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Nathália Martins
UFRJ – nathmartins2912@gmail.com
Resumo: O presente trabalho consiste em um estudo sobre a obra Maracatú, para piano solo, de
Egberto Gismonti, tendo como referência o modelo de análise semiológica concebido por Jean Molino
e Jean-Jacques Nattiez. A análise sob o modelo tripartite compreende um estudo dos níveis imanente,
poiético e estésico, que permitem apreciar, respectivamente, os elementos impressos na partitura, as
intenções do compositor e a percepção do intérprete/ouvinte. As considerações, advindas do diálogo
entre esses três universos, propiciam base teórica ao intérprete para melhor fundamentar a sua
performance. No presente trabalho, serão apresentadas as análises imanente e estésica indutiva. A
escolha da peça Maracatú foi feita baseada no desejo de exploração de um ritmo essencialmente
percussivo no piano, observando de que forma tal correspondência pode ser feita.
Abstract: The presente work is a study of the piece Maracatú, for solo piano, by Egberto Gismonti,
with reference to Jean Molino’s and Jean Jacques Nattiez´s tripartite model of semiological analysis.
The analysis of tripartite model comprises a study of the immanente, poietic, and aesthesic levels,
wich allows the appreciation, respectively, the printed elements in the score, the composer´s
intentions, and the performer’s and listener´s perceptions. The considerations arising from the
dialogues between these three universe, provide a theorical basis to the performer to better support his
performance. In this presente work, the immanente and aesthesic inductive analysis will be presented.
The choice of this Maracatú piece was made based on the desire of exploring a essentially percussive
rhythm on piano, observing in which ways such correspondence occurs.
1. Introdução
O músico Egberto Gismonti (1947) é considerado um dos grandes compositores
da música brasileira contemporânea. Devido ao seu histórico e experiências diversas no meio
musical, estando em atividade até hoje, Gismonti possui uma trajetória diferenciada no Brasil
e no exterior.
2. Análise Semiológica
A presente análise adota como referencial teórico o modelo tripartite criado por
Jean Molino e desenvolvido por Jean-Jacques Nattiez. Nas publicações Fondements d’une
sémiologie de la musique (1975) e Musicologie générale et semiologie (1987), o musicólogo
expõe e desenvolve o seu método, fornecendo manancial teórico e prático àqueles que
desejam aplicá-la. Desde então, sua metodologia tem sido utilizada para o estudo de diversas
obras pelo próprio Nattiez, além de outros pesquisadores.
Além disso, percebe-se que a junção do ritmo, feito pela mão esquerda ao longo
de toda seção 1 com as colcheias da mão direita, deixa a peça composta basicamente de
semicolcheias, as quais, segundo a percepção da autora, baseada principalmente na
experiência no grupo Rio Maracatu, são a essência do ritmo característico do maracatu.
Nesse momento, a rarefação da textura leva a crer que haja uma abertura para a
contribuição interpretativa. De acordo com a autora, pode-se considerar que essa seção preza
por momentos de maior expressividade e imaginação, onde o intérprete pode se libertar da
partitura, estendendo a quantidade de compassos de acordo com sua inspiração musical.
3. Considerações Finais
A obra em questão foi escrita pelo compositor como uma peça para piano solo pois,
segundo o compositor, na década de 80, não tinha disponível um grupo de percussão que pudesse
gravar com ele. Perante tal impossibilidade, a solução que Gismonti encontrou foi compor um
maracatu que ele mesmo pudesse tocar, escrevendo uma peça para piano que tivesse as
características do gênero. (GISMONTI, 2012)
Por outro lado, a análise estésica indutiva faz uma abordagem baseada na percepção
do todo. A audição simultânea dos elementos citados na seção 1 faz surgir um novo padrão
rítmico, formado por semicolcheias constantes que permeiam toda esta seção. Observa-se que a
existência da polirritmia feita por essas semicolcheias é uma das principais características
percussivas do maracatu, definindo seu balanço rítmico por conta das acentuações variadas.
ii
Admite-se que provavelmente os músicos que não conhecem o ritmo característico do gênero maracatu não irão
identificar tais relações, pois tal remissão será prejudicada pela falta de intimidade com as funções e ritmos típicos
feitos por cada instrumento de percussão dentro da polirritmia.