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Cecilia Alves, Eduardo Ferreira, Gianni Morais Faria, Nathan Sacchetto, Roberto
Ferreira, Tatiany Santos, Vinícius de Souza, Vitor Augusto.
Belo Horizonte
2020
Cecilia Alves, Eduardo Ferreira, Gianni Morais Faria, Nathan Sacchetto, Roberto
Ferreira, Tatiany Santos, Vinícius de Souza, Vitor Augusto.
Belo Horizonte
2020
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
3
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................5
1.1. Objetivos....................................................................................................................6
1.2. Objetivo Geral............................................................................................................6
1.2.1. Objetivos Específicos...............................................................................................6
1.3. Hipóteses....................................................................................................................7
1.4. Justificativa................................................................................................................7
1.5. Procedimentos Metodológicos................................................................................8
2 REFERECIAL TEÓRICO CONCEITUAL............................................................................8
2.1. Espaço.......................................................................................................................8
2.2. Território....................................................................................................................9
2.3. Lugar.........................................................................................................................11
2.4. Paisagem..................................................................................................................12
2.5. Geografia e Turismo................................................................................................13
3 ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO ...............................................................................14
3.1. Caracterização física do município........................................................................14
4 HISTÓRIA DO MUNICÍPIO.................................................................................................22
5 DA MINERAÇÃO À ATIVIDADE TURÍSTICA NA CARACTERIZAÇÃO
ECONOMICA DE BRUMADINHO.............................................................................29
5.1. O papel do turismo na economia de Brumadinho...................................33
5.1.1. Artes, manifestações populares e folclóricas enquanto potencial turístico de
Brumadinho..........................................................................................36
5.1.2 Inhotim........................................................................................................39
5.1.3 A serra da Moeda.......................................................................................43
5.1.4 A serra do Rola Moça.................................................................................45
6 O ROMPIMENTO DA BARRAGEM E O TURISMO EM BRUMADINHO..............48
7 UMA REFLEXÃO SOBRE O ESTUDO DE CASO.................................................54
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................64
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................66
4
5
1. INTRODUÇÃO
Localizado a 58 km de Belo Horizonte, Brumadinho recebe este nome pelas
brumas constantes do Rio Paraopeba. O município compõe a Região Metropolitana,
e seu acesso se dá pelas rodovias BR 381 e BR 040. Sua área 1 corresponde a
639,43 km² e seu território é bastante fragmentado, sendo composto por quatro
distritos: São José do Paraopeba, Piedade do Paraopeba, Aranha e Conceição do
Itaguá. Além destes, existem diversos povoados isolados.
Aranhas
1
Os dados referentes à área do município de Brumadinho estão disponibilizados no site do IBGE, disponível em:
<https://ibge.gov.br/cidades-e-estados/mg/brumadinho.html>
6
tropas e também local de verificação de alimentos. Posteriormente, o núcleo de
abastecimento se tornou um pequeno povoado de mineradores.
De acordo com Faria (2012), além da exploração mineradora, Brumadinho
também passou por outra fase em sua história, em que a região adquiriu
características de um local de passagem, de produção e de comercialização de
produtos agrícolas para abastecimento dos núcleos mineiros, desde a descoberta
das minas de ouro no século XVIII. Dessa forma, ao longo dos séculos, Brumadinho
se desenvolveu gradualmente, sendo inclusive uma das cidades que compõem a
Região Metropolitana de Belo Horizonte, tendo como uma das principais atividades a
mineração.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho, um dos principais eixos de
sua economia é o setor de serviços, em sua maior parte representado pelas
atividades do ramo do turismo, chegando a ser responsável por 12,6% do total de
empregos existentes no ano de 2010.
No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem I na mina Córrego do Feijão, em
Brumadinho, se rompeu. Causando cerca de 270 óbitos e 11 desaparecidos,
impactando diretamente na vida dos habitantes da região. Esse estudo se direciona
a buscar compreender os efeitos do rompimento da barragem no turismo de
Brumadinho, processo este que se insere na construção da memória e da identidade
do sujeito em relação ao tempo e espaço geográfico.
1.1. Objetivos
7
Relacionar o fluxo turístico antes e depois do rompimento da barragem
na região.
1.3 Hipótese
1.4 Justificativa
8
Sendo o turismo em Brumadinho um dos fatores determinantes para a
arrecadação de bens para a cidade e população, almejamos colaborar compondo
bases para novos estudos em um futuro próximo, assim aumentando e ajudando na
divulgação de dados e de novos campos a serem explorados pelo turismo em uma
cidade com uma inimaginável beleza.
9
como espaço, território, paisagem e lugar, além de considerações sobre a
interface entre geografia e turismo.
2.1 Espaço
[...] O espaço não é nem uma coisa e nem um sistema de coisas, mas uma
realidade relacional de coisas e relações juntas. Deve ser considerado como
um conjunto indissociável de que participam de um lado certo arranjo de
objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais; e de outra vida que
os preenche os anima, ou seja, sociedade em movimento. (SANTOS, Milton
1988 p.10)
10
(…) salientamos que o espaço é um equilíbrio, uma espécie de equação
engendrada pela forma e pelos diferentes sentidos que ela é capaz de
suscitar e condicionar. Equacionados e construídos socialmente, os
sentidos e significações da organização do espaço são sempre advindos de
uma perene relação, isto é, o espaço é uma constituição relacional, relação
entre objetos/coisas espacialmente distribuídas, da relação entre os objetos
e suas funções, o que traz os seus sentidos e significados, da relação entre
esses objetos e as vivências, isto é, das práticas sociais. (LOPES, 2012,
p.25)
2.2 Território
11
território uma luta vem sendo travada, de um lado, o poder dos agentes da
mineração e, do outro, a busca por uma atividade econômica que possa
significar uma proposta mais sustentável do ponto de vista ambiental, o
turismo.
Diante disto é preciso chamar atenção para o que nos coloca Milton
Santos (2000), quando ele distingue o conceito de território normado, abrigo
de todos, e território como recurso, aquele de interesse das empresas.
12
2.3 Lugar
13
religiosas. “[...] lugar significa muito mais que o sentido geográfico de
localização. Não se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos
de experiências e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e
segurança (RELPH, 1979, p. 156).
2.4 Paisagem
14
emocionais que transcendem qualquer conceito de beleza estética
ou de equilíbrio;
Dimensão ecológica: considera a paisagem como resultado do
conjunto de inter-relações entre seus componentes, ou seja, entre
rochas, água, vegetação, relevo, uso do solo, clima, etc.,
representando, dessa forma, a resposta visual da evolução
conjunta dos elementos físicos e biológicos que a constituem.
(PIRES, 2001, p.23).
17
Em relação à Região Metropolitana, considerando a divisão em vetores de
expansão da RMBH, Brumadinho está situado ao vetor Sul. (Ilustração 3)
A
cidade conta com cinco distritos que são Brumadinho, Conceição do Itaguá, Piedade
do Paraopeba, São José do Paraopeba e Aranha.
18
Ilustração 4- Mapa de localização dos distritos de Brumadinho-MG
Aranhas
19
O Quadrilátero Ferrífero corresponde a um bloco de estruturas geológicas
do Pré-Cambriano, elevadas em seus quatro lados por erosão diferencial.
Assim, quartzitos e itabiritos formam cristas nas altitudes de 1300 a 1600
metros; tais cristas correspondem ao alinhamento da serra do Curral (...)
(BARBOSA & RODRIGUES 1967, p. 187).
Consequência disso a principal atividade econômica é a mineração, realizada
por grandes empresas como a Vale. A agropecuária é outra atividade econômica.
Sua prática se restringe a pequenas propriedades, sendo uma agricultura familiar.
20
Fonte: Alkmim & Marshak, 1998
21
Relevo
A topografia do município é muito variável apresentando desde
algumas áreas planas e áreas de terrenos ondulados até extensas áreas
montanhosas, estas constituindo 60% do seu território. O relevo plano está presente
apenas nas planícies aluviais do Paraopeba, que apresentam 700 metros de altura
sendo as menores altitudes do município.
As montanhas do entorno da cidade formam a letra "L", que significa o
encontro de duas cadeias de montanhas, ou seja, a "Serra da Moeda" e o
"Fecho do Funil." No encontro das duas localiza-se a "Serra do Rola Moça".
Na "Serra da Moeda", em uma área conhecida como "Serra da Calçada", se
encontra o ponto mais alto do município, a 1583 metros de altitude (Paiva et
al, 2008, p.85).
22
Fonte: Google Earth,2020
Vegetação
Na cobertura vegetal características do município predominam os campos de
montanha, os campos sujos e o cerrado, ocorrendo vestígios de matas nas
encostas, topos das serras e matas de galerias junto às nascentes e cursos de água
(mata ciliar). A vegetação configura-se como mata de transição, formada por árvores
de tamanhos e espécies diferentes; em geral, troncos finos, poucas folhas e porte
médio. A reserva natural da Serra do Rola Moça, onde está o Parque Estadual do
mesmo nome, tem uma vegetação diversificada que proporciona ao local um
colorido especial e um relevo peculiar, sendo encontradas espécies como orquídeas,
bromélias, candeias, jacarandá, cedro, jequitibá, arnica e a canela-de-ema, que se
tornou o símbolo do Parque. O Parque está situado numa zona de transição de
Cerrado para Mata Atlântica, rico em campos ferruginosos e de altitude.
Solo
Embora o aspecto geológico mais marcante da região seja a presença
de jazidas de minério de ferro, estudos recentes demonstraram que sob floresta
estacional sem decidual e relacionados ao intemperismo do granito, é que estão os
solos não ferruginosos mais evoluídos: Latos solos Vermelhos e Vermelho-Amarelos
localizam-se no terço superior da única vertente estudada na região. Cambissolos
Háplicos e Húmicos também foram descritos em Brumadinho, cujas variações de
classes e atributos estão intimamente relacionados ao relevo local. Além disso, a
observação in loco das rochas expostas possibilitaram sua identificação como
granito, relacionados aos Complexos Metamórficos de idade arqueana supracitados.
Hidrografia
Brumadinho é banhado pelos rios Veloso, Águas Claras, Manso e Paraopeba,
todos integrantes da bacia do rio São Francisco. O rio Paraopeba, o mais caudaloso
entre eles, atravessa o município em toda sua extensão longitudinal. Pelo fato do
município apresentar expressivos recursos hídricos, ser muito extenso e apresentar
um relevo montanhoso, nele foram implantados os sistemas de preservação e
distribuição de água potável de rio Manso e Catarina, operados pela Copasa, que
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garantem o abastecimento de cerca de um quarto da demanda de água da Região
Metropolitana de Belo Horizonte. O Parque da Serra do Rola Moça abriga seis
importantes mananciais de água - Taboões, Rola moça, Bálsamo, Barreiro, Mutuca
e Catarina - declarados pelo Governo Estadual como Áreas de Proteção Especial,
que garantem a qualidade dos recursos hídricos que abastecem parte da população
da região metropolitana. Brumadinho possui, ainda, grandes aquíferos de águas
minerais.
Clima
Com temperatura média anual de 20°C média máxima anual de 27ºC e média
mínima anual de 16 C°, classificado como clima subtropical úmido Cwa, Brumadinho
apresenta estações bem definidas, sendo seca de Abril a outubro e chuvosa de
novembro a março.
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Neste item será abordado o papel das bandeiras na formação da cidade de
Brumadinho, e também a história em si do município. Dessa forma, as informações
aqui inseridas foram extraídas do livro “Historias e Riquezas do Município de
Brumadinho” (1982) dos autores Décio Lima Jardim e Marcio Cunha Jardim. O livro
foi escrito por encomenda feita pelo ex-prefeito Professor Cândido Amabis Neto,
com o objetivo de destacar e manter viva a história e riquezas do município.
Segundo os autores JARDIM, D.L e JARDIM, M.C (1982) o processo de
formação do município de Brumadinho se divide em duas fases distintas, sendo a
primeira delas ao final do século XVII e início do século XVIII, devido a ocupação
dos bandeirantes no Vale do Paraopeba. Na primeira fase surgiram os povoados de
São José do Paraopeba, Piedade do Paraopeba, Aranha e Brumado do Paraopeba
em que, mais tarde, suas terras deram origem ao município de Brumadinho. Já a
segunda fase possui relação com o período de nascimento da cidade de
Brumadinho e a construção do ramal do Paraopeba, da Estrada de Ferro Central do
Brasil, no início do século XX.
Nesse sentido, para que se entenda tal processo, é necessário compreender
o trabalho das bandeiras, que tinham como objetivo explorar e conquistar territórios.
Vale destacar as adversidades encontradas pelos bandeirantes em sua jornada de
penetração e conquista, enfrentando os desafios do relevo acidentado, florestas
desconhecidas e o confronto com tribos indígenas, que resultavam na morte de
grande parte dos nativos dessa região. Todo esse processo de desbravamento das
terras brasileiras é movido pelo desejo dos portugueses em encontrar riquezas que
pudessem ser extraídas e retiradas, sendo o ouro o principal objeto de desejo
(JARDIM, D.L; JARDIM, M.C, 1982).
Através do contato com os nativos da região, os bandeirantes passaram a
tomar conhecimento de suas lendas e histórias sobre lugares que continham
riquezas inexploradas. Dessa forma, tomaram ciência da possível existência de duas
serras, que teria a possibilidade de conter prata em sua composição. Uma das
serras recebeu pelos índios o nome de Itaberaba-açu - ou “montanha esplendente” -
e depois, pela transformação da pronúncia, passou a ser a Sabaraboçú. Já a outra,
por ser constituída de pedras preciosas, recebeu, também pelos indígenas, o nome
de Serra das Esmeraldas. Foram realizadas várias expedições para encontrar as
25
tais serras, porém todas sem sucesso. Sendo assim, o Rei de Portugal, D. Afonso VI
tenta convencer os bandeirantes paulistas a realizar uma nova expedição em busca
de Sabaraboçú e da Serra da Esmeralda.
É nesse contexto que se destaca Fernão Dias Pais, um sertanista da cidade
de São Paulo, prestigiado pela Coroa Portuguesa por desbravar o sul do Brasil,
chegando até a região que compreende atualmente o Uruguai. Tinha cinquenta e
seis anos quando recebeu do rei de Portugal uma carta régia solicitando que se
empenhasse em encontrar as minas das esmeraldas. Casado e já com a idade
avançada, Fernão Dias presava por descanso, entretanto o pedido do rei o fez
reconsiderar sua “aposentadoria” dos desbravamentos, se colocando à disposição
de montar uma grande expedição de conquista. A preparação dessa bandeira levou
cerca de dez anos, já a expedição aconteceu quando Fernão Dias possuía cerca de
sessenta e seis anos.
O roteiro realizado pela bandeira de Fernão Dias possivelmente percorreu
alguns caminhos, chegando em algumas regiões que atualmente compõem alguns
municípios mineiros e que, inclusive, constituem parte da Região Metropolitana de
Belo Horizonte. (Ilustração 8)
26
Fonte: Historias e riquezas do município de Brumadinho (1982, p. 22).
28
Fonte: Historias e riquezas do município de Brumadinho (1982, p.
68).
Aqui
pode-se finalizar a primeira parte dessa história que se direcionou a evidenciar a
compreensão, com maiores informações acerca de seu passado, da primeira fase
de formação do município. Por conseguinte, é possível adentrar ao ponto inicial de
sua segunda fase de formação, que tem como ponto de partida a construção do
Ramal de Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil. (Ilustração 10)
29
Fonte: Historias e riquezas do município de Brumadinho (1982, p.
47).
Nesse contexto, Jardim, D.L e Jardim M.C (1982) apontam para a importância
das construções das ferrovias para economia mineira:
30
A participação em empresas ferroviárias foi, em todo o mundo, uma área de
atuação dos ingleses, seja no financiamento das várias empresas nacionais,
seja na atuação direta ou, ainda, através da atividade comercial de
exportação de locomotivas e demais materiais necessários para a
viabilidade dos empreendimentos. As atividades ligadas à montagem e à
operação das ferrovias faziam, na Inglaterra, parte do processo de
industrialização que desenvolveu o setor de bens de capital e consolidou as
bases da dominação mundial inglesa. Uma parcela significativa do material
em ferro, utilizado no Brasil, na construção das linhas, das máquinas e das
estações, era de origem inglesa. Nas décadas de 1850-1860, a mão-de-
obra qualificada envolvida na construção das primeiras ferrovias era
estrangeira. (LANNA, p.8, 2012)
2
O distrito de Brumado do Paraopeba passou a se chamar Conceição do Itaguá. Conforme
aponta os autores JARDIM, D.L e JARDIM M.C (1982)
31
[...] A de uso mais corrente, mais conhecida, é que “brumado” tem origem
no fenômeno que ocorre nas proximidades na Garganta do Fecho do Funil,
de condensação de uma neblina forte- “bruma” – que dura, nos meses mais
frios, durante toda a noite e grande parte da manhã. Mas a explicação mais
correta nos parece outra. O termo “brumado” que foi dado no lugar,
significa, na linguagem do oeste de São Paulo (note-se: região de origem
dos bandeirantes que povoaram o Vale do Paraopeba), moitas cerradas e
baixas; mato ou capoeira basta fechada. (JARDIM, D.L e JARDIM M.C.
p.49, 1982)
32
essenciais para os outros ramos industriais, como o aço empregado na construção
civil em diversas escalas.
Nesse sentido, essa situação pode ser claramente observada no contexto
municipal de Brumadinho, sendo o setor industrial, englobando as atividades
mineradoras, um motor chave na dinâmica econômica local, como se depreende da
análise comparativa dos gráficos abaixo, que indicam a parcela do produto interno
bruto do município referente à atividade industrial e o produto interno bruto per
capita entre 2010 e 2017, respectivamente: (Gráfico 1 e 2)
33
Fonte: IBGE, 2020
34
Fonte: os autores, 2020
35
Gráfico 4: Comparação entre área ocupada pela agropecuária e o
restante da extensão territorial do município de Brumadinho no ano de 2017
37
Fonte: Faria, 2012.
O quadro 1 testifica a existência antiga dessa rede infra estrutural que permite
o desenvolvimento de outras atividades turísticas; sendo que essa rede constitui-se
principalmente de empreendimentos na área de alojamentos (hotéis, pousadas,
albergues) e alimentação (restaurantes, bistrôs e lanchonetes).
Dessa forma, a visualização dos efeitos socioeconômicos decorrentes da
aceleração vertiginosa do crescimento turístico em Brumadinho torna-se claramente
observável; contabilizando-se agora como mais um nicho de exploração econômica
nas cadeias de produção e consumo locais, não podendo o estudo de tal fenômeno
ser descartado ou menosprezado, pois o mesmo se caracteriza atualmente como
uma peça chave para o entendimento e concretização da vivência comum dos
cidadãos do município.
Nesse sentido, a partir dessa sucinta caracterização econômica de
Brumadinho, fica evidente o laço de interdependência existente entre as demais
atividades locais em relação aos imponentes segmentos da mineração e do turismo.
Por um lado, há a continuidade tradicional e histórica do exercício minerador
influindo o poder financeiro/material advindo de sua execução em praticamente
todos os pequenos aspectos componentes da vida social, econômica e cultural
brumadinhense. Por outro, dá-se o advento dos empreendimentos turísticos como
um novo motor de transformação produtiva, material, paisagística e socioeconômica
do território.
38
Portanto, é necessário salientar a seguinte e iminente possibilidade: a
ocorrência de uma fatalidade qualquer provinda desses setores produtivos
invariavelmente trarão algum tipo de consequência e efeito na estrutura
socioeconômica de Brumadinho e nas vivências cotidianas dos seus habitantes.
Assim, estabelece-se a importância sumária e final deste estudo como uma
ferramenta para a compreensão das variações nos fluxos turísticos de Brumadinho,
em decorrência do rompimento da barragem I na mina Córrego do Feijão, em 25 de
janeiro de 2019, e seus efeitos na construção da memória e da identidade do sujeito
em relação ao tempo e espaço geográfico.
Para o entendimento claro desse fenômeno de interdependência e correlação
entre turismo, mineração e a dinâmica socioeconômica de Brumadinho; torna-se
vital o levantamento e listagem de algumas das mais proeminentes manifestações
culturais, de cunho folclórico e tradicional, vivenciadas pela população local: tratadas
enquanto potencial turístico e por isso mesmo passível de preservação diante de
ameaças provindas da operação em outros setores econômicos, como a mineração.
Dessa forma, destacam-se a seguir alguns dos principais pontos turísticos de
Brumadinho.
41
5.1.2 Inhotim
42
Ilustração 14 – Mapa Turístico do Inhotim
43
Ilustração 15 – Obra ao ar livre em Inhotim
45
Fonte: Inhotim, 2020
46
Fonte: Atividades recreativas fora de estrada (2019, p. 76)
47
Além das atividades de maior adrenalina, muitas trilhas são realizadas pelos
turistas que buscam alguma alternativa de atividade física, e suas trajetórias acabam
sendo diversas, acaba dependendo de onde a pessoa que trilha opta por começar,
algumas como a “Caminhada Topo do Mundo”, “Trilha da Calçada” e “Trilha
Travessia Serra da Moeda x São Caetano” traz diversas paisagens diferentes e se
misturam com outras serras que são coladas ou próximas, são distâncias diferentes
e visões diversificadas em cada um dos roteiros.
A Serra traz uma diversidade de espécies em seu bioma (Ilustração 19). Vale
ressaltar que a serra tem caraterizações muito evidentes da mata atlântica, que tem
uma ampla área de domínio pelo estado de Minas Gerais, a serra é protegida por lei
em acordo com a Gerdau e o Governo Estadual para ser conservado, pois além de
carregar uma vasta biodiversidade rara e rica na região, é responsável pelo
abastecimento de uma parcela grande da população de Brumadinho, já que o ponto
abriga diversas nascentes, sendo batizado assim como Monumento Mãe D’Água.
48
Fonte: Moeda, 2020
49
cada um deles, pontos interessantes de outros municípios, como a região do
Barreiro em Belo Horizonte e a divisa da Capital com Ibirité, que são cidades
coladas.
Ilustração 20 – Serra do Rola Moça
Fonte:
TripAdvisor, 2016
50
Fonte: Nos Caminhos de Minas, 2014
51
Ilustração 22 – Mapa turístico da Serra do Rola-Moça
Fonte:
Geopark, 2020
6. O
54
Ilustração 25 – Local onde ficava a Pousada Nova Estância que foi
destruída pela lama do rompimento
56
Ilustração 26 – Museu Inhotim em Brumadinho - MG
57
Segundo o documento, "o setor de turismo, que até então estava em
constante crescimento, mas, após o rompimento das barragens, houve um recuo no
desempenho do setor.” (MPMG 2019 p 103)
Imagina uma cidade onde todo mundo conhece todo mundo e todo mundo
perdeu um amigo um vizinho um parente. Então, pelo menos nos dois
primeiros meses você não tinha cabeça para sair e comprar uma roupa,
para passear para viajar sair à noite para um restaurante então assim todos
os negócios na cidade foram atingidos com rompimento da barragem.
(Empresário do ramo de gastronomia, em entrevista realizada no dia 12 de
novembro de 2020.)
59
De acordo com órgãos públicos do município, o rompimento desencadeou ou
aprofundou a crise econômica principalmente nos negócios dos ramos de hotelaria e
alimentação, voltadas para o turismo, que já enfrentavam dificuldades antes da
tragédia.
A gente tinha um fluxo bem grande, bem forte né!? E assim, principalmente
final de semana e feriado, chegava à lotação máxima, e após o rompimento,
teve uma queda aí de talvez 90% do fluxo de clientes que a gente tinha e
em detrimento do rompimento né?! Pelo medo e insegurança mesmo, das
pessoas de estarem vindo pra uma região que aconteceu... Apesar de a
gente estar à 15 quilômetros né!? De onde aconteceu a tragédia né!? Mas
mesmo assim é... Quando fala que nós estamos em Brumadinho é... acaba
que naturalmente as pessoas já associam né!? (Empresária do ramo de
hospedagem em entrevista realizada no dia 18 de novembro de 2020.)
60
Ao ser questionada a Prefeitura enumera diversas ações tomadas pelo
órgão para recuperação do turismo em parceria com a Vale, além da campanha
“Abrace Brumadinho” citada pelos empresários. Conforme o representante da
Prefeitura, o plano de recuperação visava a melhoria da estrutura física da cidade, a
capacitação de pessoas do ramo e a promoção e fomento do setor, porém devido a
pandemia somente as obras de infraestrutura foram realizadas.
(...) era uma proposta que nós tínhamos, tudo isso, desde dezembro, era
algo que a gente queria caminhar, onde veio a pandemia, também a gente
não pode deixar de falar disso. Então muito dessas ações, principalmente
as de qualificação e as de promoção, elas foram suspendidas, as únicas
que continuam são as de estruturação, as de infraestrutura, essas
continuam, boa parte delas. (Entrevista realizada com Turismólogo e gestor
da Secretaria municipal do Turismo e Cultura de Brumadinho no dia 13 de
novembro de 2020.)
61
Apesar de todos os entrevistados manifestarem medo de uma outra tragédia
e uma preocupação com os danos ambientais causados pela mineração,
especialmente pela questão da preservação dos mananciais, eles também
expressaram ter consciência da importância econômica que a mineração tem para a
renda e receita do município. De acordo com eles, as duas atividades podem
coexistir desde que bem regulamentadas para que a mineração fosse feita de forma
mais responsável e limitada a área que ocupa. Nesse sentido, alguns entrevistados
levantaram temores em relação à expansão da atividade mineradora, a mesma
poderia acabar inutilizando o potencial turístico de algumas áreas propícias para tal
atividade. Essa conjuntura se viabilizaria através de uma reelaboração da
administração e planejamento do uso do território municipal, pela qual se
determinariam zonas específicas para a execução das duas atividades; visando a
utilização equilibrada do espaço municipal.
A mineração é fundamental para nosso dia a dia, todo mundo entende que
esse é um mal necessário, então é determinar bem, não é daqui uns anos
correr o risco deles conseguirem uma licença ambiental e minerarem a serra
da moeda, é determinar bem isso aqui é turismo e vai ser sempre assim,
isso aqui é mineração, e vai ser sempre, dessa forma os dois podem
coexistir. (Empresário do ramo de hospedagem e gastronomia, em
entrevista realizada no dia 12 de novembro de 2020.)
62
umas ações muito isoladas assim né!? Enfim, como às vezes placas eles
colocam coisas bem básicas assim. Falta um apoio maior por parte da
prefeitura, pra que isso seja prioridade nos planos de ação, porque tudo ta
muito vinculado ainda com a mineração, a mineiro-dependência, como eu
havia citado, então tudo é voltado para a mineração, então por exemplo tem
que ver se a estrada está boa porque os caminhões precisam passar com
minério, e (...) então é muito pensado nessa logística de transporte de
minério do que o turismo em si né!? (Empresária do ramo de hospedagem
em entrevista realizada no dia 18 de novembro de 2020.)
63
pelos entrevistados foi a insatisfação quanto a divulgação dos outros pontos
turísticos existentes na cidade. Para a maior parte, existe muito potencial além de
Inhotim, porém este recebe pouca atenção da prefeitura, o acaba não gerando o
fluxo de turistas que poderia.
Você chega na cidade se não tem placa, não tem sinalização, se não tem
uma casa de Cultura bem situada com opções de coisas para fazer um
guichê dando informação uma coisa assim a pessoa fica perdida. Ela chega
faz o que tem que fazer no caso visita em Inhotim, vai para um hotel come e
dorme e vai embora sem saber das outras opções, quando ela poderia ter
ficado aqui consumindo na cidade, mas uns dois dias ajudando o comércio
local ajudando uma cadeia de prestação de serviços não é só os hotéis e
restaurantes. A pessoa que está aqui ela sente uma dor de cabeça precisa
de um remédio, estou te dando exemplos de que acontece aqui: um chinelo
arrebenta ela precisa comprar numa loja de tênis. Então assim não é só a
rede de hotelaria e restaurantes e na área de prestação serviços, é
comércio todo ele ganha com isso a pessoa abastece o carro quando vai
rodar mais aqui na cidade. Então precisa entender que desenvolver turismo
não é ajudar hotel e restaurante é a cidade toda, o comércio local e a cadeia
de prestação de serviços. Então se investe na promoção do turismo, um
portal bonito, as pessoas saberem as opções que tem, a pessoa tem uma
reserva no hotel para 2 dias ela vai ficar quatro para conhecer essas outras
opções. (Empresário do ramo de hospedagem e gastronomia, em entrevista
realizada no dia 12 de novembro de 2020.)
64
as atividades ofertadas. A prefeitura cita o problema e lista ações para orientar a
população, centrados na conscientização a partir de materiais educativos, voltados
para as escolas, para informar os alunos sobre o que é patrimônio, quais tipos de
patrimônio existem dentro do município, etc.
(...) ano passado foi em setembro o último antes da pandemia. Esse festival
com mais de 30 restaurantes só tinha um de Brumadinho. O festival
gastronômico desculpa minha franqueza, mas ele é muito mal organizado,
porque não valoriza em nada o que é de Brumadinho. Quem organiza o
evento é uma equipe acho que nem mora aqui na cidade, então assim o
festival gastronômico Brumadinho gourmet de Brumadinho não tem nada.
(Empresário do ramo de hospedagem e gastronomia, em entrevista
realizada no dia 12 de novembro de 2020.)
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Esta fala nos remete ao aspecto de identidade que o turismo carrega, as
pessoas querem se ver no turismo e compartilhar um pouco das tradições das
pessoas daquela cidade, e não somente vender uma experiência desconexa com as
suas vivências. Tal crítica ao festival gastronômico também pode ser feita ao
Instituto Inhotim conforme o relato de uma ex funcionária que trabalhava no setor de
educação ambiental do museu onde desenvolvia ações junto à comunidade:
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Durante todo o processo de investigação dessa problemática que se insere os
negócios de Brumadinho após o rompimento, ouvimos os medos e angústias de um
setor que depende das visitações para se manterem, mas que por outro lado
também compartilha do medo dos visitantes em relação a possível insegurança das
barragens de mineração, ainda que a atividade minerária não ocorra na área
turística do município, o rompimento marcou a comunidade inteira.
Acredito que não que não sejam entrave, mas que as pessoas têm medo
isso tem. Recentemente foi notícia que tinha achado uma rachadura em
outra estrutura lá na vale na verdade, na mesma estrutura parece que era
uma barragem muito grande essa que se rompeu e tem mais rejeitos lá e foi
encontrado uma rachadura, isso causou um enorme reboliço aqui na cidade,
todo mundo tem medo foi muito trágico o que aconteceu aqui na cidade.
Algumas vezes eu tenho conversado com turistas principalmente hoje que
dá para falar com mais naturalidade. (...) Então assim essas cicatrizes elas
são bem frescas por que não fazem dois anos e ninguém tava pronto
ninguém esperava que isso pudesse acontecer algum dia, então quando se
fala em barragem aqui na cidade todo mundo treme todo mundo tem medo.
Quando fala qualquer coisa na tv sobre barragem quando aparece
Ilustração é muito doído para gente é muito sofrido pra gente. (Empresário
do ramo de hospedagem e gastronomia em entrevista realizada no dia 12
de novembro de 2020)
Que se depara ainda com novas incertezas agora causadas pelo atual
contexto de pandemia. As interrupções dos serviços de lazer e turismo para
prevenção do risco de contaminação, se mostra um novo desafio para os
empreendimentos que ainda se encontravam em dificuldade diante da queda de
fluxo de turistas que, como podemos verificar nesse estudo, ainda não havia se
estabelecido completamente.
Pois é, então, foi uma coisa atrás da outra, estava começando a voltar o
movimento e aí veio a pandemia e aí voltou tudo de novo, né!? Mas assim,
a gente estava sentindo que já estava voltando, as pessoas já estavam
procurando mais pelo Inhotim ...então, nós já estávamos sentindo que esse
movimento já estava voltando, que as pessoas já não estavam com tanto
medo de estourar barragem né!? (Empresária do ramo de hospedagem em
entrevista realizada no dia 18 de novembro de 2020.)
Diante disso, foi necessário realizar entrevistas com dois professores da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, a fim de buscar informações técnicas sobre
os efeitos do rompimento para o turismo de Brumadinho. O primeiro entrevistado foi
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o professor da disciplina de “Meteorologia e Climatologia” Alecir Antônio Maciel
Moreira. Ele atuou na região como orientador de trabalhos de conclusão. Nesse
sentido, através da entrevista foi destacada a preocupação com um possível
comprometimento da qualidade do ar na região afetada:
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, diante do amplo quadro aqui exposto pela análise das entrevistas:
tornam-se evidentes as mais variadas e abrangentes alterações (climáticas,
ambientais, psicossociais, econômicas, etc.) que o evento do rompimento da
barragem trouxe para o município de Brumadinho e seus habitantes. Dentre a
totalidade da conjuntura municipal, ficaram concisamente explicitados acima os
efeitos negativos que esse evento proporcionou ao fluxo turístico local; imputando
um fatal golpe à incipiente articulação do segmento e legando ao desamparo as
vidas que dependem dessa atividade como meio de sustentação e sobrevivência.
Portanto, objetivando alguma mudança positiva nesse quadro, são propostas
inigualavelmente necessárias: o fortalecimento, ampliação e melhor divulgação das
ações existentes para a recuperação do turismo local; a reanálise séria de estigmas
equivocados, propagados midiaticamente, sobre a real situação em Brumadinho
após a tragédia; a ressignificação crítica e consciente do olhar sobre o espaço
comum compartilhado (Brumadinho em sua integridade) pelos próprios atores locais;
além do desenvolvimento de um planejamento estratégico, no âmbito da gestão
pública das atividades econômicas desempenhadas no município e do zoneamento
do território, que vise a demarcação de zonas especiais propícias à execução de
determinadas atividades, como a atividade turística. Assim, de alguma forma, o fluxo
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turístico de Brumadinho poderá ter uma recuperação de relevância; estabelecendo
um primeiro passo na busca da reconstrução do município e na inversão dos
infelizes efeitos resultantes da catástrofe ocorrida em 2019
Retornando-se ao projeto de pesquisa, constatou-se que os objetivos
propostos foram devidamente alcançados assim como ficou comprovada a hipótese
da pesquisa. Dessa forma, evidenciando que o rompimento da barragem I da mina
Córrego do Feijão modificou o fluxo turístico do município, afetando os negócios
ligados ao ramo do turismo.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Integração Latino-Americana) - Instituto Latino-americano de Arte, Cultura e História
(ilaach).
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SANTOS, Milton. Metamorfose do espaço habitado. 5. ed. São
Paulo: HUCITEC, 1988.
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