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Capitulo Amostra GerenciamentoDeCrise-1
Capitulo Amostra GerenciamentoDeCrise-1
SENNA
GERENCIAMENTO DE CRISES
USANDO MAPAS CRÍTICOS PARA ORGANIZAR O QUE É COMPLEXO E CAÓTICO
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parados para usufruir, de modo sábio, os avanços ras. Os terremotos do Haiti e do Chile foram al-
técnicos que desenvolvemos nas últimas décadas. guns eventos nos quais me vi envolvido na tarefa
de planejar uma resposta que pudesse prover, rapi-
Enquanto essa transformação ainda não ocorre, damente, a ajuda à população atingida. Na queda
crises, cada vez mais frequentes, nos causarão so- do avião do voo AF 447 estive envolvido na difícil
frimento, perdas e prejuízos. missão de busca e resgate das vítimas daquele trá-
gico acidente, em uma das operações mais comple-
Estar preparado para enfrentar as crises que
xas já executadas no Brasil. Também tive a opor-
ainda nos desfiarão é uma tarefa difícil, mas com
tunidade de participar do planejamento de ações
as lições do passado podemos estabelecer modos
preventivas, para evitar possíveis crises, nas ações
de organizar e racionalizar as ações que precisa-
de segurança da Copa de 2014. Com essas experi-
mos desenvolver, tanto para prevenir como para
ências anteriores, ao iniciar uma nova etapa pro-
responder a uma crise.
fissional na iniciativa privada, não demorou muito
Há cerca de três anos comecei a pensar em com- para ter de aplicar o que aprendi em empresas, fos-
partilhar as experiências que tive, lidando com se para resolver um incidente em uma instalação
crises sérias como as dos terremotos que em 2010 de exploração de petróleo ou em uma pequena
abalaram o Haiti e o Chile, ou então como a do empresa de bairro. Foi neste momento que percebi
resgate do voo AF 447. que o conhecimento para se lidar com crises é útil
e indispensável em qualquer área de atuação.
No decorrer de minha vida profissional na Ma-
rinha tive de enfrentar algumas crises desafiado- Quando decidi compartilhar a experiência que
tive nestas crises por meio de um livro, minha pri-
meira ideia foi relatar os casos nos quais me en- se e toda a atividade de equipes numerosas, a uma
volvi. Com o passar do tempo, percebi que cada ferramenta de planejamento que fosse, ao mesmo
crise é única e compartilhar uma experiência es- tempo, simples e eficiente. O resultado desse longo
pecífica poderia gerar um livro interessante de se trabalho se encontra aqui neste livro.
ler, mas com pouca utilidade prática. Surgiu então
a ideia de substituir a narração de casos de crises O conhecimento compartilhado aqui é um esfor-
pela descrição do modelo mental que orientou as ço para melhorar o modo como vamos nos preparar
equipes que atuaram na resposta e na prevenção para as crises que ainda iremos enfrentar. Algumas
destas crises. Esta não foi uma decisão fácil, pois dessas crises serão consequência das escolhas equi-
mudava totalmente a abordagem da contribuição vocadas que fizermos. Estas poderiam ser evitadas
que poderia dar. Foram três anos de muito traba- com escolhas melhores. Outras serão frutos do aca-
lho e o resultado está agora em suas mãos. so e não teríamos nenhuma chance de evitá-las. De
qualquer modo, independentemente do que gerou
O ponto de partida foi perceber que havia um uma crise, se há ou não um culpado pelo seu início,
padrão nas ações de resposta que se repetia sempre o desenrolar dos acontecimentos dependerão unica-
que estava envolvido em uma crise. O desafio foi mente de nossa atitude. Mesmo diante de uma fata-
identificar o que se encontrava na base do que era lidade do acaso, somos os responsáveis pelo modo
feito pelas equipes de planejamento nas situações como iremos reagir. É a partir daí que podemos fa-
de crise, dividir em partes essa atividade complexa zer a diferença e ajudar a solucionar, de modo eficaz,
e encontrar a sequência na qual elas se encaixavam. uma situação que poderia se agravar e prejudicar
Foi assim que surgiu o Mapa Crítico. Não foi tarefa muitas pessoas.
fácil reduzir a complexidade que envolve uma cri-
Conhecendo uma ferramenta, com os principais empresas e governos na difícil tarefa de prevenir e
passos para se lidar com crises, podemos ser proa- responder às crises que ainda virão.
tivos e mudar nosso “mindset”, saindo de uma pos-
tura de expectadores passivos para um papel mais Espero também ter a capacidade de tratar um
forte e preventivo. Essa ferramenta pode fortalecer assunto tão complexo e grave de forma leve e que
a crença na capacidade de planejamento, algo que sua leitura não seja desagradável, mas um instigan-
muitas vezes é deixado de lado e que, quando ocor- te exercício de raciocínio e lógica. Enfim, que este
re a crise, faz muita falta. Trocando a improvisação livro ajude você a enfrentar com sabedoria os enor-
pelo planejamento e substituindo a intuição ama- mes desafios que o futuro colocará em sua jornada.
dora pelo raciocínio lógico, podemos reduzir ou
evitar muito sofrimento, perdas e prejuízos.
Para Quem Esse Livro Foi Escrito?
Outra contribuição que este livro pretende dar
é incentivar a criação de uma base comum de en- Eu não gosto de crises e, se fosse possível, não en-
tendimento sobre os papéis e a nomenclatura para frentaria qualquer crise.
se articular e solucionar uma crise. Se esse aspecto
sofrer uma pequena melhora, já será o suficiente A verdade é que, para a maioria das pessoas,
para comemorar. crise é um tema que assusta, tanto pelo perigo,
como pela complexidade. O desconforto causado
Espero que, ao compartilhar o conhecimento quando falamos em crise leva as pessoas a adota-
que tenho sobre esse assunto, possa ajudar pessoas, rem duas atitudes. A primeira é pensar que crise
é algo raro, que dificilmente vai nos atingir e, se
ocorrer, resolveremos a questão na base do impro- Este livro foi escrito para atingir um amplo es-
viso. A segunda atitude é assumir que crises são pectro de profissionais que lidam com crises. Pode
fenômenos que regularmente ocorrem e podem ser utilizado por profissionais de salvamento e
causar maiores prejuízos e sofrimentos se não esti- emergência, como bombeiros ou militares, mas
vermos devidamente preparados para enfrentá-las. também ajudará, de modo igualmente útil gerentes,
Se você está lendo este livro, é porque acredita nes- administradores de empresas e gestores públicos.
ta segunda hipótese.
Este Livro É para Você que:
Se entendemos que crises são fenômenos que re-
gularmente atinge pessoas, empresas, organizações e • Está trabalhando em uma empresa que já
governos, podemos nos preparar melhor entendendo viveu uma crise.
o que é uma crise e como podemos agir para reduzir • Está trabalhando em uma empresa que ain-
os prejuízos e sofrimentos que causam. da não viveu uma crise.
Embora muitas crises sejam inevitáveis, suas • Trabalha em um órgão do governo e é aciona-
consequências negativas podem ser evitadas. Com do em momentos de crise.
uma atitude proativa, podemos desenvolver ati- • Trabalha com planejamento de eventos e
vidades preventivas e reativas melhor planejadas, operações que podem gerar crises.
que seguem uma lógica racional e otimizam os re-
De uma forma geral, qualquer um que traba-
cursos que estão disponíveis.
lha administrando uma empresa, um órgão do
governo ou uma entidade sem fins lucrativos vai
encontrar utilidade neste livro. Pelo simples fato de definição abaixo é derivada da que esses profissio-
que todos nós, de tempos em tempos, nos depa- nais empregam em seu livro:
ramos com crises eventuais, com diferentes graus
de complexidade e magnitude, os conhecimentos
aqui reunidos serão úteis.
Para começar podemos adotar uma definição Definição derivada do livro Gabinete de Crise
para crise. Existem diversas definições disponíveis. (J. A. Cunha Couto e J. A. de Macedo Soares)