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DIFUSÃO DE EQUIPAMENTOS
ELETRODOMÉSTICOS E OS
IMPACTOS NA DEMANDA DE
ENERGIA ELÉTRICA RESIDENCIAL

Mariotoni, Carlos Alberto1


Paulo Roberto dos Santos2

RESUMO
O dimensionamento e a distribuição dos circuitos, equipamentos de iluminação e
tomadas de uma edificação residencial são planejados para atender a um certo con-
forto dos usuários. O conforto está associado a um estado psicológico de bem estar
e depende de uma ampla quantidade de fatores. As residências consomem cerca de
26 % da energia elétrica total no Estado de São Paulo e os trabalhos que visam à
otimização do uso energético devem considerar a utilização residencial. Tem-se no-
tado que o mercado de energia elétrica brasileiro tem crescido a uma taxa de 4,5 %
ao ano e ao longo das últimas décadas, o consumo de energia elétrica apresentou
índices de expansão superiores ao Produto Interno Bruto (PIB). Esse crescimento se
apresentou maior em consumidores residenciais, comerciais e rurais. Os padrões de
conforto e desempenho mudam com o tempo e com a incorporação de novas
tecnologias O número de eletrodomésticos tem aumentado com o passar dos anos,
além da utilização de novos equipamentos exigindo alterações nos projetos elétricos
para atender a esse novo padrão de conforto de utilização e às novas demandas.

1. INTRODUÇÃO
O conforto está associado a um estado psicológico de bem estar e depende de uma
ampla quantidade de fatores. Muitos estudos têm sido elaborados no campo da constru-
ção civil, sobre conforto térmico e acústico que visam a promoção de valores quantificáveis
1
Professor Titular – UNICAMP - NIPE/FEM/FEC – Faculdade de Eng. Civil Arq.Urb./ Núcleo Interd. de
Planejamento Energético. Cid. Universitária “Zeferino Vaz”. CP 6021 - CEP:13083-852 – Campinas/SP - E-mail :
cam@fec.unicamp.br
2
Engenheiro Civil - CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz – Rodov.Campinas-Mogi Mirim Km2,5-Bloco CÓS
– Jd.Santana – Campinas-S.P.-CEP:13088-900; Mestando FEC-UNICAMP - E-mail : paulinho@cpfl.com.br

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das variáveis ligadas a esses fatores. Com relação ao conforto elétrico, estamos tentando
quantificar a necessidade de potência, de iluminação e de tomadas de uma edificação
residencial para que atendam às necessidades dos usuários para promoção desse conforto.
Os padrões de conforto e desempenho também mudam com o tempo (com a incor-
poração de novas tecnologias) e com local. Desta forma uma casa no campo tem neces-
sidades diferentes de uma casa nos grandes centros urbanos. As necessidades de quanti-
dades maiores de pontos de tomadas e iluminação nas grandes cidades são maiores e
por isso são mais estudadas.
A forma de utilização da energia elétrica residencial tem sido sempre objeto de estudo e
esta representa uma fatia considerada do mercado de energia, assumindo um papel impor-
tante nos estudos de eficiência energética. Nas situações de crise energética, como a atual,
esses estudos podem fornecer dados para definir alterações na matriz energética mundial.
Para compreensão do uso da energia de forma global de uma maneira em que se possa
otimizar seu uso a longo e médio prazo, não se deve estudar somente a maneira de utiliza-
ção atual da energia como também se faz necessária uma verificação na evolução desse tipo
de consumo ao longo dos anos, procurando através de análise de dados do passado,
confrontá-los com os dados do presente buscando padrões evolutivos e ainda fazer uma
verificação das pesquisas de previsões futuras nesse tipo de utilização.
Como a história do uso da eletricidade residencial é considerada recente pode-se traçar
um perfil evolutivo com as alterações de tecnologia, hábitos, necessidades e comportamen-
to das famílias, que têm feito com que o uso da energia se modifique para atender os
padrões de desempenho necessários para atender o conforto dos usuários.
Já com relação às previsões futuras, muitas tecnologias estão sendo estudadas nos
sistemas prediais de maneira sistemática com o advento dos edifícios inteligentes que
tomam importante lugar nas construções comerciais. Esse tipo de edificação tem sido
constantemente estudado nos meios acadêmicos por agregar no seu conceito as possibi-
lidades de uso racional de energia, com utilização de tecnologias que aprendam o com-
portamento dos usuários e possibilitem essas edificações serem consideradas sustentáveis
do ponto de vista energético.
Espera-se então que as tecnologias, os processos e os conceitos desenvolvidos nesses
edifícios inteligentes que estão focados primeiramente nas edificações comerciais possam
migrar para as edificações residenciais, promovendo os mesmos benefícios com relação
ao conforto e à eficiência.
Este estudo faz uma verificação em dados que podem balizar a compreensão dessa
evolução no consumo até a atualidade, mostra algumas previsões relacionadas com os
edifícios inteligentes para possibilitar trabalhos de diagnóstico futuro relacionado com a
utilização da energia elétrica residencial.
2. IMPORTÂNCIA DA SUA AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA
PARA RESIDÊNCIAS
Com a crise energética e o fato de que as fontes de energia convencionais utilizadas
em sua maioria poderem agregar agentes poluidores, contaminantes ou que de alguma

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forma provoquem algum tipo de degradação do meio ambiente, a avaliação do uso
da energia é uma das formas de se evitar colapsos e procurar soluções que evitam o
agravamento da situação. Também a utilização racional de energia pode adiar a neces-
sidade de novos investimentos, sendo esses recursos aplicados em outras áreas além de
contribuir com a questão ambiental.
O consumo de energia por setores é representado no Estado de São Paulo, de acordo
com a CSPE (Comissão Estadual de Serviços Públicos) e a secretaria de energia estadual,
conforme o gráfico 1, em porcentagem do total.
O consumo residencial no Estado de São Paulo é cerca de 26 % do total. A evolução do
consumo acima também mostra o efeito do racionamento de energia ocorrido em 2001 que
provocou uma ligeira alteração nos padrões de consumo, sendo que aparentemente as previsões
para o ano de 2003 apontam para uma recuperação dos padrões anteriores ao racionamento.

GRÁFICO 1 - Distribuição do Consumo por classes - 2003

12% 26% Residencial


18%
Industrial
Comercial
Demais
44%

Fonte: Secretaria de Energia do Estado

Desta forma, qualquer ação que influencie o consumo residencial, vai provocar um
impacto direto no consumo energético total, uma vez que esse valor é significativo.
3. EVOLUÇÃO NO USO
3.1 - Histórico do uso da eletricidade no Brasil
De acordo com os dados da Eletrobrás, o uso da eletricidade iniciou-se no Brasil em
1879, na mesma época em que ocorreu na Europa e Estados Unidos, logo após o
invento do dínamo e da lâmpada elétrica. Portanto o uso inicial estava intimamente liga-
do às redes de estrada de ferro e de uso em iluminação pública [1].
O primeiro texto de lei brasileiro aprovado pelo Congresso Nacional para regula-
mentação do uso de eletricidade no Brasil consta sendo de 1903. Desta maneira o uso da
eletricidade tem pouco mais de 100 anos no país, e os grandes investimentos em geração
de energia estão registradas no início da década de 20, quando cerca de 300 empresas
serviam a 431 localidades do país, dispondo de uma capacidade instalada de 354.980
kW, sendo 276.100 kW em usinas hidrelétricas e 78.880 kW em usinas termelétricas. Após
a Segunda guerra mundial, a demanda começou a ultrapassar a oferta de energia elétrica,

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em decorrência do crescimento da população urbana e do conseqüente avanço da
indústria, do comércio e dos serviços, iniciando um período de racionamento de
energia nas principais capitais brasileiras [3].
Ao longo da década de 70, devido ao “milagre econômico” o consumo de energia
elétrica per capita subiu de 430 kWh/hab. para 1.025 kWh/hab. Em 1990, o consumo per
capita de energia elétrica chegou a 1.510 kWh/hab., com 37% de participação da energia
elétrica no balanço energético nacional [3].
Atualmente o mercado de energia elétrica mostra um crescimento da ordem de 4,5% ao
ano. O planejamento governamental de médio prazo prevê a necessidade de investimentos
da ordem de R$ 6 a 7 bilhões/ano para expansão da matriz energética brasileira, em atendi-
mento à demanda do mercado consumidor. Ao longo das últimas duas décadas, o consumo
de energia elétrica apresentou índices de expansão bem superiores ao Produto Interno Bruto
(PIB). Também de acordo com os dados da Eletrobrás, é afirmado que “as classes de
consumo residencial, comercial e rural obtiveram expressivos ganhos de participação, en-
quanto o segmento industrial teve participação menor neste crescimento, principalmente pela
utilização de tecnologias mais eficientes no uso final da eletricidade, aliada às medidas de
racionalização de consumo postas em prática especialmente na década de 90” [1].
3.2 - Evolução nos padrões de consumo residencial – dados da ABNT
Existe uma grande dificuldade em encontrar dados sobre a forma de utilização da energia
residencial no passado. Essas dificuldades são provenientes da faltas de registros ao longo do
tempo e apesar da normatização que recomenda a quantidade de tomadas e iluminação nos
projetos residenciais, é difícil ainda hoje estimar a porcentagem de residências que possuem proje-
tos, tanto de construção civil como de instalações dos sistemas prediais hidráulicos e elétricos.
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) tem constantemente atualizado a nor-
ma de Instalações Elétrica Prediais, NBR5410 – para atender a evolução das necessidades dos
usuários. Essa norma evolui da antiga NB3 e a versão mais antiga encontrada é de 1980. Depois
houve uma atualização em 1990, outra em 1997 e uma outra versão prevista para 2003.
De acordo com essa norma, os pontos de utilização são definidos como: pontos de
iluminação, tomadas de uso geral (TUG) e tomadas de uso específico.(TUE). A ilumina-
ção é referenciada pela norma NBR-5413. A NBR-5410 prescreve a quantidade mínima
de tomadas de uso geral por cômodo e sua potência de dimensionamento, visando a
promoção do conforto elétrico mínimo necessário a uma residência.
Alguns dados comparativos da evolução dessas versões da NBR-5410 são apre-
sentados a seguir:

TABELA 1 - Comparação entre as versões das Normas de Instalações


Prescrições para Habitação 1980 1990
Ponto mínimo de Luz por cômodo 01 sem especificação 01 ponto de 100 VA área < 6 m2
tomadas mínimo 01 para cômodo inferior a 8m2 01 para cômodo inferior a 6m2
tomadas por perímetro 01 p/ cada 5m - cômodos superior a 8 m2 01 p/ cada 5m - cômodos superior a 8 m2
banheiros 01 tomada para pia 01 tomada a 0,6 m do Box
copas / cozinhas 01 tomada p/ cada 3,5 mt perímetro 01 tomada p/ cada 3,5 mt perímetro
potências das tomadas gerais 100 VA 100 VA
potências das tomadas p/ cozinhas 600 VA p/ três primeiras 600 VA p/ três primeiras
toamdas de uso específico 01 para cada equipamento para sua potência 01 para cada equipamento para sua potência

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Vemos que diminuindo a área A versão de 1997 segue os mesmos parâmetros da
versão de 1990, tanto com relação à iluminação como com relação às tomadas. Com
relação à iluminação, a própria Norma prescreve uma potência mínima em função da
área construída como segue:
“- 100 VA para os primeiros 6 m², acrescida de 60 VA para cada aumento de
4 m² inteiros”.
Apesar da mesma norma afirmar que esta potência é somente para dimensionamento
dos circuitos que serão compostos pela iluminação, esta potência para os projetistas é con-
siderada alta, principalmente com as novas tecnologias que envolvem o uso de lâmpadas
fluorescentes da linha econômica.
A utilização desse tipo de lâmpada cresceu consideravelmente após o racionamento de energia
elétrica feito entre 2001 e 2002, que obrigou a população a promover uma economia energética,
muitas vezes feita com a troca de equipamentos e utilização em massa desse tipo de lâmpada.
Com relação à evolução das normas, a expectativa futura é que haja menção ao atendimento
aos padrões de desempenho adequados aos usuários, flexibilizando a ação do projetista.
3.3 - Evolução nos padrões de consumo – Dados do IBGE
Apesar das normas garantirem o mínimo de conforto, os dados de consumo reais estão
intimamente ligados ao tipo de habitação, hábitos de comportamento, necessidades e compor-
tamento das famílias. Desta forma, é apresentado nos dados do IBGE a evolução no uso:
TABELA 2 - Evolução do Número de Equipamentos e Famílias
  9DULDomR  9DULDomR

7RWDLV  7RWDLV   7RWDLV  

727$/'()$0Ì/,$6uWHQV        


,OXPLQDomR        
5iGLR        
*HODGHLUD        
7HOHYLVmR        
Fonte: IBGE

Os equipamentos descritos acima foram tomados como referência devido à importân-


cia dos mesmos como eletrodomésticos no dado histórico de 1970. Nota-se que o núme-
ro de equipamentos cresce a uma taxa maior que o número de famílias, aprimorando assim
o que consideramos como conforto elétrico, isso é, maior acesso a esses equipamentos
devido a vários fatores. Com esse aumento, também aumentam as necessidades de um
número maior de tomadas de energia elétrica.
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Com a introdução de novos equipamentos, também as necessidades mudaram. Na tabela 3
são mostrados alguns outros equipamentos registrados nos dados do PNAD (Programa Nacio-
nal de Amostragem por Domicílio) do IBGE. Ao se adotar se comparar os dados da tabela 3,
não foram computados os equipamentos que existem apenas em um dos períodos. Por exemplo,
microcomputadores, microondas, só aparecem na segunda data e por isso não foram computa-
dos no cálculo da evolução. Se considerarmos esses equipamentos, com certeza o consumo nas
datas mais atuais serão maiores. Houve uma diminuição em alguns equipamentos (enceradeira e
rádio portátil) que são equipamentos de baixo consumo. Por outro lado houve aumento significa-
tivo acima da média em equipamentos de alto consumo (condicionador de ar 154 %, frízeres
311%, máquina de lavar roupas 181%, lavadora de pratos 375 %, secadora de roupas 273 %).
TABELA 3 - Evolução do Número de equipamentos
)DPtOLDVTXHSRVVXHPEHQVGXUiYHLV 8QLGDGH

8WLOLGDGHVH[LVWHQWHV $QR 9DULDomR 8WLOLGDGHV $QR 9DULDomR


H[LVWHQWHV
     
$UFRQGLFLRQDGR    0LFURFRPSXWDGRU   
$VSLUDGRUGHSy    5iGLRGHPHVD   
%DWHGHLUDGHEROR    5iGLRSRUWiWLO   
&RQMXQWRGHVRP    6HFDGRUGHFDEHORV   
(QFHUDGHLUD    7HOHYLVmR   
)HUURHOpWULFR    7HOHYLVmRHPFRUHV   
0LFURRQGDV    7HOHYLVmRSE   
)UHH]HU    7RFDGLVFRV   
*HODGHLUD 7RFDGLVFRVGH
   DJXOKD   
*UDYDGRUHWRFDILWDV    7RFDGLVFRVDODVHU   
/LTXLGLILFDGRU    7RUUDGHLUDHOpWULFD   
0iTXLQDGHODYDU 9HQWLODGRUH
URXSDV    FLUFXODGRUGHDU   
0iTXLQDGHODYDU
SUDWRV    9LGHRFDVVHWH   
0iTXLQDGHVHFDU
URXSDV   

0pGLD 
'HVYLR3DGUmR 
Fonte: PNAD – IBGE

Com a finalidade de se evitar a verificação da evolução em períodos tão longos, é


apresentada a tabela 4 com dados mais recentes do IBGE
TABELA 4 - Totais Do Número De Equipamentos - Fonte: IBGE
$12     327Ç1&,$ : 
Total de domicílios 47.558.659 100 47.606.323 100
Rádio 40.948.434 86 41.795.232 88 10
Televisão em cores 38.594.658 81 40.459.995 85 110
Televisão em preto e branco 2.818.625 6 2.318.815 5 40
Geladeira 39.589.720 83 41.215.385 87 130
Freezer 8.728.275 18 8.785.043 18 130
Máquina de lavar roupa 15.667.075 33 16.152.656 34 500

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Desta forma, mais uma vez verificamos um aumento anual dos equipamentos maior
que o número de domicílios e a representatividade de cada tipo nos domicílios. Nota-se
que da análise básica a televisão em cores é muito representativa na atualidade, assim como
a geladeira. Os dados de potência são do POCEL e também se nota que troca de televiso-
res preto e branco por televisores a cores proporciona aumento da potência instalada.
Nesses estudos não foi computado o chuveiro elétrico por este fazer parte der uma série
de outros estudos. Verifica-se que muitos equipamentos apresentam potência maior que
100 VA e que são utilizados com tomadas de uso geral.
3.4 - Evolução dos Equipamentos
Não foram encontrados dados para avaliação da evolução na potência dos equipamen-
tos, porém acreditamos que com o avanço da tecnologia, mais funções foram oferecidas
nos equipamentos (stand by, controle remoto, etc.) aumentando a potência requerida pelos
mesmos. Atualmente, existe a preocupação de alguns fabricantes em diminuir essa potência
devida á crise energética e ao trabalho do Procel (Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica) do Governo Federal.
A potência dos equipamentos está apresentada em conjunto em parte na tabela 4 e alguns
equipamentos muito utilizados nos domicílios urbanos estão representados na tabela 5.
Como verificado pela tabelas abaixo, existem equipamentos com potências maiores que
os estipulados de 600 VA para copas e cozinhas e maiores que 100 VA para uso nas toma-
das de uso geral, estimadas em 100 VA.

TABELA 5 - Potências dos Equipamentos

(/(752'20e67,&2 327Ç1&,$ : 
Sistema de som 80
Batedeira 120
Ferro de Passar 1000
Cafeteira elétrica 600
Circulador de ar grande 200
Forno a resistência pequeno 800
Secadora de roupa 3500
Microondas 1200
Multiprocessador 420
Ventilador de teto 120
Fonte: PROCEL

3.5 - Previsões Futuras – Edifícios inteligentes


Existe uma grande preocupação com a garantia de que as instalações possam atender às
inovações tecnológicas futuras, sem a necessidade de grandes reformas nas edificações. Com
o advento dos edifícios inteligentes, muito se tem estudado com relação ao cabeamento
estruturado, com uma visão ligada tanto à comunicação de dados como às necessidades
elétricas futuras. Atualmente já se coloca um ponto de energia junto ao ponto de telefone
para atender à TV interativa que começa a ser utilizada em alguns países. [ ]. Da mesma forma

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os processadores digitais e sensores avançados de imagens começam a ser amplamente utili-
zados nos serviços de vigilância. Os estudos também apontam para uma ampla utilização da
rede de energia das edificações para transmissão de dados. Outra mudança está ligada à
transformação das telas dos televisores em centros de entretenimento, aumentando os tama-
nhos das telas e existe a previsão da utilização de vídeos-parede em menos de dez anos,
necessitando um ponto de energia acoplado com cabo coaxial no meio da parede []. Porém
existe uma grande incerteza com relação aos equipamentos futuros no campo das instalações
elétricas residenciais. A única maneira de garantir uma edificação preparada para o futuro são
alternativas que tornem essas instalações flexíveis às mudanças de potência e dos locais das
tomadas com o uso de pisos falsos, forros falsos, utilização de eletrodutos vazios deixados
nas paredes, que podem servir para também para os circuitos de comunicação.
4 - CONCLUSÕES
Todas as verificações comprovam que o número de equipamentos eletrodomésticos
aumenta mais que o número de domicílios, gerando assim uma dependência maior da
eletricidade. Com o avanço da tecnologia e a criação de novos equipamentos, aumentam
também as necessidades de potência, e conseqüentemente de tomadas de energia nas
residências. As normas precisam de revisão constante para atender a um padrão de desem-
penho adequado às necessidades dos usuários. Os padrões de conforto elétrico mudam
com o passar do tempo, com o acesso a novos equipamentos e a potência residencial
instalada aumenta com o tempo. Torna-se, assim, difícil prever-se com grande precisão a
quantidade e potência das tomadas necessárias, no futuro, devido ao crescimento da quan-
tidade e potência de equipamentos eletrodomésticos.

BIBLIOGRAFIA
[1] Eletrobrás – Centro de Memória da Eletricidade no Brasil.
[2] SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado de Energia. Balanço Energético do Estado de São Paulo - 2002: ano base
2001. São Paulo, 2001.
[3] MARTINS, Maria P.S. - Inovação Tecnológica e Eficiência Energética - Universidade Federal do Rio de
Janeiro - Instituto de Economia.
[4] TATIÉSÉ, Thomas T.; VILLENEUVE,Paul; NGUNDAM, John; KENFACK, François. Contribuição Para Análise Da
Demanda Da Energia Elétrica Residencial Urbana, Em Países Em Desenvolvimento. - Ecole Polytechnique – Yaoundé,
Rep. Camarões - Université Laval, Québec - Canadá.
[4] Comissão Estadual de Serviço Público – Site http//www.cspe.sp.gov.Br.
[5] Associação Brasileira De Normas Técnicas – NBR 5410/95 Instal. Elétricas de Baixa Tensão.
[6] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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DESEMPENHO ENERGÉTICO
DE ESCOLAS PÚBLICAS

Patrícia Romeiro da Silva Jota1


Anádia Patrícia Almeida de Souza2

RESUMO
Este trabalho aborda o uso de energia em edificações públicas no setor de Escolas em
Minas Gerais, sob o enfoque da eficiência energética. É apresentada uma análise estatística
de dados de consumo energético, com o objetivo de traçar um perfil do consumidor na
categoria de Escolas Públicas e identificar o índice mais adequado para caracterizar o uso
da energia nesse setor. Estima-se que as edificações públicas brasileiras consumam 80% de
toda energia elétrica gasta no setor público. Assim, os prédios públicos apresentam consu-
mos expressivos e grandes potenciais de economia de energia.
Palavras-chave:
Eficiência energética em edificações públicas; uso racional e eficiente de energia; desem-
penho energético.

1. INTRODUÇÃO
Os órgãos públicos, historicamente, quando aplicam recursos para obras de ampliação e
reformas de suas instalações, não levam em conta projetos de eficiência energética. Isto se
deve ao fato de que as despesas com energia elétrica fazem parte do custeio das instituições.
Assim, a economia obtida com projeto de eficiência energética não se reverte para o próprio
órgão, que vê seu orçamento reduzido no ano seguinte. Dessa forma, a eficiência energética
não traz atrativo algum para os administradores públicos. Para o sucesso dos programas de
eficiência energética, é fundamental o envolvimento e a colaboração dos usuários da edificação.
O resultado de projetos de eficiência energética poderá ser otimizado se, paralelamente, hou-
ver uma modificação de atitudes e comportamentos dos administradores e usuários no sen-
tido de racionalizar o uso de energia, combatendo o desperdício, [10].

1
Phd., prsjota@dppg.cefetmg.br
2
Mestranda, anadia@valenet.com.br

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O uso da energia em edificações públicas é fortemente dependente da iluminação. Neste
contexto, o aproveitamento mais adequado da iluminação natural auxiliaria em um maior
aproveitamento da energia. Em espaços iluminados de forma adequada através de ilumi-
nação natural e sistemas de controle de iluminação artificial, pode-se obter economia de
energia em iluminação entre 30% e 70%, [1,2,6,7,8,11]. Dentro da classificação de órgão
público, o setor de escolas representa uma parcela importante das edificações públicas.
Na literatura internacional, alguns exemplos de escolas onde foram aproveitados os recur-
sos com iluminação natural exemplificam claramente os benefícios. Na Carolina do Norte,
Estados Unidos, escolas construídas nos municípios de Raleigh, Wake e Johnston estão utili-
zando os benefícios da iluminação natural. Através de sensores, que ajustam o nível de ilumi-
nação artificial em função da iluminação natural e de sensores de ocupação, essas escolas estão
consumindo de 22 a 64% menos energia que escolas similares da região. No College La
Vanoise, em Modane, sudoeste da França, mais de 70% das necessidades de iluminação da
escola, entre 9 e 17 horas, são atendidas pela iluminação natural. Na School of Engineering
and Manufacture da De Montford University, no Reino Unido, através de sensores de ocupa-
ção e iluminação natural, estima-se economia de 50 a 75%. No Infante De Juan Manuel
Health Centre, na Espanha, estima-se uma economia de 70% através da combinação de
estratégias de iluminação. Na Valongo do Vouga School, em Agueda, Portugal, estima-se que
92% das exigências de iluminação poderiam ser atendidas pela luz natural, [9].
No Brasil, o setor público consumiu 9,2% do total de energia elétrica do país em 2001,
ou seja, 28.452 GWh. Estima-se que o consumo de energia elétrica em prédios públicos
represente 80% do total consumido pelo setor público, [12].
Dada a característica do nosso clima, a luz do dia pode ser utilizada com eficiência, sem
necessidade de complementação pela iluminação artificial durante 70% do expediente diurno
anual, no mínimo, bastando para isso que os projetos dos edifícios trabalhem adequadamente
com esse parâmetro [13]. Este trabalho tem por objetivo estudar alguns dados do setor
tentando caracterizá-lo através de índices de desempenho mais adequados e representativos.
2. Estratégias de eficientização
As estratégias de eficientização energética na iluminação, geralmente, são mais efetivas
se direcionadas à redução da carga de pico da iluminação, ou seja, nos horários onde
ocorrem as maiores demandas de iluminação. Por exemplo, um sistema de foto-contro-
le que desliga ou diminui a iluminação artificial quando existe iluminação natural pode
reduzir consideravelmente as demandas máximas (cargas de pico de iluminação, sobre-
carga no sistema de iluminação artificial). Um bom projeto de iluminação natural pode
fornecer um melhor nível de iluminamento com uma baixa carga térmica reduzindo a
utilização de sistemas de iluminação artificial.
A iluminação, além de ser um dos maiores responsáveis pelo consumo de energia na
edificação, é também, o uso final que permite uma maior facilidade de redução de consu-
mo devido ao grande desenvolvimento tecnológico dos componentes de sistemas de ilu-
minação ocorridos nos últimos anos. A eficientização energética nos sistemas de ilumina-
ção, além de possibilitar grande redução do consumo, também permite a correção de
eventuais falhas nos sistemas e nos níveis de iluminação.
624
Tornar os sistemas de iluminação artificial cada vez mais eficientes, melhorar as estratégi-
as de projeto, aumentar o uso de iluminação natural de forma adequada e integrada e
utilizar controles para otimizar o uso da iluminação artificial, contribuiem para uma expres-
siva economia de energia com iluminação em edificações.
Medidas de eficiência energética em prédios públicos possibilitam:
l Reduzir os picos de consumo, principalmente no horário de ponta.
l Melhorar o desempenho do sistema elétrico.
l Aumentar a oferta de energia e postergar novos investimentos em construções de usinas.
l Diminuir a inadimplência na administração pública.
3. Fatores que influenciam o uso da energia em edificações
A quantificação da energia por si só não fornece uma indicação do desempenho energético.
O uso da energia deve estar relacionado aos seguintes fatores: tamanho da edificação,
objetivo e forma de ocupação. Fatores mais intimamente relacionados às atividades espe-
cíficas da edificação tais como: uso da energia por leito em hospitais, por estudantes em
escolas, por funcionários em escritórios, por refeição em restaurantes, dentre outros po-
dem ser usados. Assim, o clima e seus efeitos, as atividades, o tamanho, a ocupação afetam
o desempenho energético. A avaliação do desempenho energético de uma edificação é
importante desde o seu projeto, construção, funcionamento, durante toda a vida da edificação.
O consumo de energia elétrica de um edifício sofre influência principalmente de três variáveis:
características arquitetônicas, características construtivas e gerenciamento do uso dos espaços, [1,14].
3.1. A relação entre horas de uso e o uso de energia em edifícios
O número de horas de uso é um fator associado ao uso de energia em edificações.
Entretanto, a intensidade de uso de energia em uma edificação não tem, geralmente, relação
direta com as suas horas de uso.
O primeiro fator mais importante, na análise do uso de energia em uma edificação, é o seu
tamanho (medido em área ou número de usuários). Em seguida, vem o número de horas de
uso. Assim, o número de horas de uso por semana ou por mês de sistemas de iluminação
influencia expressivamente na intensidade de uso de energia de uma edificação. O número de
horas de uso inclui além do horário de funcionamento normal, o horário de serviços extras e
de limpeza. Em muitas edificações, a limpeza é feita à noite necessitando de iluminação artifi-
cial. Assim, uma edificação que apresenta 50 horas por semana de uso de energia, pode
adicionar de 10 a 20 horas semanais para limpeza e serviços extras, totalizando 60 a 70 horas
por semana. Assim, ensinar a funcionários e pessoal de limpeza a ligarem apenas as lâmpadas
necessárias ou reprogramar o horário de limpeza para o dia quando há iluminação natural
pode reduzir de maneira significativa o uso de energia na edificação, [1].
A redução das horas de uso dos principais serviços que consomem energia (iluminação,
ventiladores, bombas, sistemas de aquecimento e resfriamento) desde o estágio do projeto
influencia positivamente no uso de energia na edificação. Por exemplo, um bom layout dos
interruptores das lâmpadas, controles automáticos de iluminação que respondam ao nível de
luz natural ou à presença de pessoas podem reduzir o uso de energia com iluminação, [1].
625
3.2. A relação entre usuários e o uso de energia em edifícios
Nos anos 1960 e 1970, as edificações foram construídas sem a participação dos usuários
no controle dos serviços de consumo de energia. No outro extremo, há edificações onde
os usuários possuem um considerável grau de controle sobre seus serviços de consumo de
energia e, portanto sobre suas condições de conforto, [1].
Estudos na BRE – Building Research Establishment (Fundação de Pesquisa da Edificação),
no Reino Unido, mostram que as pessoas ocupadas em suas atividades em escritórios,
geralmente, ligam a iluminação artificial se a iluminação natural se torna inadequada, mas,
nem sempre desligam a iluminação artificial quando a luz natural é adequada, [1].
As pessoas ligam os serviços (iluminação, ar-condicionado, resfriamento, aquecimento,
etc) quando se sentem desconfortáveis, e controles automáticos são capazes de desligar
dispositivos quando certo critério de conforto (ou outra referência) é alcançado. Por exem-
plo, o sistema de iluminação pode ser manual quando a iluminação natural é inadequada.
Fotocélulas, interruptores temporizados e controles centrais podem desligar as lâmpadas
quando a iluminação natural tornar adequada ou ao final do dia de trabalho, [1].
Geralmente, os usuários das edificações buscam o próprio conforto sem uma maior
preocupação com a economia de energia. É pouco provável que, atitudes isoladas de
conservação de energia, possam reduzir expressivamente o uso de energia. É necessário
educar os usuários e dar-lhes um retorno adequado das conseqüências de suas decisões e
atitudes no controle do uso da energia, [1].
4. Índices de desempenho energético
Para comparar o uso de energia em edificações com variações no tipo, localização e
tamanho, é necessário estar apto a reduzir o uso de energia para uma base comum, ou seja,
normalizá-lo. O índice de desempenho energético é uma ferramenta que torna possível
compararmos dois diferentes níveis de uso de energia de um determinado tipo de serviço.
Este índice, geralmente, é obtido dividindo-se o consumo de energia por um ou mais
fatores. Por exemplo, o desempenho energético de um carro pode ser obtido pela quanti-
dade de quilômetros que ele percorre usando um litro de combustível, ou seja, km/l (qui-
lômetros por litro de combustível).
Existem vários índices de desempenho energético. Os índices mais utilizados são o AEUI
(Area Energy Use Index - Índice de Energia por Área) e o PEUI (Person Energy Use
Index - Índice de Energia por Pessoa). No Brasil, estes índices recebem a denominação de
“consumo específico”, tanto para o consumo em função da área (kWh/m2) como tam-
bém para o consumo em função do número de pessoas (kWh/pessoa), ou outra variável.
5. Caracterização do setor
O Estado de Minas Gerais possui hoje 18.512 escolas (escolas de ensino fundamen-
tal, médio e superior), sendo que dessas 14.578 são públicas (72,8% municipais, 27%
estaduais e 0,2% federais). Considerando que o setor predominante é de escolas públi-
cas municipais, elegeu-se as escolas municipais de Belo Horizonte para serem analisa-
das. Em um universo de 181 escolas, 176 serão analisadas, ou seja, 97% das escolas
municipais da capital mineira.
626
A cidade de Belo Horizonte apresenta um grupo bastante diversificado de escolas con-
templando desde escolas de pequeno porte (com 4 salas de aula e 146 alunos) a escolas de
grande porte (com 36 salas de aula e 3.446 alunos). O consumo energético também varia
em função do tamanho da escola e das facilidades disponíveis, tais como: laboratórios,
pátios e/ou ginásios esportivos, salas de informática, salas de vídeo, auditórios, etc. O
menor consumo energético avaliado no mês de março de 2003 foi de 359kWh e o maior
14.343kWh. As escolas funcionam em dois ou três turnos.
6. Análise do consumo específico de energia (CE) para o setor estudado
O consumo específico de energia é um parâmetro importante para se saber se a instala-
ção está operando eficientemente com relação ao uso da energia elétrica. O CE é calculado
pela seguinte equação:
&( =
&$
L
(equação 1)
L
43
L

onde:
CAi – consumo mensal de energia (kWh/mês);
QPi - quantidade produzida (ou serviço) no mês.

A tabela 1 apresenta alguns exemplos clássicos de CE para alguns setores.


Tabela 1

([HPSORVGHFRQVXPRHVSHFtILFRGHHQHUJLD &( 
Atividade Valor Unidade
Indústria do cimento 125 kWh/tonelada
Indústria cerâmica 0,045 kWh/telha
Hotel 28 kWh/hóspede
Escritórios institucionais 4 kWh/m2
Indústria do alumínio 18.500 kWh/tonelada

No caso de escolas, pode-se utilizar algumas quantidades como referência para o cálculo
do Consumo Específico, a saber: área, dias trabalhados, número de alunos, número de
turnos, número de salas e número de turmas. Cada uma dessas variáveis nos fornece uma
visão diferenciada do uso da energia. É comum a utilização de mais de um índice de
desempenho energético para que essas informações possam ser extraídas.
Para avaliar o perfil de uso de energia nas escolas públicas, utilizou-se três tipos de
índices de desempenho energético (CE):
l Energia gasta por aluno kWh/aluno
l Energia gasta por turno kWh/turno
l Energia gasta por sala kWh/sala
l Energia gasta por turma kWh/turma
627
A variável mais significativa para ser utilizada no cálculo do consumo específico para
cada tipo de uso final é identificada analisando-se uma maior consistência dos dados e uma
maior representatividade. A seguir serão avaliadas as quantidades citadas acima.
Quantidade de referência – número de alunos
A figura 1 apresenta o consumo específico calculado utilizando como quantidade de
referência o número de alunos. Existe uma grande concentração dos pontos em torno do
valor médio 4,07kWh/aluno, apesar de alguns pontos estarem muito fora da faixa. Ao se
considerar a faixa compreendida entre o valor médio e dois desvios padrão para mais e
para menos (4,07±2x2,24) verifica-se que 96% dos dados pertencem a essa faixa. Analisan-
do o CE (kWh/alunos) com o aumento do número de alunos, verifica-se uma tendência
de queda do consumo específico CE. Porém, essa tendência está fortemente influenciada
por alguns casos de escolas pequenas que apresentam um grande consumo.
Ao se desprezar os dados que estão fora da faixa citada anteriormente verificou-se que
a reta que antes possuía uma inclinação de –0,00094 cai para –0,00016. Se a faixa conside-
rada for um pouco mais rigorosa, (faixa com um desvio padrão 4,07±2,24), 85% dos
dados pertencerão a essa faixa e o ajuste linear nos fornece uma reta paralela ao eixo x na
altura do valor médio do consumo, ou seja, não existe tendência de queda. Essa informa-
ção causa uma grande surpresa, já que era esperado que o consumo específico por aluno
tivesse tendência de queda com o acréscimo do número de alunos.
Figura 1 - Consumo específico (kWh/aluno) Figura 2 - Consumo específico (kWh/turno)

Quantidade de referência – número de turnos


A Figura 2 indica uma grande dispersão entre os dados para o mesmo número de
turnos. Esse índice, portanto, não é útil para o acompanhamento energético. O ajuste
linear apenas une os dois valores médios, ou seja, com o acréscimo do número de turnos
tem-se um acréscimo da quantidade de energia consumida. A informação importante
aqui é que o acréscimo do 3o turno impacta bem menos, em média, que o esperado,
apesar de termos uma iluminação externa (artificial) que talvez não existisse apenas para
dois turnos. Porém, percebe-se que mesmo para escolas com o mesmo número de tur-
nos há uma grande dispersão no consumo por turno. Esta dispersão era esperada já que
existem escolas de diversos portes e portanto o número de turnos por si só não é sufici-
ente para caracterizar o uso da energia.
628
Figura 3 - Consumo específico (kWh/sala) Figura 4 - Consumo específico (kWh/turma)

Quantidade de referência – número de salas


Na figura 3, onde é apresentado como quantidade de referência o número de salas,
verifica-se a tendência do acréscimo do consumo por sala com o aumento no número
de salas. Esse resultado era esperado, pois as escolas com um maior número de salas são
escolas maiores e possuem outras facilidades como laboratórios, pátios iluminados, etc.
Porém, verifica-se também uma grande dispersão para o mesmo número de salas.
Quantidade de referência – número de turmas
O consumo específico, com relação ao número de turmas, tem um comportamento
de queda para um número maior de turmas. Esse comportamento era esperado, pois
um número maior de turmas dilui o consumo referente às cargas fixas dentro de uma
escola. Se os pontos extremos de consumo forem eliminados da análise, considerando
apenas dados pertencentes ao valor médio e dois desvios padrão, onde 97% pertencem
a essa faixa, a inclinação obtida pela reta ajustada fica menos acentuada, porém, se man-
tém (caindo de –1,3 para –0,98).
7. Conclusões
A adoção de um determinado índice de desempenho energético setorial requer
uma análise das variáveis envolvidas bem como o impacto destas no consumo espe-
cífico para a obtenção de um índice de consumo específico mais adequado. Esse
tipo de índice possibilita comparar edificações de uma mesma classe, normalizando-
as por alguma quantidade que auxilie na compreensão do uso da energia. A utiliza-
ção de índice de consumo específico por área e por dias trabalhados não é adequada
para o setor de Escolas, e deve ser evitada.
A análise dos dados das escolas municipais da capital mineira auxiliou na busca de um
índice de desempenho energético para ser adotado pelo setor. Utilizou-se quatro variá-
veis: número de alunos, número de turnos, número de salas e número de turmas. A
análise indicou algumas características próprias do setor como o alto nível de dispersão,
reforçando a necessidade de estudos mais aprofundados.
Os índices mais representativos foram aqueles que utilizam como quantidade de refe-
rência o número de turmas e número de alunos, nessa ordem de prioridade. Acredita-se
629
que esses índices devam ser usados simultaneamente, para uma análise mais completa. O
índice que leva como referência o número de salas também, traz informações interessan-
tes. Porém, o número de turnos não é indicativo na composição do índice.
A partir da escolha do índice de desempenho representativo para o setor será possível
avaliar a influência arquitetônica no aproveitamento da iluminação natural nas escolas.
Agradecimentos
Este trabalho integra o projeto de pesquisa das instituições Cemig/CEFET-MG/
PUC/UFMG através do convênio MS/AS 4020000011 – registro Cemig/ANEEL P&D
016 –2001/2004 denominado Abordagem Integrada da Eficiência Energética e Energi-
as Renováveis, coordenado na Cemig pela Dra. Antônia Sônia A. Cardoso Diniz e Eng.
Eduardo Carvalhaes Nobre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Buildings. Energy Research Group – School of Architecture – Victoria University – Wellington, New Zealand – CRC
Press, Inc – Boca Raton Florida – 1984, printed in the United States, 202 p.
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Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 7 a 10 de maio de 2002, 10 p.
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Eleonora Sad. Avaliação do desempenho luminoso do edifício administrativo do CEFET-MG. In: NUTAU 2002, 9p.
[4] COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS – CEMIG – Superintendência Comercial – Departamento de
Comercialização e Gerência da Demanda – Projeto ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA –
Eficientização de Prédios Públicos – ciclo 1999-2000 – Relatório de Consolidação. Belo Horizonte, setembro de 2001, 203 p.
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TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS – CEFET-MG. Curso para Formação de Gerentes de Energia no Serviço
Público de Minas Gerais. Belo Horizonte, dezembro de 1999.
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Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1997. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Universidade
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[10] PROCEL - Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica – ELETROBRÁS – Centrais Elétricas
Brasileiras S.A. Espelho de Luz – Programa de Eficiência Energética na Esplanada dos Ministérios, 53 p.
[11] GHISI, Enedir; LAMBERTS, Roberto. Avaliação das condições de iluminação natural nas salas de aula da Universidade
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Nacional de tecnologia do Ambiente Construído. Canela, RS, 18 a 21 de novembro de 1997, 6p.
[12] BRASIL. Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Energia, Departamento Nacional de Política Energética,
Coordenação Geral de Informações Energéticas. BEN 2002 – Balanço Energético Nacional de 2002 (Ano Base 2001).
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[14] TOLEDO, Luís Márcio Arnaut de; LAMBERTS, Roberto; PIETROBON, Cláudio E. Influência de características
arquitetônicas no consumo de energia elétrica de edifícios de escritórios de Florianópolis. In: III Encontro Nacional
e I Encontro Latino-Americano. Gramado, RS, 4 a 7 de julho de 1995, 7p.

630
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA
PARA ANÁLISE ENERGÉTICA DE EDIFÍCIOS
COMERCIAIS E APLICAÇÃO EM ESTUDO DE
CASO: EDIFÍCIO JÚLIO SOARES (SEDE DA
CEMIG), BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS

Tatiana Paula Alves1


Eleonora Sad de Assis1
Ricardo Brant Pinheiro1

RESUMO
A proposta deste trabalho foi desenvolver um procedimento para avaliação do po-
tencial de uso racional de energia de edifícios comerciais aplicado ao Estudo de Caso do
Edifício Sede da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), com base na
metodologia que foi elaborada e adotada pelo Projeto 6 Cidades (Projeto de Eficientização
Energética de Edifícios Comerciais coordenado pelo Procel e pela Eletrobrás no ano
de 1996). (BRASIL. PROCEL, 1996) A incorporação de novas etapas no processo, tais
como o procedimento de geração de dados climáticos e a integração de tecnologias
passivas e ativas na análise energética, tiveram como finalidade adaptação à realidade das
estações meteorológicas brasileiras e a busca de integração energética da iluminação natu-
ral e artificial. As simulações dos estudos de “retrofit” realizadas neste estudo tiveram a
capacidade de caracterizar o consumo da edificação e incorrer em melhorias do desem-
penho energético e da qualidade ambiental.
ABSTRACT
The proposal of this work was to develop a procedure for evaluation of the potential
of rational use of energy of commercial buildings applied to the case study of the Building
Headquarters of the Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), on the basis of the
methodology that was elaborated and adopted for the Project 6 Cities (project of energy
efficiency of commercial buildings co-ordinated by Procel and Eletrobrás in 1996). The
incorporation of new steps in the process, such as the procedure of generation of climatic
1
Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Departamento de Engenharia Nuclear,
Curso de Ciências e Técnicas Nucleares (CCTN), área de concentração: Engenharia da Energia. E-mail:
rbp@nuclear.ufmg.br

631
data and the integration of passive and active technologies in the energy analysis, had had as
purpose adaptation to the reality of the Brazilian meteorological stations and the search of
energy integration between natural and artificial lightning. The simulations of the studies of
“retrofit” carried out in this study had had the capacity to characterize the consumption of the
building and to incur into improvements of the energy performance and the ambient quality.

1. INTRODUÇÃO
Desde que o desenvolvimento das tecnologias de apropriação das fontes de energia
propiciou ao ser humano a produtividade e o crescimento cultural, a humanidade tem
vivenciado as interações entre energia, economia e meio ambiente.
O dramático aumento do preço do petróleo nos anos 70, combinado com aumentos
das taxas internacionais de juros, terminou com a era da energia barata, levando a um
questionamento do modelo de desenvolvimento adotado até então. A constatação das
possibilidades técnicas de se continuar a oferecer os serviços necessários dependendo de
menores quantidades de energia, e de que o crescimento econômico não está necessaria-
mente atrelado a um maior consumo energético, colocou em xeque os fundamentos do
planejamento dominante até meados da década de 70. No entanto, talvez a mais convin-
cente vantagem do aumento da eficiência energética é a de que ela é quase sempre mais
barata do que a produção de energia. (JANNUZZI & SWISHER,1997).
A participação do setor de edificações no consumo geral de energia no Brasil representa
uma parcela significativa a ser considerada nos programas que visam à racionalização do
uso de energia. Neste sentido, ações dirigidas à geração e distribuição não podem estar
dissociadas daquelas destinadas à utilização final da energia.
Segundo dados do Balanço Energético Nacional 2000 (BEN), o setor de edifícios é o respon-
sável por cerca de 22% do consumo total do país, excluindo-se o setor industrial. Destes 22%, o
setor residencial é responsável por 64%, o comercial por 21% e o público por 15% do consumo.
Do ponto de vista da arquitetura, o setor de comércio e serviços é aquele que oferece as maiores
possibilidades de intervenções e conseqüentemente de redução do consumo de energia. Em mé-
dia, 64% do consumo do setor é devido ao condicionamento ambiental e à iluminação. Dentro do
setor comercial, os prédios de escritório ilustram bem esta condição, com média de 50% de gastos
com iluminação e condicionamento artificial de interiores (ROMERO, 1997).
Atualmente, as ações direcionadas para racionalização do uso da energia em edificações têm se
referenciado aos avanços tecnológicos de equipamentos e sistemas inteligentes de controle predial.
No entanto, muito pouco se tem feito com relação à busca de uma arquitetura inteligente que seja
capaz de contemplar, no momento do projeto, variáveis tais como integração iluminação natural/
artificial, posicionamento satisfatório da edificação em relação à insolação, ventilação natural, etc.
No intuito de divulgar esta nova postura, alguns trabalhos, sejam de âmbito acadêmico
ou governamental, vêm sendo desenvolvidos. O Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica - Procel juntamente com a Eletrobrás coordenaram projetos de
eficientização energética em todo o Brasil. Dentre estes projetos estão: o Estudo de
Eficientização Energética do Edifício Júlio Soares (Edifício Sede da Companhia Energética
de Minas Gerais – Cemig), no ano de 1992 (BRASIL. PROCEL, 1992), e o Projeto 6
Cidades, iniciado no ano de 1996 com o objetivo principal de implantar reformas para
melhoria na eficiência energética em edificações públicas e comerciais em 6 cidades brasilei-
ras: Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro e Salvador.
632
O objetivo do trabalho foi desenvolver um procedimento para avaliação do potencial
de uso racional de energia de edifícios comerciais, com base na aplicação da metodologia
de Avaliação Energética Predial elaborada pelo Projeto 6 Cidades em um estudo de caso.
A incorporação, nesta metodologia, de novas etapas, tais como o procedimento de geração
de dados climáticos e a incorporação da idéia de integração de tecnologias passivas e ativas na
análise energética, teve, como finalidade, adaptação à realidade das estações meteorológicas
brasileiras e a busca de integração energética. Dentre os objetivos específicos do trabalho inclui-
se a análise do potencial de uso racional de energia elétrica do edifício comercial escolhido, a
análise da influência das bases de dados climáticas no resultado da análise de desempenho
termo-energético do edifício e a avaliação do potencial de energia conservada pelas medidas
integradas de tecnologias passivas e ativas no sistema de iluminação.
2. A Metodologia de tratamento de dados climáticos
O cálculo das grandezas que definem o desempenho térmico de uma edificação é bas-
tante elaborado. No entanto, algum esforço vem sendo feito nos últimos 20 anos no senti-
do de desenvolver instrumentos computacionais capazes de facilitar esta tarefa.
O Visual DOE (ELEY ASSOCIATES, 1996) foi a ferramenta utilizada para desenvol-
vimento das análises energéticas do Projeto 6 Cidades, que serviram de base para desenvol-
vimento deste trabalho. Desta maneira, a utilização da mesma ferramenta computacional
possibilitou a padronização dos dados utilizados para este estudo.
Alguns programas de análise energética para edifícios, como o VisualDOE, utilizam
como dados climáticos para cálculo do consumo de energia o ano climático de referência.
STAMPER (1977) descreve o procedimento para determinar o chamado Ano Climático de
Referência (Test Reference Year - TRY). O procedimento utilizado para selecionar o ano climático
de referência para um local específico é a eliminação sucessiva de anos de dados climáticos,
segundo uma escala de importância dos meses para cálculos de consumo de energia.
As temperaturas médias mensais, para cada ano do período de registro disponível, são
calculadas e examinadas de acordo com a seqüência listada por Stamper. Os anos que
apresentarem temperaturas médias mensais extremas vão sendo listados. Estes anos são,
então, eliminados e o procedimento é repetido até restar somente um ano. Este ano é
designado Ano Climático de Referência.
O próximo passo é apresentar em um formato padronizado os dados climáticos horá-
rios do Ano Climático de Referência (TRY) como apresentado na Tabela 1.
Tabela 1- Formato TRY
Nuvens
Vento
No Pres.
Tbs Tbu Tpo TE Tn Camada 1 Camada 2
Est Pista
Dir Vel Qtd Tipo Alt Qtd Tipo Alt Soma
xxxxx xxx xxx xxx xxx xxx xxxx x xxx xx x xxx xx x xxx xx

A Tabela 2 - identifica os dados e campos do formato TRY


Nuvens
Rad.
Camada 3 Camada 4 Branco Ano Mês Hora Branco
Solar
Qtd Tipo Alt Soma Qtd Tipo Alt

Fonte: GOULARD, S. e LAMBERTS, 1997.

633
De posse do ano correspondente ao Ano de Referência Climático, o próximo passo é extrair dos
diagramas climáticos do ano correspondente as variáveis necessárias à montagem do arquivo TRY.
No arquivo de formato TRY, os dados de temperatura, umidade relativa e pressão
atmosférica extraídos dos diagramas climáticos são inseridos sob a forma de dados de
temperatura de bulbo úmido, temperatura de bulbo seco e temperatura de ponto de orva-
lho. JENSEN (1990), citado por KUEMMEL (1998), descreve o método de conversão.
Historicamente, no campo da meteorologia, pouca foi a importância dada à determinação
de dados da radiação solar. Neste sentido, o único dado produzido em todas as estações
meteorológicas instaladas no Brasil é o número de horas de insolação, o qual é insuficiente para
o desenvolvimento de trabalhos onde é necessário utilizar dados de radiação solar incidente.
O aplicativo SIDIS 1 – Módulo Radiação, adotado neste trabalho para cálculo da radiação
global média horária na situação de nebulosidade média a ser utilizada na montagem do arquivo
TRY, foi desenvolvido com base em modelos matemáticos que vêm sendo aperfeiçoados ao
longo de décadas, e apresentados de forma completa em DUFFIE & BECKMAN (1980).
Tabela 2 - Identificação dos dados e campos do formato TRY
1 GR&DPSR 3RVLomR
R
(OHPHQWR 8QLGDGH
001 01-05 Número da estação
o
002 06-08 Temperatura de Bulbo Seco (Tbs) C
o
003 09-11 Temperatura de Bulbo Úmido (Tbu) C
o
004 12-14 Temperatura de Ponto de Orvalho (Tpo) C
005 15-17 Direção do Vento De 0o a 360o
006 18-20 Velocidade do Vento m/s
007 21-24 Pressão nível da pista Pa
008 25 Tempo presente (TE)
009 26-28 Total de nuvens (Tn) 0 a 10
010 29-30 Quantidade de nuvens (1a camada)
011 31 Tipo de nuvem (1a camada)
012 32-34 Altura de nuvens (1a camada) m
013 35-36 Quantidade de nuvens (2a camada)
014 37 Tipo de nuvem (2a camada)
015 38-40 Altura de nuvem (2a camada) m
016 41-42 Soma da Quantidade da 1a camada 2a camada
017 43-44 Quantidade de nuvens (3a camada)
018 45 Tipo de nuvem (3a camada)
019 46-48 Altura de nuvem (3a camada) m
020 49-50 Soma da Quantidade das 3 camadas
021 51-52 Quantidade de nuvens (4a camada)
022 53 Tipo de nuvem (4a camada)
023 54-56 Altura de nuvem (4a camada) m
024 57-60 Radiação Solar MJ/m2 h
025 61-69 Branco
026 70-73 Ano
027 74-75 Mês
028 76-77 Dia
029 78-79 Hora
030 80 Branco

634
3. Análise, Resultados e discussões
O Edifício Júlio Soares, sede da Companhia Energética de Minas Gerais S.A.(Cemig),
em Belo Horizonte, configura-se como uma edificação comercial de grande porte. Suas
dimensões físicas, a multiplicidade de seus sistemas (iluminação, condicionamento térmico,
etc.), a importância das atividades nele desenvolvidas e a magnitude do fluxo de pessoas
em suas instalações (3.000 pessoas/dia), torna-o um edifício particularmente importante
para análise do consumo de energia e para políticas de racionalização do uso da energia.
O Edifício Júlio Soares foi inaugurado no ano de 1982 e possui formato retangular e área
total construída correspondente a aproximadamente 47.000 m2, divididos em dois blocos:
l Bloco horizontal: composto pelo pavimento térreo, jardim e por 3 pavimentos subterrâ-
neos, onde se localizam os acessos principais à torre, ao auditório e a outros serviços.
l Bloco vertical: composto por 20 pavimentos administrativos e 2 pavimentos para equi-
pamentos e sistemas auxiliares (Pavimento Mecânico e Casa de Máquinas).
As fachadas são quase totalmente envidraçadas, com algum sombreamento externo
proporcionado por placas verticais de concreto. As janelas são de vidro duplo, com persi-
anas internas entre vidros. Os pavimentos-tipo são pavimentos corridos, ou seja os andares
administrativos são abertos, com divisórias a meia altura.
O sistema de iluminação original é caracterizado pela utilização intensiva de ilumina-
ção artificial fluorescente; nos pavimentos-tipo a iluminação é composta basicamente
por luminárias dotadas de refletores em chapa pintada na cor bege com 2 lâmpadas
fluorescentes de 40 W cada e reatores duplos de partida rápida e alto fator de potência.
As luminárias são espaçadas de 1,5 m entre si e montadas a uma altura de 2,55 m. Nos
pavimentos não típicos predomina a iluminação fluorescente nos mesmos padrões utili-
zados no pavimento-tipo, com diferenciação de altura de montagem das luminárias em
alguns setores. A distribuição das lâmpadas no pavimento-tipo é mesma para as áreas de
escritório, corredores e para o vão central.
A densidade total de iluminação no prédio original correspondia a 37,9 W/m2; no en-
tanto, as medidas de racionalização do uso da energia que vêm sendo adotadas desde o
primeiro estudo feito no ano de 1992, fizeram com que a densidade de iluminação do
prédio no ano referência de nosso estudo, para os pavimentos-tipo fossem da ordem de
25,14 W/m2. A iluminância média dos pavimentos-tipo é da ordem de 340 lux.
O sistema de ar condicionado é do tipo expansão indireta com utilização de água gelada
e com capacidade instalada de 1.620 TR instaladas e dividido em dois sistemas indepen-
dentes, Sistema I (1.350 TR) responsável pela climatização dos andares do bloco vertical e
alguns pontos do bloco horizontal da edificação, e Sistema II (240 TR), responsável pela
climatização de setores vitais que funcionam 24h por dia durante todo o ano.
Existem os seguintes resfriadores para atendimento do edifício:
l 3 “chillers” do tipo centrífugo, com capacidade de 450 TR cada, atendendo todo o
prédio no horário comercial, exceto o Centro de Processamento de Dados (CPD).
l 2 “chillers” alternativos, com capacidade de 120 TR cada, atendendo somente a área do
CPD durante todo o horário de funcionamento.
635
Ao longo deste estudo foram simulados cinco casos, a saber, o caso do Edifício Caso Base
TRY, o Edifício Simulado I, o Edifício Simulado II, o Edifício Simulado III e o Edifício
Simulado IV. A seguir são identiciados os casos estudados e dadas suas principais características:
Edifício Caso Base TRY
l Utilização das variáveis que caracterizavam o Edifício Júlio Soares original, ou seja, antes
das propostas de “retrofit” simuladas neste trabalho.
l Utilização do Arquivo Climático TRY do Aeroporto da Pampulha, arquivo original
utilizado pelo Projeto 6 Cidades nas suas simulações.
Edifício Simulado I
l Proposta de “Retrofit” do sistema de iluminação artificial, conforme Tabela 3.;
Tabela 3 - Proposta de “retrofit” do sistema de iluminação

Tipo de luminária refletores de alumínio anodizado


Tipo de lâmpada 1 x 28 W
Tipo de reator eletrônico
Quantidade de luminárias por andar 490
Iluminância Média por andar 630 lux
Potência de cada sistema (lâmpada/luminária) 37 W

l Proposta de “Retrofit” do sistema de condicionamento térmico, conforme Tabela 4.

Tabela 4 - Proposta de “retrofit” do sistema de condicionamento térmico


ƒ 3 unidades resfriadoras do tipo parafuso de 428 TR ( 0,56kW/TR)
ƒ gás refrigerante HFC 143a
6LVWHPD,
ƒ bombas de água gelada – circuito primário (3x 20cv) e circuito
secundário (3 x 50cv)
ƒ 2 unidades resfriadoras do tipo parafuso de 120TR ( 0,83kW/TR)
6LVWHPD,, ƒ gás refrigerante R22
ƒ bombas de água gelada – 2 x 15cv

l Utilização do Arquivo Climático TRY do Aeroporto da Pampulha.


Edifício Simulado II
l Integração da iluminação natural com a proposta de “retrofit” do sistema de iluminação
artificial através de um sistema de controle de iluminação artificial (dimmer–ligado/33%/
67%/desligado) e utilização nas áreas de vidro de película protetora.
l Utilização do Arquivo Climático TRY do Aeroporto da Pampulha.
Edifício Simulado III
l Proposta de “retrofit” do sistema de iluminação artificial e condicionamento térmico
elaborado para Edifício Simulado I.
636
l Utilização do Arquivo Climático TRY da Estação Meteorológica Belo Horizonte, arqui-
vo climático gerado durante este estudo, para avaliação da influência das bases de dados
climáticas no resultado da análise de desempenho termo-energético do edifício.
Edifício Simulado IV
l Simulação de prateleiras de luz horizontais nas fachadas capazes de barrar a luz do Sol
direta e trabalhar ao mesmo tempo como prateleiras de luz difundindo de forma mais
homogênea a luz no interior do ambiente e integração da iluminação natural com a
proposta de “retrofit” do sistema de iluminação artificial através de um sistema de con-
trole de iluminação artificial (dimmer–ligado/33%/67%/desligado).
l Utilização do Arquivo Climático TRY da Estação Meteorológica Belo Horizonte.

Tabela 5 - Comparativo entre os conjuntos de medidas de “retrofit” do Edifício Júlio


Soares.
&DVR%DVH (GLItFLR6LPXODGR
75< , ,, ,,, ,9
&RQVXPRWRWDOGHHQHUJLD
HOpWULFDGRHGLItFLR0:KDQR 12.080 9.444 9.199 9.354 9.025

5HGXomRGRFRQVXPR
GHHQHUJLDHOpWLFDQRDQR - 22 24 23 25

A Tabela 5 ilustra as economias conseguidas pelas propostas de “retrofit” simuladas


para o Edifício Júlio Soares. Os sistemas propostos além de mais eficiência no uso da
energia, buscam também melhorar aspectos como uniformidade de iluminação, con-
fortos visual e térmico.
O Edifício Simulado I, que basicamente utiliza avanços da tecnologia na área de ilumina-
ção e condicionamento térmico para elaboração de sua proposta de “retrofit” consegue
uma economia da ordem de 22% em relação ao sistema original (Caso Base TRY),
exemplificando o enfoque tecnológico encontrado no tratamento da questão de ilumina-
ção e condicionamento térmico em edificações comerciais.
O Edifício Simulado III em sua proposta de “retrofit” trabalha a importância de se
considerar todos os parâmetros que caracterizam as condições climáticas do meio. A utili-
zação do arquivo climático apropriado foi capaz de propiciar uma maior aproximação da
realidade. No entanto, quando comparado o Edifício Simulado III e o Edifício Simulado
I, verifica-se que a diferenciação existente na caracterização das condições climáticas, ou seja
esta proximidade da realidade, não significa alterações relevantes no resultado da análise de
desempenho energético da edificação, indicando a não sensibilidade do “software”
VisualDOE para tais questões.
Comparando os sistemas, verifica-se que, em termos de melhorias, as integrações dos
sistemas de luz natural e artificial (Edifícios Simulados II e IV) conseguem as maiores
economias, da ordem de 24 e 25% em relação ao sistema original (Caso Base TRY),
exemplificando a importância de se trabalhar não apenas com a visão de “retrofit” de
tecnologias, mas também de se explorar a potencialidade de considerar o meio onde a
edificação encontra-se inserida (iluminação natural).
637
O Edifício Simulado II em sua proposta de “retrofit” trabalha a questão da integração com
medidas de pequenos impactos tais como a utilização de películas de proteção mais apropriadas ao
uso de iluminação natural e utilização de materiais que facilitam a propagação da luz no ambiente.
O Edifício Simulado IV em sua proposta de “retrofit” trabalha medidas de integração mais
agressivas tais como a utilização prateleiras de luz que sejam capazes de propagar a luz natural de
maneira mais apropriada no interior do ambiente. Ambas as simulações em seus resultados
qualitativos levantam a discussão a respeito da forma da edificação. A forma “quadrada” do
Edifício Júlio Soares dificulta o alcance da luz natural na parte central do pavimento (Figura 1).
Figura 1 - Distribuição pontual do níveis de iluminamento para 11 de junho as 9:00h, em lux

O contraste de luminâncias existente entre o interior do pavimento e a periferia passa a


ser importante causa de desconforto visual. A utilização de iluminação artificial nas áreas
centrais do pavimento para este tipo de edificação é imprescindível.
Quando se indica a redução do consumo de energia elétrica desagregada para os principais
usos finais do edifício observa-se que os números são bem mais expressivos (Figura 2).
As simulações tendo como referência o Caso Base TRY conseguem reduções do consu-
mo de energia elétrica, em termos de iluminação da ordem de 47% (Edifício Simulado I),
51,5% (Edifício Simulado II), 52,3% (Edifício Simulado IV) e, em termos de condiciona-
mento térmico da ordem de 30% (Edifício Simulado I), 31% (Edifício Simulado II), 32%
(Edifício Simulado III), 35% (Edifício Simulado IV).
Figura 2 - Comparativo de consumo desagregado de energia desagregado entre o
Edifício Caso Base TRY, Edifício Simulado I , Edifício Simulado II, III e IV
4000
3500
3000 CASO BASE TRY

K 2500 EDIFICIO SIMULADO I


:
01500
2000 EDIFÍCIO SIMULADO II
EDIFICIO SIMULADO III
1000 EDIFICIO SIMULADO IV

500
0
ILUMINAÇÃO

CONDICIONADO
EQUIPAMENTOS

OUTROS

AR

638
Figura 3 - Comparativo entre a extração de calor pelo ar condicionado para o Edifício
Caso Base TRY, Edifício Simulado I e Edifício Simulado II, Edifício Simulado III e IV

Extração de calor pelo ar condicionado para o pavimento tipo


30
25 EDIFICIO CASO BASE TRY

K 20 EDIFICIO SIMULADO I

:15 EDIFÍCIO SIMULADO II


010 EDIFÍCIO SIMULADO III
EDIFÍCIO SIMULADO IV
5
0
MAR

MAIO
FEV

ABRIL
JAN

DEZ
JUNHO

JULHO

NOV
SET

OUT
AGOSTO

Um outro fator importante é que quando se estuda o edifício como um todo depara-se
com o efeito sinergético entre a iluminação e o condicionamento térmico. Em média, as
propostas de “retrofit” do sistema de iluminação deixam de contribuir com cerca de 16,8%
(Edifício Simulado I), 18,8% (Edifício Simulado II) e 28% (Edifício Simulado IV) para o
ganho de calor do pavimento tipo e conseqüentemente apontam uma diminuição de extra-
ção de calor (Figura 3) pelo ar condicionado em valores médios anuais de 17,3% (Edifício
Simulado I), 19,7% (Edifício Simulado II) e 26% (Edifício Simulado IV).
4. CONCLUSÕES
Um estudo de “retrofit”, isto é, de reestruturação e redistribuição energética, permite
analisar as características de consumo de uma edificação demonstrando melhorias possíveis
no desempenho energético da instalação. As medidas para aumentar a eficiência energética
da instalação por meio de simulações permitem quantificar os benefícios e as melhorias e
muitas delas podem ser implementadas sem necessidade de investimentos significativos.
Outro aspecto importante é que o “retrofit” de uma edificação passa quase necessari-
amente pela reformulação dos padrões atuais de consumo energético, principalmente no
que diz respeito à iluminação artificial. É importante perceber que a reestruturação de um
sistema de iluminação, além da economia de energia, pode deixar de ser apenas um
projeto complementar de arquitetura e passar a ser um instrumento de comunicação
visual, uma vez que a luz através da visão é a principal responsável pela percepção espa-
cial e psico-emocional da realidade.
Como foi descrita ao longo deste trabalho, a racionalização do uso da energia em
edificações já construídas é uma realidade que já se pode vivenciar, e sabe-se que os ganhos
tanto econômicos quanto de conforto ambiental crescem de acordo com a abrangência e
o aprofundamento do estudo.
O estudo realizado pelo Projeto 6 Cidades, vislumbrando esta realidade, buscou conso-
lidar uma metodologia de análise energética de edifícios comerciais, para o qual este pre-
sente trabalho tem a intenção de contribuir e complementar.
Um dos problemas confrontadados na análise de desempenho energético dos ambien-
tes é a inadequação dos dados climáticos disponíveis, deixando explicitado que tais barrei-
639
ras por este estudo derrubadas podem significar para os profissionais de mercado a não
utilização de tais dados e conseqüentemente a condução a erros de concepção dos espaços
e generalizações grosseiras que deixando muitas vezes perplexos aqueles profissionais que
transpuseram esta dificuldade de acesso a dados climáticos.
Um dos pontos interessantes deste estudo é perceber que toda a análise de “retrofit”
proposta neste trabalho foi elaborada em cima de um edifício que havia sofrido no inicio
da década de 90 uma reformulação de seu sistema de iluminação. Mesmo assim, as simu-
lações conseguem em termos de iluminação reduções da ordem de 47% (Edifício Simula-
do I), 51,5% (Edifício Simulado II), 52,3% (Edifício Simulado IV).
Das simulações realizadas neste estudo, verifica-se que, em termos de melhorias econô-
micas e de conforto ambiental, as integrações dos sistemas de luz natural e artificial (Edifí-
cio Simulado II e IV) conseguem as melhores respostas em relação ao sistema original,
exemplificando a importância de trabalharmos não apenas com a visão de “retrofit” de
tecnologias ativas, mas também de explorarmos o que chamamos de tecnologias passivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Soares, Sede CEMIG, Belo Horizonte, 1992.
BRASIL. PROCEL- Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Projeto 6 Cidades, Metodologia de Avaliação
Energética Predial. Rio de Janeiro, 1997.
DUFFIE, J. A. & BECKMAN,W.A. Solar Engineering of Thermal Processes. New York, John Wiley & Sons, 1980.
ELEY ASSOCIATES. VISUALDOE 2.5. Program Documentation., 1996.
GOULART. S.V.G; LAMBERTS, R.; FIRMINO, S. Dados Climáticos para Projeto e Avaliação Energética de Edificações para 14
Cidades Brasileiras. Florianópolis: Núcleo de Pesquisa em Construção/UFSC, 1998. 345 p. 2. Ed.
JANNUZZI, G.;SWISHER, J. Planejamento Integrado de Recursos Energéticos : meio ambiente, conservação de energia e fontes
renováveis.São Paulo: Editora Autores Associados, 1997. 246 p.
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www.agsci.kvl.dk/~bek/relhum.htm>. Acesso em: 01 março 2003.
STAMPER, Eugene. Weather Data. ASHRAE JOURNAL, February 1977, p.47.

640
CADERNO DE ENCARGOS
PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO
ARQUITETÔNICO – INSTRUMENTO PARA
A APLICAÇÃO DO CONFORTO AMBIENTAL
E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES
PÚBLICAS DE CLIMATIZAÇÃO MISTA

Luciana Hamada1
Cláudia Barroso-Krause2

RESUMO
O caderno de encargos, como instrumento municipal, tem a finalidade de estabelecer e
discriminar as condições técnicas referentes às diversas normas, especificações e procedi-
mentos estabelecidos pelo contratante para a execução de serviço e/ou obra.
O seu emprego abrange todos os projetos e obras públicas de arquitetura e urbanis-
mo, destinando-se aos arquitetos e engenheiros da administração municipal e aos profis-
sionais das empresas contratadas, envolvidos na elaboração de projetos, execução e compra
de materiais e equipamentos.
Este trabalho técnico apresenta as oportunidades de aplicação das questões de conforto
ambiental e eficiência energética na elaboração da estrutura de cadernos de encargos para
elaboração do projeto arquitetônico – etapas de estudo preliminar e anteprojeto.

ABSTRACT
The responsibilities manual as a municipal instrument is aimed at establishing and detailing
the technical conditions referring to the different standards, specifications and procedures
required by the contracting party for carrying out services and public works.

1
Mestranda PROARQ/FAU/UFRJ, Assessora Técnica do Instituto Brasileiro de Administração Municipal –
luciana_hamada@hotmail.com
2
Professor do PROARQ/FAU/UFRJ – bkrause@ufrj.br – Av. Brigadeiro Trompovski, s/n, Prédio da Reitoria – sala
433, Cidade Universitária – CEP 21910-000 – Rio de Janeiro – RJ

641
The application of the responsibilities manual involves all architectural and town planning
projects and public works. It is intended for architects and engineers from local governments
as well as employees from the contracted companies responsible for purchasing materials
and equipment, and preparing and carrying out projects.
This technical projects presents the opportunities for applying environmental comfort
and energy efficiency issues in the structure of the responsibilities manual when preparing
architectural projects – preliminary study and blueprint phases.

1. INTRODUÇÃO
Diante dos desperdícios de energia elétrica que ocorrem nos prédios públicos brasilei-
ros decorrentes da adoção de projetos e equipamentos inadequados, da dificuldade de
alteração de prédios já edificados, para torná-los mais eficientes e dos benefícios econô-
micos e de conforto ambiental que podem ser obtidos com a adoção de prédios eficien-
tes do ponto de vista energético, torna-se necessária a revisão do conteúdo do Caderno
de Encargos Municipal para Edificações.
Elemento novo no cenário energético brasileiro, este instrumento legal permite a inclu-
são de técnicas que proporcionem uma melhor utilização da energia elétrica associada a um
acréscimo da qualidade ambiental urbana.
Os critérios tradicionais – estéticos, funcionais e econômicos – utilizados para a elabora-
ção do caderno de encargos não consideram o uso eficiente da energia, devido ao desco-
nhecimento do tema, pelos técnicos municipais responsáveis, e/ou falta de legislação espe-
cífica para o uso eficiente da energia em edificações.
Contudo, uma mudança significativa deste cenário poderá ser possível com a promul-
gação da Lei Federal no 10.295, de 17 de outubro de 2001, que dispõe sobre a Política
Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia Elétrica. Em seu artigo 2º ela deter-
mina que o Poder Executivo deverá estabelecer níveis máximos de consumo específico
de energia, ou mínimos de eficiência energética para máquinas e aparelhos fabricados e
comercializados no país e parâmetros de conforto ambiental. Além disso, um pouco
além, em seu artigo 4o determina que este desenvolva mecanismos que promovam a
eficiência energética nas edificações construídas no País. Assim, caberá aos administrado-
res municipais adequar e fiscalizar o cumprimento destes novos índices de qualidade da
construção, através da normalização de procedimentos construtivos nos códigos de obras
e edificações e no caderno de encargos para execução de edificações com vistas ao
enquadramento nos novos níveis estabelecidos.
Neste contexto, o presente trabalho técnico tem o objetivo de identificar e trazer a
discussão, às oportunidades mais importantes para a aplicação das questões de conforto
ambiental e eficiência energética nas etapas iniciais do projeto arquitetônico para a elabora-
ção de um caderno de encargos para edificações públicas com climatização mista. Estas
duas etapas são consideradas as mais propícias para a aplicação destes parâmetros, pois são
as que englobam as decisões de projeto mais significativas e permanentes (BARROSO-
KRAUSE, 1995). Posteriormente, a adequação da edificação com a finalidade de torná-la
mais confortável e mais eficiente do ponto de vista energético será mais onerosa.
642
2. CADERNO DE ENCARGOS MUNICIPAL PARA EDIFICAÇÕES
2.1. Apresentação do Caderno de Encargos
As compras e serviços do Poder Público, ao contrário das empresas do setor privado,
obedecem a regras de transparência prescritas pela Constituição Federal. A licitação é o pro-
cedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais
vantajosa para o contrato de seu interesse, visando proporcionar oportunidades iguais aos
interessados em contratar com o Poder Público, dentro de padrões previamente estabeleci-
dos pela Administração Pública, atuando como fator de eficiência e moralidade nos negócios
administrativos. É o meio técnico-legal de verificação das melhores condições para a execu-
ção de obras e serviços, compra de materiais e alienação de bens públicos para o Poder
Público, sendo que para cada um deles destina-se a elaboração de regras específicas.
Neste contexto, o caderno de encargos, ou caderno de obrigações, como instrumento mu-
nicipal, tem a finalidade de estabelecer e discriminar as condições técnicas referentes às diversas
normas, especificações e procedimentos. É um instrumento útil e de prática generalizada nas
Administrações Públicas, pela simplificação dos editais e convites, e fixação de rotinas que faci-
litam aos interessados o preparo de suas propostas dentro da sistemática da repartição licitante.
Para a sua regulamentação, o caderno de encargos não exige a aprovação da Câmara
Municipal, como ocorre em outros instrumentos urbanísticos e edilícios; é suficiente a pro-
mulgação do Prefeito, o que facilita a agilidade da sua aplicação e a sua atualização.
É um instrumento dinâmico que pressupõe o aperfeiçoamento periódico com a finali-
dade de contemplar as mudanças relacionadas tanto às novas tecnologias, aplicáveis ao
projeto de arquitetura e edificações, quanto às mudanças mesoclimáticas ao ambiente
construído. Neste caso, é fundamental que o Município leve em conta a sua realidade, a
estrutura técnica do órgão responsável pela implementação das normas de edificação, bem
como as características culturais construtivas regionais e os aspectos climáticos, que influen-
ciarão os aspectos técnicos e administrativos a serem abordados pelo instrumento.
2.2. O Caderno de Encargos prescrito pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT
De acordo com a NBR 12219 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (1992)
– “Elaboração de Caderno de Encargos para Execução de Edificações” – este instrumento é o
conjunto de discriminações técnicas, critérios, condições e procedimentos estabelecidos pelo con-
tratante para a contratação, execução, fiscalização e controle de serviços e/ou obras.
A estrutura, composição e organização recomendada por esta Norma compreendem
condições gerais e especiais.
As condições gerais constituem o conjunto de prescrições comuns a todos os cadernos de
encargos para execução de edificações e que, de acordo com a legislação aplicável, traduz, de
modo genérico, as obrigações, direitos e deveres do executante e do contratante referentes
aos parâmetros do objeto, regime e prazo de execução; da preparação e planejamento dos
trabalhos; da execução da obra, que compreende o projeto básico e o projeto executivo; do
movimento de terra; da fiscalização; dos pagamentos e do recebimento da obra.

643
As condições especiais definem as características técnicas e as condições de recebimento
exigíveis, respectivamente, para componentes da construção e para os processos de
execução dos trabalhos.
Entre os parâmetros descritos em condições gerais, somente a execução da obra possibilita
a inclusão das disposições preliminares das questões de conforto ambiental e eficiência
energética aplicáveis na elaboração do projeto básico das instalações prediais referente às
instalações elétricas, mecânicas, hidráulicas e sanitárias e equipamentos para iluminação.
Entretanto, anteriormente ao projeto básico, durante a elaboração do projeto arquitetônico,
as questões de conforto ambiental e eficiência energética já devem ser consideradas, nas
etapas de estudo preliminar e de anteprojeto, onde as grandes definições ocorrem, sendo
facilmente modificadas, evitando no futuro a adequação da edificação ao conforto ambiental
e à eficiência do ponto de vista energético.
3. A APLICAÇÃO DAS QUESTÕES DE CONFORTO AMBIENTAL
E DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO PROJETO ARQUITETÔNICO
O conforto ambiental de uma edificação pode ser descrito como a interação do usuário
atuante com o clima exterior, moldado pelo projeto arquitetônico. O desempenho das
atividades no interior das edificações requer, além do conhecimento do perfil do usuário, o
atendimento a padrões mínimos climáticos que propiciem condições favoráveis ao meta-
bolismo dos indivíduos, sem prejuízo ao rendimento de suas atividades e à sua saúde.
Para que se obtenha a condição chamada conforto ambiental – que varia de região para
região –, as necessidades higrotérmicas, visuais, de qualidade do ar interior e acústicas da
atividade do usuário da futura edificação devem estar bem compreendidas na concepção
do projeto arquitetônico, além da percepção do entorno climático em termos das restri-
ções, das diretrizes para o atendimento destas necessidades e das questões legais que envol-
vem o projeto. Conhecendo e solucionando os quatro conceitos, complementado com a
criação de soluções secundárias que permitam seu uso no período restante, o projeto
arquitetônico tornar-se-á mais adequado ao usuário e ao seu entorno.
Figura 1 - O conforto ambiental e as condicionantes externas

Fonte: Elaboração própria, 2004

644
Quanto à aplicação da eficiência energética no projeto arquitetônico, esta pode ser enten-
dida como a criação de uma edificação em que tendo sido exploradas as oportunidades
ambientais e protegidas das ações indesejáveis do clima exterior, proporcione conforto
ambiental com menor gasto de energia, ou seja, uma edificação mais eficiente energeticamente,
que oferece as mesmas condições ambientais desejáveis com menor consumo de energia se
comparado com outra.
Segue-se um breve resumo dos quatro conceitos integrantes do conforto ambiental,
conforto higrotérmico, conforto visual, conforto acústico e qualidade do ar interior e uma
abordagem sobre a eficiência energética e sua relação com o projeto da edificação.
3.1. O Conforto Higrotérmico e o projeto Arquitetônico
Inegavelmente, do ponto de vista de conforto higrotérmico, o grande diferenciador das
diretrizes projetuais das edificações públicas é o sistema de climatização.
Basicamente, pode-se afirmar que o tratamento dos aspectos do conforto higrotérmico no
projeto de uma edificação compreende o estudo do impacto das condicionantes externas1
e internas2, que apresentam pesos diferenciados na decisão do projeto arquitetônico. Em
função da análise destes dois tipos de condicionantes, deve ser determinada a opção pela
edificação climatizada, não climatizada ou mista.
A edificação climatizada é aquela que utiliza permanentemente de sistemas artificiais para
o controle da temperatura e da umidade de ar no seu interior. Para seu melhor desempe-
nho, a edificação deverá funcionar com o mínimo de trocas térmicas com o exterior,
sendo garantida a possibilidade de um sistema de ventilação em caso de pane do equipa-
mento de climatização.
A edificação não climatizada é aquela onde ao invés da adoção de sistemas artificiais,
conjuga o aproveitamento das disponibilidades climáticas externas à flexibilidade das exi-
gências internas para a climatização natural, os fatores climáticos externos sendo adminis-
trados para atingir níveis desejáveis de conforto.
O modelo misto – que combina soluções climatizadas e não-climatizadas – apresenta-se
como opção mais freqüente no setor público da maior parte das regiões brasileiras. No
desenvolvimento do projeto arquitetônico deste modelo são priorizadas as soluções que
atendam às demandas de maior período de uso, considerando o perfil de ocupação e os
períodos climáticos relevantes, com a criação de soluções secundárias que permitam seu
uso no período restante, resguardados os padrões mínimos de conforto.
Para auxiliar o arquiteto nesta fase de definição de diretrizes projetuais existem vários
instrumentos, entre eles, o diagrama bioclimático de Givoni (GIVONI, 1976). Neste dia-
grama, que sugere estratégias bioclimáticas (higrotérmicas) em função da temperatura e da
umidade atmosférica local, Baruch Givoni sugere o uso de artifícios de controle ambiental,
tais como massa térmica da edificação, ventilação, umidificação e outros, a fim de se obter

1
As condicionantes externas dizem respeito aos fatores físico-climáticos (radiação direta ou difusa, qualidade, pressão e movimento
do ar, umidade e precipitação e relevo e vegetação), aspectos que caracterizam o clima da região e o entorno construído (determinado
pelo tipo de material construído e pela interferência de construções vizinhas).
2
As condicionantes internas dizem respeito ao tipo de atividade exercida pelos usuários, a vestimenta e os equipamentos existentes.

645
o restabelecimento ou a aproximação às condições ideais de conforto no interior de
edificações para a maior parte das atividades municipais.
Obtendo-se os valores destas variáveis para os principais períodos do ano climático da
localidade, é possível determinar pelo diagrama bioclimático, estratégias básicas de projeto
em função das condições climáticas de um determinado local.
3.2. Conforto Visual
O conforto visual está relacionado com a qualidade do desempenho visual do indiví-
duo, determinado pelo tipo de atividade envolvida, proporcionada pela qualidade do pro-
jeto de iluminação disponível no ambiente. Esta iluminação deve permitir ao usuário a
visão nítida dos objetos e o desenvolvimento das tarefas visuais com o máximo de acuidade
e precisão visual, com o menor esforço e risco de prejuízos aos órgãos oculares.
Para cada tarefa visual há um requisito de iluminância e proporção de luminâncias adequadas.
A presença de luminâncias intensas em relação à do entorno, com formação de grandes contras-
tes, torna-se indesejável, pois obriga o olho, durante o seu processo de adaptação, a atingir
continuamente diversos níveis de equilíbrio na busca da sensibilização e descontração da pupila.
Para o atendimento do desempenho visual no projeto arquitetônico, alguns parâmetros
devem ser atendidos, em consideração às atividades previstas para cada ambiente, como a
suficiência e a boa distribuição da iluminância na superfície de trabalho, a ausência de
ofuscamento3 e o nível de luminâncias (contraste adequado) entre o objeto observado e o
seu entorno. Os valores de iluminâncias estão disponíveis na NBR 5413 – Iluminância de
interiores da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Para a execução de um projeto de iluminação natural, são analisadas as iluminâncias suficien-
tes ao desempenho de tarefas visuais de uma forma eficiente e rápida. A fim de atender a este
critério quantitativo, utilizam-se métodos de cálculo que forneçam a quantidade de luz natural
(proporcional ao total de luz disponível no exterior) que deve alcançar o plano de trabalho.
A iluminância ideal é normalizada em função da tarefa visual a ser realizada. Entretanto,
sabe-se que esta iluminância, medida por aparelhos, corresponde a estímulos que podem
causar sensações diversas nos indivíduos que a eles estão submetidos.
Para que a iluminação seja qualitativamente satisfatória, a elaboração do projeto deve
contar com os aspectos quantitativos e subjetivos, associados à percepção individual, vari-
ável conforme o usuário em estudo.
Uma vez conhecidas as necessidades dos níveis de iluminação e a disponibilidade da luz
natural e a análise do programa, o passo seguinte é o estudo das possibilidades de atendi-
mento das exigências e a escolha da forma de coleta da luz natural, por meio das aberturas
lateral ou zenital, a que melhor convier ao projeto.
Entretanto, deve-se observar cautela quanto à utilização das aberturas, pois a entrada de
luz natural sendo associada com a entrada de calor (radiação solar), pode prejudicar o
conforto higrotérmico e comprometer a eficiência energética da edificação.
3
O ofuscamento ocorre sempre que há claridade demais no campo visual, causado por uma fonte de luz de
grande luminosidade, como lâmpadas, aberturas, ou pela reflexão dessa fonte de luz no campo visual do observador.
Este fenômeno contribui para a redução da acuidade visual.

646
Outro aspecto importante é a quase sempre necessária complementação da luz natural – de
melhor qualidade e gratuita – pela artificial em que a primeira, sendo sem custos ou desperdícios
deve ser considerada como básica, e a segunda, complementar, pois permite ao usuário esten-
der suas atividades em momentos que a luz natural é insuficiente ou inexistente. A correta integração
entre os dois sistemas pode solucionar o problema da variação da intensidade da luz provenien-
te da abóbada celeste e contribuir para a redução do consumo de energia elétrica.
O Brasil possui uma das abóbadas celestes mais claras do mundo e, em grande
parte do território, a presença de nebulosidade é reduzida se comparada a outros
países, evidenciando o enorme potencial do uso racional de energia elétrica que a uti-
lização da luz natural representa.
3.3. Qualidade do Ar Interior
A qualidade do ar interior aceitável é definida como aquela que está livre de poluentes
que possam causar irritações, desconforto ou doenças nos ocupantes de uma edificação. As
recomendações referentes a uma boa qualidade do ar, de acordo com o uso e atividade a
serem exercidos na edificação, são baseadas num critério de risco e também em termos de
uma concentração ou uma dose máxima permitida de poluentes.
Assim como para o conforto higrotérmico, o conhecimento e estudo das condicionantes
externas e internas, a preferência pela edificação climatizada, não climatizada ou mista são
de fundamental importância ao pleno atendimento deste item, sendo fruto da compreen-
são da interface entre estas condicionantes.
Esta compreensão induz que para cada tipo de necessidade as estratégias arquitetônicas
que visam proporcionar a qualidade do ar interior serão diferenciadas. De um modo geral,
o ar exterior, indispensável à renovação do ar interior dos edifícios, precisa ter característi-
cas compatíveis às expectativas dos usuários de um determinado sistema de ventilação.
Para a edificação climatizada, que por necessidade utiliza-se permanentemente de siste-
mas artificiais para o controle da temperatura e da umidade de ar no seu interior, os cuida-
dos para a obtenção de uma qualidade aceitável do ar interior estão vinculados aos poluentes
do ar que podem ser originados pelo uso do recinto (poeira, fibras, compostos orgânicos
voláteis, próprios usuários; etc.), no exterior (fuligens, fumaças, pólens; etc.) e dos poluentes
originados no sistema de ar-condicionado (fibras de lã, fibras de vidro, acúmulo de poluentes
nas bandejas de água de condensação, nas paredes do condicionador e nos dutos). Os
métodos mais indicados para evitar a poluição do ar interior envolvem a eliminação dos
riscos na fonte, por meio de filtros para o tratamento do ar captado no exterior, diminuin-
do-se o uso dos compostos que liberam formaldeídos, CFC-s e outros poluentes, e fazen-
do-se constantemente limpeza nos dutos e nos aparelhos de refrigeração.
No caso da edificação não climatizada, o grau de pureza da ventilação natural é um dos
primeiros fatores determinantes na saúde e conforto dos usuários e tem efeito direto sobre
o ser humano, por meio do seu movimento, e indireto pela influência da sua temperatura e
umidade sobre as superfícies.
Neste contexto, as funções da ventilação natural referem-se à manutenção da qualida-
de do ar interior por intermédio da sua renovação constante, a promoção do conforto
higrotérmico por meio da facilitação à evaporação do suor da superfície da pele e ao
647
arrefecimento da estrutura do edifício quando a temperatura do interior é maior que a
do exterior. Estas funções serão mais eficientes se somadas ao conhecimento das carac-
terísticas naturais disponíveis (velocidade e freqüência dos ventos, direção dos ventos
dominantes e secundários, topografia da região e diferenças climáticas entre as várias
estações do ano) que orientarão as condicionantes do espaço arquitetônico.
No caso da edificação de climatização mista, a obtenção da qualidade do ar inte-
rior se dá preferencialmente pela ventilação natural e na ocorrência de utilização do
sistema do condicionamento mecânico do ar este deverá cumprir com os requisitos
para a promoção do mesmo. Os dispositivos arquitetônicos, sendo móveis, devem
conciliar ambos requisitos.
3.4. Conforto Acústico
O conforto acústico vem ganhando importância nos grandes centros urbanos, como
fator decisivo da eficiência da edificação em consideração ao entorno climático. Associa-se
com a qualidade acústica interna e externa, em que os usos a serem exercidos na edificação
não fiquem comprometidos com as áreas ruidosos do entorno e as atividades da mesma
não sejam fonte de ruído para as áreas próximas. O ruído – e sua sensibilidade – admissível,
embora varie de um indivíduo para outro em função dos hábitos e circunstâncias, pode
para a maior parte das atividades públicas envolvidas ter seus limites conhecidos.
Para resolver um problema de ruído é necessária a compreensão da fonte do caminho
do som e do receptor (usualmente uma pessoa ou um grupo de pessoas). O melhor lugar
para controlar o ruído é na fonte, mas, freqüentemente, o controle no caminho e a prote-
ção do receptor são também necessários.
A avaliação dos espaços é baseada em estudos já realizados e normas específicas para o
conforto acústico, onde é estabelecido um valor aceitável para os níveis de ruído nos ambi-
entes. Os índices preestabelecidos servem apenas como base para compreensão das condi-
ções de conforto da edificação, porem é por intermédio do levantamento da opinião dos
usuários que se pode diagnosticar a qualidade dos espaços.
A qualidade acústica relaciona-se a convivência com os ruídos existentes na vida diária,
sem que haja perturbação da tarefa em execução.
Assim como a questão da qualidade do ar interior está vinculada às diretrizes do conforto
higrotérmico, os requisitos para o conforto acústico estão associados ao perfil de climatização
selecionado para a edificação. Basicamente para as três diretrizes anteriormente elencadas, a
etapa fundamental para o estudo do conforto acústico é a de identificação e a de classificação
das fontes de ruído existentes. No caso da opção pela edificação climatizada é verificada a
origem da fonte criada pelo próprio projeto arquitetônico (casas de máquinas, equipamentos,
salas de recreação, etc.) e o tipo de classificação que pode ser de impacto, quando propagado
por um meio sólido (vibração das máquinas, passos sobre o piso), ou aéreo, quando propa-
gado pelo ar (som dos eletrodomésticos), para a verificação da possibilidade de distanciamento
das zonas ruidosas das com requisitos conflitantes ou a opção pelo isolamento adequado.
Enquanto para a concepção do projeto arquitetônico de uma edificação não climatizada,
as fontes de ruído mais significativas podem ser as existentes no entorno da futura edificação
(vias de tráfego, indústrias, atividades de lazer etc) decorrentes das atividades internas e a
648
classificação dos ruídos de impacto ou aéreo. Além do cumprimento das etapas que envol-
vem os estudos de implantação, fluxo, setorização e partido arquitetônico para o melhor
desempenho da qualidade acústica.
Para a concepção de uma edificação mista, acrescenta-se a identificação das fontes de
ruído internas, inclusive os emitidos pelo sistema de condicionamento mecânico do ar e
motores elétricos, e externas que devem ser analisadas concomitantemente. Neste caso, as
soluções para o isolamento acústico são planejadas para atender tanto à demanda de maior
período de uso (climatização artificial ou climatização natural) quanto à de menor uso.
3.5. Eficiência Energética
Uma vez otimizado o projeto em termos da sua adequação aos requisitos e disponibi-
lidades dos itens mencionados acima, a estratégia correta busca atender às questões ainda
ou insuficientemente atendidas de conforto ambiental, com sua complementação de for-
ma eficiente em termos de consumo de energia elétrica, dos sistemas de iluminação, venti-
lação, refrigeração ou aquecimento complementares.
Mesmo quando há uma incompatibilidade entre os requisitos internos e as disponibilida-
des externas, o grande desafio da eficiência energética no projeto das edificações é conse-
guir, via recursos naturais, um clima interno o mais adequado e duradouro possível, de
forma a retardar, ou mesmo evitar, que o usuário inicie o processo de climatização artifici-
al, e se for utilizado, que este processo seja o mais econômico possível. Isto é viável com o
conhecimento do tipo e do tempo de utilização dos ambientes; da otimização da ocupa-
ção; da relação clima externo/interno; da redução das cargas térmicas incidentes sobre o
envelope construtivo; da orientação da fachada (insolação); da redução das cargas térmicas
internas, por intermédio de um bom projeto de iluminação artificial, do aproveitamento
da ventilação natural disponível para uma renovação de ar interior satisfatória, e, finalmen-
te, com o uso adequado dos materiais do envelope construtivo.
Em seguida, a escolha dos equipamentos deverá ser tratada, considerando esta condição
já atingida, e especificadas de modo conciliatório com o manejo dos equipamentos passi-
vos já determinados. Durante o estudo originário deste trabalho técnico foram observadas
as considerações entre os usos finais – iluminação artificial, condicionamento mecânico do
ar e motores elétricos –, em que as características técnicas e particularidades de cada um
devem ser tratadas de forma integrada com o projeto arquitetônico.
4. OPORTUNIDADES DE APLICAÇÃO DAS QUESTÕES DE CONFOR-
TO AMBIENTAL E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A aplicação das questões de conforto ambiental e eficiência energética pode-se dar em
várias etapas do processo construtivo, entretanto, segundo BARROSO-KRAUSE (1995),
o momento de intervenção de maior eficiência se dá nas fases iniciais de projeto, dada a
maior flexibilidade e liberdade de escolhas e o menor número de restrições externas. Neste
trabalho técnico são reconhecidas as etapas de estudo preliminar e de anteprojeto e/ou
pré-execução como as mais propícias.
Embora os mecanismos projetuais sejam objeto de intensas pesquisas e infrutíferas pa-
dronizações, verifica-se que algumas definições são recorrentes: implantação, volumetria,
tratamento do envelope construtivo, fachadas etc.
649
Assim, buscou-se a criação de matrizes de apoio ao projeto, não exaustivas, para a
experimentação de inclusão de requisitos de conforto ambiental e eficiência energética,
em sua linguagem própria de evolução arquitetônica.
4.1. Oportunidades de Aplicação
Segundo a NBR 13531 4 (1995) “Elaboração de Projetos de Arquitetura – Ativi-
dades Técnicas”, o estudo preliminar é destinado à concepção e à representação do
conjunto de informações técnicas necessárias à compreensão da configuração da
edificação, podendo ser incluídas as soluções alternativas. O anteprojeto diz respeito
à solução geral do problema com a definição do partido arquitetônico adotado, da
concepção estrutural e das instalações em geral, possibilitando clara compreensão da
obra a ser executada.
O estudo cuidadoso das questões de conforto ambiental e eficiência energética é em
contrapartida ao uso eficiente de sistemas ativos adotados. O adequado encaminha-
mento de uma determinada questão dependerá das decisões tomadas na etapa anteri-
or, o que torna essencial o devido cumprimento de cada uma delas.
Vale ressaltar que, se a solução a ser adotada exigir um investimento maior no pro-
jeto arquitetônico da edificação, no sentido de torná-lo adequado ao clima local, pode-
rá trazer economias substanciais nos gastos para a manutenção do funcionamento do
edifício construído e o retorno do investimento inicial ocorrer em curto prazo.
As soluções inadequadas ao clima – encontradas, por exemplo, em edificações
que bloqueiam o acesso à ventilação disponível ou a insolação necessária, fachadas
sem tratamento, aberturas mal-projetadas e desprotegidas, tanto para a ventilação
quanto para a iluminação, entre outras – levam o microclima interno a condições
insalubres, induzindo ao uso de sistemas ativos (iluminação artificial, condiciona-
mento e aquecimento do ar) por vezes desnecessários, superdimensionados e com
baixo rendimento, provocando custos maiores na conta de energia elétrica e eventual
desconforto dos usuários.
Outro problema pode surgir quanto ao espaço arquitetônico e o desempenho dos
sistemas, pois a não previsão de áreas específicas para os sistemas ativos costuma oca-
sionar problemas quanto à funcionalidade dos equipamentos.
4.2. Etapas Estudo Preliminar e Anteprojeto e/ou Pré-execução
A partir dos estudos realizados foram elaboradas duas matrizes sínteses contendo
os pressupostos relacionados ao conforto higrotérmico e a eficiência energética. Na
primeira matriz é proposto um cenário que aborda a interface entre as diversas deci-
sões a serem tomadas durante a elaboração do projeto arquitetônico – etapas estudo
preliminar e anteprojeto.

4
Esta Norma fixa as atividades técnicas de projeto de arquitetura e de engenharia exigíveis para a construção de
edificações. Sendo aplicável aos serviços técnicos de obras para edificações novas e edificações existentes.

650
Quadro 1 - Matriz síntese contendo interfaces entre as decisões arquitetônicas
e as etapas de estudo preliminar e anteprojeto
(WDSDV
'HFLV}HV (VWXGR3UHOLPLQDU $QWHSURMHWR
$UTXLWHW{QLFDV
implantação e entorno [ afastamentos
implantação e
entorno [ fontes de ruído externo
Implantação implantação e implantação e
e Entorno entorno [orientação solar entorno [ definição projetual
implantação e entorno [ ventos
implantação e entorno [ fontes de
poluição
volumetria/fachadas [ orientação
volumetria/fachadas [ escolha dos
das fachadas
elementos de proteção externa
Volumetria e volumetria/fachadas [
volumetria/fachadas [ definição
Fachada proteção das fachadas
projetual
volumetria/fachadas [ dimensionamento
das fachadas
paisagismo [ paisagismo [ escolha da vegetação
Paisagismo revestimento do solo paisagismo [ escolha do
paisagismo [ vegetação existente material de revestimento (piso)
arquitetura interna [
previsão de áreas internas mecânico de arquitetura interna [ escolha do
Arquitetura ar-condicionado
revestimento (interna e externa)
Interna e de calefação
arquitetura interna [ definição projetual
arquitetura interna [ orientação dos
compartimentos
abertura para iluminação e ventilação [
posicionamento e dimensionamento da
abertura para iluminação e ventilação [
Abertura para área de abertura
dimensionamento das aberturas
Ventilação e abertura para iluminação e ventilação [
abertura para iluminação
Iluminação escolha das esquadrias e vidros
e ventilação [ localização das aberturas
abertura para iluminação e ventilação [
características das esquadrias e vidros
cobertura [ estudo do dimensionamento
Cobertura cobertura [ escolha dos materiais
cobertura [estudo do tipo de cobertura

iluminação artificial [ escolha


iluminação artificial [ identificação
Iluminação dos componentes do sistema
do uso/perfil do usuário
Artificial iluminação artificial [ sistema
iluminação artificial [ estudo do tipo
de iluminação artificial

condicionamento mecânico do ar [ condicionamento mecânico


Condicionamento identificação do uso/perfil do usuário do ar [ escolha dos equipamentos
Mecânico do Ar condicionamento mecânico condicionamento mecânico do ar [
do ar [ estudo do tipo projeto de condicionamento artificial
motores elétricos [ identificação
motores elétricos
Motores Elétricos do uso/perfil do usuário
[ projeto motores elétricos
motores elétricos [ estudo do tipo
alternativas tecnológicas
Alternativas alternativas tecnológicas [
[identificação do uso/perfil do usuário
Tecnológicas projeto de alternativas tecnológicas
alternativas tecnológicas[ estudo do tipo
Fonte: Elaboração própria, 2004.

651
A segunda matriz traz uma proposta de alternativas que visam ao atendimento da ques-
tão de conforto ambiental e eficiência energética, referentes às decisões arquitetônicas en-
contradas, para a obtenção de conforto ambiental para edificações de climatização mista –
clima tropical quente úmido, nas etapas do estudo preliminar e anteprojeto.

Quadro 2 - Matriz síntese contendo uma proposta de alternativas para edificações


de clima tropical quente úmido

(WDSDV  
'HFLV}HV (VWXGR3UHOLPLQDU $QWHSURMHWR
$UTXLWHW{QLFDV
• Destinar, quando da existência
de um muro divisório, uma
distância equivalente a duas alturas
do muro, permitindo o acesso aos
ventos incidentes na altura das
janelas das edificações, favorecendo • Definir projetualmente
a ventilação cruzada; as soluções encontradas
• Optar pela inclinação da para atender às exigências
,PSODQWDomR edificação de no máximo de conforto ambiental,
H(QWRUQR a 45oda direção principal do minimamente lumínica,
vento (barlavento) para o higrotérmica, acústica
melhor aproveitamento do mesmo; e qualidade do ar interior.
• Identificar as fontes de ruído
do entorno e as fontes que serão
criadas pelo próprio projeto
arquitetônico para a verificação
da implantação.
• Definir projetualmente
• Avaliar as fachadas mais expostas as soluções encontradas
à radiação e o dimensionamento, paraatender às exigências de
pelo estudo da insolação; conforto ambiental, minimamente
• Orientar as maiores fachadas lumínica, higrotérmica, acústica
9ROXPHWULD para o Norte e o Sul e as menores e qualidade do ar;
H)DFKDGD para o Leste e o Oeste; • Optar por materiais de
• Considerar planos para gerência revestimento externo com
de aproveitamento da iluminação coeficiente de absorção solar
natural com sombreamento da baixo, evitando a absorção da
radiação solar direta. carga térmica pelo envelope
construtivo.
• Aproveitar a vegetação existente como
barreiras naturais à incidência solar nas
edificações, proteção contra ventos, • Definir o partido paisagístico, com a
ruídos e luminosidade excessiva; finalidade de atender às exigências de
3DLVDJLVPR conforto ambiental analisadas
• Adotar o revestimento do solo com
grama ou outras vegetações, próximo à anteriormente.
edificação, a fim de reduzir a
temperatura do ar próximo às aberturas.
Fonte: Elaboração própria, 2004.

652
(WDSDV  
'HFLV}HV (VWXGR3UHOLPLQDU $QWHSURMHWR
$UTXLWHW{QLFDV
• Avaliar a orientação dos
compartimentos a partir dos
resultados do diagnóstico do • Adotar o tijolo para as paredes
entorno externo e da ocupação; externas, se possível de barro,
• Orientar os compartimentos de assentados deitados e revestidos
permanência prolongada para o Leste sempre em cor clara;
$UTXLWHWXUD ou para o Sul e os de permanência • Definir projetualmente as soluções
,QWHUQD transitória para a direção Oeste e Norte; encontradas para atender às
• Destinar a fachada voltada para a via exigências de conforto ambiental,
do tráfego aos espaços menos sensíveis minimamente lumínica, higrotérmica,
(acessos, circulações, escadas), acústica e qualidade do ar interior.
reservando a fachada protegida para os
ambientes sensíveis ao ruído (salas de
aula, escritório, enfermarias).
• Destinar uma adequada localização
• Complementar a luz natural com a
das aberturas das esquadrias para o
artificial, levando em conta os
aproveitamento da ventilação natural;
parâmetros de eficiência e custo;
$EHUWXUDSDUD • Confrontar os níveis requeridos nas
• Definir projetualmente as soluções
9HQWLODomRH tarefas com os valores de luminosidade
encontradas para atender às
,OXPLQDomR disponível no local;
exigências de conforto ambiental,
• Considerar o uso de prismas de minimamente lumínica, higrotérmica,
ventilação e iluminação quando da acústica e qualidade do ar interior.
impossibilidade de contemplar os
cômodos com abertura para o exterior.

• Optar pela cobertura tradicional de • Estabilizar a cobertura por meio de


várias águas; mecanismos para a obtenção do
conforto higrotérmico, como os
• Evitar a cobertura constituída de laje áticos e beirais.
&REHUWXUD de betume sem forro e a utilização de
telha de fibrocimento; • Definir projetualmente as soluções
encontradas para atender às
• Optar pelo caimento das telhas no exigências de conforto ambiental,
sentido NO – SE, para evitar o acúmulo minimamente lumínica, higrotérmica,
de ar quente sob o telhado. acústica e qualidade do ar interior.
• Confrontar os níveis requeridos nas
tarefas a serem desempenhadas com os • Escolha do sistema;
valores de luminosidade disponível no • Definir projetualmente as soluções
local; encontradas para atender às
,OXPLQDomR • Optar por componentes de melhor exigências de conforto ambiental,
$UWLILFLDO eficiência para o melhor desempenho do minimamente lumínica e
sistema de iluminação artificial; higrotérmica e de eficiência
• Considerar a conciliação com o energética.
sistema de condicionamento mecânico
do ar e projeto estrutural.
Fonte: Elaboração própria, 2004.

653
(WDSDV  
'HFLV}HV (VWXGR3UHOLPLQDU $QWHSURMHWR
$UTXLWHW{QLFDV
• Confrontar as necessidades de
conforto higrotérmico do ambiente com
a qualidade e quantidade de ventilação
natural disponível; • Escolha do sistema;
• Optar por sistemas de melhor • Definir projetualmente as
eficiência para o melhor desempenho
&RQGLFLRQDPHQWR do sistema de condicionamento
soluções encontradas para atender
0HFkQLFRGR$U mecânico do ar;
às exigências de conforto ambiental,
minimamente higrotérmica, acústica
• Considerar a conciliação com o e qualidade do ar e de eficiência
projeto do sistema de iluminação energética.
artificial e projeto estrutural.
• Destinar áreas adequadas em função
do equipamento escolhido.
• Optar por sistemas de melhor
eficiência para o melhor desempenho • Escolha do sistema;
dos sistemas de motores elétricos; • Definir projetualmente as soluções
• Destinar áreas adequadas em função encontradas para atender às
0RWRUHV(OpWULFRV do equipamento escolhido. exigências de conforto ambiental,
• Considerar o ruído emitido pelo minimamente acústica e de eficiência
equipamento escolhido para atender as energética.
exigências de conforto ambiental,
minimamente acústica.
• Optar por sistemas de melhor
• Escolha do sistema;
eficiência para o melhor desempenho do
$OWHUQDWLYDV sistema de alternativas tecnológicas; • Definir projetualmente as soluções
7HFQROyJLFDV • Destinar áreas adequadas em função
encontradas para atender às
exigências de eficiência energética.
do equipamento escolhido.
Fonte: Elaboração própria, 2004.

CONCLUSÃO
Segundo o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL –
da ELETROBRÁS (PROCEL, 2003), estima-se que o setor de Prédios Públicos das
três esferas de Governo – Federal, Estadual e Municipal – consomem em torno de
3,2% de toda a energia elétrica consumida pelo país. Considerando-se que o consumo
do país é da ordem de 300 bilhões de kWh por ano (1998), o consumo dos prédios
públicos se apresenta em torno de 9,6 bilhões de kWh por ano.
Os estudos do PROCEL indicam que o sistema de ar-condicionado em prédios
públicos representa cerca de 48% do consumo de energia elétrico, seguido do sistema
de iluminação, equipamentos de escritório, elevadores e bombas (PROCEL, 2002).
Isto torna a sua aplicação mais criteriosa, tanto no consumo de energia elétrica, quanto
em termos de dispêndio financeiro na sua implantação e manutenção.
Nos últimos anos a normalização da eficiência energética em edificações vem se intensi-
ficando, e brevemente o tema contará com resultados expressivos, por meio das várias
iniciativas em desenvolvimento, entre elas as ações do Programa de Eficiência Energética
em Edificações, lançado em setembro de 2003, no âmbito do PROCEL da ELETROBRÁS.
Entre estas ações destacam-se a execução de células de demonstração em conforto ambiental
654
e eficiência energética no ambiente construído, determinação de indicadores referenciais
para diversos tipos de edificações públicas e comerciais e índices mínimos de eficiência
energética para os usos finais da energia nas edificações – certificação.
Constatou-se, ao longo dos estudos, que a garantia do conforto ambiental e a eficiência
energética em edificações, principalmente em prédios públicos, é um exercício complexo,
mas ao mesmo tempo fascinante. O desafio está presente em cada município brasileiro,
onde as diferenças e particularidades climáticas, costumes, condições socioeconômicas e
tipologias de materiais influenciam a concepção e a reforma dos próprios municipais.
A incorporação do tema eficiência energética na administração pública, estimulada a
partir da década de 1990, vem mostrando que é uma importante ferramenta para a redu-
ção do consumo de energia elétrica nos usos finais. Entretanto, para a prática desta iniciativa
em prédios públicos são necessárias à sensibilização dos administradores para a implanta-
ção de um programa permanente de conscientização dos usuários e a revisão dos instru-
mentos de edificações – código de obras e edificações e o caderno de encargos para
edificações –, que não consideram, em sua maioria, o uso eficiente da energia elétrica.
Instrumento de pesquisa, o caderno de encargos, utilizado tradicionalmente na etapa de
execução de edificações possibilita aos contratantes (públicos e privados) a determinação
de inserção das questões de conforto ambiental e eficiência energética – CAEE – durante
a elaboração do projeto arquitetônico – etapas do estudo preliminar e anteprojeto. Os
estudos realizados possibilitaram a constatação de que durante a elaboração do projeto
arquitetônico, essencialmente nas etapas mencionadas, as grandes definições ocorrem e podem
ainda ser facilmente modificadas, otimizando a adequação da edificação construída ao
conforto e à eficiência do ponto de vista energético que serão posteriormente consolida-
dos no projeto básico. Além disso, por possuir caráter regulamentar, o caderno de encar-
gos municipal pode determinar a obrigatoriedade do cumprimento das questões de CAEE
em prédios públicos e privados.
A elaboração das matrizes sínteses apresentadas foi realizada com o intuito de apoiar as decisões
arquitetônicas pertinentes à elaboração do projeto e servir como proposta para discussão.
Considerando os resultados da pesquisa e o modelo apresentado pela Prefeitura da Cidade
do Rio de Janeiro (RJ), que no seu contexto não se esgotou no assunto, será dada continui-
dade aos estudos, a fim de se aplicar estas identificações na estrutura disponibilizada pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT –, com o propósito de se desenvolver
um modelo de diretrizes de orientação para a elaboração do projeto arquitetônico, incor-
porando o projeto básico que reúne o detalhamento técnico necessário à construção das
soluções referendadas na etapa de anteprojeto e/ou pré-execução.

BIBLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO BRASILERIA DE NORMAS TÉCNICAS, Elaboração de caderno de encargos para execução de
projetos. NBR 12219 – CB-02. Rio de Janeiro, 1992.
_____.Elaboração de projetos de edificações – atividades técnicas. NBR 13531 – CB 02. Rio de Janeiro, 1995.
_____. Iluminâncias de interiores. NBR – 05413 – CB-03, NB 00057. Rio de Janeiro, 1991.
BARROSO-KRAUSE, C. “La climatisation naturelle: modélisation des objets architecturaux, aide à la conception en
climat tropical”, Thesis (D.Sc.), Centre D’Énergétique, École Nationale Supérieure des Mines de Paris. Paris, 1995.
GIVONI, B. Man, climate and architecture. 2. ed. Applied Science Publisher Ltda. 1976.
PROCEL. Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Rio de Janeiro, ELETROBRÁS, 2003. Apresenta
informações sobre o uso eficiente de energia elétrica em determinados segmentos, como iluminação pública,
prédios públicos e saneamento. Disponível em: <http://www.eletrobras.com/procel>. Acesso em: jan. a jul. 2003.

655
REÚSO DE ÁGUA NO SETOR
SANEAMENTO: UMA POSSÍVEL
CONTRIBUIÇÃO PARA REDUÇÃO
DO CONSUMO DE ENERGIA

Viriatus de Albuquerque
Alessandra Magrini
Alexandre Salem Szklo

RESUMO
O setor de saneamento é responsável pelo consumo anual de, aproximadamente, 7 TWh,
ou cerca de 2,3% do total de energia consumida no Brasil. Somente a Companhia de Sanea-
mento do Estado de São Paulo (SABESP) é responsável pelo consumo anual de 1,8 TWh, e
a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro.(CEDAE) por 1,0 TWh. O
gasto com a energia elétrica é, normalmente, o segundo item no custo operacional das em-
presas de saneamento. Contudo, essa despesa pode ser reduzida, através da adoção de ações
administrativas e operacionais tanto no lado do consumo quanto da oferta de água tratada.
Este trabalho analisa a alternativa de uso racional de água, mediante a aplicação de técnicas de
reuso. Estas técnicas também reduzem a escassez de água e a poluição dos corpos hídricos,
através da disponibilização de volumes adicionais e do aproveitamento das descargas sanitá-
rias, minorando a demanda por água. Através de um estudo de caso para um projeto de uma
estação de condicionamento de reuso, conclui-se que a tarifa média para água e esgoto prati-
cada no Brasil desestimula qualquer iniciativa no sentido de promover a racionalização do uso
de água. O baixo valor econômico atribuído à água contribui, sobremaneira, para a cultura
do desperdício e para a prática ambiental insustentável.
Palavras-chaves
Reuso de água, saneamento no Brasil, eficiência energética

1. INTRODUÇÃO
Aproximadamente 1,1 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso à água de qualidade
e cerca de 2,4 bilhões não têm serviço de esgotamento sanitário. Como conseqüência 2,2
milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, a maioria crianças, morrem todos os
656
anos em função da falta de condições sanitárias e higiênicas adequadas (WHO/UNICEF,
2000). A projeção do aumento populacional em centros urbanos sugere que os serviços
urbanos estarão diante de grandes desafios nas próximas décadas, para enfrentar as neces-
sidades do rápido crescimento. Ao mesmo tempo, as áreas rurais terão uma gigantesca
tarefa para eliminar a existente lacuna nos serviços de saneamento.
Acesso ao suprimento de água potável e saneamento é uma necessidade fundamental e
um direito humano. Na Agenda 21, o Water Supply and Sanitation Collaboration Council
(WSSCC) considerou as metas de redução à metade do número de pessoas sem acesso a
água potável e saneamento em 2015, e de redução integral em 2025. Para alcançar esta meta
na África, Ásia, América Latina e no Caribe, 2,2 bilhões de pessoas necessitarão de sanea-
mento e 1,5 bilhão de água potável na ocasião. (WHO/UNEP, 1997).
A água é um recurso renovável, perfazendo um ciclo natural. A água reciclada por sistema
natural é uma fonte segura e limpa, que é deteriorada por diferentes níveis de poluição, dependen-
do de como e quanto é utilizada. Uma vez usada, a água pode ser recuperada e aproveitada para
diferentes propósitos. Para essa prática é dado o nome de reúso da água, que possui a seguinte
definição: “É o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma
atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode
ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou não planejadas”. (Lavrador,
1987). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1973), tem-se:
l Reúso Direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas finalidades
como irrigação, uso industrial, recarga aqüífera e água potável
l Reúso Indireto: ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para uso doméstico
ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e utilizada novamente
a jusante de forma diluída
l Reciclagem Interna: é o reúso da água internamente às instalações industriais, tendo como
objetivo a economia da água e o controle da poluição
O reúso também pode ser diferenciado em intencional ou não intencional
l Reúso Intencional: também chamado de reuso planejado. Ocorre quando o reúso é resul-
tado de uma ação consciente. Pressupõe a existência de um sistema de tratamento de
efluentes que atenda aos padrões de qualidade requeridos pelo novo uso que se deseja fazer
da água. O reúso intencional também pode ser denominado de reúso planejado da água
l Reúso Não Intencional: ocorre quando a água, já utilizada uma ou mais vezes em alguma
atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, de
maneira não intencional e não controlada.
Finalmente, a água de reúso também pode ser classificada em potável ou não potável:
l Reúso Potável: quando tem como finalidade o abastecimento humano;
l Reúso Não Potável: para usos diversos, que não tem como objetivo o sistema de abaste-
cimento de água potável.
Finalmente, para o caso específico do Brasil, impende notar que 91,7% da população
brasileira é atendida com abastecimento d’água. Contudo, a cobertura de coleta de esgoto
657
é de apenas 50,4%, sendo que tão-somente 27,3% do esgoto gerado é coletado e tratado.
(SNIS, 2002). Ademais, o gasto com a energia elétrica é, normalmente, o segundo item no
custo operacional das empresas de saneamento brasileiras, podendo ser reduzido através
de ações tanto no lado do consumo como também da oferta de água (Tsutiya, 2001):
l Ações administrativas: correção da classe de faturamento; Regularização da demanda
contratada; alteração da estrutura tarifária; desativação das instalações sem utIlização;
acompanhamento e análise do consumo de energia.
l Ações operacionais: correção do fator de potência; melhoria no rendimento de conjun-
tos motor-bomba; redução das perdas de carga nas tubulações; melhoria do fator de
carga das instalações; redução do índice de perdas de água; uso racional da água / reúso;
alteração no sistema de bombeamento-reservação; utilização de inversor de freqüência;
alteração nos procedimentos operacionais de Estações de Tratamento de Água (ETAs);
automação no sistema de abastecimento; aproveitamento de potenciais energéticos.
Assim, este trabalho abrangeu a alternativa de uso racional de água para redução do custo
de energia elétrica no setor saneamento, mediante a aplicação de técnicas de reuso.1 De fato,
estas técnicas, além de contribuírem para solução da escassez da água e da poluição dos
corpos hídricos, possibilitam a redução do consumo de energia elétrica no setor de sanea-
mento, devido à diminuição da demanda por água. O abatimento do volume de água neces-
sário para o abastecimento implica em uma menor capacidade de bombeamento, represen-
tando relevante potencial na busca da eficiência energética nas empresas de saneamento, con-
siderando que as estações elevatórias de água contribuem com cerca de 90% do custo total
com eletricidade.
A próxima seção deste artigo analisa o reuso de água para fins domésticos. A terceira
seção, por sua vez, discute os riscos sanitários envolvidos no reuso de água doméstica e
analisa a regulamentação do reuso de água no Brasil. A quarta seção realiza um estudo de
caso, objetivando estimar os custos nivelados de um projeto de estações de tratamento de
água para reuso. O custo é calculado para o Brasil, a Alemanha, a França e o Reino Unido.
Finalmente, aúltima seção contém as conclusões do artigo.
2. REÚSO NÃO POTÁVEL PARA FINS DOMÉSTICOS
Aplicam-se as técnicas de reúso para as seguintes finalidades: descargas sanitárias, irrigação de
jardins, usos em grandes edifícios para reserva contra incêndio, resfriamento de equipamentos
de ar condicionado e lavagem de pátios e garagens. A distribuição da água de reúso pode ser
realizada através de caminhão pipa ou por meio de uma rede de distribuição, denominada de
sistema duplo – i.e., uma rede para água potável e outra para água de reúso. No sistema de
distribuição de água de reúso, a rede deve ser devidamente sinalizada de modo a evitar o seu uso
inadvertidamente. O ciclo da água nos centros urbanos com boa infra-estrutura de saneamento
básico inicia-se com a captação de água em um manancial, seguido do tratamento que eleva o
patamar da qualidade de água captada a um nível adequado para o consumo humano. A água
tratada é distribuída através da rede de distribuição para um vasto leque de consumidores, que
incluem clientes residenciais, comerciais, industriais e órgãos públicos.
1
Por sua vez, outro artigo apresentado ao X Congresso Brasileiro de Energia enfatiza o lado da oferta de água, através
da geração localizada de energia elétrica.

658
Entretanto, apesar de tratada em “nível de alimento”, somente uma pequena fração do
volume total da água potável distribuída é utilizada efetivamente para este fim pelos usuários.
Por exemplo, o usuário residencial que, entre todos os consumidores, é o que provavelmente,
destina a maior fração de seu consumo de água para uso relacionado à alimentação, utiliza
cerca de 7% do volume total de água consumida para esse fim.

Tabela 1 - Categorias de consumo de água doméstico e nível de qualidade de água

8VR  4XDOLGDGH
Bebida 1 potável
Preparo de alimentos 6 potável
Lavagem de utensílios de cozinha 10 quase potável
Lavagem de roupas 12 quase potável
Bacia sanitária 39 não potável
Banho 20 quase potável
Outros usos domésticos 6 quase potável
Lavagem de carro/rega de jardim, outros 6 não potável
Fonte: Cieau, 2000 a: classificação de McCormick.

Após o seu uso em diversos fins, a função da água muda e ela se torna um meio de
transporte, para carregar, por exemplo, resíduos orgânicos de origem humana, para as
estações de tratamento de esgotos. Cerca de 80% da água potável distribuída, retorna ao
sistema na forma de água servida (Hermanowicz & Asano, 1999). Os esgotos tratados se
transformam em efluentes que são lançados nos corpos receptores (lagos, rios, córregos).
A qualidade destes efluentes geralmente é inferior à qualidade da água captada originalmen-
te nos mananciais de água potável. Tubulações de distribuição de água e coleta de esgoto,
que não agregam valor ao produto, representam entre 60% e 80% do capital investido no
sistema (Van der Kooij et al., 1999; Le Chevalier, 1999). Na forma convencional de opera-
ção, o sistema de tratamento de esgotos não produz nenhum retorno econômico (pelo
menos, sob a forma de benefícios privados), mas onera a empresa de saneamento básico
com altíssimos custos de investimento e operação.
Porém, a implementação de uma política racional de reúso de água em centros urbanos
esbarra na lógica do setor de saneamento básico moderno: a transformação da totalidade
do volume de água captada em água potável, sendo que a maior parte da água é utilizada
para fins que poderiam ser perfeitamente atendidos por água de qualidade inferior, incluin-
do as funções pouco nobres como transporte de fezes, urina e outros resíduos.
Assim, o potencial de reutilização de água em centros urbanos é muito grande. Pratica-
mente, toda a água não utilizada diretamente para consumo humano, cerca de 93% do
total, poderia ser produzida a partir da reciclagem de águas servidas, o que traria benefícios
ambientais para as comunidades localizadas nas bacias hidrográficas, que servem os gran-
des centros urbanos do Brasil, e reduziria muito o custo de operação e manutenção do
sistema de captação, tratamento e distribuição de água.
659
Um exemplo de potencial de reúso, em centros urbanos, é a separação das descargas
sanitárias, que são abastecidas através de água recuperada de pias, chuveiros e lavadoras
(greywater). No quadro de categoria de consumo apresentado anteriormente, a soma do
percentual de água com qualidade quase potável é de 48%, que é superior ao total da água
com qualidade não potável, que é de 45 %, ou seja, toda a água para uso não potável pode
ter como fonte a água recuperada de usos quase potáveis.
Em resumo, os benefícios da implementação da prática de reúso em centros urbanos
incluem a redução do custo de operação e manutenção do sistema de abastecimento d’água;
o aumento da disponibilidade de água potável; a possibilidade de atender áreas remotas ou
novas; a redução do investimento necessário para distribuição de água e coleta de esgoto
para novos projetos; a redução de lançamentos de efluentes; e a possibilidade de reciclagem
de nutrientes, material orgânico, que pode ser empregado no condicionamento do solo,
reduzindo o uso de fertilizantes.
Contudo, os principais entraves que dificultam a implementação de estratégias globais para
reúso de águas servidas em centros urbanos são a falta de conhecimento por parte da popu-
lação sobre os padrões mínimos de qualidade, por tipo de uso; a falta de estabelecimento por
parte das autoridades responsáveis de padrões de qualidade de água; o próprio sistema de
distribuição de água e coleta de esgoto existente, que não prevê a produção e distribuição de
água de reúso; o alto custo de investimento; as barreiras psicológicas para reúso de águas
contaminadas com fezes e urina humana; e a resistência por parte de funcionários de empre-
sas de saneamento básico para adoção de tecnologias novas e desconhecidas.
O maior desafio na reutilização de águas servidas contaminadas com esgoto doméstico
é garantir a sua qualidade microbiológica e química. O esgoto doméstico contém uma
grande variedade de patógenos humanos (vírus, bactérias, protozoários, helmintos etc),
além de poluentes químicos, orgânicos e inorgânicos, oriundos de atividades domésticas
(detergentes, pesticidas, inseticidas, medicamentos, desinfetantes, solventes etc) e industriais
(metais pesados, hidrocarbonetos, organoclorados etc).
Assim, a estratégia para desenvolvimento do mercado de água de reúso deve estear-se
em uma análise detalhada da qualidade dos efluentes disponíveis e dos parâmetros de
qualidade exigidos pelos diferentes segmentos do mercado, que inclui a identificação e
quantificação dos mercados para a água de reúso; a disponibilidade de volumes suficientes
de águas servidas para atender o mercado de água de reuso e a definição do nível de
qualidade de água adequado para cada nicho do mercado, a um preço competitivo.
Em princípio, a água de reúso de melhor qualidade deve ser comercializada a um preço
mais alto, mas inferior ao da água potável. O volume do mercado de água de reúso au-
menta com a melhora de sua qualidade, pois mercados que demandam água de baixa
qualidade sempre podem ser supridos com água de qualidade superior.
A implementação de um sistema de distribuição de água de reúso é mais complexa e
mais onerosa em áreas urbanas, devido à necessidade de implantar um sistema separado de
distribuição, para tipos diferentes de infraestruturas urbanas (canalização de água potável e
esgoto, redes de distribuição de gás e de fibras óticas etc). A dificuldade de implementar
soluções paralelas para a incorporação de água reciclada não existe em construções novas,
onde redes separadas de água potável e água reciclada podem ser incorporadas ao projeto
desde o início, com um pequeno aumento no custo de construção.

660
3. RISCOS SANITÁRIOS, DIRETRIZES E NORMAS
O risco envolvido na técnica de reúso está associado à probabilidade da presença
de microorganismos patogênicos e metais pesado nas águas servidas. Geralmente, o
risco é maior à medida que aumenta a modalidade de reuso: o risco é menor quando
se utiliza o reúso não potável indireto e aumenta quando se adota o reúso não potá-
vel direto. O risco também aumenta, relativamente às modalidades anteriores, quan-
do há o reúso potável indireto, e, por fim, o reúso potável direto é o que oferece o
maior risco. As possíveis formas de contato para os usuários são a ingestão por
inalação de aerossóis, por exemplo em descargas sanitárias, ou o contato direto com
água de reúso através da pele.
Assim, torna-se necessário delimitar diretrizes para o reuso de água em centros urbanos. A
tabela abaixo mostra algumas recomendações existentes nos Estados Unidos a este respeito.

Tabela 2 - Diretrizes recomendadas pela EPA para reúso urbano

1tYHOWUDWDPHQWR 4XDOLGDGHGD 0RQLWRUDPHQWR


iJXDUHFXSHUDGD
PH = 6 a 9 PH = semanal
DBO5 ≤ 10 mg/l DBO5 = semanal
Secundário + Filtração +
Turb. ≤ 2 NTU Turb. = contínuo
Desinfecção
E. coli = 0 E. coli = diário
Cl2 Res. ≥ 1 mg/l Cl2 Res. = contínuo
Fonte: U. S. EPA, 1992

O Brasil, por sua vez, não tem uma legislação específica, que disciplina o reuso de
água. No entanto, a Constituição Federal de 1998 e a instituição da Política Nacional de
Recursos Hídricos, através da Lei 9433 de 8 de janeiro de 1997, ao promoverem os
fundamentos da gestão de recursos hídricos, criaram condições jurídicas e econômicas
para o reúso de água como forma de utilização racional e de preservação nacional.
Internacionalmente, existe a norma da Organização Mundial da Saúde (OMS) de
1998, que é mais voltada para o reúso agrícola, com critérios de qualidade mais volta-
dos ao controle de parasitas do que coliformes. Alguns países industrializados a consi-
deram não exigente o suficiente, porém. A França possui uma norma de 1991, que é
similar a da OMS. Os Estados Unidos possuem a regulamentação da US-EPA de
1992, que é direcionada para a prática de reúso em áreas urbanas. Adicionalmente, no
estado da Califórnia, padrões e níveis de tratamento são especificados na regulamenta-
ção Title 22 de 1978, revisada em 1993, sendo mais exigente que a US-EPA. Esta
norma possui critérios específicos para reúso indireto planejado e serviu de inspiração
para países como Israel e Arábia Saudita. Porém, os critérios estabelecidos na Title 22
são considerados muito exigentes pelos países em desenvolvimento. Outro estado
americano, que possui posição de destaque na regulamentação do reúso é a Flórida,
com um código de 1989, que disciplina o reúso indireto de água recuperada e sua
aplicação no terreno. Este código foi revisado em 1996. (Mancuso, 2003).

661
Tabela 3 - Critérios de qualidade de água de reúso para fins urbanos e domésticos
3DUkPHWUR /LPLWH
Patógenos Ausentes
Cloretos ≤ 600 mg/l (1)
Cloro residual 0,5 mg/l (2)
Cor aparente ≤ 15 UC
Odor ausente
Turbidez ≤ 5,0 NTU
PH 6,5 a 8,3 mg/l
Oxigênio dissolvido condições aeróbias (3)
DQO ≤ 60 mg/l (3)
Agentes tenso ativos 0,2 mg/l
Sólidos totais em suspensão ≤ 5,0 mg/l
Sólidos sedimentáveis ausentes
Matérias flutuantes e espuma ausentes
Óleos e graxas ausentes
Coliformes totais ≤ 2,2/100 ml
Coliformes fecais ausentes
Nematodos instentinais ≤ 1 ovo/l (4)
(1) Concentração não prejudicial às plantas sensíveis ao cloreto; (2) Concentração medida na ponta da rede de distribuição;
(3) Não restritivo para essa modalidade de reúso; (4) Em toda amostra analisada. Fonte: WERF, 1994 e U. S. EPA, 1992

Em resumo, as normas sobre a qualidade de água de reúso produzida a partir do


tratamento de águas servidas ainda estão sendo desenvolvidas e aprimoradas. O objetivo
principal destas normas é minimizar o risco para a saúde dos usuários. É possível que os
padrões de qualidade de água quase potável sejam expandidos, no futuro próximo, com
padrões de qualidade químicos semelhantes aos utilizados na água potável, para todas as
aplicações em áreas urbanas, com risco de contato direto entre pessoas e a água reciclada.
Por exemplo, existem propostas nos Estados Unidos de padrões de qualidade mais seve-
ros para água de reúso potável indireto, do que os estipulados para a água potável (Crook
et al, 1999). Isto implica em exigir-se que a qualidade de água de reúso lançada em reserva-
tórios naturais de água potável seja superior à da água potável distribuída pelas empresas de
saneamento e também superior à da água dos reservatórios.
4. ESTUDO DE CASO
Esta seção estima o custo nivelado do projeto de uma estação de condicionamento de
reúso (ECR), no caso de o empreendedor desejar construir uma unidade de reúso urbano
para fins não potáveis para 44 l/s. O custo é calculado para o Brasil, a Alemanha, a França
e o Reino Unido, considerando-se a economia obtida com a redução de consumo de água
e geração de esgotos, em função da tarifa praticada por esses países.
Para essa análise as seguintes considerações foram realizadas:
l Vida útil do projeto = 20 anos;
l TIR = 10% a.a;
l Vazão anual (1000 m3) = 1387,6;
l Custo de construção = US$ 6.900.000 (a); Custo anual amortização = US$ 810.405;
Custo anual de operação e manutenção = US$ 350.000 (a); Custo anual total = US$
662
1.160.405; Custo vida útil (Custo anual amortização+Custo anual operação e manuten-
ção)/Vazão anual = US$ 0,836/m3
Os dados de custo nivelado, utilizados nesta simulação, seguem os custos apresentados
por Richards (1998) para investimento, operação e manutenção de 12 tipos de estações de
condicionamento de reuso nos Estados Unidos, considerando-se uma vida útil de 20 anos
e uma taxa de retorno do investimento de 10% a.a (vide tabela abaixo).

Tabela 4 - Investimento, Operação e Manutenção de estações


de condicionamento de reuso nos Estados Unidos

&XVWRVQLYHODGR86 MXQ P


3URFHVVRGH7UDWDPHQWR
OV OV OV
1. Tratamento primário
Custo de construção 250 91 65
Custo de operação e manutenção 109 78 70
Total 359 169 135
2. Lodo ativado convencional
Custo de construção 522 246 212
Custo de operação e manutenção 196 136 125
Total 718 382 337
3. Lodo ativado com biofiltro
Custo de construção 557 259 223
Custo de operação e manutenção 221 155 145
Total 778 414 368
4. Aeração prolongada
Custo de construção 486 226 212
Custo de operação e manutenção 218 149 142
Total 704 375 354
5. Tratamento secundário + Título 22
Custo de construção 718 315 301
Custo de operação e manutenção 377 285 277
Total 1095 600 578
6. Tratamento secundário + filtração direta
Custo de construção 589 268 256
Custo de operação e manutenção 255 174 167
Total 844 442 423
7. Tratamento 2ário + filtração por contato
Custo de construção 602 284 264
Custo de operação e manutenção 251 174 166
Total 853 458 430
(a) Fonte: SNIS, 2002 – R$ 1,25/m3 – Cotação Set/03 = 3,025 R$/US$; (b) Fonte: UNESCO, 2003

663
8. Tratamento 2ário + filtração por contato +
remoção fósforo
Custo de construção 606 310 294
Custo de operação e manutenção 482 396 388
Total 1088 706 682
9. Processo Bardenpho (desnitrificação)
Custo de construção 650 356 327
Custo de operação e manutenção 198 145 147
Total 848 501 474
10. Tratamento 2ário + filtração por contato +
adsorção carvão
Custo de construção 773 437 429
Custo de operação e manutenção 593 495 486
Total 1366 932 915
11. Tratamento 2ário + filtração contato +
adsorção + osmose
Custo de construção 1147 747 718
Custo de operação e manutenção 899 721 696
Total 2046 1468 1414
12. Tratamento secundário + calagem + CO2 +
osmose reversa
Custo de construção 1032 604 559
Custo de operação e manutenção 766 614 589
Total 1798 1218 1148
(a) Fonte: SNIS, 2002 – R$ 1,25/m3 – Cotação Set/03 = 3,025 R$/US$; (b) Fonte: UNESCO, 2003

Assim, a tarifa média para água e esgoto praticada no Brasil desestimula qualquer inicia-
tiva no sentido de promover a racionalização do uso de água. O baixo valor econômico
atribuído à água contribui, sobremaneira, para a cultura do desperdício e para a prática
ambiental insustentável. Evidentemente que independente do tipo de gestão pública ou
privada é necessário à implementação imediata de uma política de saneamento e o alinha-
mento das tarifas cobradas de modo a internalizar os custo ambientais. De fato, a cobrança
pelo uso da água instituída pela Lei 9.433/1997 poderá mudar este quadro.
5. CONCLUSÕES
O crescimento populacional acelerado e a poluição estão afetando as reservas mundiais
de água, vitais para o consumo humano e para o desenvolvimento, suscitando a preocupa-
ção com a racionalização do uso da água. Torna-se necessário estabelecer mecanismos para
institucionalizar, regulamentar e incentivar a prática de reúso, que é uma das alternativas no
sentido do uso racional da água.
Atualmente, nenhuma forma de ordenação política, institucional e legal orienta as ativi-
dades de reúso praticadas no país. Os projetos existentes são desvinculados de programas
de controle de poluição e de uma gestão integrada de recursos hídricos, sem observarem
uma salvaguarda necessária para a preservação ambiental e proteção da saúde pública dos
grupos de riscos envolvidos.
664
Os elementos básicos para a promoção e regulamentação da prática sustentável de reúso
no Brasil poderiam ser efetuados através de:
l o estabelecimento de um arcabouço legal, incluindo diretrizes, padrões e códigos de prática;

l a implementação uma política de reúso, definindo metas, modalidades, e áreas prioritárias;


l a definição de critérios de tratamento e proposição de tecnologias adequadas às condições
regionais;
l a organização de programas para informação e educação ambiental e participação pública;
l a realização de estudos para avaliação econômica e financeira de programas e projetos;
l o incentivo a sistemas de tratamento para reúso nas dependências do cliente (condomínios,
shoppings e residências);
l a análise da viabilidade de produção e distribuição de água de reúso descentralizada.
Como existe pouca experiência em reúso planejado e institucionalizado, é necessário
implementar projetos pilotos, que devem cobrir todos os aspectos das diversas modalida-
des de reúso, e deverão fornecer subsídios para o desenvolvimento de padrões e códigos,
adaptados às condições e características brasileiras.

BIBLIOGRAFIA
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development; WHO/CEHA, 2001
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ENR – Engineering News Record McGraw-Hill Construction. Disponível em: <www.enr.construction.com> Acessado
em 15 Setembro 2003
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Racionalização do uso e redução dos gastos. Revista Saneas nª 9, 1996
Hermanowicz, S W & Asano: The metabolism of cities, revised a case for water recycling and reuse. Wat. Sci. Tech., 1999
Lavrador Filho, J. Contribuição para o entendimento do reúso planejado da água e algumas considerações sobre suas
possibilidades no Brasil; Dissertação de Mestrado: Escola Politécnica de São Paulo. SP 1987
Le Chevalier, M W: The case for maintaining a disinfectant residual. AWWA, 1999
Mancuso, Pedro C. Sanches; Santos, Hilton F.: Reúso de Água. SP, 2003
McCormick, A B: Economic reuse of municipal wastewater in an urban environment, 1999
Reheis, H. F.; Griffin, M. K.: Energy cost reduction through operacional practices. AWWA. Texas, 1984
Richard, D: “The cost of wastewater reclamation and reuse, 1998”. In Asano, T. (Ed.) Wastewater Reclamation and
Reuse. Lancaster, Technomic Publishing Co. Inc., 1998
SNIS - Sistema Nacional de Informações no Setor de Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos. 2002.
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Van der Kooj, D; Van Lieverloo; Schellart; Hiemstra: Maintainig quality without a disinfectant residual. AWWA,1999
WERF: Assessment Report, Water Reuse. Water Environment Research Foundation. USA, 1994
WHO – World Health Organization. Reuse of Effluents: Methods of Wastewater Treatment and Health Safeguards.
WHO meeting of experts. Technical report series n. 517. Genebra, 1973
WHO/UNEP: Water Pollution Control – A guide to the use of water quality, 1997;
WHO/UNICEF: Global Water Supply and Sanitation Assessment 2000 Report.

665
AVANÇOS E BARREIRAS PARA
IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS DE
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA EM SISTEMAS
DE ILUMINAÇÃO. ESTUDO DE CASO PARA
LUMINÁRIAS DE APLICAÇÃO COMERCIAL

Juliana Iwashita1
Marco Antonio Saidel2

1 - RESUMO
A iluminação é o terceiro maior uso final de energia elétrica e possui elevado poten-
cial de conservação de energia, devido à adoção e utilização de diversos equipamentos
e projetos energeticamente ineficientes. A iniciativa do PROCEL na etiquetagem de
lâmpadas e reatores é um primeiro passo para seleção dos produtos mais eficientes,
entretanto observa-se um longo caminho a ser percorrido para adequação dos equipa-
mentos de iluminação à Lei de Eficiência Energética.
Embora se verifiquem constantes evoluções nas tecnologias de equipamentos, ainda
existe no mercado nacional de iluminação, uma grande carência de informações técni-
cas e de meios para seleção dos equipamentos mais eficientes energeticamente.
Este trabalho aborda as questões relativas à eficiência energética de equipamentos
de iluminação, mais especificamente aquelas relacionadas às luminárias comerciais para
lâmpadas fluorescentes tubulares. Ele analisa a influência do tipo de luminária em pro-
jetos luminotécnicos e conseqüentemente no consumo de energia. Os cinco principais
tipos de luminárias embutidas para duas lâmpadas fluorescentes tubulares de 32W são
analisados sob a ótica da eficiência energética, comparando-se rendimentos declarados
pelos fabricantes e rendimentos medidos em ensaios fotométricos realizados pelo
GEPEA com a colaboração do Laboratório de Fotometria do IEE-USP.

1
Arquiteta, mestranda em Engenharia Elétrica pela EPUSP e pesquisadora do GEPEA
2
Professor Doutor do Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação
Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
GEPEA – Av. Prof. Luciano Gualberto, 158, sala A1-45 - CEP 05508-900 – Cidade Universitária – São Paulo –
SP E-mail: juliana@pea.usp.br

666
2 - INTRODUÇÃO
O uso final iluminação representa cerca de 17% da matriz de energia elétrica brasileira,
sendo mais significativo nos setores comercial e residencial, onde representa cerca de 44%
e 23% do consumo desagregado respectivamente. [1]
Analisando o uso da energia nestes setores, nota-se a existência de significativo potencial
para economia de energia, uma vez que se verifica o uso intenso de equipamentos ineficientes.
A comparação técnica-econômica de soluções luminotécnicas abrangendo a eficiência
energética e a vida útil dos sistemas, muitas vezes são desconsideradas, optando-se por
soluções com menores investimentos iniciais, ou seja, soluções de baixos custos iniciais,
porém, muitas vezes, com alto custo de operação.
Visto a representatividade do uso final iluminação e a existência de significativos poten-
ciais de economia de energia, destaca-se a importância e a necessidade crescente de políticas
de incentivo ao uso e à fabricação de equipamentos eficientes no Brasil.
Algumas medidas estão sendo implementadas pelo governo e vem acarretando mudan-
ças positivas no mercado nacional. Dentre elas pode-se destacar: o Selo PROCEL
INMETRO de Desempenho em Iluminação; a certificação compulsória de reatores ele-
trônicos pelo INMETRO e incentivos fiscais para compra de lâmpadas fluorescentes com-
pactas e vapor de sódio a alta pressão.
O PROCEL vem desenvolvendo programas de etiquetagens de equipamentos de ilu-
minação, conjuntamente com o INMETRO, denominados Selo PROCEL INMETRO de
Desempenho em Iluminação. Este Selo tem sido concedido anualmente desde novembro
de 1998 e destina-se a destacar os produtos ou equipamentos, nacionais ou estrangeiros,
que contribuam para o combate ao desperdício de energia elétrica e que apresentem carac-
terísticas de eficiência e qualidade conforme padrões estabelecidos pelo PROCEL. [2].
A finalidade deste programa é estimular a fabricação nacional de produtos eletroeletrônicos
mais eficientes, e orientar o consumidor, no ato da compra, a adquirir equipamentos que
apresentam melhores níveis de eficiência energética. Tais níveis são estabelecidos para lâmpa-
das fluorescentes compactas e circulares integradas e não integradas, reatores eletromagnéti-
cos para lâmpadas fluorescentes tubulares e a vapor de sódio de alta pressão. [2]
Outra importante medida de incentivo à fabricação de equipamentos eficientes é a
certificação compulsória de reatores eletrônicos pelo INMETRO. Esta medida tem como
objetivo principal assegurar que os produtos comercializados no mercado brasileiro este-
jam em conformidade com os requisitos de segurança e desempenho exigidos pelas nor-
mas NBR 14.417/1999 e NBR 14.418/1999, respectivamente. Com base na Portaria
INMETRO nº. 27, desde 01 de novembro de 2003, todos os reatores eletrônicos com
baixo e alto fator de potência comercializados devem ser certificados. [3]
A Portaria exige que reatores eletrônicos para potências acima de 60W (2 x 32W, 2 x 40 W,
2 x 58W, 1 x 65 W , 2 x 65 W, 1 x 85 W, 2 x 85W, 1 x 110 W e 2 x 110 W) tenham
obrigatoriamente alto fator de potência, maior ou igual a 0,92. A certificação exige ainda que
as harmônicas de corrente estejam em conformidade com a IEC 61000-3-2 e sua emenda
n°2 [4]. Isto é, deverão ter distorções harmônicas totais inferiores a 32%. Isto visa garantir
qualidade da energia elétrica e eficiência energética principalmente de grandes instalações.
667
Acredita-se que o efeito desta medida tenha sido muito positivo, uma vez que acarretou
ao mercado de iluminação a descontinuidade ou a alteração de projetos de muitos reatores
para atender às normas. Desta forma, a certificação obrigatória de reatores criou um pre-
cedente importante para elaboração de novas políticas de incentivo ao uso e à fabricação
de equipamentos eficientes no Brasil.
A criação de incentivos fiscais também é uma outra maneira de favorecer o uso de
equipamentos energeticamente eficientes. Em função do racionamento de energia elétrica
em 2001, o governo isentou de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI), as compras de alguns equipamentos eficientes.
O Decreto nº 3.827, de 21 de maio de 2001 e o Decreto nº 4.070, de 28 de dezembro
de 2001 [5] elencam os produtos cujas alíquotas do IPI foram reduzidas a zero. Dentre elas
encontram-se as lâmpadas de descarga em baixa pressão, de base única, com ou sem reator
eletrônico incorporado, com eficiência superior a 40 lúmens/W (lâmpadas fluorescentes
compactas) e as lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão.
Segundo Roizenblatt [6], houve um crescimento de mercado das lâmpadas fluorescen-
tes compactas da ordem de 320% no ano de 2001 em relação a 2000. Segundo o autor, o
mercado de lâmpadas fluorescentes compactas no Brasil em 2002, da ordem de 40 mi-
lhões/ano, foi da mesma magnitude que o mercado da Alemanha, EUA e Índia, todos
num patamar de 40 a 50 milhões de lâmpadas ano.
Em 2000 as lâmpadas fluorescentes compactas representavam 4% do volume de ven-
das das lâmpadas incandescentes. Em 2002, entretanto, este percentual atingiu 13%, valor
bastante significativo comparado aos 15% da Alemanha, 7% da França e 2% dos EUA.
Este elevado aumento no mercado de lâmpadas fluorescentes compactas ocorreu em fun-
ção do racionamento e da redução de preços ao consumidor, decorrente da redução de
impostos e do aumento dos volumes importados. [6].
A Lei de Eficiência Energética, Nº 10.295 de 17 de outubro de 2001, dispõe sobre a
Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e dá outras providências,
entre elas, que o Poder Executivo estabelecerá níveis máximos de consumo específico de
energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de
energia, fabricados ou comercializados no País, com base em indicadores técnicos perti-
nentes e economicamente viáveis.
Níveis mínimos de rendimento foram estabelecidos para motores elétricos de indução
trifásicos em dezembro de 2002 [7]. Para equipamentos de iluminação, entretanto, ainda
não foi estabelecido nenhum critério de eficiência.
Observa-se que a ampliação da concessão de Selos PROCEL é planejada para lâmpa-
das fluorescentes tubulares de 16W e 32W com pó trifósforo e reatores eletrônicos para
lâmpadas fluorescentes desde 1999 [8] e até hoje não foi estabelecido.
Verificam-se ainda muitas outras medidas importantes que devem ser adotadas, como a
elaboração de recomendações, normas técnicas e leis com critérios mínimos de eficiência
energética para equipamentos e projetos luminotécnicos e proibição de comercialização de
outros equipamentos não eficientes.
668
Nos Estados Unidos, por exemplo, a penetração de lâmpadas fluorescentes com pós
trifósforos só veio a aumentar drasticamente, com a legislação que proíbe o uso de
lâmpadas de baixa eficiência com potências iguais ou superiores a 32W. [6]
Ações e recomendações mais efetivas a favor da eficiência energética em sistemas de
iluminação são necessárias, em médio prazo, para a concretização de uma política forte
de uso adequado de recursos energéticos.
Pouco se fala em eficiência energética de luminárias e sua real influência no
dimensionamento do projeto luminotécnico. As luminárias em conjunto com os reatores
e as lâmpadas são as peças chaves para programas de conservação de energia em siste-
mas de iluminação, como verificado em países desenvolvidos, através de normas e reco-
mendações que apresentam indicadores de eficiência energética de equipamentos [9].
3 - MERCADO NACIONAL DE LUMINÁRIAS COMERCIAIS
Analisando-se o mercado nacional de iluminação comercial, constata-se que poucos
fabricantes de luminárias possuem catálogos completos com informações fotométricas
importantes para especificação da luminária e para o cálculo luminotécnico. Informa-
ções como a curva de distribuição de intensidades luminosas, rendimento, tabelas de
fator de utilização, diagrama de luminância e espaçamento são, poucas vezes, apresen-
tadas em catálogos. Os dados apresentados são, muitas vezes, insuficientes para
dimensionamento de um sistema de iluminação.
Os dados fotométricos mais completos são fornecidos apenas pelos maiores fa-
bricantes de luminárias. Algumas empresas disponibilizam também os dados
fotométricos em arquivos digitais que podem ser utilizados em programas de cálcu-
lo luminotécnico proprietários (do próprio fabricante) ou abertos. Estes arquivos
padrões detêm as informações necessárias para a criação de todos dos dados
fotométricos mencionados anteriormente e possuem a grande vantagem de possibi-
litar a comparação entre diversos equipamentos.
4 - METODOLOGIA
Visando analisar a eficiência energética dos principais tipos de luminárias comerci-
ais, foram selecionados os tipos de luminárias mais comercializados segundo fabri-
cantes nacionais, isto é, luminárias de embutir para duas lâmpadas fluorescentes
tubulares de 1200mm. Destas, foram analisadas luminárias para lâmpadas de 32W
que se enquadram na seguinte classificação:
l Tipo 1: Luminárias com refletor branco
l Tipo 2: Luminárias com refletor em alumínio
l Tipo 3: Luminárias com refletor em alumínio e aletas planas
l Tipo 4: Luminárias com refletor em alumínio e aletas parabólicas
l Tipo 5: Luminárias com difusor (translúcido ou leitoso)
Definidos os tipos de luminárias, foi elaborada uma extensa busca e análise de
fotometrias de fabricantes que disponibilizam dados em arquivos digitais. Foram totalizadas
para análise 82 luminárias de 4 fabricantes nacionais.

669
Os arquivos fotométricos de todas as luminárias selecionadas foram sistematizados em
um Banco de Dados, onde foram criadas a curva de distribuição luminosa, o diagrama de
luminância e a curva de distribuição zonal, a partir dos quais foram calculados a tabela do
fator de utilização, o rendimento e os espaçamentos longitudinais e transversais.
4.1 - ANÁLISE DE FOTOMETRIAS DE LUMINÁRIAS
Como a grande maioria dos arquivos fotométricos digitais analisados são resultados
de ensaios realizados nos laboratórios dos próprios fabricantes, existe a probabilidade
de ocorrência de divergências na comparação de luminárias, por utilizarem-se metodologias
e equipamentos distintos.
Observa-se, dessa forma, a necessidade da realização de ensaios fotométricos em um
laboratório isento para padronização de procedimentos e para possibilitar a comparação
de informações entre fabricantes.
A principal característica fotométrica para análise energética de luminárias atualmente é o
rendimento declarado pelo fabricante. Este representa a porcentagem do fluxo luminoso
total emitido pela luminária em relação ao fluxo total emitido pelas lâmpadas.
Desta forma, foram selecionadas para ensaio dez luminárias caracterizadas por possuir
o maior e o menor rendimento de cada tipo anteriormente estabelecido. Estas foram
identificadas como A e B, respectivamente.
Foi verificada uma elevada faixa de variação de rendimentos declarados entre luminárias
de mesmo tipo: 20% na família de luminárias com refletor branco, 15% na família de luminá-
rias com refletor em alumínio, 21% na família de luminárias com refletor e aletas brancas,
19% nas luminárias com refletor e aletas parabólicas e 17% nas luminárias com difusor.
Esta significativa variação pode indicar a existência de luminárias eficientes e ineficientes
dentro de cada tipo, em função de dimensões e/ou características ópticas da luminária. Entre-
tanto, também podem significar incoerências entre dados declarados pelos fabricantes.
5 - ENSAIOS FOTOMÉTRICOS
Visando aferir os dados declarados pelos fabricantes foram executados ensaios
fotométricos das luminárias, padronizando a metodologia e os equipamentos utilizados.
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Fotometria do Instituto de Eletrotécnica
e Energia da USP. O procedimento adotado no ensaio seguiu as recomendações do
Método proposto pela IESNA [10, 11]: Método aprovado para teste fotométrico de
luminárias fluorescentes internas.
As intensidades luminosas foram medidas em goniofotômetro em dez planos horizon-
tais (0º e 180º; 22,5º e 202,5º; 45º e 225º; 67,5º e 247,5º e 90º e 270º) em intervalos de 5º
nos planos verticais (de 0º a 90º), sendo os resultados das intensidades luminosas as médias
entre cada par de ângulos diagonalmente opostos.
6 - RESULTADOS
A partir das medições de intensidades luminosas foram elaborados arquivos fotométricos
digitais no formato IES [10]. Estes dados puderam ser comparados com os disponibilizados
pelos fabricantes revelando significativas diferenças de resultados.
670
Os rendimentos das luminárias, calculados pelo Método Zonal [11], através das intensi-
dades luminosas medidas em ensaio e das intensidades luminosas declaradas pelos fabri-
cantes, resultaram em diferenças de até 20% nos resultados. A Tabela 1 indica os rendimen-
tos declarados pelos fabricantes e medidos em ensaios e as respectivas diferenças obtidas.
Tabela 1 - Resultados dos ensaios fotométricos

/XPLQiULD 7LSR 5HQGLPHQWR 5HQGLPHQWR 'LIHUHQoD


GHFODUDGR PHGLGR SHUFHQWXDO
1A Luminária com 88% 80% 9%
1B refletor branco 68% 81% -20%
2A Luminária com 86% 81% 6%
2B refletor em alumínio 71% 80% -12%
3A Luminária com 78% 70% 10%
3B refletor e aletas planas 57% 62% -8%
4A Luminária com 70% 65% 7%
4B refletor e aletas parabólicas 51% 59% -17%
5A 70% 56% 20%
Luminária com difusor
5B 53% 54% -1%

Diagnosticadas as variações entre as fotometrias declaradas e medidas, verificam-se que


as diferenças entre rendimentos de luminárias de um mesmo tipo são inferiores às obtidas
originalmente pelos dados dos fabricantes. A Tabela 2 mostra as variações originais e as
variações dos dados provenientes dos ensaios.
Tabela 2 - Variação entre rendimentos max. e min. de luminárias de mesmo tipo

/XPLQiULDV /XPLQiULDV
/XPLQiULDV /XPLQiULDV
FRPUHIOHWRU FRPUHIOHWRU /XPLQiULDV
 FRPUHIOHWRU FRPUHIOHWRU
HDOHWDV HDOHWDV FRPGLIXVRU
EUDQFR HPDOXPtQLR
SODQDV SDUDEyOLFDV

9DULDomRHQWUH

UHQGLPHQWRV
20 15 21 19 17
Pi[HPtQ

GHFODUDGRV  

9DULDomRHQWUH

UHQGLPHQWRV
-1 1 8 6 2
Pi[HPtQ

PHGLGRV  

A análise dos dados indicam que luminárias de mesmo tipo devam apresentar rendimen-
tos próximos, entretanto, mais ensaios, em função de tipos de materiais, dimensões e caracte-
rísticas ópticas de cada família de luminária, devem ser realizados para uma real constatação.
As variações verificadas nos dados declarados e medidos podem ter diversas causas nos
ensaios dos fabricantes, dentre elas, a utilização de equipamentos não calibrados, a utiliza-
671
ção de lâmpadas com fluxos não conhecidos, obtenção de ângulos não precisos, variação
das condições elétricas, da temperatura, entre outros.
Uma análise mais detalhada, envolvendo o conhecimento da metodologia e equipamentos
utilizados pelos fabricantes poderão identificar as reais causas das diferenças de resultados.
De qualquer forma, verificam-se significativas diferenças tanto a maior como a menor,
entre dados declarados por fabricantes e medidos em ensaios padronizados. Isto revela,
algumas carências que deverão ser sanadas para possibilitar uma certificação de luminárias
e conseqüentemente obtenção de níveis máximos de consumo específico de energia, ou
mínimos de eficiência energética para atender a Lei de Eficiência Energética.
Dentre as principais dificuldades, pode-se elencar que nem todos os fabricantes forne-
cem dados fotométricos de suas luminárias; aqueles fabricantes que informam os dados
fotométricos, realizam os ensaios, na sua grande maioria, em laboratórios próprios; não
existe norma brasileira específica para realização deste tipo de ensaio, sendo comum a
adoção de metodologias distintas nas medições de intensidade luminosa e no procedimen-
to de geração de arquivos fotométricos digitais; não existem, até o momento, laboratórios
de fotometria independentes certificados no Brasil e os laboratórios de fotometria existen-
tes desconhecem a incerteza de suas medições.
Por outro lado, incentivos governamentais começam a ser implantados para suprir as
demandas laboratoriais. A aquisição de dois goniofotômetros, para o INMETRO e o
CEPEL, possibilitará a execução de ensaios fotométricos isentos e com rastreabilidade.
A certificação de luminárias com a inclusão de ensaios fotométricos para análise da
eficiência luminosa, entretanto, deverá também ser implantada, de modo a incentivar a
indústria nacional a produzir equipamentos cada vez mais eficientes.
7 - APLICAÇÃO EM PROJETOS LUMINOTÉCNICOS
Os resultados dos ensaios indicam que os catálogos e dados fornecidos por fabricantes,
infelizmente, podem não representar fielmente as características fotométricas das luminári-
as vendidas, o que pode acarretar em erros em projetos luminotécnicos.
A aplicação das fotometrias das luminárias fornecidas por fabricantes e obtidas em ensaio
afetará significantemente os níveis de iluminância obtidos em projeto. Poderão existir, desta
forma, ambientes super ou sub-dimensionados em função de dados não fidedignos.
Uma simulação em um ambiente hipotético de 100 m2 (10mx10m) com 20 luminárias
pode acarretar uma variação de iluminância de até 21% no caso da luminária 5A, simulada
com dados obtidos pelo fabricante e pelo ensaio. A Figura 1 ilustra os níveis de iluminância
conforme o tipo de luminária e as informações obtidas pelos fabricantes e pelos ensaios.
No mesmo ambiente hipotético, permanecendo com a mesma quantidade de luminári-
as e variando o tipo de luminária a ser utilizada em projeto, o nível de iluminância pode
variar de 555 lux com uma luminária com refletor em alumínio (2A) até 355 lux com uma
luminária com difusor (5B). Ou seja, uma diferença de 36% no nível de iluminação.
Fixando-se o nível de iluminância em 500 lux e variando-se a quantidade de luminárias
seriam necessárias 30 luminárias do tipo 5B para atingir o mesmo nível de iluminância que
20 luminárias do tipo 2A. Isto acarretaria em um aumento de consumo de energia de 50%
672
para o ambiente hipotético. Por outro lado, se o ambiente possuísse luminárias com difusor,
poder-se-ia ter reduções de consumo de energia da mesma ordem, caso fossem substitu-
ídas por luminárias com refletor em alumínio.

Figura 1 - Variação do nível de iluminância em função do tipo de luminária


e dos dados declarados pelos fabricantes e medidos em ensaios

1tYHOGHLOXPLQkQFLDSRUWLSRGHOXPLQiULD
6DODP[P
700

600

500
[ 400
X O
( 300
200

100

0
$ % $ % $ % $ % $ %
1
OXPLQiULD E fabricante E ensaio

A escolha do tipo de luminária em um projeto luminotécnico deve considerar todas


as características fotométricas, ponderando-se o rendimento em função do nível de
controle de ofuscamento requerido e as necessidades quantitativas e qualitativas requeridas
pelo ambiente. Isto porque, as luminárias de maior rendimento são luminárias com
menor controle de ofuscamento, porém nem sempre luminárias com baixo rendimen-
to possuem alto controle.
8 - CONCLUSÃO
A certificação de equipamentos de iluminação através dos selos de desempenho, iniciada
pelo PROCEL para lâmpadas fluorescentes compactas e reatores eletromagnéticos e a
certificação compulsória de reatores eletrônicos são de fundamental importância para uma
primeira distinção entre os equipamentos ineficientes e eficientes. A implantação de um
programa de metas com análise continuada da evolução de tecnologias e a emissão de selos
de desempenho para outros equipamentos; como luminárias; são essenciais para efetivação
do programa de conservação de energia em iluminação.
A partir deste estudo foi possível verificar a as dificuldades que serão encontradas para
aplicação de uma metodologia para determinação de índices mínimos de eficiência energética
para certificação de luminárias.
O trabalho identificou uma série de dificuldades para análise de luminárias. Constatou-se
que os dados fotométricos declarados por fabricantes de luminárias em catálogos e arqui-
vos fotométricos digitais podem não condizer com os dados reais das luminárias vendidas.
A diferença entre os dados fotométricos declarados e medidos em laboratório, por sua
vez, pode influenciar significativamente no projeto luminotécnico, aumentando ou diminu-
673
indo a quantidade de equipamentos necessários para iluminar qualquer ambiente e poden-
do implicar em projetos super ou sub dimensionados, afetando a eficiência energética ou
luminosa dos mesmos. Podem ser verificadas, segundo dados levantados, diferenças de até
20% entre rendimentos de uma mesma luminária. Desta forma, verifica-se a necessidade
de uma normalização efetiva desta área.
Foi verificado ainda que muitos fabricantes não fornecem dados fotométricos míni-
mos de suas luminárias para utilização em cálculos luminotécnicos; não há norma brasi-
leira para realização de ensaios fotométricos e, não existem, até o momento, laboratórios
de fotometria independentes certificados no Brasil. Avanços, felizmente, são esperados
com a aquisição de goniofotômetros de última geração para os laboratórios de fotometria
do INMETRO e do CEPEL.

9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] HADDAD, J. et al. Conservação de Energia: Eficiência Energética de Instalações e Equipamentos. 2° edição. Itajubá,
MG: FUPAI, 2001.
[2] PROCEL. Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica. Apresenta o Selo Procel Inmetro de Desempenho
na área de iluminação. Disponível em: < http://www.eletrobras.gov.br/procel/> Acesso em: 25 mai. 2004.
[3] SOARES, Rui Gillet. Certificação de Reatores Eletrônicos. Comunicado Abilux, 2003. Disponível em: <http://
www.demape.com.br/Certificacao_Eletronicos.htm>. Acesso em: 25 mai. 2004.
[4] ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14418 – Reatores eletrônicos alimentados em corrente
alternada para lâmpadas fluorescentes tubulares – Prescrições de desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.
[5] RECEITA FEDERAL. Brasília, 2004. Apresenta decretos de leis federais sobre alíquotas de Impostos sobre Produtos
Industrializados. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/2001/Dec3827.htm.> e <
http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/2001/Dec4070.htm> Acesso em: 31 mai. 04.
[6] ROIZENBLATT, Isac. Contribuição para uma iluminação eficiente. São Paulo, 2003. 113p. Dissertação (Mestrado)
– Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia EP/FEA/IEE/IF. Universidade de São Paulo. São Paulo.
[7] SOARES, G.A. et al. Obrigatoriedade de rendimentos nominais mínimos de motores de indução: agora uma
realidade. In: XVII SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.
Uberlândia, 2003. Disponível em: <http:// http://www.xviisnptee.com.br>
[8] POLLIS, H. et al. A experiência brasileira em projetos de iluminação eficiente e desafios futuros: das lições
aprendidas à criação do Selo PROCEL INMETRO. In: XV SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E
TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Foz do Iguaçu, 1999. Disponível em: <http://www.xviisnptee.com.br/
acervo_tecnico/memoria/xv/stc/stc16.pdf.>
[9] NEMA Standards Publication LE 5-2001. Procedure for determining Luminaire Efficacy Ratings for fluorescent
luminaires, 2001.
[10] IESNA Illuminating Engineering Society of North America. LM-41-85 – IES Approved Method for Photometric
Testing of Indoor Fluorescent Luminaries. New York: IESNA, 1985.
[11] IESNA Illuminating Engineering Society of North America. LM-41-98 – Approved Method for Photometric
Testing of Indoor Fluorescent Luminaries. New York: IESNA, 1998.
[13] IESNA Illuminating Engineering Society of North America. LM-63-85 – IES Standard File Format for Electronic
Transfer of Photometric Data and Related Information. New York: IESNA, 1985.

674
A LEI DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
E O USO EFICIENTE DE ENERGIA EM
MOTORES ELÉTRICOS NA INDÚSTRIA

Agenor Gomes Pinto Garcia


Alexandre Salem Szklo
Mauricio Tiomno Tolmasquim1

RESUMO
Pretende-se avaliar, a partir de dados colhidos em fábricas para a realização de diagnósti-
cos energéticos, o impacto da Lei de Eficiência Energética no uso de eletricidade em força
motriz industrial. A Lei, seu contexto e objetivos são apresentados, assim como o mercado
de motores no Brasil. São apresentados os dados analisados e a situação atual de operação e
eficiência encontrada. São realizadas 5 análises: o impacto da Lei, o impacto se os índices
adotados fossem os de motores de alto rendimento, a economia obtida pela simples adequa-
ção dos motores à carga e a viabilidade do uso de motores de alto rendimento, em duas
situações: com substituição imediata e ao fim da vida útil. Os resultados são comparados
entre si e com outras estimativas. Por fim, discute-se a validade da Lei, possíveis melhoras e o
que mais se pode fazer para aumentar a eficiência no uso de motores elétricos.

1 - INTRODUÇÃO
A aprovação da “Lei de Eficiência Energética” (Lei no 10.295 de 17.out.2001 – BRA-
SIL, 2001a), cuja tramitação no Congresso Nacional iniciou em 1990, vem instituir a
etiquetagem obrigatória no Brasil, mecanismo de reconhecida eficácia para melhorar o
uso eficiente de energia (GELLER et al., 2003, p. 5). O primeiro equipamento a ser
regulamentado foi o motor elétrico trifásico de indução, através do Decreto 4.508, de
11.dez.2002 (BRASIL, 2002). Estima-se que este equipamento pode chegar a consumir
32% da energia elétrica do país (MME, 2001, p. 23).
Qual a economia a ser obtida com a Lei? Esta é uma pergunta difícil porque envolve
várias questões: como (com que carregamento e rendimento) e por quanto tempo (horas/
ano) operam os motores? E, o que é pior, onde estão os dados?

1
Programa de Planejamento Energético, COPPE/UFRJ, e-mail agenorgarcia@ppe.ufrj.br. Este artigo foi baseado na
tese de mestrado defendida em 22/12/2003 (GARCIA, 2003).

675
Estimativas têm sido feitas, chegando a apontar uma economia de 4%2 . Este trabalho
pretende, a partir de dados coletados em chão-de-fábrica para a elaboração de diagnós-
ticos energéticos (sem, portanto, uma metodologia específica de amostragem), verificar
que projeções podem ser feitas para o cenário nacional. Por ser uma amostra com redu-
zida validade estatística, o estudo só pode apontar caminhos – pretende-se jogar alguma
luz nas perguntas: como e por quanto tempo operam os motores da indústria? Qual a
sua distribuição por velocidade e potência (já que a Lei estabelece os índices com esta
classificação)? Qual o rendimento operacional (diferente do nominal, estabelecido na
Lei)? Qual o ganho com a troca pelos novos motores? O que aconteceria se os índices
estabelecidos para os motores padrão fossem os considerados para motores de alto
rendimento? Qual seria o investimento associado? Seria viável? O que se pode fazer
adicionalmente para tornar mais eficiente a operação dos motores?
Força motriz absorve 11% da energia usada na indústria (GARCIA, 2003, p. 21)3 ,
sendo a eletricidade responsável por 97% desta energia. Motores elétricos consomem, na
indústria, 60% da energia elétrica usada (o que significa, em 2001, 82 TWh) ou 27% do
consumo nacional4 (GARCIA, 2003, p. 26), sendo utilizados, com maior ou menor peso,
em todos os setores industriais, como mostra a Figura 1.
Figura 1 - Participação da Força Motriz no consumo de eletricidade dos setores industriais
30

25

20

@
R
Q
D
 15
K
:
>7

10

0
Outros Alumínio Química Alimentos e Ferro Gusa Papel e Não Fer. e Têxtil Mineração Ferro Ligas Cimento Cerâmica Açúcar Pelotização
Bebidas e Aço Celulose Out. Met.

Força Motriz Outros usos

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do BEN (MME, 2002) para o
ano de 2001 e estrutura do BEU 93 (MME, 1995).

O item 2 situa a Lei da Eficiência Energética no panorama de uso eficiente de


energia no Brasil, em especial em relação a motores elétricos. O item 3 mostra como se
dá o uso da eletricidade pelos motores industriais através dos dados amostrados e o
que pode ser projetado para o Brasil. O item 4 apresenta as simulações feitas a partir
dos dados obtidos, comparando os resultados com outros estudos. Finalmente, o item
Erro! A origem da referência não foi encontrada. analisa a eficácia da Lei, como melhorá-
la, e o que mais se pode fazer para aumentar a eficiência do uso da força motriz em
eletricidade na indústria brasileira.
2
Depoimento da Diretora de Eficiência Energética do MME Marina G. Assumpção em Seminário do IBMEC a
2.abr.2003, no Rio de Janeiro (informação verbal). Tabosa (1999, apud GELLER, 2003, p. 173) fala em 2 a 8% em cada
motor, dependendo do seu tamanho.
3
Esta estimativa foi feita pela aplicação da estrutura do BEU (MME, 1995) aos dados do BEN (MME, 2002) para 2001.
Como o BEU teve sua última edição em 1993, pode haver erros significativos.
4
Esta estimativa também foi feita como na nota 3. Supõe-se, em geral, 50% do consumo elétrico industrial para
motores (ver, por exemplo, Geller, 1994, p. 58).

676
2 - A LEI DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Os programas de etiquetagem e padronização são adotados hoje por mais de 25 países
como forma de elevar o desempenho energético dos seus equipamentos (CLASP, 2001, p.
16). No Brasil, o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), de participação voluntária,
existe desde 1984 (INMETRO, 2003), com atuação em eletrodomésticos e outros produtos,
entre os quais o motor elétrico trifásico de indução. A Lei de Eficiência Energética introduziu
os programas de padronização (que buscam retirar, por força de lei, os produtos ineficientes
do mercado) no Brasil, tornando obrigatória a observância de índices mínimos de eficiência
energética para equipamentos “fabricados ou comercializados no País” (BRASIL, 2001a).
Na regulamentação para motores elétricos, o índice de eficiência energética escolhido foi o rendi-
mento nominal, dividido em duas classes – motores padrão e de alto rendimento e apresentados por
potência nominal (1 a 150/200/250 cv) e polaridade (2, 4, 6 e 8 pólos). Comparando-se os índices
estabelecidos com os praticados no mercado5 , nota-se que, para os motores padrão, houve um
esforço de adaptação, principalmente para os motores de baixa potência, enquanto os motores de
alto rendimento, em geral, já atendiam à Lei (GARCIA, 2003, p. 13-16). Houve, portanto, um ganho
em relação à etiquetagem, que apenas certificava os valores estipulados pelos fabricantes.
3 - O USO DE MOTORES ELÉTRICOS NA INDÚSTRIA BRASILEIRA
3.1 - Amostra
Foram utilizados dados de 18 fábricas, de diversos setores de atividade, localizadas em diferentes
estados da federação, obtidos por levantamento de dados e medição em campo para a realização de
diagnósticos energéticos. As principais características das indústrias estudadas estão na Tabela 1.
Tabela 1 - Fábricas estudadas
)iEULFD 6HWRU  (VWDGR 1RPRWRUHV 3RWrQFLDPpGLD
>FY@
&RQVXPRDQXDO
>*:K@
A Ferro gusa e aço RJ 270 84 108
B Papel e celulose BA 132 30 17
C Alimentos e bebidas RJ 339 6 6
D Química SP 25 26 2
E Papel e celulose PR 292 28 27
F Química PR 91 36 9
G Têxtil RJ 17 31 2
H Têxtil SP 98 7 2
I Outros SP 99 31 6
J Outros SP 55 11 2
K Têxtil SP 21 13 1
L Têxtil SP 89 32 9
M Ferro ligas SP 73 58 14
N Têxtil SP 335 13 14
O Outros SP 67 80 24
P Outros SP 13 14 0
Q Outros SP 53 30 5
R Outros SP 50 29 6
Total 2.119 31 254
* Conforme classificação do BEN (MME, 2002) Fonte: Elaboração própria
5
O mercado de motores nacional é basicamente constituído de 3 fábricas, Weg, Kolbach e Eberle, a primeira
dominando 75% das vendas (AMERICO, 2003). No setor industrial, esta predominância é ainda maior, razão pela
qual adotaremos os seus índices como referência para os motores instalados.

677
Para se melhor visualizar os resultados, os motores foram divididos em três grupos – peque-
nos (P - até 10 cv), médios (M - de 10 a 50 cv) e grandes (G – maiores que 50 cv) - que,
combinados com a polaridade (2, 4, 6 e 8 pólos) resultam em 12 grupos. Esta divisão corresponde
também ao comportamento em relação ao rendimento, como mostra a Figura 2.
Figura 2 - Grupos de motores
100

3 0 *

95

90

@
G
Q 85
H
U
>

80

75

70
0 50 100 150 200 250
>FY@

2pP 4pP 6pP 8pP 2pAR 4pAR 6pAR 8pAR

Fonte: Elaboração própria a partir dos rendimentos da Lei de Eficiência Energética (BRASIL, 2001b)

3.2 - Situação atual dos motores


Através de medição de corrente ou potência e comparação com as curvas de performance
dos motores padrão Weg, foram determinados o carregamento e o rendimento de cada
um dos motores da amostra. A Tabela 2 sumariza os resultados obtidos.
Tabela 2 - Situação atual dos motores
*UXSR ,GHQWLI 4WGGH >FY@ FDUUHJ UHQGLP >N:@ >KDQR@ >0:KD@ >5DQR@
1 2pP 130 5,9 0,61 0,82 3,2 5.119 17 2.247
2 2pM 82 31,4 0,66 0,89 17,1 6.397 110 12.084
3 2pG 43 105,7 0,65 0,89 56,5 7.160 405 40.193
4 4pP 769 4,2 0,55 0,79 2,1 5.495 12 1.517
5 4pM 556 29,4 0,61 0,89 14,8 6.521 97 10.790
6 4pG 279 104,6 0,73 0,91 61,4 7.227 444 45.029
7 6pP 107 5,0 0,54 0,78 2,6 4.867 13 1.651
8 6pM 74 29,9 0,69 0,89 17,0 6.829 116 13.481
9 6pG 54 108,8 0,74 0,92 64,2 7.411 476 47.611
10 8pP 10 4,3 0,40 0,68 1,8 5.853 11 1.394
11 8pM 12 24,2 0,54 0,85 11,2 5.747 64 8.464
12 8pG 3 116,7 0,87 0,93 80,9 8.000 648 52.688
7RWDO 2.119 65.933,0
36.66
9
253.585 26.759.217
0pGLD 31,1 0,61 0,85 17,3 6.108 120 12.628
9DORUPpGLR 0,68 0,90
Fonte: Elaboração própria

678
As colunas da Tabela 2 significam:

*UXSR Grupo de motores por potência


,GHQWLI Nome de fantasia do grupo (por exemplo,
4pM significa motores médios de 4 pólos)
4WGGH Quantidade de motores estudada por grupo
>FY@ Potência nominal média dos motores do grupo
FDUUHJ Carregamento médio dos motores do grupo
UHQGLP Rendimento médio dos motores do grupo
>N:@ Potência elétrica média demandada pelos motores do grupo
>KDQR@ Funcionamento médio dos motores do grupo
>0:KD@ Energia elétrica média consumida pelos motores do grupo
>5DQR@ Gasto médio com a operação dos motores do grupo

Motores pequenos operam com menor carregamento, menor rendimento e menos ho-
ras/ano – portanto, a média dos carregamentos e rendimentos será sempre menor que os
respectivos valores médios, muito influenciados pelos motores grandes.
Os motores grandes, apenas 18% do total, consomem 2/3 da energia e os pequenos,
48% em número, apenas 5% da energia. Os motores de 4 pólos representam ¾ da energia
gasta. Os grupos, portanto, têm pesos diferentes na eficiência total do sistema.
A faixa ideal para operação de motores vai de 75 a 100% do carregamento, onde a
curva de rendimento é praticamente constante, caindo bastante para valores menores, em
especial abaixo de 50% (GARCIA, 2003, p. 53) – observe-se que o carregamento médio
de quase todos os grupos ficou abaixo de 75%, o que indica um superdimensionamento
dos motores industriais, principalmente os pequenos.
3.3 - Projeção para o Brasil
A Tabela 3 mostra os motores que, teoricamente, supondo uma vida útil de 12 anos,
estariam funcionando (no Brasil, não apenas na indústria) em 2001.
Tabela 3 - Venda de motores trifásicos de indução no Brasil de 1989 a 2000
$FLPDGH $FLPDGH
$FLPDGH $FLPDGH $FLPD
 $WpFY FYDWp FYDWp 7RWDO
FYDWpFY FYDWpFY GHFY
FY FY

12.481.26
8QLGDGHV 3.980.528 7.134.459 1.076.044 204.987 78.469 6.781
8
'RWRWDO 32% 57% 9% 2% 1% 0,1% 100%
'HD
84% 13% 2% 1%
FY

Fonte: ABINEE (2003)

Os percentuais são bem diferentes dos da nossa amostra. Além disso, não foi possível
determinar quantos motores da Tabela 3 foram operar em fábricas. Geller (1994, p. 61) faz
uma projeção para o consumo de eletricidade pelos motores industriais, indicando que os
motores de 1 a 10 cv consomem, no universo de 1 a 200 cv, 45% da energia, os de 10 a 40

679
cv consomem 31% e os de 40 a 200 cv os restantes 24%. Se os consumos médios obtidos
na nossa amostra forem aplicados aos números da Tabela 3, o consumo total será bem
maior que os 82 TWh estimados (ver página 2) e as proporções de consumo serão 31%
para os motores pequenos, 37% para os médios e 32% para os grandes, o que parece que
a amostra tem um viés de maior consumo para os motores maiores (unidades, carrega-
mento ou horas/ano de operação). Tentando corrigir isto, estabelecemos diferentes fatores
para os motores pequenos, médios e grandes de modo a, multiplicando-os pela amostra,
chegar ao consumo nacional presumido. Os resultados estão na Tabela 4, onde as colunas
têm igual significado aos da Tabela 3.
Tabela 4 - Projeção para o Brasil
>FY@ FDUUHJ UHQGLP >N:@ >KDQR@ >0:KD@ >5DQR@

0pGLD 10 0,57 0,81 5,3 5.571 34 3.846


9DORUPpGLR 0,62 0,86
Fonte: Elaboração própria

Com maior ênfase nos motores menores, a potência média cai, assim como todos os
outros valores.
3.4 - Oportunidades de uso mais eficiente
Dos dados acima depreende-se que o dimensionamento correto é uma boa oportuni-
dade, embora alguns aspectos, como partida de cargas de elevada inércia e sobrecargas
eventuais (por exemplo, esteiras transportadoras) devam ser consideradas. Aumentar o
rendimento nominal dos motores é outra oportunidade, explorada pela Lei da Eficiência
Energética. Outras possíveis causas de ineficiência são as condições de instalação mecânica,
o desequilíbrio das tensões entre as três fases, a presença de harmônicos, o rebobinamento,
a manutenção (ALMEIDA, 2001, p. 94-95). De forma mais abrangente, olhando-se a
eficiência do uso da força motriz como um todo, boas oportunidades há no uso de acio-
nadores eletrônicos (variadores de velocidade – conversores de freqüência e chaves de
parada e partida progressiva – soft-starters) e na otimização do conjunto motor-carga
(SOARES et al., IX CBE, 2002, p. 1382).
4 - Simulações e resultados
4.1 - Aplicação da Lei de Eficiência Energética
A primeira simulação visa responder à pergunta: qual a economia a ser obtida quando
todos os motores forem trocados pelos adequados à Lei de Eficiência Energética? Verifi-
cou-se, na amostra, que 85% dos motores tiveram seu rendimento aumentado, havendo
um ganho médio de 1% no rendimento e redução de 0,8% na energia consumida (houve
ganhos médios em 10 dos 12 grupos). A projeção para o Brasil elevou para 1,1% o ganho
de energia (2% na média dos rendimentos e 1% no rendimento médio).
4.2 - Uso de motores de alto rendimento
A segunda simulação pressupôs que os índices estabelecidos tivessem sido os propostos
para os motores de alto rendimento, buscando-se verificar se os custos majorados com
esta ação seriam compensados com a economia de energia obtida.
680
Neste caso, 96% dos motores da amostra teriam seu rendimento aumentado (está-se su-
pondo a troca de todos os motores, sem análise prévia de viabilidade), correspondendo a um
ganho no rendimento médio de 2% e uma economia de energia de 2,4%. Para o Brasil, o
ganho de energia se elevaria a 3%, três vezes o obtido com os rendimentos tipo padrão. O
investimento adicional, estimado em 43% do preço do motor de alto rendimento, teria uma
RCB (relação custo-benefício) de 0,52, com um custo de energia evitada de 63 R$/MWh,
bem menor, por exemplo, que o custo médio de operação de usinas térmicas (ONS, 2003).
4.3 - Adequação à carga
Nesta análise, buscou-se verificar, já que há um grande número de motores
sobredimensionados, o que aconteceria se fossem adequados à carga que acionam? Supôs-se
a troca por motor padrão, adequado à carga, trocado ao final da vida útil de cada motor,
com um gasto adicional de 70% do preço do motor de alto rendimento para cobrir os
custos de eventuais adaptações de carcaça e potência e estudo de adequação.
A análise dos resultados mostrou que, na amostra, 42% dos motores seriam trocados (isto é,
a sua troca seria viável técnica e financeiramente), o carregamento aumentaria 11%, o rendimen-
to 1%, com uma economia de energia de 1,3%. Para o Brasil, 54% dos motores seriam troca-
dos, o carregamento subiria em 12%, o rendimento 2%, com uma redução de energia de 2,1%.
O investimento para isso teria uma RCB de 0,3, com um custo de 37 R$/MWh economizado.
4.4 - Troca imediata por motor de alto rendimento
Aqui procurou-se simular o estudo que uma ESCO6 faz quando realiza um diagnóstico
energético – a troca imediata por motor de alto rendimento, com adequação à carga. É a pior
situação do ponto de vista financeiro, pois a economia deverá remunerar o custo total da troca
– estimado em duas vezes o preço do motor de alto rendimento, para cobrir os custos com o
estudo de engenharia, a compra do motor, as adaptações de carcaça e potência e a instalação.
Ainda assim, 28% dos motores da amostra seriam trocados, com um ganho de 8% no
carregamento, 1% no rendimento e economia de 1,2% de energia. A projeção para o Brasil
aponta um ganho de 10% no carregamento, 2% no rendimento, 2,2% na energia, e o investi-
mento teria uma RCB de 0,46, com um custo de conservação de energia de 57 R$/MWh.
4.5 - Troca por motor de alto rendimento ao final da vida útil
Esta análise verifica o melhor ganho possível – troca por motor de alto rendimento, ao
final da vida útil (portanto, o custo é apenas o adicional em relação à troca por outro motor
padrão), trocando-se apenas os motores com viabilidade técnico-financeira.
A análise da amostra apontou viabilidade de troca para 74% dos motores, com ganhos de
19% no carregamento, 3% de rendimento e 2,9% de energia. A projeção para o Brasil aumen-
tou a troca para 83% e ganhos de 23% no carregamento, 4% no rendimento e 4,2% na energia
consumida. O investimento teria uma RCB de 0,33 e 41 R$/MWh de custo de energia evitada.
4.6 - Comparação dos resultados
A Tabela 5 compara os resultados das cinco análises feitas na amostra de 18 indústrias.
1
ESCO - Empresa de Serviço de Energia – é uma empresa de consultoria em engenharia destinada a explorar o mercado
de Eficiência Energética, entre outras atividades. Algumas, principalmente no exterior, alavancam recursos financeiros
capazes de implementar as medidas, gerindo os contratos, muitas vezes remunerados com a economia obtida.

681
Tabela 5 - Comparação das cinco análises
*DQKR *DQKR 0RWRUHV (FRQRP ,QYHVWLPHQW
*DQKR
  FDUUHJD UHQGLPH WURFDGR LD R 7,5 93/
HQHUJLD
PHQWR QWR V PpGLD DQXDOL] DGR

[%] [%] [%] [%] [R$] [R$] [%] [R$]


D Padrão sem
 DQiOLVH - 0,8% 85% 0,8% 104 - - -
adequação
D AR sem
 DQiOLVH - 2,2% 96% 2,4% 308 176 31% 625
adequação
Padrão
D
 DQiOLVH com 10,9% 1,2% 42% 1,3% 169 55 56% 534
adequação
AR com
D
 DQiOLVH adequação 7,9% 1,1% 28% 1,2% 167 64 48% 487
imediata
AR com
D adequação
 DQiOLVH 19,4% 2,8% 74% 2,9% 385 149 47% 1.113
ao fim da
vida útil
Fonte: Elaboração própria.

Em suma, a aplicação da Lei da Eficiência Energética deverá economizar cerca de 1%


da energia usada pelos motores da indústria. Porém, a sua simples aplicação não explora
todo o potencial de economia de energia em motores: se fossem usados os índices para
motores de alto rendimento no lugar de motores padrão, a economia seria mais de duas
vezes maior, com um benefício quase o dobro do custo. Adequar simplesmente o motor
à carga, por outro lado, é um investimento baixo, com ótimo retorno, que teria 60% a
mais de impacto que a aplicação da Lei. Estudos para aplicação imediata de motores de
alto rendimento, como são feitos normalmente, têm bom retorno, economizam tanto
quanto a adequação à carga, mas se a troca for feita ao final da vida útil dos motores, o
resultado é maximizado. Embora de contabilização mais difícil para mostrar resultados
de um plano de eficiência energética, a troca ao final da vida útil é melhor.
Tabela 6 - Resumo das estimativas de potencial de
conservação de energia elétrica em motores industriais
5HIHUrQFLD %DVH (VWXGR (VWLPDWLYD
*HOOHU Motores industriais até 200
S cv
Motores mais eficientes 7%
*HOOHU Controle de
S Motores industriais
velocidade em motores
8%

%(8  Consumo em força motriz


por eletricidade na indústria
Economia em
motores elétricos
1,4%
7DERVD
DSXG*HOOHU Motores
Economia com normas
2 a 8%**
S de uso eficiente

00( Motores elétricos


Aplicação da Lei de
Eficiência Energética
4%
* Estimativa considerando a estrutura do BEU (MME, 1995) aplicada ao BEN 2002 (MME, 2002) para os dados de
2001 (GARCIA, 2003, p. 36-37).
** Conforme o tamanho do motor.
Fonte: Elaboração própria, considerando os diversos estudos citados.

682
A Tabela 6 resume algumas estimativas de conservação de energia em motores elétricos,
especialmente no setor industrial, que, pela grande incerteza envolvida, se aproximam da nossa.
5 - Conclusão
A Lei de Eficiência Energética trará uma importante contribuição para o uso mais efici-
ente da energia em motores elétricos na indústria. As projeções feitas, que devem ser con-
solidadas por estudo adequado, apontam para 1% de economia na energia demandada.
No entanto, há outras oportunidades de eficientização que podem resultar em economias
ainda maiores. Entre elas, foram estudadas o dimensionamento correto dos motores e o
uso de motores de alto rendimento. O estudo indica, inclusive, que a adoção de índices
mais altos pela Lei traria bom retorno, aumentando a economia para 2 ou 3%. Deve-se
notar que este estudo é apenas indicativo, face à precariedade da amostra – acreditamos
que a realização de um estudo maior e mais profundo traria bons resultados para o desen-
volvimento do mercado e aperfeiçoamento da Lei.
Existem várias políticas públicas que poderiam aumentar a eficiência no uso de motores
elétricos. Geller et al. (2003) sugerem a expansão dos investimentos das distribuidoras em
eficientização no uso final, com prazos mais longos para os investimentos e ações que estimu-
lassem o mercado de eficiência energética, como financiamento de ESCOs, disseminação de
informações e treinamentos; sugerem também um programa de metas de redução de índices
de intensidade energética com as indústrias, de adesão voluntária, onde o cumprimento das
metas seria recompensado por algumas facilidades na aquisição de energia.
Entre os mecanismos de mercado que podem ser usados para este fim, destaca-se o
“contrato de performance”, cuja implementação sistemática no Brasil está sendo tentada pelo
Banco Mundial/UNEP através de um programa com o Ibmec7 . Há várias dificuldades a
vencer, inclusive a mitigação de riscos (GARCIA, 2003, p. 106-107) e a padronização e
consolidação de técnicas de medição e verificação.

REFERÊNCIAS
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Energética. Brasília – DF: Aneel, 7.out.2002. Disponível em http://www.aneel.gov.br/. Acesso em: 8.nov.2002.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL e AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO – ANP.
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Elaborado por A. R. S. Martins et al. Brasília: ANEEL e ANP, 1999.
ALMEIDA, M. A. O Potencial de Redução do Consumo de Energia Elétrica em Sistemas Eletromecânicos: Análise
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AMERICO, M. Sistemas Motrizes: Eficiência Energética e Técnicas de Acionamento. Apresentações em Power-
Point em curso Cepel/Sebrae-RJ/UFF. Niterói-RJ, 2003.
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[mensagem pessoal]. Mensagem recebida por agenorgarcia@terra.com.br em 11.jul.2003.
BDMOTOR. Rio de Janeiro: Sebrae-RJ, [199-]. Programa. 2 disquetes 3 ½ pol.
BRASIL. Decreto 4.508 de 11.dez.02. Dispõe sobre a regulamentação específica que define os níveis mínimos de

É o chamado “Programa de Incentivo ao Desenvolvimento de Mercado Financeiro para Eficiência


7

Energética”, com apoio de várias entidades, inclusive o Procel e colaboração do MME e congregando
ESCOs e bancos privados.

683
eficiência energética de motores elétricos trifásicos de indução rotor gaiola de esquilo, de fabricação nacional ou
importados, para comercialização ou uso no Brasil, e dá outras providências. D.O.U., Brasília, DF, 12.dez.2002.
Disponível em: http://www.energiabrasil.gov.br/decretos/decreto4508.pdf. Acesso em 24.abr.2003.
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Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, e dá outras providências. D.O.U., Brasília, DF, 20.dez.2001.
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BRASIL. Lei 10.295, de 17.out.01 – “Lei de Eficiência Energética”. Dispõe sobre a Política Nacional de Conservação
e Uso Racional de Energia e dá outras providências. D.O.U., Brasília, DF, 18.out.2001. Disponível em http://
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Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2000.

684
AS AÇÕES DA ELETROBRÁS/PROCEL
NA UTILIZAÇÃO EFICIENTE DA ENERGIA
ELÉTRICA: IMPLEMENTAÇÃO DE PLANOS
MUNICIPAIS DE GESTÃO DA ENERGIA
ELÉTRICA EM 10 MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Davi Veiga Miranda*


Márcio Cesar Abreu Calheiros**
Maria Cristina Peres Paschoal ***

RESUMO
O Programa de Gestão Energética Municipal, no âmbito do Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica – PROCEL, vem desenvolvendo, desde 1996, diversas
atividades em prol da eficiência energética para municípios, dentre as quais destaca-se a
elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica – PLAMGEs, que per-
mitem diagnosticar a utilização de energia elétrica pelo município, sem a perda na quali-
dade dos serviços prestados. É identificado um potencial de redução no uso de energia
elétrica a partir da organização e capacitação de uma Unidade de Gestão Energética
Municipal – UGEM que será a responsável pelo gerenciamento da energia elétrica no
município, desenvolvendo ações e recomendações que poderão vir a se tornar projetos
significativos em relação ao uso racional, qualidade ambiental e eficiência energética.
Dentro deste contexto e através de um contrato firmado entre a ELETROBRÁS/
PROCEL e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM, foram elabora-
dos, nos anos de 2001 e 2002, PLAMGEs em 10 municípios brasileiros cuja seleção
baseou-se em equilíbrio regional e interesse do município em participar do projeto.

*Arquiteto e Urbanista (UFRJ, 1999) , MBA em Gerência de Projetos (FGV, 2004) - Praia do Flamengo, 66/Bl. A/4 o
andar – Flamengo - CEP: 22210-030 - Rio de Janeiro – RJ - E-mail: dvm@eletrobras.com
**Administrador de Empresas (Universidade Cândido Mendes, 1997) , MBA em Gestão da Qualidade e Produtividade
(CEFET-RJ, 2003) Praia do Flamengo, 66/Bl. A/4o andar – Flamengo - CEP: 22210-030 - Rio de Janeiro – RJ - E-mail:
calheiros@eletrobras.com
***Psicóloga (Universidade Santa Úrsula, 1974) , Mestre em Psicologia (FGV, 1979), Pós Graduação em Marketing
(PUC-RJ, 1997), MBA em Energia Elétrica (UFRJ, 1998), - Praia do Flamengo, 66/Bl. A/4o andar – Flamengo - CEP:
22210-030 - Rio de Janeiro – RJ - E-mail: mariapp@eletrobras.com

685
Este trabalho apresenta os resultados dessa iniciativa e visa divulgar, despertar e ampliar
o interesse de municípios e profissionais da área para o benefício da aplicação de projetos
de eficiência energética.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo do PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica - é
promover a racionalização da produção e do consumo de energia elétrica, eliminando os
desperdícios e reduzindo os custos e os investimentos setoriais.
Criado em dezembro de 1985 pelos Ministérios de Minas e Energia e da Indústria e
Comércio, o PROCEL é gerido por uma Secretaria Executiva subordinada à Eletrobrás.
Em 18 de julho de 1991, foi transformado em Programa de Governo, tendo suas
abrangência e responsabilidade ampliadas.
O Programa utiliza recursos da Eletrobrás e da Reserva Global de Reversão – RGR,
um fundo federal constituído com recursos das concessionárias, proporcionais ao investi-
mento de cada uma. Utiliza, também, recursos de entidades internacionais.
O sucesso do PROCEL pode ser medido pelos resultados obtidos ao longo destes 18
anos. As ações implementadas somente no ano de 2003, por exemplo, resultaram numa
redução de demanda na ponta de 270 MW, evitando um investimento em geração de
energia de mais de R$ 1.9 milhão. (Disponível em: <http://www.eletrobras.com/procel/
site/oprograma/resultados.asp>. Acesso em 19/03/2004.)
Estes resultados foram obtidos através de um planejamento cuidadoso, direcionando as ações
para os setores mais representativos em consumo e/ou desperdício de energia. Conforme de-
monstrado no gráfico de consumo de energia a seguir, o setor industrial é o maior consumidor de
toda a energia elétrica produzida, utilizando 43%. O uso residencial vem a seguir, com um consu-
mo de 25% e o uso comercial com 16%. Os restantes 16% distribuem-se entre setor rural, ilumi-
nação pública, órgãos do governo e outros. (Disponível em: http://www.eletrobras.com/procel/
site/oprograma/apresentacao_introducao.asp. Acesso em 19/03/2004) Todos estes setores,
inclusive o Poder Público, com gastos com energia elétrica entre 10 e 15% do consumo total do
país, são importantes alvos dos programas do PROCEL.

Figura 1 - Gráfico de Consumo de Energia por Setor em 2003

Mas, para que os programas tenham efeito prático no objetivo maior de conservação
de energia no país e haja um aumento no potencial do mercado de produtos e serviços
energeticamente eficientes, o envolvimento do consumidor – no caso deste trabalho, as
Prefeituras Municipais - torna-se fundamental. Sensibilizando-se para o problema, a prefei-
tura percebe as vantagens do combate ao desperdício de energia elétrica, adquire equipa-
mentos mais eficientes e adota projetos que têm a eficiência energética como filosofia.
686
Assim, o Programa de Gestão Energética Municipal busca estabelecer convênios com as
Prefeituras com o intuito de elaborar o PLAMGE e ainda gerar informação e sensibilização
para funcionários e usuários da própria cidade e até de cidades vizinhas.
2- O PROGRAMA DE GESTÃO ENERGÉTICA MUNICIPAL
Um dos programas do PROCEL é o Programa de Gestão Energética Municipal – GEM,
destinado exatamente aos administradores e representantes do Administração Pública Muni-
cipal, técnicos municipais e de concessionárias de energia elétrica, consultores e especialistas.

A GEM pode ser definida, de forma bastante objetiva, como um conjunto de


princípios, normas e funções que tem por finalidades:
l gerenciar o uso da energia elétrica nos centros consumidores municipais (na
iluminação pública, nos prédios municipais, no saneamento, etc.);
l controlar seu desempenho e eficiência, e
l atender às metas previamente definidas pela Prefeitura e órgãos competentes da
administração municipal.
O Programa cria atrativos para as administrações municipais com resultados a
médio e longo prazos, em função do cronograma de implementação das ações
propostas no PLAMGE. Entre estes objetivos, cabe destacar os seguintes:
l Promover, otimizar e coordenar as operações de gestão da energia;
l Reduzir o consumo de energia e, conseqüentemente, a conta de energia elétrica;
l Capacitar o município a negociar com a concessionária de energia elétrica, garan-
tindo, assim, a autonomia na gestão de seus recursos.
l Dar continuidade as ações de combate ao desperdício de energia nos municípios;
l Dar sustentabilidade aos projetos de eficiência energética já implementados nos
sistemas sob a administração municipal: iluminação pública, prédios públicos, sa-
neamento e outros.
687
2.1 - Operacionalização
A implementação da GEM no município é bastante simples. Após ter o convênio
firmado entre a Eletrobrás e a Prefeitura Municipal, a primeira ação a ser tomada é a
criação da Unidade de Gestão Energética Municipal – UGEM. Esta Unidade é for-
mada por uma ou mais pessoas, de preferência funcionários da prefeitura, conforme
as dimensões, características e potencialidades do município. É importante que a UGEM
tenha legitimidade explicitamente confirmada pelo mais alto nível de decisão no muni-
cípio. O ideal é que seja aprovada Lei Municipal que legitime a existência do grupo de
trabalho, a UGEM, e suas atribuições. A principal função deste grupo será garantir a
continuidade das atividades, acompanhando o planejamento e as atividades de rotina
ligados aos sistemas elétricos nos municípios.
Figura 2 - Fluxograma de Implementação da GEM

O próximo passo é capacitar a UGEM e, junto com esta, elaborar o PLAMGE do


município. Com o PLAMGE elaborado, chega a hora de selecionar, entre as ações pro-
postas, as que serão implementadas prioritariamente, de modo a usufruir o mais cedo
possível dos benefícios que serão proporcionados.
3 - PUBLICAÇÕES PRODUZIDAS SOBRE GEM
Ainda no âmbito do programa, com o intuito de disseminar informações, foram produ-
zidos 6 guias a respeito de assuntos de interesse da Gestão Energética Municipal. São eles:
l “Guia de Gestão Energética Municipal: Subsídios do Combate ao Desperdício de Energia Elétrica”;
(PROCEL - ELETROBRÁS) - Contém informações técnicas gerais e procedimentos
para implementação da Gestão Energética Municipal.

688
l “Município e Energia Elétrica: Como combater o desperdício” (Convênio ELETROBRÁS -PROCEL
/ IBAM) - Encarte com relação de todas as publicações da ELETROBRÁS e seus
parceiros. Orienta os municípios sobre os assuntos relacionados à energia elétrica.
l Modelo para Elaboração do Código de Obras (Convênio ELETROBRÁS - PROCEL /
IBAM) - Contém informações sobre as possibilidades de inserir nos códigos de obras
dos municípios medidas de combate ao desperdício de energia elétrica.
l Sistemas Eficientes de Saneamento (Convênio ELETROBRÁS - PROCEL / IBAM) -
Contém informações sobre as possibilidades de economia de energia nas várias etapas
dos sistemas de saneamento.
l Manual de Iluminação Pública Eficiente (Convênio ELETROBRÁS - PROCEL /IBAM) -
Contém informações técnicas, possibilidades de economia de energia e legislação em
vigor para os sistemas de iluminação pública.
l Planejamento Urbano e o Uso Eficiente de Energia Elétrica - Guia de orientação sobre aspectos
relacionados à inclusão do princípio da eficiência energética nos instrumentos urbanísticos.
4- A REDE CIDADES EFICIENTES EM ENERGIA ELÉTRICA – RCE

A Rede Cidades Eficientes em Energia Elétrica foi criada nos moldes da Rede Energie-
Cités de municípios europeus, pela ELETROBRAS/PROCEL em parceria com o IBAM,
no âmbito do Projeto ALURE com a Comissão Européia. Ela objetiva facilitar a difusão
e a troca de informações sobre o desenvolvimento de projetos de eficiência energética
entre os municípios brasileiros e de outros países contribuindo, assim, para criar e fortalecer
a competência municipal na gestão da energia, integrando essa esfera de poder no combate
ao desperdício de energia elétrica.
Atualmente, a RCE conta com 644 municípios (jan/2004) e a previsão é que, até outu-
bro, chegue aos 1200 associados. Para isso, estão sendo envidados esforços de divulgação
da importância do uso racional da energia elétrica e os benefícios para os municípios com
a adoção das políticas de Gestão Energética. Ainda como incentivo, a RCE promove um
prêmio anual – Prêmio Cidade Eficiente – que reconhece e divulga as melhores experiên-
cias municipais em 7 categorias de interesse da administração municipal: Educação, Gestão
Energética Municipal, Iluminação Pública, Iluminação Pública – Programa ReLuz, Legisla-
ção, Prédios Públicos Municipais e Saneamento.
Ser integrante da RCE significa para os municípios a possibilidade de obter uma série de
benefícios:
l Redução das despesas municipais, a partir da introdução do conceito de gestão de
energia elétrica no município;
l Troca de tecnologias e experiências com outros municípios;
l Trocar informações acerca de temas relacionados a energia elétrica tais como: manuten-
689
ção eficiente de sistemas elétricos, modalidades de financiamentos para implementação
de projetos, possibilidades de redução do consumo de energia nos sistemas subordina-
dos a administração municipal;
l Aumento da capacidade de negociação do município com a concessionária de energia
elétrica;
l Possibilidade de divulgação das experiências realizadas nos municípios;
l Ter um papel ativo na preservação do meio ambiente.

4.1 O Sistema de Informação Energética Municipal – SIEM


O SIEM é um sistema computacional de informações energéticas municipais. Ele também
foi desenvolvido na parceria entre a Eletrobrás – PROCEL e o IBAM, no âmbito da RCE,
e possibilita o acompanhamento de dados e indicadores energéticos de unidades consumido-
ras dos municípios, permitindo análises comparativas por tipo, classe, grupo ou outro agru-
pamento lógico, de forma agregada ou desagregada, ao longo de períodos delimitados de
tempo. Para isso é necessário fornecer e cadastrar no sistema as seguintes informações:
l contas de energia elétrica dos Municípios,
l consumo específico por tipo de atividade,
l dados econômicos e geográficos;
Este software está disponível para download gratuito no site da Rede Cidades Eficien-
tes Seu endereço eletrônico é www.ibam.org.br/rcidades. Seu objetivo é facilitar a manipu-
lação e a leitura das informações referentes à energia elétrica da cidade, padronizando
dados e possibilitando, inclusive, a troca de informações entre os municípios.
5- OS PLANOS MUNICIPAIS DE GESTÃO DA ENERGIA ELÉTRICA
– PLAMGES
Com o objetivo de disseminar informações e chamar a atenção das prefeituras e do
público em geral para a importância do Planejamento Energético dos municípios, a
Eletrobrás, através do PROCEL e no âmbito do Programa de Gestão Energética Munici-
pal, promoveu a elaboração de 10 PLAMGEs em cidades das 5 regiões do país:
• Carazinho (RS) • Natal (RN)
• Cascavel (PR) • Nazaré da Mata (PE)
• Dourados (MS) • Parauapebas (PA)
• Guarulhos (SP) • Paraguaçu (MG)
• Itabaianinha (SE) • Serra (ES)

690
A escolha destes municípios deveu-se, basicamente, em primeiro lugar, ao equilí-
brio regional. Os programas do PROCEL têm, por premissa básica, abrangência
nacional, o que significa que devem trazer benefícios a toda a população brasileira. O
equilíbrio na escolha dos municípios também é importante sob o ponto de vista
estratégico, já que facilita o reconhecimento do programa e sua divulgação, gerando
iniciativas dos municípios próximos.
Secundariamente, houve o interesse do próprio município na realização do proje-
to. É muito importante que haja um interesse da APM para a perfeita elaboração do
PLAMGE. A criação da UGEM e sua legitimidade, por exemplo, são atestadas
através de Lei Municipal. Desta forma, há uma maior garantia de que as ações pro-
postas serão implementadas e que o controle dos gastos em energia do município
continuarão após o término da elaboração do Plano.
As tabelas abaixo demonstram, resumidamente, os dados levantados no PLAMGE
de cada município, juntamente com a potencial economia de energia resultante da
implementação das ações propostas:
Tabela 1 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Carazinho – RS

&$5$=,1+2±56KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 6.062 MWh/ano 2001 6.062 MWh/ano
2005 7.493 MWh/ano 2005 5.840 MWh/ano

Ações propostas: PROCEL nas escolas, Iluminação Pública, Aquecimento


solar p/ água, Revisão da Lei de Uso do Solo e do Código de Obras.

Uma das ações propostas no PLAMGE de Carazinho, o uso de coletores solares para
aquecimento da água, é interessante por utilizar uma nova tecnologia que já está se tornando
bastante comum em todo o país por seu custo acessível e bons resultados. O clima tropical
brasileiro é bastante propício ao uso deste sistema e a iniciativa de uso por uma prefeitura
é muito interessante.
Tabela 2 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Cascavel - PR

&$6&$9(/±35KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 22.099 MWh/ano 2001 22.099 MWh/ano
2004 27.007 MWh/ano 2004 23.330 MWh/ano

Ações propostas: PROCEL nas escolas, Revisão da Lei de Uso do Solo


e do Código de Obras, Eficiência dos Prédios Públicos, Correção do Fator
de Potência, Renegociação dos Contratos, Uso de equipamentos eficientes
em Projetos Habitacionais.

691
A Renegociação de Contratos de Fornecimento de Energia com as Concessionárias é,
muitas vezes, suficiente para gerar uma grande economia na conta de energia do município.
Um contrato mal dimensionado acaba gerando multas por excesso de consumo em horários
de pico – exatamente quando o preço da energia é mais alto – ou pagamento por uma
energia que não está sendo utilizada. O detalhe importante é que para o melhor
dimensionamento de um contrato é necessário um levantamento e um estudo minucioso do
histórico de consumo das unidades da prefeitura, o que é um dos resultados do PLAMGE.
Tabela 3 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Dourados - MS
'285$'26±06KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 3.880 MWh/ano 2001 3.880 MWh/ano
2004 4.175 MWh/ano 2004 4.125 MWh/ano
Ações propostas: Iluminação Pública, Eficiência dos Prédios Públicos.

O PLAMGE de Dourados propõe somente as ações mais tradicionais para a economia


de energia do município. Mas exatamente por este motivo são ações de retorno garantido
e que devem, realmente, sempre ser adotadas.
Tabela 4 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Guarulhos - SP
*8$58/+26±63KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2002 71.840 MWh/ano 2002 71.840 MWh/ano
2004 73.645 MWh/ano 2004 57.190 MWh/ano
Ações propostas: Iluminação Pública.

A cidade de Guarulhos, através de seu PLAMGE, demonstra o enorme potencial


de economia de energia na planta de iluminação pública do nosso país. Mesmo sendo
a única ação proposta, a economia atingida ultrapassa os 20%. O consumo do Cenário
de Eficiência projetado para 2 anos à frente é menor que o consumo atual – situação
recorrente na realização dos Planos.
Tabela 5 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Itabaianinha - SE
,7$%$,$1,1+$±6(KDELWDQWHV

&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD

2001 1.416 MWh/ano 2001 1.416 MWh/ano


2004 1.640 MWh/ano 2004 948 MWh/ano
Ações propostas: PROCEL nas escolas, Iluminação Pública,
Eficiência em Prédios Públicos, Realização de Seminários.

692
Os sistemas de ar condicionado das unidades da prefeitura foram um dos principais
alvos dos trabalhos de eficiência energética em Itabaianinha. A escolha não é aleatória: há
um grande índice de perdas nestes aparelhos, justificando uma ação direcionada.
Tabela 6 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Natal - RN
1$7$/±51KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 25.904 MWh/ano 2001 25.904 MWh/ano
2004 29.987 MWh/ano 2004 26.990 MWh/ano
Ações propostas: PROCEL nas escolas, Iluminação Pública, Eficiência em Prédios Públicos,
Realização de Seminários.

Ao optar por ações de resultado comprovado por experiências anteriores, o


PLAMGE de Natal ainda incluiu duas ações educativas que atuam como excelente
suporte às principais. Além disso, ajudam a divulgar a preocupação e a iniciativa do
município na área de eficiência energética.
Tabela 7 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Nazaré da Mata - PE

1$=$5e'$0$7$±3(KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 1.724 MWh/ano 2001 1.724 MWh/ano
2005 2.044 MWh/ano 2005 1.579 MWh/ano
Ações propostas: Iluminação Pública, Atualização do cadastro de IP, Ações pré-
implementação; Eficiência em Prédios Públicos; Correção do Fator de Potência.

O PLAMGE de Nazaré da Mata propõe uma ação muito interessante: as ações pré-
implementação. São medidas a serem tomadas antes da construção de novas unidades da
prefeitura. Ou seja, o trabalho da UGEM é valorizado com a manutenção e o acompanha-
mento das medidas no futuro.
Tabela 8 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Parauapebas - PA
3$5$8$3(%$6±3$KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 7.518 MWh/ano 2001 7.518 MWh/ano
2004 9.411 MWh/ano 2004 7.772 MWh/ano
Ações propostas: Iluminação Pública, Extensão da rede de IP, Renegociação dos contratos,
Eficiência em Captação, Tratamento e Distribuição de Água.

Parauapebas incluiu em seu PLAMGE uma ação inovadora na área de saneamento e


que vem de encontro a um dos programas do PROCEL, o PROCEL – SANEAR. Este
programa busca exatamente a eficiência energética neste setor que, por operar com muitas

693
bombas – geralmente de baixo desempenho – apresenta um grande índice de desperdício.
Neste ano de 2004, este programa fará um grande investimento com a implementação dos
projetos escolhidos em Chamada Pública realizada entre o fim de 2003 e o início de 2004.
Tabela 9 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Paraguaçu - MG
3$5$*8$d8±0*KDELWDQWHV
&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD
2001 1.435 MWh/ano 2001 1.435 MWh/ano

2004 1.502 MWh/ano 2004 1.370 MWh/ano

Ações propostas: PROCEL nas escolas, Revisão da Lei de Uso do Solo e do Código
de Obras, Eficiência em Prédios Públicos, Correção do Fator de Potência, Renegociação
dos Contratos, Uso de equipamentos eficientes em Projetos Habitacionais.

A prefeitura de Paraguaçu assumiu um importante compromisso com a eficiência


energética ao incluir em seu PLAMGE o uso de equipamentos eficientes em Projetos
Habitacionais. Ao dar o exemplo em seus próprios empreendimentos e comprovando sua
eficácia, o município incentiva ações posteriores da iniciativa privada e dissemina o conceito
do uso racional de energia.
Tabela 10 - Resumo dos Resultados do PLAMGE de Serra - ES

6(55$±(6KDELWDQWHV

&HQiULRGH5HIHUrQFLD &HQiULRGH(ILFLrQFLD

2001 29.760 MWh/ano 2001 29.760 MWh/ano

2004 48.127 MWh/ano 2004 39.353 MWh/ano

Ações propostas: PROCEL nas escolas, Iluminação Pública, Aquecimento solar p/ água,
Revisão da Lei de Uso do Solo e do Código de Obras.

A legislação municipal é também um bom caminho a ser percorrido pelo PLAMGE. A


prefeitura de Serra propôs a revisão das leis municipais que orientam as novas construções
no sentido de incluir obrigações na área de conservação de energia. Esta iniciativa geral-
mente tem um bom retorno a longo prazo pelo respaldo jurídico que naturalmente tem.
O potencial de economia de energia que os municípios têm fica claro após a elaboração
do PLAMGE. A comparação entre os cenários de referência e eficiência e as ações propostas
demonstram que as possibilidades são muitas por haver muitas áreas de atuação possíveis.
Abaixo, apresentamos um gráfico com a soma dos dados dos dez municípios. Serve
apenas como referência, já que se considera que todos os municípios colocaram em prática
todas as ações propostas imediatamente após a elaboração do PLAMGE.
694
Figura 3 - Gráfico de Economia de Energia (MWh/ano)

No ano de 2001, quando os cenários de referência e eficiência são semelhantes, o


consumo total de energia das 10 cidades era de 171.638 MWh/ano. Na projeção para o
ano de 2005, o estudo já considera o planejamento do município quanto a novas unida-
des (prédios administrativos, escolas, hospitais, etc.), expansão da rede de iluminação
pública e quaisquer outros itens que interfiram no consumo de energia elétrica. Dessa
forma, o Cenário de Referência – sem implementação de nenhuma medida – indica um
consumo de 205.031 MWh/ano; e o Cenário de Eficiência – com implementação de
todas as medidas imediatamente – indica 168.497 MWh/ano.
Portanto, com a implementação das medidas dos PLAMGEs, seria possível, em 4
anos, trocar um aumento no consumo de aproximadamente 33.000 MWh/ano (19,46%)
por uma redução de 3.000 MWh/ano (1,83%). A economia total de energia no ano de
2005 seria de 17,81%, ou 36.534 MWh/ano. Mantendo-se em nosso micro-ambiente de
10 cidades, é como se 6 delas tivessem deixado de consumir energia (e ainda haveria uma
sobra de 14.000 MWh/ano).
Tabela 11 - Resumo dos Resultados dos 10 PLAMGEs elaborados
Consumo Consumo
Comparação (FRQRPLD
 em 2001 em 2005 
2001 x 2005 7RWDO
(MWh/ano) (MWh/ano)

&HQiULRGH + 33.393
171.638 205.031
5HIHUrQFLD (+19,46%) 

0:KDQR
&HQiULRGH - 3.141  
171.638 168.497
(ILFLrQFLD (-1,83%)

6. O PROGRAMA PROCEL – GEM EM 2004


Neste ano de 2004, o Programa de Gestão Energética Municipal do PROCEL preten-
de estreitar o contato com os municípios brasileiros, promovendo e incentivando a elabo-
ração de PLAMGEs em todo o país. Para isso, uma série de medidas já estão em anda-
mento, dentre as quais pode-se destacar:
695
l Lançamento do Plano de Ação do Programa;
l Participação em feiras e eventos do setor;
l Organização de seminários de sensibilização;
l Elaboração de PLAMGEs em parceria com as empresas do Grupo Eletrobrás;
l Apoio à Rede Cidades Eficientes em Energia Elétrica;
l Criação de Metodologia de Priorização de Municípios para investimento.
O objetivo principal da GEM é a economia de energia pelos municípios - e pelo país -
deixando como herança principal uma equipe capacitada para planejar e administrar as
operações de gestão de energia daquele ponto em diante. Portanto, os PLAMGEs são
ferramentas necessárias e importantes, mas deve-se ter consciência de que as ações propos-
tas devem ser implementadas para que se atinja o objetivo inicial do PROCEL.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LA ROVERE, Emílio Lèbre. Manual para Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica, Rio de
Janeiro: IBAM/DUMA/NMA; Eletrobrás/PROCEL, 2001.
Guia Técnico Gestão Energética Municipal – Subsídios ao Combate do Desperdício de Energia Elétrica, Rio de
Janeiro: Eletrobrás/PROCEL, 2001.
Site do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL. Disponível em http://www.eletrobras.com/
procel. Acessado em 19/03/2004.
Boletim Energético Nacional 2003, Brasília: MME, 2004. Disponível em http://www.mme.gov.br/ben. Acessado em
19/03/2004.
CD-ROM Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica, Rio de Janeiro: IBAM/Eletrobrás/PROCEL, 2001.

696
CENTRO DE ENERGIA E TECNOLOGIAS
SUSTENTÁVEIS - O USO EFICIENTE DE
ENERGIA NO PLANEJAMENTO
DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

Andréa Borges de Souza Cruz1


Luís Pinguelli Rosa2
Thiago Lopes Ferreira3
Andressa Carmo Pena Martinez4

1. RESUMO
O Centro de Energia e Tecnologia Sustentáveis – CETS, busca comprovar ganhos
energéticos e ambientais investigando a eficiência e o desempenho de materiais
ambientalmente amigáveis aplicados à arquitetura bioclimática. O CETS conta com um
conjunto edificado que representa três modelos arquitetônicos mais utilizados no ambi-
ente construído: Industrial - galpão com instalação industrial para produção e pesquisa
de biodiesel; Serviços - edifício sede do Instituto Virtual Internacional de Mudanças
Globais -IVIG e Residencial - habitação de interesse social. O planejamento arquitetônico
segue o conceito de sustentabilidade na indústria da construção civil, observando os
critérios de racionalização da construção, o de eficiência energética conjugado ao reuso e
reaproveitamento de água e o aproveitamento de resíduos da construção. Para consoli-
dar as ações de cunho sustentável, o abastecimento de energia elétrica do CETS segue o
conceito de bioeletricidade sendo sua geração oriunda de um gerador movido a biodiesel.
Os projetos hidro-sanitários e elétricos tiveram como enfoque a redução de desperdício
e a eficiência energética. O conjunto arquitetônico representa uma ação sustentável inte-
grada, que conjuga a pesquisa acadêmica à uma melhoria nas condições de vida por meio
de ações multisetoriais, proporcionando uma agregação de valor do trinômio ambiente
natural, ambiente construído e energia.

1
andrea@ivig.coppe.ufrj.br;
2
lpr@adc.coppe.ufrj.br;
3
thiago@ivig.coppe.ufrj.br;
4
andressa@ivig.coppe.ufrj.br

697
2. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o mundo esteve atento ao fato de que os recursos energéticos
apresentados na natureza são limitados e que a forma de seu uso compromete a manu-
tenção do parque industrial, e até mesmo a existência humana. Com isso o planejamento
da expansão do mercado energético, a conservação de energia e o uso de fontes que
venham substituir as fontes energéticas consideradas convencionais, têm se destacado
como um desafio de grande relevância.
Neste sentido, verifica-se a necessidade de políticas eficazes de economia e conservação
de energia em especial a energia elétrica, permitindo grandes reduções tanto no consumo
quanto na necessidade de ampliação do parque gerador.
São também, cada vez mais necessários, estudos que focalizem a redução do consumo
de energia no ambiente construído, incentivando a abordagem arquitetônica voltada para o
desenvolvimento de uma tecnologia adaptada ao meio ambiente e às condições econômi-
cas, sociais e culturais de cada região.
O suprimento das necessidades energéticas nos edifícios é um tema que hoje passou do
debate ao estudo de suas origens e forma de redução. A realidade energética e ambiental 1
demonstra a necessidade de, tanto a produção quanto à utilização dos edifícios, serem
adaptadas rapidamente às novas situações derivadas das restrições energéticas atuais.
Atendendo a tais conceitos, o Centro de Energia e Tecnologia Sustentáveis – CETS – é
um projeto desenvolvido pelo Instituto Virtual de Mudanças Globais - IVIG/COPPE/
UFRJ, que visa proporcionar a eficiência e o desempenho de materiais de construção
ambientalmente amigáveis – denominados na pesquisa em abordagem como eco-materi-
ais2. Tais tecnologias são aplicadas à arquitetura bioclimática em substituição aos materiais
construtivos convencionais, e seu enfoque baseia-se no manejo dos elementos naturais (vento,
insolação, vegetação, etc.) evitando os dispositivos mecânicos e altamente tecnificados que
significam alto custo de equipamentos e grande consumo de energia.
Neste sentido, e em consonância com a Convenção Quadro das Nações Unidas
para Mudança do Clima - estabelecida pela Assembléia Geral das Nações Unidas3, o
presente projeto consiste na elaboração de novos modelos e/ou na reelaboração de
modelos vigentes para compor soluções arquitetônicas a partir do desenvolvimento e
aplicação de tecnologias construtivas que tem como enfoque a sustentabilidade ambiental
aliada à conservação e eficientização energética do ambiente construído, visando obter
a otimização do resultado energético, segundo as necessidades do usuário e de acordo
com o clima, minimizando os impactos ambientais decorrentes da implantação de
novas unidades edificadas.

MEADOWS, D. H. (1972). The limits to Growth.


1

CNPq Energia (2001-2004). Eficientização Energética do Ambiente Construído.


2

IPCC (1996b). Climate change 1995: The science of climate change. Intergovernmental Panel on Climate Change.
3

698
Existem diversas tecnologias bio-compatíveis que oferecem alto potencial de
aplicabilidade, sendo do âmbito da presente proposta a utilização do tijolo ecológico (solo-
cimento), do bambu, do cimento ecológico e da telha de fibra de coco, a fim de compro-
var os benefícios ambientais (impactos evitados, otimização dos padrões de conforto e
redução das emissões dos gases de efeito estufa – GEE); energéticos (baixa intensidade
energética das tecnologias aplicadas); econômicos (baixo custo de processamento e aplica-
ção das tecnologias); e sociais (resgate e repasse de tecnologia).
A aplicabilidade desses princípios propicia uma mudança da metodologia convencional
utilizada nas edificações, contribuindo para a minimização da intensidade energética aplica-
da ao espaço urbano, compreendendo ganhos energéticos e ambientais face o uso de
tecnologias que apresentam baixo consumo de energia elétrica, insumos e reduzidas taxas
de emissões de gases de efeito estufa.
O local escolhido para a implantação do CETS situa-se em área localizada no Centro de
Tecnologia, na UFRJ, Ilha do Fundão e apresenta um partido que quebra com a monotonia
e a obviedade ao se estruturar em diferentes alturas, planos e formas. As três edificações
estão alinhadas e afastadas dos limites do terreno, sendo articuladas pelo paisagismo de
caminhos e jardins.
Todo o CETS é alimentado por um castelo d’água próprio. Seu projeto hidráulico inclui
um processo de captação e reaproveitamento de águas pluviais que a partir de um sistema
de armazenamento, reaproveita essas águas para abastecimento da válvula de descarga da
bacia sanitária e do chuveiro.

Figura 1 – Planta de implantação do CETS.

699
Figura 2 – Perspectiva do CETS

3. EDIFICAÇÃO DE USO INDUSTRIAL


A primeira edificação é um modelo de instalação industrial composto por um galpão
para produção e pesquisa de biodiesel.
O prédio possui um pavimento com duas alturas diferentes e duas coberturas indepen-
dentes, sendo sua área construída de 198 m2 e sua área em projeção de aproximadamente
238m2.A cobertura é composta por telhas de fibras vegetais apoiadas sobre uma estrutura
feita de bambu. Na área do galpão os dois caimentos da cobertura são independentes,
permitem uma ventilação cruzada e possibilitam a entrada de iluminação natural.
O acesso principal é marcado por uma parede curva feita de bambus amarrados verti-
calmente com uma cobertura também curva que cobre toda a recepção. Todas as esquadrias
do galpão são de bambu, exceto as portas que dão acesso ao exterior da edificação, estas
de ferro. As esquadrias foram projetadas exclusivamente para a casa, correspondendo às
necessidades do projeto oriundas tanto da forma quanto da modulação da construção. O
bambu também é utilizado como proteção da incidência solar sob a forma de pérgolas,
que rodeiam o galpão, e de brises de proteção nas janelas.

Figura 3 – Perspectiva do galpão

4. EDIFICAÇÃO COM TIPOLOGIA DE SERVIÇOS


A segunda edificação consiste em uma edificação de serviços, sendo uma extensão do
Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais – IVIG/COPPE/UFRJ.
Assim como o galpão, a fundação foi feita toda em sapata corrida seguindo o perímetro
do edifício. Este prédio possui dois pavimentos com três alturas diferentes e três cobertu-
ras independentes. Sua área construída é de 300m2, sendo sua área em projeção de aproxi-

700
madamente 226m2, contento recepção, auditório, seis salas de pesquisas, dois banheiros e
uma copa. A cobertura do auditório e da área que possui dois pavimentos é composta por
telhas de fibras vegetais apoiadas sobre uma estrutura feita de bambu.
Sobre a recepção, a cobertura é feita a partir da reutilização de garrafas PET. Estas
servirão como uma clarabóia, permitindo a entrada de iluminação natural no ambiente. Ao
lado da recepção, sobre uma sala de pesquisa, há uma laje destinada à implantação de um
sistema de naturação (CNPq Energia, 2001-2004). O cimento utilizado nas estruturas e no
piso é ecológico e as esquadrias existentes na edificação são de bambu, sendo que as salas
de pesquisa possuem parede curva.
A orientação da construção atende aos princípios bioclimáticos (GOULART, 1998), tendo sido
feitos estudos sobre a incidência solar, a orientação dos ventos e das chuvas e as áreas de sombra.

Figura 4 – Perspectiva do IVIG/COPPE/UFRJ

5. EDIFICAÇÃO COM TIPOLOGIA HABITACIONAL


A terceira e última edificação, consiste em uma habitação de interesse social, que serve
como protótipo experimental onde serão testadas diversas tecnologias e verificadas suas
condições de aplicabilidade em comunidades de baixa renda, donde comprovado seu
potencial de aplicabilidade e replicabilidade, servirá como modelo e referência para futuras
ações no campo da construção civil.
Sua área construída é de 46m2, sendo sua área em projeção de aproximadamente 62m2,
contento sala, dois quartos, banheiro e uma copa. Na cobertura serão utilizadas, ainda com
intuito de teste, telhas feitas a partir da extração da fibra do coco verde, apoiadas sobre
uma estrutura feita de bambu.
O sistema construtivo é o mesmo utilizado nas demais edificações do CETS, ou seja, as
paredes são de tijolos de solo-cimento, modulares e auto-portantes tratados com uma
seladora a base d’água, sendo que diferentemente das outras construções, estão sendo tes-
tadas na casa novas formas de aplicação do tijolo. Estes estão sendo colocados também na
orientação vertical, com os furos voltados para fora da construção, possibilitando assim, a
entrada de ventilação e iluminação natural, diminuindo o consumo energético da constru-
ção. O cimento utilizado nas estruturas e no piso é ecológico e as esquadrias existentes na
casa são todas de bambu.
A casa, apesar da simplicidade formal alcançada, contrasta com a qualidade intrínseca
aos espaços e a sutileza dos detalhes: pequenos nichos, aberturas e reentrâncias que criam
jogos de luz e sombra no interior e permitem o melhor aproveitamento do espaço.
701
Ao mesmo tempo, tendo conhecimento de que a arquitetura contemporânea acrescenta
a preocupação com a eficiência energética, o projeto pretende introduzir na habitação
popular a consciência de que com muita criatividade e poucos recursos, pode-se fazer uso
de materiais residuais e renováveis que não agridam o meio ambiente e que introduzam de
modo eficiente procedimentos construtivos que não fazem parte do imaginário coletivo.

Figura 5 – Perspectiva da habitação de interesse social.

6. IMPACTOS ENERGÉTICOS E AMBIENTAIS DO CETS


O conjunto arquitetônico do CETS representa uma ação sustentável integrada, que con-
juga a pesquisa acadêmica a uma melhoria nas condições de vida da população, por meio
de ações multisetoriais, proporcionando uma agregação de valor do trinômio ambiente
natural4, ambiente construído e energia.
Os cálculos de rebatimentos ambientais e energéticos existentes no projeto, até hoje
realizados5, demonstraram ganhos energéticos e ambientais decorrentes da implementação
dessa nova tipologia construtiva que contempla tanto as características locais (bioclimatismo),
quanto as implicações decorrentes da produção de materiais e técnicas construtivas
ambientalmente amigáveis – eco-construção.
7. RESULTADOS PARCIAIS
Os resultados apresentados foram calculados a partir da metodologia desenvolvida no
projeto “Eficientização Energética do Ambiente Construído” – COPPE/CNPq, coorde-
nado pela Profa. Alessandra Magrini e desenvolvida em parceria pelos Programa de Plane-
jamento Energético e Ambiental e Programa e Engenharia Civil da COPPE/UFRJ.
Seguem abaixo algumas tabelas e gráficos que demonstram os ganhos energéticos e
ambientais oriundos da substituição de materiais convencionais por eco-materiais, estes
utilizados no Centro de Energia e Tecnologia Sustentáveis – CETS.

MASCARÓ, Lucia (coord.). Tecnologia e Arquitetura


4

CNPq Energia COPPE/CNPq (2001-2004). Eficientização Energética do Ambiente Construído.


5

702
Estimativa da intensidade energética por Kwh/m2:
Tabela 1 – Eco-materiais x materiais convencionais


0$7(5,$,6 ,17(1(5* (&20$7(5,$,6 ,17(1(5*

&219(1&,21$,6 N:KP  N:KP

TIJOLO
TIJOLO CERÂMICO 95,49 39,41
SOLO-CIMENTO
CIMENTO 196,74 CIMENTO ECOLÓGICO 118,04
AGREGADOS 91,21 AGREGADOS DE ENTULHO 2,33
AÇO 14,67 BAMBU 0
TELHA PLANA 54,10 TELHA FIBRA 0,47
727$/  727$/ 

Tabela 2 – Consumo energético evitado por Kwh/m2


7,32/2*,$ 727$/N:KP
CONVENCIONAIS 452,21
ECO-MATERIAIS 160,25
(1(5*,$(9,7$'$ 

Tabela 3 – Consumo energético evitado no CETS


7,32/2*,$ 727$/N:K
CONVENCIONAIS 246.454,45
ECO-MATERIAIS 87.336,25
ENERGIA EVITADA 159.118,2

Gráfico 1 – Materiais convencionais x eco-materiais – intensidade energética (Tep/m2)

160
140
120
100
80
60
40
20
0
CERÂMICA CERÂMICA TELHA FIBRA CIMENTO CIMENTO AÇO BAMBU
ECO ECO

703
Estimativa da redução de emissão de CO2 por m2:
Tabela 4 – Eco-materiais x materiais convencionais

(0,66®(6'(&2 (&20$7(5,$,6 (0,66®(6'(&2
&219(1&,21$,6
W&2P  W&2P


TIJOLO
TIJOLO CERÂMICO 0,029 0,011
SOLO-CIMENTO
CIMENTO 0,059 CIMENTO ECOLÓGICO 0,035
AGREGADOS DE
AGREGADOS 0,019 0,0009
ENTULHO
AÇO 0,004 BAMBU 0,000
TELHA PLANA 0,016 TELHA FIBRA 0,000007
727$/  727$/ 

Tabela 5 – Emissão de CO2 evitada


7,32/2*,$ 727$/W&2P
CONVENCIONAIS 0,127
ECO-MATERIAIS 0,047
EMISSÃO EVITADA 0,08

Tabela 6 – Emissão de CO2 evitada no CETS


7,32/2*,$ 727$/W&2P
CONVENCIONAIS 69,215
ECO-MATERIAIS 25,615
EMISSÃO EVITADA 43,60

Gráfico 2 – Materiais convencionais x eco-materiais – emissões de CO2 (tCO2/m2)

0,04

0,03

0,02

0,01

0
CE RÂMI CA CE RÂMI CA T E LHA FI BRA CIME NT O CIME NT OE CO AÇO BAMB U
E CO

Conforme demonstrado nas tabelas e gráficos apresentados acima, os ganhos energéticos


oriundos da substituição de materiais convencionais pelos eco-materiais utilizados para a
área construída total do CETS – 545 m2, ou seja, cimento ecológico, tijolo de solo-cimento,
eco-agregados, bambu e telha de fibras vegetais, corresponde a aproximadamente 35,43%,
e os ganhos relativos a emissões de CO2 evitadas correspondem a aproximadamente 37%.
704
Os resultados indicam ainda, que cada m2 construído no CETS apresenta uma redução
no consumo de energia elétrica em torno de 291,96 kWh, o que representa o consumo
mensal de aproximadamente 03 (três) unidades habitacionais de baixa renda. Consideran-
do toda a área construída do CETS, foi estimado um consumo de energia evitado de
aproximadamente 159MWh, ou seja, o equivalente ao consumo mensal de energia elétrica
de um condomínio residencial de baixa renda com cerca de 1600 unidades habitacionais.
No que tange os benefícios ambientais, o estudo indica uma representativa redução nas
emissões de dióxido de carbono, perfazendo um total de 43,6 tCO2 evitadas, o que
corresponde a possibilidade de comercialização de créditos de carbono equivalente a
U$436,00, ou seja, cerca de R$1.294,00 , valor suficiente para a aquisição de aproximada-
mente 18 cestas básicas de alimentação.
Estes resultados, embora parciais, demonstram a possibilidade de aplicação de materiais
não convencionais na construção civil, resultando em ganhos energéticos e ambientais rele-
vantes que conduzem a uma perspectiva sustentável de produção em escala do ambiente
construído. Cabe ressaltar que a substituição foi igualmente aplicada nas três propostas de
tipologias construtivas, sendo em todas elas observados resultados amplamente satisfatórios,
o que indica para uma consolidação sistemática dessas alternativas sem maiores compro-
metimentos tanto da prática projetual quanto da sua respectiva execução.

BIBLIOGRAFIA
ALBESA de RASI. Nidia. Planejamento e uso eficiente da energia elétrica; Plano Diretor, Perímetro Urbano, Uso do
Solo, Parcelamento, Ed. IBAM/DUMA, Rio de Janeiro.
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda, 1993.
BAHIA, Sérgio Rodrigues. Modelo para elaboração de Código de Obras e Edificações. Ed. IBAM/DUMA, Rio de Janeiro.
BARROS, Anésia. Manual de Conforto Térmico. Ed. Nobel.
FAROLDI, Emilion & VETTORI, M. Pilar. Diálogos de Arquitetura. São Paulo: Editora Siciliano, 1997.
FRAMPTON, Kenneth. História Critica de la Arquitectura Moderna. Barcelona: G. Gilli, 1987.
GRAEFF, Edgar A.. Arte e Técnica na Formação do Arquiteto. São Paulo: Studio Nobel, 1995.
MASCARÓ, J. L. O Custo das Decisões Arquitetônicas. Porto Alegre: Sagra Lozzatto, 2a. ed. revisada, 1998.
MASCARÓ, Lucia (coord.). Tecnologia e Arquitetura. São Paulo: Nobel, 1989.
MASCARÓ, Lúcia. Energia na Edificação - Estratégias para minimizar seu consumo. Ed. Projeto.
MONTANER, Josep Maria. La Modernidade Superada. Editorial Gustavo Gili, S.A . Barcelona, 1997.
HOPKINSON, PETHERBRIGDE e LONGMORE. Iluminação Natural. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1975.
RIVERO, R. Arquitetura e Clima: acondicionamento térmico natural. P.Alegre:D.C. Luzzato Ed.Ltda, 1985.

705
SISTEMAS PREDIAIS E ENERGIA:
APLICAÇÃO DO GÁS COMBUSTÍVEL
EM SUBSTITUIÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA
NO AQUECIMENTO DE ÁGUA RESIDENCIAL

Carlos Alberto Mariotoni*


Marcone Susumu Gomazako**

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir os aspectos econômicos da utilização de equi-
pamentos para aquecimento de água em residências através de gás combustível. Isto possi-
bilita a comparação técnico-econômica com equipamentos elétricos, enfatizando-se o alí-
vio de carga do sistema elétrico, visto que cerca de 25% do consumo energia elétrica é
devido ao setor residencial com predominância do aquecimento de água, notadamente em
residências de classes sociais mais baixas.
Segundo a ANEEL, os banhos com chuveiros elétricos são os principais causadores de
queda de tensão no horário de pico o que tem provocado sérios problemas de fornecimento,
principalmente ao setor produtivo, devido à sobrecarga em todo sistema elétrico nacional.
Palavras-chave: gás combustível, energia elétrica, economia.

INTRODUÇÃO
A energia elétrica brasileira possuía no final de 1999 uma capacidade geradora de 64,2
GW, sendo 58,4 GW proveniente de hidrelétricas (cerca de 91%), o restante 5,8 GW de
termelétricas, sendo 60% de óleo pesado, 13% de carvão e 27% de origem nuclear, e
praticamente sem participação do gás natural para fins de geração de eletricidade, o que
podemos considerar um país monoenergético.

*
Prof.Titular UNICAMP – FEC/NIPE/FEM (cam@fec.unicamp.br)
Msc.Marcone Susumu Gomazako – Prof. CEFET/SP - DoutorandoFEC-UNICAMP (gomazako@hotmail.com) -
**

Faculdade de Engenharia Civil, Arq. Urbanismo – UNICAMP – Tel.(019) 3788-2383 - Cx.Postal – 6021 - CEP 13.083-
852 – Campinas-SP - Apresentação Oral – Uso Eficiente de Energia (Econômico)

706
Com a crescente preocupação em relação à questão da crise energética, levou a popu-
lação brasileira a obrigatoriedade de racionamento de energia elétrica na ordem de 20%,
de junho a outubro de 2001, devido ao crescente aumento no consumo nos últimos
anos, com cerca de 4,1% a.a, e a redução dos investimentos na geração tem provocado
uma constante diminuição dos reservatórios das usinas na maior parte do país, aumen-
tando a produção de energia elétrica acima de sua capacidade, assim como o êxodo rural
que tem provocado o aumento da concentração da população urbana e o consumo de
energia elétrica nas ultimas décadas (82% - IBGE 2000).
O setor residencial corresponde com cerca de 25% da energia elétrica consumida no
país e, dentro deste setor, tem-se uma participação em torno de 26% o aquecimento de
água, que pode variar dependendo a tipologia instalada, de acordo com a figura 1.
Portanto pode-se facilmente concluir que apenas com o aquecimento de água na
higiene pessoal, em diversas classes sociais, a energia elétrica utilizadas nas residências
brasileiras para esse fim, é responsável por mais de 6,0% de todo o consumo nacional,
e esse fato tem sido o principal causador da deficiência do fornecimento de energia
durante o horário das 17:00 às 21:00, horário de pico,figura 2, representando um au-
mento substancial de até 45% da potência instalada durante esse período, apresentado
por PRADO & GONSALVES (1998), que monitoram um conjunto habitacional de
edifícios populares na cidade de São Paulo.
Figura 1- Consumo de energia elétrica residencial (Fonte –PROCEL)
Consumo Residencial




aq. agua
ferro elétrico
iluminação
refrigeração
  tv
outros



Figura 2 - Demanda de energia elétrica

707
Devido à multiplicidade de usos, segurança e simplicidade de distribuição e armazenamento,
tem levado a população se utilizar do gás combustível principalmente na cocção de alimentos
e em pequenas proporções no aquecimento de água residencial, principalmente após a crise
do racionamento de energia elétrica ocorrida no segundo semestre de 2001, que pode ser
utilizada também em saunas, piscinas, fornos, calefação de ambientes, secadoras, lareiras e em
algumas geladeiras (utilizadas em regiões que não possuem energia elétrica).
Particularmente no aquecimento de água domiciliar, uma outra alternativa bastante
interessante é a utilização de energia solar, visto que o Brasil, um país de clima tropical
e subtropical, possui uma grande incidência dos raios solares, praticamente constante
durante o ano todo.
No caso de equipamentos elétricos de aquecimento de água residencial, atualmente são
encontradas várias opções de aparelhos e fabricantes no mercado, desde os denominados
chuveiros “populares” de 4,4 kWh até os mais luxuosos aquecedores de passagem de
grandes potências até 10,56 kWh, que embora tendo uma grande eficiência com cerca de
90%, tem baixo rendimento 864 kcal/kWh. Por outro lado o gás combustível também
possui uma boa eficiência, com cerca de 80% porém com alto rendimento, cerca de 11.000
kcal/ kg ou 24.000 kcal/Nm3 no caso do GLP ou 9.000 kcal/Nm3 no GN.
Tratando-se de gás combustível, o Brasil apesar de não ser auto-suficiente em petróleo, pro-
duz cerca de 80 % de seu consumo, está bem servido com relação ao gás natural possuindo
reservas de 252 bilhões de m3 (em 2001), que teve um acréscimo significativo de 400 bilhões de
m3 com a recente descoberta na Bacia de Santos (2003), e praticamente triplicou nossas reservas.
Além da importação através do gasoduto Brasil-Bolivia, de 30 milhões de m3/dia atuais, e com
possibilidade de aumentar em 70 milhões de m3/dia, apenas da Bolívia.
Além dessas fontes de gás natural, existem novas interligações em processo ou em anda-
mento com países vizinhos produtores e com grandes reservas, como o Peru que recente-
mente descobriu uma das maiores reservas de gás natural da América do Sul em Camisea,
próxima ao Estado do Acre, assim como da Argentina e da Venezuela, possuidores de
grandes reservas (provadas),figura 3.
A importação de gás natural da Bolívia pela Petrobrás se faz através de contrato chamado
“take or pay”, ou seja, mesmo o Brasil não consumindo a cota contratada, ela paga o consumo
equivalente a 30 milhões de m3/dia, em dólares, representando saída de divisas de nosso país.
Figura 3 - reservas de gás natural
5HVHUYDVGH*DV1DWXUDO


4500 
4000
ñ 3500
P
HG 3000
V 2500
H} 2000
KLO 1500 
 
 
E 1000  
500 
0
OD UX LO D LD
XH 3H DV LQ OLY
%U QW %R
QH] UJH
9H $
SDtVHV
Fonte: DOE/IEA,Petrobrás – Gás Brasil

708
O Brasil, conforme Santos E.M - ( Programa de Energia da USP), é o único país do
mundo, que se utiliza da energia elétrica para transformar em energia térmica na ordem de
40% da energia gerada, sendo que nos paises desenvolvidos essa proporção não ultrapassa
de 15%, isto significa que grande parte da energia elétrica poderia ser substituída por outro
tipo de energia, principalmente na geração de calor. Mas isto se deve ao fato que durante a
década de 80, que devido a grande oferta de energia elétrica com o início de operação de
novas usinas hidrelétricas, o governo incentivou as empresas a substituição de fornos e
caldeiras movidas a óleo pesado, bastante poluentes por eletricidade, dando incentivos
fiscais e oferecendo linhas de créditos a juros subsidiados. Atualmente estes estímulos estão
voltados na migração desses equipamentos que utilizam gás natural como insumo energético,
aliviando o sistema de fornecimento de energia elétrica.
2 - Objetivo
O presente trabalho tem por objetivo monitorar a energia de alguns modelos de aparelhos
de aquecimento de água, elétrico e a gás combustível, disponíveis em nosso mercado, assim
com demonstrar que outro insumo energético pode ser utilizado no aquecimento de água
utilizada no asseio corporal, além da necessidade de mudança cultural em relação ao energético.
O problema é que na maioria dos sistemas de aquecimento residencial, em todas as
classes sociais, principalmente nas de menor poder aquisitivo, adota a energia elétrica para
transformar em energia térmica, seja aquecedores de passagem instantâneos ou acumula-
ção, devido à facilidade de instalação e manutenção, baixo custo na aquisição e grande
variedade de produtos encontrados em nosso mercado.
Por exemplo, de maio de1995 a maio de 1996 o consumo de energia elétrica do setor
residencial cresceu 12,9% em consumo, o setor comercial 10,8% enquanto que o setor
industrial decresceu em 1,9% no mesmo período, em contra partida o governo tem deixa-
do de investir no setor, deixando essa responsabilidade a iniciativa privada.
Mas esse cenário está começando a mudar, em cidades como São Paulo e Rio de Janei-
ro, já preocupadas com a grande demanda de energia elétrica de sua região, principalmente
no horário de pico, têm impedido a instalação de mais de um ponto de chuveiro elétrico
em novas moradias, obrigando os projetistas a buscarem uma nova alternativa para o
aquecimento de água em outros pontos.
Essa alternativa pode ser a adoção pelo sistema de aquecimento através de gás combus-
tível, onde nas localidades que possuem infra-estrutura favorece a alimentação desses equi-
pamentos ligadas a rede de gás natural, e em outras localizações, esses aparelhos devem ser
alimentados através de uma central de GLP, botijões individuais ou tanque estacionário
localizado em ambiente externo, isolado e arejado, sendo proibido a instalação de botijões
em ambientes confinados, como interiores de apartamentos e residências, visando a segu-
rança e integridade física dos moradores.
Tratando-se de aquecimento de água principalmente para higiene pessoal, deve-se lem-
brar que esta apresenta variáveis, como consumo de água, energia, fluxo, temperatura e
riscos aos usuários. Enquanto consumo, demanda de água e energia afetam principalmente
o aspecto econômico, o fluxo e a temperatura afetam diretamente o conforto do usuário,
além da exposição aos riscos de choques elétricos e das águas escaldantes que podem
ocorrer, dependendo do sistema instalado, Racine et al.
709
Lembrando que nos reservatórios de água quente, os chamados boilers, também estão
sujeitos ao risco de contaminação por Legionella pneumophila (que se manifestam em águas
com temperaturas entre 25ºC e 45ºC, onde já foram catalogadas cerca de 40 tipos diferen-
tes dessas bactérias encontradas nesses ambientes).
A quantidade de água quente consumida por pessoa, seja em apartamentos ou
residências unifamiliares varia de acordo com a localização geográfica, clima, renda,
hábitos e tipo de instalação.
3 - Metodologia
A partir de uma amostragem através de 165 questionários distribuídos entre servidores, discen-
tes e docentes do CEFET - São Paulo, Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo,
onde foram questionadas sobre os tipos e hábitos de higienização individuais utilizadas em suas
residências, constatou-se que a grande maioria se utiliza do chuveiro elétrico (92%) como forma de
aquecimento de água no asseio corporal (confirmando a preferência nacional), como mostra a
figura 4 abaixo, e o restante dividido em: 1% de energia solar, 1% de aquecimento central a gás
combustível, 4% aquecimento de passagem elétrico ou gás, e 2% aquecimento central elétrico.
Figura 4 - tipos de aparelhos de aquecimento de água

7LSRGH$TXHFLPHQWR
chuveiro elétrico
0%
1%
1% aquecedor central
4% elétrico
2%
aquecedor passagem
(Elétrico/GLP/GN)
aquecedor central
92% GLP/GN
aquecedor solar

outros

A partir desses dados, partimos para monitoramento do consumo de alguns aparelhos de


aquecimento de água instantâneos de passagem elétricos e a gás GLP, sendo dois tipos de chuvei-
ros: um modelo “popular” de 4,40 kWh e outro eletrônico de 6,50 kWh com regulagem de
temperatura gradual, dois aquecedores de passagem elétricos, um a gás GLP, de fluxo
balanceado, sendo o único modelo permitido em ambientes confinados (banheiros), con-
forme fig. 4,5 e 6..
Figura 5 - Chuveiros elétricos

710
Figura 5 - Aquecedores de passagem elétricos

Figura. 6 - Aquecedor de passagem à gás GLP (fluxo balanceado)

A partir daí foram monitorados os aparelhos acima, onde foram coletados seus
respectivos desempenhos, verificando principalmente sua relação custo/beneficio,
pois a maioria se preocupa apenas o custo inicial do equipamento sem se preocupar
com sua correta instalação, o que pode prejudicar seu desempenho inviabilizando o
sistema, e deixando de observar o custo energético.
O chuveiro elétrico, equipamento de passagem de aquecimento instantâneo pon-
tual, relativamente simples e eficiente, com invólucro metálico ou plástico de fácil
instalação e manutenção, bastante acessível, encontrados no mercado em torno de
R$ 25,00, que possui uma potência que varia de 4,40 kWh a 5,40 kWh, com restrição
de vazão em cerca de 3,0 l/min, e geralmente com três opções de temperatura,
quente (4,38 kW), morno (2,47 kW) e frio (desligado), expondo ao usuário o risco
de choque elétrico, pois a maioria deles ainda não permitem a utilização interrupto-
res DR, com maior sensibilidade de fuga de corrente.
Outro tipo de chuveiro, a ducha eletrônica, mais aprimorada exige um correto
dimensionamento do sistema elétrico, uma fiação mínima de 6,0 mm2, com disjuntores de
35A aceitando disjuntores DR, portanto com maior proteção ao risco de choque elétrico.
711
Possui uma potência de 6,5 kWh, com monitoramento gradual de energia de 5
opções de aquecimento, 0 (frio), 1 (1,43 kWh), 2 (2,31 kWh), 3 (3,95 kWh) e 4 (6,23
kWh), que também sofre limitações de vazão (4,0 l/min). E ao considerar o custo do
aparelho, da instalação adequada, sendo cerca de R$ 250,00 do aparelho, R$ 80,00 o
rolo de cabo 6mm 2, o disjuntor DR R$ 90,00 a R$ 120,00, verifica-se que o sistema
não atende o anseio da maioria da população.
Os aquecedores de passagem elétricos instantâneos são equipamentos que possu-
em uma tecnologia diferenciada e aperfeiçoada, podendo atender todos os pontos
de utilização do ambiente, chuveiro, banheira, lavatório e bidê, porém individual-
mente, com restrição de vazão, e elevado consumo de energia (de 9,1 kWh “I” a
10,56 kWh “II”). Possuem dispositivos de regulagem gradual de potência através de
potenciômetros, e no caso do aparelho “II” possui sistema de monitoramento ele-
trônico onde é possível escolher a temperatura visualizando através de dial.
Ao serem instalados nos banheiros ou cozinhas, devemos observar certos cuida-
dos importantes, como as tubulações de abastecimento de água quente (cobre, cpvc
ou pex) a partir do aparelho com devida proteção, fiação adequada (mínimo 10
mm 2) com aterramento adequado (mínimo 4,0 mm2), tubulação de água fria, disjuntor
DR 63 A., conforme fig.7.

Figura 7 - Esquema de instalação de aq. passagem elétrica

Fonte: Cardal

Esse tipo de aquecedor pode causar risco de queimadura, caso o usuário se descui-
dar na utilização do misturador, porém sem risco de choque elétrico, devido a incor-
poração de resistências blindadas no seu sistema de aquecimento, além de regulagem
da temperatura de forma gradual.
712
Num banheiro como o modelo acima, tem um custo aproximado de R$ 1.600,00
apenas com a instalação desse modelo de aparelho, dos sistemas elétrico e hidráulico. Esse
custo pode variar conforme o tipo de tubulação e acabamento dos metais, onde existe
uma grande variedade de opções de modelos e acabamentos de diversos fabricantes.
O aparelho de passagem a gás combustível avaliado foi um de 6 litros/min, com potên-
cia de 9.500 kcal/h ou 11 kWh, de fluxo balanceado (figura 6), com custo aproximado de
R$ 600,00, que neste caso necessita de uma tubulação de gás para sua alimentação, onde o
custo gira em torno de R$ 300,00, dispensando fios e disjuntores específicos, e pode ser
perfeitamente instalado no modelo de banheiro acima (figura 7).
4 - Avaliação
De acordo com as medições, simulou-se o asseio corporal de uma família constituída
de 5 pessoas, sendo que cada um levava cerca de 10 minutos, durante 30 dias (1 mes),
utilizando-se de equipamentos de aquecimento de água, acima citados, a gás combustível e
elétrico, que atendem satisfatoriamente os usuários, desde que obedecidas as recomenda-
ções dos fabricantes.
E, considerando-se apenas o insumo energético apenas para o asseio corporal, valores
em R$ (reais), analisou-se o banheiro da configuração acima, figura 7, onde o modelo
permite tanto a ligação de um aparelho de aquecimento de passagem a gás ou elétrico,
exceto na alimentação.
Lembrando que a produção de calor é medido pelo poder calorífico do insumo, no
caso da energia elétrica de apenas 864 kcal/kWh, do gás GLP (gás liquefeito de petróleo) é
de cerca de 11.000 kcal/kg ou 24.000 kcal/Nm3 e do GN é de 9.600 kcal/Nm3, cujos
rendimentos variam de 90% para energia elétrica e 80% para o gás.
A partir da energia liberada por 1 kWh, o equivalente a 864 kcal, o que corresponde a
0,092 m3 de GN (gás natural) e 0,07 kg de GLP (gás liquefeito de petróleo), e a energia
elétrica possui um rendimento de 90% e os aquecedores à gás de 80%, pode-se considerar
a equivalência entre os insumos energéticos de:
Eletricidade: 1 kW/ 0,90 = 1,11 kW = 960 kcal
Gás Natural: 0,092/ 0,80 = 0,115 m3
Gás GLP: 0,070 / 0,80 = 0,09 kg
E, considerando-se o consumo e o custo energético verificou-se que para aquecer o
mesmo volume de água são necessários 1,11 kWh de energia elétrica, que equivale a 0,115
m3 de GN e 0,09 kg de GLP. Sendo:
Eletricidade 1 kWh = R$ 0,42 (Fonte Eletropaulo-03/04)
GLP 1 kg = R$ 2,46 (Fonte Ultragás –S.Paulo)
GN 1 m3 = R$ 2,44 (Fonte Comgás-2004)
Portanto tem-se uma economia em relação a energia elétrica de cerca de 45% com
relação ao GLP e 40% para o GN que é uma economia bastante considerável.

713
Tab.1 - Custo aproximado de alguns modelos de aparelhos
(com alimentação próxima ao consumo)- valores coletados na primavera

9D]mR
&XVWR 'LIHUHQFLDO 3HUtRGR OPLQ  1ž &RQVXPR &RQVXP &XVWR 'HVSHVD
$SSDV 5  GHLQVWDO 5  GHEDQKR W ž& SHVVRDV GLiULR RPHQVDO HQHUJLD PHQVDO
5  5 

Gás 6 l Tubul. Gás


600,00 10 min 6 5 0,65 kg 19,5 kg 2,46 47,97
11.000W 1.900,00

Elétrico DR/fio/elet.
“II” 500,00 1.960,00 10 min. 6 5 8,80 kW 246 kW 0,42 103,32
10.560W

Elétrico “I” DR/fio/elet.


540,00 10 min. 5,5 5 7,55 kW 227 kW 0,42 95,34
9.100W 1.960,00

Ducha DR/fio/elet.
250,00 10 min. 4,0 5 5,40 kW 162 kW 0,42 68,04
6.500W 200,00

Chuv. Disj/fio/elet.
25,00 10 min. 3,0 5 3,65 kW 110 kW 0,42 46,20
4.400W 80,00

5 - Conclusão
Considerando-se apenas o aparelho, cada modelo tem sua particularidade, e o chuveiro
elétrico “popular” é imbatível na relação custo beneficio ao consumidor, pois além de uma
solução relativamente simples e eficiente, é acessível à população menos favorecida, e pro-
picia ao usuário um asseio corporal adequado e uma economia de água considerável.
O sistema não exige instalação especial, a não ser o cuidado da correta instalação elétrica,
sempre aterrada e fiação adequada, tanto que existem mais de 20 milhões de unidades
instaladas no país, Racine et al.
Porém devido à concentração do horário de banho do brasileiro, entre 17:00 e 21;00,
tem provocado sérios riscos no abastecimento de energia elétrica, elevando as tarifas co-
bradas em até 6x nos setores produtivos e de serviços durante esse período.
Cabe ressaltar que o custo social envolvido no chuveiro elétrico, em torno de US$
1000,00 por unidade instalada, entre geração, transmissão e distribuição, é desconhecido
pela maioria da população, e principalmente devido a esse fato deve-se procurar a mudan-
ça de energético, e o gás combustível é uma opção bastante interessante, já que atualmente
a oferta é considerável e a demanda reprimida.
Analisando-se os aparelhos, as particularidades de cada um, foi verificado que os
custos de suas instalações praticamente se equivalem, com exceção do modelo “popu-
lar”, e em determinadas configurações do sistema instalado, de acordo com a distância
do aparelho ao do quadro de distribuição o sistema elétrico torna-se bastante oneroso,
devido a necessidade de uma fiação mais adequada.
714
Com relação ao desempenho dos aparelhos de aquecimento de água a gás combustível,
estes proporcionam maior conforto ao usuário, disponibilizando uma vazão de água com
temperatura adequada, mesmo na adversidade das temperaturas internas, com menor cus-
to energético e maior eficiência, sendo que tem seu custo energético fixo no caso do GLP,
e escalonamento decrescente no GN, enquanto que a energia elétrica a tarifa é crescente e se
encontra defasada, com projeções de reajustes acima da inflação oficial do período.
Além dos benefícios que o gás pode proporcionar, com maior conforto ao usuário, a
parcela de energia elétrica retirada do aquecimento de água das residências, poderá ser
transferida para o setor produtivo, gerando de empregos e renda para nossa nação, alivian-
do o sistema elétrico nacional.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] NBR 14570/00 – Instalações internas para uso alternativo dos gases GN e GLP – Projeto e execução;
[2] Prado, R.,T., Gonsalves, O.M ,Water heating trought electric shower and energy demand, Enery and
Buildings 29 (1998) 77-82;
[3] Pierobom,E., Chagury, J., Estudo de viabilidade de utilização de gás para aquecimento de água em instalações
prediais, Estudo de caso – Procobre 2000;
[4] Ming, C. Números alarmantes, Jornal da Tarde, artigos, p.2.A, 18/07/2000;
[5] Melloni, E., Governo federal tem novo inimigo: o chuveiro elétrico, Gazeta Mercantil, artigos 22/10/1996;
[6] Gás Brasil – www.gasbrasil.com.br/atualidades/boletins
[7] Gasnet- www.gasnet.com.br/artigos
[8] Cenário Energético Brasileiro- http://www.green.pucminas.br/CenarioEnergeticoPrincipal.htm
[9] C&C – Materiais de Construção
[10] Aricanduva – Comercial e Elétrica –Tab.Nov./2001
[11] Manual de Instalação, Uso e Manutenção – Aquecedores Orbis;
[12] Manual de Instruções de Aquecedor Central CARDAL;
[13] Manual de Instalação – Aquecedor Central Digital KDT

715
ANÁLISES ENERGÉTICA E EXERGÉTICA
EM UM CHILLER DE ABSORÇÃO
UTILIZANDO GÁS NATURAL PARA
A CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS

Lair de Souza Bartolomeu*


Ednildo Andrade Torres**
Gabriel Francisco da Silva ***

RESUMO
Este trabalho tem a finalidade de analisar um método alternativo de conservação de frutas tropicais em
câmara refrigerada através da tecnologia de utilização do gás natural como fonte energética. O estudo foi
realizado em um chiller de absorção, modelo Robur, de 5TR, o qual encontra-se no campus da UFS/LTA.
A análise energética teve como objetivo estudar o processo envolvendo o ciclo e seus componentes. Da análise de
primeira lei obteve-se uma potência de refrigeração de 8,8 kW e um COP=0,32 e da análise de segunda lei
a b =0,29. A análise exergética teve por propósito avaliar a quantidade e a qualidade da energia no
sistema. O gerador de calor foi o componente que apresentou a maior irreversibilidade, cuja relação com a
irreversibilidade total foi cerca de 70%. No absorvedor foi verificada a menor eficiência exergética. Projeto
é apoiado pela Rede GásEnergia/Petrobras.
Palavras-chave: Refrigeração, Absorção, Eficiência Exergética, Análise Energética, Amônia.

ABSTRACT
The work consists of the energetic and exergetic analysis of a single effect absorption refrigeration system
using the pair ammonia-water, as cooling, and using the direct burning of the natural gas. This project is
supported by the Rede Gás-Energia/Petrobras. The energy analysis had as objective to study the process
involving the components of the cycle. Chiller Robur mark, which meets in the campus of the UFS/LTA

*(Apresentadora do trabalho): UFBA/Escola Politécnica/DEQ/PPEQ/LEN/ Rua Aristides Novis, n°2, 3°andar,


Federação/ Salvador-Bahia-Brasil, Tel: (71) 2039878, Fax: 2039810, lair_sb@click21.com.br
**UFBA/Escola Politécnica/DEQ/PPEQ/LEN/ Rua Aristides Novis, n°2, 3°andar, Federação/Salvador-Bahia,
ednildo@ufba.br
***Universidade Federal de Sergipe - Departamento de Engenharia Química, Av Marechal Rondon s/n, Jd. Rosa Elze,
CEP 49100-000 São Cristóvão SE, gabriel@ufs.br

716
and it was evaluated for an heat transfer rate the 29,13 kW, whose equipment cooling capacity changes
from 24,61 kW (5 TR) and it supplied cooling for three cool chambers for fruits preservation. The intention
of the energetic analysis was to study the process including the cycle and its components. According to the first
law of thermodynamics a refrigeration power value it was found equals 8,8 kW and a COP=0,32 and
from the second law a b =0,29. The exergetic analysis had as purpose evaluate the quantity and the quality
of the energy in the system. The generator was the component that presented a great irreversibility, whose
relationship with the total irreversibility is about 70%. In the absorber was observed the lesser exergetic
efficiency, therefore, the optimization of the system should start up for these components.
Keywords. Refrigeration, Absorption, Exergetic Efficiency, Energetic Analysis, Ammonia.

1. INTRODUÇÃO
Na medida em que o mundo avança para o reconhecimento de que não se podem
desperdiçar recursos e que todas as regiões devem ser incorporadas ao processo produtivo
abre-se caminho para a geração descentralizada, de potência e de frio.
Diferentes tecnologias estão disponíveis para geração de frio para as mais distintas apli-
cações industriais, comerciais ou residenciais. Historicamente, a refrigeração consolidou-se
no uso da tecnologia de compressão de vapor, baseada no uso da energia elétrica. Atual-
mente, com o aumento dos custos de geração de energia elétrica e a racionalização do uso
das fontes de energia disponíveis, outras tecnologias para geração de frio tornaram-se
viáveis. Através da tecnologia de refrigeração por absorção pode-se gerar frio a partir de
uma fonte de calor, como a queima do gás natural.
A refrigeração por absorção é uma tecnologia que utiliza fundamentalmente calor (e
pouca ou nenhuma eletricidade) para a geração do frio. E este pode ser produzido mesmo
em pequena escala, através de equipamentos de pequeno porte instalado no local de inte-
resse, fazendo com que pequenos investidores tenham acesso à mesma.
A utilização da refrigeração por absorção com o fluido de trabalho sendo água-
amônia, elimina a emissão de compostos fluorclorados à atmosfera, agressores a cama-
da de ozônio. E a substituição dos demais combustíveis pelo gás natural elimina a emis-
são de óxidos de enxofre, fuligem e materiais particulados, e as emissões de CO e NOx
podem ser relativamente controladas.
Muitos parâmetros afetam o desempenho do ciclo de refrigeração por absorção. A fim de
otimizar o projeto térmico, uma análise termodinâmica completa se faz necessária. O método
mais comumente utilizado é o da análise de primeira lei da termodinâmica sendo representado
pelo coeficiente de performance (COP), que quantifica a relação de energia produzida e a
necessária pra obtê-la, esta metodologia é também conhecida como análise energética; entretan-
to, ela não mostra como ocorrem as irreversibilidades em um sistema ou em um processo.
A análise de segunda lei da termodinâmica é outro método utilizado para analisar ciclos
termodinâmicos, mas para alguns, ainda pode ser novo. Ao contrário da análise de primei-
ra lei, a análise de segunda lei apresenta propósitos mais vastos que incluem o conceito da
qualidade da energia. A análise exergética constitui um referencial importante aos progres-
sos em sistemas de pesquisas na redução das irreversibilidades detectadas nos equipamen-
tos, na produção, e concorre na melhora da qualidade e na eficiência nos mesmos.
717
Da análise da literatura (Bejan, 1988), (Kotas, 1985) e (Szargut, 1988) identificou-se metodologias
de análises exergéticas para diversos sistemas térmicos. Para ciclo de absorção em simples efeito
(Aphornratana e Eames 1995) apresentaram uma análise exergética de um ciclo de refrigeração
por absorção tendo como fluido de trabalho o brometo de lítio/água. Ng et al (1997) apresenta
um modelo termodinâmico para o estudo do sistema de refrigeração por absorção, incluindo
algumas equações de processo, como temperatura média, e termos que internamente causam
irreversibilidades, do par água/amônia como também o par brometo de lítio/água. Silveira et
al (1999), apresentaram uma análise do experimento que transfere calor, e realizou uma análise
exergética associada ao estudo termo-econômico na avaliação do equipamento. Santana e Tor-
res (2003) realizaram uma análise energética e exergética de um sistema de cogeração para
produção de energia elétrica e frio para um shopping center, de grande porte.
No presente trabalho é realizada uma análise de primeira e segunda leis da termodinâmica,
de um sistema de refrigeração por absorção, usando o par Água/Amônia, que tem capacida-
de de produzir frio que pode variar entre 10,55 a 24,61 kW (de 3 a 7 TR). O sistema trabalha
em simples efeito e usa como fonte de energia a queima direta do gás natural no gerador de
calor, o frio gerado é utilizado em três câmaras frigoríficas para conservação de frutas.
1.1. Caracterização do Sistema
O sistema de refrigeração por absorção operado em simples efeito foi instalado no Labo-
ratório de Tecnologias Alternativas da Universidade Federal de Sergipe, projeto apoiado pela
Rede GásEnergia/Petrobras, sendo constituído de um chiller de absorção com queima direta,
quatro câmaras frigoríficas, sendo uma operada pelo método convencional, sistema de
armazenamento de gás natural e painel de controle do processo. O chiller é apresentado na
figura 1, e é composto basicamente de: gerador, absorvedor, condensador, evaporador, uma
solução trocadora de calor, retificador, trocador de calor e a duas bombas
Figura 1 - Chiller de absorção em simples efeito

A Figura 2 mostra um diagrama esquemático de um ciclo de refrigeração por absorção


em simples efeito. No gerador é queimado o gás natural e a energia térmica é transferida,
através dos gases proveniente dessa combustão, para o vapor de amônia à alta pressão e
temperatura. O vapor de amônia vai para o condensador, troca calor com o meio, e é
718
condensado e se dirige para válvula de expansão e em seguida entra no evaporador produ-
zindo o frio necessário ao sistema. O vapor de amônia à baixa pressão entra no absorvedor,
onde é posto em contato com a solução pobre de amônia, trocando calor com o meio. Esse
processo ocorre a uma temperatura próxima da do ambiente. A solução forte de amônia é
então bombeada passando pelo trocador de calor, pré-aquecendo-se com a solução fraca
proveniente do gerador de calor, iniciando um novo ciclo (Wylen e Sontang, 1995).
Figura 2 - Diagrama esquemático do ciclo de refrigeração por absorção em simples efeito

2. METODOLOGIA
2.1. Análise Energética e Exergética
Para a análise termodinâmica, inicialmente dividiu-se sistema em seis volumes de contro-
le de acordo como mostrado na figura 1. A seguir aplicou-se a conservação da massa
equação (1), a conservação da energia a equação (2) para cada volume de controle, admitin-
do o processo em regime estacionário.
A primeira lei estabelece a conservação da energia, isto é, a energia da entrada de um
sistema é igual a da saída. Entretanto, a segunda lei impõe limitações sobre a conversão da
energia. Por exemplo, o trabalho pode ser convertido completamente em calor, mas não se
pode converter todo o calor disponível em trabalho. Na primeira lei, o calor e o trabalho
são definidos como energia, que se conserva. Mas pela análise de segunda lei, as interações
do calor e do trabalho são mais bem compreendidas quando definidas pela exergia, que
diminui a cada processo de transformação gerando as irreversibilidades.
Estabelecendo seis volumes de controle para cada componente e um geral envolvendo todo
o sistema, vide Figura 1. Foi considerando que todos componentes operam em estado estacio-
nário, e a contribuição energética proveniente das energias cinética e potencial são desprezadas.
∑ msaí = ∑ m ent (1)

Qvc = ∑ msaí h saí - ∑ m ent h ent (2)

onde: m = vazão (kg/s) , Qvc = Calor no volume de controle (kW), h = entalpia (kJ/kg).
719
O coeficiente de performance (COP) do sistema é definido como a razão entre a
energia obtida no evaporador (Qe) a energia transferida pela queima do gás natural no
gerador de calor (Qg):

&23 =
4H
4J (3)
O coeficiente de performance ideal (COPideal) é determinado em função das temperatu-
ras absolutas do sistema (Stoecker e Jabardo, 1995):

7 (7 −7 )
&23LGHDO = 7HY (7J −7 DE) (4)
J F HY

A seguir a equação 5, mostra a relação entre o COP real e o COP ideal (Bejan, 1988).
Esta relação identifica o quanto o sistema real se afasta do ideal.

η =
&23 UHDO
(5)
VLV
&23 LGHDO

A análise exergética ou de segunda lei da termodinâmica leva em consideração


outros parâmetros, como por exemplo: as entropias e as irreversibilidades dos pro-
cessos, o que contribui para identificar a qualidade da energia.
A exergia pode ser interpretada como o máximo de energia disponível, que
pode ser transformada em outras formas de energia ou trabalho útil de cada proces-
so; para calcular a exergia é necessário que se defina o estado de referencia (P0, T 0, ì 0).
As condições de referencias usadas nesta análise foram T 0 = 25°C (298,15 K) , P0 =
101,3 kPa e ì 0=0.
Segundo Torres (1999) a exergia total pode ser divida em: exergia cinética
(EX cin ), potencial (EX pot ) e tér mica; a exergia tér mica se divide ter momecânica
ou física (EX tm ) e química (EX ch ).
Para esta análise foi considerado que o sistema opera em estado estacionário, e
a exergia física para cada estado é dada pela Equação (6) (Kotas, 1985).

ex = (h – h0) – T0(s – s0) (kJ/kg) (6)

Para solução binária (amônia/água), os cálculos da entropia e entalpia são dados pelas
equações (7) e (8), (Cortez, 1998), respectivamente, que em seguida retornam a equação (6)
para o cálculo da exergia:

s = xf . saL + (1-xf) . swL + sE + smix (7)

h = xf . haL + (1-xf) . hwL + hE (8)


onde: xf = a concentração de amônia na solução; saL = a entropia da amônia; swL
= a entropia da água. sE = entropia de excesso; h E = entalpia de excesso e smix =
entropia da mistura ideal.
720
2.2. Irreversibilidade
Para o cálculo da irreversibilidade pode-se fazer pelo teorema de Gouy-Stodola (Kotas,
1985) equação (9) ou pela variação de exergia entre insumo e produto equação (10).
I = T0 . ∆s (9)
onde T0 = Temperatura de referencia (298,15 K) e ∆s = a variação de entropia do sistema.
I = Exergia do Insumo (F) – Exergia do Produto (P) (10)
onde, “insumo” é a diferença de exergia dos fluxos que são entregues ao processo, e que
por sua vez produz um “produto” na forma de uma outra diferença de exergias.
2.3. Eficiência Exergética
A eficiência exergética ou eficiência racional (β) (Kotas, 1985), é a uma relação entre a
variação da exergia dos produtos e a exergia necessária para os insumos dos proces-
sos, assim definida por:

∆ H[ SURGXWRV
β = ,onde 0 <β<1 (11)
∆ H[ LQVXPRV

2.4. Exergia dos Gases de Exaustão


Exergia Química: A exergia química é parte da exergia cuja origem está nas reações
químicas e na diferença de potencial químico entre o sistema e o meio, devido a diferen-
ças de concentrações entre os mesmos. Considerando como gás ideal, chega-se a seguin-
te expressão, (Zargut,1988):

\12 \22 ln \&2 \ + 22


H[FK = 570 [ \ 1 2 ln + \22 ln + \&2 ln 2
+ \ + 2 2 ln + ln(1 + ; 0 )] (12)
0,7893 0,2099 2 0,000345 0, ; 0

2.5. Parâmetros Termodinâmicos


Na tabela 1, são apresentados os valores das diversas temperaturas da entrada e saída de
cada componente do sistema térmico, as concentrações da solução e o calor disponibilizado
pelo gerador de calor, utilizados nesta simulação.
Tabela 1 - Parâmetros do Sistema
Calor disponível pelo gerador (Qg) 29,13 kW
Temperatura de saída do condensador (tc) 48 °C
Temperatura de saída do evaporador (tev) -4 °C
Concentração da solução concentrada (X2) 0,63 %
Concentração mínima da solução diluída (X7min) 0,48 %
Temperatura dos produtos de combustão de entrada (t17) 450 °C
Temperatura dos produtos de combustão de saída (t18) 185 °C
Temperatura de entrada da água gelada (t13) 11 °C
Temperatura da saída da água gelada (t14) 5 °C
Temperatura do ar de refrigeração na entrada do absorvedor (t15) 27 °C
Temperatura do ar de refrigeração na saída do absorvedor (t16) 34 °C

721
3. PROPRIEDADES TERMODINÂMICA
Para o cálculo das funções termodinâmicas (entalpia, entropia e exergia) foram uti-
lizadas as propriedades (temperatura, pressão e vazão) explicitadas na tabela 2 e as
equações descritas na metodologia deste trabalho. Foi desenvolvido um simulador ten-
do como base a plataforma computacional EES-Engineer Equation Solver, onde foram
calculadas as funções termodinâmicas.
Um valor de taxa de transferência de calor foi utilizado no gerador (Qg) igual a 29,13
kW, que corresponde a um consumo de gás natural de 2,23 kg/h e o poder calorífico
inferior foi de 46982 kJ/kg.

Tabela 2 - Propriedades termodinâmicas dos pontos considerados.


T (°C) h (kJ/kg) XAm (%) m (kg/h) s (kJ/(kg.K)) ex (kJ/kg) Ex (kW)
1 88 1463 99,98 62,86 4,645 171,1 2,9876
2 48 430,5 99,98 62,86 1,768 4,675 0,0816
3 -4 936,6 99,98 62,86 3,738 -82,0 1,4381
4 -4 1458 99,98 62,86 5,674 -143,7 -2,5091
5 39 -57,31 63,00 217,9 0,410 -175 -10,5923
6 39 -57,31 63,00 217,9 0,410 -74,29 -4,4966
7 61 47,85 63,00 217,9 0,729 -65,24 -3,9488
8 88 150,6 48,00 255,1 1,025 -51,48 -3,6479
9 54 -13,06 48,00 255,1 0,556 -74,08 -5,2493
10 54 -13,06 48,00 255,1 0,556 -174,8 -12,3865
11 29 303,1 0,00 12343 5,711 -0,0089 -0,0305
12 34 307,6 0,00 12343 5,726 0,0487 0,1670
13 11 46,27 0,00 1302,6 0,166 2,092 0,7570
14 5 21,12 0,00 1302,6 0,076 3,869 1,4000
15 27 300,6 0,00 12343 5,703 -0,0125 -0,0428
16 34 307,6 0,00 12343 5,726 0,0487 0,1670

4.0. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


De acordo com a Tabela 2, a exergia de alguns pontos apresentaram valores negativos
pelo fato dos valores das propriedades estarem abaixo das condições de referência (T0, P0).
No ponto 2 a condição do fluido é vapor superaquecido onde os valores da entalpia e da
entropia são elevados.
A figura 3 ilustra os valores da eficiência dos volumes de controle adotados, determina-
da pela equação (11); a figura 4 apresenta os valores das irreversibilidades de cada compo-
nente do sistema pela equação (10). Estes valores foram calculados tendo como energia
primária no gerador de calor Qg = 29,13 kW.
Para os cálculos das funções termodinâmicas da solução amônia-água, entalpia e entropia,
fizeram-se necessário o uso de correlações específicas de acordo com as equações (6), (7) e (8).
É de se esperar que o crescimento da irreversibilidade de todos os componentes seja
proporcional ao aumento da quantidade de calor introduzida no sistema, o que leva ao
conseqüente aumento do fluxo de massa e transferência de calor. O gerador apresenta uma
irreversibilidade muito maior do que as dos demais componentes, enfatizada pela variação
722
de temperatura dos gases de combustão e o ambiente e pela cinética da reação de combus-
tão. Como também devido às perdas que ocorrem, tanto nos produtos de combustão
como no próprio processo de separação da solução refrigerante, por causa da diferença de
temperatura entre os mesmos.
A irreversibilidade que ocorre no absorvedor é também destacada, comparando
com os valores da irreversibilidade dos demais componentes, justificada pela ocorrência da
liberação de calor durante o processo de absorção do vapor refrigerante, para o meio.
Como também pela transferência de massa, onde a mesma depende da pressão e da
transferência de calor durante esse processo.
Figura 3 - Eficiência exergética dos componentes do sistema

0,700
0,600
0,500 Absorvedor
 D
β

LF 0,400 Condensador
Qr Evaporador
LF 0,300
IL(0,200
Gerador
Trocador de Calor
0,100
0,000
&RPSRQHQWHVGR6LVWHPD

Figura 4 - Irreversibilidades dos componentes do sistema


100000
90000

J
N

80000
-
N 70000 Absorvedor

H
G 60000 Condensador
D
G
LO 50000 Evaporador
L
LE 40000
V Gerador
U
H 30000 Trocador de Calor
Y
H
U
U
20000
,
10000
0

&RPSRQHQWHVGR6LVWHPD

Nos outros componentes a transferência de calor é reduzida quando comparado ao gerador


e o absorvedor, e portanto, a irreversibilidade tem um menor valor. De forma análoga foi
determinada a irreversibilidade na válvula de expansão do refrigerante e no trocador de calor,
tendo este último uma acentuada irreversibilidade comparada com a do anterior, devido as
maiores diferenças de temperatura e concentração entre as soluções que passam pelo mesmo.
Para o condensador o valor da eficiência exergética foi de β = 0,5972, o maior valor calculado.
O sistema teve uma avaliação completa do coeficiente de desempenho, COP, (pela pri-
meira lei) e da eficiência exergética (pela segunda lei, β). Seus resultados foram: COPreal =
0,32 (Equação (3)), COPideal = 0,702 (Equação (4)) e hsys = 45,6 % (Equação (5)), mostran-
do a ordem de grandeza do desvio da idealidade. A eficiência exergética do evaporador, β
= 0,29, evidencia que as eficiências exergéticas apresentam sempre valores inferiores às
eficiências energéticas, por conta das irreversibilidades (inerentes e geradas) dos processos.
723
A exergia química dos gases de exaustão foi de 63,86 kJ/kg, calculada com uma umidade
absoluta do ar atmosférico de 0,018804 kg vapor d’água/kg de ar e a composição do gás foi
analisada por um aparelho com sensor eletroquímico calibrado para queima com gás natural.
4. CONCLUSÃO
O sistema operado é em simples efeito e nessa avaliação produziu uma potência de
frio de 8,8 kW e apresenta um COP = 0,32. A análise energética, além de fornecer dados
para o projeto do sistema, contribuiu também para o embasamento da análise exergética.
O componente que apresentou a maior irreversibilidade foi o gerador, cuja participação
com a irreversibilidade total do sistema foi de aproximadamente 70%. As menores eficiên-
cias exergéticas foram estabelecidas no gerador e no trocador de calor.
A eficiência exergética, foi de β = 0,29. A análise exergética mostra resultados que confirmam
a degradação da qualidade da energia pelo efeito das irreversibilidades existentes no sistema.
A refrigeração por absorção é uma tecnologia que utiliza fundamentalmente calor (e
pouca ou nenhuma eletricidade) para a geração do frio, elimina a emissão de poluentes
inerentes da refrigeração convencional, tem a possibilidade de operar com temperatura de
evaporação abaixo da de projeto e pode utilizar como fonte de calor o gás natural, um
energético alternativo disponível no mercado.
Esta unidade está sendo estudada para viabilizar o uso de câmaras frigoríficas com
pouca dependência da energia elétrica, isto é, com sistema de absorção, visando a conser-
vação de frutas na região.

5. REFERÊNCIAS
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Second Law of Thermodynamic Method”, International Journal of Refrigeration.
Bejan A., 1988, “Advanced Engineering Thermodynamics”, New York: John-Wiley and Sons Inc.
Herold KE, Radermacher R and Klein AS., 1996, “Absortion Chillers and Heat Pumps”, USA: CRC Press.
Kotas TJ., 1985, “The Exergy Method of Thermal Plant Analysis”. London: Anchor Brendon Ltd.
Cortez LA., 1998, “Estudos Técnicos e Economia de Energia em Refrigeração Aplicações da Amônia”, Manaus:
Editora da Universidade do Amazonas., pp. 239-253.
Ng KC, Chua HT, Tu K, Chong NM., 1997, “Performance Study of Absorption Chillers: Thermodynamic Modeling
and Experimental Verification”, In: Proceedings of the International Symposia on Transport Phenomena in Thermal
Science and Process Engineering, Kyoto/Japan.
Santana GC e Torres EA., 2003, “Análise Exergética em dois Sistemas de Refrigeração por Absorção para uma Empresa
do Setor Terciário”, Anais do VI CIBEM, Coimbra, Portugal.
Silveira JL, Freitas ES, Reis JA, Gouvêa PEM., 1999, “Produção de Ar Quente e Seco: Análise Experimental de uma
Bomba de Calor”, Anais do COBEM 1999, Água de Lindóia/SP.
Stoecker WF e Jabardo JMS., 1995, “Refrigeração Industrial”, Editora Edgard Blücher, S. Paulo/Brazil.
Szargut J, Morris DR, Steward FR., 1988, “Exergy Analysis of Thermal, Chemical and Metallurgical Process”. New
York: hemisphere Publishing Corporation.
Torres EA., 1999, “ Avaliação Exergética e Termoeconômica de uma Planta de Cogeração do Pólo Petroquímico” Tese
(Doutor emEngenharia Mecânica).Departamento de Energia UNICAMP, Campinas-SP.
Wylen GV, Sontang R, Borgnake C., 1995, “Fundamentos da Termodinâmica Clássica”, Edgard Blücher Ltda.

724
OS EFEITOS CAUSADOS PELO
RACIONAMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA NAS MICRO, PEQUENAS
E MÉDIAS EMPRESAS BRASILEIRAS*

Enrique Wittwer1
Myrthes Marcele Santos2
Ricardo Wargas3

1. RESUMO
Somente após mais de dois anos do fim do racionamento de energia elétrica, que vigorou
entre junho de 2001 e fevereiro de 2002, é possível a realização de uma análise mais precisa
dos impactos causados nas Micro, Pequenas e Médias empresas - MPME, objeto deste traba-
lho. Ao contrário do que se previa na época, os efeitos não foram tão negativos, ante ao
quadro pessimista que se esperava. Este trabalho constatou, a partir da análise de dados
macro-econômicos e de dados coletados em concurso a nível nacional para MPMEs, em
2002, que uma parcela expressiva das empresas tornou-se mais eficiente, conseguindo reduzir
seu consumo de energia e, ao mesmo tempo, manter, ou até aumentar, o nível da produção
e o quadro funcional. As principais medidas implementadas pelas empresas, para a superação
da crise energética, foram a adoção de medidas gerenciais e a aquisição de equipamentos mais
eficientes. Isso explica, em parte, porque em 30% das empresas analisadas houve diminuição
de mais de 50% no consumo, muito além das metas fixadas pelo Governo.

2. INTRODUÇÃO
O racionamento de energia elétrica, submetido à sociedade brasileira, foi o ápice de uma
crise energética que teve seu início ainda na década de 80. Sucessivos governos passaram a
usar a capacidade das estatais elétricas para o pagamento da dívida externa. O resultado foi

1
Perito Local da GTZ
2
Consultora do Projeto SEBRAE/RJ - GTZ
3
Gerente da Unidade de Inovação e Acesso à Tecnologia do SEBRAE/RJ - Rua Santa Luzia, 685 / 7oandar – Rio de
Janeiro/ RJ – CEP 20030-040 - Tel: (21) 2220-5094 / 2215-9329 – Fax: (21) 2220-2019 – Email: ecoeficiencia@sebraerj.com.br
*
Esse trabalho contou com a valiosa colaboração da Economista Tatiana Lauria da Silva e do Engenheiro Roberto Tapia

725
a redução gradativa dos recursos próprios destas empresas para investimentos na oferta
de eletricidade e o aumento do endividamento a custos excessivamente altos, o que
trouxe à tona a necessidade da reforma do setor elétrico. Esta consistiu basicamente na
mudança de um ambiente estatal cooperativo para outro, privado concorrencial. O
primeiro passo nessa direção foi a preparação das empresas elétricas para a privatização,
recolocando-as em posição rentável de forma a atrair compradores estrangeiros. Para-
lelamente a isto, foi concebido um novo modelo para o setor, baseado em mudanças
regulamentais e na implantação de um mercado livre de compra e venda de energia no
atacado. No entanto, devido às peculiaridades do sistema elétrico brasileiro, de base
predominantemente hídrica e funcionamento interligado, a introdução da competição
tornou-se algo bastante complexo, com possibilidades de perdas da potência instalada.
Para contornar essa situação, foram criadas as figuras do ONS e do MAE, além da
ANEEL, agentes centrais do novo modelo. Assim, garantiu-se a otimização da opera-
ção física do sistema, que permaneceu centralizada, e a maximização dos resultados
financeiros das empresas, apesar de não ter sido constituído um mercado de energia
propriamente dito – a menos para a parcela sobrante.
O governo pretendia garantir a expansão exclusivamente através do capital privado,
sobretudo em termelétricas a gás natural, mas a condução equivocada do processo de
implantação da reforma transformou-se em um enorme empecilho para a atuação do
setor privado. Além disto, ocorreu a desvalorização cambial e o gás natural se tornou
muito caro, fazendo com que o programa de termelétricas ficasse paralisado. A falta de
investimentos reduziu em muito a confiabilidade do sistema elétrico e, aliada ao cresci-
mento da demanda por eletricidade e a uma falta de chuvas mais forte na ocasião, levou
a uma situação insustentável e a necessidade do racionamento de energia elétrica.
Foi então, criada a Câmara de Gestão da Crise de Energia, que teve por objetivo
implementar medidas que compatibilizassem demanda e oferta de energia, de forma a
evitar interrupções abruptas no fornecimento e minimizar os impactos do raciona-
mento. O Programa de Racionamento vigorou entre 1/6/2001 e 28/02/2002 nas
regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste e entre 15/08/2001 e 1/01/2002 na Região
Norte. A estratégia adotada para a redução no consumo foi a fixação de cotas, o
aumento tarifário, as sobretaxas de ultrapassagem, os bônus e os cortes individuais. Na
época, o anúncio das medidas gerou um debate generalizado na sociedade, sobretudo,
discutia-se os impactos na economia brasileira. As previsões eram catastróficas, geran-
do expectativas bastante pessimistas quanto à evolução do nível de investimentos, da
produção industrial e geração de empregos.
No entanto, após o término do racionamento, ao contrário do que se previa, os im-
pactos gerados ficaram aquém dos esperados. De certa forma, a população e as empre-
sas brasileiras foram impulsionadas a buscar eficiência energética, adequando-se ao cená-
rio de escassez de eletricidade. No referente às Micro, Pequenas e Médias empresas –
MPME (até 499 empregados), que constituem a base econômica do País, pode-se dizer
que estas prestaram grandes contribuições para a economia do País. Independente das
restrições de consumo e acostumados a buscar soluções criativas para seus problemas
do dia-a-dia, mantiveram – na medida do possível – sua produção em níveis estáveis,
tendo sido registrados, inclusive, casos onde houve aumento da produção.
726
3. PANORAMA ECONÔMICO
Um breve retrospecto do panorama econômico do ano anterior ao racionamento
de energia elétrica indica que o país vinha atravessando um período de crescimento.
No ano 2000, o Produto Interno Bruto - PIB per capita cresceu +4,36%, o melhor
resultado desde 1995, após dois anos de resultados pouco significativos, +0,13% em
1998 e +0,79% em 1999. Este comportamento favorável da economia deveu-se a
três principais fatores: excelente resultado do setor industrial; bom desempenho das
Contas Públicas, que ficaram dentro da meta com o FMI; e alto nível de investimen-
tos estrangeiros diretos que financiaram o déficit em transações correntes.
No início de 2001, apesar do predomínio de expectativas otimistas, já eram visí-
veis as deteriorações da situação econômica, em parte devido às turbulências vividas
pela economia argentina. Com o anúncio e a posterior implementação de medidas
de racionamento de energia, a trajetória de crescimento do PIB sofreu um revés,
apresentando, em 2001 e 2002, um crescimento de apenas +1,31% e +1,93%, res-
pectivamente (IBGE, 2003a).
Na análise do PIB por trimestre e por setor, após dessazonalização da série, con-
forme Gráfico 1, tem-se que durante o 4o trimestre de 2001, no auge do raciona-
mento, o PIB apresentou a retração mais acentuada. Ante o resultado do 1o trimes-
tre de 2001, o PIB da indústria de transformação contraiu -4,3% e o de comércio -
6,4%. O PIB do setor de serviços foi o único que não sofreu declínio, mas crescendo
apenas +0,5%. Nos anos seguintes, em 2002 e 2003, a economia mostrou sinais de
reaquecimento, com exceção do setor comercial que apresentou queda significativa a
partir do 3o trimestre de 2002.

Gráfico 1 - PIB trimestral por setor – índice dessazonalizado (1998/T1=100)


115

110

105

100

95

5$&,21$0(172
90
1998 1998 1998 1998 1999 1999 1999 1999 2000 2000 2000 2000 2001 2001 2001 2001 2002 2002 2002 2002 2003 2003 2003
T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3

indús tria - transform ação com ércio serviç os

Fonte: IPEA, 2003

A produção física industrial no ano do racionamento (2001), influenciada pela diminui-


ção no consumo de energia elétrica, apresentou taxa média de crescimento de apenas +1,4%,
bem menor que do ano 2000 (+6,6%). No que diz respeito especificamente à produção da
indústria de transformação, esta cresceu +1,2%, apresentando baixo índice de crescimento
no ano, ante a taxa de +6,1% em 2000 (IBGE, 2003b).
727
A análise anual dos indicadores de produção, por setor, para o ano 2001, mostra
que apenas seis dos vinte gêneros pesquisados mostraram crescimento em relação ao
ano 2000. Evidentemente, o desempenho dos itens ligados a questão energética (ba-
terias, transformadores acumuladores) ficou bem acima da média de crescimento da
indústria. A crise de energia influenciou fortemente na produção de equipamentos
dessa ordem, que cresceu cerca de 42,5% (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2001).
No que diz respeito ao setor comercial, a Pesquisa Mensal do Comércio realizada
pelo IBGE em todas as unidades de federação, o volume de vendas recuou -0,68%,
em 2002 em comparação ao ano de 2001 (IBGE, 2003c). A deterioração das condi-
ções de crédito, as taxas de juros elevadas e a redução dos rendimentos reais tam-
bém influenciaram negativamente o fluxo de vendas.
Apesar dos indicadores negativos no PIB, nas atividades industriais e no comércio,
os índices de emprego, ao contrário do esperado, não acompanharam o comporta-
mento desfavorável provocado pela crise no abastecimento energético. O emprego
formal apresentou expansão em todos os meses do ano 2001, sendo verificada uma
taxa de +2,9%. Em 2002, o emprego formal, registrou 762,4 mil vagas no país,
3,2% acima do registrado no ano anterior (MTE, 2003). Os setores que mais influen-
ciaram nestas estatísticas foram comércio e serviços.
As MPME são as que mais contribuem no que diz respeito ao emprego formal, sendo
responsáveis por 75% da mão-de-obra empregada no país (MTE, 2003). Conforme pode
ser observado no Gráfico 2, no ano de 2001, verificou-se um crescimento do emprego
formal de 3,4% referente às indústrias de pequeno porte e de 2,6% referente às microempresas.

Gráfico 2 - Emprego formal - indústria de transformação

Postos de Trabalho

2.000.000

1.900.000

1.800.000

1.700.000

1.600.000

1.500.000

1.400.000

1.300.000

1.200.000

1.100.000

1.000.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Micro (até 19 empregados) $QRV Pequena (de 20 a 99 empregados)


Média (de 100 a 499 empregados) Grande (500 ou mais empregados)

Fonte: MTE, 2003

728
Nos anos de 1997 e 1998, chama a atenção a queda no nível de emprego principalmente
nas médias (-3,92%) e nas grandes (-12,46%) indústrias, um reflexo da crise nos países
asiáticos que ocasionou internamente uma forte retração no crescimento econômico.
4. VARIAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA
Mesmo com o racionamento, a energia elétrica continuou sendo, no ano de 2001, o
segundo energético mais consumido no país, representando 21,8% do total de energia
consumida (ou 283.798 GWh - consumo faturado pelas concessionárias (ELETROBRÁS,
2003)), tendo perdido apenas -1,5% de sua representatividade em relação ao ano 2000. O
óleo diesel manteve-se como o consumo mais representativo, equivalente a 27,5% do total
(MME, 2002). No caso específico das MPME, dados de pesquisa elaborada pelo SEBRAE
estimam que em 2001 o consumo de energia elétrica desse segmento foi de aproximada-
mente 100.000 GWh (cerca de 32% do total) (SEBRAE, 2001).
De acordo com as projeções da ELETROBRÁS (2001), se não fosse o racionamento,
o consumo de eletricidade em 2001 certamente teria atingido 324.301 GWh, pois a expec-
tativa era de crescimento, apesar dos baixos indicadores econômicos. Nos anos anteriores
ao racionamento, o consumo médio de eletricidade vinha apresentando uma tendência de
alta, registrando +2,2% e +4,6% em 1999 e 2000 em relação aos anos anteriores, respecti-
vamente, conforme apresentado no Gráfico 3.
Gráfico 3 - Evolução do consumo total de eletricidade
8

 0
1999 2000 2001 2002
-2

-4

-6

-8

-1 0
$QR
R E A LIZA D O P R E V IS TO

Fonte: ELETROBRAS, 2003

O crescimento no consumo vinha sendo puxado principalmente pela classe terciária (comer-
cial e serviços) (+4,7%) em 1999 e pelas classes industrial (+5,9%) e terciária (+8,7%) em 2000.
O bom desempenho do comércio e serviços deveu-se, na época, em grande parte, aos segmen-
tos de entretenimento e hoteleiro. A classe industrial, que representa a maior parcela de consumo
total de energia elétrica do País (cerca de 45%) e tradicionalmente é mais sensível às variações
macroeconômicas, apresentou em 1999 um crescimento no consumo de apenas +1,1%, mas
acima do verificado em 1998 (+0,1). A sua recuperação só aconteceu, de fato, no ano 2000.
A classe residencial mantinha uma tendência de baixo crescimento do consumo de
energia em 1999 e 2000, registrando uma taxa de +2,5% e +2,7%, respectivamente.
Este fraco desempenho é explicado em decorrência da queda do rendimento médio
das pessoas ocupadas e a conseqüente redução das vendas dos equipamentos
eletroeletrônicos, associados à ocorrência de temperaturas amenas ao longo daqueles
anos. Por sua vez, o número de consumidores residenciais, como nos anos anteriores,
continuou apresentando expressivo crescimento.

729
Nos anos seguintes, esse quadro se modificou completamente. O consumo total de
energia elétrica em 2001 registrou decréscimo de -7,7% frente ao ano 2000, a maior retração
registrada em 50 anos de registro sistematizado. O mês que apresentou maior redução foi
o de julho de 2001, com uma queda de -18,9% em relação ao mês de julho de 2000. Em
fevereiro de 2002, último mês do racionamento, foi registrada uma queda de -14,2% em
relação ao mesmo mês do ano anterior.
Em dezembro de 2002, o mercado de energia elétrica começou a mostrar os sinais de
recuperação, tendo sido registrado um incremento de +17,5 em relação à dezembro de
2001. Desta forma, 2002 fechou com um consumo de energia elétrica de +2,5% em
relação a 2001, mas abaixo do previsto (+6,2%). A classe residencial obteve redução de -
11,8% no ano de 2001, confirmando o maior engajamento desta classe em relação às
demais, conforme apresentando no Gráfico 4.
Gráfico 4 - Evolução do consumo de eletricidade – 2001/2002

11.500

10.500

9.500

8.500

RACIONAMENTO
7.500

6.500

5.500

4.500

3.500

2.500

jan/01
fev/01 abr/01
mar/01 jun/01jul/01
mai/01 set/01
ago/01 out/01
nov/01 jan/02
dez/01 fev/02 abr/02
mar/02 jun/02jul/02
mai/02 set/02
ago/02 out/02
nov/02 jan/03
dez/02 fev/03

RESIDENCIAL INDUSTRIAL TERCIÁRIO OUTROS


RESIDENCIAL (T endência) INDUSTRIAL (Tendência) TERCIÁRIO (Tendência) OUTROS (Te ndência)

Fonte: ELETROBRAS, 2003

Mesmo depois do fim do racionamento, a classe residencial ainda mostrou uma conti-
nuidade na mudança de seus hábitos com relação ao uso da energia elétrica, incentivados
pelo aumento das tarifas e o conseqüente aprendizado sobre a importância de se economi-
zar energia. E mesmo com o incremento de 1,9 milhões de novos consumidores residenciais
em 2002, registrou-se uma queda na taxa de crescimento de -1,3% do consumo em relação
ao ano de 2001, que já foi um ano de baixo consumo. Destaca-se, ainda, que a região
Sudeste, que responde por cerca de 55% do consumo residencial do país, foi a principal
responsável por este desempenho.
A classe industrial destacou-se pela queda de -6,6% no consumo em 2001, o que contri-
buiu fortemente para o baixo crescimento da produção brasileira. Já em 2002, o compor-
tamento desta classe foi o que sustentou o crescimento global de energia elétrica, com
incremento de +4,2% no consumo em relação a 2001. Deve-se ressaltar que este resultado
foi influenciado negativamente pelo fato de alguns grandes consumidores industriais da
região Sudeste terem optado pela auto-produção de energia elétrica, saindo do cadastro de
faturamento das concessionárias.
730
No que se refere ao consumo da classe terciária a exemplo dos demais, fechou o ano de
2001 no negativo (-6,3%) e no ano de 2002 apresentou um crescimento de apenas +1,8%.
Regionalmente, verificou-se que a região Sudeste foi a única a obter um incremento abaixo
da média nacional (+0,4%).
5. COMPORTAMENTO DAS MPME BRASILEIRAS DURANTE A CRISE
ENERGÉTICA
No marco da cooperação bilateral entre os governos do Brasil e da Alemanha se
desenvolveu o Projeto “Conservação de Energia na Pequena e Média Indústria do
Estado do Rio de Janeiro”, cujos executores foram, pelo lado brasileiro, o SEBRAE/
RJ e, pelo lado alemão, a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ). Com o
objetivo de conhecer a reação das MPME diante da crise energética e, em especial,
para identificar as medidas mais importantes implementadas por estas para superar a
falta de energia elétrica, se realizou, no Estado do Rio de Janeiro, um concurso em que
participaram mais de 2000 empresas. Após um processo de análise seletiva, o grupo
original se reduziu a 150 empresas das quais foram pré-selecionadas e visitadas, por
consultores do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), um total de 69 empresas dos
setores industrial, comercial e de serviços. Os consultores registraram cada uma das
medidas implementadas e os resultados obtidos pelas empresas em seu esforço para
reduzir o consumo energético. As medidas, analisadas mais adiante, incluíram tanto
ações de eficiência energética como de racionamento.
O concurso realizado no âmbito do Projeto SEBRAE/RJ – GTZ despertou grande
interesse do SEBRAE Nacional. Aplicando a mesma metodologia utilizada no Rio de
Janeiro se decidiu realizar um concurso a nível nacional através dos respectivos SEBRAE
estaduais. Estes coordenaram os trabalhos técnicos de coleta de informações através de
consultores locais, perfazendo um total de 242 empresas finalistas. A organização e a coor-
denação geral do concurso nacional ficou a cargo do SEBRAE/RJ que dispunha a experi-
ência desenvolvida em seu próprio estado.
As informações recolhidas “in loco” com os dois concursos, apesar de proveniente de
um universo relativamente pequeno de empresas visitadas se comparamos com o número
de MPME de todo o país, permite obter algumas interessantes conclusões.
5.1. MEDIDAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ADOTADAS PELAS EM-
PRESAS
As medidas de eficiência energética adotadas pelas empresas participantes dos concur-
sos foram implementadas principalmente nas seguintes áreas:
A) Iluminação
1. Troca de lâmpadas e luminárias
2. Troca de reatores de luminárias
3. Aproveitamento da luz natural
4. Instalação de controle automático liga/desliga

731
B) Ar Condicionado
1. Regulagem de tempo de utilização dos ambientes/salas
2. Desligamento no período de almoço e antes das 17:30 de expediente
3. Troca de aparelho ineficiente
4. Manutenção de filtros e condicionadores de ar
C) Motores Elétricos
1. Troca de motores superdimensionados
2. Troca de motores sub-dimensionados
3. Instalação de motores de alto rendimento
4. Controle de partida direta
5. Instalação de capacitores
D) Subestação e Circuitos Elétricos
1. Troca de fios sub-dimensionados
2. Correção de contatos
3. Instalação de capacitores para a correção do Fator de Potência
4. Troca de disjuntores e chaves com defeitos
5. Isolamento elétrico
E) Equipamentos
1. Isolação térmica
2. Controle de temperatura dos processos
3. Aperfeiçoamento da Combustão
4. Gerador de energia elétrica
5. Regulagem de pressão em caldeiras e compressores de ar
6. Substituição de equipamento ineficiente
F) Medidas Gerenciais de economia de energia e Controle
1. Mudança de contrato de energia elétrica (horo-sazonal)
2. Desligamento de cargas na ponta
3. Reprogramação de operações de produções
4. Controle da demanda e curva de cargas
5. Controle do consumo específico de produção

732
5.2. MEDIDAS DE RACIONAMENTO ADOTADAS PELAS EMPRESAS
No referente às medidas de racionamento adotadas pelas empresas, essas foram:
a - Desligamento de iluminação interna e externa
b - Desligamento de ar condicionado
c - Desligamento de motores elétricos
d - Desligamento de equipamentos de produção
e -Redução de expediente
6. ANÁLISE DAS MEDIDAS APLICADAS PELAS EMPRESAS
A seleção e a análise dos dados provenientes de 151 empresas visitadas de todo o
país (52 micro, 65 pequenas e 34 médias empresas) mostrou que se implementaram
um total 783 medidas, abrangendo os setores industrial e terciário (comercial e servi-
ços), entre as quais 536 (68%) foram de eficiência energética (EE) e 247 (32%) de
racionamento, conforme Gráfico 5.

Gráfico 5 - Tipos de medidas implementadas pelas empresas

32%

racionamento
eficiência energética

68%

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE, 2002

O predomínio das medidas de EE sobre as de racionamento parece explicar em parte o


lento crescimento do consumo energético, depois de terminada a crise energética. O setor
industrial mostra a maior proporção de medidas de EE. De um total de 400 medidas aplica-
das por este setor, 298 foram de EE (74%) e 102 de racionamento (26%). No setor terciário
identificou-se a implementação de 238 foram de EE (61%) e 145 de racionamento (39%).
6.1. SETOR INDUSTRIAL
Eficiência energética: as medidas mais aplicadas neste setor foram as do tipo de “Medi-
das Gerenciais” (32%), seguidas das do tipo “Equipamentos” com 29%. Em ordem de-
crescente seguem as medidas de “Iluminação” (21%), “Sub-Estações e Circuito Elétrico”
(12%), “Motores Elétricos” (5%). Se identificou somente um caso relacionado com os
sistemas de “Ar-Condicionado” (Gráfico 6).
733
Gráfico 6 - Medidas de Eficiência Energética – Setor Industrial

ILUMINAÇÃO
MEDIDAS GERENCIAIS 21,1%
32,6% AR CONDICIONADO
0,3%

MOTORES ELÉTRICOS
4,7%

SUB ESTAÇÕES E
CIRCUITO ELÉTRICO Desli
12,1% d
EQUIPAMENTOS
29,2%

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE, 2002.

Gráfico 7 - Medidas de Racionamento - Setor Industrial

Desligar iluminação
Reduzir expediente interna e externa
15,7% 27,5%
O

RICOS

Desligar ar
Desligar equipamentos
condicionado
de produção
16,7%
40,2%

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE, 2002.

Racionamento: as medidas que predominaram foram as de “Desligamento de Equi-


pamentos de Produção” (40%) seguidas por medidas de “Desligamento da Iluminação
Interna e/ou Externa” (27%). Com freqüência similar se encontraram a implantação de
medidas de “Desligamento do Ar Condicionado” (17%) assim como a “Redução de
Expediente” (16%) (Gráfico 7).
6.2. SETOR TERCIÁRIO – COMÉRCIO E SERVIÇOS
Eficiência energética: neste setor se aplicaram principalmente as medidas ligadas ao Sistema
de “Iluminação” (37%) seguidas de medidas do tipo “Medidas Gerenciais” (34%) e de “Equi-
pamentos” com 18%. De muito menos importância foram as medidas relacionadas ao “Ar
Condicionado” e “Sub-Estações e Motores Elétricos”. Não resulta estranho que neste setor
não foram identificadas medidas relacionadas a motores elétricos (Gráfico 8).
Racionamento: as medidas mais utilizadas foram as de “Desligamento de Equipamen-
tos de Produção” (36%) seguidas por medidas de “Desligamento de Iluminação interna e/
ou externa” (35%) e “Desligamento de Ar Condicionado” (23%) (Gráfico 9).
734
Gráfico 8 - Medidas de Eficiência Energética - Setor Terciário

Medidas Gerenciais Iluminação


33,6% 37,0%

De
de

Ar Condicionado
Equipamentos
5,5%
18,1%

Motores Elétricos
Sub Estações e Circuito 0,4%
Elétrico 5,5%

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE, 2002.

Gráfico 9 - Medidas de Racionamento - Setor Térciário

Reduzir expediente
6,2% Desligar iluminação interna e
externa
Desligar equipamentos
de produção 34,5%

35,9%

do

Desligar motores
elétricos 0,7% Desligar ar condicionado
22,8%

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE/RJ, 2002

7. VARIAÇÃO NO CONSUMO ELÉTRICO E PRODUÇÃO DAS EMPRESAS


7.1. SETOR INDUSTRIAL
Boa parte das empresas analisadas (41%) reduziram seu consumo de energia elétrica
entre 0 a 30%; 24% das empresas reduziram seu consumo entre 31 e 50%; e uma boa
parte (31%) cortaram seu consumo em mais da metade. Em menos de 5% dos casos, foi
detectado aumento do consumo. Nota-se que este comportamento se deu em todas as
regiões do país, com algumas variações, mesmo na região Sul onde não houve raciona-
mento, conforme Gráfico 10.
Quanto à produção, esta de uma maneira geral aumentou em mais de 50% das empresas
no total para o Brasil. Isto vem a confirmar que a maioria das empresas se sensibilizaram, de
fato, para a implementação de medidas de eficiência energética e não as de racionamento, pois
não foram afetadas em sua produção, ao contrário, verifica-se um aumento de produtivida-
de, um impacto típico da aplicação de projetos eficientes e desenvolvimento tecnológico.
735
Gráfico 10 - Variação do consumo de energia elétrica das indústrias

60,00%

50,00%

40,00%

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%
Norte Norde ste Sudeste Sul Centro- Oeste BRASIL

redução de 0 a 30% redução de 31% a 50% redução de mais de 51% Aumento

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE, 2002

7.2. SETOR TERCIÁRIO - COMÉRCIO E SERVIÇOS


No Setor Terciário verificou-se que 32% das empresas reduziram seu consumo de ener-
gia elétrica entre 0 a 30%; 30% das empresas reduziram seu consumo entre 31 e 50%; e,
35%, cortaram seu consumo em mais da metade. Nesses últimos casos, a redução no
consumo foi mais representativa do que no setor industrial. Pelos tipos de medidas adotadas
neste setor, essa grande redução se deve em boa parte pela mudança de hábitos. Em uma
parcela muito pequena (3%), verificou-se o aumento no consumo, conforme Gráfico 11.

Gráfico 11 - Variação do consumo de energia


elétrica das empresas do comércio e serviços

70,00%

60,00%

50,00%

40,00%

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste BRASIL

redução de 0 a 30% redução de 31% a 50% redução de mais de 51% Aumento

Fonte: elaboração própria, a partir de SEBRAE, 2002

No referente à produção deste setor, tem-se que a maioria (52%) manteve-se estável e
32% conseguiram aumentar sua produção, um indicador que sugere que as MPME consegui-
ram atravessar a crise energética sem maiores problemas quanto a sua produção. Apenas em
17% dos casos foi detectada diminuição da produção. Curiosamente, a Região Sul, onde não
houve racionamento, foi a que apresentou um maior índice de diminuição, em cerca de 20%
das empresas. Em 30% das empresas deste setor verificou-se aumento da produção.
736
8. CONCLUSÕES
A crise energética teve influência imediata sobre os principais indicadores
macroeconômicos. O PIB per capita, que vinha crescendo, apresentou resultados pouco
significativos em 2001 e 2002 (+1,31% e +1,93%, respectivamente). No entanto, consta-
tou-se que estes também foram influenciados por outros fatores, tal como a crise na eco-
nomia da Argentina, e não apenas pelo racionamento de energia elétrica.
Outra conclusão obtida pela análise dos dados macroeconômicos é que, contrariando
todas as expectativas, os índices de empregabilidade não apresentaram maiores declínios
durante o racionamento. Os setores que mais contribuíram para isto foram os setores de
comércio e serviços (setor terciário). No setor industrial mereceu destaque as micro e pe-
quenas indústrias, que apresentaram, em 2001, crescimento do emprego formal de +2,6%
e 3,4%, respectivamente, em relação ao ano 2000.
A partir dos dados obtidos em concursos realizados pelo SEBRAE em 2002 (que
se constitui em uma base de dados única no País), conclui-se que com a maioria das
micro, pequenas e médias empresas a situação não foi diferente do resto da população.
Também elas, apesar de não ter havido nenhum tipo de incentivo governamental, tal
como houve para as grandes empresas, se engajaram na busca da economia de energia
e conseguiram cumprir as metas de racionamento estabelecidas, mantendo seus níveis
de produção em faixas razoáveis.
Pela análise realizada neste trabalho quanto aos tipos de medidas implementadas pelas
empresas, ao contrário do que se esperava, a maioria (68%) optou por medidas de eficiên-
cia energética, dentre as quais se destacam: otimização energética nos equipamentos, melhoria
dos sistemas de iluminação e também medidas gerenciais de economia de energia. Tendo
em vista a sustentabilidade das medidas, isso pode explicar em parte o lento crescimento,
posterior ao fim do racionamento, do consumo de energia elétrica. Dentre as medidas de
racionamento, adotadas por 32% das empresas analisadas, as mais exploradas foram as
medidas populares referentes ao uso final, a saber: o desligamento de equipamentos de
produção e o desligamento da iluminação.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2001), “Boletim do Banco Central do Brasil”, Relatório Anual. Brasília, DF.
ELETROBRÁS (2001), “Boletim Anual”. Disponível em www.eletrobras.gov.br
ELETROBRÁS (2003), “Resenhas de Mercado”. Disponível em www.eletrobras.gov.br
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2003a), “Sistema de Contas Nacionais”.
Disponível em www.ibge.gov.br
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2003b), “Pesquisa Industrial Mensal”. Disponível
em www.ibge.gov.br
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2003c), “Pesquisa Mensal do Comércio”.
Disponível em www.ibge.gov.br
IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (2003), “Contas Nacionais”. Disponível em www.ipea.gov.br
MME – MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (2002), “Balanço Energético Nacional”. Disponível em www.mme.gov.br
MTE - MINISTÉRIO DO TRABALHO (2003), Relatório Anual de Informações Sociais. Brasília, DF.
SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (2001), “Programa Sebrae de Eficiência
Energética”, Projeto do Programa. Brasília, DF.
SEBRAE/RJ – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO (2002), “Sistema de Apoio ao Concurso Nacional de Eficiência Energética”, Formulários de visitas
às empresas. Rio de Janeiro, RJ.

737
ESTRATÉGIA PARA A
RACIONALIZAÇÃO DO
USO DA ENERGIA EM
PEQUENAS INDÚSTRIAS

Yoshino, R. T*
Walter, A. C. S**

RESUMO
Neste artigo são abordadas as dificuldades para implementação de ações voltadas à
racionalização do uso racional de energia em três pólos industriais constituídos por micro,
pequenas e médias empresas, bem como discute-se a alternativa de organização dessas
empresas em clusters para obtenção de vantagens competitivas.

1. INTRODUÇÃO
Os EUA foram o primeiro país a definir pequenas empresas, conforme Filion1 apud
Pinheiro (1996). A primeira definição oficial e legal foi dada pelo Selective Service Act, de
1948, estabelecendo que para uma entidade ser considerada pequena empresa deveria aten-
der aos seguintes critérios: ter posição não dominante no segmento de comércio ou indús-
tria do qual faz parte; ter número de empregados não superior a 500; ter proprietário e ser
operada de forma independente. Conforme a Small Business Administration (1999), a vasta
maioria das 4 milhões de empresas norte-americanas pode ser considerada pequena. No-
venta e oito por cento tem menos de cem empregados.
No Brasil, as micro, pequenas e médias empresas – MPMEs – também representam
cerca de 98% do total de empresas existentes, geram 60% dos empregos e participam com
43% da renda total dos setores industrial, comercial e de serviços. Por outro lado, as MPMEs
respondem por cerca de somente 2% do total das exportações do país (BNDES, 2002).
Também no Brasil existem vários critérios para definição de pequenas empresas, sendo
utilizados critérios quantitativos, qualitativos ou uma combinação de ambos.

*
Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos, FEM –UNICAMP, Rua Rio Grande do Sul, 1805, apto 02, 14401-
324, (16)9126-3256, rty@unifran.br
**
Doutor Universidade de Campinas-SP- FEM-UNICAMP, awalter@fem.unicamp.br
1
Filion, L.J. Free Trade: The Need for a Definition of Small Business. Apud. Pinheiro, M. Gestão e Desempenho das
Empresas de Pequeno Porte: Uma Abordagem Conceitual e Empírica. São Paulo: FEA/USP, 1996, Mestrado.

738
O critério que será adotado neste trabalho é o quantitativo. Dentro do critério quantita-
tivo, o indicador que será adotado é o número de funcionários, combinado com o setor da
empresa. Para efeito de esclarecimento, o critério adotado é reproduzido na Tabela 1.
Tabela 1 - Critério adotado para classificação das empresas

&ODVVLILFDomR 1žGHIXQFLRQiULRV± 1žGHIXQFLRQiULRV±


LQG~VWULD FRPpUFLRVHUYLoRV
Micro 0-19 0-9
Pequena 20-99 10-49
Média 100-499 50-99
Grande acima de 500 acima de 100
)RQWH SEBRAE – nacional (1999)

2. Micro e Médias Empresas e Clusterização


A partir dos anos 1980, devido à necessidade de modernização, alguns conglome-
rados de pequenas empresas Italianas passaram a ser mais competitivos. A razão é
que essas empresas passaram a se organizar em “distritos industriais”, ou “clusters”
(Bianchi et al., 1997). Clusters referem-se a grupos de pequenas e médias empresas,
localizadas em uma mesma região geográfica e engajadas na produção da mesma
variedade de produtos, que se tornam mais competitivas e dinâmicas tecnologicamente
em função da organização que alcançam enquanto grupo. No cluster há nível ótimo
de cooperação e competição (Humphrey e Schimitz, 2000). Com a clusterização é
mais fácil introduzir novos procedimentos tecnológicos e administrativos, e otimizar
as relações intra e inter-empresas.
A obtenção de vantagens competitivas na organização de grupos de MPMEs
em clusters deve-se a três fatores: especialização, cooperação e flexibilidade. A es-
pecialização é crucial para o sucesso dos distritos empresariais, pois os recursos
das MPMEs são limitados. A especialização pode também ajudar no controle da
qualidade. A cooperação ajuda as empresas a serem mais flexíveis quanto ao volu-
me da produção, quando de oscilações da demanda, além de permitir maior flexi-
bilidade na produção. Por exemplo, várias indústrias podem produzir produtos
com uma única marca (Bianchi et al, 1997).
Em 1995, na Itália, havia 199 distritos industriais organizados como clusters, englo-
bando, por exemplo, os setores têxtil, de confecção, cerâmico, alimentício (de quei-
jos), de instrumentos musicais, moveleiro, de utensílios de cozinha (e.g., facas e pane-
las) e de óculos (ISTAT, 1995). No caso da Itália, há forte presença do governo para
facilitar a cooperação entre as empresas e as instituições (Campbell et al, 1991).
À organização de muitos clusters podem se juntar instituições tais como universi-
dades, agências de padronização, escolas técnicas e associações de classe, que pro-
movem treinamento, disseminam informação, promovem pesquisa e fornecem su-
porte técnico (Porter, 1998a).
739
3. Pólos Industriais no Estado de São Paulo
Alguns – ou vários – dos pólos industriais do Estado de São Paulo, formados por
micro, pequenas e médias empresas, teriam condições de se organizar como clusters e,
mais importante, teriam muito a ganhar se assim o fizessem. Para este estudo foram
escolhidos os pólos industriais paulistas de Franca - calçados, da região de Americana –
têxtil e de Porto Ferreira – cerâmica artística. A escolha desses pólos deve-se aos seguin-
tes fatores: à grande concentração de MPMEs em cada pólo; à estrutura, em geral, fami-
liar das várias indústrias; e à importância de cada pólo em relação à atividade econômica
do(s) município(s) e da região. A seguir faz-se a apresentação desses três pólos industriais.
3.1 Empresas calçadistas e o pólo de Franca
A cadeia coureiro-calçadista representa um dos segmentos mais importantes da econo-
mia Brasileira, tanto em função da geração de 550 mil empregos diretos quanto pelo volu-
me de produção, que é capaz de atender o mercado interno e permite exportações. Em
2001, o setor produziu 610 milhões de pares de calçados e exportou 171 milhões
(ABICALÇADOS, 2002).
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de calçados, com 4,7% de participação no
mercado mundial. A China, em 1998, foi o maior produtor, com 50,3%, seguida da Índia,
com 6,2% (ABICALÇADOS, 2002).
Franca é o principal pólo produtor de calçados masculinos de couro no Brasil. Esse
aglomerado de indústrias calçadistas é constituído por 500 empresas. Além da indústria
calçadista, Franca possui 20 curtumes, o que faz com que o setor coureiro-calçadista res-
ponda por 42,5% do PIB da região (FIESP/CIESP, 2002). Cerca de 95% das indústrias
calçadistas da região são MPMEs2 (Sindicato das Indústrias Calçadistas, 2002).
Em 2001 foram produzidos, em Franca, 32,5 milhões de pares, ou seja, 5% da produ-
ção nacional. A pouca participação na produção nacional é devido à produção de calçados
da classe B, manufaturado com costura manual, de maior valor agregado.
No segmento calçadista não há grandes diferenças nos processos de fabricação e os
produtos são de uma certa forma semelhantes, havendo maior competitividade. O dife-
rencial na produção está na modelagem dos calçados, ou seja, as novidades em termos de
design, normalmente tendendo ao design italiano.
Nota-se que o segmento calçadista de Franca apresenta várias características que permi-
tiriam a configuração de um cluster: produtos semelhantes; concentração geográfica; seme-
lhanças do processo de produção; existência de fornecedores no próprio pólo; vasta mai-
oria de MPMEs e especialização da mão de obra.
No entanto, para esse aglomerado se tornar um cluster é preciso avançar em aspectos tais
como (Fernandes e Rebelo, 1999): a existência de cooperação entre as empresas do pólo;
negociações organizadas, em bloco, com os fornecedores; maior articulação entre as em-
presas; existência de convênios/parcerias entre os atores do aglomerado; maior eficiência
tecnológica e administrativa.

2
Classificação do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca: micro, até 50 funcionários, pequena, de 50 a 250
funcionários, média, de 250 a 500 funcionários e grande com mais de 500 funcionários (SEBRAE, 2002).

740
No Brasil, o segmento calçadista não trabalha com indicadores de competitividade,
tais como índice de desperdício de couro, índice de consumo de insumos e avaliação
dos custos de produção. Tampouco existem estatísticas, mesmo que agregadas, que
permitam a comparação internacional. No que diz respeito à energia, por exemplo,
sabe-se que o consumo específico 3 de energia elétrica no setor calçadista brasileiro é
alto em relação aos concorrentes internacionais: no Brasil é estimado em 1,02 kWh/
par de sapato, segundo Bocausius (2000), enquanto na França o consumo específico
é a metade desse valor (FIERGS, 2000).
Em termos energéticos, o processo de fabricação de calçados consome basica-
mente energia elétrica, e a totalidade das indústrias de Franca é suprida pela conces-
sionária local. Somente as empresas que fabricam solado de borracha precisam de
vapor e possuem caldeiras a lenha ou a óleo. Já os curtumes utilizam vapor no pro-
cesso de curtimento de peles e possuem caldeiras a óleo.
O setor industrial na cidade de Franca foi responsável, em 1997, por cerca de
30% do consumo total de energia elétrica, conforme pode ser observado na Tabela
2. A participação do setor industrial caiu no período 1980-1997. Mais especifica-
mente, conforme cálculos a partir do estudo realizado por Bocausius (2000), o seg-
mento calçadista foi responsável em 1998 por cerca de 27% do consumo do setor
industrial. Na Tabela 3 apresenta-se a estimativa feita.

Tabela 2 - Consumo de energia elétrica (MWh)


no município de Franca no período 1980-1998

6HWRU            

Residencial 45.568 39 71.206 42 109.455 47 152.280 49 171.651 50 175.964 50

Rural 2.961 3 4.428 3 6.237 3 6.772 2 6.248 2 6.186 2

Industrial 52.781 45 70.357 42 84.214 36 103.992 33 108.797 31 108.299 30

Serviço
14.931 13 22.263 13 31.159 13 49.662 16 59.657 17 63.458 18
e outros

116.24 168.25
Total 155.275 302.706 346.353 353.907
1 4

)RQWH CPFL (2000)/SEADE (2003)

3
Quanto de energia elétrica se necessita para produzir um par de sapato. Informação, na média, encontrada para as
empresas do setor no Vale dos Sinos.

741
Tabela 3 - Estimativa de consumo de energia elétrica (MWh)
na indústria calçadista de Franca

 3DUHVGHFDOoDGRV &RQVXPRGDV &RQVXPRGR GR

SURGX]LGRV LQG~VWULDVGH VHWRULQGXVWULDO VHJPHQWR

PLOK}HV  FDOoDGRV

1985 30 30.600 70.357 43,49

1990 27 27.540 84.214 32,70

1995 22 22.440 103.992 21,58

1997 29 29.580 108.797 27,19

1998 29 29.580 108.299 27,31

Nota: Na estimativa foi considerado como consumo específico de energia elétrica 1,02 kWh/par e 2,37 kWh/m2 de
couro beneficiado (Bocausius, 2000). O valor do consumo específico empregado na avaliação é uma média para as
indústrias Brasileiras; o consumo deve ser maior na produção de um calçado diferenciado.

Embora a eletricidade seja insumo essencial à produção e o segmento calçadista


represente muito em relação ao consumo total na região, não tem havido grande es-
forço com vistas à racionalização de seu uso. Por exemplo, em 2001, quando da crise
de abastecimento elétrico, cerca de 90% das indústrias calçadistas de Franca não atingi-
ram as metas estabelecidas pela Comissão de Gestão pela Crise de Energia (Sindicato
das Industrias de Calçados de Franca, 2002).
3.2 Pólo têxtil Brasileiro e o pólo de tecelagem plana de fibras artificiais e
sintéticas em Americana e Região
Conforme dados do censo industrial de 2002, a indústria têxtil Brasileira tem 9.388
estabelecimentos, empregando cerca de 530 pessoas (IBGE, 2002). Em termos energéticos,
de acordo com o Balanço Energético Nacional – BEN –, em 2001 o segmento têxtil
respondeu por 2,6% do consumo total energético do setor industrial, com predominância
da energia elétrica, do óleo combustível, do gás natural e da lenha (BEN, 2002).
Do pólo têxtil de Americana fazem parte as indústrias localizadas nas cidades de Ame-
ricana, Nova Odessa, Santa Bárbara D’Oeste e Sumaré. O pólo é responsável por 85% da
produção nacional de tecidos de fibras artificiais e sintéticas (SINDITEC, 2002). O pólo
têxtil é constituído por cinco fiações (todas empresas multinacionais), sendo três de fibras
artificiais e sintéticas e duas de fibras naturais (algodão), 725 indústrias de tecelagens e 50
indústrias de acabamento de tecidos (tinturarias e estamparias) (SINDITEC, 2002).
Uma característica importante do pólo é a presença dominante de pequenas e médias
empresas (90% das tecelagens), principalmente das indústrias de tecelagem e tinturaria. O
destino da produção têxtil desse pólo é sobretudo o mercado interno (Girardi, 2002).

742
Os produtores do pólo de Americana atuam no mercado de fibras artificiais e
sintéticas, mercado no qual a concorrência é bem maior do que no mercado de fibras
naturais. Os países emergentes da Ásia, por exemplo, são especialistas em fibras têxteis
sintéticas (Girardi, 2002).
Além da concorrência asiática, outro importante fator para a crise vivida pelas
tecelagens da região de Americana nos anos 1990 foi a barreira protecionista ao
fabricante nacional de máquinas têxteis, que impediu por anos a importação de tea-
res. Assim, o setor ficou defasado tecnologicamente.
Gradativamente as antigas máquinas nacionais (lançadeiras) estão sendo substituí-
das por teares de última geração, como os teares de pinça, jato de ar e jato d’água, a
maior parte adquiridos com financiamentos do BNDES (Girardi, 2002).
A eletricidade é insumo vital no processo de tecelagem e, também, é muito impor-
tante nas tinturarias. As indústrias do pólo não são auto produtores e, em grande parte,
compram energia elétrica da concessionária local. Quanto ao consumo de combustí-
vel, principalmente utilizado na geração de vapor, algumas indústrias, principalmente
grandes tinturarias, passaram a utilizar gás natural em substituição aos óleos combustí-
veis. Como mostra a Figura 1, o pólo têxtil de Americana está na área de concessão de
gás natural da COMGAS e o gasoduto Brasil-Bolívia passa muito próximo do pólo.
Sabe-se que as micro, pequenas e médias indústrias do pólo têxtil da região de
Americana não têm maiores preocupações quanto ao uso de energia (e.g., preocupa-
ções com o desabastecimento e custos associados) e, dentre as empresas pesquisadas,
nenhuma tinha à época programas de racionalização de seu uso.
Figura 1 - Gasodutos, áreas de concessão de gás natural e pólos industriais em São Paulo

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de mapa da CSPE (2002)


Nota: Alguns pólos de pequenas e médias indústrias em São Paulo: têxtil: Americana e região; calçados infantis:
Birigui; calçados masculinos e tênis: Franca; calçados femininos: Jaú; jóias e bijuterias: Limeira; móveis: Mirassol;
cerâmica: Cordeirópolis, Mogi Guaçu, Pedreira e Porto Ferreira.

743
Estima-se que a incidência do custo da energia sobre os custo da produção representa
entre 7 e 10% dos custos totais (Girardi, 2002; Príncipe, 2002). Entre as empresas, diferen-
ças na incidência da energia sobre os custos de produção podem ser explicadas pelos
seguintes fatores: o consumo de vapor nas indústrias que só têm tecelagens é menor em
relação ao das tinturarias. As tinturarias possuem equipamentos, como as ramas, que ser-
vem para secar e termofixar o tecido. A idade dos equipamentos também afeta o consumo
de energia, já que ramas mais antigas, por exemplo, são menos eficientes. Também existem
diferenças de consumo entre os equipamentos, como os vários tipos de teares.
O consumo de eletricidade por parte do setor industrial na região de Americana, em
1997, representou 75% do consumo total, o que é um indicador da importância que deve-
ria ser dada ao gerenciamento energético, particularmente elétrico, nas indústrias, em geral,
e nas unidades do pólo têxtil, em especial. Na Tabela 4 são apresentados dados do consu-
mo de eletricidade na região de Americana, em alguns anos do período 1980-1997.
Tabela 4 - Estrutura do consumo de eletricidade (MWh) nos municípios de Americana,
Sumaré, Santa Bárbara D’Oeste e Nova Odessa no período 1980-1998
6HWRU            

Residencial 89.234 11 148.431 12 245.604 15 309.406 17 362.523 18 350.558 17

Rural 8091 1 10.786 1 13.700 1 12.370 1 12.526 1 11.717 1

Industrial 667.746 84 1.049.826 84 1.280.413 80 1.423.309 77 1.507.992 75 1.564.913 76

Serviço
30.045 3 43.654 3 64.136 5 92.961 5 121.573 6 135.790 6
e outros

Total 795.116 1.252.697 1.603.853 1.838.046 2.004.614 2.062.978

Fonte: CPFL (2000)/SEADE (2003)

Esse pólo têxtil também apresenta várias características que permitiriam a configuração
de um cluster, tais como: semelhança dos produtos e dos processos de produção; concen-
tração geográfica; proximidade dos grandes fornecedores de fibras; vasta maioria de
MPMEs; especialização da mão de obra.
No entanto, também para este aglomerado algumas características de um cluster ainda
não são atendidas, como por exemplo, não há cooperação entre as empresas do pólo.
Aliás, notou-se pelas visitas e entrevistas que, dos três pólos analisados, este é onde existe
menos cooperação entre empresas. Tampouco há articulação nas negociações com os for-
necedores; não existe convênio/parcerias entre os atores (empresas/sindicato/universida-
des ou agências de padronização) para troca de informações, desenvolvimento
mercadológico e tecnológico do aglomerado; não existência de convênios/parcerias entre
os atores do aglomerado; existe grande competição entre as empresas.
3.3 Pólo cerâmico de Porto Ferreira
Em termos energéticos, conforme o Balanço Energético Nacional de 2001, o consumo do
segmento cerâmico representou 3,9% do consumo total energético do setor industrial, com uso
predominante da lenha, energia elétrica, óleo combustível, GLP e gás natural (BEN, 2001).
744
O pólo de Porto Ferreira contava no início dos anos 2000 com 100 indústrias de cerâmi-
ca artística e 39 de cerâmica vermelha (fabricantes de telhas, tijolos, lajotas, entre outras) e
empregava cerca de 800 pessoas. O segmento de cerâmica artística no município de Porto
Ferreira é formado apenas por pequenas empresas4 , todas familiares, sendo que a maior
tem menos de 100 funcionários.
A produção de cerâmica artística é intensiva em mão de obra, já que a produção em si
é essencialmente artesanal. Estima-se que só essa atividade gere entre 5 e 6 mil empregos
diretos no Brasil e, adicionalmente, mais 15 a 20% empregos indiretos.
O processo de produção da cerâmica artística envolve poucas etapas, como mistura da
massa no moinho, a queima da cerâmica – inicialmente sem esmalte, e a secagem. Após a
queima, a cerâmica é esmaltada e retorna ao forno. Finalmente, há a etapa de pintura, que é
feita manualmente. A Figura 2 esquematiza o processo de produção de cerâmica artística.
Figura 2 - Processo de fabricação de cerâmica artística

Preparação da massa Mistura da Preparação


massa no moinho da cerâmica

Queima em forno, Secagem Aplicação


sem esmalte de esmalte

Queima em forno, Secagem Pintura


com esmalte manual

Fonte: elaborado pelo autor, com informações de visitas

No processo produtivo a energia elétrica é utilizada em iluminação, ventilação, no


acionamento de pequenos motores e em algumas cerâmicas o uso de forno elétrico
(Burgina, 2002; Carniatto, 2002).
Os gastos com energia representam de 7% a 20% dos custos totais de produção, depen-
dendo do tipo de indústria. Entre outros fatores, boa parte dessa variação pode ser explicada
pela organização do processo, que tanto pode ser contínuo ou intermitente, e que depende
da forma de operação dos fornos (Bera, 2002).
Recentemente, o pólo cerâmico de Porto Ferreira começou a ser organizar como um
cluster. O Sindicato empresarial buscou parceria e cooperação da Universidade Federal de
São Carlos e do SEBRAE, e conseguiu apoio da FAPESP. Assim, estão sendo desenvolvi-
dos três projetos5 PATME, um deles voltado à melhoria do design dos produtos, outro ao
desenvolvimento de fornos a GLP, e um terceiro voltado ao desenvolvimento de nova
massa cerâmica. As razões para o desenvolvimento dessa nova massa são (Mazzoti, 2002,
Mesquita, 2001): esgotamento das reservas de argila de São Simão, utilizada na massa atual,
que é o único local no Brasil onde essa matéria prima é encontrada. Estão sendo testadas
argilas de Suzano – SP e Minas Gerais; eliminação de trincas das peças, e conseqüente
diminuição dos rejeitos (estimados em 5% do total da produção).
4
Conforme a classificação adotada pelo SEBRAE
5
Inclusive com a contratação de um pesquisador doutor, como bolsista.

745
Nas visitas feitas às indústrias do pólo de Porto Ferreira nenhum programa voltado
à racionalização do uso da energia nas indústrias foi identificado. Entretanto, o setor
industrial, em geral, e o segmento cerâmico, em particular, respondem por cerca de
70% do consumo total de energia elétrica na cidade, conforme se observa dos dados
apresentados na Tabela 5.
Dos três casos analisados neste trabalho, o pólo de cerâmica artística é o que apresenta
mais características de um cluster, pois além dos pontos anteriormente mencionados para
os pólos de Franca e da região de Americana, há também grande cooperação entre as
empresas nos seguintes aspectos: no equacionamento do problema de suprimento de
matéria prima; no desenvolvimento de estudos para melhoria do design das porcelanas, o
que é feito em parceria com o Centro Cerâmico Brasileiro; na melhoria da eficiência de
fornos elétricos intermitentes e troca desses por fornos contínuos elétricos ou a GLP, o
que é feito em parceria com a Universidade de São Paulo; na comercialização e no
marketing, que é desenvolvido pelo Sindicato da Indústrias Cerâmicas de Porto Ferreira;
além de uma grande articulação para a clusterização no pólo através da influência do
SINDICER (Sindicato das indústrias Cerâmicas).
Tabela 5 - Estrutura do consumo de eletricidade (MWh)
em Porto Ferreira no período 1980-1998

6HWRU            


Residencial 8.363 14 11.569 7 17.235 13 23.070 14 26.571 16 28.033 15
Rural 5.053 9 9.758 6 12.436 10 15.875 10 19.043 11 19.163 10
Industrial 41.306 70 139.486 85 94.300 73 119.228 72 113.776 68 128.343 70
Serviço e
2.494 4 3.152 2 4.740 4 6.531 4 8.194 5 9.031 5
outros

Total 59.196 163.965 128.711 164.704 167.584 184.570


Fonte: CPFL (2000)/SEADE (2003)

Nas várias visitas realizadas quando do desenvolvimento deste projeto ficou claro que
grande parte dos tomadores de decisão das MPMEs (seus proprietários e dirigentes) não
tem o que pode se chamar de visão empreendedora. Na definição apresentada por
Longenecker et al. (1998), o empreendedor é aquele que toma iniciativas, que tem gosto
pela inovação e que tem disposição para assumir riscos calculados. Na mesma linha, Drucker
(1998) afirma que os empreendedores de sucesso estão pessoalmente empenhados na prá-
tica sistemática da inovação. Segundo o autor, a inovação é a característica específica do
empreendedorismo.
Já no início do século XX, Schumpeter (1978) afirmou que a essência do
empreendedorismo está na percepção e no aprimoramento das novas oportunidades no
âmbito dos negócios. Disse o autor que o empreendedor é o responsável pelo processo de
“destruição criativa”, e que é ele quem aciona e mantém em marcha o motor capitalista. O
empreendedor concebe novos produtos, busca e desenvolve novos mercados e cria novos
métodos de produção, que substituem os métodos menos eficientes e mais caros.
746
Por outro lado, alguns autores (e.g., Dolabela, 1999) afirmam ser possível desenvolver
nas pessoas o espírito empreendedor. Assim, ações nesse sentido deveriam ser priorizadas
pelas instituições e organizações que estão voltadas às MPMEs.
4. Considerações finais
Pode-se entender que a racionalização do uso da energia é uma forma de inovação dos
processos produtivos, uma vez que viabiliza a minimização ou eliminação de desperdícios,
ganhos de eficiência e a redução de custos. Assim, um tomador de decisão com visão
empreendedora, ao buscar oportunidades de racionalização do processo produtivo, iden-
tificará na eficientização do uso da energia oportunidades que devem ser aproveitadas. O
mesmo raciocínio vale para qualquer outro aspecto relacionado à atividade produtiva, tais
como o desenvolvimento de novos produtos, o emprego de novos materiais, a melhoria
da qualidade e a minimização dos potenciais impactos ambientais.
Em geral, o empresariado das MPMEs não é empreendedor. Seu comportamento é
tipicamente conservador, não buscando alterações do processo produtivo. Por outro lado, e
também de forma geral, esse empresariado tende a copiar as inovações que se mostram bem
sucedidas. Tal aspecto pode ser observado durante as entrevistas feitas, de sorte que é possível
afirmar ser esse o comportamento típico dos empresários dos três pólos analisados.
Se, por um lado, não é razoável imaginar que todos os empresários tenham condições
de ser empreendedores, por outro é possível imaginar que a existência de alguns poucos
referenciais empreendedores poderia ser suficiente para motivar os demais tomadores de
decisão e catalisar as transformações. Nesse sentido, as ações associadas aos projetos de
demonstração e à divulgação de casos de sucesso visam motivar aqueles que não têm
informação e/ou iniciativa suficiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEN – Balanço Energético Nacional. Brasília: Ministério das Minas e Energia, 2002.
Bera, H.O.K. Dados concedidos pelo presidente sindicato da indústria de cerâmica de Porto Ferreira, 2001.
Bianchi, P. Miller, L. M. Bertini, S. The Italian experience and possible lessons for emerging countries. UNIDO, March 1997.
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Social. Disponível em <www.bndes.gov.br>. Acesso em 16 de Junho de 2003.
Bocausius, P. Perfil energético das indústrias do setor coureiro/calçadista no Vale dos Sinos. UNISINOS, 2000.
Burgina, N. Proprietário da Cerâmica Burgina, em Porto Ferreira. Entrevista concedida em Maio 2002.
Carniatto, E. Engenheiro da Cerâmica Jussara, em Porto Ferreira. Entrevista concedida em Maio de 2002.
CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz. Dados de consumo de energia elétrica, Campinas-SP, 2001.
Drucker, P.F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreunership) prática e princípios. São Paulo: Pioneira, 1998.
Dolabela, F. O segredo de Luisa. São Paulo: Cultura, 1999.
FIERGS – Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul. 08 agosto 2000.
Filion, L.J. The strategy of successful entrepreuners in small business: vision, relationships and anticipatory learning. University of
Lancaster, Great Britain (UMI 8919064), 1988, Vol. 1, 695pp e Vol. 2, 665 pp. Phd thesis.
Fernandes, R.C., Rebelo, A.M. Diagnóstico do cluster couro–calçadista de Franca. Relatório da equipe técnica da FIESP/
CIESP, Dezembro de 1999.
Girardi, J. Assessor de diretoria do SINDITEC. Entrevista concedida em 22/05/2002.
Humphrey, J., Schmitz, H. Governance and upgrading: linking industrial cluster and global value chain research.
IDS Working Paper 120, 2000.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso em 24 de Julho de 2002.
ISTAT – Central Institute of Statistics. La situazione economica del paese, Roma, 1995.

747
Longenecker, J. G. Moore, C. W., Petty, J. W. Administração de pequenas empresas. São Paulo: Makron Books, 1998, 868p.
Mazzotti, V. Diretor proprietário da Cerâmica Mazzotti, em Porto Ferreira. Entrevista concedida em 15/05/2002.
Mesquita, M. Assessor de diretoria do SINDICER, entrevista concedida em agosto, 2001.
Porter, M. Clusters and the new economics of competition. Harvard Business Review, 1998a, pp. 77-90.
SBA – Small Business Administration. The new American evolution: the role and impact of small firms. Disponível em <http/
/www.sba.gov/ADVO/stats/evol_pap.ttml>. Acesso em 21 de Janeiro de 1999.
Schumpeter, J. A. The theory of economic developments. Oxford United Press, 1978.
SEADE. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Disponível em http://www.seade.gov.br. Acesso em
16 de Junho de 2003.
SEBRAE. Informações empresariais – classificação de empresas. Disponível em <http://www.sebrae.org.br/novo_site/
portugues/inf_empresariais/>. Acesso em 07 de Janeiro de 1999.
Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca, Informações gerais sobre o setor calçadista. Dep. Estatística 23/07/
2002. email: sindifranca@sindifranca.org.br
SINDICER, dados do Sindicato das Indústrias de Cerâmica <www.sindicer.com.br>. Acesso em 17.06.2002
SINDITEC – Sindicato das Indústrias de Tecelagem de Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara, Santa Bárbara D’Oeste
e Sumaré. Disponível em www.sinditec.com.br. Acesso em 20 de maio 2001.

748
ANÁLISE EXERGÉTICA
DA PRODUÇÃO DE
CARVÃO VEGETAL
Alex Manzali Vieira1
Ricardo Brant Pinheiro1

RESUMO
Este trabalho a visa apresentar uma metodologia de análise exergética da cadeia de
produção do carvão vegetal, desde a plantação de biomassa energética até a obtenção do
carvão vegetal em forno de carbonização retangular. Com o auxílio da análise exergética de
um estudo de caso, é determinado o rendimento exergético do sistema e é avaliada a
eficácia com que são utilizados os recursos naturais e antrópicos, buscando-se alcançar o
uso mais eficiente dos fluxos de massa e exergia envolvidos.

1. INTRODUÇÃO
Segundo dados da Associação Mineira de Silvicultura (AMS), o Brasil é hoje o maior
produtor de carvão vegetal do mundo, produzindo em 2.001 mais de sei milhões de tonela-
das métricas deste energético de origem renovável (ou 26,5 milhões de m3 de carvão).
No Brasil, o carvão vegetal é utilizado principalmente com termo-redutor na indústria
siderúrgica. O país é também o maior exportador de aço do mundo, particularmente de
produtos semi-acabados (AMS, 2004).
Apesar do grande potencial, por enquanto, apenas 14% de toda a madeira consumida
no mundo é proveniente de plantações florestais do Brasil. Dos mais de 300.milhões de
metros cúbicos de madeira consumidos por ano no país, aproximadamente 100 milhões já
provêm de plantios florestais, a maior parte de plantações de eucaliptos (AMS, 2004).
Diante da importância do carvão vegetal para fins energéticos no país, constata-se a
necessidade de se buscar a otimização da produção e o uso desta forma de energia. Este é
o objetivo geral do trabalho, apresentar uma metodologia utilizando a primeira e a segunda
leis da termodinâmica para a análise do rendimento exergético da cadeia de produção do
carvão vegetal, além de buscar quantificar os fluxos de massa e exergia envolvidos.
1
Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Departamento de Engenharia Nuclear,
Curso de Ciências e Técnicas Nucleares (CCTN), área de concentração: Engenharia da Energia. E-mail:
rbp@nuclear.ufmg.br
749
2. CONCEITUAÇÃO BÁSICA DE EXERGIA E ANÁLISE EXERGÉTICA
Em artigo publicado em 1956, Z. Rant introduziu o termo “exergia”, um híbrido do
grego (ergon) com o latim (ex) exprimindo o extrato ou a “essência da energia.” Surge
então, um primeiro conceito de exergia: “exergia é o potencial de uso da energia”.
A análise exergética é um método que utiliza os princípios de conservação de massa e
energia (primeira lei da termodinâmica) em conjunto com a segunda lei na análise de siste-
mas. A análise exergética é particularmente indicada para se alcançar o uso mais eficiente
dos recursos energéticos, visto que indica a localização, os tipos e a verdadeira magnitude
das perdas do potencial termodinâmico (PINHEIRO, R., 2002).
3. BREVE DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO CARVÃO
VEGETAL
Pode-se descrever a cadeia energética do carvão vegetal, em sua parte “a montante”
(“front-end”), isto é, a partir da cadeia antes do uso siderúrgico (ou outro) do carvão
vegetal, com as seguintes etapas:
l produção de mudas;
l preparo do solo e plantio do eucalipto;
l manejo e manutenção da floresta;
l colheita e transporte; e
l carbonização ou carvoejamento
Para ilustrar melhor o descrito acima, é apresentado na figura 1, um fluxograma
esquemático do processo.
Figura 1 - Fluxograma do processo de produção do carvão vegetal.
(V&M FLORESTAL, 2002)

5DGLDomRVRODUiJXD
3URGXomRGHPXGDV 3UHSDUDomRGDiUHD
FDOFiULRVROR&2 

FRPEXVWtYHLVGHIHQVLYRV

IHUWLOL]DQWHV
VLP

3ODQWLR
QmR
URWDomR"
)ORUHVWD
0DQXWHQomRGD)ORUHVWD

&ROKHLWD
/HQKD

&DUERQL]DomR

&DUYmR
&DUUHJDPHQWR

750
Entre os vários tipos de culturas florestais, inúmeros pesquisadores afirmam que o eucalipto
é economicamente uma das melhores opções para o cultivo de florestas energéticas e por
isso, é soberano entre os principais manejos atuais. O processo silvicultural (ciclo de produ-
ção do eucalipto) dura em média 7 anos e a colheita ocorre no último ano.
Nas figura 2 e 3, pode-se ver vastas áreas de plantações de Eucalyptus spp. para produção
de carvão vegetal. Conforme a legislação vigente, são mantidas faixas ecológicas de vege-
tação nativa com o objetivo de manter a biodiversidade das espécies locais.

Figuras 2 e 3 - Plantações de eucalipto

Fonte: V&M FLORESTAL, 2002

A figura 4 mostra fornos retangulares de carbonização da empresa V&M Florestal:


Figura 4 - Fornos de Carbonização da V&M Florestal

Fonte: (V&M FLORESTAL, 2002)

751
4. METODOLOGIA UTILIZADA NA ANÁLISE
Para proceder à análise, adotou-se a estratégia simplificada de se considerar apenas as
entradas e saídas de matéria e exergia nos subsistemas em que o sistema produtivo deve ser
subdividido para a análise, considerando-se ainda somente os fluxos médios, ao longo de
um ano típico ou ciclo. Os subsistemas podem então ser considerados como sendo “cai-
xas-pretas” operando em regime permanente. Esta metodologia é ilustrada na figura 5.
Figura 5 - Modelo de análise adotado (representação simplificada)

Insumos
Outros
Carvão Vegetal
Insumos 3ODQWDomRGH Lenha )RUQRGH
HXFDOLSWR FDUERQL]DomR Subprodutos da
Carbonização
Perdas

Perdas

Na figura 5, o sistema de produção do carvão vegetal é considerado como sendo


composto por dois subsistemas:
l Subsistema 1 – Plantação de eucalipto
l Subsistema 2 – Forno de carbonização
Esta estratégia, por um lado, suprime a possibilidade de análises de particularidades
do processo, mas, por outro, propicia a grande vantagem de uma execução mais rápida
e abrangente da análise, alcançada com razoável nível de aproximação de seus resultados,
coerentes com o escopo do trabalho. Vale a pena ainda ressaltar que a dificuldade na
obtenção de dados detalhados do processo implica na adoção de um modelo mais
simplificado (VIEIRA, 2004).
l Definição da fronteira do sistema
A fronteira do Subsistema 1, plantação de eucalipto, foi visualizada como a superfície envol-
vendo um paralelepípedo cuja área da base é igual a um hectare da floresta. O limite inferior da
fronteira inclui o solo, até a profundidade explorada pelas raízes das árvores, e o limite superior
corresponderia a um plano imaginário, tangenciando a parte superior das copas da árvores.
Já a fronteira do Subsistema 2, forno de carbonização, é uma superfície envolvendo a
parte exterior das paredes e porta do forno, a chaminé e, quando for o caso, os equipamen-
tos recuperadores de subprodutos da carbonização.
l Modelo de análise Subsistema 1 - Plantação de Eucalipto
O modelo de análise adotado para o Subsistema 1- Plantação de Eucalipto, pode ser
mais bem representado pela figura 6.
752
Figura 6 - Modelo para análise do Subsistema 1

mRo UD DX 
DL OR JÈ 2
GD 6 &
5

&RPEXVWtYHLV

)HUWLOL]DQWHV
6XEVLVWHPD
$JURTXtPLFRV 3ODQWDomRGH(XFDOLSWR
/HQKD
&DOFiULR 6LOYLFXOWXUD
(XFDO\SWXVVSS
(OHWULFLGDGH

0RLQKD

RL UR
DX Qr OD
JÈ JL
[ &
2

Nesta figura foram incluídos os principais insumos, produtos e rejeitos do Subsistema 1,


conforme a tabela 1.
Tabela 1 - Insumos, produtos e rejeitos do Subsistema 1

Radiação solar
,QVXPRVQDWXUDLV Água de chuva
Dióxido de carbono (absorvido pelas plantas)

Água de irrigação (quando necessário)


Fertilizantes minerais utilizados na adubação
Calcário
,QVXPRVPDWHULDLV
Agroquímicos (inseticidas e herbicidas)
Eletricidade (iluminação, viveiros, bombas, motores, etc)
Óleo diesel (tratores, motosserras, etc).

Madeira
3URGXWRVIORUHVWDLV
Resíduos florestais (que permanecem no sistema)
Água da chuva e irrigação
5HMHLWRVQDWXUDLV Oxigênio (liberado pelas plantas)
Radiação solar refletida e parcela dissipada no ambiente.

753
l Modelo de análise Subsistema 2 - Forno de Carbonização
O modelo de análise adotado para o Subsistema 2 – Forno de Carbonização, é o repre-
sentado na figura 7. Nesta figura, foram indicados os principais insumos, produtos e rejeitos
do Subsistema.2, conforme Tabela 2:
Figura 7 - Modelo de análise para o Subsistema 2

HG
DG DX
U$ LF
LUW J
HO È
(

&DUYmR
6XEVLVWHPD
/HQKD
)RUQRGH
&DUERQL]DomR
6XE
3URGXWRV

DG Rm
V WV UR
DX RW XE OD
JÈ XG P &
RU R&
3

Tabela 2 - Insumos, produtos e rejeitos do Subsistema 2

Madeira seca
,QVXPRVGD Ar
FDUERQL]DomR Eletricidade (motor do recuperador de subprodutos)
Água (para resfriamento do carvão vegetal)

3URGXWRGD
Carvão vegetal
FDUERQL]DomR

Finos de carvão vegetal ou moinha


Gases não condensáveis (CO, CO2,CH4, C2H6 )
Líquido pirolenhoso
5HMHLWRVH Alcatrão insolúvel
VXESURGXWRV Água condensável
GDFDUERQL]DomR Tiços
Produtos da combustão da madeira (N2, CO2, CO e água)
Calor (proveniente das reações exotérmicas no forno)
Vapor d’água (resfriamento)

754
5. OPÇÃO PELO ESTUDO DE CASO DA V&M FLORESTAL
Devido à grande quantidade de variáveis inerentes ao processo de produção do
carvão vegetal e da necessidade de obtenção de dados, foi preciso particularizar a
análise pela realização do estudo de caso de uma empresa produtora de carvão
vegetal, que representasse bem os processos silviculturais e de carbonização.
A empresa escolhida para se proceder a análise foi a Vallourec & Mannesmann
Florestal Ltda (VMFL), pelo maior conhecimento da mesma e pela maior facilidade
em se obter dados para a realização do estudo de caso.
A VMFL (antiga Mannesmann Florestal - MAFLA), foi criada em 1969 e atua em
20 municípios, nas regiões Norte e Noroeste do Estado de Minas Gerais. Com
escritório central localizado na cidade de Curvelo (MG), a VMFL administra
139.626.hectares de florestas plantadas, em um total de 240.941 hectares de propri-
edades localizadas nos municípios mineiros de João Pinheiro, Brasilândia, Bocaiúva,
Paraopeba, Curvelo e outros (NOGUEIRA, 2000).
A empresa é certificada pela ISO 14.000 e pelo FSC (Forest Stewardship Council),
organização internacional que certifica empresas florestais que possuem um bom
sistema de manejo florestal. Atualmente a produtividade média da floresta é de 140.st/
ha.ciclo (RAAD, 2002), o que equivale a uma produtividade média anual de 20.st/
ha.ano. No entanto, devido aos trabalhos de melhoramento genético, a empresa pre-
tende alcançar uma produtividade de 40.st/ha.ano (meta) com o plantio de clones.
Por se tratar de um ano típico, foi adotado para a análise do estudo de caso o ano
de 2002. Neste ano, foram usados 1.805.016 st de lenha, que resultaram na produção
de 928.924 m3 de carvão vegetal. É considerado como ano típico, o ano em que os
processos ocorreram conforme planejado pela empresa, dentro da normalidade.
Os dados necessários para a análise do estudo de caso foram obtidos diretamente
da empresa ou, na dificuldade de obtenção destes, foram extraídos da literatura
técnico-científica disponível, buscando-se sempre que possível, adequar as informa-
ções aos processos praticados pela empresa.
6. RESULTADOS OBTIDOS
Nas tabelas 3 e 4 são apresentados para o estudo de caso, os fluxos de massa e
exergia para o sistema global de produção do carvão vegetal analisado (Subsistema
I - plantação de eucalipto e Subsistema II - forno de carbonização modelo FR190 da
V&M Florestal), respectivamente:

755
Tabela 3 - Fluxos de massa para o sistema global
,QVXPRV (QWUDGDGH 6DtGDGH
6XEVLVWHPD SURGXWRV &RPSRQHQWHV 0DVVD
HUHMHLWRV NJFLFOR  0DVVD NJFLFOR 
Água de chuva 129.182.527
Dióxido de carbono 107.232
Óxido bórico 22,49
Sulfato de zinco 4,76
Óxido fosfórico 267
Óxido de potássio 295
,QVXPRVGD
SODQWDomRGH Cal 644
HXFDOLSWR
6XEVLVWHPD, Cloreto de potássio 169
SODQWDomR Sulfato de amônia 266
GHHXFDOLSWR
Calcário dolomítico 2.811
Óleo diesel 14,90
Herbicida 5,62
Formicida (Mirex) 11,74
6DtGDGHPDVVD Transpiração 34.189.587
6XEVLVWHPD, Liberação de oxigênio 78.100
3URGXWRGR
6XEVLVWHPD, 0DGHLUD
 
FROKHLWDGRžDQR 
,QVXPRVGR
6XEVLVWHPD,, Ar 54.779 
3URGXWR Carvão vegetal 21.587
Finos de carvão 248
N2* 42.010
6XEVLVWHPD,,
IRUQRGH CO2* 9.864
FDUERQL]DomR Água* 2.905
PRGHOR)5
GD9 0 6XESURGXWRVH Alcatrão insolúvel 1.392
)ORUHVWDO UHMHLWRVGD Sol. aquosa
FDUERQL]DomR pirolenhoso
20.694

Gases não
15.496
condensáveis
Tiços 2.351
Cinzas 216
7RWDO  
* Produtos da combustão da lenha.  

756
Não foi possível fechar o balanço de massa para o sistema global de produção do carvão
vegetal, pois não se conseguiu quantificar todos os fluxos, como por exemplo, a parcela da
água de chuva que alimenta os lençóis freáticos e que entra e sai no sistema sem participar do
desenvolvimento do eucalipto, a água que sai do sistema por lixiviação, que retorna ao ambi-
ente através da evaporação natural, etc; além dos lubrificantes, contribuições de nutrientes do
solo ao longo do ciclo (Subsistema 1), e outras saídas e/ou perdas de massa não quantificadas.

Tabela 4 - Fluxos de exergia para o sistema global


,QVXPRV (QWUDGD([HUJLD 6DtGD([HUJLD
6XEVLVWHPD SURGXWRV &RPSRQHQWHV
*-FLFOR  *-FLFOR 
HUHMHLWRV
Radiação solar 568.305
Água de chuva 6.454
Óxido bórico 0,02
Sulfato de zinco 0,002
Óxido fosfórico 1,55
Óxido de potássio 1,29
Insumos -
Cal 1,26
Subsistema I
Subsistema I - Cloreto de potássio 0,04
Plantação de Sulfato de amônia 1,33
eucalipto Calcário dolomítico 0,03
Óleo diesel 0,70
Eletricidade 0,05
Lubrificantes ?
Perdas/destr. de Transpiração 1.708
exergia Radiação solar ?
Produto
Subsistema I Madeira
1.380,81 1.380,81
(colheita do 7º ano)
Insumos
Subsistema II Água 0,50
Eletricidade 2,38
Produto carb. Carvão vegetal 706,07
Finos de carvão vegetal 8,11
Alcatrão insolúvel 38,31
Solução aquosa
103,90
pirolenhosa
Gases não condensáveis 152,08
6XEVLVWHPD,, Tiços 50,95
)RUQRGH Cinzas 0,55
&DUERQL]DomR Perda exergia aquec.-
0RGHOR)5 evap. umidade
28,72
GD9 0 Subprodutos e
Perda exergia aquec.-
)ORUHVWDO rejeitos -
evap. prod. pirólise
34,95
Subsistema II
Perda exergia pelas
6,12
paredes do forno
Perda exergia aq.-evap.
9,70
prod.comb.mad.
Perda exergia no resfr. e
4,92
evap. água
Vapor d'água 5,27
Outras perdas/destruições
234,03
exergia carb.
7RWDO  

757
Não foi possível quantificar todas as perdas de exergia para o sistema global de produ-
ção do carvão vegetal, pois também não se conseguiu quantificar a destruição de exergia
que ocorre devido à dissipação de calor proveniente da radiação solar (irreversibilidades),
como por exemplo, o calor dissipado no aquecimento do solo, gasto no processo de
evapotranspiração, além da parcela perdida devido ao fenômeno da emergência de
infravermelho das plantas.
Segundo SZARGUT (2003), a atmosfera, o solo e os oceanos degradam grande
parte do gradiente de energia e desequilíbrio causados pelos 1.368,3 W/m2 de energia
solar entrante na Terra.
Quanto mais desenvolvido for o ecossistema, mais eficiente será a degradação de ener-
gia. Ao analisar os fluxos de exergia que chegam nas plantas, verifica-se que grande parte é
utilizada no processo de evapotranspiração. Este mecanismo é muito eficaz no processo de
degradação da energia solar entrante, com gasto de até 600 calorias por grama de água
transpirada (SCHNEIDER & KAY, 1994).
Também não foi possível quantificar a exergia dos lubrificantes e agroquímicos (formicida
e herbicida), o que não interfere no balanço global de exergia face à sua pouca importância
(magnitude) quando comparado aos demais insumos.
l Rendimentos exergéticos obtidos
Para a determinação do rendimento exergético do sistema (ep), foi utilizada a equação
abaixo SZARGUT (2003), onde são consideradas as exergias dos insumos e produtos
quantificados nas tabelas 3 e 4:

6DtGD GH H[HUJLD ~WLO GRV SURGXWRV


ε3 =
([HUJLD WRWDO GRV LQVXPRV

Os resultados obtidos são apresentados na tabela 5:

Tabela 5 - Rendimentos exergéticos dos subsistemas e do sistema global

6LVWHPD 5HQGLPHQWRH[HUJpWLFR εS 

Subsistema I - Plantação de eucalipto1 0,239 %

Subsistema II - Forno de carbonização2 51,00 %

Sistema global2 0,117 %

1
Produto do Subsistema I → madeira
2
Produto dos Subsistema II e do Sistema global → carvão vegetal

758
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Buscou-se extrair a partir dos resultados obtidos as seguintes conclusões e sugestões
com relação ao sistema de produção do carvão vegetal analisado no estudo de caso:
l Com a aplicação da metodologia proposta, foi possível quantificar ainda que não
totalmente os fluxos de massa e exergia para o sistema de produção analisado.
l Conseguiu-se também determinar valores para o rendimento exergético do sistema
de produção do carvão vegetal, a partir da etapa de plantação da floresta energética
de eucalipto.
l Na plantação de eucalipto, o rendimento exergético obtido foi de εp.=.0,00239
(0,239.%). Apesar do baixo valor encontrado, se forem desconsideradas as contri-
buições exergéticas da natureza (inclusive a solar), que são completamente gratuitas
para o homem, verifica-se que os sistemas agrícolas são extremamente favoráveis
do ponto de vista termodinâmico. Na verdade, no caso da plantação de uma flo-
resta energética, o meio ambiente é que realiza a maior parte do trabalho, cabendo
ao homem apenas direcionar os esforços no sentido de otimizar os processos natu-
rais a fim de obter energia e matéria prima para a indústria, necessária para a con-
fecção de produtos de origem vegetal.
l No forno de carbonização, ao comparar o processo real com o processo ideal (onde
εp seria igual a 100.%), conclui-se que o valor obtido para o rendimento exergético, εp
= 0,510 (ou 51,0 %), indica que há um potencial de melhoria do rendimento exergético
dos processos envolvidos que está sendo perdido na carbonização da madeira. Po-
rém, vale ressaltar que, quando se analisa separadamente o Subsistema.II, verifica-se
que grande parte da exergia no processo de carbonização (cerca de 16,9.%) é perdida
devido a características internas inerentes ao processo de carbonização como: destrui-
ção de exergia no processo de queima (combustão) da madeira; destruição de exergia
no aquecimento das paredes do forno; perda de exergia na fuga de gás quente através
da porta do forno e irreversibilidades presentes no motor elétrico. Portanto, conclui-
se ser importante investigar meios para reduzir ou minimizar estas perdas de exergia
que ocorrem no forno de carbonização.
l Observando os resultados para o sistema global, pode-se verificar que os baixos valores
obtidos para o rendimento exergético (da ordem de 0,117.%) são devidos, principal-
mente, à grande entrada de exergia no sistema através da radiação solar (98,88 % da
exergia dos insumos totais), cuja magnitude é bastante significativa na análise. Isto mos-
tra a grande influência do Subsistema 1 no rendimento exergético global. Assim, melhorias
no Subsistema 1 são consideradas prioritárias.
Como estão sendo desenvolvidas novas tecnologias de carbonização da madeira, caso
dos projetos piloto para construção de retortas de carbonização contínua, por exemplo,
onde se espera haver maior possibilidade de aproveitamento dos subprodutos da carboni-
zação, estes processos também poderão ser comparados com os atuais fornos de carboni-
zação em trabalhos futuros.
759
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
NOGUEIRA, Clóvis P., Análise Energética e Econômica do Processo de Produção da Mannesmann
Florestal, Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2000.
RAAD, Túlio J. Dados de Pesquisa. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por alex.manzali@vmtubes.com.br
em 28 nov 2002.
PINHEIRO, Paulo César C., SAMPAIO, Ronaldo S., FILHO, José Gonçalves B., Fornos de Carbonização Utilizados no
Brasil, In: Iº Congresso Internacional de Uso da Biomassa Plantada para Produção de Metais e Geração de Eletricidade,
2001, Belo Horizonte, Anais Eletrônicos (Disponível em CD-ROM).
PINHEIRO, Ricardo B., Exergia e Análise Exergética, Departamento de Engenharia Nuclear, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002 (Nota de aula).
SZARGUT, J., MORIS D.r., STEWART, F.R., Exergy Analysis of Thermal, Chemical and Metallurgical Processes,
Hemisphere Pub. Co., New York, EUA, 1988.
SCHNEIDER, E. D. & KAY, J. J., Life as a Manifestation of the Second Law of Thermodynamics, Mathematical
Computation Modelling, v.19, n.6-8, p.25-48, Elsevier Science Ltda. ed., Great Britain, 1994. 24p.
V&M aumenta reservas, Gazeta Mercantil, 13 set. 2002. Disponível em: http://www.infomet.com.br Acesso em:
18 setembro 2002.

760
OPORTUNIDADES E DESAFIOS À
CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
NO ESTADO DE RONDÔNIA

Bastos *
Hélio de Souza e Moret**
Artur de Souza

RESUMO
O aproveitamento das oportunidades e o sucesso sobre os desafios para realização de
programas de eficiência energética em Rondônia impactam em toda a sociedade local. E
nesse viés, o presente artigo objetiva apresentar proposições para eficiência energética em
Rondônia, a partir de uma avaliação do estágio atual de realizações e de barreiras existentes.

ABSTRACT
The advantage over the opportunities and the success over the challenges for the realization
of programs of energy efficiency in Rondônia have impact on all the local society. The
present article has as object to present proposições for energy efficiency in Rondônia starting
from the evalu of the present stage of realizations and existing barriers.

1 - INTRODUÇÃO
A eficiência energética deve ser encarada pela diminuição do consumo específico
dos conversores energéticos e pela diminuição das perdas técnica do sistema. Para o
Estado de Rondônia esse olhar é importante pois representa maior disponibilização de
energia, portanto de um aumento potencial do mercado de atendimento da empresa
distribuidora; como exemplo 37% dos domicílios ainda não tem atendimento de ele-
tricidade, 69% não tem atendimento de água, denotando demanda reprimida significa-
tiva de eletricidade para o Estado de Rondônia.

* Mestre, Engenheiro das Centrais Elétricas de Rondônia - CERON


** Prof. Dr. Universidade Federal de Rondônia - UNIR

761
Por outro lado, esse texto aborda as potenciais possibilidades de implementação de
ações para a eficiência energética abordando critérios Metodológicos, iniciativas concretas
de conservação e oportunidades para programas de conservação.
“A regulamentação setorial no que tange aos Programas de Eficiência Energética implica
em ações que impactam em toda a sociedade. Isso se deve ao diferenciado envolvimento
dos mais diversificados segmentos, quer concessionárias, prestadoras de serviço, fabrican-
tes, revendedores, instituições ambientalistas, municipalidade e governo, agências de finan-
ciamento e fomento, e consumidores, dentre outros. Fato que somente pelo envolvimento
dos consumidores já caracteriza a abrangência de toda a sociedade.
“O olhar mundial sobre a questão energética, quer no viés mercadológico, quer no
aspecto motriz básico das sociedades e das economias, foca, necessariamente, sua im-
portância nos processos de produção e sustentação do desenvolvimento; nos aspectos
estratégicos de segurança das nações, com implicações geopolíticas e até militares; e nos
impactos junto ao meio ambiente e à vida na biosfera. O direcionamento de tal base
energética da sociedade moderna encontra sua sustentação na regulamentação do setor
de eletricidade.” (Bastos, Haddad e Moret, 2004)
2- REVISÃO BIOBLIOGRÁFICA
“Observa-se, conforme as colocações de Jannuzzi e Gomes (2003), quando abordam a
experiência brasileira pós-privatização em programa de eficiência energética (PEE) e pro-
grama de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que o aparato legislativo, institucional e
regulatório, não foi suficiente para garantir que os substanciais recursos aplicados em efici-
ência energética pelas concessionárias desde 1998, tenham sido canalizados para atividades
que realmente considerassem a maximização do interesse público e do potencial existente.
Verifica-se, numa análise mais detalhada desses programas de uso final, uma série de
distorções, e, de fato, houve muita dificuldade de se averiguar sua real contribuição para
mitigar a crise de abastecimento enfrentada a partir de meados de 2001. Questiona-se,
portanto, nesse contexto, a modelagem de sustentação dessas atividades. Desse
questionamento, emergem novas propostas de gerenciar esses recursos de maneira com-
partilhada com a sociedade, indicando avanços que são importantes e inovadores, inclusive
no âmbito internacional. Observou-se que algumas concessionárias concentraram seus in-
vestimentos em iluminação pública, a título de exemplo, pela possibilidade de
compartilhamento dos investimentos com as prefeituras locais, auferindo ganhos financei-
ros para as concessionárias. ‘Falta, portanto, ao órgão regulador especificar programas e/
ou áreas prioritárias, benchmarks ou indicadores de desempenho que poderiam facilitar a
proposição de programas com benefícios sociais diretos’.” (Bastos, Haddad e Moret, 2004)
“O desempenho de um programa ou medida de GLD1 depende muito das estra-
tégias de marketing adotadas, afirma Pompermayer (2000, p.29), uma vez que os con-
sumidores não estão familiarizados com esse tipo de ação (GLD), demonstram pouco
interesse e falta de confiança, dentre outros fatores que inibem a sua adesão ao progra-
ma.” (Bastos, Haddad e Moret, 2004)
1
Gerenciamento pelo Lado da Demanda
2
ELETROACRE (2002, 2002a, 2003 e 2003a); CEB (2001 e 2002); CEMIG (2001 e 2003); CERON (2001 e 2002)
e CEEE (2001 e 2002).

762
A seguir, serão descriminados os programas de EE implementados no estado
Rondônia por diversos atores.
Bastos, Haddad e Moret (2004) demonstraram na Tabela 1 os itens de acompanha-
mento, com base nos projetos de uso final e relatórios finais ou de acompanhamento2
emitidos pelas concessionárias CERON, CEEE, CEB, CEMIG e ELETROACRE, onde
os itens relativos a ações da CERON são cotejados aos de outras empresas do setor. A
tabela sintetiza: a) os recursos de divulgação utilizados, onde “mídia” representa os veí-
culos de imprensa escrita e televisionada; b) a forma de operacionalização da substituição
dos equipamentos de uso final ineficientes por eficientes; c) a destinação dada aos equi-
pamentos ineficientes retirados das instalações do consumidor; e d) os instrumentos de
controle utilizados durante o processo.
Tabela 1 - Itens de Acompanhamento de 05 Concessionárias
do Setor Elétrico Brasileiro para o PEE3 2000/2001

,7(16 &(521 &((( &(% &(0,* (/(752$&5(

Mídia e conta Divulgação só no


Recursos de
Mídia Mídia de energia Mídia lançamento do
Divulgação
elétrica programa

Serviço
Serviço Serviço Equipe Serviço
Troca do terceirizado -
terceirizado - terceirizado própria com terceirizado com
Equipamento entrega nas
instalação nas com entrega instalação instalação nas
Ineficiente Ag. dos
residências nas residências residências residências
Correios

Destinação Permaneceu Permaneceu Permaneceu


Sem
Equipamento com o com o com o Sem identificação
identificação
Substituído consumidor consumidor consumidor

Instrumentos Programa Banco de dados


Banco de dados
de Controle informatizado Sem Planilha com sistema de
no sistema de
das Ações e acompanha identificação de dados informações
consumidores
Resultados substituições geográficas

Fonte: ELETROACRE (2002, 2002a, 2003 e 2003a); CEB (2001 e 2002); CEMIG (2001 e 2003); CERON (2001 e 2002) e
CEEE (2001 e 2002).
3
Programa de Eficiência Energética

763
Referente ao segundo ciclo de EE implementado pela CERON, registra-se na Tabela 2
a síntese dos mesmos itens elencados na Tabela 1.

Tabela 2 - Itens de Acompanhamento da CERON para o PEE 2001/2002

,7(16 &(521

Divulgação Mídia
Serviço próprio com venda
Troca
das lâmpadas nas lojas de serviço
Destinação Permaneceu com o consumidor

Programa informatizado para


Controle
acompanhamento das substituições

Fonte: CERON (2002a e 2004)

Quanto à aplicação do programa de combate ao desperdício de energia elétrica,


ciclo 2002/2003, realizado pela CERON, voltado a 26 projetos de uso final e 01 de
Educação para consumidores da área de concessão da CERON, em atendimento à
Resolução ANEEL nº 492/2002, registra-se na Tabela 3 a síntese dos projetos emi-
tidos pela concessionária CERON.

Tabela 3 - Projetos que compõem o PEE CERON 2002/2003

(1(5*,$$6(5 '(0$1'$$6(5
352-(726 '(6&5,d­2680È5,$ (9,7$'$ 5(7,5$'$'$
&(521 3217$ N: 
N:KDQR 
12 (doze) empresas
Indústria instaladas em cidades da 764,64 181,35
região central do Estado.
12 (doze) empresas
Comércio e
instaladas na cidade de Porto 105,42 18,38
Serviço
Velho Capital do Estado
01 (uma) instituição no sul
Poder Público 29,45 7,43
do Estado

Serviço 01 (uma) empresa em 03


637,74 86,96
Público cidades no norte do Estado

01 (um) curso de
especialização lato sensu
Educação com 20 vagas em Eficiência - -
energética na cidade de Porto
Velho Capital do Estado
Fonte: CERON (2003).

764
Referente ao ciclo 2003/2004 do programa de eficiência energética da CERON, plane-
ja-se a atuação em Iluminação Pública e Ações em Escolas do primeiro grau, após bem
recente frustração do programa enviado á ANEEL em 30.04.04, em função de dissolução
societária da empresa de consultoria contratada para fins de elaboração e implementação
das ações de um projeto de Agente Comunitário que estaria selecionando agentes dentro
das comunidades carentes periféricas para treinamento e atuação junto à comunidade na
orientação aos consumidores de medidas práticas e cotidianas para a racionalização na
utilização do bem energia elétrica e um projeto SOS Energia nas Escolas Públicas de 1º
Grau, com metodologia que foge ao domínio da concessionária.
A Fundação Universidade Federal de Rondônia, o Sebrae/RO e a Fundação RIOMAR
(interveniente da UNIR), já desenvolvem um programa de Eficiência Energética, com-
preendendo um levantamento4 de dados de 8 mil empresas do Estado, nas 16 cidades2
com maior participação no consumo e nas 19 atividades econômicas com maior partici-
pação no consumo do Estado: Indústria Madeireira - Serrarias, Movelaria
(Beneficionamento); Frigorífico e Abatedouros; Laticínios; Bebidas - Refrigerantes e Água
Mineral; Turismo - Hotel, Motel; Supermercado, Mini Mercados e Mercearias; Minerais
não Metálidos - Mármore, Granito e Cerâmica; Metal Mecânico - Funilaria, Oficina
Mecânica, Serralheria; Comércio Varejista; Panificação; Estabelecimentos de Ensino;
Reciclagem de Plástico; Serviços Pessoais - Salão de beleza, Clubes, Academias; Serviços
de Alimentação; Saúde - Hospitais, Clinicas, Laboratórios e Consultórios; Setor Gráfico;
Posto de Gasolina - Loja de Conveniência, Borracharia; Condomínios; Agroindústria -
Beneficiamento de Grãos; Fábrica de Gelados Comestíveis.
Esse levantamento teve o objetivo de gerar um quantitativo para basear as fases seguin-
tes do projeto, que são análise de pontos críticos, consultorias e implantação de unidade de
demonstração. Entretanto as respostas as 12 perguntas do questionário com quatro sub-
itens (totalizando 384 mil dados) podem gerar um conhecimento importante se analisadas
de forma adequada, considerando que podem representar as demandas e problemas que
devem ser atendidos e resolvidos. As questões que o questionário aborda estão especificadas
a seguir: gestão e administração de energia, conta de energia, instalações elétricas, motores
elétricos, sistema de bombeamento, sistema de ar comprimido, sistema de refrigeração,
sistema de ar condicionado, sistema de aquecimento, sistema de iluminação, sistema de
produção e outros usos de energia. Este banco de dados está sendo analisado dentro da
pesquisa Eficiência energética para empreendedores e as micro e pequenas empresas (MPE)
do estado de Rondônia: programas, produção de material e ações de capacitação, com
financiamento do programa de P&D6 da TERMONORTE.

4
Denominado “Auto-Avaliação”, para o qual um questionário foi preenchido pelo proprietário da empresa
5
Porto Velho, Ji-Paraná, Ariquemes, Cacoal, Vilhena, Jarú, Pimenta Bueno, Guajará- Mirim, Ouro Preto d’Oeste, Rolim
de Moura, Colorado d’Oeste, Espigão d’Oeste, Presidente Médici, Cerejeiras, Alta Floresta e Alvorada d’Oeste
6
Programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico

765
3- DISCUSSÃO
3.1- BARREIRAS, DESAFIOS E OPORTUNIDADES À IMPLEMENTAÇÃO
DE POLÍTICAS E PROGRAMAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
(EE) EM RONDÔNIA
A implementação de políticas e programas esbarra em vários obstáculos: tecnologia,
informação, tarifa, regulação e políticas (Quadro 1). A superação desses requer compromis-
sos dos vários atores que atuam no cenário do setor elétrico, no estado de Rondônia,
contextualizando-se a questão com superação dos desafios e oportunidades existentes.
Quadro 1 - Barreiras à implementação de políticas e programas de eficiência energética

%DUUHLUDV 'HVFULomRVXFLQWD
&XVWRGDWHFQRORJLD As tecnologias mais eficientes têm baixa
escala e alto valor agregado nos equipamentos
,QIUDHVWUXWXUDGH
IRUQHFLPHQWROLPLWDGD Tecnologias não produzidas ou disponíveis

3UREOHPDVGHTXDOLGDGH
HGLPHQVLRQDPHQWR Desempenho inadequado e superdimensionado

,QIRUPDomRHWUHLQDPHQWR Consumidores e empresas não


conhecem as tecnologias disponíveis

,QFHQWLYRVPDODORFDGRV Divergência de interesses entre


consumidores, empresas e governo

)DOWDGHILQDQFLDPHQWR Por inexistência de recursos ou por falta


de conhecimento da disponibilidade da fonte

%DUUHLUDVGHSUHoRVHWDULIDV Subsídios a geração, visão única para


a oferta e baixa qualidade do planejamento
%DUUHLUDVUHJXODWyULDV
HGDHPSUHVDIRUQHFHGRUD Aumento do consumo = aumento da arrecadação

2EVWiFXORVSROtWLFRV Empresas fornecedora de eletricidade,


empresa fornecedora do combustível
Fonte: GELLER (2003); CHILE SUSTENHABLE (2002) BARREIRAS

Na Tabela 1, verifica-se, basicamente, a ausência de registro ou a repetição do registro de


“instrumentos de controle” associado à figura de um banco de dados, sendo que esse não
é sinônimo daquele, e sim um elemento a ser utilizado em um arranjo instrumental mais
completo e necessariamente vinculado a uma metodologia. O tratamento do assunto de-
nota a pouca importância dada à aferição de resultados. O atendimento à regulamentação
no sentido de aplicar o recurso financeiro a que são obrigadas as concessionárias de energia
elétrica, pela atual legislação brasileira, parece ser o foco, tanto do regulador como das
reguladas. Não há obrigatoriedade, nem prática: a) de vinculação dos programas a etapas
de aferição, b) de cotejamento à outras modelagens desenvolvidas por outras empresas, e
c) nem de cotejamento pelo próprio Agente Regulador, com retorno para as empresas,
visando o amadurecimento de todo o processo.
766
4 - PROPOSIÇÕES EM EE EM NÍVEL LOCAL E DE BAIXO CUSTO EM
RONDÔNIA
Os procedimentos para a conservação e eficiência energética devem ser implementados
segundo critérios metodológicos e aproveitamento de oportunidades concretas de conser-
vação, para vencer os desafios a realização de programas de conservação.
Verificamos os seguintes desafios à concretização de programas de conservação de
energia em Rondônia:
l Aumentar a massa crítica de atores atuante em EE, realizando cursos de: pós-graduação
lato e stricuto sensu, para consultores, para engenheiros e técnicos;
l Aumentar significativamente o número de estudos realizados em EE;
l Criar mecanismos institucionais e expertise para o incentivo à EE através da
alavancagem de espaços institucionais, financeiros e de massa crítica de todos os
atores que atuam no Estado de Rondônia: CERON, Estado de RO, Instituição de
Ensino Superior, ANEEL, Financiadores (BASA, ANEEL, Banco do Brasil, CNPq,
FINEP), SEBRAE, SENAI; e
l Implementar atividades de EE em: gestão e planejamento pelo lado da demanda,
organização dos espaços institucionais dos vários atores e operacionalização das ativi-
dades (empresas de consultoria e de engenharia).
Como embasado por Bastos, Haddad e Moret (2004), dentre outras, apresentam-se
as seguintes proposições para ajustes metodológicos na regulamentação setorial, que vi-
sam mitigar problemas verificados na implementação de programas de eficiência energética
pelas concessionárias:
l Estudar, divulgar e vincular os programas às questões macro de estratégias de Conser-
vação e Uso Racional de Energia Elétrica. Conjuminando, dessa forma, planejamento
e regulamentação;
l Estudar, junto com as concessionárias, e inserir na regulamentação regras ou parâmetros
de divulgação e mídia, que reflitam as experiências já vividas no país e as internacio-
nais, no sentido da otimização na utilização desse recurso;
l Estudar e definir formas otimizadas de recolhimento e reciclagem dos materiais compo-
nentes dos equipamentos ineficientes retirados do sistema, regulamentando procedi-
mentos que garantam o não-retorno desses equipamentos ao sistema, com racionaliza-
ção no reaproveitamento dos componentes dos equipamentos substituídos; e
l Estudar e efetuar inclusão na regulamentação de “instrumentos de controle” voltados
ao pleno acompanhamento e avaliação das repercussões da aplicação dos programas,
nos níveis técnico, cultural, social e econômico.
Proposições para EE em Rondônia com as seguintes oportunidades de progra-
mas e iniciativas:
l Programas de conscientização: nas escolas, nas igrejas, nas associações de bairro e
outros locais de grande presença popular;
767
l Programas de comunicação para a eficiência energética: mídia, folders específicos
mostrando cálculos e possíveis formas de economia: diminuição do calor, troca de
Lâmpadas e outros;
l Programas específicos para os setores de consumo (comercial- iluminação, condiciona-
mento ambiental; industrial- motores, refrigeração, arranjo físico; residencial – ilumina-
ção, condicionamento ambiental, chuveiros; serviços públicos - iluminação, água);
Origens de fomento passíveis de viabilização de programas de EE:
l Concessionárias de energia elétrica - CERON e ELETRONORTE - com recursos
oriundos da obrigatoriedade introduzida pela Lei 9.991/2000 (0,5% da Receita
Operacional Líquida - ROL - das concessionárias), através de seus programas de
eficiência energética - PEE;
l Concessionárias de energia elétrica - CERON e ELETRONORTE - com recursos
oriundos da obrigatoriedade introduzida pela Lei 9.991/2000 (0,5% da Receita
Operacional Líquida - ROL - das concessionárias), através de seus programas de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico - P&D, que pode ser desenvolvido no seg-
mento de eficiência energética;
l CTENERG: Fundo setorial de Energia Elétrica - que tem como objetivo o acompa-
nhamento da aplicação dos recursos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico -
P&D de 0,25% da ROL das concessionárias recolhidos ao Ministério de Ciência e
Tecnologia – MCT, em atendimento a Lei 9.991/2000, o que pode ser realizado no
segmento de eficiência energética;
l Programa PROENERG (Programa de eficiência Energética/ FNO/ BASA), o qual
faz parte do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), criado pelas
Leis 7.827, 9.126 e 10.177 sob administração do Banco da Amazônia (BASA). Esse
fundo tem objetivo de apoiar projetos para a redução do padrão de consumo e para
a auto-geração, financiando substituição de máquinas e equipamentos, serviços de
consultoria, assistência técnica. (RONDÔNIA, 2003);
l Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, através de programas própri-
os e/ou parcerias;
l Utilizar expertise local para aproveitar oportunidades de financiamento: BASA- pro-
grama PROENERG; CNPq- CTENERG; FINEP- Fundos setoriais; P&D-;
SEBRAE- Programa Energia Brasil, SUFRAMA.

BIBLIOGRAFIA
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CHILE SUSTENHABLE. Las fuentes renovables de energia y el uso eficiente: opciones de política energética sustentable. 2002
RONDÔNIA. Perfil Sócio-Econômico industrial. FIERO, SEBRAE, Governo de Rondônia. Porto Velho, 2003.
BASTOS, Hélio de Souza; HADDAD, Jamil; e Moret, Artur de Souza. Proposições de ajustes na regulamentação dos
programas de eficiência energética a partir de um estudo de caso em Rondônia. In: VII Congresso brasileiro de
planejamento energético. Anais. Itajubá, UNIFEI, 2004.
BASTOS, Hélio de Souza. Um modelo de promoção da eficiência energética no segmento residencial pela substituição
de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas: um estudo de caso em Rondônia. Itajubá, 2003.
83p. Dissertação de mestrado, Universidade federal de Itajubá. 2004.

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elétrica – ciclo 2000/2001. Brasília, DF, dezembro 2001.
- . Relatório final do projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício
de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Brasília, DF, mês 2002.
CEEE. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício de energia
elétrica – ciclo 2000/2001. Porto Alegre, RS, 2001.
- . Resumo do andamento do Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao
desperdício de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Porto Alegre, RS, 2002.
CEMIG. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício de energia
elétrica – ciclo 2000/2001. Belo Horizonte, MG, 2001.
- . Relatório final do projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício
de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Belo Horizonte, MG, 2003.
CERON. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício de energia
elétrica – ciclo 2000/2001. Porto Velho, RO, setembro, 2001.
- . Projeto de entrega de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício de energia elétrica
– ciclo 2001/2002. Porto Velho, RO, julho, 2002a.
- . Projetos de indústria, comércio e serviços, poder público, serviço público e educação. Programa de combate ao
desperdício de energia elétrica – ciclo 2002/2003. Porto Velho, RO, setembro, 2003.
- . Relatório final do projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício
de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Porto Velho, RO, outubro 2002.
- . Relatório final do projeto de entrega de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de eficiência energética –
ciclo 2001/2002. Porto Velho, RO, janeiro 2004.
ELETROACRE. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao desperdício de
energia elétrica – ciclo 2000/2001. Rio Branco, AC, 2002.
- . Relatório de atividade nº 1. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao
desperdício de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Rio Branco, AC, julho, 2002a.
- . Relatório de atividade nº 2. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao
desperdício de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Rio Branco, AC, fevereiro, 2003.
- . Relatório de atividade nº 3. Projeto de doação de lâmpadas fluorescentes compactas. Programa de combate ao
desperdício de energia elétrica – ciclo 2000/2001. Rio Branco, AC, junho, 2003a.
FUGIWARA, José Kozi; CAMPOS Fº, Marcello de Moura; SANTOS, Vanice Ferreira. Programa experimental de
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VII Congresso brasileiro de energia e II Seminário latino americano de energia. Anais. Rio de Janeiro, 1996, UFRJ,
COPPE, Clube de engenharia, 1996. v.IV, p.2074-86.
GONÇALVES, P.M.; SAUER, I.L. Uso racional de água e energia no abastecimento público: caso São Paulo. In: VII
Congresso brasileiro de energia e II Seminário latino americano de energia. Anais. Rio de Janeiro, 1996, UFRJ, COPPE,
Clube de engenharia, 1996. v. IV, p.1994-2018.
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JANNUZZI, Gilberto de Martino e GOMES, Rodolfo Dourado Maia. A experiência brasileira pós-privatização em
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POMPERMAYER, Máximo Luiz. Gerenciamento da demanda residencial de eletricidade: o caso de centros
urbanos da região amazônica. Campinas, 2000. 258p. Tese de doutorado, Faculdade de engenharia mecânica da
universidade estadual de Campinas. 2000.

769
SUBSTITUIÇÃO DE LÂMPADAS
NO SETOR RESIDENCIAL

Rubem Cesar Rodrigues Souza1


Márcia Drumond Sardinha2
Aureo Albuquerque Matos2
Aurélio Calheiros de Melo Júnior2
Fernando César Rodrigues Souza2
Roberto Ferreira de Lima2
José Tadeu Diniz Alkmin2
Adeilson Teixeira de Albuquerque2
Silvana Rocha de Lima2
André Luiz de Oliveira Chaves2

RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados dos projetos de substituição de lâmpadas
incandescentes por fluorescentes compactas no setor residencial nas cidades de Manaus,
Manacapuru e Iranduba. Os referidos projetos foram desenvolvidos pelo Centro de De-
senvolvimento Energético Amazônico – CDEAM da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) nos anos de 2002 e 2003. Os projetos contemplaram a substituição de 73.831
lâmpadas incandescentes (LIs) de 40, 60 e 100 W por fluorescentes compactas (LFCs) de
15 W, sendo que nos projetos desenvolvidos em 2002 foi realizada a distribuição com
subsídio de 100%, sendo atendidos somente os consumidores classificados como “residencial
baixa renda” e no ano de 2003 o subsídio foi de aproximadamente 80,7% para Manaus e
84,6% para Manacapuru e Iranduba, atendendo os consumidores residenciais com exceção
dos classificados como “baixa renda”. Os projetos foram financiados pelo Programa de
Combate ao Desperdício de Energia Elétrica – Ciclos 2001 e 2002 das concessionárias
Manaus Energia S.A. (MESA) e Companhia Energética do Estado do Amazonas (CEAM).

1
Prof. da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Diretor do Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico
– CDEAM; Manaus – AM; Fone: (0xx92) 647-4416; cdeam_ufam@yahoo.com.br
Pesquisadores do CDEAM; Manaus – AM; Fone (0xx92) 647-4417.
2

770
1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta resultados finais dos projetos de substituição de lâmpadas
incandescentes (LIs) por fluorescentes compactas (LFCs) no setor residencial nas cida-
des de Manaus, Manacapuru e Iranduba. Os projetos foram financiados pelo Progra-
ma de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica – Ciclos 2001 e 2002 das conces-
sionárias Manaus Energia S.A. (MESA) e Companhia Energética do Estado do Ama-
zonas (CEAM), através dos projetos “Substituição de lâmpadas no setor residencial na
cidade de Manaus” e “Substituição de lâmpadas no setor residencial nas cidades de
Manacapuru e Iranduba”. Os projetos possuem os mesmos objetivos, havendo dife-
rença quanto ao número de consumidores a serem atendidos e ao subsídio dado aos
consumidores nos anos de 2002 e 2003.
Neste projeto, a partir da sistemática de substituição de LIs por LFCs, avaliou-se o
comportamento dos consumidores residenciais no tocante a:
l Sensibilização quanto à economia obtida na fatura de energia elétrica, após a subs-
tituição de LIs por LFCs;
l Interesse em substituir LIs por LFCs, com e sem subsídio de 100%;
l Satisfação ao utilizar LFCs.
Além dos objetivos relacionados com o consumidor, outros foram estabelecidos:
l Avaliar a viabilidade da implantação de um programa em larga escala para substi-
tuição de LIs no setor residencial, com distribuição gratuita e adotando-se um
certo percentual de subsídio;
l Avaliar os impactos no sistema elétrico da Manaus Energia S. A. (MESA) provo-
cados por um programa de substituição de LIs em larga escala no setor residencial.
l Verificar a viabilidade econômica do projeto proposto;
l Avaliar o potencial de redução de custo com energia elétrica para o consumidor
residencial quando este substitui lâmpadas incandescentes por fluorescentes com-
pactas;
l Estimar o potencial de conservação de energia a ser explorado quando da
implementação de projeto semelhante em larga escala;
l Avaliar os impactos da implementação em larga escala de projeto semelhante ao
proposto;
l Ampliar o conhecimento da concessionária quanto às oportunidades de progra-
mas de conservação de energia que possam ser implementados junto a consumi-
dores residenciais.
Na tabela 1 são apresentadas as metas e os investimentos a serem realizados.

771
Tabela 1 - Metas e investimentos

0HWDV3UHYLVWDV
&LFOR 3URMHWR (QHUJLD 'HPDQGD 5HFXUVRV
(FRQRPL]DGD (YLWDGD 5 
0:K$QR  N: 
Substituição de Lâmpadas no setor
2001 1.398.886,37
residencial na cidade de Manaus 4.188,38 1.423
Substituição de Lâmpadas no setor
2001 residencial nas cidades de 324 112 189.011,36
Manacapuru e Iranduba
Substituição de Lâmpadas no setor
2002 4.275,36 1.452 1.556.862,27
residencial na cidade de Manaus
Substituição de Lâmpadas no setor
2002 residencial nas cidades de 443,48 151 197.017,05
Manacapuru e Iranduba
727$/*(5$/   
2. Procedimento metodológico
2.1 – Ações implementadas para o desenvolvimento dos projetos
Para implementação do trabalho, dado a natureza dos objetivos a serem alcançados,
fez-se necessário o desenvolvimento de inúmeras atividades as quais são descritas a seguir:
a) Desenvolvimento de instrumental para coleta de dados junto aos consumidores. Fo
ram desenvolvidos dois questionários para a coleta de dados dos consumidores a
serem contemplados no projeto. O primeiro deles objetivava levantar informações
acerca do perfil sócio-econômico e perfil de carga do consumidor.
Um segundo questionário foi desenvolvido para viabilizar o cumprimento dos objeti-
vos do projeto com relação à satisfação do consumidor, bem como, sua predisposição em
adquirir lâmpadas mais eficientes sem subsídio.
b) Levantamento de dados junto à concessionária;
c) Montagem de infra-estrutura;
d) Confecção de adesivos;
e) Confecção de cartilha com informações e orientações sobre o uso racional de energia
elétrica em residências;
f) Montagem de sistemática para substituição das lâmpadas;
g) Implementação de ferramenta para gerenciamento do banco de dados;
h) Ensaio em laboratório para análise de performance elétrica de três tipos de lâmpa-
das (incandescente, fluorescente convencional e fluorescente compacta).
772
2.2 Processo de distribuição das lâmpadas
a) Os consumidores foram identificados através de pesquisa realizada no cadastro exis-
tente nas concessionárias;
b) Os consumidores foram visitados por equipes técnicas que faziam um levantamento
do perfil de consumo da unidade consumidora (levantamento de potência, tipo de
aparelho elétrico e horário de funcionamento dos mesmos), para o cálculo do repre-
sentativo das lâmpadas nas unidades, bem como, a estimativa de redução de consumo;
c) Verificando-se que não havia nenhuma irregularidade a UC visitada estava apta
para a substituição das lâmpadas pela equipe técnica. As lâmpadas incandescentes
substituídas foram recolhidas, sendo registrado a quantidade e a potência de
cada uma das lâmpadas.
d) O consumidor assinava um termo de compromisso através do qual responsabiliza-
se pela integridade das lâmpadas, não podendo as mesmas ser vendidas ou doadas a
terceiros, além de se comprometer em informar a equipe do projeto quanto à aqui-
sição de novos equipamentos elétricos.
Como em 2002 o subsidio não era de 100%, foi implantado um sistema de cupons,
onde a equipe técnica ao confirmar o interesse do consumidor em participar do projeto
entregava a este um cupom que valia aproximadamente 80% do preço da lâmpada para
Manaus e 85% para Manacapuru e Iranduba.
De posse deste cupom o consumidor poderia comprar as LFCs na loja fornecedora
contratada. No ato da compra as lâmpadas incandescentes substituídas foram recolhidas
na loja fornecedora, juntamente com os cupons, sendo registrado a quantidade e a potência
de cada uma das lâmpadas e o ambiente os as mesmas seriam instaladas.
3. RESULTADOS OBTIDOS
3.1 Satisfação e comportamento do consumidor
Nos projetos do ciclo de 2001, a verificação destes dados foi facilitada, pois as LIs eram
substituídas no ato da adesão ao projeto. Isso possibilitava a equipe, em apenas um mês,
retornar a casa do consumidor para consultá-lo sobre a economia obtida na fatura a satis-
fação com as LFCs e o seu interesse em substituir as LIs por LFCs.
Para 69,79% dos entrevistados em Manaus, a substituição trouxe uma redução na
fatura de energia elétrica. Devido, em parte, a esta comprovação efetivada por parte dos
consumidores, 87,79% estariam dispostos a comprar lâmpadas mais eficientes em subs-
tituição as incandescentes.
No tocante a satisfação com as lâmpadas substituídas, o índice observado foi de
97,48%, de onde se pode concluir que a maioria dos entrevistados apóia ações desse
tipo por parte da concessionária.
No interior, a redução na fatura de energia foi constatada por 80,4% dos consumidores
em Iranduba e 83,4% em Manacapuru. Com relação à aquisição de lâmpadas mais eficien-
tes, 84,3% dos consumidores em Iranduba e 70,9% em Manacapuru estariam dispostos a
comprar lâmpadas mais eficientes em substituição as incandescentes.
773
O índice de satisfação com as LFCs também foi bastante satisfatório pois, 99,3% dos
consumidores em Iranduba e 99,6% em Manacapuru demonstraram estar satisfeitos com
as novas lâmpadas.
Para os projetos do ciclo 2002, esta tarefa foi mais complicada, pois os consumidores rece-
biam cupons para comprar as lâmpadas subsidiadas, o que não dava a equipe nenhuma garantia
de que aquelas lâmpadas seriam substituídas, dificultando as pesquisas envolvendo as LFCs.
Para 33,9% dos entrevistados que adquiriram as lâmpadas em Manaus, houve uma re-
dução na fatura de energia elétrica. Desses consumidores que adquiriram as LFCs, grande
parte não havia recebido a fatura de energia. Os consumidores se sentiram beneficiados
com o uso das lâmpadas, percebendo que melhorou a iluminação (35,1%) e que o ambien-
te ficou mais confortável (25,5%).
No interior, segundo os consumidores que compraram as lâmpadas e receberam a
fatura de energia, 20,5% em Manacapuru e 24% em Iranduba, houve uma redução na
fatura. Os benefícios identificados com as LFCs foram, principalmente, no fato de que o
ambiente tornou-se mais agradável (47,7% em Manacapuru e 40% em Iranduba) devido a
melhoria da iluminação (29,6% em Manacapuru e 24% em Iranduba).
3.2 Avaliação e implementação em larga escala de projeto semelhante
Foram simulados os possíveis reflexos causados pela implantação deste projeto em
larga escala, ou seja, abrangendo todos os consumidores baixa renda nos projetos do ciclo
2001, e todos os consumidores residenciais nos projetos do ciclo 2002.
Nas Tabelas 2, 3, 4 e 5 apresenta-se uma estimativa das reduções de consumo, demanda
máxima e consumo de combustível para os sistemas das cidades. Este é baseado na quan-
tidade total de consumidores residenciais e nos dados obtidos no decorrer do projeto.
Tabela 2 - Projeto do ciclo 2001 em Manaus (subsidio de 100%)

(QHUJLDHFRQRPL]DGD 5HGXomRGHGHPDQGD (FRQRPLDGH


*:KDQR  QDSRQWD 0:  FRPEXVWtYHO 5 
9,10 9,60 1.655.014,62

Tabela 3 - Projeto do ciclo 2002 em Manaus (subsídio de 88,7%)

7RWDO 8&
V5HVLG (FRQRPLD 5HG&RQ 5HG5HFHLWD
8&
V $WHQGLGRV 3RWHQFLDO$QR &RPEXVW$QR 6,&06$QR
5HVLG   5 
(QHUJLD 'HP0i[ /LWURV  5 
*:KDQR  0: 

323.900 100,00 54,10 21,41 16.880.528 9.621.901 12.285.454

774
Tabela 4 - Projeto do ciclo 2001 em Manacapuru e Iranduba (subsídio de 100%)

(QHUJLD 5HGXomRGHGHPDQGD (FRQRPLDGH


0XQLFtSLRV HFRQRPL]DGD QDSRQWD 0:  FRPEXVWtYHO 5 
*:KDQR 
Manacapuru 0,75 0,79 117.962,92

Iranduba 0,25 0,26 58.728,42

Tabela 5 - Projeto do ciclo 2002 em Manacapuru e Iranduba (subsídio de 84,6%)


(FRQRPLD 5HG&RQV 5HG
7RWDO 8&
V 3RWHQFLDO$QR &RPEXVW$QR 5HFHLWD
0XQLFtSLRV 8&
V 5HVLG
5HVLG $WHQGLGRV (QHUJLD 'HP0D[ /LWURV  5  6,&06
0:KDQR  0:  $QR 5 
Manacapuru 9.679 100,00% 3,09 0,98 943.475 537.781 642.487
Iranduba 3.584 100,00% 1,13 0,59 346.998 197.789 236.298

Os resultados mostram que um projeto em larga escala abrangendo não só os consumi-


dores de baixa, mas todos os consumidores residenciais e adotando um subsidio parcial,
trariam uma redução de produção de energia quase seis vezes maior para a cidade de
Manaus e quatro vezes maior para Manacapuru e Iranduba. Além de proporcionar uma
redução de custos com energia elétrica para uma camada maior da população.
3.3 – Considerações ambientais
As lâmpadas fluorescentes contêm substâncias químicas nocivas ao homem e ao meio
ambiente, com destaque para o mercúrio que provoca desde lesões leves até problemas
neurológicos e morte.
O descarte sistemático dessas lâmpadas em aterros, sem a descontaminação e sem cui-
dados de armazenamento, eleva para níveis preocupantes a quantidade desse elemento
químico no meio ambiente.
O impacto causado ao meio ambiente por uma única lâmpada chega a ser desprezível,
mas considerando o somatório das lâmpadas descartadas anualmente (aproximadamente
40 milhões no Brasil), esse efeito será sensivelmente percebido em locais como os aterros
municipais, visto que as lâmpadas quando se quebram contaminam o ar, o solo e as águas
subterrâneas. Estimativas preliminares dão conta que, devido à inexistência de procedimen-
tos adequados de reciclagem dessas lâmpadas, cerca de 600 kg/ano de mercúrio serão
lançados ao meio ambiente (FUNASA, 2001).
Foi feita uma simulação para analisar a quantidade de mercúrio que será jogado ao meio
ambiente. Considerou-se a quantidade média de lâmpadas e o número de consumidores
que aderiram ao programa. Em função dessas informações chegou-se aos valores de quan-
tidade de mercúrio que seria jogado ao meio ambiente, no fim da vida útil das lâmpadas. O
resultado obtido pode ser observado na tabela 6.
775
Tabela 6 - Quantidade de mercúrio (g)

3URMHWR 4XDQWLGDGHGHPHUF~ULR J 

Manaus – Ciclo 2001 204,11

Manacapuru e Iranduba – Ciclo 2001 19,33

Manaus – Ciclo 2002 53,4

Manacapuru e Iranduba – Ciclo 2002 18,23

TOTAL 295,07

A legislação brasileira através das Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do


Trabalho e a Organização Mundial de Saúde estabelecem igualmente, como limite de tole-
rância biológica para o solo 100mg/kg de mercúrio. O resultado da simulação mostra que
as quantidades de mercúrio mesmo para um projeto em pequena escala são bastante
preocupantes para o local onde estas lâmpadas serão depositadas, pois além de contaminar
o solo poderão mais tarde, contaminar os cursos d’água e chegar à cadeia alimentar.
3.4 Introdução de harmônicos no sistema
A fim de melhor avaliar e comparar a capacidade dos sistemas de iluminação típicos
utilizados em residências de uma forma geral, foram realizados em laboratório ensaios
elétricos, num arranjo com três tecnologias distintas (incandescentes, fluorescente con-
vencional e fluorescente compacta), de um mesmo fabricante de lâmpadas, de tal forma
a se obter um fluxo luminoso de 8.000 lúmens, o qual representa uma iluminância média
de 150 lux para uma área de 50 m2.
Quanto à influência na qualidade da energia, referente ao uso de lâmpadas FLCs, verifi-
cou-se que há uma contribuição considerável, em termos de cargas não lineares para o siste-
ma elétrico como um todo. Os medidores de kWh são afetados pelos componentes harmô-
nicos, particularmente se existirem condições de ressonância, resultando em altas tensões e
correntes no circuito, de acordo com Fujiwara et al. (1998). Equipamentos que utilizam discos
de indução normalmente medem apenas a corrente fundamental. Todavia, o desbalanço
causado pela distorção harmônica pode gerar erros nesses medidores. Estudos têm mostra-
do que os erros, para mais ou para menos, são possíveis quando há distorção harmônica,
dependendo do tipo de medidor e das harmônicas envolvidas. Em geral, o fator de distorção
deve ser alto (> 20%) para resultar em erros significativos, como verificado nos ensaios
realizados. Os níveis de harmônicos de corrente são elevados, implicando efeitos como:
l Quedas significativas de tensão no sistema elétrico;
l Baixo fator de potência para as instalações;
l Correntes parasitas nos transformadores e aumento das perdas por histerese.
776
Em um sistema composto por várias fontes harmônicas, a intensidade da componente
harmônica resultante depende de diversos fatores, tais como:
l Fator de saturação (ks): relação entre os consumidores, que possuem carga geradora
de harmônicos e o número total de consumidores;
l Fator de simultaneidade (kV): relação entre o número de consumidores cujas cargas
estão em funcionamento em determinado horário e o número de consumidores que
possuem tal carga;
l Fator de dispersão (kd): relação entre a soma vetorial e a soma algébrica das correntes
harmônicas de determinada ordem, geradas pelas cargas existentes.
l Ângulo de fase de cada harmônico.
As tabelas 7 e 8 ilustram os resultados dos ensaios realizados.
Tabela 7 - Distorção harmônica total para tensão 127 V
(circuito quadro terminal de carga).

/kPSDGD 'LVWRUomRWRWDOGH 'LVWRUomRWRWDOGH


FRUUHQWH'+7,   WHQVmR'+78  
Fluorescente conv. 20 W 5,15 1,74

Fluorescente compacta 15 W 106,27 2,00

Incandescente 60 W 3,53 1,55

Tabela 8 - Distorção harmônica total para variação de tensões.


(circuito do secundário do transformador variador)

7HQVmR 'LVWRUomRWRWDO 'LVWRUomRWRWDOGH


/kPSDGD DOLPHQW GHFRUUHQWH WHQVmR'+78  
9ROWV '+7,  
Fluorescente conv 20 W 126,58 9,70 11,83
Fluorescente compacta 15 W 98,29 58,64 16,46
Incandescente 60 W 142,43 10,31 10,47

4. Considerações finais
A substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas mais eficientes proporcionou
resultados significativos e de curto prazo. De acordo com Jannuzzi e Santos (1996), os
programas de incentivo para iluminação eficientes em residências com substituição de lâm-
padas incandescentes e fluorescentes convencionais mostram-se também atraentes em ter-
mos de custo/beneficio, considerando os custos marginais de expansão do sistema elétrico.
A substituição, renovação, reforma, incorporação de novos materiais, novas tecnologias,
novos sistemas, readequação e reabilitação de uma forma geral, todos estes elementos,
juntos ou isolados, buscam a mesma finalidade de aumento da eficiência e menor consumo
de energia, resultando na sua própria conservação. Estes são os agentes e os objetivos que
777
norteiam o conceito de retroffiting em iluminação e instalações elétricas, um tema recente,
mas de grande potencial de expansão no Brasil, principalmente na simples troca de uma
lâmpada incandescente por uma fluorescente compacta.
Tais referências, aliadas ao conjunto de medidas e programas de incentivos para o
gerenciamento pelo lado da demanda, substanciam atrativos na ação de implementação des-
tas operações práticas da conservação de energia. Num primeiro momento, a aplicação no
setor residencial mesmo que o projeto seja subsidiado parcialmente, trará como resultados
positivos não só a economia com a redução do consumo da energia elétrica e a demanda
evitada, mas a experiência e o aprendizado de metodologias eficazes para a aplicação dos
programas de gerenciamento pelo lado da demanda em outros setores consumidores.
A tabela 9 mostra o resultado final do projeto e suas metas iniciais.

Tabela 9 - Resultados finais e metas iniciais.

5HVXOWDGRV 0HWDSUHYLVWD
&LFOR 3URMHWR (QHUJLD 'HPDQGD (QHUJLD 'HPDQGD
(FRQRPL]DGD (YLWDGD (FRQRPL]DGD (YLWDGD
0:K$QR  N:  0:K$QR  N: 
Substituição de Lâmpadas
 no setor residencial na 4.067,42 2.305 4.188,38 1.423
cidade de Manaus

Substituição de Lâmpadas
 no setor residencial nas
cidades de Manacapuru
344,35 200 324 112
e Iranduba

Substituição de Lâmpadas
 no setor residencial na 571,80 511,78 4.275,36 1.452
cidade de Manaus

Substituição de Lâmpadas
 no setor residencial nas
cidades de Manacapuru
388,67 197 443,48 151
e Iranduba

727$/*(5$/    

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Qualidade da Energia Elétrica. - Itajubá – MG, 1997.
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Jannuzzi, G. M., Santos V. F.: “Uso de Incentivos para Um Programa de Iluminação Eficiente em Residência”.Revista
Eletricidade Moderna - No 270, Ano XXIV. São Paulo/1996.

778
O USO DA ENERGIA ELÉTRICA COMO
FATOR DE DESENVOLVIMENTO RURAL
INTEGRADO NO ESTADO DE SÃO PAULO:
MONTAGEM DE UNIDADE DE
PADRONIZAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE
CAFÉ BENEFICIADO

José R. do Carmo*
Rui Manuel B.S.Marques*
Fernando Selles Ribeiro**

RESUMO
Este artigo apresenta uma alternativa de extensão rural voltada ao desenvolvimento no
campo e busca a integração de programas existentes de combate ao desperdício e usos
eficientes da energia elétrica aos programas de eletrificação rural em andamento. Trata-se,
pois, da montagem de unidades de padronização e armazenamento de café beneficiado
junto às áreas de plantio e colheita do produto, prestigiando diretamente aos pequenos pro-
dutores de café. A eficiência energética que se pretende sugere formar associações locais
comprometidas com a transformação social nas comunidades, fixando ali boas oportunida-
des de negócios. Espera-se como prováveis resultados a diminuição do êxodo rural, o au-
mento da renda e de empregos e vantagens competitivas para os cafeicultores. As concessio-
nárias de energia elétrica terão retorno do investimento nas vendas de energia (kWh).
Palavras-chave: Integração, Extensão rural, Transformação social, Eficiência energética,
Vantagens competitivas.

Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e


*

Energia, Av. Prof. Luciano Gualberto 1289, CEP 05508-900 São Paulo – SP
**
Escola Politécnica de Engenharia – PEA da Universidade de São Paulo - Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa 3, 158
– Bloco A – Sala A2-33 - CEP 05508-900 - São Paulo – SP - E - MAIL : jrcarmo@iee.usp.br; rmanuel@iee.usp.br;
fribeiro@pea.usp.br - Fax.: 5511816287, Fone: (0xx-11) (3091-2657)

779
1- INTRODUÇÃO
O PROCEL1 apresenta desafios e algumas oportunidades únicas, sendo responsável pela
assistência técnica prestada pela Aneel na preparação e análise de planos de eficiência energética
das empresas concessionárias, devendo monitorar a implantação e conferir se as concessioná-
rias estão realizando programas adequados. Dispõe de seus próprios programas e atividades,
incluindo programas de promoção de normas e de transformação do mercado, sendo capaz
de identificar oportunidades-chave para o gerenciamento coordenado dos recursos sob con-
trole do regulador (1% da receita líquida anual das concessionárias), além de outras iniciativas
em eficiência, como incentivar as concessionárias a combinar esforços por meio de progra-
mas a fim de alcançar novos produtos e mercados (Kosloff et al., 2001).
Os recém-implantados programas de eletrificação rural no Estado de São Paulo, o “Luz
da Terra”2 do Governo do Estado de São Paulo e o Programa “Luz no Campo”3 do
Governo Federal, tiveram um papel importante nos caminhos iniciais da universalização
dos serviços públicos de distribuição de energia elétrica. As concessionárias do Estado
realizaram investimentos de forma racional, mantendo um bom padrão técnico e expandi-
ram ou reforçaram suas linhas-tronco e redes de distribuição rural. O resultado dessa ex-
pansão permite, que muitas propriedades rurais antes sem acesso à energia e alijadas de
qualquer possibilidade de modernização e evolução da sua produção agrícola, tenham à
disposição boas oportunidades para aumentar as suas rendas. Com o acesso à energia
elétrica, já é possível um desenvolvimento sustentado a partir de pequenas comunidades
que se beneficiaram da eletrificação rural, como o caso proposto neste trabalho.
2 – OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é mostrar que a integração dos programas de uso eficiente da
energia elétrica aos programas de eletrificação rural no Estado de São Paulo, com base na
transformação comportamental e na inclusão social nas populações-alvo, trará melhorias
contínuas no ciclo produtivo dessas regiões onde o projeto for implantado. Considera-se
para esse fim, o princípio da sustentabilidade que essas localidades alcançarão, depois do
recente acesso à energia elétrica.
2.1 – Metas e benefícios
O projeto prevê a formação de associações que tenham como meta a transformação
econômica e social das comunidades produtoras de café, tornando a atividade rentável e
facilitadora para criar empregos no campo.
Implementar esses projetos indica que as concessionárias que atendem às áreas
cafeeiras podem investir parcela reservada ao PCDEE4 , aprovado pela Aneel, e rece-
ber em contrapartida ao investimento feito, o valor referente ao aumento nas vendas
de energia elétrica (kWh).

1
PROCEL – PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
2
O Programa “Luz da Terra” é coordenado pela CERESP – Comissão de Eletrificação Rural do Estado de São Paulo,
composta pelas Secretarias de Estado de Energia, Agricultura, Planejamento, Ciência e Tecnologia (Universidade de
São Paulo –USP), Banco Nossa Caixa S.A e as concessionárias de energia elétrica do Estado.
3
O Programa “Luz no Campo” do Governo Federal é gerenciado pela Eletrobrás.
4
PCDEE – Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica

780
O Estado de São Paulo, utilizando a CATI 5 , representada por seus escritórios locais
denominados Casa da Agricultura, procura a melhoria contínua na qualidade do café e
investe em novas técnicas fito-sanitárias, processos produtivos variados e técnicas de
comercialização do produto. Exemplo disso, a PROCED6 em Piraju, interior de São
Paulo, foi criada com intuito de somar forças nessa tarefa, visto ser a cultura do café
predominante no bojo de suas ações.
Uma Concessionária de Distribuição de Energia do Sudoeste de São Paulo, a Compa-
nhia Luz e Força Santa Cruz, apresentou a Aneel em 2.000, um projeto de classificação do
café, e o justificou com base na eficiência energética obtida com a sua implementação.
Conseguiu, na ocasião, importante deslocamento da demanda no horário de ponta e pôde
colaborar com o esforço nacional para racionalizar o uso da energia elétrica.
Com a instalação de unidades desse tipo, as áreas rurais beneficiadas pela energia elétrica
e pelos projetos de eficiência energética passam a ser uma excelente opção de serviços,
também, para outros clientes rurais em razão de menores distâncias.
Os melhores cafés serão beneficiados no próprio local de plantio e colheita. A integração
proposta agrega valor à produção e reduz os custos estruturais. Conseqüentemente, essas
ações poderão repercutir no aumento da renda anual dos pequenos produtores e o
campo poderá se tornar um importante vetor de desenvolvimento.
2.2 - Justificativa
Buscar melhorias na produção rural, no que diz respeito ao beneficiamento de café,
representa uma grande mudança na vida de agricultores. Na conjuntura atual, os cafei-
cultores enviam a sua produção para associações e cooperativas que atuam na indústria
do café, situadas em regiões urbanas e a mais de 150 Km de distância das áreas de
produção. Em decorrência da não-existência de associações, os seguintes problemas po-
dem ser postos em evidência: i) perdas no envio do café para padronização e
beneficiamento fora da área de plantio e colheita; ii) custos mais elevados para os pro-
dutores e perda de competitividade; iii) elevação dos preços dos serviços de padroniza-
ção em função do custo do transporte feito por caminhões; iv) aumento do êxodo rural,
e; v) as dificuldades para acompanhar os serviços prestados por outras cooperativas fora
das suas áreas de plantio e perda da qualidade do produto.
Surge, então, esta alternativa factível para eliminar os problemas mencionados e se
justifica a otimização do projeto para uso da infraestrutura energética montada a partir
da eletrificação rural.
2.3 – As bases teóricas
O embasamento teórico do trabalho está assentado na análise dos modelos dos progra-
mas citados e no conceito de transformação do mercado pela eficiência energética que
tenha como modelo um programa de transformação de mercado com ações tanto do
lado da oferta quanto do lado da demanda de produtos e serviços, todos orientados ao
consumidor de energia elétrica.

5
CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
PROCED – ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE CAFÉ DESCASCADO DE PIRAJU E REGIÃO
6

781
Difere de um programa convencional de eficiência energética porque exige ações tanto
do lado da oferta como da demanda de produtos e serviços de eficiência energética e
orienta a política de eficiência energética ao conjunto do mercado (Blumsteim et al., 1998).
Mais do que um tipo de programa, a transformação de mercado é, de fato, um
resultado ou um produto (Hastie et al., 1996).
Essa transformação é um processo pelo qual as inovações de eficiência energéticas
são introduzidas e passam a ocupar, ao longo do tempo, uma grande parcela do referido
mercado (Nadel e Geller, 1994).
A transformação de mercado implica em uma redução sustentável das barreiras de
mercado até o ponto em que a utilização de bens e serviços eficientes seja prática normal
(Eto, Prahl e Schlegel, 1996).
Segundo Kozloff et. al. (2001), embora não esteja relacionado ao processo de
reestruturação do setor elétrico, o conceito de transformação de mercado tem sido consi-
derado como uma abordagem de referência para obter eficiência energética sob condições
de fornecimento de energia submetidas à concorrência (Kunkle e Lutzenhiser, 1998).
3 - O PROJETO
Com foco no beneficiamento e armazenamento de café e no uso racional e eficiente de
energia elétrica, o projeto se caracteriza pela sua modernidade, funcionalidade e capacida-
de. Procura a redução das perdas hoje impostas aos pequenos cafeicultores e abre os
caminhos para a consolidação do desenvolvimento da região e micro-bacias.
Após a eletrificação rural realizada no Estado de São Paulo, uma pesquisa feita na
CERESP7 (2004) apontou, por exemplo, que a Companhia Luz e Força Santa Cruz apre-
sentou, após a execução de duas etapas distintas dos Programas “Luz da Terra” e “Luz no
Campo”, índices técnicos de boa qualidade e performance e manteve a disponibilidade de
5,3kVA por consumidor, o que facilita significativamente a viabilização deste projeto de
extensão rural para a maioria das comunidades.
3.1. As necessidades e oportunidades para a implantação
Para atender ao objetivo de montagem de uma unidade de padronização, beneficiamento
e armazenamento do café é necessária a formação de associações junto aos cafeicultores,
providas de infraestrutura mínima recomendável à construção de um galpão e próxima à
área de colheita do café, abrigando os equipamentos e o café.
Essa infraestrutura poderá ser utilizada também pelos não-sócios, na forma de aluguel
de um espaço destinado à armazenagem, por períodos mensais, semanais ou diários.
3.2 – Os recursos
O projeto tem características sociais e as concessionárias podem subsidiá-lo 100%,
sem contrapartida dos cafeicultores envolvidos. Nesta ótica, o planejamento para
viabilização financeira das obras civis, hidráulicas, mecânicas e elétricas, contempla re-
curso total da concessionária que aplicará 1% da receita anual líquida em eficiência
energética, já aprovado pela Aneel.

CERESP – Comissão de eletrificação rural do Estado de São Paulo


7

782
Para aumento da sofisticação em relação ao projeto básico, os cafeicultores pode-
rão usar recurso do BNDES, às suas expensas, linha de crédito existente, o
MODERINFRA 8 , que financia até R$ 400.000,00 com juros de 5,75% ao ano mais
spread de 3%, subsidiados pelo Estado e prazo para amortização de 96 meses com
carência de 36 meses. Abrange todo o território nacional. Os beneficiários são os pro-
dutores rurais, pessoas físicas ou jurídicas. Individualmente ou em grupos. Financia,
entre outras atividades, a implantação, ampliação, recuperação, adequação ou moder-
nização de unidades armazenadoras nas propriedades rurais.
3.3 – Capacidade do projeto
Pesquisa feita na PROCED, em Piraju-SP, indica que projetos dessa magnitude podem
atender uma demanda de padronização de aproximadamente 180.000 sacos / ano, incluin-
do os serviços prestados a associados e aos não-associados. A capacidade estática de arma-
zenagem é prevista para 18.000 sacos.
3.4 – As vantagens comparativas da implantação do projeto
As unidades implantadas no meio rural permitirão vantagens comparativas e competiti-
vas na padronização de café devido à proximidade das áreas cultivadas, eliminando o
envio para outras cooperativas mais distantes.
Algumas vantagens: i) a exportação do café diretamente das áreas de produção (galpões
construídos), melhorando a qualidade do produto e agregando valor ao mesmo, ii) haverá
aumento dos lucros dos cafeicultores em razão da instalação de máquinas e equipamentos
de padronização e beneficiamento do café junto às áreas de plantio e colheita, e; iii) aumen-
to do contingente de mão-de-obra disponível em razão da volta ao campo das famílias
que estavam na periferia das cidades, às vezes subempregadas.
3.5 – A diversificação dos serviços e a economia pretendida
Depois de consolidadas, as associações poderão obter receita extra na prestação de
serviços aos não-associados dos arredores ou de outros municípios, que ainda não tenham
projetos semelhantes, num raio médio de ação em torno de 50 Km.
A diversificação dos serviços permite reduzir riscos associados e não-associados e traz
renda adicional às associações. Essa redução de riscos, aliada à renda extra, a título de margem
de contribuição, poderá cobrir uma parte ou a totalidade dos custos fixos tal como a mão-
de-obra contratada e os custos com a fatura de energia elétrica, dentre os principais.
Quanto à economia verificada, prospecta-se uma redução significativa de custos e au-
mento do rendimento por unidade padronizada, mediante a capacitação das associações,
que poderão contar com o auxílio das universidades, agrônomos locais e parcerias entre
prefeituras municipais, governo e concessionárias, tornando-as aptas à prestação de servi-
ços de qualidade. Hoje, os produtores pagam à vista essa padronização e desembolsam o
equivalente a um aluguel mensal com o armazenamento. A renda extra advinda dos não-
associados, vem do aluguel para armazenagem do café.

MODERINFRA – PROGRAMA DE INCENTIVO À IRRIGAÇÃO E À ARMAZENAGEM


8

783
4 – A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
4.1 – A meta em termos de eficiência energética
A eficiência energética pode ser obtida com o desligamento fabril das unidades, durante
o horário de ponta, optando pela THS9 Azul. Elas deverão ser monitoradas pela concessi-
onária de energia local para se estabelecer o consumo específico de energia, pois é difícil
obter esse índice em função da variação de produção ao longo do ano.
Espera-se uma importante economia de energia ao se promover esse deslocamento da
demanda da ponta, no horário de pico do sistema.
4.2 – Metodologia de cálculo de relação custo-benefício utilizada
A metodologia aplicada para se verificar a viabilidade do projeto é consagrada e se
baseou nos usos finais de energia. A tabela 1 a seguir demonstra a viabilidade do projeto ao
considerar, para motores e iluminação, uma redução de demanda na ponta (kW) e o au-
mento da energia economizada (MWh/ano). O presente estudo leva em conta o fator de
recuperação do capital investido, o custo anualizado, o custo evitado de demanda, o custo
da energia evitada (MWh), o cálculo do benefício e a relação custo benefício.
4.3 - Premissas utilizadas para o cálculo
Sistema de Iluminação:
A Vida média útil dos reatores é de 10 anos e das luminárias é de 15 anos. O cálculo da
vida útil das lâmpadas em anos:
vida útil da lâmpada (h)

tempo de utilização da lâmpada no ano (h/ano), onde:


t = 06 dias * 52 semanas * 12 horas, assim t = 3.744 horas.
Tabela 1 - Cálculo da relação custo-benefício do projeto

 02725(6 ,/80,1$d­2

Redução Demanda na Ponta (kW) 44,02 2,87

Energia economizada (MWh/ano) 549,43 53,73


Fator de recuperação de capital -
0,13387 0,21353
FRC
Custo anualizado (D) 53.716,93 213,53

Custo evitado de demanda (kW) - 362,64

Lâmpadas - 0,4225

Custo da energia evitada /MWh - 100,98

Benefício (E) - 77.911,28

Relação custo benefício (DE) 0,69

THS – Tarifa horo-sazonal azul


9

784
O cálculo da relação custo-benefício, de acordo com os dados do projeto, demonstra a
viabilidade econômica do empreendimento.
4.4- Os benefícios da concessionária
A fatura de energia
Depois de implementada cada unidade poderá consumir, de acordo com a tabela 2,
cerca de 228,31 MWh/ano, levando em consideração um sistema atual de energia
consumida em um ano em um equipamento classificador de grão eletrônico, com
carga instalada de 79 CV de potência nominal e consumo previsto de 222,13 MWh/
ano pelo uso de motores. Para o sistema de iluminação a carga instalada é de 1,75kW
e o consumo previsto é de 6,18 MWh/ano.

Tabela 2 - Composição da fatura de energia da concessionária local

&216802 7$5,)$ 5 5


0:KDQR  0e',$ &21680,'26DQR &21680,'26PrV
228,31 223,00 50.913,13 4.242,76

5 – INVESTIMENTOS E PRAZO DE INSTALAÇÃO


Os investimentos pesquisados na PROCED, em Piraju-SP, para aquisição de equi-
pamentos e montagem de unidades são de R$ 348.347,00. A unidade é composta pelos
seguintes equipamentos: catador de pedras, classificador de peneiras planas tipo “porto”,
elevadores de grãos, mesa densimétrica para grãos, silos metálicos com divisão interna e
silos armazenadores de grãos.
O prazo de instalação é previsto para um ano e envolve obras civis, mecânicas, hidráu-
licas e elétricas.
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a integração de programas de eficiência energética aos programas de
eletrificação rural, resultam, num salto qualitativo em busca do crescimento sustentado e do
desenvolvimento sócio-econômico de regiões carentes, ao se aproveitar a infraestrutura
disponível nas áreas da cultura do café. Em termos de redes de distribuição rural, as con-
cessionárias expandiram suas linhas trazendo facilidades a essa expansão rural.
Assim, espera-se:
Um impulso de desenvolvimento sustentado nas regiões onde o projeto for im-
plantado e a melhoria contínua da situação econômica e de comportamento social dos
cafeicultores, a partir da idéia da formação de pequenas associações e modernização
da prestação de serviços.
A transformação no campo, pelo acesso à energia elétrica e integração com projetos de
eficiência energética, deve espelhar o verdadeiro sentido da universalização dos serviços.
A energia elétrica poderá impactar diretamente esse desenvolvimento e aumentar a
renda per capita das localidades rurais onde o projeto for implementado.
785
No aspecto social, estima-se a criação de empregos diretos e indiretos por unida-
de instalada (utilização de mão-de-obra temporária nos períodos de pico) em de-
corrência do aumento da demanda por transporte, carregamento, sacaria e manuten-
ção de máquinas e equipamentos.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Blumstein, Carl, Seymour Goldstone, and Loren Lutzenhiser, 1998. A Theory-based Approach
To Market Transformation. Proceedings of the 1998 ACEEE Summer Study. Vol. 7, pp.21-33. - Asilomar, California.
Eletrobrás, 2002. Relatórios de situação e boletins informativos sobre o programa “Luz no Campo”.
ETO, Joseph, Prahl, Ralf, and Schelegel, Jeff, 1996. A Scooping Study on Energy-Efficiency Market Transformation
by California Utility DSM Programs. (LBNL-39058). Berkeley, CA: Lawrence Berkeley National Laboratoty. July.
Hastie, Steve, Craig McDonald, Mike King, Richard Smithers, 1996. Market Transformation in a Changing Utility
Environment: A Guidebook for Regulators, Synergic Resources Corporation for National Association of Regulatory
Utility Commissioners. January.
Kozloff, Keith, Richard Cowart, Gilberto de Martino Jannuzzi e Otavio Mielnik., 2001. Recomendações para uma
estratégia nacional de combate ao desperdício. Campinas, São Paulo.
Kunkle, Rick and Loren Lutzenhiser, 1998. The Evolution of Market Transformation in the Energy Efficiency
Industry. Proceedings of the 1998 ACEEE Summer Study. Vol.7, pp.171-183. Asilomar, California.
Kunkle, Rick and Loren Lutzenhiser., 1998. The Evolution of Market Transformation in the Energy Efficiency Industry.
Nadel, Steven and Howard Geller (1994). Market Transformation Strategies to Promote End-Use Efficiency. Washington, DC:
American Council for Energy-Efficient Economy. June.
Vianna Mattosinho, Paulo S., 2002, “Projeto para o apoio às pequenas agroindústrias”, Secretaria da Agricultura e
Abastecimento – EDR de Ourinhos, 2002.

786
DETERMINAÇÃO DE
INDICADORES DE EFICIÊNCIA
NO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA BRASILEIRO
Maria Karla Vervloet Sollero*
Marcos Estellita Lins**

RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar a metodologia de Análise Envoltória de Da-
dos-DEA (Data Envelopment Analysis) para a determinação de índices de eficiência no setor
de Distribuição de Energia Elétrica, com uma nova abordagem, capaz de permitir a inclu-
são de informações preferenciais dos gestores bem como os interesses dos consumidores.
É mostrado como estas informações podem ser incorporadas na análise e ilustrada essa
abordagem com um exemplo em que são obtidos ínices de eficiência de 22 distribuidoras
de energia elétrica brasileiras.
Das várias experiências nacionais e internacionais de aplicação de DEA no setor elétrico
citadas neste trabalho constata-se que a maioria emprega os modelos DEA clássicos, que
permitem à unidade (concessionária) sob análise (DMU- Decision Making Units), total
liberdade na escolha dos pesos dados às variáveis de entrada e saída, resultando em índice
de eficiência artificialmente elevados. Isto freqüentemente leva a contradições com parece-
res prévios ou informações adicionais disponíveis por não considerarem fatores importan-
tes de entrada ou saída e permitirem que fatores de menor importância predominem. A
incorporação aos modelos DEA clássicos de informações gerenciais e/ou restrições aos
pesos torna possível obter uma melhor ordenação e elimina os indesejáveis pesos zero.
Palavras-chaves: DEA, Análise Envoltória de Dados, Índices de Eficiência de Distri-
buidoras de Energia Elétrica.

*
MSc- Escola Politécnica / COPPE/ UFRJ
**
DSc-COPPE/ UFRJ

787
1. INTRODUÇÃO
O Setor de Energia elétrica de muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento,
tem passado por profundas reformas na sua estrutura institucional, organização e ope-
ração, desde os anos 80. As atividades de geração, distribuição, transmissão e
comercialização têm sido separadas em produto (a energia) e serviços (transmissão e
distribuição), visando introduzir a competição na geração e na comercialização. Em
geral, o objetivo principal destas reformas é o de introduzir padrões de mercado na
geração e fornecimento de eletricidade, além de melhorar a eficiência das atividades de
transmissão e distribuição, tidas como monopólios naturais.
Ainda que guardando certa similaridade, estes processos de reestruturação apresen-
tam particularidades locais. Observa-se que os EUA e a maioria dos países da Europa
ocidental que promoveram a reestruturação do Setor Elétrico privilegiaram a busca
pela eficiência. A China e o Leste Europeu enfatizaram a descentralização. Já os países
da América Latina, inclusive o Brasil, embora também buscassem maior eficiência (via
competição), precisaram privilegiar meios de reduzir a necessidade de investimentos
do setor público e atrair investimentos privados.
Após a reforma do setor, a aplicação das regras tarifárias passou a ser de responsabi-
lidade do Agente Regulador (ANEEL), com objetivos que pretendem conciliar o inte-
resse dos consumidores e da concessionária regulada, dentre os quais destacam-se: incen-
tivo à eficiência, manutenção do equilíbrio econômico financeiro da concessão, qualidade
adequada do produto e do serviço.
Será visto que um aspecto fundamental deste sistema é a inclusão de um fator de incen-
tivo à eficiência (o chamado Fator X) no índice de reajuste de tarifa. Resta, então, o estabe-
lecimento e definição de eficiência. Este trabalho apresenta, como contribuição, metodologia
de obtenção de índices de eficiência, a partir da metodologia DEA, de uma forma mais
abrangente, incluindo a questão da qualidade. O enfoque é no setor de distribuição de
energia elétrica brasileiro.
2. Experiência Regulatória Brasileira
As regras tarifárias mais empregadas antes da reestruturação do setor elétrico eram a
tarifação “a custo de serviço”( ou “a custo histórico” ou a “taxa de retorno fixa”) e a custo
marginal. Esta abordagem determina os preços de modo a cobrir custos operacionais,
depreciação e uma taxa de retorno acordada sobre o capital imobilizado, deduzida a de-
preciação acumulada. Esta forma de regulação não tinha mecanismos de estímulo à efici-
ência e costumava conduzir a excesso de investimentos.
Busca-se, no Brasil de hoje, tarifa de energia elétrica, aplicada aos consumidores finais
regulados, que represente a síntese de todos os custos incorridos ao longo da cadeia produti-
va da indústria de energia elétrica: geração, transmissão, distribuição e comercialização, além
de incentivar níveis crescentes de eficiência. Pretende-se que o seu valor seja suficiente para
preservar o princípio da modicidade tarifária e assegurar a saúde econômica e financeira das
concessionárias, para que possam obter recursos suficientes para cobrir seus custos de opera-
ção e manutenção, bem como remunerar de forma justa o capital investido com vista a
manter a continuidade do serviço prestado com qualidade desejada e eficiência crescente.
788
Esta meta não é trivial pois é praticamente impossível ao regulador conhecer to-
das as atividades de uma concessionária. Estas dificuldades levaram à discussão e
proposição de esquemas alternativos de regulação. O conjunto de soluções apresen-
tadas a esta questão é conhecido como “regulação com incentivos”, que se desdobra
em três modalidades: regulação do preço (price cap), regulação por padrão de com-
paração e regulação da qualidade (Araújo, 1997).
O sistema em vigor no Brasil, hoje, é o de regulação de preço. Este sistema viabiliza
a inclusão de um fator de incentivo à eficiência no índice de reajuste de tarifa (o chama-
do Fator X). A tendência moderna é de incluir neste índice o conceito de qualidade de
fornecimento (comercial, continuidade de fornecimento e qualidade de tensão).
Na regulação do preço, price-cap, define-se um preço-teto para os preços médios
da empresa, corrigido de acordo com a evolução de um índice de preços ao consu-
midor, no Brasil o IGP-M, menos um percentual equivalente a um fator X de pro-
dutividade, para um período prefixado de anos.
Isso significa um incentivo necessário à elevação da produtividade e dos níveis de
eficiência da concessionária. Por outro lado, os ganhos de eficiência só poderão ser
apropriados pela concessionária na medida em que ultrapassarem o Fator X. Portan-
to, quanto maior for a eficiência da concessionária, tanto maior será seu benefício.
Se, porém, a concessionária não explorar seu potencial de eficiência, o resultado será
a sujeição a uma perda (Aneel NT 30/2003 SRE).
Nos itens a seguir, a metodologia DEA será proposta como alternativa para esta-
belecimento deste índice de eficiência.
3. Análise Envoltória de Dados
Desenvolvida por Charnes, Cooper e Rhodes (1978), a Análise Envoltória de Da-
dos-DEA é uma técnica utilizada para medir a eficiência relativa de um conjunto de
organizações que desempenham atividades similares, denominadas Unidades de To-
mada de Decisão (Decision Making Units – DMU).
Esta técnica não-paramétrica emprega programação matemática para construir fron-
teiras de produção de unidades produtivas (DMU) homogêneas, isto é, unidades que
utilizam processos tecnológicos semelhantes para transformar os mesmos insumos e
recursos em produtos e resultados semelhantes. Tais fronteiras são empregadas para
avaliar a eficiência relativa dos planos de operação executados pelas DMU e são também
referência para o estabelecimento de metas eficientes para cada unidade produtiva.
Em estudos empíricos, a eficiência relativa de uma organização particular DMUo
(observada) é avaliada calculando-se a razão entre a produtividade observada desta
DMUo e a maior produtividade observada no conjunto das DMU sob análise. Em
DEA, esta eficiência relativa é avaliada visando construir fronteiras de eficiência
empírica, que separam as DMU observadas em duas categorias: as DMU eficientes,
cujos planos de operação executados pertencem à fronteira de eficiência, e as
ineficientes, cujos planos não estão na fronteira. Assim, uma DMU é considerada
eficiente quando não for possível:
789
l Aumentar a quantidade de qualquer um dos produtos por ela gerado sem
simultane amente ser necessário reduzir a quantidade de outro produto gera-
do ou aumentar as quantidades dos insumos consumidos;
l Diminuir a quantidade de qualquer um dos insumos por ela consumido sem
simulta neamente ser necessário aumentar a quantidade de outro insumo con-
sumido ou diminuir as quantidades de produtos gerados.
Considerando que o objetivo de uma DMU ineficiente é passar a operar na fron-
teira de eficiência, a Análise Envoltória de Dados possibilita identificar alternativas
para alcançar esta meta, gerando uma medida de eficiência relativa do plano de
operação executado por cada organização em relação ao conjunto dos demais pla-
nos de operação observados, medida que indica quais planos de operação executa-
dos estão sobre a fronteira de eficiência empírica e que, portanto, podem servir de
referência para as organizações ineficientes.
Assim, a Análise Envoltória de Dados também permite identificar possíveis cau-
sas da ineficiência produtiva de uma DMU e ações corretivas para eliminá-las.
Uma das vantagens da metodologia DEA é que nenhuma informação preferenci-
al é necessária, i.e. existe liberdade na escolha dos pesos por parte das unidades
analisadas (DMU) de modo a se posicionarem o melhor possível na análise de efici-
ência. Entretanto, em alguns casos, variáveis importantes podem ser desprezadas
(peso zero) o que não seria aceitável. Vários estudos com restrições aos pesos têm
sido propostos desde Thompson e outros (1986).
3.1 Modelos DEA
Existem duas formulações equivalentes para DEA. De forma simplificada, pode-
se dizer que uma das formulações (modelo do Envelope) define uma região viável
de produção e trabalha com uma projeção de cada DMU na fronteira desta região.
A outra formulação (modelo dos Multiplicadores) trabalha com a razão de somas
ponderadas de produtos e recursos, com a ponderação escolhida de forma mais
favorável a cada DMU, respeitando-se determinadas condições.
Os modelos DEA clássicos, CCR proposto por Charnes e outros (1978), que
considera retornos constantes de escala, e o modelo BCC, Banker e outros (1984),
que considera retornos variáveis de escala e não assume proporcionalidade entre
inputs e outputs, supõem total liberdade de produção, ou seja, a produção de uma
DMU não interfere na produção das demais. Supõem ainda a total disponibilidade
sobre os recursos, isto é, a redução de insumos para que uma unidade torne-se efici-
ente não implica na realocação desta diferença para outras unidades. Em alguns ca-
sos reais, entretanto, esta liberdade não existe.
Considere-se n DMU a serem analisadas, cada uma com m entradas e s saídas. O
grau de eficiência relativa para uma DMU testada (DMU o), é obtido resolvendo o
seguinte modelo proposto por Charnes e outros (1978):

790
V
onde
0D[ ∑ X U \ UR
r = 1,...,s,
U =1
i = 1,...,m,
VXMHLWR D
j = 1,...,n,
P

∑Y [ L LR
=1 yij = quantidade da saída j produzida
pela DMU i,
L =1
V P xrj = quantidade da entrada k utiliza-
∑X U
\ UM − ∑Y [ L LM
≤0 ∀M , da pela DMU i,
U =1 L =1 ur = peso dado a saída r,
YL, XU ≥ 0, ∀L, U . vi = peso dado a entrada i
(2)
O modelo acima é conhecido como modelo CCR-multiplicadores.
É assumido retorno constante de escala e que todas entradas e saídas são estritamente positivas.
O problema acima é resolvido n vezes de modo a se obter a medida de eficiência
(relativa) de todas DMU. Para cada DMU analisada (DMUo) são atribuídos pesos às entra-
das e saídas de modo a maximizar sua medida de eficiência. Em geral a DMUo é conside-
rada eficiente se essa medida é igual a 1 e ineficiente se menor que 1.
Para cada DMU ineficiente o modelo DEA identifica um conjunto de unidades eficien-
tes que pode ser utilizado como referência. As DMU deste conjunto podem ser utilizadas
como “benchmarks” para melhorar a eficiência da DMU observada. As referências são
obtidas com a formulação do dual do modelo CCR-multiplicadores, conhecido como
CCR-envelope. A partir do modelo envelope, a DMU observada é ineficiente se a “DMU
referência”, utiliza menos insumos mantendo pelo menos o mesmo nível de saída que ela.
3.2 Restrições aos pesos em DEA
A estrutura matemática dos modelos DEA faz com que, em muitos casos, uma DMU
seja considerada eficiente por serem atribuídos pesos nulos a algumas variáveis, ou atribu-
indo pesos considerados inaceitáveis por especialistas. A necessidade de obter uma melhor
ordenação e a indesejável ocorrência de múltiplos pesos nulos, recomenda a inclusão de
restrições aos pesos no modelo. Frequentemente, informações sobre a importância relativa
ou preços relativos das entradas e saídas estão disponíveis. Essas informações podem ser
incorporadas adicionando-se ao modelo DEA clássico novas restrições.
Os pesos representam um sistema relativo de valor para cada DMU avaliada (DMUo)
fornecendo a melhor medida possível de eficiência para a DMUo mantendo a coerência do
sistema, ou seja, que resulte em valores viáveis para todas as outras DMU.
Thompson e outros (1986) foram os primeiros a propor incorporação de restrições aos
pesos para aumentar a discriminação dos resultados de um problema de DEA aplicado a
localização de um laboratório de física de alta energia no texas. Desde então restrições aos
pesos têm sido largamente empregada na análise envoltória de dados como podemos
constatar em Cooper e outros (2000) e Thanassoulis (2001).
791
A restrição aos pesos permite incorporar preferências gerenciais em termos de nível
relativo de importância das várias entradas e saídas.
Allen e outros (1997) apontam três modos distintos de incorporar juízo de valor em
DEA. Neste artigo, será utilizada a abordagem de “Restrição as entradas e saídas virtuais”.
Entradas e saídas virtuais de uma DMU são os produtos dos níveis de entrada ou saída
pelos seus respectivos pesos ótimos e indicam a contribuição de cada variável para a sua
taxa de eficiência (são adimensionais). Quanto maior o nível de entrada ou saída virtual
mais importante sua contribuição para a taxa de eficiência da DMU analisada. Portanto,
usar entradas e saídas virtuais pode ajudar a identificar áreas de desempenho fracas e fortes.
Restrições aos pesos virtuais são particularmente interessantes quando valores “externos”
necessitam ser traduzidos em restrições de pesos em um modelo de DEA.
Conforme Sarrico e Dyson (2003) o método desenvolvido inicialmente por Wong and
Beasley’s (1990) para restringir a flexibilidade dos virtuais em DEA é baseado no uso de
proporções aplicadas ao modelo CCR (3), onde o operador pode impor limites que refli-
tam juizo de valor, como a seguir:
\ UM X U
DU ≤ ≤ EU SDUD XP IDWRU GD VDtGD H

V
\ UM X U
U =1

[Y
F ≤ ≤ G SDUD XP IDWRU GD HQWUDGD.
LM L

∑ =1 [ Y
L L
P

LM L
L

X ,YU L
≥ε ∀U H L, RQGH ∑ =1X \ U
V

U UM
UHSUHVHQWD D VDtGD YLUWXDO WRWDO GD '08 M
.

No lugar de restringir os pesos reais de DEA, restringe-se a proporção da saída virtual


total da DMUj relativa à saída r, i.e. a " importância" atribuída à saída r pela DMUj, ao
intervalo [ar, br] cujos limites podem ser determinados por especialista ou pelo usuário.
Deve-se observar que tais restrições proporcionais às entradas e saídas virtuais em DEA
são específicas de cada DMU, tornando a implementação desse tipo de restrição não tão
simples. Wong and Beasley's (1990) sugeriram algumas alternativas analisadas por Sarrico e
Dyson (2003), dentre as quais a imposição de restrições às entradas e saídas virtuais somen-
te para a DMU analisada, como a seguir:
\ UR X U [LR Y L
DU ≤ ≤ EU H FL ≤ ≤ GL XU , YL ≥ ε ∀U H L

∑ ∑
V P

\ UR X U [LR Y L
U =1 L =1

4 Aplicação de DEA ao setor de Distribuição de Energia Elétrica


4.1 Setor Elétrico Brasileiro
O enfoque deste trabalho é no setor de distribuição de energia elétrica brasileiro. Com
tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito mundial, o sistema de
produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidrotérmico de grande
porte, com forte predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários. O
792
Sistema Interligado Nacional (SIN) é formado pelas empresas das regiões Sul, Sudeste, Cen-
tro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Apenas 3,4% da capacidade de produção de
eletricidade do país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados
principalmente na região amazônica. A ABRADEE (Associação Brasileira dos Distribuidores
de Energia Elétrica) agrega 64 distribuidoras. Destas 64, este trabalho analisa 22.
4.2 Estudos utilizando DEA no Setor Elétrico no Brasil e no Exterior
A tabela 1 mostra alguns estudos que utilizam metodologia DEA aplicada ao setor
elétrico tanto na determinação da eficiência de Companhias como para fins de regulação. A
seguir são citados alguns desses trabalhos indicando as variáveis escolhidas em cada um.

Tabela 1 - DEA aplicada ao setor de energia elétrica

 ,1387  287 387  9DULiYHLV$ PELHQWDLV

Número de Consumidores
Energia vendida residencial (MKWh)
Número de empregados
Energia vendida não-residencial
3ROOLWW   Transformadores (MVA) 
(MKWh)
Circuito (km)
Área atendida (km2)
Demanda máxima (MW)
Unidades de Energia entregue (GWh)
-DPDVE H3ROOLWW F  Total de despesas Numero de consumidores 

Comprimento total da rede (Km)


Total de Despesas Energia total entregue
Densidade de consumidores
(1997/98 $AUS) (GWh)
,3$57 VWXG \ (consumidores / km2)
Comprimento da rede (km) Total de consumidores
New South Wales, Australia Linhas aéreas / Total de linhas
Capacidade nominal (numero)
Cons.residencial / cons. totais
transformada, (MVA) Demanda Máxima, (MW)
+DWWRUL7   Relative Fator de Carga
Homem hora Venda residencial
Performance of U.S. and demanda média /demanda pico
(GWh)
Japanese Eletricity distribution – “An Densidade de consumo
Capital (capacidade de Venda não-residencial
Application of Stochastic Frontier (consumidores/transf. de linha
transformação MVA) (GWh)
Analysis “ Faturamento por consumidor
3HNND.RUKRQHQ±0LNNR6\UMDQHQ Dispersão geográfica dos
Energia Distribuída (GWh)
janeiro-2002 Evaluation of cost Custos Operacionais consumidores
Qualidade da energia distribuída
efficiency in Finnissh Número de consumidores
7KRPDV*:H\PDQ-RQHV
Custo Operacional
Stochastic
Unidades de Energia entregue (GWh)
Non-parametric Efficiency
N 0 de consumidores
Measurement and Yardstick N 0 de pequenos consumidores
Competition in Electricity
Regulation UK
Energia distribuída (GWh)
/DXUHQV&KHUFK\H 7 KLHUU\3RVW±
N 0 de grandes consumidores
setembro,2001
N 0 de pequenos consumidores
Custos Operacionais
controláveis Peak demand > 110 kV
Methodological Advances in DEA; A
Peak demand < 110kV
survey and an application for the Dutch
Comprimento da rede
electricity sector (Dte).
Número de transformadores
6YHUUH$&.LWWHOVHQ Horas trabalhadas Potência Instalada (kW) 

Stepwise DEA; Choosing variables Número de consumidores


for measuring technical efficiency in Perdas de energia Energia entregue MWH (cons.
Norwegian electricity distribution Linhas (nível de tensão e residencial e rural) UHVWULo}HVDPELHQWDLV
kms) Transformadores Energia entregue MWh índices de distância,
(número e capacidade (outras companhias e industria) de corrosão e climático
instalada) Bens e serviços Energia entregue MWh
(industria e comércio)
 ,1387 V 287 387 V 9DULiYHLV$ PELHQWDLV

Mão de obra
<8126H+$: '210DOiVLD1997
(total de pessoas
Comparar o desempenho da National
empregadas no setor)
Electricity Board (NEB) da Malásia,
Capacidade Instalada Energia Bruta Gerada (GWh)
com o de outros países em
(MW) Perdas totais (%)
desenvolvimento e também
Fator de capacidade
com o Reino Unido
de geração pública (%)
6DQW¶$QQD%UDVLO
Energia Consumida
Análise Envoltória de Dados aplicada Energia Gerada
Número de Ligação
à avaliação de performance no Energia Comprada
Área atendida
Sistema Elétrico Brasileiro

793
$OL(PDPL0HLERGL-XO\± trabalho (mão de obra) Energia vendida industrial
,Um
Considerações sobre a comprimento do circuito Energia vendida residencial
eficiência na Industria de
Distribuição de Energia Elétrica: capacidade de N0 de consumidores residenciais
O caso do Irã transformação N0 de consumidores industriais

Custo Operacional (£m)


6XVLOD0XQLVDP\'RUDLVDP\ Initial Capital Stock (£m)
Capital Expenditure (£m) N0 de consumidores
Benchmarking the Performance of Energia Distribuída (kWh)
0
UK Electricity Distribution Utilities N . total de interrupções Terminal Capital Stock (£m)
Using DEA Duração total das
interrupções
02'(/2
3UHHWXP'HPDK '$(:RUNLQJ Trabalho
3DSHU:3 Capacidade Instalada (MW)
Energia Gerada (MWh)
Combustível
02'(/2
*:K3& - consumo per
capita de eletricidade
Trabalho 1&86n0 de consumidores
Capacidade Instalada (MW) Energia Gerada (MWh) atendidos pela distribuidora
Combustível & - fator de capacidade
,6/$1'Dummy (Island =1)
&211(&7Isolated=0
&KHQ7VHU\LHWK±(XURSHDQ N0 de consumidores de baixa tensão
-RXUQDORI2SHUDFLRQDOUHVHDUFK Número de empregados
N0 de consumidores de alta tensão
 Gastos totais
Capacidade total de Suprimento de energia em alta
“An assessment of technical
transformação, MVA tensão, MWh
efficiency and cross-efficiency in
Comprimento total de Suprimento de energia em baixa
Taiwan’s electricity distribution
linhas de transmissão, km tensão, MWh
sector.”

4.3 Escolha das variáveis


As variáveis escolhidas deverão ser aquelas que melhor representem o desempenho das com-
panhias. Após um levantamento de vários estudos de eficiência realizados tanto nacionalmente
como internacionalmente em companhias de distribuição de energia elétrica foi feita uma sele-
ção preliminar de variáveis. Esta seleção foi feita com o objetivo de definir um conjunto de
variáveis capaz de caracterizar adequadamente o desempenho de uma concessionária de distri-
buição de energia elétrica e influenciar na sua eficiência porém obedecendo a restrição quanto a
relação entre o número de variáveis e de DMU, como mencionado anteriormente.
Foram inicialmente selecionadas as seguintes variáveis:
Variáveis de entrada:
l CO: Custo Operacional
l NE: Número de Empregados.
l Per: perdas técnicas
l DEC: Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, indica o
número de horas em média que um consumidor fica sem energia elétrica durante um
período, geralmente mensal.
l FEC: Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, indica
quantas vezes, em média, houve interrupção na unidade consumidora (residência,
comércio, indústria etc).
Variáveis de saída:
l NC: Número de consumidores
l GWh: Energia entregue, GWh
794
Os dados correspondentes às variáveis acima relacionadas, para as concessionárias sob
análise, foram obtidos de várias fontes, destacando-se o BNDES (Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico e Social), a ABRADEE (Associação Brasileira das Distribuidoras de
Energia Elétrica), a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e os balancetes das em-
presas consideradas, disponíveis na internet. Esses dados referem-se ao ano de 2000.
4.4 Modelos DEA utilizados e resultados obtidos
Foi adotada orientação a insumos, devido a devido a naturesa das Companhias de Dis-
tribuição de Energia Elétrica, e retorno constante de escala, nos dois modelos analisados:
l modelo CCR clássico com orientação a insumos sem restrições aos pesos
l e modelo CCR anterior acrescido de restrições as entradas e saídas virtuais somente
para a DMU analisada.
Os índices de eficiência das concessionárias de distribuição de energia elétrica para
os modelos acima foram obtidos através de programação linear, utilizando-se o
software OPL studio/ILOG.
4.4.1 Modelo CCR clássico sem restrições aos pesos:
Com todas as variáveis de entrada (CO, NE, per, DEC, FEC) e saída (NC e GWh)
foram obtidas as taxas de eficiência e os multiplicadores mostrados na tabela 2.
Tabela 2 - Eficiências obtidas com modelo CCR/M/I e pesos assumidos
(ILFLrQFLD

V
&2 1( 3HU '(& )(& 1& *:K

 '08 &&5, Y  Y  Y  Y  Y  X X


 $(6 100.00% 0.000000 0.126263 0.000000 0.000000 0.000000 0.001081 0.000000
 %DQG 100.00% 0.008879 0.010358 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.004018
 &(% 41.01% 0.000000 0.063372 0.009605 0.004917 0.000000 0.000723 0.000172
 &((( 64.06% 0.000000 0.038242 0.030358 0.000000 0.000000 0.000522 0.000109
 &HOHVF 56.76% 0.000000 0.009268 0.074588 0.000000 0.000000 0.000332 0.000000
 &HOJ 65.54% 0.000000 0.036392 0.006506 0.002698 0.000000 0.000421 0.000070
 &HOSH 93.09% 0.000894 0.038529 0.000000 0.005411 0.000000 0.000465 0.000000
 &HPDW 33.02% 0.000000 0.047623 0.007218 0.003695 0.000000 0.000543 0.000129
 &HPLJ 100.00% 0.000000 0.000000 0.000000 0.000000 0.152672 0.000195 0.000000
 &HU M 100.00% 0.000000 0.069702 0.000000 0.001366 0.000000 0.000633 0.000000
 &)/&/ 31.65% 0.000000 0.134046 0.000000 0.002627 0.000000 0.001217 0.000000
 &RHOED 100.00% 0.000398 0.031695 0.000000 0.000000 0.002501 0.000345 0.000000
 &RHOFH 100.00% 0.000458 0.060160 0.000000 0.000000 0.000000 0.000556 0.000000
 &RSHO 87.83% 0.000000 0.008665 0.069739 0.000000 0.000000 0.000310 0.000000
 &3(( 34.34% 0.000000 0.206189 0.000000 0.021465 0.000000 0.001629 0.008804
 &3)/ 100.00% 0.000000 0.032312 0.000000 0.007929 0.000000 0.000370 0.000000
 (OH NWUR 77.09% 0.000000 0.034144 0.027105 0.000000 0.000000 0.000466 0.000097
 (OHWURS 100.00% 0.005674 0.006985 0.000000 0.000000 0.000000 0.000005 0.002604
 (QHU VXO 44.94% 0.000000 0.083194 0.000000 0.000000 0.010939 0.000817 0.001441
 (VFHOVD 59.99% 0.003007 0.051896 0.000000 0.000000 0.000000 0.000179 0.006647
 /LJKW 100.00% 0.005674 0.006985 0.000000 0.000000 0.000000 0.000005 0.002604
 5*( 59.17% 0.000000 0.059972 0.000000 0.000000 0.007886 0.000589 0.001039

795
4.4.2 Modelos DEA com restrições
Para aumentar o poder discriminatório do modelo foram acrescentadas restrições às en-
tradas e saídas virtuais somente para a DMU analisada. Este tipo de restrição permite limitar
ou garantir a participação de determinada entrada ou saída. Através da avaliação dos pesos,
obtidos na abordagem clássica pode-se refinar a análise, por exemplo, impedindo distorções
de avaliação que levam a imputar índices de eficiência máxima a algumas distribuidoras por
não se considerar seus custos operacionais, como mostrado na Tabela 2 acima.
Entradas e saídas virtuais de uma DMU, que são os produtos dos níveis das entradas e
saídas pelos seus respectivos pesos ótimos, indicam a contribuição das mesmas para sua
taxa de eficiência e são adimensionais. Quanto maior o nível de entrada ou saída virtual
mais importante sua contribuição à taxa de eficiência da DMU analisada. Portanto, usar
entradas e saídas virtuais pode ajudar a identificar areas fracas e fortes de desempenho.
A análise de sensibilidade auxilia na determinação dos limites a serem adotados bem
como a matriz de correlação das variáveis no estabelecimento de proporções das partici-
pações das "quantidades" de entradas e saídas, e pode ser uma ferramenta para o gestor, ao
tornar possivel estabelecer faixas de variação para insumos e produtos.
Restrições testadas:
\ UR XU [LR YL
DU ≤ ≤ EU H FL ≤ ≤ GL XU , YL ≥ ε ∀U H L
∑ =1 ∑
V P
\ UR XU [LR YL
U L =1

Para cada fator sendo restringido são adicionadas duas inequações ao modelo DEA.
4. Análise dos resultados
4.1 Modelos sem restrições
Os modelos sem restrições aos pesos deram origem a um grande número de DMUs
eficientes, uma vez que as mesmas tinham liberdade de escolher a combinação de pesos
mais favorável.
Das 22 companhias avaliadas 9 obtiveram eficiência máxima, o que é um número
relativamente alto.
Pode-se observar que:
l Dezesseis companhias tiveram peso zero associado à variável custo operacional (CO)
e os pesos diferentes de zero, quando atribuídos a esta variável, foram valores muito
pequenos se comparados com os dados as outras variáveis
l A variável de saída energia entregue (GWh) teve peso zero atribuído a 15 conces-
sionárias
l Com exceção da CEMIG, todas as demais companhias tiveram peso diferente de
zero atribuído ao número de empregados
l Na avaliação da AES, quatro das cinco variáveis de entrada não foram considera
das. A distribuidora atingiu máxima eficiência com pesos não-nulos somente em
NE (in) e NC (out)
796
l Apenas 5 empresas tiveram pesos não-nulos atribuídos às duas variáveis de saída. As
demais 17 tiveram peso não-nulo somente em uma delas.
4.2 Modelos com restrições aos pesos
Como citado anteriormente, foram testadas restrições às entradas e saídas virtuais apli-
cadas à DMU sob análise. Foram incluídas as seguintes restrições:
ar ≤ PVIR Yr ≤ br PVIR Yr = participação da saída vrtual Yr, ∀r em s
ci ≤ PVIR Xi ≤ di PVIR Xi = participação da entrada virtual Xi, ∀i em m
Os intervalos abaixo foram considerados refência, após análise, e alternativas foram testadas:
Nesta análise, o problema dos pesos zero não ocorre, sendo eliminados os resul-
tados indesejáveis na avaliação de concessionárias de energia elétrica observados no
caso sem restrições.
Ao se relaxar o limite superior da parcela relativa ao número de consumidores somente
a CEMIG obtem eficiência 100%. Observa-se que a CEMIG é a única concessionária
avaliada que mantém eficiência máxima em todos intervalos testados, o que indica a robustez
das observações em relação a esta empresa.

Tabela 3 - Eficiências obtidas com os intervalos referência


 (ILFLr QFLDV &2 1( 3HU '(& )(& 1& *:K
 '08 &&5, Y  Y  Y  Y Y  X X
 $(6 60.78 % 0.004901 0.037879 0.016129 0.004090 0.005379 0.000460 0.002467
 %DQG 21.08 % 0.005002 0.010718 0.014706 0.010384 0.010650 0.000292 0.000593
 &(% 23.12 % 0.003885 0.022848 0.010417 0.006494 0.006969 0.000290 0.001832
 &((( 35.93 % 0.002936 0.015275 0.012195 0.004403 0.005079 0.000208 0.001347
 &HOHVF 40.05 % 0.004511 0.006769 0.012658 0.004556 0.005587 0.000164 0.000985
 &HOJ 34.43 % 0.003458 0.012584 0.008850 0.004581 0.004186 0.000156 0.001568
 &HOSH 47.67 % 0.004464 0.013902 0.005128 0.006120 0.006519 0.000167 0.001899
 &HPDW 17.18 % 0.002894 0.018553 0.005917 0.003422 0.002513 0.000200 0.001611
 &HPLJ 100 % 0.005806 0.000859 0.011905 0.009852 0.045802 0.000058 0.001547
 &H UM 50.91 % 0.003406 0.021398 0.005181 0.005999 0.004658 0.000226 0.001994
 &)/&/ 13.63 % 0.004097 0.041152 0.009524 0.011521 0.008453 0.000367 0.003942
 &RH OED 58.51 % 0.004702 0.010149 0.007692 0.004014 0.008562 0.000141 0.001797
 &RH OFH 46.44 % 0.004341 0.018844 0.007634 0.002775 0.003150 0.000181 0.002367
 &RSHO 65.01 % 0.005806 0.004880 0.014925 0.007267 0.007440 0.000161 0.000861
 &3(( 16.92 % 0.005748 0.074257 0.012195 0.012853 0.012005 0.000790 0.004517
 &3)/ 84.49 % 0.003891 0.008878 0.009709 0.014620 0.024457 0.000219 0.001252
 (OHNWUR 55.42 % 0.004590 0.013310 0.011765 0.010142 0.012270 0.000238 0.001482
 (OHWURS 95.40 % 0.003838 0.005127 0.007576 0.010941 0.008425 0.000145 0.000763
 (QHUVXO 22.80 % 0.003982 0.029354 0.006289 0.007770 0.007305 0.000319 0.002412
 (VFHOVD 37.98 % 0.005493 0.019934 0.010417 0.007215 0.007918 0.000306 0.001681
 /LJ KW 76.74 % 0.004278 0.005872 0.005952 0.014514 0.015015 0.000163 0.000967
 5*( 33.53 % 0.003804 0.020188 0.008696 0.006270 0.007246 0.000261 0.001696

797
Quando o limite inferior de participação da entrada virtual da variável custo
operacional de 40% para 20% as eficiências aumentam porém só a ELETROPAULO
passa a ser eficiente.
5 Conclusões
A Análise Envoltória de Dados mostrou ser uma ferramenta importante para a avaliação
do desempenho das companhias de distribuição de eletricidade, ao apontar metas que devam
ser perseguidas com o objetivo de melhorar o desempenho individual. A inclusão de restri-
ções aos pesos mostrou-se um refinamento fundamental do modelo DEA clássico.
As restrições incorporadas ao modelo clássico CCR possibilitam ao gestor analisar vári-
as alternativas para melhorar o desempenho de sua empresa ao tornar possível estabelecer
faixas de variação para insumos e produtos. É de grande importância a possibilidade de
serem consideradas múltiplas variáveis, abrangendo aspectos técnicos e ambientais.

REFERÊNCIAS
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799
AS LÂMPADAS PODEM
SER DIMERIZADAS E
ECONOMIZAR ENERGIA?

Manuel Losada
y Gonzalez*

RESUMO
Este artigo analisa o comportamento das lâmpadas incandescente, fluorescentes con-
vencional e compacta, vapor de mercúrio e vapor de sódio em alta pressão, diante da
variação de tensão em 60 Hz, para verificar se elas podem ser dimerizadas e economizar
energia. Os resultados abordam análises das variações de fluxo luminoso, potência elétrica,
corrente, fator de potência e eficiência luminosa. São mostrados resultados de variação de
tensão encontrados na literatura e obtidos em laboratório.

I. INTRODUÇÃO
No Brasil, apesar de o governo federal ter tentado racionalizar o uso de energia elétrica
desde 1985, via o PROCEL - Programa de combate ao desperdício de energia elétrica,
somente uma parcela ínfima da sociedade brasileira conscientizou-se das necessidades do
uso eficiente de energia elétrica até o racionamento.
Com o racionamento, esta sociedade entendeu o quão importante é o uso eficiente de
energia, utilizando equipamentos mais eficientes e, conseqüentemente, obtendo custos
menores nas contas mensais de energia elétrica. Contudo, essa mesma sociedade tem dúvi-
das até hoje como pode usar os equipamentos em situações onde se pode obter uma
economia maior no consumo de energia elétrica. Na situação de iluminação, como e quais
lâmpadas podem ser dimerizadas, reduzindo-se o fluxo luminoso e, por conseguinte, a
potência elétrica e o consumo de energia elétrica. Tecnologicamente, sabe-se que as lâmpa-
das incandescente e fluorescente podem ser dimerizadas [1,2] e que tecnologias estão sendo
desenvolvidas para a dimerização das lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão [3,4].

*
Doutor, Mestre e Graduado em Engenharia Elétrica. -Professor do Departamento de Engenharia Elétrica - Em
cursos de graduação e pós-graduação - Coordenador de Lab. de Conservação de Energia - UFMG - Universidade
Federal de Minas Gerais - Campus Pampulha – PCA - Av. Antônio Carlos 6627 - CEP 31.270-010 - Belo Horizonte - MG
- manuel@cpdee.ufmg.br - mly_gonzalez@hotmail.com

800
Todas essas dimerizações são eletrônicas. Entretanto, pouco se sabe se a lâmpada fluo-
rescente compacta e a lâmpada de vapor de mercúrio de alta pressão podem ou não ser
dimerizadas. Além disto, não se sabe qual é a redução de potência e consumo de energia
elétrica com a redução dos fluxos luminosos das lâmpadas dimerizáveis.
Este artigo tem como objetivo apresentar o comportamento das lâmpadas incandescente,
fluorescentes convencional e compacta, vapores de mercúrio e sódio de alta pressão, diante
da variação de tensão com a freqüência constante em 60Hz. Em outras palavras, qual é o
comportamento de uma lâmpada incandescente quando se varia somente a tensão alterna-
da de alimentação, e qual o comportamento das lâmpadas a gás nas mesmas condições e
mantidos seus reatores eletromagnéticos. O uso destes reatores eletromagnéticos é ainda
muito comum no Brasil, e, como eles possuem perdas elétricas maiores que os reatores
eletrônicos [5], então os resultados apresentados neste artigo terão valores maiores que
aqueles resultados que poderão ser obtidos com os reatores eletrônicos, definindo assim
um limite superior para os mesmos.
Então, o artigo abordará aspectos como: o fluxo luminoso, a potência ativa absorvida
por cada lâmpada, a corrente e o fator de potência com a variação da tensão elétrica.
Desta forma, o comportamento das lâmpadas se tornará mais claro, e, poder-se-á usa-
las com o menor consumo de energia. Vale ressaltar que tal comportamento não tem sido
normalmente abordado na literatura técnica e nem nos catálogos dos fabricantes.
II. A LÂMPADA INCANDESCENTE
Esta lâmpada tem seu comportamento regido pelas equações:

φ  φ = 8
R
 80
3 38
(1)

3  3R = 8  8 0 1 54
(2)

O  OR = 8  8 0 0 523

(3)

onde U e Uo são as tensões elétricas aplicada e nominal (dadas em volts – [V]) na


lâmpada; f, P e l são o fluxo luminoso (dado em lumens – [lm]), a potência ativa (dada
em watts – [W]) e a corrente (dada em ampères – [A]) na tensão elétrica aplicada U; fo,
Po e lo são os mesmos parâmetros referidos à tensão elétrica nominal Uo. Os expoentes
dessas equações são típicos, variando em função da construção da lâmpada [6, 7]. Em
[7], são mostradas curvas típicas para esses parâmetros com uma variação da tensão
entre 40% e 120%. Em [6], a tensão varia entre 60% e 120%. Em [8], a tensão varia
entre 90% e 110%.
Em medições realizadas em laboratório, obteve-se os resultados apresentados nas
Figuras 1.a a 1.c para uma lâmpada de 100 W. Estas Figuras mostram as variações de
fluxo luminoso, potência ativa, corrente e a relação lumens / potência com a variação
da tensão. Esta relação é denominada de eficiência luminosa da lâmpada. Como a
impedância do filamento desta lâmpada é constituída praticamente por um circuito
resistivo, seu fator de potência é unitário.
801
Analisando as figuras, pode-se confirmar que a lâmpada incandescente é dimerizável.
Contudo, nota-se na Fig. 1.a que, quando se diminui a tensão aplicada na mesma, a
potência cai em uma proporção menor que o decaimento do fluxo luminoso, verifican-
do-se assim que a eficiência luminosa também cai, como é confirmado pela Fig. 1.c.
Então, se as condições de iluminamento em um determinado ambiente permitirem ní-
veis de iluminamento mais baixos, pode-se pensar em reduzir a potência ativa da lâmpa-
da e o consumo de energia elétrica com a redução de tensão na lâmpada, não se esque-
cendo da eficiência luminosa menor da mesma.

Figura 1.a - Efeito da variação Figura 1.b - Efeito da variação


de tensão no fluxo luminoso e potência de tensão na corrente

/kPSDGDLQFDQGHVFHQWH: /kPSDGDLQFDQGHVFHQWH:
1470 100 1

1176 80
0.8
882 60

588 40 0.6

294 20 0.4
0 0
0 7 17 27 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127 0.2

Tensão (V) 0
0 7 17 27 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127
Fluxo lumino so Po tência Tensão (V)

Figura 1.c - Efeito da variação Figura 1.d - Comparação entre os


de tensão na eficiência fluxos luminosos medido e da equação 1
/kPSDGDLQFDQGHVFHQWH:
/kPSDGDLQFDQGHVFHQWH:
16 1470 1470
Fluxo luminoso (lm)

14
Equação 1 (lm)
1176 1176
Lumens / Potência

12
882 882
10
588 588
8
294 294
6
0 0
4
0 7 17 27 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127
2
Tensão (V)
0
0 7 17 27 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127
Tensão (V) Fluxo Luminoso Equação 1

Fig. 1e - Comparação entre as Fig. 1f - Comparação entre as


potências medida e da equação 2 correntes medida e da equação 3

/kPSDGDLQFDQGHVFHQWH: /kPSDGDLQFDQGHVFHQWH:
100 100 0.8 0.801
Equação 2 (W)

80 80 0.64 0.641
Potência (W)

Equação 3 (A)
Corrente (A)

60 60 0.48 0.481
40 40 0.32 0.320
20 20 0.16 0.160
0 0
0 0.000
0 7 17 27 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127
0 7 17 27 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127
Tensão (V) Tensão (V)

Potência Equação 2 Corrente Equação 3

802
Usando as equações (1), (2) e (3) com os mesmos valores de tensão das Figuras
1.a a 1.c, obtém-se as Figuras 1.d a 1.f. Analisando essas Figuras, conclui-se que essas
equações representam bem o comportamento da lâmpada em todas as tensões.
II. A LÂMPADA FLUORESCENTE CONVENCIONAL
Em [9] existem curvas de corrente, fluxo luminoso e potência para essa lâmpada
com um mínimo de 70% da tensão nominal aplicada.
Em medições realizadas em laboratório, obteve-se os resultados mostrados nas
Figuras 2a a 2d, usando-se uma lâmpada de 40 W conectada a um reator eletromag-
nético de baixo fator de potência. A Figura 2.a mostra as variações de fluxo lumino-
so e potência ativa com a variação da tensão. A Figura 2.b apresenta a variação da
corrente com a variação da tensão. A Figura 2.c apresenta a variação do Fator de
Potência com a variação da tensão. A Figura 2.d mostra a eficiência luminosa.
Nessas figuras, pode-se notar que tanto o fluxo luminoso quanto a corrente e a
potência caem com a redução da tensão aplicada, até uma tensão de aproximada-
mente 67 V, quando a lâmpada se apaga. O fator de potência melhora, e a eficiência
luminosa devido ao conjunto lâmpada-reator tem uma melhoria até aproximada-
mente 97 V, e em seguida, torna a cair. A lâmpada pode ser dimerizada para traba-
lhar na faixa de tensão 77-127V.
III A LÂMPADA FLUORESCENTE COMPACTA
Em [10] é informado que a lâmpada pode operar a partir de 103V. Em medições
realizadas em laboratório, obteve-se os resultados apresentados nas Figs. 3a a 3d.
Notou-se que a lâmpada opera na faixa de tensão 37-127V, tendo o fluxo luminoso e
a potência reduzidos com a redução de tensão. A corrente e o fator de potência crescem
em grande parte da faixa, e, em seguida, decaem até o ponto que a lâmpada se apaga. A
eficiência luminosa decai com o decréscimo da tensão. A lâmpada pode ser dimerizada.

Figura 2.a - Efeito da variação de tensão Figura 2.b - Efeito da variação de tensão
no fluxo luminoso e potência na corrente

/kPSDGDIOXRUHVFHQWH: /kPSDGDIOXRUHVFHQWH:
3000 40 1
2400 32
0.8
1800 24
1200 16 0.6

600 8
0.4
0 0
67 77 87 97 107 117 127 0.2

Tensão (V) 0
67 77 87 97 107 117 127
Nível de Iluminamento Po tência
Tensão (V)

803
Figura 3.a - Efeito da variação de tensão Figura 3.b - Efeito da variação
no fluxo luminoso e potência de tensão na corrente

/kPSDGDFRPSDFWD: /kPSDGDFRPSDFWD:
1100 20 0.3
880 16
0.24
660 12
440 8 0.18

220 4
0.12
0 0
37 47 57 67 77 87 97 107 117 127 0.06

Tensão (V) 0
37 47 57 67 77 87 97 107 117 127
Nível de Iluminamento Po tência
Tensão (V)

Figura 3.c - Efeito da variação Figura 3.d - Efeito da variação


de tensão no Fator de Potência de tensão na eficiência

/kPSDGDFRPSDFWD: /kPSDGDFRPSDFWD:
1 60
Fator de Potência (FP)

0.8 48
Lumens / Potência

0.6 36

0.4 24

0.2 12

0 0
37 47 57 67 77 87 97 107 117 127 37 47 57 67 77 87 97 107 117 127

Tensão (V) Tensão (V)

IV A LÂMPADA DE VAPOR DE MÉRCURIO (VM) - ALTA PRESSÂO


Em [9] existem curvas de corrente, fluxo luminoso e potência para essa lâmpada com
no mínimo 80% da tensão nominal aplicada. Em medições realizadas em laboratório,
obteve-se os resultados apresentados nas Figuras 4.a a 4.d. Percebe-se que a lâmpada testa-
da opera em uma faixa de tensão 190-220 V. Dependendo da regulação de tensão no
sistema elétrico, onde ela esteja conectada, uma sub-faixa de dimerização pode ser muito
estreita, o que pode inviabilizar a dimerização.

Figura 4.a - Efeito da variação de Figura 4. b - Efeito da variação


tensão no fluxo luminoso e potência de tensão na corrente
/kPSDGD90: /kPSDGD90:
6200 132 0.7
Fluxo luminoso (lm)

4960 106 0.6


Potência (W)

3720 79 0.5
Corrente (A)

2480 53
0.4
1240 26
0.3
0 0
0.2
180 190 200 210 220
0.1
Tensão (V)
0
180 190 200 210 220

Nível de Iluminamento Potência Tensão (V)

804
Figura 4.c - Efeito da variação Figura 4.d - Efeito da variação
de tensão no Fator de Potência de tensão na eficiência

/kPSDGD90: /kPSDGD90:
0.95 50
45
Fator de Potência (FP)

0.9 40

Lumens / Potência
35
0.85 30
25
0.8 20
15
0.75 10
5
0.7 0
180 190 200 210 220 180 190 200 210 220
Tensão (V) Tensão (V)

V A LÂMPADA DE VAPOR DE SÓDIO (VS) - ALTA PRESSÃO


Em [10] existem curvas de corrente, fluxo luminoso e potência para a lâmpada com no
mínimo 85% da tensão nominal aplicada.
Em medições realizadas em laboratório, obteve-se os resultados apresentados nas Figu-
ras 5.a a 5.d. A lâmpada testada operou em uma faixa de tensão bastante grande, ou seja,
60-220 V. Ela pode ser dimerizada, porém especial atenção deve ser dada em tensões
inferiores a 170 V, quando a eficiência luminosa começa a se tornar pequena comparada à
eficiência luminosa na tensão nominal.
Figura 5.a - Efeito da variação de Figura 5 b - Efeito da variação
tensão no fluxo luminoso e potência de tensão na corrente
/kPSDGD96: /kPSDGD96:

14500 0.9
Fluxo Luminoso

11600 130
Potência (W)

0.72
8700 98
(lm)

Corrente (A)

5800 65 0.54
2900 33
0.36
0 0
40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
0.18
Tensão (V)
0
40 60 80 100 120 140 160 180 200 220

Nível de Iluminamento Potência Tensão (V)

Figura 5.c - Efeito da variação Figura 5d - Efeito da variação


de tensão no Fator de Potência de tensão na eficiência
/kPSDGD96: /kPSDGD96:
0.95 100
90
Fator de Potência (FP)

0.9 80
Lumens / Potência

70
0.85 60
50
0.8 40
30
0.75 20
10
0.7 0
40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Tensão (V) Tensão (V)

805
VI CONSIDERAÇÕES GERAIS
Os trabalhos desenvolvidos em laboratório utilizaram uma amostra pequena de lâmpa-
das. Os resultados obtidos estão de acordo com os resultados encontrados nas referências
bibliográficas. Estes resultados e os resultados que não estão disponibilizados na literatura,
foram obtidos observando-se critérios adequados de um trabalho de caráter científico. O
pequeno número de amostra utilizado faz com que a incerteza dos resultados seja eviden-
temente maior do que seria obtido se o número de amostra fosse maior.
VI CONCLUSÃO
Este artigo apresentou resultados obtidos em lâmpadas incandescente, fluorescentes
convencional e compacta, vapores de mercúrio e sódio de alta pressão com a variação da
tensão aplicada. Os resultados abrangem o fluxo luminoso; a potência; a corrente, o fator
de potência e a eficiência luminosa.
As lâmpadas incandescente, fluorescente convencional e compacta, e vapor de sódio de
alta pressão operam em faixas de tensão grandes, permitindo que sejam dimerizadas. A
lâmpada vapor de mercúrio – alta pressão opera em uma faixa estreita de tensão, e, depen-
dendo da regulação de tensão do sistema elétrico onde a mesma esteja instalada, a dimerização
pode ficar comprometida.
Com a dimerização consegue-se economizar energia, mas a eficiência das lâmpadas são
menores do que aquelas obtidas em suas tensões nominais.

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806
REDUÇÃO DE EMISSÕES
DE GASES DE EFEITO ESTUFA
NO SETOR DE TRANSPORTE
RODOVIÁRIO DE VEÍCULOS LEVES

Fróes, Lourenço Lustosa

RESUMO
Neste trabalho são comparadas alternativas energéticas para o Setor de Transportes,
com foco em políticas de redução das emissões, como o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL), de forma que sejam traçados cenários de emissão de gases de efeito estufa.
Os impactos ambientais resultantes de emissões de gases de efeito estufa (GEE), em
especial o gás carbônico, pelas atividades humanas baseadas na queima da biomassa
como fonte de energia são mínimos, pois se considera que as culturas irão absorver o
gás carbônico emitido na queima.
No Brasil existe enorme potencial para o desenvolvimento de tecnologias com nível de
emissão de GEE reduzido ou nulo, portanto, os créditos de carbono poderiam vir a ser
um forte estímulo ao desenvolvimento destas tecnologias, tornando talvez algumas delas,
inviáveis no panorama atual, perfeitamente aplicáveis.
Emissões no Setor de Transportes
Os meios de transporte rodoviário atualmente praticados no Brasil baseiam-se na rea-
ção de combustão. O combustível (diesel, gasolina, álcool etc.) é queimado em motores de
combustão interna. O processo de combustão produz então o dióxido de carbono (CO2)
que é emitido para a atmosfera.
O transporte rodoviário de passageiros realizado por automóveis é o responsável pela
maior porção do uso de combustíveis e emissão de CO2 no setor de transportes (RIBEI-
RO, S.K., 2003), portanto, devido a este potencial, seria onde as ações para redução de
emissões teriam maior efetividade no curto prazo.

Eng. Eletricista Procel/Eletrobrás a aluno de mestrado do PPE - Praia do Flamengo 66-A, 4º andar - CEP. 22210-030
- Rio de Janeiro, RJ, Brasil - Tel: +55 21 2514-5923 / Fax: +55 21 2514-5767 - E-mail: lourenco@eletrobras.com

807
De acordo com a Agência Internacional de energia (IEA Apud MATTOS, 2001)
cerca de 56% de todo o petróleo consumido no mundo destinam-se ao setor de
transportes, o que faz deste o maior poluidor atmosférico e o principal responsável
pelo aumento do efeito estufa.
Os gases de exaustão emitidos pelos veículos automotores são considerados poluentes,
a exceção do CO 2. Entretanto, o CO2 é considerado o principal gás agravante do
efeito estufa. Como referência, de 1990 até o ano de 1998 as emissões de CO2 pelo
setor de transportes cresceram cerca de 17%, chegando então a ser responsável por
23,7% das emissões mundiais de CO2.
Estudos indicam que, neste mesmo ano de 1998, o setor de transportes no Brasil foi o
responsável pela emissão de 126,8 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera, o que
equivale a cerca de 55% do total emitido (RIBEIRO, 2000).
Estima-se que nos países da OCDE em torno de 75% das emissões de CO2 e uso de
energia sejam de responsabilidade do transporte rodoviário, e desse percentual, cerca de
70% são alocados aos automóveis (DARGAY E GATELY, 1997) .
Participação do Setor de Transportes no Consumo de Energéticos
Há uma dependência crescente do setor de transportes no Brasil por alguns tipos de
combustíveis. Em particular, o óleo diesel tem sido utilizado em larga escala, e sua utilização
tem sido crescente. Isto devido à forte dependência brasileira desse combustível para o
transporte rodoviário. O transporte urbano de passageiros e o transporte de cargas se
mantêm como fortes dependentes deste combustível.
Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, nota-se que entre 1930 e 1970 a participação
do modo ferroviário de transportes caiu de 13,2 para 9,3%, enquanto que o transporte de
ônibus cresceu de 5,2 para 67,9%. A participação do automóvel no mesmo período cres-
ceu de quase zero para 20,2% (Mello, 1984).
Quanto ao consumo do segundo combustível mais utilizado no setor de transportes, a
gasolina automotiva, pode-se observar que o seu consumo percentualmente intensificou-se
a partir de 1990. Este fato coincide com a instabilidade no fornecimento do álcool e com
a baixa nos preços do petróleo. Desde então a produção de veículos a álcool estagnou-se
e a tendência observada foi a de decréscimo no consumo de álcool. Ressalta-se que em
média cerca de 22% a 25% de álcool anidro vêm sendo misturado à gasolina desde os anos
80, o que de certa forma mantém esta parcela percentual do consumo, não afetada pela
queda na produção de veículos alimentados a álcool hidratado.
Quanto aos ônibus e caminhões, pode-se dizer que mais de 97% do total de 2,3 milhões
de unidades produzidas entre 1975 e 2002 foram unidades alimentadas a óleo diesel
(ANFAVEA, 2003). Existe neste caso, portanto, também um enorme potencial de substi-
tuição do combustível por uma alternativa com base em culturas vegetais.
Aplicabilidade do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo no Setor de Transportes
Em particular, no setor de transportes, existem atividades de projetos que poderiam ser certifica-
das pelas entidades operacionais. Alternativas existentes, cujos benefícios seriam reais, mensuráveis
e de longo prazo, relacionados com a mitigação da mudança do clima. Poderiam, portanto, ser
utilizadas como mecanismos de desenvolvimento limpo na obtenção de créditos de carbono.
808
Essas reduções de emissões seriam adicionais às que ocorreriam na ausência da atividade
certificada de projeto. Faz-se aqui referência a tecnologias existentes, como o biodiesel e o
álcool de cana-de-açúcar.
Flex-fuel e Bicombustível
Como atualmente existe a tendência de se produzir também veículos alimentados a
mais de um único combustível, alguns cuidados devem ser tomados na análise de
consumo dos combustíveis.
Os veículos alimentados exclusivamente a álcool devem perder espaço para as
novas tecnologias que permitem que os veículos possam utilizar qualquer mistura de
álcool com gasolina.
Pode-se estimar que, caso haja aumento de vantagens nos veículos flex-fuel, a tendência
seria também uma substituição dos veículos alimentados a gasolina por veículos flex-fuel.
Considerado que os veículos a álcool depois da década de 90 vinham tendo grande
rejeição, devido principalmente aos riscos de falta do produto e das incertezas quanto à
continuidade da tecnologia, os veículos flex-fuel lançam-se com uma enorme vantagem
competitiva, já que podem ser alimentados com qualquer proporção álcool/gasolina.
No cenário atual de mercado, os consumidores que optarem por veículos flex-fuel dificil-
mente irão optar pela gasolina como combustível, já que o preço do álcool por quilômetro
rodado é sensivelmente mais baixo.
Com relação aos veículos bicombustível, alimentados a álcool ou a gasolina original-
mente, atualmente é feita a transformação para que possam também utilizar o gás natural
como combustível. Entretanto, caso haja aumento da demanda alguns fabricantes podem
vir a lançar modelos de fábrica com a dupla alimentação.
Não seria errado se ter visão de futuro, onde a frota de automóveis no Brasil poderia ser
composta unicamente de automóveis flex-fuel e que uma parcela significativa da frota estaria
também adaptada para GNV (Gás Natural Veicular).
Por essas razões, uma análise por tipo de combustível para cada parcela da frota tornar-
se-ia cada vez mais difícil e as incertezas com relação às estimativas cresceriam. Portanto,
uma análise através do consumo de combustíveis pelo setor de transportes rodoviários
para se estimar as emissões parece ser cada vez mais conveniente.
Frota Nacional
Os dados a seguir, relativos à frota nacional, são orientativos, mas não serão utilizados
como premissas para cálculos de consumo e emissões neste trabalho.

Tabela 1 - Estimativa da frota de autoveículos -2001


Automóveis Comerciais leves Caminhões Ônibus 7RWDO
Brasil
(mil unidades)
16.021 2.511 1.243 319 

Fontes: Estimativa da frota,Anfavea;distribuição da frota (dezembro/2001), Denatran

809
Para se estimar a frota nacional pode-se aplicar uma curva de sucateamento ao total
das vendas internas. Para 2001, alguns estudos estimam que exista um total de 12,8 mi-
lhões de automóveis alimentados a gasolina e 2,58 milhões de automóveis alimentados a
álcool (SCHEEFFER e TEIXEIRA, 2002), dados da mesma ordem de grandeza das
estimativas do Denatran.
Tomando-se esses valores como referência, poder-se-ia realizar estimativas de emissões
através de tipos de alimentação de combustível de cada parcela da frota, conforme feito
por SCHEEFFER e TEIXEIRA para o caso do álcool no Brasil.
Entretanto, dada a grande incerteza atual na composição futura da frota, visto que há
diversas alternativas (álcool puro, gasolina com álcool, flex-fuel e bicombustível), neste estu-
do optou-se pela análise de emissões através do consumo projetado de combustíveis.
Emissões com Base no Consumo de Combustíveis
Através de metodologia elaborada pelo Intergovernmental Panel on Climate Change
(IPCC) para o cálculo das emissões de gases de efeito estufa (GEE), observa-se que, de
forma geral, as emissões de GEE emitidos por fontes móveis são mais bem calculadas
pela quantidade de combustível queimado, pelo seu teor de carbono e pelas emissões
correspondentes de CO2, através de uma abordagem top-down. Com esta abordagem
parte-se de dados macro, não se necessitando de informações detalhadas de como o com-
bustível é utilizado pelo usuário final ou por quais transformações intermediárias ele passa
antes de ser consumido para se chegar aos resultados desejados.
Segundo ainda o IPCC, o CO2 é o responsável por mais de 97% das emissões totais de
GEE por fontes móveis. A incerteza nos cálculos das emissões, pela metodologia propos-
ta, seria da ordem de 5%.
Quanto ao potencial de redução de emissões, em comparação com os veículos alimen-
tados à gasolina, pode-se dizer que os veículos alimentados a álcool podem reduzir o
percentual líquido de emissão de CO2 em 100% e os veículos alimentados a Gás Natural
Veicular (GNV), em cerca de 26% (IANGV, 2000).
Deve-se levar em conta ainda que na gasolina comercializada no Brasil existe uma por-
centagem de álcool que vem sendo misturada, variando de 22 a 25% nos últimos anos,
dando origem ao que será aqui denominado de gasool.
No gasool cerca de 81,78% das emissões de CO2 são provenientes da gasolina e 18,22%
do álcool anidro, o que pode ser mostrado teoricamente através de cálculos estequiométricos
(SCHEEFFER e TEIXEIRA, 2002).
Pode-se, portanto, elaborar uma análise das emissões de CO2, com base no consumo de
combustíveis para o setor de transportes do Balanço Energético Nacional (BEN).

810
Tabela 2 - Consumo de Combustíveis - Transporte Rodoviário
)217(6 
GÁS NATURAL 2,7%
GASOLINA AUTOMOTIVA 69,9%
ÁLCOOL ETÍLICO ANIDRO 15,3%
ÁLCOOL ETÍLICO HIDRATADO 12,1%
727$/ 100,0%
Fonte: Elaboração, com base no BEN, 2002

Na metodologia adotada, portanto, inicialmente os dados encontrados no BEN devem


ser convertidos para uma unidade comum. Os dados do BEN encontram-se em toneladas
equivalentes de petróleo (tep) e devem então ser convertidos para terajoules (TJ). Os fato-
res de emissão utilizados podem ser encontrados na tabela que se segue.

Tabela 3 - Fatores de Emissão de Carbono


Combustível )DWRUGHHPLVVmRHPW&SRU7-
gasolina 18,9
álcool anidro 14,81
álcool hidratado 14,81
diesel 20,2
gás natural seco 15,3
Fonte: IPCC, 1996 e MCT, 1999

Uma Análise de Potencial de Redução nas Emissões de CO2


A partir do consumo de combustíveis para o setor de transportes rodoviários, com
base no Balanço Energético Nacional, podem ser elaboradas estimativas de emissões de
CO2 com razoável precisão (ÁLVARES E LINKE, 2002).
Pelos combustíveis selecionados nesta análise (gás natural, gasolina automotiva, álcool
anidro e álcool hidratado), pode-se dizer que esta fração de consumo diz respeito aos
automóveis e aos veículos comerciais leves. Portanto, o potencial de redução de emissões
que será aqui estimado diz respeito a esta classe, de “veículos leves”.
Cenário de Referência
Foi utilizado como Cenário de Referência uma projeção que admite que as vendas de
veículos no mercado interno seguirão a projeção de demanda de combustíveis para o setor
de transportes para 2010, proposta pelo estudo preparado pelo Comitê Técnico da Matriz
Energética (CT3), no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Assim,
no estudo foi considerado que a previsão da demanda de cada um dos combustíveis e as
vendas de veículos teriam crescido a uma taxa constante de 4,4% ao ano entre 2001 e 2010.
Foi utilizada como referência a projeção de frota total de veículos leves elaborada por
SCHEEFFER e TEIXEIRA para 2001 a 2010, que leva em consideração também a curva
de sucateamento, utilizando metodologia do Serviço de Planejamento da Petrobrás.
811
Gráfico 1 - Consumo de Combustíveis por Veículos Leves no Cenário de Referência

&HQiULRGH5HIHUrQFLD
S
WH
 25000
A


 20000
P
H
O
H 15000 GNV
tY
WV gasolina
X
E 10000 álcool
P
R FROTA x 1000
F

R 5000
P
X
V
Q
R
F
0
90

92

94

96

98

00

02

04

06

08

10
19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20
Cálculo da Emissões
Foi utilizada metodologia top-down elaborada pela CETESB (Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo de São
Paulo) para cálculo das emissões de CO2 com base no Balanço Energético Nacional, onde
são apresentados os coeficientes que devem ser utilizados para se transformar os dados
apresentados em toneladas equivalentes de petróleo (tep) em quilogramas de carbono (kgC)
emitidos na reação de combustão, sob a forma de gás carbônico.

Gráfico 2 - Emissões de CO2 no Cenário de Referência

&HQiULRGH5HIHUrQFLD
R 18000,00
Q
R
UE
D
16000,00
&
 14000,00
H
G
V 12000,00 GNV
D 10000,00
G
D
O gasolina
H 8000,00
Q
R
W 6000,00 álcool
P
H
V 4000,00
H 2000,00
}
V
V
L 0,00
P
H
90

92

94

96

98

00

02

04

06

08

10
19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

812
Optou-se por uma análise das alterações nas taxas de crescimento da demanda de
combustíveis em relação ao consumo de gás natural, gasolina e álcool, utilizando-se a
metodologia de cenários.
As taxas de crescimento da demanda foram então alteradas para atender às premissas
dos cenários e foi considerado que o consumo de energia somado para os três combustí-
veis deveria ser mantido constante para o ano de 2010, em cada um dos cenários.
Cenário A – Estímulo ao Gás Natural
Neste cenário parte-se da premissa de um forte estímulo à conversão de veículos para
gás natural e também à fabricação de novos veículos já com dupla alimentação. Foram
então estimadas taxas de crescimento para o consumo de gás natural veicular.
Cenário B – Estímulo ao GNV e ao álcool
Neste cenário faz-se uma análise do estímulo a duas formas de alimentação alternativas
à gasolina, implantadas conjuntamente.
Cenário C – Retomada do álcool
Neste cenário parte-se da premissa de que os veículos leves do tipo flex-fuel ganharão
espaço rapidamente no mercado. Considera-se ainda que os preços praticados para o
álcool seriam vantajosos para os proprietários de veículos flex-fuel, o que faria com que
optassem pelo álcool para o abastecimento, em substituição à gasolina.
Na tabela 4 são apresentadas as taxas de crescimento no consumo dos combustíveis
utilizadas para cada um dos cenários. As emissões para o ano de 2010 são também apre-
sentadas como referência, inclusive para o álcool.
Entretanto, nos gráficos, para uma real comparação dos benefícios em relação à redu-
ção de emissões, foi considerado que as emissões líquidas no caso do álcool são nulas.

Tabela 4 - Premissas - Taxas de Crescimento Utilizadas e Emissões resultantes em 2010

Taxa crescimento Emissões estimadas


Cenário
do consumo em 2010 (ton de carbono)

&RPEXVWtYHO JDVROLQD iOFRRO *19 JDVROLQD iOFRRO *19 IyVVHLV WRWDO

Referência 4,4% 4,4% 4,4% 15702 4819 464 16166 20986

A - GNV 3,5% 4,4% 18,0% 14525 4819 1398 15923 20742

B - GNV +
2,0% 8,0% 15,0% 12736 6539 1109 13845 20384
álcool

C - álcool 1,5% 10,0% 4,4% 12185 7713 464 12650 20363

813
Gráfico 3 - Emissões Totais (considerando-se emissões nulas para o álcool)

(PLVV}HV7RWDLVSRU&RPEXVWtYHLV)yVVHLV *DVROLQDH*19

18000
16000
&
HG 14000 Cenário A - GNV
Q
WR 12000 Cenário B - GNV + álcool
P
H
10000
VH 8000
}V 6000 Cenário C - álcool
VL
P
( 4000 Cenário Referência
2000
0
90

92

94

96

98

00

02

04

06

08

10
19

19

19

19

19

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20

20

20

20

20

Gráfico 4 - Emissões Evitadas (considerando-se emissões nulas para o álcool)

(PLVV}HV(YLWDGDV

4500
4000
&
H 3500
G Cenário A - GNV
QR 3000
W
P 2500
HV 2000 Cenário B - GNV + álcool
H}
VV 1500
L Cenário C - álcool
P
(
1000
500
0
90

92

94

96

98

00

02

04

06

08

10
19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

Análise dos Resultados


Pode-se observar que existe enorme potencial para redução de emissões líquidas
no setor de transportes por veículos leves com a substituição dos combustíveis fós-
seis atualmente utilizados.
No caso da substituição por álcool, pode-se imaginar que as emissões se aproxima-
riam de zero quando a frota fosse totalmente substituída, pois, conforme já explicado,
a contribuição líquida seria nula (os campos de cultivo absorveriam o CO2 emitido na
reação de combustão).
814
Já no caso do GNV, observa-se que o potencial de redução a nível de emissões é
bem menor, já que no caso do álcool as emissões líquidas são consideradas nulas. O
fator de emissão de carbono considerado para o gás natural (15,3tC/TJ) é pouco
menor que o da gasolina (18,9tC/TJ), sendo “mais limpo” em termos de emissões do
que a gasolina.
No Cenário A, de estímulo ao consumo do gás natural, apesar da taxa anual de
aumento da demanda de 18%, observa-se que o benefício final em termos de emis-
sões não seria tão expressivo, se comparado com as demais alternativas apresentadas.
No Cenário B, de estímulo ao GNV e ao álcool, com taxa de aumento da deman-
da de 15% para o GNV e de 8% para o álcool, tem-se benefícios expressivos, entre-
tanto, observa-se que é o álcool o principal responsável pela redução nas emissões.
No Cenário C, de estímulo ao álcool, com taxa de 10% no crescimento da de-
manda por este combustível, desconsiderando-se a eventual contribuição do GNV,
observa-se que o potencial de redução seria maximizado.
Conclusão
Pode-se observar, portanto, que o álcool é um combustível com potencial de
redução de emissões significativo e que seu uso para obtenção de créditos de carbo-
no, através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, se mostra como uma alter-
nativa interessante, visto que o CO 2 é o responsável por mais de 97% das emissões
totais de GEE de fontes móveis (ÁLVARES e LINKE, 2002).
Estudos indicam que, no ano de 1998, o setor de transportes no Brasil foi o
responsável pela emissão de 126,8 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera, o
que equivale a cerca de 55% do total emitido (RIBEIRO, 2000).
Além disso, deve-se considerar que a rede já existente de produção e distribuição do
álcool no Brasil permite que estimule o consumo deste combustível em curto prazo, dife-
rentemente de alternativas como o biodiesel ou outros combustíveis de origem vegetal.
O Brasil certamente ainda precisará de vastos investimentos na infra-estrutura, em
particular em energia, e é extremamente importante que os futuros impactos ambientais
destes empreendimentos sejam considerados, pois são de suma importância.
Destaca-se que os países industrializados foram os maiores responsáveis pelo acúmulo de
GEE na atmosfera ao longo da história moderna e devem ser responsabilizados por tal fato.
Caso os países ainda em vias de desenvolvimento adotassem o mesmo paradigma
de desenvolvimento adotado pelos países industrializados, os impactos ambientais
resultantes poderiam ser consideráveis e dificilmente haveria disponibilidade de re-
cursos naturais para que se atingisse tal paradigma.
Os incentivos internacionais tais como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
têm enorme potencial para viabilizar a aplicação de recursos na mitigação dos im-
pactos no meio ambiente. Caso dada continuidade a esse tipo de política, serão
verificados ganhos reais, com redução nos níveis de emissões no meio ambiente nos
países em desenvolvimento.

815
Conforme apresentado, o transporte rodoviário de passageiros realizado por automó-
veis é o responsável pela maior porção do uso de combustíveis e emissão de CO2 no setor
de transportes, portanto, devido a este potencial, seria onde as ações para redução de
emissões teriam maior efetividade em curto prazo.
Entretanto, não foi abordada aqui a questão dos custos envolvidos que, no cenário
mundial encontrado hoje, é fundamental para aplicação de tais medidas. Portanto, o bene-
fício do estímulo à adoção do álcool pode ser mensurado, caberia então uma análise para
se identificar até que ponto e com quais incentivos financeiros esse estímulo poderia se
tornar viável e como poderia ser concretizado.

BIBLIOGRAFIA
ÁLVARES, O. de M.; LINKE, R.R.A. – Metodologia Simplificada de Cálculo das Emissões de Gases de Efeito Estufa
de Frotas de Veículos no Brasil – CETESB, 2002
ANFAVEA - Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira - 2003
DARGAY, J.; GATELY, D. — Vehicle Ownership to 2015: Implications for Energy use and Emissions — Energy Policy,
England vol.25, 1997
IANGV — Exhaust Emissions from Natural Gas Vehicles — Report prepared for the IANGV Technical Commitee, 2000
LA ROVERE, E. L. — Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil (GEO-Brasil), Atmosfera — LIMA/PPE/COPPE/
UFRJ, Rio de Janeiro, abril 2002
LA ROVERE, E. L. — Política Ambiental e Planejamento Energético — LIMA/PPE/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro - junho 2002
MELLO, J. C. — Transportes e Desenvolvimento Econômico — EBTU, Brasília, 1984
MOONEY, D. A. — Mechanical Engineering Thermodynamics — Prentice-Hall Inc, Englewood Cliffs, USA, 1953
Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa – Relatórios de Referência –
COPPE/MCT, 2002
RIBEIRO, S.K. — O Álcool e o Aquecimento Global — CNI/Copersúcar, Rio de Janeiro, 1997
RIBEIRO, S.K. — Transporte mais Limpo — COPPE, Rio de Janeiro, 2003
SCHEEFFER e TEIXEIRA — Mudanças Climáticas: uma oportunidade para a retomada do Proálcool no Brasil? —
2002.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Páginas na internet visitadas (acessos feitos em agosto de 2003)
www.cdmonline.org
www.arvore.com.br, artigo de Amyra El Khalili
cdm.unfccc.int
www.mct.gov.br
www.mme.gov.br
infoener.iee.usp.br
www.comciencia.br
www.ipcc.com

816
AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DO
PROJETO “CONSERVAÇÃO
DE ENERGIA NAS PEQUENAS
E MÉDIAS INDÚSTRIAS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO”

Emilio Lèbre La Rovere1


Norma do Nascimento Baptista2
Martha Macedo de Lima Barata3
Aluisio Campos Machado4
Sandra Villar 5

RESUMO
Este artigo apresenta o processo de avaliação dos impactos do projeto “CONSERVA-
ÇÃO DE ENERGIA NAS PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO” desenvolvida pelo LIMA/COPPE/UFRJ em parceria com o
SEBRAE. Discorrendo sobre, a avaliação dos impactos evidenciada nos resultados, a análise
crítica do processo e as sínteses do projeto Conservação de Energia e da Metodologia para
Avaliação dos Impactos. A partir dos resultados dos impactos são identificadas e relatadas as
ações futuras relacionadas com medidas de eficiência para as pequenas e médias indústrias.

1. INTRODUÇÃO
A Avaliação dos Impactos do Projeto foi aplicada com o objetivo de identificar mudan-
ças provenientes da implementação do Projeto, no âmbito das empresas e instituições
participantes. O processo de avaliação objetiva pretendeu: realizar uma análise crítica das
atividades desenvolvidas; avaliar o grau de contribuição das intervenções do Projeto para a
maior sensibilização das empresas para o tema da eficiência energética; assim como a

1
D. Sc. Doutorado em Técnicas Econômicas, Previsão, Prospectiva. École des Hautes Études en Sciences Sociales,
EHESS, Paris, França - E-mail: emilio@ppe.ufrj.br.
2
M. Sc. Doutoranda em Planejamento Ambiental – PPE-COPPE-UFRJ. E-mail:normabaptista@ppe.ufrj.br.
3
D.Sc. em Planejamento Ambiental. PPE-COPPE-UFRJ. E-mail:barata@ioc.fiocruz.br
4
D.Sc., Professor Adjunto – PPE-COPPE-UFRJ - E-mail: aluisio@ppe.ufrj.br.
5
M.Sc. em Planejamento Energético - PPE-COPPE-UFRJ, Consultora do SEBRAE-RJ. E-mail: svillar@sebraerj.com.br.

817
efetividade dos resultados alcançados em termos de eficicência energética e a identificação
de novas oportunidades de desenvolvimento de projetos neste tema. Para desenvolver a
avaliação, algumas questões foram tomadas como referência, são elas:
Qual foi a contribuição do projeto para: a promoção de melhor qualificação dos
profissionais que atuam no mercado de consultoria em eficiência energética; e do profis-
sional de chão de fábrica quando do desempenho de suas tarefas; a geração de novos
negócios no âmbito dos setores / empresas atendidas; a geração de ganhos econômicos
para as empresas participantes;o aprimoramento das técnicas de gerenciamento nas em-
presas participantes; a conscientização de que a eficiência energética pode ser um dos
instrumentos de competitividade para as empresas de pequeno porte; o fomento do
mercado de consultoria para iniciativas no campo da eficiência energética; a capacidade
instalada (recursos humanos e laboratoriais) das instituições parceiras do Projeto.
Neste artigo são apresentados somente alguns dos resultados obtidos, relacionados
aos aspectos trabalhados e identificados como os mais relevantes, são estes: os
tecnológicos, os gerenciais e os econômicos.
2. SÍNTESE DO PROJETO CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NAS PEQUE
NAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
2.1. Concepção do Projeto
O projeto “Conservação de Energia na Pequena e Média Indústria do Estado do Rio
de Janeiro” resultou de uma Cooperação Técnica entre o SEBRAE/RJ e a GTZ, Agência
Alemã de Cooperação e contou com a parceria de instituições como INT, SENAI/RJ,
CEFET/RJ e ELETROBRAS/PROCEL. A coordenação geral do projeto foi de res-
ponsabilidade do SEBRAE/RJ.
O projeto foi estruturado no tripé tecnologia, informação e capacitação com o
objetivo de demonstrar e disseminar as alternativas que acarretam redução do consu-
mo de energia agregada a cada unidade de produto e contribuem para a melhoria da
competitividade das pequenas e médias empresas.
O projeto foi dividido em duas fases: a 1a Fase – 1995 a 1999 com o objetivo de
estimular o mercado para ações de uso eficiente de energia em empresas de pequeno e
médio portes; a 2a Fase – 2000 a 2004 com o objetivo de consolidar o mercado para
as ações de uso eficiente de energia nas empresas de pequeno e médios portes.
2.2. Apresentação dos Produtos do Projeto
Para alcançar os seus objetivos, o projeto foi desenvolvido através da geração, execução e inter-
relação dos produtos de: desenvolvimento tecnológico; informação; capacitação e treinamento.
a)Produtos de Desenvolvimento Tecnológico
A implantação de empresas Unidades de Demonstração6 - Uds no uso eficiente de
energia faz parte do produto Desenvolvimento Tecnológico. Na 1a fase, 8 (oito) empresas
participaram como Unidade de Demonstração. Já, na 2a fase foram 9 (nove) empresas.

6
empresas que, orientadas e monitoradas sistematicamente por consultores especializados, com base em metodologia
específica desenvolvida pelo Projeto “Conservação de Energia na Pequena e Média indústria do Estado do Rio de Janeiro”,
tiveram êxito na implantação de medidas de eficiência energética em suas instalações, tornando-se modelo para as demais.

818
b) Produtos de Informação
Os Produtos de Informação tiveram como objetivo auxiliar as empresas de peque-
no porte na tomada de decisão quanto à implantação de projetos destinados a aumen-
tar a eficiência energética de suas instalações. Como por exemplo, os manuais da série
Uso Eficiente de Energia.
c) Produtos de Capacitação e Treinamento
Os Produtos de Capacitação e Treinamento tiveram como objetivo capacitar pro-
fissionais para o desenvolvimento de projetos de Uso Eficiente de Energia em peque-
nas e médias empresas, como por exemplo, o curso de Pós-Graduação em capacitação
de Consultores no Uso Eficiente de Energia em parceria com o CEFET.
3. SÍNTESE DA METODOLOGIA ADOTADA NO PROCESSO DE
AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DO PROJETO
Para o desenho do contorno metodológico do projeto “Conservação de Energia nas
Pequenas e Médias Indústrias do Estado do Rio de Janeiro” seguiu-se os seguintes pas-
sos: 1)identificação dos potenciais impactos de cada um dos três produtos do projeto
(Desenvolvimento Tecnológico, Informação e Capacitação e Treinamento); 2)estabeleci-
mento dos indicadores para apoiar a investigação e valoração dos potenciais impactos
identificados, sendo que: para o produto de Desenvolvimento Tecnológico os indica-
dores foram classificados segundo os critérios de sustentabilidade (impactos ambientais,
sociais, econômicos, tecnológicos), operacionalidade7 e capacidade gerencial8 ; para os
produtos Informação e Capacitação, e Treinamento foram estabelecidos os indicadores
para avaliar o potenciais impactos de eficiência9 , eficácia10 e efetividade11 das atividades
que os compõem. 3)workshop para apresentação e validação da metodologia de traba-
lho junto aos parceiros do projeto – SEBRAE/RJ, SENAI, PROCEL/ELETROBRAS,
INT, CEFET/RJ; 4) aplicação da metodologia - preparação de questionários fechados a
ser aplicado às empresas Unidade de Demonstração (UD) do Projeto, aos participantes
do curso oferecido pelo CEFET e aos empresários que adquiriram os Manuais da Série
Uso Eficiente de Energia; 5) consolidação dos resultados das entrevistas; 6) avaliação dos
resultados pela equipe LIMA/COPPE/UFRJ – SEBRAE; 7) valoração dos impactos
do projeto nas empresas que o implementaram; 8) apresentação a parceiros do projeto
os resultados alcançados no processo de avaliação e valoração dos impactos para a
obtenção da avaliação e de novas contribuições destes; 9) realização dos ajustes necessá-
rios e consolidação dos resultados; 10) avaliação crítica do conjunto do projeto conside-
rando também os fatores externos que podem ter influenciado nos resultados obtidos e
da efetividade do processo de Avaliação dos Resultados do Projeto.

7
indicador de operacionalidade pretendem avaliar a capacidade de manutenção do projeto implantado e sua difusão
com vistas a multiplicação de projetos, e do estabelecimento de integração regional e articulação com outros setores.
8
indicador de capacidade gerencial, pretende avaliar o impacto quanto à gestão empresarial, na responsabilidade de
seus executivos e funcionários na realização de suas atividades considerando o aspecto de conservação de energia.
9
o projeto foi eficiente se o Produto estava bem estruturado e foi bem aceito pelos participantes do Projeto
10
o projeto foi eficaz se atingiu ao seu objetivo.
11
o projeto foi eficaz se o produto é concomitantemente eficiente e eficaz.

819
4. AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DO PROJETO
4.1. Aplicação da Metodologia
A metodologia foi aplicada nos produtos Desenvolvimento Tecnológco, Capacitação e
Treinamento e Informação através de questionários, como mencionados no item 3, dando
início assim ao processo de avaliação. As questões formuladas nos questionários foram
relacionadas aos indicadores definidos para cada produto (Desenvolvimento Tecnológico,
Informação, Capacitação e Treinamento) buscando obter respostas qualitativas e quantita-
tivas quanto às mudanças ocorridas nas empresas, nas instituições e na atuação dos consul-
tores treinados, bem como, quanto ao grau de interferência do projeto nas mudanças
ocorridas. Porém, neste trabalho apresenta-se no item 4.2, apenas alguns resultados dos
questionários aplicados às Uds.
Para o produto Desenvolvimento Tecnológico os questionários foram aplicados aos re-
presentantes das empresas UDs através de entrevista, previamente agendada, realizada pelos
integrantes da equipe LIMA/COPPE/UFRJ – SEBRAE, aonde foi possível obter informa-
ções qualitativas sobre a real influência do projeto relacionados aos quesitos questionados.
Para o processo de avaliação dos impactos mais significativos do projeto, utilizou-se da aná-
lise qualitativa decorrente da aplicação dos questionários com o apoio da análise quantitativa.
A seguir apresenta-se, como exemplo, algumas questões formuladas no questionário
aplicado ao produto Desenvolvimento Tecnológico - UDs relacionadas aos indicadores:
social e gerencial, tecnológico e econômico.
a) Exemplo de Questão para Avaliação do Produto de Desenvolvimento
Tecnológico
Indicador Social e Gerencial
Ø O nível de qualificação dos empregados
q diminuiu q não se alterou q não se aplica q não há como avaliar
Quanto à interferência do projeto
q muito q muito e outra q pouca q pouca e outra qnenhuma q outra
qual? q não se aplica q não há como avaliar
Indicador Tecnológico
Ø Houve modificação e/ou substituição do equipamento utilizado no processo e/ou
nas instalações
q SIM q NÃO
A modificação e/ou substituição dos equipamentos introduzidas no processo produti-
vo e / ou instalações trouxe:
q Aumento de eficiência q Redução de eficiência
q Possibilidade para fabricação de novos produtos / oferta de novos serviços
Quais os benefícios das modificações / substituições realizadas (valor monetário medi-
do em percentuais de variação do faturamento da empresa)?
820
Quanto à interferência do projeto
q muito q muito e outra q pouca q pouca e outra q nenhuma
q outra qual? _ q não se aplica q não há como avaliar
Indicador Econômico
Ø Faturamento Total
aumentou diminuiu não se alterou não se aplica não há como avaliar
Quanto à interferência do projeto
q muito q muito e outra q pouca q pouca e outra q nenhuma
q outra qual? _ q não se aplica q não há como avaliar
4.2. Apresentação de Alguns Resultados
Através da aplicação da Metodologia pode-se verificar que são os seguintes os resulta-
dos relevantes provenientes da implementação do Projeto nas empresas Unidade de De-
monstração considerando os aspectos econômico, gerencial e tecnológico.
a) ECONÔMICO
Questão 1: Evolução do Faturamento Total

Gráfico 1 - Análise Quantitativa da Evolução do Faturamento

)DWXUDPHQWR7RWDO

7%
21% Diminuiu
Não se Alterou
Aumentou
72%

1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD
GR3URMHWR
Nenhuma
14%
Pouca
7%
44%
Muita
Pouca e Outra
21%
7% 7% Muito e Outra
Outra

821
Análise Qualitativa - interferência de fatores externos nas mudanças observadas:
Ø A inflação elevou o preço praticado para o produto final; O comportamen-
to do mercado induziu a redução da produção; A empresa passou a oferecer novos
produtos ao mercado; Houve reajuste de preço dos produtos; Houve propaganda
e maior eficiência no atendimento
Questão 2: Evolução dos níveis de Produção
Gráfico 3 - Análise Quantitativa da Evolução da Produção

3URGXomR

7%
Diminuiu
36%
Não se Alterou
36% Aumentou
21% Não se Aplica

1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD
GR3URMHWR
14% Nenhuma
44% 7% Pouca
Muita
21% Não se Aplica
14% Outra

Análise Qualitativa - interferência de fatores externos nas mudanças observadas:


Ø Houve retração do mercado; Novas oportunidades de negócios aumentaram a pro-
dução; Houve aumento do número de clientes; Concorrência provocou redução da produção.
Comentários:
A pesquisa demonstra que as empresas apresentaram ganhos econômicos, porém o
empresário os atribuiu, principalmente, a fatores externos ao Projeto.
No entanto, observando-se os resultados da análise do mesmo quesito na amostra
estratificada em 1a e 2a fases, verifica-se que, nas empresas da 1a FASE, a contribuição do
Projeto foi percebida de maneira muito mais representativa do que nas empresas da 2a
FASE (Gráficos 3 e 4). Isto pode ser atribuído à intensidade da relação de parceria entre as
instituições e empresas da 1a fase, conforme pode ser observado a seguir.
822
Gráfico 3 - Evolução do Nível de Faturamento das Empresas da 1ª FASE

)DWXUDPHQWR7RWDO

7%
21% Diminuiu
Não se Alterou
Aumentou
72%

1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD
GR3URMHWR

40% 40% Muita


Pouca e Outra
Outra
20%

B) GERENCIAL E SOCIAL
Questão 1: Evolução do Nível de Qualificação dos Empregados
Gráfico 5 - Análise Quantitativa da Evolução da Qualificação dos Empregados

1tYHOGH4XDOLILFDomRGRV(PSUHJDGRV

29%
Não se Alterou
Aumentou
71%

1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD

GR3URMHWR

14% Nenhuma
7% Pouca
Muita
7%
58% Não se Aplica
14% Outra

823
Análise Qualitativa - interferência de fatores externos nas mudanças observadas:
Ø Programa de vista a outras empresas para saber conhecer novidades; Houve trei-
namento pessoal para novos equipamentos; Por necessidade da empresa; Houve participa-
ção dos empregados em treinamentos e cursos; Constituição de parceria com outras em-
presas que condicionam a capacitação dos funcionários em seu centro de treinamento
Questão 3: Envolvimento da Diretoria com a Proposta da Eficiência Energética
Gráfico 6 - Análise Quantitativa da Evolução do Envolvimento da Diretoria

(QYROYLPHQWRGD'LUHWRULD

7%

Aumentou
Não se Alterou

93%

1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD
GR3URMHWR
7%
14% Muita
Não se Aplica
7% Pouca e outra
72% Outra

Análise Qualitativa - interferência de fatores externos nas mudanças observadas:


Ø Houve necessidade da empresa reduzir custos; Devido ao racionamento do go-
verno e o aumento de tarifa de energia elétrica.
Questão 4: Evolução da Organização Gerencial
Gráfico 7 - Análise Quantitativa da Evolução da Organização Gerencial

2UJDQL]DomR*HUHQFLDO

21%
Não se Alterou
Aumentou

79%

1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD
GR3URMHWR

21%
Nenhuma
43%
Muita
Não se Aplica
Outra
29%
7%

824
Análise Qualitativa - interferência de fatores externos nas mudanças observadas:
Ø A empresa busca conhecer experiências de outras empresas; Houve participação
em treinamentos externos; Devido à expectativa de participar de outros prêmios dentre os
quais o de Qualidade; Parceria com outras empresas do mesmo setor com alto perfil
tecnológico; Valorização do cliente.
Comentários:
Com relação ao envolvimento da diretoria, cabe registrar a grande abrangência do
envolvimento da mesma, responsável direta por todas as decisões tomadas no sentido
de melhorar a sensibilização dos profissionais. A análise mostrou que houve um grande
crescimento percentual (93%) no nível de envolvimento da diretoria com o tema da
eficiência energética, para o qual as iniciativas do projeto teriam sido de grande contri-
buição (72%) (Gráfico 6).
A estratificação da amostra considerando empresas “Unidades de Demonstração” da
1a e 2a FASES indicam percepções diferentes quanto ao nível de contribuição do proje-
to para o nível de envolvimento da diretoria, a exemplo da análise do quesito Faturamento,
e certamente pelas mesmas razões.
Gráfico 8 - Evolução do Nível de Envolvimento das Empresas da 1ª FASE

(QYROYLPHQWRGD'LUHWRULD 1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD
GR3URMHWR

Aumentou
Muita
100%
100%

Gráfico 9 - Evolução do Nível de Envolvimento das Empresas da 2ª FASE

(QYROYLPHQWRGD'LUHWRULD 1tYHOGH,QWHUIHUrQFLD


GR3URMHWR
11%
11% Muita
Aumentou 22% Não se Aplica
Não se Alterou 56% Pouca e outra
89% 11% Outra

825
Gráfico 10 - Análise Quantitativa da Contribuição das Consultorias

3URGXWR&RQVXOWRULDV

7% 7%

Media contribuição

Alta contribuição

Não tem como avaliar


86%

Gráfico 11 - Análise Quantitativa dos Principais Ganhos Esperados

*DQKRVGDUHDOL]DomRGHSURMHWRVGH(ILFLrQFLD
(QHUJpWLFDQDHPSUHVD

12% 11%
11% 13%

5%
8%
9%
6% 11%
14%

Melhoria na relação com o cliente


Introdução de tecnologias mais eficientes
Acesso a novos canais para obtenção de informações
Parceria com instituições, fornecedores e outros setores
Otimização do processo produtivo
Maior acesso a linhas de apoio tecnológico
Maior participação da marca da empresa em publicidade
Contribuição para melhoria do meio ambiente
Melhoria na qualificação do empregado
Aumento da competitividade empresaria

826
Com relação aos resultados esperados das ações de Eficiência Energética, embora se
constate um relativo equilíbrio entre a maioria das expectativas, a otimização do processo
produtivo seguida da introdução de tecnologias mais eficientes são os benefícios esperados
de maior relevância para o conjunto de entrevistados, fato que indica um quadro favorável
para ações de consultoria especializada, dentre as quais as de eficiência energética. Além de
outros benefícios de menor participação, o aumento da competitividade empresarial é
percebido como o terceiro benefício mais esperado da implementação do projeto.
4.3.Valoração dos Impactos dos Impactos do Projeto no Âmbito das Empresas
Na Tabela 3 apresenta-se os resultados da valoração dos impactos referentes às Uds.

Tabela 3 - Valoração dos Impactos Uds

,QGLFDGRUHV
$63(&726
 Impacto

Redução de Emissão de Poluentes


contribuintes para Impacto Global

$PELHQWDLV Redução de Emissão de Poluentes 0,7


contribuintes para Impacto Local

Redução de Uso de Recursos

Geração Empregos

6RFLDLV Melhoria da Saúde dos Funcionários 0,7

Melhoria do Nivel Educacional

Aumento do Faturamento

Redução de Custo

(FRQ{PLFRV Aumento de Mercado 1,2

Aumento de Produtividade

Aumento de Competitividade

7HFQROyJLFRV Introdução de Novas Tecnologias mais Eficientes 2

Melhoria da Gestão
*HUHQFLDLV 2,7
Melhoria do Treinamento de Empregados

2SHUDFLRQDLV Relacionamento com Partes Interessadas 0,1

827
Os índices registrados mostram que o Projeto Conservação de Energia na Pequena e
Média Indústria do Estado do Rio de Janeiro, desenvolvido em Pequenas e Médias Em-
presas, apresentou impactos positivos (em diferentes magnitudes). Observa-se, no entanto,
que os principais benefícios auferidos foram provenientes das mudanças, introduzidas pelo
Projeto, no perfil tecnológico e de gestão da empresa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. Fatores Externos ao Projeto
Observa-se nos gráficos, resultados dos questionários aplicados às empresas, que ocor-
reram diversas mudanças no comportamento destas, acarretadas pelas ações de eficiência
energética do projeto de forma direta ou como seu desdobramento e, também, por fato-
res externos ao projeto. As referidas mudanças são de ordem, gerencial, tecnológica, eco-
nômica, ambiental, operacional, social e energética. Pode-se dizer que as ações de eficiência
energética nas empresas se refletiram em diversas áreas, tornando-se, assim, uma alavanca
para mudanças que vão além da redução do consumo de energia.
Os principais fatores indutores de implementação de medidas de eficiência energética
externos ao projeto “Conservação de Energia nas Pequenas e Médias Indústrias do Rio de
Janeiro” identificados no processo de avaliação dos impactos são: 1)Energético - Raciona-
mento de Energia imposto pelo Governo; 2)Econômico - Aumento de tarifa de energia.
Já os fatores externos indutores de mudanças na empresa relacionados à sua
sustentabilidade são: 1)Racionamento de Energia – acarretou em retração de mercado e
em mudanças no comportamento empresarial, na conscientização dos empregados,
tecnologia utilizada e na oferta de novos produtos; 2) Comportamento de Mercado –
alteração no faturamento e na produção das empresas; aumento de preço e redução de
produção; diversificação da produção; alteração no número de postos de trabalho; 3)
Constituição de parcerias com outras empresas – condicionando a capacitação dos funci-
onários; 4) Elevação do custo dos insumos e dos serviços prestados negócio; 5) Aumento
de concorrência implicou em redução de produção; 6) Diversificação da produção em
face de novas oportunidades que implicaram em aumento do negócio; 7) Aumento da
produção e dos serviços para atender a aumento de demanda somado a necessidade de
redução de custos; 8) Necessidade de atendimento a normas tais como a exigência do
cliente, do SEBRAE que exige que empresas implementem programa de qualidade para
participarem de seus projetos ou de órgãos ambientais, a exemplo de uma das empresas
avaliadas que precisa atender aos requisitos legais ambientais, dentre outros.
5.2. Análise Crítica do Desenvolvimento do Projeto Conservação de Energia e
do Processo de Avaliação dos Impactos
Houve dificuldade em resgatar informações necessárias ao processo de avaliação dos impac-
tos e a avaliação dos cenários de referência12 e projetado com e sem a implementação das
medidas e ações do projeto, pois o projeto Conservação de Energia não adotou como prática
o monitoramento do desenvolvimento dos produtos e das mudanças acarretadas na rotina da

12
Considera-se que para efeito de avaliação dos impactos do projeto é importante avaliar como a empresa estaria
atuando se não houvesse o projeto, ao que se denomina de cenário de referência e como a empresa estaria atuando
em decorrência da implementação do projeto, ao que se denomina de cenário projetado.

828
empresa. Porém, em parte, essa dificuldade é atribuída, também, ao comportamento das PMEs,
pois estas não tem como hábito adotar um sistema de registro de informações relativas à
produção e à outras questões relevantes ao planejamento das atividades da empresa.
Considera-se que a Metodologia adotada para a avaliação dos impactos teve resultado
positivo, fato observado nos resultados da sua aplicação nos produtos do projeto. Porém,
considera-se que o processo de avaliação de impactos, apresentou um escopo muito
abrangente contemplado nas questões formuladas no questionário aplicado nas UDs, o
que aliado às poucas informações obtidas quanto ao comportamento das empresas, difi-
cultou o processo de avaliação quantitativa. A valoração econômica de todos os benefícios
oriundos do Projeto pretendida no início do processo de avaliação, foi prejudicada em
virtude da dificuldade de obtenção de dados quantitativos da empresa.
De acordo com a percepção dos empresários a implementação do projeto permitiu a
obtenção de resultados favoráveis nos aspectos econômico, tecnológico, social e ambiental.
No que diz respeito à sustentabilidade empresarial, houve uma significativa melhoria na
gestão empresarial que propiciou outros resultados positivos, tais como a redução de per-
das, o aumento de mercado e de competitividade empresarial, a redução de impactos
ambientais, o melhor acesso a outras experiências produtivas e gerenciais, o melhor acesso
e uso de novas e mais eficientes tecnologias e a melhoria no ambiente de trabalho, dentre
outros. No aspecto de operacionalidade do projeto, identificou-se que além da melhoria
no relacionamento com o cliente, a empresa passou a ter acesso através de “benchmark” a
melhores práticas implementadas por outras empresas, tendo melhorado também seu re-
lacionamento com as instituições parceiras (GTZ,INT,SEBRAE, SENAI, ELETROBRAS)
e com os consultores do projeto.
Observou-se ao longo deste trabalho que o Projeto de Eficiência Energética exerce
influência na Sustentabilidade Empresarial na medida em que ele provê resultados econô-
micos positivos para a empresa, subsidia a melhoria da sua gestão e de seu relacionamento
com outras instituições e nos aspectos contribuintes para o Desenvolvimento Sustentável,
isto é, identificou-se através da valoração dos impactos do Projeto que a sua implementação
em micro e pequenas empresas contribuiu para a melhoria de gestão das empresas e a
inovação tecnológica e para melhoria de impactos ambientais e sociais.
5.3. Recomendações
Recomenda-se a adoção de procedimento de monitoramento, durante o projeto, dos
impactos das medidas de eficiência energética implantadas nas empresas, como forma de
verificar o desenvolvimento do projeto e possibilitar a valoração econômica dos custos e
benefícios oriundos do Projeto.
Como desdobramento das ações implementadas, recomenda-se que em face dos resul-
tados positivos e relevantes para as empresas propõe-se que eles sejam implementados:
1)em pequena e média empresa de outros estados; 2)em pequena e média empresa de
outros setores. Ressalta-se que dentre as UDs analisadas, as empresas prestadoras de servi-
ço e não apenas as industrias apresentaram resultados positivos; 3)em conjunto com outros
programas desenvolvidos para pequena e média empresa como o de Produção mais Lim-
pa e/ou o de Ecoeficiência; 4) em associação com outros programas como o ESCOS,
neste caso o mercado o mercado no Brasil ainda é pequeno, propõe-se que ele seja
829
implementado na pequena e média empresa através de articulação institucional com o
apoio dos mesmas Instituições que contribuíram para efetividade do Programa aqui
avaliado. Devido ao desinteresse das ESCOS (empresas/consultores que adotam a pro-
posta de assumirem os custos do projeto de eficiência energética e serem remuneradas
por percentual dos resultados econômicos alcançados pelo empresário/cliente proveni-
entes da implantação do projeto) pelo mercado das PMEs, propõe-se que estas formem
grupos de empresas/consultores para que atuem, no âmbito dos grupos de empresas,
em temas específicos. Por exemplo, uma empresa ESCO trabalhando com eficientização
da iluminação e uma outra do processo, como forma de viabilizar o trabalho das ESCOS
em PMEs. Ainda, como desdobramento do projeto, sugere-se que sejam exploradas as
possibilidades de desenvolvimento de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
– MDL, identificando-se os instrumentos de fomento para esse tipo de ação e as opor-
tunidades para as pequenas e médias indústrias no mercado de carbono.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LA ROVERE, E. L., BAPTISTA, N. N., BARATA, M. M. L., et al. Metodologia para Avaliação dos Impactos do Projeto
“Conservação de Energia nas Pequenas e Médias Indústrias do Estado Rio de Janeiro”. Laboratório Interdisciplinar de
Meio Ambiente – LIMA- COPPE-UFRJ. 2004

830
UMA CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE DAS
QUESTÕES INSTITUCIONAIS E
REGULATÓRIAS RELACIONADAS
À EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Jamil Haddad*

1. RESUMO
Este artigo apresenta os recentes marcos regulatórios relacionados à temática Eficiência
Energética incluindo as Leis nº 10.295, de 17 de outubro de 2001, e nº 10.848, de 15 de
março de 2004, que tratam respectivamente do estabelecimento dos níveis máximos de
consumo específico de energia, ou mínimos de eficiência energética, e de alterações da Lei
9.991/2000 sobre os recursos para P&D e uso racional de energia das distribuidoras de
energia do setor elétrico. Também faz parte deste texto alguns comentários e sugestões
visando ao aprimoramento destes instrumentos de regulação.

2. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A REGULAMENTAÇÃO RECENTE


DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Em 1995, com o início da privatização das empresas concessionárias de distribuição de
energia elétrica, o Governo Federal se preocupou em garantir que o setor privado, os
novos proprietários das concessionárias, investisse em eficiência energética. Os primeiros
Contratos de concessão, firmados em 1995, traziam cláusulas específica onde a Concessi-
onária deveria, anualmente, apresentar “plano de ações visando ao incremento da eficiência no uso e na
oferta de energia elétrica, no qual deve constar, obrigatoriamente, ações voltadas para a orientação do uso
racional de energia elétrica por seus consumidores e plano de utilização integrada de recursos na oferta” [1].
Em 06 de agosto de 1997, a Lei nº 9.478 institui o Conselho Nacional de Política Energética
– CNPE, que, entre outras competências, deve “Promover o aproveitamento racional dos recursos
energéticos do País” e “para o exercício de suas atribuições, o CNPE contará com o apoio técnico dos órgãos
reguladores do setor energético”, onde se encaixa a Aneel [2].

*
Professor da Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI - Grupo de Estudos Energéticos (GEE) - Instituto de
Engenharia Elétrica e Energia Telefone: (0xx35) 3629-1174/1400 - E-mail:jamil@iee.efei.br - Av. BPS, 1303 CEP:
37500-903 Itajubá, MG – Brasil

831
Mais adiante, em 06 de outubro de 1997, o Decreto nº 2.335/97 cita como competên-
cia da Aneel “incentivar o combate ao desperdício de energia no que diz respeito a todas as formas de
produção, transmissão, distribuição, comercialização e uso da energia”[2].
Neste sentido, a Aneel buscou aprimorar a cláusula contratual, obrigando o investimento
das Concessionárias em Eficiência Energética e estabelecendo penalidades para àquelas que
não atendessem à obrigação, através da seguinte redação:
“A CONCESSIONÁRIA implementará medidas que tenham por objetivo a conserva-
ção e o combate ao desperdício de energia, bem como a pesquisa e desenvolvimento
tecnológico do setor elétrico, devendo, para tanto, elaborar, para cada ano subseqüente,
programa que contemple a aplicação de recursos de, no mínimo, 1% (um por cento) da
Receita Anual (RA), calculada segundo a Subcláusula Sexta da Cláusula Sétima. Deste mon-
tante, pelo menos 1/4 (um quarto) do valor deverá ser vinculado a ações especificamente
ligadas ao uso final da energia elétrica e, no mínimo, 1/10 (um décimo) ser destinado para
pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor elétrico no Brasil”[2].
“O programa anual previsto na subcláusula anterior deverá ser analisado e aprovado pela
ANEEL até 30 de abril do ano da sua apresentação. O descumprimento das metas físicas,
ainda que parcialmente, sujeitará a CONCESSIONÁRIA à penalidade de multa, limitada esta
ao valor mínimo que deveria ser aplicado conforme subcláusula anterior. Havendo cumpri-
mento das metas físicas sem que tenha sido atingido o percentual mínimo estipulado na
subcláusula anterior, a diferença será obrigatoriamente acrescida ao montante mínimo a ser
aplicado no ano seguinte, com as conseqüentes repercussões nos programas e metas”.
A resolução da ANEEL nº 242/98 estipulou que dos 25% dos recursos a serem aplica-
dos em eficiência, pelo menos 10% deles seriam vinculados a projetos no segmento residencial,
10% no segmento industrial e 10% em prédios públicos. No chamado lado da oferta, que
corresponde aos demais 75% dos recursos, deviam estar vinculados a projetos que visas-
sem à melhoria do fator de carga dos sistemas[1].
O então Manual de Orientação para Elaboração de Projetos conceitua lado da deman-
da e lado da oferta, define projetos de conservação de energia e descreve a tipologia de
projetos que seria aceita para efeito da apropriação dos recursos. Assim, em 1998 iniciou-
se a apresentação, por parte das empresas dos Programas Anuais de Combate ao Desper-
dício de Energia Elétrica, onde são propostas ações de eficiência energética a serem desen-
volvidas pelas empresas, sobre a aprovação e fiscalização da Aneel.
É importante ressaltar que este Manual tinha caráter orientativo e não determinativo,
ou seja, existiam linhas gerais para programas do lado da oferta e do uso final sem
percentuais definidos.
Os Programas apresentados obedecem aos seguintes ciclos de investimentos: 1998/
1999, 1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002, regulados respectivamente pelas Resoluções
Aneel 242, de 24/07/1998; 261 de 03/09/1999; 271, de 19/07/2000 e 394, de 17/09/
2001. Os Programas do ciclo 2002/2003 são regulados pela Resolução Aneel 492, de 03/
09/2002. Além destas, tem-se ainda como destaque a Resolução Aneel 153, de 18/04/
2001, que como decorrência da crise de energia elétrica de 2001, alterou os critérios estabe-
lecidos na Resolução Aneel 271/2000 para os Programas Anuais de Combate ao Desper-
832
dício de Energia Elétrica apresentados durante o Ciclo 2000/2001 e a Resolução Aneel
185, de 21/05/2001, que estabeleceu os critérios e procedimentos para o cálculo dos
valores financeiros para serem aplicados nestes programas. A participação das concessioná-
rias nos Programas Anuais de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica está condicio-
nada à celebração do Contrato de Concessão com a Aneel. Desta forma, no primeiro
Ciclo participaram 17 empresas, 42 no segundo e 64 no ciclo 2000/2001 [1].
Em 02 de dezembro de 1999, a Aneel através da Resolução n0 334, autorizou as conces-
sionárias de serviço público de energia elétrica a desenvolverem projetos visando à melhoria
do fator de carga. Tal medida levou em consideração, além das cláusulas existentes nos
contratos de concessão em vigor, estabelecendo a obrigatoriedade da aplicação de recur-
sos em Programas de Eficiência Energética, os seguintes fatores:
l A necessidade de estimular as concessionárias a desenvolverem produtos e serviços
direcionados a segmentos específicos de seu mercado.
l A importância da participação da sociedade em projetos que visem à economia de
energia elétrica nas horas de maior concentração de carga.
Em 19 de julho de 2000, a Aneel através da Resolução n0 271, estabeleceu os critérios de
aplicação de recursos em ações de combate ao desperdício de energia elétrica e pesquisa e
desenvolvimento tecnológico do setor elétrico brasileiro [1].
Em 24 de julho de 2000, foi sancionada pelo Presidente da República a Lei N o 9.991,
que dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiên-
cia energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do
setor de energia elétrica. Entre os artigos desta importante Lei, tem-se [2], [3]:
Art. 4º Os recursos para pesquisa e desenvolvimento, previstos nos artigos anteriores,
deverão ser distribuídos da seguinte forma:
I – cinqüenta por cento para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - FNDCT, criado pelo Decreto-Lei nº 719, de 31 de julho de 1969, e
restabelecido pela Lei nº 8.172, de 18 de janeiro de 1991;
II – cinqüenta por cento para projetos de pesquisa e desenvolvimento segundo regula-
mentos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL.
§ 1º Para os recursos referidos no inciso I, será criada categoria de programação especí-
fica no âmbito do FNDCT para aplicação no financiamento de programas e pro-
jetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico do setor elétrico, bem
como na eficiência energética no uso final.
§ 2º Entre os programas e projetos de pesquisa científica e tecnológica do setor de
energia elétrica, devem estar incluídos os que tratem da preservação do meio ambi-
ente, da capacitação dos recursos humanos e do desenvolvimento tecnológico.
Art. 5º Os recursos de que trata esta Lei serão aplicados da seguinte forma:
I - os investimentos em eficiência energética, previstos no art. 1º serão aplicados de
acordo com regulamentos estabelecidos pela ANEEL;
II - no mínimo trinta por cento serão destinados a projetos desenvolvidos por institui-
ções de pesquisa sediadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, incluindo as
respectivas áreas das Superintendências Regionais;
833
III - as instituições de pesquisa e desenvolvimento receptoras de recursos deverão ser
nacionais e reconhecidas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT;
IV - as instituições de ensino superior deverão ser credenciadas junto ao Ministério da
Educação – MEC.
3. A LEI DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A política de redução da dependência externa adotada nas décadas de 70 e 80, bem como
o aumento da demanda de energia decorrente do modelo de desenvolvimento com altas
taxas de crescimento no setor industrial, exigiram do setor energético nacional maiores inves-
timentos em energia, absorvendo parcelas crescentes da poupança interna. Os cenários elabo-
rados pela ELETROBRÁS [3], em seus estudos de planejamento, indicam taxas médias de
crescimento do consumo de eletricidade de 5,6% ao ano até 2010 e 3,6% ao ano no período
de 2010 a 2015. É necessário o investimento na ampliação da oferta de energia,mas indepen-
dente de oferecer mais energia, os recursos na área de energia elétrica deverão cada vez mais
ser usados de maneira mais eficiente. Assim, o combate ao desperdício de energia elétrica
ganha suma importância face à urgência do aumento da oferta de energia elétrica, tanto em
termos de resultados de curto prazo, a um custo competitivo em relação à ampliação da
oferta através da construção de novas usinas, quanto em relação ao longo prazo.
A seguir, tem-se o artigo segundo do texto da Lei da Eficiência Energética, Lei nº
10.295, de 17 de outubro de 2001 [2], [4], [5].
Art. 2º O Poder Executivo estabelecerá níveis máximos de consumo específico de ener-
gia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia
fabricados ou comercializados no País, com base em indicadores técnicos pertinentes.
§ 1º Os níveis a que se refere o caput serão estabelecidos com base em valores técnica e
economicamente viáveis, considerando a vida útil das máquinas e aparelhos consu-
midores de energia.
§ 2º Em até 01 (um) ano a partir da publicação destes níveis, será estabelecido um
Programa de Metas para sua progressiva evolução.
Vários países vêm adotando [6], há algum tempo, ações semelhantes às preconizadas na
Lei nº 10.295. Entre eles, pode-se citar o governo japonês que em 1993 efetuou uma
revisão da sua “Lei de Conservação de Energia”, incorporando inicialmente preocupações
ambientais. Em seguida, promulgou-se uma nova lei, a “Lei Complementar da Conserva-
ção de Energia”. A política energética definida por estas leis, trata entre outras questões, da
promoção de equipamentos e sistemas energéticos mais eficientes, estabelecendo programas de financi-
amento e redução de impostos para promover investimentos, por parte da indústria e do
comércio, em equipamentos mais eficientes; aceleração do desenvolvimento e da difusão de tecnologias
de conservação de energia e a promoção de sistema de etiquetagem com relação à conservação de energia em
equipamento. Assim, em 1995 os governos japonês e americano criaram o programa interna-
cional denominado “Energy Star”, estabelecendo padrões de eficiência para equipamentos
de escritórios automatizados. Os setores industrial, comercial e de transportes também
seguiram nesta mesma direção. Várias normas foram estabelecidas com base na lei japone-
sa denominada “Lei da Conservação da Energia”. Tais normas se aplicam à operação de
plantas industriais (por exemplo, a obrigatoriedade do gerenciamento energético da planta
834
ser efetuado por profissionais devidamente capacitados), à construção de edifícios (por
exemplo, a obrigatoriedade de adotar medidas que minimizem as perdas de energia térmi-
ca através das paredes externas, janelas, e utilização de equipamentos de ar condicionado,
sistemas de ventilação, iluminação, etc., eficientes) e à fabricação de equipamentos (padrões
mínimos de eficiência e sistemas de etiquetagem).
Esta lei estabelece, ainda, obrigações para o governo, como envidar esforços no sentido
de propiciar incentivos financeiros, incluindo descontos fiscais, para promover o uso raci-
onal da energia, fomentar P&D nesta área e tomar medidas para aumentar a conscientização
dos consumidores a este respeito. A Lei também define penalidades para o não cumpri-
mento de diversos de seus dispositivos.
Esta legislação já está sendo aplicada aos motores elétricos trifásicos conforme decreto
nº 4.508, de 11 de dezembro de 2002 [4]. Foi também elaborado a pedido do MME, um
plano intitulado “Plano de Ação Visando a Implementação da Lei de Eficiência Energética”[5]. O
objetivo deste plano foi estabelecer os subsídios necessários à confecção dos Termos de
Referência para desenvolver os estudos necessários a efetiva implementação da Lei de
Eficiência Energética. Também foi instituído o Comitê Gestor dos Indicadores de Eficiên-
cia Energética (CGIEE) responsável, entre outras ações, pela elaboração das regulamenta-
ções específicas para cada tipo de aparelho consumidor de energia.
4. A LEI Nº 10.848, DE 2004
Esta Lei, de 15 de março de 2004 [2], provocou novas alterações na distribuição dos
recursos relativo aos 1% que as empresas de energia elétrica devem aplicar em programas
de conservação de energia e P&D no setor elétrico. A seguir têm-se os artigos que altera-
ram a Lei no 9.991, de 24 de julho de 2000. Art. 12. Os arts. 4º e 5º da Lei no 9.991, de 24
de julho de 2000, passam a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 4º ............................................................................
I - 40% (quarenta por cento) para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – FNDCT, criado pelo Decreto-Lei nº 719, de 31 de julho de 1969, e
restabelecido pela Lei nº 8.172, de 18 de janeiro de 1991;
II - 40% (quarenta por cento) para projetos de pesquisa e desenvolvimento, segundo
regulamentos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL;
III - 20% (vinte por cento) para o MME, a fim de custear os estudos e pesquisas de
planejamento da expansão do sistema energético, bem como os de inventário e de
viabilidade necessários ao aproveitamento dos potenciais hidrelétricos.
............................................................................”.
“Art. 5º ............................................................................
............................................................................
II - no mínimo 30% (trinta por cento) dos recursos referidos nos incisos I, II e III do
art. 4º desta Lei serão destinados a projetos desenvolvidos por instituições de pes-
quisa sediadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, incluindo as respectivas
áreas das Superintendências Regionais;
............................................................................”.
835
5. COMENTÁRIOS SOBRE A REGULAÇÃO DA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA E SUGESTÕES PARA O SEU APRIMORAMENTO
A lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001, no seu artigo 2º, destaca que o estabeleci-
mento dos níveis máximos de consumo específico de energia, ou mínimo de eficiência
energética, dos equipamentos e máquinas, será realizado com base em valores técnica e
economicamente viáveis. Para o atendimento desta condição é necessário reunir um con-
junto de informações relacionadas ao mercado do equipamento em análise, tarefa que às
vezes se revela de enorme dificuldade em face da competição existente em alguns setores
entre os diversos fabricantes. Como exemplo destes dados de mercado, para um dado
equipamento, podemos citar o volume anual de vendas (mercado interno e externo); o
volume anual de produção (incluindo também as possíveis importações); rede de distri-
buição (estratégias de transporte, vendas para pequenos e grandes varejistas, vendas por
internet, margens de lucro, etc); custos associados à produção, distribuição e vendas;
informações relacionadas a marcas, patentes; estágio tecnológico atual e possibilidades
de avanço incluindo os custos econômicos correspondentes.
Naturalmente nem todas as informações serão possíveis de serem obtidas. É importan-
te também desenvolver análises que possam avaliar as conseqüências no mercado (aumen-
to/redução nas vendas, aceitação dos consumidores por extrato sócio econômico, etc)
quando da entrada em vigor de determinados níveis máximos de consumo específico de
energia. Mesmo porque, associado a este e outros programas que dependem da participa-
ção do consumidor final, para o seu êxito também continua valendo a lei de mercado
relativo à oferta e procura. A implementação da Lei de Eficiência Energética deve promo-
ver transformações no mercado, com a entrada no médio e longo prazo de produtos com
inovações tecnológicas decorrentes dos equipamentos mais eficientes energeticamente. O
estabelecimento dos níveis máximos de consumo específico de energia e o Programa de
Metas são os fatores que possibilitarão, na prática, motivar o desenvolvimento e
implementação destes avanços tecnológicos. Mas, questões como barreiras técnicas, custo
de desenvolvimento e produção, rede de distribuição, operação e manutenção, são alguns
fatores que podem dificultar a implementação das tecnologias mais eficientes.
Outras áreas e setores da sociedade podem se beneficiar com os resultados da aplica-
ção da lei. Assim, por exemplo, quando se estimula um aperfeiçoamento tecnológico
objetivando um consumo menor de energia numa máquina de lavar roupa, pode-se
obter como conseqüência, um menor consumo de água. No desenvolvimento tecnológico
de lâmpadas fluorescentes compactas, é possível alcançar ótimos resultados tanto para a
eficiência luminosa como se obter um produto que não gere distorções para a rede de
distribuição de energia, como harmônicas de corrente elétrica.
Estas inovações tecnológicas também podem trazer benefícios para o meio ambi-
ente, como o desenvolvimento de refrigeradores eficientes livres de CFC. Programa
semelhante a este se iniciou na China em 1989, com o apoio da Agência Norte Ame-
ricana de Meio Ambiente (EPA), visando desenvolver um refrigerador que consu-
misse 45% menos energia e que fosse livre de CFC [5].
Os recursos financeiros para os investimentos necessários podem vir das próprias em-
presas privadas, motivadas pela competição em busca de fatias maiores dos mercados
interno e externo, ou fazer parte de uma política governamental de estímulo e incentivo ao
desenvolvimento tecnológico nacional.
836
Além dos aspectos técnicos anteriormente mencionados, tem-se também uma motiva-
ção econômica para se atingir os objetivos almejados com a implementação da Lei de
Eficiência Energética. Esta questão de ordem econômica está relacionada, em última análi-
se, às economias de energia decorrentes do emprego de equipamentos mais eficientes e ao
custo desta energia. Neste aspecto, em particular, o Brasil presenciou nos últimos meses, o
custo da energia atingir valores elevados em função do racionamento energético. Além
desta questão particular, mas não menos importante, deve-se analisar para cada nível máxi-
mo de consumo específico de energia estabelecido, de determinado equipamento, as redu-
ções na energia gerada e distribuída, com os respectivos custos associados.
A Lei de Eficiência Energética pode ter seus resultados potencializados na medida que
houver uma articulação com outras ações governamentais, como na área econômica (atra-
vés de linhas de financiamento ou incentivos) ou na área tecnológica (apoio à pesquisa,
implantação de laboratórios, etc). A comercialização de equipamentos que atendam os
níveis máximos de consumo específico de energia pode-se converter em um entrave co-
mercial a entrada de produtos ineficientes energeticamente. Se por um lado esta atitude
revela-se correta e adequada pode também ser interpretada pelos outros países como uma
barreira comercial aos seus produtos. É necessário obter informações dos organismos
internacionais, como a Organização Mundial do Comércio, sobre as interpretações e deci-
sões legais relativas a esta situação. Recomenda-se também uma avaliação sobre as medidas
colocadas em prática em outros países com programas semelhantes a este e suas conseqü-
ências envolvendo o comércio com outros países. Análise equivalente pode ser realizada
quando se trata do comércio interno: as reações dos fabricantes e das respectivas associa-
ções de classe, as barreiras encontradas e a forma como foram superadas e as políticas
públicas adotadas para colaborar na implantação de programas semelhantes. Estas políticas
públicas podem envolver aspectos comerciais, industriais e de desenvolvimento tecnológico,
como incentivar as compras de equipamentos eficientes por parte das empresas públicas.
Os Programas de Eficiência Energética desenvolvidos pelas concessionárias de energia
elétrica tiveram um processo regulatório dinâmico onde os procedimentos a serem obser-
vados foram sendo estabelecidos em cada ciclo através das Resoluções da Aneel. Assim, no
primeiro ciclo 98/99 tinha-se um Manual orientativo e não determinativo, ou seja, existiam
linhas gerais para programas do lado da oferta e do uso final sem percentuais definidos.
No segundo ciclo 99/00, o Manual possuía um caráter determinativo, ou seja, existiam
regras claras para programas do lado da oferta e do uso final com percentuais bem defini-
dos. Introduziu-se a figura de projetos piloto e plurianual (sem prazo determinado). Tam-
bém foram introduzidas tipologias de projetos tanto para o lado da oferta como uso final.
A partir deste ciclo também foi alterada a metodologia para cálculo da Relação Custo
Benefício (RCB), adotando-se agora o método dos custos unitários evitados em substitui-
ção ao método até então utilizado dos custos marginais.
No terceiro ciclo 00/01 é possível caracterizar duas etapas. Uma Primeira Etapa (Reso-
lução ANEEL No 271/00) com manual determinativo, ou seja, existiam regras claras para
programas do lado do uso final com percentuais bem definidos e com obrigatoriedade de
apresentação de relatórios intermediários por parte das empresas de energia elétrica. Uma
Segunda Etapa (Resolução ANEEL No 153/01 e Resolução ANEEL No 185/01) ca-
racterizada pela crise de energia elétrica (racionamento), onde a Aneel publicou resoluções
alterando o foco dos projetos obrigando algumas empresas, sob certas condições, a doa-
837
ção de lâmpadas para consumidores de baixo poder aquisitivo. No quarto ciclo 01/02, o
percentual de viabilidade dos projetos considerando a relação custo benefício (RCB) redu-
ziu de 1,0 para 0,85. O Manual continuou determinativo, mas com mudanças substanciais
nas regras existentes. Foram proibidos os projetos do lado da oferta e de marketing institucional
(ficando aceitos os gastos com marketing dentro dos projetos), mudou-se o enfoque dos
projetos de educação e surgiu a figura do contrato de desempenho sem regras claras e
definidas. Também foram proibidos projetos do tipo capacitação e treinamento, ocorre-
ram novas mudanças nos projetos de educação (aumentando sua abrangência) e também
nos projetos envolvendo contrato de desempenho com regras mais claras. Foi introduzido
o tipo de projeto “Diagnóstico energético”.
A Lei nº 10.295, a cláusula contratual determinando investimentos das distribuidoras de
energia elétrica em eficiência energética e a Lei nº 9.991 são instrumentos legais e institucionais
de grande valor que vem preencher uma lacuna e ao mesmo tempo contribuir no combate
ao desperdício de energia no Brasil. Apesar das circunstâncias recentes, como o racionamento
de 2001/2002, é importante ressaltar que a eficiência energética não pode estar vinculada
apenas a questões conjunturais, mas deve ser uma finalidade e prática da Política Energética
Nacional, através de ações que visem, por exemplo, agregar valor e desenvolver tecnologia,
preservando o meio ambiente e introduzindo, no mercado nacional, produtos de maior
eficiência energética. Não se pode agora, em um momento onde um cenário de oferta de
energia supera a demanda, abandonarmos tais ações e, de alguma forma, direta ou indireta-
mente, favorecer o desperdício e retroceder nos hábitos saudáveis adquiridos. Os recentes
indicadores refletem que significativa parcela da população, sabiamente, insiste em manter
atitudes que demonstram um emprego mais racional da energia elétrica. É o momento sim
de continuar tais programas e ações para consolidar, não apenas nesta geração, mas nas pró-
ximas, tais hábitos e consciência energética. Na avenida aberta pela crise de energia e pela
resposta dada pela nossa sociedade, é possível agregar à eficiência energética, ações ambientais
e outros programas de uso racional, como por exemplo, o da água. Não sejamos todos, mas
principalmente nossos governantes e políticos, formuladores e implementadores de políticas
motivados apenas por resultados de curto prazo. Antever problemas e crises futuras e come-
çar a solucioná-las no presente é uma das características que diferencia os grandes governantes
e estadistas da grande maioria e quase totalidade dos demais dirigentes.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica; Site da Web; 2004.
(2) SENADO FEDERAL- Site da Web; 2004.
(3) ELETROBRÁS/PROCEL – Site da Web;2004.
(4) MDIC/INMETRO – Site da Web;2004.
(5) MME – Site da Web;2004
(6) Haddad, Jamil ett all. “Eficiência Energética: Integrando Usos e Reduzindo Desperdícios ”, ANEEL; ANP; MCT e PNUD,
Editora Designum; Rio de Janeiro, 1a Edição, - RJ, 1999.

838
REDUÇÃO NO CONSUMO DE GASOLINA
PELA INTRODUÇÃO DE UMA FROTA DE
VEÍCULOS NOVOS COM CÉLULAS A
COMBUSTÍVELE ESTIMATIVA DO VOLUME
DE HIDROGÊNIO PARA ABASTECER ESTA
FROTA – ESTUDO DE CASO PARA A
CIDADE DE SÃO PAULO

Paula Duarte Araújo*


Ennio Peres da Silva**
Cristiane Peres Bergamini***

1 – RESUMO
O consumo elevado de combustíveis fósseis nos dias atuais é o resultado da produ-
ção em massa de veículos. Além do aumento da demanda por este tipo de combustí-
vel, o aumento do número de veículos também é apontado como sendo a principal
fonte de emissões de poluentes nos grandes centros urbanos. Pesquisas em todo o
mundo indicam, no longo prazo, a utilização de veículos com células a combustível
como sendo a solução para estes dois problemas.
Assim o objetivo deste artigo é analisar os impactos na matriz de combustível na
cidade de São Paulo caso a frota de veículos leves novos fosse substituída por veículos
leves com células a combustível. Para isso foram desenvolvidos três cenários com carac-
terísticas diferentes para a introdução desses veículos.

*
paulaart@fem.unicamp.br - Msc.
**
lh2ennio@ifi.unicamp.br - Prof. Dr.
***
criperes@ifi.unicamp.br
Endereço: Laboratório de Hidrogênio - UNICAMP - Cidade Universitária “Zeferino Vaz” Caixa Postal 6039 - Distrito
de Barão Geraldo – Campinas SP - CEP 13083-858 - Tel.: (019) 3289-1860 / (019) 3788-2073

839
2 - INTRODUÇÃO
Devido à grande disponibilidade e à facilidade no uso final propiciada por grandes
desenvolvimentos tecnológicos no aproveitamento dos combustíveis fósseis, principalmente
no caso dos derivados do petróleo, eles se tornaram um dos recursos mais importantes
para as sociedades desenvolvidas. Atualmente, 80% de toda a energia aproveitada pela
humanidade tem origem nestes recursos finitos, como mostrado na figura 2.1.

Figura 2.1 – Produção mundial de energia primária por fonte em 2001

Gás
21,2% Petróleo
35,0%
Nuclear
6,9%

Hidráulica
2,2%

Combustíveis
Carvão
Renováveis e
Outros * 23,3%
Vapor
0,5%
10,9%
Inclui a geotérmica, solar, eólica, etc.
*

Fonte: IEA, 2003

O petróleo tem sido a fonte de energia primária dominante, sendo que cerca de 57% de
todo o petróleo consumido no mundo (IEA, 2003) destina-se ao setor de transporte,
conforme indicado na figura 2.2.

Figura 2.2 - Consumo mundial de petróleo por setor em 2001

Indústria
Uso não 19,7%
Energético
6,2%

Transporte
Outros Setores* 57,0%
17,1%

*compreende o setor agrícola, comercial, serviços público, residencial e não residencial.


Fonte: IEA, 2003

840
No Brasil, diferindo do que ocorre no mundo, a produção de energia elétrica é princi-
palmente de origem hidráulica (MME, 2002). Porém, pode-se observar o aumento do
consumo de derivados de petróleo no país como indicado na figura 2.3.

Figura 2.3 - Consumo final de energia no Brasil por fonte.

30000
25000

3 20000
(
W 15000


10000
5000
0
$QRV
1996

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001
Ó l e o D ie s e l G a s o lin a A u t o m o t i v a
Á lc o o l A n id r o Á lc o o l H id r a t a d o
O u tr a s

Fonte: MME, 2002

Este aumento de consumo por combustíveis fósseis é devido principalmente ao setor


de transporte, no qual o segmento rodoviário é o maior consumidor de energia,
correspondendo a 90% do total (MME, 2002). Os principais combustíveis utilizados
neste setor são indicados na figura 2.4.

Figura 2.4 - Consumo de combustível pelo setor de transporte no Brasil

60

50

40

30
20

10

0
1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
$QRV
Gás Natural Bagaço de Cana Lenha
Eletricidade Álcool Etílico Derivados de Petróleo
Outras

Fonte: MME, 2002

841
O consumo elevado de energia do petróleo nos dias atuais é o resultado da produção
em massa de veículos no início do Século XX, que teve como conseqüência um rápido
crescimento na demanda de petróleo combustível (Hirao & Pefley, 1988). Um maior
número de veículos aliados ao uso de combustíveis derivados do petróleo significou o
aumento de poluição atmosférica devido aos gases de escapamento dos automóveis.
A figura 2.5 mostra como a frota mundial de veículos automotores cresceu no perío-
do de 1991 a 2000.
Figura 2.5 - Frota mundial de veículos automotores 1990 a 2000

7500

VH 7250
GD 7000
GL 6750
QX
H 6500
GV
H} 6250
KLO 6000
05750
5500
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
$QRV
Fonte: ANFAVEA, 2003

No Brasil o número de veículos em circulação passou de 3 milhões em 1970, para


cerca de 29 milhões em 2001, sendo 68% constituídos por automóveis (Secretária do
Estado do Meio Ambiente SP, 2003). Segundo dados da Associação Nacional dos Fa-
bricantes de Veículos Automotores - ANFAVEA (2003), no ano de 2002 a venda de
automóveis representou 81% do total de veículos vendidos no Brasil. A figura 2.6 mos-
tra a curva de vendas internas para o período de 1957 a 2002.
Figura 2.6 - Vendas internas (nacionais e importados) no Brasil – 1957/2002

1700

 1500
[V 1300
RO
XF 1100
tH 900
YH 700
G
RU 500
H 300
P
~1 100
-100
57
59
61
63
65
67
69
71
73
75
77
79
81
83
85
87
89
91
93
95
97
99
01

$QRV
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20

Automóveis Comerciais Leves Caminhões Ônibus

Fonte: ANFAVEA, 2003

842
3 - Consumo de combustíveis na cidade de São Paulo
A história do crescimento urbano de São Paulo tem sido marcada pela falta de priorização
de transportes coletivos de qualidade. Ao longo das décadas, o transporte individual foi se
tornando uma opção natural, devido não só à insuficiência do transporte público, mas
como também ao acesso facilitado do uso e aquisição do automóvel. Conseqüentemente,
a proporção do número de carros por habitante cresceu de 1/40 na década de quarenta
para quase 1/2 nos anos noventa (Saldiva, Braga & Pereira, 2001).
A tabela 3.1 apresenta a composição da frota de veículos licenciados1 na cidade de São
Paulo para o período de 1995 a 2002.

Tabela 3.1 - Composição da frota de veículos para a cidade de São Paulo.

        

$XWRPyYHLV 3.816.78 4.114.4 4.224.48


3.641.102 37.44.293 3.747.475 3.870.764 3.975.301
/HYHV 5 60 7
&DPLRQHWDV 337.124 362.157 369.397 381.896 395.518 418.394 434.144 431.698
&DPLQK}HV 142.636 145.614 139.646 161.756 162.909 164.463 166.547 167.689
ÐQLEXV 45.658 49.887 48.235 51.970 54.265 57.172 60.351 62.434
5HERTXHV 0 0 53.030 53.801 54.169 54.753 55.820 56.893
6HPL
0 0 11.129 12.402 13.202 14.395 15.894 16.872
UHERTXHV

0RWRV 276.587 287.834 297.031 317.517 342.333 371.029 400.294 431.637


$OXJXHO
0 0 47.329 47.155 46.245 45.664 45.391 38.839
/HYH

4.843.28 5.292.9 5.430.54


7RWDO 4.443.107 4.589.785 4.713.272 4.939.405 5.101.171
2 01 9
Fonte: CETESB, 2003

Conclui-se através da tabela 3.1 que 78% dos veículos que estão licenciados no ano de
2002 na cidade de São Paulo são automóveis, enquanto apenas 11% da frota é formada
por ônibus. Isto comprova a preferência atual dos usuários pelo transporte particular.
O Brasil é o único país no mundo que possui uma frota veicular que utiliza etanol
em larga escala como combustível. Os veículos movidos a etanol hidratado represen-
tam 17,2% da frota da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e os movidos a
gasolina C (mistura 22% de etanol e 78% de gasolina) representam 76,3%, sendo, que
a fatia do álcool corresponde a 34% do combustível consumido. Já os veículos movi-
dos a óleo Diesel representam 6,5% da frota.
A figura 3.1 mostra a evolução da quantidade dos automóveis na cidade de São
Paulo em função do combustível utilizado. Percebe-se o declínio do veículo a álcool
em detrimento dos veículos a gasolina (basicamente 80% da frota em 2002 utilizava
como combustível a gasolina).

1
A frota não se refere aos veículos que circulam diariamente na cidade de São Paulo e sim a frota que está
registrada nesta cidade

843
Figura 3.1 - Evolução da frota de automóveis por tipo de combustível na cidade de São
Paulo
48
V 42
ORX 36
Ft 30
HY
H  24
G [18
RU 12
H
P
~1 6
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
$QRV
Álcool Gasolina Total

Fonte: CETESB, 2003

Neste trabalho não está sendo considerada a frota de veículos leves a gás natural veicular
(GNV) devido principalmente à falta de dados dos veículos licenciados (na maioria das
vezes são veículos a gasolina ou a álcool que foram convertidos para GNV) e também pela
falta de dados mais precisos sobre o consumo de GNV na cidade de São Paulo.
Na tabela 3.2 é apresentado consumo de combustíveis na cidade de São Paulo. O
reflexo do menor número de automóveis a álcool é percebido no consumo que apresen-
ta uma tendência de queda a partir de 1996. O consumo de gasolina vem mantendo um
crescimento constante, acompanhando o crescimento desta frota de veículos. A tabela
3.4 também apresenta o consumo de combustíveis em termos energéticos. O consumo
de gasolina na cidade de São Paulo representa 57% do consumo no Estado de São Paulo
para o ano de 2001, enquanto que o de álcool foi de apenas 20%.
Tabela 3.2 - Vendas de combustíveis na cidade de São Paulo2
 *DVROLQD ÈOFRRO+LGUDWDGR
$QR (L) GJ (L) GJ
1990 1.610.058.926 56.126.654 1.910.624.264 43.027.258
1991 1.793.062.050 62.506.143 1.732.433.533 39.014.403
1992 1.833.744.808 63.924.344 1.657.043.516 37.316.620
1993 1.898.006.572 66.164.509 1.606.719.748 36.183.329
1994 1.955.342.787 68.163.250 1.541.060.232 34.704.676
1995 2.228.200.406 77.675.066 1.447.014.430 32.586.765
1996 2.567.458.810 89.501.614 1.395.849.009 31.434.520
1997 2.619.076.755 91.301.016 1.276.470.816 28.746.123
1998 2.725.435.409 95.008.678 1.101.140.290 24.797.679
1999 2.842.288.186 99.082.166 953.778.141 21.479.084
2000 2.918.874.536 101.751.966 823.700.200 18.549.729
2001 3.052.032.554 106.393.855 731.693.685 16.477.742

LOPES, José. Informação sobre o consumo de gasolina e álcool na cidade de São Paulo.[mensagem pessoal].
2

Mensagem recebida por paulaart@fem.unicamp.br em 27 junho 2003.

844
Observar que os dados são de venda, não significando exatamente consumo na cidade de
São Paulo, pois há um intenso tráfego de veículos de outras regiões diariamente pela cidade.
4 - Metodologia
Este trabalho propõe a substituição de veículos novos a gasolina por veículos com
células a combustível a hidrogênio. Para verificar as reduções obtidas por meio desta
substituição primeiro projetou-se a frota de veículos a gasolina e a álcool até o ano de
2020, a seguir foram desenvolvidos três cenários (Araújo, 2004):
Cenário A - ou cenário tendencial, onde não será adotada nenhuma modificação
nos veículos de combustão interna a gasolina ou a álcool. Este cenário servirá de
base para o desenvolvimento dos outros dois cenários.
A frota projetada de veículos a álcool permanecerá a mesma para todos os cená-
rios, pois o álcool é um combustível renovável com menores emissões de poluentes
que a gasolina. Portanto, a partir do Cenário B apenas os veículos novos a gasolina
são substituídos pelos veículos com células a combustível.
Cenário B - cenário para introdução dos veículos com células a combustível na
cidade de São Paulo em substituição aos veículos de combustão interna. Serão utili-
zados os índices de introdução propostos para Los Angeles, Califórnia (Araújo, 2004).
Cenário C - cenário realista para a cidade de São Paulo. O percentual de veículos
com células a combustível a ser introduzido na cidade de São Paulo baseia-se no
percentual do cenário B, porém ele foi corrigido por um fator igual a 3,67 que é a
razão entre o PIB de 2000 para a região metropolitana de Los Angeles e o PIB da
Região Metropolitana de São Paulo para o mesmo ano (Araújo, 2004).
Para fazer uma análise comparativa em termos de consumo de combustível, optou-se
por fazer uma comparação individual veículo a veículo, para depois fazer uma projeção de
frota. Para isto foram escolhidos dois modelos: um veículo de combustão interna a gaso-
lina e outro veículo com célula a combustível a hidrogênio.
O veículo de combustão interna escolhido foi o Gol Trend 1.0 versão 2002 da
Volkswagem, enquanto que o veículo com célula a combustível escolhido foi o mo-
delo FCX da Honda. Este veículo foi o primeiro com célula a combustível a ser
certificado pela US Environmental Protection Agency (EPA, 2003) como veículo
sem emissão (emissions-free) em novembro de 2002. As características do Gol Trend
1.0 e do Honda FCX são apresentados na tabela 4.1 e na tabela 4.2 estão os dados
de consumo de combustível para 2002.

845
Tabela 4.1 - Principais características

 *2/7UHQG +RQGD)&;

Motor Combustão interna 1.0 Elétrico, CA assíncrono

Potência 65 cv a 6000 rpm 60 kW

Torque 892 Nm a 4500 rpm 272 Nm

Combustível gasolina hidrogênio comprimido

Tanque 51 L 3,75kg a 345 bar*

Velocidade máx. 157 km/h 150 km/h

Consumo cidade 13,6 km/litro 82 km/kg

Consumo estrada 16,8 km/litro 77 km/kg

Autonomia máx. 694 km 355 km


1 kg de hidrogênio contém energia equivalente a 3,78 litros de gasolina.
*

Fonte: VW, 200; Honda, 2003.

Tabela 4.2 - Consumo de combustível

9HtFXOR &RPEXVWtYHO .P &RQVXPR &RQVXPR &RQVXPR


DQXDO QDFLGDGH DQXDO HQHUJpWLFR

22.000 1.618 litros de


Gol Trend Gasolina 13,6 km/l 56.391 GJ
km* gasolina

Honda 22.000
Hidrogênio 82 km/kg 288kg H2 38 GJ
FCX km*

22.000
Flex -fuel Álcool 9,4 km/l
km*

*dados CETESB para veículos novos


Fonte: Araújo, 2004

846
5 - Consumo de combustível para as frotas projetadas de veículos com células a com-
bustível na Cidade de São Paulo – 2020
A tabela 5.1 apresenta a composição da frota no ano de 2020 para os cenários
propostos no item anterior.

Tabela 5.1 - Composição da frota de veículos em 2020

 *DVROLQD ÈOFRRO +LGURJrQLR 7RWDO

Cenário A 5.762.422 266.526 0 6.028.948

Cenário B 5.596.695 266.526 165.727 6.028.948

Cenário C 5.717.311 266.526 45.111 6.028.948

Fonte: Araújo, 2004

O consumo de combustível foi calculado a partir das informações contidas na Tabela


4.2 para o veículo a gasolina (Gol Trend) e para o veículo com célula a combustível
(Honda FCX). Já o consumo de álcool hidratado para a frota de veículos a álcool foi
calculado a partir de informações para um veículo flex-fuel lançado em 2003 pela
Volkswagem. Considerou-se que um veículo a álcool percorre na cidade 9,4 quilômetros
por litro de álcool. Os resultados para consumo de combustível nos vários cenários
propostos se encontram na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 - Consumo de combustível para os cenários na cidade de São Paulo - 2020

 *DVROLQD +LGURJrQLR ÈOFRRO

m3 GJ m3 GJ m3 GJ

Cenário A 5.314.447 185.261.633 - - 263.634 5.937.037

Cenário B 5.171.114 180.265.048 264.724.842 3.375.665 263.634 5.937.037

Cenário C 5.275.432 183.901.563 72.058.102 918.856 263.634 5.937.037

Fonte: Araújo, 2004

847
6 - Consumo de energia para a produção de hidrogênio via eletrólise para as
frotas projetadas de veículos com células a combustível na Cidade de São
Paulo – 2020
Uma das formas mais conhecidas de produção de hidrogênio é a eletrólise que consiste
na quebra da molécula de água através da passagem de uma corrente elétrica, liberando
seus elementos estruturais: o hidrogênio e o oxigênio.
Para dimensionar a quantidade de energia hidráulica requerida utiliza-se como referência
um eletrolisador com consumo específico de energia (CEE) de 4,4 kWh/Nm3 (Souza,
1998). A energia hidráulica (EH) será calculada através da Equação 01:
EH = CEE * VH (Eq. 01)
onde VH é o volume de hidrogênio consumido durante o ano. A potência média (PM)
requerida ao ano é calculada segundo a Equação 02:
PM = EH / TU (Eq. 02)
onde TU é o tempo de utilização do equipamento tomado como igual a 8.760 horas.
As potências requeridas para a produção de hidrogênio para os Cenários B e C são
apresentadas na Tabela 6.1.

Tabela 6.1 - Consumo de energia requerido para a produção de


hidrogênio a ser consumido pela frota projetada nos cenários de introdução
dos veículos com células a combustível.

3RWrQFLDPpGLD
&RQVXPRGH+ (QHUJLDKLGUiXOLFD
   DQXDOUHTXHULGD
 1P DQR  *:K 
0: 

&HQiULR$ nc nc nc

&HQiULR% 26,5 1.165 133

&HQiULR& 7,2 317 36


Fonte: Araújo, 2004

7 - Conclusões
A matriz de combustível da cidade de São Paulo apresenta uma queda no consumo de
gasolina no período considerado, porém este consumo ainda permanece alto mesmo com
a introdução dos veículos com células a combustível a hidrogênio, uma vez que a participa-
ção destes veículos em ambos os cenários considerados é relativamente pequena.
Para a produção de hidrogênio via eletrólise a potência média anual requerida para
o Cenário B equivale à produção da Usina Hidrelétrica de Ibitinga (SP) que é de 131,5
MW. O Cenário C equivale a Usina de Salto de Carioba de 36,2 MW. Esta é uma
potência equivalente a uma PCH, cujo valor limite é de 30 MW. Estes números permi-
848
tem concluir que para a introdução de frotas pequenas e de forma gradual de veículos
com células a combustível não se criará impactos ambientais significativos para o abas-
tecimento dos mesmos.
Caso se considere um cenário radical para a substituição da frota, onde fossem
substituídos todos os veículos novos a gasolina por veículos células a combustível
(Araújo, 2004), Cenário D, a frota a gasolina na cidade de São Paulo sofreria uma
redução de 25%, comparando-se com o Cenário A.
Para este Cenário a matriz de combustível apresentaria uma redução de aproximada-
mente 23% no consumo de gasolina. Por outro lado o consumo de hidrogênio aumen-
taria significativamente. Seria necessário uma potência média anual de 4.500 MW para a
produção de hidrogênio, que é equivalente a potência média anual da Usina Hidrelétrica
de Tucuruí, a segunda maior usina hidrelétrica do País. Uma usina deste porte além de
apresentar um alto custo para a sua construção, também leva 15 anos ou mais para entrar
em operação, além de causar grandes impactos ambientais no local da sua implantação.
Portanto, o cenário C é o cenário que apresenta as melhores condições de ser im-
plantado na cidade de São Paulo, pois além de ser o mais realista do ponto de vista da
capacidade econômica de investimento, também torna possível o abastecimento destes
veículos sem causar grandes impactos para a produção de hidrogênio.

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANFAVEA. Anuário Estatístico da Industria Automobilística Brasileira 2003.
ARAÚJO, Paula Duarte. Impactos ambientais e na matriz de consumo de combustíveis pela introdução de uma
frota de veículos leves com células a combustível na cidade de São Paulo – SP. 2004. 144p. Dissertação (Mestrado)
– Faculdade de Engenharia Mecânica, UNICAMP, São Paulo.
CETESB. Relatório de qualidade do ar no Estado de São Paulo 2002. 18 ed. São Paulo: CETESB, 2003. 112 p.
Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/relatorios/relatorios.asp>. Acesso em: 10 fev. 2003.
EPA. EPA fuel cell vehicle testing. Technical Highlights, Feb. 2003. Disponível em: <http://www.epa.gov/otaq/
fuelcell/testing.htm>. Acesso em: 20 jun. 2003.
HIRAO, Osamu; PEFLEY, Richard K. Present and future automotive fuel: performace and exhaust clarification.
New York: Jonh Wiley & Sons Inc.,1988. p. 03-59.
HONDA. 2003 Honda FCX prices and EPA data. Jun. 2003. Disponível em: <http://www.hondanews.com/
forms/honda/fcx>. Acesso em: 05 ago. 2003.
IEA. Key World Energy Statistics 2003. Disponível em: <http://www.iea.org/statist/key2003.pdf>. Acesso em:
em 25 out. 2003.
MME. Balanço Energético Nacional 2002. Brasília, 2003.
SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento, BRAGA, Alfesio, PEREIRA, Luiz Alberto Amador. Poluição Atmosférica
e seus Efeitos na Saúde Humana. In: Sustentabilidade na geração e uso de energia no Brasil: Os próximos 20 anos.
2001,Unicamp. Anais....CD-RO.
SECRETÁRIA DO ESTADO DO MEIO AMBIENTE SP. Agenda 21 em/in São Paulo. 2003. Disponível em:
<http://ambiente.sp.gov.br>. Acesso em 02 set. 2003.
SOUZA, Samuel Nelson Melegari de. Aproveitamento da energia hidráulica secundária para produção de
hidrogênio eletrolítico. 1998.189 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual
de Campinas, Campinas.
VW. O Gol. Disponível em: <http://www.volkswagen.com.br/automóveis>. Acesso em: 17 set. 2003.

849
ÍNDICE DE DESEMPENHO ENERGÉTICO
EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

Patrícia Romeiro da Silva Jota1


Renata Pietra Papa2
Karla Louise Fabrini3

RESUMO
O uso racional da energia elétrica é uma necessidade mundial. As edificações são respon-
sáveis por uma importante parcela da energia utilizada no mundo. Um índice importante
na determinação do uso da energia na edificação é o consumo específico. O consumo
específico é calculado como sendo a razão entre o consumo mensal e alguma quantidade
de produto produzido no período avaliado. Porém, para edificações climatizadas artificial-
mente, não existe, ainda, um índice que seja representativo. Este trabalho busca determinar
um consumo específico que leve em consideração a variação de temperatura para melhor
caracterizar a variação no consumo energético. Para realizar este estudo tomou-se como
base uma edificação pública que possui ar condicionado e os dados de dois anos foram
avaliados. Os resultados indicam a adequação do índice proposto.
Palavras-chave - Eficiência energética em edificações; uso racional e eficiente de ener-
gia, consumo específico.
1. INTRODUÇÃO
O consumo de eletricidade no Brasil em 2002 atingiu 321,6 TWh, o que correspondente a
um aumento de consumo de 3,8% em relação ao ano de 2001, [1]. Apesar da crise vivida
pelo país, pode-se constatar que o consumo de energia vem aumentando a cada ano. Hoje, o
país busca alcançar eficiência no consumo energético de maneiras distintas, seja através da
modernização de equipamentos para que consumam menos, seja planejando melhor a cons-
trução de novos prédios, ou propondo medidas de intervenção em edificações já existentes.

1
PhD., prsjota@dppg.cefetmg.br
2
Mestranda, renata@cpei.cefetmg.br
3
iniciação científica, karla@cpei.cefetmg.br
Centro de Pesquisa em Energia Inteligente – CPEI - Departamento de Pesquisa e Pós-graduação 3319-5263 - Av. Amazonas
7675, Nova Gameleira, BH, MG 30510 - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG

850
Para se analisar o uso da energia em edificações, é necessário utilizar um índice de desem-
penho [2,3]. Este índice busca relacionar o consumo energético com alguma variável que afete
o uso da energia. Esta variável é facilmente obtida no setor industrial, cujo uso da energia está
diretamente relacionado com a produção, por exemplo: toneladas de aço produzido em
uma siderúrgica, unidades de carros em uma indústria automobilística, quilos de pães em uma
padaria. Nesses casos, o índice de desempenho energético é calculado como a energia gasta
para produzir a quantidade sob análise, por exemplo: kWh/tonelada, kWh/unidade, kWh/
kg, etc. Esse índice é comumente chamado de consumo específico. Quando o setor estudado
não produz um bem facilmente contabilizável, a busca de um índice torna-se mais difícil. Este
é o caso de edificações, que possuem atividades administrativas como atividades principais.
Estes setores apresentam dificuldades em implantar um programa de conservação de energia
porque não conseguem utilizar um índice de desempenho energético que seja representativo
com o uso de energia na edificação. Para este tipo de edificação, pode-se dividir em duas
categorias: condicionada artificialmente e não condicionada. Para a primeira categoria, o uso
da energia está diretamente associado a escolhas arquitetônicas e à variação climática.
Este trabalho propõe definir um índice de desempenho energético mais representativo
para edificações que fazem uso intensivo do ar condicionado que leve em consideração a
variação climática e que possa comparar atividades semelhantes sendo desenvolvidas em
edificações distintas buscando indicar o efeito da escolha arquitetônica e sua interação com
o ambiente e o uso da energia.
Foi selecionada, para este estudo, uma edificação pública que após ser avaliada dentro de
um programa de eficiência energética detalhado não pôde ser caracterizado por índices de
desempenho energético do tipo clássico kWh/m2, kWh/funcionário, kWh/dia. Este edifí-
cio é parcialmente climatizado, e pertence ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG),
localizado na região central da cidade de Belo Horizonte.
2. Caracterização do Problema
É evidente a necessidade de se analisar o desempenho térmico de uma edificação sendo
esta climatizada ou não, buscando otimizar o consumo energético e ao mesmo tempo,
proporcionar conforto aos usuários. A importância de manter o homem em condições de
conforto térmico, que lhe proporcione saúde, bem-estar e eficiência no trabalho, faz com
que o desempenho dos ambientes climatizados artificialmente seja avaliado [2,3]. O alto
custo e escassez de energia elétrica disponível exige o controle do consumo de energia e
conseqüentemente sua análise mais detalhada.
As edificações abrigam diversos setores com característica de rotinas de trabalho va-
riados o que torna complexa a obtenção do índice de referência. Sabe-se que o índice de
consumo específico de uma edificação é fundamental para se avaliar o potencial de
redução de consumo através das variáveis envolvidas. Uma destas variáveis é a tempera-
tura externa. Em países de clima quente como o Brasil, esta relação (consumo e tempe-
ratura externa) é bastante significativa.
Este trabalho tem como meta obter o índice de consumo específico associado à varia-
ção da temperatura externa de uma edificação a partir da análise de dados de edificações
do TJMG. Para alcançar esta meta, foram traçados os seguintes objetivos: análise do con-
sumo mensal de energia elétrica, análise dos dados climáticos anuais da cidade de Belo
Horizonte, verificação da correlação entre os dados climáticos e o consumo de energia.
851
3. Índices de desempenho Energético de edificações
A busca de um índice de desempenho energético para representar edificações tem se
estendido por muitos anos [2,3]. Muitos trabalhos indicam a dificuldade de se obter um
índice representativo já que nem sempre as tarefas diárias em edificações de escritórios não
tem impacto representativo no uso da energia. No caso da indústria, um crescimento da
produção impacta diretamente no gasto de energia, enquanto que o uso da energia na área
administrativa representa pouco e é considerada fixa.
3.1 Consumo por dia trabalhado – índice ou consumo normalizado?
O consumo é uma quantidade que varia com o tempo de integralização. Normalmente
ela está associada com o mês. Assim, historicamente quando se fala em consumo temos
como base o valor apurado em um mês. O mês, porém, não é uma variável fixa. Para
efeito de faturamento ele pode variar de 28 a 33 dias. Obviamente que o número de dias
utilizado afeta o consumo do mês avaliado.
Na indústria, onde o uso de índices de desempenho foi primeiramente aplicado, o
número de dias utilizado na apuração do mês de faturamento não é importante, pois,
a apuração da quantidade produzida será realizada no mesmo período, ou seja, nas
mesmas bases temporais.
Quando o setor em questão não tem produção de um bem ou serviço que possa ser
facilmente apurado, outras quantidades de referências são utilizadas, tais como: área (m2),
número de funcionários, dias trabalhados, etc.
A variável “dias trabalhados”, porém, é uma variável temporal que nos remete a defini-
ção de consumo. Ao se dividir o consumo mensal pelo número de dias trabalhados, na
verdade está se considerando que apenas nos dias trabalhados se gastou energia e a eles está
se atribuindo toda a energia apurada. Uma análise mais crítica indica que este cálculo apenas
muda a base temporal para o cálculo do consumo que passa a ser o consumo médio diário.
Portanto, o uso dessa variável não está fornecendo o consumo específico e sim o consumo
diário. Apesar disso, para edificações utiliza-se muito o consumo diário como sendo o
índice de desempenho energético (consumo específico).
A vantagem desta mudança de base temporal é que o número de horas apuradas em um
mês de faturamento varia muito e mascara a análise da evolução temporal ao longo do ano
do gasto com a energia. Assim, para efeito de cálculo do consumo específico de consumi-
dores que não possuem uma produção de fácil contabilidade, o uso do consumo médio
diário é indicado como ponto de partida para o cálculo do consumo específico, mas não
como sendo o próprio consumo específico.
3.2 Consumo por área
Para os edifícios, muitos especialistas utilizam como variável de referência a “área”. Entre-
tanto, como essa variável é fixa ela não serve como referência para efeito de entendimento da
variação do uso da energia, servindo apenas para efeito de comparação para verificar tendên-
cia de crescimento de equipamentos elétricos na instalação, ou seja, densidade de consumo
energético por área. Uma empresa mais automatizada, que utiliza intensamente computado-
res, impressoras, cafeteiras, máquinas copiadoras deverá ter um consumo maior que aquela
852
com serviço mais manual. A comparação de empresas semelhantes (por exemplo do mesmo
grupo), portanto, fornece indicações sobre graus de desperdício. Porém, para um estudo de
eficiência energética e acompanhamento mensal desse índice é pobre.
3.3 Consumo por funcionário
Essa quantidade, assim como a área, auxilia no estudo macro, para comparar gastos
energéticos entre empresas semelhantes, mas não auxilia no entendimento das causas do
aumento do gasto energético de um mês para outro já que o gasto com a energia pode
aumentar sem que o número de funcionários se altere.
3.4 Consumo por unidade de temperatura
Os edifícios que utilizam sistemas de condicionamento de ar sofrem efeito direto da variação
da temperatura. Essa quantidade tem sido muito estudada, mas o seu uso efetivo não é verifica-
do devido à dificuldade de se estabelecer uma quantidade única para um período em questão.
Existem duas formas de se estudar o efeito da temperatura no gasto energético. O
primeiro é através da análise de casos reais e a segunda através de simulações. Nesse traba-
lho será apresentada a análise realizada em um caso real. Para tanto, foi escolhido um setor
para ser estudado que foi o setor de prédios públicos. Trata-se de um setor que possui um
grande número de edificações carentes de recursos para investimento e que necessita redu-
zir o consumo energético. Esse setor conta com inúmeros edifícios com e sem sistemas de
condicionamento de ar e, portanto, pode auxiliar a pesquisa.
4. O Caso estudado - Centro Operacional do TJMG
No edifício estudado funciona o Centro Operacional do TJMG. Este edifício está loca-
lizado na região central de Belo Horizonte. Tem 7.013,27 m2 de área construída, dividido
em 5 pavimentos destinados a utilização pública. É um edifício maciço, com andares
escalonados (à medida que sobe os pavimentos suas áreas vão se reduzindo) e de forma
retangular. As características construtivas podem ser consideradas como construção pa-
drão para este tipo de edifício no Brasil. A estrutura é feita em concreto armado e alvenaria
em tijolo cerâmico maciço de 10cm. O acabamento externo é de cerâmica. Internamente
as paredes são emassadas e pintadas de cor clara. O teto de todos os andares é rebaixado
em gesso exceto no subsolo onde o concreto é aparente. O piso do subsolo é cimentado
e os demais andares possuem um piso laminado vinílico. A maior parte da cobertura é de
telhas de concreto e placas de sombreamento. O último pavimento (3º pavto.) recebe uma
cobertura de fibrocimento. A iluminação artificial é predominantemente do tipo fluores-
cente tubular (20W, 32W, 40W e 110W) e a potência total instalada (incluindo os balastros e
a iluminação externa de vapor de mercúrio) é de 89.182W distribuídas em 1410 lâmpadas
tubulares (sendo 50% de 40W) e 19 de vapor de mercúrio. Nas janelas, as esquadrias são de
ferro fundido e o vidro é incolor 3mm. Toda a fachada leste recebe brise nas janelas. A
rotina de trabalho dos funcionários é durante a semana de 8:00 às 18:00 horas e nos fins de
semana, o prédio permanece sem ocupantes.
O subsolo tem 2.277,27m2 que abriga 58 vagas de garagem reservadas aos funcionári-
os. Neste pavimento também estão o vestiário, o refeitório, casa de máquinas do elevador,
e a sala de exaustão de ar. Aqui trabalham em torno de 10 funcionários em horário rotativo,
são os motoristas do tribunal.
853
No pavimento Térreo com 2.408,49m2 ficam o arquivo, o almoxarifado, a gráfica e
a plataforma de carga e descarga. Uma parte deste andar possui um pé direito duplo de
7,55m que dá acesso à sobreloja (1060,03m2) onde ficam o escritório do arquivo, do
almoxarifado, e a central de PABX. Trabalham aí, em torno de 30 funcionários que
desenvolvem atividades administrativas.
O ar condicionado central atua apenas no 2º pavimento, onde ficam localizados o CPD,
as salas dos analistas de sistemas, separadas por divisórias, e as duas casas de máquinas do
ar condicionado. Este andar tem 703,29m2 onde atuam aproximadamente 50 profissio-
nais. Os equipamentos são basicamente computadores e mesas de escritório.
Com 564,19m2 o terceiro e último pavimento abriga em torno de 70 funcionários entre
arquitetos e engenheiros que desenvolvem atividades referentes ao desenvolvimento e exe-
cução de projetos. Os ocupantes estão distribuídos em salas separadas por divisórias onde
os equipamentos instalados são basicamente computadores, copiadoras, máquinas de es-
critório, mesas e pequenas estantes.
Pela descrição feita pode-se verificar que as atividades diárias são essencialmente
administrativas e as fontes de variação do uso da energia são: o ar condicionado e a
gráfica. O índice de desempenho energético busca normalizar o gasto energético
para que se possa verificar as variações. Por exemplo: Em uma indústria de cimento
a avaliação do gasto energética é calculada por tonelada de cimento fabricado. As
variações verificadas entre meses podem ser verificadas mais facilmente quando se
compara kWh/tonelada. O impacto da instalação de novos equipamentos pode ser
sentido em uma análise utilizando índices.
5. Seleção da variável temperatura
A temperatura varia ao longo do dia e ao longo do ano. Edifícios que possuem algum
tipo de condicionamento de ar sofrem efeito da variação de temperatura. Espera-se que
nesses edifícios, nos meses mais quentes esses utilizem uma maior quantidade de energia do
que nos meses frios. Este trabalho irá analisar uma edificação no período compreendido
entre janeiro de 2002 e dezembro de 2003.
Para se utilizar a variável temperatura é importante conhecer o seu comportamento.
A figura 1 ilustra o mês de janeiro de 2002. A figura 1a apresenta a distribuição de
freqüência de ocorrência das temperaturas ao longo das horas de trabalho da edificação.
Como se deseja verificar como a temperatura afeta o uso da energia, foi analisado
apenas as temperaturas no período de 8 às 18h. Todas as referências feitas neste traba-
lho se reportam a temperaturas medidas neste período. A temperatura média deste
mês foi de 25,98oC. Observe que houve uma variação compreendida de 18 a 32
graus, sendo que a faixa com maior freqüência de ocorrência é de 26 a 28 graus. A
figura 1b ilustra, utilizando o recurso do Box-plot, a variação de temperatura por hora
ocorrida no mês em questão [4,5]. As médias também são apresentadas.

854
Figura 1 - Perfil de temperatura no mês de janeiro de 2002 em Belo Horizonte

O efeito da temperatura deve ser representado por uma única variável que seja represen-
tativa. Observando a figura 1 verifica-se que a temperatura média somente pode ser pouco
representativa. A figura 2 ilustra a análise de 24 meses dos valores médios das temperaturas
e dos valores médios ponderados pela freqüência de ocorrência. Assim, as temperaturas
que apresentarem uma maior freqüência de ocorrência terão peso maior no cálculo da
média. Observa-se, a figura 2, que as médias ponderadas apresentam sempre valores supe-
riores que a média simples. Análise de correlação [4,5] indicaram que a variável mais repre-
sentativa para o estudo proposto é a temperatura média ponderada.

Figura 2 - “*” temperaturas médias mensais, “o” temperaturas médias ponderadas


28

27
Temperaturas medias e medias ponderadas

26

25

24

23

22

21

20

19
0 2 4 6 8 10 12
Janeiro a dezembro - 2002-2003

855
6. Consumo Específico (kWh/(dia x oC)
Calculando o consumo específico CE, utilizando o consumo médio diário para cada
mês (kWh/dia) e a temperatura média ponderada, e calculando a correlação entre CE do
ano de 2002 com o de 2003, mês a mês, obteve-se uma alta correlação (0,7117) e com alta
significância (99%) [4,5]. A figura 3 ilustra o resultado obtido. Ela apresenta os pares orde-
nados formados pelos (CE2002,CE2003) para o mesmo mês. Isto indica que meses que histo-
ricamente possuem CE menores em um ano, também apresentam característica semelhan-
te no ano seguinte. Esta característica possui ligação direta com a sazonalidade do trabalho
(meses de maior movimento, férias, etc). Nesse caso, não existe ligação com a temperatura,
já que esta variável já foi compensada pela normalização usada no cálculo do CE.
Figura 3 - Correlação entre consumo específicos diários 2002 e 2003
95
Nov

Ago
y = 0.74*x + 33
Consumo especifico kWh/(dia*graus) 2003

90

Mar

85

Mai Jun
Dez
80

Set
75
Jul
Jan Out Fev
70
Abr

65
45 50 55 60 65 70 75 80
Consumo especifico kWh/(dia*graus) 2002

A correlação entre os consumos médios diários de cada mês do ano de 2002 com o de
2003, mês a mês, é significativa e tem valor 0,5696, portanto, menor que para CE. A figura
4 ilustra esta correlação e a relação pode ser representada pela regressão linear apresentada.
Esta correlação alta indica que existe uma grande influência sazonal nos dados.

Figure 4 - Correlação entre consumos diários 2002 e 2003


2300

y = 0.53*x + 1e+003 Nov


2200
Mar
2100
Consumo kWh/dia 2003

Fev
2000

Jun Dez
1900
Mai Ago
Jan
1800 Set

Abr
1700
Out

1600

Jul
1500
1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000
Consumo kWh/dia 2002

856
6. Evolução do consumo específico
A figura 5a apresenta a evolução do consumo médio diário a cada mês e a figura 5b
apresenta a evolução do consumo específico ao longo do ano de 2003. Comparando-se a
figura 5a e a 5b, observa-se uma maior regularidade no CE do que do consumo. Os meses
1, 2, 4, 7 e 10 tiveram um uso bastante similar (CE) apesar de terem consumido quantida-
des bem diferenciadas de energia. Isto ocorreu devido à variação de temperatura dos
meses considerados. Assim, as análises de diferenças ocorridas no CE nos demais meses
são mais facilmente percebidas. Os demais meses apresentaram CE’s superiores e com o
conhecimento da rotina da edificação pode-se obter explicações para tais variações.
Figuras 5
a) Evolução do consumo b) Evolução do consumo
médio diário por mês específico mensal
2003 2003
2500 100

90

2000 80

70
kWh/(dia x graus)

1500 60
kWh/(dia)

50

1000 40

30

500 20

10

0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
meses meses

7. Modelo estatístico obtido


A partir das análises realizadas foi possível estabelecer a correlação expressiva do consu-
mo desta edificação com a temperatura média ponderada do mês. Desta forma, pode-se
obter um modelo que é dado pela regressão linear obtida nos dados, conforme figura 6.
Figura 6 - Correlação entre consumo médio diário e a temperatura média ponderada

857
8. Conclusões
Foi analisado o caso real de uma edificação pública que possui característica bastante
similar de trabalho e que possui um andar climatizado artificialmente. Esta edificação foi
Analisada usando diversos tipos de índices de consumo energético, porém, nenhum apre-
sentou informação significativa a respeito de mudanças ocorridas no consumo.
A proposta deste trabalho é obter um índice de desempenho energético (consumo
específico) que seja representativo e que possa auxiliar na comparação entre meses consecu-
tivos levando em consideração a variação climática. Foram mostrados os procedimentos
estatísticos realizados e seus resultados. O índice de desempenho proposto: que é a razão
entre o consumo médio diário a cada mês e a temperatura média ponderada no período
de horário de expediente da edificação apresentou resultados significativos com alta corre-
lação com o histórico energético da edificação.
Está sendo desenvolvido um estudo mais detalhado, apurando-se o consumo diário e a
variação de temperatura no mesmo intervalo, para aprimoramento da metodologia.
Agradecimentos
Este trabalho está recebendo apoio técnico do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais que forneceu a informação de consumo e uso da edificação. Este trabalho integra o
projeto de pesquisa das instituições Cemig/CEFET-MG/PUC/UFMG através do con-
vênio MS/AS 4020000011 – registro Cemig/ANEEL P&D 016 –2001/2004 denomina-
do Abordagem Integrada da Eficiência Energética e Energias Renováveis, coordenado na
Cemig pela Dra. Antônia Sônia A. Cardoso Diniz e Eng. Eduardo Carvalhaes Nobre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] BRASIL. Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Energia, Departamento Nacional de Política Energética,
Coordenação Geral de Informações Energéticas. BEN 2002 – Balanço Energético Nacional de 2002 (Ano Base 2001).
Brasília, Brasil, dezembro de 2002, 201 p.
[2] BAIRD, George; DONN, Michael R.; BRANDER, William D. S.; AUN, Chan Seong. Energy Performance of
Buildings. Energy Research Group – School of Architecture – Victoria University – Wellington, New Zealand – CRC
Press, Inc – Boca Raton Florida – 1984, printed in the United States, 202 p.
[3] TOLEDO, Luís Márcio Arnaut de; LAMBERTS, Roberto; PIETROBON, Cláudio E. Influência de características
arquitetônicas no consumo de energia elétrica de edifícios de escritórios de Florianópolis. In: III Encontro Nacional
e I Encontro Latino-Americano. Gramado, RS, 4 a 7 de julho de 1995, 7p.
[4] MENDENHALL, William. Probabilidade e estatística. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1985. 489 p.
[5] MENDENHALL, William; Sincich, Terry. Statistics for engineering and sciences. Florida: Prentice-Hall, Inc.1995. 1182 p.

858
PREVISÃO DE
CARGA UTILIZANDO
CLUSTER ANALYSIS

Valéria Romeiro Borges da Silva*


Patrícia Romeiro da Silva Jota**
Fernando Gontijo Bernardes Junior***

RESUMO
Com a queda dos custos de medição e a necessidade de um maior gerenciamento da
energia nas edificações, a disponibilização de dados para os gerentes de energia deixa de ser
um sonho e passa a ser uma realidade. A análise dos dados fornecidos passa a ser o foco de
estudos visando disponibilizar ao gerente algoritmos que o auxiliem no processamento da
informação. Para que estes dados possam auxiliar na tomada de decisões é necessário
analisá-los utilizando uma metodologia adequada e se possível de forma automática. Este
trabalho apresenta uma metodologia simples para o cálculo de previsão de carga utilizando
dados históricos e análises estatísticas. O caso de uma edificação de grande porte é analisa-
do e seus resultados apresentados.
Palavras-chave - Previsão de carga, cluster analysis, classificação de curvas de carga.

1- INTRODUÇÃO
A energia elétrica é um insumo fundamental para garantir o desenvolvimento econômi-
co e social de um país. Portanto, seu suprimento seguro e contínuo é uma questão estraté-
gica da maior importância para toda a sociedade. Os diversos aspectos ligados a essa
questão têm sido debatidos por especialistas, pesquisadores e entidades governamentais e
não governamentais, constituindo-se, portanto, em um tema atual e de grande relevância.

*
Mestranda
**
Professora
***
Iniciação científica
Centro de Pesquisa em Energia Inteligente – CPEI - Departamento de Pesquisa e Pós-graduação 3319-5263 - Av.
Amazonas 7675, Nova Gameleira, BH, MG 30510-000 prsjota@dppg.cefetmg.br - Centro Federal de Educação Tecnológica
de Minas Gerais - CEFET-MG

859
A racionalização do uso da energia elétrica apresenta-se como alternativa de baixo custo
e de curto prazo de implantação, sendo que, em alguns casos, elevadas economias podem
ser obtidas apenas com mudanças de procedimentos e de hábitos.
Dentro deste cenário, o gerenciamento da energia em edificações tem se tornado uma
tarefa necessária em diversos setores da sociedade. O gerente de energia pode obter dados
on-line de diversos pontos da instalação, porém, a análise desses dados passa a ser definitiva
no sucesso desse gerenciamento. Neste sentido, diversos gerentes acompanham a evolução
do consumo de energia elétrica, ao longo do dia, tentando verificar tendências e com isto
tomar decisões mais acertadas. Esses gerentes analisam os dados de forma empírica e
baseado na sua experiência, o que coloca a instalação em situação vulnerável quando ocorre
a troca desse especialista e/ou a falha da análise. [4,6]
A análise desses dados a partir de uma metodologia implementada em uma ferramenta
computacional aumenta o desempenho e precisão do gerenciamento. A previsão automá-
tica de carga poderá auxiliar o gerente de energia a tomar decisões a respeito do uso de
equipamentos com potências mais elevadas e que poderiam levar a ultrapassagem de metas
de consumo da edificação.[4]
Este artigo apresenta um estudo realizado em uma edificação de grande porte que
funciona 24h por dia e que possui uma grande variedade de atividades. Esta edificação
abriga o maior centro hospitalar do Estado de Minas Gerais. Em um grande centro hospi-
talar, a preocupação com a redução de custos sempre está em pauta quando da melhoria
de processos e otimização de atividades. Entretanto, a avaliação da energia utilizada para
elaboração de determinado produto ou serviço muitas vezes passa desapercebida pelo
gerente, não obstante o custo dessa energia.[3,5]
O desenvolvimento de uma ferramenta de previsão de carga é objeto deste trabalho e o
caso estudado será apresentado para ilustrar a metodologia. A metodologia se baseia na
análise de dados históricos e é auxiliada pelo método Estatístico Multivariável denominado
“Cluster Analysis”.[1,2]
2 - Classificação de curvas no auxílio ao gerenciamento de energia
Para se fazer previsão de carga de um consumidor, é necessário conhecer a forma com
que o mesmo utiliza a energia ao longo do dia e ao longo da semana. É essencial, no processo
de análise, verificar se o comportamento é previsível, ou seja, se existe características seme-
lhantes entre os diversos dias, possibilitando assim prever um comportamento a partir dos
dados históricos associados com medições [3]. Para se verificar este comportamento, é neces-
sário fazer uma análise estatística dos dados históricos desse consumidor. Esta análise será
realizada neste trabalho utilizando-se o método estatístico denominado “Cluster Analysis”.[4,5]
2.1- Método Estatístico
“Cluster Analysis” é o nome de um grupo de técnicas multivariáveis que identifica simi-
laridades entre os dados analisados. Consiste, basicamente, em mapear cada elemento den-
tro do espaço de dimensão n (n é o número de parâmetros) e agrupá-los como resultado
da análise de similaridades. Este método pode ser visto como uma técnica de redução de
dados. O método “Cluster Analysis” pode ser utilizado para efetuar três tipos de funções:
separar, interpretar e classificar dados. Neste trabalho utilizou-se o algoritmo “Cluster
860
Analysis” para classificar hierarquicamente os dados, ou seja, esses serão agrupados à seme-
lhança de uma classificação taxonômica e representados através de um gráfico com uma
estrutura em árvore chamado dendograma e posteriormente, utilizar essa classificação na
metodologia de gerenciamento [2]. Os dados a serem utilizados serão séries temporais que
representam o consumo de energia da edificação ao longo do dia.
2.2- Classificação – Utilizando “Cluster Analysis”
No processo de classificação é necessário definirmos matematicamente o conceito de
proximidade, ou seja, determinarmos a distância entre as séries temporais. O principal
componente do “Cluster Analysis” é a soma dos quadrados e o produto das matrizes de
variáveis X’X, que é usualmente a matriz de covariância ou matriz de correlação. Esta
matriz é usada para medir o grau de similaridade entre os pares de variáveis através do
cálculo de distância. Neste caso, utilizou-se a Distância Euclidiana.
A matriz de dados X de dimensão (n x p) consiste de observações ou medidas de n –
séries temporais analisadas (n curvas de consumo diário) com p – características (energia
acumulada para cada instante de tempo). A matriz proximidade de ordem (n x n), sumariza
o grau de similaridade ou de não similaridade entre todas as possibilidades de pares na
matriz X. Esta matriz é denotada por P com elementos prs, onde r, s = 1,2,... n. O elemento
prs denota a medida de proximidade (figura1) de curvas observadas de r e s, onde esses
pontos representam as curvas individuais ou grupos já construídos.
Uma maneira de medir a similaridade é através do cálculo da Distância Euclidiana entre
dois objetos (curvas). Esta distância, drs corresponde ao elemento prs da matriz X; onde:
S
G UV2 = ∑
M
( [UM − [VM )
=1
2
equação 1

onde j é um ponto da curva.


Após o cálculo das distâncias entre as curvas, essas podem ser agrupadas através do
Método Hierárquico. Neste método, a análise de clusters tem como objetivo agrupar os
dados de forma a permitir identificar semelhanças entre os objetos através dos seguintes
métodos: "single linkage", "complete linkage", "average linkage", "ward". Uma vez que o elemento
é agrupado, este não mais poderá se desligar do grupo.
A figura 1 apresenta uma visualização da metodologia de agrupamento adotada onde,
as distâncias entre os grupos (r e s) são representadas pela menor distância entre dois
elementos - distância entre os pontos Ar e As; pela distância média - distância entre os
pontos *r e *s; e pela maior distância entre dois elementos de um mesmo conjunto -
distância entre os pontos Br e Bs. Escolheu-se por utilizar a distância "complete linkage" uma
vez que este apresentou melhores resultados nas análises realizadas.

861
Figura 1 - Medida de Proximidade entre grupos (Jobson, 1992)

Observa-se na figura 1 que os grupos r e s estão sendo reagrupados formando um


grupo maior nomeado de t, ou seja, nesse processo é necessário escolher previamente
quando se deve parar de agrupar. Assim, curvas ou grupos de curvas são agrupadas para
formarem um novo grupo. Após o agrupamento, se faz necessário calcular as novas dis-
tâncias através da seguinte equação:
equação 2
p tu = α pru + α psu + β prs + γ p ru − p su
onde:
t - É a nova referência para o resultado do grupo (combinação de r e s)
u - É a referência para outro grupo que não os grupos r ou s.
αpr, αps, β, γ Coeficiente de dependência.[1]
3- Estudo de Caso
Este trabalho trás como proposta, a possibilidade do gerente de energia a qualquer
momento do dia ter acesso a informação de uma previsão do seu consumo acumulado
total ao final. A base está na análise das curvas históricas de energia acumulada de uma
empresa e através dessas, determinar quantas curvas serão necessárias para prever o consu-
mo de energia acumulada ao final do dia. Para se levantar as curvas históricas de energia
acumulada, utilizou-se as curvas de carga históricas do consumidor [6].
4 - Metodologia
A metodologia aqui proposta possui as seguintes fases: Caracterização das curvas
diárias de energia acumulada; Classificação das curvas em conjuntos similares (Cluster
Analysis); Normalização das curvas; Ajuste polinomial; e Previsão da carga. A seguir
cada um dessas etapas serão detalhadas.
4.1 - Caracterização das Curvas diárias de Energia Acumulada
A figura 2 apresenta as curvas diárias históricas de energia acumulada. Uma análise deta-
lhada indicou que, apesar dessa edificação ter um regime de funcionamento contínuo (24h),
existe diferença no regime de trabalho e, portanto, de gasto energético. Fazendo uma se-
862
paração das curvas verificou-se que aos sábados as curvas de energia acumulada apresentam
um menor consumo final, sendo seguidas pelas curvas das sextas feiras. As curvas dos demais
dias se encontram dispersas na parte de cima do gráfico. Verificou-se ainda, que na parte supe-
rior do gráfico, ou seja, aquelas curvas que apresentam os maiores consumos acumulados, se
concentram as curvas de segundas-feiras, e as curvas centrais representam os dias de domingo.
A partir dessa caracterização, verificou-se a necessidade de se buscar o agrupamento das
curvas para se obter um melhor resultado na previsão da carga. Caso, nessa fase, se verifi-
casse uma pequena dispersão entre as curvas, a etapa de agrupamento poderia ser evitada.

Figura 2 – Curvas Diárias de Energia Acumulada

4.2 - Classificação das curvas em conjuntos similares (Cluster Analysis)


Para que seja possível a previsão do consumo acumulado ao final de cada dia, se faz
necessário determinar uma melhor curva para representar este consumidor. Para isto, utili-
zou-se a técnica de agrupamento ‘Cluster Analysis’, buscando verificar a ocorrência de
grupos distintos e assim determinarmos a necessidade de uma ou mais curvas para repre-
sentar este consumidor de forma a dar uma maior precisão à estimativa.
Utilizando, portanto, o método de Cluster Analysis, como descrito anteriormente, obte-
ve-se os agrupamentos mostrados no dendograma apresentado na figura 3. O dendograma
é uma representação gráfica dos agrupamentos obtidos pelo ‘Cluster Analysis’. Os agrupa-
mentos são efetuados dois a dois, como pode ser visto na figura 3, e o grupo formado é
novamente agrupado até que se forme um único grupo. A distância entre cada dupla a ser
agrupada é dada pela altura das linhas que unem estes elementos [1]. Foram formados dois
grupos cuja distância entre eles é o dobro da distância entre elementos de cada um destes
grupos. Ao se avaliar os dias que foram classificados em cada um desses grupos, verificou-
se que as curvas que representam sextas-feiras e sábados foram agrupadas no segundo
grupo e as demais no primeiro.
Como os agrupamentos sugerem dois grupos distintos, será feita uma análise conside-
rando o grupo completo (Caso 1), e os dois grupos separadamente (Caso 2).
863
Figura 3 - Dendograma contendo agrupamentos

4.3 - Normalização das curvas


Para facilitar a análise dessas curvas, optou-se por normalizá-las, ou seja, todas as curvas
que estarão sendo utilizadas na fase de ajuste polinomial estarão representadas na faixa de 0
a 1. Um ajuste polinomial para as curvas sem esta normalização comprometeria a previsão
de carga a ser obtida.
4.4 - Ajuste polinomial
O ajuste polinomial será utilizado em cada um dos dois casos (1 e 2) para obter uma
curva que melhor se ajusta ao conjunto de curvas diárias de energia acumulada normalizadas.
Caso 1 – Utilizando todos as curvas históricas
Nesse caso, foram utilizados os dados históricos de todos os dias analisados. A norma-
lização das curvas foi feita e obteve-se a curva apresentada na figura 4. Após algumas
tentativas, verificou-se que o melhor ajuste polinomial foi obtido com um polinômio de
ordem três. A figura 4 ilustra o conjunto de curvas normalizadas históricas e a figura 4a
apresenta o polinômio de ordem 3 obtido no ajuste.
Caso 2 – Utilizando os dois agrupamentos obtidos
Neste caso, foram utilizadas as curvas agrupadas em dois grupos, conforme classificação
obtida pelo método de ‘Cluster Analysis’. A figura 5 ilustra o primeiro conjunto de curvas
normalizadas (sextas feiras e sábados) e a figura 5b apresenta o polinômio de ordem três,
obtido no ajuste. A figura 6 ilustra os resultados para o segundo grupo (domingo a quinta).
864
Figura 4
a) Curvas diárias de Energia Acumulada normalizadas
b) Polinômio ajustado

Figura 5
a)Curvas diárias de Energia Acumulada normalizadas (sextas-feiras e sábados)
b) Polinômio ajustado

Os polinômios obtidos possuem a seguinte equação:


( Q = D3W 3 + D 2 W 2 + D1W + DR equação 3

Figura 6
a) Curvas diárias de Energia Acumulada normalizadas (domingo a quinta-feira)
b) Polinômio ajustado

865
A tabela 1 apresenta um resumo dos valores dos coeficientes dos polinômios obtidos.

Tabela 1

Coeficientes a3 a2 a1 a0
Todos os dias -8,5e-5 3,5e-3 5,2e-3 2,3e-2
Sexta e sábado -6,1e-5 2,5e-3 1,5e-2 1,6e-2
Domingo a quinta -9,4e-5 3,9e-3 1,2e-3 2,6e-2

4.5 - Previsão de carga


Para cada ajuste polinomial realizado, levantou-se a equação da curva para que a mesma seja
utilizada na fase de previsão de carga. A previsão da carga foi realizada seguindo o seguinte proce-
dimento: O valor da energia acumulada é medida pelo sistema de monitoramento da instalação. O
par ordenado (tempo-t, energia-E1) poderá ser utilizado pelo gerente de energia para estimar a
energia total acumulada ao final daquele dia - Et(estimada). O valor de t1 é substituído na equação
escolhida e obtém-se o valor estimado percentual En. Como o polinômio ajustado se refere a uma
curva normalizada de 0 a 1, o valor estimado da energia será dado pela equação 4.

(1
(W (HVWLPDGR ) = equação 4
(Q
A partir dessa metodologia, fez-se a estimativa horária de Et(estimada) e calculou-se os erros
entre os valores medidos (dados históricos) e os valores estimados. Valores de estimativa, de
um modo mais geral, são modelados de diversas formas para encontrar a demanda.[5]
5 - Resultados Obtidos
No ajuste polinomial de terceira ordem, obteve-se regiões onde o polinômio melhor se
ajustou às curvas normalizadas e outras regiões com um pior ajuste. O Caso 1 apresentou
índices de acerto elevados quando o tempo usado na estimativa estava entre 3 e 4 h da
manhã. Neste caso obteve-se erros de ajuste da ordem de 10%. A partir das 13h o erro
passa a ser menor do que 5%. Para o Caso 2 apesar de ter dois polinômios representando
os grupos formados, esse apresentou ajustes piores nas primeiras horas do dia. O polinômio
que representa o grupo formado pelas sextas-feiras e sábados apresentou resultados com
erros menores que 10% a partir das 10h da manhã e o outro a partir das 11h.
Para o Caso 1 o erro médio, obtido ao utilizarmos todos os dados da amostra, é de
12,11%. Os maiores erros são obtidos na primeira hora do dia. Ao se retirar a primeira
hora do dia da análise, o erro médio cai para 8,71%, ou seja, um erro abaixo de 10% o qual
pode-se considerar aceitável.
No Caso 2, o erro médio apresentado foi de 11,81% para o primeiro agrupamento e de
18,35% para o segundo. Pode-se perceber que houve uma melhora no 1o agrupamento e
uma piora considerável no ajuste da curva para o 2o agrupamento. Ao se desprezar a
primeira hora do dia obteve-se erros médios de 8,36% e 15,15%, respectivamente.
866
5 – Conclusão
A metodologia apresentada foi ilustrada para o caso de um consumidor de grande porte.
Apesar disso, ela pode ser aplicada para outros tipos de consumidores ou mesmo para prever
cargas no sistema elétrico, desde que todas as etapas de análise sejam atendidas. Trata-se de uma
metodologia simples e que apresentou resultados satisfatórios para o caso em análise. Do ponto
de vista de gestão da energia, essa metodologia, de previsão de carga, facilita enormemente e
garante ao gerente de energia uma melhor condição para tomada de decisões.
A metodologia possibilita a análise considerando as características de trabalho diferenci-
ado por dia da semana o que garante uma previsão de carga adaptada ao tipo de atividade
desenvolvida nos dias sob análise. Este tipo de facilidade possibilita, porém, tratamento
adequado para empresas cuja rotina é fortemente afetada pelo dia da semana.
Através deste estudo podemos concluir que a estimação do consumo diário de energia
acumulada em uma edificação é possível e viável, ou seja, pode-se predizer com um alto
índice de certeza a cada momento do dia qual a expectativa de consumo acumulado, dan-
do a oportunidade ao gerente de energia traçar ações imediatas para atingir metas de con-
sumo estabelecidas, minimizando os impactos no final do mês.
Agradecimentos
Este trabalho integra o projeto de pesquisa “Centro de Monitoramento de Usos Finais”
financiado pelo convênio FINEP/CEMIG/CEFET-MG/UFMG.

BIBLIOGRAFIA
1. Jobson, J.D.. Applied Multivariate Data Analysis: Categorical and Multivariate Methods.( New York) Springer,1992.v2 731p.
2. Hair Junior, J.F., Anderson, R.E., Tatham, R.L.. Multivariate Data Analysis. 2.ed. New York: Macmillan
Publishers,1987.449p.
3. Michalik, G.; Mielczarski, W. Modelling Of Energy Use Patterns In The Residential Sector Using Linguistic Variable.
IEEE v.1,p. 217-220, May 1998.
4. Nazarko, J.; Styczynski, Z.A. Application Of Statistical And Neural Approaches To The Daily Load Profile Modelling
In Power Distribution Systems. Transmission and Distribution Conference, v.1,p.320-325,april 1999.
5. Livik K.; Fielberg, N.; Foosnaes, J A. Estimation Of Annual Coincident Peak Demand And Load Curves Based On
Statistical Analysis And Typical Load Data Electricity Distribution, v.6, p.6.20/1-6.20/6, May 1993.
6. Murata, J.; Kimura, K.; Sagara, S.; Kamakura, T. Daily load curve forecasting via automatic selection of models, Power
System Monitoring and Control, p.270-272, jun 1991.

867
METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DOS
IMPACTOS DO PROJETO “CONSERVAÇÃO
DE ENERGIA NAS PEQUENAS E MÉDIAS
INDÚSTRIAS DO ESTADO RIO DE JANEIRO”

Emilio Lèbre La Rovere*


Martha Macedo de Lima Barata**
Norma do Nascimento Baptista***
Sandra de Castro Villar****
Aluisio Campos Machado *****

RESUMO
Este artigo apresenta a metodologia desenvolvida no âmbito do LIMA/COPPE/UFRJ
para avaliar os impactos do Projeto “Conservação de Energia nas Pequenas e Médias
Indústrias do Rio de Janeiro”. O Projeto e seus resultados são apresentados de forma
sucinta, pois o tema principal é a Metodologia para Avaliação dos Impactos Ambientais,
Econômicos, Sociais, Institucionais e Gerenciais do Projeto e a sua Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo apresentar a metodologia desenvolvida no âmbito do
LIMA/COPPE/UFRJ para avaliar os impactos do Projeto “Conservação de Energia nas
Pequenas e Médias Indústrias do Rio de Janeiro”.
O Projeto submetido a presente Avaliação foi implementado em 1995, através de uma
Cooperação Técnica entre o SEBRAE/RJ e a GTZ, Agência Alemã de Cooperação Téc-
nica, que contou ainda com a parceria de instituições como INT, SENAI/RJ, CEFET/RJ
e ELETROBRAS/PROCEL. Transcorridos nove anos de sua implementação, as parceri-
as formais para o seu desenvolvimento foram dadas como encerradas com a expectativa

*
D. Sc. Doutorado em Técnicas Econômicas, Previsão, Prospectiva. Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales,
EHESS, Paris, França - E-mail: emilio@ppe.ufrj.br
**
D.Sc. em Planejamento Energético e Ambiental, PPE-COPPE-UFRJ. E-mail: barata@ioc.fiocruz.br
***
M.Sc., Doutoranda em Planejamento Ambiental – PPE-COPPE-UFRJ. E-mail:normabaptista@ppe.ufrj.br
****
M.Sc. em Planejamento Energético - PPE-COPPE-UFRJ, Consultora do SEBRAE-RJ - E-mail: svillar@sebraerj.com.br
*****
D.Sc., Professor Adjunto – PPE-COPPE-UFRJ. - E-mail: aluisio@ppe.ufrj.br

868
de que, com a consolidação da proposta, as ações tenham continuidade independentemente
da necessidade do apoio Técnico da GTZ. Dentro desta perspectiva, as instituições parceiras
entenderam ser importante contratar empresa independente que pudesse realizar (1) a análise
crítica das atividades desenvolvidas no âmbito do Projeto, (2) a avaliação do grau das inter-
venções do Projeto para estimular novas ações em eficiência energética, além da (3) identifica-
ção das novas oportunidades de desenvolvimento de Projetos neste campo. A empresa con-
vidada foi a COPPE/UFRJ que, através do seu Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambi-
ente – LIMA desenvolveu a Metodologia para Avaliação dos Impactos do Projeto.
O desenho metodológico para a avaliação foi construído a partir da análise dos objetivos e
do escopo do Projeto “Conservação de Energia nas Pequenas e Médias Indústrias do Rio de
Janeiro” e, da experiência acumulada no desenvolvimento e aplicação das metodologias para a
Avaliação da Sustentabilidade de Projetos candidatos ao Mecanismo de Desenvolvimento Lim-
po e de novos empreendimentos energéticos. A proposta metodológica foi apresentada, ava-
liada e validada em workshop com a presença das instituições parceiras, bem como de algumas
empresas, que em função dos trabalhos realizados, também se tornaram parceiras do Projeto A
seguir é apresentado um breve resumo do Projeto, seguido da metodologia desenvolvida para
a avaliação dos seus impactos e dos critérios adotados para sua valoração.
2. APRESENTAÇÃO DO PROJETO “CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
NAS PEQUENAS E MÉDIAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO”.
O Projeto “Conservação de Energia na Pequena e Média Indústria do Estado do Rio de
Janeiro” contou com duas fases de desenvolvimento. Para a primeira (1995-1999) os objetivos
definidos foram: Implantar e monitorar um conjunto de ações que promovessem o desenvol-
vimento de uma cultura de combate ao desperdício de energia e, em paralelo, de outros insumos,
estimulando a melhoria da produtividade e qualidade, e garantindo ganhos adicionais de
competitividade para as micro, pequenas e médias empresas participantes do Projeto; Estimu-
lar, através da divulgação resultados obtidos nas empresas participantes do Projeto, a consolida-
ção do mercado para ações que promovessem o Uso Eficiente de Energia.
Para a segunda fase (2000 a 2004), e dando continuidade às iniciativas da primeira, o
objetivo estabelecido foi o de consolidar o mercado para ações de eficiência energética em
micro, pequenas e médias empresas
A metodologia adotada para o Projeto, tendo em vista o alcance das metas definidas, foi
estabelecida com base no desenvolvimento e implantação de Produtos nos seguintes campos.
a) Produto de Desenvolvimento Tecnológico
Previa, fundamentalmente, a implantação de empresas Unidades de Demonstração no
uso eficiente de energia. Por este resultado micro, pequenas e médias indústrias, de setores
pré-selecionados, nos quais os custos com a energia seriam relevantes do ponto de vista
dos custos globais, implantariam uma série de medidas com vistas à otimização de suas
instalações e redução da quantidade de energia agregada a cada unidade de produto. Ao
participar do Projeto, as empresas candidatas assumiram os custos dos seus investimentos
e o compromisso de permitir visita a suas instalações, inclusive de empresas do mesmo
segmento, e ainda de dar testemunho sobre os seus resultados.
869
Na 1a Fase do Projeto, 8 (oito) empresas, sendo 3 (três) do setor de cerâmica vermelha, 2
(duas) do setor de reforma de pneus e 3 (três) do segmento de panificação, foram inaugura-
das como “Unidades de Demonstração” no Uso Eficiente de Energia. Os trabalhos realiza-
dos nestas empresas contemplaram todas as etapas previstas na metodologia de implantação
de “Unidades de Demonstração”, que vão desde a etapa de sensibilização dos empresários
para a proposta da eficiência energética e a aplicação de atividades de consultoria especializa-
da até a realização de visitas à empresa já inaugurada como “Unidade de Demonstração”.
Na 2a Fase, outras 9 (nove) empresas foram inauguradas como empresas “Unidades de
Demonstração”. Nesta oportunidade, a identificação das empresas candidatas deu-se atra-
vés da realização do Concurso para Seleção de Empresas “Unidades de Demonstração”.
Com cerca de 80 manifestações de interesse e 69 empresas efetivamente inscritas, o Con-
curso teve como objetivo selecionar empresas que, tendo como referência o racionamento
de energia elétrica, ocorrido de junho de 2001 a fevereiro de 2002, tivessem implantado
medidas de eficiência energética nas suas instalações.
b) Produto de Informação
Teve por objetivo auxiliar empresários na tomada de decisão quanto à implantação de
programas de eficiência energética nas suas unidades empresarias. Com a participação das
próprias empresas participantes, promovia ainda a divulgação do Projeto e seus resulta-
dos, buscando fazer do Uso Eficiente de Energia um produto com valor de mercado.
A realização de eventos diversos, tais como seminários nacionais e internacionais, pro-
gramas de palestras sobre eficiência energética por todo o Estado do Rio de Janeiro,
mesas redondas e outros eventos setoriais, a participação em feiras, a geração e distribui-
ção de publicações e manuais setoriais, tendo sempre como foco os empresários das
micro, pequenas e médias empresas, e as visitas às empresas inauguradas como “Unida-
des de Demonstração” também se constituía em um produto de sensibilização e infor-
mação. Durante a realização do Projeto foram registradas cerca de 500 pessoas visitando
as empresas “Unidades de Demonstração”
c) Produto de Capacitação e Treinamento
Este produto previa o treinamento de alunos regularmente matriculados em cursos
técnicos e de operários nos próprios postos de trabalho, bem como a capacitação de
consultores com experiência na aplicação de projetos de eficiência energética, habilitando-
os a atuar no mercado das empresas de pequeno porte. Como resultados deste produto
destacam-se, entre outros: Curso de Eficiência Energética, destinado a operários e disponí-
vel pelo método de educação a distância,Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Consultoria
para Uso Eficiente de Energia, realização de 3 (três) missões técnicas à Alemanha, participa-
ção de 2 (dois) técnicos na Oficina de Seguimento de Monitoramento e Avaliação de
Impactos promovida, em 2003 pela InWEnt - Capacity Building Internacional, Alemanha.
d) Produto Sistema de Cooperação
Através deste Resultado, a metodologia global do Projeto, representada, fundamental-
mente, pela conjugação dos produtos de desenvolvimento tecnológico, informação e
capacitação e treinamento, seria transferida para aplicação em outras indústrias localizadas
no País, a começar pelas instaladas na região nordeste.
870
e) Produto Avaliação de Impactos
Definido como um produto a partir do planejamento da 2ª Fase, a avaliação dos impactos
buscou identificar e medir possíveis mudanças nos campos social, econômico, ambiental,
tecnológico e gerencial ocorridas nas empresas e instituições participantes em decorrência da
atuação do Projeto, bem como avaliar a eficácia, eficiência e efetividade de suas iniciativas.
3 . APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS MAIS RELEVANTES DO PRO-
JETO “CONSERVAÇÃO DE ENERGIA NAS PEQUENAS E MÉDIAS
INDÚSTRIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO”.
3.1 – No âmbito das Empresas
Os resultados obtidos nas empresas inauguradas como “Unidades de Demonstração”
nas duas do Projeto estão registrados nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1 - Resultados Obtidos nas Empresas Unidades de Demonstração – 1ª FASE


*DQKRV7RWDLV
5HGXomRGR 5HGXomRGR (FRQRPLD
3ULQFLSDO &RQVXPR &2 HTXLYDOHQWH
6HWRU (PSUHVD 0HGLGD GH(QHUJLDQD HPLWLGR 5DQR  UHODFLRQDGDjIROKD
3URGXomR     GHSDJDPHQWR HP
PHVHV
HFRQRPL]DGRV 
D Cerâmica
Implantação

OKH
de forno 7
Argibem Ltda - 35,6 (1) 30,0 (4) 188.644,00 (*)
túnel
P
UH Otimização
R.P. Pessanha
9 da etapa de 9
DFL Cerâmica Ltda
secagem
- 21,0 (1) 10,0 (5) 162.960,00 (*)
P
kU Tijolar
Otimização
H do processo
& Indústria
de - 16,5 (1) 8,2 (5) 215.400,00 (*)
7
Cerâmica Ltda
V combustão
XH
QS Recauchutado
Instalação
H ra Nova 0,45
G Itaipava Ltda
de - 20,0 (2) 21,0 (5) 19.344,00 (*)
Rm Autocalve
oX
UW
VQ Recauchutado Instalação
RF ra BR Campos de - 84,3 (2) 100 (6) 9.600,00 (*)
1,20
H5 Autocalve
Padaria Santa
Terezinha de Substituição 2
R - 16,6 (3) 9.394,80 (**)
mo Ramos de Forno
DF Panificação
LIL Danúbio Azul Substituição 0,68
QD da Glória de Forno
- 11.4 (3) 5.678,40 (**)
3 Panificação
Estrela do Substituição 2
- 20,3 (3) 8.817,60 (**)
Brasil Ltda de Forno

(1) em óleo combustível (5) relativo ao menor consumo de lenha


(2) em energia total (6) relativo à eliminação do consumo
(3) em energia elétrica de óleo combustível
(4) relativo ao menor consumo de serragem, (*) valores de maio de 1999
lenha e óleo combustível (**) valores de novembro de 2000

871
Tabela 2 - Resultados Obtidos nas Empresas Unidades de Demonstração – 2ª FASE
&5(
6HWRU (PSUHVD 3ULQFLSDO3URGXWR 0HGLGDV,PSODQWDGDV 

• Substituição de lâmpadas de mercúrio
(160W) por fluorescentes compactas de
25W
Werner • Revestimento interno das luminárias
Fabricação
Fábrica de com alumínio 12%
de tecidos
Tecidos S.A., • Utilização de telhas translúcidas
• Instalação de inversores de freqüência
• Reengenharia do sequenciamento das
partidas de motores
Atlanta 178 Fabricação de
Artefatos Luminárias • Redistribuição de circuitos elétricos
de Madeira e Decorativas em • Utilização de telhas transparentes
53%
Iluminação Madeira • Reforma da Estufa de Secagem
Ltda E Latão
 • Utilização de telhas translúcidas
$ com melhor aproveitamento da luz
,
5 natural.
7
6 • Substituição do isolamento térmico nos
Ò
' tanques de aquecimento por similares
1 Indústria e
, de maior eficiência.
Comércio de Fabricante
• Aumento do pé direito do galpão para
Velas 19 de de Velas
melhoria do conforto ambiental da área
Julho Ltda.
produtiva em substituição ao Projeto, 27%
originalmente previsto, de climatização
da área.
• Introdução de sistema automático de
controle de nível de parafina líquida
• Substituição de lâmpadas incandescentes
Cooperativa por lâmpadas fluorescentes
Agropecuária • Substituição de equipamento de selagem
de Fabricante de elétrico por equipamento pneumático.
Santo Antônio Derivados de Leite • Redimensionamento dos circuitos
27%
de elétricos.
Pádua Ltda • Reforma da linha de distribuição de ar
comprimido.
• Substituição de lâmpadas incandescentes
por fluorescentes de menor potência
• Implantação de central de
 Confecção e venda
Congelados da supercongelamento automatizado em
2 de refeições
, Sônia Ltda circuito fechado
& congeladas 4%
5 • Substituição 19 freezers verticais e
e
0 individuais por câmara central de
2 refrigeração de dezesseis portas.
&
• Substituição de lâmpadas incandescentes
Confecção
Confeitaria (60W) por fluorescentes de menor
e venda de lanches,
Colombo Ltda potência (15W). 15%
refeições e confeitos
• Substituição de forno
Lattanzi
Caetano
Serviços de
Comércio e • Instalação de telhas translúcidas
 Manutenção 39%
6 Manutenção • Otimização do uso do compressor
2 de Extintores
d
de Extintores
, Ltda
9
5 • Substituição de lâmpadas incandescentes
( Hime
6 Desenvolvimento por lâmpadas fluorescentes.
Informática
e comercialização • Inclusão do tema energia nos software de
Ltda 28%
de Software gerenciamento empresarial que
desenvolve e comercializa.
Indica a variação percentual do consumo específico de energia (consumo de energia / produção), antes e
*

depois das medidas implantadas

872
3.2 - No âmbito das Instituições Parceiras
As ações do Projeto possibilitaram às instituições: melhoria na capacitação técnica, ins-
trumental e pessoal; incremento das iniciativas no campo da cooperação; aumento da
capacitação técnico-gerencial das instituições, com aprimoramento dos procedimentos de
atendimento tendo em vista as reais necessidades das empresas alvo; maior integração com
instituições atuantes em diferentes campos, estimulando a diversificação na elaboração de
novas linhas de trabalho.
4. METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DO PROJETO
“CONSERVAÇÃO DE ENERGIA”
4.1 – Desenvolvimento Metodológico
O contorno metodológico para a avaliação dos impactos do Projeto “Conservação de
Energia nas Pequenas e Médias Indústrias do Estado do Rio de Janeiro” tomou como
referência: os objetivos estabelecidos para o processo de avaliação, os trabalhos já desen-
volvidos pela equipe da COPPE/UFRJ, relativos a indicadores de sustentabilidade de Pro-
jetos/empreendimentos, a análise crítica de toda a documentação e informações fornecidas
pela equipe SEBRAE/GTZ e demais parceiros do Projeto. A esta etapa seguiram-se:
1. Identificação dos campos de observação para avaliar potenciais impactos dos produtos
do Projeto: Desenvolvimento Tecnológico, Informação e Capacitação e Treinamento.
2. Estabelecimento de indicadores para apoiar a valoração dos potenciais impactos
identificados:
a) Para o produto Desenvolvimento Tecnológico os indicadores foram classificados segundo
critérios de sustentabilidade, operacionalidade e capacidade gerencial. O quadripé da
sustentabilidade dos empreendimentos energéticos incorporaria os impactos ambientais,
sociais, econômicos, tecnológicos. O indicador de capacidade gerencial avaliaria o
impacto na gestão empresarial, considerando a responsabilidade de seus executivos e
funcionários na realização de suas atividades considerando o aspecto de conservação
de energia. Os de operacionalidade buscariam avaliar a capacidade de manutenção do
Projeto implantado e sua difusão com vistas à multiplicação de iniciativas similares, bem
seu potencial para estimular a integração regional e articulação com outros setores;
b) Para os produtos informação e capacitação e treinamento foram estabelecidos indi-
cadores para avaliar os potenciais impactos de eficiência, eficácia e efetividade de suas
iniciativas (os indicadores considerados estão apresentados no tabela 3.
3. Avaliação da melhor forma de apropriação de cada um dos indicadores. Defi-
niu-se que a forma adequada para avaliar os impactos seria através da:
a) elaboração de questões a serem aplicadas aos empresários participantes do Projeto. A
leitura dos documentos contendo os resultados do Projeto, assim como a identifica-
ção e análise de fatores externos que pudessem ter exercido influência nas mudanças
observadas, também subsidiaram a resposta às questões formuladas;
b) elaboração de questões a serem aplicadas a participantes de algum outro evento do Proje-
to, tais como beneficiários dos produtos de informação e capacitação. Neste caso, foram
também inseridas perguntas para avaliar a eficácia e efetividade dos produtos analisados;
873
c) contribuição das instituições e empresas participantes do Projeto, ajuste e validação da
metodologia proposta para a avaliação, dos indicadores selecionados e suas respecti-
vas questões; d) aplicação dos questionários de pesquisa aos participantes do Projeto
para avaliar os indicadores:
Ø No âmbito do Produto Desenvolvimento Tecnológico, e tendo como expectativa uma
melhor qualidade nas respostas esperadas, a equipe SEBRAE -COPPE/UFRJ decidiu pela
realização, através de entrevistas agendadas, de pesquisa no formato presencial nas Empre-
sas “Unidades de Demonstração”. Nesta foram formuladas questões fechadas, que apoi-
assem a apropriação dos indicadores, e também abertas, neste caso visando subsidiar a
avaliação crítica do efetivo impacto do Projeto. As questões procurariam captar a percep-
ção dos empresários em relação aos itens que comporiam os indicadores. Observa-se que
embora proposta inicial fosse obter repostas objetivas quanto aos impactos do Projeto,
como por exemplo na evolução do faturamento ou dos custos da empresa, a dificuldade
para obtenção de respostas quantitativas, levou à decisão por captar apenas a percepção
dos empresários para as questões formuladas.
Para as empresas não participantes do Projeto como “Unidades de Demonstração” mas que
participaram do concurso, embora não ficando entre as vencedoras, os questionários de pesqui-
sa, com perguntas fechadas facultando ao tratamento estatístico das respostas, foram postados;
Ø Para avaliação dos Produtos de Informação, para os Manuais da Série Uso Eficiente,
foram elaborados questionários de pesquisa destinados aos empresários que o adquiri-
ram manuais da Série Uso Eficiente de Energia. Também para os seminários, eventos e
encontros promovidos pelo Projeto foram previstas questões de análise. Para estes pro-
dutos foram definidos indicadores de eficiência, de eficácia e de efetividade dos seus
componentes: seminários, palestras, mesa redonda;
Ø Para os Produtos de Treinamento, foram elaborados questões destinados aos partici-
pantes do curso de pós-graduação do CEFET e do ministrado em parceria com a Univer-
sidade de Severino Sombra. Para estes produtos, a proposta era de apropriar os indicado-
res de eficiência, eficácia e efetividade dos cursos.
4. Avaliação das respostas obtidas quanto aos indicadores e outras contribuições quali-
tativas indicadas, neste caso representando possíveis fatores externos ao Projeto que pudes-
sem, também, ter tido impacto sobre seus resultados.
5. A partir dos resultados indicados, avaliação do grau de resposta do Projeto aos
questionamentos apresentados.
6. Em mesa redonda realizada para este fim, avaliação e validação dos Resultados Al-
cançados junto às instituições parceiras do Projeto, com suas contribuições sendo incorpo-
radas na avaliação crítica dos resultados do Projeto.
4.1.1.Critérios Adotados para a Valoração dos Impactos
Para a valoração dos Impactos o LIMA/PPE/COPPE/UFRJ estabeleceu indicadores
que retrataram a contribuição do Projeto para o Desenvolvimento Sustentável e para a
Sustentabilidade Empresarial. Segundo as Nações Unidas (1992), o uso de indicadores
permite transformar dados físicos e sociais em informações gerenciais, capazes de facilitar a
tomada de decisão, medindo e calibrando os avanços rumo ao Desenvolvimento Sustentável.
874
Tabela 3 - Indicadores de Contribuição do Projeto para o Desenvolvimento
Sustentável e para a Sustentabilidade Empresarial

$ 63 (& 7 2 6  , 1' ,& $ '2 5( 6  Ë 1', & ( 


R eduçã o de CO2
E mi ssão de
Pol u en t es
c on tr i buin t es O utr os
pa r a o Im pa ct o G loba l

Ruí d o
R eduçã o de
E mi ssã o de
Em issã o At mos f ér ica
$PELHQWDLV Pol u en t es
c on tr i buin t es Em issã o Hí dr ica
pa r a o I mpa ct o Loca l
Resídu os S ól ido s

En er gi a E létr i ca

Óleo
Reduçã o n o Us o de
Com bust í veis
Recur s os Na t ur a is
Len h a

Água

Mel h or i a do N ível de Em pr egos

6RFLDLV Mel h or i a da Sa úde dos Fu n cion ár i os

Mel h or ia da Q uali fica çã o dos Fun ci on á r ios

A umen t o do Fa t ur am en t o

R eduçã o de Cust o

Aum en to de Mer ca do
(FRQ {PLFRV
Aum en to de Pr odut i vida de

Aumen t o de C ompet it i vida de

7HFQROyJLFRV I n tr oduçã o de N ovas Te cn ol ogia s ma i s E fi ci en tes

Melhoria da Gestão
*HUHQFLDLV
Mel h or ia da Rela çã o c om Pa r tes In ter essa da s

875
Para a apropriação dos indicadores o LIMA/COPPE/UFRJ propôs que fossem apli-
cadas as faixas relacionadas no tabelas 4 e 5. O produto do índice referente à interferência
do Projeto (tabela 4) pelo índice referente à magnitude do impacto do Projeto (tabela 5),
para o conjunto das empresas, indicaria o real impacto do Projeto para cada indicador
relacionado no tabela 3.
A apuração dos índices seria proveniente da quantidade de respostas obtidas através das
entrevistas realizadas junto às Empresas UDs.

Tabela 4 - Interferência do Projeto

ËQGLFH *UDXGH,QIOXHQFLDGR3URMHWR

2 Projeto influenciou efetivamente (acima de 51% dos casos)

1 Projeto influenciou pouco (entre 1% e 50% dos casos”)

0 Projeto não influenciou

Para efeito de valoração, deu-se o mesmo peso para as respostas: muita influência, pou-
ca influência e muita e outra influência do Projeto, pois esta é uma resposta qualitativa, que
considera juízo de valor que não pode ser isolado, consideramos apenas se a variação foi
influenciada pelo Projeto.

Tabela 5 - Impacto Específico do Projeto

ËQGLFH 0DJQLWXGHGR,PSDFWR

,PSDFWRQHJDWLYR ,PSDFWRSRVLWLYR

-2 Acima de 51% (muito impacto)

-1 Entre 1 e 50 %(pouco impacto)

Não variou (quando o item “não se alterou”


0
apresenta maior porcentagem)

1 Entre 1 e 50% (pouco impacto)

2 Acima de 51% (muito impacto)

876
Para alguns dos indicadores foram feitas mais de uma pergunta. Estas foram agrega-
das com peso igual sempre que isto não implicasse em possibilidade de dupla contagem.
Segue a forma de agregação realizada pela equipe do LIMA/PPE/COPPE/UFRJ para
os indicadores do tabela 3.
- Indicadores Ambientais1
Ø Redução de Emissão de Poluentes contribuintes para Impacto Global: considera
as perguntas relativas a emissão de gás carbônico; Aumento da Redução de Emissão de
Poluentes contribuintes para Impacto Local considera as respostas relativas à geração de
resíduos sólidos, a emissões atmosféricas, a lançamento de efluentes e a geração de ruídos;
Redução de Uso de Recursos2 : considera as respostas relativas a quantidade de água e de
combustíveis e de energia utilizados.
- Indicadores Sociais
Ø Aumento do Nível de Empregos: resposta relativa aumento da força de
trabalho utilizada; Melhoria da Saúde dos Funcionários: avalia possível melhoria da
saúde do trabalhador 3 ; Melhoria do Nível Educacional: resposta relativa aa melhoria
da qualificação dos empregados.
- Indicadores Econômicos
Ø Aumento do Faturamento: considera resposta relativa a este tema específico; Re-
dução de Custos4 considera resposta relativa a este tema específico; Expansão de Merca-
do: avalia novos produtos e novas modalidades de negócios; Aumento da produtividade5 :
considera o aumento da produção em relação à redução no uso da matéria prima; Aumen-
to de Competitividade: avalia a conquista de mercado e a qualidade dos produtos.
- Indicadores Tecnológicos
Ø Introdução de Novas Tecnologias mais Eficientes
- Indicadores Gerenciais
Ø Melhoria da Gestão: considera as questões relativas ao sistema de qualidade
implementado na empresa, ao envolvimento da diretoria, a melhoria do ambiente de tra-
balho e a organização gerencial da empresa e; Melhoria do Treinamento de Empregados:
considera as perguntas relativas a conscientização necessidade de redução de desperdícios e
a aumento do nível de segurança no trabalho.

1
Os impactos ambientais referem-se a evolução na redução dos poluentes emitidos pelas empresas após implementarem
o projeto. Assim, a resposta dos entrevistados considerou o nível de emissão evitado pela implementação do projeto.
2
As perguntas relativas reutilização de resíduos e comercialização de resíduos são apenas explicativas para a redução de custos.
3
As perguntas relativas à faltas no emprego são explicativas, mas suficientes para isoladamente justificar melhoria na saúde.
4
A redução no uso de matéria prima, ou nas perdas ou até mesmo na mão de obra utilizada podem ter alguma
influência na redução dos custos da empresa, mas como foi feita uma pergunta objetiva para este indicador optou-
se por não considerar outros itens.
5
Percebe-se a partir das respostas obtidas que no total não houve alteração na produção, mas houve pequena redução
no uso de matéria prima. Mas como de acordo com as respostas obtidas a referida redução não se deveu ao Projeto,
concluiu-se que o Projeto não influenciou neste item.

877
- Indicadores de Operacionalidade
Ø Melhoria da Relação com Partes Interessadas: considera as perguntas relativas a
relacionamento com cliente, fornecedor, sindicato, vizinhos, órgãos ambientais e fiscais do
trabalho; Melhoria no Atendimento a Normas e Regulamentos: considera resposta relativa
a este tema específico.
Cabe destacar que estes índices permitiram evidenciar a pouca percepção, daqueles que
responderam ao questionário, quanto a real influência do Projeto. Esta característica se
constituiu em importante fator de contribuição para o processo uma vez que, em muitos
casos, os entrevistados não percebiam a relação existente entre o aumento da produtivida-
de e do mercado e a melhoria da gestão empresarial e os efeitos da introdução de novas
tecnologias implementadas em decorrência do Projeto. Isto nos leva a considerar que a
contribuição do Projeto para a melhoria dos aspectos relacionados ao desenvolvimento
sustentável foi muito maior do que aqueles percebidos pelos entrevistados.
5. Conclusão
A metodologia adotada para a Avaliação dos Impactos do Projeto Conservação de
Energia na Pequena e Média Indústria do Estado do Rio de Janeiro permitiu avaliar
importantes mudanças ocorridas, no âmbito das empresas e instituições participantes,
em função de suas ações.
No entanto, a proposta, inovadora para Projetos deste tipo, se deparou com a dificulda-
de de acesso a registros que pudessem dar melhor sustentação às análises, especialmente
quanto a proposta de avaliação dos cenários de referência, projetado com e sem a
implementação das medidas, e quanto à proposta de valoração dos impactos. Por um lado,
isto se deu porque as empresas de pequeno porte, de um modo geral, não têm a prática de
registros. Do ponto de vista do Projeto, como somente na 2ª Fase do Projeto as institui-
ções parceiras incorporaram a Avaliação de Impactos como um dos produtos do mesmo,
não haviam estabelecido, desde o seu início, a prática de registro de dados de referência
para muitas das questões propostas no processo de avaliação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
La Rovere, E. L., Baptista, N. N., Barata, M. M. L., et al. Metodologia para Avaliação dos Impactos do Projeto “Conservação
de Energia nas Pequenas e Médias Indústrias do Estado Rio de Janeiro”. Laboratório Interdisciplinar de Meio
Ambiente – LIMA-COPPE-UFRJ. 2004

878
AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CARGA DE
BATERIAS UTILIZANDO UM MODELO
HÍBRIDO DAS EQUAÇÕES DE
PEUKERT E SHEPHERD

Luiz Artur Pecorelli Peres*


Thayse Cristina Trajano da Silva**

RESUMO
As baterias constituem uma fonte essencial de energia. Elas estão presentes em situações
nas quais se deseja armazenar energia e aparecem associadas a diversos sistemas de produção.
A eficiência energética nestas aplicações é imprescindível e desta forma é desejável o conheci-
mento do seu estado de carga após períodos de descarga visando prever a capacidade ainda
disponível. Este trabalho apresenta uma modelagem matemática deste problema a partir de
um tratamento híbrido das equações de Peukert e Shepherd levando em conta o comporta-
mento não linear do período de descarga. Os resultados obtidos estão em coerência com
testes disponíveis na literatura técnica e o modelo mostra-se satisfatório para acoplá-lo em
rotinas de simulação, nos quais os bancos de bateria estejam sujeitos a correntes de descarga
variáveis, como, por exemplo, no caso de trajetos realizados com veículos elétricos.

1 INTRODUÇÃO
As baterias são dispositivos eletroquímicos com a capacidade de acumular e man-
ter a energia elétrica sob a forma de energia química e, em seguida transformá-la em
energia elétrica. As primeiras pilhas elétricas foram idealizadas e construídas pelo físico
italiano Alessandro Volta em meados de 1800. Avanços posteriores conduziram ao que se
denomina de baterias, sendo estas recarregáveis.
Elas possuem uma ampla importância no que se referem à estocagem e posterior
utilização da energia. Fontes intermitentes de energia, como por exemplo, a eólica e a solar,
empregam muitas vezes bancos de baterias quando o vento ou luminosidade é insuficiente.

*lapp@uerj.br
**thaysecristina@ig.com.br
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ - Endereço: Rua S. Francisco Xavier, 524 FEN / ELE, sala 5029 –
A - Tel: (21)2587-7401

879
Existem vários tipos de bateria utilizando diversos elementos em sua composição. Estas
variações determinam distintas densidades de energia e de potência. Neste trabalho foi
enfocada a do tipo chumbo-ácido. Estas são comumente utilizadas nas mais diversas apli-
cações, inclusive, em veículos elétricos nos quais é essencial o conhecimento do estado de
carga tendo em vista a previsão da sua autonomia [PECORELLI PERES, L. A., 2003]. As
do tipo chumbo-ácido possuem uma tecnologia sedimentada e grandes avanços. Constitui
ainda o tipo mais acessível, devido às facilidades em sua manufatura e reciclagem.
2 Descrição das Equações de Peukert e Shepherd
Equação de Peukert
Esta equação [BOTTURA, C.; BARRETO, G., 1989] tem por objetivo relacionar o tem-
po de descarga de uma bateria a um valor constante de corrente de descarga, e é dada por:
T=K
In (01)

Onde:
T - Tempo de utilização da bateria em h
I - Corrente elétrica de descarga em A
k e n - Constantes de Peukert
O valor de n, em geral, fica compreendido entre 1,2 e 1,4. Estes valores estão sujeito às
características da bateria chumbo-ácido.
O estado de carga da bateria levando-se em consideração qualquer valor constante de
corrente, os valores nominais de corrente de descarga e de capacidade, e o tempo de sua
utilização, pode ser traduzido pela equação:
Q −1

S=1-
, .7  ,
. 

 (02)
&1 
 ,1 
Onde: S - Estado de carga da bateria
CN - Capacidade nominal da bateria em A.h.
IN - Corrente nominal de descarga em A
Equação de Shepherd
Esta equação [BOTTURA, C.; BARRETO, G., 1989] descreve a queda de tensão de
uma bateria, levando-se em consideração o tempo e a corrente de descarga, dada como:

 4 
E = ES – N.I – K.I.   (03)
 4 − , .W 
Onde: E - Tensão terminal da bateria em V
ES - Tensão de referência em V
880
t - Tempo de utilização da bateria em s
Q - Constante referente à carga máxima da bateria em A.s.
N - Constante relativa à resistência interna da bateria em
K - Constante relativa à resistência interna da bateria em
I - Corrente elétrica de descarga em A
Os valores de ES, N, K e Q são as constantes de Shepherd e podem ser determinados
experimentalmente.
3 Modelagem Computacional Proposta
Neste trabalho foi desenvolvida uma rotina computacional que utiliza as equações de
Peukert e Shepherd, de forma híbrida, para informar o estado de carga de uma bateria
submetida a valores de corrente de descarga sucessivos e variáveis.
O emprego das equações (01) e (03) exigem o conhecimento prévio das suas constantes.
Para isto, foram desenvolvidas rotinas adicionais visando o cálculo destas.
Cálculo das Constantes de Peukert
A partir da equação de Peukert (01) foi desenvolvida a rotina "Peukert" em ambiente
computacional específico [HANSELMAN, D.; LIULEFIELD, B., 1999] para se determi-
nar as suas constantes n e k.
O conhecimento do valor da constante n é importante, pois está relacionado com a
resistência interna da bateria. Quanto maior a constante n de Peukert menor será o tempo
de descarga para uma mesma corrente.
Para desenvolver esta rotina fez-se necessário o uso de métodos matemáticos a fim de
que a equação (01) pudesse ser expressa por um comportamento linear. Segue o processo:
N N
7= Q
∴ log 7 = log Q
∴ log 7 = log N − Q log ,
, ,
Assim, a equação em seguida pode ser utilizada:

log 7 = −Q log , + log N (04)

Foi suposto o conhecimento prévio, através de ensaio, dos tempos correspondentes às


correntes de descarga completa a que foi submetida a bateria. A título de ilustração foram
transcritos os valores do ensaio realizado por [BOTTURA, C.; BARRETO, G., 1989] com
uma bateria de capacidade nominal igual 36 A.h. e tensão 12 V, indicados na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Valores de Ensaio para Obtenção das Constantes de Peukert

Corrente de
1,80 4,00 6,00 8,00 10,00 15,00
Descarga ( A )
Tempo de
16,42 5,90 3,70 2,70 2,10 1,16
Descarga ( h )

881
Colocando-se estes valores em escala logarítmica são obtidos então os pontos que me-
lhor se ajustam a equação de uma reta representativa da equação (04). Com isto é possível
determinar o polinômio que melhor se ajusta e determinar, portanto, as constantes n e k.,
neste caso iguais a 1,23 e 33,48, respectivamente.
A Figura 3.1 apresenta o gráfico da equação (04) utilizando-se a rotina “Peukert” aqui
desenvolvida. Os valores encontrados para n e k estão de acordo com [BOTTURA, C.;
BARRETO, G., 1989].

Figura 3.1 - Gráfico de Corrente versus Tempo Utilizando a Rotina “Peukert”

Constantes de Shepherd
A equação de Shepherd (03) possui quatro constantes e a rotina computacional
“Constshepherd” foi desenvolvida para calculá-las a partir de ensaios inicialmente conduzi-
dos. Para isto, supõe-se conhecidas previamente duas curvas de tensão terminal da bateria
em relação à sua capacidade em A.h, que são submetidas a duas correntes de descarga
distintas até que a tensão atinja um valor indesejável. Este valor para baterias chumbo-ácido
de 6 células e tensão nominal igual a 12 V é considerado igual a 10,5 V. Visando ilustrar o
entendimento do cálculo descrito são mostrados os pontos das curvas apresentados por
[BOTTURA, C.; BARRETO, G., 1989] na Tabela 3.2, a seguir:

882
Tabela 3.2 - Valores de Ensaio Obtidos das Curvas 1 e 2

Curva 1 (Ia=6 A) Curva 2 (Ib = 10 A)


E2 = 12,0 V T2 = 1,25 h E1 = 12,0 V T1 = 0,50 h
E4 = 11,5 V T4 = 3,00 h E3 = 11,5 V T3 = 1,42 h

Para o desenvolvimento desta rotina foram necessários alguns desenvolvimentos algé-


bricos com a equação de Shepherd (03). Foram obtidos dois sistemas e cada um com duas
equações, conforme segue.
O primeiro sistema de equações é dado por:
  4 
 (2 = (6 − 1, D − ., D  
  4 − , DW 2 
 (05)
  4 
 
 (4 = (6 − 1, D − ., D  4 − , W 
  D 4 

O segundo sistema de equações é dado por:


  4 
 (1 = ( 6 − 1, E − ., E  
  4 − , E W1  (06)

 ( = ( − 1, − .,  4 

 3 6 E E
  4 − , EW3 
Subtraindo-se as equações indicadas em (05) tem-se:
 4 4 
(2 − ( 4 = ., D  −  (07)
 4 − , DW4 4 − , DW 2 

 , DW4 − , DW2  (08)


− ( 4 = ., D 4  
( )( )
(2
 4 − , W
D 4 . 4 − , D 2 
W

Fazendo-se o mesmo para o sistema (06) obtém-se:

 4 4 
(1 − (3 = ., E  −  (09)
 4 − , W
E 3 4 − , E 1 
W

 , E W 3 − , E W1  (10)
− ( 3 = ., E 4  
 (4 − , E W 3 )(
. 4 − , E W1 )
(1

Dividindo-se as equações (08) e (10), resulta uma equação que depende apenas da cons-
tante Q de Shepherd, pois os demais valores foram obtidos pelo teste conforme Tabela
3.2:
(2 − (4 [ − , D W 2 ].[(4 − , E W 3 )(4 − , E W1 )]
,D , DW4
= (11)
(1 − (3 , E (4 − , D W 4 )(4 − , D W 2 )(, E W 3 − , E W1 )

883
Utilizando uma rotina específica em ambiente computacional de matemática MATLAB
[HANSELMAN, D.; LIULEFIELD, B., 1999], a constante Q pode ser determinada e a
partir desta obteve-se K, substituindo-se Q em (08) ou (10), e por último N e ES .
Modelo Híbrido das Equações de Peukert e Shepherd
A equação (02) derivada da equação de Peukert que calcula o estado de carga da bateria
não leva em conta a tensão obtida correspondente à corrente de descarga considerada. Esta
tensão é bem significativa para o conhecimento do estado de carga da bateria, tendo em vista
que o seu decréscimo não deve exceder cerca de 12,5% em relação ao seu valor nominal
quando estiver funcionando no modo de descarga. De modo análogo, a utilização isolada da
equação de Shepherd responde apenas pela tensão da bateria após um período de descarga.
Este trabalho apresenta de maneira inovadora a combinação dos dois métodos visando o
cálculo do estado de carga da bateria após submetê-la a valores varáveis de correntes.
O conceito de estado de descarga da bateria pode ser inserido na equação de Shepherd,
uma vez que é apresentado como:

I = ,W (12)
4
Onde: f - Estado de descarga da bateria
Então com a substituição de (12) na equação de Shepherd (03), assim como proposto
por [BOTTURA, C. BARRETO, G., 1989], resulta:
 1 
( = ( 6 − 1, − .,   (13)
1 − I 
Desta forma há uma relação entre a tensão terminal, corrente de descarga e estado de
carga, uma vez que os estados de carga e descarga estão interligados do seguinte modo:

6 =1− I (14)

Observa-se que a equação (13) é independente do tempo de descarga, o qual está explí-
cito no estado de descarga (12). Na simulação realizada por [BOTTURA, C.; BARRETO,
G., 1989] foram considerados vários estados de descarga fixos e obteve-se uma família de
curvas com o comportamento da tensão em função da variação da corrente.
Neste trabalho, contudo, procurou-se desenvolver uma rotina mais geral, a “Estcargareal”, cuja
corrente de descarga a qual a bateria é submetida pode sofrer variações na sua intensidade. Esta
consideração é importante, pois nas aplicações usuais as baterias não são solicitadas com correntes
constantes. Foi necessário, portanto, um tratamento discretizado para a corrente fornecida pela
bateria de tal forma a representá-la por um vetor. Sendo assim, como os elementos do vetor de
corrente são desiguais, e como os intervalos de tempo também podem variar, nota-se pela equa-
ção (02) que o estado de carga também poder variar a cada intervalo de tempo. Pela relação (14)
o estado de descarga também será variante, e pela equação (03) a tensão terminal da bateria do
mesmo modo estará mudando. Logo, foi possível criar a rotina “Estcargareal” que reúne estas
variações e fornece algo significativo para a análise da simulação do desempenho das baterias, pois
a cada instante é possível saber o seu estado de carga e se foi atingida uma tensão indesejável.
884
No trabalho aqui desenvolvido assumiu-se um vetor de correntes tomando-se, entretan-
to, cuidados especiais quanto aos valores que foram escolhidos. Segundo [BOTTURA, C.;
BARRETO, G., 1989] é preciso estar alerta quanto aos limites da faixa de aplicabilidade das
constantes de Shepherd os quais não devem ser desrespeitados.
4 Descrição e Resultados das Simulações
Para a realização deste trabalho foram realizadas simulações com as rotinas “Peukert”,
“Constshepherd” e “Estcargareal”. Para isto, foi considerada uma bateria de 12V, 36 A.h.
de acordo com [BOTTURA, C.; BARRETO, G., 1989]. O primeiro passo consistiu na
obtenção da constante de Peukert n. Conforme pode ser observado na equação (02), esta
independe da constante k. A Tabela 4.1 apresenta os dados utilizados para este cálculo que
coincidem com os valores de corrente e intervalos de tempo da Tabela 3.2.
Tabela 4.1 - Dados para o Cálculo da Constante n de Peukert

Corrente (A) Tempo (h)


6 3
10 1.42

O emprego da rotina computacional “Peukert” forneceu como resultado n = 1.4642


que está dentro da faixa de valores considerados aceitáveis.
As constantes de Shepherd foram calculadas através dos dados da Tabela 3.2 e apresen-
taram os valores indicados na Tabela 4.2, e que estão em acordo com os valores encontra-
dos por [BOTTURA, C. BARRETO, G., 1989]:

Tabela 4.2 - Constantes de Shepherd


Q (A.s.) ES (V) N (Ω ) K (Ω )
108267,435 12,143 -0,0719 0,0719

Uma vez calculadas todas as constantes foi utilizada a rotina “Estcargareal”, tomando-se
o vetor de correntes solicitadas da bateria conforme a Tabela 4.3 a seguir:
Tabela 4.3 - Vetor de Correntes Imposto à Bateria

&RUUHQWHV $  ,QWHUYDORVGH7HPSR V 
4 2700

5 2700

6 2700

7 2700

885
Com base nos valores da Tabela 4.3 e empregando-se a rotina “Estcargareal” a tensão
da bateria chegou ao valor de 10,5 V ao final de 8895 segundos ou 2,47 horas, apresentan-
do um estado de carga igual a 0,235, portanto, 23,5%.
É interessante verificar que a bateria não seria capaz de atender às solicitações propostas,
ou seja, funcionar adequadamente durante o tempo total de 10800 segundos. Verifica-se
assim, que antes, isto é, ao final de 2,47 horas, a tensão já teria atingido um valor indese-
jável. Neste caso uma das providências seria, por exemplo, utilizar uma bateria diferente, de
maior capacidade, ainda que na bateria testada sobrasse alguma carga.
O gráfico com a variação da tensão terminal da bateria está apresentada na Figura 4.1.
Quanto ao estado de carga encontra-se no gráfico da Figura 4.2, conforme seguem.

Figura 4.2 - Variação da Tensão Terminal da Bateria até 10,5 V, no Instante 8895s

886
Figura 4.3 - Variação do Estado de Carga da Bateria até o Instante em que a Tensão
Alcança 10,5 V (8895 s)

5 Conclusões
A partir dos resultados das rotinas “Peukert” e “Shepherd” desenvolvidas neste trabalho
pode-se perceber que houve uma compatibilidade com os existentes na literatura técnica
utilizada. De fato, houve uma reprodução fiel dos resultados consultados. No tocante a rotina
computacional “Estcargareal”, na qual se considera a variação de corrente e sua duração para
o cálculo do estado de carga da bateria, verificou-se a coerência dos valores de estado de
carga encontrado, pois foi incluída também a variação da tensão neste processo.
O simples emprego da equação de Peukert pode levar a resultados otimistas. Isto foi
verificado no cálculo que serviu de exemplo neste trabalho, no qual sem um exame mais
detido acabar-se-ia por concluir que a capacidade era suficiente, caso não houvesse um
cálculo simultâneo do comportamento da tensão.
O estado de carga é uma informação técnica muito importante, pois indica se a bateria
ainda possui capacidade para suprir a uma certa demanda de potência ou não. Há fatores
adicionais que caracterizam e influenciam no estado de carga, como, por exemplo, a tem-
peratura. Desta forma, a rotina desenvolvida apesar de não levar em conta estes efeitos
adicionais serve como estimativa do estado de carga. Pretende-se dar continuidade a este
trabalho tendo em vista uma maior precisão de resultados bem como a realização de testes
e ensaios complementares.

887
6 REFERÊNCIAS
1) BOTTURA, Celso P. BARRETO, Gilmar. Veículos Elétricos. Campinas: Editora da UNICAMP, 1989.
2) MARTINO, G. Eletricidade Industrial. São Paulo: Hermus Editora, 1982.
3) BRANT, Bob. Build Your Own Electric Vehicle. [s.l.]: Mc Graw – Hill, s/d.
4) HANSELMAN, D. LIULEFIELD, B. MATLAB 5 - Versão do Estudante – Guia do Usuário. São Paulo: Makron Books, 1999.
5) PECORELLI PERES, Luiz A. NOGUEIRA, Luiz A.H. TORRES, Germano L. Influências sobre os sistemas de energia com
a introdução dos veículos elétricos na sociedade. In: III CONGRESSO LATINO-AMERICANO GERAÇÃO-TRANSMISSÃO
DE ENERGIA ELÉTRICA, Campos do Jordão, SP: 1997.
6) PECORELLI PERES, Luiz A. NOGUEIRA, Luiz A. H. TORRES, Germano L. Considerations about Electric Vehicles
Impacts on Daily Load and Environment, publicado no livro Advances in Physics, Electronics and Signal Processing Applications,
editado por Dr. Nikos Mastorakis, World Scientific Engineering Society, 2000, ISBN: 960-8052-17-3
7) PECORELLI PERES, Luiz A. NOGUEIRA, Luiz A. H. TORRES, Germano L. Analysis and Discussion on Energy Supply
to Non-Road Electric Vehicles in Brazil; IEEE POWER ENGINEERING SOCIETY - T&D 2002 LATIN AMERICA
CONFERENCE, São Paulo – Brazil, March 2002.
8) PECORELLI PERES, Luiz A. Veículos elétricos: Benefícios Ambientais e Energéticos. Rio de Janeiro: Associação Cultural de
Pesquisa Noel Rosa, 2003. 1 disco a laser para computador: son., color.; 4 3/4pol.
9)IMPINNISI, Patricio Rodolfo. Baterias para VEHs. Conferência proferida no Seminário sobre Veículo Elétrico
Híbrido editada em CD, Blue Tree Convention, São Paulo, SP, Brasil, 27 de abril. 2004.

888
AQUITETURA BIOCLIMÁTICA
E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
CASO DO PROJETO CASA

Celso Eduardo Lins de Oliveria*


Samuel Nelso Melegari**
Cacea Furlan Maggi ***

RESUMO
Neste estudo foram feitas análises do consumo de energia no Centro de Análise de
Sistemas Alternativos de Energia – CASA, que possui dois módulos experimentais
unifamiliares sendo um convencional e outro inovador, ambos com 50 m2. Os recursos do
módulo inovador, construído com preceitos de arquitetura bioclimática e eficiência energética
visam aproveitar a energia solar, técnicas de resfriamento passivo e ativo como o aprovei-
tamento da água da chuva controlado por um sistema de monitoração de variáveis ambientais
e comandados via CLP. Os eletrodomésticos utilizados no inovador são os considerados
de baixo consumo de energia, enquanto que no convencional foram utilizados equipamen-
tos convencionais. Foi analisado o consumo de ambas as residências para o período de um
ano, dividido em dois sub-períodos, considerando primavera-verão e outono-inverno para
a região de Cascavel Paraná. A análise de consumo foi feita considerando a demanda das
instalações, e informações de catálogos dos eletrodomésticos para cada unidade, onde
foram estimados os dados de consumo (kWh)/mês dos equipamentos. Os resultados fo-
ram que para o mesmo conforto térmico dos módulos, o convencional terá um consumo
de 6340,032 kWh/ano, enquanto que o consumo do inovador foi estimado em 2135,448
kWh/ano. Foi possível concluir que pode ser recomendada a adoção das tecnologias pro-
postas para a redução do consumo de energia elétrica.

*
Prof. Dr. Celso Eduardo Lins de Oliveria
**
Prof. Dr. Samuel Nelso Melegari
***
Engª. Agrícola Cacea Furlan Maggi
Centro de Analise de Sistemas Alternativos de Energia - CASA - Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
UNIOESTE - Rua Universitária 2069 Faculdade - Cascavel - PR CEP: 85.814-110 - Tel: 45 220-3273 e.mail:
celsooli@unioeste.br

889
INTRODUÇÃO
A questão da Eficiência Energética torna-se importante à medida que as perdas elétricas
anuais no Brasil correspondem a 1% do PIB (Produto Interno Bruto), que equivalem a 3,5
bilhões de reais (PROCEL 2002).
Países tão diversos como México e a Suécia tem executado projetos para garantir o uso
eficiente da energia no setor residencial (SATHAYE, 1994; SWISHER, 1994). Já no Brasil, o
setor elétrico tem procurado garantir o suprimento futuro de eletricidade com a realização de
programas de conservação de energia (CALLAGHN, 1993; JANNUZZI & SWISHER, 1997).
Segundo a COPEL (2001), o setor residencial participou com 14% do consumo total de
energia no Paraná em 2000. A participação da eletricidade no setor evoluiu de 26,8% em 1980
a 62,2% em 2000. (COPEL, 2001). Estima-se que cada consumidor desperdiça cerca de 10%
da energia fornecida, seja por hábitos adquiridos ou uso ineficiente dos eletrodomésticos.
As políticas energéticas que ignoram as possibilidades e os resultados possíveis a serem
alcançados através de uma ação eficaz sobre a demanda, deixam de explorar um vasto cam-
po de utilização racional de energia, seja pelo aumento de eficiência energética de aparelhos,
equipamentos e instalações, seja pela mudança de hábitos de consumo e, ainda, pelo aprovei-
tamento de energéticos de maior rendimento ou eficiência. (ELETROBRÁS-PROCEL, 1988).
Existe hoje em todo mundo uma preocupação crescente de utilizar equipamentos e
aparelhos elétricos que consumam a menor quantidade possível de energia para realizar
uma mesma tarefa. Isso evita desperdício de energia e pode representar grande economia
de recursos pelo adiantamento das necessidades de novas usinas geradoras de eletricidade
e de seus sistemas de transmissão e distribuição associados, bem como a melhor utilização
da capacidade de geração já instalada. A esse esforço em usar mais eficientemente a energia
disponível dá-se o nome de “Conservação de Energia”. (COPEL, 1992).
A função arquitetônica interage com a forma e com a eficiência energética de um edifício. o
mesmo projeto arquitetônico, se destinado a fins distintos como comércio ou habitação, por
exemplo, pode resultar em comportamentos energéticos diferentes. Isto vem provar que o
estudo da função arquitetônica é primordial na escolha de determinado critério ou estratégia
bioclimática a ser adotada. As funções residenciais, comerciais e públicas são distintas do ponto
de vista da dependência do clima e conseqüentemente, de consumo de energia. Nos setores
comercial e público embora a utilização de sistemas naturais de condicionamento e iluminação
não seja explorada, estes aparecem como opção para economizar energia. O uso de sistemas
naturais de condicionamento sempre é possível, evitará a dependência exclusiva dos sistemas
artificiais. Quanto aos sistemas artificiais de iluminação e condicionamento, sua utilização pode
ser exigida em virtude de algumas configurações e apropriações espaciais do ambiente interior.
É importante conhecer os sistemas principalmente no que se refere à eficiência e adequação. Na
arquitetura, a eficiência energética não significa desprover os espaços interiores de luz artificial ou
do ar condicionado (consumidores em potencial de energia), mas sim saber quando e quanto é
necessário (EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ARQUITETURA, 2000).
O Setor Residencial tem enfrentado nos últimos tempos um crescimento médio de 6% ao
ano no consumo de energia. Nesse ritmo, atingiu em junho de 1999, cerca de 80 TWh/ano.
Isso corresponde a 28% do consumo total do país, e a 40% do faturamento do setor elétrico.
890
Mais de 38 milhões de residências são atendidas por energia elétrica em todo o Brasil,
resultado de um expressivo esforço de incorporação de consumidores ao mercado. Esti-
ma-se que cada consumidor desperdiça cerca de 10% da energia fornecida, seja por hábi-
tos adquiridos ou uso ineficiente dos eletrodomésticos (PROCEL 2000).
No Brasil o setor residencial em 1970 consumia cerca de 21,1% do total de energia elétrica
do país, já em 2000 esse índice se elevou para 25,2%, mas foi neste ano que o setor residencial
atingiu seu pico máximo já consumido. Em 2002 o consumo se reduziu para 22,6%, isso
pode ser explicado devido à crise energética ocorrida nesse período e as campanhas de
conscientização da população da importância de se economizar energia para garantir o supri-
mento futuro, já que a demanda por energia vem crescendo ano a ano (BEN 2003).
No Paraná o setor residencial em 1980 consumia 9,6% do total de energia elétrica
consumida no estado, já em 1993 esse consumo aumentou para 22,6%, em 2000 o setor
atingiu o seu auge passando a consumir 30,3% . Em 2002 o consumo no setor residencial
foi em torno de 30% do consumo total do estado.(COPEL 2003).

Figura 1 - Uso da energia elétrica em uma residência

Fonte: COPEL ,(2003)

A Figura 1 mostra que os eletrodomésticos de maior consumo numa residência são geladeira,
chuveiro elétrico e a iluminação. Portanto, tudo o que se puder fazer para melhorar o uso destes
equipamentos pode trazer grandes resultados no conjunto dos consumidores. (COPEL 2003).
O objetivo deste trabalho é comparar o consumo de energia elétrica em residências
construídas com diferentes tecnologias arquitetônicas e de eletrodomésticos, demonstran-
do o desenvolvimento de estratégias que visam reduzir seu consumo e incentivando a
compra de equipamentos mais eficientes energeticamente.
MATERIAL E MÉTODOS
Local
As estimativas do consumo de energia foram realizadas para os módulos experimentais
do Centro de Análise de Sistemas Alternativos de Energia – CASA, que se localiza na
latitude de 24º 53’ Sul, longitude 53º 23’ Oeste e altitude de 682 m em Cascavel – PR,
constituindo-se em duas residências unifamiliares ambas com 50 m2 que são a seguir descri-
tos em suas características técnicas.
891
Módulos
Módulo convencional – Casa 01
Consiste em uma residência convencional (Figura 2) em seu estilo arquitetônico que
funciona como testemunha do estudo experimental comparativo, buscou-se reproduzir
condições comumente encontradas em residências convencionais. Tanto o sistema constru-
tivo e os materiais empregados como a implantação nos lotes, a utilização de energia elétri-
ca e a qualidade do ambiente resultante refletem uma prática de construção que pouco se
considera o conforto ambiental, resultado de um desconhecimento do assunto tanto por
construtores como por compradores, pois é comum a construção de residências padroni-
zadas sem se considerar a orientação do terreno ou a presença de construções altas ao
redor, condicionando o desempenho da insolação e da iluminação, já que o emprego de
janelas verticais é o mais utilizado. Nesta residência os eletrodomésticos instalados são do
tipo convencional incluindo a instalação de ar condicionado.

Figura 2 - Módulo convencional, residência padrão com o


objetivo de estudo comparativo

Módulo inovador – Casa 02


Consiste em uma residência não convencional concordando um desenho inovador com
modernas tecnologias, com formato octogonal permitindo obter o melhor proveito dos
ventos e da insolação disponíveis, a casa se mantém aquecida por combinar paredes de
concreto celular – material com bom poder de isolamento térmico – com janelas relativa-
mente pequenas e as esquadrias de vidro duplo. Além disso, recebe bastante radiação solar
pela clarabóia situada sobre o núcleo, onde fica o banheiro.
No verão, o módulo inovador é intensamente ventilado, aproveitando tanto a ventilação
cruzada como a convecção natural. Mediante o emprego de ventiladores, é possível o
resfriamento da massa estrutural no período da noite, conservando a casa fria ao longo do
dia, sem necessidade de ar condicionado. A radiação solar é bloqueada por uma constru-
ção inteligente que, no 180 dias mais quentes do ano, projeta sombra sobre a clarabóia e,
nos dias restantes, permite a passagem dos raios solares.

892
O armazenamento de água da chuva permite a casa contar com um recurso rápido de
resfriamento mediante a aspersão da água fria sobre as paredes de vidro do box do chu-
veiro, que se comunicam com a sala de estar e desta forma transmitem frio sem transmitir
umidade. Também através dessas paredes de vidro, quem toma banho pode receber o
calor da lareira acesa na sala.

Figura 4 - módulo inovador, desenho com modernas tecnologias, formato octogonal

Detalhamento das soluções alternativas


Os recursos da Casa 02 se resumem em equipamentos destinados a aproveitar a energia solar
para produzir tanto água quente quanto energia elétrica, ventiladores e aberturas de ventilação
automatizadas, e todo um sistema de acionamento remoto e monitoração de variáveis ambientais,
onde tudo é controlado por computador. A seguir destacam-se alguns recursos utilizados.
Abertura zenital
Uma abertura zenital faz da cobertura uma aliada do conforto térmico, favorecendo
então, a redução do consumo de energia elétrica. Esta abertura, denominada clarabóia,
possui cerca de 8 m², localiza-se sobre um cômodo de caráter especial, com uma dupla
função de transmissão e armazenamento de calor, o banheiro, embora situado no centro
da planta, é o caminho mais curto para o calor fluir entre os quartos, sala, cozinha e
lavanderia e o exterior. Enquanto nos outros cômodos são cercados por isolantes térmi-
cos nas paredes externas e janelas de vidro duplo, piso e forro, o banheiro tem cobertura
em vidro simples permanentemente ventilado. Portanto, é a porta de comunicação entre
o clima interno e o clima externo.
Escama seletiva na clarabóia
Toda a abertura da clarabóia se encontra protegida por uma caixa vazada, de placas
(brises) formando diferentes aberturas, todas elas orientadas segundo um plano paralelo ao
eixo do equador e inclinado de 65° em direção ao norte. Tal configuração permite o
ingresso de radiação solar direta somente na metade mais fria do ano, entre os equinócios

893
de outono e primavera, atravessando o inverno. Na outra metade do ano, penetra apenas a
radiação solar difusa, responsável pela iluminação, sendo os raios diretos refletidos pela
combinação de superfícies lisas numa face e estriada na outra face das placas.
Gateiras
Consistem numa abertura à altura dos rodapés que se convencionou chamar de gateira,
pela semelhança com as grades situadas debaixo do piso de maneira das casas construídas
até o inicio deste século.
A abertura e o fechamento das gateiras são motorizados. Para prover ventilação nos dias
em que não houver vento sendo seu acionamento automatizado.
Os cômodos são cercados por paredes externas de concreto celular – material de um
razoável poder de isolamento térmico – mantendo assim, a residência quente no inverno.
Iluminação suplementar
O aproveitamento da luz natural no módulo experimental convencional se dá
somente através de aberturas laterais, enquanto que no módulo inovador há admis-
são de considerável quantidade de luz natural pela sua abertura zenital do banheiro,
que se comunica com os demais cômodos por lâminas e tijolos de vidro. Contribu-
em para tanto a iluminação celeste, difusa por natureza, como eventuais raios solares
diretos que penetrarem no volume, tornados difusos depois de várias reflexões pelas
superfícies do banheiro.
Para tanto, a iluminação elétrica utilizada à noite deve servir também no modo de
iluminação permanente suplementar. Ao se acionar um interruptor específico, as lâm-
padas passam a acender somente na quantidade necessária a complementar a ilumina-
ção natural; na presença de luz natural abundante, as lâmpadas permanecem apagadas.
Sistemas de aquecimento e refrigeração
Atuando no conforto térmico, os sistemas de aquecimento e refrigeração do módulo
inovador influenciam também na quantidade energia elétrica que se consome para manter
um ambiente ideal para os usuários do mesmo.
O banheiro ocupando a porção central da casa e tem dois compartimentos onde
tanto o piso como o forro, são permeáveis ao ar, formando canais de circulação. O
compartimento do vaso sanitário está cercado de espessas paredes de alvenaria, enquan-
to que o compartimento do chuveiro está cercado de paredes de vidro. Um sistema de
refrigeração rápida se estabelece ao se jorrar água por um sistema de aspersão que se
encontra ao lado da ducha. Molhando as paredes de vidro com água fria da cisterna,
tem-se um meio de refrigerar a sala da casa (por trás da lareira) sem aumentar a umidade
absoluta do ar, já que o ar úmido permanece no canal do compartimento, que tem porta
dotada de mola. Convém lembrar que um reservatório subterrâneo de água mantém sua
temperatura bastante estável ao longo do ano, tanto mais quanto mais fundo for o reser-
vatório. Uma vez esvaziado, o reservatório é preenchido novamente ao chover, e a água
troca calor com o solo envolvente, adquirindo temperatura semelhante à deste.

894
Lareira
A lareira por sua vez também funciona como uma forma de redução no consumo de
energia, ela é integrada ao box do chuveiro, a parede que separa o recinto do chuveiro da
sala é de vidro temperado, resistente ao calor, desta forma, aquece as paredes de vidro do
banheiro aquecendo também os outros cômodos do módulo inovador.
Desenvolvimento experimental
As análises sobre o consumo de energia elétrica do Projeto Casa desenvolveram-se
em duas etapas utilizadas para levantamento dos dados. Na primeira foi analisado o
perfil das famílias cadastradas para morar no Casa, foram selecionadas duas famílias
sendo ambas, o casal com um filho, através das famílias foi realizado um levantamento
para saber quantas horas em média cada equipamento avaliado era usado por mês.
Considerando que o período experimental foi de 1 ano dividido em dois períodos,
considerando o período de primavera-verão no qual se deu nos meses de setembro de
2002 a fevereiro de 2003, período no qual se encontram as temperaturas mais elevadas
do ano, onde podemos aproveitar melhor a iluminação e a ventilação natural principal-
mente do módulo inovador. O segundo período considerado foi o de outono-inver-
no que se considerou os meses de março a agosto de 2003, período no qual é conside-
rado com as menores temperaturas anuais para a região de Cascavel – PR, onde tem a
função principal de aproveitar a radiação solar para o aquecimento do módulo inova-
dor, fazendo com que se reduza o consumo de energia elétrica com aquecimento, que
por ser construído com paredes de concreto celular tem um bom isolamento térmico
mantendo a casa aquecida por mais tempo.
Na segunda etapa foram levantados os dados de potência dos equipamentos em KW,
segundo o catálogo dos fabricantes, para posterior cálculo através dos dados levantados.
Através do número de horas de uso levantado, segundo informações dos morado-
res e as potências dos equipamentos, que foram conseguidas através dos catálogos dos
eletrodomésticos usados nas residências, foi calculado o consumo de energia elétrica
nas residências, segundo equação 01:
E = P.t ... eq.01
onde:
E = consumo de energia do equipamento em kWh
P = potência do equipamento em kW
t = tempo de uso mensal do equipamento em horas.
A análise de consumo foi realizada considerando-se a capacidade das instalações e infor-
mações de catálogos dos eletrodomésticos.
Na tabela 1 são apresentados os equipamentos dos módulos convencional e inovador,
com a marca e o tamanho, utilizados para o estudo comparativo do consumo de energia
elétrica anual das residências.
895
Tabela 1 - Dados dos equipamentos das residências, marca e tamanho

5HVLGrQFLD&RQYHQFLRQDO 5HVLGrQFLD,QRYDGRUD
(48,3$0(172 0$5&$ (48,3$0(172 0$5&$
Ar condcionado Cônsul Ar condcionado Cônsul
Chuveiro elétrico Lorenzetti Ferro de passar Walita
Verão Fogão elétrico Jung
Inverno Ferro de passar Walita
Ferro de passar Black & Decker Freezer (239 l) Continental
Freezer (251 l) CCE Geladeira (237 l) Eletrolux
Geladeira (263 l) CCE Iluminação Siemens
Iluminação Philips Lava roupas (5 Kg) Cônsul
Lava roupas (5 Kg) Enxuta Microondas (30 l) LG
Microondas (19 l) LG TV a cores Panasonic
TV a cores CCE Vídeo cassete Semp
Vídeo cassete Semp

RESULTADO E DISCUSSÕES
Atualmente o consumo de energia elétrica em residências atinge valores elevados, isso
ocorre porque não existe nenhuma medida que vise conscientizar ou educar os usuários
sobre o racionamento desses recursos, além disso, o uso de equipamentos defasados que
consomem mais e que foram superados por outros mais eficientes e econômicos faz com
que esse consumo aumente.
O resultado disso implica em gastos que poderiam ser transformados em recursos que
viabilizariam a substituição gradual dos aparelhos antigos, sendo assim fica evidente a ne-
cessidade de estudos e de programas de incentivo para que transformem esta realidade.
Os dados apresentados na Figura 4 representam o consumo de energia em kWh/mês
dos módulos experimentais nos dois períodos considerados e o consumo anual das resi-
dências em kWh/ano.
Figura 4

(67,0$7,9$'(&2168023(5,2'235,0$9(5$9(5­2 (67,0$7,9$'(&2168023(5Ë2'2287212,19(512

800 400
718,386
350 338,286
700
V r 600 V
r 300
0 0
K 500 K 250
:
N :
N 182,234
2 400 2 200
0 0
86 150
8
61 300 1
2 200 173,674 2 100
& &
100 50

- -

CASA INOVADORA CASA CONVENCIONAL CASA INOVADORA CASA CONVENCIONAL

a) Consumo (kWh/mês) das residências no b) Consumo (kWh/mês) das residências


período de Primavera - Verão no período de outono - Inverno

896
Na Figura 4 são mostrados os consumos sazonais dos módulos avaliados nos períodos
experimentais de primavera–verão (a) no qual foram considerados os meses de setembro
de 2002 a fevereiro de 2003, e outono-inverno (b) no qual foram considerados os meses
de março a agosto de 2003.
Na figura 5 temos o consumo mensal dos módulos no período experimental de outo-
no–inverno. Na qual está representado o consumo de energia elétrica total das residências,
avaliados durante o período experimental.

Figura 5 - consumo (kwh/ano) das residências no período experimental de um ano

(67,0$7,9$'2&216802$18$/'(5(6,'Ç1&,$6

7.000
6.340,032

6.000
2
15.000
$
K
 4.000
:
N
23.000
0
8
62.000
2.135,448
1
2
&
1.000

CASA INOVADORA CASA CONVENCIONAL

Os resultados obtidos através da análise das figuras foram que para o mesmo conforto
térmico das residências, a casa convencional terá um consumo no período de um ano três
vezes maior que a casa inovadora, tornando-se viável então a substituição de equipamentos
e adoção de novas tecnologias para redução do consumo de energias em residências.
No período experimental proposto, a redução do consumo de energia do módulo
inovador em relação ao convencional, foi de 4204,58 kWh , considerando que o custo do
kWh, segundo a COPEL em 2003 era de 0,300625 , isso acarretaria num custo adicional de
1.263,34 (mil duzentos e sessenta e três reais e trinta e quatro centavos).
Deve-se levar em consideração ainda que, para o módulo convencional não foi avaliado
economicamente o consumo do gás GLP utilizado no fogão, já que o fogão do módulo
inovador é elétrico e foi avaliado juntamente com os outros equipamentos.
CONCLUSÕES
A análise de consumo foi realizada considerando a capacidade das instalações, e infor-
mações de catálogos dos eletrodomésticos para cada unidade experimental, onde foram
coletados os dados de consumo em kWh/mês de cada equipamento e analisados no
final do período experimental.
Reduzir o consumo de energia elétrica não significa necessariamente diminuir a
qualidade de vida dos seus usuários, significa sim, utilizar racionalmente e de forma
eficaz o recurso sem desperdícios.
Para se alcançar resultados concretos é necessário à união de fatores que levem a uma série
de ações práticas determinadas em um estudo teórico. Sendo assim é fundamental a ligação
entres as medidas de caráter teórico associado com o comportamento dos usuários.
897
Sendo assim com base nos dados levantados neste trabalho recomenda-se a substitui-
ção de equipamentos de baixo consumo de energia em residências, já que consumo da
residência convencional foi significativamente superior ao módulo inovador no período
experimental avaliado.
Para que sejam confirmadas as medidas é necessária a realização dos períodos de mora-
dia dos módulos experimentais, outros tipos ensaios de ensaios com outros equipamentos,
que serão a próxima etapa deste projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.copel.br/balançoenergético. Capturado em 20 de outubro de 2003
CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A. Disponível em : http://www.eletrobras.com/procel1/
mainframe_3_7_1.htm - Capturado em 18 de outubro de 2003.
COPEL – Companhia Paranaense de Energia. Sinopse do Balanço Energético do Paraná, p. 18 – 56, 2001.
COSTA, G. J. C. Iluminação Econômica – Cálculo e Avaliação. Porto Alegre, Editora da PUCRS, 1998.
EFICIÊNCIA ENERGÈTICA NA ARQUITETURA, CD-ROM. São Paulo, SP. 2000.
ELETROBRÁS/PROCEL. Conservação de Energia: Eficiência Energética de Instalações e Equipamentos. Itajubá.
Editora da Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 2001.
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Elétrica na Cidade de Manaus. Campinas: Universidade de Campinas/Eletrobrás/PROCEL/UNDP, CD-ROM, 1996.
JANNUZZI, G. M., SWISHER, J. P. Planejamento Integrado de Recursos Energéticos: Meio Ambiente Conservação de
Energia e Fontes Renováveis. Campinas: Editora Autores Associados, 1997.
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SATHAYE, J. Economic Analysis of llumex – A project to Promote Energy-Efficient Residential lighting in Mexico.
Energy Policy, p.163 – 171, 1994.
SECRETARIA DE ESTADO DE ENERGIA. Introdução à Gestão Energética Municipal – Formação de Gerentes
municipais de Energia. São Paulo, Agência para Aplicações de Energia, CD-ROM. 1998.

898
UTILIZAÇÃ O DE GÁS NATURAL
EM CÉLULAS A COMBUSTÍVEL
PARA GERAÇÃO DE ENERGIA
EFICIENTE E DESCENTRALIZADA

Brandão, M.O.1
Almeida, S.C.A 2.
Gatti,G.C.3

RESUMO
O presente trabalho trata a utilização racional e eficiente de um combustível de interesse
crescente no mercado seja por descobertas de novas reservas ou pelo seu potencial para o
setor automotivo. Atualmente, 80% da energia gerada provém da combustão [1], processo
que apresenta eficiência baixa se comparada com a eficiência das células a combustível. Esta
última é um dispositivo eletroquímico que, em essência, combina oxigênio e hidrogênio
gerando água, energia e calor. Este trabalho apresenta como o Gás Natural pode ser uma
boa opção para as células a combustível e como a geração descentralizada poderia ser
beneficiada com a adoção desse método de geração.

INTRODUÇÃO
As células a combustível são dispositivos eletroquímicos, ou seja, aproveitam a varia-
ção de energia química entre os níveis energéticos, inicial e final, de uma reação química
utilizando essa diferença como força eletromotriz. A célula a combustível então funciona
como um verdadeiro gerador.
Existem cinco tipos de células a combustível sendo a distinção básica entre eles o tipo de
eletrólito utilizado. A célula a combustível de estudo é a PEMFC, célula que utiliza um
polímero de troca protônica como eletrólito. Em um outro nível de classificação as células
a combustível podem também ser classificadas quanto ao tipo de oxidação, podendo ser
direta ou indireta. A oxidação indireta é a que utiliza reformador, equipamento que extrai o

1
homer@ufrj.br 2 silvio@serv.com.ufrj.br 3 gatti.ufrj@globo.com
Programa de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Tecnologia, Bl. G, sala G-
203, Cidade Universitária, Rio de Janeiro – RJ – Tel:(021) 2562-8388

899
hidrogênio contido no combustível para utilização na célula. Já a de oxidação direta não
possui essa etapa intermediária, sendo o combustível inserido na própria célula para reação.
Tecnicamente é possível se obter uma célula do tipo PEMFC de oxidação indireta, ou seja,
com reformador, operando com 70% de eficiência na conversão elétrica. Embora esse valor
não seja atingido na prática e fique em máximos 55%, devido à eficiência de conversão do
reformador, ele configura uma possibilidade que não deve ser descartada [3].
O hidrogênio utilizado nas células a combustível é em sua maioria proveniente dos
hidrocarbonetos ou doa álcoois. O Gás Natural se apresenta como o hidrocarboneto de
reforma mais viável devido à sua estrutura molecular simples. Esse combustível pode ser
considerado como uma fonte de hidrogênio para as pilhas a combustível.
Princípio geral de funcionamento de uma célula a combustível
A estrutura básica de uma célula a combustível consiste de três partes: anodo, catodo e
um eletrólito. O combustível básico de uma célula a combustível é o hidrogênio, que reage
com o oxigênio produzindo água e eletricidade. Uma representação esquemática de uma
célula a combustível com os reagentes, produtos e as direções dos fluxos de condução de
íons através da célula é mostrada na Figura 1.
Figura 1 - Esquema de uma célula a combustível

L

Combustível Oxidante

+
H2 O2

-
H2O H2O

Combustível Oxidante /
/Produtos Produtos
Anodo Catodo
Eletrolito

Em uma típica célula a combustível, o combustível gasoso é admitido continuamente no


compartimento que contém o anodo (eletrodo negativo) e um oxidante é alimentado con-
tinuamente no compartimento que contém o catodo (eletrodo positivo); as reações se dão
na superfície dos eletrodos para produzir uma corrente elétrica.
Uma célula a combustível é diferente de uma bateria convencional. A bateria é um
dispositivo de armazenamento de energia. A energia máxima disponível é determinada
pela quantidade de reagente contido com a própria bateria. Pode-se então dizer que a
bateria é um sistema fechado enquanto em uso. Uma célula a combustível, entretanto, é um
900
dispositivo de conversão de energia que idealmente tem capacidade de produzir energia
elétrica enquanto o combustível e o oxidante forem fornecidos aos eletrodos. Sendo assim,
caracteriza-se numa célula a combustível um volume de controle. O fluxo de massa se
caracteriza pela entrada dos reagentes e saída dos produtos.
O combustível flui através da superfície do anodo oposta ao eletrólito e gera seu poten-
cial através de sua oxidação. Já o oxidante flui através da superfície do catodo oposta ao
eletrólito e gera seu potencial através de sua redução. Devido a uma diferença de potencial,
os elétrons tendem a migrar de um pólo a outro gerando trabalho – a corrente elétrica. Em
teoria, qualquer substância capaz de sofrer oxidação contínua e que possa ser fornecida
continuamente (como um fluido), pode ser utilizada como combustível no anodo de uma
célula a combustível. De maneira semelhante, o oxidante pode ser qualquer fluido que
possa sofrer redução a uma taxa compatível com o combustível em questão [3].
O combustível mais comum utilizado em uma célula a combustível é o hidrogênio. Ele
pode ser proveniente de outras substâncias ricas nesse elemento. Por exemplo, os
hidrocarbonetos ou álcoois. Gás natural e Metanol são muito utilizados como fonte de
hidrogênio para uma célula a combustível [3]. Eles sofrem um processo químico chamado
reforma que extrai o hidrogênio que será introduzido na célula.
O mecanismo pelo qual as reações ocorrem pode ser descrito da seguinte forma. No
anodo ocorre a oxidação do hidrogênio. Já no catodo ocorre a redução do oxigênio. O
hidrogênio é uma molécula formada por um próton e um elétron. Com a oxidação do
hidrogênio, este tem seu elétron liberado. Esse elétron livre percorre o circuito elétrico até o
outro pólo da célula. O próton remanescente da oxidação do hidrogênio percorre o eletrólito
até o outro lado da célula. Quando os dois (elétron e próton) atingem o lado oposto da
célula eles se combinam com o oxigênio lá presente formando água.
As funções dos eletrodos nas células a combustível são:
l Fornecer uma superfície de contato onde a reação de ionização / desionização acontece
l Conduzir íons para que se estabeleça a corrente elétrica (os eletrodos devem ser
feitos de material ou materiais que tenham boa condutividade elétrica).
l Servir de barreira física que separa o catodo do anodo.
Dois fatores influenciam diretamente para aumentar a taxa de reação. O uso de
catalisadores, principalmente à base de platina e uma grande área superficial no sítio reativo.
Quanto maior a área superficial, maior a eficiência da catálise, uma vez que esta se caracte-
riza por um fenômeno de superfície.
A função catalítica dos eletrodos é mais importante em células a combustível que ope-
rem e baixa temperatura e menos nas de alta temperatura porque a taxa de ionização
aumenta com a temperatura. Os eletrodos porosos devem ser permeáveis aos gases, mas
não ao eletrólito no caso de células que operem com eletrólitos líquidos.
As células a combustível podem ser classificadas pelo uso das diversas categorias,
dependendo da combinação do tipo de combustível e oxidante, se o combustível é
processado fora ou dentro da célula, pelo tipo de eletrólito, a temperatura de operação,
se os reagentes são admitidos à célula por válvulas internas ou externas; a classificação
mais comum é a pelo tipo de eletrólito usado.
901
1. Proton Exchange Membrane, (eletrólito polimérico) – (PEMFC).
2. Alcalina, (solução alcalina) – (AFC).
3. Ácido Fosfórico, (solução de ácido fosfórico) – (APFC).
4. Carbonato Fundido, (carbetos de sódio e potássio) – (MCFC).
5. Óxido sólido, (óxido de Ítrio) – (SOFC).
Essas células a combustível estão listadas em ordem crescente de temperatura de opera-
ção; indo de 80ºC para a PEMFC até 800-1000ºC para a SOFC. As propriedades físico-
químicas e termomecânicas dos materiais usados nos componentes da célula ditam as pro-
priedades físico-químicas e termomecânicas dos materiais usados nos componentes da
célula. Eletrólitos aquosos são limitados a temperaturas de 200ºC ou menores por conta da
alta pressão de vapor da água.
Célula a Combustível do tipo PEMFC
Uma célula do tipo PEMFC funciona da mesma maneira descrita anteriormente, sendo
o seu combustível mais comum também o hidrogênio que pode ser o gás propriamente
dito ou proveniente da reforma de um combustível fóssil ou vegetal. Um esquema, bem
específico pode ser visto na figura a seguir.
Figura 2 - Esquema de funcionamento de uma célula do tipo PEM [5]

O hidrogênio é admitido no anodo. Ao encontrar o a camada de catalisador esse se


oxida, se dividindo em próton e elétron. A membrana polimérica é uma membrana ácida
que tem a característica de conduzir prótons. Os prótons então são conduzidos através da
membrana e assim chegam ao outro lado da célula, no catodo.
Juntamente com a camada de catalisador existe um coletor metálico para captar os
elétrons. O elétron é conduzido por esse coletor até um fio metálico. Tem-se assim a
corrente elétrica. O elétron continua seu caminho atingindo o outro lado da célula, que
também tem um contato metálico, fechando assim o circuito da célula.
902
No outro lado, o catodo da célula, existe admissão de oxigênio. Este encontrando tam-
bém a camada de catalisador se reduz recebendo os elétrons provenientes do condutor, e
combinando-se com os prótons provenientes da membrana. Com essa combinação tem-
se a formação de água.
O Reformador e a Reforma
A dificuldade da utilização de hidrogênio como combustível direto numa célula a com-
bustível vem de alguns fatores, dos quais os principais estão ligados à oferta de hidrogênio
e a sua armazenagem.
O processo de Reforma é definido como o processamento de um combustível e sua
adequação para reação na célula a combustível. O equipamento responsável pela reforma
é o Reformador. Um combustível ao passar pelo reformador tem o Hidrogênio extraído
e purificado, atendendo as condições de operação de cada tipo de célula. Os processos
dentro de um reformador são três e estão determinados a seguir:
l Limpeza do Combustível: Remoção de enxofre e amônia para prevenir a degradação
do Reformador e da célula a combustível.
l Conversão do Combustível: Conversão do combustível em um gás reformado rico
em Hidrogênio e que contem CO, CO2, e H2O (vapor).
l Alteração do gás reformado: Conversão do monóxido de carbono (CO) e água
(H2O) em H2 e CO2, através da reação de simples troca, e oxidação seletiva para
redução CO à uma baixa ppm, ou remoção de água por condensação para o aumen-
to da concentração de H2
Um reformador é uma unidade integrada constituída de um ou mais processos descritos
acima para atingir as especificações da célula em questão. A seguir as etapas e suas respectivas
temperaturas necessárias para uma célula a combustível de baixa temperatura de operação [3].

Figura 3 - Etapas da Reforma e suas respectivas temperaturas [2]

Hidrogênio é preferível para aplicações mais nobres como em veículos espaciais, já o


combustível indicado para a planta de potência estacionária é o gás natural devido sua
disponibilidade para uso comercial, industrial e residencial.
Tipos de Reforma
Os três processos mais desenvolvidos e populares de reforma são: 1) Reforma a Vapor
- Steam Reforming (SR), 2) Reforma por Oxidação Parcial – Partial Oxidation (POX), 3)
Reforma Autotérmica – Autothermal (ATR).
903
A reforma a vapor (SR) oferece a maior concentração de hidrogênio. Obtêm também
as maiores eficiências. A Oxidação Parcial (POX), oferece um processo rápido, com parti-
da rápida, resposta rápida, e possui o reformador de menos volume, ideal para aplicações
automotivas. A combinação desses dois processos, reforma à vapor (SR) e Oxidação Par-
cial (POX), se chama reforma Autotérmica (ATR).
Reforma a Vapor – Steam Reforming (SR)
Historicamente a reforma a apor tem sido o mais popular método de conversão
hidrocarbonetos líquidos em hidrogênio. O combustível é aquecido e vaporizado e depois
injetado com vapor superaquecido no interior do reator. A reforma a vapor é conduzida
usando-se catalisadores a base de níquel. Cobalto e metais nobres podem ser utilizados mas
são mais caros. Para um catalisador que utilize níquel, a temperatura de operação é de
600°C. Os catalisadores da reforma também promovem a reação de shift.
A Reforma vapor é endotérmica, enquanto que a reação de shift é exotérmica. A com-
binação das duas dá um saldo total negativo, em termos energéticos. Sendo assim é neces-
sário que se tenha uma fonte de calor ligada ao reator, para que este possa funcionar.
Sistemas que operem co células a combustível de alta temperatura fazem co que o calor
produzido na célula seja aproveitado aquecendo o reformador. A figura Abaixo mostra
esquematicamente o funcionamento do reformador a vapor (SR).
Figura 4 - Esquema da Reforma a Vapor (SR) [3]

Reforma por Oxidação Parcial – Partial Oxidation (POX)


Uma quantidade sub-estequiométrica de ar ou oxigênio é usado para que combustível
entre parcialmente em combustão. A Oxidação Parcial é em sua maioria exotérmica e com
isso aumenta a temperatura dos reagentes. Os produtos resultantes da reação, ainda em
estado reduzido, são extintos pela introdução de vapor superaquecido. A adição de vapor
promove a reação de shift e as reações de reforma, o que adicionalmente resfria o gás. Na
maior parte dos casos o sistema de oxidação parcial (POX) é auto-suficiente, uma vez que
a combinação de todas a reações dá um saldo positivo de energia. Reformadores de
Oxidação Parcial com catalisadores operam em aproximadamente 870°C.
Esse tipo de reformador é indicado para aplicações automotivas por dois fatores:
l POX não necessita de fornecimento de calor para partir, ele é compacto e o mais leve deles.
l São capazes de atingir eficiências superiores ao do reformador à vapor (SR).
A seguir pode ser visto um esquema de um reformador POX.
904
Figura 5 - Esquema da Reforma por Oxidação Parcial (POX) [3]

Reforma Auto-Térmica Autothermal (ATR)


O casamento das técnicas da Reforma a Vapor (SR) e da Oxidação Parcial (POX) é
chamada de Reforma Autotérmica (ATR). Uma definição de ATR é de que se trata de ma
reação SR e uma reação POX que acontecem em distâncias microscópicas no mesmo sítio
catalítico. Outros definem que a ATR ocorre quando não há parede separando a reação
combinada SR e POX. ATR é conduzida na presença de catalisadores que controlam o
caminho da reação e assim determinam a duração de cada etapa, SR ou POX. A reação SR
absorve parte do calor gerado pela reação POX, limitando a temperatura máxima do
reator. O resultado global é uma reação levemente exotérmica, pois o saldo energético é
positivo, porém é menor que o do reformador de oxidação parcial (POX). A seguir pode
ser visto um esquema da Reforma Autotérmica (ATR).

Figura 6 - Esquema da Reforma Autotérmica (ATR) [3]

O tipo de reforma utilizado depende muito da aplicação da célula a combustível. Para


aplicação veicular os reformadores POX são os mais indicados, pois estes têm partida
rápida e ocupam um volume menor. Já para geração a reforma a vapor se mostra mais
indicada, pois espaço não é crucial e essa apresenta uma eficiência maior. Enquanto a POX
apresenta de 30 a 40% de eficiência, a reforma a vapor apresenta cerca de 50 a 60%[2].
905
O Uso do Gás Natural
Com a crescente produção de Gás Natural apresentada no Brasil nos últimos anos esse
combustível vem cada vez mais se tornando estratégico e percebe-se uma corrida para sua
utilização como forma de substituição a formas mais tradicionais de geração de energia a
partir de combustíveis fósseis. A forma mais visível desse aspecto é observada, sem duvi-
da, no setor automotivo onde a conversão de veículos à gasolina para Gás Natural se dá
cada vez mais freqüente e esta é impulsionada pelo curto payback period e pelo custo reduzi-
do do combustível considerando-se os benefícios ambientais atribuídos à sua utilização.
Mas a questão ambiental é a verdadeira impulsionadora da inserção desse combustível no
mercado. Apesar de no setor automotivo existirem divergências quanto o real benefício
frente à gasolina para a poluição atmosférica, nas termelétricas e indústrias, onde o com-
bustível queimado é de qualidade inferior e polui mais, há um grande benefício ambiental.
A utilização de células a combustível de média e baixa potência poderiam ser uma boa opção
para a geração descentralizada, levando-se em consideração a ampliação da malha de gasodutos
existentes no país. As principais regiões beneficiadas com a adoção dessa medida podem ser
justamente as regiões Norte, Sul e Sudeste. A primeira graças à planta de Urucu e as demais
graças às novas descobertas de reservas de Gás no Rio de Janeiro na bacia de Campos e no
Espírito Santo. A rede já existente de gasodutos ajuda o escoamento da produção para o
interior das regiões Sudeste e Sul. Obviamente ramificações devem ser construídas para uma
maior abrangência. Com essa medida os custos de transmissão poderiam ser reduzidos.
Toda essa proposta não difere de grande parte das propostas já existentes para a utiliza-
ção de Gás Natural. A grande diferença é justamente o conceito de geração eficiente de
energia. Não só eficiente, mas também limpa.
O mercado em potencial é maior que a capacidade do gasoduto o que pode significar
um problema no futuro. No momento é esperado que as termelétricas ajudem no consu-
mo do combustível, mas, o crescimento industrial e o amento da demanda por GNV,
configuram um possível problema na oferta do produto [4]. Mais uma vez utilizar-se o
GN de forma eficiente adia o esgotamento desse recurso energético, uma vez que uma
quantidade menor de combustível é necessária para gerar a mesma quantidade de energia.
Conclusão
O Gás Natural é um combustível em crescimento tanto em produção como em consu-
mo. Trata-se de um combustível estratégico na só no âmbito nacional como a nível mundi-
al. Tal fato se deve não só aos problemas associados ao petróleo, mas como também à
procura de formas mais limpas de produção de energia.
A geração descentralizada é sem dúvida uma forma muito eficiente de se eliminar as
perdas no fornecimento de energia elétrica uma vez que se reduz bastante o gasto com
transmissão. A possibilidade de se utilizar uma malha já existente de gás natural no país,
necessitando de algumas ramificações nas regiões de maior consumo, configura uma exce-
lente medida para o desenvolvimento sustentável.
A medida sugerida neste trabalho é justamente a utilização de uma forma de conver-
são de energia que seja mais eficiente, no caso as células a combustível do tipo PEMFC
que possuem eficiência superior aos grupos geradores e têm energia específica maior que
906
as termelétricas. Além disso, são modulares, podendo até mesmo se ter uma célula em
cada casa operando com a mesma eficiência o que não se pode fazer com uma termelétrica,
pois a sua eficiência cairia muito.
A tecnologia das células a combustível é recente, mas já apresenta confiabilidade sufici-
ente para que se projete o futuro considerando-as. O real problema associado é realmente
o custo deste dispositivo que ainda é bastante alto em U$2.000,00/kW [4]. Sendo que este
valor é estimado se produzida em larga escala.
Com um mundo voltado para a questão de um desenvolvimento sustentável, as células
a combustível fazem parte de uma série de medidas que convergem para este objetivo.
Trata-se de uma nova tecnologia se comparada com as já existentes, mas que promete ser
a forma mais comum de se produzir energia no futuro, seja a base de Gás Natural como
pode-se prever hoje ou com algum outro combustível convencional ou não.

REFERÊNCIAS
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[2] “Fuel Cell Handbook,” J. Appleby and F. Foulkes, Texas A&M University, Van Nostrand Reinhold, New York (out
of print),republished by Krieger Publishing Co., Melbourne, FL, 1989.
[3] Brandão, M.O.,“Análise Da Viabilidade Técnico-Econômica Da Utilização De Pilhas A Combustível Em Veículos
Automotivos” – Projeto Final de Curso, Engenharia Mecânica – URFJ, Dezembro de 2003.
[4] Economy & Energy – www.ecen.com

BIBLIOGRAFIA
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Nacional de Estudantes de Engenharia Mecânica, Santos, Agosto - 2003
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[3] Jung, Ptrick, “ Technical and Economic Assesment of Hydrogen and Methanol Powered Fuel Cell Electric
Vehicles” Tese de Mestrado, Univerdsidade de Chalmers Suécia - Janeiro – 1999
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COBEM – International Congress of Mechanical Engineering, São Paulo-SP, Novembro de 2003.
[5] DeHoff,R. T., “Thermodinamic in Materials Science”, 1ª Edição, McGraw Hill, Nova Your, Estados Unidos, 1993.
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Rome (I), Vol. 41, Vol. 41,2000
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[8] Fuel cell research strategy for Europe, A fuel cell: research development and demonstration strategy for Europe
up to 2005, available on: www.eva.wsr.ac.at/opet/fcstrategy.htm, 2001.
[9] BLOOMEN, Leo J.M.J; MURGEWA, Michael N. Fuel Cell Systems. New York, Plenum Press, 1993
[10] OGDEN, J.M. e J. NITSCH. Solar Hidrogen IN Renewable Energy: Sources for Fuels and Electricity. Washington
D.C. Island Press, 1993
[11] Chalk, S. and. Venkateswaran, S. R. Breaking Down the Barriers to Commercialization of Fuel Cells in Transportation
Through Government-Industry R&D Programs, Fuel Cell Seminar Program and Abstracts, pp. 258-261, 1996.
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Cell Systems, Fuel Cell Seminar Program and Abstracts, pp. 784-787, 1996.
[13] Ahmed, S.; Kumar, R. and Krumpelt, M. Gasoline to Hydrogen – A New Route for Fuel Cells, Electric & Hybrid
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[14] Kumar, R.; Ahluwalia, R.; Doss, E. and Krumpelt, M. Design, Integration, and Trade-offAnalyses of Gasoline-
Fueled Fuel Cell Systems, Fuel Cell Seminar Program and Abstracts, 1998.

907
ESTUDO DO SISTEMA
GERENCIAMENTO PELO
LADO DA DEMANDA
PARA CONSUMIDORES
E DISTRIBUIDORES DE
ENERGIA ELÉTRICA

Juliana Ferrari Chade*

RESUMO
Este trabalho visa estudar os efeitos da aplicação de tarifas diferenciadas para os consu-
midores de baixa tensão, ao se analisar os benefícios e limitações da implementação do
sistema GLD (Gerenciamento pelo lado da demanda) tanto para os consumidores finais
quanto para uma empresa de distribuição de energia elétrica.
As redes de distribuição têm que ser construídas para atender o horário de pico com a
finalidade de atender toda a sua carga, desta forma os horários fora de pico possuem rede
elétrica ociosa, já que uma grande parte não está sendo utilizada.
Assim, a proposta do GLD é minimizar esta carga de pico, reduzindo-a ou deslocando-a
para um outro horário, fazendo com que os consumidores finais sejam estimulados a transfe-
rir seus horários de consumo de energia, sendo beneficiados por tarifas com desconto.
Para o devido estudo do GLD, aplicar-se-á relações como custos gerais, benefícios que
o projeto possa trazer para a população consumidora, assim como para as distribuidoras
de energia elétrica, curvas de carga entre diversos outros critérios de análise.
Neste trabalho será apresentado um estudo de caso referente a empresa AES Eletropaulo,
distribuidora de energia elétrica que atende 24 municípios do Estado de São Paulo.
Como resultado final, pretende-se com este estudo verificar a viabilidade da implantação e
do funcionamento do sistema GLD e analisar se é realmente interessante para ambos os lados.

juliana.chade@aes.com - ELETROPAULO – SÃO PAULO – 2004


*

908
INTRODUÇÃO
É sabido que o setor residencial representa uma parte significativa no mercado de ener-
gia elétrica e de acordo com estudos sobre a participação no uso final de eletricidade, o
chuveiro elétrico é um dos aparelhos elétricos domésticos que mais consome energia. Sabe-
se também, que o consumo é ainda maior nos horários de pico, ou ponta do sistema, e isso
provoca um aumento de carga no sistema das redes elétricas das distribuidoras.

Figura 1 - Representação dos horários de ponta e fora de ponta

2
,5
É5 )3 217$ 3 $ )3
3 7
2 $'( 3 1
2
+ )25

+25$            
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Fonte: Eletropaulo/ANEEL

O horário de ponta é o período definido pela concessionária e composto por três horas
diárias e consecutivas (17h30 e 20h30), exceção feita a sábados, domingos e feriados naci-
onais, considerando as características do sistema elétrico.
Considerando os altos investimentos que tem que ser feitos para expandir a rede elétrica
quando estas estão sobrecarregadas e levando em consideração que estes investimentos
devam ser feitos visando a alocação eficiente de recursos, aplica-se o sistema GLD para
que a carga seja deslocada para outro horário fazendo com que a distribuidora reduza a
necessidade de investimentos, o que traduz em aumentos menores de tarifas para os consu-
midores. Portanto, este estudo tem como objetivo principal analisar a viabilidade da
implementação e do funcionamento do sistema GLD tanto para as distribuidoras de ener-
gia elétrica quanto para os consumidores finais.
APROFUNDAMENTO TEÓRICO EM GLD
O GLD, conhecido como DSM (Demand Side Management) surgiu nos EUA na déca-
da de 70 com a finalidade de combater os grandes desperdícios de energia elétrica. Devido
a forte motivação ecológica, o Gerenciamento Pelo Lado da Demanda, vem se tornando
uma das mais eficientes ações para otimizar o setor elétrico, combatendo perdas, desperdí-
cios e aumentando a rentabilidade do setor, cada vez mais competitivo.
Segundo o Professor da Universidade Federal de Santa Catarina Antônio Simões Costa,
“o GLD refere-se a qualquer atividade adotadas pelas empresas elétricas para alterar o
padrão de consumo de energia, oferecendo uma ferramenta poderosa para resolver diver-
sos problemas operacionais através da modificação e/ou redução da carga do sistema”.
Para DÍAZ & GIL (1996) “gerenciamento da demanda é o conjunto de atividades cuja
finalidade é influir sobre a utilização que os consumidores fazem da eletricidade a fim de
conseguir uma utilização mais eficiente da energia elétrica”.
909
PYE (1994) afirma que o Gerenciamento pelo Lado da Demanda aborda uma enorme
variedade de ações que tendem a modificar a demanda dos consumidores por energia.
Todos esses autores utilizam o termo GLD, referindo-se a todas essas atividades,
contudo o foco principal está naquelas atividades que buscam primariamente a eficiência
energética do consumidor.
Figura 2 - Crescimento Gerenciado do GLD

Fonte: Site: Controle e Instrumentação

Segundo DELGADO (1996), Existem dois programas básicos de Gerenciamento pelo


Lado da Demanda:
l Aqueles que possibilitam o controle direto da carga do consumidor (GLD direto); e/ou
l Os que buscam mudar rotina de consumo através de esforços de marketing, campa
nhas educativas e sinal de preço (GLD indireto ou controle indireto).
No primeiro, a concessionária controla o uso final de determinado tipo de equipa-
mento de forma remota ou no próprio local. Por meio de um canal de comunicação a
empresa irá controlar, por exemplo, aparelhos de ar condicionado, desligando e ligando
os compressores por períodos determinados. Aos consumidores participantes são ofe-
recidas vantagens financeiras.
Quando a concessionária quiser desligar a carga do aparelho de ar condicionado, ela
envia um sinal a um receptor instalado na residência do cliente. Este receptor recebe o sinal
e aciona um relé e este interrompe o circuito de controle de baixa tensão do ar condiciona-
do, cortando o compressor e o ventilador da unidade. O relé permanece na condição
(aberto) até que um novo sinal é enviado para religar o equipamento.
Por outro lado, no GLD indireto, o próprio consumidor irá remanejar sua demanda em
resposta a sinais de preço designados pela concessionária. Espera-se que o consumidor
desloque sua demanda de intervalos de tempo onde a tarifa de energia elétrica é mais alta
para intervalos de tarifa mais baixa.
910
Os intervalos mais caros normalmente correspondem a períodos de pico de demanda,
de modo que tende a diminuir a diferença entre picos e vales na curva de demanda.
Utilizam-se controladores de demanda para evitar o uso de equipamentos elétricos de
maior potência, em residências, durante o período de ponta do sistema elétrico, deslocando o
seu uso para o período fora de ponta, especialmente nas faixas de consumidores com menor
consumo (abaixo de 200 kWh/mês) e, em conseqüência, com um menor fator de carga.
Desta forma espera-se uma redução da demanda de ponta no período mais crítico na
operação do sistema elétrico.
Tipos de Programas GLD
DÍAZ & GIL (1996), introduz seis tipos de programas de GLD, conforme mostrado
nas figuras que seguem:

Tipo 1: Redução da ponta de carga


Figura 3 - Corte na ponta da carga

Fonte: EPRI (1988)

No corte da ponta de carga ocorre um armazenamento de energia elétrica, um controle


de equipamentos com ciclos de funcionamento e tarifas variáveis no tempo.
Tipo 2: Redução estratégica de carga
Programas de redução estratégica resultam de ações feitas pela distribuidora e que des-
tina a mudanças no uso final da energia.
Figura 4 - Conservação Estratégica

Fonte: EPRI (1988)

911
Na conservação estratégica ocorrem auditorias de energia e empréstimos subsidiados.
Tipo 3: Preenchimento de vales
Figura 5 - Preenchimento dos vales

Fonte: EPRI (1988)

Neste tipo, há um gerenciamento feito pelas distribuidoras para que os consumidores


utilizem a energia nos horários fora de ponta.
Tipo 4: Crescimento estratégico de carga
O crescimento estratégico da carga é a mudança efetuada na curva de carga, refletindo
no crescimento das vendas e também no enchimento dos vales. Isso acontece pelo surgimento
de novas tecnologias que envolvem o uso da energia elétrica.

Figura 6 - Crescimento Estratégico

Fonte: EPRI (1988)

No crescimento estratégico acontece para uma parcela maior de mercado, com uso de
novas tecnologias industriais em energia elétrica.
Tipo 5: Deslocamento de carga

Figura 7 - Deslocamento da carga

Fonte: EPRI (1988)

912
Um dos tipos mais importantes para o lado da distribuidora de energia, já que esta
não faz com que o consumidor reduza seu consumo, apenas o desloca, proporcionan-
do maiores receitas.
Tipo 6 - Flexibilidade da carga
Figura 8 - Flexibilidade da carga

CURVA DE CARGA FLEXÍVEL

Fonte: EPRI (1988)

A definição de carga flexível está vinculada a confiabilidade do serviço, que é conseguida


oferecendo aos consumidores finais a oportunidade de escolha de níveis diferentes de
qualidade em troca de incentivos financeiros.
O gerenciamento da carga busca vantagens econômicas na operação do sistema com a
finalidade de se evitar uma propagação e aumento de situações de emergências quando
acontece desbalanços de carga e geração, sobrecargas em equipamentos, racionamento de
energia e alterações não previstas no futuro, como por exemplo, um crescimento súbito da
carga por variações no clima.
IMPACTOS DO SISTEMA GLD
O GLD apresenta benefícios para as distribuidoras, já que vão postergar seus investi-
mentos, além de recuperar perdas técnicas, melhorar eficiência da rede elétrica e ganhar
pelo aumento médio de consumo. Da mesma forma que os clientes são beneficiados, pois
terão tarifas com desconto e segurança na obtenção de energia.
Por outro lado, há algumas limitações para as distribuidoras, pois terão que realizar
grandes esforços na área de Marketing e são dependentes das atitudes dos consumidores,
ou seja, se estes não aderirem ao projeto, o GLD não é implantado. Da mesma maneira
que há algumas limitações para os consumidores também, pois terão que se privar de uma
certa quantidade de energia em um horário que poderiam querer utilizá-la.
A seguir, será feita uma abordagem dos impactos que o sistema GLD pode ocasionar.
Impactos sobre a concessionária
De acordo com CAMARGO, “as concessionárias necessitam avaliar o quanto pode ser
postergado em capacidade geradora e em instalações de transmissão e distribuição. Adici-
onalmente, devem-se avaliar os efeitos do programa de GLD sobre a operação diária do
sistema. Os impactos sobre o planejamento e a operação serão traduzidos em requisitos de
lucro para um determinado nível da taxa de retorno, dada uma programação tarifária para
a GLD e para outras classes de consumidores. Caso a análise financeira resulte desfavorável
para a empresa, esta poderá propor alterações na tarifa”.
913
Conforme CAMARGO, “Esta alteração pode levar a variadas reações por parte dos
consumidores, provocando diferentes impactos sobre a carga. Os consumidores poderão
reagir de modos distintos em resposta aos esforços de marketing e de relações públicas das
distribuidoras de energia”.
Impactos sobre os consumidores
Os programas GLD normalmente afetam o uso da demanda e energia dos consumi-
dores mediante três mecanismos Smith (1985):
a) Promovendo alterações nas instalações e nos aparelhos de energia elétrica;
b) Alterando o modo de uso dos aparelhos existentes;
c) Mudando os hábitos dos consumidores em relação a utilização da energia elétrica.
No item a, procura-se induzir o consumidor a reformar instalações elétricas antigas,
comprar aparelhos mais modernos e eficientes (às vezes com financiamentos da própria
concessionária) e ainda estimular a troca de um determinado equipamento por outro que
realize a mesma função sob forma mais adequada, ou com menor potência.
Já no item b, incluem-se as modificações sugeridas nas residências dos usuários, propondo
isolamentos adicionais ou janelas mais apropriadas à conservação ambiental. Ainda, enquadram-
se os programas de controle direto de determinadas cargas por conta da concessionária.Tais
cargas são desligadas, automaticamente, a intervalos regulares durante o dia.
O último item procura modificar os hábitos dos consumidores em relação a utilização
da energia elétrica. Mudanças no comportamento dos consumidores afetarão os itens a e b.
Outro modo importante de alterar o comportamento do consumidor é através do
chamado “sinal de preço”. A estrutura tarifária é uma ferramenta poderosa a ser usada nos
programas de GLD para mudar o perfil de carga da concessionária de energia elétrica.
Impactos sobre a sociedade
Para a sociedade, o impacto de um programa bem sucedido de GLD será sentido
como um aumento evitado ou uma redução nas tarifas.
Outra característica evidente consiste na melhoria do fator de carga do sistema,
promovendo melhor aproveitamento das geradoras e incrementando a eficiência da
rede elétrica como um todo.
De acordo com Camargo, “os programas de GLD oferecem à sociedade uma forma de
participar e influir no uso da energia. Esta participação é essencial para que a sociedade possa
de fato controlar as organizações no sentido de um uso mais racional dos recursos energéticos,
permitindo criar uma sociedade energeticamente correta e onde seja democratizado o acesso
das camadas menos favorecidas aos benefícios advindos do uso da energia”.
ESTUDO DE CASO
Este estudo de caso foi realizado com base nas referências da empresa AES Eletropaulo,
distribuidora de energia elétrica, que atende aproximadamente 4,6 milhões de unidades
consumidoras, beneficiando 14 milhões de pessoas.
914
Diante da forte participação do mercado residencial, onde o uso do chuveiro representa
25% do consumo, com a agravante de ser utilizado de forma concentrada e coincidente ao
horário de pico, seguramente na grande maioria das unidades consumidoras, pretende-se desen-
volver ações de marketing para conscientização sobre o uso racional da energia. Faz-se necessá-
rio, também, ações para o deslocamento de demanda de ponta, com projetos de melhoria de
fator de carga e novas modalidades tarifárias que devem convergir para um novo sistema de
tarifa diferenciada que privilegie o uso da eletricidade fora do horário de ponta.
Para este estudo, foi analisado um tipo de programa GLD experimental, que foi
implementado nas ETD’s Peri, Brasilândia e Guaianazes.
O programa será o seguinte:
l Instalação de limitador de carga no horário de ponta.
Visando melhorar a qualidade do fornecimento de energia elétrica foi implantado o
gerenciamento de demandas residenciais que oferece um desconto na conta de energia para
os consumidores que deixarem de usar o chuveiro no horário de ponta do sistema elétrico.
Nesta medida, o objetivo foi gerenciar a demanda residencial através de limitação de
carga no horário de ponta do sistema elétrico da Eletropaulo.
Neste projeto foi instalado o módulo de controle em 4.300 unidades consumidoras
residenciais, com consumo médio mensal em torno de 250 kWh.Foram instalados equipa-
mentos para a realização de medição nos circuitos alimentadores, transformadores e clien-
tes, visando à avaliação dos impactos ocorridos e do deslocamento de carga previsto no
horário de ponta, antes e após a implantação do limitador de carga.
O gerenciamento de carga residencial realizou-se durante um intervalo pré-determina-
do, dentro do horário de ponta e a instalação do equipamento só ocorreu após negociação
junto ao cliente, mediante estímulo de um desconto aproximado da ordem de 20% na
conta de energia elétrica.
Foi utilizado neste projeto a tecnologia de “Ripple-Control” para injeção de sinais na
rede de distribuição, o que possibilita a comutação no padrão de entrada do cliente de
modo a limitar a corrente de carga durante o horário de ponta.
A área de abrangência dos projetos implementados foi: ETDs Peri, Brasilândia e Guaianazes.




:
N 



        
6LWXDomR$QWHV 6LWXDomR'HSRLV

915
Do gráfico, pode-se observar que há uma redução no horário de ponta e um desloca-
mento do consumo para outras horas do sistema.
RDP = Redução de Demanda na Ponta
RDP = N x DDP/ cons. x 10-3
RDP = 4.300 x 0,492 kW x 10-3
RDP = 2,116 MW
Onde:
DDP/cons. = Demanda Deslocada da Ponta por Consumidor
N = Número de Clientes
O custo total de implantação do projeto foi de R$ 2.263.000,00.
Cálculo do Investimento Anualizado
K = FRC(I,n) x CT
Onde:
K = Investimento anualizado do Projeto
FRC = Fator de recuperação de capital considerando a vida útil
i = taxa de juros (taxa de desconto) = 12% = 0,12
n = tempo de vida útil do projeto = 15 anos
CT = custo total

i (1+i)n
FRC = ——————
(1+i)n –1

0,12 (1+ 0,12)15


FRC = ————————
(1 + 0,12)15 – 1
FRC = 0,15
CT = R$ 2.263.000,00
Portanto:
K = 0,15 x R$ 2.263.000,00
K = R$ 339.450,00
916
Cálculo do Custo Evitado
Demanda = RDP x CP
Demanda = 2.116 x 303,59
Demanda = 642.396,44
Custo Total Evitado = Demanda
Custo Total Evitado = 642.396,44
Onde:
RDP = Redução de Demanda na Ponta (kW) = 2.116 kW
CP = Custo Evitado de Demanda (R$/kW) = 303,59 R$/kW
Fator de Carga Médio da Eletropaulo = 0,70

RCB = Investimento Anualizado


Custo Total Evitado
RCB = R$ 339.450,00
R$ 642.396,44
RCB = 0,53
Como RCB < 1, o projeto é viável.
CONCLUSÃO
As empresas que queiram implantar o Gerenciamento pelo Lado da Demanda de-
vem realizar levantamentos de campo para verificar o grau de potencial de geração de
energia da população.
Após ser identificado o segmento de consumidores com o maior potencial de conservação
de energia, pode-se implementar um projeto piloto de GLD, de natureza voluntária, objetivando
adquirir experiência para expandir o programa para outros consumidores da empresa.
A empresa deve manter um cadastro dos seus consumidores residenciais aperfeiço-
ado, contendo a região onde mora o consumidor e do nível de consumo dele, dados
como o nível da renda familiar, tamanho da residência, número de pessoas que moram
na residência entre outros critérios que a empresa julgue necessário para melhor plane-
jar seus programas de GLD.
A área de Marketing deve ser bem capacitada a fim de conseguirem divulgar o progra-
ma para uma grande parte da população, fazendo mais propagandas a respeito dos pro-
gramas nas contas de energia (algo que chame a atenção dos consumidores) ou na própria
televisão, já que muitas pessoas que utilizam a energia através de um consumo mensal baixo,
não sabem do que se trata o programa ou nunca ouviram falar.
917
O sistema GLD apesar de certas limitações apresenta uma série de vantagens para as
distribuidoras de energia elétrica quanto para os consumidores finais (àqueles que podem
utilizar energia fora do horário de pico) proporcionando melhor qualidade e eficiência do
sistema, otimização do aproveitamento de recursos e maximização da receita.
A metodologia desenvolvida neste estudo deveria ser adaptada e expandida para outras
categorias de consumidores, como por exemplo, para os micro-empresários pelo cresci-
mento e importância para a economia.
Com a implantação deste projeto pretende-se melhorar o fator de carga, objetivando
postergar investimentos, bem como melhorar a qualidade do fornecimento de energia
elétrica em sua área de abrangência.

BIBLIOGRAFIA
CAMARGO, C. C. B. Gerenciamento pelo Lado da Demanda: Metodologia para Identificação do Potencial de
Conservação de Energia Elétrica de Consumidores Residenciais. 1996. 215p. Tese (Doutorado) – Universidade
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918
METODOLOGIA DE CÁLCULO
TÉCNICO-ECONÔMICO
DE FILTRO-UMIDIFICADOR
PARA TURBINAS A GÁS EM
USINAS TERMELÉTRICAS

Dmitri Ivanovitch Vlassov*


Luiz Alberto Jorge Procopiak**
Fabiano de Paula Tufanini***

RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de apresentar uma análise técnico-econômica do uso de
filtros-umidificadores em Instalações de Turbinas a Gás para usinas termelétricas. É apresen-
tada uma metodologia de cálculo da variação das perdas geradas no filtro e o seu impacto no
rendimento global da instalação. Também é apresentado um método para avaliar o tempo
ótimo em termos de termo-economia para a substituição dos elementos de filtragem.
Palavras-chave: Filtro, Turbina a Gás, Ciclo, Perdas hidráulicas, Umidificação,
Rendimento, Custo.
1. INTRODUÇÃO
O uso de filtros-umidificadores em instalações de turbinas a gás de grande porte é
indispensável. Sua finalidade é reter o material particulado contido no ar atmosférico e
diminuir a temperatura do ar na entrada do compressor saturando-o de umidade a
fim de melhorar o rendimento da instalação.
O pó é um agente que pode contribuir significativamente na perda de rendimento de
uma instalação de turbina a gás. Ele provoca erosão das partes internas do compressor e da
turbina aumentando a rugosidade das superfícies internas e das pás. O pó também pode se
depositar nas paredes internas da instalação aumentando a resistência hidráulica.
*
Professor Dr. Departamento de Mecânica –UFPR - Centro Politécnico, Curitiba-PR – BRASIL - Fone: 361-323;
vlassov@demec.ufpr.br
**
Engenheiro Mecânico MSc., gerente de unidade, Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC - Rua
Pref. Lothário Meissner, 1 Curitiba-PR – BRASIL - Fone (41)361-6250; lprocop@lactec.org.br
***
Engenheiro Mecânico, estudante de mestrado pela UFPR, Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento –
LACTEC - Rua Pref. Lothário Meissner,1 Curitiba-PR – BRASIL - Fone (41)361-6177; fabianop@lactec.org.br

919
O uso do filtro é ainda mais importante nas turbinas a gás que utilizam sistema de
arrefecimento interno das pás, pois o pó poderia se depositar e entupir canais e orifícios
deste sistema. Se isso ocorresse, haveria uma diminuição da troca de calor provocando um
aumento exagerado da temperatura nas pás. Esse aumento de temperatura diminuiria a
resistência mecânica do material e, aliado às forças centrífugas presentes, poderia ocasionar
a ruptura das pás e conseqüente avaria da Instalação.
2. Influência do sistema filtro-umidificador no rendimento da instalação
Apesar de sua importância fundamental, o filtro cria uma resistência hidráulica suple-
mentar na instalação. Para a superação desta resistência, é necessário retirar potência da
própria turbina diminuindo a potência útil da instalação. Caso seja importante manter a
mesma potência elétrica gerada, a potência da turbina deve ser aumentada. Por outro lado,
a potência gasta para superar a resistência do filtro é transformada em calor, aumentando
a temperatura do ar na entrada do compressor e, por conseguinte, diminuindo o rendi-
mento da instalação. Através da fórmula do rendimento para o ciclo simples de Brayton,
pode-se observar isso mais claramente:

(
F SJτ 1 − δ
−PJ
)η W
(
− F SDU π F
PDU
)η1
−1
ηW = F
.η FF (1)
  π − 1 
PDU

F S τ − 1 + F 
 η 
  F 

onde: πc - taxa de compressão do compressor;


δ - taxa de queda da pressão na turbina;
ηt- rendimento adiabático da turbina;
ηc- rendimento adiabático do compressor;
Cpar - calor específico médio do ar no processo de compressão, em J/kg.K;
Cpg- calor específico médio dos gases no processo de expansão da turbina,
em J/kgK;
mar, mg- fator que relaciona os calores específicos do ar e do gás respectivamen-
te;
N DU − 1 , NJ −1
PDU = PJ = onde,
N DU NJ

F SDU F SJ
N DU = e NJ =
Fvar FYJ

920
ηcc - rendimento da câmara de combustão;
7 - aumento relativo da temperatura na Instalação;
τ = FF
7F
7FF - temperatura dos gases na saída da câmara de combustão, em K;
7F - temperatura do ar na entrada do compressor, em K

A apresentação gráfica da equação (1) é mostrada na Figura 1 abaixo. O rendimento de


uma instalação de turbina a gás é apresentado em função da taxa de compressão do com-
7
pressor e da razão entre as temperaturas τ = 7 para valores característicos de rendimentos
FF

da turbina, compressor e câmara de combustão. Na Figura 1 o valor de t assume os


valores: τ = 6, 5, 4 e 3.

Figura 1 - Variação do rendimento numa instalação de turbina a gás em função da taxa


de aumento da pressão no compressor e da razão de temperaturas Tcc/Tc.

0,45
τ=6 τ=5
0,4
τ=4
 R 0,35
η

WQ 0,3
H τ=3
LP
GQ 0,25
H 0,2
5
0,15
0,1
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
7D[DGH&RPSUHVVmR π

Pelo gráfico, é possível avaliar a influência das temperaturas Tc e Tcc sobre o rendimento
da instalação. O aumento da temperatura do ar na entrada do compressor diminui o ren-
dimento e, por outro lado, o aumento da temperatura dos gases na entrada da turbina
aumenta o rendimento da instalação.
Um exemplo pode ser dado tomando os seguintes parâmetros de uma instalação: πc~15;
δ ~ 13,5; ηt ~ 0,9; ηc ~ 0,9; Cpar = 1004,5 J/kgK; Rar = 287 J/kgK; cpg = 1182,1 J/kgK; Rg=
288 J/kgK; mg ~ 0,250; ncc ~ 0,99; tet1 ~ 1300 oC; mar~ 0,286. Pela equação (1) verifica-se
que, o aumento da temperatura do ar na entrada do compressor em um grau, diminui o
rendimento da instalação em ~0,058%. Em termos de potência, isso significaria uma perda
de 11,6MW para uma instalação de 200MW.
Isso demonstra que para a geração da mesma quantidade da energia elétrica (potência
nominal), será necessário queimar mais combustível.
3. A resistência hidráulica no filtro
Do ponto de vista hidráulico, o filtro é encarado como uma resistência localizada. No caso
geral, esta resistência, também chamada de resistência hidráulica, depende da velocidade do ar no
filtro ao quadrado, da pressão, da temperatura do ar e de um coeficiente de resistência do filtro.
921
O esquema do filtro é apresentado na Figura 2 abaixo.

Figura 2 - Esquema do filtro-umidificador

água



água

1 – grade protetora; 2 – pré-filtro (filtro grosso); 3 – filtro fino renovável; 4 – umidificador;


5 – retentor de gotículas de água; 6 - câmara; 7 – resistência de saída do filtro.

Segundo o esquema, observa-se que o ar entra no filtro com os parâmetros atmosféricos


(pressão, temperatura e umidade relativa) e encontra a grade protetora (1) como primeira
resistência. Passando a grade, o ar atravessa o pré-filtro ou filtro grosso (2) e segue pelo filtro
fino (3), que apresenta cerca 330 elementos descartáveis dependendo do fabricante. Depois
disso, o ar chega no umidificador (4) onde é saturado de umidade e diminui a temperatura.
Para retirar do ar as gotículas de água, existe um retentor de gotículas (5). Do retentor, o ar
entra em uma câmara (6) e depois sai do filtro mudando o sentido do movimento.
Na Tabela 1 são apresentados valores absolutos das resistências localizadas no filtro.

Tabela 1 - Resistência dos elementos do filtro (dados do fabricante)

1 (OHPHQWRGRILOWUR 5HVLVWrQFLD>3D@
1 Grade 
2 Pré-filtro (filtro grosso) 
3 Filtro fino 
4 Umidificador 
5 Retentor de gotículas 
6 Câmara 
7 Saída 
7RWDO 
922
Os valores numéricos apresentados na Tabela 1 correspondem a um filtro novo. Duran-
te o funcionamento da turbina a gás, a resistência hidráulica do filtro fino aumenta, sendo
que, após 16.000 horas de funcionamento, a resistência do filtro pode chegar a um valor
máximo de 1053,5 Pa.
Certamente este valor é estimativo, pois a obstrução do filtro depende de vários fatores
tais como: condições atmosféricas e regime de funcionamento da instalação.
O aumento da resistência hidráulica do filtro, de um lado diminui a pressão do ar na
entrada do compressor e, por outro, aumenta a sua temperatura. Ambos os fatores au-
mentam a potência necessária ao compressor. Por isso utiliza-se o umidificador que tem a
função de reduzir esta temperatura através da umidificação do ar, melhorando o rendi-
mento da instalação conforme a equação 1.
4. Determinação das perdas de potência no sistema filtro-umidificador
A perda de potência no filtro (trecho 1-3 da figura 2) é calculada como:

∆S I P&DU
∆1 = (2)
ρ DUX
I

onde: ∆1 - potência perdida no filtro, em MW;


I

∆S I -.queda de pressão nos elementos de filtração;

P&DU -.vazão mássica de ar no filtro;


P&DU -.densidade do ar úmido.
A resistência dos elementos de filtragem também provoca um aumento da temperatura
do ar após o filtro, calculada como:

∆1 I
∆W = (3)
&DU F SDU
P

Depois de atravessar os elementos de filtragem, o ar passa através do umidificador


onde entra em contato direto com a água que aumenta a sua umidade (alguns fabricantes
garantem que o valor mínimo de umidade relativa do ar após a umidificação é de 85%).
Teoricamente, é difícil estabelecer qual será a umidade do ar após a umidificação.
Mas pode-se considerar que a umidade relativa aumenta até a saturação completa,
ϕ XP ≈ 100% . No processo de saturação do vapor no umidificador, é consumido calor de
vaporização KDY pe (calor latente). Assim, a temperatura do ar diminui até uma tempe-
ratura . O valor do calor de vaporização KDY é tabelado, dependendo da temperatura
W XP

(pressão), veja a Figura 4 a seguir.

923
Figura 3 - Calor de vaporização da água versus temperatura

KDY  N-  NJ
2520

2500

2480

2460

2440

2420

2400

2380 W °&
0 10 20 30 40 50

No trecho umidificador – saída, a perda de potência é calculada como:

∆SXP P&DU
∆1 XP = (4)
ρ DUX

onde: ∆1 XP - potência perdida no trecho umidificador – saída do filtro;


∆SXP - queda de pressão no trecho umidificador - saída do filtro.
Assim a perda total de potência no filtro-umidificador é:

1 = ∆1 I − ∆1 XP (5)

Realizando esse cálculo para a resistência mínima do filtro (filtro novo), deter-
mina-se a perda inevitável de potência 1 . LQ

Tomando esse valor como referência, a perda de potência devido ao entupi-


mento do filtro em um momento qualquer após a sua substituição fica:
(6)
∆1 = 1 − 1 LQ

O aumento de temperatura do ar no trecho umidificador–saída devido à perda de


carga é calculado como:
∆1 XP
∆W XP = (7)
&DU F SDU
P
Com isso, a temperatura do ar na saída do filtro-umidificador fica:

W = WXP + ∆WXP (8)

924
5. Cálculo termo-econômico do sistema filtro-umidificador
5.1. Custo das perdas
Como mencionado anteriormente, a resistência induzida devido ao entupimento do
filtro-umidificador gera um consumo suplementar de combustível. Esse consumo é calcu-
lado através da fórmula:

% = ∆1 (9)
η4 Q L

onde: % - Consumo suplementar de combustível, em kg/s ou m3/s;

4 Q - poder calorífico inferior do combustível, em MJ/kg ou MJ/m3.


L

Cálculos preliminares indicam que um aumento de temperatura no ar de saída do filtro


em 1°C provoca um aumento do consumo do combustível em ~0,06%
O consumo diário do combustível suplementar gera um custo que pode ser calculado como:

&F = PrF ⋅ % ⋅ 24 ⋅ 3600 , R$/dia (10)

onde: & - Custo diário do combustível suplementar, em R$ por dia;


F

PrF - preço do combustível, em R$/kg ou R$/m3.


Sabendo-se o custo da energia elétrica produzida na usina, pode-se calcular o custo da
energia perdida por dia devido à resistência do filtro:

&U = 3UH ( , R$/diaI (11)

onde: & - Custo diário da energia perdida devido à resistência do filtro, em R$ por dia;
U

3UH - preço de custo da energia elétrica, em R$/MWh.

Somando-se os custos diários do combustível extra e da energia perdida obtém-se a


perda diária total:

& =& +&U F , R$/dia (12)

5.2. Período ótimo para a substituição dos elementos de filtragem


Para diminuir as despesas diárias "C" por perdas no filtro, os elementos de filtragem
devem ser trocados por novos elementos de tempos em tempos.
A manutenção e troca destes elementos têm um custo determinado. Designemos por F
o custo de manutenção periódica do filtro, em R$/dia. Considerando que a usina deva
permanecer parada durante a manutenção do filtro, este custo F será constituído por:
925
l Preço dos elementos a serem substituídos;
l Custo da mão de obra;
l Custo da energia elétrica não produzida durante os dias parados;
l Etc.
O custo da substituição dos elementos de filtragem e o custo das perdas de energia por
filtro entupido são determinados pelas condições locais da usina. Em cada usina, com as
suas condições particulares, deve existir uma perda de pressão ótima ∆SRSW que atribui um
mínimo prejuízo para a usina. Na Figura 4 abaixo são apresentadas, esquematicamente, as
perdas monetárias diárias na usina devido à resistência hidráulica do filtro e os custos de
manutenção (diagrama de custos).

Figura 4 - Diagrama de custos

C, F; R$/dia
d e
h

l
b
g i
a dias
c f j
0

Pelo eixo de ordenadas, são marcados os custos diários das perdas de energia C e de
manutenção no filtro F. No eixo de abscissas é marcado o tempo em dias (semanas, meses,
etc.). Assume-se que a obstrução do filtro ocorre gradualmente e proporcionalmente ao
tempo de funcionamento da Instalação de Turbina a Gás.
A reta a-b apresenta o custo das perdas de energia devido à obstrução do filtro. A área
a-b-c-a apresenta as perdas em R$ durante o tempo a-c devido ao entupimento do filtro.
O trecho c-f apresenta o tempo gasto para a manutenção do filtro e a área do retângulo c-
d-e-f apresenta o custo total em R$ devido aos trabalhos de manutenção. Depois da
manutenção do filtro, a sua resistência hidráulica diminuiu e os custos diários, devido à
resistência do novo filtro, ocorrerão segundo a reta f-i.
Caso não haja a troca do filtro no dia c, o custo diário da perda de energia vai aumentar
segundo a reta b-h. A perda total de energia será equivalente à área a-h-j-a.
O que interessa saber nesse momento é como identificar o dia c (a perda de pressão
ótima ) para reduzir ao mínimo os custos devido a perda de energia e de manutenção do
filtro na usina. A resposta sai do próprio diagrama de custos. O dia c deve ser escolhido no
momento em que a área c-d-e-f for igual à área g-l-i f.
926
6. Conclusão
No presente artigo, procurou-se apresentar uma metodologia para avaliar o impacto téc-
nico-econômico do sistema filtro-umidificador na turbina a gás. Foi ressaltado que as perdas
hidráulicas aumentam gradativamente à medida que o pó se acumula no filtro e, assim, é
possível determinar um período ótimo para a substituição dos elementos de filtragem.
No caso do umidificador, verifica-se que ele faz com que a temperatura do ar que sai do
filtro diminua, aumentando o rendimento do ciclo.
A metodologia permite o cálculo a partir de dados operacionais característicos de cada
instalação, entre eles: temperaturas, pressões, umidade, etc, e também dos custos inerentes
ao seu funcionamento como aqueles mencionados anteriormente,
Esta metodologia se mostra bastante válida, inclusive servindo de guia para as áreas de
manutenção e operação de usinas. Sua aplicação permite estabelecer, dentro do cronograma
de manutenção, a periodicidade de substituição dos elementos de filtragem.

7. BIBLIOGRAFIA
[1] Fox R.W., Introdução à Mecânica dos Fluidos, Ed. LTC, 1998.
[2] Van Wylen G., Fundamentos da Termodinâmica Clássica, Ed. Edgard Blücher LTDA, 1997.
[3] Krutov V.I., Termotécnica, Ed. Construção de máquinas, Moscou, 1986, pp. 178-182.
[4] Kostuk A. G., Instalações de Turbinas a Gás, Ed. Escola superior, Moscou, 1988, pp. 24-30.
[5] Fellenberg G., Chemie der Umweltbelas, B.G. Teubner, Stuttgart, 1990, pp. 17 - 25.

927
REDUÇÃO DO CUSTO DE
FABRICAÇÃO DE CÉLULAS
A COMBUSTÍVEL

Silvio Carlos Aníbal de Almeida1


George Cassani Gatti2
Rodrigo Dutra3
Maurício Oliveira Brandão4

RESUMO
O presente trabalho trata as células a combustível, um dispositivo eletroquímico cujo
qual utiliza oxigênio e hidrogênio para geração de energia e tem como benefícios uma alta
eficiência energética, baixos níveis de poluição e diversificados campos de aplicação. Ape-
sar disto esta tecnologia apresenta ainda um alto custo de geração de energia que inviabiliza
sua comercialização. Este trabalho traz uma análise dos eletrodos utilizados nesta tecnologia
visando a diminuição do custo das células a combustível.

INTRODUÇÃO
Um dos principais agentes de poluição urbana é o setor de transportes. Em cidades como
Atenas, Los Angeles, São Paulo, Rio de Janeiro e Cidade do México, praticamente 100% das
emissões de CO e 75 % a 85% das emissões de NOx são causadas pelo setor automotivo. O
Banco Mundial estima que 1,1 bilhão de pessoas sofram de problemas devido a poluição do
ar em grandes cidades e que 700.000 mortes são devidas a esses problemas.
Existe atualmente um interesse cada vez maior de encontrar uma solução técnica, econo-
micamente viável para a redução dos rejeitos das emissões de gases de efeito estufa, a
redução da poluição sonora e do ar urbano, a diminuição do consumo de energia, assim
como a não dependência energética de combustíveis fósseis.

Contato: Programa de Engenharia Mecânica - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cid. Universitária - Centro de
Tecnologia-Bloco G, sala 204, Ilha do Fundão - Caixa Postal 68503; Rio de Janeiro, RJ - CEP: 21945-970 - BRASIL - Tels.:
(21)8802-7684, (21) 2562-8366, 8371 - FAX.: (21) 2562-8383 - E-mails: 1silviocarlos10@yahoo.com.br, 2gatti.ufrj@globo.com,
3
rodrigodutrarj@yahoo.com.br, 4homer@ufrj.br

928
Nesse contexto, a tecnologia das células a combustível se destaca como uma das mais
eficientes e promissoras tecnologias de conversão de energia embora o seu elevado custo
ainda limite a aplicação desses dispositivos a campos específicos.
A utilização de hidrogênio puro em pilhas a combustível, seja através do emprego de
garrafas com gás comprimido ou de reservatórios criogênicos para o hidrogênio líquido
envolvem certos riscos. Além disso, a produção atual de hidrogênio não suportaria um
crescimento tão grande da demanda.
A possibilidade de empregar um hidrocarboneto em uma célula a combustível é extrema-
mente atraente para aplicações automotivas por dois motivos: elimina o problema associado
ao armazenamento de hidrogênio e aproveita a atual rede de distribuição de combustíveis.
Tipos de Células a Combustível
As células a combustível são dispositivos capazes de converter a energia química de uma
grande variedade de combustíveis, destacando-se o hidrogênio, diretamente em energia elétrica.
A classificação dos diferentes tipos de células a combustível tem sido feita com referên-
cia ao eletrólito utilizado. Desta forma, as principais células são: a célula de ácido fosfórico
(PAFC), a alcalina (AFC), a de membrana polimérica (PEMFC), a de carbonato fundido
(MCFC) e a de óxido sólido (SOFC).
l Célula a Combustível Alcalina (AFC - Alkaline Fuel Cell):
Por necessitar de hidrogênio e oxigênio puros para o seu bom funcionamento, e seus
eletrodos serem feitos com altas proporções de platina, que encarece muito o custo, esta
tecnologia encontra utilização viável apenas em naves espaciais, por ter a vantagem de ter a
maior densidade de energia (W/m3).
l Célula a Combustível de Óxido Sólido (SOFC - Solid Oxid Fuel Cell):
Utiliza como eletrólito óxido de zircônio, e funciona a temperaturas de aproximada-
mente 1000ºC, o calor gerado pode ser utilizado para mover uma turbina e gerar mais
eletricidade, alcançando assim um rendimento de até 80%. Pode utilizar como combustível
hidrogênio, metano e metanol, variando as emissões de acordo com o combustível utiliza-
do. Pode ser utilizada para geração de energia e aplicações industrias. Entretanto apresenta
como desvantagem um alto custo de geração de energia.
l Célula a Combustível de Carbonato Fundido (MCFC - Molten Carbonate Fuel Cell):
Opera com temperatura de aproximadamente 650ºC (pode portanto aproveitar o calor
da reação), utiliza como eletrólito carbonatos alcalinos fundidos e como combustível o gás
natural. É indicada para a geração de energia em larga escala. Porém as altas temperaturas
influenciam numa menor vida útil do sistema.
l Célula a Combustível de Ácido Fosfórico (PAFC - Phosporic Acid Fuel Cell):
Pode operar com Metanol, Etanol e Gás Natural. É a que tem mais tempo de
operação e portanto apresenta a tecnologia mais estabilizada. Já é utilizada para gera-
ção de energia no Japão e nos Estados Unidos. Apresenta como desvantagem o custo
por utilizar platina como catalisador.
929
l Célula a Combustível de Membrana de Troca de Prótons (PEMFC - Polymer
Exchange Membrane Fuel Cell):
Trabalha a baixas temperaturas, em torno de 80ºC, devido a membrana utilizada como
eletrólito. Pode utilizar hidrogênio e outros combustíveis reformados (etanol, metanol, ga-
solina, etc). Possui a vantagem de poder operar com alta densidade de corrente e ser utili-
zada em diversas aplicações.
l Célula a Combustível de Oxidação Direta de Metanol (DMFC - Direct
Methanol Fuel Cell):
Assim como a PEMFC utiliza uma membrana de troca de prótons como eletrólito.
Porém pode utilizar como combustível Metanol, Etanol ou Glicerol diretamente. Trabalha
a temperaturas baixas entre 70ºC e 170ºC dependendo do combustível utilizado. Tem um
diversificado campo de aplicação.
Desenvolvimento de Células a Combustível do tipo PEM
Uma célula de combustível tipo PEM tem como componentes principais: os ele-
trodos e o eletrólito.
l Eletrodos
Dois eletrodos em formato de disco, feitos a base de carbono, teflon e um catalisador.
l Eletrólito
O eletrólito consiste em uma membrana protônica (Proton Exchange Membrane), que
permite o fluxo de prótons mas não conduz os elétrons.
O funcionamento de uma célula de combustível PEM consiste no fornecimento de Hidrogê-
nio (gasoso ou proveniente da reforma de outros combustíveis como: etanol, metanol, gasolina,
etc) e Oxigênio (atmosférico), estes reagentes entram um em cada lado da estrutura formada por
dois eletrodos de carvão e uma membrana permeável a prótons (PEM), no lado do ânodo o
hidrogênio é separado pelo catalisador em prótons e elétrons, no cátodo o oxigênio atrai os
prótons de hidrogênio através da PEM. Os elétrons passam por uma corrente externa gerando
energia e em seguida se combinam com prótons e Oxigênio formando água. Entretanto é neces-
sário agrupar vários sistemas como o descrito acima em uma pilha (stack) para fornecer a energia
necessária. Uma representação esquemática de uma célula a combustível é mostrada na Figura 1.

Figura 1 - Esquema de uma célula a combustível

930
Este tipo de célula trabalha a temperaturas em torno de 80ºC, limitada pelo polímero
utilizado, o que configura um ponto positivo desta tecnologia, pois permite que se chegue
a temperatura de funcionamento rapidamente.
A PEMFC possui diversificado campo de aplicações (veicular, espacial, militar, sistemas
portáteis, industrial), uma longa vida útil e um projeto relativamente simples. Apesar disso
apresenta desvantagens relacionadas ao elevado custo do catalisador e do eletrólito utilizados.

Figura 2 - Célula a Combustível PEM de 250kW para uso residencial da Ballard

Outro importante fator que impulsiona o desenvolvimento e a possível utilização co-


mercial desta tecnologia são os altos investimentos de empresas automobilísticas em Célu-
las a Combustível PEM, devido a sua utilização tanto em veículos de passeio quanto em
veículos de carga e transporte em massa.
Tendo em vista aplicações automotivas, o Departamento de Engenharia Mecânica da
Escola Politécnica da UFRJ tem se voltado para a pesquisa e o desenvolvimento de células
PEM. Pretende-se diminuir drasticamente o custo de fabricação através do emprego de
materiais mais baratos.
Fabricação dos Eletrodos
Os eletrodos são compostos de carbono e teflon e devem apresentar boa condutividade
elétrica e certa resistência mecânica. Para a produção dos eletrodos, faz-se a mistura dos
componentes, e a seguir se procede a prensagem, de onde obtemos eletrodos em formato
de disco com diâmetro de cerca de uma polegada e um milímetro de espessura. Estes
discos são levados para cura num forno com temperatura ligeiramente superior a 300ºC
durante um tempo de 15 min.
Com a finalidade de descobrir a proporção ideal dos componentes dos eletrodos, fo-
ram feitos testes de porosidade, resistividade e uma análise superficial e comparativa da
resistência mecânica. Para os testes são fabricados eletrodos utilizando dois tipos diferentes
de carbono (CABOT – Black Pearls 2000 e Monach 1300) e diversas proporções de
carbono e teflon (Xylan – Hostaflon 5035, suspensão de 60%).
Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 1 e nas Figuras 3 e 4.
931
Tabela 1 - Valores medidos de porosidade e de resistividade elétrica dos eletrodos
1ž &DUERQR &  7HIORQ  &DUDFWHUtVWLFD ÈUHD6XSHUILFLDO PðJ 5 : FP
 2000 20% 80% Curado 72,1166 218,47
 2000 40% 60% Curado 246,7885 49,15
 2000 60% 40% Curado 808,3920 1,69
 2000 80% 20% Curado n.d. 1,66
 1300 20% 80% Curado 18,1617 n.d.
 1300 80% 20% Curado 409,5392 n.d.
 1300 80% 20% Não Curado 325,4196 n.d.

Figura 3 - Resistividade em função da porcentagem de Carvão Black Pearls 2000

250

P 
F[200

P
KR150
 H
GD
LGY100
LW
VL 50
VH 
5
 
0
20% 40% 60% 80%
&DUYmR%ODFN3HDUOV 

Figura 4 - Área Superficial dos eletrodos de Carvão Black Pearls 2000,


obtida através do teste de porosidade

900
800

J 700
ð
P
OD600
LF
LI 500
UH
S400
X
6 300
DH 
U 200
È
100

0
20% 40% 60%
&DUYmR%ODFN3HDUOV 

932
De acordo com os resultados, verifica-se que quanto maior a quantidade de carbo-
no menor é a resistência mecânica. Com relação ao tipo de carbono utilizado, verifica-
se que os eletrodos com o Monach 1300 apresentam melhor resistência quando com-
parados a eletrodos com mesma proporção de carbono Black Pearls 2000. Além dis-
so, analisando os eletrodos antes de serem curados nota-se que estes apresentam me-
lhor resistência do que após a cura.
Portanto chega-se a conclusão que o eletrodo com 80% de carbono Monach 1300 não
curado é o mais indicado para o uso em células a combustível PEM, pois apresenta um
valor intermediário de área superficial, e sua resistência mecânica é satisfatória para a aplica-
ção. Outros fatores que devem ser constatados é o fato de o carvão Monach 1300 ser mais
barato que o Black Pearls 2000 e além disso durante o processo de fabricação o Monach é
mais fácil de ser misturado ao teflon e de ser prensado, pelo motivo de não ficar quebradi-
ço como o eletrodo de carvão Black Pearls de mesma proporção, além do fato de que não
curando facilita-se o processo de fabricação.
Além dos testes dos eletrodos sem catalisador, é importante enfatizar a técnica de prensagem
destes com a membrana de Nafion (PEM). Este processo necessita de bastante tempo e
requer atenção redobrada em cada etapa para que se chegue ao resultado esperado.
Antes da prensagem é necessário fazer o tratamento da membrana de Nafion, que
consiste em 6 etapas de 1 hora cada. A membrana deve ser imersa nas seguintes substâncias:
água destilada (H2O), água oxigenada (H2O2, solução à 3%), ácido sulfúrico (H2SO4, solu-
ção à 97%). Deve-se imergir a membrana na água destilada uma vez no início e três vezes
(trocando os recipientes) após o ácido, para hidratá-la e enxaguá-la do ácido sulfúrico. A
função da água oxigenada é remover os contaminantes orgânicos e a do ácido é remover
os íons metálicos da superfície da PEM.
Terminado o tratamento leva-se a membrana para a prensagem com os eletrodos de
carbono. Deve-se passar um adesivo de Nafion numa das faces dos dois eletrodos. Colo-
ca-se a PEM entre os eletrodos do lado da face com adesivo. A prensagem é feita a
temperatura entre 90ºC e 130ºC. O conjunto é deixado a baixa pressão durante um certo
tempo e depois aumenta-se um pouco a pressão. Após este procedimento deixa-se duran-
te algum tempo à 130ºC e em seguida desliga-se a fonte de calor e deixa-se resfriar até a
temperatura ambiente. Para então se retirar os eletrodos prensados com a PEM.
O conhecimento do melhor eletrodo aliado ao domínio da técnica de prensagem é necessário
para o planejamento de se fazer testes dos eletrodos com catalisador prensados com a membrana
e futuramente de se construir um protótipo da célula a combustível PEM para realização de testes
visando obter curvas de performance (V X A/cm2; V= Voltagem e A= Ámpere).
Conclusão
A célula a combustível PEM se destaca dentre as outras tecnologias de célula de com-
bustível devido ao fato de ter um campo diversificado de aplicações e por poder utilizar o
etanol como combustível, favorecendo o ciclo do carbono, facilitando a distribuição do
combustível pelo fato de poder utilizar a atual infra-estrutura de distribuição e principal-
mente incentivando a produção desse combustível favorecendo a geração de emprego e o
desenvolvimento do Brasil.
933
Esta tecnologia ainda é inviável para comercialização em larga escala, sendo a membrana
de troca de prótons e o catalisador de platina as estruturas com maior custo da célula.
O desenvolvimento de eletrodos de menor custo contribui para viabilizar a aplicação
comercial das células a combustível.
Um eletrodo com 80% de carbono Monach 1300, não curado apresenta um bom
desempenho para o desenvolvimento de células a combustível PEM, pois apresenta um
valor intermediário de área superficial, e sua resistência mecânica é satisfatória.
Diante destas informações nota-se que a tecnologia das células de combustível, princi-
palmente a PEMFC, apresenta-se como o futuro da geração de energia num mundo que
visa cada vez mais a melhora da qualidade de vida do ser humano que esta intimamente
ligado com a questão ambiental do nosso planeta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Fuel Cell Hand Book (Sixth Edition), EG&G Technical Services, Inc. Science Applications International Corporation,
U.S. Department of Energy, Morgantown West Virginia, Novembro 2002
[2] Liebhafsky, H.A., Cairns, E.J., “Fuel Cells and Fuel Batteries – A guide to Their Research and Development”, John
Wiley & Sons, Inc., New York, 1968
[3] Blomen, Leo J.M.J. and Mugerwa, Michael N., “Fuel Cell Systems”, Plenum Press, New York, 1993
[4] Oliveira, Leonardo C. e Mendes, Luiz F.B., Trabalho Final, “Células de Combustível”, UFRJ

934
IMPLEMENTAÇÃO DE UM ESTIMADOR
DE VELOCIDADE EM LINGUAGEM C++
EM SUBSTITUIÇÃO AO TACO GERADOR
PARA CONTROLE DE VELOCIDADE DE
MOTOR DE CORRENTE CONTÍNUA

Vinicius Zimmermann Silva*


Ângelo José Junqueira Rezek*
Walter Denis Cruz Sanchez*
Antônio Tadeu Lyrio de Almeida*
José Antônio Cortez*

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo a implementação, via software em linguagem
C++, de um estimador de velocidade de motor de corrente continua - MCC, substituto
do taco-gerador, para viabilizar o controle de velocidade do MCC utilizando a corrente da
armadura como único dado monitorado de entrada do software.
Para se obter a velocidade real do motor através da corrente da armadura, utilizou-
se de equações oriundas do modelamento matemático do MCC e ponte retificadora
tiristorizada de seis pulsos. Os reguladores proporcional integral -PI- utilizados no
software, foram modelados matematicamente através de equações recursivas. Os
parâmetros necessários para ajustes destes reguladores como constante de tempo de
velocidade, ganho do regulador para sinal de velocidade, constante de tempo de cor-
rente, ganho do regulador para sinal de corrente entre outros foram disponibilizados e
ajustados em tempo real na tela principal de execução do software. Software que ao
longo deste trabalho será chamado de CHOPPV.
Palavras Chave: Motor de Corrente Contínua – MCC; Corrente da Armadura; Software;
Estimador de Velocidade; Taco Gerador

EFEI/IEE/DET - Cx. Postal: 50 - CEP: 37.500-903 – Itajubá-MG – Brasil - e-mail: rezek@iee.efei.br


*

935
I. INTRODUÇÃO
Os sistemas digitais de acionamentos elétricos são atualmente muito utilizados na indús-
tria, substituindo aos poucos os sistemas analógicos existentes. Devido ao grande desenvol-
vimento da eletrônica e dos microprocessadores pôde-se desenvolver novas técnicas de
controle digital, como por exemplo a adaptativa e a vetorial.
Apesar de mais caras, as máquinas de corrente contínua ainda são muito utilizadas nos
processos onde se exige um controle de velocidade apurado, como por exemplo, nos
processos de bobinamento nas indústrias de papel e celulose; e laminação, nas indústrias
siderúrgicas. São também muito empregadas no acionamento de veículos de tração elé-
trica, como trens e metrôs, e em componentes eletromotivos, para acionamento de vi-
dros elétricos e limpadores de pára-brisa e na área médica em cadeiras elétricas transpor-
tadoras e esteiras para teste ergométrico. O ajuste otimizado dos reguladores de veloci-
dade e corrente e filtros, possibilita a operação estável da máquina nas condições de
degraus de conjugados de carga e na referência de velocidade, possibilitando uma res-
posta rápida e ótima da máquina a estes distúrbios.
Propõe-se neste trabalho a substituição do taco gerador, usualmente utilizado como
transdutor de velocidade para as malhas fechada de controle, por um estimador de veloci-
dade desenvolvido em C++ o qual utiliza-se de equações recursivas e o sinal da corrente
da armadura recebido via transdutor de corrente, sensor hall, e placa de aquisição, para
estimação da velocidade do MCC. Esta velocidade estimada via software que é aquisitada
pela malha fechada de controle como velocidade real do motor é o dado a que o software
também se baseia para controle de velocidade do motor. É válido ressaltar que a malha
fechada de controle utilizada baseia-se em reguladores digitais proporcional e integral – PI.
Toda a malha fechada de controle, com seus reguladores proporcional e integral foi
desenvolvida via software, em linguagem C++, e este software foi o ponto de partida para
este trabalho. Portanto, o estimador de velocidade foi uma complementação do software
pré-existente que utiliza-se do taco-gerador como transdutor de velocidade.
As figuras 1 e 2 a seguir ilustram respectivamente o diagrama de blocos que exemplificam as
malhas de controle de velocidade do sistema com estimador de velocidade e com taco gerador.

Figura 1 - Diagrama de Blocos do Controle de Velocidade em Malha


Fechada de uma Máquina CC.com Estimador de velocidade

Tn = 0,50 Tgs2 = 0,022 Ti = 0,020


VRn = 2,55 VRi = 0,050

936
Figura 2- Diagrama de Blocos do Controle de Velocidade em Malha
Fechada de uma Máquina CC.com Taco Gerador

Tn = 2,00 Tgs2 = 0,022 Ti = 0,020


VRn = 2,55 VRi = 0,050

II - CIRCUITO COM ESTIMAÇÃO DE VELOCIDADE E CONTROLE


DIGITAL DE CORRENTE E VELOCIDADE
II.1 - DESCRIÇÃO GERAL
A figura 3 a seguir ilustra o circuito geral montado em laboratório para controle de
velocidade do motor de corrente contínua – MCC utilizando estimador de velocidade e
reguladores digital de corrente e velocidade desenvolvidos via software.

Figura 3 - Acionamento em Mono-quadrante com Estimação de Velocidade e


Controle de Corrente e Velocidade via Software

937
Como demonstrado pela figura acima, o circuito é composto por uma ponte retificadora
Graetz de seis pulsos totalmente controlada, um motor de corrente contínua, uma gerador
de indução (carga para o MCC), uma transdutor de corrente( sensor Hall), micro-compu-
tador 486 com software em linguagem C++ e instrumentos de medição como
amperímetros, multímetros, assim como reostatos de ajuste da corrente de campo, reostato
demarrador, bobina para diminuição do “ripple” de corrente e filtro de corrente.
O sinal Vcc é gerado através do software e de uma placa de aquisição de dados, conten-
do conversores A/D e D/A que em função do sinal de corrente da armadura e de velo-
cidade gera um sinal Vcc que enviado ao circuito eletrônico de disparos controla a tensão
de alimentação da armadura do motor de corrente contínua.
II.4 CIRCUITO DE DISPARO
Foi utilizado circuito eletrônico de disparo do tipo rampa, implementado com o CI
TCA 780 (Icotron-Siemens), um circuito integrado desenvolvido para controlar o ângulo
de disparo de tiristores, transistores e triacs continuamente de 0o a 180o. As figuras 4 e 5
ilustram as formas de onda típicas do TCA 780.
A interseção do nível CC com a rampa, internamente gerada no TCA 780, produz os
pulsos de disparo.
Figura 4 - Formas de Ondas Típicas do TCA 780.

Figura 5 - Circuito de Disparo Tipo Rampa.

938
III - ESTIMAÇÃO DE VELOCIDADE E CONTROLE DIGITAL DOS
ACIONAMENTOS
III.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A introdução de um computador ou microprocessador digital para estimação de Velo-
cidade e realização das operações de controle torna o sistema controlado mais versátil e
com menores custos, associados à melhoria da precisão obtida.
Serão apresentados nesse trabalho os resultados obtidos pela substituição do Taco
Gerador pelo Estimador de Velocidade desenvolvido via software e pela utilização de
um microcomputador PC 486, para o acionamento e controle digital de corrente e
velocidade de um motor de corrente contínua (MCC) operando em um quadrante,
substituindo assim, o tradicional taco gerador e os reguladores constituídos de circui-
tos utilizando amplificadores operacionais.
III.2. AQUISIÇÃO E CONVERSÃO DE DADOS
A estimação de velocidade e o controle do sistema é efetuado diretamente através de um
software de controle e uma placa de aquisição de dados contendo conversores A/D e D/A. A
malha de estimação de velocidade e controle de velocidade e limitação da corrente de armadura
da máquina CC foi implementada em laboratório, conforme mostrado na figura 6.
Figura 6 - Malha de Estimação de Velocidade e Controle de Velocidade da Máquina CC

Tn = 0,50 Tgs2 = 0,022 Ti = 0,020


VRn = 2,55 VRi = 0,050

Os valores ajustados em laboratório foram:


Regulador de Velocidade:
Ganho VRn = 0,55
Constante de Tempo Tn=500 [ms]
Regulador de Corrente:
Ganho VRi = 0,050
Constante de Tempo Ti= 20 [ms]
Constante de Tempo do Filtro do valor de Referência TGs2 = 22 [ms]
Constante de Tempo do Filtro do valor de realimentação TGi = 1,5 [ms]
Estes parâmetros foram ajustados em tempo real na tela de execução do software
CHOPPV ilustrada na figura 7 a seguir.
939
Figura 7 - Tela de Execução do Software CHOPPV

A placa utilizada é uma placa PCL-711B PC-Multilab Card da Advantech Co, com
conversão A/D, e D/A, e entradas e saídas digitais. A conversão A/D, tem resolução de
12 bits, com 8 canais de entrada, programáveis para faixas de entrada de ±5 [V], ±2,5 [V],
±1,25 [V], ±0,625 [V], ±0,3125 [V], com tempo de conversão de até 25[ms]. A conversão
D/A, tem a mesma resolução (12 bits), mas apenas com um canal de saída, com tempo de
acomodação de 30 [ms], e faixas de saída de 0 a +5 [V] ou 0 a +10 [V].
Segundo a configuração do circuito utilizando Estimador de Velocidade foi utilizado
um canal de entrada, para conversão A/D, correspondendo ao sinal de realimentação de
corrente, e um canal de saída, para o sinal de controle VCC.
O transdutor de corrente utilizado foi um sensor Hall, modelo LA100P do fabricante
LEN. Este transdutor de corrente inclue divisor resistivo para limitar a tensão de entrada
para o conversor A/D, sendo em seguida os sinais de tensão corrigidos por software para
condições de carga proporcional à nominal.
Os programas ou softwares de controle utilizados foram desenvolvidos em linguagem
C++, sendo responsáveis pela aquisição de dados de entrada, pelas conversões A/D e D/
A, implementação do algoritmo de controle para as malhas de velocidade e corrente, e
geração do sinal de controle (Vcc) para o circuito de disparo. Os programas incluem ainda
temporização, diagnóstico de falha e ajuste de parâmetros on-line.
III.3. ESCOLHA DOS REGULADORES
III.3.1. REGULADOR PI
O regulador PI (proporciona - integral) é o mais apropriado para esse tipo de controle,
sendo muito utilizado em aplicações industriais onde se deseja um sistema um comporta-
mento preestabelecido, atendendo a algumas especificações, como: overshoot, tempo de
acomodação, erro em regime permanente, etc. Adota-se um critério de otimização, efetu-
ando-se assim os ajustes do ganho e constante de tempo de ação integral do regulador,
necessários para o controle e regulação de velocidade e corrente em malha fechada.
940
A equação idealizada de um regulador PI é dada por:

1 + τ I ⋅ s 
Gc( s) = k.   (1)
 τI ⋅ s 
Onde:
K - ganho proporcional;
τI - tempo integral.
Através de uma sistemática bem simples, utilizando métodos tradicionais e conceitos
básicos de integração numérica e Transformada-Z, pode-se chegar a uma equação recursiva
capaz representar o comportamento desse sistema.
Quando se emprega modelos ou equações, para obter a expressão recursiva, basta
substituir os operadores integrais ou 1/s, pela aproximação desejada em Z, arranjar os
termos para terem a forma de z-k, os quais são trocados pelos índices n-k. A aproxima-
ção trapezoidal é conhecida por transformação bilinear, bastante utilizada pois gera bons
resultados nos processamentos.
Através da equação (1) e da integração trapezoidal, pode-se obter a equação recursiva
capaz de representar o comportamento do regulador PI.

1 T z +1
= ⋅
s 2 z −1

Onde
T - é o tempo de amostragem.

Substituindo-se a equação (2) em (1), tem-se a equação recursiva resultante:

y K = y k − 1 + b 1 ⋅ (e k − b 2 ⋅ e k −1 )
(3)
sendo:
yk - Saída do regulador
ek - Entrada do regulador

(1 − c) T
b1 = k ⋅ (1 + c) ; b2 = ; c=
(1 + c) 2 ⋅τ I
O fluxograma do controle digital é ilustrado na figura 8.

941
Figura 8 - Fluxograma com Estimação de Velocidade e Controle Digital

II. 4 CIRCUITO DETALHADO MONTADO EM LABORATÓRIO


A seguir são apresentados os circuitos elétricos detalhados montados em laboratório
respectivamente para a configuração utilizando taco-gerador(Fig. 9) e para a configuração
utilizando estimador de velocidade(Fig. 10).
Verifique que para a configuração com estimador de velocidade (Fig. 10), o taco-gera-
dor está desconectado do sistema digital de controle de velocidade e o filtro do transdutor
de velocidade juntamente com seu divisor resistivo foi retirado do circuito por não haver
mais função dentro desta nova configuração.
Para o circuito com estimador (Fig. 10), a placa de aquisição recebe apenas o sinal de
corrente da armadura proveniente do sensor Hall e envia o sinal Vcc, oriundo do software
CHOPPV, para o módulo controle de pulsos dos tiristores.
Para o circuito com taco-gerador (Fig. 9), a placa de aquisição recebe sinais dos transdutores
de corrente e velocidade e possui filtro com divisores resistivos para tratamento do sinal de
tensão recebido do transdutor de velocidade, taco-gerador, e para envio deste sinal para a
placa de aquisição dentro dos limites aceitáveis.
A placa de aquisição tanto para configuração com taco quanto para configuração com
estimador, tem o pino GND conectado ao pino GND do módulo de controle de pulsos;
este é o pino referência dos circuitos elétricos.
942
Figura 9 - Circuito Detalhado Montado em Laboratório com Taco-Gerador.

CIRCUITO ELÉTRICO MONTADO EM LABORATÓRIO


COM TACO GERADOR

943
Figura 10 - Circuito Detalhado Montado em Laboratório com Estimador de Velocidade.

CIRCUITO ELÉTRICO DETALHADO MONTADO EM LABORATÓRIO


COM ESTIMADOR DE VELOCIDADE

944
IV. ESTIMADOR DE VELOCIDADE
Nesta seção, será apresentado o equacionamento para cálculo da velocidade real do
motor usado no software CHOPP V. A seguir é apresentado a figura 11 ilustrativa do
circuito implementado em laboratório, que será usado como referência para desenvolvi-
mento das equações para estimação da velocidade.

Figura 11 - Representação da Parte Mecânica e do Circuito Elétrico


da Armadura do Motor CC com Excitação Independente

9D = ( + 5D,D (1)∴
9D = ( + 5D,D (2 )
(Q (Q (Q

&RQVLGHUDQ GR TXH :
( = NφQ (3)
(Q = NφQQ ( 4)
6XEVWLWXLQGR (3) H ( 4) HP (2) WHPRV :
Q = 9D − 5D,D (5) ∴
Q Q (Q (Q
9D 5D,D
Q 38 = − (6 )
(Q (Q
9D = 1,35∗ HII ∗ cos(α) (7)
&RQIRUPH ILJXUD 12, WHPRV:
α = 9FF∗1800 (8) RX
α = 9FF∗3.14159274 (9)∴
6XEVWLWXLQGR 9 HP 7 WHPRV:
9D = 1,35∗ HII ∗ cos(9FF∗ 3,14159274) (10)

eff = Tensão fase fase de alimentação da ponte retificadora


α = Ângulo de Disparo dos Tiristores
Vcc = Sinal de tensão gerado pelo software para controle do ângulo de disparo dos
tiristores
945
Figura 12 - Filosofia de Disparo Tipo Rampa TCA 780

Substituindo (11) em (6) temos:


Velocidade Real do MCC

1,35 ∗ HII ∗ cos(9FF ∗ 3,1415) 5D,D


Q38 = − (11)
(Q (Q

IV. 1 GRAFICO COMPARATIVO


Na figura 13 a seguir é informado a resposta de velocidade real medida no eixo do
motor utilizando sistema de controle digital de velocidade com estimador de velocidade
comparativamente a resposta de velocidade ideal teórica.

Figura 13 - Velocidade do Motor com Estimador de Velocidade

95HI[97HyULFD(42ULJLQDO &RV Vel. Taco Motor


Vel. Teórica
1600
1500
1400
1300
1200
1100
1000
0
900
3 800
5 700
600
500
400
300
200
100
0
00

05
10

15

20

25
30

35

40

45
50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

00
0,

0,
0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

0,

1,

95HI

946
V RESULTADOS OBTIDOS
Foi utilizado em laboratório um motor CC de 1,7 [KW], 1500 [rpm], 220 [V] e 7,72 [A]
de corrente nominal, acionado em mono-quadrante através de uma ponte Graetz de acor-
do com o que foi apresentado anteriormente. Verificou-se seu comportamento dinâmico
em situações distintas, como na partida e quando foram aplicadas bruscas variações na
referência de velocidade ou no conjugado de carga no eixo da máquina em funcionamento,
tanto com Estimador de Velocidade como com a utilização de Taco Gerador
Todos os resultados apresentados nesse item foram obtidos através de medições
realizadas em laboratório, sendo registrados através de um osciloscópio digital
(Tektronix) e aquisitados via computador.
Para ambos os softwares, com taco e com estimador, a corrente limite foi ajustada
computacionalmente em 1,20 [pu]. Todos os parâmetros do acionamento foram ajusta-
dos via teclado on-line, sendo os valores dos parâmetros ajustados mostrados logo em
seguida à figura 6 anterior.
As figuras 15, 17, 19, 21 e 23 referem-se ao sistema com controle digital de velocidade via
taco-gerador, e as figuras 14, 16, 18, 20 e 22 referem-se ao sistema com controle digital de
velocidade via estimador de velocidade Ambos, para controle de velocidade de motor de
corrente contínua com excitação independente. Sendo que na primeira condição (Fig.‘s 14 e 15),
partiu-se a máquina a vazio com taco e com estimador de velocidade. Já na segunda condição
(Fig.‘s 16 e 17), estando o motor operando a vazio, aplicou-se carga parcial de 6A e após alguns
segundos retirou-se essa carga bruscamente e verificou-se a regulação de velocidade tanto com
a utilização de taco-gerador quanto com a utilização de estimador de velocidade..
Do mesmo modo, na terceira condição(Fig.‘s 18 e 19) estando o motor operando a
vazio, aplicou-se carga nominal de 7,7A e após alguns segundos retirou-se essa carga brus-
camente e verificou-se a regulação de velocidade tanto com a utilização de taco-gerador
quanto com a utilização de estimador de velocidade.
Para quarta condição(Fig.‘s 20 e 21), estando o motor operando com carga parcial de
6A, aplicou-se um degrau negativo de 0,2PU na velocidade de referência, e após alguns
segundos aplicou-se um degrau positivo de 0,2PU quando a velocidade retornou ao valor
original. Assim, verificou-se a regulação de velocidade tanto com a utilização de taco-
gerador quanto com a utilização de estimador de velocidade.
Para a quinta e última condição (Fig.‘s 22 e 23), estando o motor operando com carga
nominal de 7A, aplicou-se um degrau negativo de 0,2PU na velocidade de referência, e
após alguns segundos aplicou-se um degrau positivo de 0,2PU quando a velocidade retornou
ao valor original. Assim, verificou-se a regulação de velocidade tanto com a utilização de
taco-gerador quanto com a utilização de estimador de velocidade.
Pôde-se observar a rápida resposta do sistema em termos de velocidade para variações na
carga e na referência (nref). Para entrada brusca de carga nominal(7,7A) a estabilização da
velocidade se deu em aproximadamente 2,5[s](Fig. 19) para sistema de controle de velocida-
de utilizando taco e, em 2,0 [s], quando foi utilizado estimador de velocidade (figura 18). No
caso da aplicação de degrau negativo de 0,2 [pu] na referência de velocidade, a estabilização
da velocidade ocorreu em aproximadamente 2,5[s] quando da utilização de taco-gera-
dor (figura 23) e em 2,0[s], quando da utilização de Estimador de Velocidade (figura 22).
947
Para análise dos dados abaixo, considerar:
Corrente:
1 Divisão vertical = 4,6 [A]
Velocidade:
1 Divisão vertical = 500 [rpm].

CONDIÇÃO 1 : PARTIDA DO MOTOR


Com estimador de velocidade com taco gerador
Canal 1 = Corrente / Canal 2 = Velocidade

Figura 14 - Partida com Estimador de Velocidade

Figura 15 - Partida com Taco Gerador

948
CONDIÇÃO 2 : DEGRAU DE CARGA PARCIAL
Com estimador de velocidade com taco gerador
Canal 1 = Corrente / Canal 2 = Velocidade

Figura 16 - Degrau de Carga Parcial com Estimador de Velocidade

Figura 17 - Degrau de Carga Parcial com Taco Gerador

949
CONDIÇÃO 3 - DEGRAU DE CARGA NOMINAL
Com estimador de velocidade com taco gerador
Canal 1 = Corrente / Canal 2 = Velocidade

Figura 18 - Degrau de Carga Nominal com Estimador de Velocidade

Figura 19 - Degrau de Carga Nominal com Taco Gerador

950
CONDIÇÃO 5 - DEGRAU DE VEL. REFERÊNCIA 0,2PU CARGA NOMINAL
Com estimador de velocidade com taco gerador
Canal 1 = Corrente / Canal 2 = Velocidade

Figura 22 - Degrau de vel. Ref. 0,2pu a carga nominal com estimador de velocidade

Figura 23 - Degrau de vel. Ref. 0,2pu a carga nominal com taco gerador

951
V. CONCLUSÕES
Os resultados experimentais obtidos em laboratório foram satisfatórios, pois o con-
trole digital com Estimador de Velocidade para o acionamento de uma máquina de
corrente contínua com excitação independente se mostrou estável e eficiente, tendo uma
resposta mais rápida do que aquela apresentada pelo controle digital com Taco Gerador.
Ao se aplicar carga no motor sendo esta ajustada tanto para carga nominal de 7,7A,
quanto para carga parcial de 6A, verificou-se que a velocidade, em um primeiro momen-
to caiu, para posteriormente voltar ao patamar original.
Verificou-se, portanto, uma boa regulação da velocidade quando da aplicação de carga.
Do mesmo modo, estando o motor com a carga nominal de 7,7A, ou a carga parcial
de 6A, aplicando-se um degrau negativo de 0,2PU na velocidade referência, verificou-se
uma queda de 20% em relação a velocidade original, mantendo-se neste valor até a
aplicação do degrau positivo de 0,2PU quando retornou a velocidade original. Estes
resultados, portanto, representam um sistema de controle em malha fechada com bom
sinal de velocidade de realimentação que, neste caso, foi estimada.
Para o desenvolvimento do estimador de velocidade do MCC foi necessário, além
das equações provenientes do modelamento matemático do MCC e Retificador, ajuste
na constante de tempo do regulador de velocidade, Tn, de 2,0 com taco para 0,50 sem
o taco. Este ajuste foi conseqüência da retirada do filtro do sinal de velocidade proveni-
ente do taco gerador.
As três formas de aquisição de velocidade real do eixo do motor são: aquisição
de velocidade por taco digital, aquisição de velocidade por taco analógico e aquisi-
ção de velocidade por estimador de velocidade. O erro intrínseco a cada uma destas
formas de aquisição são:0,01% para taco digital, 0,1% para taco analógico e 1% para
estimador de velocidade.
Diante dos bons resultados apresentados pelo estimador de velocidade, apresenta-se
também mais uma alternativa para controle de velocidade real de motor de corrente
contínua. Como também, abre-se espaço para a melhoria deste estimador, visando obter
maiores níveis de precisão a fim de possibilitar maior viabilidade de aplicação.
AGRADECIMENTOS
Os autores deste trabalho agradecem :
À FAPEMIG-MG , pela aprovação do projeto de pesquisa “ Implementação e Ava-
liação de Reguladores Digitais em Acionamentos Elétricos”, processo TEC 2917-98,
cuja concessão possibilitou a realização deste trabalho de pesquisa.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] REZEK, A.J.J.; RODRIGUES, M. S.; MIRANDA, V. A. M.; OLIVEIRA, V.A .; CASSULA, A.M.; COSTA JR., R.A;
TORRES, A.Z. Design and Simulation of a Controlled DC Drive (in portuguese), In: II SIMEAR, ABINNE TEC 91,
1991, EPUSP São Paulo. Proceedings of 2nd International Seminar on Electrical Machines and Controlled Drives. São
Paulo: USP,. 1991, vol 3, p. 141-160.
[2] REZEK, A.J. J. Análise em Regime Permanente e Transitório de um Sistema de Conversão de Energia Elétrica AC/
DC. Dissertação de mestrado em Engenharia Elétrica, EFEI, Itajubá, 1986.

952
[3] ASSIS, W.O. Projeto e Implementação do Acionamento Controlado para Máquina de Corrente Contínua Através de
Chopper. Dissertação de Mestrado em Engenharia Elétrica. EFEI, Itajubá. 1997.
[4] LANDER, C.W. Eletrônica Industrial, Teoria e Aplicações. São Paulo: Editora McGraw-Hill Ltda, 1988.
[5] ALMEIDA, J.L.A. Eletrônica de Potência. São Paulo: Ed. Érica, 1986.
[6] OGATA, K. Engenharia de Controle Moderno. Rio de Janeiro: Editora Prentice / Hall do Brasil Ltda., 1982.
[7] SCHILDT, HERBERT. C Completo e Total, 3.ed. São Paulo: Makron Books do Brasil Editora Ltda; 1996.
[8] KOSOW, IRVING LIONEL. Máquinas Elétricas e Transformadores, 2.ed. Porto Alegre: Globo; 1979.
[9] ROSA, P.C., Implementação de Reguladores PID – Digitais em Sistemas com Microprocessadores. Itajubá: Escola
Federal de Engenharia de Itajubá, 1989. 87p (Dissertação, Mestrado em Engenharia Elétrica).
[10] ARANDA, G. E. I., Projeto e Implementação de um Acionamento Controlado Analógico e Digital para Máquina
de Corrente Contínua, Utilizando CHOPPER de Quatro Quadrantes, Itajubá-MG: Escola Federal de Engenharia de
Itajubá, 2000 (Dissertação, Mestrado em Engenharia Elétrica).
[11] FRÖHR, F.; ORTTENBURGER, F. Introductión al Control Electrónico, Siemens, Marcombo S.A., Barcelona,
España, 1986.
[12] BUXBAUM, A., SCHIERAU, K., STRAUGHEN, A. Design of Control Systems for DC Drives; Alemanha: Spring-
Verlag Berlin Heidelberg, pp162-177, 1990.
[13] AHMED, ASHFAQ. Eletrônica de Potência; tradução Bazán Tecnologia e Lingüística, revisão técnica João Antonio
Martino. São Paulo: Prentice Hall, 2000.

953
CONSTATAÇÕES, RESULTADOS
E ACOMPANHAMENTO DO
PROGRAMA NACIONAL DE
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
EFICIENTE – RELUZ
Lourenço Lustosa Fróes*
Marcel da Costa Siqueira*
Clara Rosa De J. Lacerda Ramalho*
Cláudia Maria Coimbra*
Marcelo Franca Ribeiro dos Anjos*
Solange Nogueira Puente Santos*
Vinícius Zidan da Fonseca*
Álvaro B. Alves Pinto*

RESUMO
A diversidade brasileira impõe análise mais profunda das questões técnicas e sociais de
forma que se considere as particularidades das diversas regiões. Na iluminação pública este
tipo de abordagem também se faz necessária.
Ao longo da execução do Programa ReLuz a Eletrobrás vem adquirindo experiência e
novas informações sobre a iluminação pública a nível nacional. São aqui apresentados fatos
constatados durante a execução do Programa ReLuz, de forma a contribuir para a discussão da
questão da iluminação pública e de mecanismos de estímulo à eficiência energética no Brasil.
Apresenta-se ainda uma análise dos resultados alcançados até o presente com o
Programa. Discute-se o impacto nos municípios e os benefícios para a sociedade e
para o setor elétrico brasileiro.

*
Divisão de Desenvolvimento de Projetos Especiais – ELETROBRAS/PROCEL - Praia do Flamengo 66-A, 4º andar
- CEP. 22210-030 - Rio de Janeiro, RJ, Brazil - Tel: +55 21 2514-5923 / Fax: +55 21 2514-5767 - E-mail:
lourenco@eletrobras.com

954
O PROGRAMA RELUZ
O Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente - ReLuz da Eletrobrás/Procel
prevê investimentos de R$ 2 bilhões para tornar eficientes 9,5 milhões de pontos de ilumi-
nação pública (IP) e instalar mais 3 milhões de outros novos pontos no Brasil.
O ReLuz foi lançado em 2000 e prorrogado, em 2002, até 2010. Pretende abranger
77% do potencial de conservação de energia na IP brasileira, atualmente composta de
cerca de 14,5 milhões de pontos de iluminação, sendo que 12,3 milhões de pontos po-
dem ganhar mais eficiência. Atingida esta meta, o Governo conseguirá reduzir a despesa
dos municípios com IP em aproximadamente R$ 340 milhões por ano, além de uma
redução estimada de 540 MW de potência.
Os projetos de eficiência para serem financiados pelo ReLuz são analisados técnica e
orçamentariamente e sua viabilidade condicionada à relação benefício/custo. Ao longo
da execução do projeto, a Eletrobrás realiza acompanhamentos físicos e financeiros para
comprovar a instalação dos equipamentos e a aplicação dos recursos pelas concessioná-
rias de acordo com os contratos.
Anteriormente ao lançamento do Programa ReLuz, a Eletrobrás já havia financiado a
substituição de 1,43 milhões de pontos de IP, no âmbito do Programa Nacional de Con-
servação de Energia Elétrica (Procel), e em conjunto com as concessionárias de energia
elétrica. Este total de pontos foi distribuído entre 813 municípios brasileiros, significando
113,74 MW de demanda evitada e 498,20 GWh de economia de energia.
SITUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS
O Artigo 30 da Constituição brasileira estabelece as competências dos municípios. No
inciso V deste artigo, especifica que cabe aos municípios “organizar e prestar, diretamente
ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído
o de transporte coletivo, que tem caráter essencial”.
A resolução n.º 456 da Aneel, estabelece a seguinte definição de iluminação pública:
“serviço que tem por objetivo prover de luz, ou claridade artificial, os logradouros públi-
cos no período noturno ou nos escurecimentos diurnos ocasionais, inclusive aqueles que
necessitam de iluminação permanente no período diurno”.
Pela constituição, cabe aos municípios a responsabilidade pelo serviço de iluminação
pública. Esta atribuição é exercida segundo uma das seguintes alternativas:
a) o município realiza a expansão e a manutenção dos sistemas de IP, diretamente ou
através de empreiteiras contratadas;
b) o município concede a uma empresa as atividades de manutenção e expansão dos
sistemas, geralmente à concessionária de distribuição de energia elétrica local.
A situação econômica dos municípios e a sua estrutura organizacional são fatores que
refletem diretamente na situação do parque de iluminação pública. Na figura 1, pode ser
observado o percentual de vias urbanas iluminadas de grande parte dos municípios brasi-
leiros (5.507 municípios apresentados de um total de 5.561 no Brasil).
955
Figura 1 - Percentual de vias urbanas iluminadas por município brasileiro, representado
os nomes de alguns exemplos de municípios no gráfico (IBGE, 1999)

100
80

 60
40
20
0

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Quanto à organização, verifica-se que em muitos municípios não há estrutura e nem


recursos humanos para tratar especificamente da iluminação pública. Assim, a manu-
tenção e a expansão dos sistemas é feita de forma pouco planejada e a gestão do
parque acaba sendo deficiente. Nos municípios mais carentes de recursos e informa-
ção a gestão da IP enfrenta graves problemas, tais como licitações mal feitas e utiliza-
ção de equipamentos pouco eficientes, de pouca qualidade e vida útil reduzida. Apesar
disso, a diversidade brasileira também comporta municípios extremamente organiza-
dos na gestão da IP.
O modo de operação do ReLuz estimula que as concessionárias, ou implementem
diretamente, ou auxiliem os municípios em todo o processo de modernização do
parque de IP. Este fato é de extrema importância, até porque as concessionárias estão
em geral muito mais habituadas com a compra de equipamentos e materiais elétricos,
além de terem, em geral, reconhecida experiência na gestão dos sistemas de IP.
Antes das privatizações ocorridas a partir de 1996, grande parte dos sistemas de IP
eram mantidos pelas concessionárias de distribuição. Após a privatização, muitas delas
não tiveram interesse na continuidade de administração dos sistemas de IP, provavel-
mente para se concentrarem no seu negócio, venda de energia e gestão das redes de
energia elétrica. Com isso, muitas distribuidoras transferiram para os municípios os
parques de IP. A deficiência e a falta de experiência dos municípios na manutenção dos
sistemas, em alguns casos, gerou piora na gestão do parque de iluminação pública.
FORMA DE OPERAÇÃO
O Programa ReLuz prevê o financiamento de projetos de melhoria e expansão dos sistemas
de IP, ou ainda projetos de destaque de monumentos e prédios de valor histórico e/ou cultural.
956
Os recursos utilizados para concessão dos financiamentos são oriundos da RGR (Reser-
va Global de Reversão), os quais são repassados às concessionárias de energia elétrica pela
Eletrobrás, que administra tal fundo.
As concessionárias podem então realizar diretamente a coordenação e contratação das
obras ou repassar os recursos para as prefeituras, para que estas o façam.
Figura 2 - Formas de Operação para Repasse de Recursos

FONTE DE AGENTE COORDENAÇÃO EXECUÇÃO DAS


RECURSOS ADMINISTRADOR DAS OBRAS OBRAS

Concessionária

Concessionárias Empreiteira,
Eletrobrás (Geração, Prefeitura ou
(RGR) Transmissão e Concessionária
Distribuição
Prefeitura

CONTRATO DE CONTRATO CONTRATO


FINANCIAMENTO

Observa-se que os resultados são mais eficazes quando há participação direta das con-
cessionárias em todo o processo. Mesmo nos casos onde a concessionária repassa os recur-
sos as prefeituras, é essencial que haja a supervisão na contratação das empreiteiras, na
especificação e compra dos materiais e no monitoramento das obras em campo.
BARREIRAS E INCENTIVOS A ENTRADA DAS CONCESSIONÁRIAS
NO PROGRAMA RELUZ
No atual panorama nacional, são necessários facilitadores para aumentar o poder de
penetração da eficiência energética no Brasil, visto que os agentes não estão suficientemente
informados ou sensibilizados para perceber os reais benefícios da eficiência energética.
No modelo do Programa Reluz as concessionárias são voluntárias na habilitação e na
realização da modernização na IP. Os recursos da RGR estão disponíveis para utilização
em condições atrativas, entretanto, muitas vezes as concessionárias não se interessam pelo
Programa, por vários motivos, tais como:
l concessionárias já possuem planejamento de aplicação dos recursos outras ações de
eficiência energética1;
l risco de inadimplência das prefeituras, muitas das quais já encontram dificuldades no
pagamento das suas contas mensais de energia elétrica. Portanto, quando a conces-
sionária age como repassadora de recursos este fato pode inibir a concessionária a
participar do Programa;
l para as concessionárias, a redução no consumo de energia elétrica pode ser associ-
ada, num primeiro momento, a perda de receita;
1
Deve-se destacar que a eficiência energética na iluminação pública, desde que realmente comprovada, permite que
sejam mensurados os benefícios em termos de economia de energia (MWh) e de redução da demanda no horário de
ponta (kW) com relativa precisão, estimativa nem tão óbvia em programas de educação, por exemplo.

957
l concessionárias preferem canalizar esforços no seu próprio negócio, do qual a IP
não faz parte;
l legalmente as concessionárias são definidas como responsáveis pela oferta de ener-
gia e pode existir a prioridade das concessionárias, numa visão tradicional, em aten-
der a demanda de energia;
l A alternativa de compatibilização da eficiência energética na IP para otimizar o
consumo pode não ser uma prioridade;
l necessária a compatibilização de interesses entre concessionária e prefeitura, pois o
modo de repasse de recursos exige a participação de ambas (salvo quando a con-
cessionária também realiza a manutenção dos sistemas de IP para os municípios);
l necessidade de maior divulgação dos benefícios do programa, tanto para prefeitu-
ras quanto para concessionárias.
CADASTRO NACIONAL DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA
Atualmente as distribuidoras mantêm cadastros de iluminação pública dos municípios e
através do dele podem efetuar o faturamento às prefeituras das contas associadas a IP.
Grande parte das prefeituras também mantêm um cadastro de forma que os serviços de
manutenção possam ser mais facilmente planejados e operados. Freqüentemente são en-
contradas divergências entre estas duas bases de dados, visto que a manutenção e o cresci-
mento dos sistemas de IP são extremamente dinâmicos.
Atualmente não há uma base de dados centralizada que possa reunir os cadastros indivi-
duais das prefeituras e das distribuidoras. Portanto, de forma a melhor planejar as ações do
ReLuz, em 1999, a Eletrobrás realizou o levantamento do Cadastro Nacional de Ilumina-
ção Pública através de consultas às distribuidoras. Em suma, foi constatado um total de
14,5 milhões de pontos de iluminação pública em todo o Brasil, com a distribuição em
termos de tipos de lâmpadas encontradas conforme Gráfico a seguir.1
Deve-se destacar que a eficiência energética na iluminação pública, desde que realmente
comprovada, permite que sejam mensurados os benefícios em termos de economia de
energia (MWh) e de redução da demanda no horário de ponta (kW) com relativa precisão,
estimativa nem tão óbvia em programas de educação, por exemplo.

Figura 3 - Tipos de lâmpadas encontradas em iluminação pública


no Brasil (Eletrobrás/Procel, 1999)
1,2%
3,9%
15,8% 7,6%

Incadescente
Mista
Vapor de Mercúrio
Vapor de Sódio
Outros

71,5%

958
De forma a se avaliar os resultados atingidos com o programa e a evolução do parque
nacional de IP, em 2004 a Eletrobrás vem realizando novo levantamento, que conta com o
apoio das distribuidoras para o envio de informações.
Atualmente, pela Resolução n.º 456 da Aneel, no Artigo 32, é mencionado que “no caso
de fornecimento destinado para iluminação pública, efetuado a partir de circuito exclusivo,
a concessionária deverá instalar os respectivos equipamentos de medição quando solicita-
dos pelo consumidor”. Anteriormente o faturamento era sempre efetuado através dos
dados cadastrais (com a potência das lâmpadas existentes) e considerando-se uma período
de 360 horas mensais de operação. Na situação atual, poderá haver perda das informações
cadastrais acerca dos circuitos de IP exclusivos, fato que vem gerando preocupação na
composição dos próximos cadastros nacionais a serem levantados.
RESULTADOS
Um resumo dos resultados obtidos até maio de 2004 é apresentado na Figura 3. Ressal-
ta-se que a redução de potência é extremamente positiva ao sistema elétrico brasileiro, já
que em geral o período de operação dos sistemas de IP coincide com a ponta da curva de
carga do sistema elétrico nacional, entre 17h00 e 22h00.
A modernização não se restringe à substituição de lâmpadas e reatores mas, em geral
também envolve os conjuntos luminotécnicos (luminárias) e em alguns casos conjuntos de
fixação das luminárias. Muitas luminárias encontradas em campo eram obsoletas e tinham
rendimentos muito aquém dos níveis mínimos considerados aceitáveis, fornecendo por-
tanto fluxos luminosos que não permitem que se chegue aos níveis mínimos de iluminância
estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR-5101).

Figura 4 - Realizações do Programa ReLuz (de 2000 a maio de 2004)

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5(*,­2 081,&Ë3,26 321726
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'(327Ç1&,$
0:KDQR 
NORTE 3 22.915 6.182 1.411
NORDESTE 20 69.991 22.433 5.139
CENTRO OESTE 24 52.961 24.443 5.581
SUDESTE 334 407.071 142.584 32.554
SUL 10 128.944 35.863 8.188
RELUZ
(2000 A MAIO 391 681.882 231.505 52.873
2004)
META RELUZ - 9.500.000 2.400.000 540.000
14.500.00
BRASIL TOTAL 5.561 - -
0
OUTRAS AÇÕES
PROCEL (ANTES 813 1.432.852 498.200 113.744
DO RELUZ)

959
BENEFÍCIOS
Os benefícios diretos obtidos com o Programa são:
l Economia de energia, com redução dos gastos públicos;
l Redução de demanda na ponta da curva de carga do sistema elétrico, com conse
qqüente redução de perdas;
l Melhoria da qualidade da iluminação pública;
l Padronização dos sistemas de IP, reduzindo os itens de estoques e facilitando a
mmanuttenção dos sistemas;
l Redução dos gastos com manutenção dos sistemas de IP.
Além desses, há benefícios indiretamente obtidos, principalmente de cunho social:
l Melhoria da relação entre as concessionárias e prefeituras;
l Geração de empregos;
l Postergação de investimentos em expansão do sistema elétrico;
l Padronização e atualização cadastral;
l Segurança pública, tanto a nível de redução dos índices de criminalidade, quanto a
nnível de maior segurança no tráfego de veículos e pedestres;
l Melhoria da imagem da Eletrobrás, das concessionárias, das cidades e da administra-
ção municipal junto à população;
CONCLUSÃO
Além dos objetivos principais do Programa ReLuz, de eficiência na iluminação pública,
e Eletrobrás também busca fomentar: a criação de conhecimento atomizado sobre ilumi-
nação pública e a reunião de informações sobre o parque nacional de IP.
Percebe-se, com a implementação do ReLuz, uma maior mobilização e conscientização
das prefeituras no que tange a iluminação pública. O Programa é um incentivo para que se
dê continuidade às ações para melhoria na prestação do serviço de IP e chama a atenção
das prefeituras para o impacto e a importância da IP para a população.
Espera-se que as ações que vêm sendo desenvolvidas possam contribuir para a melhoria
da eficiência e para a economia de energia, mas que, sobretudo, haja melhorias significativas na
prestação do serviço de iluminação pública e na qualidade de vida da população brasileira.

BIBLIOGRAFIA
ELETROBRÁS/PROCEL - Manual do Programa ReLuz – Rio de Janeiro, 2004.
ELETROBRÁS/PROCEL – Conservação de Energia Elétrica, Eficiência Energética em Instalações e Equipamentos – Eletrobrás/
EFEI, 2001 – 467p.
ELETROBRÁS/PROCEL – A Implantação do ReLuz nas Cidades Brasileiras – artigo do IX CBE, Rio de Janeiro, 2002
JANNUZZI, G.M.; SWISHER, J.N.P. — Planejamento Integrado de Recursos Energéticos — Eletrobrás/Procel, 1997 – 246p.
GELLER, Howard – O Uso Eficiente da Eletricidade – INEE, Rio de Janeiro, 1994 - 225p.
BARBOSA, Robson – Princípios e Diretrizes para uma Política de Iluminação Pública Eficiente em João Pessoa –
IEE/USP, 1996 – 22p.
BREMAEKER, F. E. J. de – A Iluminação Pública no Brasil: Situação e Custeio – IBAM, Rio de Janeiro, 2001 – 13p.

960
CONTRIBUIÇÃO ENERGÉTICA DAS
COOPERATIVAS DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS NO MUNICÍPIO
DE CAMPINAS/SP

F. A. M. LINO*

RESUMO
Considerando a hipótese de que os resíduos sólidos reciclados de volta à cadeia produ-
tiva trazem benefícios ambientais, entre eles, a economia energética para a indústria, um
fomento significativo desse processo é a cooperativa de coleta e triagem de material reciclável.
No município de Campinas/ SP, as cooperativas, cuja contribuição energética é objeto
deste trabalho, além de fazerem a própria coleta dos recicláveis também recebem a da
seletiva da prefeitura, para agregamento de valor e comercialização. Contudo, os dados
analisados aqui, referem-se à coleta oficial do município, portanto são parciais, mas permi-
tem a obtenção do potencial de energia elétrica economizada ou evitada na base da reciclagem,
através de uma comparação entre a produção de papel, plástico, vidro e metal produzidos
a partir de matéria-prima virgem e reciclada.
Palavras-chave: ooperativa, resíduo sólido, reciclagem e energia.

INTRODUÇÃO
Presente em todas as partes do mundo, nos mais variados ramos de atividades, o siste-
ma cooperativista surgiu na Inglaterra por volta de 1844. Foi evoluindo e conquistou espa-
ço próprio, definido por uma nova maneira de inter relacionar o ser humano com o
trabalho e o desenvolvimento social (SINGER, 2000).
No Brasil, esse sistema vem se alastrando nos últimos anos incentivado pelo desempre-
go. Traduzindo o pensamento de Altvater (1995) o desemprego é reflexo do sistema fordista
de produção que, mesmo “mantendo sua perspectiva produtivista”, não consegue devolver o
emprego ao desempregado devido às restrições econômicas causadas por juros altos que
impedem os investimentos, sobretudo, em infra-estrutura e qualificação de mão-de-obra.

DE/FEM/UNICAMP - CP 612213083-970 Campinas, SP - fatima.lino@uol.com.br


*

961
Para Singer (2000a, p. 51), a “Economia Solidária chega como uma resposta à nova fase do capita-
lismo chamada Terceira Revolução Industrial que permite a descentralização das atividades produtivas”.
Assim, em busca da sobrevivência, os desempregados se reúnem em grupo e, mesmo
desconhecendo, na maioria das vezes, os princípios que regem o cooperativismo, se arris-
cam para formar seus próprios negócios.
Segundo dados da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB), a taxa de cresci-
mento do número de cooperativas constituídas no período de 1990 a 1998, foi de 44% e
a de crescimento do número de cooperados atingiu 53%. Até 1998, a OCB contabiliza o
registro de 5.102 cooperativas com 4.428.925 cooperados (ODA, 2000). No Brasil, o
cooperativismo é regulado pela Política Nacional do Cooperativismo (Lei n° 5.764/71).
Estudiosos do assunto como MANCE ( 2000), CRÚZIO (2000) e SINGER (2000) defen-
dem este seguimento da Economia Solidária como alternativa para os excluídos do mercado de
trabalho. Sem patrão, os ex- desempregados passam a praticar, então, a Economia Solidária na
base da colaboração solidária, que segundo Mance (2000) significa trabalho e consumo com-
partilhados, cujo vínculo recíproco entre as pessoas advém, principalmente, de um sentido
moral de co-responsabilidade pelo bem-viver de todos e de cada um em particular. A palavra
colaboração deriva do verbo latim collaborare, significa trabalhar junto; solidário deriva de solidu,
significa algo forte, que dificilmente se deixa destruir por uma força externa (MANCE, 2000).
No caso do município de Campinas/ SP., onde foi fundada a primeira cooperativa
brasileira, em 1887, denominada Cooperativa de Consumo dos Empregados da Compa-
nhia Paulista (SENAC, 1999), após um século, o cooperativismo parece ser a esperança de
um, ainda pequeno, exército industrial de reserva. É que a administração pública, gestão
(2000 - 2004), na tentativa de minimizar duas questões cruciais no município, que são a falta
de espaço para depositar os resíduos sólidos e o desemprego, está incentivando a forma-
ção de cooperativas, entre outras, de trabalhadores, bem como a da reciclagem.
Atualmente existem 14 cooperativas1 que manuseiam até 90 toneladas por mês de mate-
riais recicláveis na cidade, caso da Cooperativa Aliança que faz a própria coleta. Assim as
cooperativas se garantem financeiramente. Enquanto umas trabalham na triagem dos ma-
teriais que recebem da coleta seletiva oficial da prefeitura, outras vão além disso. Com
relação à coleta oficial, a quantidade média de 180 toneladas/ mês2 excluindo uma porcen-
tagem de até 30% de rejeito, só atinge 1,5% do potencial estimado para o município, em
torno de 30 a 40% de resíduos passíveis de reciclagem, gerados pelos 969.369 habitantes3,
cuja média estimada é de 320t/ dia.
Na cooperativa, os resíduos recicláveis são separados, prensados e enfardados para
serem comercializados junto a sucateiros ou aparistas que, por sua vez, os encaminham
para as indústrias. Trata-se de um trabalho cuja importância marca a primeira e, fundamen-
tal etapa da reciclagem. Esta, enquanto processo de minimizacão de resíduos, é recomen-
dada por alguns estudiosos do assunto, entre eles, FIGUEIREDO (1995), TEIXEIRA
(2000), DIAS (2001) e VILHENA (2002).

1
Responsável pelo sustento de mais de 200 famílias, conforme dados da presente pesquisa.
2
Dados fornecidos por técnicos da PMC referente ao mês de maio de 2004.
População de Campinas, conforme censo IBGE, 2000. Informações obtidas no site www.IBGE.gov.br em 12/06/2004.
3

962
Trata-se de um processo que, além de contribuir para preservação da natureza, propor-
ciona economia de recursos utilizados com a coleta e tratamento de resíduos. Este setor
absorve de 50 a 70% do total dos recursos destinados à limpeza pública que, por sua vez,
consome entre 7 a 15% do orçamento municipal (IPT/CEMPRE, 2000).
Além disso, a produção de bens a partir da matéria-prima reciclada proporciona outros
benefícios, entre eles, economia de energia se comparada à produção com matéria-prima
virgem (CALDERONE,1998). Não obstante, quando o assunto se refere a energia, todo e
qualquer esforço para se alcançar a eficiência energética em busca do desenvolvimento susten-
tável é sempre bem-vindo. Isso porque, embora a energia seja considerada um dos insumos
básicos para o crescimento econômico, sua utilização causa impactos ambientais locais e tam-
bém problemas de ordem geral, conforme análise de vários estudiosos do assunto.
Entretanto, no Brasil, uns dos fatores que mais chama a atenção é o desperdício no setor
elétrico. Desperdiçam-se 17% da energia elétrica produzida. Só o setor industrial desperdiça
25% da energia elétrica consumida, ou seja, perdem-se 5 bilhões de dólares por ano devido a
equipamentos obsoletos, máquinas desreguladas, banhos longos, luzes desnecessariamente
acesas etc. Soma-se ao desperdício, o aumento do consumo brasileiro em 6,9% no período
de dois anos (1998 – 2000), passando de 226 GWh para 258 GWh (DIAS, 2001). A situação
se complica porque, segundo este mesmo autor, o setor elétrico precisa de grandes investi-
mentos que não dispõe e a construção de novas hidrelétricas produz graves danos ambientais.
Por isso, há de considerar os esforços, mesmo que isolados, em prol de uma possível
eficiência energética. É nesta direção que o objetivo deste trabalho se concentra, ou seja,
identificar, ainda que parcialmente, o potencial de energia elétrica evitada ou economizada
na reciclagem, proporcionada pelas cooperativas no município de Campinas/ SP.
Processo comparativo de consumo de energia elétrica na produção de papel,
plástico, metal e vidro a partir de matéria-prima virgem e reciclada.
O volume de produtos e, portanto, de embalagens per capita vem aumentando muito
nos últimos anos. Os 6 bilhões de habitantes do Planeta, produzem uma média de 30
milhões de t/ano de resíduos sólidos (CEMPRE, 2000). Segundo Figueiredo (1995), pesqui-
sas apontam para o crescimento na ordem de 46% entre os anos de 1985 a 2000. Esses
dados sobre o consumo confirmam a previsão de Morin (1984) sobre a emergente era do
consumo estimulado pelo capitalismo.
No Brasil, são geradas, 125.281 t/dia4 de resíduos sólidos das quais cerca de 73% são
despejadas em lixões (CEMPRE, 1999). Para Grippi (2001), isso comprova a inexistência,
nas prefeituras, de uma política definida para o gerenciamento do lixo urbano, que é um
potencial energético e econômico.
Uma das formas de aproveitar esse potencial seria através da reciclagem. Trata-se de um
processo de transformação dos resíduos sólidos, envolvendo alteração de suas proprieda-
des físicas e físico-químicas para a criação de produtos novos. Além de contribuir para a
preservação da natureza, a reciclagem possibilita minimizar a disposição dos resíduos nos
aterros sanitários e lixões.

4
Conforme IBGE. Pesquisa no site http://www.ibge.goy.br/censo.

963
Esta é uma prática que o Governo Federal tenta incentivar. Tanto que incluiu, no
Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, um capítulo na qual prioriza
verba do Fundo Nacional de Resíduos Sólidos para os municípios que utilizarem coope-
rativas ou associações de catadores nos seus sistemas de coleta seletiva (BEI, 2002). Cabe,
portanto, às prefeituras brasileiras a responsabilidade de viabilizarem-se no sentido de ir
ao encontro do desenvolvimento sustentável, e isso começa obrigatoriamente pela
destinação adequada do seu resíduo sólido.
Em se tratando do município de Campinas, sua população gera cerca de 800 t/dia de
resíduos sólidos das quais em média 320 t/dia são passíveis de reciclagem. Entretanto, desde
1991 quando a coleta seletiva foi implantada pela prefeitura, os índices apresentam oscilações,
atingindo o patamar das 420 t/mês, decaindo para 180 t/mês em maio de 2004, excluindo
uma média de até 30% de rejeito chega a 126 t/mês. Assim, ao invés de aumentar, a quanti-
dade coletada diminui. De qualquer maneira, os números servem como referencial para se
avaliar o grau de prioridade e preocupação de cada administração quanto às questões ambientais.
Retomando o objetivo principal deste trabalho, que consiste em estimar a energia elétrica
evitada ou economizada com a reciclagem dos resíduos coletados pela prefeitura e, repas-
sado às cooperativas, inicia-se a análise numérica. A começar pela comparação do consu-
mo de energia elétrica na produção de papel, papelão, plástico, vidro e metal a partir de
matéria-prima virgem e reciclada. A tabela l apresenta esta comparação em MWh/t.
Tabela l - Consumo de energia elétrica em processos produtivos (MWh/t)

3URGXWR 0DWpULDSULPDYLUJHP0:KW 5HFLFODGD0:KW


Papel/ papelão 5,0 1,5
Plástico 6,7 1,4
Vidro 4,8 4,2
Metal/ alumínio 15 0,75
Fonte: STREB (2001). Elaborado com base em Meldonian (1998), CALDERON1
(1998) e CEMPRE (1999).

Observando os dados apresentados na tabela l, conclui-se que o consumo de energia


elétrica no processo produtivo é bem menor quando utilizada a matéria-prima reciclada.
Isso deveria servir de estímulo para as prefeituras adotarem programas de reciclagem dos
seus resíduos sólidos urbanos, ao invés de enviá-los para aterros sanitários ou despejá-los
de forma inadequada em lixões.
Trazendo a questão para Campinas, nota-se o grande desperdício de resíduos recicláveis
encaminhados ao aterro sanitário Delta I, devido ao fato de que a coleta seletiva abrange
apenas 200 dos 600 bairros que compõem a Cidade.
Na sequência serão apresentados os índices correspondentes à composição do resíduo
sólido do município. Tais índices de porcentagem apresentados na figura l,referem-se ao
ano de 1996, os quais ainda hoje se mantêm inalterados5 e, portanto, dentro da média
nacional estimada para os grandes centros urbanos como Campinas.

5
Índices confirmados por técnicos do Departamento de Limpeza Urbana da PMC.

964
Figura l - Composição da massa de resíduos sólidos em Campinas

 
  PDWpULDRUJkQLFD
SDSHOSDSHOmR
 SOiVWLFR
PHWDO

 YLGUR
HQWXOKR
GLYHUVRV
SHUGDV

Fonte: PMC (1996)

Até aqui, obtêm-se os dados sobre o consumo de energia elétrica nos processos produ-
tivos referentes ao papel, papelão, plástico, vidro e metal e o percentual de composição
sobre a massa de resíduo sólido gerada no município. Na tabela 2, os cálculos apresentam
a massa de resíduo correspondente à produção em Campinas, bem como os índices rela-
tivos à coleta seletiva, bem como a sua representatividade.

Tabela 2 - Produção de resíduos recicláveis do município e total da coleta oficial

Média /mês Indice sobre


Material Produção Estimativa de coleta
coleta seletiva total coletado
Reciclável estimada t/mês*
(%) (%)
t/mês

Papel/ papelão 4.097,60 1,48 60.480 48,0

Plástico 3.161,60 1,48 46.872 37,2

Elaborado a partir de dados fornecidos pela PMC ( 2004 )


*
Referente ao mês de maio de 2004
**
Os dados fornecidos pela prefeitura não discriminam a porcentagem correspondente ao alumínio e metal não ferroso.

Como se pôde observar, a Prefeitura Municipal de Campinas é a responsável pela coleta


de 1,5% de todo o resíduo passível de reciclagem gerado na cidade. Porém, um estudo
mais aprofundado revelar-se-á que este número pode ser bem maior considerando o tra-
balho desenvolvido por grupos organizados em cooperativas e catadores informais6 que
estão presentes em todos os lugares.
Pesquisa divulgada pela Unicef revela, inclusive, que os maiores responsáveis pela coleta
são os mais de 150 mil catadores que se encontram espalhados pelos 3,8 mil municípios
brasileiros (BEI, 2002). Estes, em contrapartida, tem uma participação pífia. Dos quase 5,3
mil municípios brasileiros apenas 135 adotam programa de reciclagem, a maioria, inclusive,
está localizada na Região Sudeste (CEMPRE, 1999).
Pesquisa sobre catadores de Campinas realizada por Streb (2001).
6

965
Mesmo assim, nos últimos anos, o mercado de recicláveis tem colocado o Brasil em
posição de destaque. Desde o ano 2000, o país vem liderando o ranking mundial na
reciclagem de alumínio com 73% (DUALIBI, 2000) e, naquele mesmo ano, liderou a
reciclagem de papelão com o índice de 72% (PERES, 2000). Isto significa que, apesar de
emergente, o setor ocupa seu espaço, cuja somatória de benefícios, energético, econômico,
social, ambiental etc., são revertidos para a sociedade de um modo geral. É justamente
sobre um desses benefícios, o energético a pretensão deste estudo.
Energia elétrica evitada ou economizada no processo produtivo proporci-
onado pelas cooperativas do município de Campinas
A partir dos dados sobre a produção de resíduos recicláveis no município de Campinas,
o total coletado pela prefeitura e repassado às cooperativas e o consumo de energia nos
processos produtivos a partir de matéria-prima virgem e reciclada, pode-se obter a contri-
buição energética proporcionada pelas cooperativas que é o objetivo deste trabalho.
A tabela 3 apresenta o consumo de energia elétrica evitada ou economizada nos processos
produtivos para o papel, papelão, plástico, e vidro a partir da matéria-prima virgem e reciclada.
Por falta de dados oficiais específicos sobre os metais (ferroso e não ferroso), estes não
entram na base de cálculos. Comparando os dois tipos de consumo na produção a partir da
matéria-prima virgem e reciclada, determina-se a energia elétrica evitada ou economizada
proporcionada pelas cooperativas no município de Campinas. O resultado é dado em potên-
cia média (MW), que é a potência de instalação utilizada pelas produtoras de energia.

Tabela 3 - Estimativa de consumo de energia elétrica evitada com a reciclagem


em Campinas proveniente da coleta oficial do município de Campinas

(QHUJLD (QHUJLDHOpWULFD 3RWHQFLDOGH


HOpWULFD
&ROHWD FRQVXPLGD FRQVXPLGDFRP
5HVtGXR WPrV 
HQHUJLDHOpWULFD 3RWrQFLD
FRPPDWpULD PDWpULDSULPD
UHFLFODGD
HYLWDGDRX
HFRQRPL]DGD PpGLD 0: 
SULPDYLUJHP 0:KW  0:K 
0:KW 
Papel 60.480 302,40 90.720 211,68 0,29
Plástico 46.872 314,04 65,62 248,42 0,34
Metal* 13.482 - - - -
Vidro 5.166 24,79 21,69 3,10 0,0043
Total 126.000 641,23 178,03 463,20 0,63
Elaborado a partir de dados fornecidos pela PMC em maio de 2004.
*
Excluído dos cálculos por falta de dados oficiais

Com os resultados apresentados na tabela acima tem-se que, a quantidade mensal de


recicláveis obtidos na coleta seletiva oficial repassados às cooperativas após agregamento
de valor e comercializados juntos a sucateiros ou aparistas para posteriormente serem
encaminhados às indústrias têm uma contribuição energética de 0,63 MW.

966
Diante do potencial residual gerado, pode-se dizer que, nesses 13 anos de implantação
do programa de coleta seletiva em Campinas, não se percebe nenhum avanço. Portanto, se
depender da prefeitura para garantir uma possível contribuição energética com a reciclagem
na cidade a situação se complica. O potencial existe, conforme observa-se na tabela 4. O
que falta é a prioridade na gestão de resíduos sólidos.
Tabela 4 - Estimativa do potencial de energia elétrica evitada com a reciclagem,
caso todo o resíduo do município de Campinas (SP) fosse coletado seletivamente

(QHUJLDHOpWULFD (QHUJLDHOpWULFD 3RWHQFLDO


0DWHULDO JHUDGRQR FRQVXPLGD
3RWHQFLDO
DSDUWLUGD
FRQVXPLGDD GH(QHUJLD
SDUWLUGHPDWpULD
3RWrQFLD
5HFLFOiYHO PXQLFtSLRWPrV PDWpULDSULPD SULPDUHFLFODGD HYLWDGD 0pGLD
  YLUJHP 0:K  0:K  0:K  0: 
   

Papel/papelão
4.097,60 20.488 6.146,40 14.341,60 19.919

Plástico
3.161,60 21.182,72 4.426,24 16.756,50 23.273

Vidro
347,36 1.667,32 1.458,91 208,41 0,29

Metal -
915,20 - - -

total 7.606,56 43.338,04 12.031,55 31.306,40 43.48


Elaborado a partir de dados fornecidos pela PMC
*
Esse total exclui os 4,4% de metal do resíduo passível de reciclagem, uma vez que não se tem dados sobre o
percentual de ferroso e não ferroso.

CONCLUSÃO
Com esses dados chega-se à conclusão que o município de Campinas está longe de alcançar
a eficiência energética por conta do desperdício. O potencial de energia elétrica que poderia ser
economizado ou evitado caso toda a produção de recicláveis fosse reaproveitado na indústria é
de cerca de 43,48 MW. Equivale a dizer que, se cada três cidades com a densidade demográfica
de Campinas, por exemplo, coletassem seus resíduos recicláveis e os encaminhassem para a
indúsria recicladora, evitar-se-ia o funcionamento de uma turbina com potência de 103 MW que
é o caso da Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias7, na Cidade de Jupiá /SP.
Entretanto, a cidade, cujo consumo de energia elétrica no ano 2000 foi da ordem de 670
MW8, só contribui com 1,4% do seu potencial, ou seja, 0,63 MW. Esta é, portanto, a contri-
buição energética que as cooperativas oferecem ao município por intermédio da prefeitura.
Mas como já foi dito, a contribuição das cooperativas tende a se estabelecer acima deste
percentual por conta da somatória de recicláveis que conseguem através da própria coleta
e de outros tipos de doações.
7
Informação disponível on line no site http://www.cesp.org.br
8
Informação disponível on line no site http://www.emplasa.sp.gov.br

967
Um estudo preliminar sobre as cooperativas indica que o total de recicláveis manusea-
dos por cada uma, de um total de 14 implantadas no município, pode chegar a 90 t/mês,
sobretudo naquelas melhores estruturadas. Isso significa que, diante do desafio de sobrevi-
vência dos desempregados em aumentar os seus ganhos cada vez mais, o volume de resí-
duos coletados e direcionados à indústria aumenta de forma proporcional.
Conseqüentemente, os benefícios inerentes ao trabalho desenvolvido pelas cooperativas
são distribuídos à sociedade de forma geral. Cabe ao poder público fazer melhor a sua
parte, viabilizando o gerenciamento dos seus resíduos sólidos e, somar os esforços com as
cooperativas para que juntas possam garantir uma Campinas mais saudável para todos.

REFERÊNCIAS
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plástico, filme, lata de alumínio, vidro, plástico rígido [ on line] ( Disponível na Internet. URL): http://
www.cempre.om.br 15/03/2004.
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Rio de Janeiro: FGV. 2000.
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FIGUEIREDO, Paulo Jorge Moraes. A Sociedade do Lixo: os resíduos, a questão energética e a crise ambiental. 2 a
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GRIPPI, Sidney. Lixo, reciclagem e sua história: guia para a prefeitura brasileiras. Interciências. Rio de Janeiro. 2001.
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(Disponível na Internet. URL):http:// www.ibge.gov.br.. 2004.
IPT/CEMPRE Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. D’Almeida Maria Luiza O. e Vilhena, André,
(coord.) São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.
MANCE, Euclides André. A revolução das redes: a colaboração solidária como uma alternativa pós-capitalista à
globalização atual. Vozes. Petrópolis. Rio de Janeiro. 2000.
MORIN, Edgard. Cultura de Massas no Século XX: o espírito do tempo - l- Neurose. Tradução de Maura Ribeiro
Sardinha. Fundação Forense -Universitária. 6 a edição. Rio de Janeiro. 1984.
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PERES, P. S. Reciclagem de papelão é de 72% no País. O Estado de São Paulo. Entrevista concedida a Milton Rocha
Filho. Disponível na Internet: [http://estadao.com.br/ciencia/noticia/2000]
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das questões energéticas e da qualidade de vida. Departamento de Energia/Faculdade de Engenharia Mecânica/
Universidade Estadual de Campinas, 2001. Dissertação (Mestrado). Campinas -SP, FEM/UNICAMP, 2001.
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SOBRE REUSO/RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS, 29 a 31 ago. 2000, São Paulo. Anais do
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VILHENA, André. A evolução do gerenciamento de resíduos sólidos na América Latina. In A
indústria de alimentos e o meio ambiente. ITAL. Campinas.2002.

968
O GÊNERO
CELULOSE E PAPEL NA
ECONOMIA BRASILEIRA1

Tavares, S. R. R.*
Lamas, D. G.*

RESUMO
Este artigo aborda o gênero celulose e papel em seus aspectos físicos, econômicos,
tecnológicos e energéticos, posicionando-o na indústria e na economia do país como um
todo. Busca estabelecer e analisar relações entre produção, salários, empregos e consumo de
energia elétrica. Visa, também, identificar o papel preponderante da lixívia no processo em
geral e na geração de energia elétrica, despertando a possibilidade de nova fonte de faturamento
para os empresários do setor, tendo em vista o atual modelo do setor elétrico brasileiro.
Palavras-chave: Indústria de celulose e papel. Energia elétrica. Indicadores econômicos. Lixívia.

INTRODUÇÃO
A indústria de celulose e papel possui importante expressão no cenário econômico do
país. Em 2002, com cerca de 138 mil empregos diretos, seu faturamento representou 1,3%
do PIB brasileiro e 4,7% do setor industrial. Contudo, quanto ao consumo per capita, indi-
cador do nível de desenvolvimento econômico de um país, o Brasil (40 kg por habitante/
ano) situa-se abaixo da média mundial (52 kg por habitante/ano). A América do Norte
possui média de 303 kg habitante/ano e a Europa 122 kg habitante/ano.
No período de 1990-2002 (Quadro 1, coluna I), o faturamento do setor de celulose e
papel cresceu 76,5% (US$3,4 bilhões para US$6,0 bilhões). Nos últimos três anos desse
período, 2000-2002, o faturamento médio de cerca de US$ 6 bilhões, representou signifi-
cativo crescimento de 50% em relação ao ano de 1999 (US$4,2 bilhões) e a anos anteriores,
cuja média, bem mais baixa, girava em torno de US$ 3,5 bilhões.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Celulose e Papel – BRACELPA, o
Brasil apresenta balança comercial positiva, em celulose e papel. No período 2000-2002, as
exportações variaram entre US$ 2,6 bilhões e US$ 2,1 bilhões, com saldo comercial da
ordem de US$ 1,5 bilhão. As exportações desse setor têm representado cerca de 3,5% das
exportações brasileiras e 11,4% do saldo comercial brasileiro.

DE/FEM/UNICAMP - CP 6122 - 13083-970 CAMPINAS, SP.


*

969
A produção física da indústria de celulose e papel, no período de 1990-2002, apresenta-se
crescente com tendência mais firme que o faturamento (Quadro 1, coluna II). Nos quatro
primeiros anos do período, 1990-1993, passa de 9,1 para 10,8 milhões de toneladas; em 1994
e 1995 mantém-se em torno de 11,5 milhões de toneladas; de 1996 a 1998 vai de 12,4 para
13,3 milhões de toneladas, alcançando 14,2 milhões de toneladas em 1999. A partir daí, evolui
até 15,7 milhões de toneladas em 20022. Observa-se, em 2001, ligeira retração da tendência de
crescimento, que se reflete também no faturamento e no consumo de energia (colunas I e II,
do mesmo Quadro), com certeza em decorrência do “apagão” verificado no país, nesse ano.
Quanto ao pessoal ocupado3, observa-se tendência inversa: uma constante diminuição
(Quadro 1, coluna VI). Por exemplo, no período 1996-2002, cujos dados do IBGE apre-
sentam-se com mais uniformidade, observa-se um decréscimo de cerca de 5,5%, corres-
pondente a 8.142 postos de trabalho (de 146.4109 para 138.268).
Apesar dos sinais da situação econômica do país, o panorama do setor de celulose e papel
indica tendência positiva. A partir da década de 1990, no embalo de uma crescente demanda
interna e externa e revertendo o quadro de empresas familiares da década anterior, o parque
industrial modernizou-se4, adequando-se aos padrões internacionais de qualidade.
Esse gênero industrial é composto por 264 fábricas, em 16 estados brasileiros. Boa
parte das indústrias obteve certificação ISO 9000 e 1SO 14000. Cerca de 2/3 da produ-
ção brasileira de celulose e papel provêm de 9 grandes empresas, por ordem decrescente
de participação no mercado: Klabin, Suzano, International Paper, Votorantin, Ripasa,
Rigesa, Orsa, Trombini e Norake Skog.
Segundo dados da BRACELPA, o Brasil é o 7o. maior produtor mundial de celulose de
todos os tipos, o 1o. de celulose fibra curta e o 11o. maior produtor de papel, com potencial para
estar entre os oito maiores. O Quadro 2 apresenta um comparativo, em tEP’s, no período de
1990-2002, entre o consumo total de energia do país, isto é, a energia gasta para produzir o PIB
brasileiro, o consumo do setor da industrial e o consumo da indústria de celulose e papel.

Quadro 1 - celulose e papel: Produção, energia consumida, salários e emprego


9$/25'$ 352'8d­2 &216802 9$/25'$ 3(662$/
352'8d­2 )Ë6,&$ (1(5*,$
'((1(5*,$ &2035$'$ 2&83$'2 3(662$/
$12 A86  AW  AW(3  6$/È5,26 2&83$'2
, ,, ,,, A86    A86  9,
,9 9
247.330
1990 3,396 9,1 3,6 13,3
121.083(*)
1991 4,368 9,7 3,8 11,3 -
226.608
1992 3,124 10,2 4,4 14,6
111.974(*)
221.667
1993 2,418 10,8 4,6 15,0
112.993(*)
477,5 216.815
1994 2,952 11,5 4,8 18,4
226,3 (*) 103.471(*)
473,8 214.515
1995 4,042 11,7 4,9 18,6
240,7(*) 100.140(*)

2
A produção distribui-se aproximadamente igual entre celulose e papel.
3
O pessoal ocupado distribui-se aproximadamente 60% nas atividades industriais e 40% nas florestais.
4
No período 1993-1997 estima-se que tenham sido investidos US$ 3 bilhões na indústria de celulose e papel, no Brasil,
para melhoria de qualidade, redução de custos e nas áreas florestais

970
9$/25'$ 352'8d­2 &216802 9$/25'$ 3(662$/
(1(5*,$ 2&83$'2 3(662$/
$12 352'8d­2
A86 
)Ë6,&$
AW 
'((1(5*,$ &2035$'$
AW(3  6$/È5,26 2&83$'2
, ,, ,,, A86    A86  9,
,9 9
1996 3,697 12,4 5,1 20,1 602,3 146.410
1997 3,473 12,9 5,1 20,5 593,1 134.429
1998 3,112 13,3 5,6 20,9 572,9 128.36
1999 4,167 14,2 6,0 17,3 594,6 134.189
2000 6,294 14,7 6,2 20,0 640,9 132.427
2001 5,920 14,9 6,2 17,2 718,6 138.268
2002 6,017 15,7 6,6 16,5 - -
Fonte: BEN 2003 – MME-IBGE, Pesquisa Industrial Anual – PIA
1
Preços (aproximados) resultam do seguinte mix: 16.7% eletricidade industrial. + 16.4% lenha + 13.3 óleo combustível.
A principal fonte de energia é a lixívia, que não é considerada porque, em sendo sub-produto do próprio processo
industrial, não possui preço de compra e seu custo aparentemente é desprezível.
2
US$1.00 = R$2,9298, preços de 2002.
*
Exclui indústria editorial e gráfica

Quadro 2 - Consumo de Energia: Brasil, Indústria e Celulose e Papel

727$/ ,1'Ò675,$ &(/8/26(3$3(/


$  %  & 
$12 ,1',&(
AW(3 $18$/ A ,1',&( %$ A ,1',&( &% &$
 W(3 $18$/   W(3 $18$/   
1990 127,6 1,00 43,5 1,00 34,1 3,6 1,00 8,3 2,8
1991 130,2 1,02 44,4 1,02 34,1 3,8 1,06 8,6 2,9
1992 131,8 1,01 45,3 1,02 34,4 4,4 1,16 9,7 3,3
1993 135,5 1,03 47,6 1,05 35,1 4,6 1,05 9,7 3,4
1994 142,7 1,05 50,3 1,06 35,2 4,8 1,04 9,5 3,4
1995 147,7 1,04 51,5 1,02 34,9 4,9 1,02 9,5 3,3
1996 155,3 1,05 53,7 1,04 34,6 5,1 1,04 9,5 3,3
1997 164,8 1,06 56,0 1,04 34,0 5,1 1,0 9,1 3,1
1998 168,4 1,02 57,6 1,03 34,2 5,6 1,10 9,7 3,3
1999 170,5 1,01 59,8 1,04 35,1 6,0 1,07 10,0 3,5
2000 172,0 1,01 61,2 1,02 35,6 6,2 1,03 10,1 3,6
2001 172,2 1,00 61,5 1,01 35,7 6,2 1,00 10,1 3,6
2002 177,4 1,03 65,1 1,06 36,7 6,6 1,07 10,1 3,7
Fonte: BEN 2003 - MME
*
Evolução ano a ano

Tomando-se o primeiro e o último ano da série adotada, observa-se que o consumo


total de energia cresce 39,0% (177,4 : 127,6), o da indústria 49,7% (65,1 : 43,5) e o do
gênero de celulose e papel 83,3% (6,6 : 3,6). Esse consumo é compatível com a sua produ-
ção física e com seu faturamento, cujos aumentos, no mesmo período, são também relati-
vamente maiores que os do país e da indústria.
Por outro lado, conforme dados do mesmo Quadro 2, o consumo de energia da indús-
tria corresponde a pouco mais de um terço (35% a 36%) do consumo total do país. Já o
consumo do setor de celulose e papel alcança cerca de 10% da indústria e a pouco mais de
3,5% do consumo total do país, nos últimos anos do período considerado.

971
O Quadro 3 apresenta a ponderação do setor de celulose e papel sobre o total do país
e sobre o total da indústria, quanto à renda (US$ de 2002) e quanto à energia (tEP), num
período de cinco anos, 1998-2002:
Quadro 3

5(1'$ 86  &216802'((1(5*,$ W(3 

 
$12

62%5( 62%5($ 62%5( 62%5($

23,% ,1'Ò675,$ 23,% ,1'Ò675,$

       

 

1998 0,75 2,61 3,33 9,72

1999 1,00 3,48 3,52 10,03

2000 1,44 4,84 3,60 10,13

2001 1,33 4,49 3,60 10,08

2002 1,33 4,64 3,72 10,13


Fonte: BEN 2003 - MME

Tomando-se por base que a renda, em US$ de 2002, é uma referência representativa e
comparando-se os percentuais de participação do gênero celulose e papel, quanto à energia
e valor de sua produção, sobre o PIB e sobre a indústria como um todo, observa-se, desde
logo, o quanto ele é intensivo em energia. Com efeito, no período de cinco anos considera-
do, 1998-2002 – no que se refere ao PIB (em US$), enquanto o gênero celulose e papel
participa com 0,75% a 1,33%, no que se refere à energia (em tEP’s) participa com 3,3% a
3,72%; em média, o triplo. Quanto à indústria, sua participação no valor da produção varia
de 2,61% a 4,64%, enquanto que, quanto a consumo de energia (tEP’s) vai de 9,72% a
10,13%; mais que duas vezes. A comparação com outros setores da indústria corrobora o
entendimento quanto ao maior consumo relativo de energia do setor de celulose e papel.
O Quadro 4 que compara as toneladas de produção física e as tEP’s de energia consumida
de setores e gêneros, demonstra essa situação. Nos setores mais intensivos em energia,
como o de ferro liga, o consumo de tEP’s chega a ser maior que as toneladas produzidas,
alcançando até 1,3 vezes, enquanto em setores menos intensivos como o de cimento, não
chega a 10%. No setor energético, as tEP’s gastas são da ordem de 10% da produção, no
caso energia secundária. Já no setor de celulose e papel, a energia gasta é de cerca de 40% da
produção, equiparando-se ao setor de ferro gusa cuja relação é de pouco mais de 50%.
Naturalmente, esse perfil energético do setor de celulose e papel é reflexo da tecnologia
adotada no seu processo produtivo, bem como das suas fontes de energia.

972
A tecnologia do processo produtivo
O gênero industrial de celulose e papel, assim como os demais gêneros industriais brasileiros,
vêm adquirindo, no decorrer dos anos, novas tecnologias e técnicas de produção. Essas inova-
ções têm proporcionado ao setor maior produtividade e utilização de menos mão-de-obra.
A redução da mão-de-obra na cadeia produtiva já começa na extração da matéria-prima,
onde o homem deixou de ser interventor fundamental no corte da madeira e da busca em
locais de mata nativa para se tornar o operador de máquinas avançadas de obtenção da
madeira. Outros fatores fundamentais são as florestas plantadas, com técnicas de espaçamento
entre as árvores e as modalidades especiais de plantio visando facilitar o corte.

Quadro 4 - Celulose e papel: Comparação com outros setores

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

&,0(172 
& 2360 1956 1999 2012 2357 2802 3155 3303 3309 3363 3381 3225

3 27490 23899 24843 25229 28256 34597 38096 39942 40234 39559 38938 38086

&3 0,09 0,08 0,08 0,08 0,08 0,08 0,08 0,08 0,08 0,09 0,09 0,09

)(552*86$ 
& 12643 12595 13522 14087 13962 13706 14223 13905 13910 15285 14767 15778

3 22617 23934 25207 25747 25076 25237 26153 25760 24996 27865 26717 29604
 
&3 0,56 0,53 0,54 0,55 0,56 0,54 0,54 0,54 0,56 0,55 0,55 0,53

)(552/,*$ 
& 1063 1125 1208 1060 92 1244 1005 949 1005 1182 932 1135

3 935 1019 1020 936 872 995 843 721 762 903 736 88

&3 1,14 1,10 1,18 1,13 1,12 1,25 1,19 1,32 1,32 1,31 1,27 1,29

6(725(1(5*e7,&2 
& 12550 12360 12480 13323 12833 13842 15423 14369 13447 12858 13576 14069

3 13227 13093 13540 13814 13974


  101246 101677 100996 109916 109323 114643 129444
6 5 9 5 4

&3 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,11 0,10 0,10 0,10 0,10

&(/8/26((3$3(/ 
& 3815 4358 4584 4793 4867 5099 5124 5610 5991 6206 6161 6590

3 9692 10203 10772 11482 11734 12369 12849 13276 14162 14651 14850 15673

&3 0,39 0,43 0,43 0,42 0,42 0,41 0,40 0,42 0,42 0,42 0,42 0,42
Fonte: BEN 2003 – MME
C – Consumo de energia – 10^3 tEP
P – Produção física – 10^3 t
C/P – tEP/t
(1) Produção de aço bruto
(2) Produção de energia secundária em 10^3 Tep

973
A produção em larga escala proporcionou uma otimização do processo como um
todo, desde o corte e transporte das toras de madeira, até a entrada na primeira etapa
do processo de produção em si. O homem passou a ser cada vez menos importante já
que os maquinários de obtenção da pasta celulósica e de papel recebem novos itens
tecnológicos com o objetivo de retirar o contato manual e cadenciar e homogeneizar o
resultado produtivo.
A cadeia produtiva, na qual entra o processamento da madeira, utilização de substâncias
químicas e, posteriormente, a transferência da matéria trabalhada nas máquinas de obten-
ção de papel, em si, não existe contato manual algum. O homem tem papel fundamental na
primeira – plantio e extração de madeira - e na última fase. Ainda na ultima fase - organi-
zação e manuseio do papel produzido, as empresas já anunciam a total ausência de contato
humano. Máquinas modernas de paletização, contabilização, transporte interno e embala-
gem tornaram-se diferenciais competitivos. Por outro lado, os canais de distribuição tive-
ram papel fundamental nessa queda da necessidade de mão-de-obra. Isso porque as indús-
trias criaram centros avançados de venda e cálculo de demanda, controlando de forma
mais exata o plantio e produção da celulose e papel e a estocagem do produto final.
Essa tendência de cada vez menor utilização do recurso humano verifica-se não só
na indústria de celulose e papel, mas também nos setores seqüentes da cadeia, como,
por exemplo, a indústria gráfica e editorial. Máquinas alemãs e japonesas de ultima
geração proporcionam a redução de até 40% da mão-de-obra, com um aumento
significativo de 50% da produção5.
A fabricação da pasta de celulose e papel
A madeira é um precioso recurso natural usado na fabricação de centenas de utensílios
domésticos, fabricação de casas, estruturas, móveis e diversas outras utilizações. Na fabricação
de papel, após o corte, as toras são descascadas6 e a matéria bruta enviada à fabricação da polpa.
Para converter a madeira em polpa deve-se remover a lignina e, para isso, existem alguns
processos: mecânico, químico e por reciclagem.
No processo mecânico, a polpa é obtida na prensagem da madeira contra pedras rotativas,
sempre na presença de água. A eficiência deste processo depende também da passagem da
madeira por refinadores. O desfibramento é freqüentemente terminado na presença de
vapor e o produto é chamado de polpa termomecânica. A adição de reagentes7 para a
separação das fibras celulósicas resulta na polpa termo-química-mecânica.
O processo químico, muitas vezes chamado de processo “kraft8” resulta da mistura dos
cavacos com substâncias químicas, cozidos a alta pressão em imensos vasos de pressão
chamados digestores. A ação combinada das substâncias químicas e o calor dissolvem a
lignina e a separam das fibras9 celulósicas. Os papéis provenientes deste processo são em
geral muito resistentes, freqüentemente usados na fabricação de bolsas de supermercados.

5
Dados da ABIGRAF – Associação Brasileira da Indústria Gráfica
6
As cascas são recuperadas e usadas como combustível na produção de vapor e eletricidade.
7
Geralmente soda cáustica, carbonato de sódio e sulfito de sódio.
8
Kraft em alemão significa forte.
9
Fibra é o nome que se dá à célula unitária do crescimento vegetal, de comprimento e diâmetro, de formato cilíndrico
afinado nas extremidades, que é a unidade da celulose usada para fabricação de papel.

974
O processo por reciclagem é feito com aparas10, pedaços de papel, misturando água e
desintegrado em pulpers11. Matérias contaminantes, como plásticos, metal, polietileno e outras,
são afastadas das misturas usando telas e limpadores. Muitas vezes, é necessária a utilização de
substâncias químicas, água, calor e energia mecânica para a retirada da tinta. A polpa reciclada
é usada em sua maioria para a fabricação de papel-cartão, papel-jornal e papéis usados na
indústria e nos lares como: papel higiênico, toalhas, lenços e guardanapos de papel.
Alguns tipos de papel exigem uma coloração diferenciada, e, para este propósito, existe
uma etapa chamada branqueamento. Para esta, utilizam-se produtos químicos12, para dis-
solver ou eliminar a lignina restante; quanto menor a quantidade de lignina, maior a alvura
do papel. Outra característica é a diminuição da tendência de “amarelamento” ou reversão
de cor13, com o passar do tempo.
A polpa chega à máquina de fazer papel junto a uma grande quantidade de água, e é
lançada uniformemente sobre a tela formadora, por meio de um jato. O sistema de vácuo,
juntamente com o filtro da tela, faz com que a água escoe formando assim as folhas de papel.
Posteriormente, a folha é prensada, para a remoção de mais água, e enfrenta uma seção de
secagem, em contato com cilindros aquecidos com vapor, reduzindo ainda mais a quantidade
do líquido, por meio de evaporação. O papel é enrolado, por mandris, e rebobinado e
segmentado em rolos menores, seguindo para a seção de conversão ou de acabamento.
No acabamento, as folhas são cortadas e embaladas de acordo com a necessidade do
cliente. Diversos equipamentos fazem parte desta etapa, desde cortadores e empacotadores,
até paletizadores. A maioria do processo é feita sem contato manual.
No processo de fabricação da pasta celulósica, propriamente dita, é notável a presença
da lixívia ou licor negro, um sub-produto, que funciona como combustível do processo de
combustão da caldeira de recuperação ou de biomassa. Este equipamento, o mais impor-
tante e complexo da planta, possui basicamente três funções: consumir a lixívia ou licor
negro; atuar como reator químico, convertendo o carbonato de sódio, presente no licor
negro, em sulfeto de sódio, um dos agentes ativos na fabricação de celulose; e recuperar
energia, gerando vapor através da queima dos compostos orgânicos presentes no licor
negro, para co-geração e geração de energia elétrica.
Todo esse procedimento diminui significativamente o custo da energia no processo
industrial da celulose e do papel, naturalmente, garantindo a lucratividade das empresas.

10
Apara é o nome dado aos resíduos de papel coletados depois de usados ou inutilizados. Estes materiais são apanhados
por empresas especializadas, selecionados, enfardados e vendidos às fábricas de papel como matéria-prima.
11
Enormes liquidificadores usados por indústrias que exigem a desagregação de materiais a fim de transformá-los em
pastas da própria sustância.
12
São químicas de ação de agentes oxidantes tais como cloro, hipoclorito de sódio ou cálcio, dióxido de cloro,
peróxido de hidrogênio, ou agentes redutores tal como o hidrosulfito de zinco, muito usado para alvejar a pasta
mecânica
13
Com o tempo, o papel estocado ou armazenado tende a ganhar uma coloração amarelada, muitas vezes inutilizando
o produto destinado à sua utilização original.
14
“Setor brasileiro de celulose e papel: caracterização sumária” www.mct.gov/clima/comunic_old/bracel 100.htm

975
Principais fontes de energia
Conforme o Quadro 5, a principal e destacada fonte de energia do setor de celulose
e papel é a lixívia, que pondera 37,3% no consumo total. Seguem-se eletricidade e
lenha com cerca de 16%, cada uma, óleo combustível com 13,3% e gás natural com
6,3%, e outras de menor ponderação. Ao longo do período 1990-2002, observa-se
que aumentaram as participações da lixívia (mais 24,3%), do óleo combustível (mais
62,5%), do gás natural (mais 320%), diminuiu a participação da lenha e manteve-se a
participação da eletricidade. Situação essa que cristaliza uma posição atual e parece
sinalizar tendência futura quanto à composição das fontes de energia do setor, especi-
almente no que se refere à lixívia.
A participação da lixívia em quase 40% do suprimento energético da indústria de
celulose e papel garante-lhe indicadores favoráveis de desempenho ambiental, tanto so-
bre efluentes hídricos ou a efluentes aéreos, todos dentro de padrões adequados, confor-
me estudo da BRACELPA.14
Deve ser registrado que parte crescente da lixívia produzida pelo setor de celulose e
papel tem-se destinado à produção de energia elétrica. Conforme o Quadro 5, no perí-
odo 1990-2002, este percentual evoluiu de 17,3% para 21,4% (incremento de mais de
22,8%). Em toneladas, quase triplicou: de 793 t para 2.348 t.

Quadro 5 - Celulose e papel: Consumo de energia, por fonte - 1990/2002 - 10^3 tep

)RQWHV 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

*iV 55 65 79 89 92 125 143 143 145 219 273 394 413


QDWXUDO             
&DUYmR 133 132 121 113 84 94 94 91 69 79 83 89 76
9DS
752 673 738 764 894 909 752 721 981 1.001 1.048 1.027 1.083
/HQKD
            
%DJDoR 50 60 30 30 17 5 23 25 26 14 24 25 24
FDQD
1.087 1.199 1.435 1.678 1.764 1.678 1.869 1.946 2.069 2.246 2.291 2.280 2.456
/L[tYLD
            
2XWUDV 309 315 415 378 359 373 337 340 351 368 406 463 491
3ULP
ÏOHR 18 19 17 22 22 24 25 32 23 25 32 31 37
'LHVHO
ÏOHR 541 616 744 676 690 763 945 898 923 1.019 983 813 879
FRPE             
*/3 4 4 4 6 9 10 12 15 20 19 24 28 31
665 730 772 828 836 843 856 912 939 1.000 1.044 1.013 1.098
(OHWULF
            
7RWDO 3.612 3.815 4.358 4.584 4.793 4.867 5.099 5.124 5.610 5.991 6.206 6.161 6.590
Fonte: BEN 2003 – MME

976
A partir dos dados do Quadro 1, que compara produção - em termos físicos e faturamento,
consumo de energia, salários e empregos, do setor de celulose e papel, são construídas as
relações abaixo, para o período 1996-2002: energia consumida sobre produção física (tEP/
t) e, em US$ de 2002, energia comprada e salários sobre o valor da produção:

(1(5*,$ (1(5*,$

&21680,'$ &2035$'$9$/25 6$/È5,269$/25



352'8d­2 '$352'8d­2 '$352'8d­2
$12
)Ë6,&$ 86W(386W; 866DO86W;  

W(3W;    

 41,1 5,4 16,3


 39,5 5,9 16,9
 42,1 6,7 18,5
 42,3 4,2 14,2
 42,2 3,2 10,2
 41,6 2,9 12,2
 42,0 2,7 -

Analisando-se as relações construídas, cabem as seguintes observações, no período em exame:


l o consumo de energia no processo de produção da celulose e papel mantém-se em
torno dos 42%, o que parece indicar a manutenção de padrões de eficiência da linha
de produção. Por outro lado, como aumenta a participação da lixívia e do gás
natural, e diminuem as participações da lenha, e, especialmente, do óleo combustível
(Quadro 4), pode-se inferir que o setor faz opção por suprimento sustentável e,
ambientalmente, amigável. E, do ponto de vista econômico-financeiro, mais em conta;
l a ponderação do preço da energia sobre o faturamento do setor é mínimo, e
decrescente: em 1996, 5,4%, chegando a apenas 2,7%, em 2002. Explica este fato, a
grande ponderação da lixívia ou licor negro (quase 40%) no processo de produção.
Como esse energético é sub-produto do próprio processo industrial, praticamente
não tem custo. Por outro lado, os outros dois energéticos mais ponderáveis, a eletri-
cidade e a lenha (cerca de 16% cada um), também possuem preços baixos, e, sub-
sidiado, no caso da eletricidade industrial;
l a ponderação dos salários sobre o faturamento, em que pese bem maior que a da
energia, também é baixa e decrescente. Em 1996, é de 16,3%, e nos últimos anos da
série, 2000-2001, situa-se entre 10 e 12%. Não se dispõe de dados para o ano de
2002. A eliminação de postos de trabalho, em decorrência da melhoria do processo
tecnológico do setor de celulose e papel, parece explicar a participação decrescente
dos salários no valor da produção.
Portanto, a indústria de celulose e papel, em que pese energo-intensiva, dadas as peculi-
aridades do seu suprimento energético, do ponto de vista econômico-financeiro pouco
despende com energia, assim como com a remuneração do insumo recurso humano. Na-
turalmente, tais características definem sua lucratividade e explicam o grande interesse eco-
nômico pelo seu gênero estratégico.
977
Quadro 6 - destinação da lixívia – 10^3 t

'(67,1$d­2

 
$126 &216802 352'8d­2  *(5$d­2
&(/8/26( (1(5*,$
 727$/ $  (3$3(/ %$ (/e75,&$ &$
 %   & 

1990 4594 3801 82,7 793 17,3

1995 7375 5870 79,6 1505 20,4

1996 8101 6538 80,7 1563 19,3

1997 8491 6806 80,2 1685 19,8

1998 8948 7238 80,9 110 19,1

1999 9845 7857 79,8 1998 20,2

2000 10111 8012 79,2 2099 20,8

2001 10063 7974 79,2 2089 20,8

2002 10939 8591 78,5 2348 21,5


Fonte: BEN 2003 – MME

Finalmente, a crescente utilização da lixívia, sub-produto do próprio processo produti-


vo da indústria de celulose e papel, para geração de energia elétrica, parece ser uma indica-
ção de que o setor aproxima-se da auto-suficiência energética, e, com base na atual legisla-
ção do setor elétrico, mapeia nova fonte de renda.

BIBLIOGRAFIA
BEN, 2003 – MME
IBGE, Pesquisa Industrial Anual – PIA, 2003
COELHO, Suani Teixeira e ALMEIDA, Fausto Gomes – “Utilização de resíduos agro-industriais no setor de papel e
celulose”, USP – IEE, ENE 5726 – Biomassa como fonte de energia, São Paulo, 2002
COSTA, A.O S, MARTINELLI, E. C., BISCAIA JR., E. C. e LIMA, E. L. – “Descrição empírica da emissão de material
particulado de uma caldeira de recuperação Kraft”, PEQ – COPPE/UFRJ
MACEDO, Ângela Regina Pires, VALENÇA, Antônio Carlos de Vasconcelos e MATTOS, René Luiz Grion – “Indústria
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POU, Miguel Sampol – “A indústria de papel no Brasil”, BRACELPA, BNDES, Rio, julho de 2003 “Setor brasileiro de
celulose e papel: caracterização sumária”, www.mct.gov/clima/bracel100.htm

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