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FILOSOFIA – 10º ANO
Mas a Moral não pode ser só identificada com um com um conjunto de proibições, nem
legitimada apenas pela religião. A legitimação (ou justificação) dos nossos actos pode ter
diferentes bases e ser completamente alheia às referências religiosas.
São consideradas clássicas as teorias que, dum modo geral, consideram como questão
central da Moral a clarificação da resposta às perguntas: «Como podemos e devemos
agir?» ou «O que é a felicidade para as pessoas»?
Na época clássica podemos caracterizar a acção humana, como regendo-se por relações
de convivência muito próxima; os cidadãos da polis grega (cidade-estado) conhecem-se
uns aos outros, reúnem-se frequentemente na Agorá (praça-publica) para discutir e
definir o destino politico da cidade, existindo uma comunicação pessoal e uma interacção
social muito forte.
Cada indivíduo sente-se parte do todo social, pois está integrado numa comunidade que
partilha os mesmos valores, interesses e objectivos. Com este tipo de vínculos tão
próximos, o aperfeiçoamento moral é uma condição necessária à realização do indivíduo
e à sua integração política e social.
Com o nascimento das sociedades modernas a partir do século XVII, perde-se este
sentido da responsabilidade cívica e politica dos gregos surgindo em seu lugar, um cada
vez maior individualismo. Daí que as preocupações dos filósofos no que se refere à
fundamentação da Ética se voltem para o domínio da subjectividade e da consciência,
conforme se poderá verificar através do estudo de Kant.
Olívia Duarte
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FILOSOFIA – 10º ANO
Consciência moral é, como já foi dito, uma espécie de voz interior que nos chama, julga,
obriga e sanciona.
Isto significa que algo se nos impõe obrigatoriamente, ou seja, sentimos a coerção do
dever.
Porém, o carácter impositivo do dever não elimina a possibilidade que temos de não o
cumprir. Podemos mesmo usar a nossa liberdade e agir contrariamente ao que julgamos
ser a nossa obrigação.
Em primeiro lugar, Sartre não defende uma arbitrariedade pura. O seu conceito de
liberdade não é uma liberdade de indiferença, pois que associa sempre à liberdade o
conceito de responsabilidade. Daí que considere que a vivência e a opção humanas
assumam sempre o carácter de um compromisso existencial.
A ideia de que o ser moral é um ser livre e responsável está também presente em Kant
de acordo com as tendências gerais do século em que viveu. Viveu no século do luzes
norteado pelos ideais de igualdade, fraternidade e liberdade condições básicas para que
o homem se pudesse constituir como ser autónomo.
não são bons nem desaconselháveis em si mesmos, nem pelas consequências que
produzem, mas pelas intenções que os informam e pelos fins que, com eles, o homem
visa atingir.
A acção do comerciante que não exagera os preços possuirá valor moral se ele o fizer
por achar simplesmente que o deve fazer. Porém, se o comerciante actuar daquele modo
com o objectivo de arranjar clientela, perde toda a significação moral, pois seguiu uma
estratégia com vista a fins egoístas.
A autonomia que Kant defende não quer dizer, portanto, liberdade absoluta ou
arbitrariedade, Ao invés, a acção livre é aquela que é executada por dever, isto é, por
respeito à lei moral. O acto portador de moralidade é aquele que se executa em função
de princípios obrigatórios e universais e, como tal, incondicionais. Obedecer a tais
princípios é cumprir o dever ou obrigação moral. O homem é sempre livre de agir ou não
conforme esses princípios, mas, se o não fizer não age moralmente.
Tomando como critério ético a boa vontade e consistindo esta em agir por dever, a
responsabilidade moral recai unicamente nas intenções, estando os actos e as suas
consequências sujeitos apenas à responsabilidade civil.
Critérios de moralidade
Ora a boa vontade é o respeito pelo dever moral que se encontra inscrito na razão, razão
aplicada à acção, razão prática. A formulação do dever reveste a forma de um imperativo
categórico, de uma ordem que devemos cumprir por ela mesma, sem estarmos à espera
de recompensas ou pelo temor de punições. O imperativo categórico manda-nos agir de
tal maneira que a máxima da nossa conduta possa ser erigida em lei universal. Se assim
o fizermos, a nossa acção terá valor ético, será digna de estima. A nossa acção será
eticamente correcta quando puder ser universalizável. Só o respeito pela lei enquanto lei
Olívia Duarte
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confere moralidade aos nossos actos. As nossas inclinações, os nossos sentimentos, por
melhores que sejam, carecem de valor ético.
A ética-kantiana é uma ética racionalista pois que é a razão que nos dá a lei moral, que
surge como um a priori da própria razão; isto é, está em nós enquanto seres racionais, é-
nos imanente e não é deduzível de experiências ou de situações concretas. É a razão
que é o fundamento da moralidade e não uma qualquer autoridade estranha ao sujeito
racional: o homem dá-se a si mesmo a lei moral, portanto trata-se de uma moral de
autonomia. A objectividade e a universalidade dos juízos morais são garantidas pela
própria razão, O reconhecimento dos princípios morais será suficiente para a eles
aderirmos e para os respeitarmos?
Ora, a nossa acção decorre num mundo conturbado e em mudança em que o carácter
forma do dever kantiano e a regra universal se apresentam demasiado abstractos e
afastados para a resolução concreta das situações que se nos põem. O dever, que em
Kant é universal, absoluto e incondicional, tem então que se relativizar, tratando-se agora
de saber o que se deve fazer nesta situação particular, ou seja, de tentar determinar a
melhor forma de agir em determinada circunstância.
Nesta circunstância é ainda mais necessária a intervenção da razão pois há que analisar
a pluralidade de facetas do problema, há que pensar no acção a realizar e prever ao
máximo os consequências que ela pode desencadear. Pesam-se os motivos individuais e
os interesses dos outros, ouvem-se as razões do coração que muitas vezes não
coincidem com as nossas convicções racionais. Para além disso, homem sente-se
moralmente responsável não só pelas intenções mas também por actos e suas
consequências.
A acção é, deste modo, um verdadeiro problema ético. Agrava-se ainda mais a questão
porque o homem está consciente de que não há uma única verdade moral nem um único
critério para aferir a acção.
O que devemos fazer? Optar pelo que nos dá maior prazer? Praticar a acção que
julgamos útil? E útil para quem? Para nós, ou para os outros? Seguir o impulso do
coração? Ou fazer antes o que a razão nos diz que deve ser feito?
Talvez tenham maior facilidade em escolher aqueles que adoptam um único critério de
moralidade e o conseguem seguir de modo absoluto.
Se Kant coloca na razão o critério moral e postula o imperativo categórico como norma
geral de acção os adeptos das morais sentimentais apontam a acção eticamente boa
como aquela que é ditada pelo amor, pela amizade, pela simpatia e pela solidariedade.
Os utilitaristas consideram bom tudo aquilo que é útil. Alguns põem a tónica no
interesse pessoal. Outros subordinam o interesse individual aos interesses colectivos.
Mas será que o homem conseguirá agir apenas em função de um destes critérios? Serão
eles assim tão exclusivos?
Olívia Duarte
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Na prática eles combinam-se uns com os outros, alguns deles entram em conflito, outros
conciliam-se, tudo dependendo das circunstâncias vividas.
A urgência com que os problemas se nos põem leva a que a acção resulte muitas vezes
de um compromisso entre o dever e o interesse, a intenção e as consequências do
acto, a razão e o sentimento, o egoísmo e o altruísmo, o subjectivismo e os
princípios universais.
Ao decidirmo-nos, passamos por uma inevitável tensão ética entre a busca da nossa
felicidade e uma actuação moralmente correcta. A tensão agrava-se ao estarmos
conscientes de que os actos que praticamos e os efeitos que deles decorrem são de
nossa inteira responsabilidade enquanto sujeitos comprometidos na vida e portadores de
liberdade.
Olívia Duarte