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Enquadramento Conceptual
social (Cunha & Salvador, 2000; Prinstein & La Greca, 2002) bem como a
maiores níveis de isolamento e depressão (Prinstein & La Greca, 2002).
Apesar da elevada prevalência, as perturbações de ansiedade passam,
muitas vezes despercebidas e sem tratamento (Chavira, Stein, Baley & Stein,
2004; Kroenke, Spitzer, Williams, Monohan & Lowe, 2007). Por esse
motivo, reduzir esta taxa é um desafio para a saúde pública (McGrandles &
Duffy, 2012), uma vez que este tipo de perturbações aumentam o insucesso
escolar (Woodward & Fergusson, 2001), o risco de abuso de substâncias, o
desenvolvimento de problemas de comportamento (Connolly, Suarez &
Sylvester, 2011), a utilização prolongada de serviços médicos, acabam por
comprometer o funcionamento global do sujeito (Marquenie, Schade & van
Balkom, 2007) e, a longo prazo, têm consequências que se encontram
subestimadas e que são a causa de sofrimento considerável e incapacidade
para os indivíduos e para as suas famílias (Waghorn, Chant, White &
Whiteford, 2005).
Dada a elevada prevalência, as graves consequências e os gastos
sociais elevados, é fundamental desenvolver e investir em métodos de
avaliação das perturbações de ansiedade cada vez mais fidedignos para que,
quando necessário, seja possível a definição fidedigna de diagnósticos para
fins de investigação, a prevenção desta casuística clínica, a avaliação
precoce e a definição de um tratamento objetivo e estruturado (Breinholsta,
Esbjørna, Reinholdt-Dunnea & Stallard, 2012).
Entrevistas de Diagnóstico
A criação das entrevistas de diagnóstico teve como principal objetivo
uma avaliação mais fidedigna da psicopatologia (Ulloa, Ortiz, Higuera,
Nogales, Fresán, Apiquian, … Peña, 2006), uma vez que a inserção das
entrevistas estruturadas e semi-estruturadas fornecem ao protocolo de
avaliação a definição de um diagnóstico mais preciso e fiável (Thienemann,
2004). Várias foram as vantagens encontradas no uso deste tipo de
instrumentos de entre as quais se destacam: a diminuição da variabilidade na
recolha da informação, a inserção de índices de gravidade avaliados pelo
paciente na avaliação das suas próprias emoções e comportamentos (Ulloa et
al, 2006), um guia estruturado e flexível ao nível das questões e do registo
da informação uma vez que permite ao clínico uma maior facilidade na
identificação de um diagnóstico e, por consequência, uma maior agilidade no
que concerne ao reconhecimento da existência de comorbilidades (De la
Peña, Patiño, Ulloa, Cruz, Mendizábal, Cortés et al,1998 cit in Ulloa et al.,
2006).
A Entrevista para as Perturbações de ansiedade segundo o DSM-IV (ADIS-C) aplicada a uma
população adolescente: validade concorrente, validade discriminante, concordância inter -
avaliadores e aceitabilidade da entrevista clínica.
Cátia Margarida Casanova da Silva Martins (e-mail:catia.casanova@gmail.com) 2013
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Objetivos e Hipóteses
A relevância do estudo da ADIS-C prende-se não só pelo seu uso
contínuo em inúmeras investigações mas também pela contribuição
fundamental para a clínica já que pode ajudar na avaliação inicial e na
definição de sintomatologia extinta após o tratamento. Assim, este
instrumento requer um olhar específico sobre diversas variáveis que será tido
em consideração na definição dos objetivos desta investigação. Deste modo,
e de uma forma geral, os objetivos gerais desta investigação consistem no
estudo da validade concorrente, validade discriminante, concordância de
diagnóstico inter-avaliadores e aceitabilidade desta entrevista pelos
adolescentes, para definir as características psicométricas relevantes para a
sua utilização. Apresentam-se, a seguir, os objetivos específicos e as
hipóteses deles decorrentes.
Metodologia
Amostra
A amostra da presente investigação foi recolhida em 11
estabelecimentos de ensino distintos. A amostra final ficou constituída por
240 adolescentes sendo que, 172 adolescentes (71,7%) apresentam, pelo
menos, um diagnóstico e 68 adolescentes (28,3%) não possuem qualquer
perturbação psiquiátrica (Quadro 1).
2
M DP M DP p
Estatuto
1.86 0.69 1.73 0.62 3.643 .162
Socioeconómico
1 Neste grupo encontram-se incluídas as seguintes Perturbações: Fobia Social Generalizada, Fobia Social
Específica de Desempenho, Perturbação de Ansiedade de Separação, Fobia Específica, Perturbação de
Pânico com Agorafobia, Perturbação de Pânico sem Agorafobia, Agorafobia sem História de Pânico,
Perturbação de Ansiedade Generalizada, Perturbação Obsessivo-Compulsiva e Perturbação de Stress Pós-
Traumático.
2
Neste grupo foram consideradas Perturbações do Humor os diagnósticos de Distimia e Perturbação
Depressiva Major.
3
De notar que o número de sujeitos total é superior ao n da amostra, uma vez que, existe uma taxa
considerável (43.6%) de diagnósticos comórbidos.
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Instrumentos 45
A Entrevista para as Perturbações de Ansiedade segundo o DSM-IV
(Anxiety Disorders Interview Schedule for DSM-IV: Child Version - ADIS-
C; Silverman & Albano, 1996) é o objeto de estudo da presente investigação
e, como tal, encontra-se aqui brevemente descrito, uma vez que foi
amplamente descrito anteriormente. É uma entrevista estruturada que tem
por objetivo o diagnóstico de perturbações de ansiedade e de outras
perturbações características da infância e da adolescência, nomeadamente,
Distimia, Perturbação Depressiva Major e Perturbação de Défice de Atenção
e Hiperatividade. As suas propriedades psicométricas foram estudadas e
verificadas (Silverman, Saavedra, & Pina, 2001; Wood, Piacentini,
Bergman, McCraken, & Barrios, 2002). A sua versão portuguesa foi
traduzida e adaptada por Cunha e Salvador (2003) sendo este o primeiro
estudo Português de avaliação das propriedades psicométricas deste
instrumento.
4
Consideramos como valores de referência, neste estudo, os índices de consistência interna
apresentados por Pestana e Gageiro (2003), que sugerem que um alpha de Cronbach de valor
inferior a .60 é inadmissível, entre .60 e .70 é fraco, entre .70 e .80 é razoável, entre .80 e .90 é
bom e entre .90 e 1 é muito bom.
5
Na avaliação da magnitude das correlações são considerados como valores de referência, ao
longo deste estudo, os valores apontados por Pestana e Gageiro (2003), que sugerem que um
coeficiente de correlação inferior a .20 revela uma associação muito baixa, um valor entre .21
e .39 uma associação baixa, entre .40 e .69 moderada, entre .70 e .89 elevada e, superior a .90
uma associação muito elevada.
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Procedimento
Foram obtidas as autorizações da Comissão Nacional de Proteção de
Dados (CNPD), da Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento
Curricular (DGIDC), dos conselhos executivos das 11 escolas (na região
centro-norte de Portugal), dos Encarregados de Educação e, finalmente, dos
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Resultados
Validade convergente
Para avaliar a validade convergente calcularam-se correlações de
Pearson entre a presença/ausência de diagnósticos ou grupos de diagnósticos
com os questionários que avaliam sintomatologia relevante para esse
diagnóstico ou conjuntos de diagnóstico.
CBCL
TRF
Perturbações de Ansiedade
As correlações entre a presença do diagnóstico de Perturbações de
Ansiedade e as pontuações obtidas nas medidas de autoavaliação de
ansiedade geral (MASC) mostraram-se positivas, baixas e estatisticamente
significativas (Quadro 6).No entanto, a correlação da existência deste
diagnóstico com medidas de heteroavaliação de ansiedade geral (Fator
Ansiedade do CBCL e do TRF) revelaram-se não significativas (Quadro 6).
Perturbações do Humor
Para os coeficientes de Pearson obtidos, constatou-se uma correlação
positiva, baixa e estatisticamente significativa entre a presença do
diagnóstico de Perturbações do Humor e as pontuações obtidas em medidas
de autoavaliação e heteroavaliação de sintomatologia depressiva (CDI e fator
Depressão do CBCL) (Quadro 7).
Validade Divergente
Para avaliar da validade divergente foram calculadas correlações de
Pearson entre a presença/ausência de diagnóstico ou conjuntos de
diagnóstico e sintomatologia não diretamente relacionada com o diagnóstico
em causa. Deste modo, para facilitar a interpretação, os resultados
encontram-se organizados pelas medidas e não pelos diagnósticos.
Quadro 9. Correlações entre os diagnósticos de Fobia Social Generalizada, Fobia Social Específica
de Desempenho, Perturbações de Ansiedade e PHDA e as pontuações obtidas em medidas de auto
e heteroavaliação de sintomatologia depressiva (CDI e o fator depressão do CBCL, respetivamente).
Fator depressão
Diagnósticos CDI p p
CBCL
Fobia Social
.421 .000 .067 .585
Generalizada
Fobia Social Específica
-.005 .936 -.067 .586
de Desempenho
Perturbações de
.323 .000 -.015 .903
Ansiedade
PHDA .182 .005 .141 .247
Nota. CDI = Children’s Depression Inventory; CBCL = Child Behavior Checklist; PHDA =
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.
Quadro 10. Correlações entre os diagnósticos de Fobia Social Generalizada, Fobia Social
Específica de Desempenho, Perturbações de Ansiedade e Perturbações de Humor e as
pontuações obtidas em medidas de auto e heteroavaliação de problemas de
atenção/hiperatividade (fator do YSR e do CBCL).
CBCL_Fator
YSR_Fator Problemas de
Diagnósticos p Hiperatividade/Probl p
Atenção/Hiperatividade
emas de Atenção
Fobia Social
-.026 .768 -.177 .146
Generalizada
Fobia Social
Específica de .033 .707 -.033 .785
Desempenho
Perturbações
.091 .302 -.182 .135
de Ansiedade
Perturbações
-.009 .919 .244 .043
do Humor
Nota. YSR = Youth Self Report; CBCL = Child Behavior Checklist.
Nota. MASC = Multidimensional Anxiety Scale for Children; EAESSA = Escala de Ansiedade e
Evitamento em Situações Sociais para Adolescentes; RT = Reaction to Test; PHDA =
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.
Perturbações
.262 .030 .260 .031 .071 .563
do Humor
PHDA .107 .384 .075 .540 -.085 .485
Nota. CBCL = Child Behavior Checklist; PHDA = Perturbação de Hiperatividade e Défice de
Atenção.
Perturbações
.312 .020 .349 .009 .149 .279
do Humor
PHDA .056 .684 .143 .299 -.151 .273
Nota. TRF= Teacher Report Form; PHDA = Perturbação de Hiperatividade e Défice de
Atenção.
Validade Discriminante
Quadro 14. Médias (M) e Desvios-Padrão (DP) das medidas de auto e heteroavaliação, em
função da presença ou ausência do diagnóstico de Fobia Social Generalizada, através de um
T-student para verificação das diferenças.
Fobia Social Generalizada
Sim Não
M 163.57 122.78
DP 42.42 39.52
EAESSA
t -6.249
p .000
CBCL
M 2.83 2.63
DP 2.55 2.20
Problemas Sociais
t -.233
p .817
M 3.19 3.04
DP 2.34 2.14
Isolamento
t -.269
p .789
TRF
M 5.69 5.14
DP 4.53 4.13
Isolamento
t -.443
p .660
M 1.22 2.10
Quadro 15. Médias (M) e Desvios-Padrão (DP) das medidas de autoavaliação) em função da
presença ou ausência do diagnóstico de Fobia Social Específica de Desempenho, através de
um T-student para verificação das diferenças.
Fobia Social Específica de Desempenho
Sim Não
M 91.15 84.83
DP 16.01 19.11
RT
t -1.759
p .080
Nota. RT = Reaction to Test.
Perturbações de Ansiedade
Esta análise não pôde ser realizada para as medidas de ansiedade geral
de autoavaliação (MASC), uma vez que, o grupo sem Perturbações de
Ansiedade, devido às elevadas taxas de comorbilidade só englobava dois
sujeitos e de heteroavaliação, CBCL e TRF, nos fatores de ansiedade, uma
vez que, o número de pais e professores que responderam a este instrumento
não foi suficiente.
Perturbações do Humor
Com recurso ao teste não paramétrico de Mann-Whitney, devido ao
número reduzido de adolescentes com o diagnóstico de Perturbações do
Humor, verificou-se que existiam diferenças estatisticamente significativas
(U = 948; Z = -2.130, p < .033) entre o grupo com Perturbações do Humor e
o grupo com qualquer outro diagnóstico, no que concerne à pontuação obtida
em medidas de autoavaliação de sintomatologia depressiva (CDI). Assim, é
possível concluir que os adolescentes com Perturbações do Humor
obtiveram uma pontuação no CDI superior à dos sujeitos com qualquer outro
diagnóstico (Quadro 16).
A análise para as medidas de heteroavaliação de sintomatologia
depressiva (fator depressão do CBCL) não pôde ser realizada uma vez que o
número de pais que responderam a este instrumento não foi suficiente.
YSR
M 14.11 9.47
DP 4.94 4.70
Problemas de
U 191.5
Atenção/Hiperatividade
Z -2.552
p .011
Nota. YSR = Youth Self Report.
Quadro 18. Médias (M) e Desvios-Padrão (DP) das medidas de autoavaliação de ansiedade e
evitamento social (EAESSA) em função da presença ou ausência do diagnóstico de Fobia
Social Generalizada, através de um T-student para verificação das diferenças.
Fobia Social Generalizada
Sim Não
M 163.57 107.34
DP 42.42 26.77
EAESSA
t -9.958
p .000
Nota. EAESSA = Escala de Ansiedade e Evitamento em Situações Sociais para Adolescentes.
Quadro 19. Médias (M) e Desvios-Padrão (DP) das medidas de autoavaliação de ansiedade
aos testes (RT) em função da presença ou ausência do diagnóstico de Fobia Social Específica
de Desempenho, através de um T-student para verificação das diferenças.
Fobia Social Específica de Desempenho
Sim Não
M 91.15 69.10
DP 16.01 18.44
RT
t -6.170
p .000
Nota. RT = Reaction to Test.
Quadro 20. Médias (M) e Desvios-Padrão (DP) das medidas de autoavaliação de ansiedade
geral (MASC) em função da presença ou ausência do diagnóstico de Perturbações de
Ansiedade, através de um T-student para verificação das diferenças.
Perturbações de Ansiedade
Sim Não
M 1.36 .98
DP .42 .41
MASC
t -6.344
p .000
Nota. MASC = Multidimensional Anxiety Scale for Children.
YSR
M 14.11 8.42
DP 4.94 3.66
Problemas de
U 52.5
Atenção/Hiperatividade
Z -2.964
p .003
Nota. YSR = Youth Self Report.
Concordância Inter-Avaliadores
O grau de concordância entre os diagnósticos feitos pelo entrevistador
principal e os diagnósticos feitos pelo observador mostraram-se
estatisticamente significativos. Obtiveram-se valores de Kappa excelentes
para todos os diagnósticos à exceção do diagnóstico de Perturbação
Obsessivo-Compulsiva cujo Kappa se revelou bom (Quadro 23). Nem todos
os diagnósticos se encontram representados uma vez que nem todas as
entrevistas realizadas dispuseram de um observador.
Fobia Social
32 30 .891 .000
Generalizada
Fobia Social
Específica de 16 15 .879 .000
Desempenho
Perturbação de
Ansiedade de 4 3 .851 .000
Separação
Agorafobia sem
1 1 1.000 .000
História de Pânico
Perturbação de
Ansiedade 5 5 .786 .000
Generalizada
Perturbação
Obsessivo- 1 2 .661 .000
Compulsiva
Perturbação de
Stress Pós – 1 1 1.000 .000
Traumático
Perturbações do
3 3 1.000 .000
Humor
Perturbação
2 2 1.000 .000
Depressiva Major
6
Utilizaram-se os critérios de Landis & Koch (1997) para interpretar os coeficientes kappa: excelente:
kappa > .75; bom: kappa = .59 a .75; moderado: kappa = .40 a .58; fraco: kappa = < .40.
A Entrevista para as Perturbações de ansiedade segundo o DSM-IV (ADIS-C) aplicada a uma
população adolescente: validade concorrente, validade discriminante, concordância inter -
avaliadores e aceitabilidade da entrevista clínica.
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Quadro 24. Aceitabilidade da ADIS-C por parte dos adolescentes, valores percentuais (N=132)
Aceitabilidade da Entrevista
n %
(n=132)
Cansaço
Muito Cansado 0 0
Aborrecimento
Muito aborrecido 0 0
Sentimentos após a
entrevista
Pior que antes 0 0
Discussão
Na secção anterior foram apresentados os resultados dos estudos
propostos nas hipóteses. Esta secção pretende discutir os resultados obtidos à
luz da literatura relevante.
Validade convergente
Na presente investigação, a ADIS-C surge como um importante
instrumento de avaliação e diagnóstico em crianças e adolescentes. Através
deste, foi possível, dentro da população geral, avaliar a validade convergente
com questionários de autoavaliação já validados concluindo-se, deste modo,
que esta validade foi demonstrada pela confirmação de todas as hipóteses
relativas a estes dados. Assim, pode ser considerado um instrumento válido
no diagnóstico de várias perturbações psiquiátricas em adolescentes, mais
concretamente, na Fobia Social Generalizada, na Fobia Social Específica de
Desempenho, nas Perturbações de Ansiedade, nas Perturbações do Humor e
na Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção podendo, desta forma,
depreender-se que é um instrumento de diagnóstico fidedigno e válido pela
coerência com outros instrumentos.
Estes resultados encontram-se em concordância com estudos
anteriores que demonstram uma boa validade concorrente nos diagnósticos
de Fobia Social, Perturbação de Ansiedade de Separação e Perturbação de
Pânico (Wood, Piacentini, Bergman, McCraken & Barrios, 2002).
Em suma, é possível referir que a ADIS-C, na presente investigação
demonstrou uma boa validade convergente quando temos em conta as
medidas de autoavaliação, nomeadamente EAESSA, RT, MASC, CDI e o
fator Problemas de Atenção/Hiperatividade do YSR.
Validade Divergente
A validade divergente entre os diagnósticos avaliados pela ADIS-C
(Fobia Social Generalizada, Fobia Social Específica de Desempenho,
Perturbações de Ansiedade, Perturbações do Humor e PHDA) e as
pontuações obtidas nos questionários de autoavaliação foi, maioritariamente,
corroborada, uma vez que, as únicas associações significativas encontradas
foram entre os diagnósticos de Fobia Social Generalizada (correlação
moderada), de Perturbações de Ansiedade (correlação baixa) e de PHDA
(correlação muito baixa) e as pontuações obtidas em medidas de
sintomatologia depressiva (CDI). Estas pontuações podem ser justificáveis
devido ao facto de, na amostra deste estudo, se terem verificado elevadas
taxas de comorbilidade entre as Perturbações de Ansiedade e as Perturbações
do Humor, o que tem vindo a ser revelado em outras investigações
(Lewinsohn, et al., 1997; McGrandles & Duffy, 2012).
Validade Discriminante
A validade discriminante na presente investigação foi
operacionalizada através da comparação entre adolescentes sem patologia e
os diferentes diagnósticos encontrados na população clínica, bem como entre
os diferentes diagnósticos entre si. Assim, os diagnósticos feitos pela ADIS-
C foram comparados entre si relativamente às pontuações obtidas em
questionários que avaliassem a Perturbação em análise verificando-se que a
maioria das hipóteses foi corroborada dentro da amostra clínica (diagnóstico
A Entrevista para as Perturbações de ansiedade segundo o DSM-IV (ADIS-C) aplicada a uma
população adolescente: validade concorrente, validade discriminante, concordância inter -
avaliadores e aceitabilidade da entrevista clínica.
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da ADIS-C quando comparada com EAESSA, CDI, YSR). Por outro lado,
os diagnósticos feitos pelas ADIS-C foram também comparados com a
inexistência diagnóstica, também avaliada pela ADIS-C, relativamente às
pontuações obtidas em questionários que avaliassem a Perturbação em
análise sendo corroboradas, dentro da população não-clínica, a totalidade das
hipóteses.
Os resultados não se revelaram congruentes com as hipóteses, dentro
das comparações no grupo clínico, relativamente à medida de autoavaliação
de ansiedade aos testes (RT) e às medidas de heteroavaliação de dificuldades
sociais (CBCL e TRF). O primeiro resultado pode estar relacionado com
uma limitação deste estudo que se prende com o facto de a amostra ter sido
recolhida num período de avaliações escolares o que pode ter elevado
temporariamente a ansiedade aos testes, independentemente dos
diagnósticos. Relativamente às medidas de heteroavaliação, e à semelhança
do que foi referido anteriormente relativo às baixas taxas de concordância
encontradas entre informadores, foi considerada a possibilidade de a
avaliação dos pais/cuidadores e dos professores não corresponder
exatamente às dificuldades reportadas pelos sujeitos aquando das entrevistas
clínicas daí que não se consigam distinguir nas pontuações nestes
instrumentos.
Estes dados, acabam por reforçar a ideia de que os questionários,
principalmente no que se refere aos questionários de heteroavaliação, apenas
fornecem ao clínico indicações acerca de comportamentos que poderão ser
considerados problemáticos (Wielewicki, Gallo, Grossi, 2011) não
permitindo que se façam, através deles, diagnósticos.
Concordância Inter-Avaliadores
A utilização de instrumentos que potenciem a concordância clínica e
que sejam capazes de eliminar questões subjetivas tem merecido muita
atenção por parte de investigações atuais porque fornece à investigação um
carácter mais rigoroso (Lauth, Magnússon, Ferrari, Pétursson, 2008). Este
carácter pode ser obtido por uma grande diversidade de meios de avaliação
(Choudhury, Pimentel & Kendall, 2003) e, pela unificação de critérios
específicos que eliminem a subjetividade de cada clínico. Esta eliminação é
tanto maior quanto maior for a concordância diagnóstica entre avaliadores.
Relativamente à presente investigação, os níveis de concordância
inter-avaliadores mostraram-se excelentes em todos os diagnósticos
avaliados à exceção do diagnóstico de Perturbação Obsessivo-Compulsiva
que, no entanto, se revelou bom. Os dados relativos à concordância inter-
avaliadores em investigações anteriores corroboram os resultados deste
estudo já que, em 2007, Rao e colaboradores tinham estabelecida a
fidedignidade inter-avaliadores para o diagnóstico de Fobia Social e para a
interferência de sintomas.
Aceitabilidade da Entrevista
Em todos os processos de avaliação é importante que qualquer criança
ou adolescente classifique os métodos pertencentes à sua avaliação como
adequados a si permitindo, este facto, o estabelecimento de uma relação
terapêutica positiva que fomenta a partilha de informação relevante e
objetiva. Assim, deveria ser imprescindível, que todos os instrumentos de
diagnóstico, aquando a sua validação, possuíssem uma medida para avaliar a
sua aceitabilidade. Esta postura tem vindo a ser defendida e, neste sentido, o
breve conjunto de questões utilizadas nesta investigação para avaliar a
aceitabilidade da entrevista foram retiradas de um estudo semelhante de
avaliação de uma outra entrevista clínica (Sørensen, Thomsen & Bilenberg,
2007).
Os resultados revelaram que a ADIS-C é um instrumento aceite e bem
classificado pela população adolescente pertencente a esta investigação. O
único parâmetro em que a entrevista não foi avaliada com a melhor
pontuação pela maioria dos adolescentes diz respeito aos sentimentos após a
entrevista e, este dado, pode ser compreendido uma vez que não se espera
que o modo como os adolescentes se sentem melhore apenas com o relato
das dificuldades. Assim, a maioria dos adolescentes refere que a forma como
se sentiram após a entrevista foi igual ao modo como se sentiam antes. No
entanto, alguns adolescentes melhoraram o seu estado geral. Estes dados são
semelhantes ao estudo original destas questões (Sørensen, Thomsen &
Bilenberg, 2007), no entanto, a ADIS-C encontra-se melhor cotada que a
entrevista em estudo na referida investigação, uma vez que, neste estudo não
foram encontrados casos de agravamento do mal-estar sentido após a
entrevista, enquanto na investigação de Sørensen, Thomsen & Bilenberg
(2007) 11.25% da amostra referiu este facto.
Conclusões
O estudo das características psicométricas da ADIS-C numa
população adolescente revelou bons resultados na validade concorrente e
discriminante, na concordância inter-avaliadores e na aceitabilidade da
entrevista por parte dos adolescentes. Estes resultados parecem ser
indicativos de boas capacidades para gerar diagnósticos clínicos válidos,
fiáveis e fidedignos. Assim, este torna-se um dos principais contributos da
presente investigação, uma vez que colabora no crescimento, em termos de
diversidade, de métodos válidos e com grande utilidade tanto clínica como
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população adolescente: validade concorrente, validade discriminante, concordância inter -
avaliadores e aceitabilidade da entrevista clínica.
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