Você está na página 1de 17

INTRODUÇÃO

O presente trabalho subordina-se sobre o Tribunal Penal Internacional


que é resultado de um longo processo histórico em que se buscou punir os
responsáveis pelos maiores crimes contra a humanidade, destacando-se o
Tribunal de Nuremberg e os Tribunais Ad hoc da ONU. O Tribunal Penal
Internacional, teve sua criação aprovada através do Estatuto de Roma em
1998, e iniciou seus trabalhos em Julho de 2002. Ele possui competência para
julgar quatro tipos de crimes: crimes contra a humanidade, crimes de
genocídio, crimes de guerra e crimes de agressão. Seu princípio principal
funda-se na complementaridade e subsidiariedade, possuindo como
características o fato de ser permanente e internacional. Os 18 magistrados do
Tribunal Penal Internacional são eleitos pela Assembleia Geral do Estatuto de
Roma para exercerem mandatos de 9 anos sem direito a reeleição. As penas
previstas serão de até 30 anos prisão, sendo aceitável, excepcionalmente a
pena máxima de prisão perpétua1.

A existência de um Tribunal Penal Internacional representa uma grande


conquista para a humanidade, pois garante que os responsáveis pelos maiores
crimes contra a humanidade não ficarão impunes mesmo que no seu país
possuam força política.

Trata-se de tema de grande relevância, eis que o número de conflitos


internacionais tem aumentado nas últimas décadas e se intensificado nos
últimos anos, principalmente com a chamada Primavera Árabe.

A compreensão desta temática envolve questões a serem pesquisadas


ao longo deste trabalho, quais sejam: a ideia de criação de uma jurisdição
penal internacional, a ideia da construção de tribunal de carácter permanente, a
elaboração do Estatuto de Roma, a competência do Tribunal Penal
Internacional, princípios, composição, mandato de juízes, tramitação dos
processos ocorridos e as penas aplicáveis.

1
F. PIOVESAN, Direitos Humanos e Justiça Internacional: 1ª ed., 2ª triagem. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
1. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
1.1. Antecedentes históricos

Os crimes contra a humanidade cometidos por ditadores obcecados pelo


poder têm sido constantes ao longo da história. Grandes ditadores possuem
poder político em seus Estados e dificilmente são condenados pelo direito
interno dos seus países, mesmo quando já não estão mais no poder. A
impunidade frente aos crimes mais horrendos é algo que causa um imenso mal
estar social e traz a mensagem de que o Direito não alcança aqueles que estão
no poder.

A Segunda Guerra Mundial demonstrou que excessos de ditadores


podem pôr em risco outros países, suas populações e a própria democracia.
Assim, surgiu a consciência internacional sobre a necessidade de tribunais
internacionais penais que pudessem garantir a punição dos maiores crimes
contra a humanidade, evitando, assim, a impunidade e transmitindo uma
mensagem aos ditadores. A mensagem de que ninguém está acima da lei e
que a lei valoriza a dignidade da pessoa humana .

1.2. A formação da ideia de uma jurisdição

Os Estados, durante maior parte de sua existência, foram considerados


pelo Direito Internacional como sujeitos de Direito. Dessa forma, passou-se a
confundir as responsabilidades de nações com as de seus governantes ou com
as de cidadãos a seu serviço. A fim de atingir directamente pessoas físicas,
desenvolveu-se paulatinamente a ideia de que indivíduos seriam sujeitos
imediatos de um direito internacional “sancionador”, que não lhes atribuiria
direitos, mas apenas lhes imporia obrigações2.

Assim, surge o Direito Internacional Penal destinado a impor


determinadas obrigações de comportamento a todos os indivíduos da
sociedade internacional, bem como a punir os culpados por terem cometido
actos ilícitos, de tal forma graves, que atingiram os valores fundamentais da
espécie humana. Dessa forma, se pessoas físicas não podem ser civilmente

2
NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul: Ed. Unijuí, 2008. p. 91.
responsabilizadas pelo Direito Internacional geral, podem sê-lo com base no
Direito Internacional Penal3.

Podemos afirmar que a ideia de jurisdição penal internacional remonta


ao ano de 1872, quando Gustavo Moynier apresentou, em uma Conferência da
Cruz Vermelha, a primeira proposta formal direccionada ao estabelecimento de
um Tribunal com competência para julgar os Crimes de Guerra, também
chamada de “Convenção para Criação de um Órgão Judicial Internacional para
a Prevenção e Punição das Violações à Convenção de Genebra”. No entanto,
é no século XX que se encontram as manifestações mais importantes no
sentido do desenvolvimento do Direito Penal Internacional 4.

Por conseguinte, o Direito Internacional deixou de ser um direito


unicamente dos Estados, levando-se em consideração o ser humano, suas
atitudes e suas atribuições, mesmo que em nome do Estado o qual represente.

1.3. O Tratado de Versalhes e os Crimes de Guerra

O Tratado de Versalhes foi um tratado de paz, concluído, em grande


parte, com base nos princípios entabulados durante a 2ª Convenção de Paz de
Haia, em 1907, tendo como objectivo principal encerrar a Primeira Guerra
Mundial, onde estimou-se conservadoramente que pelo menos 10 milhões de
soldados haviam morrido e 20 milhões restaram feridos. As perdas civis
pareciam incalculáveis, e havia grande clamor público para punir os
responsáveis pela agressão e as atrocidades cometidas em violação às leis da
guerra5.

A intenção de punir os violadores do direito humanitário surgiu pelas


Potências Aliadas (EUA, França, Inglaterra, Itália e Japão) em 25 de Janeiro de
1919, tendo por inovador o conceito de responsabilização penal individual no
âmbito do direito internacional, sendo estabelecido pela Comissão sobre as
responsabilidades dos autores da Guerra e sobre as execuções das punições.

3
MAZZUOLI, Valério. Curso de Direito Internacional Público. 5.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011, p. 46-7.
4
SILVA, Pablo R. Alflen da. (Org.). Tribunal Penal Internacional: Aspectos fundamentais e o novo
Código Penal Internacional alemão. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2004. cap. I. p.17-18.
5
NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul: Ed. Unijuí, 2008. p. 93.
1.4. O Legado dos Tribunais de Nuremberg e de Tóquio

Com o término da Segunda Guerra Mundial (1945) foi informado à


opinião pública, em detalhes, as atrocidades cometidas pelo Japão, na China, e
pela Alemanha contra judeus, ciganos e outras minorias, o que influenciou a
decisão dos governantes das potências vencedoras a estabelecer, pela
primeira vez na história, tribunais penais internacionais 6.

Assim, os tribunais militares internacionais de Nuremberg e de Tóquio


foram criados para julgar e punir os grandes crimes cometidos na Segunda
Guerra Mundial, e serviram de elemento catalisador para o desenvolvimento do
direito internacional penal, tendo de forma inédita a responsabilização de
indivíduos acusados de violação de normas internacionais e processados por
instâncias internacionais7.

1. 5. Os tribunais penais Ad Hoc da ONU

Apoiada nestes desenvolvimentos, a jurisdição penal internacional


conheceu um importante ponto de viragem no estabelecimento dos tribunais
penais ad hoc para a ex-Jugoslávia e para Ruanda, com competência para
punir a violação dos mesmos crimes julgados pelos tribunais de Nuremberg e
Tóquio8.

Assim, no início da década de 1990, por deliberação do Conselho de


Segurança das Nações Unidas e com a participação e voto favorável do Brasil
foram criados mais dois tribunais internacionais de carácter temporário (Ad
hoc): um instituído para julgar as atrocidades praticadas no território da antiga
Jugoslávia desde 1991, e o outro para julgar as inúmeras violações de direitos
de idêntica gravidade perpetrados em Ruanda, tendo sido sediados,
respectivamente, na Holanda e na Tanzânia.

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia originou-se a partir


da resolução número 808 de 22 de Fevereiro de 1993 do Conselho de

6
NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul: Ed. Unijuí, 2008. p. 97.
7
JANKOV, Fernanda Florentino Fernandez. Direito Internacional Penal: Mecanismo de implementação
do Tribunal Penal Internacional. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009. p. 23-24.
8
MACHADO, Jónatas E. M. Direito Internacional: do paradigma Clássico ao pós-11 de Setembro. 3ª
ed. Coimbra: Coimbra, 2006. p. 409.
Segurança da ONU, com objectivo de julgar os responsáveis pelas violações
ao Direito Internacional Humanitário cometidos no território da ex-Jugoslávia.

1.6. Os trabalhos preparatórios para criação de um tribunal penal


internacional de carácter permanente

A ideia da criação de um Tribunal Penal Internacional de carácter


permanente foi cogitada pela primeira vez em 1948, quando a Assembleia
Geral das Nações Unidas pediu à Corte Internacional de Justiça que
examinasse a possibilidade da criação de um tribunal para julgar os casos
semelhantes aos que haviam sido submetidos aos Tribunais de Nuremberg e
de Tóquio9.

Entre 1951 e 1953 foram apresentados projectos de estatuto para o


futuro tribunal através de dois comités constituídos pela Assembleia Geral da
ONU, no entanto, em decorrência da chamada Guerra Fria, os trabalhos de
criação do tribunal ficaram suspensos até o ano de 1989, quando a pedido da
Assembleia Geral da ONU a Comissão de Direito Internacional voltou a
trabalhar no assunto10.

Entre 1995 e 1998, a Assembleia Geral das Nações Unidas convocou


dois comités para a produção de um texto consolidado do Projecto de Estatuto
para a criação de um Tribunal Penal Internacional de carácter permanente. O
primeiro comité, ad hoc, durante o ano de 1995, discutiu as principais questões
substanciais e administrativas, mas não iniciou as negociações nem a
redacção propriamente dita do Estatuto que viria a regulamentar as atribuições
do Tribunal Penal Internacional. Desta forma, o comité de carácter ad hoc foi
substituído em 1996 pelo Comité Preparatório para a criação de um Tribunal
Penal Internacional. Realizaram-se várias reuniões, submetendo à Conferência
Diplomática em Roma, um Projecto de Estatuto e um Projecto de Lei final, com
116 artigos e 173 páginas de texto, representando uma multiplicidade de
opções quanto a dispositivos inteiros ou ainda determinadas palavras e
expressões.

9
ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 852.
10
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos: 3ª ed. Rev. E ampl. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 446.
2. A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
Os crimes de competência do Tribunal Penal Internacional, que também
podem ser chamados de core crimes pelo actual Direito Penal Internacional,
são considerados os crimes de maior gravidade que preocupam a comunidade
internacional em seu conjunto11.

Diante do artigo 5º do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional,


o TPI tem jurisdição sobre os crimes de genocídio, os crimes contra a
humanidade, os crimes de guerra e os crimes de agressão, definidos
respectivamente nos arts. 6, 7 e 8.12

2.2.1 Crimes de genocídio

Por genocídio entende-se, nos termos do art. 6.º do Estatuto de Roma, o


assassinato de membro de grupo, ofensas graves à integridade física ou
mental de membros de grupo, sujeição intencional do grupo a condições de
vida com vista a provocar sua destruição física, total ou parcial e imposição de
medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo, bem como a
transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo, desde que sejam
praticados no intuito de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional,
étnico, racial ou religioso13.

2.2.2 Crimes contra a Humanidade

Diferentemente do crime de genocídio, nos crimes contra humanidade


ocorreram dificuldades em chegar-se a um acordo sobre a definição das figuras
consagradas no artigo 7º do Estatuto e decidir sobre a inclusão de alguns actos
ilícitos, como crimes sexuais que foram tratados com extrema delicadeza,
tendo por fontes principais as Cartas dos Tribunais de Nuremberg, Tóquio, e os
Estatutos dos Tribunais ad hoc para a ex-Jugoslávia e Ruanda, bem como o

11
. NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul: Ed. Unijuí, 2008. p.
325.
12
SILVA, Pablo R. Alflen da. “O Tribunal Penal Internacional: Antecedentes Históricos e o Novo
Código Penal Internacional Alemão”. In: SILVA, Pablo R. Alflen da. (Org.). Tribunal Penal
Internacional: Aspectos fundamentais e o novo Código Penal Internacional alemão. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Editor, 2004. cap. I. p. 35
13
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos: 3 ed. Rev. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 472.
Código de Crimes contra a Paz e a Segurança da Humanidade que foi
preparado pela Corte de Direito Internacional 14.

Segundo Cretella Neto, os crimes contra a humanidade apresentam as


seguintes características15:

1. Podem ser cometidos tanto em tempo de guerra quanto em tempo de


paz;
2. São crimes de massa, perpetrados contra uma população civil;
3. São cometidos por agentes do estado contra civis da mesma
nacionalidade ou de nacionalidades diferentes das do Estado de origem
dos criminosos;

Cabe salientar que existem vários tipos de crimes, de modo a não deixar
dúvidas em relação a abrangência dos crimes que são acobertados pelo art. 7º.

2.2.3 Crimes de guerra

Inicialmente falando, a guerra é um fenômeno tão antigo quanto a


humanidade, pois a estimativa nos traz que cerca de 4 bilhões de pessoas
tenham perdidos suas vidas, entre 3600 a.C e 2000 d.C, com
aproximadamente 14.500 conflitos armados internacionais, ou seja, mesmo
que a guerra seja algo extraordinário, fora do comum, na realidade rara é a
paz16.

Os crimes de guerra são considerados parte do direito internacional


costumeiro, onde tem como principais referências de codificação o Direito de
Haia e as Convenções de Genebra com seus protocolos.

O Estatuto de Roma, em seu art. 8º, definiu várias modalidades de


crimes de guerra que representam graves ofensas que já haviam sido
declaradas nas Convenções de Genebra, desde a 1ª até a 4ª convenção, no
entanto, o Estatuto sujeita-as, todas, a uma condição geral não prevista
anteriormente, a saber: os actos criminosos que as compõem devem ser
14
MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição e princípio da
complementariedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 87.
15
NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul: Ed. Unijuí, 2008. p.
364-365.
16
NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul: Ed. Unijuí, 2008. p.
387-389
“cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política, ou como
parte de uma prática em larga escala desse tipo de crime”, art. 8º,1.

2.2.4 Crimes de agressão

O crime de agressão poderá ser instituído no ordenamento do Estatuto


se este vier a ser devidamente caracterizado diante de uma reforma do
instituto, devendo também se amoldar perante a Carta das Nações Unidas, que
prevê algumas hipóteses de guerra justa.

Com isso, o artigo 2º, § 4º da Carta das Nações Unidas vem a enunciar
que:

"os membros deverão abster-se nas suas relações


internacionais de recorrer á ameaça ou ao uso da força, quer
seja contra a integridade territorial ou a independência política
de um Estado, quer seja de qualquer outro modo incompatível
com os objectivos das Nações Unidas17"

Assim, pelo artigo supramencionado, evidencia-se que o emprego da


força e ameaça, não vem a ser um meio apropriado a dirimir distúrbios
internacionais, caracterizando-se este ato como uma ilicitude na seara
internacional.

Pela razão da ausência de uma clara tipificação no Estatuto de Roma, o


crime veio a ser colocado em segundo plano, visto assim perante o texto legal
do artigo 5º, § 2º do próprio Estatuto.

"o Tribunal poderá exercer a sua competência em


relação ao crime de agressão desde que seja provada uma
disposição em que se defina o crime e se enunciem as
condições em que o Tribunal terá competência relativamente a
tal crime18".

3. AS PENAS APLICÁVEIS

A Parte 7 do Estatuto dispõe com as penas aplicadas sobre os crimes na


Corte. Uma vez considerado culpado, o réu estará sujeito às penas previstas

17
CHOUKR, Fauzi Hassan; AMBOS, Kai (Org.). Tribunal Penal Internacional. São Paulo Editora
Revista dos Tribunais, 2000.
18
BRITO, Aléxis Augusto Couto de. Os Tribunais Penais Internacionais. Revista dos Tribunais, nº. 840,
Outubro de 2005 - 94º Ano.
no artigo 77 do Estatuto de Roma, a lista é considerada exaustiva, tendo como
penas ipsis litteris19:

1. Sem prejuízo do disposto no artigo 110, o Tribunal pode impor à


pessoa condenada por um dos crimes previstos no artigo 5o do presente
Estatuto uma das seguintes penas20:

a) Pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite


máximo de 30 anos; ou

b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as


condições pessoais do condenado o justificarem,

2. Além da pena de prisão, o Tribunal poderá aplicar:

a) Uma multa, de acordo com os critérios previstos no Regulamento


Processual;

b) A perda de produtos, bens e haveres provenientes, directa ou


indirectamente, do crime, sem prejuízo dos direitos de terceiros que tenham
agido de boa-fé.

Na fase preparatória da conferência ficou claro que não será possível


introduzir penas específicas para cada tipo criminal seja ele de Crimes de
genocídio, Crimes contra a Humanidade, Crimes de guerra ou Crimes de
agressão. Assim, a instituição de uma lista de penas aplicáveis a todos os
tipos criminais foi elaborada, como forma de possível solução.

Na época de preparação do Estatuto de Roma, delegações observaram


a dificuldade de se aplicar pena de morte ou prisão perpétua. Após longas
discussões chegaram a um consenso adoptando a última. A exclusão de
ambas as penas significaria a impossibilidade de alcance dos resultados
desejados e a impunidade seria o resultado deste Tratado.

19
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: 1ª ed., 2ª triagem. São Paulo: Ed.
Saraiva, 2007. p. 48.
20
LUKAMBA. P. Direito Internacional Penal, Princípios Fundamentais: 1ª ed, Luanda, Editora Escolar,
2012. P.316
Artº 78 do Estatuto de Roma, a lista é considerada exaustiva, tendo
como pressupostos21:

1. Na determinação da pena, o Tribunal entenderá, de harmonia com o


Regulamento Processual, a factores tais como a gravidade do crime
e as condições pessoais do condenado.
2. O Tribunal descontará, na pena de prisão que vier a aplicar, o
período durante o qual o arguido esteve sob detenção por ordem
daquele. O Tribunal poderá ainda descontar qualquer outro período
de detenção que tenha sido cumprido em razão de uma conduta
construtiva do crime.
3. Se uma pessoa for condenada pela prática de vários crimes, o
Tribunal aplicará pena de prisões parcelares relativamente a cada
total da pena de prisão. Esta duração não poderá ser inferior à da
pena parcelar mais elavada e não poderá ser superior a 30 anos de
prisão ou r além da pena de prisão perpétua prevista no art 77º, nº1
alínea b).

No que concerne ao artigo 78 as alíneas nº 1,2 e 3 diz respeitos que as


penas serem cumpridas serão algum dos Estados-Parte e poderá ser reduzida
após o cumprimento de um terço ou de 25 anos, no caso de prisão perpétua,
atentando-se para a colaboração prestada pelo réu durante o julgamento.

Artº 79 do Estatuto de Roma, no que diz respeito ao fundo a favor das


vitimas22.

1. Por decisão da Assembleia dos Estado Partes, será criado um fundo


a favor das vítimas de crimes das competências do Tribunal, bem
como das respectivas.
2. O Tribunal poderá ordenar que o produto das multas e quaisquer
outros bens declarados perdidos revertam para o fundo.

21
Ibidem, p. 316
22
Ibidem, p.317
3. O fundo será gerido de harmonia com os critérios a serem adoptados
pela Assembleia dos Estados Partes.

No que concerne ao artigo 79 as alíneas nº 1,2 e 3, Assembleia dos


Estados Partes a favor das vítimas onde esta pena imputa-se ao indivíduo o
dever de reparação dos danos às vítimas na forma de indemnização ou
reabilitação, usando para o pagamento seus próprios bens ou de um Fundo
Fiduciário, criado propriamente para este fim, constituído por bens confiscados
e contribuições do Estado-Parte.

O Tribunal também pode aplicar penas, facultativamente, uma pena de


multa, de acordo com os critérios previstos no chamado Regulamento
Processual (art. 22, § 2, a). De maneira acessória, a condenação importará na
perda dos bens obtidos pelo réu com o crime praticado, art. 77, § 2, b, bem
como na obrigação de reparação dos prejuízos sofridos pelas vítimas, art. 75.
Por este motivo, foi criado, por decisão da Assembleia dos Estados-Partes, um
Fundo de indemnização das vítimas (art. 79).

Artº 80 do Estatuto de Roma, (a não interferência no regime de


aplicação de penas nacionais e nos direitos internos) 23.

Nada no presente capítulo prejudicará a aplicação, pelos Estados, das


penas previstas nos respectivos direitos internos, ou a aplicação da legislação
de Estados que não preveja as penas referidas neste capítulo.

No que concerne ao artigo 80 na sua alínea única, nos remete em que


nenhum Estados Membros das Partes interfira nas penas aplicadas seja ela
nacionais ou internas. A sentença de prisão deverá ser cumprida
imediatamente no Estado designado pela Corte, a partir de uma lista de
Estados que demonstraram seu interesse em aceitar condenados. O local do
crime ou a nacionalidade do sujeito não são factores decisivos para a
designação do Estado, pois este é um ato discricionário.

Uma vez cumprida a pena, aquele que não é nacional do Estado em que
a execução se deu poderá, em conformidade com a legislação deste Estado,
ser trasladado para aquele que tenha a obrigação de aceitá-lo ou a outro
23
Ibidem, 317
disposto a fazê-lo se assim desejar o sentenciado. É claro que o Estado da
execução está livre para aceitá-lo se assim o desejar.

No que se refere a pena de morte, uma minoria ruidosa fez muita


pressão por sua inclusão no Estatuto, com a justificativa de que os crimes mais
graves deveriam ter penas mais rigorosas. Por parte destes Estados, havia a
preocupação com o fato de que a não inclusão da pena de morte para esses
crimes, geraria acusações políticas com relação ao uso que fazia desse tipo de
punição para crimes menores. Todavia, a maioria das delegações,
principalmente as europeias, tinham obrigações constitucionais que as
proibiam de entregar indivíduos que fossem enfrentar a pena de morte, de
forma que sua inclusão no Estatuto teria o efeito devastador de impedir que
muitos dos países que o apoiavam se tornassem Estados-Partes 24.

Desta forma, se espera que o Tribunal Penal Internacional venha a


anunciar uma nova era para o processo e a punição efectivos de violações
graves de direito internacional humanitário, onde quer que tais abusos possam
ocorrer e seja qual for seu autor. Cumprindo sua função o TPI provavelmente
se tornará o pilar central na comunidade mundial para sustentar os preceitos
fundamentais da humanidade.

CONCLUSÃO
24
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos: 3 ed. Rev. E ampl. São
Paulo: Saraiva, 2003. p. 466.
Depois de uma investigação intensa sobre o tema em causa, concluímos
que o Tribunal Penal Internacional é o resultado de um longo processo de
busca pela justiça. Foi necessário que inúmeros criminosos internacionais
ficassem impunes para que a sociedade internacional começasse a organizar
tribunais de carácter penal e internacional.

O TPI surgiu com uma configuração avançada no sentido de não ser um


tribunal temporário, nem um tribunal dos vencedores sobre os vencidos. Neste
sentido, soube aprender com as críticas apresentadas ao Tribunal de
Nuremberg e aos Tribunais Ad hoc da ONU.

O Tribunal Penal Internacional, ao aplicar suas penas aos criminosos


internacionais, exerce a importante função de transmitir uma mensagem para a
sociedade internacional de que não haverá tolerância ou impunidade com os
violadores dos maiores crimes internacionais previstos no Estatuto de Roma.
Dessa forma, o Tribunal Penal Internacional também cumpre um papel
pedagógico, de mitigação de interesses pessoais dos que detém poder dentro
de determinado Estado, a fim de que estes não cometam abusos no exercício
deste poder.

Já visto anteriormente, o Estatuto do Tribunal Penal Internacional, ao


aplicar a sua pena é igual para todos os crimes e para todas as pessoas,
nacionais ou estrangeiros, natos ou naturalizados, não havendo distinção entre
cargo oficial, seja Chefe de Estado ou Chefe de Governo, não se exime de
forma alguma sua responsabilidade penal, tampouco importa em redução de
pena, desde que sejam asseguradas as garantias de um tratamento justo em
todas as fases do processo, de acordo com os parâmetros oficiais.

No cumprimento das penas, destaca-se o fato de que o réu pode ser


condenado no TPI a indemnizar as vítimas. Assim, além de cumprir a pena de
reclusão, podem os juízes do TPI ordenar o congelamento dos recursos dos
réus nos Estados em que se encontram para que possam ser utilizados com
esse fim.

Por fim o Tribunal Penal Internacional representa um avanço na


segurança jurídica internacional e uma especial evolução do Direito
Humanitário Internacional, pois criou instrumentos até então inexistentes na
defesa da justiça e defesa dos Direitos Humanos no âmbito internacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
F. PIOVESAN, Direitos Humanos e Justiça Internacional: 1ª ed., 2ª triagem.
São Paulo: Editora Saraiva, 2007.

NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul:
Ed. Unijuí, 2008. p. 91.

MAZZUOLI, Valério. Curso de Direito Internacional Público. 5.ª ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011, p. 46-7.

SILVA, Pablo R. Alflen da. (Org.). Tribunal Penal Internacional: Aspectos


fundamentais e o novo Código Penal Internacional alemão. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris Editor, 2004. cap. I. p.17-18.

NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul:
Ed. Unijuí, 2008. p. 93.

NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul:
Ed. Unijuí, 2008. p. 97.

JANKOV, Fernanda Florentino Fernandez. Direito Internacional Penal:


Mecanismo de implementação do Tribunal Penal Internacional. São Paulo: Ed.
Saraiva, 2009. p. 23-24.

MACHADO, Jónatas E. M. Direito Internacional: do paradigma Clássico ao pós-


11 de Setembro. 3ª ed. Coimbra: Coimbra, 2006. p. 409.

ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo:


Saraiva, 2011. p. 852.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos: 3ª


ed. Rev. E ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 446.

NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul:
Ed. Unijuí, 2008. p. 325.

SILVA, Pablo R. Alflen da. “O Tribunal Penal Internacional: Antecedentes


Históricos e o Novo Código Penal Internacional Alemão”. In: SILVA, Pablo R.
Alflen da. (Org.). Tribunal Penal Internacional: Aspectos fundamentais e o novo
Código Penal Internacional alemão. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2004. cap. I. p. 35

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos: 3


ed. Rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 472.

MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: aspectos institucionais, jurisdição


e princípio da complementariedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 87.

NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul:
Ed. Unijuí, 2008. p. 364-365.

NETO, José Cretella. Curso de Direito Internacional Penal. Rio Grande do Sul:
Ed. Unijuí, 2008. p. 387-389

CHOUKR, Fauzi Hassan; AMBOS, Kai (Org.). Tribunal Penal Internacional. São
Paulo Editora Revista dos Tribunais, 2000.

BRITO, Aléxis Augusto Couto de. Os Tribunais Penais Internacionais. Revista


dos Tribunais, nº. 840, Outubro de 2005 - 94º Ano.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: 1ª ed., 2ª


triagem. São Paulo: Ed. Saraiva, 2007. p. 48.

LUKAMBA. P. Direito Internacional Penal, Princípios Fundamentais: 1ª ed,


Luanda, Editora Escolar, 2012. P.316

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos: 3


ed. Rev. E ampl. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 466.

Você também pode gostar