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Pode-se escrever

(Pedro Oom)

Pode-se escrever sem ortografia


Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada
Pode-se não escrever..

Hipótese pré-silábica

 A criança não registra traços no papel com a intenção de realizar o


registro sonoro do que foi proposto para a escrita

Nível 1 – Escrita indiferenciada

 Baixa diferenciação entre a grafia de uma palavra e outra;


 Traços semelhantes entre si;
 Traços descontínuos – se a criança tem maior contato com letras de
imprensa;
 Traços contínuos – se a criança tem mais contato com a escrita com letra
cursiva;
 O que diferencia uma palavra da outra é a intenção do produtor,
portanto, a interpretação só poderá ser feita por quem escreveu;
 Muitas vezes a criança não consegue identificar o que escreveu – leitura
instável;
 Costumam grafar palavras de acordo com o tamanho do que está
representando;
 Algumas vezes usam como estratégia o pareamento de desenhos com as
palavras – para poder ler com mais segurança – mas também pode
caracterizar uma certa insegurança ao decidir que letras deva usar. Essa
dificuldade acontece porque ainda não compreendem a função da escrita
e confundem o que é escrita com desenhos.
Nível 2 – Diferenciação da escrita

 A característica principal das escritas desse nível é a tentativa


sistemática de criar diferenciações entre os grafismos produzidos; mas a
escrita continua não analisável em partes levando a criança a interpretá-
la globalmente;
 Hipótese da quantidade mínima de caracteres e a necessidade de variá-
los;
 Já possuem a intenção de objetivar as diferenças do significados das
palavras;
 Arranjam as letras que conhecem – por poucas que sejam
 Na figura abaixo, Bárbara demonstra notável aquisição cognitiva quando
arranja as 6 letras que conhece (I-E-A-F-L-P) de forma a representar as
palavras sugeridas
 Nesta idade ainda não tem mecanismo para comparar palavras que não
estejam próximas.
 Neste nível poderá ter se apropriado de algumas escritas estáveis –
principalmente do próprio nome

Hipótese silábica

 A criança inicia a tentativa de estabelecer relações entre o contexto


sonoro da linguagem e o contexto gráfico do registro;
 A estratégia da criança é a de atribuir a cada letra ou marca escrita o
registro de uma sílaba falada; essa marca poderá ser uma letra (com
valor sonoro convencional ou não), pseudoletra, número;
 A criança começa a perceber que a escrita representa partes sonoras da
fala;
 Conflito, principalmente quando tem que escrever palavras monossílabas
– para eles é necessário um número mínimo de letras para cada palavra;
 Muitas vezes enxertam letras no meio ou final das palavras para que
possa parecer estar escrito uma palavra correta;
 Não é necessário empregar o valor sonoro convencional das letras – P
poderá representar a sílaba BA, por exemplo.
 Esse conflito (número mínimo de letra), acaba por ser deixado de lado,
num determinado momento da evolução da criança predominando
apenas a lógica da hipótese silábica .

Hipótese silábico-alfabética

 Neste nível a criança utiliza a hipótese silábica e alfabética da escrita, ao


mesmo tempo - momento de transição: a criança não abandonou a
hipótese anterior, mas já ensaia novos avanços.
 Esses avanços só podem ocorrer se forem oferecidas informações às
crianças através de formas fixas que permitam o refinamento da
aprendizagem do valor sonoro convencional das letras e das
oportunidades de comparar os diversos modos de interpretação da
mesma escrita.
Hipótese alfabética

 Aqui a criança já venceu todos os obstáculos conceituais para a


compreensão da escrita – cada um dos caracteres da escrita corresponde
a valores sonoros menores que a sílaba – e realiza sistematicamente
uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever.
 Não há a superação total dos problemas – ainda não domina as regras
normativas da ortografia.
 Nesta produção, a criança dominou o código da escrita, mas não as
regras ortográficas – perceba que ela não teve medo de escrever, o que
não ocorre com a maioria das crianças quando iniciam a escolaridade;
 Essa inconstância com a ortografia não é permanente e a superação das
falas depende de ensino sistemático, já que não são dedutíveis como a
construção da escrita.

Observações Importantes

 O tempo necessário para avançar de um nível para outro varia muito.


 A evolução pode ser facilitada pela atuação significativa do educador,
sempre atento às necessidades observadas no desempenho de cada
estudante, organizando atividades adequadas e colocando,
oportunamente, os conflitos que conduzirão ao nível seguinte.
 O uso da metodologia contrastiva, permitindo que a criança confronte
sua hipótese de escrita com a forma padrão (nos diversos materiais de
leitura já conhecidos) são um importante recurso para a estabilização da
escrita ortográfica. 
 A sistematização do processo de alfabetização se dará ao longo dos anos
subseqüentes.
 Na medida em que a criança adquire segurança no contato prazeroso,
contextualizado e significativo com a língua escrita, sua leitura torna-se
mais fluente e compreensiva.
 Por meio da leitura, o estudante assimila, aos poucos, as convenções
ortográficas e gramaticais, adquirindo competência escritora compatível
com as exigências da escrita socialmente aceita.
 Desenvolve-se, assim, o gosto e o interesse pela leitura e a habilidade de
inferir, interpretar e extrapolar as idéias do autor, formando-se o leitor
crítico.

Importância da sondagem

É por meio da sondagem que o professor poderá conhecer as hipóteses


das crianças sobre a língua escrita e dessa forma planejar as atividades,
organizar as duplas e os grupos de acordo com as necessidades de cada
criança. A sondagem é uma atividade essencial para que o professor conheça o
quê e como cada criança está pensando. Deve ser feita individualmente e
sempre com palavras e atividades inéditas.

 Palavras de um mesmo campo semântico (animais da floresta, doces,


frutas, material escolar...)
 1 palavra polissílaba - 1 palavra trissílaba - 1 palavra dissílaba - 1 palavra
monossílaba - 1 frase com uma das palavras ditadas.

A sondagem deve ser feita com uma certa regularidade, uma vez a cada 15
dias ou uma vez por mês, para que o professor possa acompanhar as etapas
de cada criança. Neste caso, o professor não deve interferir na escrita da
criança.

Agrupamentos significativos:

Pré-silábicos com silábicos


Silábicos s/ valor sonoro com silábicos c/ valor sonoro
Silábicos com valor sonoro com silábicos alfabéticos
Silábicos alfabéticos com alfabéticos (ortográficos ou não)
Alfabéticos não ortográficos com alfabéticos ortográficos

Sugestões de atividades para o nível pré silábico

• iniciar pelos nomes das crianças escritos em crachás, listados no quadro ou


em cartazes;
•identificar o próprio nome e depois o de cada colega, percebendo que nomes
maiores podem pertencer às crianças menores e vice-versa;
•classificar os nomes pelo som inicial ou por outros critérios;
•organizar os nomes em ordem alfabética, ou em “galerias” ilustradas com
retratos ou desenhos;
•criar jogos com os nomes (“lá vai a barquinha”, dominó, memória, boliche,
bingo);
•fazer contagem das letras e confronto dos nomes; confeccionar gráficos de
colunas com os nomes seriados em ordem de tamanho (número de letras).
•Fazer estas mesmas atividades utilizando palavras do universo dos alunos:
rótulos de produtos conhecidos ou recortes de revistas (propagandas, títulos,
palavras conhecidas). 

Atividades para nível silábico em diante:


•fazer listas e ditados variados (de estudantes ausentes/ presentes, livros de
histórias, ingredientes para uma receita, nomes de animais, questões para um
projeto);
•usar jogos e brincadeiras (forca, cruzadinhas, caça-palavras);
•organizar supermercados e feiras; fazer “dicionário” ilustrado com as palavras
aprendidas, diário da turma, relatórios de atividades ou projetos com
ilustrações e legendas;
• propor atividades em dupla (um dita e outro escreve), para reescrita de
notícias, histórias, pesquisas, canções, parlendas e trava-línguas.

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