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2º ano, Turma A

Patrícia Carneiro da Silva

DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA


Professor Doutor Marco Capitão Ferreira

ACORDÃOS
Caso Johnston / Chief Constable (1986)
O Tribunal afirma o princípio do controlo jurisdicional efectivo, peça chave do Direito da
União Europeia e um dos pontos mais importantes deste acórdão, visto que só assim se
garante o reenvio prejudicial. O Tribunal aproveita este Acordão para afirmar o primado,
para lançar as bases do efeito directo e para afirmar a tutela jurisdicional efectiva a nível
europeu.
Estabelece-se, este, que o Direito da União Europeia cria direitos nas esferas jurídicas
dos cidadãos. O Tribunal aplica a ideia de uniformização da interpretação. Fala-se de
efeito directo no sentido de se exigir uma correcta transposição da Directiva, pelo que
o particular pode invocar directamente esta directiva junto dos tribunais nacionais
quando esta tiver sido erradamente transposta e a sua correcta transposição traga
benefícios ao particular.
O Tribunal invoca ainda o princípio da igualdade, mas, no fim, acaba por decidir que a
argumentação do Chief Constable é válida. Tal funda-se na ideia, diz o Professor Marco
Capitão Ferreira, que o Tribunal não se quer meter nas questões de segurança nacional
dos Estados-membros.

Caso Gend & Loos (1963)


O Tribunal, conferindo aos particulares a faculdade de invocar a violação dos Tratados e
ao garantir aos Tribunais nacionais a possibilidade de aplicar o Direito da União
Europeia, acelera exponencialmente a fixação de uma Ordem Jurídica independente.
Contribui, ainda, para a fixação da aplicabilidade directa das normas de DUE. Com isto,
o Tribunal garante o cumprimento dos Tratados sem ter de o comprovar caso a caso,
visto que pode usar os particulares e os tribunais nacionais como fiscalizadores.
Estamos numa fase embrionária da união aduaneira, visto que ainda se cobravam taxas
aduaneiras entre Estados-membros. Neste caso, estava-se numa altura em que a taxa
fixada esta a taxa que estava em vigor à data da assinatura do Tratado – a partir daí, não
é permitida a fixação de uma taxa superior a essa.
O Tribunal invoca a uniformização do direito e desenvolve o princípio do efeito directo.
“Os Estados limitaram a sua soberania a favor da Comunidade, sendo esta uma nova
ordem jurídica de direito internacional. Assim, o Direito internacional,
independentemente da legislação de cada Estado, impõe obrigações e atribui direitos
aos particulares, integrando estes directamente as suas esferas jurídicas”

Caso Costa / ENEL (1964)


Este Acordão marca a maior transferência de soberania para a Comunidade de uma só
vez – garante-se que o direito europeu prevalece e que não é permitida a criação de
normas nacionais posteriores contrárias ao direito comunitário. O poder legislativo
nacional deixa de poder legislar sobre matéria já tratada pelas Comunidades. O Tribunal
2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva

parte do princípio do primado do Direito da UE para afirmar a presença de uma


transferência de soberania.
O Professor Marco Capitão Ferreira diz que o Tribunal faz tudo isto porque tem uma
agenda – dizer ao Tribunal Constitucional italiano que estas normas não são passíveis de
declaração de inconstitucionalidade. Uma norma de direito interno que ponha em causa
o primado do Direito da União não é para ser avaliada por um órgão constitucional
nacional. O desvalor ultrapassa a inconstitucionalidade, pelo que o juiz nacional pode
de forma imediata desaplicar a norma de direito nacional. O juiz deverá assim desaplicar
a norma no caso concreto e informar imediatamente o Tribunal de Justiça da existência
dessa norma.
Este Acórdão serve também para afirmar novamente o primado, para resolver a questão
hierárquica, para se impor no poder legislativo e, ainda, no poder judicial. O único
Tribunal Constitucional que não funciona assim é o Tribunal Alemão – para este, o
primado do Direito da União Europeia é apenas sobre direito nacional secundário, não
afectando por isso a Constituição. Esta posição é, em Portugal, defendida pelo Professor
Jorge Miranda.

Caso Simmenthal (1978)


Com o Acórdão Simmenthal, o TJUE veio afirmar o princípio do primado com eficácia
directa, absoluta e incondicional da norma comunitária, cuja aplicação deveria ser
assegurada com total independência dos procedimentos constitucionais relativos à
revogação ou declaração de inconstitucionalidade da norma nacional; bem como a
exigência do primado como filosofia global e operatividade das reações entre as duas
ordens jurídicas, pressuposto da eficácia normativa das disposições comunitárias e do
estatuto comunitário do juiz nacional.
Assim, o juiz nacional é investido num duplo mandato – terá de aplicar o direito
comunitário no quadro dos mecanismos processuais internos e terá de ignorar o seu
direito processual interno quando este lhe dificulte ou impeça a plena aplicação do
direito comunitário.

Caso Marshall / Southampton (1986)


Não serve aqui o princípio da interpretação conforme. As normas das Directivas não
visam criar direitos junto dos particulares, pelo que têm de ser transpostas por um acto
jurídico interno. O Estado é assim obrigado a transpor as Directivas atempadamente. O
Tribunal tenta aqui usar uma norma de uma Directiva junto dos particulares que não
está feita, pela sua natureza, para tal – o mesmo invoca que o Estado não pode
beneficiar do seu próprio incumprimento perante o prazo de transposição. Admite,
assim, que a norma é aplicável porque estamos perante uma entidade pública e porque
não foi respeitado o prazo.
Estamos perante a criação de uma descontinuidade da aplicação do Direito. O Tribunal
expressamente afasta a possibilidade de efeito directo horizontal – se as Directivas
puderem ser aplicadas directamente junto dos particulares, esbate-se a distinção entre
as directivas e os regulamentos.
2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva

Caso Marleasing SA (Sexta Secção – 1990)


Estamos perante um caso em que a lei nacional (espanhola), no tocante às causas de
invalidade, era mais generosa do que a Directiva europeia. O Tribunal vem dizer que a
norma interna tem de ser interpretada conforme a norma da Directiva. Como não lhe
era possível aplicar a norma da Directiva – essas normas só se aplicam aos Estados e não
estamos perante um caso no qual o Estado esteja envolvido – o Tribunal pega na norma
interna e vê se esta é conforme à Directiva – se não é, o Tribunal procede a uma
interpretação conforme: “o Direito interno passa a dizer o que quer que seja que o
Tribunal queira”.
Estamos perante uma interpretação abrogante, que não tem o mínimo de
correspondência com a letra da lei.
O Tribunal afirma que o Estado só pode legislar no sentido da directiva, mesmo que
dentro do prazo vá depois no sentido da directiva.

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