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Atenção: o corpo fala

Lia Nasser

Desde que nascemos, usamos o corpo para comunicar emoções,


sentimentos, mesmo sem perceber. Entenda melhor a linguagem corporal e
saiba como ela pode ajudar você nas mais variadas situações

Ninguém precisa estudar a linguagem corporal para usá-la. Ela é


inata e inconsciente. Usamos naturalmente e o tempo todo gestos
simbólicos como ferramentas para nos comunicar sem precisar falar.
Pierre Weil, em seu livro O corpo fala, avalia que estes gestos “são mensagens sintéticas de
significado convencional”, o que quer dizer que todo mundo entende quando alguém balança a
cabeça para dizer não, ou fixa um olhar penetrante para mostrar interesse ou paquerar.
A linguagem silenciosa da comunicação não-verbal está arraigada em nosso dia-a-dia, mesmo
que a gente, durante a maior parte do tempo, nem se dê conta disso. Mas por que então é
preciso conhecê-la se já a utilizamos desde que nascemos?
A importância da linguagem gestual
Segundo o pesquisador, professor doutor, consultor de comunicação e marketing (entre outras
coisas), Flávio M.de A. Calazans, conhecer como o corpo se comunica pode ser útil em muitas
situações.
Identificar o significado destes símbolos não-verbais “esclarece a comunicação e facilita a vida
na medida em que é possível entender melhor o que acontece em nossa volta”, justifica ele.
Principalmente nas grandes cidades, onde os estímulos e acontecimentos são muitos,
reconhecer as mensagens corporais embutidas nas falas e nas atitudes das pessoas, pode
ajudar você a se localizar melhor e até a se defender.
E, o que é melhor, “ter consciência dos significados dos gestos é muito importante,
principalmente por que, por ser natural e inconsciente, a linguagem corporal não mente
e permite uma leitura mais precisa do seu interlocutor”, explica Calazans.
O professor dá um exemplo: quando uma pessoa, ao pensar para responder a uma pergunta,
olha para a cima à direita, “significa que ela vai omitir ou mentir sobre algo. Se olhar para cima
à esquerda, ela está tentando lembrar de alguma coisa”. E explica: “estudos de neurolinguística
comprovam as relações entre os movimentos do corpo e as funções cerebrais”, ou seja, a
maneira como você se expressa nunca é inocente. Ela revela muito daquilo que vai na sua
cabeça e no seu coração.
Gestos culturalmente determinados
A importância de conhecer o significado dos gestos passa também pelo perigo de cometer
algumas gafes gestuais com pessoas de outras culturas. E não pense que você precisa viajar
para o Japão para sentir estas dificuldades de comunicação. As diferenças existem tanto em
relação a outros países como dentro do próprio Brasil.
Isso por que, como coloca Calazans, “no nível mais inconsciente, a comunicação corporal
é universal. Mas os gestos que aprendemos durante a vida, aqueles que variam de
cultura para cultura, são muito específicos de cada povo. Isto exige uma atenção
especial, para não criar problemas na hora de se relacionar”.
Se mostrar a palma da mão é, para nós, inconscientemente, um ato que significa mostrar
interesse, ‘se oferecer’. Na Grécia, por motivos históricos, esticar a palma da mão aberta em

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direção a uma pessoa é um grande insulto. Por isso, se você chegar na Grécia e quiser dar um
‘tchauzinho’ para alguém, é melhor fazê-lo com a mão fechada!
Este tipo de comunicação corporal é culturalmente determinada. A linguagem do corpo é
composta por fatores genéticos, segundo algumas correntes, mas também pela socialização.
Nos países do Oriente Médio, por exemplo, mostrar a sola do pé é uma ofensa imensa e
você deve redobrar a atenção ao cruzar as pernas, por exemplo.
Mas estes problemas podem acontecer também dentro do nosso próprio país, alerta Calazans,
principalmente no caso do Brasil, tão grande e diverso. No Recife, por exemplo, as pessoas
são muito mais calorosas, chegam bem perto para cumprimentar e muitas vezes dão “um
cheiro”. Em São Paulo e em alguns outros estados, onde, em geral, todo mundo é mais
reservado, esta atitude pode ser mal interpretada e confundida com uma tentativa de sedução.
Maiores bandeiras
Mas mesmo depois de muito treinamento, vai chegar a hora em que, por impulso, em uma
fração de segundo, algum movimento corporal acaba entregando algo que você queria
esconder. Na linguagem corporal não existe mentira. São inúmeras as bandeiras que o
corpo dá, contra a nossa vontade. Fique atento:
Torcer o pé, apoiando-se na parte lateral da sola e abaixar a cabeça pode revelar que você
está com vergonha.
Inclinar o quadril em direção a uma pessoa, apontar os pés e os joelhos para ela ou ainda
não tirar o olhar, denuncia um interesse sexual. Acariciar os pêlos também podem significar um
desejo inconsciente de contato sexual.
Cruzar os braços ou as pernas é sinal de que você não está querendo conversa ou não
concorda com a opinião de quem fala.
Cruzar os dedos com as mãos juntas, curvar-se ou ainda dobrar as pernas é uma insinuação
de que você está implorando por algo.
Curvar o tórax, colocando os ombros para baixo é uma postura que revela timidez e
insegurança. Agora, se você estufa o peito projetando o tórax para frente, passa a imagem de
uma pessoa imponente e até arrogante.
Cuidado com os vendedores! Eles muitas vezes são treinados para convencer você sem
precisar usar as palavras. Uma das técnicas mais usadas é adotar o ritmo e o seu jeito de falar
para dar uma impressão de sintonia. Ou, caso o vendedor seja do sexo oposto ao seu, pode
apelar para gestos que aproximem e, eventualmente, sejam sedutores o bastante para você
concretizar a compra.
Estes são alguns poucos exemplos retirados do livro O corpo fala, de Pierre Weil e Roland
Tompakow, da Editora Vozes

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