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Apresentação

O presente projeto tem como objetivo apresentar em forma de narrativa - inspirada


na tradição oral dos mestres e griôs - a história do Sítio da Ressaca, casa
patrimonial datada de 1719, tombada pelo ​Condephaat em 1972 e pelo Conpresp
em 1991 e as múltiplas perspectivas presentes em seu contexto, buscando não
desvendar os mistérios ou preencher as lacunas presentes entre as documentações
existentes e as diversas lendas e contos acerca do espaço, mas sim, reforçar a
grande relevância em se ter uma estrutura patrimonial que leve em consideração
outras perspectivas históricas a cerca de um povo e problematizar a lógica colonial
sobre o conceito de História
Para enriquecer a obra, parte da pesquisa, no que diz respeito aos “anos dourados”
do patrimônio como parte do contexto do Acervo da Memória e do Viver
Afro-Brasileiro Caio Egydio, será feito a partir da tradição viva: o griô Mestre
Caranguejo, expoente da capoeira Paulista, vencedor do Prêmio Viva Meu Mestre
de 2010 pelo IPHAN, irá narrar sobre a história da Capoeira, sua atuação
juntamente com Mãe Sylvia de Oxalá no Sítio da Ressaca e apresentará sua própria
perspectiva e tradição sobre o patrimônio que tem tanto amor e zelo até os dias de
hoje. Além disso, contar-se-á com a parceria de Mãe Paula de Iansã, atual chefe da
Casa de Candomblé, Axé Ilê Obá, terreiro de Candomblé tombado como patrimônio
Histórico Municipal, para narrar a história de vida de sua Mãe, Sylvia de Oxalá,
grande cuidadora do Sítio da Ressaca por longos anos, dando ao espaço,
visibilidade e reconhecimento, bem como partilhando fotografias e materiais
relevantes para o conteúdo.
Em suma, a proposta é construir uma obra que se dividirá em 3 partes: (1) O Sítio
da Ressaca; (2) Lendas e valores (3) Os Mestres nos ensina; a partir da (1)
pesquisa historiográfica sobre o território, captação de depoimentos da população
local e documentação de acesso público arquivada no Arquivo Histórico do Estado
de São Paulo, Arquivo Histórico Municipal, Museu da Cidade de São Paulo, além de
pesquisa em materiais literários produzidos acerca do tema. (2)Concatenado a esse
conteúdo, a narrativa do testemunho ocular de Mestre Caranguejo e materiais como
fotos, textos e (3) depoimentos de filhos de Santo do Axé Ilê Obá e moradores da
região
Relevância
A casa que atualmente compõe o acervo do Museu da Cidade de São Paulo está
localizada no bairro do Jabaquara, Zona Sul da capital e carrega com ela muitos
segredos e histórias ainda não exploradas. A relevância desse projeto é justamente
problematizar a lógica colonial de que apenas as Histórias produzidas a partir de
documentos oficiais e institucionalizados são importantes e precisam ser
propagadas. Inspirada na lógica dos povos nativos (indígenas) e da população
negra que veio escravizada para o Brasil, apresentaremos as lendas e fábulas
criadas sobre o Sítio da Ressaca através dos anos pelos seus frequentadores, pelos
tradicionais griôs e até mesmo por Historiadores e uni-las com as documentações
existentes; isso tudo para mostrar que, o simbolismo que carrega um signo é tão
relevante quanto seu enredo de fato, até porque, temos a questão: Patrimônio de
quem? Por que? Para quem? Dar sentido ao Patrimônio é dar sentido ao seu
significado em determinado território.
Esse projeto é importante por esses questionamentos e por estar longe de querer
uma verdade absoluta, ao contrário, é apresentar que, apesar de existir uma
História Oficial, apesar de termos acesso a documentos que apresentam uma
verdade, existem narrativas paralelas que fazem parte de um imaginário popular,
fazem parte e sentido para um povo, para um grupo social e que não anulam
documento algum, sequer precisam disso para serem valiosas na tradição da
contação de história, do estreitamento de laços e podem sim, contribuir não só para
o interesse no ensino de História do Brasil, mas para a compreensão da estreita
relação entre memória, subjetividade e história.
As ferramentas utilizadas para a elaboração desse projeto também é de extrema
relevância, sem falar da importância documental que já fala por si só, documentar
um Mestre griô nos tempos de hoje é urgente, uma vez que eles vêm se perdendo
dentro da nossa sociedade, deixando de passar seu legado e morrendo por conta
da idade. Dar voz à população para que ela conte sua relação de afeto com o
patrimônio também é de sua relevância para questionar de quem é o patrimônio.
Sinopse
“O Mestre e o Sítio: as múltiplas narrativas sobre o Sítio da Ressaca” nasce das
crenças e ansiedades de sua proponente que pesquisa com afinco o espaço e
percebe diversas lacunas em sua História oficial, bem como tantas outras narrativas
advindas de livros, visitantes - amantes ou odiadores do Sítio da Ressaca e
principalmente de pessoas interessadas em entender a presença da negritude no
patrimônio.
Após dois anos de contemplação de todo esse contexto, surge a proposta de
defender a lógica de que está tudo bem um patrimônio ter em seu contexto diversas
lacunas, está tudo bem um patrimônio ter a ele atribuído diversas narrativas, afinal,
não é o papel do patrimônio guardar memórias? E o que á a memória senão
conjunto de experiências individuais que se unem e formam a memória social?
O projeto será um livro dividido em três capítulos com um determinado número de
subcapítulos cada um, pois assim será dividida a pesquisa: 1 resumo da
documentação oficial e referências bibliográficas; 2 registro gravado de moradores,
pesquisadores e população que conhece e/ou recebeu de seus antecessores
histórias, lendas e fábulas sobre o Sítio da Ressaca; 3 registros de diálogos,
fotografias, documentos e materiais do Mestre Caranguejo e do Axé Ilê Obá.

- Bases de pesquisa:
Mayumi, Lya - ​Taipa, canela preta e concreto: um estudo sobre a restauração de
casas bandeiristas em São Paulo
Ferreira, Joyce - O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula: proposta de
sequência didática
Costa, Emília Viotti da. A Abolição. Editora Unesp. 2005

- Documentação do Arquivo Histórico Estadual: Jornal “A Redempção”, de


1888
- Centro de Documentação (CEDOC) Museu da Cidade de São Paulo:
tombamento, pesquisa arqueológica, documentação de moradores
- Arquivo pessoal: Alberto Alves Barbosa (Mestre Caranguejo)
- Arquivo pessoal: Paula Egydio (Mãe Paula de Iansã)
Trecho da obra a ser publicada

Quem vai à região para conhecer o espaço, se depara com a casinha de taipa de
pilão localizada no alto de uma pequena colina cercada por um parque e, ao seu
lado, uma estrutura antagônica a ela, de concreto armado que quase a esconde.
Nesse espaço funciona atualmente a Biblioteca Pública Municipal Paulo Duarte e o
Centro de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá. Ambos os equipamentos têm como
propósito o resgate e manutenção da história da população negra e essa causa
advém justamente dos relatos de que o Sítio da Ressaca poderia ter sido um
quilombo; ou que foi apenas uma passagem em direção ao Quilombo do Jabaquara
localizado na região da cidade de Santos; ou que era a senzala de uma casa ainda
maior, uma vez que os grilhões e pelourinhos ainda se encontram no espaço; ou
ainda que há uma relação direta com o movimento abolicionista Caifazes, no qual
fez parte o Advogado Luiz Gama. (Há quem diga que o próprio Luiz Gama morou na
casa).
Durante dois anos atuando como Educadora Patrimonial na edificação, me
encontrei cercada de histórias, memórias e afetos. A pesquisa que desenvolvi a
partir dessa experiência me permitiu desmistificar muitas delas, mas também me fez
perceber quão valiosa é a manutenção da tradição viva e a importância do território
como patrimônio para fortalecer o imaginário coletivo.
Essas histórias também preenchem as lacunas deixadas por um discurso oficial que
apaga sistematicamente as experiências humanas com e no espaço. Estima-se que
a casa tenha sida construída em 1719, data que está gravada no batente da porta
da frente da casa. Tombada em 1972, foi classificada como “arquitetura bandeirista”
e incluída em uma narrativa oficial de valorização e exaltação do Bandeirante, figura
controversa que por muitos anos - arrisco afirmar que até hoje - foi considerada o
símbolo da coragem, inovação e audácia que caracterizaria o estado de São Paulo,
que ao longo do século XX, se consolidou como o centro econômico do país.
Mas a memória tem suas próprias dinâmicas. Como disse Lélia Gonzalez, “seu jogo
de cintura”. Ela emerge nas brechas, na vida cotidiana, nas “mancadas” da
consciência que não é capaz - por mais que tente - de dar conta do todo. No caso
da Casa do Sítio da Ressaca, das rachaduras de uma narrativa oficial opaca,
transbordam histórias e lendas que nos deixam entrever uma “história não escrita”,
um conhecimento que escapa e se mantém na memória coletiva, atribuindo outros
significados para o espaço e sua história.
Não se trata, entretanto, de substituir uma verdade por outra. A História, como
muitas ciências modernas, expressa uma “vontade de verdade”, tomando
emprestadas as palavras de Foucault. Ela busca reconstruir o passado, ordenar
cronologicamente as experiências humanas a partir de vestígios deixados por
homens e mulheres ao longo do tempo. Tendo em vista a amplitude e a
complexidade da vida humana, seria muita presunção assumir que seríamos
capazes de reconstruir fielmente a vida dessas pessoas.
Na tradição africana e afro-brasileira, a memória e a história são perpassadas pela
oralidade, preservadas pelas relações cotidianas onde ocorre a transmissão de
bens simbólicos e culturais. A oralidade frequentemente é vista como um suporte
metodológico, uma alternativa para a reconstrução de histórias e personagens que,
por motivos diversos, não deixaram documentos escritos. Para os intelectuais
negros, entretanto, ela representa uma opção epistemológica, uma forma particular
de representação e concepção de mundo que nos permite recuperar e valorizar
diferentes modos de ser e viver no mundo.
Ou seja, a oralidade não é um "tapa buraco", não significa a ausência de uma
habilidade (no caso, a escrita), mas um valor, uma forma de perpetuação do
conhecimento ancestral. Na história africana, a tradição oral se relaciona com todos
os aspectos da vida material, espiritual e simbólica, dando significado para as
experiências vividas. É uma tradição cultural que persiste no Brasil como um espaço
de resistência, onde memórias subjugadas e violentamente apagadas podem
florescer, se propagar e resistir.
A vivência cotidiana no Sítio da Ressaca, a relação afetiva que inevitavelmente
desenvolvi com aquele espaço foi marcada por essa tradição oral. As histórias
contadas pelos visitantes e frequentadores da região me abriam um universo de
múltiplos pontos de vista, enriquecendo o conhecimento sobre a casa, o bairro, o
território e a história daqueles que ali viveram. A realidade tem muitas faces, e foi
através das histórias contadas que pude perceber e recriar essa multiplicidade de
pontos de vista. Não seria possível realizar o trabalho educativo sem considerar as
histórias que me cercavam, elas apareciam nas visitas, nas atividades abertas ao
público e nas pesquisas documentais. Insistentes, mágicas, tristes, orgulhosas, elas
persistiam apesar de todos os esforços para silenciá-las, revelando narrativas
distintas daquelas que eu encontrava na bibliografia e documentação consideradas
“legítimas”.
A história da colonização e da nação brasileira é, para os povos dominados, uma
história de violência, exploração e dominação. Nós conhecemos as atrocidades
cometidas no período escravocrata e a permanência das desigualdades raciais
mesmo após a abolição. Recentemente, estudos mais minuciosos sobre o
abolicionismo e a segunda metade do século XIX nos apresentaram a um passado
bem mais rico do que aquele que nos foi ensinado na escola, que nos permite ver
uma parte ainda pequena das experiências vividas por esses povos no território
brasileiro. Historiadores, pesquisadores, artistas, escritores e griôs negras e negros
tem se esforçado para revelar essas histórias subterrâneas, resgatando a trajetória
dos homens e mulheres africanos e seus descendentes com o objetivo de
ressignificar o papel da população negra na história e na sociedade brasileira.
Entretanto, a história e a memória da população afro-brasileira ainda é marcada
pelo silêncio. Reza a lenda que os africanos capturados e escravizados eram
obrigados a dar a volta na “árvore do esquecimento”, para esquecerem seus nomes,
família, história, comunidade e ancestrais. O ritual teria como objetivo evitar o
“banzo”, sentimento de tristeza e saudade profunda que atingia homens e mulheres
africanos violentamente retirados de seus lares. Os senhores acreditariam que, sem
lembranças de quem eram ou de seu passado, essas pessoas seriam mais
facilmentes submetidas à escravidão. Independente da existência real do ritual,
essa história guarda em si elementos da histórias dessas pessoas no Brasil,
destituídas de sua humanidade, cultura, língua, família e identidade.
Uma grande parte do meu trabalho como educadora e pesquisadora no Sítio da
Ressaca teve como norte esse resgate, dar a volta ao contrário, retomar e
reivindicar essa memória construindo novos significados para o território, o
patrimônio e as pessoas que ali circulam.
Mestre Caranguejo - griot
Alberto Aves Barbosa nasceu em Vitória da Conquista na década de 1950, ainda
adolescente se mudou para São Paulo, onde foi aluno do Mestre Silvestre,
personagem importante na história da capoeira. Foi Mestre Silvestre quem lhe deu o
nome “caranguejo” por causa de seu gingado diferente, enquanto a maioria das
pessoas gingavam de lado, Alberto gingava para trás.
Mestre Caranguejo é uma figura conhecida na região do Sítio da Ressaca, suas
histórias fazem questão de demarcar nomes, datas e lugares muitas vezes
considerados irrelevantes pela pesquisa e narrativa histórica. Mais do que um
simples jogo ou um esporte, a capoeira assume um papel de tradição, herança e
memória que o Mestre faz questão de ressaltar a todo momento. Seu papel como
guardião da tradição e cultura afro-brasileira remete aos griots, tradicionalistas
comuns nas culturas da savana do Sul da África.
Os griots são os guardiões da palavra, bibliotecas vivas responsáveis pela
manutenção e transmissão do conhecimento, valores e a filosofia daquelas
sociedades. No decorrer de sua trajetória, Mestre Caranguejo manteve firme seu
compromisso de transmitir através das histórias contadas e do corpo em
movimento, o compromisso com essa preservação. A capoeira foi escolhida como o
espaço privilegiado, uma vez que, em suas próprias palavras:
“... A capoeira é o voo, liberdade preservada na memória pelo corpo, pela voz
e é ela que nos informa de quem somos filhos e a quem devemos honrar por
existirmos.” Entrevista concedida ao Projeto o Educação com Arte: Oficinas
Culturais.
É impossível não lembrar das palavras de Maria Beatriz Nascimento. Para a
historiadora, a história do povo negro não pode ser entendida apenas em letras e
números, como desejam alguns círculos científicos, a história do povo negro é a
história vivida, experienciada, marcada no corpo e na mente dos africanos e
afrodescendentes. O corpo, frequentemente desconsiderado pelas Ciências
Humanas, ocupa um espaço central em sua obra: o corpo é território, pois é nele
que são inscritas as relações de poder e dominação. A cor da pele, o formato do
nariz e boca, a textura dos cabelos, o tamanha do crânio, os corpos negros foram
medidos e classificados em uma hierarquia racial dotada de historicidade. É,
também, o corpo-memória, que se movimenta, que dança, que luta, que joga. É
espaço de reconhecimento e pertencimento. É o corpo que nos permite pensar,
falar, criar, sentir e agir, no caso de pessoas negras, esses corpos são marcados
por signos que constroem uma raça social e política, uma identidade coletiva com a
qual essas pessoas podem se identificar e se reconhecer.Não é possível, portanto,
compreender o negro sem desconsiderar seu corpo e suas formas particulares de
se movimentar pelo mundo.

Mestre Caranguejo - o intelectual

A segunda metade do século XX testemunhou a emergência de novos sujeitos


políticos que reivindicavam não só os direitos prometidos pela modernidade
europeia, mas o reconhecimento de sua cultura, história e intelectualidade. Nas
sociedades de origem colonial e multirraciais, como é caso do Brasil, o negro ocupa
uma posição de não-ser. No processo de deslocamento iniciado com o tráfico
atlântico de escravos, os sujeitos negros passaram por um processo de
desumanização que desvalorizou e deslegitimou seus conhecimentos e saberes,
caracterizando-os como folclore, superstição, crendice etc.
Com a emergência do movimento negro, não só no Brasil, mas em várias partes do
mundo, africanos e afrodescendentes buscaram recuperar e sistematizar esses
conhecimentos e saberes, suprimidos pela lógica colonial. Diversos intelectuais
sugerem que, mesmo excluídos dos espaços de produção do conhecimento
institucionais por políticas segregacionistas ou pela exclusão social, homens e
mulheres negros preservaram suas tradições, reinventando-as nas práticas
cotidianas e em espaços não convencionais.
No caso do Mestre Caranguejo, a roda de capoeira e a música foram os espaços
onde sua produção intelectual pode se desenvolver, numa relação estreita entre
corpo e mente, subvertendo os pressupostos do conhecimento eurocêntrico para o
qual o corpo e a mente ocupam pólos opostos, organizados por dicotomias como
natureza-cultural, emoção-razão. Suas composições, o berimbau, o gingado se
interligam na produção de um conhecimento ainda pouco reconhecido e valorizado.
De acordo com Paul Gilroy, o racismo faz com que o conhecimento acadêmico seja
dominado por uma razão branca-ocidental que toma o local (Europa Ocidental)
como global/formal, sendo assim, um instrumento de supressão da produção
intelectual negra. A dinâmica centro-periferia, na produção de conhecimento é
perpassada pelo que o historiador indiano, Sanjay Seth, chama de privilégio
epistêmico. No Brasil, a filósofa e ativista negra Sueli Carneiro foi uma das principais
responsáveis pela difusão do termo “epistemicídio”, formulado por Boaventura de
Souza Santos para se referir ao processo de supressão e apagamento da cultura,
filosofia e ciência desenvolvidos pelos povos colonizados.
O enquadramento do conhecimento nos modelos impostos pela ciência européia
nos impede de conhecer e reconhecer a produção intelectual realizada por diversos
homens e mulheres negros e negras, como o Mestre Caranguejo. O esforço de
sistematizar, analisar e divulgar a produção do Mestre está atrelado ao
compromisso de recuperação não só da memória mas da intelectualidade negra.
Compartilho aqui da compreensão de bell hooks, para a qual o intelectual não é
apenas aquele que lida com ideias - visto que muitos de nós, senão todos, lidamos
com ideias todos os dias - mas aquele que as relaciona com a vida cotidiana e
simbólica Na concepção ocidental, o negro não pode ser um intelectual, pois sua
existência é relacionada à natureza, ao primitivismo e à irracionalidade, nesse
contexto, pessoas como o Mestre Caranguejo subvertem os espaços simbólicos e
materiais reservados à eles, expressando seus pontos de vista, perspectivas e
visões críticas através da cultura ancestral, da arte, da capoeira e da tradição.

Composições

Dezengosado

Eita dor de cabeça mulher


me segura senão eu caio
se eu beber eu me balanço
pra cair eu do trabalho
Homem desengonçado
e cabeça de balaio
Eita dor de cabeça mulher
bebeu tanta pitianga
não dá bença pra seu pai
pé dentro e pé fora
balança mais não cai
Homem desengonçado
e cabeça de balaio
bambeia bambeia e bambeia
mais não caio

O Berimbau marcou o tempo

O berimbau marcou o tempo


no compasso do atabaque
e no meu pensamento
esse é meu momento no movimento
do corpo nesse terreiro
sou afro-brasileiro nesse terreiro
vou lhe avisar aí companheiro
sou jogador de capoeira
nessa dança brasileira vou lher
derrubar ainda não posso para
estamos todos unidos
no cenário popular.

Marinheiro

Marinheiro pega seu barco


vai para ondas navega olala
a maré está muito alta
quebra pra lá quebra pra cá
Avissa a marujada pra seu
barco não afundá
Marinheiro pega seu barco
vai onda navega olala Amaré
esta muito alta
quebra pra lá quebra pra ca
Avissa a marujada pra seu barco não afundá
E só branco lá no mastro
Do lado de lá avissa a marujada pra seu barco não naufragar.

Beijo na Donzela

Você brigou comigo é brincadeira


ai ai ai ai que beleza de mulher
esperei tanto tempo
pra tudo acontecer deu u beijo
na donzela é bom pra mim é bom pra você
esperei tanto tempo pra ficar com você
Ela ganhou ela ganhou meu coração
com minha consciência e meu coração
eu perdi a razão escatunga pra la
escatunga pra ca dei um beijo na donzela
pra ela não chorar

Itabaianinha

No dia que amanheço


dentro de itabainha
Homem não monta cavalo
mulher não deita galina
as freiras que tão rezando
esquecem de ladainha
Aurora

Você boto o pé pra fora vai em busca


da aurora e dezforo de você
e orgulho de você não é bom
pra mim não é bom pra você

Apaga o que está escrito


Pesçia no pensamento ainda
não é o momento acabar
com nosso amor
não bom pra mim não pra você
e dezaforo de você
E orgulho de você não é bom pra mim
não é bom pra você
Ainda não é o momento
Acabar com nosso amor
Não é bom pra mim não bom pra você

Tudo é nosso não acabo


Ainda não é momento
Acaba com o nosso amor
Público alvo
Jovens e adultos, a partir dos 16 anos, pesquisadores ou interessados pela História
da população negra no Brasil; tradição oral; Patrimônio Material e Imaterial, capoeira
e Educação Decolonial.

Plano de divulgação e estratégia de distribuição do produto final


- Palestras online de pré-lançamento;
- Show online com Mestre Caranguejo e a poética do berimbau;
- Publicação de artes digitais com trechos da obra;
- Publicação de book-trailer feito a partir das gravações para a transcrição de
material
- Criação de eventos online de lançamento via Facebook
- Artes digitais de divulgação
- Mini documentário em redes sociais
- Envio de release da obra para mídia impressa, audiovisual e internet
- Parcerias com educativos e escolas para lançamento
- 250 exemplares para distribuição gratuita em bibliotecas e escolas que mais
trabalham com a lei nº 10.639
- 100 exemplares para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa
- 40 exemplares para o Educativo do Museu da Cidade (no qual o Sítio da
Ressaca faz parte)
- 10 exemplares para a Biblioteca Paulo Duarte (pertencente ao complexo
onde se localiza o Sítio da Ressaca)
- Divulgação de venda nas redes sociais da Editora
- Disponibilização para vendas na Amazon
- Distribuição em livrarias (com contrapartida ou consignação)
- Distribuição em espaços de cultura negra
Ficha técnica:

Juliana de Cássia Correia


CPF: 414.919.068-20
Função: Produção e Edição

Juliana Correia é graduada em Filosofia (bacharel e licenciatura - 2018) pela


Universidade Federal de São Paulo, atuou em Educativos por 4 anos: SESC e do
Museu da Cidade de São Paulo, onde iniciou seu projeto de elaboração de materiais
educativos para o ensino étnico-racial.

Em 2018 lançou o selo editorial Grandir, com objetivo de materializar produções


literárias de escritores e escritoras das periferias da cidade de São Paulo,
atualmente conta com mais de 20 títulos lançados, incluindo autores dos Estados do
Rio de Janeiro e Espírito Santo

Em 2019, participou do ​XVI Congreso Internacional “Arte y Educación em América


​ a Universidad Iberoamericana,
Latina: Enfoques, lecturas y escrituras decoloniales, n
Tijuana – México, onde teve a oportunidade de apresentar a proposta do Grupo de
Pesquisa e Ações Decoloniais da UNESP, que fez parte durante um ano e seu
projeto de pesquisa individual: “Batida de Poesia” acerca do uso das poesias de
SLAMs (campeonatos de poesia falada) em ações educativas museológicas.

Atualmente, trabalha exclusivamente com formações de educadores e professores e


na elaboração de projetos culturais no campo da música e da poesia, bem como
oficinas de escrita criativa, elaboração de projetos e produção de materiais
educativos.

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