento
. - da sociologia ipoclerna estará estréitanièáiteligado a; esta
. - -questão dà rtelaçâõ 6 da oposição entre ‘comunidade e
sociedade, retonia'ndo a célebre distinção de Tõnnies
' i (Cf, Gèmeimch^ft uqtf Cteseílsctfaft; 1887): -t. /
-">■ / 2. Hegeidenuncia igualrnénte oim passe do esta-
tismo. “Em face da liberdade ‘do comércio e da' indústria
na soctedade çivil”j escreve, “exisÇe um, outro extremo,
que é,(a ;admipistrâção e 'a regulamentaçãd do trabalho
de tódos pelas instituições públicas, assim",'por exem­
plo, o tfabplho antigo das pirâmides é de outras obras
; monstruosas do Egito e dá A'sia,‘ que foram produzidas,
para fins públicos, sem a mediação do trabalho do. indi­
víduo determjn.adò pela Sua vontàdé e seu interesse par­
ticular” {Príncipes d e la pèióscphíe du droit, .§ 236),. Com
efeito, este éstatismo é a negação e não a superação da
sociedade civil: é, no fundo, considerar a escravidão
' como uma forma -de resposta'aos efeitos negativos do
désènvoiyjmento do trabalhp livre. Um tai estatismo,
> por sua vez, se apresenta, portanto,, comaçuriia forma
nostálgica. Para Hegel, a sociedade civil é, com efeito,
, um progresso histórico sobre, o qual nàq há retomo pos-
. sível: é a condição de émancifíaçàó do indivíduo em re-
. íação às fonpas anteriores de depéndêpcia: representa­
das pela família e pelo Estado tradicional- Vale mais ain-
«, i-**. ■. .

^^visível à astúcia <jh&tyû&îî'-


J l

1 da.sér ‘fifitó de ünía sottçdade civil” que ^údito de uifta


'autoridadepgttylçaíaxbitténtá1 'A '*** ' ,f ^ ^
'í 'v / 3. ffégdjkecyisa enfim o fechamento dfo rnuncfò e
»* -W- reftfoidteillffi jtom cãirupôr S em r
í‘ ,
pio, as teses desenvolvidas; por Fichte em p Èstado co~t '
/ til^clálfedjqdúXlW Q). Fichte^hatía n^ais fazqqe pregar
a volta ad nacionalismo sofoã a base dé uma -política
ecpnômiea xigorospraente, mercantilista. Combina p$ iq- J
convenientes de ulma sóciedade fúndadasobre o sisfe-
ma dps necessidades com um Ê^tãdQ./dássi.çO e autoritá­
rio. “O .Es^ido juríjâicto”, explica,., “é formado porcumà i
, multidão fechada de homens que estão submetidos às
\mésmas lejs -,e a<^ mqsmo poder coJetivo-supremp^Om, t
trata-se de restringir esta’ aglomeração de pessoas átòsdí- '
. mites de um çòmércio e.de indústria mútuas éjftfre
e par» elas*, e; quem qiier ^jue naòlgsteja sübrtéefíaQ5 .
mesma legislação e ao mesmo, poder coercitivo devê set
\ excluído de qualquer participação nessaS rdaçôçs. ForÀ
' mar-se-ia,então um Estado comercial e,'na'verclaÜe,;‘um
Estado comercial fechado, com> bÁ agora,um Estado ju­
rídico féchadoJ* (p.r24). As proposiçdês de Fichte são,!
alénj disso,^contraditórias com o, princípio do desenvol­
vimento histôrieó da sóciedade civil. -Toda a’ suavtèQria
do “direito exclusivo a uma atividade livre é determina­
da”, como renovação da concepção;do direito de pírov
priedade, consiste em dividir ãS atividades êconôjnlcas
e sociais çm tantos pequenos monopólios quantos Indi­
víduos houver. Uma tal fórmulâ; de resto original, signi­
fica, com efeito, a supressão de qualquer progresso*,
pois a divisão do trabalho não pode mais exercer seus
benefícios, Hegel só pode recusar, ígualmente, á'con-
cèpção do Estado organizador é repartidor que Fichte
deve paralelamente desenvolver-para assegurar igualda­
de econômica, sociedade. A igualdade torna-se, cpm
efeito,“neste Caso um instrumento de redução da liber-
dade. A^áfns, o eixo central do pensamento político-eco*

203

-v -■ *•:-ç
IÉiíííf.ftSa2?'
1

capitulo 7/

nômlcoratetòãa do^séculod# èiíte critfôa-


do-por Hêgel, (cf. notada mggíç te).'“' V ^
í Então, o qUe propõe É N
>Nqm primeiro nfó^rié^pll ontentar çtn
' louvar um "liberalismo intervehcífcfei^a”^ ácordo com
a fórmula oè_ P. Chanüey, póderioò õs interesses dos
produtores é dos consumidores ^itipr^em^iiiflifó. É ne­
cessário, com efeito, "um^regplámed^Ç^fôtdnciori,ãl
superior às duas-partes"; a dependência na.qwal Se en-
. conptram os grandes ramos da, industria e®Írelação às'
eventualidades exteriores sobre as quaisç#, fiomens isoí
lados' não conseguem ter úma visão de co% rn to“torna
<rtecessária uma previsão e uma direção deèconjqhto”
(JPrinèipes, § 236,). .‘Mas Hegel-'não se limita a corrigir os
efeitos maturais do mercado; seu verdadeiró pbjetq não
é a relação entre economia política e política econômi­
ca. A verdaçjeira-questào não é, a seus olhos, equilibrar
os”mecanismos econômicos esporitâneos por uma açào
centra] de regulação. Raciocinar nestes termos é com
éfeitõ reduzír a dção polítick à intervenção eeonônûca e
portanto pèrrpanecer'qum certo sentido no quadro da
filosofia liberal; Adam Smith-não afasta a priori uma tal^
in|ervenção,se ela tiver como Objetivo ájudar o merça-
dò a se realiZar. A Verdàdejra preocupação de Hegefp
construir' politicameiite- o que o mercido* p|omete mas
não pode'assegurai; a realização clQ uriivéíáál, Gqntra-
riamente a Godwin e a Paine, não procura traduzir po-
" liticamente os princípios cie Smith, riias os transcender
numa vjáâo nova clè política. Portanto, ë o eçonômicó
qúe se torna subordinado ao político, e não o inverso.
Asoluçào deàbïegél aô'fftpblema-reside.nô ídgsétt:7
,yolvimehto dá sua teoria dò Estado. Mas integrou per-
feitamentè o sentida da tentativa de superação dá pplf-
titácom pmoviiiiepto qqe conduz doçoriceito deçdn-
tráto acj çónceito dé mercado. Não eonhmde a realiza-,
ção dô Estado -como. “realidade em atp dâ'Idéia mçiral
. -'s ' ■ ï- “ -Á 1 :

204 .5
í* ^ .
objetiva" eoin.o aparecimento^ de uma vontade colèliva.
Soméqtç nestgi condição' pode superar Smith',de «iodo
positivo, e'1líâd^rçgtesSivo* Criticai1o mercado, sem a»?u-
mtr, 'Srràth, Seiys iqIKos^ se coijctemr aoiíreénconttó
doth Hobbqs ^tr?B^ousseaüí A política £ópodè, portanto,
transcender p econômico sób &coridíç|iode se emanei- ,
par da teoria do contrato. É o que faz Hegel ao concé-'
ber o-ístadq conto expressão'de-uma vôntadeiiniverr
sal. Rètomà assim, num mesmo', movimento, Smith è'
ftousseaü. O futuro da modernidade consiste então em,
compreender a superação da sociedade civi], cptno “Es-"
'taijfo extertpr^^das,necessidades e‘ dq eniepdimento; nq>
Estado moderno còmo “unidade íntima dó univerSaPó
do individual’’. • v y v . ; - - í y . k?,
í' v jParalel^mente; concebe5 o deserivcrfvimerrtq^fteL,
coqtoraçào^como experiêriçíá' imediata. d liípkadEt^çto;
univerçal que-o Estado é ffevadõ areàljzar totaimónte,,;
i‘G membro da sociedade éíviÍ”, vesciéve,;“‘torna-iSéi se-
gundo suas aptidões particularès,' membrô da.córpora- r
ção cujo .objejjvo universal é, a partir de então,t inteira1
mente concreto e‘ nãò transborda a extensão que na h>
dústrià pertence aos negócios" e aos interesses privados ,
que lhe são próprios” (Príncipes, § 251). -A corporação !
torna-se assim uma “segunda família” para os indiví­
duos, uma “raiz moral do Estado implantada na’socieda­
de civil”. No seu seio astoontrádiçòes próprias’ à socie­
dade civil se reduzem. A superposição dqs princípios
de liberdade e de sólidaMèdâde só se réalizam no,
Estado," no interior dóqyal/p, íécpnhecimentò dàs cor-
poraçòes funciona aq mesmo tempo como reserva’ do
universal e cojpoigàrafitia ao respeito dóis diieitos indi-
, vfdúais.tPara Hegel, hão se trata de unia superação vo-
luntarista ou idealista día sociedade civil, pois cóncebe o
Estado çomo a realização de uma razão jã presente ç
atuante. É nele que se realizà plqpàmente o reconheci­
mento de todos é-de cada um por todos e por cada um,
( v > , '-J i , ' i' y>w cápítulõ 7

' s « ■■ ' » ' s -1V, ’’ '


do quàl o princípio de simpatia era" só* uma aprojdmã-
ção grosseíía. ' - ,f ,
Sabé-se de todas as acusações frequentemente
injustas, hoje muito em moda, abateîïf-se sobre'esse
resultado, prático d a filosofia hegehaha. Nosso objeti­
vo aqui. nïo'é- discuti-lo como tal/Pareepm os, ao dorí-
trário, importante sublinhar que é sobre o terreno da
alternativa ao pensamento liberal, corço sociedade de
mercado, que se desdobra a obra hegelfena. Esta su­
peração é cprtamente parcial, no interior mesmo da
sua própria lógica, Hegel é, por exemplo, forçado a
reconhecer o aspecto irredutível da. guerra entré ás na­
ções que o liberalismo tinha pensado eliminar pelo
princípio da harmonia natural dos interessei. 'Àó fjazê-
kv retoma de Maquiavel aquilo que a tradição filosó­
fica inglèsfe jie/ ffpbbés a Simth,-havia confinuamentP
negado (para Hobbes âb reprimir á violência para o
estado de nature?»; para Smith ao generaiiiár o prin­
cípio da iidentidade natural, dos interesses às relações
entre as nações). Para ele, nas relações internacionais
se condensa, com efeito, "p jogo
culandac^e interior, dás paixões, dps intéresçeSj dps
objetivos, dos talentos, das virtudes, da violência,, da
injüstiça ,e dp vícip^dã eontirigência exterior aò mais
altq poder que pb^sa assumir pste fenômeno”(/?n?rcí-*
, ÿës d e la philosophie d u d rp 0, § 340). Mas a guerra é,
a seus olhos, somente a última prova no movimento
de realização do universal. , v . .. 'X''' "
Não deCretà, rio eritanlo, a supressão dos çoriflh
tos é da violênciadcomo os físiocratas, por exemplo);
pada mais fez què pensar, à riecessidade, e, portanto, a
possibilidade, dá Suá superação. "Sua utopia é histórica
no sentido de que pensa que o devir da história univer-’

, :
?. Pòde-se reporçar ao clássico Hegel et l'État de WEIL, li Pa­
rfis: Win. 1970. ' ’
m i ,<-‘jí.Á
V

^tegel, àa tó^^visível à astúcia da razão * *


'm
u f ............... rjfrtjTi-*• - JM- V . . l| \ .—
r. -. -- -V
- .

~ ^-ij* '
saí não d&táT ry> "simples julgamento da força” CS 342);
d a nào é-piàte contingente como a dos teóricos da So- ■
; çíedadej de mérqtdb Realiza" assim' filosoficamente a
utopia da economia políticà inglesa, fazeqdp do Estado
o lugar verdadeiro da sociedade' global e total. Neste ,
sentido, Hegelpôde se compreender como o momento
- úftimò, e insüperãvel, da modernjdadé: ele nretom aín- ■
teiramente, assumindo toda a negatradátfe do seu- de- „
senvolvimento (cf. a crítica da sócíçdàde- civil), rftas só
tendo como horizonte completar o sfeu programa, Ojáa
realização de urtia sociedade unificada e transparente.
Representa-assim, de unia só vez, o'momento mais lú-,
cídp de crítica dom undom odem oecp recrudescimeni
to de sua ilusão da realização do univeisal. ‘ , - ,

■>^
marx
K
e ^a
V
inversão do
liberalismo
o horizonte liberal do pensamento
de marx - ^
C , - 1 ' .
O abe*se que a crítica de Hegel constitui o mó-
mehto fundador do pensamento de Marx. Aj-eviravolïa
de Hegel por Marx têm geralmentç sido compreendida
çbmo um inyersàov tèndp por colocàn; Hegel sdbïer
seus próprios pës. Mà$ ê;éon$ptiv
- temente red u ii^ , à ò ^ ^ o S para o marxismo 'dominant
te> a uma simplòs òposiçãptPntre um pensatAçptoddea-
lista e um pensamepto’ materialista. Do mesmo modo, as
verdadeiras raízes históricas do pensamento de "Marx
sâo^ encobertas è ocultadas. Çontudò, não é falso racio­
cinar em termos de inversâq. M asesta interpretação só
ganha todo o seu sentido se for situada em relação ao
trabalho de Hegçl sobre a' económia pòlítiça inglesa.
Neste qUadrp, a Aufhebung dç Hegel por Marx deve ser
compreendida como tím retorno ao libeifalismp. Marx
. çritica de fato tíegel com. ÀàamSmith. Toda sua leitura
à o s Pritwíjpws da Filosofia do Direito testem unhaesta
crítica liberal de Hegel. Se ela não apareee/explicitamen-
te.com o tal, pâp.é porque Marx leu Hegel eSmithcorrto
se nâo-dvessem relações. Lê Hegei Sorrio ,um puto filó­
sofo e ámith como um puro economista. Aliás, é signi-
' l iár. W-u ■
* v :; Capítulo 8
Vjs
?t
f
. fiçativo Político H egeliam j
se çoncentreapenas noç capítuioSjqué Hegèl cbnsagra
SÓ Estgdó,<arpp se est^resultadç» clo;peq$amento hege- /
Jiàho não fosse o -prpçlutò» de uma rèfljexãq, sobre a~so-
dedade civil: Da meSma ’ forma, Marx só Se interessa;
pela ■Riquéza, flad Nações; préocupa-se, visivelmente
pouco cora* a teoria dos Sentimentos Hordis^. Assim, ^
mascara de uma só vez sa formaçãó.-filósóSca da econo­
mia política de Smith e a formação econômica da filo­
sofia de Regei, Pódè-se unicamente àSsínàlaf,' a seu fa­
vor, que certos tçxtos de Hegel não eram conhecidos no
seu ferripo, como a Primeira Filosofia do pspírito <iéna,
> 1803)i !nos quais o trabalho sobre a economlá política
inglesa é párticuiarmente iegíveh ’
Se Marx critica Adam Smith. esta crítica se de-'
senvolve ünicamenfe nb terreno econômico. Estaría-
ipqs quase tentados a dizer qú^pm ^anectí “técnica”,
- como testemunhará notadamênte os longos desenvol­
vimentos das Teorias da Mais-Valia. Pode assim <(su;
peraf". éeqhorájicamènte Smith, 'notadamente a partir ,■
da- produção do conceito'de mais-valia, mesmo per­
manecendo no terreno da sua filosofia política implír ] /
.cita . Esta aproximação aparece ainda cotq maior clare­
za se Sua^crítica de Hegel fof comparada corá as teo^
rias de Gôdwin que apenas transpôs e estendeu Smith
.p ára o cámpo polftíco.'Com efeito, toda a obra de
Marx é atravessada por dois temas polítieòs essenciais
que são iguaimentecentrais no que chamamos de li-~~
beraUsráo V !Ã"<5itÍcá'"-
dos direitos do homem. Parece-hps qüé a fifosófia^e
Marx ganha um sentido novo se for compreendida
dessa perspectiva. , ■' *

1. Este últimq livro é citado apenas uma vez.em L$. Çapítalüi-


vro I; La Plêiade, p. 1128) e apenas para se fegozijar com o .
medd qu^ Smitli inçpiraya àos bem-pensantes-que o acusa­
vam de propagar o atcismo na Inglaterra.
\
^■4sr

majhteainv^âodoliberalisivjQ '
t si -MÍ* «* á*W ?f , 1 '
.:-• '• - v *.£.CH.Ls,, ■
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(• •■•' ■ •■ y ■ •, k- / . '• ■ ■ \ //'•.
•’ ; •• (í.*.- v.. • .. '-. ^ ■ s- .■ 1 á-
\ - ^ s ' \ •
, h crítica essencial de Marx a Hegel é d e que este
te o rii^ à^separaçâd entre a sociedade .civil e o Estado
,e de quy só; congeguíu transpor esfa .divisão, desenvol-'
vendo um verdâdeíró “formalisfno do Estado”. Para
Marx; á divisão .entre a sociedade civiEe o Estadcvque
ocorre na rqptura .entre o cidadão e -o dutguês teotnO
homem, para retomar a,problemática hegeliana), é a ex­
pressão de uma sociedade partida. Ora, oEstado só rey.'
presenta ufflvunlvqrsal abstoto1e eiteri&r^ potqup sót
pode ser separado, Pprtantó, â umá ilusào e uma cpn-
; tradiçãq pensàr a reálizáçãp da unidade da sociedade na
sociedade políticá. Só a sociedade ciyü pode ser o lugar
desta unidade. Assim, escreve rem A Sagrada Família:
s“ o intenisse mantém unidos os/membrogr da, sociedade/

burgUesa, cujo laço real é portantó constituído pela vida


civil e não pela vida política ( ). Nos nqsáos dias só-j
mertte a superstição política acredita que a còesàó so --1
eiátda vida civil é feita pelo Estado* enquanto, hã% áft-,;
dadè» é o contrário: a coesão "do Estado, ç mantida de
f c t Q ^ e J a ^am{le, p- l47>. Toda sua.-
Grítiçã dOflHreHprPpittiÇQ H egelkinoestá^baseada sòbre
uma tal reabilitação da sociedade civil contra o Estado.'
■E s e Marx critica fadicalmeqté a sociedade burguesa é
. porque se trata de uma sociedade civil nàò yerdadcira-
riiente realizada, como veremos mais adiante'. c
' Neste sentido, inverte Hegel: reata os laços,com
‘a 1yiSãó; fiberab de áutorsuíiciêrtcia! da sociedade civil.
Toda a filosofia política de Marx baseia-se nesta repre­
sentação. Como Godwin, concebe a denjocrada como ,
um estado social e não como uma forma de governo *
pplítico. “Na yórdàdeira (íemócracia”; èsçréve/“^ Estado
político desaparece” (p. 70). Parte do.homem para fazer
do Estado ohom ém objetivado e não, como Hegel, do
Estado para fazer'c|o hoUiem o Estado subjetivadò. Para
Marx, a democracia verdadeira nãp;é matè dó que “&ele-
mento real que realiza sua forma racional no organismo

211
,7.ft-r
L > I1 1 fcapftul68

político* total”. Confpnde-sç com o movimento /natural


de uma Verdadeirasodedade civiíT Por isso, “a abroga-
çào da buroôraciã pode somente consisti^ çm que y in-i
feresse universal tOrne-sé redtmente intefessè particular
(p .9 3 , sublinhado por ftfarx}. A^seus olhoèj á política só
pbdé ser alienação e sabofdirtação quandó pstájdèhtifi-
câda com’, uma separação, A proppsfto disto, não teme
, aliás marfifestar umaCyrta açlniiração pêlo períody da
Idade Média-na qual "“propriedade, comércio, socieda­
de, homem, tudo é político” e onde “cada esfera priva­
da tem uta cárãter politico, ou é umá esfera pcáftica” (p.^
71). “Quando d. artipuíaçâo dá/soefedade civil era ainda
política’ ê óíEstac^o político,êra a sòfciedade eivll’Voscfe-
ve, “essa ,Separação,(a duplicação do significado dos es­
tados, nãb exi^tia. Não significavam uma coisa no mun­
do civil e outra coisa no mundo político. Não assumiam
Um significado nct?,mundô.*'p<MÍ|80^ eles
'mesfhos* (p. 138). iogifeaftietite, portánto, defike á Ida-
*de Média como “a d ^ ó çrd ctttd a náo líberda4e” (p. 71,
- sublinhado por mim): A-democracia verdadeira é paia
: ele somente a absorção do político pelo, social, é a ipa-
lizaçào de uma §ociedade imediata a si mesma.
- Dessa perspectiva, è preciso compreendei acríti-
ca,'que(fáz à constituição conto;“sistema' de/mediação?’
(Hegel). Paia ele á democracia representativa, seja uma
representação, dos estados sociais, seja uma representa­
ção dos cidadãos’ indiferenciados é iguais, é, úmã, con-’
tradição em termos. A sociedade civil não pode serião
se separar e se dividir, caso se represente. Retoma Rous­
seau, que estimava quê a vontade comum não se repre­
senta, daí indicar quer' o. inm esse comutri não se repre­
senta.í;,Sobre este ponto, sua crítica a Hegel è pratica­
mente uma retbmada de Smití): “À passagem dò interest
se privado para o universal não e tampouco uma lei or­
gânica'consciente, mas é, ao contrário, mediatizàda pelo
acaso e se realiza em oposição à consciência. JE l legei

( j V■ r ' > ; '


'- ^ f K , -, r>v
q m t ver saefrípre .no Estado ra realizarão, dã vontade 'li­
vrer" (Jp,‘ iô^)7B e íato, a .teoria da mâo invisível e da
harmopia pifrupil dos ífrteresses- sérye-lhe parà trîticàro
moyímento -hegeiia.no jfle realização da vontade priver-'
sal no Estadô.\Mas se aderxioçraeia, cbrnq fòsjngà de g£>-,
vewofrepreséfttãtivó, é iftaceitável^póde porém levar à
democfaciaVçal poí nfeio'do processo de-universaliza^
ção da eleição, o sufrágio universal, uma vezliberadto
denodas as'limitações que lhe são Im p o rá , leva à rnaJ
nifestação da exigência da sua dissolução, nó interior
rrçesmo' Üa esfera pplítiça como domínio separado: ten­
de a fazer cpincidir a sociedade dyfl è á sociedade po-
, líticafr‘NessaS condições”, escreve, “ó sígnifícado dô po- '
^der legislativo, considerado como ura-podêr fepreseõta1
ttvo, desaparece inteiraménte, O poder legislatfvóê ^qjui
‘ íep?eserttaçâo, no sentido de "que cada função d ,re p ta i
sentativa, no seiitidode qüe © sapateiro, p ò r exefriplPÍ
nà mtedida em que sua função responde a, uma necessi­
dade social, ë meu representante, de ’que cada atividá?
vete social, determinada como atividade genérica^ repré-
senta somente o gênero, ou sfeja, uma dètérrrtinação da '
minha própria -.essência, de que cada hoipem é repre- ,
sentante do outrov Aqui, ele é representantè não pôr
qualquer outra coisa que ele represente, mas, aó contrá­
rio, porquê é è ifaz. (p. 183). No limite, o sufrágio uni­
versal tende portanto a suprimfr a política, ^e-confunde
Com o mercado. Este texto ë notavelmente èsdarécedori •
Manifesta, com éfeito^ de, forma límpida <o horizonte li-
peraUdo-pensamento de Matx oue vê na realização de
uma sociedade mercado a flgpra da verdadeira demo­
cracia. Dizer que cada .um é meu representante na me­
dida ep> qu$ suá fruição rèsponde\at umà netessidade
social é com efeito fazer da divisão social das tarefas o
fundartie,ntói1su0eiente do vínculo social: ,é reconhecer o
mertadp ctwúo princípio de or^nizaçãq sfocial, Nestê
sentidó, pode-se com preender a inversão de Hegel por
J? 5 ^ jo ? v k . '"s
i ^ „ ‘ 'S '\ ^ 1 ^ > v' J>t capftôto il?
« , ' v 7 £ - v
M m v <fopttKÜ m m à ^ m ià :p 0 h } - ë : a n eg a çã o da' neg^-
$âo xte Sm ith po^ ^ s l> ' ^ ' " ' ^ -,
f \ D essa p e re p e çtltffn O Ô ^ tjV $ d e ife r x é te o r iz a r !
i ode^inhámento cia çpütica. A qdestâó^dódefehamen-
to do Estado-é seyupd^tóá à è ^ j $ penas um»
|r consequência. Mas ele nãó cônfe^idé ^ <Ê|u^sjpto do po-
' l/tico'com ado/govefno. Gopcèbe, ao contrário, cjye o -
défirütamênto ido ÉSfcádÓ, çõmo expressàd’d3 divisão
social (qûe -identiflèa opxo a divisão d a ta s s e s ), deüsa
funções, governamepÊ^is subsistirém. Mas nâô sâo mais ,
políticas ^rôpriamehte.ditaS; transCornj^m-se erp “sim­
ples funç$e.S ádrniftistrativás”, - Reencontramos aí o
tttm llbètal da sitàplidfdàdepoUtica-. Ppoífticá tom á-
se simples porque é constituída somente de tarefas de
gesíãó que não sao máis, portanto/propriamente polí-
. ticaíL Isto permite compreender que o . definhamento1
do Estado para Marx, sendo a forma assumida pela ex­
tinção do político, não é contraditório com a manutfen- ;
. çào dasrfunções simples de administração Social. O Es- =
tado jnoderno. é cqticadq cómo a forma política qué
exprime a divisão da sociedade em classes (tema da
èxtinçãtr do põlítie©)' es contar aparelho?, butocrático
complicado (tema da simplicidade política); estes dois
aspectos são stiperflcialmente ligãdos por Marx qye es­
tabelece um vínculo frágil entre o desenvolvimento do
párasitismo byfocrárico e o interesse da burguesia que
< consiste em)ocupar os postos de funcióhários bem re­
munerados.'2 Mas, além desta, quesião do definhamen­
to do pstado, parecernos.èBSenctái sublinhar qtie Mane
nãofsó d^nuiçicia.o Estado de classe e o Estado duré-,
crátjco, é igualmente p Estado çomo Estado d e direito
que ele visa, (íomo Godwih e a maior parte dos utili-

m 2. Estã análise caracterizaria com éfeito fnais.um,“fetado çhen-


telista”’ qile um Estado moderno. Sobre esta quenão, reportar-
se ^análise do defihtóiinèrítq do Estaco em pou r,tm e nouvel-,
le culture politiqu e Cp 48-501.
o liberalismo

«.'.■'í i,., " ) :* .;,» V 'ís, \.i-í ,y ■ \-f


taristas dor^j^^do^culó 18, Mans crlticà, com efeitq-, o.
próprio cQiricQ&a p e direitos d,ò homem, - j
, ' Parà',plaíi, falâr'dos direitos do t]omem, é aceitar
d renúRcia .dd^iíflivdrsal. -A seds blhos/ á-problerriátka
dos djreitefe^lo hòmém repete e consolida, aséparaçâb
Estado/spçied^de civil, e a ruptura homem/cidadãp.' Vç '
paD ecíaraçãb dos Direitos do Hqtnem ç do Cidadão de
' Í79J á fòfmuláção àcaback destívsepãraçãb, que.ahall-
sa longámçhte òa Sua réspósta de 1843 ao jl Q uestãoJu-'
daicu de- Bruno Bader. Copi efeito, os düeitos çlo ho­
mem consistem em; ãpre^entar o princípio da libefdádè ,
de cada úm sem prejudicar bs outros; assim séndo, “q
direito db homeih, á libercjadé, não rèpousa sõbre asre-v
láçòéa do hòmem icom o .homem, mas, «de 'preferência,:
sobre -a separação do,homem ,com o homem.: Q
to dessa Reparação, o direito do fndivíduo limitado ãele*
mesmo'"(Questibn fuive^ p. 38X, Assim“, sàò apenas £0^%--
plertiento da abstração, política. Remndiçaf
do homem, é apenas reivindicar ,“a escravidão emapci-
pada”(i3 Sainte Famtile, p. .148), $ confundir- a emanci­
pação do hòmem com sua tfctnsformaçâoem bpt^úêS,
pois a «sociedade burguesa é justamente a eipre^sâo dâ !
divisão entre o trabalhador e o cidadão; ,e -fortaleceria
redução da sócíèdàde civil em sòciedade civil burgííesa,"
rédução que tem comó*corolário necessário-à constitui­
ção de uma sociçdade- política -separada. Nummvefda-5
deira sociedade' civil (veremos mais adiante o qüò isto
significa para.Marx), ao contrário, “o homem reçohhece
e organiza suas próprias forças como forças sociais e,
potjanto, não separa mais de si*a força social sob a for­
ma de forÇa política” (Qüestion faive, 'Pc45j). ?$£)*;• isso,
dirá em 4 S ^ m d a Família que ó Estado modèrno e a
sociedade burguesa são os diipítip^itoíiÍÊtóéi»/’ÊStiás são
para a socfedáde moderna o que a escravidão foi para
a sociedade, aiitigá. A luta pèlo&ydijrpitos<ki,homéín é
portanto-^ím^ luta ilusóru. “Nenhum dos pretensos di-
—» ffl
v x W,
V.

' , r , ■»■*."» V, 'Ví1 W


v m^ -eeapp Ma wè #i -- ’*^
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v V ', ^ ^ _! f r reítoS ddlhorâ^tn^ esp rç^ em 'íáupe-r
/ram oliom em edoístá, d' hotóertt .conto mèdifeío dai^cv . x
: i í- ^ f “ feja/ aim tftdMdW-^parado, f; ;
‘ rkdétfpchadq e^t, si mesmó; üpj^rhènte p retv. ;
■coíík , .-„‘-a
.j- ‘
_ , «ma x
,, „ , f\ «•'V -,./j •
le.^c^wià,. <?í?m ' X"
1 “' cotíuit^QÍÍ'' Sí
, ,. ’vCíti- qpe ‘|4ml?%ttO kfere $ste,{^^O i á socfedadè í^tir-- _ V; |
-" 'L -y - stoesaçQrWydifdàdfeirà^d^^ NáÇW- "
'•,r , /feà daDtpfiH>P&Ípko H ^ êtüàip; em pre^ aliás ,
' f paréddqs ccáíl^bs deste {ytintoyfazendo*dapriqcipio do , .AJ

' le^slatiyo não faza M :í somerde a ,^ c o b r e e a jp rín u ^ ,


(p. J95i Si^Iirihárdopdr mim). .E xtin to- do polítko è dç-'
finhameiíto do direito estão assim logicamente'articula­
dos tanto para Marx quanto, para Godwin. A distinção,
manaste clássica entre os dirèitos formais e direitos reais - i
■V.l deve ser assim bem compreendida-.' Não se trata de opor
direitos .verdadeiros, completos, a direitos limitadós e ,
contraditórios, direitos para todos os homens a direitos ‘ -
, priridpalmente úteis”à burguesia (a liberdade de indús­
tria porexem plo). vào contrário, Márx mostra que não se
: podè escolher entre os direitos. Os direítòs ,“reáis”: expri- .
mém, portanto tão-sóiinertte^a supressão dos direitpà,cfo '
homenve nada máis.A;,verdadeira emandipáção éíihsé->
' parável de uma èxtihção do direito. Esta concepção não
é somente característica do “jovem Mafx”; ela atravessa
o conjuiito da súa obra. A,Crítica do Programa de Gò-
tha (1875) é particularmente significativa a este respei-
, to. Marx mostra aí lon^amente que o direto,”que só
existe como direito legal, é sempre, no seppróprio prin­
cípio, o direito burguês. É a sociedade- (peiçaritíl, regida

u |in' i.<'
^<‘t .
216 1
íV^,
a-v; : ti •
>Ar'í V',
r ____ vatòr ide troca, cfué é, na realidade- “o
sistema, % J^ejpdade'e da igualdade? ÍGrundrísse, H, p.
621)'/poiS' a troca àí sémpre se faz de yalofcontra va- ,
lonMsfeste èòníç^o, o direito leg&l ê sorrieritè um direis
to desigual paraum trabalho desigual; Ele insts^e longa-
mentç sobre estp ppnto pard móstrar aos socialistas ale­
mães que áo reivindicarem upia, “divisào .equitativa V o ,,
produto’’,,.longe de superar o direito burguês, néle se
inscrevem" totaltríeutò;r aceita-o cojnò necessário nuni -*■
pôríódo de transição; pois a perfeição) do capitalismo
precede necessariamente o advento do soãalismò, mas
desde que este signifiçado burguês da reivindicação de
, igualdadeseja ,bem çlaro. Cortt efefyv para Marx-será
precisodr além e/superar estehprizonte' limitado do di- ) ^
reito burguês numa fase supérior-da sociedade cqtmíni$-~ .
ta, de modo a reáíizar um prihcípiO reàlmente ■inovadOè:. ■
“de cada um segundo sua» capacidades, a cáda sé ^
gundo sua» necessidades”. ' c* &
, ftobre a base desta tepriá tia extinção^dp'' pQlfoc</
e defihliamentd do direito se constrói ò caniufateVa lik^ y \
sofia marxista, E é néste sèhtido^que o libptaliSiyá polí-.'
tico, dotipc/daquele dé Godwin, constitui seu bofiápn-
, te intransponível. E não é possível, a propósito'dÍ5tb, fa­
zer recortes na obra de Marx. É no seu conjunto^quíe, se ^
encontra esta filosofia/ “gerida taticamente* de píodo di­
ferente, seja cpmo obras teóricas* seja çomò textos de im
têrjtenção política, Maá êm todo o caso, nresmo: desen--
yptvendp péjnCípiqs àparepíêmente coptraditorios, Marx
pérmaneee jSémpre fiel a eáse fundamento liberal. Quan­
do Substitui a necessidade prática da teoria do “movi­
mento rèíri” da sociedade por uma tomada dp poder,
peio proletariado, seu objetivo contínua o mesmo: o do
>C:L.-V, v ./ ' -• .. 'fy ' , ;
5; -Sabe-se aiiás què é a partjr dessa constatação, fundamental,
já trazida'luz ppr Smith, que Marx pôde desenvolvêr tódá a
sua teoria damais-vaHa,. : , :v
wm
'uii^Aí.y.
\r âff ^ r
-ia , çapítolo 8>

f defipháménto Ha éâferá política! Nada raaisfaz que arti-


éular pq têtTifSo ú mdhíesHp tfo fortâlècín^^fo do polífi-
eô (dltad,urâ, (,10prçlétariadb co m o íbítai^inpntp do fin­
tado) e"õ itiomentô dd definhamento dd político. Com-
préénde*aiff>üF que seiWbpígónQs,'Leftín ^frente; erigi-'1
rarp a dialética, reduzida ptíssibitidadesde afirmar coi­
sas contraditôriaà, em grande fkincípíqde justíficaçâo-de •.
ifordas sudá mddáhç^» ae d^rèção tátieaS! < - *
; , ) ( -Se fosse précisd feneontiar uma .ruptura nos éscri-
^tõs de Marx, eja^nào c^táriâ -entnTas obíasdp juvéntudfev
e asobras ditásHã maturidade, mas no interior d^s obras
de juventdde: Já única e fúndameutal rupfttfa nó perisa-
íhento, de Maix é qóm pfeíto possível de.se localizar po ^
início, dos anos. 1840., Coni efèilP, ne^fè período Mapç
passa de urna çohcepçào da democracia fundada sòbre"
bs direitos do: horriem á UnUiiranfcébçãoidá extinção po^: *
líttea. Entre seu ártico de ,l$42 sofore “Os roubos dé le-.
nha\ no quâl reclama para os pobres uma ampliação dos
direitos,;è na Grúica,do:ItâeiiÍQ P&lfHcó Hegeliano deve"
j&ersituada a. átptura, sé tivermos que descobrir umá,j, >
* ^ T ' / ' (•
o. mdividuàlismo de marx
: ; íoda a filosofia moderna podp ser compreendida \
Como uma filosofia do sujeito. Ela se apresenta c©m
1efeito èm oposição à representação orgânica tradicional :
da' sociedade que; a cpnçetâa copio um todo dp qual '
cada indivíduo era apenas uma parcela sem autonomia.
Dessa maneim, a^distÍriÇão bólispip/ipdivídualismO dá
conta muito bem da diferença fundamentai.entre as so­
ciedades tradicionais e â sociedade moderna tal como
ela jfeo^ressivaipentè Sel deserivolveu a- partit dò século •’
15s resposta a
esta büesfãb é deéisiva porque constitui 'Uipã :^havé es­
sencial de análise da sua relaçàq com amodernidade;
pelos menos,- se aceitarmos, como umaptimèira- ápròxi-

218
. <y,i í '\ H

-má&d.íè:
_ r *

maçãó, t> 03iáíç<peitinente.da clivagem -bolistpo/indivi- r


' dualismo» %0 nfrel dás idéias-receipidas, â ríiator parte
dos máacista£,.ê apUmandstas concordam ptovavelmertr j
te de, boáiVppt|^e ,qúe Mar? ftão é,individualista, no
^sentido -vulgarté'âwnurn do termo, e que sua filosofia
considera, ao contrário,-a sociedade global ou a coleti­
vidade com o. sujeito de referência. Penso com o Lours
Dumont e Mi^rieV Henry, qúe não 4 nada .disso**4 „
.Toda'^filosofia de Mane pode "com efeito-, ser

à. sociedade burguesa adquire seu sentido pleno'se'for


situada desta perspectiva. Elç. mostra longamente em O
Capital como o capitaiismo apresenta á partícularidade
de- pçomover o pfogresso' da sociedade; considerada *
• giobaíe abstratamertte.mesrfto fazendo os hom enare- ■
, gredírem fc^iyidüaíinente.- “De ^ tó ”,; èscreve, “sòríieníé
pelo enorme desperdício do desenvolvimento dos indi­
víduos particulares é assegurado e realizado p desênvol- '
vimento’ da ,humanidadeem 'gèmfttv VI; -livre Hf* p ,,
•107). Q Capital ahxxnâa em exemplos que ilustram essa
çóntrádiçâpj Maix n|o\cpssa dé acumular aí referênciáls *
v'; precisas aos relatos e reportagens sobré á condirá® d o s'
, tHbalhádor^s,que, iriánifekaoj:0 ;CÓritfastê e $ rique­
za global da sociedade e a póbrèza da maioria" dok que
, a cOnstituem. iyijchd Hemy escreveu justamente a este *
respeito, que O Capital é o. memorial e o martirológio
' das indivíduos dó seu tempo. O próprio conceito de
luta de classes só tem sentido aliás no quadro de uma
represeíitaçãp ipdiy|dualista da socipdadê. Numa sòcie.-
riáde tntcíiçiónaí, 30 contrário, nãp tena1significado al­
gum. As diferenças sociais se inscrevem então numa ré^ *
^ 'I -
4. Nossa reflexão .sobre este ponto foi tbrtemente estimulada
peh 'leit»ra :dò<MpmoMquaUsxie D\JMQWi, Louis; M a b x . t II:
Une 'pbifostípRiê de íé<íônorrçié de Michel Hehry,
.’ ' w i''" y, '-a 'v. ■'>. ." ■ v ■"

219
- - í.:'> O
M -í.y£ ■
•'-? ttií ^
.

” '3{ Yt i <•, ■•
AK-
* t f li
capítulo8v i
■■ ■\ :j irAjr*. V ■?" i

jn ^ fd u ö pode apepaá milrâiWÔteár. um tfatsmentô màiís


justo, mas sem, sonhar jãmais ém se epÃEáparíJo lugar
I. (

a perspectiva'de uma rsóciedade seoí^aSses, ôu sejaVdé


uma sociedade móvel e indiferenÇiuçiçu A luta dé classes
é impensâVel fora de uma» representação da .sociedade
cdmq mercado ' - ■ ^ v ^ ' 1
- , Mas, liem pbr isso Mandaceita a çõncepçào de-in­
divíduo tal çomo se apresenta íia-filosööa do século 38.
Sé rejeita a idéia hegeliána de vontade universal, igual-
, mente,^opsagra lohgas páglnas para çritiéar O Único ç
sua Propriedade de Marx Stirner que exalta o papel da
1 vòhtade individual. O indiVidualisÉfto de Mdrx sé conis-
trói niMjn movimento crítico no qpal três etapas podem
' ser distinguidas: • •
‘ . 1. ,Num‘primeiro momento, Marx' denuncia a fic­
ção dó, ipdlvídúo isolado sobre a qyal se fundam, nume-;
rosas teorias do contrato social primitivo, segundo as
quais- são indivíduos naturalmente independentes (cfi1
Rousseau) que decicjem livremente se unir para formar
Uma sociedade. Sobre este ponto adere completamerite
às análises de Hume, ou dos historiadores, da escola esr -
cocesa, que,haviam-subvertido as representações tradi-
Kjcionais da instituição do social, mostrando que foi a ne­
cessidade, e não p desejo abstrato de sociedade, que
rèuniü.os h oi^ n s: Marx-mOstra
grada Família o absurdo d» representaçãodo indivíduo
com o âtòmq/Vàle a píena,citá-lo ípngamente. “O indiví-
, duq egoísta da sociedade burguesa se esforça em vão”,
escreve, “na sua abstração não sensíyel e sua represen­
tação sem vida, para se inchar áté sé tomar pornm -áto-
mò, qu seja, um sèr sem a menor relação,'suficiente a si
mèárrío, sem necessidades, absolUtaméniepleno, ehtre-

2?0

* \1 '
■.t-S K ,
m arx e a iftv idolibefaliamo

plçta a ,infortunada realidade sensível não sé


impórta corá ^imaginação deSse iWfcvíduo; e cada um
dos seus ^entíídps fprçg-õ a crer na significação dp mun-
d o e dos indivíduos existentes fora dele 0..) Cada unrça ,
dassuasatividâtjés e das suas pfoj5riedades essenciais, ..
- cada um- dos ^éus instintos,vitais tornam-sfe uma carên- ^
cia, isma necessidade, que transforma seu egoísmo,- seu *
interesse,pessoal, emí interesse por outras coisas e pô-
tros homens fofa dele” (p. l4 6 -7 ).-0 vínculo social real,
portanto, é<cohstituído-pela lógica econoipica do inte-
resse (e pão peio Estado. Por isso; “es^Qs átomos som er^
te sãQ átomos na representação, no céu da Imaginação
deles”. ' i< ‘ ~ ' *' <' ■ ’ \
‘m ( 2. Num segunda momenfo, Marxí mostra como
essa, repTesentaçãoào indivíduo é um produto histórico -
de Circunstâncias determinadas. “Esse indivíduo- do lãéC ’
cülo 18”, pota, “é o produto, de uma parte, da di$solu+ 1
ção das fôrmas sociais do feudalismo-e, déoutrap^rt^, *
das forças produtivas novas, surgidas desde o $écul^ ,Ió"
CGrundrisse, 1.1, p 11)1 O indivíduo isolado, ò hómo oe-
CQnomift4£-\hri$ de suaá determinações, jantàiS eãdstiii S -
seus olhos, “é somente no século >18, na Sbdedade bur­
guesa, que os diversos laços sociais aparecem ao Ínctívj- ,
duo çomo simples meios para atingir seus fins particu­
lares, condo uma necessidade exterior” (ibid., 'p. Í2). v
Para Marx, sempre houve, “desde o princípià, indivH .
duos produzindq em sociedade”. A concèpçãOtdó indi­
víduo, tal como se desenvolve no século 18,nadathais
# jwttahtp què uma representação histórica,,frata-se de
ufáa ideologia, qué,faz parècer colno uma verdade eter­
na o que é produto de um modo de: existência social
particuiar. Porém, á explicação, de Marx sobre este pon- *
to nâo é cqmpletamente coerente. Se éssa representação '
do -indivíduo nasce no século 18, com a sociedáde bur­
guesa, como explicár entãó 6$ fundamentos dá íepre-
sentação ,do indivíduoquesãoa base de todas as teo-

221

■ (r -l
. - '3 x
Vfw C '
•K capítulo 8
t-
rias do contrato spcial dfcsdfe^fim ckr século l6? Pará'
resolver essacoftíradiçào, MfittR é-fôtçado fogieamente a
‘ vér áí ‘‘antecipações da «bci&^aáe bçtrguesâ” (G m pdrií-
se, t. I,p. 11). Dá ^èkha-forífta; apagáa distínçãoentre,
o movimentode etnancipaçfc da' política freptê ao rèlí-'
gloso (que of)eraí deáde o Século 13?>e o fljOVfrnento d&
autopomi^a^lo da economia ertj pgiaçào à pojítica (que
se rèalrza efê/tivamente no .séctíjo, 18). Capitalismo, so­
ciedade burgéesa e sociedade moderna se éqüivalèm a
seus olhps: Àinda quea£ robimortadas sejam o efeito na'
esfera econômica da representação política moderna do
indivíduõ, Marx as considera implicitamente como o,
fundamento dessa representação. yMiás, não há robinso-,'
nada alguma’ para Smith. Quando fala do pescador e ca­
çador isolados é !para' vtm fim demonstrativo, sâo abs-
tràçõèsrque constrói com um objetivo pedagógico, para1i
facilitar a compreensão d e ,certos raciocínios. É uma
simplifieâção metodológica, e não uma tomada de po­
sição filosófica. Para Smith, é, com efeito,' ap contrário,
j a troca qúç vem primeiro, e a partir dela que se deve
compreender, a divisão do trabalho,- e não o inverço:
sem troca, não haveria pescadores e caçadores separa­
dos, só haveria pescadores que seriam ao mesmo tem-
■poca^aores.-f 1;\) :v / ^ .^,'’ .7 k
, (^ tu d p , Apesar é possúfél -
apreendér o sentid^d^ crítica de Maj^çjrião é a hoç^io
de indivíduo que rejeita como tal; más sim a abstração
áo homo opcofiomícus que se desenvolve no século 18.
Nada mais faz que .denunciar essa abstraçãp para resti-
'tpte; ^ noção derindMduÕ o 1seu sentido intégfal, Çom
efeito, o. paradoxo da sociedade burguesa reside no fato
de que o r^ónhécimèntO, do indivíduo se èfetua no
mesmô movimento que produz súa alienação. É á cate­
goria de interesse'que está então ém causa.' ; ;•
; 3- Num terceiro momento,' Marx .procede, por
cònàegrçinte/a uma crítica radical do conceltõ de inte-
M
e a Wv^aâbrfo liberalismo

res^e sobrei-P^rial ,se funda a representaçâq burguesa


do indMdtkt.iiRaga çle* õ interesse é a eagpnessâo de uma
separação entrè' ^o.iindivíduo e sUsqvjda; -“Qpando é
questão "deitrííêfêssei -o'burguês quê reflete faz „deslizar
rapidàmeáte, utp |eteeiro termo entre èle e sua vida” v
(Idéolqgie allértoande, p. 24l>. Constitui umá m êdiaçâo
destrutiva,", que torna o Indivíduo êstranhò.a Si mestno'; ~
Com efeito, Sr categoria de-interesse reduz „a multiplici-
1 dade de necessidades e de;aspiráçòes: Como dèsenvol-
■'1 verá lqngáfúentè em O Captifid, oii nos Orktidrissel o
v trábálho do indivíduo está condenado a tomar ,fá forma
- abstrata da generalidade'’, a s ó sér apreendido fem refe-
) ■ rêrícia a um equivalente - ^eral. A sociedade burguesa
J constitui assim um obstáculb-à uniVereálidade das ne-^
cessidàdes, tornando-as homogêneas e eqüjvalentesi CÂ
• riqueza se apresenta, portanto,-de um modo limitadoLsft í
r fòr apreendida somente pesstes termos; é todb b seq^te». -
que Marx dá à distinção entre valor de uso e yuloCdp
troca. Reduzindo o indivíduo aò seu interesse eeopônàv-
cp, a aüvit^dé sòeiál ê pprqmtp “peqificâda’\ trànsfqr-
x mapdo-se num poder objetivo que cjomina Psdn^ivik.
duos e sobre a qual eles não têm coritrqieál^fm. Ã'.^fq-'-v
priedaçle reforça essa alienação. Longe de ser uniqttir,'-i
buto que amplie a existência do indivíduo, s&aÉeflttíà
sua divisáb intçfiqr:=ela força cada. uní a ®aSflr-fÇbrap •
i - búrgu^s' buiseja, coimo indivídúp cuja existência jCgè lí*
mitada somente ,à esfera dó. interesse (cf. ldéoldgi^alle-~
mande, p. 260r4).Pór isso, q ‘único objetivo revoludo-.
- nário, é abolir a propriedade e não estendê-la. ’ ■
> A crítica do interesse se tfaduz assim por uma, crí­
tica da sbciedbdè mercanül rtáqú^ as relações efttre os
indivíduos se cdngéfem nas coisas. A vida sqcial pifedu^
zida às “relaçõés d^ tráfico (,que> se tornam a base de
- todas as outras?,' as relações entre pessoas se apresen-
■ tam de m odo invertido, como uma relação social entre
as coisás Todos e$$es elementos da análise de Marx são
'■Mftë -* ■ V-
-- * W ç ' 1' * àsïftÙoÇ
' -« „ i' '
r
> íA M . ,/j
suricientemerífé i fispeásam^
sn\ , ,^-üêpR $ utâ, nôèníante, su~.
ïe'M âtx j k> péris^a ^oder'sliperar esseeàta-'.-i'ÿ
ÍV‘ .:. a
tereksë. Para ele, não $ f tr __ ií O esse.
privado pçlp Intéressé óümuíri. Agpe» Metyey moStrouT
bem cfuç'o concéitò de írjterÇssé de«4as£e> é inêaqontrá-
-- vel'na Õbr^ de M a«,5 Ç>‘intéressé gerá.ísfâ pode ser-o* >
conjunto,dos inteïesses >egeísjasVPara M^ix, ref^rir-W-à.
rcategoria ítôvínt^res^,-mesmo, falàrído'd^-Sriteresse'ge? ,
ral ou interesse de classe significa obrigatoriamente* per­
manecer no jnteríóf, da mundo capital!»ta. Não^e tráta, '
pQftâptp, d e estendei a ftóção de intéresse, mas de sú-v ’
primirla; de não" mais fazer dèla o fundamento da at;ivi-
dáde individual e sòcjaj. ^ V '
' >■ Ò projeto de Marx se inscrevè nessê' sentido "muito
claramente de üiha perspectiva de ampliaçãd- e de supé-'
nação'da representação tradicional d o indivíduo, Apresen^
tanse cörno o teórico de um tipo de índivi^iialismo inte- <
gral, ‘fpndadO na bwsca de um, deserivolvimèntò do com ,
juntò das potencialidades e dás virtualidades das quais
cada indivíduo é ricõ. Mas não. concebe essas potenciali­
dades como se tivessem unia existência autônoma: a so­
ciedade^ a seus olhos, é a condição da individualidade: o
homem “não é apenas um animal social, mas tãrabém um ,
animai que sópode se individualizar rta sociedade”(<Sri/M- 1
, drisse, t. I, p. Confcepçâo qué/permáhecfe moilo pfd-
xima da de. Adam £mlth, pois pára este é a propeftsâo à
troca que funda a divisão do trabalho e portanto a capa­
cidade para existir tartto como sersingularçquanto como
ser Indispensável aos outros seres. A concepção dè Marx
não é ábsolutamente essencialista, 6 principalmente rela-
cional:',lA essência do homem não é uma abstraçào ine-
vrente ao indivíduo isolado. Na sua realidade, é o cppjun-

■ " j ' , '


I 5, 'Çf-r HELLER, A'. La Théorie des besòins çi^ z màrx.
tó das re& ça^J^&té^Thésç^surfíçuerbdch, VI). A pfena '
realização tjo Ijidivíduo- supõe assim unia sociedade de ,
côtáünfcaçiíS^piènairreíite realizada' transparente. Asoçie-
dade dev© sçí trniípuro coinérçi^efitrç indtvídups„ sem' á -
mediaçáb d à rpíercadôfía. èáte põntò áH^cle^e r&ter noá-
sa atençlo-Cont. efeito, é significativo que Marx empregue
á-eqtjèntementè íss termos Vefkehr, 'Verehrsfotpt pára de­
signar; relações sociais. Ora, estes, termos tçnr de fttoum
sehfido- comerciai müito claro em àlemaü.1Assim> -é sub”
preendente queMárx os tenha empregado: como sçtesti-
veSserele própriiS inteimmefttè imerso numa representação
, comercial daLsociedade, como se^com érciq fosse q ar-
quétipode qualhJjer Comuhicação (aliás, essejwntolepH
bra a dualidade do significado econôitiito e social da pa-
r lavra “comérct^’ désdeo> século 18; cf. capítulo: Bpftáftjàá;'
perspectiva é assim a da realização de uma Verdadeira so-
cíecfeidç ejvil qpé seja uma menschliçfye GeselÚchçfi e
mais somenteutpa bürgeriidhé ’.àetseÚsche^^A^Sodf^^'^
burguesa é somente uma caricatura, uma..redução da so- *■
ciedade cüdi, cottpreemUda.como comércio pum & htreos ’
homens. É somente nõcom unism oque p indivíduo sé geè-
IBzarã ao mesmo tempo como 'individualidade e có^ia-ier.
social; com efeito, o comunismo nada mais éq y e “Preébr*
nó completo do homem a Si mesmo como ier sOâicdijOt^sejá, t
como ser hubia no ” (Manuscritos de 1844), é a co n d jç^ W ç
“livre desenvolvimento dos indivíduos” {Ideologia Alemãír

a extinção da economia y-
O comunismo ccrfno supefaçào da sociedade bur-
guesã precisa suprimir a mediaçãoxlo iritercsse nas tela-'
çéés 'fcòcÈtí* soí>fe,a& ,^uaiS'élavsè feiséia. As relações en- -

6. O fatò cfe <jüe Marx emprega uniformçmente o termo bür-


gerliche Gesellsc.haft torna aliás difícil a tradução porque de­
signa aKéftíátivámente ou a •‘verdadeira* sociedade civil, ou a '
sociedade byrguesa.
< , A * O*V » <
• O 't „ .. .
v -- , XV v , ' X -,
v " \' Í J
> ’, 1 V W v„' ' X capítulo *
1 , ^ 1 ^ ; ~“7 '!
( ‘ T- ^ V/S , ' s
tre os hoípens somente podérâo-^etransforman num cp-r '
, mércio puro /rtediante eása condição. O^comurriçnto im­
p licei nvstê sentido-a extinçãò ilo eçonôrriico.JLste ponto z
é muitaS Vezes negligertdadona análise do pensamento'
de Marx. É, to entanto, essencial porque ctSpstitui "um
ponto-çhavç do conjunto dq seu sistema. jE^pHquémck
* i*
Mafx -pão pretende sómeÃe contrplarfoú feorientar a
economia; çte modo que ela- seja dirigida para asafisfa-1
çâp das necessidades e não mais para‘a prbdução dò lu- '
cro. Sua análise filosófica é muito mais radical: é o pró-
pjfio princípio troça mercantil que póe ehr c a u s a i a
própria esfera econpmtca colmo tal que, a seus òlhoá^ é
aiprite & alienação dos indivíduos. Ctím pfeito, asseme- a
lha explicita mente o capitalismo à sociedade mercantil, e
mais profundamente áindaio capitalismo simplesmente à
econonya.* O conjunto da obra de^MarX é incompreen­
sível fora; desta assemelhaçâo que1constitui o élo lógico ,
, ' que articula sua filosofia e sua crítica dá economia bur­
guesa. Pprissó, o cpmurusmoé equiyalenteàsoriédade
<feábdr^ânçia.;Somente numa sociedade de abundância :
- a econòtnia é abpjida, ppis nào há maiseScassez.Senâó,
eserevé eni Vldéologie àüemande, “é a penúria que se
tornará geral; éj com a necessidade, a luta pelo necessá­
rio recomeçará e se recairá fataMentè na mesma velhá
Iãrna” (p. 64^. En>;p ázfíitfiil, retomará d iv é^ s vezes çstá;
idéia que marcoú •^jx^^-stonà^è\^ém í'cla,pàt>dti0p'''.
qúe cotnéça /o, desabrochar d,a riqtiéZa hum|ha;>0 mun­
do dípriquèzá integral é radicalmente contraditório com .
~o^da riquezg limitada (á1economia). !Ésta ‘cppstátação £
fundamental para Marx, e está presente desdè os seus /
primeifos! escritos. É de uma só vez q .produto da'sua
análise da alienação, que fica prisioneira da representa-

1 . 7. No sentidó "substantivo" do termo, para retom ar uma distin­


ção de Polaniy, ou seja. a ecópomiavcbrno ciência dá produ­
ção e-da distribuição das riejuezas num univefso de escassêz.

226
V í! VVt'-
çãolíberaL dá,-econoniia, e o resultado dá j&scJaíçâo 1
pelé capífta^ftto.vDe»enpi^nprno$' aig^naiinsiantes nesr
sés dois pontos' / % • ' y /, | t
A A a itiíd o momento que "define alièrtação
;pàra^to>-Mafcx 'é levada <a criticar !:
íra ^ o dolndividuode 1si.megmo .E stg çija p ,
áad á sua criticando polítiço, baseada da distihçad"
. entJre hqrn^M^; ddadão. Lqgícaménte Marx dev|^ áer lè-
vado a rç tomar-esta análise no tefrepo/econôntico- O di- '
vórcio ètfófe1o~ h o m e m ó pròdUtoP só pode set; tfansí- '
posto púr uma crítica rádicat" da economia fpSítica, .
cõmo ciêttma separadü.è autônom a separação que aliás'
é,a retomada oocam po da teoria dp.quese passa real- -
mente na sociedade (este é ty seíiÔdo^àa teoria P^tncis-1„
tífdã Ideologia). Assim, o comdnismo é . dé~uma-isóye^. .

do genero huptano pPderâo se r estabelecidas. Q-riipóG* ■


cio entre'o homêm-e o produtpr, que se dá na~coritra->.
dição histórica* entre as forças -produtivas e as relações r
sociais, só,pode, portanto, ser superada se,.as forças' pro­
dutivas se tornarem pura praxis, totalmente identificá­
veis et>m á atividade humana em toda sua riquèza e-d i-.
’ vepsidade. -Forças produtivas e'relações sociais se,iden-,
tificam çõmpletamentè: “É somente neste estágio que a
manifestação.de Si coincide com a Vida material (...> a '
este estágio corresponde â transfortnaçào rd o trabalho
em: manifestação de si e ,á metamqrfose das relações
cóndiciòhadas até téntâõ fçlações - cie indivíduos
como. indivíduos "tldéofcigipáilemande-, p 104). 'A su­
pressão da alienação como separação se traduz então
por üíria universalização interior da sociedade por cada
indivíduó; a,ativddade,clè cáid^Ít^t^pp_tQfl}a.,dhi cará­
ter universal, não há mais "esfera de atividade exclusi­
va”. Cada. um tem “a pcssíbilicfade de f^zervhqje tal coi­
sa, amanhã áqUelá”outra, de caçar dem ânhã, de pescar
V. ‘ . càpítulo 8

' ' , * í ~ 1
■depois do alrppço, de ;se deçlicar à criação de anirhais
qp frm dataVde, deifazdrclftiçaái deppis d^ oèia, spgun-1'
, do o seu bel-prazer, selnjamais ter de se tomar caça4or>-
pescadqr-ou ctíúco''(Idéologie ailqmandp, p. 63)» Nessas
, condições, a troça toma-se puramepte grátujta, Toa me-
didaa^ a^^nâoié mais fundad^ sobre ^ necessidade e
ã dependência: tbrna-sè dom e.comunicação. Qs indiví-
" duos não trocam mats mercadorias, mas dividém suas
, , plenàff individualidades. Cotti /efeito» o; trabalhp hytnar
no, que é amêçftda do vàlof, só.é verdadèiráinçnte um
vajòr intercambiável para o indivíduo que o-efetua, É.
- somçnte no indivíduo que ps tfabalhps qyahtitatfyamen-:
tè diferentes, podem Ser a mesiná coisã, poi$ agora áãó
este mesmo-indivíduo. A troca'mercaritil repousa,'ao
contrário, Sobre a, aceitação da s.eparàçâo dq indivídyo
de si mesmo, pois transfqrtnà neçêssyriamentei a parti­
cularidade prppria •de (taqf inSyiduq em generalidade
abstràjá e cornensurável (0 teMpíq de trabalho),: AliâS/é
pot teso que Marx fala Muito freqüenteçnente do desen-
' j volvítaaehto da arte, ri^ só^ ^ ^ s^ ^ u n istas^ la^ rlÇ p ie-
' senta por excelência o incomensurável, o que pode ser,
dadp ou refcebicjo, maS em casó algum trocado no sen­
tido estrito do terino; ou sejá, reduzido a umá quaiTÍtidá-.
j de abstrata e intercambiávelde,trabalho. Dessa forma, o
.%ccí^^uíástlap'é.||)^issapçiá^^' da extmção da ecqnpmiajjde
' agora çm diante reduzida ao seu sentido formal (econo­
mizar, poupar). A econòmia não existe mate cqmoruma
de àtividãde sepamda, é nqda mais que a ih-
dividual e coletiva para poupar o tempo de trabalho à
fim de que aumente o tempd livre, A econpmia muda
assim de signiFicado, tomando-se p meio do desenvol­
vimento da individualidade, daqui em diaçte trarispa-i..
rente às condições da sua vida material^ “O tempo eco­
nomizado pode sér considerado a serviço’ dk produção
do capitaí fixq, um capitaifíxò feito hotnéftf (Grundris-
’ se, t. 11, p. 230), :E portanto o tempo livre^jnipossrvel de
t '• ’ s , ’ ' - ' ,•■ ; v-%: - ’•
■ -'' 1 • '' . í' ' >

Talarde ,umí ^on om ia,p g^k a vd<| <ro«WJni$mic). K eçcn'


nomiã pôlítiea cátnb ciêfulía *Ja ift^utór desápãr^çe eòm A }, v
o \sêu Abjeto. Na swt a(4o ecohõmica, a Sociedade s ó ' -' v
tem necessidade d e^étodo? wmplès de gestàq da jko-
' duçâo social. Rast<i4he saber cóntar para economizai O' ’
^ , trabalho, ÉÜe fato\jm/etorno ãadtráétlca pbUtjcaí Máux. ,
, diiia aritmódc^, ^ociâl. A ^ii^pHddade poiíttea, e a .simpii- ' *
etdaçle' económica- sãb sufícieiMeê ^ortanto parâ gover­
nar a sociedade comunista. Tornada -imediata a si mies- s

Trotskl em ecónóm^' estiv^rami suflcient^m^nte píâSiyaif „


didos,disso, è se surpreenderam com a brutal msistêmÇ i J
cia* que os fatos opuseram a essa visão idílica cia soeie- »’
dade símpi^s! > 1/1 r %' 11' t^ ^
. No fundo1deSsa concepçãò da extinção dó ^ o í t '
- -nômico, pôde-se perguntar se não é a relação que Marx '
, ' mantém copi b seu objeto de estudo, o capitalismo, qué
’ éstã env cajisa; Còm efefto, ele acaba por fazW da çco- : ■ :
nomia>pdlítiçá clássica a expressão teórica exatámente - ,
"'<n‘: adequada; àCnãtureifa^^l da.W iedade. capitalista. Q
^ m odopelo quialíeriti/a X,jètiSistema tíaèíonal ãà Ecoticn . . (
mia Política, 1841) eqWticuIarmèntesignific^tivo.^List
: . censura os economistas clássicos por terem concebido o
-^ênero humanò iSob a formafde ún^t grandé comunida^'
de internacional cosmopolita, onde' rèittária O ènfendi- >' ' ’ .
mepto universal entre gs diferentes interesses indivi-.
duais. Funda .uma teoria da ecbriomia nacionaTque re-
' pousa sobre as forças produtivas e critica a teoria do va-
lof de, trócà. Assim, List; criticai» reprelsèntaçâo feita pe- . '

■* 1 8 . List foi um dos agentes principais na realização do' Zqllve- \


■f . ;rein; foi secretáno de uniaassociação de industriais, cujo.ob-;
jetivo era obterá supressão das aduanas internas. 1 /

:5f
229
•'*VíV^*'’ ’ i■
} '! -N vK; S
V
los clássicos da vida e& m çm lcí internacional, mostran­
do o'im pacto concreto jâe pço&lemas ecqnômicos que
ineglrgfenciam. Órd, Mârxs#&tç&-b>ívafneftt6,fóbre egte -
>pontor “Em ^rte.a1gU !^v('^^mrvçv “yem $o$eu espírt-’
<tó que ps^coÃOií^ta&af^^S deram $ esSa sftt^içào so- 'l
'ciafum 3’expfessãõ teórica correspondente C..) Ele não
critica jamais a sociedade real, mas, Comò bom àíemão,
critica a expressão teõriça cleása sociedade, reCriminan-
do-a porxxprimir a coisa em-si mesma S não á impres­
são qud se tem dela'’! (Gritiquè^de Péconptifie naiionale,
sua prdpria teoidã' :
dà ideologia, Ào tornar a expfessâo teórica dá écéndmfet
Política como a verdade der sistema Capitalista, eixckií a
>possibilidade de que elá possa, ser uma t-ebresentacào
'•inexata, ou falsei. Acaba, portanto, tomando- èssa repre­
sentação pela realidade. Sua crítica a certos socialistas
franceses merece iguaimerité ser lembrada a esse respei­
to (Cf Grundrisse, t. II, ,p. (520-2), Censura-os, por que-
rerem’demonstrar que o socialismo é a realização das
(déias burguesas da RevoluÇào írançesa' Para Mapc, é
uma tarefa vã "a aplicação dos.ideais dessa sociedade,
que p õ pura e simplesmente a imagem refletida da rea­
lidade existente”. Ctíháidèra ;àótíjt’-iá^tdv^^Hpicitxtente
que o s)sÉçW$è,y%k>r, de troca, ou seja, oxapi(aíismo,
“é p sistema dã> jliberclade e igualdadel’;í Ná, sequência
dessa crítica, censura igqalmente o eccmomSisjã américa- *
hò Çarey por quèiér apelar ao Estadoí pafã estabelecer
a harmônia econômica, e. defende, aõ^còntprioja idéia
de que a intervenção exterior do Estado é que cansa a
falsificação das “harmonias nátufaisYp. 622-3). Marx se
situa assim paradoxalmente comô um defensor intransi­
gente das representações liberais mais sumárias da so­
ciedade. Se, evidentemente, não compartilha com elas, !
as concebe sempre como exatas. Nessas condições, <
toda a sjia teoria e sua crítica da alienação seguem as
simplificações è as iíusões dessã representação. Sua crí-
ftiarx e a inversão do liberalismo i \

•, ; 4 1 ^ >,j o , , ^
ticá radical à sociedade burguesa é, portanto, em gran­
de parte, a crítica da representação liberal da sociedade
burguesa, õ leva aco lo cár npns p ta ^ müito abs^
trato as, contiíçóes de supçração desta'sociedade. Nesse
sentido, a perspectiva cofttunista de e^tiríçãò do econô­
mico pode sdr coínpfeendida com o'o efeito da ilusão
do liberalismo"1eçdnôratco nobiaqasm o. -
2. Mas Marx não é somente prisioneiro de sua
teoria geral da ideologia. É de, uma só vçz prisioneiro
das- represetjtàçôóp liberais da ecdnom ia. e fãsciftado
pelo capitalismo, cujo poder se deáenvofVè- diante de
seus olhos. É testemunha, ao ntesmo tempo fascinado e
hofrorfzadp, bá/revolüção industrial que-subverte a faee
do mundo. Parece-me pue esse aspecto dopensamentq
' d^Marit éitnúito poucas vezes sublinhado, contudo, tem
unia mriçàb .essencial na formação dó radicalismo de
suas análise. Matx çoticébe a fopça
Irrèsistíyfel, c&^idèr^ que seu desérívolvihiehto .é;inély-
távelv Longas; páginas de O Capitai Oví de outras obras,
póderíám ser citadas paraiatestar pue súa^èla^ãp cofia o .
' eapitajismo asãüihe b caráter, de uma só vez, de repiil-
sa violenta é de atração ambígua. O modo brutal com
qüè denunciajos linytes da áçãó ópójcáriá ,é signo disto,
como se estimasse algumas vezes que o capitalismo me­
receria historicamente vencer. Vê aí somente escaramu­
ças, incapazes de apanhar o formidável poder do capi­
tal, nada mais fazendo que fortalecê-lo involuntariamen-
’ te (cf. por exemplo,ÍStilários,> Preços e lttCKOS). O capí--
tal só pode Ser superado na condição dé qíie triunfe ãb-
solutamente: esta íntima convicção está presente em
toda a obra de Marx. Concebe o comunismo, portanto,
como a conclusão, do processo histórico do qual o capi­
talismo é portador: quando o empobrecimento clamas-
-sa clã humanidade irá de par com um desenvolvimento
das forças produtivas, pèrniitindo realizar a abundância.
Assim, Marx considera explicitamentê que a abolição do
ç^pftulo 8

capitalismo dependfe- do^seu pleno sucesso eôqnômico:


Nesta condição, pode penèar simultaneamente á realiza­
ção d® comunismo e^á extinção da economia eom o es­
fera cfe.âtiyi^ o capitaliçnio Aão cuòijSrissé sti&
missão histórica, se rtâo levasse _às pprtas da alxm dân-,
•cia, o éomuntsmp tonar-sçriâtmpossível;jjdarx é.aqüi lp-
gico com ele. mesmo. Dado‘que a economia é determi-
hapte,^ sô, pode ser tudo ou nada. É impossível, a seus
olhos, subordinar á çcóhqmia à política (séria, além dis^
so, substituir uni modo de alienação pelo oytrot, çomo
sugeiia Hegel, ou de rèdyzir a èsféra dá atividade eco­
nômica na sociedade,, como propunha Godwin. ' .
-Sua crítica da alienação e suá fasdnação pelo po­
der do capitalismo se ;Cori|uga^ âsàtó, pàrá ajudar a
pensar p comynisnio como extinção da economia. Sua
análise. âjjre^enta, no éntantôi umà contradição sobre a
qual é útil insistir. Fazendo da abundância, resultado do
desenvplyin^ehtô das forças produtivas, umã ' çpndição
prévia do comunismo, Marx é, com efeito, levado a se
céntáadiXer. ExpdieaqdO. melhof, Á abundância, Suprir»
mindó a escassez, sòprime a necessidade. Ora, ele re­
conhece que “a necessidade social, que regula o prin­
cipie» da, demanda, é essencialmente' condicionada pe­
las relações das diferentes classes enfré si e pelas suas
fespeçtiva&‘posições econômicas" Qe Capital, ç VI, li­
vre 111, p. 197). A noção de necessidades só existe, por­
tanto, apreendida no sistema social das necessidades;
oü seja, é uma redundândado conceito'de relações so­
ciais (idéia já fortemente exprimida por Hobbes e por
Hegel). A abundância, como supressão das necessida­
des, nada tem a ver, neste sentido, com o níyel de de­
senvolvimento das forças produtivas: é unicamente o
produto da igualdade das relações sociais. A abundân­
cia, pode ser definida assim como p estado social no
qual a dialética necessidade de imitaçào/necessidade de
diferenciação nào atua mais; exprime simplesmente o
inarx e a inversãp do liberalismo,
w«í0mww'4At«K£*> ‘ '

fato de-que \ diversidade dos' indivíduos‘é vivida 'sobre


p rqodb da diferença e não mais da" desigualdade, A fru-,
gaiiçiadee-a abundância se çqüivalem, oestg.seiStido (se •
recortar,'Sobre este ponfo,,.ao papel qüe desempenha a
frugalidade na’ filosofia1econômica de Sftútb ' cf capítu­
lo II), fyíártc nàd tinha! póitanto lògicairíente necessidade
algutna dçjse.apoiaf sobre ,o desenvolvimento das for­
ças produtivas para pensar a realização de uma .socieda­
de comunista. AO çofttfáno, é mais fácil trabalhar com
uni cohceito ’ïelativamente, ppemtprio Cá frugalidade)
que com ,um , conceito limite'Ca ,abundância). Se Marx
pensa o desenvolvimento dò capitalismo, e das forças
produtivas,'hâb, é, portahtb/porqbe parte'da pressupo- ■
siçâo» em parte alguma demonstrada, de que o tnbvf-
mqttto do çapj^lismo não pode ser decido,' qèm èontro-
ládb, ë que!suà)^emergência constituí a pnica verdadeiras*
reVolução.que reve lugar na história dã humanidade.*tí
materialismo hisfórico é. assim igùalmente o produto in-j
direto da'sua fascinação pelq capitalismo. ,

|iarmonia iiatural dos


interesses à hairnonia natural
dos homens vv
■ytç O movimento do' pensamento de Marx é
Num primeiro momento, retoma a representação econó­
mica hberal da; socièdadè pára criticar a política 'como
mediação infôtll e álienahté. Com efçitó, esta represèntá^
: çãò é, a seus òlhos, a tradução exata da realidade dá so­
ciedade burguesa. Num segundo momento,- critica filo­
soficamente a sociedade buiguesa propriamente dita, e
não sug rdprdsentaçâo, dehunciândo á alienação que vá;
mediação do interesse econômico engendra^ Cpncebé.
.a§smKÍQgícanjçnté o comunismo cqriio dupla extinção
da política e da economia, ou seja, como uma socteda-
capítulo 8.

de que não é separada é qyal nenhuma media- f


çào exteddp regùia' a relação pntre os homens: Ë a'.sor
d eiíade buiguesávque supera nelarhesm ã ä mediação
política e-é o comuYiismo que, reaJiZáhdo a abundância,
permite suprimir a mediação econômica, ‘
Marx- defende, neste sentido, uma concepção da
, harmonia natural do§ hotrtens quetranscende Os limh
tes burgueses da harmonia na,tyral dos intéressés. Cqnj
efeito, a harnionia'natural dtíS intéressés é uma repre-
sèntáçãó que corresponde â uma realidade jhlstórica def
Ktermjnada e superável, ainda qüe tenha 'sido um pixx
^resso- necessário. Marx, dirá, dessa perspective que o ,
utilitarismo é- uma “ilusão, filosófica, historicamente jus­
tificada” CIdéologie allemande, p. 452).-Percorre assim
um camihho-que é exatamente inverso ao, de Adam
Smith. Mostramos que a' grande virada dá Teoria dQs
Sèntfmèntos -Morais residia iia passagem da harmonia
pdà siihpatiá, julgada p rç c á ^ por Smith, para a harmo—
nia dos interesses. Com efeito, para Smith, o interesse
oü a utilidade constituem uma garantia da hármonia, o
terreno concreto sobre d qual o vínculo social pode
continuar á se estabelecer mesmo que não haija benevo­
lência recíproca entre os homens (cf. capítòlo II). Nâ
. sua Crítica à sociedade burguesa e a mediação do inte­
resse, Marx náda mais faz, pòrtàntò, qüe reatar çòm as
teorias clássicas do século 18 da simpatia e da harmonia
natural dos homens,.* Só supera Srfrith aõ preço de uma
verdadeira regressão, .redobra assim a regressão política
de Smith e de toda a modernidade frente a Maquiavel.9
Por isso, Marx se sente muito a vontade com todos os
“materialistas” do séculoN,18 e não hesita em qualificar
Mandcville como “característico da tendência socialista
do materialismo” {la Sainte Famille, p. 158). Com efei-

9. Pensar Marx çpmo "“o outro de MaquiavelJ,((Çlaude Lefort)


é jSòit^nto duplahienté justo., è esçlareeedor. v •

,1*:
1 ">4? g ‘ ^ \4' t ~^<“
Marx e a‘inve&3o d<vliberaMsnlo , - r . 1
- , f- .:;. ■■■ ^ - '• I ■ ... . .•(!'•'. 1
. .i , VV •■ U- ■ "'
^ UI ^ t , ' v' Jr l '
fJ J f í 1 ^ ^ < í
to, este '“rt^atetiallsmo” lhe aparece como o ' Verdadeiro
rtatupalismo. ipeve-s© leipbrar que^ nos Manuscritos de
1844^ definipíb çomtíoism© simplesmente çomó nai^ra*
lísmo ácabá^d/ Rara M^rXy,a -sociedàd^bprgti^da cor-
nympéuoJndivíduo, reduzihck>o a W sQCialriiehfe ap^-
nás; a pianlfiKÇtãção ?do' seu' intéresse éçoÿôrtiicp, ,Nurb ,
outrb contexto, diferente* do da -sociedade bürgüé’sa', a
aritmética das paixões produzirá' espontaneamente "a
harmonia e fião haverá mais a' necessidade dí> suporte
do interesse para produzir, a harmonia social? Marx £e
considera assim herdeiro direto de Heivetius. Pensa ipi-
plicitamente.o funcionamento natural da sociedade co ­
munista nos' termós cpnx o s quais Heivetius' pensou o
, funcionamento d a soeiedadé éfr> geral;10 QcpmúhiSipoí
’ - o _.»w _ 1 t . 4n ’’

dViãtx exprime aliás muito claramente Jestá flhaçãO Ü-çy


. Sagrada Família, ‘‘quando çstudamos as. doytpnas frÉ-? ''
terialistas da bondade original e dos dons intelectúaís
iguais dos homens'’, escreve,* ‘de toclo o poder da expe­
riência,'-do hábito, da educação, da influência das cir­
cunstâncias exteriores sobre o homem, da grande im­
portância da indústria, da, legitimidade do desfrute, etc.,
hàò é preciso uina grándè sagacidade para descbbrir ós
laços que as aproximam necessariamente do cotnunis-
> iihòWáio havia con-,
*cebkk> â ecôftohiia Cqtnp reàlízaçãó dá filosofia d© sé-
x culo 18, Marx, pensa esta realização com a supressão dá
economia, óu seja, a pensa em si mesma, ''
Como,explicar issp;Çjué'deve' ser corretamente
chamado dè uma regressão? Parece-me que as causaS
são de dois tipos. Marx tem antes de tudo uma, visão

10. Lernbremo-,hos que para Heivetius o termo "interesse” hào


é economicamente caracterizado, É o nome. gÇrjérico do .po­
der das paixões hutnaftas
.^. Capítulo 8 ' '

muito simplificada do áiovinfíento da modernidade. Não


distingue o mcBnento.de emáncipaçâo da política face à
reij&âo es o momento-de emancipação dó econômico
em relação ao. político. Ora, mostramos que o nasdmen-
- to da1economia jsòlítica só“ é compreensível s e f p r
apreendido nesse düplo movimento1da modernidade
confrontado com uma, redefiníção.dã instituição e da.re?
gulaçào do social. Para Marx, a questão da emanciparão
frenté à religião ;resúmç sozinha a moderqidade. Ó co­
munismo nada tfjais é 'que um. ateísmo intégral. A reli- ,
giào exprime ém definitivo todas aís alienações do ho-
mem^^ereverá.-significativamente em- O Ggpkak “O re-
, flexo-rpHgioso do müfido real só desaparecem quando
as 'tbndiçõesdemuBaíbo e dq /vida prática apresèritardm
aó homem relações tfcanspaçentes e racionais com seus '
Semelhantes e com anatuíeàa” (t. I, .livré I, p. 9D- A so­
ciedade produz,’’portanto, efeitos perversos-por que é
alienada, sendo a rejigião o símix>içí.'pâ alienarão como
separação:1ASsim, Marx realiza absolutamente a ilusão
‘ moderna dá transparénçia social, tendo o liberalismo de
Smith,vde t^da inaneim compensádõ seu idealísiflo poli­
tico por um cert.ò;, çihismo écohêmfeo. Sua' crítica ã *elk
gigo mascara a reàlidade de uma divisão fundamental e
interior do homem e da sociedade, permitihdo-lhe
apreender esta divisão como puramente histórica h ex­
terior. Aí, permanece ainda prisioneiro da sua téoría da
ideologia. Visto qpe à religião ppd&ser q priori.suprimi- ■
. da e superada, a divisão e a alienação' do homem qüé ^
exatárhente representa podem portanto ser suprimidas.
.. .7
Toda sua “utopia’' fepopsa lqgicamente só|brfe0.póstuÍaT
do da possibilidade da supressão da religião; não colo­
ca jamais a questão de^saber,- çetpmandò seus próprios
termos, se ela não exprime uma afliçàoreal que, é onro-
logicameftte a dp homem.. Só ,3 concebe históriçge pas-
sageirãi Á partir deste últimb pqato, pode-se aliás anali­
sar a sègúnda causa doqúedenominamoá regressão de

236
vpí
. n; , h>v f.yt „Xi t ,1 <
<A,\ "V
‘ , toarxea lnvKffâodo liberalismo , ,
IM\M**WvU^yj!w« U f J *■
, jl , *• J* £ , ? Vtfl í ^ ^ V ) (S4
y Marte, p^tá eimcáUsa aqui sua còncepçãó da história! a
' slipçivaíprizáe a desvaloriza ao-ihesmo teíhpoafeleà su-
. -Jpei^lóMzá -no sèntido de qüq é,: para ele; o meio tten ,
ddealizar íi^érdadeifa naturezà do homem, mqstfendo-a ,
"'divisão Seciál como pffpcluto hístóriedma história tbrhk“ . '
se encarregâíÊ'de expUcatftucla o qdedâlta a trànspa-' ^
> „rêracia no'homem e nas relações entfe pshpmens. $ v
Mas, paralela ménte, é obngado^pela- lógicaZa da|,
um,fecho â históíià com a" instauração dó comunismo,
pois e$tq réafizi a transparência. 'Àssim, d históifa sóf
. existe Corhò história da alienação; ela própria tahna-sq1’
„ “ histórica. ? *‘ , - * 1 ,
■ ' É pfèciso, no/entanto,; resolver,uma újtimáques-
, Vtãoj:cetíüal' pafe'Marx:’à da; fela^o'ehtrè a"fò ^ a $ 0 $ ^ \
dàde comunista como transparência reali^da, aS^oclá*; L,
., ção da'pletoa Itihqrda^te, esjtie os homehs” e f&'f&jfitiptt
' ' históricas .anteriores- da vida comunitária. Sabe; se qüé
Marx freqüeritemente apoipu-senestas pára cd tic^ ^ sàt;, /
, , cièdade burguesa, qyalificando até mesmo a. Idade Mq-
dia comp "democracia daonãodibqrcíaçle”. Em O.CQptia%
sublinha iongamente quç. na -sociedade da Idade Médiá
' 'âs relações sociais parçcerq mis como são, relações éq-í . ,
tre pesáoâsV a- fortTía natural do trabalho se apresfenta nà
sha particularidade, è não na süa generalização abstrata
' çpmo na sociedade niercaittih íEsses velhasoi^fúsm os 1\
sociais”, escreve, “são, Sob a-relação dê pfockíção,-ínfi-.
„ - nitamente mais simples e mais transparentes que a so-
ciedadq burguésa-, mas têrhcpmo base a imaturidade dp
1 heímetn individual’’ (t.I, livre I, p. 91>MstO' qqúivale d í-1
zef que o comunismo nada mais é que os velhos orga­
nismos sociais mais a maturidade e o desenvolvimento
do hometa iridividual? Marx nào> está slon^e de ãssim
pensar. >Por isttise- irteressa pela comunidade campohe-, ,
sa russa, què realtéa, a seus olhos, a associação imedia­
ta, do mesmo Inodò quê fax referência à indústria rústi­
ca e patriarçal^de uma família de camponeses que pro-
v

23 7
V, \ s l
4 MJ.
' 1 v ' * capítulo8
~ , '.*■ * ‘ f / ,1 ' " y^.^t

- \ *• " ■* j ^
■ du;s para suas próprias qqcdesidades, Os célebjes rascu­
nho^ da Çarta ,a Vera, Zassouiltch são, particul^rménte
interessantes,deste, ponto deW |sta.ivlostra.a|comoaco-
• mui>ídade ttafflpopesa^é o ponto de apoio da regenerá-
çüq social r\a Rússia, noas que só pode ser preserVadaqtô
preço-de uma Revolução, poíque é contraditória com d.
capitalismo envolvente que intíéssantegaente queí' dis-
Soly^-la: “Par^.salvar acom unárussa, éhedesííátia uma
revolução russa^. Há-em toda obrádeM arx Uma nostal- '
0 a subjacente da> Gemeinschaft; aliás'empregará esfe
lermos para descrevero comunismo,como comunidadé
imediata e. trapsparente.;Manç vituperá, de módp signi-,
fiçativo, H. Suninèr Maine“ que, distingue sociedade e
comunidade,. mostrandò o. progresso qúe representa a"
passagem de uma sociedade regida pelo estatuto' íco-
munidade);' para umã sociedade regida pelo contrato;
■ vê qesta distinção uma simples preocupação, de apolo-
y gia do capitalismo. Ccf. Plêiade,' f_ II, p. 1568), Como
' bem mostrou Louis Dumont <cf. Homo aequalis), o co­
munismo aparece assim como .a rêapropriação do as-
pecto comunitário prin^ijyp-õüàftiíisdiéy^ -na quadro de
/ um plenpNdesenvolvimento do indivíduo moderno libe-
rado de suas limitações próprias à sociedade burguesa.
. ístoexigê a colocação de uma questão Como conciliar-
píenamehfe o princípio da coihúíiièlíiuÇe ò prihCípió da
.individualidade que s|ó pòr definiçâô'cpútfaditórios?
Marx;, não dnbá precisainente os meios teóricos pata Gra-
tar desta questão, dado que sua concepção do desen­
volvimento capitalista o , levava, no sentido inverso da
sua nostalgia imediaíà, a insistir sobré a contínutMaâ^,
do. desenvolvimento das forças produtiva.^ (o .capitalis­
mo germina desde p desenvolvimento- das cidades e do ;
renascimento cio comércio) e á apagar bs elementos de

11. Autòt do célebre A ndem law . its Cotjnectton With Éarly .


Hisróry pl Society, and its Relútions to Moderrt Ideas (1861)/ .
> aM - " , V / - * v
/I /, 1\ n «k 'X - ^ - - ' t , x. T't í. f
Mwtv ™
-ib*x
«■»* e m
a>Mv*ésão
- doliberaligpio
? f *, ?* • ,J „ij•<* , ,
, 'X . . X V ^ X 1 , .........................' " x „> \ r
\ ntpíura cuktí^f' Êtarnbúm stia incompifeénsao do mo-
pimento daraxièm idade qlie estk eni causa; mas; aí'ela -• '
serve past, ftâo péícebèr tunatürezadà' contradição'
'r q u ç x tó s e jn p ^ ,^ ^ ^ v - J> b / , /
, Ma^pareçexme que é preciso ii mítò Ipnge aindã. ~ ,
- Definindo» 6 comunismo cotiící' soçiedáde 'íihediàta è ’
Transpârente, Marx^acaba' póroohcebér üiW sqêiedãdei J
'• oortipletái^pike abstrata, n a qual cada- indhddlio é qm
resqmo da univéirsaMadp, estfutur^ndo-sq ã, ítociedade ,,
por um .puro comércio ehtrè ôs homéns. Ô comunismo, ,
fedò a$e o fim da inversão do litíeçaliSmò, acaba pdr
imaginar a possibilidade de um vínculp social /que re- •
, pousa sobre irada mais,que o& “d oces-laços.doarao^
, para retomar a expressão de Smith," afastando toda •
dláção polítiía ou vecbnômica das relações entte f^ à è -V r
mens. -Marx pçrcebe esta dificuldade e dela tpta ' ■
citamente nos Gruddmsé, dom ose estWesseApof w àx t' \
momento eéãqácrènte .dodsarãter -utópico
s ufna soçiedáde sem\meciiação. “£ firçciso ^
VÍ unta nieâiqçâct'', escreve (Gruyidnsse, t i, p, 1Q9^ sttblffc; ^ '
r’ nKado -por mim). “No> primèirô caso (sdciedade;:^ié#caà- ■A /
til)", prossegue, ‘'parte-se da produÇão aUtõndríto dés ,,
indivíduos particulares, què. é determinada e •
post fesiqm por relações complexas; a mediarão se p ie -'
tuaypela troca dc mercadorias, de valor, ç de pinheiro,
diferentes expressões de uma só e mesma rèlàçãq. No *
secundo caso ia sociedade comunista)/ ê a pressuposi­
ção propHaWiente dita que serve de mediação-, dizendo
de outro modoí a pressuposição é"uma produção cole­
tiva, sendo a comunidade ,o fuhdamento (ia prodüção.
Sem dúvida, o trabalho do indivíduo é. aí realizado,
como trabalho social (sublinhado-por Níalx). Este testo
e decisivó.. É à preSstippsiçãó da sociedade como totalb ' "
dade qué fpnda *á/passibilidade dó Vínculo social. Dito A,
■ de outra tóabelra; _a supressão da mediação'política e.
1 econômicp ^epmpensada pela identificação de todos os .
,n
.'VíjO
’-;V V 239

>2* " X
capítulo 8

-K-_ ' v
\_ ^ 1n ,

indivíduos num único p. mpsmô corpo. © comunismo


cõmo sociedade de'm ercado pura;,§ociedacie do puro
cojnércio entre os hqrnens,,réali2a, porfartío, a Utopia li­
berai ap preçoda, çqnstituiçào cortfraditòria de um orga­
nismo social, total As aliengções pontuais são substitui'-
das por uma só e única* alienação global: 0,-hometp é
constrangido a uma Universalidade que só podê ser rea-,
lidada por Uma ■fbçça exterior á 'ete, tantõ mehos apreett-
sível quanto se aprespnte- como nacjá mais que ele pró­
prio. O totalitarismo constitui assim a última palavra da
utopia da transparência social. Esta visàõ nâó tocou ã/façc
por úma razão, .a pieu, ver, èssenÇial: tihha fréqüente-
th^nte np mpdeÍQ da família ,a Referência da. comunída^
de realizada (cf. le Capital, t. I, livre I,„p; 9d, e t II, p .'
168), t^uem desconfiaria desta tranquilizadora referên-
_ ciá no século,3 9? Quêm-não teria vibrado com a evo­
cação de um ,m undo futuro concebido com o urna
grande família? ' . <
capitulo,9

capitalismo,
socialismo é
ideologia
K í' ’, étednôm ítíft
/ 1, * ‘t ^ „ * jl %
oliberaliàmo ineixcoptrável \
7 'V '"
1i ‘
1 reqüentemente sé díz que o sécplo ^ ^Mcoâ*'
o triunfo do tcapiíalismo. liberal. Esta coi^stàtaÇãci é â^nM^
- gua. Coméfeitc^se o capitalismo simplesmente impõé «lia
lei ao mundo inteiro, subvertendo os mqáoá1de viçla*^ réT*
voíucionando os modos de produção, odíberalismo está, ‘
ao contrário, Singulafmente ánsente deste mpvii^ntr. >•
Aonível das trocás internacionais* e na çsçala do
século, O wrotprionis™~ ^ ^ f n r tr 6 O livré .còmérdo a '
excèçâd. A Françá pdrmaneçe obstinadameftte prptecio-
nistadílfante toda a,primeira metade do séculp I9,m ari-
tendó até mesmo certas proibições absolutas em matéria
de importações. Ós Estados Unidos praticamentenão se ,
afastam dé urna polítit» ^duabeif^.niüitò restritiva durarr- ;
te todo o século. A Alemanhasé fecha ,sobre si mésma
déppis de ter íealizado süa unidade aduaneira intérioí
com a constituição do Zollverein, em 1834: Sdmenfe a
Grã-Bretanha torna-se exceção, abolindo, em 1846, as
barreiras âdhanéiras aos cereais e, em 1850, o célebre
Ato'de N av egd 0o {líô\ ) quê interditava a importação de
mercadorias provenientes das colônias em navios que
não fossemifigleses. Mas a Inglaterra só é livre-cambista •
por esfar nó auge do seu poder industrial. Espera inun-
\ '
‘ cap&ula9
;'y
'
, t . V

% dar 3 Europa; dâ qual é a ^ifcínáf dOfn seus produtos m s^


nqfátjüràdos.* List eácréverá íio seu Sistema Nacional â e
Economia Política "que o livrercomércio é parâ ela qm,
" njeto (jasuatpqltti^im fK riíííStai^ua^dose^lcauçax)
èyí^e da £t^ttdezaj umâ rogfa vj&gfa de prudência orde-
' ' pa qpe $e rejeiteia és^acía ufcãdá para tànto, a fim de rtão

beràíização das tpQcds na Europa d&ãeguàda tpetadê do


século 15*, ao menos sobre uma base estritaqlente bilgte-
fal: tratado de livré comércio entre Fíânça^e Alemanha
em 1862, tratado de 1860 entre a Françâ e-Grã-íketanha;
Mas este »movimento será apenas um" curto parêntese.
Bisnjarck estabelecerá Uma tarifamuito prbíeqonista- em
18?9, e a 111“ República &rã o presmo^sob o incentivo1de
Méllne. Na Inglaterra, a Câmara de Comércio de Man-
r chester, verdadeira cidadpla do livre-cambismo que ha­
via fortnâdo a anti-cofíi-Laiv-league, em 1839; reclama-«
rá em 1887 ^retom o ás tarifas. Se a maionUdos teóricos .
de edbpqrnla continua appegar^^'pfljvn^cârnforb- e de* 1
monstrár SeuS1benefícids é preciso constatar que, na prá^
tica, triunfa o protedonísmó.
- Igualmente fio 6écufo^l9, a maiqr parte dos paí-
sès europeus desenvolve uma política "de colonização
exagerada, ainda que Adam Smith, seguido por todos.os í
outros econopiiàtas clássicos, tenhàlongarpénte denun­
ciado a ilusão cdlonial de um ponto de vista econômi­
co . “Quanto aos inconvenientes resultantes da pqáse das
colônias”,'escrevia Sniith, “cada nação os reserva plena-
mente para si; quanto às vantagens, que são frutos do;
seu coniércio, é obrigada a partilhá-las com -diversas ou­
tras nações” (cf. capítulo iy>. A França; a^AlefWanha e a
Inglaterra se lançam, porém, numa custosa competição--
para paftilhar q coptroje da ÁfriçaJ --J < J
Em matéria de política interior, 6 libèraiismo pa­
■tv
rece também ter sido/ esquecido. O papel econômico é

•v. /
242, mr

''sim.^üí&£*. ■’
m

capitalismo, spcfàfiámo e ídeoldgia econômica:

' -gociai dò Esta^to cresce eroouase todo» qs lugafes,, prin-


çipalmenfe na Erança e nà Alemanha. Trata-se muítod
' mais-de fà irç alter que de laisserfaire. A'démãndapèla
presença dq Estaco torna-sé uma^das reivindicações es­
senciais do moVknentò pperário qüe'ttão vê outro çiéib
parai m^Ihoiafsaya condição.1 Paraiqlatnente,:Q Estado pe , >
" desenvolve’ Seguindo uma lógica^política própria. _ _
„ _> O princípio sacmssahtò da lívré-concorrênciã.náO j '
■’ resiste-à form açãodè ,trüstes efcartéfs, poderosos. .Os
' acordos e, os monopólios dominam o mercado. No sé-
culo 1-9, somente a classe trabalhadora está submetida
- às eventualidades e flutuações d o mercadofaliás dístor-
. 1eido em seu prejuízo pela manutenção de um -grandé \
, exército industrial dé rdsery^, A utopia da- sotiedafãe.tjè
mercado foi apenas o instrümento intpléctual qUe-pèrt ^
mitiu: romper aSregulamqntações qüe entravavam
..v
, ‘ constituição, de uma classe trabalhadora diáponfvel pafã;
os capitalistas fcf. por.ebtemplo, abolição etri 1834 da< lá -
Speenhamland na Grã-Bretanha). ' - 1 . . ’
Nò^sétulp 19, nãfl i d a capitalismo . liberaL que
~ triunfa, mas átri o capitalismo selvagem. As “idéjas’1 li-
1 beraissão em todo§os lugares canhbneadas pela classe
1 dominante, quando não as, pode utilizaf a ^eu proveito.
A eflçâciá prãtíÇa das teorias liberais se limitou à aboli-^-
• cão* da lei do Speenhamland que garantia desde çte
17S?5 um íipo dq rertda mínima a todo indivíduo,
tória de Cóbden, à testa da ànti-Com^Law^leaeué. pará*
abolir em 1846 as bárráras adu^hèirãs?aos cé)jeais. No-
tadaménte a esta última ação sé referirão os economis­
tas liberais, ao lpngo do século 19, que continuam a te r '
espéráiiç^^a' Bas- \
tiat não cessará de se apegar a este exemplo cqrnó um
vprdadeiro mito, alimentando a ilusão de que bastaria

1. u nè noíivetle cultüre polltique. ch. II: “Naissarice


d une «riàire politiqüè: le social-étatisihe!;.
- V ' , ‘
v v' ' - • ' . -• f-.
uma ação de propaganda pãm^diásipar 'as 3fréyas dos
^ preconceitos e á^ n ^ erf;^ lyzesda rá-< , -
j ' 'zãpfè «tía éiêaíáa. E n fre a i, p®lí- - ~
tká e ó mundo da sociedade capitalista permanecerão ,
:gfeji%QÍa^binBfe^^jqfi3y^pí^ò«ãSape; -
vista exSdusivamehtè' biteío © píático,vnâb jsç' poderã en­
contrar, até Hoje,1brúà grande t ujilidade,’das teoriaS da >\

por que esteé poucos efeitoá pníticòs das teoriasjiberais ■


sbbref a ÇjConoiúia Wpitãhfeta ccirictejta,. qúgndo a ecorto* 1
míát poíftica' çlássjca s é apresenta Como cifnCia dé ajqi, '
myndo novo? A Ire^postaajéstâ. qutótão édeejsivái de y
' uma só vez, a chave de uma melhor .çompreensãp dó
que, ê o càpitalismd e òtneio dç esclarecer Ôestatutó da
economia políticacjássica, t - , ,,
1 ^.expressâó^sistem â” capitalista (em freqüente-
: mente induzidoabm errb.j O capitalismo, não é a rça» ,
>lizapào de umá"utòpja, ou cfe um plano dé sociedade.'
Não ê o resukâdo de úma epnstrüÇào raéiònal ,fep re ­
meditada: Ó tapitalisnfo é a ri^ lta n ^ d ep ^ tica s «por . (
' nõm ícas e sociais concretas. Designã uma forma de
✓ sociedade nà qualyutea classe social, bs capitalistas,
controla a econotriia^e as fornias de organização social
que -interfere^} pa vida eéonÔhuçai Esta Jdefinição
pode parecer banal, e efétivamente é. Co^ntúdo, per-
‘ rhite suprimirum equívoco permanente: o que cõhsis-,
i te eln assemelhar o capitalismo a üma icléologia (no
sentido de rgprésentaçãò do mundo): Se1ã classe ca­
pitalista pode mascarar e justificar a sua dominação*
recorrendo ,a uma,. Ideologia (no sentido' de' discurso
’ justificador e mistifteadpr), obedece única e .exclusiya-
mente â uma^règra: a do seu jriteresseJPorUsto, pode
ser sucessivamente livre-cambista e protecionista, es-
i tatistâ e aAtiestatista. Nesse sentido, a utòpla Jiberal da
sociedade de'm ercado é completámenlb entranha, ao’*’"
vieapM foao- -t)'..qapMalismo --s6 .'ge^yé':...<lyj8» utopias o
4

çapitaUsisto, soçtsüsino e ideologia econômica


4*>

.- que lhe convinha praticamente (a afirmação, fia pro-,


^ priedãde priyada fcomo fundamçmo da sociedade, por
- Cxempló); rfiabteve,. neste sentido; uma delação pura­
mente instmcSentàlt com o liberalismo. Combate o'Es- '
tádo qúando este escapa1do sefi cònírole, rhas o tefbr-
ça quando é unuEstado de classe ã serviçO de seuslii-
terésses e que tem entào eorflo função, segundo A for-1 /
mui# surpreendente de A^am Spiith, “permitb aos ri- ;
_ cos .dorm ir tranqüilamentç pos seus lqjtos?.. Não há ,
seútído algum, .portante, em .criticar o capitalismo ppr-
, que ele não se conforma fieimente aos princípios do
liberalismo econômico e não realiza o pfogramá da" 1
' utopia liberal. fA úriifca liberdade que reiVindica @ paia
1 o capital, Sendo indiferentemeHte liyre-capxbista >q>Ui‘' ■
. , protecionista de acordo com qual dos dois •fave^eça
,, estadibefdadè. Ele é, antes dé, tudo, um pm gníátism o^
d e cfoSse/Éistú.qüe toma os economi$taís ctáSsífcos>i$4- ’ -
. ' capazfes de apreendei a natureza do rjapitlàllísníon ta ^ "
mam por um sistema o .que é resultado' cie uma prátí- C
ca social. Sua$ veleidades.de transformação do capita-
ltsfno, com a perspectiva de, o conformarem,às suas
reprèsehtações liberais. dai econom ia; sâto, portanto,
' ' ; necessarianfente sem: èfeitq. Percebem, por exemplo,
- como um mal pu uma incoerência, què atribuem àig--
norârida da “ciência ècónjômtóa’’, ^desen^ohdmeintb -v
da intervençâo^ do Çstado e sâp incapazes de eotri-
preendê-la com o um produto necessário. Màfx será o
'/ 1pirlnq^ro á ramper a(&réptementê corrí estadlusâo da.,
economia política clássica. No seu Discurso sobre o Li­
vre-comércio <1848), mostra assim que de nada adian-
" ta opor o protecioriisnip: ab ;lh tr^ ô(àér(^ iK ^ ó pra-
/puficiar-se a fayof deste Tiltimo éj'sob m fl^ótiçgw di-
calmenfe dífçrente da de Bastiat, por exemplò: “Em
K geral, nos nossós.dias,”, escreve, “o sistema protetor é
, conservador,: e’nquanto o sistema da livre-com ício é
' deátruiflQr;" Dissolve as antigas nacionalidades e leva :.

24 5

tt. >
b b jf
. capítulo 9_
‘O

- ao extrémo o áftugónism ãeafre "a burguesia e o pró-'


' letaríado. Épxpma palavra, o (sistf ma da liberdade co-
, mercíal apressã a revolução social. Somepte Jppr seu‘ ,
i sentido revolucionário,- Senhores, voto a favor do ÎJ-' \
- " vre-cpipdrcjo* (Pl^iad^, t, lUp. 156). Mas; ao ipe&rno, .
M ‘ jeinfdo, .Mgrx fica prisioneiro de áua Concepção, de
ideologia, -btersístindo em tomar ;o .capitalismo. comQ
, realização daádeoiogíà liberal 4cf. capítulo preceden-, -
? te)f'Ass&h; ajais fa? que deslocar a iiusãoda ecQ-J !
nomia política dássica. Em v ei de pensar que o capi- . -
tàlisnro será a ‘realização da boa soeiedáde se cónfor-
mar-àq ;aos princípios liberais, considera que ele só
será reVolucioriáfio, ou seja, que’ levará áp socialismo
, no movimento dó süaS contradições sdh essa mesma j
copdlçào. O capitalismo sp completará seu “progra-
- „ ma'\ suã missa© histórica, se encam áf á utopia liberal. '
, É a,p artir dessa concepção que deÿs'àer inves­
tigada a origem de todas as críticas ao capitalismo
que cbrísistém parádoxaíménte em acusá-lo de nâo
* . ser fiel a st mesmo (se^do estatista ou, protecionista)
' e ser dèmasiadairíente fiel (o liberalismo, somente a
' liberdade do capital e o Capitalismo selvagem). Esta
aaibigüida^e é somente o produto da incqmpreènsão
da-diferença entré o capitalismo como "resultado de
, práticas sociais e o capHalisitio como sistemaí teófiço. i
De uma só vez, ahrítica..da economia política clássi- .
ca e a crítica da sociedade capitalista são distorcidas;
A economia gp)$çá.‘# >denunciada pelo quq ..«pç»'% a
saber, o simples refleto da ideologia burguesa h a or­
■//■"'■/ív.
dem da teoria économies. O capitalism e é, apreendi- J:
do pelo que não é: a, colocaçãõ em prática dá econo-
■mia política fclássica. Retomemos o exemplo do pro­
tecionismo. Só se pode explicá-lo. e çntender sua per-i y
manência ao 1‘o ngo de todo o séculp 19 com a dupla
condiçãp d e compreender o capjtalismb-eómo resul­
tante de práticas sociais e Como prova db Cáráter utó^

246.
■i i1'fiir
A y» / t ,

capitaüsmç», sqtítalismQ eideoiogia econômica -- ’


ti „ ^ T ‘ X
pico da jdeojogia liberal. Com efeito, o protecionismo
é jd duplo- píÓduto dos interesses da classe capitalista >■
(os manuÊatdteifoS dè Manchester;- rejígrupádós em
torno de Çobdem eram favoráveis à abolição, dos di*
reitos.de impqftáção dos cereais porqüeiáto-lhes per-,
BÜtiria baixar os saiários dqs^trabalhadores} e da,con­
figuração daa relações de forças entre as, classes éo~
ciais. f)este p$nto de vista, o protecionismo do sécu­
lo 1J), é èm grande parte a signo da força política dos
meiqs camponeses.' Ferry disse significativaniente,
quando efa presidente da comissãô "das ad.uanas nó
Senâdo, que “o movimento protecionista átüal tem
suas raízes» nã dem ocracia t}ufe cultiva a vinhía; o tri->-
gq. Por isto foi bem sucedido”.'* Por um «outrq lado, õ
protecionismo é a ipanifestação concreta da pe^siã-
t$ncia e da força das identidades .políticas naciónkis
dás qu.ais a utopia Ííbeíái acreditou poder 6Ô, fibèitar
ao fazer do vínculo econômico a relação suflej^rtte
entre os homens. Assim, o sucesso do proteciònismp
é s tá, de uma-só vez, na crítica cpnçreta do ímpensa-'
dó político è da ingenuidade sóciplógica da efconomia
política clássica e na manifestação da natureza rçal dò
capitalismo compreendido como resultante de práti­
cas sociais. O liberalismo é, portanto, diiplarríente ‘
inencontrável. Seu fracasso histórico é o avesso da
sua ilusão.jtéô'ric^.:i^^fl^Q-rpdut2Ípo somente à.receita
dq “lateser faire* i^issqrp^sfdt^, teria produzido^
efeitos concretos. A constatação deste fracasso é a
i causa, déliúpjerósas intefrõg^çõe^: sobre o estatuto
propriamente, dito da-economia política ão longo dq
século 19- '

j 2 . Apud MÀYEUR, J.-M. Les Debuts d e la IUe Republique. Pa-


' ris: Seuil, 1973; p. 2Q5. ,/ . >

247
t
^ ‘ tf 1 V , - r , '
r '
u ' , f* .• /
> -, ‘ jro, capítulo &c
í~ V '
'- ^ _A“-
ismo è
; f; d e s je h ç a n ta m e ^ ^ ^ •<
' política > . ^ ,‘
Levar em cohjta a distância entre a sociedade
ctíncrgta e ò discurso da economia política clássica faz
■■k ‘\. i T / iV tH r » ís i? im l/ 4 n r 4 ja n - iN / i iiâ n f A r .'. « í If r ? « * * » .' - ‘t iv '» * !» ;

tftaior paiteppé teóricossãonoVUmerité levados a co­


locar a Questão do estatàto é da definiçâcf.da economia
poética. Estas interrogações se dèsen volvem em três
direções: * * s ' ‘ '
' -* O retorno ao projeto, político: a economia a '
\ÿ serviço da política.(List), 1
- A económia política reduzida a um simples
meio 'para assegurar’ o bem-estar geral na sociedade
(Sísmondi). .. ,
->À econi^nia’púfà coíbo, teoria cieritífíca da tro-
1 ca (Waíras). - -’
1, List publica, em 1841, seu Sistema Nacivteaíde} ■
Economia Fàkttpá depois “dé&ter.sidó danim ador de
uma “‘assbciaçàp geral .dbs iridustrlais e dòínereiantes
alemães”, miliÇapdp pèlâ união aduahèira interior da
Alerrtanha. Terido realizado este objetivo, em 1834, pelo
Zollv^rein, a questão rapld^p^fe':'p^pÇa<a/ol“ÿ de s a - .
ber que atitude adotar, face ao exterior em matéria adua- - .
: heira. List se torna então um ardente defensor do prote­
cionismo, .demonstrando que a instauração do livre-
câmbio provocaria a submissão da Alemanha à toda-po-
derpsa‘ ecpnorríia ipjgíesar^Ías sua tese não pode sitrir ; " :4
<í plesraenté ser compreendida do pbnto de vista da defe­
sa dos interesses dos industriais .alemães. Ele se apoia
, iji^ialmente sobre uma crítica extremamente precisa da f
1econpiriíá põiítica de Siriith, da qual contesta seus fum..
1 ■ '/ ' 4 ‘ t>, /

\ Si-S''
248

, cV -
„ U
» ,H \
; capitalismo, socialismo e ideologia econômica '
' 1 t' « ’ i - v J- » ,
damentos; Censura potadamenfe sua “hipótese çosmo- -
Vpotòa” que d faz esquecer qué, entre o indivíduo e á hu-^.,
manidade, a nação permaneee cóqio espaÇo decisivo de»
identidade política e -social, list compreende a nação do C.
ponto de Vista político e não mais sómentécle Um pon­
to da Vista social como- Smith (paçâd - sociedade civil)'! :
-Reencontra assim as concepçôe’s n\erCantilistas3 que não. '
rseparatn. riqueza econômica e pqder polítièp. £>; prote­
cionismo toma-se,'p o rta n t paia ele, uni instrumento
de gestâo política num universo em cujô interior òs- ih-
teresses das”nações são vistos como -divergentes (çladõ V
que-, em termos de pode), as'relações políticas interna-;'
cionais lpyam necessariamente uma soma de'resultado
zero) Vòita-se globalmente para, a aquisição ess^ndal
da revolução de Smith, que consistiu em considerar a .
economia com o realização e superação da<política» net
tadamente ão nível internacional.'A economia política
muda>. portanto, de estatuto teórico'. List,defere k-écócÈpAp'
mia política ou nacional como “a que, tomando a idéia í
de nacionalidade como pontò de paçtida, ensina como
uma dadà nüçátò, - r i t á - ; e j j a re-
(lação às' circunstâncias que lhes são particulares» pode
conservar e melhorar#sèu estado. ecÔnômicp'X^s/âmc
nationaf d ’ê a ^ m U ^ 227). .A economia po- i
dítica é compreendida com o.poética econômica. Não é
, uma çiência histórica» mas- Uma arte aplicada. list mos- .
tra, por exenípÍb, -coínõ não ^ possívèl conceber as tari-
fas aduaneiras como aplicação de uma teoria puramen­
te ‘‘econômica”. Elas são necessariamente, a seus olhós,
resültantes^dé um^CompromisSo entre os intéressés
tèríofes , jkôpjloS ’das nações ,e os ; intéresses interiores
•das diferentes clashes sociais (mostra leingamente como

3. Aliás* é intérèssaWeiassinalar as’numerosas rêedições de au­


tores mercant^istàs Clássicos na Alemanha do segunda meta­
de do séeílto, 19. ' ' . • '
capítülç» 9

\as considerações çleitôrajs ,deaempenhám um papel de-


>term inate na, fijtaçâo dapy tarífaS). A, originalidade.dp
List vem do fato<de qçre eíe rompe defíni^vaqiéntpxqm
'toda yisào purameqtê teótíca da vida ecopômíçá. O pró-;
tecidnisíno é prudèptemeflte apresêntádo de-toma pers­
pectiva “da educação industrial, da nação”. Não rejeita o
livré-jcâmbkx rior seu princípio, dèlxando mesmó. enten,-
der inumpráveís vezes qüe Se trat# sohientede' dar-lhé
Vondiçõe$|avôráveis.. Não éspecubikíbre^possibilida-!
des de realização de um' mundo no qual o equilíbrio das
relações de força favoreceria o definhamento dos obje­
tivos pqlfticós da economia. Coloca-se assim num terré-
nó diferênte do dç $ntíjh, dequem .julga as teorias mais
utópiças què falsas, na medida' epi que correspondem a
uma representação do.muddo é da sociedade que hãò
teríi relação alguma corri á realidade p&sente. .
2, Como List, Sásmopdi consta t a q u e a economia ,
política’clássica .constrói um universo que não corres-ó
pónde à :realidade. Seus Novôs Princípios de Ecotiomia
Política (1819); constituent! a priraeira críticã Soclàldas
consequênci^da industrialização. .Çpnsjata que p.qrun-
dodla economia é o, campo, dos confrontos e das divi:
sões entre os hpmens; e não da harmonia. É testemunha
do capitalismo nascente e “das crises eompletamente
inesperadas (que) só sucederam rip munda comercial”.
Vê os sofrimentos qvie acompanham a industrialização,
os ricos tornandase mais ricos e os pobres mais pobres,
“Ná'presençjr deãsas èonwtsões ää riquezd”, escreverá, ?
“acreditei qúe devia rèver meus raciocínios e os compa­
rar com os fatos” ÍNouveàux Príncipes, p / 51, sublinha­
do por mim). O procedimento de Sismondi é particular-
mçnte ihteressante héstè f>pntp^ Nãp-qppsjder^ festes
“efeitos perversos” da industrialização como .simples in­
frações da realidade face à economia pólítiça clássica.
Çomprepude, áo cpptrário, esses efeítòs inesperados
como um apelo para pôr radicalmènte exir questão os
1'*w:
c^Htalismo, satíáíism o e ideologia êccmômica
,Xx

“fundamentos .mçsmos da economia cpra®> disciplin^. A-t

cOmooumsabef Separado dosoútjos. Para çje, traiVse


íáaji ^ ’ "' ’
cip o
1vo da>ecoino)f|Eiia pélítiea, fl^as orneio dé qye ela dispõe
' para ,oferecer felicidade a todos?., Byret' «seu discípulo,
diagnostica fio mesmo séhtido; “ftxjo q màl aclvém d é
qüe se fe^ de, umà ci^ricia m oral uma ciência matemáti­
ca e, sobretudo; de que se separoy violentamente, coi-
, sas íjue d^viam permánecer' uríídas”/ A ecoriòmiapolíti-
cal deve,; poirtanti>; ,ser cpnsiderada coibo uma ciência
Soeíal, com o a da fericidáde do homenv Deste p ontodé {
Vista, Sismõndi se considera em completa krptüra com
os economistas clássiços.' Falando dos prim^pios^d4f
Ecqnomia Política e do imposto de Ricardo, pòta eliifyr,
mentéi uSentiinb»'<rattb>'vqi)é'míajéhãmos Hum otXtOf.v&f-
reno, que pão citaríamos esta obra, nem pára no? áboíar
noisètíS cálculos, nem para ’combatê-los, se suaVélebri-
dade nãQ nos obrigasse a isto’t(p .92> . Sisufiondi denUpr-
' cia a.ditadura da abstração dos clássicos; vê as desor-
. dens da industrialização como um tipo dé rqvápehoé W
tosa da realidade contra suas simplificações e,sóbretu- v
‘ dlo,' suá viàâo estreitai Aljás, é interessante notar à esteT
- respeito quç Sismondi poupa Smith de$Sa çrítfõa. Sjs-
monçli Vê nele dm “gênio criador”. Aprecia-o porque A '
Riqueza dos Nações, “obra imortal”, se apresenta, de
acordo com ele, comp o resultado d e um estudo fitpsó1
fico do gênero humano, esclarecido pelá análise das re­
voluções econômicas dòs -tempos passados. 'tEsforÇpu-
se”, escreve, “paja examinar cada fato no estado social
a que pertepeia, e jamais perdeu de vista? as drcúnstârt-
cias diversas ãs quais estava ligado, os resultados diVer-
sos pelgs quais pbdk influir sobre a felicidade, nacional”
íp. 91). Censura os discípulos de Smith qüé sé lançam.
c^>ít«lo &

ii3 abstração, etfimandd q u e “á dêrtda íias suds itiãos é


iaôiespeciilativa^quë^jïà^cë.se destâcár dfe qualqpef
prática ”i A palâvrâ derordeffl de Sismondfd, portanto, o
retorpo a ç çq p crçta ÿ>g$j5a-'pe^spec.^a,' estima nècçsssáji
figque’Ô govçqúj) injewçnha pa ^W>ftd^;-í>aj^asàegò- ■
raf Q. beiínektaír ^ociál,, pondo èm causa o príncípio/ do .
laisser fa ire -e dó laisser passer. Deste, ponto-.de vista,

ciência,do governo qye devem tçr como,objetivo a felt*


i cidade dos hqmens reynido^em sociedade. .Retorna ,as~
' siqi a economia política na sua etimologia (administra­
ção d a riqueza nacional), voltando, cómò List,' a Uma
concfepção política da economia embora num séntido
*muUq diferénte deva qm,çoqtaípdos os meíqbros d^ so-
dédgde e nàó a sociedade em geraj): “encham os o go­
verno”, è^creve, “còmo devendo set o protetor do fraco
contra d forte, O défeqsor daquele nâo podè se defen­
der-por s? (mesmo e o representante do ihterèsse perdia^
,, nente, rpas calmo, de todos, contra o. interesse çeçnporá-
rio, masjàpaixonado, de cada um” (p. 90>. Sismondi se.
. define ãssim em çompleta oppsição com a ^utópia libe­
ral de uma extinção da política, no quadro de uma har­
monia natural dosdhterésses. ‘
, ■ 3> Num,, sentido completamente diferente Wakas
procura dltrapassaroâ limites e as absttóções da economia -íí.1
política clássica. Seu ponto de partida está, porém, próxi­
mo do de Sismondi oti mesmo de List. Como eles,, come-
, çou por se interrogar sobre ó estatuto, e o campo da eco-v
nomia pplíti£a. Adas, ao fim, nãó chega nem ao nacionalis*,
mo pragmático de List, nem ao' socialismo político de Sis­
mondi, Quer permanecer inteiramenteno domínio cientí­
fico. A pròpósito, -distingue na sqa investigação do Ideal So­
cial (1868) três partes da economia e da ciênçiasodal: -
- O estudo das leis naturais dó valor1de troca e
da troca: economiapoKtica p um . ( ’ s»

v x Y
w,

'.viíÉÁ.if'1,
^ ' > Ÿ' " \. ** ,
capitalismo, socialismo « ideologia econônúc^ / .

'^ -fa 1 \ x^ ^ ^ % ‘
- ^rteofta. da produção econômica da riqueza so-.\
c£al, ou da organização da. indúsjpá pà divisãodo puba-
lho: econoniia.pplpica aplicada. , ■ v
, » - O estudo das melhorescondições da proprieda­
de è do imposto, où teoria cia repartição dasriquezag: à
eçQnòmia social., ‘ \ \ \ <
- -Walras Se contentará Voluntariamente em
fundar a tepfia da' économat,política pura.4 Assim, quçf
fazer uma obra estritamente científica,’ recusando- a prio­
ri confundi-la com â- arte (ecphoinia política aplicádâ)
ou ’cpni a rmoral (economia so cia l Assim, ^Walras' rès-,
ponde à abstração generalizada-e involuntária^ dps clás­
sicos pelo desenvolvimento de uma abstração específi­
ca è concebida conto tál. A economia pura é concèbida ;
còmo limiíada nõ--seü campo (a troca sob nnt regta*è.|ïk
, pptêtrco-de livre,concorrência absoluta) e p a 'sua- fhiaí^)
dade (a teoria matemática de Um tal tipo de troba).
ta í pensa g' paptk de um sujelto abstiato/o
namjcus, e não pretende confundi-ló eom o-homenv
concreto; não pretende que esta ciência seja-fodà ar eco­
nomia pójítieav Mas reivthdica qüe $e eonsidereia^ccip;
nomia pura corno qualquer outra ciêricia físico-mafepíS-
•tíca e que se aceite que ela possa definir típós 4ffe|&
•que seryirão de base pará a construção a priori de Um
andaime de teoremas e demonstrações À perguntai “c s -
sás verdades puras são de uma1aplicação flfeqüento^, 1
Walras; responde: “A rigor, seria direito do «sábio fazer á
ciência pela ciência, como é direito do geômetra (e o
utiliza todos osklias> estüdàrás pròpriedádeS m aissin -.
guiares da figura mais bizarra; se são curiosas. Mas se
verá”, acrescenta, “que essas verdades de economia po­
lítica pura fornecerão a solução para os mais importam

• -X-, ' ' . Î-. I . \


4. Se berp-que elç não se desinteressa pelo resto, pois seu pri-
- me iro livrp, publicado em 1865, é consagrado às A ssockiçòes
popu larestffrcm stíthè; d èp rod u p ão e dè.crêãitó. " } ç\
s

^ ‘Ca ,
?•' capítulo 9.

, * iv qí" a"" - i* ' ',lj/i\-,'l' s *>■ , -f- ^ fí*


, L tes probleftias/os maísdehajfidas e menos esclarecidos: -
_ de econòtnia política âpíicád31 U jde eçqnpínia sodaf’
' (Slem fat$d’êcoti€fàiepc>làufuepur4, p. sà^âssitn, Vai- *
) fai^re|vlndiçà sua filiação â toda/ífadiçâdfurtdada |ta se -“ i >
>- H f, -'pãraçàoda eronomiã .é dá md?|l- Ciltifci» pumerosaf>vç-
zesXo espiritualisrno*qtte substituí em todos os lugares o >
d|reito ao ipteresseí violentando ^ princípio da-verda^ej i
* V
■' ' difidtíficía etn ecdqom iapur^e anuíandop princípio da ‘
- justiça etn eçonomía social, sendo substituído por. uma' •*
> prática filantrópica. DeclafW e contrario'a um procedi-
^ . mefito materialista': du® pracurafrizer o inteféss© pfevar " •.’
. / ’
- léçer contra o direito (cí..Recherche de iHjdéal social, p.
i - 58-9). .AJfásj desta perspectiva defénderá/eonstantemén- •
té a soluç^ò ^nutyalísta è. cooperativa' e se cqnsiderará, 1
durante toda a ,ktà vidá, corno socialista.-Pateie,tendo
; opíhiões políticas intejràtneníe diferenfesTdaSsuás' lcotv*
tinuará sua obfa, pdicailzando a separaçãoentre econp-
rbía e mofai. Assim,'dá a melhor definição da econqmia ,
pura: “Oomò á mecânica racional tOnsidefd pontos frtá-
v teriais, a eçonom# pura* considera o hotno oeçonomi-
çtjís., Ê um. ser,abstrato,, sem .paixões nem sentimentos, ^
procurando em íodas >as coisas, o máximo de, prazer, , ,
- ocupando-se somente em transfòrmár os íaens econômi-
'co s urts em .outros. Há uma mecânica dõ ponto; há uina
. i economia: pum., do indivíduo” (tMarxistm éi ÊeQnomiè
' pure, p» 1Q7ÍÍ, t ■ , >
, A econqmia política se define para Walras por
, uma radicalrewyncia áo universal. Reduz seu campo e:
limita seu objeto a ponto de ter muito poucas relações '
cpm a ecónqmia políHea^dássicá , Este acessó à teoria -
pura e à modéstia soa o dobradas grandes ambições do
século 18.r ' 'v' 4 . ’ ' f ' ■ ‘
O séculq :19 se tfàduz assim por.um desencanta-.
mento generalizado da economia política, sela econo^
Vi mia pufa, política econômica ou simples ramo da ciên-/
cia do governo, ela deixa de se apresentar como ciên-

m
254
/
V i
v f n - i ■, < 1■- \-
capitalismo, sodafesmo e ideologia ecòhômica A

' cia global e unificada do mundo moderno- List, Sismon- ,


, dí,é WalraSj. ttabàjhafldo èm diréçõçs ipJtiitp diferentes* •
v Çdbtribuem pàra remetej; a economia a um fegaf subor-
dinacjo. O merçado não é. mais ò: cQncejtoxentral a p ar-
- .Òf dQ qual o conjunto das-relações sociais é 'apreendi-’
- cio: é àpenas um conceito teóricô a cortstnjif ou um me^
'capigmo. econômico a corrigir. .Reste ponto desvista, há
, ~uihà di|pla rupáiOv na história da economia política^ A
primeira srupturipK) séculp 18, traduz a 'passagem da
aritmética política- para â'ciência dâ riqueza, sèhdò a,
economia compreendida Comh^rettjização da política e
-da filosofia. A seguhda mptStu^»o século 19; traduz a
/ vontade desuperar a diferença entre a realidade, e. a-fe-r
presentaçáolihèral.írenunciandpa^ ambições A,-,-

' mia ppíítica clássica!
- A - V .- ' V. ^ v V / , ' . ' . A • - ' - li s .
Essa$
f ■■■■;:
rupturas 'sào
) \ { J,
decisivas e,Sò- -. ‘\ f N - - V .
bre elas é preciso insistir cqntra todas ás perspectivai re-
construtivas qúe imaginam o progresso contínuo e sehi ■ ’ '
- . choqué de Utó sabei úinico qpe'^caminharia leqtatnèíitev i i
- ■ da ignorância a verdade. A economia- nâo é, um edifício ‘
ao qual cadakuqí teria trazido sua pequena ou grande
contribuição désde o século 16, <pu áté mesmo desde
Aristóteles; é, ahres dç tudo, o lugar de uma continuam- ,
teçrogação solprè a natureza mesma do seu'objeto, e os
limites do seu campo. •
Precisam oságoraesclárêcer tima újtima,questâQ.
5 O que. levou á teoria econômica a ser marcádá pefe séfe,
da modéstia e da consciência dos seus limites nq mo- ,
mento mesmo êm 'que a soçiedade, se torriou1inteira-
mente dominada pelas ativjdaçles econômicas? Ou ain-
da, por que, a economia política clássica apâreceü nqm a
mundo que ^áò^suspeitava ainda o desenvolvimento do
capitalismo^ reduziu.seu campo e suas ambições, rium ■
século em qu^ ó capitalismo econômico-triunfa? Minha •»
hipótese é a seguinte: a ideologia econômica*qqe a eco-/
nomia clássica do século 18 exprime não ocorre mais,
, no século' 1^, ha própria ciência econômica, por todas

■■■- ‘AA '


,i, >'f’ >'
256
‘/'ife«' *

«ti-A
as razoes pub èvócamqs jS^págitoás precedentes; eîa sa
transfère globalmént^parp *o eeifnpQpo0iço.

o èfeito politico da iáfe.old^a


eeOnácnica ■: : .
- - > . -j . ; 1 r r ., x o,
< Lembremos aptes de tudo as grandes ca^cterístl-,
ca^ dá ideplogia ecònòmica, taí como k definimos até o
presente:•• A| r ,' ' v ’ "y •’
- Redução do cQmércio ap mprcado comp única
fornia “natural’^ de relação econômica. Ocultação dav
ecônbmía do dom e âa ètbnoniia administrada) k>
i: ~ ' J ■ •r . -1 T‘ * , % „’■•* ' . ,( }, 1
“ ' ->A troca, necessariamente igualitãnaí é considera*.
da como o arquétipo de todas as outra? relações sociais:
- A economia ïeâliza á filosofia è , a ;pol^ÍCã. A
harmonia natural dos ihterfesses basta parà .regular' a
marcha do mundo; a^anediação política entre os homens
é cdnsiderada'.como inútil,jíté mesmo noéiy^. A socie­
dade çívíl, concebida como um méfcado Auido, áê éà-
tende á todos bs ' hbftietis é permite superar as divisões
de país e de ràça: ^ t -> ■
', Êssã ipeologia econômica aparece na economia
polípca inglesa do século ÍSft prindpaíméhie com Adam
Smith. A sociedade industrial do séciilo 19 modela um
rftundo totalmente pposto a essa representação. É çvi-.
dente que o cápitelismo não realiza a utopiá liberal. Será
preciso toda á fé cega de um Bastíat nas virtudes de um
“puro- capitalismo que seriá identificável Com o “verda­
deiro^ liberalismo para que sp continue a pensar que a
economia "do século 19 pode satjsfazçr õ programa da
‘ eçppomia política clássica. Bastiat escreverá ^ignificati-
vampnte que só há dois defensivos contra .o comunis-
,mô: á ditpÿâo'dos conhecimentos ecóhôrpicbs no seio
da massa e a perfeita equidade das leis emanadas da
burguesia! Chegará mesmo a dizer nas suaá ijarmonias
'■capitalismo, socialismo e ideologia econômica'

' Èçonômicqs: “Comunistas, Sonhai com a comunidade, E


a tendes. À'brdem social' tqrria todas às 'utilidadés co­
muns, desde que a troca- dos valores apropriados séfa li­
vre” (CEuvrçs, p. 140), Esta frase de Bastfat presta-se1evi-
deritemente risq. Vai ent^étantomaís longe qqe uma
Simples bòutade. Com efeito, manifesta uma realidade
è&sential: -enttte o século 18 ,e p 19,' a utopia libéral, é i
transferida do'tanífiò econômico p aràó campo
co .5jïasti'àt é um dos raros econorrystas que segue pép-
sqndo o papel da ecopomia na sociçdade, nos -7termt>s ■
de Adam Smíth, supondo que nela jnesma estaria a rea­
lização da harmonia social Por isso, giobàknente. a uto­
pia da eoonotiiía política mglesá parede teridesapáreôi- V
-, do no século 19, degradando-se numa ideologia primá­
ria veiçulada péla burgueslt ascendente quando a maior
'parte dosecònómtétas desertava o cámpo da*economia
do séculò 18. Nàò é portanto copv Ricardo, Sismdndi ôU >
; Walras que se deve procurar a verdadeira herança de ,
Aparai Smith. Esta'ilusão-só pode ser dadá peia redução,
de Smith a um- teórico da economia, no sentido novo
quç toma esta disciplina no século 19; Todos os econo­
mistas do século 19 enganaram-se assim nas suas leitü-
.ras de Smith, Abordando á Riquezctrâas Nações com'
suás próprias prqocupações, eles a reduziram a um tra- ;
tado científico,sobrç a, teoria do valplr e da troca.
como incessantemente sublinhamos, a v<
ficação desta obra é filosófica, sociblógiçâe fcj
; Verdadeiros herdeiròs dè Smitte
Fourier, Bak\mineK'Saihí.-S^ppft,, Môrx..,© p
grandes temas’ da idèologia eéonômlcfc n
reencontrado nastdéias
quais foragi trafispòstpS e : O in--

co (representação da sociedade como mercado) e não como


liberalismo positivo (direitos d o homem).
/■ capítuloQ
AA
ternácionalismb dos prochitores, o cimento dó; interesse, ‘mj.
de classe, apologia do trabalho da iudtispia', o defi­
nhamento dq pstado p a passagem cto gòyenW dois ho­
mens para aadministração das coisas: tqdo$ estes temas
spciaíistas nada toais sãq que o decalque esprqlongá-^
mepto., das idéias que marcaram época na economia in­
glesa, Odiberalismo,' como ideologia ecopômièa dèsen-,
volvida, é impensável na sociedade capitalista çIq sécu­
lo 19. Só pode existir pa medida pm que se tra,duz nuina
oütfa ideologia, anunciando um «lundó futuro^ ainda
não- realizadq. Com efeitp,' por ser uma utopia* a ideo­
logia econômica do século 18 pôde se desenvolver: e só
pode ser pensada num contexto que ,não sofra a pres-:
sãq do capitalismo e da revolução industrial. A utopia só
existe "ante? dè qualquer possibilidade de ’invalidação’
históficá. € :jüstamente por ser o primeiro a pressentir .a
natureza real desse mundo novo, na sua diferença'-com
a utopia econômica, que 1legei pode criticai- a econo­
mia política inglesa e sé esforçar para pensar em termos
novos a realização,do universal, A útopia íiperal conti-.
nua, pojtahto, ?eu catoinhono ^êçulò -ͧ; mas é força­
da a tomar unja nova feição para reencontrar toda sqa
amplitude. Assim, Pareto tem razão ao colocar sobre os
seus pés a utopia ,liberal Céconômica), e a ytopia socia­
lista (política), constatandò aliás.que âprimeira está a tal
ponto degradgd3 no século 19 que deve reduzir sua am­
bição a fim de atingir objetivos bem mais modestos (a
rèalfzãçãó de ial tratado de comércio, a ábrogaçãp de tal-
lei, etc.), “À utopia' liberal”, nota, ‘prometia aos seus
cfèntésum paraíso:terrestre, tãl Gòmó ai ütppiaLsòclaiis-
ta, mas errava ao çplocá-los' em regiões-muito próximas
e acessíveis. Tais promessas só inflamam" os homens
quando as suas realizações estão tão distantes que não
podem ser Verificadas pçla experiência? (JçsSystèmes so-
cialistes, t. II,; p. ó5). Nçète sentido, o sodajisrtio dp sé­
culo 19 permátiécepnsioneifó do liberalismo. É esta áu-

258 v

'á .
-u-
v ;. r , - ‘ '
capitalismo, sociálismo e ideologia econômica

sêàd áde uífia verdadeira ctfticaxdo, séculp 3$ que cons­


titui'assim qimpensado radicalismo do Spcialisftiq do
século 19- Incensado largaínente devido a uma oculta­
ção da r e la to entre as idéias revolucionárias de 1789 e
a ideologia econômica. São’Sieyès, Paine ê Robespierre, -
para citar apenas alguns nomes, que entregaram', um"
certificado'de revolução à ideologia econômica, na me­
dida em que ela. parecia manifestar, com a,ascensãp do\
íníercado, a'mais visívçl ’ruptura coqi p que pén:Wâm
, sfeif o antigo regifae. Éverdadç que a RqvbluçãO l;)rance-
;sá apresenta a pàrticularidade ;de traduzir! eni fatos uma,,
mutação cultural qué se opefava desdp mais dé quatro-
séculos, precedendo em pouco à fnutaçâo econômica-«
provocada pela revolução' industrial^ Rxtraòrdínâría
ccüncidência Wystórica- dç um atraso eXcessíyo, “e de -um
avançp rtirtlto fraco que permite compreender ou íÜéâ^"
culpar a lefttò tnuito estreita da náodernidãde
sécu lo 19» parecendo qde suas diferéntes etapás se* re­
sumem num momento únkõ.
Este ponto de vista ç evidentemente o da£ teóri­
cos dp socialismo.' O movimento operário,'como movi-
i mento social, aó contrário,- reclama para si eSponíànea-
qiente o libefáfismo' positivo para conquista/ os direitos
eliótadámente o sufrágio universal. Mas dSodatjsmò^õ/-
reivindica taticamente esse liberalismo- positivo,ysó o
concebe eomò um momento históndò e transitório do
, processo, de jealização de uma sociedade cujá finalida­
de ainda é superar a esfera política. Lçhirt explica isto "
darainenté em^O Estado e a'Revolução. Esta distinçãq ç
sufiçientemeftte conhecida para-qub nãò seja necessário ;
determo-nos,nela.
r GÍobalmente, é .portanto para á esfera política qué
1 são transferidos os ideaiá que o século 18 colocou na es­
fera económica. Á 'utopia clã extinção do político encon­
tra assim sua fófcinulação dèfmiíiva.-/Uiás, para os autores
capítula 9

- de direita, este deslocamento é igualmente sensível. Mas


não .Sê Opera na fonna de utopia: serve simplesmente de
suporte, no próprio interior dk esfera política, para um
cotribate contra as idéias democráticas fundacjãs sóbre os,
direitos, do-homem. Se dificilmente a burgüesia pode pre­
tender,tèr realizado à harmonia universal, proçura ao me­
nos, retomar por^ua conta Aidéia dé uma extinção da po­
lítica e dos conflitos, hic et nunc. Quer fazer acréditar na
idéia de que a-democracia é üm estado social, já realiza­
do, mesrira que imperfeitamerijc, c quê nãcré um movi­
mento de luta pelos direitos. Quando Guizot escreve Da
Democracia na França (1849), começa'afirmando que “o
caos se esconde hoje sob ;uma palavra: Democracia”,
para combater, em seguida, esta democracia desordena­
da,- opondo-lhe o “fato novo e imenso” que representa a
unidade das leis e a igualdade dos direitos" civis. A direí-
tarnetomará a,seu eh.cargb esfa concepção dademocracia
como estado sociál, çiyil, para opô-ía às reivindicações, de
ampliado-dós dtr^íos dentôcirãticOkxlue transponham cé
lipiites da esfera jurídica. Ao longo.do século-19, esta
concepção será desenvolvida e racionalizada poir tôdòs
os podêres apai^onadòs pela ordem, Ludwig von Mises,
ò grande economista dos anos. 1930 que será o precursor
da escola de Ghiçágo .íde Hayek a Friedinan), escreverá
assim que a democracia tem antes de tudo por função
“estabelecer a paz e. evitar todas as subversões violen-
tas”(/é Socialisme, p. 80): não tem outro fim senão reali­
zar no domínio da política interna o que o pacifismo se
esforça por realizar no domínio da política externa. Com­
preendida neste sentido, “ã democracia não é somente
não-revolucionária, jnas tem precisamente por função eli­
minar a Revolução” (ibid., p. 82). Retoma assim, trans­
pondo para a sociedade tal como ela é, o jülgamento de
Tocqueville sobre a América (cf. Da Qémócrácia na Amé­
rica, t. II. 3a partekcap. XXI, “Por iqüe as grandekrevõlü-
çôes tornar-se-ão taras”). , . 1 ‘
, capitâHteínti, sO^jalismõ e ideologia eédnômica
' ’ > -1' t5 ,*4 , i 'j, , Á- "i
>< ' Arita^tiéa.das paixoçs, barnK>nia>dôs.interesses,
X ffátemidadèiyúiversál;
? J-
é sémesma / N
repíèsentáçãp
-d - ^
dbhp^ f
mera -e da sodfedade que está era ação, seja na ecorio
mia 'do séculp 18, seja na política do 19.-É nestelsenti-
do que $ ideologia etanômica está no corado da mo-,
<defttfdade, Í^ída rtiaistfaz qüe traduzir p recdhhepiraen-'’
r to, do caráter determínante dos prqbleípas- proprianlej^ '
tè íecondmico^i: impHea! ííiiíiio mais proftjpdamènteí un&u
réi&ção reprimida com. a política. ^ 1 ' ; 'V , <
VI X * ,« s (
o liberalismo em nossas cabeças "
, \ ' A proximidade teórjca erttre Smkh e “Marx pode
'surpreender,'É justatoêpte; por esta surpfésa}^iê âe Ifta-
, duz, a meirvèr, a cegueira sohrfe^o séqfkíó Wpfuqdó xfi
; modemicjacie.dvias, sfe não é possível dósctujl^-ia, fjtôfâté» ;
se aó mencrç jtentqr explicada. Com!' ^feito, é posãfvdl
distinguir trés*séries de fenômenos qde dão coptó dà
■compreensão histórica dessa cumplicidade profuôda éti£
tre o liberalismo utópico do século 18 e o socialisipo
utópicojdo sécülo l9 :
1. Desde o'século 19, a luta.de ciasse identifí-.'
cou-se com o combate entre o»capitalismo e o Socia­
lismo, e o libferalismó foi, ao mesmo tempo, asseme­
lhado ao capitalismo. Do mesmo, modo* tem havido
continuamente confusão entre o nível das“ representa­
ções e o das práticas; e isto particularmentê“paTà;
M*tk, eth rázão da sua teoria da ideologia. Anticapit^
lismo torhou-se sinônimo de aníiliberalismò, enquan­
to ô‘ socialismo só tinha como perspectiva feal com-!
, ,jâfttàr -o progranfe» :d^rut^plg,ÍUbèriUAO:.'^a^frÒrito, ao
nível dásj práticas sociais, €á^é.'-çapitalistas^- prèlçtá-
fios, ocultouéít&a filiação da utopia socialista á utopia
; liberal, <identifííçáfldo erroneamente utopia liberal e
ideologia burguésa, pará fétomar a distiriç^Õ-concei-
tual de K. ■Mapríhéifn entre utopia e ideologia que Se
capítulo 9
' , , , ’ / v 1,
revela ^qui muito útil. Porque se a burguesia, pode tçr
umá.ideologisfy: i$Q,.{x?iãe .^vpotoWd^ p&fc umá utopia,
dado que éxerée a gestão da sociedade: seu programa
se fedüz necessariamente à direçãó da sociedadejem
função dqs sÇus interesses- próprios. Mas, quandó o
capitalismo è pensado como realização da utopialibe.-
ral é se espeta que exeçute^o programa da economia
, política^ clássica, (cf. Marx),'esta distinção entre utopia
e ideologia não pode máis'*erèstatmo/a l^ m ;'A rèla?
çãoentfe d, utopia l i b e r a l a "Utopia sociattóta4 om a-se.
-âçsiín .ilegíVel.doeste p^nto de vi^ta,,'a crítica áddibè-
falismo ;eConômico, como ideologia justificadora do
capitalisipo Sejvágetn; fonstituiu uta verdadeiro qüá-
dro em brahco. Se ela permanece necessáría e indis­
pensável, çontribui com efeito historicamente pará
ocultar o$v fundamentos essenciais da sociédadfe, qío-
derna; dando a ilusão de a apreender ipteiramente,
quando só levava em conta uma,de suas*.manifesta?
çõès particulares.1
2. Esta dificuldade está igualhjente ligada'árela-
ção histórica diferente que 96 teóricos do socialismo -e
do' liberalismo mantiveram com a realidades do século
, 19. O lado utópico do liberalismo teqde com efeito a se
degradar no século 19- O foçso é enorme entre a ptp-
tensào teórica do liberalismo e suas ambições práticas, 1
como já sublinhei ^cf., pon elxemplo Bástiat); Inversa-
mente, os teóricos do socialismo, pensam em termos de
súbversao radical da sociedade; não tinham ainda feito,>
nessa época, a experiência da resistência da realidade à
prática' dos seus projetos de sociedade. Essa diferença
de radjcálidade ?tprnà igualméitàddmpêrisável à filiaçjãp'
da utopia socialista à utopia liberal. Com efeito, ela só é
legível s^Ó lit>^ítlism|) utópico do século 18 for relacio­
nado com o socialismo do 19; não pode estar face a face.
cóm o liberalismo do século 19 e com a ambição socia­
lista da mesma época. t
capitalismo, socialismo e ideologia econômico

/ ^ 3- Os liberais 4 o século 18 e qs SociaHstas-do 19/ ■


não'pensam nat possibilidade; de urpjfuturo que nâp te-
nhà Afeição das -suas* utópiaS-.rRepresenta fri-çe como a
última palaviça da_ modernidade,- mas não anáôáam este” *
\ fnoviuíentó^’<não Cpncebeta^poftàntO; ém ippmento.al- ^
^ , ,gUm â poésfbilídapè da svfaéúpera>çâ&. $àd ladica^tten^'' '‘T
's te jncapaXes* 4e .apreendê-lp pbmd histórico "ô trar)tsitóí-( ;
i) rio-, E>o mesmb mõdov e s tã a ^ la n ^ ç los sobré-á tjuéí;-,'’
<j tãodfa suÁealizaçào e nãb^sèdntere$sapr porsua 'gê«j*uç' ^
í 1 -" se*, Só vêeib àtíãS' de si q vazio, a baipárip, a mj^éfia e ,
, só sabem falár/dp pleno, da civilização e da felicidade «
' ' / como idéias e j^aiidades novas (cf. SaiftVjust: “a fi^liçtj C -
dade é 4iba ií|éia'iiQVa na'Europa.N est^^entí^o, ã < ■
utppiU socialista^ que é historicâmetite. posterior, cpãtí h"
pode 4e Cómpsp^bdef^a $i m^nrta c o m o 're p ^ ç fe V ' rf ’
> - tráreposição, '* - • -r /M- < t/ $
j . ' iiPor. peosarmps agora & fpodemidade -\
' ttoa e históriçfa podemos çpfl^rçphcjer estp, donivêpcía^- »
entrega utopia liberal e a utopia socialista*, e ,a parti* dar,
os seus limites comuns. Com efè;tót elas mantêm umtC'
relação "aoáíbga às suas perversões próprias e às suas ‘ ”
' ‘ críticas recíprocas.- O socialismo utópico rejeita- global-
( mente o capitalismo, mas permanece cego sobre o sen- ~
" .tido profundo da ideologia econômica no interiQj* da"
' qual ele se molda inteiramente. Do mesmo modo, o li­
beralismo denuncia a coletivismo, * apreendendo-p só -
como-um despotismo'radical; não analisa suã telação ?
, com o individualismo, na'medida em que veicula a~Hu-
são de uma. sociedade despolitizada na qüal a democra-
• .cia se reduz ao consensd ' - ✓-

263
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obras anteriores áo século 19: ,* 1


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Nature a nd Causes o f the Wealth o f Nations III. & -
says on Philosophical Subjects', III. Lectures òn Rhetoric
anà Belles Lettres-, NJ Lectures on Jurisprudence, VI. Cor­
respondence pfiAdam Smith; Dois volumes foram asso­
ciadas a esta edição: Essdyspfi Addin Styith edited by A.
Skinnhe/e TVWÚspn e U feo f Adam Smith fyy 1. S: Ross.)
Ppra ás tràdtígõ^ ííáncesas: La Rjçhéssç dës nations com
notas Daire» "iilanquii etc., Paris/‘Collection des princi-
paux économistes”, 1843; La Théorie des sentiments mo-
raux, editado por rfi. .Braridrilîarf (retofna -a medíocre
tradução francesa âè Í790), Parts, I860, Essais phifoSo-

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complemento bibliográfico
Desde 1979, data da* primeira publicação desta
obra, numerosos trabalhos foram publicados no domí­
nio da história intelectual do'liberalismo. Destacam-se
4 * ' , t £ f
particularmente duas compilações de estudos: HON%
I.; IGNATIEFF, M. Wealth and Virtue: The Raping’ of
Political Economy in the Scottish Enlighteninent. Cam­
bridge Cambridge U. Pv 1983 e PÒÇOCK, J. G. A. Vir­
tue, Commerce and Historyrfssays on Political,Thpught
and History, Chiefly in the Eighteenth ÇeÀturyt Cambrid­
ge*'Cambridge U. P. 1985 fo mesmo autor já havia abor-
'dadò o probiçma do çónflito, entre a tradição dõ huma­
nismo cfvict^ e a ascensão da ‘‘comtnercieã society. In:
The MachiavellianMoment: Floréhtlne Political Thought
ánd the-Atlantic Republic Tradition , Princenton: Prince­
ton, U- P„ 1975), Põder-se-ã também reportar a IGNA*
TIEFF, M. La Liberté d ’être humain. Paris: La1Découver­
te, 1984 (espçeialmepte o capítulo “Le marché ét la ré­
publique”) e consultar a tradução francesa do livro de
HlfeCHMAJVffí, A. Les Pabsïons et lès Iruérêti ^btlà-. PUF,
1980í ^ér igu^mente deste L’É cohômie comme
sciertte morale et 'politique. Paris: Gallimard-Le Seuil,
1984. Para uma leitura filosófica e política do tema da
“mão invisível”, 1er PERROT, J.-C. “La main invisible ot
le Dieu Caché”./Jn; Différences, Valeurs, Hiérarchies:
textes offerts à louis Dumont. Paris: EHESS, 19821 e so­
bretudo os trabalhos de Jean-Pierre Dupuy sobre Adam
.Smith e o nascimeiitpdo liberalismo fseus textos publi-
\

bibliografia

cados em brophuras de;acessQ difícil serão proxima­


mente' reunidos por Calmann-Lévy). Vçr também"
KQLM, S. C. Le LibéraUsmexn&derne. Paris: PUF, 1^84.
Para uma visão mais gérai do liberalismo repor­
tar-se prioritarisytientè ao ’livro muito esclarecedor de
Pierre Manerit, Histoire intellectuelle du libémlisnjte, Pa*
ris, Calmana-Lévy, 1Ç87 e a sua Introdução muito dénsa.
ã compilação de t<*xtosZes Ù béraux, Paris> 1986/ 2 y*
(Coll. Pluriel). Um artigo éstimuiante çnfim: Èèrpatd Ma-
nín/“Les deux libéralismes: marché ou contrepouvoits”
Intervericiort, n. 9, mai 1984. ' '

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