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J.

van Rijckenborgh

A ARQUIGNOSIS
EGÍPCIA
3

ROSACRUZ AUREA
A ARQUIGNOSIS EGÍPCIA
e o seu chamado no eterno presente

de novo proclamada e esclarecida


baseada na
TÁBULA SMARAGDINA e no CORPUS HERMETICUM
de
HERMES TRISMEGISTO

por
J. VAN RIJCKENBORGH

Tomo III
1~ edição- 1989

Uma publicação do
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
ESCOLA ESPIRITUAL DA ROSACRUZ ÁUREA
São Paulo - Brasil
Traduzida do alemão:

DIE AGYPTISCHE URGNOS/S- 3

Tftulo do original holandês:

DE EGYPTISCHE OERGNOSIS

EN HAAR ROEP lN HET EEUWIGE NU

ROZEKRUIS-PERS
Bakenessergracht 11-15
Haarlem - Holanda

Todos os direitos, inclusive os de 1radução ou reprodução do presente livro, por

qualquer sistema, total ou parcial, soo reservados à Rozekruis-Pers, Haa~em,

Holanda.
PREFÁCIO

A marcha da humanidade, que se tornou novamente


para o homem terreno numa marcha do destino, mostra de
novo sua regularidade inatacável em meio a toda a teimosia
humana ímpia: "Pelos frutos se conhece a árvore" e "colherás
o que semeares!"
A imagem do mundo aluai, com sua ameaça e seu ódio
vermelho-sangue, com sua degeneração vergonhosa e seus
aspectos dementes, pronunciam a essa luz um julgamento
aniquilador, o qual anuncia o fim próximo desse dia de mani-
festação.
Muitos o reconhecem e estão assustados, em seu mais
profundo ser, com aquilo que o tão louvado conhecimento
humano produziu. Consciente ou inconscientemente, eles
buscam na inutilidade das coisas um caminho que possa
atenuar o crescente sentimento de culpa e oferecer uma
possibilidade de obter, além do discernimento libertador, uma
atitude de vida que propicie a reconciliação interior com a
Fonte Única da Vida
A terceira parte do livro A Arquignosis Egí,ocia e seu
Chamado no eterno Presente chama a atenção, através da
compreensão inferior ligada aos órgãos dos sentidos, para o
Bem Único, que apenas pode ser encontrado em Deus, no
mais profundo ser do homem, e oferece a chave para uma
vida libertadora no .caminho do renascimento da alma. Quem
realmente busca a Luz na escuridão da noite que cai é colo-
cado aqui perante a prática da palavra de Cristo: "Buscai
primeiro o Reino de Deus e Sua justiça". Essa prática é ex-
plicada pela lei hermética: "Tudo receber, tudo abandonar e,

VIl
com isso, tudo renovar".
Possam muitos buscadores entender ainda o chamado
da Gnosis para a auto-realização e utilizar a chave da liber-
tação para sua salvação e a da humanidade.

Jan van Rijckenborgh

VIII
A porta de Saturno
O PORTAL DE SATURNO

Saturno é o senhor da matéria e a origem de todos os


processos de cristalização. Como tal, ele é a força do impe-
dimento, da restrição e da queda.
Do mesmo modo, a função de Saturno é manifestar tu-
do aquilo que foi criado pelo homem. Por isso, ele geralmen-
te é representado como "o homem com a fo1ce e a ampulhe-
ta", como o hierofante da morte. Com efeito, todos os valores
da vida satânica dialética, todas as conseqüências do ego-
centrismo, a inteira atividade da vida inferior, são por ele tra-
zidas à luz do dia, num momento psicológico. Saturno é o
Pai-Tempo, Cronos, que ordena: "Até aqui e não mais além!"
Saturno é, além disso, o iniciador! Aquele que segue a
senda de renovação da vida e que se volta para a harmonia
com a grande lei universal da vida, encontra Saturno como o
revelador de tudo aquilo que se tornou novo: os valores impe-
recíveis que se encontram consolidados na alma.
Saturno, o mensageiro da morte da natureza efémera,
torna-se então o arauto do homem imperecível, ressuscitado.
O ano de 1962, em que esta terceira parte da Arqui-
gnosis Egfpcia foi publicada, é um ano saturnino, isto é, um
ano em que a humanidade foi colocada enfaticamente diante
de uma escolha: submeter-se ao caminho do velhÓ Saturno,
o caminho que conduz à decomposição pela morte, ou trilhar
o caminho de libertação que, com o auxilio das forças-luzes
da Gnosis Universal, leva ao portal da nova vida, à cidade
áurea, à nova Jerusalém.

IX
DÉCIMO LIVRO

O BEM ESTÁ UNICAMENTE EM DEUS

E EM NENHUMA OUTRA PARTE

1. O bem, Asclépio, está exclusivamente em Deus, ou me-


lhor, Deus é o bem em toda a eternidade. Conseqüente-
mente, o bem é necessariamente o fundamento e a es-
sência de todo o movimento e de todo o devir: não existe
nada destitufdo dele! O bem é circundado por uma força
reveladora estática em perfeito equilíbrio - a inteira pleni-
tude, a fonte universal, a origem de todas as coisas -
quando denomino aquilo que tudo preenche, quero dizer
o bem absoluto e eterno.

2. Esta qualidade pertence exclusivamente a Deüs, pois de


nada Ele carece, porque nenhum desejo de posse pode
tomá-Lo mau; niio há nada que Ele possa perder e cuja
perda Lhe cause dor (porque sofrimento e dor são uma
parte do mal); não há nada que seja mais forte do que
Ele e que possa combatê-Lo (nem tampouco está em
conformidade com Sua essência, que a injúria possa
atingi-Lo); nada O ultrapassa em beleza que possa in-
flamar seus sentidos em amor: nada pode recusar obe-
decer-Lhe e causar-Lhe por isso cólera; e nada é mais
sábio do que Ele e que assim possa despertar Seu ciú-
me:

3. Estándo pois ausentes no onisser todas essas emoções,


nada existe nEle senão o bem. E. visto que nenhum dos
outros atributos pode apresentar-se em semelhante ser, é
igualmente certo que o bem não pode ser encontrado em
nenhum outro ser.

4. Pois, todos os outros atributos se encontram em todos os


seres, tanto nos pequenos como nos grandes, em cada
um deles a sua própria maneira, e, mesmo no mundo, o
maior e o mais poderoso de toda a vida manifestada; tu-
do o que foi criado está cheio de sofrimento 1, pois a ge-
ração mesma é um sofrimento. Onde há sofrimento, o
bem está decididamente ausente. Porque onde está o
bem certamente não há sofrimento. Pois, onde está o
dia, não está a noite, e onde está a noite, não está o dia.
Por isso, o bem não pode habitar no que é criado, porém
somente no incriado; contudo, como a matéria de todas
as coisas participa do incriado, participa como tal igual-
mente do bem. Neste sentido, o mundo é bom, pois até o
ponto onde também produz todas as coisas, ele é, como
tal, bom; todavia, em todos os outros aspectos, não é
bom, porque também está sujeito aos sofrimentos e à
mutabilidade, e é mãe de todas as criaturas suscetíveis
de sofrimento.
1. Pathos: sofrimento, dor; também o sofrimento da alma e paixão; todas as emo-
ções estão contidas nessa acepção.

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5. O homem estabelece as normas de bondade mediante a
comparação com o mal, porque o mal não demasiada-
mente grande vale aqui como o bem, e o que aqui é jul-
gado como o bem, é a menor parte do mal. Portanto, de
modo algum, pode aqui ser livre da mácula do mal. Aqui
o bem é sempre de novo atingido pelo mal, e, deste mo-
do, cessa de ser bom. Assim, o bem se degenera em
mal. Assim o bem está somente em Deus, sim, Deus é o
bem.

6. Entre os homens. Asclépio, encontra-se o bem unicamen-


te segundo o nome, todavia em parte alguma como rea-
lidade, o que é, aliás, impossfvel. Porque o bem não po-
de encontrar lugar num corpo material que está quase
sufocado em males e em esforços penosos, dores e de-
sejos, instintos e ilusões e imagens dos sentidos.

7. O pior de tudo, Asclépio, é que se considera cada uma


das coisas que nomeei e que impulsiona os homens,
como o bem supremo, em vez de um mal extremo. O ins-
tinto de cobiça do ventre2, o incitador de todas as malda-
des, é o erro que nos tem aqui afastado do bem.

a. Por isso, dou graças a Deus pelo que ele mal]ifestou a


minha consciência como conhecimento sobre o bem que
não se pode encontrar no mundo, pois o mundo está
preenchido pela plenitude do mal, do mesmo modo que
Deus está preenchido pela plenitude do bem, ou o bem,
pela plenitude de Deus.

2. Plexo Solar.

3
9. Do ser divino irradia a beleza, que habita no ser de
Deus, em suprema pureza e imaculabilidade. Ousemos
proferi-lo, Asclépio: a essência de Deus, se nos for per-
mitido falar disso, é o belo e o bem.

10. Náo se pode encontrar o belo e o bem, naqueles que


estão no mundo. Todas as coisas perceptíveis aos olhos
são formas aparentes, algo como silhuetas. Porém tudo
o que vai além dos sentidos se aproxima ao máximo do
ser do belo e do bem. E assim como o olho não pode
ver a Deus, tampouco pode ver o belo e o bem, pois
ambos são partes perfeitas de Deus, porque próprias
dEle e dEle somente, inseparáveis de Seu ser, e ex-
pressão do supremo amor de Deus e a Deus.

11 . Se assim pudesses reconhecer a Deus, reconhecerias o


belo e o bem, em sua suprema glória radiante, inteira-
mente iluminada por Deus, pois essa beleza é incompa-
rável, essa beleza é inimitável, assim como Deus mes-
mo o é. À medida que reconheces a Deus, reconheces
também o belo e o bem. Eles não podem ser participa-
dos a outros seres, por serem inseparáveis de Deus.

12. Se buscaste encontrar a Deus, busca também o belo,


pois há somente um caminho que conduz daqui ao be-
lo: uma vida ativa que serve a Deus nas mãos da Gno-
sis.

13. Por isso, aqueles que estão sem a Gnosis e não trilham
o caminho da devoção ousam chamar o homem de belo
e bom, ele que jamais viu, mesmo em sonhos, o que é

4
o bem, porém que está nas garras de todas as formas
do mal, e que considera o mal, como o bem e, deste
modo, acolhe o mal sem jamais ser saciado, temendo
ser dele privado e, lutando, tenta, com todo o seu poder,
conservá-/o e mesmo fazê-lo multiplicar.

14. Assim, Asclépio, isso está estabelecido no tocante à


bondade e à beleza humanas, e não podemos delas fu-
gir nem odiá-las, porque o mais penoso de tudo é que
precisamos delas, e sem elas não podemos viver.

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11

O MISTÉRIO DO BEM

Sem dúvida alguma, conheceis a passagem do jovem


rico, descrita nos evangelhos; a história do homem que en-
contra Jesus e lhe pergunta: "Bom Mestre, que devo fazer
para herdar a vida eterna?" Jesus, antes de responder, dis-
se-lhe: "Por que me chamas de bom? Ninguém é bom, a não
ser um, que é Deus".
Se pegarmos o décimo livro de Hermes Trismegisto, ve-
remos que o trecho evangélico citado acima é proveniente da
filosofia hermética. Isto pode ser facilmente comprovado,
pois a filosofia hermética já existia, há milhares de anos, an-
tes do surgimento de quaisquer evangelhos cristãos. Já no
primeiro versículo, do décimo livro, lemos:

O bem está exclusivamente em Deus, 0t1 melhor, Deus


é o bem em toda a eternidade.

Essas palavras demonstram claramente que o bem é,


para nós, uma realidade desconhecida, a indicação de um
estado que não podemos nem sequer nos aproximar.
Se refletirdes sobre isso, percebereis que nosso "bem",
ou aquilo a que estais acostumados a chamar de bem, está

7
relacionado com algo totalmente diverso. Trata-se de um
conceito inteiramente relativo que apresenta certo valor para
o homem-eu durante um tempo limitado. Sabeis que aquilo
que denominais "bom" pode talvez se revelar muito mau, ou
pelo menos crítico, a outrem. Aquilo que alguém enaltece
como sendo o mais nobre, é considerado o mais desprezível
por outro.
Existem tantas normas de bondade e maldade quantos
seres humanos. Em geral, julgamos bom aquilo que nos pa-
rece belo e agradável ou se encontra em s1ntonia com nossa
compreensão de vida. O contrário consideramos então como
mau. Por conseguinte, reina, neste ponto, um caos intenso,
pois não há homens realmente bons em nosso campo de vi-
da. Do mesmo modo, não pode ser encontrado o bem, o bem
único, neste campo de vida.
Os conceitos dialéticos· de "bom" e "mau" não encon-
tram nenhuma base, não podendo, por isso, constituir as
normas sobre as quais uma filosofia libertadora deve ser
construída. Nesse sentido, existe muitas vezes uma pensada
e alarmante fraude. Cada povo, cada raça, cada grupo, cada
movimento, fundamenta-se nessa assim chamada bondade.
E dizem: "O bem é como o vemos, compreendemos e faze-
mos. Atentai, pois, para o que fazemos". Entretanto isso é
algo, além de ridículo, muito perigoso, pois aquele que dá
ouvidos a tais autolouvores terá grandes desilusões. A lei dos
opostos alcançá-lo-á inevitavelmente.
Ninguém discordará do fato de que a humanidade pre-
tende e sempre aspirará a solucionar seus problemas tão
bem quanto possível, e de que existem inúmeras pessoas
que desejam, de coração, colaborar nisso. Todavia, não espe-

• Ver· Glossário no final do livro.

8
rai disso algo de essencial. Não esperai o bem, pois, aquilo
que é apregoado como bom aqui em nosso campo de exis-
tência, é mentira ou engodo. Isso já foi seguramente confir-
mado há milhares de anos.
Neste mundo, já se filosofou muito sobre esse assunto.
Pensai, por exemplo, em Nietzsche que considerou, com ra-
zão, completamente secundária a discriminação entre o bem
e o mal. Também um filósofo como Kant compreendeu que
aqui o bem e o mal são dependentes do Julgamento humano.
O que vos parece bom, é bom para vós; outro pode divergir
totalmente de vossa opinião. Aquele que se aferra a essa
idéia, nunca encontrará solução.
De quantas conversas já participastes, conversas com-
pletamente vãs, referentes a vossas muitas vezes diferentes
apreciações do bem e do mal? Por isso, não é nosso objetivo
entediar-vos com nossa compreensão do bem e do mal. Não,
nossa intenção é libertar-vos de tudo isso e dirigir vossa
atenção ao verdadeiro bem, que existe exclusivamente em
Deus.
No final do décimo livro, no versículo 14, é dito o se-
guinte, referente à ignorância humana sobre o bem e o mal:

Assim, isso está estabelecido no tocante à bondade e à


beleza humanas, e não podemos delas fugir nem odiá-las,
porque o mais penoso de tudo é que precisamos delas, e
sem elas não podemos viver.

Nosso objetivo é de vos elevar, se possível, ao ponto de


vista hermético. Se observardes a ostentação de bondade
humana nos diversos grupos existentes no mundo, se cami-
nhardes entre o formigamento de atos de bondade, e se for-

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des um verdadeiro buscador da verdade, ser-vos-á impossível
amar tudo isso. Certamente, podeis encontrar nisso elemen-
tos úteis em muitos aspectos, e às vezes coisas agradáveis.
Porém vendo tudo isso à luz da filosofia hermética, reconhe-
cereis diretamente como tudo é insuficiente e sem esperan-
ça. Sereis incapazes de amar essas tentativas de se fazer o
bem. O que é válido para o amor, o é também para a bonda-
de. Assim como o bem existe somente em Deus, assim tam-
bém o amor pode apenas nEle existir. Nenhum dos dois po-
derá, naturalmente, ser encontrado no homem' nascido da
natureza. Eis por que o buscador da verdade não deve tentar
encontrá-los onde eles não estão.
Porém, deveis cuidar para que não odieis a bondade e
a beleza humanas, pois o ódio queima, destrói. O amor tam-
bém é um fogo, uma força astral relacionada com o coração.
Assim, quando uma pessoa que busca o amor é desiludida,
ela é sempre submetida a uma purificação, e o anseio pelo
único necessário toma-se mais puro, mais urgente. Contudo,
o fogo do ódio, que também é uma radiação astral no san-
tuário' do coração, destrói e faz murchar o coração. Não so-
bra nada ao homem que odeia.
Existe ainda uma terceira atitude de vida, que não es-
pera nem busca o impossível. Assume-se um ponto de vista
puramente objetivo diante dessas coisas e se verifica um tipo
de benevolência neutra, em que as coisas são simplesmente
aceitas tais como elas são. Por isso, Hermes diz:

. . . não podemos fugir da bondade nem da beleza hu-


manas, nem odiá-/as, porque o mais penoso de tudo é que
precisamos delas, e sem elas não podemos viver.

Enquanto atravessais a vida nascida da natureza,

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necessitais dessa vida e de suas características; por isso, soa
o conselho: "Não alimenteis ódio algum com relação à mar-
cha de vossa vida através da natureza e não tenteis fugir da
mesma". Então, o que fazer?
Se não amais nem odiais a beleza e a bondade huma-
nas e não tentais delas fugir, encontrais-vos autônomos em
relação à natureza dialética*. Então não existe nada que vos
una a ela nem que vos possa deter. Assim, cumpris vossas
obrigações diárias, sem queixas, lamentações, nem senti-
mentos de vingança ou de oposição.
Atravessais a vida tenebrosa da natureza da morte se-
gundo uma lei que vos impele. Não podeis negar vosso nas-
cimento na natureza* da morte. Cumpri pois vossas obriga-
ções em virtude dessa realidade e fazei-o de cabeça erguida.
Sem ódio, sem fuga, sem amor, e se encontrardes outro bus-
cador da verdade na senda da vida, contentai-vos com um
olhar de compreensão.
Para onde vai o buscador da verdade? Ele se volta para
a base das coisas, para a base de todo o devir. O buscador
da verdade se volta para o bem único. O bem somente pode
ser encontrado em Deus, e aquele que encontra Deus, que
participa do bem, a partir desse momento, já não é deste
mundo. Uma vez encontrado Deus, estareis junto com os ou-
tros irmãos e irmãs no novo campo de vida, no mundo da
alma.
Atentai para o fato de que o homem pode participar
verdadeiramente do bem, porém não pode ser o bem, assim
diz Hermes. O bem sempre se distinguirá do homem. Nesse
sentido, ninguém é bom, nem um sequer.
Por isso, devemos examinar o que e quem é o bem, e
como um homem pode participar dele. Além disso, devemos

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compreender claramente que tipo de ser vivente é, na verda-
de, o homem nascido da natureza. Entre o homem nascido
da nat'ureza e o bem está a senda, a senda que leva à parti-
cipação do bem. Aquele que deseja trilhar essa senda deve
começar a não se prender a nada, a nada se prender no sen-
tido aéima exposto. Somente quando já não estiverdes ape-
gados à natureza em que nascestes e fostes educados, quer
em relação ao amor, quer em relação ao ódio, podereis viajar
oom a alma de Belém ao Gólgota. Então, podereis trilhar a
senda rumo à unidade divina, ao bem único.
Coloquemo-nos então, como viajantes ansiosos, diante
do mistério do bem. Tentemos desvendar esse mistério.

12
III

A SENDA DA AUTO-RENDIÇÃO

O bem, Asclépio, está exclusivamente em Deus, ou


melhor, Deus é o bem em toda a eternidade. Conseqüente-
mente, o bem é necessariamente o fundamento e a essência
de todo o movimento e de todo o devir: não existe nada des-
titufdo dele! O bem é circundado por uma força reveladora
estática em perfeito equiltbrio - a inteira plenitude, a fonte
universal, a origem de todas as coisas - pois quando deno-
mino aquilo que tudo preenche, quero dizer o bem absoluto e
eterno.
Esta qualidade pertence exclusivamente a Deus, pois
de nada Ele carece, porque nenhum desejo de posse pode
tomá-Lo mau; não há nada que Ele possa perder e cuja per-
da Lhe cause dor (porque sofrimento e dor são uma parte do
mal); não há nada que seja mais forte do que Ele e que pos-
sa combatê-Lo (nem tampouco está em conformidade com
Sua essência, que a injúria possa atingi-Lo); nada O ultra-
passa em beleza, que possa inflamar seus sentidos em
amor; nada pode recusar obedecer-Lhe e causar-Lhe por isso
cólera; e nada é mais sábio do que Ele e que assim possa
despertar Seu ciúme.

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Consideremos mais de perto essas palavras constantes
do décimo livro de Hermes. Elas mostram que a noção de
Deus, na filosofia hermética, dimana da certeza de uma di-
vindade autônoma e imutável. Ao mesmo tempo, reconhe-
cemos J:J fato de que os ensinamentos herméticos foram in-
troduzidos em quase todos os grupos religiosos mais impor-
tantes do mundo, não obstante todas as distorções a que fo-
ram submetidos.
Imaginai, se possível, as sete regiões cósmicas, não
dispostas uma sobre a outra nem em posições contíguas, po-
rém, concêntricas umas às outras. A total harmonia da cria-
ção, a plenitude da criação nas sete regiões cósmicas, seu
movimento e atividade, não são a divindade, porém encon-
tram nela seu fundamento e sua essência. Deus, o Incognos-
cível, o Bem, é circundado por uma força reveladora estática,
que é a fonte universal, a origem de todas as coisas. Esse
bem, absoluto e eterno, que tudo preenche, pertence exclusi-
vamente a Deus. Ele de nada carece, pois Ele é tudo em Si
mesmo.
Desse ser único e incognoscível dimana uma radiação
poderosa e oniabarcante. O universo foi criado e é mantido
mediante essa poderosa radiação da divindade única que
preenche todo o universo e que é, portanto, onipresente. Por
um lado, existe Deus, o bem único; por outro, a criação e a
criatura nessa imensurável complexidade.
Se puderdes agora vos apegar a essa idéia, como pon-
to de partida de uma atitude de vida; se puderdes aprofun-
dar-vos em tudo isso, devereis então perguntar-vos por que
esse assunto é apresentado a Asclépio. Talvez, devido a um
doutrinamento dogmático?
Não, Asclépio deve tornar-se um sanador, ou seja, um

14
sacerdote, e é claro, curar primeiramente a si próprio. Asclé-
pio deve, como criatura, elevar-se a seu objetivo supremo
que se encontra contido somente no bem único.
Todavia, por enquanto, Asclépio se vê colocado diante
da imensurável complexidade da criação e das criaturas. Mi-
lhões de criaturas são, em sentido mais restrito, nossos se-
melhantes. Dentre todos esses companheiros de raça e de
destino, muitos se colocam em um ponto de vista contrário.
Pensai nas inúmeras autoridades ex1stentes no mundo que
vos dizem: "Nós afirmamos isso, portanto, ouvi-nos. Isso nós
fazemos, isso nós sabemos, isso nós podemos. Segui esse
caminho; é esse que deveis trilhar".
Sim, houve às vezes períodos da humanidade em que a
coação foi exercida por parte das classes dominantes, coa-
ção sob a ameaça de tortura e à vida. Os irmãos e irmãs da
tríplice aliança da luz - Graal, cátaros* e cruz-com-rosas -
podem testemunhar disso! MeS!:flO em nosso tempo, desen-
volve-se também o controle da consciência, tanto em peque-
na como em grande escala. Esse controle encontra respaldo
em vários domínios de vida por inúmeros motivos. Fala-se,
por exemplo, em tirania familiar; e, em muitos países, de ti-
rania de grupos. Além disso, pensamos também nos habitan-
tes da esfera* refletora e nas ondas de vida que habitam a
região etérica; em habitantes de outros corpos celestes; nos
eões* e nos arcontes* dos eões. Há entre essas criaturas
aqueles que alcançaram um alto grau de desenvolvimento e
que se ataviam ou são ataviados com o nome de deuses*.
Existem ainda hordas ocupadas com a grande3 farsa. Enfim,
miríades de criaturas com infinitas possibilidades de trair, en-

3. Ver Oesrnascaramento, de Jan van Rijckenborgh.

15
ganar e coagir. E todos vos dizem: "Possuímos o bem!"
E agora falamos de Asclépio, o buscador no oceano da
vida, a criatura em meio a seus semelhantes. Ele está pres-
tes a·afundar e é arrastado para lá e para cá pelas ondas. A
maior parte dos leitores deste livro são buscadores natos. O
que já não tendes procurado? Quanta literatura já não devo-
rastes! E não foi dessa forma que, como por acaso, como se
fosse um elo não previsto na cadeia de Circunstâncias, en-
trastes em contato com a Escola· Espiritual da Rosacruz Áu-
rea?
O que deve Asclépio fazer no ardor de sua busca? O
que ele pode fazer? Para onde deve dirigir-se? O que é feito
dele? Para onde as ondas da vida o arrastam? Milhares de
vozes o chamam: "O bem está aqui!" O que lhe acontecerá?
Pois em toda a criação, o mal assume diversas formas. É por
isso que o décimo livro de Hermes observa que aquilo que se
considera como "bom" aqui na dialética é, na melhor das hi-
póteses, a menor parte do mal.
Quem poderia realmente reconhecer a verdade em
meio a todas essas formas irreais, a todos esses fantasmas
que se nos apresentam? Quem é capaz de penetrar toda es-
sa teatralidade, toda essa ilusão, toda essa criminalidade?
Como se poderia esquadrinhar esse imenso ca.os? Quem se-
ria capaz de se manter em pé no meio de todos esses peri-
gos irretreáveis? Isso é realmente impossível?
Não, é bem possível! Para tanto, o décimo livro de
Hermes nos auxilia. Ele se dirige aos homens que desejam
tornar-se Asclépio. Alguns fatos colocam o buscador Asclépio
em condições de prosseguir e encontrar seu caminho nesse
labinnto. Primeiramente, o fato de que o bem único é autô-
nomo. Ele e sua poderosa radiação estão completamente

16
apartados de toda a criação, não sendo possível encontrar
nele algo dessa tão ilusória criação. Aliam-se a isso o fato de
que somente ele é absoluta e eternamente puro e de que a
divindade sempre irradia sua poderosa luz através da inteira
criação, de todo o caos, não existindo lugar algum onde ela
não esteja presente.
A receita para tanto já vos pudemos dar. Se desejais
ser um sacerdote da Gnosis'; se desejais tornar-vos Asclépio,
um sanador da humanidade, não vos apegueis a nada, nem
por amor nem, de forma alguma, por ódio. Sede puramente
objetivos, benevolentes ao máximo, porém autónomos. Não
deis ouvidos a uma única voz. Não sigais um só impulso,
uma única sugestão. Também não aceiteis de antemão nos-
sa palavra como verdadeira. Sede benevolentes, objetivos,
até descobrirdes em vosso íntimo algo da verdade.
Repetimos: não ouçais uma única voz, não sigais ne-
nhuma coação de vossos órgãos sensoriais aluais. Permane-
cei sem mais nada, sem autopresunção, como uma criatura
autónoma na onirrevelação. Ao mesmo tempo, sede extre-
mamente vigilantes, pois ao encetardes a caminhada rumo à
autonomia, toda a legião de eões e arcontes cairá sobre vós.
Muitos deuses da criação, muitas entidades poderosas, pas-
sarão a se interessar por vós!

Somente da forma descrita acima, a Escola da Rosa-


cruz Áurea nasceu e se tornou o que é, isto é, por meio da
autonomia. Aqueles que iniciaram o trabalho da Escola Espi-
ritual gnóstica colocaram-se desde o princípio, embora ex-
tremamente benevolentes e corretos, no ponto de vista: não
há nada de bom neste mundo. Nem há ninguém bom, nem
um sequer. Por isso, desejamos ser autónomos. A divindade,

17
a poderosa divindade, que tudo preenche, pode tocar-nos
com sua irradiação somente nessa objetividade, nessa auto-
nomia: Somente dessa forma, sua plenitude de radiação po-
de transmitir-nos em pureza a mensagem universal.

A partir do momento em que demos início ao trabalho


da Escola, toda a legião de eões e de arcontes precipitou-se
sobre nós: mental, etérica, verbal e literalmente. O que já não
foi dito a respeito da Escola e de seus obreiros? De que já
não nos acusaram no decorrer dos anos? Graças a Deus fo-
mos capazes de nos manter na autonomia até este momen-
to.
Não vos preocupeis com essa imagem diante dos
olhos. Por isso, ela foi dada a vós. Compenetrai-vos do fato
de que vós sois uma pistis' sophia em potencial, tal como o
sois atualmente, pois, existem - e este é o segredo - as ra-
diações onipresentes e onipenetrantes do bem único. Podeis
entrar em ligação com elas. Nada se interpõe entre vós e es-
sas radiações do bem único! Nenhuma criação, nenhuma
criatura, nenhum teólogo e nenhum líder espiritual de uma
escola espiritual!
Como criatura autõnoma, defrontais-vos exclusivamente
com o "Isto". É possível viver e existir a partir das radiações
do bem único. Perante todos os fenõmenos no mundo das
criaturas, perante o criado, podeis ser soberanos na força do
bem único, e, totalmente livres, consumar vosso caminho
rumo ao alvo.
Talvez, agora, direis: "Vós mesmos dissestes que não
se deve apegar a nada. Como é possível então ligar-se às
radiações do Espírito• Santo Sétuplo? Não seria possível ha-
ver algum engano aí?" Sim, não deveis ligar-vos a nada en-

18
quanto ainda existis apenas no estado natural. Fazei isso e
sereis sempre sacrificados. Se, por exemplo, assumis o ponto
de vista "eu tenho, eu sou, eu posso", sereis enganados dia
após dia por Authades*, a força com cabeça de leão' (pensai
no evangelho gnóstico da Pistis Sophia). Authades represen-
ta as forças e figuras que imitam o ser de Cristo.
Quando um teólogo fala sobre "Jesus, o Senhor'', ou
sobre "Cristo", ele não passa de um servidor da força com a
cabeça de leão. Quando, porém, entrardes no não-ser e
abrirdes a vossa essência, cuidando para não vos apegardes
a nada, sereis tocados pela radiação universal do bem único.
E, em determinado momento, sabereis que estais ligados.
Não deveis, entretanto, ligar-vos a nada, enquanto exis-
tis apenas no estado de nascido da natureza. Do contrário,
sereis sempre sacrificados. Então, submergis no "mar aca-
dêmico", como Johann* Valentin Andreae o chama, e nunca
alcançareis a ilha de Caphar Salama, o país da paz. Por isso,
existe uma preparação no processo do discipulado gnóstico*
para atingir essa unidade com o bem único, isto é, a consa-
gração à rosa* do coração na autonomia do ser. Se vos con-
sagrais à rosa do coração com todas as conseqüências e leis
aliadas a isso, então, de fato, consagrais-vos ao ser autóno-
mo, ao ser no verdadeiro sentido da palavra. Em primeiro lu-
gar, isso significa que vós subordinais a sede do eu, o san-
tuário* da cabeça em seu estado natural, ao santuário* do co-
ração, a fim de despertar para a vida a alma, vossa alma
imortal.
Na Escola Espiritual, denominamos, "auto-rendição*" a
submissão da cabeça ao coração. Quando a alma se desper-
ta para a vida, o coração se consagra à cabeça, pois, quando
ele se abre à luz da Gnosis e é totalmente preenchido com

19
essa força-luz, o irrompimento para o santuário da cabeça
deve ser, em seguida, celebrado por meio do coração, a fim
de expulsar tudo o que não lhe pertence. Então a plenitude
radiante do Espírito no santuário da cabeça se manifestará,
enquanto o ser autónomo controla toda a inteligência e as
percepções sensoriais. A intenção é, portanto, abrir o santuá-
rio da cabeça para a manifestação de Pimandro·, a plenitude
radiante do bem único por meio da auto-rendição - e esta
podeis realizar somente mediante a autonomia.
Assim, o Espírito assentar-se-á no trono do ser autôno-
mo no caminho de Belém ao Gólgota. Tereis atingido vosso
alvo. Tereis atravessado o mar da cegueira e alcançado a ou-
tra margem.

Porém, agora podereis de novo fazer uma pergunta de


ordem prática: "Se eu entrar muito conscientemente no nobre
estado de negação•, sem ódio nem amor, não ignorarei os
verdadeiros filhos de Deus? Existem muitos que trilharam ou
estão ocupados em trilhar a senda do bem único. Não se po-
deria assumir o ponto de vista de que nada temos a ver com
coisas e pessoas, considerando-nos assim superiores?"
Sem dúvida, este mundo, graças a Deus, encontra-se
povoado por muitos filhos de Deus, porém é de todo impos-
sível que não os reconheçais. Se sois um renascido segundo
a alma, se esse processo já se tornou efetivo em vosso ser,
em vosso coração e cabeça, não podereis cometer nenhum
erro a esse respeito. Tão logo vos tenhais tornado um renas-
cido segundo a alma, confluireis totalmente em unidade com
todas as outras almas renascidas e, onde quer que estejais
neste mundo, reconhecereis em todas as circunstãncias os
irmãos e as irmãs. Uma comunidade de almas não necessita

20
ser formada. Ela existe! Precisais somente nela ingressar, pa-
ra que a rosa floresça.
De vez em quando, ouvimos na Escola o seguinte co-
mentário: "Para mim, é tão difícil vivenciar a unidade* de
grupo, participar da unidade de grupo assim como a Escola a
compreende". Um comentário desse tipo é, na realidade,
grande tolice, pois quem isso afirma demonstra que sua alma
ainda noo nasceu. Se vossa alma já nasceu ou se pelo me-
nos existir um tênue brilho desse novo estado anímico em
vós, a unidade não vos representará nenhum problema. Não
podereis deixar de participar desse grupo. A alma é existen-
cial e absolutamente una com todas as outras. Essa é a
magnificência da grande comunidade das almas.
Assim que se concentrou força suficiente da nova alma
na jovem Gnosis, origina-se, imediatamente, uma ligação
com a graMe comunidade das almas da corrente* universal
gnóstica.
Não procuramos essa união, nem a solicitamos e não
nos correspondemos com esse propósito; simplesmente nos
encontramos uns com os outros! Muitos irmãos e irmãs fo-
ram testemunhas desse fato. Uma comunidade de almas não
precisa ser formada, ela existe! Por isso, trilhai a senda!
Quanto ao demais, pensai na advertência constante na
Escritura Sagrada por vós conhecida: "Sede fiel e não con-
fieis em ninguém" e "Não acrediteis em todo o espírito, po-
rém experimentai os espíritos para saber se provêm de
Deus", assim diz João. Dois conselhos muito herméticos. Se
vos ativerdes a isso, nada de mal vos acontecerá. Caso con-
trário, dor e sofrimento sempre vos sobrevirão, pois dor e so-
frimento são uma parte do mal.

21
IV

O CAMINHO PARA A LIBERTAÇÃO

Estareis sem dor e sem sofrimento pelo resto de vossa


senda da vida através das regiões da natureza da morte,
quando puderdes empregar o método da autonomia, que se
encontra oculto na Gnosis, pois, como diz Hermes, sofrimen-
to e dor são uma parte do mal.
Esse método de que já vos falamos anteriormente é
denominado "autónomo" porque ele deve desenvolver-se
sem a ajuda e sem a orientação de autoridades para que te-
nha bom êxito, portanto, o método da autonomia com o con·
seqüente renascimento gnóstico da alma. Somente pela apli·
cação do único método libertador, tomais parte nas radiações
do bem único.
Dividimos essa plenitude radiante em sete aspectos e
falamos também de Espírito Santo Sétuplo. No Espírito Sé-
tuplo, experimentamos a glória do bem único. Em sua radia·
ção não se encontra nenhuma dor ou sofrime!lto. A dor e o
sofrimento são sempre resultantes do erro das criaturas que,
diariamente, sem conhecer o caminho de libertação, sugam e
exploram uns aos outros, por força da lei da natureza da mor-
te.
Os fundadores da filosofia hermética experimentaram

23
as qualidades do bem único a partir da natureza do Espírito
Sétuplo. Quando também fordes encontrados, em positivida-
de, pelo Espírito Sétuplo, tereis a mesma experiência vivida
por Hérmes Trismegisto. Por isso, ele testemunha o seguinte
a respeito do bem único:

Não há nada que seja mais forte do que Ele e que pos-
sa combatê-Lo (nem tampouco está em conformidade com
Sua essência, que a injúria possa atmgi-Lo). nada O ultra-
passa em beleza que possa inflamar seus sentidos em amor;
nada pode recusar obedecer-Lhe e causar-Lhe por isso cóle-
ra; e nada é mais sábio do que Ele e que assim possa des-
pertar Seu ciúme.
Estando pois ausentes no onisser todas essas paixões,
nada existe nEle senão o bem. E, visto que nenhum dos ou-
tros atributos pode apresentar-se em semelhante ser, é
igualmente certo que o bem não pode ser encontrado em
nenhum outro ser.

Por conseguinte, existe apenas uma saída para o bus-


cador, para aquele que suplica pela libertação: realizar a liga-
ção com o bem único, da forma indicada. Todos os outros
caminhos não resultam em bom êxito e estão completamen-
te excluídos para o homem que busca a libertação. Compre-
endei bem, todos os caminhos continuam livres para vós.
Milhares de vozes soam: "Vinde a nós, segui nossa senda!"
Porém, se tivésseis ainda tempo para trilhar todos esses ca-
minhos, descobriríeis no final que somente há uma salvação:
a ligação com o bem único. Eis por que nossa orientação,
como Escola Espiritual gnóstica, sempre foi através dos anos
muito simples em seus fundamentos:

24
autonomia;
auto-rendição à rosa do coração;
renascimento da alma e
renascimento por intermédio da alma.

O corpo* vivo da jovem Gnosis está estruturado à se-


melhança de uma arca bem construída. Na arca clássica que
nos é descrita no Velho Testamento, e sobre a qual os misté-
rios egípcios também nos ensinam mteiramente, encontram-
se todos os verdadeiros valores e forças do Espírito, da alma
e da matéria. Eles foram colocados sãos e salvos na arca.
Quando vos juntais, como alunos, no corpo vivo da jovem
Gnosis e conheceis o alvo a que nossa arca se dirige em
nossa época, torna-se evidente porque a jovem Gnosis dis-
tancia-se totalmente, sim, deve manter-se afastada de todas
as coisas existentes no campo comum da criação. Se ela
adotasse um ponto de vista contrário, estaria contradizendo o
princípio da autonomia. Existe apenas um caminho para a li-
bertação: a ligação com o bem único. Qualquer outro cami-
nho, por mais belo que seja, apresenta resultados negativos.
Tem-se julgado muito mal a Escola por ela querer man-
ter-se livre de todas as coisas existentes. Sempre se fala e
pensa com desdém sobre isso e acusam-na de sectarismo.
Todavia, o separatismo da Escola é apenas mantido com
relação a pessoas e grupos que procuram sua cura no campo
de criação dialético e apenas utilizam o nome do bem único
como uma bandeira para cobrir sua carga.
Naturalmente, o separatismo não é válido em relação
ao absoluto. Isso seria totalmente impossível. Quem no en-
tanto trilha a senda rumo ao bem único, chega ao renasci-
mento da alma, e a conseqüência disso é sempre a celebra-

25
ção da unidade com todas as outras almas. Se no mundo
existirem grupos de pessoas que aspiram a esse caminho e
estejam trilhando essa mesma senda única de libertação, es-
ses enéontrar-se-ão, infalivelmente, na hora certa. Então, o
fraco se juntará ao forte, voluntária e alegremente, na certeza
de que não será explorado.
Os fatos comprovaram, no curso dos anos, que a Es-
cola Espiritual tem sempre seguido esse caminho hermético
e o que começou tão pequeno está ocupado em tornar-se
grande. Verificamos tudo isso sem presunção. Fazemos essa
observação porque o curso de desenvolvimento da Escola
demonstra a verdade da senda hermética. Aquele que busca
o bem único de forma autónoma, sempre vencerá. Espera-
mos fervorosamente que possais perceber claramente: a for-
ça está no bem único. Se vós, portanto, aparentemente como
um solitário, um andarilho nesta vida terrestre, puderdes es-
tabelecer a ligação com o bem único, sereis mais fortes do
que aquele que conquista uma cidade. Aquele que busca o
bem único de forma autónoma, sempre vencerá!

Desse modo, novamente verificamos, em sintonia com


o texto do décimo livro: "Assim como nada do mal há no ser
divino, assim também o bem não será encontrado em ne-
nhum outro ser''.

Pois, todos os outros atributos se encontram em todos


os seres, tanto nos pequenos como nos grandes, em cada
um deles a sua própria maneira, e, mesmo no mundo, o
maior e o mais poderoso de toda a vida manifestada; tudo o
que foi criado está cheio de sofrimento4, pois a geração

4. Ver nota página 2.

26
mesma é um sofrimento.

Isso significa, entre outras coisas, que todas as criatu-


ras nascidas da vontade do homem, elo processo reprodutivo,
não possuem o bem único, porém somente o resto. O estado
de vida animal não pode participar do bem único. Somente a
alma pode, pois ela não provém do estado de vida animal.
Quando uma criança nasce, não se verif1ca de antemão que
possuirá uma alma. O que na filosofia da Escola Espiritual é
chamado nascimento ou renascimento da alma consiste no
despertar de algo já existente. Esse tipo de nascimento não
pode ser transferido para outros por meio de reprodução.
Não podeis também obrigar vossos filhos a viver da al-
ma. Podeis somente exercer uma influência muito benéfica
em vossos filhos, por meio de exemplo pessoal puro. Nem
mesmo a força para despertar a alma pode, portanto. ser ex-
traída da natureza da morte. O instinto reprodutor é uma for-
ça de natureza astral. É um fogo que se comunica ao cora-
ção. Eis por que se fala das paixões do coração. Com isso,
não se tem em mente esse ou aquele estado de peiVersão.
Não, puramente conforme a lei, todo o nascimento na natu-
reza é a conseqüência de uma paixão, de uma concentração
astral no santuário do coração. Por isso, Hermes diz no versí-
culo 4 do décimo livro:

Onde há sofrimento, o bem está decididamente ausen-


te. Porque onde está o bem certamente não há sofrimento.
Pois, onde está o dia, não está a noite, e onde está a noite,
não está o dia. Por isso, o bem não pode habitar no que é
criado, porém somente no incriado.

27
Sim, para que não haja mal-entendidos: é impossível
que o bem habite em um nascido; ele habita somente no
unigênito. Talvez tudo isso seja difícil de entender e, quem
sabe, ai~da mais difícil de aceitar. Por acaso, Hermes, Asclé-
pio, todos os grandes e ainda todos os aspirantes da Rosa-
cruz não nasceram também da paixão? E poderia qualquer
outro microcosmo* neste campo de existência ser vivificadO
de maneira diferente? Como pode então Hermes censurar is-
so?
Ele não censura, apenas verifica. Ele esclarece seu
ponto de vista:

Contudo, como a matéria de todas as coisas participa


do incriado, participa como tal igualmente do bem. Neste
sentido, o mundo é bom, pois até o ponto onde também pro-
duz todas as coisas, ele é como tal, bom; todavia, em todos
os outros aspectos, não é bom, porque também está sujeito
aos sofrimentos e à mutabilidade, e é a mãe de todas as
criaturas suscetíveis de sofrimento.

Hermes tenciona dizer-nos: existe um plano para man-


ter a humanidade decaída no campo astral da natureza da
morte em manifestação. Vários reinos estão ligados a esse
plano (pensai nos reinos5 animal, vegetal e mineral que tão
intimamente estão ligados ao reino hominal).
A intenção, os fundamentos, do plano são absoluta-
mente bons segundo a natureza. Seu objetivo consiste em
proporcionar aos microcosmos decaídOs novas possibilidades

5. Ver em O advento do Novo Homem, páginas 152 a 155, 1• edição e páginas


149 a 153, 2' edição, de Jan van Rijckenborgh.

28
de manifestação e, mediante estas, uma nova possibilidade
de libertação. Eles resultam do divino plano de salvação do
mundo e da humanidade. Porém as atividades - a elabora-
ção do plano - devem-se realizar por intermédio da criatura
nascida da natureza. O processo de conservação e a coope-
raçao dos reinos naturais nesse ponto, assim como seus re-
sultados incipientes, não têm qualquer relação com o bem
único.
Deveis ver isso dessa forma: quando uma criança nas-
ce e, portanto, encontra-se no iníc1o do curso da vida, exis-
tem nela inúmeras possibilidades de libertação. Naturalmen-
te, essas possibilidades podem ser, em determinado aspecto,
chamadas de boas; contudo, elas nada têm a ver com o ab-
soluto, com o bem único.
Hermes destrói imediatamente a ilusão, o sonho, de
que o homem seja, sem maiores considerações, bom, como
acreditavam os círculos idealistas antigamente. Ele diz:

O homem estabelece as normas de bondade mediante


a comparação com o mal, porque o mal não demasiadamen-
te grande vale aqui como bem, e o que aqui é julgado como
bem, é a menor parte do mal. Portanto, de modo algum, po-
de aqui ser livre da mácula do mal. Aqui o bem é sempre de
novo atingido pelo mal e, deste modo, cessa de ser bom. As-
sim, o bem se degenera em mal.

Imaginai que tenhais praticado, em determinado mo-


mento, uma gentileza, "algo bom", como se costuma dizer.
Quem pode asseverar que vós, daqui a uma hora, praticareis
outra ação igualmente boa?
Suponde que em determinado momento decidis, no

29
templo, trilhar a senda. Essa será uma boa decisão. No en-
tanto, tendes certeza de que não tereis esquecido essa boa
decisão_dentro de uma hora? Sentis que tal decisão não de-
riva do bem único? Vossa boa decisão se encontra ligada a
forças ahtagônicas e pode, possivelmente, hoje ou amanhã,
transformar-se em maldade. Podereis então colocar-vos nes-
te ponto de vista: "Eu estava no templo num estado mais ou
menos de exaltação, porém agora seria melhor levar em con-
ta as coisas concretas da existéncia dialética".
Todo o nosso assim chamado bem, diz Hermes, é
submetido a alterações e quando vossa boa decisão não for
diretamente colocada a serviço da alma, ela se transformará
em seu oposto. Assim, por meio do bem na natureza, invo-
cais sempre seu oposto. Eis por que tendes tantas dificulda-
des. Estais sempre plenos de boas intenções, porém logo
depois sois como que afogados nos opostos. O bem é sem-
pre de novo atingido pelo mal e, deste modo, cessa de ser
bom, assim diz Hermes, laconicamente. Então o julgamento
é claramente executado no versículo 6:

Entre os homens, Asclépio, encontra-se o bem unica-


mente segundo o nome, todavia em parte alguma como rea-
lidade, o que é, aliás, impossível. Porque o bem não pode
encontrar lugar num corpo material que está quase sufocado
em males e em esforços penosos, dores e desejos, instintos
e ilusões e imagens dos sentidos.

Há, portanto, uma linha divisória tão cortante quanto o


fio de uma navalha. Existe, tanto em vós como em nós, uma
pequena possibilidade que, no melhor dos casos, pode ser
denominada a menor parte do mal. Essa pequena possibili-

30
dade, essa força se torna, no decorrer dos anos, cada vez
rnenor e mais fraca. Essa ínfima parte do mal, essa possibili-
dade que se desfaz, deveis empregar, enquanto a tendes, pa-
ra a auto-rendição, a fim de poderdes despertar a alma de
forma a gerar uma nova vida que se subtraia do charco da
morte. Caso não aproveiteis essa oportunidade, toda a vossa
personalidade, não importa o que façais para impedi-lo, ver-
se-á cada vez mais ligada a uma das manifestações do mal.
Toda a vossa vida será então preenchida e permanecerá ple-
na de esforços penosos, dores e desejos de milhares de for-
mas. Sereis enredados, por meio de instintos, ilusões e per-
cepções sensoriais, por toda a sorte de desgostos.
Em quantos embaraços já não estais enleados? Quanto
sofrimento e quanta dor já não constituem vosso quinhão?
Aproveitai vossas possibilidades enquanto ainda as tendes,
caso contrário, o final do cãntico de vossa vida será a inca-
pacidade de compreender a única idéia libertadora que Her-
mes transmite a Asclépio. Quem pode dizer quando se extin-
gue o último ténue brilho de possibilidade de uma atitude de
vida libertadora em uma pessoa?
Por isso, aproveitai vosso tempo!

31
v

A ILUSÃO DA BONDADE DO MAL .

Nos versículos seguintes do décimo livro de Hermes, é


esclarecido minuciosamente um ponto bastante difícil, um
escolho muito perigoso, de grande significado para todos
nós. Hermes diz nos versículos de 7 a 1O:

O pior de tudo, Asclépio, é que se considera cada uma


das coisas que nomeei e que impulsiona os homens, como o
bem supremo, em vez de um mal extremo. O instinto de co-
biça do ventre, o incitador de todas as maldades, é o erro
que nos tem aqui afastado do bem.
Por isso, dou graças a Deus pelo que Ele manifestou a
minha consciáncia como conhecimento sobre o bem que não
se pode encontrar no mundo, pois o mundo está preenchido
pela plenitude do mal, do mesmo modo que Deus está pre-
enchido pela plenitude do bem, ou o bem pela plenitude de
Deus.
Do ser divino i"adia a beleza, que habita no ser de
Deus, em suprema pureza e imaculabilidade. Ousemos pro-
feri-lo, Asclépio: a essência de Deus, se nos for permitido
falar disso, é o belo e o bem.
Não se pode encontrar o belo e o bem, naqueles que

33
estão no mundo. Todas as coisas perceptfveis aos olhos são
formas aparentes, algo como silhuetas. Porém tudo o que vai
além dos sentidos se aproxima ao máximo do ser do belo e
do bem. E assim como o olho não pode ver a Deus, tampou-
co pode ver o belo e o bem, pois ambos são partes perfeitas
de Deus, porque próprias dEle e dEle somente, inseparáveis
de Seu ser, e expressão do supremo amor de Deus e a Deus.

É necessário colocar todas essas palavras no presente


vivo.
Sem sombra de dúvida. concordaremos mutuamente
que o bem não pode ser encontrado neste mundo e que a vi-
da é apenas fadiga e dissabores, que o sofrimento e a dor
são o quinhão do homem. Assim. existem ao lado dos pes-
simistas, os otimistas, e ao lado dos tristes, os alegres.
Existem aqueles que aceitam a vida assim como ela é;
porém existem ainda outros que, desesperados, lutam contra
ela. Conhecemos tanto os batalhadores como os resignados.
Todavia quase todos sabem, do imo de seu ser, que o bem
que perseguem ou o bem que acreditam ter encontrado,
quando vem a julgamento, não passa de uma sombra, uma
irrealidade, e onde esse conhecimento não existe, ocorre, de
tempos a tempos, sentimentos de dúvida e também geral-
mente de decepção, pois o bem parece não ter sido tão bom
- porém tão-somente uma parte maior ou menor do mal.
Compreendeis que aqui abrimos uma exceção para as assim
chamadas entidades-centelha-de-vida*, que disso tudo nada
compreendem. Elas são animais entre animais e não conhe-
cem nem possuem nenhuma vida interior.
Todavia, atentai para vós mesmos, se sois um aluno da
Gnosis. Como tal, tendes grandes possibilidades a vossa dis-

34
posição, pois participais do corpo vivo da Escola. Mesmo as-
sim, soa nossa pergunta: "Já sois tão ditosos? Elevastes a
vós mesmos além da dor e do tormento? Já vos libertastes
da dor e do sofrimento? O sofrimento já se retirou de vós?
Não estais submetidos a inúmeras e alternantes disposições
de ânimo? Permaneceis totalmente na alegria dos filhos de
Deus desde o amanhecer até o anoitecer? Não é verdade
que, antes de tudo, tendes de trilhar a senda difícil nos tem-
pos atuais? E que estais confusos ern meio a inúmeros pro-
blemas e a mil e um aborrecimentos? Qual é a causa disso
tudo? Não observastes quantos homens se queixam de sua
saúde?"
Talvez, isso aconteça nos círculos de alunos da Escola.
Vários parecem muito mal de saúde. Queixam-se especial-
mente de fadiga. Tem-se a impressão de que muitos têm es-
sas dificuldades devido a uma sobrecarga constante, sem
pausas para descanso. Ou, então, que a alimentação não
é ideal para muitos alunos.
Vede, isto é um sintoma de nossos tempos. Acredita-
mos que, nesse ponto, os alunos não são nenhuma exceção
do homem da massa, pois por todos os lados, fora da Escola,
em toda a Europa e mais além, pode-se verificar a total de-
pressão. Esse estado que agora atingimos, já foi previsto
pela Escola Espiritual modema há alguns anos. Essa adver-
tência foi feita aos alunos várias vezes.
Por que uma advertência? O que se pode fazer contra
isso? Como seres nascidos da natureza, não somos todos
ameaçados pelos mesmos perigos?
Não, a advertência vos foi repetidamente transmitida
porque talvez possais fazer alguma coisa contra isso! Contu-
do, um dos obstáculos de nosso tempo é que se ouve e en-

35
tende muito mal. Além disso, esquecem-se as coisas rapi-
damente. Tudo o que vos dizemos hoje, amanhã já tereis es-
quecido. totalmente. Isso não ocorre intencionalmente nem se
trata de alguma condição primitiva. Não, o que se vos trans-
mite é rémovido de vós!
A atmosfera em que vivemos, sofreu uma mutação. A
grande' farsa está sendo encenada! Atentai para o que acon-
tece no mundo em sintonia com a grande farsa, em concor-
dância com o desmascaramento·. Observais também como a
grande farsa já se encontra ocupada em enganar-vos?

Uma enfermidade, uma debilidade e um envenenamen-


to geral de toda a humanidade já tiveram início. Já havíamos
informado sobre isso há muito tempo, para que não fôsseis
sacrificados por isso. Todas essas queixas expressam, na
realidade, nosso enredamento na grande corrente da sub-
mersão. Deplorável e lamentavelmente carregados com todo
o tipo de sintomas mórbidos, somos arrastados irresistivel-
mente com a corrente. Em toda a parte, reina a inquietação e
um certo desalento. E pergunta-se: "Para onde isso leva? O
que está acontecendo?"

O décimo livro de Hermes oferece-nos a possibilidade


de dar uma resposta objetiva a essa pergunta: o homem des-
te mundo não é capaz de perceber! O que os olhos vêem, diz
Hermes, são apenas formas aparentes e as sombras da natu-
reza inferior.
Como isso é possível?
Devido ao estado em que se encontra vosso santuário
da cabeça. Devido ao estado de vossas faculdades senso-
riais. O total santuário da cabeça do homem nascido da natu-

36
reza está, inteiramente, sintonizado com a natureza da mor-
te. Suas faculdades sensoriais, sejam elas grosseiras ou ex-
tremamente refinadas, reagem somente à dialética, à nature-
za comum. Esse estado de consciência é completamente
inadequado para perceber o bem único que é, no mínimo, a
condição existencial do estado de alma vivente. O que está
oculto a vossos olhos, aproxima-se ao máximo da essência
do bem; o mais poderoso, a magnificência absoluta, escapa
totalmente aos centros de consciência, aos órgãos sensoriais
do santuário da cabeça. Não nos referimos aqui à clarividên-
cia, à visão etérica ou coisa semelhante, pois tudo isso é
apenas uma expansão da visão da miséria, porque a imundí-
cie e a pobreza da natureza material podem ser percebidas
em quantidade ainda maior na esfera refletora.
Do mesmo modo, o décimo livro nos diz: o bem, o bem
único, não pode ser encontrado neste mundo. Contudo, a ra-
diação do bem, do Espírito Sétuplo Universal, é onipresente!
E podeis participar dessa radiação. Nela se encontra a possi-
bilidade de ascensão. Porém o conhecimento disso não é su-
ficiente. Isso quer dizer que ?penas compreendeis intelec-
tualmente. Enquanto esse conhecimento permanecer num
âmbito racional não aproveitareis nada dele.

Se sois alunos da Escola Espiritual moderna, podemos


estabelecer a posição da maioria de vós, como se segue:

em primeiro lugar, tendes conhecimento da senda;


em segundo, a senda despertou vosso interesse e vos-
so coração ansiou por ela;
em terceiro, fostes, em conseqüência disso, admitidos
num corpo gnóstico vivente;

37
em quarto, experimentais, desse modo, a influência in-
tensa desse corpo vivo;
em quinto lugar, permaneceis, por um lado, totalmente
na natúreza da morte e em sua influência e, por outro lado,
atraís as radiações da Escola Espiritual;
em sexto, é fato que a atmosfera do mundo se toma
cada vez pior e mais miserável, enquanto que, simultanea-
mente, a influência da Gnosis, que se manifesta em e por
vós no corpo vivo, torna-se sempre mais intensa,
e, em sétimo lugar, carregais um lardo duplo e sois co-
mo que divididos em dois; de um lado, existe a natureza da
morte, e de outro, a influência do corpo vivo.

Vós sois divididos e isso ninguém suporta, a menos que


trilheis a senda atentos a todas as conseqüências, que teori-
camente conheceis tão bem. Compreendei-nos bem, não vos
censuramos, apenas chamamos vossa atenção para um es-
tado que, na realidade, ainda existe inteira ou parcialmente.
Amais a Escola de coração. Executais vosso trabalho com
amor. Vossa dedicação é magnífica. O que é necessário ago-
ra?
Iniciar de imediato, com a maior presteza, a vivência de
vossa senda! Necessitais dar um salto em meio a atualidade
de vosso discipulado. A vivência da senda. A realização dire-
ta e positiva do discipulado.
Numa escola de ocultismo, pode-se dizer: "Hoje eu farei
meus exercícios mais brevemente. Tenho pouco tempo e não
estou sentindo-me bem. Isso não me é conveniente". Porém
na Escola Espiritual gnóstica não podeis permitir-vos tal coi-
sa! Trata-se, antes de tudo, num tempo como nosso, de ser
ou não ser, a fim de empregar absoluta e imediatamente

38
todas as normas que a Escola vos têm transmitido tão abun-
dantemente, sem perder também um único instante.
Uma pergunta: permaneceis assim no discipulado direto
e atual de manhã à noite, hora após hora? Respondei a vós
mesmos. Não conservais por muito tempo o estado sétuplo
que vos descrevemos anteriormente. Vários acontecimentos
dentro e fora de vossa vida vos pegam de surpresa.
No momento, vossos olhos percebem apenas silhuetas,
pois vossa consciência também permanece como nascida da
natureza, porque conheceis o bem apenas na teoria. Nem o
olho interno - entendei isso bem - pode contemplar também
a magnificência do bem. Desse modo, carregais a carga da
natureza e a ruptura interior, devido a influência da Gnosis,
que simultaneamente carregais convosco de um lado para o
outro. Uma dupla carga, portanto, sem qualquer compensa-
ção. Talvez, uma conferência num de nossos focos• onde
sois apartados da rotina dos afazeres diários, onde tudo é di-
ferente e onde sois envoltos pela força do templo, seja a úni-
ca compensação que tereis. Quanto ao resto, não existe ne-
nhum equilíbrio, nenhuma harmonia em vossa vida.
Não é verdade que muitos alunos jamais viram aquilo
que é bom, o único e verdadeiro bem? Porquanto, por outro
lado, estavam obviamente ligados a toda a maldade em vir-
tude de seu nascimento na natureza. Ninguém consegue vi-
ver apenas da teoria. Vós mesmos deveis discernir até que
ponto o trecho abaixo se aplica a vós. Nele, Hermes mostra
que os homens não somente estão ligados a toda a malda-
de, mas que também pensam que esta é o bem. Tudo aquilo
para o que a natureza terrena impele os homens é conside-
rado o bem supremo, ao invés de um mal extremo. O homem
receia ser dele despojado e luta com todo o seu poder, não

39
somente para conservá-lo, mas também para que se multi-
plique.

Compreendeis agora que, numa escola como nossa, a


verdadé sempre se demonstra em determinado momento?
Compreendeis também que, com base nos fatos citados,
muitos permanecem à beira de um precipício? Por isso, ago-
ra é a ocasião propicia para intervirdes radicalmente em vos-
so estado de ser, visto a velocidade tomada pelo curso dos
acontecimentos e pelos desenvolvimentos no mundo. Deveis
atacar tudo o que em vós ainda se mantém no lado negativo
das coisas, antes que seja tarde.
Sabeis qual é o caminho; o método vos é conhecido; e,
simultaneamente, já há muito tempo, a força para o rompi-
mento se encontra a vossa disposição. Por que suspirais en-
tão? Não há nada por que suspirar, pois as mãos são esten-
didas aos milhares para vos tirar do lodaçal. Contudo, se não
agarrais uma dessas mãos, como sereis auxiliados?

40
VI

O CÂNTICO DE ARREPENDIMENTO DA LIBERTAÇÂO

Muitos de vós conhecem, de expenência própria, a dor


da ruptura interna que já tivemos oportunidade de esclarecer
anteriormente. Por um lado, existe a dialética, o mal; por ou-
tro, a atração exercida pela Gnosis sobre nós devido a nossa
participação no corpo vivo da Escola Espiritual. Portanto,
uma solução se tornou urgente, absolutamente necessária.
Pode-se então apresentar uma pergunta concreta: existe so-
lução?
A resposta da Escola é: sim, existe solução, e esta se
encontra na senda, no emprego do método que vos é ensi-
nado e novamente indicado. Passai pois a não amar nem
odiar tudo o que pertence à natureza da morte. Permanecei
na já descrita autonomia. Permanecei objetivos diante de to-
das as aparências. Cumpri vossos deveres na vida, fazei o
que é correto, porém não façais mais do que isso. Assim, as
forças astrais da natureza da morte, as forças astrais do
campo de vida comum, influenciarão cada vez menos vosso
santuário do coração.
O santuário do coração possui sete cavidades, sete
câmaras: quatro cavidades inferiores e três princípios superio-
res. A filosofia hindu fala do "lótus de quatro pétalas" do co-

41
ração e do "Jótus de sete pétalas", enquanto que a Escola ln-
terna da jovem Gnosis se refere respectivamente ao "triân-
gulo" e ao "quadrado da construção". As quatro cavidades in-
feriores do coração formam o quadrado da construção. Acima
das quatro câmaras cintilam três flamas, três archotes etéri-
cos, os três princípios superiores. Cada um possui um raio de
ação mais ou menos grande. Eles conduzem, eles ativam, os
processos inferiores que se devem desenvolver sobre o qua-
drado* da construção.
Quando pois de modo coerente e com perseverança,
permaneceis na autonomia, pondes um, dois ou todos os três
princípios superiores do coração em condições de influenciar
as quatro câmaras inferiores de forma poderosa e estimulan-
te. Assim, atingis totalmente outro estado de vida.
Se amais alguma coisa da natureza da morte, vós a
atraís; se odiais algo, o repelis. Necessitais sempre a corren-
te astral dialética tanto para o processo de atração como pa-
ra o de repulsão. Assim, mantendes vivo o fogo da morte na
aura do coração. Todos os vossos interesses relativos à vida
no plano horizontal, todos os vossos pontos de vista desa-
gradáveis quanto a mesma, conservam o estado natural co-
mum de vosso santuário do coração. Dessa forma, pode-se
falar de paixões, de tempestades de natureza astral que in-
quietam o santuário do coração. Essas correntes astrais da
vida comum desempenham assim um papel importante em
vosso coração e portanto em vossa vida. Compreendeis en-
tão que se durante um de nossos serviços templários, a aura
do coração é carregada de modo diferente, vós recebeis, por
causa disso, essas influências tanto no corpo como na cons-
ciência. No entanto, se em seguida, sem autocontrole, ajus-
tais-vos novamente à vida comum, o novo fogo astral que

42
começou a arder é neutralizado imediatamente, e o estado
antigo volta a ocupar seu lugar em vossa vida com força to-
tal.
A conseqüência, como é evidente, é que toda a vossa
consciência, o candelabro sétuplo do santuário da cabeça e
todos os órgãos sensoriais, assim como o coração, permane-
cem sintonizados com a natureza da morte. Desse modo,
mantendes como que aprisionado tudo o que está na cabeça.
Todas as correntes astrais de que viveis convertem-se em
forças etéricas. Vosso inteiro organismo sensorial trabalha,
queima, funciona, mediante éteres. Eles formam o combustí-
vel do aparelho orgânico-sensorial. Os éteres são extraídos
da substância astral. Por isso, haveis de compreender que
sereis sempre o mesmo nascido da natureza, se esta subs-
tância astral que comanda todo o vosso ser provier da natu-
reza da morte. Eis por que Hermes diz nos versículos 1O e
11:

E assim como o olho não pode ver a Deus, tampouco


pode ver o belo e o bem, pois ambos são partes perfeitas de
Deus, porque próprias dEle e dEle somente, inseparáveis de
Seu ser, e expressão do supremo amor de Deus e a Deus.
Se assim pudesses reconhecer a Deus, reconhecerias o
belo e o bem, em sua suprema glória radiante, inteiramente
iluminada por Deus, pois essa beleza é incomparável, essa
beleza é inimitável, assim como Deus mesmo o é. À medida
que reconheces a Deus, reconheces também o belo e o bem.
Eles não podem ser participados a outros seres, por serem,
inseparáveis de Deus.

Por isso, o homem que realmente busca uma solução,

43
a libertação, deve, em primeiro lugar, tornar-se autônomo.
Sem essa autonomia, sua obra será inútil, pois é compreen-
sível que primeiramente deveis tratar de paralisar a fúria vio-
lenta do fogo astral da natureza da morte, que a neutralizeis
o tanto quanto possível. Tão logo o coração seja libertado,
devereis, como foi dito, subordinar-vos, juntamente com o
santuário da cabeça, ao santuário do coração, em total auto-
rendição. Dessa forma, a consciência que se tornou objetiva
cantará seu cântico* de arrependimento. cântico de arrepen-
dimento da libertação.
Quando, humilde e plena de rendição, a consciência se
volta ao coração, assim como diziam os místicos, um afluxo
de forças luminosas do novo fogo astral tem lugar imediata-
mente no coração. Uma nova aura do coração se forma e vos
tornais, por assim dizer, mais jovens. Adentrais a nova juven-
tude, a juventude do estado de alma recém-nascido.
Esse fogo astral da Gnosis, do mundo da alma, pene-
trar-vos-â e vos preencherá inteiramente. Ele vos envolverá
totalmente como uma veste. Como resultado disso, também
a consciência, o santuário da cabeça com todas as suas fa-
culdades será tocado, preenchido e modificado, podendo a
maravilhosa flor* áurea ser vislumbrada pela janela da alma.
Todo um processo de transformação é instaurado e vossa vi-
da atinge imediatamente o equilíbrio. A dor, o sofrimento e
os problemas permanecem, pois a natureza comum segue
seu curso. Porém a partir desse instante, vós vos colocais de
forma bem diferente diante dessas coisas, de modo que elas
já não vos assaltam. Já não entrareis em fadiga moral ou es-
piritual, e a harmonia reinará em vossa vida. Assim, o ho-
mem recebe uma compensação mais do que suficiente para
suportar todas as provas com alegria no coração. E recebe a

44
compensação para poder manter-se em harmonia na nature-
za da morte.
Hermes denomina -esse novo estado uma vida ativa
que serve a Deus nas mãos da Gnosis. Essa é a plenitude
do Espírito Sétuplo, a plenitude de Deus. Essa é a suprema e
nobilíssima felicidade que se pode experimentar. Essa é a
participação no bem único, o ser acolhtdo nas radiações do
Espírito Sétuplo, até o ponto que está destinado à criatura.
Podereis celebrar no hoje absoluto essa bem-aventu-
rança, se apenas aceitardes as conseqüências da senda.
Somente então defrontareis a vida em total serenidade, pois
tereis solucionado para vós e em vós mesmos o mistério do
bem único.

45
VIl

DÉCIMO-PRIMEIRO LIVRO

SOBRE A MENTE E OS SENTIDOS

1. Asclépio, ontem te transmiti a palavra da maturida-


de. E, agora. em conexão com isso, acho necessá-
rio falar extensivamente a respeito da percepção
sensorial. Pensa-se que entre a percepção sensorial
e a atividade mental há uma diferença: uma seria
material e a outra, espiritual.

2. Eu, porém, sou de opinião que ambas estão inti-


mamente ligadas e de modo algum diferenciadas,
pelo menos com relação aos homens, pois se entre
os outros animais a percepção sensorial está ligada
à natureza, nos homens esse fato se apresenta
também com a mente.

3. A faculdade de pensar relaciona-se com a atividade


mental, assim como Deus se relaciona com a natu-
reza divina, porque a natureza divina provém de
Deus, e a atividade mental, do pensar que está
aparentada com o Verbo.

47
4. Ou melhor: a atividade mental e o Verbo são instrumen-
tos úm do outro, pois o Verbo não é proferido sem uma
atividade mental, e a ativiclade mental não se toma mani-
festa.sem o Verbo.

5. A percepção sensorial e a atividade mental estão, pois,


no homem, unidas como se fossem entrelaçadas. porque
não há atividade mental sem percepção sensorial, nem
percepção sensorial sem atividade mental.

6. Não obstante, é possfvel imaginar uma atividade mental


sem direta percepção sensorial, como por exemplo, as
imagens que se apresentam em sonhos.

7. Minha opinião é que ambas as atividades, ao se apresen-


tarem, são despertadas pelas imagens do sonho.

8. Porque a percepção é dividida no corpo material assim


como no corpo astral, e quando essas duas partes da
percepção se reúnem, o pensamento evocado na mente
é expresso pela consciência.

9. A mente gera todas as imagens pensadas: imagens


boas, quando recebe as sementes de Deus; imagens ím-
pias, quando provém de um dos demónios, porque não
há lugar no mundo sem demônios, pelo menos demônios
nos quais falta a luz de Deus. Eles penetram o homem e
semeiam as sementes de suas próprias atividades, e a
mente é então fecundada com o que foi semeado - adul-
térios, assassfnios, tratamento desamoroso aos pais, atas
sacrflegos, ações fmpias, suicfdios por enforcamento ou

48
por atirar-se das rochas, e todas as outras coisas se-
melhantes operadas pelos demônios.

1O. Quanto às sementes de Deus, elas são pouco numero-


sas, porém grandes, belas e boas! São chamadas virtu-
de, temperança e bem-aventurança. A bem-aventurança
é a Gnosis, o conhecimento que é de Deus e com
Deus. Quem possui esse conhecimento está pleno de
todo o bem e recebe seus pensamentos de Deus, os
quais são inteiramente diversos dos da massa.

11. É por isso que os que andam na Gnosis, não agradam à


massa, e, por outro lado, a massa não agrada a eles.
Os primeiros são considerados dementes, são sujeitos
ao riso e ao deboche, são olhados e desprezados e, de
vez em quando, mesmo assassinados, porque, como eu
disse, o mal deve habitar aqui por ser oriundo daqui. De
fato, a te"a é seu domfnio e não o mundo, como alguns
sacrílegamente pretendem.

12. Aquele, porém, que respeita e ama a Deus, tudo supor-


tará por participar da Gnosis, porque para tal pessoa to-
das as coisas operam para o bem, mesmo aquelas que
para outros são maldades. Quando se lhe preparam ci-
ladas, ela apresenta tudo como oferenda à Gnosis e
faz, ela só, com que todo o mal se transforme em bem.

13. Vou voltar agora a meu discurso sobre a percepção. É,


pois, próprio ao homem fazer coincidir a percepção com
a atividade mental. Todavia, corno já disse antes, nem
todo o homem faz da mente um ganho; porque há o

49
homem material e há o vero homem espiritual. O ho-
mem material, ligado ao mal, recebe, como já disse, o
germe de seus pensamentos dos demónios: o homem
espiritual, porém, é ligado ao bem e é guardado por
Deus para sua salvação.

14. Deus, o Demiurgo do Todo, forma todas as Suas criatu-


ras segundo a Sua imagem, porém estas, boas segundo
seu fundamento primordial, desviaram-se no uso de sua
força ativa. Daí a retribuição da te"a. que, ao moê-las,
produz os géneros em várias qualidades, alguns macu-
lados pela maldade, outros purificados pelo bem. Por-
que, Asclépio, o mundo tem também sua faculdade de
percepção e sua atividade de pensar, não da maneira
dos homens, nem tão variadas, porém mais sublimes,
mais simples, mais verfdicas.

15. Porque a percepção e a faculdade de pensar do mundo,


criadas com o intuito de ser instn.Jmentos da vontade de
Deus, dão forma a todas as coisas e as fazem dissol-
ver-se novamente, para que, guardando em seu seio to-
das as sementes que receberam de Deus, produzam
todas as coisas segundo sua própria tarefa e vocação,
dando-lhes, ao dissolverem-nas novamente, a renova-
ção; deste modo, como um hábil jardineiro da vida, pro-
porcionam-lhes a renovação após as terem dissolvido,
fazendo-as se manifestarem de modo diferente.

16. Não há nada que não tenha recebido a vida do mundo.


Dando existência a tudo, ele preenche tudo de vida. Ele
é tanto a morada como o criador de vida.

50
17. Os corpos são edificados com matérias de espécies di-
ferentes: parcialmente de terra, parcialmente de água,
parcialmente de ar, parcialmente de fogo. Todos os cor-
pos são compostos, um mais, outro menos: os mais
compostos são mais pesados: os menos compostos,
mais leves.

18. A rapidez da manifestação das formas opera aqui a


multfplice variedade daquelas espécies. porque o inces-
sante ativo alento do mundo dá continuaménte novas
qualidades aos corpos, assim como a única plenitude
de vida.

19. Assim, pois, Deus é o Pai do mundo, e o mundo é o


criador de tudo o que está nele; o mundo é filho de
Deus, e tudo o que está no mundo veio à existência
pelo mundo.

20. Por isso, com justiça, o mundo é chamado "cosmo" (isto


é, ordem, jóia, amamento), porque ele ordena e oma o
Todo numa multiplicidade infinita e de maviosa beleza
por meio da continuidade da vida, da infatigabilidade da
força reveladora, da rapidez do fatum, da composição
dos elementos e da ordenação de tudo o que devém,
porque tanto por causa de suas leis fundamentais como
por causa de seu guia, o mundo é pois chamado de
cosmo.

21. A percepção e a mente entram pois em todos os seres


viventes, do exterior, como se estivessem no alento que
os circunda, porém, outrora, o mundo as recebeu de

51
Deus para sempre, no momento de seu devir.

22. Deus não é como alguns homens pensam, destitufdo de


perc_epção e mente. Os que assim falam ofendem a
Deus, por um respeito mal compreendido, porque todas
as criaturas, Asclépio, estão em Deus! Elas foram cria-
das por Deus e são dependentes dEle! Quer se mani-
festem em corpos materiais ou se elevem como seres-
-a/mas, quer tenham sido feitas viventes pelo Espfrito,
ou entrado no domínio da morte, tDcJas está) em Deus.

23. Até é ainda mais justo dizer que Ele não tem todas as
criaturas em Si, senão que em verdade Ele mesmo é
todas elas! Porque Ele não as acrescenta em Si mesmo
de fora, porém as gera de Seu próprio ser e as manifes-
ta em Si mesmo.

24. E eis agora a percepção e a atividade do pensar de


Deus: a movimentação ininterrupta do Todo; e nunca
haverá um tempo em que algo do que existe (isto é,
que faz parte de Deus), se perca. Porque Deus tudo
mantém encerrado em Si, nada há fora dEle, e Ele está
em tudo.

25. Se podes compreender essas coisas, Asclépio, reco-


nhece-las-ás como verdade; caso não as compreendas,
tê-las-ás por inverossímeis, porque compreender verda-
deiramente é possuir fé vivente, enquanto a ausência
de fé é ausência de compreensão. Não é, entretanto, a
mente que chega à verdade, porém, a alma ligada ao
Espfrito tem o poder, depois de ser guiada primeira-

52
mente a essa via pela mente, de apressar-se antecipa-
damente à verdade; e quando então ela contempla o
Todo numa visão oniabarcante e verifica que tudo está
em conformidade com o que a mente iluminada pela
compreensão explicou, sua fé está elevada ao saber,
ela encontra sua quietude nesse belo saber suportado
pela fé.

26. Para aqueles que podem conceber no fntimo as pala-


vras que enunciei aqui e que são de Deus. elas são a
fé; porém para aqueles a quem falta a compreensão vi-
vente, elas são incredulidade. Eis o que eu queria dizer
sobre a mente e os sentidos.

53
VIII

A MENTE E OS SENTIDOS

Asclépio, ontem te transmiti a palavra da maturidade. E,


agora, em conexão com isso, acho necessário falar extensi-
vamente a respeito da percepção sensorial. Pensa-se que en-
tre a percepção sensorial e a atividade mental há uma dife-
rença: uma seria material, e a outra, espiritual.
Eu, porém, sou de opinião que ambas estão intimamen-
te ligadas e de modo algum diferenciadas, pelo menos com
relação aos homens, pois se entre os outros animais a per-
cepção sensorial está ligada à natureza, nos homens esse fa-
to se apresenta também com a mente.

Desejamos primeiramente dirigir vossa atenção a vosso


organismo sensorial composto pelas cinco faculdades conhe-
cidas: a audição, a visão, o olfato, o paladar e o tato. Elas
formam, em conjunto, a base da consciência humana. Popu-
larmente elas são denominadas "consciência", pois, na au-
sência dessas funções orgânico-sensoriais a menor parcela
de consciência estaria fora de cogitação. Os sentidos capaci-
tam o homem a expressar-se e viver conscientemente neste
mundo.
Além disso, conhecemos também a faculdade do pen-

55
sarnento que o homem comum e suas autoridades associam
com o espírito humano. Uma pessoa que faz uso apropriado
de sua· faculdade intelectual é considerada possuidora de
poderes. espirituais mais ou menos grandes. Todavia, com
um exame mais profundo sobre o assunto, devemos abando-
nar totalmente a idéia de que o intelecto se acha ligado ao
espírito do homem, porquanto, o organismo sensorial do ho-
mem nascido da natureza e seu aparelho racional são total-
mente unos. Nas palavras de Hermes. eles estão intimamen-
te ligados e de modo algum diferenciados.
Assim, nem o intelecto, nem o organismo sensorial do
homem ligado à natureza, nem ainda a consciência que por
eles se explica, têm alguma coisa a ver com o espírito. O
homem nascido da natureza distingue-se dos outros animais
unicamente porque possui um aparelho racional além dos ór-
gãos sensoriais. Portanto, o homem possui, além de uma
percepção orgânico-sensorial, como os animais, uma mente,
ambas ligadas à natureza.
Devemos chegar à conclusão de que o homem se en-
contra muito mais ligado à natureza, muito mais dirigido à
natureza, do que qualquer outro animal. Esse fato evidencia-
se em todo o comportamento humano. Até a assim chama-
da religião, a metafísica do homem, fala, em todas as lín-
guas, de sua ligação natural. A divindade deve dar saúde e
longa vida ao homem. Tudo o que ele ambiciona é suplicado
à divindade, e tudo o que a divindade doa, como se acredita,
nesta área, é retribuído com a maior gratidão de tempos a
tempos. Quando a vida termina, pede-se à divindade um lu-
gar adequado no Além, junto da família, amigos e parentes, e
o brilho da luz solar celestial em perfeita alegria para sempre.
Tudo isso é muito lógico, pois a metafísica do ser natu-

56
ral deve certamente conduzir a isso. Dessa forma, deveis
examinar profundamente essa religiosidade, mesmo que,
muitas vezes, ela se apresente a todos os ocidentais adorna-
da não somente com o nome e a cruz de Cristo, mas tam-
bém com orientações distorcidas e roubadas de uma idéia to-
talmente diferente, que não é deste mundo.
Quanto a isso, o animal se encontra muito acima do
homem. O animal é simplesmente uno com a natureza, nada
mais. Todo o refinamento humano de auto-afirmação em
suas inumeráveis formas fenomenais são estranhas ao ani-
mal. O animal não está a par d1sso; o homem, sem dúvida
alguma, está O homem é a criatura mais atolada na nature-
za, o ser mais agrilhoado, devido ao fato de que o organismo
sensorial e racional, portanto a inteira consciência, tudo o
que o homem é, está totalmente unificado com a natureza.
Isso não é lisonjeiro nem tampouco agradável. Porém é
a verdade. A percepção sensorial e a atividade mental estão,
pois, no homem, unidas como se fossem entrelaçadas, diz
Hermes.
Sem a percepção sensorial não existe nenhuma racio-
nalidade, e sem a racionalidade, nenhuma percepção senso-
rial. O animal é orientado para seu objetivo natural, e ele o
manifesta clara e abertamente. Quanto a isso, o animal é
absolutamente leal e sincero. Porém, o mesmo não pode ser
dito com relação ao homem. O homem também se encontra
completamente orientado para seu objetivo natural. Contudo,
ele não o revela clara e abertamente, e é, neste ponto, ex-
tremamente mentiroso e desleal. Ele é forçado a isso em
conformidade com a lei de autoconservação, pois os homens
enganam uns aos outros de iodos os modos devido a astúcia
de sua mente. Deveis prestar bem atenção (e começai por

57
vós mesmos!) na forma como os homens mentem, logram e
enganam-se mutuamente. Em como eles assumem, de acor-
do com Ómomento, uma expressão de amizade ou de auste-
ridade, de alegria ou de sublimidade. Neste ponto, deveis
considerar os homens como o mais perigoso dos animais. E
nesse sentido, vosso exame começa por vós mesmos.

De tempos a tempos, surgem no mundo movimentos


que apontam a hipocrisia e a mentira infame do homem da
natureza, que revelam a ilusão e a lúgubre comédia de todo
o aparato da convivência humana. Esses movimentos dese-
jam, de vez em quando, empreender uma tentativa para
desmascarar tudo isso e propagam então a idéia de um ser
humano puro, honesto. Em algumas cidades do mundo, os
jovens são homens simples e autênticos (os adultos não se
arriscam!). Entretanto, se pudésseis perceber como é que se
concebe esse ser humano simples e autêntico, replicaríeis
imediatamente: "Sim, porém é irrealizável. Isso não pode
realmente ser feito. Ser um homem tão simples e autêntico
está totalmente fora de questão!"
Que bela confusão não se armaria, caros seres huma-
nos, se o homem da natureza começasse a viver em toda a
simplicidade e sem constrangimento, segundo seu ser dialé-
tico interior! Seria uma desordem tão medonha, que certas
esferas do mundo dos desejos, onde se libertam os excessos
das orgias das paixões humanas de um mundo tão tenso,
dela não seriam mais que um pálido reflexo.
Quando os jovens nas cidades do mundo começam a
viver como seres simples e autênticos, como se têm tentado
nos últimos anos, vemos a polícia cair sobre eles. A policia
parte contra os jovens quando eles protestam contra as

58
grandes mentiras da sociedade. Assim, resulta uma tensão
enorme no mundo - todos nós a percebemos - cada vez
mais difícil de agüentar, pois a vocação do homem não é ser
o mais inteligente e, por isso mesmo, o animal mais perigoso
dentre todos os animais! Todavia quem fará a juventude cor-
rompida das cidades do mundo compreender isso? Por quan-
tos séculos a juventude do mundo inteiro já não foi reitera-
damente enganada? Ela não nasceu, foi criada e educada
para ser abatida nos campos de batalha?
Que objetivo sublime, nobre e libertador pode-se ainda
oferecer aos jovens? Não se encontra o mundo continuamen-
te em chamas desde o início deste século? Existem ideais
religiosos, normas sociais ou científicas que possam ser con-
sideradas libertadoras? É de se admirar que os jovens ado-
tem um ponto de vista tão antigo como: "Comamos, beba-
mos e alegremo-nos; sejamos animais simples e autênticos,
pois amanhã morreremos".
"É bom", assim dizem os teólogos, os padres e os pas-
tores, "é muito bom ser um homem simples e autêntico. Nós
entendemos a juventude. Vinde, porém, viver assim conosco.
É claro que com um pouco mais de decência. Vinde descon-
trair-vos em nossos centros comunitários, sob a orientação
do evangelho".
Sabeis o que isso significa?
Nada mais nada menos do que o desmoronamento da
igreja em nossos dias. E deveis atentar para a forma como
tudo isso vai desenvolver-se em futuro próximo e para suas
conseqüências. Ainda veremos os jovens dançando o rock
and rol/ nas igrejas!
Estamos vivendo os últimos dias. Todo o gênio científi-
co do instinto natural se manifesta, como sabemos, nas hor-

59
ríveis ml:lquinações, nas monstruosas atrocidades, na maior
sede de sangue.
Satieis o que ocorre já há alguns anos na África?
As maquinações dos nazistas que nós europeus apren-
demos tão bem a temer, as situações sinistras das câmaras
de tortura e dos campos de concentração empalidecem dian-
te de todos os fatos ocorridos nos últimos anos na África, de-
vido a mais aguçada auto-afirmação do animal humano.
E tendo em vista tudo isso, não seria um insulto nos
apresentarmos com a palavra e a luz da Gnos1s? Pois, quem
somos? De que somos capazes? Não pertencemos também
aos animais mais perfeitos do mundo? Como nos comporta-
ríamos se nossas inibições fossem vencidas ou derribadas?
Quem somos nós? Como é que viemos a nos reunir aqui
nesta Escola? Isso também não é especulação? A especula-
ção dos instintos naturais? O que acontece conosco? Por
que motivo os alunos assistem por alguns dias e em número
cada vez maior às conferências? Por que eles freqüentam
com tanta assiduidade os serviços templários?
Essas são perguntas importantes à luz da realidade da
dialética. Perguntas que valem a pena ser feitas.
·Hermes responde no sexto, sétimo e oitavo versiculos
do décimo-primeiro livro:

Não obstante, é possfvel imaginar uma atividade men-


tal sem direta percepção sensorial, como por exemplo, as
imagens que se apresentam em sonhos.
Minha opinião é que ambas as atividades, ao se apre-
sentarem, são despertadas pelas imagens do sonho.
Porque a percepção é dividida no corpo material assim
oomo no corpo astral, e quando essas duas partes da per-

60
cepção se reúnem, o pensamento evocado na mente é ex-
presso pela oonsciência.

Essas palavras são muito importantes, embora nós, tal-


vez, não possamos compreendê-las à primeira vista. Por isso,
devemos discuti-las pormenorizadamente. Elas se aplicam
inteiramente a vosso estado de ser. Elas objetivam explicar
vossa primeira e provavelmente acanhada e hesitante tenta-
tiva de reação à Gnosis. Talvez vós mesmos sejais, de vez
em quando, um verdadeiro enigma v1vente. Por um lado, o
animal humano em suas múltiplas formas de expressão; por
outro, o homem realmente orientado segundo a Gnosis. Por
isso, talvez já tenhais-vos perguntado: "Afinal, o que faço eu
aqui nesta Escola?"
Hermes decifra esse enigma. Ele vos esclarece quem e
o que sois neste momento. Ele vos aconselha a não perma-
necer nessa situação, porém a elevar-vos e a convergir forças
para o irrompimento.

61
IX

NOSSA INFLUÊNCIA ASTRAL

Como se explica nosso encontro aqui na Escola se, ao


observarmos todo o comportamento da humanidade nascida
da natureza, compreendemos que o homem é o mais perfeito
dos animais, o animal dos animais, e que nós também per-
tencemos a esta humanidade natural? Não é possível que
nós estejamos fazendo outra especulação metafísica, dife-
rente daquelas da massa, e pertençamos a algum movimen-
to esotérico, assim como alguns estão ligados à Igreja Cató-
lica e outros a uma comunidade religiosa protestante?
Hermes nos responde essas perguntas inquietantes
com estas palavras:

É possível imaginar uma atividade mental sem direta


percepção sensorial, como por exemplo, as imagens que se
apresentam em sonhos.

O que Hermes quer dizer com isso?


Quando vossa personalidade adOrmece, ela se divide
em uma parte material e em outra mais sutil. Esta última
compreende também uma parte da consciência, especial-
mente o corpo astral. Este corpo astral da personalidade

63
dividida adentra a esfera astral, que está em sintonia com
todo o est~do de ser da pessoa, e dela participa. Várias im-
pressões provenientes dessa esfera impregnam alguns cen-
tros racionáis do corpo material.
Dá-se, portanto, o seguinte: enquanto dormis à noite,
vossa personalidade se divide, vosso corpo astral entra em
ligação com o correspondente campo astral, e vossos centros
racionais são carregados, como um acumulador, mediante
a ligação com a esfera astral. Visto que o intelecto forma
com os sentidos unidade perfeita, está claro que, ao acordar-
des na manhã seguinte, desencadear-se-à uma reação sen-
sorial motora proveniente de tudo o que foi transferido as-
tralmente para o organismo racional.
Daí se explica, em primeiro lugar, vossa tendência a en-
trar nesta Escola e vosso discipulado nela. No início, era co-
mo que se um impulso orgânico sensorial e intelectual, expli-
cável por diversas influências astrais, tivesse-vos trazido para
a Escola. Isso significa que sois sensíveis a esse tipo de in-
fluência astral. Quando independente de terceiros e positi-
vamente de vosso imo, escolheis o discipulado, isso se expli-
ca somente pelo fato de que determinadas influências as-
trais, às quais sois receptivos, conduziram-vos a esta Escola.
Isso pode, por exemplo, ser a conseqüência de um es-
tado puramente hereditário, portanto, proveniente de vossos
pais ou antepassados. Possuís um estado sanguíneo corres-
pondente ou uma secreção interna que vos abriu a essas in-
fluências. Pode ser tambêm que estejais predispostos carmi-
camente, que esteja presente em vosso ser* aura! uma pode-
rosa concentração de influências de orientação gnóstica que
penetrem a personalidade. Se tal predisposição cármica esti-
ver ligada a uma aptidão hereditária, os impulsos astrais

64
aluarão mui fortemente na pessoa e desenvolverão uma rea-
ção intensa, a maior parte das vezes já na mocidade.
É possível ainda que exista na pessoa predisposição
hereditária sintonizada com atividade impulsiva que careça,
porém, de uma base cármica. Neste caso, a reação está pre-
sente, porém, ela é ainda de natureza muito superficial, visto
que uma base cármica sempre implica experiência. Sabemos
muito bem o que acontece quando a experiência inexiste
numa criatura.
Também pode acontecer que ex1sta uma base cármica,
porém nenhuma predisposição hereditária. Então, o corpo, o
tipo sanguíneo e o fluido nervoso não se encontram prepara-
dos o suficiente para manifestar o discipulado, enquanto que
por meio do karma• uma influência poderosa, neste sentido,
é exercida no corpo, na personalidade. Geralmente, tais pes-
soas quase sempre têm vida bastante difícil. Normalmente,
passam-se muitos e muitos anos antes que elas se libertem
de suas influências hereditárias. Esse processo dura muitas
vezes até a faixa etária de 45 a 50 anos, tanto em homens
como em mulheres. Este é então o caso mais favorável. Fre-
qüentemente, eles vêm à Escola quando já estão em idade
muito avançada.

Não se deve fazer uma bela idéia dos impulsos astrais


e suas eventuais conseqüências que acometem o organismo
racional durante as horas de sono. Não deveis, por exemplo,
pensar num convite ou numa mensagem da Fraternidade es-
pecialmente dirigida a vós. Algo como: "Tu és tão excelente,
estás tão preparado; trilha a senda1" Isso, com toda a certeza,
não é assim!
Na esfera astral do campo de vida da natureza comum,

65
diversas radiações, diversas influências, fazem-se valer des-
de o tipo a mais inferior e abjeto até o mais sublime e sere-
no. Na esfera astral de nossa terra, encontram-se não apenas
as coisas mais terríveis que se possa imaginar, mas também
as influências astrais da Fraternidade" Universal.
Deveis ainda saber que as coisas na esfera astral acon-
tecem antes de sua manifestação na esfera• material. En-
quanto as coisas seguem aqui um cam1nho moroso, elas se
manifestam na esfera astral muito mais rapidamente. Em ou-
tras palavras, tudo o que se desenvolve neste momento em
nossa esfera astral, realizar-se-á, por exemplo, amanhã, de-
pois de amanhã ou mesmo muito mais tarde na esfera mate-
rial. Por isso, a esfera astral, nosso corpo astral, as influên-
cias astrais em geral, sempre dão o tom em nossa vida. As
influências astrais estimulam-nos a realizar aqui o que já
existe no plano astral.
Por conseguinte, existem também, como já foi dito, in-
fluências da corrente universal gnóstica que atuam na esfera
astral desta natureza, influências que se distinguem em cada
região astral. Caso alguém tenha alguma tendência hereditá-
ria ou um karma consoante a essa disposição, então as in-
fluências astrais da Fraternidade penetrarão as pessoas e na
maioria dos casos elas reagirão. Por exemplo, elas se mos-
trarão interessadas pela filosofia e literatura da Escola da
Rosacruz Áurea. Pode ser também que alguém reaja de tal
forma que chegue a uma escola como a nossa.
Por que vós, como alunos, aceitais as influências da
Fraternidade Universal e outro não? Essa é uma questão,
como já foi mencionado, de tendências hereditárias ou cár-
micas.
Como surge essa tendência?

66
Também já conheceis a resposta a essa pergunta. Ern
primeiro lugar, devido às inúmeras experiências amargas de
vossos pais e antepassados, quando reagis apenas à predis·
posição hereditária.
Vede, quando esperais e ansiais por tudo o que é da
dialética durante a vossa vida e assim prosseguis de maneira
positiva e fortemente orientados no plano horizontal, mais
cedo ou mais tarde chegará a hora em que tudo vos será
subtraído e sereis atados a toda a sorte de misérias. As in-
fluências astrais que até então vos impeliram, já não vos sa-
tisfazem. Como conseqüência, surge um impulso em vosso
sistema dirigido a algo mais. Pode ser que, nesse impulso, a
influência astral da Gnosis comece a falar em vós. Se estais
na Escola Espiritual devido a fatores puramente hereditários,
podeis encontrar em vossos pais e antepassados as tendên-
cias que vos conduziram a isso. Vossos pais e antepassados
beberam do doloroso cálice de amarguras.
Em segundo lugar, se reagis apenas carmicamente, en-
tão as influências cármicas são impregnadas em vosso sis-
tema devido a amargas experiências vividas por vossos pre-
decessores em vosso próprio microcosmo. Em certo sentido,
elas se tornaram agora vossas próprias experiências. Pelo
menos, tendes a vossa disposição uma série de experiências
muito íntimas e especiais. Foi também bebendo do cálice de
amarguras que fostes finalmente trazidos aqui. Isto indica
principalmente o terceiro tipo de aluno que deve beber, ele
mesmo, em largos goles dessa taça.
Pois bem, as experiências do primeiro, segundo e ter-
ceiro tipos ou dos três tipos em conjunto conduziram-vos pa-
ra o discipulado. Os demais, incontáveis milhares de pes-
soas, ainda não vieram porque, por enquanto, suas reações

67
de vigília orgânico-sensoriais levaram-nas a outras plagas.
No fundo, çontudo, não havia diferença alguma entre a vida
delas e a vossa, entre o estado incipiente e essencial delas e
o vosso. A· sinceridade nos impele a dizer que até a vossa
entrada na Escola foi quase que especulação puramente me-
tafísica.
O que acontece normalmente com um aluno quando
vem para a Escola Espiritual da Rosacruz?
Ele busca paz, segurança; busca solução para seu
complicado estado de vida. Procura tranqüliidade. Ele tam-
bém é um animal que procura proteção, e seu instinto impe-
le-o nessa direção por meio de um impulso astral. O animal
açulado, cansado ou abatido procura segurança no templo da
Gnosis. A percepção é dividida no corpo material assim co-
mo no corpo astral, diz Hermes, e quando as duas partes da
percepção se reúnem, o pensamento evocado na mente é
expresso pela consciência.

Pode-se perguntar: o que acontece quando o animal


humano, cansado, abatido, chega ao templo? O que ocorre
quando ele está um pouco sossegado?
O animal humano acomodar-se-á em seu novo ambien-
te e se comportará novamente segundo sua índole. Enquanto
ele adornar-se com a ilusão do discipulado, continuará a viver
puramente da especulação, munido com as brilhantes quali-
dades do animal humano.
Entretanto, dessa forma, a entrada na Escola não traz
solução alguma para a vida. O doloroso cálice de amarguras
será enchido novamente até a borda e colocado diante dele.
As correntes astrais continuam a fluir, os sentidos são conti-
nuamente ativados, e o curso da vida com seu acúmulo de

68
experiências permanece idêntico a si mesmo ou ao de nos-
sos antecessores, os doadores de nosso karma. Uma solução
não vem de forma alguma assim. O animal humano era um
especulador metafísico e continua a sê-lo na Escola. No final
das contas, a Escola* não concede libertação alguma e o que
se segue é fácil de prever: eles vociferam contra a Escola e
acham que há alguma coisa de errado nela. São pródigos em
críticas e prosseguem em suas especulações. Se esse papel
de crédito não rendeu o suficiente, talvez eles tentem mais
uma vez com outro título. Assim, mudam sua orientação ou
procuram outro passatempo. Pobre e idiota animal humano!
Vós bem sabeis que. se a percepção experimenta as in-
fluências astrais tanto no corpo material como no astral, o
pensamento nascido dessa maneira toma forma na cons-
ciência, e vós fazeis aquilo que está inteiramente em concor-
dância com vossas qualidades. Assimilais as influências as-
trais conforme vosso tipo, instinto e orientação e, em segui-
da, sois obrigados a reagir a elas.
Deveis reagir quando vossos organismos racional e
sensorial são carregados à noite por meio de influências as-
trais. Então, mesmo que digais: "Eu não faço isso". sois obri-
gados a fazê-lo! Não há dúvida de que não poderíeis agir de
outra forma. Assim como um peixe tem a água como seu
elemento vital e não pode passar sem ela, o animal humano
também não pode levar uma vida gnóstica.
O que acontece quando também 2.s influências astrais
gnósticas vos tocam? Aí, vossa atitude de vida apresenta
uma cisão. Nesse caso há, por um lado, uma orientação para
a Gnosis e, por outro, o comportamento de animal humano
comum. Isso tem realmente algum sentido? Um homem que
assim é, engana-se a si próprio e também à Gnosis, sem ter

69
de fato consciência disso e, infelizmente, sem poder fazer
outra coisa.
Eis por que falamos sobre tudo isso. Não em tom re-
preensivo, porém apenas comprovativo, pois é realmente útil
voltar-se inteiramente para a realidade, despojado de todo o
supérfluo e perguntar-se: "Qual é, no momento, minha reali-
dade?"
Hermes diz no nono versículo do décimo-primeiro livro:

A mente gera todas as imagens pensadas: imagens


boas, quando recebe as sementes de Deus; imagens ímpias,
quando provém de um dos demônios, porque não há lugar no
mundo sem demônios

Sabeis o quanto tudo isso é correto. As sete câmaras


do santuário da cabeça, assim como as do santuário do co-
ração, são carregadas durante o sono. Valores e forças as-
trais aí penetram para se desenvolver, com relação ao aluno,
são de natureza gnóstica e chamadora (valores e forças
boas), e também de natureza totalmente diferente: demonía-
ca.

Assim, os alunos, pelo menos muitos dentre eles, tri-


lham seu caminho da vida, caminho que é de fato mortal-
mente fatigante. Desejamos, ainda mais uma vez, examinar
profundamente esse caminho, e se o fizermos, não poderá
acontecer outra coisa senão que, novamente, do imo, elevar-
se-é o grito de agonia ou o grito de angústia do animal hu-
mano em aflição.
Citamos aqui o grito hermético de Paulo na Carta aos
Romanos 7: "Assim, encontro esta lei em mim: se quero fa-
zer o bem, o mal está comigo. Miserável homem que sou!
Quem me livrará do corpo desta morte?"

70
X

O DEMONISMO NEGRO

A mente gera todas as imagens pensadas: imagens


boas, quaRdo recebe as sementes de Deus; imagens ímpias,
quando provêm de um dos demónios, porque não há lugar no
mundo sem demónios, pelo menos demônios nos quais falta
a luz de Deus. Eles penetram o homem e semeiam as se-
mentes de suas próprias atividades, e a mente é então fe-
cundada com o que foi semeado - adultérios, assassínios,
tratamento desamoroso aos pais, atas sacrílegos, ações fm-
pias, suicídios por enforcamento, ou por atirar-se das rochas
e todas as outras coisas semelhantes operadas pelos demô-
nios.
Quanto às sementes de Deus, elas são pouco numero-
sas, porém grandes, belas e boas! São chamadas virtude,
temperança e bem-aventurança. A bem-aventurança é a
Gnosis, o conhecimento que é de Deus e com Deus. Quem
possui esse conhecimento está pleno de todo o bem e rece-
be seus pensamentos de Deus, os quais são inteiramente di-
versos dos da massa.
É por isso que os que andam na Gnosis não agradam à
massa, e, por outro lado, a massa não agrada a eles. Os pri-
meiros são considerados dementes, são sujeitos ao riso e ao

71
deboche,. são olhados e desprezados e, de vez em quando,
mesmo assassinados, porque, como eu disse, o mal deve
habitar aqui por ser oriundo daqui. De fato, a terra é seu do-
mínio, e não o mundo, como alguns sacrilegamente preten-
dem.

Como vimos nas alocuçóes anteriores, o homem da na-


tureza encontra-se aberto para duas esferas diferentes de in-
fluências astrais: a esfera de influências astrais da terra e a
de influências do mundo.
Em vossas reflexões sobre a filosofia hermética deveis
atentar sempre para o fato de que, ali, é feita uma nítida dis-
tinção entre a terra e o mundo. A terra é nosso campo de vi-
da, ou melhor, o pontinho do mundo onde vivemos. Por outro
lado, o mundo é o planeta santo, absoluto, a manifestação
inatacável do plano divino universal. Por isso, o versículo 11
diz:

O mal deve habitar aqui por ser oriundo daqui. De fato,


a terra é seu domfnio e não o ~ como alguns sacrile-
gamente pretendem.

Como homens nascidos da natureza, somos, portanto,


da terra, terrestres; como microcosmos, pertencemos ao
mundo. Por esse motivo, é compreensível que haja também
duas esferas de influências astrais que nos colocam, pelo
menos agora, diante de problemas quase insolúveis. Por is-
so, na crise de sua problemática, Paulo declara: "Assim, en-
contro esta lei em mim: se quero fazer o bem, o mal está
comigo. Miserável homem que sou! Quem me livrará do cor-
po desta morte?"

72
E vós também proferireis essas lamentações em todas
as tonalidades, de tempos a tempos, pois nossa realidade
essencial é causada por ambas as influências, tanto pelas
boas quanto pelas forças astrais más, demoníacas.
Suponhamos que vós, purificados e impelidos por meio
de mágoas e desonra, desejeis encontrar finalmente uma
solução para vós mesmos. Então, é necessário que, primei-
ramente, conheçais a lei a que Paulo se refere: se desejamos
fazer o bem, o mal está conosco. Tentemos compreender o
que está por trás disso tudo.
O que é um demônio*?
Um demônio nada mais é do que uma força natural.
Em algum lugar de uma antiga sabedoria foi dito que os de-
mônios foram criados antes que se pudesse falar de criação
de uma onda de vida. Isso pode parecer-vos estranho, mas é
bem lógico.
Cada manifestação origina-se num campo astral. Me-
diante os diferentes fogos astrais, os éteres são produzidos,
e estes, em colaboração com os átomos materiais, unem-se
para possibilitar uma manifestaçãJ. Logo, a idéia de uma
manifestação deve ser primeiramente impregnada num cam-
po astral. Quando isso acontece, nascem atividades, pontos
focais, turbilhões de forças, que se desenvolvem: o demônio
do principio inicia seu trabalho. Essas forças naturais ou de-
mônios, compreendidos em seu sentido original, dão, final-
mente, o aspecto tencionado à idéia prestes a manifestar-se.
Elas conduzem o plano à realidade e à realização.

Assim o plano teve início na terra (atentai para o fato


de que referimo-nos à terra!), para chamar as entidades hu-
manas à existência. Isso foi uma questão muito delicada, vis-

73
to que esses seres humanos deviam dispor de uma faculda-
de mentaL inata. Essa faculdade não deve ser considerada
apenas como aparelho racional, porém ao mesmo tempo e,
principalménte, como faculdade que deve servir para sondar
a terra e a intenção do próprio Deus. Por isso, a faculdade
mental deve ser diferenciada em intelecto e razão. A razão, a
razão divina, faz uso do intelecto.
As entidades chamadas à existência deviam tornar-se,
ern determinado aspecto, semelhantes ao Pai, e, como foi di-
to, num dado momento, teve início esse poderoso plano na
terra. A terra - deveis compreender bem isso - ê o grande e
perfeito campo de criação do mundo divino. Devemos aqui,
mais uma vez, dizer. diferenciai, antes de tudo, a terra do
mundo! Segundo a filosofia hermética, a terra é o campo de
nascimento em que o homem deve encontrar-se em seu es-
tágio embrionário. Nossa situação, bem como a de nossos
companheiros terrestres, é a de que ainda não saímos do es-
tado embrionário. Por isso, Jesus, o Senhor<', disse: "Vim a
vós na terra para permitir-vos galgar o mais elevado céu do
mundo magnificente de Deus".
Muitos, incontáveis, são os que já vos precederam nes-
sa senda; como verdadeiramente nascidos, como verdadei-
ramente libertos, eles entraram no mundo divino sagrado. No
entanto, vós errais, dais voltas ainda em vosso campo em-
brionário. Estais como que aprisionados nele.
Isso é provocado pelas atividades cada vez mais nega-
tivas da própria natureza divina que herdais.
Vossa natureza divina? Essa nova faculdade divina, es-
se atributo divino é a poderosa faculdade mental, com cujo

6. Ver no glossário o item Pis&s Sophia

74
auxílio vós podereis, um dia, ser verdadeiro homem e verda-
deiro Deus. Algo dessa chama em vós começa a alumiar
frouxamente. Essa chama bruxuleante colocou-vos, no início,
e coloca-vos ainda agora, diante das maiores dificuldades,
pois vós, que vos deveis tomar verdadeiros homens, somente
podereis libertar-vos da terra quando esse verdadeiro estado
hominal realmente se evidenciar. Sois dotados, graças a
Deus, embora ainda em estado bem embrionârio, com uma
faculdade mental divina. Isso significa pnmeiramente, que
possuís um corpo astral. Em segundo lugar, que tendes
acesso à esfera astral da terra nesse e com esse corpo as-
tral. Em terceiro, que estais sempre interagindo com a esfera
astral da terra e suas forças naturais, seus demónios. Signifi-
ca ainda que exerceis influência sobre a esfera astral, sua
natureza e qualidade por intermédio da chama bruxuleante
de vossa faculdade mental. Refleti sobre essa situação, pois
ela corresponde agora ao drama de vossa vida.
As idéias da humanidade são impressas no campo as-
tral, no fogo astral; ali, onde os pensamentos são forças
atuantes, nascem vórtices na substância astral e, desses vór-
tices, desses pontos focais, desenvolvem-se processos de
realização, desenvolve-se a criação. Tendes acesso a esse
campo astral extraordinariamente seleto. Esse é o drama!
Pois, justamente com isso, obstacularizamos o despertar de
nosso estado embrionârio. Estamos e sempre estivemos
ocupados em povoar as esferas astrais da terra com todo o
tipo de forças naturais e demónios. Esses demónios de for-
mas, tipos e esferas de atuação diversos, influenciam, em vir-
tude de sua natureza, os éteres e, por meio deles, as formas
manifestadas dos éteres.
Assim, nasceram esse caos desenfreado e desorde-

75
nado e a ·degeneração em nosso campo terrestre de vida.
Esses incQntâveis animais humanos atados a suas dores,
castigados pelos demónios que eles próprios criaram, pulu-
lam uns sóbre os outros como num formigueiro. Eles se pi-
cam, mordem, prejudicam e violentam uns aos outros, e, no
curso dos acontecimentos, surgem, de tempos a tempos, vá-
rias forças demoníacas que elevam suas cabeças, como o
demónio da sexualidade antinatural de nossos tempos. Toda
a Europa é como que inundada por uma onda de homosse-
xualismo que penetra tã:> fortemente quase todos os círculos
possfveis e impossíveis, que até mesmo já se busca, em di-
versos países, por outras medidas lega1s, pois se se desejas-
se prender todos os que se encontram nas garras da sexuali-
dade antinatural, um grande número de autoridades deveria
ser preso. Por isso, procura-se por outras normas legais.
Sempre foi assim na história mundial: numa civilização de-
cadente, quando a terra se dirige para uma noite cósmica, os
demónios mais abjetos elevam, poderosos, suas cabeças dos
esgotos do campo astral da dialética decaída, e surge a
chama ardente da sexualidade sobre a humanidade.
A sexualidade antinatural não é senão a dissipação das
forças sexuais. A força sexual é criadora. A força criadora é
uma das faculdades divinas com a qual a humanidade é do-
tada. Em nosso campo embrionário essa força é chamada e
compelida a se enobrecer para a verdadeira faculdade criado-
ra divina que se relaciona com o chakra da laringe. Podeis
assim imaginar que a dissipação da força sexual é nociva.
Em primeiro lugar, é nociva à idéia que lhe serve de base.
Todavia, deveis compreender que um comportamento sexual
antinatural, a manifestação antinatural da força sexual, o re-
lacionamento sexual entre duas mulheres ou entre dois ho-

76
mens, representa uma destruição completa de todas as pola-
rizações no corpo material, assim como nos corpos etérico e
astral, e apaga totalmente a flama do pensamento. O ho-
mem em manifestação transforma-se, dessa maneira, num
caos e decididamente devasta em si mesmo todas as possi-
bilidades de libertação.
Por isso, compreendereis bem que, quando a humani-
dade suspira, como agora, no fim de seus dias, sob a onda
de tal demonismo, e essa temível peste erótica tenta, vez por
outra, encontrar admissão na Escola, nós afastamos dela es-
se horror, sem considerações pessoais. Pois seria monstruo-
so se deixássemos o espectro do maior e mais abominável
dos pecados ingressar em nossas fileiras, enquanto a Gnosis
desce a nosso campo terrestre para nos libertar e elevar ao
verdadeiro e ditoso mundo de Deus. Não seremos flexíveis
nesse sentido como muitos chefes de estado europeus, po-
rém extirparemos essas coisas pela raiz onde as descobrir-
mos, sem considerações pessoais.

Vimos que os homens se picam, mordem, prejudicam e


violentam uns aos outros. E sobre toda essa turba, todos es-
ses animais, sobre esse furacão da miséria, soa o grito de
angústia do homem buscador: "Miserável homem que sou!
Quem me livrará do corpo desta morte?"
Vivemos num campo de formação onde os demônios
originalmente puros, onde a força astral flamejante, pura, ori-
ginal, ainda cumpre sua tarefa. Contudo, mediante o abuso
descrito das forças astrais de que toda a humanidade dialéti-
ca é culpada, a esfera astral terrestre torna-se, em determi-
nado momento, tão negra, tão cheia de satanismos, impure-
zas e degenerescências e o campo de vida material tão cor-

T7
rompido, tão infestado de sangue e lágrimas, que já não é
possível suportá-lo. Tudo o que se desenvolve na esfera as-
tral, deve-se manifestar sobre a terra. e quando permaneceis
ligados a "uma ou outra força astral, ela manifesta-se em vos-
sa vida e em vosso corpo. Então, como conseqüência, toda a
terra, todo o campo de criação do mundo deve ser, finalmen-
te, purificado, desde a esfera astral até a material. Todos os
microcosmos presentes nesse campo são depurados ~ con-
duzidos ao esquecimento. Todos os microcosmos são esva-
ziados de seu karma e devem começar de novo, pois o Lo-
gos• não abandona a obra de suas mãos. Assim, os proces-
sos embrionários originais do devir devem ser instaurados
novamente desde o início.
Quanto tempo podemos perder! Porém graças a Deus,
cada revivificação microcósmica• dos respectivos homens
constitui uma nova oportunidade.

Vede bem a situação diante de vós. Qual é a nossa


realidade? Vós viveis, como já foi dito, nas duas esferas de
influência astral: na esfera astral pura e original e na demo-
níaca da dialética. Assim, encontrais essa lei em vós: "Se
desejo praticar o bem, simultaneamente, o mal está comigo",
pois, devido a meu nascimento natural, a meu passado e to-
do o meu estado dialético, estou ligado totalmente à imundí-
cie da esfera astral terrestre.
Sois alunos da Escola Espiritual e participais dela; em
conseqüência disso o chamado original, a força original, per-
manece ainda ligada a vós. Porém quanto tempo isso ainda
durará sob o flagelo do demonismo negro? Por isso, encon-
tramos essa lei em nós: "Se desejo praticar o bem, simulta-
neamente, o mal está comigo". Evidentemente! Todas as

78
hordas de demónios astrais são produzidas, são chamadas à
vida, por vós mesmos e por vossos companheiros de destino.
Nisso, todos vós, quer estejais perto ou longe, tendes inteira
participação.
Ainda, existe não apenas o bem mas também o mal.
Quão terrível é isso! Por isso, o grito: "Miserável homem que
sou, quem me livrará desta morte", desta miséria terrível?
Deveis também mergulhar de novo no caos de uma noite
cósmica, em que se realiza a purificação geral do campo
embrionário da terra?
E Hermes queixa-se:

Os demônios penetram o homem e semeiam as se-


mentes de suas próprias atividades, e a mente é então fe-
cundada com o que foi semeado - adultérios, assassínios,
tratamento desamoroso aos pais, atos sacrílegos, ações fm-
pias, suicídios por enforcamento ou por atirar-se das rochas e
todas as outras coisas semelhantes operadas pelos demô-
nios.

Poderíamos ampliar essa enumeração de diversas for-


mas, sem, todavia, nunca chegarmos a seu final. E pergun-
tamo-vos: isso deve continuar assim também em relação a
vós? Deve continuar conosco que, honestamente falando,
açulados por nossos demónios, fugimos para a Escola Espiri-
tual? Isso tem de continuar assim? Não existe nenhuma so-
lução?

Sim, existe uma solução. Para tanto deveis vós mes-


mos tratar-vos com muito rigor. Há muitos anos, a Escola já
vem dizendo que existe uma solução. Porém tendes atenta-
do o suficiente para o que ela vos tem dito? O caminho, a

79
senda, foi-vos mostrado, por assim dizer, a cada palavra, dia
após dia. Ou, talvez, todo o ensinamento e cada bom con-
selho, toda a influência boa e auxiliadora que incessante-
mente flui da Escola para vós terão entrado por um ouvido e
saído pelo outro, de modo que os demónios que possuem
uma influência tão forte sobre vós tenham aniquilado siste-
maticamente ou tornado negativas todas as boas sementes
semeadas? Enquanto tiverdes vida haverá esperança e por
isso podereis recomeçar a cada dia. Então, iniciai hoje no-
vamente! Colocai-vos, firme e objetivamente diante desse
problema difícil de vossa vida, como se não tivésseis estuda-
do nada disso até hoje. Então podereis fortalecer-vos na cer-
teza de que fala Hermes no versículo 12:

Aquele porém que respeita e ama a Deus, tudo suporta-


rá por participar da Gnosis, porque para tal pessoa todas as
coisas operam para o bem, mesmo aquelas que para outros
são maldades. Quando se lhe preparam ciladas, ela apresen-
ta tudo como oferenda à Gnosis e faz, ela só, com que todo
o mal se transforme em bem.

Sois, portanto, capazes de modificar totalmente vosso


comportamento com relação à esfera astral. Podeis aniquilar
e alterar fundamentalmente toda a vossa natureza astral.
Podeis restaurar completamente vosso estado embrionário
puro e vosso relacionamento com o demónio do início e nas-
cer verdadeiramente como homens do mundo divino.
Isso tudo soa, considerando vossa situação, como um
conto de fadas ou como um milagre. Todavia, devemos des-
vendar esse milagre para vós; porém, combinemos que em-
pregareis totalmente a receita que a Escola vos concederá

80
Muitos de vós correm para o médico se vos acomete uma
pequena dor e seguem à risca a receita que vos foi dada. Por
que, então, não procedeis da mesma forma com relação ao
maior problema de vossa existência?
Nunca estivestes, como seres dialéticos, tão enredados
em dificuldades como agora. A onda de vida humana nunca
esteve tão radicalmente enferma e arruinada como até este
momento. Se de novo entregarmos a vós, alunos da Escola
Espiritual gnóstica, a receita da senda para a vida, cumprireis
zelosamente as exigências nela contidas?

81
XI

A RECEITA DA SENDA PARA A VIDA

Já compreend~is como vosso relactonamento peculiar


com a esfera astral do campo· de vida terrestre é a causa de
todas as dores e de todos os dissabores. Alguns alunos têm
uma vida dificílima, e a culpa é deles mesmos. Tudo o que
projetais no campo astral, é devolvido a vós, em determinado
momento, na forma de todo o tipo de problemas em vossa
vida.
Vosso relacionamento com o mundo astral é, portanto,
a causa de todas as vossas dores e dissabores, de toda a
vossa divisão e vossa ilusão, visto que, embora chamados
para vos tornardes seres humanos divínos, e para tanto elei-
tos; até ~;~gora somente empfeQais vossa lacutdí'Kie mental de
maneira errada. Embota vossa faculdade mental s.$ ainda
no momento extremamente falha e imperfeita, criais, por in-
termédio de vossa atlvidade mental, todas as forças, todos
os demônios na esfera terrestre. Essas forças vos dominam
em determinado momento, visto que vós, como criaturas
nascidas da natureza, deveis reagir a elas. Por conseguinte,
não venceis vosso estado embrionário e permaneceis na
menoridade. Dessa forma, não vos podeis libertar da terra e
permaneceis atados à lei da dialética.

83
!?e desejais vos livrar dessa miséria, então, deveis eli·
minar vossa condição astral aluai, abrindo-vos totalmente às
forças da luz gnóstica, à "semente divina", como a denomina
Hermes. Nas Núpcias• Alqufmicas de Christian Rosenkreuz,
é descrito como C.R.C.*, resistiu a todos os pesos na prova
em que ele fica sobre o prato da balança, em razão da ex-
trema beleza, do esplendor, da veste que trajava. O hábito de
C.R.C. é imaculado. Ele representa o corpo astral! Pode.is li·
bertar-vos da terra e entrar na vida libertadora com a condi·
ção de que purifiqueis totalmente vosso "hábito", vosso veí·
culo astral, por intermédio da semente divina.
A semente divina indicada· por Hermes é o fogo astral
puro. É a força natural original que governa o campo astral
de vosso estado embrionário. Para o grito de dor de Paulo -
"Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta
morte?" soa a resposta: "Graças a Deus, por Jesus Cristo,
nosso Senhor". Aqui, não pensamos nessa ou naquela figura
histórica, não pensamos no deus e na ilusão da igreja, porém
naquilo que o Prólogo do Evangelho de João testifica com as
palavras: "A luz brilha nas trevas".
A essa luz foi entregue toda a terra. Sem ela, nada po-
demos fazer. Toda a Escritura Sagrada testemunha essa cer-
teza: Jesus Cristo é a luz astral libertadora, redentora, a luz
astral pura, da qual e pela qual o verdadeiro nascimento de-
verá desenvolver-se.
Agora, o grande problema é claramente colocado diante
de todos nós. A solução de todos os nossos problemas nos é
apresentada. O verdadeiro nascimento como homens apare·
ce diante de nossos olhos.
Paulo pronuncia as conhecidíssimas palavras: "Então,
encontro essa lei em mim: se desejo praticar o bem, o mal

84
está comigo. Quem me livrará do corpo desta morte? Graças
a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor!" A luz astral divina e
pura!
Então, segue-se na Carta aos Romanos, capítulo 7,
versículo 26, sua conclusão precisa:

De modo que, constata ele, sirvo à lei de Deus


com meu entendimento, isto é, com a minha al-
ma; porém com a carne, isto é, com a personali-
dade nascida da natureza, sirvo à lei do pecado.

Se analisarmos essa conclusão, perceberemos que fre-


qüentemente nos encontramos nessa mesma situação. A
maioria de nós está ocupada em despertar, segundo o en-
tendimento, segundo a alma, na Gnosis. Vós sois conduzidos
à vida dos filhos de Deus, à vida de glorificação, devido a
vossas qualidades de alma. Na realidade, pode-se dizer que,
em quase todos os alunos da jovem Gnosis, a vida da alma
tomou-se uma grande alegria; não apenas dizer, mas tam-
bém demonstrar. Eles podem, como alunos, não receber, por
assim dizer, o suficiente das coisas da verdade única, das
coisas da Gnosis, porém a vida da e na Escola Espiritual tor-
nou-se-lhes uma necessidade interna absoluta. Um testemu-
nho disso é o fato de, por exemplo, nossas conferências es-
tarem sempre repletas e do número sempre crescente de
inscrições. Essas cifras aumentam e apresentarão, daqui por
diante, uma linha ascendente.
Assim, está em curso em nossa Escola, em conformi-
dade com o aspecto da alma, um poderoso desenvolvimento.
Os alunos têm uma necessidade intensa, visivelmente pro-
vinda do imo, de participar do trabalho espiritual, e a maioria

85
se esforça· ao máximo. Isso tudo é magnífico e suscita uma
profunda gratidão, pois demonstra que quase todos se en-
contram na vida anímica que se desperta. Com o entendi-
mento eles servem à lei divina, porém, continua, em muitos,
essa divisão execrável. Eles servem à lei divina, tanto quanto
possível, com seu entendimento; todavia, com a personalida-
de, são ainda freqüentemente impulsionados por seus demô-
nios terrestres. Segundo sua personalidade, eles se apegam
a seu tipo, a seu caráter, que os tem individualizado desde
sua juventude. Assim, não conseguem libertar-se de sua per-
sonalidade terrestre, que permanece sob o sinal da lei do pe-
cado. Segundo a alma, eles se ocupam com o renascimento
e segundo a personalidade, são ainda totalmente impelidos
por seus demônios terrestres.
Onde está então a solução do problema? Paulo res-
ponde também a essa pergunta na Carta aos Romanos, no
belo e magnificente capítulo 8, onde ele diz:

Portanto os que estão em Cristo Jesus, os que


caminham não segundo a carne, porém segundo
o Espírito, não têm condenação alguma. Pois os
que são segundo a carne, inclinam-se para as
coisas da carne; porém os que são segundo o
Espfrito, para as coisas do Espírito.

Vede aqui a tal dificuldade retratada em seu sentido


mais amplo. Conheceis uma vida de necessidades anímicas
que se despertam, em que sois totalmente satisfeitos, porém,
separada desta, existe também a vida do dia a dia. A vida no
lar, em vossa posição social e na intimidade de vosso quarto,
longe, bem longe, da Gnosis, inteiramente unificada com

86
vosso próprio tipo, vosso caráter e com a força motriz de
vossos demônios terrestres; a vida totalmente governada
pelas correntes astrais da natureza da morte.
Portanto, não se pode negar que viveis duas vidas, e
isso ameaça tornar-se vosso declínio. Embora ameis tanto a
Escola Espiritual gnóstica e não falteis a nenhuma conferên-
cia, a chamada cisão interna aumenta vossa miséria, por as-
sim dizer, hora após hora. Pois sabei-o bem: a influência as-
tral da natureza da morte aumenta ininterruptamente em for-
ça, de modo que, se vós, que realmente nascestes segundo
a alma, não intervierdes radicalmente em vossa vida, estareis
perdidos.
Como deveis intervir? Como reza a receita então?
Ao lado da vida da alma, devemos, numa prática mui
consciente e científica, decididamente já não caminhar se-
gundo a carne! Essa é a única solução para velhos e jovens.
Quanto mais jovem começar, melhor; pois se vos falta a
energia, se já não podeis conseguir a vitalidade em vosso es-
tado de nascido da natureza, então esse é quase um empre-
endimento inútil.
"Se viverdes segundo a carne, morrereis." Compreendei
bem o que Paulo quer dizer com isso: então permaneceis ca-
tivos no campo embrionário e submergis totalmente na noite
cósmica. Tudo o que nasceu correspondendo ao karma da
alma em vosso microcosmo, é aniquilado. No tempo devido,
depois de algumas centenas de milhares de anos, devereis
começar de novo. "Vós", isto é, vosso microcosmo.
"Se viverdes segundo a carne, morrereis; porém se pelo
Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis", como um
verdadeiro homem no grande e regozijante mundo de Deus.
Isso é possível? Genericamente não se pode responder

87
a essa pérgunta. Por isso, modificámo-la dessa forma: é isso
possível para vós, alunos sérios da Escola Espiritual gnósti-
ca? Então pode-se responder, sem restrições, a essa pergun-
ta: "Sim, todos vós estais em condições para isso". E nós
vo-lo demonstramos. Tentamos explicar que possuís o poder
para tanto. Podeis avaliar em vós mesmos até onde este é o
vosso caso. Seja como for, todos vós possuís, em diferentes
gradações, uma nova vida-alma desperta. E Paulo diz na
Carta aos Romanos, capítulo 8, versículo 11: E, se o Espfrito,
a alma, a força-luz, de Cristo habita em vós, ele vivificará
também vossos corpos mortais, e os admitirá nesse podero-
so processo de recriação. Assim, como alunos da Escola Es-
piritual gnóstica, como homens, ocupados em se desenvolver
segundo a alma, podeis realizar todo esse trabalho, pois, pa-
ra isso, a força vos foi concedida; ela já reside em vós.
Agora, trata-se apenas de saber se quereis empregar
essa força, se efetivamente vós o fazeis, iniciando imediata-
mente. E se conseguis força e perseverança suficiente para
romper através dos primeiros obstáculos de natureza demo-
níaca, pois, muitos de vós possuem uma personalidade e um
estado de vida tão avariados, tão degenerados, que, no iní-
cio, será muito difícil estabelecer uma ordem elementar.
Suponhamos que desejeis começar com o que foi ex-
posto. Então Hermes vos diz:

"As sementes de Deus são pouco numerosas, porém


grandes, belas e boas! São chamadas virtude, temperança e
bem-aventurança".

Como devemos aqui entender a virtude?


A virtude, em sentido hermético, é uma atitude de vida

88
coerente, em sintonia e com base nas forças da alma, que se
manifestam em vós. Sois receptíveis segundo a alma? Com-
preendeis, experimentais, o que a luz da Gnosis vos transmi-
te? Pois bem, uma atitude de vida coerente, em concordân-
cia com o que experimentais, com o que sentis, discernis e
entendeis, é a virtude, no sentido hermético. Deveis acreditar
nessa atitude de vida que se revela a vossa visão interna.
Nessa atitude de vida deveis crescer com todo o vosso mais
profundo anelo. Deveis ansiar por isso, conforme dizem as
bem-aventuranças: "Bem-aventurados os que têm fome de
Espírito, pois deles será o reino dos céus".
Já conheceis esse anseio ardente e poderoso de viver
em sintonia com aquilo que é projetado em vossa alma?
Quando ides a uma conferência, quando assistis a um J?ervi-
ço templário, realmente acontece algo em vós! Vossa alma,
vosso ser, vosso coração, é tocado pela força-luz gnóstica!
Se assimilais a palavra, se absorveis a força-luz, podeis an-
siar, das profundezas de vosso ser, por viver em concordân-
cia com essas coisas. Se verdadeiramente praticais essa vir-
tude, nasce em vós uma poderosa ligação com a força astral
do princípio, com a força astral ígnea, na qual o Logos intro-
duziu a idéia da criação humana.
Trata-se agora de acreditar, do imo, nessa força-luz que
vos tocou, acreditar que podereis entrar no novo campo de
vida. Pois, se vós assim ansiais, se assim almejais e acredi-
tais em vossa própria alma, se acreditais em vossas próprias
possibilidades, no amor de Deus, no impulso divino para o
verdadeiro nascimento, entoo, como reaçoo a tudo isso, sois
impelidos a outros pensamentos. ~r. surge a ordem em vossa
vida mental. Desejais então ter outros pensamentos, pois an-
siais pelo novo reino. Quando alguém deseja ardentemente

89
alguma coisa, seus pensamentos são sempre orientados pa-
ra a mesma direção.
Quem. se volta pleno de aspiração para o novo estado
de vida, sintoniza-se, em conformidade com isso, com outros
pensamentos e no mesmo instante em que vossa mentalida-
de vos purifica, as ligações astrais com todos os demônios
do aniquilamento são desfeitas. No tocante a vossos demô-
nios particulares, eles serão dissolvidos por completo, e,
quanto a vossa participação sobre os demônios criados e
conservados coletivamente, sereis libertados totalmente.
Nessa luz, pensai na virtude hermética, na nova atitude de
vida de que já tivemos oportunidade de falar.

E o que Hermes quer dizer com temperança? Que, de


modo muito coerente e sensato, abandoneis toda a dialética;
que renuncieis a ela e acima de tudo que nunca mais vos
deixeis sacrificar pela dialética. A temperança hermética pro-
põe o "no mundo, porém já não do mundo". Diante da tempe-
rança está a intemperança Intemperança, no sentido da
Gnosis, é o atirar-se inteiramente na vida comum; temperan-
ça significa seguir uma orientação muito responsável, em
que se leva em conta todas as circunstâncias, todas as si-
tuações, de modo que todos os empecilhos no sistema da
personalidade são afastados tanto quanto possível para o
afluir das novas forças anímicas.
A nova atitude de vida nos coloca diante de inúmeros
aspectos. Nesse sentido, pensai por exemplo no tão podero-
so elemento erótico no homem comum, o impulso sexual que
nele é exercido. O instinto sexual está - pelo menos para a
humanidade atual - em íntima ligação com os demônios
mais horríveis do campo astral. Por isso, falamo-vos ante-

90
riormente acerca da peste da homossexualidade. Esse horror
de degeneração é, de tal modo grande no munoo, que inú-
meros governos, por exemplo, o da Inglaterra, o da Suíça e
de outros países da Europa Ocidental desejam alterar os dis-
positivos legais a esse respeito, pois esse mal se alastra de
forma alarmante de cima para baixo, da esquerda para a di-
reita, e milhares de pessoas são fustigadas por esse flagelo.
O declínio, que assim é demonstrado novamente, está
bem próximo; por isso, utilizai, vós que possuís uma força-
alma vivente, as possibilidades que estão presentes em vós'
A virtude que Hermes vos aconselha e a temperança de que
ele vos fala são extremamente imprescindíveis aqui. Se acei-
tais isso, virá a vós a bem-aventurança, o conhecimento per-
feito de Deus. Esse é o verdadeiro nascimento do homem, a
libertação.
Se, baseados na força-alma existente agora em vós, a
força-luz de Jesus Cristo, nosso Senhor, escolherdes a nova
atitude de vida e a ela submeterdes tudo o que resiste em
vós, em ânsia e fé absolutamente incondicionais, ganhareis o
prémio do verdadeiro homem-alma- a libertação absoluta.
Vede, claro que se pode falar bem mais demorada e
pormenorizadamente sobre essas coisas, mais detalhada-
mente do que nós o fizemos; porém, não temos vontade de
fazê-lo. Se nos entendestes, então trata-se do seguinte: que-
rereis tentar empregar conosco essa receita? Querereis as-
sumir conosco essa nova atitude de vida? Se não, vosso dis-
cipulado não tem o mínimo significado. Todavia, se desejais
trilhar conosco firmes e coerentes essa senda, descobrireis
um dia, como homens bem-aventurados, que todo o campo
embrionário dialético tornou-se mau e assim é mantido me-
diante a ilusão e a ignorância. Quem porém elimina, bane de

91
si mesmo,· essa ilusão, verá e experimentará tudo com gran-
de pureza;_ e assim faz com que, conforme as palavras de
Hermes, todo o mal se transforme em bem, no que é original.
Talvez, agora, podereis compreender que tal grupo de
libertos segundo a alma e o Espírito, num mundo como o
nosso, é capaz de realizar coisas grandes e magníficas.

92
XII

A TERRA, MATRIZ DO MUNDO

Com a descrição da primeira parte do décimo-primeiro


livro de Hermes, pudemos esclarecer-vos que ele faz uma
grande diferença entre o que denominamos mundo e terra.
Na filosofia hermética, o mundo é o planeta perfeito, santo,
manifestado por Deus, enquanto que a terra é apenas uma
pequena parte dele, um de seus aspectos. É a parte que po-
demos indicar como sendo o campo embrionário, ou a matriz
do mundo, onde o homem deve transformar-se, nascer, como
verdadeiro homem.
Esse campo embrionário materializou-se por meio de
inúmeros incidentes no processo do devir humano. Hermes
chama esse processo de materialização com suas respecti-
vas conseqüências, de processo de maldade, portanto, um
processo de evolução não-divino, pois a materialização é
uma cristalização, um processo, que conduz, por fim, à petri-
ficação, e assim a uma estagnação definitiva. Uma terra cris-
talizada, petrificada, pode, em determinado momento, já não
servir como campo de vida para os seres embrionários, por-
tanto, para as entidades que ainda se encontram em desen-
volvimento. Por isso, vemos na história mundial, no campo
terrestre, um declínio e uma ascensão continuas, uma

93
cristalização crescente e um ininterrupto desmoronamento da
cristalizaç_ão, a fim de que o campo terrestre possa tornar-se
novamente um campo de desenvolvimento.
A causa da periodicidade da materialização reside, se-
gundo Hermes, na semente que o intelecto recebeu dos de-
mónios. Um demônio é uma força natural. Analisados do
ponto de vista puramente técnico-filosófico, os demónios são,
como já vimos, princípios de forças criados por meio de nos-
sa consciência cérebro-intelectual. Há a1nda outras causas
pelas quais as manifestaçôes demoníacas podem realizar-se,
porém, no que diz respeito a nós, seres humanos, a mencio-
nada é talvez uma das principais.
Repetimos: os demónios são princípios de forças as-
trais que se manifestam por intermédio da consciência cére-
bro-intelectual do homem. Um grupo de homens pode criar
tal princípio de força no campo·astral da terra, e um único
homem é capaz de efetuar isso em seu próprio corpo astral.
A semente do intelecto é o pensamento racional, nossa ativi-
dade cerebral. O pensamento racional está em movimento
contínuo e aquilo que é produzido, por intermédio de nosso
cérebro, surte um efeito imediato sobre o corpo astral. O ho-
mem tem, portanto, acesso não apenas a seu próprio corpo
astral, mas também ao da terra por meio da atividade cére-
bro-racional. Mediante essa atividade, o homem produz, no
oorpo astral da terra bem como em seu próprio, um princípio
luminoso, altamente rotativo e emissor de fogo, que envia
radiações tanto para fora como para dentro. Essas forças,
essas atividades astrais, manifestam-se, entre outros lugares,
no centro do microcosmo e no coração do homem na forma
de uma influência animadora.
A influência animadora de nossa personalidade e de

94
nosso microcosmo nada mais é do que uma atividade astral.
Assim, mediante essa influência, toda a personalidade é co-
locada em equilíbrio, em sintonia, com o tipo de rotação pro-
vocada no corpo astral. Podereis imaginar isso facilmente:
vós produzis determinada atividade racional. Por intermédio
desse pensamento racional, provocais um estado específico
em vosso corpo astral, que vos envolve por todos os l~dos, e,
por esse corpo astral, o centro da personalidade, o centro de
vosso microcosmo, é animado. Esse centro de vosso micro-
cosmo corresponde ao coração.
Quando, portanto, os princípios astrais ígneos são cria-
dos por vós, mediante pura especulação, por meio da ativi-
dade cerebral espontânea e caótica do homem embrionário,
bem depressa vossa força animadora deixa de sintonizar-se
não apenas com a mínima regularidade e ordem e, é claro,
com a regularidade e a ordem divinas. Portanto, é lógico que
essa desordem se vingue. Considerai então que as ativida-
des cerebrais do homem são 99% caóticas! Verificai por vós
mesmos, para onde se dirigem vossos pensamentos no de-
correr de um dia; que tipo de tensões mentais desenvolveis,
que tipo de protestos mentais exteriorizais. Pensai em vos-
sos pensamentos de crítica, em tudo o que está ligado a eles
e que, portanto, é inferior. Podeis assim imaginar a agitação
que provocais em vosso corpo astral e a aparência do ele-
mento animador de vosso ser em sua totalidade.
Existe, na mais profunda essência, apenas uma única
ordem universal, um único plano da gênese, isto é, plano di-
vino, o plano do Pai de todas as coisas, o plano divino para o
mundo e a humanidade. Todo esse plano divino foi perturba-
do com relação à terra e à humanidade por meio da semente
demoníaca do intelecto, da atividade cerebral puramente

95
especulativa, arbitrária, desordenada e sem nenhum tipo de
racionalidade. O homem em manifestação é lançado para fo-
ra da ordem prescrita por Deus e, portanto, submetido à cris-
talização, Petrificação, enfermidade e morte, até que o fim
seja alcançado completamente. Dessa forma, a filosofia
hermética verifica que a matéria é o mal.
No campo terrestre, onde vivemos, que se tornou no-
vamente em nossos dias altamente materializado e mau (tão
mau que uma demolição e uma limpeza se colocam diante
da porta do tempo), também, levamos em conta, popular-
mente falando, o bem e o mal. Falamos, como se sabe, a
respeito de pessoas boas e más. Devemos aqui nos ater a
esse assunto, pois essa escala de valores de "bom" e "mau"
não possui nenhuma relação com a definição hermética do
bem e do mal, com relaçao à maldade ou bondade.
O homem que, hermeticamente falando, estâ no mal,
isto é, na materialização, denomina, por exemplo, um crimi-
noso um homem mau. Um homem bom, nesse sentido, é um
homem materializado que é, por exemplo, correto, honrado e
humano. Porém, atentai para o fato de que ambos, tanto o
homem bom quanto o mau, permanecem na cristalização, na
materialização, na petrificação. Ambos estão, portanto, no
mal! E do mesmo modo, como existe um mal hermético, isto
é, um permanecer na matéria, na cristalização, existe tam-
bém, como é evidente, um bem hermético. Hermes fala dele,
como sabemos, simplesmente como sendo o bem. Ele fala,
aqui, do bem absoluto, que é de Deus, do Logos, do Pai Uni-
versal, do bem que encerra em si a ordem perfeita do plano
divino com o qual o homem verdadeiro, espiritual, vive em
equilíbrio perfeito.
A respeito desses homens, Hermes diz: Ele é ligado ao

96
bem e é guardado por Deus para sua salvação. Talvez agora
compreendamos verdadeiramente essas palavras. Logo que
o homem cristalizado, submerso no mal, volta-se realmente
para o bem e, portanto, para a ordem divina, para a Gnosis,
seu declínio converte-se imediatamente numa ascensão. As
cristalizações e suas conseqüências convertem-se numa
transfiguração total. Então, ela faz - assim esclarece o déci-
mo-primeiro livro com ênfase - com que todo o mal se trans-
forme em bem.
Entendereis como isso é possível se recordardes bem
que Hermes compreende como "o mar' a cristalização em
todos os seus aspectos, a petrificação que é a causa de to-
das as enfermidades e da morte. Se vos voltais para o bem,
a cristalização é interrompida e passa a desenvolver-se um
processo que conduz à magnificência.
Hermes diz no versículo 14: Deus, o Demiurgo• do todo,
forma todas as Suas criaturas segundo Sua imagem. Podeis
compreender isso. Em todo o universo, a essência, o âmago,
de todos os fenômenos provém ou, provavelmente, transfor-
ma-se por intermédio do mestre-construtor de todas as coi-
sas. Quando, pois, o homem material se volta novamente ao
bem único, ele, que está maculado pelo mal, é purificado
pelo bem, pois o bem é a realidade essencial; o mal é a ilu-
são, a irrealidade.
Hermes dirige essas palavras a Asclépio, ao homem
que anseia ser um auto-sanador. Essa é, deveras, uma ale-
gre mensagem. Quem inverte seu processo de cristalização,
voltando-se para o bem, transforma todo o mal em bem. Sa-
bemos que tudo o que possui forma nasce do campo astral.
Também o mundo possui um campo astral e, do mesmo mo-
do, a terra, como determinado aspecto do mundo. O campo

97
astral terrestre tornou-se tenebroso e muito perigoso devido
ao comportamento da humanidade. Forças naturais que não
se explic~m pelo Logos aí se manifestam.
Porém, um dia, esse campo astral terreno se tornará in-
teiramente idêntico ao puro e sereno campo astral do mundo
divino. Não existe nem em princípio nem fundamentalmente
qualquer diferença entre o corpo astral santo do mundo e o
corpo astral de nossa tenebrosa e obscurecida terra. As de-
generações, as materializações, são possíveis por meio do
campo astral; entretanto, elas não constituem, em essência,
nenhuma parte dele. Em outras palavras: quando o homem
se volta fundamentalmente para o bem, seu corpo astral é
submetido a uma purificação; então o mal inevitavelmente se
converte em bem. "O mal é, então, lavado pelo bem", como
está nas Escrituras Sagradas. Esse é o segredo da salvação
que Hermes deseja esclarecer a Asclépio.
Como seres embrionários, o homem vive totalmente do
campo tenebroso da terra e toda a imundície desse campo
demonstra-se até em seu sangue. Se, todavia, ele se volta
ao bem único, consegue processualmente participar do cam-
po astral do mundo santo, a santa terra-mãe, o planeta criado
originalmente por Deus, e essa força astral purifica-o de to-
dos os seus miasmas pecaminosos.
Esse é o segredo da salvação! Por isso, por exemplo, é
dito na Primeira Carta de João: "O sangue de Jesus Cristo,
seu Filho, purifica-nos de todos os pecados". Trata-se aqui do
Espírito planetário, o ser de Cristo.
As palavras de João são, portanto, puramente herméti-
cas. Quem procurou e encontrou a Gnosis e, por conseguinte
nela crê totalmente, põe sua esperança na Gnosis, orienta
seu coração para a Gnosis, ou seja, é preenchido pelo pode-

98
roso fogo da graça. Este é um fogo que concede a força para
a purificação de todo o mal. Àquele que deseja seguir esse
caminho, é dado um conselho no versículo 15 do décimo-
-primeiro livro:

Porque a percepção e a faculdade de pensar do mundo,


criadas com o intuito de ser instrumentos da vontade de
Deus, dão forma a todas as coisas e as fazem dissolver-se
novamente, para que, guardando em seu seio todas as se-
mentes que receberam de Deus, produzam todas as coisas
segundo sua própria tarefa e vocação, dando-lhes, ao dissol-
verem-nas novamente a renovação; deste mOdo, como um
hábil jardineiro da vida, proporcionam-lhes a renovação, após
as terem dissolvido, fazendo-as se manifestarem de modo di-
ferente.
Essas palavras encerram o conselho hermético mais
poderoso de todos os tempos. Sobre essas palavras, que são
esclarecidas na continuação do décimo-primeiro livro, dese-
jamos falar-vos pormenorizadamente. Elas querem fazer-nos
compreender como o homem material, cada vez mais crista-
lizado, deve viver para escapar das garras do mal e poder
pertencer ao bem.
É uma prerrogativa especial podermos e termos de re-
fletir atualmente sobre a atitude de vida que deve ser consi-
derada como fundamental, pois a terra, o campo terrestre,
onde suspiramos, começa a ser submetido novamente a uma
grande revolução cósmica e atmosférica. Por isso, devemos
e podemos refletir sobre essa atitude de vida, e ainda, me-
diante a prática da mesma, escaparmos do declínio.
Trata-se, pois, de uma atitude de vida decisiva para
uma ascensão, uma libertação ou uma queda ainda maior.

99
Um estudo urgente relativo a isso deve ser realizado por nós,
pois na Hlosofia hermética todas essas coisas são, em prin-
cípio, exigidas. Contudo, o homem deve também refletir, na
luz desse princípio, sobre a época e as circunstâncias sociais
em que ele vive. Tadas as fraternidades gnósticas, do passa-
do até hoje, refletiram sobre esse preceito hermético de vida,
sobre essa base única e totalmente decisiva atitude de vida;
porém todas tiveram de fazer isso levando em consideração
a época em que viviam.
Esse princípio hermético de vida, essa atitude de vida,
expressa-se na máxima:

Tudo receber e tudo abandonar, e assim tudo renovar.


Guardar em si todas as sementes recebidas de Deus, fazer
com que se manifestem todas as coisas e enquanto elas no-
vamente se dissolvem, tudo renovar.

100
XIII

TUDO RECEBER E TUDO ABANDONAR,

E ASSIM TUDO RENOVAR

Porque a percepção e a faculdade de pensar do mundo,


criadas com o intuito de ser instrumentos da vontade de
Deus, dão forma a todas as coisas e as fazem dissolver-se
novamente, para que, guardando em seu seio as sementes
que receberam de Deus, produzam todas as coisas segundo
sua própria tarefa e vocação, dando-lhes, ao dissolverem-nas,
a renovação.

Essas palavras permitem-nos examinar em primeiro lu·


gar a natureza e a essência do mundo. Lembramo-vos, mais
uma vez, que Hermes faz distinção entre o mundo e a terra:
o mundo é a manifestação de Deus; a terra - uma parte do
mundo - é o campo do devir da humanidade. O mundo, as·
sim diz Hermes, é um instrumento direto de Deus. Ele é um
sistema grandioso e magnífico composto de diversos aspec·
tos, dos quais um deles é a terra. Deus, diz ele, o Pai do
mundo, criou como tal um sistema perfeito.
O mundo é um poderoso instituto de ensino e desen·
volvimento, uma escola tanto para entidades inteiramente

101
humanas como também para outras ondas de vidas. Assim
que o homem nasce verdadeiramente no campo terrestre se-
gundo seu .ser interno mais elevado, deve, a seguir, percorrer
todas as regiões do mundo como se estivesse numa univer-
sidade cósmica, para realizar seu inteiro curso de desenvol-
vimento. Em sentido mais elevado, o mundo também é, as-
sim como a terra, um campo de transformação, um instituto
de ensino divino, pois, atentai: A percepção e a faculdade de
pensar do mundo dão forma a todas as coisas e as fazem
dissolver-se novamente. Portanto, o mundo não é o alvo, o
objetivo final, da manifestação humana, porém é utilizado
como meio divino para impulsionar o homem a seu objetivo
final.
Existem, no universo, uma infinidade de sistemas sola-
res e incontáveis miríades de planetas. Cada planeta consti-
tui um campo de transformação que insta a manifestação do
grande plano de Deus. A percepção e a faculdade de pensar
do mundo dão forma a todas as coisas e as aceitam nova-
mente em si mesmas, onde se manifestam, dissociam-se de
novo e são, mais uma vez, criadas. Em resumo, toda a vida
que se manifesta no mundo, é caracterizada pela dialética,
isto é, pela ascensão, florescimento e declínio e depois no-
vamente pela ascensão.
Essa dialética do mundo é, efetivamente, a dialética, e
diferente da nossa. Para o mundo, ela é uma realidade divi-
na, incriada; para nós, a dialética é uma tribulação, um casti-
go, uma demonstração de esterilidade.
Consideremos a dialética de um ponto de vista supe-
rior, orientados pelo conhecimento hermético, e descobrire-
mos que o mundo é por meio dela a maior escola prática da
eternidade. A dialética ensina o movimento contínuo, a rota-

102
ção incessante, de todos os fenômenos, portanto ela tudo
manifesta e faz com que tudo se dissolva novamente.
Há no mundo uma quase infinita multiplicidade de for-
mas, corpos, forças e fenômenos. O mundo no-los mostra,
dissolve-os novamente e apresenta-os, de novo, renovados.
Disto se evidencia que o mundo deve apresentar determina-
das possibilidades, determinados valores, deve manifestar
algumas forças como disponíveis, porém sem que todas es-
sas possibilidades, forças e valores existam por si mesmos,
pois, o essencial, o real, o ser divino, permanece por trás. Do
mesmo modo que a Escola Espiritual gnóstica já há anos
não é a realidade para nós, porém tenta mostrar a realidade,
assim também o mundo é o átrio do ser divino. Se podemos
ver isso dessa forma, a dialética toma-se algo grandioso,
magnífico e poderoso. Então, entendemos o versículo 19:

Assim, pois, Deus é o Pai do mundo, e o mundo é o


criador de tudo o que está nele; o mundo é o filho de Deus, e
tudo o que está no mundo veio à existência pelo mundo.

Somos feitos da matéria deste mundo. Somos filhos do


mundo e todos os valores, todas as forças, todas as possibi-
lidades do mundo, manifestam-se a nossa volta e em nós.
Por isso, somos totalmente determinados pela sublime dialé-
tica do mundo; somos a própria dialética como filhos do
mundo. Até que o objetivo essencial se manifeste: a filiação
divina! A filiação divina guia-nos para fora do mundo e para
dentro da majestosa eternidade divina. O Espírito de Deus
nos será inspirado por intermédio do Espírito Sétuplo. Então,
saímos da escola prática e entramos na eternidade divina.

103
Não· precisareis absolutamente fazer nenhum esforço
para compreender isso tudo intelectualmente. Ser-vos-á, con-
tudo, exigida uma energia quase sobre-humana para aplicar-
des tudo o que esse processo requer de vás e conduzi-lo a
bom termo. Nisso se baseia o princípio hermético de vida.
Assim como Deus é o Pai do mundo e nós, filhos do mundo,
é evidente que a essência nuclear da divindade está presen-
te também em nás e em nós dorm1ta. Por isso, deveis aceitar
o mundo com suas necessidades naturais dialéticas como
uma escola prática. O objetivo não é a escola prática, porém
a verdadeira vida que se lhe segue. Não é o mundo, porém
tudo o que está por trás dele.
Por isso, deveis organizar e vivenciar toda a vossa vida,
toda a vossa atitude de vida, em sintonia com o que foi dito.
O mundano em nós, sim, toda a nossa personalidade, inclu-
sive a consciência cérebro-intelectual, compreende um com-
plexo dialético, isto é, somente pode falar-se de uma realida-
de que vai e volta, de uma realidade temporária. Tudo o que
Deus é e faz, o inteiro plano divino para o mundo e a huma-
nidade

... ordena e orna o todo numa multiplicidade infinita e


de maviosa beleza por meio da continuidade da vida, da infa-
tigabilidade da força reveladora, da rapidez do fatum, da
composição dos elementos e da ordenação de tudo o que
devém, assim diz Hermes. A percepção e a mente entram,
pois, em todos os seres viventes, do exterior, como se esti-
~~essem no alento que os circunda, porém outrora o mundo
as recebeu de Deus para sempre, no momento de seu devir.

O mundo demonstra, portanto, apenas o que é univer-

104
sal, o que provém de Deus, o que é realidade, o que é "Isto".
A criatura é chamada também para isso; e se vós, como cria-
turas, não aceitais agora o mundo que se desenvolve por in-
termédio de Deus, como uma escola prática e não o viven-
ciais como tal, então a coisa vai mal convosco. Aí entra em
atividade a outra dialética,. à qual nós temos referido todos
esses anos como a dialética vingativa.
Por intermédio do mundo, somos fecundados com a
semente divina, isto é, se possuímos uma alma pura e esta
coopera com a consciência cérebro-racional purificada. Caso
contrário, somos envenenados mortalmente pela semente
demoníaca. Então a outra dialética entra em atividade.
A questão é, pois, se aceitamos o plano de Deus e sua
atividade com todas as conseqüências. Se não, entramos no
mal, na criação da cristalização, do embrutecimento. Temos,
portanto, de escolher entre o bem divino e o mal demoníaco.
O mal demoníaco nasce tão logo uma criatura se oponha à
necessária dialética do mundo, em si mesma e em todas as
coisas. Então, surge a cristalização, a petrificação e, no final,
a trituração, o aniquilamento. E a grande fadiga tem início
novamente.

Todos nós conhecemos a dramática e extremamente


penosa dialética da natureza da morte. Ao invés do movi-
mento dinâmico e poderoso, como o de um ritmo majestoso
no mundo, efetiva-se em todos um retardamento, devido aos
fatores de cristalização, até que finalmente se realiza a es·
tagnação total. Estagnação que se denomina, com acerto, "a
natureza da morte".
A natureza da morte é a caricatura da dialética introdu·
zida por Deus no mundo. Podeis libertar-vos imediatamente

105
dessa caricatura e de seus fenômenos, dessa variada série
de demônios, quando vos unis, numa persistente e nova ati-
tude de vida, com a realidade do mundo, isto é, com o filho
de Deus. Portanto, não se trata de metáfora mística, quando
se diz que Jesus Cristo é o Espírito planetário do mundo.
Podeis participar diretamente de Cristo, deste ser do
planeta divino, pois proviestes e pertenceis a este mundo.
Podeis voltar-vos imediatamente ao bem, ao plano divino pa-
ra o mundo e a humanidade. Se compreendeis e reconheceis
tudo isso como verdadeiro e ainda tudo seguis, demonstrais
com isso que a alma e a consciência cerebral estão purifica-
das e que, portanto, possuís o Nous· de Hermes. A base da
atitude de vida, à qual deveis dedicar-vos, é natural: "Tudo
receber e tudo abandonar, e somente assim tudo renovar";
aplicar-se e submeter-se perfeitamente à dialética divina do
mundo divino.

Essa tarefa vos coloca naturalmente diante de grandes


problemas que não se deve e nem se pode considerar dema-
siadamente fáceis, pois, partindo-se da realidade de vosso
convívio social comprovais que a situação é extraordinaria-
mente complexa, por que a pureza essencial do mundo está
totalmente associada ao mal.
Se desejásseis viver totalmente segundo as normas da
dialêtica, concedida ao mundo por Deus, acolhendo tudo es-
pontaneamente, para que tudo fosse usado como deve sê-lo,
não correríeis o risco, por exemplo, de receber e utilizar o que
provém totalmente do maléfico e do demoníaco? E se aban-
donais, livrais-vos ou simplesmente recusais determinadas
coisas, valores e possibilidades, não correis então o risco de
rejeitar o que provém da própria lei mundial?

106
Incontáveis são aqueles que, de boa-fé, fazem seme-
lhante coisa, enganados pelas autoridades. Por isso, se não
compreenderdes e não vos apegardes mui inteligentemente
a essa tarefa, será impossível que tudo o que é necessário
se renove do modo e no lugar corretos e na hora certa.
Além disso, a forma como vos defrontais pessoalmente
oom essas ooisas é de suma importância. Estais preparados
para aceitar uma atitude de vida que talvez não corresponda
em absoluto com vossa natureza? Muitos são extremamente
conservadores em relação a várias coisas, porém a perseve-
rança no tradicionalismo não se ooaduna com a nova atitude
de vida, que exige de nós a prontidão para sempre abando-
nar tudo o que recebemos.
Por isso compreendei que essa é uma atitude de vida
que deve ser estudada e discutida em detalhes. Devemos re-
fletir sobre a forma em que tudo pode adaptar-se a nossos
tempos modernos.
Já dissemos anteriormente que cada Fraternidade
gnóstica em seu tempo colocou-se, da mesma forma, diante
de tal tarefa. Não é de se espantar que sejamos também
confrontados com essa grandiosa missão após anos de com-
bate para conquistar a alma que deve ser o fundamento da
nova atitude de vida.
Nos meses e anos vindouros, dever-se-á expressar essa
assinatura totalmente nova do grupo da jovem Fraternidade.

107
XIV

O OBJETIVO DO HOMEM

O problema que vos apresentamos no capítulo anterior


não é naturalmente algo que se deva colocar diante do ho-
mem fortemente orientado segundo a natureza. Esse homem
ainda não nasceu segundo a alma, é imaturo e pertence to-
talmente à terra. Ele ainda não pode visualizar o horizonte do
verdadeiro nascimento humano e, por isso, não pode ansiar
por ele.
Esse problema vale apenas para aqueles cujas almas
já nasceram graças a um coração que se tornou puro, que
restabeleceram a ligação com a consciência cérebro-racional
e que, com razão, recordar-se-ão de uma filiação divina que
embora não pertença a este mundo7, deverá ser fecundada
nele.
O mundo é, como já vimos, hermeticamente compreen-
dido, uma escola, uma universidade. A escola prática da
eternidade. Ele não quer nem pode deter-nos. Não nos de-
seja deter porque o mundo é o filho de Deus e, portanto, o
plano de Deus é executado completamente por meio dele.
Não nos pode deter também devido a sua essência e a sua

7. Aqui, aterra.

109
atividade completamente dialéticas, a saber. manifestar-se,
sempre dissolver-se e novamente renovar-se.
Suponhamos que compreendais isso de vosso imo e
que entreis, portanto, na nova ordem mundial, na verdadeira
ordem mundial, do estado de alma vivente, de modo que
contempleis os diversos aspectos do mundo verdadeiro. En-
tão, não desejareis outra coisa senão cooperar totalmente
com o sentido e a essência do mundo. Sim, experimentareis
isso como necessidade natural. Saístes da terra e entrais na
grandiosa escola prática. Nesta condiçãc confrontamo-vos
agora com o incontestável princípio da verdadeira atitude de
vida gnóstica: "Tudo receber, tudo abandonar, e assim tudo
renovar''.
No curso sublime do mundo, encontra-se um certo ritmo
de todas as coisas, forças e possibilidades. Recebemos, por
intermédio da alma, as forças astrais puras com cuja ajuda
podemos todos realizar o que o plano de Deus nos ensina,
com auxílio do qual podemos edificar o lar eterno. Mediante
a consciência racional purificada, que coopera totalmente
com a alma, recebemos as sugestões, as mensagens divi-
nas, daqueles que permanecem por trás do mundo e que são
descritos nas Núpcias A/químicas de Christian Rosenkreuz.
Contudo, há em nós e em nosso derredor uma situação
atual, uma existência atual, um meio ambiente, de onde as
forças e idéias vêm a nós. Agora devemos atentar para o fato
de que nem essa situação aluai, nem essa existência e esse
meio ambiente são reais, reais no sentido divino. Com efeito,
a realidade aluai não é nem sombra da realidade final, o co-
roamento final de nosso desenvolvimento. A realidade aluai
terá de se submeter ainda a inúmeras transmutações. Trans-
figurações nos acometerão e seremos submetidos a elas

110
totalmente.
Por isso, o candidato dos mistérios gnósticos não deve
nem pode considerar ou avaliar sua realidade atual como es-
tática. Tão logo fizéssemos isso e quiséssemos reter aqui as
coisas que possuímos agora, entraríamos imediatamente em
cantata com o mal. Retardaríamos a sublime e fluente dialé-
tica do mundo. Surgiriam os fatores de retardamento e tudo
se tornaria materializado, petrificado e triturado. Em vista
disso, o candidato deve abandonar o presente imediato, in-
condicionalmente, logo depois de ter recebido tudo para sua
grande transformação, depois de ter assimilado tudo. O can-
didato não deve ficar parado em coisa alguma. Jamais ele
deverá dizer, em relação a qualquer coisa: "Isso me perten-
ce~~.

Somente o objetivo único conta: a deificação definitiva!


A situação atual, momentânea, a existência, somente conta à
medida em que coloca a pessoa em condições não apenas
de receber força e conhecimento, não apenas de assimilá-
-los, mas também de empregá-los concreta e imediatamente
na única construção. Quanto ao resto, tudo o que existe não
tem o menor sentido. Conseqüentemente, o candidato está
também a cada segundo preparado para tudo abandonar e
nada qualificar como de sua propriedade, Ele não pensa nis-
so. A tarefa como tal não representa um problema para ele.

Compreendeis também que quando alguém recebe tu-


do assim e não oferece resistência ao que recebe, por meio
de nada, então o grande processo de renovação, o processo
da transformação contínua, também se desenvolve sem em-
pecilhos até o término total. "De graça tudo recebestes, de
graça dai", assim nos é dito no Sermão do Monte. E isso não

111
é válido apenas em relação a uma parte da matéria grossei-
ra, mas também em relação a tudo o que sois, a tudo o que
ansiais. É válido em relação a tudo o que serve para vossa
verdadeira paz.
Imaginai que ingressásseis nessa atitude de vida, que
aceitásseis, de fato, espontaneamente, sem qualquer reser-
va, a atitude de vida hermética como sendo vossa própria. Is-
so seria magnífico! Porém, enquanto ainda viveis na ordem
de vosso nascimento natural, deveis conviver em diversos
aspectos com uma humanidade que ainda pertence à terra,
com uma humanidade que, por ignorância e possessa por
seus demónios, nega-se a trilhar a senda da gênese sublime
do homem.
Se vós fôsseis, sem quaisquer empecilhos, um exemplo
vivente da nova atitude de vida, vossos filhos seguiriam mui
rapidamente vosso exemplo, porém antes que vossos filhos
participem da vida, eles são, normalmente em 99% dos ca-
sos, prejudicados por meio de todo o tipo de métodos educa-
tivos a que vós os sujeitais.
Vós vos colocais no ponto de vista: "Devo preparar
meus filhos para a vida social. Tenho de lidar com a humani-
dade que ainda pertence à terra, portanto terrena e, muito
conservadora; portanto, apoiada no tradicionalismo. Enfim,
uma humanidade que se agarra a tudo. Tenho de lidar com
uma humanidade que talvez deseje receber, porém não
abandonar''.
Ainda há a necessidade de ocupar uma posição social
a fim de que nossas necessidades materiais e as da família
sejam satisfeitas. Por conseguinte, tendes de lidar diariamen-
te com o mundo da maldade. É um fato também que existem
leis que regulamentam mais ou menos a convivência boa ou

112
má da humanidade. Assim se deve amoldar às leis e à auto-
ridade que as elaborou e que também as aplica.
Numa das Cartas aos Coríntios, Paulo faz uma obser-
vação digna de nota relacionada à associação da lei com a
essência do pecado, portanto, com a essência do mal, da
materialidade: "A prova do pecado é a lei". As leis que regu-
lamentam nossa vida em comum partem todas do princípio
de que o homem sempre se livra do jugo e reàge sempre
contra a sociedade; que ele está continuamente ocupado em
minar o princípio da convivência social. Quase toda a lei que
rege nossa vida em comum apóia-se no fato de que alguém
pode infringi-la.
É estranho que também o homem gnosticamente orien-
tado do imo entre em conflito a cada segundo com essa lei.
Não porque ele deseje transgredir a lei da convivência, po-
rém porque ele gostaria de escapar dessa lei e elevar-se ao
mundo de Deus! No entanto, o legislador não pode ocupar-se
com isso. Cada violação da lei será punida. Eis por que o
homem é obrigado a observar a lei de seu convívio social,
pelo menos quando deseja viver em paz com o mundo.

Todavia, grandes problemas, bastante difíceis de solu-


cionar, encontram-se ligados a isso. As antigas fraternidades,
as fraternidades precedentes, tiveram, nesse sentido, pro-
blemas muito mais fáceis. Sua sociedade não era, por exem-
plo, de forma alguma, industrializada, nem submetida à téc-
nica. Os antigos eram agricultores ou artesãos.
A terra também não era tão densamente povoada, e as
fraternidades podiam reunir-se facilmente, isolando-se em
comunidades e colônias. Assim, podiam-se desligar, sem di-
ficuldades, da sociedade rejeitada por eles e permanecer,

113
dessa forma, sem entrar em conflito com ninguém. Os anti-
gos cátarós• procuraram assim, já antes de serem persegui-
dos, a solidão das grutas. Eles estabeleceram sua comuni-
dade em todo o sul do território cátaro, protegidos por vários
nobres simpatizantes.
Talvez conheçais também a história da antiga comuni-
dade dos bogomilos, que eram afins com os cátaros. Eles
desenvolveram uma comunidade agrícola, especialmente nos
países eslavos. Viviam unicamente dos produtos de sua la-
voura, fabricando com suas próprias mãos as coisas indis-
pensáveis e provendo a todas as suas necessidades. Essas
comunidades conheciam sua própria lei. Elas não se preocu-
pavam com o resto da humanidade nem com as autoridades
e podiam orientar-se totalmente segundo a antiga sabedoria
hermética (o que, na realidade, faziam). Construíam verdadei-
ras comunas puramente gnósticas que vós não podeis, de
forma alguma, confundir ou comparar com o que na natureza
da morte se entende por "comunismo". Não havia nenhuma
relação com potência estatista, facista ou comunista. Havia
exclusivamente uma aplicação prática de: tudo receber, tudo
abandonar e, assim, por fim, ascender para a vida divina da
eterna renovação. Nada podia ou devia detê-los, pois viviam
em completa autonomia com relação à natureza da morte.
Assim como os cátaros, os bogomilos também sofre-
ram, em determinado momento, a perseguição e o extermí-
nio. Da mesma forma como os cátaros sobreviventes na Eu-
ropa Ocidental, continuaram seu trabalho em segredo e sob
o símbolo da Rosacruz, assim também os bogomilos imergi-
ram, no que tange a sua obra, para depois ressurgir nos paí-
ses eslavos ocidentais.
Consideremos, contudo, o outro lado da história dos

114
bogomilos. Descobriremos então que a antiga vida, segundo
sua austera concepção, já não poderia continuar tão irrestrita,
pois as autoridades dos países onde moravam, apesar de
não persegui-los no início, impunham-lhes suas leis. Por que
deveriam os outros habitantes desses países submeter-se às
leis e a fraternidade dos bogomilos não?
Como cidadãos do Estado, eles foram forçados a sujei-
tar-se a essas leis, porém, com essas medidas, toda a vida
dos bogomilos estagnou e desmoronou. motivo pelo qual,
mais uma vez, retiraram-se para lugares Inacessíveis. Toda a
extensão de um continente, como por exemplo, a Sibéria,
guarda em si vestígios da vida dos bogomilos. Em toda a
parte encontramos esses rastros sob espessas camadas de
neve e gelo. Porém mesmo ali a lei os alcançou e assim con-
tinuou até nossos dias. Pelo que sabemos, uma seita de bo-
gomilos retirou-se para o Canadá no final do século passado
e lá formou uma comunidade nobre, pura e fechada, envolta
e protegida por imensas florestas e montanhas. Contudo, nos
últimos anos, essa comunidade entrou em conflito com o go-
verno do Canadá, pois a autoridade conhece leis agrícolas e
outros preceitos. Há, por exemplo, em quase todos os países,
uma lei referente à derrubada de árvores e ao desmatamen-
to. Além disso, existem interesses agronómicos. Também
são construídas vias férreas. Assim, também essa seita tem-
se retirado nos últimos 50 anos cada vez mais para o norte,
até que novamente o inevitável aconteça e seu problema
torne-se atual de novo.
Para onde deveríamos retirar-nos se tivéssemos o plano
de fundar semelhante comunidade em nossos países super-
populosos? Eis por que o problema coloca-se claramente
diante de nós: como se comporta o homem gnóstico, aquele

115
que deseja_ viver segundo os preceitos herméticos, diante do
homem exclusivamente natural, da natureza da morte, o ho-
mem que considera este mundo o objetivo de sua existên-
cia? Percebeis que o problema que ora colocamos diante de
vós não é tão fácil de resolver? Certamente, essa situação é
bem difícil para nós; logo uma escolha deve ser feita. Deve
haver uma evidente nova atitude de vida. Não há, na socie-
dade aluai, nenhuma possibilidade de renunciar, semelhante
aos antigos, a essa sociedade.
Assim continua pendente a questão: como resolvemos
esse problema?

116
XV

NOSSA ATITUDE DE VIDA E AS

CIRCUNSTÂNCIAS AlUAIS

"Tudo receber, tudo abandonar e, somente assim, tudo


renovar" é o princípio imperioso da atitude de vida gnóstica.
Atitude de vida que, como já vimos, permaneceu inalterada
no curso dos séculos e muito respeitada por todas as frater-
nidades gnósticas. Apenas os métodos de realização desse
princípio fundamental único deverão diferenciar-se, sempre
de novo, de acordo com a época e com as circunstâncias.
Nos tempos antigos, os grupos grandes e pequenos
eram bem segregados. Eles não dispunham dos meios mo-
dernos de comunicação nem tampouco das possibilidades
aluais de publicidade. Seu raio de ação na matéria era, por
isso, muito restrito. Por conseguinte, é de se admirar que, por
exemplo, os bogomilos pudessem influenciar, em seu tempo,
todos os Bálcãs e ainda grande parte da Rússia e que tam-
bém os cátaros dominassem quase todo o Sul da França,
onde obliteraram totalmente a Igreja dominante.
É também surpreendente a forma em que, mais tarde, a
idéia e a missão dos rosacruzes propalaram-se por toda a
Europa como que na velocidade de um raio, embora naquele

117
tempo, por exemplo, a distância entre Calw' e Haarlem fos-
se, por assim dizer, "uma volta ao mundo". Por isso, pergun-
tamos agora: como chegava a mensagem dos rosacruzes tão
rapidamente, naquele tempo, ao norte, e era respondida com
igual presteza?
Tentemos responder a essa questão e também a de
como era possível que, em seu tempo, a Gnosis encetasse a
propagação quase simultânea de sua obra, obra que, no fun-
do, irradiava-se para todos os lados numa vasta área ao re-
dor de todo o Mediterrâneo, sem o apoio dos meios de co-
municação e publicitários de que dispomos hoje em dia. Ago-
ra, tal propagação já não é possível.
As antigas fraternidades seguiam determinada estraté-
gia. Os participes da grande obra dispunham individualmente
de faculdades superiores, e alguns deles espalhavam-
-se, segundo um plano definido, para todas as regiões onde
os irmãos deveriam instalar-se. Todos os irmãos e irmãs diri-
gentes dispunham dessas, assim chamadas, "faculdades•
superiores". Onde quer que se encontrassem, eles permane-
ciam uns com os outros em cantatas intuitivos, telepáticos, e,
ainda podiam estabelecer reciprocamente um cantata-alma
durante as horas de sono. Dessa forma, estava garantida, já
de antemão, uma extraordinária coordenação de todo o tra-
balho.
Além disso, é importante saber que o corpo racial do
homem da massa daquela época não estava, nem de longe,
tão denso, tão cristalizado, quanto atualmente. De mais a
mais, os homens viviam então num repouso medieval e no
silêncio daqueles tempos. Disso não podemos fazer quase
nenhuma idéia hoje em dia. O homem estava então ainda
aberto, pois a faculdade de pensamento, a consciência cére-

118
bro-racional, ainda não estava avariada e, finalmente, não es-
tava também tão obscurecida pela esfera astral quanto ago-
ra. Quando as perseguições por parte da Igreja e do Estado
tiveram início, o Estado, com o assentimento da Igreja e esta
com a anuência do Estado, inúmeros puderam escapar de
modo extraordinário das malhas da perseguição e, de várias
formas, dar continuidade a seu trabalho. Não se pode assim
apontar um único dia, uma única hora na h1stóna mundial em
que a santa obra tenha sido interrompida.
Dizemos isso tudo para mostrar-vos que a atitude de
vida hermética é possível sem muitos estorvos. À medida
que o grupo de alunos da jovem Gnosis progredir na revela-
ção da salvação, poderemos falar mais sobre isso, natural-
mente. Esse grupo pode, em todas as circunstâncias, condu-
zir o trabalho sem atrair para si a atenção em demasia. A
pergunta agora é: como devemos, em nossos tempos mo-
dernos, considerando-se todos os fatores, orientar nossa ati-
tude de vida de forma a poder corresponder à exigência mí-
nima? Essa é uma pergunta com a qual apresentamos o
problema de uma nova atitude de vida, à qual o grupo deverá
habituar-se totalmente nos anos vindouros. Devemos refletir
sobre o princípio fundamental de nossa atitude de vida futu-
ra, com a qual, também, nosso grupo, levando em considera-
ção as circunstâncias temporais e os aspectos de nossos
tempos modernos, deverá alcançar o único fim glorioso.
Repetimos a pergunta diante da qual nos colocamos:
como devemos, levando em consideração todos os fatores,
orientar nossa atitude de vida nos tempos aluais, a fim de
podermos corresponder à exigência hermética mínima, para,
sobre esta base, não resvalarmos para a natureza da morte,
para não sermos por ela absorvidos? Que devemos fazer,

119
por exemplo, para não sermos vistos como inimigos públicos
ou extrem_ista.s? Que devemos fazer para conduzir nosso di s-
ei pulado a resultados práticos, ou seja, à libertação, à reali-
dade da renovação? Pois é isso que devemos fazer, não é?
Devemos seriamente contar com o fato de que nossa vida
está de tal modo entretecida com a sociedade e as institui-
ções públicas, que não podemos, sem mais nem menos,
apartar-nos delas. Neste ponto, devemos aplicar a regra áu-
rea dos antigos irmãos rosacruzes, de que cada irmão ou ir-
mã adote o traje do país onde mora.
Porém, fundamentado sobre o estado de alma vivente!
Refleti bem sobre isso, pois, se a alma em vós não está li-
bertada, não está manifestada, não efetivais a nova atitude
de vida. Entrareis sempre de novo em conflito e estagnareis.
Somente a alma vos torna livre. Nos anos anteriores, sempre
dedicamos grande ênfase a esse assunto, e isso se patenteia
também de forma abundante por intermédio de toda a nossa
literatura. Em primeiro lugar, é necessário conquistar a alma,
libertar a alma mediante o renascimento. Se temos a alma,
então temos a base para vencer tudo aquilo que oferece re-
sistência no caminho de nosso discipulado.
Nessa base, todo o aluno obterá bom êxito ao se sujei-
tar às chamadas leis "democráticas" e normas públicas de
seu país, isto é, contanto que não seja tolhida a liberdade de
imprensa, de religião e de pensamento, a liberdade de se
realizar sossegadamente reuniões, e, portanto, os direitos
humanos de liberdade não sejam ameaçados em demasia.
Nesse caso, não há nenhuma dificuldade para se movimen-
tar, sobre a base da alma, através dessas terras tenebrosas.
Contudo, assim que os direitos de liberdade do homem são
tolhidos, enceta-se uma fase totalmente nova. Então, o grupo

120
saberá preparar um caminho por meios gnósticos-mágicos e
entrará na ilegalidade para seu trabalho externo, como teve
de ser feito nos anos de 1940 a 1945.
Naquele tempo, o trabalho da Escola foi proibido pelas
autoridades ocupantes. No entanto, ele não foi interrompido
nem um minuto, nem um segundo. Certamente, houve tam-
bém alunos que se retiraram quando essa situação teve iní-
cio e que falaram francamente. Alguns vieram a nós e disse-
ram: "Compreendeis que, considerando minha posição social,
já não posso continuar na Escola. Nós manifestamos à Es-
cola, manifestamos à Gnosis e manifestamos a vós nossos
mui cordiais sentimentos, porém continuar com o discipulado
agora não nos é possível".

Isso era realmente possível, porém os referidos amigos


nív o percebiam. Portanto, com a garantia da amizade, dei-
xavam-nos então sozinhos no momento crucial. Mas havia
também outros, firmementes decididos que permaneceram
fiéis à Escola, dia e noite, e, dessa forma, pudemos dar con-
tinuidade ao trabalho até 1945, quando saímos da ilegalidade
novamente, e o campo de trabalho normal pôde de novo ser
retomado.
Se os irmãos e as irmãs da Rosacruz Áurea tiverem de
passar para a ilegalidade, deverão estar muito esclarecidos a
respeito dessas coisas, tanto na consciência quanto no esta-
do de alma, pois, num período existencial semelhante, quan-
do são escritas páginas tão tenebrosas na história mundial,
não deve existir no aluno o mínimo ódio. Deve-se permane-
cer aberto, pleno de alma e de amor diante de tudo. Então, é
possível que a ilegalidade se mantenha firme sem que um
único fio de cabelo da cabeça seja tocado.

121
Em relação a isso, deve ser ainda enfatizado, e a isso
já nos referimos na elucidação de nosso princípio, que o ir-
mão e a irrflã da Rosacruz Áurea, sempre e em qualquer cir-
cunstância, manter-se-ão afastados de todas as atividades
políticas, pois o homem carrega sobre si mesmo, mediante
atividades políticas, responsabilidades que poderiam enre-
dá-lo posteriormente e danificá-lo seriamente em seu cami-
nho a serviço da Gnosis.
Já aconteceu, no curso da história, de algum gnóstico
ter galgado um alto posto no Estado; entretanto, isso aconte-
ceu devido a objetivos muito especiais, a serviço do objetivo
único, perante o qual o gnóstico se coloca e, portanto, total-
mente fora do plano político.
Na vida de sociedade, o gnóstico deverá ocupar seu lu-
gar, isso é evidente, contanto que ele possa desempenhar
seu trabalho em completa integridade e absoluta lealdade.
Um exemplo poderá esclarecer o que foi exposto. Freqüen-
temente, surgem na atual v1da de negócios inúmeras formas
absolutamente desonestas. Provavelmente todos vós sabeis
bem do que se trata. Essa é uma das causas mais importan-
tes do repetido declínio da vida social, pois o comércio parte
de um desejo de propriedade. Não exatamente de um desejo
de possuir o que é necessário e útil para seu próprio nível de
vida, porém de um desejo exercido como uma modalidade
esportiva. Sabeis que, na mitologia, Mercúrio é o deus dos
comerciantes e dos ladrões. Mercúrio - comércio - ladrões,
chamados num só fôlego!
Sabeis bem quem é Mercúrio? Mercúrio é Hermes
Trismegisto, o três vezes grande! O hermetismo é a magnífi-
ca, a grandiosa, idéia de Mercúrio. A religião do pensamento,
a religião do Espírito, o serviço do Pai. E para poder deserr

122
volver esse poderoso pensamento em cooperação com o Es-
pírito, o homem recebeu a consciência cérebro-racional; to-
davia a corrupção, o pecado do homem, fez com que ele
abusasse de sua faculdade intelectual, que lhe deveria dar
condições de se tornar um mercúrio, um hermes, um servidor
da Hierarquia divina, e a submetesse ao comércio, à cultura
do instinto de poder e possessão, ao culto da subserviência
do eu, que se estende por quase toda a humanidade. Mercú-
rio, o deus dos comerciantes, dos ladrões' Não se revela aqui
a verdade das palavras: "A corrupção dos melhores é a pior?"
Eis por que a grande chaga, pela qual o mundo sangra,
é o espírito do comércio, que é o espírito do mal. Como é is-
so? O intelecto é totalmente mobilizado a fim de encontrar
mercados; e quando esses mercados são encontrados e os
estabelecimentos funcionam para esse propósito, então os
mercados devem ser mantidos, custe o que custar. Às vezes,
mesmo em associações internacionais, o preço pode ser de
milhões de vidas. Quem se aprofunda nas causas de muitas
guerras, quem investiga as causas da Primeira e Segunda
guerras mundiais, sente o coração parar diante do medo e da
consternação. A literatura, como o livro do jornalista america-
no Pierre van Paassen, Os Dias dos nossos Anos e outros
semelhantes, pode erguer uma pontinha do véu. Os comer-
ciantes desta terra controlam o Estado, a Religião e a Filoso-
fia. Em resumo, tudo está a serviço deles.
Mercúrio, Hermes Trismegisto, o deus dos comerciantes
e dos ladrões! Quão deplorável, quão característico do estado
decaído da humanidade. Se participais disso, exponde-vos
não somente a uma prática desleal, mas também perverteis
assim toda a vossa personalidade, pois, se pensardes sobre
como podereis lucrar e estiverdes preparados para empregar

123
determinados expedientes, corrompereis imediatamente vos-
so corpo astral ao dirigirdes vossos pensamentos a esse ob-
jetivo. Caso vosso corpo astral se sintonize, dessa maneira,
com vossos pensamentos e desejos, em pouco tempo todo o
vosso estado sanguíneo também será impregnado por eles e
entrará, por conseguinte, em sintonia com eles.
Compreendereis que o discipulado talvez seja filosofi-
camente possível com tal atitude de vida. Assistireis aos ser-
viços e podereis freqüentar as conferências, ler um livro e
juntos conversar sobre a Gnosis, porém o que tendes dela?
Necessitais conquistar a liberdade! Deveis conquistar a pleni-
tude eterna. Para isso a Escola está aqui!
Por isso, devemos mui decididamente levar em conta
nossa atitude de vida, pois, em situações como a que des-
crevemos, vosso discipulado não chega a ser verdadeiramen-
te inútil, mas também nunca vos trará a libertação. Quem,
como comerciante, não é absolutamente honrado e leal, se-
gundo as normas da Escola, prejudica o corpo vivo e a si
próprio. Por isso, se trabalhais no comércio, se vós mesmos
tendes um negócio, considerai-o então da mesma forma co-
mo os artesãos compreendiam sua profissão. Não utilizeis
vossa profissão para vos enriquecer, senão vos arruinareis ir-
revogavelmente segundo a alma, principalmente, numa Es-
cola como a nossa. Se não puderdes desvencilhar desse con-
flito, então escolhei outra profissão.
Assim, somos também de opinião que não se deve
aceitar nenhuma função em empresas prejudiciais à humani-
dade e ao mundo, tal como nas fábricas que produzem dis-
positivos de destruição, ou em laboratórios que se dedicam à
pesquisa atómica e similares. Tais funções, segundo nos pa-
rece, não devem ser desempenhadas por alunos de uma es-

124
cola espiritual, pois o simples fato de se escrever uma carta
ou desenvolver uma conversa telefônica podem danificar
gravemente o corpo astral, pela natureza mesma do assunto
e dos sentimentos e pensamentos que ele suscita.
Seja como for, cada um de nós terá de refletir nesse
sentido e deverá chegar a uma decisão que poderá ser to-
mada, mui prontamente, sobre a base de um estado de alma
vivente. Vossos pensamentos devem ser completamente pu-
ros, vossa consciência racional deverá ser totalmente purifi-
cada. Caso contrário enganareis-vos e fareis de vosso disci-
pulado uma ilusão, uma aparência. Os pais devem cuidar pa-
ra que o ensino e a educação dispensados a seus filhos en-
veredem pelo caminho correto. Com isso, eles resguardam,
antes que seja tarde, seus filhos de um declínio ou de um
dano relativo a sua receptividade ao auxílio pleno de graça
da Gnosis.
Atentai ainda para o fato de que a vida social normal,
especialmente para o aspirante à Gnosis, pode ser e se torna
um perigo mortal; assim, a Escola Espiritual deve também
chamar a atenção de seus alunos para o problema das fun-
ções sociais. Dessa forma, a Escola se protege e não sobre-
carrega a vida de seus alunos inutilmente.

Nesse sentido, é conveniente também que atenteis pa-


ra o fator "medo". Muitas pessoas têm medo, medo de tudo e
de todos. Medo de cortar relações com algo que não presta;
medo de situações que ná:l sá:l boas e que se encontram
abaixo de suas normas de vida. Compreendeis que atitudes
de medo como essas não existem de forma alguma na luz
de nosso princípio hermético: "Tudo receber, tudo abandonar
e, somente assim, tudo renovar". Quem vive, inteiramente

125
consoante esse princípio, em sintonia com a torça da alma,
com a exigência da vida libertadora, não necessita preocu-
par-se com nada.
O medo é uma ilusão. Se permanecerdes na alma, ne-
nhum fio de cabelo da cabeça será tocado sem a vontade de
110sso Pai celestial; por isso, o Sermão do Monte exorta:
"Não vos preocupeis. Procurai primeiramente o reino de Deus
e Sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado". Além
disso, a ansiedade, a preocupação e o medo prejudicam mui-
to o corpo astral e o abrem para os demônios, fazendo com
que o discipulado se torne uma ilusão.
Um ponto ainda mais importante talvez seja o vosso
instinto de conservação cada vez mais presente. Não podeis
ou não desejais abandonar tudo o que é prejudicial ou inútil
para o grande e único objetivo. O instinto de conservação as-
sume matizes diferentes para todos vós. Queremos dizer
com isso que a autonomia, que é necessária, ainda não está
completa em vós. Vossa dependência das coisas, da matéria,
do dinheiro, provavelmente, de situações, de pessoas fora
das normas gnósticas, danificam novamente o corpo astral
com todas as conseqüências correspondentes. O corpo astral
é um corpo altamente ígnea, e com este fogo podeis quei-
mar-vos e igualmente lançar outros na impiedade.
Se quiserdes conduzir vossa viagem para a vida liber-
tadora a um bom termo, então devereis encetar vossa via-
gem mais importante com quatro rosas no chapéu, à seme-
lhança de Christian Rosenkreuz. Desejamos falar-vos agora
sobre isso, a fim de colocar, claramente, diante de vossa
consciência, as normas da nova atitude de vida que a Escola
Espiritual exige de seus alunos.

126
XVI

A CIRCULAÇÃO DAS FORÇAS DE LUZ GNÓSTICA

Antes de podermos penetrar até o âmago de nossa dis-


sertação, devemos, mais uma vez, verificar enfaticamente
que o problema da nova atitude de vida, que vos pudemos
apresentar, aplica-se exclusivamente àqueles que nasceram
segundo a alma e que, por viver com o coração puro, realiza-
ram a ligação entre as novas forças da alma e a consciência
cérebro-racional, fazendo com que esta consciência perma-
necesse sob controle. Sem esse controle, não se pode ainda
aspirar à pureza astral, e o aluno não será capaz de apartar-
se do mal e seguir o bem único. Primeiramente, deve-se as-
segurar a circulação das forças de luz gnóstica no sistema do
candidato. Esse é o núcleo de todo o desenvolvimento ver-
dadeiramente gnóstico. O processo completo, a que dirigi-
mos agora vossa atenção e vos apresentamos, possui dez
aspectos.
O primeiro aspecto faz-nos lembrar das bem-aventuran-
ças. "Bem-aventurados os que têm fome de Espírito", está
escrito. O fundamento deve ser uma vida séria e verdadeira-
mente aspirante, anelante, por libertação. Desde que seja-
mos, do imo, verdadeiros buscadores, nascerá, por conse-
guinte, uma atividade astral mediante o pensamento racional.

127
É impossível deveras ansiar pela Gnosis sem que ela tenha
tocado vos59 pensamento; portanto, se há uma ânsia verda-
deiramente buscadora em vós, uma atividade mental provo-
cará, por conseguinte, também uma atividade astral em vos-
so sistema, a qual se manifesta tanto exterior como interior-
mente. Quando uma nova força inflama-se no campo astral
do sistema humano, vemos luzir um raio para fora e outro pa-
ra dentro. Um campo de luz desenvolve-se no meio do mi-
crocosmo, semelhante a uma tensão ígnea, em total sintonia
com a aspiração do aluno. Esse campo assimila a força-luz
gnóstica e a transmuta.
Se o aluno perseverar, então, em seu esforço e aspira-
ção, através de todos os obstáculos inevitáveis, essa força-
luz acumulada no centro tocará o santuário do coração do
aluno, penetrará até esse santuário e se misturará com o
sangue. O sangue, carregado dessa maneira, flui também
através do organismo cerebral e influencia vários centros do
santuário da cabeça, assim como diversos centros latentes.
Agora, trata-se de saber se o sistema cerebral, com seus di-
ferentes centros, reage a essa intervenção, às influências
gnósticas que fluem no sangue. Em caso afirmativo, um novo
pensamento racional nasce no santuário da cabeça. E é evi-
dente: a nova atividade mental, o novo desenvolvimento da
oonsciência cérebro-racional, influencia, por sua vez, o corpo
astral.
Dessa forma, o corpo astral é purificado. Somente po-
deis purificar o corpo astral por intermédio de um novo pen-
samento nascido do sangue. Então são liberadas novas for-
ças astrais que se dividem nos quatro éteres puros, os quatro
alimentos' santos. Esses éteres tocam o corpo vital e se diri-
gem a todos os órgãos e fluidos do corpo material, vivifi-

128
cando-o, ativando-o. Finalmente, eles se manifestam nova-
mente no sangue.
Dessa fonna, estabelece-se a circulação: o processo
que se inicia no sangue, manifesta-se no pensamento; de-
pois, no corpo astral, no corpo vital e novamente na veste
material e no sangue. A Gnosis conseguiu, assim, mediante
a nova animação, o controle sobre todo o sistema do aluno.
Quando esse processo décuplo realiza-se devido a uma ati-
tude de vida orientada para esse objellvo, essa atitude de vi-
da tem condições de se manter firme sem qualquer tipo de
ooação. Quando essa circulação das forças de luz gnóstica
que a antiga Gnosis chinesa denominava "movimento retró-
grado" tiver início no sistema, já não encontrareis a menor di-
ficuldade para perseverar na atitude de vida gnóstica.

Quando a nova atitude de vida torna-se realidade, o


candidato observa que o sistema exige essa atitude de vida.
É uma atitude de vida que rejeita inteiramente a dialética da
natureza da morte e que se apresenta, primeiro: em dedica-
ção inabalável; segundo: em absoluta harmonia criadora; ter-
oeiro: numa inteligência prática; quarto: numa prestabilidade
sacerdotal.
Se refletirdes sobre essa atitude de vida, descobrireis,
como é evidente, que ela, em primeiro lugar, emana da alma.
Somente aquele que estiver pleno de alma poderá aí iniciar,
aí penetrar; todavia, em segundo lugar, essa atitude de vida
provém também necessariamente do santuário da cabeça.
Durante os últimos anos, pudemos chamar continuamente
vossa atenção para o santuário do coração, para o novo es-
tado de alma que ali deve nascer, como numa Belém. É che-
gada a hora, porém, de chamar vossa atenção, antes de

129
tudo, para o novo nascimento, para a ressurreição, que se
deve realizar no santuário da cabeça!
A consciência cérebro-rac1onal, impelida pelo processo
décuplo, torna-se, assim, a base para a descida do Espírito
Santo, em um novo processo que pode ser indicado como as
núpcias alquímicas com o Espírito, com Deus, com o Pai
mesmo. Então, o candidato terá dado o primeiro passo fun-
damental na religião do pensamento ou, como os antigos di-
ziam, no "maneísmo", derivado da palavra manas, que signi-
fica "pensador".
Isso significa um encontrar-se no mundo a serviço da
grande e sagrada obra, um estar no mundo, porém já não ser
do mundo, para finalmente executar, com a realeza do Espíri-
to, a grande obra, que será exigida de cada um. O único ob-
jetivo da Gnosis consiste em conduzir-vos. após o nascimen-
to da alma, a essa vitória. A nova atitude de vida das quatro
rosas é, para isso, o portal. O portal do maneísmo e para o
maneísmo, o portal para o templo dos mistérios de nosso pai
e irmão Christian Rosenkreuz.
Esperamos e oramos que todos vós possais transpor
esse portal!

130
XVII

DÉCIMO-SEGUNDO LIVRO

A CHAVE DE HERMES TRISMEGISTOB

1. Hermes: Ontem dediquei minhas reflexões a ti, ó


Asclépio; e é justo que dedique as de hoje a Tat,
porque são um resumo das explicações mais gerais
que já lhe dei.

2. Deus, o Pai, e o bem são da mesma natureza, ou


melhor, da mesma força ativa.

3. A palavra "natureza" encerra tudo o que, segundo a


vontade de Deus, devém e cresce, tanto as coisas
movíveis e mutáveis como as imovíveis e imutáveis,
tanto as divinas como as humanas.

4. A força ativa é todavia diferente nas coisas divinas e


nas humanas, como em outra parte mostramos: não
deves perder isto de vista.

8. O lehor deve considerar que o décimo-segundo livro é o mais distorci·


do de todos os textos hennêticos.

131
5. Porque a força ativa de Deus é Sua vontade, e Sua es-
sência é o desejo de levar todas as coisas à existência.
Porque ó que é Deus, o Pai, o Bem, senão a base exis-
tencial de todas as coisas, mesmo as das que ainda não
existem?
Em verdade, o fundamento existencial de tudo é Deus, o
Pai, o Bem, e nenhum outro nome é tão adequado a Ele,
porque se bem que o mundo e o sol sejam co-geradores
de seres viventes, não são, por isso, para eles, na mesma
medida que Deus, a causa do bem e da vida. E conquanto
eles constituam a causa disto, são exclusivamente pela
atividade indispensável da vontade do bem, sem a qual
nada pode existir ou devir.

6. O Pai é a causa de Seus filhos, de sua geração e cresci-


mento e desenvolvimento; e do sol eles recebem o anelo
pelo bem, porque o bem é o oniformador. Isto não se pode
dizer de ninguém senão dAquele que nunca recebe algo,
porém deseja que tudo exista.

7. Não digo, ó Tat, que Ele, Deus, tudo faça, porque quem
faz alguma coisa falha, de vez em quando, pela instabili-
dade da qualidade ou da multiplicidade, ou por fazer uma
vez isto e, outra vez, coisa inteiramente diferente.
Deus, porém, o Pai, o Bem, é Ele mesmo a existência do
todo.

8. Para aquele que é capaz de "ver", Tat a coisa é assim:


Deus quer a existência, e Ele é a existência. Tudo o que
é, ó Tat, existe somente para este único fim: que o Bem
se faça conhecido, conforme a Sua essência.

132
9 . Tat: Tu nos preencheste, ó Pai, inteiramente desta glorio-
sa e bela visão, de maneira que os olhos de meu Nous,
graças a essa diretriz, aproximou-se da santificação.

1O. Hermes: Com certeza, porque tal visão interior do bem


não é como a ígnea radiação do sol, que cega os olhos
com sua luz.
A contemplação interior opera de modo iluminador, e isto
tanto mais à medida que se seja receptível ao influxo da
radiação que dá entendimento. Ela opera em nós até no
imo e com grande força, nunca causando dano e está to-
talmente repleta de divindade.

11. Aquele que pode haurir plenamente de tal visão interior,


muitas vezes chega, num silenciar geral do corpo, a uma
belíssima contemplação, assim como ocorreu com nossos
ancestrais Uranos e Cronos.

12. Tat: Possa assim se dar também conosco, ó Pai!

13. Hermes: Praza a Deus, mel.f filho. Porém agora ainda não
somos capazes de tal visão. Ainda não estamos em con-
dições de abrir os olhos de nosso Nous e contemplar a
imperecível e inimaginável beleza do bem. Somente a ve-
rás quando aprenderdes a já não falar dela, porque a
Gnosis do bem é tanto silêncio divino como o silenciar de
todos os sentidos.

14. Quem uma vez a encontrou, já não pode dar atenção a


nenhuma outra coisa. Quem uma vez a vislumbrou, já
não pode ter olhos nem ouvidos para outra coisa, porque

133
até seu rorpo participa da imobilidade. Porque enquanto
todas as percepções e estímulos corpóreos desaparecem
de sua CÓnsciência, ele permanece na quietude.

15. Quando então a Gnosis ilumina a consciência toda, faz


arder inteiramente de novo a alma e a eleva, porque a
desata do corpo.
Assim ela transforma o homem inteiro em sua natureza
essencial, porque a divinização da alma, que acompanha
a contemplação da beleza do bem. não pode cumprir-se
no corpo mortal.

16. Tat: O que queres dizer por divinização, Pai?

17. Hermes: Cada alma separada experimenta mudanças,


meu filho.

18. Tat: E o que significa "separada"?

19. Hermes: Não aprendeste em minhas explicações gerais


que, da Alma-Única, a Alma Universal, dimanaram todas
as almas que revoluteiam no mundo todo, como que
semeadas nos lugares que lhes foram atribuídos? Essas
almas experimentam muitas mudanças, umas em as-
censão plena de graça, outras ao contrário disso.

20. Porque os répteis se transformaram em habitantes da


água: os habitantes da água, em habitantes da terra; os
habitantes da terra, em seres do ar; os habitantes do ar,
em homens. E os homens, finalmente, entram na imorta-
lidade transformando-se em demónios, ascendendo ao

134
coro dos deuses.

21. Há dois coros dos deuses: o coro dos deuses movfveis


ou mutáveis e o dos deuses imovfveis ou imutáveis.

22. Este último estado é a perfeita e a maior glória da alma.

23. Se, porém, a alma que entrou num corpo humano per-
manece no pecado, não participa da imortalidade e está
despojada do bem; porém se apressa por percorrer o
caminho que está atrás dela, o caminho para o estado
do réptil. Eis o castigo da alma que pecou.

24. A maldade da alma é sua ignorância, sua carência, da


Gnosis, do conhecimento que é de Deus, porque quando
a alma é ignara no tocante às coisas essenciais e a sua
natureza, e no tocante ao bem, sendo inteiramente cega
a esse respeito, ela está sendo veementemente enlaça-
da em paixões corpóreas9 e atacada por elas.

25. Assim, a alma atacada pela maldade, devido à falta de


conhecimento no tocante a seu próprio ser, está sujeita a
corpos estranhos e indignos do homem.
Como um fardo, ela carrega um corpo sobre o qual não
tem domfnio, porém que a domina. Nisso consiste a
maldade da alma.

26. A virtude da alma, ao contrário, é a Gnosis, o conheci-


mento vivente de Deus, porque quem possui esse cxr
nhecimento é bom e devotado a Deus e já divino.

9. Ver nota na página 2 décimo livro de Hermes.

135
27. Que espécie de homem é esse, Pai?

28. Hermes: É o homem que pouco fala e a poucos dá ouvi-


dos.

29. Porque quem desperdiça seu tempo a discutir e a ouvir


discussões, luta contra sombras, pois Deus. o Pai, o
Bem, não se deixa expressar nem entender pelos ouvi-
dos.

30. É verdade que todos os seres têm sentidos, porque sem


eles nã:> podem existir; contudo, o conhecimento vivente
de Deus é muito diferente da percepção sensorial.
Porque a percepção sensorial realiza-se mediante in-
fluências ou impress6es que obtiveram poder sobre nós.
A Gnosis, porém, é a perfeição do conhecimento, o co-
nhecimento que é uma dádiva de Deus.

31. Pois toda a Gnosis é incorpórea. O instrumento de que


ela se serve é o Nous que, por sua vez, tem o corpo co-
mo seu instrumento. Assim, encontram ambos lugar no
corpo, tanto as atividades que se exercem mediante o
Nous como as que se exercem mediante a matéria, pois,
do antagonismo e da resistência tudo deve vir à existên-
cia. De nenhum outro modo isso é possfvel.

32. Tat: Quem é então esse deus material?

33. Hermes: O mundo, que é belo e efetivo, porém, não é


bom. Porque ele é material e muito suscetfvel de sofri-
mento. Ele é o primeiro de tudo o que está sujeito ao so-
frimento, e o segundo de todos os seres. e não existe em

136
si mesmo. Sua gênese principiou um dia; não obstante é
eterno, porque sua essência é um devir etemo. E o f7'l<>o
vimento de seu devir eterno é a criação das qualidades e
das quantidades, porque todo o movimento da matéria é
um devir, um nascimento.

34. Da imobilidade divina, nasce o movimento da matéria,


como segue: o mundo é esférico, como uma cabeça. Não
há nada de material que ultrapasse essa cabeça, do
mesmo modo como não há nada de espiritual em baixo
cbs pés: tudo é matéria. O Espírito é também esférico, tal
como a cabeça que se move ao modo de uma esfera.
Tudo o que toca a membrana na cabeça, dentro da qual
a alma encontra seu lugar, é imortal, porque o corpo, por
assim dizer, foi criado dentro da alma, e a alma é mais
do que o corpo.
Tudo, porém, que é exterior à membrana, é mortal, per-
tencendo mais ao corpo do que à alma. Desta maneira,
tudo o que está vivo, assim como o universo, compõe-se
de matéria e Espírito.

35. O mundo é a primeira criação; após o mundo, o homem é


o segundo ser vivente, porém o primeiro entre os mortais.
Com os outros seres viventes, ele tem o elemento ani-
mado em comum. Ele não somente já não é bom, porém
mesmo mau, por causa de seu estado mortal.

36. O mundo não é bom, pois é movível, porém não é mau


enquanto imortal.

37. O homem, todavia, é dual no mal, por ser tanto movível

137
como mortal.

38. A alma do homem manifesta-se do seguinte modo: a


consciência na mente; a mente na força de desejos; a
força de desejos no fluido vital; o fluido vital se espalha
através das artérias, das veias e do sangue, dá movimen-
to à criatura animal e a conduz, por assim dizer.

39. Por isso alguns acham que a alma é o sangue. Desco-


nhecem, porém, a natureza de ambos. Não sabem que o
fluido vital primeiramente se retrai no corpo de desejos,
que em seguida o sangue começa a se coagular, e que,
quando então as artérias e as veias se esvaziam, isto faz
moffer a criatura. Assim, realiza-se a morte do corpo.

40. Tudo se apóia somente num princípio, e ele mesmo sur-


ge do Um e Único.

41. Esse princípio é movido a fim de que, a seu turno, ele


seja novamente a base motriz do Todo.
O Único, porém, é imutável e imovível!

42. Assim, há estes trés:


Deus, o Pai, o Bem;
o mundo
e o homem.
Deus mantém encerrado o mundo;
o mundo, o homem.
O mundo é o filho de Deus:
o homem é o filho do mundo, como que o neto de Deus.

138
43. Não é que Deus desconhecesse o homem; pelo contrário,
Ele o conhece perfeitamente, e quer ser conhecido por
ele.

44. Somente é libertador, salvador e salutar ao homem a


Gnosis, o conhecimento de Deus. Ela é a senda para a
ascensão ao Olimpo. Somente graças a ela a alma se
torna verdadeiramente boa; não uma vez boa e outra vez
má, porém boa por necessidade interior.

45. Tat: O que queres dizer com isso, ó Trismegisto?

46. Hermes: Pensa um pouco na alma de uma criança, meu


filho. Se a separação de seu verdadeiro ser ainda não é
perfeita, e o corpo é ainda pequeno e ainda não atingiu
plenamente seu estado adulto, como é belo aos olhos,
em todos os aspectos! Ainda não foi maculado pelas pai-
xões do corpo e está, ainda, em grande medida, ligado à
alma do mundo.

47. Quando, porém, o corpo se toma adulto, e a alma é atraí-


da para baixo nos fardos do corpo, a separação do ser
superior toma-se completa, e a alma mergulha no esque-
cimento. Ela então já não participa do belo e do bom. E o
esquecimento lhe gera o mal.

48. A mesma coisa acontece com aqueles que abandonam o


corpo terrestre. Se, então, a alma retornou a si mesma, o
alento vital se concentra no sangue e o eu no alento vital.
Porém quando a alma-espfrito se purificou de seus envol-
tórios e, sendo de natureza divina como é, tomou um

139
corpo ígneo, percorre todo o espaço, abandonando a ma-
téria ao }!ligamento.

49. Tat: O que queres dizer com isso, ó Pai?


Disseste que o Nous se separa da alma e a alma do
alento vital, enquanto disseste também que a alma é o
envoltório do Nous, e o alento vital, o envoltório da alma?

50. Hermes: Quem escuta, meu filho, tem de ser uno em


consciência com aquele que a ele fala e segui-lo em seus
pensamentos. Seu ouvido deve ser mesmo mais apurado
e mais rápido do que a voz daquele que fala.

51. A conjunção dos envoltórios, meu filho, produz-se no cor-


po terrestre, porque é impossível que o Naus, devido a
sua essência, estabeleça-se em um corpo terrestre; por-
que o corpo terrestre ná:J pode suportar too grande divin-
dade, nem uma força tão magnffica e pura suportar o
conta to direto com um corpo sujeito a paixões.

52. Por isso o Espírito tem de envolver-se na alma; a alma


que, em certo sentido, é também divina, torna-se o alento
vital prestante, enquanto o alento vital finalmente gover-
na a criatura.

53. Quando, então, a alma-espfrito se desligou do corpo ter-


restre, revestiu-se de imediato do envoltório próprio a ela,
a veste ígnea, que ela não pôde conservar quando tomou
habitaçá:J no corpo terrestre, pois a terra não pode supor-
tar o fogo; apenas uma pequenina centelha já basta para
consumi-la inteiramente em chamas; por isso a terra está

140
inteiramente envolvida por água, que a protege como es-
cudo, contra as chamas do fogo.

54. O Espírito, a mais rápida de todas as criações do pensar


divino, tem como corpo também o mais rápido de todos
os elementos: o fogo. Porque sendo o criador de todas as
coisas, o Espfrito usa o fogo como instrumento para seu
trabalho criador.

55. O pensar universal assim cria o Todo. O pensamento do


homem apenas cria o que é da terra, {XJis, visto que a fa-
culdade de pensar humana não {XJssui envoltório ígneo,
não é capaz de dar existência a coisas divinas e, {XJr
causa de seu envoltório, está limitada ao que é do ho-
mem.

56. A alma humana (não todas as almas, porém a realmente


devotada a Deus) é, em certo sentido, um bom demõnio
e divina.
Quando semelhante alma se desliga do cor{XJ, após ter
trilhado o caminho da verdadeira piedade (caminho este
que conduz ao conhecimento do divino e da abstenção
de injustiça ou dano em relação a todo o homem), torna-
-se verdadeiramente alma-espfrito.

57. A alma ímpia, ao contrário, não muda de caráter, {XJrém


limita-se a castigar a si mesma e busca um novo corpo
terrestre onde {XJSSa entrar, {XJrém um corpo humano,
porque nenhum outro corpo poderia alojar uma alma hu-
mana. A lei divina não permite que uma alma humana se
avilte {XJr ocupar o corpo de um animal irracional. Essa é
uma lei de Deus que protege a alma humana contra tão

141
grande u_ltraje.

58. Tat: Porém como então a alma humana é castigada, ó


Pai?

59. Hermes: Meu filho, existe para a alma humana maior pu-
nição do que a impiedade' Que fogo é tão consumidor
como a chama da impiedade? Que besta selvagem des-
trói o corpo como a impiedade mutila a alma? Não com-
preendes quais são os suplícios que a alma ímpia tem de
sofrer quando, gritando por socorro, exclama: "Eu ardo; as
chamas me tostam! Não sei o que dizer ou fazer! Eu, ser
miserável, estou sendo consumido pelas maldades que
me dominam. Já nada vejo, já nada ouço!"

60. Não são esses os gritos de uma alma que foi punida?
Tu, meu filho, não creias, como a massa, que, depois de
ter abandonado o corpo, a alma penetre a figura de um
animal! Porque isso é um tremendo erro.

61. Eis a maneira pela qual a alma é castigada: sempre que


o Espfrito se toma um demônio, é obrigado a servir a
Deus e a vestir-se de um corpo fgneo: e quando então
esse demônio entra numa alma muito fmpia, castiga-a
com os flagelos dos pecados; durante esses flagelos, a
alma fmpia se rende a todas as espécies de maldade
humana, tais como assassínios, baixezas, calúnias e a
toda a espécie de violência.

62. Quando, porém, o Espírito entra numa alma devota,

142
conduz-na para a luz da Gnosis; semelhante alma nunca
se cansa de proclamar jubilosamente o louvor a Deus, e
de, à imitação do Pai, fazer o bem de todos os modos
aos homens, tanto em ação como em palavra.

63. Por isso, meu filho, deves dar graças a Deus. orando-lhe
para poder receber um esoírito nobre. Assim a alma se
eleva a um bem superior, e seu declínio se toma impos-
sível.

64. Existe uma comunhão de almas: as almas dos deuses


são ligadas às dos homens, as almas dos homens têm
trato com as dos seres sem razão.
Os seres superiores estão postos acima dos seres inferio-
res: os deuses sobre os homens, os homens sobre as
formas de vida irracionais.
E Deus cuida de todos. Porque Ele é acima de todos; to-
dos soo inferiores a Ele.

65. Assim o mundo está submetido a Deus;


o homem ao mundo;
a vida irracional ao homem,
e Deus está acima de tudo e de todos e envolve tudo em
Seus cuidados.

66. As torças reveladoras ativas de Deus são os raios de Seu


sol. As forças da natureza são as atividades irradiadoras
do mundo. A destreza manual e o impulso para conhecer
são as atividades irradiadoras do homem.

67. As torças irradiadoras de Deus revelam-se mediante o

143
mundo é influenciam o homem mediante os raios natu-
rais do mundo; as forças naturais manifestam-se median-
te os elementos; os homens, mediante suas destrezas
manuais e impulso para o saber.

68. Assim o Todo é governado, conforme a essência do Uno,


cujo Espírito tudo penetra.

69. Não há nada mais sublime e mais ativo do que seu Espí-
rito, nada mais favorece a unificação dos homens com os
deuses e dos deuses com os homens. Seu Espírito é o
bom demônio.
Bem-aventurada a alma que está inteiramente preenchi-
da dEle; infeliz a alma inteiramente despojada dEle.

70. Tat: O que queres dizer com isso, Pai?

71. Hermes: Achas, meu filho, que toda a alma possui o Es-
pfrito do bem? Porque falo agora desse Espfrito, e não do
Espírito inferior do qual acabo de falar, e que, pela justiça
divina, foi enviado para baixo.

72. Sem o Espírito, a alma não pode falar nem agir. Muitas
vezes o Espfrito foge da alma, e, nesta situação, a alma
nada vê e nada ouve, e é semelhante a um animal i"a-
cional: tão grande é a faculdade potencial do Espfrito.
Todavia, o Espfrito não suporta nenhuma alma incapaz
de entender e a abandona aprisionada ao corpo e, por in-
termédio deste, privada de sua voz, aqui em baixo.

73. Tal alma, meu filho, não possui ligação com o Espfrito

144
nem pode tal pessoa chamar-se homem.
Porque o homem é um ser divino, que não deve ser com-
parado a outros seres que vivem na te"a, senão com
aqueles que são do alto, os celestes, que são chamados
deuses.

74. Ou melhor ainda, se ousamos dizer a verdade: o homem


que é realmente Homem. está acima dos deuses. ou é,
pelo menos, absolutamente igual a eles em poder.

75. Pois que nenhum dos deuses celestes abandonará os li-


mites do céu para descer sobre a te"a.
O homem, todavia, eleva-se até o céu e averigua suas
medidas; conhece tanto as sublimidades do céu como as
coisas de baixo; tudo percebe em si mesmo com grande
exatidão e o que acima de tudo é grandioso: para elevar-
-se aos céus, não precisa abandonar a te"a. Tão vasta e
grandiosa é a envergadura de sua consciência.

76. Ousemos. por isso, dizê-lo:


o homem tooestre é um deus mortal,
o Deus celeste é um homem imortal.

77. E porisso, tudo se manifesta mediante estes dois: o


mundo e o homem; porém todas as coisas são do Único.

145
XVIII

BUSCAI PRIMEIRO O REINO DE DEUS

E SUA JUSTIÇA

No décimo-primeiro livro, que analisamos anteriormen-


te, Hermes se dirige a Asclépio apresentando-lhe um quadro
genérico de um grande problema. Problema que diz respeito
a todos os que se sentem impelidos, por necessidade inter-
na, a um auto-restabelecimento e que, portanto, devem son-
dar o sentido mais profundo dessa questão, a fim de que
possam empreender uma ação libertadora.
O décimo-segundo livro prossegue dirigindo-se a Tal.
Este é o homem que, depois de ter alcançado o discernimen-
to, deseja efetivamente iniciar a ação libertadora. Quem, se-
melhante a Tal, quiser trilhar esse mesmo caminho, deverá
compreender bem que, mesmo existindo uma nítida dif~ren­
ça entre as coisas divinas e humanas, não há nenhuma se-
paração fundamental entre Deus e Sua criação, entre Deus e
Suas criaturas.
Não há vácuo entre Deus e Sua criação, pois dEle di-
mana uma radiação, uma irradiação, uma corrente de forças,
que preenche todo o universo. Esta radiação é chamada de
bem ou, então, de bem único, na filosofia hermética. Tam-

147
bém se fala da natureza fundamental. Esse bem único ou na-
tureza fundamental refere-se à atividade divina em sua mais
elevada pureza. O bem único pode produzir somente o bem.
Ele submete-se ao tempo, segundo explica detalhadamente
o décimo-primeiro livro, porém renova-se numa repetição
contínua.
Existe ainda, como sabemos, outro bem. O bem que se
transforma, em todas as situações, novamente em seu opos-
to, o mal. O bem único e o bem que, sempre de novo, con-
vertem-se em seu contrário, pertencem, porém, a única e
mesma natureza. A corrente de forças, proveniente da divin-
dade, que preenche e se irradia por todo o espaço, todo o
universo, é a natureza fundamental que é, portanto, onipre-
sente.
Manifesta-se assim, em todo o universo, uma grande
multiplicidade de naturezas. Porém se quisermos compreen-
der algo do décimo-segundo livro de Hennes, deveremos es-
tar cientes de que existe apenas uma natureza fundamental.
Todas as naturezas que se encontram em conflito com ela
serão fragmentadas e, por fim, reconduzidas à natureza úni-
ca. Esse indescritível pensamento consolador, essa certeza
consoladora, é-nos concedida no início do décimo-segundo
livro.

A corrente divina é indicada pela palavra "natureza",


que abarca tudo o que nasce e cresce. Todos os movimentos
e atividades, quaisquer que sejam, desenvolvem-se com o
auxílio dessa corrente sétupla da natureza divina Atentai pa-
ra o fato de que, segundo o quarto versículo de nosso texto,
a força ativa se diferencia nas coisas divinas e humanas. De-
vemos ter isso nitidamente diante de nossos olhos. Elas não

148
necessitam ser diferentes, porém o são em nosso estado
aluai.
Por que, mesmo existindo uma única natureza funda-
mental, muitas atividades na natureza humana são extre-
mamente lastimáveis e más? Dever-se-ia esperar que tudo
estivesse em perfeita sintonia com essa natureza fundamen-
tal. Como é possível que o contrário se realize tão frequen-
temente?
Para esclarecer esse ponto, deveis entender que a na-
tureza fundamental possui dois aspectos. Hermes os deno-
mina desejo e vontade. Ele diz que a essência da natureza
fundamental é o desejo ou aspiração e sua força ativa, a von-
tade. Comprovai isso em vós mesmos. Todos vós sois origi-
nários da natureza, sois suas criaturas, seres naturais; por is-
so, estão presentes em vós os dois aspectos da natureza
fundamental. Desde vosso primeiro vagido ao nascerdes até
este momento, fostes e sois impelidos por intermédio de de-
terminado desejo, de certa aspiração. Essa é a tônica da na-
tureza, tanto em seus fenômenos divinos como nos munda-
nos.
Sois, na realidade, uma aspiração, um desejo imenso.
Deveis agora realizar, mediante uma vontade que vos impe-
le, semelhante a uma força mágica, tudo aquilo que desejais.
O essencial de vossa natureza é alcançado, ou, pelo menos,
pode ser conseguido por meio da vontade, como força mági-
ca. Esses dois aspectos estão presentes em todas as criatu-
ras; por isso, é absolutamente certo que todos vós sereis
conduzidos à vida libertadora, se vosso desejo, vossa ânsia,
vossa aspiração, sintonizar-se totalmente com o desejo da
natureza fundamental. Se vossa aspiração, vossa natureza
de desejos, vossa lndole de desejos, estiver em harmonia

149
perfeita com os desejos fundamentais da natureza, então ex-
perimentareis, possuireis e percebereis a força para alcançar
o que desejais.
Quando a Bíblia diz: "Não deveis cobiçar", e a Doutrina
Universal fala sobre a ausência de desejo, essas noções es-
tão sempre relacionadas com as diretrizes que divergem do
caráter dual da natureza fundamental e que, por isso, desen-
volvem uma contranatureza• na natureza.

Se podeis agora entender tudo 1sso, deveis penetrar


profundamente no significado daqu1lo que o quinto versículo
esclarece:

Porque o que é Deus, o Pai, o Bem, senão a base exis-


tencial de todas as coisas, mesmo a das que ainda não exis-
tem?

Antes de quererdes algo, deveis primeiramente desejar.


Uma atividade ou uma manifestação sempre segue a vonta-
de, não o desejo, pois este precede a vontade. A vontade de-
senvolve-se mediante o desejo. O desejo é uma radiação as-
tral que carrega em si a idéia, o toque do plano universal.
Essa é a essência de toda a natureza. As forças que se
concentram em vosso corpo astral, estendem-se também em
tomo de vosso coração. A aura do coração é de natureza pu-
ramente astral. Todas as forças, radiações, que circulam em
volta da personalidade, que fluem para dentro e novamente
para fora do fígado, são de natureza astral. Vivemos por in-
termédio das forças astrais; por isso, esse órgão em nosso
lado direito é chamado de "aquele que vive 10: O fígado é
10. Ole Leber (o ffgado) significa l~eralmen1e "aquele que vive". Em várias Un-
guas, a mesma palavra indica o c~ado órgão do corpo.

150
a porta de entrada para as forças astrais em nosso organis-
mo material. Toda a vossa natureza de desejos, tudo o que
aspirais, é proveniente de vosso corpo astral e nele toma
forma. Eis por que o desejo é uma radiação astral, a essên-
cia da natureza. O desejo é o que ainda está incompleto,
pois o que é pleno já não necessita ser desejado, porém
apenas ser conservado.
Quando alguém se sintoniza com o ser, com o desejo
da natureza fundamental, quando vós, como alunos da Es-
cola Espiritual da Rosacruz Áurea, harmonizais-vos com o
campo astral puro e sereno do corpo vivo, absorveis total-
mente a qualidade fundamental, pura, da natureza em vosso
ser. Ao mesmo tempo, sois providos de uma força poderosa,
uma força pentecostal, que vos colocará em condições de
realizar o que desejais, pois, depois do desejo, segue a von-
tade! Então, entrais em contato com o aspecto libertador voli-
tivo da natureza fundamental: portanto, é dito, por exemplo,
no Prólogo do Evangelho de João: "A todos os que O acei-
tam, dá-lhes o poder de novamente se tornarem filhos de
Deus".
Logo que vosso ser se sintonizar com o ser da natureza
fundamental, logo que vossa aspiração estiver em harmonia
com isso, recebereis a força para vos tornar novamente filhos
de Deus.
Isso tudo encerra, é claro, um ensinamento de suma
importância para todos os que querem trabalhar na vinha do
Senhor, para todos os que de uma ou outra fonna desejam
servir à Escola Espiritual. O obreiro somente recebe a força
para consumar sua tarefa, a força para poder levar a bom
termo a sua missão quando, com todo o seu ser, sintoniza-se
inteiramente com a natureza fundamental e se une com a

151
essência desta mesma natureza. Cada Tat deve ter isso bem
nitidamenté diante dos olhos.
Da mesma forma, deveis compreender as palavras do
Sermão do Monte: "Buscai primeiro o reino de Deus e Sua
justiça e todas as outras coisas vos serão acrescentadas". Se
confundirdes esses dois aspectos, nunca chegareis ao míni-
mo resultado, nunca alcançareis o alvo: vosso trabalho esca-
pará por entre os dedos.
Outro aspecto dessa verdade é a possibilidade de se
poder explicar agora completamente todas as tensões em
vosso ser. Quantos de vós não se encontram, de tempos a
tempos, em meio das mais violentas tensões internas? Po-
deis explicar essas tensões neste momento, e também as
muitas tensões que se desenvolvem em nosso campo de vi-
da, em nossa vida social. Sabeis também que cada tensão
deve conduzir à explosão em determinado instante. Podeis
evitar ou eliminar totalmente todas essas tensões em vossa
vida privada e também na vida de vosso círculo e de vosso
grupo, assim como as explosões daí deoorrentes.
Tentamos esclarecer-vos que, devido a vosso ser, sois
oompletamente unos com a natureza. Toda a vossa existên-
cia, também enquanto microoosmo, pode ser explicada a par-
tir desta natureza; por isso vossa natureza possui também os
dois aspectos: o desejo e a vontade, o ser e a atividade. Sem
a natureza fundamental e seus dois aspectos, não seríamos
nada. Quando vosso ser, isto é, vosso desejo, vossa aspira-
ção, desvia-se do princípio da natureza fundamental; quando
vossa aspiração não se enoontra em harmonia com o ser da
natureza fundamental, desenvolve-se imediatamente uma
. tensão. Quando, pois, perseverardes em vossa falsa orienta-
ção, a tensão se tornará maior a cada hora e, por fim, ooor-

152
rerá a explosão, o conflito aberto em vosso próprio ser ou
com terceiros.
Isso tudo é cientificamente evidente, principalmente se
compreendemos que o desejo é uma atração e a vontade,
uma irradiação. A natureza fundamental atrai também para
si, por meio de seu ser, todas as criaturas e é, por isso, indi·
cada na filosofia Rosacruz como "mãe" ou "matriz".
A natureza fundamental atrai para si todas as criaturas,
a fim de que elas se manifestem providas com o pensamen-
to fundamental. Se, porém, a criatura resiste, nasce natural-
mente uma tensão, que cresce em conseqüência de uma lei.
Quando o limite máximo é alcançado, segue-se irrevogavel·
mente a explosão. Dessa forma, as coisas rompem-se, e es-
sa ruptura é a essência da morte, o declínio da força desvia-
da. O que resta volta ao fundamental, sendo assim atraído
novamente. Pode-se portanto dizer que, por muito ou pouco
tempo que isso possa durar, a natureza fundamental sempre
sairá vitoriosa: no final, somente o bem único triunfará.

O tipo do campo de criação também pode ser comple-


tamente determinado. Na ignoráncia, ouve-se pessoas reli·
giosas segundo a natureza dizerem que Deus tudo criou e
que, portanto, tudo o que foi criado deve ser conservado. Es·
te é um grande e triste engano. Por isso, o versículo 7 diz
com ênfase:

Não digo, ó Ta~ que Ele, Deus, tudo faça Porque quem
faz alguma coisa falha, de vez em quando, pela instabilidade
da qualidade e da multiplicidade, ou por fazer uma vez isto e,
outra vez, coisa inteiramente diferente. Deus, porém, o Pai, o
bem, é Ele mesmo a existência do Todo.

153
Hermês deseja com isso deixar claro a Tat que os fe-
nômenos universais, a onimanifestação, não se consuma au-
tomaticamente, não deixa em aberto somente uma possibili-
dade, um caminho. Não, a criatura que em determinado mo-
mento se torna consciente de possuir duas forças fundamen-
tais pode sair por diversos lados. Quando a Gnosis vos
transmite seu conselho, seu conselho de amor, podeis se-
gui-lo. Podeis também não fazê-lo. Podeis sempre reagir de
diversas formas, porém o resultado final se mostrará se o
que foi efetuado está em sintonia com a natureza fundamen-
tal ou se a ela se opõe.
Se este último for o caso, desenvolver-se-á uma tensão,
uma explosão. Então se desenvolverá a essência da morte.
Os perigos e possibilidades aí contidos são, como é compre-
ensível, tão grandes e poderosos que desejamos vo-los mos-
trar com maior clareza e aprofundar-nos nesse assunto.

154
XIX

A SANCTA DEMOCRATIO

Desde os tempos imemoriais, a Gnosis de Hermes vem


a nós e nos esclarece acerca da assim chamada Sancta
Democratio (Democracia Sagrada). Sobre ela, consolidaram-
-se possibilidades idênticas para todos desde o princípio da
manifestação universal na natureza fundamental. Se se pode
falar em direitos de liberdade do homem, esses sã::> encon-
trados na Gnosis* de Hermes. A essência da natureza fun-
damental e suas qualidades, portanto o desejo e a vontade,
existem em todos a fim de conceder a idéia e a força a cada
criatura e de tomá-la participante do estado superior da hu-
manidade divina.
É completamente impossível não realizar a grandiosa
graça de Deus, por muito tempo. Cada um de nós pode tra-
balhar na própria realização por intermédio da essência e da
qualidade da natureza fundamental. Se, no final, o que foi
realizado revela uma natureza obstaculizadora ao plano fun-
damental, desenvolve-se uma tensão e uma correção, como
falamos anteriormente.
Cada erro surge na fonte, na luz do dia. Em sua essên-
cia, pode-se denominar a Sancta Democratio um milagre. Na
senda da auto-realização, a oposição causa auto-retificação,

155
segundo um processo lógico, de modo que a auto-realização
final se mantém inabalável. Quem compreende isso, entende
a confissão de Tat quando ele diz:

Tu nos preencheste, ó Pai, inteiramente desta gloriosa


e bela visão, de maneira que os olhos de meu Nous, graças
a essa diretriz. aproximou-se da santificação.

A natureza fundamental é o Verbo, que tudo envolve


e interpenetra, que é desde o princípio: o Verbo que o Prólo-
go do Evangelho de João diz:

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com


Deus, em Deus e de Deus. E sem esse Verbo
nada do que foi feito se fez. Nesse Verbo", nes-
sa natureza fundamental, "está a vida, a única
vida, e a vida é a luz dos homens".

Essa vida deve ser ou tornar-se vossa. Compreendeis,


sentis, que esse grande poder, que se faz reconhecível em
vós, mesmo que tão distorcido em suas exteriorizações, é o
poder divino do princípio em vós? Toda a vossa essência,
como dissemos, é um desejar e querer dinâmicos: o funda-
mento divino no ser de todos os homens. Esse poder divino
é, portanto, reconhecível em nós e infinitamente mais direto
do que, por exemplo, o mundo ou o sol. O décimo-segundo
livro de Hermes esclarece-nos que o mundo, o mundo sagra-
do, e Vulcano, a luz espiritual, que se encontra por trás, pro-
vêm também do Pai e como tal são igualmente divinos, po-
rém, o versículo 5 diz:

... porque se bem que o mundo e o sol sejam co-gera-

156
dores de seres viventes, não são, por isso, para eles, na
mesma medida que Deus, a causa do bem e da vida.

O mundo, o sol e os outros corpos celestes absolutos


sãJ, como é evidente, a conclusão, o produto do bem único,
da natureza fundamental. Como se poderia, portanto, situar o
mundo gerado a partir da natureza fundamental acima da
própria natureza fundamental, com a qual podemos entrar
em contato pessoal e corpóreo? Isso seria sempre irracional
e, além do mais, incorreto.
O mundo é, na verdade, a mãe de todos nós - nasce-
mos e crescemos nele - todavia no mundo, em todo o seu
conjunto, encontram-se inumeráveis desenvolvimentos em-
brionários, campos espectrais e subumanos. Pensai, por
exemplo, em nossa natureza da morte. De todos esses de-
senvolvimentos embrionários partem influências opositoras.
Pensai em tudo o que fervilha ao redor do Mediterrãneo!
Pensai ainda nas tensões que se desenvolvem atualmente
na antiqüíssima Europa. De todos esses povos, raças e gru-
pos partem radiações muito opositoras.
Inúmeros ainda não se encontram em equilíbrio com
a Santa Democratio. Incontáveis ainda não compreendem a
esséncia da Sancta Democratio; portanto, não podem ainda
viver em equilíbrio com a natureza fundamental. Quando eles
recorrem também a grupos, raças e povos e se dirigem à
multiplicidade de idéias, incorrem indubitavelmente em grave
erro. Em outras palavras: do mundo, como campo de nasci-
mento e desenvolvimento dos filhos de Deus, dos compa-
nheiros da onda de vida humana, partem radiações que, por
um lado, pertencem ao bem absoluto, e, por outro, são de ca-
ráter opositor. Além disso, a radiação do mundo está relacio-

157
nada com o sol e alguns corpos celestes que possuem seus
próprios campos de desenvolvimento, e em muitos desses
corpos desenvolve-se também o maior dos problemas.
Existe em nossa natureza, em nosso estado de vida,
terrível emaranhado de influências, isto é, de nosso próprio
mundo, dos habitantes de nosso planeta e de miríades de
outros corpos celestes. Tudo isso é extraordinariamente
complexo e confuso.
Hermes tenciona dizer que um desenvolvimento oposi-
tor sobre qualquer planeta do Sistema Solar também exerce
grande influência sobre as radiações de todos os outros pla-
netas desse mesmo sistema, bem como sobre o sol desse
sistema. Por isso, Hermes diz que a luz do sol pode cegar os
olhos.
Para evitar todas essas dificuldades pelas quais uma
criatura é sempre vitimada, quando entra em contato com
elas, faz-se presente desde o princípio a natureza fundamen-
tal, o Verbo, a vida e a luz. Em sua essência, encontra-se en-
cerrado o inteiro plano do devir, a inteira idéia fundamental
como um poderoso desejo atrativo.
Além disso, existem, na natureza fundamental, uma ati-
vidade, uma vontade, uma força para a realização; portanto,
para a vida, e essa vida é uma luz inabalável. É a luz para a
qual todos nós somos chamados, a luz do estado humano
divino. Não é um pensamento magnífico, consolador, que, no
meio dos variegados torvelinhos das coisas, no meio de in-
contáveis radiações que se precipitam sobre nós, esteja ocul-
ta em nós uma dupla unidade divina, que nos pode colocar
em contato com a própria natureza fundamental? Não é
magnífico possuir esse tesouro imensurável fora de toda es-
sa miríade de influências, fora de todos esses perigos, fora

158
de todas essas radiações de incontáveis desenvolvimentos?
Talvez, compreendais agora ainda melhor o grito de alegria
de Tat:

Tu nos preencheste, ó Pai, inteiramente desta gloriosa


e bela visão, de maneira que os olhos de meu Naus, graças
a essa diretriz, aproximou-se da santificação.

E Hermes acrescenta:

... tal visão interior do bem não é como a ígnea radia-


ção do sol, que cega os olhos com sua luz. A contemplação
interior opera de modo iluminador, e isto tanto mais à medida
que se seja receptível ao influxo da radiação que dá enten-
dimento. Ela opera em nós no imo e com grande força, nun-
ca causando dano e está totalmente repleta de divindade.

Não é este o sublime Evangelho de Pentecostes que


devemos trazer-vos? Que infinidade de coisas há a nossa
volta que nos cega e pode cegar-nos, que nos obstaculiza e
se nos opõe! Que conseqüências extremamente intrincadas e
deploráveis isso tudo pode ter! Podeis libertar-vos disso dire-
ta e totalmente. Podeis despedir-vos disso tudo definitiva e
completamente, pois, tendes o Verbo, a vida e a luz muito
perto de vós, a vossa volta e em vós. O Prólogo, aparente-
mente abstraio, do Evangelho de João é tão concreto como
só ele é capaz de sê-lo. A natureza fundamental em sua total
pureza entra em contato com todos os alunos por intermédio
do corpo vivo da jovem Gnosis.
Com essa realidade concreta, a Escola se dirige a vós
para que logo possais participar disso. Participais disso,
quando desejais dar início à nova atitude de vida. Libertai

159
vosso pensamento, vossa consciência cérebro-racional, das
oposições e· especulações e renovai assim o movimento re-
trógrado.
Há ainda mais, e o versículo 11 de nosso texto dirige
nossa atenção para isso. Se compreendeis realmente a idéia
que foi aqui desenvolvida para vós (não queremos dizer com
isso, um entendimento intelectual, pois isso é possível a
qualquer um que disponha de uma consc1ência cérebro-racio-
nal), se essa verdade e realidade grandiosa e magnífica vos
tocam, agitam e animam todas as fibras de vosso ser, então,
segundo Hermes, chegareis, num silenciar geral do corpo, a
uma belíssima contemplação, assim como ocorreu com nos-
sos ancestrais Uranos e Cronos.
Com a expressão "Uranos e Cronos" são indicadas as
sublimes forças da luz, oom que o tempo e a eternidade es-
tavam ligadas, numa bela unidade, e que, no final da era
atlante, na aurora da dispensação* ariana, entraram em con-
tato com a humanidade. Trata-se aqui das manifestações
espirituais divinas que foram criadas e formadas por essas
entidades há muitos milhões de anos. Esses semeadores ou
"saturnais" (Cronos: Saturno) trouxeram a semente áurea pa-
ra a nova humanidade manifestada. Esses semeadores que
se encontravam no mundo porém já não eram do mundo
possuíam um corpo, porém podiam atuar fora dele, a fim de
testemunhar, em primeira mão, da magnífica visão da majes-
tade da natureza fundamental aos que ainda permaneciam
fora dela.
O movimento retrógrado deve partir do pensamento.
Vosso pensamento, vossa atividade cérebro-racional, deve
ser totalmente purificado e colocado em equilíbrio com a
idéia fundamentaL Toda a confusão, todas as impurezas, to-

160
da a crítica, tudo o que é mundano em vosso pensamento,
deve desaparecer do órgão mental e funcional em vosso san-
tuário da cabeça, e sobre a base desse pensamento purifica-
do, o movimento retrógrado pode ser encetado.
Se em concordância com vossa vocação, pensais de
maneira pura, no mesmo momento, inflama-se vosso corpo
astral em sintonia com vossa mentalidade. O corpo astral
reage em questão de segundo a cada um de vossos pensa-
mentos. Como relâmpago, cada pensamento provoca um fo-
go imenso em vosso corpo astral. Por meio do corpo astral, o
corpo etérico é colocado em determinado estado, em sintonia
com a qualidade do corpo astral. Os éteres são liberados e
penetram todo o vosso organismo material, todos os órgãos,
todos os fluidos, até o sangue; e quando vosso sangue se
encontra carregado com os resultados de vossos relâmpagos
mentais, o sangue flui novamente por meio de todas as cé-
lulas dos nervos cerebrais e transporta, de novo, aquilo que
vós mesmos desencadeastes em vosso centro cérebro-
-racional.
Percebeis o movimento retrógrado? Pensamento, corpo
astral, corpo etérico, corpo material, sangue, e pelo sangue
outra vez para o santuário da cabeça! Assim, o movimento
retrógrado fecha seu ciclo. Esse ciclo, esse movimento retró-
grado, pode, se dirigistes vosso pensamento totalmente para
a terra, ser uma muralha para vós, um cárcere impenetrável.
Quando, porém, purificais vosso pensamento, quando
aprendeis a pensar de maneira pura, nobre, em sintonia com
a natureza fundamental, derribais as muralhas do cárcere. As
muralhas desmoronam-se e vós permaneceis em liberdade.
Então, saís de vosso antigo cárcere para uma magnífica con-
templação, pois não obtivestes vossa massa cerebral, esse

161
organismo ll)aravilhoso, para vos dirigirdes totalmente para o
que é terreno e para carregar vossa cabeça com todas essas
roisas inúteis da natureza dialética Recebestes vosso orga-
nismo cerebral para que ele servisse de base para a efusão
do Espírito Santo, para a consumação da festa de Pentecos-
tes, compreendeis isso? Quem purifica o movimento retró-
grado em seu sistema e desse modo abre-se para a natureza
fundamental, entra organicamente em ligação com ela. E as-
sim como vemos a natureza exterior com nossos olhos, as-
sim também essas pessoas contemplam a natureza interna,
verdadeira.
Compreendereis que essa visão nada tem a ver com a
visão da esfera refletora, porque a esfera refletora nada mais
é do que o canal de escoamento, a lata de lixo, da natureza
dialética. O entrar em contato íntimo com as forças gêmeas
da natureza fundamental traz sempre e imediatamente um
despertar interno, novo e orgãnico. Essa é a assinatura para
e do verdadeiro discipulado, do discipulado do bem único.
Assim também entenderemos o desejo de salvação de Tat:
"Possa assim se dar também conosco!"

162
XX

DE ALMA VIVENTE A ESPÍRITO VIVIFICANTE

O entrar em cantata íntimo com as forças gêmeas da


natureza fundamental significa sempre um despertar interno,
novo e orgânico-sensorial. Então, surge o discipulado do bem
único. Porém, esse discipulado e as qualidades que dele re-
sultam serão impossíveis enquanto o candidato não for ca-
paz de ingressar no silêncio. Essa entrada no silêncio consti-
tui nova fase do discipulado. Fase que se inicia quando de-
saparece toda a preocupação inquietante de orientação, de
continua reflexão e de conflitos no caminho. Somente então
se desenvolve a capacidade para o novo despertar orgânico-
-sensorial. Somente então se eleva a assim chamada "voz do
silêncio". Por isso, Hermes diz:

... porque a Gnosis do bem é tanto silêncio divino co-


mo o silenciar de todos os sentidos.

A natureza fundamental é um silencio constante e man-


tém uma corrente inalterável de seu ser, que é o desejo, e de
sua vontade, que é a atividade.
O desejo compreende toda a idéia de Deus, o inteiro
plano de manifestação do Pai, a sabedoria absoluta, e a ati-

163
vidade dessa corrente manifesta-se em imagens, em formas-
pensamentoS que a idéia anima. É a realidade superior do
pensamento divino, dos pensamentos de Deus, que devem
ser realizados por homens perfeitos. A natureza fundamental
fala, por assim dizer, ao candidato. Por isso, o Prólogo do
Evangelho de João dá testemunho "do Verbo". O Verbo divi-
no não é nenhuma língua escrita ou impressa, compilada por
um concílio clerical por meio de muita discussão e debates.
O Verbo divino é a voz da natureza fundamental.
Não precisais admirar-vos, pois todos vós sois capazes
de realizar isso. Quando pensais, vossos pensamentos mani-
festam-se em imagens. Quando pensais numa árvore, numa
flor, numa planta ou numa pessoa, forma-se simultaneamen-
te a imagem respectiva na aura de vosso santuário da cabe-
ça. Por intermédio dessas imagens-pensamentos podeis ex-
pressar-vos. Podeis entrar em contato com outras criaturas
mediante o simples intercámbio de imagens-pensamentos.
Esse é "o Verbo" a que nos referimos aqui. O Verbo di-
vino é a voz da natureza fundamental. O pensamento divino
atua em conjunto com a natureza fundamental, e assim nas-
ce toda uma série de imagens do pensamento divino. Essa
voz, esse Verbo, somente pode ser entendido no silêncio.
Não penseis que nos referimos aqui a uma meditação
ou a uma concentração ou à prática de um ou outro exercício
de ioga ou a uma contínua vida de oração. Trata-se aqui do
silêncio interior absoluto de todo o ser que, eventualmente,
ocupa-se com a execução do trabalho cotidiano comum. Tal
silenciar somente pode desenvolver-se a partir do movimento
retrógrado renovado a que já nos referimos, que é possível
apenas mediante uma nova atitude de vida: adquirir uma al-
ma, a partir do desejo de libertação. Tendo como base tal

164
essência-alma, renovar o pensamento por meio do sangue,
isto é, sobre o fundamento do estado anímico puro, introduzir
a consciência cérebro-racional na limpidez e na pureza, na
autonomia, na ausência de crítica, na harmonia de vida e no
amor.
Então, o Nous, termo pelo qual Hermes designa o vín-
culo entre cabeça e coração, desperta-se no santuário do co-
ração e da cabeça, e esse sistema experimenta um profundo
repouso interior. Recebe-se, assim, sensório-organicamente,
o silêncio ilimitado da natureza fundamental.
Nesse silêncio, o fogo do corpo astral é inflamado com
serenidade. Desaparece a fúria do fogo astral, com todas as
suas conseqüências. A aura em volta do coração, disso dâ
provas. O corpo etérico é inflamado e animado a partir do
corpo astral, por meio desse novo estado. Os quatro éteres
santos liberam-se em forma de quatro alimentos santos que
sustentam o inteiro corpo material, todos os seus órgãos in-
clusive o sangue, com o silêncio recém-nascido, com a paz
interna. Assim, o inteiro ser torna-se maduro para a percep·
ção da voz do silêncio, para o Verbo da natureza fundamen-
tal dupla. E sem que nada preciseis falar sobre isso, vós ve·
reis, reconhecereis.
A compreensão interior não é nenhum conflito. Quando
preparardes vosso ser, entendereis a voz do silêncio. Então
reconhecereis Aquele que deseja ser reconhecido. E em sin·
tania com isso, orientareis o leme de vossa vida, pois quem
vive desse estado de ser.

Quem uma vez encontrou a Gnosis do bem, já não po-


de dar atenção a nenhuma outra coisa Quem uma vez a
vislumbrou já não pode ter olhos nem ouvidos para outra coi·

165
sa, porque ~té seu corpo participa da imobilidade. Porque
enquanto todas as percepções e estfmulos corpóreos desa-
parecem de sua consciência, ele permanece na quietude.

Ele permanece, em meio da grande agitação da nature-


za da morte no Silêncio fundamental.

Quando então a Gnosis ilumina a consciência toda, faz


arder inteiramente de novo a alma e a eleva, porque a desata
do corpo. Assim ela transforma o homem inteiro em sua na-
tureza essencial, porque a divinização da alma, que acompa-
nha a contemplação da beleza do bem, não pode cumprir-se
no corpo mortal.

Observais, daí, que a nova atitude de vida deve ser


considerada como extraordinariamente fundamental. Se de-
sejais avançar na senda, se desejais realmente participar da
libertação (pois para isso entrastes na Escola Espiritual), pra-
ticai então zelosamente o movimento retrógrado. Purificai
vossa consciência cérebro-racional com base no coração,
com base na alma, e entrareis processualmente no silêncio.
Quando atingirdes a serenidade, a luz iluminará vossa alma,
elevá-la-á, recriá-la-á e a introduzirá no ser divino.
Assim voltamos à base do devir da alma. Somente a
alma vivente pode prosseguir rumo ao Espírito vivificante,
rumo à divinizaçãJ, como diz Hermes. Em primeiro lugar, a
alma deve sintonizar-se com a natureza fundamental e dela
participar. Então, é possível unir a alma com o Espírito e fes-
tejar as núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz; por is-
so, a grande tarefa do aluno consiste em, primeiramente,
conduzir a alma mortal, a alma que peca, ao renascimento e

166
do renascimento à divinização. O grande problema da divini-
zação deve ocupar-vos todos, pressupondo que já conheçais,
todavia, o renascimento da alma.
Cada alma separada, assim diz Hermes, sofre altera-
ções da forma. Deveis atentar para o fato de que essas
transmutações podem desenvolver-se tanto ascendente co-
mo descendentemente. Para restringir o desenvolvimento
descendente da alma, existe o caminho, anteriormente des-
crito, da tensão e da dissolução. Tão logo as movimentações
de vossa alma e, por conseguinte, vossa mentalidade e todo
o movimento retrógrado desviem da natureza fundamental,
desenvolver-se-à em vossa vida uma tensão que aumenta
até o momento em que devido à lei ocorre a explosão. De-
pois, podereis, provavelmente, iniciar tudo de novo. Dessa
forma, o desenvolvimento descendente da alma é mantido
dentro dos limites da lei, não com a intenção de punir-vos,
porém de incluir-vos sempre de novo no processo e propor-
cionar-vos a oportunidade de começar novamente. Quantas
vezes, nós, como microcosmos, já recomeçamos'
Tomamos, portanto, finalmente, com base em nossas
próprias dolorosas experiências a esse respeito, a decisão de
realizar essa outra transmutação da alma, isto é, na direção
ascendente, fundamentada no renascimento.
Deveis perscrutar muito bem o mistério da alma, se de-
sejais trilhar a senda com sucesso. Hermes esforça-se ao
máximo também no décimo-segundo livro para esclarecer,
desvendar, esse mistério a Tat.

Todas as almas, assim diz ele, dimanaram çia alma-


única, a alma universal. Elas revoluteiam no mundo todo,
como que semeadas nos lugares que lhes foram atribuídos.

167
Essas almas experimentaram muitas mudanças, umas em
ascensão plena de graça, outras ao contrário disso.

Uma explicação torna-se necessária para compreender


o nascimento da alma, uma explanaçá:l mais ou menos
dogmática, acadêmica. Podeis contudo acompanhá-la com o
auxílio dos conhecimentos que possuís. Na verdade, uma
alma nada mais é do que um microcosmo. Sabeis que a
Gnosis ensina que a rosa do coração, o núcleo-alma, é o
ponto central do microcosmo. Essa rosa do coração não é
esse ou aquele órgão secretíssimo do corpo, porém, o ponto
matemático exato correspondente ao centro da esfera micro-
cósmica. Em volta desse ponto central, desse núcleo-alma,
encontra-se um campo de manifestação, um espaço livre
que, por sua vez, é envolvido pelo ser aural sétuplo.
Pensai num átomo. Todo o átomo contém um núcleo e
em volta desse núcleo movimentam-se inúmeros elétrons,
como os planetas em torno do sol. Assim, o átomo' micro-
cósmico possui um núcleo e um campo de radiação desse
núcleo, o campo de manifestação em volta do qual se movi-
mentam o que se poderia denominar sete planetas micro-
cósmicos, o ser aural sétuplo. A personalidade desenvolve-se
nesse espaço livre, no campo de irradiação em torno do nú-
cleo do átomo micrósmico. O núcleo ou a alma do micro-
cosmo une-se com o coração da personalidade, e assim, po-
de-se também falar da alma da personalidade ou da alma
que está no sangue, pois a força de radiaçá:l da rosa não se
desenvolve somente no coração, mas também no sangue.
Tudo isso tem dado, freqüentemente, motivo à confu-
são. Na realidade, há uma força animadora em nossa perso-
nalidade; todavia, essa força provém do núcleo do microcos-

168
mo. Além disso, os fatores hereditários também têm influen-
cia no sangue e na secreção interna. E tudo o que está ar-
mazenado no microcosmo como karma provém do ser aural
sétuplo e nos penetra.
A seguinte pergunta deve ser respondida agora: como
um microcosmo vem à existência? De onde ele é criado?
O microcosmo é gerado a partir da natureza fundamen-
tal a que já nos referimos. A natureza divina, como já vimos,
é semelhante a uma corrente dupla, uma corrente de ser e
vontade, de desejo e atividade. Essa corrente não é Deus,
todavia provém dEle. Essa corrente dupla, onipresente, onia-
barcante da natureza fundamental é um campo astral pode-
roso e ígneo que preenche todo o universo.
Sabeis que o homem com seu pensamento racional in-
flama o próprio corpo astral. Quando gerais imagens-pensa-
mentos, estas desenvolvem determinadas atividades astrais
em vosso corpo. Esse abrasamento provoca uma centelha no
corpo astral com todas as conseqüências do movimento re-
trógrado. Talvez possais perceber agora como o pensamento
divino, que permanece fora da natureza fundamental, faz vi-
brar e arder o poderoso campo astral da natureza fundamen-
tal com seus pensamentos. Assim, desenvolvem-se cente-
lhas, flamas astrais, na natureza fundamental. Dessa forma,
uma onda de vida é chamada à existência, despertada e ma-
nifestada mediante o pensamento divino. Por isso, os micro-
cosmos também são denominados "centelhas divinas" ou
'centelhas do Espírito".
Um microcosmo é, portanto, uma centelha astral des-
prendida da natureza fundamental. Estamos ligados mui in-
timamente com a natureza fundamental. Um microcosmo,
uma centelha espiritual, traz consigo todas as qualidades da

169
natureza t.undamental, pois dela provém. Mediante o desejo
e a vontade do campo materno, os éteres são liberados den-
tro dessa centelha, pois por trás da centelha age o pensa-
mento divino que inflama o campo materno. Uma onda de
vida surge, como explosão. do fogo astral na onimanifesta-
ção, e cada uma dessas centelhas arde com o pensamento
divino. Os éteres liberados dessa centelha concentram-se em
torno do núcleo do átomo microcósmico, da rosa, da alma do
microcosmo.
Nessa concentração etérica em volta da rosa, surge
uma manifestação da forma, um sistema de linhas de força,
que se estrutura segundo uma forma humana. O pensamento
de Deus é revelado em volta da rosa mediante todo o pro-
cesso. A nuvem etérica estrutura-se segundo uma reflexão
da idéia fundamental presente no campo materno. E assim
aparece a figura glorificada e etérica do verdadeiro homem-
-alma original, em que a alma ou núcleo da natureza materna
se reflete.
Quando todo esse processo desenvolve-se em relação
harmoniosa com o pensamento divino inflamado pela cente-
lha, esse pensamento também está ligado com o núcleo-al-
ma e com o ser etérico-material. Dessa forma, a partir desse
momento, a alma e o Espírito encontram-se inteiramente
unidos no pré-homem. Assim a alma adãmica vivente pode
continuar a avançar para um bem sempre superior e tornar-se
finalmente um ser espiritual vivificante.

Possa tudo isso dar-vos uma idéia de como um micro-


cosmo é gerado e como de tal microcosmo o homem se de-
senvolve mediante um processo totalmente diferente de nas-
cimento e reprodução.

170
Podereis agora facilmente verificar quanto esse magní-
fico processo divino se encontra perturbado em relação ao
homem, pois sua personalidade deve nascer por intermédio
do processo de reprodução terrestre e ser ligada a um micro-
cosmo vazio e impotente. Tenta-se restabelecer temporaria-
mente a antiga existência com o auxílio do sistema da or-
dem' de emergência tão conhecido por nós todos. Além dis-
so a figura etérico-material original do homem-alma é subme-
tida a vários processos de cristalização. Ela forma, juntamen-
te com o microcosmo que a envolve. um débil reflexo da in-
tenção original do Logos. Por isso ressoa o chamado: "Voltai,
ó filhos do fogo!"
Não sois um filho do fogo? A centelha divina original
não vos impele? Então, voltai, ó filhos do togo! E aproveitai
vosso tempo!

171
XXI

OS SETE PERÍODOS DE CRIAÇÃO

Assim, vemos claramer:~te, conforme deveríamos espe-


rar, de que forma é gerada uma onda de vida de almas a par-
tir da natureza fundamental, mediante um movimento do
pensamento divino. Almas que sl'Kl centelhas de natureza as-
tral e que constituem os núcleos de idêntico número de mi-
crocosmos.
Antes que um ser divino-humano possa habitar tal sis-
tema microcósmico e aí se manifestar, o microcosmo que
acabou de se separar da substância original e, portanto, tam-
bém o núcleo-alma correspondente, são submetidos a várias
transformações.
Talvez vos seja conhecido o fato de que a transfigura-
ção inicia-se após o assim chamado renascimento da alma.
Essa transfiguração compreende, em primeiro lugar, um res-
tabelecimento daquilo que foi cristalizado e corrompido no
microcosmo. Quando então esse restabelecimento tomou-se
um fato, a transfiguração prossegue em mutação continua de
força em força e de glória em glória. Por isso, é igualmente
lógico afirmar que a parte da onda de vida a que pertence-
mos tenha conhecido formas microcósmicas inteiramente di-
ferentes na pré-história, antes que ingressássemos em nosso

173
atual estado de ser, pois, assim que as centelhas espirituais
são criadás, elas experimentam muitas mudanças, umas em
ascensão plena de graça, assim diz Hermes, outras, ao con-
trário disso.
Perscrutemos agora de que maneira se pode desenvol-
ver semelhante resistência, qual a sua causa, quais são as
conseqüências e em que direção pode ser encontrada a so-
lução.

Os incidentes, que possibilitaram o desenvolvimento de


uma resistência e cujas conseqüências nós ainda temos de
suportar, encontram-se na pré-história.
As antigas narrativas falam, em primeiro lugar, do as-
sim chamado período de Saturno; em seguida, do período
solar; depois, do período lunar, e finalmente do período ter-
restre. Cada um desses períodos com sete rondas ou épocas.
No período terrestre, no qual nos encontramos atualmente,
passamos pnmeiramente por uma ronda que é conhecida
como época hiperbórea; depois, pela época lemuriana; então,
seguiu-se o desenvolvimento da terceira ronda de nosso pe-
ríodo terrestre, a época atlante, e agora nos encontramos no
meio da época ariana. Portanto, temos atrás de nós, três
rondas e meia do período terrestre e já estamos ocupados
com sua segunda metade.
Podeis ler a respeito de tudo isso na cosmogonia de
Max Heindel ou nos textos antropossóficos bem conhecidos
por vós. Os ensinamentos de Max Heindel são, decerto, tam-
bém antropossóficos, pois ele era aluno de Rudolf Steiner.
Possuímos um exemplar da primeira edição americana de O
Conceito Rosacruz do Cosmos onde se acha uma dedicató-
ria no frontispício, escrita pelo próprio Max Heindel a seu

174
mestre Rudolf Steiner. Também podeis encontrar essas coi-
sas na Doutrina Secreta de Madame H. P. Blavatsky, onde,
além disso, são descritos muitos tipos raciais antigos numa
quantidade abundante de formas e estados.
Sobre todas essas transformações da alma, Hermes diz
no versículo 20:

Os répteis se transformam em habitantes da água: os


habitantes da água, em habitantes da terra: os habitantes da
terra, em seres do ar; os habitantes do ar. em homens. As
almas humanas, finalmente, entram na tmortalidade, trans-
formando-se em demónios, ascendendo ao coro dos deuses.

Não vos deveis atemorizar devido à palavra "demônio",


pois o sentido original da palavra demônio é: principio astral.
O texto hermético tenciona, portanto, dizer que as almas
humanas, que se tornam participes da imortalidade, são
transformadas em forças ígneas que, finalmente, adentram o
coro dos deuses. Hermes observa ainda que antes de ser al-
cançado o estado de deus imutável, trata-se ainda de deu-
ses• movíveis ou mutáveis em desenvolvimento, porém, o es-
tado de imutabilidade é a mais perfeita e a suprema magnifi-
cência.

Essa enumeração de Hermes faz-nos pensar muito


acerca da teoria da ciência material que, como o sabeis, pro-
cura demonstrar que há desenvolvimento evolutivo a partir do
réptil até o ser humano, todavia confessa sempre que falta
ainda um elo na suposta argumentação. Hermes, porém, re-
fere-se a algo totalmente diverso com sua enumeração. Ten-
taremos esclarecê-lo.

175
Quan~o a centelha-alma é criada- e pode falar-se, por-
tanto, de um microcosmo - e a estrutura de linhas de força
do tipo etérico-material em redor do núcleo da alma se mani-
festa, a alma não é ainda capaz de uma orientação, de uma
escolha ou de uma resolução nesse estado jovem do micro-
cosmo. Existe, com efeito, uma atividade, porém uma ativi-
dade num estado ainda mais ou menos caótico. São fenô-
menos de descargas astrais que adentram, então, o micro-
cosmo sem que se possa falar propriamente de consciência.
Trata-se apenas de uma força no microcosmo, que se deve
manifestar naturalmente. Pode-se comparar então essa pri-
meira manifestação com um animal rastejante, deslizante,
com o corpo sibilante de uma serpente no qual um desejo
secreto e obscuro impele à revelação. A centelha-alma não é,
a princípio, nenhum réptil, nenhum animal rastejante, no en-
tanto, deve ser comparado a esses segundo a possibilidade
de revelação. Destarte poderia dizer-se que a centelha-alma
não possui ainda quaisquer órgãos para suas irradiações, ór-
gãos que se possam manifestar racionalmente. Existe, como
foi dito, apenas uma força que se exprime e provoca algum
movimento.
Após esse período, a centelha-alma é ligada ao apoca-
lipse' dos quatro elementos. Como já o dissemos, esse pri-
meiro período é denominado "período de Saturno". Pensai
agora no que Hermes diz a respeito de Uranos e Cronos. Sa-
turno indica as saturnais, os semeadores. O período em
questão foi chamado período de Saturno porque o microcos-
mo foi formado naquele tempo, e determinadas forças foram
aí colocadas em manifestação, aí semeadas.
Depois desse primeiro período, a centelha-alma foi li-
gada com o elemento água. Evidentemente esse elemento

176
pode ser comparado apenas simbolicamente com nosso
atual cardume. Na Doutrina• Universal, o elemento água é o
primeiro acesso à vida mais ou menos ordenada. Fala-se
aqui do período solar, pois a luz desperta após o período de
Satumc·, e com ela vem o primeiro acesso à vida. O primeiro
período foi, portanto, ainda um pairar, um flutuar, sobre as
águas, uma autopreparação da sementeira. O segundo pe-
ríodo marca o início da manifestação da vida, que é segura-
mente o grande objetivo da centelha-alma. O terceiro período
é a ligação com a terra, sobre a qual e com cujo auxílio toda
a viagem da alma deve ser realizada. Fala-se do período lu-
nar, pois agora se inicia o trabalho para os homens-almas,
que se mantêm sob a orientação dos anjos lunares (forças
santas do Espírito).
Proveniente da natureza fundamental, a onda de vida
chega, então, à habitação, à oficina indicada, à terra. Por is-
so, fala-se agora do período terrestre. Alcançou-se o objetivo
terrestre, a oficina; e nessa oficina, a grande viagem de liber-
tação deve primeiramente ser preparada e então levada
avante. Partindo dessa oficina, quando o trabalho está con-
sumado, a entidade-alma ingressa então no quarto período, a
fim de festejar a ligação com o elemento ar. O elemento ar é
o símbolo do Espírito. Pensai na pomba, a habitante do ele-
mento ar que representa a descida do Espírito Santo. Assim,
a entidade-alma é ligada ao Espírito no quarto período. A al-
ma festeja suas núpcias alquímicas com o Espírito.
Compreendereis agora também o objetivo de As Nú,r
cias Alqufmicas de Christian Rosenkreuz, de libertar os ho-
mens que permanecem como que cativos sobre a terra, no
período da era terrestre, e impeli-los em sua viagem ao pe-
ríodo seguinte.
Assi~. noivo e noiva entram no quinto período. Somen-
te agora. a alma unificada com o Espírito torna-se verdadei-
ramente um homem-alma, um manas. um pensador, isto é,
um ser pensante, no sentido mais profundo do termo. O ho-
mem adentra. então, o elemento ígnea. Ele consumou a via-
gem. Outrora nascido do fogo astral, ele volta agora como
ser imortal, autocriador e divino, ao fogo astral, totalmente
uno com o princípio natural astral, o demônio da natureza
fundamental segundo o ser e a at1vidade.
Ele adentra, assim, o sexto período, o sexto dia da cria-
ção. É o dia da criação da perfeição: ele entra no grupo dos
seres imortais, imutáveis, dos deuses 1morta1s. O sétimo pe-
ríodo, o sétimo dia da criação, é o dia do descanso, o repou-
so imutável, eterno, do verdadeiro povo de Deus.
Desse modo, Hermes deseja descrever-nos no versículo
20 a plenitude sétupla da criação, a viagem-alma do homem
chamado, de centelha ao objetivo final das coisas. Não de-
veis entender dialeticamente "o repouso do povo de Deus".
Isso indica o grandioso e magnífico equilíbrio com o Pai
mesmo. E dessa harmonia, assim diz Hermes, há agora dois
grupos de deuses: os mutáveis e os imutáve1s, os grupos que
trabalham na manifestação, no campo de colheita do mundo,
e os grupos retirantes, que se elevam para alvos superiores.

Há, porém, neste processo magnífico de desenvolvi-


mento, um aspecto triste e tenebroso, que é a possibilidade
de um estorvo no curso evolutivo, de um fator impeditivo pro-
vocar a maldade e o elemento opositor. Conhecemos isso
por experiência, pois todos nós pecamos nesta viagem-alma
ao Pai. "Não há ninguém de nós que seja bom, nem um se-
quer", diz Jesus, o Senhor. Somos todos desviados. Perten-

178
cemos, por conseguinte, à parte de nossa onda de vida que
se encontra decaída e que tem, portanto, o máximo interesse
em conhecer as causas dessa queda. Se conhecermos essas
causas, então a solução, a salvação, estará mais próxima do
que pés e mãos.
A possibilidade de tal incidente, mediante o qual fomos
vitimados, reside entre o terceiro e o quarto períodos. O ter-
ceiro período, como vimos, proporciona o 1ngresso na oficina
indicada, a chegada de nossa onda de vida ao período terres-
tre, enquanto que o quarto período tem por fim a entrada do
Espírito no santuário da cabeça, a continuação da viagem da
terra no elemento ar. Nesse quarto período, o Espírito capaci-
ta-nos a festejar com ele as núpcias alquímicas no santuário
da cabeça; porém antes que o Espírito possa entrar, deve-se,
como base, desenvolver e consolidar de modo absolutamen-
te orgânico uma consciência racional no santuário da cabeça.
No momento em que o homem entrou no terceiro pe-
ríodo, foi colocado também organicamente o fundamento pa-
ra o desenvolvimento da consciência cérebro-racional na era
terrestre, para que, sobre essa base, o homem pudesse con-
tinuar na era do ar. Porém, no momento em que a entidade
centelha-alma se transformou num ser intelectualmente
consciente, no momento em que a figura etérico-material se
tornou um ser dotado de uma consciência racional, desenvol-
veu-se um perigo, o perigo da negação, a ignorância em con-
seqüência da ruptura com a Gnosis.

A maldade da alma é sua ignorância, sua carência da


Gnosis, de conhecimento que ê de Deus.

179
Quando um homem-alma dotado de consciência racio-
nal entra na oficina terrestre, ele tem a tendência de acreditar
que alcançou então o grandioso objetivo final; por isso,
quando os homens progridem socialmente, eles têm a ten-
dência de construir esse ou aquele ninho, e a moradia recebe
esse ou aquele nome em sintonia com a psique. A tendência
de nós, homens de nossa parte da onda de vida, é visivel-
mente orientada para considerarmos a terra, esse período ter-
restre, como o objetivo final. Nessa situação reside a nega-
ção. Esse é o grande perigo. O homem se apega ao torrão,
aspira a estabelecer um reino terrestre. Ele não deseja pros-
seguir. Ele tenta forçar cada possibilidade, para poder aqui se
manter.
Judas, um dos mais diletos discípulos de Jesus, um dos
mais inteligentes servidores e discípulos do Senhor, tentou
lorçar seu Senhor a fundar um reino terrestre, partindo da
idéia ilusória: "Agora que chegamos, deixai-nos permanecer
aqui. Somos dotados com a consciência racional, podemos
pensar, a nossa maneira; a que devemos ainda aspirar?"
Esse é o perigo da ignorância, da ruptura com a Gnosis:
não desejar continuar. A conseqüência foi a cristalização da
forma de manifestação do homem etérico-material. Além dis-
so, desenvolveram-se todos esses aborrecimentos que co-
nhecemos tão bem.
A queda é, portanto, nada mais do que um retardamen-
to de nosso curso de desenvolvimento, e esse obstáculo se
torna um processo de solidificação, de cristalização, em que
a morte intervém sempre de novo para corrigir e interromper.
Em primeiro lugar, a solução desse conflito consiste em
que abandonemos a ignorância, a negação, e partamos para
o reconhecimento!

180
Ao cabo de um tempo muito longo, uma entidade-alma
pode romper o próprio fator estorvante, recuperar e transfigu-
rar, naturalmente, em primeiro lugar, o que foi cristalizado e
perturbado, a fim de prosseguir no caminho do plano divino
para o objetivo final. Se o rompimento e a autocorreção não
se realizam, a ascensão da centelha divina transforma-se
num declínio e o microcosmo volta a sua origem: então ele é
recolhido novamente na primeira fase de seu desenvolvimen-
to e volta ao período de Saturno, até o campo da natureza
fundamental, de onde ele outrora saiu. Por isso, o versículo
23 diz:

Se, porém, a alma que entrou num corpo humano per-


manece no pecado, não participa da imortalidade e está des-
pojada do bem, porém se apressa por percorrer o caminho
que está atrás dela, o caminho para o estado do réptil. Eis o
castigo da alma que pecou.

Essa é a condenação das almas más, aquelas que não


desejam trilhar a senda Quem rejeita avançar nesse cami-
nho, deve retornar por força da lei natural. O avanço é a lei
fundamental da manifestação. Assim, compreendemos que a
ignorância descrita, o apartar-se da Gnosis, é, na realidade,
uma negação de si mesmo:

Assim, a alma atacada pela maldade, devido à falta de


conhecimento no tocante a seu próprio ser, está sujeita a
corpos estranhos e indignos do homem. Como um fardo, ela
carrega um corpo sobre o qual não tem domfnio, porém que
a domina. Nisso consiste a maldade da alma.

181
Portanto, essa é a maldade das almas, despojada de
todo o ornámento místico, de inferno e de condenação. De
todos os pecados, este é o maior e fundamental pecado mor-
tal: a negação de nós mesmos. O desconhecimento do fato
de que somos chamados para sermos filhos de Deus.

182
XXII

ELE DEVE CRESCER, E EU, DIMINUIR

Devemos supor que já tereis compreendido que a ne-


gação descrita deve trazer consigo uma paralisação no pro-
cesso da realização sétupla e, acima de tudo, provocar mui-
tas atividades e desenvolvimentos astrais desarmoniosos. O
microcosmo que, como dissemos, é gerado a partir do campo
astral da natureza fundamental e provido de tantas forças
poderosas desse campo astral, perturbará imediatamente es-
se mesmo campo, mediante a realidade da negação. Essa é,
pois, a causa desses aborrecimentos indizíveis tanto em nos-
sa própria existência como também em nossa sociedade,
pois o extremismo astral envenena toda a vida do homem e
dos demais reinos naturais com os quais devemos cooperar.
Quando, portanto, não seguimos nossa vocação e negamo-
la, provocamos uma erupção em nosso corpo astral tão ig-
neo que a personalidade inteira é com isso perturbada. Se
pensardes em nossas alocuções sobre o movimento retro-
grado 11, sem dúvida, entendereis isso.
Quando a perturbação dura muito tempo, a consciência
cérebro-racional do homem é, por meio dela, obumbrada e,

11. Ver páginas 160e 161.

183
por muito. tempo, ele já não sabe que nega. A desnaturação
instala-se e, a partir desse momento, desenvolve-se a luta
pela existência. O homem agarra-se à terra, porque acredita
que deve fazer isso. Ele já nada sabe acerca de sua grandio-
sa vocação, e a consciência racional, que deve ser a sede do
Espírito e da sabedoria, é submetida à cultura a fim de poder
oonduzir a dura luta pela existência. Todo o método de ensi-
no de nossos filhos é orientado de modo a torná-los aptos
para essa luta.
Assim, origina-se no mundo grande crueldade, ódio e
dores atrozes, pois tudo é proveniente da perturbação astral;
por conseguinte, todo o campo astral de nosso domínio de
vida é desorganizado e envenenado e já não se pode alcan-
çar um desenvolvimento harrnônico nos quatro reinos natu-
rais. Somos obrigados a cooperar harmoniosamente oom os
outros três reinos da natureza, porém, mediante a atitude de
vida imprôpria da humanidade, os quatro reinos tornaram-se
totalmente desorganizados e degeneraram-se mutuamente
em grande inimizade.
Os reinos mineral, vegetal e animal são sempre pertur-
bados e obstados em seu curso de desenvolvimento e, por
isso, nossa culpa cresce. E a maldade ataca o reino animal e
o reino vegetaL A humanidade, digna de lástima, obumbrada
segundo a consciência mediante sua negação, tenta, de to-
das as maneiras irracionais, achar uma solução. O alimento
já envenanado na semente é irrigado e irradiado novamente
oom outros venenos. Os naturalistas cultivam de novo, como
eles dizem, alimentos naturais, entretanto, ooitados, já não
há alimentos naturais! Diz-se com precisão: "Deveis princi-
palmente comer isso e sobretudo não comer aquilo, pois isto
não é bom". Mas, o que é bom e o que não é?

184
Quente ou frio, condensado ou não, cultivado com adu-
bo químico ou com excremento bovino, é tudo a mesma coi-
sa. Por isso, Jesus diz: "Não é o que entra pela boca do ho-
mem que o contamina, porém o que sai da boca!"
Por que então nós, na jovem Gnosis, abstêmo-nos de
alimentos animais? Não por motivos vegetarianos, naturalis-
tas ou similares. Não fazemos uso do sangue e do ácido úri-
co animais porque desejamos transformar o processo de ne-
gação num processo de reconhecimento. O sangue animal e
seu ânus são, para tsso, um fator de grande impedimento.
Além disso, recusamos a infligir dor pessoalmente a nossos
parentes, nossos jovens parentes do reino animal. E, num
único fôlego, acrescentamos: se pudéssemos viver, em rela-
ção a nossa alimentação, sem o reino vegetal, abster-nos-
íamos dele também, pois também aquilo que extraímos des-
se reino é, no verdadeiro sentido da palavra, um obstáculo ao
restabelecimento de nossa enfermidade fundamental, a ne-
gação. Quanto mais crua a alimentação vegetal que ingerir-
des, mais forte e positivamente vos ligareis com a natureza
petrificada da negação.
Pensai, por isso, no fato de que não vivemos para co-
mer, porém comemos para viver; e desejamos viver para, se
possível, resgatar nossa culpa também para com os reinos
naturais deteriorados por nós.
Queremos agora somente dizer que devemos passar a
ter, em relação a todas essas coisas, uma orientação intei-
ramente nova, uma atitude de vida completamente nova. Há,
certamente sobre isso, muita coisa ainda a dizer, pois, deve-
mos penetrar fundo, muito fundo, a essência do reconheci-
mento e dele extrair ainda muitas conseqüências.
A grande libertação da alma é, com efeito, o ingresso

185
na virtudl? da alma com a personalidade joanina que sabe e
realiza: "Ele, o outro celestial, deve crescer, e eu, diminuir".

186
XXIII

O HOMEM E A SENDA

Nossa última descrição teve como objetivo penetrar


profundamente a essência das coisas e do grande e tão
oomplexo problema da verdadeira existência humana.
Vimos que uma onda de vida vem à existência a partir
da natureza fundamental e que cada entidade dessa onda de
vida é um microcosmo que possui um núcleo ou uma alma
no coração, no ponto central do coração. no qual todo o pen-
samento divino. que serve de base ao plano de criação, refle-
te-se e se manifesta. Em torno desse núcleo, composto pelo
fogo astral, os éteres que procedem do núcleo são separa-
dos. Esses éteres formam a expressão do Espírito que se
encontra nesse núcleo-alma.
A manifestação da forma etérica, a figura etérica era,
no início, o verdadeiro homem. o homem celeste. o homem
revelado de Deus. e sobre a base dessa matriz etérica esta-
belecia-se também uma manifestaçoo ainda mais material,
pois, como nós, homens deste século, sabemos, os átomos
etérioos atraem novamente os átomos materiais. O processo
de troca de matéria do pré-homem era tão perfeito, a orienta-
ção da alma-espírito·. tão completa, que não surgia nem uma
única cristalização, e assim era assegurada uma existência

187
ilimitada do inteiro homem. Inteiro, porque todo o microcos-
mo partidipava dessa vida e nela existia. O assim chamado
eu superior estava em igualdade com o que denominamos
eu interior e em equilíbrio perfeito com ele. Existia apenas o
eu que se manifestava em todo o microcosmo.
O eu encontrava-se, no início de sua manifestação, no
caminho da realização de um plano glorioso de plenitude
eterna, de eterno devir, de glória: o infinito plano divino do
Deus nele. A condição para isso seria que o referido ser, em
reconhecimento irrestrito desse grandioso e magnífico objeti-
vo, se consagrasse totalmente a ele, do imo, em liberdade e
amor, sem dele se desviar, em nenhum sentido. Porém, na
majestade dessa existência, na grandeza vertiginosa do reino
divino-humano, o homem esqueceu que era uma criatura e
que deveria consagrar-se totalmente à lei que se encontrava
à base de seu ser, desde a parte mais exterior de seu campo
microcósmico até o seu núcleo e do núcleo a sua manifesta-
ção.
Ele infringiu a lei com suas perigosas faculdades, fez
experiências com suas faculdades divinas e entrou, assim, na
"negação". Por conseguinte, desenvolveram-se cristalizações,
condensações. Os efeitos da transgressão da lei fizeram-se
notar. Outros pseudo-fogos astrais começaram a arder e -
conhecemos isso tudo - após a negação, o pecado da igno-
rância, seguiu-se a morte. Isso quer dizer que, no início, as
cristalizações, as formações constituídas de forças e elemen-
tos estranhos eram demolidas e aniquiladas, quando alcan-
çavam seu ponto máximo. O homem viu, em dado momento,
desmoronar e destruir aquilo que tinha construído.
Então, com o avanço do pecado inicial da negação, o
núcleo alma-espírito já não pôde manifestar-se. Conseqüen-

188
temente, desapareceu o homem divino, o homem espiritual,
como manifestação do núcleo alma-espírito, cujas estruturas
de linhas de forças foram reabsorvidas no núcleo. O homem
divino havia desaparecido, estava morto-vivo. A partir dessa
"figura de olhos mortos", como Gustav Meyrink o denomina,
ele retornou ao princípio da alma. O microcosmo, a criação
eterna de Deus, estava vazio e já não podia manifestar-se,
do imo; porém sabemos que "Deus não abandona a obra de
Suas mãos". Foi implantada, assim, a ordem de emergência.
Não explicaremos aqui como esse sistema da ordem de
emergência se desenvolveu, porém damo-nos por satisfeitos
em verificar que as entidades mortais, nascidas pelo proces-
so de reprodução terrestre, foram reunidas e introduzidas nos
microcosmos esvaziados, com o único e grandioso objetivo:
despertar os antigos núcleos alma-espírito dos microcosmos
de seu sono mortal e, dessa forma, dar vida novamente à "fi-
gura de olhos mortos".
Aqueles que podem consumar essa grandiosa e magni-
fica obra submetem-se a uma transformação maravilhosa
que nós denominamos "transfiguração", isto é, a unificação
do eu inferior nascido da natureza com o verdadeiro eu supe-
rior vivificado novamente.

É oportuno nesse contexto que vos façamos uma ad-


vertência: existe um pseudo-eu superior no microcosmo, que
já fez incontáveis vitimas. Esse pseudo-eu superior é o pro-
duto dos muitos seres nascidos da natureza que viveram an-
tes de vós em vosso microcosmo. É o assim chamado "eu
cármico" ou "ser aural". Milhões de homens orientados antro-
possófica, teosófica ou religiosamente foram e são vitimados
por esse eu cármico.

189
Sabéis que cada homem nascido da natureza deixa
vestígios no eu aural como resultado de seu ímpio curso de
vida. Esses vestígios, esse karma, acumula-se. Cada nascido
da natureza, que trilha a grandiosa senda de libertação, colo-
ca-se também, infelizmente, diante de uma dupla tarefa, pois
antes que ele possa trilhar a senda da transfiguração, deve
primeiramente dissolver esse karma. esse eu cármico. Pensa1
apenas em Jesus, o Senhor, durante a tentação no deserto.
Também ele, em primeiro lugar, ajustou contas inteiramente
com o eu cármico. Esse karma é vivificado até certo ponto
em nosso próprio eu. É o adversáriO microcósmico, que deve
ser reconhecido e vencido, porém as pessoas egocêntricas
são, sem exceção, sempre de novo sacrificadas por ele. O eu
cánnico não pode prescindir da cultura da personalidade ma-
tenal.
Nós como partícipes da jovem Gnosis, nós que esta-
mos reunidos no corpo vivo e desejamos trilhar novamente a
senda do antigo Santo Graal, unimo-nos de novo com o tão
maravilhoso núcleo de nosso microcosmo em virtude de nos-
so discipulado professo. O antigo núcleo, que já donnita em
nosso sistema há um tempo indizivelmente longo, abre-se
novamente para nós, que nos consagramos à sagrada Rosa-
cruz. Essa alma imortal, esse núcleo divino maravilhoso do
microcosmo fala, de novo, a nossa alma nascida da natureza;
a "figura de olhos mortos"' começa a fitar-nos com esse olhar
profundamente penetrante, onipenetrante, que já não se po-
de esquecer nem de dia e nem de noite. Assim, colocamo-
nos juntos novamente no limiar da grandiosa senda, a senda
de retorno à casa do Pai.
E o que é necessário agora? Em primeiro lugar, o re-
nascimento, a reanimaçoo da alma original. Em segundo,

190
nossa própria transfiguração. Em terceiro, a unificação de
ambos: da alma original, o verdadeiro eu superior, com o eu
inferior nascido da natureza. A unificação do homem nascido
da natureza e transfigurado com o homem-alma original.
Quem deseja trilhar essa senda recebe uma chave. Sabe-
mos, assim Hermes diz a Tat

A maldade da alma é sua ignorância, sua carência, da


Gnosis. A alma atacada pela maldade, devido â falta de co-
nhecimento no tocante a seu próprio ser. está sujeita a cor-
pos estranhos e indignos do homem. Como um fardo, ela
carrega um corpo sobre o qual não tem domínio, porém que
a domina. Nisso consiste a maldade da alma. A virtude da
alma. ao contrário, é a Gnosis, o conhecimento vivente de
Deus, porque quem possui esse conhecimento é bom e de-
votado a Deus e já divino.

Essa linguagem da filosofia hermética é em sua nitidez


uma diretriz clara na senda. Quem, consciente de sua natu-
reza e do objetivo de seu mais profundo ser, anseia pela vir-
tude da alma, deve realizar uma total mudança de vida, a in-
teira mudança de vida, a atitude de vida totalmente nova, pa-
ra a qual a Escola Espiritual tem impelido seus alunos, espe-
cialmente nos últimos anos: a nova atitude de vida que nos
coloca em condições de nos ligarmos e nos unificarmos in-
ternamente com o Espírito.

Tat pergunta: Que espécie de homem é esse, Pai?


Hermes responde nos versículos 28 e 29 do décimo-segundo
livro: É o homem que pouco fala e a poucos dá ouvidos. Por-
que quem desperdiça seu tempo a discutir e a ouvir discus-

191
sões, luta contra sombras, pois Deus, o Pai, o Bem, não se
deixa expressar nem entender pelos ouvidos.
Hermes verifica que uma pessoa que permanece na
nova atitude de vida, que consumou a mudança de vida, não
fala mais do que o estritamente necessário. Essas pessoas
renunciaram a todo o palavrório insosso, toda a conversa
dialética. Elas deixaram atrás de si inteiramente toda a pro-
blemática nascida da natureza. Eis por que já há anos o si-
lêncio ocupa um lugar muito Importante em Renova* e em
nossos outros centros* de conferência, e a Escola não se
cansa de explicar a seus alunos a necessidade e a bênção
do silêncio.
Ela se esforça, ao máximo, para impelir-vos ao renas-
cimento da alma, a fim de que voo possais encontrar o Espí-
rito com as almas modificadas e renascidas. Há, todavia, o
perigo de que muitos permaneçam no estado de alma prova-
velmente purificado, modificado, pois eles já se esgotaram
no plano horizontal segundo seu estado de alma, pois um
homem-alma é um homem pleno de amor e solícito. Um ho-
mem-alma fará tudo de bom grado para outro, portanto, será
também explorado continuamente neste mundo.
Por isso, Hermes diz a Tat: O homem-alma, aquele que
procura verdadeiramente a Deus, o homem-alma que entra
em ligação com o Espírito, falará pouco e dará ouvidos a
poucos.

O que é, então, falar?


É a produção e a irradiação da força criadora, a força do
homem nascido da natureza que ele necessita para executar
a única obra para a qual é chamado. Por isso quem procura a
Deus falará somente quando for estritamente necessário.

192
O que é, então, ouvir? É a recepção sensorial da mes-
ma força que os outros vertem pela fala. Quando falais e ou-
tro ouve, o outro recebe em si toda a força que vós despren-
deis ao falar; e, via de regra, isso é extremamente grave nes-
te mundo. Por isso, tanto a fala como a audição são um as-
sunto muito delicado, para o qual todo o aluno deve mui es-
pecialmente voltar sua atenção. No caso de um discipulado
sério, tanto a fala como a audição sã:> submetidos a uma lei
muito sagrada, lei que atua exclusivamente no plano do ho-
mem-alma liberto. Cada fala ou audição abaixo de determi-
nado nível prejudica o homem e liga-o à natureza inferior. O
aluno sério já não vive duas vidas. Ele não é, por um lado, o
aluno da Gnosis e, por outro, o homem comum da natureza
com seu comportamento esteriotipado e sua bisbilhotice.
Quem vive duas atitudes de vida e, portanto, serve a
dois senhores, lidando com dois pontos de partida, luta de
dia e de noite contra as sombras que ele mesmo criou. As-
sim diz Hermes Trismegisto.

193
XXIV

O HOMEM-ALMA

É o homem que pouco fala e a poucos dá ouvidos. Por-


que quem desperdiça seu tempo a discutir e a ouvir discus-
sões, luta contra sombras, pois Deus, o Pai, o Bem, não se
deixa expressar nem entender pelos ouvidos.

Deveis atentar para o fato de que o santuário da cabe-


ça do homem é um órgão criador poderoso, tanto no sentido
positivo como no negativo, tanto no sentido criativo como no
receptivo. Isso é ainda muito pouco compreendido. Nossas
reflexões desenvolvem-se no santuário da cabeça. Elas são
dinamizadas pela vontade e, em seguida, pronunciadas por
intermédio da laringe ou escritas com a mão.
Talvez seja de vosso conhecimento que todos os mo-
vimentos com as mãos, todos os gestos expressivos, estão
ligados às funções do santuário da cabeça. Disso resulta que
as conseqüências de nossa ação criadora se tornam visíveis,
tornam-se claramente demonstráveis. E atentai para o se-
gundo aspecto dessas coisas. Alguém vos fala, e vós ouvis.
Em outras palavras, vós abris para outrem vossas faculdades
sensoriais, isto é, vosso órgão criador superior de recepção.
Isso não é sem conseqüências para vós, pois desenvol-

195
ve-se no ato algo semelhante a um acasalamento, a uma li·
gação. Com efeito, outro verte sua força criadora sobre vós.
E vós ouvis, vós recebeis.
Infelizmente isso é, na grande maioria das vezes, ex-
tremamente fatal e perigoso, sim, freqüentemente mesmo
destrutivo para o desenvolvimento da alma. Pois quem são
os que, de manhã à noite, disparam a falar como uma me-
tralhadora? Quem fica totalmente abarrotado de problemas e
tensões? Quem procura por isso o cantata com seus compa-
nheiros a fim de eliminar essas tensôes por meio de conver-
sas intermináveis? São as pessoas mu1to jovens ou as que
estão envelhecendo. Pessoas que amda não desenvolveram
os órgãos sexuais inferiores ou pessoas com funções sexuais
se neutralizando ou já neutralizadas.
A juventude, assim sabemos, é ávida por falar. Quase
desenfreada em sua verbosidade. Contudo na maioria das
vezes, o prejuízo ainda é mínimo, pois essa loquacidade ain-
da é, em muitos sentidos, mu1to pura, muito limpa, embora
freqüentemente fatigante para o ouvinte.
Todavia, os mais velhos têm uma grande parte de sua
vida atrás de si. O karma alua de forma plena, a natureza
manifestou-se neles completamente, e o resultado total da
vida encontra-se fixado no sangue. E quando as funçôes se-
xuais se neutralizam, aquilo que ferve e corre no sangue e
aquilo que irrompe para fora como um fogo, em razão do
movimento retrógrado, procura sempre um caminho através
do santuário da cabeça, um caminho através da laringe. Por
isso, é dito na Bíblia: "Não é o que entra pela boca que con·
lamina o homem; porém o que sai da boca". Aquilo que sai
da boca é muitas vezes mortalmente perigoso.
Por isso, Hermes responde à pergunta de Tat, dizendo

196
que um homem sincero que busca a libertação é: Um ho-
mem que fala pouco e a poucos dá ouvidos. Atentai para o
fato de que é dito: Um homem que fala poum e a pouoos dá
ouvidos. Não deveis considerar essas coisas de maneira ex-
cessivamente radical. Receoemos a língua como um recurso,
como um meio auxiliador. Há, por exemplo, nossas fórmulas
de polidez, e um certo número de palavras encontra-se a
nossa disposição para que possamos tornar manifesto tudo o
que a vida social comum exige. A exigência de uma comuni-
dade completamente silenciosa não é certamente a intenção
da filosofia hermética.
Todavia, tão logo, pela palavra falada, entre em primei-
ro plano a aflição, a tensão, a divergência, as complicações e
o desespero de toda uma vida humana, então sede pruden-
tes. Quando o homem arruinou sua vida e está repleto de
tensão, tomai cuidado. Quando se deseja utilizar a laringe
conscientemente para falar no verdadeiro sentido criador e a
faculdade sensorial da audição para ouvir no verdadeiro sen-
tido criador, então devem existir razões muito importantes e
necessárias para o candidato nos mistérios gnósticos.
Em nossos templos, freqüentemente falamos aos alu-
nos lá presentes. Por quê? Porque queremos eliminar ten-
sões pessoais? Não, não falamos de nós mesmos nesse lu-
gar; lá transmitimos a doutrina gnóstica de salvação, a pala-
vra viva que não pertence a nós. Para sermos capazes de
executar essa tarefa, temos o dever de preparar-nos a fim de
podermos ser criadoramente ativos, como essa pregação
exige de nós. E vós - deveis pensar sobre isso - recebeis
pela vossa audição essa força criadora com vossa abertura
sensorial. Essa força atua em vós para uma ressurreição ou
para uma queda.

197
Ve9e aí alguns aspectos elementares da magia gnósti-
ca. Assim, podeis agora entender que cada pessoa, também
no sentido de nascido da natureza, é ainda bissexual: com
a laringe como o órgão criador positivo e a faculdade orgâni-
co-sensorial como o receptor, o órgão criador negativo.
Somos, portanto, bissexuais e continuamos assim. Se
vós, porém, trilhando a senda, entra1s no nascimento da alma
e na transfiguração e, por conseguinte, abris para vós mes-
mos as portas da imortalidade, entrais num grupo em que a
geração natural já não é necessána para a conservação do
gênero humano. Pois a nova raça humana, a raça celeste,
adentrou a imortalidade, onde a faculdade geradora superior
se liberta em toda a sua pureza, verdade e realidade.

Agora, deveis todos refletir sobre essa exposição tão


minuciosamente quanto possível. Quando fizerdes isso, al-
cançareis, sem dúvida, um grande conhecimento e também
compreendereis que em nosso campo de vida, em nosso es-
tado de nascidos da natureza, os efeitos das mencionadas
faculdades geradoras superiores são, em geral, muito mais
fatais, piores, mortais e venenosos do que as das assim
chamadas faculdades geradoras inferiores, e que inúmeras
pessoas que estão na geração inferior e que não têm a mí-
nima noção acerca da geração superior podem ser normal-
mente muito mais puras do que aquelas que a conhecem,
pois nada liga mais à dialética do que a fala e a audição im-
puras, o abuso da função criadora superior, da laringe e da
faculdade sensorial.
Há neste mundo aqueles que aprisionam e retêm uma
grande parte da humanidade, mediante á fala e o canto que
a acompanha, mediante, por exemplo, o canto e o proferi-

198
menta de um ritual mágico. E para completar, deve ser ainda
acrescentado que a audição não é a única receptora de força,
mas também a visão, o tato, o olfato e o paladar.
Que vos seja, portanto, claro que o real portador da as-
sinatura não fala nem ouve muito. Que vos seja claro tam-
bém porque não o faz. Ele utiliza a linguagem exclusivamen-
te para a comunicação social normal e necessária, sem ex-
tremismo, pleno de amor, solícita e educadarnente, com base
nos valores internos.

O que Hermes tenciona com essas palavras no versí-


culo 29: Deus, o Pai, o Bem, náo se deixa expressar nem en-
tender pelos ouvidos?
Se entendeis de vosso imo essas palavras, estais no
caminho certo. Suponde que recebeis um livro sagrado e um
de vós leia em voz alta a linguagem imperecível e outros a
ouçam. Pensais então que produzis força? Não, isso seria
apenas falar da boca para fora. Somente quando o Espírito,
que é Deus, habita em vós, desenvolve-se a força. Quando
desejais libertar o Espírito, que é Deus, e difundi-lo como
uma força criadora, primeiramente esse Espírito de Deus, es-
se Espírito Sétuplo, essa plenitude radiativa deve estar em
vossa vida. Quando o Espírito de Deus vos tocar, natural-
mente irradiareis horizontalmente o que recebestes vertical-
mente. E quando então lerdes o livro dos livros, o Espírito,
que está em vós, libertará totalmente a letra morta.
O método contrário é totalmente impossível. Deve-se
possuir o Espírito e o Nous. Não se pode transmiti-los a ou-
trem por meio de funções criadoras superiores. A mesma
coisa acontece também com a palavra. Quando nos ouvis,
enquanto nos dirigimos a vós, de acordo com nossa tarefa e

199
vocação, nasce em vós, quando muito, uma comoção subli-
me por meio da magia gnóstica. A audição orienta-vos rumo
à senda, porém a audição não vos oferece a senda, ou o Es-
pírito, ou o Nous, mesmo se falássemos ano após ano. Não,
a audição, quando muito, desperta em vós uma inquietação
condescendente, ou também o contrário, a negação, a resis-
tência. Por isso, muitos se entusiasmam com palavras e ou-
tros ficam cheios de defesa e resistência, enquanto que ain-
da outros se entregam a dúvidas.
O máximo que é possível à audição é a fé. Essas são
as razões pelas quais é dito na Bíblia: "A fé provém da audi-
ção". Todavia, depois disso, deveis trilhar a senda! Pois, re-
petimos: Deus e o Nous não se deixam exprimir pela palavra
nem entender pela audição. Alguns de vós já ouviram falar,
inúmeras vezes, desde a juventude, sobre Deus. Isso conse-
guiu provocar em vós nada mais do que, no máximo, uma
certa fé, uma certa orientação de fé. Isso deve ser para vós
um estímulo a fim de trilhardes verdadeiramente a senda,
pois somente pelo trilhar a senda é que Deus, o Nous, pode
tomar forma.
Quando também descobrimos que a palavra na Escola
não produz resultado algum em um aluno e que ele continua,
como antes, em seu curso normal de vida, sem que nenhuma
comoção e mudança tenha-se realizado nele por meio da
palavra no templo, não tendo, portanto, sido feita nenhuma
tentativa para se alcançar o mínimo disso, então o emprego
das funções criadoras superiores relativas a tal aluno toma-
-se incorreto, imoral, e o contato com ele é cortado. Por isso,
também é dito, talvez de modo um tanto duro, não obstante
muito claramente, no Sermão do Monte:- "Não deis aos cães
o que é santo nem lanceis pérolas aos porcos". E os rosacru-

200
zes acrescentam ainda: "Não atireis rosas aos burros".
Com base em tudo isso, deveis ainda mais uma vez di-
rigir vossa atenção para o versículo 30:

É verdade que todos os seres t~m sentidos, porque


sem eles não podem existir; contudo, o conhecimento vivente
de Deus é muito diferente da percepção sensorial. Porque a
percepção sensorial realiza-se mediante influências ou im-
pressões que obtiveram poder sobre nós. A Gnosis, porém, é
a perfeição do conhecimento, o conhecimento que é uma
dtJdiva de Deus.

Em todos os seres, existem diversos estímulos à ação,


aos quais se denomina "tendências" ou traços de carâter.
Esses estfmulos à ação são forças astrais que impulsionam o
ser e são conservadas pelo movimento retrógrado. Dessa
forma, trata-se de determinada orientação de vida que está
intimamente ligada aos órgros sensoriais do ser humano.
Porém, essa orientação sensorial geral da humanidade dialé-
tica significa, assim diz Hermes, a perda do poder sobre si
mesmo.
Sondemos agora mais de perto essa proposição.

201
XXV

O CATIVEIRO DOS ÓRGÃOS SENSORIAIS

Em todos os homens estão presentes determinadas


tendências; o ser humano nasce com essas tendências, e es-
tas se explicam por fatores hereditários. Nós as herdamos de
nossos pais ou antepassados, ou também de influências
cármicas; e todas essas tendências que se consolidam no
sangue são conservadas por meio do já falado movimento re-
trógrado. Dessa forma, tendências que se revelam na juven-
tude desenvolvem-se na fase adulta e, finalmente, determi-
nam totalmente o tipo, o caráter, do homem nascido da natu-
reza.
Quando o caráter já está formado, é extremamente difí-
cil produzir aí uma modificação. A mentalidade determinou
tanto o processo de circulação astral, e o sangue influenciou
tanto a mentalidade na esfera das tendências manifestadas,
que o referido homem perdeu todo o verdadeiro poder sobre
o próprio ser. Ele pensa que vive, que ele próprio tem as
mãos no leme, porém se move dentro dos muros do cárcere
do movimento retrógrado. O homem acha tudo magnífico,
excelente e bom, quando, na realidade, ele somente pode
seguir o caminho de suas tendências. Então, ele está em paz
consigo mesmo.

203
Dei_xai-nos dar-vos alguns exemplos claros a esse res-
peito. Imaginai um homem apaixonado por grandes viagens.
Esse tipo aparece freqüentemente; essa tendência encontra-
se no sangue do homem desde a juventude. A tendência em
si é muito fácil de se explicar, pois esse impulso congênito
de viajar para a verdadeira, porém ainda desconhecida, pá-
tria, está presente em milhões. Esse impulso deve ser psi-
cologicamente entendido como uma qualidade primordial da
humanidade embrionária. Quando, porém, essa tendência es-
tá totalmente desfigurada e vulgarizada pelas idas e vindas
das gerações, e o sentido disso já não é entendido, então se
vêem deslocar em alguns meses do ano multidões com
grande pressa, de um país para outro, de montanha para
montanha, boquiabertas pelo que até então não fora avista-
do, enquanto tiram fotos e vêem pelos binóculos. Conheceis
esse tipo de homem com a câmara fotográfica dependurada.
Eles voltam para casa num arrebatamento de auto-satisfa-
ção, e, após algum tempo, repete-se a atividade.
Em séculos passados, quando os homens não estavam
ainda tão individualizados e, semelhante ao reino animal,
ainda se podia falar das reações de grupo e de raça, origina-
ram-se as grandes migrações de povos que, psicologicamen-
te, resultavam dos mesmos motivos. O povo era levado a is-
so por seu líder religioso e, dessa forma, encetavam-se as
migrações. As dificuldades naquela época consistiam no fato
de que o povo de uma região queria emigrar para algum lu-
gar onde outro povo já habitava. Pensai na movimentação da
raça-raiz semítica descrita no Antigo Testamento. A terra
prometida que aí é mencionada foi, ~m todos os tempos,
uma terra densamente povoada, e o que daí resultou foi uma
grande chacina.

204
Outra tendência relacionada com tudo isso é o vasto e
mui abrangente interesse pela assim chamada natureza ani-
mada e inanimada. Também essa tendência é um resíduo do
impulso primevo dirigido à natureza original, fundamental, pa-
ra onde o homem deseja retomar, da qual ele tudo quer co-
nhecer. Perdidos numa série de ciências, e totalmente confu-
sos, os que se orientam pela natureza buscam e vão conti-
nuar buscando. Os geólogos procuram jazidas e rochas; os
espeleólogos, grutas e cavernas; entretanto, o que eles des-
cobrem e acreditam poder verificar é, no máximo, um ínfimo
fragmento, uma pequena lasca do original e, por isso, muito
enganador.
Com o auxílio desses dois exemplos mais ou menos
expressivos, os quais podeis estender para qualquer direção,
descobrireis que todos os homens encontram-se repletos de
tendências, tanto daquelas que aparecem à luz do dia como
das mui secretamente cultivadas, muito comuns e especiais.
Voltando ao ponto de partida, existe, em muitos, uma
tendência fundamental tríplice, desenvolvida a partir das
mesmas razões e demonstrável por meio das mesmas cau-
sas: a tendência e a orientação orgânico-sensorial para a ar-
te, a ciência e a religião. Do ponto de vista original, é a ten-
dência, a vocação, para a Arte• Real, para a Ciência* Univer-
sal e para a Religião* Fundamental. Vossas tendências mo-
vimentam-se numa dessas três direções. Elas impelem vos-
sos sentidos adiante, e vos fazem errar e encalhar numa
dessas três direções ou numa combinação delas.
Alguma coisa dessa tendência tríplice reside em todos
os seres de todas as ondas de vida. Pensai também na jo-
vem Gnosis, que deseja realizar de novo algo dessa aliança
tríplice: Graal, cátaros e cruz com rosas- a Arte Real, a Reli-

205
gião Uniyersal e a Ciência Real. Em todos os seres de todas
as ondas de vida, subsiste algo dessa tendência tríplice, pois
o impulso primevo para a plenitude do plano divino, de que
tudo se originou no início, preenche tudo e todos até cada
átomo.
E assim vós chegastes também ao discipulado da jo-
vem Gnosis totalmente dirigidos e impulsionados por vossos
sentidos, devido a determinado impulso que parte do sangue
da natureza ou das correntes cármicas que se vos adentram;
e quando satisfizerdes vossos sentidos de uma ou outra for-
ma e assim chegardes à Escola, de conformidade com o im-
pulso de vossos sentidos, do imo, tereis alcançado o lar, to-
talmente em sintonia com vossas tendências.
Talvez vos senteis confortavelmente ano após ano em
vossas cadeiras e respireis magnificamente no campo da Es-
cola. Estais em sintonia absoluta com vossos sentidos, lá
onde desejais estar devido a vosso nascimento natural. Con-
tudo, desejais atentar para o fato de que, dessa forma, per-
destes completamente vosso poder? Podeis dizer - e se o
dizeis igualmente insistir - que tendes seguro nas mãos o
leme do barco de vossa vida, enquanto seguis vossas ten-
dências? Não, são vossos sentidos, vossas tendências que
impulsionam o barco de vossa vida.
Seguir vossos sentidos, mesmo quando bem cultivados,
não traz a mínima mudança em vosso estado desviado fun-
damental. São apenas coisas externas. Se pintardes de
branco uma estaca podre, ela será renovada? Sua aparência
está em total discordância com seu interior. Se vós, seguindo
vossas tendências, adentrardes o corpo vivo da jovem Gno-
sis, tornar-vos-eis por isso criaturas renovadas, genuínos fi-
lhos de Deus? Vede, nãJ temos nada contra vossas tendên-

206
cias, pois nada podeis sem essas tendências, e foram elas
que vos trouxeram aqui. Entretanto, não olheis a vossa volta
agora em autocomplacência, enquanto com um suspiro de
alívio sentais em vosso lugar e dizeis a vosso vizinho: "Tudo
já estava em mim desde a juventude. Desde pequeno, tenho-
-me orientado na direção correta. E agora estou aqui. Vedes-
-me bem?" Vemos, todavia, essa não é a1nda a assinatura do
homem divino renovado. Quando se v1ve segundo os senti-
dos, isso significa o fim do poder sobre s1 mesmo.
Porém o que, então, é essa ass~natura? Ora, o reco-
nhecimento hermético, pois a sat1sfação com o resultado de
nossa existência orgãnico-sensonal será apenas a coroação
da negação.
Falamos minuciosamente nas páginas anteriores sobre
a ausência da Gnosis, a perfeição do conhecimento, que é
uma dádiva divina; falamos também sobre o ser da negação,
que é a conseqüência da não aceitação do plano de Deus,
sobre o qual se baseia nosso microcosmo. Pudemos descre-
ver-vos as cristalizações e as conseqüências desagregantes
disso.
E agora, por outro lado, encontra-se o reconhecimento.
Esse reconhecimento do plano divino começa por vós com a
grande auto-renovação, com a senda e o processo, sobre o
qual vos temos falado ano após ano, a senda de que todas
as fraternidades precedentes têm testemunhado; e algo des·
sa senda da Fraternidade anterior talvez ainda esteja carmi-
camente ativo em vosso microcosmo. O antigo anseio vos
trouxe aqui novamente, para que vós finalmente chegueis ao
reconhecimento no sentido prático e realizador.
É a senda da Gnosis que vos coloca em condições de
reconquistar o poder sobre vós mesmos. É essa senda que,

207
às vezell, guia para uma verdadeira batalha contra vossa
presunção e vossas indolentes tendências. De que nos ser-
vem vossas tendências? O discipulado puro e verdadeiro de-
ve-se manifestar em vós! A grande mudança de vida deve
ser reconhecida em vós, a atitude do homem mui vigilante,
que dirige a luta da auto-rendição. Na prática, acontece que
vós nunca podeis nem deveis, em geral, satisfazer-vos com o
resultado de vossa existência orgânico-sensorial, pois ela é
bastante enganosa, não intencionalmente, porém, em virtude
de sua natureza e das situações em que vos encontrais; por
isso, o reconhecimento é a auto-revolta que rasga o tecido,
urdido por nossos órgãos sensoriais.
E como chegamos a esse reconhecimento? Voltando-
-nos para a Gnosis. Pois, assim diz Hennes, a Gnosis é a
perfeição do conhecimento, o conhecimento que é uma dádi-
va de Deus.
Desejamos tentar esclarecer-vos o que Hennes quer di-
zer com isso. O reconhecimento do verdadeiro objetivo da
existência humana, do verdadeiro objetivo em que se baseia
um microcosmo e a aceitação do processo que se dirige para
isso, traz consigo o ingresso no conhecimento universal oni-
presente, e nos faz dele participar.
Do mesmo modo que o ar de nossa atmosfera é oni-
presente e do mesmo modo como nós vivemos dessa atmos-
fera por meio de cada alento, assim também é a ciência divi-
na, a Gnosis, como uma atmosfera. Seja qual for a direção
para a qual o homem se volte, ou se oriente, o conhecimento
universal fluirá para ele como um alento.
Esse conhecimento, essa sabedoria, é, portanto, o oxi-
gênio, o verdadeiramente indispensável alento de vida do
homem-alma renascido. A participação na fonte da sabedoria

208
universal, a unificação com ela, significa, naturalmente, o to-
tal desligamento, a libertação completa de todo o conheci-
mento dialético tradicional. Com efeito, cada ciência dialética
encontra-se, em essência, cheia de ilusão, ligada à ação dos
sentidos.
Assim que entrardes na auto-revolução e realizardes a
senda, em toda a extensão, participareis do Espírito. Aí, res-
pirareis na atmosfera de vida divina, então participareis do
Espírito Santo Sétuplo.
A .ciência terrena vive, todavia, no complexo cérebro de
cada um que vive na consciência ligada aos sentidos. A
ciência terrena é formada sobre a base do resultado dos sen-
tidos, e origina-se, portanto, também exclusivamente da pes-
quisa intelectual.
Por outro lado, a Ciência Universal divina, a Gnosis, a
Ciência de que Hermes testemunha, não provém de uma
pessoa ou de um grupo de pessoas, ela não é dividida em
disciplinas, porém - como mencionado - é onipresente como
uma atmosfera, e, por isso, todos os que aprendem a respirar
existencialmente nessa atmosfera chegarão, através de to-
dos os séculos, ao mesmo resultado, à mesma conclusão.
Não há, por toda a parte no mundo, entre os que são
oonhecidos de Deus, nem uma única diferença em conheci-
mento ou orientação, mesmo que eles jamais se tenham vis-
to segundo a forma natural; existe uma unidade absoluta en-
tre todos.

209
XXVI

TODA A GNOSIS É INCORPÓREA

É possível determinar e definir um microcosmo com o


núcleo anímico situado em seu centro. Pode-se também co-
nhecer a forma anímica que se desenvolve no microcosmo,
verificar todos os corpos no microcosmo e todas as ativida-
des nesses corpos e ainda acompanhar processualmente
suas vidas e seus movimentos. Tudo o que pertence ao cria-
dor e dele provém, seja microcosmo, cosmo ou macrocosmo,
é fundamentalmente reconhecível. Tudo torna-se manifesto
no espaço. Nessa imensurável, magnífica e grandiosa oni-
manifestação, realiza-se o processo de desenvolvimento de
todas as ondas de vida. Todos os mistérios que existem nes-
se espaço, talvez incontáveis, serão, um dia, sondados. São
eles os mistérios da criação e de tudo o que é criado.
Contudo, deveis compreender bem que, além dessa
onimanifestação, existe algo mais, algo que não pode serre-
conhecido, determinado ou visto, nem espacial nem existen-
cialmente, e não pode ser alcançado por nenhuma criatura.
Esse Outro* é ao mesmo tempo tão onipresente e imponente
que todo o espaço da onimanifestação, com todos os bilhões
de sistemas da Via Láctea que aí se encontram, é um nada
em relação a ele.

211
Existem, como sabemos, sete dimensões no espaço;
porém, ó Outro é supra e extradimensional. Não hâ palavras
que descrevam esse Outro; por isso, Lao-Tsé somente podia
falar de "Isto". Compreendei, portanto: Ele é tudo em todos.
DEle tudo provém, tudo dimana e para Ele tudo retorna.
Compreendei que falamos do Espírito, de Deus. A idéia do
que seja "Isto", Paulo exclama num cântico de louvor na Car-
ta aos Romanos:

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedo-


ria como do conhecimento de Deus! Quão ines-
crutáveis são os seus caminhos, quão insondá-
vel, o seu julgamento.
Pois, quem veio a conhecer a mente do Se-
nhor ou quem se tornou seu conselheiro? Ou
quem Lhe deu algo para que Ele tenha de devol-
ver? Porque todas as coisas são dEle, por Ele e
para Ele; glória a Ele para sempre! Amém.

Por isso, tudo o que pertence ao criador deve-se dirigir


a "Isto", pois nEle se encontra o objetivo único de nossa exis-
tência. A onimanifestação é o mar da plenitude, e esse mar é
envolto, conduzido e sustentado por "Isto". Somente nEle en-
contramos a raiz da existência, de todo o existente; pois tudo
o que nos envolve, purifica-nos e inflama-nos com Sua força.

Pensai agora na imagem que vos pudemos apresentar


anteriormente: a idéia do conhecimento universal, da Sabe-
doria Universal, que vos envolve cómo uma atmosfera em
que deveis respirar. Então, podeis compreender bem que to-
da a sabedoria, que é de Deus, não é corpórea, porém incor-

212
pórea.
O conhecimento, que reside no cérebro humano, é uma
irrisória nulidade, em comparação com "Isto". Eis por que é
ridículo comparar o Espírito divino com nossa consciência e,
com relação à última, falar do Espírito.
O conhecimento, que reside no cérebro humano, deve
ser proferido ou escrito para tornar-se conhecível. Nunca se
poderá chamá-lo de universal, pois jamais poderá sê-lo; con-
tudo, na manifestação oniabarcante de "Isto". nesse princípio
primevo amorfo e sem substância, do qual o Todo se desen-
volveu, a sabedoria, o oniconhecimento, deve ser e habitar
onipresentemente sem forma e sem substância. A participa-
ção da criatura nessa realidade sem substância, na onipre-
sença, nessa fonte primeva da sabedoria e do amor deve ser
considerada como a mais elevada forma de religião.
É a religião de Hermes. É a religião da Arquignosis, a
religião do pensamento. Em outras palavras, a rendição total,
a completa consagração do coração e da cabeça a "Isto", de
modo que o Espírito da sabedoria e do amor possa tocar a
criatura e nela se manifestar.
O universo da criação, portanto, toda a criatura, encon-
tra seu objetivo supremo no "Isto". Por isso, o anseio de
união com "Isto" é o objetivo supremo da humanidade. As-
sim, é possível transmitir, em primeira mão, à criatura a in-
tenção do Espírito. Dessa forma, Deus e criatura devem-se
unificar e, com isso, a intenção suprema do Logos em rela-
ção a sua idéia de criação pode ser realizada.

Pelo-exposto, comprovamos que toda a Gnosis, toda a


sabedoria de Deus, é incorpórea, e esperamos, irmãos e ir-
mãs, que vós, como um verdadeiro Tat, entendais isso.

213
Quando vos aproximardes da religião do pensamento, então,
de preférência, não o façais pela forma comum, mística,
eclesiástico-teológica. Todos os que o fazem pela forma co-
mum, ouvem os sinos dobrar, porém não sabem onde estão;
entendem intuitivamente que é Deus quem rege o universo,
que o Espírito é onipresente, no entanto não seguem os ca-
minhos necessários para participar da filiação do Espírito,
permanecendo em seu estado dialético.
Pensai agora mais uma vez na imagem que vos apre-
sentamos, a imagem da Sabedoria Universal em que deveis
respirar. Agora vem a pergunta: como pode a sabedoria, que
é de Deus, ser recebida pela criatura e nela se manifestar?
Hermes responde assim:

A Gnosis é incorpórea. O instrumento de que a Gnosis


se serve é o Nous que, por sua vez, tem o corpo como seu
instrumento. Assim, encontram ambos lugar no corpo, tanto
as atividades que se exercem mediante o Nous como as que
se exercem mediante a matéria.

O Nous, como o sabeis, é o indício da cooperação ideal


do coração e da cabeça intencionada pelo criador; é o cora-
ção aberto para a Gnosis, para a alma original, mediante o
qual o coração celeste é preparado no santuário da cabeça.
Uma vez renascido o coração como o portal e o fundamento
da alma, ele se manifesta no santuário da cabeça e prepara
ali o trono do Espírito por intermédio do movimento retrógra·
do correto. Esse movimento retrógrado correto realiza toda a
preparação da unidade coração-cabéça.
Por isso, compreendereis que toda a Escola Espiritual
gnóstica, seu método, a doutrina transmitida e propalada por

214
meio dela e toda a sua literatura destinam-se a conduzir e
a impelir-vos a essa preparação. Quando o candidato está
pronto para trilhar esse caminho, quando ele deu um passo,
então ao mesmo tempo está lá o reconhecimento, a presen-
ça do Espírito, do Pai; somente assim a descida do Espírito
Santo torna-se uma realidade. A descida da sabedoria que é
tudo em todos.
O candidato que se dedicou a essa obra sagrada como
servidor poderá beber a cada segundo dessa fonte eterna. A
fonte jorra, enquanto é necessário. Ele sabe e conhece tudo
o que deve ser sabido e conhecido, por intermédio do Nous
como instrumento. Espírito e Naus, ligados a Pimandro tor-
nam-se atuantes, dessa forma, no corpo mental e material.
Assim, pode-se ser, na verdadeira acepção da palavra,
servidor e servidora do Pai, de Deus, do Espírito. O processo
aqui indicado funciona com a máxima exatidão como se fos-
se um instrumento de precisão muito delicado. Aqueles que
são ligados ao Espírito, não conhecerão um segundo sequer
em que o mesmo não esteja com eles, quando dele precisa-
rem. Os servidores e servidoras da Fraternidade que se eno-
brecem para o estado de ser da ligação espiritual podem be-
ber, dia e noite, da fonte eterna da sabedoria.
Essa fonte, contudo, cessa de jorrar no mesmo segundo
em que o candidato, por exemplo, é obrigado a ocupar-se
com suas tarefas diretas, e ainda com o campo de vida nor-
mal, por exemplo, com os afazeres sociais e civis. Às vezes,
um acontecimento social está intimamente ligado com a obra
e a tarefa de realização espiritual do servidor. Nesse caso,
origina-se uma espécie de estado intermediário em que o
Espírito se afasta imediatamente assim que o centro de gra-
vidade da atividade deva ser transferido totalmente para o

215
campo dos nascidos da natureza.
Dizemo-vos isso tudo tão incisivamente para deixar cla-
ro que, em nenhuma circunstância, o Espírito se deixa prosti-
tuir ou explorar, o Espírito nunca se subordina ao nascido da
natureza. Daí podeis deduzir o disparate das práticas religio-
so-naturais em que o auxílio divino é invocado para tudo.
Semelhante invocação nunca alcança o Espírito! O auxílio
que se manifesta é a radiação dos eoés naturais com os
quais as pessoas se ligaram por meio de sua orientação. To-
davia, o Espírito não serve, em nenhuma circunstância, aos
nascidos da natureza.
Há homens que se crêem poder passar por um iniciado
ou uma pessoa espiritual por meio de determinada postura
corporal, de certo traje, de expressão facial ou ainda de certa
maquilagem. Todo esse tipo de comportamento e todos es-
ses meios são, todavia, a prova do contrário. Atentai para o
seguinte: quem deseja possuir o Espírito deve perder a si
mesmo. Tão logo o eu entre em cena, o Espírito se retirará.
Essa é uma lei, uma lei à qual ninguém escapa. Entendere-
mos melhor isso tudo se agora, em conclusão dirigirmos nos-
sa atenção ao versículo 31 do décimo-segundo livro de Her-
mes:

... pois do antagonismo e da resistência tudo deve vir


à existência. De nenhum outro modo isso é possfvel.

Vede bem a situação, e suponhamos que trilheis a sen-


da com todas as vossas forças, em total auto-rendição e
também em perfeita orientação e que dessa forma participeis
do campo divino. A sabedoria divina então se manifestará ao
Nous .e no Nous, e este a vossos veículos físico e mental.

216
Assim, deveis servir ao Espírito com todos os irmãos e irmãs
que juntos formam o elo inferior da corrente universal. So-
mente somos verdadeiros participes do corpo vivo, somente
formamos, como grupo, um elo digno da corrente universal,
quando o Espírito pode encontrar acesso a nós e podemos
servi-lo, interiormente, aqui nesta natureza da morte.
Contudo, isso significa também que nós, nesse estado
de ser sublime, devemos ainda possuir nosso corpo nascido
da natureza e, ao mesmo tempo, existir na natureza da mor-
te, no mundo dos opostos. Ficamos, por um lado, no campo
de criação, junto com toda a nossa onda de vida, e, por outro
lado, somos ligados ao Espírito.
Podeis imaginar uma contradição maior e mais doloro-
sa? Ser alçado ao Espírito, ser ligado a "Isto" e, ao mesmo
tempo, ser confrontado com a dura realidade da natureza da
morte. Por um lado, elevar-se no Espírito; por outro, participar
do campo natural. Essa é uma contradição e geralmente uma
grande oposição; sim, de tempos a tempos uma grande
amargura! Porém: ... do antagonismo e da resistência, tudo
deve vir à existência, diz Hermes. Isso porque, segundo um
dever inato e superior, tudo o que está ligado ao Espírito
nunca abandona a obra das mãos de Deus. O universo origi-
nou-se do Espírito. O que se ameaça perder deve ser agarra-
do, deve ser apanhado, mesmo que esteja nas entranhas
mais profundas do inferno. Isso é um dever imanente supe-
rior.
Há um logos do Espírito, e há um logos da natureza. Os
chamados, os sublimes filhos de Deus, devem servir a am-
bos os Jogai. Existem, pois, duas tarefas fundamentais: a
prestabilidade ao Espírito, o verdadeiro serviço a Deus, por
um lado, e a prestabilidade à natureza da morte, por outro. A

217
segunda prestabilidade, a da natureza, deve originar-se da
primeira.' Então, a segunda encontra sua plenitude. Invertam-
se, porém, ambas as tarefas: primeiramente a natureza e
depois o Espírito; então a verdadeira tarefa se submeterá
praticamente à segunda, e se conservará, por fim, apenas a
natureza da morte.

218
XXVII

O MUNDO E SUA TAREFA

Se examinardes o décimo-segundo livro de Hermes,


chegareis indubitavelmente à conclusão de que ele é mais
ou menos difícil de se entender. O conteúdo dá a impressão
de que o autor tenta esclarecer algo, porém sem êxito, pois
lhe faltam as palavras certas, e as idéias formadas por suas
palavras não apresentam uma continuidade lógica.
Não deveis culpar Hermes Trismegisto por essa confu-
são, pois o texto original da filosofia hermética é, sem dúvi-
da, puro e claro como um cristal. Todavia, pelo que sabemos,
não há hoje ninguém que possua esses textos. Os textos ori-
ginais foram violados inúmeras vezes, de manuscrito para
manuscrito, e falsificados de propósito. Afinal, restaram al-
guns manuscritos gregos e coptos dos quais nossa tradução
se originou. Por isso, com esse texto colocado a nossa dis-
posição, devemos tentar recorrer novamente ao que se de-
nomina memória da natureza, a fim de aí ler e entender o
que foi originalmente intencionado.
Para não fazer com que este comentário se pareça sem
importância e fabuloso, deve-se saber o que se entende por
"memória da natureza" e o que o candidato nos mistérios
gnósticos aí pode ler.

219
Se!lJ dúvida, sabeis que cada microcosmo possui um
ser aural, em que se encontra acumulado todo o karma mi-
crocósmico. Tudo o que as personalidades anteriores pensa-
ram e fizeram em nosso microcosmo está registrado como
karma no ser aural. Ora, existe uma parte desse karma que
flui pouco a pouco através do plexo sacro para dentro da per-
sonalidade à medida que passa a v1da. Há também, no mi-
crocosmo de muitos, um karma composto de características,
poderes, qualidades e talentos, realidades vocacionais e po-
derosas tentativas para servir a Deus, o mundo e a humani-
dade. Esse karma somente flui na personalidade quando a
pessoa em questão o invoca mediante sua orientação e,
acima de tudo, sua atitude de vida. Essa pessoa vive literal e
corporalmente na memória da natureza.
Uma terceira possibilidade é a leitura na memória da
natureza de terceiros. Todos os grandes instrutores mundiais
e seus colaboradores diretos, em resumo, todos os grandes
do Espírito que trabalharam pelo mundo e pela humanidade
no decorrer deste século possuem grandiosas, verdadeira-
mente magníficas, câmaras de tesouro aurais, que têm um
poder imenso, nas quais tudo o que eles fizeram, disseram e
ensinaram foi preservado. Nada, absolutamente nada, desse
tesouro pode perder-se. Pois bem, todos os que de algum
modo se enobreceram para ingressar nesse campo de radia-
ção podem ler na memória da natureza tudo o que é útil à
paz, liberdade e bem-aventurança do homem, quando o pró-
prio ser aural o põe em condições para isso.
Portanto, existe uma meméria da natureza que pode
ser denominada "incidental", que se esgota à semelhança de
um campo de tensão, que pode ser anulada: porêm, o liber-
tador, o essencial, da inteira corrente universal encontra-se

220
sempre disponível. Por isso, não falamos somente acerca do
tesouro dos cátaros, o tesouro da Fraternidade anterior; nes-
se sentido, pode-se falar sobre o tesouro de toda a corrente
universal. Assim, é-nos possível, a nós que estamos no corpo
vivo da jovem Gnosis, receber a sabedoria e a verdade her-
méticas originais se vivemos no e mediante o Espírito. Esse
conhecimento não é e nunca foi propriedade especial de uma
pessoa. Ele não foi propriedade exclus1va de alguém que no
passado foi designado como "Hermes Trismegisto". Esse co-
nhecimento é uma parte da Doutrina Universal, que irradia,
qual uma nuvem de testemunho, dos microcosmos interliga-
dos de toda a corrente universal. É a nuvem de testemunho
de que fala a Bíblia.
Voltemos agora a nosso tema, sabendo que se esti-
vermos unidos no Espírito, tudo entenderemos.
No versículo 21 do décimo-segundo livro, é dito que
existem dois coros de deuses, os movíveis ou mutáveis e os
imovíveis ou imutáveis. Aqui, faz-se referência aos deuses
materiais e imateriais. E Tal pergunta no versículo 32 acerca
de nossa humanidade: Quem é então esse deus material? E
a resposta soa como se ela não pudesse soar de forma dife-
rente: O mundo que é belo e efetivo, porém não é bom. Aqui,
não devemos pensar no campo embrionário em que vivemos,
porém, devemos dirigir nossa atenção ao mundo glorioso que
apesar de sua magnificência não deve jamais ser considera-
do o mais elevado.
O mundo deve ser, assim diz Hermes, claramente dife-
renciado do bem único, isto é, da luz irradiada diretamente
de Deus, do Espírito. O mundo foi criado, mediante a própria
vontade divina, à partir da natureza fundamental; portanto,
ele é material e completamente submetido aos antagonis-

221
mos e ~s resistências da dialética, isto é, a necessidade na-
tural do "ascender, florescer e declinar". O objetivo do mun-
do, do campo mundial, é ser um campo de educação, uma
escola prática para os seres humanos. Nada no mundo é es-
tático, tudo vem e tudo vai.
Não parte do mundo nenhuma radiação constante, es-
tática e imutável. Pelo contrário, as radiações que dimanam
do mundo provocam antagonismos e resistências para que
com isso os referidos seres possam extrair uma lição das
tensões despertadoras e trilhar o caminho correto. As forças,
as radiações do mundo fragmentam continuamente suas
criações e criaturas; por isso a essência das coisas terrenas
está necessariamente, segundo a natureza, em equilíbrio
com isso. Tanto o princípio diretor, a causa, como o efeito
são e permanecem transitórios, gerando continuamente uma
mutação.
Esse deus planetário teve um início. Em tempos remo·
tos, nosso planeta, nossa terra-mãe, nasceu. Visto que ela
propaga e executa a vontade, a idéia do Espírito Universal,
ela sempre será, embora tenha tido um início; portanto, o
mundo é imortal, eterno, embora não seja nada mais do que
um campo de criação, um campo de nascimento, em e me-
diante o qual as criaturas são chamadas à existência. Além
disso, elas estão sujeitas à esterilidade, embora carregadas
oom um impulso vital. Que sentido teria uma existência to-
talmente presa à teia da instabilidade, um mundo continua-
mente em movimento num turbilhão de pensamentos e de
formas sempre mutantes? Em meio e em conseqüência do
onimovimento em nosso campo de criação, há um exército
incontável de criaturas, como centelhas de um fogo ardente,
que saltam, vêm e desaparecem novamente.

222
Qual é então o sentido desse oceano de !lamas cósmi-
cas?
Vós, como alunos da jovem Gnosis, deveis entender e
sondar isso totalmente. Hermes diz: Da imobilidade divina
nasce o movimento da matéria. E, assim continua Hermes,
o mundo é esférico como uma cabeça. Essa esfera possui,
como também sabemos, várias esferas, diferentes estados
de densidade. A totalidade de nosso planeta com todas· as
esferas a ele pertencentes, situa-se dentro de outra esfera, a
esfera da imobilidade divina. O Espírito envolve e penetra
cada planeta, do mesmo modo que toda a onimanifestação
envolve a natureza fundamental e é penetrada pelo Espírito.
Tudo o que está compreendido na onimanifestação é movi-
mentado pelo Espírito.
Novamente nos é mostrada aqui a clássica imagem das
duas cabeças, a cabeça em cujo interior se encontra outra:
dentro da esfera espiritual gira a esfera material, o planeta
material. Ou também: no microcosmo existe a personalidade.
O conhecido axioma hermético não diz: "Assim como em ci-
ma, também embaixo"? Do mesmo modo como existe um
campo espiritual em tomo do planeta, em torno do sistema
solar, em torno de cada constelação e da manifestação uni-
versal, assim também existe o Espírito, uma esfera espiritual
em torno de nosso microcosmo.
Vede a vós mesmos como personalidades, como criatu-
ras. Não fostes criados arbitrariamente como fenômenos cin-
tilantes e simultaneamente mortais. Não fostes criados como
um produto arbitrário de um encontro de vossos pais. Não
fostes criados devido ao jogo de !lamas da dialética. Quando,
no caos do mundo glorioso, a criatura se torna num ser pes-
soal quádruplo, então há também ao mesmo tempo uma

223
imutabili~ade espiritual, oniabarcante, um campo espiritual
em torno da centelha.
Trata-se da existência de um intermediário positivamen-
te ativo, entre a centelha de um lado e o Espírito do outro,
entre a personalidade quádrupla e o campo espiritual que a
envolve. Esse intermediário deverá ser a alma, a existência
anímica especial que na doutrina hermética é de'nominada
"Nous". Se esse intermediário estiver presente num sistema
humano, para essa pessoa valerão as palavras do versículo
34:

Tudo o que toca a membrana na cabeça, dentro da qual


a alma encontra seu lugar, é imortal, porque o corpo, por as-
sim dizer, foi criado dentro da alma, e a alma é mais do que
o corpo.

Desse modo, a morte da centelha da existência dialéti-


ca pertence diretamente ao passado, mesmo que a criatura,
assim como o mundo, permaneçam sujeitos à mutabilidade.
A imortalidade torna-se uma realidade mediante a transmu-
tação, a transfiguração. Quando a centelha e a personalidade
quádrupla, a alma e o Espírito, se unirem, a eternidade será
celebrada no tempo. Deve, portanto, existir um estado aními-
co que se dirija perfeitamente à grande e magnífica coesão e
à idéia de toda a onimanifestação: Espírito, alma e matéria
em magnífica e perfeita harmonia.
O versículo 34 indica, como uma advertência, a oposi-
ção e suas conseqüências:

Tudo, porém, que é exterior à membrana, é mortal, per-


tencendo mais ao corpo do que à alma.

224
Para onde dirigis o ponto central de vossos interesses?
Para a matéria? Para a terra? Agarrais-vos ao pó desta natu-
reza ou dirigis os pontos centrais de vosso ser para o Espíri-
to?
O corpo, nossa personalidade, é composto de bilhões
de átomos e mantido por um contínuo bombardeamento de
átomos. Todos os átomos do corpo possuem uma vida, e a
soma dessas vidas de todos os átomos, em conjunto, forma
vossa consciência. Por isso, Hermes emprega a palavra "a-
nimal", quando se refere à humanidade dialética. Dispomos,
devido a nosso nascimento natural, exclusivamente de uma
consciência animal, uma consciência corpórea e uma cons-
ciência atómica. Quando, pois, vossa consciência se concen-
tra exclusivamente no corpo, e toda a vossa atenção e zelo
dirigem-se à satisfação, proteção e conservação de vosso
corpo, assim como acontece com a maioria das pessoas, en-
tão a consciência animal, atómica, desenvolve-se num ego,
que sempre se fortalece e finalmente domina tudo.
A conseqüência disso é somente miséria, dor e morte.
Depois, entra nesses estados a desnaturação da alma, do
núcleo anímico, da rosa, que se encontra no centro do micro-
cosmo. Essa rosa fecha então seu cálice; o núcleo anímico
atrofia-se em uma semente. Assim, o campo espiritual é pra-
ticamente desligado da manifestação. É de se admirar que
esta manifestação deva morrer?
Eis por que deveis realizar oportunamente a atividade
anímica original em vosso sistema e, graças à alma renasci-
da, realizar a ligação com o Espírito, e viver desse Espírito.
Somente assim venceis, como se diz, a morte.
Como deveis fazer isso? Neutralizando o eu que me-
drou num satã. Vossa alma animal, vossa consciência-eu,

225
deve-se calar e deveis abandonar vossa idolatria material.
Toda a ênfase da vida deve ser deslocada e orientada em di·
reção do Espírito único, o Espírito Santo Sétuplo.

226
XXVIII

ESPÍRITO E MATÉRIA

Depois de nossa introdução, tere1s sem dúvida compre-


endido que no décimo-segundo livro, Hermes nos coloca
diante de um grande problema, que tantos não quiseram re-
solver conscientemente na história mundial, isto é, o proble-
ma da separação prática entre Espírito e matéria. Toda a cri-
tura, até mesmo os menores microorganismos, possuem um
aspecto material e um espiritual. Por isso, o versículo 34 de
nosso texto diz:

. . . tudo o que está vivo, assim como o universo, com-


põe-se de matéria e Espírito.

Não penseis, porém, que isso significa que toda a cria-


tura seria, ao mesmo tempo, um ser material e um ser espiri-
tual. Não, cada manifestação matenal possui vida em si e
por meio de si mesma, devido ao fato de que ela é composta
de átomos viventes, como já explicamos anteriormente. É a
manifestação, o ser criado e envolto, num sentido amplo ou
restrito, por um campo espiritual. Do mesmo modo que toda
a manifestação encontra-se encerrada na divindade, no Espí-
rito, assim também acontece com toda e qualquer criatura.

227
Entretan_to, quando a criatura não pode manifestar o Espírito
que a envolve, a idéia que serve de base a sua existência,
ela é somente como uma coisa que se desintegra e portanto
morre, logo que sua força vital animal se exaure.
Não se pode dizer, tal como já aconteceu uma vez: "O
corpo sem a alma está morto", pois ele sem a alma não é
nenhum corpo. Se um corpo não possui alma, ele não pode
viver nem mesmo morrer. Essa insinuaçoo provém daqueles
que negam ou não conhecem o Espírito. Talvez conheçam
apenas uma vida de consciência natural mais ou menos cul-
tivada, que sem razão descrevem como sendo "a alma". To-
davia, essa vida de consciência é somente a vida do corpo.
Aqueles que se dedicam a essa cultura não desejam aban-
donar de bom grado o resultado disso. Preferem, porém, a
morte à vida, a vida que somente poderá ser despertada do e
pelo Espírito.

Há, portanto, dois tipos de vida, assim como também


dois tipos de alma, pois (repetimos): todo o átomo possui vi-
da, todo o átomo é animado. Uma composição, um sistema
de átomos, contém uma consciência, um tipo de alma, for-
mada pela vida presente em todos os átomos. Nesse caso,
falamos de uma alma natural e também de uma vida natural.
No entanto, essa vida natural, esse corpo natural, é envolto
por um campo espiritual, e o relacionamento desse corpo,
que possui um estado natural de consciência, com o Espírito
determina tudo.
Se a alma e o corpo naturais vivem na ilusão: "Possuí-
mos, temos e somos Espírito, alma e corpo", então eles são
sUbmetidos à morte. São, como diz a Bíblia, "mortos-vivos".
Todos nós, cada um a sua maneira, possuímos uma alma na-

228
tural mais ou menos cultivada em sintonia com nossa dispo-
sição hereditária e com as condições cármicas. Denomina-
mo-nos "homens civilizados". Vivemos segundo determina-
das normas éticas e tentamos viver cada momento o melhor
possível.
Porém tudo isso não resulta em nenhuma solução, ne-
nhuma paz, nenhuma alegria e nenhuma felicidade, pois a
maldade e o mal caminham de mãos dadas com o bem natu-
ral. Vossa alma natural vos faz de fato extremamente mise-
ráveis. Vossa vida é a vida do corpo.
A partir da idéia de que todo o átomo possui vida e que
todo o agrupamento de átomos pode representar uma vida
comunitária, tem-se igualmente desenvolvido, através de to-
dos os tempos até nossos dias, determinado tipo de magia.
Algumas igrejas têm sempre tirado proveito dessa magia e,
de vez em quando, aqui e acolá, imagens de madeira, pedra
ou metal, ou outros objetos, falam, movimentam-se ou 'ver-
tem lágrimas. Pensai, por um instante, na imagem de Maria,
em Lourdes. Não penseis que tais acontecimentos se ba-
seiam em ilusão. É possível tornar real a vida de uma ima-
gem, a força de seus átomos por meio de determinada irra-
diação mental. Caso investigueis isso com o auxílio dessas
explicações, encontrareis incontáveis provas.
Mostramo-vos esses fatos para fazer-vos compreender
totalmente que não provais absolutamente nada quando,
com vossa alma corpórea, vossa alma natural, com a cons-
ciência de vossa personalidade, verteis lágrimas de emoção,
conversais animadamente sobre a Gnosis e discutis intelec-
tualmente a filosofia sagrada e mil e um temas profundos. O
que importa é se vós possuís algo da alma imortal, se co-
nheceis algo da outra vida; em resumo, se o Espírito fala em

229
vossa vie!a. É disso que se trata. Hermes diz:

O mundo é a primeira criação; após o mundo, o homem


é o segundo ser vivente, porém o primeiro entre os mortais.
Com os outros seres viventes, ele tem o elemento animado
em comum. Ele não somente já não é bom, porém mesmo
mau, por causa de seu estado mortal.
O mundo não é bom, pois é movível, porém não é mau
enquanto imortal. O homem, todavia, é dual no mal, por ser
tanto movível como mortal.

Nada que é criado pode ser bom segundo o bem único.


Somente por isso o mundo não é bom, pois ele é movível, is-
to é, dialético, conhece a ascensão, o florescimento e o de-
clínio dialéticos. Tudo o que flui e é absorvido por outra coi-
sa, demonstra com isso, que se encontra num processo de
desenvolvimento, num processo de manifestação. O mundo
está de posse da imortalidade. Assim, ele prova que não está
subjugado à maldade.
Segundo Hermes, o mundo é movível, porém imortal.
Todavia, o homem é movível e também mortal. Por isso, o
mundo se sobrepõe ao homem, e o homem não governa o
mundo, como pensa a alma corpórea em sua ilusão; porém,
o mundo governa o homem.

Se já admitistes isso, podemos dirigir nossa atenção


outra vez ao outro estado de alma, que deveria ser um ponto
de encontro entre o Espírito que nos envolve e a consciência
corpórea ou a alma animal.
A alma animal, a consciência do homem nascido da na-
tureza, deve conscientizar-se de sua vocação. Para que nas-

230
cestas? Para vos consagrardes à alma vivente e ao Espírito!
Deveis servir ao Espírito. Deveis compreender a idéia do Es-
pírito e vos confiar a ele integralmente. Se a alma animal, a
consciência normal, não faz isso, vós morreis; sois submeti-
dos à morte, à dissolução. Se, porém, dedicais-vos a vossa
tarefa, morreis então para viver, isto é, entrais naquilo que se
denomina "transfiguração", a ascensão do mortal ao imortal.
A verdadeira alma ofertada por Deus, a rosa, o ponto
central do microcosmo, deve ser viviftcada. Esse núcleo deve
ser libertado. A rosa deve ser atada à cruz. Quando vos tor-
nardes assim verdadeiros rosacruzes, a entrada do Espírito
em vós poderá ser festejada e a ressurreição consumada.
Hermes explica tudo isso nos versículos 38 e 39 de forma
concisa e vigorosa.

A alma do homem manifesta-se do seguinte modo: a


consciência na mente; a mente na força dos desejos; a força
dos desejos no fluido vital; o fluido vital se espalha através
das artérias, das veias e do sangue, dá movimento à criatura
animal e a conduz, por assim dizer.
Por isso, alguns acham que a alma é o sangue. Desco-
nhecem, porém, a natureza de ambos. Não sabem que o
fluido vital primeiramente se retrai no corpo de desejos, que
em seguida o sangue começa a se coagular, e que, quando
então as artérias e as veias se esvaziam, isto faz morrer a
a-iatura. Assim, realiza-se a morte do corpo.

Em resumo, a alma animal, a consciência comum, nas-


cida da natureza somente existe até a dissolução da forma.
Contudo, a outra alma, o verdadeiro estado anímico, movi-
menta-se de forma totalmente diversa. Em primeiro lugar,

231
manifes~a-se o Nous, isto é, a rosa do coração vivificada, a
alma do núcleo do microcosmo, e une-se à irradiação espiri-
tual. O Nous entra em contato com a razão, que assim é
preenchida pelo Espírito. A consciência cérebro-racional é
consagrada dessa maneira a sua verdadeira tarefa Em con-
seqüência disso, todo o estado de vida dialético começa a
corresponder a seu objetivo.
E agora surge uma ação reciproca. A razão preenchida
pela alma-espírito liga-se à consciência comum; por conse-
guinte, a consciência se ligará novamente à alma-espírito, a
alma-espírito ao Espírito e o Espírito à razão.
Expliquemos de outra forma quando a verdadeira alma
pode festejar seu encontro com o Espírito, nasce um fluxo de
sete raios no santuário da cabeça. O santuário da cabeça é
preenchido pelo Espírito e somente então os aspectos da
consciência cérebro-racional podem desenvolver-se da forma
correta Ao mesmo tempo, desenvolve-se uma influência de
todo o ser mediante o Espírito.
Assim, descobris um movimento retrógrado: a partir da
razão, na cabeça, e pelo sangue através de todo o sistema;
do coração do candidato fluindo para a alma-espírito, da al-
ma-espírito para o Espírito, do Espírito novamente para a ra-
zão. Esse é um movimento retrógrado que sustenta o outro
movimento retrógrado, sobre o qual freqüentemente vos te-
mos falado. Dessa forma, o Espírito se torna ativo e reconhe-
cível em toda a existência.
Entretanto, como já há milhares de anos muitos sabem
disso por terem ouvido falar, cdnsolidou-se assim a idéia de
que o sangue seria a alma que se une com o Espírito. Enga-
nam-se também sobre a natureza da alma e já não se sabe
ou já não se deseja compreender que, em primeiro lugar, o

232
Espírito deve voltar novamente para a alma. Somente então
o homem se assemelhará ao mundo sagrado. Apenas assim,
o homem se tomará imortal por meio da transfiguração. Ha-
verá então um novo céu e uma nova terra e também um no-
vo homem.
Somente poderemos ser um novo homem se vivermos
em ligação com o Espírito.

233
XXIX

O MISTÉRIO ESSENCIAL DO HOMEM

Chegamos em nossa dissertação a um dos pontos cen-


trais do mistério de décimo-segundo livro de Hermes: um
mistério que pode ser chamado de mistério essencial do ho-
mem. Já vos explicamos que Hermes distingue duas espé-
cies de vida: a vida nascida da natureza e a vida espiritual
verdadeira. Ele diz:

Tudo se apóia somente num princfpio, e ele mesmo


surge do Um e Único. Esse princípio é movido a fim de que,
a seu turno, ele seja novamente a base motriz do Todo.
O Único, porém, é imutável e i movível!
Assim, há estes três: Deus, o Pai, o Bem; o mundo e o
homem.
Deus mantém encerrado o mundo; o mundo, o homem.
O mundo é o filho de Deus; o homem é o filho do mundo,
como que o neto de Deus.

Deus criou o mundo, porém o mundo criou o homem. O


mundo é filho de Deus, todavia o homem é filho do mundo.
Por certo observais o quanto esse ponto de vista diferencia
do da teologia atual, que considera cada criança nascida da

235
natureza como um ser concebido por Deus.
Conheceis as expressões comuns empregadas na par-
ticipação de um nascimento: "Deus nos regozijou hoje com o
nascimento de nosso filho ou nossa filha". Isso pode ser ver-
dade quando, com isso, estiver referindo-se a deus do mun-
do. Contudo, o homem religioso natural certamente não tem
essa intenção. Pelo contrário! A religião natural diz servir e
professar a Deus, o Pai, e ao Bem, partindo do grande erro
em crer que já possui o Espírito.
Os sistemas estelares e solares originam-se, em senti-
do direto, da natureza fundamental; de fato, Deus criou o
mundo. Porém é no mundo e pelo mundo que vêm à exis-
tência as diferentes ondas de vida, das quais a humanidade
é a mais importante em relação a nosso planeta. Em virtude
de nossa existência, fomos criados diretamente do mundo.
Somos da terra, terrestres. A terra e sua plenitude é nosso
campo de vida, nosso campo de nascimento, nosso campo
de trabalho; porém, assim diz Hermes, não é que Deus des-
conhecesse o homem; pelo contrário, Ele o conhece perfei-
tamente, e quer ser conhecido por ele, porém isso não por-
que sejamos de geração divina, em sentido direto.
Por que somos conhecidos por Deus? Porque nossa
existência como nascidos da natureza é envolta por um
campo espiritual microcósmico. Da mesma forma que a terra
como cosmo jaz no Espírito, assim também acontece com o
microcosmo que nos envolve. Embora o homem segundo to-
da a sua personalidade quádrupla, pertença à terra, há a
possibilidade, para os nascidos da natureza (devido ao toque
do campo espiritual), de um novo devir humano, de outro de-
vir totalmente novo fora de nós, perto de nós, porém ligado a
nós, pelo toque do campo espiritual. Por isso, encontra-se

236
na Gnosis* Universal:

Somente é libertador, salvador e salutar ao homem, a


Gnosis, o conhecimento de Deus. Ela é a senda para a as-
censão ao Olimpo. Somente graças a ela a alma se toma
verdadeiramente boa; não uma vez boa e outra vez má, per
rém boa por necessidade interior.

Pode existir uma criação totalmente diferente, um com-


pletamente novo devir humano fora de nós, porém intima-
mente ligado a nós. Não somos nós nascidos da natureza
que nos tornamos uma nova criatura, porém um totalmente
Outro. Ao lado do homem terreno existe o homem espiritual.
O primeiro, da terra, terreno: o segundo, do céu, celeste.
Pensai aqui na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 15, ver-
sículo 35. Então sabereis, percebereis e vereis que Paulo se
refere aqui à sabedoria hermética.
Assim, não apenas um se modifica, mas dois: em ou-
tras palavras, são dois em um único microcosmo: um homem
celeste e um homem terreno.
Agora podeis descobrir quanto a Bíblia a nós transmiti-
da está mutilada e falsificada, porque não se entendeu ou
não se quis entender tudo isso, pois fomos tomados por essa
grande cegueira autocriada, por essa grande ilusão de poder
transformar o homem terreno em homem celeste. É ilusão
ser um homem terreno, idolatrar a terra e a ela servir, agarrar-
se a ela com firmeza, ter grande medo e preocupação pelo
corpo terrestre, recorrer a todos os expedientes para conser-
var esse corpo, até mesmo à citoterapia, e ao mesmo tempo
pensar ser de geração divina!
Compreendeis a~ora o que Jesus Cristo, que veio a nós

237
como ho.mem celeste, como o totalmente Outro, tencionou
quando disse: "Meu reino não é deste mundo"?
É fora de cogitação que um nascido da natureza tam-
bém se torne ou possa tornar-se um homem celeste, pois se
trata aqui de duas criações diferentes, de duas criaturas bem
distintas, de dois seres nitidamente diferenciados um do ou-
tro.
Então, como ficamos com a transfiguração' apregoada
pela Escola da Rosacruz? Já compreendestes bem o que é a
transfiguração? Transfiguração quer, no sentido mais profun-
do, dizer: consagrar-se inteiramente como homem terreno,
como homem nascido da natureza, à criação, ao devir do to-
talmente Outro, à vivificação da "imagem com os olhos mor-
tos".
O homem pode fazer isso? Sim, pode. Na realidade,
essa é a sua vocação, sua tarefa, sua missoo. Para isso ele é
criado. Se ele segue, sem mais nem menos, o impulso natu-
ral como ser terreno, em determinado momento, a morte al-
cança-o através do caminho da experiência dialética em as-
censão, florescimento e declínio.
Se, porém, ele segue sua vocação, nasce em seu mi-
crocosmo, um homem celeste, o totalmente Outro, com o
qual é colocado frente a frente. E, em certo momento, o ho-
mem terreno, em dedicação e mediante auto-rendição a esse
Outro, morrerá, erguer-se-à e ressuscitará nele, que é o Ou-
tro. Essa segunda morte significa a vitória sobre a morte.
Assim, vemos apresentar-~e duas formas de vida espiri-
tual, uma ao lado da outra: uma que é a "vida espiritual" so-
mente segundo as aparências, a saber, a do homem nascido
da natureza que canta odes, ouve sermões e pratica a ética,
e ao lado desta vemos a vida plena de Espírito, consagrada à

238
Gnosis, em conseqüência do que podemos chamar o Oútro à
existência. Por isso Hermes diz:

Somente é libertador, salvador e salutar ao homem a


Gnosis, que é de Deus. Ela é a senda para a ascensão ao
Olimpo. Somente graças à ela a alma se toma verdadeira-
mente boa; não uma vez boa e outra má, porém boa por ne-
cessidade interior.

Há relativamente muito poucas pessoas que compre-


endem algo dessa vocação da humanidade: sim, em geral,
jamais ouviram falar algo a respeito. Quando se é jovem,
uma jovem alma da natureza e ainda pouco carregada, esse
cintilante chamado do início pode ainda ser percebido, senti-
do.
Quando, todavia, o corpo se torna velho e pesado e a
alma natural sobrecarregada com coisas e problemas terre-
nos, o corpo arrasta a alma para o esquecimento da criação.
Então, já não se pode ter nenhuma participação na indescri-
tível magnificência da verdadeira vocação humana; e esse
esquecimento do essencial de nossa existência é o maior
dos pecados, é o mal.
Tudo isso que procuramos esclarecer-vos pertence à
religião hermética, à religião do Espírito, à religião do pen-
samento. Isso é a pura Gnosis, é a vivência gnóstica pura, a
praxis religiosa mediante a qual todo o ser nascido da natu-
reza deve tornar-se apto para sua única e verdadeira tarefa.
Nessa preparação, o Outro, no microcosmo, eleva-se para
uma maior magnificência e se torna como que uno com o
nascido da natureza. Essa unidade é extraordinária, notável.
Hermes diz a esse respeito:

239
Por~m quando a alma-espírito se purificou de seus en-
voltórios e, sendo de natureza divina como é, tomou um cor-
po ígnea, perco"e todo o espaço.

A composição dos envoltórios realiza-se no corpo terre-


no, pois o Nous, devido a sua essência, não pode, de forma
alguma, instalar-se diretamente num corpo terreno. Com efei-
to, o corpo terreno não pode compreender uma divindade tão
grandiosa, e nem pode uma força pura tão magnífica e pura
suportar uma ligação em contato direto com urr. corpo sujeito
às paixões. Por isso, o Nous envolve-se com a alma; a alma,
porém, faz-se servil ao alento vital, enquanto que o alento vi-
tal guia a criatura. Quando o Nous se retira do corpo terreno,
ele se envolve imediatamente em sua própria veste ígnea; o
corpo terreno, porém, não pode fazer isso.
O Nous é a confluência da alma pura renascida com as
radiações do Espírito; a ligação daquilo que denominamos o
átomo-centelha-do-espírito• ou a rosa do coração, o ponto
central do microcosmo, com as radiações do Espírito Sétuplo.
Devemos, portanto, diferenciar bem entre a consciência
terrena com seu núcleo, o princípio animador terrestre, situa-
do no santuário da cabeça, e a rosa, o núcleo da alma pura,
original, que se encontra no ponto central do microcosmo.
Este último núcleo, este ponto central original, pode tornar-se
uno com o coração, se o abrirmos para isso.
A alma terrena deve servir à rosa em total auto-rendi-
ção. Então, a rosa da alma se íJ.bre, e atamos• a rosa à cruz.
E a rosa da alma liga-se com as radiações do Espírito; ela
devém no Nous e fala ao coração do homem nascido da ter-
ra; o Nous penetra, como um Pimandro, o santuário da cabe-
ça e preenche assim integralmente o homem terreno, envol-

240
vEH> e guia-o avante na senda.
Nessa ação recíproca, desenvolve-se, mais adiante,
uma nova existência; um novo corpo é criado. Hermes de-
nomina-o corpo ígneo. Ele é mais brilhante do que um re-
lâmpago e totalmente independente da corporeidade terrena
da personalidade. É com razão um corpo espiritual, um corpo
diretamente formaao da substância primordial astral pelo Es-
pírito, um soma psychikon, uma veste áurea de núpcias, e,
com ênfase, Hermes afirma que, embora essa preparação
oéorra com o auxílio de um corpo terreno, é impossível que
um corpo terreno possa suportar tamanha divindade. Se hou-
vesse, logo que nascesse, um contato íntimo demais entre a
veste ígnea e o corpo terreno, o corpo terreno, o corpo seria
sem dúvida queimado.

Assim existem num determinado momento duas enti-


dades distintas: o homem terreno e o celeste. O homem ce-
leste serve-se de seu aspecto anímico para manifestar-se na
consciência do homem terreno, consciência essa que domina
todos os veículos do homem terreno. Dessa forma, garante·
se uma ligação perfeita e uma cooperação harmoniosa do
homem terreno e do homem celeste.
Há muitos irmãos e irmãs que estão envoltos na roupa·
gem celeste. Pensai nas fratenidades da corrente gnóstica
universal. É possível que também vós, mediante anseio in-
tenso, chameis à existência um tal corpo celeste, de modo a
virem existir duas entidades em vosso microcosmo. Quando
a hora chegar, todos os habitantes do céu celebrarão con·
vosco o grande e magnífico encontro.
A fim de realizar essa grandiosa, magnífica e divina
obra, para efetuar essa magia divina, viestes aqui à Escola

241
da Rosacruz Áurea! Para realizar esse milagre dos milagres.
Isso é a Gnosis.

242
XXX

O MISTÉRIO DO FOGO (I)

Desejamos dirigir vossa atenção agora para o radiante


e majestoso mistério do fogo. Hermes aborda esse assunto
pormenorizadamente, e como possivelmente o sabeis, isso
acontece com todas as escrituras sagradas, com todas as fi-
losofias místicas. Assim, aquele que pode sondar o significa-
do do mistério do fogo, possui a chave para todos os outros
mistérios. Para tal homem, já não existe, em princípio, ne-
nhum segredo.
Voltemo-nos agora para a Bíblia, pois sobre o funda-
mento de um conhecimento bíblico, conseguimos estabelecer
diferentes pontos de vista do fogo. Atentai, por exemplo, pri-
meiramente para os livros mosaicos. Deus falou a Moisés na
sarça ardente. No meio do fogo, Deus lhe falou em cima da
montanha. Daniel caminhou no meio da fornalha de fogo ar-
dente. Ezequiel é confrontado com a nuvem de fogo. E quan-
tas vezes o Novo Testamento fala de fogo? João disse: "Eu
vos balizo com água, mas, aquele que vem depois de mim,
vos balizará com o Espírito Santo e com fogo".
Sobre a cabeça dos discípulos foram vistas línguas co-
mo que de fogo, na festa de Pentecostes. E, finalmente, le-
mos no Livro das Revelações (Apocalipse): ·sua cabeça e

243
seus cab_elos eram qual lã branca, como a neve; e seus olhos
como uma chama ardente". Essas poucas citações da Bíblia,
nas quais se menciona o fogo e que podem ser ainda com-
pletadas por meio de muitas outras como, por exemplo, a do
charco de fogo, podem ser suficientes para nos tomar claro
que o fogo sifgnifica simplesmente o Espírito imaculado.
Também testemunham as palavras: "Pois o Senhor, teu
Deus, é um fogo consumidor". Assim que, como falamos an-
teriormente, o Espírito desce num aluno e entra em ação re-
cíproca com sua inteira existência, desenvolve-se inevitavel-
mente um fogo, uma chama e um novo veículo, o veículo da
chama. Aqueles que possuem e podem sustentar esse veí-
culo, são, por isso, denominados "filhos do fogo", através de
todos os tempos.
É impossível, assim diz Hermes a esse respeito, que o
corpo terreno possa suportar uma divindade tão grandiosa.
Quando mediante uma atitude· de vida correspondente, um
ser, um aluno dos mistérios gnósticos, entra em ligação com
o fogo do Espírito, desenvolve-se simultaneamente uma fia-
ma poderosa como que um relâmpago. A ligação do Espírito
com a substância astral da personalidade produz imediata-
mente um fogo poderoso. Talvez compreendereis que um
corpo normal, nascido da natureza, não pode suportar tal fo-
go.
Há o fogo cognoscível e o fogo incognoscível de onde
dimana o primeiro. O fogo incognoscível é o Espírito virginal,
e o fogo cognoscivel é o Espírilo que entra em contato com a
substância astral. Cada aluno conhece teoricamente o cami-
nho para a descida do Espírito, a senda para a conversão do
fogo incognoscível em fogo cognoscível. Os rosacruzes•
clássicos denominavam isso "a arte da fabricação do ouro".

244
Os antigos fabricantes de ouro eram os irmãos e irmãs que
trilhavam a senda do Espirita e, por conseguinte, sabiam tra-
zer o fogo áureo, a chama áurea, à existência.
A adoração do fogo era originariamente a adoração do
Espírito. O culto solar é um culto espiritual. Todavia, não se
pode permanecer num culto como esse, na adoração do Es-
pírito, assim como todas as religiões naturais têm-no feito,
em vivência negativa. Aqui se trata da própria realização do
fogo, da própria fabricação do ouro.
Há, como o sabemos, outro fogo. o fogo comum que
conhecemos. Esse fogo é o fenômeno que nasce do desen-
volvimento simultâneo de luz e calor. Com o aumento de
calor e havendo oxigênio suficiente, nasce a chama, em
grande número de diferenciações de natureza e calor. Uma
chama ígnea é, portanto, um símbolo magnífico do Espirita,
embora não seja nenhum Espírito.
O fogo terreno deveria ser colocado em ligação com o
fogo espiritual. Por intermédio do campo espirita! circundante
e das sete radiações que dimanam desse campo espiritual,
nascem no campo de criação envolto pelo Espírito, diversas
relações elementares, diversas tensões que despertam uma
força representante do fogo no campo de criação. Conhece-
mos tal força pelo nome de eletricidade. No campo de cria-
ção, a luz e o fogo nascem dessa força por meio do atrito e
da rotação. A força elétrica de todo o campo de criação está
sempre latente ou dinamicamente ativa. Há, em nosso Sis-
tema Solar, enormes fontes de forças eletromagnéticas. Pen-
sai no sol por um instante. Se essas forças fossem liberadas
de forma errônea, o Sistema Solar e o nosso planeta seriam,
certamente, incinerados em menos de uma !ração de segun-
do. E, quando pensamos no assim chamado magnetismo

245
animal, ~abemos que em cada criatura está presente um
grande número de atividades e fenômenos elétricos. Contu-
do, eles não ultrapassam as normas de nosso campo de
criação. Toda a magia se baseia também nas radiações ele-
tromagnéticas.
Além disso, podereis perceber que, quando um homem
transgride a lei natural, ele força sempre o desenvolvimento
de perturbações, perturbações nas condições eletromagnéti-
cas de seu sistema vital. Toda a enfermidade nada mais é do
que uma perturbação no sistema eletromagnético da pessoa.
Geralmente, o homem desencadeia sobre si mesmo um fogo
abrasador, perturbador, e o assim chamado "fogo infernal"
também se explica por isso. Não é Deus que joga o homem
no fogo, porém, o homem que inflama esse fogo transgredin-
do as leis elementares da vida de seu campo de criação.
Também a lenda de que o homem deve apresentar-se peran-
te o tribunal de Deus após a morte e de que eventualmente
seja lançado aos infernos por isso é agora totalmente escla-
recida. Um homem natural muito duro, cujo comportamento
de vida erróneo transgrediu todas as leis elementares da na-
tureza e, por isso, despertou tensões indescritíveis em seu
próprio sistema, experimentará, quando o corpo material for
separado do resto da personalidade por meio da morte, uma
violenta combustão do que sobrou da personalidade. Uma
chama se eleva então no microcosmo. Um violento incêndio,
um fogo flamejante. Dessa forma, a própria sentença é exe-
cutada rapidamente. Na maimia das vezes, isso é acompa-
nhado de uma dor violenta para a consciência em extinção.
Nos casos normais, esse processo de combustão desenvol-
ve-se bem mais vagarosamente. Em Desmascaramento11,

1 1. De Jan van Rijckenborgh,

246
um livro talvez já de vosso conhecimento, é explicado como
os habitantes da esfera refletora se mantêm por meio do
roubo de éter luminoso, que é fortemente carregado de ele-
tricidade. Os homens que são conhecidos como magnetiza-
dores trabalham sempre com o éter luminoso, portanto, com
forças elétricas.
Também podeis imaginar agora de que maneira se rea-
lizam as mistificações por meio dos seres da esfera refletora,
que, com freqüência, gostam de apresentar-se como filhos do
fogo. Aquilo que eles oferecem é uma imitação deplorável,
porque, assim diz Hermes no versículo 51, o corpo terrestre
não pode suportar tão grande divindade nem pode suportar
força tão gloriosa e pura, nem no contato nem na contempla-
ção.
Somente aqueles que trilham a senda e receberam as
radiações do Espírito resistiram a um encontro desse tipo.
Assim diz o sagrado texto hermético (versículo 53):

. . . a terra não pode suportar o fogo; apenas uma pe-


quenina centelha já basta para consumi-la inteiramente em
chamas; por isso a terra está inteiramente envolvida por
água, que a protege como escudo, contra as chamas do fogo.

Nesse versículo, alude-se às gigantescas energias elé-


tricas que estão concentradas no Sistema Solar. A atmosfera
planetária extremamente complicada, que sempre é simboli-
zada pelo elemento água, cuida para que nosso campo de
criação planetário esteja e permaneça suficientemente isola-
do.
Cada planeta, cada partícula do Sistema Solar tem um
valor eletromagnético próprio e especifico. Todavia, todo o
isolamento pode ser rompido e prejudicado, o que poderia

247
provocar grandes catástrofes! Por isso, uma lei natural ex-
tremaménte poderosa cuida para que cada campo de cria-
ção, que corresponde a uma tensão própna, possa levar a
cabo seu trabalho sem distúrbios.
Se a terra perece pelo fogo, isso significa uma pertur-
bação da lei natural citada, causada por determinada parte
da humanidade. Pensai na atividade da Ciência Atómica.
Podeis talvez imaginar o enorme prejuizo que seria causado
à terra, como campo de criação, por meio de experiências
atõmicas arbitrárias. Talvez, tambÉm o saibais como a Fra-
ternidade do Graal tem sempre tentado neutralizar, ao máxi-
mo, as catástrofes ameaçadoras e a dor a elas aliada, a fim
de restringir, ao mínimo possível, a abrangência de tais ca-
tástrofes, caso aconteçam.

O fogo-raiz do Espírito é a onipoderosa força em todo o


universo, uma força que ultrapassa todo o poder de imagina-
ção, todos os limites; por isso, provavelmente podereis fazer
uma idéia da enorme comoção que nasce numa alma huma-
na quando os sete dons do Espírito tocam o microcosmo!
Quando essas forças são invocadas, então isso significa vida
ou morte!
Talvez podereis imaginar também a fase em que se
encontra a Escola Espiritual da jovem Gnosis desde há al-
guns anos, na qual todos nós somos colocados perante a
missão de aprender a trabalhar com as forças do Espírito,
tanto como Escola como também em determinados grupos
da Escola.
Como humanidade, encontramo-nos de novo na fase da
descida do Espírito Santo. Novamente foi aceso o fogo de
Pentecostes; e isso é algo diferente do festejar e comer o

248
pão de Pentecostes! Significa aprender como devemos en-
volver-nos com a força mais poderosa do universo, com ela
trabalhar, a ela reagir. E repetimos: assim que o Espírito des-
ce, nasce um poderoso fogo. Esse fogo não pode ser supor-
tado por nenhum corpo terreno. Em conseqüência, nos últi-
mos anos desenvolveu-se uma tensão sempre crescente no
campo magnético da Escola. E cada um reage a seu próprio
modo.
Esperamos e oramos que todos vós possais conduzir a
bom termo a tarefa de vosso discipulado, pois essa é uma
questão de vida ou morte.

249
XXXI

O MISTÉRIO DO FOGO (11)

Devemos ainda esclarecer-vos pormenorizadamente


acerca do mistério do fogo e dos filhos do fogo que, como
relâmpagos, arrojam-se através do universo. Abordamos
apenas superficialmente esse tema no capítulo XXX, porém
a importância de tal assunto se vos revela no versfculo 55 do
décimo-segundo livro. Lá, lemos:

O pensamento do homem apenas cria o que é da terra,


pois, visto que a faculdade de pensar humana não possui
envoltório ígnea, não é capaz de dar existência a coisas divi-
nas e, por causa de seu envoltório, está limitada ao que é do
homem.

Essa lei natural é aqui transmitida a vós como o resu-


mo de tudo o que já foi dito nos capítulos anteriores. As fa-
culdades de cooperatividade da alma terrena e do estado ter·
reno de consciência não podem realizar nem uma única obra
divina; por isso, o princípio central de todo o homem e tam-
bém o alvo essencial de cada esforço, de cada obra, são tra-
zidos à luz do dia, em determinado momento, por intermédio
da vida ou da morte; da manifestação da vitória ou da ruína.

251
A obra divina atravessa todas as fronteiras do espaço e
tempo e traz a eternidade e a libertação. No entanto, a cons-
ciência terrena, que não produz nada de divino, não pode fa-
zer nada além de continuar a nascer, florescer e fenecer. As-
sim, todos os esforços religiosos ou humanos se firmam e
caem, "porque cada árvore se conhece por seu próprio fruto".
Assim se revela a enorme crise em que a humanidade
se encontra e como aqueles que trilham a senda da Gnosis
tem de demonstrar se são verdadeiros alunos de uma escola
de mistêrios. A humanidade sempre ameaça perecer com es-
forços e obras mundanas; por isso, uma nova fraternidade do
Santo Graal, o terceiro aspecto da tríplice aliança da luz,
apresenta-se novamente na história mundial. Uma fraterni-
dade que somente poderá surgir quando se encontrar em po-
der do fogo-raiz do Espírito e dele dimanar, pois, sabeis que
"carne e sangue não podem herdar o reino dos cêus".
Somente aquele que age e vive do Espírito Sétuplo traz
frutos que podem sobreviver ao tempo. Tudo o mais é sub-
metido à esterilidade.
Vós, que procurais a verdadeira libertação, sabeis que
teve início um esforço imensurável de desenvolvimento para
impelir aqueles que desejam ser alunos da jovem Gnosis a
receber o Espírito, e como eles todos são convidados a aden-
trar urgentemente o salão* de núpcias.
Sabeis também o que é necessário para isso: sacrifício
de todo o vosso ser e vossa mais inteligente colaboração,
onde nenhum detalhe deve ser esquecido ou negligenciado.
O corpo vivente está pronto. Quem se unirá ao verdadeiro
grupo sacerdotal, a fim de servir a essa cabeça* áurea, a es-
se templo do Espírito?
Para concluir, desejamos associar o texto anterior com

252
a Primeira Carta aos Corfntios. Tudo pode-se resumir nessas
palavras: "Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiri-
tual. Se existe um corpo natural, existe também um corpo
espiritual".
Por isso, todo o processo sobre o qual tanto temos fa-
lado e ponderado desenvolve-se na personalidade nascida da
natureza, assim que o aluno consegue estabelecer a ligação
entre a alma e o Espírito por intermédio de auto-rendiçao to-
tal ao verdadeiro estado anímico. Desse modo, pode-se falar
de uma alma realmente vivente.
Contudo, o mais importante é que um poderoso fenô-
meno elétrico manifesta-se mediante a descida do Espírito
no sistema do candidato assim preparado. O contato entre o
Espírito e o campo astral do aluno provoca uma chama, uma
contínua luz ígnea flamejante como um campo de respiração,
como um campo de vida. O candidato torna-se, então, um
filho do fogo. Ele possui o corpo do Espírito. Assim, o corpo-
alma vivente foi construído numa penosa luta e anseio pela
senda. O corpo espiritual, porém, ressurgiu como num relâm-
pago. Nasceu o filho imortal do fogo. Talvez tudo isso vos
pareça incrivelmente distante, porém, esta é a única e verda-
deira vocação de todo o mortal. Para isso, todos vós sois
chamados; possuís em vós todas as possibilidades para rea-
lizar essa vocação. Nada poderá impedir-vos de trilhar a sen-
da e de conduzir vossa marcha rumo à coroação. Quem trilha
a senda deve chegar a um bom termo. O fogo do Espírito
tornou-se vivente no corpo vivo da moderna Escola Espiritual,
e esse fogo manifesta-se em nós, vem a nós, como uma sen-
tença.
Vivereis nesse toque, vivereis verdadeiramente ou não?
A resposta está em vós. Tanto a resposta positiva como

253
a negativa encontram-se totalmente dentro da esfera de pos-
sibilidades de todos vós.
Devemos, em conclusão, dizer-vos: mantende-vos irre-
dutivelmente firmes. Sede sempre aplicados na obra do Se-
nhor; então sabereis certamente que vosso trabalho não será
em vão.

254
XXXII

CAIM E ABEL

Todos os que ponderaram e exam1naram a fundo os


capítulos anteriores, terão feito uma grande descoberta de
natureza espiritual, cosmológica, antropológica e filosófica.
Na verdade, o único e verdadeiro objetivo do décimo-segun-
do livro de Hermes é fazer essa descoberta. Talvez, por isso,
o décimo-segundo livro seja o mais adulterado de todos os
escritos herméticos. Aqueles que, no passado, submeteram-
no a adaptações, fizeram quase tudo ou de primeira mão,
portanto propositadamente, ou por meio do ocultamento para
aniquilar sua verdadeira essência, e o que nos resta agora é,
na realidade, um discurso bastante obscuro. Em conseqüên-
cia disso, a intenção original pode ser apenas fracamente
vislumbrada através dessa capa.
Hermes coloca lado a lado o homem espiritual e o nas-
cido da natureza a fim de diferenciá-los nitidamente. Ele os
coloca lado a lado para esclarecer a Tal o fato de que se tra-
ta de duas criaturas bem diferentes, que não podem ser
comparadas entre si nem fundir-se uma na outra, e que, por
isso, possuem também orientações bem diferentes e, por
conseguinte, nunca devem ser confundidas uma com a outra.
Em geral, isso não é nem um pouco assombroso para os

255
alunos da jovem Gnosis, pois eles já estão acostumados a
entender o novo homem-alma transfigurado, renascido, como
sendo o homem espiritual; e o tipo dialético normal, como o
homem nascido da natureza, que, talvez, poderá elevar-se à
condição espiritual.
Todavia, se tentássemos estudar o décimo-segundo li-
vro, seguindo esse curso de pensamento, cairíamos, sem dú-
vida, numa grande superficialidade, não entenderíamos sua
verdadeira essência e, além disso, incorreríamos num erro
extremamente grave.
Hermes distingue o homem celeste do homem terres-
tre. Ele diz no versículo 51 do décimo-segundo livro, em que
esclarece acerca do homem celeste:

. . . o corpo terrestre não pode suportar tão grande di-


vindade; nem uma força tão magnífica e pura suportar o con-
tato direto com um corpo sujeito a paixões.

Deveis agora focalizar o cerne desse problema e, por


isso, ver em primeiro lugar o homem espiritual em suas duas
existências: uma como homem universal, em liberdade, como
filho do fogo; a outra como o homem espiritual cativo ou de-
caído na natureza da morte. Além disso, deveis considerar
também o homem nascido da natureza nos dois aspectos, a
saber. o tipo comum egocêntrico, totalmente enredado na
matéria e, a seu lado, o homem dialético que, por exemplo,
anseia, mediante a cultura, pelo enobrecimento da vida, pela
espiritualização da vida; portanto, o tipo que se encontra nas
igrejas, em movimentos éticos, às vezes como estadista e
muitas vezes também na Escola da Rosacruz atual.
Portanto, existem dois tipos humanos fundamentais,

256
cada um englobando por sua vez um subtipo. A manifesta-
ção que dá lugar ao homem espiritual, é o verdadeiro ser
nascido de Deus e assim possuidor do Espírito. Também o
homem espiritual decaído encontra-se sempre de posse do
Espírito, em fundamento e princípio, por meio de sua nature-
za anímica especial.
O ser nascido da natureza, todavia. não provém de
Deus; é quando muito uma criatura dos eões, como a Pistis
Sophia o denomina, uma criatura eônica que não possui Es-
pírito, pOrém, na melhor das hipóteses, um ser anímico. As-
sim, na região de nosso campo de vida, vivem juntos homens
espirituais e homens animados sem ligação espiritual, como
numa comunidade racial. O homem espiritual é o verdadeiro,
o outro, o aparente. O estado do átomo original difere muito
do primeiro tipo de homem para o segundo.
Não precisais admirar-vos com isso, pois esse conhe-
cimento sempre fez parte tanto dos ensinamentos internos
como dos revelados. Pensai, por um instante, nas primeiras
páginas do livro do Gênese, na história de Caim e Abel.
Atentai primeiramente para os nomes. Caim é o possuidor e
Abel, o homem aparente. O homem verdadeiro e o aparente
são colocados em cena. O verdadeiro homem encontra-se
então em seu estado cativo. No passado, ele foi aprisionado,
mantido no campo de nascimento terrestre, como uma parte
do gênero humano adâmico original, um gênero humano su-
mamente divino. Neste campo, nasceu depois um novo gê-
nero humano, um gênero humano eônico, provenientes dos
assim chamados cosmocratas•. Esse gênero humano eônico
deve seguir um curso de desenvolvimento totalmente diferen-
te daquele do homem espiritual.
Assim, desenvolve-se uma situação extremamente

257
complicada: o homem do gênero divino e o homem do gêne-
ro eõnico ligam-se mutuamente, enquanto muitas linhas de
vida são entretecidas. O homem espiritual é chamado a re-
tomar ao único e verdadeiro reino da luz, a dirigir-se, como
um filho perdido, à origem de seu ser, e o homem anímico
natural é chamado a percorrer um longo, longo caminho de
desenvolvimento.
E ambos, assim diz a lenda, fazem um sacrifício: Caim,
o forte, o possuidor e Abel, o homem aparente. Os dois têm
- e para isso deveis atentar - uma orientação divina bem di-
ferente e também uma ligação divina bem distinta. Caim é o
filho do fogo, enquanto que Abel, o filho da água. Em outras
palavras, Caim é de descendência espiritual e Abel, de des-
cendência natural. Enquanto criaturas, ambos nasceram da
natureza fundamental, por isso, se os denomina irmãos.
Caim carrega na testa o sinal de sua queda. É o sinal do fo-
go, o estado especial do quarto candelabro que se encontra
atrás do osso frontal. É o sinal do julgamento, porém, ao
mesmo tempo, o sinal do Espírito e do filho do homem. Das
profundezas de seu estado decaído, Caim se dirige para o
Espírito. Contudo, nesse estado de ser, o Espírito não pode
tocá-lo, Deus não pode aceitá-lo, e, infelizmente, seu sacrifí-
cio não é aceito.
Abel, que é totalmente da terra, que está completamen-
te ligado a ela, dirige-se a seu deus, o deus eõnico, o espírito
do mundo, e como não poderia deixar de ser, esse sacrifício
é aceito. Para esse deus não há obstáculos. A coluna de fu-
maça do sacrifício de Abel ascende verticalmente também.
Caim irrita-se, inflama-se em grande ira, como veremos, e o
Deus de Caim fala: "Por que te iraste e por que está descai-
do teu semblante? Porventura, se procederes bem, não se há

258
de levantar teu semblante? Se não, o pecado jaz à porta".
Caim não entendeu isso e sua ira permaneceu, e como
conta a lenda, matou seu irmão Abel. Essa é uma morte de
natureza muito peculiar, como veremos. Há um grande confli-
to criado entre os dois tipos humanos dessa onda de vida.
Ele se irrompeu e continua até os dias de hoje: o grande con-
flito entre ambos os gêneros humanos, entre os filhos do fo-
go e os da água, entre os possuidores do Espírito e os ho-
mens vivificados naturalmente, entre os filhos da Gnosis e os
pertencentes, por exemplo, à IgreJa. E a maldição dos eões
naturais é pronunciada. Desde então não há filhos do fogo
que possam encontrar paz na terra.
E não há nenhum possuidor do Espírito que possa sen-
tir-se em casa nessa natureza dialética. Ele não é capaz de
encontrar descanso, pátria, paz e felicidade nesta terra. Ele
habita a terra de Nod, isto é, a terra dos errantes, da fuga
eterna, num afastar-se contínuo da natureza dialética e no
padecimento da maldição de não poder achar aqui, em fun-
damento e princípio, nada de seu próprio ser, nada de si
mesmo. Sempre perseguido, sempre ameaçado, sempre feri-
do, sempre prisioneiro de um ódio imensurável, e, onde há a
menor possibilidade, o ódio se atira sobre ele.
Caim é, por natureza, um agricultor, segundo sua voca-
ção e estrutura. Em outras palavras, o homem-caim deve
construir. Esse é vosso instinto vital, pelo menos, daqueles
que são homens-caim. Ele deve ficar de pé sobre o quadrado
da construção. Contudo ele não tem um lugar para a cons-
trução! Na verdade, ele tem um plano de construção, porém
não um local. Ele não deve nem pode realizar o plano na na-
tureza dialética. Ele deve construir na sua verdadeira casa, a
casa Sanctí* Spírítus, a casa onde ele não está.

259
Por [sso, ele é o fugitivo desde o início: ele foge de si
mesmo. Que dor incomensurável! Ao mesmo tempo, que gló-
ria maravilhosa! Esse é um dos motivos pelos quais os filhos
da água, os filhos da Igreja sempre dão e deram cabo da-
quilo que se denomina Gnosis, num ódio cego, pois não per-
tencemos a este campo de existência. Devemos sair daqui.
Assim, Deus falou a Caim: "Quem matar a Caim, sete
vezes sobre ele cairá a vingança. E o Senhor pós. um sinal
em Caim, para que não o ferisse quem quer que o encon-
trasse". O quarto candelabro no santuário da cabeça inflama-
se para o alto como um relâmpago para cegar qualquer ad-
versário. "E Caim saiu da presença do Senhor e habitou a
terra de Nod, a leste do Éden."
Compreendeis essas palavras de forma diferente do
que talvez tenhais feito antes? A terra não dá aos verdadei-
ros filhos da Gnosis seu poder, pois eles pertencem - com-
preendei-o - a outro reino, a outra linguagem, por isso, tudo
o que eles tentam consolidar aqui se lhes foge por entre os
dedos. Eles têm uma única vocação: reunir os filhos do fogo,
auxiliá-los, salvá-los e conduzi-los de volta ao lar. Essa é a
única tarefa dos filhos do fogo. Sua orientação está em opo-
sição a dos filhos da água. Os filhos do fogo se dirigem para
cima, para o outro reino; os filhos da água se voltam para o
aqui. Um tipo humano olha para cima, o outro, para baixo. E
a luta e a perseguição que nascem desse contraste perma-
necem até os dias de hoje.
Todavia, atentai para as palavras: "Quem matar a
Caim, será vingado sete vezes". Isto quer dizer que o Espírito
Sétuplo Universal, os sete raios da luz universal com suas
sete vezes sete correntes, colocam-se totalmente do lado
daquele que verdadeiramente procura o Espírito Sétuplo e

260
desejam ser e viver do maravilhoso sinal do Graal Santo.
E assim, os filhos da Gnosis saem da presença do Se-
nhor e habitam a terra de Nod, a leste do Éden. Eles são er-
rantes sobre a terra, porém, devido a seu ser, devido a sua
origem, vivem a cada segundo de sua existência, a cada ba-
tida do coração, na terra da hora matinal, a terra no leste do
outro lado do Éden. E eles aguardam sua ascensão solar, a
aurora ascendente. Eles esperam até que o sol ascenda so-
bre a terra da alegria celestial: o Éden.

261
XXXIII

A TRAIÇÃO CLÁSSICA (1)

Se tiverdes refletido acerca do que fo1 exposto, sem dú-


vida tereis descoberto que, caso o pesquisador do passado
da humanidade deseje chegar a conclusões corretas, deverá
ver tudo num contexto muito mais amplo do que a logoma-
quia superficial possa supor.
A terra é habitada por várias raças, essas com um pas-
sado bem diferente e, em muitos sentidos, com um futuro
também muito diverso. Há elementos que verdadeiramente
unem essas raças numa única comunidade, todavia existem
também outros elementos que as separam incontestavel-
mente. Dentre todas essas, com um estado racial bem diver-
gente, encontramos os antigos nascidos do Espírito, os filhos
do fogo. Em seu sentido mais amplo, essas são as entidades
cujos microcosmos ainda contém os elementos que possibili-
tam a completa ligação com a única vida espiritual.
Ao mesmo tempo, verificamos que todas as escrituras
sagradas existentes, em sua forma original, sem adaptações,
dirigem-se, na realidade, tão-somente a essa classe especial
da humanidade; portanto, aos nascidos do Espírito. Verifica-
mos ainda que esses dogmas Úniversais, considerados de
determinado ponto de vista, podem ser interpretados como

263
algo perigoso para todas as outras raças humanas.
Por que perigoso?
A fim de compreender isso, deveis reconhecer que os
filhos de Deus e os filhos da natureza possuem interesses
bem divergentes. Os filhos de Deus, enquanto se encontram
em estado cativo, procuram libertar-se deste mundo. Os fi-
lhos da natureza procuram e desejam se afirmar neste mun-
do. Seus esforços são, portanto, diametralmente opostos.
Utilizamos aqui, neste caso, a palavra "mundo" em sentido
mais restrito, a fim de indicar o campo de vida dos nascidos
da natureza, que se costuma denominar mundo.
Se os filhos de Deus fossem os líderes sobre a terra,
isso traria consigo uma mudança total das condições astrais
de nosso campo de vida. O campo astral da natureza da
morte se tornaria absolutamente igual ao campo astral gnós-
tico: um campo pleno de serenidade e suprema pureza. A es-
fera refletora seria esvaziada e todos os seus esforços de au-
to-afirmação seriam impossibilitados totalmente. Todas as
condições de nosso campo de vida, portanto, se alterariam.
O campo de existência terreno já não ofereceria condições
de sobrevivência às entidades centelha-de-vida. A existência
de milhões de entidades centelha-de-vida que povoam a ter-
ra seria simplesmente impossibilitada e, portanto, essas enti-
dades morreriam. O clássico fratricídio, o antigo drama Caim-
Abel se repetiria.
Outra possibilidade seria a transformação das entida-
des centelha-de-vida em filhos de Deus mediante uma re-
criação de seu microcosmo. Caso alguém dentre nós não
possuísse o clássico átomo-centelha-do-espírito em seu mi-
crocosmo, isso poderia tornar-se possível mediante uma re-
criação do campo microcósmico, por meio da introdução do

264
Espírito, da introdução daquilo que antes não estava presen-
te no microcosmo. Uma criatura origina-se sempre da nature-
za fundamental. O núcleo original de cada criatura provém da
idéia criadora que serve de base à criatura, por isso, quando
essa idéia e esse núcleo não se originam do Espírito, ne-
nhum filho de Deus pode desenvolver-se. Se, porém, essa
idéia provier de Deus, então se desenvolverá o filho de Deus.
O filho de Deus é, pois, a criatura que deve comportar-
se perfeitamente em concordância com a idéia fundamental
de seu ser. Caso ele se desvie dessa tdéia, deverá retornar
novamente à idéia original por meio de múmeras dificuldades
e processos de combustão. Se a idéia provier de outra cos-
mocracia, então nascerá uma entidade totalmente diferente ,
tendo outra orientação, outro ponto de partida, outro objetivo.
Todavia, repetimos, é possível recriar as entidades com
um ponto de partida eônico com e mediante a idéia do Espí-
rito universal. A primeira condição para isso é que a doutrina
espiritual universal seja ensinada em todo o mundo. A se-
gunda é a fundação e a realização de uma verdadeira igreja
do Espírito. A terceira é a inteira adaptação do campo de vi-
da, do campo de nascimento da humanidade, às exigências
do Espírito, em conseqüência do que todas as criaturas se
adaptariam segundo o Espírito.
Dessa forma, aquele que originalmente não era filho de
Deus, torna-se um, mediante a recriação do microcosmo. Sa-
beis que a tríplice aliança da luz - Rosacruz, Cátaros e Graal
- faz um esforço supremo para a restauração das entidades
eônicas. A Doutrina Universal encontra seu eco por meio da
Rosacruz. A nova igreja do Espírito, o aspecto da Fraternida-
de cátara, está estabelecida. A grande mudança do campo
de vida, a iniciar-se pelo campo astral, segundo as exigên-

265
cias do Espfrito, está novamente em desenvolvimento na
atualidade e a Fraternidade do Santo Graal novamente se
manifestou.
Tudo isso é uma parte das poderosas atividades dos
filhos do fogo. Para isso vieram e vêm os libertos filhos do
fogo à terra. Para isso sempre vieram e vêm seus discípulos
e servidores a fim de desenvolver uma intensa atividade.
Para transformar todas as entidades-abel em filhos de
Deus; para elevar todas as entidades-caim decaídas e cati-
vas, e recebê-las na comunidade de Deus. Todas as verda-
deiras escrituras sagradas, toda a Doutrina Universal, dá tes-
temunho desse esforço poderoso e magnífico que sempre se
repete em toda a história mundial. (Devemos repetir que não
há uma doutrina universal eônica! A razão disso daremos a
seguir.)
Em muitos períodos da humanidade foram e ainda são
criadas condições a fim de trazer à existência essa grande e
magnífica obra do Espírito. A verdadeira igreja, a única igreja
do Espírito apareceu muitas vezes sobre a terra. Indicamos,
por exemplo, a igreja dos cátaros, citada há pouco. Pensai
em Apolônio de Tiana, nas igrejas espirituais gnósticas em
torno do antigo Mediterrâneo, no Egito, na Ásia Menor, na
Grécia, em todos os Bálcãs e no resto do Norte da África.
Pode-se verificar com grande alegria que, em todos esses
períodos, muitos seres entraram na vida libertadora. Há, na
realidade, uma legião incontável, reunida de todos os povos
e raças da terra.

Voltemos, agora, novamente à lenda de Caim e Abel. O


sacrifício, feito em semelhantes condições, deverá ser sem-
pre recusado, pois as condições astrais do campo de vida na

266
natureza da morte não prestam para o êxito de seu trabalho
e, por isso, devem ser primeiramente modificadas. Caim, o
homem espiritual do início, percebe isso. Contudo, numa in-
gênua espontaneidade, observa em primeiro lugar o erro fun-
damental em Abel. Então ele tenta forçar as condições as-
trais de Abel. O chamado fratricídio, que desde então tem si-
do repetido muitas vezes, nada mais é do que uma tentativa
de forçar o astral do homem-abel.
Imaginai que exista dentre nós alguém que nada com-
preenda de tudo o quanto dissemos e dizemos; portanto, não
faria o mínimo sentido forçá-lo. Esta pessoa deve prontamen-
te desligar-se da Escola Espiritual e voltar a seu estado de
vida comum; deve viver a vida normal até que, talvez, um
dia, chegue sua vez. Não se deve nem se pode forçar seme-
lhante criatura astralmente. Assim que o fizerdes, perturba-
reis suas funções nervosas; dessa forma o equilíbrio das fun-
ções mentais é violado e verdadeiramente enlouquecereis tal
pessoa. Eis por que, pessoas forçadas por outrem a ingressar
na Escola, voltam-se sempre violentamente contra ela. Se-
melhante método de compulsão astral é, com um pouco de
cultura, um método ocultista conhecido para finalmente fazer
de alguém um escravo dos eões naturais. O fratricídio astral
clássico deve, por conseguinte, ser totalmente rejeitado.
Nunca é bom forçar uma pessoa no sentido de uma li-
gação e de uma vida espiritual. Isso deverá nascer.
Como? Por meio de vosso exemplo pessoal. Suponde
que vossa casa esteja bastante desarmoniosa, que existam
grandes tensões dentro de vossa família devido a fazerdes
da Escola vosso objetivo. Como podereis vencer isso? Mu-
dando completamente vossa atitude de vida. Irradiando amor
desde manhã cedo até tarde da noite, ininterruptamente, de

267
modo que as pessoas, cheias de admiração, perguntem: "O
que aconteceu contigo? Como é possível que possas perse-
verar assim?" Então, tereis aberto algo no interior dessas
pessoas e, se continuardes dessa forma, vencereis. A igreja
do Espírito, a tríplice aliança da luz nunca incorrerá no erro
de compelir alguém astralmente. A igreja do Espírito jamais
dará início a um conflito com entidades que são diferentes.
De modo geral ela tem passado por lutas, porém estas
sempre têm sido conduzidas contra ela. Sempre se tratou,
nessas ocasiões, de perseguição; uma perseguição que con-
tinua até os dias de hoje. O Espírito não precisa forçar. Em
primeiro lugar, porque a igreja do Espírito apóia-se na certeza
de que, no final, ela vencerá. Em segundo, porque ela é in-
destrutível. Não obstante, ela não pode ficar à vontade no
campo de existência dialético terrestre, não pode encontrar
aqui nenhuma morada. Denomina-se isso, visto de baixo pa-
ra cima, "a maldição de Caim". Quando, porém, alguém per-
segue Caim, tenta matá-lo, assim é dito na lenda, o Espírito
Sétuplo intervém e o protege. Por isso, a igreja do Espírito
é indestrutível.
Como, porém, ela não pode permanecer continuamente
sobre a terra, a fim de dar oportunidade a todas as criaturas
dos eões para que venham por si mesmas, e o fratricídio de
Caim não pode ser perpetrado, a igreja do Espírito sempre
vem à terra em determinado ritmo temporal para, novamente,
por um período, se retirar. Há sempre momentos em que a
igreja espiritual revive e, ademais, fica estabelecido que ela
poderá recolher a colheita em conformidade com as leis do
Espírito.
Aproximemo-nos agora de nosso objeto de pesquisa do lado
oposto, do ponto de vista dos nascidos da natureza, ou seja,

268
daqueles que não são filhos do fogo, porém que poderiam
sê-lo. Existem neste mundo centenas de milhões de entida-
des que foram criadas não pelo Espírito, porém pelos cosmo-
cratas eônicos; portanto, da idéia das forças da natureza, e
como um criador está sempre ligado a sua criatura, não po-
dendo, em virtude de uma lei natural, abandonar a obra de
suas mãos, dimana sempre um impulso cada vez mais forte
das forças naturais, a fim de manter totalmente sua criação e
suas criaturas, bem como o campo em que elas se estabele-
cem.
Podeis encontrar isso minuciosamente descrito no
evangelho gnóstico da Pistis Sophia. Todos os eões estão
ocupados em manter suas criaturas. Eles não podem fazer
outra coisa. Apesar disso, os eões servem apenas a si mes-
mos, pois se suas criaturas declinassem, eles também deixa-
riam de existir; por isso, eles mantêm neste mundo um sa-
cerdócio hierarquicamente organizado, como podeis também
ler na Pistis Sophia. Um sacerdócio que possui um objetivo,
uma tarefa: manter o campo de nascimento, o campo de vida
das entidades eônicas no estado de ser dialético. Esse mun-
do - assim é sua intenção - deve permanecer como está, e
as entidades que povoam este mundo devem adaptar-se a
ele em conseqüência disso. É a grande escravidão aos eões.
Essas entidades realizam seus incessantes giros na roda
através das esferas material e refletora.
Desse modo se mantém uma assim chamada "vida
celestial" temporária na esfera refletora. Vós mesmos sabeis
o que pensar disso! Dessa forma, os eões procuram proteger-
se a si mesmos e as suas criaturas. Para isso, cria-se tam-
bém um culto sagrado que é sempre vivificado. Além do
mais, é necessário para isso o emprego de um método ocul-

269
lista, cultivado até nos menores detalhes. Desse modo, a
igreja do Espírito confronta-se com a igreja da natureza.
Atentai agora para a traição, infelizmente tão necessá-
ria à natureza e para a jã mencionada tentativa de matar o
Espírito, e a perseguição aos homens espirituais sobre toda a
terra. A igreja dos eões não possui uma doutrina universal,
pois caso ela divulgasse, revelasse, a única verdade que ser-
ve de base a sua origem, ela deveria reconhecer, acima de
si, o Espírito e o homem espiritual. Então sua doutrina sim-
plesmente deveria subordinar-se à espiritual e isso significa-
ria sua morte, seu declínio e dissolução. Em virtude de sua
natureza, ela não pode aceitar a morte de Abel de forma não
forçada, mediante as novas condições astrais da igreja espiri-
tual, que seriam então chamadas à vida. Por isso, devido a
essa vontade de existir, o Espírito deve ser traído, e a igreja
espiritual eliminada, onde quer que ela apareça; e o homem
espiritual do princípio é perseguido e assassinado por toda a
terra.
Como se trai o Espírito? Entre outros meios, por inter-
médio da mutilação da doutrina espiritual, com o auxilio de
vassalos teólogos; mediante a interpretação de uma ordem
divina, com necessidades e intenções puramente eônicas.
Em resumo, por meio da realização dos próprios objetivos
terrestres, por meio da falsificação de uma doutrina espiritual
roubada e mutilada, pois quando o Espírito é atraiçoado e
mutilado, é fâcil passar à perseguição da igreja e do homem
espirituais. Pensai novamente na conhecida traição em rela-
ção à igreja dos cátaros e também a perseguição dos rosa-
cruzes através dos tempos, com a desculpa de se dever in-
tervir pela proteção do Espírito, pela honra de Deus.
Se as potências ditatoriais da esquerda ou da direita da

270
Europa Ocidental tivessem de novo a faca e o queijo na
mão, a igreja da Gnosis, a igreja do Espírito, seria novamente
perseguida de imediato. Nessa luz, deveis ver o famoso
Concílio de Constantinopla. Nessa reunião da igreja, o Espíri-
to foi oficialmente rejeitado, sob o pretexto: nós já possuímos
o Espírito! Esse concílio aconteceu em 381 d.c.
O tema da discussão durante esse concilio era a regu-
lamentação da doutrina do Espírito Santo. Imaginai! "Regu-
lamentamos a doutrina do Espírito Santo. Acreditamos nisso,
não naquilo; isto aceitamos, aquilo não; isto fazemos, porém
aquilo não". Assim foi o trabalho na assembléia da Igreja na-
quele concílio.
Devemos acrescentar que a Igreja Ortodoxa grega nun-
ca reconheceu esse concílio. Isso, porém, aconteceu por
meio da Igreja Católica Romana. Todavia, as decisões ali
tomadas não pareciam ainda ser suficientes, pois, 70 anos
após, no ano de 451, realizou-se outra assembléia da Igreja,
conhecida como Concílio de Calcedônia. Lá foi decidido ofi-
cialmente acerca da unidade da natureza divina e humana.
"Nós" - entidades eônicas - "estamos unidos a Cristo", assim
foi ensinado. A maior traição de todos os tempos, a traição
contra Cristo, cujo nome santo foi colado sobre todos os
dogmas como uma etiqueta, teve início no ano de 451. Cristo
e Maria tornaram-se lá enfeites da Igreja, simples deuses e~
nicos.
Também isso podereis encontrar magnificamente des-
crito no evangelho gnóstico da Pistis Sophia: os eões disse-
ram sim a Cristo! Este nome é, como uma etiqueta, espalha-
do e colado em todos os lugares.
Nesse mesmo evangelho gnóstico, é descrito o cami-
nho de retomo, de baixo para cima, até a vida libertadora, e

271
como Cristo, como Jesus, o Senhor, passa através de todas
as esferas dos eões e arcontes dos eões, e estes últimos
caem em grande confusão e pânico, pois o Senhor de toda a
vida passa por eles sem que O percebam. Em outras pala-
vras: a traição, a clássica traição do princípio é neutralizada
por todos os que trilham o caminho do Espírito.

272
XXXIV

A TRAIÇÃO CLÁSSICA (11)

Temos tentado, por um lado, trasmitir-vos uma imagem


clara acerca dos filhos do fogo e, por outro, dos filhos da na-
tureza; acerca da igreja espiritual da Gnosis Universal e da
igreja de todos os que, devido a seu ser, se voltam à nature-
za da morte. Deveis saber isso tudo para poder entender o
grande problema da vida e também, acima de tudo, para po-
der reconhecer a traição onde quer que ela se revele. Caso
não possuais a chave para o desmascaramento, certamente
sereis mais cedo ou mais tarde sacrificados.
Não deveis subestimar esse perigo, pois, através dos
séculos tem-se "aplainado e polido" essa traição, a fim de
torná-la tão perfeita que quase toda a humanidade, em sua
ignorância, se satisfaça com ela e, por meio dela, seja sacri-
ficada.
Todas essas coisas vos são ditas, em primeiro lugar,
porque delas necessitais, a fim de poderdes conhecer a filo-
sofia hermética; em segundo, porque, se sois alunos não
precisais ser colocados em experiência e provados por um
período demasiadamente longo em relação ao conhecimento
e a vossa confiança na Gnosis, bem como a vossa lealdade
dentro da Escola. Tendes, diretamente ou por intermédio de

273
vossos al'ltepassados diretos, um passado religioso no senti-
do eônico. Se esse não é o caso, então sois influenciados in-
telectualmente de uma ou outra forma pela Igreja eônica.
Esse é o caso principalmente daqueles que se gabam,
em geral, de sua intelectualidade e atribuem grande valor,
por exemplo, à Ciência oficial como norma para a existência
humana. Talvez não vos seja desconhecido o fato de que, do
ponto de vista espiritual, podem e devem ser feitas objeçôes
contra a assim chamada Ciência. Essas objeções devem ser
diferentes para cada ramo da Ciência. Às vezes, o ponto de
partida de uma ciência vale como protesto; em outros casos,
os seus objetivos; ou então os resultados produzidos.
Existe também uma ciência contra a qual se deve pro-
testar veementemente, a saber, a Teologia. Desde o início de
nossos tempos muitas mentiras teológicas espantosas foram
apregoadas oficialmente, todos os dias, cristalizadas em sé-
ries dos assim chamados dogmas, assentadas em legiões de
escritos antigos, sobre os quais foram escritas, posteriormen-
te, bibliotecas inteiras. Quem lê e estuda tudo isso em livros
escritos em sua e em outras línguas, para posteriormente re-
ceber sua graduação, é tido como culto. Se ele é na verdade
um sábio, no sentido de uma verdadeira Ciência, é outra
questão.
Pode-se perceber isso facilmente; basta apenas pes-
quisar. Analisai o que afirmamos. Se pesquisardes como a
Teologia deste mundo foi compilada pelos assim chamados
Pais da Igreja (Pater Ecclesiae), verificareis que isso foi feito
para banir o Espírito e eliminar qualquer possibilidade da
Igreja espiritual neste mundo. Verificareis que os Pais da
Igreja alternadamente reconheceram e rejeitaram; remodela-
ram e modificaram; ampliaram e depois cortaram outra vez

274
os dogmas fundamentais. Por esse motivo eles lutaram e
perseguiram-se uns aos outros durante séculos. E os refor-
mistas cegos dos tempos posteriores tiveram de trair, de no-
vo, a reforma, em virtude de seu estado de ser, porque, infe-
lizmente eles eram teólogos e, portanto, ignorantes em rela-
ção ao verdadeiro conhecimento divino.
Madame Blavatsky certa vez fez uma bonita e correta
apresentação dos fundamentos dessa assim chamada Ciên-
cia. Ela disse, depois de descrever inúmeros casos e lutas
em diversos concílios: "Por muitos séculos os concílios luta-
ram, disputaram e defenderam aspectos extremamente opos-
tos e contraditórios. E, finalmente,veio à luz a assim chama-
da 'Santa Triunidade' dos cérebros dos teólogos. E esse
dogma foi introduzido no mundo com muitas lutas, mortes e
outros crimes que desempenham nisso um grande papel".
Desejamos, agora, deixar essas considerações neste
ponto. Caso tenhais algum interesse por esse assunto, deve-
reis analisá-lo mais profundamente. O principal objetivo de
nossa explanação é ajudar-vos a poder distinguir a verdade
da mentira, e, principalmente, é de grande importância verifi·
car aqui, mais uma vez, como a Escritura Sagrada foi sempre
falsificada para poder servir aos eões.
Devemos, em primeira instância, lembrar-vos que a
Igreja eõnica não dispõe nem de uma doutrina universal nem
de uma escritura sagrada próprias. A Igreja da natureza utili-
za-se invariavelmente da Escritura Sagrada da Igreja espiri-
tual. Contudo, ela não se prestou nem se presta a seu uso,
quando empregada sem mais nem menos.
Por isso, cada Escritura Sagrada deve primeiramente
ser modificada por ela. Um mau sinal é, por exemplo, o fato
de que o cânon de nossa Bíblia foi primeiramente estabele-

275
cido no século IV, naturalmente de novo num concílio, o
Concílio de Nicéia. Nenhum de nossos livros do Novo Tes-
tamento é anterior a essa época.
Por que se teve todo esse trabalho, enquanto, por
exemplo, os ensinamentos de Hermes Trismegisto têm vá-
rias dezenas de milhares de anos? Por que todo esse traba-
lho, enquanto vários séculos antes de nossa era a sabedoria
de um Tao Te King se irradiava? Por que todo esse trabalho,
enquanto se demonstra que quase todas as partes de nossa
Bíblia foram inconfundivelmente extraídas dos escritos her-
méticos?
Observai ainda que todos os livros bíblicos foram com-
pilados por Pais da Igreja, que para isso lutaram uns com os
outros violentamente. Em conclusão, se ainda existe algo da
essência, pode-se indicá-lo como milagre, como, por exem-
plo, o realmente maravilhoso Evangelho de João, o evange-
lho tão amado pela Fraternidade precedente.
Uma graça é o fato de que essas adaptações e modifi-
cações realizam-se com o auxílio da linguagem do Espírito,
pois o verdadeiro buscador espiritual sempre poderá libertar a
verdade, mesmo quando ela se encontra falsificada, e des-
senterrar o único tesouro imutável. Deveis levar sempre em
conta o que foi exposto.
Não se pode simplesmente dizer "rejeitamos a Bíblia e
nos fundamentamos apenas nos escritos antigos", pois esses
também são falsos. Tem-se sempre feito tudo para se ter err.
mãos os escritos autênticos, para destruí-los ou trabalhá-los,
e: em seguida propagá-los novamente no mundo. Não se po-
de fabricar fals.os dogmas, falsos ensinamentos, sem dege-
nerar as fontes de onde se extrai, e quanto a isso não se tem
deixado o trabalhe pela metade. Portanto, não nos restou

276
uma única fonte externa, nenhum escrito material de onde
pudéssemos, sem perigo, extrair algo. Para o verdadeiro bus-
cador do Espfrito, deve ser enviado um contínuo sinal de aler-
ta.
Vós vos encontrais em meio de uma intensa e terr!vel
traição, que é extremamente fatal. Quando o Espírito não es-
tá libertado em nós, somos sempre dependentes de fontes,
que estão, em relação à verdade vivente, sem exceção, en-
venenadas. Por isso, o veneno também se encontra em nós
e, assim, sem que saibamos, também a traição. Compreen-
demos somente em parte e, com a melhor das intenções,
podemos cegar nossos companheiros.
Houve no decorrer dos séculos muitos que se afasta-
ram de todas as fontes, de todas as teologias, de todas as
igrejas e, como se dizia então, permaneciam em liberdade.
Também vós, talvez, vos gabeis de que desde jovens vos
apartastes de tudo isso; entretanto, não penseis que não uti-
lizastes nada do veneno, pois todos estão expostos às in-
fluências astrais.
Com cada alento, com cada batida do coração, com
cada movimento de vossa personalidade, assimilais substân-
cia muito envenenada da esfera astral deste mundo. Em to-
dos os países, da África ao interior da América do Sul e por
todos os cantos onde desejeis procurar, os pensamentos de
traição da esfera refletora são injetados por meio de mani-
pulações mágicas. Assim, toda a humanidade é aprisionada
no astral. O abandono das fontes é, talvez, o maior dos peri-
gos, pois, com o pensamento "comigo nada pode acontecer",
sorveis a traição em grandes goles.
O estudo da fonte é então sempre aconselhável, pois,
se possuís algo latente do Espírito em vós, cada vez mais
chegareis. à conclusão: "Mas isso não pode ser assim. Isso
cai em total contradição!". Assim, devemos continuar a procu-
rar, a ansiar, perseverantes e orientados para o alvo, até que,
finalmente, possamos demolir as muralhas que nos cercam e
avistar a verdade.
Como se poderá encontrar a verdade?
Deixai-nos aproximar ainda mais dessa questão e pres-
tai atenção primeiramente às palavras de nosso hino templá-
rio número 164:

"É imaterial o saber de Deus,


Sem tempo e espaço marcar.
Sua existência eterna está
Sobre o todo a i"adiar''.

Em outras palavras, em volta do impenetrável campo


da criação, no interior de onde surge toda essa cegueira e
mentira empregada oculto-cientificamente, encontra-se o rei-
no do Espírito, o reino de Deus, o reino que é o próprio Deus,
e do Espírito partem correntes, correntes que movimentam o
universo. Falamos do Espírito Sétuplo e de seus sete vezes
sete aspectos. Esse Espírito e seu campo de ação estão
mais próximos de nós do que pés e mãos.
Esse Espírito, que tudo abarca, que tudo interpenetra,
contém a Vida, Tao*, o Amor, a Sabedoria, e, com isso, toda
a Verdade; o Conhecimento perfeito e o Poder para a pleni·
tude.
Todo o discipulado da atual Escola Espiritual está
orientado para esse Espírito. Quando viveis a vida, a fim de
libertar em vós esse Espírito, quando penetrais a essência do
verdadeiro discipulado, com tudo o que está em vós, então o

278
Espírito vos toca. Nesse momento liberais em vós mesmos
os efeitos do Espírito e imediatamente vos tomais autôno-
mos; elevais-vos, assim, acima de todas as tentativas de en-
ganar e iludir. Sois, então, libertados para sempre.
Olhareis, de cima, com indescritível compaixão toda es-
sa obra mal feita e vos juntareis à fileira daqueles que ten-
tam continuamente libertar toda a humanidade. Quando o fi-
lho do fogo encontrar o Espírito, então será aceito o seu sa-
crifício de Caim.

Como deveis encontrar o Espírito, que é Deus? Median-


te meditação? Concentração? Por meio de um ou outro exer-
cício, por autocoação do próprio estado astral?
Não, existe apenas um caminho para a vida: por inter-
médio do renascimento da alma, da aquisição de uma nova
qualidade anímica. Somente por meio da alma se poderá en-
contrar o Espírito.
Porém, infelizmente, a maioria não pode ainda sondar o
que se deve entender por "alma"; por isso, é necessário que
nossa atenção mais uma vez se volte para o décimo-segun-
do livro de Hermes e, mais precisamente, para os versículos
55 e 56:

... visto que a faculdade de pensar humana não possui


envoltório lgneo, não é capaz de dar existência a coisas divi-
nas e, por causa de seu envoltório, está limitada ao que é do
homem.
A alma humana (não todas as almas, porém a realmen-
te devotada a Deus) é, em certo sentido, um bom demónio e
divina. Quando semelhante alma se desliga do corpo, após
ter trilhado o caminho da verdadeira piedade (caminho este

279
que conquz ao conhecimento do divino e da abstenção de
injustiça ou dano em relação a todo o homem), toma-se ver-
dadeiramente a/ma-espírito.

O homem eônico é, como já foi amplamente explanado,


despojado de todo o fogo espiritual e não pode, portanto, en-
trar em ligação com o Espírito. A alma eônica não possui pa-
ra isso o estado astral correto. Seu estado demoníaco ou de
nascida da natureza (a palavra "demônio" significa apenas
"força natural") é bem diferente daquele do homem espiritual.
Assim, trata-se para nós de verdadeiramente consa-
grarmo-nos a Deus, isto é, ansiar coerentemente a ligação
com o Espírito mediante uma nova vida de ações totalmente
orientada para isso. É este caminho que conduz ao conhe-
cimento do divino e abstenção de injustiça ou dano em rela-
ção a todo o homem. As conhecidas palavras de Marcos, 12,
são, portanto, inconfundivelmente herméticas. "Qual manda-
mento", assim se pergunta a Jesus, o Senhor, "é o primeiro
de todos?" E a resposta é: "Amarás de todo o teu coração,
com toda a tua alma e com todo o teu entendimento, o Se-
nhor, teu Deus".
E a segunda resposta faz-se ouvir: "Amarás a teu pró-
ximo como a ti mesmo".
Outro mandamento maior não há, testemunha Jesus, o
Senhor.
Se aceitais isso com todas as conseqüências, então
trilhais o caminho dos verdadeiros homens consagrados a
Deus. Tornais livre a verdadeira natureza em vosso micro-
cosmo, e o átomo original floresce numa maravilhosa rosa.
Nesse momento, entrais no jardim das rosas e festejais as
núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz. Assim se de-

280
senvolve um poderoso fogo astral, um corpo ígneo se mani-
festa, e, por meio desse corpo, desse soma psychikon, en-
trais em ligação com o Espírito.
A alma, que dessa forma é e vive, torna-se um Nous,
uma alma-espírito perfeita. Isso quer dizer que a nossa alma
purificada se liga ao Espírito e assim torna-se Pimandro. En-
tão, solucionastes para vós mesmos o mistério do fogo. Vós
vos tornastes filhos do fogo.

281
GLOSSÁRIO

Para melhor compreensão sobre a terminologia empregada


pela Escola Espiritual da Rosacruz Áurea, figuram neste
glossário as palavras que no texto vêm acompanhadas de
asterisco (•). Os números entre parêntesis correspondem às
páginas em que estas palavras foram mencionadas.

ALBIGENSES. Nome dado aos cátaros, após a denominada


Cruzada contra os Albigenses em 1209. Ver cátaros.
(285)
ALIMENTOS SANTOS, OUA TAO. São determinadas vibra-
ções e emanações da substância primordial que fluem
dos sete pólos norte do setenário cósmico, a fim de ali-
mentar todas as criaturas divinas, e são conservadas reu-
nidas como atmosfera original. Ver éteres. (128)
ALMA-ESPÍRITO. A senda da endura•, a senda do discípula-
do de uma escola espiritual gnóstica que tem, em primei-
ro plano, o objetivo de despertar completamente a verda-
deira alma imortal de seu estado latente. Assim que essa
alma desperta desse sono de morte, realiza-se o resta-
belecimento da ligação com o Espírito Universal, com
Deus. Essa ligação restabelecida entre o Espírito e a al-
ma, entre Deus e o homem, demonstra-se na gloriosa
ressurreição do Outro, o retorno do filho perdido, do ver-
dadeiro homem em nós, à casa do Pai.
A alma que deve festejar essa ligação, essa união com o
que a Arquignosis Egípcia denomina Pimandro, é a alma-
espírito. É a unidade Osíris-Ísis, Cristo.Jesus, Pai e Filho,

283
as núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz dos anti·
gos rosa-cruzes, do noivo celeste com sua noiva celeste.
(187)
APOCALIPSE DOS OUA TRO ELEMENTOS. O mundo ma-
nifestado em e através dos quatro elementos: fogo, água,
ar e terra. (176)
ARCA CELESTE. Alusão da Arquignosis Egípcia a um corpo
vivo. É a arca a que se refere o Primeiro Livro mosaico, o
corpo de forças libertadoras a serviço da colheita, cons-
truído em cooperação com a corrente universal gnóstica,
que no final de um dia cósmico deve ser reunido e cer·
tamente levado ao celeiro da nova vida. É o "redil do bom
pastor" do qual nos fala o Novo Testamento.
ARCONTES. Regentes dos eões. Ver eões.(15)
ARTE REAL. Ver Ciência Universal. (205)
ATAMOS ROSA À CRUZ A fase do caminho do aluno na
qual ele, orientado pelo conhecimento claro e pelo verda-
deiro desejo santo, deixa declinar "em morte diária" o
homem-eu, o ser humano nascido da matéria. Com isso,
o verdadeiro homem divino, o homem pimândrico, res·
suscita nele. (240)
ÁTOMO. Ver rosa do coração. (168)
ÁTOMO-CENTELHA-DO-ESPÍRITO. Átomo de Cristo ou pro-
to-átomo, situado no centro matemático do microcosmo e
coincidindo com a parte superior do ventrículo direito do
coração. Por isso é também designado misticamente de
rosa do coração.(240)
AUTHADES, a força com a cabeça de leão. A vontade ímpia
do homem nascido na matéria: também a ira ímpia do
homem-eu em sentido genérico. (Nome emprestado do
Evangelho gnóstico da Pistis Sophia, de Valentinus.) (19)

284
AUTO-RENDIÇÃO. Ver Gnosis Universal quíntupla e endura.
(19)
CABEÇA AUREA. Aspecto do corpo vivo da jovem Gnosis,
pertencente à região dos graus internos da Escola Sétu-
pla de Mistérios; alusão ao campo de ressurreição, o no-
vo campo de vida. (254)
CALW. Ver focos. (118)
CÂNTICO DE ARREPENDIMENTO de libertação. Expres-
são emprestado do Evangelho da Pistis Sophia, deVa-
lentinus. Quem observa as exigências da senda de liber-
tação, canta o cântico de arrependimento da Pistis So-
phia. (44)
CASA SANCTI SPIRITUS. O campo de ressurreição, o novo
campo de vida. Ver cabeça áurea. (259)
CATAROS (do gr. Katharos: puros). Movimento iniciático-cris-
tão que se desenvolveu na Europa entre o século XI e
XIV, principalmente no Sul da França, na região monta-
nhosa de Pirineus, conhecida como Sabartez ou Langue-
doc. Foi ai, ao redor de Sabart-Tarascon e das aldeias vi-
zinhas Ussat-Ornolac, nas muitas grutas ali existentes
desde a pré-história e transformadas em santuários natu-
rais, que se constituiu o lugar de longa, severa e dura ini-
ciação para os cátaros. Eles, a exemplo dos essênios e
dos primeiros cristãos, levavam vida ascética de alta es-
piritualidade, vivenciando na prática um cristianismo puro,
numa total auto-renúncia a tudo o que era deste mundo;
não possuíam bens nem dinheiro, dedicando-se inteira-
mente à comunidade, pregando o evangelho e curando
os enfermos, pois também eram terapeutas.
Acusados porém de heresia pelo Papa Inocêncio III, este
enviou a histórica Cruzada contra os Albigenses* em

285
1209, _quando, numa seqüência trágica de mortes e tortu-
ras, cidades inteiras e castelos daqueles que os defen-
diam foram saqueados, e as populações, incluindo mu-
lheres e crianças, passadas a fio de espada. Após a que-
da de Montsegur em 16 de março de 1244, 205 cátaros
foram queimados vivos numa imensa fogueira. Os pou-
cos remanescentes abrigaram-se então na grande gruta
subterrãnea de Lombrives, chamada a Catedral do Cata-
nsmo, onde mais tarde, em 1328, 510 cátaros foram em-
paredados vivos, encerrando assim a epopéia medieval
desse movimento mártir.
Os cátaros eram também denominados de "os Puros, os
Perfeitos, ou Bons Homens", porque, seguindo o caminho
dos Mistérios cristãos, haviam operado em seu ser a re-
formação, e assim, tais como verdadeiros discípulos de
Cristo, a serviço do mundo e da humanidade, galgavam o
"caminho das estrelas", o caminho da transformação (ou
da transfiguração, na linguagem da jovem Fraternidade
gnóstica). Fazendo alusão a esse estado de puro, a Es-
cola da Rosacruz moderna fala da alma renascida, a al-
ma-espírito, que, pela sua ligação restabelecida com o
Espírito, de novo obteve a participação na sabedoria divi-
na, a Gnosis. Para maiores informes sobre a vida dos cá-
taros, ver o livro O Caminho do Santo Graal, de A. Ga-
dal. (15, 114)
CENTROS DE CONFERÊNCIAS. A Escola Espiritual mo-
derna possui diversos centros de conferências onde re-
gularmente são realizadas conferências que duram mui-
tos dias, com várias centenas de alunos de diversas na-
cionalidades. Elas sempre se dedicam totalmente ao en-
sinamento da única libertação e aos muitos aspectos da

286
correspondente realização na praxis. ( 192)
CIÉNCIA UNIVERSAL. A Ciência Universal, a Religião Fun-
damental e a Arte Real são respectivamente as esferas
de ação da Fraternidade da Rosacruz, da Fraternidade
dos Cátaros e da Fraternidade do Santo Graal.
Juntas, elas formam a Trfplice Aliança da Luz que adqui-
riu a forma aluai na jovem Fraternidade gnóstica, repre-
sentada exteriormente pelo Lectorium Rosicrucianum.
(205)
CONTRANATUREZA. Nosso campo dialético de existência
no qual a humanidade decaída, que está apartada de
Deus, do Espírito, goza bem a vida em teimosia. Essa vi-
da fora da ordem cósmica implantada por Deus, tem em
desenvolvimento a maldade que caracteriza nosso campo
de existência em todos os aspectos, que nós, em nossa
teimosia, tentamos combater. Em concordância com a
natureza de nossa existência, esse desenvolvimento não-
divino e contranatural somente pode, por isso, ser nega-
do, o que na Escritura Sagrada é designado como a "re-
conciliação com Deus" e mediante a realização conse-
qüente e fiel dessa reconciliação. Em outras palavras: por
meio da restauração da ligação espiritual na senda da
transmutação e da transfiguração e o retomo nela contido
para a obediência voluntária diante da ordem cósmica
universal. (150)
CORPO VIVO. Ver arca celeste. (25).
CORRENTE UNIVERSAL. Ver Fraternidade Universal. (21)
COSMOCRATAS. "Regentes" de que fala o livro Pimandro.
Ver regentes. (257)
C.R.C. Abreviatura clássica do nome de Christian Rosen-
kreuz. Alusão ao protótipo do homem que consumou o re-
tomo ao ser humano verdadeiro e imortal pelo caminho

287
da tra(lsfiguração. As sete fases dessa Se'lda são minu-
ciosamente descritas como os sete novos dias de criação
nas Núpcias A/químicas de Christian Rosenkruz, uma ex-
plicação muito velada de Johann Valentin Andreae, um
irmão da Rosa-Cruz medieval, que morava em Calw (Flo-
resta Negra), Alemanha. (84)
CRISTO INTERNO, SER DE. Ver átomo-centelha-do-espírito.
(300)
DEMIURGO. Ser espiritual proveniente de Deus, o Pai. O
Demiurgo é o criador do mundo a partir da substãncia
original; a própria substância origmal não provém todavia
dele, porém é criada por Deus, o Pai. Ele é uno com o
Verbo, a alma do mundo, o filho do Pai. Ele também é
conhecido como o Arquiteto Universal. (97)
DEMÓNIOS. Literalmente: "força natural". Quando o homem
se une com essas forças, enquanto ele realiza a vontade
do Pai em obediência voluntária, elas se revelam no ca-
minho do homem para a deificação como auxiliares pode-
rosos. Caso contrário, o homem experimenta-os como
efeitos hostis - como demônios vingativos - como forças
do destino. Eles correspondem, então, às conseqüências
cármicas que determinam o destino humano no caminho
da experiência. Também os eôes naturais criados pela
vida natural cega do homem decaído são denominados
demónios, porém, aí, no sentido negativo.
Em íntima conexão com isso, os demónios, os princípios
de forças astrais, são criados por meio da consciência in-
telectual do homem. (73)
DESMASCARAMENTO. Ver eões e farsa, a grande. (86)
DEUSES. Ver regentes e demónios. (175)
DIALÉTICA. Nosso presente campo de vida, onde tudo se

288
manifesta em pares opostos. Dia e noite, luz e escuridão,
alegria e tristeza, juventude e velhice, bem e mal, vida e
morte, .estão ligados um ao outro inseparavelmente. Eles
se sucedem, e um evoca o outro. Por causa dessa lei
fundamental, tudo aqui está sujeito à contínua mudança
e desintegração, a surgir, brilhar e fenecer, e nosso cam-
po de existência é uma região de finidade, de dor, de so-
frimento, de demolição, de doença e de morte. (11)
DIALÉTICO (adj.). Refere-se à dialética. (8)
DISPIENSAÇÃO. Período em que uma revelação particular
da mente e da vontade de Deus opera diretamente na
humanidade. Por exemplo: Dispensação Mosaica, Dis-
pensação Cristã. (160)
DOUTRINA UNIVERSAL. Não é um ensinamento no sentido
literal comum, tampouco se pode encontrar em livros. Em
sua essência mais profunda é a vivente realidade de
Deus: tão-somente a consciência enobrecida, a consciên-
cia hermética ou pimândrica, nele pode ler e compreen-
der a oni-sabedoria divina.
Essa Doutrina ou Filosofia Universal é, portanto, o co-
nhecimento, a sabedoria e a força que sempre de novo
são ofertados ao ser humano pela Fraternidade Universal,
a fim de possibilitar à humanidade decaída trilhar o cami-
nho de retorno à casa do Pai. (177)
ENDURA. O caminho do rompimento do ego, a senda da áu-
rea morte mediante a total auto-rendição do eu ao "Ou-
tro", o verdadeiro homem imortal, o "Cristo em mim". É a
senda do homem joanino, do "preparai o caminho do Se-
nhor"; é a prática do "Ele, o outro celeste, deve crescer e
eu, diminuir; eu devo declinar e com isso o outro celeste
em mim pode viver''. A senda da endura é o caminho

289
clássico de todos os tempos, ao longo do qual o homem
submerso na escuridão, na dor e na morte, consuma uma
total transformação de vida em seu verdadeiro ser imor-
tal, através de um fogo purificador e retorna ao Pai em e
com Ele.
Nosso caminho através da dialética é uma vida para a
morte, a endura é uma morte voluntária para a verdadeira
vida. É o caminho purificador da vida do verdadeiro ho·
mem buscador de Deus, pelo qual ele morre voluntaria-
mente segundo o seu ser-eu, a fim de viver no outro imu-
tável: "Aquele que deseja perder sua vida por mim, en-
contrá-la-á". (283)
ENTIDADES-CENTELHA-DE-VIDA. Seres nascidos da natu·
reza que não possuem a rosa do coração, o átomo-cen·
telha-do-espírito. Esses homens são totalmente orienta-
dos para a existência em nossa esfera terrena grosseira,
sentem-se totalmente à vontade aqui e não sentem falta
de uma vida interna. Em realidade não são seres huma-
nos, porém apenas fenômenos naturais, absolutamente
insensíveis a qualquer toque espiritual. A vida contrária a
Deus, que assim perdura há gerações, deve inevitavel-
mente conduzir ao nascimento de entidades-centelha-de·
vida que vêm e vão sem ter deixado um resultado positi·
vo de vida.
Nossa humanidade aluai conta com muitas centenas de
milhões desses fenômenos humanos.
EÕES. a) São formas monstruosas de forças naturais ímpias
que foram chamadas à existência, no decorrer dos tem·
pos, por meio da vida contrária a Deus (pensamento, von-
tade, sentimento, açã? e desejo) da humanidade decaída.
Como criações da humanidade que escapam totalmente

290
de seu controle, elas mantêm a humanidade presa em
suas garras e formam nela as irresistíveis faculdades de
auto-afirmação que a forçam a avançar nos caminhos
aplainados por ela mesma e assim preservar a ligação
humana à roda giratória da dialética.
b) Grupo dirigente hierãrquico do espaço e do tempo. A
mais elevada formação metafísica de potestades, prove-
niente da humanidade decaída, que abusa de todas as
forças da natureza dialética e da humanidade, e as com-
pele à atividade não-divina para proveito de suas som-
brias intenções. À custa de terrível sofrimento da huma·
nidade, essas entidades obtiveram a liberdade da roda•
da dialética, liberdade que elas, em imensurável necessi-
dade de automanutenção, somente podem preservar em
aumentando ilimitadamente os sofrimentos do mundo e
assim mantendo-o. Em sua coletividade, elas com muito
acerto, são indicadas como "a hierarquia dialética" ou "o
príncipe deste mundo".
Neste contexto, são recomendados ao leitor. O Advento
do novo Homem, parte I, capítulo X, pág. 97, 1~ edição,
pág. 99, 2~ edição e também Desmascaramento, parte I,
A Sombra dos próximos Acontecimentos, de Jan van
Rijckenborgh.
Para completar, deve-se dizer que todas as atividades
mentais, sentimentais, volitivas e de desejos do homem
decaído, mesmo as dos assim denominados "bons",
chama à existência os eões, isto é, as forças ímpias da
natureza. Além dessas atividades naturais ímpias, há as
forças naturais do cosmo terreno, sétuplo, divino, que se
manifestam ao homem como inimigas, pois ele, devido a
seu estado decaídO e de dentro dele, infringe e perturba

291
contiryuamente a harmonia e as leis naturais do cosmo
terreno. (Ler sobre isso em O Advento do novo Homem,
pág. 71/75, 1" edição, págs. 78/82, 2" edição.) (15)
ESCOLA. Ver Escola Espiritual. (69)
ESCOLA ESPIRITUAL. A Escola de Mistérios dos Hierofan-
tes de Cristo. Ver Fraternidade Universal. (16)
ESFERA MATERIAL I ESFERA REFLETORA. As duas me-
tades componentes desta ordem de natureza dialética. A
esfera material é a região onde vivemos em nossa mani-
festação material. A esfera refletora é a região onde se
realiza o processo entre a morte e a reencarnação. Ela
consiste, além da esfera infernal e do assim chamado
Purgatório (a esfera de purificação), naquilo que na reli-
gião natural e no ocultismo é indicado erroneamente co-
mo "céu" e "vida eterna". Essas esferas celestes e a exis-
tência nelas, da mesma maneira que na esfera material,
estão sujeitas à finidade e à tf3mporalidade. A esfera re-
fletora é, portanto, o local de morada temporária dos mor-
tos, o que não quer dizer que a personalidade falecida re-
tomará a nova vida, pois não há subsistência da persona-
lidade quádrupla! Apenas o núcleo mais profundo da
consciência, o assim chamado lampejo espiritual ou cen-
telha dialética, é retomada temporariamente no ser aural
e forma a base da consciência da nova personalidade
que é construída pelo ser aural em cooperação com as
forças ativas na mãe. (66)
ESFERA REFLETORA. Ver esfera material. (15)
ESPÍRITO SANTO SÉTUPLO. O terceiro aspecto de Deus
triplamente revelado; é o amor oniabrangente do Pai, es-
clarecido através do Filho, que como um poderoso campo
de radiação sétuplo parte para a humanidade decaída pa-

292
para salvar o que está perdido.
Sob a orientação e com o auxílio dessa força sétupla uni-
versal que se manifesta na Fraternidade Universal, é
possível a consumação do processo de transfiguração.
Nesse poderoso processo, o Espírito Santo Sétuplo esta-
belece moradia novamente no candidato: As "Núpcias
Alquímicas de C.R.C." é a unificação da alma imortal
com o Esplrito Sétuplo. (18)
ÉTERES. Do Setenário Original, a terra sétupla original,
emanam sete forças de que vive o homem pnmordial.
Nosso sistema vital apenas subsiste nesta ordem de so-
corro com quatro aspectos bastante degradados dessas
sete forças:
- o éter químico, que assegura a vida e o desenvolvimen-
to do corpo físico;
- o éter vital, que tem ligação com as forças de reprodu-
ção;
- o éter luminoso, que se relaciona com os sentimentos;
- o éter refletor, que se relaciona com os pensamentos.
Essas quatro forças dialéticas, esses quatro alimentos,
apenas possuem uma relação longínqua com as quatro
forças originais, os quatro alimentos santos. Eles provêm
contudo da mesma fonte, do coração do Setenário Cós-
mico, porém correspondem a radiações bem diferentes
das do coração da substância primordial. O processo da
transfiguração visa a confrontar a personalidade com es-
ses alimentos santos, a substituir os éteres dialéticos
pelos éteres originais, a fim de tornar o sistema vital, reo-
rientado pela rosa sétupla para o Reino original, apto a
receber os três éteres superiores, que possibilitarão a re-
constituição total do microcosmo.

293
Uma escola espiritual gnóstica corresponde - entre ou-
tras éoisas por sua relação com o novo campo de vida -
a uma forja de concentração desses éteres superiores,
sem os quais a verdadeira Alquimia não é possível.
FACULDADES SUPERIORES. A consciência mercuriana, a
consciência alma-espírito. (118)
FARSA, A GRANDE. Atividade da esfera refletora altamente
refinada e atrativa que ;:>retende simular o regresso do
Senhor, mediante o acionamento de todo o ocultismo do
Além e do emprego de fenômenos científicos-naturais
monstruosos. Esses fenômenos de declínio preparado in-
tensivamente, que acompanhará o fim dos dias cósmicos
aluais, ameaça aprisionar toda a humanidade na cegueira
de uma ilusão irresistível. Ver Desmascaramento - A
Sombra dos Acontecimentos Vindouros, de Jan van Rijc-
kenborgh. (36)
FLOR ÁUREA, MARAVILHOSA. O nascimento da luz de
Deus no santuário da cabeça, o espaço aberto atrás do
osso frontal, por meio do qual o candidato adquire a nova
consciência no novo campo de vida, mostra as sete cavi-
dades cerebrais como uma rosa de sete pétalas, todas
preenchidas pelo prana da vida, pela luz gnóstica.(44)
FOCOS. A Escola de Mistérios da Europa Ocidental, exte-
riormente representada, entre outras, pelo Lectorium Ro-
sicrucianum; possui diversos locais de trabalho onde as
forças-luzes da Gnosis se revelam muito concentradas.
Esses pontos focais encontram na Holanda, Alemanha,
Suíça, França, Espanha, etc. (39)
FRATERNIDADE UNIVERSAL. A Hierarquia divina do Reino
Imutável que forma o corpo vivo do Senhor. Ela também
é indicada por outros nomes, tais como: Igreja Una e lnvi-

294
slvel de Cristo, Hierarquia de Cristo, Corrente Universal
Gnóstica, Gnosis. Em sua atividade em prol da humani-
dade decaída ela age, entre outras coisas, como Fraterni-
dade de Shamballa, Escola dos Mistérios de Hierofantes
de Cristo ou Escola Espiritual Hierofântica, e como tal,
toma forma na jovem Fraternidade Gnóstica. (66)
GNOSIS. a) O alento de Deus; Deus, o Logos, a Fonte de
todas as coisas, manifestanc:Jo.se como Espírito, Amor,
Luz, Força e Sabedoria Universal;
b) a Fraternidade Universal, como portadora e manifesta-
ção do campo de radiação de Cristo;
c) o conhecimento vivo que é de Deus, e que se torna
parte dos que, mediante o renascimento-alma, entraram
no nascimento da luz de Deus, isto é, o estado de cons-
ciência pimândrica. (17)
GNOSIS DE HERMES. Alusão ao fato de que toda a ativi-
dade verdadeiramente gnóstica de nosso período atual da
humanidade é proveniente da Fonte primordial da Gnosis
Egípcia, que toda santa obra gnóstica se origina do co-
nhecimento primordial, que a libertação do homem so-
mente é passivei por meio da ressurreição do homem
hermético ou mercuriano, do verdadeiro homem gnóstico
que é e vive da consciência iluminada em Deus.
Por isso, também é uma indicação dessa fonte primordial
de toda a obra de libertação, quando o evangelho teste-
munha: "Do Egito chamei meu filho". (155)
GNOSIS UNIVERSAL. Ver Fraternidade Universal. (237)
GNOSIS UNIVERSAL QUÍNTUPLA. Indicação conjunta
das cinco fases de desenvolvimento, pelas quais o cami-
nho uno para a vida se manifesta no aluno: 1) discerni-
mento libertador, 2) ânsia de salvação; 3) auto-rendição;

295
4) nova atitude de vida; 5) ressurreição no novo campo de
vida. (304)
GNÓSTICO. Relativo a Gnosis. (19)
HOMEM NASCIDO DA NATUREZA. O homem nascido da
matéria sujeito às leis da natureza dialética. (10)
JOHANN VALENTIN ANDREAE. O mais representativo dos
irmãos da Rosa-Cruz medieval. Autor das Núpcias AI-
químicas de Christian Rosenkreuz, uma obra que descre-
ve de forma velada todos os aspectos de todo o caminho
do candidato na senda da transfiguração. (19)
KARMA (adj. cármico). Lei de ação e reação, de causa e efei-
to, que ensina "colherás o que semeaste". Resultado de
ações boas e más das vidas passadas e da aluai. (65)
LEÃO, A FORÇA COM CABEÇA DE. Ver authades. (19)
LOGOS. O Verbo criador, a fonte de todas as coisas. (78)
MICROCOSMO. O homem como minutum mundum (peque-
no mundo) é um sistema de vida complexo e esférico,
onde se pode distinguir, de dentro para fora: a personali-
dade, o campo de manifestação, o ser aural, um campo
espiritual magnético sétuplo. O verdadeiro homem é um
microcosmo. O que se entende por homem neste mundo
é apenas a personalidade severamente mutilada de um
microcosmo irremediavelmente degenerado. Nossa aluai
consciência é uma consciência personalistica e, por con-
seqüência, apenas é cônscia do campo de existência a
que pertence.
O firmamento, o ser aural, personifica a totalidade de for-
ças, valores e ligações que são o resultado das vidas de
diversas manifestações de personalidade no campo de
respiração. Todas essas forças, valores e ligações for-
mam, em conjunto, as luzes, as estrelas de nosso fir-

296
mamento microcósmico. Essas luzes são focos magnéti-
cos que, em concordância com sua natureza, determinam
a qualidade do campo espiritual magnético, isto é, a natu-
reza das forças e substâncias que são atraídas da atmos-
fera e acolhidas no sistema microcósmico, portanto, tam-
bém na personalidade. Assim, tal a natureza dessas lu-
zes, tal é a personalidade! Com isso, uma mudança no
ser da personalidade tem de preceder uma mudança no
ser do firmamento, e esta última apenas é possível me-
diante o auto-sacrifício do ser-eu, a total demolição do eu.
O campo de manifestação ou campo de respiração. É o
campo de força imediato em que a vida da personalidade
é possibilitada. É o campo de ligação entre o ser aural e
a personalidade e está, em sua atividade de atração e
repulsão de forças e substâncias a favor da vida e da
manutenção da personalidade, completamente em har-
monia com a personalidade. (28)
MICROCÓSMICO. Relativo ao microcosmo. (78)
NATUREZA DA MORTE. Vida, verdadeira vida, é uma exis-
tência eterna! Todavia, em nosso aluai campo de exis-
tência domina a lei da mudança e destruição contínuas.
Tudo o que vem à existência já está desde o primeiro ins-
tante de sua vida no caminho da morte; por isso, o que
denominamos "nossa vida" é apenas uma existência apa-
rente, uma existência na grande ilusão. É idiotice e sem
sentido agarrrar-se a ela como o faz quase toda a huma-
nidade. A dor do rompimento, que experimentamos tão
profundamente e contra a qual nos defendemos inutil-
mente, deseja-nos fazer compreender o mais rapidamen-
te possível que esta dialética, esta natureza da morte,
não é o campo de vida determinado para o homem, po-

297
rém a natureza de vida, o campo de vida original adâmico
descríto da Bíblia como "Reino dos Céus".
O impulso inextinguível em cada ser para a graça perpé-
tua, a paz imorredoura, o amor imperecível e seu anseio
para a vida eterna provém do núcleo de vida ern repouso
nele, o princípio primordial do verdadeiro homem imortal.
Desse átomo primordial ou átomo de Cristo, desse reino
oculto, o "Reino de Deus que está em vós", ressuscitará,
por meio da total transformação de vida na Gnosis, esse
verdadeiro homem imortal, e poderá retornar à natureza
da vida, à casa do Pai. (11)
NEGAÇÃO. É o que Paulo denomina "morrer diariamen-
te". É o afastamento de todo o interesse pelo que é deste
mundo, incluindo nosso próprio ser-eu. É o contínuo dizer
não, com ação, a todos os impulsos da natureza em nos-
so sangue. Tal orientação de vida apenas tem sentido
quando ele é a conseqüência lógica do despertar de um
discernimento (o verdadeiro autoconhecimento!) concer-
nente à verdadeira natureza e ao verdadeiro estado de
nossa existência humana atual e desta ordem de nature-
za. Mediante esse "morrer diário" consciente e convicto,
liberamos em nós o caminho para a atividade dupla da
luz libertadora da Gnosis, que destrói então tudo o que
rejeitamos e constrói aquilo que possibilita a nova mani-
festação humana. Assim, morremos então literalmente,
segundo o velho homem, "na força demolidora de Cristo",
isto é, todos os impulsos da velha natureza são silencia-
das em nós, o que permite a nova natureza, o novo ho-
mem, manifestar-se. (20)
NOUS. O santuário do coração do homem dialético, esvazia-
do e completamente purificado de toda a influência e ati-

298
vidade provinda da natureza; santuário vibrando de modo
inteiramente harmonioso com a rosa, o átomo-centelha-
do-espírito. Apenas em tal coração purificado pode pro-
cessar-se o encontro com Deus, o tornar-se cônscio do
Pirnandro. (106)
NÚPCIAS ALOUÍMICAS DE CHRISTIAN ROSENKREUZ O
processo de transfiguração; expressão empregada pela
Rosa-Cruz medieval. Ver Johann Valentin Andreae. (84)
ORDEM DE EMERGÊNCIA. Ver personalidade da ordem de
emergência. (171)
OUTRO. Alusão ao verdadeiro homem imortal, ao homem
que provém verdadeiramente de Deus e é "perfeito, exa-
tamente como o Pai é perfeito". O novo despertar à vida
desse filho unigênito, do ser de Cristo em nós, é o único
verdadeiro objetivo de nossa presença no campo de exis-
tência dialético, por isso, ele é também o único objetivo
de toda a verdadeira Rosa-Cruz gnóstica. Ver também
em rosa do coração. (211)
PERSONALIDADE DA ORDEM DE EMERGÊNCIA. No
imenso drama cósmico, conhecido como "queda", existe
uma parte de onda de vida humana que não pôde mais
manter-se no campo de vida humano original devido à
perda da ligação espiritual e, por estar nas garras da na-
tureza irracional, uniu-se a ela. Para dar oportunidade à
humanidade decaída de se libertar desse cativeiro de ilu-
são, essa humanidade foi isolada numa região fechada
da setuplicidade cósmica e submetida à lei da dialética, à
lei do contínuo nascer e desmoronar, a fim de que se
conscientizasse, com isso, de sua elevada origem e de
sua essência imortal, por meio da constante experiência
da dor do fim de todas as coisas. Nessa conscientização

299
de ser um filho perdido, ela deveria romper os grilhões da
matéria e as correntes de "carne e sangue" e, por meio
do restabelecimento da ligação com o Pai, com o Espíri-
to, retomar ao domínio original de vida da humanidade.
Por isso, na filosofia dos Rosacruzes, o campo de exis-
tência dialético é chamado, nesse contexto, de ordem de
emergência estabelecida por Deus, e o corpo no qual o
homem se manifesta aqui, denomina-se corpo de emer-
gência. No caminho de volta à casa paterna, o aluno
aprende, com o auxilio da luz gnóstica indispensável, da
luz do amor de Cristo, a substituir esse corpo da ordem
de emergência por uma corporeidade imortal e magnífica.
O processo de transfiguração é o renascimento da água e
do espírito" evangélico; é a total conversão do que é ím-
pio e mortal em santo e imortal pelas águas primordiais
(a substãncia primordial do princípio) na força da ligação
regeneradora com o Espírito.
PIMANDRO. O Espírito vivificante que se manifesta ao e no
homem-alma renascido. Essa manifestação ocorre de
duas maneiras: primeiramente, como a formação da ra-
diação nuclear ·sétupla do microcosmo, que penetra o
santuário da cabeça; e depois, quando o trabalho do san-
tuário (tomando-se possível com a auto-rendição da alma
mortal) é consumado por meio da ressurreição do homem
celeste, perfeito, sumamente glorioso, o ser de Cristo• in-
terno da tumba da natureza, do átomo primordial, o ponto
central da terra microcósmica. Esse desenvolvimento
também é perfeitamente cristocêntrico: Cristo desce após
sua crucificação (o sepultamento da luz divina na perso-
nalidade terrestre!) ao ponto central da terra, para após
haver consumado lá seu santo trabalho, ressurgir de sua
tumba. (20)
300
PIST/S SOPHIA. Nome de um evangelho gnóstico do século
11 (atribuído a Valentino), evangelho esse conservado in-
tacto, e que anuncia o caminho uno da libertação em
Cristo, a senda de transmutação e de transfiguração, em
pureza impressionante. Também o verdadeiro aluno, que
persevera até a consecução. (18)
QUADRADO DA CONSTRUÇÃO. Ver tapete, estar sobre o.
(42)
REINO NEOGNÓSTICO NA EUROPA. O campo astral gnós-
tico formado da pura substância astral do Princípio, edifi-
cado pela jovem Fraternidade gnóstica em colaboração
com a Corrente Universal gnóstica, que é o elo mais jo-
vem. Pela sua atividade em dois mundos (tanto no cam-
po de ressurreição do sexto domínio cósmico, quanto em
nosso campo de existência do sétimo domínio cósmico),
ela possibilita, enquanto perdurar o tempo da colheita, ao
homem que busca realmente a libertação, ingressar no
campo da ressurreição, mediante o corpo vivo da jovem
Gnosis. O corpo vivo representa, pois, a muito temporãria
ponte entre os dois domínios cósmicos. O reino neognós-
tico incorpora todas as forças de que o aluno precisa para
transpor essa ponte para a Vida. Ela se formou na Euro-
pa, para propagar de lá, para o mundo inteiro. Seu cha-
mado despertador parte para toda a humanidade.
REGENTES. Também denominamos cosmocratas ou deu-
ses; sete poderosos seres naturais, intimamente ligados à
origem da criação, que mantêm as leis cósmicas funda-
mentais e sua esfera de ação. Eles formam juntos o Espí-
rito Sétuplo da onimanifestação. (Ver também o tomo I
da Arquignosis Egfpcia e seu Chamado no Eterno Pre-
sente, o Primeiro Livro: Pimandro).

301
RELIGIÃO FUNDAMENTAL. Ver Ciência Universal. (205)
RENOVA.'Foco central da Escola de Mistérios da jovem Fra-
ternidade gnóstica - Lago Vuursche (Holanda). Ver reino
neognóstico na Europa. (194)
RODA DA DIALÉT/CA ou roda do nascimento e morte. O
repetido ciclo de nascimento, vida e morte e revivificação
de uma nova personalidade dialética no microcosmo de-
caído. (291)
ROSA DO CORAÇÃO. O átomo de Cristo, o átomo-cente-
lha-do-espírito, também designado misticamente como
botão de rosa, a semente áurea Jesus ou a maravilhosa
jóia de lótus, localiza-se no centro matemático do micro-
cosmo, que coincide com a parte superior do ventrículo
direito do coração. Esse átomo é um germe de um micro-
cosmo totalmente novo, que se encontra latente no ho-
mem decaído como uma promessa divina da graça, até
que chegue o momento em que este, amadurecido com
sofrimento e experiência neste mundo, lembre-se de sua
origem e seja preenchido pelo ardente anseio de retornar
à casa paterna; somente então é criada a possibilidade
para que a luz do sol espiritual possa despertar o botão
de rosa adormecido, e, no caso de uma perseverante rea-
ção positiva e numa diretriz plenamente consciente, pos-
sa ser dado início ao processo pleno de graça da comple-
ta regeneração do ser humano, segundo o plano de sal-
vaçãJ divino. (19)
ROSACRUZES CLÁSSICOS. Os rosa-cruzes que pertenciam
à Escola de Valentin Andreae, manifestação da Fraterni-
dade Universal em fins do século XVI e XVII. Valentin
Andreae publicou obras importantes, entre as quais As
Nú,ocias Alqufmicas de Christian Rosenkreuz, considera-

302
da o mais importante testamento da Ordem da Rosa-cruz
clássica, um dos luminosos pilares em que está alicerça-
do também o trabalho da Rosacruz moderna. (244)
SALÃO DAS NÚPCIAS (salão superior). a) O santuário mi-
crocósmico da cabeça. b) A cabeça áurea do corpo vivo
gnóstico. (252)
SANTUÁRIO DA CABEÇA I SANTUÁRIO DO CORAÇÃO. A
cabeça e o coração do homem destinam-se a ser oficinas
consagradas para a ação divina em e com o homem que
restabeleceu a ligação espiritual, a ligação com Piman-
dro. Em sintonia com essa determinação superior a cabe-
ça e o coração tornam-se, após uma purificação total,
fundamental e estrutural na senda da endura*, uma mab-
nífica unidade para um verdadeiro santuário a serviço de
Deus e de seu esforço para com o mundo e a humanida-
de. O fato de que essa determinação se torne consciente
será um estímulo contínuo e uma advertência a fim de
que se purifique toda a vida intelectual, volitiva, emotiva
e ativa de tudo o que se opõe a essa vocação superior.
(19)
SANTUÁRIO DO CORAÇÃO. Ver santuário da cabeça. (19)
SER AURAL. O ser aura!, a soma dos centros sensoriais,
pontos de forças e focais, nos quais todo o karma do ho-
mem se encontra consolidado. Nosso ser terreno, mortal,
é uma projeção desse firmamento, sintonizado comple-
tamente através dele segundo suas possibilidades, suas
limitações e sua natureza. O ser aural é a personificação
de todo o fardo de pecados do microcosmo decaído. É o
velho céu (microcósmico) que passa com o auxílio da
Gnosis através da total transformação de vida e deve ser
substituído por um novo céu. Por conseguinte, uma nova

303
terra, a ressurreição do verdadeiro homem, em que o Es-
pírito, ·alma e corpo formam novamente uma unidade
harmónica e imutável, em sintonia com o plano de Deus.
(64)
TAO. Denominação de Lao-Tsé para a Fonte Única de todas
as coisas. (278)
TAPETE, ESTAR SOBRE O. Designação maçónica da atitu-
de interior do aluno que se esforça, séria e devotamente,
com perseverança, para realizar em si próprio a Gnosis*
Universal quíntupla.
TRANSFIGURAÇÃO. O processo evangélico do renascimen-
to da água e do Espírito, o primordial caminho de volta
para a pátria perdida, para o outro reino, para a ordem de
vida de Cristo. (238)
UNIDADE DE GRUPO. A verdadeira unidade de todos os
que são aceitos no oorpo vivo da jovem Fraternidade
gnóstica e que exige enfaticamente o ser da Escola Espi-
ritual. Unidade de grupo não é nenhum fenômeno exte-
rior, bem intencionado de cooperação, porém a unidade
interior da vida-alma crescente na Gnosis, que se de-
monstra no espírito do Sermão do Monte em positiva e
nova atitude de vida. (21)

304
ÍNDICE REMISSIVO

Pr~fácio ................................... VIl


O Portal de Saturno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX

Décimo livro: O bem está unicamente


em Deus e em nenhuma outra parte ........ 01
11 O mistério do bem .................... 07
O bem e o mal humanos ................ 07
Também o amor pode existir apenas em Deus 10
A autonomia ......................... 11
III A senda da auto-rendição ............... 13
Asclépio, o buscador, o sanador do futuro .... 14
O mar acadêmico e a viagem à ilha de Caphar
Salama, o país da paz .................. 19
A auto-rendição ....................... 19
Unidade de grupo: A comunidade das almas .. 21
IV O caminho para a libertação ............. 23
A arca da jovem Gnosis ................. 25
O caminho para o Bem Único ............ 25
A essência da alma .................... 27
O nascimento da paixão do coração ........ 27
O bem humano e seu oposto ............. 29
V A ilusão da bondade do mal .............. 33
Pessimistas e otimistas ................. 34
Por que nos esquecemos tão facilmente ..... 36
A incapacidade de nosso estado orgânico-
sensorial de perceber o Bem Único ........ 36
O fardo duplo ........................ 38
A necessidade de vivenciar a senda ........ 38

305
O auxílio presente ..................... 40
VI b cântico de arrependimento de libertação ... 41
A autonomia ......................... 41
O coração sétuplo ..................... 41
O cântico de arrependimento de libertação ... 44
VIl O décimo-primeiro livro: sobre a mente e
os sentidos .......................... 47
VIII A mente e os sentidos .................. 55
O cativeiro natural do homem terreno ....... 56
A astúcia da mente .................... 57
Um homem simples ................... 59
O autodesmascaramento do instinto natural .. 59
IX Nossa influência astral ................. 63
O que acontece durante o sono ........... 63
Determinação cárrnica e hereditária ........ 64
As influências da corrente universal gnóstica .. 66
Como se chega à Escola Espiritual ........ 67
Quem me livrará do corpo desta morte? ..... 70
X Demonismo negro ..................... 71
A terra e o mundo ..................... 72
Razão e intelecto ..................... 74
O drama de nossa vida •................ 75
A sexualidade antinatural ................ 76
As conseqüências do abuso das forças astrais 76
O demonismo negro e a senda de libertação .. 77
XI A receita da senda para a vida ............ 73
A semente divina ..................... 84
A luz brilha nas trevas .....•............ 84
A lei do pecado ....................... 84
Para onde caminhardes segundo a carne
morrereis ........................... 87

306
A virtude hermética .................... 88
A temperança hermética ................ 90
A bem-aventurança hermética ............ 91
XII A terra, matriz do mundo ................ 93
O pensamento do homem ............... 95
A perturbação da ordem divina ............ 95
Cristo, o Espirito planetário . . . . .......... 98
O conselho hermético mais poderoso ... .' ... 99
XIII Tudo receber e tudo abandonar, e assim
tudo renovar . . . . . . . . . . . . ........... 101
A dialética divina do mundo ............. 102
A dialética vingativa da terra ............ 105
XIV O objetivo do homem ................. 109
O ritmo do curso mundial ............... 11 O
A prova do pecado é a lei . . . . . . . . . . . . . . 113
As experiências legais dos cátaros e
bogomilos .......................... 114
XV Nossa atitude de vida e as circunstâncias
atuais ............................. 117
O método de trabalho da antiga fraternidade . 118
A roupagem do pais em que moramos . . . . . 120
A necessidade do estado de alma vivente ... 120
Mercúrio, deus dos comerciantes e dos
ladrões ............................ 122
Prática venal e a nova atitude de vida ...... 124
O ensino e a nova atitude de vida . . . . . . . . 125
XVI A circulação das forças de luz gnóstica ..... 127
Bem-aventurados os pobres de espírito ..... 127
O movimento retrógrado ............... 128
A descida do Espirito Santo ............. 130
As quatro rosas no chapéu de C.R.C. . ..... 130

307
XVII Décimo-segundo livro: A chave de Hermes
Trismegisto ......................... 131
XVIII Buscai primeiro o reino de Deus e
sua justiça ......................... 147
O Bem Único ....................... 147
Uma indescritível certeza consoladora ..... 148
Os dois aspectos da natureza fundamental .. 149
Desejo e vontade .................... 150
O destino do anseio ímpio .............. 152
A essência da morte .................. 153
XIX A Sancta Democratio .................. 155
A coesão do universo ................. 157
Nossos ancestrais Uranos e Cronos ....... 160
Como o movimento retrógrado se cumpre ... 161
XX De alma vivente a Espírito vivificante ...... 163
A entrada no silêncio .................. 163
A voz do silêncio ..................... 163
O processo da divinização .............. 166
A descida da alma .................... 167
O nascimento da alma ................. 168
Como nasce um microcosmo ............ 168
Voltai, 6 filhos do fogo! ................ 171
XXI Os sete períodos de criação ............. 173
O nascimento do estado opositor ......... 174
Épocas e períodos .................... 174
A queda - a estagnação da marcha de nosso
desenvolvimento ..................... 178
O perigo da negação .................. 179
O drama de Judas .................... 180
A condenação da alma pecadora ......... 181
XXII Ele deve crescer, e eu, diminuir .......... 183

308
O obumbramento da consciência
cérebro-racional ..................•... 183
De volta para o reconhecimento .......... 185
Nossa culpa diante dos outros reinos naturais. 185
XXIII O homem e a senda .................. 187
O homem e o plano divino .............. 187
A negação e suas conseqüências .......... 188
O eu superior cârmico ................. 189
A chave para a senda ................. 191
A necessidade do silêncio .............. 192
O que é falar? O que é ouvir? ........... 192
XXIV O homem-alma ...................... 195
A faculdade de criação do santuário
da cabeça .•........................ 195
Falar e ouvir ........................ 195
A criatura age a serviço da Gnosis ........ 197
O abuso da função criadora superior ....... 198
XXV O cativeiro dos órgãos sensoriais ......... 203
O impulso de viajar ................... 204
Arte, Ciência e Religião ................ 205
Graal, Cátaros e Cruz com Rosas ......... 205
Negação e reconhecimento ............. 206
XXVI Toda a Gnosis é incorpórea ............. 211
O cognoscivel e incognoscível ......•.... 211
A religião de Hermes .................. 213
Nous .......•..................... 214
XXVII O mundo e sua tarefa ......•.......... 219
Karma ............•..........•.... 220
O tesouro da corrente universal .......... 221
A nuvem de testemunho ............... 221
O deus planetário da humanidade ........ 222

309
A clássica imagem das duas cabeças ...... 223
Á consciência corpórea ................ 225
XXVIII Espírito e matéria .................... 227
A consciência natural .................. 228
A necessidade da ligação espiritual ....... 229
Atar a rosa à cruz .................... 231
O movimento retrógrado ............... 232
XXIX O mistério essencial do homem .......... 235
Deus, mundo e homem ................ 235
A segunda morte: a vitória .............. 238
A alma terrena e a rosa ................ 240
A cooperação do homem terreno e celestial . 241
XXX O mistério do fogo .................... 243
O fogo cognoscível e o fogo incognoscível .. 244
A arte da fabricação de ouro ............ 244
O fogo terreno e o fogo espiritual ......... 245
Desmascaramento ................... 246
Fogo e água ........................ 247
O fogo-raíz do Espírito ................. 248
XXXI O mistério do fogo (11) ................. 251
Pelos frutos, conhece-se a árvore ......... 252
Game e sangue não podem herdar o reino
dos céus ........................... 252
A ressurreição do corpo espiritual ......... 253
XXXII Caim e Abel ........................ 255
O homem espiritual e o homem nascido
da natureza ......................... 255
O homem verdadeiro e o homem . . . . . . . .. 257
A lenda de Caim e Abel ................ 258
Os tipos fogo e os tipos água ............ 260
Éden, a terra da paz celestial ............ 261

310
XXXIII A traição clássica (I) .................. 263
Os filhos de Deus .................... 264
A recriação do homem-abel ............. 264
O fratricídio ......................... 267
A indestrutibilidade da igreja do Espírito .... 268
O objetivo final do sacerdócio eônico ...... 269
A traição ao Espírito .................. 270
O Concilio de Constantinopla ............ 271
O Concílio de Calcedónia .............. 271
XXXIV A traição clássica (11) .................. 273
A ciência eônica ..................... 274
A Teologia ......................... 274
Verdade e mentira .................... 275
O nascimento da Bíblia ................ 275
A magia da traição ................... 277
O reino do Espírito ................... 278
O sacriflcio de Caim .................. 279
O caminho dos consagrados a Deus ....... 280
Glossário ................................. 283

311
A Arquignosis Egípcia III

Nossa humanidade, que abandonou a realidade da luz


da vida, cria para si, com presunção e arrogância, um mundo
verdadeiramente infernal, a fim de proteger o eu egoísta, e
de servir e satisfazer o próprio impulso ampliado de cobiça.
Como orientação e sabedoria suprema, ela nada possui
além de intelecto inferior cultivado, que ela colocou no trono
abandonado da vida, no qual ela própria se glorifica. E agora,
ao alcançar a fronteira do mundo dos fenômenos exteriores,
ela atenta contra o mistério supremo da vida, na tentativa de
subjugá-lo e também a inteira criação e torná-los serviçais.
Entretanto, ela deve comprovar, com horror e inquieta-
ção crescentes, que os poderes e forças que ela desgraça-
damente gerou se voltam contra ela, que eles já não podem
ser controlados por ela, senão ameaçam aniquilá-la e suas
obras.
Neste terceiro volume da Arquignosis, o homem busca-
dor, que nesta loucura da queda faz um exame de consciên-
cia e se pergunta, com crescente desespero, se e eventual-
mente onde é possível uma conversão de vida, uma saída
para a elevação fundamental e verdadeira de vida, recebe da
Arquignosis, que já estava presente na aurora da gênese
humana como portadora de luz, a indicação do único e anti-
qüíssimo caminho de volta: "O Bem Único, o Bem Absoluto,
pode ser encontrado somente em Deus e não no próprio
ego". Quem O procura, o Oniguardião, a Única Fonte de Vi-
da, fora de si mesmo, procura-O inutilmente.
A mensagem de todos os tempos: "O reino de Deus es-
tá em vós" repete-se aqui em perfeita clareza e com toda a
ênfase, e o único caminho é novamente mostrado e esclare-
cido.
Quem tem ouvidos que ainda podem ouvir perceba o
que o Espírito diz às comunidades!

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