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MORTA
Um dos conceitos centrais na obra de André Green é o de “mãe morta”. O psicanalista francês
criou esse termo para falar de como a falta de interesse da figura materna em relação à criança
se traduz, mais tarde, na sensação de perda de sentido, apatia e identificação inconsciente
com o luto. Sobre o tema, confira o artigo da psicanalista Talya Candi, membro da SBPSP.
Com a noção de “mãe morta”, o psicanalista francês André Green coloca em evidência o vazio
que subjaz à vida mental de todo ser humano. Expliquemos: para sermos capazes de nos
apropriar dos afetos, sensações e fantasias que formam o tecido psíquico que chamamos de
vida mental, precisamos de um suporte bem constituído pois, tal como um quadro que pode ser
pintado somente se tiver uma tela branca segura, as percepções, fantasias e afetos que
organizam nossos desejos e idéias necessitam de um “pano de fundo”, um continente vazio
que permita que o desenho de fantasias e afetos tome forma e figura.
Essa descoberta foi feita por André Green com base em um trabalho psicanalítico com um tipo
muito particular de pacientes: pessoas que se submetem ao tratamento proposto pelo
terapeuta, conversam, associam, escutam as intervenções do analista, mas após longos anos
de análise não apresentam sinais de melhora em sua vida afetiva. O autor tece uma hipótese
sobre essa dificuldade em relação ao trabalho analítico: para ele, com certo tipo de pacientes a
técnica analítica interpretativa reproduz o que chama de síndrome da mãe morta.
A mãe morta (emocionalmente nesse estado, não necessariamente falecida de modo concreto)
é definida como um “complexo transferencial” que reconstrói hipoteticamente a relação da
criança pequena, ainda muito dependente do olhar materno, mas bruscamente “desinvestida”
devido ao afastamento afetivo por parte da figura materna. Esse acontecimento
incompreensível para a criança transforma brutalmente o objeto vivo, fonte da vitalidade, em
figura distante, átona, quase inanimada, e põe fim a momentos felizes de sua infância.