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Como alguns autores referem (e.g. Moreno, 1998, Urgelés, 1989) a classificação das
atividades físicas e desportivas tem um duplo interesse. Por um lado, ao nível teórico, em
que o investigador pode realizar um estudo detalhado e diferenciado que possibilita a
definição e delimitação, garantindo a coerência necessária; por outro lado, o interesse prático,
em que o profissional da atividade física e desportiva possui um instrumento para a ação, na
medida em que facilita a escolha das estratégias e metodologias de trabalho bem como os
conteúdos mais apropriados para concretizar os objetivos inicialmente definidos. Não nos
podemos esquecer que a estrutura das atividades físicas e desportivas é um dos fatores
determinantes no processo de ensino-aprendizagem, devendo por isso, estabelecer-se uma
classificação que nos permita caracterizar as diferentes práticas de acordo com a sua estrutura
funcional ou lógica interna.
Das várias que tivemos acesso (e.g. a experiência vivenciada de Bouet, o critério
pedagógico de Duran, a classificação de Matveiev ou o domínio corporal de Tessie) a que
nos ofereceu uma perspectiva mais abrangente foi a apresentada por Pierre Parlebas - a
Praxiologia Motora -.
Santos e Blanco (2003) consideram que a praxiologia motora "longe de ser um
dado interessante mas inútil, permite uma gestão da Educação Física mais ajustada às
necessidades do aluno e mais próxima da especificidade da nossa profissão: a acção motora"
(p.2). Desta forma estes autores consideram que a praxiologia motora assume um carácter
de utilização fundamental na atitude e empenhamento profissional diário dos profissionais
da educação física.
Na opinião de Moreno (1998) a praxiologia motora vai até à essência das práticas
físicas podendo analisar a sua estrutura e a sua dinâmica. Desta forma é possível fornecer a
estrutura lógica dos conteúdos educativos dos programas da disciplina . Este tipo de
classificação exige a necessidade de considerar várias categorias de objectivos motores e
igualmente das condições do meio pois, só desta forma, será possível a melhor escolha e a
melhor sequência de acordo com os objectivos traçados.
Os critérios pertinentes
Situações em meio instável: Neste tipo de práticas o meio físico é fonte de incerteza
obrigando o interveniente a retirar informação para o descodificar e agir de acordo com essa
leitura. Poderemos assim considerar um meio "selvagem" e incerto que tem exemplos nas
práticas na natureza como a escalada, canoagem ou o prancha com vela.
A Educação Física não se pode considerar uma ciência, mas sim uma prática. O
seu principal objectivo prende-se com a tarefa de influenciar e de promover alterações nos
alunos, tendo como suporte o conhecimento científico de várias áreas, onde se integra a
Praxiologia Motora.
Para Parlebas (1996) a educação Física possui um objecto original que lhe permite
afirmar a sua identidade - o comportamento motor. Desta forma a acção motora não é
reduzida a um conjunto de movimentos biomecânicos, nas destaca o "indivíduo em acção e
as modalidades motoras de expressão da sua personalidade" (p. 16). Os comportamentos
motores manifestam as dimensões fundamentais do indivíduo, isto é, biomecânica, afectiva,
relacional, cognitiva e expressiva.
Nas situações motoras com incerteza o aluno é o elemento que toma as decisões,
pois é este que actua tendo em conta quer os estímulos que tem origem no meio como nos
restantes participantes (quer os colegas como os adversários). Desta forma a capacidade de
iniciativa e responsabilidade é estimulada já que as opções são várias, sendo necessária a
escolha da mais adequada para determinado momento e situação, desenvolvendo igualmente
a capacidade de decisão. No mesmo sentido, esta ideia é reforçada por Urgelés (1989), que
afirma que este tipo de prática permite a exercitação das estruturas intelectuais promovendo
a utilização de novas metodologias de resolução de problemas. Por outro lado, exigem que
os intervenientes utilizem a sua capacidade de leitura e descodificação das dificuldades do
terreno (Lagardera e Lavega (2003). Por este facto são actividades que favorecem os
comportamentos motores de adaptação associadas à necessidade de realizar decisões e na
antecipação. No mesmo sentido, During (1992) propõe a utilização deste tipo de actividades
destinadas a adquirir vários automatismos que orientem o aluno a enfrentar-se à incerteza do
meio. Os efeitos desta perspectiva são importantes pois a incerteza do meio provoca que o
aluno desenvolva automatismos com um nível de perfeição inferior (pois são em maior
número) mas mais flexíveis, promovendo uma adaptação melhor à variação das situações.
Já as actividades cooperativas oferecem inúmeras situações motoras que
promovem os comportamentos associados à comunicação motora, ao pacto, ao respeito
pelas decisões dos outros, à capacidade de iniciativa e ao sacrifício generoso da colaboração
(Lagardera e Lavega, 2003). Partilhamos a opinião de Urgelés (2002) quando afirma que este
tipo de propostas, vividas como uma actividade conjunta, em que todos os participantes se
sentem protagonistas para atingir o mesmo objectivo, originam comportamentos de
solidariedade e um incremento de relações positivas. De acordo com Parlebas (1984, cit.
Urgelés, 1989), a acção motora exerce uma influência sobre as relações socioafectivas que
varia de acordo com a natureza das actividades desenvolvidas. During (1992) propõe a
implementação deste tipo de actividades pois permitem integrar consequências importantes
para a vida afectiva dos grupos fomentando um incremento das relações positivas. De acordo
com este autor, antes de se introduzirem as situações de oposição, o aluno deve vivenciar as
relações de cooperação e de ajuda.