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COMENTÁRIO EXEGÉTICO E

EXPLICATIVO DA BÍBLIA
A Commentary on the Old and New Testaments by
Robert Jamieson, A. R. Fausset and David Brown

Tradução e digitação: Carlos Biagini

ANTIGO TESTAMENTO:

Gênesis 2 Crônicas Daniel


Êxodo Esdras Oseias
Levítico Neemias Joel
Números Ester Amós
Deuteronômio Jó Obadias
Josué Salmos Jonas
Juízes Provérbios Miqueias
Rute Eclesiastes Naum
1 Samuel Cantares Habacuque
2 Samuel Isaías Sofonias
1 Reis Jeremias Ageu
2 Reis Lamentações Zacarias
1 Crônicas Ezequiel Malaquias

NOVO TESTAMENTO:

Mateus Efésios Hebreus


Marcos Filipenses Tiago
Lucas Colossenses 1 Pedro
João 1 Tessalonicenses 2 Pedro
Atos 2 Tessalonicenses 1 João
Romanos 1 Timóteo 2 João
1 Coríntios 2 Timóteo 3 João
2 Coríntios Tito Judas
Gálatas Filemom Apocalipse
Comentário Exegético e Explicativo da Bíblia 2
ABREVIAÇÕES

A. Livros da Bíblia.
A.T. – Gn. Êx. Lv. Nm. Dt. Jos. Juí. Rt. 1Sm. 2Sm. 1Rs. 2Rs.
1Cr. 2Cr. Ed. Nee. Et. Jó Sal. Pr. Ec. Ct. Is. Jer. Lm. Ez.
Dn. Os. Jl. Am. Ob. Jon. Miq. Na. Hab. Sof. Hag. Zc. Mal.
N.T. – Mt. Mc. Lc. Jo. At. Rm. 1Co. 2Co. Gl. Ef. Fl. Col.
1Ts. 2Ts. 1Tim. 2Tim. Tit. Flm. Heb. Tg. 1Pe. 2Pe.
1Jo. 2Jo. 3Jo. Jd. Ap.
B. Apócrifos: I Esd. (I Esdras); II Esd. (II Esdras); Tob. (Tobias);
Sabedoria; Eclesiástico; Bel (Bel e o Dragão);
I Mac. (I Macabeus); II Mac. (II Macabeus).
C. Versões da Bíblia.
RA Revista e Atualizada de Almeida – SBB 1997,
(versão padrão usada neste comentário.)
RC Revista e Corrigida - Brasil SBB 1998
ACF Almeida Corrigida e Revisada, Fiel
ao Texto Original - Soc. Bíblica Trinitariana
TB Tradução Brasileira
BJ Bíblia de Jerusalém (1976)
NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje
NVI Nova Versão Internacional (2000)
Versão Jünemann Tradução da Septuaginta ao Espanhol
AV Authorized Version (1769)
NKJV New King’s James Version (1982)
RSV Revised Standard Version (1947)
LXX Septuaginta ou Versão dos Setenta
D. Outros.
A.C. , D.C., A.D. Antes de Cristo, depois de Cristo, Anno Domini
cap. capítulo lit. literalmente
cf. confira MS., MSS. manuscrito, manuscritos
ex. exemplo sgte, sgtes seguinte, seguintes
gr. grego
heb. hebraico
i.e. id est (isto é)
PREFÁCIO AO PENTATEUCO E LIVROS HISTÓRICOS

Título original em inglês:


Introduction to the Pentateuch and Historical Books
by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

O Pentateuco, o nome pelo qual se designam os cinco primeiros


livros da Bíblia, deriva-se de duas palavras gregas, penta, cinco, e teuco,
volume, ou tomo, significando assim o volume quíntuplo. Originalmente
estes livros formavam uma obra contínua, como nos manuscritos hebreus
ainda estão unidos num só rolo, sem divisão. Quando foram divididos
em cinco porções, com títulos próprios de cada parte, não se sabe, mas é
evidente que a distinção data do tempo da tradução da Septuaginta, ou
antes. Os nomes que estes livros levam em nossa versão, são tomados da
Septuaginta, e eram usados por aqueles tradutores gregos como
descritivos dos temas principais, e o conteúdo mais importante dos
distintos livros. Nas Escrituras posteriores frequentemente estão
compreendidos sob a designação geral de Lei, O Livro da Lei, visto que
o dar um relato detalhado dos preparativos para o divino código e a
entrega do mesmo com todas as instituições civis e sagradas que eram
peculiares à economia antiga, é o objeto ao qual tais livros são
exclusivamente dedicado. Sempre foram colocados no começo da Bíblia,
não só por causa de sua prioridade cronológica, mas também porque
formam uma introdução apropriada e indispensável a outros livros
sagrados. As frequentes referências feitas nas Escrituras posteriores, aos
acontecimentos, ao ritual e doutrinas da antiga dispensação, não só
teriam perdido muito de seu propósito e significado, mas sim teriam
ficado absolutamente ininteligíveis sem a informação que contêm estes
cinco livros. Eles constituem o alicerce ou base sobre o qual descansa
todo o edifício da revelação, e o conhecimento da autoridade e
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 2
importância que há neles, amplamente dão a razão dos ataques
persistentes que os infiéis têm feito contra estes livros, como também do
zelo e ardor que em sua defesa desdobraram os amigos da verdade.
A origem mosaica do Pentateuco está estabelecida nas vozes
concordantes tanto da tradição judaica como da cristã; e seu testemunho
unânime é apoiado pelo caráter interno e as declarações da própria obra.
Que Moisés guardou um relato escrito das transações importantes
relacionadas com os israelitas, é testemunhado por sua própria afirmação
expressa. Porque ao relatar a vitória sobre os amalequitas, que se lhe
mandou por autoridade divina registrar, a linguagem empregada —
"Escreve isto para memória num livro (heb., o livro),"—demonstra que
aquele relato tinha que fazer parte de um registro já em formação, e
várias circunstâncias se combinam para provar que aquele registro era
uma história contínua da especial bondade e do cuidado da Providência
divina na escolha, proteção e direção da nação hebreia.
Primeiro, as repetidas afirmações de Moisés mesmo dos
acontecimentos que diversificavam a experiência daquele povo, eram
escritos à medida que sucediam (veja-se Êx_24:4-7; Êx_34:27;
Nm_33:2).
Segundo, há os testemunhos encontrados em distintas partes dos
livros históricos posteriores ao Pentateuco de que era obra bem
conhecida e familiar a todo o povo (veja-se Js_1:8; Js_8:34; Js_23:6;
Js_24:26; 1Rs 2:3, etc.).
Terceiro, achamos nas obras dos profetas frequentes referências aos
atos registrados nos livros de Moisés (cf. Is_1:9 com Gn_19:1; 12:2 com
Êx_15:2; Êx_51:2; com Gn_12:2, Gn_54:9; com Gn_8:21-22; Os_9:10
com Nm_25:3; Nm_11:8 com Gn_19:24; Gn_12:4 com Gn_32:24-25;
Gn_12:12 com Gn_28:5; Gn_29:20; Jl_1:9 com Nm_15:4-17; Nm_28:7-
14; Dt_12:6-7; Dt_16:10-11; Am_2:9 com Nm_21:21; Nm_4:4 com
Nm_28:3; Nm_4:11 com Gn_19:24; Gn_9:13 com Lv_26:5; Mq_6:5
com Nm_22:25; Nm_6:6; com Lv_9:2; Lv_6:15 com Lv_26:16, etc.).
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Quarto, o testemunho de Cristo e os apóstolos se presta repetidas
vezes em favor dos livros de Moisés (Mt_19:7; Lc_16:29; Lc_24:27;
Jo_1:17; Jo_7:19; At_3:22; At_28:23; Rm_10:5). Em realidade, as
referências são tão numerosas, e os testemunhos tão distintamente
encaminhados a sustentar a existência dos livros mosaicos através de
toda a história da nação judaica, e a unidade de caráter, desígnio e estilo
destes livros é tão claramente perceptível, apesar das afirmações
racionalistas de que formam uma série de partes distintas e sem conexão;
que pode dizer-se com toda segurança que há evidência bem mais sólida
e mais variada como prova de que são da mão de Moisés, que a
evidência de que qualquer das obras clássicas gregas ou romanas sejam a
produção dos autores cujos nomes levam.
Mas, ainda que reconheçamos que o Pentateuco foi escrito por
Moisés, suscita-se uma questão importante, a se os livros que o
compõem chegaram até nós numa forma autêntica, se os temos genuínos
e inteiros tal como saíram das mãos do autor. Em resposta a esta
pergunta, poderia ser suficiente dizer que, nas repetições públicas e
periódicas da lei nas solenes assembleias religiosas do povo, as que
indicam a existência de exemplares numerosos, fazia-se provisão para
conservar a integridade do "Livro da Lei". Mas além disto, dois atos
notáveis, um dos quais sucedeu antes do cativeiro, e o outro depois,
proveem uma evidência concludente da autenticidade do Pentateuco. O
primeiro é o descobrimento no reinado de Josias do exemplar autógrafo
que tinha sido depositado por Moisés na arca do testemunho, e o
segundo é o cisma dos samaritanos, os quais levantaram um templo no
Monte Gerizim, e que, apelando à lei de Moisés como a norma de sua fé
e culto igualmente com os judeus, vigiavam com zeloso cuidado toda
circunstância que pudesse afetar a pureza do relato mosaico. Há, pois, a
razão mais poderosa para crer que o Pentateuco, como existe na
atualidade, é substancialmente igual a como saiu das mãos de Moisés. O
aparecimento de uma mão posterior, é verdade, nota-se no relato da
morte de Moisés no final de Deuteronômio, e em algumas poucas
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 4
interpolações, como a inserção de nomes de lugares mudados, que teriam
sido feitos por Esdras, quem revisou e corrigiu a versão das antigas
Escrituras. Mas substancialmente o Pentateuco é a obra genuína de
Moisés, e muitos, que alguma vez impugnavam sua pretensão a tal
caráter, e o olhavam como produto de uma idade posterior, viram-se
obrigados, depois de uma completa investigação, sem preconceitos, do
assunto, a confessar sua convicção de que se pode confiar plenamente
em sua autenticidade.
Admitindo-se a genuinidade e a autenticidade do Pentateuco,
seguem como consequência necessária a inspiração e a autoridade
canônica da obra. O acesso de Moisés ao privilégio da comunhão
frequente e direta com Deus (Êx_25:22; Êx_33:3; Nm_7:89; Nm_9:8);
suas declarações repetidas e solenes de que ele falava e escrevia por
mandado de Deus; a submissão reverente que era tributada à autoridade
de seus preceitos por todas as classes do povo judeu, inclusive o próprio
rei (Dt_17:18, Dt_27:3); e o reconhecimento da missão divina de Moisés
pelos escritores do Novo Testamento – tudo prova o caráter inspirado e a
autoridade de seus livros. O Pentateuco possuía os maiores direitos à
atenção do povo judeu, porque formava a norma de sua fé, a regra de sua
obediência, o registro de todo seu plano de ação civil e religiosa. Mas é
interessante e importante a todo ser humano, já que, além de revelar a
origem e o anterior desenvolvimento do plano da graça divina, é o
manancial de todo conhecimento autêntico que dá a verdadeira filosofia,
história, geografia e cronologia do mundo antigo. Finalmente, o
Pentateuco é indispensável à revelação inteira contida na Bíblia; porque
sendo o Gênesis o prefácio legítimo à lei; sendo a lei a introdução natural
ao Antigo Testamento; e sendo tudo isto o prelúdio à revelação do
evangelho, não teria podido omitir-se. O que são os quatro Evangelhos
ao Novo Testamento, são os cinco livros de Moisés ao Antigo
Testamento.
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 5
GÊNESIS, o livro da origem ou produção de todas as coisas,
consiste em duas partes: a primeira, compreendida nos caps. 1-11, dá
uma história geral; a segunda, contida nos capítulos seguintes, dá uma
história especial. As duas partes estão essencialmente unidas; uma, que
começa com o relato da descendência da raça humana de um único casal,
a introdução do pecado no mundo, e o anúncio do plano da misericórdia
divina para reparar as ruínas da queda, foi necessária para preparar o
caminho para a outra parte, ou seja, a chamada de Abraão e a escolha de
sua descendência para levar a cabo os benévolos propósitos de Deus. Há,
portanto, uma evidente unidade de método através de todo este livro, e a
informação nele contida era da maior importância para o povo hebreu,
porque sem ele, eles não teriam podido entender as frequentes
referências em sua lei aos propósitos e às promessas de Deus a respeito
deles mesmos. Os argumentos já apresentados para apoiar a origem
mosaica do Pentateuco, naturalmente provam que Moisés foi o autor de
Gênesis. As poucas passagens em que os racionalistas baseavam suas
afirmações de que era a composição de uma época posterior, já
mostramos com êxito que não merecem semelhante conclusão. O uso de
palavras egípcias e o conhecimento minucioso da vida e os costumes
egípcios, manifesto na história de José, estão de acordo com a educação
de Moisés, e quer tenha recebido sua informação por revelação direta, ou
da tradição, ou de documentos escritos, chega-nos como a obra autêntica
de um autor que escrevia da maneira como era inspirado pelo Espírito
Santo (2Pe_1:21).

ÊXODO, uma saída, deriva seu nome do fato de que se ocupa


principalmente em relatar a saída dos israelitas do Egito, e os incidentes
que precederam imediatamente assim como os que seguiram àquela
memorável migração. A redação do mesmo por Moisés, ele a afirma
distintamente (Êx_24:4) como também por nosso Senhor (Mc_12:26;
Lc_20:37). Além disso o completo conhecimento que manifesta das
instituições e costumes dos antigos egípcios e os minuciosos detalhes
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 6
geográficos da marcha até o Sinai, estabelecem da maneira mais clara a
autenticidade deste livro.

LEVÍTICO.—Assim chamado porque trata das leis relacionadas


com o ritual, os serviços e sacrifícios da religião judaica, a
superintendência dos quais era confiada ao sacerdócio levítico.
Entretanto, principalmente os deveres dos sacerdotes, "os filhos de
Arão", constituem o objeto da descrição deste livro. Sua pretensão de ser
a obra de Moisés se estabelece pelas seguintes passagens: 2Cr_30:16;
Nee_8:14; Jer_7:22-23; Eze_20:11; Mt_8:4; Lc_2:22; Jo_8:5 Rm_10:4;
Rm_13:9; 2Co_6:16; Gl_3:12; 1Pe_1:16.

NÚMEROS — Assim é denominado este livro por conter um


relato da enumeração e da colocação dos israelitas. A primeira parte do
mesmo, capítulos 1 a 11, parece ser um suplemento de Levítico, pois se
ocupa em relatar a nomeação dos levitas aos ofícios sagrados. O diário
da marcha pelo deserto vai em seguimento até o capítulo 21:20; depois
do qual se relatam os primeiros incidentes da invasão. Só é feita uma
citação direta deste livro (Nm_16:5) no Novo Testamento (2Tt_2:19);
mas referências indiretas a ele pelos escritores sagrados posteriores, são
muito numerosas.

DEUTERONÔMIO, a segunda lei, título que claramente


demonstra qual é o objeto deste livro; isto é, uma recapitulação da lei.
Dá-se em forma de discursos públicos dirigidos ao povo; e, como Moisés
falava com a perspectiva de sua pronta partida do mundo, encareceu a
obediência a ela com muitas apelações potentes aos israelitas, a respeito
de sua longa e variada experiência tanto das misericórdias como dos
juízos de Deus. As detalhadas notícias dos povos pagãos com os quais
chegaram a relacionar-se, que depois desaparecem das páginas da
história, como também o relato da fertilidade e os produtos de Canaã, e
os conselhos com relação à conquista daquele país, fixam a data deste
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livro e o tempo de sua composição pela mão de Moisés. A conclusão,
entretanto, pode ter sido acrescentada por outro; e, alguns supõem,
formava o prefácio original ao livro de Josué.

JOSUÉ — O título deste livro se deriva do piedoso e valente guia,


cujas façanhas relata, e que se supõe-se foi o seu autor. As objeções a
esta ideia se fundam principalmente na frase "até hoje", que se menciona
várias vezes (Js_4:9; 6:25; 8:28). Mas isto, pelo menos no caso de
Raabe, não é razão válida para rejeitar a ideia de que ele seja autor do
livro; porque, supondo-se, o que é mais provável, que este livro fora
composto rumo ao fim da longa carreira de Josué, ou compilado de
documentos escritos deixados por ele, ainda teria podido estar viva
Raabe. Uma maneira mais singela e satisfatória de explicar a frequente
inserção da frase "até hoje", é a opinião de que é um comentário
introduzido por Esdras, quando revisou o sagrado cânon: e tirada esta
dificuldade, as provas diretas de que o livro fora produzido por uma
testemunha dos acontecimentos nele relatados; as vívidas descrições das
cenas sucessivas, e o uso da palavra "nós" (Js_5:1-6), visto junto com o
fato de que, depois de seu discurso de despedida ao povo, Josué
"escreveu estas palavras no livro da lei de Deus",—tudo provê uma
prova fortemente presuntiva de que o livro inteiro fosse a obra daquele
eminente homem. Sua inspiração e autoridade canônica se estabelecem
plenamente pelos repetidos testemunhos de outros escritores das
sagradas Escrituras (compare-se Js_6:26 com 1Rs_16:34; Js_10:13 com
Hab_3:11; Js_3:14 com At_7:45; At_6:17-23 com Heb_11:30; Js_2:1-24
com Tg_2:25; Sl_44:2; Sl_68:12-14; Sl_78:54-55). Como relato da
fidelidade de Deus em dar aos israelitas possessão da terra prometida,
esta história é muito valiosa, e leva o mesmo caráter como consequência
do Pentateuco, assim como os Atos dos Apóstolos, dos Evangelhos.
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JUÍZES é o título dado a este livro, porque contém a história
daqueles dirigentes que não sendo reis governaram os hebreus do tempo
de Josué até o de Eli, e as funções dos quais em tempo de paz consistiam
principalmente na administração da justiça, ainda que em certas ocasiões
dirigiam o povo em suas guerras contra seus inimigos públicos. A data e
o autor deste livro não se conhecem exatamente. É seguro, entretanto,
que antecedia ao Segundo Livro do Samuel (cf. Jz_9:35 com
2Sm_11:21), como também à conquista de Jerusalém por Davi (cf.
Jz_1:21 com 2Sm_5:6). Seu autor foi, com toda probabilidade, Samuel,
o último dos juízes (veja-se Jz_19:1; 21:25). A data da composição da
primeira parte se fixa no reinado de Saul, enquanto que os cinco
capítulos finais, pode ser que não tenham sido escritos senão depois que
Davi se estabeleceu como rei de Israel (veja-se Juí_18:31). É uma
história fragmentária, sendo uma coleção de atos importantes e de
livramentos notáveis em tempos distintos e em distintas partes do país,
no período intermédio de 300 anos entre Josué e o estabelecimento da
monarquia. O caráter inspirado deste livro está confirmado por alusões
ao mesmo em muitas passagens das Escrituras (cf. Jz_4:2; 6:14 com
1Sm_12:9-12; Jz_9:53 com 2Sm_11:21; Jz_7:25 com Sl_83:11; Jz_5:4,5
com Sl_7:5; Jz_13:5; 16:17 com Mt_2:13-23; At_13:20; Heb_11:32).

RUTE é corretamente um suplemento do livro anterior, ao qual,


com efeito, estava acrescentado no antigo cânon judeu. Embora relate
um episódio do tempo dos juízes, sua data exata não se conhece. Parece
seguro, entretanto, que não teria podido ser escrito antes do tempo de
Samuel (veja-se Rt_4:17-22), quem geralmente se supõe tenha sido seu
autor; e esta opinião, além de outras razões sobre as quais descansa,
confirma-se em Rt_4:7, onde é evidente que a história não foi compilada
senão muito tempo depois dos atos relatados. A inspiração e autoridade
canônica do livro são testemunhadas pelo fato de que o nome de Rute é
incluído por Mateus na genealogia de nosso Senhor.
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OS LIVROS PRIMEIRO E SEGUNDO SAMUEL — Os antigos
judeus tinham os dois livros unidos em um, e em tal forma podia chamar
o Livro do Samuel com mais razão que agora, pois o Segundo Livro se
ocupa completamente em relatar acontecimentos que não se efetuaram
senão depois da morte daquele eminente juiz. Por conseguinte, na
Septuaginta e na Vulgata, chamam-se o Primeiro e Segundo Livros dos
Reis. A primeira parte do Primeiro Livro, até o fim do capítulo 24,
provavelmente foi escrita por Samuel; enquanto que o restante dele, e
todo o Segundo Livro, atribuem-se usualmente a Natã e a Gade, com
base na opinião em 1Cr_29:29. Os comentadores, entretanto, estão
divididos a respeito deste ponto, alguns deles supondo que a declaração
em 1Sm_2:26 e 3:1, indicam a mão do próprio juiz, ou de um
contemporâneo; enquanto que alguns pensam, com base em 1Sm_6:18;
12:5; 27:6, que a composição deve referir-se a uma época posterior. É
provável, entretanto, que estes supostos sinais de um período posterior
fossem interpolações de Esdras. Mas esta incerteza com relação ao autor
não afeta a autoridade inspirada do próprio livro, a qual é indisputável,
porque se cita no Novo Testamento (At_13:22; Heb_1:5), como também
em muitos dos Salmos.

OS LIVROS PRIMEIRO E SEGUNDO REIS, nos antigos


exemplares da Bíblia Hebraica constituem um livro. Foram-lhes dados
diversos títulos; na Septuaginta e na Vulgata se chamam os Livros
Terceiro e Quarto de Reis. O autor destes livros é desconhecido; mas a
opinião geral é que foram compilados por Esdras ou por um dos profetas
posteriores, de antigos documentos aos quais se faz referência frequente
no curso da história como de autoridade pública e reconhecida. Seu
caráter de inspirados era reconhecido pela nação judaica que os
considerava como segundo cânon; além disso, seu caráter é
testemunhado por nosso Senhor, quem os cita frequentemente (cf.
1Rs_17:9; 2Rs_5:14 com Lc_4:24-27; 1Rs 10:1 com Mt_12:42).
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 10
OS LIVROS PRIMEIRO E SEGUNDO CRÔNICAS também
eram considerados pelos antigos judeus como um só, os quais os
chamavam "palavras de dias", quer dizer, diários ou jornais, sendo
provavelmente compilados com dados dos registros que guardavam os
historiógrafos dos reis a respeito dos acontecimentos diários. Na
Septuaginta o título dado é Paraleipómenon, "de coisas omitidas", ou
seja, os livros eram suplementares, porque muitas coisas inadvertidas nos
livros anteriores, estão registradas aqui; e não apenas são supridas as
omissões, mas também alguns relatos são ampliados, e outros
acrescentados. Como autor usualmente se reconhece a Esdras, cujo
propósito principal parece ser o de mostrar a divisão de famílias, posses,
etc., antes do cativeiro, com o objetivo da restauração exata da mesma
ordem depois da volta de Babilônia. Embora muitas coisas são relatadas
de novo, e outras são repetições exatas do que se contém em Reis, há
muita informação nova e importante que, como diz São Jerônimo, as
Crônicas proveem meios para compreender partes do Novo Testamento,
que teriam sido ininteligíveis sem elas. Cristo e os apóstolos fazem
referências frequentes ao fato de que formam parte de "a Palavra de
Deus" (vejam-se as genealogias em Mt_1:1-16; Lc_3:23-38; cf.
2Cr_19:7 com 1Pe_1:17; 2Cr_24:19-21 com Mt_23:32-35).

ESDRAS junto com Neemias era considerado como um só livro


pelos antigos judeus, que os chamavam o Primeiro Livro e Segundo
Livro de Esdras, como ainda são chamados pelos escritores católicos
romanos. Este livro se divide naturalmente em duas partes ou seções;
uma seção, contida nos seis primeiros capítulos, relata as circunstâncias
da volta do primeiro destacamento de desterrados babilônicos sob
Zorobabel com a conseguinte reedificação do templo e o
restabelecimento do serviço divino. A outra parte, contida nos quatro
capítulos restantes, conta a viagem da segunda caravana de cativos que
retornaram sob a direção do próprio Esdras, o qual estava investido de
faculdades para restaurar, em todo seu esplendor, todo o sistema do ritual
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 11
judaico. A opinião geral da igreja, de século em século, foi a de que
Esdras é o autor deste livro. A objeção principal se funda em Ed_5:4,
onde as palavras “Perguntaram-lhes mais: E quais são os nomes dos
homens que constroem este edifício?”, originaram a conjetura de que a
primeira porção do livro não fosse escrita por Esdras, que não foi a
Jerusalém senão muitos anos mais tarde. Mas um pouco de atenção
mostrará o fútil desta objeção, porque as palavras em questão não se
referiam ao escritor, mas foram usadas por Tatenai e seus companheiros.
O estilo e a unidade do objeto do livro provam claramente que foi o
produto de um só escritor. A autoridade canônica do livro está bem
estabelecida; mas outro livro sob o nome de Esdras é rejeitado como
apócrifo.

NEEMIAS parece ter sido o autor deste livro pelo fato de que
geralmente escreve em seu próprio nome, e exceto naquelas porções que
são evidentemente edições posteriores e copiadas de documentos
públicos, ele emprega como regra geral a primeira pessoa. A porção
maior do livro se ocupa na história dos doze anos de administração de
Neemias em Jerusalém, depois dos quais ele voltou para seus deveres em
Susã. Mais tarde voltou para Jerusalém com novas atribuições, e
começou com medidas novas e vigorosas de reforma, as quais se
detalham nos últimos capítulos do livro.

ESTER deriva seu nome da dama judia que, chegando a ser esposa
do rei da Pérsia, empregou sua influência real para efetuar um
memorável livramento do açoitado povo de Deus. Existem várias
opiniões a respeito de quem seria o autor deste livro, atribuindo-o alguns
a Esdras, a Neemias e a Mardoqueu. A preponderância de autoridades
está a favor do último. O caráter histórico do livro é evidente, visto que,
além das evidências internas, sua autenticidade está provada pelo forte
testemunho da festa de Purim, a celebração da qual se pode traçar até os
acontecimentos que são descritos neste livro. Mas a tradição uniforme
Prefácio ao Pentateuco e Livros Históricos (JFB) 12
tanto dos judeus como dos cristãos, apoia esta pretensão, que nada no
livro tende a debilitar; sendo ele um sinal do cuidado vigilante da
Providência Divina sobre Seu povo escolhido, sinal com o qual é de
suma importância que a igreja seja assegurada. O nome de Deus
estranhamente está omitido, mas a presença de Deus é sentida através de
toda a história; e todo o tom e a tendência do livro estão tão
decididamente subordinados à honra de Deus e à causa da verdadeira
religião, que foi geralmente recebido pela igreja em todas as épocas
como parte do sagrado cânon.
PREFÁCIO AOS LIVROS POÉTICOS

Título original em inglês:


Introduction to the Poetical Books

Tradução: Carlos Biagini

A poesia hebraica é única em sua classe; em essência, a mais


sublime; em forma, marcada por uma simplicidade e facilidade que
fluem de sua sublimidade. "O Espírito do SENHOR fala por meu
intermédio [o profeta hebreu], e a sua palavra está na minha língua"
(2Sm_23:2). Até a música colocava-se sob a direção de homens
espiritualmente dotados; e um dos músicos principais, Hemã, chama-se o
"vidente do rei nas palavras de Deus" (1Cr_25:1, 1Cr_25:5, TB). Diz-se
que o rei Davi inventou instrumentos de música (Am_6:5). Não há na
poesia hebraica o ritmo artístico da forma como aparece na poesia
clássica da Grécia e de Roma, mas é amplamente compensada por sua
graciosa e fresca naturalidade.
Aparecem exemplares antigos da poesia hebraica, por exemplo, a
paródia de Lameque da profecia de Enoque, ou, como creem alguns,
uma lamentação por um homicídio cometido naqueles dias
desordenados, em defesa própria. (Gn_4:23; comp. Jd_1:14; Êx_32:18;
Nm_21:14-15, Nm_21:17-18, Nm_21:27; Nm_23:7-8, Nm_23:18;
Nm_24:3, Nm_24:15). O elemento poético aparece muito mais no
Antigo Testamento que no Novo. Os livros poéticos são exclusivamente
do Antigo Testamento; e no próprio Antigo Testamento as porções que
são as mais fundamentais (por exemplo, o Pentateuco de Moisés, o
legislador, em seu corpo principal), são as que têm em si menos do
elemento poético. Elias, pai dos profetas, está isento da arte poética. Os
profetas seguintes não eram estritamente poetas, exceto quando o estado
enlevado na inspiração os elevava a modos poéticos do pensamento e
expressão. O profeta era, antes mestre inspirado que poeta. É quando o
Prefácio aos Livros Poéticos (JFB) 2
escritor age como representante das experiências pessoais dos filhos de
Deus, quando a poesia acha sua esfera própria.
O uso da poesia nas Escrituras foi particularmente para suprir a
falta não provida pela lei, de formas devocionais para expressar em
particular, e no culto público, os sentimentos dos israelitas piedosos. As
escolas dos profetas alentavam e difundiam um espírito religioso entre o
povo; e os achamos usando instrumentos líricos para acompanhar seus
atos de profetizar (1Sm_10:5). Davi, entretanto, foi quem especialmente
levou as efusões poéticas de devoção a uma perfeição que não tinham
alcançado antes.
Outro propósito ao qual a Salmódia, pelas produções inspiradas de
Davi, servia, era fazer sair dentre as formas típicas dos serviços legais
sua essência e espíritos ocultos, adaptando-os às variadas exigências
espirituais da vida individual e congregacional. A Natureza também
nelas se mostra falando da glória e bondade do Deus invisível, ainda que
sempre presente. Provia-se ao israelita um manual de devoção, por meio
do qual podia entrar no verdadeiro espírito dos serviços do santuário, e
assim sentir a necessidade daquele Messias vindouro, de quem testifica
especialmente o Livro dos Salmos. Nós também, em nossa dispensação
cristã, necessitamos sua ajuda em nossas devoções. Obrigados como
estamos, apesar de nossos privilégios superiores em muitos sentidos, a
andar pela fé antes que pela vista num grau maior que eles, achamos nos
Salmos, com suas expressões que tornam real a sentida proximidade de
Deus, o melhor repertório de onde tirar uma linguagem divinamente
sancionada com a qual expressar nossas orações e ações de graças a
Deus, e nossas aspirações por uma santa comunhão com nossos irmãos
santos.
A respeito da objeção apresentada contra o espírito de vingança que
se respira em alguns Salmos, a resposta é, que é preciso fazer uma ampla
distinção entre o espírito vingativo pessoal e o desejo de que a honra de
Deus seja vindicada. A vingança pessoal, não só em outras partes das
Escrituras, mas também nos Salmos, na teoria e na prática, é condenada
Prefácio aos Livros Poéticos (JFB) 3
(Êx_23:4-5; Lv_19:8; Jó_31:29-30; Sl_7:4-5, Sl_7:8, Sl_7:11-12;
Pv_25:21-22), o que corresponde com a prática de Davi no caso de seu
inimigo implacável (1Sm_24:5-6; 1Sm_26:8-10). Por outro lado, o povo
de Deus sempre desejou que, qualquer coisa que prejudique a causa de
Deus, como por exemplo a prosperidade dos inimigos de Deus e de sua
igreja, seja destruída (Sl_10:12; Sl_30:27; Sl_40:16; Sl_79:6, Sl_79:10).
É bom que nós também, em nossa dispensação de amor, reavivemos a
memória por meio destes Salmos de nossas lassas opiniões quanto ao
ódio de Deus pelo pecado; e da necessidade de compreendermos bem a
mente de Deus sobre tais pontos, ao mesmo tempo que busquemos a
conversão de todos os homens a Deus (comp. 1Sm_16:1; Sl_139:21;
Is_66:24; Ap_14:10).
Alguns Salmos se compõem de vinte e duais orações paralelas, ou
estrofes de versos, que começam com palavras cuja letra inicial
corresponde com as letras hebraicas (vinte e dois) em sua ordem (Salmos
37 e 119). Também As Lamentações. Este arranjo era ideado como uma
ajuda à memória, e se acha unicamente em tais composições que tratam,
não um tema distinto e progressivo, mas sim uma série de reflexões
piedosas, caso em que a ordem exata era de menos importância. O
Salmista, ao adotá-lo, não o segue servilmente; mas, como no Salmo 25,
desvia-se, para assim fazer com que a forma, quando necessário, se
adapte ao sentido. Destes poemas há doze em toda a Bíblia hebraica
(Salmos 25, 34, 37, 111, 112, 119, 145; Pro_31:10-31; Lamentações 1, 2,
3, 4).
A grande excelência do princípio hebraico de versificação, ou seja,
o paralelismo, ou "ritmo de pensamento" (Ewald), é que, enquanto a
poesia de todos os outros idiomas, cuja versificação depende da regular
repetição de certos sons, sofre grandemente na tradução, a poesia
hebraica, cujo ritmo depende da correspondência paralela de
pensamentos similares, quase não perde nada ao ser traduzida—
havendo-o provido assim o Espírito Santo prescientemente para sua final
tradução a todas as línguas, sem a perda do sentido. Assim em nossa
Prefácio aos Livros Poéticos (JFB) 4
versão portuguesa, Jó e Salmos, embora sejam traduções, são
eminentemente poéticas. Assim também dá-se uma chave ao sentido de
muitas passagens, porque o sentido da palavra numa cláusula apresenta-
se mais cabalmente na palavra correspondente na seguinte cláusula
paralela. Na pontuação massorética do hebraico, o acerto métrico
destaca-se pelos distintos acentos. Está de acordo com a divina
inspiração da poesia bíblica, que o pensamento seja mais proeminente
que a forma, o miolo da noz mais que a casca. Há um ritmo verbal
superior ao da prosa; mas como está perdida a verdadeira pronúncia
hebraica, reconhece-se só imperfeitamente o ritmo.
A particularidade da idade poética hebraica é que era sempre
histórica e verdadeira, não mítica, como as idades poéticas de todas as
demais nações. Outra vez, sua poesia distingue-se da prosa pelo uso de
termos decididamente poéticos. O lamento de Davi por Jônatas
proporciona uma amostra bela de outro caráter distintivo achado na
poesia hebraica, a estrofe: sendo assinaladas as três estrofes pela
repetição três vezes do lamento cantado por todo o corpo de cantores,
que representam a Israel; a segunda, por crianças; a terceira, por um coro
de varões jovens (2Sm_1:17-27).
A poesia lírica, que é o estilo predominante na Bíblia, e é
especialmente concisa e sentenciosa, parece ter vindo de uma classe mais
antiga parecida com o Livro de Provérbios que é mais moderno (comp.
Gn_4:23-24). A mente oriental tem tendência a incorporar o pensamento
com aforismos, máximas e provérbios. "A poesia dos orientais é uma
réstia de pérolas. Cada palavra tem vida. Cada proposição é a sabedoria
condensada. Cada sentença é surpreendente e epigramática." (Kitto,
Biblical Cyclopedia). Somos levados à mesma conclusão por ser usado o
termo mascal, "provérbio" ou "similitude" para designar a poesia em
geral. "A poesia hebraica, em sua origem, era uma parábola ou ensino
por meio de semelhanças descobertas pela mente popular, expressa na
língua popular, e adotada e polida pelo poeta nacional." Salomão, sob a
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inspiração, incorporaria em seus Provérbios tais ditos sábios
preexistentes os quais fossem sancionados pelo Espírito de Deus.
O título hebraico para os Salmos, Tehilim, quer dizer hinos,
louvores prazerosos (às vezes acompanhados por danças. Êxodo 15;
Juízes 5), que não responde exatamente ao título da Septuaginta, Salmo,
ou odes poéticas, ou cânticos acompanhados por algum instrumento. O
título Tehilim, "hinos", foi adotado provavelmente por causa do uso feito
dos Salmos no culto divino, embora só uma parte pode chamar-se
estritamente cânticos de louvor, sendo outros lamentos, e muitíssimos
são orações (de sorte que no Sl_72:20, Davi intitula todas as suas
composições anteriores "as orações de Davi"). Sessenta e cinco levam o
título odes poéticas (Mizmorim), enquanto que um se chama Tehilah, ou
Hino. Como o título Salmos é usado na Septuaginta e no Novo
Testamento, como também na versão Peshitta, é provável que Salmos
(Mizmorim) ou odes poéticas fosse o velho título antes de Tehilim.
A poesia épica, como tem sua esfera própria numa idade mítica,
heroica, não tem lugar entre os hebreus da idade do Antigo Testamento.
Porque em suas épocas mais anteriores, a patriarcal, reinavam não a
fábula, como na Grécia, Roma, Egito e todas as nações pagãs, mas sim a
verdade e a realidade histórica; a tal ponto, que o elemento poético que
é produto da imaginação, acha-se menos naquelas épocas anteriores que
nas idades posteriores. O Pentateuco é quase todo prosa histórica. Na
idade subsequente, não inspirada, no livro do Tobias temos alguma
aproximação ao Epos.
O Drama, no sentido moderno completo, tampouco se acha na
literatura hebraica. Isto se deve não a uma falta de cultura intelectual,
como está demonstrado amplamente pela sublime excelência de sua
poesia lírica e didática, mas sim ao caráter sério do povo e à solenidade
dos temas de sua literatura. O elemento dramático aparece em Jó, mais
que em qualquer outro livro da Bíblia; há drama pessoal, um plano, e a
solução do plano no discurso preparado por Eliú, o quarto amigo, e
efetuada tal solução pela intervenção do próprio Jeová. Mas em sentido
Prefácio aos Livros Poéticos (JFB) 6
estrito não é um drama, mas antes, um debate inspirado sobre um
problema difícil do governo de Jeová exemplificado no caso de Jó, com
relato histórico, prólogo e epílogo. O Cântico dos Cânticos também tem
muito de dramático. Veja-se minhas Introduções a Jó e o Cântico dos
Cânticos. O estilo de muitos Salmos é muito dramático, aparecendo com
frequência transições de uma pessoa a outra, sem introdução, e
especialmente quando se fala indiretamente de Deus, faz-se uma
mudança para dirigir-se a Deus; assim no Sl_32:1-2, Davi faz uma
introdução geral, "Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada,"
etc.; então nos vv. 3-7 passa a dirigir-se diretamente a Deus; logo no
verso 8, sem prefácio se introduz a Deus falando diretamente em
resposta à oração anterior; então no verso 10, outra vez o autor volta a
falar indiretamente de Deus, e no final se dirige aos justos. Estas
mudanças repentinas de pessoa não nos surpreendem, mas nos dão um
sentido mais claro de seu trato habitual com Deus, pelo que poderiam
fazer as afirmações quaisquer. Compare-se também no Sl_132:8-10, a
oração, "Levanta-te, SENHOR, entra no lugar do teu repouso, tu e a arca
de tua fortaleza. Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os
teus fiéis. Por amor de Davi, teu servo, não desprezes o rosto do teu
ungido," com a resposta direta de Jeová, que segue em quase as mesmas
palavras da oração, "O SENHOR jurou a Davi", etc. "entra no lugar do
teu repouso, tu e a arca de tua fortaleza. Vistam-se de justiça os teus
sacerdotes, e exultem os teus fiéis". Assim também no Salmo 2,
introduzem-se vários personagens, operando e falando dramaticamente:
as nações confederadas, Jeová, o Messias e o salmista.
Um característico frequente é a sucessão alternada de partes,
adaptando-se os vários Salmos à recitação alternada por dois semi coros
no louvor do templo, seguidos pelo coro completo entre as partes e no
final. Assim é no Sl_107:15, Sl_107:21, Sl_107:31. De Burgh, em seu
valioso comentário sobre os Salmos, diz: "Nosso serviço de catedral
exemplifica a forma de cantar dos Salmos, exceto que o semi coro canta
alternativamente um verso inteiro, em vez de alternar, como antes, no
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meio verso; enquanto que o coro completo é a 'glória' no final de cada
Salmo."
Em conclusão, além de seu especial ponto de excelência, sua divina
inspiração, a poesia hebraica se caracteriza por ser essencialmente
nacional, mas eminentemente católica ou universal, falando com coração
e à sensibilidade da humanidade inteira. Simples e espontânea, distingue-
se por uma frescura natural que é o resultado de sua genuína veracidade.
O poeta hebreu não buscava seu "ego", ou sua própria fama, como todos
os poetas pagãos, mas era inspirado pelo Espírito de Deus para preencher
uma necessidade urgente que suas próprias aspirações e as de sua nação
para com Deus, faziam ao mesmo tempo uma necessidade e um deleite.
Veja-se 2Sm_23:1-2: "Disse Davi … mavioso salmista de Israel. O
Espírito do SENHOR fala por meu intermédio," etc.
Ewald com razão observa, que várias odes da mais elevada
excelência poética, não estão incluídas no livro dos Salmos (por
exemplo, os cânticos de Moisés, Êx. 15 e 32; de Débora, Juízes 5; de
Ana, 1Sm_2:1-10; de Ezequias, Is_38:9-20; de Habacuque, Habacuque 3;
e até o lamento de Davi por Saul e Jônatas, 2Sm_1:17-18). A seleção dos
Salmos, reunidos num livro, foi feita nem tanto com referência à beleza
das peças, como por sua adaptação ao culto público. Entretanto, um
Espírito dirigente ordenou a seleção e o arranjo do conteúdo do livro,
pois um tom e tema penetrantes aparecem através de tudo: Cristo em sua
própria vida interior como o Deus homem, em suas relações passadas,
presentes e futuras com a igreja e com o mundo. Isaque Taylor chama os
Salmos, "A liturgia da vida espiritual"; e Lutero, "Uma Bíblia em
miniatura."
O princípio da ordem em que se nos apresentam os Salmos, ainda
que nem sempre manifesto, em alguns casos é claro, e demonstra que o
acerto é sem dúvida a obra do Espírito, e não meramente a do
compilador. Assim o Salmo 22 claramente apresenta as agonias morais
do Messias; o Salmo 23, seu descanso tranquilo no Paraíso depois de sua
morte na cruz; e o Salmo 24, sua ascensão gloriosa ao céu.
PREFÁCIO AOS LIVROS PROFÉTICOS

Título em inglês:
Introduction to the Prophetical Books
by A. R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Esta é a segunda divisão das Escrituras, sendo as outras a Lei e


Hagiógrafos. Incluía esta segunda divisão Josué, Juízes, Primeiro e
Segundo Samuel, Primeiro e Segundo Reis, chamados os Primeiros
Profetas; e Isaías, Jeremias, etc. até Malaquias, os Profetas Posteriores.
Daniel está excluído, porque, embora altamente dotado de dons
proféticos, ele não tinha preenchido o ofício de profeta; seu livro pois
está classificado com os Hagiógrafos. Esdras talvez começou, e outros
mais tarde completaram, o arranjo do cânon. Os profetas não eram meros
prognosticadores. Seu nome hebreu, Nabƒ, provém de uma raiz de
brotar como uma fonte (Gesênius); daí o ardor da inspiração, 2Pe_1:21
(outros o interpretam como de uma raiz arábica, Êx_4:16, interlocutor,
aquele que fala em nome de Deus, suprindo-lhe as palavras o Espírito
Santo); comunicadas por sonhos, Jl_2:28, Jó_33:14-17 (nenhum caso
disto aparece em Isaías); ou visões, fazendo-se passar a cena perante sua
mente (Is_1:1); ou rapto, êxtase (Nm_24:4, Nm_24:16; Ez_1:3;
Ez_3:14); sem privá-los, entretanto, de sua livre atuação consciente
(Jr_20:7, Jr_20:9; 1Co_14:32).
Estas formas peculiares de inspiração distinguiam os profetas,
estritamente assim chamados, de Moisés e outros inspirados (Nm_12:6-
8). Daí seu nome videntes. Daí, também a forma poética de seu estilo,
embora menos restringida, devido a sua tendência prática, nas formas
externas observadas nos livros poéticos. Daí, também, a união da música
com o ato de profetizar (1Sm_10:5). Este estado enlevado, ainda que
elevado, não é o mais alto; porque Jesus Cristo nunca esteve nele, nem
Prefacio al Pentateuco y los Libros Históricos 2
Moisés. Fazia-se necessário pela fraqueza dos profetas, e a estupidez
espiritual do povo. Por conseguinte, este estado prepondera no Antigo
Testamento, mas está subordinado no Novo, onde o Espírito Santo pela
plenitude de seus dons ordinários faz menos necessário o extraordinário.
Depois do tempo da economia mosaica, a ideia de profeta se associava
regularmente com o ofício ou cargo profético, não conferido pelos
homens mas por Deus. Nisto eles diferem dos místicos, cuja pretendida
inspiração é por eles mesmos; o profetismo é prático, não iludido e
afastado; a inspiração dos profetas é própria só como os mensageiros de
Deus ao povo. Os servos ordinários e mestres regulares do povo eram os
sacerdotes: os profetas, distinguidos deles pela inspiração, eram
designados para despertar e encorajar. Em Israel, entretanto, diferente
de Judá, como não havia verdadeiro sacerdócio, os únicos profetas eram
os ministros comuns de Deus. A profecia em Israel precisava ser apoiada
mais poderosamente e então as "escolas" foram estabelecidas; e mais
façanhas proféticas chamativas (por exemplo, as de Elias e Eliseu) são
lembradas em Israel do que em Judá. A lei era sua base (Is_8:16,
Isa_8:20), tanto em sua forma como em seu espírito (Dt_4:2, Dt_13:1-3);
às vezes eles olhavam para frente ao dia em que seu espírito sempre vivo
romperia sua forma imperfeita de então a favor de um desenvolvimento
mais livre e perfeito (Jr_3:16; Jr_31:31); mas eles não mudaram nem um
til em seus dias.
Eichorn chama o cântico de Moisés (Deuteronômio 32) a Carta
Magna da profecia. O cumprimento de suas predições tinha que ser o
sinal de que eles eram verdadeiros profetas de Deus (Dt_18:22).
Também o era o fato de que eles não falassem no nome de nenhum outro
que não fosse o verdadeiro Deus (Dt_18:20). A profecia era a única
indulgência sancionada pelo veemente desejo de conhecer
acontecimentos futuros, o que é tão comum no Oriente (Dt_18:10-11).
Para uma inspiração momentânea o mero começo da vida espiritual
bastava, como no caso de Balaão; mas para uma missão contínua, o
profeta tinha que ser convertido (Is_6:7). Nos dias do Samuel
Prefacio al Pentateuco y los Libros Históricos 3
(1Sm_10:8; 1Sm_19:20) começam as "escolas" proféticas. Estas eram
associações de homens, mais ou menos dotados do Espírito, nas quais os
mais fracos eram ajudados pelos de poderes espirituais maiores: como
em Betel e Gilgal (2Rs_2:3; 2Rs_4:38; 2Rs_6:21). Unicamente os
dirigentes estavam em comunhão imediata com Deus, enquanto que
outros se uniam a Deus mediante sua meditação (1Rs_19:15; 2Rs_8:13);
aqueles operavam por meio destes como instrumentos (1Rs_19:16;
2Rs_9:1-2). A concessão dos dons proféticos, entretanto, não se limitava
a estas escolas (Am_7:14-15).
Quanto a AÇÕES SIMBÓLICAS, muitas delas não eram reais mas
sim somente partes das visões proféticas, atos internos, não externos,
sendo impossíveis ou indecorosos (Jr_13:1-10; Jr_25:12-38; Os_1:2-11).
Entretanto, as ações internas, quando possível e próprio, eram com
frequência expressas exteriormente (1Rs_22:11). Aquelas puramente
internas expressam o tema mais fortemente do que o faria uma afirmação
seca.
Outros CRITÉRIOS de um verdadeiro profeta, além dos dois acima
mencionados, eram: conformidade de seus discursos com a lei; aquele
que não prometesse prosperidade sem arrependimento; sua própria
segurança de sua missão divina (às vezes recebida a contra gosto,
Jr_20:8-9; Jr_26:12), o produzir aquela segurança interna da verdade
em outros, o que era para eles uma prova mais segura de parte do
Espírito de Deus, que até os milagres externos e argumentos; sua vida
piedosa, sua fortaleza no sofrimento, isenção do fanatismo, confirmam
estes critérios. Os milagres, embora sejam provas, não têm que ser
aceitos, sem os critérios negativos (Dt_13:2). As predições cumpridas
durante a vida do profeta, estabeleciam sua autoridade dali em diante
(1Sm_3:19; Jr_22:11-12; Ez_12:12-13; Ez_12:24).
Quanto à sua PROMULGAÇÃO, era geralmente oral, perante o
povo reunido, e depois revisada por escrito. A segunda parte de Isaías, e
Ezequiel 40-48, provavelmente não foram dadas verbalmente, mas por
escrito. Antes do tempo de Isaías e seus contemporâneos, as profecias
Prefacio al Pentateuco y los Libros Históricos 4
não eram escritas, porque não se destinavam ao uso universal. Mas agora
abre-se um campo mais extenso. O poder mundano das nações pagãs,
que ameaçavam destruir a teocracia, dali em diante recebe a oposição do
reino de Deus, o qual estava por conquistar a todos por meio do Messias,
cuja vinda concerne a todas as idades. Os profetas menores dão a
quintessência de seus respectivos autores. Ocorre um caso da maneira de
juntar e publicar as profecias (Jr_36:4-14). As dos profetas posteriores
descansam sobre as dos anteriores (Zc_1:4; Zc_7:7, Zc_7:12). Ewald
supõe que um grande número de rolos proféticos foi perdido. Mas o fato
de que os profetas frequentemente faziam alusão aos escritos que temos,
e nunca aos que se pode provar que não temos, torna provável que já
tenhamos todas as predições que foram dadas por escrito; o cuidado dado
a elas, e o conhecimento exato das mesmas muito tempo depois
(Jer_26:18-19), confirmam esta opinião.
A COLOCAÇÃO é cronológica; mas como os doze profetas
menores são considerados como uma só obra, e os três últimos destes
viveram mais tarde que Jeremias e Ezequiel, os primeiros estão
colocados depois dos últimos. Os profetas menores estão dispostos em
ordem cronológica, exceto Oseias, que sendo o mais longo, está
colocado primeiro, embora alguns eram anteriores a ele: também Jonas,
que parece ter sido o primeiro dos profetas posteriores.
Quanto ao Messias, nenhum profeta por si só dá uma visão
completa dele. Esta se compõe dos diversos aspectos dele em profecias
diferentes combinadas; assim como sua vida nos Evangelhos é uma só
sob um aspecto quádruplo. Na primeira parte de Isaías, dirigida a todo o
povo, a ideia proeminente é seu triunfo como Rei, sendo o propósito ali o
de dissipar seus temores das nações circundantes; na segunda, dirigida ao
resto escolhido, apresenta-se como Profeta e Sacerdote, sendo ele mesmo
o sacrifício.
PREFÁCIO AOS PROFETAS DA RESTAURAÇÃO

Título em inglês:
Introduction to Prophets of the Restoration
by A. R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

O dom profético existia muito tempo antes de ser instituído o ofício


ou cargo de profeta. Assim Enoque tinha o dom (Jd_1:14). Também
Abraão chama-se "profeta" (Gn_20:7), como também os patriarcas
(Sl_105:15). Instituiu-se o primeiro cargo sob a economia mosaica; mas
até então o dom nem sempre estava unido ao cargo; por exemplo, Daniel
estava grandemente dotado, mas nunca foi chamado ao ofício, pois vivia
numa corte pagã onde não teria podido exercê-lo. Assim também Davi
(Mt_13:35; Mt_27:35). Por isso, os escritos de ambos estão colocados
nos Hagiógrafos, e não com os profetas. Além disso, embora o ofício ou
cargo cessou com o fim da dispensação do Antigo Testamento, o dom
continuou, e esteve entre os principais carismas da igreja do Novo
Testamento. Profeta (em hebraico de uma raiz, "brotar como uma
fonte") queria dizer alguém que fala em nome de outro (Êx_7:1); isto é,
alguém que falava com autoridade dada por Deus como intérprete de sua
vontade. Vidente era o termo mais antigo (1Sm_9:9), o que dá a entender
que falava mediante uma comunicação divina apresentada a seus
sentidos ou sua mente; como "profeta" indicava sua autoridade como
falando por Deus.
Cristo era a única fonte da profecia (1Pe_1:11; Ap_19:10; também
At_16:7, a lição mais antiga dizia "Espírito de Jesus"), e declarava a
vontade de Deus aos homens por meio de seu Santo Espírito que operava
nas mentes dos profetas. Assim a história da igreja é a história da
revelação que Deus fazia de Si mesmo aos homens em Seu Filho. As três
divisões desta história, a Dispensação Patriarcal, a Mosaica e a Cristã,
Prefácio aos Profetas da Restauração (JFB) 2
caracterizam-se cada uma por um modo distinto das manifestações de
Deus—isto é, por uma forma distinta do dom profético. O modo
teofânico caracteriza a dispensação patriarcal: Deus Se revela a Si
mesmo em aparências visíveis, ou teofanias. O modo teopnêustico, a
mosaica: Deus Se revela por meio de homens divinamente inspirados. O
modo teológico, a cristã: Deus Se revela a Si mesmo, não meramente a
intervalos, mas sim permanentemente, por escritos inspirados ("os
oráculos de Deus," 1Pe_4:11).
Na primeira ou idade patriarcal, os homens não operam milagres,
diferente de todas as demais histórias primitivas, que abundam em
milagres operados pelos homens, como prova da autenticidade. Todos os
milagres são operados por Deus, sem a intervenção de homens; e as
comunicações divinas são geralmente expressões diretas, de sorte que o
dom profético é raro, pois nesta dispensação só excepcionalmente Deus
emprega a agência profética de homens; só em Gn_20:7, acha-se o termo
"profeta". Na segunda, ou dispensação mosaica, Deus se afasta mais das
comunicações diretas com a humanidade, e se manifesta por meio de
instrumentos humanos. Em vez de Deus operar milagres diretamente,
Moisés, Josué, etc., são seus agentes. Assim também em suas
comunicações Ele fala não diretamente, mas por meio de Moisés e seus
sucessores. A teocracia necessitava uma nova forma do dom profético:
Homens divinamente inspirados (teopnêusticos) têm que agir e falar por
Deus, Cabeça da teocracia, como administradores dEle; o dom profético,
pois, agora se une ao cargo profético. Por conseguinte, estes profetas são
profetas que agem, não escrevem. Estes só aparecem nas idades
posteriores desta segunda dispensação. Moisés agia como legislador;
Josué, os juízes e Samuel como profetas executivos; Davi e Salomão
como profetas devocionais. Até em caso dos profetas escritores da última
metade da dispensação mosaica, seu dever primário era o de falar e agir.
Seus escritos tinham referência mais ao uso da dispensação do Novo
Testamento que à sua própria (1Pe_1:12). De modo que até no caso
deles, o caráter da dispensação mosaica era teopnêustico antes que
Prefácio aos Profetas da Restauração (JFB) 3
teológico. A terceira, ou dispensação cristã, é teológica, quer dizer, uma
revelação de Deus por meio de escritos inspirados; 1Pe_4:11; 2Pe_1:16-
21, onde faz contraste entre "os tempos passados" quando "os santos
homens de Deus falaram sendo inspirados do Espírito Santo", com os
nossos tempos, quando "temos a palavra profética mais permanente". De
modo que Deus agora revela sua vontade, não por teofanias diretas como
na primeira dispensação nem por homens inspirados, como na segunda,
mas pela palavra escrita, que vive e permanece para sempre (em
contraste com as inconstantes manifestações de Deus, e com a
descontinuar na vida dos profetas, sob as duas dispensações anteriores
respectivamente, 1Pe_1:23; 2Pe_3:2, 2Pe_3:16). A forma próxima futura
será o retorno das manifestações teofânicas sobre a terra, numa forma
mais perfeita e permanente que na primeira idade (Ap_21:3).
A história do cargo profético sob a dispensação mosaica cai dentro
de três divisões. A primeira termina com a idade de Samuel, e não tem
uma sucessão regular de profetas, estes não fazendo falta, enquanto Deus
mesmo governava o povo sem executivo hereditário. O segundo período
se estende desde Samuel até Uzias, 800 a.C., e é a idade dos profetas de
ação. Samuel reunia em si os três elementos da teocracia, sendo juiz,
sacerdote e profeta. A criação de um rei humano fez com que o cargo
formal de profeta fosse mais necessário como um contrapeso ao rei. De
modo que a idade dos reis é também a idade dos profetas. Mas nesta
altura eles eram mais profetas de ação que escribas. Rumo ao final deste
segundo período, as profecias devocionais e messiânicas de Davi e
Salomão prepararam o caminho para o terceiro período (de 800 a.C. a
400 a.C.), que começou sob Uzias, e que era a idade da profecia escrita.
Neste terceiro período os profetas se voltam do tempo presente ao futuro,
e assim o elemento messiânico chega a ser mais distinto. De modo que
nestes três períodos mais curtos, os grandes rasgos das três grandes
dispensações voltam a aparecer. O primeiro é teofânico; o segundo,
teopnêustico, e o terceiro, teológico. Da mesma maneira as grandes leis
orgânicas do mundo reaparecem em departamentos mais pequenos: a lei
Prefácio aos Profetas da Restauração (JFB) 4
da árvore se desenvolve em formas diminutas na estrutura da folha, e a
curva da órbita do planeta reaparece na linha traçada pela bala de canhão
que foi projetada. (Moore.)
Samuel provavelmente estabeleceu regras que davam forma
permanente à ordem profética; pelo menos em seu tempo ocorre a
primeira menção de "escolas dos profetas". Estas estavam todas perto
uma de outra, e na tribo de Benjamim, em Betel, Gilgal, Ramá e Jericó.
Se tivesse sido o profeta um mero relator de acontecimentos futuros, tais
escolas teriam sido inúteis. Mas ele era também o representante de Deus
para assegurar a devida execução do ritual mosaico em sua pureza; daí
surgiu a necessidade de escolas aonde se estudasse aquela instituição
divinamente ordenada. Muitas vezes Deus escolhia seus profetas dentre
os educados nestas escolas, ainda que nem sempre; como o provam os
casos de Amós (Am_7:14) e Eliseu (1Rs_19:9). O fato de que os homens
mais humildes pudessem ser chamados ao cargo profético, atuava como
obstáculo ao poder hereditário dos reis, e como estímulo para que se
buscassem as qualidades necessárias para tão exaltado cargo. Os Salmos
messiânicos, para o fim do segundo período, formam a transição entre os
profetas de ação e os profetas da palavra, entre os homens que se
ocupavam só com o tempo presente e os que olhavam do presente ao
futuro glorioso.
O terceiro período, o de Uzias até Malaquias, inclui três classes de
profetas: 1. Os das dez tribos; 2. Os dos gentios; 3. Os de Judá.
Naturalmente eles se juntavam ao redor da sede da teocracia em Judá.
Por este motivo os das dez tribos eram na maioria das vezes profetas de
ação. Na segunda classe estão Jonas, Naum e Obadias, os quais eram
testemunhas da autoridade de Deus sobre o mundo gentio, como outros
testificavam da mesma coisa na teocracia. A terceira classe, os de Judá,
têm mais amplitude de visão e um tom mais esperançoso e alegria. Estas
caem sob cinco divisões: 1. Os que moravam em Judá no ponto
culminante de sua grandeza durante seu estado de separação de Israel;
isto é, o século entre o Uzias e Ezequias, anos 800 a 700 a.C., os profetas
Prefácio aos Profetas da Restauração (JFB) 5
Isaías, Joel e Miqueias. 2. O período de decadência de Judá, desde
Manassés a Zedequias; os profetas Sofonias e Habacuque. 3. O
cativeiro: profeta Jeremias. 4. O exílio, quando o futuro era a única
esperança que podia avistar-se; profetas Ezequiel e Daniel, que são
principalmente profetas do futuro. 5. A restauração: período ao qual
pertencem os últimos profetas escritores do Antigo Testamento: Ageu,
Zacarias e Malaquias. João Batista muito depois, pertencia à mesma
dispensação, mas não escreveu nada (Mt_11:9-11); como Elias, João era
profeta de ação e pregação, preparando o caminho para os profetas da
palavra, como João o preparou para a Palavra Encarnada.
Para entender o espírito do ensino de cada profeta é preciso
considerar sua posição histórica e as circunstâncias do tempo. O
cativeiro tinha por propósito extirpar a tendência dos judeus à idolatria, e
restaurar o espírito teocrático que reconhecia a Deus como governante
único, e as instituições mosaicas como sua lei estabelecida por um
tempo, até que viesse o Messias. De modo que os profetas da restauração
são melhor ilustrados mediante uma comparação com as histórias de
Esdras e Neemias, contemporâneos de Malaquias.
Dos três profetas da restauração, dois, Ageu e Zacarias, estão no
princípio do período, e o outro, Malaquias, a seu final. O exílio não foi
uma só deportação do povo, mas sim uma série de deportações que se
estenderam por um século e meio. Igualmente a restauração não foi
completada de uma vez mas em voltas sucessivas estendidas por um
século. Por isto se nota uma diferença de tom entre Ageu e Zacarias no
princípio e de Malaquias no final. A primeira volta se efetuou no
primeiro ano do Ciro, ano 536 a.C.; 42.360 pessoas retornaram sob
Sesbazar ou Zorobabel e Jesua (Esd_2:64). Eles edificaram um altar, e
lançaram os alicerces do templo. Foram interrompidos pelas falsas
representações dos samaritanos, e a obra foi suspensa durante quatorze
anos. A morte do Esmerdis deu oportunidade para renovar a obra, setenta
anos depois da destruição do primeiro templo. Este foi o tempo em que
se levantaram Ageu e Zacarias. Aquele para encorajar à imediata
Prefácio aos Profetas da Restauração (JFB) 6
reedificação do templo e a restauração do ritual mosaico, e este para
ajudar na obra e revelar o grande futuro da teocracia como um estímulo a
obra presente. A impossibilidade de observar o ritual mosaico no
desterro, gerou uma indiferença anti-teocrática a ela entre os jovens que
eram estranhos ao culto de Jerusalém, do qual a nação tinha sido
separada por mais de meio século. Além disso, a vistosa pompa de
Babilônia tendia a fazer com que eles desprezassem os humildes ritos do
culto a Jeová naquele tempo. Por este motivo fazia falta um Ageu e um
Zacarias para que corrigissem estes sentimentos manifestando a
verdadeira glória das instituições teocráticas.
A seguinte grande época da restauração foi a volta de Esdras, no
ano 458 a.C., oitenta anos depois da primeira expedição sob Zorobabel.
Treze anos mais tarde, no ano 445 a.C., veio Neemias para ajudar a
Esdras na grande obra. Agora foi quando se levantou Malaquias para
secundar estas obras, três quartos de século depois de Ageu e Zacarias.
Como a obra deles era a de restauradores, a dele foi a de um
reformador. As propriedades de muitos tinham ficado hipotecadas, e a
depressão das circunstâncias levou a muitos a um espírito cético quanto
ao serviço de Deus. Não só deixaram o culto do templo, mas tomaram
esposas pagãs, para prejuízo de suas esposas judias e desonra de Deus.
Por esta razão, além da correção dos abusos civis e a reedificação do
muro, efetuada pelos esforços de Neemias, fazia falta um reformador
religioso tal como o era Esdras, quem reformou os abusos eclesiásticos,
estabeleceu sinagogas, onde um ensino regular da lei pudesse ser
recebido; restabeleceu a observância do sábado e da Páscoa e a
dignidade do sacerdócio, e gerou uma reverência pela lei escrita, que
mais tarde chegou a ser uma superstição. Malaquias ajudou nesta boa
obra, dando-lhe sua autoridade profética. Quão cabalmente foi efetuada a
obra, prova-se pela mudança completa no caráter nacional. Antes sempre
propensos à idolatria, do cativeiro daí em diante a aborreceram. Antes
amantes do governo monárquico, agora chegaram a ser submissos ao
governo sacerdotal. Antes negligentes da Palavra escrita, agora a
Prefácio aos Profetas da Restauração (JFB) 7
olhavam com uma reverência que às vezes beirava à superstição. Antes
amantes das alianças estrangeiras, depois se apartavam com horror de
todos os estrangeiros. Uma vez amantes da agricultura, agora deveram
ser um povo de comerciantes. De povo volúvel antes, agora chegaram a
ser fanáticos e nacionalmente intolerantes. Desta maneira a restauração
de Babilônia moldou o caráter nacional mais que nenhum acontecimento
desde o êxodo do Egito.
Agora desaparece a distinção entre Judá e as dez tribos. Assim no
Novo Testamento menciona-se as doze tribos (At_26:7; Tg_1:1). O
sentimento teocrático gerado na restauração atraiu a toda a nação
escolhida ao redor do assento da teocracia, metrópole da verdadeira
religião, Jerusalém. Malaquias tendia a fomentar este sentimento; assim
sua profecia, embora dirigida ao povo de Jerusalém, chama-se "a palavra
de Jeová a Israel".
O longo silêncio de profetas desde Malaquias até o tempo do
Messias, era o que se necessitava para despertar na mente judia o desejo
mais ardente por Aquele que tinha que ultrapassar imensamente em
palavra e em obras a todos os profetas, precursores dEle. Os três profetas
da restauração, sendo os últimos do Antigo Testamento, são
especialmente claros em assinalar a Ele, quem, como o grande tema do
Novo Testamento, tinha que cumprir todo o Antigo Testamento.
GÊNESIS
Original em inglês:

GENESIS

The Second Book of Moses, Called Genesis

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Gênesis 1 Gênesis 11 Gênesis 21 Gênesis 31 Gênesis 41


Gênesis 2 Gênesis 12 Gênesis 22 Gênesis 32 Gênesis 42
Gênesis 3 Gênesis 13 Gênesis 23 Gênesis 33 Gênesis 43
Gênesis 4 Gênesis 14 Gênesis 24 Gênesis 34 Gênesis 44
Gênesis 5 Gênesis 15 Gênesis 25 Gênesis 35 Gênesis 45
Gênesis 6 Gênesis 16 Gênesis 26 Gênesis 36 Gênesis 46
Gênesis 7 Gênesis 17 Gênesis 27 Gênesis 37 Gênesis 47
Gênesis 8 Gênesis 18 Gênesis 28 Gênesis 38 Gênesis 48
Gênesis 9 Gênesis 19 Gênesis 29 Gênesis 39 Gênesis 49
Gênesis 10 Gênesis 20 Gênesis 30 Gênesis 40 Gênesis 50
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Gênesis 1

Vv. 1, 2. A CRIAÇÃO DO CÉU E A TERRA.


1. No princípio — um período de antiguidade longínquo e
desconhecido, escondido nas profundidades das idades eternas; e assim
se usa a frase em Pv_8:22-23.
criou — não formou de materiais preexistentes, mas fez do nada.
Deus — o nome do Ser Supremo, que significa em hebraico,
“Forte”, “Poderoso”. É expressivo de poder onipotente; e por seu uso
aqui na forma plural, introduz-se obscuramente no próprio início da
Bíblia, uma doutrina claramente revelada em outras partes da mesma;
quer dizer, que embora Deus seja um, há uma pluralidade de pessoas na
deidade — Pai, Filho e Espírito, que estavam ocupados na obra criadora
(Pv_8:27; Jo_1:3, Jo_1:10; Ef_3:9; Hb_1:2; Jó_26:13).
os céus e a terra — o universo. Este primeiro versículo é uma
introdução geral ao volume inspirado, que declara a grande e importante
verdade de que todas as coisas tiveram seu princípio: que nada por toda a
ampla extensão da Natureza existia da eternidade, nem se originou pela
sorte nem pela perícia de algum agente inferior; mas sim todo o universo
foi produzido pelo poder criador de Deus (At_17:24; Rm_11:36). Depois
deste prefácio, o relato se limita à terra.
2. A terra, porém, estava sem forma e vazia — ou em “confusão
e tolice”, como se traduzem as palavras em Is_34:11, na versão inglesa.
Este globo terrestre, tendo sido convulsionado em algum período
desconhecido, era uma extensão desolada, obscura e alagada, até que,
dentre este estado caótico, surgiu a atual estrutura do mundo.
o Espírito de Deus pairava — literalmente, continuava cobrindo-a,
como faz a ave incubando os ovos. A agência imediata do Espírito,
operando sobre os elementos mortos e discordantes, combinava-os,
resolvia e preparava adaptando-os para ser a cena de uma nova criação.
O relato desta nova criação corretamente começa no final deste segundo
versículo; e os detalhes do processo se descrevem da maneira natural
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 3
como o teria feito um espectador, que via as mudanças que
sucessivamente se efetuavam.

Vv. 3-5. O PRIMEIRO DIA.


3. Disse Deus — Esta frase, que se menciona tão repetidamente no
relato, quer dizer “resolveu, decretou, estabeleceu”; e a vontade
determinante de Deus foi seguida em cada caso por um resultado
imediato. Seja que o sol fosse criado ao mesmo tempo que a terra, ou
muito antes, a densa acumulação de neblinas e vapores que envolvia o
caos, havia coberto nossa esfera com uma escuridão absoluta. Mas pela
ordem de Deus, a luz fez-se visível; as grandes nuvens lôbregas foram
dissipadas, quebradas ou rarefeitas, de modo que a luz se difundiu sobre
a expansão de águas. O efeito se descreve no nome DIA, que em
hebraico significa calor; enquanto que o nome NOITE significa
ENVOLVER. pois a noite envolve todas as coisas num manto obscuro.
4. separação entre a luz e as trevas — refere-se à alternância ou
sucessão da uma à outra, produzida pela rotação diária da terra sobre seu
eixo.
5. tarde e manhã, o primeiro dia — Dia natural, como o
determina claramente a menção de suas duas partes. Moisés calcula,
segundo o uso oriental, de pôr-do-sol a pôr-do-sol, e portanto não diz
“dia e noite” como nós, mas sim “a tarde e a manhã”.

Vv. 6-8. O SEGUNDO DIA.


6. firmamento — coisa estendida à força de golpear, como um
prato de metal; nome dado à atmosfera por sua aparência ao observador
de ser uma abóbada de céu, que sustentava o peso das nuvens aquosas.
Pela criação de uma atmosfera, as partes mais levianas das águas que
cobriam a superfície da terra, foram absorvidas para acima e suspensas
nos céus visíveis, enquanto a massa grande e mais pesada ficava abaixo.
O ar então estava “em meio das águas”, quer dizer, separava-as; e como
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 4
este era o uso aparente do ar, é o único mencionado, ainda que a
atmosfera serve para outros usos, como meio de vida e luz.

Vv. 9-13. O TERCEIRO DIA.


9. Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar — O
mundo tinha que ser uma esfera terráquea, e isto se efetuou por uma
convulsão vulcânica em sua superfície, soerguendo algumas partes, e
afundando outras, e a formação de grandes ocos nos quais as águas se
lançaram impetuosamente, como se descreve tão graficamente.
(Sl_104:6-9). (Hitchcock.) Assim uma boa parte da terra ficou como “a
seca”, e assim também foram formados os oceanos, mares, lagos e rios
que, tendo todos os seus próprios leitos ou canais, estão unidos com o
mar (Jó_38:10; Ec 1:7).
11. Produza a terra — O solo despido se cobriu de vegetação, e é
de notar-se que as árvores, as plantas e as ervas—três divisões do reino
vegetal, aqui mencionadas — não foram chamados à existência da
mesma maneira que a luz e o ar; foi-lhes feito crescer, e cresceram,
assim como ainda crescem dentre a terra — mas não pelo lento processo
da vegetação, mas por poder divino, sem chuva, nem orvalho nem
processo algum de trabalho — brotando e florescendo num só dia.

Vv. 14-19. O QUARTO DIA.


14. Haja luzeiros no firmamento — Estando completamente
purificada a atmosfera, pela primeira vez o sol, a lua e as estrelas foram
revelados em toda a sua glória no céu limpo; são descritos como “no
firmamento”, como aparecem a nossos olhos, embora sabemos que estão
a uma distância enorme da terra.
16. os dois grandes luzeiros — Como o dia se calculava
começando ao pôr do sol, a lua seria primeiro vista no horizonte,
pareceria “um grande luzeiro”, comparada com as pequenas estrelas
cintilantes; ainda que o pálido resplendor dela seria eclipsado pelo
deslumbrante brilho do sol. Quando seu brilhante círculo se levantasse
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 5
de manhã e gradualmente chegasse a sua glória meridiana, pareceria “o
grande luzeiro” que ia senhorear no dia. Estes dois luzeiros, diz-se foram
“feitos” no quarto dia — não criados, pois aqui se usa uma palavra
diferente, mas sim constituídos, destinadas ao importante e necessário
ofício de servir como luzeiros ao mundo, e de regular por seus
movimentos e sua influência o progresso e as divisões do tempo.

Vv. 20-23. O QUINTO DIA. Os sinais da vida animal aparecem nas


águas e no ar.
20. seres viventes — todos os animais ovíparos, entre as criaturas
de barbatanas e as de penas — notáveis por sua rápida e até prodigiosa
multiplicação.
aves — todo animal que voa. A palavra traduzida “seres viventes”,
inclui também os crocodilos, tubarões, etc., de modo que dos
inumeráveis cardumes de peixes até os grandes monstros do mar, do
diminuto inseto até o rei dos pássaros, às águas e ao ar foi posto
repentinamente em abundância criaturas formadas para viver e prosperar
em seus respectivos elementos.

Vv. 24-31. O SEXTO DIA. Neste dia houve mais progresso na


criação de animais terrestres, todas as diferentes espécies dos quais estão
incluídas em três classes — isto é, o gado, herbívoros, capazes de
trabalho e domesticação.
24. animais selváticos — animais silvestres, cuja natureza voraz
foi então refreada, e todas as diferentes forma de
serpentes — todo tipo de répteis até os insignificantes vermes.
26. Chegando agora a última etapa no progresso da criação,
disse Deus: Façamos o homem — palavras que mostram a
peculiar importância da obra que estava para ser feita, a formação de
uma criatura, que tinha que ser o representante de Deus, investida de
autoridade e domínio como visível cabeça e monarca do mundo.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 6
à nossa imagem, conforme a nossa semelhança — Esta é uma
distinção peculiar, cujo valor aparece no fato de que as palavras se
repetem duas vezes. E no que consistia esta imagem de Deus?—não na
forma reta ou vertical ou nas facções do homem, não em sua
inteligência, porque a este respeito o diabo e os anjos são muito
superiores; não em sua imortalidade, porque não tem, como Deus, uma
eternidade passada como uma futura, mas nas disposições morais de sua
alma, usualmente chamadas justiça original (Ec_7:29). Como a nova
criatura não é senão uma restauração desta imagem, a história de uma
lança luz sobre a outra; e somos informados que é renovada segundo a
imagem de Deus em conhecimento, justiça e verdadeira santidade
(Ef_4:24; Cl_3:10).
28. Sede fecundos, etc. — a raça humana em todos os países e em
todas as idades foi a descendência da primeiro casal. De todas as
variedades achadas entre os homens, alguns negros, outros de cor
acobreada como também brancos, as investigações da ciência moderna
chegam à conclusão, todas completamente de acordo com a história
sagrada, de que todos são de uma espécie e de uma família (At_17:26).
Que poder na palavra de Deus! “Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e
tudo passou a existir.” [Sl_33:9] “Que variedade, SENHOR, nas tuas
obras! Todas com sabedoria as fizeste” [Sl_104:24]. Admiramos aquela
sabedoria, não só no progresso regulado da criação mas em sua perfeita
adaptação enfim. Representa-se a Deus como fazendo uma pausa a cada
etapa para contemplar sua obra. Não é maravilha que a contemplasse
com complacência. Cada objeto estava em seu devido lugar, cada
processo vegetal progredia segundo sua estação, todo animal estava em
sua estrutura e instinto ajustado a seu modo de vida, e a seu uso na
economia do mundo. Viu todas as coisas que tinha feito, respondendo ao
plano que sua eterna sabedoria tinha concebido, “E EIS QUE ERA MUITO
BOM” [Gn_1:31].
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 7
Gênesis 2

V. 1. O RELATO DA CRIAÇÃO EM SEIS DIAS,


CONTINUADO. O curso do relato foi inoportunamente interrompido
pela divisão do capítulo.
os céus — o firmamento, ou atmosfera.
exército — Palavra que nas Escrituras refere-se geralmente só aos
céus, mas aqui à terra também, significando tudo o que eles contêm.
foram acabados — a obra consumada. Desde então nenhuma
mudança permanente se fez no curso do mundo; nenhuma espécie de
animais foi formada; nenhuma lei da natureza foi ab-rogada nem
nenhuma acrescentada. Teriam podido ser “acabados” num momento
assim como em seis dias, mas a obra da criação foi gradual para a
instrução do homem, como também, talvez, para a de outras criaturas
(Jó_38:7).

Vv. 2-7. O PRIMEIRO SÁBADO.


2. terminado no dia sétimo a sua obra ... descansou nesse dia —
não para repousar de esgotamento pelo trabalho (veja-se Is_40:28), mas
cessou de trabalhar, dando um exemplo, que equivale a um mandato,
para que nós também suspendamos todo tipo de trabalhos.
3. abençoou Deus o dia sétimo e o santificou. — tornando-o uma
distinção peculiar sobre os outros seis dias, que mostra que foi dedicado
a fins sagrados. A instituição do sábado é tão antiga como a criação,
dando origem à divisão semanal do tempo, a qual prevaleceu nas épocas
mais remotas. É uma lei sábia e benéfica, pois proporciona aquele
intervalo regular de descanso que requer a natureza física do homem e
dos animais empregados em seu serviço, e a inobservância do mesmo
traz em ambos os casos uma decadência prematura. Além disso, se o
descanso foi necessário no estado da inocência primitiva, quanto mais
agora, quando o homem se inclina a esquecer a Deus e suas demandas!
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 8
4. Esta é a gênese dos céus e da terra. — a história ou relato de
sua produção. De onde conseguiu Moisés este relato tão diferente das
ficções pueris e absurdas dos pagãos? Não de uma fonte humana, porque
o homem não existia para poder contemplá-lo; não da luz da natureza e
da razão, porque ainda que elas proclamam o poder e a divindade pelas
coisas que foram feitas, não podem dizer como foram feitas. Ninguém
senão o próprio Criador poderia dar esta informação, e portanto “Pela fé,
entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus”
(Hb_11:3).
5-6. neblina. — veja-se Gn_1:11.
7. Aqui o escritor sagrado nos proporciona mais alguns dados a
respeito da primeiro casal.
formou — Tinha formado o homem do pó da terra. A ciência
provou que a substância de sua carne, tendões e ossos, consiste nos
mesmos elementos do solo que formam a casca da terra e a pedra
calcária que está no interior da terra. Mas daquele material tão ruim, que
admirável estrutura se formou no corpo humano! (Sl_139:14).
fôlego de vida — literalmente, em hebraico, “vidas” — não só a
vida animal mas também a espiritual. Se for admirável o corpo, quanto
mais a alma com todas as suas variadas faculdades!
soprou nas narinas o fôlego de vida — não que o Criador
literalmente executasse esse ato, mas sendo a respiração o meio e o sinal
de vida, usa-se esta frase para mostrar que a vida do homem se originou
de uma maneira diferente da de seu corpo, pois foi implantada
diretamente por Deus (Ec_12:7), e portanto também na nova criação da
alma, Cristo soprou sobre seus discípulos (Jo_20:22).

Vv. 8-17. O JARDIM DO ÉDEN.


8. Éden — foi provavelmente uma região muito extensa na
Mesopotâmia, segundo se crê, distinguida por sua beleza natural e a
riqueza e variedade de seus produtos. Daí seu nome que significa delícia.
Deus plantou um jardim “na direção do Oriente”—um parque extenso,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 9
um paraíso, no qual foi posto o homem para ser ensinado na piedade e
utilidade, sob o cuidado paternal de seu Criador.
9. a árvore da vida — assim chamada por seu caráter simbólico
como sinal e selo da vida imortal. Sua posição proeminente “no meio do
jardim”, onde seria objeto de observação e interesse diários, estava
admiravelmente adaptada para lhes fazer lembrar constantemente a Deus
e o futuro eterno.
árvore do conhecimento do bem e do mal — assim chamado
porque tinha por objeto pôr à prova a obediência por meio da qual nossos
primeiros pais tinham que manifestar se eram bons ou maus, obedientes
a Deus ou rebeldes a seus mandamentos.
15. o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar —
não só para lhe dar um emprego agradável, senão para o pôr à prova, e
como o indica o título do jardim, o jardim de Jeová (Gn_13:10;
Ez_28:13), era com efeito um templo no qual ele adorava a Deus, e se
ocupava diariamente em oferecer os sacrifícios de agradecimento e
louvor.
17. não comerá … morrerá — não se dá nenhuma razão para a
proibição, mas a morte seria o castigo da desobediência. Um mandato
positivo como este, não só era a prova mais singela e mais fácil, mas sim
a única a qual poderia expor-se sua fidelidade.

Vv. 18-25. A CRIAÇÃO DA MULHER, E A INSTITUIÇÃO DO


CASAMENTO.
18. Não é bom que o homem esteja só — No meio da abundância
e os deleites, o homem era consciente de sentimentos que não podia
satisfazer. Para fazê-lo sensível a suas necessidades, Deus criou a
mulher.
19. Deus ... trouxe-os ao homem — nem todos os animais
existentes, mas sim os principais que estavam nas cercanias, e os que
deviam ser úteis.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 10
o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o
nome deles — Seus poderes de percepção e inteligência estavam
sobrenaturalmente aumentados para que conhecesse o caráter, os hábitos
e usos de cada espécie que lhe era trazida.
20. para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que
lhe fosse idônea — O propósito desta cena singular era o de lhe mostrar
que nenhum dos seres viventes que ele via, era de condição igual a ele, e
que enquanto cada espécie tinha seu companheiro da mesma natureza,
forma e hábitos, só ele não tinha companheira. Além disso, ao lhes dar
nomes, ele foi induzido a exercer suas faculdades de fala, e assim
preparar-se para o trato social com sua companheira, criatura ainda a ser
formada.
21. sono — provavelmente um êxtase ou arrebatamento como os
dos profetas, quando tinham visões ou revelações do Senhor, porque
provavelmente toda a cena foi visível aos olhos mentais de Adão, e daí
sua exclamação maravilhosa.
tomou uma das suas costelas — “Ela não foi de uma parte de sua
cabeça para se sobressair a ele, nem de seus pés para ser pisoteada, mas
sim de seu lado para ser igual a ele, e de perto de seu coração para lhe
ser querida.”
mulher — heb. ishshah, proveniente de ish, homem
24. uma só carne — o casal humano se diferenciava de todos os
demais casais, em que, pela formação peculiar de Eva, eram um. Nosso
Senhor apela a esta passagem para provar que o casamento é instituição
divina (Mt_19:4-5; Ef_5:28). Assim, pois, Adão aparece como criatura
formada à imagem de Deus, mostrando seu conhecimento ao dar nomes
aos animais, sua justiça por sua aprovação da relação conjugal, e sua
santidade por seus princípios e sentimentos, achando a satisfação deles
no serviço e a felicidade com Deus.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 11
Gênesis 3

Vv. 1-5. A TENTAÇÃO.


1. serpente — A queda do homem foi efetuada pelas seduções de
uma serpente. Que tenha sido uma serpente verdadeira, é evidente pelo
estilo claro e natural da história, e pelas muitas alusões feitas a ela no
Novo Testamento. Mas a serpente material foi o instrumento ou a
ferramenta de um agente superior, Satanás ou o Diabo, a quem os
escritores sagrados aplicam por este incidente o nome infamante de “a
serpente”, “o antigo dragão” [Ap_20:2]. Embora Moisés não faça
menção deste espírito malévolo — nos deu só a história do mundo
visível — entretanto, nos descobrimentos mais completos do evangelho,
insinua-se claramente que Satanás foi o autor do complô (Jo_8:44;
2Co_11:3; 1Jo_3:8; 1Tm_2:14; Ap_20:2).
mais sagaz que todos — É proverbial a sabedoria das serpentes.
(Mt_10:16). Mas estes répteis eram no princípio, muito superiores em
beleza e sagacidade do que são em seu estado atual.
disse — Não havendo no coração puro do primeiro casal nenhum
princípio de mal sobre o qual agir, uma incitação para pecar não poderia
vir senão de fora, como no caso análogo de Jesus Cristo (Mt_4:3); e
como o tentador não pôde assumir a forma humana, havendo no mundo
só dois seres humanos, Adão e Eva, a agência de uma criatura inferior
tinha que ser empregada. O Dragão-serpente (Bochart) parecia o mais
apto para o vil propósito; e Deus permitiu ao Diabo fazer a prova, tirar
sons invertebrados e claros da boca do animal.
à mulher — o objeto do ataque, devido ao conhecimento que tinha
da fragilidade dela, por ter estado só um curto tempo no mundo, e por
sua limitada experiência das tribos animais, e sobretudo estando ela
sozinha, não protegida pela presença e os conselhos de seu marido.
Embora sem pecado e santa era ela agente livre, propensa a ser tentada e
seduzida.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 12
É assim que Deus disse: ...? — É verdade que Ele os limitou no
uso das frutas deste lugar delicioso? Isto não parece coisa de um ser tão
bom e bondoso. Certamente há algum erro. Insinuou uma dúvida quanto
à opinião dela a respeito da vontade divina, e apareceu como “anjo de
luz” (2Co_11:14), oferecendo conduzi-la à verdadeira interpretação. É
evidente pelo fato de que ela o considerava como enviado especialmente
com aquela mensagem que, em vez de assustar-se de que o réptil falasse,
recebeu-o como mensageiro celestial.
2. Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim
podemos comer — Em sua resposta, Eva elogiou a grande extensão da
liberdade que eles desfrutavam em andar livremente entre todas as
árvores — excetuando uma só — com relação aos quais ela declarou que
não havia nenhuma proibição de tristeza. Mas motivo há para crer que
ela já tinha recebido uma impressão danosa, porque usando as palavras
“para que não morrais” em vez de “certamente morrerás” [Gn_2:17], ela
falou como se pensasse que a árvore tivesse sido proibido porque seu
fruto fosse venenoso. Vendo isto o tentador, fez-se mais atrevido em
suas afirmações.
4. não morrereis — ele procedeu não apenas só a lhe assegurar
uma perfeita impunidade, mas também a prometer grandes benefícios ao
participar dele.
5. se vos abrirão os olhos — Suas palavras significavam mais do
que recebeu o ouvido. Num sentido seus olhos foram abertos; porque
adquiriram uma experiência horrível do “bem e do mal”, da felicidade de
uma condição santa, e da miséria de uma condição pecaminosa. Mas ele
ocultou este resultado a Eva, a qual, entusiasmada por um generoso
desejo de conhecimento, pensou só em elevar-se à posição e aos
privilégios de seu visitante celestial.

Vv. 6-9. A QUEDA.


6. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer — Sua
imaginação e seus sentidos foram completamente vencidos; e a queda de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Eva foi logo seguida pela de Adão. A história de todas as tentações, e de
todo pecado, é a mesma: o objeto exterior de atração, a comoção interior
da mente, o aumento e triunfo do desejo apaixonado; terminando na
degradação, escravidão e ruína da alma (Tg_1:15; 1Jo_2:16).
8. ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim — O
Ser divino apareceu da mesma maneira que antes, emitindo as bem
conhecidas palavras de bondade, caminhando em alguma forma visível –
não correndo com ímpeto, como alguém impelido pela influência de
sentimento de ira. Quão belamente expressivas são estas palavras
referentes à maneira familiar e condescendente em que antes tinha
comunhão com o primeiro casal!
pela viração do dia — na tardinha fresca.
esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua
mulher — Vergonha, remorso, temor, uma sensação de culpa,
sentimentos que até agora tinham sido estranhos a eles, transtornaram
suas mentes, e os levaram a esconder-se dAquele cuja chegada antes
recebiam com alegria. Que estupidez pensar em escapar de Sua
presença! (Sl_139:1-12).

Vv. 10-13. O EXAME.


10. porque estava nu, tive medo — aparentemente uma confissão,
linguagem de pesar; mas evasivo, sem sinais de verdadeira humildade e
penitência; cada um trata de lançar a culpa sobre o outro.
12. A mulher que me deste — Ele culpa a Deus (Calvino). Como a
mulher lhe tinha sido dada como companheira idônea, ele tinha comido
da árvore por amor a ela; e vendo que estava arruinada, ele resolveu não
defendê-la. (M’Knight.)
13. me enganou — enrolou-a com mentiras lisonjeiras. Este pecado
do primeiro casal foi atroz e agravante; não foi simplesmente o ato de
comer uma maçã, mas sim amor de si mesmos, desonra a Deus,
ingratidão a um benfeitor, desobediência ao melhor dos mestres,
preferência da criatura sobre o Criador.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 14
Vv. 14-24. A SENTENÇA.
14. Então, o SENHOR Deus disse à serpente — O juiz pronuncia
um juízo sobre a serpente material, que é amaldiçoada sobre todas as
criaturas; de um modelo de graça e elegância na forma, veio a ser o tipo
de tudo o que é odioso, repugnante e vil (Leclerc, Rosenmuller); ou a
maldição converteu sua condição natural em castigo; agora é assinalada
com infâmia e evitada com horror. Depois sobre a Serpente espiritual, o
sedutor. Já caído, ele tinha que ser degradado ainda mais, e seu poder
totalmente destruído, pela semente dos que ele tinha enganado.
15. a tua descendência — não só os espíritos ímpios, mas também
homens perversos. semente da mulher—o Messias e sua Igreja. (Calvino,
Hengstenberg).
Porei inimizade entre ti e a mulher — Só se pode dizer que Deus
opera assim deixando “à serpente e sua semente à influência de sua
própria corrupção; e aquelas medidas, seguidas para a salvação dos
homens, enchem a Satanás e a seus anjos de inveja e furor.”
tu lhe ferirás o calcanhar — A serpente fere o calcanhar que a
esmaga; e assim Satanás terá permissão de afligir a humanidade de
Cristo, e trazer sofrimento e perseguição sobre seu povo.
Este te ferirá a cabeça — o veneno da serpente está na cabeça; e
uma ferida nessa parte é fatal. Assim, será fatal o golpe que Satanás
receberá de Cristo; mas é provável que ele não entendesse no princípio a
natureza e a magnitude da condenação.
16. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos
da tua gravidez — Ela foi condenada como esposa e mãe, a sofrer dor
do corpo e angústia da mente. De companheira e auxiliar do homem e
partícipe de seu carinho [Gn_2:18, 23], sua condição daí em diante seria
a de humilde sujeição.
17-19. a Adão disse — obrigado a ganhar a vida lavrando a terra;
mas o que antes da queda fazia com facilidade e prazer, não conseguiria
se depois sem esforços penosos e perseverantes.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 15
19. até que tornes à terra — O homem converteu-se em mortal;
embora não morresse no momento em que comeu a fruta proibida, seu
corpo experimentou uma mudança, e aquela mudança o levaria à
dissolução. Tendo sido dissolvida a união entre sua alma e Deus, ficava
exposto a todas as misérias desta vida, e aos sofrimentos do inferno para
sempre. Que lúgubre capítulo é este na história do homem! Dá-nos o
único relato verdadeiro da origem de todos os males físicos e morais que
há neste mundo, enquanto que apóia o caráter moral de Deus; demonstra
que o homem, feito justo, caiu por não poder resistir uma leve tentação; e
fazendo-se culpado e miserável, sumiu a toda sua posteridade no mesmo
abismo (Rm_5:12). Quão assombrosa a graça que naquele momento deu
a promessa de um Salvador; e conferiu sobre aquela que tinha a
ignomínia de introduzir o pecado, a honra futura de introduzir o
Redentor! (1Tm_2:15).
20. deu o homem o nome de Eva a sua mulher — provavelmente
com referência a que ela seria a mãe do Salvador prometido, como
também de toda a humanidade.
21. Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles — Os ensinou a
fazê-las. Isto abrange a instituição do sacrifício de animais, que
certamente era por ordem divina, e a instrução no único modo de culto
aceito para criaturas pecaminosas, pela fé num Redentor. (Hb_9:22).
22. disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como
um de nós — não dito com ironia, como geralmente se supõe, mas com
profunda compaixão. As palavras deveriam traduzir-se: “Eis aqui, o que
chegou a ser o homem que era como um de Nós!” formado no princípio
à nossa imagem, conhecendo o bem e o mal—quão triste sua condição
agora!
Agora para que ele não estenda a mão, e tome também da
árvore da vida (TB) — sendo a árvore uma garantia de vida imortal
com a qual devia premiar-se a obediência, o homem, na queda, perdeu
todo direito à árvore; e portanto, para que não comesse dela, ou se
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 16
fizesse a ilusão de que comendo dela, recuperaria o que tinha perdido, o
Senhor o desterrou do jardim.
24. pôs os querubins — A passagem deveria traduzir-se: “E ele
habitou entre os querubins a leste do jardim de Éden, e um fogo terrível
(ou shekinah) desenvolvendo-se para guardar o caminho da árvore da
vida.” Este era o modo de culto estabelecido agora, para mostrar a ira de
Deus pelo pecado, e ensinar a mediação do Salvador prometido, assim
como o caminho da vida, e também de acesso a Deus. Estas eram as
mesmas figuras que mais tarde estavam no tabernáculo e no templo; e
agora, como então, Deus disse: “do meio dos dois querubins ... falarei
contigo” (Êx_25:22).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 17
Gênesis 4

Vv. 1-26. NASCIMENTO DE CAIM E ABEL.


1. Eva … disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR
— quer dizer: “pela ajuda de Jeová”, expressão de gratidão piedosa, e o
chamou Caim, “uma possessão”, como se o valorizasse sobre todas a
coisas; enquanto que a chegada de outro filho, que lhe lembrou a miséria
que ela havia trazido sobre sua descendência, levou-a a chamá-lo Abel,
“vaidade” (Sl_39:5), ou “pesar” “lamentação”. Caim e Abel eram
provavelmente gêmeos; e se tem crido, neste primeiro período da
humanidade, os filhos nasciam em pares (Gn_5:4). (Calvino.)
2. Abel foi pastor de ovelhas — literalmente, “alimentador de
rebanho”, que nos países orientais, sempre incluíam cabras e ovelhas.
Embora Abel fosse o mais novo, menciona-se primeiro, provavelmente
pela preeminência de seu caráter religioso.
3. no fim de uns tempos — Heb. “no fim de dias”, talvez em dia de
descanso e culto.
trouxe … uma oferta ao SENHOR — Ambos manifestaram pelo
mesmo ato de ofertar, sua fé na existência de Deus e no Seu direito à sua
reverência e culto; e se o tipo de oferta era deixada à iniciativa
individual, nada mais natural que um trouxesse “do fruto da terra” e que
o outro, “das primícias do seu rebanho” [Gn_4:4].
4,5. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo
que de Caim e de sua oferta não se agradou — As palavras “agradou-
se” ou “olhou propício”, significam no hebraico, olhar uma coisa com
olhar penetrante, ansioso; que foram traduzidas “inflamar em fogo” de
modo que a aprovação divina do sacrifício de Abel, viu-se em que foi
consumido no fogo (veja-se Gn_15:17; Jz_13:20).
7. Se procederes bem, não é certo que serás aceito? — Na
margem (versão inglesa), “Não terá você a excelência?” que é o sentido
verdadeiro das palavras, referindo-se ao alto privilégio e à autoridade
pertencentes ao primogênito em tempos patriarcais.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 18
o pecado jaz à porta — pecado, isto é, oferta pelo pecado, senso
comum da palavra nas Escrituras, como em Os_4:8; 2Co_5:21; Hb_9:28.
O intento da divina repreensão é este: “Por que te zangas, como se fosse
tratado injustamente? Se fizeres o bem—se fores inocente e sem pecado,
uma oferta de gratidão teria sido aceita como sinal de sua submissão
como criatura. Mas como não fazes o bem, isto é, és pecador, uma oferta
pelo pecado é necessária, e ao trazê-la terias achado aceitação, e
conservado as honras de primogênito”. A linguagem indica que tinham
sido dadas instruções prévias quanto ao modo de adorar. Abel ofereceu
pela fé (Hb_11:4).
a ti cumpre dominá-lo — A alta distinção conferida pela
prioridade de nascimento está descrita em Gn_27:29; e foi a convicção
de Caim de que esta honra lhe tinha sido tirado pela rejeição de seu
sacrifício, e conferida sobre seu irmão. Daí a secreta chama de ciúme,
que se acendeu e chegou a ser um ódio obstinado, e terrível vingança.
8. falou Caim com o seu irmão Abel (RC) — Sob pretexto de uma
familiaridade fraternal, escondeu Caim seu propósito premeditado, até
que houvesse o tempo e o lugar convenientes para o homicídio
(1Jo_3:12; Jd_1:11).
9. Não sei — uma mentira. Um pecado conduz a outro.
10. A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim —
Caim, para acalmar suspeitas, provavelmente tinha estado ocupando-se
nas solenidades da religião, onde foi desafiado diretamente dentre a
visível manifestação de Deus.
11. És agora, pois, maldito por sobre a terra — Uma maldição
acrescentada além da maldição geral por causa do pecado do Adam.
12. fugitivo e errante — condenado a exílio perpétuo, banido,
degradado, miserável vítima de uma consciência acusadora.
13. disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já
não posso suportá-lo — Que sentido entristecedor de miséria! Mas não
há sinal de arrependimento nem clamor por perdão.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 19
14. quem comigo se encontrar me matará — Isto mostra que a
população do mundo já tinha aumentado grandemente.
15. qualquer que matar a Caim — Por um ato especial de divina
paciência, a vida de Caim foi perdoada no então pequeno estado da raça
humana.
pôs ... um sinal em Caim — não uma marca visível, ou sinal feito
com fogo em sua fronte, mas sim um sinal ou garantia de que sua vida
seria respeitada. Alguns pensam que o sinal seria uma ferocidade
selvagem no aspecto, que o tornava objeto de horror universal e que pelo
mesmo seria evitado por todos.
16. Retirou-se Caim da presença do SENHOR — do lugar
estabelecido para o culto. Deixando-o, Caim não só se separou de todos
os seus parentes, mas abandonou as ordenanças da religião,
provavelmente rejeitando todo temor de Deus, de modo que a última
condição deste homem seria pior que a primeira. (Mt_12:45).
terra de Node — “terra de fuga ou desterro”, que alguns supõem
que era a Arábia Pétrea, que foi amaldiçoada com esterilidade por causa
dele.

Vv. 17-22. edificou uma cidade — foi nas cidades onde a raça
humana obteve sempre o maior progresso social; e vários dos
descendentes de Caim se distinguiram por seu talento criativo nas artes.
19. Lameque tomou para si duas esposas — Esta é a primeira
transgressão da lei do casamento na história, e a prática da poligamia,
como todas as transgressões das instituições de Deus, foi fonte de
corrupção e miséria.
23, 24. disse Lameque às suas esposas — Este discurso está em
forma poética, provavelmente é um fragmento de um poema, irradiado
até o tempo de Moisés. Parece indicar que Lameque tinha dado morte a
um homem em defesa própria, e o propósito era o de assegurar a suas
esposas, segundo a preservação de Caim, que um homicida sem
intenção, como ele o era, não poderia estar em perigo.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 20
26. daí se começou a invocar o nome do SENHOR — O povo de
Deus, provavelmente um nome dado em zombaria pelos mundanos.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 21
Gênesis 5

Vv. 1-32. GENEALOGIA DOS PATRIARCAS.


1. livro da genealogia —Veja-se Gn_11:4.
Adão — usado aqui ou como o nome próprio do primeiro homem,
ou da raça humana em geral.
5. Viveu Adão — O aspecto mais chamativo deste catálogo é a
longevidade da Adão e seus descendentes imediatos. Dez são
enumerados em sucessão direta cujas vidas em muito excederam os
limites comuns que conhecemos nós, sendo a vida mais curta de 365
anos [Gn_5:23], e a mais longa de 930 anos [Gn_5:27]. É inútil
perguntar que causas secundárias teriam contribuído a esta prolongada
longevidade — talvez um físico vigoroso, a natureza de sua alimentação,
a temperatura e salubridade do clima; ou, finalmente, como esta lista
inclui só os verdadeiros adoradores de Deus—se sua longa idade se
deveria ao melhor governo de suas paixões e ao curso tranquilo e
pacífico de sua vida. Como não podemos ter evidência satisfatória sobre
estes pontos, é sensato relacionar o assunto à soberana vontade de Deus.
Podemos, entretanto, traçar algumas das causas importantes devido às
quais isto era útil na anterior economia da Providência. Foi o meio
principal de perpetuar o conhecimento de Deus, das grandes verdades da
religião, como também a influência da piedade genuína. De modo que,
como seu conhecimento era obtido pela tradição oral, eles estariam em
situação de conservá-lo na maior pureza.
21. Enoque … gerou a Metusalém — Este nome significa “Ele
morre e envia”, de modo que Enoque o deu como profético do dilúvio.
Calcula-se que Matusalém morreu no ano da grande catástrofe.
24. Andou Enoque com Deus — Uma frase comum no oriente que
significa trato constante e familiar.
já não era, porque Deus o tomou para si — Em Hb_11:5 nos é
dito que foi trasladado ao céu — um grande milagre, que tinha por
motivo efetuar o que os meios comuns de ensino não tinham obtido, dar
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 22
uma prova evidente a uma era de incredulidade quase universal, de que
as doutrinas que ele tinha ensinado (Jd_1:14-15), eram verdadeiras, e de
que sua dedicação à causa de Deus e da justiça no meio da oposição, era
agradável à mente de Deus.
26. Lameque — pessoa distinta da que se menciona no capítulo
anterior. Como seu tocaio, entretanto, este também falou em forma
poética por ocasião do nascimento de Noé — isto é, “descanso” ou
“consolo”. “A alusão, sem dúvida, faz referência às consequências
penais da queda nos afãs e sofrimentos terrestres, e a esperança de um
Libertador, inspirada pela promessa a Eva. Que esta expectativa se
fundou numa comunicação divina, inferimo-lo pela importância a ela
dada e a confiança de sua expressão” (Peter Smith).
32. Era Noé da idade de quinhentos anos e gerou — Que ele e
outros patriarcas fossem de idade avançada, antes que lhes nascessem
filhos, é uma dificuldade explicada provavelmente pela circunstância de
que Moisés aqui não faz constar seus filhos nascidos antes, mas sim só
aos que formam a sucessão desde Adão por meio de Sete até Abraão.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Gênesis 6

Vv. 1-22. A MALDADE DO MUNDO.


2. vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram
formosas — Os primeiros são os descendentes da família de Sete, que
eram religiosos por profissão; as segundas são da família de Caim, o
apóstata. Casamentos mistos, entre pessoas de princípios e práticas
opostos eram necessariamente fontes de grande corrupção. As mulheres,
sendo irreligiosas, como esposas e mães exerceriam uma influência fatal
à existência da religião em suas casas, e por conseguinte o povo daquela
época posterior se afundou até a mais abjeta depravação.
3. carne (TB) — totalmente viciada e sem esperança.
Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para
sempre no homem — Cristo, como Deus, por seu Espírito que inspirava
a Enoque, a Noé e talvez a outros profetas (1Pe_3:20; 2Pe_2:5; Jd_1:14),
tinha pregado o arrependimento aos antediluvianos; mas eles foram
incorrigíveis.
e os seus dias serão cento e vinte anos — É provável que a
corrupção do mundo, que agora tinha chegado a seu topo, teria estado
aumentando por longo tempo e gradualmente, e esta ideia acha apoio na
longa trégua concedida.
4. gigantes — a palavra em hebraico dá a entender nem tanto a
ideia de grande estatura como a de ferocidade desenfreada, seres ímpios
e atrevidos, que estendiam a destruição e mortandade por toda parte.
5, 6. Viu o SENHOR … se arrependeu … lhe pesou — Deus não
pode mudar (Ml_3:6; Tg_1:17); mas, para adaptar a linguagem à nossa
natureza e experiência, Ele é descrito como se estivesse prestes a mudar
Seu visível proceder para com a humanidade; e de misericordioso e
paciente, fosse transformar-se num Deus de juízo; e, como aquela raça
ímpia tinha enchido a medida de suas iniquidades, Ele estava prestes a
fazer uma terrível demonstração de Sua justiça (Ec_8:11).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 24
8. Porém Noé achou graça diante do SENHOR — Que terrível
estado de coisas quando um só homem ou uma família piedosa e virtuosa
existia entre os que professavam ser filhos de Deus!
9. Noé foi um homem justo e perfeito (TB) — não absolutamente;
porque da queda do Adam, nenhum homem esteve livre do pecado,
exceto Jesus Cristo. Mas como vivia pela fé, era justo (Gl_3:2; Hb_11:7)
e perfeito — isto é, sincero em seu desejo de fazer a vontade de Deus.
11. A terra estava ... cheia de violência. — Em ausência de algum
governo bem organizado, é fácil imaginar-se quantos males haveria. Os
homens faziam o que lhes parecia bem a seus próprios olhos e, não
havendo nenhum temor de Deus, abundavam a destruição e a miséria.
13. Disse Deus a Noé — Quão alarmante seria o anúncio da
destruição ameaçada? Não havia nenhuma manifestação visível dela. O
curso da natureza e da experiência parecia contrário à probabilidade de
que ocorresse. A opinião pública zombaria de semelhante anúncio. Todo
mundo se juntaria contra Noé. Entretanto, persuadido de que a
comunicação vinha de Deus, pela fé (Hb_11:7) começou a preparar os
meios para salvar-se a si mesmo e a sua família da calamidade
ameaçadora.
14. Faze uma arca — arca, enorme caixa (Êx_2:3).
de tábuas de cipreste — Provavelmente de madeira de cipreste,
famosa por sua durabilidade, e abundante nas montanhas de Armênia.
compartimentos — camarotes, pequenas celas.
a calafetarás com betume por dentro e por fora — breu mineral,
asfalto, ou alguma substância betuminosa que, estendida sobre a
superfície e endurecida, a tornaria impermeável.
15. Deste modo a farás — Segundo a descrição a arca não era um
casco de navio, mas sim uma casa imensa da forma e estrutura das casas
no Oriente, destinada não para navegar, mas sim só para flutuar. Como o
côvado equivalia a 446 milímetros, a arca seria de 133.8 metros de
comprimento; 22,8 de largura com 13,38 de altura — três vezes o
comprimento de um couraçado da marinha britânica.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 25
16. Uma abertura — provavelmente uma clarabóia no teto, feita
de algum material transparente.
de um côvado de altura — indicação de levantar o teto no centro,
aparentemente para formar um declive para fazer correr a água de cima.
17-22. Eu vou trazer o dilúvio de águas (TB) — A repetição do
anúncio para estabelecer sua certeza (Gn_41:32). Seja qual for a opinião
que se tenha a respeito da operação de leis e agências naturais no dilúvio,
foi trazido pela palavra de Deus como castigo pela enorme maldade dos
habitantes.
18. Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança — uma
promessa especial de livramento, para o convencer da confiança que se
devia pôr nEle. A substância e os termos da aliança constam em
Gn_6:19-21.
22. Assim fez Noé — Ele começou sem demora a preparar a obra
colossal, e em cada passo de seu progresso seguia fielmente as direções
divinas que tinha recebido.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 26
Gênesis 7

Vv. 1-24. A ENTRADA NA ARCA.


1. Disse o SENHOR a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa
— A arca já estava terminada; e agora, com o espírito de uma fé
implícita, que tinha influenciado em toda sua conduta, Noé esperava
ordens de Deus.
2, 3. De todo animal limpo … das aves — casais de toda espécie
de animais, exceto os habitantes dos mares, tinham que ser tomados para
a conservação de suas respectivas classes. Esta foi a regra geral de
admissão; mas quanto aos animais que se chamavam “limpos”, foram
tomados três pares, tanto de animais como de aves; e a razão foi que sua
rápida multiplicação era assunto de suma importância, quando a terra
fosse renovada devido a sua utilidade como artigos de alimento ou para o
serviço do homem. Mas para que era o sétimo indivíduo de cada classe?
Evidentemente estava reservado para o sacrifício; de modo que durante a
estada de Noé na arca, e depois de sua volta à terra seca, foi feita
provisão para celebrar os ritos do culto segundo a religião do homem
caído. Noé não deixou para trás sua religião, como muitos. Fez provisão
para ela durante sua prolongada viagem.
4. daqui a sete dias — Uma semana para que o mundo se
arrependesse! Que pausa solene! Continuariam ridicularizando e rindo-se
da loucura de Noé? Aquele cujos olhos viram e cujo coração sentiu a
medida completa da iniquidade e da perversidade humana, nos contou de
seu desprezo temerário (Lc_17:27).
9. entraram para Noé, na arca, de dois em dois — Sem dúvida
eram guiados por um impulso divino. O número não foi tão grande como
à primeira vista se imaginaria. Calculou-se que não há mais de trezentas
espécies distintas de animais e aves, e que as inumeráveis variedades
quanto ao tamanho, forma e cor, devem-se à influência do clima e outras
circunstâncias.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 27
16. e o SENHOR fechou a porta — Literalmente, “cobriu-lhe ao
redor”. Este ato de encerrá-lo deu a entender que este homem tinha vindo
a ser objeto de Deus, e que para os de fora a época da graça tinha
terminado. (Mt_25:10).
17. cresceram as águas e levantaram a arca — Parece que foi
levantada tão gradualmente que, talvez, quase não foi perceptível o
movimento aos que ocupavam a arca.
20. Quinze côvados acima deles … os montes foram cobertos —
uns sete metros acima dos montes mais altos. Esta linguagem não é
consequente com a teoria de um dilúvio parcial.
21. Morreram todos os seres … aves ... animais domésticos ...
animais selvagens (NTLH) — foi um princípio uniforme no proceder
divino que, quando os juízos de Deus se executam no mundo, ficam
incluídas todas as coisas associadas com os que provocaram Sua ira
(Gn_19:25; Êx_9:6). Além disso, agora que a raça humana estava
reduzida a uma só família, era necessário que os animais fossem
proporcionalmente reduzidos, pois de outra maneira por seu grande
número eles teriam adquirido a preponderância e dominado aos poucos
que tinham que repovoar a terra. Assim a bondade estava mesclada com
a severidade; o Senhor exerce juízos em sabedoria, e na ira se lembra da
misericórdia.
24. cento e cinquenta dias — Um período de cinco meses. Embora
fazia muito que toda criatura vivente teria desaparecido, tão longa
continuação do dilúvio tinha por propósito mostrar o profundo desagrado
de Deus pelo pecado e os pecadores. Pensemos em Noé durante tal crise.
Sabemos (Ez_14:14) que ele era homem que vivia e respirava
habitualmente numa atmosfera de devoção; e havendo no exercício desta
elevada fé feito de Deus o seu refúgio, não temia “ainda que as águas
tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam”
[Sl_46:3].
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 28
Gênesis 8

Vv. 1-14. A DIMINUIÇÃO DAS ÁGUAS.


1. Lembrou-se Deus de Noé — Se cumpriu o propósito divino
nesta terrível dispensação, e o mundo tinha sofrido aquelas mudanças
necessárias que o preparavam para ser a residência do homem sob uma
nova economia da Providência.
de todos os animais … na arca — Bela ilustração de Mt_10:29.
Deus fez soprar um vento sobre a terra — Ainda que a divina
vontade teria podido secar a massa líquida num instante, emprega-se a
agência de um vento (Sl_104:4), provavelmente um vento quente, o qual,
pela evaporação rápida, voltaria a absorver uma das águas na atmosfera;
e pela qual a restante seria gradualmente secada ao infiltrar-se sob a
terra.
4. sétimo mês — sétimo do ano, e não do dilúvio, o qual durou só
cinco meses.
repousou — evidentemente indicando um movimento quieto e
suave.
sobre as montanhas de Ararate — A montanha onde a tradição
diz que repousou a arca, agora chama-se Ara Dagh, montanha do dedo.
A cúpula consta de dois picos, o mais alto dos quais chega a 5.679
metros sobre o nível do mar, e o outro a 4.294 metros.
5. as águas foram minguando — O decréscimo das águas foi por
motivos sábios, extremamente lento e gradual, sendo o período de
baixada quase dobro do da ascensão.
6. Ao cabo de quarenta dias — É fácil imaginar o ardente anseio
que sentiriam Noé e sua família, de desfrutar novamente da vista da terra
como também de respirar ar fresco; mas era completamente compatível
com a fé e a paciência, fazer averiguações quanto a se a terra estava já
preparada para eles.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 29
7. e soltou um corvo — O aroma da carniça o atrairia a ficar, se a
terra estava já em estado habitável. Mas seguiu revoando pelo lugar, e,
sendo ave solitária, provavelmente deveu posar sobre coberta.
8-11. Depois, soltou uma pomba — Ave que voa baixo e tem
tendência de voltar ao lugar de seu domicílio.
10. de novo soltou a pomba — Seu voo, julgando pelo tempo que
esteve fora prosseguiu a grande distancia, e a folha de oliveira que trouxe
em seu pico, talvez por algum impulso sobrenatural, dava prova de que
os picos dos montes já estavam livres.
12. enviou a pomba; porém ela não voltou mais para ele (TB) —
Nestes resultados, percebemos uma sabedoria e prudência muito
superiores à inspiração do instinto; discernimos a influência de Deus que
guiava todos os movimentos desta ave, para o ensino de Noé e para
avivar as esperanças da família.
mais sete dias — uma forte presunção de que Noé observava o
sábado durante sua estada na arca.
13, 14. Noé removeu a cobertura da arca — talvez só o suficiente
para lhe proporcionar uma vista da terra em redor. Ainda por quase dois
meses, não se moveu de sua morada, enquanto não recebesse a
permissão expressa da parte de Deus. Nós devemos esperar que a direção
da Providência divina guie cada passo de nossa jornada.

Vv. 15-22. A SAÍDA DA ARCA.


15, 16. disse Deus a Noé: Sai da arca — Saíram da maneira mais
ordenada: primeiro os seres humanos, e logo os animais de toda carne
(v. 17), literalmente, “segundo suas famílias” [v. 19], indicando que
tinham aumentado na arca.
20. Levantou Noé um altar ao SENHOR — literalmente, “um
lugar alto”, talvez um montão de terra, sobre o qual se ofereceu um
sacrifício. É extremamente interessante e belo saber que o primeiro
cuidado deste devoto patriarca era o de dar graças por esta assinalada
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 30
prova de misericórdia e bondade que ele e sua família tinham
experimentado.
e, tomando de animais limpos e de aves limpas — Por tão grande
libertação, um reconhecimento especial era necessário.
21. o SENHOR aspirou o suave cheiro — O sacrifício devotado
pela fé de um justo como Noé, foi aceito como o incenso mais fragrante.
disse (o Senhor) consigo mesmo — isto é: “jurei que as águas de
Noé não mais inundariam a terra” (Is_54:9).
porque — quer dizer, “embora o pensamento seja perverso” em
vez de infligir outro dilúvio destruidor, Eu os perdoarei, para que
desfrutem das bênçãos da graça, por meio do Salvador.
22. Enquanto durar a terra — A consumação sugerida em
2Pe_3:7, não viola a promessa que era válida só durante a continuação
daquele sistema. Não haverá dilúvio entre este dia e aquele, quando a
terra será consumida por fogo (Chalmers).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 31
Gênesis 9

Vv. 1-7. A ALIANÇA.


1. Abençoou Deus a Noé — Aqui se apregoa de novo a lei da
natureza que foi anunciada a Adão, consistindo, como originalmente, em
várias partes.
Sede fecundos, etc. — Esta primeira parte refere-se à transmissão
da vida, sendo anunciada de novo a bênção original nas mesmas palavras
em que tinha sido prometida no princípio [Gn_1:28].
2. Pavor e medo de vós virão — a segunda parte estabelece
novamente o domínio do homem sobre os animais inferiores: mas agora
se funda não como no princípio no amor e na bondade, mas no temor:
este temor do homem prevalece tanto entre os membros fortes como nos
fracos das tribos animais, e afasta de suas habitações a todos menos
aqueles empregados em seu serviço.
3. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento — A terça
parte tem que ver com os meios de sustento de vida. Pela primeira vez,
como parece, foi permitido ao homem o uso de alimento animal, a carne,
mas foi concedido com uma restrição.
4. Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não
comereis. — A única intenção desta proibição foi prevenir aqueles
excessos de ferocidade, de canibalismo consistente em comer a carne de
animais vivos, ao qual eram propensos os homens nas primeiras épocas
da terra.
5. Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da vossa
vida — A quarta parte estabelece um novo poder para proteger a vida. A
instituição de magistrados civis (Rm_13:4), armados de autoridade
pública e oficial para reprimir a comissão da violência e do crime. Tal
poder não tinha existido na sociedade patriarcal.
6. Se alguém derramar o sangue do homem … porque Deus fez
o homem segundo a sua imagem — É verdade que aquela imagem foi
obscurecida pela queda, mas não se perdeu. Em vista disto, a vida de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 32
cada homem tem um alto valor, até a do mais pobre e mais humilde, e na
destruição desta vida se envolve uma terrível criminalidade.

Vv. 8-29. O ARCO-ÍRIS.


13. porei nas nuvens o meu arco — Colocado, ou constituído.
Este fenômeno comum e familiar é a promessa de paz, e sua aparição
quando começam as chuvas, seria recebida com os mais vivos
sentimentos de alegria.
20. Noé … plantou uma vinha (RC) — Noé tinha sido criado
provavelmente no cultivo da terra, e começou de novo aquele trabalho ao
sair da arca.
21. Bebendo do vinho, embriagou-se — Talvez nas festividades
da colheita de uvas. Esta única mancha no caráter de um homem tão
eminentemente piedoso, seria, crê-se, o resultado de sua ancianidade ou
da inadvertência.
24. Este incidente sucederia escassamente como vinte anos depois
do dilúvio; porque Canaã, cuja conduta foi mais ofensiva até que a de
seu pai, nasceu depois. É provável que haja um longo intervalo incluído
entre estes versículos, e que esta profecia, como a de Jacó sobre seus
filhos, não fosse pronunciada senão até perto do fim da vida de Noé,
quando o espírito profético chegou a ele; esta presunção acha apoio no
fato de que se menciona sua morte imediatamente depois.
25. Maldito seja Canaã — Esta maldição se cumpriu na destruição
dos cananeus, na degradação do Egito, e na escravidão dos africanos,
todos descendentes de Cam.
26. Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem — antes, “Bendito de
Jeová, meu Deus, seja Sem”, uma insinuação de que os descendentes de
Sem seriam particularmente honrados no serviço do verdadeiro Deus,
sendo estabelecida entre eles (os judeus) por séculos, sua igreja, e deles
veio Cristo, segundo a carne. Eles tomaram posse de Canaã, e os
habitantes daquela terra foram feitos suas servos ou por conquista, ou,
como os gibeonitas, por submissão [Js_9:25].
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 33
27. Engrandeça Deus a Jafé — significando um vasto aumento em
descendência e posses. Com efeito, seus descendentes foram os mais
ativos e empreendedores, estenderam-se sobre as porções melhores e
maiores do mundo, em toda a Europa e uma parte considerável da Ásia.
habite ele nas tendas de Sem — Está sendo cumprida esta profecia
hoje em dia; assim na Índia está estabelecido o governo britânico, e estão
os anglo-saxões no poder da Europa até a Índia, e da Índia sobre todo o
continente americano. Que profecia tão maravilhosa em poucos
versículos (Is_46:10; 1Pe_1:25)!
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 34
Gênesis 10

Vv. 1-32 GENEALOGIAS.


1. filhos de Noé — O historiador não resolveu este catálogo
segundo a ordem dos nascimentos; porque o relato começa com os
descendentes de Jafé, e a linhagem de Cam vem antes da de Sem, ainda
que se diga expressamente que aquele era o filho mais novo de Noé; e
Sem era irmão mais velho de Jafé (Gn_10:21), a verdadeira interpretação
dessa passagem.
gerações, etc. — o relato do estabelecimento das nações existentes
no tempo de Moisés, talvez só as principais; porque ainda que a lista
inclua os filhos de Sem, Cam e Jafé, todos os seus descendentes não são
enumerados. Aqueles descendentes, com uma ou duas exceções, são
descritos por nomes indicativos de tribos ou nações, com a terminação
no hebraico im (que indica o plural).
5. as ilhas das nações — frase pela qual os hebreus descreviam
todos os países que eram acessíveis por mar (Is_11:11; Is_20:6;
Jr_25:22). Tais eram com relação a eles os países da Europa, a península
da Ásia Menor e a região de além do Mar Negro. Então, era nestas partes
onde os primeiros descendentes de Jafé se assentaram.
6. filhos de Cam — emigraram rumo ao sul, e suas colônias eram:
a de Cuxe na Arábia, a de Canaã no país conhecido por seu nome (em
Palestina), e a de Mizraim no Egito. Crê-se geralmente que Cam
acompanhou a Mizraim, e pessoalmente dirigiu a colonização, de onde o
Egito chama-se “a terra de Cam” [Sl_105:23, Sl_105:27; Sl_106:22].
8. Ninrode — menciona-se como sobressalente de toda sua família
em renome. Logo se distinguiu por suas valentes e atrevidas proezas em
caçar animais ferozes. Por estes serviços úteis se granjeou o direito à
gratidão pública; e, tendo estabelecido uma influência permanente sobre
o povo, fundou a primeira cidade do mundo [Gn_10:10].
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 35
10. O princípio do seu reino foi Babel — Este reino,
naturalmente, naquele então considerado grande, seria comparativamente
limitado em extensão, e as cidades eram só pequenas fortalezas.
11. Daquela terra saiu ele para a Assíria — ou, como está à
margem de algumas bíblias: “Ele (Ninrode) à cabeça de seu exército saiu
para a Assíria”; quer dizer, para levar lá seus conquista.
e edificou Nínive — diante da cidade de Mosul, sobre o rio Tigre, e
outras cidades próximas. Esta expedição a Assíria, foi uma invasão aos
territórios de Sem, e daí o nome “Ninrode” que significa “rebelde”, se
pensa que foi conferido por causa de sua atrevida rebelião contra a
divina distribuição.
21. A Sem — O historiador o introduz com assinalada distinção
como “pai de todos os filhos de Héber”, o antepassado dos hebreus.
23. Arã — Na divisão geral da terra, os países de Armênia,
Mesopotâmia e Síria couberam a seus descendentes.
24. Arfaxade — A colonização de seus descendentes foi no
extenso vale do Sinar, sobre o Tigre, rumo à parte sul de Mesopotâmia,
incluindo o país de Éden e a região a leste do rio.
25. Pelegue, porquanto em seus dias se repartiu a terra —
Depois do dilúvio (Gn_11:10-16) os descendentes de Noé se localizaram
a seu bel-prazer e desfrutavam do produto do terreno inteiro. Mas
segundo instrução divina, dada talvez por meio de Héber, quem parece
haver-se distinguido por sua piedade e caráter profético, a terra foi
dividida, e o nome de seu filho “Pelegue” foi dado em comemoração do
acontecimento. Veja-se Dt_32:8; At_17:26.
32. São estas as famílias dos filhos de Noé, segundo as suas
gerações, nas suas nações — Esta divisão foi feita da maneira mais
organizada; e o historiador inspirado evidentemente insinua que os filhos
de Noé foram distribuídos segundo suas nações, e cada nação segundo
suas famílias, de modo que cada nação tinha seu território assinalado, e
em cada nação as tribos, e em cada tribo, as famílias estabeleciam-se por
si mesmas.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Gênesis 11

Vv. 1-32. A CONFUSÃO DE LÍNGUAS.


1. toda a terra tinha uma só linguagem (TB) — Os descendentes
de Noé, unidos pelo forte vínculo de um idioma comum, não se tinham
separado, e apesar do mandato divino de “encher a terra”, estavam com
má disposição a separar-se. Os mais piedosos e bem dispostos,
naturalmente, obedeceriam a vontade divina; mas o corpo numeroso,
aparentemente a horda agressiva mencionada (Gn_10:10), resolveram
agradar-se a si mesmos, ocupando a região mais bela a que tinham
chegado.
2. terra de Sinar — o vale fértil, regado pelos rios Eufrates e
Tigre, foi escolhido como o centro de sua união e sede de seu poder.
3. tijolos — como não há pedra nessa região, o tijolo era e é o único
material usado para edificar, como se vê no montão de ruínas no Birs
Nimroud, que pode ter sido a mesma cidade fundada por aqueles antigos
rebeldes. Alguns dos tijolos foram secados ao sol, outros queimados em
fornos e são de diferentes cores.
betume — mineral natural abundante na Mesopotâmia, que
endurecido forma um cimento forte, usualmente empregado na Assíria
hoje em dia, e forma a mescla achada nos tijolos queimados antigamente.
4. uma torre cujo tope chegue até aos céus — expressão
figurativa comum de grande altura (Dt_1:28; Dt_9:1-6).
para que não sejamos espalhados — edificar uma cidade e uma
torre não era um crime; mas fazê-lo para frustrar os conselhos de Deus
para impedir a emigração, era insensato, ímpio e justamente ofensivo a
Deus.
6. não haverá restrição para tudo que intentam fazer —
declaração aparente de que o propósito era viável, e se teria levado a
cabo, se não tivesse sido pela interposição divina.
7. confundamos ali a sua linguagem — literalmente, “seu lábio”;
era um defeito na pronúncia, dando origem a uma diferença em dialeto,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 37
que era inteligível só aos da mesma tribo. Com tanta facilidade foi
frustrado seu propósito por Deus, e foram obrigados à dispersão que eles
mesmos se confabularam para prevenir. É somente pelas Escrituras que
aprendemos a verdadeira origem das diferentes nações e idiomas no
mundo. Pelo milagre das línguas os homens foram espalhados, e
gradualmente se afastaram da verdadeira religião. Por outro milagre as
barreiras nacionais foram derrubadas, para que todos os homens
pudessem ser trazidos de novo a Deus.
28. Ur (agora Orfa) — ou seja, luz, fogo. Seu nome talvez se
derivou do fato de ser dedicada aos ritos do culto ao fogo. Tera e sua
família estavam igualmente contagiados por aquela idolatria como os
outros habitantes (Js_24:15).
31. Sarai seu nora — a mesma Isca [Gn_11:29], neta de Tera,
provavelmente de uma segunda esposa, e segundo costumes primitivos
considerada pronta para o casamento com seu tio Abraão.
foram até Harã — viagem de dois dias de Ur (Orfa) em direção
sul-sudoeste, caminho direito ao vau do rio Eufrates em Rakka, rota mais
próxima e conveniente a Palestina.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 38
Gênesis 12

Vv. 1-20. A CHAMADA DE ABRAÃO.


1. disse o SENHOR a Abrão — Agradou a Deus, quem muitas
vezes foi achado pelos que não O buscam, revelar-se a Abrão talvez por
um milagre. A conversão de Abrão é uma das mais notáveis na história
bíblica.
Sai da tua terra — Provavelmente ele tinha chegado ao
conhecimento e culto do verdadeiro Deus muito tempo antes. Esta
chamada inclui duas promessas: primeiro, que lhe mostraria a terra de
sua futura descendência; e segundo, que em sua posteridade toda a terra
seria bendita (Gn_12:2). Abrão obedeceu, e este ato é frequentemente
mencionado no Novo Testamento como um caso de fé extraordinária
(Hb_11:8).
5. Partiram para a terra de Canaã; e lá chegaram — com sua
esposa e seu sobrinho órfão chegaram a seu destino com toda segurança,
e assim foi cumprida a primeira promessa.
6. até Siquém — ou Sequem, um vale pastoril naquele então
desocupado (Gn_33:18).
até ao carvalho de Moré — antes, leia-se “árvore terebinto” de
Moré, muito comum na Palestina, notável por sua larga ramagem e sua
folhagem verde escura. É provável que em Moré houvesse um bosque
destas árvores, cuja bela sombra levou a Abrão a escolhê-lo para seu
acampamento.
7. Darei à tua descendência esta terra — Deus estava tratando
com Abrão não meramente em sua capacidade pessoal e particular mas
com um olhar dirigido aos interesses mais altos e mais importantes nos
séculos vindouros. Aquela terra deviam ocupá-la seus descendentes
durante séculos como um povo peculiar; as sementes do conhecimento
divino deviam ser ali semeadas para benefício de toda a humanidade; e
considerada em sua situação geográfica, foi escolhida aquela terra com
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 39
sabedoria divina como a mais própria de todas as terras para servir de
berço a uma revelação divina destinada para todo o mundo.
Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR — Por este solene ato
de devoção Abrão fez profissão pública de sua religião, estabeleceu o
culto ao verdadeiro Deus, e declarou sua fé na promessa.
10. Havia fome naquela terra; desceu, pois, Abrão ao Egito —
não retornou ao lugar de seu nascimento, como se lhe tivesse pesado sua
peregrinação e desprezasse a terra prometida, mas se retirou por um
tempo a um país vizinho (Hb_11:15).

Vv. 11-13. A tez de Sarai, sendo que ela vinha de um país


montanhoso, seria fresca e lisa comparada com o rosto pálido das
mulheres egípcias. O conselho que Abrão lhe deu, era verdadeiro quanto
às palavras, mas foi uma estratagema proposta para dar a impressão de
que ela não era mais que uma irmã dele. Sua conduta foi culpada e
inconsequente com seu caráter de servo de Deus; indicava uma
confiança em astúcias mundanas mais que fé na promessa de Deus, e
nisto não só pecou ele mas também tentou a Sarai a pecar.

14. Tendo Abrão entrado no Egito — Parece, segundo os


monumentos daquele país, que já no tempo da visita de Abrão, existia
uma monarquia desde alguns séculos. A sede do governo estava no
Delta, a parte mais setentrional do país, a mesma parte aonde Abrão
tinha que chegar. Era uma raça de reis pastores, em estreita aliança com
os habitantes de Canaã.
15. e a mulher foi levada para a casa de Faraó — Os reis
orientais por muitos séculos reclamaram o privilégio de levar a seu
harém qualquer mulher solteira de quem gostassem. O pai ou irmão
poderá lamentar tal ato como uma calamidade, mas nunca se faz
resistência nem se discute o suposto direito real.
16. Este, por causa dela, tratou bem a Abrão — Os obséquios
eram precisamente os que um chefe pastoril faria a outro.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 40
18-20. Aqui há uma reprimenda humilhante, e Abrão a merecia. Se
Deus não se houvesse interposto, Abrão teria podido sentir a tentação de
ficar no Egito, e esquecido a promessa (Sl_105:13, Sl_105:15). Ainda
Deus repreende com frequência a seu povo, e lhe faz lembrar por meio
de seus inimigos que este mundo não é seu descanso.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 41
Gênesis 13

Vv. 1-18. A VOLTA DO EGITO.


1. Saiu, pois, Abrão do Egito para o Neguebe — Sendo a
Palestina um país montanhoso, a entrada do Egito pela fronteira
meridional é uma ascensão contínua.
2. Era Abrão muito rico — comparado com as tribos pastoris a
que pertencia. Um xeque árabe se considera rico, se tiver cem ou
duzentas carpas; de sessenta a cem camelos, mil ovelhas e cabras
respectivamente. E sendo Abrão “muito rico”, excederia em muito
aquela quantidade de propriedade pastoril. Como a “prata e ouro” são
escassos entre essa gente, a quantidade que tinha Abrão, talvez tinha
provindo da venda de fazenda no Egito.
3. Fez as suas jornadas — seu progresso seria a marchas lentas e
acampamentos frequentes, pois tinha que governar seus movimentos pela
perspectiva de água e lugar de pastagem.
até o lugar … entre Betel e Ai — “uma costa sobressalente—sua
cúpula mais alta descansa sobre pendentes penhascos mais abaixo, e
distingue-se por seus bosques de oliveiras—que oferecia uma base
natural para o altar e sombra adequada para a tenda do patriarca”.
(Stanley.)
4. e aí Abrão invocou o nome do SENHOR — Sentiu um desejo
forte de reanimar sua fé e piedade mais que na cena do culto anterior;
pode ser que para expressar sua humildade e arrependimento por sua má
conduta no Egito, ou sua gratidão por sua libertação dos perigos, e para
aproveitar a primeira oportunidade, ao voltar para a Palestina, levar a sua
família a renovar a aliança com Deus e oferecer os sacrifícios típicos que
assinalavam para as bênçãos da promessa.
7. Houve contenda — O caráter de Abrão aparece aqui a uma luz
mais amável. Tendo um firme sentido da religião, temia fazer algo que
pudesse danificar seu caráter e trazer desonra sobre seu nome.
Corretamente julgou que essas más consequências se produziriam, se
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 42
chegassem a uma desavença duas pessoas às quais a natureza e a graça
tinham unido tão estreitamente [Gn_13:8]. Renunciando a seu direito de
decidir, deu a Ló a liberdade de escolha. A conduta de Abrão não só foi
desinteressada e pacífica mas sim generosa e condescendente em grau
extraordinário, exemplificando os preceitos das Escrituras (Mt_6:32;
Rm_12:10-11; Fp_2:4).
10. Levantou Ló os olhos — os viajantes dizem que da cúpula
desta colina, um pouco “ao oriente de Betel” [Gn_12:8], podem ver o
Jordão, as largas pradarias em cada ribeira, e uma ondulante linha verde
que assinala o curso do rio.
11. Então, Ló escolheu para si toda a campina — Uma escolha
excelente de um ponto de vista terrestre, mas inconveniente para os
melhores interesses de Ló. Ainda que homem bom, parece ter estado
muito sob a influência de um espírito egoísta e avarento. Quantos,
infelizmente, fazem perigar a bem de suas almas pela perspectiva de
vantagens terrestres!
14, 15. Ergue os olhos … toda essa terra que vês — Uma vista
tão extensa do país, por todos os lados, não se pode ter de outro ponto na
vizinhança; e aquelas planícies e colinas, naquela época despovoados
perante os olhos do patriarca, tinham que ser habitados por uma
poderosa nação “como o pó da terra em número”, como com efeito o
eram no tempo de Salomão (1Rs_4:20).
18. nos carvalhais de Manre … onde edificou um altar — A
renovação da promessa foi reconhecida por Abrão com um novo tributo
de gratidão.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 43
Gênesis 14

Vv. 24. UMA GUERRA.


1. Sucedeu — Este capítulo apresenta a Abrão no caráter
imprevisto de guerreiro. A ocasião foi esta: O rei de Sodoma e os reis
das cidades vizinhas, depois de terem sido tributários do rei de Elão,
uniram-se para libertar-se do seu jugo. Para castigar sua rebelião, como
ele considerava, Quedorlaomer, com a ajuda de três aliados, invadiu o
território dos príncipes rebeldes, derrotou-os numa batalha campal, onde
a natureza do terreno favoreceu a seu exército (Gn_14:10), e se apressou
a voltar em triunfo, com uma grande quantidade de cativos e despojos.
12. Tomaram também a Ló … e dos seus bens e partiram —
Como agora a consciência daquele jovem reprovaria o seu egoísmo e
ingratidão por se separar de seu parente tão bondoso e pio! Sempre que
nos desviamos da caminho do dever, afastamo-nos da proteção de Deus,
e não podemos esperar que a escolha que fazemos, seja para nosso bem
permanente.
13. veio um, que escapara — Abrão teria podido desculpar-se de
fazer algo a favor de seu “irmão”, ou seja, sobrinho, quem pouco
merecia que seu tio corresse dificuldades e perigos por causa dele. Mas
Abrão, longe de devolver mal por mal, resolveu tomar medidas
imediatas para o resgate de Ló.
14. Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair
trezentos e dezoito homens ... nascidos em sua casa — escravos
domésticos, que são comuns em países orientais ainda, e são
considerados e tratados como membros da família. Se Abrão pôde levar
trezentos e dezoito escravos e deixar número suficiente para cuidar dos
rebanhos, quão grande era o seu acampamento!
15, 16. repartidos contra eles de noite — Esta guerra entre os
pequenos príncipes da antiga Canaã, é exatamente igual às refregas e
escaramuças entre os xeques árabes de hoje em dia. Quando a parte
derrotada resolve perseguir o inimigo, espera até que todos estejam
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 44
dormindo, então, como não põem sentinelas, lançam-se em cima vindo
de todas as partes, e derrubam as tendas. Se há briga, é uma contenda
desorganizada. Usualmente segue uma desordem, e toda a contenda
termina com poucas perdas ou nenhuma de ambas as partes.
18. Melquisedeque — Esta vitória conferiu um benefício público
para aquela parte do país; e Abrão, ao voltar, foi tratado com alto
respeito e consideração, especialmente pelo rei de Sodoma e
Melquisedeque, quem parece ter sido um dos poucos príncipes nativos,
se não o único, que conhecia e adorava ao “Deus Altíssimo”, a quem
Abrão servia. Este rei, que era um tipo do Salvador (Hb_7:1), deveu
abençoar a Deus pela vitória que tinha sido ganha, e em nome de Deus a
abençoar a Abrão, por cujas armas foi obtida—um reconhecimento
piedoso que nós deveríamos imitar ao ter êxito em qualquer empresa
legítima.
20. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo — Aqui há uma evidência
da piedade de Abrão como também de seu valor; porque foi a um
sacerdote ou mediador oficial entre Deus e ele, a quem Abrão deu a
décima parte dos despojos, sinal de sua gratidão e em honra da divina
ordenança (Pv_3:9).
21. Então, disse o rei de Sodoma … Dá-me as pessoas —
Segundo os costumes de guerra ainda existentes entre as tribos árabes,
Abrão teria podido reter todos os bens resgatados, e este direito foi
reconhecido pelo rei de Sodoma. Mas com sincera dignidade e
generosidade desconhecida naquela parte do mundo, ele respondeu com
frases comuns no Oriente: “Levanto a mão” (isto é, faço juramento) “ao
SENHOR ... e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um
fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a
Abrão” [Gn_14:22-23].
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 45
Gênesis 15

Vv. 1-21. UM ESTÍMULO DIVINO.


1. Depois destes acontecimentos — a conquista dos reis invasores.
veio a palavra do SENHOR a Abrão — frase usada, quando vai
acompanhada de uma visão, para assinalar uma mensagem profética.
Não temas, Abrão — Quando terminou a excitação pela empresa,
possivelmente chegou a ser presa do desalento e o terror pensando na
possível vingança que se estaria meditando contra ele. Para dissipar seu
temor, foi favorecido por este anúncio tão favorável. Tendo tal promessa,
que bem lhe convinha, e a todo o povo de Deus que tem a mesma
promessa, desfazer-se de seus temores e lançar suas cargas sobre o
Senhor! (Sl_27:3).
2, 3. SENHOR Deus, que me haverás de dar …? — Em sua
mente a declaração: “Eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo
grande” [Gn_15:1] não tinha senão um sentido, ou era considerado sob
um só aspecto referente ao cumprimento da promessa, e ainda ele estava
experimentando o desalento da esperança diferida.
é o damasceno Eliézer?… um servo nascido na minha casa será
o meu herdeiro — Segundo o costume das tribos nômades, o servo
confidente, principal, seria herdeiro das posses e dos honras. Mas este
homem teria podido chegar a ser filho só por adoção; mas quão
tristemente afastado teria ficado isto das esperanças de paternidade que
Deus lhe tinha animado a acariciar! Sua linguagem revelou um espírito
latente de mau humor, ou talvez uma decadência momentânea da mesma
virtude pela qual ele é tão renomado – uma submissão absoluta aos
planos de Deus como também a sua maneira de cumprir sua promessa.
4. Não será esse o teu herdeiro — Nenhuma resposta foi dada à
primeira parte de seu discurso; mas tendo renovado sua pergunta com
um espírito de submissão mais conveniente, “no que conhecerei que a
devo herdar?”, ele teve a satisfação de receber uma promessa mais
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 46
categórica quanto à Canaã, promessa que foi imediatamente confirmada
por uma cerimônia notável.
9-21. Toma-me uma novilha, etc. — Em ocasiões de grande
importância, quando duas ou mais pessoas se unem num compromisso,
ou observam exatamente os mesmos ritos que Abrão observou, ou se
não, invocam a lâmpada como sua testemunha. Segundo estas ideias, que
desde tempo imemorial estão gravadas na mente do povo oriental, o
Senhor mesmo condescendeu em entrar numa aliança com Abrão. Não
houve sacrifício de por meio, e o motivo foi que nesta transação ele não
se obrigou a nada. Ele pediu um sinal, e Deus teve prazer em dá-lo a ele,
pelo qual, segundo as ideias orientais, ficava obrigado. Da mesma
maneira Deus entrou numa aliança conosco; e na glória de seu Filho
unigênito, quem se interpôs entre Deus e nós, todos os que creem, como
Abraão, têm um sinal e garantia no dom do Espírito, pelo qual eles
podem saber que herdarão a Canaã celestial.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 47
Gênesis 16

Vv. 1-16. A ENTREGA DE AGAR.


1. Sarai … tinha uma serva egípcia (TB) — escrava, uma das
compradas no Egito.
3. Sarai … deu-a por mulher a Abrão, seu marido — “mulher”
usa-se aqui para descrever uma relação inferior, ainda que não
degradante, em países onde prevalece a poligamia. No caso destas
escravas, que são propriedade pessoal da esposa, se são compradas antes
de seu casamento ou lhe são dadas como obséquio especial a ela,
nenhuma pode vir a ser a esposa secundária do marido sem o
consentimento ou permissão da senhora. Este costume parece ter existido
em tempos patriarcais; e Agar, a escrava do Sarai, da qual ela tinha
inteiro direito de dispor, foi dada pelo oferecimento espontâneo de sua
senhora, para ser a mulher secundária de Abrão, na esperança de
conseguir o herdeiro por longo tempo esperado. Mas foi um passo
errado, que indicava uma falta de confiança singela em Deus, e Sarai foi
primeira em colher os amargos frutos de seu erro.
5. E disse Sarai a Abrão: Me injuriam por tua causa (Versão
Jünemann) — Arrebatamentos de ira, ou golpes, como o original pode
indicar, sucederam-se, até que enfim, percebendo Agar a situação
desesperadora de manter a contenda desigual, resolveu escapar do que
para ela tinha vindo a ser, na realidade como seu nome o indica, uma
casa de escravidão.
7. o Anjo do SENHOR a encontrou no deserto, perto de uma
fonte (NTLH) — Este poço, assinalado pela tradição, estava ao lado do
caminho das caravanas, em meio do Sur, um deserto arenoso a oeste da
Arábia Pétrea, com uma extensão de 241 quilômetros, entre Palestina e
Egito. Por ter tomado este caminho, parece que ela pensava retornar a
seus familiares no Egito. Nada mais que o orgulho, a paixão e a teimosia
poderiam ter levado uma pessoa sozinha a enfrentar os perigos de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 48
semelhante ermo inóspito; e ela teria morrido, se não a tivessem
chamado à reflexão e ao dever a aparição e as palavras do anjo.
11. Ismael — Como outros nomes hebreus, este tinha seu
significado, e se forma de duas palavras – “Deus ouve”. A razão se
explica.
12. Ele será, entre os homens, como um jumento selvagem —
literalmente, “asno montês, homem”, expressando que a rusticidade do
Ismael e seus descendentes se pareceriam com a dos asnos monteses.
a sua mão se levantará contra todos — descritivo do caráter rude,
turbulento e saqueador dos árabes.
habitará fronteiro a todos os seus irmãos — habitará, levantará
sua tenda. O sentido é que eles manterão sua independência apesar de
todas as tentativas de destruí-los ou subjugá-los.
13. Então, ela invocou o nome — comum em tempos antigos o
nomear os lugares pelas circunstâncias; e o nome dado a este poço foi
em reconhecimento e gratidão da benévola aparição de Deus na hora de
sua aflição.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 49
Gênesis 17

Vv. 1-27. A RENOVAÇÃO DA ALIANÇA.


1. Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos —
Treze anos depois do nascimento do Ismael [Gn_16:16]. Durante aquele
intervalo ele tinha desfrutado dos consolos da comunhão com Deus, mas
não tinha sido favorecido com nenhuma revelação especial como antes,
talvez por causa de seu apressado e culpado casamento com Agar.
apareceu-lhe o SENHOR — alguma manifestação visível da
presença divina, provavelmente a shekiná ou glória radiante de
resplendor subjugador.
Eu sou o Deus Todo-poderoso — o nome pelo qual se dava a
conhecer os patriarcas (Êx_6:3), designado para expressar o sentido de
todo-suficiente” (Sal_16:5-6; Sal_73:25).
anda na minha presença e sê perfeito — reto, sincero (Sal_51:6)
de coração, palavra e conduta.
3. Abrão prostrou-se com o rosto em terra (TB) — atitude da
mais profunda reverência assumida pelo povo oriental. Consiste em que
o corpo prostrado descanse sobre as mãos e joelhos, com o rosto
inclinado até tocar a terra. É uma expressão de humildade consciente e
reverência profunda.
4. Eu faço com você esta aliança (NTLH) — faz-se nova menção
da aliança como base da comunicação que segue. É a aliança da graça
feita com todos os que creem no Salvador.
5. Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão — Em países
orientais uma mudança do nome é o anúncio de alguma circunstância
nova na história, posição ou religião do indivíduo que o leva. Faz-se a
mudança de várias maneiras: às vezes abandonando por completo o
velho nome pelo novo; ou combinando o velho com o novo; ou algumas
vezes se introduzem umas poucas letras, de modo que a forma mudada
expresse a diferença no estado ou perspectiva do dono. É surpreendente
a rapidez com que um novo nome chega a conhecer-se e se espalha pelo
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 50
país o significado da mudança. Ao tratar com Abraão e Sarai, Deus
sentiu prazer em ajustar seu modo de proceder às ideias e costumes do
país e da idade. Em lugar de Abrão “pai alto” tinha que chamar-se
Abraão “pai de multidão de nações” (Ap_2:17).
8. Dar-te-ei … a terra — Anteriormente tinha sido prometida a
Abraão e sua posteridade (Gn_15:18). Aqui lhe é prometido como
“herança perpétua”, era portanto tipo do céu, “uma pátria melhor”
(Hb_11:16).
10. todo macho entre vós será circuncidado — Esta é o sinal da
Igreja do Antigo Testamento como o batismo o é no Novo, e portanto
chama-se a “aliança da circuncisão” (At_7:8; Rm_4:11). Os termos da
aliança eram estes: de um lado Abraão e seus descendentes tinham que
observar o rito da circuncisão; e do outro, Deus prometia como resultado
de tal observância, lhes dar Canaã como possessão perpétua, ser Deus
para ele e a sua posteridade, e que nele e seus descendentes seriam
benditas todas as nações.
15, 16. A Sarai … dela te darei um filho — Os propósitos de
Deus gradualmente se dão a conhecer. Fazia tempo que tinha sido
prometido um filho a Abraão. Agora, finalmente, se lhe informa que será
um filho de Sarai.
17. se prostrou Abraão, rosto em terra, e se riu — Não é a risada
burlesca de incredulidade, mas sim um sorriso de alegria perante a
probabilidade do acontecimento (Rm_4:20).
18. Tomara que viva Ismael diante de ti — a solicitude natural de
um pai. Mas os pensamentos de Deus não são como os pensamentos do
homem [Is_55:8].
19, 20. As bênçãos da aliança estavam reservadas para Isaque, mas
bênçãos comuns foram prometidas em abundância a Ismael; e ainda que
a igreja visível não descendeu de sua família, entretanto, pessoalmente
ele poderia desfrutar de seus benefícios, e é de esperar-se que
efetivamente tenha desfrutado deles.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 51
Gênesis 18

Vv. 1-8. ELE HOSPEDA A ANJOS.


1. Apareceu o SENHOR a Abraão — outra manifestação da
presença divina, mais familiar que qualquer outra relatada até agora;
mais parecida com a que houve no cumprimento dos tempos, quando o
Verbo se fez carne.
carvalhais de Manre — antes, terebinto ou carvalho de Manre –
uma árvore alta e frondosa, ou uma arvoredo.
assentado à entrada da tenda — como a tenda é sufocante e
calorosa ao meio-dia, geralmente se busca a parte junto à porta onde há
sombra e possibilidade de circulação de ar.
2. Levantou ele os olhos, olhou, e eis três homens — Os viajantes
naquela parte do mundo empreendem suas viagens à saída do sol, e
caminham até meio-dia, hora em que buscam algum lugar de descanso.
correu … ao seu encontro — Quando o visitante é uma pessoa
comum, o dono da casa simplesmente se levanta; mas se for pessoa de
posição superior, o costume é avançar um pouco na direção do estranho,
e depois de uma profunda reverência, voltar-se e conduzi-lo à tenda,
pondo um braço ao redor de sua cintura, ou lhe dando palmadas no
ombro, enquanto caminham, para lhe assegurar cordiais boas-vindas.
3. Senhor meu, se tenho achado graça nos teus olhos (TB) — A
hospitalidade oferecida é justamente a mais adequada e agradável, e mais
grata, sendo a primeira coisa observada ainda, pelo povo pastoril de
Hebrom, a água refrescante para os pés expostos ao calor e ao pó pelo
uso das sandálias.
5. visto que chegastes até vosso servo — Não lhes fez pergunta
alguma. Mas Abraão conheceu seu propósito pelo caminho que
tomaram, aproximando-se diretamente em frente da tenda do xeque, a
qual sempre se distingue das demais, e mostrando assim seu desejo de
ser hospedados.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 52
6. Apressou-se, pois, Abraão para a tenda de Sara … Amassa
depressa três medidas de flor de farinha e faze pão assado ao
borralho — O pão se faz diariamente, e só a quantidade necessária para
a família, e o fazem sempre as mulheres, usualmente, a esposa. É um
processo curto. A farinha se mescla com água para formar a massa, que
se resolve em tortas. Estas ficam num forno de terra previamente
esquentado pelo fogo. Tirando o fogo, colocam-se as tortas no solo do
forno e cobertas pelas brasas, logo se cozem, e se comem imediatamente.
7. Abraão, por sua vez, correu ao gado, tomou um novilho. —
Alimento animal nunca se provê exceto para pessoas de posição
superior, quando se carneia um cordeiro ou cabrito. Um novilho é uma
amostra ainda mais alta de hospitalidade, e provavelmente seria
cozinhado, como quando há pressa, assado íntegro ou cortado em
pedacinhos postos em assadeiras sobre o fogo. Come-se sempre com
grão cozido boiando em gordura derretida em que também se põe cada
bocado de carne posto num pedaço de pão, antes de levá-lo à boca.
8. leite — um tigela de leite de camela completa o refrigério.
permaneceu de pé junto a eles debaixo da árvore — O anfitrião,
ainda que tenha suficientes serventes, considera um indispensável ato de
cortesia, ficar em pé enquanto seus visitantes comem, e Abraão fez isto,
evidentemente, antes de notar o verdadeiro caráter dos visitantes.

Vv. 9-15. REPREENSÃO A SARA. Uma pergunta a respeito de


sua esposa, coisa muito surpreendente de parte de estranhos, foi o tema
da conversação assim como o cumprimento, dentro de um tempo
especificado, da promessa há muito tempo acariciada; isto mostrou a
Abraão que estava hospedando a pessoas que eram mais que viajantes
comuns (Hb_13:2).
10. Sara o estava escutando, à porta da tenda, atrás dele — O
compartimento das mulheres está na parte traseira da carpa, dividido por
um tabique delgado do dos homens.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 53
12. Riu-se, pois, Sara no seu íntimo — A longa demora parece
que tinha debilitado sua fé. Sara tomou como incrível o anúncio, e
quando foi reprovada por sua risada silenciosa, ela acrescentou a mentira
à sua desconfiança. Isto agravou a ofensa (At_5:4), e só a graça a salvou
(Rm_9:13).

Vv. 16-22. REVELAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DE SODOMA.


16. levantaram-se aqueles varões … Abraão ia com eles (RC) —
é costume que o anfitrião acompanhe a seus visitantes um curto trecho.
17. Disse o SENHOR: Ocultarei a Abraão …? — o Senhor dos
visitantes, o próprio Deus, revelou a Abraão o terrível juízo que estava
por ser infligido sobre Sodoma e outras cidades da planície por causa de
sua enorme maldade.
21. Descerei e verei — linguagem usada segundo a maneira dos
homens. Estas cidades seriam exemplos para todas as idades futuras
sobre a severidade de Deus; e portanto é dada uma ampla prova de que o
juízo não foi nem temerário nem excessivo (Ez_18:23; Jr_18:7).

Vv. 23-33. A INTERCESSÃO DE ABRAÃO.


23. Chegando-se Abraão, disse (TB) — A cena descrita está cheia
de interesse e instrução, pois demonstra de uma maneira inequívoca a
eficácia da oração e intercessão. (Veja-se também Pv_15:8; Tg_5:16).
Abraão raciocinou justamente a respeito da retidão do proceder divino
(Rm_3:5-6), e muitas cidades ímpias e nações foram perdoadas por
causa do povo de Deus (Mt_5:13; Mt_24:22).
33. Logo que acabou de falar com Abraão, Jeová foi embora e
Abraão voltou para seu lugar — Por que deixou Abraão de levar mais
adiante sua intercessão? Ou, porque creu estar seguro de que as cidades
seriam salvas (Lc_13:9); ou porque o Senhor impedisse que seguisse
intercedendo (Jr_7:16; Jr_11:14). Mas não havia ali “dez justos”. Houve
um só, e ele poderia ter perecido sem injustiça na ruína geral (Ec_9:2).
Mas às vezes se faz uma diferença, e é nesta ocasião que a graça de Deus
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 54
foi manifestada de uma maneira notável por amor de Abraão. Que
bênção é a de estar relacionado com um santo de Deus!
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 55
Gênesis 19

Vv. 1-38. LÓ HOSPEDA.


1. vieram os dois anjos — mais provavelmente dois dos que
tinham estado com Abraão, comissionados para executar o juízo divino
contra Sodoma.
estava Ló assentado à porta de Sodoma (RC) — Nas cidades do
Oriente este lugar é o mercado, sede de justiça, de trato social e
entretenimento, favorito lugar de descanso preferido especialmente à
tardinha, como é o arco do pórtico, dá boa sombra.
2. vinde para a casa do vosso servo, pernoitai nela —
oferecimento da mesma generosa hospitalidade que se descreve em
Gn_18:2-8, e que ainda se pratica espontaneamente nas cidades
pequenas.
Responderam eles: Não; passaremos a noite na praça — Onde
não há hospedarias nem há conhecidos, é frequente que os viajantes
durmam na rua envoltos em seus mantos.
3. entraram em casa dele — Ao ir viver na planície, Ló pensou
primeiro viver em sua tenda além do povo [Gn_13:12]. Mas
gradualmente foi atraído, habitou na cidade, e sua família se relacionou
com os residentes pelos laços matrimoniais.
4. os homens daquela cidade cercaram a casa — Nisto se veem
provas espantosas de sua maldade. É evidente que “as más companhias
tinham corrompido os bons costumes”, pois de outra maneira, Ló não se
teria conduzido como se conduziu.
12, 13. Tens aqui alguém mais dos teus? … vamos destruir este
lugar — A autoridade apostólica declarou “homem justo” a Ló
(2Pe_2:8); no fundo, bom, embora se contentasse em lamentar os
pecados que via, em vez de agir segundo as suas convicções e retirar-se
com sua família de tal centro de corrupção. Mas foi favorecido; e até
seus parentes corrompidos tiveram por amor dele, um oferecimento de
libertação, o qual foi ridicularizado e rejeitado (2Pe_3:4).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 56
15-17. O interesse bondoso que tomaram os anjos na preservação
de Ló, é demonstrado de maneira bela. Mas Ló se demorava (v. 16). Foi
pela tristeza em face da perspectiva de perder todas as suas propriedades
adquiridas durante muitos anos? ou foi que seu coração generoso ficou
paralisado pelos pensamentos da terrível crise? Esta é uma maneira
caridosa de explicar uma demora que lhe teria sido fatal, se não tivesse
sido pela bondosa insistência e a urgência do anjo.
18, 19. Respondeu-lhes Ló: Assim não, Senhor meu! … não
posso escapar no monte — Que estranha falta de fé e fortaleza!, como
se aquele que tinha intervindo para seu resgate, não o teria protegido nas
solidões da montanha.
21. Quanto a isso, estou de acordo — Seu petição foi concedida,
prevaleceu a oração de fé, e para convencê-lo, por experiência própria,
de que teria sido melhor e mais seguro seguir implicitamente certamente
as advertências divinas.
22. Apressa-te … pois nada posso fazer, enquanto não tiveres
chegado lá — A ruína de Sodoma foi suspensa até que ele esteve
seguro. O cuidado que Deus tem de seu povo (Ap_7:3)—que prova do
amor de Deus para um homem bom ainda que fraco!
24. Então, fez o SENHOR chover enxofre e fogo — Ao levar a
cabo seus propósitos, Deus opera imediata ou mediatamente por Seus
agentes; e há poderosos motivos para crer que foi por este método como
Ele efetuou a destruição das cidades da planície; que foi com efeito, por
meio de uma ação vulcânica. O ato de chover fogo e enxofre do céu
concorda perfeitamente com a ideia, pois estas mesmas substâncias,
levantadas ao ar pela força do vulcão, cairiam numa chuva ardente sobre
a região circundante. Parece que esta opinião foi sustentada por Jó
[Jó_1:16; Jó_18:15]. Se foi produzido milagrosamente ou por meios
naturais empregados por Deus, não é de muita importância determiná-lo;
pois foi um juízo divino, predito e designado para o castigo daqueles
grandes pecadores.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 57
26. Ló foi acompanhado por sua esposa e duas filhas. Mas se foi
por uma curiosidade irresistível, ou por perturbação de seus sentidos, ou
se estava para voltar para salvar algo, sua esposa se deteve, e enquanto
assim desobedecia o conselho final do anjo de “não olhes para trás, nem
pares em toda a campina” [Gn_19:17], a corrente de lava líquida a
envolveu, de sorte que ela deveu ser vítima de sua supina indolência ou
de uma ousadia temerária.
27. Tendo-se levantado Abraão de madrugada, etc. — Abraão
vivia naquele então no Manre, perto de Hebrom, e faz tempo um viajante
verificou a verdade desta passagem. “Da altura que olha para Hebrom,
onde estava em pé o patriarca, o observador hoje em dia tem uma vista
extensa diante de si na direção do Mar Morto. Uma nuvem de fumaça
subindo da planície seria visível a uma pessoa em Hebrom hoje, e
portanto pôde ser vista por Abraão, quando ele olhou em volta de
Sodoma na manhã de sua destruição por Deus.” (Hackett.) Deve ter sido
uma vista horrível, a qual se faz frequente alusão nas Escrituras
(Dt_29:23; Is_13:19; Jd_1:7). “A planície agora coberta pelo Mar Morto,
ou Mar Salgado, mostra na grande diferença de nível entre o fundo da
parte norte e a parte sul do lago – sendo o desta 3 metros e daquela 415
metros – que a parte sul era de formação recente, e foi inundada por
ocasião da ruína das cidades.” (Lynch.)
29. Quando Deus destruiu as cidades (TB). — Este incidente é
mais grato e instrutivo depois de um relato tão doloroso. Mostra-nos que
enquanto Deus é um “fogo consumidor” para os ímpios [Dt_4:24;
Hb_12:29], é amigo dos justos. “Lembrou-se” das intercessões de
Abraão, e quanta confiança isto deveria nos dar a nós em que Ele Se
lembrará das intercessões de um maior que Abraão a nosso favor.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 58
Gênesis 20

VV. 1-18. ABRAÃO NEGA A SUA ESPOSA.


1. Partindo Abraão dali ... habitou entre Cades e Sur —
Deixando o acampamento, dirigiu-se à fronteira sul de Canaã. Na
vizinhança de Gerar havia terra de pastoreio, rica e bem regada.
2. Disse Abraão de Sara, sua mulher: Ela é minha irmã — O
temor às pessoas entre quem se achava, o tentou a mentir. Sua conduta
foi grandemente culpada. Foi um engano, deliberado e premeditado; não
houve nenhuma pressão repentina sobre ele; foi a segunda falta deste
tipo [veja-se Gn_12:13]; de qualquer maneira foi um ato surpreendente
de desconfiança em Deus e capaz de produzir efeitos desastrosos entre os
pagãos vizinhos, cujas tendências perversas não demoraram para
manifestar-se.
Abimeleque … enviou e tomou a Sara (TB) — para fazê-la uma
de suas esposas. Em exercício de um privilégio reclamado pelos
soberanos orientais, já explicado (veja-se Gn_12:19).
3. Deus, porém, veio a Abimeleque em sonhos — Em tempos
primitivos, os sonhos eram com frequência o meio de comunicar
verdades importantes; e este método foi usado para a preservação de
Sara.
9. Então, chamou Abimeleque a Abraão e lhe disse: Que é isso
que nos fizeste? — Em que humilhante perplexidade aparece o patriarca
agora! Ele, um servo do Deus verdadeiro, repreendido por um príncipe
pagão! Quem não preferiria estar no lugar de Abimeleque antes que no
do honorável patriarca tristemente culpado! Que digna atitude a do rei!,
com calma e justiça repreendendo o pecado do profeta, mas respeitando
sua pessoa, e ao mesmo tempo amontoando brasas de fogo sobre sua
cabeça pelos obséquios liberais que lhe fez.
11. Respondeu Abraão: Eu dizia comigo mesmo: Certamente
não há temor de Deus neste lugar — Devido aos horríveis vícios de
Sodoma, parece que se formou a ideia de que todas as demais cidades de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 59
Canaã eram igualmente corrompidas. Pode ser que tenha havido poucos
ou talvez ninguém que temesse a Deus, mas quão triste é quando homens
do mundo demonstram um sentido de honra e um ódio ao crime maior
que um verdadeiro adorador de Deus!
12. ela, de fato, é também minha irmã — Que pobre defesa fez
Abraão! Sua explicação o absolveu da acusação de uma mentira direta e
absoluta, mas ele tinha cometido uma falta contra a moral, pois teve a
intenção de enganar (Gn_12:11-13). A vida de Abraão teria sido
protegida mesmo sem a fraude do que com ela; e que vergonha para ele,
que desconfiança em Deus, que desonra para a religião teria sido
evitado! “Falai a verdade cada um com o seu próximo” [Zac_8:16;
Ef_4:25]
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 60
Gênesis 21

Vv. 1-13. NASCIMENTO DE ISAQUE.


1. Visitou o SENHOR a Sara — A linguagem do historiador
parece escolhida de propósito para engrandecer o poder de Deus como
também sua fidelidade à Sua promessa. Foi a graça de Deus que
produziu este acontecimento como também o de suscitar filhos
espirituais a Abraão, do qual foi típico o nascimento deste filho.
(Calvino.)
3, 4. Ao filho … pôs Abraão o nome de Isaque. Abraão
circuncidou a seu filho Isaque — Deus era reconhecido no nome que,
por mandato divino, foi dado como memorial (Gn_17:19), e também na
dedicação da criança pela administração do selo da aliança (Gn_17:10-
12).
8. Isaque cresceu e foi desmamado — os meninos são
amamentados por mais tempo no Oriente que na Europa – os varões
geralmente por dois ou três anos.
deu Abraão um grande banquete — Nos países orientais este é
sempre momento de uma festividade familiar, e o recém desmamado é
trazido formalmente, na presença dos parentes e amigos reunidos, a
participar de algumas refeições singelas. Isaque, vestido em roupa
simbólica, sinal de primogenitura—foi recebido como herdeiro da tribo.
(Rosenmuller.)
9. Vendo Sara que o filho de Agar … caçoava — Ismael era
sabedor da grande mudança em suas perspectivas, e sob do impulso da
ira e ressentimento, no que foi acompanhado provavelmente por sua
mãe, tratou ao jovem herdeiro com zombaria e talvez com violência
(Gl_4:29).
10. Pelo que disse a Abraão: Deita fora esta escrava e seu filho
(TB) — Só a expulsão de ambos agora poderia conservar a harmonia na
família. A perplexidade de Abraão foi aliviada pelo anúncio da vontade
divina, a qual em tudo, por penoso que seja para a carne e o sangue,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 61
todos os que tememos a Deus e andamos em seus caminhos, como
Abraão, obedecemos com prazer. Esta história, como a relata o apóstolo,
é “uma alegoria” [Gl_4:24], e a “perseguição” pelo filho da egípcia foi o
começo dos quatrocentos anos de aflição dos descendentes de Abraão
pelos egípcios.
12. atende a Sara em tudo o que ela te disser — o que ela disse é
chamado de “Escritura” em Gl_4:30.
13. também do filho da serva farei uma grande nação — Assim
a Providência preponderou numa disputa de família para dar origem a
dois grandes e extraordinários povos.

Vv. 14-21. A EXPULSÃO DE ISMAEL.


14. Levantou-se, pois, Abraão de madrugada, etc. — cedo para
que os viajantes encontrassem um asilo antes de meio-dia. “Pão” inclui
todo tipo de comida. Ismael era um jovem de dezessete anos, e é muito
natural que os chefes árabes enviem seus filhos dessa idade para que
vivam por sua conta: frequentemente apenas com as provisões para uns
poucos dias, numa bolsa.
Ela saiu, andando errante pelo deserto de Berseba — Na
fronteira sul da Palestina, mas fora da direção comum, um deserto muito
extenso, onde perderam o caminho.
15. Tendo-se acabado a água do odre, etc. — Ismael caiu
esgotado pelo cansaço e a sede; a mãe pôs a cabeça dele sob um arbusto
para que absorvesse a umidade, enquanto ela mesma, incapaz de ver seu
sofrimento, sentou-se a certa distância em desesperadora tristeza.
19. Deus abriu os olhos de Agar (NTLH) — Esqueceu ela da
promessa? (Gn_16:11). Quer ela tenha buscado a Deus ou não, Ele teve
consideração por ela e a dirigiu a uma fonte perto dela, mas talvez
escondida entre as sarças, por meio de cujas águas, seu filho quase
moribundo foi reavivado.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 62
20, 21. Deus estava com o rapaz, etc. — Parã, ou seja Arábia,
onde sempre habitou a posteridade dele, (Gn_16:12; também Is_48:19;
1Pe_1:25).
sua mãe o casou com uma mulher — Quando morre o pai de
família, a mãe busca esposa para seu filho, ainda que este seja jovem.
Como Ismael agora estava virtualmente privado de pai, a mãe se
encarregou de formar uma aliança matrimonial para ele, ao que parece
dentre seus familiares.

Vv. 22-34. UMA ALIANÇA.


22. Abimeleque e Ficol — Aqui há uma prova de que a promessa
(Gn_12:2) cumpre-se, num príncipe nativo que deseja formar uma
aliança solene com Abraão. A proposição era razoável, e foi aceita
[Gn_21:24].
25-31. Abraão repreendeu a Abimeleque por causa de um poço
de água — Os poços são de grande importância para um chefe pastoril,
e a feliz operação de abrir um poço novo, dava ao dono certos direitos
solenes. Mas se descuidava suas reparações, aquele que o restaurasse,
adquiria direitos de propriedade. Em terras desocupadas a possessão dos
poços dava direito de propriedade sobre a própria terra, e o temor disto
foi a causa pela qual Abraão repreendeu a Abimeleque. Alguns
descrevem quatro poços, outros cinco, em Berseba.
33. Plantou Abraão uma tamargueira (TB) — Heb., bosque de
tamargueiras, onde se ofereciam sacrifícios, como num templo
descoberto.
34. E foi Abraão, por muito tempo, morador na terra dos
filisteus — Um quadro da vida pastoril, e emblema da vida cristã.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 63
Gênesis 22

Vv. 1-19. OFERECIMENTO DE ISAQUE.


1. pôs Deus Abraão à prova — não para incitá-lo a pecar
(Tg_1:13), senão para prover ocasião para o desenvolvimento da fé
(1Pe_1:7).
Este lhe respondeu: Eis-me aqui! — imediatamente disposto para
o serviço de Deus.
2. Toma teu filho, teu único filho, etc. — Cada circunstância
mencionada significava uma punhalada mais profunda no coração do
pai. Perder seu único filho, e por um ato de sua própria mão, também!—
que multidão de sentimentos contrários entre si, suscitaria esta ordem!
Mas Abraão escutou e obedeceu sem uma queixa (Gl_1:16; Lc_14:26).
3. Levantou-se, pois, Abraão de madrugada — Para que não
houvesse aparência de demora nem desagrado de sua parte, fez todos os
preparativos para o sacrifício antes de empreender a viagem: os
materiais, a faca, os criados que os levassem, pois a viagem desde
Berseba a Moriá era de dois dias; guardou o doloroso secreto sepultado
em seu peito o tempo todo; e como um lugar tão distante teria sido
escolhido por algum motivo importante, crê-se geralmente que “O lugar
que Deus lhe disse” era um das colinas de Jerusalém, sobre o qual o
Grande Sacrifício foi devotado mais tarde.
4. Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, etc. — Deixando
os criados ao pé da colina [Gn_22:5], pai e filho subiram, levando um a
faca, e o outro a lenha para consumir o sacrifício [Gn_22:6]. Mas não
havia vítima; e a pergunta feita com toda naturalidade por Isaque
[Gn_22:7], Abraão se contentou respondendo: “Deus proverá para si,
meu filho, o cordeiro para o holocausto”. Se supôs que o propósito desta
extraordinária transação foi o de lhe mostrar, pela ação em lugar das
palavras, a maneira em que todas as famílias da terra seriam benditas; e
que em sua resposta a Isaque, ele previa alguma substituição. Mas é mais
provável que suas palavras fossem pronunciadas evasivamente,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 64
ignorando o resultado, entretanto, com uma confiança sem limites de que
aquele filho, ainda que sacrificado, de algum modo milagroso, seria
restaurado (Hb_11:19).
9. ali edificou Abraão um altar, etc. — Se o patriarca não tivesse
sido sustentado pela completa convicção de que operava em obediência à
vontade de Deus, este esforço teria sido grande demais para a resistência
humana; e se Isaque, então de mais de vinte anos de idade, não tivesse
manifestado igual fé em submeter-se, esta prova não teria podido
realizar-se.
11, 12. do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR, etc. — O
sacrifício virtualmente já estava devotado, pois a intenção, o propósito
de fazê-lo, manifestaram-se com toda sinceridade e perfeição. A
Testemunha onisciente igualmente declarou sua aceitação em termos da
mais alta aprovação, de modo que o apóstolo fala do sacrifício como
literalmente feito (Hb_11:17; Tg_2:21).
13-19. Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um
carneiro, etc. — Nenhum método foi ideado mais admiravelmente para
dar ao patriarca uma clara ideia do propósito da graça, que esta
representação pitoresca; e dali a alusão a ela por nosso Senhor (Jo_8:56).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 65
Gênesis 23

Vv. 1, 2. A IDADE E MORTE DE SARA.


1. Foi a vida de Sara cento e vinte e sete anos (TB) — A única
mulher cuja idade, morte e sepultura mencionam-se nas Escrituras,
possivelmente para fazer honra à venerável mãe do povo hebreu.
2. veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela — Veio de sua
tenda para pôr-se à porta de Sara. O “luto” descreve sua conformidade
com o costume usual de sentar-se no solo por um tempo, enquanto que
“chorá-la” indica a natural explosão de sua dor.

Vv. 3-20. COMPRA DE UM LUGAR DE SEPULTURA.


3. Levantou-se, depois, Abraão, etc. — No Oriente as famílias
possuem um lugar próprio para sepultura. Mas a vida de fé de Abraão,
sua condição de peregrino, não permitia que ele adquirisse uma
possessão mesmo pequena (At_7:5).
falou aos filhos de Hete — pediu sua bondosa intervenção para
conseguir a possessão de uma cova que pertencia ao Efrom, um vizinho
rico.
9. Macpela—caverna dupla.
10. Efrom, o heteu, sentando-se no meio — lit., estava “sentado”
entre os filhos do Hete na porta da cidade, onde se tratava todo negócio.
Mas, ainda que era homem principal entre eles, provavelmente era
desconhecido de Abraão.
11-15. De modo nenhum, meu senhor; ouve-me: dou-te o
campo, etc. — Aqui há uma grande demonstração de generosidade, mas
foi unicamente demonstração; porque enquanto Abraão só queria a cova,
ele lhe oferece o campo e a caverna; e ainda que oferecia as duas coisas
como obséquio, esperava naturalmente alguns presentes custosos em
compensação, com os quais não teria ficado facilmente satisfeito.
Sabendo isto o patriarca, quis fazer a compra, e pediu condições.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 66
15. um terreno que vale quatrocentos siclos de prata — como se
houvesse dito Efrom: “visto que quer saber o valor da propriedade, é tal
e tal; mas isso é uma bagatela, que pode pagar ou não, como você
quiser”. Estavam falando nos termos comuns da cortesia árabe, e com
eles, esta indiferença quanto ao pagamento era pura afetação.
16. Tendo Abraão ouvido isso a Efrom, pesou-lhe a prata — o
dinheiro, somando 50 libras, foi pago na presença das testemunhas
reunidas; e foi pesado. O costume de pesar o dinheiro, que às vezes está
na forma de anéis ou entulhos, selados com seu peso, é ainda corrente
em muitas partes do Oriente; e todos os comerciantes nas portas e
bazares levam suas balanças em seu cinturão.
19. sepultou Abraão a Sara — Assim conseguiu a possessão de
Macpela, e depositou os restos de sua lamentada companheira na cova,
que era a única parcela de terra que ele possuía.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 67
Gênesis 24

Vv. 1-9. UMA DILIGÊNCIA MATRIMONIAL.


1. Era Abraão já idoso — Sua ansiedade de ver casado a seu filho
era natural em sua posição de chefe pastoril, interessado em conservar a
honra de sua tribo, e ainda mais como patriarca que tinha respeito à
promessa divina de uma posteridade numerosa.
2. Disse Abraão ao seu mais antigo servo da casa — Como
Abraão era muito idoso e como o herdeiro da promessa não estava em
liberdade de fazer uma visita a sua terra natal, teve que encomendar esta
missão delicada a Eliézer, a quem nesta ocasião fez jurar solenemente
que cumpriria a missão, ainda que era homem de toda confiança. Um
chefe pastoril hoje em dia, seguiria o mesmo caminho, se não pudesse
fazer a diligência pessoalmente.
3. não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus —
Entre as tribos pastoris os acertos matrimoniais são feitos pelos pais, e
um jovem tem que casar-se, não entre estranhos, mas sim dentro de sua
tribo, pois os costumes lhe davam o direito, ao qual raramente ou nunca
resiste, à mão de sua prima. Mas Abraão tinha um motivo superior: o
temor de que, se seu filho se casasse com mulher de uma família
cananeia, pouco a pouco fosse afastado do Deus verdadeiro.

Vv. 10-67. A VIAGEM.


10. Tomou o servo dez dos camelos, etc. — Tão grande bagagem
tinha por objetivo dar à embaixada a aparência digna da posição e
riqueza de Abraão; levar as provisões e os obséquios do compromisso
matrimonial, os quais, segundo o costume, iriam repartidos sobre vários
animais de carga além de um ou dois camelos de reserva para caso de
emergência.
partiu, rumo da Mesopotâmia, etc. — Um estranho naquelas
regiões, que deseja ter alguma informação, fica ao lado de algum dos
poços nos subúrbios da cidade, e ali pode estar seguro de ouvir todas as
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 68
notícias do lugar de parte das mulheres que os frequentam todas as
manhãs e todas as tardes. Eliézer fez isto, e deixando que descansassem
seus camelos, esperou a hora da tarde quando se tira a água.
12. E disse consigo: Ó SENHOR, Deus de meu senhor — O
servo parece digno do senhor a quem servia. Resolve seguir a direção da
Providência; e enquanto que mostrava seu bom sentido nos sinais que
fixou, para conhecer o gênio e caráter da futura esposa, nunca duvidou
de que em tal caso Deus o guiaria.
15-21. Antes que tivesse ele acabado de falar, saiu Rebeca (TB)
— como ele previu, uma jovem sem véu, como nas regiões pastoris,
apareceu com seu cântaro ao ombro. Sua aparência honesta, suas
maneiras afáveis, sua cortesia obsequiosa ao baixar as escadas do poço
para tirar água, não só para ele, senão para encher a pilha para seus
camelos, proporcionaram-lhe uma surpresa muito agradável. Ela era
precisamente a pessoa que sua imaginação lhe tinha pintado, e ele passou
a recompensar seus cuidados.
22. tomou o homem um pendente de ouro ... para as mãos dela,
etc. — O aro não era para as orelhas, senão para o nariz; e os braceletes
eram como os que as jovens da Síria e Arábia ainda levam. Levam-se do
cotovelo até o pulso, usualmente feitos de prata, cobre, bronze ou couro.
23-37. e lhe perguntou: De quem és filha? — Depois de dizer seu
nome e sua família, a bondosa donzela se apressou a ir para casa a fim de
contar a notícia da chegada do estranho.
28. e contou aos da casa de sua mãe todas essas coisas — no
compartimento das mulheres. Esta família estava num grau avançado da
vida pastoril, pois vivia em lugar fixo e em casa fixa.
29-31. Rebeca tinha um irmão … Labão … correu ao encontro
do homem — Pelo que sabemos de seu caráter, há motivo para crer que
a vista dos presentes vistosos aumentou sua pressa e acelerou seu
convite.
32-49. Então o homem entrou na casa (TB), etc. — Que belo
quadro de piedade, fidelidade e desinteresse num criado! Rejeitou toda
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 69
atenção para seu próprio conforto, enquanto não dissesse seu nome e o
objetivo de sua visita.
50. Então, responderam Labão e Betuel — Os irmãos fizeram
todos os acertos matrimoniais, pois seu pai provavelmente tinha morrido.
Sua linguagem parece indicar que eram adoradores do verdadeiro Deus.
53. e tirou jóias de ouro e de prata e vestidos — Estes são os
artigos usuais que com dinheiro, formam o dote nas tribos pastoris.
Rebeca se comprometeu, e acompanhou Eliézer a Canaã.
64. apeou do camelo — Se Isaque estivesse em pé, teria sido
descortesia de parte dela continuar sentada; um inferior, se cavalgar,
sempre se apeia na presença de uma pessoa de posição, não fazendo-se
exceção nem das mulheres.
65. tomou ela então o véu e se cobriu. — O véu é parte essencial
do vestido da mulher. Em lugares rurais frequentemente elas o tiram,
mas se aparecer um estranho, o véu é posto para cobrir toda a cara menos
os olhos. Numa noiva o véu é sinal de sua reverência e sujeição a seu
marido.
67. Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele —
estabelecendo-a em seguida nos direitos e honras de esposa antes de lhe
ver a cara. Desilusões com frequência se sucedem nestes momentos, mas
quando Isaque viu sua esposa, “ele a amou”.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 70
Gênesis 25

Vv. 1-6. OS FILHOS DE ABRAÃO.


1. Abraão tomou outra mulher — antes, “tinha tomado”; porque
Quetura se chama a concubina, ou esposa secundária, de Abraão.
(1Cr_1:32); e pelo fato de que ela lhe deu seis filhos, é improvável que
se tenha casado com ela depois da morte da Sara; e também como
porque em sua vida os despediu para que buscassem sua independência,
é claro que este casamento se relata fora de sua ordem cronológica,
meramente para dar cabal conclusão à história do patriarca.
5, 6. Abraão deu tudo o que possuía a Isaque. Porém, aos filhos
das concubinas que tinha, deu ele presentes — Enquanto que a parte
principal da herança coube a Isaque, os outros filhos, Ismael inclusive,
emigraram à “terra oriental”, e receberam todos uma porção do
patrimônio, talvez em gado e outras coisas; este convênio de Abraão
deve ter sido satisfatório, pois é ainda a regra seguida entre as tribos
pastoris.

Vv. 7-11. A MORTE DE ABRAÃO.


7. Foram os dias da vida de Abraão — Sua morte se relata aqui,
ainda que ele viveu até que Jacó e Esaú tinham quinze anos; justamente
cem anos depois de sua vinda a Canaã, “o pai dos crentes”, “o amigo de
Deus” [Tg_2:23], morreu; e até em sua morte se cumpriram as
promessas (Gn_15:15). Poderíamos ter desejado algum relato de suas
experiências em seu leito de morte; mas o Espírito de Deus nos negou
este relato; tampouco fazia falta; porque (veja-se Mt_7:16) ele passou da
terra ao céu (Lc_16:22). Ainda que morto, ainda vive (Mt_22:32).
9, 10. Sepultaram-no Isaque e Ismael, seus filhos — A morte
muitas vezes põe fim à contenda, reconcilia os que estiveram
distanciados; e faz com que os familiares rivais, como neste caso,
misturem suas lágrimas sobre o sepulcro de um pai.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 71
Vv. 12-18. OS DESCENDENTES DE ISMAEL. Antes de passar à
linhagem do herdeiro prometido, o historiador nos dá um breve relato a
respeito de Ismael, para mostrar que as promessas com relação àquele
filho de Abraão foram cumpridas—primeiro, na grandeza de sua
posteridade (cf. Gn_17:20), e em segundo lugar, em sua independência.
18. Ele se estabeleceu — literalmente, “ele caiu na presença de
seus irmãos” (cf. Gn_16:12).

Vv. 19-34. A HISTÓRIA DE ISAQUE.


19. São estas as gerações — relato dos acontecimentos principais
de sua vida.
21. Isaque orou ao SENHOR por sua mulher — Ainda que foi
provado de uma maneira similar a seu pai, ele não recorreu aos mesmos
meios torcidos. Vinte anos esteve sem ser abençoado com filhos, cujos
descendentes tinham que ser “como as estrelas” [Gn_26:4]. Mas em
resposta às orações de ambos (1Pe_3:7), informou a Rebeca por
inspiração divina que ela ia ser mãe de filhos gêmeos, que chegariam a
ser progenitores de duas nações independentes; que os descendentes do
menor seriam os mais poderosos e subjugariam aos do outro (Rm_9:12,
2Cr_21:8).
27. Cresceram os meninos — desde o começo contrários o um ao
outro em caráter, maneiras e hábitos.
28. Os pais estavam divididos em seu afeto pelos filhos; e enquanto
que os motivos, pelo menos da parcialidade do pai, eram fúteis, a
distinção entre os dois meninos, como sempre sucede em casos
semelhantes, levou a consequências desastrosas.
29. Tinha Jacó feito um cozinhado — feito de lentilhas ou feijões
pequenos, comuns na Síria e no Egito. É provável que fosse feito de
feijões egípcios, que Jacó teria conseguido como manjar delicioso.
Talvez para Esaú eram desconhecidos. O cozinhado destes feijões é
muito saboroso, e para o cansado caçador, debilitado pela fome, o aroma
teria sido uma tentação irresistível.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 72
31. Disse Jacó: Vende-me … teu direito de primogenitura — ou
seja, os direitos e privilégios do mais velho, os quais eram muito
importantes, sendo os principais que os primogênitos eram os sacerdotes
de família (Êx_4:22), e tinham uma porção dobrada na herança
(Dt_21:17).
32. Replicou Esaú: Eis que estou para morrer (TB) — ou seja,
diariamente estou correndo o risco de minha vida; e de que valor me será
minha primogenitura? De modo que desprezou ou não se preocupou com
ela, pelo intenso desejo de satisfazer o seu apetite. Rejeitou seus
privilégios religiosos por uma bagatela, e por este motivo é chamado
“profano” (Hb_12:16; também Jó_31:7, Jó_31:16; Jó_6:13; Fp_3:19).
“Nunca houve comida, exceto a fruta proibida, comprada a preço tão
caro, como este cozinhado de Jacó” (O Bispo Hall).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 73
Gênesis 26

Vv. 1-35. A ESTADA EM GERAR.


1. Sobrevindo fome à terra, além da primeira … foi Isaque a
Gerar — A força da fome em Canaã obrigou Isaque a trasladar-se com
sua família e rebanhos para a terra dos filisteus, onde se achava exposto
a um perigo pessoal, como tinha sucedido com seu pai, por causa da
beleza de sua esposa; mas pela oportuna intervenção de Deus foi salvo
(Sl_105:14-15).
12. Semeou Isaque naquela terra — Durante sua estada naquele
distrito, lavrou uma parcela de terra, a qual, pela bênção de Deus, foi
muito produtiva (Is_65:13; Sl_37:19), e por seu abundante rendimento,
ele aumentou tão rapidamente em riquezas e influência, que os filisteus
temerosos e invejosos de sua prosperidade, o obrigaram a sair do lugar
(Pv_27:4; Ec_4:4). Este incidente pode ilustrar-se com o fato de que até
hoje muitos pastores sírios se fixam por um ano ou dois num lugar,
alugam a terra, com o produto da qual eles comercializam no mercado
próximo, até que as pessoas, por ciúme de sua crescente riqueza, se
negam a renovar o aluguel, e os obrigam a ir para outro lugar.
15. todos os poços que os servos de seu pai tinham cavado nos
dias de Abraão, seu pai, os filisteus haviam atulhado, etc. — a mesma
vil estratagema para incomodar as pessoas contra as quais têm
ressentimento, ainda se pratica, cegando os poços com areia ou pedras, e
corrompendo-os com corpos de animais mortos.
17. vale de Gerar — leito de corrente ou wadi, com uma planície
extensa, desocupada e que dá bom pasto.
18-22. Isaque tornou a cavar os poços de água — O ato de
nomear os poços por Abraão, e o direito hereditário da família à
propriedade, a mudança dos nomes pelos filisteus para apagar todo sinal
de sua origem, a restauração dos nomes por Isaque, e as contendas entre
os respectivos pastores pela possessão exclusiva da água, são
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 74
circunstâncias que ocorrem entre os naturais daquelas regiões tão
frequentemente nestes dias como no tempo de Isaque.
26-33. Abimeleque veio a ele (RC) — Como houve um lapso de
noventa anos entre a visita de Abraão e a de Isaque, o Abimeleque e
Ficol mencionados aqui têm que ter sido os títulos oficiais de pessoas
distintas. Aqui há outra prova de que a promessa (Gn_12:2) estava-se
cumprindo, na proposta de paz que foi apresentada pelo Rei de Gerar.
Qualquer que tenha sido o motivo pelo qual a proposta foi ditada, se pelo
temor de seu crescente poderio, ou pelo pesar pelo mal trato que lhe
tinham dado, o rei e dois de seus cortesãos fizeram uma visita à tenda de
Isaque (Pv_16:7). Seu temperamento tímido e passivo se submeteu às
moléstias de seus vizinhos descorteses, mas agora que eles querem
renovar a aliança, Isaque manifesta sua profundo ressentimento pela
conduta deles, e seu assombro por seu descaramento, ou hipocrisia, em
chegar-se a ele. Mas como era de disposição pacífica, perdoou suas
ofensas, aceitou sua proposta, e os tratou com atenção com um banquete
pelo qual geralmente se ratificava uma aliança.
34. Esaú … tomou por mulher — Se o piedoso Abraão rejeitava
com horror a ideia de que Isaque formasse aliança matrimonial com
alguma mulher cananeia [Gn_24:3], este devoto patriarca se oporia
igualmente a tal união de parte dos filhos de seu filho e podemos
imaginar quanto sofreria, e a paz da família seria alterada, quando seu
errante filho favorito trouxe não menos de duas mulheres idólatras entre
eles. Aqui temos uma nova prova de que Esaú nem desejava a bênção
nem temia o castigo de Deus. Estas esposas nunca se granjearam o afeto
dos pais dele, e este distanciamento foi utilizado por Deus para manter a
família escolhida afastada dos perigos da influência pagã.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 75
Gênesis 27

Vv. 1-27. A DOENÇA DE ISAQUE.


1. Tendo-se envelhecido Isaque e já não podendo ver — Estava
no ano 137 de sua idade; e percebendo de que a morte estava perto,
preparou-se para fazer seu testamento, ato da mais grave importância,
especialmente porque incluía a doação, por um espírito profético, da
bênção patriarcal.
4. faze-me uma comida saborosa, como eu aprecio — talvez para
avivá-lo e fortalecê-lo para o dever; ou antes, como se acostumava
“comer e beber” em todas as ocasiões religiosas, ele não podia conceder
o direito, enquanto não tivesse comido da carne provida para a ocasião
por aquele que tinha que receber a bênção (Adam Clarke). (cf. Gn_18:7).
para que eu coma e te abençoe — É difícil imaginar-se que Isaque
ignorasse o propósito divino (cf. Gn_25:23). Mas o carinho natural,
prevalecendo através da ancianidade e fraqueza, o levava a conferir as
honras e poder da primogenitura sobre seu filho mais velho; e, talvez, ele
não conhecia o que Esaú já tinha feito (Gn_25:34).
6-10. disse Rebeca a Jacó, seu filho — ela estimou em sumo grau
a bênção; sabia que Deus a destinava ao filho mais novo [Gn_25:23]; e
em sua ansiedade de assegurar que fosse conferida sobre a devida
pessoa, sobre aquele que apreciava a religião, ela operou com
sinceridade de fé; mas de maneira torcida, com um zelo errado, e sobre o
princípio falso de que o fim justificaria os meios.
11. Respondeu Jacó … Esaú, meu irmão, é homem peloso (TB)
— É notável que os escrúpulos dele se fundassem não no mal do ato mas
no risco e as consequências do engano.
13-17. Respondeu-lhe a mãe: Caia sobre mim essa maldição —
Sendo acalmada sua consciência pela mãe, fizeram-se os preparativos
para levar a cabo a trapaça; que consistia, primeiro, na carne de cabrito,
que, preparada num guisado temperado com sal, cebolas, alho e suco de
limão, facilmente poderia passar por caça, para um ancião cego, de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 76
sentidos embotados; segundo, em pedaços de pele de cabra atados nas
mãos e ao pescoço, porque seu cabelo suave e sedoso assemelha-se ao da
bochecha de um jovenzinho; terceiro, no longo manto branco, roupagem
de primogênito, que, passando de pai a filho, guardava-se numa caixa
entre ervas fragrantes e flores perfumadas, que a mãe havia provido para
ele.
18-27. Jacó foi a seu pai — A trapaça preparada pela mãe tinha
que ser executada no dormitório do pai. É penoso pensar nas mentiras
deliberadas e a irreverência com que ele agiu. A simulação, ainda que
não tão perfeita, pois quase estragou toda a estratagema, conseguiu
enganar a Isaque; e enquanto lhe dava seu abraço paternal, o ancião foi
transportado a um estado de alta satisfação e deleite.
27. o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo — Os odores
aromáticos dos campos e prados da Síria frequentemente dão uma forte
fragrância à pessoa e à roupa, como notaram muitos viajantes.

Vv. 28-46. A BÊNÇÃO.


28. Deus te dê do orvalho do céu — Na mente oriental esta frase
queria dizer, grande abundância de prosperidade. A copiosa queda do
orvalho é indispensável à fecundidade da terra, que de outra maneira
seria árida e estéril por causa do forte calor; abunda mais o orvalho nas
regiões montanhosas, como em Canaã, de onde se chama a terra
abundante (Ne_9:25, Ne_9:35).
fartura de trigo e de mosto — A Palestina era famosa por seus
vinhedos, e produzia variedades de grãos: trigo, cevada, aveia e centeio.
29. Sirvam-te povos — profecia cumprida na derrota das tribos
hostis que se opunham aos israelitas no deserto, e na preeminência e no
poder que eles alcançaram depois do estabelecimento nacional na terra
prometida. Esta bênção não foi realizada por Jacó mesmo mas por seus
descendentes; mas as bênçãos temporários prometidas não eram senão a
sombra das espirituais, as que fizeram a grande distinção na posteridade
de Jacó.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 77
30-35. chega Esaú, seu irmão, da sua caçada — Quase não se
concluiu a cena anterior, quando foi descoberto a fraude. Facilmente
podem imaginar as emoções tanto de Isaque como de Esaú: o assombro,
o alarme e a tristeza do um, o contratempo e a indignação do outro. Mas
a reflexão de um momento convenceu ao patriarca ancião de que a
transferência da bênção era “de Jeová”, e agora era irrevogável. As
importunações de Esaú, entretanto, afligiram-lhe; e como a inspiração
profética estava sobre o patriarca, ele acrescentou o que era tão
agradável a um homem do caráter de Esaú, como teria sido a outra
bênção.
39, 40. Eis que a tua habitação será nas gorduras da terra e no
orvalho dos altos céus (ASV) — a primeira parte é uma promessa de
prosperidade temporária, feita nos mesmos termos, que a de Jacó
[Gn_27:28]; a segunda refere-se à vida errante de piratas caçadores, que
ele e seus descendentes levariam. Ainda que Esaú pessoalmente não
esteve sujeito a seu irmão, sua posteridade foi tributária dos israelitas, até
o reinado do Jeorão, quando se revoltaram e estabeleceram o seu próprio
rei (2Rs_8:20; 2Cr_21:8-10).
41. Passou Esaú a odiar a Jacó — Não é de estranhar-se que Esaú
se ressentisse da conduta de Jacó, e jurasse vingar-se.
Vêm próximos os dias de luto por meu pai — frase comum no
Oriente pela morte de um pai.
42-45. Chegaram aos ouvidos de Rebeca estas palavras de Esaú
— Pobre mulher! logo começa a colher os frutos amargos de seu ardil
fraudulento; vê-se obrigada a separar-se de seu filho, para quem tinha
ideado o projeto, talvez sem mais voltar a vê-lo. E ele também sentiu a
justiça retributiva do céu cair em sua própria família futura.
45. Por que hei de eu perder os meus dois filhos num só dia? —
Isto se refere à lei do “goel”, segundo a qual o mais próximo em
parentesco estaria obrigado a vingar-se da morte de Jacó, em seu irmão
Esaú, e assim Rebeca seria privada dos dois filhos.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 78
46. Disse Rebeca a Isaque — Outro pretexto que ela ideou para ter
o consentimento de seu marido para a viagem de Jacó a Mesopotâmia; e
ela teve êxito por ter tocado o ancião patriarca num ponto fraco, que
afligia a seu piedoso coração: o casamento conveniente de seu filho mais
novo.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 79
Gênesis 28

Vv. 1-19. A SAÍDA DE JACÓ.


1. Isaque, pois, chamou a Jacó, deu-lhe a sua bênção (TB) —
Isaque se compenetrou dos sentimentos de Rebeca, de modo que o
principal de sua mensagem de despedida foi que evitasse toda aliança
matrimonial exceto com o ramo da família em Mesopotâmia. Naquela
ocasião lhe deu uma bênção solene, pronunciada antes sem o saber, mas
agora a propósito, e com espírito cordial. Também a dá mais explícita e
completa, e assim Jacó foi reconhecido como “o herdeiro da promessa”
6-9. Vendo, pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó — desejoso
de agradar a seus pais e, se fosse possível, fazer revogar o último
testamento, fez-se prudente quando já era tarde (veja-se Mt_25:10), e
esperava ao agradar a seus pais numa coisa, expiar todas as suas faltas
anteriores. Mas só piorou as coisas e ainda que não tomou “mulher das
filhas de Canaã”, casou dentro de uma família que Deus tinha rejeitado.
Este ato mostrou uma reforma parcial e nada de arrependimento, porque
não deu provas de moderar seus propósitos vingativos contra seu irmão,
nem de alentar aquele espírito piedoso que teria agradado a seu pai. Era
como Mica (Jz_17:13).
10. Partiu Jacó de Berseba, etc. — Sua partida da casa paterna foi
uma fuga ignominiosa; e por temor de ser seguido ou espreitado por seu
vingativo irmão, não tomou o caminho comum, mas foi por sendas
solitárias e pouco frequentadas, o que aumentou a duração e os perigos
de viagem.
11. Tendo chegado a certo lugar — A marchas forçadas tinha
chegado a Betel, como a 77 quilômetros do Berseba, e teve que passar a
noite em campo aberto.
tomou uma das pedras, etc. — “A natureza do solo é uma prova
existente sobre o relato do território pedregoso onde Jacó se deitou.”
(Clarke’s Travels).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 80
12. Jacó sonhou. Ele viu uma escada (NTLH) — Alguns
escritores opinam que não se quer dizer uma escada literal, porque é
impossível conceber uma imagem mais estranha e mais antinatural que a
de uma escada, cuja base estivesse na terra, enquanto que o topo
chegasse até o céu, sem ter no que apoiar seu extremo superior. Eles
supõem que o pequeno montão de pedras sobre o qual descansou sua
cabeça em lugar de travesseiro, era o modelo em miniatura do objeto que
apareceu a sua imaginação sendo o outro um montão gigantesco,
montanhoso, cuja ladeira, engrenada na rocha, dava a aparência de uma
escada. Não há dúvida de que este uso do termo original era comum
entre os primeiros hebreus; como Josefo, descrevendo a cidade do
Ptolemais (Acre), diz que estava cercada por uma montanha, a qual, por
suas ladeiras sobressalentes, era chamada a “escada”; e a via que
conduzia à cidade de acima, chamava-se “escada” (Ne_3:15), ainda que
eram uns degraus cortados na rocha. Mas seja que a imagem apresentada
à mente de Jacó fosse a de uma escada comum ou um montão
montanhoso como o descrito, o propósito da visão foi o de dar consolo,
ânimo e confiança ao solitário fugitivo, tanto em suas circunstâncias
atuais como em suas perspectivas futuras. Seus pensamentos durante o
dia teriam sido dolorosos; acusando-se a si mesmo de haver trazido sobre
si o desterro e privações; e sobretudo, que, embora tivesse recebido o
perdão de seu pai, tinha motivos para temer que Deus o tivesse
abandonado. A solidão dá oportunidade para a meditação; e é agora o
momento em que Deus começa a submetê-lo a um curso de ensino e
preparação religiosas. Para dissipar seus temores e acalmar o tumulto
interior de sua mente, nada melhor que a visão da escada gigantesca, que
se estendia desde ele até o céu, e sobre a qual os anjos continuamente
ascendiam e desciam do lugar do próprio Deus com suas benévolas
mensagens (Jo_1:51).
13. o SENHOR estava em cima dela e disse (RC) — Para que
Jacó não estivesse em dúvida quanto ao significado da visão, ele ouviu a
voz divina; e o anúncio de seu nome, junto com a renovação da aliança,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 81
e uma segurança da proteção pessoal, produziram em seguida em sua
mente um do mais solenes e inspiradores efeitos.
16. Despertado Jacó do seu sono — Sua linguagem e sua conduta
eram as de um homem cuja mente estava cheia do temor mais solene, de
uma piedade fervorosa, e de uma viva gratidão a Deus (Jr_31:36).
18, 19. tomou a pedra .… e a erigiu em coluna, etc. — O mero
ato de elevar a pedra poderia ter sido para assinalar o lugar para o futuro;
e esta prática ainda é comum no Oriente, em memória de algum voto
religioso ou compromisso. Mas o entornar azeite nela era um ato de
consagração. Por conseguinte, deu-lhe um nome novo, Betel, “casa de
Deus” (Os_12:4); e não parecerá coisa forçada ou antinatural chamar
casa a uma pedra, quando se considera a prática comum em países
quentes sentar-se ao ar livre junto a uma pedra, ou sobre ela, como as
deste lugar, “largas extensões de rochas despidas, algumas delas verticais
como os monumentos megalíticos dos druidas”. (Stanley.)

Vv. 20-22. O VOTO DE JACÓ.


20. Fez também Jacó um voto — Não é preciso considerar que
suas palavras indiquem uma dúvida, e menos ainda que ponham
condições ou termos sobre os quais ele se dedicaria a Deus. Se for
mudado o “se” em “visto que”, a linguagem parecerá uma expressão
justa da fé de Jacó, uma evidência de que ele realmente havia aceito a
promessa. Quão edificante a meditação de Jacó em Betel!
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 82
Gênesis 29

Vv. 1-35. O POÇO DE HARÃ.


1. Pôs-se Jacó a caminho, etc. — Heb., “elevava seus pés”.
Continuou sua viagem na manhã seguinte, com coração alegre e passo
rápido após a visão da escada; porque as provas do favor divino tendem
a apressar o cumprimento do dever. (Ne_8:10).
e se foi à terra do povo do Oriente — A Mesopotâmia e toda a
região além do Eufrates são designadas pelos escritores sagrados como
“o este” (Jz_6:3; 1Rs_4:30; Jó_1:3). Entre a primeira cláusula e a
segunda deste versículo se inclui uma viagem de 643 ½ quilômetros.
2. Olhou, e eis um poço — Como se aproximava do lugar de seu
destino, segundo o costume, dirigiu-se ao poço junto à cidade, onde
facilmente se apresentaria a seus parentes.
3. Ajuntavam-se ali todos os rebanhos, etc. — Na Arábia, devido
às areias movediças, e em outros lugares, devido à forte evaporação, a
boca de um poço geralmente fica tampada, especialmente quando é
propriedade particular. Sobre muitos deles fica uma pedra larga e plaina,
que tem um buraco no meio, que forma a boca do poço. Este buraco é
coberto com uma pedra pesada que requer dois ou três homens para ser
tirada. Tal é a descrição do poço de Harã.
4. Perguntou-lhes Jacó: Meus irmãos — Averiguando por meio
dos pastores que repousavam ali os quais eram todos de Harã, que seus
parentes em Harã estavam todos bem, e que uma pessoa da família
chegaria logo, perguntou-lhes por que estavam ociosos ali todo o dia em
vez de dar de beber a seus rebanhos e devolvê-los ao lugar de pastagem.
8. Não o podemos, responderam eles, enquanto não se
ajuntarem todos os rebanhos — A fim de evitar as consequências de
ser aberto com muita frequência em lugares onde escasseia a água, não
só está coberta mas também é costume ter todos os rebanhos reunidos
junto ao poço antes de tirar a coberta na presença do dono ou de um de
seus representantes; e foi por este motivo pelo qual os que estavam
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 83
repousando junto ao poço com seus três rebanhos, estavam esperando a
chegada de Raquel.
9-11. Enquanto ele ainda falava com eles, Raquel veio — Entre
as tribos pastoris as filhas jovens solteiras dos xeques maiores guardam
os rebanhos, indo ao nascer do sol e continuando seu cuidado das
ovelhas até o pôr-do-sol. Dar-lhes de beber duas vezes por dia é trabalho
que requer tempo e esforço, e Jacó mostrou serviço, oferecendo sua
ajuda à jovem pastora. A entrevista foi afetuosa, a recepção cordial, e
Jacó se esqueceu de todas suas tristezas pela sociabilidade de seus
parentes da Mesopotâmia. Podemos nós duvidar de que ele desse graças
a Deus por Sua bondade no caminho?
12. contou Jacó a Raquel, etc. — Segundo costume do Oriente, a
palavra “irmão” abrange até graus remotos de parentesco, como tio,
primo ou sobrinho.
14-20. pelo espaço de um mês, permaneceu com ele — Entre o
povo pastoril um estranho é hospedado livremente por três dias; no
quarto dia se espera que diga seu nome e o objetivo de sua visita; e se
prolonga sua estada depois, deverá empreender algum trabalho,
conforme um acordo prévio. Houve um acerto semelhante no
estabelecimento de Labão, e o pagamento pelo qual o sobrinho aceitou
continuar no emprego, foi a mão de Raquel.
17. Leia tinha olhos meigos (NTLH)—ou seja, olhos de um azul
suave, considerado como um defeito.
Raquel era formosa de porte e de semblante — ou seja, garbosa
e de figura perfeita. Esta foi a preferida de Jacó.
18. Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel — A
oferta de casamento se faz ao pai sem consultar a filha, e o compromisso
se faz pelo ato de o pretendente apresentar presentes custosos à família,
ou dando em gado o valor que o pai fixa por sua filha, ou então,
prestando serviço pessoal por um período especificado. Este foi o curso
do procedimento que a necessidade tinha imposto a Jacó; e ali durante
sete anos ele se submeteu às tarefas de um pastor assalariado com a
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 84
finalidade de conseguir Raquel. Mas o tempo passou rapidamente,
porque os deveres mais severos e difíceis se tornam leves quando o
trabalho é feito por amor.
21. Disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher. — No fim do
tempo estipulado, celebraram-se as festividades nupciais. Mas Jacó foi
objeto de uma fraude infame e ao ele mostrar uma justa indignação, se
alegou como desculpa o costume do país. Nenhuma defesa semelhante
deveria admitir-se jamais contrariando os direitos da justiça. Mas isto se
passa por alto na egoísta mente dos homens, e rege a moda ou o costume
em lugar da vontade de Deus. Isto foi o que fez Labão, quando ele disse:
“Não se faz assim em nossa terra, dar-se a mais nova antes da
primogênita.” Mas, então, se isto era o costume prevalecente em Harã,
ele deveria ter informado isso ao sobrinho no tempo devido e de uma
maneira honorável. Esta ainda é, entretanto, muito amiúde a maneira de
ser das pessoas do Oriente. O dever de casar a uma filha mais velha antes
da mais nova, os ardis que usam os pais para desfazer-se de uma filha
mais velha que é feia ou contrafeita, e que são favorecidas pelo longo
véu nupcial e a prolongação da festa durante uma semana entre os
grandes xeques, concordam com as práticas do povo da Arábia e
Armênia no dia de hoje.
28. Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha — É evidente
que o casamento de ambas as irmãs se efetuasse quase ao mesmo tempo,
e que tais enlace eram então permitidos, ainda que mais tarde foram
proibidos. (Lv_18:18).
29. Para serva de Raquel, sua filha, deu Labão a sua serva Bila
— Um pai em boas circunstâncias ainda dá à sua filha dentre suas
criadas uma escrava, sobre a qual a jovem esposa, independentemente de
seu marido, tem domínio absoluto.
31. Leia era aborrecida (RC) — quer dizer, não era amada tanto
como deveria ter sido. O fato de que ela chegasse a ser mãe lhe
assegurou uma mais alta estima tanto do marido como da sociedade.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 85
32-35. um filho, a quem chamou Rúben — Também os nomes
tinham significado; e os que Leia deu a seus filhos, expressam seus
distintos sentimentos de gratidão ou alegria, ou são alusivos a
circunstâncias na história da família. Havia piedade e sabedoria em dar
significado aos nomes, pois isso tendia a lembrar ao que o levava o seu
dever e o direito que tinha Deus sobre ele.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 86
Gênesis 30

Vv. 1-24. CIÚMES DOMÉSTICOS.


1. Raquel … teve ciúmes de sua irmã — A maternidade confere
um alto grau de honra no Oriente, e a falta dela, é sentida como uma
afronta e lamentada como uma calamidade grave.
Dá-me filhos, senão morrerei — Ou que ela se considerava como
morta; ou que desfaleceria pela irritação e o ciúme. A intensa ânsia das
hebreias para ter filhos, provinha da esperança de dar à luz a prometida
“semente”. A conduta de Raquel era pecaminosa, e é muito diferente da
de Rebeca (cf. Gn_25:22) ou de Ana (1Sm_1:11).
3-9. Bila .… Zilpa — Seguindo o exemplo de Sara com relação a
Agar, exemplo não raramente imitado ainda, ela adotou os filhos de sua
serva. Leia seguiu o mesmo caminho. Existia uma rivalidade intensa e
amarga entre elas, ainda mais devido a seu estreito parentesco como
irmãs; ainda que ocupavam departamentos separados com suas famílias,
como é o costume uniforme onde existe pluralidade de esposas, e ainda
que o marido e pai passava um dia com cada uma em turno estrito, isto
não acalmava seus ciúme mútuos. O mal está no próprio sistema, o qual,
sendo uma violação da ordem original de Deus, não pode produzir
felicidade.
20. [Leia] disse: Deus me concedeu excelente dote — O
nascimento de um filho varão é recebido com manifestações de alegria, e
a posse de vários filhos confere sobre a mãe uma honra e uma
respeitabilidade proporcionais ao número deles. O marido concede uma
importância similar a tal possessão, e isso forma um vínculo de união o
qual torna impossível que ele jamais abandone ou seja indiferente à
esposa que lhe deu filhos. Isto explica a feliz expectação que Leia achou
na posse de seus seis filhos.
21. Depois disto, deu à luz uma filha — A estimativa inferior
posta sobre uma filha, se pode ver no anúncio direto do nascimento.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 87
Vv. 25-43. A ALIANÇA DE JACÓ COM LABÃO.
25. Tendo Raquel dado à luz a José — Um pouco depois do
nascimento deste filho, expirou o período de servidão de Jacó, e
sentindo-se ansioso para estabelecer a independência de sua família,
provavelmente, sabendo que Esaú estava fora do caminho, anunciou sua
intenção de retornar a Canaã (Hb_13:14). Nesta decisão a fé de Jacó foi
notável, porque até agora não tinha no que pôr sua confiança senão na
promessa de Deus (cf. Gn_28:15)
27. Labão lhe respondeu … Tenho experimentado, etc. — Seu
egoísta tio esteve contrário a uma separação, não por algum ardente afeto
quer por Jacó quer por suas filhas mas pelo dano que sofreriam seus
interesses. Ele tinha achado por longa observação que as bênçãos do céu
repousavam sobre Jacó, e que seu gado tinha aumentado
maravilhosamente sob seu manejo. Este é um testemunho notável de que
os homens bons são uma bênção para os lugares onde vivem. Os homens
do mundo são abençoados com benefícios temporários por causa de seus
parentes piedosos, ainda que nem sempre têm, como Labão, a sabedoria
de entendê-lo nem a graça de reconhecê-lo.
28. Fixa o teu salário, que te pagarei — Os pastores orientais
recebem por salário não dinheiro e sim certa parte do aumento ou
produto do rebanho; mas Labão naquela ocasião teria feito qualquer
coisa para assegurar os serviços continuados de seu sobrinho, e fazer
uma demonstração de liberalidade, a qual, sabia Jacó, era forçada.
31. Respondeu Jacó: Nada me darás — Um contrato novo foi
feito, a substância do qual era que ele tinha que receber sua remuneração
da maneira costumeira, mas Jacó fixou as condições.
32. Passarei hoje por todo o teu rebanho — Como as ovelhas do
Oriente são geralmente brancas, e as cabras negras, e as manchadas e
pintadas comparativamente poucas e raras, Jacó propôs apartar todas as
desta classe dentre o rebanho, e conformar-se com as que aparecessem
no tempo de parir as ovelhas e cabras. A proposta parecia tão favorável
a Labão, que ele consentiu com ela imediatamente. Mas Jacó foi acusado
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 88
de tomar vantagem sobre seu tio, e ainda que seja difícil o desculpar de
ter praticada certa dissimulação, ele só se valeu dos resultados de sua
grande perícia e experiência na criação do gado. Mas é evidente segundo
o capítulo seguinte (Gn_31:5-13) que havia nisso algo do milagroso, e
que os meios que ele empregou tinham sido sugeridos por sugestão
divina.
37. Tomou, então, Jacó varas, etc. — Há muitas variedades de
aveleira, algumas das quais são mais direitos que a classe comum, e é
provável que Jacó empregasse umas destas. São de cor vermelha clara,
quando são descascados; e junto com estas varas tomou as de outras
plantas, que descascadas tinham listas brancas. Estas varas tidas
constantemente aos olhos das fêmeas no tempo da gestação, sua
observação lhe havia ensinado, teriam influência, por meio da
imaginação, na futura cria.
38. nos canais de água e nos bebedouros — geralmente pedaços
longos de pedra cavados, onde várias ovelhas podiam beber ao mesmo
tempo, mas às vezes tão pequenas para admitir somente a uma ovelha a
beber.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 89
Gênesis 31

Vv. 1-21. A INVEJA DE LABÃO E SEUS FILHOS.


1. ouvia Jacó os comentários dos filhos de Labão — Talvez por
rumores Jacó veio a saber das invejosas recriminações que a respeito
dele expressavam seus primos; porque estavam separados à distância de
três dias de viagem.
2. Jacó, por sua vez, reparou que o rosto de Labão — lit., “não
era o mesmo de ontem nem de anteontem” — forma de falar, comum no
Oriente. As insinuações contra a fidelidade de Jacó pelos filhos de
Labão, a áspera reserva e a rude conduta do próprio Labão, tornavam
muito difícil e penosa sua permanência no estabelecimento de seu tio. É
sempre uma das moléstias que acompanham a prosperidade material o
excitar a inveja de outros (Ec_4:4); e por mais cuidadoso que seja o
homem em manter uma consciência limpa, não pode contar sempre com
a conservação de um bom nome num mundo maldizente. Isto
experimentou Jacó; e é provável que, como homem bom, tivesse
buscado direção e consolo na oração.
3. E disse o SENHOR a Jacó: Torna à terra de teus pais —
Apesar do mau trato recebido, Jacó talvez não teria crido ter a liberdade
de abandonar sua atual esfera, sob o impulso da irritação e o
descontentamento. Conduzido a Harã por Deus (Gn_28:15), e tendo
recebido uma promessa de que o mesmo Guardião celestial o traria
novamente à terra de Canaã, poderia ter pensado que não deveria sair,
sem estar claramente persuadido quanto a qual era seu dever. Assim nós
devemos pôr o Senhor diante de nós, e reconhecê-Lo em todos os nossos
caminhos, em viaje, contratos e planos da vida.
4. Então, enviou Jacó e chamou a Raquel e a Leia — Suas
esposas com suas famílias respectivas estavam em sua habitual
residência; seja que gostaria que elas estivessem presentes na festa da
tosquia, como creem alguns, ou, porque ele não podia deixar seu
rebanho, chamou ambas a virem ao campo, a fim de que, tendo resolvido
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 90
sua partida imediata, lhes pudesse comunicar suas intenções. Só foram
chamadas Raquel e Leia, porque as outras duas esposas, sendo
secundárias e ainda em estado de servidão, não tinham direito a serem
levadas em conta. Jacó agiu como um marido respeitoso ao lhes contar
seus planos; porque os maridos que amam a suas esposas, devem
consultá-las e confiar nelas (Pv_31:11).
6. sabeis que … tenho servido a vosso pai — Tendo explicado os
seus poderosos motivos de descontentamento pela conduta do pai delas,
e a má retribuição recebida por todos os seus fiéis serviços, os informou
das bênçãos de Deus, que o tinham feito rico apesar do desejo de Labão
de arruiná-lo; e finalmente da ordem recebida de Deus, de retornar a seu
próprio país, para que elas não o acusassem de capricho ou de
deslealdade a sua família, antes estivessem convencidas de que ao
resolver partir, ele agia por um princípio de obediência religiosa.
14. Raquel e Leia responderam (NTLH) — Tendo ouvido as
razões de Jacó, elas expressaram sua inteira aprovação; e por ofensas a
elas mesmas estavam tão desejosas de uma separação como ele mesmo.
Elas mostraram não só afeto conjugal mas também piedade ao conduzir-
se como o fizeram—“faze tudo o que Deus te disse” [Gn_31:16]. “As
que são ajudas idôneas de seus maridos, nunca serão estorvos para fazer
aquilo para o qual Deus os chama”. (Henry.)
17. Então, se levantou Jacó — O povo pastoril ocupa pouco tempo
numa mudança. Baixar as carpas e suas estaca, e acomodá-las entre a
bagagem; pôr suas esposas e filhos em houdas como berço, sobre os
camelos, ou em cestos grandes sobre asnos; ordenar as diferentes
partidas de gado sob seus respectivos pastores: tudo isto é um processo
curto. Uma planície que na manhã está coberta por uma longa fila de
tendas e com gado que pasta, em poucas horas pode aparecer tão deserta,
que não fica nem um vestígio do acampamento, exceto os fossas em que
tinham estado as estacas das tendas.
18. levou todo o seu gado … que chegou a possuir — ou seja o
seu, e nada mais. Não se indenizou por suas muitas perdas, levando
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 91
alguma coisa que pertencesse a Labão, mas estava contente com o que a
Providência lhe tinha dado.
21. fugiu com tudo o que lhe pertencia — O resultado
demonstrou a prudência e a necessidade de partir secretamente; de outra
maneira, Labão o poderia haver detido pela violência ou pelo engano.
Alguns creem que Jacó deveria ter dado oportuno aviso; mas quando um
homem se sente em perigo, a lei da preservação de si mesmo prescreve o
dever da fuga imediata, se pode fazer de acordo com a consciência.

Vv. 22-25. LABÃO PERSEGUE JACÓ — SUA ALIANÇA EM


GILEADE.
22. No terceiro dia, Labão foi avisado — Logo que a notícia
chegou a Labão, ele saiu no encalço de Jacó, e como não levava
bagagem, avançou rapidamente; enquanto que Jacó, com família
pequena e numerosos rebanhos, tinha que partir devagar, de modo que
Labão alcançou os fugitivos depois de sete dias de viagem, enquanto
estavam acampados no topo do Monte Gileade, uma extensa cadeia de
colinas que formam a fronteira leste de Canaã. Como vinha
acompanhado por gente sua poderia ter usado da violência, se não
tivesse sido divinamente advertido em sonhos de que não pusesse
nenhum obstáculo à viagem do sobrinho. Que mudança mais notável e
repentina! Durante vários dias tinha estado cheio de raiva, e agora em
ardente expectativa de que tomaria plena vingança quando, de repente
suas mãos são atadas por um poder invisível (Sl_76:10). Não se atreveu
a tocar em Jacó, mas houve uma guerra de palavras.
25-30. disse Labão a Jacó: Que fizeste ...? — Não se diz nem uma
palavra da acusação mencionada em Gn_31:1. Suas recriminações são de
um tipo diferente. Sua primeira acusação foi que Jacó lhe tinha privado
da satisfação de dar a ele e a sua família as saudações habituais da
partida. No Oriente é costume, quando alguém sai para uma viagem
longa, que os parentes e amigos o acompanhem a certa distância com
música e cânticos de despedida. À vista da conduta anterior de Labão,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 92
sua queixa por este motivo era pura hipocrisia. Mas sua segunda
acusação foi grave: que tinham levado seus “deuses”—heb., terafim,
pequenas imagens de forma humana, não usadas como ídolos ou objetos
de adoração, mas sim como talismãs com fins supersticiosos.
31, 32. Respondeu-lhe Jacó: … Não viva aquele com quem
achares os teus deuses — Consciente de sua própria inocência e sem
suspeitar da má ação de sua esposa favorita, corajosamente provocou um
registro dos bens, e invocou a tristeza mais grave sobre a pessoa culpada.
Uma averiguação pessoal foi feita por Labão, quem examinou todas as
tendas [Gn_31:33]; e tendo entrado na de Raquel no final, teria
descoberto as imagens roubadas, se Raquel não lhe tivesse feito uma
petição que o impediu de continuar a busca [Gn_31:34-35].
34. Raquel havia tomado os ídolos do lar, e os pusera na sela de
um camelo, e estava assentada sobre eles — a sela comum para bestas
de carga usa-se às vezes como assento ou travesseiro, contra a qual uma
pessoa sentada no solo pode apoiar-se.
36, 37. Então, se irou Jacó — A recriminação de sua parte foi
natural nas circunstâncias, e, como de costume, quando as paixões
exaltam, as acusações aumentam muito. Rapidamente enumerou suas
ofensas durante vinte anos, e em tom de severidade ilimitada pintou o
caráter miserável e as injustas exigências de seu tio, além das várias
penalidades que ele tinha sofrido com paciência.
38. não comi os carneiros de teu rebanho — Os orientais
raramente matam as fêmeas para comer, exceto quando são estéreis.
39. Nem te apresentei o que era despedaçado pelas feras — Os
pastores são estritamente responsáveis pelas perdas no rebanho, a menos
que possam provar que estas são ocasionadas pelas feras.
40. de dia consumido pelo calor, de noite, pela geada — A
temperatura com frequência muda em vinte e quatro horas aos maiores
extremos de calor e frio, muito incômodo para os pastores que têm que
guardar as marmitas. Jacó merece muita consideração. As grandes e
contínuas provocações irritam os temperamentos mais mansos e melhor
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 93
disciplinados. É difícil praticar o conselho: “Irai-vos e não pequeis”
[Ef_4:26]. Mas estes dois parentes, depois de terem dado expressão a
seus sentimentos acumulados, chegaram a um entendimento mútuo, ou
antes, Deus influiu em Labão para que fizesse uma reconciliação com
seu sobrinho mal tratado (Pv_16:7).
44. Vem, pois; e façamos aliança — A maneira em que esta
aliança foi confirmada, foi como segue: um montão de pedras postas em
círculo, para que servissem de assentos, e no centro deste círculo foi
posta uma grande, perpendicularmente, como altar. É provável que um
sacrifício fosse devotado primeiro, e logo que a festa de reconciliação
fosse comida por ambas as partes sentadas nas pedras ao redor. Até hoje
se acham nesta região montões de pedras que foram usadas como
monumentos comemorativos.
52. Seja o montão [de pedras] testemunha — Os objetos da
natureza são mencionados frequentemente desta maneira. Mas
sobretudo, houve uma invocação solene a Deus; e é perceptível que
houve uma diferença marcada nos sentimentos religiosos dos dois.
Labão falou do Deus de Abraão e de Naor, seus antepassados comuns;
mas Jacó, sabendo que a idolatria se infiltrou entre aquele ramo da
família, “jurou Jacó pelo Temor de Isaque, seu pai”. Os que têm um
único Deus, deveriam ter um só coração; e os que concordam na religião,
deveriam estar de acordo em tudo o mais.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 94
Gênesis 32

Vv. 1, 2. UMA VISÃO DE ANJOS.


1. anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo — Não se diz se esta
manifestação angélica foi feita em visão de dia ou em sonho de noite. Há
uma evidente alusão, entretanto, à aparição sobre a “escada” (cf.
Gn_28:12), e o fato de isto ter ocorrido a Jacó em sua volta a Canaã, era
um sinal alentador da presença e proteção contínuas de Deus (Sl_34:7;
Hb_1:14).
2. Maanaim — duas hostes ou acampamentos. O lugar estava
situado entre o Monte Gileade e o arroio Jaboque, perto da ribeira deste.

Vv. 3-32. UMA MISSÃO ENVIADA A ESAÚ.


3. Jacó enviou mensageiros adiante de si a Esaú — ou seja tinha
enviado. Foi uma precaução prudente o averiguar a atual disposição de
Esaú, pois o caminho, ao se aproximar dos limites orientais de Canaã,
situava-se à margem do distrito deserto onde seu irmão se achava
estabelecido.
à terra de Seir — terra montanhosa a leste e sul do Mar Morto,
habitada pelos horeus, aqueles que foram desarraigados por Esaú ou por
sua posteridade (Dt_11:12). Quando, e em que circunstâncias ele tinha
emigrado lá, se a separação proveio da conduta desobediente e os hábitos
idolátricos de suas esposas, o que fazia com que elas fossem pouco
gratas como habitantes das tendas de Isaque, ou se por sua aptidão
vagabunda ele tinha buscado um país que se prestasse para a caça e suas
aventuras, ele estava vivendo num estado de poder e abundância, e esta
localização sobre limites exteriores de Canaã, feita voluntariamente por
ele, foi usada pela Providência para abrir o caminho para a volta de Jacó
à terra prometida.
4. Assim falareis a meu senhor Esaú — O teor da mensagem foi
que, depois de uma residência de vinte anos em Mesopotâmia, ele agora
retornava a sua terra natal; que nada lhe faltava, pois tinha abundância de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 95
riqueza pastoril, mas que não podia passar sem avisar a seu irmão de sua
chegada e sem lhe render a homenagem de sua respeitosa saudação. Os
atos de cortesia tendem a desarmar a oposição e a abrandar o ódio
(Ec_10:4).
Teu servo Jacó — Ele tinha sido feito senhor sobre seus irmãos
(cf. Gn_27:29). Mas é provável que ele cresse que isto se referia a uma
superioridade espiritual; ou se era a uma superioridade temporária, teria
que realizar-se em sua posteridade. De qualquer maneira, deixando a
Deus o cumprimento daquele propósito, ele pensou que era prudente
assumir a atitude mais bondosa e respeitosa.
6. Voltaram os mensageiros a Jacó — Seu relatório deixou Jacó
numa incerteza penosa a respeito de quais seriam os propósitos e
sentimentos de seu irmão. A reticência calculada de Esaú lhe deu motivo
para temer o pior. Jacó era naturalmente tímido; mas a consciência lhe
dizia que havia muitos motivos para recear, e seu angústia foi mais
agravada porque ele tinha que prover a segurança de uma família grande
e desamparada.
9-12. orou Jacó: Deus de meu pai Abraão — Nesta grande
emergência, tinha o recurso da oração. Este é o primeiro exemplo de
oração registrado na Bíblia. É curta, ardente e estriba diretamente sobre a
situação. A petição é feita a Deus como invocando uma aliança com
relação à sua família, assim como nós devemos pôr em Cristo nossas
esperanças de aceitação com Deus. Invoca a promessa especial feita a ele
mesmo, de uma feliz volta; e depois de uma confissão humilde e
emocionante de indignidade, respira um desejo ardente de uma
libertação do perigo iminente. Foi a oração de uma marido bondoso, de
um pai carinhoso, de um firme crente nas promessas.
13-23. separou ... um presente para seu irmão Esaú — Jacó
combinou esforços pessoais com a oração fervente; e isto nos ensina que
não devemos depender da ajuda e da interposição de Deus de uma
maneira tal que exclua o exercício da prudência e previsão de nossa
parte. É costume chegar-se a pessoas superiores com presentes, e o
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 96
respeito expresso se calcula pela qualidade e quantidade do obséquio. O
obséquio de Jacó consistiu em 550 cabeças de gado de diferentes classes,
o que seria mais apreciado por Esaú. Foi um presente do mais
esplêndido, hábil e habilmente arrumado. As camelas de leite dos
camelos por si só eram de um valor imenso; porque elas formam a parte
principal da riqueza do árabe; seu leite é um artigo de alimentação
importante; e em muitos outros sentidos são de grande utilidade.
16. cada rebanho à parte — Houve grande prudência neste
arranjo, porque assim o presente teria uma aparência mais imponente. A
paixão de Esaú teria tempo para acalmar-se à medida que ia passando
cada companhia; e se a primeira era rejeitada, as outras voltariam às
pressas para levar um aviso oportuno.
17. Ordenou ao primeiro — Mandou aos mensageiros que
dissessem estritamente as mesmas palavras [Gn_32:18, 20], para que
Esaú fosse impressionado, e que a uniformidade do discurso indicasse
mais claramente que era do próprio Jacó.
21. ele, porém, ficou aquela noite no acampamento — não toda a
noite, só uma parte dela.
22. o vau de Jaboque—agora o Zerca, corrente que nasce entre as
montanhas de Gileade, e correndo deste ao oeste, desemboca no Jordão,
como 64 quilômetros ao sul do Mar da Galileia. Neste vau há uma
largura de dez metros. Às vezes é vadeado com dificuldade, porém no
verão tem pouca profundidade.
Levantou-se naquela mesma noite, tomou suas duas mulheres
— Não podendo dormir, vadeou o arroio de noite sozinho, e se tendo
convencido de sua segurança, voltou para a ribeira norte, fez cruzar a sua
família e servos, ficando ele atrás, para buscar de novo, na oração, a
bênção divina sobre os meios que ele tinha posto em movimento.
24, 25. lutava com ele um homem — Esta pessoa misteriosa é
chamada um anjo (Os_12:5) e Deus (Gn_32:28, 30; Os_12:4); e a
opinião mais apoiada é que era “o anjo da aliança”, quem, em forma
visível, apareceu para animar a mente e simpatizar com o sofrimento de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 97
seu piedoso servo. Tem sido tema de muita discussão se o incidente
descrito foi uma contenda real, ou uma cena visionária. Muitos creem
que, como o relato não faz menção em termos expressos de dormir, ou
de sonho ou visão, foi uma transação real; enquanto que outros,
considerando seu esgotamento corporal, sua grande ansiedade mental, o
tipo de ajuda que ele pedia, como também a analogia de manifestações
anteriores com as quais ele tinha sido favorecido, tal como a escada,
pensam que foi uma visão. (Calvino, Hessenberg, Hengstenberg.) O
propósito moral disso foi o de avivar o espírito abatido do patriarca, e
armá-lo com a confiança em Deus, enquanto esperava as temidas cenas
do dia seguinte. Para nós é altamente instrutivo, mostrando que, para nos
alentar corajosamente a fazer diante das provas a que somos sujeitos,
Deus nos permite atribuir à eficácia de nossa fé e orações, as vitórias que
só sua graça nos capacita a fazer.
26. Não te deixarei ir se me não abençoares — É evidente que
Jacó era sabedor do caráter dAquele com quem disputava; e, crendo que
o poder dAquele, ainda que em muito superior ao humano, estava ainda
limitado por Sua promessa de lhe fazer bem, resolveu não perder a
brilhante oportunidade de assegurar-se uma bênção. Nada dá maior
satisfação a Deus que o ver os corações de Seu povo aderir-se a Ele.
28. Já não te chamarás Jacó, e sim Israel — O nome velho não
tinha que ser abandonado; mas, como se referia a uma parte desonrosa da
história do patriarca, tinha que associar-se com outro descritivo de seu
caráter agora eminentemente santificado e devoto.
29. Jacó perguntou-lhe: Dize-me o teu nome (TB) — Foi negada
a petição para que não se exaltasse muito com sua conquista nem cresse
ter conseguido tal vantagem sobre o anjo para fazer com que fizesse o
que a ele lhe agradasse.
31. manquejava da sua coxa — Como Paulo tinha um espinho em
sua carne que o humilhava para que não se exaltasse muito pelas
revelações abundantes a ele concedidas [2Co_12:7], assim a claudicação
de Jacó tinha que fazê-lo lembrar esta cena misteriosa e que foi uma
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 98
condescendência gratuita porque foi concedida a vitória. Nas maiores
vitórias espirituais, que os filhos de Deus alcançam pela fé, há sempre
algo que os humilha.
32. o nervo do quadril — o nervo que firma o osso da coxa em seu
encaixe. O costume dos judeus de não comer isto na carne dos animais,
não está fundada na lei, mas sim é meramente hábito tradicional. O
tendão é tirado com cuidado, e onde não há pessoas bastante peritas para
esta operação, eles não comem as pernas traseiras.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 99
Gênesis 33

Vv. 1-11. A BONDADE DE JACÓ E ESAÚ.


1. Esaú se aproximava, e com ele quatrocentos homens — Tendo
cruzado o vau e colocado suas esposas e filhos em ordem, dos mais
queridos ao último, para que estivessem o menos possível expostos ao
perigo, aguardou a ansiada entrevista. Sua fé estava fortalecida, e os seus
temores acalmados (Sl_27:3). Tendo tido poder para prevalecer com
Deus, tinha confiança na eficácia do mesmo poder para com os homens,
segundo a promessa (cf. Gn_32:28).
3. prostrou-se à terra sete vezes — a maneira de fazer isto é:
olhando ao superior se inclina a parte superior do corpo até que fique
paralela com a terra; logo se avançam uns passos inclinando-se
novamente, e se repete esta saudação até que, à sétima vez, o suplicante
está na presença imediata de seu superior. Isto era sinal de profundo
respeito, e, embora muito exagerado, pareceria natural; porque sendo
Esaú o irmão mais velho, tinha direito, segundo o costume do Oriente, ao
tratamento respeitoso de seu irmão mais novo. Seus acompanhantes se
impressionariam por isso, e segundo o hábito oriental, engrandeceriam o
feito diante de seu senhor.
4. Esaú correu-lhe ao encontro — Que mudança tão repentina e
surpreendente! Seja que a vista do régio obséquio e a profundo
homenagem de Jacó tivesse produzido este efeito, ou que procedesse do
caráter impulsivo de Esaú, a hostilidade abrigada durante vinte anos,
num momento desapareceu; as armas de guerra foram postas de lado, e
os mais cálidos sinais de carinho mútuo foram mudados entre os irmãos.
Mas sem dúvida, a causa eficaz foi a influência secreta, dominante da
graça divina (Pv_21:1), que converteu a Esaú de inimigo em amigo.
5. Quem são estes contigo? — Teria sido suficiente dizer: “Eles
são meus filhos”; mas Jacó era homem piedoso, e não poderia responder
senão na linguagem da piedade (Sl_127:3; Sl_113:9; Sl_107:41).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 100
11. E instou com ele, até que o aceitou — No Oriente a aceitação
de um obséquio por um superior é prova de amizade, e por um inimigo,
o é de reconciliação. Foi por ambos os motivos pelo que Jacó ansiava
tanto que seu irmão recebesse o gado; e na aceitação de Esaú tinha ele a
prova mais firme de que um bom entendimento reconhecido pelos
orientais, ficava estabelecido.

Vv. 12-20. A PARTIDA.


12. Disse Esaú: Partamos e caminhemos — Esaú propôs
acompanhar a Jacó e sua família através do país, em sinal de respeito e
para escoltá-los e cuidá-los. Mas a oferta foi prudentemente rejeitada. A
Jacó não tinha falta de nenhuma pompa ou equipe mundana. Apesar da
presente cordialidade, os irmãos eram tão diferentes em espírito, caráter
e hábitos — um era homem do mundo, e o outro um homem de Deus—
que havia muito risco de que algo ocorresse que perturbasse a harmonia.
Como Jacó apresentasse uma desculpa muito razoável pela lentidão de
seus movimentos, os irmãos se separaram em paz.
14. até chegar a meu senhor — Parece que a intenção de Jacó era
rodear o Mar Morto e visitar seu irmão em Seir, e assim, sem cruzar o
Jordão chegar a Berseba onde estava Isaque. Mas mudou seu plano, e se
o propósito foi completo então ou numa data posterior, não se sabe.
17. Jacó partiu para Sucote — ou seja “cabanas”, sendo a
primeira estação onde Jacó se deteve ao voltar para Canaã. Seus
descendentes, quando moraram em casas de pedra, edificaram ali uma
cidade, e a chamaram Sucote, para comemorar o fato de que seu
antepassado, um “arameu prestes a perecer” [Dt_26:5], se contentou
vivendo em cabanas.
18. chegou Jacó são e salvo à cidade de Siquém — a palavra
“Shalem” em hebraico quer dizer “paz”, ou em boa saúde. A tradução
seria, pois, como em nossa versão em português: “Jacó chegou em paz à
cidade de Siquém”. Mas a maioria dos comentadores tomam Shalem”
como nome próprio, e traduzem: “veio Jacó a Shalem, cidade de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 101
Siquém”. O sítio está marcado por uma das pequenas aldeias como a 3
quilômetros a nordeste de Siquém, chamado em árabe Shalim. Um
pouco para além no vale de Siquém, “comprou uma parte do campo”,
onde levantou sua tenda, sendo assim o primeiro dos patriarcas que
chegou a ser proprietário em Canaã.
19. cem peças — peças, literalmente “cordeiros”; provavelmente
uma moeda com a figura de um cordeiro.
20. Levantou ali um altar — bela prova de sua piedade pessoal, e
uma terminação muito adequada de sua viagem, e um monumento
perdurável de um favor distinto no nome: “O Deus de Israel”. Onde quer
que tendamos nossa tenda, Deus terá seu altar.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 102
Gênesis 34

Vv. 1-31. A DESONRA A DINÁ.


Ainda que libertado de dificuldades com os estrangeiros, Jacó se
encontrou com uma tragédia doméstica na queda de sua única filha.
Segundo Josefo, ela tinha estado assistindo a uma festa; mas é muito
provável que tivesse interagido com frequência e livremente na
sociedade do lugar, e sendo mulher simples, sem experiência e ingênua,
se teria sentido adulada pelas atenções do filho do governador. Deve ter
havido tempo e oportunidades de relacionamento, para que nascesse o
forte afeto que Siquém sentia por ela.
5. Jacó … calou-se — Como pai e homem bom, Jacó deve ter
estado profundamente aflito. Mas pouco podia fazer. No caso de uma
família de distintas esposas, não é o pai, e sim os irmãos, aos quais cabe
a proteção das filhas; eles são os protetores do bem-estar da irmã e os
vingadores de seus males. Por esta razão Simeão e Levi, os dois irmãos
de Diná por parte de Leia, sua mãe [Gn_34:25], aparecem como os
principais atores neste episódio; e ainda que os pais respectivos tivessem
chegado a um acerto amigável do assunto, a repentina chegada destes
irmãos enfurecidos introduziu um elemento novo nas negociações.
6. Hamor — ou seja, asno. Isto é prova notável das ideias muito
distintas que no Oriente estão associadas com este animal, que ali
aparece vivaz, bem proporcionado e de grande atividade. Este chefe
chama-se Emor em At_7:16 (TB).
7. entristeceram-se os varões e iraram-se muito (RC) — Homens
bons em tal caso não podiam senão afligir-se; mas tudo teria ido bem se
sua ira tivesse sido menor, e se tivessem conhecido o preceito: “Não se
ponha o sol sobre a vossa ira” [Ef_4:26]. Nenhuma injúria pode justificar
a vingança (Dt_32:35; Rm_12:9); mas os filhos de Jacó tramaram um
plano de vingança da maneira mais enganosa.
8. Disse-lhes Hamor — O príncipe e seu filho, à primeira vista
parece que agiram honestamente, e nossos sentimentos estão a seu favor.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 103
Eles não manifestaram o traidor ciúme dos poderosos pastores; ao
contrário, mostram todo desejo de estabelecer relação amigável com
eles. Mas sua conduta é injustificável porque não expressam nenhum
pesar pelo ocorrido, nem restituem Diná à sua família; e este grande erro
foi a verdadeira causa pela qual as negociações terminassem de uma
maneira tão trágica.
11. o próprio Siquém disse ao pai e aos irmãos de Diná — A
consideração da proposta correspondia a Jacó, e ele mostrou certamente
grande fraqueza em ceder tanto à veemência fogosa de seus filhos. O
resultado demonstra as consequências terríveis daquela cedência.
12. Majorai de muito o dote de casamento e as dádivas — As
dádivas se referem aos presentes feitos no compromisso de casamento,
tanto à noiva como a seus parentes (cf. Gn_24:53); o dote, a uma soma
conveniente dada à esposa quando se casa.
13. responderam os filhos de Jacó (RC) — A honra de sua família
consistia em ter o sinal da aliança. A circuncisão era o rito pelo qual uma
pessoa era admitida como membro da antiga igreja. Mas aquele rito
externo não podia fazer dos siquemitas verdadeiros israelitas; e
entretanto, não parece que os filhos de Jacó pedissem algo mais. Nada é
dito que ensinassem àquela gente a adorar ao verdadeiro Deus, mas
apenas sua insistência em que fossem circuncidados; é evidente que não
tentaram converter Siquém, mas só fizeram uma exibição de
religiosidade, para cobrir seu propósito diabólico. A hipocrisia e o
engano, em todo caso reprováveis, são imensamente mais, quando vão
acompanhados por uma exibição de religião; e aqui os filhos de Jacó, sob
o pretexto de escrúpulos de consciência, escondem um pérfido plano tão
cruel e diabólico como jamais fora perpetrado.
20. Vieram, pois, Hamor e Siquém, seu filho, à porta da sua
cidade — Aquele era o lugar onde se fazia toda declaração pública; e na
pronta submissão obsequiosa do povo a esta medida vemos uma
evidência ou do afeto extraordinário para a família governante ou do
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 104
despotismo abjeto do Oriente, onde a vontade do chefe é um mandato
absoluto.
30. disse Jacó … Vós me afligistes e me fizestes odioso — Este
ultraje atroz, perpetrado nos indefesos habitantes e suas famílias fez com
que transbordasse a taça de aflições de Jacó. Assombramo-nos de que, ao
falar do ultraje a seus filhos, Jacó não o apresentasse como um pecado
atroz, uma violação terrível às leis de Deus e dos homens, mas enfatizou
somente as consequências presentes. Provavelmente foi assim porque era
o único aspecto capaz de inflamar a fria apatia e a consciência
endurecida daqueles filhos brutais. Só o poder refreador de Deus salvou
a ele e a sua família da vingança coletiva do povo (cf. Gn_35:5). Nem
todos os seus filhos tomaram parte na matança. José era ainda um rapaz;
Benjamim não tinha nascido, e os outros oito não estiveram envolvidos
nela. Só Simeão e Levi, com seus servos, tinham sido os atores culpados
nesta tragédia sangrenta. Mas os cananeus não teriam feito exceções em
sua vingança e se todos os siquemitas foram condenados à morte pela
ofensa do filho do chefe, não teria sido estranho que os nativos
estendessem seu ódio a toda a família de Jacó.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 105
Gênesis 35

Vv. 1-15. TRASLADO A BETEL.


1. Disse Deus a Jacó: Levanta-te, etc. — Este mandamento foi
dado em tempo oportuno, e em linguagem carinhosa. Os acontecimentos
ignominiosos e perigosos que acabavam de suceder na família do
patriarca, devem ter produzido nele um forte desejo de afastar-se sem
demora das cercanias de Siquém. Oprimido pelo entristecedor
sentimento de criminalidade de seus dois filhos, pela ofensa que eles
tinham feito a Deus e a desonra trazida sobre a verdadeira fé; angustiado
também pelo temor das consequências que este ultraje poderia trazer
sobre ele e sua família, se o povo cananeu se unisse para extirpar
semelhante banda de roubadores e homicidas; deve ter considerado esta
chamada como um grande alívio a seus afligidos sentimentos. Ao mesmo
tempo o mandato trazia uma suave repreensão.
sobe a Betel — Betel estava a uns 40 quilômetros ao sul de
Siquém; e a viagem era uma ascensão de uma paragem sob a uma região
montanhosa. Ali não só estaria afastado das impressões dolorosas do
lugar anterior, mas também estaria estabelecido num lugar que avivaria
as lembranças mais agradáveis e sublimes. O prazer de voltar a visitá-lo,
entretanto, não era totalmente completo.
faze ali um altar ao Deus que te apareceu — Como sucede com
muita frequência, as impressões dos anos juvenis se apagam pelo passar
do tempo; as promessas, feitas em tempos de aflição, são esquecidas; ou,
se são lembradas ao voltar a saúde e a prosperidade, não há o mesmo
ardor e sentido de obrigação em cumpri-las. Jacó estava sob esta
acusação. Tinha caído numa indolência espiritual. Fazia oito ou dez anos
que tinha retornado a Canaã. Já tinha estabelecido residência
confortável; também tinha reconhecido as misericórdias divinas, por
meio das quais sua volta e estabelecimento tinham sido claramente
dirigidos. (cf. Gn_33:19). Mas por alguma razão não mencionada, seu
voto anterior em Betel [Gn_28:20-22], numa grande crise de sua vida
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 106
tinha ficado sem cumprimento. O Senhor agora aparece para o lembrar
do seu dever descuidado, entretanto, em termos tão suaves, que
trouxeram à sua memória mais que a lembrança de sua falta, a bondade
de seu Guardião celestial; e o que mais impressionou a Jacó a natureza
afetuosa da chamada àquela cena memorável em Betel, aparece nos
preparativos imediatos que fez para ir até lá (Sl_66:13).
2. Então, disse Jacó à sua família … Lançai fora os deuses
estranhos que há no vosso meio — Heb. “deuses dos estranhos”, de
nações estrangeiras. Jacó havia trazido, entre seus servos, alguns criados
da Mesopotâmia, que eram viciados em práticas supersticiosas; e há
algum motivo para temer que ele não poderia ter dado o mesmo
testemunho nobre quanto à direção religiosa de sua família, como o de
Abraão (Gn_18:19). Pode ter sido muito negligente até agora, tolerando
estes males entre seus criados; ou, tal vez, sucedeu que até sua chegada a
Canaã, ele soube que a pessoa mais próxima e mais querida para ele,
estava secretamente contagiada com a mesma corrupção (Gn_31:34).
Mas seja como for, ele resolveu fazer a reforma imediata e completa em
sua casa; e ordenou que tirassem os deuses estranhos. Acrescentou:
purificai-vos e mudai as vossas vestes — como se alguma
contaminação, por contato com a idolatria, ficasse entre eles. Na lei de
Moisés, foram ordenadas muitas purificações cerimoniais, e eram
praticadas por pessoas que tinham contraído alguma contaminação, e
sem a observância delas, tais pessoas eram consideradas impuras e
inaptas para tomar parte com os demais no culto social a Deus. Estas
purificações corporais eram puramente figurativas; e como se ofereciam
sacrifícios antes da lei, assim também havia estas purificações externas,
como aparece nas palavras de Jacó; e assim pareceria que desde a queda
do homem eram usados tipos e símbolos que representavam e ensinavam
duas grandes doutrinas da verdade revelada—a expiação por Cristo e a
santificação de nossa natureza.
4. deram a Jacó todos os deuses estrangeiros … e as argolas —
Deuses estranhos, os serafim (Gn_31:30), como também provavelmente
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 107
outros ídolos tomados entre os despojos de Siquém; brincos de várias
formas, tamanhos e materiais, que são usados por todos no Oriente, e
então como agora, relacionados com as artes mágicas e a idolatria (cf.
Os_2:13). O tom decidido que agora assume Jacó, foi a causa provável
da presteza com que estes objetos favoritos da superstição foram
entregues.
Jacó os escondeu debaixo do carvalho — ou terebinto, árvore
alta, que como outras da mesma classe, eram objetos atraentes na
paisagem da Palestina; e debaixo do qual o patriarca havia posto seu
tenda. Ele escondeu as imagens e amuletos, que seus subordinados lhe
entregaram, junto às raízes desta árvore. Como o carvalho era
considerado uma árvore sagrada, o ato de sepultar estas coisas entre suas
raízes era depositá-las num lugar onde nenhuma mão atrevida removeria
a terra: e daí que por esta circunstância era chamado “a campina do
Meonenim”, ou seja, “carvalho dos Adivinhadores” (Jz_9:37); pela
grande pedra que elevou Josué, “carvalho memorial” (Jz_9:6).
5. o terror de Deus invadiu as cidades — Havia muitos motivos
para temer que uma tormenta de ira estalasse de todas as partes contra a
família de Jacó, e que as tribos cananeias tivessem formado um plano
unido de vingança. Mas um terror sobrenatural se apoderou deles; e
assim, por amor do “herdeiro da promessa”, o escudo protetor da
Providência estava estendido sobre sua família.
6. chegou Jacó a Luz, chamada Betel — É provável que este lugar
fosse terra desocupada quando Jacó foi para lá a primeira vez; e depois
daquele período (Calvino), os cananeus edificaram uma cidade a qual
deram o nome de Luz [Gn_28:19], pela profusão de amendoeiras que
cresciam ali. O nome Betel, que naturalmente seria usado só por Jacó e
sua família, não substituiu o nome original senão muito mais tarde.
Agora é identificado com a aldeia moderna do Beitin, e está no declive
ocidental da montanha onde Abraão edificou um altar (Gn_12:8).
8. Morreu Débora, a ama de Rebeca — Este acontecimento
parece ter sucedido antes que começassem as solenidades. Débora
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 108
“abelha” supondo-se que tivesse cinquenta anos ao chegar a Canaã, teria
chegado à idade de 180 anos. Quando foi transferida da casa de Isaque à
de Jacó, não se sabe. Provavelmente foi em sua volta da Mesopotâmia; e
ela tem que ter sido de um valor inestimável para a jovem família. À
semelhança dela, as velhas faxineiras não só eram honradas como
também amadas como mães; e, por conseguinte, sua morte foi ocasião de
grande lamentação. Foi sepultada sob o carvalho – daí chamado de
“Carvalho dos Prantos” [Gn_35:8, BJ] (cf. 1Rs_13:14). Deus quis
aparecer novamente a Jacó, depois que terminaram os solenes ritos de
devoção. Por esta manifestação de sua presença, Deus testificou Sua
aceitação do sacrifício de Jacó; renovou a promessa das bênçãos
garantidas a Abraão e Isaque [Gn_35:11, 12]; e o patriarca celebrou a
cerimônia com a qual tinha consagrado o lugar anteriormente, que
compreendia numa taça sacramental, junto com o azeite que derramou
sobre o pilar, e a reimposição do nome memorável [Gn_35:14]. Toda a
cena estava de acordo com o caráter da dispensação patriarcal, em que as
grandes verdades da religião eram perceptíveis aos sentidos, e os velhos
patriarcas do mundo eram ensinados de uma maneira adequada à
fraqueza de uma condição infantil.
13. Deus se retirou dele, elevando-se do lugar — A presença de
Deus foi manifestada de alguma forma visível, e Sua aceitação do
sacrifício mostrada pela milagrosa descida de fogo do céu, que o
consumiu no altar.

Vv. 16-27. NASCIMENTO DE BENJAMIM — MORTE DE


RAQUEL.
16. Partiram de Betel — Não pode haver dúvida de que o patriarca
desfrutou de uma grande alegria em Betel, e que nas observâncias
religiosas solenizadas, como nas lembranças vivas da gloriosa visão ali
recebida, foram avivados poderosamente os afetos do patriarca, e que ele
deixou o lugar sendo melhor servo de Deus e mais consagrado. Quando
terminaram as solenidades, Jacó com sua família seguiu uma rota
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 109
diretamente rumo ao sul, e chegou a Efrata, quando se cobriram de luto
pela morte de Raquel, que faleceu no parto, deixando um último filho
[Gn_35:18]. Uma morte muito sensível, considerando-se quão
ardentemente ela desejava ter filhos (cf. Gn_30:1).
18. deu-lhe o nome de Benoni — A mãe moribunda deu este nome
a seu filho, significativo de suas circunstâncias; mas Jacó o mudou para
Benjamim. Alguns creem que foi originalmente Benjamim “filho de
Dias”, ou seja, da velhice. Mas com a terminação atual significa “filho
da mão direita” ou seja, particularmente querido e precioso.
19. Efrata, que é Belém — Um é o nome antigo; o outro, o novo,
significando “casa de pão”,
20. Sobre a sepultura ... levantou Jacó uma coluna que existe
até ao dia de hoje — O lugar assinalado assim como a sepultura de
Raquel concorda com o relato da Escritura, estando como a um
quilômetro e meio de Belém. Antigamente estava coberta por uma
pirâmide de pedras, mas a tumba atual é uma construção maometana.
22-26. Os filhos de Israel … que lhe nasceram em Padã-Arã —
É prática comum do historiador sagrado dizer de uma companhia ou
corpo de homens o que seria verdade quanto à maioria, mas não
aplicável a cada indivíduo. Ver Mt_19:28; Jo_20:24; Hb_11:13. Aqui
temos um exemplo, pois Benjamim nasceu em Canaã [Gn_35:16-18].

Vv. 28, 29. A MORTE DE ISAQUE.


29. expirou Isaque e morreu — A morte deste venerável patriarca
é aqui relatada, antecipadamente, pois não sucedeu senão quinze anos
depois do desaparecimento de José. Ainda que fraco e cego, viveu até
uma idade muito avançada; e é uma evidência agradável da reconciliação
permanente entre Esaú e Jacó, o fato de que eles se reuniram no Manre
para verificar os ritos funerários de seu comum pai.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 110
Gênesis 36

Vv. 1-43. A POSTERIDADE DE ESAÚ.


1. São estes os descendentes de Esaú — história dos homens e
acontecimentos principais (cf. Gn_2:4).
Esaú, que é Edom — Nome que foi dado com referência à cor
peculiar de sua pele ao nascer [Gn_25:25] e feito mais significativo por
seu gosto excessivo pela sopa vermelha, como também pelo caráter feroz
de seus descendentes (cf. Ez_25:12; Ob_1:10).
2, 3. Esaú tomou por mulheres dentre as filhas de Canaã —
Houve três, mencionadas sob nomes distintos; porque é evidente que
Basemate é a mesma que Maalate (Gn_28:9), pois ambas estão no
parentesco de Ismael e de Nebaiote como filha do primeiro e irmã do
segundo; também se pode inferir que Ada é a mesma Basemate,
Oolibama a mesma Judite (Gn_26:34). Não era estranho que naquela
primeira idade as mulheres tivessem dois nomes, como Sara era também
Isca [Gn_11:29]; e isto é mais provável no caso das esposas de Esaú, que
teriam que tomar nomes novos quando foram de Canaã para viver no
Monte Seir.
6, 7. Esaú … se foi para outra terra, apartando-se de Jacó, seu
irmão — lit., uma terra sem perspectiva certa de estabelecer-se. O
propósito deste esboço histórico de Esaú e sua família é o de mostrar
como a promessa (Gn_27:39, 40) foi cumprida. Em prosperidade
temporária sobrepuja em muito a seu irmão; e é notável que, na
providência dirigida de Deus, este enorme aumento de sua riqueza
terrestre fosse a ocasião para que deixasse Canaã e que assim facilitar a
volta de Jacó.
8. Esaú, que é Edom, habitou no monte Seir — Este foi
divinamente cedido como sua possessão (Js_24:4; Dt_2:5).
15-19. príncipes — Os edomitas, como os israelitas foram
divididos em tribos, que tomaram seus nomes dos filhos de Esaú. O
principal de cada tribo se nomeia por um termo que em nossa versão se
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 111
traduz duque, não da alta posição e riqueza de um par britânico, mas sim
como os xeques ou emires do Oriente moderno, ou os chefes de tribos
montanheses. Mencionam-se quatorze que prosperaram no mesmo
tempo.
20-30. os filhos do Seir, o horeu — chefes nativos, que foram
incorporados aos da raça edomita.
24. este é o Aná que achou as fontes termais no deserto — A
palavra “mulos” em várias versões antigas se traduz “mananciais
quentes”; e esta descoberta de alguma fonte notável era suficiente, entre
um povo nômade ou pastoril, para que merecesse uma alusão tão
marcante.
31-39. reis que reinaram na terra de Edom — O poder real não
estava baseado sobre as ruínas dos ducados, mas sim existia
contemporaneamente com eles
40-43. Recapitulação dos chefes segundo os lugares de sua
residência.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 112
Gênesis 37

Vv. 1-4. PARCIALIDADE PATERNAL.


1. Habitou Jacó na terra das peregrinações de seu pai — “pai” é
usado coletivamente. O patriarca estava agora no Manre, no vale de
Hebrom (cf. Gn_35:27); e sua morada ali continuou da mesma maneira,
e guiada pelos mesmos motivos que a de Abraão e Isaque (Hb_11:13).
2. gerações (TB) — os incidentes principais na história doméstica
de Jacó, como estão manifestados no relato que está para começar.
José … apascentava os rebanhos — Lit., tendo José dezessete
anos, era pastor do rebanho, um rapaz, como os filhos de Bila e Zilpa.
Evidentemente se entende que tinha a inspeção ou superintendência. O
posto de pastor em chefe poderia ser destinado ou por ser filho de uma
esposa principal ou por suas próprias qualidades superiores de caráter; e
se estava investido com este posto, ele agia não como fofoqueiro e sim
como mordomo fiel que informava da conduta escandalosa de seus
irmãos.
3. era filho da sua velhice — Sendo Benjamim mais novo, era
mais o “filho da sua velhice”, e por conseguinte, por este motivo se
esperava que fosse o favorito. Traduzido literalmente, é “filho da velhice
a ele”, frase hebraica que indica “filho sábio”, alguém que possuía
prudência e sabedoria superiores a seus anos, “cabeça velha sobre
ombros de jovem”.
fez-lhe uma túnica talar de mangas compridas — feita cosendo
juntos pedaços de tecido de cor diferente, e considerada como roupa de
distinção (Jz_5:30; 2Sm_13:18). A paixão por roupa de diversas cores
ainda existe entre os árabes e povos do Oriente, que gostam de vestir a
seus filhos com este adorno chamativo. Mas desde que foi introduzido a
arte de entretecer várias cores, “as roupas de cores” são diferentes agora
do que eram em tempos patriarcais, e levam uma semelhança estreita
com as variedades do tecido de lã com quadros ou listas cruzadas de
diferentes cores.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 113
4. já não lhe podiam falar pacificamente — não lhe diziam “paz
seja a ti” [Gn_43:23, etc.], a expressão habitual de boas-vindas entre
amigos e conhecidos. Considera-se um dever sagrado dar a todos esta
forma de saudação; e o recusá-lo é um sinal inequívoco de desgosto ou
hostilidade secreta. A abstenção habitual dos irmãos de José, pois, de o
encontrar com “o salaam”, mostrava o mal dispostos que estavam para
com ele. É muito natural que os pais amem os mais jovens e se mostrem
parciais com os que se sobressaem em talentos e amabilidade. Mas numa
família constituída como a de Jacó, por haver muitos filhos de mães
diferentes, ele mostrava uma indiscrição grande e ainda criminal.

Vv. 5-36. OS SONHOS DE JOSÉ.


5. Teve José um sonho — Nos tempos antigos se prestava muita
atenção aos sonhos, por isso o sonho de José, embora sendo um simples
rapaz, ocupou seriamente a atenção de sua família. Mas este sonho
evidentemente era simbólico. O significado do mesmo foi facilmente
discernido, e por ser repetido sob diferentes formas, o cumprimento era
considerado como seguro (cf. Gn_41:32), por isso foi que “seus irmãos
lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto, considerava o caso consigo
mesmo” [Gn_37:11].
12. foram os irmãos apascentar o rebanho do pai, em Siquém —
O vale de Siquém, desde a primeira menção de Canaã, era abençoado
com uma abundância extraordinária de água. Portanto, foram os filhos de
Jacó de Hebrom a este lugar, ainda que empregariam quase vinte horas
na viagem, ou seja, ao passo de pastores, um pouco mais de 80
quilômetros. Mas o pasto ali é tão rico e nutritivo, que eles creram que
valia a pena fazer tão longa viagem e deixar o distrito de pastoreio de
Hebrom. (Van de Velde.)
13. perguntou Israel a José: Não apascentam teus irmãos o
rebanho em Siquém? — Ansioso por saber como iam seus filhos em
seu longínquo acampamento, Jacó enviou José; e aceitando o jovem a
missão com ardor, deixou o vale de Hebrom; buscou-os em Siquém; foi
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 114
informado a respeito deles por um homem no “campo”, a planície larga e
bem cultivada de Esdralom; e soube que tinham deixado aquela
vizinhança para ir a Dotã, provavelmente sendo obrigados, pela
abominação que, por causa da matança, era tido seu nome.
17. Então, seguiu José atrás dos irmãos e os achou em Dotã —
Heb., “Dothaim”, ou “dois poços” recém descobertos na moderna
“Dothán”, situada a distância de poucas horas de Siquém.
18. De longe o viram — no campo plano, onde guardavam seu
gado, eles o podiam ver se aproximando na distância, do lado de Siquém
ou Samaria.
19. Vem lá o tal sonhador — lit., “senhor de sonhos” – mofa
amargamente irônica. Considerados os sonhos como sugestões do céu,
pretender falsamente ter tido um, era ação detestável e como uma
espécie de blasfêmia; deste ponto de vista seus irmãos viam a José, como
um fingidor ardiloso. Eles já começaram a formar um complô para seu
assassinato, do qual foi resgatado apenas pela petição de Rúben, quem
sugeriu que, em vez disso, deveriam lançá-lo em um dos poços, que
estão agora, e provavelmente estavam, completamente secos no verão.
23. despiram-no da túnica ... de mangas compridas que trazia
— Imagine a José avançando com toda a ingenuidade confiante do afeto
fraternal. Quão surpreso e espantado estaria pela recepção fria, o aspecto
feroz, o tratamento brutal de seus desnaturados assaltantes! Um quadro
vivo de seu estado de agonia e desespero foi esboçado mais tarde por
eles mesmos (cf. Gên. 42:21).
25. Então se assentaram para comer (TB) — Que aspecto
apresenta esta exibição daqueles libertinos endurecidos! A rapidez, a
maneira quase instantânea em que a sugestão foi seguida pela decisão
unânime deles, e a fria indiferença, ou antes, a satisfação diabólica, com
que eles se sentaram a satisfazer-se, é assombrosa. É impossível que a
mera inveja por seus sonhos, seu vistoso traje, ou a parcialidade de seu
pai comum, os tivessem incitado a tal grau de ressentimento furioso ou
os tivessem confirmado em maldade tão completa. Seu ódio contra José
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 115
tem que ter tido uma base mais funda; tem que ter sido produzido pela
aversão a sua piedade e outras excelências, que fizeram com que sua
conduta e caráter fossem uma constante repreensão do caráter e da
conduta deles, e por causa do qual perceberam que nunca poderiam estar
à vontade enquanto não se livrassem de sua aborrecida presença. Esta foi
a verdadeira solução do mistério, assim como foi no caso de Caim
(1Jo_3:12).
Levantando os olhos, olharam, e eis que uma caravana de
ismaelita — se chamam também midianitas (Gn_37:28,36), era uma
caravana andante composta de uma associação mista de árabes. Aquelas
tribos da Arábia setentrional já se dedicavam ao comércio, e por longo
tempo desfrutavam de um monopólio, estando em suas mãos todo o
negócio de transportes. Sua chegada podia ver-se facilmente, porque seu
caminho, depois de cruzar o vau do distrito transjordânico, seguia ao
longo do declive sul das montanhas de Gilboa, e pessoas sentadas na
planície de Dotã podiam ver sua marcha com a fila de camelos à
distância quando caminhavam pelo vale, largo e ligeiramente inclinado,
que os separava. Negociando os produtos da Arábia e Índia, eles estavam
no curso comum do tráfico no caminho ao Egito. Os principais artigos de
comércio em que se ocupavam, eram as especiarias da Índia, ou seja,
uma classe de borracha resinosa, chamada storax, “bálsamo de Gileade”,
a seiva da árvore balsâmica, natural da Arábia Feliz, e mirra, uma
borracha da Arábia, com uma forte fragrância. Destes artigos deve ter
havido uma demanda enorme no Egito, pois eram usados constantemente
no processo de embalsamamento.
26-28. disse Judá a seus irmãos: De que nos aproveita matar o
nosso irmão ... ? — A vista destes comerciantes viajantes trouxe uma
mudança repentina nos projetos dos conspiradores; porque não tendo
desejo de cometer um crime maior que o necessário para obter seu fim,
eles facilmente aprovaram a sugestão de Judá, de vender o seu detestável
irmão como escravo. A proposta, naturalmente, fundou-se em seu
conhecimento de que os comerciantes árabes traficavam escravos; e há a
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 116
evidência mais clara proporcionada pelos monumentos do Egito, de que
os traficantes que tinham o costume de trazer escravos dos países através
dos quais passavam, achavam bom mercado nas cidades do Nilo.
28. os irmãos de José o alçaram, e o tiraram da cisterna, e o
venderam — Agindo impulsivamente pelo conselho de Judá, eles
tiveram preparada a sua pobre vítima para quando chegaram os
comerciantes; e como o dinheiro não era seu objeto principal, venderam-
lhe por
vinte siclos de prata — O dinheiro era provavelmente em forma de
anéis ou peças (siclos), e a prata sempre se menciona nos relatos daquela
idade primitiva antes do ouro, em razão de sua escassez. A soma,
considerada n peso do siclo, não passaria de três libras esterlinas.
levaram José ao Egito — Havia duas rotas até o Egito, uma por
terra pelo caminho de Hebrom, onde morava Jacó, e se tivessem tomado
esta, a sorte de seu desventurado filho possivelmente teria chegado aos
ouvidos paternos; a outra era diretamente rumo ao oeste desde Dotã até a
costa do mar, e por este caminho o mais seguro e mais curto, os
comerciantes levaram José ao Egito. Desta maneira uma Providência
governante levou a este conclave homicida de irmãos, como também aos
traficantes de escravos – ambos seguindo seu próprio curso – o ser
participantes num ato pelo qual Deus tinha que levar a cabo, de uma
maneira maravilhosa, os grandes propósitos de sua sabedoria e bondade
para com Sua igreja e Seu antigo povo.
29, 30. Tendo Rúben voltado à cisterna — Parece que ele tirou de
propósito uma rota tortuosa, com finalidade de resgatar secretamente o
pobre rapaz de uma morte lenta pela fome. Suas intenções eram
excelentes, e seus sentimentos foram dolorosamente machucados,
quando se deu conta do que se havia feito em sua ausência. Mas a coisa
era de Deus, quem tinha projetado que fosse efetuada a libertação por
meios diferentes dos de Rúben.
31-33. tomaram a túnica de José — O cometer um pecado
necessariamente leva a cometer outro para cobrir o primeiro; e a mutreta
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 117
enganosa que os filhos de Jacó planejaram e praticaram com seu velho
pai, foi uma consequência lógica do crime atroz que tinham perpetrado.
Que maravilha que sua cruel zombaria, “a roupa de seu filho”, e seus
esforços desesperados por consolá-lo, não despertasse alguma suspeita!
Mas a extrema tristeza, como todas as outras paixões, é cega, e Jacó,
grande como era sua aflição, não se deixou abandonar à sua dor mais do
que convinha a alguém que cria no governo de um supremo e todo sábio
Diretor.
34. Jacó rasgou as suas vestes, e se cingiu de pano de saco — os
sinais de luto no Oriente. Uma ruptura mais ou menos longa segundo os
sentimentos afligidos pelo enlutado, faz-se na saia, e um pedaço de saco
ou tecido áspero de cabelo de camelo é enrolado na cintura.
35. Chorando, descerei a meu filho até à sepultura — não à
terra, porque supunha que José tinha sido despedaçado, mas sim ao lugar
desconhecido, o lugar dos espíritos desaparecidos, onde Jacó esperava na
morte encontrar-se com seu amado filho.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 118
Gênesis 38

Vv. 1-30. JUDÁ E SUA FAMÍLIA.


1. por esse tempo — fórmula frequentemente usada pelos
escritores sagrados, não para assinalar um período fixo, mas sim um
intervalo próximo.
2. Ali viu Judá a filha de um cananeu — Como Esaú [Gn_26:34],
este filho de Jacó rejeitando as restrições da religião, casou numa família
cananeia; e não é estranho que a família que veio de tal união
inconveniente, fosse odiosa por sua maldade audaz e desavergonhada.
8. disse Judá a Onã: Possui a mulher de teu irmão, cumpre o
levirato e suscita descendência a teu irmão — O primeiro caso de um
costume que mais tarde foi incorporado entre as leis de Moisés, de que
quando morresse um marido deixando uma viúva, seu irmão que lhe
seguia, tinha que casar-se com ela, e a prole, se houvesse, tinha que ser
herdeira do finado (cf. Dt_25:5).
12. Judá, subiu aos tosquiadores de suas ovelhas, em Timna —
Esta época, que aparece na Palestina pelo fim de março, passava-se entre
uma gritaria maior que de ordinário e os senhores mais opulentos
convidavam os seus amigos, como também davam de presente a seus
servos com festins suntuosos. Por conseguinte, diz-se que Judá ia
acompanhado por seu amigo Hira.
Timna — nas montanhas de Judá.
18. O teu selo, etc. — argolas e braceletes eram levados tanto pelos
homens como pelas mulheres entre os hebreus. Mas a palavra hebraica,
aqui traduzida braceletes, em todos os outros lugares se traduz por
“encaixe” ou “cinta”; como só o anel, valia provavelmente mais que o
equivalente de um cabrito, não é fácil suspeitar por que as outras coisas
foram dadas também, exceto pela hipótese de que o anel estava preso ao
borde por uma cinta.
24. Tirai-a fora para que seja queimada — Parece que em
tempos patriarcais, os pais possuíam o direito de vida e morte sobre os
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 119
membros de suas famílias. O crime do adultério antigamente se castigava
em muitas partes com abrasamento. (Lv_21:9; Jz_15:6; Jr_29:22). Este
capítulo contém detalhes que provavelmente não teriam conseguido
lugar na história inspirada, se não tivessem que mostrar os elos
completos da cadeia que une a genealogia do Salvador com Abraão; e no
caráter desprezível da linhagem que figura nesta passagem, temos prova
notável de que “se aniquilou a si mesmo” [Fp_2:7].
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 120
Gênesis 39

VV. 1-23. JOSÉ NA CASA DE POTIFAR.


1. Potifar — Este nome significa um “devoto do sol”, a deidade
local de Om ou Heliópolis, circunstância que fixa o lugar de sua
residência no Delta, distrito do Egito que limita com Canaã.
oficial de Faraó — lit., príncipe de Faraó; ou seja, no serviço do
governo.
comandante da guarda — O sentido do termo original foi
interpretado de várias maneiras, considerando alguns que quer dizer
“chefe dos cozinheiros”, outros, “chefe inspetor de plantações”; mas
aquele que parece melhor baseado é “chefe dos executores”, “chefe da
polícia”, o mesmo que capitão da guarda, o zabut do Egito moderno.
(Wilkinson.)
comprou-o dos ismaelitas — A idade, aparência e inteligência do
escravo hebreu logo fariam com que fosse comprado no mercado. Mas a
influência invisível e imperceptível do grande Ordenador atraiu a
atenção de Potifar para ele, a fim de que em casa de alguém tão
estreitamente unido à corte, recebesse José aquele ensino prévio que era
necessário para a alta posição que estava destinado a ocupar, e na escola
da adversidade aprendesse lições de sabedoria prática que tinham que ser
da maior utilidade e importância em sua carreira futura. Assim é, que
quando Deus tem alguma obra importante a fazer, sempre prepara
agentes aptos para efetuá-la.
2. estava na casa de seu senhor egípcio. — Aqueles escravos que
tinham sido prisioneiros de guerra, geralmente eram enviados ao campo,
e sujeitos ao tratamento duro sob a “vara” dos capatazes. Mas os
comprados por dinheiro, eram empregados em trabalhos domésticos,
tratados bondosamente, e desfrutavam de tanta liberdade como os da
mesma classe no moderno Egito.
3. Vendo Potifar que o SENHOR era com ele — Ainda que
mudada sua condição, José não mudou em espírito; despojado da veste
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 121
vistosa que o tinha adornado, não havia perdido as graças morais que
distinguiam seu caráter; separado de seu pai sobre a terra, seguia vivendo
em comunhão com seu Pai no céu; em casa de um idólatra, ele
continuava como adorador do verdadeiro Deus.
5. o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José, etc.
— Poderia ser, e provavelmente foi, que uma bênção especial,
milagrosa, fosse derramada sobre um jovem, que tão fielmente servia a
Deus em meio a todas as desvantagens de sua posição. Mas será útil
notar que semelhante bênção geralmente segue o curso comum das
coisas; e os senhores mais mundanos e ímpios sempre admiram e
respeitam a religião num servo, quando veem apoiada aquela profissão
por princípios de consciência e por uma vida consequente.
6. tudo o que tinha confiou às mãos de José — Não sabemos com
que emprego entrou no serviço de Potifar; mas o olho observador de seu
senhor logo descobriu suas qualidades superiores, e o tornou seu servo
principal e confidencial (cf. Ef_6:7; Cl_3:23). A promoção de escravos
domésticos não é rara, e se considera uma grande desgraça não elevar a
alguém que tenha estado um ano ou dois na família. Mas este progresso
extraordinário de José foi obra do Senhor, embora de parte de Potifar foi
o resultado de suas observações quanto à prosperidade assombrosa que a
acompanhava em tudo o que fazia.
7. a mulher de seu senhor pôs os olhos em José — As mulheres
egípcias não eram guardadas em isolamento como as mulheres na
maioria dos países orientais o são ainda hoje. Eram tratadas de uma
maneira mais digna de um povo civilizado; com efeito, desfrutavam de
tanta liberdade em casa e fora de casa como as damas da Grã-Bretanha.
De modo que a mulher de Potifar tinha constante oportunidade de ver
José. Mas as mulheres do antigo Egito eram muito relaxadas em seus
costumes. As intrigas e a intemperança eram vícios muito gerais entre o
sexo, como os monumentos o testificam muito claramente. (Wilkinson.)
A mulher de Potifar provavelmente não era pior que muitas outras da
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 122
mesma posição, e seus requerimentos infames feitos a José resultavam
de sua superioridade de posição.
9. como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra
Deus? — Esta repreensão, quando todos os argumentos inferiores
tinham falhado, reunia em si o verdadeiro princípio da pureza moral, um
princípio sempre suficiente, onde existe, e todo suficiente.
14. chamou pelos homens de sua casa — Desapontada e
afrontada, ela jurou vingança, e acusou José, primeiro perante os servos
da casa, e logo perante o senhor em seu retorno.
Vede, trouxe-nos meu marido este hebreu para insultar-nos —
uma difamação, fingida e cega sobre seu marido por ter em sua casa a
um hebreu, a mesma abominação dos egípcios.
20. o senhor de José o tomou e o lançou no cárcere — A casa
redonda, pela forma de sua construção, geralmente unida ao domicílio de
um oficial como Potifar. Era em parte um calabouço subterrâneo
(Gn_41:14), ainda que os muros de tijolo se elevavam grandemente
sobre a superfície da terra, e estavam cobertos por uma abóbada quase na
forma de uma taça invertida. Em semelhante calabouço, no primeiro
arrebatamento de sua ira, lançou ali José, e ordenou ademais que fosse
sujeito ao tratamento mais duro possível (Sl_105:18); porque o poder
dos senhores sobre seus escravos estava muito justamente limitado pela
lei, e o assassinato de um escravo era um crime capital.
no lugar onde os presos do rei estavam — Ainda que pareça que
os cárceres eram dependências inseparáveis dos palácios, este não era
um calabouço comum; era o receptáculo dos criminosos do estado; e,
então, se pode presumir que se exercia sobre os detentos uma severidade
e vigilância mais que o comum. Em geral, entretanto, os cárceres
egípcios, como outros orientais, eram usados somente com propósitos de
detenção. As pessoas acusadas eram postas neles até que se pudessem
investigar as acusações; e embora o carcereiro fosse responsável pelo
aspecto dos que tinha sob sua custódia, entretanto, sempre que pudessem
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 123
apresentar-se quando eram chamados, nunca lhe interrogava sobre a
maneira em que ele os tinha.
21-23. O SENHOR … deu-lhe graça aos olhos do carcereiro-
mor — É muito provável, pela localização deste cárcere, (Gn_40:3), que
o carcereiro tivesse conhecido anteriormente a José, e tivesse tido meios
de conhecer sua inocência do crime de que era acusado, como também
soubesse de toda a integridade de seu caráter. Isto em parte poderá
explicar por que mostrava tanta bondade e confiança a seu detento. Mas
estava operando uma influência superior; porque “o SENHOR era com
ele, e tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava” [v. 23]
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 124
Gênesis 40

Vv. 1-8. DOIS PRISIONEIROS DE ESTADO.


1. o copeiro-chefe — não só copeiro, mas também capataz das
vinhas reais como também das adegas, tendo talvez centenas de pessoas
sob suas ordens.
padeiro-chefe — cozinheiro, tinha a superintendência de tudo o
que estava relacionado com a provisão e preparação das refeições para a
mesa real. Ambos os oficiais, especialmente o primeiro, eram no antigo
Egito pessoas de grande posição e importância; pela natureza
confidencial de seu emprego como também por seu acesso à presença
real, eles eram geralmente dos mais elevados nobres ou príncipes de
sangue real.
2, 3. Faraó … mandou detê-los, etc. — Seja qual for o seu crime,
até que sua causa pudesse ser investigada, foram entregues à custódia do
capitão da guarda, ou seja, a Potifar, numa parte exterior de cuja casa
estava situada o cárcere real.
4. O comandante da guarda pô-los a cargo de José — não o
carcereiro, ainda que ele estava muito favoravelmente disposto, mas sim
o próprio Potifar quem, conforme pareceria, agora estava satisfeito com
a perfeita inocência do jovem hebreu; ainda que provavelmente para
evitar o escândalo em sua família, achou prudente tê-lo detido na prisão
(veja-se Sl_37:5).
por algum tempo estiveram na prisão — quanto tempo não
sabemos. Mas como foram chamados a prestar contas no aniversário do
rei, supôs-se que sua falta tinha sido cometida no aniversário anterior.
(Calvino).
5-8. Tiveram ambos um sonho (TB) — José sob a influência da
verdadeira religião sabia simpatizar com outros (Ec_4:1; Rm_12:15
Fp_2:4). Vendo-os um dia extremamente deprimidos, perguntou pela
causa de sua melancolia; e sendo informado de que se devia a um sonho
que ambos tinham tido na noite anterior, depois de dirigi-los
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 125
humildemente a Deus (Dn_2:30; Is_26:10), se ofereceu para ajudá-los,
por meio da direção divina, a descobrir o significado de sua visão. A
influência da Providência tinha que ver-se no fato notável de que ambos
sonharam tais sonhos numa mesma noite. Deus move os espíritos dos
homens.

Vv. 9-15. O SONHO DO COPEIRO.


9. Em meu sonho havia uma videira perante mim — A cena
vista em sonhos que se descreve, parece representar o rei fora de casa,
fazendo exercício, e acompanhado por seu copeiro, que lhe deu uma
bebida refrescante. Em todas as ocasiões, os reis do Egito estavam
obrigados a ser temperados no uso do vinho (Wilkinson); mas nesta
cena, é uma bebida preparada que está tomando, provavelmente um
sorvete dos de hoje em dia. Tudo é feito na presença do rei — a taça é
lavada, o suco das uvas se espreme nela; então foi passada ao rei — não
empunhada, mas sim apoiada ligeiramente sobre as pontas dos dedos.
12-15. Respondeu José: Esta é a interpretação do sonho (TB) —
falando como intérprete inspirado, disse ao copeiro que dentro de três
dias seria restaurado a todas as honras e privilégios de seu cargo; e
enquanto fazia aquele anúncio prazeroso, pedia a influência do oficial a
favor de sua libertação. Nada até agora aparece na história que indique o
estado dos sentimentos de José; mas esta ardente petição revela uma
tristeza e ânsia impaciente pela liberdade, as quais não puderam dissipar
toda sua piedade e fé.

Vv. 16-23. O SONHO DO PADEIRO.


16. eis que três cestos de pão alvo me estavam sobre a cabeça
— As circunstâncias mencionadas exatamente descrevem seu trabalho;
que, apesar de seus numerosos ajudantes, ele fazia com suas próprias
mãos.
pão alvo — lit., cheios de buracos – canastras de vime. As comidas
eram levadas à mesa em três canastras, postas uma sobre a outra; e na de
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 126
mais acima, as carnes guisadas. Ao cruzar os pátios abertos, da cozinha
ao refeitório, o furto das comidas por algum abutre, águia, íbis ou outra
ave de rapina, era acontecimento frequente nos palácios do Egito, como
ocorre hoje em dia nos países quentes do Oriente. O perigo de parte
destas aves carnívoras era maior nas cidades do Egito, pois sendo
consideradas como sagradas, era contrário à lei destruí-las; e se
multiplicavam em tal quantidade que chegavam a ser uma grande
moléstia para o povo.
18, 19. Respondeu-lhe José: Esta é a interpretação do sonho
(TB) — O significado era que em três dias se ordenaria sua execução. A
linguagem de José descreve uma forma de castigo capital que prevalecia
no Egito: o réu era decapitado, e então seu corpo sem a cabeça era
pendurado numa árvore ao lado do caminho público, até ser comido
gradualmente pelas aves de rapina.
20-22. No terceiro dia, que era aniversário de nascimento de
Faraó — Este era grande dia de festa, celebrado na corte com grande
magnificência e enaltecido com a anistia os detentos. Por conseguinte, o
que José havia predito aconteceu ao copeiro e ao padeiro. Sem dúvida,
ele sentia tristeza ao ter que comunicar notícias tão terríveis ao padeiro;
mas não pôde senão anunciar o que Deus lhe tinha revelado; e foi para
honra do verdadeiro Deus que ele falou com clareza.
23. O copeiro-chefe, todavia, não se lembrou de José — Esta é a
natureza humana. Quão dispostos estão os homens a esquecer e
descuidar na prosperidade os que foram seus companheiros na
adversidade (Am_6:6)! Ainda que sem atribuir nenhum mérito sobre o
copeiro, foi sabiamente disposto na Providência de Deus que ele se
esquecesse de José. Os propósitos divinos requeriam que José
conseguisse sua libertação de outra maneira e por outros meios.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 127
Gênesis 41

Vv. 1-24. O SONHO DE FARAÓ.


1. passados dois anos — Não é seguro se estes anos se calcularem
desde o começo do encarceramento de José, ou dos acontecimentos
relatados no capítulo anterior – este é mais provável. Que longo tempo
para que José experimentasse a tristeza da esperança frustrada! Mas o
tempo de sua exaltação chegou, quando ele tinha aprendido
suficientemente as lições de Deus determinadas para ele, e os planos da
Providência amadureceram.
Faraó teve um sonho — A palavra Faraó, derivada da palavra
egípcia “fra”, que significa o “sol”, era o título oficial dos reis do país. O
príncipe que ocupava o trono, era Afofis, um dos reis Menfitas, cuja
capital era Om ou Heliópolis; o qual é universalmente reconhecido como
um rei patriota. Entre a chegada de Abraão e a de José àquele país,
tinham passado algo mais de cem anos. Os reis dormem e sonham, assim
como os seus súditos. Este rei teve dois sonhos numa mesma noite, tão
singulares e tão similares, tão distintos e aparentemente tão
significativos, tão coerentes e tão vivamente impressos em sua memória,
que seu espírito estava turbado.
8. mandou chamar todos os magos do Egito — Não é possível
definir a diferença exata entre “magos” e “sábios”; mas formavam ramos
distintos de um corpo numeroso, que pretendia ter poder e habilidade
sobrenatural nas artes e ciências ocultas, em revelar mistérios, em
explicar eventos singulares, e, sobretudo, em interpretar sonhos. Uma
longa prática os tinha feito peritos em inventar maneiras plausíveis de
sair de toda dificuldade e de idear uma resposta adequada a cada ocasião.
Mas os sonhos de Faraó frustraram a perícia de todos juntos. Distintos de
seus irmãos assírios (Dn_2:4), eles não pretendiam conhecer o
significado dos símbolos contidos nos sonhos e a Providência de Deus
tinha determinado que todos ficassem confundidos no exercício de seus
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 128
imaginários poderes, a fim de que a sabedoria inspirada de José
aparecesse tanto mais notável.
9-13. Então, disse a Faraó o copeiro-chefe: Lembro-me hoje das
minhas ofensas — Este reconhecimento público dos méritos do jovem
hebreu, ainda que tardio, teria posto algum mérito sobre o copeiro, se
não o tivesse feito claramente para congraçar-se com seu real senhor.
Faz bem confessar nossas faltas contra Deus e contra nossos
semelhantes, quando essa confissão é feita com espírito de piedosa
tristeza e arrependimento. Mas este homem não estava muito
impressionado com o sentimento da falta cometida contra José; nunca
pensou em Deus, a cuja bondade devia estar reconhecido pelo anúncio
profético de sua libertação, e ao reconhecer sua falta anterior contra o
rei, estava praticando a arte cortesã de adular a seu senhor.
14. Então, Faraó mandou chamar a José — Agora que tinha
chegado o tempo fixado por Deus (Sl_105:19), nenhum poder, nenhuma
política podiam reter José no cárcere. Durante sua prolongada detenção,
teria estado com frequência aflito por dúvidas perturbadoras; mas o
mistério da Providência estava por esclarecer-se, e todos os seus pesares
estavam para ser esquecidos na carreira da honra e da utilidade pública
em que seus serviços seriam empregados.
ele se barbeou — Os egípcios eram os únicos orientais que
gostavam da barba feita. Todos os escravos e estrangeiros que estavam
reduzidos a essa condição, eram obrigados, em sua chegada àquele país,
a adaptar-se aos hábitos de limpeza dos nativos, fazendo a barba e a
cabeça, cobrindo-se esta com uma boina ajustada. Assim preparado, José
foi conduzido ao palácio, onde o rei parecia ter esperado ansiosamente
sua chegada.
15, 16. Disse Faraó a José. Tive um sonho (TB) — O breve relato
que o rei fez do que desejava, demonstrou a genuína piedade de José,
quem, negando-se todo mérito próprio, atribuiu à divina fonte de toda
sabedoria, os dons ou a sagacidade que ele pudesse possuir; declarou sua
própria incapacidade de penetrar no futuro; mas, ao mesmo tempo,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 129
manifestou sua convicção de que Deus revelaria o que fosse necessário
saber.
17. contou Faraó a José: No meu sonho, estava eu de pé na
margem do Nilo — os sonhos eram puramente egípcios, fundados nos
produtos daquele país e nas experiências de um nativo. Como dependia
do Nilo a fertilidade do Egito, a cena se coloca sobre a margem daquele
rio; e como os bois nos antigos hieróglifos eram simbólicos da terra e
dos alimentos, estes animais foram introduzidos no primeiro sonho.
18. subiam do Nilo sete vacas (TB) — Agora se veem diariamente
vacas, do tipo do búfalo, inundando-se o Nilo; quando sua forma enorme
emerge gradualmente, parecem “subir do rio”.
pastavam no carriçal — pasto do Nilo; plantas aquáticas que
crescem nas margens lamacentas, especialmente da classe do lótus, com
a qual o gado geralmente engordava.
19. outras sete vacas … muito feias à vista e magras (RC) —
sendo a vaca o emblema da fecundidade, os diferentes anos de
abundância e de fome foram representados adequadamente pela
condição diferente das vacas: a abundância, pelas vacas que comiam o
pasto mais rico, e a escassez, pelas vacas fracas e famintas, às quais as
angústias da fome as obrigaram a cometer atos contrários à sua natureza.
22. Depois, vi, em meu sonho, que sete espigas saíam — isto é, de
trigo egípcio, o qual, quando é “cheio e bom”, é de tamanho notável,
brotando de uma só semente sete e dez ou quatorze caules ou troncos, e
em cada caule uma espiga.
23. mirradas e crestadas do vento oriental — destrutivo em todas
as partes para o grão, mas especialmente no Egito, onde, movendo-se
sobre os desertos arenosos da Arábia, chega como vento quente,
abrasador, ao Egito, e logo seca toda a vegetação. (cf. Ez_19:12;
Os_13:15).
24. As sete espigas mirradas devoravam as sete espigas boas —
“devoravam” é palavra distinta da que se usa em Gn_41:4, e leva
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 130
consigo a ideia de destruir absorvendo para si todo o poder nutritivo da
terra ao redor de si.

Vv. 25-36. JOSÉ INTERPRETA OS SONHOS DE FARAÓ.


25. respondeu José: O sonho de Faraó é apenas um — Os dois
assinalavam o mesmo acontecimento: uma dispensação notável de sete
anos de abundância sem igual, que tinham que ser seguidos por um
período similar de carestia sem paralelo. A repetição do sonho em duas
formas diferentes foi proposta para mostrar a certeza absoluta e a pronta
chegada desta crise pública; a interpretação foi acompanhada por várias
sugestões de sabedoria prática para fazer diante de tão grande
emergência que ameaçava.
33. Agora, pois, escolha Faraó um homem — a explicação dada,
quando a chave dos sonhos foi proporcionada parece ter sido satisfatória
ao rei e a seus cortesãos; e podemos supor que se suscitaria uma ansiosa
discussão no curso da qual se perguntaria a José se tinha algo mais a
dizer. Não há dúvida de que Deus proveu a oportunidade para que ele
sugerisse o que seria necessário.
34. ponha administradores sobre a terra — supervisores,
equivalente aos beis do Egito moderno.
tome a quinta parte dos frutos da terra do Egito — ou seja, do
produto da terra; que seria comprado e acumulado pelo governo, em vez
de vender-se aos comerciantes estrangeiros.

Vv. 37-57. JOSÉ É FEITO GOVERNADOR DO EGITO.


38. Disse Faraó aos seus oficiais — Os reis do antigo Egito eram
ajudados no manejo dos assuntos de estado pelo conselho dos membros
mais distinguidos da ordem sacerdotal; e, por conseguinte, antes de
admitir a José ao novo e extraordinário cargo que se devia tinha criar,
aqueles ministros foram consultados quanto à conveniência e
legitimidade da nomeação.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 131
homem como este, em quem há o Espírito de Deus. — Um
reconhecimento da existência e o poder do verdadeiro Deus, ainda que
pálido e fraco, continuou entre as classes superiores muito tempo depois
de que ter prevalecido a idolatria.
40. Administrarás a minha casa — esta repentina mudança na
condição de um homem que acabava de ser tirado do cárcere, não
poderia suceder senão no Egito. Em tempos antigos como nos modernos,
escravos subiram a governantes. Mas a Providência especial de Deus
tinha determinado tornar José governador do Egito; e o caminho foi
preparado para isso pela convicção profunda e universal na mente do rei
e seus conselheiros de que um espírito divino animava sua mente, e lhe
tinha dado um conhecimento tão extraordinário.
à tua palavra obedecerá todo o meu povo — lit., “beijo”. Isto se
refere ao decreto que concedia a José poder oficial, para ser despachado
em forma de um carimbo, como em todos os países orientais; e todos os
que recebessem aquela ordem, a beijariam, segundo o modo oriental
habitual de mostrar obediência e respeito ao soberano (Wilkinson).
41. Disse mais Faraó a José: Vês que te faço autoridade sobre
toda a terra do Egito — Estas palavras eram introdutórias da
investidura com as insígnias de autoridade, que eram: o anel com selo,
usado para assinar documentos públicos, e sua impressão era mais válida
que a assinatura do rei; o khelaat, ou vestido de honra, roupa de linho
primorosamente trabalhada, usada só pelos personagens mais elevados; o
colar de ouro, divisa de posição (a forma lisa ou ornamental dele
indicava o grau de posição e dignidade); o privilégio de andar em
carruagem de estado; e finalmente
43. clamavam diante dele: Inclinai-vos — “abrek” palavra
egípcia, que não se refere ao ato de prostrar-se, mas sim significando,
segundo alguns “pai” (cf. Gn_45:8), “príncipe nativo” ou seja que o
proclamava naturalizando, a fim de tirar toda aversão para com ele como
estrangeiro.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 132
44. Estas cerimônias de investidura terminaram na forma habitual
pelo rei que em conselho ratificava solenemente a nomeação.
Eu sou Faraó, contudo sem a tua ordem, etc. — modo proverbial
de expressão de grande poder.
45. Zafenate-Paneia — interpretado de várias maneiras, “revelador
de secretos”, “salvador da terra”; e pelos hieróglifos, “homem sábio
fugindo da contaminação” ou seja, adultério.
e lhe deu por mulher a Asenate, filha de Potífera — Sua
naturalização foi completada por uma aliança com uma família de alta
distinção. Sendo Om fundada por uma colônia árabe, Potífera, como
Jetro, sacerdote de Midiã, poderia ser adorador do Deus verdadeiro;
assim José, homem piedoso, ficaria livre da acusação de ter casado com
uma idólatra por motivos terrestres.
Om — Chamada “Áven” (Ez_30:17), e também Bete-Semes
(Jr_43:13). Ao ver toda esta profusão de honras repentinamente dadas a
José, não se pode duvidar que ele humildemente e com gratidão
reconheceria a mão de uma Providência especial que o conduzia por toda
sua variada carreira até um poder quase real; e nós que sabemos mais
que José, não só podemos ver que o progresso dele estava subordinado
aos propósitos mais importantes relacionados com a igreja de Deus, mas
sim aprendemos a grande lição de que uma Providência dirige os
menores acontecimentos da vida humana.
46. Era José da idade de trinta anos quando se apresentou a
Faraó — com dezessete quando foi trazido ao Egito; provavelmente três
anos no cárcere, e treze no serviço do Potifar.
andou por toda a terra do Egito — fez uma inspeção imediata,
para determinar o lugar e o tamanho das casas de armazenagem
necessitadas nas diferentes parte do país.
47. a terra produziu abundantemente — uma expressão singular,
que faz alusão não só à exuberância da colheita mas também à prática
dos ceifeiros de pegar só as espigas que eram cortadas.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 133
48. ajuntou todo o mantimento dos sete anos (RC) — Dá uma
ideia clara da fertilidade exuberante desta terra o fato de que da
superabundância dos sete anos copiosos, armazenou-se trigo para a
subsistência, não só da população mas também dos países vizinhos
durante os sete anos de escassez.
50-52. nasceram a José dois filhos — Estes acontecimentos, que
aumentaram sua felicidade temporária, demonstram a piedade de seu
caráter pelos nomes que deu a seus filhos.
53-56. Passados os sete anos de abundância — Além da porção
comprada pelo governo durante os anos de abundância, o povo poderia
ter armazenado muito para seu uso futuro. Mas imprevidentes como são
os homens usualmente em tempos de prosperidade, eles se acharam
necessitados, e teriam morrido aos milhares, se José não tivesse previsto
e provido para a calamidade prolongada.
57. a fome prevaleceu em todo o mundo — ou seja em países
contíguos ao Egito: Canaã, Síria e Arábia.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 134
Gênesis 42

Vv. 1-38. VIAJE AO EGITO.


1. Sabedor Jacó de que havia mantimento no Egito — veio a
sabê-lo por um rumor comum. É evidente pela linguagem de Jacó, que
sua família e as de seus filhos tinham sofrido grandemente pela escassez;
e pelo crescente aumento da calamidade, aqueles homens que antes
mostravam tanta atividade e ânimo, se estavam afundando no desalento.
Deus não queria interpor-se milagrosamente, quando estavam a seu
alcance os meios naturais para a conservação da vida.
5. havia fome na terra de Canaã — As chuvas tropicais, que
anualmente enchem o Nilo, são também as da Palestina; e a falta delas
produziria os mesmos efeitos desastrosos tanto em Canaã como no Egito.
Portanto, numerosas caravanas cruzavam o deserto arenoso de Suez, com
suas bestas de carga, para comprar trigo; entre outros “os filhos de Jacó”
se viram obrigados a empreender uma viagem ao qual pelas lembranças
dolorosas fortemente resistiam.
6. José era o senhor da terra — na cúpula de seu poder e
influência.
era ele quem vendia a todos os povos da terra — ou seja, ele
dirigia as vendas; porque era impossível que ele desse atenção pessoal
em todos os lugares. É provável, entretanto, que ele pessoalmente tenha
vigiado os depósitos que havia perto da fronteira de Canaã, até porque
era a parte mais exposta do país e porque ele teria previsto a chegada de
mensageiros da casa do pai.
os irmãos de José vieram e se prostraram rosto em terra,
perante ele — Seus sonhos proféticos [Gn_37:5-11] estavam em vias de
serem cumpridos, e a ferocidade terrível de seus irmãos tinha sido o
meio para efetuar a mesma situação que eles tinham querido evitar
(Is_60:14; Ap_3:9, última cláusula).
7, 8. Vendo José a seus irmãos, reconheceu-os ... porém eles não
o reconheceram — Isto não é estranho. Eles eram homens feitos já, e
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 135
ele só um rapaz, ao separar-se. Eles levavam sua roupa habitual; ele
tinha sua roupagem oficial. Eles nunca tinham sonhado que ele fosse
governador do Egito, enquanto que ele os tinha estado esperando. Eles
tinham um só rosto que olhar; ele tinha dez pessoas para reconhecer.
não se deu a conhecer, e lhes falou asperamente. — Seria uma
injustiça feita ao caráter de José supor que esta maneira áspera fosse
motivada por sentimentos vingativos; ele nunca guardou ressentimentos
contra os que lhe haviam feito mal. Mas lhes falou no tom autoritativo de
um governador a fim de obter alguma notícia, há longo tempo desejada,
a respeito do estado da família do pai, como também para trazer para
seus irmãos, mediante sua humilhação e inquietação, a um sentido dos
males que eles tinham feito a ele.
9-14. Vós sois espiões — esta é uma suspeita que se conserva a
respeito dos estrangeiros, em todos os países orientais, até hoje. Como
José bem sabia que seus irmãos não eram espiões, os acusou que uma
cruel dissimulação, de uma violação deliberada do que ele sabia que não
era verdade, ao imputar-lhes tal caráter. Mas é preciso lembrar que ele
estava em seu caráter de governador; e, com efeito, estava agindo sobre
o mesmo princípio sancionado por muitos dos escritores sagrados, e por
nosso Senhor mesmo, quem pronunciou parábolas (histórias fictícias)
para promover um bom fim.
15. pela vida de Faraó — É costume muito comum na Ásia
ocidental o jurar pela vida do rei. José falou com a maneira de um
egípcio, e talvez não cria que houvesse mal nisso. Mas nós estamos
ensinados a considerar as expressões de tal natureza à luz de um
juramento (Mt_5:34; Tg_5:12).
17-24. E os meteu juntos em prisão três dias — Seu
encerramento tinha o propósito de trazê-los à meditação saudável. E este
objetivo foi obtido, porque eles consideraram que a justiça retributiva de
Deus agora os perseguia naquela terra estrangeira. O teor de sua
conversação é um caso dos mais notáveis do poder da consciência
[Gn_42:21, 22], que temos na história.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 136
24. tomou a Simeão dentre eles e o algemou na presença deles
— Provavelmente ele tinha sido o principal instigador, o ator mais
violento no ultraje contra José, e se era assim, a escolha dele para ser o
refém encarcerado e preso até a volta de todos eles, no curso da
meditação dos mesmos, teria um significado doloroso.
25-28. Ordenou José que lhes enchessem de cereal os sacos, e
lhes restituíssem o dinheiro, a cada um. — Esta generosidade pessoal
não foi uma violação de seu dever ou defraudação das entradas do
governo. Ele fazia uso de seu livre-arbítrio; diariamente ele estava
enriquecendo o tesouro do rei. Além disso, ele poderia ter pago a soma
de seu pecúlio.
27. na estalagem — uma parada para dar de comer aos animais.
deu com o dinheiro — A descoberta os pôs numa perplexidade
maior que nunca. Se eles se estivessem felicitando por ter escapado do
insensível governador, deram-se conta de que agora ele teria uma
vantagem contra eles; e é claro que eles consideravam isto como um
juízo do céu. Assim o propósito principal de José foi conseguido porque
suas consciências tinham sido despertadas ao sentido de culpabilidade.
35. despejando eles os sacos de cereal, eis cada um tinha a sua
trouxinha de dinheiro — Parece que eles guardaram silêncio a respeito
do dinheiro descoberto na estalagem, porque seu pai poderia tê-los
reprovado por não terem retornado imediatamente com o dinheiro ao
Egito. Ainda que eles sabiam que eram inocentes, todos sentiam isto
como uma circunstância adversa, que poderia colocá-los em perigos
novos e maiores.
36. Tendes-me privado de filhos — Esta exclamação indica um
estado de sentimentos dolorosamente excitados, e mostra quão difícil é
que até um homem bom preste submissão implícita aos desígnios da
Providência. Sua linguagem não dá a entender que pensasse que seu
filho ausente tivesse sido objeto de uma má jogada de parte dos demais,
mas considera perdido a Simeão, o mesmo que José, e insinua que por
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 137
alguma palavra imprudente deles ele se via exposto ao risco de perder
também a Benjamim.
37. Rúben disse a seu pai: Mata os meus dois filhos, se to não
tornar a trazer — Esta é uma condição insensata e indesculpável;
condição que nunca pensava seriamente que o pai aceitaria. Tinha o
propósito só de dar segurança de que tomaria o maior cuidado de
Benjamim. Mas circunstâncias imprevistas poderiam apresentar-se para
tornar impossível que eles todos salvassem o jovem (Tg_4:13), e Jacó
sofria muito em face desta perspectiva. Pouco sabia ele que Deus estava
tratando com ele não com severidade mas com bondade (Hb_12:7-8), e
que todas estas coisas que ele cria serem contrárias, estavam operando
juntamente para o seu bem.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 138
Gênesis 43

Vv. 1-14. PREPARATIVOS PARA UMA SEGUNDA VIAGEM


AO EGITO.
2. disse-lhes seu pai: Voltai, comprai-nos um pouco de
mantimento — Não foi assunto fácil convencer a Jacó a aceitar as
terminantes condições sob as quais seus filhos poderiam retornar ao
Egito (Gn_42:15). A necessidade de procurar imediatamente uma nova
quantidade de provisões para a manutenção de suas famílias, venceu
qualquer consideração, e obteve o consentimento de Jacó para que
Benjamim acompanhasse a outros irmãos na viagem, a qual
empreenderam com sentimentos mistos de esperança e ansiedade; de
esperança, porque tendo completado a exigência do governador de que
trouxessem o seu irmão mais jovem, esperavam que o motivo alegado
para suspeitar deles, seria abolido e de temor porque poderia tramar-se
contra eles algo mau.
11. tomai do mais precioso desta terra ... e levai de presente —
É uma prática oriental a de nunca chegar-se a um homem de poder sem
um presente, e Jacó poderia lembrar como tinha pacificado a seu irmão
Esaú (Pv_21:14) — bálsamo, especiarias, mirra (Gn_37:25), mel, que
alguns creem que era dibs, xarope feito de tâmaras amadurecidas
(Bochart); mas outros pensam, que era o mel de Hebrom, o qual ainda se
considera como superior ao do Egito; nozes, nozes de pistacho, das quais
a Síria produz as melhores do mundo; amêndoas, muito abundantes na
Palestina.
12. levai também dinheiro em dobro — a primeira soma para ser
devolvida, e a outra para adquirir uma nova provisão. O dinheiro
devolvido na boca dos sacos foi uma coisa atormentadora. Isto poderia
ter sido feito inadvertidamente por algum dos servos – assim Jacó o
pensava – e era um pensamento feliz para sua própria paz e para a
tranquilidade dos viajantes que ele assumisse este ponto de vista. Além
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 139
do dever de restituí-lo, a honestidade neste caso era o caminho melhor e
mais seguro que poderiam seguir.
14. Deus Todo-Poderoso vos dê misericórdia perante o homem
— Jacó aqui está encomendando todos ao cuidado de Deus, e, resignado
ao que aparece como uma dura prova, pede a Deus que seja dirigida para
o bem.

Vv. 15-30. A CHEGADA AO EGITO.


15. se apresentaram perante José — Facilmente podemos
imaginar o deleite com que, entre os muitos concorrentes, o olho de José
se fixou em seus irmãos e em Benjamim. Mas ocupado em seus deveres
públicos, deixou-os aos cuidados de um servo de confiança, até que ele
tivesse terminado os assuntos do dia.
16. ao despenseiro de sua casa — Nas casas dos egípcios ricos,
um criado principal tinha a seu cargo a direção da casa (cf. Gn_39:5).
mata reses e prepara tudo — Heb. “mata uma matança”, dando a
entender preparativos para um grande festejo (Gn_31:54; 1Sm_25:11;
Pv_9:2; Mt_22:4). Os animais devem ser mortos como também
preparados em casa. O calor do clima exige que o cozinheiro receba a
carne diretamente de mão do açougueiro, e o gosto oriental, por costume,
prefere a carne recém abatida. A grande profusão de carnes, com
quantidade interminável de vegetais, era provida para os banquetes, aos
quais eram convidados os estrangeiros, porque o orgulho dos egípcios
consistia mais na quantidade e variedade, que na seleção e na delicadeza
dos pratos em sua mesa.
comerão comigo ao meio-dia — A hora da refeição era meio-dia.
18. Os homens tiveram medo — Seus sentimentos de temor ao
entrar na imponente mansão, não estando eles acostumados
absolutamente às casas, sua ansiedade a respeito dos motivos de ter sido
levados lá, sua solicitude a respeito do dinheiro devolvido, sua
simplicidade honesta em comunicar seu apuro ao mordomo, e as
seguranças dele de ter recebido seu dinheiro em “justo peso”, o
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 140
oferecimento de seu obséquio de frutos, o que, como de costume, seria
feito com certa pompa, e as saudações orientais que se mudaram entre
eles e seu hospitaleiro: tudo isto está relatado de uma maneira gráfica e
animada.

Vv. 31-34. A COMIDA.


31. e disse: Ponde pão (RC) — Equivalente a “sirvam a comida”;
sendo a palavra “pão” um termo que incluía todos os manjares. A mesa
era pequena, e provavelmente de forma redonda, “pois assim as pessoas
poderiam sentar-se segundo sua hierarquia ou antiguidade, e a mesa
egípcia moderna não está sem seu posto de honra e uma graduação fixa
de lugares”. (Wilkinson.) Duas ou quando muito três pessoas ocupavam
uma mesa. O anfitrião, sendo o mais alto em hierarquia de todos os
comensais, tinha sua mesa à parte; pois assim estava arrumado para que
um egípcio não se achasse comprometido a servir o alimento das
mesmas vasilhas das quais se servia um hebreu.
32. aos egípcios não lhes era lícito comer pão com os hebreus,
porquanto é isso abominação — O preconceito provavelmente veio do
aborrecimento que, pela opressão dos reis pastores, a nação sentia contra
todos os daquela ocupação.
34. apresentou as porções ... a porção de Benjamim era cinco
vezes mais — No Egito, como em outros países orientais, havia, e há,
dois modos de prestar atenção a um convidado a quem se quer honrar: ou
dando uma porção seleta da própria mão do hospitaleiro, ou mandando a
outros que a leve ao visitante. O grau de respeito mostrado consiste na
quantidade, e enquanto que a regra ordinária de distinção é uma porção
em dobro, teria parecido um sinal muito distinguido de favor prestado a
Benjamim o ter não menos de cinco vezes mais que seus irmãos.
eles beberam e se regalaram com ele. — Heb. “beberam
livremente”, como em Cantar dos Cantares de Salomão 5:1; Jo_2:10. Em
todos estes casos a ideia de intemperança está excluída. As ansiedades e
os cuidados dos irmãos de José se dissiparam, e ficaram tranquilos.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 141
Gênesis 44

Vv. 1-34. PLANO PARA RETER SEUS IRMÃOS.


1. Deu José esta ordem ao mordomo — O motivo de colocar a
taça no saco de Benjamim era evidentemente o de pôr àquele jovem em
situação de dificuldade ou perigo, a fim de descobrir assim até que ponto
os sentimentos fraternais dos demais seriam despertados a simpatizar
com sua ansiedade, e a estimular seus esforços por conseguir sua
libertação. Mas com que propósito foi o dinheiro devolvido? Foi feito,
no primeiro caso, pelos sentimentos bondosos para com o pai; mas outro
propósito adicional parece ter sido o de evitar alguma impressão
prejudicial quanto ao caráter de Benjamim. A descoberta da taça em sua
possessão, se não tivesse havido nenhuma outra coisa pela qual julgar,
poderia ter fixado uma suspeita penosa e culpada no irmão mais jovem;
mas a vista do dinheiro no saco de cada um os levaria todos à mesma
conclusão, da qual Benjamim era tão inocente como o eram eles
mesmos, ainda que a circunstância adicional de que a taça fosse achada
em seu saco o colocaria em maior dificuldade e perigo.
2. Põe na boca do saco do mais moço a minha taça de prata
(TB) — Era uma taça grande, como indica o original, muito apreciada
por seu dono, por causa de seu material custoso ou sua feitura elegante, e
que provavelmente tinha adornado sua mesa no banquete suntuoso do
dia anterior.
3. De manhã, quando já claro, despediram-se estes homens —
Empreenderam sua viagem para seu lar com a aurora (veja-se Gn_18:2);
e poderia supor-se em bom espírito, depois de um término tão feliz de
todas suas dificuldades e ansiedades.
4. Tendo saído eles da cidade … disse José ao mordomo — Eles
foram repentinamente detidos pela aterradora notícia de que um objeto
de grande valor faltava na casa do governador. Era uma taça de prata; tão
fortes suspeita havia sobre eles, que um mensageiro especial foi
mandado despachado para inspecioná-los.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 142
5. Não é este o copo em que bebe meu senhor? — não só
guardada para o uso pessoal do governador mas pelo qual ele adivinha.
A adivinhação por meio de taças, para saber o curso do futuro, era uma
das superstições prevalecentes no antigo o Egito como o é ainda em
países orientais. Mas não é provável que José, piedoso crente no
verdadeiro Deus, entregou-se a esta prática supersticiosa. Mas se teria
valido desta crença popular para levar a cabo a feliz execução de seu
estratagema para a final prova decisiva de seus irmãos.
6, 7. alcançou-os e lhes falou essas palavras — A notícia deve ter-
lhes caído como um raio, e um de seus sentimentos mais predominantes
teria sido o sentido humilhante e ferino de ser feitos com tanta
frequência objeto de suspeitas. Protestando sua inocência, pediram ao
oficial que fizesse uma revisão, o que foi aceito [Gn_44:10, 11].
Começando pelo irmão mais velho, todos os sacos foram revisados, e
achando a taça no de Benjamim [Gn_44:12], todos voltaram com uma
indescritível agonia mental à casa do governador [v. 13], onde se
lançaram a seus pés [v. 14], com a assombrosa confissão de “achou Deus
a iniquidade de teus servos” [v. 16].
16-34. disse Judá: Que responderemos a meu senhor? — Este
discurso não necessita comentário; a princípio consiste em frases curtas,
quebradas, como se, sob a entristecedora força das emoções do orador,
sua expressão fosse afogada; mas deve ser mais livre e copiosa ao
esforçar-se em falar, à medida que continua. Cada palavra vai ao
coração; e bem pode imaginar-se que Benjamim, que estava ali calado
como vítima prestes a ser imolada sobre o altar, ao escutar o
oferecimento magnânimo de Judá de submeter-se à escravidão em
resgate dele, se sentiria ligado a seu irmão tão generoso por uma gratidão
eterna, vínculo que parece ter chegado a ser hereditário em sua tribo. A
conduta de José não deve ser vista apenas de um ponto de vista, nem em
suas partes separadas, mas sim como um todo, como um plano bem
pensado, profundamente cimentado, estreitamente unido em si; e ainda
que alguns aspectos do mesmo exibem uma aparência de dureza,
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 143
entretanto, o princípio central de sua conduta foi uma bondade real,
genuína, fraternal. Lido sob esta luz, o relato dos acontecimentos
descreve o seguimento contínuo, ainda que secreto, de um objeto fixo;
José manifesta, em sua gestão do plano, um intelecto de uma tipo muito
elevado, um coração ardente e suscetível, unidos a um juízo que exercia
um domínio completo de seus sentimentos, uma feliz criatividade em
idear os meios para a obtenção de suas finalidades e uma adesão
inflexível ao curso, por doloroso que fosse, que requeria a prudência.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 144
Gênesis 45

Vv. 1-28. JOSÉ SE DÁ A CONHECER.


1. José, não se podendo conter — A severidade do magistrado
aqui cede aos sentimentos naturais do homem e do irmão. Por melhor
que José tivesse disciplinado sua mente, resistir a eloquência sincera de
Judá, resultou-lhe impossível. Viu uma prova satisfatória na volta de
todos os irmãos em tal ocasião, de que eles já estavam unidos um ao
outro carinhosamente; tinha ouvido bastante para convencer-se que o
tempo, a meditação ou a graça divina, fizeram um feliz melhoramento no
caráter deles; e ele, talvez, teria continuado, de uma maneira tranquila e
pausada, para revelar-se a seus irmãos, como ditasse a prudência. Mas
quando escutou de parte de Judá o heroico sacrifício de si mesmo, que
estava disposto a fazer, e deu-se conta de todo o afeto daquela proposta
— proposta para a qual ele não estava preparado—perdeu o domínio de
si mesmo, sentiu-se obrigado a pôr fim à dolorosa prova.
bradou: Fazei sair a todos — Ao mandar a saída de todos para
que não houvesse testemunhas desta cena final, agiu como amigo real e
carinhoso de seus irmãos; sua conduta foi ditada por motivos de suprema
prudência, a de impedir que as anteriores iniquidades de seus irmãos
fossem conhecidas por membros de sua casa e entre o povo do Egito.
2. levantou a voz em choro — Sem dúvida devido à grande
agitação de seus sentimentos; mas entregar-se a veementes e longos
acessos de soluços é a maneira habitual em que os orientais expressam
sua aflição.
3. Eu sou José — As emoções que agora se levantaram em seu
peito como também no de seus irmãos eram muitas e violentas. Ele
estava agitado por simpatia e alegria; eles estavam atônitos, confundidos,
espantados; e mostraram seu terror, afastando-se o mais possível da
presença dele. Tão “turvados” estavam que ele teve que repetir o anúncio
de que ele era; e que termos tão afetuosos, e bondosos usou para isso!
Falou de que eles o tinham vendido, não para ferir seus sentimentos
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 145
senão para convencê-los de sua identidade; e logo, para alentar sua
mente, relatou a intervenção da Providência em seu desterro e em suas
honras atuais [Gn_35:5-7]. Não que ele queria lançar a responsabilidade
do crime deles sobre Deus; não, seu único motivo foi o de reanimar sua
segurança e persuadi-los a pôr sua confiança nos planos que ele tinha
formado para o futuro bem-estar de seu pai e deles.
6. e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem
colheita — “Ear” é palavra do velho inglês “arar” (cf. 1Sm_8:12;
Is_30:24). Esta parece confirmar a opinião dada (Gn_41:57) de que a
fome foi causada por uma seca extraordinária que impediu o
transbordamento anual do Nilo; e, naturalmente, fez com que a terra
fosse inadequada para receber as sementes do Egito.
14, 15. lançando-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão — A
transição repentina do estado de criminoso condenado ao de irmão
acariciado, poderia ter causado um desmaio ou até a morte, se não
tivessem sido aliviados seus sentimentos tumultuosos por uma corrente
de lágrimas. Mas as atenções de José não se limitaram a Benjamim.
Carinhosamente abraçou a cada um de seus irmãos; e por este ato
mostrou seu perdão mais completamente do que teria podido fazê-lo por
palavras.
17-20. Disse Faraó a José: Dize a teus irmãos — Como José teria
podido calar por delicadeza, o próprio rei convidou o patriarca e a toda
sua família a imigrar ao Egito; e fez os mais liberais acertos para seu
traslado e seu estabelecimento subsequente. Isto manifesta com
vantagem o caráter deste Faraó, de que foi muito bondoso para com as
familiares de José, mas realmente a liberalidade maior que ele pudesse
mostrar, nunca poderia recompensar os serviços de tão grande benfeitor
de seu reino.
21. José lhes deu carros — que teriam sido uma novidade na
Palestina; porque carruagens com rodas eram e ainda são desconhecidos
nesse país.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 146
22. vestes festivais — Era e é costume dos grandes homens dar de
presente a seus amigos vestidos de distinção, e em casos onde são da
mesma classe dos descritos, o valor destes presentes consiste no número
deles. O grande número dado a Benjamim dá a conhecer o calor do afeto
de seu irmão para com ele; José sentia, devido à disposição amável que
todos agora manifestavam, que ele poderia, com toda segurança,
satisfazer esta parcialidade para com o filho da mesma mãe.
23. Também enviou a seu pai — uma provisão de tudo o que
poderia contribuir para sua manutenção e conforto; a grande e liberal
escala em que esta provisão foi feita, dá a entender que foi como as cinco
porções de Benjamim, em sinal do amor filial [veja-se Gn_43:34].
24. E despediu os seus irmãos — Ao despedir-se para sua viagem
de volta a Canaã, fez-lhes esta admoestação especial:
Não contendais pelo caminho — conselho que lhes faria falta;
porque não só na volta teriam estado ocupados em lembrar a parte que
eles tinham tomado respectivamente nos acontecimentos que terminaram
na venda de José como escravo no Egito, mas sim sua maldade logo teria
chegado ao conhecimento de seu venerável pai.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 147
Gênesis 46

Vv. 1-4. O SACRIFÍCIO EM BERSEBA.


1. Partiu, pois, Israel com tudo o que possuía — isto é, com sua
família; porque em obediência ao conselho de Faraó, deixou atrás seu
mobiliário pesado. Ao pensar em dar um passo tão importante como o
era o de deixar Canaã, que por sua idade ele não voltaria a ver, patriarca
tão piedoso buscaria a direção e o conselho divinos. Com toda sua
ansiedade para ver José, ele teria preferido morrer em Canaã sem aquela
mais alta satisfação terrena, a deixá-lo sem a convicção de levar consigo
a bênção divina.
veio a Berseba — aquele lugar, que estava sobre sua rota direta ao
Egito, tinha sido um acampamento favorito de Abraão (Gn_21:33) e
Isaque (Gn_26:25), e era memorável por sua experiência da bondade
divina; e parece que Jacó tinha adiado suas devoções públicas até ter
chegado a um lugar tão consagrado pela aliança, a seu próprio Deus e o
Deus de seus pais.
2. Falou Deus a Israel — Aqui há uma renovação virtual da
aliança e uma segurança de suas bênçãos. Além disso, há uma resposta
ao tema principal da oração de Jacó, o afastamento de toda dúvida
quanto ao passo que ele estava meditando. Em princípio a perspectiva de
fazer uma visita pessoal a José, foi contemplada com pura alegria. Mas
considerando o assunto com mais calma, apareciam no caminho muitas
dificuldades. Tinha lembrado a profecia comunicada a Abraão, de que
sua posteridade seria afligida no Egito, e também de que a seu pai Isaque
lhe havia dito que não fosse para lá [Gn_15:13; Gn_26:2]; ele poderia ter
temido a contaminação da idolatria em sua família e seu esquecimento
da terra prometida. Estas dúvidas foram dissipadas pela resposta do
oráculo e uma segurança de uma grande e crescente prosperidade foi
dada.
3. lá eu farei de ti uma grande nação. — Quão verdadeiramente
foi cumprida esta promessa, aparece no fato de que as setenta pessoas
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 148
que entraram no Egito aumentaram [Êx_1:5-7], no espaço de 215 anos, a
180.000.
4. Eu ... te farei tornar a subir — Como Jacó não poderia esperar
viver até que se cumprisse a promessa anterior, ele teria entendido que
esta promessa se realizaria unicamente em sua posteridade. A ele mesmo
foi cumprida literalmente no traslado de seus restos a Canaã; mas no
sentido mais amplo e liberal, das palavras, cumpriu-se só no
estabelecimento de Israel na terra prometida.
A mão de José fechará os teus olhos — cumprirá a última
obrigação da piedade filial; e isto dava a entender que daí em diante,
desfrutaria sem interrupção da sociedade de seu filho favorito.

Vv. 5-27. A IMIGRAÇÃO AO EGITO.


5. Jacó levantou-se de Berseba (TB) — para cruzar a fronteira e
estabelecer-se no Egito. Ainda que refrescado e fortalecido em espírito
pelos serviços religiosos em Berseba, agora estava carregado das
indisposições de sua idade avançada; e, portanto, seus filhos se
encarregaram da moléstia e do trabalho dos acertos, enquanto o
debilitado patriarca, com suas esposas e meninos, foi levado, em etapas
lentas e fáceis, nos veículos egípcios enviadas para seu conforto.
6. o seu gado e os bens que haviam adquirido — não mobiliário e
sim substância, coisas de valor.
7. filhas — como Diná era sua única filha, isto quererá dizer suas
noras.
vieram para o Egito, Jacó e toda a sua descendência — Ainda
que incapacitado por sua idade para a supervisão ativa, entretanto, como
o xeque venerável da tribo, era considerado como sua cabeça comum, e
consultado a cada passo.
8-27. Todos os que vieram com Jacó para o Egito ... eram
sessenta e seis pessoas [v. 26] — Falando estritamente, só houve
sessenta e seis que entraram no Egito; mas a estes acrescentem-se José e
seus dois filhos, e Jacó o chefe da tribo, e o número chega a setenta. No
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 149
discurso de Estêvão (At_7:14) o número mencionado é setenta e cinco,
mas como este cálculo incluía cinco filhos nascidos a Efraim e a
Manassés (1Cr_7:14-20), no Egito, os dois relatos concordam entre si.

Vv. 28-34. CHEGADA NO EGITO.


28. Jacó enviou Judá adiante de si a José — Esta medida
preventiva era evidentemente oportuna para informar ao rei da entrada
de tão grande companhia a seu território; além disso, foi necessária a fim
de receber indicação de José a respeito da localização de sua futura
morada.
29, 30. José aprontou o seu carro — A diferença entre a
carruagem de José e os carros que tinha enviado, era não somente que
aquele era mais leve e mais elegante em construção que estes, mas sim
um era puxado por cavalos e os outros por bois. Sendo homem público
no Egito, José estava obrigado a aparecer em todas os lugares em veículo
adequado à sua dignidade; pois não foi por orgulho nem por ostentação
que ele se dirigiu em sua carruagem, enquanto que a família de seu pai se
acomodou sozinho em carros rústicos e humildes.
lançou-se ao seu pescoço (RC) — em atitude de reverência filial
(cf. Êx_22:17). A entrevista foi tenra; a felicidade do pai agora estava
em seu máximo; e não tendo a vida encanto superior, no mesmo espírito
do ancião Simeão, teria podido partir em paz [Lc_2:25, 29].
31-34. Subirei, e farei saber a Faraó — Foi tributo de respeito
devido ao rei o ato de informá-lo da chegada deles. E as instruções que
ele lhes deu, eram dignas de seu caráter tanto como irmão carinhoso
como homem religioso.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 150
Gênesis 47

Vv. 1-31. APRESENTAÇÃO NA CORTE.


1. veio José e disse a Faraó — José nos dá um exemplo belo de um
homem que pôde suportar igualmente bem os extremos da prosperidade
e da adversidade. Tão alto como se encontrava, não esqueceu que tinha
um superior. Apesar de que tão meigamente amava a seu pai, e tão
ansiosamente desejava prover para toda a família, não quis entrar nos
acertos que tinha projetado para sua morada em Gósen, enquanto não
tivesse conseguido a sanção de seu real senhor.
2. tomou cinco dos seus irmãos — provavelmente os cinco de
maior idade; pois por sua velhice sua escolha causaria menos inveja.
4. Viemos para habitar nesta terra—A conversação do rei tomou
o curso que José tinha previsto (Gn_46:33), e eles responderam segundo
as instruções prévias, manifestando, entretanto, em sua determinação de
voltar para Canaã, uma fé e uma piedade que constituem um sintoma de
que todos eles, ou a maioria deles, tinham chegado a ser homens
religiosos.
7. Trouxe José a Jacó, seu pai, e o apresentou a Faraó — Um
interesse patético e muito comovedor se destaca nesta entrevista com a
realeza; e quando, com toda a simplicidade e dignificada solenidade de
um homem de Deus, Jacó singularizou sua entrada pedindo a bênção de
Deus sobre a real cabeça, facilmente pode imaginar-se que impressão
surpreendente produziria a cena (Hb_7:7).
8. Perguntou Faraó a Jacó: Quantos são os dias dos anos da tua
vida? (TB) — A pergunta foi feita devido ao profundo interesse que a
aparência do velho patriarca tinha criado na mente de Faraó e sua corte.
Nas terras baixas do Egito e pelos hábitos artificiais de sua sociedade, a
idade do homem era muito mais curta entre os habitantes daquele país,
pelo que já tinha vindo a ser no clima puro e revigorante e entre os
singelos montanheses de Canaã. Os hebreus, pelo menos, ainda
chegavam a uma velhice prolongada.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 151
9. Os dias dos anos das minhas peregrinações. — Embora sejam
130 anos, ele os contava por dias (Sl_90:12), e os chama “poucos”, como
apareciam olhando para trás; e “maus”, porque sua vida tinha sido uma
série contínua de dificuldades. A resposta é notável, quando
consideramos a escuridão relativa da idade patriarcal. (cf. 2Tm_1:10).
11. José estabeleceu a seu pai e a seus irmãos … no melhor da
terra — a melhor terra de pastoreio no baixo Egito. Gósen, “a terra de
verdor”, estava situada ao longo do braço Pelusaico ou oriental do Nilo.
Incluía parte do distrito de Heliópolis e “Om”, a capital, e a leste se
estendia a uma distância considerável até o deserto. A terra incluída
dentro destes limites era uma extensão rica e fértil de prados naturais, e
admiravelmente adaptada aos propósitos dos pastores hebreus (cf.
Gn_49:24; Sl_34:10; Sl_78:72).
13-15. Não havia pão em toda a terra — Isto provavelmente se
refere ao segundo ano da fome (Gn_45:6), quando as pequenas provisões
de indivíduos ou famílias estavam esgotadas, e quando o povo deveu
depender universalmente do governo. No princípio conseguiam
provisões por pagamento. Logo faltou o dinheiro.
16. Respondeu José: … trazei o vosso gado — “Este foi talvez o
proceder mais sábio que poderia ser adotado para a preservação tanto das
pessoas como do gado, o qual, sendo comprado por José, era mantido às
custas do governo, e muito provavelmente devolvido ao povo no fim da
fome, para tornar possível que voltassem para suas tarefas agrícolas.”
21. Quando ao povo, fê-lo passar às cidades (TB) —
evidentemente para conforto das pessoas do campo, que não estavam
trabalhando, às cidades onde estavam os depósitos de trigo.
22. Somente a terra dos sacerdotes não a comprou — Estas
terras eram inalienáveis; eram dotes por meio dos quais eram mantidos
os templos. Os sacerdotes recebiam para si uma quota anual de provisões
por parte do estado, e evidentemente teria sido o cúmulo da crueldade
reter esta quota, quando suas terras não podiam ser cultivadas.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 152
23-28. disse José ao povo: Eis que hoje vos comprei, etc. —
Como a terra tinha sido vendida ao governo (Gn_47:19, 20), a semente
seria repartida para a primeira semeadura depois da fome; e o povo
ocuparia estas terras como inquilinos, pagando o aluguel com produtos
da terra, quase a mesma regra que existe no Egito hoje em dia.
29-31. Aproximando-se, pois, o tempo da morte de Israel — Só
um de seus preparativos para morrer é lembrado, mas aquele um revela
todo o seu caráter. Tinha que ver com a disposição de seus restos, os que
teriam que ser levados a Canaã, não por mero apego romântico a seu
solo natal, tampouco, como em seus descendentes modernos, por um
sentimento supersticioso pelo solo da Terra Santa, mas pelar fé nas
promessas. Sua petição a José: “Se agora achei mercê à tua presença”; ou
seja, como primeiro ministro do Egito; ao exigir um juramento de que
seus desejos seriam cumpridos, e a forma peculiar daquele juramento,
tudo assinalava à promessa, e mostrava a intensidade de seu desejo de
desfrutar de seus bênçãos (Nm_10:29).
31. e Israel se inclinou sobre a cabeceira da cama — As camas
orientais são meras esteiras ou colchões, que não têm cabeceira, e a
tradução deveria ser “a extremidade do seu bordão”, como o traduz o
apóstolo (Hb_11:21).
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 153
Gênesis 48

Vv. 1-22. JOSÉ VISITA SEU PAI DOENTE.


1. disseram a José: Teu pai está enfermo — Foi mandado
apressadamente buscar José, e nesta ocasião ele levou consigo a seus
dois filhos.
2. Esforçou-se Israel e se assentou no leito — Na câmara onde jaz
um homem bom, pode-se esperar uma conversação espiritual e
edificante.
3, 4. O Deus Todo-Poderoso me apareceu em Luz — O objeto de
Jacó ao referir-se à visão memorável de Betel [Gn_28:10-15] — um dos
grandes limites em sua história — foi o de assinalar as promessas
esplêndidas reservadas para sua posteridade, de ganhar o interesse de
José e assegurar sua continuada conexão com o povo de Deus, antes que
com os egípcios.
4. Eis que te farei fecundo — Esta é uma repetição da aliança
(Gn_28:13-15; 35:12). Se estas palavras tiverem que entender-se em
sentido limitado, como assinalando os muitos séculos que os judeus
foram ocupantes da Terra Santa, ou se as palavras têm um significado
mais amplo, e indicam que as tribos espalhadas têm que ser estabelecidas
novamente na terra de promessa, como sua “possessão perpétua”, são
pontos que ainda não foram satisfatoriamente resolvidos.
5. os teus dois filhos ... Efraim e Manassés — Foi a intenção do
patriarca adotar os filhos de José como deles, dando assim a José uma
dobro porção. Os motivos deste proceder estão declarados em 1Cr_5:1-2.
serão meus—Ainda que suas relações tivessem podido uni-los com
o Egito e ter aberto para eles perspectivas brilhantes na terra de seu
nascimento, eles voluntariamente aceitaram a adoção (Hb_11:25).
9. Faze-os chegar a mim, disse ele, para que eu os abençoe — O
apóstolo (Hb_11:21) escolheu a bênção dos filhos de José como o
exemplo principal, por ser o mais compreensivo, da fé do patriarca, que
proporciona toda sua história.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 154
13. tomou José a ambos — O próprio ato de pronunciar a bênção
foi notável, pois demonstra que o coração de Jacó estava animado pelo
espírito da profecia.
21. disse Israel a José: Eis que eu morro — O patriarca pôde falar
da morte com serenidade, mas quis preparar a José e o restante da
família para o transe.
mas Deus será convosco — Jacó, com toda probabilidade, não
estava autorizado para falar de sua escravidão; fez ênfase só sobre a
certeza de sua volta a Canaã.
22. Dou-te, de mais que a teus irmãos — Esta estava perto de
Siquém (Gn_33:18; Jo_4:5; também Js_16:1; Js_20:7). E é provável que
os amorreus a tenham tomado numa de suas frequentes ausências, e o
patriarca, com as forças unidas de sua tribo, a recuperasse deles por sua
espada e seu arco.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 155
Gênesis 49

Vv. 1-33. A BÊNÇÃO PATRIARCAL.


1. chamou Jacó a seus filhos — Neste capítulo, chama-se a
atenção aos ditos nem tanto do santo moribundo como do profeta
inspirado. Sob a influência imediata do Espírito Santo, ele pronunciou
sua bênção profética, e pintou a condição de seus respectivos
descendentes nos últimos dias, ou tempos futuros.

3-4. RÚBEN. — Por seu crime perdeu os direitos e honras da


primogenitura. Sua posteridade nunca foi notável; de sua tribo não
proveio nenhum juiz, profeta nem governante.

5-7. SIMEÃO e LEVI — estiveram associados em maldade, e a


mesma predição seria igualmente aplicável a suas duas tribos. Levi tinha
cidades designadas para eles (Josué 21) em todas as tribos. Por causa de
seu zelo contra a idolatria, eles foram honradamente divididos “em
Jacó”; enquanto que a tribo de Simeão, que era culpado da idolatria mais
grosseira e dos vícios com ela associados, foi ignominiosamente
“espalhada”.

8-12. JUDÁ. — Uma preeminência suprema se destina a esta tribo


(Nm_10:14; Jz_1:2). Além do honra de dar nome à Terra Prometida,
Davi e um maior que Davi, o Messias, nasceram dela. Principal entre as
tribos, cresceu de um “leãozinho”, ou seja, um poder pequeno, até chegar
a ser “leão velho”, tranquilo e quieto, entretanto ainda formidável.
10. até que venha Siló — Siló, esta palavra obscura se interpreta de
várias maneiras, para significar “o enviado” (Jo_17:3), “a semente”
(Is_11:1), o “pacífico ou próspero” (Ef_2:14), ou seja, o Messias
(Is_11:10; Rm_15:12); e quando viesse ele, “a tribo de Judá não se
gabaria mais de um rei independente nem de um juiz seu próprio”.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 156
(Calvino). Faz dezoito séculos que os judeus estão sem governador e
sem juiz, visto que veio Siló, e “a ele obedecerão os povos”.

13. ZEBULOM — tinha que ter seu lote perto da costa de mar,
junto a Sidom, e ocupar-se, como aquele estado, nas tarefas marítimas e
o comércio.

14, 15. ISSACAR. — Um asno forte agachado entre duas cargas ou


seja, tinha que ser ativa esta tribo, paciente, dada aos trabalhos agrícolas.
Estabeleceu-se na baixa Galileia, uma “terra deleitosa”, assentando-se
entre os cananeus, onde, por amor ao “descanso”, “baixou seu ombro
para levar, e serviu em tributo”.

16-18. DÃ — ainda que era filho de uma esposa secundária, tinha


que ser “como uma das tribos de Israel”. Dã, “juiz”, serpente junto ao
caminho — víbora junto à vereda, denota sutileza e estratagema; tal foi
preeminentemente o caráter de Sansão o mais ilustre de seus juízes.

19. GADE. — Esta tribo seria atacada com frequência e assolada


pelos povos hostis sobre suas fronteiras (Jz_10:8; Jr_49:1). Mas
geralmente eles sairiam vitoriosos no fim de suas guerras.

20. ASER.—“Bem-aventurada”. Sua porção era a costa de mar


entre Tiro e Carmelo, distrito fértil na produção do melhor trigo e azeite
d toda Palestina.

21. NAFTALI — A melhor tradução que conhecemos é esta:


“Naftali é uma cerva vagando em liberdade; emite belos ramos”, ou
“majestosas hastes” (Taylor’s Scripture Illustrations); parece que o
significado da profecia é que a tribo de Naftali seria localizada em
território tão fértil e tranquilo, que, alimentando-se nos pastos mais ricos,
se estenderia como a cerva estende suas hastes.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 157
22. JOSÉ. — ramo frutífero, etc.—assinala o crescimento
extraordinário daquela tribo (cf. Nm_1:33-36; Js_17:17; Dt_33:17). O
patriarca descreve estas duas tribos como atacadas pela inveja, a
vingança, a tentação, a ingratidão, entretanto, ainda, pela graça de Deus,
triunfantes sobre toda oposição, de modo que deveram ser o sustentador
de Israel; e então segue derramando bênçãos de toda sorte sobre a cabeça
deste filho favorito. A história das tribos de Efraim e Manassés,
demonstra quão amplamente estas bênçãos foram realizadas.

27-33. BENJAMIM — devorará como lobo. Esta tribo em sua


história anterior gastou suas energias em guerras pequenas ou
ignominiosas, especialmente em contendas violentas e injustas
(Jz_19:20.), nas quais se envolvia com as outras tribos, quando, apesar
de ter obtido duas vitórias, foi quase exterminada.

28. São estas as doze tribos de Israel — ou antepassados. As


palavras proféticas de Jacó evidentemente não se referiam tanto aos
filhos mesmos como às tribos de Israel.
29. Depois, lhes ordenou — O mandato já tinha sido dado, e
solenemente aceito (Gn_47:31). Mas ao mencionar agora seus desejos, e
repetir todas as circunstâncias relacionadas com a compra da Macpela,
quis declarar com seu último alento, perante toda sua família, que ele
morria na mesma fé de Abraão.
33. Tendo Jacó acabado de dar determinações a seus filhos — É
provável que o patriarca fosse sobrenaturalmente fortalecido para este
último ofício importante, e que quando cessou a inspiração divina,
cedendo suas forças esgotadas, exalou o espírito, e foi reunido com seus
pais.
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 158
Gênesis 50

Vv. 1-26. O LUTO POR JACÓ.


1. José se lançou sobre o rosto de seu pai, etc. — Sobre ele, como
membro principal da família, recaiu o dever de fechar os olhos de seu
venerável pai (cf. Gn_46:4) e de imprimir o beijo de despedida.
2. Ordenou José a seus servos, aos que eram médicos, que
embalsamassem a seu pai, etc. — No antigo Egito os embalsamadores
formavam uma classe à parte. O processo de embalsamamento consistia
em introduzir uma grande quantidade de substâncias resinosas nas
cavidades do corpo, depois de tirar os intestinos. Então um grau regulado
de calor aplica-se para secar os humores como também para decompor as
matérias resinosas antes introduzidas. Trinta dias durava este processo;
quarenta dias mais se dedicavam a ungir o cadáver com especiarias; o
corpo, curtido nestas operações, uma vez lavado, envolvia-se em tecidos
de linho, os bordes dos quais se uniam com borracha, e era posto numa
caixa de madeira feita em forma da figura humana.
3. os egípcios o choraram setenta dias. — Foi feito um período de
luto público, como por ocasião da morte de um personagem real.
4. falou José à casa de Faraó, etc. — Se tomou o cuidado de fazer
saber que o sepulcro da família tinha sido provido antes de sair de
Canaã, e que um juramento obrigava a família a levar lá os restos. Além
disso, José creu conveniente solicitar permissão especial para ausentar-
se; e não estando em condições adequadas, como enlutado, para aparecer
na presença do rei, fez sua petição por intermédio de outros.
7-9. José subiu para sepultar o seu pai — uma viagem de 500
quilômetros. A caravana fúnebre, de militares com sua bagagem,
apresentaria uma aparência imponente.
10. Chegando eles, pois, à eira de Atade, etc. — “Atade” pode
entender-se como nome comum, significando “a planície dos arbustos”.
Estava sobre a fronteira entre o Egito e Canaã; e como a última
oportunidade para entregar-se à dor da alma era a mais violenta, os
Gênesis (Jamieson, Fausset e Brown) 159
egípcios fizeram um alto prolongado neste lugar, enquanto os da família
de Jacó prosseguiram sozinhos ao lugar de sepultura.
15-21. Vendo os irmãos de José que seu pai já era morto,
disseram: É o caso de José nos perseguir, etc. — José se afligiu
profundamente aos saber desta atitude de seus irmãos. Deu-lhes as
seguranças mais firmes de seu perdão, e com isto deu a conhecer um
belo rasgo de seu próprio caráter piedoso, e também apareceu como tipo
eminente do Salvador.
22, 23. José habitou no Egito — Viveu oitenta anos depois de sua
elevação ao poder [veja-se Gn_41:46], sendo testemunha do grande
aumento na prosperidade do reino, como também de sua própria família
e parentes.
24. Disse José a seus irmãos: Eu morro — Os sentimentos
nacionais dos egípcios se teriam oposto ao enterro dele em Canaã; mas
deu uma prova da firmeza de sua fé e seguranças da promessa, porque
“deu ordens quanto aos seus próprios ossos” [Hb_11:22].
26. embalsamaram-no — Seus funerais seriam celebrados no mais
alto estilo da magnificência egípcia, e seu corpo mumificado
cuidadosamente preservado até o Êxodo.
ÊXODO
Original em inglês:

EXODUS

The Second Book of Moses, Called Exodus

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Êxodo 1 Êxodo 11 Êxodo 21 Êxodo 31


Êxodo 2 Êxodo 12 Êxodo 22 Êxodo 32
Êxodo 3 Êxodo 13 Êxodo 23 Êxodo 33
Êxodo 4 Êxodo 14 Êxodo 24 Êxodo 34
Êxodo 5 Êxodo 15 Êxodo 25 Êxodo 35
Êxodo 6 Êxodo 16 Êxodo 26 Êxodo 36
Êxodo 7 Êxodo 17 Êxodo 27 Êxodo 37
Êxodo 8 Êxodo 18 Êxodo 28 Êxodo 38
Êxodo 9 Êxodo 19 Êxodo 29 Êxodo 39
Êxodo 10 Êxodo 20 Êxodo 30 Êxodo 40
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Êxodo 1

Vv. 1-22. AUMENTO DOS ISRAELITAS.


1. São estes os nomes. — (Veja-se Gn_46:8-26).
7. os filhos de Israel foram fecundos, e aumentaram muito, e se
multiplicaram — Estavam vivendo num país, onde, segundo o
testemunho de um escritor antigo, as mães tinham três, e às vezes quatro
filhos num parto; e um escritor declara: “as fêmeas no Egito, tanto na
raça humana como entre os animais, ultrapassam a todas as demais em
fecundidade”. A esta circunstância natural terá que acrescentar-se o
cumprimento da promessa a Abraão.
8. se levantou novo rei sobre o Egito — Como sessenta anos
depois da morte de José, veio uma revolução, pela qual a velha dinastia
foi derrubada, e o alto e o baixo Egito foram unidos num só reino.
Supondo-se que o rei anteriormente reinava em Tebas, é provável que
nada soubesse ele dos hebreus; e que, como estrangeiros e pastores,
desde o começo, os olhasse com aversão e desprezo.
9. Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais
forte do que nós — Eles tinham alcançado grande prosperidade, pois
durante a vida de José e seu real patrão, provavelmente tinham
desfrutado de uma concessão de terras gratuitas. Seu crescimento e
prosperidade eram vistos com ciúme pelo novo governo; e como Gósen
estava entre o Egito e Canaã, e na fronteira deste país havia certo número
de tribos belicosas, estava perfeitamente de acordo com os esboços de
uma política mundana, que seus habitantes, os israelitas, fossem
escravizados e maltratados, por temor de que se unissem em alguma
invasão daqueles errantes estrangeiros. O novo rei, que nem conhecia o
nome, nem lhe importavam os serviços prestados por José, era ou Amosis
ou um de seus sucessores imediatos. (Osburn.)
11. E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os
afligirem com suas cargas — Primeiro tendo-os obrigado a pagar
aluguéis ruinosos, segundo crê-se, e havendo-os envolto em dificuldades,
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 3
aquele novo governo, continuando sua política opressiva, reduziu-os à
condição de escravos—empregando-os exatamente como a classe
trabalhadora deste tempo (levados em companhias ou bandas) para
levantar as obras públicas, com capatazes, que antigamente levavam
varas – agora látegos para castigar os indolentes, ou esporear aos muito
lânguidos. Todos os edifícios públicos ou reais, no antigo Egito, foram
construídos por cativos; e em alguns deles foi colocada uma inscrição de
que nenhum cidadão livre se ocupou neste emprego servil.
edificaram a Faraó as cidades-celeiros — Estes dois lugares de
armazenagem estavam na terra de Gósen; e estando situados perto de
uma fronteira sujeita a invasões, eram cidades fortificadas (cf.
2Cr_11:12). Pitom (Grego “Patumos”) estava sobre o braço Pelusíaco
oriental do Nilo, como a doze milhas romanas do Heliópolis; e
Ramessés, chamada na Septuaginta Heroópolis, estava entre o mesmo
braço e os Lagos Amargos. Estas duas cidades fortificadas, pois, estavam
no mesmo vale; e as fortificações que Faraó mandou construir ao redor
de ambas, tinham provavelmente o mesmo objetivo comum, o de
obstruir a entrada ao Egito, a qual este vale facilitava aos inimigos
vindos da Ásia. (Hengstenberg.)
13, 14. os egípcios … amarguraram sua vida com dura servidão
na fabricação de barro e tijolo — As ruínas de grandes edifícios de
tijolos se acham em todas partes do Egito. O uso de tijolo curdo, cozido
ao sol, era universal no alto e sob o Egito, tanto para edifícios públicos
como particulares; todos menos os templos mesmos, eram de tijolo cru.
É digno de notar-se que foram descobertos mais tijolos que levam o
nome do Tutmés III, quem supõe-se era o rei do Egito no tempo do
Êxodo, que em nenhum outro período qualquer. (Wilkinson.) Grupos
destes fabricantes de tijolos se veem retratados nos antigos monumentos
com capatazes; alguns destes estão em pé, outros sentados junto aos
trabalhadores, com suas varas levantadas em suas mãos.
15. O rei do Egito ordenou às parteiras hebreias — Se falou
apenas com duas; ou eram elas as cabeças de uma grande corporação
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 4
(Laborde), ou, intrometendo-se com estas duas, o rei se propunha
amedrontar as demais para o cumprimento secreto de seus desejos.
(Calvino.)
16. se for filho, matai-o — As opiniões estão divididas, entretanto,
quanto ao método de destruição que recomendava o rei. Alguns creem
que os “assentos” eram assentos baixos sobre os quais se sentavam as
parteiras ao lado da cama das hebreias; e que, como poderiam facilmente
descobrir o sexo, então, quando aparecesse um varão, tinham que
estrangulá-lo, sem que os pais soubessem; enquanto que outros são da
opinião de que os “assentos” eram tanques de pedra, do outro lado do
rio, nos quais, quando o bebê fosse lavado, tinha que cair, como se fosse
acidentalmente.
17. As parteiras, porém, temeram a Deus — Sua fé as inspirava
com tal coragem a ponto de pôr em risco suas vidas, desobedecendo o
mandato do cruel tirano; mas uma mescla de fraqueza, fez com que
temessem dizer a verdade cabal.
20. Deus fez bem às parteiras — Isto mostra Deus, como se as
recompensasse por dizer uma mentira. Mas esta dificuldade é
completamente dissipada por uma tradução mais correta. Fazer ou
edificar casa no idioma hebraico, quer dizer ter numerosa prole. A
passagem, então, quer dizer: Deus protegeu às parteiras, e o povo
cresceu poderosamente; e porque as parteiras temiam a Deus, os hebreus
cresceram e prosperaram.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 5
Êxodo 2

Vv. 1-10. O NASCIMENTO E PRESERVAÇÃO DE MOISÉS.


1. Foi-se um homem da casa de Levi, etc. — Anrão era o marido,
e Joquebede a esposa (Nm_26:59). Celebrou-se o casamento, e dois
filhos, Miriã e Arão, nasceram uns anos antes do decreto infanticida.
2. a mulher ... deu à luz um filho, etc. — Alguma aparência de
beleza extraordinária inspirou os pais a predizer sua grandeza futura. A
beleza era considerada pelos antigos como um sinal do favor divino.
escondeu-o por três meses — Os pais eram piedosos, e as medidas
que tomaram eram inspiradas não só pelo afeto paternal mas por uma
firme fé em que as bênçãos de Deus fariam prosperar seus esforços para
salvar a criança.
3. tomou um cesto de junco — papiro, uma cana grossa, forte e
resistente.
betume — o barro do Nilo, que, uma vez endurecido, é muito
firme.
piche — alcatrão mineral. Botes deste tipo são vistos diariamente
navegando pelo Nilo, sem mais calafeto que o barro do Nilo (cf.
Is_18:2), e são perfeitamente firmes, à prova de água, a não ser que a
capa de barro for tirada pela força de alguma tormenta.
carriçal — termo geral para os juncos ao lado dos rios e do mar. O
cesto não foi posto, como às vezes é representado, dentro da água, mas
sim sobre a ribeira, aonde pareceria naturalmente que fosse impelida pela
corrente e que fosse detida pelos juncos. Tradicionalmente diz-se que o
lugar era a Ilha de Roda, perto da velha Cairo.
4. A irmã do menino — Miriã teria talvez dez ou doze anos de
idade naquele então.
5. Desceu a filha de Faraó para se banhar no rio — Crê-se que a
ocasião foi a de uma solenidade religiosa que a família real inaugurava,
banhando-se na sagrada corrente. Uma santidade especial se associava
com aquelas partes do Nilo que corriam perto dos templos. Ali se
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 6
encerrava num cerco uma porção de água como proteção contra os
crocodilos; e sem dúvida a princesa tinha um cercado para seu próprio
uso, o caminho ao qual conhecia bem Joquebede.
passeavam — em procissão ou em ordem.
enviou a sua criada — sua assistente imediata. O termo é distinto
do que se traduz “criada”.
6-9. Abrindo-o, viu a criança — O relato é pitoresco. Nenhuma
história romântica jamais descreveu um plano mais habilmente ideado,
ou mais cheio de interesse em seu desenvolvimento. O recurso do cesto,
o betume e o piche, a escolha do tempo e lugar, a escolha dos
sentimentos do coração feminino, a colocação da irmã como sentinela
para ver os acontecimentos, sua oportuna sugestão de uma ama, e o
emprego da mesma mãe – tudo demonstra uma medida de
engenhosidade mais que ordinária, da parte dos pais, como também de
sua intensa solicitude pela preservação da criança. Mas a origem do
plano provavelmente se deveu a uma sugestão divina, pois seu êxito foi
assegurado pela direção da Providência, que não só salvou a vida da
criança, mas proveu para seu ensino na criação e admoestação do
Senhor. Daí que se diz que foi feito pela fé (Hb_11:23), ou por alguma
promessa de libertação, ou por alguma revelação especial a Anrão e
Joquebede, e em vista disto, o piedoso casal deu um exemplo belo de
confiança firme em Deus, unida com o uso ativo dos meios mais
convenientes.
10. ela o trouxe à filha de Faraó — Ainda que teria sido uma
prova quase tão severa para Joquebede separar-se dele a segunda vez
como a primeira, ela estava resignada com isso por sua fé no alto destino
dele como o futuro libertador de Israel. Sua idade quando foi levado ao
palácio não nos é dito; mas tinha idade suficiente para estar já bem
instruído nos princípios da verdadeira religião; e aquelas primeiras
impressões, aprofundadas pelo poder da graça divina, nunca foram
esquecidas nem apagadas.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 7
da qual passou ele a ser filho — por adoção, e sua alta posição lhe
proporcionou vantagens para sua educação, as quais sob a Providência
de Deus se prestaram para seus propósitos muito diferentes aos que
pensava sua real protetora.
Esta lhe chamou Moisés — Seus pais poderiam lhe ter dado, como
de costume, por ocasião de sua circuncisão um nome o qual, segundo a
tradição, foi Joaquim. Mas o nome escolhido pela princesa, seja de
origem egípcia ou hebreia, é o único pelo qual ele foi conhecido pela
igreja; e é uma lembrança permanente dos incidentes dolorosos de seu
nascimento e infância.

Vv. 11-25. SUA SIMPATIA PARA COM OS HEBREUS.


11. Naqueles dias, sendo Moisés já homem — não em idade e
estatura somente, mas em poder como também em renome por seus
talentos e suas proezas militares (At_7:23). Há uma brecha aqui na
história sagrada, a qual, entretanto, foi suprida pelo comentário inspirado
de Paulo, quem detalhou amplamente os motivos como também a
magnitude da mudança que se efetuou em sua condição material; e seja
que, como dizem alguns, sua mãe adotiva tivesse pensado fazê-lo co-
regente e sucessor da coroa, ou outras circunstâncias, o conduziram à
declaração de seu pensamento, ele resolveu renunciar ao palácio e
identificar-se com o povo de Deus que estava sofrendo (Hb_11:24-26).
A descida de alguns soberanos, como Diocleciano e Carlos V, do trono à
vida particular, não é nada comparado com o sacrifício que fez Moisés
por meio do poder da fé.
saiu a seus irmãos — para fazer uma inspeção completa e
sistemática de sua condição em várias partes do país, onde estavam
espalhados (At_7:23), e adotou este modo de proceder em obediência ao
propósito patriótico que a fé, que é da operação de Deus, até então estava
formando-se em seu coração.
viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo —
um dos capatazes que estava açoitando a um escravo hebreu sem causa
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 8
justificada (At_7:24) e de uma maneira tão cruel, que parece que tinha
morrido sob o tratamento tão bárbaro, porque as condições da história
sagrada indicam resultado tão fatal. O espetáculo era novo e estranho
para ele e embora fosse muito manso (Nm_12:3) foi tomado de
indignação e matou o egípcio e o escondeu na areia. Este ato de Moisés
parece, e foi julgado por alguns, temerário e injustificado; em palavras
claras, um caso de assassinato. Mas não devemos julgar seus atos em tal
país e em tal idade pelas normas da lei e as ideias quanto ao certo, que
prevalecem em nosso país cristão; e, além disso, não apenas não se fala
do ato como um crime nas Escrituras ou como que causasse remorso ao
perpetrador, mas sim segundo costumes existentes entre as tribos
nômades, Moisés estava obrigado a vingar-se do sangue de um irmão.
Mas aquele que era oficial de governo o homem que ele matou, o fez
responsável perante as leis do Egito, e por isso ele buscou proteger-se
das consequências escondendo o cadáver.
13, 14. dois hebreus estavam brigando — Sua mediação benévola
nesta contenda, ainda que foi feita da maneira mais bondosa e suave, foi
rejeitada, e como a mofa do agressor deu a entender que a conduta de
Moisés do dia anterior era geralmente conhecida, ele resolveu buscar sua
segurança fugindo (Hb_11:27). Estes dois incidentes fazem ver que nem
estavam os israelitas preparados ainda para sair do Egito nem estava
preparado Moisés para ser seu guia (Tg_1:20). Era pela vara e não pela
espada, pela mansidão e não pela ira de Moisés, como Deus tinha que
efetuar aquela grande obra de libertação. Tanto ele como o povo de
Israel, por quarenta anos mais, foram lançados no forno da aflição,
apesar de Deus os ter escolhido (Is_48:10).
15. Moisés fugiu da presença de Faraó — seu fuga foi feita no
segundo ano de Tutmés I.
habitou na terra de Midiã — situada sobre a ribeira oriental do
Mar Vermelho, e ocupada pela posteridade de Midiã o filho de Cuxe. O
território se estendia rumo ao norte até a cabeça do golfo, e rumo ao
oeste através do deserto de Sinai. Por sua localização perto do mar, os
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 9
midianitas desde os primeiros tempos combinavam o comércio com os
trabalhos pastoris (Gn_37:28). Supõe-se que o lar de Jetro estava onde
hoje está Dahab-Midiã; e por haver Moisés vindo diretamente lá, pode
ter viajado com uma caravana de comerciantes. Mas outro lugar é fixado
pela tradição no Wady Shuweib, ou o vale do Jetro, a leste da Montanha
de Moisés.
assentou-se junto a um poço — Veja-se Gn_29:3.
16-22. O sacerdote de Midiã — Como os ofícios estavam
geralmente unidos numa só pessoa, este sacerdote era também o
governante daquele povo, chamado os cusitas ou etíopes, e como muitos
outros chefes do povo pastoril naquela idade, ele ainda tinha a fé e culto
do verdadeiro Deus.
sete filhas — eram pastoras, às quais Moisés se apresentou
favoravelmente por um ato de cortesia e coragem, em que ele as
protegeu dos pastores rudes de uma tribo vizinha, junto ao poço. Depois
formou uma aliança estreita e permanente com esta família, casando-se
com uma das filhas, Zípora (“passarinho”), chamada cusita, ou etíope
(Nm_12:1), e a quem ele sem dúvida ganhou à maneira de Jacó, pelo
serviço [veja-se Êx_3:1]. Ele teve dela dois filhos, cujos nomes, segundo
prática comum, eram comemorativos de incidentes na história de família
[Êx_18:3, 4].
23. morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam sob a
servidão e por causa dela clamaram — A linguagem parece indicar
que os israelitas tinham experimentado um alívio parcial, provavelmente
pela influência da real protetora de Moisés, mas no reinado do sucessor
do pai da princesa, renovou-se a perseguição com uma severidade
aumentada.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 10
Êxodo 3

Vv. 1-22. A APARIÇÃO DIVINA E UMA COMISSÃO A MOISÉS.


1. Apascentando Moisés as ovelhas. — Ele tinha entrado neste
emprego para ajudar-se em seus propósitos matrimoniais (veja-se
Êx_2:21), mas é provável que continuasse no serviço agora sob outras
condições, como Jacó durante os últimos anos de sua estada com Labão
(Gn_30:28).
levando o rebanho para o lado ocidental do deserto — ou seja,
ao lado oeste do deserto (Gesênius), e supondo-se que o lar de Jetro
estivesse no Dahab, a rota pela qual Moisés levava seu rebanho, teria
sido rumo ao oeste pelo largo vale chamado pelos árabes, Wady-es-
Zugherah (Robinson), que conduzia ao interior do deserto,
ao monte de Deus, a Horebe — assim chamado ou segundo o
idiotismo hebreu por sua grande altura, “montanha grande”, hebraico
“montanha de Deus” (Sl_36:6), “belos cedros”, hebraico “cedros de
Deus” (Sl_80:10), ou, como pensam alguns por ser a antiga morada “da
glória”; ou finalmente por ser o teatro das transações mais memoráveis
na história da verdadeira religião.
Horebe — antes, distrito de Horebe. Horebe ou seja, seco, deserto,
era o nome geral de todo o distrito montanhoso no qual está situado o
Sinai, e do qual é uma parte (Veja-se Êx_19:2). Usa-se para designar a
região que compreende a imensa cadeia de montanhas altas, desoladas e
estéreis, à base das quais, entretanto, há não somente muitos pedaços de
terrenos verdes, mas sim quase todos os vales, ou wadis, como se
chamam, exibem uma capa magra de vegetação, que, rumo ao sul, é mais
viçosa. Os pastores árabes raramente levam seus rebanhos a uma
distância maior que a viagem de um dia desde seus acampamentos.
Moisés teria feito pelo menos, a viagem de dois dias, e ainda que pareça
ter estado caminhando só com objetivo de buscar pastos, sendo aquela
região, por seus numerosos mananciais entre as aberturas das rochas,
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 11
refúgios das tribos durante o calor do verão, a providência de Deus o
conduziu até lá com um propósito importante.
2, 3. Apareceu-lhe o Anjo do SENHOR numa chama de fogo —
É comum nas Escrituras fazer aparecer os elementos e as operações da
natureza, como ventos, fogos, terremotos, pestilências, executando a
vontade divina, como os “anjos”, ou mensageiros de Deus. Mas em tais
casos, considera-se o próprio Deus como real, ainda que invisivelmente
presente. Aqui o sobrenatural fogo em primeiro lugar pode entender-se
pela expressão “anjo de Jeová”; mas está claro que sob este símbolo o
Ser divino estava presente, cujo nome é dado (Êx_3:4, 6), e em outras
partes chama-se o Anjo da aliança, Jeová-Jesus.
no meio de uma sarça — A acácia silvestre, ou espinheiro, em que
abunda aquele distrito, geralmente está seca e quebradiça, tanto que em
certas épocas uma faísca poderia converter um grande distrito em
chamas. Que um fogo estivesse em meio de semelhante arbusto do
deserto, era uma “grande visão”. Supõe-se geralmente que tenha sido
emblemático da condição dos israelitas no Egito, oprimidos por uma
servidão esgotante e uma perseguição sangrenta, mas apesar do plano de
aniquilá-los, eles continuavam tão numerosos e prósperos como sempre.
A razão era que “Deus estava no meio deles”. O símbolo também poderá
representar o estado atual dos judeus, como também o da igreja em geral,
no mundo.
4. Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver — As
manifestações que Deus antigamente fazia de si mesmo, eram sempre
acompanhadas por sinais claros e inequívocos de que as comunicações
eram realmente do céu. Esta evidência certeira foi dada a Moisés. Ele viu
um fogo, mas nenhum agente humano que o prendesse; ouviu uma voz,
mas nenhuns lábios humanos de onde viesse; não viu nenhum Ser
vivente, mas Alguém estava na sarça, no calor das chamas, que o
conhecia e se dirigia a ele pelo nome. Quem poderia ser senão um Ser
Divino?
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 12
5. tira as sandálias dos pés — A ordem estava de acordo com um
costume bem conhecido Moisés, porque os sacerdotes egípcios a
observavam em seus templos, e é observada em todos os países orientais,
onde as pessoas tiram seus sapatos ou sandálias, como tiramos o chapéu.
Mas a ideia oriental não é a mesma que a ocidental. Entre nós, tirar o
chapéu é uma expressão de reverência pelo lugar onde entramos, ou
antes, por Aquele que é adorado ali. Entre eles, o tirar os sapatos é uma
confissão de contaminação pessoal, e de uma consciente indignidade de
estar na presença da santidade imaculada.
6-8. Eu sou o Deus … desci a fim de livrá-lo — O temor
reverencial de Moisés teria sido aliviado pelo Orador Divino (veja-se
Mt_22:32), que se anunciava em seu caráter, segundo a aliança, e pela
grata notícia comunicada. Além disso, o tempo como também as
circunstâncias desta aparição milagrosa eram tais que lhe davam uma
manifestação clara da fidelidade de Deus a suas promessas. O período da
viagem de Israel ao Egito e sua aflição ali tinha sido predito (Gn_15:13),
e foi durante o último ano do período que ainda devia ocorrer que o
Senhor apareceu na sarça de fogo.
10-22. Vem, agora, e eu te enviarei — Considerando as ideias
patrióticas que anteriormente tinham animado o coração de Moisés,
teríamos podido prever que nenhuma missão teria sido mais grata a seu
coração que a de ser empregado na emancipação nacional de Israel. Mas
demonstrava agora grande oposição para com ela, e alegou uma série de
objeções [Êx_3:11, 13; 4:1], todas as quais foram refutadas com êxito e
tiradas, e o feliz resultado de seus trabalhos foi anunciado detalhadamente.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Êxodo 4

Vv. 1-31. MUDANÇAS MILAGROSAS DA VARA, etc..


1. eis que não crerão. — Heb. “Se”, “talvez”, “eles não me
crerão”. Que evidência poderei apresentar de minha missão Divina?
Tinha ainda falta de plena confiança, não no caráter e poder divino de
seu chefe, mas em que sua presença e poder sempre lhe acompanhassem.
Insinuou que sua mensagem poderia ser rejeitada pelo povo, e ele
mesmo tratado como impostor.
2. Perguntou-lhe o SENHOR: Que é isso que tens na mão? — A
pergunta foi feita não para obter informação que Deus necessitasse,
senão para atrair a atenção do próprio Moisés.
Um bordão — talvez o cajado, ou gancho, de pastor – entre os
árabes um pau longo, com um gancho na parte superior, que variava
entre um e dois metros de comprimento.
6. Mete, agora, a mão no peito — a parte aberta da roupa exterior,
levada junto ao cinturão.
9. tomarás das águas do rio — O Nilo. Aqueles milagres, dois dos
quais foram operados naquele momento, e o terceiro que tinha que ser
feito a sua chegada a Gósen, tinham por objetivo, em primeiro lugar,
encorajar o próprio Moisés com provas satisfatórias de sua missão
divina, e que tinham que ser repetidas para a confirmação especial de sua
missão perante os israelitas.
10-13. Eu nunca fui eloquente — Supõe-se que Moisés lutava
com um defeito na fala, ou tinha dificuldade na expressão livre e fácil do
idioma egípcio, que por anos não tinha usado. Esta nova objeção foi
vencida, mas Moisés, prevendo as diversas dificuldades da empresa,
ainda ansiava ficar livre da responsabilidade.
14. se acendeu a ira do SENHOR contra Moisés — O Ser Divino
não está sujeito a arrebatamentos de paixão como os seres humanos; mas
seu desgosto manifestou-se na transferência da honra do sacerdócio, que
de outro modo teria sido conferido sobre Moisés, a Arão, quem a partir
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 14
de agora estava destinado a ser cabeça da casa de Levi (1Cr_23:13).
Maravilhosas tinham sido a condescendência e paciência de Deus em seu
tratamento com Moisés: e agora todos os seus escrúpulos desapareceram
pela notícia inesperada mas grata, de que seu irmão Arão tinha que ser
seu colega. Deus sabia desde o começo o que poderia fazer Moisés, mas
reserva este motivo até o final como o mais forte para despertar seu
coração adormecido, e Moisés agora plena e cordialmente obedeceu a
chamada. Se ficamos surpreendidos por sua tardança apesar de todos os
sinais e promessas que lhe foram dadas, temos que admirar sua
sinceridade e franqueza ao expressá-las.
18. Moisés, voltou para Jetro, seu sogro — Estando em seu
serviço, era justo que conseguisse permissão, mas Moisés manifestou
piedade, humildade e prudência, ao não publicar o objetivo especial de
sua viagem.
19. são mortos todos os que procuravam tirar-te a vida. — A
morte do monarca egípcio ocorreu no ano 429 da residência dos hebreus
no Egito, e aquele acontecimento, segundo a lei egípcia, levantou a
proscrição de Moisés, se na realidade esta tinha sido publicada.
20. Tomou, pois, Moisés a sua mulher e os seus filhos; fê-los
montar num jumento — A Septuaginta diz “asnos”. Esses animais não
se usam agora no deserto de Sinai, exceto pelos árabes para percorrer
distâncias curtas.
e voltou — empreendeu viagem para com o Egito.
levava ... o bordão de Deus — assim chamada por estar destinado
a seu serviço, e porque quaisquer milagres em que pudesse ser
empregado, não seriam operados por virtude inerente ao bordão, e sim
por um poder divino que assim a usasse. (cf. At_3:12).
24. estalagem — Heb., lugar para passar a noite.
encontrou-o o SENHOR e o quis matar — ou seja, estava
afligido por uma angústia mental ou atacado por alguma doença
repentina e perigosa. O relato é obscuro, mas o sentido parece indicar
que durante sua doença, levado a um estrito exame de si mesmo, estava
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 15
profundamente triste e aflito pelo pensamento de que, para agradar a sua
esposa, ele tinha adiado ou descuidado a circuncisão de um de seus
filhos, provavelmente o mais novo. Descuidar aquele sinal e selo da
aliança, era criminoso em qualquer hebreu, e especialmente em um que
estava destinado a ser guia e libertador dos hebreus; e parece que ele
considerou sua doença como um castigo merecido por sua omissão
pecaminosa. Preocupada com a segurança de sua esposa, Zípora vence
seus sentimentos maternos de aversão ao doloroso rito, e ela mesma, por
meio de um dos pederneiras afiados que abundam no deserto, fez a
operação que seu marido, que tinha a obrigação de fazê-la, não foi capaz
de fazer, e havendo trazido a evidência sangrenta, exclamou na penosa
excitação de seus sentimentos que por amor a ele, ela tinha arriscado a
vida de seu filho. (Calvino, Bullinger, Rosenmuller.)
26. Assim, o SENHOR o deixou — Moisés se restabeleceu; mas a
lembrança deste período crítico de sua vida, estimularia o legislador
hebreu a impor estritamente a fiel execução do rito da circuncisão,
quando fosse estabelecido como uma ordenança divina em Israel, e feito
sua distinção peculiar como povo.
27. Arão … encontrando-o no monte de Deus, o beijou —
Depois de uma separação de quarenta anos, seu encontro seria feliz para
os dois. Semelhantes a esta são as saudações de amigos árabes quando se
encontram ainda no deserto; notável é o beijo a cada lado da cabeça.
29-31. Então, se foram Moisés e Arão — rumo ao Egito, tendo
sido Zípora e seus filhos devolvidos à terra de Midiã (cf. Êx_18:2).
ajuntaram todos os anciãos — Arão era o orador, e Moisés fez
todos os milagres recomendados, por meio dos quais “o povo”, ou seja,
os anciãos, chegaram a crer (1Rs_17:24; Js_3:2), e receberam com
sinceras ações de graças as notícias prazerosas da missão com que tinha
vindo Moisés. Antes tinham desprezado a mensagem e rejeitado o
mensageiro; antes Moisés tinha ido em sua própria fortaleza, agora ia
apoiando-se em Deus, e fortalecido unicamente pela fé nAquele que o
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 16
havia enviado. A Israel também tinha sido ensinada uma lição útil, e foi
bom para ambos que tivessem sido afligidos.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 17
Êxodo 5

Vv. 1-23. A PRIMEIRA ENTREVISTA COM FARAÓ.


1. foram Moisés e Arão e disseram a Faraó — Como
representantes dos hebreus, tinham direito a pedir audiência do rei, e seu
ensino egípcio lhes indicou como e quando buscá-la.
e disseram a Faraó — quando foram apresentados, deram sua
mensagem em nome do Deus de Israel. Esta é a primeira vez que se
menciona o rei por este nome nacional nas Escrituras. Parece que foi
usado por indicação divina (Êx_4:2), e designado para dar honra aos
hebreus em sua condição humilhada (Hb_11:16).
2. Respondeu Faraó: Quem é Jeová? (TB) — “O Senhor” era
nome comum dado aos objetos de adoração: mas “Jeová” era um nome
que Faraó nunca tinha ouvido; e estimava o caráter e poder deste Deus
pela condição abjeta e miserável de seus adoradores, e tirou a conclusão
de que Ele tinha uma posição tão baixa entre os deuses, como seu povo
entre as nações. O propósito das pragas foi para demonstrar a supremacia
de Deus sobre todos os deuses do Egito.
não conheço Jeová, nem tampouco deixarei ir a Israel (TB) —
Como perigavam sua honra e seus interesses, resolveu esmagar esta
tentativa, e em tom de insolência, ou talvez de blasfêmia, rejeitou a
petição de libertação dos escravos hebreus.
3. O Deus dos hebreus nos encontrou — Em vez de valer-se de
recriminações e ameaças, com calma eles lhe asseguraram que não era
um proposição originada entre eles mesmos, mas sim um dever imposto
sobre eles por seu Deus. Durante uma longa série de anos, eles tinham
estado privados do privilégio do culto religioso, e como havia motivo
para temer que uma negligência continuada das ordenanças divinas
trouxesse sobre eles os juízos do céu ofendido, suplicavam permissão
para ir caminho de três dias pelo deserto, a um lugar solitário, onde suas
observâncias sacrificais não sofreriam interrupção nem ofenderiam os
egípcios. Ao dizer isto, eles ocultaram seu propósito essencial de
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 18
abandonar o reino, e ao fazer esta petição parcial primeiro,
provavelmente queriam provar o temperamento do rei, antes de revelar
suas intenções para mais adiante. Mas eles disseram somente o que Deus
punha em suas bocas (Êx_3:12, 18), e isto “legaliza o ato específico,
enquanto que não estabelece nenhuma sanção para o costume geral de
dissimulação” (Chalmers.)
4. Por que, Moisés e Arão, por que interrompeis o povo no seu
trabalho? etc. — Sem levar em conta o que eles haviam dito, o rei os
tratou como demagogos ambiciosos, que estavam apelando aos
sentimentos supersticiosos do povo, incitando a rebelião, e difundindo
um espírito de descontentamento, que estendendo-se entre um grupo de
escravos tão grande, poderia pôr em perigo a paz do país.
6. deu ordem Faraó — Foi a consequência natural do grande
desgosto causado por esta entrevista, que ele impôs cargas adicionais
sobre os israelitas oprimidos.
superintendentes — oficiais egípcios, nomeados para exigir mais
trabalho aos israelitas.
capatazes — hebreus postos sobre seus irmãos, sob os
superintendentes, precisamente análogos aos oficiais árabes postos sobre
os fellahín árabes, os operários pobres no Egito moderno.
7. não torneis a dar palha ao povo, para fazer tijolos — A
fabricação de tijolos parece ter sido um monopólio do governo, pois os
tijolos antigos estão quase todos estampados com o nome de um rei, e se
faziam, como ainda se fazem no baixo Egito, de argila mesclada com
palha, e secados ou endurecidos ao sol. Os israelitas foram empregados
nesta tarefa; e ainda que viviam em Gósen, e tinham propriedade em
gado e ovelhas, eram obrigados por turno a servir nos fornos de tijolos,
compelidos em grupos alternantes, assim como os fellahín ou patrícios
do mesmo país, hoje.
eles mesmos que vão e ajuntem para si. — O enfurecido déspota
não deu ordens de fazer uma coisa impraticável. Os ceifeiros egípcios na
colheita de trigo costumavam cortar somente a espiga e deixar o caule.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 19
8. a mesma conta — número assinalado de tijolos. Os materiais de
seu trabalho não seriam já providos para eles, e, entretanto, como a
mesma tarefa era exigida cada dia, é impossível imaginar uma crueldade
mais refinada, ou um exemplo mais perfeito do despotismo oriental.
12. Então, o povo se espalhou — Foi uma imensa injustiça para
com os trabalhadores individualmente, mas não haveria impedimento de
parte dos agricultores, em cujos campos entravam, porque quase todas as
terras do Egito estavam em posse da coroa (Gn_47:20).
13-19. Os superintendentes os apertavam … foram açoitados os
capatazes — Como a palha dos campos mais próximos estava gasta, e o
povo tinha que ir mais longe buscá-la, era-lhes impossível cumprir a
acostumada “tarefa” de tijolos. “A cacetada dos capatazes judeus é
precisamente o que teria que esperar-se de um tirano oriental,
especialmente no vale do Nilo, pois como se desprende dos
monumentos, o antigo o Egito, como a moderna a China, era governado
principalmente pelo pau.” (Taylor.) “O modo de espancar era que o
culpado se deitasse no solo, geralmente sujeito das mãos e os pés,
enquanto se lhe aplicava o castigo”. (Wilkinson.) (Dt_25:2). Um quadro
representando os hebreus sobre o ladrilho, exatamente como se descreve
neste capítulo, foi achado numa tumba egípcia em Tebas.
20, 21. encontraram Moisés e Arão … e lhes disseram: Olhe o
SENHOR para vós outros e vos julgue — Assim o libertador de Israel
achou que este antagonismo patriótico, em primeira instância, só agravou
os males que ele quis tirar, e que em vez de receber a gratidão de seus
concidadãos, foi repelido com os recriminações deles. Mas, como a
escuridão mais intensa da noite vem imediatamente antes da aurora,
assim o povo de Deus é frequentemente submerso na mais profunda
aflição, quando está às vésperas da libertação, e assim foi neste caso.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 20
Êxodo 6

Vv. 1-13. A RENOVAÇÃO DA PROMESSA.


1. Disse o SENHOR a Moisés — O Senhor, que é longânimo e
indulgente com os erros e as fraquezas de seu povo, fez caso omisso da
mortificação de Moisés como resultado da primeira entrevista, e o
animou com a segurança de uma terminação rápida e feliz de sua missão.
2. Falou mais Deus a Moisés — Para seu maior estímulo, lhe fez
uma repetição enfática da promessa (Êx_3:20).
3. Apareci … Deus Todo-Poderoso — Todos os inimigos têm que
cair, todas as dificuldades têm que desvanecer-se perante meu poder
onipotente, e os patriarcas tiveram provas abundantes disso.
mas pelo meu nome, etc. — antes, interrogativamente: “Por meu
nome não era eu conhecido a eles? Não sou eu o Deus Onipotente que
empenhei minha honra pelo cumprimento da aliança, também o Deus
auto-existente que vivo para levá-lo a cabo?” Estejam seguros, pois, de
que o levarei a cabo. Esta passagem causou muita discussão; muitos
creram que se insinua que, como o nome de Jeová não era conhecido dos
patriarcas, pelo menos em seu significado cabal ou experiência prática
dele, a honra de sua revelação foi reservado para Moisés, quem foi o
primeiro enviado com uma mensagem no nome de Jeová, e foi
capacitado para confirmá-lo por uma série de milagres públicos.
9-11. Desse modo falou Moisés aos filhos de Israel — Parece que
as crescentes injustiças infligidas sobre os israelitas tinham que tal modo
abatido seu espírito, e os tinham irritado tanto que se negaram a escutar
mais mensagens (Êx_14:12). Até a fé do próprio Moisés estava
vacilando; e ele teria abandonado a empresa com desespero, se não
tivesse recebido um mandato positivo de Deus, de voltar a visitar o povo
sem demora, e ao mesmo tempo renovar a petição deles ao rei num tom
mais decisivo e peremptório.
12. como, pois, me ouvirá Faraó a mim, que sou incircunciso de
lábios? (TB) — Uma expressão metafórica entre os hebreus, que
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 21
ensinados a considerar a circuncisão de qualquer parte como indicativa
de perfeição, manifestavam a deficiência ou incongruência da mesma
por incircuncisão. As palavras aqui expressam quão dolorosamente
Moisés sentia sua carência de linguagem ou eloquência persuasiva. Ele
parece ter caído no mesmo profundo desalento que seus irmãos, e estar
retrocedendo, com um acanhamento nervoso, de uma empresa difícil se
não desesperadora. Se ele tinha fracassado tão rotundamente com o
povo, cujos interesses mais caros defendia, que melhor esperança
poderia acariciar em causar mais impressão no coração de um rei
exaltado com orgulho, e firme na possessão de um poder absoluto? Quão
surpreendentemente foi manifestada a indulgente paciência de Deus para
com Seu povo em toda sua tardança para receber o anúncio dEle, da
próxima libertação deles! Nenhuma queixa injusta nem indolente
indiferença de parte deles atrasaram o desenvolvimento dos Seus
propósitos benévolos. Ao contrário, neste caso, como sempre, o curso de
sua Providência é lento em infligir castigos, enquanto que se move
rapidamente, como foi, quando é preciso aliviar as misérias ou conferir
benefícios.

Vv. 14-30. A GENEALOGIA DE MOISÉS.


14. Estas são as cabeças das casas de seus pais (TB) — chefes ou
governadores das casas. A inserção desta tábua genealógica nesta parte
do relato teve como propósito autenticar a descendência de Moisés e
Arão. Os dois foram encarregados de desempenhar uma parte tão
importante nos assuntos levados a cabo na corte do Egito, e depois
elevados a postos tão altos no governo da nação hebreia, que era de suma
importância que sua linhagem fosse esboçada corretamente. Como
Rúben e Simeão eram os filhos mais velhos de Jacó, se toma nota
ligeiramente deles, e logo o historiador passa à enumeração das pessoas
principais da casa de Levi [Êx_6:16-19].
20. Anrão tomou por mulher a Joquebede, sua tia — As versões
Septuaginta e Siríaca traduzem “sua prima”.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 22
23. Eliseba — ou seja, Elisabete [Strong]. Estes pequenos detalhes
anotados na família de Arão, enquanto que passa por alto os seus,
indicam a modéstia legítima de Moisés. Um homem ambicioso ou um
impostor teria agido de uma maneira muito diferente.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Êxodo 7

Vv. 1-25. UMA SEGUNDA ENTREVISTA COM FARAÓ.


1. disse o SENHOR a Moisés — Aqui se anima a Moisés a
entrevistar-se novamente com o rei; mas não, como antes, na atitude de
um humilde suplicante, mas sim agora armado com credenciais como
embaixador de Deus, e para fazer sua demanda num tom e de uma
maneira que nenhum monarca ou corte terrestres jamais tinham
contemplado.
Eis que te fiz como um deus para Faraó (BJ) — “um deus”, ou
seja, ele tinha que atuar neste assunto como representante de Deus, e
falar em Seu nome, e executar coisas fora do curso comum da natureza.
Dizem os orientais familiarmente falando de um homem que é
eminentemente grande ou sábio, “ele é um deus” entre homens.
Arão, teu irmão, será teu profeta — ou seja, intérprete ou
interlocutor. Um tinha que ser o representante de Deus, e o outro teria
que ser considerado o orador para todas as cenas seguintes, ainda que
não se menciona expressamente seu nome.
3. Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó — Este seria o
resultado. Mas a mensagem divina seria a ocasião, mas não a causa da
obcecação impenitente do rei.
4. Eu porei a mão sobre o Egito, etc. — A sucessão de terríveis
juízos com os quais o país estava para ser açoitado, demonstraria a
supremacia do Deus de Israel.
7. Era Moisés de oitenta anos — Esta idade avançada era garantia
de que eles não tinham sido expostos a uma empresa atrevida e perigosa,
e que por suas naturais fraquezas eles não teriam podido efetuar a obra
que estavam empreendendo, se não tivessem sido apoiados por uma mão
divina.
9. Quando Faraó vos disser, etc. — Naturalmente o rei exigiria
alguma prova de que eles tinham sido enviados por Deus; e como
esperaria que os ministros de seus próprios deuses fizessem as mesmas
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 24
obras, a contenda, pela própria natureza do caso, seria uma contenda de
milagres. Já se tomou nota do bordão de Moisés (Êx_4:2), mas os
bordões eram usadas também por todos os nobres e oficiais na corte de
Faraó. Era um costume egípcio, e os bordões eram símbolos de
autoridade ou posição. Daí que Deus mandou a seus servidores usarem
um bordão.
10. lançou Arão o seu bordão diante de Faraó, etc. — É preciso
presumir que Faraó tinha pedido uma prova de sua missão divina.
11. E convocou Faraó aos sábios do Egito e os feiticeiros (Versão
Jünemann), etc. — Seu objetivo ao chamá-los era o de averiguar se esta
obra de Arão era realmente uma obra do poder divino ou meramente um
jogo de artes mágicas. Os magos do Egito em tempos modernos, têm
sido famosos por sua obra de encantar serpentes, e especialmente
apertando a parte posterior do pescoço, somem-nas numa espécie de
catalepsia, que as deixa rígidas e imóveis, de modo que parecem
convertidas em bordões. Escondem as serpentes entre suas roupas, e com
jogo de mãos as tiram dentre sua roupa rígidas e direitas como bordões.
Precisamente a mesma mutreta foi usada por seus antigos predecessores,
dos quais os mais renomados, Janes e Jambres (2Tm_3:8), foram
chamados nesta ocasião. Tiveram tempo, depois de ser chamados, para
fazer os necessários preparativos. Desta maneira parecia que teriam êxito
em seus “encantamentos” ao praticar uma ilusão dos sentidos.
12. mas o bordão de Arão devorou os bordões deles. — Para isto
eles não estavam preparados, e sua derrota apareceu na perda de seus
bordões, os quais eram provavelmente serpentes verdadeiras.
14. O coração de Faraó está obstinado — Sejam quais forem as
suas primeiras impressões, logo foram dissipadas; e quando achou a seus
magos fazendo tentativas similares, concluiu que o assunto de Arão era
um engano mágico cujo segredo os sábios dele não conheciam.
15. Vai ter com Faraó pela manhã — Agora, pois, começaram
aqueles milagres espantosos para castigo, por meio dos quais o Deus de
Israel, por seus enviados, evidenciou sua supremacia única e indiscutível
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 25
sobre todos os deuses do Egito, sendo tais milagres os fenômenos
naturais do Egito, mas fora de seu tempo e num grau milagroso de
intensidade. A corte do Egito, seja que se celebrasse em Ramessés, ou
Mênfis, ou Tanis no campo de Zoã (Sl_78:12), foi a cena destas
transações extraordinárias, e Moisés poderia ter residido durante este
período terrível na vizinhança imediata.
ele sairá às águas — por motivo das abluções ou devoções talvez;
porque o Nilo era objeto de um culto supersticioso, a deidade ou patrão
do país. Poderia ser que foi negada a entrada de Moisés ao palácio; mas
seja como for, o rio tinha que ser o sujeito da primeira praga, e portanto
foi-lhe ordenado ir às margens do rio com seu bordão milagroso, o qual
seria levantado agora não como demonstração, senão para juízo, se o
espírito contumaz do rei ainda negasse seu consentimento à partida de
Israel para os ritos sagrados.
17-21. Arão, levantando o bordão, feriu as águas (v. 20), etc. —
Seja que as águas fossem mudadas em sangue verdadeiro, ou só na
aparência dela (porque a Onipotência poderia efetuar um milagre tão
facilmente como o outro), esta foi uma dura calamidade. Quão grande
seria o contratempo e desgosto em toda a terra, quando o rio deveu ser da
cor de sangue, ao qual eles tinham uma aversão nacional; sua bebida
favorita converteu-se numa coisa asquerosa, e quando os peixes, que
constituíam tão importante elemento de alimentação, foram destruídos.
[Veja-se Nm_11:5]. A imensa medida em que a praga foi infligida, vê-se
em que se estendia a “seus rios”, ou ramais do Nilo. “seus arroios”, “seus
lagos”, ou atoleiros formados pelo transbordamento do Nilo, “depósitos”
e muitos copos domésticos nos quais as águas do Nilo se filtravam. Por
conseguinte, o sofrimento da sede do povo seria terrível. Nada poderia
humilhar a soberba do Egito mais que esta desonra trazida sobre seu
deus nacional.
22. os magos do Egito fizeram também o mesmo, etc. — Pouca
ou nenhuma água podia conseguir-se, e portanto a imitação do milagre
por eles teria que ter sido feito numa medida muito limitada, pois a única
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 26
água potável tinha que ser conseguida cavando na areia. Sua imitação do
milagre deve ter sido feito com uma amostra de água tinta de cor sangre
com alguma matéria corante. Mas foi suficiente para servir de pretexto
para que o rei se voltasse e fosse a sua casa.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 27
Êxodo 8

Vv. 1-15. A PRAGA DAS RÃS.


1. disse o SENHOR a Moisés: Entra a Faraó (RC) — A duração
da primeira praga por toda uma semana teria convencido a todos de que
foi produzida não por causas acidentais, mas pela agência de um poder
onipotente. Como um juízo de Deus, entretanto, não produziu bom
efeito, e Moisés recebeu a ordem para entrevistar-se com o rei e ameaçá-
lo, em caso de sua obcecação continuada, com a imposição de uma praga
nova e diferente. Como não se dá a resposta de Faraó, pode inferir-se que
foi desfavorável, porque novamente foi levantado o bordão de Arão.
2. eis que castigarei com rãs todos os teus territórios — Aqueles
animais, ainda que eram a desova natural do rio, e portanto objetos
comuns para o povo, nesta ocasião se multiplicaram milagrosamente a
um grau assombroso, e é provável que os ovos das rãs, que tinham sido
depositados anteriormente no barro e nos pântanos, milagrosamente
fossem incubados todos ao mesmo tempo.
3. no teu quarto de dormir, e sobre o teu leito — esteiras
estendidas no solo como também os mais suntuosos divãs dos ricos.
fornos — fossas feitas na terra cujos lados estão estocados com
argamassa.
amassadeiras — as amassadeiras usadas no Egito eram feitas de
vime. Qual seria o estado do povoe quando não podiam escapar do
contato frio, úmido nem da presença desagradável dos batráquios, que
caíam em todos os artigos e copos dos alimentos!
5, 6. Estende a mão com o teu bordão sobre os rios, sobre os
canais, etc. — O milagre consistia em que os répteis saíam dos pântanos
ao mesmo momento que ele ordenava.
7. os magos fizeram o mesmo com suas ciências ocultas — o que
exigia grande arte para fazer com que os daninhos répteis aparecessem
em qualquer parte do solo. O que eles tentaram fazer, já existia em
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 28
abundância por toda parte. Eles teriam podido mostrar melhor seu poder,
fazendo desaparecer as rãs.
8-15. Rogai ao SENHOR que tire as rãs de mim — a rã, que era
usada então como instrumento de aflição, seja por reverência ou por
ódio, era um objeto de superstição nacional dos egípcios; seu deus Ptah
era representado com cabeça de rã. Mas o enorme número delas, junto
com seu mau cheiro, fez delas uma moléstia intolerável, de sorte que o
rei foi humilhado de tal modo que prometeu a Moisés que se
intercedesse para tirá-las, consentiria na partida de Israel, e em
obediência a esta petição, foram tiradas na mesma hora em que o
monarca o pediu. Mas muitas pessoas, enquanto estão sofrendo por seus
pecados, fazem promessas de reforma e obediência, as quais esquecem
depois, e assim Faraó, quando viu que houve um alívio desta praga,
voltou a endurecer-se [Êx_8:15].

Vv. 16-19. A PRAGA DOS PIOLHOS.


16. fere o pó da terra, etc. — O bordão de Arão, sob a ordem de
Moisés, quem era mandado por Deus, foi levantado novamente, e a terra
ficou cheia de moscas dos areais, mosquitos, pois este é o significado do
termo no original. Em circunstâncias comuns estes insetos amarguram a
vida nos países orientais, e portanto a natureza terrível deste castigo no
Egito pode se julgar quando nenhuma precaução poderia evitar sua
penosa picada. A própria pequenez e insignificância destes ferozes
insetos fazem deles um açoite temível. Deste milagre os magos não
tentaram fazer nenhuma imitação, e como não tinham conseguido
produzir nem a praga do sangue do rio nem a moléstia das rãs, a
visitação deste pequeno inimigo os obrigou a reconhecer: “Isto é o dedo
de Deu”, mais corretamente “deuses”, porque eles falavam como pagãos.

Vv. 20-32. A PRAGA DAS MOSCAS.


20-24. Levanta-te pela manhã cedo … Faraó; eis que ele sairá às
águas, etc. — Aparecendo Faraó ainda endurecido, Moisés foi mandado
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 29
que fosse a seu encontro, enquanto caminhava sobre a margem do Nilo,
e que repetisse sua petição de que fossem libertados os israelitas,
ameaçando, em caso de sua negação continuada, cobrir todas as casas do
palácio até a humilde choça com enxames de moscas, enquanto que,
como prova do poder que efetuava este juízo, a terra de Gósen ficaria
eximida desta calamidade. A petição foi igualmente inútil como antes, e
o mal predito envolveu o país em forma do que era não “moscas” tais
como as que conhecemos nós, mas sim várias classes de moscas
(Sl_78:45), o mosquito grande, a mosca pão, a barata, o escaravelho,
porque todos estes são mencionados por escritores diferentes. Eram
muito destruidores, alguns infligiam mordidas dolorosas nos animais,
outros destruíam a roupa, livros, plantas, todas as coisas. O culto às
moscas, e especialmente ao escaravelho, era parte importante da religião
dos antigos egípcios. O emprego destas “deidades” aladas para castigá-
los, tem que ter sido doloroso e humilhante para os egípcios, enquanto ao
mesmo tempo teria que fortalecer a fé dos israelitas no Deus de seus pais
como o único objeto de adoração.
25-32. Chamou Faraó a Moisés e a Arão e disse: Ide, oferecei
sacrifícios ao vosso Deus nesta terra, etc. — Entre a ansiedade
impaciente de ser libertado deste castigo, e a renúncia a perder os
escravos hebreus, o rei seguiu o curso da conveniência: propôs deixá-los
livres para ocupar-se em seus ritos religiosos dentro de qualquer parte do
reino. Fiel às ordens recebidas, Moisés rejeitaria semelhante acerto;
mencionou uma razão mais forte para mostrar o perigo disso; e cedendo
o rei até o ponto de lhes conceder um breve feriado além da fronteira,
acrescentou a esta concessão a petição de que Moisés advogasse perante
o Senhor para que fosse tirada a praga. Isto Moisés lhe prometeu, e no
dia seguinte cessou a praga. Mas assim que cessou a pressão, o espírito
de Faraó, como um arco tenso, voltou a sua habitual obcecação, e,
indiferente à sua promessa, negou-se a deixar partir o povo.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 30
Êxodo 9

Vv. 1-7. A PRAGA DO GADO.


3. a mão do SENHOR será sobre o teu rebanho — Uma quinta
petição foi feita por Moisés a Faraó a favor dos israelitas, sendo-lhe
ordenado dizer que, se ele persistia em opor-se à sua partida, uma
pestilência seria enviada entre todos os rebanhos e manadas dos egípcios,
enquanto que os dos israelitas seriam protegidos. Como o rei não
mostrou nenhuma intenção de respeitar sua promessa, continuava sendo
o alvo das flechas da aljava do Todo-poderoso, e a praga com que foi
ameaçado e da qual ele estava advertido, foi executada. Mas neste caso é
de notar que a praga não foi infligida por meio do bordão de Arão, mas
sim diretamente pela mão de Jeová, e a fixação do tempo exato tendia
ainda mais a determinar o verdadeiro caráter da calamidade (Jr_12:4).
6. todo o rebanho dos egípcios morreu — não absolutamente cada
animal (Êx_9:19, 21), porque vemos que alguns ficaram; mas muitos
morreram de cada manada, e a mortalidade foi frequente e muito
estendida. O oportuno deste juízo consistiu em que os egípcios adoravam
os animais mais úteis, como o boi, a vaca e o carneiro; em todas as partes
do país eram levantados templos e honras divinas tributadas a estes
animais domesticados, e assim enquanto que a pestilência causou grande
perda em dinheiro, assestou um revés à sua superstição.
7. Faraó mandou ver, e eis que do rebanho de Israel não
morrera nem um sequer — O envio de mensageiros confidenciais
indica que ele não dava crédito a relatórios vagos, e podemos concluir
que alguma impressão tinha sido feita em sua mente por aquela isenção
extraordinária, mas não foi uma impressão boa nem permanente. Sua
vaidade e obcecação não foram em nenhum sentido vencidas.

Vv. 8-17. A PRAGA DE TUMORES.


8. Apanhai mãos cheias de cinza de forno, etc. — A praga
seguinte atacou as pessoas dos egípcios, e apareceu na forma de
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 31
erupções ulcerosas sobre a cútis e a carne (Lv_13:20 2Rs_20:7; Jó_2:7).
Que esta epidemia não proveio de causas naturais, foi evidente porque
seu efeito esteve relacionado a uma ação especial da parte de Moisés
executada na presença de Faraó. A atitude que ele assumiu, foi similar a
dos magos orientais, que, “quando pronunciam uma imprecação sobre
um indivíduo, aldeia ou país, tomam as cinzas de esterco de vacas (isto
é, de um fogo comum) e as atiram ao ar, dizendo aos objetos de seu
desagrado: tal doença ou tal maldição virá sobre vós”. (Roberts.)
10. Eles tomaram cinza de forno — Heb., “forno de tijolos”.
Sendo os magos padecentes da mesma praga, nada podiam fazer, ainda
que tinham sido chamados; e como o forno de tijolos era um dos
instrumentos principais de opressão para os israelitas [Dt_4:20;
1Rs_8:51; Jr_11:4], agora é convertido num meio de castigo para os
egípcios, aos quais lhes fez ver seus pecados em seu castigo.

Vv. 18-35. A PRAGA DE SARAIVA.


18. farei chover saraiva mui grave (RC), etc. — A sétima praga
que provou o coração endurecido de Faraó, foi a da saraiva, fenômeno
que produziria a maior surpresa e consternação no Egito, porque a chuva
e a saraiva, acompanhados por trovões e relâmpagos, eram
acontecimentos muito raros.
como nunca houve no Egito — No Delta, ou no baixo Egito, onde
se coloca a cena, a chuva cai ocasionalmente entre janeiro e março; a
saraiva não é desconhecida, e o trovão se ouve alguma vez. Mas uma
tormenta, que não só exibia todos estes elementos, mas também era tão
terrível, que os saraivas que caíam eram de tamanho imenso, e o trovão
soava em descargas espantosas, e o relâmpago varria a terra como fogo,
foi uma calamidade sem igual.
20, 21. aquele que teve temor da palavra de Jeová … aquele que
não pôs em seu coração, etc. — Prévia advertência, conforme parece,
tinha sido dada publicamente da tempestade ameaçadora; o ganho tinha
sido enviado a pastar, pois só entre janeiro e março pode conseguir-se
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 32
pasto. Vindo esta tormenta naquela estação, não só encheu de universal
terror a mente das pessoas, mas também causou a destruição de todos -
pessoas e animais, que em menosprezo da advertência, tinham sido
deixados no campo, como também de toda a vegetação [Êx_9:25]. Era
tanto mais espantosa devido ao fato de que as pedras de saraiva no Egito
são pequenas e de pouca força; os relâmpagos também raramente
produzem efeitos fatais, e para aumentar mais a maravilha, nenhum
rastro de tormenta foi achado em Gósen [Êx_9:26].
27-35. Faraó mandou chamar a Moisés e a Arão e lhes disse:
Esta vez pequei — Esta terrível manifestação do desagrado divino, com
efeito, impressionou seriamente a mente de Faraó, e, sob o peso de suas
convicções, humilhou-se para confessar que tinha feito mal em opor-se à
vontade divina. Ao mesmo tempo chama Moisés para que interceda pela
cessação da calamidade. Moisés acede a seus ardentes desejos, e esta
terrível visitação terminou. Mas o arrependimento de Faraó resultou num
sentimento passageiro, e sua obcecação logo deveu ser tão grande como
antes.
31, 32. O linho e a cevada foram feridos, etc. — As
particularidades que se mencionam destes produtos e cereais, resultam
do clima e a constituição física do Egito. Naquele país o linho e a cevada
estão amadurecidos, quando o trigo e o centeio estão ainda verdes. Daí
que o linho teria florescido, ou seja, subido o caule e cheio no mês de
fevereiro, fixando assim o mês particular em que sucedeu o
acontecimento. A cevada amadurecida como um mês antes que o trigo.
O linho e a cevada geralmente estão amadurecidos em março, o trigo e
centeio em abril.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 33
Êxodo 10

Vv. 1-20. A PRAGA DE GAFANHOTOS.


1. para mostrar entre eles estes meus sinais, etc. — Os piores
pecadores devem ser advertidos, ainda que haja pouca esperança de
arrependimento, e por isso aqueles milagres surpreendentes que levavam
uma demonstração tão clara e concludente da existência e caráter do
verdadeiro Deus, foram operados em séries prolongadas diante de Faraó,
para deixá-lo sem desculpa quando finalmente o juízo fosse executado.
2. para que contes a teus filhos e aos filhos de teus filhos, etc. —
Havia outro motivo ulterior e superior da imposição daqueles terríveis
juízos: que o conhecimento deles ali e que o registro permanente deles
ainda proporcionasse uma lição saudável e impressionante à igreja, até
os tempos finais. Os historiadores mundanos teriam podido descrevê-los
como acontecimentos extraordinários que caracterizaram esta era de
Moisés no antigo Egito. Mas nos ensina a traçá-los desde sua causa: os
juízos da ira divina sobre um rei e um povo grosseiramente idólatras.
4. amanhã trarei gafanhotos ao teu território — Moisés foi
comissionado a repetir a petição tantas vezes negada, com a segurança
de que uma resposta desfavorável seria seguida no dia seguinte por uma
invasão de gafanhotos. Talvez açoite mais terrível que o destes insetos
vorazes nunca afligiu uma terra; voam em enxames tão numerosos, que
obscurecem a terra que infestam, e sobre qualquer lugar onde descem,
convertem-no em deserto desolado, despojando o solo de seu verdor, às
árvores de suas folhas e casca, e produzindo em poucas horas um tal
grau de desolação que requer um lapso de anos para recuperar-se.
7-11. os oficiais de Faraó lhe disseram — Muitos de seus
cortesãos teriam sofrido sérias perdas nas pragas anteriores, e a
perspectiva de tal calamidade como a que ameaçava, e a magnitude da
qual suas experiências passadas os ajudavam a compreender, induziram-
nos a fazer uma repreensão ao rei. Vendo que seus conselheiros não o
apoiavam em sua resistência continuada, voltou a chamar Moisés e a
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 34
Arão, e tendo expresso seu consentimento à partida dos israelitas,
perguntou-lhes quem devia ir. A resposta pronta e decisiva de que
“todos”, que nem homem nem animal deviam ficar, levantou uma
tormenta de fúria no coração do orgulhoso rei; ele permitiria que os
homens adultos fossem. Mas nenhuma outra condição seria ouvida.
11. E os expulsaram da presença de Faraó. — No Oriente,
quando uma pessoa de autoridade ou posição sente-se incomodada por
uma petição que não esteja disposta a conceder, faz sinal a seus servos,
que se lançam adiante, e agarrando o suplicante ofensor pelo pescoço, o
arrastam para fora da câmara em violenta precipitação. De semelhante
caráter foi a cena apaixonada pela corte do Egito, quando o rei se excitou
com tal ataque de fúria incontida para tratar tão ignominiosamente os
dois veneráveis representantes do povo hebreu.
13. o SENHOR trouxe sobre a terra um vento oriental — O
bordão de Moisés foi levantado novamente e vieram os gafanhotos.
Nascem no deserto, e são trazidas ao Egito somente por um vento
oriental, onde vêm em nuvens que obscurecem o sol, destruindo em
poucos dias toda folha verde no caminho que percorrem. O homem, com
todas as suas invenções, nada pode fazer para proteger-se da invasão
entristecedora. O Egito sofreu muitas vezes pelos gafanhotos. Mas a
praga que seguiu à agitação do bordão milagroso, foi completamente
sem igual. Temendo uma ruína irreparável do país, fez chamar às pressas
a Moisés, e confessando seu pecado, implorou a intercessão de Moisés,
quem pediu ao Senhor e este enviou “fortíssimo vento ocidental, o qual
levantou os gafanhotos e os lançou no mar”.

Vv. 21-29. A PRAGA DE TREVAS.


21. Estende a mão para o céu, e virão trevas — Quaisquer que
fossem os meios secundários empregados para as produzir, se densas
neblinas ou vapores, segundo alguns, ou tormenta de areia, ou o
chamsin, segundo outros, foi tal a escuridão que quase se podia perceber
pelo órgão do tato, e tão prolongada para continuar três dias, como
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 35
sucede com o chamsin. (Hengstenberg.) O caráter aterrador desta
calamidade consistia nisto: que o sol era um objeto da idolatria egípcia;
que o céu claro, puro, daquele país nunca era desfigurado pela aparição
de uma nuvem. Aqui, também, o Senhor fez uma grande diferença entre
Gósen e outras partes do Egito.
24-26. Faraó fez chamar Moisés, e disse: -Ide, sirvam a Jeová —
Espantado pela escuridão sobrenatural, o rei teimoso cede, e propõe um
novo compromisso de que os rebanhos e as manadas fossem deixados
como garantia da volta do povo. Mas aproxima-se a crise, e Moisés
insiste em cada detalhe de sua demanda. O gado faria falta para os
sacrifícios; quantos ou quão poucos não poderia saber-se enquanto não
chegassem ao lugar dos ritos religiosos. Mas a emancipação de Israel da
escravidão egípcia tinha que ser completa.
28. Disse, pois, Faraó a Moisés: Retira-te de mim. — A firmeza
tranquila de Moisés provocou o tirano. Frenético pelo contratempo e
raiva, com malícia ofendida e desesperada, lançou-o de sua presença, e
proibiu que jamais voltasse.
29. Respondeu-lhe Moisés: Bem disseste—Com efeito, nunca
voltaria Moisés a vê-lo.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Êxodo 11

Vv. 1-10. A MORTE DOS PRIMOGÊNITOS ANUNCIADA.


1. Disse o SENHOR a Moisés — antes, “havia dito a Moisés”.
Pode-se inferir, pois, que ele tinha sido informado que a crise tinha
chegado, que a seguinte praga humilharia e alarmaria a tal extremo a
mente de Faraó, que ele “os expulsaria dali a todos juntos”. De modo
que a palavra de Moisés (Êx_10:29), devia considerar-se como uma
predição.
2, 3. Fala, agora, aos ouvidos do povo — Estes versículos,
descrevendo a comunicação que se tinha feito a Moisés em particular,
estão intercalados aqui como um parêntese, e serão considerados em
Êx_12:35.
4. Assim diz o SENHOR: Cerca da meia-noite — Aqui se relata
o anúncio da última praga, feito da maneira mais solene ao rei, em cujo
coração endurecido, toda sua dolorosa experiência não tinha produzido
até agora nenhum abrandamento, pelo menos nenhum bom efeito
permanente.
passarei pelo meio do Egito — linguagem usada segundo o
costume dos seres humanos.
5. todo primogênito na terra do Egito morrerá — O tempo, o
repentino, a severidade horrorosa, desta próxima calamidade e a
descrição peculiar das vítimas, tanto entre os humanos como entre os
animais, sobre os quais devia cair, tudo contribuiria para agravar seu
caráter.
serva que está junto à mó — A moenda da farinha para o uso
diário em toda família, é feita usualmente pelas escravas, e é considerada
como o emprego mais humilde. Para esta tarefa se usam duas pedras de
moinho portáteis, das quais a de acima dá volta por um cabo de madeira,
e durante a operação a serva se senta atrás do moinho.
6. Haverá grande clamor em toda a terra — Por ocasião de uma
morte, o povo do Oriente levanta lamentos ruidosos, e a imaginação
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 37
poderá conceber que “grande clamor” se levantaria, quando a morte
invadisse a cada família no reino.
7. contra nenhum dos filhos de Israel … nem ainda um cão
rosnará — Nenhuma cidade ou aldeia no Egito ou em Oriente em geral
está livre da moléstia dos cães, que percorrem as ruas e fazem o mais
feio ruído a todos os transeuntes de noite. Que enfático significado dá o
conhecimento desta circunstância a esta fato no relato sagrado, que na
horrenda noite que vinha, quando fenderiam o ar os chiados penetrantes
dos lamentadores, tão grande e universal seria o pânico inspirado pela
mão de Deus, que nem um cão moveria sua língua contra os filhos de
Israel!
8. todos estes teus oficiais descerão a mim e se inclinarão
perante mim — Este seria o efeito do terror universal; os corações dos
mais orgulhosos seriam humilhados e fariam homenagem a Deus, na
pessoa de seu representante.
ardendo em ira, se retirou — uma indignação santa e justa pela
duplicidade, repetida falsidade e obstinação de coração do rei; e esta
forte emoção foi agitada no peito de Moisés, não pela má recepção que
lhe fizeram, mas pela desonra feita a Deus (Mt_19:8; Ef_4:26).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 38
Êxodo 12

Vv. 1-10. A PÁSCOA É INSTITUÍDA.


1. Disse o SENHOR a Moisés — antes, “tinha falado” a Moisés e
Arão; porque é evidente que a comunicação aqui relatada, teria sido dada
a eles no dia dez do mês ou antes.
2. este vos será o primeiro dos meses do ano (TB) — o primeiro
não só em ordem, mas em estimativa. Anteriormente tinha sido o sétimo
conforme o cálculo do ano civil, que começava em setembro, e
continuava sem mudança, mas este a partir de agora devia ser o primeiro
no ano nacional religioso, que começava em março ou abril.
3. Falai a toda a congregação de Israel — Os acontecimentos
recentes tinham preparado o povo israelita para uma crise em seus
assuntos, e parece que eles tinham prestado obediência implícita a
Moisés neste momento. É notável que, entre toda a pressa e confusão de
uma partida semelhante, sua atenção séria tinha que ser dada a um solene
ato religioso.
um cordeiro para cada família — um cabrito poderia ser tomado
(v. 5). O serviço tinha que ser um serviço doméstico, porque a libertação
ia ser de um mal que ameaçava a cada família no Egito.
4. se a família for pequena para um cordeiro, etc. — Aparece
nos escritos de Josefo que dez pessoas faziam falta para celebrar
adequadamente a comunhão pascal.
conforme o que cada um puder comer — Diz-se que a
quantidade de comida do cordeiro pascal, por pessoa, era como do
tamanho de uma azeitona.
5. O cordeiro será sem defeito — A mais pequena deformidade ou
defeito tornava impróprio o cordeiro para o sacrifício –um tipo de Cristo
(Hb_7:26; 1Pe_1:19).
macho de um ano — Cristo na primavera da vida.
6. e o guardareis até o décimo quarto dia deste mês — Sendo
escolhido dentre o resto do rebanho, tinha que ser separado quatro dias
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 39
antes do sacrifício; e pelo mesmo espaço de tempo esteve Cristo sob
exame, e sua inocência irrepreensível manifestada perante o mundo.
o imolará no crepúsculo da tarde — ou seja o intervalo entre o
começo da baixada e o pôr-do-sol, que corresponde às três da nossa
tarde.
7. Tomarão do sangue e pô-lo-ão sobre os dois marcos e a
travessa da porta (BJ). — como sinal de segurança para os que estavam
dentro. Os postes eram os das tendas, em que viviam os israelitas
geralmente, ainda que alguns viveriam em casas. Ainda que os israelitas
eram pecadores assim como os egípcios, Deus sentiu prazer em aceitar a
substituição do cordeiro, cujo sangue salpicado nos postes da porta, lhes
procurou misericórdia. O sangue tinha que estar nos postes, ou
ombreiras, e o batente das portas, onde poderia ser visto; não no umbral,
onde poderia ser pegado. Isto era um emblema do “sangue da aspersão”.
(Hb_12:24, 29).
8. assada no fogo — por causa da pressa; e esta diferença era
sempre observada na cocção do cordeiro pascal e as outras ofertas
(2Cr_35:13).
pães asmos — também por causa da urgência (Dt_16:3), mas como
tipo de corrupção (Lc_12:1) parece que havia nisso um significado típico
(1Co_5:8).
ervas amargas — para lembrar aos israelitas sua aflição no Egito, e
moralmente as provas a que o povo de Deus está sujeito por causa do
pecado.
9. Não comereis do animal nada cru — ou seja, com o sangue que
fica — uma proibição contra a conformidade com práticas idolátricas.
Tinha que ser assado inteiro, sem que se rompesse um osso, e isto
apontava a Cristo (Jo_19:36).
10. Nada deixareis dele até pela manhã — a qual poderia ser
usada de uma maneira supersticiosa, ou deixada para apodrecer, o que
num clima quente sucederia rapidamente; o qual não seria conveniente
no que tinha sido devotado a Deus.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 40
Vv. 11-14. O RITO DA PÁSCOA.
11. Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos
pés — como preparados para uma viagem. O primeiro fazia-se
levantando a saia da objeto de roupa exterior e sujeitando-a no cinturão,
para deixar livres as pernas e os joelhos para caminhar. Quanto ao outro,
os orientais nunca levam sapatos dentro de casa, e os egípcios antigos,
como aparece nos monumentos, geralmente não levavam nem sapatos
nem sandálias. Parece que estas ordens se aplicavam principalmente à
primeira celebração do rito.
é a Páscoa do SENHOR — chamada por este nome do fato de que
as casas marcadas com sangue foram passadas por alto pelo anjo
destruidor.
12. executarei juízo sobre todos os deuses do Egito — talvez
indicando aqui os príncipes e grandes. Mas segundo a tradição judia, os
ídolos do Egito foram todos quebrados em pedaços naquela noite (veja-
se Nm_33:4; Is_19:1).
14. Este dia vos será por memorial, etc. — A estreita analogia
entre as páscoas judia e cristã vê-se na circunstância de que ambas as
festas foram instituídas antes que transcorressem os acontecimentos que
elas deviam comemorar.

Vv. 15-51. PÃES ASMOS.


15. Sete dias comereis pães asmos, etc. — Isto era para
comemorar outra circunstância na saída dos israelitas, aqueles a quem se
insistiu a sair tão às pressas que sua massa não foi levedada (v. 39), e
tinham que comer tortas sem levedura (Dt_16:3). O maior cuidado
sempre era tomado pelos judeus para livrar suas casas da levedura,
esquadrinhando o dono todo canto com luz de vela. Uma alusão
figurativa a este é feita em 1Co_5:7. A exclusão da levedura durante sete
dias não ocasionaria nenhum inconveniente no Oriente, onde a levedura
usual é a massa de pão guardada até que se fermenta, e é guardada assim
de um dia para outro para ter sempre preparada a levedura. Assim, ainda
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 41
que não houvesse levedura em todo o país, poderia conseguir-se dentro
de vinte e quatro horas. (Harmer.)
essa pessoa será eliminada de Israel — excomungada da
comunidade e privilégios do povo escolhido.
16. haverá santa convocação (RC) — literalmente, “chamada” do
povo, o que se fazia pelo som de trombeta (Nm_10:2), assembleia
sagrada, porque estes dias tinham que considerar-se como dias de
descanso, excetuando somente que a carne poderia cozinhar-se nesses
dias (Êx_16:23).
17. Guardai, pois, a Festa, etc. — Os sete dias desta festa tinham
que começar no dia depois da páscoa. Era uma festividade distinta que
seguia a da páscoa; mas ainda que foi instituída, como a páscoa, antes da
partida, a observância da mesma não se efetuou senão depois.
19. estrangeiro (BJ) — Nenhum estrangeiro podia participar da
páscoa, se não era circuncidado; o “estrangeiro” especificado como
plausível ao privilégio, teria que ser, pois, um prosélito gentio.
21-25. Chamou, pois, Moisés todos os anciãos de Israel, etc. —
Aqui são dadas orientações especiais para a observância.
22. hissopo — um pequeno musgo avermelhado (Hasselquist); a
planta de alcaparra (Royle.) Era usada para salpicar, estando bem
adaptada para tais usos, porque cresce em penachos, produzindo de uma
só raiz grande número de renovos. É notável que foi ordenado nos
desígnios da Providência que os soldados romanos, involuntariamente de
sua parte, fizessem uso desta planta simbólica com Cristo, quando, como
nossa páscoa, foi sacrificado a favor de nós [Jo_19:29].
nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã — Esta
regra foi peculiar à primeira celebração, e tinha por motivo, pensam
alguns, o evitar que houvesse alguma suspeita de que eles fossem
executantes da ameaçadora destruição dos egípcios. Há uma alusão a
isso em Is_26:20.
26. Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? —
Independentemente de algumas observâncias que mais tarde não eram
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 42
repetidas, os usos praticados nesta festa anual, eram tão peculiares que a
curiosidade dos jovens seria estimulada, e deste modo os pais teriam
uma oportunidade excelente, que se lhes exorta a aproveitar, para instruir
cada nova geração na origem e nos atos sobressalentes de sua fé
nacional.
27, 28. o povo se inclinou e adorou — Todas as direções
anteriores foram comunicadas por meio dos anciãos, e sendo
profundamente solenizados pelos acontecimentos passados e os
vindouros, os israelitas deram obediência pronta e fiel.
29. à meia-noite, feriu o SENHOR todos os primogênitos na
terra do Egito — No momento em que os israelitas estavam observando
a festa recém instituída, da maneira singular descrita, a calamidade
anunciada sobreveio aos egípcios. É mais fácil imaginar que descrever a
confusão e o terror daquele povo, repentinamente despertado do sonho e
envolto na escuridão; ninguém podia ajudar a seus vizinhos, quando os
gemidos dos moribundos e os fortes gritos dos parentes eram ouvidos
por todos os lados. A esperança de cada família foi destruída num
instante. Este juízo, ainda que foi terrível, manifesta a equidade da
retribuição divina. Durante oitenta anos os egípcios tinham sido
causadores de que todos os filhos varões dos israelitas fossem lançados
ao rio [Êx_1:16], e agora todos os primogênitos deles próprios caíram
sob o golpe do anjo destruidor. Foi-lhes feito sentir, na justiça de Deus,
algo do que eles tinham feito sentir a Seu povo. Muitas vezes as mãos de
pecadores têm feito a armadilha na qual eles foram enredados, e têm
caído à fossa que eles cavaram para os justos [Pv_28:10]. “Há um Deus,
com efeito, que julga na terra” [Sl_58:11].
30. não havia casa em que não houvesse morto — Talvez esta
declaração não é preciso entender-se de maneira absoluta. As Escrituras
frequentemente usam as palavras “todos”, “nenhum”, em sentido
comparativo – e assim neste caso. Haveria muitas casas em que não
haveria menino, e outras em que o primogênito já teria morrido. O que é
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 43
preciso entender é que em quase todas as casas no Egito tinham um
morto.
31. Faraó chamou a Moisés e a Arão — notável cumprimento das
palavras de Moisés (Êx_11:8), que faz ver que foram pronunciadas sob a
sugestão divina.
32. Levai também convosco vossas ovelhas, etc. — Todos os
termos sobre os quais o rei tinha insistido antes, agora os concede. Seu
orgulho tinha sido eficazmente humilhado. Os juízos aterradores em tão
rápida sucessão, mostravam claramente que a mão de Deus estava contra
ele. A aflição em sua própria família o tinha quebrantado de tal modo,
que não só mostrava impaciência em livrar seu reino de tão formidáveis
vizinhos, mas também até pediu para o levar em conta em suas orações.
34. O povo tomou a sua massa … sobre os ombros — Tendo
vivido tão longo tempo no Egito, eles teriam estado na prática de usar os
utensílios comuns no país. Os copos de amassar, estilo egípcio. eram de
vime ou juncos, que permitiam ser envoltos com a massa em seus
lençóis, em sua roupa exterior, seus hykes, e levados ao ombro.
35. pediram aos egípcios objetos de prata, e objetos de ouro, e
roupas — Quando vão a suas festas sagradas os orientais, sempre ficam
suas melhores jóias. Os próprios israelitas creram que iam só em viagem
de três dias para celebrar uma festa ao Senhor, e nestas circunstâncias
lhes seria fácil pedir emprestado o que fazia falta para a festividade. Mas
a palavra traduzida “pediram”, quer dizer simplesmente demandaram. Os
israelitas tinham estado em grande pobreza, tendo recebido pouco
pagamento, ou nenhum pagamento, por seus trabalhos. Agora insistiram
numa remuneração completa por todo o seu trabalho, e foi pago em
artigos leves e de valor, fáceis de levar.
36. o SENHOR fez que seu povo encontrasse favor da parte dos
egípcios — Tal medo deles foi inspirado na mente dos egípcios, que
qualquer coisa que eles pediram, foi dada livremente.
despojaram os egípcios — Assim eles cobraram seus lucros
acumulados de muitos anos, e os israelitas se acharam de repente ricos,
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 44
segundo a promessa feita a Abraão (Gn_15:14), e saíram do Egito como
um exército vitorioso carregado de despojos (Sl_105:37; Ez_39:10).
37. partiram os filhos de Israel de Ramessés — agora geralmente
identificada com a antiga Heroópolis, e fixada na moderna Abu-
Keisheid. Esta posição concorda com a declaração de que a cena dos
juízos milagrosos contra Faraó foi “no campo de Zoã” [Sl_78:12,
Sl_78:43]. E é provável que, na perspectiva de sua partida, o rei
demorava com diversos pretextos, os israelitas se congregaram ali como
centro de reunião. Ao viajar de Ramessés a Palestina, havia a alternativa
de duas rotas: uma ao longo da costa do Mediterrâneo até El-Arish, a
outra mais indireta pela cabeça do Mar Vermelho e o deserto de Sinai.
Moisés recebeu ordem para tomar esta rota (Êx_13:17).
para Sucote — ou seja, “as cabanas”, provavelmente nada mais
que um lugar de acampamento temporário. A palavra hebraica significa
teto ou abrigo feito com ramos de árvores; e daí, em lembrança deste
alojamento, os israelitas celebravam a festa dos tabernáculos desta
maneira cada ano.
perto de seiscentos mil homens de pé (TB) — Segundo o livro de
Números cap. 1, a enumeração é de homens de vinte anos de idade
acima. Supondo-se, o que agora se sabe pelas tábuas estatísticas, que o
número de varões superiores a esta idade é aproximadamente a metade
do total dos varões, então a população masculina em total seria
1.200.000; e acrescentando-se número igual de mulheres e meninos, o
número completo de israelitas que saíram do Egito, seria 2.400.000.
38. um misto de gente — literalmente, “grande gentinha” (veja-se
também Nm_11:4; Dt_29:11): escravos, pessoas dos graus mais baixos
da sociedade, em parte nativos e em parte estrangeiros, ligados
estreitamente com eles como companheiros na miséria, e que
alegremente se valeram da oportunidade para escapar entre a multidão.
(Comp. Zc_8:23).
40. o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de
quatrocentos e trinta anos — A Septuaginta traduz assim: “A morada
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 45
dos filhos e de seus pais, que moraram na terra de Canaã e na terra do
Egito”. Estas adições são importantes, porque o período de escravidão no
Egito não excedeu aos 215 anos, mas se calcularmos do tempo em que
Abraão entrou em Canaã e recebeu a promessa em que foi anunciada a
morada de sua posteridade no Egito, isto daria os 430 anos.
41. nesse mesmo dia ... saíram — dando a entender o
cumprimento exato e literal do período predito.
49. Haverá uma mesma lei para o natural e o estrangeiro (TB)
— Este regulamento faz ver o espírito liberal das instituições hebreias.
Qualquer estrangeiro poderia obter admissão aos privilégios da nação a
fim de que cumprisse seus ordenanças sagradas. Na dispensação mosaica
como também na cristã, o dever e o privilégio estão unidos
inseparavelmente.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 46
Êxodo 13

Vv. 1, 2. OS PRIMOGÊNITOS SANTIFICADOS.


2. Santifica-me todos os primogênitos — Santificar quer dizer
consagrar, separar de um uso comum para um uso sagrado. A base deste
dever descansava no fato de que havendo os israelitas tido preservados a
seus primogênitos por um ato de graça especial, da destruição geral que
sobreveio às famílias do Egito, estavam obrigados em sinal de gratidão a
considerá-los como a propriedade peculiar do Senhor (cf. Hb_12:23).

Vv. 3-10. MEMORIAL DA PÁSCOA.


3. Disse Moisés ao povo: Lembrai-vos deste mesmo dia — O dia
que lhes deu uma existência nacional e os introduziu aos privilégios da
independência e liberdade, merecia viver na memória dos hebreus e sua
posteridade; e, considerando a assinalada interposição de Deus
manifestada nele, merecia ser tido em memória não só perpétua mas
também reverente.
casa da servidão — literalmente, “casa de escravos”—ou seja, uma
condição servil e degradante.
com mão forte o SENHOR vos tirou de lá — A emancipação de
Israel nunca teria sido conseguida, se não tivesse sido arrancada do
tirano egípcio por meio dos juízos aterradores de Deus, como foi
anunciado a Moisés no princípio de sua missão (Êx_3:19).
portanto, não comereis pão levedado. — As palavras são
elípticas, e o sentido da cláusula poderá parafrasear-se assim: “Pela mão
forte o Senhor os tirou deste lugar, com tal precipitação que não pôde
comer-se pão levedado.”
4. mês de abibe — literalmente, “espiga verde”, que corresponde
aos meados de março, pois o mês de abibe é o mês das espigas verdes.
Era a melhor estação do ano para empreender a viagem à região do
deserto de Sinai, especialmente com rebanhos e manadas, porque então
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 47
as correntes de inverno baixaram, e os wadis estão cobertos com um
verdor temporão e exuberante.
5-7. Quando o SENHOR te houver introduzido na terra dos
cananeus — Aqui a páscoa é instituída como uma festa permanente dos
israelitas. Foi, entretanto, só uma observância antecipada; lemos de uma
só celebração da mesma, durante a longa morada no deserto [Nm_9:5];
mas ao estabelecer o povo na terra prometida, a época era solenizada
como um aniversário sagrado [Js_5:10], conforme as ordens dadas aqui.
8. Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo — O
estabelecimento desta festa e outras, apresentava as melhores
oportunidades para instruir os jovens no conhecimento das obras da
graça de Deus, para com seus antepassados no Egito.
9. será como sinal na tua mão, etc. — Não há motivo para crer
que aqui se refira à tatuagem, o costume oriental de pintar
indelevelmente a cútis ou tingir as mãos com pó de alfena, como fazem
as mulheres orientais. Nem é provável que ou esta prática ou os
filactérios dos fariseus – rolos de pergaminho, que levavam em suas
pulsos ou em suas frontes – fossem usados desde então. As palavras
devem ser consideradas somente como figura de expressão.
para que a lei do SENHOR esteja na tua boca, etc. — ou seja
que seja tema de frequentes conversações e conhecimento familiar entre
o povo.

Vv. 11-16. PRIMOGÊNITOS DOS ANIMAIS.


12. todo que abrir a madre, etc. — o mandamento a respeito da
consagração dos primogênitos aqui repetido, com algumas circunstâncias
adicionais. Os primogênitos de animais limpos, tais como cordeiros,
cabritos, bezerros, se fossem machos, tinham que ser dedicados a Deus e
empregados nos sacrifícios. Os não limpos, como os jumentinhos, sendo
inadequados para sacrifício, tinham que ser redimidos (Nm_18:15).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 48
Vv. 17-21. A JORNADA DO EGITO.
17. Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto
que mais perto, etc. — O caminho mais curto e mais direto do Egito a
Palestina era a rota usual das caravanas, que passa por Belbeis, El-Arish,
a Ascalom e Gaza. Os filisteus que naquele então possuíam esta cidade,
certamente teriam impedido sua travessia, porque havia uma inimizade
hereditária (1Cr_7:21-22); e o começo de hostilidades tão logo teria
desalentado ou espantado à pacífica multidão que Moisés conduzia. Sua
fé tinha que se exercitar e se fortalecer, e do começo de sua
peregrinação, contemplamos a mesma proporção cuidadosa de cargas e
provas postas sobre eles conforme o seu caráter e estado; e o Senhor
bondoso procede o mesmo ainda com seu povo naquela viagem
espiritual da qual aquela era tipo.
18. Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do
mar Vermelho, etc. — Esta extensão admirável de água é um golfo do
Oceano Índico. Em hebraico chamava-se “o mar cheio de ervas” pelas
plantas marítimas que ali abundavam. Mas o nome de Mar Vermelho
não se traça tão facilmente. Alguns creem que o nome foi dado por sua
proximidade às terras do Edom (avermelhado); outros fazem com que se
derive de suas rochas de coral, enquanto ainda outros atribuem a origem
a uma aparência extremamente vermelha de suas águas, causada por uma
multidão inumerável de pequeninhos moluscos. Este mar, em sua
extremidade setentrional, se divide em dois braços menores: o oriental
chamado antigamente o golfo Elanítico, agora é golfo da Ákaba, e o
ocidental, o golfo do Heroopólito, agora é o Golfo de Suez, o qual, sem
dúvida se estendia antigamente muito mais ao norte que agora. Era para
este aonde partiam os israelitas.
saíram arregimentados da terra do Egito (TB) — ou seja,
rodeados, providos para uma viagem longo (Veja-se Sl_105:37). Na
margem (em algumas Bíblias) traduzem “cinco em ordem”, que significa
obviamente cinco grandes divisões, sob cinco oficiais comandantes,
segundo o costume de todas as caravanas; e o espetáculo de uma
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 49
multidão tão grande e tão variada teria apresentado uma aparência
imponente, e seu progresso metódico não teria podido efetuar-se senão
pela influência vigilante de Deus.
19. Também levou Moisés consigo os ossos de José — em
cumprimento do juramento que José tinha exigido a seus irmãos
(Gn_50:25-26). Os restos de outros patriarcas, não mencionados por sua
escuridão, também foram tirados do Egito (At_7:15, 16); e não haveria
dificuldade quanto a meios de transporte, pois uns poucos camelos
levando estas preciosas relíquias apresentaria um quadro verdadeiro de
costumes orientais, tais como se podem ver ainda nas peregrinações a
Meca.
20. acamparam-se em Etã — Supõe-se, segundo a maioria dos
viajantes inteligentes, que este lugar seja a aldeia moderna de Ajrud,
onde há um manancial, e que é a terceira etapa das caravanas de
peregrinos a Balance. “É notável que qualquer rota que leva ao este
vindo de Heliópolis, ou rumo ao sul vindo de Heliópolis, igualmente
concordam que Etã é Ajrud. Está a 19 quilômetros a noroeste do Suez, e
está literalmente sobre o extremo do deserto” (Pictorial Bible).
21, 22. O SENHOR ia adiante deles — por um sinal visível de sua
presença, a Shekiná, numa nuvem majestosa (Sl_78:14; Ne_9:12,
1Co_10:1), chamada o anjo de Deus (Êx_14:19; 23:20-23; Sl_99:6-7;
Is_66:8-9).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 50
Êxodo 14

VV. 1-31. DEUS INSTRUI OS ISRAELITAS A RESPEITO DE


SUA VIAGEM.
2. Fala aos filhos de Israel que retrocedam e se acampem — Os
israelitas agora tinham completado a sua viagem de três dias, e em Etã
tinham que decidir se celebrariam sua projetada festa e voltariam, ou se
partiriam adiante pela cabeça do Mar Vermelho ao deserto, com objetivo
de uma partida final. Já estavam nos limites do deserto, e uma marcha
curta os poria fora do alcance de seguimento, pois os carros do Egito
poderiam fazer pouco progresso sobre a areia seca e branda. Mas em Etã,
em vez de continuar a marcha rumo ao este com o mar à mão direita
mandou de repente que virassem rumo ao sul, tendo o golfo à sua mão
esquerda; uma rota que não só os demorava sobre os limites do Egito,
mas também, ao tomá-la, eles deram as costas à terra que eles tinham
saído a possuir. Um movimento tão inesperado, e cujo propósito ulterior
estava cuidadosamente oculto, não pôde senão excitar o assombro de
todos, até de Moisés, ainda que, por sua fé implícita no poder e na
sabedoria de seu Guia celestial, ele obedeceu. O objeto era o de atrair
Faraó à perseguição, a fim de que o efeito moral, que os juízos sobre o
Egito tinham produzido ao libertar o povo de Deus da servidão, chegasse
até as nações, por meio dos terríveis acontecimentos que iam
desenvolver se no Mar Vermelho.
Pi-Hairote — boca do desfiladeiro, ou passo – descrição muito
adequada para Bedeat, que se estendia do Nilo e abre-se sobre as
margens do Mar Vermelho.
Migdol — uma fortaleza, ou cidadela.
Baal-Zefom — algum lugar assinalado sobre a margem oposta ou
oriental.
3. o deserto os encerrou — Faraó, que ansiosamente espiaria seus
movimentos, agora estava convencido de que eles estavam meditando na
fuga, e naturalmente pensava no erro em que pareciam ter caído, ao
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 51
entrar naquele desfiladeiro, que ele os poderia interceptar. Cria agora
inteiramente em seu poder, pois a cadeia de montanhas estava de um
lado, o mar do outro, de modo que, se ele os perseguia por trás, a fuga
parecia impossível.
5. mudou-se o coração de Faraó e dos seus oficiais contra o povo
— Ai! quão logo reaparece a obcecação deste rei ímpio! Ele tinha sido
convencido, mas não convertido; intimidado, mas não santificado pelos
juízos aterradores do céu. Amargamente se arrependeu do que
considerava uma concessão apressada. O orgulho e a vingança, a honra
de seu reino e os interesses de seus súditos, todas estas coisas o moviam
a anular a permissão que tinha dado àqueles escravos fugitivos, e a forçá-
los a voltar para suas tarefas habituais. É estranho que ainda permitisse
que tais considerações apagassem e sobrepujassem toda sua experiência
dolorosa do perigo de oprimir àquele povo. Mas aqueles aos quais o
Senhor sentenciou à destruição, primeiro são enfatuados pelo pecado.
6. aprontou Faraó o seu carro — Aqui se descrevem seus
preparativos para a perseguição imediata e furiosa: faz-se uma diferença
entre “os carros escolhidos” e “os carros do Egito”. Aqueles
evidentemente compunham a guarda especial do rei, num total de
seiscentos, e são chamados “escolhidos”, literalmente “terceiros
homens”; três homens eram destinados a um carro: o cocheiro e dois
guerreiros. Quanto aos “carros do Egito, os carros comuns, levavam só
duas pessoas, uma para dirigir e a outra para pelejar”; às vezes havia só
um homem no carro, o cocheiro, quem atava as rédeas ao redor de seu
corpo e pelejava. Estes carros eram de construção leviana, abertos atrás e
apoiados sobre pequenas rodas.
10. chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos — O
grande terror dos israelitas é algo surpreendente, quando consideramos
sua enorme superioridade em número, mas sua profunda angústia e
desespero ao ver este exército armado têm uma explicação satisfatória no
fato de que o estado civilizado da sociedade egípcia, exigia a ausência de
todas as armas, exceto quando estavam a serviço do país. Se os israelitas
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 52
estavam completamente desarmados em sua saída, não podiam pensar
em fazer alguma resistência. (Wilkinson & Hengstenberg).
13, 14. Moisés, porém, respondeu ao povo: Não temais;
aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR — Nunca, talvez, foi
tão severamente provada a fortaleza de um homem como a do dirigente
hebreu nesta crise, exposto como ele estava a perigos diversos e
inevitáveis, dos quais o mais formidável era a vingança de uma multidão
sediciosa e desesperada; mas sua serenidade mansa, tranquila,
magnânima, apresenta um dos exemplos mais sublimes de valentia moral
achados na história. E de onde resultou este valor? Ele via a nuvem
milagrosa que ainda os acompanhava, e sua confiança provinha somente
da esperança numa interposição divina, embora talvez, ele teria buscado
a libertação esperada em todas as partes, menos na direção do mar.
15-18. Disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim?, etc.
— Quando em resposta a suas orações, recebeu o mandato divino de
avançar, não duvidou mais a respeito do tipo de milagre pelo qual a
salvação de sua enorme responsabilidade seria efetuada.
19. o Anjo de Deus — ou seja, a coluna de nuvem [veja-se
Êx_13:21]. O movimento lento e silencioso daquela coluna majestosa
pelo ar e sua colocação atrás deles, excitaria o assombro dos israelitas
(Is_58:8). Foi uma barreira eficaz entre eles e seus perseguidores, não só
protegendo-os a eles mas também ocultando seus movimentos. Assim a
mesma nuvem produzia luz (símbolo de favor) para o povo de Deus, e
escuridão (símbolo de ira) a seus inimigos (2Co_2:16).
21. Moisés estendeu a mão, etc. — A agitação da vara foi de
grande importância nesta ocasião para dar testemunho público na
presença dos israelitas reunidos, tanto do caráter de Moisés como da
missão divina a ele encomendada.
o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda
aquela noite — Suponha uma maré minguante, causada pelo vento, que
levantasse a água a uma grande altura de um lado, além disso como não
só havia “terra seca”, mas também, segundo o teor do relato sagrado, um
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 53
muro à direita e à esquerda [Êx_14:22], seria impossível, sobre a
hipótese de tal causa natural, levantar o muro ao outro lado. É
imperativa, pois, a ideia de uma interposição divina; e, supondo-se que a
travessia fora feita ao Monte Attakah, ou à boca do Wady-Yawarik, um
vento oriental cortaria o mar naquela linha. A palavra hebraica “kedem”,
entretanto, traduzida em nossa versão “oriental”, significa em sua
acepção primária “prévio”; de modo que este versículo, talvez, poderia
traduzir-se “O Senhor fez com que o mar retrocedesse toda aquela noite
por um forte vento prévio;” tradução que tiraria a dificuldade de supor
que as hostes de Israel partissem sobre as areias contra uma impetuosa
coluna de vento, bastante forte para amontoar a água a cada lado de um
caminho seco.
22. os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, etc. — É
muito provável que Moisés, junto com Arão primeiro pusesse os seus
pés sobre a areia nunca antes pisada, animando o povo a segui-lo sem
temor das muralhas traiçoeiras; e quando temos em conta as multidões
que o seguiam, o número imenso dos que por sua infância ou sua velhice
eram incapazes de apressar seus movimentos, junto com todas os
pertences do acampamento, o caráter forte e firme da fé dos dirigentes
foi manifestado notavelmente (Js_2:10; Js_4:23; Sl_66:6; Sl_74:13;
Sl_106:9; Sl_136:13; Is_63:11-13; 1Co_10:1; Hb_11:29).
23. Os egípcios que os perseguiam entraram atrás deles ... até ao
meio do mar — Pela escuridão causada pela nuvem interceptora, é
provável que eles não soubessem em que terreno estavam avançando:
ouviam o ruído dos fugitivos diante deles, e seguiam adiante com a fúria
de vingadores de sangue, sem sonhar com que estavam sobre o leito do
mar que se tinha secado.
24. o SENHOR, na coluna de fogo e de nuvem, viu o
acampamento dos egípcios — Supomos que o lado da coluna de nuvem
na direção dos egípcios fosse repentinamente, e por breves momentos,
iluminado com uma chama de luz, que ao vir numa resplandecente
labareda sobre a densa escuridão que a precedia, de tal maneira que
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 54
espantaria os cavalos dos perseguidores que se equilibrariam uns contra
outros na confusão e ficariam indômitos. “Fujamos de diante de Israel”,
foi o grito que ressoou pelas formações quebradas e cambaleantes; mas
foi tarde demais; todas as tentativas de fuga eram vãs. (Bush.)
27. Moisés estendeu a mão sobre o mar, etc. — Que
circunstâncias poderiam demonstrar mais claramente o caráter milagroso
desta transação que o fato de que à agitação da vara de Moisés, as águas,
dividindo-se deixaram seco o leito, e que ao fazer o mesmo movimento
na outra ribeira, as águas voltaram, juntando-se com uma fúria
instantânea? É tal o caráter de alguma maré minguante?
28. nem ainda um deles ficou — É surpreendente que, com
semelhante declaração, alguns escritores inteligentes afirmem que não há
evidencia da destruição do próprio Faraó (Sl_106:11.)
30. Israel viu os egípcios mortos na praia do mar — A maré os
arrojou e deixou multidões de cadáveres sobre a praia, resultado que
trouxe maior infâmia sobre os egípcios, que por outro lado tendia a
encarecer o triunfo dos israelitas, e sem dúvida os enriqueceu com
armas, as quais não tinham antes. A localização desta travessia famosa
ainda não foi fixada satisfatoriamente, e provavelmente nunca o será.
Alguns a colocam na vizinhança imediata do Suez, onde se diz que a
parte do mar é mais propenso a ser afetada por um “forte vento oriental”
[Êx_14:21]; onde o caminho do desfiladeiro de Migdol (agora Muktala)
conduz diretamente a este ponto; e onde o mar, de só 3 quilômetros de
largura, poderia ser cruzado em pouco tempo. Mas a vasta maioria,
entretanto, que examinaram este lugar, rejeitam esta opinião, e fixam a
travessia, como também a fixa a tradição local, como a 16 ou 19
quilômetros mais ao sul ao Wady-Tawrik. “O tempo do milagre foi de
toda a noite, na estação do ano também, quando a noite teria um meio
termo de duração. O mar neste ponto tem uma largura de 9 a 12
quilômetros. Houve assim tempo suficiente para que passassem os
israelitas de qualquer parte do vale, especialmente considerando-se sua
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 55
excitação e animação pela interposição favorável e maravilhosa de Deus
a seu favor” (Wilson.)
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 56
Êxodo 15

Vv. 1-27. O CÂNTICO DE MOISÉS.


1. Então cantou Moisés, e os filhos de Israel (BT) — A cena desta
canção de agradecimento supõe-se que terá sido o lugar de saída sobre a
margem oriental do Mar Vermelho, a Ayún Musa, as fontes de Moisés.
Estas estão situadas um pouco mais a norte ao longo da costa que o lugar
de onde partiram os israelitas. Mas a linha de marcha do povo se
estenderia algo durante a travessia, e um extremo dela chegaria bem a
norte como estas fontes, as quais os sortiriam de água depois da
travessia. Este cântico é, por uns cem anos, o poema mais antigo do
mundo. Há uma sublimidade e beleza na linguagem que não tem rival.
Mas sua superioridade não provém do esplendor do estilo. Suas
excelências poéticas evocaram a admiração dos melhores juízes
literários, enquanto que o caráter do acontecimento comemorado, e sua
origem na inspiração divina, contribuem para lhe dar um interesse e uma
sublimidade peculiares.
Cantarei ao SENHOR, porque triunfou gloriosamente —
Considerando o estado de servidão em que eles tinham nascido e foram
criados, e os rasgos rudes de caráter que com frequência manifesta sua
história posterior, não se pode supor que os filhos de Israel fossem
competentes para aprender de cor e apreciar as belezas deste cântico
inimitável. Mas eles teriam podido entender perfeitamente seu penetrante
tom de sentimento; e, com objetivo de melhorar devidamente a ocasião,
creu-se necessário que todos, anciãos e jovens, unissem suas vozes para
ensaiar suas palavras. Assim como cada indivíduo tinha motivo, assim
todos e cada um deram expressão a seus sentimentos de gratidão.
20. A profetisa Miriã — assim chamada por ter recebido
revelações divinas (Nm_12:1; Mq_6:4), mas neste caso principalmente
por eminente prática na música, e neste sentido é que a palavra
“profecia” é às vezes usada nas Escrituras (1Cr_25:1; 1Co_11:5).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 57
tomou um tamborim — tambor pequeno – instrumento musical
em forma de aro, com anéis ou pedaços de bronze ao redor para fazer um
retintim, coberto com pergaminho estirado como um tambor grande. É
golpeado com os dedos, e corresponde a nosso tamborete.
todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com
danças — Entenderemos isto vendo os costumes modernos do Oriente,
onde a dança, um movimento expressivo lento, grave e solene,
geralmente acompanhado com canto e pandeiros, ainda é dirigida pela
mulher principal da companhia, sendo imitada pelas demais e repetindo
as palavras do cântico como saem dos lábios dela.
21. Miriã lhes respondia — “eles” em hebraico é masculino, de
modo que Moisés provavelmente dirigia os homens e Maria as mulheres,
respondendo as duas bandas por responso, e cantando a primeira estrofe
como um coro.
22. deserto de Sur — abrangendo toda a parte ocidental da Arábia
Pétrea. O deserto de Etã era parte dele, estendendo-se ao redor da parte
norte do Mar Vermelho, e uma distância considerável ao longo da costa
oriental; enquanto o “deserto de Sur” (agora Sudhr) era o nome de toda a
região deserta da Arábia Pétrea que fazia limite com a Palestina.
23. chegaram a Mara; todavia, não puderam beber as águas —
Sobre a rota geral de todos os viajantes rumo ao sul, entre o mar e a
meseta do Tih (vale de extravio), quase universalmente crê-se que Mara
é o que agora chama-se Howarah, no Wady-Amarah, a cerca de 48
quilômetros do lugar onde os israelitas saíram sobre a costa oriental do
Mar Vermelho, uma distância bastante suficiente para uma viagem de
três dias. Não há outro manancial perene no lugar imediato. A água
ainda retém seu caráter antigo, e tem má fama entre os árabes, que
raramente permitem que seus camelos a bebam.
25. o SENHOR lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas
águas, e as águas se tornaram doces — Alguns viajantes pensaram que
esta árvore é o “elvah” dos árabes, um arbusto de forma e flor similar ao
nosso espinheiro branco; outros, os bagos do Ghurkhud, um arbusto
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 58
achado perto de todos os mananciais salgados. Mas nem um nem o outro
destes arbustos têm, segundo os conhecimentos dos naturais do lugar,
tais virtudes. É muito mais provável que Deus milagrosamente tenha
dotado alguma árvore com a qualidade de purificar a água amarga,
usando a árvore como meio, mas o ato de adoçá-la não se deveu à
natureza ou qualidade da árvore, mas sim ao poder de Deus (Comp.
Jo_9:6). E daí os “estatutos e uma ordenação”, que se seguiram, os quais
teriam sido singularmente inoportunos, se não tivesse sido operado um
milagre.
e ali os provou — Deus agora trouxe para os israelitas a
circunstâncias que poriam à prova sua fé e obediência (Gn_22:1).
27. chegaram ao Elim, onde havia doze mananciais de água —
Supõe-se que seja o que agora chama-se Wadi Gharandel, a correnteza
mais extensa no deserto ocidental, oásis adornado com grande variedade
de árvores, entre os quais a palmeira é ainda sobressalente, e fertilizados
por um arroio copioso. Calcula-se que tem um quilômetro e meio de
largura, mas se estende longe rumo ao nordeste. Depois de uma
caminhada fatigante pelo deserto, este teria parecido um acampamento
mais delicioso por sua sombra e verdor, como também por sua
abundante provisão de água doce para a multidão sedenta. A palmeira
chama-se “a árvore do deserto”, pois sua presença é sempre sinal de
água. As palmeiras neste lugar aumentaram, grandemente em número,
mas as fontes diminuíram.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 59
Êxodo 16

Vv. 1-36. MURMURAÇÃO PELO PÃO.


1. Partiram de Elim — onde tinham ficado vários dias,
veio para o deserto de Sim — Segundo Números 32, parece que
várias etapas estão omitidas neste relato da viagem. Esta passagem
representa os israelitas, internados na grande planície, que, começando
perto de El-Murkah, estende-se com uma largura maior ou menor quase
até a extremidade da península. Em sua parte mais larga a norte de Tur,
chama-se El-Kaa, que provavelmente é o deserto de Sim (Robinson.)
2. Toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra
Moisés e Arão — Os viajantes modernos pelo deserto de Sinai estão
acostumados a levar o suficiente para a subsistência de homens e animais
durante quarenta dias. Como os israelitas tinham estado mais de um mês
na viagem, sua provisão de grão e outros elementos estava quase, se não
totalmente, esgotada; e como não havia perspectiva de procurar meios de
manutenção no deserto, exceto algumas olivas silvestres e mel
(Dt_32:13), houve fortes queixa contra os dirigentes.
3. Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do SENHOR,
na terra do Egito — Quão irrazoáveis e absurdas as queixas contra
Moisés e Arão! Quão injustas e ímpias contra Deus! Depois de toda a
sua experiência da sabedoria, bondade e poder de Deus, nos detemos e
nos maravilhamos do relato sagrado a respeito da dureza e incredulidade
deles. Mas a expressão de sentimentos é contagiosa em tão grande
multidão, e há tal sentimento de solidão e desespero no deserto que
ninguém o pode dissipar; e além disso, temos que lembrar que eles eram
homens absorvidos no presente; que o Consolador não lhes tinha sido
dado; e que estavam desprovidos de todos os meios visíveis de
manutenção, e longe de todo conforto visível, com somente as promessas
de um Deus invisível a quem olhar como o único fundamento de sua
esperança. E ainda que lamentemos que eles tentassem a Deus no deserto
e reconhecêssemos seu pecado em fazê-lo, podemos achar alguma razão
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 60
pela qual aqueles que em toda sua vida tinham estado acostumados a
caminhar pela vista, em circunstâncias de dificuldade e perplexidade,
achariam difícil caminhar pela fé. Não achamos nós difícil caminhar pela
fé através do deserto deste mundo, mesmo quando estamos à luz de uma
revelação mais clara e sob um condutor mais nobre que Moisés? (Fisk)
(Veja-se 1Co_10:11-12).
4. disse o SENHOR a Moisés — Ainda que a queixa se dirigia
diretamente contra os condutores humanos, indiretamente foi contra
Deus; entretanto, prestemos atenção em sua paciência, e quão
benignamente prometeu ele corrigir a ofensa.
Eis que vos farei chover do céu pão — Israel, tipo da igreja que é
de acima, e estando sob a direção, governo e leis do céu, recebeu seu
alimento do céu também (Sl_78:24).
para que eu ponha à prova se anda na minha lei ou não — O
grande propósito de se internarem no deserto, era para que recebessem
uma preparação religiosa diretamente sob o olhar de Deus; e a primeira
lição ensinada foi uma dependência constante de Deus para sua
manutenção diária.
13. À tarde, subiram codornizes e cobriram o arraial — Esta
ave é da classe das galináceas parecida com a perdiz vermelha, mas não
maior que a rola. Acham-se em certas épocas nos lugares por onde
passaram os israelitas, sendo aves migratórias, e provavelmente foram
trazidas ao acampamento por “um vento do Senhor”, como em outra
ocasião (Nm_11:31).
13-31. pela manhã … coisa fina e semelhante a escamas …
maná — Há uma borracha do mesmo nome exsudada nesta região
deserta pela tamargueira, que é muito estimada pelos naturais, e
conservada cuidadosamente pelos que a recolhem. Recolhe-se cedo pela
manhã, pois se derrete sob o calor do sol, e se congela pelo frio da noite.
Tem um gosto tão doce como o mel, e viajantes distinguidos têm
suposto, por sua cor esbranquiçada, que poderia ser o maná de que se
alimentavam os israelitas; de modo que, segundo alguns o maná seria um
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 61
produto natural do deserto; mas segundo outros creem que houve um
milagre, que consistiu, entretanto, só no acerto sobrenatural quanto a sua
provisão abundante. Mas um exame recente e prolixo provou que esta
borracha da árvore tarfa carece de todas as características do maná das
Escrituras. Sai em só quantidades pequenas, e nem todos os anos; não
pode ser cozida em forno (Nm_11:8) nem em panela (Êx_16:23). Ainda
que possa ser evaporada pelo calor e mais tarde cai com o orvalho, é um
remédio, não alimento; é bem conhecido aos habitantes do deserto,
enquanto que os israelitas desconheciam o maná; mas em sabor como
também na produção em dobro da quantidade nas sextas-feiras, e
nenhuma aos sábados, e no fato de que não cria vermes, é
essencialmente diferente do maná provido aos israelitas.
32-36. Dele encherás um gômer e o guardarás para as vossas
gerações. — O mero fato de que semelhante multidão foi alimentada
durante quarenta anos no deserto, onde não se obtém comida de nenhum
tipo, evidenciará a absoluta impossibilidade de que subsistissem com um
produto natural do tipo e quantidade desta borracha de tarfa [veja-se
Êx_16:13]; e como foi com o propósito de tirar toda especulação
semelhante sem fundamento, mandou a Arão pôr uma amostra numa
panela – panela de ouro (Hb_9:4), colocada perante o Testemunho, e que
fosse guardada ali para que as gerações futuras pudessem ver o pão com
o qual Deus dava de comer a seus pais no deserto. Mas nós temos o pão
do qual aquele era meramente típico (1Co_10:3; Jo_6:32.)
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 62
Êxodo 17

Vv. 1-7. O POVO MURMURA POR FALTA DE ÁGUA.


1. Tendo partido toda a congregação dos filhos de Israel do
deserto de Sim — Nos breves anais deste livro, são escolhidos para a
consideração particular de Moisés, só aqueles lugares nos quais
sucederam cenas memoráveis por seu interesse doloroso ou feliz na
história dos israelitas. Um itinerário mais detalhado dá-se nos livros
posteriores de Moisés, onde vemos que aqui são omitidas duas etapas
(Nm_33:1-56).
segundo o mandamento do SENHOR — não dado em resposta a
um oráculo, nem em visão de noite mas pelo movimento da coluna de
nuvem. A mesma fraseologia ocorre em outras partes (Nm_9:18-19).
acamparam em Refidim — agora considerado, sobre bom
fundamento, o Wadi Feiran, que fica exatamente a um dia de caminho do
Monte Sinai, e à entrada do distrito de Horebe. É um longo desfiladeiro
tortuoso com uns quarenta pés de largura, com rochas perpendiculares de
ambos os lados. O deserto de Sim pelo qual se aproximaram deste vale, é
muito estéril, e tem um aspecto extremamente seco e sedento, contém
pouca água ou nenhuma, dificilmente ainda algum arbusto raquítico, e o
único abrigo para os peregrinos ofegantes era sob a sombra dos grandes
penhascos salientes.
2, 3. Contendeu, pois, o povo com Moisés e disse: Dá-nos água
para beber — A falta de água foi uma privação, a severidade da qual
não podemos estimar, e foi um grande sofrimento para os israelitas, mas
sua conduta nesta nova ocasião foi desenfreada; era equivalente a “tentar
a Deus”. Era uma oposição a seu ministro, uma desconfiança no cuidado
de Deus, uma indiferença à sua bondade, uma incredulidade em sua
Providência, uma prova de sua paciência e indulgência paternal.
4. clamou Moisés ao SENHOR: Que farei a este povo? — Sua
linguagem, em vez de mostrar sinais de ressentimento ou imprecação
vingativa contra o povo que lhe tinha dado um tratamento cruel e
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 63
imerecido, foi a expressão de um desejo ansioso de saber o que era
melhor que se poderia fazer nas circunstâncias (cf. Mt_5:44; Rm_12:21).
5. Respondeu o SENHOR a Moisés, etc. — não que ferisse os
rebeldes, mas sim à rocha; não que tirasse uma corrente de sangue do
peito dos ofensores, mas sim uma correnteza do penhasco de granito. A
nuvem parou sobre a rocha particular, assim como a estrela esteve sobre
a casa onde descansava o Salvador [Mt_2:9]. E da rocha ferida
imediatamente se lançou uma correnteza pura e refrescante. Foi talvez o
milagre maior operado por Moisés, e em muitos aspectos se assemelhava
ao maior dos operados por Cristo; sendo operado sem ostentação e na
presença de umas poucas testemunhas escolhidas (1Co_10:4).
7. E chamou o nome daquele lugar — Massá, “tentação”.
Meribá — contenda, rixa. A mesma palavra que se traduz
“provocação” (Hb_3:8).

Vv. 8-16. O ATAQUE DE AMALEQUE.


8. Então, veio Amaleque — Algum tempo talvez passou antes que
eles fossem expostos a este novo mal; e a presunção de que tenha havido
tal intervalo, é a única razão pela qual podemos explicar o espírito
mudado e melhor que animava o povo nesta contenda repentina. Os
milagres do maná e da água da rocha tinham produzido uma impressão
profunda e convicção permanente de que Deus estava seriamente entre
eles; e com sentimentos elevados pela experiência consciente da
presença e ajuda divinas, eles ficaram tranquilos, resolvidos e corajosos
sob o ataque de seu inimigo inesperado.
pelejou contra Israel — A linguagem indica que não se tinha dado
nenhuma ocasião para este ataque; mas, como descendentes de Esaú, os
amalequitas conservavam um rancor profundo contra eles, especialmente
como a prosperidade rápida e a experiência maravilhosa de Israel
mostravam que as bênçãos contidas na primogenitura estavam tendo
efeito. Parece ter sido uma surpresa ruim, covarde, insidiosa à retaguarda
(Nm_24:20; Dt_25:17), e um desafio perverso contra Deus.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 64
9. ordenou Moisés a Josué — ou Jesus (At_7:45; Hb_4:8), e esta é
a primeira menção de um jovem guerreiro destinado a jogar uma parte
proeminente na história de Israel. Ele foi com alguns homens escolhidos.
Não há aqui uma planície ampla e aberta sobre a qual ocorresse a
batalha, segundo as regras de guerra moderna. Os amalequitas eram uma
tribo nômade, lançaram um ataque irregular sobre uma multidão não
melhor preparada que eles, e para semelhante contenda proporcionavam
amplo espaço as colinas baixas e o terreno aberto ao redor deste wadi
(Robinson).
10-12. Moisés, porém, Arão e Hur subiram ao cimo do outeiro
… sustentavam-lhe as mãos — com o bordão operador de maravilhas;
ele agia como porta-estandarte de Israel e também como seu intercessor,
orando para que a vitória coroasse suas armas, sendo manifestado
conspicuamente o ardor de seus sentimentos entre a fraqueza da
natureza.
13. Josué desbaratou a Amaleque — A vitória enfim se decidiu a
favor de Israel, e a glória da vitória, por um ato de piedade nacional, foi
atribuída a Deus (cf. 1Jo_5:4).
14-16. Escreve isto para memória — Se o caráter sangrento deste
estatuto parece contrário ao caráter manso e misericordioso de Deus, as
razões têm que ser buscadas na vingança profunda e implacável que eles
tramavam contra Israel (Sl_83:4).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 65
Êxodo 18

Vv. 1-27. A VISITA DE JETRO.


1-5. Jetro … sogro de Moisés, etc. — Muitos comentadores
eminentes creem que este episódio está introduzido fora de sua ordem
cronológica, porque se descreve como se tivesse ocorrido quando os
israelitas estavam acampados “junto ao monte de Deus”. E não chegaram
lá até o terceiro mês depois de sua saída do Egito (Êx_19:1, 2; cf.
Dt_1:6, Dt_1:9-15).
6. a tua mulher e seus dois filhos — Veja-se Êx_4:20.
7. saiu Moisés ao encontro do seu sogro, etc. — Seus saudações
seriam assinaladas por todos os atos carinhosos e sociais de amigos
orientais (Veja-se Êx_4::27): um que sai a encontrar o outro, a
reverência cortês, o beijo em cada lado da cabeça, e a entrada silenciosa
à tenda para uma consulta, e sua conversação seguiu o curso que poderia
esperar-se de dois homens piedosos, que contavam e escutavam um
relato das obras maravilhosas e da providência de Deus.
12. Jetro … tomou holocausto e sacrifícios — Esta entrevista
amigável terminou com um solene serviço religioso; os holocaustos eram
consumidos sobre o altar, e os sacrifícios eram ofertas pacíficas, usadas
numa festa de alegria e gratidão, na qual Jetro, como sacerdote do
verdadeiro Deus, parece ter presidido, e a qual os chefes de Israel foram
convidados. Este incidente está em belo acordo com o caráter dos
participantes e é digno de ser imitado por amigos cristãos quando se
reúnem hoje em dia.
13-26. No dia seguinte, assentou-se Moisés para julgar o povo,
etc. — Aqui apresenta uma amostra de suas ocupações diárias da manhã;
e entre os deveres diversos que sua missão divina impunha, deve ser
considerada só uma parte pequena de suas ocupações oficiais. Ele
aparece nesta atitude como um tipo de Cristo em seus caracteres
legislativo e judicial.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 66
o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até ao pôr-
do-sol, etc. — Os governadores do Oriente se sentam diante da porta
mais pública de seu palácio ou da cidade, e ali, entre uma multidão de
peticionários, escutam causas, recebem solicitudes, atendem queixas, e
ajustam reclamações de partes opositores.
17. O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes
— Não era bom nem para o próprio Moisés, para a manutenção da
justiça, nem para a satisfação dos interesses do povo. Jetro deu um
conselho prudente quanto à divisão do trabalho [Êx_18:21-22], e a
experiência universal na igreja e no estado testemunhou a firmeza e as
vantagens do princípio.
23. Se isto fizeres, etc. — O conselho do Jetro foi dado meramente
em forma de sugestão; não tinha que ser adotado sem a sanção e
aprovação expressas de um Conselheiro melhor e superior; e ainda que
não somos informados a respeito, não pode haver dúvida de que Moisés,
antes de nomear aos magistrados subordinados, consultava a mente de
Deus, como é o dever e privilégio de todos os cristãos, de suplicar de
igual maneira, a direção divina em todos os seus caminhos.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 67
Êxodo 19

Vv. 1-25. A CHEGADA AO SINAI.


1. No terceiro mês — segundo o uso judeu, o primeiro dia daquele
mês — “naquele dia”. Adiciona-se para marcar o tempo mais
explicitamente, ou seja, quarenta e cinco dias da saída do Egito: um dia
passado na montanha (Êx_19:3), um em voltar pela resposta do povo
(Êx_19:7, 8), e três dias de preparativos, que fazem um total de
cinquenta dias desde a primeira páscoa até a promulgação da lei. Eis aqui
a festa de Pentecostes, ou seja, o quinquagésimo dia, foi a inauguração
da igreja do Antigo Testamento, e a sabedoria divina é clara na escolha
da mesma estação para a instituição da igreja do Novo Testamento
(Jo_1:17; At_2:1).
2. vieram ao deserto do Sinai — O deserto tem suas províncias, ou
divisões, distinguidas por uma variedade de nomes; e o “deserto do
Sinai” é aquela região solitária e desolada que ocupa o mesmo centro da
península, incluindo a cadeia alta a qual pertence o “monte de Deus”. É
um deserto de rochas ásperas de feldspato e granito vermelho, e de vales
em sua maioria desprovidos de verdor.
se acampou Israel em frente do monte — Sinai, assim chamado
de “Seneh”, ou arbusto de acácia. Chama-se hoje Jebel Musa, “monte de
Moisés”. Seu caminho de entrada ao interior do gigantesco grupo era
pelo Wadi Feiran, que conduziria a maior parte da multidão com seus
rebanhos e manadas até os altos vales do Jebel Musa, com seus
abundantes mananciais, especialmente no grande caminho do deserto, o
mais longo, mais largo e mais contínuo de todos os vales, o Wadi es-
Sheikh, enquanto que muitos se espalhariam entre os vales contíguos;
assim que nesta forma separados do mundo, num anfiteatro agreste e
sublime de rochas, eles acamparam “em frente do monte”. “Neste vale –
um vale longo e plano com cerca de 400 metros de largura, que
serpenteia rumo ao norte – acharia Israel lugar amplo para seu
acampamento. De todos os wadis naquela região, este parece o mais
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 68
conveniente para uma morada prolongada. As “belas tendas” de Israel
podiam estender-se sem limite” (Bonar.)
3-6. Moisés subiu a encontrar-se com Deus — A Shekiná – dentro
da nuvem (Êx_33:20; Jo_1:18).
Assim falarás à casa de Jacó, etc. — O objetivo para o qual
Moisés subiu foi o de receber e levar ao povo a mensagem contida nestes
versículos, e o teor do qual foi um anúncio geral dos termos sobre os
quais Deus haveria de tomar os israelitas numa relação estreita e peculiar
para com ele mesmo. Neste negocio entre Deus e seu povo, no posto de
responsabilidade mais alto que um mortal jamais foi chamado a ocupar,
era Moisés ainda só um servo. O único Mediador é Jesus Cristo.
6. vós me sereis reino de sacerdotes — assim como a ordem
sacerdotal era separada da massa comum, assim os israelitas,
comparados com outros povos, tinham que sustentar a mesma relação
com Deus: uma comunidade de soberanos espirituais.
nação santa — separada para conservar o conhecimento e a
adoração de Deus.
7, 8. Veio Moisés, chamou os anciãos do povo — A mensagem foi
levada à imensa multidão por meio de seus anciãos, aqueles que, sem
dúvida a instruíram nas condições exigidas. Sua aceitação unânime foi
levada pelo mesmo conduto a Moisés, e por ele comunicada ao Senhor.
Ah! quanta confiança em si mesmos manifestava sua linguagem! Quão
pouco sabiam eles de que espírito eram!
9-15. Disse o SENHOR a Moisés: Eis que virei a ti numa nuvem
escura, etc. — As impressões mais profundas se fazem na mente por
meio dos sentidos; e assim Deus que sabe a condição do homem, marcou
sua descida na inauguração da antiga igreja, por todos os sinais sensíveis
da majestade augusta que eram adequadas para produzir a convicção de
que Ele é Deus grande e terrível. Toda a multidão deve ter esperado o
acontecimento com sentimentos de intensa solenidade e temor. Os
preparativos extraordinários ordenados, as abluções e a rígida
abstinência que foram mandados observar, as barreiras levantadas ao
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 69
redor do sopé da montanha, e as severas penalidades acrescentadas à
violação de qualquer das condições, tudo tendia a criar uma expectativa
ardente e solene que ia aumentando à medida que se aproximava o dia
assinalado.
16. Ao amanhecer do terceiro dia, houve trovões, e relâmpagos,
etc. — A descida de Deus foi assinalada por tudo o que pode conceber a
imaginação, relacionado com as ideias de grandeza e reverência. Mas
tudo estava em harmonia com a lei que estava para ser proclamada.
Como o monte ardia em chamas, Deus Se exibia como fogo consumidor
aos transgressores de sua lei. Os trovões e relâmpagos, mais temíveis
entre o profundo silêncio da região, e ressoando com estrondos terríficos
entre as montanhas, despertariam a atenção universal; uma nuvem densa
era emblema adequado de uma dispensação obscura e sombrosa. (cf.
Mt_17:5).
mui forte clangor de trombeta — isto deu à cena o caráter de uma
transação milagrosa, na qual outros elementos que não os da natureza
estavam operando, e que alguma trombeta que não era trombeta material
era tocada por meios que não eram humanos.
17. Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus —
O Wadi er-Raheh, onde o povo estava, tem uma espaçosa planície
arenosa, imediatamente em frente de es-Suksafeh, considerada por
Robinson, como o monte do qual foi dada a lei. “Medimos esta planície,
e calculamos toda a planície como de três quilômetros de longitude, e em
largura de 300 a 600 metros, ou como uma superfície de um quilômetro
e meio quadrado. Este espaço é quase duplicado por outro vale que entra
do oeste e por uma área larga e plana do Wadi es-Sheikh rumo ao este,
que sai em ângulo reto com a planície principal, e é igualmente visível
da frente e cúpula da montanha. O exame do lugar nos convenceu de que
aqui havia espaço bastante para satisfazer todas a condições do relato da
Escritura, no que diz respeito à assembleia da congregação para receber
a lei. Aqui, também, se pode ver o oportuno do mandato de pôr cerco ao
redor do monte, para que nem homem nem animal se aproximassem
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 70
muito, porque se levanta como um muro perpendicular.” Mas Jebel
Musa, o antigo Sinai tradicional, e o pico mais alto, tem também um vale
espaçoso, o Wadi Sebasiyeh, capaz de dar capacidade ao povo. Não se
sabe ao certo sobre qual destes dois montes estavam.
21. o SENHOR disse a Moisés: Desce, adverte ao povo — Logo
que Moisés subiu um pouco pela montanha, de repente recebeu a ordem
que voltasse para impedir que o povo abrisse passagem para olhar,
recurso adotado para realçar a solenidade impressionante da cena. A
proibição estrita repetida a todos, fosse qual fosse a condição deles, no
tempo e nas circunstâncias quando toda a multidão de Israel estava em
pé à base da montanha, foi calculada no grau mais alto, para solenizar e
assombrar todo coração.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 71
Êxodo 20

Vv. 1-26. OS DEZ MANDAMENTOS.


1. falou Deus todas estas palavras — O próprio Ser Supremo foi o
orador (Dt_5:12, Dt_5:32-33), em tom tão alto para ser ouvido, tão
distinto para ser inteligível a toda a multidão de pé nos vales abaixo, no
meio dos fenômenos aterradores da natureza agitada. Se tivesse estado
falando com criaturas racionais e inteligentes, lhes teria falado na voz
suave e tranquila da persuasão e amor. Mas estava falando com criaturas
ao mesmo tempo caídas e pecadoras, e se requeria uma mudança
correspondente na maneira de proceder de Deus, para dar uma impressão
conveniente do caráter e das sanções da lei revelada do céu (Rm_11:5-
9).
2. Eu sou o SENHOR, teu Deus — este é um prefácio aos dez
mandamentos, sendo a última cláusula aplicável especialmente ao caso
dos israelitas, enquanto que a anterior o é a toda a humanidade;
demonstrando que a natureza racional da lei está fundada em sua relação
eterna das criaturas com i seu Criador, e suas relações mútuas do um
com o outro.
3. Não terás outros deuses diante de mim — em Minha presença,
ao lado de Mim, com exceção de Mim.
4, 5. Não farás para ti imagem de escultura … Não as adorarás
— ou seja, “Fazer a fim de te inclinar”. Sob os auspícios do próprio
Moisés foram feitas figuras de querubins, serpentes de bronze, bois e de
muitas outras coisas “embaixo na terra”, e nunca foram condenadas. O
mero fato de fazê-los não era pecado, mas sim o fazê-los com a intenção
de lhes prestar culto idolátrico.
8. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar — dando a
entender que já era conhecido e reconhecido como dia de descanso
sagrado. Os quatro primeiros mandamentos [Êx_20:3-11] contêm nossos
deveres para com Deus; os outros seis [Êx_20:12-17], nossos deveres
para com nossos semelhantes; e interpretados por Cristo, chegam até o
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 72
domínio do coração tanto como ao dos lábios (Mt_5:17). “cumprindo-os,
o homem viverá por eles” [Lv_18:5; Ne_9:29]. Mas, ah, o que
“cumprindo-os” para o homem frágil e caído! Quem põe sua esperança
na lei, é devedor a toda ela; e em vista disto, todos estaríamos sem
esperança, se não fosse “O SENHOR, Justiça Nossa” [Jr_23:6, RC;
Jr_33:16] (Jo_1:17).
18-21. Todo o povo presenciou os trovões, e os relâmpagos —
Eles eram testemunhas oculares e de ouvido de todos os emblemas
terríveis da descida da Deidade. Mas não viam a própria Deidade.
19. não fale Deus conosco, para que não morramos. — Os
fenômenos dos trovões e os relâmpagos tinham sido uma das pragas
mais fatais para o Egito, e como ouviam a Deus lhes falando agora,
estavam temerosos também de uma morte instantânea. Até o próprio
Moisés, o mediador de velha aliança, disse: “Sinto-me aterrado e
trêmulo!” (Hb_12:21). Mas sem dúvida Deus falou o que lhe deu alívio;
restaurou-o a um estado de mente apto para o ministério a ele confiado; e
portanto imediatamente depois foi capacitado a aliviar e consolar o povo
com o alívio e consolo que ele mesmo tinha recebido de Deus (2Co_1:4)
22, 23. disse o SENHOR a Moisés — Aparece por Dt_4:14-16,
que este mandato foi uma conclusão tirada da cena sobre o Sinai: que
assim como nenhuma semelhança de Deus foi manifestada naquele
então, eles não deveriam tentar fazer nenhuma figura nem forma dEle.
24. Um altar de terra me farás — regulamento aplicável a
ocasiões especiais ou temporárias.
25. Se me levantares um altar de pedras, não o farás de pedras
lavradas, etc. — ou seja, esculpidas com figuras ou adornos que
pudessem levar à superstição.
26. por degrau — precaução tomada por causa da decência, em
consequência das roupas soltas, largas, dos sacerdotes.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 73
Êxodo 21

Vv. 1-6. LEIS PARA SERVOS VARÕES.


1. estatutos — regras para regular o proceder de juízes e
magistrados na decisão de causas e o juízo de criminais. Como o
governo dos israelitas era uma teocracia, aquelas autoridades públicas
eram os servidores do Soberano divino, e estavam sujeitos à Sua direção.
As mais destas leis aqui mencionadas eram costumes primitivos,
baseadas em princípios de equidade natural, e incorporadas, com
modificações e melhoras, no código mosaico.
2-6. Se comprares um escravo hebreu — Todo israelita era livre
de nascimento; mas a escravidão era permitida sob certas restrições. Um
hebreu poderia chegar a ser escravo por pobreza, dívida, ou crime; mas
ao cabo de seis anos, tinha direito à liberdade; e sua esposa, se ela havia
voluntariamente compartilhado com ele seu estado de servidão, também
conseguia sua libertação. Se ele se casou com uma escrava, ela e seus
filhos, depois da libertação do marido, ficavam como propriedade do
senhor; e se, por carinho a sua família, o hebreu escolhia perder seu
privilégio, e ficar como era, levava-se a cabo um processo formal perante
um tribunal público, e um sinal de servidão se imprimia em sua orelha
(Sl_40:6) por toda sua vida, ou pelo menos até o ano do jubileu
(Dt_15:17).

Vv. 7-36. LEIS PARA SERVAS.


7. Se um homem vender sua filha — As donzelas hebraicas
podiam ser resgatadas por uma soma razoável. Mas em caso de que seus
pais ou amigos não pudessem pagar o preço do resgate, seu dono não
estava em liberdade de vendê-la em outro lugar. Se ela tinha tido
promessa de casamento com ele ou com seu filho, e qualquer deles
mudava de propósito, se proveria para ela manutenção conveniente para
sua condição como sua suposta esposa ou se não, sua liberdade tinha que
ser concedida imediatamente.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 74
23-25. olho por olho — A lei que autorizava a desforra – principio
sobre o qual agia todo povo primitivo era lei civil. Foi dada para regular
o proceder do magistrado público ao fixar a importância da compensação
em todo caso de dano, mas não alentava os sentimentos de vingança
pessoal. Os judeus posteriores, entretanto, tomaram como um preceito
moral, e nisso foram corrigidos por nosso Senhor (Mt_5:38-42).
28-36. Se algum boi chifrar homem ou mulher, que morra —
Para os fins de santificar o sangue humano, e representar a uma luz séria,
todos os danos que afetam a vida, um animal que tinha causado morte,
tinha que ser morto ou sofrer castigo proporcionado ao grau do mal que
tinha feito. Ainda se impõem castigos segundo este principio na Pérsia e
outros países do oriente; e entre um povo rude, se produz maior efeito
assim, para inspirar cautela, e para obrigá-los a ter animais perigosos sob
sujeição, melhor que uma tristeza imposta sobre os donos.
30. Se lhe for exigido resgate, etc. — Multa por mortes são
comuns entre os árabes, como o foram uma vez, em geral por todo o
Oriente. Este é o único caso onde uma compensação em dinheiro, em
lugar do castigo capital, foi expressamente permitida na lei mosaica.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 75
Êxodo 22

Vv. 1-31. LEIS A RESPEITO DO ROUBO.


1. Se alguém furtar boi ou ovelha — A lei trata do roubo de gado,
o que constituía a parte principal de sua propriedade. A tristeza pelo
roubo de uma ovelha que tinha sido degolada ou vendida, era o
quádruplo; pelo roubo de um boi, o quíntuplo, por causa de sua maior
utilidade no trabalho; mas, se o animal roubado era recuperado vivo,
uma compensação em dobro era tudo o que se exigia, porque se
presumia que o ladrão não era sujeito hábil na fraude. Um ladrão,
violando uma casa à meia noite, podia ser morto com impunidade, em
defesa própria; mas se fosse morto depois da saída de sol, era
considerado o ato como homicídio, porque não se cria provável que a tal
hora, fosse feito um ataque contra a vida dos cidadãos. Em todo caso
quando um ladrão não podia fazer restituição, era vendido como escravo
pelo tempo habitual.
6. Se irromper fogo, e pegar nos espinheiros — Isto se refere à
prática comum no Oriente de prender fogo ao pasto seco, antes da queda
das chuvas de outono, o que impede os destroços pelos insetos e outras
pestes, e que se considera uma boa preparação do solo para a próxima
semeadura. O próprio estado seco do pasto e as longas secas do verão,
fazem com que o ato de prender fogo seja uma operação frequentemente
perigosa, e que sempre requer cuidado devido à probabilidade de que se
estenda.
as medas de cereais, ou a messe — montões de grão ou pasto
(Jz_15:5; Jó_5:26), ou molhos de grão sobre o campo.
26, 27. Se do teu próximo tomares em penhor a sua veste, etc. —
Pela mesma natureza do caso, isto se refere a um homem pobre. Os
orientais não tiram a roupa para dormir, mas meramente tirando seus
turbantes e alguma roupa exterior pesada, dormem na roupa que portam
durante o dia. A cama do pobre geralmente não é mais que uma esteira; e
no inverno se cobrem com alguma coberta. Esta prática é o que forma o
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 76
fundamento ou a razão da lei benigna e misericordiosa com relação à
roupa empenhada.
28. juízes (TB) — o original diz “deuses”.
o príncipe do teu povo — o magistrado principal, quem era
também o sumo sacerdote, pelo menos no tempo do apóstolo Paulo
(At_23:1-15).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 77
Êxodo 23

Vv. 1-33. LEIS A RESPEITO DA CALÚNIA, etc.


1. nem darás mão ao ímpio — não “unir mãos” com ele.
2. inclinando-te — partindo, desviando-te do caminho reto da
justiça
3. Nem ... serás parcial — adornarás, embelezarás — não
envernizarás a causa de um homem para lhe dar uma cor melhor que o
que merece.
10, 11. Seis anos semearás a tua terra — abandonando o cultivo
cada sétimo ano. Mas parece que até no sétimo ano havia produto
espontâneo, que se permitia aos pobres juntar livremente para seu
próprio uso, e os animais eram soltos para que comessem o restante, não
permitindo-se aos donos dos campos colher ou juntar os frutos de suas
vinhas e olivedos no ano sabático. Este era um regulamento que servia
para muitos propósitos excelentes; porque, além de inculcar a lição geral
da dependência da Providência, e de confiança em sua fidelidade a suas
promessas com relação ao aumento tríplice do sexto ano (Lv_25:20-21),
dava aos israelitas uma prova prática de que eles possuíam as
propriedades do Senhor como inquilinos de Deus, e tinham que
conformar-se às regras dele sob pena de perder sua tendência delas.
12. Seis dias farás a tua obra, mas, ao sétimo dia, descansarás
— Esta lei se repete [Êx_20:9] para que ninguém supusesse que
houvesse uma lenidade em sua observância durante o ano sabático.
13. do nome de outros deuses nem vos lembreis, etc. — ou seja
em conversação comum, porque a menção familiar deles tenderia a
diminuir o horror à idolatria.
14-18. Três vezes no ano me celebrareis festa — Esta foi a
instituição das grandes festividades: “a Festa dos Pães Asmos”, ou a
páscoa; “a Festa da Sega” ou Pentecostes; “a Festa da Colheita”, ou a
dos tabernáculos, que era uma lembrança de que tinham vivido em
cabanas no deserto, e que era observada “à saída do ano”, ou sétimo mês
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 78
(Êx_12:2). Todos os varões recebiam a ordem de concorrer ao
tabernáculo, e mais tarde ao templo, e as mulheres também iam
frequentemente. A instituição deste costume nacional era da maior
importância em muitas maneiras; porque mantinha um sentimento
nacional de religião e uma uniformidade pública no culto; criava um
vínculo de unidade, e também promovia o comércio interior entre o
povo. Ainda que a ausência de todos os varões durante estas festas
deixava indefeso o país, foi dada uma promessa especial da proteção
divina, e nenhuma incursão de inimigos foi jamais permitida em tais
ocasiões.
19. Não cozerás o cabrito no leite da sua própria mãe — Uma
proibição contra a imitação dos ritos supersticiosos dos idólatras do
Egito, aqueles que, no fim da colheita, ferviam um cabrito no leite de sua
mãe, e logo espalhavam o caldo como um feitiço mágico sobre seus
jardins e campos, para fazê-los mais produtivos na próxima estação
[Veja-se Dt_14:21].
20-25. Eis que eu envio um Anjo adiante de ti, para que te
guarde pelo caminho — A comunicação destas leis a Moisés e por ele
repetidas ao povo, foi concluída com a adição de muitas promessas
animadoras, misturadas com várias advertências solenes de que as
quedas no pecado e na idolatria não seriam toleradas nem passadas com
impunidade.
21. meu nome está nele — Este anjo chamava-se frequentemente
Jeová ou Elohim, ou seja, Deus.
28. enviarei vespas diante de ti, etc. — (Js_24:12).—Algum
instrumento de juízo divino, mas interpretado de maneiras diferentes,
como vespões (Bochart.) Como uma doença infeta. (Rosenmuller.)
Como um terror do Senhor, um extraordinário abatimento de espírito
(Junius).
29, 30. Não os lançarei de diante de ti num só ano, para que a
terra se não torne em desolação — Muitas razões recomendavam uma
extirpação gradual dos antigos habitantes de Canaã. Mas aqui se
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 79
especifica uma só: o perigo de que nos terrenos desocupados se
multiplicassem de maneira inconveniente os animais selvagens; uma
prova de que a terra prometida era mais que suficiente para conter a
população efetiva das israelitas.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 80
Êxodo 24

Vv. 1-18. A ENTREGA DA LEI E A ALIANÇA.


3. Veio, pois, Moisés e referiu ao povo todas as palavras do
SENHOR — A repetição das leis anteriores e os dez mandamentos,
junto com as promessas de bênçãos em caso de sua obediência, fazendo
sair do povo uma declaração unânime de seu consentimento, foi
imediatamente registrada e igualmente as condições da aliança nacional.
No dia seguinte se fizeram os preparativos para ratificá-las, mediante a
edificação de um altar e doze colunas, que representassem o altar a Deus
e as colunas, as doze tribos – as duas partes neste solene compromisso –
enquanto que Moisés agia como mediador típico.
5. jovens — sacerdotes (Êx_19:22), provavelmente os filhos mais
velhos de certas famílias, aqueles que agiam sob a direção de Moisés.
novilhos — outros animais, ainda que não são mencionados, eram
oferecidos em sacrifício (Hb_9:18-20).
6. Moisés tomou a metade do sangue … aspergiu — uma
introdução a isto foi a leitura pública da lei, e a aceitação renovada das
condições pelo povo; e logo a aspersão do sangue foi o sinal de
ratificação solene, a metade sobre cada uma das partes na transação.
8. tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo —
provavelmente sobre as doze colunas como representantes do povo
(também o livro, Hb_9:19), e o ato foi acompanhado por uma
proclamação pública de seu sentido. Foi a colocação de seu selo à
aliança (cf. 1Co_11:25). Deve ter sido uma cena profundamente
impressionante, como também instrutiva, porque ela ensinou aos
israelitas que a aliança com eles foi feita só por meio da aspersão do
sangue; que a aceitação deles e seus serviços por Deus foi somente pela
virtude de um sacrifício expiatório, e que mesmo as bênçãos da aliança
nacional foram prometidas e asseguradas para eles só pela graça. A
cerimônia, entretanto, tinha um significado adicional e superior, como
está indicado pelo apóstolo (veja-se mais acima [Hb_9:19-28]).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 81
9. Subiram Moisés e Arão (TB) — Em obediência ao mandato
dado (Êx_24:1-2; também Êx_19:24), prévio ao ato religioso do povo,
já relatado.
Nadabe, e Abiú — os dois filhos mais velhos de Arão.
setenta dos anciãos — um número escolhido; qual foi o princípio
da escolha não é dito; mas eram os representantes principais, os mais
conspícuos por sua posição oficial e estado, como também por sua
probidade e a gravidade do caráter em suas tribos respectivas.
10. viram o Deus de Israel — O fato de que não havia forma ou
representação visível da divindade, temos uma declaração explícita
(Dt_4:15). Mas um símbolo ou emblema de sua glória foi manifestado
distintamente e a certa distância para aquelas testemunhas escolhidas.
Mas muitos creem, entretanto, que nesta cena particular foi descoberta,
entre a chama brilhante, a forma indistinta, velada, da humanidade de
Cristo (Ez_1:26; cf. Gl_3:24).
safira — uma das mais estimadas e brilhantes das pedras preciosas,
de azul celeste, e frequentemente escolhido para descrever o trono de
Deus (veja-se Ez_1:26; Ez_10:1).
11. Ele não estendeu a mão sobre os escolhidos dos filhos de
Israel — Os “príncipes” ou “nobres”, ou seja, os anciãos, depois da
aspersão do sangue, não ficaram cheios de terror na presença do símbolo
tranquilo, benigno e radiante da majestade divina, muito diferente das
exibições terríficas na entrega da lei. O relatório de tantas testemunhas
competentes tenderia a confirmar a fé do povo na missão divina de
Moisés.
comeram, e beberam — se satisfizeram comendo da oferta
pacífica, dos restos dos recentes sacrifícios e libações. Esta festa tinha
significado profético, assinalando a morada de Deus com os homens.
12. dar-te-ei tábuas de pedra — Os dez mandamentos, que já
tinham sido pronunciados verbalmente, deviam ser entregues em forma
permanente. Inscritos em pedra, para maior estabilidade, pela mão do
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 82
próprio Deus, eram autenticados e venerados mais que as partes judiciais
ou cerimoniais da lei.
13. subiu Moisés o monte de Deus (RC) — Foi para receber a
transcrição divina. Josué foi levado um pouco mais acima, deve ter sido
um grande consolo ao condutor ter sua companhia durante os seis dias,
que com paciência estava esperando a chamada no sétimo dia ou
sabático.
14. disse aos anciãos: Esperai-nos aqui — Há um vale circular, ou
oco, um bom trecho acima sobre a ladeira do Jebel Musa, que era seu
lugar de espera, enquanto que Moisés só teve o privilégio de escalar o
pico mais alto. O povo ficava abaixo, como no “pátio exterior”, os
anciãos no “lugar santo”, e Moisés como tipo de Cristo, no “lugar
santíssimo.”
18. Moisés, entrando pelo meio da nuvem — o sinal visível da
presença de Deus. A graça divina o animou e apoiou para entrar com
santa valentia.
lá permaneceu quarenta dias e quarenta noites — Os seis dias
passados, na espera não são contados. Durante aquele período, foi
mantido milagrosamente (Dt_9:9), sobre um pico de apenas trinta passos
de espaço.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 83
Êxodo 25

Vv. 1-40. A RESPEITO DE UMA OFERTA.


1. Disse o SENHOR a Moisés. — O assunto que principalmente
ocupou a Moisés na montanha, com outras revelações que pudessem lhe
ser comunicadas, foi o de receber indicações a respeito do tabernáculo, e
são aqui relatadas como lhe foram dadas.
2. me tragam oferta; de todo homem cujo coração o mover para
isso — Tendo declarado lealdade a Deus como seu soberano, esperava-
se que contribuíssem para seu estado, como outros súditos para seus reis;
e a “oferta” deles requerida não tinha que ser imposta como tributo, mas
sim vir de seus voluntários sentimentos leais e liberais.
3. Esta é a oferta, que deles tomareis (TB) — Os artigos em que
as ofertas consistiriam.
bronze — melhor cobre (TB), sendo que bronze é um metal
composto [liga metálica de cobre e estanho, Dicionário Aurélio].
4. pelos de cabra — ou couros de cabras.
5. peles de texugos (RC) — O texugo era animal impuro, e não era
nativo do Oriente; antes, refere-se a alguma classe de peixe, de cujo
couro fazem-se sandálias no Oriente. [Veja-se Êx_39:34 e Ez_16:10.]
madeira de Sitim (Versão Jünemann) — ou, Shittah (Is_41:19,
AV), a acácia, arbusto que cresce abundantemente nos desertos da
Arábia, dando uma madeira leviana, forte e bela, em tábuas longas.
7. estola sacerdotal — um saco quadrado, que pendia dos ombros,
usado pelos sacerdotes.
8. um santuário, para que eu possa habitar no meio deles —
Num sentido o tabernáculo tinha que ser um palácio, a residência real do
Rei de Israel, no qual Ele devia habitar entre seu povo, receber suas
petições e dar suas respostas. Mas também tinha que ser lugar de culto,
no qual Deus haveria de pôr o Seu nome e guardar os símbolos místicos
de Sua presença.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 84
9. Segundo tudo o que eu te mostrar para modelo do
tabernáculo — O proposto edifício poderia ser dentro das circunstâncias
dos israelitas, não de uma construção fixa e estável, mas sim temporário
e mutável, capaz de ser levado com eles a suas diferentes moradas. Foi
feito segundo o “modelo” mostrado a Moisés, pelo qual se entende
geralmente, que não era uma novidade inaudita, nem uma estrutura
inteiramente original, porque se sabe que se assemelhava na forma e nos
arranjos ao estilo de um templo egípcio, mas estava mudado de tal
maneira, modificado e purificado de todas as suas associações
idolátricas, para ser apropriado para fins justos, e sugestivo de ideias
relacionadas com o verdadeiro Deus e seu culto.
10. uma arca — um cofre ou gaveta, coberta de ouro, cujas
dimensões são, calculando o côvado em dez e oito polegadas, três pés e
nove polegadas de comprimento, dois pés com três polegadas de largura,
ou seja um metro e quinze centímetros de comprimento, por sessenta e
oito centímetros de largura.
11. coroa (RC) — uma cornija.
12. argolas — grampos, ou alças, por onde entrariam as varas com
que se levaria a arca.
15. Os varais ficarão nas argolas da arca — ou seja, sempre
estariam nos anéis, ou grampos, quer a arca estivesse em descanso ou em
movimento.
16. o Testemunho — quer dizer, as duas tábuas de pedra que
continham os dez mandamentos, e chamado “o Testemunho”, porque por
meio delas Deus testificou sua autoridade soberana sobre Israel como
povo dEle, sua eleição deles como guardiões de seu testamento e culto, e
seu desagrado em caso de que eles transpassassem suas leis; enquanto da
parte deles, ao receber e depositar esta lei em seu lugar assinalado, eles
testemunhavam seu reconhecimento do direito de Deus em governá-los,
e sua submissão à Sua lei. O soberbo e elaborado estilo da arca que
continha “o Testemunho”, era emblemático do grande tesouro que
continha; em outras palavras, do valor e excelência incomparáveis da
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 85
Palavra de Deus, enquanto que sua colocação na arca além disso
mostrava o grande cuidado que Deus sempre tomou em conservá-la.
17. Farás também um propiciatório de ouro puro — uma tampa
do mesmo tamanho da arca. Era “a coberta propiciatória”, como a
palavra pode traduzir-se – palavra achada uma só vez na Bíblia hebraica,
que significa “expiação” ou “cobertura”, assinalando profeticamente que
Cristo é nossa grande propiciação [1Jo_2:2; 1Jo_4:10]; que cumpriu com
todas as exigências da lei, e “cobre” nossas transgressões, e intervém
entre nós e a maldição da lei violada.
18. dois querubins — O verdadeiro significado, como também a
forma, destas figuras, não se conhece com certeza; provavelmente eram
semelhantes ao que foi mais tarde introduzido no templo, e descrito em
Ez_10:8-22. Estendiam suas asas, e seu rosto se voltava na direção do
propiciatório [Êx_25:20], provavelmente em atitude de reverência. A
opinião preferível agora, é que estas figuras eram simbólicas não de
seres angélicos mas sim de seres terrestres e humanos, membros da
igreja de Deus interessados na dispensação da graça, os redimidos de
todos os tempos, e que estas formas hieroglíficas simbolizavam as
qualidades do verdadeiro povo de Deus: coragem, paciência, inteligência
e atividade.
22. ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório (RC)
— A Shekiná, ou símbolo da presença divina pousava sobre a cobertura,
e era indicada por uma nuvem, dentre a qual eram dadas respostas
audivelmente quando se consultava a Deus em favor de Seu povo. Daí se
descreve a Deus como “morando” ou “sentado” entre os querubins.
23. uma mesa de madeira de Sitim (Versão Jünemann) — do
mesmo material e cenário como a arca [veja-se Êx_25:5], e como ela
também, provida de anéis para as varas que serviam para levá-la
[Êx_25:26]. Estes paus, entretanto, eram tirados, quando a mesa estava
fixa, para não estorvar os sacerdotes quando estavam ocupados em seus
serviços à mesa [veja-se Êx_25:10].
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 86
24. bordadura de ouro ao redor — A moldura ou bordo
ornamental, o qual se crê que se elevava sobre o nível da mesa, para
evitar que caísse algo dela.
29. seus pratos — fontes largas.
incensários (TB) — taças ou copos côncavos, usados para conter o
incenso.
galhetas — para cobrir o pão e o incenso.
tigelas (RC) — taças grandes, porque, ainda que não se menciona o
vinho, indubitavelmente se faziam libações a Deus, segundo Josefo e os
rabinos, uma vez por semana, quando se mudava o pão.
30. o pão da proposição — literalmente, “pão da presença”, assim
chamado porque se exibia constantemente perante o Senhor, ou porque
“o pão de sua presença”, como “o anjo de sua presença”, assinalava
simbolicamente a Cristo. Consistia em doze pães asmos, que segundo
tradição eram postos em pilhas de seis cada uma. Este pão ficava como
símbolo da provisão completa e constante que se faz para o sustento e
refrigério do povo de Deus.
31. candelabro. — literalmente, portador de lâmpada. Estava
construído de tal modo que era facilmente desarmado, para removê-lo
sem dificuldade. Seu “cano” ou tronco descansava sobre um “pé” ou
pedestal. Tinha sete ramos, formados como canos, três ramos a cada lado
e um no centro, e lavrados em forma de maçãs, flores e taças, colocadas
por turno [Êx_25:32-36]. A figura representada no arco de Tito em
Roma nos dá a melhor ideia deste castiçal.
37. as quais se acenderão para alumiar — A luz provinha de
azeite puro de oliva, e provavelmente ardia continuamente (cf. Êx_30:7;
Lv_24:2).
39. um talento de ouro puro — 125 libras troy, ou seja 46 quilos.
40. Vê, pois, que tudo faças segundo o modelo — Esta
advertência, que se repete com frequência em outras partes desta
história, é evidência do profundo interesse tomado pelo Rei Divino na
construção de Seu palácio ou santuário; e é impossível explicar a
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 87
circunstância de que Deus se preocupe com detalhes tão minuciosos,
exceto na hipótese de que este tabernáculo tinha que ser de um caráter
típico, eminentemente apto para a instrução religiosa e benefício da
humanidade, apresentando em seus rasgos principais as grandes verdades
do cristianismo.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 88
Êxodo 26

Vv. 1-37. AS DEZ CORTINAS.


1. de obra de artista — ou seja, de textura elegante e ricamente
adornadas.
2. comprimento — Cada cortina tinha que ser de quinze jardas —
quase quinze metros — de comprimento, e uns dois metros de largura.
3. Cinco cortinas serão ligadas umas às outras, etc. — para
formar duas grandes divisões, cada uma de onze metros de largura.
6. colchetes — supõe-se que eram iguais aos que se usam hoje, de
macho e fêmea.
7. cortinas de pelo de cabra — Estas cortinas comuns tinham que
ser uma mais que as outras, e de estender um metro mais abaixo de cada
lado, pois o uso delas era o de proteger e tampar as cortinas mais ricas.
14. de peles de carneiro tintas de vermelho uma coberta — ou
seja, de couro de vermelho turquesa [Veja-se Êx_39:34].
15-30. Farás também de madeira de acácia as tábuas para o
tabernáculo … Levantarás o tabernáculo segundo o modelo que te
foi mostrado — O tabernáculo, por seu nome como também por sua
aparência geral e arranjos, era uma tenda ou carpa; mas pela descrição
dada nestes versículos, as tábuas que formavam suas paredes, as cinco
barras que as firmavam, e a barra do meio que passava “do um cabo ao
outro”, e lhe davam solidez e firmeza, evidentemente era de uma feitura
mais compacta que a tenda leviana e frágil, provavelmente por causa do
peso de suas distintas cobertas como também pela proteção de seu
precioso mobiliário.
36. Farás também para a porta da tenda um reposteiro —
Cortinas de bordado rico e elaborado feitas pelas mulheres, são
suspensas sobre as portas e entradas das tendas ocupadas por chefes e
príncipes orientais. Num estilo similar de elegância foi terminada a
cortina que devia tampar a porta deste tabernáculo, a habitação escolhida
de Deus e Rei de Israel. Aparece em Êx_26:12, 22, 23, que a arca e o
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 89
propiciatório eram colocados no cabo ocidental do tabernáculo e
portanto a porta ou entrada dava rumo ao este, de modo que os israelitas
ao adorar ao Senhor dirigiam seus rostos na direção do oeste, para que
assim por figura fossem ensinados a voltar-se do culto daquela
luminária, que era o grande ídolo das nações, e adorar ao Deus que tinha
feito aquela, como a eles mesmos (Hewlett).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 90
Êxodo 27

Vv. 1-21. O ALTAR PARA HOLOCAUSTOS.


1. altar de madeira de Sitim (Versão Jünemann) — As medidas
deste altar, que se colocava à entrada do santuário, eram de quase três
metros quadrados, e um metro e meio de altura. Abaixo da armação de
madeira deste altar, de forma de gaveta, o interior era oco, e cada canto
devia terminar em “chifres”, pontas sobressalentes em forma de chifres
de vaca. Os animais a serem sacrificados eram atados a estes chifres
(Sl_118:27), e parte do sangue tinha que ser neles aplicado.
3. recipientes — para juntar as cinzas.
bacias — para receber o sangue do sacrifício, o qual tinha que ser
orvalhado sobre o povo.
garfos — garfos de três dentes (1Sm_2:13-14).
braseiros — copos grandes, nos quais se guardava ardendo o fogo
sagrado descido do céu (Lv_9:24), enquanto se limpava o altar e as
grades, e enquanto o altar era transportado de um lugar a outro no
deserto. (Patrick, Spencer, Le Clerc.)
4. grelha de bronze — obra de malha, para suportar o fogo.
quatro argolas de metal — por meio das quais a grade poderia ser
levantada dentre o corpo do altar, segundo as necessidades do caso.
5. as porás dentro do rebordo do altar para baixo — ou seja, a
grade em que os restos dos sacrifícios eram levados a lugar limpo
(Lv_4:12).
6, 7. varais … argolas — aquelas argolas foram postas ao lado do
altar, pelos quais passavam os varais quando havia necessidade de
trasladá-lo.
9. átrio do tabernáculo — O cercado em que estava o tabernáculo,
era um pátio retangular, de uns cinquenta metros de comprimento e vinte
e cinco metros de largura, e o corrimão que o cercava era de uns três
metros de altura, ou a metade da altura do tabernáculo. Aquele corrimão
consistia numa série conectada de cortinas, feitas de fino fio de linho,
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 91
tecido como uma espécie de malha, de modo que as pessoas podiam ver
através dela; mas a cortina grande que cobria a entrada, era de textura
diferente, sendo bordada e tinta com cores diversas, e estava provida de
cordas para levantá-la ou colocá-la de lado, quando os sacerdotes tinham
ocasião de entrar. As cortinas deste cercado eram sustentadas por
sessenta colunas de bronze, as quais estavam sobre pedestais do mesmo
metal, mas seus capitéis e molduras eram de prata, e os ganchos dos
quais pendiam as cortinas, eram também de prata.
19. as suas estacas — para sujeitar as cortinas na parte inferior,
para que os ventos não as levassem a um lado.
20. azeite puro de oliveira, batido — ou seja, assim como flui das
olivas quando são moídas, sem que se lhes aplicasse calor.
21. Arão e seus filhos — eles tinham que encarregar-se de ligar as
luzes no tempo todo vindouro.
a conservarão em ordem, desde a tarde até pela manhã —
Como o tabernáculo não tinha janelas, as lâmpadas precisavam estar
presas durante o dia. Josefo diz que em seus dias se prendiam só três;
mas os dele eram tempos degenerados, e não há autoridade bíblica para
esta limitação. Mas ainda que os sacerdotes fossem obrigados pela
necessidade de prendê-las durante o dia, teriam podido deixar que se
apagassem de noite, se não fosse por esta ordenança explícita.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 92
Êxodo 28

Vv. 1-43. NOMEAÇÃO AO SACERDÓCIO.


1. Faze também vir para junto de ti Arão, teu irmão, e seus
filhos — Até agora Moisés tinha exercido as funções sacerdotais
(Sl_99:6), e mostrou a piedade como a humildade de seu caráter, ao
cumprir de boa vontade a ordem de investir a seu irmão com o ofício
sagrado, ainda que isto queria dizer a exclusão perpétua de sua própria
família. A nomeação foi um ato especial da soberania de Deus, de modo
que não podia haver motivo de ressentimento popular pela escolha da
família de Arão, com a qual o posto ficava estabelecido e continuado
sem mudança, em sucessão intacta até a introdução da era cristã.
2-5. vestes sagradas — Nenhuma santidade inerente havia no
material nem na feitura. Mas eram chamados “sagradas” simplesmente
porque não eram usadas em ocasiões comuns, mas sim usadas no
cumprimento das funções sagradas (Ez_44:19).
para glória e ornamento — Era um traje esplêndido e suntuoso.
De material, bordado elaborado, e de cor, tinha um esplendor imponente.
Como o tabernáculo estava adaptado à ajuda da igreja nascente, era justo
e necessário que as vestes dos sacerdotes fossem de tal aparência soberba
e deslumbrante, que inspirasse o povo com o devido respeito pelos
ministros como pelos ritos da religião. Mas tinham também um
significado ulterior; porque sendo todos feitos de linho, eram simbólicos
da verdade, a pureza e outras qualidades em Cristo que o tornavam tal
sumo sacerdote como nos convinha.
6-14. a estola sacerdotal de ouro — Era um objeto primoroso feito
de tecido fino, bordada com arte e tinta com diversas cores, e ainda
enriquecida com tecido dourado, sendo entretecidos originalmente os
fios de ouro ou inseridos depois por um bordador. Era curta, chegava do
peito até um pouco abaixo dos lombos, e ainda que sem mangas, retinha
sua posição por meio de correias que passavam sobre cada ombro. Estas
correias ou tirantes, unidos um com a frente e as outras com as costas de
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 93
que se compunha a túnica, estavam unidos sobre o ombro com duas
pedras de ônix, que serviam de botões, e sobre os quais estavam
gravados os nomes das doze tribos, e estavam engastadas em alfinetes de
ouro. O propósito simbólico disto era que o sumo sacerdote que levava
os nomes consigo em todas suas ministrações perante o Senhor, se
lembrasse de seu dever de advogar por elas e de suplicar o cumprimento
das promessas divinas a favor delas. A estola sacerdotal estava sujeita
por um cinturão dos mesmos materiais custosos, ou seja, tingido,
bordado e trabalhado com fios de ouro. O cinturão era da largura de uma
mão, e rodeava duas vezes a cintura; era atado na frente, onde
penduravam os cabos que eram muito longos. (Ap_1:13).
15-29. Farás também o peitoral do juízo de obra esmerada —
uma peça de brocado esplêndida e ricamente bordada, de um palmo
quadrado, e dobrada para permitir que suportasse melhor o peso das
pedras preciosas que estavam nela. Havia doze pedras diferentes, cada
uma das quais continha o nome de uma tribo, e dispostas em quatro
fileiras, com três em cada uma. Os israelitas tinham adquirido
conhecimento da arte do lapidário no Egito, e o grau de sua destreza em
cortar, polir e engastar as pedras preciosas, pode julgar-se pelo diamante
que formava um dos objetos gravados neste peitoral. Um anel estava
fixado em cada canto, pelo qual passavam as cadeias de ouro, para
sujeitar esta brilhante peça de joalheria acima e abaixo sobre o peito da
estola sacerdotal.
30. porás no peitoral do juízo o Urim e o Tumim — As palavras
significam “luzes” e “perfeições”, e não se quer dizer nada mais que as
pedras preciosas do racional já descrito (veja-se Êx_39:8-21; Lv_8:8).
Foi-lhes aplicado esse nome porque o fato de as levar habilitava o sumo
sacerdote a consultar o oráculo divino por ocasião de toda emergência
pública ou nacional, indo lá dentro do lugar santo, e ficando perto do
véu, com sua mão sobre o Urim e o Tumim, apresentava sua petição da
parte do povo, e pedia o conselho de Deus, quem, como o Soberano de
Israel, dava resposta do meio de sua glória. Entretanto, pouco se sabe
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 94
disso. Mas pode notar-se que os juízes egípcios levavam sobre o peito de
seus mantos oficiais uma representação da Justiça, e o sumo sacerdote de
Israel por muito tempo também oficiava como juiz; de modo que alguns
creem que o Urim e o Tumim tinha referência a suas funções judiciais.
31. Farás também a sobrepeliz da estola sacerdotal toda de
estofo azul — era o objeto do meio, debaixo do peito e sobre o saco.
Tinha uma abertura pela qual se enfiava a cabeça, e estava formada
cuidadosamente de uma só peça, tal como era o manto de Cristo
(Jo_19:23). O do sumo sacerdote era de cor azul celeste. O cós do
pescoço estava fortemente tecido, e terminava abaixo numa franja, feita
de borlas de jacinto, púrpura e carmesim, na forma de granadas,
misturadas com pequenas campainhas de ouro, as quais retiniam quando
o sacerdote se movia.
34. uma campainha de ouro e uma romã — As campainhas
estavam colocadas entre as romãs, as quais diz-se eram setenta e duas, e
o uso das mesmas parece ter sido o de anunciar ao povo quando o sumo
sacerdote entrava no lugar santíssimo, a fim de que eles o
acompanhassem com suas orações, e também para lembrá-lo que se
ataviasse com seu vestido oficial, pois ministrar sem ele, era a morte.
36. lâmina de ouro — literalmente, “pétala”, que parece ter sido a
figura desta prancha de ouro, que era atada com uma cinta de azul em
frente da mitra, de modo que todos os que olhavam de frente ao
sacerdote, podiam ler a inscrição.
37. mitra — uma boina semelhante a uma coroa, que não cobria
toda a cabeça, mas sim que se ajustava estreitamente a ela, feita de linho
fino. As Escrituras não descrevem sua forma, mas de Josefo podemos
inferir que era de forma cônica, visto que distingue as mitras dos
sacerdotes comuns dizendo que elas não eram cônicas; que estava
rodeada por faixas de azul bordado, e que estava coberta por uma peça
de linho para tampar as costuras.
39. túnica de linho — artigo de vestimenta firmada ao pescoço,
que chegava muito abaixo e com mangas que terminavam no cotovelo.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 95
cinto de obra de recamador — peça de linho fino torcido,
ricamente bordada, e tinta de diversas cores. Diz-se que era muito longa,
que circundava o corpo muitas vezes, atava-se na frente e como os cabos
penduravam, eram um estorvo para o sacerdote em seus deveres ativos,
portanto se colocavam sobre os ombros.
40. tiaras — turbantes.
42. calções de linho — cuecas que cingiam os lombos e se
estendiam para baixo até a metade da coxa. São vistos com frequência
representados em figuras egípcias.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 96
Êxodo 29

Vv. 1-35. A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES E O ALTAR.


1. para os consagrar, a fim de que me oficiem como sacerdotes
— O ato de iniciar os sacerdotes era acompanhado por solenidades
cerimoniais bem calculadas, não só para fazer com que o povo
mantivesse opiniões elevadas a respeito do ofício, senão para
impressionar aos funcionários mesmos com um profundo sentido de sua
magnitude e importância. Enfim, eram informados que o serviço era a
favor deles mesmos tanto como para o povo; e cada vez que se
ocupavam no cumprimento de seus deveres, eram lembrados de seu
interesse pessoal no culto, ao serem obrigados a ofertar por si mesmos,
antes de estarem aptos para ofertar como representantes do povo.
Isto é o que lhes farás — Se tomam medidas ao começar uma
sociedade, que não são repetidas, uma vez que a sociedade esteja
trabalhando; assim Moisés, ao abrir o tabernáculo, foi empregado para
cumprir certas funções que em períodos posteriores teriam sido
consideradas como sacrilégio, como o ato de pôr sobre a arca uma mão
não santificada, ato castigado com a morte instantânea. Mas ele agiu aqui
sob as orientações especiais de Deus.
4-10. farás que Arão e seus filhos se cheguem à porta da tenda
da congregação — À porta do tabernáculo porque ocupava o espaço
intermediário entre o átrio, onde estava o povo, e a morada do Rei de
Israel, e portanto era o lugar mais próprio para os sacerdotes que eram
preparados para entrar, e para o povo que presenciava a cerimônia de
iniciação.
os lavarás com água; depois, tomarás as vestes — A maneira em
que se cumpriam estas partes do cerimonial, descreve-se detalhadamente
e para descobrir seu significado simbólico, que com efeito é claro e
óbvio, temos a autoridade inspirada que nos guia. Significava a
necessidade e importância de pureza moral e santidade (Is_52:11;
Jo_13:10; 2Co_7:1; 1Pe_3:21). Igualmente a investidura com roupas
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 97
santas significava que os sacerdotes se vestiam de justiça (Ap_19:8), e
estavam habilitados como homens ativos e bem preparados para o
serviço de Deus; a unção do sumo sacerdote com azeite indicava que ele
tinha que estar cheio de influências do Espírito, para a edificação e
deleite da igreja (Lv_10:7; Sl_45:7; Is_61:1; 1Jo_2:27), e porque era
oficialmente um tipo de Cristo (Hb_7:26; Jo_3:34; também Mt_3:16;
Mt_11:29).
10-22—Farás chegar o novilho diante da tenda da congregação
— Esta parte do cerimonial consistia em três sacrifícios. (1) O sacrifício
do bezerro, como oferta pelo pecado; e ao rendê-lo, se ordenava ao
sacerdote pôr sua mão sobre a cabeça de seu sacrifício, expressando por
tal ato o sentimento interior de culpa pessoal, e um desejo de que o
sacrifício fosse aceito como uma satisfação vicária. (2) O sacrifício de
um carneiro como holocausto (vv. 15-18); o carneiro tinha que ser
queimado completamente, em sinal de que o sacerdote se dedicava a si
mesmo a Deus e a seu serviço. A oferta pelo pecado tinha que ser
apresentada primeiro, e logo o holocausto, porque enquanto não se
tirasse a culpabilidade, não se podia apresentar nenhum serviço
aceitável. (3) Tinha que haver uma oferta pacífica, chamada “o carneiro
da consagração” (vv. 19-22). E havia uma particularidade marcada na
maneira em que se tinha que dispor do outro carneiro. Aquele era para a
glória de Deus; este era para o consolo do próprio sacerdote; e como
sinal de que se ratificava uma aliança mútua, o sangue do sacrifício era
dividida, sendo orvalhada uma parte no altar ao redor, e outra parte sobre
as pessoas e vestes dos sacerdotes; mais ainda, o sangue, por um ato
singular, tinha que ser posto nas extremidades do corpo, significando
assim que os benefícios da expiação se aplicariam a toda a natureza do
homem. Além disso, a carne deste sacrifício tinha que ser dividida, como
se fosse, entre Deus e o sacerdote, uma parte tinha que ser posta em sua
mão para ser movida, como sinal de ser oferecida a Deus, e logo tinha
que ser queimada sobre o altar; a outra parte tinha que ser comida pelos
sacerdotes à porta do tabernáculo, sendo esta festa símbolo de comunhão
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 98
ou companheirismo com Deus. Estas cerimônias, executadas na ordem
mencionada, mostravam as qualidades necessárias para os sacerdotes
(Veja-se Hb_7:26-27; Hb_10:14).
35. por sete dias, os consagrarás — A repetição destas cerimônias
à volta de cada dia nos sete, com a intervenção de um sábado, foi um
arranjo preparatório sábio, a fim de dar um intervalo suficiente para a
meditação tranquila e devota (Hb_9:1; Hb_10:1).

Vv. 36, 37. A CONSAGRAÇÃO DO ALTAR.


36. purificarás o altar — A frase “fazendo expiação por ele”,
deveria ser “sobre ele” e o sentido da ordem é, que o tempo todo que
estavam ocupados como se indica acima, dia após dia, em fazer os
sacrifícios indicados, tinha que tomar o maior cuidado em ter
devidamente limpo o altar, em tirar as cinzas e aspergi-lo com a unção
prescrita, de modo que no final do cerimonial o próprio altar estaria
consagrado tanto como os ministros que junto a ele tinham que oficiar.
(Mt_23:19). Desde então, pois, estava associado com os serviços da
religião.

Vv. 38-46. A INSTITUIÇÃO DO SACRIFÍCIO DIÁRIO.


38. dois cordeiros de um ano, cada dia, continuamente — Ao
completar-se os preliminares sagrados, Moisés foi instruído a respeito do
fim ou desígnio para o qual eram úteis estes preparativos: o culto de
Deus; e então a instituição do sacrifício matutino e o vespertino. A
instituição era tão imperativa que em nenhuma circunstância tinha que
deixar de celebrar-se esta oblação diária; e a devida observância dela
asseguraria a graça e bem-aventurança de seu Rei celestial, com tanta
frequência prometidas.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 99
Êxodo 30

Vv. 1-38. O ALTAR DO INCENSO.


1. Farás também um altar para queimares nele o incenso, etc.
— seu material seria como o da arca do testemunho, mas suas dimensões
muito pequenas [Êx_25:10].
2. será quadrado — o sentido do qual não é que fosse inteiramente
de forma cúbica, mas sim sua superfície de acima e a de abaixo, teria
quatro lados iguais. Era de altura em dobro da largura, pois tinha 48
centímetros de largura mas 96 centímetros de altura. Tinha “chifres”;
sobre a superfície de arriba sobressaía um canto, chamado coroa, e os
seus quatro cantos tinham anéis para seu transporte. A única peça de
mobiliário que o acompanhava, era um incensário de ouro ou frigideira
na qual se prendia fogo ao incenso sobre o altar. Por isto se chamava o
altar de incenso, ou “altar de ouro” [Êx_39:38; Êx_40:26], pelo grau
profuso em que estava dourado ou chapeado com o metal precioso. Este
esplendor se adaptava à idade anterior da igreja, mas em tempos
posteriores, quando o culto tinha que ser mais espiritual, o altar de
incenso foi descrito profeticamente não como de ouro, mas sim de
madeira, e o dobro do tamanho daquele no tabernáculo, porque a igreja
se estenderia amplamente (Ml_1:11).
6. Porás o altar defronte do véu que está diante da arca do
Testemunho — que separava o lugar santo do lugar santíssimo. O altar
estava no meio, entre a mesa do pão da proposição e o castiçal, próximo
ao lugar santíssimo, a distâncias iguais da parede norte e a parede sul;
em outras palavras, ocupava um lugar do lado de fora do grande véu de
separação, mas diretamente em frente do propiciatório, que estava dentro
do véu sagrado; de modo que, ainda que o sacerdote que ministrava junto
ao altar, não podia ver o propiciatório, tinha que olhar na direção dele, e
apresentar o incenso naquela direção. Este foi um arranjo especial, e foi
ideado para ensinar a lição importante de que, embora não possamos,
com os olhos físicos, ver o trono da graça, temos que dirigir nossas
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 100
orações a Ele e ficar esperando [Sl_5:3] (cf. 2Co_3:14; Hb_10:20;
Ap_4:1).
7, 8. Arão queimará sobre ele o incenso aromático —
literalmente, “incenso de especiarias”; fortes substâncias aromáticas
eram queimadas sobre este altar para rebater por sua fragrância odorífera
os aromas desagradáveis dos sacrifícios; ou o incenso era empregado
numa oferta tributária que os orientais estavam acostumadas fazer como
sinal de honra aos reis; e como Deus era o Governador Teocrático de
Israel, em Seu palácio não tinha que faltar um uso de tal significação.
Para estes dois fins servia o altar: o de desinfetar os departamentos do
edifício sagrado, enquanto que a pura chama tênue, segundo opiniões
orientais, era um tributo honorário à majestade do Rei de Israel. Mas
havia nisso um sentido ainda superior; porque como o tabernáculo era
não só um palácio para o Rei de Israel, mas também um lugar de
adoração para o povo de Deus, este altar foi imediatamente relacionado
com um propósito religioso. No estilo dos escritores sagrados, o incenso
era um símbolo ou emblema da oração (Sl_141:2; Ap_5:8; Ap_8:3). Pela
combinação uniforme dos dois serviços, é evidente que o incenso era um
emblema das orações de adoradores sinceros que subiam ao céu na
nuvem de perfume; e, por conseguinte, o sacerdote que oficiava no altar,
tipificava o ofício intercessório de Cristo (Lc_1:10; Hb_7:25).
cada manhã … ao crepúsculo da tarde — Em todos os períodos
da história nacional este culto diário era observado escrupulosamente.
8. Arão … o queimará (RC) — Aparentemente limitando o
privilégio de oficiar ao altar de incenso apenas ao sumo sacerdote, e não
há dúvida de que ele e seus sucessores atendiam exclusivamente este
altar nas grandes festividades religiosas. Mas “Arão” é frequentemente
usado por toda a ordem sacerdotal, e em tempos posteriores, qualquer
dos sacerdotes poderia ter oficiado neste altar por turno (Lc_1:9).
9. Não oferecereis sobre ele incenso estranho — ou seja, de uma
composição diferente daquele cujos ingredientes são descritos tão
minuciosamente.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 101
11-16. Quando fizeres recenseamento dos filhos de Israel, etc. —
Isto fez Moisés duas vezes, e sem dúvida se ateve à lei aqui prescrita.
Não se recolhia o imposto das mulheres, dos menores de idade, nem dos
homens velhos (Nm_1:42, Nm_1:45) nem dos levitas (Nm_1:47),
porque eles não eram remunerados. Supondo-se que o siclo do santuário
era como meia onça, embora nada ao certo se sabe sobre isso, a soma
pagável por cada um era como dois xelins com quatro peniques. Esta não
era contribuição voluntária, mas sim um resgate pela alma ou a vida do
povo. Exigia-se igualmente de todas as classes, e uma negativa em pagar
significava uma exclusão voluntária dos privilégios do santuário, e um
perigo dos juízos divinos. Era provavelmente o mesmo imposto que se
exigiu de nosso Senhor (Mt_17:24-27), e era geralmente dedicado às
composturas e outros usos do santuário.
18-21. Farás também uma bacia de bronze — Ainda que não
formava parte componente do mobiliário do tabernáculo, esta vasilha
estava estreitamente associada a ele; e ainda que por estar à entrada, seria
objeto familiar, possuía grande interesse e importância para os
propósitos batismais a que era dedicado. Não se dá nenhum detalhe pelo
qual se possa saber sua forma ou tamanho; mas é provável que fosse um
modelo em miniatura do tanque circular de Salomão.
a sua base (TB) — Supõe-se que esta base não era o pedestal, sobre
o qual descansava a fonte, mas sim uma caixa quadrilátera ou bandeja
sob a fonte na qual se deixava fluir a água por uma torneira; porque a
maneira de todos os orientais se lavarem as mãos e os pés é deitando
água sobre eles, a qual cai numa bacia. Esta fonte foi provida só para os
sacerdotes. Mas na dispensação cristã todos os crentes são sacerdotes, e
por isso o apóstolo os exorta a chegar-se a Deus (Js_13:10; Hb_10:22).
23-33. Tu, pois, toma das mais excelentes especiarias, etc. — O
azeite é mencionado frequentemente nas Escrituras como emblema de
santificação, e o ungir com ele é um meio de designar objetos como
também pessoas para o serviço de Deus. Aqui é prescrito por autoridade
divina e são descritos os diferentes ingredientes em suas diferentes
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 102
proporções, que deviam compor o azeite usado em consagrar o
mobiliário do tabernáculo.
mirra — uma borracha fragrante e medicinal de uma árvore pouco
conhecida da Arábia.
canela aromática (RC) — produzida por uma espécie de louro,
achado principalmente na ilha do Ceilão. Esta especiaria extrai-se da
casca interior, mas não se sabe se a canela mencionada por Moisés é a
mesma que nós conhecemos.
cálamo aromático — ou cana doce, produto da Arábia e Índia, de
uma cor morena; é parecida com a cana comum e é fortemente odorífera.
24. cássia — da mesma espécie de árvore que a canela; alguns
creem que seja a casca exterior daquele árvore. Todos estes juntos
somariam 120 libras.
him — palavra de origem egípcia, uma medida igual a cinco litros.
Sendo misturado com o azeite de oliva – sem dúvida, do mais puro – este
composto talvez retinha sua forma líquida, e havia uma proibição estrita
contra seu uso para outros fins que não fossem a unção do tabernáculo e
seus móveis.
34-38. Disse mais o SENHOR a Moisés: Toma substâncias
odoríferas. — Estas são:
estoraque — a mais fina mirra;
ônica — supõe-se que fosse uma casca odorífera;
gálbano — uma goma-resina de uma planta umbelífera.
incenso puro — uma borracha seca, resinosa, aromática, de uma
árvore na Arábia, e se obtém por incisão da casca. Este incenso ficava
dentro do santuário para que estivesse à mão, quando o sacerdote
precisasse queimá-lo no altar. A arte de compor unguentos e perfumes
era bem conhecida no Egito, onde especiarias fragrantes eram usadas
amplamente não só na vida comum mas também no ritual dos templos. A
maior parte dos ingredientes aqui mencionados foram encontrados no
exame minucioso das múmias e outras relíquias; e os israelitas, pois,
teriam tido naquele país as melhores oportunidades para adquirir
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 103
habilidade em moer e mesclá-los, a qual teriam que exercer no serviço
do tabernáculo. Mas a receita para o incenso como também para o azeite
no tabernáculo, ainda que receba ilustração dos costumes no Egito, era
peculiar, e sendo prescrita por autoridade divina, não tinha que aplicar-se
para fins comuns ou inferiores.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 104
Êxodo 31

Vv. 1-18. BEZALEL E AOLIABE.


2. Eis que chamei — Embora as instruções a respeito do
tabernáculo fossem comunicadas particularmente a Moisés, era
claramente impossível que ele vigiasse a obra em pessoa, entre a
multiplicidade de seus outros deveres. Um diretor chefe ou construtor foi
escolhido pelo próprio Deus; e a nomeação por autoridade tão elevada
tirou todo motivo de ciúme ou descontentamento da parte de qualquer
pessoa que teria podido crer que se passasse acima de seus méritos (cf.
Mt_18:1).
pelo nome a Bezalel — que significa “à sombra ou proteção de
Deus”, e por ser chamado a executar um dever de grande magnitude, a
cumprir um cargo confidencial na antiga igreja de Deus, tem sua família
assinalada e linhagem com marcada distinção. Pertencia à tribo de Judá,
a qual, sem dúvida por motivos sábios e importantes, Deus sentia prazer
em honrar; e era neto de Hur, patriota piedoso (Êx_17:12), que esteve
associado, por mandato especial, com Arão no governo do povo durante
a ausência de Moisés. Além disso, pode-se notar que uma tradição
hebraica afirma que Hur era o marido de Miriam; e se se pode confiar
nesta tradição, recebe-se uma razão adicional em favor da nomeação do
Bezalel emanado da autoridade direta de Deus.
3-5. o enchi do Espírito de Deus — É provável que tivesse sido
dotado naturalmente de um talento mecânico, e tivesse adquirido no
Egito grande conhecimento e perícia nas artes úteis como também nas
liberais, de sorte que deveu ser um artesão de primeira classe,
competente para fazer-se carrego da obra tanto a singela como a
ornamental, que exigia a construção do sagrado edifício. Quando Deus
tem alguma obra especial que fazer, sempre levanta instrumentos
capazes de fazê-la; e é provável que ele desse ao filho do Uri aquela
aptidão natural vigorosa e aquelas oportunidades de ganhar perícia
mecânica, com miras ulteriores a este posto de responsabilidade. Apesar
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 105
de que foi seu grande dever conformar-se com fidelidade escrupulosa ao
modelo provido, havia lugar amplo para o talento criativo e a exatidão
unidos ao bom gosto na execução da obra; e seus dons naturais e
adquiridos eram ampliados e estimulados para tão importante obra.
6. Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe — Ele pertencia à
tribo de Dã, uma das de menos influencia e venerabilidade em Israel; e
aqui, também, podemos descobrir a evidência e os motivos sábios e
paternais, em escolher ao colega ou ajudante de Bezalel dentre uma tribo
inferior (1Co_12:14-25; também Mc_6:7).
dei habilidade a todos os homens hábeis — Naquele período,
quando se sentia um só espírito em todo Israel, não era só o homem
cheio de um gênio celestial quem presidia toda a obra, mas sim todos os
que contribuíam com sua habilidade, experiência e trabalho, em prestar
até a menor ajuda, mostrando assim sua piedade e devoção no serviço
divino. De igual maneira foi no começo do cristianismo (At_6:5;
At_18:2).
12-17. Certamente, guardareis os meus sábados — O motivo
para a nova repetição do quarto mandamento neste período foi que o
grande ardor e anelo com que todas as classes se entregavam à
construção do tabernáculo, expô-los à tentação de abusar da santidade do
dia de descanso. Eles poderiam supor que a ereção do tabernáculo fosse
uma obra sagrada, e que seria um alto mérito, um tributo aceitável, o
prosseguir a empresa sem interrupção de um dia de repouso; e portanto a
precaução aqui dada, no começo da obra, foi uma advertência oportuna.
18. tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus — que
continham os dez mandamentos (Êx_24:12), chamadas “tábuas do
testemunho”, porque Deus testificou sua vontade nelas.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 106
Êxodo 32

Vv. 1-35. O BEZERRO DE OURO.


1. vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte — eles
supunham que ele tinha perdido seu caminho na escuridão ou perecido
no fogo.
acercou-se de Arão — antes, “contra” Arão de uma maneira
tumultuosa, para o obrigar a fazer o que eles desejavam. Os incidentes
relatados neste capítulo fazem ver o estado de ressentimento popular
entre os israelitas, o qual está em singular contraste com o tom de
reverência profunda e humilde que eles manifestaram no momento em
que foi dada a lei. Num espaço de um pouco mais de trinta dias, foram
dissipadas suas impressões; e ainda que ainda estavam acampados sobre
terreno que eles tinham todo motivo para considerar santo; ainda que a
nuvem de glória que cobria a cúpula do Sinai, ainda estava à sua vista,
fazendo uma demonstração visível de que estavam em próxima
comunhão, ou antes, na presença imediata de Deus, agiam como se
esquecessem completamente das cenas impressionantes das quais eles
tinham sido tão recentemente testemunhas.
e lhe disse: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós
— A palavra hebraica traduzida “deuses” é simplesmente o nome de
Deus em sua forma plural. A imagem feita foi uma, e portanto seria
imputar aos israelitas um pecado mais antigo que aquele do qual eram
culpados, o acusá-los de renunciar ao culto do verdadeiro Deus pelos
ídolos. O fato é que eles necessitavam, como meninos, ter algo que
apelasse aos sentidos, e como a Shekiná, “a glória de Deus”, vista da
qual eles desfrutavam antes, estava agora coberta, eles desejavam algum
objeto material visível como o símbolo da presença divina, que partisse
adiante deles, como tinha feito a coluna de fogo.
2. Disse-lhes Arão: Tirai as argolas de ouro — Não era costume
egípcio que os homens jovens tivessem brincos em suas orelhas, e esta
circunstância pois parece indicar à multidão mista, que eram
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 107
principalmente escravos estrangeiros, os promotores desta insurreição.
Ao dar orientações de que apartassem seus brincos de ouro, Arão
provavelmente calculava ganhar tempo; ou, talvez, com que sua avareza
e amor aos adornos fossem mais fortes que sua tendência à idolatria. Se
tais fossem as suas esperanças, foram condenadas a uma decepção
notável. Melhor teria sido opor-se a eles séria e serenamente, e ter
preferido o dever à conveniência, deixando o resultado nas mãos de
Deus.
3. todo o povo tirou das orelhas as argolas — Os brincos dos
egípcios, como se veem nos monumentos, eram pratos redondos pesados
de metal; e como os anéis que levavam os israelitas eram deste tipo, seu
tamanho e número, na coleta geral, devem ter produzido uma grande
quantidade de metal precioso.
4. trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido —
As palavras estão transpostas, e a tradução deveria ser: “ele formou com
buril a imagem a fazer-se, e tendo vertido o ouro líquido no molde, fê-lo
um bezerro fundido.” Não se diz se era de tamanho natural, se era de
ouro maciço, ou meramente uma armação de madeira coberta com
chapas de ouro. Este ídolo parece ter sido o deus Apis, principal deidade
dos egípcios, adorado em Mênfis sob a forma de um boi vivo, de três
anos. Distinguia-se por uma mancha branca triangular na frente e outras
marcas peculiares. Imagens dele na forma de um boi inteiro, ou da
cabeça de um bezerro no cabo de um pau, eram muito comuns; e faz uma
grande figura nos monumentos, onde se representa na vanguarda de
todas as procissões, como levado em alto sobre os ombros dos homens.
Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te
tiraram da terra do Egito — É inconcebível, que eles que só poucas
semanas antes tinham visto tão assombrosas demonstrações do
verdadeiro Deus, pudessem subitamente afundar-se a tal grau de
enfatuação e estupidez brutal, para imaginar-se que a arte ou mãos
humanas pudessem fazer um deus que passasse adiante deles. Mas é
preciso ter-se em conta que, ainda que por escolha e de nome de eram o
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 108
povo de Deus, entretanto, em sentimentos e associações, em hábitos e
gostos, eram pouco ou nada diferentes dos egípcios. Eles criam que o
bezerro seria uma imagem, o sinal visível ou símbolo do Senhor, de
modo que seu pecado consistiu não na violação do primeiro mandamento
[Êx_20:3], mas sim do segundo [Êx_20:4-6].
5, 6. Arão … disse: Amanhã, será festa ao SENHOR. — uma
circunstância notável, fortemente confirmativa de que eles não tinham
renunciado ao culto ao Senhor, mas sim de acordo com ideias egípcias,
tinham formado uma imagem com a qual eles tinham chegado a
familiarizar-se para que fosse o símbolo visível da presença divina. Mas
parece que tinha havido muito da algazarra que caracterizava as festas
dos pagãos
7-14. disse o SENHOR a Moisés: Vai, desce — O conhecimento
da cena idolátrica desenvolvida ao pé da montanha, foi comunicada a
Moisés em linguagem tirada das experiências e dos sentimentos
humanos, e o juízo de um Deus justamente ofendido pronunciado em
termos de justa indignação contra a violação grosseira das leis tão
recentemente promulgadas.
10. de ti farei uma nação grande — Deve ter-se cuidado para não
supor que esta linguagem signifique alguma mudança ou vacilação nos
propósitos divinos. A aliança feita com os patriarcas tinha sido ratificado
da maneira mais solene; não poderia ser violada, nem se pensava jamais
que seria violada. Mas a maneira em que Deus falou com Moisés, tinha
dois propósitos importantes: tendia a desenvolver a fé e o patriotismo
intercessório do guia hebreu, e a incitar o sério alarme do povo, no
sentido de que Deus os rejeitaria e privaria dos privilégios que eles
imaginavam loucamente tão seguros.
15-18. E, voltando-se, desceu Moisés do monte — A planície, Er-
Raheh, não é visível da cúpula do Jebel Musa, tampouco pode descer do
monte pelo lado na direção daquele vale; de modo que Moisés e seu
companheiro, que com paciência esperava sua volta num oco da cúpula
do monte, ouviram a gritaria algum tempo antes de ver o acampamento.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 109
19. acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas — A
chegada do dirigente, como a aparição de um espectro, deteve os
bagunceiros em meio de seu carnaval, e seu ato de indignação justa,
quando jogou ao solo as tábuas da lei, em sinal de que como eles tão
logo se separaram de sua relação pactuada, Deus retiraria os privilégios
peculiares, que lhes tinha prometido – aquele ato, junto com as medidas
rigorosas que seguiram, forma uma das cenas mais extraordinárias na
história sagrada.
20. pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o no fogo,
etc. — Se supôs que o ouro fora dissolvido em natrão, ou alguma
substância química. Mas não há menção de solubilidade aqui, ou em
Dt_9:21; foi queimado em fogo, para fundir-se em discos de tamanho
conveniente para a operação que seguia: “e o reduziu a pó”; o pó de
metais maleáveis pode moer-se tão fino que se parece com o pó das asas
de mariposas ou traças; e estas partículas de pó flutuam sobre a água
durante horas. Estas operações de moenda tinham por motivo mostrar
desprezo por tais deuses inúteis, e os israelitas tinham que lembrar a
lição humilhante pelo estado da água que teriam que beber por um tempo
(Napier.) Outros creem que como as festas idolátricas geralmente
terminavam com grande consumo de vinho doce, o gole asqueroso do pó
de ouro seria um castigo severo (cf. 2Rs_23:6, 2Rs_23:15; 2Cr_15:16;
2Cr_34:7).
22. Respondeu-lhe Arão: Não se acenda a ira do meu senhor —
Arão faz um papel pobre, apresentando uma desculpa confusa e
mostrando mais temor da ira de Moisés que da ira do Senhor (cf.
Dt_9:20).
25. desenfreado — ou inerme e sem defesa, ou envergonhado por
um sentido de culpa. Alguns creem que estavam literalmente despidos,
porque os egípcios executavam alguns de seus ritos daquele modo
imoral.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 110
26-28. (Moisés) pôs-se em pé à entrada do arraial e disse —
supõe-se que o acampamento estava protegido por um baluarte depois do
ataque dos amalequitas.
Quem é do SENHOR venha até mim — O zelo e coragem de
Moisés eram assombrosos, considerando-se que ele se opunha a uma
turba embriagada. O povo foi separado em duas divisões, e aqueles que
eram mais valentes e obstinados em vindicar sua idolatria, foram mortos,
enquanto que outros, que se retiraram com vergonha e pesar, foram
perdoados.
29. Consagrai-vos, hoje, ao SENHOR — Os levitas, apesar do
abatimento de Arão, distinguiram-se por seu zelo pela honra de Deus e
por sua conduta em cumprir o ofício de verdugos nesta ocasião; e este foi
um motivo pelo qual foram nomeados para o alto e honorável posto no
serviço do santuário.
30-33. disse Moisés ao povo: Vós cometestes grande pecado —
Moisés se esforçou por mostrar ao povo a natureza atroz de seu pecado,
e por trazê-los ao arrependimento. Mas não contente com isso, apressou-
se mais ardentemente a interceder por eles:
32. risca-me, peço-te, do livro que escreveste — alusão ao
registro dos vivos, e ao ato de apagar os nomes dos que morrem. Que
calor de afeto demonstrava por seus irmãos! Quão completamente estava
animado pelo verdadeiro espírito de patriota, quando declarava sua
disposição de morrer por eles! Mas Cristo realmente morreu por seu
povo (Rm_5:8).
35. Feriu, pois, o SENHOR ao povo, porque fizeram o bezerro
que Arão fabricara — Não foram infligidos juízos imediatos, mas este
anterior lapso na idolatria era mencionado sempre como agravante de
suas apostasias subsequentes.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 111
Êxodo 33

Vv. 1-23. O SENHOR SE NEGA A ACOMPANHAR O POVO.


1. Disse o SENHOR a Moisés — antes, havia dito a Moisés. A
conferência detalhada neste capítulo deveria considerar-se como
verificada antes da intercessão patética de Moisés, relatada na parte final
do capítulo anterior; havendo o historiador mencionado o fato de sua
ansiedade ardente e penosa, sob a entristecedora pressão pela qual ele
derramou aquela oração intercessora a favor de seus compatriotas
apóstatas, agora entra em um relato detalhado das circunstâncias.
3. Eu não subirei no meio de ti ... para que te não consuma eu
no caminho — Aqui se representa o Senhor como resolvido a fazer o
que depois não fez (Veja-se Êx_32:10).
4. Ouvindo o povo estas más notícias — pela boca de Moisés em
sua descida da montanha.
5. tira, pois, de ti os atavios — Por ocasião de luto, é costume dos
povos orientais desfazer-se de todas as suas quinquilharias, e tirar suas
jóias, seu ouro e toda coisa rica e esplêndida de seu vestido. Este sinal de
seu pesar, o Senhor demandava a seu povo ofensor.
para que eu saiba o que te hei de fazer — A linguagem está
acomodada às frágeis compreensões dos homens. Deus julga o estado do
coração pelo teor da conduta. No caso dos israelitas, ele guardava vivo
um propósito de misericórdia; e no primeiro momento que percebeu os
primeiros sintomas de contrição, no fato de que eles tiraram seus atavios,
como penitentes conscientes de seu erro, e sinceramente entristecidos,
acrescentou peso ao ardor das orações de Moisés, e lhes deu aceitação
com Deus a favor do povo.
7. Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem
longe do arraial — Não o tabernáculo, cujo modelo lhe tinha sido dado,
porque ainda não tinha sido erigido, mas sim sua própria carpa, notável
como a do condutor, numa parte da qual ele escutava as causas, e tinha
comunicação com Deus a respeito dos interesses do povo, e por isso
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 112
chamada “o tabernáculo da congregação”, e cujo retiro, por aversão ao
acampamento poluído, foi olhado como o primeiro passo no total
abandono com que Deus os ameaçava.
8. todo o povo se erguia, cada um em pé à porta da sua tenda —
Seu traslado produziu uma consternação profunda e universal; e é fácil
conceber quão ansiosamente todos os olhos se dirigiriam para ele e quão
rapidamente se estenderia a feliz notícia, quando fosse presenciado
algum fenômeno no qual pudesse fundar-se alguma esperança.
9-11. descia a coluna de nuvem e punha-se à porta da tenda —
Como reviveriam os corações abatidos! encheria cada peito esta onda de
alegria, quando a nuvem simbólica via-se lenta e majestosamente descer
e posar-se à entrada do tabernáculo!
Uma vez dentro Moisés — Era quando ele aparecia como o
mediador deles; quando se retirava de dia em dia para interceder por
eles, aquele sinal grato de segurança era prova de que prevalecia sua
defesa, de que era perdoado o pecado de Israel, e de que Deus
novamente seria benévolo.
18-23. Rogo-te que me mostres a tua glória — Esta é uma das
cenas mais misteriosas descritas na Bíblia: ele teve, para seu consolo e
alento, uma manifestação esplêndida e completa da majestade divina,
não em seu brilho sem véu, mas sim até onde admitiria a fraqueza da
humanidade. O rosto, a mão, as costas, é preciso entender em sentido
figurado.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 113
Êxodo 34

Vv. 1-35. AS TÁBUAS DA LEI SÃO RENOVADAS.


1. disse o SENHOR a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra,
como as primeiras — Tendo-se Deus reconciliado com o Israel
arrependido, pela ardente intercessão, e feliz mediação de Moisés, se
tomaram medidas para a restauração da aliança violada. Intimou-se,
entretanto, de uma maneira inteligível e expressiva, que o favor tinha que
ser restaurado, com alguma lembrança da ruptura; porque na vez anterior
o próprio Deus tinha preparado os materiais, como também escrito sobre
eles. Agora Moisés tinha que preparar as tábuas de pedra, e Deus só
tinha que reescrever os caracteres originalmente inscritos para o uso e a
orientação do povo.
2. para que subas … te apresentes a mim no cimo do monte —
Não absolutamente o ponto mais alto; porque como a nuvem da Shekiná
geralmente estava sobre a mesma cúpula, e entretanto (v. 5) “descido”, a
inferência clara é, que Moisés tinha que estacionar-se num ponto não
muito longínquo, mas ainda mais sob o pináculo mais alto.
3. Ninguém suba contigo … nem ainda ovelhas nem gado —
Todas estas ordens foram dadas para que a lei fosse renovada a segunda
vez com toda a solenidade e santidade que assinalaram sua primeira
entrega. Toda a transação foi ordenada de modo de impressionar ao povo
com o tremendo sentido da santidade de Deus, e de que não era assunto
de consequência frívola o ter-lhe submetido, por assim dizer, à
necessidade de entregar a segunda vez a lei dos dez mandamentos.
4. Moisés … levando nas mãos as duas tábuas de pedra —
Como ele não tinha assistente que o ajudasse no trabalho de levá-las, é
evidente que seriam levianas, e não de grandes dimensões –
provavelmente pranchas lisas, como abundam na região montanhosa de
Horebe. Uma prova adicional de seu tamanho comparativamente
pequeno, aparece na circunstância de que foram depositadas na arca do
lugar santíssimo (Êx_25:10).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 114
5. Tendo o SENHOR descido na nuvem — depois de estar
graciosamente revoando sobre o tabernáculo, parece ter reassumido sua
posição habitual sobre a cúpula do monte. Era a sombra de Deus
manifesta aos sentidos exteriores, e, ao mesmo tempo, de Deus
manifesto na carne. O emblema da nuvem parece ter sido escolhido para
significar que, ainda que sentia prazer em fazer conhecer muito a
respeito de Si mesmo, havia mais que estava velado à vista mortal. Era
para refrear a presunção, e engendrar o temor reverencial, e dar um
sentido humilde das aquisições no conhecimento divino, como o homem
vê agora, mais obscuramente.
6. passando o SENHOR por diante dele — nesta cena notável,
Deus executou o que tinha prometido a Moisés no dia anterior.
clamou: SENHOR ... clemente e longânimo e grande em
misericórdia e fidelidade — Num período anterior Deus Se anunciou a
Moisés na glória de Sua majestade auto-existente e eterna, como “Eu
sou” [Êx_3:14]; agora Se dá a conhecer na glória de Sua graça e
bondade, atributos que tinham que ser ostentados esclarecidamente na
história e experiência futuras da igreja. Estando por republicar Sua lei –
estando a perdoar o pecado dos israelitas, e estando por ser assinado e
selado o instrumento do perdão, pela renovação dos termos da aliança
anterior – era o tempo mais propício para proclamar a extensão da
misericórdia divina que devia ser manifestada, não só no caso de Israel,
mas também de todos os que cometem ofensas.
8. curvando-se Moisés para a terra, o adorou — No Oriente, as
pessoas inclinam a cabeça diante da realeza e ficam em silencio
enquanto passa, ao passo que no Ocidente tiram-se o chapéu e gritam.
9. e disse: Senhor, se, agora, achei graça aos teus olhos, segue
em nosso meio conosco — Segundo esta proclamação de Deus, Moisés,
na superabundante benevolência de seu coração, fez uma ardente petição
de que a presença divina fosse continuada com o povo; e Deus sentiu
prazer em dar Sua resposta favorável à intercessão por uma renovação de
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 115
Sua promessa sob a forma de uma aliança, repetindo os pontos principais
que formavam as condições da anterior aliança nacional.
27. Disse mais o SENHOR a Moisés: Escreve estas palavras —
ou seja, os preceitos cerimoniais e judiciais compreendidos acima (vv.
11-26); enquanto que o escrever de novo os dez mandamentos sobre as
tábuas novamente preparadas era obra do próprio Deus (cf. Dt_10:1-4).
28. E, ali, esteve com o SENHOR quarenta dias e quarenta
noites — Tanto tempo como anteriormente, sendo sustentado, para a
execução de seus deveres especiais, pelo poder milagroso de Deus. Uma
coisa especial é dado de seu jejum prolongado nesta segunda ocasião
(Dt_9:18).
29. não sabia Moisés que a pele do seu rosto resplandecia,
depois de haver Deus falado com ele — Foi uma intimação da presença
sublime à qual tinha sido admitido, e da glória que tinha contemplado
(2Co_3:18), e em vista disso, era uma divisa do alto ofício que
desempenhava como embaixador de Deus. Não se precisava apresentar
nenhuma prova, pois levava sua carta credencial em seu rosto; e, quer
este resplendor extraordinário fosse uma distinção permanente ou
meramente temporária, não se pode duvidar de que esta glória refletida
foi dada como uma honra acima de todo o povo.
30. temeram chegar-se a ele — seu temor resultou de sua
culpabilidade, e a brilho de seu semblante fazia com que ele aparecesse a
suas consciências atemorizadas como um ministro do céu.
33. pôs um véu sobre o rosto — Aquele véu com a maior
correção, era tirado quando falava com o Senhor, porque todo mundo
aparece sem véu ao olho da Onisciência; mas era voltado para seu lugar
ao voltar para povo, e isto era emblemático do caráter obscuro e
tenebroso daquela dispensação (2Co_3:13-14).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 116
Êxodo 35

Vv. 1-35. CONTRIBUIÇÕES PARA O TABERNÁCULO.


1. Tendo Moisés convocado toda a congregação dos filhos de
Israel, etc. — Na ocasião referida no começo deste capítulo, lembrou
aos israelitas de maneira especial o propósito de erigir um tabernáculo
magnífico para o culto regular de Deus, como também os artigos
principais que fariam falta para mobiliar aquele sagrado edifício
[Êx_35:11-19]. (veja-se Êxodo 25, 27, 30, 31).
20. toda a congregação dos filhos de Israel saiu da presença de
Moisés — Não se fizeram arengas provocadoras, tampouco tinha o povo
Bíblias em casa nas quais pudessem cotejar as demandas de seu guia e
ver se as coisas eram assim. Mas não tinham dúvida de que lhes era
comunicada a vontade de Deus, e foram impressionados com um sentido
tão forte de que este era seu dever, que fizeram ofertas espontâneas dos
melhores e mais valiosos tesouros que possuíam.
21. todo homem cujo coração o moveu e cujo espírito o impeliu
— Um elemento poderoso desta liberalidade sincera e extraordinária,
sem dúvida, foi a memória de sua recente transgressão, o que os levou a
ser “zeloso de boas obras” (cf. Tt_2:14). Mas junto com este motivo,
havia outros de uma classe mais elevada e nobre: um princípio de amor a
Deus e devoção a Seu serviço, um desejo ansioso por assegurar os
benefícios de Sua presença, e gratidão pelos sinais de Seu favor divino:
foi sob a influência combinada destas considerações pelo que o povo
estava desejoso e disposto a depositar suas contribuições naquela
tesouraria do santuário.
todo homem ... cujo espírito o impeliu — A natureza é sempre a
mesma, e se dá a entender que enquanto reinava no coração do povo em
geral um espírito extraordinário de liberalidade piedosa, havia exceções,
pois havia alguns que estavam muito apegados ao mundo, alguns que
amavam mais as suas posses que a Deus, e que não podiam separar-se
daquelas; não, não para o serviço do tabernáculo.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 117
22. Vieram homens e mulheres, etc. — literalmente, “os homens e
sobretudo as mulheres”; uma fraseologia que indica que as mulheres
tomaram parte proeminente; apresentaram primeiro suas ofertas, e logo
eram seguidas por tantos homens que estiveram igualmente dispostos.
trouxeram fivelas, etc. — Dinheiro na forma de moeda cunhada ou
ouro em barras, não havia naquela época anterior. Todo o dinheiro que
circulava entre os comerciantes consistia em anéis e adornos pessoais,
que sempre eram pesados. O assombro pela abundância de seus adornos,
termina quando chegamos a saber que os ornamentos custosos e
elegantes abundavam na proporção com que era singela e escassa a
roupa entre os egípcios, e alguns, desprovidos de roupa, levavam
entretanto colares de ouro. (Hengstenberg.) Entre o povo com
sentimentos e gostos orientais, dificilmente poderia achar prova mais
poderosa da influência da religião, que sua vontade, não só para pôr a um
lado seus jóias valiosas senão para as dedicar à casa de Deus; e assim
todos, como os magos orientais, puseram o melhor que tinham, ao
serviço de Deus.
30. o SENHOR chamou pelo nome a Bezalel, filho de Uri, etc. —
Moisés tinha feito esta comunicação antes [veja-se Êx_31:2-5]. Mas
agora que a coleta tinha sido feita, os materiais reunidos, e as operações
de edificação estavam para começar, era muito oportuno que ele
lembrasse ao povo que os indivíduos encarregados da aplicação de seu
ouro e prata, tinham sido nomeados para a obra por uma autoridade a
qual todos se submeteriam.
35. Encheu-os de habilidade — Um dito que não só testifica que a
aptidão na arte e na ciência é um dom direto de Deus, como também o
tecido era especialmente o assunto dos varões no Egito (veja-se
Êx_38:22; Êx_39:22, 27), e em harmonia perfeita com o testemunho dos
monumentos, é o encargo dado por Moisés aos artistas que foram
ensinados divinamente nas artes necessárias para o ornato do
tabernáculo. Outros, cujos recursos limitados não permitiam estas
contribuições valiosas, ofereciam gratuitamente seus serviços na
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 118
fabricação de artigos como tapeçarias, segundo se necessitassem, artes
que as mulheres israelitas aprenderam sendo escravas, em casa de
príncipes egípcios.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 119
Êxodo 36

Vv. 1-38. OFERTAS ENTREGUES AOS OPERÁRIOS.


1. Assim, trabalharam Bezalel, e Aoliabe, e todo homem hábil a
quem o SENHOR dera habilidade e inteligência, etc. — Aqui temos
um exemplo ilustre de zelo e atividade na obra do Senhor. Não se
permitia nenhuma demora desnecessária; e desde o momento em que se
colocou a primeira estaca no solo até a terminação final do edifício
sagrado, ele e seus associados trabalhavam com todas as energias de
corpo e de mente. E qual era a força motriz de seu diligência árdua e
infatigável? Não podiam estar animados pelos motivos comuns que dão
impulso à indústria humana, nem pelo desejo da aquisição de lucros,
nem ambição de honras, nem a satisfação do mero amor ao poder quando
dirigiam os trabalhos de um grande grupo de homens. Sentiam o
estímulo, o impulso irresistível de motivos mais elevados e mais santos:
a obediência à autoridade, zelo pela glória e amor ao serviço de Deus.
3. cada manhã o povo trazia a Moisés ofertas voluntárias —
Moisés, em comum com outros magistrados orientais, tinha corte de
manhã para atender o povo (veja-se Êx_18:13), e era enquanto cumpria
seus deveres de magistrado quando lhe traziam ofertas voluntárias cada
manhã. Alguns, que não tinham senão seu trabalho a oferecer, passavam
grande parte da noite adiantando suas próprias tarefas antes da aurora;
outros poriam seus corações constrangidos na meditação silenciosa sobre
suas camas a abrir seus cofres e dar parte de seu tesouro acumulado para
este objetivo piedoso. Todos aqueles cujo coração era tocado pela
piedade, o arrependimento, ou a gratidão, encaminhavam-se com ardente
pressa à presença de Moisés, não como antes para fazer com que se
resolvessem seus pleitos, senão para depositar sobre seu tribunal suas
contribuições ao santuário de Deus (2Co_9:7).
Estes (os operários) receberam de Moisés todas as ofertas que os
filhos de Israel haviam trazido — Parece que a construção foi
começada depois de serem trazidas as primeiras poucas contribuições;
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 120
assim era levada adiante progressivamente, e não ocorreu nenhuma falta
que levasse a suspender as operações até pelo intervalo mais curto, por
falta de materiais necessários.
5. disseram a Moisés: O povo traz muito mais do que é
necessário, etc. — Pelos cálculos que os olhos práticos dos operários
estavam capacitados a fazer, eles tinham a opinião unânime de que a
provisão já excedia a demanda, e de que não se necessitavam mais
contribuições. Tal relatório reflete a mais alta honra sobre seu caráter
como homens da mais estrita honestidade e integridade, aqueles que,
apesar de terem o domínio de uma quantidade incalculável das coisas
mais preciosas, e teriam podido, sem risco de ser descobertos, se
apoderar de muito para seu próprio uso, eram homens de princípios
morais muito elevados para tais atos de peculato. Imediatamente se deu
um decreto para pôr fim a mais contribuições [Êx_36:6].
35. Fizeram também o véu de estofo azul, púrpura — o segundo
véu ou véu interior, que separava o lugar santo do lugar santíssimo,
bordado com querubins e de grande tamanho e espessura.
37. Fez também para a porta da tenda o véu (RC) — cortinas de
costura cuidadosamente trabalhada, com frequência são suspensas
perante a entrada às tendas dos grandes xeques nômades, e na Pérsia,
perante a entrada às carpas de veraneio, mesquitas e palácios. São
preferidas como mais frescas e mais elegantes que as portas de madeira.
Este capítulo contém uma narração instrutiva: é o primeiro caso de
doações feitas para o culto de Deus, dadas dos jornais dos sofrimentos e
tarefas do povo. Eram aceitas como feitas a Deus (Fp_4:18), e se os
israelitas mostraram semelhante liberalidade, quanto mais deveriam
mostrá-la aqueles cujo privilégio é o de viver sob a dispensação cristã!
(1Co_6:20; 1Co_16:2).
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 121
Êxodo 37

Vv. 1-29. O MOBILIÁRIO DO TABERNÁCULO.


1. Fez também Bezalel a arca — A descrição dada aqui das coisas
dentro do sagrado edifício é quase palavra por palavra a mesma que a
contida no capítulo 25. Mas não por esta razão deve ser considerada
como uma repetição inútil de coisas insignificantes; porque pela
enumeração destes detalhes, pode-se ver quão exatamente todas as coisas
foram executadas segundo o “modelo mostrado no monte” [Êx_25:40]; e
o conhecimento da correspondência exata entre a prescrição e a
execução era essencial para os propósitos do edifício.
6-10. Fez também o propiciatório de ouro puro — Construir uma
figura, quer o corpo de um animal ou de um homem, com duas asas
estendidas, que mediam de 55 a 82 centímetros de ponta a ponta, com
um martelo, de um pedaço maciço de ouro, é algo que poucos artesãos
de hoje poderiam fazer.
17-22. Fez também o candelabro de ouro puro — Os leitores
práticos estarão propensos a dizer: “Por que tanto trabalho com um
martelo, quando poderiam ter sido fundidas tanto mais facilmente – um
processo que eles conheciam bem?” A única resposta que pode ser dada,
é que foi feito segundo a ordem recebida. Não temos dúvida de que
havia motivos para uma ordem tão clara, algo significativo, que não nos
foi revelado (Napier.) O todo daquele edifício sagrado estava arrumado
tendo em vista inculcar por meio de cada parte de seu aparelho os
grandes princípios fundamentais da revelação divina. Cada objeto era
simbólico de alguma verdade importante; cada móvel era o hieróglifo de
uma doutrina ou de um dever; sobre o piso e ao longo dos lados daquele
edifício mutável, era exibido, por sinais emblemáticos dirigidos à vista,
todo o esquema reparador do evangelho. Até que ponto este ensino
espiritual era recebido pela sucessiva geração de israelitas, não será fácil
determinar-se. Mas o tabernáculo, como a lei da qual era uma parte, era
um pedagogo para nos levar a Cristo [Gl_3:24-25]: assim como as
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 122
paredes de uma escola estão cobertas com figuras, por meio das quais os
meninos, de uma maneira adequada a suas capacidades e adaptada para
atrair a sua mente volátil, estão guardados em constante e familiar
lembrança das lições de piedade e virtude, assim também o tabernáculo
estava destinado, por meio de seus móveis e todos os seus arranjos, para
servir como “sombra dos bens vindouros” [Hb_10:1]. Em vista disto, a
descrição detalhada dada neste capítulo a respeito do arca e do
propiciatório, a mesa dos pães da proposição, o castiçal, o altar de
incenso, e o azeite santo, é da maior utilidade e importância; e ainda que
haja umas poucas coisas que são meramente acessórias ou ornamentais,
tais como as maçãs e flores, entretanto, ao introduzir estas no
tabernáculo, Deus demonstrou a mesma sabedoria e bondade que ao
introduzir flores reais no reino da natureza para atrair e agradar ao olho
do homem.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 123
Êxodo 38

Vv. 1-31. O MOBILIÁRIO DO TABERNÁCULO.


1. o altar do holocausto — Continuam as repetições, nas quais se
pode traçar a conformidade exata da execução com a ordem.
8. a bacia de bronze … das mulheres que se reuniam para
ministrar à porta — Os “espelhos”, geralmente redondos, inseridos em
mangas de madeira, pedra ou metal, eram feitos de latão, prata ou
bronze, muito polidos (Wilkinson.) Era costume das egípcias levar
espelhos consigo aos templos; e quer tomando os espelhos das hebreias,
Moisés queria tirar delas a possibilidade de seguirem o costume das
egípcias no tabernáculo, ou quer a provisão de bronze de outros lugares
estivesse esgotada, é interessante ver quão zelosamente e até que ponto
elas entregavam aqueles objetos tão estimados da penteadeira feminina.
para ministrar à porta — não sacerdotisas, e sim mulheres de
caráter piedoso e influência, que frequentavam os átrios do sagrado
edifício (Lc_2:37), e a contribuição que fizeram de seus espelhos, como
o corte do cabelo dos nazireus, era sua renúncia do mundo por um
tempo. (Hengstenberg.)
9. o átrio — Ocupava um espaço de cento e cinquenta pés por
setenta e cinco (cerca de 45 metros e 70 centímetros por 22 metros e 85
centímetros), e estava encerrado por cortinas de linho fino de 2 metros e
20 centímetros de altura, suspensas de pilares de bronze ou bronzeados.
Estas cortinas estavam asseguradas por varas fixadas acima, e se
conservavam estendidas por estarem sujeitas a pregos fixados na terra.
10. colunas … ganchos — Os ganchos das colunas do átrio para
pendurar os corpos dos animais sacrificados; os das colunas da entrada
para pendurar os mantos sacerdotais e outras coisas usadas no serviço.
11. bases eram de bronze—entalhes onde se encaixava o cabo da
coluna.
17. colchetes (RC) — fitas de seda de madeira, que se estendiam
sobre as pontas dos pilares, onde se punham os ganchos para pendurar.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 124
18. a altura, na largura — ou na medida. O sentido é que as
cortinas do portão do átrio, que era de vinte côvados de largura, eram da
mesma altura que as cortinas ao redor do átrio. (Wall.)
21. Esta é a enumeração das coisas para o tabernáculo — Tendo
terminado a descrição das partes componentes do tabernáculo, o
historiador inspirado faz uma digressão para dar um relatório com
relação ao oro e prata empregados nele, sendo feito o cômputo segundo a
ordem de Moisés, pelos levita sob a direção do Itamar, o filho mais novo
de Arão.
24. vinte e nove talentos e setecentos e trinta siclos — o
equivalente a 150.000 libras esterlinas.
25. A prata dos arrolados—603.550 homens a razão de meio siclo
cada um contribuiriam com 301.775 siclos, ou seja 35.207 libras
esterlinas. Poderá parecer difícil imaginar como os israelitas poderiam
estar de posse de tanta riqueza no deserto; mas se deveria lembrar que
foram enriquecidos em primeiro termo pelos despojos dos egípcios, e
mais tarde pelos dos amalequitas. Além disso, é muito provável que
durante sua estada no deserto tenham traficado com as nações vizinhas
que faziam limite com o deserto.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 125
Êxodo 39

Vv. 1-43. VESTIMENTAS DOS SACERDOTES.


1. as vestes, finamente tecidas, para ministrar — trajes oficiais.
A estola sacerdotal do sumo sacerdote, o manto da estola sacerdotal, o
cinto de obra esmerada e o peitoral bordado eram todos de linho fino;
porque em material menos delicado não poderiam ter sido reproduzidas
figuras simbólicas tão elaboradas, e todas embelezadas com os mesmas
cores brilhantes. (Veja-se Êx_28:1-43).
3. De ouro batido fizeram lâminas delgadas e as cortaram em
fios — ou seja, o metal era batido com martelo para formar pranchas,
cortado com tesouras ou outro instrumento em tiras longas e logo
convertidas em fios. “Tecidos de tecido áureo não são raros nos
monumentos, e amostras deles foram achadas enroladas ao redor das
múmias; mas não é fácil decidir se o fio de ouro era entretecido, ou
depois inserido pelo bordador” (Taylor.)
30. nela, gravaram à maneira de gravuras de sinete — O anel do
selo levado pelos egípcios antigos e modernos no dedo mindinho da mão
direita, continha, inscrito numa cornalina ou outra pedra preciosa, junto
com o nome do dono, um sentimento religioso ou símbolo sagrado, que
dava a entender que ele era servo de Deus, ou era expressivo de fé nEle.
Era a este costume a que a inscrição sobre o sumo sacerdote aludia (cf.
Jo_3:33).
34. a coberta de peles de carneiro tintas de vermelho — (Veja-se
Êx_25:7). Era provavelmente marroquim vermelho, e “peles de
texugos”, antes, “corte do tahash, que se supõe era o “dugong” ou
golfinho do Mar Vermelho, a pele do qual ainda é usada pelos árabes sob
o do mesmo nome” (Goss).
43. Viu, pois, Moisés toda a obra, e eis que a tinham feito
segundo o SENHOR havia ordenado — Uma inspeção formal foi feita
ao terminar-se a obra do tabernáculo, não só tendo em vista fazer
transferir a obra do cuidado dos operários, senão para averiguar se
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 126
correspondia ao “modelo”. O resultado de um exame cuidadoso e
detalhado mostrou que cada tábua, cortina, altar, copo, tinham sido o
mais exatamente possível, feitos da forma e no lugar designados pelo
Arquiteto divino; e Moisés ao aceitá-lo de mãos dadas deles, deu graças
a Deus por eles, e pediu a bênção de Deus sobre eles.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 127
Êxodo 40

Vv. 1-38. O TABERNÁCULO LEVANTADO E UNGIDO.


2. No primeiro dia do primeiro mês — Após uma cuidadosa
consideração dos incidentes relatados como acontecidos depois do êxodo
(Êx_12:2; 13:4; 19:1; 20:18; 34:28, etc.), calculou-se que o trabalho do
tabernáculo foi iniciado dentro de seis meses depois daquela emigração;
e por conseguinte, que outros seis meses tinham sido ocupados em
construí-lo. Tão longo período gasto em preparar os materiais de um
pavilhão móvel, seria difícil entender, se não fosse pelo que nos é dito
das vastas dimensões do tabernáculo, como também da imensa variedade
de trabalho curioso e elaborado que requeriam seus diferentes artigos de
mobiliário.
o tabernáculo — o edifício inteiro.
tenda da congregação — o original diz: “tenda do testemunho” —
a tenda sobre o tabernáculo (v. 19).
15. os ungirás como ungiste seu pai — Fez-se uso do óleo
sagrado, mas não parece que a cerimônia foi executada exatamente da
mesma maneira; porque ainda que o azeite da unção foi orvalhado sobre
as vestes de Arão e seus filhos (Êx_29:21; Lv_8:30), não foi derramado
sobre a cabeça destes. Esta distinção foi reservada para o sumo sacerdote
(Êx_29:7; Lv_8:12; Sl_133:2).
16. tudo fez Moisés segundo o SENHOR lhe havia ordenado —
Por sua vez, mostrou a mesma fidelidade escrupulosa em conformar-se
ao “modelo” na disposição dos móveis, que tinha sido manifestada pelos
trabalhadores ao erigir o edifício.
33. Assim Moisés acabou a obra — Ainda que não está
expressamente relatado nesta passagem, pelo que teve lugar em ocasiões
similares, há razão para crer que no dia da inauguração o povo foi
chamado de suas tendas; formou-se uma vasta assembleia, mas em
disposição tranquila e ordenada ao redor do recém construído
tabernáculo.
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 128
34. a nuvem — lit., “A nuvem” – a nuvem mística do bem
conhecido símbolo da presença divina. Depois de estar a grande
distância deles sobre a cúpula do monte, parecia estar em movimento; e
se muitos deles sentiam temor secreto a respeito das consequências,
como reviveria o coração desfalecido; cresceria intensamente o interesse
do momento, e transbordaria a alegria, quando se viu que aquela nuvem
simbólica estava lenta e majestosamente descendo para baixo à planície,
e cobrindo o tabernáculo! A ocultação completa e total do tabernáculo
dentro das dobras de uma nuvem impenetrável, não carecia de um
significado profundo e instrutivo: era proteção ao edifício sagrado do
calor ardente do clima arábico; era uma prova da presença divina; e era
também um emblema da dispensação mosaica, a qual, ainda que era uma
revelação do céu, entretanto, deixou muitas coisas escondidas na
escuridão; porque era uma nuvem obscura em comparação com a
brilhante nuvem que assinalou os descobrimentos mais claros e mais
completos do caráter e a glória divinos, no evangelho (Mt_17:5).
a glória do SENHOR encheu o tabernáculo — ou seja, a luz e o
fogo, um esplendor criado, que era o símbolo peculiar de Deus
(1Jo_1:5). Quer esta luz fosse inerente à nuvem ou não, nesta ocasião
emanava dela, e ao fazer sua entrada, não com a velocidade de um
relâmpago, mas com esplendor majestoso, passou pelo átrio exterior ao
interior do lugar santíssimo (1Rs_8:10; Jo_1:14). Seu caráter milagroso é
mostrado pelo ato de que, ainda que “encheu o tabernáculo”, nem uma
cortina nem uma peça do mobiliário foi chamuscado.
35. Moisés não podia entrar na tenda da congregação — Como
demonstra esta circunstância a incapacidade do homem, em seu estado
atual, de olhar com o rosto descoberto as perfeições da Divindade!
Moisés não pôde suportar o claro fulgor nem tampouco puderam os mais
sublimes dos profetas (Is_6:5). Mas o que nem Moisés nem os mais
eminentes dos mensageiros de Deus à antiga igreja pela fraqueza da
natureza puderam suportar, nós todos podemos fazê-lo agora pelo
exercício da fé; olhando a Jesus, quem reflete com resplendor depurado a
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 129
clareza da glória do Pai; e, quem, tendo entrado como Precursor por nós
dentro do véu, convidou-nos a nos aproximar com coragem ao
propiciatório. Enquanto que Moisés era obrigado, pela influência de um
temor entristecedor, a estar à distância, e não pôde entrar no tabernáculo,
Cristo entrou no lugar santíssimo não feito por mãos; com efeito, Ele
mesmo é o verdadeiro tabernáculo, cheio da glória de Deus, sempre com
graça e verdade, que triplicava a Shekiná. Que motivo temos para dar
graças a Deus por Jesus Cristo, quem, sendo o resplendor da glória do
Pai, entretanto, exibia aquela glória de uma maneira tão suave e atraente,
para nos animar a nos aproximar com confiança e amor perante a
presença divina!
36. Quando a nuvem se levantava de sobre o tabernáculo —
Viajando pelos desertos arenosos, sem rastros, do Oriente, recorreu-se,
desde tempos imemoriais, ao uso de tochas, que emitiam nuvens de
fumaça de dia e de fogo de noite. Os exércitos de Dario e Alexandre
foram conduzidos desta maneira (Faber) As caravanas árabes de hoje
seguem o mesmo costume; e materiais para estas tochas são acumuladas
entre outros preparativos para uma viagem. Fogo vivo, levantado em
vasos no extremo de varas compridas, e sendo visto a longa distância,
serve, pela fumaça de dia e a luz de noite, como sinal para a marcha,
melhor que a trombeta, que não se ouve nos extremos de um grande
acampamento (Laborde). Este uso e o milagre relatado por Moisés se
ilustram mutuamente. O uso nos leva a pensar que o milagre era
necessário, e digno de ser operado por Deus; e por outra parte, o milagre
da coluna de nuvem, que produzia o duplo benefício de sombra de dia e
luz de noite, dá a entender não só que o uso não era desconhecido pelos
hebreus, mas sim supria todas as necessidades que eles sentiam como
outros viajantes através daquelas regiões fatigantes. (Faber, Hess,
Grandpierre.) Mas sua aparência peculiar, seu caráter uniforme e
movimentos regulares a distinguiam de todos os fenômenos atmosféricos
comuns. Era uma bênção inapreciável aos israelitas, e sendo reconhecida
Êxodo (Jamieson, Fausset e Brown) 130
por todas as classes como o símbolo da presença divina, guiava suas
viagens e regulava seus acampamentos (cf. Salmos 29, 105).
38. De dia, a nuvem do SENHOR repousava sobre o
tabernáculo, etc. — Enquanto que até agora a nuvem aparecia algumas
vezes num lugar, algumas vezes em outro, agora se achava sobre o
tabernáculo somente; de modo que desde o momento que o santuário foi
erguido, e a glória do Senhor tinha enchido o edifício sagrado, olhavam
os israelitas na direção do lugar que Deus tinha escolhido para pôr ali o
Seu nome, para que pudessem desfrutar dos benefícios de seu Guia
celestial (Nm_9:15-23). De igual maneira, a igreja tinha a revelação
divina como seu guia desde o começo, muito antes de que a palavra de
Deus existisse em forma escrita; mas sempre do estabelecimento daquele
cânon sagrado, ela está descansando sobre a palavra revelada como seu
tabernáculo, e unicamente ali deve achar a direção divina. El nos
acompanha onde quer que vamos, assim como a nuvem indicava o
caminho aos israelitas. É sempre acessível; poderá ser levada em nosso
bolso quando andamos a pé; poderá ser gravada sobre as tábuas
interiores de nossa memória e nosso coração; e é guia tão verdadeira, fiel
e perfeita, que não há cena do dever ou de prova no meio da qual
tenhamos que passar neste mundo, sem que ela proveja uma orientação
clara, segura e inenarrável (Col_3:16).
LEVÍTICO
Original em inglês:

LEVITICUS

The Third Book of Moses, called Leviticus

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Levítico 1 Levítico 8 Levítico 15 Levítico 22

Levítico 2 Levítico 9 Levítico 16 Levítico 23

Levítico 3 Levítico 10 Levítico 17 Levítico 24

Levítico 4 Levítico 11 Levítico 18 Levítico 25

Levítico 5 Levítico 12 Levítico 19 Levítico 26

Levítico 6 Levítico 13 Levítico 20 Levítico 27

Levítico 7 Levítico 14 Levítico 21


Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Levítico 1

Vv. 1-17. HOLOCAUSTOS DO GADO.


1. chamou o SENHOR a Moisés … da tenda da congregação —
As leis contidas no relato anterior foram entregues ou ao povo
publicamente do Sinai, ou a Moisés privadamente, sobre a cúpula do
monte; mas ao terminar de edificar o tabernáculo, o resto da lei foi
anunciado ao condutor hebreu por uma voz audível da glória divina, que
descansava sobre o propiciatório.
2. Fala aos filhos de Israel e dize-lhes — Se o tema da
comunicação era de uma natureza temporária, eram excluídos os levitas;
mas se era um assunto espiritual, todas as tribos eram incluídas sob este
nome (Dt_27:12).
Quando algum de vós trouxer oferta ao SENHOR — As
orientações dadas aqui se referem somente a ofertas voluntárias; as
apresentadas além das tais, sendo de obrigação geral e permanente, não
podiam ser desculpadas nem mudadas por alguma outro tipo de oferta
(Êx_29:38; Êx_ 23:37; Nm_28:3, Nm_28:11-27, etc.).
trareis a vossa oferta de gado, de rebanho ou de gado miúdo —
ou seja, daqueles animais que eram não só mansos, inocentes e
aprazíveis, mas sim úteis e adaptados para alimento. Esta regra excluía
cavalos, cães, porcos, camelos e asnos, que eram usados em sacrifícios
por algumas nações pagãs, como também animais e aves de presa, lebres
e veados.
3. holocausto — assim chamado por ser completamente consumido
sobre o altar, do qual nenhuma parte era comida nem pelo sacerdote nem
pelo ofertante. Tinha o propósito de propiciar a ira de Deus ocasionada
pelo pecado original ou por transgressões particulares; e sua combustão
completa indicava a dedicação pessoal do ofertante, sua natureza inteira,
seu corpo e alma, como necessária para formar um sacrifício aceitável a
Deus (Rm_12:1; Fp_1:20). Este foi o modo mais antigo como também o
mais conspícuo do sacrifício.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 3
macho sem defeito — não se permitia oferecer nenhum animal que
tivesse alguma deformidade ou defeito. Entre os egípcios, uma inspeção
minuciosa era feita pelo sacerdote, e tendo sido declarado perfeito o boi,
um certificado a respeito era fixado com cera em seus chifres e selado
pelo anel do sacerdote, e não podia substituí-lo outro animal. Um
processo similar de inspecionar os animais trazidos como ofertas, parece
que foi adotado pelos sacerdotes de Israel (Jo_6:27).
à porta da tenda da congregação — onde estava o altar dos
sacrifícios queimados (Êx_40:6), e qualquer outro lugar estava proibido,
sob a pena mais severa. (Lv_17:4).
4. porá a mão sobre a cabeça do holocausto — Este era um ato
expressivo que indicava não só que o ofertante dedicava o animal a
Deus, mas sim confessava seu conhecimento de pecado, e orava que sua
culpa e castigo fossem transferidos à vítima.
5. Depois, imolará o novilho — O animal deveria ser morto pelo
ofertante, e não pelo sacerdote, porque não era o dever deste no caso de
sacrifícios voluntários; em tempos posteriores, entretanto, esta operação
era cumprida pelos levitas.
perante o SENHOR — no lugar onde as mãos tinham sido postas
sobre a cabeça do animal, o lado norte do altar.
apresentarão o sangue e o aspergirão — Isto era feito pelos
sacerdotes. Como o sangue era considerado a própria vida, o
derramamento dele era a parte essencial do sacrifício, a aspersão dele, a
aplicação da expiação, que tornava aceitáveis a Deus a pessoa e os
serviços do ofertante. Depois que o couro tinha sido tirado, e a cabeça de
gado esquartejada, as peças da mesma eram postas sobre o altar na forma
melhor calculada para facilitar que fossem consumidas pelo fogo.
8. o redenho — com a gordura acumulada perto dos rins.
9. as entranhas e as pernas, o sacerdote as lavará com água, etc.
— Esta parte da cerimônia era simbólica da pureza interior e o andar
santo, que convinham aos adoradores aceitos.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 4
aroma agradável ao SENHOR — é uma expressão da piedade do
ofertante, mas de maneira especial como tipo do sacrifício de Cristo.
10-13. Se a sua oferta for de gado miúdo, de carneiros —
Aqueles que não podiam satisfazer o custo de um novilho, podiam
oferecer um carneiro ou cabrito, e tinham que observar as mesmas
cerimônias no ato de ofertar.
14. Se a sua oferta ao SENHOR for holocausto de aves — A
natureza mansa e os hábitos limpos da pomba determinaram sua escolha;
enquanto que todas as demais aves eram rejeitadas, quer pela ferocidade
de sua disposição, quer pela grosseria de seu gosto; e neste caso, não
havendo, devido ao tamanho pequeno do animal, sangue a desperdiçar,
era prescrito ao sacerdote que o preparasse junto ao altar e aspergisse o
sangue. Esta era a oferta assinalada aos pobres. As aves eram sempre
oferecidas em pares, e a razão pela qual Moisés ordenou que fossem dois
pombinhos ou dois filhotes de pomba, não foi meramente porque assim
convinha ao ofertante, mas sim os filhotes de pomba e os pombinhos
estão no melhor de sua idade para ser oferecidos; pois no Egito e na
Palestina as pombas são muito duras e inadequadas para comer, mas os
pombinhos são muito bons. Não se limita a idade dos pombinhos, porque
se forem comestíveis quando aparecem naqueles países, porque são aves
de passagem; mas a idade das pombas no particular sim está limitada
para que não sejam ofertadas a Deus em tempos quando são rejeitadas
pelos homens (Harmer). É óbvio, pela escala variável destes sacrifícios
voluntários, que se busca a boa disposição do ofertante e não o custo de
sua oferta.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 5
Levítico 2

Vv. 1-16. OFERTAS DE MANJARES.


1. Quando alguma pessoa fizer oferta de manjares —
distinguindo sacrifícios sem efusão de sangue dos sacrifícios sangrentos.
São ofertas de certos artigos de comida, neste caso farinha. Os sacrifícios
de carne eram designados como reconhecimento de gratidão pela
generosidade de Deus; ainda que as ofertas de carne acompanhavam
alguns dos sacrifícios estabelecidos, aqueles aqui descritos, sendo
oblações voluntárias, eram ofertadas sozinhas.
nela, deitará azeite — O azeite era usado como a manteiga entre
nós; simbolicamente queria dizer as influências do Espírito, das quais o
azeite era emblema, como o é o incenso da oração.
2. os queimará como porção memorial sobre o altar — ou seja,
um parte da farinha.
3. O que ficar da oferta de manjares será de Arão e de seus
filhos — A circunstância de que uma porção dela era atribuída ao uso
dos sacerdotes, a distingue da oferta queimada, ou holocausto. Só eles
deviam tomar dela dentro dos recintos sagrados, como entre “as coisas
santíssimas”.
4. Quando trouxeres oferta de manjares, cozida no forno —
geralmente os fornos eram um buraco escavado no solo, de um pé a
cinco pés de profundidade; os lados eram preenchidos com argamassa
endurecida, sobre os quais eram cozidas as tortas da forma e espessura
das panquecas (Veja-se Gn_18:6). A forma dos fornos orientais variava
muito segundo os hábitos nômades ou estáveis dos povos.
5. oferta ... cozida na assadeira — prato magro, geralmente de
cobre ou ferro, colocado sobre fogo lento.
6. Em pedaços a partirás e, sobre ela, deitarás azeite — Deitar
azeite sobre o pão é prática comum entre o povo oriental, a quem gosta
do pão empapado em azeite, manteiga e leite, mas só se usava azeite
nestas ofertas de manjares, e provavelmente por razões simbólicas. É
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 6
evidente que tais ofertas eram preparadas pelo ofertante, e quando eram
trazidas, o sacerdote devia tomá-las de sua mão e queimar um pedaço
sobre o altar.
11. Nenhuma oferta de manjares, que fizerdes ao SENHOR, se
fará com fermento — Nada doce nem azedo devia ser devotado. Nos
climas quentes do Oriente o pão levedado logo se estraga, e portanto era
considerado como emblema de hipocrisia ou corrupção. Mas alguns,
entretanto, creem que a razão principal da proibição era que a levedura e
o mel eram usados nos ritos idolátricos dos pagãos.
12. por oferta das primícias — Ofertas voluntárias feitas por
indivíduos do aumento de suas colheitas, e a levedura e o mel podiam
usar-se nestas (Lv_23:17; Nm_15:20). Ainda que eram apresentadas ao
altar, não eram consumidas, mas sim destinadas por Deus ao uso dos
sacerdotes.
13. Toda oferta dos teus manjares temperarás com sal — As
mesmas razões que motivavam a proibição de levedura, recomendavam
o uso do sal: se uma logo apodrece, a outra possui propriedade
fortemente preservativa, e por isso deveu ser emblema de incorrupção e
pureza, como também de uma aliança perpétua, uma reconciliação
perfeita e uma amizade duradoura. Nenhum mandato em toda a lei era
observado mais santamente que este da aplicação do sal; porque além de
outros usos dela, que se notarão em outra parte, tinha um significado
típico mencionado por nosso Senhor a respeito do efeito do evangelho
naqueles que o recebem (Mc_9:49-50); assim como, quando
abundantemente aplicado o sal conserva a carne de modo que não se
estraga, assim o evangelho guarda as pessoas para que não sejam
corrompidas pelo pecado. E assim como o sal era indispensável para
tornar aceitos os sacrifícios a Deus, assim também o evangelho aplicado
aos corações pelo Espírito Santo, é indispensavelmente necessário para
que os homens se ofereçam como sacrifícios vivos (Brown)
14. oferta de manjares das primícias — Pela menção de “espigas
verdes”, esta parece ter sido uma oferta voluntária antes da colheita,
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 7
como as espigas são preparadas da maneira favorita dos orientais,
torradas ao fogo, e logo batendo-as para tirar o grão da palha. Era
designada como primeiro tributo de gratidão piedosa pelo produto da
terra, e era oferecida segundo as orientações de costume.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 8
Levítico 3

Vv. 1-17. OFERTA PACÍFICA DE GADO.


1. Se a oferta de alguém for sacrifício pacífico, etc. — Como
“paz” é usado nas Escrituras para indicar prosperidade e felicidade em
geral, uma oferta “pacífica” seria um tributo voluntário de gratidão pela
saúde e outros benefícios. Neste sentido era eucarística, sendo sinal de
ação de graças por benefícios já recebidos, ou era às vezes votiva,
apresentada em oração por benefícios desejados no futuro.
de gado — Sendo esta oferta de um caráter festivo, podia-se usar
macho ou fêmea, se eram sem mancha, porque ambos eram igualmente
bons para comer, e se as circunstâncias do ofertante o permitiam, podia
ser um novilho.
2. porá a mão sobre a cabeça da sua oferta — Tendo executado
este ato significativo, matava a vítima diante da porta do tabernáculo, e
os sacerdotes aspergiam o sangue sobre o altar em redor.
3. Do sacrifício pacífico fará oferta — A oferta pacífica diferia
das oblações já mencionadas a este respeito: em que enquanto o
holocausto era totalmente consumido no altar, e a oferta voluntária era
parcialmente consumida e em parte entregue aos sacerdotes, nesta oferta
só a gordura era queimada, só uma pequena parte era dada aos
sacerdotes, enquanto que o resto era entregue ao ofertante e seus amigos,
formando assim uma festa sagrada da qual o Senhor, Seus sacerdotes e o
povo junto participavam, e que era simbólica da festa espiritual, a
comunhão sagrada que, por Cristo, a grande oferta pacífica, desfrutam os
crentes (Veja-se também Lv_19:5-8; Lv_22:21).
a gordura que cobre as entranhas — ou seja, o tecido sobre os
rins que se apresenta à vista quando se abre o ventre de uma vaca.
toda a gordura que está sobre as entranhas — que se adere aos
intestinos, mas que é fácil de tirar; ou, segundo outros, a que está junto
ao ventrículo.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 9
4-11. os dois rins … um cordeiro … a cauda toda — Há nos
países orientais um espécie de ovelhas, cujas caudas são de não menos
de quatro pés e meio de comprimento. Estas caudas são de uma
substância entre gordura e miolo. Uma ovelha desta classe pesa 27 a 32
quilos, do qual a cauda geralmente pesa de seis quilos acima. Esta
espécie é por muito tempo a mais numerosa na Arábia, Síria e Palestina,
e, formando provavelmente uma grande proporção nas manadas dos
israelitas, parece ter sido a classe que geralmente sacrificavam sobre os
altares judeus. O tamanho e a delícia extraordinários de seus caudas
davam uma importância adicional a esta lei. Mandar por uma lei
expressa que a cauda de uma ovelha britânica fosse oferecida em
sacrifício a Deus, bem poderia nos surpreender; mas deixamos de nos
maravilhar quando somos informados daquelas ovelhas de caudas largas,
e da extrema delicadeza daquela parte que foi tão particularmente
especificada no estatuto. (Paxton.)
12. se a sua oferta for uma cabra — Seja esta ou qualquer das
outras duas que fosse escolhida, as mesmas orientações gerais tinham
que ser seguidas na cerimônia de ofertar.
17. gordura nenhuma nem sangue jamais comereis — Os
detalhes dados acima assinalam distintamente a gordura dos animais que
não devia ser comida, de modo que todo o demais, qualquer parte
aderida a outras partes, ou misturada com elas, se podia usar. A
proibição do sangue se fundava sobre uma base distinta, sendo destinada
a conservar uma reverência para com o Messias, quem tinha que
derramar Seu sangue como um sacrifício expiatório pelos pecados do
mundo. (Brown.)
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 10
Levítico 4

Vv. 1, 2. OFERTA PELO PECADO EM IGNORÂNCIA.


2. Quando alguém pecar por ignorância contra qualquer dos
mandamentos do SENHOR — Todos os pecados podem considerar-se,
em certo sentido, como cometidos por ignorância, erro ou equívoco dos
verdadeiros interesses da própria pessoa. Os pecados, entretanto,
referidos nesta lei eram violações das leis cerimoniais sem intenção,
violações cometidas por causa da pressa ou inadvertência de algum
preceito negativo, as que, se eram feitas sabendo ou obstinadamente,
teriam denotado castigo capital.
pecar por ignorância contra qualquer — Para entender o sentido,
é necessário acrescentar: “trará uma oferta pelo pecado.”

Vv. 3-35. OFERTAS DOS SACERDOTES PELO PECADO.


3. se o sacerdote ungido pecar — ou seja, o sumo sacerdote, em
quem, considerando-se seu caráter como mediador típico, e seu exaltado
posto, tinha o povo o mais profundo interesse; e cuja transgressão de
alguma parte da lei divina, portanto, ainda que cometida inconsciente ou
descuidadamente, era uma falta muito séria, tanto quanto a si mesmo
como indivíduo, como pela influência de seu exemplo. Isto se refere
principalmente a ele, ainda que a ordem comum do sacerdote estava
também incluída na regra.
para escândalo do povo — ou seja, trazendo culpa sobre o povo.
Devia tomar um novilho (sendo mencionados expressamente a idade e o
sexo), e havendo-o matado de acordo com a forma prescrita para os
holocaustos, devia levá-lo a lugar santo, e salpicar o sangue expiatório
sete vezes perante o véu, e com o fluido carmesim marcar os chifres do
altar de ouro de incenso, de passagem ao pátio dos sacerdotes – solene
cerimonial estabelecido só para casos graves e nefandos, e que
significava que seu pecado, embora feito por ignorância, tinha invalidado
todos os seus serviços; nem poderia beneficiar a ele mesmo ou ao povo
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 11
algum dever oficial em que se ocupasse, se não fosse expiado pelo
sangue.
11. o couro do novilho, toda a sua carne — Em circunstâncias
comuns, estes eram os emolumentos dos sacerdotes. Mas na expiação
por um pecado do sumo sacerdote, depois que a gordura fosse oferecida
sobre o altar, a cabeça de gado morto era levada fora do acampamento
[Lv_4:12], a fim de que a total combustão da mesma, no lugar das
cinzas, pudesse indicar mais notavelmente a enormidade da transgressão,
e o horror com o qual ele a considerava (cf. Heb_13:12-13).
13. se toda a congregação de Israel pecar por ignorância —
como efeito de alguma negligência culpada ou algum equívoco da lei, o
povo poderia contrair culpa nacional, e uma expiação nacional seria
necessária. O mesmo sacrifício tinha que ser devotado como no caso
anterior, mas com esta diferença no cerimonial: que os anciãos ou chefes
das tribos, como representantes do povo, e sendo os provocadores
principais por desencaminhar a congregação, poriam suas mãos sobre a
cabeça da vítima. Então o sacerdote levava o sangue ao lugar santo,
onde, depois de molhar seu dedo nele sete vezes, aspergia as gotas sete
vezes perante o véu; feito isto, voltava para o átrio dos sacerdotes, e
subindo ao altar, punha uma parte do sangue sobre os chifres; então o
esvaziava todo ao pé do altar. A gordura era a única parte do animal que
se oferecia sobre o altar; porque o corpo morto, com seus pertences e
seus desperdícios, era levado para fora do acampamento, ao lugar das
cinzas, e ali consumido pelo fogo.
22-26. Quando um príncipe pecar, e por ignorância fizer
alguma de todas as coisas que o SENHOR, seu Deus, ordenou se não
fizessem — Qualquer que fosse a forma de governo, o rei, o juiz ou o
subordinado, era a pessoa indicada nesta lei. Sendo menos séria em seu
caráter e consequências a transgressão de um funcionário civil que a do
sumo sacerdote ou a da congregação, uma oferta pelo pecado de um
valor inferior era exigida—um “bode”; tampouco sangue da oferta pelo
pecado era aplicada só ao altar dos sacrifícios queimados; o corpo
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 12
tampouco era levado fora do acampamento; era comido pelos sacerdotes
assistentes.
27-34. Se qualquer pessoa do povo da terra pecar por
ignorância — Neste caso a oferta expiatória era uma fêmea das cabras
ou das ovelhas, sem defeito; e as cerimônias eram exatamente as mesmas
observadas no caso do governante transgressor [Lv_4:22-26]. Nestes
dois últimos casos, o sangue da oferta pelo pecado era aplicada ao altar
dos sacrifícios queimados, lugar onde deviam ser imolados os sacrifícios
de sangue. Mas a transgressão de um sumo sacerdote ou da congregação
inteira, que impunha uma mancha em todo o ritual do tabernáculo e
invalidava seus serviços, requeria uma expiação adicional; e portanto,
nestes casos, o sangue da oferta era aplicada ao altar do incenso [Lv_4:6,
Lv_4:17].
35. e lhe será perdoado — Nenhum destes sacrifícios possuía
valor intrínseco suficiente para livrar a consciência do pecador da
contaminação de culpa, ou para oferecer uma libertação formal de uma
tristeza secular (Heb_9:13-14); e eram representações figurativas da
oferta completa e perfeita pelo pecado, que tinha que ser feita por Cristo.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Levítico 5

V. 1. OFERTA PELO DELITO DE ENCOBRIR CONHECIMENTO.


1. Quando alguém … sendo testemunha de um fato — ou,
segundo alguns, “as palavras de conjurar”. Se proclamava uma edital
chamando a todo aquele que pudesse dar informação, a que se
apresentasse perante o tribunal e desse testemunho a respeito da
culpabilidade de um criminoso, e a maneira como eram interrogadas as
testemunhas nos tribunais de justiça judeus, não era a de fazê-los jurar,
mas sim conjurando-os pela leitura da fórmula de juramento, chamado
“voz de jurar”. A ofensa, pois, para cuja expiação refere-se esta lei, era a
de uma pessoa que deixou ou evitou a oportunidade de prover uma
informação que estava em seu poder dar.

Vv. 2, 3. POR TOCAR EM COISA IMUNDA.


2. quando alguém tocar em alguma coisa imunda — Pessoa, que,
sem o saber no momento, esteve em contato com alguma coisa impura, e
descuidava a cerimônia necessária de purificação, ou que tomava parte
nos serviços religiosos, enquanto estava sob a mancha de impureza
cerimonial, mais tarde poderia ser convencida de que tinha cometido
uma ofensa.

Vv. 4-19. A RESPEITO DOS JURAMENTOS.


4. quando alguém jurar — um juramento irrefletido, sem
considerar devidamente a natureza e as consequências de tal juramento,
talvez obrigando-se a fazer algum mal, ou deixando de cumprir um voto
de fazer algum bem. Nestes casos, uma pessoa poderia ter violado um
dos mandamentos divinos, sem o saber, e depois ter chegado ao
conhecimento de seu falta.
5. sendo culpado … confessará aquilo em que pecou — fazer
reconhecimento voluntário de seu pecado por impulso de sua própria
consciência, e antes que chegasse ao conhecimento do mundo. Um
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 14
descobrimento anterior a sua confissão por alguém, poderia tê-lo
sujeitado a um castigo do qual sua confissão espontânea o aliviaria, mas
ainda era considerado culpado de transgressão, a qual para explicar ele
estava obrigado pela lei cerimonial a cumprir certas observâncias.
6-14. Como sua oferta pela culpa, pelo pecado que cometeu,
trará ele ao SENHOR — Uma oferta por transgressão diferia da oferta
pelo pecado nos seguintes aspectos: que era estabelecida para pessoas
que ou tinham feito mal sem notar, e que estavam em dúvida quanto a
sua estado de criminalidade; ou que se sentiam numa situação tão
especial que se requeria sacrifício daquele tipo. (Brown.) A oferta por
transgressão em tais casos era uma fêmea das ovelhas, uma cordeira ou
cabrita; se a pessoa não podia fazer tal oferta, poderia trazer um par de
rolas ou dois pombinhos—a uma para ser ofertada pelo pecado e a outra
para oferta queimada; ou, se isto estava fora de sua possibilidade, a lei
ficava satisfeita com a décima parte de uma efa de farinha fina sem
azeite ou incenso.
15, 16. Quando alguém ... pecar por ignorância nas coisas
sagradas do SENHOR, etc. — este é um caso de sacrilégio cometido
por ignorância, ou por não ter pago totalmente os dízimos, as primícias, e
os tributos similares; ou por comer carnes, que correspondiam apenas
aos sacerdotes, ou era obrigado, além da restituição em dinheiro, a
importância do qual tinha que ser fixada pelo sacerdote, a oferecer um
carneiro como oferta pela transgressão, logo que chegasse ao
conhecimento de sua fraude involuntária.
17-19. se alguma pessoa pecar … ainda que o não soubesse —
Isto também se refere a coisas santas, e difere do caso anterior em que é
um dos casos duvidosos, ou seja, onde a consciência supõe ou receia,
ainda que o entendimento esteja em dúvida se cometeu criminalidade ou
pecado. Os rabinos judeus dão como um exemplo, o caso de uma pessoa,
que sabendo que “a gordura do interior” não tinha que ser comido,
religiosamente se abstinha do uso dele; mas se fosse apresentado na
mesa um prato no qual ele tinha motivos para suspeitar que alguma
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 15
porção daquela carne estivesse misturada, e ele inadvertidamente tivesse
participado daquela comida ilegal, ele estava obrigado a trazer um
carneiro como oferta pela transgressão [Lv_5:16]. Estas disposições
estavam destinadas a impressionar a consciência com o sentido de
responsabilidade perante Deus, para manter vivo no coração do povo um
saudável temor de praticar o mal, secretamente.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 16
Levítico 6

Vv. 1-7. OFERTA PELO PECADO COMETIDO SABENDO.


2. Quando alguma pessoa pecar, e cometer ofensa contra o
SENHOR — Esta lei, cuja transcrição deveria ter estado unida com o
capítulo anterior, foi dada a respeito das coisas roubadas, obtidas
fraudulentamente, ou ilegalmente retidas. O transgressor recebia a ordem
de fazer restituição dos artigos ao legítimo dono, junto com a quinta
parte tirada dentre suas próprias posses. Mas não era suficiente reparar o
mal feito ao vizinho e à sociedade; se requeria dele que trouxesse uma
oferta de transgressão, como sinal de seu pesar e arrependimento por ter
prejudicado a causa da religião e de Deus. Aquela oferta pela
transgressão era um carneiro sem mancha, que se sacrificava sobre o
altar dos holocaustos, e a carne pertencia aos sacerdotes. Este castigo era
equivalente a uma multa mitigada, mas estando associado com um dever
sagrado, a forma em que a multa se impunha servia para o fim
importante de chamar a atenção aos direitos e de reavivar um sentido de
responsabilidade perante Deus.

Vv. 8-13. A LEI DOS HOLOCAUSTOS.


9. Dá ordem a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei do
holocausto — Nesta passagem Moisés recebeu instruções para entregar
aos sacerdotes com relação a seus deveres oficiais, e a primeira tinha que
ver com o holocausto, ou sacrifício queimado — Heb. “sacrifício que
subiu em fumaça”. O serviço diário consistia em dois cordeiros, o povo
devotado de manhã ao sair do sol, o outro de tarde, quando começava a
declinar o dia. Ambos eram consumidos sobre o altar mediante um fogo
lento, diante do qual os pedaços do sacrifício eram colocados em tal
forma que alimentavam o fogo a noite toda. Sobretudo, a observância
deste sacrifício diário era uma expressão do arrependimento e da fé
nacionais. O fogo que consumia este sacrifício, tinha sido aceso do céu
por ocasião da consagração do tabernáculo [Lv_9:24], e para evitar que
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 17
se extinguisse, e que os sacrifícios não fossem queimados pelo fogo
comum, são aqui dadas ordens estritas não só a respeito da remoção das
cinzas [Lv_6:10-11] mas também de chegar-se ao fogo em roupas que
não fossem oficialmente santas.

Vv. 14-18. A LEI DAS OFERTAS DE MANJARES.


14. Esta é a lei da oferta de manjares — Ainda que esta era uma
disposição para os sacerdotes e suas famílias, tinha que ser considerada
como “coisa santíssima”; e a maneira como era preparada era: Ao ser
apresentada uma oferta de comestíveis, o sacerdote os levava a altar, e
tomando um punhado de cada coisa como oblação, salgava-a e queimava
sobre o altar; o restante devia ser propriedade dos sacerdotes, e era a
comida daqueles cujo dever era atender o serviço. Eles mesmos como
também as vasilhas das quais comiam, eram tipicamente santos, e não
estavam com liberdade de comer das ofertas de comestíveis, enquanto
estivessem sob contaminação cerimonial.

Vv. 19-23. A OFERTA DO SUMO SACERDOTE.


20. Esta é a oferta de Arão e de seus filhos, que oferecerão — A
oferta diária do sumo sacerdote; porque embora se mencionem junto
com ele seus filhos, provavelmente queria dizer unicamente a de seus
descendentes que lhe haviam de seguir no sumo sacerdócio. Devia
oferecê-la metade pela manhã, e a outra metade pela tarde, sendo posta
diariamente pelo sacerdote oficiante sobre o altar das ofertas queimadas,
onde, sendo dedicada a Deus, era inteiramente consumida. Isto tinha
como objetivo ter a ele e aos outros sacerdotes assistentes em constante
lembrança de que eles, ainda que tipicamente estavam expiando os
pecados do povo, suas próprias pessoas e seus serviços poderiam achar
aceitação somente pela fé, a que precisava ser alimentada e fortalecida
desde o céu.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 18
Vv. 24-30. A LEI DA OFERTA PELO PECADO.
25. Esta é a lei da oferta pelo pecado — Era degolado, e a gordura
e partes interiores, depois de ser lavados e salgados, eram queimados
sobre o altar. Mas o resto do corpo pertencia ao sacerdote oficiante.
Apenas ele e sua família podiam comê-lo, e assim mesmo, dentro do
tabernáculo, mas nem mesmo eles se estivessem sob alguma
contaminação cerimonial. A carne em todas as ocasiões era fervida ou
cozida, com exceção do cordeiro pascal, que era assado [Êx_12:8-9]; se
uma vasilha de barro era usada, sendo porosa, e própria para absorver
algumas das partículas líquidas, tinha que ser quebrada; se uma vasilha
metálica tinha sido usada, devia ser esfregada e lavada com o maior
cuidado, não porque as vasilhas tivessem sido contaminadas mas sim ao
contrário, porque tendo sido cozida nelas a carne do sacrifício, eram
agora muito sagradas para uso comum. O propósito de todas estas
cerimônias detalhadas era o de impressionar a mente, tanto dos
sacerdotes como a do povo, com um sentido da natureza perversa do
pecado, e do cuidado que eles deveriam tomar para evitar que a menor
contaminação de suas impurezas se aderisse a eles.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 19
Levítico 7

Vv. 1-27. A LEI DA OFERTA PELA TRANSGRESSÃO.


1. Esta é a lei da oferta pela culpa — Este capítulo contém uma
continuação das leis que tinham que regular o dever dos sacerdotes com
relação às ofertas pela transgressão. Os mesmos regulamentos regiam
neste caso como no dos holocaustos: parte tinha que ser queimada no
altar, enquanto que outra parte era para os emolumentos dos sacerdotes;
algumas partes correspondiam ao ministro oficiante, e era sua
gratificação por seus serviços; outras eram a porção comum de toda a
ordem sacerdotal, os quais se alimentavam delas como sua provisão, e a
reunião dos quais numa mesa comum, tenderia a promover a harmonia e
amizade fraternais.
8. O sacerdote que oferecer o holocausto de alguém terá o couro
do holocausto — Como toda a carne e a gordura dos holocaustos eram
consumidos, nada ficava para o sacerdote a não ser o couro. Pensou-se
que este era um uso patriarcal, incorporada à lei mosaica, e que o direito
do sacrificador ao couro da vítima, foi irradiado a partir do exemplo de
Adão (Veja-se Gn_3:21).
11-14. Esta é a lei das ofertas pacíficas — Além das coisas usuais
que acompanhavam a outros sacrifícios, pão levedado era devotado com
as ofertas pacíficas, como uma ação de graças, sendo comum este pão
nas festas.
15-17. a carne do sacrifício de ação de graças da sua oferta
pacífica se comerá no dia do seu oferecimento — A carne dos
sacrifícios era comida no dia do oferecimento ou no dia seguinte. Mas se
alguma parte dela ficava até o terceiro dia, em vez de ser utilizada, tinha
que ser queimada. No Oriente, a carne fresca geralmente é comida no dia
que se carneia, e raramente se conserva para o segundo dia, de modo que
como uma proibição foi dada para que não se usasse nada da carne de
uma oferta pacífica no terceiro dia, creu-se, não sem razão, que esta
proibição foi dada para evitar que se desse origem a uma ideia
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 20
supersticiosa de que houvesse alguma virtude ou santidade na carne em
si mesma.
18. Se da carne do seu sacrifício pacífico se comer ao terceiro
dia, aquele que a ofereceu não será aceito, nem lhe será atribuído o
sacrifício — o sacrifício não será aceito a Deus nem de proveito ao que
o oferece.
20. essa pessoa será exterminada do seu povo (TB) — ou seja,
excluída dos privilégios de israelita; estaria sob sentença de
excomunhão.
21. alguma coisa imunda — Alguns exemplares da Bíblia têm
“qualquer réptil”.
22-27. Não comereis gordura — Veja-se Lv. 3:17.

Vv. 28-38. A PORÇÃO DOS SACERDOTES.


29. Quem oferecer ao SENHOR o seu sacrifício pacífico — A
fim de mostrar que o sacrifício era voluntário, o ofertante tinha que
trazê-lo com suas próprias mãos ao sacerdote. Tendo sido balançado o
peito de um lado a outro de uma maneira solene como dedicado a Deus,
era entregue aos sacerdotes; estava destinado ao consumo de sua ordem
em geral, mas a paleta direita era obséquio ao sacerdote oficiante.
35-38. Esta é a porção de Arão — Estes versículos contêm uma
resumo geral das leis que regulavam os privilégios e deveres dos
sacerdotes. A palavra “unção” é usada com frequência como sinônimo
de “ofício” ou “dignidade”. De modo que a “porção da unção de Arão”,
provavelmente quer dizer a designação feita para a manutenção do sumo
sacerdote e o corpo numeroso de funcionários que compunham a ordem
sacerdotal.
no dia em que os apresentou para oficiarem como sacerdotes,
etc. — ou seja, desde dia que eles se aproximaram ao Senhor nos deveres
de seu ministério.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 21
Levítico 8

Vv. 1-36. MOISÉS CONSAGRA A ARÃO E SEUS FILHOS.


2. Toma Arão, e seus filhos — A consagração de Arão e seus
filhos tinha sido ordenada por Deus muito antes (Êxodo 29), mas agora
se descreve com todos os detalhes do cerimonial, assim como se levou a
cabo, depois de haver sido terminado o tabernáculo, e estabelecidas as
regras para os sacrifícios.
3. ajunta toda a congregação, etc. — Foi manifestamente
oportuno para o povo israelita estar convencido de que a nomeação de
Arão à alta dignidade do sacerdócio, não era uma intrusão pessoal, nem
um acerto de família entre ele e Moisés; e nenhuma medida poderia,
pois, ser mais prudente ou necessária para imprimir uma convicção
profunda da origem divina e da autoridade divina da instituição
sacerdotal que chamar uma assembleia geral do povo, e na presença
deles executar solenes cerimônias de inauguração que tinham sido
prescritas por autoridade divina.
6. Moisés … os lavou com água (RC) — Por ocasião da
consagração, eles foram submetidos a um banho completo, ainda que em
circunstâncias comuns era-lhes exigido ao entrar em suas funções, só
lavar as mãos e os pés. A ablução simbólica era para lhes ensinar a
necessidade da pureza interior, e a obrigação terminante de que fossem
santos os que levavam os vasos e dirigiam os serviços do santuário.
7-9. Vestiu a Arão da túnica, cingiu-o com o cinto — O
esplendor das vestes oficiais, junto com a vistosa tiara do sumo
sacerdote, tinha por motivo, sem dúvida, em primeiro lugar, produzir na
mente do povo um solene respeito para com os ministros da religião; e,
logo, pelo uso predominante do linho, inculcar na mente de Arão e seus
filhos o dever de manter uma justiça imaculada em seu caráter pessoal.
10-12. Moisés tomou o óleo da unção, etc. — aquele que estava
designado para sugerir que as pessoas que agiam como guias nos
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 22
serviços solenes do culto, deveriam ter a unção do Ser Santo tanto em
seus dons como em suas graças.
14-17. fez chegar o novilho da oferta pelo pecado, etc. — Uma
expressão oportuna de seu sentido de indignidade, uma confissão pública
e solene de seus pecados pessoais, e a transferência de sua culpa à vítima
típica.
18-21. fez chegar o carneiro do holocausto, etc. — como sinal de
sua total dedicação ao serviço de Deus.
22-30. fez chegar o outro carneiro, etc. — Depois que a oferta
pelo pecado e a oferta queimada tinham sido apresentadas, esta era sua
oferta pacífica, pela qual eles declaravam o prazer que sentiam ao entrar
no serviço de Deus e ao chegar a uma íntima comunhão com Ele como
ministros de Seu santuário, junto com sua segurança confiante na ajuda
dEle em todos os seus deveres sagrados.
33. da porta da tenda da congregação não saireis, etc. — Depois
de todas as cerimônias preliminares, ainda tinham que estar submetidos à
prova de uma semana no átrio do tabernáculo, antes de receber
permissão para entrar no sagrado edifício. Durante todo aquele período,
se observavam os mesmos ritos de sacrifício como no primeiro dia, e
estavam expressamente advertidos de que a mais pequena violação de
alguma das observâncias assinaladas levaria à perda certa de suas vidas
[Lv_8:35].
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Levítico 9

Vv. 1-24. A ENTRADA DOS SACERDOTES AO SEU OFÍCIO.


1, 2. chamou Moisés a Arão … Toma um bezerro, para oferta
pelo pecado — As ordens sobre estas coisas sagradas continuavam
chegando a Moisés, sendo extraordinárias as circunstâncias. Mas ele só
era o meio de comunicar a vontade divina aos sacerdotes recém
constituídos. O primeiro de seus atos oficiais foi o sacrifício de outra
oferta propiciatória para expiar os defeitos dos serviços inaugurais; e
entretanto, aquele sacrifício não consistiu num boi, sacrifício
estabelecido por alguma transgressão particular; mas em um bezerro,
talvez, não sem uma referência significativa ao pecado de Arão na
questão do bezerro de ouro [Êx_32:22-24]. Logo seguiu a oferta
queimada, expressiva da devoção completa e voluntária de suas pessoas
ao serviço divino. Fazendo isto os sacerdotes recém consagrados a favor
de si mesmos, foram convidados a oferecer uma oferta de expiação e
oferta queimada a favor do povo; terminando o cerimonial com uma
oferta pacífica, que era uma festa sagrada.
O mandato (Lv_9:7) “faze expiação por ti e pelo povo” (a
Septuaginta diz “por sua família”) no começo de sua funções sagradas,
proporciona uma evidência notável da origem divina do sistema judaico
de culto. Em todas as formas falsas e corrompidas da religião, sempre foi
o plano deliberado o de inspirar o povo com uma ideia da santidade do
sacerdócio, em assunto de pureza e favor com a divindade, como muito
acima do nível de outros homens. Mas entre os hebreus os sacerdotes
eram obrigados a oferecer pela expiação de seus próprios pecados assim
como pela do mais humilde do povo. Esta imperfeição do sacerdócio
aarônico, entretanto, não se estende até a dispensação evangélica; porque
nosso grande Sumo Sacerdote, quem por nós entrou no “verdadeiro
tabernáculo”, “não conheceu pecado” (Heb_10:10-11).
8. Chegou-se, pois, Arão ao altar e imolou o bezerro da oferta
pelo pecado — Quer estivesse ordenado a primeira vez, ou que fosse
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 24
inevitável por não ter estado completamente resolvidas ainda as divisões
de trabalho entre os sacerdotes, parece que Arão, ajudado por seus filhos,
matou com suas próprias mãos a vítima como também agiu em todo o
ritual prescrito junto ao altar.
17-21. Fez chegar a oferta de manjares, e dela tomou um
punhado, e queimou — É de notar-se que não há menção destes nas
ofertas que fizeram os sacerdotes a favor de si mesmos. Eles não podiam
levar seus próprios pecados; e portanto, em vez de comer alguma parte
de suas próprias ofertas pelo pecado, como tinham liberdade de fazê-lo
no caso das ofertas de outros, tiveram que levar os corpos inteiros “fora
do acampamento e queimá-los com fogo” [Êx_29:14; Lv_4:12].
22. Arão levantou as mãos para o povo e o abençoou — O
pronunciar uma bênção a favor do povo reunido no átrio era uma parte
necessária do dever do sumo sacerdote, e se descreve a fórmula segundo
a qual foi dada a bênção (Nm_6:23-27).
desceu, havendo feito a oferta pelo pecado — O altar estava
elevado acima do nível do solo, a ascensão era por um leve declive
(Êx_20:26).
23. entraram Moisés e Arão na tenda da congregação — Moisés,
segundo as instruções divinas que tinha recebido, acompanhou a Arão e
seus filhos para iniciá-los em seus deveres sagrados. Suas ocupações
anteriores os tinham detido junto ao altar, e agora eles entraram juntos ao
sagrado edifício para levar o sangue das ofertas pra dentro do santuário.
a glória do SENHOR apareceu a todo o povo — talvez num
resplendor glorioso em cima do tabernáculo como um novo sinal da
aceitação divina do sítio de sua adoração recém estabelecido.
24. fogo saiu de diante do SENHOR (RC) — Uma chama,
emanando daquela luz resplandecente que enchia o lugar santo,
relampejou sobre o altar de bronze e acendeu os sacrifícios. Este fogo
milagroso, para cuja descida o povo tinha sido preparado, e que os
sacerdotes estavam advertidos de que nunca o deixassem apagar-se
(Lv_6:13), foi sinal, não só da aceitação das ofertas e do estabelecimento
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 25
da autoridade de Arão, como também da residência real de Deus em sua
morada escolhida. O momento em que foi visto o espetáculo solene mas
grato, um grito simultâneo de alegria e gratidão irrompeu da multidão
congregada, e em atitude da mais profunda reverência adoraram a “uma
Deidade presente.”
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 26
Levítico 10

VV. 1-20. NADABE E ABIÚ QUEIMADOS.


1. filhos de Arão, etc. — Se este incidente ocorreu no solene
período da consagração e dedicação do altar, estes jovens assumiram um
papel que tinha sido encomendado a Moisés; ou se foi algum tempo
depois, foi uma intrusão nos deveres que correspondiam só a seu pai
como sumo sacerdote. Mas a ofensa foi de uma natureza muito mais
agravante que o que indicaria uma mera irregularidade tal. Consistiu a
ofensa não só em que eles se aventurassem sem autorização a
desempenhar o serviço do incenso, o mais alto e mais solene dos ofícios
sacerdotais, não apenas em ocupar-se juntos numa obra que era o dever
de um só, mas em sua presunção de introduzir-se no lugar santíssimo, ao
qual se negava a entrada a todo mundo com exceção do sumo sacerdote.
Neste sentido, eles “trouxeram fogo estranho perante a face do
SENHOR”; foram culpados de intrusão presunçosa e injustificada num
ofício sagrado que não lhes pertencia. Mas sua ofensa foi mais agravante
ainda; porque em vez de tomar o fogo do altar de bronze para pôr em
seus incensários, eles parece que se conformaram usando fogo comum, e
assim cometeram um ato, que, considerando a descida do fogo milagroso
que tinham presenciado tão recentemente, e considerando também a
solene obrigação sob a qual estavam postos, de usar daquele que era
especialmente apropriado para o serviço dos altares, eles demonstraram
um descuido, uma irreverência, uma falta de fé do tipo mais
surpreendente e lamentável. Um precedente de uma tendência tão má,
era perigoso, e era imperativamente necessário, pois, tanto para os
próprios sacerdotes como para as coisas sagradas, que fosse dada uma
expressão marcada do desagrado divino para com uma obra que Deus
não lhes tinha mandado fazer.
2. saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu — antes, os
matou”; porque aparece (Lv_10:5) que nem seus corpos nem suas roupas
foram consumidos. A expressão “de diante do Senhor” quer dizer que o
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 27
fogo saiu dentre o lugar santíssimo. Na destruição destes dois jovens
pela aplicação de um juízo terrível, a sabedoria de Deus seguiu o mesmo
curso, em reprimir o primeiro caso de desprezo pelas coisas sagradas,
como no começo da dispensação cristã (At_5:1-11).
3. falou Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR disse:
Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei
glorificado — “naqueles que se cheguem a mim” aponta, nesta
passagem, diretamente aos sacerdotes; e eles tinham recebido
advertências solenes e repetidas quanto à maneira circunspeta e reverente
de sua aproximação à divina presença (Êx_19:22; Êx_29:44; Lv_8:35).
Arão se calou — A perda de seus filhos de uma maneira tão
repentina e terrível foi uma calamidade que afligia os sentimentos
paternos. Mas o piedoso sacerdote não se entregou a nenhuma expressão
veemente de queixa, nem deu vazão a nenhum murmúrio de
descontentamento, mas se submeteu silenciosamente ao que viu ser “o
justo juízo de Deus” [Rm_2:5].
4, 5. Moisés chamou a Misael e a Elzafã — A remoção dos dois
cadáveres para seu enterro fora do acampamento, estenderia a dolorosa
notícia entre toda a congregação. O enterro das vestes sacerdotais junto
com os cadáveres, era sinal de que tinham sido contaminadas pelo
pecado de seus ímpios donos; e a lembrança de juízo tão aterrador não
poderia menos que inspirar um temor saudável nos corações tanto dos
sacerdotes como do povo.
6. Não desgrenheis os cabelos — Aqueles aos quais se ordenou
tirar os cadáveres, como estavam entregues a seus deveres sagrados, não
podiam tirar seus turbantes, conforme os costumes usuais de luto; e a
proibição, “nem rasgueis as vossas vestes”, estava com toda
probabilidade limitada a suas roupas oficiais. Mas em outras ocasiões os
sacerdotes levavam as roupas comuns de seus compatriotas, e, em
comum com suas famílias, podiam dar expressão a seus sentimentos
particulares mediante os sinais ou expressões usuais de pesar.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 28
8-11. Vinho ou bebida forte tu e teus filhos não bebereis — Esta
proibição e as admoestações acompanhantes, como vêm imediatamente
depois do acontecimento de tão fatal catástrofe [Lv_10:1-2], deram
origem a uma opinião, mantida por muitos, de que os dois desventurados
sacerdotes estavam sob a influencia da embriaguez, quando cometeram o
pecado que só foi expiado com suas vidas. Mas tal ideia, ainda que a
conjetura está a favor disso, não é mais que conjetura.
12-15. Disse Moisés a Arão, etc. — Esta é repetição oportuna e
prudente das leis que regulavam a conduta dos sacerdotes. Entre as
perturbações da aflição em sua família, Arão e seus filhos sobreviventes
poderiam ter esquecido ou descuidado algum de seus deveres.
16-20. Moisés diligentemente buscou o bode da oferta pelo
pecado, e eis que já era queimado — Num sacrifício apresentado,
como aquele tinha sido apresentado, de parte do povo, era o dever dos
sacerdotes, como que representavam tipicamente ao povo e levavam seus
pecados, o ter comido a carne, depois que o sangue tivesse sido
aspergido sobre o altar. Mas em vez de usá-lo como uma festa sagrada,
tinham-no queimado fora do acampamento; e Moisés, quem descobriu
esta alteração do ritual prescrito, provavelmente por um temor de mais
castigos, chamou a atenção não a Arão, cujo coração estava muito
dolorido para suportar um novo pesar, mas sim a seus dois filhos
sobreviventes no sacerdócio, pela grande irregularidade.
Seu pai, entretanto, que ouviu a acusação, e por cuja ordem o erro
tinha sido cometido, apressou-se a dar a explicação. O teor de sua
explicação é que se tinha completado devida e santamente todo o dever
pertencente à apresentação da oferta, exceto a parte festiva da
observância, a qual correspondia ao sacerdote e sua família; e que esta
tinha sido omitida, ou porque seu coração estava muito dolorido para
tomar parte na celebração de uma festa prazerosa, ou porque ele
supunha, que, pelos juízos aterradores que tinham sido infligidos, todos
os serviços daquela ocasião estavam de tal maneira viciados que ele não
os completou. Mas Arão estava decididamente errado. Por mandato
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 29
rápido de Deus, a oferta pelo pecado tinha que ser comida no lugar
santo; e nenhuma opinião caprichosa de conveniência ou decência
deveria havê-lo induzido a omitir a discrição, um estatuto positivo. A lei
de Deus era clara, e onde este é o caso, é pecado desviar um cabelo da
caminho do dever. Mas Moisés se condoeu de seu irmão aflito; e tendo
assinalado o erro, não disse mais nada.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 30
Levítico 11

Vv. 1-47. ANIMAIS QUE PODEM E NÃO PODEM SER


COMIDOS.
1. Falou o SENHOR a Moisés e a Arão — Sendo estas leis
dirigidas tanto aos governantes civis como eclesiásticos de Israel, podem
servir para indicar a dupla opinião que se toma delas. Sem dúvida a
primeira razão e a mais forte para instituir uma distinção entre as carnes,
era a de desanimar os israelitas de emigrar a outros países, e de
comunicação geral com o mundo; para evitar que adquirissem
familiaridade com os habitantes dos países que faziam limite com Canaã,
de tal modo que caíssem em sua idolatria e fossem contaminados com
seus vícios; enfim, a de tê-los como povo distinto e peculiar. Para este
propósito, nenhuma diferença de credo, nenhum sistema de política,
nenhuma diversidade de idiomas ou costumes, era tão útil como uma
distinção das carnes, fundada na religião; e como resultado, os judeus
ensinados por sua educação a aborrecer muitos artigos de alimento
livremente comidos por outros povos, nunca, nem mesmo nos períodos
de grande degeneração moral, poderiam amalgamar-se com as nações
entre as quais estavam dispersos. Mas embora fosse este o fundamento
principal destas leis, razões dietéticas também tiveram seu peso; porque
não há dúvida de que a carne de muitos animais aqui classificados como
imundos, em todas as partes, mas especialmente em climas quentes, é
menos sã e menos adequada para alimento que aquelas que se lhes
permite comer. Estas leis, pois, sendo úteis para fins sanitários e
religiosos, foram dirigidas tanto a Moisés como a Arão.
3-7. todo o que tem unhas fendidas, e o casco se divide em dois,
e rumina — Os animais ruminantes por uma estrutura especial de seus
estômagos digerem seu alimento mais completamente que outros.
Descobriu-se que no ato de ruminar, uma grande porção das
propriedades venenosas das plantas por eles comidas, é eliminada pelas
glândulas salivais. Este poder de separar os efeitos venenosos dos
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 31
vegetais, diz-se que é especialmente notável nas vacas e cabras, cujas
bocas muitas vezes estão doloridas, e às vezes sangram, como
consequência. Sua carne portanto está em melhor condição como
alimento, porque contém mais dos sucos nutritivos, e é mais facilmente
digerida no estômago humano, e por conseguinte é mais facilmente
assimilada. Os animais que não ruminam, transformam menos
perfeitamente seu alimento; sua carne pois é insalubre, devido aos
densos sucos animais em que abundam, e é fácil que produza desordens
escorbúticas e escrofulosas. Mas os animais que podem ser comidos são
os que têm a unha fendida e que ruminam, e este é outro meio de livrar a
carne do animal de substâncias nocivas. “No caso de animais com unhas
partidas, quando pastam em situações desfavoráveis, uma quantidade
prodigiosa de matérias fétidas é descarregada, e circula entre os dedos;
enquanto que os animais com unha não dividida, pastando no mesmo
terreno, chegam a ser severamente afetados das pernas, pelas plantas
venenosas entre o pasto”. (Whitlaw, Code of Health.) A experiência toda
dá testemunho disto, e por conseguinte o uso de animais ruminantes, isto
é, que ruminam e têm a unha partida, sempre prevaleceu na maioria dos
países, ainda que era seguida com mais cuidado pelo povo que foi
favorecido com a promulgação da lei de Deus.
4. o camelo — Tem até certo ponto a unha dividida, porque o pé
consiste em duas partes grandes, mas a divisão não está completa; os
dedos descansam sobre uma almofada elástica sobre o qual anda; como
animal de carga sua carne é dura, e como razão adicional para a sua
proibição poderia ser a de ter os israelitas separados dos descendentes de
Ismael.
5. o arganaz — não propriamente o coelho, porque não se acha na
Palestina nem Arábia mas sim o hyrax, bichinho do tamanho e forma
geral do coelho, mas que difere dele em vários rasgos essenciais: não
tem cauda; cabelos longos cerdosos, como espinhos, há entre os cabelos
suaves de seu dorso; seus pés são despidos, suas unhas chatas e
redondas, exceto as do dedo interior dos pés traseiros, que são agudas e
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 32
se sobressaem como furadores. Não faz cova na terra, mas frequenta
gretas nas rochas.
6. a lebre — Duas espécies de lebre estariam incluídas nesta
proibição: a lebre do Sinai, lebre do deserto, pequena e geralmente
parda, e a lebre da Palestina e da Síria, como do tamanho e cor das de
nosso país. Nem a lebre nem o coelho são animais ruminantes. Só
parecem sê-lo pelo movimento da mandíbula ao mastigar o pasto.
Tampouco têm a pata fendida, e além disso se diz que pela grande
quantidade de penugem neles, são muito propensos a parasitas, e que
para os expelir, comem plantas venenosas, e se são usadas para alimento
enquanto estão nesse estado, são muito venenosas. (Whitlaw.)
7. o porco — É animal asqueroso, de hábitos sujos no comer, e lhe
falta uma das disposições naturais para a purificação do organismo, “não
rumina”; em climas quentes o comer carne de porco é especialmente
propenso a produzir a lepra, escorbuto e várias erupções cutâneas. Foi,
pois, estritamente proibida aos israelitas, e além disso, sua proibição era
necessária para evitar que eles adotassem muitas das idolatrias mais
grosseiras praticadas pelas nações vizinhas.
9. comereis os seguintes: todo o que tem barbatanas e escamas
— “As barbatanas e escamas são os meios pelos quais as excrescências
dos peixes são eliminadas, o mesmo que nos animais pela transpiração.
Nunca conheci uma doença produzida por comer esta classe de peixe;
mas os que não têm barbatanas nem escamas, produzem nos climas
quentes os desordens mais malignas quando são comidos; em muitos
casos têm um veneno mortal.” (Whitlaw.)
12. Todo o que nas águas não tem barbatanas ou escamas, etc.
— Sob esta classificação estavam incluídos as rãs, as enguias, os frutos
do mar ou crustáceos como imundos; “muitos dos últimos desfrutam de
uma fama que não merecem, e comidos em abundância produzem efeitos
que levam a suspeitar que contenham algo de natureza venenosa.”
13-19. Das aves, estas abominareis — Todas as aves de rapina
especialmente são classificadas como imundas; todas as que se
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 33
alimentam de carne e carniça; mencionam-se sob esta categoria não
menos de vinte espécies, todas provavelmente conhecidas naquele então,
e a inferência que resulta é que todas as não mencionadas, eram
permitidas, isto é, as aves que subsistem com as substâncias vegetais.
Em nosso conhecimento imperfeito da história natural da Palestina, da
Arábia e países vizinhos, não é fácil precisar exatamente quais são
algumas das aves proibidas; ainda que todas seriam conhecidas pelas
pessoas a quem foram dadas estas leis.
13. o quebrantosso — o nome hebraico, traduzido na Septuaginta
“griffon”, supõe-se que seja o Gypoetus barbatus, o Lammer Geyer dos
suíços, ave da espécie da águia ou abutre, que habitava as montanhas
mais altas da Ásia Ocidental como também da Europa, e perseguia como
sua presa à camurça, o íbex ou marmota, entre os penhascos ásperos, até
fazê-los cair de sobre um precipício, merecendo assim o nome
“quebrantosso”.
a águia marinha — a águia negra, a mais pequena, mas mais veloz
e forte de sua classe.
14. o milhano — chamado às vezes “abutre”. No Egito, e talvez
nos países vizinhos, o milhano e o abutre se veem com frequência
voando juntos, ou diligentemente desempenhando seu ofício imundo mas
importante de devorar a carniça e restos de carne putrefata, que de outra
maneira corromperia a atmosfera.
o falcão — a palavra assim traduzida em nossa versão quer dizer
mais provavelmente o milhano, que traça um voo variado mas
majestoso, exatamente como o do milhano, que num momento se lança
adiante com a rapidez de uma flecha, e logo fica imóvel no ar sobre suas
asas estendidas. Come pássaros pequenos, insetos e peixe.
segundo a sua espécie — ou seja, a proibição de comê-lo se
estendia a toda a espécie.
15. todo corvo — inclui a urraca.
16. a coruja — ave pequena, com a qual, devido a seus costumes
noturnos, associavam-se muitas ideias supersticiosas.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 34
a gaivota — O Dr. Shaw crê que é o safsaf; mas como é pássaro é
granívoro e gregário, não pode ser. Outros creem que quer dizer a
gaivota ou alguma outra ave marítima.
o gavião — A palavra hebraica inclui toda variedade da família do
falcão, como o azor, o gerifalte, etc. Várias espécies de falcões se acham
na Ásia Ocidental e Egito, onde encontram uma presa inesgotável no
imenso número de pombas e rolas que abundam naquelas partes. O
falcão era tido por eminentemente sagrado entre os egípcios; e isto, além
de sua disposição rapace e hábitos grosseiros, poderia ser uma forte
razão para sua proibição como artigo de alimentação aos israelitas.
17. o mocho — ou coruja chifruda, como traduzem alguns.
o corvo marinho — alguns supõem que seja uma classe de gaivota.
a íbis — Era bem conhecida aos israelitas, e assim traduzido pela
Septuaginta (Dt_14:16; Is_34:11); segundo Parkhurst, o alcaravão,
espécie de garça, mas não está decidida sua identidade.
18. o cisne (RC) — achado em grande número em todos os países
do Próximo Oriente; frequenta lugares pantanosos, perto de rios e lagos.
Era considerado sagrado pelos egípcios, e se tinha domesticado dentro
dos recintos dos templos pagãos. Provavelmente por este motivo estava
proibido seu uso como alimento.
o pelicano — notável pelo saco ou bolsa abaixo da mandíbula
inferior, que lhe serve não só como rede para pescar, mas também como
receptáculo para o alimento. É solitário em seus hábitos, e como outras
aves aquáticas, com frequência voa a longas distâncias de seus sítios
favoritos.
o abutre — aqui associado a uma ave aquática, parece ser
questionável se se refere a alguma espécie de ave. Pensam alguns, visto
que o nome original indica ternura, afeição, que se refere ao falcão ou
algum pássaro da família dos Alcedinídeos [Calmet]. Outros creem que é
um pássaro agora chamado rachami, um tipo de abutre egípcio,
abundante nas ruas do Cairo e popularmente chamado “ave do faraó.”
Ele é de cor branca, do tamanho de um corvo, e se alimenta de cadáveres
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 35
em decomposição; é uma das aves mais asquerosas e sujas do mundo.
[Veja-se Dt_14:17.]
19. a cegonha — ave de disposição benévola, e tida na mais alta
estima no Oriente; foi declarada impura, talvez pelo fato de que come
serpentes e outros répteis venenosos, como também porque dá de comer
à sua cria das mesmas coisas.
a garça — a palavra assim traduzida só aparece na lista de
alimentos proibidos, e foi traduzida de distintas maneiras: grou,
tarambola, galinhola, papagaio. Nesta diversidade de opiniões, nada em
verdade pode afirmar-se a respeito, e como aparece na lista de aves
aquáticas, deve designar uma de tal classe, que bem poderia ser a garça
como qualquer outra classe, pois as garças abundam no Egito e no Haurã
da Palestina.
a poupa — achada em regiões cálidas; espécie de ave muito bela e
muito suja, e era considerada impura, talvez porque se alimentava com
insetos, vermes e caracóis.
o morcego — o grande morcego Ternat, conhecido no Oriente, e
famoso por sua voracidade e sujeira.
20. Todo inseto que voa, etc. — Embora diga: “que anda sobre
quatro pés”, não se limita aos que têm exatamente quatro pés, pois
muitos insetos alados têm mais de quatro pés. A proibição inclui todos os
insetos, répteis e vermes.
21. Mas de todo inseto que voa, que anda sobre quatro pés,
cujas pernas traseiras são mais compridas, para saltar — Nada
menos que uma descrição científica poderia apresentar mais
corretamente a natureza do gafanhoto “segundo a sua espécie”. Eram
permitidos como alimento lícito aos israelitas, e são comidas pelos
árabes, que os fritam em azeite de oliva; ou quando são salgados,
secados, defumados e então fritos, têm um gosto não muito diferente do
arenque avermelhado.
26. Todo animal que tem unhas fendidas, mas o casco não
dividido em dois — Os animais proibidos sob esta descrição incluem
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 36
não só os que têm unha singular, como os cavalos e asnos, mas também
os que têm o pé dividido sem unha, como os cães, leões, tigres, etc.
29. a doninha — antes, a toupeira.
o rato — por seu tamanho diminuto está colocado com os répteis
em vez de quadrúpedes.
o lagarto — não a rã, como algumas traduções, mas se supõe que
realmente se trate do lagarto.
30. o ouriço (RC) — a palavra hebraica quer dizer, segundo alguns,
a lagartixa aquática ou camaleão; segundo outros a rã.
o crocodilo da terra — chamado pelos árabes “warral”, um lagarto
verde.
a lagartixa — um lagarto que vive na areia, e chamado pelos
árabes “chulca”, de cor azul.
o camaleão — outra espécie de lagarto, provavelmente a toupeira.
31-35. qualquer que os tocar, estando eles mortos, será imundo
até à tarde — Estes regulamentos devem ter causado frequentemente
moléstias, pois repentinamente impunham a exclusão de pessoas da
sociedade, como também das ordenanças religiosas. Entretanto, eram
extremamente úteis e saudáveis, especialmente por obrigar a pôr atenção
na limpeza. Este é assunto de importância essencial no Oriente, onde os
répteis venenosos entram com frequência nas casas, e são achados
escondidos em gavetas, vasilhas ou buracos na parede; e o corpo morto
de um deles, ou um rato morto, toupeira, lagarto ou outro animal imundo
poderia ser tocado inadvertidamente pela mão, e poderia cair sobre a
roupa, ou garrafa de couro, ou qualquer artigo de uso doméstico comum.
Associando, pois, o contato de tais criaturas com a impureza cerimonial,
que se exigia que fosse imediatamente tirada, tomava-se uma medida
eficaz para prevenir os maus efeitos do veneno e de toda matéria impura
ou nociva.
47. para fazer diferença entre o imundo e o limpo — ou seja,
entre animais usados para alimento e os não usados. É provável que as
leis contidas neste capítulo, não fossem inteiramente novas, mas sim só
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 37
dessem a sanção a uma legislação divina para costumes antigos. Alguns
dos animais proibidos, por motivos fisiológicos, foram rejeitados em
todas as partes pelo sentido geral ou a experiência do homem, enquanto
que outros foram declarados imundos por sua insalubridade em países
quentes, ou por razões, que agora são conhecidas imperfeitamente,
relacionadas com a idolatria contemporânea.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 38
Levítico 12

Vv. 1-8. A IMPUREZA DAS MULHERES NO PARTO.


2. Se uma mulher conceber, etc. — A mãe de um menino era
impura cerimonialmente durante uma semana, no fim da qual o menino
era circuncidado (Gn_17:12; Rm_4:11-13); a mãe de uma menina,
durante duas semanas — estigma sobre o sexo (1Tm_2:14-15) pelo
pecado, o qual foi tirado por Cristo; toda pessoa que se aproximava dela
naquele tempo, contraía contaminação similar. Depois destes períodos,
os visitantes poderiam chegar-se a ela, embora ela mesma ainda estivesse
excluída das ordenanças públicas da religião [Lv_12:4].
6-8. os dias da sua purificação — Ainda que a ocasião era de um
caráter festivo, contudo, os sacrifícios assinalados não eram ofertas
pacíficas, mas sim oferta queimada e oferta pelo pecado, a fim de
impressionar na mente dos pais a lembrança da origem do pecado, e que
o menino herdava uma natureza caída e pecaminosa. As ofertas tinham
que ser apresentadas no dia depois de que o período de sua separação
tinha terminado, ou seja, nos quadragésimo primeiro dia por um menino,
e no octogésimo primeiro por uma menina.
8. tomará, então, duas rolas, etc. — (Veja-se Lv_5:7). Esta foi a
oferta apresentada por Maria, a mãe de Jesus, e nos dá uma prova
incontestável da condição pobre e humilde da família (Lc_2:22-24).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 39
Levítico 13

Vv. 1-59. AS LEIS E SINAIS PARA DISCERNIR A LEPRA.


2. O homem que tiver na sua pele, etc. — O fato de que fossem
acrescentadas ao código hebreu de leis as seguintes regras para discernir
a praga da lepra, é prova da existência da doença odiosa entre aquele
povo. Só um curto tempo, pouco mais de um ano, se tinha passado tão
longo período desde o êxodo, quando parece que sintomas de lepra
tinham aparecido amplamente entre eles; e como eles não poderiam ser
muito propensos a tal alteração cutânea em suas ativas viagens e no ar
seco da Arábia, as sementes do mal teriam sido trazidas do Egito, onde é
sempre endêmica. Há todos os motivos para crer que era assim: que a
lepra não era uma doença de família, hereditária entre os hebreus, mas
sim a contraíram por contato com os egípcios e pelas circunstâncias
desfavoráveis de sua condição na casa de escravidão. A grande excitação
e irritabilidade da cútis nas regiões cálidas e arenosas do Oriente,
produzem uma maior predisposição à lepra que nas temperaturas mais
frescas da Europa; as gretas e manchas, inflamações e até contusões na
cútis, com muita frequência conduzem a esta na Arábia e na Palestina até
certo ponto, mas especialmente no Egito. Além disso, o estado
subjugado e angustiado dos hebreus naquele país, e a natureza de seu
emprego, os teriam tornado muito propensos a este mal como a outros
defeitos e doenças da cútis, na produção das quais não há causas mais
ativas e poderosas que um estado de corpo e mente deprimido, trabalho
pesado sob o sol ardente, o corpo constantemente coberto pelos pós
corrosivos dos fornos de tijolos, e o alimento empobrecido, a todo o qual
estavam expostos os israelitas sob a escravidão egípcia. Parece que por
causa destas penúrias, havia, mesmo depois que saíram do Egito, uma
predisposição geral entre os hebreus às formas contagiosas da lepra, de
sorte que frequentemente ocorria como uma consequência de várias
outras doenças da cútis. Portanto todas as manchas ou irritações —
especialmente tais como as que tinham tendência a terminar na lepra —
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 40
eram vigiadas desde o começo com olho zeloso (Good, Study of
Medicine). Um inchaço, um grãozinho ou ponto claro na cútis, criava um
forte motivo de suspeita de que a pessoa estivesse atacada pela temível
doença.
será levado a Arão, o sacerdote, etc. — Como os sacerdotes
egípcios, os levitas uniam o caráter de médicos com o do posto sagrado;
e quando apareciam erupções na cútis, a pessoa afetada era trazida
perante o sacerdote, contudo, não para receber tratamento médico, ainda
que não é improvável que alguns remédios purificadores pudessem ser
receitados, senão para ser examinada tendo em vista adotar legalmente
aquelas precauções sanitárias que correspondiam.
3-6. O sacerdote olhará a chaga na pele do corpo, etc. — A
lepra, quando cobre a pessoa com uma caspa branca, escamosa, sempre
foi considerada uma mancha prejudicial, antes, uma doença séria no
Oriente, exceto quando se apresenta em suas formas menos comuns e
mais nocivas. Quando o sacerdote hebreu, depois de uma inspeção
cuidadosa, descobria sob a pele os sinais distintivas da lepra contagiosa,
a pessoa imediatamente era declarada imunda, e se esperava que seria
expulsa do acampamento a um lazareto habilitado para tal propósito. Se
pareciam duvidosos os sintomas, se ordenava que a pessoa fosse
guardada durante sete dias em isolamento doméstico, e sujeitava a uma
segunda revisão; e se durante a semana anterior a erupção se acalmou e
não parecia nociva, era-lhe dado alta. Mas se a erupção continuava sem
diminuir e ainda era duvidosa, ficava sob observação mais uma semana;
no fim da qual o caráter do mal nunca deixava de manifestar-se, e a
pessoa ou estava condenada a uma separação perpétua da sociedade ou
lhe era permitido ir livre. Uma pessoa que assim tinha sido detida sob
suspeita, quando enfim era posta em liberdade, estava obrigada a lavar
“as suas vestes”, como se estivessem contaminados por impureza
cerimonial; e a purificação pela qual tinha que passar, era, no espírito da
dispensação mosaica, simbólica daquela pureza interior que a lei estava
instituída para promover.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 41
7, 8. Mas, se a pústula se estende muito na pele — Aqueles casos
duvidosos ou ambíguos, quando tomavam um caráter nocivo, apareciam
numa de duas formas, aparentemente segundo a constituição particular
da pele ou segundo a compleição, geralmente. Uma era “algo obscura”
[Lv_13:6], ou seja, a lepra obscura, na qual a cor natural do pelo, que no
Egito e na Palestina é negro, não mudava, como diz-se repetidamente no
código sagrado, tampouco há área afundada na mancha obscura,
enquanto que as manchas, em vez de ficar estacionárias, limitadas a seu
primeiro tamanho, estão continuamente alargando seu bordo. O doente
afligido com esta forma, era declarado imundo pelo sacerdote ou médico
hebreu, e portanto sentenciado a uma separação de sua família e amigos,
prova decisiva de que era contagiosa.
9-37. se há inchação branca — Esta lepra branca clara é a mais
maligna e inveterada de todas as variedades que apresenta a doença, e
era conhecida pelos sinais distintivos seguintes: Uma crosta branca
lustrosa, sobre uma base elevada, estando a elevação afundada no centro,
mas sem mudança de cor; os pelos pretos nas manchas se tornam
brancos, e as próprias manchas escamosas mudam perpetuamente seus
borde. Várias destas características, tomadas separadamente, pertencem
a defeitos da pele também; de modo que nenhuma delas devia ser
tomada por si só, e era quando todas elas concordavam, que o sacerdote,
em seu caráter de médico, tinha que qualificar a doença como uma lepra
maligna. Se se estendia por todo o corpo, sem produzir ulceração, perdia
seu poder contagioso pouco a pouco; ou, em outras palavras, corria seu
curso, e se extinguia. Em tal caso, não havendo mais temor do mal, para
o próprio indivíduo ou para a comunidade, o doente era declarado limpo
pelo sacerdote, enquanto as escamas secas ainda estavam sobre seu
corpo, e era restaurado à sociedade. Se, ao contrário, as manchas se
ulceravam, e se produzia nela carne viva e esponjosa, a matéria purulenta
da qual, se chegava ao contato com a pele de outras pessoas, seria
absorvida no sistema por meio dos copos absorventes, o sacerdote devia
pronunciá-la em seguida lepra arraigada; um isolamento temporário se
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 42
declarava desnecessário, e era considerado imundo por toda a vida. (Dr.
Good.) Outras doenças da pele, que tinham uma tendência a terminar em
lepra, embora não fossem sintomas decididos, quando se apresentavam
sós, eram (Lv_13:18-23), “apostema”, ou furúnculo (Lv_13:24-28), e
“queimadura de fogo” — uma inflamação ardente, ou carbúnculo, e
(Lv_13:29-37) “tinja”, quando a lepra se distinguia por “estar mais
profunda que a tez”, e o pelo se tornava ralo e amarelo.
38, 39. quando o homem (ou a mulher) tiver manchas lustrosas
na pele — Esta modificação da lepra distingue-se por uma cor branca
opaca, e é uma afecção inteiramente cutânea, que não danifica nunca a
constituição. Descreve-se como que não penetrava nunca abaixo da pele
da carne, e não se fazia necessária uma exclusão da sociedade. É
evidente, então, que esta forma comum da lepra não é contagiosa, pois
de outra maneira Moisés teria ordenado uma quarentena estrita neste
caso como nos outros. Nisto vemos a grande superioridade da lei
mosaica, que tão exatamente distinguia as características da lepra, e
preservava para a sociedade os serviços daqueles que estavam sofrendo
as formas não contagiosas da doença, sobre os costumes e os
regulamentos de países orientais de hoje em dia, onde todos os leprosos
são proscritos indistintamente, e são evitados como não aptos para o
relacionamento livre com os seus semelhantes.
40, 41. Se os cabelos lhe caírem da parte dianteira da cabeça, ele
é meio calvo (TB) — A queda do cabelo é outro sintoma que cria uma
suspeita da lepra, quando a calvície começa na parte traseira da cabeça.
Mas em si não era sinal decisivo exceto quando era tomada a calvície
junto com outros sinais; “a inchação da praga for branca tirando a
vermelho” [Lv_13:43, TB]; e os hebreus como outros orientais estavam
acostumados a distinguir entre a calvície da frente, que poderia ser
natural, e aquela calvície que poderia ser a consequência de uma doença.
45. As vestes do leproso, em quem está a praga, serão rasgadas,
etc. — A pessoa declarada afetada pela lepra, em seguida exibia todos os
sinais de estar sofrendo de uma calamidade terrível. Rasgar a roupa e
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 43
descobrir a cabeça eram sinais comuns de luto. Quanto à palavra
“embuçado”, isto pode ser portar bigodes, porque os hebreus se
barbeavam o lábio superior (Calmet), ou simplesmente tampar a boca
com a mão. Todos estes sinais externas de pesar tinham como propósito,
além de seu próprio grito de “Imundo!” o de proclamar que a pessoa era
leprosa, e todos deviam evitar sua companhia.
46. habitará só; a sua habitação será fora do arraial — num
lazareto sozinho, ou associado com outros leprosos (2Rs_7:3, 8).
47-59. em alguma veste houver praga de lepra — É bem sabido
que as doenças infecciosas como a escarlatina, o sarampo, etc., são
embebidas latentemente e levadas na roupa. Mas a linguagem desta
passagem indica claramente uma doença a qual a mesma roupa estava
sujeita, e que era seguida por efeitos na roupa análogos aos que a lepra
maligna produz no corpo humano, porque regulamentos similares foram
feitos para a inspeção rígida de objetos de vestir suspeitos, por um
sacerdote, como para a revisão de uma pessoa leprosa. Faz tempo que se
conjetura, e há pouco se comprovou pelo uso de um lente, que a
condição leprosa dos porcos é produzida por miríades de insetos
diminutos engendrados em sua pele; e considerando-se toda lepra como
da mesma natureza, pensa-se que isto dá razão suficiente para a ordem
da lei mosaica, de que fosse destruída a roupa, na qual a doença, depois
de uma observação cuidadosa, se manifestou. A roupa se acha algumas
vezes contaminada por esta doença nas Antilhas e partes meridionais da
América (Whitlaw, Code of Health), e se pode supor que como os
hebreus estavam vivendo no deserto, onde não tinham os confortos para
mudar-se e lavar-se frequentemente, a roupa que usavam e as esteiras de
couro sobre as quais se deitavam, facilmente poderiam criar
microorganismos infecciosos, que, alojados nestes artigos,
imperceptivelmente os roeriam, deixando manchas semelhantes às
descritas por Moisés. É bem sabido que a lã de ovelhas que morrem de
doença, se não tiver sido tosquiada do animal ainda vivo, como também
os couros, se não forem completamente preparados e esfregados, estão
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 44
propensos aos efeitos descritos nesta passagem. As manchas diz-se que
são como de cor esverdeada ou avermelhada, depende, talvez, a cor ou a
natureza dos ingredientes usados na preparação deles; porque os ácidos
convertem os azuis vegetais em vermelho, e os álcalis os mudam em
verde (Brown). Parece, então, que a lepra, embora às vezes infligida,
como um juízo milagroso (Nm_12:10; 2Rs_5:27), era uma doença
natural, que ainda se conhece em países orientais; enquanto que as regras
recomendadas pelo legislador hebreu para distinguir o verdadeiro caráter
e as variedades da doença, e que são muito superiores ao método do
tratamento agora seguido nos mesmos países, agora manifesta a
sabedoria divina pela qual ele era guiado. Sem dúvida a origem da
doença deve-se a certas causas latentes na natureza; e talvez um
conhecimento mais perfeito da arqueologia do Egito e da história natural
dos países vizinhos, poderá confirmar a opinião de que a lepra provém
de insetos nocivos ou de uma fermentação pútrida. Mas seja qual for a
origem ou causa da doença, as leis ditadas a respeito dela por autoridade
divina, enquanto que assinalavam em primeira instância fins sanitários,
foram projetadas ao mesmo tempo, por estimular o cuidado contra a
impureza cerimonial, e para criar um espírito de temor reverencial e
piedade interior.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 45
Levítico 14

Vv. 1-57. RITOS E SACRIFÍCIOS NA PURIFICAÇÃO DO


LEPROSO.
2. Esta será a lei do leproso no dia da sua purificação — Ainda
que bem convalescente, não era permitido ao leproso voltar para a
sociedade imediatamente e à sua plena liberdade. O caráter maligno de
sua doença tornava necessárias as maiores precauções para sua
reincorporação à sociedade. Um dos sacerdotes mais peritos no
diagnóstico da doença (Grotius) era comissionado para atender a tais
desterrados; o leproso restaurado se apresentava perante tal oficial, e
quando, depois de um exame lhe era dado um certificado de saúde,
levavam-se a cabo, fora do acampamento, as cerimônias aqui detalhadas.
4. duas aves — literalmente, “pardais”. A Septuaginta, entretanto,
traduz “aves pequenas”; e é evidente que se deve considerar neste
sentido genérico por estar especificadas elas como “limpas”, uma
condição que teria sido totalmente supérflua com referência aos pardais.
Em todas as ofertas descritas na lei, Moisés ordenou só aves comuns e
acessíveis; e por isso podemos supor que aqui assinala aves como
pardais e pombas, porque no deserto teria sido difícil procurar vivas as
aves silvestres.
pau de cedro, e estofo carmesim, e hissopo — O cedro aqui
indicado certamente não era o famoso cedro do Líbano, e supõe-se
geralmente que seria o zimbro, pois várias classes deste arbusto se
acham crescendo abundantemente nas gretas e fendas das montanhas
sinaíticas. Um pau deste arbusto era preso a um molho de hissopo por
meio de uma cinta escarlate, ao qual o pássaro vivo era atado de tal
modo que quando inundavam os ramos na água, a cauda do pássaro
também se molhava, mas não a cabeça nem asas, para que não se visse
impedido em seu voo, quando o soltassem.
5. Mandará também o sacerdote que se imole uma ave … sobre
águas correntes — Como o sangue de um só pássaro não teria sido
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 46
suficiente para inundar o corpo de outro pássaro, era mesclado com água
corrente para aumentar a quantidade necessária para as borrifadas
assinaladas, que se deviam repetir sete vezes, o que significa uma
purificação completa (Veja-se 2Rs_5:10; Sl_51:2; Mt_8:4; Lc_5:14).
Sendo solto então o pássaro vivo, em sinal de liberdade do leproso da
quarentena, o sacerdote o declarava limpo; e esta declaração era feita
com toda a solenidade, a fim de que a mente do leproso fosse
devidamente impressionada com um sentido da bondade divina, e que
outros fossem convencidos de que poderiam ter relacionamento com ele
sem perigo. Várias outras purificações deviam ser cumpridas durante
uma série de sete dias, e todo o processo devia ser repetido no sétimo
dia, antes de receber permissão para voltar a entrar no acampamento. A
circunstância de que se empregasse um sacerdote parece indicar que
seria dada instrução conveniente ao leproso recém restabelecido em
saúde, e que lhe seriam explicadas as cerimônias simbólicas usadas no
processo de limpar a lepra. Até que ponto eram entendidas tais
cerimônias, não podemos dizer. Mas podemos traçar algumas analogias
instrutivas entre a lepra e a doença do pecado, e entre os ritos praticados
na limpeza da lepra e as provisões do evangelho. A principal destas
analogias é, que como era somente quando o leproso demonstrava uma
mudança em sua estado quando as ordens eram dadas pelo sacerdote
para um sacrifício, assim o pecador tem que estar no exercício da fé e
arrependimento, antes que possam ser desfrutados por ele os benefícios
do remédio evangélico. A ave sacrificada e a solta devem tipificar, uma a
morte de Cristo, e a outra sua ressurreição; enquanto que a aspersão
sobre aquele que tinha sido leproso, tipificava a demanda que levaria a
crente a limpar-se de toda imundície da carne e do espírito, e a
aperfeiçoar sua santidade no temor do Senhor.
10-20. No oitavo dia, tomará dois cordeiros sem defeito, uma
cordeira sem defeito, de um ano — A purificação do leproso não
estava completa senão no fim de sete dias, depois da cerimônia das aves
[Lv_14:4-7], e durante os quais, embora lhe fosse permitido entrar no
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 47
acampamento, ele tinha que estar fora de sua tenda [Lv_14:8], de onde
vinha diariamente para apresentar-se à porta do tabernáculo com as
ofertas requeridas. O homem era apresentado perante o Senhor pelo
sacerdote que tinha feito a purificação. E por isso sempre se considerou
entre gente piedosa que o primeiro dever de um doente que foi
restaurado à saúde depois de uma doença longa e perigosa, é o de ir à
igreja para oferecer sua ação de graças, onde sua alma e corpo, para ser
oferta aceita, terão que ser apresentados por nosso grande Sacerdote,
cujo sangue apenas pode tornar limpa qualquer pessoa. A oferta tinha
que constar de três cordeiros, três dízimas de efa de farinha fina (como
um litro), um sextário (um quarto de litro) de azeite (Lv_2:1). Um dos
cordeiros era para a oferta de transgressão, a qual era necessária pelo
pecado inerente à sua natureza, ou pela contaminação do acampamento
por sua lepra anteriormente à sua expulsão; e é notável que o sangue da
oferta pela transgressão era aplicada exatamente da mesma maneira
particular às extremidades do leproso restaurado que a do carneiro na
consagração dos sacerdotes [Lv_8:23]. As partes aspergidas com este
sangue eram então lubrificadas com azeite, cerimônia que se supõe ter
tido este significado: que enquanto o sangue era um sinal do perdão, o
azeite o era de cura, como o sangue de Cristo justifica, a influência do
Espírito santifica. Dos outros dois cordeiros um tinha que ser uma oferta
pelo pecado, e o outro, oferta queimada, que também tinha o caráter de
uma oferta de gratidão pela misericórdia de Deus em sua restauração.
Esta era considerada uma expiação “para ele”; ou seja, tirava-lhe aquela
contaminação cerimonial que o tinha excluído da alegria das ordenanças
religiosas, assim como a expiação por Cristo restaura todos os que são
limpos por fé em seu sacrifício, aos privilégios dos filhos de Deus.
21-32. Se for pobre, e as suas posses não lhe permitirem trazer
tanto, tomará um cordeiro — Uma disposição bondosa e considerada
para que pudessem desfrutar do privilégio os leprosos da classe mais
pobre. O sangue da oferta menor tinha que ser aplicado no mesmo
processo de purificação, e os ofertantes eram purificados tanto pública e
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 48
completamente como aqueles que traziam uma oferta mais custosa
(At_10:34).
34-48. lepra a alguma casa — Esta lei era antecipada pois não
tinha que entrar em operação senão quando se estabelecessem em Canaã.
As palavras “eu enviar a praga da lepra”, induziu a muitos a pensar que
esta praga era um castigo judicial do céu pelos pecados do dono;
enquanto que outros não a veem nesta luz, porque é muito comum nas
Escrituras representar a Deus como fazendo aquilo que Ele só permite
em Sua providência que se faça. Supondo-se que tenha sido uma doença
natural, suscita-se uma dificuldade nova a respeito de se tivermos que
considerar que a casa se infectou pelo contágio dos ocupantes leprosos;
ou se a lepra estava na própria casa. É evidente que este era o estado
verdadeiro do caso, visto que os móveis eram tirados da casa na primeira
suspeita da doença nas paredes.
Alguns creram que o nome de lepra era aplicado à casa por
analogia, mas os hebreus, assim como nós falamos de “câncer” nas
árvores, quando elas exibem efeitos corrosivos semelhantes ao que a
doença do câncer produz no corpo humano; enquanto que outros o
declararam uma eflorescência mural, ou espécie de mofo no muro,
propenso a ser produzido em situações muito úmidas, e que era seguido
por efeitos tão prejudiciais à saúde como à estabilidade da casa,
especialmente em países quentes, portanto demandava a atenção de um
legislador. Moisés mandou aos sacerdotes que seguissem o mesmo
procedimento e durante o mesmo período de tempo para averiguar o
verdadeiro caráter da doença como na lepra humana; em caso de achar a
leprosa, que tirassem a parte infectada, ou se depois aparecia o perigo de
que o contágio se estendesse, que destruíssem a casa completamente e
levassem os materiais a uma grande distancia. As pedras eram talvez
toscas, sem lavrar, edificadas sem cimento da maneira agora
frequentemente usada em cercos, e revogadas e assentadas em mescla.
Os exemplares mais antigos de arquitetura são deste caráter. O mesmo
proceder deve se seguir ainda com casas infectadas com sal mural. As
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 49
pedras cobertas de incrustadoras nitrosas devem ser tiradas, e se a parede
infectada pode ficar, tem que ser rebocada de novo e completamente.
48-57. o sacerdote a declarará limpa, porque a praga está
curada — As precauções aqui detalhadas mostram que havia alto risco
da lepra caseira em países quentes, a qual inclinava a aumentar-se devido
à pequenez e a rude arquitetura das casas nas épocas anteriores da
história israelita. Como uma casa não podia contrair impureza aos olhos
de Deus, a “expiação” que tinha que fazer o sacerdote por ela, deve
referir-se aos pecados de seus moradores, ou ao processo cerimonial
estabelecido para sua purificação, o mesmo que o observado para uma
pessoa leprosa. Esta declaração solene de que era “limpa”, como também
a oferta feita na ocasião, estavam admiravelmente calculadas para levar a
reconhecer o fato, para tirar toda apreensão da mente popular, como
também livrar o dono da suspeita dolorosa de morar numa casa
infectada.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 50
Levítico 15

Vv. 1-18. A IMPUREZA DOS HOMENS.


2. Qualquer homem que tiver fluxo seminal — Este capítulo
descreve outras formas de impureza, cuja natureza é suficientemente
inteligível no texto sem comentário explicativo. Sendo efeitos da
dissolução, com justiça caem dentro do conhecimento do legislador, e as
regras muito restringentes aqui prescritas tanto para a separação da
pessoa doente para tirar a contaminação de toda coisa associada com ele,
estavam bem calculadas não só para evitar o contágio, senão para
prevenir os excessos da indulgência licenciosa.
9. Também toda sela em que cavalgar … será imunda — (Veja-
se Gn_31:34).
12. O vaso de barro em que tocar o que tem o fluxo será
quebrado — Crê-se que a baixela de barro dos israelitas, como aquela
em que os egípcios guardavam a água, estava sem vidrar, e portanto era
porosa, e que era sua porosidade o que a tornava muito propensa a
embeber pequenas partículas de matéria impura, era o motivo pelo qual o
vaso tocado por pessoa imunda devia ser quebrado.
13, 14. contar-se-ão sete dias para a sua purificação — Como
pessoa leprosa, este passava uma semana de prova, enquanto ficava
completamente curada, e logo com os sacrifícios prescritos, o sacerdote
fazia uma expiação por ele, ou seja, oferecia as necessárias oblações para
tirar sua contaminação cerimonial, como também pelo perdão típico de
seus pecados.

Vv. 19-33. A IMPUREZA DAS MULHERES.


19. A mulher, quando tiver o fluxo de sangue — Ainda que este,
como a lepra, poderia ser uma doença natural, antigamente era
considerada contagiosa, e ocasionava contaminação cerimonial, que
tipificava uma impureza moral. Esta contaminação cerimonial tinha que
ser tirada por um método estabelecido de expiação cerimonial, e o
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 51
descuido do mesmo expor à pessoa à culpa de contaminar o tabernáculo,
e à morte como o castigo de sua profana temeridade.
31-33. Assim, separareis os filhos de Israel das suas impurezas
— A sabedoria divina foi manifestada ao inspirar os israelitas com uma
reverência profunda pelas coisas sagradas; e nada era mais adequado
para este propósito que excluir do tabernáculo a todos os que estavam
manchados de qualquer tipo de contaminação, a cerimonial como a
natural, a mental como a física. Para assinalar melhor aquele povo como
família dela, a seus servos e sacerdotes, que moravam no acampamento
como em lugar santo, consagrado por sua presença e seu tabernáculo,
era-lhes exigido uma pureza completa, e não se permitia que eles se
aproximassem a ele, quando estavam contaminados até por impurezas
involuntárias ou secretas, como uma falta de respeito devido à Sua
majestade. E quando temos em conta que Deus estava disciplinando a
um povo para que vivesse em Sua presença em certa medida como
sacerdotes dedicados a Seu serviço, não consideraremos muito estritas
nem muito minuciosas estas regras para a manutenção da pureza pessoal
(1Ts_4:4).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Levítico 16

Vv. 1-34. COMO DEVE ENTRAR NO LUGAR SANTO O SUMO


SACERDOTE.
1. depois que morreram os dois filhos de Arão, tendo chegado
aqueles diante do SENHOR — Alguns pensam que este capítulo foi
transposto fora de seu lugar correto na história sagrada, o qual seguia
imediatamente ao relato da morte do Nadabe e Abiú [Lv_10:1-20].
Aquela entristecedora catástrofe teria enchido a Arão com dolorosos
temores de que a culpa destes dois filhos fosse transmitida à sua casa, ou
que outros membros de sua família pudessem compartilhar a mesma
sorte devido a alguma irregularidade ou defeito no cumprimento de suas
funções sagradas. Portanto, foi estabelecida esta lei, para que por meio
da devida observância de seus requisitos, a ordem aarônica pudesse ser
mantido e aceita no sacerdócio.
2. Dize a Arão, teu irmão, que não entre no santuário em todo
tempo, para dentro do véu, etc. — Os sacerdotes iam todos os dias a
queimar incenso sobre o altar de ouro na parte do santuário fora do véu.
Mas ninguém exceto o sumo sacerdote tinha permissão de entrar dentro
do véu, e isto só uma vez por ano com o maior cuidado e solenidade.
Este arranjo evidentemente foi estabelecido por inspirar uma reverência
pelo lugar santíssimo, e a precaução era necessária num tempo em que a
presença de Deus era indicada por símbolos visíveis, a impressão do qual
poderia ter sido debilitada ou perdida por uma observação diária e
familiar.
aparecerei na nuvem — ou seja, a fumaça do incenso que o sumo
sacerdote queimava em sua entrada anual ao lugar santíssimo; e esta era
a nuvem que naquela ocasião cobria o propiciatório.
3, 4. Entrará Arão no santuário com isto — Como os deveres do
grande dia da expiação conduziam à aproximação mais íntima e solene a
Deus, as orientações quanto ao curso correto do que era preciso seguir
eram minuciosas e especiais.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 53
um novilho … e um carneiro — Estas vítimas eram trazidas vivas,
mas não eram oferecidas em sacrifício, enquanto o sacerdote não tivesse
completado as cerimônias descritas em Lv_16:3-11. Ele não devia vestir-
se naquela ocasião com suas roupas esplêndidas que eram próprias de
seu cargo sagrado, mas de um manto de linho singelo, como os levitas
comuns, porque como então ele tinha que fazer expiação por seus
próprios pecados como também pelos do povo, ele devia apresentar-se
no humilde papel de suplicante. Aquela roupa singela estava mais em
harmonia com uma época de humilhação, como também era mais leviana
e mais confortável para os deveres que naquela ocasião ele sem ajuda
tinha que executar, que a roupagem magnífica do pontificado.
Demonstrava que quando todos aparecem como pecadores, o mais
elevado e o mais humilde estavam sobre o mesmo nível, e que não havia
distinção de pessoas diante de Deus [At_10:34].
5-10. Da congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes … e
um carneiro — Os sacrifícios deviam ser oferecidos pelo sumo
sacerdote respectivamente por si mesmo e pelos outros sacerdotes, como
também pelo povo. O bezerro (Lv_16:3) e os bodes eram como ofertas
pelo pecado, e os carneiros para ofertas queimadas. Os bodes, embora
usados de maneira distinta, constituíam uma só oferta. Os dois eram
apresentados perante o Senhor, e o destino deles era determinado por
sortes, o que os escritores judeus descrevem assim: O sacerdote,
colocando um bode à sua mão direita e o outro à sua esquerda, tomava
seu lugar junto ao altar, e lançava numa urna duas peças de ouro iguais,
inscrita uma com as palavras “para o Senhor” e a outra “por Azazel”
(bode expiatório). Depois de sacudir bem as duas peças, colocava suas
duas mãos na urna e tomava uma peça em cada mão: a que estava em sua
mão direita, punha sobre a cabeça do bode à sua direita, e a que estava
em sua mão esquerda, deixava cair sobre a outra. Desta maneira se
decidia a sorte de cada uma.
11-14. Arão fará chegar o novilho da sua oferta pelo pecado e
fará expiação por si, etc. — A primeira parte do serviço tinha por
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 54
motivo solenizar sua própria mente, como também a mente do povo,
mediante o oferecimento dos sacrifícios por seus pecados. Sendo
sacrificadas as ofertas pelo pecado eram judicialmente transferidos os
pecados do ofertante mediante a imposição de suas mãos sobre a cabeça
dos animais (Lv_4:4, Lv_4:15, Lv_4:24, Lv_4:29, Lv_4:33), e assim o
novilho, que tinha que fazer a expiação por ele e pelos outros sacerdotes
(chamados “sua casa”, Sl_135:19), era morto pelas mãos do sumo
sacerdote.
Enquanto o sangue da vítima era recebido numa vasilha tomando o
sumo sacerdote em sua mão direita um incensário com carvões vivos, e
um prato de incenso em sua mão esquerda, entre a solene atenção e as
orações ardentes da multidão congregada, cruzava ele o pórtico e o lugar
santo, abria o véu exterior rumo ao lugar santíssimo, e logo o véu
interior, e, estando perante a arca, depositava o incensário no solo, e
esvaziando o prato de incenso em sua mão, vertia-o sobre os carvões
vivos, e o compartimento se enchia de fumaça fragrante, destinado,
segundo escritos hebreus, a evitar que algum curioso espionasse a forma
do propiciatório, que era o trono do Senhor. Fazendo isto o sumo
sacerdote, perfumava o santuário, voltava-se para a porta, tomava o
sangue do bezerro morto, e a levava ao lugar santíssimo, aspergia com o
dedo uma vez sobre o propiciatório “para o oriente”, ou seja, sobre o
lado junto a ele; e sete vezes “diante do propiciatório”, ou seja, à frente
da arca. Deixando as brasas e o incenso, saía uma segunda vez, para
sacrificar sobre o altar dos holocaustos o bode, que tinha sido trazido
como expiação pelo povo; e levando o sangue deste para dentro do lugar
santíssimo, fazia as aspersões como tinha feito antes com o sangue do
bezerro.
Enquanto o sumo sacerdote estava ocupado assim no lugar
santíssimo, não se permitia aos sacerdotes ordinários ficarem dentro dos
limites do tabernáculo. O santuário ou lugar santo, e o altar dos
holocaustos eram aspergidos da mesma maneira com o sangue dos dois
animais. O objetivo deste solene cerimonial era o de impressionar a
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 55
mente dos israelitas com a convicção de que todo o tabernáculo estava
manchado pelos pecados do povo culpado, que por seus pecados eles
tinham perdido o privilégio da presença divina e do culto, e que devia ser
feita uma expiação como condição para Deus permanecer com eles.
Como os pecados e as negligências do ano anterior tinham poluído o
sagrado edifício, era preciso renovar a expiação anualmente. A exclusão
dos sacerdotes indicava sua indignidade e as impurezas de seu serviço. A
aspersão do sangue misturado das duas vítimas sobre os chifres do altar,
indicava que os sacerdotes e o povo, de igual modo necessitavam uma
expiação por seus pecados. Mas como o santuário tinha sido assim
cerimonialmente purificado, e o povo de Israel reconciliado pelo sangue
das vítimas consagradas, o Senhor continuava morando no meio deles e
honrando-os com sua bendita presença.
20-22. fará chegar o bode vivo — Tendo sido já apresentado
perante o Senhor (Lv_16:10), agora era trazido ao sumo sacerdote,
quem, pondo as mãos sobre sua cabeça e “sobre ele confessará todas as
iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os
seus pecados”, transferia-os por este ato ao bode emissário como
substituto deles. Era então entregue em mãos de uma pessoa, nomeada
para o levar longe a um lugar distante, solitário e deserto, onde em
tempos primitivos era solto, para que escapasse com vida, mas no tempo
de Cristo, era levado a uma rocha alta a 19 quilômetros de Jerusalém, e
ali, sendo empurrado de um precipício, era morto. Os comentadores
discreparam entre si em suas opiniões a respeito do caráter e propósito
desta parte da cerimônia; considerando uns, com a Septuaginta e nossos
tradutores ingleses que Azazel quer dizer “bode expiatório”; outros, que
é “uma rocha alta escarpada” (Bochart); outros, “coisa separada de
Deus” (Ewald, Tholuck); enquanto que outros ainda, que é Satanás
(Gesênius, Hengstenberg). Esta última opinião se baseia na ideia de que
ambos os bodes formavam um e o mesmo sacrifício de expiação, e é
apoiada por Zac_3:1-10, que apresenta um comentário notável sobre esta
passagem. Que houvesse nesta cerimônia singular alguma referência a
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 56
uma superstição egípcia a respeito de Tufão, o espírito do mal, que
habitava no despovoado, e que o propósito fosse o de ridicularizá-la por
enviar um animal maldito a seus domínios lúgubres, é impossível dizer.
O assunto está envolto em muita escuridão. Mas em qualquer
interpretação parece haver uma referência típica a Cristo, quem levou
sobre Si os nossos pecados [Heb_10:4; 1Jo_3:5].
23-28. Arão virá à tenda da congregação, e despirá as vestes de
linho — Ao despedir o bode emissário, o sumo sacerdote se preparava
para as partes importantes do serviço que ainda restavam; e para a
execução destas tirava sua roupa singela de linho, e havendo-se banhado,
tomava sua roupa pontifícia. Assim vestido magnificamente, ia
apresentar as ofertas queimadas, que eram assinaladas para ele e o povo,
que consistiam em dois carneiros que tinham sido trazidos com as ofertas
de expiação, mas reservados até então. Ordenava-se que a gordura fosse
queimada sobre o altar; e o resto dos corpos cortado em pedaços eram
dados a alguns assistentes sacerdotais, para ser queimado fora do
acampamento, de acordo com a lei geral das ofertas pelo pecado
(Lv_4:8-12; Lv_8:14-17). As pessoas empregadas em queimá-los, como
também o condutor do animal emissário, eram obrigadas a lavar sua
roupa e banhar-se em água antes de receber permissão de voltar para o
acampamento.
29-34. Isso vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos
dez dias do mês, afligireis a vossa alma — Neste dia de expiação anual
por todos os pecados, irreverências e impurezas de todas os tipos em
Israel, durante o ano prévio, devia observar-se como jejum solene, no
qual deviam “afligir as suas almas”; era considerada um “shabbat”, e
guardado como “santa convocação”, ou assembleia para propósitos
religiosos, e as pessoas que fizessem algum trabalho, estariam destinadas
à pena de morte [Êx_31:14, Êx_31:15; Êx_35:2]. Tinha lugar no décimo
dia do sétimo mês, que correspondia a nosso três de outubro, e este
capítulo, junto com Lv_23:27-32, como continha alusão especial às
observâncias do dia era lido publicamente. A repetição destas passagens,
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 57
que estabeleciam o solene cerimonial, era muito adequada para a
ocasião, e os detalhes das partes sucessivas do mesmo, especialmente o
espetáculo da saída do bode emissário, sob o cuidado de seu condutor,
devem ter produzido impressões saudáveis tanto do pecado como do
dever, que não se apagariam logo.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 58
Levítico 17

Vv. 1-16. O SANGUE DE ANIMAIS DEVIA SER OFERECIDO


À PORTA DO TABERNÁCULO.
3. Qualquer homem ... que imolar boi — Os israelitas, como
outras pessoas habitantes do deserto, não fariam muito uso de alimento
animal, e quando matavam um cordeiro e um cabrito para comer, seria
quase sempre, como no caso da hospedagem de Abraão aos anjos
[Gn_18:7], ocasião de uma festa, e comida na companhia. Isto é o que se
fazia com as ofertas pacíficas, e por conseguinte aqui se decreta que o
mesmo proceder seja seguido ao matar os animais como no caso de
outras ofertas, quer dizer, que deveriam ser sacrificados publicamente, e
depois de ser dedicados a Deus, comidos pelos ofertantes. Esta lei, como
é óbvio, podia ser observada só no deserto, enquanto o povo estivesse
acampado a uma distância acessível ao tabernáculo. O motivo disso deve
ser achado na forte inclinação dos israelitas à idolatria no tempo de sua
saída do Egito; e como teria sido fácil a qualquer um matar um animal e
sacrificar privadamente a um objeto favorito de culto, foi feita uma
proibição estrita contra o carnear em casa (Veja-se Deut_12:13).
5. para que os filhos de Israel, trazendo os seus sacrifícios, que
imolam em campo aberto — “Eles” (entendido em nossa versão)
supõem alguns comentadores que se refere aos egípcios, de modo que o
versículo ficaria assim: “que tragam os filhos de Israel seus sacrifícios,
os que eles (os egípcios) oferecem sobre o feixe do campo”. Crê-se que a
lei tinha sido dirigida contra pessoas cujos hábitos egípcios os levavam a
imitar esta prática idolátrica.
7. Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios —
literalmente, a “bodes”. A proibição evidentemente refere-se ao culto de
deuses como Pan, Fauno e Saturno, cujo símbolo reconhecido era o
bode. Esta era uma forma de idolatria entusiastamente praticada na
província de Mendes. Supunha-se que Pan presidia especialmente nas
regiões montanhosas e desertas, e enquanto estavam no deserto era
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 59
quando os israelitas parece terem sentido a influência de propiciar a este
ídolo. Além disso, as cerimônias praticadas neste culto idolátrico eram
extremamente dissolutas e obscenas, e a impureza grosseira dos ritos em
oferta e significado ao dito de Moisés: “com os quais eles se prostituem”.
8, 9. Qualquer homem … que oferecer holocausto ou sacrifício e
não o trouxer à porta da tenda da congregação — Antes da
promulgação da lei, os homens adoravam onde queriam ou onde punham
sua tenda. Mas depois daquele acontecimento os ritos da religião podiam
ser executados só no lugar estabelecido de culto. Esta restrição com
relação ao lugar era necessária como medida preventiva contra a
idolatria; porque proibia aos israelitas, quando estavam longe, ir aos
altares dos pagãos, que geralmente estavam em bosques ou campos.
10. Qualquer homem ... que comer sangue, contra ele porei o
meu rosto, e o cortarei dentre o seu povo (TB) — O rosto de Deus é
usado com frequência nas Escrituras para dizer sua ira (Sl_34:16;
Ap_6:16; Ez_38:18), e a maneira em que o rosto de Deus se voltaria
contra tal transgressor era que, se o crime era público e conhecido, era
condenado à morte; se fosse secreto, a vingança o alcançaria. (Veja-se
Gn_9:4). Mas a prática contra a qual a lei aqui se dirige, era um rito
idolátrico. Os zabianos, ou adoradores das hostes celestiais,
costumavam, ao sacrificar animais, derramar seu sangue e comer parte
da carne no lugar onde o sangue era derramado, e às vezes comiam
também o próprio sangue, crendo que assim a amizade, fraternidade e
familiaridade se contrairiam entre os adoradores e as deidades. Além
disso eles criam que o sangue era muito benéfico para se conseguir uma
visão do demônio durante o sonho, e uma revelação de acontecimentos
futuros. A proibição contra comer sangue, vista à luz deste comentário
histórico, e sem conexão com os termos peculiares em que se expressa,
parece ter sido dirigida contra as práticas idolátricas, como é também
evidente em Ez_33:25-26; 1Co_10:20-21.
11. a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o
altar, para fazer expiação pela vossa alma — Deus, como soberano
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 60
autor e dono da natureza, reservou o sangue para Si mesmo, e permitiu
aos homens um único uso dele, nos sacrifícios.
13, 14. Qualquer homem … que caçar animal — Era costume
dos caçadores pagãos, quando matavam algum animal, derramar o
sangue como libação ao deus da caça. Os israelitas, pelo contrário,
receberam ordem, em vez de deixá-lo exposta, cobri-lo com terra, e por
este meio ficavam eficazmente excluídos de todos os usos supersticiosos
aos quais a aplicavam os pagãos.
15, 16. Todo homem … que comer o que morre por si
(Êx_22:31; Lv_11:30; At_15:20)
será imundo até à tarde — ou seja, desde o momento em que se
descobre sua falta até à tarde. Esta lei, entretanto, se referia-se só aos
israelitas. (Veja-se Dt_14:21).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 61
Levítico 18

Vv. 1-30. CASAMENTOS ILEGAIS.


2-4. Eu sou o SENHOR, vosso Deus — Esta menção renovada da
soberania divina sobre Israel, tinha por motivo o fazer ênfase em
algumas leis que eram muito diferentes dos costumes sociais que
existiam tanto no Egito como em Canaã; porque as enormidades que as
leis enumeradas neste capítulo tentavam reprimir, eram praticadas
livremente e sancionadas publicamente em ambos os países; e, com
efeito, a exterminação dos antigos cananeus se descreve como devida às
abominações com que tinham poluído a terra.
5. os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo-os,
o homem viverá por eles — Uma bênção especial se prometia aos
israelitas sob a condição de sua obediência à lei divina; e esta promessa
foi notavelmente cumprida em certas épocas de sua história, quando
prevalecia entre eles a religião pura e sem mancha, na prosperidade
pública e felicidade doméstica desfrutadas por eles como povo. A
obediência à lei divina, com efeito, sempre assegura vantagens
temporárias; este, sem dúvida, era o sentido principal das palavras:
“cumprindo-os, o homem viverá por eles”. Mas que tinham uma
referência mais alta à vida espiritual, é evidente na aplicação feita delas
por nosso Senhor (Lc_10:28) e o apóstolo (Rm_10:2).
6. Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne
— Grande relaxamento prevalecia no Egito em seus sentimentos e
práticas a respeito da relação conjugal, porque eles não só sancionavam
abertamente casamentos de irmãos com irmãs, mas também de pais com
suas filhas. Semelhantes alianças incestuosas Moisés sabiamente as
proibiu, e suas leis formam a base sobre a qual a regulamentação
matrimonial neste país e outros países cristãos se baseia. Este versículo
contém um resumo de todas as proibições particulares; e o trato proibido
destaca-se pela frase “se chegará a qualquer parenta”. Nas proibições
especificadas que seguem, e todas as que estão incluídas neste resumo
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 62
general, indica-se a familiaridade proibida sob as frases: “descobrir a
nudez” [Lv_18:12-17], “tomar” [Lv_18:17-18] e “ajuntar-se com”
[Lv_18:22-23]. A frase neste versículo 6, pois, tem idêntico significado a
cada uma das outras três, e os casamentos em referência aos quais é
aplicada, são os de consanguinidade ou afinidade muito próxima, os que
chegam a ser uniões incestuosas.
18. Não tomarás uma mulher juntamente com sua irmã, de
modo que lhe seja rival (TB) — Na margem se traduz o original: “nem
tomará uma esposa a outra para vexá-la”, e duas interpretações diferentes
e opostas foram dadas a esta passagem. A construção marginal envolve
uma proibição clara da poligamia; e, com efeito, não pode haver dúvida
de que a prática de ter mais de uma esposa é diretamente contrária à
vontade divina. Foi proibida pela lei original do casamento, e nenhuma
evidência de sua legalidade sob o código levítico pode ser descoberta,
ainda que Moisés, pela dureza do coração deles” [Mt_19:8; Mc_10:5], a
tolerou para um povo de uma época rude e primitiva. A segunda
interpretação forma a base sobre a qual a “questão irritante” se suscitou
em nossos tempos com relação à legalidade de um casamento com a
irmã de uma esposa finada. Sejam quais sejam os argumentos usados
para provar a ilegalidade ou a impropriedade de tal relação matrimonial,
a passagem sob consideração não pode ser usada, sobre uma base firme e
sã de interpretação, para apoiar tal coisa; porque os crimes com que aqui
se associa, autorizam a conclusão de que se refere não ao casamento com
a irmã de uma esposa já morta, mas com a irmã da esposa enquanto esta
vivesse, uma prática comum entre os antigos egípcios, caldeus e outros.
21. Não darás nenhum de teus filhos para os fazeres passar pelo
fogo a Moloque (TB) — Moloque, ou Molec, que significa “rei”, era o
ídolo dos amonitas. Sua estátua era de bronze, e descansava sobre um
pedestal ou trono do mesmo material. Sua cabeça, semelhante a de um
bezerro, portava uma coroa, e seus braços se estendiam em atitude de
abraçar os que se aproximavam. Seus devotos lhe dedicavam seus filhos;
e ao fazer isso, esquentavam a estátua a uma temperatura alta por um
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 63
fogo dentro da própria, e logo os meninos eram sacudidos sobre as
chamas, ou passados entre os braços candentes, como meio de assegurar
o favor da suposta deidade. Aqueles adoradores do fogo afirmavam que
todos os meninos que não eram submetidos a este processo purificador,
morreriam na infância. A influência desta superstição zabiana estava
ainda tão estendida no tempo de Moisés, que o legislador divino creu
necessário proibir tal prática mediante um estatuto especial.
nem profanarás o nome de teu Deus — dando o nome deus a
divindades falsas ou pretendidas; ou, talvez, como este mandato fica em
estreita relação com o culto a Moloque, o sentido é: Pelo ato de dedicar
seus filhos a ele, não deem a estrangeiros ocasião para blasfemar do
nome de seu Deus como de uma deidade cruel e sanguinária, que exija o
sacrifício de vítimas humanas, e que incentive a crueldade entre seus
devotos.
24. Com nenhuma destas coisas vos contaminareis. — Nos
dezessete versículos anteriores, são enumerados casos específicos de
incesto, que compreendem onze casos de afinidade [Lv_18:7-16], e seis
de consanguinidade [Lv_18:17-20], juntos com algumas enormidades
criminais de um caráter agravado e antinatural. Em tais proibições era
necessário para a introdução de um povo abaixo da escala da percepção
moral, que a enumeração fosse muito específica como também muito
detalhada; e logo, ao terminar a lista, o legislador divino anuncia sua
própria opinião sobre estes crimes, sem exceção nem modificação, nos
termos notáveis empregados neste versículo.
com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu lanço
de diante de vós. — A história antiga dá muitas provas espantosas de
que os vícios nefandos descritos neste capítulo estavam muito
estendidos; até eram praticados por motivos religiosos nos templos do
Egito e nos bosques de Canaã; e foram estas grandes desordens sociais
que causaram sua expulsão, da qual foram os israelitas, em mãos de uma
Providência justa e retributiva os instrumentos escolhidos (Gn_15:16). A
linguagem fortemente figurativa de que a terra “vomitou” os seus
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 64
habitantes [Lv_18:25], demonstra a profundidade desesperadora de sua
corrupção moral.
25. e eu visitei nela a sua iniquidade, e ela vomitou os seus
moradores — Os cananeus, como grandes e incorrigíveis pecadores,
deviam ser exterminados; e o extermínio foi manifestamente um castigo
judicial infligido por um governante cujas leis tinham sido grosseira e
constantemente violadas. Mas antes que uma lei possa ser desobedecida,
deve primeiro ter existido; e portanto uma lei, proibindo todos os crimes
horrendos enumerados acima, uma lei obrigatória aos cananeus como a
outras nações, era já conhecida e exercida, antes de ser promulgada a lei
levítica do incesto. Alguma lei geral, que proibisse estes crimes, deve ter
sido publicada para a humanidade num período anterior da história do
mundo; e aquela lei seria a lei moral, originalmente escrita no coração
humano, uma lei sobre a instituição do casamento revelada a Adão, e
conhecida dos cananeus ou de outros por tradição, ou de outra maneira.
29. aqueles que as cometerem serão eliminados do seu povo —
Esta forte linguagem admonitória aplica-se a todos os crimes detalhados
no capítulo, sem distinção; ao incesto como à bestialidade, e aos onze
casos de afinidade [Lv_18:7-16] como aos seis de consanguinidade
[Lv_18:17-20]. A morte é o castigo rigorosamente anunciado contra
todos eles. Nenhuma linguagem poderia ser mais explícita ou universal;
nenhuma poderia indicar mais fortemente, repugnância e aversão.
30. Portanto, guardareis a obrigação que tendes para comigo,
não praticando nenhum dos costumes abomináveis que se
praticaram antes de vós — Ao dar aos israelitas estes estatutos
particulares, Deus só entregava de novo a lei impressa no coração natural
do homem; porque há toda razão para crer que as alianças incestuosas e
os crimes antinaturais proibidos neste capítulo, estavam vedados a todos
os homens por uma lei expressa ou entendida, desde o começo do
mundo, ou pelo menos desde o tempo do dilúvio, visto que Deus ameaça
condenar e castigar, de uma maneira tão rigidamente severa, estas
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 65
atrocidades praticadas pelos cananeus e seus vizinhos, aqueles que não
estavam sujeitos à lei da nação hebreia.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 66
Levítico 19

Vv. 1-37. UMA REPETIÇÃO DE VÁRIAS LEIS.


2. Fala a toda a congregação dos filhos de Israel — Muitas das
leis enumeradas neste capítulo tinham sido anunciadas anteriormente.
Como eram, entretanto, de uma aplicação geral, não adaptadas a classes
especiais, mas sim à nação inteira, assim parece que Moisés, por ordem
divina, as tinha repetido, talvez em diferentes ocasiões e a divisões
sucessivas do povo, até que “toda a congregação dos filhos de Israel” foi
ensinada a conhecer. A vontade de Deus tanto no Antigo como no Novo
Testamento não estava encerrada nos arquivos de uma língua
desconhecida, mas sim comunicada clara e abertamente ao povo.
Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo —
Separado do mundo, o povo de Deus precisava ser santo, porque eram
santos o caráter, as leis e o serviço dele. (Veja-se 1Pe_1:15).
3. Cada um respeitará a sua mãe e o seu pai e guardará os meus
sábados — A obediência aos pais está posta em conexão com a devida
observância dos sábados, porque os dois deveres são o fundamento da
religião prática.
5-8. Quando oferecerdes sacrifício pacífico ao SENHOR,
oferecê-lo-eis para que sejais aceitos — Estes que incluíam ofertas de
agradecimento, ou ofertas feitas por votos, sempre eram ofertas
voluntárias. Exceto as porções que, sendo movidas, deviam ser
propriedade dos sacerdotes (veja-se Lv_3:1-17), o resto da vítima era
comido pelo ofertante e seus amigos, sob os regulamentos seguintes,
entretanto, de que, sendo ofertas de agradecimento, tinham que ser
comidas no mesmo dia de sua apresentação; e se fossem ofertas
voluntárias, ainda que poderiam ser comidas no segundo dia, entretanto,
se algo dela ficasse até o terceiro dia, tinha que ser queimado, ou se não,
a pessoa que se atrevesse a comer disso, incorria num grande pecado. A
razão destas proibições estritas parece ter sido evitar que alguma virtude
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 67
misteriosa fosse atribuída supersticiosamente à carne deixada sobre o
altar.
9, 10. Quando segares as messes da tua terra, não segarás
totalmente os cantos do teu campo (TB) — Foi assegurado por um
estatuto positivo o direito dos pobres de espigar depois dos colhedores
como também nos cantos não segados nos campos, e este, de outros
decretos relacionados com a lei cerimonial, formava uma disposição
benéfica para o sustento deles. Ao mesmo tempo, os donos não estavam
obrigados a lhes dar entrada, enquanto o grão não fosse tirado do campo;
e parece também que tinham sido deixados com liberdade de escolher
quais pobres eles pensavam ser os mais merecedores e necessitados
(Rt_2:2, Rt_2:8). Esta é a primeira lei a favor dos pobres que lemos no
código de qualquer povo; a lei combinava em união admirável a
obrigação de um dever público com o exercício da benevolência
particular e voluntária num tempo em que os ricos estariam fortemente
inclinados à liberalidade.
11-16. Não furtareis — Vários deveres sociais são ensinados nesta
passagem, principalmente com referência a vícios comuns não
considerados como tais, aos quais o ser humano é propenso: tais como
cometer pequenas fraudes; não ter escrúpulo em violar a verdade em
transações de negócio; ridicularizar os defeitos corporais ou fazer
circular contos para o prejuízo de outros. Em contraste com estes hábitos
feios, insiste-se poderosamente num espírito de humanidade e bondade
fraternal.
17. repreenderás o teu próximo — Em lugar de criar sentimentos
latentes de malícia ou meditar propósitos de vingança contra a pessoa
que tivesse cometido um insulto ou dano contra eles, ensinava-se ao
povo de Deus a raciocinar com o ofensor, e a procurar, por meio de um
raciocínio tranquilo e benigno, trazê-lo ao conhecimento de seu falta.
por causa dele, não levarás sobre ti pecado — lit., “para que não
participe de seu pecado”.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 68
18. amarás o teu próximo como a ti mesmo — A palavra
“próximo” usa-se como sinônimo de ser humano. Os israelitas de um
tempo posterior limitavam seu significado como aplicável só a seus
compatriotas. Esta interpretação estreita foi refutada por nosso Senhor
numa bela parábola (Lc_10:30-37).
19. Não cruzem animais domésticos de espécies diferentes
(NTLH) — Esta proibição provavelmente tinha por fim reprimir uma
prática que parecia transgredir a economia que Deus tinha estabelecido
no reino animal.
no teu campo, não semearás semente de duas espécies — Isto
também era dirigido contra uma prática idolátrica, a dos antigos
zabianos, ou adoradores do fogo, os quais semeava uma mistura de
sementes, acompanhando o ato com ritos mágicos e invocações; e os
comentadores em geral pensaram que o propósito disto era pôr fim a
concupiscências antinaturais e superstições insensatas, que prevaleciam
entre os pagãos. Mas os motivos da proibição eram talvez mais
profundos: porque os que estudaram as doenças da terra e as vegetais,
dizem-nos que a prática de misturar sementes é daninha tanto às flores
como aos grãos. “Se os diferentes gêneros da ordem natural Gramineae,
que inclui os grãos e pastos, são semeados no mesmo campo, e
florescem ao mesmo tempo de modo que o pólen de duas flores se
mescle, uma semente espúria seria o resultado, que é sempre inferior e
diferente dos dois grãos que a produziram, em tamanho, sabor e
princípios nutritivos. Independentemente de contribuir para adoecer o
solo, nunca deixam de produzir o mesmo nos animais e os homens que
deles se alimentam.” (Whitlaw.)
nem usarás roupa de dois estofos misturados — Ainda que este
preceito, como os outros dois com ele associados, estava designado
provavelmente para desarraigar alguma superstição, parece ter tido um
significado adicional. A lei, deve notar-se, não proibia que os israelitas
usassem diferentes tipos de tecido juntos, mas sim só as duas
especificadas; e as observações e averiguações da ciência moderna
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 69
provaram que a “lã”, quando está combinada com o “linho”, aumenta seu
poder de conduzir para fora a eletricidade do corpo; em climas quentes,
produz febres malignas, e esgota as forças, e quando passando do corpo,
encontra-se com o ar quente, inflama e escorre como uma ampola”.
(Whitlaw.)
23-25. três anos vos será vedado; dele não se comerá — “A
sabedoria desta lei é surpreendente. Todo jardineiro ensinará a não
deixar que as plantas produzam fruto em seus primeiros anos, mas sim a
tirar as flores: e a razão é esta: Que crescerão melhor, e produzirão mais
fruto mais tarde. A mesma expressão, “vos será vedado” sugere a
conveniência de tirar as flores. Não digo que sejam cortadas, porque é
geralmente a mão e não a faca a que se emprega nesta operação”
(Michaelis).
26. Não comereis coisa alguma com sangue — (cf. Lv_17:10).
não agourareis, nem adivinhareis — A primeira frase refere-se a
adivinhação por serpentes, uma das formas mais antigas de
encantamento, e a outra quer dizer a observação, literalmente, de nuvens,
porque o estudo da aparência e movimentos das nuvens, era uma
maneira comum de predizer a boa ou má sorte. Tais superstições
absurdas e muito arraigadas, frequentemente detinham o curso de
transações sérias e importantes, mas foram proibidas especialmente
porque revelavam uma falta de fé na existência de Deus, e falta de
confiança em sua providência.
27. Não cortareis o cabelo em redondo, etc. — Parece provável
que esta moda tinha sido aprendida pelos israelitas no Egito, porque os
egípcios tinham suas jubas negras cortadas e barbeadas com muita
precisão, de modo que o que ficava parecia em forma de um círculo que
rodeava a cabeça, enquanto que a barba era resolvida em forma
quadrada. Este tipo penteado tinha um significado grandemente
idolátrico; e era adotado, com pequenas variações, por quase todos os
idólatras em tempos antigos. (Jr_9:25-26; Jr_25:23, onde “no último
canto” quer dizer ter os cantos do cabelo cortados.) Frequentemente se
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 70
deixava um juba de cabelo na parte traseira da cabeça, estando recortado
o resto em forma de círculo, como fazem os turcos, chineses e hindus
hoje em dia.
nem danificareis as extremidades da barba — Os egípcios
estavam acostumados a cortar ou fazer sua barba, como se pode ver nos
ataúdes de múmias, e as representações de divindades nos monumentos.
Mas os hebreus, a fim de separar os das nações vizinhas, ou talvez pôr
fim a alguma superstição existente, foram proibido de imitar esta prática.
Poderá parecer surpreendente que Moisés condescendesse a tais detalhes
como o de regulamentar a moda do cabelo e da barba — assuntos que
não costumam ocupar a atenção de um legislador — e que parecem
muito afastados da competência do governo ou da religião. Surge, pois,
uma forte presunção de que ele tentava combater por estes regulamentos
algumas práticas supersticiosas dos egípcios.
28. Pelos mortos não ferireis a vossa carne — A prática de fazer
profundas incisões no rosto, braços e pernas, em tempo de luto, era
universal entre os pagãos, e era considerada um conveniente sinal de
respeito pelos mortos, como também uma espécie de oferta propiciatória
às deidades que presidiam a morte e o sepulcro. Os judeus aprenderam
este costume no Egito, e ainda que desarraigados dela, recaíram em
época posterior e degenerada nesta velha superstição. (Is_15:2; Jr_16:6;
Jr_41:5).
nem fareis marca nenhuma sobre vós — por tatuagem
imprimindo figuras de flores, folhas, estrelas e outros desenhos
fantásticos em diferentes partes do corpo. A impressão era feita às vezes
com ferros candentes, outras vezes por meio de pinturas ou tintas, como
o fazem as mulheres árabes e certas classes de hindus hoje em dia. É
provável que a propensão a adotar tais sinais em honra a algum ídolo,
desse ocasião para a proibição contida neste versículo; e foram
sabiamente proibidas, porque eram sinais de apostasia, e, quando as
faziam uma vez, eram obstáculos insuperáveis para um retorno. (Veja-se
alusões à prática, Is_44:5; Ap_13:17; Ap_14:1).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 71
30. Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu
santuário — Este preceito é repetido frequentemente, junto com a
proibição de práticas idolátricas, e aqui está estreitamente unido com as
superstições proibidas nos versículos anteriores.
31. Não vos voltareis para os necromantes — A palavra hebraica,
traduzida “necromantes”, significa o ventre, e às vezes uma garrafa de
couro por sua semelhança com o ventre. No sentido desta passagem
aplicava-se aos ventríloquos, que fingiam ter comunicação com o mundo
invisível; e os hebreus foram proibidos consultar com eles; porque as
pretensões vãs daqueles impostores eram caluniadoras da honra de Deus,
e subversivas de suas relações pactuadas com Ele como Seu povo.
nem para os adivinhos — como o indica a palavra hebraica, eram
os que fingiam predizer o futuro por meio de uma verificação das linhas
na palma das mãos
33, 34. Se o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o
oprimireis — Os israelitas tinham que animar os estrangeiros a se
estabelecerem entre eles, a fim de que fossem trazidos ao conhecimento
e à adoração do verdadeiro Deus; e com tais objetivos, foi-lhes ordenado
que não os tratassem como estranhos, mas sim como amigos, visto que
eles mesmos, que eram estrangeiros no Egito, no princípio foram
recebidos bondosa e hospitaleiramente naquele país.
37. Eu sou o SENHOR — Esta admoestação solene, pela qual
estes diferentes preceitos são repetidamente sancionados, é equivalente a
“Eu, seu Criador, seu Libertador da escravidão, e seu Soberano, que
tenho sabedoria para estabelecer leis, tenho poder também para castigar a
violação delas”. Era bem adequado para impressionar as mentes dos
israelitas com um sentido de seu dever e dos direitos de Deus à
obediência.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 72
Levítico 20

Vv. 1-27. DANDO OS FILHOS A MOLOQUE.


2. Qualquer dos filhos de Israel … que der de seus filhos a
Moloque (veja-se Lv_18:21).
o povo da terra o apedrejará, etc. — Os criminosos, condenados a
ser apedrejados, eram conduzidos, com as mãos atadas, fora das portas, a
uma eminência, onde havia uma grande pedra posta no fundo. Quando
tinha chegado a dez côvados do lugar, era exortado a confessar, para que,
por fé e arrependimento, suas almas fossem salvas. Quando tinham
chegado a quatro côvados, eram despojados de suas roupas até deixá-los
quase despidos, e recebiam alguma droga que insensibilizava, enquanto
as testemunhas se preparavam, tirando suas roupas exteriores, a levar a
execução a sentença capital que a lei os obrigava a fazer. Colocado o
criminoso na borda do precipício, era empurrado para trás, de modo que
caísse precipício abaixo sobre a grande pedra; se não fosse morto pela
queda, a segunda testemunha lançava uma grande pedra para baixo sobre
seu peito, e logo “o povo da terra”, que eram espectadores, adiantavam-
se, e com pedras terminavam a obra da morte. (Mt_21:44; At_7:58).
4. Se o povo da terra fechar os olhos para não ver esse homem,
etc. — ou seja, tolerassem que seu compatriota praticasse os ritos
horríveis de Moloque. Horrendo era que alguns pais hebreus pudessem
assim violar sua aliança nacional, e não é preciso maravilhar-se que
Deus pronunciasse as penas mais severas contra eles e suas famílias.
7-19. santificai-vos e sede santos — A especificação detalhada dos
crimes incestuosos e antinaturais aqui enumerados, demonstra sua triste
estadia entre as nações idolátricas ao redor, e a extrema propensão dos
israelitas a seguir os costumes de seus vizinhos. Deve entender-se que,
quando se faz menção de que o transgressor seja morto, sem descrever o
modo, entende-se morte por apedrejamento. O único caso de outra forma
de castigo capital, é mencionada em Lv_20:14, a de ser queimado por
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 73
fogo; mas ainda aqui é provável que a morte fosse infligida por
apedrejamento, e o corpo depois fosse consumido pelo fogo. (Js_7:15).
20. morrerão sem filhos — Ou pelo juízo de Deus não terão filhos,
ou a sua prole espúria seriam negados por autoridade humana os
privilégios ordinários dos filhos de Israel.
24. vos separei dos povos — Sua eleição dentre as demais nações
foi para o fim extremamente importante de conservar o conhecimento e o
culto do verdadeiro Deus no meio da apostasia universal; e como a
distinção de carnes era um grande meio de completar aquela separação, a
lei a respeito de fazer uma diferença entre animais limpos e animais
impuros se repete aqui com solenidade enfática.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 74
Levítico 21

Vv. 1-24. SOBRE O LUTO DOS SACERDOTES.


1. O sacerdote não se contaminará por causa de um morto — O
motivo óbvio dos regulamentos contidos neste capítulo era o de guardar
invioláveis a pureza e dignidade do sagrado ofício. O contato com um
cadáver, ou até a antiguidade ao lugar onde jazia, como ocasionavam
contaminação cerimonial (Nm_19:14), todos os enlutados eram
excluídos do tabernáculo durante uma semana; e como a exclusão de um
sacerdote durante tal período teria sido acompanhada com grande
inconveniente, a toda a ordem era mandado abster-se de toda
aproximação dos mortos, exceto nos funerais de parentes, aos quais pelo
carinho ou pela necessidade teriam que assistir para fazer os últimos
ritos. Estes casos excepcionais, os quais estão especificados, estavam
limitados estritamente a membros de sua própria família, dentro dos
graus de parentesco mais próximos.
4. não se contaminará — “a favor de nenhum outro”, como o
sentido completo poderia expressar-se. “O sacerdote, ao cumprir suas
funções sagradas, bem poderia ser considerado como um homem
principal entre seu povo, e por estas contaminações poderia dizer-se que
se profanava” (Bishop Patrick). A palavra traduzida “príncipe”, significa
também “esposo”; e o sentido segundo outros é: “Mas sendo esposo ele,
não se contaminará pelas exéquias de uma esposa”. (Ez_44:25).
5. Não farão calva na sua cabeça … nem ferirão a sua carne —
Os sinais supersticiosos de pesar, como também os excessos violentos
aos quais se entregavam os pagãos por ocasião da morte de seus amigos,
estavam proibidos por uma lei geral dos hebreus (Lv_19:28). Mas os
sacerdotes estavam postos sob mandato especial, não só para que dessem
exemplos de piedade na moderação de sua dor, mas também para que
pelo refreamento de suas paixões, estivessem melhor habilitados para
administrar os consolos da religião a outros, e mostrar por sua fé numa
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 75
bendita ressurreição, as razões para não entristecer-se como aqueles que
não têm esperança.
7-9. Não tomarão por esposa uma mulher prostituta ou
desonrada (BJ) — Os particulares podiam formar várias uniões que
eram proibidas como inconvenientes e impróprias aos sacerdotes. A
respeitabilidade de seu posto e a honra da religião exigiam santidade sem
mancha em suas famílias como também neles mesmos, e as separações
desta norma eram repreendidas com castigos mais severos que no caso
de outros.
10-15. O sumo sacerdote … não desgrenhará os cabelos, nem
rasgará as suas vestes — A permissão nos casos especiais de
falecimentos de familiares próximos, mencionados acima [Lv_21:2, 3],
que era dado aos sacerdotes comuns, era-lhe negado ao sumo sacerdote;
porque não era possível permitir sua ausência do tabernáculo durante a
purificação de alguma contaminação contraída, tampouco podia ele agir
como intercessor pelo povo, se estava cerimonialmente poluído. Além
disso, a alta dignidade de seu cargo demandava uma superioridade em
santidade pessoal, e regras estritas foram prescritas com o propósito de
apoiar a dignidade conveniente de sua posição e família. As mesmas
regras se estendem às famílias de ministros cristãos. (1Tm_3:2; Tt_1:6).
16-24. Ninguém dos teus descendentes, nas suas gerações, em
quem houver algum defeito se chegará para oferecer o pão do seu
Deus — Como as coisas visíveis exercem poderosa influência na mente
dos homens, algum defeito ou má conformação corporal nos ministros da
religião, que afete a perfeição ou promova o ridículo, tende a diminuir a
gravidade e autoridade do sagrado ofício. Os sacerdotes prejudicados por
defeitos corporais não tinham permissão de oficiar nos serviços públicos;
poderiam ser empregados em alguns deveres inferiores junto ao
santuário, mas não podiam desempenhar nenhum cargo sagrado. Em
todos estes regulamentos para a conservação da pureza sem mancha do
caráter e ofício sagrados, havia uma referência típica ao sacerdócio de
Cristo. (Heb_7:26).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 76
Levítico 22

Vv. 1-9. OS SACERDOTES EM SUA IMPUREZA.


2. Dize a Arão e aos seus filhos que se abstenham das coisas
sagradas — O teor deste mandato é, que os sacerdotes deveriam abster-
se de comer aquela parte dos sacrifícios, a qual, pertencendo à ordem,
tinha que ser comida só pelos dentre eles que estivessem livres de
impurezas legais.
para que não profanem meu santo nome. — ou seja, que eles não
deem ocasião de que meu nome seja profanado, por falta da devida
reverência de sua parte. Um uso descuidado e irreverente das coisas
consagradas a Deus tende a desonrar o nome e trazer falta de respeito
sobre o culto de Deus.
3. Todo homem, que … se chegar às coisas sagradas — A
multidão de limitações minuciosas a que estavam sujeitos os sacerdotes,
por contaminação acidental, tendo-as sempre presente, para que não
fossem ineptos para o serviço sagrado, tendia a conservar ativo o
sentimento de reverência e submissão à autoridade de Deus. As ideias do
pecado e do dever eram despertadas em seu coração por cada caso ao
qual se referia ou uma proibição ou um mandato. Mas por que decretar
um estatuto rápido para os sacerdotes inabilitados pela lepra ou o contato
contaminador de um morto [Lv_22:4], quando uma lei geral já estava em
vigor, a qual excluía da sociedade a todas as pessoas naquela condição?
Porque os sacerdotes poderiam inclinar-se pela intimidade com coisas
religiosas a brincar com a própria religião, e a cometer irregularidades ou
pecados defendendo-se sob o manto de seu ofício sagrado. Esta lei, pois,
foi decretada, especificando as formas principais de contaminação
temporária que excluíam do santuário, para que os sacerdotes não se
julgassem credores de maior liberdade que os demais israelitas; e longe
de estar em algum grau isentos das sanções da lei, eles estavam sob
maiores obrigações, por causa de seu caráter sacerdotal, de observar a lei
estritamente à letra, com seus menores decretos.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 77
4-6. sem primeiro banhar o seu corpo em água — Qualquer
israelita que tinha contraído contaminação de tal natureza que o excluíra
de seus privilégios habituais, e que tivesse sido limpo da impureza que o
desqualificava, estava obrigado a indicar seu estado de restabelecimento
mediante a imersão de toda sua pessoa em água. Embora toda impureza
cerimonial formava causa de exclusão, havia graus de impureza, que
impunham um período mais longo ou período mais curto de
excomunhão, e para tirá-la tinham que ser observados ritos diferentes
segundo a natureza corriqueira ou maligna do caso. A pessoa que
inadvertidamente tinha contato com um animal impuro, se tornava
impura por um tempo especificado; e logo, no fim daquele período,
lavava-se, em sinal de sua pureza recuperada. Mas um leproso estava
imundo tanto tempo quanto ficava sujeito à doença, e a sua
convalescença, ele também se lavava, não para limpar-se, porque a água
era ineficaz para tal fim, senão para assinalar que estava limpo. Não se
recorda de nenhum caso em que um leproso tenha sido restaurado à
comunhão pelo uso da água; esta servia somente como um sinal externo
e visível de que tal restauração tinha que ser feita. O livro de Levítico
abunda em exemplos que demonstram que em todos as lavagens
cerimoniais, como a impureza significava perda de privilégios, assim o
batismo em água indicava uma restauração a tais privilégios. Não havia
nenhuma exceção; porque assim como o israelita poluído era excluído da
congregação, assim o sacerdote poluído estava inabilitado a executar
suas funções sagradas no santuário; e no caso de ambos, a mesma
observância era exigida — um aviso formal de sua readmissão a
privilégios perdidos, pelo rito estabelecido do batismo. Se alguém
descuidava ou se negava a cumprir o lavar-se, o tal desobedecia um
preceito positivo, e ficava em sua impureza; deixava de desfrutar deste
privilégio, e portanto dizia-se que era “cortado” da presença de Jeová.
8. animal que morre por si mesmo — Os sentimentos da natureza
se rebelam contra tal alimento. Poderia se deixar o assunto à discrição
dos hebreus, aqueles que, se poderia supor, como os povos de todos as
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 78
nações civilizadas, se absteriam do uso de tal carne sem ter uma
proibição expressa. Mas um mandato positivo era necessário para lhes
mostrar que qualquer coisa que morresse naturalmente ou por doença,
era-lhes proibida por operação daquela lei que lhes vedava o uso de toda
carne com seu sangue.

Vv. 10-16. QUEM DA FAMÍLIA DE SACERDOTES PODERIA


COMER DE SUAS COMIDAS.
10. Nenhum estrangeiro comerá das coisas sagradas — A porção
dos sacrifícios destinada para o sustento dos sacerdotes oficiantes, estava
restringida ao uso exclusivo de sua própria família. Uma visita ocasional
ou servo a salário não tinha a liberdade de comer dela; mas uma exceção
foi feita a favor do escravo comprado ou nascido na casa, porque o tal
era membro permanente da família. Pelo mesmo princípio, a própria
filha do sacerdote, que se tinha casado com homem laico, tampouco
podia comer das comidas sagradas; entretanto, se ela enviuvava sem
filhos, era reintegrada à família de seu pai como antes de seu casamento.
Mas se ela tinha chegado a ser mãe, como seus filhos não tinham direito
ao sacerdócio, ela estava sob a necessidade de achar o sustento para eles
em outro lugar que não fosse sob o teto de seu pai.
13. mas nenhum estrangeiro comerá dele — A proibição
(Lv_22:10) é repetida para mostrar sua severidade. Todos os hebreus, até
os vizinhos mais próximos do sacerdote, com exceção dos membros de
sua família, eram considerados estrangeiros no sentido de que eles não
tinham direito algum de comer das coisas oferecidas sobre o altar.
14. Se alguém, por ignorância, comer a coisa sagrada — Um
israelita particular, sem notar, poderia comer do que tinha sido devotado
como dízimo, ou primícias, etc., e ao descobrir seu erro involuntário,
tinha que repor não só tanto quanto tinha comido, mas sim ser multado
com a quinta parte mais para que os sacerdotes a levarem a santuário.
15, 16. Não profanarão as coisas sagradas que os filhos de Israel
oferecem — Sente-se alguma dificuldade em decidir a quem se refere o
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 79
sujeito entendido do verbo “profanarão”. Como o sujeito do contexto
anterior se referia aos sacerdotes, alguns supõem que o sujeito desta
cláusula se refere também a eles; e o sentido é que o povo inteiro
incorreria em culpa por meio da falta dos sacerdotes, se eles profanassem
as ofertas sagradas, o que teriam feito, se apresentassem as ofertas
estando eles sob alguma contaminação (Calvino). Segundo outros, “os
filhos de Israel” é o nominativo da cláusula; o que assim significa que os
filhos de Israel não profanarão ou contaminarão suas ofertas, por tocá-las
ou reservar alguma parte delas, a fim de não incorrer na culpa de comer
o que é divinamente destinado só aos sacerdotes (Calmet).

Vv. 17-33. OS SACRIFÍCIOS DEVEM SER SEM MANCHA.


19. para que seja aceitável, oferecerá — antes, “para que vós
sejais aceitos”.
macho sem defeito — Esta lei se baseia (Lv_1:3) num sentido de
perfeição natural que exigia que se tomasse o maior cuidado em escolher
os animais para o sacrifício. O motivo deste cuidado excessivo se acha
no fato de que os sacrifícios ou são uma expressão de louvor a Deus pela
Sua bondade, ou são os meios assinalados de conciliar ou reter os Seus
favores. Nenhuma vítima que não fosse perfeita de sua classe, poderia
ser considerada instrumento idôneo para tais propósitos, se entendermos
que a importância dos sacrifícios depende inteiramente de sua relação
com o Senhor. Os sacrifícios podem ser comparados com os obséquios
apresentados a um rei por seus súditos, e vemos o razoável da forte
admoestação de Deus aos hebreus de critério mundano (Ml_1:8).
Se o tabernáculo, e mais tarde o templo, fossem considerados como
o palácio do grande Rei, então os sacrifícios corresponderiam aos
obséquios oferecidos a um monarca em determinadas ocasiões, por seus
súditos; e semelhantes a eles deviam ser as expressões apropriadas de
seus sentimentos para com o seu soberano. Quando um súdito queria
fazer honra a seu soberano, reconhecer sua lealdade, aplacar sua ira,
suplicar seu perdão ou interceder a favor de outro, trazia um presente; e
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 80
todas as ideias compreendidas nos sacrifícios correspondem a estes
sentimentos: os de gratidão, de adoração de oração, de confissão e
expiação. (Bíblia Sacra.)
23. poderás oferecer, etc. — A passagem deveria traduzir-se
assim: “Se o oferecer como oferta voluntária ou por voto, não será
aceito”. Como este sacrifício se exigia “sem defeito” [Lv_22:19], dava a
entender simbolicamente que o povo de Deus devia dedicar-se
inteiramente com propósitos sinceros de coração, e como se exigia que
fosse “perfeito para ser aceito” [Lv_22:21], o sacrifício os conduzia
tipicamente Àquele sem o qual nenhum sacrifício poderia ser devotado
de modo aceitável a Deus.
27, 28. sete dias estará com a mãe — Os animais não eram
considerados bons para alimento até o oitavo dia. Como os sacrifícios se
chamam o pão ou alimento de Deus (Lv_22:25), o ato de oferecê-los
imediatamente depois de nascer, quando eram inadequados para ser
comidos, teria indicado um desprezo da religião; e além disso, esta
proibição, como explicitado em Lv_22:28, ensinava uma lição de
humanidade ou olhar pela mãe, como também livrava os sacrifícios de
toda aparência de crueldade.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 81
Levítico 23

Vv. 1-4. SOBRE AS DIFERENTES FESTAS.


2. Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas, etc. —
Literalmente, “os tempos de reunir-se” (Is_33:20); e esta é a tradução
preferida, por ser aplicável a todas as épocas sagradas mencionadas neste
capítulo, até pelo dia de expiação, que se celebrava como jejum. Foram
estabelecidas sob a autoridade direta de Deus, e publicamente
anunciadas por proclamação, que se chama “os vivas de júbilo”
(Sl_89:15). Aquelas “santas convocações” eram evidências da sabedoria
divina, e eminentemente úteis para manter e difundir os conhecimentos
religiosos e a piedade.
3. Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o sábado do
descanso solene — (Veja-se Êx_20:8-9). O sábado tem a prioridade, e
tinha que ser “uma santa convocação”, celebrada pelas famílias “em suas
moradas”; e onde fosse viável, por acudir o povo à porta do tabernáculo;
em períodos posteriores por assembleias nas escolas dos profetas e em
sinagogas.
4. São estas as festas fixas do SENHOR … que proclamareis no
seu tempo determinado — Suas celebrações caíam nas partes do ano
que correspondem a nosso março, maio e setembro. A sabedoria divina
foi manifestada ao fixá-las naqueles períodos; no inverno, quando os dias
eram curtos, e os caminhos estavam desfeitos, uma longa viagem era
impraticável; enquanto que no verão a colheita e colheita de uvas davam
ativo emprego nos campos. Além disso, outro motivo para a escolha
daquelas estações provavelmente era o de rebater a influência das
associações e os hábitos egípcios. Deus fixou mais festividades para os
israelitas no mês de setembro que as que tinham os egípcios em honra de
seus deuses. Estas instituições, entretanto, eram em sua maior parte
antecipadas, pois a observância delas não era obrigatória durante suas
peregrinações no deserto, enquanto que sua celebração regular não tinha
que começar senão quando se estabelecessem em Canaã.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 82
Vv. 5-8. A PÁSCOA.
5. é a Páscoa do SENHOR — (Ver Êx_12:2, 14, 18). A instituição
da Páscoa foi estabelecida para lembrança perpétua das circunstâncias
relacionadas com a redenção dos israelitas, enquanto que tinha uma
referência típica a uma redenção mais antiga que tinha que ser efetuada
para o povo espiritual de Deus. Nos dias primeiro e último desta festa, o
povo era proibido de trabalhar [Lv_23:7-8]; mas enquanto que no dia de
sábado eles não tinham que fazer trabalho algum, nos dias festivos lhes
era permitido enfeitar a carne, e portanto a proibição estava restringida a
“nenhuma obra servil”. Ao mesmo tempo aqueles dois dias eram
dedicados a “santa convocação”, ocasiões especiais de devoção social.
Além dos sacrifícios comuns de cada dia, devia haver “oferta acesa em
holocausto” sobre o altar (Nm_28:19), enquanto que o pão sem levedura
devia que ser comido entre as famílias todos os sete dias (veja-se
1Co_5:8).

Vv. 9-14. O MOLHO DOS PRIMEIROS FRUTOS.


10. trareis um molho das primícias da vossa messe ao sacerdote
— Como a cevada amadurecia antes que os outros grãos, a colheita da
mesma assinalava o começo da estação da ceifa geral. A oferta descrita
nesta passagem era feita no dia 16 do primeiro mês, no dia seguinte ao
primeiro sábado da Páscoa, que caía no dia 15 (correspondente ao
começo de nosso abril); mas era colhida depois do pôr-do-sol da tarde
anterior por pessoas escolhidas para ir com foices para buscar amostras
de diferentes campos. Este postos juntos numa feixe ou maço solto, eram
trazidas ao átrio do templo, onde o grão era ventilado, torrado e
amassado num pilão. Então, depois que um pouco de incenso era lançado
em cima, o sacerdote o movia ao alto perante o Senhor por volta dos
quatro pontos da terra, tomava uma parte e a jogava no fogo do altar,
sendo reservado tudo o mais para ele. Era um ato correto e belo,
expressivo de nossa dependência do Deus da natureza e a providência,
comum entre todos os povos, mas mais especialmente entre os israelitas,
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 83
que deviam à bondade divina sua própria terra assim como tudo o que
ela produzia. O oferecimento do molho movido santificava toda a
colheita. (Rm_11:16). Ao mesmo tempo esta festa tinha um caráter
típico, e insinuava a ressurreição de Cristo (1Co_15:20), quem
ressuscitou dentre os mortos no mesmo dia em que eram oferecidos os
primeiros frutos.

Vv. 15-22. A FESTA DO PENTECOSTES.


15. Contareis … desde o dia imediato ao sábado — ou seja,
depois do primeiro dia da semana pascal, que era observado como um
sábado, ou descanso.
16. contareis cinquenta dias — O quadragésimo nono depois da
apresentação dos primeiros frutos, ou o quinquagésimo, incluindo o dia
da apresentação, era a festa de Pentecostes. (Veja-se também Êx_23:16;
Dt_16:9).
17. Das vossas moradas trareis dois pães para serem movidos;
de duas dízimas de um efa de farinha, etc. — Estes pães eram feitos de
“flor” de farinha de trigo, sendo a quantidade contida neles um pouco
mais de dez libras de peso. Como o molho movido dava o sinal para o
começo da colheita, os dois pães solenizavam a terminação da mesma.
Eram os primeiros frutos daquela estação, sendo oferecidos ao Senhor
pelo sacerdote em nome de toda a nação. (Veja-se Êx_34:22). Os pães
usados na Páscoa eram sem levedura; os apresentados no Pentecostes
eram levedados, uma diferença que se explica assim: que um era uma
lembrança do pão preparado apressadamente em sua saída, enquanto que
o outro era um tributo de gratidão a Deus por seu alimento diário que era
levedado.
21. No mesmo dia, se proclamará que tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis — Ainda que a festa se estendia por toda
uma semana, só o primeiro dia era tido como sábado, tanto pela oferta
nacional dos primeiros frutos como por lembrança da doação da lei.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 84
22. Quando segardes a messe … não rebuscareis os cantos do
vosso campo, etc. — (Veja-se Lv_19:9). A repetição desta lei aqui
provavelmente resultou do fato de que os sacerdotes lembravam ao povo,
na apresentação dos primeiros frutos, que unissem a piedade para com
Deus com a caridade aos pobres.

Vv. 23-25. A FESTA DAS TROMBETAS.


24. No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso solene
— Aquele era o primeiro dia do antigo ano civil.
memorial, com sonidos de trombetas — Escritores judeus dizem
que se tocavam as trombetas trinta vezes sucessivas, e o motivo da
instituição era com o duplo propósito de anunciar o começo do ano novo,
que tinha que ser comemorado religiosamente (Lv_23:25; veja-se
Nm_29:3), e de preparar ao povo para a festa solene que se aproximava.
27-32. será o Dia da Expiação … afligireis a vossa alma — Um
festival estranho, no qual os pecados do ano inteiro eram expiados.
(Veja-se Lv_16:29-34). Aqui só é dito que se incorria na tristeza mais
severa pela violação deste dia.
33-44. a Festa dos Tabernáculos ao SENHOR — Este festival
que foi instituído em comemoração agradecida de que os israelitas
tinham morado com segurança em cabanas ou tabernáculos no deserto,
era o terceiro dos três grandes festivais anuais, e, como os outros dois,
durava uma semana. Começava no dia quinze do mês, que correspondia
no fim de nosso setembro ou princípios de outubro, que era observado
como um sábado; e podia ser celebrado unicamente no lugar do
santuário, porque se faziam ofertas no altar todos os dias de sua duração.
Os judeus recebiam ordem, durante todo o período do festival, de viver
em cabanas ou choças, que eram levantadas sobre os tetos planos das
casas ou nas ruas; e as árvores que proviam a madeira para as cabanas,
dizem alguns, eram o cedro, a palma, o mirto e o salgueiro, enquanto que
outros dizem que o povo tinha permissão de usar qualquer árvore que
pudesse conseguir que fosse distinto por seu verdor e fragrância.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 85
Enquanto que os ramos sólidos eram reservados para a construção das
choças, os ramos levianos eram levados por homens, que partiam em
procissão triunfal, cantando salmos, e gritando: “Hosana!” que significa:
“Salva, rogamos”. (Sl_118:15; Sl_118:25-26). Era ocasião de grandes
regozijos. Mas a cerimônia de tirar água do lago, o que se fazia no
último dia, parece ter sido um acréscimo de um período posterior
(Jo_7:37). Aquele último dia era o oitavo, e, por causa da cena do Siloé,
era chamado “o grande dia da festa”. A festa da colheita, quando
terminava a colheita de uvas, celebrava-se também aquele dia
[Êx_23:16; Êx_34:22], e como a conclusão de um dos grandes festivais,
celebrava-se como um sábado.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 86
Levítico 24

Vv. 1-23. AZEITE PARA AS LÂMPADAS.


2. Ordena aos filhos de Israel — Esta é a repetição de uma lei já
dada (Êx_27:20-21).
azeite puro de oliveira, batido — tirado a frio, que é sempre de
grande pureza.
3, 4. Arão a conservará em ordem, desde a tarde até pela
manhã, de contínuo, perante o SENHOR — A presença diária dos
sacerdotes era necessária para vigiar a limpeza e o acerto das lâmpadas.
candeeiro de ouro puro — assim chamado por ser de ouro puro.
Este era simbólico da luz que os ministros têm que difundir através da
igreja.
5-9. tomarás da flor de farinha e dela cozerás doze pães—para o
pão da proposição, como antes foi ordenado. (Êx_25:30). Aquelas tortas
eram cozidas pelos levitas, a farinha era provida pelo povo (1Cr_9:32;
1Cr_23:29), e azeite, vinho e sal eram outros ingredientes (Lv_2:13).
de duas dízimas — ou seja, de um efa, seis quilos cada uma; e
sobre cada fila ou pilha de tortas se espalhava um pouco de incenso, o
qual, sendo queimado, dava ao pão da proposição, o nome de “oferta
feita por fogo”. Cada sábado era provido um abastecimento fresco; pães
quentes eram colocados no altar em lugar dos velhos, os quais, tendo
ficado uma semana, eram tirados, e comidos só pelos sacerdotes, exceto
em casos de necessidade. (1Sm_21:3-6; também Lc_6:3-4).
10. o filho de uma israelita, etc. — Esta passagem relata a
promulgação de uma lei nova, com detalhe das circunstâncias que lhe
deram origem. Um “misto de gente” [Êx_12:38] acompanhou os
israelitas em seu êxodo do Egito; isto faz supor que uniões maritais da
classe descrita não eram raras, e era natural, nas circunstâncias dos dois
povos, que o pai fosse egípcio e a mãe israelita.
11. o filho da mulher israelita blasfemou o Nome, e praguejou
(TB) — Um jovem mestiço, havendo discutido com um israelita
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 87
[Lv_24:10], desafogou sua ira em alguma forma terrível de impiedade.
Era prática comum entre os egípcios amaldiçoar a seus ídolos quando
não conseguiam o objeto de suas petições. O jovem em seu
entendimento egípcio creu que o insulto maior a seu antagonista era o de
blasfemar o objeto de sua reverência religiosa. Falou irreverentemente de
Aquele que possuía o duplo caráter de rei como também de Deus do
povo hebreu; e como a falta era nova, o jovem foi posto em custódia até
que fosse conhecida a disposição do Senhor quanto a seu castigo.
14. Tira o que blasfemou para fora do arraial — Todos os
ajuizamentos eram feitos fora do acampamento; e esta medida
provavelmente teve sua origem na ideia de que, como os israelitas
tinham que ser “um povo santo” [Dt_7:6; 14:2, 21; 26:19; 28:9], todos os
transgressores notórios deveriam ser lançados fora de sua sociedade.
todos os que o ouviram porão as mãos sobre a cabeça dele, etc.
— A imposição de mãos formou um testemunho público e solene contra
o crime, e ao mesmo tempo fez com que o castigo fosse legal.
16. Aquele que blasfemar o nome do SENHOR será morto ...
tanto o estrangeiro como o natural — Ainda que os estrangeiros não
eram obrigados a ser circuncidados, entretanto, por unir-se ao
acampamento israelita, faziam-se responsáveis diante da lei,
especialmente da que tinha que ver com a blasfêmia.
17-22. Quem matar alguém será morto — Estes versículos
contêm uma repetição de outras leis, relacionadas com transgressões de
uma natureza social, cujas penas deviam ser infligidas, não pela mão de
particulares, mas por meio dos juízes perante aqueles que o caso fosse
apresentado.
23. os filhos de Israel fizeram como o SENHOR ordenara a
Moisés — O capítulo termina com o ajuizamento do filho do Selomite
[Lv_24:14], e tendo chegado depois o apedrejamento a ser o castigo
estabelecido em todos os casos de blasfêmia, ilustra a sorte de Estêvão,
quem o sofreu por uma imputação falsa daquele crime [At_7:58-59].
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 88
Levítico 25

Vv. 1-7. O “SABBATH” DO SÉTIMO ANO.


2-4. Quando entrardes na terra, que vos dou — Perguntou-se em
que ano, depois da ocupação de Canaã, começou-se a ser observado o
ano sabático. Alguns creem que foi no sétimo ano depois de sua entrada.
Mas outros, considerando que seis anos foram empregados na conquista
e divisão da terra (Js_5:12), e que o ano sabático tinha que ser celebrado
depois de seis anos de agricultura, dizem que a observância não começou
senão no décimo quarto ano.
a terra guardará um sábado ao SENHOR — Esta era uma
medida rara. Não só todos os processos agrícolas tinham que ser
suspensos a cada sétimo ano, mas também que os agricultores não
tinham direito ao solo. Este ficava sem ser semeada, e seu produto
espontâneo era a propriedade dos pobres e estrangeiros, do gado e da
caça. Este ano de descanso servia para dar vigor aos poderes produtivos
da terra, como no sábado (descanso) semanal era um fortalecedor para os
homens e o gado. Começava o ano sabático imediatamente depois da
festa da colheita, e era muito a propósito para ensinar ao povo, de uma
maneira notável, a realidade da presença e do poder providencial de
Deus.

Vv. 8-23. O JUBILEU.


8. Contarás sete semanas de anos — Esta é a mais extraordinária
das instituições civis, que recebeu o nome “Jubileu” de uma palavra
hebraica que significa um instrumento músico, um chifre ou trombeta,
começava no dia dez do sétimo mês, ou o grande dia da expiação,
quando, por ordem das autoridades públicas, o som de trombetas
proclamava o começo da redenção universal. Todos os detentos e cativos
recebiam sua liberdade, os escravos eram declarados livres, e eram
absolvidos os devedores. A terra, como nos anos sabáticos, não era
semeada nem segada, mas desfrutava com seus habitantes de um
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 89
repouso; e seus produtos naturais eram propriedade comum de todos.
Além disso, todas as heranças por toda a terra eram restauradas a seus
antigos donos.
10. Santificareis o ano quinquagésimo — Muita diferença de
opinião existe a respeito de se era celebrado o jubileu no quadragésimo
nono ano, ou, em números redondos, chamava-se o quinquagésimo. A
opinião predominante, tanto em tempos antigos como modernos, esteve a
favor da segunda ideia.
12. o produto do campo comereis. — Tudo o que a terra rendia
espontaneamente durante aquele período, podia comer-se para o
necessário sustento, mas ninguém estava em liberdade para amontoar ou
formar uma provisão privada em reserva
13. tornareis cada um à sua possessão. — As heranças, por
qualquer causa, e com quanta frequência tivessem sido alienadas,
voltavam para as mãos de seus donos antigos. Esta lei de direito civil de
vinculação, pela qual o herdeiro legítimo nunca poderia ser despojado,
era uma disposição de grande sabedoria para conservar em sua ordem as
famílias e tribos, e fielmente registradas suas genealogias, a fim de que
todos pudessem ter provas para estabelecer seus direitos às propriedades
ancestrais. Por esta razão a tribo e família de Jesus foram facilmente
descobertas em seu nascimento.
17. Não oprimais ao vosso próximo; cada um, porém, tema a
seu Deus — Este versículo, que é igual a Lv_25:14, tinha que ver com a
venda e compra de posses, e o dever de prestar atenção justa e imparcial,
por ambas as partes, ao período limitado durante o qual o convênio
poderia ser válido. O objetivo do legislador era, no possível, manter a
ordem original das famílias e uma igualdade de condição entre o povo.
21, 22. Eu vos darei a minha bênção no sexto ano, para que dê
fruto por três anos — Era feita provisão, pela interposição especial de
Deus, para suprir a falta de alimento, que de outro modo teria resultado
pela suspensão de todo trabalho durante o ano sabático. O sexto ano
tinha que produzir uma quantidade milagrosa para três anos. E a
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 90
promessa é aplicável por ano do Jubileu como também por ano sabático.
(Vejam-se alusões a esta provisão extraordinária em 2Rs_19:29;
Is_37:30). Ninguém senão um legislador consciente de agir sob a
autoridade divina teria comprometido seu caráter com um estatuto tão
raro como o do ano sabático; e nenhum senão um povo que tinha visto o
cumprimento das promessas divinas, teria sido persuadido a suspender
os seus preparativos agrícolas na repetição de um jubileu periódico.
23-28. a terra não se venderá em perpetuidade — ou, “cortar
completamente”, como se traduz na margem (de alguns textos). A terra
era de Deus, e, no prosseguimento de um propósito importante, Ele a
dava ao povo de sua eleição, o qual a possuía meramente como inquilino
que não tinha direito nem poder para dispor dela para estranhos. Em
circunstâncias de necessidade, os indivíduos podiam fazer uma venda
temporária. Em tal caso eles possuíam o direito de redimi-la, em
qualquer momento, pagando uma compensação adequada ao atual
possuidor; e pelos estatutos do Jubileu, recuperavam-na grátis, de modo
que a terra era alienável. (Veja-se uma exceção a esta lei, Lv_27:20).
29-31. Quando alguém vender uma casa de moradia em cidade
murada, poderá resgatá-la dentro de um ano a contar de sua venda
— Todas as vendas de casas estavam ajustadas à mesma condição. Mas
havia uma diferença entre as casas de aldeias, as quais, estando
relacionadas com a agricultura, eram consideradas como partes da terra;
e as casas possuídas por comerciantes ou estrangeiros nas cidades
cercadas, as quais poderiam redimir-se só dentro do ano depois da
venda; e se não se redimiam então, não voltavam para seus donos
anteriores no ano do Jubileu.
32-34. Mas, com respeito às cidades dos levitas, etc. — Como os
levitas não tinham posses senão suas casas e cidades, a lei lhes concedia
os mesmos privilégios que eram dados às terras dos demais israelitas.
Certa porção das terras que circundavam as cidades levíticas, estava
destinada a eles para o pasto de seus gados e rebanhos (Nm_35:4-5).
Esta era uma doação permanente para o sustento do ministério, e não
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 91
podia ser alienada por nenhum tempo. Os levitas, entretanto, estavam em
liberdade para fazer intercâmbio entre si; e um sacerdote podia vender
sua casa, jardim ou direito de pasto a outro sacerdote, mas não a um
israelita de outra tribo. (Jr_41:7-9).
35-38. Se teu irmão empobrecer … sustentá-lo-ás — Esta era
uma disposição muito benévola para os pobres e deserdados, proposta
para ajudá-los a aliviar os males de sua situação. Fosse israelita ou fosse
estrangeiro, seu vizinho mais rico estava obrigado a lhe dar alimento,
alojamento, e provê-lo de dinheiro sem usura. Esta era severamente
condenada (Sl_15:5; Ez_18:8, Ez_18:17), mas não se pode considerar a
proibição como aplicável à prática moderna dos homens nos negócios,
de emprestar e pedir empréstimos como tipos legais de juros.
39-46. se teu irmão empobrecer … e vender-se a ti, não o farás
servir como escravo — Um israelita podia ser obrigado, por infortúnio,
a hipotecar não só sua herança mas também sua própria pessoa. Em caso
de ver-se reduzido a esta miséria, não tinha que ser tratado como
escravo, mas sim como servo com salário, cujo contrato era temporário,
e quem, pela ajuda de algum parente, poderia ser redimido em qualquer
momento antes do Jubileu. O dinheiro do resgate era calculado sobre um
princípio equitativo. Levando-se em conta o número de anos do
oferecimento de redimir até o Jubileu, os salários comuns naquele
tempo, e multiplicando os anos restantes por aquela soma, o total tinha
que ser pago por sua redenção. Mas se não era feita uma interposição
amigável pelo escravo hebreu, ele continuava em servidão até o ano do
Jubileu, quando, automaticamente, recuperava sua liberdade como
também sua herança. Visto em seus vários aspectos em que está
apresentado neste capítulo, o Jubileu era uma instituição admirável, e útil
num grau eminente para apoiar os interesses da religião, a ordem social e
a liberdade entre os israelitas.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 92
Levítico 26

Vv. 1, 2. A RESPEITO DA IDOLATRIA.


1. Não fareis para vós ídolos (RC) — A idolatria tinha sido
proibida antes (Êx_20:4-5), mas a lei é repetida aqui com referência a
algumas formas particulares dessa, as quais eram muito comuns entre as
nações vizinhas.
pedra com figuras — ou seja, obelisco, inscrito com caracteres
hieroglíficos e supersticiosos; como os obeliscos grandes e elaborados
que os egípcios adoravam como divindades protetoras, ou eram usados
como pedras de adoração para estímulo do culto religioso. Os israelitas
foram ordenados guardar-se deles.
2. Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário
— Com muita frequência neste livro da Lei, o sábado e o santuário são
mencionados como antídotos contra a idolatria.

Vv. 3-13. UMA BÊNÇÃO AO OBEDIENTE.


3. Se andardes nos meus estatutos — Naquela aliança na qual
Deus amavelmente entrou com o povo de Israel, Ele prometeu derramar
sobre eles uma variedade de bênçãos, desde que eles continuassem
obedientes a Ele como a seu Governante todo-poderoso; e em sua
história subsequente aquele povo achou amplamente cumprida toda
promessa, no gozo de abundância, de paz, de país populoso e de vitória
sobre todos os seus inimigos.
4. Eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a
sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto — A chuva raramente
caía na Judeia exceto em duas estações: a primeira chuva em outono,
tempo de semeadura; e a chuva posterior na primavera, antes do começo
da ceifa. (Jr_5:24).
5. A debulha se estenderá até à vindima, e a vindima, até à
sementeira, etc. — A colheita de cevada na Judeia era como meados de
abril; a de trigo como seis semanas depois, ou a princípios de junho.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 93
Depois das colheitas vinha a colheita de uvas e a coleta de frutas pelo
fim de julho. Moisés ensinou os hebreus a crer que, contanto que eles
fossem fiéis a Deus, não haveria tempo desocupado entre a colheita e
vindima, por ser tão grande a produção. (Veja-se Am_9:13). Esta
promessa era muito animadora para um povo que tinha vindo de um país,
onde durante três meses, eles estavam encerrados sem poder caminhar
para fora, por achar-se seus campos inundados.
10. Comereis o velho da colheita anterior — A existência de grão
estaria ainda em existência e abundante quando a nova colheita trouxesse
uma provisão nova.
13. quebrei os canzis do vosso jugo, e vos fiz andar de cabeça
levantada (TB) — uma expressão metafórica para indicar sua
emancipação da escravidão egípcia.

Vv. 14-39. UMA MALDIÇÃO AO DESOBEDIENTE.


14. Mas, se me não ouvirdes, etc. — Em proporção aos grandes e
múltiplos privilégios concedidos aos israelitas, seria a medida de sua
culpabilidade nacional e a severidade de seus castigos nacionais, se
desobedeciam.
16. porei sobre vós terror — “a doença de quedas”, a epilepsia
(Patrick).
a tísica e a febre ardente — Algumas consideram estas como
sintomas da mesma doença: tísica (tuberculose) seguida por ataques de
calafrios, ardores e suores que são os acompanhantes usuais daquela
doença. Segundo a Septuaginta, “a icterícia”, que afeta os olhos e produz
grande depressão de espírito. Outros, entretanto, consideram que a
palavra se refere a um vento abrasador. Não se pode dar nenhuma
explicação satisfatória.
18. Se ainda assim com isto não me ouvirdes, tornarei a
castigar-vos sete vezes mais — ou seja, com calamidades muito mais
severas e prolongadas.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 94
19. farei que os céus sejam como ferro e a vossa terra, como
bronze — Nenhuma figura poderia empregar-se para expressar melhor
uma ideia de uma fome devoradora e continuada.
22. Mandarei para o meio de vocês animais selvagens (NTLH)
— Este foi um dos quatro juízos prognosticados (Ez_14:21; veja-se
também 2Rs_2:4).
os vossos caminhos se tornarão desertos — O tráfico e comércio
seriam destruídos; a segurança e liberdade se acabariam; nem estrangeiro
nem nativo se achariam nos caminhos (Is_33:8). Este é um quadro exato
do estado atual da Terra Santa, que há longo tempo está em estado de
desolação, produzida pelos pecados dos antigos judeus.
26. dez mulheres cozerão o vosso pão num só forno, etc. — O
pão gasto em família é geralmente assado pelas mulheres, e em casa.
Mas às vezes também, em tempos de escassez, assa-se em fornos
públicos por falta de combustível; e a escassez predita aqui devia ser tão
grande, que um só forno seria suficiente para cozinhar tudo o que
poderiam trazer dez mulheres; e até esta porção escassa seria repartida
por peso (Ez_4:16).
29. Comereis a carne de vossos filhos — Este quadro horrendo foi
realmente exibido no sítio de Samaria, no sítio de Jerusalém por
Nabucodonosor (Lam_4:10), e na destruição daquela cidade pelos
romanos. (Veja-se Deut_28.)
30. Destruirei os vossos altos — Cercados consagrados nas
cúpulas de montanhas ou colinas, levantados para praticar os ritos da
idolatria.
desfarei as vossas imagens — Segundo alguns aquelas imagens
eram feitas na forma de carroças (2Rs_23:11); segundo outros, eram de
forma cônica, como pequenas pirâmides. Levantadas em honra ao sol,
eram colocadas geralmente em lugares muito altos, para permitir que os
adoradores tivessem melhor vista do sol nascente. Eram proibidas aos
israelitas, e quando eram levantadas deviam destruí-las.
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 95
lançarei o vosso cadáver sobre o cadáver dos vossos deuses, etc.
— Como as estátuas de ídolos, que quebradas jazem abandonadas e
desprezadas, os judeus durante os sítios e o cativeiro seguintes muitas
vezes careceram de sepultura.
31. Reduzirei as vossas cidades a deserto — Esta destruição de
suas cidades numerosas e florescentes, a qual foi trazida sobre Judeia
pelos pecados de Israel, foi feita pelo traslado forçado do povo durante o
cativeiro e muito depois. Mas se realizou em maior escala em séculos
recentes.
assolarei os vossos santuários, e não aspirarei o vosso aroma
agradável — O tabernáculo e o templo, como é evidente pelo teor da
cláusula seguinte, na qual Deus anuncia que não aceitará nem
considerará seus sacrifícios.
33. Espalhar-vos-ei por entre as nações, etc. — como foi feito,
quando a fina flor da nação foi levada a Assíria, e posta em distintas
partes do reino.
34. Então, a terra folgará nos seus sábados, todos os dias da sua
assolação — Uma longa dívida de anos sabáticos se acumulou pela
avareza e apostasia dos israelitas, aqueles que tinha privado a terra de
seu devido período de descanso. O número daqueles anos sabáticos
parece ter sido setenta, como está indicado pela duração do cativeiro.
Esta anterior profecia é muito notável, considerando-se que o modo de
proceder dos conquistadores assírios era o de enviar colonos que
habitassem e cultivassem suas províncias recém adquiridas.
38. a terra dos vossos inimigos vos consumirá — Ao ser
removidas as dez tribos ao cativeiro, nunca retornaram, e se perderam
todos os rastros delas.
40-45. Mas, se confessarem a sua iniquidade, etc. — Esta
passagem lhes estende a promessa carinhosa do perdão e favor divinos
sob condição de seu arrependimento, e sua feliz volta a sua terra, em
memória da aliança feita com seus pais (Rm_2:1-28).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 96
46. São estes os estatutos, juízos e leis — Alguns pensaram que o
último capítulo originalmente foi colocado depois do capítulo vinte e
cinco (Adam Clarke), enquanto que outros consideram que o capítulo
seguinte foi acrescentado com um apêndice como consequência de que
muitas pessoas eram movidas pelas promessas e ameaças do capítulo
anterior, a resolver que se dedicariam a si mesmas e suas posses ao
serviço de Deus (Calmet).
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 97
Levítico 27

Vv. 1-19. A RESPEITO DOS VOTOS.


2-8. Quando alguém fizer voto com respeito a pessoas, etc. —
Pessoas em todos os tempos e em todos os lugares estiveram
costumavam apresentar ofertas votivas, seja por gratidão por bênçãos
recebidas, ou em caso de libertação de males temidos. E Moisés foi
autorizado por Deus a prescrever as condições deste dever voluntário.
serão do SENHOR, segundo a tua avaliação, etc. — melhor
traduzido assim: “Segundo a tua estimativa, as pessoas serão para o
Senhor”. As pessoas podiam consagrar-se a si mesmas ou a seus filhos
ao serviço divino, em algum trabalho inferior ou servil no santuário
(1Sm_3:1). Em caso de alguma mudança, as pessoas assim dedicadas
tinham em seu poder o privilégio de redimir-se; e este capítulo especifica
a importância do dinheiro de redenção, o qual tinha o sacerdote o poder
de reduzir prudentemente, conforme pudessem exigir as circunstâncias.
Os de idade amadurecida, entre os vinte e sessenta anos, como eram
capazes do melhor serviço, tinham tarifas mais altas; jovens, desde cinco
a vinte anos, pagavam menos, por não ser tão úteis; as crianças, ainda
que podiam ser dedicados por seus pais antes do nascimento
(1Sm_1:11), não podiam ser apresentados nem redimidas senão um mês
mais tarde; os anciãos eram avaliados em menos que os jovens, mas em
mais que os meninos; e os pobres, ainda que em nenhum caso eram
livrados do pagamento, para evitar a formulação precipitada de votos,
eram taxados segundo sua capacidade para pagar.
9-13. Se for animal dos que se oferecem ao SENHOR — um
animal limpo; uma vez que tinha sido prometido por voto, não podia ser
empregado em trabalhos comuns nem permutado por um equivalente;
tinha que ser sacrificado; ou se, por algum defeito que se descobrisse,
não era apto para o altar, podia ser vendido, e o dinheiro, dedicado ao
serviço sagrado. Se um animal impuro, como o asno ou o camelo, por
exemplo, tinha sido devotado por voto, devia ser destinado ao uso do
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 98
sacerdote o valor adjudicado ou podia ser redimido pela pessoa que tinha
feito o voto pelo pagamento de seu valor mais a quinta parte do preço
como multa.
14-16. Quando alguém dedicar a sua casa para ser santa ao
SENHOR — Neste caso, sendo taxada a casa pelo sacerdote, e vendida,
o produto da venda tinha que dedicar-se ao santuário. Mas se o dono
queria, ao mudar de pensamento, redimi-la, ele podia tê-la mediante o
pagamento da quinta parte acrescentada pelo preço.
16-24. Se alguém dedicar ao SENHOR parte do campo da sua
herança, etc. — Em caso de propriedade adquirida em terreno, se não
era redimida, devolvia-se ao doador no Jubileu; enquanto que parte de
um bem herdado, que se tinha devotado em voto, não se devolvia ao
dono, mas sim ficava em perpetuidade como propriedade do santuário. O
motivo desta diferença notável era o de pôr a todo homem sob a
obrigação de redimir a propriedade, ou de estimular a seu parente mais
próximo para que o fizesse, para evitar que uma herança patrimonial
ficasse fora de uma família em Israel.
26, 27. Mas o primogênito de um animal — Como estes, no caso
de animais limpos, já eram consagrados a Deus por uma lei universal e
permanente (Êx_13:12; Êx_34:19), não podiam ser dedicados por voto;
mas em caso de animais impuros, os primogênitos estavam sujeitos à
regra já mencionada (Lv_27:11, 12).
28, 29. nada do que alguém dedicar irremissivelmente ao
SENHOR ... se poderá vender, nem resgatar — Isto se refere aos
votos mais solenes, quando o ofertante acompanhava seu voto com uma
solene imprecação sobre si mesmo se não levava a cabo seu propósito
declarado.
será morto — Este anúncio não queria dizer que a pessoa tinha que
ser sacrificada ou condenada a uma morte violenta; mas sim somente que
tinha que ficar até sua morte, inalteravelmente, na condição de perjura.
Este regulamento anterior estava projetado evidentemente para impedir a
Levítico (Jamieson, Fausset e Brown) 99
temeridade em fazer votos (Ecl_5:4), e para estimular à reflexão séria e
considerada em todos os assuntos entre Deus e a alma. (Lc_21:4).
30-33. Todos os dízimos da terra, ou sejam da semente da terra,
ou sejam das frutas (TB) — Esta lei deu a sanção da autoridade divina
a um uso antigo (Gn_14:20; Gn_28:22). Todo o produto da terra estava
sujeito ao tributo da décima parte; era um aluguel anual que os israelitas,
como inquilinos, pagavam a Deus, o dono da terra, e uma oferta de
agradecimento, que lhe tributavam pela abundância de sua providência
(Veja-se Pr_3:9; 1Co_9:11; Gl_6:6).
32. de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, etc. —
Isto se refere ao modo de tomar a décima parte do gado, que tinha que
passar um por um por um portão estreito, onde estava uma pessoa com
uma bordão molhado em ocre, e contando os animais, marcava cada
décimo, fosse macho ou fêmea, fosse são ou doente.
34. São estes os mandamentos, etc. — As leis contidas neste livro,
em grande parte cerimoniais, tinham um valor espiritual importante, o
estudo do qual é altamente instrutivo. (Rm_10:4; Heb_4:2; Heb_12:18).
Elas impunham um jugo pesado (At_15:10), mas, entretanto, na idade
infantil da igreja formavam a disciplina necessária de “aio para nos
conduzir a Cristo” [Gl_3:24].
NÚMEROS
Original em inglês:

NUMBERS

The Fourth Book of Moses, Called Numbers

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Números 1 Números 10 Números 19 Números 28

Números 2 Números 11 Números 20 Números 29

Números 3 Números 12 Números 21 Números 30

Números 4 Números 13 Números 22 Números 31

Números 5 Números 14 Números 23 Números 32

Números 6 Números 15 Números 24 Números 33

Números 7 Números 16 Números 25 Números 34

Números 8 Números 17 Números 26 Números 35

Números 9 Números 18 Números 27 Números 36


Números (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Números 1

VV. 1-54. MOISÉS ENUMERA OS HOMENS DE GUERRA.


1. no primeiro dia do segundo mês, etc. — Treze meses tinham
transcorrido desde o Êxodo. Como um mês tinha sido ocupado na
viagem; o resto do período o haviam passado no acampamento nos
pequenos vales do Sinai, onde foram feitas as transações, e foram
promulgadas as leis civis e religiosas, que estão contidas nos dois livros
anteriores. Como o tabernáculo foi levantado no primeiro dia do
primeiro mês, e a ordem aqui mencionada foi dada no primeiro dia do
segundo mês, alguns creem que as leis em Levítico foram todas dadas
num só mês. Os israelitas tendo sido formados como nação
independente, sob o governo especial de Deus, foi necessário, antes de
reiniciar a marcha rumo à terra prometida, pô-los em boa ordem. Com
efeito, Moisés foi comissionado, junto com Arão, para levantar um censo
do povo. Este censo foi mencionado incidentalmente (Êx_38:26), com
referência ao imposto de captação para as obras do tabernáculo; mas aqui
se descreve em detalhe, para fazer ver o crescimento relativo e o poder
militar das diferentes tribos. A enumeração se limitava aos capazes de
levar armas [Nm_1:3], e tinha que ser feita com uma distinção cuidadosa
da tribo, família e casa às quais pertencia cada indivíduo. Por esta regra
de contá-los, obtinham-se muitas vantagens: um registro genealógico
exato foi formado; o poderio relativo de cada tribo foi conhecido; e foi
achado motivo para resolver a ordem de precedência na marcha como
também em dispor as diferentes tribos no acampamento ao redor do
tabernáculo. A promessa de Deus a Abraão foi cumprida no crescimento
extraordinário de sua posteridade, e se proveu material para traçar a
linhagem do Messias.
3. contareis segundo os seus exércitos — ou companhias. Em sua
saída do Egito estavam divididos em cinco grandes companhias
(Êx_13:18), mas desde sua estada no deserto até o cruzamento do Jordão
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 3
foram formados em quatro grandes divisões. A estas se faz referência
aqui.
4. De cada tribo vos assistirá um homem, etc. — A condição
social dos israelitas no deserto possuía uma estreita semelhança a das
tribos nômades do Oriente hoje em dia. A cabeça da tribo era uma
dignidade hereditária, da qual estava investido o filho mais velho ou
algum outro a quem o direito de primogenitura foi transferido, e sob o
qual estavam outras cabeças inferiores, também hereditárias, entre os
diferentes ramos da tribo. Como os israelitas estavam divididos em doze
tribos, havia doze chefes nomeados para ajudar a levantar o censo do
povo.
5. Estes, pois, são os nomes dos homens que vos assistirão, etc.
— Cada um é designado acrescentando o nome dos antepassados de sua
tribo, o povo da qual era chamado “Beni-Rúben, Beni-Levi”, etc., filhos
de Rúben, filhos de Levi, segundo o mesmo costume dos árabes ainda,
como também de outras nações que estão divididas em tribos ou
famílias, como os “Macs” de Escócia, os “Aps” de Gales e os “Ou’s” e
“Fitz” da Irlanda (Chalmers).
16. Estes foram os chamados da congregação — literalmente “os
chamados” da congregação, chamados pelo nome; e começaram a
trabalhar no censo no mesmo dia que foi dada a ordem.
18. segundo as suas famílias—individualmente, um por um.
19. Como o SENHOR ordenara a Moisés, etc. — A enumeração
do povo não era um ato pecaminoso em si, pois Moisés o fez por ordem
divina; mas Davi incorreu em culpa por fazê-lo sem a autoridade de
Deus. (Veja-se 2Sm_24:10).
20-24. contados nominalmente — Neste registro a tribo de Judá
parece a mais numerosa; e por conseguinte, como a preeminência lhe
tinha sido concedida por Jacó [Gn_49:8-12], teve a precedência em todos
os acampamentos de Israel. Das duas meias tribos de José, quem se vê
como “ramo frutífero” [Gn_49:22], a de Efraim era a maior, como se
havia predito. O crescimento relativo de todas, como nas duas já
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 4
mencionadas, era devido à bênção especial de Deus, de acordo com a
declaração profética do patriarca moribundo. Mas a bênção de Deus
geralmente é levada pela influência de causas secundárias; e há motivos
para crer que a população relativa das tribos sob o poder de Deus,
dependeria da fecundidade das localidades respectivas a eles destinadas.
45, 46. os contados foram seiscentos e três mil quinhentos e
cinquenta. — Que assombroso crescimento de setenta e cinco pessoas
que desceram ao Egito uns 215 anos antes [veja-se Gn_46:8], e que
foram sujeitos às maiores privações e penalidades! Contudo, esta
enumeração estava limitada a varões de 20 anos para cima [Nm_1:3].
Incluindo-se mulheres, meninos e homens velhos, junto com os levitas, a
população inteira de Israel, segundo os princípios comuns de cálculos,
tinha chegado a 2.400.000 pessoas.
47-54. Mas os levitas ... não foram contados entre eles — Eles
tinham que possuir um registro próprio. Eles estavam consagrados ao
serviço sacerdotal, aquele que em todos os países geralmente foi
excetuado, e em Israel por autoridade expressa de Deus, do serviço
militar. A custódia das coisas dedicadas ao serviço divino estava
confiada a eles tão exclusivamente, que a nenhum estranho — i. e.,
nenhuma pessoa, nem mesmo israelita de outra tribo — era permitido,
sob pena de morte [Nm_16:40], chegar-se a tais coisas, e por isso eles
estavam acampados ao redor do tabernáculo, para que não houvesse
nenhuma manifestação do desfavor divino entre o povo. De modo que a
enumeração do povo estava subordinada à separação dos levitas dentre o
resto dos israelitas, que eram aptos para o serviço militar, e à introdução
prática da lei a respeito dos primogênitos em lugar dos quais a tribo de
Levi deveu ser um substituto. [Êx_13:2; Nm_3:12]
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 5
Números 2

Vv. 1-34. A ORDEM DAS TRIBOS EM SUAS TENDAS.


2. Os filhos de Israel se acamparão junto ao seu estandarte,
segundo as insígnias da casa de seus pais — Os estandartes eram sinais
visíveis de certa forma reconhecida, para a direção dos movimentos de
grandes grupos de pessoas. Como ordenava aos israelitas acampar “junto
ao seu estandarte, segundo as insígnias da casa de seus pais”,
considerou-se que a ordem dá a entender que eles possuíam três classes
de bandeiras: (1) os grandes estandartes pertencentes à tribo, que serviam
como pontos de reunião para as doze grandes tribos; (2) estandartes para
as porções subdivididas; e, (3) os de famílias ou casas. Estes últimos
devem ter sido absolutamente necessários, pois uma só insígnia para uma
tribo não teria sido visível nas partes extremas de tão grande corpo. Não
possuímos nenhuma informação autêntica quanto a suas formas,
materiais, cores ou desenhos. Mas é provável que pudessem ter alguma
semelhança aos do Egito, somente despojados de todo símbolo
idolátrico. Estes tinham forma de guarda-chuva ou leques, feitos de
penas de avestruz, de mantos, etc.; levantados na ponta de paus longos,
os quais eram levados, ou como a bandeira central num carro, ou nos
ombros dos homens, enquanto que outros poderiam ser semelhantes às
luzes de farol que são fixadas em paus pelos peregrinos orientais, na
noite. Os escritores judeus dizem que os estandartes das tribos hebraicas
eram símbolos tomados da bênção profética de Jacó, sendo o de Judá um
leão, o de Benjamim um lobo [Gn_49:3-24], etc., e que as insígnias se
distinguiam por suas cores, sendo a cor de cada tribo a mesma que a da
pedra preciosa que representava a tal tribo no peitoral do sumo sacerdote
[Êx_28:17-21].
ao redor, de frente para a tenda da congregação, se acamparão
— i. e., “na direção” do tabernáculo, mas a uma distância reverencial. O
lugar de cada tribo se descreve sucessiva e especificamente, porque cada
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 6
uma tinha certa parte assinalada tanto na ordem de marcha como na
disposição do acampamento.
3. Os que se acamparem ao lado oriental (para o nascente)
serão os do estandarte do arraial de Judá, etc. — A tribo de Judá foi
posta à cabeça de um acampamento composto de três tribos que se
reuniam sob sua bandeira, a qual tinha combinados, segundo se dizia-se,
as cores unidas no peitoral do sumo sacerdote, mas chamada pelo nome
de Judá. Eles estavam nomeados para ocupar o lado oriental, e para
tomar a dianteira na marcha, a qual, na maior parte, era rumo ao este.
Naassom ... será príncipe dos filhos de Judá (Mt_1:4; Lc_3:32)
— Parece que os doze homens nomeados para vigiar o censo, foram
nomeados também capitães de suas respectivas tribos, dignidade que eles
deviam provavelmente às circunstâncias, notadas antes, de reter o posto
de chefe ou “príncipe” hereditário.
5. junto a ele se acampará — i. e., ao mesmo lado do
acampamento.
7. a tribo de Zebulom — ao outro lado da tribo de Judá. Embora a
tribo de Judá fosse a mais numerosa, as de Issacar e Zebulom também
eram muito numerosas; de modo que a associação destas três tribos
formava uma vanguarda forte e imponente.
10-31. O estandarte do arraial de Rúben ... estará para o lado
sul — A descrição dada de Rúben e suas tribos acompanhantes ao sul, de
Efraim e seus associados a oeste, e de Dã e seus confederados ao norte,
com a de Judá a leste, sugere a ideia de um quadrado, o qual, calculando
um côvado quadrado por soldado em formação fechada, pensou-se que
se estenderia sobre uma área de algo mais de 19 quilômetros quadrados.
Mas em nosso cálculo do espaço ocupado deveriam considerar-se não só
o dos homens de guerra, cujo número é dado aqui, mas também o das
famílias, as tendas e a bagagem. O tabernáculo, ou tenda sagrada de seu
Divino Rei, com o acampamento dos levitas em redor (Nm_3:38),
formava o centro, como a tenda do chefe no acampamento dos povos
nômades.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 7
Na marcha era mantida esta ordem, com algumas variações
necessárias. Judá tomava a dianteira, seguida, mais provavelmente, por
Issacar e Zebulom [Nm_10:14-16]. Rúben, Simeão e Gade formavam a
segunda grande divisão [Nm_10:18-20]. Estes eram seguidos pela
companhia central, composta de levitas que levavam o tabernáculo
[Nm_10:21]. Logo o terceiro esquadrão e posterior era formado por
Efraim, Manassés e Benjamim [Nm_10:22-24], enquanto que o último
lugar correspondia a Dã, Aser e Naftali [Nm_10:25-27]. Assim, pois, a
tribo de Judá, que era a mais numerosa, formava a vanguarda; e a de Dã,
que lhe seguia em força, fechava a retaguarda; enquanto que as de Rúben
e Efraim, com as tribos a elas associadas, sendo as mais pequenas e
fracas, eram colocadas no centro (Veja-se Nm_10:14).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 8
Números 3

Vv. 1-51. O SERVIÇO DOS LEVITAS.


1. São estas, pois, as gerações de Arão e de Moisés, etc. — Este
capítulo contém um relato de suas famílias; e embora a de Moisés não
esteja tão detalhada como a de seu irmão, seus filhos estão incluídos sob
a designação geral de anramitas (v. 27), termo que compreende a todos
os descendentes de seu comum pai Anrão. A razão pela qual a família de
Moisés não figura mais neste registro é que eles estavam nas filas
particulares dos levitas, pois a dignidade do sacerdote foi conferida
exclusivamente sobre a posteridade de Arão; e portanto, como a ordem
sacerdotal é o tema deste capítulo, Arão, contrariamente ao estilo geral
da história sagrada, é mencionado antes de Moisés.
no dia em que o SENHOR falou com Moisés no monte Sinai —
Isto está acrescentado, porque na data do registro seguinte a família de
Arão estava intacta.
2-4. são estes os nomes dos filhos de Arão — Todos os filhos de
Arão, quatro em número, foram consagrados para ministrar no posto de
sacerdotes. Os dois mais velhos só desfrutaram de um breve período em
sua função (Lv_10:1-2; Nm_3:4; Nm_26:61); mas Eleazar e Itamar, os
outros dois, eram respeitosos, e cumpriram sua sagrada missão durante a
vida de seu pai, como ajudantes deles e sob sua superintendência.
5-10. Faze chegar a tribo de Levi — A palavra hebraica “Faze
chegar” é um termo sacrifical, que significa a apresentação de uma oferta
a Deus; e o uso desta palavra, pois, em relação aos levitas, significa que
eles estavam dedicados como uma oferta ao santuário, para não ser
empregados mais em funções comuns. Eles estavam subordinados aos
sacerdotes, aqueles que unicamente desfrutavam do privilégio de entrar
no lugar santo; mas os levitas eram empregados em cumprir muitos dos
deveres mais humildes relacionados ao santuário, como também em
vários postos de grande utilidade e importância para a religião e a
moralidade do povo.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 9
9. dentre os filhos de Israel lhe são dados, etc. — Os sacerdotes
ocupam o lugar de Deus, e os levitas são os servidores de Deus na
obediência que prestam aos sacerdotes.
11-13. Eis que tenho eu tomado os levitas, etc. — A consagração
desta tribo não se originou na sabedoria legislativa de Moisés, mas na
nomeação especial de Deus, quem os escolheu como substitutos dos
primogênitos. Por um decreto feito em comemoração do último juízo
solene sobre o Egito, do qual as famílias israelitas foram milagrosamente
livradas, todos os primogênitos foram consagrados a Deus (Êx_13:12;
Êx_22:29), quem assim, sob circunstâncias peculiares, parecia adotar o
uso patriarcal de nomear o filho mais velho para servir como sacerdote
para a família. Mas o privilégio de redenção que era permitido ao
primogênito, abriu o caminho para uma mudança; e conforme, ao
organizar-se plenamente a economia mosaica, a administração das coisas
sagradas, anteriormente encomendada aos primogênitos, foi transferida
destes aos levitas, aqueles que recebem aquela honra em parte como
tributo a Moisés e Arão, e em parte porque esta tribo se distinguiu por
seu zelo no assunto do bezerro de ouro (Êx_32:29), e também porque,
sendo a menor das tribos, todos podiam achar emprego e sustento
conveniente no trabalho. (Veja-se Dt_33:9). A designação de uma classe
especial para os ofícios sagrados da religião foi um arranjo sábio;
porque, ao estabelecer-se em Canaã, o povo estaria tão ocupado que
poderiam não estar o suficientemente livres para atender o serviço do
santuário, e as coisas sagradas poderiam, por várias causas, cair no
abandono. Mas a nomeação de uma tribo inteira ao serviço divino,
assegurava a execução regular dos ritos da religião. A porção seguinte do
capítulo está relacionada com a substituição formal desta tribo.
13. serão meus. Eu sou o SENHOR — i. e., Eu decreto que assim
seja; e estando possuído de autoridade soberana, espero a obediência.
14-27. Conta os filhos de Levi — Eles foram enumerados como as
outras tribos; mas a enumeração foi feita sobre um princípio diferente,
porque, enquanto que nas outras tribos o número de varões era calculado
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 10
de vinte anos para cima [Nm_1:3], na de Levi eram contados de um mês
para cima. A razão para a distinção é óbvia. Nas outras tribos o censo foi
feito para fins de guerra [Nm_1:3], da qual os levitas eram totalmente
eximidos, e estavam destinados a uma obra para a qual entravam logo
que eram capazes para o ensino. São mencionados sob os nomes de
Gérson, Coate e Merari, filhos de Levi, e chefes ou cabeças ancestrais
das três divisões em que esta tribo estava repartida. Seus deveres eram o
de ajudar no transporte do tabernáculo, quando o povo estava mudando
de lugar do acampamento, e o de formar sua guarda, quando estavam em
lugar fixo, estando estacionados os gersonitas ao ocidente, os coatitas ao
sul e as famílias de Merari ao norte. Os coatitas tinham o lugar principal
junto ao tabernáculo, e o encargo das coisas mais preciosas e sagradas,
distinção com que eram honrados, provavelmente, pelo fato de que a
família aarônica pertencia a esta divisão da tribo de Levi. Sendo os
gersonitas os mais velhos, foi-lhes destinado o cargo que se seguia em
honra, enquanto que o peso do trabalho duro era lançado sobre a divisão
de Merari.
32. O príncipe — antes, “principais” dos levitas. Três pessoas são
mencionadas como chefes de suas divisões respectivas [Nm_3:24,
Nm_3:30, Nm_3:35]. E sobre eles presidia Eleazar, de onde se chama “o
segundo sacerdote” (2Rs_25:18); e em caso da ausência do sumo
sacerdote por doença ou outras ocasiões necessárias, ele desempenhava
as suas funções (1Rs_4:4).
38. Os que se acamparão, etc. — Sendo aquele o lado da entrada,
era o posto de honra, e por conseguinte reservado para Moisés e a
família sacerdotal. Mas os filhos de Moisés não tinham estação aqui.
39. vinte e dois mil — O resultado deste censo, embora fosse feito
sob condições muito vantajosas para Levi, mostrou que era por muito, a
menor tribo em Israel. Os números dados em Nm_3:22, 28, 34, somados,
chegam a 22.300. A omissão dos 300 se explica de várias maneiras: por
alguns, que porem ser primogênitos já dedicados a Deus, e que não
poderiam ser contados como substitutos; por outros, que porque no estilo
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 11
das Escrituras, a soma se calcula em números redondos. Mas a hipótese
mais provável é, que em hebraico se empregam as letras para expressar
números, e na transcrição uma letra foi tomada por outra de forma
parecida, mas de valor menor.
40, 41. Conta todo primogênito varão dos filhos de Israel, etc. —
O princípio sobre o qual a enumeração dos levitas tinha sido feita, agora
estava para aplicar-se às outras tribos. O número de seus filhos varões,
de um mês para cima, estava para ser calculado, para que fosse feita uma
comparação com o dos levitas, para uma adoção formal destes como
substitutos dos primogênitos. Os levitas, em número de 22.000, foram
dados em troca por um número igual dos primogênitos das outras tribos,
deixando um excesso de 273; e como não havia substitutos destes, foram
redimidos na razão de cinco siclos cada um (Nm_18:15, 16). Cada
israelita naturalmente gostaria que seu filho pudesse ser redimido por um
levita sem o pagamento deste imposto, e contudo, alguns teriam que
fazer este gasto, porque não havia levitas suficientes para fazer uma
mudança equivalente a este número. Escritores judeus dizem que o
assunto foi determinado por sortes, desta maneira: Moisés lançou numa
urna 22.000 pedaços de pergaminho, em cada um dos quais escreveu
“um filho de Levi”, e 273 mais que continham as palavras “cinco siclos”.
Tendo sido misturados estes pedaços de pergaminho, mandou que cada
primogênito colocasse a mão e tirasse um pedaço. Se o papelzinho
continha a primeira inscrição, era redimido por um levita; se continha a
outra, o pai devia pagar. O dinheiro de resgate, que, calculando o siclo
como meia coroa da moeda inglesa, chegaria a 12 xelins 6 peniques cada
um, foi destinado ao uso do santuário. O excesso dos primogênitos em
geral sobre o número de levita é tão pequeno, que a única maneira de
explicá-lo, é supondo que só fossem contados aqueles primogênitos
varões que ficavam na casa de seus pais, ou que fossem contados os
primogênitos que tinham nascido depois da saída do Egito, quando Deus
reclamou a todos os primogênitos como sua propriedade especial.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 12
41. os animais dos levitas — Estes que tinham os levitas pastando
nos prados dos exidos de suas cidades, e que supriam a suas famílias
com produtos de granja e carne, também foram tomados como um
equivalente de todos os primogênitos do gado que os israelitas possuíam
naquele momento. Como resultado deste intercâmbio, os primogênitos
dos animais eram trazidos naquele então, como mais tarde, ao altar e aos
sacerdotes.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Números 4

Vv. 1-49. DO SERVIÇO DOS LEVITAS.


2, 3. dos filhos do Coate … de trinta anos para cima — Esta
idade foi fixada especificamente (veja-se Nm_8:24) como a plena
maturidade de energia corporal para executar as tarefas pesadas a eles
designadas no deserto, como também da atividade mental, para ajudar no
manejo dos serviços sagrados. Também foi o período da vida quando
João Batista e Cristo entraram em seus respectivos ministérios.
até aos cinquenta — O tempo assinalado para serviço ativo foi um
período de 20 anos, no fim dos quais eram eximidos dos trabalhos físicos
de seu posto, embora se esperasse que ajudariam no tabernáculo.
(Nm_8:26).
todo aquele que entrar neste exército (RC) — assim chamado
pelo número deles, a ordem e a disciplina mantidos em suas filas, e seu
dever especial como guardiões do tabernáculo. A palavra hebraica,
entretanto, significa também “estação” ou “ofício”; e portanto a
passagem pode traduzir-se: “Todos os que entram ao ofício sacerdotal”
(v. 23).
4-15. É este o serviço dos filhos de Coate, etc. — Eles são
mencionados primeiro, por sua conexão íntima com Arão, e o
compartimento especial a eles designado para sua atenção durante as
viagens de Israel, estava de acordo com o encargo que tinham recebido,
de cuidar do conteúdo precioso do tabernáculo. Mas estes utensílios,
previamente tinham que ser cobertos pelos sacerdotes comuns, aqueles
que, assim como o sumo sacerdote, eram admitidos em tais ocasiões
necessárias ao lugar santíssimo. Esta era uma exceção à regra geral, que
proibia a entrada a todos, menos ao sumo sacerdote. Mas quando se
levantava a nuvem do tabernáculo, podiam entrar no santuário os
sacerdotes comuns, pois para eles exclusivamente estava reservado o
privilégio de empacotar os utensílios sagrados; e era somente quando as
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 14
coisas santas estavam preparadas para o transporte, que se permitia aos
coatitas chegar-se a elas.
5. o véu de cobrir — o véu interior, que separava o lugar santo do
santíssimo (Veja-se Êx_36:3).
6. uma coberta de peles de texugos (RC). — Veja-se Êx_25:5. A
coberta mencionada não era a do tabernáculo, mas sim uma feita
expressamente para proteger a arca.
e lhe meterão os varais — Estas varas de ouro foram tiradas agora.
(Veja-se Êx_25:15, comparado com 1Rs_8:8). A palavra hebraica
traduzida “meterão”, quer dizer também “dispor”, e provavelmente se
refere a sua inserção através das aberturas das cobertas preparadas para
recebê-las, para protegê-las do contato dos portadores como também da
influência do tempo. É digno de nota que as cobertas não eram feitas de
lona ou tecido grosseiro, mas sim de um tipo que unia a beleza com a
delicadeza.
7. o pão contínuo — Embora o povo comesse o maná no deserto,
os pães sagrados eram feitos constantemente de trigo, que provavelmente
era cultivado em pequenas quantidades em pedaços de terreno verde no
deserto.
10. sobre a padiola (TB) — padiola ou cangalhas, formadas de
dois paus unidos por duas travessas, e levadas por dois homens à
maneira de uma cadeira de mãos.
12. os utensílios do serviço com os quais servem no santuário —
a vestimenta oficial dos sacerdotes (Êx_31:10)
13. Do altar tirarão as cinzas — A necessidade de tirar as cinzas
do altar claramente indica que os sacrifícios eram oferecidos no deserto
(cf. Êx_18:12; Êx_24:4), embora parece que aquela raça rebelde
frequentemente tinha descuidado tal dever. (Am_5:25). Não se faz
menção do fogo sagrado; mas como, por mandato divino, tinha que
guardar-se sempre aceso, teria sido transferido a uma vasilha ou braseiro
abaixo da coberta, e levado pelos portadores especiais.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 15
15. então, os filhos de Coate virão para levá-lo; mas, nas coisas
santas, não tocarão, para que não morram — O modo de transporte
era sobre os ombros dos levitas (veja-se Nm_7:9), embora mais tarde se
usassem veículos de rodas. (2Sm_6:3; 1Cr_15:12). Era permitido tocar a
coberta, mas não as coisas tampadas, sob pena de morte, a que mais de
uma vez foi infligida. (1Sm_6:19: 2Sm_6:6-7). Esta advertência severa
tinha como propósito inspirar um sentimento de reverência profunda e
habitual na mente dos que oficialmente se ocupavam em coisas santas.
16. Eleazar … terá a seu cargo o azeite da luminária, etc. — Ele
estava encarregado do dever especial de dirigir o esquadrão de homens
empregados em levar o mobiliário sagrado; além disso, a seu cuidado
pessoal eram encomendados os materiais necessários para o serviço
diário, os quais era preciso que tivesse a seu alcance imediato.
(Êx_29:38).
17-20. Não deixareis que a tribo das famílias dos coatitas seja
eliminada do meio dos levitas, etc. — uma admoestação solene a
Moisés e Arão de que por alguma negligência de sua parte, não houvesse
desordem ou incongruência; que tomassem o maior cuidado de que todas
as partes deste serviço importante fossem proporcionadas às pessoas
respectivas, de modo que os coatitas não fossem inabilitados para seus
deveres elevados e honrosos. A culpa da morte deles cairia sobre o
sacerdote em chefe, se eles deixassem de dar as ordens convenientes ou
permitissem alguma familiaridade irreverente com as coisas sagradas.
24-28. É este o serviço das famílias dos gersonitas, etc. — Eles
foram nomeados para levar “as cortinas do tabernáculo” — i. e., as
cortinas de pelo de cabras — as dez cortinas primorosas e o reposteiro
bordado à entrada, com suas cobertas de couro vermelho.
28. o seu cargo estará sob a direção de Itamar, filho de Arão, o
sacerdote — Os levitas estavam sujeitos ao mando oficial dos
sacerdotes em geral, ao fazer os trabalhos comuns do templo. Mas
durante as viagens, Eleazar, que era imediato ao pai na sucessão, tomava
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 16
cargo especial dos coatitas, enquanto seu irmão Itamar tinha a
superintendência dos gersonitas e meraritas.
29-33. Quanto aos filhos de Merari ... os contarás — Eles
levavam os pertences comuns e mais pesadas, os quais, entretanto, eram
tão importantes e necessários, que se levava inventário deles — não só
por causa de seu número e variedade, mas por sua pequenez e caráter
comum que poderia resultar em que se perdessem por descuido,
inadvertência ou negligência. Foi uma lição útil, mostrando que Deus
não menosprezava nada relacionado com seu serviço, e que até nos
assuntos mais pequenos e corriqueiros exige o dever de fiel obediência.
34-49. Moisés, pois, e Arão, e os príncipes do povo contaram os
filhos dos coatitas, etc. — Esta enumeração foi feita sobre um princípio
diferente do que está relatado no capítulo anterior [Nm_3:15]. Aquela foi
limitada aos varões de um mês de idade para cima, enquanto que esta se
estendia a todos os capazes de serviço nas três classes da tribo levítica.
Ao considerar seus números relativos, aparece a sabedoria divina no
arranjo de que, enquanto que entre os coatitas e gersonitas, cujas cargas
eram menores e mais levianas, havia só como a terça parte deles que
eram aptos para o serviço; os meraritas, cujas cargas eram cada vez mais
pesadas, tinham a metade deles aptos para o trabalho (Poole). A pequena
população desta tribo, tão inferior a das outras, trata-se de explicar.
(Veja-se Nm_3:39).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 17
Números 5

Vv. 1-4. OS IMPUROS EXPULSOS DO ACAMPAMENTO.


2. Ordena aos filhos de Israel que lancem para fora do arraial
todo leproso, etc. — A exclusão de leprosos do acampamento no
deserto, como também das cidades e aldeias mais tarde, foi uma medida
sanitária tomada segundo regras prescritas. (Levítico 13, 14). Esta
exclusão de leprosos da sociedade humana foi sempre praticada, depois;
e proporciona quase o único caso em que se presta alguma atenção no
Oriente à prevenção do contágio. Este uso continua mais ou menos no
Oriente entre pessoas que não creem necessária a mais mínima
precaução contra a peste ou o cólera; mas julgando por observação
pessoal, cremos que na Ásia a lepra diminuiu muito agora, em frequência
e virulência. Geralmente aparece em forma comparativamente moderada
no Egito, na Palestina e outros países onde a doença é, ou era, endêmica.
Pequenas sociedades de leprosos excluídos, vivem miseravelmente em
choças vis. Muitos deles são esmoleiros, que saem aos caminhos a
solicitar esmolas que recebem em tigelas de madeira; pessoas caridosas
também às vezes lhes trazem diferentes artigos de alimento, que deixam
no solo a curta distância das choças dos leprosos. Geralmente são
obrigados a levar um sinal distintivo, para que as pessoas os conheçam à
primeira vista e se previnam para evitá-los.
Outro meio usado entre os antigos judeus consistia em pôr a mão
sobre a boca e gritar: Imundo! Imundo! [Lv_13:45]. Mas seu tratamento
geral, quanto à exclusão dos leprosos, era o mesmo que agora se
descreve. A associação dos leprosos, entretanto, nesta passagem, com os
que estavam sujeitos apenas à impureza cerimonial, demonstra que um
propósito importante no desterro temporário de tais pessoas, era o de
afastar todas as impurezas que refletiam desonra sobre o caráter e a
residência do Rei de Israel. E este cuidado vigilante de manter esta
pureza externa no povo era ideado para lhes ensinar a prática da força
moral, ou a limpar-se a si mesmos de toda impureza da carne e do
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 18
espírito. Os regulamentos adotados para assegurar a limpeza no
acampamento, sugerem a adoção de meios similares para manter a
pureza da igreja. Embora em grandes comunidades de cristãos, possa ser
difícil ou delicado fazer isto, a suspensão, ou em casos notórios de
pecado, a total excomunhão do infrator, dos privilégios e a comunhão da
igreja, é um dever imperativo, tão necessário à pureza moral dos cristãos,
como a exclusão do leproso do acampamento o era para a saúde física e
a pureza cerimonial da igreja judia.

Vv. 5-10. ORDENA-SE A RESTITUIÇÃO.


6. Quando homem ou mulher cometer algum dos pecados em
que caem os homens, etc. — Trata-se do mal ou dano cometido por um
homem na propriedade de outro, e, como é chamado, “ofendendo ao
SENHOR”, indica-se no caso suposto, que foi agravada a ofensa por
prevaricação: um juramento falso ou uma mentira fraudulenta por negar,
o que é uma “prevaricação” cometida contra Deus, quem é o único juiz
do que se jura e se fala falsamente (At_5:3-4).
tal pessoa é culpada — i. e., segundo o conteúdo da passagem,
ferida na consciência, ou trazida a um sentimento e convicção de sua má
conduta. (Veja-se Lv_6:4). Em tal caso, primeiro deve haver uma
confissão, um reconhecimento penitencial de pecado; segundo,
restituição da propriedade, ou a entrega do equivalente, com a multa
adicional de uma quinta parte, tanto como compensação à pessoa
defraudada como uma pena imposta ao injuriador, a fim de impedir que
outros cometam transgressões similares (Veja-se Êx_22:1). A diferença
entre a lei registrada naquela passagem e esta, é que uma foi decretada
contra ladrões notórios e decididos, e a outra contra aqueles cujas
necessidades teriam podido induzi-los à fraude, e cuja consciência se
sentisse angustiada por seu pecado. Esta lei também supõe que a pessoa
prejudicada tivesse morrido; em tal caso, a compensação devida a seus
representantes, devia ser paga ao sacerdote, quem, como representante
de Deus, recebia a justa satisfação,
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 19
9, 10. Toda oferta … será deste — Tudo que fosse dado desta
maneira, ou de outra maneira, como por oferta voluntária,
irrevocavelmente pertencia ao sacerdote.

Vv. 11-31. O JUÍZO DOS CIÚMES.


12. Se a mulher de alguém se desviar — Esta lei foi dada como
uma severa advertência à infidelidade de parte de uma esposa, como
também para uma proteção suficiente dela, das consequências de uma
suspeita precipitada e sem fundamento de parte do marido. Suas
suspeitas, entretanto, eram suficientes, em ausência de testemunhas,
(Lv_20:10) para justificar o juízo descrito; e o procedimento que se
devia seguir era que o marido ciumento trouxesse sua esposa perante o
sacerdote com uma oferta de farinha de cevada, porque ninguém tinha
permissão de chegar ao santuário com as mãos vazias (Êx_23:15). Em
outras ocasiões, eram misturados com a farinha, azeite, que significava
alegria, e incenso que simbolizava aceitação (Sl_141:2). Mas na ocasião
de referência estes ingredientes deviam ser excluídos, em parte porque
era uma apelação a Deus em circunstâncias aflitivas, e em parte porque
era uma oferta pelo pecado de parte de uma esposa, quem se aproximava
a Deus com o caráter de ofensora real ou suposta.
17. O sacerdote tomará água santa — Água do lago, que tinha
que ser misturada com o pó da terra, emblema de baixeza e miséria
(Gn_3:14; Sl_22:15).
num vaso de barro — Se escolhia este copo frágil, porque depois
de ser usado, era quebrado em pedaços. (Lv_6:28, Lv_11:33). Todas as
circunstâncias desta terrível cerimônia: colocação da mulher com seu
rosto na direção da arca; sua cabeça descoberta, sinal de que estava
privada da proteção de seu marido (1Co_11:7); a amarga beberagem
posta em suas mãos, preparatório de uma apelação a Deus; o solene
conjuro do sacerdote (Nm_5:19-22), todas estavam calculadas em grau
não pequeno para estimular a imaginação de uma pessoa consciente de
culpa.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 20
21. o SENHOR te ponha por maldição, etc. — fórmula usual de
imprecação (Is_65:15; Jr_29:22).
22. a mulher dirá: Amém! Amém! — Os judeus estavam
acostumados a, em vez de repetir palavra por palavra o juramento, dizer
meramente: Amém, “assim seja”, às imprecações contidas no juramento.
A reduplicação da palavra era proposta como uma evidência da
inocência da mulher, e uma boa disposição de que Deus fizesse para ela
segundo seus merecimentos.
23, 24. escreverá estas maldições num livro — As imprecações,
junto com o nome dela, eram inscritas em algum tipo de registro — em
pergaminho, ou mais provavelmente numa tabuleta de madeira.
com a água amarga, as apagará — Se ela fosse inocente, elas
poderiam ser apagadas facilmente, e seriam perfeitamente inócuas; mas
se fosse culpada, sentiria ela os efeitos fatais da água que tinha tomado.
29. Esta é a lei para o caso de ciúmes — O adultério descoberto e
provado era castigado com a morte. Mas ocorreriam casos fortemente
suspeitáveis, e esta lei fazia provisão para o castigo da pessoa culpada.
Não era um juízo, entretanto, dirigido segundo as formas de um processo
judicial, mas sim uma prova rigorosa pela qual a suposta adúltera, era
obrigada a passar, sendo a cerimônia de natureza tão aterradora, que,
pelos princípios da natureza conhecidos, a culpa ou a inocência não
poderia deixar de aparecer. Desde tempos antigos, os ciúmes do povo
oriental estabeleceram provas para a averiguação e o castigo da impureza
nas esposas. A prática estava profunda e universalmente arraigada.
Pensou-se, que, sendo os israelitas fortemente inclinados a favor de tais
usos, esta lei dos ciúmes “foi incorporado entre as outras instituições da
economia mosaica, a fim de livrá-la dos ritos idolátricos que uniam com
ela os pagãos”. Visto nesta luz, sua sanção por autoridade divina, numa
forma corrigida e melhorada, manifesta ao mesmo tempo uma prova da
sabedoria e condescendência de Deus.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 21
Números 6

Vv. 1-22. A LEI DO NAZIREU EM SUA SEPARAÇÃO.


2-8. Quando alguém, seja homem seja mulher, fizer voto
especial, o voto de nazireu — i. e., “a pessoa separada”, de uma palavra
hebraica “separar”. Usava-se para designar uma classe de pessoas que,
sob o impulso de piedade extraordinária, e com o objetivo de um grau
mais elevado de melhoramento religioso, voluntariamente renunciavam
às ocupações e aos prazeres do mundo para dedicar-se sem reserva ao
serviço divino. O voto podia ser tomado por pessoas de ambos os sexos,
contanto que tivessem a disposição de fazê-lo. (Nm_30:4), e para tempo
limitado, geralmente um mês ou por toda a vida (Jz_13:5; Jz_16:17).
Talvez não sabemos toda a extensão da abstinência que eles praticavam.
Mas eles se separavam de três coisas em particular: do vinho e de todas
as variedades do produto da vide; da aplicação da navalha a suas
cabeças, deixando crescer o cabelo; e de contaminação por corpos
mortos. Os motivos destas limitações são óbvios. O uso do vinho tendia
a inflamar as paixões, a intoxicar o cérebro e a criar um gosto pelas
indulgências libidinosas. O corte do cabelo sendo reconhecido como
sinal de impureza (Lv_14:8-9), em abundância, sem cortá-lo, era
símbolo da pureza que se professava. Além disso, sua longitude
extraordinária o lembrava constantemente do seu voto, como também
estimulava a outros a imitar seu exemplo piedoso. Além disso, como o
contato com corpos mortos inabilitava para o serviço divino, o nazireu
cuidadosamente evitava tais causas de inépcia, e, como o sumo
sacerdote, não assistia aos ritos fúnebres de seus parentes mais próximos,
preferindo seu dever para com Deus à indulgência de seus mais fortes
afetos naturais.
9-12. Se alguém vier a morrer junto a ele subitamente, e
contaminar a cabeça do seu nazireado — Casos de morte repentina
poderiam ocorrer que o fizessem contrair contaminação; em tais
circunstâncias necessitava, depois de barbear a cabeça, fazer certas
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 22
ofertas prescritas para tirar a contaminação cerimonial (Lv_15:13;
Nm_19:11). Mas pelos termos desta lei, uma contaminação acidental
estragava todas as suas observâncias anteriores, de modo que ele
precisava começar de novo o período de seu nazireado. Mas até esta
terminação completa não invalidava a necessidade de uma oferta pelo
pecado, no final. O pecado se mistura entre nossas melhores obras e é
necessário o sangue aspergido para obter nossa aceitação e de nossos
serviços.
13-20. no dia em que se cumprirem os dias do seu nazireado,
etc. — Pelo cumprimento de um voto limitado de nazireado, as nazireus
podiam cortar o cabelo onde quer que estivessem (At_18:18); mas o
cabelo devia ser guardado e trazido à porta do santuário. Então, depois
da apresentação de ofertas pelo pecado e ofertas queimadas, o cabelo era
posto sob a vasilha em que se cozinhava a oferta pacífica; e o sacerdote,
tomando uma espádua (Lv_7:32) já cozida, e uma torta e um parte da
oferta, punha-as na mão do nazireu para que as balançasse perante o
Senhor, como sinal de agradecimento, e assim o livrava de seu voto.

Vv. 23-27. A FORMA DE ABENÇOAR O POVO.


Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos
de Israel, etc. — Esta passagem nos dá a solene bênção que mandou
Deus, para a despedida do povo, no final do serviço diário. A repetição
do nome “SENHOR” três vezes, expressa o grande mistério da
Divindade: três pessoas, mas um só Deus. As expressões nas cláusulas
distintas correspondem aos três ofícios: do Pai, de “abençoar e nos
guardar”; do Filho, de nos mostrar a graça; e do Espírito Santo de “nos
dar paz”. E visto que a bênção, pronunciada pelos lábios de um ser
humano, derivava sua virtude, não da parte do sacerdote, mas sim da de
Deus, à segurança alentadora foi acrescentado: “e eu os abençoarei”.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Números 7

Vv. 1-89. AS OFERTAS DOS PRÍNCIPES.


1. No dia em que Moisés acabou de levantar o tabernáculo —
Heb. “no dia de acabar Moisés”, etc. Os que consideram que a palavra
“dia” assinala a data exata da terminação do tabernáculo, estão sob a
necessidade de considerar o sagrado relato como desunido, e esta porção
da história do capítulo sete até o onze, como fora de seu lugar visto que a
cronologia exige que tivesse seguido imediatamente ao capítulo quarenta
de Êxodo, que diz que o tabernáculo foi levantado o primeiro dia do
primeiro mês do segundo ano [Êx_40:17]. Mas que a palavra “dia” é
usada num sentido vago e indeterminável, como sinônimo de “tempo”, é
evidente pelo fato de que não um dia e sim sete, foram ocupados nas
transações prestes a relatar-se. De modo que este capítulo está em seu
lugar próprio na ordem da história; depois que o tabernáculo e seus
instrumentos, o altar e seus copos, tinham sido ungidos (Lv_8:10), os
levitas separados para o serviço sagrado: a enumeração do povo, e a
disposição das tribos ao redor do tabernáculo, em certa ordem fixa, o que
era observado pelos príncipes na apresentação de suas ofertas. Isto fixa o
período da imponente cerimônia descrita neste capítulo, como um mês
depois da terminação do tabernáculo.
2, 3. os príncipes de Israel … trouxeram a sua oferta perante o
SENHOR — A terminação do sagrado edifício, bem se pode imaginar,
seria celebrada como ocasião propícia, difundindo grande alegria e
gratidão através de todo o povo de Israel. Mas os dirigentes, não
contentes participando da geral expressão de satisfação, distinguiram-se
por um movimento, que, embora puramente espontâneo, foi ao mesmo
tempo tão apropriado às circunstâncias, e tão igual em caráter, como se
indicasse que foi o resultado de um entendimento prévio. Foi um
oferecimento dos meios de transporte, conveniente ao estado migratório
no deserto, para levar o tabernáculo de um lugar para outro. No modelo
daquela tenda sagrada exibida na montanha, e ao qual por seu caráter
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 24
simbólico e típico se exigia uma fiel adesão, não se tinha feito nenhuma
provisão para seu transporte, nas frequentes viagens dos israelitas. Como
aquilo não era essencial ao plano do Arquiteto Divino, deixou-se para ser
efetuado pela generosidade voluntária do povo; e seja que consideremos
o caráter judicioso das doações, ou a maneira pública em que foram
apresentadas, temos evidência inequívoca dos sentimentos piedosos e
patrióticos que surgiram, e do grande interesse que a ocasião produziu.
Os ofertantes foram “os príncipes de Israel, os cabeças da casa de seus
pais”, e a oferta consistiu em “seis carros cobertos e doze bois; cada dois
príncipes ofereceram um carro, e cada um deles, um boi”.
4, 5. Disse o SENHOR a Moisés: Recebe-os deles, e serão
destinados ao serviço da tenda da congregação — Eles deram um belo
exemplo a todos os que são grandes em dignidade e riquezas, de ser os
primeiros em contribuir ao sustento e na promoção da religião. O estrito
dos mandamentos que Moisés tinha recebido, de aderir-se com
fidelidade escrupulosa ao modelo divino do tabernáculo, provavelmente
o levou a duvidar de se estaria em liberdade de agir neste assunto, sem
receber ordens. Deus o livrou de dúvidas, declarando sua aceitação das
ofertas voluntárias, como também ao lhe dar instruções a respeito do
modo da partilha entre os levitas. É provável que ao fazê-lo assim, Deus
meramente tenha sancionado o objetivo para o qual foram oferecidos, e
que a sabedoria prática dos ofertantes tivesse determinado previamente
que deveriam ser repartidos “aos levitas, a cada um segundo o seu
serviço”; i. e., maior número ou menor número foram designados a cada
uma das divisões levíticas, conforme pareciam requerê-lo suas
obrigações. É de grande importância notar esta sanção divina, porque
estabelece o princípio de que, enquanto nos grandes assuntos do culto
divino e do governo eclesiástico, temos que nos aderir fielmente à regra
revelada de fé e dever, as disposições menores a respeito destas coisas
podem fazer-se legalmente, segundo os meios e as conveniências do
povo de Deus, nos distintos lugares. “Há muito que se deixa à regulação
humana – pertences de conveniência evidente, e que seria absurdo
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 25
resistir pela razão de que nenhum mandato rápido se deu para isso, como
por exemplo protestar contra o chamar as pessoas ao culto divino,
porque não há um mandato na Escritura para a ereção e toque de um sino
de igreja” (Chalmers).
6-9. Moisés recebeu os carros e os bois — Parece que a palavra
hebraica se traduz corretamente por “carros”. Certamente são indicados
veículos de rodas de algum tipo. Que veículos de rodas eram usados
antigamente no Egito e na Turquia, é confirmado, não só pela história,
mas por esculturas e pinturas existentes. Alguns destes teriam podido
trazer os israelitas em sua saída; outros, os hábeis artesãos, que fizeram a
obra mecânica do tabernáculo, facilmente poderiam tê-los construído,
segundo os modelos que tinham conhecido. Cada carro era puxado por
dois bois; e maior número parece que nunca foi empregado em nenhuma
das ocasiões mencionadas nas Escrituras. Parece que os bois eram
usados para o tiro em tempos antigos entre outras nações como entre os
hebreus; e ainda são empregados em puxar os poucos carros que estão
em uso em algumas parte da Ásia Ocidental. (Kitto).
os deu aos levitas — O princípio da distribuição era natural e
judicioso, recebendo os meraritas duas vezes a quantidade de carros e
bois que os que tinham os gersonitas; evidentemente porque, enquanto
que estes tinham a seu cargo as cobertas e cortinas, cortinados leves mas
preciosos e ricamente bordados [Nm_4:24-26], aqueles eram nomeados
para transportar todos os materiais pesados e volumosos, como tábuas,
barras, pilares e ponteiras, enfim, todos os artigos de mobiliário maiores
[Nm_4:31-32]. Quem pensa só no peso enorme do metal, o ouro, a prata
e o bronze, etc., que estava nas bases, capitéis, pilares, etc.,
provavelmente chegará à conclusão de que quatro carros com oito bois,
estavam muito longe de ser suficientes para levar tão enorme carga.
Além disso, os meraritas não eram numerosos, pois somavam só 3.200
homens de trinta anos acima [Nm_4:44]; e portanto há motivo para supor
que se acharia depois que era necessário um número muito maior de
carros, e que seriam providos, que os doados nesta ocasião (Calmet).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 26
Outros, que se fixam no número completo de carros e bois mencionados
no relato sagrado, supõem que os meraritas levariam muitas das coisas
pequenas em suas mãos, como as ponteiras por exemplo, que sendo de
um talento de peso, seria a carga para um homem. (2Rs_5:23). Os
coatitas não tinham atribuídos para si, nem veículos de rodas nem bestas
de carga, porque, sendo encarregados do transporte do mobiliário
pertencente ao lugar santo, o valor sagrado e o caráter dos copos a eles
confiados (veja-se Nm_4:15) exigia um modo de transporte honorável.
Estes eram levados pelos levitas à altura do ombro. Até neste arranjo
minucioso todo leitor reflexivo verá a evidência da sabedoria e santidade
divinas; e uma separação desta prescrita regra do dever, num caso
relatado, levo a uma manifestação do santo desagrado, capaz de produzir
uma impressão saudável e solene. (2Sm_6:6-13).
10. apresentaram a sua oferta perante o altar, etc. — “Altar”
aqui é usado em número singular em lugar do plural; porque é evidente
pelo tipo de ofertas, que se refere aos altares de holocaustos e de incenso.
Esta não é a primeira dedicação e própria daqueles altares, a qual tinha
sido feita por Moisés e Arão algum tempo antes [Lv_8:11]. Mas poderia
se considerar uma dedicação adicional, sendo aquelas as primeiras que
eram feitas a favor de pessoas e tribos especiais.
11. Cada príncipe apresentará, no seu dia, a sua oferta, etc. —
Os príncipes orientais antigamente estavam acostumados a, como ainda
fazem na Pérsia em certas festas anuais, sentar-se em seus tronos com
grande pompa, quando príncipes e nobres, de todas partes de seus
domínios, apareciam perante eles com seus presentes tributários, que
formavam grande parte de suas rendas reais. E na apresentação de todos
os obséquios e presentes a grandes personagens, cada artigo é
apresentado só e com desdobramento ostentoso. Sendo o tabernáculo o
palácio de seu grande Rei, como também o santuário de seu Deus, os
príncipes de Israel podem ver-se, na ocasião mencionada, apresentando
suas ofertas tributárias, e da mesma maneira detalhada de acordo com os
usos imemoriais do Oriente. Um dia foi assinalado para cada um, tanto
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 27
para a imponente solenidade e o esplendor da ocasião, para evitar
desordem e pressa; e deve observar-se que a preferência estava de acordo
não com a prioridade de nascimento, mas sim a posição e dignidade
assim como estavam colocados no acampamento, começando-se no este,
procedendo ao sul, então a oeste, e terminando com o norte, segundo o
curso do sol.
12-17. O que, pois, no primeiro dia, apresentou a sua oferta foi
Naassom ... pela tribo de Judá — Como a precedência tinha sido
atribuída a Judá, o príncipe ou cabeça daquela tribo foi admitido
primeiro para oferecer como o representante da tribo; e sua oferta, como
também as dos demais, crê-se, pelo custo, que foi provida não por seus
meios particulares, mas pelas contribuições gerais de cada tribo.
Algumas partes da oferta, como os animais para o sacrifício, eram para o
serviço ritual do dia, sendo muito mais numerosas as ofertas pacíficas,
pois os príncipes e alguns do povo, uniam-se aos sacerdotes depois, em
celebração da ocasião, com regozijo festivo. Deste modo a festa de
dedicação mais tarde deveu ser uma festa de aniversário. Outras partes
da oferta eram destinadas para uso permanente, como utensílios
necessários no serviço do santuário, assim como um prato e uma taça
imensos (Êx_25:29), que, sendo de prata, tinham que ser empregados
junto ao altar dos holocaustos, ou no átrio, não no lugar santo, pois todo
o seu mobiliário era de ouro maciço ou chapeado; e uma colher de ouro,
cujo conteúdo demonstra que seu destino tinha sido o altar do incenso. A
palavra traduzida “colher” quer dizer uma taça arredondada, na forma de
uma mão, com a qual os sacerdotes em ocasiões comuns podiam levantar
uma quantidade de incenso da caixa para atirá-la sobre o fogo do altar,
ou nos incensários; mas na cerimônia da expiação anual não se permitia
nenhum instrumento mais que a mão do sacerdote (Lv_16:12).
18. No segundo dia, fez a sua oferta Natanael … príncipe de
Issacar — Como esta tribo estava localizada à mão direita de Judá
ofereceu depois por seu representante; logo Zebulom, que estava ao lado
esquerdo; e assim depois em sucessão ordenada, cada tribo fazendo o
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 28
mesmo tipo de oferta e na mesma quantidade, para mostrar, que, como
cada um estava sob a mesma obrigação, cada um rendia o mesmo
tributo. Embora cada oferta fosse igual em quantidade como em
qualidade, dá-se notícia separadamente de cada uma, porque um dia
especial foi assinalado para a apresentação, para que igual honra fosse
conferida sobre cada um e que ninguém aparecesse descuidado nem
desprezado. E como os livros sagrados eram lidos em público, a
posteridade, em cada época sucessiva, sentiria um interesse mais vivo no
culto nacional, devido ao reconhecimento permanente das ofertas feitas
pelos ascendentes das respectivas tribos. Mas enquanto faziam isto, num
sentido, como súditos que pagavam tributo a seu rei, era em outro
sentido puramente um ato religioso. Os copos oferecidos eram para o uso
sacrifical, e os animais trazidos eram limpos e aptos para o sacrifício,
significando ambos simbolicamente, que enquanto Deus tinha que
habitar entre eles como seu Soberano, eles eram um povo santo, que por
esta oferta se dedicava a Deus.
48. No sétimo dia — Alguns se surpreenderam pelo fato que este
trabalho de apresentação fosse continuado no dia de sábado. Mas
supondo-se que no sétimo dia mencionado fosse um sábado (não se tem
certeza), o trabalho era de caráter diretamente religioso, e estava
perfeitamente de acordo com os propósitos do dia sagrado.
84-88. Esta é a dádiva feita ... para a consagração do altar — O
historiador inspirado aqui faz a soma dos artigos detalhados no relato
anterior, e o total é como segue: 121 fontes de prata, pesando cada um
130 siclos=1560 siclos; 12 tigelas de prata, de 70 siclos=840 siclos. O
valor total destes utensílios seria cerca de 383 libras esterlinas. As 12
colheres de ouro, equivaleriam a 320 libras, o que somado ao valor da
prata, seria 703 libras. Além disso, estas ofertas incluíam 12 bois, 12
carneiros, 12 cordeiros, 24 cabritos, 60 carneiros, 60 bodes, 60 cordeiros
– no total 240 animais. Tão grande coleção de gado oferecida para o
sacrifício numa só ocasião, dá prova dos numerosos rebanhos dos
israelitas e da abundância de pasto que havia então, e que ainda há, nos
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 29
vales, entre as montanhas do Sinai. Todos os viajantes testemunham o
abundante verdor daqueles wadis extensos, e que eram igualmente ricos
ou mais ricos antigamente que agora, confirma-se pelos numerosos
rebanhos dos amalequitas, como também pelos de Nabal, que se
alimentavam no deserto de Parã (1Sm_15:9).
89. Quando entrava Moisés na tenda da congregação para falar
com o SENHOR — Como o rei dá audiência particular a seu ministro,
assim era concedida licença especial a Moisés, quem, embora não fosse
sacerdote, era admitido ao santuário para receber instruções de seu Rei
celestial, conforme exigiam as circunstâncias.
ouvia a voz que lhe falava — Embora estivesse do lado de fora do
véu, podia ouvi-la distintamente, e a menção desta circunstância é
importante como o cumprimento, por ocasião da dedicação do
tabernáculo, de uma promessa especial feita pelo próprio Senhor Cristo,
o anjo da Aliança, ao ordenar a construção do mesmo (Êx_25:22). Foi a
recompensa do zelo e a obediência de Moisés; e, de igual maneira, a
todos os que O amam e guardam os Seus mandamentos, Ele se
manifestará (Jo_14:21).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 30
Números 8

Vv. 1-4. COMO SE ACENDERIAM AS LÂMPADAS.


1. Disse o SENHOR a Moisés — A ordem deste capítulo sugere a
ideia de que as instruções seguintes foram dadas a Moisés, enquanto
estava dentro do tabernáculo da congregação, depois que os príncipes
terminaram sua oferta. Mas pelo teor das instruções, é mais provável que
fossem dadas imediatamente depois que os levitas foram dados aos
sacerdotes (Números 3, 4), e que o registro destas instruções tivesse sido
adiado até que a comunicação de outras transações no acampamento
tinha sido feita (Patrick).
2. Fala a Arão, etc. — O candelabro, que foi feito de uma peça
maciça e pesada de ouro puro, com seis lâmpadas apoiadas em vários
braços, um sétimo no centro sobre o próprio eixo (Êx_25:31; Êx_37:17),
e terminado segundo o modelo mostrado no monte, agora estava para ser
aceso, quando as demais coisas no santuário começaram a ser aplicadas
ao serviço religioso. Era o dever pessoal de Arão, como servo de Deus,
iluminar sua casa, a qual, sendo sem janelas, necessitava a ajuda de luzes
(2Pe_1:19). E a ordem que tinha que seguir era primeiro acender a
lâmpada do meio com fogo do altar, e logo acender as outras com fogo
da primeira e depois da outra sucessivamente, um proceder simbólico de
que toda a luz da verdade celestial era derivada de Cristo e difundida por
seus ministros por todo mundo (Ap_4:5).
as sete lâmpadas alumiarão o espaço em frente do candeeiro
(TB) — O candelabro estava junto às tábuas do santuário, sobre o lado
sul, à plena vista da mesa do pão da proposição ao lado norte
(Êx_26:35), tendo um jogo de lâmpadas dirigidas ao este, e outro ao
oeste; de modo que todas as partes do tabernáculo eram iluminadas.

Vv. 5-22. A CONSAGRAÇÃO DOS LEVITAS.


6. Toma os levitas ... e purifica-os — Esta passagem descreve a
consagração dos levitas. Embora a tribo tivesse que ser consagrada ao
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 31
serviço divino, sua descendência hereditária apenas, não era requisito
suficiente para entrar nos deveres do cargo sagrado. Tinham que ser
apartados mediante uma cerimônia especial, a qual, entretanto, era mais
singela que aquela assinalada para os sacerdotes; não eram necessários
os lavamentos nem as unções nem a investidura com roupas oficiais. Sua
purificação consistia, junto com o oferecimento dos sacrifícios exigidos
(Lv_1:4; Lv_3:2; Lv_4:4), em ser aspergidos com água misturada com
cinzas de uma vaca vermelha (Nm_19:9), barbeado todo o corpo e
lavadas suas roupas, uma combinação de atos simbólicos que tinha por
motivo lembrá-los da mortificação dos desejos carnais e mundanos, e a
manutenção daquela pureza de coração e vida que era própria dos
servidores de Deus.
9. ajuntarás toda a congregação dos filhos de Israel — Como era
claramente impossível que toda a multidão dos israelitas fizesse isto,
deve significar, uma porção representativa deles. Supõem alguns que
este grupo de pessoas que impuseram suas mãos sobre os levitas, seriam
os primogênitos, aqueles que por este ato transferiram aos levitas seu
privilégio peculiar de agir como ministros de Deus; e outros, que seriam
os príncipes, que assim os abençoaram. Parece, por esta passagem, que a
imposição de mãos era uma cerimônia usada na consagração das pessoas
aos ofícios sagrados na antiga igreja, como, pelo exemplo de nosso
Senhor e Seus discípulos, foi perpetuada na igreja cristã.
11-13. Arão apresentará os levitas — Hebraico: como oferta
movida; e se creu provável que o sumo sacerdote, ao trazer para os
levitas um por um ao altar, lhes mandasse fazer algum movimento
singelo de corpo, análogo ao que se fazia na apresentação das ofertas
movidas perante o Senhor. Assim eram dedicados como oferta a Deus, e
por Ele entregues aos sacerdotes para serem empregados no serviço
divino. A cerimônia de consagração era repetida no caso de cada levita
que era tomado, como era feito num período posterior, para ajudar os
sacerdotes no tabernáculo e no templo. (Veja-se 2Cr_29:34).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 32
14. os levitas serão meus — i. e., eximidos de todo serviço militar
ou trabalho secular, livres de toda imposição pecuniária, e inteiramente
dedicados à custódia e ao serviço do santuário.
15. Depois disso, entrarão os levitas para fazerem o serviço da
tenda da congregação — ao pátio, para ajudar os sacerdotes; e à
mudança ao tabernáculo — quer dizer, à porta do mesmo — para receber
os móveis cobertos.
19. para fazerem o serviço dos filhos de Israel, etc. — para ajudar
os sacerdotes naquela obra expiatória; ou, como as palavras podem
traduzir-se, “para fazer redenção por”, sendo os levitas trocados ou
substituídos pelos primogênitos para este fim importante, para que
houvesse um corpo de homens santificados, nomeados para guardar o
santuário, e para não permitir que o povo se aproximasse e
presunçosamente se misturasse nas coisas santas, o que os exporia aos
irados juízos do céu.
24. de vinte e cinco anos para cima, etc. — (cf. Nm_4:3).
Entraram em sua obra em seu vigésimo quinto ano como aprendizes e à
prova, sob vigilância e direção de seus irmãos mais velhos; e aos trinta
anos eram admitidos ao pleno exercício de suas funções oficiais.
25. de cinquenta anos desobrigar-se-ão do serviço, etc. — i. e.,
das partes difíceis e exaustivas de seu trabalho.
26. ajudarão aos seus irmãos — no cumprimento dos deveres
mais fáceis e elevados, ensinando e dirigindo os jovens ou vigiando
cargos importantes. “Também servem os que esperam”. (Milton).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 33
Números 9

Vv. 1-5. DEUS MANDA CELEBRAR A PÁSCOA.


2. Celebrem os filhos de Israel a Páscoa a seu tempo, etc. — A
data desta ordem de celebrar a páscoa no deserto, foi dada um pouco
depois da construção e consagração do tabernáculo, e antecedeu por um
mês à enumeração do povo (cf. Nm_9:1 e Nm_1:1, 2). Mas se relata
depois daquela transação, a fim de introduzir o aviso de um caso
especial, para o qual foi introduzida uma lei especial. Esta era a primeira
observância da páscoa desde o êxodo; e sem uma ordem positiva, os
israelitas não estavam sob nenhuma obrigação de celebrá-la enquanto
não se estabelecessem na terra de Canaã (Êx_12:25). O aniversário foi
celebrado no dia preciso do ano no qual eles, doze meses antes, tinham
saído do Egito; e foi observado com todos os ritos peculiares: o cordeiro
macho e o pão sem levedura. Os materiais seriam conseguidos
facilmente: os cordeiros de seus numerosos rebanhos, e a farinha para o
pão sem levedura, com a ajuda de Jetro, da terra de Midiã, que estava
junto a seu acampamento (Êx_3:1). Mas os lombos cingidos, os pés
calçados com sandálias e seu bordão na mão, sendo meras circunstâncias
acompanhantes de uma partida precipitada, e não essenciais ao rito, não
foram repetidos. Supõe-se que esta tenha sido a única observância da
festa durante os quarenta anos de peregrinação; e dizem os escritores
judeus que, como ninguém podia comer a páscoa sem ser circuncidado
(Êx_12:43-44, 48), e como não se praticava a circuncisão no deserto
[Js_5:4-7], não podia haver uma renovação da solenidade pascal.

Vv. 6-14. UMA SEGUNDA PÁSCOA PERMITIDA.


6. Houve alguns que se acharam imundos por terem tocado o
cadáver de um homem — O cumprimento dos últimos ofícios aos
restos de parentes falecidos era imperativo; e, entretanto, a assistência a
um funeral impunha contaminação cerimonial, que resultava na exclusão
de toda sociedade e do acampamento, durante sete dias. Algumas
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 34
pessoas que estavam nesta situação, ao chegar o primeiro aniversário da
páscoa, estavam penosamente perplexas a respeito do curso de seu dever,
porque estavam temporalmente inabilitadas na data exata da festa, e não
tendo oportunidade de suprir a falta, estavam expostas a uma privação
total de todos os seus privilégios, apresentaram sua causa perante
Moisés. Escritores judeus afirmaram que estes homens eram os que
tinham tirado os corpos mortos do Nadabe e Abiú [Lv_10:4-5].
8. Respondeu-lhes Moisés: Esperai, e ouvirei o que o SENHOR
vos ordenará — A solução à dificuldade logo foi conseguida,
decretando-se por autoridade divina, que para os que estivessem
inabilitados, pelo acontecimento de morte dentro de sua família, ou
impossibilitados pela distância para celebrar a páscoa no próprio
aniversário, fosse concedida uma licença especial para que observssem
sozinhos no mesmo dia e hora do mês seguinte, com a devida atenção a
todas as formalidades solenes. (Veja-se 2Cr_30:2). Mas a observância
era peremptória em todos os que não se achavam sob estes obstáculos.
14. Se um estrangeiro habitar entre vós e também celebrar a
Páscoa — Gentios, convertidos ou prosélitos, como se chamavam mais
tarde, se fossem circuncidados eram admitidos aos mesmos privilégios
que os israelitas naturais e estavam expostos à excomunhão se deixassem
de celebrar a páscoa. Mas a circuncisão era uma condição indispensável;
e quem não se submetia àquele rito era proibido, sob as penas mais
severas, comer a páscoa.

Vv. 15-23. UMA NUVEM GUIA OS ISRAELITAS.


15. No dia em que foi erigido o tabernáculo, a nuvem o cobriu
— Aqui o historiador inspirado entra em um tema completamente novo,
o qual corretamente poderia ter formado um capítulo à parte, começando
com este versículo e terminando em Nm_10:29 (Calmet). A nuvem era
um sinal visível da presença especial de Deus e seu cuidado protetor
sobre os israelitas. (Êx_14:20; Sl_105:39). Era facilmente distinguível de
todas as demais nuvens por sua forma especial e sua posição fixa; porque
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 35
desde o dia da terminação do tabernáculo, descansava de dia como uma
coluna escura, e de noite como coluna luminosa sobre aquela parte do
santuário, que continha a arca do testemunho. (Lv_16:2).
17. Quando a nuvem se erguia de sobre a tenda — i. e., subia a
uma elevação superior, para ser visível dos limites mais remotos do
acampamento. Este era o sinal para mudança de localização; e, por
conseguinte, chamava-se com razão “o mandado do SENHOR” (v. 18).
Era sinal visível da presença de Deus; e dentre ela, como de um trono
glorioso, Ele dava a ordem. De modo que o movimento dela regulava o
começo e a terminação de todas as marchas dos israelitas. (Veja-se
Êx_14:19).
19. Quando a nuvem se detinha muitos dias sobre o
tabernáculo, então, os filhos de Israel cumpriam a ordem do
SENHOR e não partiam — A vida no deserto tem seus atrativos, e os
movimentos constantes criam um amor apaixonado pelas mudanças.
Muitos incidentes demonstram que os israelitas tinham absorvido
fortemente este hábito errante, e estavam desejosos de mudar-se na
direção de Canaã. Mas ainda as fases da nuvem indicavam o mandado de
Deus; e apesar do tédio que sentissem por estar por muito tempo
estacionados no acampamento, “quando a nuvem se detinha muitos dias
sobre o tabernáculo, então, os filhos de Israel cumpriam a ordem do
SENHOR e não partiam”. Felizes deles, se tivessem mostrado sempre
este espírito de obediência! E felizes de nós todos, se, pelo deserto deste
mundo, seguíssemos implicitamente a inspiração da divina Providência e
as orientações da Palavra de Deus!
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Números 10

Vv. 1-36. O USO DAS TROMBETAS DE PRATA.


2. Faze duas trombetas de prata — Estas trombetas eram de uma
forma longa, em contraste com a das trombetas egípcias, com as quais se
chamava as pessoas para o culto de Osíris, e que eram curvas como os
chifres de carneiro. As que Moisés fez, descritas por Josefo e
representadas no arco de Tito em Roma, eram direitas, de comprimento
de um côvado ou mais, e os tubos de uma espessura de uma flauta, e
ambas as extremidades tinham uma semelhança próxima às trombetas
em uso entre nós, na Inglaterra. Porque eram de prata maciça, assim
como, pela pureza do metal, davam um som agudo e precioso; e havia
duas delas, provavelmente porque eram já apenas dois filhos de Arão;
mas em período posterior o número foi grandemente aumentado. (Js_6:8;
2Cr_5:12). Embora o acampamento contivesse 2.500.000 pessoas, duas
trombetas eram bem suficientes, porque o som era levado facilmente
pela atmosfera pura, e repercutia entre os vales dos montes sinaíticos.
3. Quando se tocarem as trombetas (TB) — Parece que tinha
havido sinais, marcados para diferenciar no volume e a variedade das
notas, adequados às diferentes ocasiões, e que a experiência permitia que
os israelitas distinguissem. Um som simples, uniforme, pelas duas
trombetas chamava o povo para assembleia geral; um som curto de uma
trombeta, convocava os príncipes para consulta sobre assuntos públicos;
notas de outro tipo eram produzidas para tocar alarme, fosse para partir,
ou fosse para a guerra. Um alarme era o sinal combinado para a divisão
oriental de acampamento — quer dizer, para que as tribos de Judá,
Issacar e Zebulom partissem, — dois alarmes davam o sinal para que a
divisão sobre o sul, partisse; e, ainda que não está em nosso atual texto
hebreu, a Septuaginta tem que, ao ser soado três alarmes, as tribos sobre
o oeste; e com quatro, as do norte, saíam do acampamento. Assim
estavam estabelecidas a maior ordem e a disciplina no acampamento
israelita; nenhuma marcha militar poderia estar melhor regulada.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 37
8. Os filhos de Arão, sacerdotes, tocarão as trombetas, etc. —
Nem os levitas nem ninguém nas filas comuns do povo, podiam ser
empregados nesta função de soar os sinais. Com o fim de atrair maior
atenção e uma observância mais fiel, estava reservada apenas para os
sacerdotes, como os ministros do Senhor; e como antigamente na Pérsia
e outros países orientais, as trombetas de alarme eram tocadas da tenda
do soberano, assim eram tocadas do tabernáculo, a residência visível do
Rei de Israel.
9. Quando na vossa terra fordes à guerra (TB) — Na terra de
Canaã, ou quando fossem atacados por invasores estrangeiros, ou quando
saíssem para tomar posse segundo a promessa divina, “tocareis”—vós os
sacerdotes—“as trombetas a rebate”. Agia-se de acordo com este
conselho (Nm_31:6; 2Cr_13:12); e nas circunstâncias era um ato de
confiança devota em Deus. Um solene ato religioso às vésperas de uma
batalha, muitas vezes animou o coração daqueles que se sentiam
ocupados numa boa e justa causa; e desta maneira, tocar as trombetas,
sendo uma ordem de Deus, produzia aquele efeito na mente dos
israelitas. Ainda mais, queriam dizer as palavras—que, pela trombeta
Deus seria animado, por assim dizer, a abençoá-los com Sua presença e
ajuda.
10. no dia da vossa alegria, e nas vossas solenidades — i. e., dias
de festividade e ações de graças tinham que ser começados com o som
das trombetas, como com efeito se fazia em todas as festas mais tarde
(Sl_81:3; 2Cr_29:27), para dar a entender os sentimentos prazerosos e
deleitosos com que eles tomavam parte no serviço de Deus.
11. no ano segundo, no segundo mês, aos vinte do mês, etc. — Os
israelitas tinham ficado acampados no Wadi er-Rahah e os vales
vizinhos das montanhas sinaíticas, por espaço de onze meses e vinte e
nove dias. (cf. Êx_19:1). Além dos propósitos religiosos da mais alta
importância para os quais era útil sua prolongada estada no Sinai, os
israelitas, depois de suas penúrias e opressão da escravidão egípcia,
necessitavam um intervalo de repouso e refrigério. Não estavam nem
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 38
física nem moralmente em condições de entrar em conflito com os povos
belicosos que eles deviam encontrar antes de tomar posse de Canaã. Mas
as transações maravilhosas no Sinai — o braço do Senhor tão
visivelmente estendido em favor dele, a aliança formada, e as bênçãos
especiais garantidas — deram princípio a um curso de educação moral e
religiosa, que amoldava o caráter deste povo; fizeram-lhes conhecer seu
nobre destino, e os inspiraram com aqueles princípios dignos da verdade
e justiça divinas, que por si sós tornam grande uma nação.
12. deserto de Parã — Este se estendia desde a base do grupo
sinaítico, ou desde El-Tyh, sobre aquela planície alta que se estendia até
as fronteiras da Palestina.
13-27. pela primeira vez, se puseram em marcha, segundo o
mandado do SENHOR — É provável que Moisés, ao levantar o
acampamento, ficasse sobre alguma altura para ver passar as filas
israelitas em toda ordem, pelas embocaduras da montanha. A ordem de
marcha é descrita (Números 2); mas, como se representa aqui a vasta
horda em emigração efetiva, convém notar o cuidado extraordinário que
se tomou para assegurar o transporte seguro das coisas santas. Atrás de
Judá, que com as tribos de Issacar e Zebulom, constituía a vanguarda,
seguiam os gersonitas e meraritas com os materiais pesados e mais
grosseiros do tabernáculo. Depois em ordem começaram a partir as
divisões laterais de Rúben e Efraim; depois vinham os coatitas, aqueles
que ocupava o centro da multidão em marcha, levando os utensílios
sagrados sobre seus ombros, e estavam tão longe depois dos outros
levitas, que estes teriam tempo no novo acampamento, para levantar a
armação do tabernáculo antes que chegassem os coatitas. No final de
tudo, Dã, com as tribos associadas, formavam a retaguarda da imensa
caravana. Cada tribo partia sob a ordem de seu príncipe ou chefe, e em
todos os seus movimentos rodeavam seus próprios estandartes.
29. Hobabe, filho de Reuel, o midianita — chamado também
Jetro. Hobabe, filho deste chefe midianita, e cunhado de Moisés, parece
ter ficado entre os israelitas durante todo o período de seu acampamento
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 39
no Sinai, e agora que eles partiam, ele se dispunha voltar para sua
própria morada. Moisés insistia que, se ficasse com eles, tanto pelo
benefício do próprio Hobabe, do ponto de vista religioso, como pelos
serviços úteis que seus costumes nômades lhe permitiriam prestar aos
israelitas.
31. Ora, não nos deixes … nos servirás de guia — A ansiosa
petição de Moisés para conseguir a ajuda deste homem, quando tinha o
benefício da nuvem diretriz, surpreendeu a muitos. Mas se deve lembrar
que a direção da nuvem, enquanto que assinalava a rota em geral através
do deserto sem caminhos, não seria tão particular e minuciosa para
indicar os lugares onde se poderiam conseguir pasto, sombra e água, e
que com frequência estavam em lugares escondidos pelas areias
movediças. Além disso, vários destacamentos eram enviados desde a
coluna principal; os serviços de Hobabe, não como um árabe individual,
mas sim como príncipe de uma tribo poderosa, teriam sido extremamente
úteis.
32. Se vieres conosco, far-te-emos o mesmo bem — Muita
instância se fazia; mas parece que não tinha mudado o propósito do
jovem, porque ele partiu e se estabeleceu em sua própria região. (Veja-se
Jz_1:16; 1Sm_15:6).
33. Partiram, pois, do monte do SENHOR caminho de três dias
— i. e., o progresso do primeiro dia era muito pouco, como 29 ou 32
quilômetros.
a arca da Aliança do SENHOR ia adiante deles — Era levada no
centro, e portanto alguns comentadores eminentes creem que a passagem
deveria traduzir-se: “a arca ia em sua presença”, sendo notável a seus
olhos a nuvem em cima deles. Mas é provável que a coluna de nuvem, a
qual, quando estava parada, repousava sobre a arca, ia diante deles na
marcha, pois, quando esteve em movimento uma vez, (Êx_14:19), é dito
expressamente que tinha mudado seu lugar.
35, 36. Partindo a arca, Moisés dizia: Levanta-te, SENHOR, e
dissipados sejam os teus inimigos — Moisés, como o órgão do povo,
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 40
pronunciava uma oração apropriada tanto no começo como no fim de
cada jornada. Assim todas as jornadas eram santificadas pela devoção; e
assim deveria ser nossa oração: “Se a tua face não for comigo, não nos
faças subir deste lugar” [Êx_33:15, TB].
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 41
Números 11

Vv. 1-35. O MANÁ REPUGNA.


1. Queixou-se o povo de sua sorte aos ouvidos do SENHOR, etc.
— Não acostumados à fadiga da marcha, e vagando na profundidade do
deserto, menos montanhoso, mas muito mais lúgubre e desolado que o
do Sinai, sem perspectiva imediata do rico país que tinha sido prometido,
caíram num estado de veemente descontentamento, o qual se
transbordava nestas viagens fatigantes e infrutíferas. O desagrado de
Deus foi manifestado contra os ingratos queixosos por um fogo enviado
de uma maneira extraordinária. É digno de nota, entretanto, que o
descontentamento parece ter-se limitado aos extremos do acampamento,
onde, com toda probabilidade, tinha sua localização “um misto de gente”
[veja-se Êx_12:38]. Pela intercessão de Moisés, cessou o terrível juízo
[Nm_11:2], e o nome dado ao lugar, Taberá “queimação”, ficou sempre
depois como monumento do pecado e castigo nacionais (Veja-se Nm
11:34, 35).
4. o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo
— Este consistia em egípcios [Veja-se Êx_12:38]. Sonhar com
banquetes e abundância de carne no deserto, deve ser uma doença da
imaginação; a esta estimulação do apetite, nenhum povo é mais propenso
que o do Egito. Mas os israelitas participavam do mesmo sentimento, e
expressavam descontentamento pelo maná com o qual se alimentou até
agora, em oposição com a abundância de vegetais com os quais se
satisfaziam no Egito.
5. Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça
— Veja-se Êx_7:21. O povo do Egito segue um regime quase exclusivo
de peixe, ou fresco ou secado ao sol, durante os meses calorosos de abril
e maio, precisamente quando os israelitas viajavam pelo deserto. O baixo
Egito, onde estavam os fornos de tijolos onde eles estiveram
empregados, provia grandes facilidades para conseguir peixe no
Mediterrâneo, nos lagos e nos canais do Nilo.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 42
pepinos — A espécie egípcia é lisa, de forma cilíndrica e de uns 27
centímetros de comprimento. É muito estimada pelos egípcios, e quando
está em maturação, é comido abundantemente, sendo muito suavizado
pela influência do sol.
melões — quer dizer melancias, que se produzem no solo fértil
depois que baixavam as águas do Nilo; e como proveem uma fruta
suculenta e refrescante, todas as classes fazem uso delas como alimento,
bebida e medicina.
alhos silvestres — alguns dizem que é uma classe de agrião, muito
apreciado como uma espécie de condimento.
cebolas — como as nossas, mas em vez de ser nauseabundas e
irritantes aos olhos, são doces ao paladar, boas para o estômago, e
formam em grande parte o alimento das classes trabalhadoras.
alhos — agora quase completamente extintos no Egito, embora
parece que antigamente se cultivavam em grande abundância. Os
vegetais mencionados formam um regime de alimentação muito grato
nos países quentes, onde os vegetais e as frutas segundo a estação, são
usados muito mais que entre nós. Não nos maravilhamos de que tanto os
egípcios acompanhantes como o povo de Israel em geral, incitados pelos
clamores, também se tenham queixado amargamente pela falta de
comidas refrescantes em suas marchas tão fatigantes. Mas depois de toda
sua experiência da bondade e do cuidado de Deus, seu veemente desejo
das abundâncias do Egito era uma acusação contra as disposições
divinas; e se era um pecado que os acossava no deserto, convinha-lhes
reprimir mais persistentemente um espírito rebelde, porque desonrava a
Deus e não convinha ao seu relacionamento com Ele, como povo
escolhido.
6. Agora, porém … nenhuma coisa vemos senão este maná — A
familiaridade diária os tinha aborrecido pela vista e o gosto do monótono
alimento. E, mal agradecidos pelo dom celestial, ansiavam uma mudança
de comida. Pode notar-se que sua semelhança à semente de coentro não
era quanto à sua cor, mas ao tamanho e à forma; e por sua comparação
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 43
com o bdélio, que é ou uma gota de borracha branca ou uma pérola
branca, podemos fazer-nos uma melhor ideia dele. Além disso, é
evidente, pelo processo de ser assado em tortas, que não teria podido ser
o maná natural do deserto, porque este é muito pegajoso e untuoso para
convertê-lo em farinha. Diz-se que o gosto (Êx_16:31) era como o de
“folhados feitos com mel”, e aqui, que tinha o gosto de azeite fresco. É
só aparente a discrepância entre estas duas declarações; porque na
primeira, o maná é descrito em seu estado cru; e na outra, depois de
moído e cozido. A descrição minuciosa dada aqui de sua natureza e uso,
tinha por objetivo mostrar a grande perversidade do povo ao estar
descontente com tão excelente alimento, e provido tão abundante e
livremente.
10-15. Disse, pois, Moisés a Jeová: Por que afligiste o teu servo?
(TB), etc. — É impossível não sentir simpatia por seus sentimentos,
embora o tom e a linguagem de sua repreensão a Deus, não podem ser
justificados. Ele se achava numa situação extremamente angustiada,
tendo uma poderosa multidão aos seus cuidados, e sem os meios para
satisfazer suas imprudentes demandas. A conduta deles demonstra quão
profundamente se degradaram e desmoralizaram por sua longa opressão;
enquanto que a conduta dele revela um desesperado estado de mente, e
quase afligido por um sentido das responsabilidades não partilhadas de
seu ofício.
16, 17. Disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta homens
dos anciãos de Israel — (Êx_3:16; 5:6; 24:9; 18:21, 24; Lv_4:15). Uma
ordem de setenta estava para ser criada, ou pela eleição dentre o corpo
existente de anciãos, ou pela nomeação de novos, autorizados para o
ajudar por sua sabedoria coletiva e experiência nos cargos onerosos do
governo. Os escritores judeus dizem que esta foi a origem do Sinédrio,
ou a corte suprema de apelação em sua nação. Mas há motivo para crer
que era só um inquérito temporário, adotado para fazer frente a uma
exigência penosa.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 44
17. Então, descerei — i. e., não de uma maneira visível, ou pela
descida local, e sim pelos sinais da presença e operações divinas.
tirarei do Espírito que está sobre ti — espírito quer dizer os dons
e influências do Espírito (Nm_27:18; Jl_2:28; Jo_7:39; 1Co_14:12), e
por “tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles”, não é
preciso entender “que as qualidades do grande diretor tivessem que ser
debilitadas em nada, mas sim que os anciãos seriam dotados de uma
porção dos mesmos dons, especialmente o da profecia (Nm_11:25), i. e.,
uma penetração extraordinária em descobrir coisas escondidas e em
resolver coisas difíceis.
18-20. Dize ao povo: Santificai-vos para amanhã e comereis
carne — i. e., “prepara-os” por arrependimento e submissão, para
receber amanhã a carne pela qual clamam. Mas é evidente que o teor da
linguagem indicava uma severa repreensão, e que a bênção prometida
deveria ser uma maldição.
21-23. Respondeu Moisés: Seiscentos mil homens de pé é este
povo no meio do qual estou … Matar-se-ão para eles rebanhos de
ovelhas e de gado que lhes bastem? — O grande dirigente, perplexo
com uma promessa tão assombrosa como a de dar de repente, no meio
do deserto, a mais de dois milhões de pessoas carne para um mês inteiro,
mostrou um espírito incrédulo, surpreendente em alguém que tinha
contemplado tantos milagres estupendos. Mas é provável que fosse só
um sentimento do momento; de qualquer maneira, a dúvida foi
pronunciada só para si mesmo, e não, como mais tarde, publicamente e
para escândalo do povo. (Veja-se Nm_20:10). Foi, pois, severamente
repreendida, mas não castigada.
24. Moisés … ajuntou setenta homens dos anciãos do povo, etc.
— Aquele lugar foi escolhido para a convocação, porque, como ali Deus
se manifestava, ali seu espírito seria repartido diretamente; ali a mente
dos próprios anciãos seria inspirada com temor reverencial, e seu posto
investido com maior respeito aos olhos do povo.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 45
25. quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas,
depois, nunca mais — Como aqueles anciãos foram constituídas
governadores civis, seu “profetizar” teria que entender-se como a
execução de seus deveres civis e sagrados, com a ajuda daqueles dons
que tinham recebido, e por seu “não cessar”, ou que eles continuaram
exercendo seus dons sem interrupção no primeiro dia (veja-se
1Sm_19:24), ou que estes eram dons permanentes, os quais os
qualificaram num grau eminente para cumprir os deveres de magistrados
públicos.
26-29. no arraial, ficaram dois homens — Não foram com os
demais ao tabernáculo, ou por modéstia para evitar a tomada de um
posto público, ou por estar impedidos por alguma contaminação
cerimonial. Eles, entretanto, receberam os dons do Espírito assim como
os seus irmãos; e quando se rogava a Moisés que proibisse que
profetizassem, sua resposta manifestou um nobre desinteresse como zelo
pela glória de Deus parecido ao de nosso Senhor. (Mar_9:39).
31-35. soprou um vento do SENHOR, e trouxe codornizes do
mar, etc. — Estas aves migratórias (veja-se Êx_16:13) iam em voo
desde o Egito, quando “um vento do SENHOR”, vento do leste
(Sl_78:26), as obrigou a mudar de rumo, levou-as sobre o Mar Vermelho
ao acampamento de Israel.
as espalhou pelo arraial quase caminho de um dia — Se o
indicado é o que um indivíduo caminha, este espaço poderia ser de 48
quilômetros; mas se o historiador inspirado se referia à marcha de toda a
multidão, 16 quilômetros seriam toda a distância que poderiam caminhar
num dia pelo deserto arenoso, sob um sol vertical. Supondo-se que fosse
de 32 quilômetros, esta imensa nuvem de codornizes (Sl_78:27) cobriria
um espaço de 64 quilômetros em diâmetro. Outros reduzem o espaço a
vinte e cinco quilômetros e meio. Mas se duvida quanto a se a medida
era do centro ou dos limites do acampamento. Entretanto, é evidente que
a linguagem descreve um número incontável destes pássaros.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 46
cerca de dois côvados sobre a terra — Alguns supõem que caíam
sobre a terra uma sobre outra até esta altura; uma hipótese que deixaria
uma imensa quantidade de comida inútil para os israelitas, aos quais se
proibia comer qualquer animal que tivesse morrido por si, ou do qual o
sangue não tivesse sido derramado. Outros creem que, estando esgotadas
pelo longo caminho, não podiam levantar o voo mais de três pés, e assim
eram facilmente derrubadas e tomadas. Uma explicação mais
recentemente aplica a frase “dois côvados”, não à acumulação da massa,
mas sim ao tamanho das aves individuais. Bandos de garças ou
cegonhas, de 82 centímetros de altura, frequentemente foram vistas nas
ribeiras ocidentais do Golfo da Akaba, ou o braço oriental do Mar
Vermelho (Stanley, Shubert).
32. Levantou-se o povo todo aquele dia — i.e., levantaram-se
depressa, alguns a uma hora, outros mais tarde, e alguns, talvez, por
cobiça, dia e noite.
dez ômeres — mil quilos [NTLH], ou dez cargas de asno, medida
indefinida, como em Êx_8:14; Jz_15:16; e “dez” por muitos; de modo
que a frase “dez ômeres” é equivalente a grandes montões. Os
recolhedores eram talvez um ou dois de cada família; e, estando
desconfiados da bondade de Deus, juntavam não para consumi-los
imediatamente, senão para uso futuro. Nos mares orientais e meridionais,
perdizes inumeráveis, cansadas, caem, cobrindo todo espaço sobre os
navios: e no Egito vêm em tais quantidades, que as pessoas lhes dão
volta com paus.
as estenderam para si ao redor — as salgavam e secavam para
uso futuro, pelo processo singelo ao qual estavam acostumados no Egito.
33. Estava ainda a carne entre os seus dentes, antes que fosse
mastigada — lit., “cortada”, i. e., antes que a quantidade de perdizes
estivesse esgotada, que durou um mês (Nm_11:20). A probabilidade é
que seus estômagos, longo tempo acostumados ao maná (alimento leve),
não estavam preparados para uma mudança de regime tão repentino, a
um regime animal pesado, e comeram com tanta voracidade, que lhes
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 47
produziu uma indigestão geral, com consequências fatais para alguns.
Numa ocasião anterior sua murmuração pela carne levantou-se
(Êx_16:1-8), porque lhes faltava alimento. Aqui agiam, não por
necessidade, mas por um desejo licencioso; e seu pecado, no justo juízo
de Deus, levou seu próprio castigo.
34. o nome daquele lugar se chamou Quibrote-Hataavá —
literalmente, “sepulturas de cobiça”, ou “dos que cobiçaram”; de modo
que o nome do lugar prova que a mortandade se limitou aos que tinham
comido desordenadamente.
35. Hazerote — a estação mais meridional desta rota era um
estanque numa planície larga, agora chamada Ain-Haderah.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 48
Números 12

Vv. 1-9. A REBELIÃO DE MIRIÃ E ARÃO.


1. mulher da Etiópia (NTLH) — Heb. “mulher cuxita” [RA], pois
a Arábia era chamada geralmente nas Escrituras a terra de Cuxe, porque
seus habitantes eram descendentes daquele filho de Cam (veja-se
Êx_2:15), e geralmente era considerada uma raça vil e desprezível.
(Am_9:7). A ocasião deste ataque sedicioso de parte da Miriã e Arão
contra Moisés, foi da grande mudança feita no governo pela adoção dos
setenta anciãos [Nm_11:16], e seu irritante desprezo pela esposa dele,
que era com toda probabilidade, Zípora [Êx_2:21], e não uma segunda
esposa com quem ele se casou recentemente. Veio, pois, a rebelião dos
ciúme dos cunhados dela, por cuja influência tinha sido feita primeiro, a
inovação (Êxodo 18), enquanto que eles não foram consultados. Miriã é
mencionada antes de Arão por ser a instigadora e guia da rebelião.
2. Porventura, tem falado o SENHOR somente por Moisés? Não
tem falado também por nós? — O nome e caráter proféticos tinham
sido impostos a Arão (Êx_4:15-16) e a Miriã (Êx_15:20); e, portanto,
eles consideravam a conduta de Moisés, ao exercer uma autoridade
exclusiva neste assunto, como uma intrusão sobre os direitos deles
(Mq_6:4).
3. Era o varão Moisés mui manso — (Êx_14:13; Êx_32:12-13;
Nm_14:13; 21:7; Dt_9:18). Foi feita esta observação para explicar que
Moisés não fez caso de suas irritantes recriminações, e porque Deus
interveio tão rapidamente para a vindicação da causa de Seu servo. A
circunstância de que Moisés registrasse um elogio sobre uma excelência
de seu próprio caráter, tem paralelo entre os escritores sagrados, quando
se viam obrigados a isso pela insolência e o desprezo de seus contrários
(2Co_11:5; 2Co_12:11-12). Mas não é improvável que, como este
versículo parece ser um parêntese, tivesse sido intercalado por Esdras, ou
algum profeta posterior. Outros, em vez de “mui manso”, sugerem
“muito aflito” como uma tradução correta.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 49
4. Logo o SENHOR disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã — Fez-se
a interposição divina assim aberta e imediatamente, a fim de suprimir a
rebelião, e evitar que se estendesse entre o povo.
5. o SENHOR desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da
tenda — sem obter entrada, como era o privilégio habitual de Arão,
embora fosse negada a todos os outros homens e mulheres. Esta exclusão
pública tinha por motivo ser sinal da desaprovação divina.
6-7. Ouvi, agora, as minhas palavras — Uma diferença de grau
aqui é expressa distintamente nos dons e na autoridade até de profetas
divinamente comissionados. Como Moisés tinha sido posto sobre toda a
casa de Deus (quer dizer sua igreja e povo), estava investido, pois, de
supremacia sobre Arão e Miriã também, e privilegiado mais que todos os
outros pelas manifestações diretas e claras da presença e vontade de
Deus.
8. Boca a boca falo com ele — imediatamente, e não por
intérprete, nem por sinais visionários apresentados a sua fantasia.
claramente — clara e certamente.
não por enigmas — parábolas ou semelhanças.
vê a semelhança do SENHOR (RC) — não o rosto ou a essência
de Deus quem é invisível (Êx_33:20; Col_1:15; Jo_1:18); mas sim
alguma evidência inequívoca de Sua presença gloriosa (Êx_33:2;
Êx_34:5). Esta cláusula deveria unir-se com a anterior, assim: “Não por
figuras verá a aparência do Senhor”. A mudança de uma vírgula tira toda
aparência de contradição com Dt_4:15.

Vv. 10-16. A LEPRA DE MIRIÃ.


10. a nuvem se separou do Tabernáculo — i. e., da porta para
tomar sua posição permanente sobre o propiciatório.
Miriã achou-se leprosa — Esta doença em sua forma mais
maligna (Êx_4:6; 2Rs_5:27) como sua cor, unido com sua aparição
repentina, provada, teria sido infligida como um juízo divino; e ela foi
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 50
feita a vítima, ou por sua violência extrema, ou porque a lepra em Arão
teria interrompido ou desonrado o serviço santo.
11-13. Pela submissão humilde e penitencial de Arão, Moisés
intercedeu pelos dois ofensores, especialmente por Miriã, a qual foi
restaurada; não, entretanto, enquanto não fosse feito, por sua exclusão,
um exemplo público.
14. Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por
sete dias? — Os judeus, em comum com todos os povos do Oriente,
parecem ter tido um intenso horror de cuspir, e o fato de um pai
expressar seu desagrado cuspindo na pessoa de um de seus filhos, ou até
no solo em sua presença, separava àquele filho como imundo dentre a
sociedade por sete dias [Nm_12:14, 15].
15. o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida — Ou
para não esmagá-la por uma sentença de severidade entristecedora, ou
para não expô-la, sendo profetisa, ao desprezo público.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 51
Números 13

Vv. 2-33. SÃO ENVIADOS ESPIAS PARA RECONHECER A


TERRA.
2, 3. Disse o SENHOR a Moisés: Envia homens que espiem a
terra de Canaã — Compare-se Dt_1:22, onde parece que, enquanto que
a sugestão de autorizar homens de confiança dentre cada tribo para
explorar a terra de Canaã, saiu do povo, que o pediu, a medida recebeu a
sanção especial de Deus, quem concedeu sua petição de uma vez como
uma prova e um castigo por sua desconfiança.
3. todos aqueles homens eram cabeças dos filhos de Israel —
Não os príncipes nomeados (Nm_10:14-16, 18-20, 22-27), mas sim
chefes, homens principais, ainda que não da primeira categoria.
16. Oseias — i.e., “desejo de salvação”. Jehoshua — Josué —
prefixando o nome de Deus, quer dizer “divinamente nomeado”, “cabeça
de salvação”, “salvador”, igual a Jesus [Mt_1:21].
17. Subi ao Neguebe e penetrai nas montanhas — Monte Seir
(Dt_1:2), que desde o Sinai estava diretamente através do deserto de
Parã, em direção nordeste às partes meridionais da Palestina.
20. Eram aqueles dias os dias das primícias das uvas — Era em
agosto, quando se colhiam os primeiros cachos, os segundos em
setembro, e os terceiros em outubro. A ausência dos espias por quarenta
dias, determina que as uvas trazidas de Escol eram do segundo período.
21. e espiaram a terra — Avançavam do sul ao norte,
reconhecendo toda a terra.
o deserto de Zim — uma longa planície, ou profundo vale de areia,
a monotonia do qual se suaviza por umas poucas tamargueiras e árvores
“rethem”, e a qual, sob os nomes de El Ghor e El Arabá, forma a
continuação do vale do Jordão, estendendo-se desde o Mar Morto até o
Golfo de Akaba.
Reobe — ou, Bete-Reobe, era cidade e distrito, situados, segundo
alguns, a leste de Sidom; e, segundo outros, é o mesmo que El Hule, uma
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 52
campina extensa e fértil, ao pé do Anti-Líbano, a umas poucas léguas de
Paneas.
Entrada de Hamate — (2Rs_14:25), agora o vale do Balbeck, um
passo pela montanha ou abertura na fronteira norte, que formava o limite
extremo naquela direção da herança de Israel. Pela menção destes
lugares, a rota dos espias parece ter sido ao longo do Jordão à ida, e sua
volta foi pela fronteira oeste, pelo território dos sidônios e filisteus,
22. até Hebrom — situado no coração das montanhas da Judeia, na
extremidade sul da Palestina. A cidade, ou “cidades de Hebrom”, como
se expressa em hebraico, consistia num número de domínios de xeques
distintos uns dos outros, situada ao pé de uma daquelas colinas que
formam uma taça. “Os filhos de Anaque”, mencionados neste versículo,
parecem ter sido chefes de aldeias; e esta coincidência de forma de
governo, existente em idades tão distantes entre si, é notável (Vere
Munro). Hebrom (Quiriate-Arba, Gn_23:2) era uma das cidades mais
antigas do mundo.
Zoã — a Tanis dos gregos, estava situada sobre um dos braços
orientais do Nilo, perto do Lago Menzala, e a primeira residência dos
Faraós, que se vangloriava de uma antiguidade maior que nenhuma outra
cidade do Egito. Seu nome, que quer dizer, plano e liso, é descritivo de
sua situação nos terrenos baixos do Delta.
23. vieram até ao vale de Escol — i. e., “a corrente do cacho”. O
vale e suas colinas ainda estão cobertos de vinhas, o caráter de cuja fruta
corresponde à sua antiga fama.
e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas — As
uvas produzidas nesta localidade ainda são tão esplêndidas como antes;
uma pessoa diz que são iguais às ameixas em tamanho; outra pessoa as
compara ao dedo polegar de um homem. Os cachos às vezes pesam
quatro e meio ou cinco quilos e meio. O modo em que os espias levavam
o cacho que cortaram, não era necessário por seu peso, mas
evidentemente foi adotado para conservá-lo inteiro como uma amostra
das produções da terra prometida; e a impressão feita pela vista dele,
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 53
seria tanto maior, visto que os israelitas conheciam só as videiras
raquíticas e as pequenas uvas do Egito.
26. e vieram a Moisés .… a Cades — acampamento importante
dos israelitas. Mas sua localização exata não se conhece, tampouco se
sabe se for o mesmo lugar, ou lugar distinto de Cades-Barneia. Supõe-se
que seja idêntico ao Ain-el-Weibeh, fonte famosa ao lado leste do
deserto (Robinson), e também ao Petra (Stanley).
27, 28. Relataram a Moisés e disseram: Fomos à terra a que nos
enviaste; e, verdadeiramente, mana leite e mel — O relatório foi dado
para os ouvidos do povo, e estava astutamente arrumado para começar
seu relato com o elogio da fertilidade natural do país, a fim de que suas
calúnias seguintes pudessem mais facilmente receber crédito.
29. Os amalequitas habitam na terra do Neguebe — Seu
território estava entre o Mar Morto e o Mar Vermelho, ao longo da
fronteira de Canaã.
os heteus … habitam na montanha — Seus estabelecimentos
estavam na parte sul e montanhosa da Palestina (Gn_23:7).
os cananeus habitam ao pé do mar — Um resto dos habitantes
originais, aqueles que tinham sido desapossados pelos filisteus, estava
dividido em duas hordas nômades, uma estabelecida ao este perto do
Jordão, e a outra ao oeste, junto ao Mediterrâneo.
32. é terra que devora os seus moradores — i. e., clima e país
insalubres. Escritores judeus dizem que no curso de suas viagens viram
muitos enterros; grande número de cananitas foram destruídos naquele
tempo, pela providência de Deus, por uma praga ou por vespas.
(Js_24:12).
homens de grande estatura — Este foi evidentemente um
relatório falso e exagerado, que representava, por acanhamento ou
artifício malicioso, o que era verdade quanto a uns poucos, como
relatório descritivo do povo em geral.
33. Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são
descendentes de gigantes) — O nome se deriva do filho da Arba, um
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 54
grande homem entre os árabes (Js_15:14), quem provavelmente recebeu
sua denominação por levar um colar esplêndido ou cadeia no pescoço,
como a palavra significa. O epíteto “gigante” evidentemente refere-se
aqui à sua estatura. (Veja-se Gn_6:4). E é provável que os “anakim”
fosse uma família distinguida, ou talvez, um corpo seleto de guerreiros,
escolhidos por seu tamanho extraordinário.
éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos — um
orientalismo hiperbólico, por meio do qual os espiões traiçoeiros deram
um relatório exagerado da força física do povo de Canaã.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 55
Números 14

Vv. 1-45. O POVO MURMURA PELO RELATÓRIO DOS


ESPIAS.
1. Levantou-se, pois, toda a congregação e gritou em voz alta —
Não literalmente toda, porque houve algumas exceções.
2. Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito — Semelhante
insolência para seus generosos condutores e péssima ingratidão para com
Deus, demonstram a profunda degradação dos israelitas, e a absoluta
necessidade do decreto que excluiu aquela geração de entrar na terra
prometida [Nm_14:29-35]. Foram castigados por seus desejos a morrer
naquele deserto [Hb_3:17; Jd_1:5]. Um chefe que os conduzisse de novo
ao Egito é mencionado (Ne_9:17) como realmente já nomeado. A
perversidade e loucura de sua conduta são quase incríveis. Sua conduta,
entretanto, é imitada por muitas pessoas na atualidade, que fogem das
menores dificuldades, e preferem ficar escravos do pecado antes que
provar resolutamente a vencer os obstáculos que estão no caminho à
Canaã celestial.
5. Moisés e Arão caíram sobre o seu rosto — como humildes e
ardentes suplicantes, talvez ao povo, lhes pedindo que desistissem de
propósito tão perverso, ou, , antes,, a Deus como usual e único refúgio da
violência daquela gentinha tumultuosa e obstinada, esperando por este
meio, abrandar e impressionar seus corações.
6. Josué … e Calebe … dentre os que espiaram a terra,
rasgaram as suas vestes — os dois espias fiéis testificaram sua dor e
horror, da maneira mais potente, pelo motim contra Moisés e a blasfêmia
contra Deus; enquanto ao mesmo tempo por um relatório veraz, tentaram
persuadir o povo da facilidade com que eles poderiam tomar possessão
de tão desejável país, contanto que eles, por sua rebelião e mal
agradecimento, não provocassem a Deus a abandoná-los.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 56
8. terra que mana leite e mel — uma expressão geral, descritiva
de um país rico e fértil; mas os dois artigos especificados estavam entre
os produtos principais da Terra Santa.
9. retirou-se deles o seu amparo — Heb. “sua sombra”. O sultão
da Turquia e o Xá da Pérsia se chamam “a sombra de Deus”, “o refúgio
do mundo”. De modo que o significado da frase: “retirou-se deles o seu
amparo”, é, que o favor de Deus agora estava perdido para aqueles cujas
iniquidades tinham chegado ao cúmulo (Gn_15:16), e teria sido
transferido aos israelitas fiéis.
10. a glória do SENHOR apareceu na tenda — Manifestou-se
oportunamente nesta grande emergência, para resgatar os seus
embaixadores de sua situação perigosa.
11, 12. Disse o SENHOR a Moisés: … Com pestilência o ferirei
— Não um decreto final, mas sim ameaçador e pendente, como aparece
pelo resultado, mediante a intercessão de Moisés e o arrependimento de
Israel.
17. que a força do meu Senhor se engrandeça — que seja grande
em olhos dos povos.
21. tão certo como eu vivo, e como toda a terra se encherá da
glória — Esta promessa, em sua aceitação final, fica para ser verificada
no predomínio eventual e universal do cristianismo no mundo. Mas os
termos eram usados restritivamente com relação à ocasião, ao relatório
que se estenderia sobre toda a terra das “coisas terríveis em justiça”
[Sl_65:5] que Deus faria na imposição da sentença descrita, a qual
aquela nação rebelde agora estava destinada.
22. dez vezes — frequentemente.
24. o meu servo Calebe — Josué também foi excetuado, mas não
se nomeia, porque não estava já nas filas do povo, pois estava como
assistente constante de Moisés.
visto que nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-me
— Calebe, sob a influência do espírito de Deus, era homem de coragem,
generoso e nobre, acima das ansiedades e temores mundanos.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 57
25. Ora, os amalequitas e os cananeus habitam no vale — i. e.,
do outro lado da montanha idumeia, junto a cujo pé os israelitas estavam
acampados naquele então. Aquelas tribos nômades o tinham ocupado
com o propósito resoluto de opor-se à volta dos hebreus mais adiante.
Dali o mandado de Deus de que o povo buscasse uma retirada segura e
oportuna no deserto, para escapar daqueles inimigos resolutos, diante dos
quais, com suas mulheres e filhos, eles teriam caído como presa
indefesa, porque tinham perdido, por sua rebelião, a presença e proteção
de Deus.
30. salvo Calebe … e Josué — Estes são mencionados
especialmente, como exceções honrosas dentre outros espias, e também
como os futuros dirigentes do povo. Mas parece que alguns da velha
geração não tomaram parte na murmuração sediciosa, incluindo-se
naquele número toda a ordem de sacerdotes. (Js_14:1).
34. levareis sobre vós as vossas iniquidades — i. e., em
consequência de sua violação da aliança entre vós e Eu, por ter
quebrantado as condições da mesma, fica a aliança nula e sem efeito de
Minha parte, porque reterei as bênçãos que prometi naquela aliança
conferir sobre vós, sob condição de sua obediência.
36-38. esses mesmos homens que infamaram a terra morreram
de praga perante o SENHOR — Dez dos espias caíram mortos ali
mesmo, ou pela pestilência ou por algum outro juízo, cuja mortandade
grande e aterradora claramente fazia ver a mão do Senhor.
40-45. Levantaram-se pela manhã de madrugada e subiram ao
cimo do monte — Apesar da mensagem que Moisés tinha comunicado,
e que difundiu por todo o acampamento um sentimento de melancolia e
pesar, a impressão foi de pouca duração. Eles se lançaram de um
extremo de audácia e perversidade a outro, e a obstinação de seu espírito
de rebeldia foi manifestada por seus ativos preparativos para subir a
montanha, apesar da advertência divina de que não tentassem tal
empresa.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 58
porquanto havemos pecado — i. e., conscientes de nossos
pecados, agora nos arrependemos deles, e ansiamos fazer como Calebe e
Josué nos exortaram. Ou, como alguns interpretam: “ainda que hajamos
pecado”, confiamos em que Deus ainda nos dará a terra da promessa.
Foram ignorados os rogos de seu condutor prudente e piedoso, quem os
fazia entender que seus inimigos, subindo ao outro lado do vale, se
plantariam no cimo do monte antes que eles. Quão estranhamente
perversa a conduta dos israelitas! Os que um pouco antes temiam não
poder empossar-se da terra, ainda que seu Rei Todo-poderoso estava
com eles; entretanto, agora agiram ainda mais loucamente ao supor que
eles, embora Deus não estivesse com eles, poderiam expulsar os
habitantes com seus próprios esforços sem ajuda divina. As
consequências foram tais quais se poderiam prever. Os amalequitas e
cananeus, que estavam esperando em emboscada, lançaram-se sobre eles
das alturas, e deveriam ser os instrumentos para castigar sua rebelião
culpada.
45. até Horma — O nome foi dado mais tarde ao lugar, em
comemoração da imensa matança de israelitas naquele dia.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 59
Números 15

Vv. 1-41. A LEI DE VÁRIAS OFERTAS.


1, 2. Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel —
Alguns deduzem de Nm_15:23, que a data desta comunicação deve
fixar-se ao fim da peregrinação no deserto; e também que todos os
sacrifícios prescritos na lei, deviam ser oferecidos só depois do
estabelecimento em Canaã.
3. ao SENHOR fizerdes oferta queimada, holocausto — É
evidente que se refere a oferta pacífica, porque este termo é usado
frequentemente em tal sentido (Êx_18:12; Lv_17:5).
4. a décima parte de um efa — um ômer, a décima parte de um
efa (Êx_16:36).
a quarta parte de um him de azeite — Este elemento demonstra
que era diferente das ofertas de carne que eram feitas sozinhas, e não
meramente como acompanhantes de outros sacrifícios.
6-12. duas décimas de um efa de flor de farinha — A quantidade
de farinha é aumentada, porque o sacrifício era de valor superior ao
anterior. Os sacrifícios acessórios sempre eram aumentados em
proporção ao maior valor e à magnitude de seu principal.
13-16. estrangeiro — alguém que tinha vindo a ser prosélito.
Quase não havia nenhum dos privilégios nacionais, em que não pudesse
participar um gentio, se se conformasse com certas condições.
19. ao comerdes do pão da terra — A oferta tinha que preceder ao
ato de comer.
ao SENHOR — i. e., aos sacerdotes do Senhor (Ez_44:30).
20. oferta da eira — querendo dizer o grão da eira de debulhar—i.
e., depois da colheita.
assim o apresentareis — aos sacerdotes que acompanham a
cerimônia com os mesmos ritos.
22. Quando errardes e não cumprirdes todos estes
mandamentos, etc. — com relação ao culto divino, e os ritos e as
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 60
cerimônias que constituíam o serviço santo. A lei se refere apenas a
alguma omissão, e por conseguinte é muito diferente daquela mandada
em Lv_4:13, a que indica uma transgressão ou negligência positiva de
algumas observâncias requeridas. Esta lei refere-se a pessoas
particulares, ou a tribos individuais; aquela a toda a congregação de
Israel.
24-26. quando se fizer alguma coisa por ignorância — O ritual
mosaico era complicado, e as cerimônias a serem cumpridas em
diferentes casos de purificação, que são especificadas, exporiam o
adorador, por ignorância, ao risco de omitir e descuidar alguma delas.
Esta lei inclui o estrangeiro entre o número daqueles pelos quais se
oferecia o sacrifício pelo pecado por ignorância geral.
27-29. Se alguma pessoa pecar por ignorância — Não só em
comum com o corpo geral do povo, mas também seus pecados pessoais
tinham que ser expiados da mesma maneira.
30. a pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente — Heb. “com
a mão alta” ou “levantada” — i. e., sabendo, voluntariamente, com
obstinação. Com este sentido a frase é mencionada em: Êx_14:8;
Lv_26:21; Sl_19:13.
injuria ao SENHOR — faz desafio aberto, e desonra sua
Majestade.
31. a sua iniquidade será sobre ela — i. e., o castigo de seu
pecado cairá sobre a pessoa, individualmente; a nação não incorre em
culpa, a não ser que haja negligência criminal em não fazer caso da
ofensa.
32-34. um homem apanhando lenha no dia de sábado — Este
incidente foi relatado evidentemente como um caso de pecado
presunçoso. O mero ato de juntar lenha em si não era pecado, poderia ter
sido necessário ou para esquentar-se ou para fazer sua comida. Mas o
fazê-lo em dia de sábado mudava completamente o caráter da ação.
Sendo a lei do sábado um mandamento claro e positivo, esta transgressão
era um pecado conhecido e premeditado, e estava marcada por várias
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 61
agravantes. Porque o fato foi consumado com ousadia desavergonhada à
plena luz do dia, em desafio aberto à autoridade divina; em contradição
flagrante com sua relação religiosa com Israel, como povo da aliança de
Deus; e foi um uso do tempo com propósitos indevidos, cujo tempo Deus
tinha consagrado para Si mesmo e para os solenes deveres da religião. O
ofensor foi trazido perante os governantes, os quais, para ouvir o
doloroso relatório, não atinavam em resolver o que se devia fazer. Que
houvessem sentido alguma perplexidade em semelhante caso, poderá
parecer surpreendente, à vista da lei sabática (Sl_31:14). Sua dificuldade
talvez proveio do fato desta ser a primeira ofensa pública desta classe
que tivesse ocorrido; e foi feita a apelação com o propósito de tirar todo
motivo de queixa, para produzir um efeito mais forte, e para que a sorte
deste ofensor pudesse ser um sinal para advertir a todos os israelitas, do
futuro.
35, 36. Então, disse o SENHOR a Moisés: Tal homem será
morto — O Senhor era rei, como também o Deus de Israel, e a ofensa,
como era violação da lei do reino, o Juiz Soberano deu ordens de que
aquele homem fosse morto, e além disso, exigiu que toda a congregação
se unisse em executar a sentença fatal.
38. dize-lhes que nos cantos das suas vestes façam borlas —
Estas eram tiras estreitas, em forma de asa, enroladas sobre os ombros e
várias outras partes da roupa. “Franja”, entretanto, é a tradução de duas
palavras hebraicas, uma das quais quer dizer orla ou cós, chamada “fleco
ou borde” (Mt_23:5; Lc_8:44), aquele que, para ser mais atrativo à vista,
e por conseguinte mais útil ao propósito mencionado, era coberto com
uma cinta azul ou púrpura; a outra palavra significa fios com borlas no
cabo, fixados nos cantos das roupas. Estas duas coisas se veem nas
vestes assírias e egípcias; e como o povo israelita recebeu ordem, por
ordenanças positivas e repetidas, os ter, a moda foi útil em seu caso, para
despertar associações elevadas e religiosas, que os tivessem em
lembrança perpétua dos mandamentos divinos.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 62
41. Eu sou o SENHOR, vosso Deus — O sentido desta solene
conclusão é, que embora Ele estivesse aborrecido com eles, por suas
rebeliões frequentes, pelas quais eles estariam condenados a quarenta
anos de peregrinação, ele não os abandonaria, mas sim continuaria Sua
proteção e cuidado divinos sobre eles até que fossem levados à terra de
promessa.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 63
Números 16

Vv. 1-30. A REBELIÃO DE CORÁ.


1, 2. Corá, filho de Isar — Isar, irmão de Anrão (Êx_6:18), foi o
segundo filho do Coate, e por alguma razão não mencionada tinha sido
suplantado por um descendente do quarto filho de Coate, quem foi
nomeado príncipe ou chefe dos coatitas (Nm_3:30). O descontentamento
por esta promoção sobre ele, de um parente mais jovem, foi
provavelmente a causa original deste movimento sedicioso de parte de
Corá.
a Datã e a Abirão … e a Om — Estes eram os principais
confederados na rebelião, mas parece que Om mais tarde se retirou da
conspiração [cf. Nm_16:12, 24, 25, 27; 26:9; Dt_11:6; Sl_106:17].
tomaram gente (TB) — Estes sendo todos filhos de Rúben, o mais
velho da família de Jacó, tinham apoiado esta rebelião sob pretexto de
que Moisés, por alguma manobra arbitrária, tivesse suprimido o direito
de primogenitura, que lhes dava direito ao sacerdócio, o qual tinha
pertencido ao primogênito em todas as famílias, tendo em vista transferir
este exercício hereditário das funções sagradas, ao ramo especial de sua
própria casa; e que este caso de parcialidade com seus próprios parentes,
para o prejuízo permanente de outros, era motivo suficiente para negar o
apoio a seu governo. Além desta ofensa, outra causa de ciúme e
descontentamento que irritava os rubenitas, foi a promoção de Judá ao
posto de direção entre as tribos. Estas discordâncias tinham sido
instigados pelas ardilosas representações de Corá (Jd_1:11), com o qual
a posição em seu acampamento do lado sul, dava facilidades de
frequentes comunicações, e quem, além de seu ressentimento por
injustiças pessoais recebidas, participava do desejo deles, realmente se
não era com o propósito de recuperar seus direitos de primogenitura,
perdidos. Quando a conspiração estava amadurecida, eles aberta e
resolutamente declararam seu objetivo, e à frente de 250 príncipes,
acusaram a Moisés de uma usurpação ambiciosa e indesculpável de
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 64
autoridade, especialmente na apropriação do sacerdócio, porque eles
disputavam o direito de Arão à preeminência [Nm_16:3].
3. se ajuntaram contra Moisés e contra Arão — A concorrência
parece que se compunha de todo o feixe de conspiradores; e eles
apresentaram sua queixa sobre o fato de que todo o povo tinha sido
separado para o serviço divino (Êx_19:6), que todos estavam igualmente
qualificados para apresentar ofertas sobre o altar, e que, estando presente
amorosamente entre eles por meio do tabernáculo e a nuvem, mostrava
sua vontade de receber sacrifícios da mão de qualquer dos outros assim
como da deles.
4. Tendo ouvido isto, Moisés caiu sobre o seu rosto — Esta
atitude de prostração indicava não só seu desejo humilde e ardente de
que se interpor Deus para o livrar das imputações falsas e odiosas, mas
também seu forte sentido do pecado atrevido, envolto neste proceder.
Qualquer que fosse o sentimento com relação a Arão, quem antes tinha
encabeçado uma rebelião ele mesmo [Nm_12:1], é impossível não ter
simpatia com Moisés nesta difícil emergência. Mas ele era homem
devoto, e o procedimento prudente que ele adotou, foi provavelmente o
ditado daquela sabedoria celestial com a qual, em resposta a suas
orações, ele estava dotado.
5-11. falou a Corá e a todo o seu grupo — Dirigiu-se a eles
primeiro, não só porque era um partido encabeçado por um primo dele,
pois Moisés poderia esperar ter mais influencia ali, mas também porque
eles estavam estacionados perto do tabernáculo, e especialmente porque
uma repreensão era de mais peso, se vinha dele, que era levita e também
excluído junto com seu família do sacerdócio. Mas para trazer o assunto
a uma conclusão, propôs uma prova que produziria uma evidência
concludente da nomeação divina.
Pela manhã (TB) — literalmente “de manhã”, o tempo habitual de
reunião no Oriente para o acerto de assuntos públicos.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 65
o SENHOR fará saber quem é dele … aquele a quem escolher
fará chegar a si — i. e., dará testemunho de seu ministério por meio de
algum sinal visível e milagroso de sua aprovação.
6. tomai vós incensários, Corá e todo o seu grupo. — i. e., visto
que vocês aspiram ao sacerdócio, então, vão, efetuem a função mais alta
do ofício, a de oferecer incenso; e se forem aceitos, muito bem. Quão
magnânima a conduta de Moisés, quem agora estava disposto a que o
povo de Deus fossem sacerdotes, como anteriormente a que fossem
profetas (Nm_11:29). Mas os advertiu que estavam fazendo uma
experiência perigosa.
12-14. Moisés mandou chamar Datã e Abirão — para uma
entrevista à parte, porque o motivo de sua rebelião era diferente; porque
enquanto que Corá murmurou contra a apropriação exclusiva do
sacerdócio a Arão e a sua família, eles se opunham à supremacia de
Moisés no poder civil. Negaram-se a acatar a citação e sua negação se
fundou no pretexto aparente de que sua estada no deserto se prolongava
por alguns motivos secretos e egoístas de seu dirigente, quem os
conduzia como a cegos aonde quer que quisesse.
15. Moisés irou-se muito — Embora sendo o mais manso de todos
os homens [Nm_12:3], não pôde refrear sua indignação por estas
acusações injustas e sem fundamento; e o estado de seu sentimento
altamente excitado manifestou-se pela pronúncia de uma breve
exclamação em forma misturada de uma oração e uma afirmação
veemente de sua integridade. (cf. 1Sm_12:3).
disse ao SENHOR: Não atentes para a sua oferta — Ele diz
“oferta deles”, porque, apesar de ser devotado por Corá e seus associados
levitas, era a petição unida de todos os sediciosos para decidir as
disputadas pretensões de Moisés e Arão.
16-18. Disse mais Moisés a Corá: Tu e todo o teu grupo, ponde-
vos perante o SENHOR — i. e., “perante a porta da tenda” (v. 18), para
que o povo reunido pudesse ser testemunha da experiência, e ser
devidamente impressionado pelo resultado.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 66
17. duzentos e cinquenta incensários — provavelmente pequenos
pratos, comuns nas famílias egípcias, onde se oferecia incenso às
deidades do lar, e os quais tinham estado entre as coisas valiosas que os
israelitas pedissem em sua saída [Êx_12:35, 36].
20, 21. Disse o SENHOR a Moisés e a Arão: Apartai-vos do
meio desta congregação — A curiosidade para olhar o espetáculo
interessante atraiu uma grande concorrência do povo, e pareceria que a
mente popular tinha sido incitada para o mal, pelo clamor dos
amotinados contra Moisés e Arão. Havia algo em sua conduta muito
ofensivo a Deus; porque depois que apareceu sua glória, como na
instalação de Arão (Lv_9:23), assim também agora para sua confirmação
no sagrado posto, mandou a Moisés e Arão apartar-se dentre a
assembleia “e os consumirei num momento”.
22. eles se prostraram sobre os seus rostos, e disseram: Ó Deus,
Deus dos espíritos de toda carne (RC) — A benévola importunidade de
sua oração, foi tão mais notável porque foi feita a intercessão a favor de
seus inimigos.
24-26. Fala a toda esta congregação, dizendo: Levantai-vos do
redor da habitação de Corá, Datã e Abirão — Moisés estava assistido
na execução desta missão pelos anciãos. Os rogos unidos e urgentes de
tantos personagens elevados, produziu o efeito desejado de convencer ao
povo de seu crime e de afastá-los da companhia de homens que estavam
condenados à destruição, para que, participando de seus pecados, não
perecessem junto com eles.
27. habitação de Corá, Datã e Abirão — Visto que Corá era
coatita, sua tenda não teria podido estar no acampamento rubenita, e não
parece que ele mesmo estivesse no lugar onde estavam Datã e Abirão
com suas famílias. Sua atitude de desafio indicava seu caráter temerário
ou impenitente, indiferente tanto a Deus como aos homens.
28-34. disse Moisés: Nisto conhecereis que o SENHOR me
enviou a realizar todas estas obras — A terrível catástrofe do
terremoto que, como Moisés havia predito, tragou vivos a todos aqueles
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 67
rebeldes ímpios numa tumba, deu o testemunho divino à missão de
Moisés, e infundiu um temor solene nos espectadores.
35. Procedente do SENHOR saiu fogo — i. e., da nuvem. Parece
que isto descreve a destruição de Corá e aqueles levitas que com ele
aspiravam às funções do sacerdócio. (Veja-se Nm_26:11, 58; 1Cr_6:22,
1Cr_6:37).
37-39. Dize a Eleazar — Ele foi escolhido para este trabalho, para
que o sumo sacerdote não tivesse contaminação cerimonial ao ir entre os
cadáveres.
39-40. tomou os incensários de metal … e os converteram em
lâminas para cobertura do altar — Como o altar de holocaustos era
feito de madeira e coberto de bronze, esta cobertura adicional de
pranchas largas não só o tornava duplamente seguro contra o fogo, mas
também servia como advertência para impedir a todas futuras invasões
do sacerdócio.
41. toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra
Moisés e contra Arão, dizendo: Vós matastes o povo do SENHOR —
Que estranha exibição de preconceito e paixão, culpar os dirigentes para
salvar os rebeldes! Entretanto, Moisés e Arão intercederam pelo povo,
arriscando o sumo sacerdote sua vida para fazer bem àquela raça
perversa.
48. Pôs-se em pé entre os mortos e os vivos — A praga começou,
conforme parece, nas extremidades do acampamento, Arão, neste
notável ato, foi um tipo de Cristo.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 68
Números 17

Vv. 1-13. O BORDÃO DE ARÃO FLORESCE.


2. Fala aos filhos de Israel — A controvérsia do povo com Moisés
e Arão a respeito do sacerdócio, foi de tal natureza e magnitude que
exigia um acerto decisivo e autoritário. Para tirar toda dúvida e fazer
calar toda murmuração no futuro a respeito do possuidor do ofício,
operou-se um milagre de um caráter notável e duração permanente, e na
maneira em que se efetuou fez com que todo o povo tivesse um interesse
direto e especial.
recebe deles bordões, uma pela casa de cada pai de todos os seus
príncipes, segundo as casas de seus pais, isto é, doze bordões —
Como os príncipes, que eram os filhos mais velhos de cada família
principal, e cabeças de suas tribos, poderiam ter apresentado os melhores
direitos ao sacerdócio, se aquela dignidade sagrada tivesse que ser
repartida entre as tribos, eles eram escolhidos, e sendo doze em número
— a família de José contada uma só vez — Moisés ordenou que o nome
de cada um fosse inscrito, uma prática tomada dos egípcios, no bordão
ou fortificação oficial do posto. Usou-se o nome de Arão, de preferência
ao de Levi, porque este procedimento teria aberto a porta da controvérsia
entre os levitas; e como tinha que haver só um bordão para o chefe de
cada tribo, a designação expressa. De um bordão para Arão, indicou-lhe
para ser chefe daquela tribo, como também da divisão ou família da tribo
a qual deveria pertencer a dignidade sacerdotal. Estes bordões tinham
que ser postos no tabernáculo perto da arca (cf. Nm_17:10 e Hb_9:4),
onde foi prometido um sinal que resolveria para sempre a disputa.
6. doze bordões; e, entre eles, o bordão de Arão — ou um dos
doze, ou, como supõem muitos, um décimo terceiro no meio. (Hb_9:4).
Os bordões eram de paus secos, provavelmente velhos, sendo
transmitidas de um chefe de família ao chefe seguinte.
8. No dia seguinte, Moisés entrou na tenda do Testemunho —
Entrou, como tinha privilégio de fazer nesta ocasião por mandato
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 69
especial de Deus; e ali contemplou o espetáculo notável do bordão de
Arão, o qual, segundo Josefo, era um pau de amendoeira, e que produziu
fruto em três graus de desenvolvimento ao mesmo tempo: broto, flores e
fruto.
10. Torna a pôr o bordão de Arão perante o Testemunho, para
que se guarde por sinal para filhos rebeldes — Porque, se depois de
todas as advertências e juízos, apoiados por milagres, o povo ainda se
rebelasse, certamente pagariam a pena, com a morte.
12. Eis que expiramos, perecemos — Uma exclamação de temor,
tanto pela lembrança de juízos anteriores, como por recaídas futuras, no
pecado de murmuração.
13. Todo aquele que se aproximar do tabernáculo do SENHOR
— i. e., mais perto do que deve; um erro em que muitos podem cair.
Alcançará a justiça de Deus a toda ofensa pequena? Seremos todos
destruídos? Alguns, entretanto, consideram esta exclamação como
sintoma de novo descontentamento, antes, que a indicação de um espírito
reverencial e submisso. Temamos e não pequemos.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 70
Números 18

Vv. 1-7. O CARGO DOS SACERDOTES E LEVITAS.


1. Disse o SENHOR a Arão: Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai
contigo levareis sobre vós a iniquidade relativamente ao santuário —
Aqui se dá segurança ao povo a respeito de todos os temores expressos
(Nm_17:12), porque recaía sobre o sacerdócio a responsabilidade de
atender todas as coisas sagradas, junto com as penalidades merecidas por
negligência; e assim as responsabilidades acrescentadas à sua alta
dignidade, de ter que responder não só por seus próprios pecados mas
também pelos do povo eram estimadas em grande medida para tirar todo
sentimento de inveja pela elevação da família de Arão, quando na
balança se pesava a honra de seus cargos e perigos.
2-7. farás chegar contigo a teus irmãos, a tribo de Levi — Os
compartimentos do sagrado ofício, que deviam ser levados pelos
sacerdotes e levitas, aqui se destacavam cada um. Os sacerdotes
receberam a incumbência do cuidado do santuário e o altar, enquanto
que os levitas deviam cuidar tudo o mais relacionado com o tabernáculo.
Os levitas deviam atender aos sacerdotes como servos, outorgados a eles
como “dons”, para ajudar no serviço do tabernáculo; enquanto que o alto
e digno ofício do sacerdócio era um “serviço de dom”. Um “estranho”, i.
e., alguém, não sendo sacerdote nem levita, que se misturara em algum
dos compartimentos do sagrado ofício, mereceria a pena de morte.

Vv. 8-20. A PORÇÃO DOS SACERDOTES.


8-13. Disse mais o SENHOR a Arão: Eis que eu te dei o que foi
separado das minhas ofertas — Um resumo é feito neste capítulo, de
certos emolumentos especialmente destinados à manutenção dos
sacerdotes. Eram partes das ofertas votivas e voluntárias, incluindo carne
e pão, vinho e azeite, e as primícias, que formavam um artigo grande e
valioso.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 71
14. Toda coisa consagrada irremissivelmente em Israel será tua
— contanto que fosse apropriado para alimento ou consumível para o
uso; porque os copos de ouro e prata, que eram dedicados como despojos
de vitória, não eram dados aos sacerdotes, senão para o uso e adorno do
edifício sagrado.
19. aliança perpétua de sal — i. e., ordenança perpétua. Esta
forma figurativa de expressão evidentemente se baseava nas
propriedades conservadoras do sal, que protegia as carnes da corrupção,
e por isso deveu ser emblema de inviolabilidade e permanência. É frase
comum entre os orientais, os quais consideram o ato de comer sal como
uma promessa de fidelidade, que os obriga a uma aliança de amizade; e
portanto o participar das carnes do altar, que eram destinadas aos
sacerdotes sob condição de seus serviços, e das quais o sal formava um
acompanhamento necessário, naturalmente chamava-se “aliança de sal”
(Lv_2:13).

Vv. 21-32. A PORÇÃO DOS LEVITAS.


21, 22. Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por
herança, pelo serviço que prestam — Nem os sacerdotes nem os
levitas deviam possuir uma porção de terras, mas sim dependeriam
inteiramente dAquele que proveria para eles liberalmente dentre sua
própria porção; e esta lei era útil para muitos fins importantes, como por
exemplo, que estando eximidos dos cuidados e trabalhos de negócios
terrestres, pudessem dedicar-se exclusivamente ao serviço de Deus; que
um vínculo de amor e afeto fosse formado entre o povo e os levitas, os
quais, por efetuar serviços religiosos a favor do povo, recebessem do
povo sua subsistência; e além disso, que sendo mais facilmente
distribuídos entre as diferentes tribos, fossem mais úteis em instruir e
dirigir o povo.
23. os levitas farão o serviço da tenda da congregação e
responderão por suas faltas — Eles seriam responsáveis pelo correto
desempenho daqueles deveres a eles encomendados, e por conseguinte
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 72
levariam o castigo que merecesse a negligência ou o descuido no
exercício das coisas santas.
26. apresentareis … o dízimo dos dízimos — Dentre seus
próprios dízimos recebidos eles tinham que pagar dízimos aos sacerdotes
assim como o povo lhes dava. O melhor de seus dízimos tinha que ser
destinado aos sacerdotes, e depois desfrutavam da mesma liberdade de
fazer uso do resto que tinham outros israelitas, do produto de suas eiras e
lagares.
32. não levareis sobre vós o pecado, etc. — A negligência em ter o
melhor, causava pecado no uso de tal comida não santificada e as coisas
santas seriam contaminadas pela reserva para si daquilo que deveria ser
devotado a Deus e aos sacerdotes.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 73
Números 19

Vv. 1-22. A ÁGUA DE SEPARAÇÃO.


2. Esta é uma prescrição da lei — Uma instituição de natureza
peculiar estabelecida para a purificação do pecado e provido às custas
públicas, porque era para o bem de toda a comunidade.
Dize aos filhos de Israel que vos tragam uma novilha vermelha,
etc. — este é o único caso no qual a cor da vítima se especifica; e se
supôs que a ordenança era ideada em oposição às ideias supersticiosas
dos egípcios. Aquele povo nunca fazia voto sem sacrificar um boi
vermelho, sendo exercido o maior cuidado pelos sacerdotes em examinar
se possuía as características necessárias, e era uma oferta anual a Tufão,
o deus ímpio deles. Pela escolha, tanto da cor como do sexo, fazia-se
provisão para desarraigar das mentes dos israelitas uma superstição
favorita dos egípcios a respeito de dois objetos de seu culto aos animais.
3. Entregá-la-eis a Eleazar, o sacerdote; este a tirará para fora
do arraial — Era ele o segundo, ou lugar tenente do sumo sacerdote, e
era escolhido para este dever, porque a execução do mesmo, ocasionava
contaminação temporária, da qual o próprio sumo sacerdote deveria ser
protegido com o maior cuidado. Era levada “para fora do arraial”,
segundo a lei referente a vítimas carregadas com os pecados do povo, e
assim tipificava a Cristo (Hb_13:12; também Lv_24:14). O sacerdote
tinha que aspergir o sangue “sete vezes” “para a frente da tenda da
congregação”—literalmente “perto do” tabernáculo, o que parece indicar
ou que levava uma porção do sangue num copo à porta do tabernáculo
(Lv_4:17), ou que no ato de aspergir dirigia seu rosto rumo ao edifício
sagrado, pois estava inabilitado pela influência contaminadora desta
operação, para chegar-se muito perto dele. Por esta atitude ele indicava
que estava apresentando um sacrifício expiatório, a aceitação do qual ele
esperava, olhando para o propiciatório. Todas as partes da vítima eram
consumidas por fogo exceto o sangue usada para aspergir, e os
ingredientes misturados com cinzas eram os mesmos que os empregados
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 74
em aspergir os leprosos (Lv_14:4-7). Era “uma água de separação”, i. e.,
de “santificação” a favor do povo de Israel.
7. o sacerdote ... será imundo até à tarde — As cerimônias
prescritas demonstram a imperfeição do sacerdócio levítico, enquanto
que tipificam a condição de Cristo enquanto expiava nossos pecados
(2Co_5:21).
11-22. Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum
homem, imundo será sete dias — Chama-se a atenção a esta lei aqui,
para mostrar os usos aos quais a água de separação [Nm_19:9] era
aplicada. O caso de uma morte é um; e, como em toda família que tinha
um falecimento, os membros dela contraíam contaminação, assim numa
população imensa, onde casos de morte e outros casos de impureza
estariam ocorrendo diariamente, a água de separação teria estado em
constante demanda. Para prover a necessária quantidade da mescla
purificadora, dizem os escritores judeus que uma novilha vermelha era
sacrificada cada ano, e que as cinzas mescladas com os ingredientes de
aspergir, eram repartidas entre todas as cidades e aldeias de Israel.
12. Ao terceiro dia e ao sétimo dia, se purificará — A
necessidade de aplicar água ao terceiro dia, é inexplicável por algum
motivo natural ou moral; e, portanto, o regulamento, supõe-se, que tinha
uma referência típica à ressurreição de Cristo no terceiro dia, por meio
de quem seu povo é santificado; enquanto que o processo da purificação
cerimonial, que se estendia durante sete dias, tinha que mostrar que a
santificação é progressiva e incompleta enquanto não chegue ao sábado
(descanso) eterno. Toda pessoa que sabendo e presunçosamente se
descuidava de não aspergir-se com esta água, era culpado de uma ofensa
que se castigava com a excomunhão.
14. quando morrer algum homem em alguma tenda, etc. — Os
exemplos apresentados parecem muito minuciosos e corriqueiros; mas
objetos de natureza religiosa como também sanitária, promoviam-se ao
levar a tão grande extremo a ideia da contaminação pelo contato com
cadáveres. Enquanto que impediria eficazmente que aquela raça
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 75
egipcianizada imitasse o costume supersticioso dos egípcios de ter em
suas casas os restos mumificados de seus antepassados; esta lei
assegurava um enterro rápido de todos, assim não só tendo os cemitérios
à distância, mas também tirando das moradas dos vivos os cadáveres de
pessoas que tinham morrido de doenças contagiosas, e dos campos
abertos, os restos insepultos dos estranhos e os caídos em batalha.
21. o que aspergir … e o que tocar a água purificadora será
imundo até à tarde — Os efeitos opostos atribuídos à água de
separação—o de limpar uma pessoa e contaminar a outra—são muito
estranhos, e não capazes de uma explicação muito satisfatória. Uma lição
importante, entretanto, era ensinada, a de que a eficácia purificadora não
era inerente à própria água, mas sim provinha do decreto divino, como
em outras ordenanças da religião, que são meios eficazes de salvação,
não por alguma virtude que haja nelas, nem naquele que as administra,
mas sim só pela graça de Deus comunicada por elas.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 76
Números 20

Vv. 1-29. A MORTE DE MIRIÃ.


1. Chegando os filhos de Israel … ao deserto de Zim, no mês
primeiro — i. e., do ano quarenta de sua saída do Egito (Nm_20:22, 23,
com Nm_33:38). Nesta história só os incidentes principais e mais
importantes são relatados, os que se limitam principalmente aos
primeiros anos, segundo e último de sua peregrinação no deserto. Entre o
último versículo do capítulo anterior e o primeiro deste há um longo
intervalo de silêncio de trinta e sete anos.
o povo ficou em Cades — supõe-se que seja o que hoje se chama
Ain El-Weibeh, três mananciais rodeados por palmeiras. (Veja-se
Nm_13:26). Era sua segunda chegada depois de um intervalo de trinta e
oito anos (Dt_2:14). Da velha geração tinham morrido quase todos, e a
nova geração acampou ali tendo em vista entrar na terra prometida,
entretanto, não como antes pelo sul, mas sim cruzando o deserto edomita
sobre a fronteira oriental.
Ali, morreu Miriã — quatro meses antes de Arão.
2-13. Não havia água para o povo—Havia uma fonte em Cades,
em Mispa (Gn_14:7), e no primeiro acampamento dos israelitas naquele
lugar não houve falta de água. Nesta ocasião ou se secou pelo calor da
estação, ou se tinha esgotado pelas demandas de tão grande multidão.
6. Moisés e Arão se foram de diante do povo — Aqui vemos uma
nova ebulição do espírito indomável e descontente do povo. Os
dirigentes fugiram aos limites do santuário, tanto para defender-se da
crescente fúria da emocionada multidão, e para entrar em seu refúgio
habitual em momentos de perplexidade e perigo, para implorar a direção
e ajuda divinas.
8. Toma o bordão — o qual estava depositado no tabernáculo
(Nm_17:10), o bordão praticante de milagres, pelo qual muitos tinham
sido operados, às vezes chamado “o bordão de Deus” (Êx_4:20), às
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 77
vezes o bordão de Moisés” (Nm_20:11), ou “o bordão de Arão”
(Êx_7:12).
10. Moisés lhe disse: Ouvi, agora, rebeldes: porventura, faremos
sair água desta rocha para vós outros? — A conduta do grande
dirigente nesta ocasião foi apressada e apaixonada (Sl_106:33). Fora-lhe
dito que falasse à rocha [Nm_20:8] mas a feriu duas vezes [Nm_20:11]
em sua veemência, desta maneira fazendo perigar as flores no bordão, e,
em vez de falar à rocha, falou ao povo em sua ira.
11. bebeu a congregação e os seus animais — Fisicamente, a água
proveu o mesmo tipo de refrigério necessário a uns e a outros. Mas de
um ponto de vista religioso, esta, que era só um elemento comum para o
ganhador, era um sacramento para o povo (1Co_10:3-4), porque possuía
uma santidade relativa comunicada a ela por sua origem e uso divinos.
12. Mas o SENHOR disse a Moisés e a Arão: Visto que não
crestes em mim, etc. — O fato de que Moisés feriu duas vezes a rocha,
revelou uma dúvida, não do poder mas sim da vontade de Deus de
satisfazer a um povoe tão rebelde, e sua exclamação parece ter emanado
de um espírito de incredulidade semelhante ao da Sara (Gn_18:13). Estas
circunstâncias indicam a influência da incredulidade, e poderia ter
havido outras influências não mencionadas, as que conduziram a um
castigo tão severo.
13. São estas as águas de Meribá — Heb. “águas de Meribá”, mas
adiciona-se a palavra Cades para distingui-la [Dt_32:51] de outra
Meribá (Êx_17:7).
14-16. Enviou Moisés, de Cades, mensageiros ao rei de Edom —
O acampamento em Cades estava nos limites do território edomita,
através do qual os israelitas teriam tido uma travessia fácil por meio de
Arabah pelo Wady-el-Ghuwier, de modo que poderiam ter continuado
seu curso ao redor de Moabe, e chegar à Palestina desde o este (Roberts).
Sendo os edomitas descendentes de Esaú, e traçando sua descendência
de Abraão como de estirpe comum, eram reconhecidos pelos israelitas
como irmãos, e foi enviado uma mensagem muito fraternal.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 78
17. iremos pela estrada real — provavelmente o Wady-el-Ghuwier
(Roberts), pelo qual passava um dos grandes caminhos, construído para
fins comerciais, como também para o progresso de exércitos. A
engenharia necessária para levar estes caminhos pelos pântanos e sobre
as montanhas, e a proteção deles por causa das areias movediças,
obrigaram a pô-los sob o cuidado especial do estado. Daí a frase “estrada
real”, que é de grande antiguidade.
19. se eu e o meu gado bebermos das tuas águas, pagarei o
preço delas — Devido à escassez de água nos climas quentes do
Oriente, a prática de impor tributo pelo uso dos poços é universal; e o
zelo dos naturais, em guardar os tesouros juntados da chuva, é tão
grande, que nem por dinheiro se pode conseguir água.
21. recusou Edom deixar passar a Israel pelo seu país, etc. —
Uma negativa rude obrigou os israelitas a tomar outra rota. (Veja-se
sobre Nm_21:4; Dt_2:4; Jz_11:18; também 1Sm_14:47; 2Sm_8:14, que
descreve a retribuição que se tomou).
22. os filhos de Israel … foram ao monte Hor — agora Jebel
Harun, a altura mais notável e elevada da cadeia de montanhas de Seir,
chamada enfaticamente (Nm_20:28) “o monte”. É conspícuo por sua
dupla cúpula.
24-28. Arão será recolhido a seu povo — De acordo com a sua
recente sentença, embelezado em sua roupa sacerdotal foi ordenado que
subisse aquela montanha e morrer. Mas embora o tempo de sua morte
fosse adiantado pelo desagrado divino como castigo por seus pecados. a
maneira de sua morte foi disposta com ternura e amor, e para lhe fazer
honra à conclusão de seu serviço terrestre. Sua ascensão ao monte foi
para lhe permitir uma última vista do acampamento e uma perspectiva
distante da terra prometida. Este relato singelo da cena solene e
impressionante indica, embora não a descreva, a resignação piedosa, a
firme fé e paz interior do ancião pontífice.
26. despe Arão das suas vestes — i. e., suas roupas sacerdotais,
como sinal de seu renúncia. (Veja-se Is_22:20-25).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 79
veste com elas a Eleazar, seu filho — como inauguração de seu
ofício de sumo sacerdote. Tendo sido ungido uma vez com o azeite
sagrado, essa cerimônia não se repetiu, ou, como alguns creem, foi feita
ao voltar ao acampamento.
28. morreu Arão ali sobre o cimo do monte — (Veja-se Dt_10:6).
Uma tumba foi erguida sobre o lugar ou perto do lugar onde foi
sepultado.
29. Ao saber toda a congregação que Arão tinha morrido —
Moisés e Eleazar eram as únicas testemunhas de sua partida
(Nm_20:28). Segundo a lei estabelecida, o novo sumo sacerdote não
teria podido estar presente no enterro de seu pai sem adquirir uma
contaminação cerimonial (Lv_21:11). Mas aquela lei não tinha efeito nas
circunstâncias extraordinárias; o povo percebeu o acontecimento não só
pelo relato das duas testemunhas, mas pelos sinais visíveis de pesar e
pela mudança. Este acontecimento mostrava a imperfeição do sacerdócio
levítico. (Hb_7:12).
choraram por Arão trinta dias — o período usual de luto público
e solene. (Veja-se Dt_34:8).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 80
Números 21

VV. 1-35. ISRAEL É ATACADO PELOS CANANEUS.


1. Ouvindo o cananeu, o rei do Arade — cidade antiga sobre a
fronteira sul da Palestina, não longe de Cades. Uma colina chamada Tel
Arade assinala o lugar.
que Israel vinha pelo caminho de Atarim — no caminho à
maneira de espiões, furtivamente, ou por meio de espiões enviados por
ele mesmo para averiguar os propósitos e movimentos dos israelitas. A
Septuaginta e outras versões [RA, NTLH] consideram a palavra hebraica
“espias” [RC] nome próprio, e a traduzem: “Vinham pela via de Atarim
para Arade”. (Kennicott).
pelejou contra Israel e levou alguns deles cativos — Esta derrota
foi permitida para ensiná-los a esperar a conquista de Canaã não por sua
própria sabedoria e coragem, mas somente pelo favor e ajuda de Deus.
(Dt_9:4; Sal_44:3-4).
2, 3. Israel fez voto ao SENHOR — Sentindo sua própria
fraqueza, imploraram a ajuda de Deus, e em antecipação da ajuda,
dedicaram — “devotaram” as cidades deste rei à destruição futura. A
natureza e as consequências destes anátemas são descritos (Lev. 27;
Deut. 13.) Este voto de extermínio contra Arade deu nome ao lugar
Horma (matança e destruição), ainda que não se cumpriu mas sim depois
de cruzar o Jordão. Outros creem que Horma era o nome de uma cidade
mencionada (Js_12:14).
4. partiram do monte Hor — ao lhes ser negada a travessia
pedida, voltaram pela Arará, “pelo caminho do mar Vermelho”, a Elate,
à cabeça do golfo oriental do Mar Vermelho, e dali passaram pelas
montanhas ao deserto oriental, para assim fazer um rodeio da terra do
Edom (Nm_33:41, 42).
o povo se tornou impaciente no caminho — Desalento ao achar-
se tão perto dos limites da terra prometida, sem poder entrar ali, zangado
pela negação da permissão para passar pela terra do Edom, e pela
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 81
ausência de alguma interposição divina a seu favor, e sobretudo, pela
necessidade de retroceder por uma rota longa e tortuosa através das
piores partes de um deserto arenoso, e pelo temor de ser lançados entre
as novas e desconhecidas dificuldades – tudo isso produziu uma
profunda depressão dos espíritos, a qual foi seguida, como de costume,
por um estalo vergonhoso de murmurações pela escassez de água e de
expressões de desgosto pelo maná.
5. a nossa alma tem fastio deste pão vil — i. e., pão sem
substância ou qualidades alimentícias. A refutação desta calúnia aparece
no fato de que pela força deste alimento eles fizeram durante quarenta
anos tantas viagens fatigantes. Mas eles tinham estado acariciando a
esperança de melhor e mais variada comida, desfrutada por um povo
estabelecido; e o contratempo, sempre tanto mais amargo quando a
esperança de desfrutar parece perto, levou-os a falar contra Deus e contra
Moisés. (1Co_10:9).
6. o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras —
Aquela parte do deserto, onde estavam os israelitas agora, perto da
cabeça do golfo de Acaba, está grandemente infestada com répteis
venenosos de várias classes, especialmente lagartos, que se levantam no
ar, e se desprendem dos ramos; e escorpiões, que tendo o costume de
esconder-se entre o zacate longo, são especialmente perigosos para o
povo do Oriente, que anda descalça ou em sandálias. O único remédio
conhecido consiste em chupar a ferida, ou, no caso do gado, na aplicação
de amoníaco. As espécies de serpentes que causaram tão grande
mortandade entre os israelitas, não se pode averiguar. Diz-se que eram
“abrasadoras”, epíteto dado por sua cor brilhante, intensa, ou pela
inflamação violenta causada por sua mordida.
7-9. Veio o povo a Moisés e disse: Havemos pecado — A
severidade do açoite e a extensão aterradora da mortandade os levaram a
um sentido do pecado, e pela intercessão de Moisés, a qual imploraram,
foram milagrosamente curados. Este método peculiar de curar foi ideado,
em primeiro lugar, para mostrar que era a eficácia do poder e a graça de
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 82
Deus, e não o efeito da natureza ou a arte, e também para que pudesse
ser um tipo do poder da fé em Cristo, de curar a todos os que olham a
Ele em seus pecados (Jo_3:14-15; veja-se também 2Rs_18:4).
10. partiram os filhos de Israel — ao longo da fronteira oriental
dos edomitas, acampando em várias estações.
12. se acamparam no vale de Zerede — i. e., no vale arborizado
(Dt_2:13; Is_15:7; Am_6:14). Esta corrente nasce entre as montanhas a
leste de Moabe, e correndo rumo ao oeste desemboca no Mar Morto. Ije-
Abarim, supõe-se, seria o vau dele (Calmet).
13. se acamparam na outra margem do Arnom — agora El-
Mojib, uma corrente funda, larga e rápida que dividia os domínios dos
moabitas e amorreus,
14. Livro das Guerras do SENHOR — Um fragmento ou
passagem é aqui citado de um poema ou história das guerras dos
israelitas, principalmente tendo em vista decidir a posição de Arnom.
15. Ar—a capital de Moabe.
16. Dali partiram para Beer — i. e., o poço. O nome
provavelmente foi dado mais tarde [veja-se Jz_9:21], pois não se
menciona em Números 33.
17, 18. Então, cantou Israel este cântico — Este belo cântico
estava de acordo com as necessidades e os sentimentos das caravanas
que viajam pelo Oriente, onde a água é motivo de oração e ação de
graças. Pelo fato de os príncipes usarem suas varas somente, e não pás,
parece provável que este poço estivesse escondido entre brejos ou areia,
como é o caso ainda com muitos poços em Idumeia. O descobrimento
dele foi oportuno, e devido à interposição especial de Deus.
21-23. Israel mandou mensageiros a Seom — O rechaço de sua
mensagem respeitosa e pacífica causou ressentimento; Seom foi
derrotado em batalha, e Israel por direito de conquista conseguiu todos
os domínios dos amorreus.
24. desde o Arnom até ao Jaboque — agora, Zurka. Estes rios
formavam as fronteiras norte e sul de seu território usurpado.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 83
até aos filhos de Amom, cuja fronteira era fortificada — razão
pela qual Seom não pôde estender mais adiante sua invasão.
25. Israel tomou todas estas cidades dos amorreus e habitou em
todas elas — depois de exterminar a os habitantes que anteriormente
tinham sido condenados. (Dt_2:34).
26. Hesbom — (Ct_7:4) — situada vinte e cinco quilômetros e
meio a norte do Arnom, e por suas ruínas parece ter sido cidade grande.
27-30. Pelo que dizem os poetas — Aqui é dado um extrato de um
cântico amorreu que prevê alegremente a extensão de suas conquistas até
o Arnom. A citação do poema do cantor amorreu termina em Nm_21:28.
Os dois versículos seguintes parecem ser os versos nos quais os israelitas
expõem a impotência dos usurpadores.
29. povo de Quemos — o nome de um ídolo moabita (1Rs_11:7-
33; 2Rs_23:13; Jr_48:4).
entregou seus filhos como fugitivos — i. e., o ídolo, seu deus,
entregou a seus adoradores em mãos das armas vitoriosas de Seom.
33. subiram o caminho de Basã — nome dado àquele distrito
devido à fertilidade de seu solo; hoje Batanea ou E-Bottein, região
montanhosa a leste do Jordão, entre as montanhas de Hermom no norte e
as de Gileade no sul.
Ogue — gigante, príncipe amorreu, quem, havendo-se oposto ao
progresso dos israelitas, foi derrotado.
34. Disse o SENHOR a Moisés: Não o temas — um alento
necessário, porque a estatura gigantesca do Ogue (Dt_3:11) era capaz de
inspirar terror. Mas ele e todos os seus foram mortos a espada.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 84
Números 22

Vv. 1-20. REJEITA-SE A PRIMEIRA MENSAGEM DE


BALAQUE PARA BALAÃO.
1. Tendo partido os filhos de Israel, acamparam-se nas
campinas de Moabe — Assim chamadas por terem pertencido
anteriormente àquele povo, embora lhes fossem tirados por Seom. Era
uma região deserta, seca e baixa, a leste do Jordão, diante de Jericó.
2. Balaque. — i. e., “vazio”. Espantado (Dt_2:25; Êx_15:15) pela
vinda de uma multidão tão enorme, e não se atrevendo a se encontrar
com eles no campo, resolveu conseguir sua destruição por outros meios.
4. anciãos dos midianitas — chamados reis (Nm_31:8) e príncipes
(Js_13:21). Os midianitas, um povo distinto sobre a fronteira meridional
de Moabe, uniram-se com eles como confederados contra Israel, seu
inimigo comum.
5. Enviou ele mensageiros a Balaão — i. e., “senhor” ou
“devorador”, adivinho famoso (Js_13:22).
filho de Beor — ou na forma caldeia Besor, i. e., “destruição”.
Petor — cidade de Mesopotâmia, situada sobre o Eufrates.
6. Vem … amaldiçoa-me este povo — Entre os pagãos existia a
opinião de que orações pedindo o mal ou maldições, seriam ouvidas
pelas potências invisíveis, tanto como as orações pelo bem, quando eram
pronunciadas por um sacerdote e acompanhadas pelo uso de certos ritos.
Acham-se muitos exemplos nas histórias dos gregos e romanos de que
exércitos inteiros eram amaldiçoados para destruição, e ainda ocorrem
entre os naturais da Índia e outros países. Na guerra birmanesa se
empregavam magos para que amaldiçoassem as tropas britânicas.
7. foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas,
levando consigo o preço dos encantamentos — como recompensa para
um adivinho, e sendo recompensa de um rei, seria algo belo.
8-14. Ficai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o
SENHOR me falar, etc. — Deus geralmente revelava Sua vontade em
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 85
sonhos e visões; e o nascimento e residência de Balaão em
Mesopotâmia, onde os restos da religião patriarcal ainda perduravam,
explicam como ele tinha conhecimento do verdadeiro Deus. Seu
verdadeiro caráter foi por muito tempo tema de discussão. Alguns,
julgando por sua linguagem, o creram um santo; outros, olhando sua
conduta, o pintaram como um enganador irreligioso; e uma terceira
classe, o consideram um noviço na fé, que possuía um temor de Deus,
mas que não tinha obtido um domínio de suas paixões (Hengstenberg).
13-15. o SENHOR recusa deixar-me ir convosco — Esta resposta
teve a aparência de ser boa, mas astutamente ocultava a razão da
proibição divina [Nm_22:12], e também insinuava sua conformidade e
desejo de ir, se recebesse permissão. Balaque enviou uma segunda
missão, a qual lhe ofereceu perspectivas lisonjeiras tanto à sua avareza
como à sua ambição (Gn_31:30).
19. aqui fiqueis esta noite, para que eu saiba o que mais o
SENHOR me dirá — Como a vontade divina, anteriormente declarada,
não estava de acordo com os desejos dele, esperava este, mediante uma
segunda petição, incliná-la a seu favor, assim como tinha acomodado sua
própria consciência a suas paixões dominantes, de orgulho e cobiça. A
permissão concedida a Balaão está de acordo com o proceder habitual da
Providência. Deus com frequência cede aos homens para que sigam os
impulsos de sua própria concupiscência; mas não há aprovação em
deixá-los assim agir sob o impulso de seu próprio coração ímpio
(Js_13:27).

Vv. 21-41. A VIAGEM DE BALAÃO.


21. Balaão … albardou a sua jumenta — Provavelmente um
daqueles animais brancos e briosos em que acostumavam cavalgar
pessoas de distinção. A cadeira, como de costume no Oriente, não seria
mais que uma almofada ou um manto exterior.
22. Acendeu-se a ira de Deus, porque ele se foi — O desagrado
de Deus resultou em parte porque Balaão descuidava a condição em que
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 86
foi concedida permissão—quer dizer, a de esperar que os príncipes de
Moabe “vieram chamar-te” [Nm_22:20], e porque, pelo desejo de
“salário de injustiça”, ele alentava o propósito secreto de agir em
oposição ao solene mandato de Deus.
24. o Anjo do SENHOR pôs-se numa vereda entre as vinhas —
Os caminhos por entre os campos e vinhas são tão estreitos que em
muitas partes um homem não pode fazer passar um animal sem cuidado
e cautela. Um cerco de pedra ou barro limita os caminhos a cada lado,
para evitar que o solo seja levado pelas chuvas.
28. o SENHOR fez falar a jumenta — Para que emitisse sons
invertebrados, como um louro, sem entendê-los. Que esta fosse uma cena
visionária é ideia que parece inadmissível, porque é improvável que se
descreva uma visão em meio de uma história verdadeira. Além disso, o
abrir a boca da jumenta teria que ter sido um ato externo, mas como,
junto com o tom manifesto da linguagem de Pedro, apoia fortemente a
interpretação literal [2Pe_2:15-16]. A ausência de alguma surpresa por
um fenômeno tal, da parte de Balaão, pode explicar-se porque sua mente
estava totalmente absorta com a perspectiva do lucro, o que produziu “a
loucura do profeta”. “Foi um milagre, operado para humilhar o seu
coração orgulhoso, que primeiro teve que ser sujeito por meio de uma
jumenta, antes que ele fosse levado a escutar a voz de Deus que falava
por meio do anjo.” (Calvino).
34, 35. Pequei … se parece mal aos teus olhos, voltarei —
Apesar desta confissão, ele não mostrava espírito de arrependimento,
pois só fala de desistir do ato exterior. As palavras: “Vai-te com estes
homens”, foram só a retirada de toda proibição posterior, mas os termos
em que foi dada a permissão, são mais absolutos e peremptórios que os
de Nm_22:20.
36, 37. Tendo Balaque ouvido que Balaão havia chegado, saiu-
lhe ao encontro — Quanto mais elevado a posição do visitante
esperado, tanta maior distancia requer a cortesia que se percorra para lhe
dar as boas-vindas.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 87
38. A palavra que Deus puser na minha boca, essa falarei —
Esta parece uma resposta piedosa. Foi um reconhecimento de que ele
estava limitado por um poder superior.
39. Quiriate-Huzote — “cidade de ruas”.
40. Balaque sacrificou bois e ovelhas — fez preparativos para
grandes festejos para Balaão e os príncipes de Midiã.
41. altos de Baal (TB) — alturas consagradas ao culto de Baal-Peor
Nm_25:3), ou Quemos.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 88
Números 23

Vv. 1-30. OS SACRIFÍCIOS DE BALAQUE.


1. disse Balaão a Balaque: Edifica-me aqui sete altares — Como
Balaque era pagão, ele naturalmente suporia que estes altares seriam
erigidos em honra a Baal, a deidade protetora de seu país. Mas é evidente
por Nm_23:4, que foram preparados para o culto ao Deus verdadeiro,
embora se haviam escolhido os altos de Baal como seu local, e
construído vários altares (2Rs_18:22; Is_17:8; Jr_11:13; Os_8:11;
Os_10:1), em vez de um só, como Deus tinha mandado, ele misturou
suas próprias superstições com o culto divino. Os pagãos, tanto nos
tempos antigos como nos modernos, atribuíam virtude misteriosa ao
número sete; e ordenando a preparação de tantos altares, Balaão se
propôs confundir e enganar o rei.
3. Fica-te junto do teu holocausto — como um, a espera de um
favor importante.
porventura, o SENHOR me sairá ao encontro, e o que me
mostrar — i. e., me fará saber por palavra ou sinal.
subiu a um morro desnudo — à parte, sozinho, onde podia
praticar ritos e cerimônias, tendo em vista receber uma resposta do
oráculo.
4-6. Ali Deus se encontrou com Balaão (NTLH) — não por
consentir com a sua arte mágica, senão para frustrar seus desígnios
ímpios, e o obrigar, contrariamente a seus desejos e interesses, a
pronunciar a bênção seguinte [Nm_23:8-10].
7. Aí Balaão fez esta profecia (NTLH) — i. e., falou sob a
influência da inspiração, e no estilo altamente poético, figurado e
magistral de um profeta.
Balaque me fez vir de Arã — Esta palavra, unida com os “montes
do oriente”, significa a parte superior de Mesopotâmia, a leste de Moabe.
O oriente tinha uma notoriedade, infamante por causa de seus magos e
adivinhos. (Is_2:6).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 89
8. Como posso amaldiçoar a quem Deus não amaldiçoou? —
pronunciou-se uma bênção divina sobre a posteridade de Jacó; e
portanto, quaisquer prodígios que se pudessem obter por encantos, artes
mágicas e todo o poder humano, seriam totalmente impotentes para
rebater o decreto de Deus.
9. do cimo — literalmente, “lugar descoberto, despido” sobre as
rochas, aonde Balaque os tinha levado, porque se cria necessário ver o
povo que tinha que ser dedicado à destruição. Mas aquela perspectiva
dominante não podia contribuir em nada à consumação do propósito do
rei, porque o destino de Israel era o de ser povo distinto, peculiar,
separado das demais nações em seu governo, religião costumes e a
proteção divina. (Dt_33:28). De modo que, embora eu pudesse satisfazer
os teus desejos contra outro povo, nada posso fazer contra este (Êx_19:5;
Lv_20:24).
10. Quem contou o pó de Jacó? — Uma hipérbole oriental
indicando uma nação muito populosa, como se prometeu que seria a
posteridade de Jacó. (Gn_13:16; Gn_28:14).
enumerou a quarta parte de Israel? — i. e., o acampamento
consistia em quatro divisões; cada uma destas partes era formidável em
números.
Que eu morra a morte dos justos — Heb. “de Jesurum”, ou, os
israelitas. O sentido é que eles são um povo feliz, sobre todos os outros,
não só na vida, mas na morte, devido a seu conhecimento do verdadeiro
Deus, e sua esperança pela Sua graça. Balaão é representante de uma
grande classe de pessoas no mundo, que expressam um desejo da bem-
aventurança que Cristo prometeu a Seu povo, mas são adversas a imitar
o sentido que houve nEle.
13-15. Rogo-te que venhas comigo a outro lugar, donde verás o
povo — Surpreso e frustrado por este louvor inesperado de Israel,
Balaque esperava que, se o povo fosse visto de um ponto de observação
diferente, o profeta daria expressão a sentimentos distintos; e assim,
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 90
fazendo os mesmos preparativos solenes, Balaão se retirou como antes,
para aguardar a divina inspiração.
14. Levou-o consigo ao campo de Zofim, ao cimo de Pisga —
uma superfície plana no cimo da cadeia de montanhas, a qual era
cultivada. Outros o traduzem, “campo dos sentinelas”, uma elevação
onde a guarda de Balaque estava assentada para dar sinais (Calmet).
18. Levanta-te — como Balaque estava já em pé (v. 17), esta
expressão equivale a: “agora me escute”. Os conselhos e as promessas de
Deus com relação a Israel são imutáveis; e nenhuma tentativa de
persuadi-Lo a mudar terá êxito, como podem fazê-lo com os homens.
21. Não viu iniquidade em Jacó — Muitos pecados tinham sido
vistos e castigados neste povo. Mas até agora não tinha aparecido uma
apostasia tão geral e desesperada que induzisse Deus a abandoná-los e
destruí-los.
o SENHOR, seu Deus, está com ele — tem favor para eles.
no meio dele se ouvem aclamações ao seu Rei — Aclamação tão
prazerosa como de um povo que se alegra na presença de um príncipe
vitorioso.
22. as forças deles são como as do boi selvagem — i. e., Israel não
é como eram no Êxodo, uma horda de gente fraca, sem espírito, mas sim
poderoso e invencível como um reem — i. e., um rinoceronte (Jó_39:9;
Sl_22:21; Sl_92:10).
23. contra Jacó não vale encantamento — Nenhuma arte pode
prevalecer contra um povo que está sob o escudo da Onipotência, e para
quem se fizeram e ainda se farão milagres, que serão causa de admiração
nas idades vindouras.
26. tudo o que o SENHOR falar, isso farei — Uma confissão
notável de que ele estava obrigado a expressar profecias diferentes do
que era seu propósito ou inclinação fazer.
28. Balaque levou Balaão consigo ao cimo de Peor — ou, Bete-
Peor (Dt_3:29), a eminência sobre a qual estava o templo de Baal.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 91
que olha para Jesimom (TB) — o terreno deserto no sul da
Palestina, a ambos os lados do Mar Morto.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 92
Números 24

Vv. 1-25. BALAÃO PREDIZ A BEM-AVENTURANÇA DE


ISRAEL.
1. não foi … ao encontro de agouros — para usar encantamentos.
Sua experiência nas duas ocasiões anteriores [Nm_23:3, Nm_23:15]
tinha-lhe ensinado que estes atos supersticiosos de seu culto eram
inúteis, e portanto agora ele meramente olhou para o acampamento de
Israel, ou com o desígnio secreto de amaldiçoá-los, ou para esperar a
inspiração divina.
2. vendo Israel acampado segundo as suas tribos — i. e., na
distribuição metódica do acampamento (Nm_2).
veio sobre ele o Espírito de Deus — Antes de ser instituído o
ministério regular dos profetas, Deus fazia uso de diferentes pessoas
como instrumentos por meio daqueles que revelavam sua vontade, e uma
delas era Balaão. (Dt_23:5).
3. palavra do homem de olhos abertos — i. e., um vidente
(1Sm_9:9), profeta, a quem era revelado o futuro em visões; algumas
vezes quando lhe vinha um sonho (Gn_15:12-15), frequentemente em
êxtase.
5-7. Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! — linda explosão de
admiração, expressa estilo altamente poético. Todos os viajantes
descrevem a beleza que presta ao deserto a fileira circular de tendas
beduínas. Que impressionante, pois seria a vista, contemplada das alturas
do Abarim, do imenso acampamento de Israel, estendido sobre as
planícies ao pé da montanha!
6. como árvores de sândalo — um arbusto aromático nas ribeiras
do Eufrates, cuja forma cônica sugeria a semelhança a uma tenda. A
imaginação excessiva destes versículos pinta a origem humilde,
progresso rápido e a prosperidade de Israel.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 93
7. o seu rei se levantará mais do que Agague — Naquele então os
amalequitas eram os mais poderosos de todas as tribos do deserto, e
Agague era o título comum de seus reis.
10-14. a ira de Balaque se acendeu contra Balaão, e bateu ele as
suas palmas — O bater as palmas é entre o povo oriental uma indicação
da ira mais violenta (veja-se Ez_21:17; Ez_22:13), e despedida
ignominiosa.
15. ele fez esta profecia (NTLH) — profecia pronunciada em estilo
poético.
17. Eu o vejo (TB) — ou “o vi” — uma vista profética, como a de
Abraão (Jo_8:56).
o — i. e., Israel.
uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro —
Esta imagem, na linguagem hieroglífica do Oriente, quer dizer algum
governante eminente, primeiro Davi; mas em segundo lugar e
preeminentemente, o Messias (veja-se Gn_49:10).
têmporas — borde, às vezes usado por dizer todo o país. (Êx_8:2;
Sl_74:17).
os filhos de Sete — algum príncipe de Moabe; ou, segundo alguns,
“os filhos do Oriente.”
18. Edom será uma possessão — Esta profecia foi cumprida por
Davi (2Sa_8:14).
Seir — visto no sul, e usado poeticamente por Edom. A dupla
conquista de Moabe e Edom se indica. (Sl_60:8; Sl_108:9).
19. De Jacó sairá o dominador — Davi, e particularmente Cristo.
exterminará os que restam das cidades — aqueles que fogem aos
lugares fortificados. (Sl_60:9).
20. Amaleque … o seu fim será destruição — Seu território via-se
na extremidade mais remota do deserto. (Veja-se Êx_17:13; também
1Sam 15:1-35).
21. Viu os queneus … puseste o teu ninho na penha — Embora
estivessem estabelecidos nas aberturas das penhas altas de En-Gedi na
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 94
direção do oeste, seriam reduzidos por inimigos sucessivos, até que os
invasores assírios os levassem cativos. (Jz_1:16; Jz_4:11; Jz_16:17;
também 2Rs_15:29; 2Rs_17:6).
23. Quem viverá, quando Deus fizer isto? — Poucos escaparão da
desolação que enviará Nabucodonosor para açoitar aquelas regiões.
24. Quitim — países ao longo do Mediterrâneo, particularmente a
Grécia e Itália. (Dan_11:29-30). Os próprios assírios tinham que ser
derrotados, primeiro, pelos gregos sob Alexandre Magno e seus
sucessores; e logo, pelos romanos.
Héber — a posteridade dos hebreus, (Gn_10:24).
também eles mesmos perecerão — i. e., o conquistador de Assur e
Héber, quer dizer, os impérios grego e romano.
25. Então, Balaão se levantou, e se foi, e voltou para a sua terra
— Mesopotâmia, a qual, entretanto, não chegou (Veja-se Nm_31:8).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 95
Números 25

Vv. 1-18. A FORNICAÇÃO E IDOLATRIA DE ISRAEL.


1. Habitando Israel em Sitim — um prado esverdeado, assim
chamado por um bosque de acácias que cobria a margem oriental do
Jordão (Veja-se Nm_33:39).
3. Juntando-se Israel a Baal-Peor — Baal era um nome geral para
“senhor”, e Peor para uma “montanha” em Moabe. O nome verdadeiro
do ídolo era Quemos, e seus ritos de culto eram celebrados com a mais
vergonhosa impureza. Ao participar, pois, nesta festa, os israelitas
cometeram a dupla falta de idolatria e desenfreio.
4. Disse o SENHOR a Moisés: Toma todos os cabeças do povo e
enforca-os — Os criminosos israelitas, que sofriam a pena capital, eram
primeiro apedrejados e mortos, e logo pendurados. As pessoas que foram
aqui mandadas executar, eram os delinquentes principais no ultraje de
Baal-Peor, os oficiais subordinados, capitães da dez e de cem.
ao SENHOR — Para vindicar a honra do Deus verdadeiro.
em plena luz do dia (NTLH) — i. e., como sinal de ignomínia
pública; mas tinham que ser tirados antes do pôr-do-sol. (Dt_21:23).
5. juízes de Israel — os setenta anciãos, aos quais se mandou não
só levar a cabo a execução dentro de suas jurisdições respectivas, mas
também impor o castigo com suas próprias mãos. (Veja-se 1Sm_15:33).
6, 7. um homem dos filhos de Israel veio e trouxe a seus irmãos
uma midianita — Este ato perverso mais provavelmente ocorreu perto
do tempo em que foi dada a ordem e antes de sua execução.
eles choravam diante da tenda da congregação — alguns dos
governantes e pessoas bem dispostas estavam lamentando a terrível
maldade do povo, e suplicando a misericórdia de Deus para afastar a
mortandade.
8. a praga cessou — alguma praga repentina e estendida.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 96
9. Os que morreram da praga foram vinte e quatro mil — Só
23.000 pereceram (1Co_10:8) pela pestilência. Moisés inclui aos que
morreram pela execução dos juízes [Nm_25:5].
10-13. Fineias… estava animado com o meu zelo — Esta
segurança foi um sinal notável de honra, de que a mancha de sangue, em
vez de contaminá-lo, o confirmava mais no sacerdócio, e de que sua
posteridade continuaria tanto tempo como a existência de Israel.
14. Zinri … príncipe da casa paterna dos simeonitas — A
matança de um homem de tão alta posição menciona-se como prova do
zelo valente de Fineias, porque poderia haver muitos vingadores de seu
sangue.
17. Afligireis os midianitas e os ferireis — Parece que eles tinham
sido os mais culpados. (Nm_22:4; 31:8).
18. eles vos afligiram a vós outros quando vos enganaram — Em
vez de guerra aberta, eles tramam maneiras insidiosas de obter sua ruína
por meio da idolatria e corrupção.
irmã deles — compatriota deles.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 97
Números 26

Vv. 1-51. ISRAEL ENUMERADO.


1. Passada a praga — Aquela visitação terrível que tinha varrido o
resto da velha geração, aos quais jurou Deus em Sua ira, que não
entrariam em Canaã.
2. Levantai o censo de toda a congregação — O propósito deste
novo censo, depois de um lapso de trinta e oito anos, primeiro foi o de
estabelecer a vasta multiplicação da posteridade de Abraão apesar dos
severos juízos infligidos sobre eles; em segundo lugar, tinha que
conservar a distinção de família, e fazer os acertos, preparatórios para a
entrada à terra prometida, para a distribuição do país segundo a
população relativa das tribos.
7. São estas as famílias dos rubenitas — as casas principais, as
que estavam divididas em numerosas famílias menores. Rúben tinha
sofrido grande decréscimo na conspiração de Corá e outras rebeliões
[Nm_16:1].
10. a terra abriu a boca e os tragou com Corá — antes, as coisas
de Corá (Veja-se Nm_16:35; cf. Sl_106:17).
11. Mas os filhos de Corá não morreram — Ou não foram eles
participantes no crime de seu pai, ou se retiraram dele mediante um
arrependimento oportuno. Seus descendentes são mencionados
frequentemente nos Salmos, também 1Cr_6:22, 28.
12. Os filhos de Simeão — Supõe-se que esta tribo tinha sido
preeminente na culpa de Baal-Peor, e por conseguinte, tinha sido
grandemente reduzida em número.
Assim a justiça e santidade, como também a verdade e fidelidade de
Deus, mostraram-se de modo surpreendente; Sua justiça e santidade nos
juízos extensos que reduziram as filas de algumas tribos; enquanto que
Sua verdade e fidelidade foram manifestadas no crescimento
extraordinário de outras, de modo que a posteridade de Israel continuava
como um povo numeroso.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 98
53. A estes se repartirá a terra em herança, segundo o censo —
A porção de cada tribo tinha que ser maior ou menor, segundo a sua
população.
54. À tribo mais numerosa darás herança maior — i. e., às tribos
mais numerosas uma parte maior seria dada.
em proporção ao seu número — i. e., o número de pessoas de
vinte anos de idade ao tomar-se este censo, sem levar em conta o
crescimento quando a terra fosse com efeito dividida, ou a diminuição
daquele número, ocasionada durante a guerra de invasão.
55. a terra se repartirá por sortes — O recurso à sorte não
colocou o assunto fora do poder de Deus; porque está à sua disposição
(Pv_16:33), e Ele fixou todos os limites de sua habitação. A maneira em
que se tirou a sorte, não foi relatada. Mas é evidente que se lançou a
sorte para determinar a parte do país na qual cada tribo seria localizada, e
não a quantidade de suas posses. Em outras palavras, quando a sorte
tinha decidido que tal ou qual tribo se assentaria ao norte ou ao sul, este
ou oeste, a extensão de território era proporcionada segundo a regra
(Nm_26:54).
58. as famílias de Levi — O censo desta tribo foi tomado à parte, e
sobre um princípio diferente do censo das demais tribos. (Veja-se
Êx_6:16-19).
62. vinte e três mil — De modo que houve um crescimento de mil.
(Nm_3:39).
todo homem da idade de um mês para cima — (Veja-se
Nm_3:15).
64. Entre estes, porém, nenhum houve dos que foram contados
… no deserto do Sinai — Esta declaração não se tem que considerar
como absoluta. Porque, além de Calebe e Josué, viviam neste momento
Eleazar e Itamar, e com toda probabilidade um bom número de levitas
que não tiveram participação nas defecções no deserto. Como a tribo de
Levi não tinha enviado espião a Canaã, nem estava incluída na
enumeração no Sinai, ela deveria ser considerada fora dos limites da
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 99
sentença fatal; e portanto apresentaria um espetáculo não visto nas outras
tribos pelos maiores de sessenta anos de idade e que estavam em filas.

Cap. 1 Cap. 26 Diminuição


Tribos Aumento
Rúben 46.500 43.730 2.770
Simeão 59.300 22.200 37.100
Gade 45.650 40.500 5.150
Judá 74.600 76.500 1.900
Issacar 54.400 64.300 9.900
Zebulom 57.400 60.500 3.100
Efraim 40.500 32.500 8.000
Manassés 32.200 52.700 20.500
Benjamim 35.400 45.600 10.200
Dã 62.700 64.400 1.700
Aser 41.500 53.400 11.900
Naftali 53.400 45.400 8.000
603.550 601.730 59.200 61.020
Total da diminuição 1.820
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 100
Números 27

Vv. 1-11. AS FILHAS DE ZELOFEADE PEDEM UMA


HERANÇA.
3. Nosso pai morreu no deserto e não estava entre os que se
ajuntaram … no grupo de Corá — Esta declaração podia ser
necessária, porque sua morte poderia ter ocorrido perto do tempo
daquela rebelião; e especialmente porque, como os filhos destes
conspiradores estavam envoltos junto com seus pais no terrível castigo, a
petição das mulheres parecia mais justa e lógica, visto que seu pai não
morreu por alguma causa que condenasse a sua família a perder sua vida
e sua herança.
morreu no seu próprio pecado — i. e., pela lei da mortalidade
comum todos os homens que, pelo pecado, estão sujeitos.
4. Dá-nos possessão entre os irmãos de nosso pai—Vendo estas
mulheres jovens que só os varões nas famílias tinham sido registrados, e
que por conseguinte ninguém em sua família se registrou, e que tal
família estava omitida, levaram ao conhecimento de Moisés sua queixa e
as autoridades se uniram com ele na administração de justiça. O caso era
importante; e como o caso de filhas deixadas como únicos membros de
família não seria acontecimento incomum ou raro, a lei de herança, sob
autoridade divina, foi estendida não só para satisfazer casos similares,
mas também outros casos, como quando não ficassem filhos de um
proprietário falecido, nem irmãos que lhe sucedessem. Uma partilha da
terra prometida estava prestes a fazer-se; e é interessante saber a
provisão legal que se tinha feito nestes casos comparativamente raros
para evitar que um patrimônio fosse alienado a outra tribo (Nm_36:6, 7).

Vv. 12-17. MOISÉS, AVISADO DE SUA MORTE, PEDE UM


SUCESSOR.
12. disse o SENHOR a Moisés: Sobe a este monte Abarim e vê a
terra — Embora os israelitas já estivessem sobre os limites da terra
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 101
prometida, a Moisés não foi permitido cruzar o Jordão, antes morreu
sobre um dos montes de Moabe, aos quais foi dado o nome geral do
Abarim (Nm_33:47). A privação desta grande honra se deveu à
malfadada conduta que ele manifestou ao golpear a rocha em Meribá
[Nm_20:12]; e enquanto que o piedoso guia se submetia com uma mansa
aquiescência ao decreto divino, mostrou o espírito de um patriotismo
genuíno em suas orações ferventes pela nomeação de um sucessor digno
e competente [Nm_27:15-17].
16. O SENHOR, Deus dos espíritos de toda carne, ponha um
homem sobre esta congregação — A petição muito acertadamente foi
dirigida a Deus em Seu caráter de Autor de todos os dons intelectuais e
todas as graças morais com os quais estão dotados os homens, e quem
pode levantar pessoas aptas para os deveres mais árduos e as situações
mais difíceis.

Vv. 18-23. JOSUÉ NOMEADO COMO SEU SUCESSOR.


18. Toma Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e
impõe-lhe as mãos — Um testemunho poderoso é dado aqui à
personalidade do Espírito Divino. A imposição de mãos era uma
cerimônia antiga (Veja-se Gn_48:14; Lv_1:4; 1Tm_4:14).
20. Põe sobre ele da tua autoridade — Em toda a história de
Israel, não se levantou profeta ou governante semelhante a Moisés,
enquanto não chegou o Messias, cuja glória os eclipsou a todos. Mas
Josué era honrado e qualificado num grau eminente, por meio do serviço
especial do sumo sacerdote, quem pedia conselhos para ele segundo o
juízo do Urim perante o Senhor.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 102
Números 28

Vv. 1-21. AS OFERTAS A SEREM OBSERVADAS.


2. Dá ordem aos filhos de Israel e dize-lhes — A repetição de
várias leis anteriormente decretadas, que se faz neste capítulo, era
oportuna e necessária, não só por sua importância e o frequente descuido
delas, mas sim porque se levantou uma nova geração depois da primeira
instituição de tais leis, e porque os israelitas estavam por assentar-se na
terra onde tinham que observar-se aquelas ordenanças.
meu manjar para as minhas ofertas — usados geralmente para as
ofertas assinaladas, e o teor da prescrição é de pôr em execução a
regularidade e o cuidado na observância delas.
9, 10. é holocausto de cada sábado — Anteriormente não se
menciona holocausto em dia sábado que fosse adicional aos sacrifícios
diários.
11-15. Nos princípios dos vossos meses, oferecereis, em
holocausto ao SENHOR — Estes eram guardados como dias festivos
sagrados; e embora não possuíssem o caráter de festas solenes,
distinguiam-se pelo som das trombetas sobre os sacrifícios (Nm_10:10),
pela suspensão de todo trabalho, exceto as tarefas domésticas das
mulheres (Am_8:5), pela celebração de culto público (2Rs_4:23), e por
festividades sociais e familiares (1Sm_20:5). Estas observâncias não
estão prescritas na lei, ainda que existiam na prática de tempos
posteriores. O princípio do mês se conhecia, não por cálculos
astronômicos, mas sim, segundo os escritores judeus, pelo testemunho de
mensageiros nomeados para que olhassem a primeira aparição visível da
lua nova, e logo o fato se anunciava por todo o país por meio de
fogueiras acesas no cimo das montanhas. Como as festividades da lua
nova eram comuns entre os pagãos, é provável que um propósito
importante da instituição delas em Israel era o de dar às mentes daquele
povo uma orientação melhor; e supondo-se que este fosse um dos objetos
propostos, se explicará por que um dos bodes era devotado a Jeová
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 103
(Nm_28:15), e não à lua, como se fazia entre os egípcios e sírios. O
sábado e a lua nova se mencionam frequentemente juntos.
16-25. No primeiro mês, aos catorze dias do mês, é a Páscoa —
A lei para esta grande festa anual já tinha sido dada (Lv_23:5), mas aqui
se introduzem alguns detalhes, pois certas ofertas especificadas são
prescritas para serem feitas em cada um dos sete dias dos pães asmos.
26, 27. no dia das primícias … oferecereis ao SENHOR por
holocausto — Um sacrifício novo se manda aqui para a celebração desta
festa, além da outra oferta, que tinha que acompanhar os primeiros
frutos. (Lv_23:18).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 104
Números 29

Vv. 1-40. A OFERTA NA FESTA DE TROMBETAS.


1. sétimo mês — do ano eclesiástico, mas o primeiro do ano civil,
correspondente a nosso setembro. Era, com efeito, o Dia de Ano Novo, o
qual se celebrava entre os hebreus e outras nações contemporâneas com
grande festividade e alegria, e era introduzido com um som de trombetas.
Tinha esta ordenança por objetivo o dar um caráter religioso à ocasião
associando-a com observâncias solenes. (cf. Êx_12:2; Lv_23:24).
ser-vos-á dia do sonido de trombetas — Isto era um preparativo
solene para as festas sagradas, maior número das quais celebravam-se
neste mês que em alguma outra estação do ano. Embora a instituição
desta festa foi descrita antes, aqui há mais particularidade quanto ao que
tinha que compreender a oferta queimada, e, além disso, prescreve-se
uma oferta pelo pecado. As ofertas especiais, assinaladas por certos dias,
não teriam que impedir as ofertas geralmente requeridas nestes dias,
porque no v. 6. diz-se que as ofertas diárias, como também as do
primeiro dia do mês, teriam que verificar-se em seu curso ordinário.
7-11. No dia dez deste sétimo mês, tereis santa convocação —
Este era o grande dia da expiação. Sua instituição com a observância à
qual aquele dia era dedicado, já foi descrita (Lv_16:29-30). Mas ofertas
adicionais parece que são indicadas; quer dizer, o grande sacrifício de
animais para uma expiação geral, o qual era “aroma de suavidade” ao
Senhor, e a oferta pelos pecados que se misturassem com os serviços do
dia. As prescrições nesta passagem parecem suplementares da declaração
anterior em Levítico.
12-34. Aos quinze dias do sétimo mês — devia celebrar-se a festa
dos tabernáculos. (Veja-se Lv_23:34-35). A festa devia durar sete dias, o
primeiro e o último dos quais deviam guardar como sábados, e uma
oferta particular se prescrevia para cada dia, cujos detalhes são dados
com uma clareza adaptada ao estado infantil da igreja. Duas coisas
merecem notar-se: primeiro, que esta festa se distinguia por uma
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 105
quantidade maior e mais variada de sacrifícios que qualquer outra festa,
em parte, porque, caindo no fim do ano, poderia ter o propósito de suprir
algumas deficiências passadas; em parte, porque imediatamente depois
da colheita de frutos, deveria haver um reconhecimento liberal; e em
parte, talvez, porque Deus considerava a fraqueza do homem; quem
naturalmente se cansava tanto do gasto como do trabalho de tais
serviços, quando se continuam longamente, e os fazia cada dia menos
trabalhosos e menos custosos (Patrick). Em segundo lugar, se notará que
os sacrifícios variavam em razão progressiva de decréscimo cada dia.
18. segundo o estatuto — segundo a ordem do ritual assinalado por
autoridade divina: a das ofertas de comestíveis (Nm_28:2-10), e de
ofertas de bebidas. (Veja-se Nm_28:7, 14).
35-40. No oitavo dia, tereis reunião solene — A festa dos
tabernáculos chegava a seu fim no oitavo dia, o qual era o grande dia.
(Jo_7:37). Além dos sacrifícios de rotina comum, havia ofertas especiais
assinaladas para esse dia, embora estas fossem menos que em qualquer
dos dias anteriores; e havia também, como era natural naquela ocasião,
quando imensas multidões se reuniam para solenes fins religiosos,
muitas doações e serviços espontâneos, de sorte que havia carta branca
para o exercício de um espírito devoto no povo, tanto para sua
obediência quanto às ofertas estabelecidas por lei como para a
apresentação das que se faziam voluntariamente ou por consequência de
votos.
39. Estas coisas oferecereis ao SENHOR nas vossas festas fixas
— Pelas declarações feitas neste capítulo e no anterior, aparece que as
ofertas anuais feitas perante o altar às custas públicas, sem levar em
conta o número imenso de votos voluntários e ofertas pelo pecado,
calculavam-se nas cifras seguintes: bodes, 15; cabritos, 21; carneiros, 72;
bois, 132; cordeiros, 1.101; soma total de animais sacrificados às custas
públicas, 1.241. Isto, naturalmente, excluindo o número prodigioso de
cordeiros sacrificados na páscoa, o qual, em tempos posteriores, segundo
Josefo, chegavam num só ano ao número imenso de 255.600.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 106
Números 30

Vv. 1-16. INVIOLABILIDADE DOS VOTOS.


2. Esta é a palavra que o SENHOR ordenou — O tema deste
capítulo tem que ver com o ato de fazer votos, que parece ser um uso
antigo, que a lei permitiu que permanecesse e por meio do qual algumas
pessoas declaravam sua intenção de oferecer algum dom sobre o altar, ou
de se abster de certos artigos de comida ou bebida, ou de observar algum
jejum particular, ou de fazer algo para a honra ou o serviço de Deus,
sobre o que era exigido pela autoridade da lei. Em Nm_29:39 se fez
menção “dos vossos votos e das vossas ofertas voluntárias”, e é
provável, pela natureza explicativa das regras assentadas neste capítulo,
que estas fossem dadas para tirar dúvida e dificuldades que tivessem
sentido pessoas escrupulosas a respeito de sua obrigação de cumprir seus
votos em certas circunstâncias que se tinham apresentado.
2. Quando um homem fizer voto ao SENHOR — Um mero
propósito secreto da mente não era suficiente para constituir um voto;
tinha que expressar-se realmente em palavras; e ainda que fosse um ato
voluntário, entretanto uma vez feito, o cumprimento dele, como o de
todas as demais promessas, vinha a ser um dever indispensável; ainda
mais, referindo-se a coisas sagradas, não podia ser descuidado sem culpa
de prevaricação e infidelidade a Deus.
não violará a sua palavra — lit., “profanará” sua palavra, i. e.,
torná-la vã e desprezível. (Sl_55:20; Sl_89:34). Mas como sucederia
frequentemente que havia pessoas que fizessem voto de fazer coisas, que
não eram boas em si mesmas nem estava no poder de a pessoa cumprir, a
lei ordenava que seus naturais superiores exercessem o direito de julgar
quanto à conveniência destes votos, com poder de sancionar ou impedir
seu cumprimento. Os pais tinham que resolver no caso de seu filhos, e os
maridos no caso de suas esposas; dando-se os entretanto, só um dia para
a deliberação uma vez que o assunto chegasse a seu conhecimento, e seu
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 107
julgamento, se fosse adverso, livrava de toda obrigação ao que tinha feito
o voto [Nm_30:3-8].
3. Quando, porém, uma mulher fizer voto ao SENHOR ...
estando em casa de seu pai, na sua mocidade — especifica-se só às
meninas; mas os menores de idade do outro sexo, que residiam sob o teto
paterno, estavam incluídos, segundo os escritores judeus, os quais
também consideram que o nome “pai” incluía todos os tutores de jovens,
e nos dizem que a idade, em que pessoas jovens eram consideradas como
capazes de fazer voto, era 13 anos para os varões e 12 para as mulheres.
O juízo de um pai ou tutor tinha que dar-se ou por aprovação expressa ou
pelo silêncio, o qual se interpretava como aprobatório. Mas no caso de
um marido, quem, depois de ficar calado dia a dia, finalmente
desaprovasse ou impedisse o voto de sua esposa, o pecado de
descumprimento tinha que ser imputado a ele e não a ela [Nm_30:15].
9. No tocante ao voto da viúva — No caso de uma mulher casada,
quem, em caso de separação de seu marido ou da morte dele, voltava,
como era o costume comum, à casa de seu pai, poderia suscitar uma
dúvida quanto a se ela não estaria sujeita como antes, à jurisdição
paterna, e obrigada a agir com o consentimento paternal. A lei ordenava
que o voto era obrigatório, se tinha sido feito em vida do marido, e se
ele, ao ter conhecimento de tal voto, não havia interposto seu veto
[Nm_30:10-11]; como, por exemplo, ela poderia ter feito voto, quando
ainda não era viúva, de destinar uma proporção de suas entradas em usos
piedosos e caridosos, pelo que poderia arrepender-se quando chegasse a
ser viúva; mas por este estatuto ela estava obrigada a cumprir o
compromisso, contanto que suas circunstâncias lhe permitissem redimir
sua promessa. As regras assentadas devem ter sido extremamente úteis
para evitar e cancelar votos precipitados, como também para dar uma
sanção devida àqueles que eram legítimos em sua natureza, e feitos num
espírito em sua natureza, e feitos num espírito devoto e bem pensados.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 108
Números 31

Vv. 1-54. OS MIDIANITAS DESPOJADOS E BALAÃO


MORTO.
1, 2. Disse o SENHOR a Moisés: Vinga os filhos de Israel dos
midianitas — um povo nômade, descendente de Abraão e Quetura, que
ocupava uma extensão de território a leste e a sudeste de Moabe, que
estava sobre a costa oriental do Mar Morto. Os midianitas parecem ter
sido os instigadores principais do infame plano de enredar os israelitas
no duplo crime de idolatria e dissolução [Nm_25:1-3, 17-18], pelo qual
se esperava que o Senhor retiraria de Seu povo o benefício da proteção e
o favor divinos. Além disso, os midianitas se tornaram especialmente
aborrecíveis entrando numa aliança hostil com os amorreus. (Js_13:21).
Os moabitas nesta ocasião foram perdoados em consideração a Ló
(Dt_2:9), e porque não estava ainda cheia a medida de suas iniquidades.
Deus falou de fazer vingança pelos “filhos de Israel”; Moisés falou de
fazer “a vingança do SENHOR”, visto que se tinha feito desonra a Deus
e um dano se infligiu sobre o Seu povo. Os interesses são idênticos. Deus
e Seu povo têm a mesma causa, os mesmos amigos e os mesmos
opositores. Esta, na verdade, foi uma guerra religiosa, empreendida pelo
mandado rápido de Deus contra os idólatras, aqueles que tinha seduzido
os israelitas a praticarem suas abominações.
3. Armai alguns de vós para a guerra — Esta ordem foi dada
muito pouco tempo antes da morte de Moisés. O anúncio deste próximo
acontecimento [Nm_31:2] feito a ele, parece ter acelerado seus
preparativos de guerra, em vez de retardá-los.
5. Assim, foram dados (RC) — i. e., recrutados, escolhidos um
número igual de cada tribo, para evitar o estalo de ciúme e contendas
mútuos. À vista da força numérica do inimigo, este contingente parece
pequeno. Mas o propósito era o de exercitar a fé deles, e animá-los para
a próxima invasão de Canaã.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 109
6. Mandou-os Moisés à guerra … a Fineias — Ainda que não se
mencione expressamente, é extremamente provável que Josué fosse o
general que dirigiu a guerra. A presença do sacerdote, quem sempre
estava com o exército (Dt_20:2), era necessária para presidir aos levitas,
que acompanharam a expedição, e para animar os combatentes por seus
serviços sagrados e seus conselhos.
os utensílios sagrados — Como nem a arca nem o Urim e o
Tumim eram levados ao campo de batalha, mas em um período posterior
da história de Israel, os “utensílios sagrados” devem ter sido as
“trombetas” (Nm_10:9). E esta opinião está de acordo com o texto, o “e”
na frase “e as trombetas” (TB) muda-se o “e” em “até”, como se traduz
frequentemente o particípio hebreu. [A RA traz: “os utensílios sagrados,
a saber, as trombetas”).
7. mataram todos os homens (TB) — Isto estava de acordo com
um mandado divino em todos os casos semelhantes (Dt_20:13). Mas a
destruição parece ter sido só parcial, limitada aos que estavam na
vizinhança do acampamento hebreu, e que tinham sido cúmplices no
ímpio complô de Baal-Peor (Nm_25:1-3), enquanto uma boa porção dos
midianitas estavam ausentes em suas viagens pastoris, ou se tinham
salvado fugindo. (cf. Jz_6:1).
8. reis de Midiã — assim chamados, porque cada um possuía poder
absoluto em sua própria cidade ou distrito, chamados também duques ou
príncipes de Seom (Js_13:21), tendo estado sujeitos àquele governante
amorreu, como não é raro no Oriente achar um número de governadores
tributários de um rei grande.
Zur — pai de Cosbi. (Nm_25:15).
Balaão, filho de Beor, mataram à espada — Este homem sem
princípios morais, ao ser despedido por Balaque, saiu para sua casa na
Mesopotâmia (Nm_24:25). Mas, desviando-se de seu caminho para
intrometer-se com os midianitas, ficou entre eles, sem seguir sua viagem,
para incitá-los contra Israel, e para olhar os efeitos de seu ímpio
conselho; ou, sabendo em seu próprio país que os israelitas tinham caído
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 110
na armadilha que ele tinha preparado, e não duvidava que os levaria a
ruína, sob o impulso de sua avareza insaciável, tinha voltado para exigir
sua recompensa dos midianitas. Ele foi objeto de uma vingança
merecida. Na imensa matança do povo midianita, na captura de suas
mulheres, meninos e propriedades, na destruição de todos os seus lugares
de refúgio, caiu pesadamente sobre aquela raça baixa e corrupta a
severidade de um Deus justo. Mas mais que ninguém, Balaão mereceu e
recebeu a justa recompensa de suas obras. Sua conduta tinha sido
atrozmente pecaminosa, visto que possuía conhecimento da vontade de
Deus e tinha recebido revelações dEle. Que alguém nas mesmas
circunstâncias tentasse frustrar as profecias das quais ele tinha sido o
órgão em pronunciar, e conspirasse para privar ao povo escolhido do
favor é uma desesperada maldade que nenhuma linguagem pode
adequadamente expressar.
13. Moisés, e Eleazar, o sacerdote … saíram a recebê-los fora do
arraial — em parte como sinal de respeito e felicitação por sua vitória;
em parte, para ver como tinham executado a ordem do Senhor; e em
parte, para evitar a contaminação do acampamento pela entrada de
guerreiros manchados de sangue.
14-18. Indignou-se Moisés contra os oficiais do exército — O
desagrado do grande dirigente, embora pareça uma explosão de um
gênio feroz e sanguinário, resultou na realidade de uma consideração
piedosa e inteligente quanto aos melhores interesses de Israel. Não se
tinha dado nenhuma ordem para a matança das mulheres, e nas guerras
antigas elas eram usualmente reservadas como escravas. Mas por sua
conduta anterior, entretanto, as mulheres midianitas tinham perdido todo
título a um tratamento indulgente e misericordioso; e o caráter sagrado e
o objetivo rápido da guerra (Nm_31:2, 3), tornou necessária a sua
matança sem uma ordem especial. Mas por que matar a “dentre as
crianças, todas as do sexo masculino”? Este guerra foi projetada como
guerra de extermínio, tal como Deus tinha mandado sobre o povo de
Canaã, os quais igualavam os midianitas na enormidade de sua maldade.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 111
19-24. Acampai-vos sete dias fora do arraial ... vos purificareis,
tanto vós como os vossos cativos — Embora os israelitas tivessem
empreendido a campanha em obediência à ordem de Deus, se
contaminaram pelo contato com os mortos. Tinha que efetuar um
processo de purificação, como a lei exigia (Lv_15:13; Nm_19:9-12), e
esta purificação se estendia até incluir vestidos, casas, tendas, e tudo
aquilo sobre que tinha estado um cadáver, e o que tinha sido tocado pelas
mãos manchadas de sangue dos guerreiros israelitas, ou que tinha sido
propriedade de idólatras. Esta deve ter sido uma ordenança permanente
para sempre. (Lv_6:28; Lv_11:33; Lv_15:12).
25-39. Faze a contagem da presa que foi tomada — i. e., dos
homens cativos e do gado, os que, tendo sido capturados, segundo uso
antigo (Êx_15:9; Jz_5:30), foram divididos em duas partes iguais: uma
parte para o povo em geral, o qual tinha sofrido um dano comum de
parte dos midianitas, desse povo todos estavam sujeitos ao serviço
militar; e a outra parte para os combatentes, aqueles que tendo
confrontado as tristezas e os perigos de guerra, com justiça receberam a
maior parte. De ambas as partes, entretanto, foi tomada certa quantidade
para o santuário como oferta de gratidão a Deus pela preservação e pela
vitória. Os soldados levaram a grande vantagem na partilha; porque uma
quingentésima parte da metade deles foi destinada aos sacerdotes,
enquanto que uma quinquagésima parte da metade correspondente à
congregação foi dada aos levitas.
32. Foi a presa, restante do despojo que tomaram os homens de
guerra — Como alguns dos cativos tinham morrido (v. 17), e uma parte
do gado tomada para a manutenção do exército, a soma total da presa
restante foi como na proporção seguinte: Ovelhas, 675.000 — a metade
aos soldados, 337.500, deduzidas para Deus, 675; a metade à
congregação — 337.500 deduzidas para os levitas 6.750. Bois, 72.000 —
a metade aos soldados, 36.000; deduzidos para Deus, 72; a metade à
congregação, 36.000; deduzidos para os levitas, 720. Asnos, 61.000 — a
metade aos soldados, 30.500; deduzidos para Deus, 61; a metade para a
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 112
congregação, 30.500; deduzidos para os levitas, 610. Pessoas, 32.000 —
a metade para os soldados, 16.000; deduzidos para Deus, 32; a metade
para a congregação, 16.000; deduzidos aos levitas, 320.
Pr Total Meta Ded Metade Dedu
esas Quantidade de aos uzidos a para zidos aos
soldados Deus Congregação Levitas
O 675.0 337. 67 337.5 6.75
velhas 00 500 5 00 0
B 72 720
ois 72.000 36.000 36.000
A 61 610
snos 61.000 30.500 30.500
P 32 320
essoas 32.000 16.000 16.000

48-54. e lhe disseram: Teus servos fizeram a conta dos homens


de guerra que estiveram sob as nossas ordens, e nenhum falta dentre
eles e nós — Uma vitória tão assinalada, e a glória da qual não foi
empanada, pela perda de um só soldado israelita, foi um milagre
surpreendente, e tão claramente indicava a interposição direta do céu,
que bem poderia despertar os sentimentos mais vivos de reconhecimento
agradecido a Deus (Sl_44:2-3). A oblação que trouxeram para o Senhor,
era em parte uma expiação, ou reparação por seu erro (vv. 14-16),
porque não podia possuir algum valor expiatório, e em parte como
tributo de gratidão pelo estupendo serviço a eles rendido por Deus.
Consistia nos “despojos”, o qual, sendo aquisição por valentia
individual, não foi dividido pela “presa”, ou gado, pois cada soldado o
retinha em lugar de pagamento; foi ofertado só pelos capitães, cujos
sentimentos piedosos se manifestaram pela dedicação do despojo que
lhes tocava. Havia joias cuja soma total era de 16.750 siclos, equivalente
a 87.869 libras esterlinas.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 113
Números 32

Vv. 1-42. OS RUBENITAS E GADITAS PEDEM HERANÇA.


1. a terra de Jazer e a terra de Gileade — Foi feita uma conquista
completa do território a leste do Jordão, compreendendo a “terra de
Jazer”, que formava o distrito setentrional entre o Arnom e o Jaboque; a
“terra de Gileade”, a região do meio entre o Jaboque e o Jarmuque, ou
Hicomax, incluindo Basã, situada a norte desse rio. Toda esta região
chama-se agora, a Belka. Sempre foi famosa por seus pastos férteis e
extensos, e ainda é hoje lugar preferido pelos pastores beduínos, aqueles
que frequentemente lutam para conseguir para seus imensos rebanhos o
benefício da vegetação abundante. No acampamento do Israel antigo,
Rúben e Gade eram preeminentemente pastoris; e como estas duas
tribos, postas sob o mesmo estandarte, tinham frequentes oportunidades
para conversar e resolver seus assuntos comuns, uniram-se para
apresentar uma petição de que a região transjordânica, tão bem adaptada
aos costumes de um povo pastoril, foi a eles destinada.
6-15. Moisés disse ao filhos de Gade e aos filhos de Rúben: Irão
vossos irmãos à guerra, e ficareis vós aqui? — A linguagem deles era
ambígua, e Moisés, suspeitando que esta proposta deles fosse um ato de
incredulidade, um plano de política egoísta e indolência para escapar dos
perigos de guerra e para viver em tranquilidade e segurança, dirigiu-lhes
uma repreensão de censura e paixão. Seja que eles na realidade tivessem
meditado em semelhante retiro de toda participação na guerra de
invasão, ou seja que o efeito da repreensão de seu dirigente fosse o de
afastar os de seu propósito original, eles agora, em resposta à sua ardente
súplica, declararam que era sua sincera intenção cooperar com seus
irmãos; mas, em tal caso, eles deveriam ter-se expresso mais
explicitamente na primeira instância.
16. se chegaram a ele e disseram — O relato dá uma descrição
pitoresca da cena. Os peticionários se retraíram, temendo, pelas emoções
tão evidentes de seu dirigente, que sua petição fosse rejeitada. Mas
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 114
dando-se conta, pelo teor de suas palavras, de que sua negativa não se
fundava senão na hipótese de que eles não cruzariam o Jordão para
ajudar a seus irmãos, sentiram-se encorajados para chegar-se a ele com
seguranças de sua boa vontade.
Edificaremos currais aqui para o nosso gado e cidades para as
nossas crianças — i. e., reedificaremos, ou repararemos. Teria sido
impossível dentro de dois meses fundar novas cidades, ou até reconstruir
as que tinham sido derrubadas. As dos amorreus não foram
completamente demolidas, e consistiam com toda probabilidade, em
paredes de tijolos crus ou pedras sem mescla.
17. nossos meninos ficam em cidades fortificadas por causa dos
habitantes do país — Havia bastante prudência em deixar forças
suficientes para proteger a região conquistada, em caso de que o inimigo
tentasse tomar represálias; e como só 40.000 dos rubenitas e gaditas, e a
metade da tribo de Manassés passaram o Jordão (Js_4:13), foram
deixados para a segurança das novas posses 70.580 homens, além de
mulheres e meninos de menos de vinte anos (cf. Nm_26:17, 18, 34).
nós nos armaremos, apressando-nos — i. e., todos num corpo
coletivo, ou tantos quanto se podem crer necessários, enquanto que o
resto de nós, ficará atrás para prover o sustento e a proteção de nossas
famílias e nossos rebanhos (Veja-se Js_4:12).
20-33. Então, Moisés lhes disse: Se isto fizerdes assim — com
sinceridade e zelo.
para a guerra perante o SENHOR — A frase foi usada em alusão
à ordem da parte na qual as tribos de Rúben e Gade precediam
imediatamente à arca (Veja-se Nm_2:10-31) ou ao cruzamento do
Jordão, ocasião em que a arca ficou no meio do rio, enquanto todas as
tribos passavam em sucessão (Js_3:4), naturalmente inclusive as de
Rúben e Gade, de modo que literalmente eles iam “perante o Senhor” e
antes do resto de Israel (Js_4:13). Entretanto, a frase se usa somente num
sentido general para indicar que eles partiam numa expedição, o
propósito da qual era abençoado com a presença, e destinada a promover
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 115
a glória de Deus. O desagrado que Moisés tinha sentido à primeira
menção da proposta deles, tinha desaparecido devido à força das solenes
seguranças que eles lhe ofereceram. Mas uma suspeita secreta parece ter
ficado em sua mente, pois continuava lhes falando num tom de
admoestação; e concluiu lhes advertindo que em caso de que faltassem
em cumprir sua promessa, os juízos de um Deus ofendido cairiam sobre
eles. Esta advertência enfática contra tal eventualidade, lança uma forte
dúvida sobre a sinceridade de suas primeiras intenções; e, entretanto,
quer pela atitude opositora ou pelas invectivas fortes de Moisés, eles
tinham sido trazidos a um estado de mente melhor; sua resposta final
mostrava que agora tudo estava bem.
28-32. Moisés deu ordem a respeito deles a Eleazar, o sacerdote
— O próprio arranjo como também os termos rápidos sobre os quais ele
tinha dado seu assentimento, foi anunciado às autoridades públicas. — i.
e., a região pastoril que as duas tribos tinham desejado, lhes devia ser
concedida sob a condição de que eles prestassem sua ajuda a seus irmãos
na próxima invasão de Canaã. Se eles recusassem, ou deixassem de
cumprir sua promessa, perderiam aquelas posses, e eles mesmos seriam
obrigados a cruzar o Jordão, e lutar por um lugar como outros irmãos
deles.
33. meia tribo de Manassés — Em nenhuma parte do relato está
explicado como foram eles incorporados com as duas tribos, e o que foi
o que rompeu esta grande tribo em duas partes, das quais alguém ficava
para seguir as aventuras de seus irmãos na vida estável das colinas
ocidentais, enquanto à outra foi permitido andar como uma tribo nômade
nas terras pastoris de Gileade e Basã. Eles não se mencionam
acompanhando a Rúben e Gade em sua petição a Moisés [Nm_32:1],
nem tampouco foram incluídos nas primeiras orientações deste
(Nm_32:25); mas como eles também eram um povo viciado nas
ocupações pastoris, e possuidores de imensos rebanhos como as outras
duas tribos, Moisés convidou a metade deles a ficar, provavelmente por
ter achado que esta região era mais que suficiente para as necessidades
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 116
pastoris dos outros, e lhes deu a preferência, como alguns sugeriram, por
sua conduta valente nas contendas com os amorreus (cf. v. 39, com
Js_17:1).
34-36. os filhos de Gade edificaram — (veja-se v. 16).
Dibom — identificada com Dheban, agora em ruínas, a distância de
uma hora do Arnom (Mojeb).
Atarote — heb. coroa. Havia várias cidades assim chamadas nas
Escrituras, mas esta na tribo de Gade não foi identificada.
Aroer — agora Arair, estava sobre um precipício na ribeira norte
do Arnom.
35-38. Atarote-Sofã — (Js_13:27).
Jazer — perto da famosa fonte, Ain Hazier, as águas da qual
desembocam no Wadi Schaib, cerca de 24 quilômetros de Hesbom.
Bete-Ninra — agora Ninrim;
Hesbom — agora Hesban;
Eleale (a alta) — agora Elaal; Quiriataim (a cidade em dobro);
Nebo — agora Neba, perto da montanha do mesmo nome;
Baal-Meom — agora Myun, em ruínas, onde havia um templo de
Baal (Js_13:17; Jr_48:23);
Sibma, ou Sebã (Nm_32:3), perto de Hesbom, famosa por seus
vinhos (Is_16:9-10; Jr_48:32).
38. mudando-lhes o nome — ou porque era o costume geral dos
conquistadores fazer assim; ou antes, porque pela proibição de
mencionar os nomes de outros deuses (Êx_23:13), como o eram Nebo e
Baal, era conveniente no primeiro estabelecimento dos israelitas apagar
todo lembrança daqueles ídolos. (Veja-se Js_13:17-20).
39. Gileade — hoje, Jelud.
41. Havote-Jair — i. e., aldeias de tendas. Jair, quem a tomou, era
descendente de Manassés da parte de mãe (1Cr_1:21-22).
42. Noba — também pessoa distinguida pertencente à parte oriental
desta tribo de Manassés.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 117
Números 33

Vv. 1-15. QUARENTA E DUAS JORNADAS DOS ISRAELITAS,


DO EGITO AO SINAI.
1. Estas são as jornadas dos filhos de Israel (TB) — Pode se dizer
que este capítulo forma um resumo das viagens de Israel pelo deserto;
porque os três capítulos seguintes se referem a assuntos relacionados
com a ocupação e divisão da terra prometida. Como se descobrirão
várias discrepâncias aparentes ao cotejar os relatos dados aqui das
viagens a partir do Sinai, com os relatos detalhados de acontecimentos
no livro de Êxodo, e com as menções ocasionais de lugares no livro de
Deuteronômio, é provável que este itinerário compreenda uma lista de
somente as etapas mais importantes de suas viagens, aquelas onde
faziam acampamentos prolongados e de onde levavam os seus rebanhos
e manadas a pastar nas planícies próximas até esgotar o pasto. A lista
inclui suas marchas desde sua saída do Egito até sua chegada às planícies
de Moabe.
saíram ... segundo os seus exércitos — i. e., uma imensa multidão
formada em companhias separadas, mas em ordem completa.
2. Escreveu Moisés as suas saídas, caminhada após caminhada,
conforme o mandado do SENHOR — A sabedoria desta ordem divina
se vê na importância do fim ao qual estava subordinada—quer dizer, em
parte para estabelecer a verdade da história, em parte para conservar uma
lembrança das maravilhosas intervenções de Deus a favor de Israel, e em
parte para confirmar a fé deles nas perspectivas da difícil empresa à qual
estavam por entrar, a invasão de Canaã.
3. Ramessés — geralmente identificada com Heroópolis, agora a
moderna Abu-Keisheid (Veja-se Êx_12:3), a qual era provavelmente a
capital de Gósen, e, por ordem de Moisés, o lugar para assembleia geral
antes de sua saída.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 118
4. contra os deuses — usado segundo a fraseologia bíblica ou para
indicar seus governantes, os primogênitos do rei e seus príncipes, ou os
objetos idolátricos do culto egípcio.
5. acamparam-se em Sucote — i. e., cabanas, lugar sem
importância exceto como etapa temporária, no Birketel-Hadji, o Lago
dos Peregrinos (Calmet).
6. Etã — borda ou fronteira de toda aquela parte da Arábia Pétrea
que está próxima ao Egito, e era conhecido sob o nome geral do Sur.
7. Pi-Hairote, Baal-Zefom, Migdol — (veja-se Êx_14:1-4).
8. Mara — Crê-se que seja Ain Howarah, tanto por sua posição
como pelo tempo (três dias) que necessitariam para partir com seus
meninos e rebanhos das águas Ayun Musa até aquele lugar.
9. Elim — supõe-se que seja o Wady Ghurundel (veja-se Êx_15:27).
10. acamparam-se junto ao mar Vermelho — O caminho do
Wady Ghurundel conduz ao interior, devido a uma alta colina contínua
que exclui toda vista do mar. À boca do Wady-et-Tayibeh, depois de
uma marcha cerca de três dias, abre-se novamente sobre uma planície ao
longo da margem do mar Vermelho. A exatidão detalhada do relato
bíblico, em corresponder tão precisamente com os acidentes geográficos
desta região, se vê notavelmente ao relatar-se como os israelitas
avançavam pela única rota viável. Esta planície onde faziam
acampamento, era o deserto de Sim (veja-se Êx_16:1).
12-14. Dofca, Alus, Refidim — Estas três etapas, nos grandes vales
do Sheikh e Feiran, equivaleriam a quatro jornadas para semelhante
multidão. Refidim (Êx_17:6) era em Horebe, a região queimada, nome
genérico para uma terra cálida e montanhosa [Veja-se Êx_17:1].
15. deserto do Sinai — O Wady Er-Raheh.

Vv. 16-56. DO SINAI A CADES E AS PLANÍCIES DE MOABE.


16-37. Quibrote-Hataavá (“as sepulturas de lascívia”, veja-se
Nm_11:4-34) — A rota, ao levantar o acampamento no Sinai, seguia
pelo Wady Sheikh, então cruzando o Jebel-et-Tih, que entrecortava a
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 119
península; eles baixaram pelo Wady Zalaka, fazendo acampamento
sucessivamente em dois breves, mas memoráveis etapas (Dt_9:22), e se
estabeleceram em Hazerote (aldeias sem muralhas), que se supõe que
seja Ain-Hadera (Nm_11:35). Cades, ou Cades-Barneia que se supõe
seja o grande vale do Ghor, e que a cidade de Cades tenha estado no
bordo deste vale. (Burckhardt, Robinson). Mas como não há menos de
dez e oito etapas intercaladas entre Hazerote e Cades, e só se gastaram
onze dias para fazer aquela viagem (Dt_1:2), é evidente que as etapas
intermédias aqui mencionadas pertencem a outra visita totalmente
diferente de Cades. A primeira vez foi quando saíram do Sinai no
segundo mês (Nm_1-1; Dt_13:20; Dt_1:45), e “estiveram por muitos
dias”, e quando murmuraram contra o relatório dos espiões, receberam a
ordem de voltar ao deserto “a caminho do Mar Vermelho”. A chegada a
Cades, mencionada neste catálogo, corresponde à segunda estada
naquele lugar, sendo o primeiro mês, ou abril (Nm_20:1). Entre as duas
visitas houve um período de trinta e oito anos, durante os quais eles
vagaram de um lugar a outro por toda a região de El-Tih (andanças),
retornando com frequência ao mesmo lugar conforme requeriam as
necessidades de seus rebanhos; e há boa razão para crer que as estações
mencionadas entre Hazerote (Nm_33:8) e Cades (Nm_33:36), pertencem
ao longo intervalo de ociosidade. Nenhuma certeza se teve ainda a
respeito das localizações de muitas destas etapas, e deve ter havido mais
das que se mencionam; porque é provável que só se mencionem aquelas
onde ficavam algum tempo, onde se levantava o tabernáculo, e onde
Moisés e os anciãos estabeleceram seu acampamento, enquanto que o
povo se separava em busca de pasto. De Eziom-Geber, por exemplo, que
estava à cabeça do golfo de Acaba, a Cades, não seria muito menos que
todo o grande vale de Ghor, uma distância de não menos de 161
quilômetros, seja qual for a localização exata de Cades; e, naturalmente,
teria havido várias etapas intermédias, embora nenhuma tenha sido
mencionada. Os incidentes e as etapas do resto da viagem até as
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 120
planícies de Moabe estão suficientemente explícitos nos capítulos
anteriores.
18. Ritma — o lugar da vassoura, uma estação provavelmente em
algum wadi que se estendia rumo ao oeste de Ghor.
19. Rimom-Peres — ou Rimom, cidade de Judá e Simeão
(Js_15:32).
20. Libna — assim chamada por seus álamos manetas (Js_10:29),
ou, como creem alguns, pelas colinas brancas entre Cades e Gaza
(Js_10:29).
22. Rissa — (El-arish), monte Sefer (Cassio), Moserote, perto do
monte Hor, no Wady Musa. Eziom-Geber, perto de Ácaba, porto na
costa ocidental do golfo Elanítico; o deserto de Zim, do lado oriental da
península de Sinai; Funon, nas quebradas rochosas de Monte Hor, e
famosa pelas minas e pedreiras nas cercanias, como também por suas
árvores frutíferas, agora Tafyla, no bordo de Edom. Abarim, uma cadeia
de montes toscos, a noroeste do Arnom; uma parte chamada Nebo era
um de seus picos mais altos, diante de Jericó. (Veja-se Dt_10:6).
50-53. desapossareis de diante de vós todos os moradores da
terra — não, entretanto, por expulsão, mas por extirpação (Dt_7:1).
destruireis todas as pedras com figura — obeliscos para o culto
idolátrico (veja-se Lv_26:1).
todas as suas imagens fundidas — por metonímia por todos os
seus bosques e altares e materiais de culto nas cimos dos montes.
54. herdareis a terra por sortes — a localização individual de
cada tribo seria determinada desta maneira, enquanto que tinha que usar
uma linha para medir a proporção (Js_18:10; Sl_16:5-6).
55. Porém, se não desapossardes de diante de vós os moradores
da terra — Não se devia formar nenhuma associação com os habitantes;
de outra maneira, se ficavam, “ser-vos-ão como espinhos nos vossos
olhos e como aguilhões nas vossas ilhargas”; quer dizer, que seriam
vizinhos molestos e perigosos, tentando à idolatria, e por conseguinte,
privando-os do favor e da bênção de Deus. O descuido deste conselho
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 121
contra a união com os habitantes idólatras deve ter sido fatal para eles.
Esta séria advertência dada aos israelitas nas circunstâncias peculiares
deles, nos traz uma lição saudável de não permitir que os hábitos
secretos do pecado permaneçam em nós. Aquele inimigo espiritual deve
ser desarraigado de nossa natureza, pois de outra maneira será ruinoso
para nossa paz presente e salvação futura.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 122
Números 34

Vv. 1-29. AS FRONTEIRAS DE CANAÃ.


2. a terra de Canaã, segundo os seus limites — Os detalhes dados
neste capítulo assinalam os limites gerais da herança de Israel a oeste do
Jordão. Os israelitas nunca possuíram realmente todo o território
compreendido dentro destas fronteiras, mesmo quando seus domínios
eram o mais estendidos pelas conquistas de Davi e Salomão.
3-5. A região sul vos será — A linha de demarcação no sul é a
mais difícil de traçar. Segundo os melhores geógrafos bíblicos, os pontos
principais aqui definidos são como seguem: O ângulo sudeste da
fronteira sul deveria estar onde o deserto de Zim toca os termos de
Edom, de modo que esta fronteira sul deveria estender-se rumo ao este
até a extremidade do Mar Morto, rodear a escarpada cadeia de Acrabim
(escorpiões), que se crê é a passagem alto e difícil do Safeh, que cruza o
rio que flui do sul ao Jordão — i. e., o grande vale de Arava, que se
estende do Mar Morto até o Mar Vermelho.
5. ribeiro do Egito — o antigo arroio Sior, o Rinocolura dos
gregos, um pouco ao sul de El-Arish, onde este wadi desce gradualmente
na direção do Mediterrâneo (Js_13:3).
6. vosso limite ocidental — Não há incerteza com relação a esta
fronteira, como universalmente se reconhece como o Mediterrâneo, que
se chama “o mar Grande” em contraste com os pequenos mares ou lagos
de terra adentro conhecidos pelos hebreus.
7-9. o limite do norte — A dificuldade principal em entender a
descrição aqui, provém do que nossos tradutores têm chamado “monte
Hor”. As palavras hebraicas, entretanto, Hor-ha-Hor, querem dizer “a
montanha da montanha” — “a dupla montanha alta”, o que pela
localização não pode significar senão a montanha Amana (Ct_4:8), um
pico das montanhas do Líbano (Js_13:5),
8. entrada de Hamate — A planície setentrional entre aquelas
cadeias de montanhas, hoje o vale do Balbeck (veja-se Nm_13:21-24).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 123
Zedade — identificada como a atual Sudud (Ez_47:15).
9. Zifrom — (aroma suave).
Hazar-Enã — (aldeia de fontes); mas os lugares são
desconhecidos. “Uma linha imaginária do Monte Cassio, na costa ao
longo da base setentrional do Líbano até a entrada a Bakaa (vale do
Líbano) a Kamosa Hermel”, deve considerar-se como a fronteira
indicada. (Van De Velde).
10-12. por limite do lado oriental — Este se define claramente.
Sefam e Ribla, que estavam no vale de Líbano, mencionam-se como a
linha fronteiriça, que começava pouco mais acima das fontes do Jordão.
Supõe-se que Ain seja a origem daquele rio; e dali a fronteira se estendia
ao longo do Jordão, o lago de Quinerete (Lago de Tiberíades ou da
Galileia), o Jordão, e terminava no Mar Morto. Como a linha se traçava a
leste do rio e estes mares, incluía estas águas dentro do território das
tribos ocidentais.
13-15. duas tribos e meia receberam a sua herança deste lado do
Jordão — Os territórios conquistados de Siom e Ogue, localizados entre
o Arnom e o Monte Hermom, foram-lhes designados: o de Rúben na
parte mais meridional, o de Gade ao norte deste, e o da metade de
Manassés na porção mais setentrional.
16-29. nomes dos homens que vos repartirão a terra — Esta
nomeação pelo Senhor antes do cruzamento do Jordão, tendia não só
para animar a fé dos israelitas na certeza da conquista, mas também para
evitar toda disputa e descontentamento posteriores, os que teriam sido
perigosos na presença dos habitantes naturais. Os nomeados eram dez
príncipes para as nove tribos e meia, um deles eleito da metade ocidental
de Manassés, e todos subordinados aos grandes chefes militares e
eclesiásticos, Josué e Eleazar. Os nomes mencionam-se na ordem exata
em que as tribos obtiveram possessão da terra, e segundo suas conexões
fraternais.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 124
Números 35

Vv. 1-5. QUARENTA E OITO CIDADES DADAS AOS


LEVITAS.
2. da herança da sua possessão, deem cidades aos levitas, em
que habitem — Como os levitas não deviam ter nenhum domínio
territorial a eles designado como as outras tribos no conquista de Canaã,
eles deviam ser repartidos pelo país em certas cidades apropriadas para
seu uso; e estas cidades deviam estar rodeadas com exidos extensos. Há
uma discrepância aparente entre os vv. 4 e 5, a respeito da extensão
destes exidos; mas as declarações nos dois versículos se referem a coisas
totalmente diferentes: um à extensão do subúrbio do muro da cidade, e o
outro ao espaço de 2.000 côvados do limite dos subúrbios. De fato, havia
uma extensão de terreno, de 3.000 côvados, medida do muro da cidade.
Mil côvados eram ocupados provavelmente por casas dependentes para
acomodar os pastores e outros serventes, com jardins, vinhas e olivais. E
estes eram proporcionadas a diferentes famílias (1Cr_6:60), e podiam ser
vendidos por um levita a outro, mas não a nenhum indivíduo de outra
tribo (Jr_32:7). Os outros dois mil côvados ficavam como campo comum
para pasto do gado (Lv_25:34), e, considerando o número deles, aquele
espaço seria totalmente necessário.

Vv. 6-8. CIDADES DE REFÚGIO.


6. seis haverá de refúgio, as quais dareis para que, nelas, se
acolha o homicida — O estabelecimento destes santuários privilegiados
entre as cidades dos levitas é provavelmente devido à ideia de que eles
seriam os juízes mais aptos e imparciais; que sua presença e conselho
poderiam acalmar ou refrear as paixões turbulentas do vingador de
sangue, que, por estarem investidos de caráter sagrado, poderiam ser
tipos de Cristo, em quem o pecador acha um refúgio do destruidor (veja-
se Dt_4:43; Js_20:8).
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 125
8. Quanto às cidades que derdes da herança dos filhos de Israel
— O encargo de prover aqueles lugares de residência e sustento da
ordem levítica, devia cair em proporções equitativas, sobre as diferentes
tribos (veja-se Nm_33:54; Js_20:7).

Vv. 9-34. O VINGADOR DE SANGUE.


11. para que, nelas, se acolha o homicida que matar alguém
involuntariamente — A prática de “goel” — i. e., de que o parente mais
próximo do indivíduo assassinado está obrigado a demandar satisfação
ao autor de sua morte, existia desde muito tempo atrás (Gn_4:14;
Gn_27:45). Parece que era um uso já estabelecido no tempo de Moisés: e
embora num estado da sociedade rude e imperfeito, é um princípio
natural e inteligível da jurisprudência criminal, exposto a muitos abusos
grandes; e o principal dos males inseparáveis dele, é o de que o parente,
que está obrigado por dever e honra a executar justiça, frequentemente
seria precipitado, pouco disposto no calor das paixões, ou sob o impulso
da vingança, a examinar as circunstâncias do caso, a distinguir entre o
propósito premeditado do assassino e a desventura do homicida
involuntário. Além disso, tinha uma tendência a alentar um espírito
vingativo, mas no caso de que o “goel” não tivesse êxito em achar a sua
vítima, transmitia animosidade e contendas contra os descendentes de
uma geração para outra. Isto se exemplifica entre os árabes de hoje em
dia. Se um árabe de uma tribo porventura matasse a um de outra tribo, há
“sangre” entre as duas tribos, e a mancha não se pode apagar senão pela
morte de algum indivíduo da tribo na qual teve sua origem a ofensa.
Algumas vezes a pena é comutada pelo pagamento em certo número de
ovelhas ou camelos. Mas ainda que se ofereça tal equivalente,
frequentemente é rejeitado, e o sangue tem que ser pago por sangue. Esta
prática de “goel” existia entre os hebreus em tal medida que talvez não
era conveniente aboli-lo; e Moisés enquanto sancionava sua continuação,
foi ordenado por autoridade divina, a fazer algum regulamento, que
tendesse a evitar as consequências fatais de vinganças precipitadas e
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 126
pessoais, e ao mesmo tempo, para conceder ao acusado tempo e meios
para provar sua inocência. Este era o propósito compassivo e justo
provido na instituição das cidades de refúgio. Tinha que haver seis destes
refúgios legalizados—três a leste do Jordão, tanto porque o território ali
era igual em longitude, ainda que não em largura, a Canaã, e porque
poderia ser mais fácil para alguns achar refúgio ao outro lado da linha.
Foram estabelecidas para benefício não só de israelitas nascidos mas
também de todos os residentes estrangeiros.
16-21. se alguém ferir a outrem com instrumento de ferro, e este
morrer, etc. — Vários casos aqui se enumeram nos quais o “goel” ou
vingador estava com liberdade de tirar a vida ao assassino, e em todos os
casos mostram um propósito premeditado.
22-28. Porém, se o empurrar subitamente, sem inimizade, ou
contra ele lançar algum instrumento, sem mau intento, etc. — Sob a
excitação de uma provocação imprevista, ou paixão violenta, se poderia
infligir uma ferida que produzisse a morte; e para uma pessoa que assim
involuntariamente tivesse cometido assassinato, as cidades levíticas
ofereciam o benefício de uma proteção completa. Tendo chegado a mais
próxima delas, porque uma ou outra estava dentro da viagem de um dia
de todas as partes da terra, estava seguro. Mas tinha que “morar nela”.
Seu encerramento dentro dos muros da cidade era uma regra sábia e
saudável, proposta para mostrar a santidade do sangue humano aos olhos
de Deus, como também para proteger o próprio homicida, cuja presencia
na sociedade poderia ter provocado as paixões dos parentes do morto.
Mas o período de sua liberdade deste encerramento era só até a morte do
sumo sacerdote. Aquela era época de aflição pública, quando as tristezas
e os pesares particulares eram inundados ou dissimulados sob o sentido
da calamidade nacional, e quando a morte de tão eminente servo de Deus
naturalmente os levava a todos a uma séria consideração de sua própria
mortalidade. Entretanto, no momento em que o refugiado violava as
limitações de seu encerramento e se atrevia a sair para além dos limites
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 127
do asilo, perdia direito ao privilégio, e, se fosse descoberto por seu
perseguidor, poderia ser morto com impunidade.
29-34. Estas coisas vos serão por estatuto de direito — A lei do
vingador de sangue, como estabelecida por autoridade divina, foi um
progresso imenso sobre a prática antiga do “goel”. Pelo estabelecimento
de cidades de refúgio, o homicida era salvo, por enquanto, da fúria cega
e impetuosa de parentes vingativos; mas ele poderia ser processado pelo
tribunal local, e, se fosse provado que era culpado por evidência
suficiente, era condenado e castigado como assassino, sem a
possibilidade de livramento por alguma satisfação monetária. O estatuto
de Moisés, o qual foi uma adaptação ao caráter e uso do povo hebreu,
assegurava a dupla vantagem de promover os fins tanto de humanidade
como de justiça.
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 128
Números 36

Vv. 1-13. A DIFICULDADE DA HERANÇA DE FILHAS.


1. os cabeças das casas paternas da família dos filhos de Gileade
— Sendo governadores de tribos em Manassés, eles consultaram a
Moisés sobre um caso que afetava a honra pública e os interesses de sua
tribo. Relacionava-se mais uma vez com as filhas de Zelofeade. Antes,
por iniciativa própria, elas tinham pedido por falta de herdeiros
masculinos em sua família, ser reconhecidas como capacitadas para
herdar a propriedade de seu pai [Nm_27:1-11]; agora a petição foi feita
da parte da tribo a qual elas pertenciam de que se dessem passos para
evitar a alienação de sua propriedade mediante seu aliança com maridos
de outra tribo. Os casamentos sem restrição de filhas em tais
circunstâncias, ameaçavam seriamente afetar a posse de terras em Israel,
pois sua herança passaria a seus filhos, os quais pelo lado do pai
pertenceriam a outra tribo, e assim conduziriam, por uma complicação
de interesses e a confusão de famílias, um mal para o qual até o ano do
Jubileu não poderia oferecer remédio [Veja-se Lv_25:13].
5-12. Então, Moisés deu ordem aos filhos de Israel, segundo o
mandado do SENHOR — A petição pareceu justa e razoável; e, com
efeito, um decreto foi feito pelo qual as filhas de Zelofeade, deixadas em
liberdade para escolher maridos, estavam limitadas a casar-se não só
dentro de sua tribo, mas também dentro da família da tribo de seu pai—i.
e., com alguns de suas primos. Esta limitação entretanto, impunha-se só
às que eram herdeiras. A lei não era aplicável a filhas em circunstâncias
distintas (1Cr_23:22), porque estas podiam se casar dentro de outra tribo;
mas se assim faziam, estavam expostas a perder o direito de sua herança
patrimonial, a qual, por ocasião da morte de seu pai ou seus irmãos, ia
aos parentes mais próximos da família. Aqui havia um caso de legislação
progressiva (veja-se também Êx_18:27) em Israel, pois os decretos feitos
foram sugeridos pelas circunstâncias; mas merece notar-se especialmente
que aqueles acréscimos ou modificações da lei, se limitavam a assuntos
Números (Jamieson, Fausset e Brown) 129
civis; enquanto que a menor mudança era inadmissível nas leis
relacionadas com o culto ou a manutenção da religião.
13. São estes os mandamentos e os juízos que ordenou o
SENHOR, por intermédio de Moisés, aos filhos de Israel nas
campinas de Moabe — O acampamento israelita estava numa planície
alta, a norte de Arnom, e a qual, ainda que tomada dos moabitas por
Siom e Ogue, ainda retinha o nome de seus possuidores originais. O
lugar particular, como se indica pelas palavras “junto ao Jordão, na altura
de Jericó”, agora se chama El-Koura, uma planície grande não longe de
Nebo, entre o Arnom e uma pequena corrente tributária, o Wale.
(Burckhardt). Era planície deserta sobre a margem oriental, e assinalada
só por bosques de acácias silvestres e espinhosas.
DEUTERONÔMIO
Original em inglês:

DEUTERONOMY

The Fifth Book of Moses, Called Deuteronomy

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Deuteronômio 1 Deuteronômio 10 Deuteronômio 19 Deuteronômio 28

Deuteronômio 2 Deuteronômio 11 Deuteronômio 20 Deuteronômio 29

Deuteronômio 3 Deuteronômio 12 Deuteronômio 21 Deuteronômio 30

Deuteronômio 4 Deuteronômio 13 Deuteronômio 22 Deuteronômio 31

Deuteronômio 5 Deuteronômio 14 Deuteronômio 23 Deuteronômio 32

Deuteronômio 6 Deuteronômio 15 Deuteronômio 24 Deuteronômio 33

Deuteronômio 7 Deuteronômio 16 Deuteronômio 25 Deuteronômio 34

Deuteronômio 8 Deuteronômio 17 Deuteronômio 26

Deuteronômio 9 Deuteronômio 18 Deuteronômio 27


Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Deuteronômio 1

Vv. 1-46. DISCURSO DE MOISÉS NO FIM DO


QUADRAGÉSIMO ANO.
1. São estas as palavras que Moisés falou a todo o Israel — Pela
condição mental do povo em geral naquela época de sua formação e pelo
fato de que o maior número serem jovens, era conveniente que fossem
repetidas as leis e os conselhos que Deus lhes tinha dado; e, por
conseguinte, o subministrar uma recapitulação dos temas principais de
sua fé e seus deveres foi um dos últimos serviços públicos que Moisés
prestou a Israel. A cena de sua enunciação foi nas planícies de Moabe,
onde o acampamento estava estabelecido “dalém do Jordão”, ou, como a
palavra hebraica se pode traduzir, “sobre a ribeira do Jordão”.
no deserto, na Arabá — planície deserta ou estepe, que se estendia
por todo o trajeto do Mar Morto até o Mar de Tiberíades. Enquanto que
as altas mesetas de Moabe eram “campos cultivados”, o vale do Jordão,
ao pé das montanhas onde estava acampado Israel, era parte do grande
plano deserto, só pouco mais atraente que o deserto da Arábia. A
localização se indica pelos nomes dos lugares mais proeminentes em seu
redor. Alguns destes lugares nos são desconhecidos. A palavra hebraica
Sufe, vermelho (para mar que nossos tradutores intercalaram, não está
no original, e Moisés agora estava mais longe que nunca do Mar
Vermelho); provavelmente quer dizer um lugar notável por seus ribeiros
(Nm_21:14).
Tofel — identificada como Tafule, ou Tafeilah, localizada entre
Bozra e Kerak.
Hazerote — é lugar distinto daquele em que acamparam os
israelitas depois de deixar o deserto de Sinai.
2. Jornada de onze dias há desde Horebe — Ainda se medem as
distâncias em Oriente pelas horas ou dias ocupados na viagem. Uma
viagem de um dia a pé, será cerca de 32 quilômetros; em camelos, a
razão de 5 quilômetros por hora, 48 quilômetros; e por caravanas, seria
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 3
cerca de 40 quilômetros. Mas os israelitas, com seus meninos e
rebanhos, se moveriam a passo lento. A longitude de Ghor desde Eziom-
Geber a Cades é de 161 quilômetros. Os dias mencionados aqui não são
necessariamente dias sucessivos (Robinson), porque se pode fazer a
viagem num período muito mais curto. Mas esta menção do tempo foi
feita para mostrar que o grande número de anos empregados em viajar de
Horebe às planícies de Moabe, não se deveu à longitude do caminho,
mas sim por causa muito diferente, quer dizer, ao desterro, por sua
apostasia e suas frequentes rebeliões.
montanha de Seir — o país montanhoso de Edom.
3-8. no ano quadragésimo … falou Moisés aos filhos de Israel,
etc. — Este discurso impressionante, no qual Moisés passou em revista
tudo o que Deus tinha feito para o Seu povo, foi pronunciado cerca de
um mês antes de sua morte, e depois que tinham sido restabelecidas a
paz e a tranquilidade pela conquista completa de Seom e Ogue.
4. Astarote — a residência real do Ogue, assim chamada pela
Astarte (a lua), a deusa tutelar dos sírios. Este rei foi morto em
Edrei — agora Edhra, as ruínas da qual têm uma circunferência de
vinte e dois quilômetros e meio (Burckhardt); sua largura geral é de duas
léguas.
5. Além do Jordão, na terra de Moabe, encarregou-se Moisés de
explicar esta lei — declarar, i. e., explicar esta lei. Ele segue o mesmo
método aqui, que tinha observado em outras partes; quer dizer, o de
enumerar primeiro as obras maravilhosas de Deus a favor de seu povo, e
de lhes lembrar o indigno pagamento que eles lhe tinham feito por toda a
Sua bondade, e logo repete a lei e seus distintos preceitos.
6. O SENHOR, nosso Deus, nos falou em Horebe, dizendo:
Tempo bastante haveis estado neste monte — Horebe era o nome
geral de um distrito montanhoso—literalmente “a região secada e
queimada”, enquanto que Sinai era o nome dado a um pico especial
[Veja-se Êx_19:2]. Como tinham passado um ano entre as quebradas
daquela solidão agreste, em lançar os alicerces, sob a direção imediata de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 4
Deus, de uma comunidade nova e peculiar, quanto a seu caráter social,
político, e, sobretudo, religioso; e quando tinham obtido este fim, lhes
mandou levantar o acampamento em Horebe. O mandado que se lhes
deu foi o de partir diretamente a Canaã e possuí-la [Dt_1:7].
7. à região montanhosa dos amorreus — o território montanhoso
próximo a Cades-Barneia, no sul de Canaã.
terra dos cananeus, e ao Líbano — i. e., Fenícia, a terra de Sidom
e a costa do Mediterrâneo, dos filisteus até o Líbano. O nome cananeu se
usa com frequência como sinônimo de fenício.
8. a terra que eu pus diante de vós — lit., perante sua cara, é
acessível; não há obstáculo à sua ocupação. A ordem da viagem como se
indica pelos lugares mencionados, teria levado a um curso de invasão,
oposto ao que finalmente seguiram; quer dizer, da costa do mar rumo ao
este, em lugar do Jordão rumo ao oeste (veja-se Nm_20:1).
9-18. eu vos disse: eu sozinho não poderei levar-vos — um pouco
antes de sua chegada a Horebe. Moisés se dirige à nova geração, como
representativos de seus pais, a cuja vista e ouvido sucederam todos
aqueles eventos. Aqui se faz uma referência à sugestão de Jetro
(Êx_18:18), e ao tomar nota da adoção prática de um plano pelo qual a
administração da justiça era encomendada a um número escolhido de
oficiais subordinados, Moisés, por uma bela referência à bênção
patriarcal, atribuía a necessidade daquela mudança memorável no
governo, ao imenso crescimento da população.
10. sois multidão como as estrelas dos céus — Esta não foi nem
uma hipérbole oriental nem uma vã jactância, porque foi dito a Abraão
(Gn_15:5-6) que olhasse as estrelas, e ainda que pareçam inumeráveis,
entretanto as que são vistas pelo olho humano, não chegam na realidade
a mais de 3.010 em ambos os hemisférios [Nm_26:51]; de modo que os
israelitas já ultrapassavam em muito aquele número, contando-se no
último censo mais de 600.000. Foi uma lembrança oportuna, capaz de
animar sua fé no cumprimento de outras partes da promessa divina.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 5
19-21. caminhamos por todo aquele grande e terrível deserto —
de Parã, que incluía o deserto e o espaço montanhoso entre o deserto do
Sul rumo ao oeste, ou na direção do Egito e o Monte Seir, ou a terra de
Edom rumo ao este; entre a terra de Canaã rumo ao norte, e o Mar
Vermelho rumo ao sul; e assim parece que compreendia na realidade o
deserto de Sim e Sinai (Fisk). É chamado pelos árabes El-Tih, “as
peregrinações”. É páramo melancólico, de rochas e solo calcário coberto
de pederneiras negras. Todos os viajantes, pelo estado de seu completo
isolamento, o descrevem como um deserto grande e terrível.
22-23. aproximaram-lhes todos a me dizer: Enviemos homens
diante de nós, que reconheçam a terra — A proposta de enviar espiões
partiu do povo devido a sua incredulidade; mas crendo-os sinceros,
Moisés deu seu assentimento cordial a esta medida, e consultado Deus,
permitiu-lhes seguir a sugestão (veja-se Nm_13:1-2). O resultado foi
desastroso, só por seu pecado e loucura.
28. as cidades são grandes e fortificadas até aos céus — uma
metáfora oriental, que quer dizer muito altas. Os saqueadores árabes
andam vagando a cavalo, e portanto os muros do convento de Santa
Catalina em Sinai, são tão altos que os viajantes são levados acima por
meio de polias em cestas.
filhos dos anaquins — (veja-se Nm_13:13). A linguagem sincera e
firme de Moisés ao lembrar aos israelitas sua conduta perversa e rebelião
violenta pelo relatório dos espia traiçoeiros e covardes, proporciona uma
evidência poderosa da verdade desta história como também da
autoridade divina de sua missão. Havia motivo muito grande para que
ele se detivera nesta passagem obscura de sua história, porque foi a
incredulidade deles o que os excluiu do privilégio de entrar na terra
prometida (Hb_3:19); e aquela incredulidade foi uma exibição
maravilhosa da perversidade humana, à vista dos milagres que Deus
tinha operado a favor deles, especialmente nas manifestações diárias de
Sua presença entre eles como seu guia e protetor.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 6
34-36. Tendo, pois, ouvido o SENHOR as vossas palavras,
indignou-se — Como consequência desta ofensa agravada, a
incredulidade seguida pela rebelião aberta, os israelitas foram
condenados, no juízo justo de Deus, a uma vida errante naquele deserto
melancólico, até que toda a geração adulta desapareceu pela morte. As
únicas exceções foram Calebe, e Josué quem devia ser o sucessor de
Moisés.
37. Também contra mim se indignou o SENHOR por causa de
vós — Esta declaração parece indicar que foi nesta ocasião quando
Moisés foi condenado a compartilhar a mesma sorte do povo. Mas
sabemos que foi vários anos mais tarde quando Moisés mostrou um
malfadado espírito de desconfiança nas “águas de contenda” (Sl_106:32-
33). Este versículo devem considerar-se, pois, como um parêntese.
39. e vossos filhos, que, hoje, nem sabem distinguir entre bem e
mal — Em todas as versões antigas se lê “hoje” em vez “daquele dia”; e
o sentido é: “seus filhos que agora sabem”, ou “que não sabem ainda o
bem ou o mal”; como os filhos não tinham sido partícipes na pecaminosa
rebelião, eles foram conservados para obter o privilégio que tinham
perdido seus pais infiéis. Os caminhos de Deus não são os caminhos do
homem [Is_55:8-9].
40-45. vós virai-vos e parti para o deserto, pelo caminho do mar
Vermelho — Este mandado não levaram em conta, e, resolvidos, apesar
das ardentes advertências de Moisés, a forçar uma passagem adiante,
tentaram cruzar as alturas, naquele então ocupadas pelas forças
combinadas dos amorreus e amalequitas (Nm_14:43), mas foram
rejeitados com grandes perdas. Com frequência sofremos angústias
mesmo quando estamos ocupados em cumprir nosso dever. Quão
diferente a condição dos que sofrem em situações onde Deus está com
eles, dos sentimentos daqueles que são conscientes de que estão numa
situação diretamente contrária à vontade divina! Os israelitas se sentiam
afligidos, quando se achavam envoltos em dificuldades e perigos; mas
seu pesar provinha, não de um sentimento de culpa, mas pelos efeitos
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 7
desastrosos de sua conduta perversa; e visto que, apesar de que
“choraram”, não estavam verdadeiramente arrependidos, o Senhor não
quis escutar sua voz, nem atendê-los.
46. Assim, permanecestes muitos dias em Cades — Aquele lugar
tinha sido o lugar de seu acampamento durante a ausência dos espiões, a
qual durou quarenta dias, e se supõe por este versículo que prolongaram
sua estada ali, depois de sua derrota, durante um período similar.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 8
Deuteronômio 2

Vv. 1-37. CONTINUA O RELATO DE MOISÉS.


1. viramo-nos, e seguimos para o deserto, caminho do mar
Vermelho — Depois de seu ataque infrutífero contra os cananeus, os
israelitas levantaram seu acampamento em Cades, e partindo rumo ao sul
pelo deserto ocidental de El-Tih, como também ao vale do Ghor e Arava,
foram tão longe como o golfo de Acaba.
muitos dias rodeamos a montanha de Seir — Nestas poucas
palavras compendiou toda aquela vida nômade que eles levaram durante
trinta e oito anos, movendo-se de lugar em lugar, ajustando suas estações
à perspectiva de achar pastos e água. Dentro daquele intervalo foram a
segunda vez rumo ao norte até Cades, e sendo opostos pelos cananeus e
amalequitas, outra vez não tiveram outra alternativa senão a de cruzar
mais uma vez a grande Arava rumo ao sul até o Mar Vermelho, onde
dobrando à esquerda, e cruzando a longa e alta cadeia de montanhas a
leste de Eziom-Geber (Nm_21:4-5), entraram nas grandes planícies
elevadas, que embora são atravessadas pelos peregrinos sírios em
viagem a Meca, e parece que seguiram rumo ao norte pela mesma rota,
que agora tomam os “hadji” sírios, ao longo do bordo ocidental deste
grande deserto, perto das montanhas de Edom. (Robinson). Foi entrar
nestas planícies quando receberam o mandamento: “Tendes já rodeado
bastante esta montanha” (este trecho montanhoso, agora Jebel Shera),
“virai-vos para o norte” [Dt_2:3].
4. os filhos de Esaú, que habitam em Seir; e eles terão medo de
vós — O mesmo povo que tinha repelido arrogantemente a chegada dos
israelitas desde sua fronteira ocidental, alarmaram-se agora que eles
tinham chegado por uma volta ao lado fraco de seu país.
5. Não vos entremetais com eles — i. e., os “que habitam em Seir”
(v. 4), porque havia outro ramo da posteridade de Esaú, os amalequitas,
que tinha que ser combatida e destruída (Gn_36:12; Êx_17:14;
Dt_25:17). Mas o povo do Edom não tinha que ser incomodado nem em
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 9
suas pessoas nem em suas propriedades. E embora a chegada de uma
multidão nômade tão grande como o eram os israelitas, naturalmente
criou alarme, eles não tinham que tirar vantagem do terror existente para
obrigar aos edomitas a aceitar quaisquer termos que lhes impusessem. Só
tinham que passar pelo país ou ao longo da fronteira, para comprar carne
e água deles por dinheiro (Dt_25:6). O povo, mais bondoso que seu rei,
vendia-lhes pão, carne, fruta e água em sua passagem ao longo da
fronteira (Dt_25:29), da mesma maneira que se abastece a caravana síria
em seu caminho a Meca, pelo povo da mesma montanha, que encontram
como os peregrinos, em feiras ou mercados na rota dos “hadji”
(Robinson). Embora os israelitas ainda desfrutassem de uma ração diária
de maná, não havia proibição de que comessem outras comidas quando
se apresentava a oportunidade, mas somente não tinham que abrigar um
desejo desordenado por elas. A água é artigo escasso, e frequentemente é
comprada pelos viajantes naquelas regiões. Era mais obrigatório que o
fizessem assim os israelitas, porque, pela bênção de Deus, eles possuíam
em abundância os meios para comprar, e a experiência continuada desde
longo tempo da bondade extraordinária de Deus para com eles, deveria
inspirar tal confiança nEle, que suprimiria o menor pensamento de usar
fraude ou violência para suprir suas necessidades.
8-18. o caminho da Arabá — ou grande vale. De Elate (árvores),
(Ailah dos gregos e romanos); o lugar está marcado por extensos
montões de escombros. Eziom-Geber, agora Acaba, estava dentro do
território de Edom; e depois de fazer um rodeio do limite sudeste,
chegaram os israelitas à fronteira de Moabe ao sudeste do Mar Salgado.
Por mandado de Deus lhes tinha sido proibido incomodar os moabitas de
maneira alguma; e esta honra especial foi conferido sobre aquele povo
não por virtude deles, porque eram muito ímpios, mas em virtude de sua
descendência de Ló. (veja-se Dt_23:3). Seu território compreendia a boa
região do sul de Arnom e em parte a norte do mesmo rio. Eles o tinham
conquistado pela força das armas dos habitantes originais, os “enim”
uma raça terrível, como significava o seu nome, por seu poder e estatura
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 10
físicos (Gn_14:5), da mesma maneira que os edomitas tinham
conseguido seus domínios pela derrota dos ocupantes originais de Seir,
os “horim” (Gn_14:6), aqueles que eram trogloditas, ou moradores em
covas; e Moisés se referiu a estas circunstâncias para alentar a seus
compatriotas a crer que muito mais Deus permitiria que eles lançassem
aos cananeus ímpios e malditos. Naquele então, entretanto, os moabitas,
tendo perdido a maior parte de suas posses pelas usurpações de Seom,
estavam reduzidos à região, pequena mas fértil, entre Zerede e Arnom.
13. Levantai-vos, agora, e passai o ribeiro de Zerede — O
silvestre sul de Moabe, Zerede (cheio de bosques), agora Wady Ashy,
separa o distrito moderno do Kerak de Jebal, e, com efeito, forma uma
divisão natural entre o norte e o sul. Ar, chamado em tempos posteriores
Rabá, era a capital de Moabe, e situada a 40 quilômetros ao sul do
Arnom na margem de um arroio pequeno mas sombreado, o Beni
Hamed. Aqui se menciona como representativa do território dela
dependente, país rico e bem cultivado, como aparece pelas ruínas
numerosas de cidades, como também pelos sinais de lavoura ainda
visíveis nos campos.
16. Sucedeu que, consumidos já todos os homens de guerra pela
morte, do meio do povo — A rebelião em Cades por causa do relatório
falso dos espiões tinha sido a ocasião do decreto fatal pelo qual Deus
condenou a toda a população adulta a morrer no deserto [Nm_14:29];
mas aquela rebelião só encheu a medida de suas iniquidades. Porque
aquela geração, embora não estivesse totalmente entregue a práticas
pagãs e idolátricas, entretanto, sempre manifestava uma soma espantosa
de irreligiosidade, no deserto, a qual esta história faz alusão só
veladamente, mas que está afirmada expressamente em outra parte.
(Eze_20:25-26; Am_5:25, 5:27; At_7:42-43).
19-37. chegarás até defronte dos filhos de Amom; não os
molestes e com eles não contendas — Sendo os amonitas parentes dos
moabitas, por respeito à memória de seu antepassado comum, tinham
que ficar sem ser incomodados pelos israelitas. O território deste povo
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 11
tinha estado diretamente a norte do de Moabe, e se estendia até o
Jaboque, tendo sido tomado por eles de um número de tribos cananeias;
quer dizer, os zanzumins, um lugar presunçosa de gigantes, como o
indica seu nome; e os avim, ou aveus, aborígenes de distrito que se
estendia desde Zazerim ou Hazerote (El Hudhera) ainda até Azzah
(Gaza), mas do qual tinham sido sem recursos pelos caftorim (filisteus),
que saíram de sob o Egito (Caftor), e se estabeleceram na costa ocidental
da Palestina. Os limites dos amonitas agora estavam reduzidos; mas
ainda possuíam a região montanhosa além do Jaboque. (Js_11:2). Que
conhecimento tão estranho na história anterior da Palestina dá este
parêntese de quatro versículos! Quantas guerras de conquista tinham
efetuado em seus primeiros dias! Que mudanças de dinastia entre as
tribos cananeias tinha havido antes dos acontecimentos relatados nesta
história!
24-26. Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom — Em
sua boca esta corrente mede 26 metros de largura e um metro e um
quarto de profundidade, e corre num canal encerrado por penhascos
perpendiculares de pedra arenosa. Na data da migração israelita a leste
do Jordão, todo este território belo entre o Arnom e o Jaboque, inclusive
a parte montanhosa de Gileade, tinha sido tomado pelos amorreus, os
quais, sendo uma das nações condenadas à destruição (Dt_7:2;
Dt_20:16), foram completamente exterminados, e seu país caiu por
direito de conquista nas mãos dos israelitas. Mas como Moisés entendia
que esta condenação se referia somente às posses dos amorreus a oeste
do Jordão, enviou uma mensagem pacífica a Seom, pedindo permissão
para atravessar os seus territórios, situados a leste daquele rio. Sempre é
costume enviar mensagens adiante para que preparem o caminho; mas o
fato de Seom ter rejeitado a petição de Moisés e por sua oposição ao
avanço dos israelitas (Nm_21:23; Jz_11:26) trouxe sobre ele e seus
súditos amorreus a ruína predita, na primeira batalha campal com os
cananeus, e conseguiu para Israel não só a possessão de uma bela região
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 12
pastoril, mas também, o que é de mais importância, livre acesso ao
Jordão pelo este.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Deuteronômio 3

Vv. 1-20. A CONQUISTA DE OGUE, REI DE BASÃ.


1. Depois, nos viramos e subimos o caminho de Basã — Basã
(frutífero ou plano), agora El-Bottein, ficava a norte de Gileade, e se
estendia até Hermom. Era distrito tosco montanhoso, entretanto,
estimável por seus pastos ricos e abundantes.
Ogue, rei de Basã, nos saiu ao encontro — Sem provocação,
lançou-se a atacar os israelitas; ou por seu desagrado devido a presença
de tão perigosos vizinhos, e ansiando vingar a derrota de seus amigos e
aliados.
2. o SENHOR me disse: Não temas, porque a ele, e todo o seu
povo, e sua terra dei na tua mão — Sua aparência gigantesca e o
formidável desdobramento de forças que trará para o campo, não devem
te desalentar; porque, pertencendo a uma raça condenada, ele está
destinado a compartilhar a sorte de Seom [Nm_21:25].
3-8. Argobe — era a capital de um distrito em Basã do mesmo
nome, a qual, com outras 59 cidades na mesma província, eram
conspícuas por muros altos e fortificados. Foi guerra de destruição; casas
e cidades foram arrasadas ao nível da terra; todas as classes do povo
foram mortas à espada, e não foi salvo nada senão o gado, do qual uma
imensa quantidade caiu como despojo dos conquistadores. Assim dois
reis amorreus e sua população inteira foram extirpados, e todo o
território a leste do primeiro Jordão, altas planícies do arroio de Arnom
ao sul, a Jaboque ao norte; logo o alto distrito montanhoso de Gileade e
Basã do barranco do Jaboque — vieram a ser possessão dos israelitas.
9. Hermom — agora, Jebel-Es-Sheick, a majestosa altura em que
termina a longa cordilheira alta do Anti-Líbano; seu cimo e serranias
estão quase constantemente cobertas de neve. Não é tanto uma montanha
alta como todo um grupo de picos, o mais alto da Palestina. Segundo a
medição efetuada por engenheiros do governo inglês em 1840, estes
picos têm uma altura de 3.000 metros sobre o nível do mar. Sendo uma
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 14
cadeia montanhosa, não é preciso maravilhar-se de que tivesse recebido
diferentes nomes em pontos diferentes de parte de tribos diferentes que
viviam ao longo de sua base, indicando todos estes nomes altura
extraordinária: Hermom, o pico alto; “Siriom”, ou em sua forma
abreviada “Sião” (Dt_4:48), levantada-a; “Shenir”, o peitoral reluzente
de gelo.
11. só Ogue, rei de Basã, ficou do resto dos gigantes (RC) —
literalmente, dos refaim [“dos refains”, RA]. Ele não foi o último
gigante, mas o único remanescente no país transjordânico (Js_15:14), de
certa raça gigantesca, os habitantes mais antigos da Palestina, segundo se
supõe.
eis que o seu leito era leito de ferro (TB) — Ainda que as camas
em Oriente entre o povo comum não são mais que simples colchões,
armações de cama não são desconhecidas; estão em uso entre os grandes,
que as preferem de ferro, não só pela firmeza e durabilidade, mas por
medida preventiva contra os insetos incômodos, que em climas quentes
infestam a madeira. Calculando o côvado como meio metro, a cama de
Ogue mediria quatro 4,25 metros e como as camas geralmente são um
pouco mais longas que as pessoas que as ocupam, a estatura do rei
amalequita poderia calcular-se de 3,50 metros a 3,75 metros; ou ele
poderia ter mandado fazer a cama muito mais longa que o necessário,
como fez Alexandre Magno para seus soldados de infantaria, para
impressionar aos da Índia com uma ideia da força e estatura
extraordinárias de seus homens (Leclerc). Mas como sucedeu que a cama
de Ogue estivesse em Rabá dos filhos de Amom? Em resposta a esta
pergunta, tem-se dito que Ogue, na véspera da batalha, a mandou levar lá
para maior segurança, e que Moisés, depois de a tomar, a vendeu aos
amonitas, que a guardavam como uma curiosidade antiquária, até que
sua capital foi saqueada em dias de Davi. Esta é uma hipótese
inverossímil, e além disso faz necessário que se considere a cláusula
final do versículo como uma interpolação introduzida muito tempo
depois de Moisés. Para evitar isto, alguns críticos entendem a palavra
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 15
traduzida “armação de cama” como querendo dizer “ataúde”. Creem que
o rei de Basã, ferido na batalha, fugiu a Rabá, onde morreu, e foi
enterrado; de modo que as medidas do ataúde constam aqui (Dathe,
Roos.)
12-13. esta terra em possessão nesse tempo; desde Aroer, que
está junto ao vale de Arnom … dei aos rubenitas e gaditas — Todo o
território ocupado por Seom foi repartido entre as tribos pastoris de
Rúben e Gade. Estendia-se da ribeira norte de Arnom na metade sul do
monte Gileade, uma pequena cordilheira, chamada agora Djelaad, como
nove e meio ou onze quilômetros ao sul de Jaboque, e de treze
quilômetros de comprimento. A porção setentrional de Gileade, e as
terras férteis de pastos de Basã—uma província grande, que com
exceção de alguns lugares despidos e rochosos, de solo forte e fértil—foi
concedida à meia tribo de Manassés.
14. Jair, filho de Manassés, tomou toda a região de Argobe —
Os habitantes originais da província ao norte de Basã, ocupando sessenta
cidades (Dt_3:4), como não foram extirpados junto com Ogue, mais
tarde foram submetidos por Jair. Este chefe da tribo de Manassés,
segundo os costumes pastoris de seu povo, chamou a estas cidades recém
tomadas por um nome que significa “Aldeias beduínas de Jair”.
até o dia de hoje — Esta observação evidentemente teria sido
introduzida por Esdras, ou alguém dos homens piedosos que
colecionaram e arranjaram os livros de Moisés.
15. A Maquir dei Gileade — Só a metade de Gileade (Dt_3:12,
13) é a que foi dada aos descendentes de Jair, quem agora estava morto.
16. desde Gileade — i. e., não a região montanhosa, e sim a cidade
de Ramote de Gileade.
até ao ribeiro de Jaboque — a palavra “arroio” significa um wadi,
ou cheio de água, ou seco, como o é o Arnom no verão, e assim a
tradução correta seria: “até a metade ou meio do rio Arnom”. (cf.
Js_12:2). Este acerto prudente das fronteiras evidentemente foi feito para
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 16
evitar disputas entre as tribos vizinhas a respeito do direito exclusivo às
águas.
25. Rogo-te que me deixes passar, para que eu veja esta boa
terra que está dalém do Jordão, esta boa região montanhosa e o
Líbano — O desejo natural e muito fervente de Moisés de que lhe fosse
permitido cruzar o Jordão, baseava-se na ideia de que a ameaça divina
fosse condicional e revogável. “Esta boa região montanhosa” supõem os
escritores que seja a colina sobre a qual se devia edificar o templo
(Dt_12:5; Êx_15:2). Mas os eruditos em matéria bíblica agora, em geral
traduzem as palavras: “aquele bom monte, até o Líbano”, e consideram
que se menciona como típico da beleza da Palestina, da qual as colinas e
montanhas eram uma característica muito proeminente.
26. Não me fales mais nisto — i. e., meu decreto é irrevogável.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 17
Deuteronômio 4

Vv. 1-14. UMA EXORTAÇÃO À OBEDIÊNCIA.


1. ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino — Por
estatutos queria dizer todas as ordenanças com relação à religião, e os
ritos do culto divino; e por juízos, os decretos referentes a assuntos civis.
Os dois incluíam toda a lei de Deus.
2. Nada acrescentareis à palavra que vos mando — Pela
introdução de alguma superstição pagã ou formas de culto diferentes das
que eu estabeleci (Dt_12:32; Nm_15:39; Mt_15:9).
nem diminuireis dela — por negligência ou omissão de alguma
das observâncias, por corriqueiros ou incômodas que fossem, que eu vos
prescrevi. O caráter e as provisões da antiga dispensação estavam
adaptados com sabedoria divina ao ensino daquele estado infantil da
igreja. Mas não era senão uma economia temporária; e embora Deus
aqui autorize a Moisés a mandar que todas as suas instituições fossem
honradas com uma observância permanente, isto não impedia que Ele
comissionasse a outros profetas alterá-las ou ab-rogá-las, quando chegou
o fim daquela dispensação.
3, 4. Os vossos olhos viram o que o SENHOR fez por causa de
Baal-Peor; pois a todo homem … vosso Deus, consumiu do vosso
meio — Parece que a pestilência e a espada de justiça chegaram só aos
culpados naquele assunto (Nm_25:1-9), enquanto que outros do povo
foram perdoados. A referência àquele recente juízo aterrador foi
oportuna como dissuasão poderosa contra a idolatria, e o fato
mencionado era capaz de fazer uma profunda impressão nos que sabiam
e sentiam a verdade disso.
5, 6. isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante
os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos — Moisés
predisse que a fiel observância das leis dadas elevaria o seu caráter
nacional pela inteligência e sabedoria; e com efeito assim o fez; porque
apesar de que o mundo pagão em geral ridicularizava os hebreus pelo
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 18
que esses consideravam uma exclusiva insensata e absurda repulsa,
alguns dos filósofos mais eminentes expressaram a mais alta admiração
do princípio fundamental da religião hebreia, a unidade de Deus; e os
legisladores pagãos se apropriaram de algumas leis da constituição dos
hebreus.
7-9. que grande nação há que …? — Aqui apresenta Moisés os
privilégios e o dever do povo em termos tão significativos e
compreensivos, que eram muito adaptados para chamar a sua atenção e
para ganhar o seu interesse. Seus privilégios ou vantagens nacionais,
descrevem-se em Dt_4:7, 8, e são duplos: a prontidão de Deus para ouvir
e ajudá-los em todo momento, e a excelência daquela religião na qual
eram instruídos, apresentada em “estatutos e juízos justos” que continha
a lei de Moisés. Seu dever correspondente a estas vantagens
preeminentes como povo, era também duplo: sua própria observância
fiel daquela lei, e sua obrigação de inundar a mente da juventude e da
geração seguinte com semelhantes sentimentos de reverência e respeito
pela lei.
10. Não te esqueças do dia em que estiveste perante o SENHOR,
teu Deus — A entrega da Lei no Sinai era época inesquecível na história
de Israel. Alguns daqueles aos quais Moisés se dirigia tinham estado
presentes, embora fossem muito jovens; enquanto que outros estavam
representados federalmente por seus pais, que em seu nome e por seu
interesse entraram na aliança nacional
12. a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes
aparência — Embora sons invertebrados fossem ouvidos que
provinham da montanha, nenhuma forma ou representação do Ser
Divino foi vista que indicasse a Sua natureza ou as Suas propriedades
segundo as noções dos pagãos.

Vv. 15-40. UMA DISSUASÃO PARTICULAR CONTRA A IDOLATRIA.


15. Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência
nenhuma vistes — A extrema inclinação dos israelitas à idolatria,
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 19
devido a sua possessão em meio de nações circundantes já abandonadas
a suas seduções, explica por que sua atenção era chamada repetidas
vezes ao fato de que Deus não apareceria no Sinai em nenhuma forma
visível; e em base àquela circunstância notável, lhes dá uma advertência
para se guardarem não só de fazer representações de deuses falsos mas
também de alguma representação imaginada do Deus verdadeiro.
16-19. para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem
esculpida — Aqui se especificam as coisas das quais Deus proibiu que
se fizesse imagem ou representação para fins de culto; e, pela variedade
de detalhes mencionados, pode-se formar uma ideia da prevalência
extensa da idolatria naquele tempo. Seja qual for a maneira em que a
idolatria teve sua origem, se por uma intenção de prestar culto a Deus
através daquelas coisas que pareciam proporcionar as evidências mais
patentes de seu poder, ou se se supunha que um princípio divino
residisse nas coisas em si mesmas, quase não havia um elemento ou
objeto que não fosse deificado. Isto era verdade especialmente entre os
cananeus e egípcios, contra cujas práticas supersticiosas, sem dúvida, se
dirigia principalmente a advertência. Aqueles adoravam a Baal e Astarte,
e estes a Osíris e Isis, sob a figura de homem e mulher. Era no Egito
onde abundava mais o culto aos animais, porque os naturais daquele país
deificavam entre os animais o boi, a bezerra, a ovelha e a cabra, o cão, o
gato e o macaco; entre as aves, o íbis, o falcão e a grou; entre os répteis,
o crocodilo, a rã e o escaravelho; entre os peixes, todos os do Nilo;
alguns destes, como Osíris e Isis, eram adorados em todo o Egito; os
outros só o eram em determinadas províncias; além de tudo isto,
aceitavam a superstição zabiana, adoração pelos egípcios, em comum
com muitos outros povos, a qual se estendia a toda a hoste de estrelas.
Os detalhes muito circunstanciais aqui dados da idolatria egípcia e
cananeia, se deviam à familiaridade passada e futura dos israelitas com
ela em todas estas formas.
20. o SENHOR vos tomou e vos tirou da fornalha de ferro — i.
e., a fornalha de derreter ferro. Uma fornalha deste tipo é redonda, e às
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 20
vezes de dez metros de profundidade, e que necessitava a mais alta
intensidade de calor. Tal é a tremenda imagem escolhida para representar
a escravidão e a aflição dos israelitas (Rosenmuller).
para que lhe sejais povo de herança — sua possessão especial de
época em época; e portanto que vós abandonassem a adoração dele pela
dos ídolos, especialmente pela idolatria grosseira e degradante que
prevalecia entre os egípcios, seria a loucura maior, a ingratidão mais
atroz.
26. hoje, tomo por testemunhas contra vós outros o céu e a terra
— Esta forma solene de imprecação foi comum em circunstâncias
especiais entre todos os povos. Aqui se usa em sentido figurado, ou
como em outras partes das Escrituras onde se chama a objetos
inanimados como testemunhas (Dt_32:1; Is_1:2).
28. Lá, servireis a deuses que são obra de mãos de homens—As
medidas compulsórias de seus conquistadores tirânicos os obrigariam à
idolatria, de modo que sua seleção seria seu castigo.
30. Quando ... todas estas coisas te sobrevierem nos últimos
dias, e te voltares para o SENHOR, teu Deus — Ou próximo ao
término fixado de seu cativeiro, quando eles mostrassem um espírito
novo de arrependimento e fé, ou na dispensação do Messias, a qual
geralmente se chama “os últimos dias”, e quando as tribos espalhadas de
Israel se convertessem a Cristo. O cumprimento deste acontecimento
feliz será a prova mais ilustre da verdade da promessa feita em Dt_4:31.
41-43. Moisés separou três cidades dalém do Jordão — (Veja-se
Js_20:7-8).
44. Esta é a lei que Moisés propôs aos filhos de Israel — Isto é o
prefácio à repetição da lei, a qual, com o acréscimo de várias
circunstâncias explicativas contêm os capítulos seguintes.
46. Bete-Peor — i. e., casa ou templo de Peor. É provável que um
templo deste ídolo moabita estivesse à plena vista do acampamento
hebreu, enquanto Moisés estava insistindo nos direitos exclusivos de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 21
Deus à Sua adoração, e esta referência seria muito significativa, se fosse
o mesmo templo onde os israelitas tinham cometido sua grave ofensa.
49. até ao mar da Arabá, pelas faldas de Pisga — mais
frequentemente Asdote-Pisga (Dt_3:17; Js_12:3; Js_13:20), as raízes ou
pé das montanhas a leste do Jordão.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 22
Deuteronômio 5

Vv. 1-29. UMA COMEMORAÇÃO DA ALIANÇA EM HOREBE.


1. Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos — Seja que esta repetição
da lei fosse feita numa assembleia solene, ou, como pensam alguns,
numa reunião dos anciãos como representantes do povo, é de pouca
importância; foi dirigida direta ou indiretamente ao povo hebreu como
princípios de sua constituição peculiar como nação; e portanto, como se
fez notar com razão, “a lei judia não tem nenhuma obrigação sobre o
cristão, a menos que alguma parte dela seja dada ou mandada por Cristo
Jesus; porque tudo aquilo que nesta lei esteja de acordo com as leis da
natureza, nos obriga, não por ser dada por Moisés, mas por virtude de
uma lei antecedente, comum a todos os seres racionais” (Bishop
Wilson).
3. Não foi com nossos pais que fez o SENHOR esta aliança, e
sim conosco — O sentido será “não com nossos pais” apenas, “mas
conosco” também, se se supõe que seja uma “aliança” de graça; ou “não
com nossos pais” em nenhum conceito, se a referência se faz ao
estabelecimento peculiar da aliança do Sinai; a eles não foi dada uma lei
como a nós, nem foi ratificado a aliança da mesma maneira pública, e
pelas mesmas sanções solenes. Ou, finalmente, “não com nossos pais”
que morreram no deserto, por causa de sua rebelião, e aos quais Deus
não deu as recompensas prometidas só aos fiéis; mas “conosco”, aqueles
que, sozinhos, falando estritamente, desfrutaremos dos benefícios desta
aliança ao entrar em possessão da terra prometida.
4. Face a face falou o SENHOR conosco, no monte — não em
forma visível e corpórea, da qual não houve sinal (Dt_4:12, 15), mas sim
livre e familiarmente e de uma maneira tal, que não pôde haver dúvida
de Sua presença.
5. eu estava em pé entre o SENHOR e vós — como o mensageiro
e intérprete de seu Rei celestial, aproximando dois objetos que antes
estavam afastados um do outro a grande distancia, quer dizer, Deus e o
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 23
povo (Ef_2:13). Neste caráter Moisés era um tipo de Cristo, que é o
único mediador entre Deus e os homens (1Tm_2:5), o mediador de uma
melhor aliança (Hb_8:6; Hb_9:15; Hb_12:24).
para vos notificar a palavra do SENHOR — não os dez
mandamentos, porque eles foram proclamados pelo próprio divino
Orador, mas sim os estatutos e juízos que se repetem na porção seguinte
deste livro.
6-20. Eu sou o SENHOR, teu Deus — A palavra SENHOR
(“Iahweh”, BJ) é expressiva de existência absoluta; e Deus, quem por
autoridade natural como também pela relação da aliança, podia exercer
supremacia sobre Israel, tinha direito soberano de estabelecer leis para
seu governo [Veja-se Êx_20:2]. Os mandamentos que seguem, são, com
poucas alterações verbais, os mesmos decretados anteriormente
(Êx_20:1-17), e em alguns há uma referência distinta àquela
promulgação.
12. Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou
o SENHOR, teu Deus — i. e., o ter em sua mente como instituição
sagrada de um decreto anterior e obrigação perpétua.
14. para que o teu servo e a tua serva descansem como tu — este
é um motivo para a observância do dia de repouso diferente daquele que
se alega em Êx_20:8-11, onde é dito que o dia está estabelecido como
uma lembrança da criação. Mas o acrescentar mais um motivo para a
observância não indica contrariedade ao outro; e se creu provável que,
sendo bem conhecido o propósito comemorativo da instituição, o outro
motivo se menciona especialmente nesta repetição da lei, para assegurar
o privilégio do descanso sabático para os servos, do qual, em algumas
famílias hebreias, eles tinham sido particulares. Neste sentido, a
referência ao período da escravidão egípcia (Dt_5:15), quando a eles
mesmos não lhes era permitido observar o sábado nem como dia de
descanso nem de devoção pública, foi peculiarmente oportuna e
significativa, bem adequada para os impressionar tanto quanto a seus
negócios como a suas sentimentos.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 24
16. para que te vá bem — Esta cláusula não aparece em Êxodo,
mas é admitida em Ef_6:3.
21. Não cobiçará a mulher do teu próximo … a casa … o seu
campo — aqui é feita uma mudança nas palavras (Veja-se Êxodo 20),
mas é tão pequena (“mulher” colocado na primeira cláusula, e “casa” na
segunda) que não teria valido a pena mencioná-lo, exceto que o
intercâmbio prova, contrariamente à opinião de alguns críticos
eminentes, que estes dois objetos estão incluídos em um e o mesmo
mandamento.
22. nada acrescentou — (Êx_20:1). A preeminência destes dez
mandamentos se manifesta em que Deus os anunciou diretamente: outras
leis e instituições foram comunicadas ao povo pela instrumentalidade de
Moisés.
23-28. vos achegastes a mim — (Veja-se Êx_20:19).
29. Quem dera que eles tivessem tal coração, que me temessem
— Deus pode conhecer tal coração, e prometeu dá-lo, sempre que lhe for
pedido (Jr_32:40). Mas o desejo que aqui se expressa da parte de Deus
pela piedade e firme obediência dos israelitas, não se referia a eles como
a indivíduos, e sim como nação, cujo caráter e progresso teriam uma
poderosa influência sobre o mundo em geral.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 25
Deuteronômio 6

Vv. 1-25. MOISÉS EXORTA A ISRAEL PARA OUVIR A DEUS


E GUARDAR OS SEUS MANDAMENTOS.
1. Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que
mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os
cumprisses na terra a que passas para a possuir — O grande
propósito de todas as instituições prescritas a Israel foi o de formar um
povo religioso, cujo caráter nacional se distinguiria por aquele temor do
Senhor seu Deus, que assegurasse a observância de Seu culto e a fiel
obediência à Sua vontade da parte deles. A base de sua religião era um
reconhecimento da unidade de Deus com o entendimento e o amor de
Deus no coração (Dt_6:4, 5). Comparada com o credo religioso de todos
os seus contemporâneos, quão sadia em princípio, quão elevada em
caráter, quão ilimitada na extensão de sua influência moral no coração e
hábitos de um povo! Com efeito, é precisamente a mesma base sobre a
qual descansa a forma mais pura e mais espiritual dela a que manifesta o
cristianismo (Mt_22:37; Mar_12:30; Lc_10:27). Além disso, para ajudar
a reter um sentido da religião em suas mentes, foi ordenado que seus
grandes princípios fossem levados por eles aonde quer que fossem, como
também que se encontrassem diante de seus olhos, cada vez que
entrassem em suas casas. Uma provisão adicional foi feita para inculcar
estes estatutos na mente da juventude, mediante um sistema de ensino
pelos pais, que tinha por fim associar a religião com todas as cenas mais
familiares e mais frequentes da vida doméstica.
É provável que Moisés tenha usado a fraseologia de Dt_6:7,
meramente de uma maneira figurada, para querer dizer instrução assídua,
fervorosa e frequente; e talvez pensava que a linguagem metafórica de
Dt_6:8 se entenderia no mesmo sentido também. Mas como os israelitas
o interpretavam literalmente, muitos escritores supõem que se fazia
referência a um costume supersticioso tomado dos egípcios, que levavam
joias e quinquilharias ornamentais na fronte e nos braços, inscritas com
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 26
certas palavras ou sentenças, como amuletos que os protegessem de
perigo. Suspeitou-se que Moisés queria invalidar estes costumes,
substituindo frases da lei; e assim o entendiam os hebreus, porque eles
sempre consideraram levar tefilim ou frontais como obrigação
permanente. A forma deles era: Quatro pedaços de pergaminho,
inscritos, o primeiro com Êx_13:2-10; o segundo com Êx_13:11-16; o
terceiro com Dt_6:1-8; e o quarto com Dt_11:18-21 eram encerrados
numa caixinha de couro, no lado da qual estava escrita a letra hebraica
shin, e atados na fronte com uma correia ou cinta. Quando se destinavam
ao uso no braço, aqueles quatro textos, eram escritos num só pedaço de
pergaminho, o qual, como também a tinta, eram cuidadosamente
preparados para o propósito. Com relação ao outro uso ao qual se supõe
que se fazia referência, os antigos egípcios faziam inscrever os batentes e
postes de suas portas com sentenças que indicavam bom agouro
(Wilkinson); é ainda assim; porque no Egito e outros países maometanos
— no Cairo, por exemplo, as portas de rua das casas estão pintadas,
vermelhas, verdes e brancas, levando claramente inscritas nelas
sentenças do Alcorão, como “Deus é o Criador”, “Deus é um, e Maomé
é seu profeta”. Moisés se propôs adaptar este costume favorito e antigo a
um uso melhor, e mandou que, em vez das anteriores inscrições
supersticiosas, fossem escritas as palavras de Deus, persuadindo o povo
a ter as leis em memória perpétua.
20-25. Quando teu filho, no futuro, te perguntar — As
instruções dadas para o ensino de seus filhos formam apenas uma
extensão dos conselhos anteriores.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 27
Deuteronômio 7

Vv. 1-26. PROÍBE-SE TODA COMUNHÃO COM AS NAÇÕES.


1. heteus—Este povo descendia de Hete, o segundo filho de Canaã
(Gn_10:15), e ocupava a região montanhosa perto de Hebrom, no sul da
Palestina.
girgaseus — Alguns supõem que eram os mesmos que os
gerasenos (Mar_5:1), que viviam a leste do Lago de Genesaré; mas
segundo Js_24:11, se localizam a oeste do Jordão, e até outros creem um
ramo da família dos heveus, pois estão omitidos em nove dos dez lugares
onde as tribos de Canaã se numeram; mencionam-se em décimo lugar
enquanto que os heveus não se mencionam.
amorreus — descendentes do quarto filho de Canaã, ocupavam,
além de sua conquista no território moabita, estabelecimentos extensos a
oeste do Mar Morto, nas montanhas.
cananeus — localizados na Fenícia, especialmente ao redor de Tiro
e Sidom, e como desciam do ramo mais velho da família de Canaã,
levavam seu nome.
ferezeus — i. e., “aldeãos”, tribo que foi espalhada pela Palestina, e
vivia em povo sem muros.
heveus — que viviam perto de Ebal e Gerizim, estendendo-se na
direção de Hermom. Supõe-se que sejam os mesmos que os avim.
jebuseus — moravam perto de Jerusalém.
sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu — Dez
foram mencionadas antes (Gn_15:19-21). Mas no lapso de quinhentos
anos, não pode nos surpreender que algumas delas tivessem sido extintas
nas muitas guerras intestinas que prevaleciam entre estas tribos
belicosas; e é mais que provável que algumas, localizadas a leste do
Jordão, tivessem caído sob as armas vitoriosas dos israelitas.
2-6. totalmente as destruirás; não farás com elas aliança — Esta
sentença implacável de destruição que Deus denunciou contra aquelas
tribos de Canaã, não pode conciliar-se com os atributos do caráter
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 28
divino, exceto sobre a hipótese de que sua idolatria grosseira e enorme
maldade não deixassem nenhuma esperança razoável de seu
arrependimento e reforma. Se elas tinham que ser apagadas como os
antediluvianos, ou como o povo de Sodoma e Gomorra, como pecadores
que tinham enchido a medida de suas iniquidades, não lhes importava
como o juízo de Deus fosse infligido; e Deus, como Ser Soberano, tinha
o direito de empregar quaisquer instrumentos que quisesse para executar
os Seus juízos. Alguns creem que deviam ser extirpados como
usurpadores ímpios de um país que Deus tinha destinado aos
descendentes de Héber, e que tinha sido ocupado épocas antes por
pastores nômades daquela raça, até a migração da família de Jacó ao
Egito pela força da fome, os cananeus cobriram toda a terra, ainda que
não tinham nenhum direito legítimo a ela, e trataram de retê-la pela
força. A proibição contra a formação de alianças com semelhantes
idólatras foi uma regra prudente, baseada na experiência de que “más
companhias corrompem bons costumes” [1Co_15:33, TB], e a
importância e a necessidade dela foi provada pelos exemplos de Salomão
e outros, na história posterior de Israel.
5. Porém assim lhes fareis: derribareis os seus altares, etc. — A
destruição dos templos, altares e tudo o que tinha sido utilizado no
serviço como poderia tender a perpetuar a lembrança, da idolatria
cananeia, foi também altamente conveniente para a proteção dos
israelitas de todo perigo de contaminação. Este proceder foi imitado
pelos reformadores escoceses na destruição da idolatria romanista, e
embora muitos amantes ardentes da arquitetura e das belas artes tenham
anatematizado seu conduta como vandalismo, entretanto, havia profunda
sabedoria na declaração favorita de João Knox: “Destruam os ninhos, e
os corvos desaparecerão”.
6-10. Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus — i. e.,
afastado para o serviço de Deus, ou escolhido para executar os
propósitos importantes da providência. Sua eleição para este destino tão
elevado não foi por causa de sua força numérica, porque, até a morte de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 29
José, não eram mais que um punhado de pessoas; nem por seus méritos
extraordinários, porque tinham seguido frequentemente uma conduta da
mais perversa e indigna; antes, foi em consequência da aliança ou
promessa feita com seus piedosos antepassados, e os motivos que
conduziram àquele ato especial eram tais, porque tendiam não só a
vindicar a sabedoria de Deus, mas também para ilustrar Sua glória em
difundir as melhores e mais preciosas bênçãos de toda a humanidade.
11-26. Guarda, pois, os mandamentos, e os estatutos, e os juízos
que hoje te mando cumprir — Na aliança que fez Deus com Israel, Ele
prometeu lhes conceder uma variedade de bênçãos enquanto eles
continuassem obedientes a Ele como seu Rei celestial, e empenhou sua
veracidade em que as infinitas perfeições dEle seriam dirigidas para este
propósito, como também para os livrar de todo mal, ao qual estariam
expostos como povo. Por conseguinte, aquele povo era realmente feliz
como nação, e achava amplamente cumprida toda promessa que o fiel
Deus lhes fazia, enquanto eles observavam aquela obediência que deles
se exigia. Veja-se a bela ilustração disso no Salmo 144.
15. nenhuma das doenças malignas dos egípcios — (Veja-se
Êx_15:26). Mas além daquelas com as quais Faraó e seus súditos foram
visitados, o Egito sempre foi terrivelmente açoitado por doenças, e este
testemunho de Moisés é confirmado pelos relatos de muitos escritores
modernos, que nos dizem que, apesar de sua temperatura uniforme e
serena, aquele país padece algumas doenças indígenas que são muito
malignas, tais como a oftalmia, a disenteria, varíola e a praga.
20. o SENHOR, teu Deus, mandará entre eles vespões — (Veja-
se Js_24:11-13 [e Êx_23:28]).
22. para que as feras do campo se não multipliquem contra ti
— (Veja-se Êx_23:29). A onipotência de seu poderoso Governante
poderia ter-lhes dado possessão da terra prometida imediatamente. Mas
em tal caso, os cadáveres insepultos do inimigo e as partes do país que
teriam ficado desocupadas por um tempo, teriam atraído uma invasão de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 30
animais perigosos. Este mal seria evitado mediante uma conquista
progressiva, e pelos meios comuns que Deus abençoaria.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 31
Deuteronômio 8

Vv. 1-20. UMA EXORTAÇÃO À OBEDIÊNCIA.


1. Cuidareis de cumprir todos os mandamentos que hoje vos
ordeno, para que vivais — Em todas as disposições sábias do Criador,
foi colocado que o dever esteja inseparavelmente unido à felicidade, e o
ardente encarecimento da lei divina que Moisés estava fazendo ao povo
de Israel, era a fim de assegurar que fosse um povo feliz, por ser povo
moral e religioso: um curso de prosperidade que com frequência se
chama “vida” (Gn_17:18; Pr_3:2).
para que vivais, e vos multipliqueis — Esta referência ao futuro
crescimento de sua população, prova que eles eram muito poucos para
ocupar completamente a terra no princípio.
2. Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu
Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos — A recapitulação de
todas as suas experiências variadas durante aquele longo período, tinha
por motivo o despertar impressões vivas da bondade de Deus. Primeiro,
Moisés lhes mostrou o objetivo de suas prolongadas peregrinações e
penúrias diversas; estas eram provas para sua obediência como também
castigos por seus pecados. Com efeito, o descobrimento de sua
infidelidade, inconstância, suas rebeliões e perversidade que trouxe à luz
esta disciplina variada, era de uso preeminentemente prático para os
próprios israelitas, como o foi para a igreja em épocas subsequentes.
Logo, ele engrandecia a bondade de Deus para com eles, quando se
achavam reduzidos aos últimos extremos de desespero, na provisão
milagrosa, que, sem ansiedade nem trabalho, da sua parte, era feita para
seu sustento diário (Veja-se Êx_16:4), e que, sem possuir propriedades
nutritivas inerentes em si, contribuía para a sua manutenção, como o faz
todo alimento (Mt_4:4) somente pela ordenança e bênção de Deus. Esta
observação é aplicável tanto aos meios da vida espiritual como da
natural.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 32
4. Nunca envelheceu a tua veste sobre ti, nem se inchou o teu pé
nestes quarenta anos — Que notável milagre foi este! Sem dúvida os
israelitas poderiam ter trazido do Egito mais roupa que a que vestiam, ao
sair; também poderiam ter conseguido provisões de vários artigos de
alimento e de vestir negociando com as tribos vizinhas pela troca de lãs e
couros de suas ovelhas e cabras; e no fato de lhes prover tais
oportunidades, se vê o cuidado da divina Providência. Mas os termos
claros e precisos que Moisés emprega aqui (veja-se também Dt_29:5)
indicam uma interposição especial e milagrosa de seu amante Protetor
em conservar sua roupa no meio do desgaste de sua vida nômade no
deserto. Em terceiro lugar, Moisés se estendeu em falar da bondade da
terra prometida.
7. porque o SENHOR, teu Deus, te faz entrar numa boa terra
— Todos os relatos, antigos e modernos, concordam em dar testemunho
da beleza natural e da fertilidade da Palestina, e suas grandes
capacidades, sempre que fosse corretamente cultivada.
terra de ribeiros de águas, de fontes, de mananciais profundos,
que saem dos vales e das montanhas — Estes rasgos característicos se
mencionam primeiro, porque são os mais notáveis; e todos os viajantes
contam o aprazível e alegre que é, depois de passar pelo deserto estéril e
sedento, achar-se entre arroios e colinas e vales esverdeados. É de se
observar que a água se menciona como a fonte principal de sua
fertilidade antiga.
8. terra de trigo e cevada e romeiras — Estes cereais foram
prometidos aos israelitas no caso de sua fiel obediência à aliança de
Deus (Sl_81:16; Sl_147:14). O trigo e a cevada eram tão abundantes que
produziam na razão de sessenta e às vezes cem por um (Gn_26:12;
Mt_13:8).
de vides, figueiras — As pedras de cal e os vales escarpados
estavam inteiramente cobertos, pois há rastros disso, com plantações de
figueiras, videiras e oliveiras. Ainda que em latitudes meridionais, as
formações montanhosas temperavam o calor excessivo, de sorte que se
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 33
produziam figos, romeiras, oliveiras, etc., na Palestina, se produziam
junto com o trigo e a cevada, que são produtos de regiões setentrionais.
mel — A palavra mel se usa com frequência num sentido amplo,
indeterminável; frequentemente para significar um xarope de tâmaras ou
de uvas, que sob o nome de “dibs” é usado em grandes quantidades onde
há vinhas, por todas as classes sociais, como condimento de seu
alimento. É parecido com um melaço claro, mas é mais agradável ao
gosto. (Robinson). Considera-se como uma coisa muito delicada no
Oriente, e se produzia em abundância em Palestina.
9. terra cujas pedras são ferro — A abundância deste metal na
Palestina, especialmente entre as montanhas do Líbano, as de Kesraoun e
em outras partes, é testemunhada por Josefo, como também por Volney,
Buckingham e outros viajantes.
cobre — bronze, embora não fosse a liga, e sim o mineral de cobre.
Ainda que as minas agora possam estar esgotadas ou abandonadas,
antigamente produziam uma abundância daqueles metais (1Cr_22:3;
1Cr_29:2-7; Is_60:17).
11-20. Guarda-te não te esqueças do SENHOR, teu Deus —
Depois de mencionar aqueles casos da bondade divina, Moisés baseou
neles um argumento a favor da obediência futura do povo.
15. que te conduziu por aquele grande e terrível deserto de
serpentes abrasadoras, de escorpiões — Répteis grandes e venenosos
ainda se acham ali em grande número, especialmente no outono. Os
viajantes precisam usar grandes precauções para arrumar suas camas e
tendas de noite; até de dia as pernas não só dos homens mas também dos
animais que eles montam, correm perigo de serem picadas.
te fez sair água da pederneira — (Veja-se Dt_9:21).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 34
Deuteronômio 9

Vs. 1-25. MOISÉS OS DISSUADE DA OPINIÃO DE SUA


PRÓPRIA JUSTIÇA.
1. hoje — quer dizer “neste tempo”. Os israelitas tinham chegado
aos limites da terra prometida mas, para sua grande humilhação, foram
obrigados a voltar. Mas agora estavam seguros de entrar nela. Nenhum
obstáculo poderia evitar que a possuíssem: nem as defesas fortes das
cidades, nem a resistência dos habitantes gigantescos a respeito dos quais
tinha recebido descrição tão formidável pelos espiões.
cidades grandes e amuralhadas até aos céus — As cidades
orientais geralmente cobrem um espaço muito maior que as da Europa;
porque as casas com frequência estão separadas entre si com jardins e
campos no meio. Quase sempre estão rodeadas por muros de tijolo
queimado ou de tijolos crus, cerca de 12 metros e meio de altura. Todas
as classes no Oriente, mas especialmente as tribos nômades, em sua
ignorância da engenharia e artilharia, abandonariam com desespero a
ideia de assaltar uma cidade fortificada, a qual os soldados europeus
demoliriam em poucas horas.
4. não digas no teu coração: Por causa da minha justiça é que o
SENHOR me trouxe a esta terra para a possuir — Moisés toma um
cuidado especial para advertir a suas compatriotas contra a vaidade de
supor que por seus próprios méritos tivessem conseguido este grande
privilégio. Os cananeus eram uma raça irremediavelmente corrompida;
mas a história relata muitos casos notáveis em que Deus castigava a
nações corrompidas e culpados pela instrumentalidade de outros povos
tão maus como aquelas. Não foi por amor aos israelitas, mas por causa
de si mesmo, pela promessa feita a seus antepassados piedosos, e em
apoio a seus elevados propósitos e compreensivos do bem para o mundo
inteiro, pelo qual Deus estava para lhes dar uma concessão de Canaã.
7. Lembrai-vos e não vos esqueçais de que muito provocastes à
ira o SENHOR — Para desalojar de suas mentes alguma ideia
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 35
presunçosa de sua justiça própria, Moisés repete seus atos de
desobediência e rebelião, cometidos tão frequentemente, e em
circunstâncias da solenidade mais tremenda e impressionante, que eles
tinham perdido o direito a toda pretensão ao favor de Deus. A franqueza
e coragem com que ele fez este relato de acusações tão ignominiosas
para seu caráter nacional, e a submissão paciente com a qual a nação o
suportou, muitas vezes se apresentou como uma das muitas evidências
da verdade desta história.
8. em Horebe — antes, “até em Horebe”, onde se poderia esperar
que eles se comportassem de outra maneira.
12. Levanta-te, desce depressa daqui, porque o teu povo … já se
corrompeu — Tendo em vista humilhá-los, efetivamente, Moisés chega
a particularizar alguns casos dos mais atrozes de sua infidelidade e
começa mencionando a impiedade que cometeram ao adorar o bezerro
de ouro, uma impiedade que cometeram quando ainda estava fresca na
memória sua emancipação milagrosa do Egito, que se mostrou com
manifestações estupendas da majestade divina, exibidas no monte
próximo, e a recente ratificação da aliança pela qual se comprometiam a
comportar-se como o povo de Deus, o qual indica um grau de
inconstância ou envilecimento quase incríveis.
17. peguei as duas tábuas … e as quebrei ante os vossos olhos —
não ao calor de uma paixão incontrolável, mas em justa indignação, por
um zelo pela vindicação da honra imaculada de Deus, e pela sugestão do
Espírito de Deus para insinuar que a aliança tinha sido quebrada e o povo
excluído do favor divino.
18. Prostrado estive perante o SENHOR — Pode ser imaginada
melhor que descrita, a reação repentina e dolorosa que produziu esta
cena de uma farra pagã na mente do piedoso dirigente patriótico. Os
pecados grandes e públicos exigem atos de humilhação extraordinária, e
em sua profunda aflição por aquela apostasia terrível, parece que Moisés
tinha mantido um jejum milagroso tão longo como antes.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 36
20. O SENHOR se irou muito contra Arão para o destruir —
Por se deixar vencer pela corrente do clamor popular, ele se tornou
partícipe da culpa de idolatria, e teria sofrido a pena de seu
consentimento pecaminoso se não tivesse prevalecido a ardente
intercessão de Moisés a seu favor.
21. o seu pó lancei no ribeiro que descia do monte — i. e., “a
rocha ferida” (El Leja), que provavelmente estava junto a/ou uma parte
do Sinai. Muito poucas vezes se lembra de que os israelitas se supriam
de água desta rocha quando estavam estabelecidos no Refidim (Wady
Feiran), e que não há nada no relato bíblico que nos deva fazer crer que a
rocha estivesse na vizinhança imediata daquele lugar (veja-se Êx_17:5-
6). A água desta rocha ferida era provavelmente o arroio que descia do
monte. A água poderia ter percorrido a distância de muitos quilômetros
da rocha, como sucede com as correntes invernais agora, pelos wadis da
Arábia Pétrea (Sl_78:15-16). E a rocha poderia ter sido ferida a tal altura
e num ponto com tal relação aos vales sinaíticos, para prover desta
maneira abundância de água aos israelitas em sua viagem de Horebe pelo
caminho do monte Seir e Cades-Barneia (Dt_1:1, 2). Por esta hipótese,
talvez se lança nova luz sobre a linguagem figurada do apóstolo, quando
fala da rocha que “seguia” os israelitas (1Co_10:4). (Wilson, Land of
The Bible).
25. Prostrei-me, pois, perante o SENHOR e, quarenta dias e
quarenta noites, estive — Depois da enumeração de vários atos de
rebelião, ele tinha mencionado a revolta em Cades-Barneia, a qual, numa
leitura superficial deste versículo, pareceria ter induzido Moisés a um
terceiro e prolongado período de humilhação. Mas por uma comparação
desta passagem com Nm_14:5, o sujeito e a linguagem desta oração
manifestam que só o segundo ato de intercessão se descreve agora no
detalhe mais completo.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 37
Deuteronômio 10

Vv. 1-22. A MISERICÓRDIA DE DEUS EM RESTAURAR AS


DUAS TÁBUAS.
1. Naquele tempo, me disse o SENHOR: Lavra duas tábuas de
pedra, como as primeiras — Foi quando tinha sido pacificado,
mediante a intercessão de Moisés, com o povo que O havia ofendido
grandemente pelo culto do bezerro de ouro. O dirigente obediente
executou as ordens que tinha recebido a respeito da preparação das
pedras lavradas, e a arca ou caixa na qual aqueles arquivos sagrados
deviam ser postos.
3. fiz uma arca de madeira de acácia — Parece, entretanto, por
Êx_37:1, que a arca não foi formada até sua volta do monte, ou mais
provavelmente, ele deu instruções a Bezalel, o artesão empregado no
trabalho, antes de subir ao monte, para que, ao voltar, estivesse
terminada e preparada para receber seu depósito precioso.
4, 5. escreveu o SENHOR nas tábuas, segundo a primeira
escritura — i. e., não foi Moisés sob a direção divina que agiu como
amanuense, e sim o próprio Deus foi quem fez esta inscrição pela
segunda vez com Sua própria mão, para dar testemunho da importância
que Ele atribuía aos dez mandamentos. Diferentes de outros
monumentos de pedra da antiguidade, os que eram feitos para ficar
verticais e ao ar livre, estes que foram gravados por Deus, eram portáteis,
e designados para ser guardados como tesouro. Josefo diz que cada tábua
continha cinco preceitos. Mas a tradição geralmente recebida, tanto entre
escritores judeus como cristãos, é que uma continha quatro preceitos, e a
outras seis.
5. pus as tábuas na arca que eu fizera; e ali estão, como o
SENHOR me ordenou — Aqui há outra circunstância pequena, mas
importante, a menção pública da qual naquele momento, testemunha a
veracidade do historiador sagrado.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 38
6-9. Partiram os filhos de Israel de Beerote-Benê-Jaacã para
Mosera — Mudança tão repentina de um discurso oral a um relato
histórico, tem grandemente confundido os eruditos bíblicos mais
eminentes, alguns dos quais rejeitam o parêntese como interpolação
manifesta. Mas se acha nos manuscritos hebreus mais antigos, e, crendo
que todo o contido neste livro foi dado por inspiração, e merece respeito
profundo, a aceitamos tal como está, embora reconheçamos nossa
incapacidade de explicar a inserção neste lugar, destes detalhes de
acampamentos. Mas há outra dificuldade no relato em si. Os lugares que
se diz que ocuparam sucessivamente os israelitas, aqui estão enumerados
em ordem diferente daquele de Nm_33:31. Que os nomes dos lugares
nas duas passagens são os mesmos, não pode haver dúvida; mas, em
Números, estão provavelmente mencionados com referência à primeira
visita dos hebreus durante sua longa peregrinação rumo ao sul, antes de
sua volta a Cades na segunda vez; enquanto que aqui fazem referência à
segunda passagem dos israelitas, quando outra vez partiam rumo ao sul,
a fim de rodear a terra de Edom. É fácil conceber que Mosera (Hor) e os
poços de Jaacã possam estar em tal direção, que uma horda nômade
pudesse, em anos diferentes, tomar aquela primeiro em seu caminho, e
em tempo posterior tomar estes (Robinson).
10-22. Moisés aqui reata seu discurso, e tendo feito uma referência
passageira aos acontecimentos principais de sua história, conclui
exortando-os a temer ao Senhor e O servir fielmente.
16. Circuncidai, pois, o vosso coração — Aqui lhes ensina o
significado verdadeiro e espiritual daquele rito, como mais tarde insistia
Paulo (Rm_2:25, Rm_2:29), e que deveria ser aplicado a nosso batismo,
o qual não é “a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma
boa consciência para com Deus” [1Pe_3:21].
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 39
Deuteronômio 11

Vv. 1-32. EXORTAÇÃO À OBEDIÊNCIA.


1. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, e todos os dias
guardarás os seus preceitos — A razão da repetição frequente dos
mesmos conselhos ou conselhos semelhantes, se deve ao caráter e estado
infantil do povo, que necessitava linha sobre linha e preceito sobre
preceito. Além disso, os israelitas eram um povo obstinado e perverso,
difícil de dominar, propenso à rebelião, e, devido à sua longa estada no
Egito, tão violentamente viciado na idolatria. que corriam o risco de ser
seduzidos pela religião do país ao qual iam, a qual, em rasgos
característicos, tinha forte semelhança a do país que tinham deixado.
2-9. não falo com os vossos filhos que não conheceram …
porquanto os vossos olhos são os que viram todas as grandes obras
que fez o SENHOR — Moisés aqui está dando um breve resumo das
maravilhas e os milagres do juízo terrível que Deus tinha operado ao
efetuar a libertação deles, da tirania de Faraó, como também dos que
tinham passado no deserto; e bem sabia que poderia fazer ênfase sobre
estas coisas, porque se dirigia a muitos que tinham sido testemunhas
daqueles atos aterradores. Pois se lembrará que a ameaça divina de que
morreriam no deserto, e a execução da mesma, só se estendia aos
homens de vinte anos para cima, que eram aptos para a guerra. Mas os
homens de menos de 20 anos de idade, nem as mulheres nem nenhum da
tribo de Levi, foram objeto da denúncia (veja-se Nm_14:28-30;
Nm_16:49). Poderia, pois, ter havido muitos milhares de israelitas
naquele então dos quais Moisés podia dizer: “os vossos olhos são os que
viram todas as grandes obras que fez o SENHOR”; e em consideração
daqueles, este resumo histórico de Moisés foi bem calculado para
despertar suas mentes ao dever e às vantagens da obediência.
10-12. a terra que passais a possuir não é como a terra do Egito,
donde saístes — Os aspectos físicos da Palestina apresentam um
contraste notável aos da terra de escravidão. Uma larga planície forma a
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 40
parte cultivada do Egito, e na maior parte desta terra baixa e plana nunca
cai a chuva. Esta carência de chuva natural se enche pela inundação
anual do Nilo, e por meios artificiais da mesma origem, quando o rio
volta para dentro de seu leito habitual. Junto à margem, o processo da
irrigação é muito simples. O agricultor abre um pequeno canal de
irrigação na margem da eira onde semeou a semente, sulco após sulco, e
quando entra água suficiente, fecha novamente o canal de irrigação.
Onde a barranco é alto, a água é levantada por máquinas hidráulicas, das
quais há três tipos, de potência diferente, segundo o nível do rio. A água
se distribui por pequenos canais, de construção singela, formados pelo
agricultor com uma relha de arado, que dirige o curso da água, o qual se
fecha ou se abre, conforme a necessidade, pela pressão na terra com o
pé. Assim se regava a terra onde tinham habitado os israelitas por longo
tempo. Semelhante vigilância e laboriosidade não fariam falta na terra
prometida, porque em lugar de ser visitada só num breve período, e
deixada durante o resto do ano sob o forte calor do sol, cada estação
desfrutaria das boas influências do clima suave; os montes atrairiam as
nuvens, e em aguaceiros refrescantes as bênçãos de Deus descansariam
sobre a terra.
12. terra de que cuida o SENHOR, vosso Deus — i. e., regando-
a, como se fosse, com Suas próprias mãos, sem ajuda humana ou meios
mecânicos.
14. darei chuvas … a chuva temporã e a chuva serôdia (TB) —
A chuva temporã começava no outono, i. e., principalmente nos meses
de setembro e outubro, enquanto que a chuva serôdia caía na primavera,
i. e., durante março e abril. É verdade que havia aguaceiros ocasionais
todo o inverno; mas no outono e na primavera eram mais frequentes,
copiosas e importantes; porque a chuva temporã era necessária, depois
do verão caloroso e longo, para preparar a terra para receber a semente; e
a chuva serôdia, que vinha um pouco antes da colheita, era da maior
utilidade para fortalecer os poderes esgotados da vegetação. (Jr_5:24;
Jl_2:23; Am_4:7; Tg_5:7).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 41
15-17. Darei erva no vosso campo aos vossos gados — Sem
dúvida a bênção especial das chuvas, a temporã e a serôdia [Dt_11:14,
TB], foi a principal causa da fertilidade extraordinária de Canaã nos
tempos antigos. Aquela bênção foi prometida a Israel como uma
recompensa temporária por sua fidelidade à aliança nacional [Dt_11:13].
Eram ameaçados de perderem as bênçãos por sua desobediência ou
apostasia; e muito notavelmente se vê a execução daquela ameaça, na
esterilidade atual da Palestina. Mr. Lowthian, um agricultor inglês, que
foi impressionado numa viagem de Jope a Jerusalém, ao não ver um
caule de erva, onde até nos lugares mais estéreis de Inglaterra se achava
alguma vegetação, prestou atenção particular ao assunto, e seguiu sua
averiguação durante uma estada de um mês em Jerusalém, onde soube
que só se vendia uma quantidade miserável de leite aos habitantes a um
preço muito elevado, e que era geralmente leite de burra. “Muito
claramente”, disse, “pude ver que a esterilidade de grandes porções do
país se devia à cessação da chuva temporã e serôdia, e que a ausência de
ervas e flores fazia com que não fosse mais, a terra que mana leite e mel”
(Dt_11:9).
18-25. Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração …
atai-as — (Veja-se Dt_6:8).
24. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé ... será vosso —
não como se os judeus tivessem que ser senhores do mundo, mas sim de
todo lugar dentro da terra prometida. Seria cedida a eles e possuída por
eles, sob a condição da obediência.
desde o deserto — a Arabá no sul.
Líbano — o limite setentrional.
Eufrates — seu fronteira sobre o este; a concessão de seu domínio
se estendia até estes limites; e o direito se cumpriu sob Salomão.
até ao mar ocidental — o Mediterrâneo.
26-32. Eis que, hoje, eu ponho diante de vós a bênção e a
maldição — (Veja-se Dt_27:11).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 42
Deuteronômio 12

Vv. 1-15. MONUMENTOS DE IDOLATRIA PARA SEREM


DESTRUÍDOS.
1. São estes os estatutos e os juízos que cuidareis de cumprir —
Nos capítulos anteriores tendo ensinado aos israelitas a obrigação geral
de temer e amar a Deus, aqui Moisés entra num detalhe de alguns
deveres especiais que eles deviam cumprir quando entrassem na posse da
terra prometida.
2. Destruireis por completo todos os lugares onde as nações que
ides desapossar serviram aos seus deuses — Este mandado divino se
baseou nas tendências da natureza humana; porque o tirar da vista tudo
que tinha estado associado com a idolatria, de modo que não se falasse
disso, nem ficasse um vestígio, era a única maneira eficaz de afastar os
israelitas de tais tentações. Se notará que Moisés não faz nenhuma
menção de templos, porque tais edifícios não existiam naquele primeiro
período. Os “lugares” escolhidos como cena do culto pagão, achavam-se
ou no cimo de algum monte alto, ou em alguma colina artificial, ou em
algum bosque plantado com árvores especiais, como carvalhos, álamos
ou olmos (Is_57:5-7; Os_4:13). O motivo da eleição de tais locais era
tanto o de conseguir retraimento como o de dirigir a atenção para cima,
ao céu; e o “lugar” não era nada mais que um cercado consagrado, ou, no
melhor dos casos, um pavilhão ou um biombo contra a intempérie.
3. deitareis abaixo os seus altares — Montões de grama ou de
pedras pequenas.
despedaçareis as suas colunas — Antes que se desenvolvesse a
arte da escultura, as estátuas dos ídolos não eram mais que partes rústicas
de pedras superpostas.
5-15. o lugar que o SENHOR, vosso Deus, escolher … para lá
ireis — Foram proibidos de adorar da maneira supersticiosa dos pagãos,
ou em algum dos lugares frequentados por eles. Um lugar especial para a
reunião geral de todas as tribos seria escolhido pelo próprio Deus; e a
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 43
escolha de um lugar comum para os solenes ritos da religião foi um ato
de sabedoria divina, para a segurança da verdadeira religião; a medida
foi admiravelmente ideada para evitar a corrupção que de outra maneira
se teria deslizado, se eles frequentavam bosques ou lugares altos; para
conservar a uniformidade do culto, e para manter viva sua fé nAquele
para quem se dirigiam todos os seus sacrifícios. O lugar foi
sucessivamente Mispa, Silo e especialmente Jerusalém; mas em todas as
referências que a ele fazia Moisés, o nome nunca foi mencionado; e este
silêncio premeditado era mantido em parte para que os cananeus
residentes no território onde aquele lugar estaria, não concentrassem ali
suas forças para frustrar toda esperança de que os israelitas tomassem;
em parte, para que o desejo de possuir lugar de tanta importância não
chegasse a ser causa de contenda ou rivalidade entre as tribos hebreias,
como sucedeu a respeito do nomeação do sacerdócio (Nm_16:1-30).
7. Lá, comereis perante o SENHOR — Das coisas mencionadas
em Dt_12:6; mas naturalmente, nenhuma das partes destinadas aos
sacerdotes diante do Senhor, no lugar onde o santuário tinha que ser
estabelecido, e aquelas partes da Cidade Santa onde o povo tinha
liberdade de frequentar e habitar.
12. vos alegrareis perante o SENHOR, vosso Deus, vós, os
vossos filhos, as vossas filhas, etc. — Assim, parece que embora só os
homens recebessem a ordem de concorrer diante de Deus nas festas
anuais solenes (Êx_23:17), permitia-se às mulheres acompanhá-los
(1Sm_1:3-23).
15. Porém, consoante todo desejo da tua alma, poderás matar e
comer carne nas tuas cidades — Todo animal, fosse boi, cabra ou
cordeiro, destinado à alimentação, durante a estada no deserto, se
ordenou que fosse morto como oferta pacífica à porta do tabernáculo, e
que sua gordura fosse queimada sobre o altar, pelo sacerdote. Como o
acampamento rodeava o altar, ficou fácil e viável este sistema. Mas
quando se estabeleceram na terra prometida, foram dispensados da
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 44
obrigação de carnear no tabernáculo, e o povo foi deixado em liberdade
de preparar sua carne em suas cidades e lares.
segundo a bênção do SENHOR, teu Deus — i. e., o modo de
viver deveria se acomodar à condição e aos meios de cada um; uma
indulgência profusa e dissoluta nunca pode receber a bênção divina.
o imundo e o limpo dela comerão — O “imundo” aqui é alguém
que estivesse sob alguma leve contaminação, a qual, sem o excluir da
sociedade, entretanto, o privava de comer as carnes sagradas (Lv_7:20).
Tais pessoas estavam em liberdade de comer sem reserva os artigos
comuns de comida,
da carne do corço e do veado — O corço sírio é uma espécie entre
nosso corço vermelho e nosso corço distinguido pela falta de uma
segunda haste, contando de baixo e por uma pelagem salpicada, que se
apaga só no terceiro ou quarto ano (Biblical Cyclopedia).

Vv. 16-25. O SANGUE É PROIBIDO.


16. Tão-somente o sangue não comerás; sobre a terra o
derramarás como água — A proibição de comer ou beber o sangue
como costume antinatural acompanhou o anúncio da permissão divina
para comer a carne de animais (Gn_9:4), e a proibição foi renovada
repetidas vezes por Moisés com referência aos grandes objetivos da lei
(Lv_17:2): o impedir a idolatria e a consagração do sangue do sacrifício
a Deus. A respeito do sangue de animais carneados para alimento,
entretanto, podia ser derramado sem cerimônia, e vertido sobre a terra
como coisa comum como a água; somente por motivo de decência, como
também para prevenir a idolatria, devia ser coberto com terra
(Lv_17:13), em contraste com a prática dos pagãos que o deixavam
como uma oferta ao deus da caça.
22-28. como se come da carne do corço e do veado, assim
comerás destas carnes — Os animais da caça, tomados no deserto, não
tinham que ser trazidos à porta do tabernáculo. Agora o povo ia ser tão
livre para matar o gado doméstico como os animais silvestres. A
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 45
permissão de caçar e usar a carne de animais caçados, sem dúvida, foi
uma grande bênção para os israelitas, não só no deserto, mas em seu
estabelecimento na Palestina, pois as cordilheiras montanhosas do
Líbano, Carmelo e Gileade, onde abundavam os cervos em grandes
quantidades, lhes proveriam assim comida copiosa e riquíssima.

Vv. 26-32. AS COISAS SAGRADAS DEVIAM SER COMIDAS


EM LUGAR SANTO.
26. Porém tomarás o que houveres consagrado — Os dízimos
mencionados (Dt_12:17) não se devem considerar dízimos comuns, os
quais pertenciam aos levitas, e dos quais os israelitas particulares tinham
direito de comer; mas são outros dízimos ou obséquios, que o povo
levava ao santuário para serem apresentados como ofertas pacíficas, e
dos quais, uma vez oferecidos, eles festejavam com suas famílias e
amigos (Lv_27:30).
30. guarda-te, não te enlaces com imitá-las … não indagues
acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram estas nações
aos seus deuses, etc. — Os israelitas, sob a influência de um temor
supersticioso, frequentemente tentavam propiciar às deidades de Canaã.
Sua educação egípcia havia impresso muito antes aquela ideia ridícula de
que um grupo de deidades locais, esperavam o tributo de parte de todos
os que chegassem a habitar o país que elas honravam com sua proteção,
e que se ressentiam seriamente a negligência em pagá-los, da parte de
todos os recém chegados. (Warburton). Tomando em consideração a
preponderância desta ideia entre eles, vemos que contra uma influência
egípcia foi dirigida a força completa desta sã advertência com a qual se
fecha este capítulo.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 46
Deuteronômio 13

Vv. 1-5. OS INSTIGADORES À IDOLATRIA CONDENADOS À


MORTE.
1. Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti — Os
conselhos especiais que se seguem, tiveram sua origem no preceito geral
contido em Dt_12:32; e a substância deles é, que toda tentativa de
desencaminhar a outro do caminho do dever que prescreve a norma
divina de fé e culto, não só deveria ser resistido energicamente, mas
também o sedutor devia ser castigado segundo a lei do país. Isto se
exemplifica em três casos de sedução à idolatria,
profeta — i. e., alguma pessoa notável que alegasse título ao
caráter e à autoridade do ofício profético (Nm_12:6; 1Sm_10:6), que
mostrasse provas de destreza ou de poder em apoio de suas pretensões,
ou que até prognosticasse acontecimentos que logo ocorressem como ele
predissera; como, por exemplo, um eclipse que um conhecimento das
ciências naturais o capacitasse a predizer (ou, como Caifás, Jo_18:14).
Se o propósito de uma tal pessoa fosse o de desencaminhar o povo do
culto do verdadeiro Deus, era um impostor, e deveria ser morto. Nenhum
prodígio, por maravilhoso que fosse, nenhuma autoridade humana por
grande que fosse, deveria ser permitida perturbar sua fé no caráter divino
e na verdade de uma religião ensinada tão solenemente e testemunhada
tão terrivelmente (cf. Gál_1:8). Os judeus modernos apelam a esta
passagem para justificar sua rejeição de Jesus Cristo. Mas ele possuía
todas as características de profeta verdadeiro, e longe de desviar ao povo
de Deus e de seu culto, o grande objeto de seu ministério foi o de
conduzir a uma observância mais pura, mais espiritual e mais perfeita da
lei.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 47
Vv. 6-18. NÃO HAVERIA PIEDADE MESMO COM PARENTES.
6. Se teu irmão … te incitar em segredo — Este termo “irmão” se
usa em sentido general em todos os países orientais (Gn_20:13), mas
outras expressões são acrescentadas aqui para indicar que nenhum grau
de parentesco, por próximo que fosse, devia permitir que se protegesse o
incitador da idolatria, que escondesse seu crime; ou protegesse sua
pessoa; a piedade e o dever deveriam vencer o afeto e a compaixão, e
uma acusação devia ser feita perante o magistrado.
9. mas, certamente, o matarás — Não apressadamente nem em
particular, mas sim depois do processo e convicção; e seu parente, o
informante, devia atirar a primeira pedra (veja-se Dt_17:7; At_7:58). É
evidente que o que tinha sido feito em particular, não poderia ser
provado legalmente por um só informante; e portanto dizem escritores
judeus, que se punham espiões em alguma parte secreta da casa, para
ouvir a conversação e vigiar a conduta da pessoa suspeitada de
tendências idolátricas.
12-18. homens malignos — “filhos de Belial”, demagogos
desordenados, insidiosos (Jz_19:22; 1Sm_1:16; 1Sm_25:25), que
abusassem de sua influência para levar os habitantes da cidade ao culto
idolátrico.
14. inquirirás, investigarás — i. e., o magistrado a quem coubesse
oficialmente fazer a investigação necessária; e em caso de que o relatório
resultasse verídico, o procedimento mais sumário deveria se iniciar
contra os apóstatas. Representou-se a lei neste capítulo como severa e
sanguinária, mas está de acordo com a constituição nacional de Israel.
Como Deus era seu Rei, a idolatria era considerada como rebelião, e a
cidade que se entregasse aos ídolos, se colocava em estado de rebelião, e
incorria no castigo do mesmo.
16. será montão perpétuo de ruínas. — Suas ruínas serão um
monumento permanente da justiça divina, e um farol de advertência e
terror para a posteridade.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 48
17. nada do que for condenado deverá ficar em tua mão —
Nada de despojos se tirariam de uma cidade tão solenemente entregue à
destruição. Toda criatura vivente tem que ser morta à espada; tudo o que
a ela pertencia devia ser reduzido a cinzas, para que não ficasse nada
dela senão a sua infâmia.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 49
Deuteronômio 14

Vv. 1, 2. O POVO DE DEUS NÃO SE DEVERIA DESFIGURAR


COM O LUTO.
1. não vos dareis golpes … por causa de algum morto — Era
prática comum de idólatras, tanto em ocasiões cerimoniosas de seu culto
(1Rs_18:28) como nos velórios e enterros (cf. Jr_16:6; Jr_41:5), o ato de
fazer incisões espantosas em seus rostos e outras partes de seu corpo,
com as unhas ou com instrumentos cortantes. O ato de rapar-se entre as
sobrancelhas era outro costume pagão em honra dos mortos (veja-se
sobre Lv_19:27-28; Lv_21:5). Tais usos indecorosos e degradantes,
sendo expressões extravagantes e antinaturais de pesar desesperador
(1Ts_4:13), deviam ser evitados cuidadosamente pelos israelitas, como
caluniadoras do caráter e incompatíveis com a posição dos que eram o
povo de Deus [Dt_14:2].

Vv. 3-21. O QUE SE PODIA E O QUE NÃO SE PODIA COMER.


3. Não comereis coisa alguma abominável — i. e., tudo que fosse
proibido como imundo (veja-se sobre Lv_11:1).

Vv. 14:4-8. QUANTO A ANIMAIS.


5. o veado — (veja-se sobre Dt_12:15).
corça — a palavra hebraica (jachmur) assim traduzida, não
representa a corça, que é desconhecido na Ásia ocidental, mas sim ao
antílope (oryx leucoryx), chamado jazmar pelos árabes. Era de cor
branca, negro nas extremidades, e vermelho claro nos coxas. Era comido
na mesa de Salomão.
cabra montês — A palavra akko é diferente da que se usa
comumente por uma cabra selvagem (1Sm_24:2; Sl_104:18; Pro_5:19),
e se supõe que seja a cabra-cervo, que tem o corpo de cervo, mas a
cabeça, chifres e barba de cabra. O animal desta classe se acha no
Oriente, e se chama lerwee (Shaw, Travels),
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 50
antílope adax (TB) — espécie de antílope (oryx addax) com ancas
brancas, chifres enroscados de 55 centímetros de comprimento, que tem
cerca de 71 cm. de altura até os ombros. É comum na região que os
israelitas tinham frequentado (Shaw).
antílope orix (TB) — supõe-se que seja o “oryx” núbio, que difere
do “oryx leucoryx”, já mencionado, por sua cor negra; é, além disso, de
estatura maior, de forma mais magra, chifres mais longos e mais
encurvados. É chamado Bekkar-El-Wash pelos árabes.
ovelha montês (TB) — traduzido pela Septuaginta “camelo
pardal”, ou girafa, mas outros, que julgam com razão que era um animal
mais familiar aos hebreus, creem que seja o kebsch (ovis tragelaphus),
algo maior que a ovelha comum, coberto não de lã e sim de cabelo
avermelhado, a ovelha-cabra da Síria.

Vv. 11-20. QUANTO A AVES.


11. De todas as aves limpas podereis comer — (veja-se Lv_11:21).
12. Porém estas são as de que não comereis — a lista de aves
proibidas como alimento, inclui as de rapina e as que comem imundícies.
13. açor (RA), falcão (TB) — deve ser o mesmo que o urubu
brasileiro (abutre, RC).
15. coruja — mais provavelmente a gaivota.
16. cisne (Versão Jünemann) — melhor, ganso [veja-se Lv_11:18].
17. abutre — A palavra hebraica rachemah é claramente idêntica a
rachamah, o nome que os árabes dão ao corvo comum da Ásia ocidental
e Egito (Neophron percnopterus). [veja-se Lv_11:18]
corvo marinho — melhor, gaivota; uma ave aquática [veja-se
Lv_11:17].
18. a poupa — uma ave bonita, mas de hábitos imundos [veja-se
Lv_11:19].
21. Não comereis nenhum animal que morreu por si — (Veja-se
Lv_17:15; Lv_22:8).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 51
Podereis dá-lo ao estrangeiro que está dentro da tua cidade —
não a um prosélito, porque ele, o mesmo que o israelita, estava sujeito à
lei; mas ao viajante pagão ou ao visitante.
Não cozerás o cabrito no leite da sua própria mãe — este é o
terceiro lugar em que se repete a proibição. Referia-se a uma cerimônia
anual dos pagãos (veja-se Êx_23:19; Êx_34:26).
22-27. Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas
sementes — A dedicação da décima parte do produto do ano em todas as
coisas era então um dever religioso [Nm_18:24]. Devia ser trazida como
oferta ao santuário; e, onde a distância impedia que fosse levada em
espécies, era por estatuto, conversível em dinheiro.
28-29. Ao fim de cada três anos … virão o levita, etc. — Como
os levitas não tinham herança como as demais tribos, os israelitas não
tinham que esquecê-los, mas honestamente dizimar seu produto. Além
da décima parte de todo o produto da terra, eles tinham quarenta e oito
cidades, com terrenos circundantes [Nm_35:7], “o melhor da terra”, e
certa proporção dos sacrifícios era utilidade dela. Eles tinham, pois, um
fundo para seu sustento, confortável e independente, embora não fosse
opulento.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Deuteronômio 15

Vv. 1-11. REMISSÃO DE DÍVIDAS NO ANO SABÁTICO.


1. Ao fim de cada sete anos — Durante o último dos sete anos, i.
e., o ano sabático (Êx_21:2; Êx_23:11; Lv_25:4; Jr_34:14).
2. todo credor que emprestou ao seu próximo alguma coisa
remitirá o que havia emprestado — não por uma remissão absoluta da
dívida, mas por passar aquele ano sem exigir o pagamento. O alívio era
temporário e peculiar àquele ano durante o qual havia uma suspensão
total do trabalho agrícola.
não o exigirá do seu próximo ou do seu irmão — i. e., a um
israelita, assim chamado em oposição ao estrangeiro.
pois a remissão do SENHOR é proclamada — A razão da
remissão ao devedor naquele período especial, procedia da obediência ao
mandado de Deus e por respeito à Sua honra; um reconhecimento de que
eles possuíam sua propriedade por concessão de Deus e em gratidão por
sua bondade.
3. Do estranho podes exigi-lo — Admissão a todos os privilégios
religiosos dos israelitas era concedida livremente a todos os prosélitos,
embora esta incorporação espiritual não dava a entender sempre uma
participação igualmente nos direitos e privilégios civis (Lv_25:44;
Jr_34:14; cf. 1Cr_22:2; 2Cr_2:17).
4. para que entre ti não haja pobre — Aparentemente uma
cláusula modificativa acrescentada para limitar a aplicação do dito
anteriormente [Dt_15:3]; de modo que “o irmão” a quem se remetia,
indicava a um pobre que tinha pedido empréstimo, enquanto se entendia
que se fosse rico, se poderia pedir a reintegração do empréstimo ainda
naquele ano sabático. Mas as palavras podem traduzir-se com correção:
“a fim de que não haja entre vós pobre”, i. e., que ninguém se visse
reduzido a uma situação incômoda ou a pobreza por inoportuna exação
de dívidas num tempo em que não havia trabalho nem produto da terra, e
para que todos desfrutassem de prosperidade e tranquilidade, o que
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 53
resultaria pela bênção especial de Deus, sempre que eles fossem
obedientes.
7-11. Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos …
não endurecerás o teu coração — Para que a lei anterior não impedisse
que os israelitas emprestassem aos pobres, Moisés aqui os adverte contra
espírito tão ruim e egoísta, e os exorta a dar com um espírito liberal de
caridade e bondade, o que lhes asseguraria a bênção divina (Rm_12:8;
2Co_9:7).
11. Pois nunca deixará de haver pobres na terra — Embora cada
israelita na conquista de Canaã deve ter sido proprietário, entretanto, na
providência de Deus, quem previa o acontecimento, era permitido, em
parte como um castigo da desobediência, e em parte, para o exercício de
sentimentos benévolos e caridosos, que “não faltarão carentes do meio
da terra”.

Vv. 12-19. A LIBERDADE DOS SERVOS HEBREUS.


12. Quando um de teus irmãos, hebreu ou hebreia, te for
vendido — o último recurso de um devedor insolvente, quando sua terra
ou casa não fosse suficiente para cancelar sua dívida, era que se vendesse
com sua família como escravo (Lv_25:39; 2Rs_4:1; Ne_5:1-13; Jó_24:9;
Mt_18:25). O termo servidão não podia durar além dos seis anos; eles
conseguiam sua liberdade ou depois de seis anos do tempo de sua venda,
ou antes do fim do sétimo ano; e no ano do jubileu tais escravos eram
emancipados, mesmo que não se tivessem completado seus seis anos de
servidão [veja-se Lv_25:39].
13-15. não o deixe ir sem lhe dar alguma coisa (NTLH) — Uma
provisão oportuna e sábia para ajudar um desafortunado a recuperar sua
posição original na sociedade, e o motivo para estimular sua bondade e
humanidade para com o escravo hebreu, era a lembrança de que toda a
nação alguma vez foi um bando de escravos degradados e perseguidos
no Egito. Assim que, a bondade para com os seus escravos, sem paralelo
em outras partes naqueles dias, era inculcada pela lei mosaica; e em toda
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 54
a sua conduta para com as pessoas em semelhante condição humilhada,
se impunha uma clemência e bondade mediante um recurso ao qual
nenhum israelita poderia resistir.
16, 17. Se, porém, ele te disser: Não sairei de ti — Se eles se
negavam a se valer do privilégio de manumissão, e queriam ficar com
seu amo, então mediante uma forma peculiar de cerimônia chegavam a
ser partícipes da transação, e voluntariamente se vendiam a seu patrão e
continuavam em seu serviço até a morte.
18. te serviu por metade do salário do jornaleiro — i. e., ele tem
direito a salário em dobro, porque seu serviço era mais vantajoso,
estando sem salário e por longo tempo, enquanto que os servos
assalariados se contratavam anualmente (Lv_25:53), ou pelo mais por
três anos (Is_16:14).
19. o macho consagrarás ao SENHOR, teu Deus — (Veja-se
Êx_22:30).
com o primogênito do teu gado não trabalharás — i. e., os
segundos primogênitos (vejam-se Dt_12:17, 18; 14:23).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 55
Deuteronômio 16

Vv. 1-22. A FESTA DA PÁSCOA.


1. Guarda o mês de abibe — ou primeiros frutos. Incluía a última
parte de março e o princípio de abril. Espigas verdes de cevada, que já
estavam cheias, eram oferecidas como primícias, no segundo dia da
Páscoa.
porque, no mês de abibe, o SENHOR, teu Deus, te tirou do
Egito — Esta afirmação aparentemente está em desacordo com a
proibição (Êx_12:22), como também com o fato comprovado de que sua
partida se fez na manhã (Êx_13:3; Nm_33:3); mas facilmente podem se
conciliar estas duas coisas. A permissão de Faraó, o primeiro passo na
emancipação, foi conseguido de noite, começaram-se os preparativos
para a partida e se teve a reunião em Ramessés, e a marcha se
empreendeu de manhã.
2. sacrificarás como oferta de Páscoa ao SENHOR, teu Deus, do
rebanho e do gado — não o cordeiro pascal, o qual era estrita e
corretamente a Páscoa. Toda a solenidade s menciona aqui, como é
evidente pela menção das vítimas adicionais que tinham que ser
ofertadas nos dias subsequentes da festa (Nm_28:18-19; 2Cr_35:8-9), e
pela alusão ao uso continuado de pães asmos durante sete dias, enquanto
que a Páscoa em si tinha que ser comida de uma vez. As palavras perante
nós equivalem a “guardará a festa da páscoa”.
3. Não comerás pão levedado com ela (BJ) — um pão azedo,
desagradável, insalubre, próprio para ser uma lembrança de sua miséria
egípcia, e da pressa com que saíram, sem deixar tempo para que seu pão
se fermentasse.
5, 6. Não poderás sacrificar a Páscoa em nenhuma das tuas
cidades — Não se devia observar a páscoa senão no pátio do
tabernáculo ou templo, pois não era meramente uma festa religiosa ou
ocasião sacramental, e sim um verdadeiro sacrifício (Êx_12:27;
Êx_23:18; Êx_34:35). O sangue devia ser aspergido no altar e no lugar
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 56
onde a verdadeira Páscoa mais tarde devia ser sacrificada na tarde, ao
pôr-do-sol literalmente, “entre as duas tardes”.
6. ao tempo em que saíste do Egito — i. e., o mês e o dia, embora
talvez não na mesma hora. O imenso número de vítimas que tinham que
ser imoladas na véspera da páscoa — i. e., dentro do espaço de quatro
horas — pareceu a alguns escritores como uma grande dificuldade. Mas
o grande número de sacerdotes oficiantes, sua destreza na preparação dos
sacrifícios, a longa extensão do pátio, as dimensões extraordinárias do
altar de holocaustos e o método ordenado para dirigir a solene cerimônia,
facilitavam levar a cabo em algumas horas o que teria necessitado em
outras circunstâncias outros tantos dias.
7. a cozerás e comerás — (Veja-se Êx_12:8; cf. 2Cr_35:13).
sairás pela manhã e voltarás às tuas tendas — O sentido desta
passagem, à primeira vista das palavras, parece indicar a manhã depois
do primeiro dia. Entretanto, talvez, a duração desta festa divinamente
estabelecida, o caráter solene e o objetivo importante, a viagem do povo
de distantes partes do país para estar presente, e os exemplos lembrados
de sua permanência o tempo todo (2Cr_30:21; 2Cr_35:17) (embora estas
pudessem ser consideradas ocasiões extraordinárias, e portanto
excepcionais), podem justificar a conclusão de que a permissão dada ao
povo de retornar a suas moradas, tinha que ser na manhã depois de
cumprir os sete dias.
9-12. Sete semanas contarás — A festa de semanas, ou “uma
semana de semanas”; a festa de Pentecostes (Veja-se Êx_34:22;
Lv_23:10; At_2:1). Como no segundo dia da páscoa, um molho de
cevada nova, colhida a propósito, era devotado, assim no segundo dia de
Pentecostes um molho de trigo novo era apresentado como primeiros
frutos (Êx_23:16; Nm_28:26), um tributo espontâneo de gratidão a Deus
por suas provisões temporárias. Esta festa foi instituída em lembrança da
entrega da lei, aquela comida espiritual pela qual a alma do homem é
alimentada (Dt_8:3).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 57
13-17. Celebrarás por sete dias a festa dos tabernáculos (TB) —
(Veja-se Êx_23:16; Lv_23:34; Nm_29:12). Foram feitas várias hipóteses
para explicar a origem desta festa à conclusão de toda a colheita; alguns
supõem que foi designada para lembrar os israelitas dos tempos quando
não tinham trigais que segar, mas eram providos com o maná; outros
creem que se adaptava ao conforto do povo melhor que qualquer outro
período do ano para morar em cabanas; outros, que era o tempo da
segunda ocasião em que Moisés desceu do monte; enquanto que outros
têm a opinião de que esta festa se fixou na época do ano quando o Verbo
Se fez carne e habitou – literalmente, “tabernaculou” – entre nós
(Jo_1:14), nascendo Cristo em tal época.
15. em toda obra das tuas mãos, pelo que de todo te alegrarás
— i. e., louvando a Deus com coração ardente e elevado. Segundo a
tradição judia, não se permitia que se celebrassem casamentos durante
estas grandes festas, para que não se mesclassem os regozijos pessoais
ou particulares com as demonstrações de alegria pública e nacional.
16. Três vezes no ano, todo varão entre ti aparecerá perante o
SENHOR — Nenhum mandamento foi dado às mulheres de empreender
estas viagens, em parte em consideração a sua natural fraqueza, e em
parte devido a seus cuidados domésticos.
18-20. Juízes e oficiais constituirás — Estes eram arautos ou
oficiais, empregados em executar as sentenças de seus superiores.
em todas as tuas cidades — Heb. “em todas a tuas portas”, porque
a porta da cidade era o lugar de concorrência pública entre os israelitas e
outros povos orientais, onde se tratavam os negócios e se ventilavam os
pleitos. A “Porte Turca” derivou seu nome da administração da justiça
nas portas.
21. Não plantarás nenhum bosque de árvores (RC) — “bosques”
têm nas Escrituras uma variedade de sentidos: um grupo de árvores de
sombra, ou um bosque adornado com altares dedicados a certa deidade,
ou uma imagem de madeira num bosque (Jz_6:25; 2Rs_23:4-6) Podiam
colocar-se perto dos altares de terra temporárias levantados no deserto,
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 58
mas não podiam existir nem no tabernáculo nem no templo. Os bosques
eram lugares que, com suas habituais associações, apresentavam uma
forte sedução à idolatria, e portanto se proibiu aos israelitas plantá-los.
22. Nem levantarás estátua (RC) — erroneamente traduzida por
“coluna”, ou “pilar”; pilares de várias classes, e de materiais de madeira
ou pedra eram erigidos nas cercanias dos altares. Algumas vezes eram
cônicos ou retangulares, outras serviam de pedestais para estátuas de
ídolos. Ligava-se a elas uma reverência supersticiosa, e portanto foram
proibidas.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 59
Deuteronômio 17

Vv. 1. OS ANIMAIS SACRIFICADOS DEVIAM SER SÃOS.


1. Nunca sacrificarás para Iahweh teu Deus, um boi ou uma
ovelha com defeito (BJ) — sob o nome de boi se incluíam bois, vacas e
bezerros; sob o de ovelha, carneiros, ovelhas, cabritos e cabras macho e
fêmea. Um boi, devido à sua mutilação, era inadmissível. Os requisitos
exigidos nos animais destinados ao sacrifício se descrevem em Êx_12:5;
Lv_1:3.

Vv. 2-7. ORDEM PARA MATAR OS IDÓLATRAS.


2. Quando no meio de ti … algum homem ou mulher que
proceda mal — O grande propósito previsto na eleição de Israel foi o de
conservar o conhecimento e o culto do único Deus verdadeiro, e portanto
a idolatria de qualquer espécie, fosse a adoração de corpos celestiais ou a
de algum modo mais grosseira, chama-se “transgressão de sua aliança”.
Nenhuma dignidade nem sexo podia atenuar este crime. Cada caso
informado, até um rumor passageiro da perpetração de ofensa tão atroz,
devia ser investigado judicialmente, e se fosse provado por testemunhas
competentes, o ofensor tinha que ser levado fora das portas e apedrejado
até a morte, lhe atirando as testemunhas a primeira pedra. O objetivo
desta disposição especial era em parte o de impedir que as testemunhas
fizessem uma acusação precipitada pela parte proeminente que eles
deviam tomar como executantes, e em parte o de dar uma segurança
pública de que o crime tinha tido seu justo castigo.

Vv. 8-13. OS SACERDOTES E JUÍZES DEVIAM RESOLVER


AS CONTROVÉRSIAS.
8. Quando alguma coisa te for difícil demais em juízo — Em
todas as causas civis e criminais, onde houvesse dúvida ou dificuldade
em chegar a uma decisão, os magistrados locais deviam submetê-las por
referência ao tribunal do Sinédrio, a corte suprema, a qual se compunha
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 60
em parte de pessoas civis e em parte de eclesiásticas. “Os sacerdotes, os
levitas”, o sumo sacerdote inclusive, eram membros da assembleia
legislativa, e como formavam um corpo, são chamados “o juiz”. Suas
sessões eram celebradas nas cercanias do santuário, porque em grandes
emergências o sumo sacerdote devia consultar a Deus pelo Urim
(Nm_27:21). De sua sentença não havia apelação; e se alguma pessoa
fosse tão perversa e contumaz para negar obediência a suas sentenças,
sua conduta, como inconsequente com a manutenção da ordem e bom
governo, devia ser considerada e castigada como um crime capital.

Vv. 14-20. A ELEIÇÃO E AS OBRIGAÇÕES DE UM REI.


14. Quando … disseres: Estabelecerei sobre mim um rei — Na
passagem seguinte Moisés profeticamente anuncia uma revolução que
sucederia numa época posterior, na história nacional de Israel. Não foi
indicada nenhuma sanção nem recomendação; ao contrário, quando o
clamor popular tinha efetuado aquela mudança constitucional pela
nomeação de um rei, a desaprovação divina foi expressa em termos os
mais inequívocos (1Sm_8:7). Enfim a permissão foi concedida,
reservando Deus para si a nomeação da família e a pessoa que seria
elevada à dignidade real (1Sm_9:15; 1Sm_10:24; 1Sm_16:12;
1Cr_28:4). Com efeito, prevendo Moisés que seus compatriotas
ignorantes e volúveis, insensíveis a suas vantagens como povo peculiar,
logo desejariam mudar sua constituição e ser semelhantes às outras
nações, faz provisão até certo ponto para tal emergência, e assenta os
princípios sobre os quais um rei de Israel teria que operar. Teria que
possuir certos requisitos indispensáveis; devia ser israelita, da mesma
raça e religião, para conservar a pureza do culto estabelecido, como
também para ser um tipo de Cristo, rei espiritual, um de seus irmãos.
15. homem estranho, que não seja dentre os teus irmãos, não
estabelecerás sobre ti — i. e., por sua escolha livre e voluntária. Mas
Deus, nas retribuições de sua providência, permitiu que príncipes
estrangeiros usurpassem o domínio (Jr_38:17; Mt_22:17).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 61
16. este não multiplicará para si cavalos — O uso destes animais
não foi absolutamente proibido, nem há motivo para concluir que não
pudessem ser empregados como parte do aparato de estado. Mas a
multiplicação de cavalos inevitavelmente conduziria a muitos males, ao
intercâmbio crescente com as nações estrangeiras, especialmente com o
Egito, à importação de um animal ao qual o caráter do país não estava
adaptado, ao estabelecimento de um despotismo militar oriental, à
ostentação orgulhosa e pomposa em tempo de paz, a uma dependência
do Egito em tempo de guerra, e a uma falta de fé e confiança em Deus.
(2Sm_8:4; 1Rs_10:26; 2Cr_1:16; 2Cr_9:28; Is_31:3).
17. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu
coração se não desvie — Havia motivos dos mais fortes para fazer
constar uma proibição explícita sobre este ponto fundada na prática dos
países vizinhos nos quais prevalecia a poligamia, e cujos reis tinham
haréns numerosos; além disso, o monarca de Israel devia ser
absolutamente independente do povo, e não tinha mais que a lei divina
que restringisse as suas paixões. Os efeitos perniciosos resultantes da
violação desta condição estão exemplificados na história de Salomão e
de outros príncipes, os quais, ao pisotear esta lei restritiva, se
corromperam a si mesmos como também a nação.
nem multiplicará muito para si prata ou ouro — i. e., se proibia
aos reis acumular dinheiro para fins particulares.
18-20. escreverá para si um traslado desta lei num livro — O
rolo original das antigas Escrituras estava depositado no santuário sob o
cuidado estrito dos sacerdotes (Dt_31:26; 2Reis 22:8). Devia se entregar
a cada novo monarca uma cópia verdadeira e fiel, que ele devia guardar
constantemente a sua lado, e ler diariamente, a fim de que, amoldados
seu caráter e sentimentos na forma santificadora da mesma, pudesse ele
cumprir suas funções reais no espírito de fé e piedade, de humildade e de
amor pela justiça.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 62
20. de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos
— Disto parece que em Israel a coroa tinha que ser hereditária, contanto
que não fosse alienada por crime pessoal.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 63
Deuteronômio 18

Vv. 1-8. O SENHOR É A HERANÇA DOS SACERDOTES E


LEVITAS.
1. Os sacerdotes levitas … das ofertas … comerão — Como a
tribo de Levi não tinha herança destinada para si, como as demais tribos,
mas estava inteiramente consagrada ao ofício sacerdotal, sua manutenção
tinha que provir dos dízimos, das primícias e de certas porções das
oblações apresentadas sobre o altar, as quais Deus por decreto rápido
reservava para si, mas que passava aos suas ministros, uma vez
apresentadas.
3. Será este, pois, o direito devido aos sacerdotes, da parte do
povo — Todos os que ofereciam sacrifícios pacíficos ou de gratidão
(Lv_7:31-33), recebiam ordem de dar o peito e as costas como salário ao
sacerdote. Aqui “as queixadas” e o “bucho”, antigamente estimados
como manjar delicado, são especificados. Mas se este é um novo
mandado, ou uma repetição do velho mandado, com acréscimo de mais
detalhe, não é fácil determinar.
6-8. Quando vier um levita … e vá com todo o desejo de sua
alma — Parece que os levita serviam por turnos desde os tempos mais
remotos; mas, pelo grande número deles, só a intervalos distantes que
podiam ser chamados ao serviço efetivo. Mas se algum levita, sob a
influência de uma religiosidade eminente resolvia se dedicar inteira e
constantemente aos sagrados deveres do santuário, lhe era permitido
realizar seus ardentes desejos; e assim como era admitido a uma
participação do trabalho, assim também tinha participação na
remuneração. Embora tivesse propriedade particular, isso não devia ser
motivo para reter ou até diminuir seu título à manutenção, como outros
sacerdotes. A razão ou princípio do decreto é óbvia (1Co_9:13). Ao
mesmo tempo, enquanto que se proporcionava toda facilidade para a
admissão de oficiante tão zeloso e disposto a sacrificar-se, esta admissão
devia ser feita de uma maneira ordenada: ele tinha que ministrar “como
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 64
todos seus irmãos”; i. e., gersonita com gersonitas, merarita com
meraritas; a fim de que não houvesse transtorno na marcha estabelecida.

Vv. 9-14. AS ABOMINAÇÕES DOS GENTIOS DEVIAM SER


EVITADAS.
9. Não aprenderá a fazer segundo as abominações daquelas
nações — (Veja-se Lv_18:21; 19:26-31; 20:6). Apesar deste
mandamento explícito, os povos de Canaã, especialmente os filisteus,
eram uma armadilha e tropeço constantes, por causa de suas
adivinhações e práticas supersticiosas.

Vv. 15-19. CRISTO O PROFETA SERÁ OUVIDO.


15. um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim
— A inserção desta promessa, junto com a proibição anterior, poderia
justificar a aplicação que dela fazem alguns àquela ordem de profetas
verdadeiros aos quais, em sucessão contínua, comissionou Deus, para
dirigir e advertir o Seu povo; e nesta opinião, o teor da promessa seria:
“Não há necessidade de consultar adivinhos, pois eu te proporcionarei o
benefício de profetas divinamente comissionados, para julgar as
credenciais dos tais, dá-se um critério seguro” (Dt_18:20-22). Mas o
Profeta aqui prometido era preeminentemente o Messias, pois apenas Ele
era “como Moisés” (Dt_34:10) em seu caráter de mediador; na
excelência peculiar de seu ministério; no número, na variedade e
magnitude de seus milagres; em sua comunhão íntima e familiar com
Deus; e em ser ele o autor de uma nova dispensação de religião”. Esta
predição foi cumprida 1.500 anos mais tarde, e foi expressamente
referida a Jesus Cristo por Pedro (At_3:22 e 23), e por Estêvão (At_7:37).
19. De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele
falar em meu nome, disso lhe pedirei contas — As consequências
horrendas da falta de fé em Cristo, e do desprezo de sua missão, o povo
judeu tem experimentado durante 1.800 anos.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 65
Deuteronômio 19

Vv. 1-13. QUANTO ÀS CIDADES DE REFÚGIO.


2. três cidades separarás — O “goelismo”, ou o dever do parente
mais próximo de vingar a morte de um familiar assassinado, sendo a lei
tradicional daquela idade, como ainda o é entre os árabes e outros povos
do oriente, Moisés o incorporou numa forma melhorada, ao seu código
legislativo. Para a proteção do homicida acidental, proveu certas cidades
de refúgio; três já tinham sido designadas para este fim a leste do Jordão
(Dt_4:41; Nm_35:11); outras três deviam ser providas com o mesmo
privilégio a oeste daquele rio, quando Canaã devia ser conquistada.
no meio da tua terra que te dará o SENHOR, teu Deus — numa
localização onde fossem sobressalentes e acessíveis, e equidistantes das
extremidades da terra e entre si.
3. Preparar-te-ás o caminho — Os caminhos a elas condizentes
deviam ser mantidos em boas condições, e sobre os arroios e rios se
deviam estender pontes; a largura dos caminhos devia ser de 32 côvados;
e em todas as encruzilhadas se deviam erigir postes indicadores com a
palavra Mekeleth, Mekeleth, “refugio, refugio” neles gravada.
tua terra que te fará possuir o SENHOR, teu Deus, dividirás em
três — Toda a extensão da terra do sul a norte; as três cidades em cada
margem do Jordão estavam frente a frente, “como duas fileiras de
videiras na vinha” (Veja-se Js_20:7-8).
6-7. para que o vingador do sangue não persiga o homicida —
Este versículo é uma continuação do terceiro (pois Dt_19:4, 5, que são
explicativos, formam, um parêntese), e o sentido é, se o parente da
pessoa acidentalmente morta, sob o impulso de uma excitação repentina
e sem averiguar as circunstâncias, infligisse vingança sumária sobre o
homicida, embora este não fosse culpado, a lei tolerava semelhante ato; e
ficava impune o parente. Mas para evitar medidas tão precipitadas, se
estabeleceram as cidades de refúgio para receber o homicida, “para que o
sangue inocente se não derrame no meio da tua terra” (Dt_19:10). Em
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 66
casos de assassinato premeditado (Dt_19:11, 12). não proporcionavam
nenhuma imunidade; mas se fosse apenas homicídio casual, desde o
momento em que o fugitivo estivesse dentro das portas, achava-se em
asilo seguro (Nm_35:26-28; Js_20:6).
8, 9. Se o SENHOR, teu Deus, dilatar os teus limites — Três
santuários de refúgio adicionais tinham que ser estabelecidos em caso de
que seu território se estendesse sobre o país de Hermom e Gileade até o
Eufrates. (Veja-se Gn_15:18; Êx_23:31). Mas veladamente se insinuou
que esta última provisão nunca seria levada a prática, porque os israelitas
não cumpririam a condição: “desde que guardes todos estes
mandamentos … amando o SENHOR, teu Deus, e andando nos seus
caminhos”. Com efeito, embora aquela região fosse submetida por Davi
e Salomão, não achamos que as cidades de refúgio fossem estabelecidas;
porque aqueles soberanos só faziam tributários os habitantes antigos, em
vez de mandar colonos judeus para a possuir. O privilégio das cidades de
refúgio, entretanto, foi dado só aos israelitas; e além disso, aquele
território conquistado não ficou muito tempo sob o poder dos reis
hebreus.

V. 14. OS POSTES INDICADORES DEVIAM SER PERMANENTES.


Não mudes os marcos do teu próximo — O estado da Palestina
com relação a cercados é muito semelhante hoje ao que sempre foi.
Embora os jardins e as vinhas estejam cercados por taipas de tijolos crus
e sebes de figueiras, os limites dos campos cultiváveis só estão
assinalados por um sulco, e por pedras colocadas a intervalos. É claro
que uma pessoa sem integridade facilmente poderia encher o sulco com
terra, ou mudar estas pedras alguns pés, sem muito perigo de ser
descoberta, e assim aumentaria seu próprio campo por uma usurpação
furtiva do campo de seu vizinho. Esta lei, pois, foi feita para evitar
semelhantes fraudes.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 67
Vv. 15-21. DUAS TESTEMUNHAS REQUERIDAS.
15. Uma só testemunha não se levantará contra alguém por
qualquer iniquidade — As regras seguintes para regular a recepção de
testemunho nos tribunais públicos estão fundadas nos princípios da
justiça natural. Não se admitirá testemunha única para a condenação da
pessoa acusada.

Vv. 16-21. O CASTIGO DE TESTEMUNHAS FALSAS.


16. A confissão de perjúrio, era suficiente para a própria
condenação, e o castigo seria exatamente igual ao que teria
correspondido ao objeto de sua perseguição maligna. (Veja-se Êx_21:23;
Lv_24:20).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 68
Deuteronômio 20

Vv. 1-20. A EXORTAÇÃO DOS SACERDOTES ALENTARIA O


POVO PARA A BATALHA.
1. Quando saíres à peleja contra os teus inimigos — Na próxima
invasão de Canaã, ou em toda guerra justa e defensiva, os israelitas
tinham razão em esperar a presença e favor de Deus.
2. Quando vos achegardes à peleja, o sacerdote se adiantará, e
falará ao povo — Escritores judeus dizem que havia sacerdote de guerra
comissionado por cerimônia especial, para auxiliar o exército. É natural
que os objetos e motivos solenes da religião, fossem aplicados a animar
o patriotismo e dar mais impulsiono à coragem; outros povos têm feito o
mesmo. Mas no caso de Israel, a assistência regular de um sacerdote no
campo de batalha estava em concordância com o seu governo teocrático,
no qual tudo era feito por Deus por meio de seus ministros delegados.
Era obrigação deste sacerdote tocar as trombetas (Nm_10:9; Nm_31:6),
e ele tinha sob suas ordens outros que repetiam diante de cada batalhão a
exortação que ele dirigia aos guerreiros em geral. O discurso (Dt_20:3,
4) é notável por sua brevidade e energia admiravelmente adaptadas para
a ocasião, quando os homens estavam em linha de batalha.
4. o SENHOR, vosso Deus, é quem vai convosco a pelejar …
para vos salvar — Segundo escritores judeus, a arca era levada sempre
ao campo de combate. Mas disso não há evidencia na história sagrada; e
teria sido suficiente motivo de alento o estar assegurados de que Deus
estava do seu lado.
5-8. Os oficiais falarão ao povo — literalmente “shoterim”, que se
chamam escribas ou inspetores (Êx_5:6). Poderiam ser os guardadores
das listas de soldados, ou talvez , antes, arautos militares, cujo dever era
o de anunciar as ordens dos generais. (2Cr_26:11). Esta proclamação
(Dt_20:5-8) teria sido feita anteriormente ao discurso do sacerdote,
porque se teria produzida grande desordem e dificuldade, se as filas
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 69
fechadas fossem quebradas pela saída daqueles aos quais se concedia o
privilégio. Quatro motivos de isenção mencionam-se expressamente:
1. A dedicação de casa nova, a qual, como em todos os países
orientais ainda, era acontecimento importante, e celebrado com
cerimônias festivas e religiosas (Ne_12:27); isenção por um ano.
2. A plantação de uma vinha. Como se declarava inadequada para o
uso a fruta dos três primeiros anos, e as primícias do quarto ano, a
isenção neste caso durava quatro anos.
3. A promessa de casamento, que sucedia sempre um tempo
considerável antes do casamento. Considerava-se grande tristeza deixar
uma casa sem terminar, uma propriedade nova semicultivada, e um
contrato de casamento recém feito; e a isenção nestes casos se baseava
no princípio de que, estando o coração do homem preocupado por
assuntos à distância, ele não seria muito entusiasta no serviço público.
4. Este motivo de isenção era a covardia. Devido à composição do
exército israelita, que era uma milícia irregular, estando sujeitos a servir
todos os de vinte anos acima, muitos ineptos teriam sido chamados ao
campo; e era, pois, medida prudente a de livrar o exército de tais
elementos pacíficos, de pessoas que não poderiam render nenhum
serviço eficaz, e o contágio de cujo espírito pusilânime poderia conduzir
ao temor e à derrota.
9. designarão os capitães dos exércitos para a dianteira do povo.
— i. e., quando os eximidos se retirassem, os combatentes ficariam em
ordem de batalha.
10-20. Quando te aproximares de alguma cidade para pelejar
contra ela, oferecer-lhe-ás a paz — Um princípio importante aqui se
introduz na lei de guerra com relação aos povos contra os quais lutassem
e as cidades que sitiassem. Com “das cidades destas nações que o
SENHOR, teu Deus, te dá” em Canaã, tinha que ser guerra de extermínio
(Dt_20:17, 18). Mas quando numa ocasião justa, partissem contra outras
nações, eles tinham que lhes fazer oferta de paz, e se esta era seguida por
uma rendição, o povo deveria ser dependente [Dt_20:11], e na relação de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 70
tributárias, as nações conquistadas, receberiam as maiores bênçãos numa
aliança com o povo escolhido; chegariam ao conhecimento do Deus de
Israel e ao culto de Israel, como também a uma participação nos
privilégios de Israel. Mas se a cidade sitiada se negava a render-se,
devia-se fazer um massacre universal entre os varões, enquanto que as
mulheres e os meninos seriam salvos e tratados bondosamente
(Dt_20:13, 14). Por estes meios se fazia uma provisão para que fosse
feita uma relação útil entre os agressores e os cativos; e Israel, até por
suas conquistas, deveria ser uma bênção às nações.
19. não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado —
Num cerco prolongado, se necessitaria madeira para vários fins, tanto
para obras militares como para lenha. Mas as árvores frutíferas deviam
ser conservadas; e, com efeito, em países quentes como a Índia, onde o
povo se alimenta de fruta muito mais que nós, a destruição de um campo
frutífero se considera um sacrilégio.
20. destruí-las-ás, cortando-as; e, contra a cidade que guerrear
contra ti, edificarás baluartes — É evidente que algum tipo de
máquinas militares eram indicadas; e com efeito sabemos que no Egito,
onde os israelitas aprenderam suas táticas militares, o método de dirigir
um cerco era o de levantar diques e fazer avanços com torres mutáveis,
ou com a máquina militar antiga com que se cobriam os soldados para se
aproximar às muralhas e se defender das armas lançadas. (Wilkinson).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 71
Deuteronômio 21

Vv. 1-9. EXPIAÇÃO DO ASSASSINATO INCERTO.


1. Quando na terra … se achar alguém morto, caído no campo,
sem que se saiba quem o matou — As cerimônias aqui ordenadas para
serem observadas no descobrimento de um corpo assassinado, mostram
as ideias de santidade que a lei mosaica tentava associar com o sangue
humano, o horror que inspirava o assassinato, como também os temores
que se sentiam de que Deus se vingasse dela no país inteiro, e a
contaminação que se supunha contra a terra pelo derramamento de
sangue inocente, não castigado. Segundo escritores judeus, tomando o
Sinédrio a seu cargo tal causa, enviava uma deputação para revisar as
cercanias, e, ao se informar qual era a cidade mais próxima ao lugar onde
tinha sido achado o cadáver, uma ordem era expedida pela autoridade
suprema aos anciãos ou magistrados daquela cidade, para que provessem
uma novilha às custas do fisco, e cumprissem a cerimônia estabelecida.
A ocupação das autoridades públicas na obra de expiação, a compra da
vítima, a condução da mesma ao “vale áspero”, que podia estar a
distância considerável, e que, segundo o original, seria um wadi, corrente
perene, nas água do qual o sangue contaminador seria secada da terra, e
um deserto por outro lado, incapaz de ser cultivado; o lavar das mãos, o
que era um ato antigo simbólico da inocência: toda a cerimônia estava
destinada a fazer uma impressão profunda na mente judia, e na mente
oriental em geral; para estimular a atividade dos magistrados no
cumprimento de seus deveres oficiais; condizentes ao descobrimento do
criminoso e a repressão do crime.

Vv. 10-23. O TRATAMENTO DE UMA CATIVA TOMADA


POR ESPOSA.
10-14. Quando saíres à peleja contra os teus inimigos … e vires
entre eles uma mulher formosa, e te afeiçoares a ela, e a quiseres
tomar por mulher — Segundo os costumes de guerra de todas as
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 72
nações antigas, uma cativa devia ser a escrava do vencedor, que tinha
direito único e indisputável sobre ela. Moisés melhorou este costume
existente com regulamentos especiais sobre o assunto. Decretou que, em
caso de seu amo ser cativado por sua beleza, e pensasse casar-se com ela,
deixasse passar um mês, durante o qual os sentimentos perturbados dela
poderiam acalmar-se, sua mente se resignaria a sua nova condição, e que
ela poderia chorar a perda de seus pais, agora como mortos para ela. Um
mês era o período usual de luto entre os judeus, e as circunstâncias aqui
mencionados eram sinais de luto: a raspagem da cabeça, o ato de deixar
crescer as unhas, o despir de seu vestido esplêndido, com o qual se
embelezavam as mulheres em vésperas de ser tomadas cativas para ser
mais atraentes a suas captores. A demora era prova de humanidade e
bondade para a escrava, como também uma medida prudente para provar
a força do carinho do amo. Se depois seu amor se esfriava e era ele
indiferente a sua pessoa, ele não deveria tratá-la despoticamente, nem
vendê-la no mercado de escravos, nem retê-la em condição subordinada
em sua casa; antes, ela estaria livre para ir aonde suas inclinações a
conduzissem.
15-17. Se um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e
outra a quem aborrece — No original e todas as outras traduções, as
palavras são vertidas “teve,” referindo a eventos que já aconteceram; e
que o “tido” por algum erro, foi omitido em nossa versão, parece
altamente provável pelos outros verbos que estão no tempo pretérito -
“que fosse odiado dela,” não “que fosse odiado dele”; evidentemente
dando a entender que ela (a primeira esposa) estava morta no momento
de se referir a ela. Moisés, portanto, não está legislando aqui para o caso
de um homem que tivesse duas mulheres ao mesmo tempo, senão para o
de um homem que se tivesse casado duas vezes em sucessão, com a
segunda depois da morte da primeira; e não havia necessidade de legislar
nestas circunstâncias; porque a primeira esposa, a aborrecida, estava
morta, e a segunda, a amada, vivia; e com os sentimentos de madrasta,
ela insistiria em que o marido fizesse herdeiro o filho dela. Este caso não
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 73
tem referência à poligamia, que não havia evidência de que o código
mosaico legalizasse.
18-21. Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde — Se ditou
uma lei severa neste caso. Mas o consentimento de ambos os pais se
requeria para aplicá-lo em prevenção do abuso dela; porque é razoável
supor que os dois não aceitariam uma informação criminal contra seu
filho senão por uma necessidade absoluta, que resultasse de sua maldade
inveterada e irremediável; e neste respeito, a lei era sábia e saudável,
pois semelhante pessoa seria uma praga e um tédio à sociedade. O
castigo era aquele ao qual eram condenados os blasfemos [Lv_24:23];
pois os pais eram considerados como os representantes de Deus e estão
investidos de uma porção da Sua autoridade sobre os Seus filhos.
22, 23. Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e
tiver sido morto, e o pendurares num madeiro — A morte na forca
não era uma forma hebraica de ajuizamento. Mas em tal caso, o corpo
não devia ser deixado apodrecendo, ou ser presa das aves; devia ser
sepultado “no mesmo dia”, ou porque o mau cheiro em clima quente
corromperia o ar, ou porque o espetáculo de um cadáver exposto, traria
contaminação cerimonial sobre a terra.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 74
Deuteronômio 22

Vv. 1-4. A HUMANIDADE PARA COM OS IRMÃOS.


1. Vendo extraviado o boi ou a ovelha de teu irmão, não te
furtarás a eles, etc. — “Irmão” é termo de aplicação extensa, que
compreende todo tipo de pessoas, não um parente, vizinho ou
compatriota somente, mas qualquer ser humano, conhecido ou
desconhecido, e até um inimigo (Êx_23:4). O dever inculcado é um ato
de justiça e caridade comuns, o qual, ensinado pela lei da natureza, foi
mais claro e fortemente ordenado na lei entregue por Deus a Seu povo. A
indiferença ou dissimulação nas circunstâncias supostas, seria não só
crueldade para com os animais mas também uma violação dos direitos
comuns de humanidade; e portanto os ditados do sentimento natural, e
ainda mais a autoridade da lei divina, ordenavam que a propriedade
perdida ou extraviada de outro, deveria ser cuidada por aquele que a
achasse, até se apresentar a oportunidade própria para restaurá-la ao
dono.

Vv. 5-12. O SEXO DEVE DISTINGUIR-SE PELO VESTIDO.


5. A mulher não usará roupa de homem, nem o homem, veste
peculiar à mulher — Embora às vezes se usavam disfarce nos templos
pagãos, é provável que se faça referência às obscenidades inconvenientes
praticadas na vida comum. Estavam justamente proibidas; porque a
adoção dos objetos de um sexo pelo outro, é um ultraje contra a
decência, apaga as distinções da natureza produzindo brandura e
afeminação no homem, imodéstia e descaramento na mulher, como
também obscenidade e hipocrisia em ambos; e, afinal, abre a porta ao
influxo de tantos males que todos os que vestem a roupa de outro sexo,
são chamados “abominável ao SENHOR”.
6, 7. Se de caminho encontrares algum ninho de ave — este é um
caso belo do espírito benévolo da lei mosaica, reprimindo uma tendência
a destruir por pura maldade, e ao mesmo tempo alentar um espírito de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 75
ternura bondosa e compassiva para com as menores criaturas. Mas havia
sabedoria como também humanidade no preceito; porque, como se sabe
que as aves prestam serviços de importância na economia da natureza, a
extirpação de uma espécie, seja de aves comestíveis ou de rapina, deve
produzir em qualquer país, maus resultados. Mas a Palestina,
especialmente, estava localizada num clima que produzia serpentes e
escorpiões venenosos; e entre desertos e montanhas de onde o país teria
sido infestado por eles, como também por enxames de moscas,
gafanhotos, ratos e insetos de diversas classes, se se extirpassem as aves
que se alimentavam deles. (Michaelis). Portanto, o conselho dado nesta
passagem era sábio como também compassivo; o deixar tranquila a
fêmea ave para a propagação da espécie, embora se permitisse às vezes
tomar a cria como freio a um crescimento muito rápido.
8. far-lhe-ás, no terraço, um parapeito, para que nela não
ponhas culpa de sangue — Os tetos de casas na antiga Judeia, como
ainda no Oriente, eram planos, sendo feitos dos ramos e raminhos postos
sobre vigas, e cobertos com um cimento de argila ou mescla. Estavam
circundados por um corrimão ou parapeito à altura do peito; porque
como no verão o teto é lugar favorito de reunião pela frescura,
ocorreriam frequentemente acidente por chegar-se descuidadamente à
beira, caindo à rua ou ao pátio. Portanto foi uma precaução sábia e
prudente no legislador judeu a de ordenar que fizesse parte de toda casa
nova, uma balaustrada de pedra ou um corrimão de madeira ao redor do
teto.
9. Não semearás a tua vinha com duas espécies de semente —
(Veja-se Lv_19:19).
10. Não lavrarás com junta de boi e jumento — Que esta
associação, como a mescla de sementes, tivesse sido ditada por motivos
supersticiosos, e a proibição fosse simbólica, proposta para ensinar uma
lição moral (2Co_6:14), pode ter sido ou não o caso. Mas a proibição
evitava uma crueldade ainda praticada às vezes pelos mais pobres, em
países orientais. O boi e o jumento, sendo de espécies distintas e de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 76
caracteres diferentes não podem se associar confortavelmente, nem se
unir de boa vontade para arrastar o arado ou carro. Sendo o jumento
menor e seu passo mais curto, deve haver uma puxada desigual e
irregular. Além disso, o jumento, que se alimenta de pastos toscos e
venenosos, tem um alento fétido, que o boi busca evitar, não só por
venenoso e ofensivo, mas por produzir a magreza, se continuar por longo
tempo, produz a morte; e portanto, se vê que o boi sempre tem sua
cabeça afastada do jumento, e puxa com apenas um ombro.
Não te vestirás de estofos de lã e linho juntamente — A essência
do crime (Sof_1:8) consistia, não em vestir roupa de linho e lã, mas em
que os dois materiais fossem tecidos juntos, conforme uma superstição
favorita dos antigos idólatras (veja-se Lv_19:19).
12. Farás borlas nos quatro cantos do manto — ou, segundo
alguns intérpretes bíblicos eminentes, borlas na cobertura da cama. O
preceito não é igual ao de Nm_15:38.
13-30. Se um homem casar com uma mulher, etc. — Os
regulamentos que seguem, eram imperativamente necessários na então
situação dos israelitas; e entretanto, não é necessário que nós curiosa e
impertinentemente indaguemos quanto a eles. Longe de ser indigno de
Deus o deixar tais coisas na história, aqueles decretos devem aumentar
nossa admiração de Sua sabedoria e bondade no manejo de um povo tão
perverso e tão inclinado às paixões anormais. Tampouco é um
argumento melhor, que as Escrituras não foram escritas por inspiração de
Deus, o fato de que esta passagem, e outras de natureza semelhante,
tendem a corromper a imaginação, e serão imperfeitamente usados por
leitores mal dispostos, que o dizer que o sol não foi criado por Deus,
porque sua luz poderá ser usada por homens ímpios, como ajuda para
cometer crimes que eles meditaram (Horne).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 77
Deuteronômio 23

Vv. 1-25. QUEM PODE E QUEM NÃO PODE ENTRAR NA


CONGREGAÇÃO.
1. Aquele a quem forem trilhados os testículos ou cortado o
membro viril não entrará na assembleia do SENHOR. — Entrar “na
assembleia do Senhor” quer dizer ou admissão a honras e ofício públicos
na igreja e estado de Israel, ou, no caso de estrangeiros, incorporação
com aquela nação por casamento. A regra era, que os estrangeiros, por
temor de que a amizade ou casamento com eles conduzisse o povo à
idolatria, não fossem admitidos enquanto não se convertessem à fé
judaica. Mas esta passagem descreve certas limitações à regra geral. Os
elementos seguintes estavam excluídos dos plenos direitos e privilégios
de cidadania:
(1) Eunucos; era uma prática muito antiga de que os pais no Oriente
mutilassem de várias maneiras a seus filhos, tendo em vista prepará-los
para serviço em casa dos grandes.
(2) Bastardos; semelhante exclusão nestes dois casos tinha por
motivo o reprimir práticas que eram vergonhosas, mas muito comuns
devido ao trato com estrangeiros.
(3) Os amonitas e moabitas estavam excluídos, porque sem
provocação eles se uniram para alugar um adivinho para amaldiçoar os
israelitas; e além disso, se esforçaram, envolvendo-os na culpa e as
abominações dissolutas da idolatria, por desencaminhá-los de sua aliança
com Deus.
3. nem ainda a sua décima geração — Muitos escritores
eminentes creem que esta lei de exclusão era aplicável só aos varões; de
toda maneira usa-se um número definido por um indefinido (Ne_13:1;
Rt_4:10; 2Rs_10:2). Como muitos dos israelitas estavam estabelecidos a
leste do Jordão na vizinhança imediata daqueles povos, Deus levantou
esta parede de separação entre eles para evitar as consequências de más
companhias. Mais favor tinha que mostrar-se com os idumeus e egípcios:
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 78
àqueles por seu próximo parentesco com Israel, e a estes, por sua pronta
hospitalidade à família de Jacó, como também pelos muitos atos de
bondade prestados por egípcios particulares no Êxodo (Êx_12:36). Os
netos de idumeus e egípcios eram declarados plausíveis aos plenos
direitos de cidadania como israelitas naturais; e por esta notável medida
Deus ensinou ao Seu povo uma lição prática de generosidade e gratidão
por obras especiais de bondade, para esquecer toda a perseguição e más
relações sustentadas por parte daquelas duas nações.
9-14. Quando sair o exército contra os teus inimigos, então, te
guardarás de toda coisa má — Dos excessos inerentes à vida do
campo, como também de hábitos de negligência pessoal e impureza.
15, 16. Não entregarás ao seu senhor o escravo que, tendo
fugido dele, se acolher a ti — Evidentemente servo dos cananeus ou
algum dos povos vizinhos, que era impelido pela opressão tirânica, ou
induzido, tendo em vista abraçar a verdadeira religião, para buscar
refúgio em Israel.
19, 20. A teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro …
Ao estrangeiro emprestarás com juros — Os israelitas viviam num
estado de sociedade simples, e portanto eram encorajados a emprestar
um a outro de uma maneira amigável, sem esperança de lucro. Mas o
caso era diferente com os estrangeiros, aqueles que, ocupados no tráfico
e comércio, pediam empréstimos para aumentar o seu capital, e dos quais
se poderia esperar razoavelmente, pagariam juros sobre os empréstimos.
Além disso, a distinção tenderia admiravelmente a manter os israelitas
separados dos demais do mundo.
21, 22. Quando fizeres algum voto ao SENHOR — (Veja-se
Nm_30:3).
24, 25. Quando entrares na vinha do teu próximo, comerás uvas
segundo o teu desejo, até te fartares — As vinhas como os trigais,
mencionadas no versículo seguinte [Dt_23:25], com frequência estavam
sem cerca. Em países produtores de uvas, a fruta é assombrosamente
barata; e não precisamos nos maravilhar, pois, de que tudo o que
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 79
estivesse dentro do alcance do braço do passageiro fosse livre; a
quantidade recolhida era uma perda que nunca ressentia o proprietário, e
isto era um privilégio estendido ao pobre e ao viajante.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 80
Deuteronômio 24

Vv. 1-22. QUANTO AOS DIVÓRCIOS.


1. Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela
não for agradável aos seus olhos — Parece que a prática dos divórcios
era em época anterior, muito comum entre os israelitas, que com toda
probabilidade, se familiarizaram com o costume no Egito (Lane). Como
o uso estava muito arraigado para ser abolido logo ou facilmente, era
tolerado por Moisés (Mt_19:8), mas era legal com duas condições,
capazes de evitar em grande parte os males inerentes ao sistema
permitido: (1) Que o ato do divórcio devia estar certificado num
documento escrito, cuja preparação, com formalidade legal,
proporcionaria tempo para reflexão e arrependimento; e (2) que, em caso
de a esposa divorciada se casar com outro marido, ela não poderia, ao
acabar este segundo casamento, ser restaurada a seu primeiro marido,
por mais desejoso que ele estivesse de recebê-la.
5. Homem recém-casado não sairá à guerra — Esta lei de
isenção estava fundamentada em bons princípios, e era favorável ao
casamento, pois dava ampla oportunidade para que se afirmasse
plenamente o carinho da novo casal, e assim diminuía ou afastava
ocasiões para o divórcio.
6. Não se tomarão em penhor as duas mós — A pedra de cima,
sendo côncava, cobre a de abaixo como uma tampa. Tem uma pequena
abertura, pela qual se lança o grão, como também um cabo pelo qual lhe
dá volta. A justiça desta lei se fundava no costume de moer o grão cada
manhã para as necessidades do dia. Se faltasse, pois, qualquer das
pedras, que compunham o moinho, a pessoa se veria privada de sua
provisão necessária.
7. Se se achar alguém que, tendo roubado um dentre os seus
irmãos — (Veja-se Êx_21:16).
8, 9. Guarda-te da praga da lepra e tem diligente cuidado de
fazer segundo tudo — (Veja-se Lv_13:14).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 81
10-13. Se emprestares alguma coisa ao teu próximo, não
entrarás em sua casa para lhe tirar o penhor — O proceder
recomendado era, em sinal de respeito aos sentimentos do que pedia
empréstimo. Em caso de um pobre, que tinha dado em objeto sua capa,
esta teria que ser devolvida antes da noite, porque os pobres em países
orientais usualmente não têm outra coberta em que envolver-se quando
se deitam, além da capa que usaram no dia.
14, 15. Não oprimirás o jornaleiro pobre e necessitado — Servos
assalariados no Oriente são pagos no fim do dia; e o fato de que o amo
defraudasse o jornaleiro em seu salário, e que o retivesse injustamente
uma noite, podia sujeitar um pobre com família ao sofrimento, e era pois
uma injustiça que tinha que evitar-se (Lv_19:13).
16-18. Os pais não serão mortos em lugar dos filhos — A regra
se dirigia para governo dos magistrados, e estabelecia o princípio
equitativo de que ninguém seria responsável pelos crimes alheios.
19-22. Quando, no teu campo, segares a messe — O grão,
arrancado pelas raízes ou cortado com a foice, era posto em molhos; o
fruto do oliveira se obtinha golpeando os ramos com longas varas, e os
cachos de uvas, cortados por um gancho, eram recolhidos na mão do
vindimador. Aqui há uma medida benéfica para os pobres. Todo molho
esquecido no campo, tinha que ser deixado; o oliveira não tinha que ser
golpeada pela segunda vez; nem uvas rebuscadas tinham que ser
juntadas, a fim de que, ao recolher o que ficava, o coração do
estrangeiro, do órfão e a viúva se alegrasse pela bênção da Providência.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 82
Deuteronômio 25

Vv. 1-19. OS AÇOITES NÃO DEVEM EXCEDER A QUARENTA.


2. Se o culpado merecer açoites — Em sentenças judiciais, que
adjudicavam castigos menores que a pena capital, o açoite, e a surra
egípcia, era a forma mais comum de serem executados. Entretanto, a lei
mosaica introduziu duas restrições importantes: 1. Que o castigo seria
infligido na presença do juiz e não em particular por algum oficial sem
coração; e, 2. Que o número máximo de açoites estaria limitado a
quarenta, em vez de ser adjudicado segundo a vontade ou a paixão do
magistrado. Os governantes egípcios, como os turcos e chineses,
frequentemente aplicavam a vara até causar a morte ou a claudicação por
toda a vida. Em que o açoite consistia no princípio, não sabemos; mas
em tempos posteriores, quando os judeus eram muito escrupulosos em
aderir à letra da lei, e, por temor de calcular mal, desejosos de ficar
dentro do limite prescrito, formavam o açoite por três cordas que
terminavam em três correias, e treze golpes deste eram contados como
trinta e nove (2Co_11:24).
4. Não atarás a boca ao boi quando debulha — Na Judeia, como
na Síria moderna e no Egito, o grão é trilhado pelas patas dos bois, que
atados juntos sob o jugo, vão pisando dia após dia as amplas eras de
debulhar. Permite-se as animais recolher um bocado, quando querem:
uma regra sábia e humana introduzida pela lei de Moisés (cf. 1Co_9:9;
1Tm_5:17-18).
5-10. a mulher do que morreu não se casará com outro
estranho, fora da família; seu cunhado a tomará — Este uso existia
antes do tempo de Moisés (Gn_38:8). Mas a lei mosaica tornou o
costume obrigatório (Mt_22:25) de que os irmãos mais novos ou o
parente mais próximo se casasse com a viúva (Rt_4:4), associando assim
o desejo natural de perpetuar o nome do irmão com a preservação da
propriedade na família e tribo hebreias. Em caso de que o irmão mais
novo se negasse a cumprir a lei, a viúva trazia seu demanda perante as
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 83
autoridades do lugar em assembleia pública (à porta da cidade), e
havendo ele declarado sua negativa, recebia a ordem de desatar a correia
do sapato dele — símbolo de degradação—seguido aquele ato pelo de
cuspir no solo, a expressão mais forte de ignomínia e desprezo entre os
povos orientais. O sapato era guardado pelos magistrados como
evidência da transação, e as duas partes se separavam.
13-16. Na tua bolsa, não terás pesos diversos, um grande e um
pequeno — Os pesos antigamente eram feitas de pedra, e são
frequentemente usadas ainda por armazeneiros e comerciantes orientais,
que os tiram de sua bolsa e os põem na balança. O homem que não é
defraudado pelo traficante e sua bolsa de diversos pesos, deve ter mais
acuidade que a da maioria de seus semelhantes (Roberts). (Cf.
Pro_16:11; Pro_20:10).
17-19. Lembra-te do que te fez Amaleque — Esta atrocidade
premeditada e covarde não foi relatada na história prévia (Êx_17:14). Foi
um ultraje não provocado contra as leis da natureza e da humanidade,
como também um desafio atrevido àquele Deus que tão notavelmente
tinha mostrado Seu favor para com Israel (veja-se 1Sm_15:27-28,
1Sm_15:30).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 84
Deuteronômio 26

Vv. 1-15. CONFISSÃO DE QUEM OFERECE AS PRIMÍCIAS.


2. tomarás das primícias de todos os frutos do solo que
recolheres da terra — Sendo os israelitas os inquilinos de Deus,
estavam obrigados a prestar tributo a Ele na forma de primícias e
dízimos. Nenhum israelita estava em liberdade de usar algum produto de
seu campo, enquanto não tivesse apresentado as ofertas indicadas. O
tributo começou a ser exigido após o estabelecimento na terra prometida,
e era repetido anualmente numa das grandes festas (Lv_2:14; Lv_23:10;
Lv_23:15; Nm_28:26; Dt_16:9). Cada chefe de família o levava sobre
seus ombros numa cesta de vime, ou de folhas de palmeira, e o trazia
para o santuário.
5. testificarás perante o SENHOR, teu Deus, e dirás: Arameu
prestes a perecer foi meu pai — antes, um “sírio errante”. Os
antepassados dos hebreus eram pastores nômades, ou sírios de
nascimento como Abraão, ou por longa residência como Jacó; e quando
foram estabelecidos como nação em possessão da terra prometida, pela
bondade imerecida de Deus, se tornaram devedores do privilégio tão
distinto, e em sinal de gratidão, eles traziam esta cesta de primeiros
frutos.
11. Alegrar-te-ás — festejando com amigos e levitas, os quais
eram convidados em tais ocasiões a participar nas alegres festividades
que se seguiam às oblações (Dt_12:7; 16:10-15).
12-15. Quando acabares de separar todos os dízimos da tua
messe no ano terceiro, que é o dos dízimos — Entre os hebreus havia
dois dízimos. O primeiro era para os levitas (Nm_18:21). O segundo,
sendo a décima parte do que ficava, era trazido a Jerusalém em espécies;
ou era convertido em dinheiro, e o dono chegando à capital, comprava
ovelhas, pão e azeite (Dt_14:22, 23). Isto se fazia por dois anos juntos.
Mas este segundo dízimo era comido em casa, e no terceiro ano repartido
entre os pobres do lugar (Dt_14:28, 29).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 85
13. Dirás perante o SENHOR, teu Deus: Tirei de minha casa o
que é consagrado — Esta era uma declaração solene de que nada do que
deveria ser consagrado ao serviço divino, tinha sido reservado
secretamente para usos pessoais.
14. Dos dízimos não comi no meu luto — em época de pesar, que
trazia contaminação sobre as coisas sagradas; simulando pobreza, e
recusando dar aos pobres.
e deles nada tirei estando imundo — i. e., para uso comum,
diferente do que Deus tinha estabelecido, e que teria sido uma
profanação disso.
nem deles dei para a casa de algum morto — para um serviço
fúnebre, ou um ídolo que é coisa morta.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 86
Deuteronômio 27

Vv. 2-10. O POVO DEVE ESCREVER A LEI SOBRE PEDRAS.


2. No dia em que passares o Jordão — “dia” se usa com
frequência para “tempo”; e não foi senão alguns dias depois do
cruzamento quando as seguintes instruções foram postas por obra.
levantar-te-ás pedras grandes e as caiarás — Estas pedras
deviam ser tomadas em seu estado natural, sem lavrar e sem polir, pois a
ocasião em que seriam usadas, não permitiria uma preparação longa e
elaborada; e deviam ser molhadas com pintura ou branqueadas, para as
tornar mais notáveis. São vistas no Egito e na península do Sinai, pedras
e até rochas, que contêm inscrições feitas há 3.000 anos, com pintura ou
cal. Por algum método similar aquelas pedras devem ter sido inscritas, e
é mais provável que Moisés aprendesse a arte no Egito.
3. escreverás, nelas, todas as palavras desta lei — Podia ser,
como creem alguns, o Decálogo; mas uma probabilidade maior é que
fossem “as bênçãos e maldições”, que compreendiam com efeito um
resumo da lei (Js_8:34).
5-10. Ali, edificarás um altar ao SENHOR, teu Deus, altar de
pedras — As pedras deveriam estar em seu estado natural, como se o
cinzel lhes comunicasse contaminação. O montão de pedras devia ser tão
grande para conter todas as condições da aliança, tão elevado para ser
visível a toda a congregação de Israel; e a cerimônia religiosa por
celebrar-se devia constar, primeiro, do culto elementar necessário para
homens pecadores; e em segundo lugar, de ofertas pacíficas, ou festas
sociais animadas, que fossem adequadas para um povo cujo Deus era
Jeová. Assim havia, pois, a lei que condenava, e a expiação típica: os
dois grandes princípios da religião revelada.

Vv. 12-15. AS TRIBOS DIVIDIDAS SOBRE GERIZIM E EBAL.


12, 13. estarão sobre o monte Gerizim, para abençoarem o
povo, estes ... estes, para amaldiçoar, estarão sobre o monte Ebal —
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 87
Estas terras rochosas estavam na província de Samaria, e os picos
mencionados estavam perto de Siquém (Nablus), levantando-se em
precipícios escarpados, à altura de 255 metros, e separados por um vale
verde, de largura de 455 metros. O povo de Israel foi dividido aqui em
duas partes. Sobre o monte Gerizim (hoje Jebel-et-Tur) estavam
colocados os descendentes de Raquel e Leia, as duas mulheres principais
de Jacó, e eles receberam a função mais agradável e honorável, de
pronunciar as bênçãos; enquanto que sobre o monte gêmeo de Ebal
(agora Imad-el-Deen) foram postos os descendentes das duas esposas
secundárias Zilpa e Bila, com os de Rúben, quem tinha perdido a
primogenitura, e Zebulom, o filho mais novo de Leia; a estes foi dado o
dever, necessário mas penoso, de pronunciar as maldições (veja-se
Jz_9:7). A cerimônia pode haver sido celebrada nos contrafortes mais
baixas das montanhas, onde se aproximam mais entre si; e a ordem
observada seria como segue: Entre a expectativa silenciosa da solene
assembleia, os sacerdotes rodeando a arca no vale abaixo, disseram em
voz alta, olhando na direção de Gerizim: “Bendito o homem que não faz
imagem de fundição”, enquanto o povo formado sobre aquele monte
respondia com fortes exclamações simultâneas: “Amém”. Então
dirigindo-se para Ebal, gritaram: “Maldito o homem que fizer escultura
ou imagem de fundição”, ao qual os que cobriam aquela serra,
responderam: “Amém”. O mesmo proceder em cada pausa, era seguido
com todas as bênçãos e maldições (Veja-se Js_8:33-34). Estas maldições
acompanhantes da desobediência à vontade divina, são dadas na forma
de uma declaração, e não na de um desejo, pois as palavras deveriam
traduzir-se: “Maldito é aquele que …” e não: “Maldito seja aquele que
…”
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 88
Deuteronômio 28

Vv. 1-68. AS BÊNÇÃOS PELA OBEDIÊNCIA.


1. Se atentamente ouvires a voz do SENHOR, teu Deus — Neste
capítulo se enumeram as bênçãos e maldições extensamente e com
vários detalhes minuciosos, de modo que na entrada dos israelitas na
terra prometida, todo o seu destino estava posto diante deles, pois tinha
que resultar de sua obediência ou do contrário.
2-6. virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos — sua
obediência nacional tinha que ser recompensada por uma prosperidade
extraordinária e universal.
7. por sete caminhos, fugirão da tua presença — i. e,. em
direções diferentes, como sempre sucede numa derrota.
10. és chamado pelo nome do SENHOR — i. e., que são na
realidade seu povo (Dt_14:1; Dt_26:18).
11. O SENHOR te dará abundância de bens — Além das
capacidades naturais de Canaã, sua fecundidade extraordinária devia-se à
bênção especial de Deus.
12. O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro — A abundância
oportuna das chuvas, a temporã e a serôdia, foi um dos meios principais
pelos quais sua terra era tão extraordinariamente frutífera.
emprestarás a muitas gentes, porém tu não tomarás emprestado
— i. e., você estará em circunstâncias tão abundantes, para ser capaz,
dentre sua riqueza supérflua, de dar ajuda a seus vizinhos mais pobres
que você.
13, 14. por cabeça e não por cauda — forma oriental de
expressão, que significa a possessão de poder independente e grande
dignidade e excelência reconhecida (Is_9:14 ,15).
15-20. se não deres ouvidos à voz do SENHOR — Agora se
enumeram as maldições que deviam segui-los em caso de desobediência,
e elas são quase as contrapartes exatas às bênçãos descritas no contexto
anterior, como recompensa da adesão fiel à aliança.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 89
21. pestilência — alguma epidemia fatal; mas não há motivo para
pensar que se refira à praga, que é o maior açoite do Oriente.
22. tísica — doença exaustiva; mas a tísica europeia é quase
desconhecida na Ásia.
febre … inflamação … calor ardente — Estas palavras
evidentemente se referem às doenças febris (Lv_26:16) que são de
caráter maligno e de muita frequência no Oriente.
secura—o efeito no corpo de doenças tão violentas.
o crestamento, e a ferrugem — duas influências atmosféricas
fatais aos grãos.
23. Os teus céus … bronze … ferro — fortes figuras orientais
usadas para descrever os efeitos de secas prolongadas; e esta falta da
chuva regular e oportuna se considera pelos observadores mais
inteligentes, uma causa principal da atual esterilidade da Palestina.
24. Por chuva da tua terra, o SENHOR te dará pó e cinza —
Uma alusão provavelmente aos efeitos terríveis dos ciclones no Oriente,
que, levantando a areia em imensas colunas torcidas, lançam-nas com a
fúria de uma tempestade. Estas areias movediças são destrutivas para a
terra cultivada; e como consequência de sua intrusão, muitas regiões uma
vez férteis no Oriente, agora são desertos estéreis.
27. as úlceras do Egito — uma erupção incômoda, assinalada por
tumorzinhos avermelhados, a que estão propensos os egípcios na época
tempo da cheia do Nilo.
sarna — escorbuto.
prurido — coceira; doença conhecida sob este nome; mas é muito
mais maligna no Oriente do que vemos nesta parte do mundo.
28. com loucura, com cegueira e com perturbação do espírito —
estariam perplexos e paralisados de terror, pelo extenso de suas
calamidades.
29-33. Apalparás ao meio-dia — uma descrição geral da penosa
incerteza na qual viveriam. Durante a Idade Média os judeus eram
afugentados dentre a sociedade, a esconderijos que eles temiam
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 90
abandonar, por não saber de que parte seriam atacados, e seus filhos
arrastados ao cativeiro do qual nenhum amigo poderia resgatar nem
nenhum dinheiro redimir.
35. O SENHOR te ferirá com úlceras malignas nos joelhos e nas
pernas — Esta é uma descrição exata da elefantíase, horrível doença,
algo parecida com a lepra, que ataca principalmente as pernas.
36. O SENHOR te levará e o teu rei que tiveres constituído
sobre ti — Isto demonstra quão extensa seria a calamidade nacional; e
ao mesmo tempo quão desesperador quando ele, que deveria ter sido seu
protetor, compartilharia com seus súditos a mesma sorte no cativeiro.
ali servirás a outros deuses, feitos de madeira e de pedra — Os
desterrados hebreus, com algumas exceções notáveis, foram seduzidos
ou obrigados à idolatria nos cativeiros assírio e babilônico (Jr_44:17-19).
Deste modo, o pecado ao qual eles com muita frequência tinham
mostrado um carinho vil, uma inclinação bem arraigada, devia ser seu
castigo e sua miséria.
37. Virás a ser pasmo, provérbio e motejo entre todos os povos a
que o SENHOR te levará. — Os anais de quase todas as nações,
durante mil e oitocentos anos, proporcionam provas abundantes de que
este foi, e ainda é, o caso: que o mesmo nome de judeu é um termo
universalmente reconhecido como sinônimo de extrema degradação e
infelicidade.
49. O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe — A
invasão dos romanos – “eles vieram de longe”. Os soldados do exército
invasor eram trazidos da França, Espanha e Bretanha, naquele então
considerados “o cabo da terra”. Júlio Severo, o comandante, mais tarde
Vespasiano e Adriano, saíram de Bretanha para a cena da conquista.
Além disso, a insígnia nos estandartes do exército romano era “uma
águia”; e os dialetos falados pelos soldados das diferentes nações que
compunham aquele exército, eram desconhecidos pelos judeus.
50. nação feroz de rosto — Uma descrição dos romanos, que não
só eram atrevidos e inflexíveis, mas sim cruéis e implacáveis.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 91
51. Ela comerá o fruto dos teus animais, etc. — Segundo o
historiador judeu, todo distrito por onde passavam, ficava semeado dos
destroços de sua devastação.
52. Sitiar-te-á em todas as tuas cidades, até que venham a cair,
em toda a tua terra, os altos e fortes muros em que confiavas —
Todos os lugares fortificados aos quais o povo fugiu por segurança,
foram queimados ou demolidos, e os muros da própria Jerusalém,
lançados por terra.
53-57. Comerás o fruto do teu ventre — (Veja-se Rs_6:29;
Lam_4:10). Eram tais os terríveis extremos a que estavam reduzidos os
habitantes durante o sítio, que muitas mulheres mantinham uma
existência terrível comendo a carne de seus próprios filhos. Extinguiu-se
o carinho paternal, e os parentes mais próximos eram evitados, por temor
de que eles descobrissem e exigissem uma porção de tais comidas.
62. Ficareis poucos em número — Da destruição de Jerusalém até
agora, só existe um remanescente insignificante de judeus residentes
naquele país, estrangeiros na terra de seus pais; e de todas as classes de
habitantes eles são os seres mais degradados e miseráveis, dependentes
para seu sustento das contribuições que chegam da Europa.
63. sereis desarraigados da terra — Adriano publicou um decreto
que proibia os judeus de habitarem na Judeia ou de até se achegarem a
suas fronteiras.
64. O SENHOR vos espalhará entre todos os povos — Talvez
não há país em todo mundo onde não existam judeus. Quem, ao olhar
esta condição dos hebreus, não se enche de espanto, quando considera o
cumprimento desta profecia?
68. O SENHOR te fará voltar ao Egito em navios — O
cumprimento desta predição sucedeu sob Tito, quando, segundo Josefo,
multidões de judeus foram transportados à terra do Nilo, e vendidos
como escravos. “Aqui, pois, há casos de profecias pronunciadas há mais
de três mil anos; e ainda, como vemos, se estão cumprindo no mundo
nestes tempos. Que provas mais convincentes desejamos, da divina
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 92
legislação de Moisés? Como estes casos afetam a outros? Eu não sei;
mas quanto a mim tenho que reconhecer que não só me convencem, mas
também me surpreendem e me assombram desmesuradamente; são, tão
realmente, como Moisés predisse (Dt_28:45, 46) que seriam, “sinal e
maravilha para sempre”. (Bishop Newton).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 93
Deuteronômio 29

Vv. 1-29. UMA EXORTAÇÃO À OBEDIÊNCIA.


1. São estas as palavras da aliança — Continua o discurso de
Moisés; o tema daquele discurso era a aliança de Israel com Deus, os
privilégios que a aliança conferia e as obrigações que impunha.
além da aliança que fizera com eles em Horebe —
Substancialmente era o mesmo; mas agora foi renovado, em
circunstâncias diferentes. Eles tinham violado suas condições. Moisés
repete estas, para que tivessem um conhecimento melhor de suas
condições, e estivessem mais dispostos a cumpri-las.
2. Chamou Moisés a todo o Israel e disse-lhe: Tendes visto tudo
quanto o SENHOR fez, etc. — Este apelação à experiência do povo,
embora fosse feita em termos gerais, era aplicável só àquela porção deles
que tinha tido muito pouca idade no tempo do Êxodo, e que se
lembravam das transações maravilhosas que antecederam e seguiram
àquela época. Mas, por desgraça, aqueles acontecimentos maravilhosos
não fizeram neles nenhuma boa impressão (Dt_29:4). Eles eram
estranhos àquela graça de sabedoria que é dada liberalmente a todos os
que a pedem: e sua insensibilidade era tão mais indesculpável visto que
tinham sido operados tantos milagres que poderiam ter levado a uma
convicção segura da presença e do poder de Deus com eles. A
conservação de sua roupa e seus sapatos, a provisão de alimento e água
diários; estes benefícios continuados sem interrupção ou diminuição
durante tantos anos de peregrinação no deserto, foram milagres que
proclamavam a mão imediata de Deus, e que eram operados com o
propósito rápido de os disciplinar no conhecimento prático dEle e de
uma confiança habitual nEle. Sua experiência nesta bondade e no
cuidado extraordinário, junto com sua lembrança dos acontecimentos
brilhantes por meio dos quais, com pouco esforço ou perda da parte
deles, Deus permitiu que adquirissem o território valioso sobre o qual
estavam, menciona-se novamente para obrigá-los a um fiel cumprimento
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 94
da aliança, como meios diretos e seguros de obter as bênçãos prometidas
daquela aliança.
10-29. Vós estais, hoje, todos perante o SENHOR — Toda a
congregação de Israel, de todas as idades e condições, todos, jovens
como velhos, servos como amos, israelitas naturais como estrangeiros
naturalizados, todos estavam reunidos perante o tabernáculo para renovar
a aliança sinaítica. A nenhum deles lhe permitia considerar-se isento dos
termos daquela aliança nacional, para que alguém caindo na idolatria não
resultasse uma raiz de amargura, espalhando sua semente venenosa e
influência corrompida por toda a parte (cf. Hb_12:15). Foi da maior
consequência chegar assim ao coração e à consciência de cada um,
porque alguns poderiam enganar-se com a ideia vã de que por tomar o
juramento (Dt_29:12) pelo qual se obrigavam na aliança com Deus,
assim se assegurariam seus bênçãos; e que embora eles não aderissem
rigidamente a seu culto e mandamentos, mas seguissem os projetos e as
inclinações de seus próprios corações, entretanto, que ele dissimularia
tais liberdades e não os castigaria. Era da maior importância
impressionar a todos eles com a convicção mais forte e mais duradoura,
de que enquanto a aliança de graça tinha em si grandes bênçãos, ao
mesmo tempo continha em reserva para os transgressores maldições,
penalidade que seriam igualmente seguras, duradouras e severas. Esta foi
a vantagem de que a lei fosse repetida pela segunda vez. O quadro de
uma região uma vez rica e florescente, agora murcha e condenada em
consequência dos pecados de seus habitantes, é muito notável e
adequado para despertar um temor reverencial em toda mente séria. Tal
é, e desde longo tempo, o estado desolador da Palestina; e, ao olhar suas
cidades arruinadas, suas costas murchas, suas montanhas despidas, seu
solo estéril e ressecado — todas as evidências tristes e inequívocas de
uma terra sob uma maldição — muitos viajantes da Europa, da América
e das Índias, “estrangeiros de terras longínquas” (Dt_29:22), neste dia
veem como o Senhor executou Suas ameaças. Quem pode resistir a
conclusão de que isto foi infligido “porque desprezaram a aliança que o
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 95
SENHOR, Deus de seus pais, fez com eles” e que “a ira do SENHOR se
acendeu contra esta terra, trazendo sobre ela toda a maldição que está
escrita neste livro”? (Dt_29:25, 27).
29. As coisas encobertas pertencem ao SENHOR — Este
versículo não tem conexão aparente com o teor do discurso; e se tem
pensado que seria resposta aos olhares de assombro e às palavras de
interrogação, quanto a se eles alguma vez seriam tão ímpios para
merecer semelhantes castigos. A história escrita das relações
providenciais de Deus para com Israel, apresenta uma combinação
maravilhosa de “bondade e severidade”. Grande parte dela está envolta
em mistério muito profundo para que o sondem nossas faculdades
limitadas; mas, pela sabedoria compreensiva manifestada naquelas
porções que foram reveladas a nós, estamos preparados para entrar no
espírito completo da admiração do apóstolo: “Quão insondáveis são os
seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm_11:33).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 96
Deuteronômio 30

Vv. 1-10. GRANDES GRAÇAS PROMETIDAS AOS PENITENTES.


1-3. Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti … o
SENHOR ... te ajuntará, de novo — As esperanças do povo hebreu se
dirigem ardentemente a esta promessa, e eles com confiança esperam
que Deus, compadecendo-se de sua condição desamparada e miserável,
ainda os resgatará de todos os males de seu longa dispersão. Não
consideram cumprida a promessa da restauração do cativeiro de
Babilônia, porque Israel não estava esparso então da maneira aqui
descrita—“entre todas as nações”, “para a extremidade dos céus”
(Dt_30:4); e quando Deus os chamou daquela escravidão, todos os
israelitas não foram trazidos de volta, nem foram multiplicados mais que
seus pais (Dt_30:5), nem foi o coração deles e o de seus filhos
circuncidado para amar a Jeová (Dt_30:6). Não é, pois, do cativeiro
babilônico do que estava falando Moisés nesta passagem; tem que ser do
estado disperso ao qual eles estão condenados há 1.800 anos. Pode ser
que esta predição se cumpriu em parte na volta dos israelitas de
Babilônia; porque, segundo a estrutura e o desenho da profecia bíblica,
pode ter assinalado várias épocas similares em sua história nacional; e
esta opinião é sancionada pela oração de Neemias (Ne_1:8-9). Mas, sem
dúvida, receberá seu cumprimento cabal e completo na conversão dos
judeus ao evangelho de Cristo. Na restauração após o cativeiro
babilônico, aquele povo foi mudado em muitos sentidos para melhor.
Apartaram-se completamente da idolatria; e esta reforma exterior era um
prelúdio de aquisições superiores às quais deviam chegar quando “o
SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua
descendência, para amares o SENHOR”. O plano assinalado claramente
parece este: que os corações do povo serão circuncidados (Col_2:2); em
outras palavras, pelas influências combinadas da Palavra e do Espírito de
Deus, serão tocados seus corações e purificados de toda sua superstição e
incredulidade; se converterão à fé de Jesus Cristo como seu Messias, um
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 97
libertador espiritual, e o efeito de seu conversão será que eles voltarão e
obedecerão a voz (o evangelho, a lei evangélica) do Senhor. As palavras
poderão ser interpretadas ou ser inteiramente em sentido espiritual
(Jo_11:51-52), ou, como pensam muitos, em sentido literal também
(Rm_11:1-36). Serão chamados de todos os lugares da dispersão para a
sua própria terra, e desfrutarão da prosperidade mais perfeita. As
misericórdias e os favores de uma Providência abundante não serão mal
usados então como o foram anteriormente (Dt_31:20; 32:15). Serão
recebidos em melhor espírito, e empregados para fins mais nobres. Serão
felizes, “porquanto o SENHOR tornará a exultar em ti, para te fazer bem,
como exultou em teus pais” (Dt_30:9).

Vv. 11-14. O MANDAMENTO ESTÁ MANIFESTO.


11. Porque este mandamento que, hoje, te ordeno não é
demasiado difícil, nem está longe de ti — Aquela lei de amar e
obedecer a Deus, a qual era o tema do discurso de Moisés, era bem
conhecida dos israelitas. Eles não podiam alegar ignorância de sua
existência e de suas exigências. Não estava encoberta num mistério
impenetrável no céu, porque tinha sido revelada; nem tampouco estava
retida longe do povo como descoberta perigosa; porque os mais jovens e
humildes deles foram instruídos naquelas verdades, que eram os sujeitos
de estudo e investigação ansiosos entre os mais sábios e grandes de
outras nações. Eles não estavam sob a obrigação de empreender longas
viagens, como muitos sábios em busca de conhecimento, pois eles
desfrutavam do privilégio peculiar de um conhecimento familiar com
ela. Era com eles tema da conversação comum, gravada em sua
memória, e frequentemente explicada e inculcada em seu coração. O
apóstolo Paulo (Rm_10:6-8) aplicou esta passagem ao evangelho, porque
a lei de Cristo é substancialmente a mesma que a de Moisés, somente
que é exibida mais claramente em sua natureza espiritual e aplicação
extensa, e acompanhada com as vantagens da graça evangélica, é viável
e fácil.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 98
Vv. 15-20. A MORTE E A VIDA FICAM DIANTE DE ISRAEL.
15. Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal — i.
e., as alternativas de uma vida boa e feliz, ou uma vida desobediente e
miserável. O amor a Deus, e a submissão à Sua vontade, são os únicos
meios de assegurar as bênçãos e de evitar os males descritos. A escolha
sempre cabia a deles, e ao insistir com eles em conduzi-los à escolha
sábia, Moisés se entusiasmava à medida que continuava, num tom de
ansiedade solene e impressionante, similar ao de Paulo em seu discurso
aos anciãos de Éfeso (At_20:26 e 27).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 99
Deuteronômio 31

VV. 1-8. MOISÉS ENCORAJA O POVO E JOSUÉ.


1. Passou Moisés a falar estas palavras — É possível que esta
repetição da lei se estendesse por vários dias; e pode ser que o último dia
e o mais importante, quando se relata aqui especialmente a volta de
Moisés ao lugar de reunião. Ao trazer seu discurso a um término, se
referiu à sua idade avançada; e embora nem seus poderes físicos nem os
intelectuais tenham sofrido nenhum declínio (Dt_34:7), entretanto, ele
sabia por uma revelação especial, que tinha chegado o tempo em que ele
estava para ser retirado da superintendência e governo de Israel.
2-8. e o SENHOR me disse — deveria ser “porque o Senhor me
disse” que não passarás entre o Jordão. Enquanto se despedia
solenemente do povo, os exortava a não serem intimidados pela oposição
ameaçadora de inimigos; a tomar alento pela presença contínua de seu
Deus da aliança a descansarem seguros de que o mesmo poder divino
que lhes tinha permitido desfazer os primeiros ataques a leste do Jordão,
os ajudaria não menos eficazmente na corajosa empresa que estavam
para empreender, e por meio da qual obteriam possessão da “terra que o
SENHOR, sob juramento, prometeu dar a teus pais”.

Vv. 9-13. ENTREGA A LEI AOS SACERDOTES PARA QUE A


LEIAM AO POVO CADA SÉTIMO ANO.
9. Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes — A lei
assim escrita era ou todo o livro de Deuteronômio, ou a parte importante
do mesmo contida entre os capítulos vinte e sete e trinta. Era costume em
casos de contratos públicos ou particulares que se fizessem dois
exemplares do acordo que se tinha, um exemplar era depositado no
arquivo nacional ou em algum lugar seguro para referência, para quando
as circunstâncias o requeressem; e o outro ficava em mãos das partes
contratantes. (Jr_32:12-14). Seguiu-se o mesmo plano nesta renovação
da aliança entre Deus e Israel. Dois exemplares escritos foram
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 100
preparados, um dos quais foi entregue aos representantes públicos de
Israel, quer dizer, aos sacerdotes e anciãos.
os sacerdotes … que levavam a arca da aliança — Em todas as
viagens comuns, era dever dos levitas o conduzir a arca e seus móveis
(Nm_4:15); mas em ocasiões solenes e extraordinárias, aquela função
era cumprida pelos sacerdotes. (Js_3:3-8; Js_6:6; 1Cr_15:11-12).
todos os anciãos de Israel — Eram ajudantes dos sacerdotes e
inspetores no cuidado da conservação, repetição e observância da lei.
10-11. Ao fim de cada sete anos … lerás esta lei diante de todo o
Israel — Na chegada do ano sabático, e durante a festa dos tabernáculos,
a lei era lida publicamente. Esta ordem de Moisés foi para um acerto
futuro e em perspectiva, porque a observância do ano sabático não
começou senão depois da conquista e da ocupação pacífica de Canaã. A
ordenança era útil para vários propósitos importantes. Porque, enquanto
o povo tinha oportunidade de ser instruído na lei cada sábado, e
diariamente em seus próprios lares, esta repetição pública periódica, nas
reuniões nos átrios do santuário, onde as mulheres e os meninos de doze
anos estavam presentes, como estavam acostumados a fazer nas grandes
festas, era capaz de produzir boas e piedosas impressões da verdade
divina em meio das associações sagradas do tempo e lugar; além disso,
formava uma garantia pública para a conservação, integridade e fiel
transmissão do Livro Sagrado a épocas sucessivas.
14, 15. Disse o SENHOR a Moisés … chama Josué, e apresentai-
vos na tenda da congregação — Josué já tinha sido designado
publicamente por Moisés ao posto de comandante [Nm_27:22-23]; e
Deus sentia prazer em confirmar sua nomeação por símbolos visíveis de
Sua presença e aprovação. Como só os sacerdotes tinham o privilégio de
entrar em santuário, é provável que esta manifestação significativa da
coluna de nuvem fosse feita enquanto os dirigentes estavam à porta do
tabernáculo.
16-22. Disse o SENHOR a Moisés: … este povo se levantará —
Nesta entrevista notável, Moisés foi claramente informado da
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 101
infidelidade de Israel, da corrupção da verdadeira religião mediante o
relacionamento com os habitantes idolátricos de Canaã (Am_5:26), e de
seus castigos em consequência daquela apostasia.
17. a minha ira se acenderá … dele esconderei o rosto — Um
anúncio do retiro do favor e a proteção divinos dos quais a Shekiná era
símbolo e garantia. Nunca apareceu no segundo templo; e seu
desaparecimento foi o prelúdio de: “Não nos alcançaram estes males por
não estar o nosso Deus no meio de nós?”.
19. Escrevei para vós outros este cântico — Os cânticos nacionais
se gravam profundamente na memória, e têm uma influência poderosa
para comover os sentimentos mais profundos de um povo; e de acordo
com este principio na natureza humana, mandou-se que um cântico fosse
escrito por Moisés, sem dúvida sob a inspiração divina, que devia ser
aprendido pelos próprios israelitas, e ensinado a seus filhos em cada
época, cântico que incorporasse a substância dos discursos anteriores, e
de um teor bem adequado para inspirar a mente popular com um sentido
poderoso do favor de Deus para com Sua nação
26. Tomai este Livro da Lei e ponde-o ao lado da arca — O
segundo exemplar da lei (Dt_31:9) foi depositado para maior segurança
e com reverência numa caixinha ao lado da arca da aliança, porque não
havia nada dentro dela senão as tábuas de pedra. (1Rs_8:9). Outros
creem que foi posto dentro da arca, estando certo, pelo testemunho de
Paulo (Hb_9:4), que alguma vez havia outras coisas na arca, e que este
foi o exemplar achado no tempo de Josias. (2Rs_22:8).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 102
Deuteronômio 32

Vv. 1-43. O CÂNTICO DE MOISÉS, QUE FALA DAS


PERFEIÇÕES DE DEUS.
1. Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra — A
magnificência do exórdio, a grandeza do tema, as transições frequentes e
repentinas, o tom elevado dos sentimentos e a linguagem, dão direito a
este cântico de colocar-se entre os exemplares mais nobres de poesia,
achados nas Escrituras.
2, 3. Goteje a minha doutrina como a chuva, etc. — A linguagem
com justiça pode entender-se como pronunciada em forma de desejo ou
oração, e a comparação da instrução sã com a influência pura, suave e
insinuante da chuva ou do orvalho é feita com frequência pelos escritores
sagrados. (Is_5:6; Is_55:10-11).
4. Ele é a Rocha (TB) — palavra expressiva de poder e estabilidade.
A aplicação dela nesta passagem é para declarar que Deus tinha sido fiel
à Sua aliança com os pais e com eles. Nada do que Ele tinha prometido,
havia falhado; de modo que, se sua experiência nacional tinha sido
variada penosamente por provas severas e prolongadas, aquele resultado
se podia atribuir à conduta infiel e perversa deles; e não a uma vacilação
ou infidelidade da parte de Deus (Tg_1:17), cujo proceder estava
marcado pela justiça e juízo, quer eles tivessem sido exaltados à
prosperidade ou sumidos nas profundidades da aflição.
5. Procederam corruptamente contra ele — i. e., os israelitas por
suas quedas frequentes e sua prosperidade inveterada à idolatria.
já não são seus filhos, e sim suas manchas — Esta é uma
referência às marcas que os idólatras inscrevem em suas frontes ou
braços, com pintura ou outras substâncias, direitas, ovais ou circulares,
segundo o ídolo favorito de seu culto.
6. Não é ele teu pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu? —
ou te libertou da escravidão egípcia.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 103
8, 9. Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações — Na
divisão da terra, a qual se crê que Noé fez por direção divina (Gn_10:5;
Dt_2:5-9; At_17:26-27), a Palestina foi reservada pela sabedoria e
bondade de Deus para a possessão de Seu povo peculiar, e para a
manifestação de Suas obras mais estupendas. O teatro era pequeno, mas
admiravelmente adaptado para a observação conveniente da raça
humana, o ponto de união dos dois grandes continentes da Ásia e África,
e quase dentro do alcance da vista da Europa. Deste ponto como de um
centro comum, o relatório das obras maravilhosas de Deus, as boas
novas da salvação pela obediência e os padecimentos de Seu próprio
Filho eterno, rápida e facilmente poderiam ser levadas a todas as partes
da terra.
fixou os limites dos povos, segundo o número dos filhos de Israel
— Outra tradução, que recebeu a sanção de eruditos eminentes, foi
proposta como segue: “Quando o Altíssimo dividiu a Sua herança entre
as nações, quando separou aos filhos de Adão, e estabeleceu limites de
todos os povos, os filhos de Israel eram poucos em número, quando o
Senhor escolheu aquele povo e fez de Jacó seu herança” (cf. Dt_30:5;
Gn_34:30; Sl_105:9-12).
10. Achou-o numa terra deserta — o recebeu na relação pactuada
no Sinai, ou antes, “o sustentava”, “provia para ele” no deserto.
num ermo solitário — expressão oriental comum de um deserto
infestado por animais selvagens.
11. Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus
filhotes — Esta bela e expressiva metáfora se baseia no cuidado e afeto
extraordinários que a águia fêmea exerce sobre sua cria. Quando sua
origem recém emplumada está suficientemente desenvolvida para voar
em seu elemento nativo, ela, nas primeiras tentativas de seu voo, a apoia
na ponta de sua asa, alentando-a, dirigindo-a e ajudando seus fracos
esforços em voos mais longos e mais altos. Assim Deus tomou o mais
carinhoso e poderoso cuidado de Seu povo escolhido; os tirou do Egito, e
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 104
os conduziu através de todos os horrores do deserto, até a herança
prometida.
13, 14. Ele o fez cavalgar sobre os altos da terra, etc. — Todas
estas expressões parecem ter uma referência peculiar a seu lar no
território transjordânico; sendo este território tudo o que tinham visto da
Palestina até o tempo em que se representa a Moisés pronunciando estas
palavras; “altos” e “campos” são especialmente aplicáveis às mesetas de
Gileade; e ainda mais, as alusões a manadas e rebanhos; o mel das
abelhas silvestres que vivem nas gretas das rochas, o azeite dos oliveiras
que cresciam, um a um, nas cimos dos montes, onde quase não cresceria
outra coisa, o trigo mais lindo (Sl_81:16; Sl_147:14), e a colheita de
vindima prolífica.
15. E, engordando-se Jesurum, deu coices (RC) — este é um
nome poético de Israel. A metáfora aqui usada se refere a um animal
engordado, o qual, em vez de ser manso e dócil, deve ser malicioso e
vicioso, por causa da boa alimentação e o tratamento bondoso. Assim se
comportaram os israelitas em seus diferentes atos de rebelião,
murmurações e apostasia idolátrica.
17. Sacrifícios ofereceram aos demônios — (Veja-se Lv_17:7).
21. com aquele que não é povo — i. e., não favorecido com
privilégios tão grandes e peculiares como os israelitas, ou antes, pagãos
desprezados; a linguagem insinua o chamado futuro dos gentios.
23. as minhas setas esgotarei contra eles — a guerra, a fome, a
pestilência (Sl_77:17) chamam-se nas Escrituras as setas do Onipotente.
29. Tomara fossem eles sábios! Então, entenderiam isto e
atentariam para o seu fim — os juízos terríveis, que, em atenção a sua
desobediência continuada e incorrigível, daria um caráter tão terrível no
fim de sua história nacional.
32. a sua vinha é da vinha de Sodoma … uvas de veneno — Esta
fruta, que os árabes chamam “Laranja Marítima de Ló”, é de cor amarela
clara, e cresce em cachos da três ou quatro. Quando amadurecida, é
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 105
tentadora na aparência, mas ao ser batida, explode como uma espécie de
cogumelo, e consiste só em pele e fibras.
44-47. Veio Moisés e falou todas as palavras deste cântico aos
ouvidos do povo, etc. — Se chamou belamente o “Cântico do cisne
moribundo” (Lowth). Foi proposto como hino nacional, o qual seria o
dever e cuidado dos magistrados tornar bem conhecido por meio de
frequentes repetições, com a finalidade de animar o povo a sentimentos
corretos para uma aderência firme ao serviço de Deus.
48-51. Sobe a este monte … morrerás … porquanto
prevaricastes contra mim — (Veja-se Nm_20:12).
52. Pelo que verás a terra defronte de ti, porém não entrarás
nela — (Nm_27:12). Apesar de tão severa desilusão, nem um murmúrio,
nem uma queixa escapa de seus lábios; não só é submisso mas também
conformado; e a perspectiva próxima de sua morte, o levou a emitir os
sentimentos de seu coração piedoso em notas sublimes e bênçãos
eloquentes.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 106
Deuteronômio 33

Vv. 1-28. A MAJESTADE DE DEUS.


1. Moisés, homem de Deus — este é um título comum de profeta
(1Sm_2:27; 1Sm_9:6), e aqui se refere a Moisés, quando, como Jacó,
estava para anunciar ministerialmente antes de sua morte, uma bênção
profética sobre Israel.
2-4. O SENHOR veio do Sinai — sob uma bela metáfora, tomada
da aurora e o esplendor progressivo do sol, a majestade de Deus se
descreve de uma maneira sublime como a luz que apareceu no Sinai, e
espalhou seus raios sobre toda a região próxima para dirigir a marcha de
Israel rumo a Canaã. Nestas descrições da teofania, Deus se representa
como vindo do sul, e a alusão em geral é feita aos trovões e relâmpagos
do Sinai; mas outras montanhas na mesma direção são com ela
mencionadas. A localização de Seir era a leste de Ghor; o monte Parã era
ou a serra a oeste de Ghor, ou antes, as montanhas sobre o silvestre sul
do deserto rumo à península (Robinson). (Cf. Jz_5:4-5; Sl_68:7-8;
Hc_3:3).
dez milhares de santos (RC) — alguns traduzem: “com dez mil de
Cades”, ou talvez melhor ainda: “de Meribá-Cades” (Ewald).
o fogo da lei — assim chamada tanto por causa dos trovões e
relâmpagos que acompanharam sua promulgação (Êx_19:16-18;
Dt_4:11) como pela maldição fogosa, inflexível denunciada contra a
violação de seus preceitos (2Co_3:7-9). Apesar daqueles símbolos
aterradores da Majestade que se manifestaram no Sinai, na realidade a lei
foi dada em bondade e amor (Dt_33:3), como um meio de promover o
bem-estar tanto temporal como eterno do povo; e foi “por herança da
congregação de Jacó”, não só pela obrigação hereditária sob a qual
aquele povo foi posto para guardá-la, mas por ser a grande distinção, o
privilégio peculiar da nação.
6. Viva Rúben, e não morra — Embora fosse privado da honra e
privilégio da primogenitura, ainda ocupava lugar como uma das tribos de
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 107
Israel. Era mais numerosa que várias outras tribos (Nm_1:21; Nm_2:11),
entretanto, gradualmente se afundou até ser uma tribo nômade, tendo
bastante a fazer meramente “para viver e não morrer”. Muitos eruditos
bíblicos eminentes, apoiando-se nos manuscritos mais antigos e melhor
aprovados da Septuaginta, consideram que esta última cláusula refere-se
a Simeão; “e Simeão, sejam seus varões poucos”, uma leitura
[interpretação] do texto que está em harmonia com outras declarações da
Escritura com relação a esta tribo (Nm_25:6-14; Nm_1:23; Nm_26:14;
Js_19:1).
7. Isto é o que disse de Judá — Seu tom geral assinala o grande
poder e a independência de Judá, como também aquele que tomaria a
dianteira em todas as expedições militares.
8-10. De Levi disse — O valor desta bênção é a nomeação dos
levitas ao ofício dignificado e sagrado do sacerdócio (Lv_10:11;
Dt_22:8; 17:8-11); recompensa por seu zelo em apoiar a causa de Deus,
e sua severidade implacável em castigar a seus parentes mais próximos e
queridos, os quais tinham tomado parte na idolatria do bezerro fundido
(Êx_32:25-28; Ml_2:4-6).
12. De Benjamim disse — Um favor distinto foi conferido sobre
esta tribo no fato de ter sua porção assinalada perto do templo de Deus.
entre os seus ombros (TB) — i. e., a seus lados ou limites. Monte
Sião, sobre o qual estava a cidade de Jerusalém, pertencia a Judá; mas o
monte Moriá, a localização do templo, estava dentro dos limites de
Benjamim.
13-17. De José disse — O território desta tribo, diversificado por
colinas e vales, árvores e águas, seria rico em todos os produtos—olivas,
uvas, figos, etc. — das regiões montanhosas, como também nos grãos e
nas ervas que se criam nos campos planos. “Ele tem a imponência do
primogênito do seu touro, e as suas pontas são como as de um boi
selvagem” (rinoceronte), indicam a glória e a fortaleza, e supõe-se que
sob estes emblemas se representavam os triunfos de Josué e o novo reino
de Jeroboão, que eram de Efraim (cf. Gn_48:20).
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 108
18. Alegra-te, Zebulom, nas tuas saídas — em empresas
comerciais e viaje por mar.
tu, Issacar, nas tuas tendas — preferindo viver em suas cidades
marítimas.
19. chuparão a abundância dos mares e os tesouros escondidos
da areia — Ambas as tribos traficariam com os fenícios em ouro e prata,
pérolas e coral, especialmente em múrex, o fruto do mar que produzia a
famosa tintura de Tiro e em vidro, que se fabricava das areias do rio
Belus, em sua vizinhança imediata.
20, 21. De Gade disse — Suas posses eram maiores do que teriam
sido, se tivessem estado a oeste do Jordão; e esta tribo tinha a honra de
ter sido estabelecida por Moisés mesmo na primeira porção de terra
conquistada. Na região florestal, ao sul do Jaboque, “habita como a leoa”
(Cf. Gn_30:11; Gn_49:19). Entretanto, eles guardaram fielmente sua
promessa de unir os “cabeças do povo” [v. 21, TB] na invasão de Canaã.
22. Dã é leãozinho — Como seu estabelecimento no sul de Canaã
era muito pequeno, mediante uma irrupção repentina e feliz, estabeleceu
uma colônia na extremidade setentrional da terra. Isto se pode descrever
como o salto de um filhote de leão das colinas de Basã.
23. De Naftali disse — O território agradável e fértil desta tribo
estava a oeste das margens dos lagos Merom e Quinerete, e ao sul dos
danitas do norte.
24, 25. De Aser disse — A condição desta tribo se descreve como
combinando todos os elementos da felicidade terrestre.
banhe em azeite o pé — Estas palavras se referem ao processo de
tirar o azeite por uma imprensa de pé, ou a seu distrito como
particularmente fértil, e adaptado à cultura da oliveira.
25. De ferro e cobre será o teu calçado (AV) — Esta classe de
calçado convinha nas costas pedregosas do Carmelo até Sidom. Os
camponeses como também os guerreiros tinham suas pernas protegidas
por caneleiras metálicas (1Sm_17:6; Ef_6:15) e sapatos com solas de
ferro.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 109
26-29. Não há quem seja semelhante ao Deus de Jesurum (TB)
— Este capítulo termina com um discurso congratulatório dirigido a
Israel a respeito de sua felicidade e privilégio peculiares em ter ao
Senhor por Deus e protetor.
que cavalga sobre os céus para a tua ajuda e com a sua alteza
sobre as nuvens — uma alusão evidente à coluna de nuvem e fogo, que
era tanto guia como proteção para Israel.
28. a fonte de Jacó — a posteridade de Israel morará em terra
abençoada e favorecida.
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 110
Deuteronômio 34

VV. 1-12. DO MONTE NEBO MOISÉS OLHA A TERRA.


1. subiu Moisés das campinas de Moabe — Por evidência interna
se vê que este capítulo foi escrito depois da morte de Moisés, e
provavelmente, em algum tempo, formava a introdução ao livro de
Josué.
ao monte Nebo, ao cimo de Pisga — (cf. Nm_23:14; Dt_3:17-27;
4:49). O nome geral dado a toda a cordilheira a leste do Jordão, era
Abarim (cf. Dt_ 32:49), e o pico ao qual subiu Moisés, era dedicado ao
pagão Nebo, como o lugar onde esteve Balaão, era dedicado a Peor.
Alguns viajantes modernos fixaram a Jebel Attarus, montanha alta ao sul
do Jaboque (Zurka) como o Nebo desta passagem. (Burckhardt, Seetzen,
etc.) Mas este pico está muito ao norte para ser uma altura, que sendo
descrita como “defronte de Jericó”, se deve buscar mais acima da última
parte do Jordão.
o SENHOR lhe mostrou toda a terra de Gileade até Dã —
Aquela região pastoril era visível na extremidade setentrional da cadeia
de montanhas sobre a qual estava Moisés, até onde terminava para além
do alcance de sua vista, em Dã. Rumo ao oeste, estavam sobre o
horizonte as montanhas distantes de todo “Naftali”. Mais perto estava “a
terra de Efraim, e Manassés”. Imediatamente enfrente estava “toda a
terra de Judá”, título a princípio limitado à porção desta tribo, para além
da qual estavam o “mar ocidental” (o Mediterrâneo) e o deserto
meridional “o Neguebe”. Estes eram os quatro grandes sinais da herança
futura de seu povo, sobre as quais o relato fixa nossa atenção.
Imediatamente abaixo dele estava “o círculo” da planície de Jericó, com
seu oásis de palmeiras; e lá longe à sua esquerda, o último lugar habitado
rumo ao grande deserto de “Zoar”. O primeiro plano do quadro sozinho,
era claramente discernível, pois nenhum poder milagroso de vista foi
dado a Moisés. Que ele pudesse ver tudo o que está descrito, é o que
qualquer pessoa poderia ver, se subisse a uma altura suficiente. A
Deuteronômio (Jamieson, Fausset e Brown) 111
atmosfera daquele clima é tão sutil e livre de vapores, que a vista alcança
a distâncias das quais não pode formar ideia o espectador, que julga
segundo o ar mais denso da Europa. (Vere Munro). Mas entre ele e
aquela “boa terra”, intervinha o profundo vale do Jordão; Moisés não
tinha que “passar lá”.
5. morreu ali Moisés — Depois de ter governado a Israel durante
quarenta anos.
6. Este o sepultou num vale — i. e., quebrada ou desfiladeiro do
monte Pisga. Alguns creem que entrou em alguma caverna e morreu ali,
sendo, segundo uma tradição antiga de judeus e cristãos, sepultado por
anjos (Jud_1:9; Nm_21:20).
ninguém sabe, até hoje, o lugar da sua sepultura — Este
encobrimento parece ter sido por um arranjo especial e prudente da
Providência, para evitar que fosse posto entre os chamados “lugares
santos”, e feito o lugar de concorrência de peregrinos supersticiosos e de
veneração idolátrica, em tempos posteriores.
8. Os filhos de Israel prantearam Moisés por trinta dias — sete
dias era o período usual do luto, mas para pessoas de dignidade ou
eminência oficial, o período era estendido até trinta dias (Gn_50:3-10;
Nm_20:29).
9. Josué, filho de Num, estava cheio do espírito de sabedoria —
Foi nomeado a um posto peculiar e extraordinário; não foi o sucessor de
Moisés, porque não era profeta, nem governador civil, mas sim o general
ou condutor, chamado para guiar o povo na guerra de invasão, e na
distribuição subsequente das tribos.
10-12. Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como
Moisés — Sob qualquer luz que contemplemos este homem
extraordinário, o elogio pronunciado nestas palavras, parecerá justo.
Nenhum profeta ou governante hebreu o igualou em caráter, em
dignidade oficial ou no conhecimento da vontade de Deus e as
oportunidades de enunciar Sua vontade.
JOSUÉ
Original em inglês:

JOSHUA

The Book of Joshua

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Josué 1 Josué 7 Josué 13 Josué 19

Josué 2 Josué 8 Josué 14 Josué 20

Josué 3 Josué 9 Josué 15 Josué 21

Josué 4 Josué 10 Josué 16 Josué 22

Josué 5 Josué 11 Josué 17 Josué 23

Josué 6 Josué 12 Josué 18 Josué 24


Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Josué 1

Vv. 1-18. O SENHOR ESCOLHE A JOSUÉ COMO SUCESSOR


DE MOISÉS.
1. depois da morte de Moisés — Como Josué já tinha sido
nomeado e designado como guia de Israel (Nm_27:18-23),
possivelmente ele assumiu as rédeas do governo imediatamente “depois
da morte de Moisés.”
servo do SENHOR — este era o título oficial de Moisés, como
investido de uma missão especial de fazer conhecer a vontade de Deus;
tal título lhe conferiu grande honra e autoridade.
o SENHOR falou a Josué (RC) — provavelmente durante o
período de luto público, por uma revelação direta à mente de Josué ou
por meio do Urim e Tumim (Nm_27:21). Esta primeira comunicação deu
a promessa de que as divinas instruções que, segundo as disposições da
teocracia, tinham sido repartidas a Moisés, continuariam repartindo-se ao
novo guia, embora Deus não lhe falasse “boca a boca” (Nm_12:8).
Josué — O nome original, Oseias (Nm_13:17), que segundo o
costume oriental, tinha sido mudado como os de Abrão e Sarai
(Gn_17:5-15) em Jehoshua ou Joshua, i. e., “salvação de Jeová”, era
significativo dos serviços que havia de prestar, e tipificava os do grande
Salvador (Hb_4:8).
servidor de Moisés — i. e., acompanhante oficial, quem, sendo
constantemente empregado em serviços importantes, e muito em breve
iniciado nos princípios do governo, estaria bem preparado para assumir a
direção de Israel.
2. dispõe-te, agora, passa este Jordão — A missão de Josué era a
de um chefe militar. Esta passagem lembra sua chamada para começar a
obra, e o discurso contém uma repetição literal da promessa feita a
Moisés (Dt_11:24-25; Dt_31:6-8, Dt_31:23).
3. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado
— querendo dizer, naturalmente, não um domínio universal, e sim
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 3
apenas o território compreendido entre as fronteiras aqui especificadas
(veja-se Dt_19:8-9).
4. toda a terra dos heteus — Estes ocupavam as partes mais
meridionais, e eram a tribo dominante de Canaã. Seu poder superior e a
extensão de seus domínios são testemunhados pela menção deles sob o
nome da Khita, nas inscrições babilônicas, e ainda mais frequentemente
nas inscrições egípcias das dinastias XVIII e XIX. Que vida e alento
deve ter repartido a Josué a certeza de que seu povo, que tinha sido
afligido pelo temor perante aquela raça gigantesca, devia possuir “toda a
terra dos heteus”!
5-9. Ninguém te poderá resistir — Canaã lhes pertencia por
concessão divina; e a renovada confirmação desta concessão a Josué,
quando estava prestes a guiar o povo até ela, indicava não só uma
conquista segura mas também fácil. É notável, entretanto, que sua
coragem e sua esperança de vitória, dependeriam (Veja-se Dt_17:18) da
obediência firme e inalterável à lei de Deus, não só no que tinha que ver
com a extirpação dos cananeus, mas com todo o código divino.
10-18. Então, deu ordem Josué aos príncipes do povo — Estes
eram os Shoterim (Veja-se Êx_5:6; Dt_20:5).
11. ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de comida — não de
maná, que não se conservava, mas sim de grãos, ovelhas e artigos de
alimento acessíveis nas terras conquistadas.
porque, dentro de três dias, passareis este Jordão — (i. e., o
terceiro dia segundo o idiotismo hebraico) o tempo assinalado para os
preparativos, antes que abandonassem o acampamento em Abel-Sitim, e
se trasladassem às ribeiras desertas do rio, onde não poderiam conseguir
comida. Ao mesmo tempo Josué mesmo reuniu as duas tribos e meia,
que tinham tomado terras a leste do Jordão, para lhes lembrar seu
compromisso (Nm_32:1-42), de que eles ajudariam a seus irmãos na
conquista da Canaã ocidental. Sua prontidão em cumprir o seu
compromisso e os termos em que responderam à chamada de Josué,
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 4
mostravam vantajosamente seus sentimentos piedosos e patrióticos numa
crise tão interessante.
14. passarão armados — i. e., providos de oficiais e ordenados sob
cinco guias segundo a velha e provada ordem de caravana (veja-se
Êx_13:18).
todos os valentes e valorosos (RC) — As palavras não devem
entender-se como a totalidade mas sim só a flor ou o seleto dos
guerreiros (veja-se Js. 4:12, 13).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 5
Josué 2

Vv. 1-7. RAABE RECEBE E ESCONDE OS DOIS ESPIÕES.


1. enviou Josué … dois homens, secretamente, como espias — A
fé se manifesta por um uso ativo e perseverante dos meios (Tg_2:22); e
assim Josué, enquanto confiava no cumprimento da promessa divina (Js.
1:3), adotou toda precaução que poderia idear um general competente,
para fazer prosperar sua primeira tentativa na invasão de Canaã. Os dois
espiões foram despachados para reconhecer o país, especialmente nos
arredores de Jericó; porque na perspectiva de sitiar aquele lugar, era
desejável conseguir relatórios completos quanto à sua localização, seus
acessos, o caráter e os recursos de seus habitantes. A missão requeria o
maior segredo, e parece que era oculta cuidadosamente aos próprios
israelitas, para que nenhum relatório exagerado ou desfavorável,
circulado publicamente, pudesse desanimar o povo, como o dos espiões
que Moisés enviou.
Jericó — Alguns derivam este nome de uma palavra que significa
“lua nova”, em atenção à planície em forma de meia-lua, na qual estava
assentada, formada por um anfiteatro de colinas; outros o derivam de
uma palavra que significa “seu aroma”, pela fragrância do bálsamo e das
palmeiras entre as quais estava situada. Por muito tempo se cria que o
sítio de Jericó era o representado pela pequena aldeia de tijolos crus—
Er-Riha; mas explorações recentes se fixaram num lugar meia hora de
caminho rumo ao este, onde existem grandes ruínas, a 10 ou 12
quilômetros distantes do Jordão. Era naquela época uma cidade bem
fortificada, era a chave da passagem do oriente pela quebrada, chamada
hoje Wady-Kelt, ao interior da Palestina.
Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta —
Muitos expositores, desejosos de tirar o estigma deste nome a uma
antepassada do Salvador (Mt_1:5), chamaram-na dona de uma pousada
ou taberna. Mas o uso bíblico (Lv_21:7-14; Dt_23:18; Jz_11:1;
1Rs_3:16), a autoridade dos Setenta, seguida pelos apóstolos (Hb_11:31;
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 6
Tg_2:25), e o costume imemorial dos khanes orientais, os quais nunca
são dirigidos por mulheres, estabelecem a exatidão do termo empregado
em nossa versão. Provavelmente recomendou aos espiões sua casa pela
conveniência de sua localização, sem que eles soubessem o caráter de
seus ocupantes. Mas uma influência divina os guiou na escolha daquele
lugar de alojamento.
2, 3. se deu notícia ao rei de Jericó — pelos sentinelas, que em tal
ameaça de invasão seriam colocados na fronteira oriental, e cujo dever
os obrigaria a dar estritos relatórios ao quartel general sobre a chegada
de todo estrangeiro.
4. A mulher, porém, havia tomado e escondido os dois homens
— literalmente, a cada um deles em lugares separadamente, antes da
chegada dos mensageiros reais, e em previsão de uma rápida busca de
seus visitantes. De acordo com os costumes orientais, que atribuem um
respeito quase supersticioso ao compartimento da mulher, os
mensageiros não pediram entrada para buscá-los, mas pediram a ela que
os tirasse para fora.
5. Havendo-se de fechar a porta — as portas de todas as cidades
orientais fecham-se ao pôr-do-sol, depois da qual não há possibilidade de
entrada nem de saída.
eles saíram — Isso foi evidente engano, mas como o mentir é um
vício comum entre os povos pagãos, Raabe era talvez inconsciente de
sua culpa moral, especialmente porque ela apelou à mentira como meio
de proteger a seus visitantes; e podia crer-se obrigada a isso pelas leis de
hospitalidade orientais, as quais obrigam a proteger o pior inimigo, em
caso de que este alguma vez tenha comido o sal de alguém. Julgada pela
lei divina, sua resposta foi um inquérito pecaminoso; mas sendo sua
fraqueza unida à fé, ela foi perdoada por graça e foi aceito o seu serviço
(Tg_2:25).
6. Ela, porém, os fizera subir ao eirado e os escondera entre as
canas do linho — O linho e outros produtos vegetais, em certa época se
estendem sobra os tetos planos das casas orientais para secar-se ao sol; e,
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 7
depois de algum tempo é amontoado em pequenos montões, que, pelo
viçoso crescimento do linho, elevam-se cerca de um metro de altura.
Atrás de alguns destes montões Raabe escondeu os espiões.
7. Foram-se aqueles homens após os espias pelo caminho que dá
aos vaus — Se cruza aquele rio por diversos vaus bem conhecidos. O
primeiro e segundo estão imediatamente ao sul do Mar da Galileia; o
terceiro e quarto imediatamente mais acima e mais abaixo do lugar dos
banhos dos peregrinos, diante de Jericó.
e, havendo saído os que iam após eles, fechou-se a porta. —
tomou esta precaução para assegurar a captura dos espiões, em caso de
que ainda estivessem na cidade.

Vv. 8-21. A ALIANÇA ENTRE ELA E ELES.


8-13. foi ela ter com eles ao eirado — O diálogo de Raabe é cheio
de interesse, como mostra o terror e o espanto gerais dos cananeus de um
lado (Js. 24:11; Dt_2:25), e sua firme convicção, do outro, baseada no
conhecimento da promessa divina e dos estupendos milagres que tinham
aberto o caminho aos israelitas até as fronteiras da terra prometida. Ela
estava convencida da supremacia do Senhor, e suas ansiosas estipulações
a favor da preservação de seus parentes entre os perigos da próxima
invasão, testemunham a sinceridade e firmeza de sua fé.
14. Então, lhe disseram os homens: A nossa vida responderá
pela vossa se não denunciardes esta nossa missão — Esta foi uma
aliança solene, um verdadeiro juramento, embora não se mencione o
nome de Deus; e as palavras “se não denunciardes esta nossa missão”
foram acrescentadas, não como uma condição da fidelidade deles, mas
sim como necessárias para a segurança dela, que perigaria, se este
contrato privado fosse divulgado.
15. a casa em que residia estava sobre o muro da cidade — Em
muitas cidades orientais, edificam-se casas nas muralhas, com janelas
que dão para fora; em outras, a muralha da cidade forma a parede
traseira da casa, de modo que a janela se abre para o campo. A casa de
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 8
Raabe era provavelmente desta última classe, e a “corda” ou soga era
bastante forte para sustentar o peso de um homem.
16-21. E disse-lhes — antes, “ela lhes havia dito”, porque o que
segue terá sido parte da conversação prévia.
Ide-vos ao monte — Uma cadeia de colinas de pedra de cal,
chamada Quarantania (agora Jebel Karantu), que se eleva a uma altura
de 400 a 500 metros, cujas bases estão perfuradas por cavernas. Algum
pico da cadeia se conhecia familiarmente como “a montanha”. A
prudência e a conveniência deste conselho de fugir para aquele lado em
vez de ao vau, é visto no que segue.
21. e ela atou o cordão de escarlata à janela — É provável que
imediatamente depois da saída dos espiões. Não formou, como alguns
supõem, uma malha, ou gradeado, mas sim simplesmente o pendurou da
parede. Sua cor vermelha o tornava visível, e era assim um sinal e
promessa de segurança à casa de Raabe, como o sinal do sangue nos
batentes das casas dos israelitas no Egito.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 9
Josué 3

Vv. 1-6. JOSUÉ CHEGA AO JORDÃO.


1. Levantou-se, pois, Josué de madrugada — i. e., no dia seguinte
àquele quando voltaram os espiões com seu relatório alentador,
levantou-se o acampamento de Sitim” (os bosques de acácias), e
partiram até a ribeira oriental do Jordão. A duração de sua estada ali se
indica (Js_3:2), segundo o costume hebraico de contar, só um dia inteiro,
incluindo a tarde da chegada e a manhã do cruzamento do rio, e tanto
tempo seria necessário para que tão variada multidão de homens,
mulheres e meninos, com toda a sua bagagem e gado, se preparasse para
entrar no país do inimigo.
2-4. os oficiais passaram pelo meio do arraial e ordenaram ao
povo — As instruções dadas neste momento e lugar são diferentes das
dadas em Js. 1:11.
Quando virdes a arca da Aliança do SENHOR, vosso Deus, e
que os levitas sacerdotes a levam, etc. — A localização da arca em
descanso, era no centro do acampamento; e, em marcha, no meio da
procissão. Nesta ocasião devia ocupar a vanguarda e ser levada não pelos
levitas coatitas mas pelos sacerdotes, como em todas as ocasiões solenes
e extraordinárias (veja-se Nm_4:15; 6:6; 1Rs_8:3-6).
partireis vós também do vosso lugar e a seguireis ... haja a
distância de cerca de dois mil côvados entre vós e ela — Estas
instruções se referem exclusivamente ao avanço no rio. A distância que o
povo deveria observar geralmente para seguir a arca, era de quase 1609
metros; se eles tivessem ido muito perto da arca, teria se interceptado a
vista, e este espaço interposto então foi mandado, para que esta caixa
com os sagrados símbolos pudesse ser distintamente visível de todas
partes do acampamento e reconhecida como seu guia no caminho
desconhecido.
5. Disse Josué ao povo — antes, “havia dito”, porque como fala de
“amanhã”, certamente fez o discurso antes do dia da travessia, e a
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 10
santificação provavelmente foi igual a que Moisés tinha ordenado antes
de dar a lei, santificação que consistia numa limpeza exterior (Êx_19:10-
15) preparatória àquele sério e devoto estado de mente com que tão
grande manifestação deveria ser contemplada.
6. Josué falou com os sacerdotes (RV89) — Esta ordem aos
sacerdotes, deve ter sido dada no particular, e como compreendia uma
mudança importante na acostumado ordem de marcha, foi considerada
como anunciada em nome de Deus e com autorização dele. Além disso,
quando os sacerdotes entrassem nas águas do Jordão, tinham que estar
imóveis. A arca tinha que efetuar o que antes tinha sido feito pela vara de
Moisés.

Vv. 7, 8. O SENHOR ANIMA A JOSUÉ.


7, 8. Então, disse o SENHOR a Josué: Hoje, começarei a
engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel. — Josué já tinha
recebida honras distinguidas (Êx_24:13; Dt_31:7). Mas um sinal
superior do favor divino agora lhe devia ser conferido publicamente, e a
evidência dada da mesma maneira inequívoca de que sua missão e
autoridade provinham de Deus como no caso de Moisés (Êx_14:31).

Vv. 9-13. JOSUÉ ANIMA O POVO.


9-13. Chegai-vos para cá e ouvi as palavras do SENHOR, vosso
Deus — Parece que os israelitas não tinham nenhuma insinuação de
como deviam cruzar o rio até pouco antes de fazê-lo. O discurso prévio
de Josué, em conexão com o resultado milagroso exatamente como ele o
havia predito, teria que aumentar e confirmar sua fé no Deus de seus
pais, de que Ele não é coisa torpe, insensível, sem vida, como os ídolos
das nações, mas sim um Ser de vida, poder e atividade para defendê-los e
agir por eles.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 11
Vv. 14-17. AS ÁGUAS DO JORDÃO SÃO DIVIDIDAS.
14. Tendo partido o povo das suas tendas, etc. — Para entender a
cena descrita, temos que apresentar à nossa imaginação a companhia de
sacerdotes com a arca sobre seus ombros, em pé sobre a parte baixa do
rio, enquanto o povo estava a 1609 metros de distância. Repentinamente
o rio se secou, um espetáculo mais admirável, pelo fato de suceder no
tempo da colheita, correspondente a nosso abril ou maio, quando “o
Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras”. As palavras
originais podem ser mais corretamente traduzidas “enche todas as suas
ribeiras”, seu caudal alimentado pelas neves do Líbano, estava a sua
maior altura, cheio de salto em salto; tradução que dá uma fiel descrição
do Jordão em tempo da colheita, como visto por viajantes modernos. O
rio perto de Jericó tinha cerca de 50 ou 60 metros de largura. Mas em
tempo da colheita teria o dobro desta largura. Mas nos tempos antigos,
quando as colinas de ambos os lados eram mais banhadas pela chuva que
agora que não há bosques, o rio deve ter tido uma largura ainda maior
que na atualidade no tempo da colheita.
16. as águas que vinham de cima — quer dizer, do mar da Galileia.
levantaram-se num montão — uma barreira firme e compacta
(Êx_15:8; Sl_78:13).
mui longe—água acima;
da cidade de Adã, que fica ao lado de Sartã — perto do Monte
Sartebeh, na parte norte de Ghor (1Rs_7:46); ou seja, a uma distância de
cinquenta quilômetros do acampamento israelita;
e as que desciam ao mar da Arabá — o Mar Morto — “foram de
todo cortadas” (Sl_144:2-3). De modo que, o rio se secou em toda a
extensão que podia abranger a vista. Este foi um milagre estupendo. O
Jordão recebeu seu nome, “aquele que desce”, da força de sua corrente, a
qual, depois de passar pelo Mar da Galileia, aumenta-se grandemente, e
se lança através de vinte e sete “horríveis correntes e cataratas”, sem
contar outras menores, por uma queda total de 303 mts., alcançando uma
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 12
velocidade de 7 a 8 km., por hora (Lynch). Quando está cheio “em
tempo da colheita”, corre a uma velocidade acelerada.
passou o povo defronte de Jericó — O lugar exato não se
conhece; mas não pode ser o fixado pela tradição grega—o banho dos
peregrinos—por ser muito ao norte e porque ali a ribeira oriental se
forma de precipícios de 3 a 5 metros de altura.
17. os sacerdotes … e todo o Israel passou a pé enxuto,
atravessando o Jordão — o rio perto de Jericó tem um fundo firme
pedregoso, sobre o qual o povo pôde passar sem dificuldade, uma vez
que a água se afastou.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Josué 4

Vv. 1-8. DOZE PEDRAS SÃO TIRADAS DO JORDÃO COMO


MEMORIAL.
1-3. falou o SENHOR a Josué, dizendo: Tomai do povo doze
homens — cada um representante de uma tribo; previamente tinham
sido escolhidos para este serviço (Js. 3:12), e a repetição do mandado se
faz aqui somente para dar conta de sua execução. Embora Josué tinha
sido divinamente ordenado a erigir esta pilha comemorativa, os
representantes do povo não foram ilustrados sobre a obra que tinham que
fazer até o momento da travessia.
4, 5. Chamou, pois, Josué os doze homens — Eles provavelmente
por um sentimento de reverência, ficaram atrás e estavam sobre a ribeira
oriental. E lhes deu ordem de avançar, elevando cada um uma pedra,
provavelmente a maior que cada um podia levar, do lugar onde estavam
os sacerdotes, e para passar frente à arca e depositar as pedras no lugar
do próximo acampamento (Js. 4:19, 20), quer dizer, em Gilgal.
6, 7. isto seja por sinal entre vós — A ereção de enormes pilhas de
pedras, como monumentos de acontecimentos notáveis, era comum entre
todos os povos, especialmente nos períodos anteriores e rudes de sua
história. Elas são os meios estabelecidos para perpetuar a memória de
transações importantes, especialmente entre os povos nômades do
Oriente; e embora não tenham inscrições, a história e o objeto de tão
singelos monumentos se perpetuam tradicionalmente de época a época.
Semelhante foi o propósito de levar as doze pedras a Gilgal: para que
fossem uma permanente lembrança da milagrosa passagem do Jordão.
8. Fizeram, pois, os filhos de Israel como Josué ordenara — quer
dizer, foi feito pelos doze representantes.

V. 9. DOZE PEDRAS COLOCADAS NO MEIO DO JORDÃO.


Levantou Josué também doze pedras no meio do Jordão, no
lugar em que, parados, pousaram os pés os sacerdotes — Além do
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 14
memorial acima mencionado, houve outra lembrança do acontecimento
milagroso, uma cópia do outro, erguido próprio no rio, no lugar onde
descansou a arca. Este montão de pedras deve ter sido grande e
firmemente construído, e visível no estado comum do rio. Como não se
diz de onde foram trazidas estas pedras, há alguns que creem que foram
trazidas dos campos próximos, e depositadas pelo povo ao cruzar aquele
lugar.
e ali estão até ao dia de hoje — pelo menos 20 anos depois do
acontecimento, se calcularmos a data pela data desta história (Js_24:26),
e muito mais tarde, se considerarmos que estas palavras da cláusula final
foram inseridas por Samuel ou Esdras.

Vv. 10-13. O POVO CRUZA.


10. os sacerdotes que levavam a arca haviam parado no meio do
Jordão — Esta localização deles foi bem ideada tanto para animar ao
povo, quem provavelmente cruzou o rio mais abaixo de onde estava a
arca, como também para facilitar a execução das menores instruções de
Josué com relação ao cruzamento (Nm_27:21-23). A firme confiança
dos sacerdotes contrasta notavelmente com a conduta do povo, que “se
apressou e passou”. Sua fé, como a de muitos do povo de Deus, era, pela
fraqueza da natureza, mesclada com temores. Talvez sua “pressa” possa
ver-se numa luz mais favorável, como indicando sua presteza em
obedecer, ou talvez lhes fosse ordenado apressar-se, para que toda a
multidão passasse num dia.
11. então, passou a arca do SENHOR, e os sacerdotes, à vista de
todo o povo — Menciona-se a arca como a causa eficiente: ela tinha
sido primeira em mover-se, e foi a última em sair do rio; e os
movimentos dela chamaram profundamente a atenção do povo, que
provavelmente ficava na ribeira oposta, absorto de admiração e
assombro por esta cena final. Foi um grande milagre, ainda maior que a
passagem do Mar Vermelho neste respeito, que, aceitando o fato, não há
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 15
possibilidade de insinuações racionalistas quanto à influência de causas
naturais que o poderiam ter produzido, como no caso anterior.
12. Passaram os filhos de Rúben … armados, na frente dos
filhos de Israel — Aqui não se indica nenhuma precedência às demais
tribos; porque não há razão de supor que se tinha desviado a costumeira
ordem de marcha; mas estes são mencionados honrosamente para
mostrar que eles, segundo seu compromisso (Js. 1:16-18), tinham
enviado um corpo de guerreiros que acompanhassem a seus irmãos na
guerra de invasão.
13. às campinas de Jericó — Aquela parte da Arabá ou Ghor, do
lado ocidental, tem uma largura de 11 quilômetros do Jordão até a
entrada da montanha pelo Wady-Kelt. Embora seja agora deserto, este
vale nos tempos antigos se cobria de bosques. Um imenso bosque de
palmeiras, pouco mais de 11 quilômetros de comprimento, rodeava
Jericó.

Vv. 14-24. DEUS ENGRANDECE A JOSUÉ.


14-17. Naquele dia, o SENHOR engrandeceu a Josué na
presença de todo o Israel — Parecia claro, pela parte que ele
desempenhou, que ele era o guia divinamente nomeado; porque nem
mesmo os sacerdotes entraram no rio, nem abandonaram o seu lugar ali,
senão por ordem dele; e desde então sua autoridade estava tão
firmemente estabelecida como a de seu predecessor.
18. Ao subirem do meio do Jordão os sacerdotes que levavam a
arca … as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar — A passagem
deles, que era o ato final, completou a evidência do milagre; porque
então, e não antes, restabeleceram-se as leis da natureza que estavam
suspensas, as águas voltaram ao seu lugar, e a corrente voltou a ser forte
como antes.
19. Subiu, pois, do Jordão o povo no dia dez do primeiro mês—
quer dizer, o mês de Nisã, quatro dias antes da Páscoa, e o mesmo dia
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 16
que se requeria que se apartasse o cordeiro pascal, a providência de Deus
tinha disposto que a entrada à terra prometida fosse o dia da festa.
e acamparam-se em Gilgal — aqui se dá o nome com antecipação
(Js. 5:9). Era uma parcela de terra, segundo Josefo, a cinquenta estádios
(quase dez quilômetros e meio) do Jordão e a dez estádios (pouco mais
de dois quilômetros) de Jericó, sobre o bordo oriental do bosque de
palmeiras, hoje considerado o lugar ocupado pela aldeia Riha.
20-24. As doze pedras que tiraram do Jordão, levantou-as Josué
em coluna em Gilgal — provavelmente para que fossem mais visíveis,
foram erguidas sobre um alicerce de terra de grama. A pilha tinha que
servir com duplo propósito: impressionar os pagãos com o sentimento da
onipotência de Deus, e ao mesmo tempo, ensinar uma importante lição
de religião aos jovens israelitas em tempos posteriores.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 17
Josué 5

Ver. 1. OS CANANEUS TEMEM.


1. os reis dos amorreus, que estavam além do Jordão ao
ocidente, e todos os reis dos cananeus, que estavam junto ao mar
(TB) — sob o primeiro nome se conheciam os habitantes da região
montanhosa, e sob o último, os que habitavam a costa do mar da
Palestina.
ouviram como Jeová havia secado as águas do Jordão …
derreteu-se-lhes o coração (TB) — Eles provavelmente tinham contado
com o rio crescido por algum tempo, como uma barreira segura de
defesa. Mas vendo que se tinha secado completamente, ficaram
paralisados por uma prova tão indubitável de que Deus estava do lado
dos invasores. Na verdade, a conquista já tinha começado pela total
prostração de espírito dos chefes nativos. “Desmaiou-se-lhes o coração”
(RA) mas, infelizmente para eles, não em fé e submissão penitente.

Vv. 2-12. A CIRCUNCISÃO É RESTABELECIDA.


2. Naquele tempo — ao fazer o acampamento depois de cruzar o rio.
disse o SENHOR a Josué: Faze facas de pederneira — Juntem-
se e preparem-se facas de pedra. A pederneira tinha sido usada por todos
os povos nos tempos primitivos; e, embora o uso do ferro fosse
conhecido entre os hebreus do tempo de Josué, provavelmente a falta de
suficientes instrumentos metálicos determinou o emprego da pederneira
nesta ocasião (veja-se Êx_4:25).
passa, de novo, a circuncidar os filhos de Israel — O mandado
não o obrigou a repetir a operação nos que já a tinham suportado, e sim a
começar de novo a observância do rito, que fazia muito tempo não se
observava. A linguagem, entretanto, evidentemente se refere a uma
circuncisão geral em alguma ocasião anterior, o qual, embora não
mencionada, deve ter sido feita antes da celebração da Páscoa no Sinai
(veja-se Êx_12:48; Nm_9:5), quando uma multidão heterogênea
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 18
acompanhava o povo. “A segunda vez” da circuncisão geral foi na
entrada em Canaã.
3. no outeiro (TB) — Provavelmente uma das colinas argilosas que
formam as barrancos mais altos do Jordão, no terreno mais elevado do
bosque de palmeiras.
4-7. Foi esta a razão por que Josué os circuncidou — A omissão
de circuncidar os filhos nascidos no deserto, talvez se deveu ao constante
caminhar do povo; mas mais geralmente se pensa que a verdadeira causa
foi uma suspensão temporária da aliança com a raça incrédula, que tendo
sido rejeitada pelo Senhor foi condenada a perecer no deserto e seus
filhos tiveram que levar a iniquidade de seus pais (Nm_14:33),
entretanto, a aliança com eles seria renovada quando entrassem na terra
prometida.
8. Tendo sido circuncidada toda a nação — Como o número dos
nascidos no deserto, e portanto o dos incircuncisos, deve ter sido imenso,
é de esperar que houvesse dificuldade para que se praticasse o rito em tal
multidão de pessoas em tão curto tempo. Mas calculou-se que a
proporção entre os já circuncidados (que eram menores de vinte anos
quando se pronunciou a condenação) e os que deviam ser circuncidados,
era um em cada quatro, e por conseguinte toda a cerimônia poderia ter
sido efetuada num dia. Sendo a circuncisão o sinal e o selo da aliança,
sua observância foi virtualmente uma enfeudação da terra prometida, e o
fato de a pospor até a entrada ao país foi ato sábio e bondoso da parte de
Deus, quem demorou este difícil dever até que os corações do povo,
animados pelo recente milagre, estivessem preparados para obedecer a
divina vontade.
ficaram no seu lugar no arraial, até que sararam — Se calcula
que dos que não tiveram que ser circuncidados, mais de 50.000 ficaram
para defender o acampamento, em caso de um ataque.
9. Disse mais o SENHOR a Josué: Hoje, removi de vós o
opróbrio do Egito — As zombarias dirigidas por aquele povo sobre
Israel como nacionalmente rejeitado por Deus por ter suspenso a
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 19
circuncisão, e a renovação do rito, foi um anúncio prático da restauração
da aliança. (Keil).
Gilgal — Nenhum vestígio do nome ou do local se acha agora; mas
distava de Jericó cerca de três quilômetros (Josefo) e era muito
apropriado para um acampamento porque havia as vantagens de sombra
e água. Foi o primeiro lugar pronunciado “santo” na terra prometida
(Js_5:15).
10. celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde — A
data fixada pela Lei (veja-se Êx_12:18; Lv_23:5; Nm_28:16). Assim
começou a existência nacional com um solene ato de dedicação religiosa.
11, 12. Comeram do fruto da terra, no dia seguinte à Páscoa —
Achados nos celeiros dos habitantes que se tinham refugiado em Jericó.
cereais tostados — grão novo (veja-se Lv_23:10), provavelmente
descuidado no campo. Esta era uma maneira singela e primitiva de
preparar o grão, muito apreciada no Oriente. Esta abundância de
alimento foi motivo da cessação do maná; e sua cessação, vista em
conexão com sua aparição oportuna no deserto estéril, é prova evidente
de sua origem milagrosa.

Vv. 13-15. UM ANJO APARECE A JOSUÉ.


13. Estando Josué ao pé de Jericó — na imediata cercania daquela
cidade, provavelmente ocupado em examinar suas defesas e em meditar
no melhor plano de assédio.
se achava em pé diante dele um homem que trazia na mão uma
espada nua — É evidente pela ênfase do contexto que esta não foi uma
mera visão, mas sim uma verdadeira aparição; o repentino da qual
surpreendeu, porém não acovardou o valente capitão.
14. exército do SENHOR. — tanto o povo israelita (Êx_7:4;
Êx_12:41; Is_55:4), ou os anjos (Sl_148:2), ou ambos inclusive, e o
Capitão dele era o anjo da aliança, cujas manifestações visíveis variam
segundo a ocasião. Sua atitude de preparativo significou Sua aprovação
da guerra de invasão e Seu interesse nela.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 20
Josué se prostrou com o rosto em terra, e o adorou — A adoção
por Josué desta maneira absoluta de prostração demonstra os sentimentos
de profunda reverência que a linguagem e porte majestoso do estranho
lhe inspiraram. O verdadeiro caráter deste personagem se manifesta pelo
fato de que Ele aceitou o homenagem e a adoração (veja-se At_10:25-26;
Ap_19:10), e ainda mais no mandado: “Descalça as sandálias dos pés”
(Êx_3:5).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 21
Josué 6

Vv. 1-7. JERICÓ SE FECHA.


1. Jericó estava rigorosamente fechada — Este versículo
constitui um parêntese introduzido para preparar o caminho para as
orientações dadas pelo Capitão do exército do Senhor Jeová.
2. Olha, entreguei na tua mão Jericó — A linguagem indica que
um propósito já formado estava por chegar à execução imediata; e que,
embora o rei e os habitantes de Jericó fossem hábeis e ferozes guerreiros,
e deviam opor uma resistência tenaz, o Senhor prometeu uma vitória
segura e fácil sobre eles.
3-5. todos os homens de guerra, rodeareis a cidade … assim
fareis por seis dias — Aqui se dão orientações quanto à maneira de
proceder. Heb., “chifres de jubileu”, isto é, trombetas torcidas, chifres de
carneiros, mediante os quais se proclamava o jubileu. O propósito de
todo este proceder era evidentemente o de impressionar aos cananeus
com um sentimento da onipotência divina e ensinar aos israelitas uma
memorável lição de fé e confiança nas promessas de Deus, e inspirar
sentimentos de respeito e reverência pela arca como símbolo da presença
divina. A duração de tempo em que se faziam estas voltas, tendia a fixar
a atenção e aprofundar as impressões, tanto dos israelitas como do
inimigo. O número sete era entre os israelitas o selo simbólico da aliança
entre Deus e sua nação. (Keil, Hengstenberg.)
6, 7. Josué, filho de Num, chamou os sacerdotes — O piedoso
capitão, sejam quais forem os preparativos militares feitos, submeteu
todas as suas opiniões, imediatamente e sem reserva, à declarada vontade
de Deus.

Vv. 8-19. A CIDADE RODEADA POR SEIS DIAS.


8-11. os sete sacerdotes, com as sete trombetas de chifre de
carneiro diante do SENHOR, passaram e tocaram as trombetas; e a
arca da Aliança do SENHOR os seguia — diante da arca, chamada
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 22
“arca da aliança”, porque continha as tábuas sobre as quais estava
inscrito a aliança. A procissão era feita em meio de um silêncio solene e
profundo, segundo as instruções dadas ao povo no princípio por seu guia,
de que deveriam guardar-se de fazer qualquer gritaria ou ruído, enquanto
ele não lhes desse o aviso. Este deve ter sido um espetáculo estranho,
pois não se levantou aterro de defesa, nem se tirou espada, nem se
colocou nenhuma máquina de guerra, nem sapadores que minassem as
muralhas; havia homens armados, mas não se cruzaram golpes. Estes
homens só deviam caminhar e não pelejar. Sem dúvida o povo de Jericó
se divertia com este espetáculo. (Bispo Hall.)
12-14. Levantando-se Josué de madrugada, os sacerdotes
levaram, de novo, a arca do SENHOR — Parece que a procissão do
segundo dia se fez de amanhã. Em todos os outros aspectos, até nos
menores detalhes, as disposições do primeiro dia eram as regras que se
deviam seguir nos próximos seis dias.
15. No sétimo dia, madrugaram ao subir da alva e, da mesma
sorte, rodearam a cidade sete vezes — Cedo, por causa das sete voltas
que tinham que dar naquele dia. É evidente que só o exército de Israel
tinha que fazer esta marcha, porque é inconcebível que duas milhões de
pessoas tivessem podido dar tantas voltas à cidade num dia.
16. E sucedeu que, na sétima vez, quando os sacerdotes tocavam
as trombetas, disse Josué ao povo: Gritai, porque o SENHOR vos
entregou a cidade! — Esta demora inspirou sua fé e obediência de
maneira tão notável, que é celebrada pelo apóstolo (Hb_11:30).
17-19. A cidade será anátema (TB) — (Veja-se Lv_27:28-29). O
cherem, ou anátema, era a entrega à completa destruição (Dt_7:2;
Dt_20:17; 1Sm_15:3). Quando tal condenação era feita contra alguma
cidade hostil, matava-se os animais e os homens; não se permitiu tomar
despojo; os ídolos e todo o seu precioso ornamento foram queimados
(Dt_7:25, 1Cr_14:12); tudo devia ser destruído ou consagrado ao
santuário. Josué pronunciou esta condenação contra Jericó, cidade
grande e rica, evidentemente por orientação divina, e a severidade da
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 23
condenação, segundo as exigências da lei que era santa, justa e boa, e
justificada não só pelo fato de que seus habitantes formavam parte de
uma raça que tinha enchido a medida de sua iniquidade, mas também por
ter resistido a luz do recente milagre assombroso no Jordão. Além disso,
como parece que Jericó era defendida por reforços chegados de todo o
país (Js. 24:11), a destruição dela paralisaria a todos os outros povos
destinados à derrota, e assim tenderia a facilitar a conquista de toda a
terra, mostrando que este milagre militar não foi feito pelo homem e sim
pelo poder e pela ira de Deus.
18. Vós, todavia, guardai-vos do anátema (TB) — Geralmente
lhes era permitido tomar o despojo das cidades conquistadas (Dt_2:35;
Dt_3:7; Js. 8:27). Mas esta, como primícia de Canaã, foi feita uma
exceção; nada foi perdoado exceto Raabe e os de sua casa [Js_6:17].
Uma violação destas ordens estritas não só tornava aborrecíveis as
pessoas culpadas, mas traria pena e adversidade sobre todo o Israel,
provocando a ira divina. Estas eram as instruções dadas, ou repetidas
(Dt_13:17; Dt_7:26) previamente até o último ato do assédio.

Vv. 20, 21. CAEM AS MURALHAS.


20. Gritou, pois, o povo, e os sacerdotes tocaram as trombetas
— Para o fim da sétima volta, Josué deu o sinal, e ao levantarem os
israelitas seu forte grito de guerra, caíram as muralhas, sem dúvida
sepultando sob as ruínas a multidão dos habitantes, enquanto os
sitiadores se lançaram dentro e entregaram todas as coisas animadas e
inanimadas à completa destruição. (Dt_20:16-17). Escritores judeus
mencionam como uma tradição imemorial que a cidade caiu no dia de
sábado. Deve lembrar-se que os cananeus eram idólatras incorrigíveis,
viciados nos vícios mais horríveis, e que o justo juízo de Deus poderia
varrê-los pela espada da mesma maneira que pela fome ou a pestilência.
Havia misericórdia mesclada com juízo em usar a espada como
instrumento para castigar os cananeus culpados, porque enquanto o
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 24
castigo se dirigia contra uns, dava-se tempo para que outros se
arrependessem.

Vv. 22-25. RAABE É SALVA.


22. Então, disse Josué … Entrai na casa da mulher prostituta e
tirai-a de lá com tudo quanto tiver — É evidente que as muralhas da
cidade não foram demolidas em todas as suas partas, pelo menos
imediatamente, porque a de Raabe ficava em pé enquanto não se
resgatava a seus moradores, segundo a promessa.
23. tiraram também toda a sua parentela e os acamparam fora
do arraial de Israel — Uma exclusão momentânea, a fim de que fossem
purificados da contaminação de suas idolatrias, e gradualmente
preparados para a entrada na sociedade do povo de Deus.
24. Queimaram a fogo a cidade com tudo o que nela havia (TB)
— exceto a prata, o ouro e outros metais, que, como não se queimavam,
foram acrescentados ao tesouro do santuário.
25. Ela ficou habitando no meio de Israel até o dia de hoje (TB)
— isto é prova de que este livro foi escrito não muito tempo depois dos
acontecimentos relatados.

Vv. 26, 27. OS REEDIFICADORES DE JERICÓ AMALDIÇOADOS.


26. Naquele tempo, Josué fez o povo jurar — quer dizer, impôs
sobre seus concidadãos um juramento solene, obrigatório tanto a eles
como a seus descendentes, de que nunca voltariam a edificar aquela
cidade. Sua destruição foi proposta por Deus como memorial
permanente de seu ódio à idolatria e seus vícios afins.
Maldito diante do SENHOR seja o homem que se levantar e
reedificar esta cidade de Jericó — quer dizer, que se atrevesse a tentar
reedificá-la.
com a perda do seu primogênito lhe porá os fundamentos e, à
custa do mais novo, as portas — deverá ser sem filhos, pois seu
primogênito morrerá no princípio da empresa e o único filho vivo
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 25
morrerá no tempo da terminação da obra. Esta maldição se fez 550 anos
depois de ter sido pronunciada. (Veja-se 1Rs_16:34).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 26
Josué 7

V. 1. O PECADO DE ACÃ.
os filhos de Israel cometeram prevaricação no anátema—havia
um transgressor do cherem, ou proibição, sobre Jericó, e sua transgressão
trouxe culpa e castigo de pecado sobre toda a nação.
Acã — chamado mais tarde Acar (perturbação) (1Cr_2:7).
Zabdi — ou Zinri (1Cr_2:6).
Zera — filho de Judá e Tamar (Gn_38:30). Provavelmente se dá
seu genealogia para mostrar que de uma parentela tão infame os
descendentes não seriam cuidadosamente ensinados no temor de Deus.

Vv. 2-26. OS ISRAELITAS VENCIDOS EM AI.


2. Enviando, pois, Josué, de Jericó, alguns homens a Ai —
Depois do saque de Jericó, o próximo passo era penetrar nas colinas mais
acima. Então foram enviados espiões para verem o país. O sítio preciso
de Ai, se indica com suficiente claridade (Gn_12:8; Gn_13:3), e há
pouco foi descoberto num “tell” (colina) isolado, chamado pelos naturais
Tell-el-Hajar, “monte de pedras”, a 3 quilômetros ao sudeste do Betel.
(Van de Velde).
Bete-Áven — “(casa de vaidade)” — nome dado mais tarde como
zombaria (Os_4:15; Os_5:8; Os_10:5), por causa de sua idolatria, a
Betel, “casa de Deus”, mas aqui se refere a outro lugar, a uns nove
quilômetros e meio a leste de Betel, quatro e meio ao norte de Ai.
3. Não suba todo o povo … porque são poucos — Como a
população de Ai chegava a 12.000 (Js_8:25), era uma cidade
considerável; ainda que no rápido e distante reconhecimento feito pelos
espiões, provavelmente parecia pequena em comparação com Jericó, e
isto pode ter sido a causa pela qual eles pediram tão pequeno
destacamento para conquistá-la.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 27
4. fugiram diante dos homens de Ai — Uma resistência
inesperada e a perda de trinta e seis de seus homens, produziram um
pânico, que terminou numa vergonhosa derrota.
5. e seguiram-nos desde a porta até Sebarim (RC) — quer dizer,
até os “rompimentos” ou “fendas” na abertura dos passos.
e os derrotaram na descida — i. e., o pendente do profundo wadi
contíguo.
e o coração do povo se derreteu e se tornou como água — É
evidente que as tropas ocupadas eram um bando tumultuado e sem
disciplina, não preparado em assuntos militares mais que os beduínos
árabes, que se desalenta e fogem ao perder dez ou quinze homens. Mas a
consternação dos israelitas veio por outra causa: o evidente desagrado de
Deus, quem reteve aquela ajuda com a qual eles tinham contado.
6-9. Josué rasgou as suas vestes e se prostrou em terra sobre o
rosto perante a arca … ele e os anciãos — É evidente por estas sinais
de humilhação e pesar, que um solene jejum se guardou nesta ocasião. A
linguagem da oração de Josué é considerada por muitos, como expressão
de fraqueza humana e carente daquela reverência e submissão que ele
devia a Deus. Mas, embora manifestasse aparentemente um espírito de
atrevida repreensão e queixas, foi na realidade a expressão de uma mente
profundamente humilhada e afligida, que expressava a crença de que,
depois de haver trazido tão milagrosamente a Seu povo através do Jordão
à terra prometida, Deus não podia pensar em destruí-lo, expô-lo aos
insultos de seus inimigos triunfantes, e trazer recriminação sobre Seu
próprio nome por inconstância ou falta de amor para com o Seu povo, ou
incapacidade para resistir a seus inimigos. Incapaz de entender a presente
calamidade, reconheceu a mão de Deus.
10-15. disse o SENHOR a Josué: Levanta-te! — A resposta do
oráculo divino foi: A crise não se deve a infidelidade de Minha parte,
mas sim ao pecado do povo. Foram violadas as condições da aliança pela
reservação dos despojos da cidade condenada; maldade, claramente
chamada insensatez, cometeu-se em Israel (Sl_14:1), e dissimulação,
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 28
com outros agravantes de crime, continua sendo praticada. O povo se
expõe à destruição junto com as nações condenadas de Canaã (Dt_7:26).
Precisava achar meios de descobrir e castigar o transgressor, para que
Israel seja libertado desta culpa, e as coisas sejam restauradas a seu
anterior estado de prosperidade.
16-18. Josué se levantou de madrugada e fez chegar a Israel,
segundo as suas tribos — i. e., perante o tabernáculo. Apelando à sorte
(Pro_16:33), ele procedeu a averiguar dos chefes de tribos até os chefes
de famílias, dos chefes de famílias até as famílias em particular, e a cada
pessoa de cada família, até que se achou que o criminoso era Acã, quem,
por conselho de Josué, confessou ter escondido para seu uso pessoal, sob
o solo de sua tenda, despojos tanto de roupas como de dinheiro [Js_7:19-
21]. Quão terríveis seriam os sentimentos desse homem, ao ver o
processo lento mas seguro de descobrimento! (Nm_32:23).
19. disse Josué a Acã: Filho meu, dá glória ao SENHOR, Deus
de Israel — uma forma de conjuro a dizer a verdade.
21. uma boa capa babilônica — lit., manto do Sinar. A planície do
Sinar naqueles tempos era célebre por seus mantos magníficos, de cores
brilhantes e variados que formavam figuras provavelmente semelhantes
aos tapetes turcos de hoje, cujas cores eram tecidas no tear ou bordados
com agulha.
duzentos siclos de prata — equivalente a 22 libras, 10 xelins,
segundo a lei mosaica do siclo, ou a metade desse valor, calculando o
siclo comum.
uma barra de ouro — lit., um disco ou barra em forma de língua.
22, 23. Josué enviou mensageiros que foram correndo à tenda
— com ânsia não só de provar a veracidade do assunto mas também de
livrar a Israel da imputação de culpa. Tendo descoberto os artigos
roubados, puseram-nos diante do Senhor, como sinal de que Lhe
pertenciam, por causa da condenação.
24-26. Josué e todo o Israel com ele tomaram Acã — ele com
seus filhos e tudo o que tinha, foram levados a uma das largas quebradas
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 29
que conduzem a Ghor, e depois de ser mortos a pedradas (Nm_15:30-
35), seu corpo, com tudo o que lhe pertencia, foi reduzido a cinzas.
“Todo o Israel” estava presente, não só como espectador mas sim como
agente ativo, até onde era possível, em aplicar o castigo, tipificando
assim que detestavam o sacrilégio, e sua grande solicitude por
reconquistar o favor divino. Como a lei divina expressamente proíbe que
os filhos sejam mortos pelos pecados de seus pais (Dt_24:16),
possivelmente os “filhos e filhas” de Acã foram levados a lugar da
execução como espectadores, para que a sorte de seu pai lhes servisse de
advertência: ou, se participaram do castigo. (Js_22:20), provavelmente
tinham sido cúmplices de seu crime, visto que na realidade, ele
dificilmente teria podido cavar um oco dentro de sua tenda sem que sua
família participasse disso.
26. levantaram sobre ele um montão de pedras — No Oriente é
costume levantar cairns, montões de pedras, sobre os sepulcros dos
criminosos ou das pessoas infames.
pelo que aquele lugar se chama o vale de Acor até ao dia de hoje
— Um episódio tão doloroso tornou o lugar notório, pois é mencionado
mais de uma vez pelos escritores sagrados de tempos posteriores.
(Is_65:10; Os_2:15).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 30
Josué 8

Vv. 1-28. DEUS ANIMA A JOSUÉ.


1, 2. Disse o SENHOR a Josué: Não temas — Com a execução de
Acã foi afastada a ira divina, foram encorajados os israelitas, e a derrota
foi seguida pela vitória; deste modo o caso de Ai é um exemplo notável
do governo disciplinador de Deus, no qual os castigos pelo pecado
preparam o caminho para a apresentação dos benefícios temporários,
tirados e retidos por um tempo por causa do pecado. Josué, quem tinha
estado muito desalentado, foi animado por uma comunicação especial
que lhe prometia (veja-se Js_1:6; Dt_31:6-8) êxito na próxima empresa,
a qual, entretanto, tinha que desenvolver-se sobre bases diferentes.
toma contigo toda a gente de guerra, e dispõe-te, e sobe a Ai —
O número de guerreiros subia a 600.000, e todo este exército foi
mandado nesta ocasião, por uma parte porque na vez anterior os espiões,
confiados em si mesmos, haviam dito que uns poucos eram suficientes
para atacar o lugar (Js_7:3), por outro lado para dissipar qualquer receio
criado pela lembrança do recente desastre, e também pela circunstância
de que os primeiros despojos tomados em Canaã, repartidos entre todos,
poderiam influir como uma recompensa pela obediência em refrear do
roubo tanto como um estímulo para futuros esforços. (Dt_6:10). Outros
do povo, inclusive as mulheres e os meninos, ficaram no acampamento
de Gilgal. Estando o acampamento na planície de Jericó seria uma
subida a Ai, que estava sobre uma colina.
entreguei nas tuas mãos o rei de Ai, e o seu povo, e a sua cidade,
e a sua terra … põe emboscadas à cidade, por detrás dela — Deus
lhe assegurou a vitória mas lhe permitiu seguir seu próprio plano para
conseguir empossar-se da cidade.
3. escolheu Josué trinta mil homens valentes — Josué despachou
30.000 homens, sob as sombras da noite, a estacionar-se no lugar
convencionado para a emboscada. Deste número um destacamento de
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 31
5.000 avançou a esconder-se perto da cidade, para aproveitar a primeira
oportunidade de lançar-se dentro dela [Js_8:12].
4. emboscada contra a cidade, por detrás dela — traduzido (v. 9)
“ao ocidente de Ai”.
9. entre Betel e Ai — Embora Betel esteja perto em direção do
oeste vindo pelo norte, não se pode ver de Tell-el-hajar; duas alturas
rochosas se levantam entre os dois lugares, no wadi El-Murogede, tal
como se necessitava para a emboscada. (Van de Velde, Robinson).
10. Josué … passou revista ao povo — quer dizer, ao
destacamento da emboscada; fez isto para poder apresentar mais tarde
uma prova clara de que a obra tinha sido feita sem perda de homem, de
modo que a confiança em Deus seria afirmada, e lhes daria alento para
prosseguir a guerra de invasão com vigor.
subiram ele e os anciãos de Israel ... contra Ai — os magistrados
principais e governantes, cuja presença e autoridade oficial eram
necessárias para assegurar que o gado e os despojos da cidade fossem
divididos equitativamente entre os combatentes e o resto do povo
(Nm_31:27) — uma regra militar de Israel, a qual corria o risco de ser
violada, se fosse deixado que os soldados seguissem sua própria vontade.
11. Havia um vale entre eles e Ai — literalmente, “o vale”.
13. foi Josué aquela noite até ao meio do vale — A profundidade
das ladeiras escarpadas a norte de Tell-el-hajar, a qual se olha da colina,
está de acordo com este relato. (Van de Velde). Josué mesmo se pôs ao
flanco norte da quebrada—o profundo terreno sob o Wady el-Murogede,
“aquela noite”—enquanto ainda estava obscuro, provavelmente depois
da meia-noite, ou muito cedo de madrugada. (Jo_20:1). Ao romper da
alvorada, o rei de Ai desperta os seus sonolentos súditos, e faz uma saída
apressada com todos os seus capazes de levar armas, para surpreender e
aniquilar novamente os hebreus.
14. ao tempo determinado (TB) — uma hora combinada entre o
rei e o povo de Ai e os de Betel, confederados com ele nesta empresa,
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 32
talvez se tinham fixado a mesma hora do dia em que tinham pelejado
com êxito contra Israel, crendo que era uma hora de sorte (Jz_20:38).
ele não sabia achar-se contra ele uma emboscada atrás da
cidade — É evidente que este rei e seus súditos eram pouco hábeis na
guerra, de outra maneira teriam enviado exploradores para reconhecerem
todos os arredores; de qualquer maneira, não deviam ter deixado sua
cidade aberta e sem proteção alguma. Talvez a emboscada era uma tática
de guerra desconhecida naquele país e entre aquele povo.
15-17. Josué e todo o Israel se houveram, como se fossem
feridos diante deles, e fugiram (TB) — A fuga fingida em direção ao
deserto, ao sudeste, o Ghor, o vale deserto do Jordão, atraiu a todos os
habitantes de Ai fora da cidade, enquanto o povo de Betel se apressou a
tomar parte na esperada vitória. Alguns supõem, pela menção da
“cidade” e não “cidades”, que as forças efetivas de Betel já estavam
concentradas em Ai, pois os dois lugares eram contíguos, e Ai era o
maior. (Veja-se Js_12:16). Poderia mencionar-se, entretanto, que as
palavras “nem em Betel” não estão na Septuaginta, e são rejeitadas por
muitos entendidos como uma interpolação não achada nos manuscritos
mais antigos.
18-25. Josué estendeu para a cidade a lança que tinha na mão
— A lança talvez tinha uma bandeira ou pendão para que fosse mais
visível do lugar onde ele estava. Visto este sinal combinado, a
emboscada informada por seus exploradores, fez um ataque repentino, e
se empossou da cidade e lhe prendeu fogo, avisando a seus irmãos do
fato, pela fumaça que subia das muralhas. Ao ver isto, o exército
principal que estava fingindo fuga, deu a volta contra seus perseguidores
na entrada da quebrada, enquanto os 25.000 saindo da emboscada,
atacaram pela retaguarda. Os de Ai, olhando para atrás, viram sua
situação desesperadora.
23. ao rei de Ai tomaram vivo e o trouxeram a Josué — para
reservá-lo para uma morte mais ignominiosa, como um réu mais culpado
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 33
que seus súditos aos olhos de Deus. No duplo ataque, todos os homens
foram mortos.
24. Tendo os israelitas acabado de matar todos os moradores de
Ai — as mulheres, os meninos e os velhos que ficaram atrás, em total
12.000 pessoas [v. 25].
26. Josué não retirou a mão — Talvez, a longa continuação da
postura; pode ter sido o meio assinalado por Deus para animar o povo,
postura que manteve no mesmo espírito devoto que Moisés mostrou,
levantando suas mãos até que a obra de extermínio fosse completada.
(Veja-se Êx_17:11-12).
28. Josué pôs fogo a Ai e a reduziu, para sempre, a um montão,
a ruínas — “para sempre” com frequência significa por longo tempo.
(Gn_6:3). Coisa notável a respeito deste “tell” ou montão, é que
identificamos seu nome com Ai, nome que permanece até hoje. (Van de
Velde).

V. 29. O REI ENFORCADO.


Ao rei de Ai, enforcou-o e o deixou no madeiro. — Nas guerras
antigas, e especialmente no Oriente, os chefes tomados prisioneiros eram
geralmente executados. Os israelitas eram obrigados pela lei divina a
matá-los. A execução do rei de Ai tenderia a facilitar a conquista da
terra, pois causaria terror a outros governantes, e dando ao ato a
aparência de um processo judicial, no qual eles infligiam sobre seus
inimigos a vingança de Deus.
por ordem de Josué, tiraram do madeiro o cadáver … e sobre
ele levantaram um montão de pedras — Foi tirado ao pôr-do-sol,
segundo o mandado divino (Dt_21:23), e jogado num poço cavado “à
porta da cidade”, por ser o lugar mais visível. O montão de pedras foi
levantado sobre seu corpo, costume que ainda existe no Oriente, por
meio do qual se destaca a sepultura das pessoas infames.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 34
Vv. 30, 31. JOSUÉ EDIFICA UM ALTAR.
30, 31. Então, Josué edificou um altar ao SENHOR … no monte
Ebal — (Veja-se Dt_27:12). Este lugar estava a 32 quilômetros de Ai. A
marcha por um país hostil e o cumprimento deste ato religioso, sobre
esta montanha, sem ser incomodados, deve ter sido facilitado sob a
bênção de Deus mediante a destruição de Ai. Este dever solene devia se
cumprir na primeira oportunidade conveniente depois de sua entrada na
Palestina (Dt_27:2); e em vista disto, parece que Josué conduziu o povo
por esta região montanhosa, embora não constam os detalhes da marcha.
Ebal estava ao norte, diante de Gerizim, ao norte da cidade de Siquém
(hoje Nablus).
31. um altar de pedras toscas — segundo instruções dadas a
Moisés (Êx_20:25; Dt_27:5).
sobre o qual se não manejara instrumento de ferro — quer
dizer, ferramentas. A razão disto era que todo altar do Deus verdadeiro
deveria ser construído de terra (Êx_20:24); e se fosse construído de
pedra, devia ser de pedras brutas, sem lavrar, para que tivesse a
aparência e a natureza da terra, visto que todo sacrifício cruento tem que
ver com o pecado e a morte, por meio dos quais o homem, criado da
terra, volta para a terra. (Keil).
ofereceram holocaustos ao SENHOR e apresentaram ofertas
pacíficas — Isto tinha sido feito, quando se estabeleceu a aliança
(Êx_24:5); e pela observância destes ritos (Dt_27:6), renovou-se
solenemente a aliança; o povo se reconciliou com Deus pelas ofertas
queimadas, enquanto que pelas “pacíficas” ou ofertas de gratidão e a
festa que as acompanhava, todos desfrutavam da feliz comunhão com
Deus.
32. Escreveu, ali, em pedras, uma cópia da lei de Moisés —
(veja-se Dt_27:2,3,5); quer dizer, as bênçãos e maldições da lei. Alguns
pensam que as pedras que continham estas inscrições, eram as do altar;
mas este versículo parece indicar que uns pilares de pedra foram
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 35
levantados o lado do altar, e sobre estes, uma vez revogadas, foi inscrito
este duplicado da lei.
33. Todo o Israel, com os seus anciãos, e os seus príncipes, e os
seus juízes estavam de um e de outro lado — Uma metade de Israel
estava no monte Gerizim, e a outra metade sobre o Ebal—ao longo das
ladeiras e bases de cada um.
perante os levitas sacerdotes — à vista deles.
34. Depois, leu todas as palavras da lei — fez com que os
sacerdotes e levitas a lessem. (Dt_27:14). Nas Escrituras, com frequência
se diz que as pessoas fazem o que elas só mandam a outros fazerem.
35. Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara,
que Josué não lesse — Parece que se leu uma porção da lei muito mais
longa naquela ocasião, que o breve resumo inscrito nas pedras; esta deve
ter sido a essência da lei contida em Deuteronômio (Dt_4:44; Dt_6:9;
Dt_27:8). Não foi escrita nas pedras mas no reboco. O intento imediato
desta recitação se obteve pelo cumprimento do próprio ato; relaciona-se
com o futuro, de modo que a lembrança do acontecimento seria
perpetuada no livro de Josué, e nos documentos que formam sua base
(Hengstenberg). Assim cumpriu fielmente as ordens dadas por Moisés.
Quão terrivelmente solene deve ter sido a concorrência e a ocasião!
Como se apelou tanto ao olho como ao ouvido do povo, esforçou-se por
deixar uma impressão indelével; e com espírito elevado por suas
brilhantes vitórias na terra prometida, a memória frequentemente voltaria
para a memorável cena sobre os montes Ebal e Gerizim, no vale do
Sicar.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Josué 9

Vv. 1-2. OS REIS SE UNEM CONTRA ISRAEL.


1. Sucedeu que, ouvindo isto — isso é, do saque de Jericó e Ai,
como também do avanço rápido dos israelitas ao interior do país.
todos os reis que estavam daquém do Jordão — quer dizer, o
lado ocidental do Jordão.
nas montanhas, e nas campinas, em toda a costa do mar Grande
— Esta tríplice característica claramente determina uma grande porção
de Canaã. A primeira parte indica o distrito montanhoso, que mais tarde
pertenceria às tribos de Judá e Efraim; a segunda, todo o país sob o
Carmelo até Gaza; e a terceira, as costas do Mediterrâneo, do istmo de
Tiro até as planícies de Jope. Quanto às tribos mencionadas, veja-se
Js_3:10.
2. se ajuntaram eles de comum acordo, para pelejar contra
Josué e contra Israel — embora divididos por interesses diversos, e com
frequência em guerra entre si, a sensação de um perigo comum os levou
a suspender suas inimizades mútuas, para que com suas forças unidas
pudessem impedir que a terra caísse em mãos de senhores estrangeiros.

Vv. 3-15. OS GIBEONITAS CONSEGUEM UMA ALIANÇA


POR MEIO DO ENGANO.
3. Os moradores de Gibeão, porém, ouvindo — esta aldeia, como
indica seu nome, estava situada sobre uma altura rochosa, cerca de 9
quilômetros e meio a noroeste de Jerusalém, onde é agora a moderna
aldeia de El-Jib; era a capital dos heveus, e cidade grande e importante
(Js_10:2). Parece que tinha formado, em união com outras cidades
próximas, um estado independente (Js_9:17), e tinham desfrutado de um
governo republicano (Js_9:11).
4. usaram de estratagema — agiram com política hábil, buscando
os meios de conservar sua vida, não usando a força, que, sabiam, seria
impossível, mas sim uma diplomacia engenhosa.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 37
levaram sacos velhos sobre os seus jumentos — Os viajantes no
Oriente levam sua bagagem sobre animais de carga; os da classe pobre
carregam todo o necessário, alimento, roupa, utensílios, tudo junto, em
bolsas de lã, postos sobre o lombo do animal ao qual eles montam.
odres de vinho, velhos, rotos e consertados — couros de cabra,
que se adaptam melhor para levar líquidos frescos que os copos de louça,
que são porosos, ou os de metal, que logo se esquentam com o sol. Estes
couros tendiam a romper-se, quando já estavam muito velhos ou muito
usados; e havia várias maneiras de remendá-los, intercalando um pedaço
de couro novo, ou juntando os cantos da ruptura e cosendo-os, ou
colocando na ruptura um pedaço de madeira.
5. sandálias velhas e remendadas — Os que têm um só asno ou
mula, frequentemente apeiam e caminham, o que explica o caso das
sandálias quebradas dos fingidos viajantes.
pão … seco e bolorento — Este deve ter sido o usualmente usado
pelos viajantes, uma espécie de torta em forma de disco, como de uma
polegada de grossura e quatro ou cinco de diâmetro. Como não o coziam
tão bem como o que nós costumamos, ficava duro e mofado pela
umidade que ficava na massa. Geralmente se molhava em água antes de
se comer.
6. Foram ter com Josué, ao arraial, a Gilgal — Chegados ao
acampamento dos israelitas, os estrangeiros conseguiram uma entrevista
com Josué e os anciãos, aos quais explicaram seu negócio.
7. os homens de Israel responderam aos heveus: Porventura,
habitais no meio de nós — A resposta dos israelitas dá a entender que
eles não tinham opção; que tinham ordens terminantes, e que se os
estrangeiros pertenciam a uma das tribos nativas, uma aliança com eles
seria ilegal, visto que Deus a proibira (Êx_23:32; 34:12; Dt_7:2).
9. Teus servos vieram de uma terra mui distante, por causa do
nome do SENHOR, teu Deus. — Fingiam ser animados por motivos
religiosos a aliar-se ao povo de Deus. Mas em seu discurso preparado de
antemão é digno de nota que eles mencionam as obras milagrosas de
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 38
Deus, longínquas já, sem fazer menção das efetuadas em Canaã, como se
o relatório delas não tivesse chegado a seus ouvidos.
14, 15. Então, os israelitas tomaram da provisão e não pediram
conselho ao SENHOR — a aparência mofada de seu pão, depois de um
exame, foi aceita como garantia da verdade de seu relato, e nesta
conclusão precipitada os israelitas eram culpados de uma credulidade
excessiva e de negligência por não ter buscado a vontade de Deus por
meio do Urim e Tumim do sumo sacerdote, antes de entrar na aliança.
Entretanto, não se diz com clareza que se tivessem buscado a vontade
divina, esta lhes teria proibido perdoar os heveus, e aliar-se com aquelas
tribos cananeias que renunciassem à idolatria e aceitassem e adorassem
ao verdadeiro Deus. Pelo menos, não se lhes imputa nenhuma falta por
ter feito a aliança com os gibeonitas; enquanto que, por outro lado, a
violação da aliança foi severamente castigada (2Sm_21:1, e Js_11:19,
20).
16, 17. Ao cabo de três dias … ouviram que eram seus vizinhos
e que moravam no meio deles — Esta informação receberam em seu
progresso pelo país; porque como o v. 17 deveria traduzir-se: “Quando
os filhos de Israel saíram, e ao terceiro dia chegaram às cidades deles”.
Gibeão estava a 28 ou 30 quilômetros de Gilgal.
17. Cefira — (Js_18:26; Ed_2:25; Ne_7:29).
Beerote — (2Sm_4:2) agora El Berich, a uns vinte minutos de
distância de El-Jib (Gibeão).
Quiriate-Jearim — “a cidade das florestas”, agora Kuryet-el-Enab.
(Robinson).
18. Os filhos de Israel não os feriram — O caráter moral da
estratagema dos gibeonitas era mau. Os príncipes da congregação não
vindicaram nem a utilidade nem a legalidade de seu juramento; e embora
fosse forte o clamor popular contra eles, devido talvez à decepção de
perder o despojo de Gibeão, ou a seu desagrado pela aparente violação
do mandado divino, eles decidiram aderir-se a sua aliança, porque
tinham jurado “pelo SENHOR, Deus de Israel”. Os príncipes israelitas
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 39
agiram escrupulosamente; sentiam-se ligados por sua promessa solene,
mas para evitar as consequências desastrosas de sua imprudente pressa,
resolveram degradar os gibeonitas a uma condição servil como meio
para evitar que seu próprio povo fosse enganado na idolatria, e assim
cumpriram, como criam, o verdadeiro espírito e fim da lei.
27. Josué os fez rachadores de lenha e tiradores de água —
Servos que faziam os trabalhos mais humildes e mais desagradáveis no
santuário; pelo qual são chamados netineus (1Cr_9:2; Ed_2:43;
Ed_8:20), quer dizer, dados, apropriados. Seu castigo, pois, os tornou
possuidores de grandes privilégios religiosos (Sl_84:10).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 40
Josué 10

Vv. 1-5. CINCO REIS GUERREIAM CONTRA GIBEÃO.


1. Adoni-Zedeque — “senhor de justiça”, quase sinônimo de
Melquisedeque, “rei de justiça”. Tais nomes eram títulos comuns dos
reis jebuseus.
Jerusalém — O nome original, “Salém” (Gn_14:18; Sl_76:2),
mudando no que aqui aparece, o qual significa “possessão pacífica”, ou
“visão de paz”, em alusão, como alguns creem, à cena
surpreendentemente simbólica (Gn_22:14), representada na montanha
onde mais tarde foi edificada a cidade.
os moradores de Gibeão fizeram paz com os israelitas e estavam
no meio deles — quer dizer, entre os israelitas; tinham feito aliança com
eles, e reconhecendo sua superioridade, estavam vivendo em amigável
relação com eles.
2. temeu muito — O temor inspirado pelas rápidas conquistas dos
israelitas, tinha sido aumentado imensamente pelo fato de que um estado
tão populoso e forte como Gibeão tinha crido ser prudente submeter-se
ao poder e às condições dos invasores.
como uma das cidades reais — embora fosse república (Js_9:3),
era grande e bem fortificada, como os lugares onde os reis do país
estavam acostumados a estabelecer sua residência.
3, 4. Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, enviou mensageiros …
Subi a mim e ajudai-me — Se meditava um ataque combinado contra
Gibeão, com miras não só de castigar seu povo por abandonar a causa
nativa, mas também, por meio de sua derrota pôr uma barreira a outros
avanços dos israelitas. Esta confederação entre os povos das montanhas
do sul da Palestina foi formada e encabeçada pelo rei de Jerusalém,
porque seu território foi o mais exposto ao perigo, pois Gibeão estava a
só nove e meio quilômetros de distância, e porque ele, evidentemente,
desfrutava de certa preeminência sobre seus vizinhos reais.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 41
5. cinco reis dos amorreus — O assento desta tribo poderosa e
guerreira se compreendia entre os limites de Moabe; mas como tinham
adquirido extensas posses a sudoeste do Jordão, seu nome, como poder
mais dominante, parece ter sido dado à região em geral (2Sm_21:2),
embora Hebrom fosse habitada pelos heveus (Js_11:19), e Jerusalém
pelos jebuseus (Js_15:63).

Vv. 6-9. JOSUÉ A RESGATA.


6-8. Os homens de Gibeão mandaram dizer a Josué — Sua
petição foi urgente, e irresistível sua demanda de proteção, sobre a base,
não apenas de bondade e simpatia mas sim de justiça. Ao atacar os
cananeus, Josué tinha recebido de Deus uma segurança geral de êxito
(Js_1:5). Mas o conhecimento de tão formidável combinação entre os
príncipes do país parece ter enchido sua mente da ideia ansiosa e
desalentadora de que era um castigo pela aliança ligeira e inconsiderada
que ele tinha feito com os gibeonitas. Evidentemente tinha que haver
uma luta de vida ou morte, não só para os de Gibeão, senão para os
israelitas. Em vista disto, a comunicação divina a Josué foi oportuna e
alentadora. Parece que ele buscou conselho da parte de Deus e recebeu
resposta antes de empreender a expedição.
9. Josué lhes sobreveio de repente — Isto se explica na cláusula
seguinte, onde se diz que numa marcha forçada, ele havia coberto numa
noite uma distância de quase 42 quilômetros, a qual, segundo o passo
lento dos exércitos do Oriente, teriam sido três dias de jornada.
(Js_9:17).

Vv. 10, 11. O SENHOR PELEJA COM ELES COM SARAIVA.


10, 11. O SENHOR os conturbou — Heb. aterrorizou, confundiu
os aliados amorreus, provavelmente por uma terrível tormenta de trovões
e relâmpagos. Assim é usada geralmente a palavra (1Sm_7:10; Sl_18:13;
Sl_144:6).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 42
e os feriu com grande matança em Gibeão — Isto se refere ao
ataque dos israelitas contra os sitiadores. É evidente que houve uma luta
muito feroz nas alturas de Gibeão, porque o dia era muito avançado,
antes que o inimigo empreendesse a fuga.
os foi perseguindo pelo caminho que sobe a Bete-Horom — quer
dizer, Casa de Cavernas, das quais ainda existem sinais. Havia duas
aldeias contíguas com este nome, a de cima e a de baixo. Bete-Horom de
cima estava mais perto de Gibeão—distante cerca de 16 quilômetros, e
se chegava a ela por uma ascensão gradual passando por uma longa
quebrada pendente. Esta foi a primeira etapa da batalha. Os fugitivos
haviam cruzado o cimo de Bete-Horom de acima, e estavam em plena
fuga pelo declive para Bete-Horom de baixo. O caminho entre os lugares
é tão tosco e cheio de rochas, que há um caminho feito por degraus
cortados na rocha. (Robinson). Por esta passagem para baixo Josué
continuava sua vitoriosa perseguição do inimigo. Aqui o Senhor se
interpôs, ajudando a Seu povo por meio de uma tormenta, que, tendo-se
formado durante o dia, desencadeou-se com tal fúria irresistível, que
“mais foram os que morreram pela chuva de pedra do que os mortos à
espada”. As tormentas de saraiva no Oriente são espantosas, pois a
saraiva é tão grande como nozes, e algumas vezes como os dois punhos;
seu grande tamanho e a violência com que caem, as torna muito daninhas
à propriedade, e às vezes fatais à vida. O milagroso desta tormenta que
caiu sobre o exército dos amorreus, foi a completa salvação dos israelitas
de seus efeitos destrutivos.

Vv. 12-15. O SOL E A LUA SE DETÊM À PALAVRA DE JOSUÉ.


12. Então, Josué falou ao SENHOR … e disse na presença dos
israelitas: Sol, detém-te ... e tu, lua — O autor, inspirado, rompe aqui o
fio da história desta vitória milagrosa, para introduzir uma citação de um
poema antigo, no qual se comemoram os poderosos atos daquele dia. A
passagem forma um parêntese, e contém uma descrição poética da
vitória, que foi ganha milagrosamente pela ajuda de Deus, e é uma
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 43
passagem do livro de Jasar, quer dizer, “o justo” ou “direito”—uma
antologia de cânticos nacionais, em honra dos heróis renomados e
eminentemente piedosos. A linguagem de um poema não se deve
interpretar literalmente, e portanto, quando se personifica o sol e a lua,
como se fossem seres inteligentes, e se representam como parados, a
explicação é que a luz do sol e a lua se prolongou sobrenaturalmente
pelas mesmas leis de refração e reflexão que fazem com que o sol
apareça sobre o horizonte, quando na realidade está sob o horizonte.
(Keil, Bush). Gibeão (uma colina) estava agora de costas para os
israelitas, e a altura logo atalharia os raios do sol poente. O vale de
Aijalom (cervos) estava diante deles, e tão perto, que às vezes se
chamava “o vale de Gibeão”. (Is_28:21). Pareceria, pelo v. 14, que a
ordem de Josué foi na realidade uma oração a Deus a favor da realização
deste milagre; e que, embora as orações dos homens eminentemente
bons, como Moisés, com frequência eram respondidas por Deus, nunca
houve em outra ocasião um desdobramento tão assombroso do poder
divino a favor de seu povo, como em resposta à oração de Josué.
Js_10:15 é o fim da citação de Jasar; e é necessário tomar nota disto,
como o fato descrito nela, está lembrado em devido curso, e nas mesmas
palavras, pelo historiador sagrado (Js_10:43).

Vv. 16-27. OS CINCO REIS ENFORCADOS.


16. Aqueles cinco reis, tendo fugido, esconderam-se na cova de
Maquedá — O seguimento continuava, sem interrupção, até Maquedá,
ao pé da montanha ocidental, onde Josué parece haver-se detido com o
grosso de suas tropas, enquanto um destacamento se despachava adiante
para percorrer o país em busca dos atrasados, dos quais alguns
conseguiram chegar às cidades vizinhas. O último ato, talvez no dia
seguinte, foi a disposição dos prisioneiros, entre os quais os cinco reis
foram condenados à sorte infame de ser mortos (Dt_20:16-17), e seus
cadáveres suspensos em cinco árvores até a tarde.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 44
24. ponde os pés sobre os pescoços destes reis — não como um
insulto bárbaro, mas sim um ato simbólico, expressivo de uma vitória
completa (Dt_33:29; Sl_110:5; Ml_4:3).

Vv. 28-42. MAIS SETE REIS VENCIDOS.


28. No mesmo dia, tomou Josué a Maquedá — Neste versículo e
nos seguintes se relata a rápida sucessão de vitórias e de extermínio, que
colocou todo o sul da Palestina sob a mão de Israel. “E, de uma vez,
tomou Josué todos estes reis e as suas terras, porquanto o SENHOR,
Deus de Israel, pelejava por Israel. Então, Josué, e todo o Israel com ele,
voltou ao arraial em Gilgal” [Js_10:42, 43].
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 45
Josué 11

Vv. 1-9. VÁRIOS REIS VENCIDOS.


1. Tendo Jabim, rei de Hazor — A cena do relato sagrado agora
se muda para o norte de Canaã, onde se formou uma confederação ainda
mais forte entre os governantes, para opor-se a outros progressos dos
israelitas. Jabim (“o Inteligente”), que parece ser um título hereditário
(Jz_4:2), tomou a iniciativa de Hazor, capital da região setentrional
(Jz_11:10). Estava situada nas ribeiras do lago Merom. As outras cidades
mencionadas pertenceriam à mesma região, embora não se conheça a sua
localização exata.
2. e aos reis que estavam ao norte, na região montanhosa — o
distrito do Anti-Líbano.
na Arabá, ao sul de Quinerete—a parte norte da Arabá, ou vale do
Jordão.
nas planícies — o país baixo e plano, incluindo a planície de Sarom.
nos planaltos de Dor, do lado do mar — terras elevadas de Dor,
chegando até a cidade de Dor, sobre a costa do Mediterrâneo, sob o
Monte Carmelo.
3. aos cananeus do oriente e do ocidente — um ramo particular da
população cananeia, que ocupava a costa ocidental do Jordão rumo ao
norte até o Mar da Galileia, e também as costas do Mediterrâneo.
ao pé do Hermom — agora chamado Jebel-es-Sheik, era a
fronteira setentrional a leste do Jordão.
terra de Mispa — agora Coele-Síria, vale entre o Líbano e o Anti-
Líbano.
4, 5. Saíram, pois, estes … como a areia que está na praia do
mar — Os chefes destas tribos foram chamados por Jabim, sendo
provavelmente tributários do reino de Hazor; e suas forças combinadas,
segundo Josefo, chegaram a 300.000 de infantaria, 10.000 de cavalaria e
20.000 carros de guerra.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 46
e muitíssimos cavalos e carros — Os carros eram provavelmente
como os do Egito, feitos de madeira, mas cravados e guarnecidos com
ferro. Estes aparecem pela primeira vez nesta guerra cananeia, para
ajudar na última contenda decidida contra os invasores; e “foi o uso
destes o que parece ter determinado o lugar de concentração ao lado do
lago Merom (agora Huleh), sobre cujas costas plainas teriam amplo lugar
para seu impulso”. Um exército tão formidável em número e em equipe
militar, certamente alarmaria os israelitas. Josué, pois, foi favorecido
pela repetição da promessa divina de vitória (Js_11:6), e assim animado,
completamente confiante, saiu contra o inimigo.
6. amanhã a esta hora eu os entregarei a todos mortos diante de
Israel (TB) — Como era impossível ter partido de Gilgal a Merom num
dia, temos que supor que Josué já estava em marcha rumo ao norte, e a
uma distância de um dia do acampamento cananeu, quando o Senhor lhe
deu esta segurança de êxito. Com sua energia característica fez um
avanço, provavelmente de noite; pela manhã “deu de repente sobre eles”
como um relâmpago, quando estavam espalhados pelos pendentes, antes
que pudessem formar-se para a batalha na planície. A derrota foi
completa; alguns foram a oeste, sobre as montanhas, sobre o desfiladeiro
do Orontes, a Sidom e Misrefote-Maim (casa fundidoras de vidro), nas
imediações, outros rumo ao este à planície de Mispa.
8. feriram-nos sem deixar nem sequer um — dos que
alcançaram. Todos os que caíram em suas mãos, foram mortos.
9. Fez-lhes Josué como o SENHOR lhe dissera (v. 6) — O jarrete
dos cavalos se faz cortando os tendões das patas traseiras, de modo que
não só são irremediavelmente rengos, mas também morrem de
hemorragia. Os motivos para este mandado foram que o Senhor queria
que Seu povo confiasse nEle e não nos recursos militares (Sl_20:7);
mostrar que na terra prometida não havia necessidade de cavalos, e,
finalmente, para desaprovar as viagens, pois eles tinham que ser um
povo agrícola e não comercial.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 47
11. ele queimou a Hazor com fogo (TB) — com calma e
deliberação, sem dúvida, segundo as orientações divinas.
13. as cidades que estavam sobre os outeiros — lit., “sobre seus
montões”. Era costume fenício edificar cidades sobre as alturas naturais
ou artificiais. (Hengstenberg).
16. Tomou, pois, Josué toda aquela terra — Aqui segue uma
vista geral da conquista. A divisão do país em cinco partes: as colinas, a
terra de Gósen, quer dizer, a terra pastoril perto de Gibeão (Js_10:41); o
vale, as planícies, as montanhas de Israel, ou seja, o Carmelo, descansa
sobre uma diversidade de posições geográficas, o que é característico da
região.
17. desde o monte Halaque (heb. montanha lisa), que sobe a Seir
— uma linha irregular de colinas brancas e despidas, de 26 metros de
altura, e de 11 ou 12 quilômetros de comprimento, que cruza todo Ghor,
doze quilômetros ao sul do Mar Morto, provavelmente “a ascensão de
Acrabim” (Robinson).
até Baal-Gade, no vale do Líbano — a cidade ou templo do Deus
do Destino, em Baalbec.
23. Josué tomou toda esta terra (RC) — A batalha do Lago
Merom foi para o norte o que a de Bete-Horom foi para o sul, contada
mais brevemente, mas menos completa em seus resultados; entretanto,
foi o conflito decisivo pelo qual toda a região setentrional de Canaã caiu
em mãos de Israel (Stanley).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 48
Josué 12

Vv. 1-6. OS DOIS REIS CUJO PAÍS MOISÉS TOMOU.


1. São estes os reis da terra, aos quais os filhos de Israel feriram,
de cujas terras se apossaram dalém do Jordão — Este capítulo
contém um resumo das conquistas na terra prometida, com menção
adicional de alguns lugares não mencionados antes na história sagrada. O
rio Arnom ao sul, e o monte Hermom ao norte, eram os limites
respectivos da terra adquirida pelos israelitas para além do Jordão (veja-
se Nm_21:21; Dt_2:36; Dt_3:3-16 [e veja-se Dt_2:24]).

Vv. 7-24. OS TRINTA E UM REIS DO LADO OCIDENTAL


QUE JOSUÉ FERIU.
7. Baal-Gade … até o monte Halaque — (veja-se Js_11:17). Aqui
se dá uma lista de trinta e uma cidades principais; e, como toda a terra
continha uma extensão superficial de só 24 quilômetros de comprimento,
por 80 de largura, é evidente que estas cidades capitais pertenciam a
reinos pequenos e insignificantes. Com poucas exceções, não foram
cenas de acontecimentos importantes lembrados na história sagrada, e
portanto não chamam nossa atenção.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 49
Josué 13

Vv. 1-33. LIMITE DA TERRA AINDA NÃO CONQUISTADA.


1. Era Josué, porém, já idoso, entrado em dias — Tinha
provavelmente mais de cem anos; porque a conquista e demarcação das
posses, ocuparam oito anos, e ele morreu aos 110 anos (Js_24:29). A
distribuição assim como a conquista da terra foi incluída na missão de
Josué; sua idade avançada foi motivo especial para que ele entrasse no
imediato cumprimento de aquele dever, quer dizer, o de distribuir Canaã
entre as tribos de Israel, não só as partes já ganhas mas também as que
estavam ainda por conquistar.
2-6. Esta é a terra ainda não conquistada — quer dizer, por
adquirir. Esta seção forma um parêntese, em que o historiador
brevemente menciona os distritos que ainda não se submetem, quer
dizer, primeiro, todo o país dos filisteus, uma franja estreita estendida ao
longo da costa do Mediterrâneo por 96 quilômetros, e o dos gesuritas ao
sul (1Sm_27:8). Ambos incluíam aquela porção do país “desde Sior, que
está defronte do Egito”, um pequeno arroio perto de El-Arish, que rumo
ao este era a fronteira sulina de Canaã, “até ao limite de Ecrom”, o mais
setentrional dos cinco senhorios ou principados dos filisteus.
3-4. ao sul, os aveus — As duas cláusulas estão unidas assim na
Septuaginta e em muitas outras versões. Sendo expulsos (Dt_2:23), se
estabeleceram ao sul da Filístia. A segunda divisão do território por
conquistar compreendida.
4. toda a terra dos cananeus e Meara, que é dos sidônios, até
Afeca — uma região montanhosa da Galileia Superior, notável por suas
covas e seus lugares fortes, e rumo ao este.
até Afeca — (agora Afca), no Líbano.
ao limite dos amorreus — uma porção do território nordeste que
tinha pertencido ao rei Ogue. O terceiro distrito que ficava sem
conquistar era:
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 50
5. a terra dos gibleus — sua capital era Gebal, ou Biblos (grego),
sobre o Mediterrâneo, 60 kms. a norte de Sidom.
todo o Líbano, para o nascente do sol — quer dizer, o Anti-
Líbano; a cadeia oriental, que tem seu termo próprio em Hermom.
até à entrada de Hamate — o vale do Baalbek.
6, 7. todos os que habitam nas montanhas desde o Líbano até
Misrefote-Maim — (veja-se Js_11:8) quer dizer, “todos os sidônios e os
fenícios”.
Eu os desapossarei (TB) — O cumprimento desta promessa era
condicional. Em caso de que os israelitas se mostrassem infiéis ou
desobedientes, não subjugariam estes distritos agora mencionados, e, na
realidade, nunca se empossaram deles, ainda que seus habitantes estavam
sujeitos ao poder de Davi e de Salomão.
reparte, pois, a terra por herança a Israel — Tendo terminado o
parêntese, o historiador continua aqui o tema principal do capítulo, a
ordem de Deus de que Josué fizesse uma distribuição imediata da terra.
O método da partilha por sortes era em todos os seus aspectos o melhor
que se poderia ter escolhido, pois não dava lugar para descontentamento,
e também evitava que os governantes agissem em forma arbitrária ou
parcial; e assim tinha sido anunciado quando Moisés vivia (Nm_33:54)
como o sistema segundo o qual se faria a distribuição de cada tribo, com
o fim de fazer com que o povo reconhecesse que Deus era dono da terra
e que tinha todo direito de dispor dela. Além disso, o solene recurso da
sorte demonstrou ser o ditado, não da sabedoria humana mas sim da
divina. Usou-se, entretanto, somente para determinar a parte do país
onde cada tribo se assentaria; a extensão da possessão tinha que se
determinar sobre um princípio diferente (Nm_26:54), e o que prova a
soberana direção de Deus, é que cada tribo recebeu a possessão predita
por Jacó (Gn_49:3-28) e por Moisés (Dt_33:6-25).
8. Com a outra meia tribo — heb., “com ele”. O antecessor é
evidentemente Manassés mas não a meia tribo de Manassés que acaba de
mencionar-se, mas sim a outra metade, pois o historiador interrompe o
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 51
relato para explicar as posses além do Jordão, já dadas a Rúben, a Gade e
à meia tribo de Manassés (veja-se Nm_32:1, 33; Dt_3:8-17). Convém
notar que era prudente anotar estes limites em documentos, porque, em
caso de algum mau entendimento ou disputa a respeito dos limites exatos
de cada distrito ou propriedade, se poderia apelar às autoridades
documentarias, e obter-se conhecimento completo, assim como também
um sentimento de gratidão pelo que eles tinham recebido de Deus
(Sl_16:5-6).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Josué 14

Vv. 1-5. AS NOVE TRIBOS E MEIA RECEBERÃO SUA


HERANÇA POR SORTE.
1. São estas as heranças que os filhos de Israel tiveram na terra
de Canaã — Este capítulo forma a introdução ao relato da adjudicação
da terra a oeste do Jordão, ou da própria Canaã, às nove tribos e meia.
Foi feita também por sortes na presença de um número seleto de
superintendentes, nomeados segundo as orientações divinas dadas a
Moisés (veja-se Nm_34:16-29). Em todos os assuntos do governo civil, e
até na divisão da terra, Josué era o chefe reconhecido. Mas nos assuntos
determinados por sortes, apelava-se somente a Deus, e portanto Eleazar,
o sumo sacerdote é nomeado antes que Josué.
4. Os filhos de José foram duas tribos, Manassés e Efraim —
Como duas tribos e meia foram assentadas a leste do Jordão, e os levitas
não tinham herança dada a eles na terra, teria sido necessário prover para
só oito tribos e meia. Mas Efraim e Manassés, os dois filhos de José,
constituíram-se em duas tribos (Gn_48:5), e embora se excluísse a Levi,
ainda se perpetuava o número original de tribos de Israel.
5. assim fizeram os filhos de Israel e repartiram a terra — quer
dizer, fizeram os arranjos preliminares. Necessitava-se um tempo
considerável para fazer as delimitações e medição da terra.
6-15. CALEBE COMO PRIVILÉGIO PEDE E CONSEGUE
HEBROM.
6-11. Chegaram os filhos de Judá a Josué em Gilgal … Calebe
... lhe disse — Este incidente se relata aqui, porque ocorreu, enquanto se
faziam os preparativos para a distribuição, a qual, ao que parece, foi feita
em Gilgal. O direito de Calebe de obter as montanhas de Hebrom como
possessão pessoal e de família, fundava-se na solene promessa que
Moisés fez quarenta e cinco anos antes (Nm_14:24; Dt_1:36; Js_14:10),
de lhe dar aquela terra por sua fidelidade. Sendo ele um dos nomeados
para presidir a divisão de posses, o poderia acusar de usar sua influência
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 53
como comissionado para sua vantagem própria. Por este motivo levou
consigo a alguns de seus irmãos como testemunhas da justiça e decência
de sua conduta.
12. Agora, pois, dá-me este monte de que o SENHOR falou
naquele dia — esta região alta.
ouviste que lá estavam os anaquins — O relatório dos espiões que
tentavam acender a chama da rebelião e descontentamento, teve que ver
principalmente com o povo e a condição deste distrito montanhoso, e por
este motivo foi prometido a Calebe como recompensa de sua veracidade,
piedade e fidelidade.
13, 14. Josué o abençoou e deu a Calebe ... Hebrom em herança
— Josué, conhecia completamente todas as circunstâncias, e não só
reconhecia o título, mas também de uma maneira ardente e pública pediu
a bênção divina sobre os esforços de Calebe por expulsar os idólatras
que ocupavam o lugar.
15. Quiriate-Arba — Arba foi um guerreiro das tribos nativas,
célebre por sua força e estatura.
E a terra repousou da guerra — Como a maioria dos reis tinham
sido mortos e os súditos estavam desanimados, não houve tentativa geral
ou sistemática para resistir ao progresso e colonização dos israelitas.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 54
Josué 15

Vv. 1-12. LIMITES DA TRIBO DE JUDÁ.


1. A parte que tocou em sorte à tribo dos filhos de Judá — De
que modo se lançou a sorte nesta ocasião não o diz o historiador sagrado;
mas é provável que o método usado fosse semelhante ao descrito em
Js_18:10. Embora o exame geral e medição do país não estivessem
completos, algum esboço ou medição se deve ter feito da primeira parte
conquistada, e houve evidência satisfatória de que era bastante grande
para fazer três cantões, antes que todas as tribos lançassem sortes por
eles; e estas caíram por Judá, Efraim e a meia tribo de Manassés. A sorte
de Judá veio primeiro, em sinal da preeminência daquela tribo sobre as
demais, e assim sua assinalada superioridade recebeu a visível sanção de
Deus. O território destinado a ela como possessão era grande e extenso,
sendo marcado ao sul pelo deserto de Zim e o extremo sul do Mar
Salgado (Nm_34:3-5); a leste pelo mesmo mar, até o lugar onde recebe
as águas do Jordão; ao norte por uma linha quase paralela a Jerusalém,
através do país, do norte do Mar Salgado até o limite sul do território dos
filisteus, e o mediterrâneo; e a oeste, o mesmo mar era seu limite, até
Sior (Wady El-Arish).
2. a baía que olha para o sul — uma baía, heb. “língua”. Suas
águas se estendem nesta forma por uma grande distancia. (Robinson).
3. subida de Acrabim — heb. “subida de escorpiões”; uma
passagem na “montanha direta” (veja-se Js_11:17), talvez muito
infestado por estes répteis venenosos.
5. foz do Jordão — quer dizer, a boca do Jordão.
6. Bete-Hogla — agora Sin Hajla, um lindo manancial de água
clara e doce, no extremo norte do Mar Morto, cerca de 3 kms. do Jordão.
(Robinson).
Bete-Arabá — a casa, ou lugar de solidão, no deserto de Judá (v.
61).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 55
pedra do Boã, filho de Rúben — monumento sepulcral de um
herói rubenita, quem se distinguiu por sua coragem, e tinha caído na
guerra cananeia.
7. Acor — (veja-se Js_7:26).
Adumim — um terreno elevado no deserto de Jericó, ao sul do
pequeno arroio que corre perto de Jericó (cap. 16:1).
En-Semes — fonte do sol; “ou o atual poço do apóstolo, mais
abaixo de Betânia, sobre o caminho a Jericó, ou a fonte de San Saba”.
(Robinson).
En-Rogel — fonte do lavadeiro, a sudeste de Jerusalém, perto do
lugar onde se unem os vales de Josafá e Hinom.

Vv. 13-15. A PORÇÃO DE CALEBE E SUA CONQUISTA.


13. A Calebe, filho de Jefoné, porém, deu Josué uma parte no
meio dos filhos de Judá — (Veja-se Js_14:6-15).
14. Dali expulsou Calebe os três filhos de Anaque — antes, três
chefes da raça anakim. Esta façanha se lembra para honra de Calebe,
pois seu êxito foi a recompensa por sua confiança em Deus.
15. Debir—oráculo. Seu nome anterior Quiriate-Sefer significa
“cidade do livro”, sendo talvez o lugar onde se guardavam os registros
públicos.

Vv. 16-20. OTNIEL, POR SEU VALOR, TOMA ACSA POR


ESPOSA.
16. A quem derrotar Quiriate-Sefer — Fez-se este oferecimento
como um estímulo à coragem juvenil (veja-se 1Sm_17:25); e a
recompensa foi ganha por Otniel, filho do irmão mais novo de Calebe
(Jz_1:13; Jz_3:9). Esta foi a ocasião de provocar as energias latentes do
que tinha que ser o primeiro juiz de Israel.
18. Esta, quando se foi a Otniel — quer dizer, quando a estavam
por levar da casa do pai à casa do marido. De repente ela desembarcou
de seu jumento, em sinal de respeito a seu pai, e sinal de que se faria
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 56
uma petição. Ela tinha insistido em que Otniel abordasse o assunto, mas
como ele não quis por não mostrar uma disposição ambiciosa, resolveu
falar ela mesma, e aproveitando a ocasião da despedida, quando o
coração de um pai é tenro, pediu que, como a porção que lhe tocava era
um campo que dava para o sul e era árido, lhe daria também aquele que
fazia limite, com abundantes águas. Sendo razoável sua petição, foi
concedida e a história traz esta importante lição religiosa: que se os pais
terrestres estão prontos a conceder a seus filhos o que é bom, muito mais
nosso Pai celestial dará toda bênção aos que a pedem.

Vv. 21-63. AS CIDADES DE JUDÁ.


21-33. São, pois, as cidades no extremo sul da tribo dos filhos de
Judá — Aqui é dada uma lista de cidades dentro do território da tribo de
Judá, classificadas em quatro divisões, correspondentes aos distritos dos
quais se compunha: as cidades da parte meridional (21-32), os das
planícies baixas (33-47), as das regiões elevadas (48-60) e as do deserto
(61, 62). A melhor ideia da situação relativa destas cidades se recebe
olhando o mapa.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 57
Josué 16

Vv. 1-4. OS LIMITES GERAIS DOS FILHOS DE JOSÉ.


1. O território que, em sorte, caiu aos filhos de José — refere-se
à sorte que saiu da urna, ou à parcela de terra indicada. Os quatro
primeiros versículos descrevem o território destinado à família de José
nos domínios ricos da Palestina central. Foi tirada numa só sorte para
que a terra dos dois irmãos estivesse junta; mas depois foi dividida. A
fronteira sul somente é descrita aqui, a do norte sendo irregular e menos
definida (Js_17:10, 11), não se menciona.
região montanhosa até Betel — o cimo ao sul de Betel.
águas de Jericó — (2Rs_2:19) — no ponto de união com o Jordão.
Tendo descrito a posição da família de José em geral, o historiador passa
a definir o território, primeiro o de Efraim.

Vv. 5-9. OS LIMITES DA HERANÇA DE EFRAIM.


5. Foi o limite da herança … Atarote-Adar — Atarote-Adar
(agora Atara), 6 quilômetros ao sul de Jetta (Robinson), se fixa como
centro, pelo qual se traça uma linha desde Bete-Horom Superior a
Micmetate, mostrando o limite ocidental de suas posses reais.
6, 7. Micmetate, ao norte — O limite norte se traça deste ponto
rumo ao este até o Jordão.
8. De Tapua vai o limite, para o ocidente, ao ribeiro de Caná,
terminando no mar — se traça novamente de este ao oeste, para
assinalar o presumido limite que devia chegar ao mar. O ribeiro de Caná
desemboca no Mediterrâneo.
9. as cidades que se separaram para os filhos de Efraim, que
estavam no meio da herança dos filhos de Manassés — (Js_17:9),
porque se viu que a parcela destinada a Efraim era pequena para sua
população e poder.
10. Não expulsaram aos cananeus … assim, habitam eles no
meio dos efraimitas até ao dia de hoje; porém sujeitos a trabalhos
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 58
forçados — Esta é a primeira menção da política fatal, de ignorar o
mandado divino (Dt_20:16) de exterminar aos idólatras.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 59
Josué 17

Vv. 1-6. A SORTE DE MANASSÉS.


1. Também caiu a sorte à tribo de Manassés — Efraim foi
mencionado como o ramo maior e poderoso da família de José
(Gn_48:19-20); mas Manassés ainda retinha o direito de primogenitura,
e tinha uma herança atribuída à parte.
Maquir — os descendentes dele.
pai de Gileade — Embora tivesse um filho com esse nome
(Nm_26:29; Nm_27:1), entretanto, é evidente pelo uso do artigo
hebraico, que se refere não à pessoa mas sim à província de Gileade. Pai
aqui quer dizer senhor ou possuidor de Gileade; e esta opinião se
confirma pelo fato de que não foi Maquir, e sim os seus descendentes
que conquistaram Gileade e Basã. (Nm_32:41; Dt_3:13-15). Estes
maquiritas tiveram sua porção de terra a leste do Jordão. A porção a
oeste, destinada à tribo de Manassés, foi dividida em dez partes, porque
os descendentes varões que tinham filhos, consistiam em cinco famílias,
às quais foram dadas as cinco porções; a sexta família, a de Héfer,
compunha-se de mulheres, as cinco filhas de Zelofeade, as quais
solicitaram aos avaliadores, e receberam cada uma, uma herança em
terras (veja-se Nm_27:1).

Vv. 7-11. ESTA COSTA.


7. O limite de Manassés foi desde Aser até Micmetate — O
limite meridional é aqui esboçado desde o este. Aser (hoje Yasir), o
ponto de partida, era uma aldeia 24 quilômetros a leste de Siquém, e
antigamente lugar de importância.
9. Desceu o termo desta até a torrente de Caná, para o sul da
mesma (TB) — A linha que separava as posses dos dois irmãos, corria
ao sul do arroio, e deste modo o arroio estava no território de Manassés;
mas as cidades sobre o rio, embora todas caíssem dentro dos limites das
posses de Manassés, contavam-se em parte com Efraim e em parte com
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 60
Manassés; as do lado sul, àquele, e as do lado norte a este. (Keil). Parece
(Js_17:10) que Manassés além disso era entrelaçado com outras tribos
vizinhas.
11. Bete-Seã e suas vilas — gr. Scythopolis (agora Beisan), no vale
do Jordão, rumo ao cabo este da planície de Jezreel. Bete-Seã quer dizer
“casa de descanso”, assim chamada por ser o lugar onde se detinham as
caravanas da Síria, de Midiã, e do Egito, e grande estação comercial
entre estes países durante muitos séculos.
Ibleã e suas vilas — na vizinhança de Megido (2Rs_9:27).
os habitantes de Dor e suas vilas — (agora Tantoura), antigamente
era uma fortaleza grande; uma muralha de rochas escarpadas defendia as
fortificações da costa contra os ataques desde terra.
En-Dor e suas vilas — situada sobre uma altura com muitos
penhascos, 6 quilômetros ao sul do Tabor.
três outeiros — ou distritos. Calcula-se que Manassés possuía em
Aser e Issacar porções de terreno que chegavam quase a 322 quilômetros
quadrados.
Taanaque … Megido — Estas estavam perto uma de outra, e
geralmente se mencionam juntas nas Escrituras. Ambos eram lugares
reais e bem fortificados (veja-se Jz_1:27).

Vv. 12, 13. CANANEUS NÃO EXPULSOS.


12. E os filhos de Manassés não puderam expulsar os habitantes
daquelas cidades — a indolência, o amor à tranquilidade, talvez uma
benevolência errada, resultante de ignorar ou esquecer o mandado
divino, e uma míngua de sua fé e zelo no serviço de Deus, devem ter
sido causas de seu fracasso.

Vv. 14-18. OS FILHOS DE JOSÉ SOLICITAM MAIS UM TERRENO.


14. o povo dos filhos de José disse a Josué — As duas tribos se
unem para apresentar uma queixa perante o capitão, a respeito da
estreiteza de sua porção e a insuficiência da mesma para a residência de
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 61
suas tribos tão crescidas. Mas a resposta de Josué foi tão cheia de
sabedoria como de patriotismo. Conhecendo o caráter delas, tratou-as de
conformidade, e sarcasticamente voltou todos os seus argumentos contra
elas mesmas. Assim repreendeu sua incredulidade e covardia.
15. região montanhosa de Efraim — assim chamado aqui por
antecipação. Quer dizer, a cadeia da Gilboa, entre Bete-Seã e a planície
de Jezreel, antigamente coberto por extensos bosques.
16. carros de ferro — afirmados com ferro, e talvez armados com
foices que se sobressaíam.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 62
Josué 18

V. 1. O TABERNÁCULO EM SILO.
1. Reuniu-se toda a congregação dos filhos de Israel em Siló —
O corpo principal dos israelitas tinha minguado pela separação das três
tribos, a de Judá, a de Efraim e a de Manassés para ir a seus respectivos
distritos, e estando o país subjugado em grande parte, traslada-se o
acampamento a Siló—hoje Seilun. Estava a 35 ou 40 quilômetros de
Jerusalém, 19 ao norte de Betel, e dez ao sul de Siquém, e encerrado
num vale tosco e romântico. Este lugar afastado no coração do país deve
ter sido recomendado pela conveniência; pois dali facilmente se poderia
fazer a partilha do território a norte, sul, este e oeste, às diferentes tribos.
Mas também se armou ali o tabernáculo, e seu traslado deve ter sido
sancionado por indicação divina. (Dt_12:11). Ficou o tabernáculo em
Siló mais de 300 anos. (1Sm_4:1-11).

Vv. 2-9. O RESTO DO PAÍS DESCRITO.


2. Dentre os filhos de Israel ficaram sete tribos que ainda não
tinham repartido a sua herança — A escolha de Siló como sede do
culto, com o conseguinte traslado do acampamento lá, havia
necessariamente interrompido o ato de lançar sortes, como se fez no
princípio para fixar os lugares para Judá e José. Várias causas
contribuíram para uma longa demora em renovar a tarefa. A satisfação
do povo com sua mudança a um distrito tão prazenteiro e fértil, sua
preferência por uma vida nômade, seu amor à indolência, e sua
relutância para renovar a guerra, parece havê-los feito indiferentes a uma
herança fixa. Mas Josué estava muito consciente do dever que o Senhor,
lhe encomendou para permitir que os assuntos continuassem neste
estado; e portanto, como se tinha feito já uma conquista geral do país,
resolveu prosseguir imediatamente com a partilha, crendo que quando
cada tribo tivesse recebido sua herança, um móvel novo deveria levar as
pessoas a esforçar-se para assegurar a possessão completa.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 63
3. Até quando sereis remissos em passardes para possuir a terra
que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos deu? — Esta repreensão
produz a impressão de que as sete tribos eram indolentes de uma maneira
criminosa.
4-9. De cada tribo escolhei três homens — Embora a sorte
determinasse a parte do país onde cada tribo devia assentar-se, não podia
determinar a extensão do território que seria necessário; e o
descontentamento dos filhos de José pela suposta pequenez de sua
possessão, causava temor de que pudesse haver queixas de outras partes,
se não se tomassem precauções para fazer uma partilha justa da terra. Por
este motivo se formou uma comissão de vinte e uma pessoas, três de
cada tribo das sete que não tinham recebido sua herança, para que fizesse
um exame cuidadoso do país. “Foram, pois, os homens, passaram pela
terra, levantaram dela o gráfico, cidade por cidade, em sete partes, num
livro”; dividindo a terra segundo seu valor e o valor das cidades que
havia. Esta não era tarefa fácil, exigia estudo e inteligência, que eles ou
seus instrutores, provavelmente tinham adquirido do Egito. Por isso, diz
Josefo que o reconhecimento foi feito por homens peritos em geometria.
Com efeito, o relato minucioso que se deu que as fronteiras de cada tribo
e sua localização, demonstra que deve ter sido obra de mãos
competentes.

Vv. 10. DIVIDIDO POR SORTES.


10. Josué lhes lançou as sortes em Siló, perante o SENHOR —
perante o tabernáculo, onde se manifestava a presença divina, o que
associava a sorte com a ideia da sanção divina.
11. Saiu a sorte da tribo dos filhos de Benjamim — Se supôs que
aqui havia duas urnas, das quais se tiravam as sortes: uma continha os
nomes das tribos, e a outra os nomes das sete porções; e que se lançavam
dois simultaneamente.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 64
o território da sua sorte caiu entre os filhos de Judá e os filhos
de José — Assim a profecia de Moisés a respeito da herança de
Benjamim foi plenamente justificada. (Veja-se Dt_33:12).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 65
Josué 19

Vv. 1-9. A SORTE DE SIMEÃO.


1. Saiu a segunda sorte a Simeão — A próxima sorte que se tirou
em Siló, dava à tribo de Simeão sua herança dentro do território que se
tinha destinado a Judá. O conhecimento de Canaã possuído pelos
israelitas, quando se deu começo à divisão da terra, era muito geral,
formado num rápido percurso feito no curso da conquista; e foi sobre a
base deste reconhecimento parcial que se procedeu à distribuição, pela
qual Judá recebeu sua parte. O tempo demonstrou que este território era
grande demais (Js_19:9) para o número deles, para ocupá-lo e defendê-lo
pelas armas, ou grande demais em proporção às partes destinadas às
outras tribos. A justiça, pois, exigia, o que o sentimento bondoso e
fraternal facilmente ditava, uma modificação de sua possessão, e uma
parte dela foi adjudicada a Simeão. Ao estabelecer-se dentro dos limites
de outra tribo, cumpriu-se a profecia de Jacó a respeito de Simeão
(Gn_49:7); e como não se traçam suas fronteiras, há motivo para crer
que seu povo foi dividido e esparso entre os de Judá; embora se nomeie
um grupo de cidades (Js_19:2-6), há a ideia de um distrito compacto,
assim como os cartógrafos geralmente o representam, e o outro grupo de
cidades (Js_19:7, 8) achavam-se, duas no sul, e duas em outras partes,
com extensões de terra a seu redor.

Vv. 10-16. A SORTE DE ZEBULOM.


10-14. Saiu a terceira sorte aos filhos de Zebulom — Os limites
da possessão deles se estendiam do Lago Quinerete (Mar da Galileia)
pelo este, e o Mediterrâneo a oeste; ainda que conforme parece, eles no
princípio não tocavam as costas ocidentais, porque uma parte de
Manassés se estendia ao norte até Aser (Js_17:10) — mais tarde
chegaram, segundo a predição de Moisés (Dt_33:19). A extensão do
norte ao sul não se pode traçar exatamente, muitos lugares por onde
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 66
passava a linha divisória eram desconhecidos. Algumas das cidades eram
notáveis.

Vv. 17-23. A SORTE DE ISSACAR.


17-20. A quarta sorte saiu a Issacar — em vez de descrever os
limites desta tribo, o historiador inspirado dá uma lista de suas cidades
principais. Estas cidades estão todas na parte oriental da planície de
Esdralom.

Vv. 24-31. A SORTE DE ASER.


24. Saiu a quinta sorte à tribo dos filhos de Aser — O limite
ocidental se traça do norte ao sul pelas cidades mencionadas, o local das
quais é desconhecido.
26. e tocava o Carmelo, para o ocidente, e Sior-Libnate — quer
dizer, o rio turvo ou barroso; provavelmente o Nahr Belka, mais abaixo
de Dor (Tantoura); porque essa cidade pertencia a Aser (Js_17:10). Dali
a fronteira dobrou rumo ao este a Bete-Dagom, cidade no ponto de união
de Zebulom e Naftali, e seguia rumo ao norte até o Cabul, com outras
cidades, entre as quais se menciona (Js_19:28) “grande Sidom”, assim
chamada por ser até naquele então a florescente metrópole dos fenícios.
Embora fosse incluída na herança do Aser, esta cidade nunca foi
possuída por eles (Jz_1:31).
29. Voltava o limite a Ramá (Heb. Rama) — agora Hamra, que
estava onde o Orontes (Litanio) termina seu curso para o sul, e foi rumo
ao oeste.
e até à forte cidade de Tiro — parece que a cidade original estava
em terra firme e estava bem fortificada. Desde Tiro a fronteira passou até
Hosa, cidade de terra adentro; e dali pelo distrito de Aczibe, ainda sem
conquistar (Jz_1:31), terminando na costa do mar.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 67
Vv. 32-39. A SORTE DE NAFTALI.
32. Saiu a sexta sorte aos filhos de Naftali — Embora as cidades
mencionadas não tinham sido descobertas, é evidente, desde o
Zaananim, que está perto de Quedes, quer dizer, a noroeste do Lago
Merom (Jz_4:11), que o limite descrito (Js_19:34) passou do sudoeste
para o nordeste, até as fontes do Jordão.
34. Aznote-Tabor — a leste do Tabor rumo ao Jordão, porque o
limite corre dali a Hucoque, até tocar o de Zebulom; e como o território
de Zebulom não se estendia até o Jordão, Aznote-Tabor e Hucoque
devem ter sido cidades fronteiriças sobre a linha que separava a terra de
Naftali e a de Issacar.
e Judá, pelo Jordão, ao nascente do sol — As sessenta cidades,
Havote-Jair, que estavam a leste do Jordão, diante de Naftali, eram
contadas como pertencentes a Judá, porque Jair, seu possuidor, era
descendente de Judá (1Cr_2:4-22). (Keil).

Vv. 40-48. A SORTE DE DÃ.


40-46. A sétima sorte saiu à tribo dos filhos de Dã — Estava a
oeste de Benjamim, e consistia de porções cedidas por Judá e Efraim.
Seus limites não se expressam, pois são fáceis de distinguir pela posição
relativa de Dã às três tribos vizinhas.
47. subiram os filhos de Dã, e pelejaram contra Lesém — Os
danitas, achando muito pequena sua herança, resolveram estender suas
fronteiras pela espada; e tendo conquistado a Lesém (Laish), fundaram
ali uma colônia, chamando-a pelo nome de Dã (veja-se Jz_18:7).

Vv. 49-51. OS FILHOS DE ISRAEL DÃO UMA HERANÇA A JOSUÉ.


50. Deram-lhe, segundo o mandado do SENHOR, a cidade que
pediu — Era próprio que o grande capitão recebesse uma herança de
acordo com sua dignidade, e como recompensa por seus serviços
públicos. Mas o obséquio não dependia dos sentimentos espontâneos de
um povo agradecido. Foi conferido “segundo o mandado do Senhor”—
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 68
provavelmente uma promessa não anotada em escritos públicos, como a
que tinha sido feita a Calebe. (Js_14:9).
Timnate-Sera — ou Heres, sobre o Monte Gaás (Jz_2:9). Josué a
fundou, e finalmente foi sepultado ali (cap. 24:30).
51. Eram estas as heranças — Este versículo é a conclusão formal
da seção que relata a história da distribuição da terra; e para estampá-la
com a devida importância, os nomes dos funcionários se repetem, como
também o lugar onde sucedeu tão memorável transação.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 69
Josué 20

Vv. 1-6. JEOVÁ ORDENA AS CIDADES DE REFÚGIO.


1, 2. Disse mais o SENHOR a Josué: Fala aos filhos de Israel:
Apartai para vós outros as cidades de refúgio — (Veja-se Nm_35:9-
28; Dt_19:1-13). O mandado aqui lembrado foi dado, quando as tribos
iam ocupar seus respectivos estabelecimentos. Estes santuários não eram
templos nem altares, como em outros países, mas sim cidades habitadas;
e seu motivo não foi o de defender aos criminosos, mas sim somente dar
ao homicida proteção da vingança dos parentes do morto, até que se
averiguasse se a morte tinha resultado de acidente e paixão momentânea,
ou de malícia premeditada. A instituição das cidades de refúgio, com as
regras prescritas para a conduta dos que buscavam asilo dentro de seus
muros, foi uma provisão importante, tendente a assegurar os fins tanto da
justiça como da misericórdia.
4. fugindo para alguma dessas cidades, pôr-se-á à porta dela —
Era o lugar mais frequentado pelo público, e chegando lá, o fugitivo
devia contar aos anciãos sua história dolorosa, e eles tinham obrigação
de lhe dar asilo e os meios de subsistência, enquanto as autoridades
locais (Js_20:6) investigavam cuidadosamente o caso, e davam a
conhecer sua decisão. Se fosse culpado, o homicida era entregue ao
vingador, parente próximo do morto; se apareciam circunstâncias
atenuantes, o homicida tinha que ficar na cidade de refúgio, onde estaria
a salvo das vinganças de seus perseguidores; mas perdia o privilégio de
imunidade, no momento que se aventurasse a sair fora dos muros.
6. até que morra o sumo sacerdote que for naqueles dias — sua
morte assegurava a completa libertação do homicida, só porque tinha
sido ungido pelo óleo sagrado (Nm_35:25), símbolo do Espírito Santo; e
assim a morte do sumo sacerdote terrestre devia ser tipo da do sumo
sacerdote celestial (Hb_9:14-15).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 70
Vv. 7-9. ASSINALAM-SE PELO NOME AS CIDADES DE
REFÚGIO.
7. Designaram — Houve seis; três a leste do Jordão e três a oeste.
No primeiro instante, elas eram uma provisão das leis criminais dos
hebreus, necessárias nas circunstâncias daquele povo (veja-se Nm_35:9-
15; Dt_19:2), e ao mesmo tempo representavam simbolicamente o
caminho do pecador a Cristo (Hb_6:18).
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 71
Josué 21

Vv. 1-8. QUARENTA E OITO CIDADES DADAS AOS LEVITAS.


1. se chegaram os cabeças dos pais dos levitas — Os mais
veneráveis e distinguidos membros das três famílias levíticas, os que, em
nome de sua tribo, pediram que uma provisão especial que lhes tinha
sido prometida, agora fosse concedida (veja-se Nm_35:1-5). Sua herança
ficava dentro de cada uma das tribos. Foi designada no mesmo lugar e da
mesma maneira e pelos mesmos comissionados, como as outras
heranças; enquanto que o povo conhecedor dos importantes deveres que
os levitas cumpriam, era expresso (Js_21:3) como de acordo com lhes
conceder este favor especial, provavelmente esta sorte já tinha sido
reservada para eles, enquanto a distribuição da terra estava em operação.
4-8. Caiu a sorte pelas famílias dos coatitas — Os levitas estavam
divididos em coatitas, gersonitas e meraritas. Entre os primeiros a
família de Arão eram nomeados para o sacerdócio, e outros pertenciam à
ordem comum de levita. A primeira sorte saiu pelos coatitas; e as
primeiras das seus aos sacerdotes, aos quais foram dadas treze cidades, e
dez a outros coatitas; treze aos gersonitas (Js_21:6), e doze aos meraritas
(Js_21:7).

Vv. 9-42. AS CIDADES DOS SACERDOTES.


9-40. Deram ... estas cidades que, nominalmente, foram
designadas — Foi resolvido pela infalível providência do divino
Legislador, que as cidades dos sacerdotes estivessem dentro do território
de Judá e Benjamim; a sabedoria e o próprio desta provisão se
manifestaram plenamente no tempo da divisão do país durante o reinado
de Roboão.
41. As cidades, pois, dos levitas, no meio da herança dos filhos
de Israel, foram, ao todo, quarenta e oito cidades com seus arredores
— Esta poderia parecer uma proporção grande demais em comparação
com as outras tribos. Mas temos que levar em conta que a lista aqui dá o
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 72
nome de todas as cidades levíticas (veja-se 1Cr_6:39-66), enquanto que
unicamente são mencionadas aquelas cidades das outras tribos que
estavam situadas sobre as linhas divisórias entre as tribos. Além disso os
levitas não eram os habitantes exclusivos das quarenta e oito cidades,
porque deve ter havido ali um número considerável de pessoas para
atender as chácaras e o gado. Além disso, as cidades levíticas não tinham
mais que “seus arredores”, um circuito limitado de terreno em seu redor
[Js_21:42], enquanto que as outras cidades de Israel possuíam grupos de
vilas independentes (veja-se Josué 17-19).

Vv. 43-45. DEUS LHES DEU DESCANSO.


43. Desta maneira, deu o SENHOR a Israel toda a terra que
jurara dar a seus pais — Esta é uma conclusão geral da história do
capítulo 13, a qual conta a ocupação do país pelos israelitas. Todas as
promessas feitas ao povo ou a Josué (Js_1:5) se cumpriram ou estavam
por ser cumpridas; e a experiência da história de Israel (Js_21:45) é
motivo de esperança e confiança para o povo de Deus em todas as
épocas, e que todas as promessas feitas à Sua igreja serão cumpridas no
devido tempo.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 73
Josué 22

Vv. 1-9. JOSUÉ DESPEDE AS DUAS TRIBOS E MEIA COM


BÊNÇÃO.
1. Então, Josué chamou os rubenitas, os gaditas e a meia tribo
de Manassés — Estando terminada a guerra geral de invasão e achando
o inimigo tão desanimado e isolado, que cada tribo, por seus próprios
recursos ou com a ajuda de sua tribo vizinha, seria capaz de reprimir
qualquer novo movimento hostil, foram licenciados os israelitas
auxiliares das tribos situadas a leste do Jordão. Josué os despediu com
eloquentes elogios de sua fidelidade e com recomendações de cultivar
sempre a piedade em sua vida. A redundância da linguagem é notável
[Js_22:2-5], e demonstra quão importante na opinião do venerável guia é
a observância constante da lei divina, para a felicidade pessoal e a
prosperidade nacional.
3. A vossos irmãos, durante longo tempo, até ao dia de hoje, não
desamparastes — Por espaço de sete anos.
4-7. voltai-vos, pois, agora, e ide-vos para as vossas tendas —
quer dizer, a casa; porque suas famílias tinham sido deixadas em cidades
fortificadas (Nm_32:17).
8. e lhes disse: Voltais às vossas tendas com grandes riquezas —
Em gado, roupas e metais preciosos.
reparti com vossos irmãos o despojo dos vossos inimigos —
veja-se Nm_31:25-39.

V. 10. EDIFICAM EM SUA VIAGEM O ALTAR DO TESTEMUNHO.


Vindo eles para os limites pegados ao Jordão, na terra de
Canaã, ali os filhos de Rúben … edificaram um altar — Este altar foi
provavelmente um imenso montão de pedras e terra. A maioria dos
tradutores supõem que foi levantado na ribeira do Jordão, dentro dos
limites de Canaã. Mas um exame mais cuidadoso do texto parece levar à
conclusão de que sua posição estava sobre a ribeira oriental do rio;
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 74
primeiro, porque diz (Js_22:11) ter sido edificado “diante da terra de
Canaã”, ou à vista da terra de Canaã, e não dentro dela, e, segundo,
porque o motivo rápido dos israelitas transjordânicos de erigi-lo, foi o de
impedir que seus irmãos em Canaã alguma vez dissessem: “Que tendes
vós com o SENHOR, Deus de Israel? Pois o SENHOR pôs o Jordão por
limite entre nós e vós”, etc. [Js_22:24, 25]. Semelhante zombaria seria
prevenida ou refutada pelas duas tribos e meia, ao ter na ribeira oriental
do Jordão, dentro de sua terra, uma cópia exata do altar de Siló, como
testemunho de que eles reconheciam ao mesmo Deus e praticavam os
mesmos ritos de culto que seus irmãos de Canaã.

Vv. 11-29. CONTENDA RESULTANTE.


11. Os filhos de Israel ouviram dizer — A fama rapidamente
estendeu o conhecimento do que as tribos transjordânicas tinham feito.
Suspeitando o ato de algum motivo idólatra, todas as tribos se
levantaram em massa, e reunindo-se ao tabernáculo em Siló, resolveram
declarar guerra contra as duas tribos e meia como apóstatas de Deus.
Com mais calma e consideração, entretanto, resolveram primeiro enviar
uma comissão composta do filho do sumo sacerdote e dez pessoas
eminentes de cada tribo, para perguntar a respeito desta rebelião
anunciada contra Deus (Dt_13:13-15). A qualidade dos comissionados
demonstra a grande solicitude que se sentia nesta ocasião por manter a
pureza do culto divino em todo Israel. Na crença suposta de que as duas
tribos e meia na realidade tinham edificado um altar, os comissionados
expressaram assombro de que tão logo eles tivessem caído em tão
nefando crime como o de violar a unidade do culto divino (Êx_20:24;
Lv_17:8-9; Dt_12:5-13). Lembraram a seus irmãos do Este, as
consequências desastrosas que tinham sofrido a nação pela apostasia em
Peor e pelo pecado de Acã, e finalmente os exortaram a que se
trasladassem à ribeira ocidental do Jordão, onde todas as tribos
formariam uma comunidade unida de adoradores, se eles sentiam a
necessidade do tabernáculo e do altar, e se se arrependiam de sua
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 75
temerária escolha de preferir as vantagens terrestres aos privilégios
religiosos.
21. Então, responderam os filhos de Rúben — repudiando, em
termos fortes, o suposto crime, e declarando que, longe de ter as
intenções que lhes imputavam, seu único objetivo foi o de perpetrar a
memória de sua aliança com Israel [Js_22:24, 25] e sua aderência ao
culto do Deus de Israel [Js_22:26, 27].

Vv. 30-34. OS COMISSIONADOS SATISFEITOS.


33, 34. Com esta resposta deram-se por satisfeitos os filhos de
Israel — A explicação não só deu perfeita satisfação aos comissionados,
mas também teve expressões de grande alegria e gratidão. “Hoje,
sabemos que o SENHOR está no meio de nós” [Js_22:31], por sua
benévola presença e bondade preventiva, que impedia que caíssem no
suposto pecado, e salvou a nação das calamidades de uma guerra
fratricida ou juízos providenciais. Este episódio reflete honra sobre todos
os partidos, e demonstra que a piedade e o zelo pela honra e culto de
Deus, animavam ao povo que entrou em Canaã a uma medida para além
do que se manifestava em muitos outros períodos da história de Israel.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 76
Josué 23

Vv. 1, 2. A EXORTAÇÃO DE JOSUÉ ANTES DE SUA MORTE.


1. Passado muito tempo depois que o SENHOR dera repouso a
Israel de todos os seus inimigos em redor — como quatorze anos
depois da conquista de Canaã, e sete da partilha do país entre as tribos.
2. chamou Josué a todo o Israel — A cláusula que segue, parece
limitar esta expressão geral como aplicável só aos oficiais e
representantes do povo. O lugar da assembleia era provavelmente Siló. O
motivo para convocá-la era a avançada idade e a próxima morte do
venerável guia; e o propósito deste solene discurso foi o de animar ao
povo escolhido e seus descendentes a uma fiel e inalterável continuação
na fé e culto do Deus de Israel.

V. 3. POR BENEFÍCIOS ANTERIORES.


vós já tendes visto tudo quanto fez o SENHOR, vosso Deus, a
todas estas nações por causa de vós — A modéstia e humildade de
Josué se deixam ver admiravelmente no começo deste discurso.
Esquecendo-se de toda consideração pessoal, ele atribuiu a conquista e
ocupação de Canaã inteiramente à favorável presencia e ajuda de Deus; e
ao fazê-lo assim, não falou só piedosa mas também verdadeiramente.
Isto tinha sido prometido (Dt_1:30; Dt_3:22), e a realidade da ajuda
divina se via na rápida derrota dos cananeus, a que tinha contribuído à
divisão de todo o país entre as tribos [Js_23:4].

Vv. 5-11. POR PROMESSAS.


5. O SENHOR, vosso Deus, as afastará de vós e as expulsará de
vossa presença … como o SENHOR, vosso Deus, vos prometeu — As
posses atuais que Deus tinha dado, eram como um objeto pelo completo
cumprimento de Suas promessas de lhes dar as partes do país ainda não
conquistadas. Mas o cumprimento da promessa divina dependia da
fidelidade inviolável deles à Lei de Deus, de guardar-se resolutamente
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 77
livres de toda relação familiar e conexões íntimas com os cananeus, e de
não participar de maneira alguma em seus pecados idolátricos. Em caso
de sua continuação na fiel aderência à causa de Deus, como felizmente
distinguia a nação naquele momento, as bênçãos dEle lhes assegurariam
um curso de vitórias brilhantes e fáceis (Lv_26:7; Dt_28:7; Dt_32:30).
11. empenhai-vos em guardar a vossa alma, para amardes o
SENHOR, vosso Deus — A soma de sua exortação se compreende no
amor a Deus, o qual é o fim e o cumprimento da lei (Dt_6:5; Dt_11:13;
Mt_22:37).

V. 12. POR AMEAÇA EM CASO DE DESOBEDIÊNCIA.


se dele vos desviardes e vos apegardes ao restante destas nações
— Por “desviardes” quer dizer a transgressão da lei divina; e como as
relações matrimoniais com os idólatras cananeus apresentariam muitas e
fortes tentações a transgredi-la, estas eram estritamente proibidas
(Êx_34:12-16; Dt_7:3). Como se tivesse seus olhos postos nestas
proibições, Josué os ameaça com que certamente Deus lhes retirará a Sua
ajuda em futuras expulsões dos cananeus, ameaça fundada em Êx_23:33;
Nm_33:55; Dt_7:16.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 78
Josué 24

V. 1. JOSUÉ REÚNE AS TRIBOS.


1. reuniu Josué todas as tribos de Israel em Siquém — Uma
nova e final oportunidade para dissuadir o povo contra a idolatria,
descreve-se aqui como aproveitada pelo ancião guia, cuja solicitude
neste assunto vinha de seu conhecimento da extrema facilidade do povo
em conformar-se aos costumes das nações circunvizinhas. Este discurso
foi dado perante os representantes do povo reunidos em Siquém, lugar
que já tinha sido a cena da solene renovação da aliança (Js_8:30, 35).
Sendo a transação que se ia realizar agora, igual em princípio e objetivo
que a anterior, era desejável dar-lhe toda a solene grandiosidade da
cerimônia anterior, como também das lembranças que o lugar despertava
(Gn_12:6-7; Gn_33:18-20; Gn_35:2-4).
eles se apresentaram diante de Deus — Geralmente se supõe que
a arca da aliança tinha sido transferida nesta ocasião a Siquém; pois em
emergências extraordinárias se movia temporalmente (Jz_20:1-18;
1Sm_4:3; 2Sm_15:24). Mas a frase, embora não necessariamente indica
isto, somente se poderá entender como expressando o caráter religioso da
cerimônia (Hengstenberg).

Vv. 2-13. RELATA OS BENEFÍCIOS DIVINOS.


2. Josué disse a todo o povo — Seu discurso brevemente
recapitulou as provas principais da bondade divina a Israel, desde a
chamada de Abraão até seu feliz estabelecimento na terra prometida; e
lhes mostrou que eles estavam endividados por sua existência nacional
assim como por seus privilégios peculiares, não a seus próprios méritos,
mas sim à graça de Deus.
vossos pais ... habitaram dalém do Eufrates — O Eufrates, quer
dizer, em Ur.
Tera, pai de Abraão e de Naor — (Veja-se Gn_11:27). Embora
Tera tivesse três filhos, só Naor é mencionado com Abraão, pois os
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 79
israelitas descendiam dele por parte de mãe, por Rebeca e suas sobrinhas
Leia e Raquel.
serviram a outros deuses — Combinando, como Labão, um
conhecimento tradicional do verdadeiro Deus com o uso doméstico de
imagens materiais (Gn_31:19, Gn_31:34).
3. Eu, porém, tomei Abraão, vosso pai, dalém do rio e o fiz
percorrer toda a terra de Canaã — Foi um impulso irresistível da
graça divina, Aquele que compeliu o patriarca a deixar sua pátria e sua
parentela, e a emigrar a Canaã, e viver como “peregrino e forasteiro”
naquela terra.
4. a Esaú dei em possessão as montanhas de Seir — (veja-se
Gn_36:8), para que não fosse obstáculo a que Jacó e seus descendentes
fossem os herdeiros exclusivos de Canaã.
12. Enviei vespões adiante de vós — uma espécie de vespa que
abunda em países quentes, e às vezes chega a ser uma praga, ou, como
creem alguns, é uma expressão figurada de um terror irrefreável
(Êx_23:28).
14-28. Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade
e com fidelidade — Depois de enumerar tantos motivos de gratidão
nacional, Josué chama o povo a que declare, de uma maneira solene e
pública, se será fiel e obediente ao Deus de Israel. Fez voto de que esta
seria sua resolução inalterável, e instava com eles, se eram sinceros em
fazer esta declaração, a que tirassem “os outros deuses que estão entre
vós”—demanda que parece indicar que se suspeitava que alguns ainda
tinham uma afeição forte pelos ídolos, e que praticavam secretamente a
idolatria, quer em forma do zabaísmo, o culto ao fogo de seus
antepassados caldeus, ou as superstições mais grosseiras de Canaã.
26. Josué escreveu estas palavras no Livro da Lei de Deus —
Registrou as obrigações daquela solene aliança no livro de história
sagrada.
tomou uma grande pedra — Segundo o uso de tempos antigos de
erigir pilares de pedra como monumentos de transações públicas.
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 80
e a erigiu ali debaixo do carvalho — ou, terebinto,
provavelmente, o mesmo à raiz do qual Jacó enterrou os ídolos e
amuletos que achou entre sua família.
que estava em lugar santo do SENHOR — o lugar onde a arca
tinha estado, ou o lugar próximo, assim chamado por aquela assembleia
religiosa, assim como Jacó chamou Betel “a casa de Deus”.

Vv. 29-30. SUA IDADE E MORTE.


29. Josué, filho de Num, servo do SENHOR, faleceu — Lightfoot
calcula que viveu dezessete anos, outros, vinte e sete, depois da entrada
em Canaã. Foi sepultado, segundo a prática judia, dentro dos limites de
sua herança. Os eminentes serviços públicos que ele tinha rendido a
Israel, e o grande caudal de confortos domésticas e prosperidade
nacional dos quais ele tinha sido o instrumento para trazê-los para as
tribos, eram sentidos profundamente, e universalmente reconhecidos; e
uma estátua ou obelisco teria sido imediatamente levantado em todas as
partes do país, se tal tivesse sido o costume daqueles tempos. O breve e
nobre epitáfio pelo historiador é: Josué “servo do Senhor”.
31. Serviu, pois, Israel ao SENHOR todos os dias de Josué — O
elevado e dominante caráter deste eminente guia, tinha dado aos
sentimentos e costumes de seus contemporâneos um tom tão decidido, e
a lembrança de sua fervente piedade e grandes virtudes continuavam tão
vivamente impressas nas consciências do povo, que o historiador
sagrado o lembrou para sua imortal honra: “Serviu, pois, Israel ao
SENHOR todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda
sobreviveram por muito tempo depois de Josué”.
32. Os ossos de José — Tinham levado estas veneráveis relíquias
consigo em todas as suas migrações pelo deserto, e adiaram sua
sepultura, segundo o encargo final do próprio José, até sua chegada à
terra prometida. O sarcófago, no qual foi posto seu corpo mumificado,
foi trazido pelos israelitas, e sepultado provavelmente quando a tribo de
Josué (Jamieson, Fausset e Brown) 81
Efraim recebeu sua herança, e na solene assembleia descrita neste
capítulo.
naquela parte do campo que Jacó comprara ... por cem peças de
prata — quesitá, traduzido como “peça de prata” crê-se que queria dizer
“cordeiro”, sendo os pesos em forma de cordeiros ou cabritos, os quais
provavelmente eram as normas de valor mais antigas entre um povo
pastoril. A tumba que agora ocupa o lugar, é um Welce maometano, mas
não há motivos para duvidar de que o depósito dos ossos de José estão
ali hoje em dia.
33. Faleceu também Eleazar, filho de Arão, e o sepultaram …
na região montanhosa de Efraim — O sepulcro está na aldeia moderna
do Awertah, que segundo viajantes judeus, contém a sepultura de Itamar,
irmão de Fineias, filho de Eleazar.
JUÍZES
Original em inglês:

JUDGES

The Book of Judges

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Juízes 1 Juízes 7 Juízes 13 Juízes 19

Juízes 2 Juízes 8 Juízes 14 Juízes 20

Juízes 3 Juízes 9 Juízes 15 Juízes 21

Juízes 4 Juízes 10 Juízes 16

Juízes 5 Juízes 11 Juízes 17

Juízes 6 Juízes 12 Juízes 18


Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Juízes 1

Vv. 1-3. OS ATOS DE JUDÁ E SIMEÃO.


1. Depois da morte de Josué — Provavelmente não um período
longo, porque parece que os cananeus aproveitaram aquele
acontecimento para tentar a recuperação de sua posição perdida, e os
israelitas se viram obrigados a renovar a guerra.
os filhos de Israel consultaram o SENHOR — Nesta ocasião
como em outras, buscou-se o conselho divino por meio do Urim e
Tumim, indo ao sumo sacerdote, quem, segundo Josefo, era Fineias.
Quem dentre nós, primeiro, subirá aos cananeus para pelejar
contra eles? — Os anciãos, que exerciam o governo em suas respectivas
tribos, julgaram bem que, ao começar uma importante expedição,
deveriam ter um guia nomeado pela vontade divina, e ao consultar o
oráculo, adotaram um proceder prudente, quer o objeto de sua consulta
se relacionasse com a eleição de um comandante individual, ou com a
honra de precedência entre as tribos.
2. Respondeu o SENHOR: Judá subirá — A preeminência predita
(Gn_49:8) foi assim conferida a Judá por direção divina, e seu mandado
de que tomasse a iniciativa nas hostilidades seguintes, era de grande
importância, pois o êxito de suas armas, animaria as outras tribos a fazer
tentativas similares contra os cananeus em seus respectivos territórios.
nas suas mãos entreguei a terra — nem todo o país e sim o
distrito designado como sua herança.
3. Disse, pois, Judá a Simeão, seu irmão: Sobe comigo … e
pelejemos contra os cananeus — Sendo tribos vizinhas (Js_19:1-2),
tinham interesses comuns, e naturalmente se associaram nesta empresa.

Vv. 4-21. ADONI-BEZEQUE JUSTAMENTE CASTIGADO.


4. Bezeque — Este lugar estava dentro do domínio de Judá, cerca
de 19 quilômetros ao sul de Jerusalém.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 3
5-6. encontraram Adoni-Bezeque — quer dizer, senhor de
Bezeque — foi “achado”, surpreendido e derrotado em batalha, de onde
fugiu; mas foi preso, e tratado com uma severidade não usual entre os
israelitas, pois lhe cortaram os polegares e os dedos grandes dos pés.
Barbaridades de muitos tipos se praticavam usualmente com os
prisioneiros de guerra nos tempos antigos, e o objetivo desta mutilação
das mãos e dos pés era o de inutilizá-los para sempre para o serviço
militar. A aplicação de tão horrenda crueldade neste chefe cananeu teria
sido uma mancha no caráter dos israelitas, se não fosse pela crença de
que foi um ato de justiça retributiva, e como tal foi considerado pelo
próprio Adoni-Bezeque, porque reconhecia que seus crimes mereciam
este castigo.
7. Setenta reis — Tão grande número não parecerá estranho,
quando consideramos que nos tempos antigos todo governante de cidade
grande ou pequena era rei. Não é improvável que naquela região
meridional de Canaã, tenha havido mais reis, até que um chefe
turbulento como Adoni-Bezeque os consumiu por sua ambição
insaciável.
8. os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém, e a tomaram
(RC) — A captura desta importante cidade, se acha entre os primeiros
incidentes da invasão (Js_15:63), e se menciona aqui para explicar como
estava em possessão de Judá; e trouxeram aqui a Adoni-Bezeque
[Jz_1:7], provavelmente para que sua sorte sendo feita tão pública,
inspirasse terror por toda parte. Incursões similares foram feitas em
outras partes não conquistadas da herança de Judá [Jz_1:9-11]. A história
da conquista de Hebrom por Calebe se repete aqui (Js_15:16-19). [Veja-
se Js_15:16.]
16. os filhos do queneu, sogro de Moisés, subiram da cidade das
Palmeiras com os filhos de Judá — Chamado o queneu como
provavelmente descendido do povo com aquele nome (Nm_24:21-22).
Se ele mesmo não aceitou, seus descendentes sim aceitaram o convite de
Moisés (Nm_10:32), de acompanhar os israelitas a Canaã. Seu primeiro
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 4
acampamento foi na “cidade das Palmeiras” — mas não Jericó, porque
tinha sido completamente destruída, mas sim o distrito circundante,
talvez En-Gedi, em tempos remotos chamado Hazazom-Tamar
(Gn_14:7), pelo bosque de palmeiras que a protegia. Dali se moveram
por causa desconhecida, e se associaram com Judá, e tomaram parte
numa expedição contra Arade, no sul de Canaã (Nm_21:1). Conquistado
aquele distrito, alguns desse povo pastoril armaram suas tendas ali, mas
outros emigraram para o norte (Jz_4:7).
17. Foi-se, pois, Judá com Simeão, seu irmão — Aqui se resume
o relato desde o v. 9, e se percebe a retribuição de serviços por Judá a
Simeão (v. 3), ajudando-os no prosseguimento da guerra dentro das
tribos vizinhas.
e feriram aos cananeus que habitavam em Zefate — ou Zefatá
(2Cr_14:10), vale situado na parte sul de Canaã.
Horma — destruída em cumprimento de um voto dos israelitas
(veja-se Nm_21:1-3). As tribos confederadas, seguindo suas incursões
naquela direção, chegaram sucessivamente a Gaza, Ascalom e Ecrom,
cidades que tomaram. Mas os filisteus, conforme parece, voltaram a
tomar aquelas cidades.
19. Esteve o SENHOR com Judá … porém não expulsou os
moradores do vale — A guerra era do Senhor, cuja ajuda onipotente
teria assegurado o êxito em todo encontro, quer fosse nas montanhas, ou
nas planícies, com soldados de infantaria ou com os de cavalaria. Foi a
desconfiança — a falta de uma simples e firme confiança nas promessas
de Deus, o que lhes fez temer os carros de ferro (Veja-se Js_11:4-9).
21. os filhos de Benjamim não expulsaram os jebuseus que
habitavam em Jerusalém — Judá tinha lançado os jebuseus de sua
parte de Jerusalém (v. 8). O limite das duas tribos passava pela cidade,
israelitas e nativos devem ter estado estreitamente misturados.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 5
Vv. 22-26. ALGUNS CANANEUS FORAM DEIXADOS.
22, 23. a casa de José — quer dizer, a tribo de Efraim, como
distinguida da de Manassés (v. 27).
24. Vendo os espias um homem que saía da cidade, lhe
disseram: Mostra-nos a entrada da cidade — quer dizer, as avenidas
da cidade, e a parte mais fraca das muralhas.
usaremos de misericórdia para contigo — Os israelitas podiam
usar estes meios para obter a possessão de um lugar que lhes era
divinamente prometido: podiam prometer vida e recompensas a este
homem, embora ele e todos os cananeus estivessem condenados à
destruição (Js_2:12-14); mas podemos supor que a promessa ficava
suspensa em caso de que abraçasse a verdadeira religião ou saísse do
país, como ele o fez. Se eles o tivessem visto firmemente oposto a
qualquer destas alternativas, não o teriam constrangido por promessas
mas por ameaça, a que traísse a seus compatriotas. Mas se o achassem
disposto a ser serviçal e a ajudar aos invasores na execução da vontade
de Deus, lhe poderiam prometer perdão.
26. Luz — (Veja-se Gn_12:8; Gn_28:19).
27-36. O mesmo curso de avassalamento se seguia nas outras tribos,
parcialmente e com êxitos variados. Muitos dos nativos, sem dúvida,
durante o processo desta guerra de extermínio, salvaram-se fugindo, e
chegaram a ser, como se supõe, os primeiros colonos da Grécia, Itália e
outros países. Mas uma percentagem grande resistiu tenazmente, e reteve
a possessão de suas antigas moradas em Canaã. Em outros casos, quando
os nativos eram vencidos, a avareza dos israelitas os induzia a perdoar
aos idólatras, contrariamente ao rápido mandado de Deus; e sua
desobediência às ordens divinas neste assunto os envolvia em muitas
dificuldades que descreve este livro.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 6
Juízes 2

Vv. 1-10. UM ANJO RESPONDE AO POVO EM BOQUIM.


1-3. Subiu o Anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim — Nos
inclinamos a crer, pelo tom autoritário de sua linguagem, que era o Anjo
da Aliança (Êx_23:20; Js_5:14); o mesmo que apareceu em forma
humana e se anunciou como o capitão do exército do Senhor. Sua vinda
desde Gilgal teve um significado peculiar, porque ali os israelitas
fizeram uma solene dedicação de si mesmos a Deus, ao entrar na terra
prometida [Js_4:1-9]; e a lembrança daquele compromisso religioso, que
despertou a chegada do anjo desde Gilgal, deu força enfática a sua
repreensão pela apostasia deles.
Boquim — “os chorões”, era o nome dado em referência a este
incidente ou lugar, que estava perto de Silo.
nunca invalidarei a minha aliança convosco … contudo, não
obedecestes à minha voz — A substância da repreensão foi que Deus
guardaria inviolável sua promessa, mas que eles por suas notórias e
repetidas violações da aliança com Ele, perdiam todo direito aos
benefícios estipulados. Como eles tinham desobedecido a vontade de
Deus, para buscar a sociedade de idólatras e expondo-se às tentações, Ele
os deixaria para sofrer as consequências de suas más ações.
4, 5. falando o Anjo do SENHOR estas palavras a todos os filhos
de Israel, levantou o povo a sua voz e chorou — A repreensão do anjo
fez uma impressão profunda e dolorosa. Entretanto, sua reforma foi só
temporária, e a grata promessa de avivamento que esta cena oferecia,
muito em breve foi arruinada por intensas recaídas nos pecados de
apostasia e idolatria.
6-10. Havendo Josué despedido o povo — Esta passagem é uma
repetição de Js_24:29-31, e foi inserido aqui para fazer saber ao leitor os
motivos da repreensão tão forte e severa do Anjo do Senhor. Durante a
vida dos primeiros ocupantes, os que retinham a lembrança viva de todos
os milagres e juízos divinos que tinham visto no Egito e no deserto, o
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 7
caráter nacional era muito elevado quanto à fé e piedade. Mas com o
tempo uma nova geração se levantou, cujos componentes eram alheios a
todas as experiências santas e solenes de seus pais, e se entregaram
muito facilmente às influências corruptoras da idolatria que os rodeava.

Vv. 11-19. MALDADE DA NOVA GERAÇÃO DEPOIS DE JOSUÉ.


11. fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o
SENHOR — Este capítulo, com os oito primeiros versículos do
seguinte, contém um resumo breve mas compreensivo dos princípios
desenvolvidos na história seguinte, e uma consideração atenta destes
princípios, portanto, é de grande importância para um entendimento
correto das estranhas e variadas fases da história israelita, da morte de
Josué até o estabelecimento da monarquia.
serviram aos baalins — Usa-se o plural para incluir todos os
deuses do país.
13. Astarote — Também é uma palavra no plural, que denota todas
as divindades femininas, cujos ritos se celebram com as impurezas mais
grosseiras e repugnantes.
14. Pelo que a ira do SENHOR se acendeu contra Israel e os deu
na mão dos espoliadores — Muitas calamidades em rápida sucessão
caíram sobre eles. Mas todas estas adversidades foram enviadas só como
castigos, como meio de disciplina corretiva, pelo qual Deus fez com que
o Seu povo visse seus erros e se arrependesse deles: e como o povo
voltou para a fé e à aliança. Deus suscitou “juízes” (Jz_2:16).
16. juízes, que os livraram da mão dos que os pilharam — Os
juízes que governavam Israel, eram estritamente os vice-gerentes de
Deus no governo do povo, sendo Ele o governador supremo. Os que
foram elevados, retinham a dignidade enquanto viviam; mas nunca
houve uma sucessão de juízes regular e ininterrupta. Indivíduos, movidos
por um impulso interno e irresistível do Espírito de Deus, ao ver o estado
deprimido do país, eram animados a conseguir sua libertação. Esta
impressão interior geralmente vinha acompanhada por uma chamada
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 8
especial, e vendo-os dotados de coragem e poder extraordinárias, o povo
os aceitava como delegados de Deus, e se submetia a sua influência.
Frequentemente, eram nomeados para algum distrito particular, e sua
autoridade não se estendia para além do povo cujos interesses eram
comissionados a proteger. Não tinham pompa, aparelho nem pagamento
em seu cargo. Não tinham poder para dar leis, porque estas foram dadas
por Deus; nem para as explicar, porque isto era obrigação dos
sacerdotes; mas eles oficialmente apoiavam a lei, eram defensores da
religião, vingadores de todos os crimes, e particularmente da idolatria e
seus vícios acompanhantes.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 9
Juízes 3

Vv. 1-4. NAÇÕES DEIXADAS PARA PROVAR A ISRAEL.


1. São estas as nações que o SENHOR deixou para, por elas,
provar a Israel — Este era o desígnio especial de que se deixasse a
estas nações, e isto demonstra a influência direta da teocracia sob a qual
foram postos os israelitas. Estas nações foram deixadas com um duplo
propósito: em primeira instância para ser instrumentos, por suas
incursões, para promover a disciplina moral e espiritual dos israelitas, e
também com um propósito secundário de fazer com que conhecessem a
guerra, a fim de que os jovens especialmente, que não a conheciam,
aprendessem o uso das armas e a arte de dirigi-las.

Vv. 5-7. PELA COMUNHÃO COM ESTES OS ISRAELITAS


COMETEM ATOS DE IDOLATRIA.
5-7. Habitando, pois, os filhos de Israel no meio dos cananeus —
As duas classes gradualmente chegavam a intercambiar costumes; e se
formavam alianças mediante casamentos, até que os israelitas, relaxando
a austeridade de seus princípios, mostravam uma conformidade crescente
com os costumes e cultos de seus vizinhos idólatras.

Vv. 8-11. OTNIEL LIBERTA A ISRAEL.


8. os vendeu (RC) — quer dizer, os entregou (RA).
nas mãos de Cusã-Risataim — ou Cusã o “ímpio”. Este nome lhe
tinha sido dado provavelmente por seu caráter cruel e ímpio.
os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos — Para
pagar um tributo anual estipulado, cujo pagamento causou muito
trabalho e privação.
9. Clamaram ao SENHOR os filhos de Israel — Em seu apuro
foram ao recurso da oração, acompanhada pela humilde e penitente
confissão de seus erros.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 10
Otniel — (Veja-se Js_15:17; Jz_1:13). Sua experiência militar o
capacitou para esta obra, enquanto que por suas valentes façanhas,
conhecidas pelo público, ganhava a plena confiança de seus concidadãos
em sua capacidade de dirigente.
10. Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel;
saiu à peleja — Impelido por influência sobrenatural, ele empreendeu a
difícil tarefa do governo nesta crise nacional. Entregando-se à tarefa de
promover uma reforma geral dos costumes, a abolição da idolatria, o
avivamento da religião, e então, depois destas medidas preliminares,
reuniu um corpo de guerreiros selecionados para expelir aos opressores
estrangeiros.
o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da
Mesopotâmia, contra o qual ele prevaleceu — Não se dão detalhes
desta guerra, mas considerando os recursos de um monarca tão potente,
se crê que foi uma contenda muito forte. Mas as armas israelitas foram
coroadas pela bênção de Deus com a vitória, e Canaã reconquistou sua
liberdade e independência.
11. Otniel, filho de Quenaz, faleceu — A influência poderosa de
um homem bom, na igreja ou no Estado, nota-se melhor depois da morte
deste. (Bispo Hall).

Vv. 12-30. EÚDE MATA EGLOM.


12-14. Tornaram, então, os filhos de Israel a fazer o que era
mau perante o SENHOR — Privados da influência moral e política de
Otniel, os israelitas não demoraram a seguir suas tendências naturais à
idolatria.
o SENHOR deu poder a Eglom, rei dos moabitas — A ambição
do monarca reinante era a de recuperar aquela porção extensa de seu
antigo território possuída pelos israelitas. Em união com seus vizinhos,
os amonitas e amalequitas, inimigos juramentados de Israel, primeiro
submeteu ele às tribos orientais, e depois cruzando o Jordão, fez uma
incursão repentina em Canaã ocidental, e em virtude de suas conquistas
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 11
erigiu fortalezas no território perto de Jericó (Josefo), para assegurar a
fronteira, e fixou ali sua residência. Na providência de Deus permitiu-se
a este opressor triunfar durante dezoito anos.
15. Eúde ... filho de Gera — descendente da Gera, um dos filhos
de Benjamim (Gn_46:21).
homem canhoto — Esta particularidade distinguia a muitos na
tribo benjamita (Jz_20:16). Mas a palavra original é traduzida por muitos
“ambidestro”, ideia apoiada por 1Cr_12:2.
Por intermédio dele, enviaram os filhos de Israel tributo a
Eglom, rei dos moabitas — quer dizer, o tributo anual, o qual, segundo
costume oriental, seria levado com cerimônia ostentosa, e devotado
(Jz_3:18) por vários mensageiros.
16. Eúde fez para si um punhal de dois gumes … cingiu-o
debaixo das suas vestes, do lado direito — A espada era habitualmente
levada sobre o lado esquerdo; assim que a do Eúde não se descobriria
facilmente.
19. imagens de escultura — Imagens gravadas (Dt_7:25; Jer_8:19;
Jer_51:52); estatutos de ídolos moabitas, a vista dos quais acendeu o zelo
patriótico de Eúde para vingar, em seu autor, este insulto público a
Israel.
Tenho uma palavra secreta a dizer-te, ó rei. O rei disse: Cala-te
— “Privado”, sinal para que todos se retirem.
20. sala de verão — Heb. “sala de refrescar”—um daqueles
edifícios, que os ricaços orientais têm em seus jardins, nos quais
descansam durante o calor do dia.
21. Eúde, estendendo a mão esquerda — Todas as circunstâncias
desta façanha atrevida, a morte do Eglom sem grito nem ruído, o fechar a
porta e levar a chave, o porte tranquilo e sem pressa de Eúde mostraram
quão forte era sua confiança de que estava fazendo um serviço a Deus.
27. tocou a trombeta nas montanhas de Efraim — Convocou a
armas o povo daquela região montanhosa, a qual, junto ao território de
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 12
Benjamim, provavelmente tinha sofrido mais a onerosa opressão dos
moabitas.
28. desceram após ele, e tomaram os vaus do Jordão contra os
moabitas — (Veja-se Js_2:7). Com o fim de evitar toda fuga até a costa
moabita, e pela matança de 10.000 homens, resgatou o seu país de uma
escravidão ignominiosa.
31. Depois dele, foi Sangar — Nenhuma menção se faz da tribo ou
família deste juiz; e do fato de que foram os filisteus os inimigos que o
elevaram ao serviço público, o sofrimento parece ter sido local, limitado
às tribos ocidentais.
feriu seiscentos homens dos filisteus com uma aguilhada de bois
— Este instrumento tem uma longitude de mais de dois metros por uns
quinze centímetros de circunferência. Está armado no cabo menor com
uma pua para guiar o ganho, e no outro cabo com uma paleta de ferro
para tirar a argila do arado. Semelhante instrumento dirigido por braços
fortes poderia fazer grande matança. Poderemos supor, entretanto, como
a menção é fragmentária, que Sangar era somente o capitão de um bando
de camponeses, os quais, usando os instrumentos que tinham à mão,
fizeram a heroica façanha mencionada.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 13
Juízes 4

Vv. 1-17. DÉBORA E BARAQUE LIBERTAM ISRAEL DE


JABIM E SÍSERA.
1. Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau perante o
SENHOR, depois de falecer Eúde — A partida deste zeloso juiz deixou
novamente a seus compatriotas enfatuados sem o freio da religião.
2-3. Jabim, rei de Canaã — Jabim, título real (Js_11:1). O
segundo Jabim edificou uma nova capital sobre as ruínas da velha
(Js_11:10-11). Os cananeus do norte já se repuseram dos efeitos de sua
desastrosa derrota no tempo de Josué, e por sua vez tinham triunfado
sobre os israelitas. Esta foi a opressão mais severa a qual Israel tinha
estado sujeito. Mas foi mais pesada para as tribos do norte, e só depois
de uma servidão entristecedora de vinte anos, despertaram à verdade de
que era por causa de seus pecados, e que deviam buscar a libertação em
Deus.
4. Débora, profetisa — Mulher de conhecimentos, sabedoria e
piedade extraordinários, instruída nos conhecimentos divinos pelo
Espírito, e acostumada a interpretar a divina vontade, já tinha chegado a
ter uma influência extensa, e desfrutava do respeito geral; até o ponto de
tornar-se o espírito animador do governo, e exercia todos os deveres
especiais de juiz, exceto o de dirigente militar.
mulher do Lapidote — interpretado por alguns como “mulher de
esplendores”
5. Ela atendia debaixo da palmeira — ou, coletivamente, bosque
de palmeiras. É comum ainda no Oriente administrar justiça ao ar livre, e
sob a sombra de alguma árvore frondosa.
6. Mandou ela chamar a Baraque — Por virtude de sua
autoridade de juíza.
Quedes de Naftali — Situada numa altura, um pouco ao norte do
Mar da Galileia, e chamada assim para distinguir a Quedes de Issacar.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 14
Porventura, o SENHOR, Deus de Israel, não deu ordem,
dizendo: …? — Uma fórmula hebraica de fazer uma comunicação
enfática.
Vai, e leva gente ao monte Tabor — uma montanha isolada da
Galileia, no rincão nordeste da planície de Esdralom. Era lugar próprio
para se congregar, e o alistamento não tinha que ser considerado como
limitado a 10.000 homens, ainda que uma força menor tivesse sido
inadequada.
8. lhe disse Baraque: Se fores comigo, irei — Sua petição, um
tanto singular, de que Débora o acompanhasse, não era totalmente
resultado de sua fraqueza, e sim do fato de que os orientais sempre
levam consigo ao campo de batalha, o que lhes é mais caro; creem que
isto os faz lutar melhor. O propósito de Baraque, pois, de ter a presença
da profetisa, é perfeitamente inteligível, pois estimularia a tropa e daria
sanção nos olhos de Israel ao levantamento contra tão forte opressor
como o era Jabim.
9. às mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera —
Esta repreensão Baraque não pôde entender no momento, mas o teor dela
levou uma reprimenda a seus temores pouco varonis.
11. Héber, queneu … havia armado as suas tendas — Não é
nada estranho até hoje em dia que as tribos pastoris levem a pastar suas
ovelhas nos campos comuns situados no coração dos países habitados do
Oriente (veja-se Jz_1:16).
carvalho de Zaananim — Esta é uma tradução errônea de “os
carvalhos dos errantes”. O lugar do acampamento era sob os carvalhos
num vale alto de Quedes.
13. ribeiro Quisom — A planície na ribeira foi escolhida como
campo de batalha pelo próprio Sísera, o qual foi inconscientemente
atraído a esse lugar para a ruína de seu exército.
14. Baraque, pois, desceu do monte Tabor — Uma prova
surpreendente da plena confiança de Baraque e sua tropa na segurança de
vitória, dada por Débora, é o fato de que eles deixaram sua posição
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 15
vantajosa nas alturas para se lançar à planície ao encontro dos carros
ferrados que tanto temiam.
15. o SENHOR derrotou a Sísera — hebraico, jogou o seu
exército em confusão; homens, cavalos e carros se misturaram em
confusão. A desordem foi produzida por um terror sobrenatural (veja-se
Jz_5:20).
Sísera saltou do carro e fugiu a pé — Como seu carro se
distinguia por seu grande tamanho e sua elegância, assim se denunciaria
a posição de seu ocupante. Percebeu, pois, de que sua única esperança de
escapar seria a pé.
16. Mas Baraque perseguiu ... até Harosete-Hagoim —
quebrantado e derrotado, o corpo principal do exército de Sísera fugiu
rumo ao norte; outros foram empurrados ao arroio de Quisom e afogados
(veja-se Jz_5:21).
17, 18. Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael — Segundo o
costume do povo nômade, o dever de receber a uma pessoa estranha em
ausência do chefe correspondia à esposa, e desde o momento em que a
pessoa é admitida na tenda, estabelece-se o direito de ser defendido e
escondido dos perseguidores.
19. deu-lhe de beber, e o cobriu — Sísera contou com isto como
prova de segurança, especialmente na tenda de um xeque amigo; esta
fiança era a mais firme que se poderia pedir, depois de ter tomado
alimentos e ser introduzido no compartimento interior das mulheres.
20. ele disse mais: … se vier alguém e te perguntar: Há aqui
alguém?, responde: Não — Na intimidade do harém, até numa tenda,
não se pode penetrar sem permissão expressa.
21. Jael, mulher de Héber, tomou uma estaca da tenda —
Provavelmente uma das estacas com que se sujeitavam as cordas na
terra. Para Sísera a fuga era impossível. Mas lhe tirar a vida à mão de
Jael era assassinato. Foi uma violação de todas as ideias de honra e
amizade que se consideravam sagradas entre os povos pastoris, e para o
qual era impossível conceber que uma mulher nas circunstâncias de Jael
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 16
tivesse motivos, a não ser o de ganhar o favor dos vencedores. Embora
tivesse sido predita pela Débora [Jz_4:9], foi só o resultado da presença
divina, e não o decreto divino nem a aprovação. Ainda que o fato foi
louvado num cântico [Jz_5:24-27], deve-se considerar o elogio como
pronunciado não pelo caráter moral da mulher e sua obra, mas pelos
benefícios públicos que na soberana providência de Deus resultaram
disso.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 17
Juízes 5

Vv. 1-31. CÂNTICO DE GRATIDÃO DE DÉBORA E BARAQUE.


1. Naquele dia, cantaram Débora e Baraque — Esta nobre ode
triunfal foi evidentemente composição da própria Débora.
2, 3. O sentido se vê obscuramente em nossa versão; melhor seria
dizer: “Louvem a Jeová; porque os livres são libertados em Israel; o
povo se oferecia voluntariamente”. (Robinson).
4, 5. Aqui se faz alusão em termos gerais à interposição de Deus a
favor de Seu povo.
Seir … campo de Edom — Representa a cadeia de montanhas e a
planície que se estende para o sul desde o mar Morto até o golfo Elamita.
quando saías (TB) — indica que a tormenta tinha vindo do sul ou
sudeste.
6-8. O cântico segue descrevendo nestes versos a triste condição do
país, a opressão do povo, e a origem de toda a angústia nacional pela
apostasia do povo de Deus. A idolatria era a causa da invasão do
estrangeiro, e da incapacidade interna para resisti-la.
9. Expressa a gratidão aos respectivos chefes das tribos que
participaram da contenda; mas sobretudo a Deus, quem inspirou tanto a
disposição patriótica como a força.
10. falai — quer dizer, tomar parte neste cântico de louvor.
jumentas brancas — Estas são muito apreciadas, e como são
custosas, são possuídas unicamente pelos ricos e poderosos. “Os que
presidem em juízo”. “os que se sentam sobre tapetes”.
11. “Os poços que estão a certa distância das cidades do Oriente,
em tempos instáveis são lugares de perigo. Mas em tempos de paz são
lugares onde se veem cenas de reunião prazenteira e alegre. A poetisa
antecipa que este cântico poderá cantar-se, e repetir-se “atos de justiça
do SENHOR” nestes agora tranquilos “distribuidores de água”. Débora
agora se anima a descrever, em termos próprios para a ocasião, os
preparativos e a contenda, e num voo de entusiasmo poético, chama
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 18
Baraque para que ponha em exibição os prisioneiros numa procissão
triunfal.
13, 14. Logo segue a enumeração laudatória das tribos que
recrutaram seus soldados e dos que ofereceram voluntariamente seus
serviços: soldados de Efraim, que moravam perto dos amalequitas; a
pequena quota de Benjamim; “nobres”, valentes chefes, “de Maquir”, o
oeste de Manassés.
14. de Zebulom, os que levam a vara de comando — Os que
formavam e guardavam as listas de recrutas; e os príncipes que, com zelo
impetuoso, se lançavam ao ataque com Baraque. Logo vem a
recriminação para as tribos que não responderam à chamada para lutar
contra o comum inimigo de Israel. Das “divisões de Rúben”, i. e., as
correntes de água que descem das colinas ao Jordão e ao Mar Morto.
15. Entre as facções de Rúben houve grande discussão — Eles
sentiram o impulso patriótico, e no princípio resolveram unir-se às filas
de seus irmãos do oeste, mas mudaram de propósito, preferindo seus
pacíficos cânticos pastoris à voz das trombetas de guerra.
17. Gileade ficou dalém do Jordão — quer dizer, tanto Gade
como a metade oriental de Manassés resolveram ficar tranquilos em suas
aldeias de tendas, enquanto Dã e Aser, ambas tribos marítimas, ficaram
com seus navios nos portos. A menção destas tribos covardes termina
(Jz_5:18) com um novo estalo de louvor para Zebulom e Naftali.
19-22. Relata a cena da batalha e seu resultado. Parece que
(Jz_5:19) Jabim recebeu reforços de tropas de outros príncipes cananeus.
O campo de batalha foi perto de Taanaque (agora Ta’anuk), sobre um
tell ou colina na planície de Megido (agora Leijun), no extremo sudoeste,
nas ribeiras de Quisom.
não levaram nenhum despojo de prata — não conseguiram
despojo algum.
20. Desde os céus pelejaram as estrelas contra Sísera, desde a
sua órbita o fizeram — Uma tempestade terrível estalou contra eles, e
os deixou confusos.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 19
21. O ribeiro Quisom os arrastou — O inimigo foi derrotado
perto das “águas de Megido”, os nascimentos ou afluentes de Quisom.
Os que fugiram tiveram que cruzar o lamacento leito da corrente, mas o
Senhor tinha enviado uma chuvarada, as águas subiram de repente, e os
guerreiros caíram nas areias movediças, e se afogaram ou foram levados
a mar. (Van de Velde).
22. Então, as unhas dos cavalos socavam pelo galopar —
Antigamente, como agora em muitas partes do Oriente, os cavalos não
estavam ferrados. O romper dos cascos indica a grande pressa e o
irregular andar do inimigo derrotado.
23. Amaldiçoai a Meroz — Uma aldeia nos limites de Issacar e
Naftali, situada no caminho dos fugitivos, mas seus habitantes se
negaram a ajudar na destruição deles.
24-27. É um quadro gráfico do tratamento que Sísera recebeu na
tenda de Jael.
25. nata — leite coalhado, bebida favorita no Oriente.
28-30. Nestes versículos se faz uma transição à mãe do general
cananeu, e se pinta um quadro gráfico da agitação mental, entre a
esperança e o temor, impaciente pela tardança, mas antecipando as
notícias da vitória e as recompensas de um rico despojo.
28. pela grade — gradeados de madeira ou de ferro, muito comuns
nos países quentes para a circulação do ar.
29. As mais sábias das suas damas — damas de honra.
30. Uma ou duas moças, a cada homem? — Jovens donzelas
sempre formavam parte do despojo de guerra dos vencedores orientais.
Mas a mãe de Sísera desejava para ele outros despojos: roupas ricamente
bordadas em ouro, que eram muito estimadas. A ode termina com a
expressão de um desejo de acordo com o caráter piedoso e patriótico da
profetisa.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 20
Juízes 6

Vv. 1-6. OS ISRAELITAS PELOS SEUS PECADOS SÃO


OPRIMIDOS PELOS MIDINITAS.
1. o SENHOR os entregou nas mãos dos midianitas — Não
ensinados por suas experiências anteriores, os israelitas apostataram
novamente, e pecados novos foram seguidos de novos juízos. Midiã
tinha recebido um forte revés no tempo de Moisés (Nm_31:1-18), e, sem
dúvida, a lembrança daquele desastre inflamava ainda seu ressentimento
contra Israel. Eram eles pastores itinerantes, chamados “filhos do
Oriente”, pois ocupavam o território a leste do Mar Vermelho, contíguo
a Moabe. As incursões e saques que naquele tempo faziam no território
dos israelitas, eram similares aos das tribos beduínas de hoje, que
ameaçam os pacíficos agricultores, e se não tiverem algum acordo com
eles, voltam cada ano em certa época, e levam o grão, roubam o gado e
outras propriedades mutáveis, e até a própria vida corre perigo em mão
destes saqueadores. A vasta horda de midianitas que faziam incursões
em Canaã, era o maior açoite que afligia os israelitas.
2. fizeram estes para si, por causa dos midianitas, as covas que
estão nos montes — Não as cavaram, porque já estavam, mas as fizeram
habitáveis.

Vv. 7-10. UM PROFETA OS REPREENDE.


8. enviou o SENHOR um profeta aos filhos de Israel (RC) — O
castigo de sua calamidade nacional autoritativamente se atribui à sua
infidelidade.

Vv. 11-16. UM ANJO ENVIA GIDEÃO A LIBERTÁ-LOS.


11. Então, veio o Anjo do SENHOR — Apareceu sob o caráter e
aspecto de viajante (Jz_6:21), quem se acomodou à sombra para
refrescar-se e descansar, e travando conversação com Gideão sobre o
tema que ocupava a atenção do momento, a onerosa opressão dos
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 21
midianitas, começou a animar a Gideão a exercer sua bem conhecida
proeza para bem de seu país. Ao responder, primeiro Gideão lhe aplicou
o termo equivalente (em hebraico) a “senhor”, mas depois, deu-lhe um
nome geralmente dado a Deus.
do carvalho — Heb., o carvalho, famoso mais tarde.
Ofra — Cidade da tribo de Manassés, cerca de 25 kms, a norte de
Jericó, no distrito pertencente a Abiezer (Js_17:2).
seu filho, estava malhando o trigo no lagar — Este incidente diz
enfaticamente a história da situação premente do povo. A pequena
quantidade do grão que estava debulhando, indicada pelo uso do malho
em vez de fazê-lo pisar pelo gado, o lugar inusitado perto do lagar, sob
uma árvore e sobre a mesma terra, e não sobre um piso de madeira, com
o fim de não fazer ruído—todas estas circunstâncias revelam o extremo
temor em que vivia o povo.
13. Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?
— A linguagem de Gideão demonstra falta de reflexão, porque os
mesmos castigos que Deus havia trazido sobre o Seu povo,
demonstravam Sua presença e o Seu interesse neles.
14. se virou o SENHOR para ele e disse: Vai nessa tua força ...
não te enviei eu? — O mandado e a promessa levaram ao conhecimento
de Gideão o caráter verdadeiro de seu visitante, e, entretanto, como
Moisés, por um sentimento de humildade e temor perante a magnitude
da empresa, desculpou-se de fazer semelhante tentativa. E mesmo
quando estava seguro de que com a ajuda divina, venceria os midianitas
tão facilmente como se fossem um só homem, ainda vacilava e queria
assegurar-se melhor de que a missão era realmente da parte de Deus.
assemelhava-se a Moisés também em seu desejo de ver um sinal; e em
ambos os casos foi o raro da revelação em tais períodos de corrupção
geral, o que os fez desejar ter o convencimento mais completo de que
eram avisados por um mensageiro celestial. A petição era razoável, e foi
bondosamente concedida [Jz_6:18].
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 22
Vv. 17-32. O PRESENTE DE GIDEÃO, CONSUMIDO PELO FOGO.
18. Rogo-te que daqui não te apartes até que eu volte, e traga a
minha oferta — Heb., minha mincha, ou oferta de carne. Sua ideia
provavelmente foi comprovar por meio da participação da comida, se seu
visitante era mais que homem.
19. Entrou Gideão e preparou um cabrito e bolos asmos de um
efa de farinha; a carne pôs num cesto, e o caldo, numa panela —
(Veja-se Gn_18:7). A carne parece ter sido assada, o que se fazia
cortando-a em kobab, quer dizer, em pedacinhos, e pondo-a num
assador, colocava-se perto do fogo. O caldo era para consumo imediato,
e a carne trazida num cesto era para o futuro consumo do viajante. O
fogo milagroso que a consumiu, e o desaparecimento do visitante, não se
afastando a pé, e sim como espírito no fogo, encheu a Gideão de
assombro e temor. Um conhecimento interior de demérito enche o
coração de todo homem caído ao pensar em Deus; e este sentimento era
mais profundo pela crença em tempos antigos, de que quem visse um
anjo morreria imediatamente. A aceitação do sacrifício de Gideão dava
prova da aceitação de sua pessoa; mas fazia falta uma segurança
expressa da bênção, dada de algum modo desconhecida, para lhe
devolver consolo e paz de coração.
24-32. Naquela mesma noite, lhe disse o SENHOR — A
transação em que Gideão está descrito aqui como ocupado, não sucedeu
senão na noite depois da visão do anjo.
25. Toma um boi que pertence a teu pai, a saber, o segundo boi
— Os midianitas talvez tinham reduzido a porção da família; ou, como o
pai de Gideão era viciado na idolatria, o melhor touro tinha sido
engordado para o serviço de Baal; de maneira que o segundo seria o
único apto para o sacrifício a Deus.
derriba o altar de Baal que é de teu pai — posto em sua terra,
mas para o uso comum do povo da aldeia.
corta o poste-ídolo que está junto ao altar — Dedicado a
Astarote. Com a ajuda de dez servos de confiança, demoliu o altar, e
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 23
levantou sobre o lugar designado outro altar ao Senhor; mas, por temor à
oposição, o trabalho devia ser feito sob as sombras da noite. No dia
seguinte levantou-se uma comoção violenta, e juraram se vingar de
Gideão. “Jeoás seu pai tranquilizou à turba de maneira similar a que
utilizou o secretário da cidade de Éfeso. Não lhes cabia tomar o assunto
em seus mãos. Alguém, entretanto, apelou ao magistrado; o outro ao
próprio ídolo”. (Chalmers).

Vv. 33-39. OS SINAIS.


33. todos os midianitas … se acamparam no vale de Jezreel —
As tropas confederadas de Midiã, Amaleque e seus vizinhos, cruzaram o
Jordão, para fazer uma nova incursão na Palestina, e acamparam nas
planícies de Esdralom (antigamente Jezreel). A parte sul de Ghor está
num nível muito baixo, de sorte que há uma baixada rápida e difícil em
Canaã, pelos wadis do sul. Lembrando isto, vemos por que o exército
midianita, do este, entrou em Canaã pelos wadis do norte de Ghor, diante
de Jezreel.
34. o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão — Chamado nesta
emergência ao serviço de seu país, foi investido milagrosamente de
sabedoria e energia de acordo com a magnitude do perigo e as
dificuldades de sua posição. Seu grito de guerra foi obedecido
entusiastamente pelas tribos vizinhas. Em vésperas de tão perigosa
empresa, buscou fortificar sua mente com uma nova segurança do
chamado divino para um ofício de tanta responsabilidade. O milagre da
porção de lã na eira foi notável, especialmente, considerando nós os
abundantes orvalhos que caem naquele país. A divina paciência e
condescendência se veem na mudança de um estado para outro do
milagre. Parece que o próprio Gideão estava consciente de atrair o
desfavor de Deus por sua vacilação e dúvida; mas Deus tem paciência
com as fraquezas de Seu povo.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 24
Juízes 7

Vv. 1-8. O EXÉRCITO DE GIDEÃO.


1. Jerubaal — Este tinha vindo a ser o honorável apelido de
Gideão, “o inimigo de Baal”.
fonte — antes, “manancial de Harode”, “temor, tremor”—
provavelmente o mesmo que a fonte de Jezreel (1Sm_29:1). Estava
situado não longe de Gilboa, nos limites de Manassés, e o nome
“Harode”, lhe foi dado com evidente referência ao pânico que se
apoderou da maioria das tropas de Gideão. O exército dos midianitas
estava no lado setentrional do vale, aparentemente mais abaixo no
declive rumo ao Jordão, perto de uma pequena altura.
2. Disse o SENHOR a Gideão: É demais o povo que está contigo
— Embora o exército israelita contasse com apenas 32.000, que era a
sexta parte do exército midianita, o número era muito, porque o
propósito de Deus era ensinar a Israel uma lição memorável de
dependência dEle.
3. Apregoa, pois, aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for
tímido e medroso, volte — Esta proclamação foi em termos de lei
estabelecida (Dt_20:8).
4. povo demais — Foram ordenadas duas diminuições, a última por
uma prova conhecida só por Gideão.
5. Fez Gideão descer os homens às águas — As pessoas nômades
da Ásia, quando estão viajando ou com pressa, e chegam à água, não se
ajoelham para beber, antes se agacham o suficiente para pôr a sua mão
em contato com a corrente, e levantá-la rapidamente,—e o fazem com tal
destreza que não perdem uma gota. Parece que os israelitas estavam
acostumados a esta prática; os que a adotaram nesta ocasião, foram
escolhidos como aptos para uma obra que demandava presteza; outros
foram despachados por ordem divina.
7. disse o SENHOR a Gideão: Com estes trezentos homens que
lamberam a água eu vos livrarei — É difícil imaginar uma prova mais
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 25
severa que a ordem de atacar as forças esmagadoras do inimigo com tal
punhado de seguidores. Mas foi firme a fé de Gideão na divina
segurança de vitória, e é por isso que ele é tão altamente louvado
(Hb_11:32).
8. Estava o arraial dos midianitas abaixo dele, no vale — A
atenção à posição relativa de ambas as partes é de grande importância
para poder entender o que segue.

Vv. 9-15. É ANIMADO PELO SONHO E PELA INTERPRETAÇÃO


DO PÃO DE CEVADA.
9-10. Levanta-te e desce contra o arraial … Se ainda temes
atacar, desce tu com teu moço Pura ao arraial — Em tempos antigos
não se considerava degradante que as pessoas da categoria mais alta
agissem como espiões no campo do inimigo. Assim fez Gideão nesta
ocasião. Esta missão foi ordenada por Deus, que queria que Gideão
ouvisse algo que animasse a ele e a sua tropa.
11. até os postos avançados dos homens armados que estavam
no acampamento (RSV) — “armados”, quer dizer incorporados sob os
cinco oficiais estabelecidos pelas leis e costumes comuns dos
acampamentos. O acampamento parece ter estado sem defesas, pois
Gideão não teve dificuldade em chegar até ali e escutar uma
conversação.
12. Os midianitas, os amalequitas e todos os povos do Oriente
cobriam o vale como gafanhotos em multidão; e eram os seus
camelos em multidão inumerável — Uma descrição gráfica de um
acampamento árabe. Estavam envoltos em sonho, ou descansando da
pilhagem do dia, com seus camelos em redor.
13. Tive um sonho. Eis que um pão de cevada rodava contra o
arraial dos midianitas — Este foi um sonho característico e muito
expressivo para um árabe em tais circunstâncias. O rodar colina abaixo e
dar com as tendas e as transtornar, naturalmente bastante o associava em
sua mente com a posição e o esperado arremesso do capitão israelita. A
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 26
circunstância do pão também tinha o seu significado. A cevada
usualmente era o alimento dos pobres e dos animais; mas provavelmente
pela destruição das colheitas pelos invasores, as multidões estavam
reduzidas às rações escassas e pobres.
15. Tendo ouvido Gideão contar este sonho e o seu significado,
adorou — O incidente teve sua origem na suprema providência de Deus,
e Gideão, por sua expressão de gratidão, assim o considerou. Em sua
mente como na de seus seguidores, produziu o efeito desejado, o de
repartir novo ânimo e impulso a seu patriotismo.

Vv. 16-24. SUA ESTRATÉGIA CONTRA MIDIÃ.


16. repartiu os trezentos homens em três companhias — O
objetivo ao dividir suas forças foi para que parecesse que estavam
envolvendo ao inimigo. Os cântaros estavam vazios para esconder as
tochas, e eram de barro, fáceis de romper-se. A repentina labareda das
luzes levantadas ao alto, o forte eco das trombetas e a gritaria de Israel,
sempre terrível (Nm_23:21), e agora mais terrível que nunca por
palavras tão surpreendentes, romperam a paz da meia-noite; e os que
estavam adormecidos despertaram. Israel não deu nenhum golpe, mas o
inimigo se pôs a correr tumultuosamente, lançando os gritos selvagens e
discordantes tão peculiares da raça árabe. Pelejaram indistintamente, sem
conhecer inimigo nem amigo. Sendo o pânico geral, logo fugiram
precipitadamente, dirigindo sua fuga rumo ao baixo Jordão, ao pé das
montanhas de Efraim, aos lugares chamados “casa de acácia” [Bete-Sita]
e “pradaria de dança” [Abel-Meolá].
23. Foram convocados os homens de Israel (TB) — Estes eram
evidentemente os que tinham sido despedidos, aqueles que tendo
esperado a certa distância da cena de contenda, agora com entusiasmo se
unem à perseguição rumo ao sudoeste pelo vale.
24. Gideão enviou mensageiros a todas as montanhas de Efraim
— Os efraimitas estavam ao sul e facilmente podiam prestar ajuda
oportuna.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 27
Descei de encontro aos midianitas ... pelas águas do Jordão até
Bete-Bara — (veja-se Jz_3:28) — Esses eram os vaus setentrionais do
Jordão, ao esteja-nordeste do wadi Maleh.
Foram convocados todos os homens de Efraim, e tomaram as
águas até Bete-Bara—Ocorreu um novo conflito, no qual foram
capturados dois chefes de pouca importância, e foram mortos nos esmos
lugares aonde foram capturados. Os lugares receberam os nomes destes
chefes: Orebe, “o Corvo”, e Zeebe, “o Lobo”, nomes apropriados para os
chefes árabes.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 28
Juízes 8

Vv. 1-9. OS EFRAIMITAS OFENDIDOS, MAS CONCILIADOS.


1. os homens de Efraim disseram a Gideão: Que é isto que nos
fizeste ...? — Não se pode precisar quando foi feita a queixa, se antes ou
depois de cruzar o Jordão. Pela derrota do inimigo nacional, os
efraimitas se beneficiaram tanto como qualquer das tribos vizinhas. Mas
ofendidos por não terem participado da glória da vitória, os homens
principais não puderam fazer calar sua vaidade ferida. A ocasião só
serviu para tirar a luz os velhos sentimentos de rivalidade ciumenta que
persistia entre as tribos (Is_9:21). O descontentamento foi sem
fundamento, porque Gideão agiu segundo ordens divinas, e, além disso,
como a tribo deles era limítrofe com a de Gideão, eles poderiam ter
oferecido voluntariamente seus serviços num movimento contra o
inimigo comum, se tivessem estado inspirados pela mesma chama de
zelo patriótico.
2, 3. ele lhes disse: Que mais fiz eu, agora, do que vós? — Sua
resposta mansa e verdadeiramente modesta manifesta o espírito de um
grande homem bom, que soube se manter calmo e tranquilo em meio a
cenas agitadoras. Conseguiu lançar azeite em águas turvas (Pro_16:1), e
não admira, porque na maior abnegação de si mesmo, ele atribui a seus
irmãos queixosos uma porção de mérito e glória que pertencia a ele
mesmo (1Co_13:4; Fp_2:3).
4. Vindo Gideão ao Jordão, passou com os trezentos homens —
exaustos, mas ansiosos para continuar a perseguição até completar a
vitória.
5. disse aos homens de Sucote — quer dizer, um lugar de carpas
ou tendas. O nome parece que se aplicava a toda a parte este e oeste do
vale do Jordão, pertencente à tribo de Gade (cf. Gn_33:17; 1Rs_7:46,
com Js_13:27). Ocupado como estava na causa comum de todo o Israel,
ele tinha direito a esperar o apoio e alento de seus compatriotas em todas
as partes.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 29
6. os príncipes de Sucote disseram: Porventura, tens já sob teu
poder o punho de Zeba e de Salmuna — Resposta insolente e
complacente; insolente, porque indicava um insulto amargo de que
Gideão tinha confiança numa vitória, a qual eles criam que não ganharia;
e complacente, porque sendo vizinhos dos chefes midianitas, temiam a
futura vingança destes nômades. Esta maneira sarcástica de comportar-se
era cruel e vergonhosa em gente de sangue israelita.
7. trilharei a vossa carne com os espinhos do deserto e com os
abrolhos — Tortura cruel a qual submetiam os prisioneiros de guerra em
tempos antigos, pondo espinhos e abrolhos contra seus corpos despidos,
e apertando-os com implementos pesados colocados em cima deles.
8. subiu a Penuel e de igual modo falou a seus homens — Cidade
vizinha, situada também no território de Gade, perto de Jaboque, e
honrada com este nome por Jacó (Gn_32:30-31).
9. dizendo: Quando eu voltar em paz, derribarei esta torre —
Atento à perseguição e temeroso de perder tempo, adiou a vingança
merecida até sua volta. Sua esperança de uma volta triunfal, demonstra a
firmeza de sua fé, e sua ameaça específica foi provocada provavelmente
por alguma jactância orgulhosa, de que em sua alta torre de vigia os de
Penuel poderiam desafiá-lo.

Vv. 10-27. ZEBA E SALMUNA VENCIDOS.


10. Estavam, pois, Zeba e Salmuna em Carcor — Aldeia nos
limites orientais de Gade. Os destroços do exército midianita se
detinham ali.
11. Subiu Gideão pelo caminho dos nômades — Ele seguiu as
pisadas dos fugitivos através das montanhas de Gileade a nordeste do
Jaboque, e ali os surpreendeu, enquanto descansavam seguros entre suas
próprias tribos nômades. Jogbeá deve ser Ramote de Gileade; e portanto
os midianitas devem ter achado refúgio em ou perto de Abela, “Abel-
Queramim” [Jz_11:33], a planície dos vinhedos.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 30
12. Fugiram Zeba e Salmuna; porém ele os perseguiu—Teve
lugar um terceiro conflito. Sua chegada a seu último quartel, por um
caminho pouco conhecido, tomou-os de surpresa, e ali se completou a
conquista da horda midianita.
13. Voltando, pois, Gideão, filho de Joás, da peleja, pela subida
de Heres. — Deve ter voltado para Sucote por uma rota mais curta,
porque o que a versão RC traduz como “antes do nascer do sol”,
significa “as colinas de Heres”, “colinas do sol”.
14. deu por escrito — Escreveu os nomes dos setenta príncipes ou
anciãos de Sucote, dos quais Gideão tinha recebido um trato inóspito.
16. E tomou os anciãos da cidade, e espinhos do deserto, e
abrolhos e, com eles, deu severa lição aos homens de Sucote. — Por
negar a seus soldados refrigério, eles tinham cometido um crime público
como também um ato de crueldade, pelo qual foram submetidos a um
castigo horrível, como provavelmente ocorreu pela grande abundância, e
tamanho dos espinhos e a finura da roupa no Oriente.
18. Depois disse a Zeba e a Salmuna: Que homens eram os que
matastes em Tabor? — Esta foi uma das atrocidades que os chefes
midianitas tinham cometido durante seus sete anos de ocupação ilegal da
terra, e se leva em conta agora pela primeira vez, quando sua sorte estava
prestes a decidir-se.
Como tu és, assim eram eles; cada um se assemelhava a filho de
rei — Uma expressão oriental para dizer: grande beleza, aparência
majestosa, força pouco comum e grandeza de forma.
19. Eram meus irmãos, filhos de minha mãe — quer dizer,
irmãos uterinos; mas em todos os países onde prevalece a poligamia,
“filho de minha mãe” quer dizer uma intimidade de parentesco, e um
grau de afeto, que não pertence ao fim mais amplo “irmão”.
20. disse a Jéter, seu primogênito: Dispõe-te e mata-os — O
parente mais próximo era o vingador de sangue; mas o magistrado
poderia ordenar a qualquer ume fizesse o trabalho de verdugo, e a pessoa
escolhida era sempre da mesma categoria da pessoa condenada a morrer
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 31
(1Rs_2:29). Gideão quis por esta ordem conferir uma honra a seu filho,
empregando-o em matar a dois inimigos de sua pátria; e ao o filho
declinar a honra, Gideão mesmo cumpriu a obra.
22, 23. os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre
nós, tanto tu como teu filho … Porém Gideão lhes disse: … o
SENHOR vos dominará — Sua admiração infinita e sua gratidão, no
entusiasmo do momento, os moveram a levantar o libertador a um trono
e a estabelecer uma dinastia real em sua casa. Mas Gideão conhecia
muito bem, e reverenciava os princípios da teocracia para não levar em
consideração o oferecimento nem por um momento. Ele sacrificou
alegremente toda ambição pessoal e familiar, para cumprir o seu dever, e
todo móvel terrestre foi suprimido pelo supremo acatamento à honra
divina. Com prazer serviria como juiz, mas só o Senhor seria Rei de
Israel.
24. Disse-lhes mais Gideão: Um pedido vos farei — Esta foi que
contribuíssem com os brincos de ouro, porque, como os antigos árabes
(ismaelitas e midianitas, são termos sinônimos, Gn_37:25,28) usavam
adornos magníficos com pérolas e ouro, uma imensa quantidade de tão
valioso despojo tinha caído em mãos dos soldados israelitas. A
contribuição foi feita liberalmente, e a quantidade de ouro contribuído se
calcula em 3.113 libras esterlinas.
26. argolas de ouro — Pranchas em forma de meia-lua suspensas
dos pescoços dos camelos.
púrpura — cor régia. Os árabes antigos como os modernos
adornavam os pescoços, peitos e pernas de seus animais de montar com
suntuosos ornamentos.
27. Desse peso fez Gideão uma estola sacerdotal e a pôs na sua
cidade, em Ofra — Que não houve propósito de uso idolátrico, nem
pensamento de divisão de Siló, é evidente pelo v. 33. Gideão propôs,
com o ouro recebido, fazer uma estola sacerdotal somente para seu uso
como magistrado civil, como o fez Davi (1Cr_15:27), e também um
magnífico peitoral. Parece pela história que ele não era culpado de fazer
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 32
a estola sacerdotal, etc., como objeto ou ornamento civil meramente, mas
sim depois veio a ser um objeto ao qual se atribuíam ideias religiosas;
pelo qual se tornou ser um laço e conseguintemente um mal, por
perversão, a Gideão e sua casa. (Taylor, Fragments).

V. 28. MIDIÃ SUBJUGADO.


Assim, foram abatidos os midianitas diante dos filhos de Israel
— A invasão das hordas árabes em Canaã foi tão alarmante e desoladora
como a irrupção dos hunos na Europa. Foi o açoite mais severo jamais
infligido sobre Israel; e tanto ela como a libertação por Gideão viveram
por séculos na mente do povo (Sal_83:11).
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 33
Juízes 9

Vv. 1-6. ABIMELEQUE É FEITO REI PELOS SIQUEMITAS.


1. Abimeleque, filho de Jerubaal, foi-se a Siquém — A idolatria
que tinha estado entrando secretamente em Israel nos últimos anos de
Gideão, agora se professava abertamente. Siquém estava habitada
completamente por seus partidários; pelo menos os idólatras estavam no
poder. Abimeleque, um dos muitos filhos de Gideão, tinha vínculos com
o lugar, e ambicionava poder ser soberano. Tendo usado com êxito as
artes de demagogo com seus parentes maternos e amigos, conseguiu
tanto a influência como o dinheiro para subir ao trono.
aos irmãos de sua mãe, e falou-lhes e a toda a geração da casa
do pai de sua mãe — Aqui vemos um caso notável dos males da
poligamia: um filho tem conexões e interesses completamente alheios
aos de seus irmãos.
2. Que vos parece melhor: que setenta homens, todos os filhos
de Jerubaal, dominem sobre vós ou que apenas um domine sobre
vós? — Uma insinuação falsa, ideada para despertar ciúme e alarme.
Gideão mesmo rejeitou com horror a oferta de se tornar ele mesmo, ou
alguém de sua casa, rei, e não há evidência de que algum de seus filhos
cobiçasse o título.
4. casa de Baal-Berite — a casa ou o lugar onde se adorava o
ídolo; Baal-Berite, “deus da aliança,” por invocação do qual foi formada
a liga de cidades.
alugou Abimeleque uns homens levianos e atrevidos, que o
seguiram — Vagabundos, ociosos, inúteis, a escória da sociedade,
aqueles que não tinham nada a perder, mas muito a ganhar num
movimento revolucionário.
5. Foi à casa de seu pai, a Ofra, e matou seus irmãos … sobre
uma pedra — Esta é a primeira menção de uma atrocidade que, com
uma frequência espantosa, foi perpetrada nos países despóticos do
Oriente: que algum filho do monarca falecido usurpasse o trono, e se
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 34
apressasse a confirmar-se na possessão do trono, pela matança de todos
os possíveis competidores naturais ou legítimos. Abimeleque matou a
seus irmãos sobre uma pedra, ou despenhando-os de uma rocha, ou
sacrificando-os sobre um altar de pedra, em vingança pela demolição do
altar de Baal por seu pai. Esta opinião é a mais provável pelo fato de que
os siquemitas (v. 24) ajudaram nisso.
setenta homens — Usa-se número redondo, mas é evidente que
faltam dois para completar esse número.
6. todos os cidadãos de Siquém e toda Bete-Milo — quer dizer,
um aterro ou baluarte, de modo que o sentido é: todos os homens na casa
ou templo; quer dizer, os sacerdotes de Baal.
proclamaram Abimeleque rei, junto ao carvalho memorial —
antes, ao lado de um carvalho perto de um aterro elevado, de modo que a
cerimônia pudesse ser vista por toda a multidão.

Vv. 7-21. JOTÃO MEDIANTE UMA PARÁBOLA OS REPREENDE.


7. Jotão foi, e se pôs no cimo do monte Gerizim, e em alta voz
clamou — O lugar que ele escolheu, foi como os terraços que eram o
lugar público de Siquém; e a parábola [Jz_9:8-15] é tirada da rivalidade
das diferentes árvores, e estava de acordo com a diversidade da folhagem
que havia no vale que estava abaixo. Os orientais são muito amantes das
parábolas, e as usam para expressar repreensões, que não se atreveriam a
expressar de outra maneira. O cimo do Gerizim não é tão eminente
depois da aldeia, pois está mais perto da planície. Com pouco esforço da
voz, Jotão podia se fazer ouvir pelos habitantes da cidade; porque a
colina se sobressai do vale de tal maneira que uma pessoa que estivesse
no cimo não teria dificuldade em falar com auditores que estivessem no
sopé. A história registra um caso em que soldados que estavam na
mesma colina davam vozes às pessoas da cidade, tratando de incitar uma
sublevação. Há algo na atmosfera variável do clima oriental que lhe
permite transmitir o som com maravilhosa rapidez e clareza. (Hackett)
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 35
13. vinho, que agrada a Deus e aos homens — Certamente não da
mesma maneira. Deus poderia alegrar-se nele, quando os sacrifícios
fossem aceitos, assim como se diz que Ele é honrado pelo óleo (v. 9).
21. Fugiu logo Jotão, e foi-se para Beer — A aldeia moderna El-
Bireh, situada sobre o topo que limita com a parte setentrional de
Jerusalém, que está em projeto.

Vv. 22-49. A CONSPIRAÇÃO DE GAAL.


22. Havendo, pois, Abimeleque dominado três anos sobre Israel
— Seu reinado, provavelmente no princípio, não se estendia para além
de Siquém, mas por usurpações secretas e progressivas submeteu a seu
domínio algumas cidades vizinhas. Ninguém podia “reinar” em Israel
senão por usurpação sediciosa, e portanto o reinado de Abimeleque se
expressa no original por uma palavra que significa “despotismo”, e não o
que descreve o governo moderado e divinamente autorizado do Juiz.
23. suscitou Deus um espírito de aversão entre Abimeleque e os
cidadãos de Siquém — quer dizer, segundo os planos divinos,
apareciam entre os súditos desenganados e desgostados por sua tirania,
ciúme, desconfiança, deslealdade secreta e rebelião latente e Deus
permitiu que estas desordens castigassem os complicados crimes do real
fratricida e usurpador idólatra.
26. Gaal … com seus irmãos, e se estabeleceram em Siquém; e
os cidadãos de Siquém confiaram nele — Uma insurreição dos
cananeus originais, encabeçada por este homem, finalmente estalou em
Siquém.
28-45. Quem dera estivesse este povo sob a minha mão (v. 29) —
Parece ter sido homem jactancioso, impudente e covarde, totalmente
incapaz de ser cabeça numa crise revolucionária. O resultado foi que
caiu numa cilada, foi derrotado, e a cidade de Siquém destruída e
semeada com sal. O povo se refugiou na cidadela, a que foi incendiada, e
pereceram todos os que estavam dentro.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Vv. 50-57. ABIMELEQUE MORTO.
50. Então, se foi Abimeleque a Tebes, e a sitiou — Agora
chamado Tubas, não muito longe de Siquém.
51. e todos os homens e mulheres, todos os moradores da
cidade, se acolheram a ela — As fortalezas cananeias eram geralmente
lugares fortes nas montanhas, e com frequência tinham torres fortes que
serviam como refúgios finais. Os baixos relevos assírios produzem
duplicados da cena aqui descrita, tão vívidos e exatos, que quase
poderíamos considerá-los representações dos mesmos acontecimentos.
As cidades sitiadas, a torre forte dentro, homens e mulheres amontoados
nas muralhas, o fogo consumindo as portas, e até grandes pedaços de
pedras que são jogadas da muralha sobre as cabeças dos atacantes, todo o
quadro fiel à realidade; assim como aqui se relata na verdade inspirada.
(Goss).
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 37
Juízes 10

Vv. 1-5. TOLA JULGA A ISRAEL EM SAMIR.


1. Depois de Abimeleque, se levantou, para livrar Israel, Tola —
quer dizer, para salvar. Era necessária uma libertação tanto da usurpação
intestina como da agressão estrangeira.
filho da Puá — Era tio de Abimeleque por parte de pai e, por
conseguinte, irmão de Gideão; entretanto, aquele era da tribo de Issacar,
e este de Manassés. Eram provavelmente irmãos uterinos.
habitava em Samir, na região montanhosa de Efraim — Como
lugar central fez dele sede de governo.
3. Jair, gileadita — Este juiz era pessoa distinta do vencedor
daquele território nordeste, e fundador de Havote-Jair, ou “aldeias de
Jair” (Nm_32:41; Dt_3:14, Js_13:3; 1Cr_2:22).
4. Tinha este trinta filhos, que cavalgavam trinta jumentos —
Este era um rasgo característico dos costumes orientais daqueles tempos;
e o obséquio de uma aldeia a cada um de seus 30 filhos era prova
evidente de que suas posses eram extensas. O ter trinta filhos não é prova
de que tivesse mais de uma esposa, e muito menos que tivesse várias ao
mesmo tempo. Havia neste país, casos de homens que tinham este
número de filhos com duas esposas sucessivas.

Vv. 6-9. ISRAEL OPRIMIDO PELOS FILISTEUS E AMONITAS.


6. Tornaram os filhos de Israel a fazer o que era mau perante o
SENHOR — Esta apostasia parece ter sobrepujado a todas as anteriores
na rudeza e generalidade da idolatria praticada.
7. filisteus … filhos de Amom — As incursões destruidoras destes
dois vizinhos hostis afetavam naturalmente as porções de território
respectivamente contíguas a eles. Mas os amonitas, animados com o
espírito de conquista, levavam suas armas através do Jordão, de modo
que as províncias centrais e meridionais de Canaã eram extensamente
desoladas.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 38
Vv. 10-15. CLAMAM A DEUS.
10. os filhos de Israel clamaram ao SENHOR, dizendo: Contra
ti havemos pecado — O primeiro passo do arrependimento é a confissão
de pecado, e a melhor prova da sinceridade do arrependimento é dada
pelo transgressor quando chora não só pelas consequências dolorosas a si
mesmo de seus ofensas, mas pelo mal atroz cometido contra Deus.
11, 12. o SENHOR disse aos filhos de Israel: Quando os egípcios
… não vos livrei eu das suas mãos? — As circunstâncias relatadas
nestes versículos e nos seguintes, provavelmente não foram ocasionadas
por meio do sumo sacerdote, cujo dever era o interpretar a vontade de
Deus.
12. maonitas — quer dizer, midianitas.

Vv. 16-18. ARREPENDEM-SE; DEUS LHES TEM MISERICÓRDIA.


16. E tiraram os deuses alheios do meio de si e serviram ao
SENHOR; então, se angustiou a sua alma por causa da desgraça de
Israel (RC) — Quando se arrependeram da idolatria e voltaram para a
pureza de culto, Deus generosamente cortou o tempo de aflições
nacionais, e restabeleceu tempos de paz.
17, 18. Tendo sido convocados os filhos de Amom — Da guerra
em forma de guerrilhas, os amonitas procederam a sustentar uma
campanha contínua. Seu propósito era o de tirar todo o território
transjordânico de seus atuais ocupantes, os israelitas. Nesta grande crise,
uma assembleia geral das tribos israelitas foi feita em Mispa. Esta Mispa
está em Manassés oriental. (Js_11:3).
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 39
Juízes 11

Vv. 1-3. JEFTÉ.


1. Jefté — “abridor”.
filho de uma prostituta — concubina, ou estrangeira; significando
uma classe inferior de casamento frequente no Oriente. Seja qual for a
desonra quanto ao seu nascimento, seu caráter nobre e enérgico logo o
tornaram pessoa de importância.
Gileade era o pai de Jefté (RSV) — Parece que seu pai pertencia à
tribo de Manassés (1Cr_7:14, 17).
2. Não herdarás em casa de nosso pai — Como havia filhos da
esposa legítima, o filho do casamento secundário não tinha direito a
parte alguma do patrimônio, e o título anterior dos outros era
indisputável. Então, como os irmãos de Jefté parece que lhe deram um
trato rude e violento, deve ter influenciado neles alguma má vontade
secreta.
3. Jefté … habitou na terra de Tobe — Ao norte de Gileade, para
além da fronteira do território hebreu (2Sm_10:6, 8).
homens levianos se ajuntaram com ele — Ociosos, atrevidos, ou
desesperados.
e com ele saíam — Seguiam-no como a chefe militar. Levavam
uma vida de saques, vivendo das frequentes incursões entre os amonitas
e outros povos vizinhos, ao estilo de muitos piratas de tempos
relativamente modernos. A mesma classe de vida levam muitos árabes e
tártaros ainda, aqueles que como chefes de bandos adquirem fama por
suas aventuras perigosas ou galantes, e tal vida não se considera
desonrosa, enquanto as expedições se dirijam contra os que estão fora da
própria tribo ou nação. A maneira de viver de Jefté era similar à de Davi,
quando foi expulso da corte de Saul.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 40
Vv. 4-11. OS GILEADITAS PACTUAM COM JEFTÉ.
4. Passado algum tempo — Na volta da estação.
pelejaram os filhos de Amom contra Israel—Tendo preparado o
terreno com a introdução de Jefté, o historiador sagrado segue o fio de
seu relato desde Jz_10:17. Os amonitas tinham invadido o país, e eram
inevitáveis as hostilidades ativas.
5, 6. foram os anciãos de Gileade buscar Jefté — A ele se
dirigiam todos os olhos como o único homem possuído das qualidades
necessárias para a preservação do país neste tempo de perigos
ameaçadores. Uma comissão, pois, dos homens principais, foi enviada
do acampamento hebreu em Mispa, para pedir os seus serviços.
7-9. Jefté disse aos anciãos de Gileade: Porventura, não me
aborrecestes a mim e não me expulsastes da casa de meu pai? —
Primeiro lhes deu uma recepção arrogante e fria. É provável que tenha
visto alguns de seus irmãos entre os comissionados. Jefté tinha agora a
oportunidade de pôr suas próprias condições ao trato. Com sua
experiência anterior, ele teria mostrado pouca sabedoria ou prudência,
se houvesse aceito o comando, sem comprometê-los clara e
especificamente a investi-lo com autoridade absoluta, muito
especialmente, porque ele ia expor sua vida por causa deles. Embora a
ambição até certo grau deva ter estimulado sua pronta aceitação, é
impossível não levar em conta o piedoso de sua linguagem, a qual
produz uma impressão favorável de que sua vida errante num ambiente
de costumes muito distintos aos nossos, não era incompatível com os
hábitos da religião pessoal.
10, 11. Responderam os anciãos de Gileade a Jefté: O SENHOR
será testemunha entre nós — Sendo seu oferecimento acompanhado
pelo juramento mais solene, Jefté lhes garantiu sua aceitação da missão e
sua vontade de acompanhá-los. Mas para estar “duplamente seguro”, ele
cuidou de que a promessa dada pelos embaixadores em Tobe, fosse
ratificada numa assembleia geral do povo em Mispa, e a linguagem do
historiador, — “Jefté proferiu todas as suas palavras perante o
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 41
SENHOR”,—parece indicar que seu instalação no caráter e
extraordinário ofício de Juiz foi solenizada por oração que pedia a
bênção divina, e por alguma cerimônia religiosa.

Vv. 12-28. SUA EMBAIXADA AO REI DE AMOM.


12. Enviou Jefté mensageiros ao rei dos filhos de Amom — Este
primeiro ato como juiz reflete o mais alto crédito de seu caráter quanto à
prudência, moderação, justiça e humanidade. Os generais mais valentes
sempre foram inimigos da guerra. Assim Jefté, cujo valor era
indisputável, resolveu não só fazer aparecer claramente que as
hostilidades lhe eram impostas, mas também tentar medidas para evitar,
se fosse possível, recorrer às armas. Ao seguir tal curso estava agindo
como era próprio de um príncipe de Israel (Dt_20:10-18).
13. Respondeu o rei dos filhos de Amom aos mensageiros de
Jefté: É porque, subindo Israel do Egito, me tomou a terra — (Veja-
se Dt_2:19-31). O tema da disputa foi a pretensão de direitos apresentada
pelo monarca amonita, às terras que estavam ocupando os israelitas. A
resposta de Jefté foi clara, decidida e incontestável: primeiro, que
aquelas terras não estavam em possessão dos amonitas quando seus
compatriotas tomaram, e que tinham sido adquiridas por direito de
conquista por parte dos amorreus [Jz_11:21]; segundo, que os israelitas
agora, por um lapso de 300 anos de possessão, tinham estabelecido um
direito prescrito à ocupação [Jz_11:22, 23]; terceiro, que tendo recebido
a doação delas da parte do Senhor, seus concidadãos estavam
autorizados a manter seu direito sob o mesmo princípio que guiou os
amonitas ao receber de seu deus Quemos o território que agora
ocupavam [Jz_11:24]. Esta declaração diplomática, tão admirável por
sua clareza e o poder de seus argumentos, terminou com uma solene
petição a Deus de que mantivesse, pelo resultado dos acontecimentos, a
causa da justiça e o direito [Jz_11:27].
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 42
28. Porém o rei dos filhos de Amom não deu ouvidos à
mensagem — Suas reconversões ao agressor foram ignoradas, e sendo
inevitável a guerra, fizeram-se preparativos para uma resistência tenaz.

Vv. 29, 30. O VOTO DE JEFTÉ.


29. o Espírito do SENHOR veio sobre Jefté — A sabedoria
tranquila, sua previsão sagaz e sua energia irresistível que ele pôde
demonstrar, eram promessa para ele mesmo e evidência convincente a
seus compatriotas de que ele estava capacitado com recursos superiores
aos seus próprios, para os deveres importantes de sua investidura.
atravessando este por Gileade e Manassés — As províncias mais
expostas e em mais perigo, com o propósito de levantar tropas e
despertar com sua presença um amplo interesse na causa nacional.
Voltando para o acampamento em Mispa, dali começou sua marcha
contra o inimigo, e ali fez um voto célebre, de acordo com um costume
antigo de que os generais, no princípio de uma guerra, ou em vésperas de
uma batalha, oferecessem a seus deuses uma oblação custosa ou
dedicassem algum despojo precioso, em caso de vitória. Os votos eram
um costume comum entre os israelitas. Eram alentados pela aprovação
divina como motivados por um espírito de piedade e gratidão, e na lei
havia regras estabelecidas para sua execução. Mas é difícil colocar o
voto de Jefté dentro dos limites legítimos (veja-se Lv_27:28).
31. quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro
— Isto evidentemente não indica um animal, porque poderia ter sido um
cão, o qual sendo impuro, não seria apto para oferecer; antes, indica
pessoa. Parece que desde o começo, ele pensava num sacrifício humano.
Como tinha vivido para além do Jordão, onde as tribos israelitas, longe
do tabernáculo, eram mais relaxadas em seus sentimentos religiosos, e
ultimamente nas fronteiras de países pagãos, onde eram comuns os
sacrifícios humanos, não é improvável que ele fosse tão ignorante para
crer que semelhante imolação seria aceitável a Deus. Sua mente absorta
na perspectiva de uma contenda de cujos resultados dependeria a sorte de
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 43
sua pátria, pôde ter considerado, pela influência das superstições, que a
dedicação do objeto mais caro a ele, seria mais apta para conseguir o
êxito.
será do SENHOR, e eu o oferecerei em holocausto — A adoção
da segunda partícula “ou”, que sugerem muitos intérpretes, introduz a
alternativa importante, de que se fosse pessoa, a dedicação seria para o
serviço do santuário; e se fosse animal ou coisa, seria devotado sobre o
altar.

Vv. 32, 33. ELE VENCE OS AMONITAS.


32. Jefté foi de encontro aos filhos de Amom, a combater contra
eles; e o SENHOR os entregou nas mãos de Jefté — Encontrou-os e
empreendeu batalha com eles em Aroer, cidade da tribo de Dã, sobre
Arnom. Uma vitória decisiva coroou as armas de Israel, e a perseguição
continuou até Abel (planícies dos vinhedos), do sul ao norte, sobre uma
extensão de 96 quilômetros.
34. Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu
encontro, com adufes e com danças — A volta do vencedor foi
saudado, como de costume, com a alegre aclamação de uma banda
feminina (1Sm_18:6), cuja dirigente era a filha de Jefté. O voto estava
fresco em sua mente, e é evidente que não tinha sido comunicado a
ninguém, de outra maneira, se tomariam precauções para colocar outro
objeto a sua porta. O grito e outros acompanhamentos de pesar incontido
parecem indicar que sua vida seria entregue como um sacrifício. A
natureza do sacrifício (que era contrária ao caráter de Deus) e a distância
do santuário, não bastam para invalidar esta ideia, que a linguagem e
todo o teor do relato claramente apoiam. Embora o lapso de dois meses
pôde ter proporcionado tempo para a reflexão e para um sentido melhor
de seu dever, há muitos motivos para concluir de que ele estava impelido
ao cumprimento dos ditados de uma consciência piedosa mas não
iluminada.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 44
Juízes 12

Vv. 1-3. OS EFRAIMITAS BRIGAM COM JEFTÉ.


1. foram convocados os homens de Efraim — Heb. “foram
convocados”.
passaram para o norte (RC) — Depois de cruzar o Jordão seu
rumo desde Efraim era, falando estritamente, rumo ao nordeste, em
direção a Mispa.
disseram a Jefté: Por que … não nos chamaste para ir contigo?
— Esta é uma nova manifestação do gênio ciumento, temerário e
irritável dos efraimitas. O motivo de sua ofensa desta vez foi pelo desejo
de manifestar seu patriotismo, embora não tivessem participado da glória
da vitória.
2. chamei-vos, e não me livrastes das suas mãos — A franca
resposta de Jefté demonstra que a acusação deles era falsa; sua queixa de
não serem tratados como confederados e aliados estava completamente
sem fundamento; e sua jactância de um desejo de prestar seus serviços,
veio por desgraça de um povo que a propósito tinha demorado sua
apresentação até que tinha passado a crise.
3. Vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha vida —
Uma forma comum de falar no Oriente que significa que se vai
empreender uma tarefa de perigo iminente. Isto tinha feito Jefté, tendo
encontrado e derrotado os amonitas, com a ajuda apenas de seus
voluntários gileaditas, e o Senhor o havia ajudado a vencer sem
necessitar da ajuda de outras tribos, por que deveriam sentir-se ofendidos
os efraimitas? Eles deveriam, antes, estar contentes e agradecidos de que
a guerra tivesse terminado sem que eles incorressem em seus afãs e
perigos.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 45
Vv. 4-15. CONHECIDOS PELA PALAVRA SIBOLETE, SÃO
MORTOS PELOS GILEADITAS.
4. os homens de Gileade feriram Efraim, porque este dissera:
Fugitivos sois de Efraim — As repreensões de Jefté, ainda que
razoáveis e moderadas, foram não só ineficazes mas também seguidas
por desprezos insultantes de que os gileaditas eram considerados pelos
manassitas e efraimitas do oeste como desterrados, como a escória de
sua estirpe comum. Isto se dirigia a um povo peculiarmente sensível, e
resultou imediatamente numa contenda. Os gileaditas, resolvidos a
castigar esta afronta pública, deram-lhes batalha; e tendo derrotado a
seus mal falados e covardes atacantes, os expulsaram do território; e indo
logo aos vaus do Jordão, detiveram e mataram a todos os fugitivos. O
método adotado para descobrir o efraimita foi por meio da pronúncia de
uma palavra naturalmente sugerida pelo lugar onde estavam. Chibolete
quer dizer arroio; Sibolete, carga. Parece que a tribo oriental tinha uma
pronúncia provincial no som de Chibolete, e os efraimitas não podiam
pronunciá-lo da mesma maneira.
7. Jefté ... morreu — depois de um governo de seis anos, este
valente e forte morreu; e ainda que para nós seja difícil entender algumas
passagens de sua história, foi classificado por autoridade apostólica entre
os ilustres da antiga dispensação. Sucederam-lhe uma série de juízes
menores, daqueles que não se conserva mais memória do que o número
de seus filhos e o estado deles [Jz_12:8-15].
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 46
Juízes 13

V. 1. ISRAEL SERVE AOS FILISTEUS QUARENTA ANOS.


o SENHOR os entregou na mão dos filisteus por quarenta anos
(RC) — Os israelitas foram representados (Jz_10:6, 7) como caídos num
estado de abjeta e confirmada idolatria, e como castigo desta grande
apostasia o Senhor suscitou inimigos que os perseguissem de várias
direções, especialmente os amonitas e filisteus. As invasões e derrota
daqueles foram narradas nos dois capítulos anteriores a este. Agora o
historiador sagrado passa a relatar as incursões deste outro povo. O
período da ascendência filisteia cobriu quarenta anos, contando do tempo
de Elom até a morte de Sansão.

Vv. 2-10. UM ANJO APARECE À ESPOSA DE MANOÁ.


2. Zorá. — Uma cidade danita (Js_15:33) situada na fronteira
comum de Dã e Judá, de modo que estava perto da fronteira filisteia.
3. o Anjo do SENHOR — O mensageiro da aliança, o divino
personagem que fez tantas aparições notáveis similares como já foram
descritas.
5. tu conceberás e darás à luz um filho — Este profetizado deve
ser nazireu, e a mãe, por amor a seu filho prometido, devia praticar a
rígida abstinência dos nazireus (veja-se Nm_6:3).
ele começará a livrar a Israel do poder dos filisteus — Esta foi
uma profecia alentadora para uma pessoa patriótica; os termos da
profecia, entretanto, indicavam que o período da libertação estava ainda
distante.
6-8. Então, Manoá orou ao SENHOR — Informado por sua
esposa da grata participação, o marido fez disso tema de ardente oração a
Deus; e este é um caso notável, que indica a conexão que Deus
estabeleceu entre a oração e o cumprimento de Suas promessas.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 47
Vv. 11-14. O ANJO APARECE A MANOÁ,
11. És tu o que falaste a esta mulher? — O intenso desejo de
Manoá de que se repetisse a visita do anjo, não foi motivado por dúvida
nem ansiedade de nenhuma sorte, mas sim foi fruto de uma fé viva e de
sua grande ansiedade de seguir as ordens dadas. “Bem-aventurados os
que não viram e creram”.

Vv. 15-23. O SACRIFÍCIO DE MANOÁ.


15. Manoá disse ao Anjo do SENHOR: Permite-nos deter-te, e
te prepararemos um cabrito. — O estrangeiro declinou a hospitalidade
oferecida, e intimou que se a carne tinha que ser uma oferta, teria que ser
apresentada ao Senhor [Jz_13:6]. Manoá necessitou esta instrução,
porque seu propósito era o de oferecer as comidas preparadas, não como
ao Senhor, nem como a um anjo, mas sim como ao que ele cria que fosse
(Jz_13:16), um profeta ou mensageiro meramente humano. Foi por isso,
e não como rejeitando honras divinas, que ele falou desta maneira a
Manoá. A linguagem do anjo foi similar à linguagem de nosso Senhor
(Mt_19:17).
17. Perguntou Manoá ao Anjo do SENHOR: Qual é o teu
nome? — A petição de Manoá produziu as provas mais inequívocas da
divindade de seu visitante sobrenatural: seu nome “maravilhoso”, e a
chama milagrosa que indicou a aceitação do sacrifício.

Vv. 24, 25. SANSÃO NASCE.


24. deu a mulher à luz um filho e lhe chamou Sansão — O
nascimento desta criança prometida, e o conhecimento dos serviços
nacionais que ele devia prestar, desde o início devem havê-lo feito objeto
de interesse peculiar e de ensino cuidadoso.
25. o Espírito do SENHOR passou a incitá-lo — Não talvez,
como moveu aos profetas, aqueles que estava encarregados de uma
mensagem inspirada, mas sim acendendo em seu peito juvenil um
espírito elevado e consagrado patriotismo.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 48
Estaol — a cidade livre, que como Zorá, estava no limite entre Dã e
Judá.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 49
Juízes 14

Vv. 1-5. SANSÃO DESEJA ESPOSA DAS FILISTEIAS.


1-2. Timna — agora Tibneh, cerca de quatro quilômetros e meio de
Zorá, o lugar de seu nascimento.
em Timna ele viu uma das filhas dos filisteus … tomai-a agora
para mim como minha esposa (RSV) — No Oriente os pais estavam
acostumados, e em muitos casos ainda, a resolver as alianças
matrimoniais de seus filhos. Durante o período de sua ascendência, os
invasores filisteus se assentaram nas cidades, e o relacionamento entre
eles e os israelitas era muitas vezes de caráter amigável e familiar, para
resultar em relações matrimoniais. Além disso, os filisteus não estavam
incluídos no número das sete nações malditas de Canaã [Dt_7:1-3] –
com as quais a lei proibiu que se casassem.
3. Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos —
Quer dizer, de sua própria tribo, mulher danita.
Disse Sansão a seu pai: Toma-me esta, porque só desta me
agrado — lit., “ela é idônea a meus olhos”; não por um belo rosto nem
por uma figura linda, mas sim porque era apta ou útil para seu propósito.
Isto lança luz sobre o comentário do historiador com relação à resistência
de seus pais: “não sabiam que isto vinha do SENHOR, pois este
procurava ocasião contra os filisteus”—antes, de parte dos filisteus, que
tivesse origem da parte deles. O Senhor, por meio de procedimentos
retributivos, estava prestes a destruir o poderio filisteu, e os meios que
pensava empregar, não eram as forças de um poderoso exército, como no
caso dos juízes anteriores, mas sim apenas a proeza milagrosa do
campeão de Israel. Em tais circunstâncias a provocação das hostilidades
poderia surgir de uma rixa particular, e este projeto matrimonial foi sem
dúvida sugerido pela influência secreta do Espírito como o meio melhor
para obter o resultado proposto.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 50
Vv. 5-9. ELE MATA UM LEÃO.
5. um leão novo — As solitárias passagens pelas montanhas de
Judá eram guaridas de animais selvagens, e a maioria ou todos os leões
mencionados nas Escrituras, eram daquela paragem silvestre. O matar e
despedaçar ao monstro, sem arma alguma na mão, foi feito mediante a
coragem e a força sobrenaturais que a influência ocasional do Espírito
lhe outorgou, e pelo exercício dos quais, em tais circunstâncias
particulares, ele se preparava para confiar nestes poderes para a obra
pública que estava por desempenhar.
7. Desceu e falou com a mulher (TB) — o contato entre jovens de
diferentes sexos é muito raro no Oriente, e geralmente se tem só depois
do compromisso.
8. Depois de alguns dias, voltou ele para a tomar —
provavelmente depois de um ano, o intervalo usual entre as cerimônias
do compromisso e o casamento. Este intervalo era usado pela noiva e
seus pais nos preparativos para as bodas. Ao tempo assinalado o noivo
voltava para tomá-la.
apartando-se do caminho para ver o corpo do leão morto, eis
que, neste, havia um enxame de abelhas com mel — Em semelhante
clima, os milhares de insetos e as aves de rapina, e com a influência dos
raios solares, em poucos meses poriam o corpo em tal estado que
convidaria a insetos tão limpos como as abelhas.

Vv. 10, 11. SUA FESTA DE CASAMENTO.


10. Seu pai desceu à casa da mulher (TB) — O pai é mencionado
como cabeça e representante da família de Sansão.
fez Sansão ali um banquete — as festividades matrimoniais
duravam uma semana. Os varões e as mulheres eram festejados em
compartimentos separados, a noiva e seus parentes femininos na casa do
pai, e Sansão com os varões em algum lugar conseguido para a ocasião,
pois ele era de outro lugar. Um grande número de paraninfos, ou
“amigos do noivo”, reunidos sem dúvida pela família da noiva, estavam
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 51
presentes, ostensivamente para honrar os esponsais, mas na realidade,
tinham ido espiar a conduta de Sansão.

Vv. 12-19. O ENIGMA DE SANSÃO.


12. Dar-vos-ei um enigma a decifrar — Os enigmas são uma
forma de entretenimento nas festas orientais, e se dão recompensas aos
que encontram as soluções. O enigma de Sansão, referia-se ao mel que
tirou do corpo do leão. O prêmio que ele ofereceu, consistia em trinta
sindinim, ou camisas, e trinta mudas de roupa, talvez de lã. Passaram três
dias em vãs tentativas de resolver o enigma. A semana festiva se
aproximava de seu fim, quando os homens buscaram secretamente a
ajuda da nova esposa, quem, tendo aprendido a solução, revelou-a a seus
amigos.
18. Se vós não lavrásseis com a minha novilha, nunca teríeis
descoberto o meu enigma — Metáfora tirada das atividades agrícolas,
nas que se usavam, e ainda se usam, não só bois mas também vacas e
novilhas, para arrastar os arados. Despojado da metáfora, o significado é
tomado por alguns em sentido criminal, mas provavelmente não queria
dizer senão que eles tinham buscado a ajuda de sua esposa, expediente
indigno, que seria considerado por pessoa de espírito menos nobre como
suficiente para o livrar da obrigação de cumprir sua parte no trato.

Vv. 19, 20. ELE MATA A TRINTA FILISTEUS.


19. desceu a Ascalom, matou trinta homens (TB) — Esta cidade
estava cerca de 48 quilômetros a oeste vindo pelo sudoeste de Timna; e
sua escolha deste lugar, ditada pelo Espírito divino, devia-se
provavelmente a sua amarga hostilidade para com Israel.
tomou os despojos (TB) — O costume de despir aos mortos era
desconhecida nas guerras hebreias.
20. a mulher de Sansão foi dada ao seu companheiro, que lhe
servira de paraninfo (TB) — i. e., “O amigo do noivo”, quem foi o
meio de comunicação entre ele e sua noiva durante as festas, e o fato de
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 52
ela o aceitar foi um ato de baixa traição, que não pôde menos que
provocar o ressentimento justo de Sansão.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 53
Juízes 15

Vv. 1, 2. É NEGADO A SANSÃO SUA ESPOSA.


1. nos dias da ceifa do trigo — quer dizer, pelo fim de abril ou
princípios de maio. Os feixes de grão já estavam em montões no campo
ou nos pisos de debulha. Era a estação da seca e o grão estava numa
condição facilmente combustível.
Sansão, levando um cabrito, foi visitar a sua mulher — É
costume no Oriente que o visitante leve algum presente. Neste caso
poderia entender-se não só como um ato de cortesia como também de
reconciliação.
dizia — para consigo mesmo. Foi seu propósito secreto.
na câmara — Os compartimentos de mulheres, ou harém.
2. E o pai dela disse: Eu realmente pensava que a aborrecias
(RSV) — Esta afirmação foi uma mera farsa, um pretexto fútil para
desculpar sua negativa de entrada. A proposta que fez de um casamento
com a irmã menor dela, foi um insulto a Sansão, pois um casamento
assim era ilegal para um israelita. (Lv_18:18).

Vv. 3-8. ELE QUEIMA O GRÃO DOS FILISTEUS.


3. Sansão lhe respondeu: Desta feita sou inocente para com os
filisteus — Esta conduta nefanda provocou a justa indignação do herói, e
ele resolveu vingar-se deles.
4. E saiu e tomou trezentas raposas — antes, chacais, um animal
entre lobo e raposa, distinto de nossa raposa, que é animal solitário, pois
aquele anda em manadas, e abunda nas montanhas da Palestina. Juntar
tão grande número requeria tempo e ajuda.
tomando fachos — Tochas que se queimariam devagar, retendo o
fogo muito tempo, mas que arderiam terrivelmente com o vento. Ele
colocou dois chacais juntos, cauda com cauda, e atou firmemente entre
eles uma tocha. Na caída da noite prendeu as tochas e enviou os chacais
para baixo desde as colinas a Sefelá, ou planície de Filístia, extenso
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 54
distrito celeiro, nas fronteiras de Dã e Judá. A dor causada pelo fogo
fazia com que os animais divagassem por uma larga extensão,
produzindo uma conflagração grande. Mas ninguém podia prestar ajuda
a seu vizinho, pois a devastação era geral e muito grande o pânico.
6. Quem fez isto? — O autor desta afronta, e a causa que provocou
semelhante desagravo, logo chegaram a conhecer-se, e os perdedores,
zangados pela destruição de suas colheitas, arrojando-se com tumultuosa
fúria à casa da mulher de Sansão, “queimaram a fogo a ela e o seu pai”.
Esta foi uma retribuição notável. Para evitar esta ameaça, ela tinha traído
a seu marido, e por aquela conduta ímpia, eventualmente se tinha
exposto a terrível sorte, que ela quis escapar [Jz_14:15].
7. Disse-lhes Sansão: Se assim procedeis, não desistirei
enquanto não me vingar — Os agricultores tinham sido instrumentos
para vingar as ofensas pessoais dele. Mas como juiz, divinamente
comissionado para livrar a Israel, sua obra de retribuição ainda não
estava terminada.
8. feriu-os com grande ferimento, perna juntamente com coxa
(RC) — Expressão proverbial que quer dizer: matança sem misericórdia.

Vv. 9-13. É PRESO POR HOMENS DE JUDÁ, E ENTREGUE


AOS FILISTEUS.
9. Os filisteus subiram — à terra elevada de Judá.
estenderam-se por Leí — agora El-Lekieh, terra que abunda em
penhas de pedra de cal. O objetivo desta expedição dos filisteus era o de
tomar a Sansão, em vingança pela grande matança que ele tinha feito
entre eles. Tendo em vista livrar a compatriotas de todo perigo dos
enfurecidos filisteus, ele se deixou atar e ser entregue preso em poder
deles. Gabando-se com alegria da próxima perspectiva de livrar-se de tão
formidável inimigo, eles foram encontrar se com ele. Por um repentino
acesso do Espírito, ele pôs em ação sua força sobre-humana, e achando
uma queixada de jumento fresca, agarrou-a, e sem outra arma, matou mil
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 55
homens, num lugar que ele chamou Ramate-Leí [v. 17]—“colina da
queixada”.
16. Com a queixada dum jumento, montões e mais montões,
com a queixada dum jumento matei mil homens (TB) — A
imperfeição do arma usada demonstra claramente que esta façanha foi
milagrosa, um “caso de força sobrenatural”, assim como o dom de
profecia é um caso de conhecimento sobrenatural. (Chalmers).
19. fendeu a cavidade que estava em Leí — Em Leí, tomando a
palavra como nome próprio, assinalando o lugar.
dela saiu água; tendo Sansão bebido, recobrou alento — Suas
forças esgotadas pelo esforço tão violento e prolongado, foram reparadas
pela bebida refrescante do manancial; e foi chamado
En-Hacoré — “fonte do que chama”, nome que lembra a
religiosidade do heroico campeão.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 56
Juízes 16

Vv. 1-3. SANSÃO ARRANCA AS PORTAS DE GAZA.


1. Gaza — Agora Guzzah, capital da maior das cinco cidades
principais dos filisteus, cerca de 24 quilômetros a sudoeste do Ascalom.
O objetivo desta visita a Gaza não se indica, e a menos que tenha ido
com disfarce, ele expôs sua vida perigosamente numa das fortalezas do
inimigo. Logo se soube que ele estava ali, e imediatamente se resolveu
detê-lo, mas crendo-se seguros de sua presa, os de Gaza adiaram a
execução de seu projeto até pela manhã.
3. Sansão esteve deitado até à meia-noite; então, se levantou, e
pegou ambas as folhas da porta da cidade com suas ombreiras —
Um montão ruinoso de alvenaria ainda destaca-se como o local da porta.
A porta foi provavelmente parte da muralha, e como esta ruína é “na
direção de Hebrom”, não é irrazoável a tradição.
pondo-as sobre os ombros; e levou-as para cima, até ao cimo do
monte que olha para Hebrom. — Aquele monte é El-Montar; mas
Hebrom nesta passagem quer dizer “as montanhas de Hebrom”; porque
de outra maneira, se Sansão tivesse deslocado dia e noite desde Gaza,
não teria podido na tarde do dia seguinte chegar até a vista de Hebrom. A
cidade de Gaza naqueles dias estava provavelmente a não menos de três
quartos de hora distante de El-Montar. O ter subido ao cimo desta colina,
com as pesadas portas com seus ferrolhos ao ombro foi uma façanha que
só um Sansão pôde realizar. (Van de Velde).

Vv. 4-14. DALILA SUBORNADA PELOS FILISTEUS.


4. se afeiçoou a uma mulher do vale de Soreque — O local deste
lugar não se conhece, nem se conhece claramente o caráter de Dalila.
Seu domicílio, seu caráter mercenário e seus carinhos sem carinho nos
fazem crer que era mulher licenciosa.
5. os príncipes dos filisteus — Os cinco governantes não
consideraram indignos os meios a fim de vencer a este inimigo nacional.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 57
Persuade-o e vê em que consiste a sua grande força — Eles
provavelmente se imaginavam que ele levava algum amuleto sobre sua
pessoa, ou que possuía algum segredo importante por meio do qual
conseguia forças hercúleas, e subornaram a Dalila, talvez com grande
recompensa, para que descobrisse o segredo. Ela tomou a seu cargo o
serviço, e fez várias tentativas, usando todas as suas artes de persuasão
ou carinhos nos momentos de bom humor, quando ele se mostrava mais
comunicativo, para lhe tirar o segredo.
7. Se me amarrassem com sete cordas de nervos (TB) — Caules
vegetais, usados agora em muitos países orientais como cordas ou sogas.
8. com as quais ela o amarrou (TB) — talvez de uma maneira
brincalhona, para saber se ele estava brincando ou se falava a sério.
9. Tinha ela no seu quarto interior homens escondidos —
Hebraico, traduzido literalmente: “na parte interior e mais secreta da
casa”.
10. Disse Dalila a Sansão — Para evitar despertar suspeitas, ela
deve ter deixado passar algum tempo antes de fazer esta nova tentativa.
12. cordas novas — Não se disse de que material estavam feitas; é
provável que fossem de vimes, como no caso anterior. O hebraico indica
que estavam torcidas, e as descreve como grossas e fortes.
13. Se teceres as sete tranças da minha cabeça — trança, que
como muitos no Oriente, estavam acostumados a tecer seu cabelo.
Trabalhar no tear era tarefa de mulheres, e o de Dalila parece ter estado
perto. O tear era de uma construção singela: o fio se metia na urdidura
com uma espátula de madeira, e a extremidade do tecido se sujeitava a
estacas fixas na parede. Enquanto Dalila estava sentada, ou agachada, a
seu tear, Sansão estava estendido no solo com sua cabeça sobre os
joelhos dela—postura muito comum no Oriente.
14. arrancou o pino e a urdidura da teia — quer dizer, com todo
o aparelho de tecer.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 58
Vv. 15-20. ELE É VENCIDO.
16. Importunando-o ela todos os dias com as suas palavras —
Embora estalada e humilhada, esta mulher vil resolveu perseverar, e
consciente de que ele estava completamente escravizado por sua paixão
por ela, atacou-o com uma série de artes aduladoras, até que enfim
descobriu o segredo desejado.
17. Se me fosse rapada a cabeça, ir-se-ia de mim a minha força
(TB) — Seus poderes hercúleos não provinham de seu cabelo, mas sim
de seu relacionamento peculiar com Deus como nazireu. Seus jubas sem
cortar eram um sinal de seu nazireado, e uma promessa da parte de Deus
de que seguiria tendo sua força sobrenatural.
19. tendo chamado um homem, mandou rapar-lhe as sete
tranças da cabeça — Não se sabe com segurança se os antigos hebreus
usavam o cabelo tão curto como os orientais de hoje. A palavra
empregada é às vezes a mesma que se usa para tosquiar ovelhas, e
portanto o instrumento usado pôde ter sido a tesoura.
20. ele não sabia ainda que já o SENHOR se tinha retirado dele
— Que espetáculo tão humilhante e doloroso! Privado das influências
divinas, degradado em seu caráter, e, entretanto, pela enfatuação de uma
paixão culpada, pouco consciente da miséria de sua condição de caído.

Vv. 21, 22. OS FILISTEUS O TOMARAM E LHE ARRANCARAM


OS OLHOS.
21. os filisteus pegaram nele, e lhe vazaram os olhos — A esta
cruel privação se submetia usualmente no Oriente os prisioneiros de alta
categoria e importância. O castigo aplicava-se de várias maneiras:
cavando os olhos, brocando-os, ou destruindo a vista aproximando ferros
quentes aos olhos. Sua condição de prisioneiro fazia-se duplamente
segura atando-o com cadeias de bronze, e não de couro, como a outros
cativos.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 59
e virava um moinho no cárcere — Moer com moinho de mão era
trabalho de escravas, e ele foi sujeito a isso, como a mais humilhante
degradação.
22. o cabelo da sua cabeça, logo após ser rapado, começou a
crescer — É provável que agora ele refletisse sobre sua loucura, e sendo
sinceramente penitente, renovou seu voto nazireu. “Seu cabelo crescia
com seu arrependimento, e suas forças à medida de seu cabelo” (Bispo
Hall).

Vv. 23-25. A FESTA A DAGOM.


23. os príncipes dos filisteus se ajuntaram para oferecer grande
sacrifício a seu deus Dagom — Era costume comum nas nações pagãs,
à volta de seus solenidades religiosas, tirar seus prisioneiros de guerra de
seu fechamento e escravidão, e, enchendo-os de toda sorte de
indignidades, oferecer seu tributo de agradecimento aos deuses por cuja
ajuda tinham triunfado sobre seus inimigos. Dagom era ídolo marítimo,
representado geralmente com a cabeça e as partes superiores como de
corpo humano, e o resto do corpo se assemelhava a um peixe.

Vv. 26-31. A MORTE DE SANSÃO.


27. sobre o teto havia uns três mil homens e mulheres, que
olhavam enquanto Sansão os divertia — Este edifício parece ter sido
similar aos espaçosos anfiteatros, bem conhecidos entre os romanos, e
ainda achados em muitos países do Oriente. Estão edificados
completamente de madeira. O lugar onde se estacionavam os
espectadores, era uma plataforma inclinada, que descansava sobre dois
pilares, de maneira que todos podiam ver a areia no centro. No centro
desta plataforma havia duas grandes vigas, que sustentavam todo o peso
da estrutura, e estas vigas estavam apoiadas em dois pilares colocados
muito perto um de outro, de sorte que quando estes pilares se moviam,
toda a pilha tinha que cair.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 60
28. Sansão clamou ao SENHOR — Seu espírito penitente e
piedoso parece indicar que este ato premeditado não foi o de um suicida
vingativo, mas sim ele se considerava como empregando sua força em
seu caráter público. Devemos considerar que Sansão ofertou sua vida por
sua pátria, e que não buscou a morte, antes esta foi uma consequência
inevitável de seu grande esforço. Sua oração deve ter sido uma emissão
silenciosa, e pelo fato de que está revelada pelo historiador, deve ter sido
aprovada por Deus.
31. seus irmãos desceram, e toda a casa de seu pai, tomaram-no,
subiram com ele e o sepultaram — Esta terrível catástrofe parece ter
paralisado completamente os filisteus, de modo que nem tentaram
impedir que o corpo de Sansão fosse tirado, nem incomodar os israelitas
por muito tempo depois. Assim o herói israelita por sua coragem e força
rendeu a seu país serviços assinalados, e sempre foi considerado como o
maior de seus campeões. Entretanto, sua sujeição servil à dominação de
suas paixões era indigna de tão grande homem, e diminui nosso respeito
por seu caráter. Contudo, ele está colocado entre os homens dignos da
antiguidade que mantinham uma firme fé em Deus (Hb_11:32).
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 61
Juízes 17

Ver. 1-4. MICA RESTAURA À MÃE O DINHEIRO ROUBADO;


ELA FAZ IMAGENS.
1. Havia um homem da região montanhosa de Efraim — quer
dizer, as regiões montanhosas de Efraim. Este relato e os que seguem,
formam uma coleção miscelânea, ou apêndice, do livro de Juízes, e
pertencem a um período quando a nação hebreia estava num estado
desordenado e corrompido. Este episódio de Mica se relaciona com 1:34,
e se refere a um pequeno santuário de sua propriedade, uma
representação em miniatura do tabernáculo de Siló, o qual ele encheu de
imagens feitas provavelmente em imitação da arca e dos querubins. Mica
e sua mãe eram sinceros em seu propósito de honrar a Deus. Mas sua fé
estava mesclada com uma triste quantidade de ignorância e ilusão. Mas
seu método decisivo, como também o culto à própria vontade que eles
praticavam, os expuseram à pena de morte.
3. uma imagem de escultura e uma de fundição — esculpida de
um bloco de madeira ou de pedra, coberta de prata; outra, uma figura de
metal sólido, fundida num molde. É de notar que só 200 siclos foram
entregues ao fundidor, provavelmente o custo de duas imagens de prata,
com seus pertences, pedestais, bases, etc., naqueles dias seria cerca de
200 siclos, o que deve ser aproximadamente 23 libras esterlinas, soma
não adequada para a fabricação de estátuas grandes.
5. este homem, Mica, veio a ter uma casa de deuses — heb. casa
de Deus, uma capela religiosa, um estabelecimento particular de sua
propriedade.
estola sacerdotal — (veja-se Êx_28:4).
terafins (TB) — Deuses tutelares da família (veja-se Gn_31:19, 30).
consagrou a um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote
— A assunção ao sacerdócio de alguém que não fosse da casa de Arão
era uma violação direta da lei divina (Nm_3:10; Nm_16:17; Dt_21:5;
Hb_5:4).
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 62
6. cada qual fazia o que era direito aos seus olhos (RSV) — Pela
falta de governo estabelecido, não havia quem estabelecesse a ordem.
Não havia castigo para crime algum.
7. Belém de Judá — Assim chamada em contraste com uma aldeia
do mesmo nome, em Zebulom (Js_19:15).
de Judá — Os homens da tribo de Levi podiam unir-se, como fez
Arão (Êx_6:23) por casamento com outra tribo: assim este jovem levita
pertencia à tribo de Judá, da parte da mãe, o que explica sua residência
em Belém, e não numa das cidades levitas.
8. Esse homem partiu … para ficar onde melhor lhe parecesse
— Como havia uma disposição competente para todo membro da ordem
levítica, o fato de que este homem andasse vagando, prova que tinha
uma disposição errante e hábitos instáveis. Em seus andanças chegou à
casa de Mica, quem, como soube quem era, solicitou seus serviços
permanentes.
10. Disse-lhe Mica: Fica comigo, e serve-me de pai (TB) — Pai
espiritual, que dirigisse os serviços religiosos do estabelecimento; ele
tinha que receber, além de sua manutenção, um salário de dez siclos de
prata por ano, igual a 25 xelins.
o vestuário e o sustento — Não só roupas para usos comuns mas
também vestimenta para o exercício de suas funções sacerdotais.
12. Consagrou Mica ao moço levita — Heb., “encheu sua mão”.
Este ato de consagração foi menos ilegal para Mica que o fez, que para o
levita que o recebeu (veja-se Jz_18:30).
13. Agora sei que o SENHOR me fará bem — A deposição de
seu filho, seguida pela instalação deste levita no posto sacerdotal, parece
ter satisfeito sua consciência, e ele considerava que, pelas ministrações
regulares da religião, ele ia prosperar. Esta expressão de sua esperança
demonstra a influência combinada da ignorância e a superstição.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 63
Juízes 18

Vv. 1-26. OS DANITAS BUSCAM UMA HERANÇA.


1-6. Naqueles dias … a tribo dos danitas buscava para si
herança em que habitar — Os danitas tinham um território assinalado
para si como as demais tribos. Mas por indolência, ou por falta de
energia, não conseguiram a plena possessão de sua porção, e permitiram
que uma porção considerável fosse arrancada de seus mãos pelos
filisteus. Por conseguinte, estando estreitos em seu lugar, um número
considerável deles resolveram tentar conseguir uma colônia nova e
adicional numa parte longínqua do país. Uma delegação enviada a
explorar o país, chegou, em sua viagem rumo ao norte, à residência de
Mica, e reconhecendo o sacerdote, por ser um de seus antigos
conhecidos, ou talvez por seu dialeto provincial, ansiosos pediram seus
serviços para averiguar os resultados de sua atual expedição. Sua
resposta, ainda que aparentemente alentadora, foi enganosa, e realmente
tão ambígua como as dos oráculos pagãos. Esta petição faz ver ainda
mais clara e amplamente do que o cisma de Mica a triste degeneração
daqueles tempos. Os danitas não expressaram nenhuma emoção nem de
surpresa nem de indignação de que um levita se atrevesse a assumir as
funções sacerdotais nem de que existisse um estabelecimento rival do de
Siló. Muito dispostos estavam para buscar por meio dos terafins a
informação que só poderia buscar-se legalmente por meio do urim do
sumo sacerdote, e estando tão errados em suas opiniões e práticas
religiosas como estava Mica, demonstram o baixo estado da religião, e
quanta superstição prevalecia em todas as partes do país.
7-10. Partiram os cinco homens, e chegaram a Laís — ou Lesém
(Js_19:47), crê-se que estava habitada por uma colônia de sidônios. O
lugar estava muito afastado, o solo era fértil e havia abundância e
variedade de seus produtos, e seus habitantes estavam seguindo as
atividades pacíficas da agricultura, vivendo em seu vale rico e isolado,
segundo o estilo sidônio de quietude e segurança, felizes entre si, com
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 64
poucas comunicações com o resto do mundo. O descobrimento deste
paraíso setentrional parecia, para alegria dos espiões danitas, o
cumprimento das predições do sacerdote. Apressaram-se, pois, a voltar
para informar a seus irmãos no sul a respeito do valor de seu despojo e
quão facilmente chegaria a ser sua presa.
11. partiram dali, da tribo dos danitas, de Zorá e de Estaol,
seiscentos homens — Este foi o número de homens equipados com
armas para levar a cabo esta empresa expedicionária, sem contar as
famílias e móveis dos emigrantes (v. 21). Sua viagem os levou pelo
território de Judá, e sua primeira etapa foi “detrás”, ou seja, a oeste de
Quiriate-Jearim, num lugar depois chamado “o campo de Dã”. Seguindo
sua viagem rumo ao norte, seguiram ao longo do pé das montanhas de
Efraim, e ao se aproximar às imediações da casa de Mica, informando os
espiões que ali havia um santuário popular, o sacerdote do qual lhes
tinha rendido um serviço importante em sua viagem de exploração,
lembrou-se unanimemente que tanto ele como o mobiliário do
estabelecimento seria uma aquisição valiosa para sua projetada colônia.
Um plano de espoliação foi formado imediatamente. Enquanto homens
armados ficavam como sentinelas junto às portas, os cinco espiões
penetraram na capela, pilharam as imagens e vestimentas, e conseguiram
subornar o sacerdote mediante uma oferta tentadora de transferir seus
serviços a sua colônia nova. Ficando a cargo da estola sacerdotal, os
terafins e a imagem de escultura, “ele veio entre o povo”—no meio da
linha de marcha, talvez por causa de sua segurança pessoal; mas mais
provavelmente, em imitação do lugar assinalado para os sacerdotes e a
arca, em meio das tribos, em suas jornadas pelo deserto. Este roubo
apresenta uma curiosa mescla de baixa moralidade e fortes sentimentos
religiosos. Aqueles danitas manifestaram um princípio profundamente
enraizado na natureza humana, o afeto religioso e a necessidade de
algum objeto sobre o qual exercitá-lo, mas que não sabe escolher bem os
objetos. Quanto mais tênue for a influência que a religião exerce no
coração, tanto maior é a importância que se dá aos ritos exteriores; na
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 65
observância destes a consciência se satisfaz plenamente, e raramente ou
nunca é incomodada pelas reflexões sobre a violação da moralidade.
22-26. Estando já longe da casa de Mica, reuniram-se os
homens que estavam nas casas junto à dele — Os ladrões da capela
logo foram descobertos, e logo se começou uma perseguição, com Mica
à cabeça de um grupo considerável de acompanhantes. A prontidão com
que se juntaram numa tentativa de recuperar os artigos roubados,
apresenta-nos a hipótese de que a capela estava à disposição de toda a
vizinhança; e a importância que Mica, como Labão, dava aos terafins, se
vê pela urgência com que seguiu aos ladrões, expondo sua vida na
tentativa de recuperá-los. Mas vendo que seu grupo de amigos não podia
contra os danitas, Micas creu prudente desistir, sabendo bem a regra que
prevalecia naquele então na terra, que “tomaria os que tinham poder, e
guardariam os que podiam”.

Vv. 27-29. CONQUISTA A LAÍS.


27. chegaram a Laís … e os feriram a fio de espada, e
queimaram a cidade — “Nos choca esta invasão e matança de um povo
tranquilo e seguro. Entretanto, se a concessão original de Canaã aos
israelitas, lhes deu um direito divino e mandado para esta empresa, isto
santifica e legaliza tudo” (Chalmers). Este lugar parece ter sido uma
dependência de Sidom, mas a distância tornava impossível conseguir
ajuda dali nesta emergência repentina.
28-29. Reedificaram a cidade … e lhe chamaram Dã — Estava no
extremo norte do país, e daí a origem da frase “desde Dã até Berseba”.
30. Os filhos de Dã levantaram para si aquela imagem de
escultura — A distância os separava dos demais israelitas, e sem
dúvida, isto que era sua desculpa para não ir a Siló, e deve ter sido a
causa de que se perpetuasse entre eles a idolatria durante muitas
gerações.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 66
Juízes 19

Vv. 1-15. UM LEVITA VAI A BELÉM PARA BUSCAR SUA


ESPOSA.
1. Naqueles dias, em que não havia rei em Israel — O episódio
doloroso e interessante que segue, junto com a comoção geral que o
relatório do mesmo produziu, pertence ao mesmo período primitivo de
anarquia e desordem.
um homem levita … tomou para si uma concubina — Os
sacerdotes sob a lei mosaica desfrutavam do privilégio do casamento da
mesma maneira que as demais classes de homens. Não foi uma união
desonrosa a que tinha formado este levita, porque um compromisso
nupcial com uma mulher concubina, embora falte algumas cerimônias
exteriores, e considerada como uma relação secundária ou inferior,
possuía a verdadeira essência do casamento. Não só era legal mas
também sancionada pelo exemplo de muitos homens bons.
2. A sua concubina lhe foi infiel e, deixando-o, foi para a casa de
seu pai (TB) — A causa da separação mencionada nesta Tradução
Brasileira, torna ilegal que o marido a recebesse de novo (Dt_24:4), e
segundo costumes uniformes e práticas no Oriente, ela deveria ter sido
morta, se foi para a casa de seu pai. Outras versões concordam com
Josefo, em dar como o motivo de sua fuga da casa do marido, que ela
estava desgostada com ele [RA: “ela, aborrecendo-se dele, o deixou”],
por causa das disputas frequentes.
3. Seu marido, tendo consigo o seu servo e dois jumentos,
levantou-se e foi após ela para falar-lhe ao coração — Heb. “falar ao
seu coração”, de maneira bondosa e carinhosa, para despertar de novo o
seu afeto. Acompanhado por um servo, chegou à casa de seu sogro,
quem se alegrou ao encontrá-lo, com a esperança de que se efetuaria uma
reconciliação completa entre sua filha e o marido dela. Cedendo aos
rogos hospitaleiros do sogro, o levita prolongou sua estada durante três
dias.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 67
8. detende-vos até ao declinar do dia — O povo no Oriente come
pouco ou nada até as 10 ou as 12. O hospitaleiro sogro adiou esta comida
até hora tão avançada para ter argumento para insistir numa prolongação
da visita.
9. Eis que já declina o dia, a tarde vem chegando — Os
viajantes, que empreendem viagem na alvorada, geralmente se detêm na
meia tarde do primeiro dia, para descansar e refrescar-se. Era já tarde
demais para empreender a viagem. Mas talvez os debates obrigavam ao
levita a não permitir mais demora.
10. o homem … levantou-se, e partiu, e veio até à altura de
Jebus — A nota “que é Jerusalém” deve ter sido inserida por Esdras ou
alguma mão posterior. Como Jebus ainda estava em possessão de seus
antigos habitantes, o levita rejeitou o conselho de seu servo de que
entrasse ali, e resolveu melhor seguir adiante para passar a noite em
Gibeá, a qual ele sabia que estava ocupada por israelitas. A distância de
Belém a Jerusalém é cerca de 9½ kms. Os acontecimentos mostram que
teria sido melhor aceitar o conselho de seu servente e haver-se confiado
entre gentios em vez de entre seus próprios compatriotas.
13. em Gibeá ou em Ramá — O primeiro destes lugares estava a 8
quilômetros ao nordeste, e o outro a 7 ou 8 a norte de Jerusalém.
15. entrando ele, assentou-se na praça da cidade — As cidades
da Palestina naquele longínquo período, conforme parece, não
dispunham de algum estabelecimento como estalagem ou lugar de
alojamento público; pelo que cremos que era costume, como se vê com
frequência hoje em dia nas cidades do Oriente, que os viajantes que
chegavam tarde, e que não conheciam alguma família, estendessem suas
camas nas ruas, ou que envolvendo-se em seus mantos, passassem a
noite ao ar livre. Nas cidades e aldeias árabes, entretanto, o xeque, ou
alguma outra pessoa, geralmente sai e convida os estranhos a sua casa.
Isto se fazia também na antiga Palestina (Gn_18:4; Gn_19:2), e se a
mesma hospitalidade não se oferecia em Gibeá, parece que se devia ao
mau caráter de seus habitantes.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 68
Vv. 16-21. UM ANCIÃO O HOSPEDA EM GIBEÁ.
16. vinha do seu trabalho no campo um homem velho; era este
da região montanhosa de Efraim — Talvez sua hospitalidade foi
motivada ao saber a ocupação do estranho e que estava voltando para
seus deveres em Siló.
19. de coisa nenhuma há falta — Ao responder as bondosas
perguntas do ancião, o levita creu justo lhe dizer que não havia
necessidade de ser carga a ninguém, porque ele possuía todo o
necessário para seu sustento. Os viajantes orientais sempre levam uma
quantidade de provisões consigo, e sabendo que até os khans ou
alojamentos que encontrem em seu caminho, não proveem nada mais
que lugar para refugiar-se, tomam cuidado em levar alimentos tanto para
si mesmos como para seus animais. Em lugar de feno, que raramente se
acha, usam palha picada com uma mescla de cevada, feijões, e coisas
assim. O ancião, entretanto, no ardor de seu coração, não quis ouvir
explicações, e aconselhando o levita guardar suas provisões para alguma
emergência que pudesse apresentar-se no resto da viagem, convidou-os a
aceitar a hospitalidade de sua casa durante a noite.
20. tão-somente não passes a noite na praça — Como esta não é
uma circunstância rara ou singular no Oriente, é provável que a
fervorosa dissuasão do ancião de tal modo de proceder, surgiu de seu
conhecimento das infames práticas do lugar.

vv. 22-28. OS GIBEONITAS ABUSAM DE SUA CONCUBINA


ATÉ LHE CAUSAR A MORTE.
22. homens daquela cidade, filhos de Belial, cercaram a casa —
O relato do horrível ultraje que se cometeu por sugestão do velho, e a
conduta insensível, indiferente e, em muitos respeitos, inexplicável do
levita para com sua mulher, testificam de um estado de moralidade, que
pareceria incrível, se não descansasse sobre o testemunho do historiador
sagrado. Tanto um como o outro deveriam ter protegido as mulheres da
casa, até às custas de suas próprias vidas, ou deviam haver ficado sob a
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 69
providência divina. Deveria notar-se, entretanto, que a culpa de tão
imundo ultraje não se atribui à população em geral de Gibeá.
29. a despedaçou por seus ossos em doze partes — A falta de
governo regular justificava uma medida extraordinária; e certamente, não
se teria podido idear nenhum outro método mais seguro para despertar o
horror e a indignação que este terrível ato do levita.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 70
Juízes 20

Vv. 1-7. O LEVITA EM ASSEMBLEIA GERAL DECLARA SUA


CAUSA.
1. a congregação se ajuntou ... como se fora um só homem —
Como resultado da imensa sensação provocada pela tragédia de Gibeá,
reuniu-se uma assembleia nacional, na qual “os príncipes de todo o
povo”, apareceram como delegados.
em Mispa — O lugar da reunião (porque havia outras Mispas). Era
uma cidade nos limites de Judá e Benjamim (Js_15:38; Js_18:26).
Frequentemente se faziam ali assembleias em anos posteriores
(1Sm_7:11; 1Sm_10:17), e estava a curta distância de Siló. A frase
“perante o SENHOR” pode entender-se em sentido general como
consulta ao oráculo. Esta circunstância, junto com a designação da
assembleia como “reunião do povo de Deus”, parece indicar que entre as
paixões agitadas da nação, os presentes sentiam a profunda gravidade da
ocasião, e que adotassem os melhores meios para manter uma conduta
conveniente.
3. Ouviram os filhos de Benjamim que os filhos de Israel
haviam subido a Mispa. — Alguns supõem que se teria passado por
alto a Benjamim, pois o crime tinha sido perpetrado no território daquela
tribo [Jz_19:16], e que o cadáver da concubina tinha sido dividido em
doze partes [Jz_19:29] – duas partes enviadas a Manassés, e uma parte a
cada uma das divisões da tribo. Mas o mais provável é que Benjamim
tivesse recebido uma chamada formal como as demais tribos, mas
preferiu tratá-la com indiferença e desprezo altivo.
4-7. respondeu o homem levita, marido da mulher que fora
morta — O marido oprimido fez um relato breve e claro do trágico
ultraje, no qual parecia que tinha sido usada a força, o qual ele não podia
resistir. Seu testemunho, sem dúvida, foi corroborado por seu servo e
pelo ancião efraimita. Não fazia falta uma descrição muito vívida para
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 71
despertar os sentimentos da assembleia. Os atos falavam por si mesmos,
e produziram um comum sentimento de abominação e vingança.

Vv. 8-17. SEU DECRETO.


8. todo o povo se levantou como um só homem — A unanimidade
extraordinária que prevalecia, demonstra que apesar das grandes
desordens produzidas em muitas partes, o povo era sadio de coração. E
lembrando sua aliança com Deus, agora sentia a necessidade de apagar
uma mancha tão imunda em seu caráter como povo. Resolveu que os
habitantes de Gibeá fossem submetidos a um castigo merecido. Mas as
resoluções eram condicionais, porque a lei comum da natureza e das
nações, exige que se faça uma investigação, antes de cometer um ato de
hostilidade ou vingança, e foram despachados mensageiros por todo o
território de Benjamim, com o mandado de que os delinquentes fossem
imediatamente entregues ou executados. A petição foi justa e razoável, e
ao rejeitá-la, os benjamitas virtualmente se tornaram partícipes da
questão. Não devemos supor que os membros desta tribo fossem
insensíveis ou indiferentes ao atroz caráter do crime cometido, em sua
terra. Mas seu patriotismo e seu amor próprio foram ofendidos pela
manifestação hostil das outras tribos. Por ambos os lados estavam
inflamadas as paixões; mas evidentemente os benjamitas incorreram
numa grave responsabilidade pela atitude de resistência que assumiram.
14-17. os filhos de Benjamim se ajuntaram, vindos das cidades
em Gibeá — Por grande que fosse a sua coragem, nada mais que uma
paixão cega e uma obstinação inflexível, os poderiam ter levado a sair ao
campo com seus irmãos com semelhante disparidade de números.
16. canhotos, os quais atiravam com a funda uma pedra num
cabelo e não erravam — A funda é uma das armas mais antigas usadas
na guerra. A funda hebraica provavelmente era similar a do Egito,
consistente numa correia de couro, larga no meio, com uma casa num
cabo, pelo qual era firmemente tida na mão; o outro cabo se soltava
quando se atirava a pedra. Os destros no uso, como o eram os
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 72
benjamitas, podiam atingir o alvo sem falhar. Uma boa funda podia
enviar com força uma pedra a 200 metros.

vv. 18-28. OS FILHOS DE ISRAEL PERDEM QUARENTA MIL.


18. Levantaram-se os israelitas, subiram a Betel — Esta consulta
em Siló estava certo. Mas eles deveriam ter consultado a Deus no
princípio de suas atividades. Em vez disto fizeram todos os seus planos,
como se a guerra fosse justa e inevitável, e o único tema de sua consulta
tinha a ver com a prioridade das tribos, assunto que provavelmente
tinham discutido na assembleia. Se tivessem pedido conselho a Deus
antes, sua expedição se teria projetado sobre um princípio diferente,
talvez com a redução do número de guerreiros, como no caso de Gideão.
Como foi, o vasto número de voluntários formou uma força excessiva e
pesada, incapaz de uma ação enérgica e unida contra um exército
pequeno, compacto e bem dirigido. Sobreveio o pânico, e as tribos
confederadas em duas batalhas sucessivas, tiveram grandes perdas. Estes
desastres (apesar de que o ataque contra Benjamim foi divinamente
autorizado) afligiram-nos de dor e vergonha. Refletiram, e chegaram a
reconhecer sua culpa por não suprimir a idolatria nacional, como
também por confiar tão orgulhosamente em sua superioridade numérica,
e sua precipitada audácia nesta expedição. Havendo-se humilhado por
oração e jejuns, como também observado os métodos estabelecidos para
a expiação de seus pecados, eles estavam seguros de sua aceitação e da
vitória. A presença e os serviços de Fineias nesta ocasião, os ajudam a
fixar a cronologia até aqui, de que a data deste acontecimento deve ter
sido pouco depois da morte de Josué.

Vv. 29-48. DESTROEM A TODOS OS BENJAMITAS MENOS


SEISCENTOS.
29. Israel pôs emboscadas em redor de Gibeá — Se formou um
plano para tomar a cidade por estratégia, semelhante à empregada na
tomada de Ai [Js_8:9].
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 73
33. Baal-Tamar — Bosque de palmeiras, onde se adorava a Baal.
O exército principal das tribos confederadas estava estacionado ali.
das vizinhanças de Geba — segundo o hebraico poderia ser “da
cova de Gibeá”.
34. Dez mil homens escolhidos de todo o Israel vieram contra
Gibeá — Este era um terceiro exército, distinto do exército das
emboscadas e do exército que estava pelejando em Baal-Tamar. O relato
geral que se faz no v. 35 é seguido por uma narração detalhada da
batalha, a qual continua até o fim do capítulo.
45. viraram e fugiram para o deserto, à penha Rimom —
Muitos fugitivos acharam refúgio nas covas desta montanha cheia de
penhascos, situada ao nordeste de Betel. Tais lugares ainda são buscados
como refúgios seguros em tempos de perigo; e enquanto não se
descobrisse o método de fazer saltar as rochas com pólvora, uns poucos
homens em tais covas poderiam suportar um sítio durante muitos meses.
46. Todos os que de Benjamim caíram, naquele dia, foram vinte
e cinco mil homens — Ao comparar isto com Jz_20:35, se verá que as
perdas aqui estão expressas em números redondos, e se limitam só às do
terceiro dia. Temos que concluir que 1.000 tinham caído nas duas
batalhas anteriores para chegar ao número total que se deu (Jz_20:15).
48. Os homens de Israel voltaram a atacar os outros filhos de
Benjamim e passaram a fio de espada — Esta vingança espantosa,
estendendo-se de Gibeá a toda a tribo de Benjamim, foi executada sob o
impetuoso impulso de paixões extremamente agitadas. Mas sem dúvida
os israelitas foram somente os agentes para infligir as retribuições justas
de Deus. A lembrança desta terrível crise, que chegou quase até o
extermínio de uma tribo inteira, era condizente ao bom futuro de toda a
nação.
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 74
Juízes 21

Vv. 1-15. O POVO LAMENTA A DESOLAÇÃO DE ISRAEL.


2. Veio o povo a Betel … levantaram a voz, e prantearam com
grande pranto — A característica volubilidade dos israelitas não
demorou para manifestar-se. Quase não se tinha moderado a ferocidade
de sua vingança sangrenta, quando começaram a enternecer-se e foram
ao extremo oposto e começaram a acusar-se a si mesmo e a lamentar-se
pela desolação que tinha produzido seu zelo impetuoso. Sua vitória os
entristeceu e humilhou. Seus sentimentos nesta ocasião se expressaram
num serviço solene e público de expiação na casa de Deus. Esta
observância extraordinária, ainda que os ajudou a dar desafogo a suas
emoções dolorosas, não lhes proporcionou um alívio completo; porque
eles estavam ligados pela obrigação de um voto religioso, agravado pela
adição de um anátema solene sobre todos os que violaram o juramento.
Não há protocolo prévio deste juramento, mas o teor do mesmo foi, que
eles tratariam os que cometeram essa atrocidade em Gibeá da mesma
maneira que os cananeus, que estavam condenados a extermínio. O ato
de pactuar-se nesta solene liga foi de acordo com o resto de sua conduta
inconsiderada em todo este assunto.
6. Foi, hoje, eliminada uma tribo de Israel — quer dizer, corre
perigo de extinguir-se; porque, como aparece no v. 7, eles tinham
assassinado em massa a todas as mulheres e aos meninos, e só 600
homens sobreviveram de toda a tribo. A perspectiva de tal vazio na lista
das doze tribos, semelhante brecha na organização nacional, era-lhes
muito penoso contemplar, e deviam tomar-se medidas imediatas para
evitar esta grande catástrofe.
8. ninguém de Jabes-Gileade viera ao acampamento, à
assembleia — Esta cidade estava dentro do território de Manassés
oriental, cerca de 24 quilômetros do Jordão, e, segundo Josefo, era a
capital de Gileade. O decreto que as tribos reunidas tinham pronunciado
em Mispa, parecia lhes impor a necessidade de castigar aos habitantes de
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 75
Jabes por não ter tomado parte na cruzada contra Benjamim. Então,
tendo em vista reparar as consequências de seu atrevido proceder,
apressaram-se à consumação de outra tragédia, embora de menos
importância. Mas parece (Jz_21:11) que, além de agir no cumprimento
de seu juramento, os israelitas tiveram um objetivo adicional nesta
expedição, o de prover esposas para o remanescente benjamita. Isto
demonstra a fúria insensata dos israelitas na matança sem distinção de
mulheres e crianças.

Vv. 16-21. OS ANCIÃOS CONSULTAM A RESPEITO DE


COMO ACHAR ESPOSAS PARA OS QUE FICARAM.
16. os anciãos da congregação se perguntaram: O que faremos
para dar mulheres aos que ficaram? — Embora as mulheres jovens de
Jabes-Gileade tivessem sido cuidadosamente conservadas, o número
delas era insuficiente, e era preciso apelar a outras medidas.
17. Deve haver uma herança para os que escaparam de
Benjamim (TB) — Como eles eram os únicos donos legais do território,
era preciso fazer provisão para transmiti-lo a seus herdeiros legítimos, e
para isso se meditava num novo ato de violência (Jz_21:19),
oportunidade para o qual foi apresentada pela próxima festa, que
geralmente se crê que era a festa dos tabernáculos. Esta, como as demais
festas anuais, se celebrava em Siló, e esta festividade ia acompanhada
com mais alegria social e regozijos que as demais.
19. para o norte de Betel, do lado do nascente do sol, pelo
caminho alto que sobe de Betel a Siquém — A localização exata do
lugar se descreve evidentemente para a instrução dos benjamitas.
21-22. saindo as filhas de Siló a dançar em rodas — A dança era
antigamente parte da observância religiosa; e era feita em ocasiões
festivas, como ainda se faz no Oriente, não na cidade, mas sim ao ar
livre, em algum campo próximo, só pelas mulheres. O fato de as jovens
estarem sozinhas, satisfazendo seus espíritos juvenis e felizes, sem
suspeitar perigos, facilitava a execução do plano de que os homens se
Juízes (Jamieson, Fausset e Brown) 76
apoderassem delas, incidente este que se assemelha ao rapto sabino, na
história romana. Os anciãos se encarregaram de ajudar as famílias para
conformar-se com o rapto de suas filhas. Assim a expressão de sua
sanção pública a este feito de violência, nos dás uma nova evidência dos
males e dificuldades em que os havia envolto a infeliz precipitação dos
israelitas nesta crise.
RUTE
Original em inglês:

RUTH

The Book Of Ruth

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Rute 1 Rute 3

Rute 2 Rute 4
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 2
Rute 1

Vv. 1-5. ELIMELEQUE, OBRIGADO PELA FOME, EMIGRA


ATÉ MOABE E MORRE ALI.
1. Nos dias em que julgavam os juízes — A história bela e
interessante que relata este livro, pertence ao princípio dos tempos dos
juízes. A data exata não pode fixar-se.
2. Elimeleque — significa “Meu Deus é rei”.
Noemi — loira, prazenteira. Seus dois filhos, Malom e Quiliom,
supõe-se que são Jeoás e Sarafe mencionados em 1Cr_4:22.
Efrateus — O nome antigo de Belém era Efrata (Gn_35:19;
Gn_48:7), nome que continuou depois da ocupação da terra pelos
hebreus, até o tempo do profeta Miqueias (Mq_5:2).
Belém de Judá — chamada assim para a distinguir de uma cidade
do mesmo nome em Zebulom. Obrigada a emigrar pela força da fome, a
família se radicou por vários anos em Moabe. Depois da morte do pai, os
dois filhos se casaram com mulheres moabitas. Isto foi uma violação da
lei mosaica (Dt_7:3; Dt_23:3; Ed_9:2; Ne_13:23), e alguns escritores
judeus dizem que a anterior morte dos dois jovens, foi um juízo divino
imposto a eles por estas uniões ilegais.
Vv. 6-18. NOEMI VOLTA, RUTE A ACOMPANHA.
6, 7. Então, se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de
Moabe — A viúva anciã, ansiando desfrutar dos privilégios de Israel,
resolveu voltar a sua terra natal logo que teve segurança de que a fome
tinha terminado, e fez os arranjos necessários com suas noras.
8. Noemi disse a suas duas noras: Ide, voltai cada uma para a
casa de sua mãe (TB) — Nos países orientais as mulheres ocupam
compartimentos separados dos compartimentos dos homens, e as filhas
se acham mais frequentemente nos compartimentos de suas mães.
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 3
o SENHOR use convosco de benevolência, como vós usastes
com os que morreram — isto é, com os meus filhos, com os seus
maridos, enquanto viviam.
9. O SENHOR vos dê que sejais felizes — que desfrutem de uma
vida de tranquilidade, sem moléstias, cuidados, obstáculos e dificuldades
penosas a que estão especialmente expostas as viúvas.
E beijou-as — este é o costume oriental, quando os amigos se
separam.
11. Tenho eu ainda no ventre filhos, para que vos sejam por
maridos? — Isto se refere a um costume antigo (Gn_38:26), sancionado
depois expressamente pela lei de Moisés (Dt_25:5), que obrigava a um
irmão mais novo a casar-se com a viúva de seu irmão falecido.
12. Tornai, filhas minhas! Ide-vos embora — poderia parecer
estranho que Noemi dissuadisse tão urgentemente a seus noras de
acompanhar a à terra de Israel. Mas esta maneira de proceder foi a mais
sábia e prudente; porque elas podiam ir com esperança de algo que não
poderia realizar-se; e porque, sob as emoções do momento, poderiam dar
um passo que mais tarde lamentariam; e também porque a firmeza e
sinceridade de sua conversão à nova religião, que ela lhes tinha ensinado,
seriam duramente provadas.
13. a mão do SENHOR se descarregou contra mim (RC) — quer
dizer, não só não estou em condições de lhes prover de outros maridos,
mas também estou em tão más circunstâncias econômicas que não posso
pensar em lhes ver expostas a privações comigo. Os argumentos de
Noemi persuadiram a Orfa, quem voltou para seu povo e a seus deuses.
Mas Rute ficou com Noemi; e até nos escritos de Sterne, aquele grande
autor, não há nada que desperte tanto os sentimentos do leitor como esta
efusão que ele tomou das Escrituras, da relação de Rute com sua sogra.
(Chalmers).

Vv. 19-22. ELAS CHEGAM A BELÉM.


Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 4
19. toda a cidade se comoveu por causa delas — O estado
presente de Noemi, viúva triste e desolada, apresentava um contraste
penoso com o estado de prosperidade e felicidade em que ela tinha saído
para Moabe.
22. no princípio da sega da cevada — que corresponde a fins de
nosso março.
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 5
Rute 2

Vv. 1-3. RUTE ESPIGA NO CAMPO DE BOAZ.


2. Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e
apanharei espigas — O direito de espigar foi conferido por uma lei em
favor da viúva, do pobre e do estrangeiro (veja-se Lev_19:9-10;
Dt_24:19, 21). Mas não lhes dava a liberdade de espigar após os
segadores [Rt_2:3], este era um privilégio concedido ou negado segundo
a boa vontade ou o favor do dono.
3. por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz —
Como os campos na Palestina não estavam cercados, aqui se refere
àquela parte do campo aberto que estava dentro dos limites de Boaz.

Vv. 4-23. BOAZ FAVORECE A RUTE.


4. Boaz veio de Belém e disse aos segadores: O SENHOR seja
convosco — Esta saudação piedosa entre o amo e seus trabalhadores,
claramente demonstra os sentimentos religiosos entre a população rural
de Israel naquela época, como também a simplicidade natural, feliz e
confiante que caracterizava os costumes do povo. Ainda se pratica esta
saudação no Oriente.
5. perguntou Boaz ao servo encarregado dos segadores —
Inspetor, cujo dever especial consistia em vigiar as operações no campo,
prover as provisões aos trabalhadores, e lhes pagar o jornal à tarde.
7. Disse-me ela: Deixa-me rebuscar espigas e ajuntá-las entre as
gavelas após os segadores — No Oriente se praticavam vários modos
de colher; onde o crescimento é espaçado, arrancam-se as plantas desde
a raiz, do contrário se corta com a foice. Seja como for o modo de
colher, o grão se coloca em feixes, para debulhá-lo mais tarde,
geralmente quando se termina de segar. Os trabalhos do campo iniciam
cedo na manhã, antes que o calor fique sufocante.
um pouco que esteve na choça — quer dizer, uma carpa levantada
no campo para o descanso ocasional e refrigério dos trabalhadores.
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 6
8. disse Boaz a Rute: … aqui ficarás com as minhas servas — O
recolher as espigas era trabalho de mulheres, enquanto o manejo dos
feixes era trabalho dos homens. A mesma distribuição dos trabalhos da
colheita se observa na Síria hoje. Boaz não só deu a Rute o amplo
privilégio de espigar após os segadores, mas proveu para seu conforto
pessoal.
9. vai às vasilhas e bebe do que os servos tiraram — Às vezes se
permitia aos servos, pela bondade e a caridade dos senhores, participar
das provisões feitas para os segadores. As vasilhas mencionadas eram
garrafas de couro, cheias de água. O pão se encharcava em vinagre
(Rt_2:14), um vinho pobre, fraco, às vezes misturado com um pouco de
azeite, muito refrescante, como se precisa no tempo da colheita. Este
grato refrigério ainda é costume no campo em tempo de colheita.
14. ela comeu e se fartou, e ainda lhe sobejou — o grão novo,
torrado ali mesmo e esfregado nas mãos, é uma comida favorita no
Oriente. Ele lhe deu tanto, que depois de satisfazer seu apetite, ainda lhe
sobrou (Rt_2:18) e o reservou para sua sogra.
16. Tirai também dos molhos algumas espigas, e deixai-as, para
que as apanhe — Os servos no Oriente espigam com muito êxito, pois
grande quantidade do grão se espalha ao segá-lo, e ao carregá-lo. Pode-
se calcular, pois, a grande quantidade que Rute juntaria como resultado
das ordens liberais dadas por Boaz aos trabalhadores. Estes
extraordinários sinais de favor foram dadas não só pela disposição
bondosa do homem, mas em reconhecimento do bom caráter dela e sua
devoção a sua venerável sogra.
17. debulhou o que apanhara — Quando a quantidade de grão era
pequena, debulhava-se com uma vara.
um efa—supõe-se que era como uma fanega [Michaelis: 100 kg].
20. Esse homem é nosso parente chegado — Heb. “um de nossos
redentores”, a quem cabe a responsabilidade de nos proteger, comprar
nossa terra e casar-se contigo, que é a viúva de seu parente próximo. Ela
disse: “um dentre os nossos resgatadores”, não que houvesse muitos na
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 7
mesma relação próxima, e sim que ele era parente muito próximo, tendo
só mais um a precedência.
21. toda a sega que tenho — a ceifa da cevada e do trigo também.
Esta era feita a fins de maio ou princípios de junho.
22. Disse Noemi a sua nora, Rute: Bom será, filha minha, que
saias com as servas dele — Recomendação prudente que fez a Rute de
que aceitasse o generoso convite de Boaz, porque se ela ia a outros
campos, não só tinha o perigo de um tratamento rude, mas também
poderia desagradar a Boaz por parecer indiferente a sua bondosa
liberalidade. Além disso, a mente vigilante da anciã já tinha notado em
todas os cuidados de Boaz para com Rute, o princípio de um afeto mais
firme, que ela queria que aumentasse.
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 8
Rute 3

Vv. 1-13. POR INSTRUÇÕES DE NOEMI, RUTE SE DEITA


AOS PÉS DE BOAZ, QUE RECONHECE O DEVER DE PARENTE.
2. esta noite vai joeirar a cevada na eira — O processo de aventar
era feito atirando o grão para cima, contra o vento com uma pá, depois
de ter sido pisado. O piso de debulhar, usualmente no mesmo campo de
segar, era cuidadosamente nivelado com um pesado cilindro, e
consolidado com giz, para que não se rachasse. Na época da ceifa o
agricultor geralmente passava toda a noite no piso de debulhar, não só
para cuidar seu valioso grão mas também para o trabalho de aventá-lo.
Essa operação era feita na tarde para aproveitar a brisa que soprava no
fim do dia caloroso, e que continuava a maior parte da noite. O próprio
dono empreende este trabalho em época tão importante; e por
conseguinte, Boaz, pessoa de considerável riqueza e alta posição, se
deitou a dormir no piso do celeiro, junto ao montão de grão que tinha
estado debulhando.
4. chegarás, e lhe descobrirás os pés, e te deitarás — Por
esquisitas que estas instruções nos pareçam , não havia nelas nada
impróprio, segundo a simplicidade dos costumes rurais em Belém. Em
circunstâncias comuns, tudo isto pareceria indecorosa ao mundo, mas no
caso de Rute, era o método, sem dúvida de acordo com o uso geral, para
lembrar a Boaz o dever que lhe correspondia como o parente de seu
finado esposo. Boaz provavelmente dormia sobre uma esteira ou couro.
Rute se deitou a seus pés, posição em que dormem os criados orientais
na mesma peça ou carpa de seus amos, e se necessitam cobertas, os
costumes lhes permitem cobrir-se com a roupa de cama de seu senhor.
Descansando de noite como os orientais estão acostumados a fazerem,
com a mesma roupa que usam de dia, não havia nada de indecoroso em
que um estranho, e até uma mulher, pusesse parte desta roupa sobre si.
9. Sou Rute, tua serva. Estende a tua capa sobre a tua serva;
porque tu és parente cegado (TB) — Ela já se havia coberto com parte
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 9
do manto, e agora lhe pede que ele o faça, para que o ato chegue a ser
próprio. No Oriente, estender o manto sobre alguém é um ato simbólico
que significa proteção. Até hoje em muitas partes do Oriente, dizer que
ele pôs seu manto sobre uma mulher, é sinônimo de dizer que se casou
com ela. Em todos os casamentos de judeus modernos e hindus, uma
parte da cerimônia consiste em o noivo colocar um saco ou manto sobre
sua noiva.
15. Dá-me o manto que tens sobre ti e segura-o — Os véus,
“tecidos” orientais são como grandes lençóis, os das grandes damas são
de seda vermelha, mas as mulheres da classe pobre ou baixa os usam de
linho ou de algodão azul, ou de listas azuis e brancas, e com eles
envolvem a cabeça e escondem toda o rosto, exceto um olho.
17. seis medidas de cevada — Heb., “seis seahs”. Um seah
equivalia a dez litros; assim que seis seahs era uma carga muito pesada
para uma mulher.
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 10
Rute 4

Vv. 1-5. BOAZ CHAMA A CONSULTA AO PARENTE MAIS


PRÓXIMO.
1. Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali — Edifício
coberto, sem cercar; lugar onde antigamente, e ainda na atualidade em
muitas cidades orientais, são feitas todas as transações comerciais, e
onde, pois, seria mais provável achar o parente chegado. Não faziam
falta formalidades preliminares para convocar um perante à assembleia
pública, nenhum escrito, nada de demoras. Numa conversação curta o
assunto era exposto e arranjado, talvez na manhã quando se saía a
trabalhar ou à tarde quando voltavam do campo.
2. Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade — Como
testemunhas. Em circunstâncias comuns, duas ou três pessoas bastavam
para confirmar um trato, mas em casos de importância, tais como
casamentos, divórcios, e transferência de propriedade, era costume judeu
ter dez testemunhas (1Rs_21:8).
3. Noemi … a tem para venda — quer dizer, que considera a
possibilidade de vender. Em suas circunstâncias ela estava em liberdade
de desfazer-se delas (Lev_25:25). Tanto Noemi como Rute tinham
interesse na terra, mas só Noemi foi mencionada, não só porque ela
dirigia todas as negociações, mas sim porque a menção do nome de
Rute, despertaria suspeitas da necessidade de um casamento com ela,
antes que se respondesse à primeira proposição.
4. outro não há senão tu que a resgate, e eu, depois de ti —
(Veja-se Dt_25:5-10.) Claro que a redenção da terra incluía o casamento
com Rute, viúva do dono anterior.

Vv. 6-8. ELE SE NEGA A REDIMIR.


6. Respondeu o parente chegado: Quanto a mim não o posso
redimir, para que não prejudique a minha própria herança (TB) —
Isto sucederia no caso de que ele tivesse um filho com Rute, o qual
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 11
embora fosse herdeiro da propriedade, não levaria o nome do pai; e seu
nome se extinguiria porque o filho levaria o nome do marido anterior; ou
também pelo fato de ter que dividir a herança entre seus outros filhos que
talvez teria tido em seu casamento anterior. Portanto ele renunciou a este
direito, o que favoreceu a Boaz, de maneira que o único obstáculo que
havia para se casar com Rute ficou resolvido.
7, 8. o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado
— Quando o parente se negava a cumprir seu dever para com a família
do parente finado, ordenava-se à viúva que lhe tirasse o sapato com
algumas demonstrações de desdém. Mas, como neste caso não havia
negação, não se efetuaram os atos de ignomínia, e o tirar o sapato foi a
única cerimônia cumprida, como sinal de que a transação tinha sido feita.

Vv. 9-12. BOAZ SE CASA COM RUTE.


9. Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje,
testemunhas de que comprei da mão de Noemi tudo o que pertencia
a Elimeleque, a Quiliom e a Malom — Embora a viúva de Quiliom
vivia, não se fazia nenhum caso dela para dispor da propriedade de seu
marido. Como ela se ficou em Moabe, considerava-se que se tinha
casado outra vez, ou que tinha renunciado a todo direito da herança da
família de Elimeleque.
10. tomo por mulher Rute, a moabita — Esta união não só se
podia formar, visto que ela tinha abraçado a verdadeira religião, mas sim
porque ele estava na necessidade legal de formá-la.
11. Todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram:
Somos testemunhas — Uma multidão, sem dúvida por curiosidade ou
interesse, estava presente nesta ocasião. Não se assinou nenhuma
escritura; entretanto, a transferência foi feita, e foi dada plena segurança,
pela maneira pública em que o assunto foi tratado e concluído.
o SENHOR faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a
Raquel e como a Lia — Esta era a costumeira bênção nupcial.
Rute (Jamieson, Fausset e Brown) 12
12. Seja a tua casa como a casa de Perez — tão honorável e
numerosa como a dele. Era um antecessor do povo de Belém, e sua
família era uma das cinco das quais descendia a tribo de Judá.

Vv. 13-18. ELA DÁ A LUZ A OBEDE.


17. Obede — quer dizer “Servo”.
18-22. São estas, pois, as gerações de Perez — quer dizer, seus
descendentes. Este apêndice demonstra que o objetivo principal do autor
de este livro, era o de conservar a memória de um interessante episódio
doméstico, e traçar a genealogia de Davi. Houve um intervalo de 380
anos entre Salomão e Davi. É evidente que estão omitidas gerações
inteiras; e só os personagens principais são mencionados. Na linguagem
das Escrituras é dito que os avós engendram a seus netos, sem
especificar os elos intermediários.
1 SAMUEL
Original em inglês:

1 SAMUEL

The First Book of Samuel,

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

1 Samuel 1 1 Samuel 9 1 Samuel 17 1 Samuel 25

1 Samuel 2 1 Samuel 10 1 Samuel 18 1 Samuel 26

1 Samuel 3 1 Samuel 11 1 Samuel 19 1 Samuel 27

1 Samuel 4 1 Samuel 12 1 Samuel 20 1 Samuel 28

1 Samuel 5 1 Samuel 13 1 Samuel 21 1 Samuel 29

1 Samuel 6 1 Samuel 14 1 Samuel 22 1 Samuel 30

1 Samuel 7 1 Samuel 15 1 Samuel 23 1 Samuel 31

1 Samuel 8 1 Samuel 16 1 Samuel 24


1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 2
1 Samuel 1

Vv. 1-8. ELCANA E SUAS DUAS ESPOSAS.


1. Houve um homem de Ramataim-Zofim — A primeira palavra
estando em número dual, significa a dupla cidade, a velha e a nova de
Ramá (v. 19). Houve cinco cidades com este nome, todas elas em
terrenos altos. Esta tinha a adição Zofim, porque foi fundada por Zufe,
"efrateu," quer dizer, nativo de Efrata. Belém e Ramataim-Zofim devem
entender-se como Ramá na terra de Zufe, no país montanhoso de Efrata.
Outros, considerando “monte de Efraim” como assinalando a localidade
do território de José, consideram “Zofim” não como nome próprio, mas
sim como nome comum, que significa torres de atalaias, ou atalaias,
referindo-se à altura da situação, ou ao fato de que era residência de
profetas, aqueles que era atalaias. (Ez_3:17). Sendo natural da Efrata, ou
Belém de Judá (Rt_1:2), Elcana era levita (1Cr_6:33-34), e embora
pertencesse a essa ordem e era homem bom, praticava a poligamia. Isso
era contrário à lei original, mas parece ter sido geral entre os hebreus
naqueles dias, quando não havia rei em Israel, e cada homem fazia o que
parecia bem a seus próprios olhos [Jz_21:25].
3. Este homem subia da sua cidade de ano em ano a adorar …
em Siló — Naquele lugar estava “o único santuário da terra”, e lá ia ele
para assistir às três festas solenes, a uma delas ia acompanhado por sua
família, talvez a da Páscoa. Embora fosse levita, não podia oferecer
pessoalmente um sacrifício, pois isso era ofício exclusivamente dos
sacerdotes. A piedade da Elcana em assistir regularmente às cerimônias
divinas é tanto mais digna de notar-se quando o caráter dos dois
sacerdotes que administravam os ritos era notoriamente mau. Sem
dúvida, ele cria e atuava segundo sua crença, que as cerimônias eram
“meios efetivos de salvação, não por alguma virtude nelas, ou nos que as
administravam, mas pela graça de Deus comunicadas por meio delas”.
4. Elcana oferecia o seu sacrifício, dava ele porções deste a
Penina — Ao ofertante era devolvida a maior parte das ofertas pacíficas,
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 3
para que a comessem ele, sua família e seus amigos numa festa social
que faziam diante do Senhor. (Veja-se Lv_3:7; Dt_12:12). Destas
comidas consagradas, Elcana dava porções a todos os membros de sua
família; mas “a Ana, porém, dava porção dupla”; quer dizer, uma
preferência especial, segundo o modo oriental de mostrar atenção aos
convidados amados ou distinguidos. (Veja-se 1Sm_9:23, 24; Gn_43:34).
6. A sua rival a provocava excessivamente para a irritar — A
conduta da Penina era o mais imprópria. As dissensões domésticas são
frequentes nas casas dos polígamos, e a causa que mais as produz é o
ciúme do carinho superior do marido, como no caso da Ana.

Vv. 9-18. A ORAÇÃO DE ANA.


10-11. levantou-se Ana, e, com amargura de alma, orou … e fez
um voto — Aqui temos um exemplo do intenso desejo das mulheres
hebreias de ter filhos. Esta foi a carga da oração da Ana; a grande
preferência que ela expressou de ter um filho varão, originou-se por seu
propósito de dedicá-lo ao serviço do tabernáculo. A circunstância de seu
nascimento a obrigava a isso, mas sua residência dentro dos limites do
santuário teria que começar a uma idade mais anterior que de costume,
devido ao voto nazireu.
12. passou Eli a observar-lhe o movimento dos lábios — A
suspeita do ancião sacerdote parece indicar que o vício não era raro nem
limitado a um só sexo naqueles tempos de desordem. Esta má impressão
que causou Ana a Eli foi retirada imediatamente; as palavras “o Deus de
Israel te conceda a petição”, foram seguidas de uma invocação, a qual,
como Ana a considerou uma profecia de que seu ardente desejo seria
completo, dissipou sua tristeza e se encheu de uma segura esperança
[1Sm_1:18]. O caráter e serviço do menino esperado eram
suficientemente importantes, para fazer com que seu nascimento fosse
tema próprio para a profecia.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 4
Vv. 20-28. SAMUEL NASCE.
20. teve um filho, a que chamou Samuel — Sem dúvida com o
consentimento do marido. Os nomes dos meninos eram dados algumas
vezes pelos pais, e outras vezes pelas mães (veja-se Gn_4:1, Gn_4:26;
Gn_19:37; Gn_21:3), e entre os primitivos hebreus, eram usualmente
nomes compostos, incluindo uma parte o nome de Deus.
21. Subiu Elcana, seu marido, com toda a sua casa, a oferecer
ao SENHOR o sacrifício anual e a cumprir o seu voto — A solene
expressão de seu consentimento no voto da Ana, era necessária para que
fosse obrigatório. (Veja-se Nm_30:3).
22. Ana, porém, não subiu—Só os varões estavam obrigados a
assistir às festas solenes (Veja-se Êx_23:17). Mas Ana, como outras
mulheres piedosas, tinha o costume de assistir, somente que ela creu
mais prudente e conveniente adiar sua viagem até que a idade de seu
filho permitisse que ela cumprisse o seu voto.
24. três novilhos (TB, ASV) — A Versão dos Setenta diz: “novilho
de três anos” [RA também], que talvez seja a tradução correta.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 5
1 Samuel 2

Vv. 1-11. A CANÇÃO DE GRATIDÃO DE ANA.


1. orou Ana e disse — O louvor e a oração estão inseparavelmente
unidos nas Escrituras. (Cl_4:2; 1Tm_2:1). Este belo cântico foi seu
tributo de agradecimento pela bondade divina em responder sua petição.
a minha força está exaltada no SENHOR — Isto se refere a uma
peculiaridade do vestido das mulheres orientais de perto do Líbano, a
qual parece ter existido antigamente entre as mulheres israelitas, a de
levar uma pequena trombeta de estanho ou de prata na frente, da qual se
suspendia o véu. As esposas sem filhos a levavam sobressalente a um
ângulo oblíquo, enquanto que aquelas que tinham chegado a ser mães,
logo a levantavam uns centímetros mais rumo à linha perpendicular, e
por esta mudança ligeira mas notória em sua prenda, faziam saber, onde
quer que iam, o caráter maternal que agora possuíam.
5. os que andavam famintos não sofrem mais fome — cessaram
de sentir fome.
até a estéril tem sete filhos — quer dizer, muitos filhos.
6. faz descer à sepultura e faz subir — ele reduz ao estado mais
baixo de degradação e miséria; e restaura a prosperidade.
8. Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o
necessitado — O depósito de lixo, montão de excrementos de cavalos,
vacas ou camelos, posto ao sol a secar-se, para ser usado como
combustível, que era, e ainda é, um dos lugares mais comuns onde se
congregavam os esmoleiros mais pobres; e a mudança feita na posição
social de Ana, parecia com seu agradecido coração tão favorável e tão
grande, como a elevação do pobre mendigo desprezado ao posto mais
alto e digno.
para o fazer herdar o trono de glória — que possua lugar de
honra.
10. O SENHOR julga as extremidades da terra, dá força ao seu
rei e exalta o poder do seu ungido — este é o primeiro lugar nas
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 6
Escrituras, onde aparece a palavra “ungido”, ou Messias, e como não
havia rei em Israel naquele então, parece que a melhor interpretação é
que se referia a Cristo. Há seriamente uma notável semelhança entre o
cântico da Ana e o de Maria (Lc_1:46).
11. o menino ficou servindo ao SENHOR, perante o sacerdote
Eli — Estava entregue a alguma ocupação adequada à sua tenra idade,
tal como tocar os címbalos ou outros instrumentos de música; em ligar as
luzes, e semelhantes serviços fáceis e interessantes.

Vv. 12-17. O PECADO DOS FILHOS DE ELI.


12. os filhos de Eli eram corruptos (NKJV) — Heb. “filhos de
Belial”. Não só descuidados e irreligiosos, mas sim homens dissolutos
em suas ações, viciosos e escandalosos em seus costumes. Embora
profissionalmente ocupados nos deveres sagrados, não só eram estranhos
ao poder da religião no coração, mas também tinham lançado de si o
freio da religião, e até, como sucede em alguns casos com os filhos de
ministros, chegavam ao extremo da corrupção desavergonhada.
13. o costume daqueles sacerdotes com o povo era — Quando
alguém queria apresentar um sacrifício de oferta pacífica, a oferta era
trazida em primeira instância ao sacerdote, a parte para o Senhor era
queimada, e as partes atribuídas aos sacerdotes e aos ofertantes tinham
que ser fervidas. Mas os filhos de Levi, insatisfeitos com o peito e a
coxa, os emolumentos a eles assinalados pela lei divina (Êx_29:27;
Lv_7:31-32), não só exigiam parte da porção do ofertante, mas com
rapacidade se apoderavam dela antes da cerimônia de levantá-la ou
agitá-la (veja-se Lv_7:34); e além disso cometiam a injustiça de levantar
com seu garfo aquelas partes que eles preferiam, ainda cruas, para que
fossem logo assadas. As pessoas piedosas estavam indignadas por suas
intrusões tão rapaces e profanas nos direitos do altar, como também no
que devia constituir a festa familiar e social do ofertante. A verdade é
que tendo chegado a ser orgulhosos, e não querendo em muitos casos
aceitar convites a estas festas, exigiam que fossem enviados obséquios
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 7
de carne; e isto, sendo feito primeiro como uma cortesia, no correr do
tempo, estabeleceu-se como um direito, e deu origem a toda a acuidade
rapace dos filhos de Eli.

Vv. 18-26. O MINISTÉRIO DE SAMUEL.


18. Samuel ministrava perante o SENHOR, sendo ainda menino
— Esta menção de seus primeiros serviços nos pátios exteriores do
tabernáculo, foi feita para preparar o caminho para a interessante
profecia referente à família do sumo sacerdote.
vestido de uma estola sacerdotal de linho — Espécie de vestido
ou avental usado nos serviços sagrados pelos sacerdotes inferiores e
levitas, e também algumas vezes pelos juízes e outras pessoas eminentes;
seu uso foi permitido a Samuel, quem foi dedicado a Deus desde o seu
nascimento.
19. Sua mãe lhe fazia uma túnica pequena e, de ano em ano, lha
trazia — Sabendo que ele ainda não podia prestar algum serviço útil ao
tabernáculo, ela se encarregava de lhe prover a sua roupa. Tecer e fazer
tecidos e trajes, antigamente eram trabalhos das mulheres.
20. Eli abençoava a Elcana e a sua mulher — Esta bênção, como
a que pronunciou anteriormente, tinha virtude profética, a qual apareceu
ao pouco tempo no aumento da família da Ana (v. 21), e a crescente
capacidade de Samuel para o serviço do santuário.
22. as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação
— Esta era uma instituição de mulheres santas de uma ordem
estritamente ascética, as quais renunciavam a todos os cuidados
terrestres e se dedicavam ao Senhor, instituição que perdurou até o
tempo de Cristo (Lc_2:37). Eli era, em geral, homem bom, mas não teve
êxito na educação moral e religiosa de sua família. Errou por sua
indulgência paternal, e ainda que os repreendia (veja-se Dt_21:18-21),
entretanto, por temor ou indolência, se subtraia de lhes aplicar restrições
ou de os submeter à disciplina que seus grandes delitos mereciam. Em
sua capacidade judicial, passava por alto seus atos públicos de má
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 8
administração, e permitia que eles fizessem intrusões atrevidas na
constituição, pelas quais os danos mais sérios eram infligidos tanto aos
direitos do povo como às leis de Deus.
25. Entretanto, não ouviram a voz de seu pai, porque — deveria
ser portanto.
o SENHOR os queria matar — Não foi a preordenação, e sim sua
própria desobediência voluntariosa e impenitente, a causa de sua
destruição.

Vv. 27-35. UMA PROFECIA CONTRA A CASA DE ELI.


27. Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse … me manifestei,
na verdade, à casa de teu pai — Dá-se tanta importância no Oriente à
velhice, que se estimaria como uma grande calamidade e sensivelmente
minguaria a respeitabilidade de qualquer família o fato de que não
pudesse contar com alguns anciãos entre seus membros. A predição
deste profeta foi amplamente confirmada pelas aflições, degradação,
pobreza e muitas mortes prematuras com que a casa de Eli foi visitada
depois deste anúncio (Veja-se 1Sm_4:11; 14:3; 22:18-23; 1Rs_2:27).
31. cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai — Pela
retirada do sumo sacerdócio de Eleazar, o maior dos dois filhos de Arão,
depois que foram destruídos Nadabe e Abiú [Nm_3:4], conferiu-se
aquela dignidade à família de Itamar, a qual pertencia Eli, e agora, visto
que seus descendentes tinham perdido o direito a esta honra, o
sacerdócio lhes seria tirado e restaurado ao mais antigo ramo.
32. verás o aperto da morada de Deus — Rival afortunado porque
o posto de sumo sacerdote se levantaria dentre outra família
(2Sm_15:35; 1Cr_24:3; 1Cr_29:22). Mas a nota marginal “verás a
aflição do tabernáculo”, parece que é uma tradução preferível.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 9
1 Samuel 3

VV. 1-10. O SENHOR APARECE A SAMUEL EM SONHO.


1. O jovem Samuel servia ao SENHOR, perante Eli — Seu
ministério naturalmente consistia em alguns trabalhos com relação ao
santuário de acordo com sua idade, que se supõe era de uns doze anos.
Seja que o posto lhe fora designado especialmente, ou que resultasse do
interesse inspirado pela história de seu nascimento, Eli o retinha como
seu assistente imediato e ele residia, não no santuário em si, mas em uma
das carpas ou compartimentos a seu redor, postas para acomodar os
sacerdotes e levitas, estando a dele perto da do sumo sacerdote.
Naqueles dias, a palavra do SENHOR era mui rara — Era
raramente conhecida pelos israelitas. Na verdade, só dois profetas são
mencionados durante toda a administração dos juízes (Jz_4:4; Jz_6:8).
as visões não eram frequentes — Nenhum profeta publicamente
reconhecido que pudesse lhes dar a conhecer a vontade de Deus. Deve
ter havido certas evidências indubitáveis pelas quais se distinguia uma
comunicação do céu. Eli as conhecia porque ele as tinha recebido,
embora não com tanta frequência como se dá a entender pela frase
“visão manifesta”.
3. antes que a lâmpada de Deus se apagasse — Parece que
“templo” tinha chegado a ser o nome atribuído ao tabernáculo, e a hora
indicada aqui era perto da alvorada, pois as luzes se extinguiam à saída
do sol (veja-se Lv_6:12-13).
5. Correu a Eli e disse: Eis-me aqui, pois tu me chamaste — É
evidente que sua câmara de dormir estava perto da do velho sumo
sacerdote, e que estava acostumado a ser chamado de noite. Três
chamadas sucessivas dirigidas ao menino, convenceram a Eli do caráter
divino de quem lhe tinha falado, e portanto exortou o menino a dar uma
atenção reverencial à mensagem. A substância da mesma era uma
extraordinária advertência dos juízos que pendiam sobre a casa de Eli; e
o velho sacerdote, tendo tirado o doloroso segredo do singelo menino,
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 10
exclamou: “É o Senhor; faça o que lhe parecer”. Com este espírito de
submissão humilde, e sem murmuração, devemos receber as
dispensações de Deus, por severas e aflitivas que sejam. Mas, para
formar uma opinião da linguagem e conduta de Eli nesta ocasião, temos
que considerar a entristecedora acumulação de juízos pronunciados
contra ele, seus filhos, seus descendentes, seu altar e sua nação. Diante
de tal ameaça, ele manifestou uma piedade e mansidão maravilhosas. Em
seu caráter pessoal parece ter sido homem bom, mas a conduta de seus
familiares era notoriamente má; e ainda que seus infortúnios apelam para
a nossa simpatia, é impossível aprovar ou defender o proceder fraco e
infiel que trouxe sobre ele estas adversidades pelo juízo retributivo de
Deus.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 11
1 Samuel 4

VV. 1-11. ISRAEL VENCIDO PELOS FILISTEUS.


1. Veio a palavra de Samuel a todo o Israel — O caráter de
Samuel como profeta estava já plenamente estabelecido. A falta de
“visão manifesta” era suprida por ele, porque o Senhor “nenhuma de
todas as suas palavras deixou cair em terra” (1Sm_3:19); e todo Israel
acudia a sua residência em Siló para lhe consultar como a um oráculo, e
Samuel, pelo mandamento divino que recebia, e por seu dom de profeta,
podia informá-los qual era a vontade de Deus. Não é improvável que a
crescente influência do jovem profeta tivesse alarmado os temores
ciumentos dos filisteus, os quais, tendo sujeitado os israelitas em algum
grau desde a morte de Sansão, estavam resolvidos a oprimi-los mais para
evitar que fossem ensinados pelos conselhos de Samuel, e que sob a sua
direção afirmassem de novo sua independência nacional. De qualquer
maneira, eram os filisteus os agressores (1Sm_3:2). Mas, por outro lado,
os israelitas eram atrevidos e inconsiderados em lançar-se ao campo de
batalha sem obter a sanção de Samuel quanto à guerra, ou sem tê-lo
consultado a respeito das medidas que tomaram.
Israel saiu à peleja contra os filisteus — a resistir esta nova
incursão.
Ebenézer … Afeca — Afeca quer dizer “força”, este nome era
dado a qualquer fortaleza. Havia vários Afeca em Palestina; mas a
menção de Ebenézer determina que este Afeca estava ao sul, nas
montanhas de Judá, perto da entrada ocidental do passo de Bete-Horom,
e por conseguinte nas fronteiras do território filisteu. Sendo sem êxito o
primeiro encontro em Afeca, os israelitas resolveram renovar o encontro
em melhores circunstâncias.
3-9. Tragamos de Siló a arca da Aliança do SENHOR — É
estranho que eles estivessem tão cegos quanto à causa real do desastre, e
que não entendessem que a corrupção grande e geral da religião e a
moral (1Sm_2:22-25; 1Sm_7:3; Sl_78:58), era a razão pela qual a
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 12
presença e ajuda de Deus não lhes foram estendidas. Sua primeira
medida para restaurar o espírito e energia nacionais deveria ter sido uma
completa informação, uma volta universal à pureza do culto e dos
costumes. Mas, em vez de fomentar um espírito de profunda humilhação
e arrependimento sincero, e resolver a abolição dos abusos existentes, e
restabelecer a fé pura, eles adotaram o que pensavam ser um meio mais
fácil e rápido: puseram sua fé nas observâncias cerimoniais, e não
duvidavam que a introdução da arca no campo de batalha, assegurar-
lhes-ia a vitória. Ao recomendar esta medida extraordinária, os anciãos
se lembrariam da confiança que a arca tinha repartido a seus
antepassados (Nm_10:35; Nm_14:44), como também do que tinha feito
perto de Jericó. Mas é mais provável que eles fossem movidos pelas
ideias pagãs de seus vizinhos idólatras, que levavam seu ídolo Dagom,
ou seus símbolos sagrados às guerras, crendo que o poder de suas
divindades estava inseparavelmente associado com suas imagens, ou que
residiam dentro delas. Enfim, o grito levantado no exército hebreu, à
chegada da arca, indicava muito palpavelmente a aceitação geral entre os
hebreus daquela época, de uma crença em deidades nacionais, cuja
influência fosse local e cujo interesse fosse exercido especialmente a
favor do povo que as adorasse. A alegria dos israelitas era uma emoção
nascente dos mesmos sentimentos supersticiosos que o correspondente
espanto de seus inimigos; e o proporcionar-lhes uma prova convincente,
mas dolorosa, de seu erro, foi o objetivo ulterior da disciplina a qual eles
estiveram logo submetidos, disciplina pela qual Deus, enquanto os
castigava por sua apostasia permitindo que a arca fosse tomada, tinha
também outro fim, o de vindicar notavelmente a Sua supremacia sobre
todos os deuses das nações.

Vv. 12-22. ELI OUVE AS NOTÍCIAS.


13. Eli estava assentado numa cadeira, ao pé do caminho — O
ancião sacerdote, como magistrado público, estava acostumado a sentar-
se diariamente num espaçosa quarto junto à porta de entrada da cidade; e
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 13
em sua intensa ansiedade de saber o resultado da batalha, ocupou seu
posto habitual como o mais conveniente para ver os que passavam. Seu
assento era cadeira oficial, semelhante a dos antigos juízes egípcios,
regiamente esculpida, soberbamente ornamentada, alta e sem encosto. As
calamidades anunciadas a Samuel como prontas a cair sobre a família de
Eli [1Sm_2:34], agora são infligidas na morte de seus dois filhos, e
depois da morte dele, a de sua nora, cujo filho recém-nascido recebeu
um nome que perpetuaria a glória que se foi da religião e da nação
[1Sm_4:19-22]. O desastre nacional foi completado pela tomada da arca.
Pobre Eli! era homem bom, apesar de suas infelizes fraquezas. Os
sentimentos de Eli estavam tão fortemente ligados à religião, que a
tomada da arca resultou para ele um golpe de morte. Sua excessiva
indulgência ou negligência com sua família, a causa principal de todos
quão maus conduziram a sua queda, foi registrada para advertir a todos
os chefes de famílias cristãs, para não naufragar sobre a mesma rocha.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 14
1 Samuel 5

Vv. 1, 2. OS FILISTEUS LEVAM A ARCA À CASA DE DAGOM.


1. Asdode — ou Azoto, uma das cinco satrapias filisteias, e lugar
de grande fortaleza militar. Era cidade de terra adentro, a 54,5
quilômetros de Gaza, agora chamada Esdud.
2. casa do Dagom — Templos imponentes se erigiam em honra
deste ídolo, a deidade principal dos filisteus, cujo culto se estendia por
toda a Síria, como também a Mesopotâmia e Caldeia, pois seu nome se
acha entre os deuses assírios nas inscrições cuneiformes. (Rawlinson).
Era representado por uma combinação monstruosa de cabeça, peito e
braços humanos, unidos ao ventre e cauda de peixe. A arca foi posta no
templo do Dagom, exatamente diante da imagem do ídolo.

Vv. 3-5. DAGOM CAI.


3. Levantando-se, porém, de madrugada os de Asdode — Eles
se encheram de consternação quando acharam o objeto de sua néscia
veneração prostrado perante os símbolos da presença divina. Embora o
levantassem, caiu outra vez, e jazia em estado de mutilação completa;
sua cabeça e braços, separados do torso, estavam em lugares distantes,
como se tivessem sido lançados, e só a parte que tinha forma de peixe
ficava em seu lugar. A degradação de seu ídolo, oculta pelos sacerdotes
na primeira ocasião, desta vez chegou a ser mais manifesta e infame.
Jazia na atitude de inimigo vencido e suplicante, e este quadro de
humilhação abertamente proclamava a superioridade do Deus de Israel.
5. Por isso, os sacerdotes de Dagom e todos … não lhe pisam o
limiar — Uma cerimônia supersticiosa se introduziu, e na providência
de Deus continuou, pela qual os filisteus contribuíam para publicar a
impotência de seu deus.
até ao dia de hoje — Esta costume continuava praticando-se até o
tempo em que foi escrita esta história, provavelmente nos últimos anos
da vida de Samuel.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 15
Vv. 6-12. OS FILISTEUS SÃO AFLIGIDOS POR HEMORROIDAS.
6. a mão do SENHOR castigou duramente os de Asdode — A
presunção do povo de Asdode foi castigada por um juízo severo que lhes
sobreveio em forma de uma pestilência.
e os feriu com hemorroidas (RC) — hemorroidas que sangravam
(Sl_78:66) em forma muito grave. Como os pagãos consideravam as
doenças nas partes íntimas do corpo como castigos dos deuses por seus
transgressões, os asdoditas consideraram a epidemia como demonstração
da ira de Deus, que já tinha sido manifestada contra o seu ídolo.
7. Não fique conosco a arca do Deus de Israel — Foi levada
sucessivamente a várias das grandes cidades do país, mas em cada lugar
se declarava a mesma pestilência, e se propagava tão feroz e fatalmente,
que as autoridades se viram obrigadas a devolver a arca à terra de Israel
[1Sm_5:8-10].
11. congregaram a todos os príncipes dos filisteus — isto é, os
magistrados de Ecrom.
12. o clamor da cidade subiu até ao céu — A doença vai
acompanhada de dores agudas, e não é um fenômeno raro na planície
filisteia. (Van de Velde).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 16
1 Samuel 6

Vv. 1-9. OS FILISTEUS CONSULTAM COMO DEVOLVER A


ARCA.
1. Sete meses esteve a arca do SENHOR na terra dos filisteus —
Apesar das calamidades que sua presença trouxe sobre o país e seu povo,
os príncipes filisteus não estavam dispostos a soltar tal objeto, e
provaram todos os meios de retê-la com paz e segurança, mas em vão.
2. Estes chamaram os sacerdotes e os adivinhadores — A
proposta devolução da arca, conforme parece, não foi passada por todos,
e muitas dúvidas eram expressas quanto a se a pestilência reinante seria
realmente um juízo do céu ou não. Os sacerdotes e adivinhos uniram
todos os partidos, recomendando um modo de agir que lhes permitiria
facilmente distinguir o verdadeiro caráter das calamidades, e ao mesmo
tempo propiciar ao ofendido Deus pelos atos de desacato que se tinham
tido em sua arca.
4. cinco hemorroidas de ouro (RC) — Ofertas votivas ou de
gratidão eram feitas pelos pagãos depois de ser livrados de doenças
rebeldes ou perigosas, e tais ofertas consistiam em modelos ou imagens
metálicas (geralmente de prata) das partes do corpo afetadas. Este
costume ainda é comum nos países católicos romanos, como também
entre os hindus e outros pagãos modernos.
cinco ratos de ouro — Alguns supõem que esse animal era o
gerbo, ou rato saltado, da Síria e Egito (Bochart); outros pensam, que era
o rato campestre de cauda curta, que com frequência se multiplica em
números prodigiosos, e comete grandes estragos nos cultivos da
Palestina.
5. dai glória ao Deus de Israel — Por estas ofertas propiciatórias,
os filisteus reconheceriam o Seu poder, e fariam desagravos pela injúria
feita à arca.
porventura, aliviará a sua mão de cima de vós, e do vosso deus
— Elohim por Deus.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 17
6. Por que, pois, endureceríeis o coração, como os egípcios e
Faraó endureceram o coração? — A lembrança dos juízos aterradores
que tinham sido infligidos sobre o Egito, ainda não tinha sido apagado.
Quer estivessem preservados em arquivos escritos, ou na tradição oral,
ainda estavam frescos na mente das pessoas, e tendo sido extensamente
difundidos, sem dúvida eram meios de estender o conhecimento e temor
do verdadeiro Deus.
7. Agora, pois, fazei um carro novo — Seu objetivo ao fazer um
carro novo, parece ter sido não só por motivos de limpeza, mas também
porque criam que teria sido uma descortesia o usar um que já tivesse sido
dedicado a serviços inferiores ou mais comuns. Parece ter sido um carro
com capota (Veja-se 2Sm_6:3).
duas vacas com crias — Tais animais indisciplinados, soltos e
errantes, não seguiriam um caminho direto e seguro, como os
acostumados ao jugo, e portanto seriam menos propensos, de seu próprio
movimento espontâneo, a tomar o caminho direto à terra de Israel.
tirando delas os bezerros, levá-los-eis para a casa (TB) — O
forte afeto natural das mães deveria estimular sua volta para casa, em
lugar de dirigir os seus passos para um país estrangeiro.
8. tomai a arca do SENHOR, e ponde-a sobre o carro — Estava
proibido este modo de levar o sagrado símbolo, mas a ignorância dos
filisteus fez com que se cometesse esta indignidade (Veja-se 2Sm_6:6).
metei num cofre, ao seu lado, as figuras de ouro — A maneira de
assegurar os tesouros no Oriente, ainda é dentro de uma gaveta,
encadeado à parede da casa ou a uma peça sólida de algum móvel.
9. Bete-Semes — Heb. “casa do sol”, hoje Ain Shems (Robinson),
cidade de sacerdotes em Judá, sobre a fronteira sudeste de Dã, num vale
belo e extenso. Josefo diz que as vacas foram postas em movimento
perto de um lugar onde o caminho se divide em dois, um que levava de
volta para Ecrom, onde estavam os seus bezerros, e o outro a Bete-
Semes. Seus frequentes mugidos lotavam seu ardente desejo pelos seus
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 18
bezerros, e ao mesmo tempo a influência sobrenatural que dirigia os seus
movimentos em direção contrária.
12. os príncipes dos filisteus foram atrás delas — para dar seu
tributo de homenagem, impedir fraude, e receber a evidência mais fiel da
verdade. O resultado desta jornada contribuiu para sua própria
humilhação mais profunda e para maior ilustração da glória de Deus.
14. cortaram a madeira do carro — os bete-semitas, em
incontrolável explosão de alegria.
ofereceram as vacas — Embora contrariamente aos requisitos da
lei (Lv_1:3; Lv_22:19), estes animais podiam ter sido corretamente
oferecidos, como consagrados pelo próprio Deus; embora não ao lado do
tabernáculo; há muitos casos de sacrifícios oferecidos por profetas e
homens santos em ocasiões especiais em outros lugares.
17-18. Estas, pois, são as hemorroidas de ouro … como também
os ratos de ouro (RC) — Houve cinco imagens representativas das
hemorroidas, correspondentes às cinco cidades principais dos filisteus.
Mas o número dos ratos de ouro deve ter sido maior, porque eram
enviados das cidades fortificadas e das aldeias.
19. Feriu o SENHOR os homens de Bete-Semes, porque
olharam para dentro da arca — No êxtase de alegria ao ver a volta da
arca, os segadores de Bete-Semes olharam dentro, sob a capota do carro,
e em vez de tampá-la outra vez, como utensílio sagrado, deixaram-na
exposta à inspeção pública, desejando que fosse vista, para que todos
desfrutassem do triunfo vendo as ofertas votivas apresentadas a ela, e
satisfizeram a curiosidade de ver o sagrado móvel. Esta foi a ofensa
daqueles israelitas (levitas como também do povo comum), aqueles que
tinham tratado a arca com menos reverência que os filisteus.
feriu do povo uns cinquenta mil e setenta homens (TB) — Como
Bete-Semes era uma aldeia pequena, o número que dá esta tradução deve
ser errôneo, deveria ser, “feriu cinquenta dentre mil”, sendo só 1.400 os
que se entregaram a esta curiosidade. Deus, em vez de dizimar, segundo
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 19
o costume antigo, feriu só a vigésima parte; quer dizer, segundo Josefo,
70 dentre 1.400 (Veja-se Nm_4:18-22).
21. Quiriate-Jearim — “cidade dos bosques”, também chamada
Quiriate-Baal (Js_15:60; Js_18:14; 1Cr_13:6-7). Esta era a cidade mais
próxima de Bete-Semes; e sendo lugar fortificado, era o mais apropriado
para a residência da arca. Estando Bete-Semes numa planície baixa, e
Quiriate-Jearim sobre uma colina, explica-se a mensagem: “descei, pois,
e fazei-a subir para vós”.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 20
1 Samuel 7

Vv. 1, 2. A ARCA EM QUIRIATE-JEARIM.


1. vieram os homens de Quiriate-Jearim — “A cidade dos
bosques”, também Quiriate-Baal (Js_15:60; Js_18:14; 1Cr_13:5-6). Esta
era a cidade mais próxima de Bete-Semes, localizada sobre uma colina;
esta era a razão da mensagem (1Cr_6:21), e a razão pela qual foi
escolhida para o conforto das pessoas que dirigiam seu rosto na direção
da arca (1Rs_8:29-35; Sl_28:2; Dn_6:10).
levaram a arca do SENHOR à casa de Abinadabe — Por que
não foi levada em seguida a Siló, onde ficavam o tabernáculo e os vasos
sagrados, é difícil entender.
consagraram Eleazar, seu filho — Como não era levita, foi
afastado, pois, só para ser guardião do lugar.
2. desde aquele dia, a arca ficou em Quiriate-Jearim, e tantos
dias se passaram, que chegaram a vinte anos — Aparece na história
subsequente, que um período muito mais longo passou antes de sua final
partida desde Quiriate-Jearim (2Sm_6:1-19; 1Cr_13:1-14). Mas todo
esse longo tempo tinha passado, quando os israelitas começaram a
reviver de seu triste estado de decaimento religioso. A tomada da arca
pelos filisteus tinha produzido uma indiferença geral por sua perda, ou
por sua recuperação.
toda a casa de Israel dirigia lamentações ao SENHOR — Então
foram persuadidos, sem dúvida pela influência das exortações de
Samuel, a abandonar a idolatria, e a voltar para culto nacional do
verdadeiro Deus.

Vv. 3-6. OS ISRAELITAS, POR MEIO DE SAMUEL, SE


ARREPENDEM EM MISPA.
3. Falou então Samuel a toda a casa de Israel — Uma grande
reforma nacional se efetuou pela influência de Samuel. Desgostados pela
escravidão estrangeira, e ansiando a restauração da liberdade e
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 21
independência, estavam predispostos às impressões saudáveis; e
convencidos de seus erros, renunciaram à idolatria, e o restabelecimento
da fé de seus pais foi inaugurado numa grande reunião pública, celebrada
em Mispa, em Judá. O “tirar água e derramá-la perante o Senhor”, parece
ter sido um ato simbólico, por meio do qual, em nome do povo, Samuel
declarou seu sentido de corrupção nacional, de sua necessidade daquela
purificação moral da qual a água é símbolo, e de seu sincero desejo de
derramar seus corações em arrependimento perante Deus.
6. Samuel julgou os filhos de Israel em Mispa — No tempo da
morte de Eli, Samuel não podia ter mais de vinte anos de idade; e
embora o seu caráter e posição lhe tivessem dado forte influência, não
parece que antes tivesse feito mais do que estavam acostumados a fazer
os profetas. Agora entrou nos deveres de magistrado civil.

Vv. 7-14. ENQUANTO SAMUEL ORA, OS FILISTEUS SÃO


VENCIDOS.
7-11. Quando, pois, os filisteus ouviram que os filhos de Israel,
etc. — O caráter e a importância da convenção nacional em Mispa, eram
devidamente apreciados pelos filisteus. Nela viam o crescente espírito de
patriotismo religioso dos israelitas, que seria capaz de expulsar deles o
jugo de dominação filisteia; e ansiosos por esmagar este espírito desde o
começo, fizeram uma repentina incursão, enquanto os israelitas estavam
em sua celebração solene. Desprevenidos para uma resistência, os
israelitas imploraram a Samuel que suplicasse a interposição divina para
salvá-los de seus inimigos. As orações e sacrifício do profeta foram
respondidos com uma tormenta de trovões e relâmpagos tão tremenda,
que os atacantes, aterrados, foram confundidos e fugiram. Reconhecendo
os israelitas a mão de Deus, lançaram-se corajosamente sobre o inimigo
que tanto tinham temido, e fizeram tão imenso estrago, que os filisteus
por muito tempo não se restabeleceram deste desastroso golpe. Esta
brilhante vitória assegurou a paz e independência a Israel durante vinte
anos, como também a restituição do território dominado.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 22
12. Tomou, então, Samuel uma pedra, e a pôs entre Mispa e
Sem — num lugar aberto entre a cidade e “o penhasco” (alguma rocha,
ou penhasco bem conhecido na região). Um pilar grande de pedra foi
erguido como monumento de sua vitória (Lv_26:1). Crê-se que o nome
— Ebenézer — “pedra de ajuda” — foi escrito sobre ela.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 23
1 Samuel 8

Vv. 1-18. POR CAUSA DO MAU GOVERNO DOS FILHOS DE


SAMUEL OS ISRAELITAS PEDEM UM REI.
1. Tendo Samuel envelhecido — Teria agora uns cinquenta e
quatro anos de idade, tendo exercido o posto de juiz único por doze anos.
Devido a suas doenças crescentes ficou incapaz de continuar suas
viagens pelo país, finalmente limitou seus tarefas de juiz a Ramá e
lugares vizinhos, delegando a seus filhos, como representantes deles
(1Sm_7:15), a administração de justiça nos distritos meridionais da
Palestina, estando sua corte provisória em Beer-Sabá. Os jovens,
entretanto, não herdaram as elevadas qualidades de seu pai, e como eles
corromperam as fontes de justiça para seu próprio engrandecimento, uma
deputação de cidadãos principais do país apresentaram uma queixa
contra eles perante Samuel em Ramá, com petição formal de uma
mudança no governo. A autoridade limitada e ocasional dos juízes, e a
desunião e rivalidade entre as tribos sob a administração destes
governantes, tinham estado criando o desejo de ter uma forma de
governo unida e permanente; enquanto que a idade avançada de Samuel,
com o perigo de que sua morte ocorresse no então desordenado estado
do povo, foi a ocasião de provocar uma expressão deste desejo naquele
momento.
6. esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-
nos um rei — Os sentimentos pessoais e de família poderiam afetar suas
reações a respeito deste movimento público. Mas seu descontentamento
proveio principalmente do fato de que a proposta mudança era de caráter
revolucionário. Se bem que a mudança não transtornaria inteiramente o
seu governo teocrático, a nomeação de um monarca visível tenderia
necessariamente a tirar seu olhar de seu invisível Rei e Cabeça. Deus os
intimou, por meio de Samuel, que sua petição feita com ira seria
concedida, mas ao mesmo tempo lhes avisou de alguns males que
resultariam de sua eleição.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 24
11. Este será o direito do rei que houver de reinar sobre vós —
O seguinte é um quadro justo e gráfico dos governos despóticos que
antigamente existiam e ainda existem no Oriente, e segundo os quais a
monarquia hebreia se deslizava gradualmente, apesar das restrições
prescritas pela lei.
ele tomará os vossos filhos — Os soberanos orientais reclamam a
sua vontade, o direito aos serviços de qualquer de seus súditos.
eles correrão adiante dos seus carros (TB) — Os carros reais do
Oriente, como se veem ainda na Pérsia, iam precedidas por um número
de serventes que corriam a pé.
12. os porá uns por capitães — No Oriente, uma pessoa tem que
aceitar qualquer posto ao qual é escolhido por seu rei, por incômodo que
seja a seu gosto, ou funesto a seus interesses.
13. Tomará as vossas filhas para perfumistas, etc. — No Oriente,
os trabalhos de cozinha, padaria e similares, correspondem a empregadas
femininas, e milhares de mulheres jovens são empregadas para estes
ofícios nos palácios até dos príncipes de categoria inferior.
14-18. Tomará o melhor das vossas lavouras, etc. — As
circunstâncias aqui mencionadas podem ser ilustradas pela conduta de
muitos monarcas orientais de hoje.
19-22. Porém o povo não atendeu à voz de Samuel — Zombaram
da descrição que tinha dado Samuel, como se tivesse sido um espantalho
para assustá-los. Resolvidos, fossem quais fossem os riscos, a conseguir
seu objetivo, insistiram em ser iguais às demais nações, quando sua
glória e sua felicidade consistiam em ser diferentes delas, em que tinham
o Senhor por Rei e Legislador (Nm_23:9; Dt_33:28). Sua petição foi
concedida porque na lei se estipulou que podia governar um rei, e assim
o povo foi despedido para esperar a nomeação que Deus Se tinha
reservado Ele mesmo fazer (Dt_17:14-20).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 25
1 Samuel 9

Vv. 1-14. SAUL, ANSIOSO DE ACHAR AS JUMENTAS DE


SEU PAI, ACODE A SAMUEL.
1. homem de bens — homem de riqueza e prestígio. A família era
de alta consideração na tribo de Benjamim, e portanto as palavras de
Saul devem entender-se entre as formas comuns de humildade afetada
que o povo do Oriente está acostumado a usar.
2. Saul, moço e tão belo — Tinha boa presença. É evidente que
tinha pouco menos de sete pés, ou seja dois metros, de altura. Uma
estatura gigantesca e uma figura atlética devem ter constituído uma carta
de recomendação popular então naquele país.
3. Extraviaram-se as jumentas de Quis, pai de Saul. Disse Quis
a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços, dispõe-te e vai
procurar as jumentas — É provável que a família de Quis, segundo o
costume imemorial dos pastores nas regiões pastoris, deixaram que os
animais vagassem em liberdade durante a estação de pastar, no fim da
qual se enviam mensageiros para buscá-los. Tais buscas itinerantes são
comuns; e como cada dono tem sua marca estampada em seu gado, a
menção dela aos pastores que se encontram, levam à descoberta dos
animais extraviados. Esta correria de Saul não tinha nada de
extraordinário, exceto seus orientações e resultados superiores, que
tornaram a incerteza em certeza.
4, 5. atravessando a região montanhosa de Efraim — Estando ao
norte de Benjamim, indica a direção da viagem de Saul. O distrito
explorado quer dizer o tudo da região montanhosa, com seus vales e
passos, que pertencia a Efraim. Dobrando para o sul, provavelmente
pelos vales verdes entre Siló e o vale de Jordão (Salisa e Saalim),
aproximou-se novamente às fronteiras de Benjamim, percorreu a terra de
Zufe, e estava prestes a voltar para casa, quando o servo se lembrou de
que estavam nas cercanias do homem de Deus, quem poderia lhes dar
conselhos.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 26
6. Nesta cidade há um homem de Deus — Ramá era a residência
costumeira de Samuel, mas várias circunstâncias, especialmente a
menção do sepulcro de Raquel, situado sobre o caminho da volta de Saul
[1Sm_10:2], levam-nos a concluir que “esta cidade” não era a Ramá
onde vivia Samuel.
mostrar-nos-á, porventura, o caminho que devemos seguir —
Parece estranho que um augusto profeta fosse consultado para
semelhante assunto. Mas é provável que no princípio do ofício profético,
os videntes tenham descoberto coisas perdidas ou roubadas, e nesta
forma seu poder para fazer revelações mais elevadas fosse estabelecido
paulatinamente.
7. Saul disse ao seu moço: Eis, porém, se lá formos, que
levaremos, então, àquele homem? — Segundo os costumes orientais,
considerava-se como uma falta de respeito que uma pessoa se
apresentasse perante um homem superior por sua categoria ou posto
oficial, sem presente de algum na mão, por pouco que fosse o seu valor.
o pão de nossos alforjes se acabou — Os pastores que saem em
busca de seu gado, levam numa bolsa farinha para fazer pão, suficiente
às vezes para trinta dias. Parece que Saul pensava dar ao homem uma
torta de sua bolsa de viajante, e esta teria sido suficiente para prestar o
indispensável ato de cortesia, o costumeiro tributo à dignidade oficial
8. um quarto de siclo de prata — algo mais de seis peniques.
Contrário às noções ocidentais, o dinheiro é no Oriente a forma mais
aceitável de fazer um presente a um homem de posição.
9. vidente … profeta — A distinção reconhecida em tempos
posteriores era que um vidente era um homem favorecido com visões de
Deus, percepção de coisas invisíveis para a vista mortal; e o profeta
predizia os acontecimentos futuros.
11. Subindo eles pela encosta — A aldeia moderna de Er-Rameh
está sobre um topo. Como Saul e seu criado iam, encontraram-se com
um grupo de donzelas que iam ao poço que como em todos os lugares
similares da Palestina, estava fora dos limites da cidade. Por estas
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 27
donzelas, souberam que o dia estava dedicado a uma ocasião festiva, em
honra da qual Samuel tinha chegado à cidade; que um sacrifício tinha
sido devotado, o que era feito pelos profetas em circunstâncias
extraordinárias, em lugares distantes do tabernáculo, e que a festa estava
por realizar-se, dando a entender que tinha sido uma oferta pacífica, e
que, segundo a prática venerável dos israelitas, o homem de Deus tinha
que pedir uma bênção especial sobre os alimentos de uma maneira digna
da nobre ocasião.
14. ao entrarem, eis que Samuel lhes saiu ao encontro — Tais
eram os costumes singelos dos tempos em que este profeta, o homem
principal de Israel, foi visto indo presidir uma festa solene, sem
distinguir-se dos demais cidadãos por sua veste nem por sua comitiva.

Vv. 15-17. DEUS REVELA A SAMUEL A CHEGADA DE SAUL


E SUA NOMEAÇÃO PARA O REINO.
15. o SENHOR, um dia antes de Saul chegar, o revelara a
Samuel — A descrição de Saul, o tempo de sua chegada e o alto posto
ao qual estava destinado, tinham sido secretamente comunicados a
Samuel do céu. O futuro rei tinha que pelejar nas batalhas do Senhor e
proteger a Seu povo. Parece que neste tempo estavam sofrendo por causa
dos filisteus, e que esta era uma razão adicional de suas urgentes
solicitações de que se nomeasse rei (veja-se 1Sm_10:5; 13:3).
18. Mostra-me, peço-te, onde é aqui a casa do vidente — Para
responder a pergunta do estranho, Samuel o convidou à festa, assim
como também a que ficasse até a manhã. E para justificar a demora,
assegurou-lhe que as jumentas perdidas tinham sido achadas.
20. para quem está reservado tudo o que é precioso em Israel?
Não é para ti e para toda a casa de teu pai? — Este foi um aviso
velado e indireto da dignidade real que o esperava; e embora a resposta
de Saul demonstrasse que o entendeu completamente, ele aparentava
duvidar de que o profeta falasse sério.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 28
21. respondeu Saul e disse: Porventura, não sou benjamita, da
menor das tribos de Israel?, etc. — Escolhendo um rei desta tribo, a
menor e quase extinta (Jz_20:46-48). A sabedoria divina se propôs
eliminar todos os motivos de ciúme entre as demais tribos.
Samuel, tomando a Saul e ao seu moço, levou-os à sala — o
viajante cansado da viagem mas de nobre semblante, de repente se achou
sentado entre os homens principais do lugar e tratado como o hóspede
mais distinto.
24. Tomou, pois, o cozinheiro a coxa … e a pôs diante de Saul.
Disse Samuel: Eis que isto é o que foi reservado; toma-o e come —
(Veja-se Gn_18:6; Gn_43:34). Esta era provavelmente a coxa direita, a
qual, por direito do sacrifício, pertencia a Samuel, e que ele tinha
separado para o esperado hóspede. Nas esculturas dos matadouros
egípcios, também a primeira parte tirada da cabeça de gado era a coxa
direita para o sacerdote. O significado destes distinguidos cuidados deve
ter sido entendido pelos demais convidados.
25-27. falou Samuel com Saul sobre o eirado — Saul foi levado a
passar a noite com Samuel. Antes de deitar-se para dormir, eles
conversaram sobre o terraço da casa, estando posta ali, talvez, a cama
(Js_2:6), quando Samuel revelou o segredo, e delineou as obrigações
peculiares de um monarca numa nação relacionada como estava Israel,
com o divino Rei. Na manhã seguinte de madrugada, Samuel despertou a
sua hóspede, e o acompanhando no caminho até os subúrbios da cidade,
pediu, antes de separar-se, uma entrevista particular, o objetivo da qual
se relata no capítulo seguinte.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 29
1 Samuel 10

Vv. 1-27. SAMUEL UNGE A SAUL, E O CONFIRMA PELA


PREDIÇÃO DE TRÊS SINAIS.
1. Tomou Samuel um vaso de azeite — Esta era (Jz_9:8) a
cerimônia de investidura do ofício real que era costume entre os hebreus
e outras nações orientais. Mas havia duas unções para o posto de rei:
uma em particular, pelo profeta (1Sm_16:13), que significa só uma
insinuação profética de que a pessoa alcançaria tal dignidade, e a
instalação pública e formal (2Sm_2:4; 2Sm_5:3) era feita pelo sumo
sacerdote, e talvez com o azeite sagrado, embora isto não se sabe com
exatidão. O primeiro de uma dinastia era assim ungido, mas seus
herdeiros não, a menos que fosse disputada a sucessão (1Rs_1:39;
2Rs_11:12; 2Rs_23:30; 2Cr_23:11).
e o beijou — Este saudação, como se explica pelas palavras que a
acompanham, era um ato de homenagem respeitosa, um sinal de
felicitação ao novo rei (Sl_2:12).
2. Quando te apartares, hoje, de mim — O propósito destas
predições específicas do que se encontraria no caminho, e o número e os
pequenos detalhes do que chamaria sua atenção, foi o de confirmar a
confiança de Saul no caráter profético de Samuel, e levá-lo a dar pleno
crédito ao que lhe foi revelado como a palavra de Deus.
sepulcro de Raquel — Perto de Belém (veja-se Gn_35:19).
Zelza — ou Zela, agora Beit-Jala, nas cercanias daquela cidade.
3. o carvalho — Ou a árvore sagrada de Tabor, não a célebre
montanha, porque estava longe.
três homens, que vão subindo a Deus a Betel — Evidentemente
para oferecer sacrifícios ali, pois a arca e o tabernáculo ainda não
estavam em lugar fixo, e Deus não tinha declarado o lugar permanente
que escolheria. Os cabritos eram para o sacrifício, os pães para a oferta e
o vinho para as libações.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 30
5. outeiro de Deus (TB) — Provavelmente, Gibeá (1Sm_13:3),
assim chamado pela escola de profetas estabelecida ali. A companhia de
profetas era, sem dúvida, o alunado deste seminário, que talvez tinha
sido instituído por Samuel, e no qual as principais matérias ensinadas
eram um conhecimento da lei e de salmódia com música instrumental,
que é chamada “profetizar” (aqui e em 1Cr_25:1, 7).
6. O Espírito do SENHOR se apossará de ti — lit., se lançará
sobre você, dotando-o repentinamente de capacidade e disposição para
agir de uma maneira muito superior a seu caráter e hábitos anteriores; e
em vez da simplicidade, ignorância e pouca instrução de camponês;
mostrará uma energia, sabedoria e magnanimidade dignas de um
príncipe.
8. descerás adiante de mim a Gilgal — Esta, segundo Josefo, foi
uma regra fixa para a observância de Saul, enquanto ele e o profeta
vinham; que em toda grande crise, como uma incursão hostil ao país, ele
voltaria para Gilgal, onde ficaria sete dias, para dar tempo a que Samuel
e as tribos de ambos os lados do Jordão chegassem.
9. virando-se ele para despedir-se de Samuel, Deus lhe mudou o
coração — Influindo nele estas palavras de Samuel como também o
cumprimento destas sinais, foi vencida a relutância de Saul de tomar
sobre si a onerosa carga. É passado por alto o cumprimento dos dois
primeiros sinais [1Sm_10:7, 8], mas o do terceiro é relatado
detalhadamente. O espetáculo de um homem mais apto para cuidar o
gado de seu pai que para tomar parte nos exercícios sagrados dos jovens
profetas, um homem sem prévio ensino nem gosto reconhecido, entrando
com ardor de espírito, e acompanhando habilmente as melodias da banda
sagrada, foi um fenômeno tão extraordinário que deu origem a este
provérbio: “Está também Saul entre os profetas?” (veja-se 1Sm_19:24).
O espírito profético tinha vindo sobre ele; e para Saul foi uma evidência
tão pessoal e experimental da verdade da palavra de Deus que lhe tinha
sido comunicada, como a que os convertidos ao cristianismo têm em si
pelo poder santificador do evangelho.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 31
12. E quem é o pai destes? — A LXX diz: “Quem é o pai dele?”,
referindo-se a Saul, filho do Quis.
17. Convocou Samuel o povo ao SENHOR, em Mispa — colina
como uma torre, de 158 metros de altura. Ali se celebravam as
assembleias nacionais dos israelitas. Tendo assinalado um dia para a
eleição de um rei, Samuel, depois de acusar o povo de rejeitar uma
instituição de Deus e de substituí-la por uma sua própria, procedeu à
nomeação do novo monarca. Como era de suma importância que a
nomeação estivesse sob a direção divina, a decisão fez-se por meio de
sorte milagrosa, passando-se sucessivamente as tribos, as famílias e os
indivíduos, até que se achou Saul. Saul deve haver-se oculto por
modéstia inata ou por agitação nervosa produzida pelas circunstâncias.
Quando foi posto à vista, viram que possuía todas as qualidades físicas
que um povo rude desejaria em seus soberanos; e a exibição destas
qualidades ganhou para o príncipe também a opinião favorável de
Samuel. Entretanto, no meio do entusiasmo nacional, a profunda piedade
e o genuíno patriotismo do profeta tomaram a precaução de explicar “o
direito do reino”, quer dizer, os direitos e privilégios reais com as
limitações a que estavam sujeitos; e para que a constituição fosse
ratificada com toda a devida solenidade, a carta magna desta monarquia
constitucional foi escrita e guardada “diante do Senhor”, quer dizer,
arquivada na custódia dos sacerdotes, junto com outros arquivos da
nação.
26. Também Saul se foi para sua casa, a Gibeá — Perto de
Gibeá; este era o lugar de sua residência (veja-se Jz_20:20), em torno de
8 quilômetros a norte de Jerusalém.
foi com ele uma tropa de homens cujo coração Deus tocara —
Homens que temiam a Deus, e que consideravam um dever de
consciência ser leais a seu rei. Estes são contrários aos filhos de Belial”.
27. os filhos de Belial disseram: Como poderá este homem
salvar-nos? E o desprezaram e não lhe trouxeram presentes — Nos
países orientais, a honra do soberano e o esplendor de sua casa real se
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 32
apoiam não numa tarifa fixa de impostos, mas nos obséquios trazidos em
certas épocas por oficiais e homens de recursos, de todas partes do reino,
segundo as riquezas do indivíduo, as quais têm um valor reconhecido.
Esse foi o tributo que recusaram levar os opositores de Saul, e por falta
do qual ele não pôde estabelecer seu reino por um tempo. Mas “Saul se
fez de surdo”, suportando o insulto com prudência e magnanimidade,
qualidades muito úteis no princípio de seu governo.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 33
1 Samuel 11

Vv. 1-4. NAÁS OFERECE AOS HOMENS DE JABES-GILEADE


CONDIÇÕES DE ALIANÇA.
1. subiu Naás, amonita — Naás (serpente), veja-se Jz_8:3. Fazia
tempo que os amonitas pretendiam o direito de possessão original em
Gileade. Subjugados por Jefté (Jz_11:28, ss.), agora, depois de noventa
anos, renovam seus pretensões; e a notícia da ameaça de sua invasão foi
o que apressou a nomeação do rei (1Sm_12:12).
Faze aliança conosco, e te serviremos — Eles não viam promessa
de ajuda dos israelitas ocidentais, que não só estavam longe, mas
também quase não eram capazes de rejeitar as incursões dos filisteus.
2. sob a condição de vos serem vazados os olhos direitos — Esta
mutilação Bárbara era o castigo usual dos usurpadores no Oriente,
infligida nos chefes; às vezes também, até em tempos modernos, em toda
a população masculina de uma cidade. Naás pensava utilizar a estes
homens, pois não queria deixá-los totalmente cegos, mas sim só privá-
los do olho direito, o que os incapacitaria para o serviço militar. Além
disso, seu objeto era o de insultar a nação israelita, através do povo de
Jabes-Gileade.
3, 4. para que enviemos mensageiros por todos os limites de
Israel — Uma prova estranha do descontentamento geral que havia pela
nomeação de Saul. Os gileaditas não pensavam que ele fosse capaz de
aconselhar nem de ajudá-los. Até na cidade dele fez-se a petição ao
povo, e não ao príncipe.

Vv. 5-11. ENVIAM A SAUL, E SÃO LIBERTADOS.


7. Tomou uma junta de bois, cortou-os em pedaços — (Veja-se
Jz_19:29). Esta forma especial de fazer-lhe guerra era muito adequada ao
caráter e hábitos de um povo agrícola e pastoril. Solene em si mesma, a
acusação que a acompanhou levava uma ameaça terrível aos que
deixassem de obedecê-la. Saul acrescenta o nome de Samuel ao dele,
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 34
para dar mais ênfase à ordem, e causar maior terror a todos os que não
queriam obedecê-la. A pequena quota de soldados proporcionada por
Judá, faz supor que a deslealdade a Saul era mais forte naquela tribo.
8. Bezeque. — Este lugar de reunião não estava longe de Siquém,
sobre o caminho de Bete-Seã, e quase em frente ao vau para cruzar a
Jabes-Gileade. O grande número na matrícula de revista, demonstrou o
efeito da sabedoria e prontidão de Saul.
11. ao outro dia, Saul dividiu o povo em três companhias —
Cruzando o Jordão de tarde, Saul fez seu exército marchar durante toda a
noite, e na alvorada chegou ao acampamento dos amonitas, que foram
surpreendidos em três lugares, e totalmente derrotados. Isto sucedeu
antes que expirasse a trégua de sete dias.

Vv. 12-15. SAUL É CONFIRMADO COMO REI.


12, 13. Então, disse o povo a Samuel: Quem são aqueles que
diziam: Reinará Saul sobre nós? — A entusiasta admiração do povo,
sob o impulso dos sentimentos de gratidão e generosidade, teria tomado
logo vingança da minoria que se opunha a Saul, se ele, movido por
princípios ou por prudência, não se tivesse mostrado tão grande em
clemência como em coragem. O conselho tranquilo e sutil de Samuel
dirigiu os sentimentos populares por condutos prudentes, chamando uma
assembleia geral da milícia, a força realmente eficaz da nação, em
Gilgal, onde, entre grande pompa e solenidades religiosas, o vitorioso
capitão foi confirmado em seu reino [1Sm_11:15].
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 35
1 Samuel 12

Vv. 1-5. SAMUEL TESTIFICA DE SUA INTEGRIDADE.


1. disse Samuel a todo o Israel — Este discurso público foi feito
depois da solene reinstalação de Saul, e antes que se separassem da
convenção em Gilgal. Tendo Samuel desafiado o povo para que fizesse
um exame de sua vida, recebeu um testemunho unânime à honra
imaculada de seu caráter pessoal como também à justiça e integridade de
sua administração pública.
5. O SENHOR é testemunha contra vós outros, e o seu ungido é,
hoje, testemunha — que, pela confissão deles mesmos, ele não lhes
tinha dado motivo para cansar do governo divino por meio de juízes, e
que, portanto, a culpa de desejar uma mudança de governo era deles. Isto
foi só insinuado, e eles não se deram conta do objetivo de seu discurso.

6-16. REPREENDE AO POVO POR SUA INGRATIDÃO.


7. Agora, pois, ponde-vos aqui, e pleitearei convosco perante o
SENHOR — O intento deste discurso fiel e firme foi o de lhes mostrar,
que, embora tivessem conseguido a mudança de governo que tinham
desejado tão importunamente, sua conduta era altamente desagradável a
seu Rei celestial; entretanto, se eles seguiam fiéis a Ele e aos princípios
da teocracia, poderiam livrar-se de muitos dos males que o novo estado
de coisas os exporiam. Em confirmação destas declarações, não menos
que na evidência do desagrado divino, sucedeu um notável fenômeno,
pela invocação do profeta, do qual ele tinha dado a devida advertência.
11. Bedã (TB) — A LXX diz: “Baraque”; e por “Samuel” algumas
versões dizem “Sansão”, o que parece mais natural que o fato de que o
profeta se mencionasse a si mesmo omitindo completamente o nome do
maior dos juízes. (Cf. Heb_11:32).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Vv. 17-25. ESPANTA-OS COM TROVÕES EM TEMPO DA
COLHEITA.
17. Não é, agora, o tempo da sega do trigo? — A colheita do trigo
na Palestina ocorre para o fim de junho ou princípios de julho, quando
raramente chove, e o céu é sereno e espaçoso. Não pôde ter havido uma
prova mais poderosa nem mais apropriada de sua missão divina que o
fenômeno da chuva e os trovões que caíram sem nenhum prognóstico de
sua chegada pela predição de uma pessoa que se declarava profeta, e que
o fez para confirmar que eram verdadeiras as suas palavras. O povo o
considerou uma manifestação do poder divino, e, aterrados, pediram ao
profeta que orasse por eles; prometendo fazê-lo, ele dissipou os seus
temores. A conduta de Samuel em todo este assunto da nomeação de
Saul, o assinala como um grande e bom homem, quem subordinou todas
as considerações particulares e pessoais a seu zelo desinteressado pelo
bem de sua pátria, e cujas últimas palavras em público foram para
advertir ao povo e a seu rei quanto ao perigo da apostasia e da
desobediência.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 37
1 Samuel 13

Vv. 1, 2. O EXÉRCITO SELETO DE SAUL.


1. Um ano reinara Saul — Os acontecimentos narrados nos
capítulos onze e doze foram os incidentes principais compreendidos no
primeiro ano do reinado de Saul, e os acontecimentos relatados neste
capítulo sucederam no segundo ano.
2. escolheu para si três mil homens de Israel — Este grupo de
homens seletos era um corpo de guardas que estava de serviço
constantemente, enquanto que outros foram despedidos até que os seus
serviços fossem necessários. Parece que sua tática era a de atacar às
guarnições filisteias que havia no país, por diferentes destacamentos, em
vez de arriscar um combate geral. Sua primeira operação foi dirigida a
libertar destes inimigos o seu território natal, o de Benjamim.

Vv. 3, 4. CHAMA OS HEBREUS A GILGAL CONTRA OS


FILISTEUS.
3. Jônatas—quer dizer, “dado por Deus”.
derrotou a guarnição dos filisteus que estava em Gibeá — Gibeá
e Geba eram cidades da tribo de Benjamim muito perto uma da outra
(Js_18:24, Js_18:28). A palavra traduzida “guarnição” é diferente da do
v. 23; a de 1Sm_14:1 significa, traduzida literalmente, algo ereto, talvez
um pilar ou haste de bandeira, indicativo da ascendência filisteia; e que a
secreta demolição de este estandarte, tão aborrecível ao jovem e nobre
patriota, foi a façanha de Jônatas a que se faz referência, o qual é
evidente pelas palavras: “os filisteus ouviram”, que não é o modo em que
se mencionaria um ataque a uma fortaleza.
Saul fez tocar a trombeta por toda a terra — este som bem
conhecido era o habitual toque de guerra dos hebreus; o primeiro som
era respondido por sinais de fogo nos lugares próximos. Tocava-se um
segundo som, respondido por fogo em lugares mais distantes, e assim a
proclamação era rapidamente difundida por todo o país. Como os
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 38
filisteus se ressentiram pela façanha de Jônatas, como de uma tentativa
de sacudir seu jugo imediatamente, decretou-se um levantamento geral
de tropas, sendo o lugar de reunião o velho acampamento de Gilgal.

V. 5. A GRANDE HOSTE DOS FILISTEUS.


Reuniram-se os filisteus para pelejar contra Israel: trinta mil
carros, e seis mil cavaleiros — este número deve incluir carros de todos
os tipos, ou talvez a palavra “carros” quer dizer os homens que neles
pelejavam (2Sm_10:18; 1Rs_20:21; 1Cr_19:18), ou, como creem alguns
críticos, a palavra Sheloshim, trinta, colocou-se no texto, em vez do
Shelosh, três. É preciso entender que esta junta de carros e cavaleiros foi
feito na planície filisteia, antes que eles subissem pelas passagens
ocidentais e entrassem no coração dos colinas benjamitas, em Micmás”
(hoje Mukmas), um vale escarpado, a leste de Bete-Áven (Betel).
(Robinson).

Vv. 6, 7. O APURO DOS ISRAELITAS.


6. Vendo, pois, os homens de Israel que estavam em apuros —
embora o heroísmo de Saul fosse completo, seus súditos não
manifestavam nenhuma medida de zelo ou energia. Em vez de aventurar
um encontro, fugiram por todos os lados. Alguns em seu espanto, saíram
do país (v. 7), mas a maioria se refugiou nos esconderijos que abundam
nas quebradas irregulares da região. As rochas estão perfuradas por todos
lados por “covas”, “fossos” e “cisternas”—gretas e fendas muito fundas
no solo de penhascos, celeiros subterrâneos e poços secos nos campos
vizinhos. O nome Micmás (tesouro escondido) parece derivar-se desta
peculiaridade natural. (Stanley).
8. Esperou Saul sete dias — Ele ainda estava nos limites orientais
de seu reino, no vale do Jordão. Alguns homens de espírito mais valente
se aventuraram a unir-se ao acampamento em Gilgal; mas até a coragem
daqueles homens valentes cedia diante da perspectiva dessa terrível
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 39
visitação; e como muitos deles se escapuliam, ele creu que era necessário
tomar alguma medida imediata e decidida.

Vv. 9-16. SAUL, CANSADO DE ESPERAR A SAMUEL,


OFERECE SACRIFÍCIOS.
9. disse Saul: Trazei-me aqui o holocausto e ofertas pacíficas —
embora Saul fosse muito patriota à sua maneira, era mais ambicioso para
ganhar um triunfo glorioso para si que atribuí-lo a Deus. Não entendia
sua devida posição como rei de Israel, e embora fosse consciente das
restrições sob as quais tinha a soberania, desejava governar como
autocrata, com poder absoluto tanto nas coisas civis como nas sagradas.
Esta ocasião foi sua primeira prova. Samuel esperou até o último dia dos
sete, para pôr à prova o caráter constitucional do rei; e como Saul em sua
precipitação impaciente e apaixonada, transgrediu sabendo (v. 12) ao
usurpar o ofício de sacerdote, e como não mostrou a fé de Gideão e de
outros generais hebreus, incorreu na ameaça de rejeição a qual foi
confirmada por sua perversidade futura.
15-16. se levantou Samuel e subiu de Gilgal a Gibeá … Saul, e
Jônatas, seu filho, e o povo que se achava com eles ficaram em Geba
— Saul transferiu para lá seu acampamento, com a esperança de que
sendo sua cidade natal, ganharia um aumento de seguidores, ou que
desfrutaria dos conselhos e influência do profeta.
17. Os saqueadores saíram do campo dos filisteus em três
tropas — Saqueando pelos três vales que se dividiam dos terrenos
elevados do Micmás a Ofra no norte, pela passagem de Bete-Horom no
oeste, e para baixo pelas quebradas do Zeboim (as hienas), rumo a Ghor
ou vale do Jordão a leste.
19. em toda a terra de Israel não se achava um ferreiro (TB) —
O país estava no estado mais baixo de abatimento e degradação. Depois
de sua vitória sobre os filhos de Eli, os filisteus tinham chegado a ser os
virtuais senhores da terra: sua política de desarmar os naturais foi
seguida com frequência no Oriente. Para reparar todo dano sério causado
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 40
a seus implementos agrícolas, os israelitas tinham que ir às fortalezas
filisteias próximas. Em algumas versões inglesas diz: “Entretanto,
tinham uma lima”, o que pode indicar um privilégio, para afiar os
utensílios menores de agricultura.
21. Entretanto, eles tinham uma lima para afiar as relhas de
arado (ASV) — como uma espécie de privilégio, com a finalidade de
afiar vários utensílios pequenos de agricultura.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 41
1 Samuel 14

Vv. 1-14. JÔNATAS MILAGROSAMENTE FERE A GUARNIÇÃO


FILISTEIA.
1. guarnição dos Filisteus — o acampamento em pé “no
desfiladeiro de Micmás” (1Sm_13:16, 23, margem), agora Wadi-es-
Suweinit. “Começa-nos arredores de Betin (Betel) e El-Berah (Beerote),
e como se abre passo pela serra mais abaixo desses lugares, seus lados
formam precipícios. À direita, a uns cem metros mais abaixo, outra vez
se desvia e passa entre altos precipícios perpendiculares”. (Robinson).
2. Saul se encontrava na extremidade de Gibeá — Entrincheirado,
junto com Samuel e Aías o sumo sacerdote, sobre uma das colinas
cônicas ou esféricas que abundam no território de Benjamim, e que são
muito adequadas para acampamentos, chamada Migrom (precipício).
4. Entre os desfiladeiros — quer dizer, a profunda quebrada de
Suweinit.
Jônatas procurava passar à guarnição dos filisteus — Uma
distância em torno de 4,5 quilômetros, passando entre duas pontas
escarpadas, ou em hebraico “dente de barranco”.
deste lado havia uma penha íngreme, e do outro, outra; uma se
chamava Bozez — (reluzente) pelo aspecto do penhasco argiloso.
Sené — (O espinho) talvez por alguma acácia solitária que haveria
em seu cimo. Estas são as únicas rochas desta classe nessa região; e o
cimo do penhasco na direção de Micmás estava ocupada pela guarnição
dos filisteus. Os dois acampamentos estavam visíveis entre si, e era pelo
lado deste precipício isolado por onde Jônatas e seu criado (1Sm_14:6)
fizeram seu avanço. Esta empresa é das mais valentes que conta a
história. A ação em si era atrevida e contrária a todas as regras
estabelecidas pela disciplina militar, as quais não permitem, que sem a
ordem dos generais, os soldados pelejem ou ataquem alguma empresa
que possa trazer graves consequências.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 42
6. porventura, o SENHOR nos ajudará nisto — Esta expressão
não significa uma dúvida, mas simplesmente que o objetivo que ele
desejava não estava em seu próprio poder, pois dependia de Deus, e que
ele não esperava êxito por sua própria força nem por seu próprio mérito.
9-10. Porém se disserem: Subi a nós; então, subiremos, pois o
SENHOR no-los entregou nas mãos — Aqui Jônatas parece prescrever
uma prova da vontade divina, e podemos inferir que o mesmo espírito
que inspirou esta empresa, sugeriu também os meios de sua execução,
pôs em seu coração o que pedir a Deus (Veja-se Gn_24:12-14).
11. Eis que já os hebreus estão saindo dos buracos — Como não
veio à mente dos sentinelas que dois homens tivessem vindo com
propósitos hostis, era lógico deduzir que eram desertores das filas
israelitas. E por este motivo não se fez nenhuma tentativa para impedir
sua ascensão nem para apedrejá-los.
14. Sucedeu esta primeira derrota, em que Jônatas e o seu
escudeiro mataram perto de vinte homens, em cerca de meia jeira de
terra. — Esta era uma forma antiga de medir que ainda perdura no
Oriente. Os homens que os tinham visto subir engatinhando pelos
penhascos, foram surpreendidos e mortos, e o espetáculo de vinte
cadáveres faria crer que tinham sido atacados por uma força numerosa.
O êxito da aventura foi ajudado pelo pânico que tomou posse do inimigo,
produzido tanto pelo repentino ataque como pelo efeito de um terremoto.
A façanha foi começada e obtida pela fé de Jônatas, e o resultado foi de
Deus.
16. Olharam as sentinelas de Saul — Das alturas de Gibeá via-se
e se ouvia a grande desordem no campo do inimigo.
17. disse Saul … contai e vede quem é que saiu dentre nós —
Veio-lhe à mente que poderia ser algum aventureiro atrevido,
pertencente a sua própria tropa, e que seria fácil descobri-lo.
18. Saul disse a Aías: Traze aqui a arca de Deus — Não há
evidência de que a arca tivesse sido trazida de Quiriate-Jearim. A LXX é
preferível, a qual mediante uma pequena variação diz: “a estola
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 43
sacerdotal”, a capa sacerdotal, que o sumo sacerdote vestia quando
consultava o oráculo. Que este objeto estivesse à mão, é natural, tanto
pela presença de Aías como pela proximidade de Nobe, onde estava
situado então o tabernáculo.
19. Retira a tua mão (TB, RSV) — O sacerdote, investido da
estola sacerdotal, orava com mão levantada e estendida. Vendo Saul que
era propícia a oportunidade e que parecia que Deus se declarou
suficientemente a favor de seu povo, pediu ao sacerdote que desistisse,
para que pudessem imediatamente tomar parte na contenda. Já tinha
passado o momento para a consulta, o tempo para operar prontamente
tinha chegado.
20-22. Saul e todo o povo que estava com ele se ajuntaram —
Todos os guerreiros que havia na guarnição de Gibeá, os desertores
israelitas no campo dos filisteus, e os fugitivos entre as montanhas de
Efraim, agora todos se lançaram a seguir os filisteus, os quais eram
fogosos e sanguinários.
23. Assim, livrou o SENHOR a Israel naquele dia; e a batalha
passou além de Bete-Áven — quer dizer, a Betel. A batalha passou pelo
bosque, nas montanhas centrais da Palestina, até o outro lado da
passagem oriental de Micmás (v. 31), à passagem ocidental de Aijalom,
pela qual escaparam a suas próprias planícies.
24. Saul conjurara o povo — Temendo que poderia perder-se tão
preciosa oportunidade para humilhar o poderio filisteu, o impetuoso rei
tinha posto um anátema sobre aquele que provasse comida até a tarde.
Esta maldição temerária e insensata afligia o povo, impedindo que
tomassem os alimentos que pudessem achar na marcha, e assim detinha
materialmente o feliz logro de seu próprio objeto patriótico.
25. Todo o povo chegou a um bosque onde havia mel — Este mel
se descreve como “na superfície do campo” (RC), “corria mel” (RC) das
árvores, e em favos, o que indica que era mel de abelhas. “As abelhas no
Oriente não estão em colmeias, como na Europa; todas estão em estado
silvestre. Poderia se dizer que os bosques literalmente fluem mel;
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 44
grandes favos se viam pendurados nas árvores, cheios de mel, quando
passamos por ali” (Roberts).
31-34. O povo se achava exausto em extremo; e, lançando-se ao
despojo — À tarde, quando o tempo fixado por Saul tinha expirado.
Extenuados e famintos, os soldados caíram vorazes sobre o gado que
tinham tomado, e lançaram os animais em terra para cortar sua carne e
comê-la crua, de modo que o exército, pela ação inconsiderada de Saul,
contaminou-se comendo sangue e carne de animais vivos;
provavelmente assim como fazem os abissínios, que cortam parte da
anca, mas fecham o couro sobre a ferida, de modo que o animal não
morre. Os soldados eram escrupulosos em guardar a ordem do rei por
temor da maldição, mas não tiveram escrúpulo em violar o mandamento
de Deus. Para evitar esta violação da lei, Saul mandou que fosse rodada
uma pedra grande, e que os que matassem o gado, o degolassem sobre
aquela pedra. Colocada a cabeça do animal sobre a pedra, o sangue
corria pela terra, e havia suficiente evidencia de que o boi ou a ovelha
estavam mortos, antes de que os homens buscassem comer sua carne.
45. Assim, o povo salvou a Jônatas, para que não morresse —
Quando Saul soube da transgressão de Jônatas quanto ao mel, embora
tivesse sido feita em ignorância e não implicava nenhuma culpabilidade,
ele, como Jefté [Jz_11:31, 35], estava prestes a matar a seu filho, de
acordo com o seu juramento [1Sm_14:44]. Mas a consciência do
exército, mais iluminada que a de Saul, impediu que fosse empanada a
glória daquele dia pelo sangue do jovem herói, a cuja fé e valor devia-se
o triunfo.
47, 48. Tendo Saul assumido o reinado de Israel, pelejou contra
todos os seus inimigos em redor — Este assinalado triunfo sobre os
filisteus era seguido, não só por sua expulsão da terra de Israel, mas por
afortunadas incursões contra vários vizinhos inimigos, aos quais Saul
perseguia sem subjugá-los.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 45
1 Samuel 15

Vv. 1-6. SAUL ENVIADO A DESTRUIR AMALEQUE.


1. Disse Samuel a Saul: Enviou-me o SENHOR a ungir-te rei
sobre o seu povo, sobre Israel; atenta, pois, agora, às palavras do
SENHOR — Vários anos tinham passado já em prósperas operações
militares contra vizinhos incômodos, e durante esses anos a Saul lhe
tinha sido permitido fazer quanto tinha querido por seu próprio critério,
como príncipe independente. Agora submete a uma nova prova para
saber se ele possuía o caráter de rei teocrático de Israel, e ao anunciar o
dever que lhe era exigido, Samuel o fez entender sua condição como
vice-gerente do Senhor e a obrigação peculiar sob a qual era levado a
agir em tal capacidade. Anteriormente ele tinha feito mal, pelo qual foi
dada uma severa repreensão e uma ameaça. (1Sm_13:13, 14). Agora lhe
oferecia uma oportunidade para reparar aquele erro por uma obediência
exata ao mandado divino.
2, 3. Amaleque — A poderosa tribo que habitava o território que
estava imediatamente ao oriente dos cusitas setentrionais. Seu território
se estendia sobre toda a parte oriental do deserto de Sinai até Refidim—
era o primeiro oponente (Dt_25:18; Êx_17:8-16), o inimigo hereditário
de Israel (Nm_14:45; Jz_3:13; Jz_6:3) e não se tinha arrependido
(1Sm_14:48) de sua amarga e profunda inimizade durante os 500 anos
que tinham transcorrido desde que foi pronunciada sua destruição. Sendo
um povo de costumes nômades, eram tão saqueadores e perigosos como
os árabes beduínos, especialmente para as tribos meridionais de Israel.
Os interesses nacionais exigiam, e Deus, como Rei de Israel, decretou
que este inimigo público fosse tirado. Sua destruição devia ser sem
reserva nem exceção.
2. Eu me recordei (RC) — lembro-me do que fez Amaleque,
talvez pelo troféu ou memorial erigido por Moisés (Êx_17:15-16), que
talvez ainda existia.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 46
4. Saul convocou o povo — O ardor com que Saul começou os
preparativos necessários para a expedição, eram uma promessa favorável
mas ilusória, de fidelidade em sua execução.
Telaim — ou “Telem”, entre as cidades mais remotas de Judá,
rumo ao termo de Edom (Js_15:21, Js_15:24).
5. Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque — provavelmente
sua capital.
pôs emboscadas no vale — seguindo o exemplo estratégico de
Josué em Ai (Josué 8:4).
6. aos queneus — (Veja-se Js_1:16). Devido talvez ao estado
instável de Judá, eles tinham voltado para suas regiões desertas. Embora
atualmente estivessem mesclados com os amalequitas, eles não estavam
complicados nas ofensas daquela raça ímpia; mas por amor de seus
antepassados, entre os quais e os de Israel tinha havido um tratado de
amizade, isso lhes deu uma oportuna advertência para que saíssem do
lugar de perigo.

Vv. 7-9. SAUL PERDOA AGAGUE E O MELHOR DOS DESPOJOS.


7. Saul bateu aos amalequitas (TB) — Sua própria opinião foi a
regra que seguiu para sua conduta e não o mandado de Deus.
8. Tomou vivo a Agague — Este foi o título comum dos reis
amalequitas. Saul não teve escrúpulos a respeito da evidente crueldade
disso, pois fez uma feroz e completa destruição do povo. Mas perdoou a
este distinto cativo, e igualmente as partes mais valiosas do despojo,
como o gado. Por esta desobediência obstinada e parcial a um mandado
positivo [1Sm_15:3], cumprindo-o em algumas partes e violando-o em
outras, segundo sua vontade, Saul demonstrou seu caráter egoísta e
arbitrário, seu amor ao poder despótico, e sua completa incapacidade
para cumprir os deveres de um delegado rei de Israel.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 47
Vv. 10-35. DEUS O REJEITA POR TER DESOBEDECIDO.
10-11. veio a palavra do SENHOR a Samuel, dizendo:
Arrependo-me de haver constituído Saul rei — Nas Escrituras se
atribui a Deus arrependimento, quando os homens maus lhe davam
motivo para mudar seus planos e métodos de proceder, e para os tratar
como se Ele “se arrependesse” da bondade mostrada. Ao coração de um
homem como Samuel, o qual estava acima de toda consideração de
inveja, e que realmente amava ao rei, um anúncio tão penoso despertou
toda a sua compaixão, e o fez passar uma noite sem dormir, em fervorosa
intercessão.
12. chegou Saul ao Carmelo — No sul de Judá (Js_15:55;
1Sm_25:2).
levantou para si um monumento — quer dizer, um pilar
(2Sm_18:18); lit. “uma mão”—o que indicava que, sendo qual fosse sua
forma, rematava na figura de uma mão, que segundo o costume antigo,
significava poder e energia. A ereção de este troféu vanglorioso foi um
ato mais de desobediência. Sua vaidade ultrapassava seu sentido de
dever, primeiro no fato de levantar este monumento em sua própria
honra, e logo foi ao Gilgal para oferecer sacrifício a Deus.
13. Veio, pois, Samuel a Saul, e este lhe disse: Bendito sejas tu
do SENHOR; executei as palavras do SENHOR — Saul estava
cegado por um amor próprio parcial e enganoso, ou, em sua declaração a
Samuel, fazia o papel de um hipócrita atrevido e ardiloso. Professou ter
completado o mandado divino, e que a culpa de qualquer defeito na
execução correspondia ao povo. Samuel, entretanto, via o verdadeiro
estado do caso, e em cumprimento da comissão que tinha recebido antes
de empreender a viagem, passou a denunciar a conduta de Saul como
caracterizada por orgulho, rebelião e desobediência obstinada. Quando
Saul persistiu em afirmar que tinha obedecido, alegando que os animais,
cujo balido era ouvido, tinham sido reservados para um liberal sacrifício
de agradecimento a Deus, sua resposta evasiva e mentirosa provocou
uma repreensão dura da parte do profeta. Foi merecida, porque o destino
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 48
do despojo ao altar foi um pretexto fútil; foi um engano grosseiro, um
esforço por esconder o egoísmo do motivo original sob a aparência de
zelo religioso e de gratidão.
24. Pequei … porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz — Este
motivo era diferente do que tinha alegado antes. É a linguagem de
homem levado a medidas extremas, e embora tivesse sido verdade, os
princípios explicados por Samuel, demonstraram que não poderiam
mitigar a ofensa. O profeta então pronunciou a irrevogável sentença do
rechaço de Saul e sua família. Foi judicialmente excluído por sua
desobediência.
25. volta comigo, para que adore o SENHOR — O monarca,
errado mas orgulhoso e obstinado, agora está humilhado.
Momentaneamente se sentia ferido em sua consciência, mas sua
confissão procedia, não de um arrependimento sincero, mas de um
sentido de perigo e do desejo de livrar-se da sentença pronunciada contra
ele. Para cobrir as aparências, rogou a Samuel que não deixasse
transparecer as sérias diferenças que havia entre eles, e lhe pediu que o
acompanhasse num ato de culto público. Sob a influência de seus
penosamente agitados sentimentos, ele propôs oferecer sacrifícios, em
parte para expressar sua gratidão pela recente vitória, e em parte para
pedir misericórdia e a revogação de sua condenação. Foi, de outro ponto
de vista, um projeto político, para que Samuel fosse levado
engañosamente a aprovar seu plano de reservar o gado para o sacrifício.
Samuel se negou a acompanhá-lo.
27. Saul o segurou pela orla do manto — O moil, túnica superior,
roupagem oficial. Na angústia de sua agitação mental, segurou a roupa
do profeta com o fim de detê-lo; a ruptura da capa foi habilmente usada
como uma representação significante e mística da separação de Saul do
trono.
29. o Triunfador de Israel não mentirá (TB) — Heb. “aquele que
dá vitória a Israel”; uma nova repreensão a seu orgulho em levantar o
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 49
troféu no Carmelo, e uma intimação de que Israel não sofreria perda
alguma por sua rejeição.
31. Samuel seguiu a Saul — Não para adorar junto a ele; mas sim,
primeiro, para que o povo não tivesse ocasião, com pretexto do rechaço
de Saul, lhe retirar sua lealdade; e, em segundo lugar, para reparar o erro
de Saul, mediante a execução do juízo em Agague.
32. Agague veio a ele, confiante — Ou alegremente, visto que
tinha granjeado o favor e a proteção do rei.
33. Samuel despedaçou a Agague — Este tirano cruel encontrou a
retribuição de uma providência justiceira. Nunca foi estranho que
grandes personagens oficiais do Oriente executassem justiça com suas
próprias mãos. Samuel o fez “perante o Senhor” em Gilgal, mandando
que o mesmo castigo (até então desconhecido em Israel) que Agague
tinha usado contra outros, fosse usado contra ele mesmo.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 50
1 Samuel 16

Vv. 1-10. SAMUEL É ENVIADO POR DEUS A BELÉM.


1. Disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás pena de Saul?
— A tristeza de Samuel pelo rechaço de Saul, acompanhada sem dúvida
por rogos ardentes por sua restituição, mostrava os sentimentos amáveis
do homem, mas tais sentimentos estavam em conflito com seu dever
público como profeta. O propósito declarado de Deus de transferir o
reino a outras mãos que não fossem as de Saul, não era uma ameaça
irada, mas sim um decreto fixo e imutável; de modo que Samuel deveria
ter-se submetido mais prontamente à manifestação decisiva da vontade
divina. Mas para não deixar lugar a dúvidas de que era invariável, ele foi
enviado numa missão particular para ungir a um sucessor de Saul
(1Sm_10:1). A nomeação imediata de um rei era da maior importância
para os interesses da nação no caso da morte de Saul, a qual se temia
nesse tempo; tal nomeação estabeleceria o título de Davi, e confortaria a
mente de Samuel e outros homens bons mediante uma instalação correta,
acontecesse o que acontecesse.
me provi de um rei — A linguagem é notável, e sugere uma
diferença entre este rei e o anterior. Saul foi a eleição do povo, o fruto de
seus desejos egoístas e pecaminosos para sua própria honra e
engrandecimento. O próximo seria um rei que consultaria a glória divina,
e seria eleito dentre aquela tribo a qual tinha sido prometida a
preeminência desde muito tempo (Gn_49:10).
2. Como irei eu? — este é um novo caso da fraqueza de Samuel.
Visto que Deus o tinha enviado, Ele o protegeria na execução.
Vim para sacrificar ao SENHOR — Parece ter sido costume de
Samuel fazer isto nas diferentes caminhadas que fazia, com o fim de
fomentar o culto a Deus.
3. Convidarás Jessé para o sacrifício — quer dizer, à festa social
que se seguia ao sacrifício pacífico. Sendo Samuel o ofertante, tinha
direito a convidar a qualquer pessoa que ele quisesse.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 51
4. Saíram-lhe ao encontro os anciãos da cidade — Belém era um
povo humilde, e não pertencia à excursão regular do juiz. Naturalmente
os anciãos estavam receosos de que sua chegada fosse ocasionada por
algum motivo extraordinário, e que pudesse trazer mal sobre a cidade,
devido à separação de Saul e Samuel.
5. Santificai-vos — Por meio dos preparativos assinalados em
Êx_19:14-15. Os anciãos deviam santificar-se a si mesmos. Samuel
mesmo tomou o maior cuidado na santificação da família de Jessé.
Alguns creem que aqueles foram convidados só para tomar parte no
sacrifício, enquanto que a família de Jessé foi convidada separadamente
à festa subsequente.
6-10. Certamente, está perante o SENHOR o seu ungido —
Aqui Samuel cai no mesmo erro anterior de se deixar impressionar pela
aparência externa (1Sm_10:24).

Vv. 11-14. UNGE A DAVI.


11. Ainda falta o mais moço, que está apascentando as ovelhas
— Evidentemente não tendo Jessé nenhuma ideia da sabedoria e
coragem de Davi, falava dele como do mais incapaz. Assim o ordenou
Deus em sua providência, para que a nomeação de Davi aparecesse mais
claramente como o propósito divino, e não como o desígnio de Samuel
ou de Jessé. Como Davi não tinha sido santificado com os demais da
família, é provável que tenha voltado para seus deveres pastoris logo que
foi concluído o assunto para o qual foi chamado.
12. Era ele ruivo, etc. — Josefo diz que Davi tinha dez anos,
enquanto que muitos comentadores modernos opinam que deve ter tido
quinze.
13. Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu — Isto deve ter
sido feito rigorosamente em particular.
14-18. Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da
parte deste um espírito maligno o atormentava — Suas próprias
reflexões sombrias, o conhecimento de que não tinha operado segundo o
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 52
caráter de um rei israelita, a perda de seu trono e a abolição de sua casa
real, o tornaram ciumento, irritável, vingativo e propenso a ataques de
melancolia mórbida.
19. Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi —
No Oriente o mandado de um rei é imperativo, e Jessé, por pouco
disposto e alarmado que pudesse estar, não pôde senão cumprir.
20. Tomou, pois, Jessé um jumento, e o carregou de pão, um
odre de vinho e um cabrito, e enviou-os a Saul — como sinal de
homenagem e respeito.
21. Davi foi a Saul e esteve perante ele — A providência preparou
a Davi para seu destino, colocando-o em posição de conhecer os
costumes da corte, os assuntos do governo e o estado geral do reino.
o fez seu escudeiro — Este posto, sendo uma expressão da
parcialidade do rei, mostra a honroso com que o posto era considerado.
23. Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia alívio
e se achava melhor — Os antigos criam que a música exercia uma
influência misteriosa para curar as doenças mentais.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 53
1 Samuel 17

Vv. 1-3. OS ISRAELITAS E FILISTEUS PREPARADOS PARA


A BATALHA.
1. Ajuntaram os filisteus as suas tropas para a guerra — Vinte e
sete anos depois de sua derrota em Micmás. Tendo recuperado seu
espírito e fortaleza, estavam buscando uma oportunidade para apagar a
infâmia de seu desastre nacional como também para ganhar sua perdida
ascendência sobre Israel.
Socó — agora Shuweikeh, povo nas planícies ocidentais de Judá
(Js_15:35), nove milhas romanas de Eleuterópolis, indo para Jerusalém.
(Robinson).
Azeca — lugar pequeno nas cercanias.
Efes-Damim — ou Pas-Damim (1Cr_11:13), “a porção ou efusão
de sangue”, situada entre os outros dois lugares.
2. vale de Elá — quer dizer, o terebinto, agora Wadi Es-Sumt.
(Robinson). Outro vale um pouco a norte, agora chamado Wadi Beit
Hanina, foi tomado pela tradição antiga.

Vv. 4-11. GOLIAS DESAFIA AO COMBATE.


4. um campeão (TB, RSV) — pessoa, quem da parte de seu povo,
propunha-se determinar o pleito nacional, entrando em combate com um
homem escolhido dentre o exército contrário.
5. um capacete de bronze — o elmo filisteu tinha a aparência de
uma fileira de penas posta numa tiara ou cinta de metal, a qual se
acrescentavam escamas do mesmo material, para a proteção do pescoço
e as bochechas. (Osborn).
couraça de escamas — espécie de couraça acolchoada com couro
ou pranchas de metal, chegando só ao tórax, e sustentado por correias
desde os ombros deixando assim os braços livres.
6. caneleiras de bronze — botas que terminavam no tornozelo,
feitas de uma prancha de metal, mas arredondadas na forma da perna, e
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 54
frequentemente forradas de feltro ou esponja. Eram úteis para proteger as
pernas, não só das lanças dos inimigos, mas também para andar entre os
espinhos.
um dardo de bronze — armação circular, levada nas costas, e
suspensa por uma correia longa que passava do ombro até a lado.
7. A haste da sua lança — cerca de dois metros de comprimento, e
capaz de ser usada como dardo de bronze (1Sm_19:10). Sua cabeça era
de ferro.
diante dele ia o escudeiro — Devido a seu grande tamanho e peso,
o guerreiro oriental tinha um amigo fiel e capaz, cujo dever era levar o
escudo grande, depois do qual evitava as armas que arrojava o inimigo.
Ele estava coberto da cabeça aos pés por um arma defensiva, enquanto
que levava só duas ofensivas: uma espada a seu lado e uma lança em sua
mão.
10. Eu desafio hoje as tropas de Israel. Dai-me um homem, para
que pelejemos a sós — Em casos de combate singular, o guerreiro
estava acostumado a sair diante de seu grupo, e avançando para as filas
contrárias, desafiar alguém a sair e pelejar com ele. Se sua aparência
formidável, ou sua grande fama por sua fortaleza física e seu heroísmo,
desanimavam a algum contrário a aceitar o desafio, ele passeava dentro
do alcance do ouvido das linhas inimigas, e com grande voz e com
arrogância e jactância os desafiava, emitindo correntes de zombaria e
insolência para provocar o seu ressentimento.

Vv. 12-58. DAVI ACEITA O DESAFIO, E O MATA.


17. Toma agora para teus irmãos esta efa de grão tostado e estes
dez pães — Naqueles tempos as campanhas raramente duravam mais
que uns quantos dias. Os soldados eram voluntários ou do exército
regular, e eram abastecidos com comestíveis de tempo em tempo por
seus familiares.
18. estes dez queijos, leva-os ao comandante de mil — Para
granjear sua boa vontade. Os queijos orientais são muito pequenos,
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 55
semelhantes em forma e tamanho a pães pequenos. Embora sejam
frequentemente de uma consistência branda, como coalhada ou
requeijão, que Davi levou, devem ter estado devidamente formados e
suficientemente secos para poder ser levados.
trarás uma prova de como passam — Os sinais de saúde e bem-
estar dos soldados eram enviadas a suas casas em forma de uma mecha
de cabelo, um pedaço de unha, ou coisas assim.
20. deixou as ovelhas com um guarda — este é o único caso em
que o pastor com salário distingue-se do dono, ou um de sua família.
Trincheiras (TB, AV) — uma fraca tentativa de fazer uma defesa.
Parece ter sido formado por uma fila de carros, o que, desde os tempos
primitivos, era a prática dos povos nômades.
22. Davi, deixando o que trouxera aos cuidados do guarda da
bagagem — para encaminhar-se ao estandarte de Judá.
25. à casa de seu pai isentará de impostos — Sua família seria
eximida dos impostos e serviços aos quais outros israelitas estavam
submetidos.
34-36. um leão ou um urso — Estes foram dois casos distintos,
porque estes animais andam a sós. O urso deve ter sido o urso sírio, o
qual crê-se que é uma espécie distinta, ou talvez uma variedade de urso
pardo. A “barba” — nossa versão TB “queixadas” — refere-se só ao
leão. Estas façanhas foram feitas, ao que parece, sem armas mais
eficazes que paus ou pedras do campo, ou a vara do pastor.
37. O SENHOR me livrou — Teria sido natural que um jovem, e
especialmente um jovem oriental, fizesse alarde de sua proeza; mas a
religiosidade de Davi extinguia toda consideração de sua própria proeza,
e atribuía o êxito desses atos à ajuda divina, a qual ele assegurava que
não lhe faltaria numa causa que tão intimamente concernia à segurança e
a honra do povo de Deus.
disse Saul a Davi: Vai-te, e o SENHOR seja contigo — A
linguagem piedosa do modesto mas valente jovem fez impressão no
coração do monarca. Ele sentia que isto indicava a verdadeira confiança
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 56
militar para Israel, portanto resolveu, sem vacilação, sancionar um
combate do qual dependia a sorte de seu reino, e com um campeão em
defesa de seus interesses, aparentemente ineficaz para a tarefa.
38, 39. Saul vestiu a Davi da sua armadura — Os antigos hebreus
atendiam cuidadosamente a segurança pessoal de seus guerreiros, e por
este motivo, Saul preparou o jovem campeão com suas armas defensivas,
as que seriam da melhor classe. É provável que a malha de Saul tenha
sido como uma camisa solta, pois de outro modo não serviria para um
jovenzinho e também para um homem da estatura colossal de Saul.
40. ribeiro — Wadi.
alforje — a bolsa pastoril, que continha sua comida diária.
funda — A funda consistia em duas cordas e uma tira de couro que
recebia a pedra. O atirador de funda retinha outra pedra na mão
esquerda. Davi tomou cinco pedras como uma reserva para o caso da
primeira falhar. Os pastores do Oriente ainda levam uma funda e pedras
para afugentar ou matar os inimigos do rebanho.
42-47. Disse o filisteu … Davi, porém, disse ao filisteu — Quando
dois campeões se encontravam, geralmente cada um fazia um discurso, e
algumas vezes recitavam versos com alusões e epítetos do tipo mais
injurioso, lançando desprezos e provocações um ao outro. Este tipo de
diálogo injurioso ainda é muito comum entre os combatentes árabes.
Mas o discurso de Davi, entretanto, apresenta um contraste notável com
o curso usual destas invectivas. Era cheio de uma confiança piedosa, e
ele atribuía a Deus toda a glória do triunfo que ele previa.
49. feriu o filisteu na testa — Na abertura para os olhos, a única
parte do corpo que ficava sem defesa.
51. o matou, cortando-lhe com ela a cabeça — Não como prova
da morte do gigante, porque sua matança se efetuou na presença de todo
o exército, mas sim como um troféu que seria levado a Saul. As cabeças
dos inimigos fortes sempre são consideradas como os troféus de vitória
mais estimados.
52. Saaraim — (Veja-se Js_15:36).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 57
54. tenda — O tabernáculo sagrado. Davi dedicou a espada de
Golias como oferta votiva ao Senhor.
55-58. Saul ... disse … De quem é filho este jovem, Abner? —
Em muitos países orientais fala-se mais frequentemente de um jovem
pelo nome do pai que por seu próprio nome. O crescimento da barba e
outras mudanças no jovem já adulto, impediram que o rei reconhecesse a
seu músico favorito de antigamente [1Sm_16:23].
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 58
1 Samuel 18

Vv. 1-4. JÔNATAS AMA A DAVI.


1. a alma de Jônatas se ligou com a de Davi — Eram quase da
mesma idade. O príncipe se interessou pouco em Davi como músico,
mas seu heroísmo e seu porte modesto e varonil, sua piedade e seus
elevados dotes, acenderam a chama, não só de admiração mas também
de afeto, na mente congênita de Jônatas.
2. Saul, naquele dia, o tomou e não lhe permitiu que tornasse
para casa de seu pai — Ficou como residente da corte.
3. Jônatas e Davi fizeram aliança — Tais alianças de fraternidade
são comuns no Oriente. São ratificadas com certas cerimônias e na
presença de testemunhas, de que as pessoas pactuantes serão irmãos
juramentados durante toda a vida.
4. Despojou-se Jônatas da capa que vestia e a deu a Davi —
Receber alguma parte da roupa que foi usada por um soberano e por seu
filho mais velho e herdeiro, considera-se no Oriente como a honra mais
alta que se pode conferir a um súdito (Veja-se Est 6:8). O cinturão, como
vai junto com a espada e o arco, pode considerar-se como parte da
vestimenta militar, e a ele se atribui grande valor no Oriente.

Vv. 5-9. SAUL INVEJA O LOUVOR DE DAVI.


6. as mulheres de todas as cidades de Israel saíram — Na
marcha de volta de seguir os filisteus. Isto é um rasgo característico dos
costumes orientais. Em ocasião da volta dos amigos que por longo tempo
estiveram ausentes, e especialmente na volta de um exército vitorioso,
grupos de mulheres e meninos saem das cidades e aldeias, para formar
procissões triunfais e celebrar a vitória, e na marcha festejam aos
soldados com danças, música instrumental e cânticos extemporâneos, em
honra dos generais que mereceram a mais alta distinção por suas
façanhas valentes. Estas mulheres hebreias só estavam tributando as
felicitações usuais a Davi como o libertador de sua pátria, mas
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 59
cometeram uma grande indiscrição ao louvar o súdito às custas de seu
soberano.
9. Saul não via a Davi com bons olhos — quer dizer,
invejosamente, com um ódio secreto e maligno.

Vv. 10-12. SAUL TENTA MATAR DAVI.


10. No dia seguinte, um espírito maligno, da parte de Deus, se
apossou de Saul — Este pensamento irritante produziu um repentino
paroxismo de seu mal-estar mental.
profetizava dentro da casa (TB) — O termo indica que alguém
está sob a influência de um espírito bom ou mau. Neste caso usa-se para
dizer que Saul estava possuído de loucura. Notando Davi os sintomas,
apressou-se, mediante as doces melodias da harpa, a acalmar a agitação
tormentosa do cérebro real. Mas antes que se pudesse sentir sua
influência suavizadora, Saul arrojou uma lança na direção da cabeça do
jovem músico.
Saul tinha na mão a sua lança — Se tivesse tido um resultado
fatal, o fato se teria considerado como obra de um demente
irresponsável. Isto se repetiu mais de uma vez ineficazmente, e Saul
chegou a sentir temor de que Davi estivesse sob a proteção especial da
divina providência.

Vv. 13-16. SAUL O TEME POR SEU BOM ÊXITO.


13. Por isso Saul o afastou de si — O despachou da corte, onde as
pessoas principais, seu próprio filho inclusive, estavam encantadas e se
admiravam pelo jovem e piedoso guerreiro.
o fez comandante de mil homens — Deu-lhe uma comissão
militar, a qual se propunha que fosse um exílio honroso. Mas este posto
serviu somente para destacar diante do público as qualidades
extraordinárias e variadas de seu caráter, e para lhe dar uma influência
mais poderosa no carinho do povo.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 60
Vv. 17-21. DAVI LHE OFERECE SUA FILHA.
17. Disse Saul a Davi: Eis aqui Merabe, minha filha mais velha,
que te darei por mulher — Embora obrigado a isto [1Sm_17:25], Saul
achou muito confortável esquecer-se de sua promessa anterior, e agora o
apresenta como um oferecimento novo, o qual desafiava a Davi a dar
mais provas de sua coragem. Mas o monarca volúvel e traidor violou sua
promessa quando o casamento estava prestes a celebrar-se, e deu Merabe
a outro homem (veja-se 2Sm_21:8); o que era tanto uma indignidade
como uma maldade, encaminhadas a ferir profundamente os sentimentos
e provocar os ressentimentos de Davi. Talvez assim pensava fazer com o
fim de tirar vantagem de alguma indiscrição de Davi, mas Davi se salvou
desta armadilha.
20. Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi — Isto deve
ter sucedido algum tempo depois.
Contaram-no a Saul, e isso lhe agradou — Não por algum favor a
Davi, mas ele pensou que favoreceria para avançar os seus propósitos
ímpios, e ainda assim quando, pelas intrigas ardilosas e as lisonjas de
seus espiões, fossem descobertos os sentimentos leais de Davi.
25. O rei não deseja dote algum — Nos países orientais o marido
compra sua esposa por presentes ou por serviços. Como nem Davi nem
sua família estavam em condições de poder dar um dote digno de uma
princesa, intimou o rei que ele estaria contente em aceitar algum feito
valente no serviço público.
cem prepúcios de filisteus — Tais mutilações nos corpos dos
inimigos mortos se praticava nas guerras antigas, e o número indicava a
glória da vitória. A disposição de Saul a aceitar um serviço público da
parte de Davi, teve certo ar de liberalidade, enquanto que sua escolha de
um serviço tão difícil e perigoso parecia somente para pôr um valor à
mão da filha do rei. Além disso, ele cobriu sua malícia inescrupulosa
contra Davi sob esta proposta, que mostrava um zelo por Deus e a
aliança da circuncisão.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 61
26. Antes de vencido o prazo — Não tinha terminado o período no
qual esta façanha devia ser feita.
27. Davi … matou dentre os filisteus duzentos homens (TB) —
Foi duplicado o número, por um lado para mostrar o seu respeito e afeto
à princesa, e por outro lado para obrigar a Saul a cumprir sua promessa.
29. Então, Saul temeu ainda mais a Davi — Porque visivelmente
a providência o tinha favorecido, não só por fazer malograr a
conspiração contra sua vida mas também porque sua aliança com a
família real estava preparando seu caminho ao trono.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 62
1 Samuel 19

Vv. 1-7. JÔNATAS REVELA O PROPÓSITO DE SAUL DE


MATAR A DAVI.
1. Falou Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os servos sobre
matar Davi — Sua intenção homicida que vinha secretamente
acariciando, agora a revela a alguns de seus amigos íntimos, entre estes
estava Jônatas. Prudentemente, não disse nada no momento, mas
secretamente avisou a Davi de seu perigo, e esperando até o dia seguinte,
quando estivesse mais acalmada a ira do pai, colocou a seu amigo num
paragem oculta, onde, escutando a conversação, dar-se-ia conta de como
estavam os assuntos, e poderia fugir se fosse necessário.
4-7. Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai — —Disse ao pai
que ele cometia um grande pecado ao conspirar contra a vida de um
homem que tinha rendido os serviços mais inestimáveis à nação, e cuja
lealdade tinha sido uniformemente firme e fiel. As fortes admoestações
de Jônatas produziram efeito na mente impulsiva de seu pai, porque
ainda era suscetível a impressões boas e honestas, e prometeu com
juramento abandonar seu propósito hostil; e assim, pela intervenção do
príncipe de rasgos nobres, efetuou-se uma reconciliação momentânea,
como resultado da qual Davi foi novamente integrado no serviço
público.

Vv. 8-17. ESTALA A RAIVA MALIGNA DE SAUL CONTRA


DAVI.
8. Davi pelejou contra os filisteus e os feriu com grande derrota
— ganhou uma vitória brilhante sobre o inimigo público. Mas estes
novos louros de Davi despertaram no taciturno Saul o anterior espírito de
inveja e melancolia. Ao retornar Davi a corte, a ira de Saul chegou a ser
mais diabólica que nunca. Os acordes melodiosos da harpa já tinham
perdido todo o seu poder para acalmar; e num paroxismo de
incontrolável frenesi, Saul lançou uma lança contra Davi, sendo a arma
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 63
arrojada com tanta força que penetrou na parede da peça.
Providencialmente Davi escapou, mas como Saul já tinha tirado a
máscara e estava resolvido a usar medidas agressivas, se tornou-se a
situação de seu genro por toda parte.
11. Saul, naquela mesma noite, mandou mensageiros à casa de
Davi, que o vigiassem, para ele o matar pela manhã — O temor de
causar comoção na cidade ou de favorecer sua fuga na escuridão, parece
ter influenciado para que o rei ordenasse a vigiá-lo até pela manhã. Este
capricho foi frustrado pela Providência para favorecer a fuga de Davi;
porque sua esposa, secretamente avisada por Jônatas, quem conhecia o
plano, desceu-o por uma janela (veja-se Js_2:15).
13, 14. Mical tomou um ídolo do lar, e o deitou na cama —
“Uma imagem”, literalmente, “os terafim”, colocou-o não na cama, mas
sim sobre o divã ou sofá; e “o travesseiro”, a almofada, geralmente posto
atrás sobre o divã, e que estava recheado de cabelos de cabra, colocou-a
mais abaixo, tampando-a com uma manta, para dar o devido calor ao
doente; ao mesmo tempo ajeitou o cabelo de cabra para que parecesse o
cabelo despenteado de um homem, aparentando que ali jazia Davi
doente. Os primeiros mensageiros de Saul, ficando a uma distância
prudente, foram enganados; mas uma inspeção mais próxima revelou o
engano.
15. Trazei-mo mesmo na cama, para que o mate — leito ou
colchão portátil.

Vv. 18-23. DAVI FOGE ATÉ SAMUEL.


18-23. Davi fugiu, e escapou, e veio a Samuel, a Ramá — Samuel
estava vivendo em grande retiro, dirigindo a escola dos profetas,
estabelecida na aldeia de Naiote, nas cercanias de Ramá. Era um retiro
congênito à mente de Davi; mas Saul, tendo descoberto o esconderijo de
Davi, enviou sucessivamente três grupos de homens a tomá-lo preso.
Mas o caráter do lugar e a influência dos exercícios sagrados produziram
neles tal efeito que foram incapazes de cumprir a sua missão, e foram
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 64
movidos por um impulso irresistível a tomar parte em cantar os louvores
de Deus. Saul, num arrebatamento de ira e decepção, resolveu ir em
pessoa. Mas, antes que chegasse ao lugar, foram despertadas suas
suscetibilidades mentais ainda mais que as de seus mensageiros, e logo
se achou entre as filas dos jovens profetas. Esta mudança estranha pode
imputar-se somente ao poder dAquele que pode mudar o rumo do
coração dos homens assim como os rios de água.

V. 24. SAUL PROFETIZA.


Também ele despiu a sua túnica — quer dizer, despido de suas
armas e roupas exteriores, em estado de êxtase. Assim, Deus, fazendo
com que a ira do homem O louvasse, conservou a vida de todos os
profetas, frustrou os propósitos de Saul, e salvou a vida de Seu servo
Davi.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 65
1 Samuel 20

Vv. 1-10. DAVI CONSULTA JÔNATAS POR SUA SEGURANÇA.


1. fugiu Davi da casa dos profetas, em Ramá, e veio, e disse a
Jônatas. — Não podia ficar em Naiote, porque tinha razão em temer
que, quando passasse o arrebatamento religioso de Saul, se assim
podemos chamar, o monarca voltasse para seu costumeiro estado mental
triste e sanguinário. Poderia se dizer que Davi agiu imprudentemente ao
fugir a Gibeá. Mas evidentemente foi levado lá pelos sentimentos mais
generosos, para informar a seu amigo do que tinha sucedido
recentemente, e para obter o consentimento de seu amigo para a conduta
que estava obrigado a seguir. Jônatas não se podia persuadir de que
houvesse perigo algum para Davi, depois que Saul fez promessa com
juramento. De toda maneira, sentia-se seguro de que o pai não faria nada
sem dizer-lhe a ele. O afeto filial naturalmente cegava o príncipe de
maneira que não podia ver os defeitos que havia no caráter do pai, e fazia
com que fosse pouco disposto a crê-lo capaz de semelhante crime. Davi
repetiu sua firme convicção do propósito homicida de Saul, mas em
termos delicadamente escolhidos (1Sm_20:3), para não ferir os
sentimentos filiais de seu amigo; enquanto Jônatas, aferrando-se, ao que
parece, a uma esperança de que a extraordinária cena efetuada em Naiote
tivesse operado uma santa melhora no gênio e sentimentos de Saul,
tratou de informar a Davi sobre o resultado de suas observações no lar.
5. Disse Davi a Jônatas: Amanhã é a Festa da Lua Nova, em que
sem falta deveria assentar-me com o rei para comer — O princípio de
um novo mês ou lua sempre se festejava com sacrifícios especiais,
seguidos por festejos nos quais o chefe de uma família esperava que
todos os membros estivessem presentes. Davi, tanto por ser genro do rei
como por ser um cortesão distinto, comia em tais ocasiões na mesa real,
e pelo fato de que era geralmente sabido que Davi tinha retornado a
Gibeá, sua presença no palácio era naturalmente esperada. Esta ocasião
foi escolhida pelos dois amigos para pôr à prova os sentimentos do rei.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 66
Como pretexto conveniente pela ausência de Davi, convinha-se em que
visitaria sua família em Belém, e assim se criaria uma oportunidade para
averiguar como se olharia sua falta de assistência. Fixou-se o tempo e o
lugar para que Jônatas o informasse; mas como as circunstâncias
poderiam tornar perigosa outra entrevista, cria-se prudente comunicar-se
por meio de um sinal lembrado.

Vv. 11-23. SUA ALIANÇA RENOVADA COM JURAMENTO.


11. disse Jônatas a Davi: Vem, e saiamos ao campo — Este
diálogo íntimo, que aqui se detalha completamente, apresenta um belo
quadro destes dois amigos amáveis e nobres. Nesta ocasião Jônatas
resultou ser o principal porta-voz. A firmeza de seu afeto, seu puro
desinteresse, sua afetuosa piedade, sua invocação a Deus, que consistia
em uma oração e um solene juramento ao mesmo tempo, a expressão
serena e ampla que deu de sua convicção de que sua família pela vontade
divina seria deserdada, e que Davi seria elevado ao trono, sua aliança
com Davi a favor de seus descendentes e a imprecação (1Sm_20:16)
pronunciada sobre qualquer pessoa que violasse as condições, a
reiteração desta aliança por ambas as partes (1Sm_20:17) de fazê-lo
indissolúvel, tudo isto indica tal poder de amor mútuo, tal atrativo no
caráter de Davi, tal suscetibilidade e elevação de sentimentos no coração
de Jônatas, que esta entrevista, por seu interesse dramático e beleza
moral, fica sem paralelo nos anais da amizade humana.
19. Depois de ausente três dias (TB) — com sua família em
Belém, ou onde quer que lhe seja conveniente.
irás para o lugar em que te escondeste no dia do ajuste — Heb.
“no dia ou tempo do assunto”, quando o mesmo assunto se tratava
anteriormente (1Sm_19:22).
fica junto à pedra de Ezel — Heb. “a pedra do caminho”; espécie
de pedra que dirigia os viajantes. Ele devia esconder-se numa cova ou
em algum esconderijo próximo.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 67
23. Quanto àquilo de que eu e tu falamos — Convencionado o
plano, as dois amigos se separaram por um tempo, e o caráter amável de
Jônatas aparece novamente em sua final alusão a sua aliança de amizade.

Vv. 24-40. SAUL, NÃO ESTANDO PRESENTE DAVI, TENTA


MATAR A JÔNATAS.
25. Assentou-se o rei na sua cadeira, segundo o costume — Ao
rincão esquerdo, à cabeceira da mesa, era e ainda é no Oriente o lugar
mais honorável. A pessoa que se senta ali tem a mão esquerda restringida
pela parede, mas sua mão direita tem ampla liberdade. Pela posição que
ocupava Abner junto ao rei, e pela cadeira de Davi que ficava vazia,
inferimos que na mesa real se praticava certa etiqueta, sendo atribuído o
lugar a cada cortesão ou ministro segundo a sua categoria.
Jônatas levantou-se (NKJV) — como sinal de respeito à entrada
do rei, ou de conformidade com o costume oriental de que o filho
permaneça em pé na presença de seu pai.
26. não está limpo — Não se fazia caso da ausência de Davi, pois
poderia ser que estivesse sob alguma contaminação cerimonial.
27. ao outro dia, o segundo da Festa da Lua Nova — O tempo da
aparição da lua era incerto, mas, fosse ao meio-dia, de tarde ou à meia-
noite—o festival se prolongava por dois dias. O costume, e não a lei,
introduziu isto.
disse, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que não veio a comer o
filho de Jessé, nem ontem nem hoje? — A pergunta foi feita como
casualmente, e com tanta indiferença como podia aparentar. E como
Jônatas respondeu que Davi tinha pedido e conseguida sua permissão
para assistir a um aniversário familiar em Belém [At_20:28, 29], as
paixões acumuladas do rei estalaram numa violenta tormenta de ira e
invectiva contra seu filho.
30. Filho de mulher perversa e rebelde — Esta é uma forma
notável de ofensa no Oriente. Saul não estava zangado com sua esposa; e
o insulto ia dirigido unicamente a seu filho em quem queria descarregar
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 68
seu ressentimento. Parece que a base deste insulto é que para o instinto
filial é uma ofensa mais grave ouvir difamar o nome ou caráter da mãe,
que uma recriminação pessoal. Esta, sem dúvida, foi uma causa de estar
“todo encolerizado” (1Sm_20:34), condição em que o nobre príncipe
deixou a mesa sem provar bocado.
33. Saul atirou-lhe com a lança para o ferir — Esta é uma triste
prova do frenesi em que estava mergulhado o infeliz monarca.
35. saiu Jônatas ao campo, no tempo ajustado — ou, “ao lugar
assinalado”.
36. disse ao seu rapaz: Corre a buscar as flechas que eu atirar
— a ordem dada em voz forte era o sinal combinado com Davi. Dava a
entender que havia perigo.
40. Jônatas deu as suas armas ao rapaz que o acompanhava —
Sendo despedido o rapaz, os dois amigos desfrutaram da satisfação de
uma entrevista final.

Vv. 41, 42. JÔNATAS E DAVI COM CARINHO SE SEPARAM.


41. Davi … prostrou-se rosto em terra três vezes — como
homenagem ao príncipe. Mas em relação mais próxima qualquer outra
consideração perde-se na abundância de seu carinho fraternal.
42. Disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz — Como a entrevista se
realizou às escondidas, e cada momento era precioso, foi uma bondade
da parte de Jônatas o apressar a partida de seu amigo.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 69
1 Samuel 21

Vv. 1-7. DAVI, EM NOBE, CONSEGUE DE AIMELEQUE PÃO


SAGRADO.
1. veio Davi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque — Nobe, cidade dos
sacerdotes (1Sm_22:19), estava perto de Jerusalém, no Monte das
Oliveiras, um pouco a norte do cume e a nordeste da cidade. Calcula-se
que está cerca de oito quilômetros de Gibeá. Aimeleque, o mesmo que
Aías, ou talvez seu irmão, sendo ambos filhos de Aitube (veja-se
1Sm_14:3, e 1Sm_22:4-11, 20). Seu objetivo ao fugir a este lugar foi por
um lado suprir suas necessidades, e por outro buscar consolo e conselho
na perspectiva de sair do reino.
Aimeleque, tremendo, saiu ao encontro de Davi — suspeitando
algum acontecimento extraordinário por seu aparecimento repentino, e
em semelhante maneira, porque seus acompanhantes foram deixados a
certa distância.
2. O rei deu-me uma ordem e me disse: Ninguém saiba por que
te envio — Esta foi uma mentira inspirada pelo temor. Davi
provavelmente supunha, como muitas outras pessoas, que uma mentira é
desculpável quando é pronunciada com o único propósito de salvar a
vida. Mas o que é essencialmente pecaminoso, por nenhuma
circunstância pode mudar seu caráter imoral; e o próprio Davi teve que
se arrepender deste vício de mentir (Sl_119:29).
4. Não tenho pão comum — Haveria bastante pão em sua casa,
mas não havia tempo para esperar. “O pão sagrado” era o pão da
proposição, que tinha sido tirado no dia anterior, e que era reservado
para o uso dos sacerdotes somente (Lv_24:9). Antes de tomar em
consideração se este pão poderia legalmente ser dado a Davi e seus
homens, parece que o sumo sacerdote consultou o oráculo (1Sm_22:10)
quanto a como deviam proceder nesta emergência. Uma dispensação
para usar o pão sagrado foi concedida especialmente pelo próprio Deus.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 70
5. desde ontem; e, anteontem, quando eu saí (RC) — como
exigido pela lei (Êx_19:15). Davi e seus homens tinham estado
escondendo-se em alguma das covas próximas para evitar a perseguição,
e portanto tinham muita fome.
tal se dá em viagem comum — Provavelmente, deve traduzir-se:
“o pão (entende-se) é em maneira comum” — visto que já não está na
mesa do Senhor. É comido pelos sacerdotes, e também, em nossas
circunstâncias, pode ser comido por nós.
quanto mais hoje serão santos seus copos? (RSV) — quer dizer,
que o pão sagrado tinha sido posto recentemente no copo, a ordenança
ritual teria que ceder à grande lei de necessidade e misericórdia (veja-se
Mt_12:3; Mc_2:25; Lc_6:3).
6. não havia ali pão, senão os pães da proposição (TB) — no
tabernáculo. A remoção do pão velho e a colocação do novo era feita no
dia de sábado (Lv_24:8), guardando os pães quentes em forno
esquentado no dia anterior.
7. Doegue, edomita — quem havia aceito a religião hebraica.
detido perante o SENHOR — no tabernáculo talvez em
cumprimento de algum voto, ou por ser sábado, pelo qual era ilegal que
seguisse sua viagem.
o maioral dos pastores de Saul — Os monarcas orientais
antigamente tinham grandes posses de ovelhas e gado, e o posto de
pastor principal era importante.

V. 9. DAVI TOMA A ESPADA DE GOLIAS.


espada de Golias — (veja-se 1Sm_18:54).
detrás da estola sacerdotal — O lugar destinado a guardar as
vestimentas sagradas, das quais se menciona a estola sacerdotal como a
principal. A espada do gigante foi depositada em lugar sagrado como
lembrança da bondade divina na libertação de Israel.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 71
Não há outra semelhante — Não só por seu tamanho e têmpera
superior, mas por ser uma prova do favor divino para ele, e um constante
estímulo a sua fé.

Vv. 10-15. EM GATE DAVI FINGE LOUCURA.


10. Davi … fugiu … foi a Aquis, rei de Gate — que era um dos
cinco principados dos filisteus. Neste lugar deve ter sido conhecido, e
aventurar-se a ir lá, sendo seu inimigo maior, e com a espada de Golias
em sua mão, seria muito perigoso. Mas, sem dúvida, a proteção que ele
recebia, indica que ele tinha sido dirigido lá pelo oráculo divino. Aquis
era generoso (1Sm_27:6). Ele teria querido debilitar os recursos de Saul,
e era costume na antiguidade, que os príncipes vizinhos dessem asilo aos
grandes homens.
13. se fingia doido — Supõe-se que pôde ser um ataque de
epilepsia, real ou talvez fingido. Esta doença se manifesta jogando babas
pela boca.
deixava correr saliva pela barba — Não é preciso maravilhar-se
de que Aquis o cresse louco, pois tal falta de respeito à barba perpetrado
pela gente mesmo ou por outro no Oriente se considera como um insulto
intolerável.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 72
1 Samuel 22

Vv. 1-8. OS FAMILIARES DE DAVI E OUTROS O VISITAM


EM ADULÃO.
1. Davi … se refugiou na caverna de Adulão — Crê-se que seja a
chamada hoje Deir-Dubban, um número de cavernas ou abóbadas
subterrâneas, algumas quase quadradas, e todas de 5 a 6 metros de
profundidade, com paredes perpendiculares, nas brandas pedras de cal.
Estão sobre as margens da planície filisteia, na base das montanhas da
Judeia, a nove e meio quilômetros a sudoeste de Belém, e muito
adequadas para esconder a um bom número de fugitivos.
seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com
ele — Para escapar da ira de Saul, a qual parece Ter-se estendido a toda
a família de Davi. Desde Belém a Deir-Dubban o caminho é de descida.
2. todos os amargurados de espírito — (Veja-se Jz_11:3).
3. Dali passou Davi a Mispa de Moabe — Mispa significa torre de
vigia, e é evidente que é preciso entendê-lo neste sentido aqui, porque a
chama “fortaleza” (1Sm_22:4). O rei de Moabe era inimigo de Saul
(1Sm_14:47), e o bisneto de Rute era parente da família de Jessé.
Portanto, Davi estava mais tranquilo buscando asilo nos domínios deste
príncipe que nos de Aquis, porque os moabitas não tinham motivos de
alentar sentimentos de vingança contra ele, e sua inimizade com Saul
fazia com que estivessem mais desejosos de receber tão ilustre fugitivo
de sua corte.
5. o profeta Gade disse a Davi: Não fiques neste lugar seguro —
Este conselho sensato, sem dúvida veio de uma fonte mais alta que a
própria sabedoria de Gade. Era justo que Davi aparecesse entre o povo
de sua própria tribo, como consciente de sua inocência e confiança em
Deus; era natural que por ocasião da morte de Saul, seus amigos fossem
alentados a apoiar os seus interesses.
bosque de Herete — a sudoeste de Jerusalém.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 73
6. Saul estava sentado em Gibeá, debaixo da tamargueira em
Ramá (TB) — literalmente, debaixo de um bosque sobre uma colina. Os
príncipes orientais frequentemente se sentam com sua corte debaixo de
alguma árvore frondosa. Uma lança foi o cetro original.
7. Ouvi, peço-vos, filhos de Benjamim — Isto foi uma tentativa
para estimular o patriotismo ou o zelo de sua própria tribo, pelo que ele
insinuava que era propósito de Davi transferir o reino a outra tribo.
Parece que este discurso foi feito quando Saul ouviu que Davi tinha
retornado a Judá com quatrocentos homens. Na mente ciumenta do rei,
formou-se uma triste suspeita de que Jônatas tinha parte neste
movimento, o qual ele considerava como uma conspiração contra a
coroa.

Vv. 9-16. DOEGUE ACUSA A AIMELEQUE.


9. Doegue … estava com os servos de Saul — Versão dos LXX,
as mulas de Saul.
10. a pedido dele, consultou o SENHOR — Alguns supõem que
esta foi uma malévola ficção de Doegue, para granjear o favor do rei,
mas Aimeleque parece reconhecer o fato. O pobre e singelo sacerdote
nada sabia da dissensão existente entre Saul e Davi. Se o informante
sabia, não disse nada do artifício ardiloso de Davi pelo qual conseguiu a
ajuda de Aimeleque. Os atos pareciam contrários a ele, e todo o
sacerdócio foi declarado cúmplice na conspiração [1Sm_22:16, 17].

Vv. 17-19. SAUL MANDA MATAR OS SACERDOTES.


17. Disse o rei aos da guarda, que estavam com ele — Sua
guarda pessoal, ou seus corredores (1Sm_8:11; 2Sm_15:1; 1Rs_1:5;
1Rs_14:28), que tinham importante posto na corte (2Cr_12:10). Mas
estes preferiram desobedecer o rei a ofender a Deus manchando suas
mãos com o sangue de seus ministros. Só um estrangeiro (Sl_52:1-3)
poderia querer ser o executor desta sentença sanguinária e sacrílega.
Assim se cumpriu o juízo da casa de Eli [1Sm_2:30-36].
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 74
19. a Nobe, cidade destes sacerdotes, passou [Saul] a fio de
espada — As bárbaras atrocidades perpetradas contra esta cidade
parecem ter tido como propósito amedrontar a todos os súditos de Saul
para que não prestassem ajuda ou asilo a Davi. Mas resultaram ruinosas
aos próprios interesses de Saul, porque alienaram o sacerdócio e
desgostaram a todos os homens de bem no reino.

Vv. 20-23. ABIATAR ESCAPA E FOGE A DAVI.


20. Um dos filhos de Aimeleque … fugiu para Davi (TB) — Este
era Abiatar, quem se uniu com Davi no bosque de Herete, resgatando,
com sua própria vida, a vestimenta do sumo sacerdote (1Sm_23:6, 9).
Para ouvir este triste relato, declarou Davi que temia semelhante
resultado fatal da maldade e ambição intrigante de Doegue; e, acusando-
se a si mesmo de ter sido a ocasião de todo o desastre acontecido à
família do Abiatar, convidou-o a ficar, porque, firmemente confiante no
cumprimento da promessa divina, Davi podia lhe garantir proteção.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 75
1 Samuel 23

Vv. 1-6. DAVI RESGATA A QUEILA.


1. Foi dito a Davi — antes, “agora haviam dito”; porque esta
informação lhe chegou antes que ele soubesse da tragédia de Nobe.
Queila — uma cidade no oeste de Judá (Js_15:44), não longe do
bosque de Herete.
e saqueiam as eiras — Estas usualmente estavam situadas nos
campos, e estavam abertas ao vento (Jz_6:11; Rt_3:2).
2. Consultou Davi ao SENHOR — mais provavelmente por meio
de Gade (2 Sm_24:11; 1Cr_21:9), que estava presente no acampamento
de Davi (1Sm_22:5), provavelmente por recomendação de Samuel. O
rejeitar um ataque não provocado contra gente inofensiva que estava
ocupada em sua colheita, era um serviço humanitário e benévolo. Mas
era duvidoso até que ponto seria dever de Davi ir contra um inimigo
público sem ter a comissão real; e por esta causa ele pediu e conseguiu
conselho divino. Uma dúvida da parte de seus homens levou Davi a
consultar novamente a Deus; depois do qual, estando completamente
seguro de seu dever, enfrentou os agressores, e por uma vitória
assinalada, livrou o povo de Queila de moléstias ulteriores.
6. a estola sacerdotal — em que estavam o Urim e o Tumim
(Êx_28:30). Provavelmente tinha sido entregue a seu cuidado, enquanto
Aimeleque e os outros sacerdotes iam a Gibeá, em obediência à chamada
de Saul.

Vv. 7-13. A CHEGADA DE SAUL, E ASTÚCIA DOS QUEILITAS.


7. Foi anunciado a Saul que Davi tinha ido a Queila — Agora
estava seguro de sua vítima, quem estaria encerrado dentro da cidade
fortificada. O desejo foi pai do pensamento. Quão maravilhosamente
tardio e mal disposto para convencer-se por toda a sua experiência de
que a especial proteção da providência defendia a Davi de todas as suas
armadilhas!
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 76
8. Saul mandou chamar todo o povo à peleja — nem todas as
tribos unidas de Israel, mas os habitantes dos distritos próximos. Esta
força se juntou provavelmente sob o visível pretexto de opor-se aos
filisteus, quando na realidade foi secretamente levantada para fazer mal a
Davi.
9. disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui a estola sacerdotal —
A consulta foi feita, e a oração oferecida por meio do sacerdote. Referiu-
se às condições alternativas aqui relatadas como que ilustram a doutrina
da presciência e preordenação dos acontecimentos por Deus.

Vv. 14-18. DAVI ESCAPA A ZIFE.


14, 15. Davi … ficou na região montanhosa no deserto de Zife.
— Uma região montanhosa e apartada era geralmente chamada deserto,
e tomou seu nome de alguma cidade grande do distrito. Três quilômetros
ao sudeste de Hebrom, e em meio de uma planície, está Tell-Zife que é
uma colina isolada e cônica, de 31 metros de altura, provavelmente era
como um acrópoles (Van de Velde), ou as ruínas (Robinson) da antiga
cidade de Zife, por cujo nome era chamado o deserto circundante. Parece
que antigamente tinha estado coberto por um bosque extenso. Há séculos
o país perdeu seus bosques, devido às devastações causadas pelos
homens.
16. Jônatas … foi para Davi, a Horesa, e lhe fortaleceu a
confiança em Deus — por recordação das promessas divinas e da
aliança mútua deles. Que vitória sobre os sentimentos naturais e as
considerações indignas obteve a fé de Jônatas, antes que ele pudesse
buscar tal entrevista e desse expressão a tais sentimentos! Falar com
calma e segura confiança do fato de que ele mesmo e sua família foram
superados por um amigo pelos vínculos de uma aliança santa e solene, só
seria possível para alguém que, superior a todas as considerações de
política mundana, olhava o curso das coisas com o espírito e por meio
dos princípios daquela teocracia que reconhecia a Deus como o único e
supremo Soberano de Israel. Nem a história nem a novela relatam o
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 77
desenvolvimento de uma amizade mais pura, mais nobre nem mais
abnegada que a de Jônatas.

Vv. 19-29. SAUL O PERSEGUE.


19. subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu
Davi entre nós? — Do Tell-Zife se contempla um panorama de todo o
distrito circundante. Não é de surpreender, pois, que os zifeus vissem
Davi e seus homens que passavam de uma parte a outra nas montanhas
do deserto, e o espiassem à distância, quando ousava mostrar-se na
colina de Haquila, “à mão direita do deserto”, quer dizer, ao sul de Zife,
enviassem rapidamente relatório a Saul do esconderijo de seu inimigo.
(Van de Velde).
25. isto foi dito a Davi; pelo que desceu para a penha que está
no deserto de Maom — Tell Main, a colina sobre a qual estava situada
Maom (Js_15:55), e da qual o deserto contíguo tomou seu nome, está a
1.609 metros a norte, e 16 quilômetros a leste do Carmelo. A mesa
parece terminar aqui. É verdade que a serra mais alta das montanhas
meridionais se estende mais rumo ao sudoeste; mas rumo ao sudoeste o
terreno se inclina cada vez mais a uma mesa de nível mais baixo, que se
chama “a planície à mão direita (quer dizer, ao sul) do deserto”. (Van de
Velde).
29. Subiu Davi daquele lugar e ficou nos lugares seguros de En-
Gedi — quer dizer, “manancial das cabras monteses”—nome dado pelo
grande número de íbexs ou camurças sírias que habitavam estes
penhascos na ribeira ocidental do Mar Morto (Js_15:62). Hoje é
chamado Ain Jiddy. De todos os lados a paragem está cheia de cavernas,
que bem poderiam servir de esconderijo a Davi e seus homens, como
serve hoje em dia aos bandidos. (Robinson).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 78
1 Samuel 24

Vv. 1-7. DAVI NUMA COVA EM EM-GEDI, CORTA O


MANTO DE SAUL, MAS LHE PERDOA A VIDA.
2. Saul … foi ao encalço de Davi … nas faldas das penhas das
cabras monteses — Só a cega enfatuação de sua ira diabólica pôde ter
levado a rei a perseguir seu genro fugitivo por estes precipícios ásperos e
escarpados, onde havia esconderijos inacessíveis. Mas a providência que
tudo dirige, frustrou toda a sua vigilância.
3. Chegou a uns currais de ovelhas — Mais provavelmente na
serrania superior do Wadi Chareitun. Há uma cova grande—estou
disposto a dizer a cova — situada dificilmente a cinco minutos a leste
das ruínas da aldeia, ao lado sul do wadi. Está alta sobre o lado da pedra
calcária, e mudou muito pouco desde os dias de Davi. A mesma estreita
abóbada natural à entrada; a mesma enorme câmara natural na rocha,
provavelmente o lugar onde Saul se deitava a descansar do calor do dia;
as mesmas paredes laterais, também, onde Davi e seus homens se
escondiam quando, já habituados à escuridão do interior da caverna,
viam Saul entrar, enquanto ele, ainda cegado pela forte luz exterior, não
via a quem perseguia tão ferozmente.
4. os homens de Davi lhe disseram: Hoje é o dia do qual o
SENHOR te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo — Deus
nunca tinha feito nenhuma promessa de entregar a Saul nas mãos de
Davi; mas, pelas promessas gerais e repetidas de que o reino seria dele,
eles inferiam que a morte do rei se efetuaria mediante alguma
oportunidade como a atual. Davi firmemente rejeitou as urgentes
instigações de seus seguidores a que pusesse fim às dificuldades dele e
deles, por meio da morte de seu perseguidor (um coração vingativo teria
seguido o conselho deles, mas Davi quis vencer o mal com o bem, e
amontoar brasas de fogo sobre a cabeça de seu inimigo). Entretanto,
cortou um pedaço do manto real. É fácil imaginar-se como pôde
desenvolver-se este diálogo, e como pôde Davi chegar ao rei sem
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 79
despertar suspeitas. O alvoroço e ruído dos soldados e bestas de Saul, o
número de celas ou divisões nestas cavernas era imenso, e algumas delas
estavam muito dentro, envoltas de escuridão, enquanto que na boca da
cova eram visíveis todos os movimentos, a probabilidade de que o objeto
do qual Davi cortou um pedaço pudesse ter sido seu manto exterior
lançado ao solo, e que possivelmente Saul estaria dormindo—todos estes
atos e conjeturas são suficientes para explicar os incidentes detalhados
na história.

Vv. 8-15. DAVI POR ISSO MANIFESTA SUA INOCÊNCIA.


8. também Davi se levantou e, saindo da caverna, gritou a Saul
— O próximo dos penhascos escarpados, embora separados por
profundos wadis, e a pureza do ar permitem que se ouça claramente a
voz de uma pessoa de uma rocha a outra. (Jz_9:7). A repreensão de
Davi, seguida pelos sinais visíveis que ele mostrava, de que não abrigava
desígnios maus contra a pessoa nem o governo do rei, mesmo quando o
tinha em seu poder, tocou o coração de Saul nesse momento, e o
despojou de seu triste propósito de vingança. Reconheceu a justiça do
que disse Davi, confessou sua própria culpa, e pediu a bondade de Davi
para com sua casa. Ele parece ter sido suscetível a impressões fortes, e,
como neste caso, a impressões boas e agradecidas. A melhoria em seu
humor, na verdade, foi só momentânea, e sua linguagem foi o de um
homem afligido pela força de emoções impetuosas, e obrigado a admirar
a conduta e estimar o caráter de quem tinha odiado e temido. Deus usou
tudo isto para assegurar a fuga de Davi. Considere a linguagem e
comportamento deste. Esta linguagem—“um cão morto, uma pulga”,
termos pelos quais, como os orientais, ele expressou fortemente sua
humildade, e a completa rendição de sua causa Àquele que é o único Juiz
das ações humanas, e a quem pertence a vingança—sua firme rejeição
dos impulsos vingativos de seus seguidores, o enternecimento de coração
que sentia até pela aparente indignidade que tinha feito ao ungido do
Senhor, e o homenagem respeitosa que rendeu ao ciumento tirano que
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 80
tinha posto preço sobre sua cabeça, torna patente a magnanimidade de
um grande homem, e ilustra admiravelmente o espírito e energia de sua
oração “quando estava na cova” (Sl_142:1).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 81
1 Samuel 25

Vv. 1-9. MORRE SAMUEL.


1. Faleceu Samuel — Depois de uma longa vida de piedade e de
utilidade pública, deixando atrás de si uma fama que o coloca entre os
maiores personagens das Sagradas Escrituras.
e o sepultaram na sua casa, em Ramá — quer dizer, em seu
mausoléu. Os hebreus tinham muito cuidado em prover sepulcros, assim
como ainda fazem os do Oriente, onde toda família respeitável tem seu
lugar próprio para os mortos. E frequentemente há num pequeno jardim
à parte, e consiste num pequeno edifício de pedras, onde não há rocha,
parecido a uma casa, e que se chama o sepulcro da família. Esta casinha
não tem porta nem janela.
Davi se levantou e desceu ao deserto de Parã — Este movimento
talvez não tinha nada a ver com a morte do profeta, mas foi ocasionado
provavelmente pela necessidade de buscar provisões para seus
numerosos seguidores.
deserto de Parã — estendendo-se desde o Sinai até os limites da
Palestina, nos territórios meridionais de Judá. Como outros desertos,
tinha grandes trechos de pasto, aonde os habitantes enviavam seu gado
na época de pastorear, mas onde estavam expostos às constantes e
violentas depredações de árabes desocupados. Davi e seus homens
ganhavam seu sustente fazendo incursões contra estes ismaelitas
saqueadores. Com frequência, por estes serviços úteis, recebiam
espontâneos sinais de agradecimento dos habitantes pacíficos.
2. no Carmelo — agora Murmul. O distrito toma seu nome desta
cidade, hoje um montão de ruínas; e como 1.609 metros dali até o Tell
Main, uma colina sobre a qual estava a antiga Maom.
homem abastado — Sua propriedade consistia em gado, e,
segundo as ideias daquele tempo, era muito opulento.
3. Era ele da casa de Calebe — naturalmente, da mesma tribo que
Davi. Mas muitas versões consideram Calebe (cão) não como nome
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 82
próprio, mas sim como nome comum, e traduzem: “era rabugento como
um cão”.
4-9. Nabal tosquiava as suas ovelhas, e enviou Davi dez jovens,
etc. — Davi e seus homens se ocultavam nestes desertos, associando-se
com os boiadeiros e pastores de Nabal e outros, e lhes fazendo bons
serviços, provavelmente em troca de informação e provisões recebidos
por meio deles. De modo que, quando Nabal tinha sua tosquia anual no
Carmelo, Davi se cria com direito de participar-nos festejos, e enviou
mensageiros que contassem seus serviços e pedissem um presente.
“Nestes detalhes fomos profundamente impressionados com a verdade e
força da descrição bíblica das maneiras e costumes quase idênticos aos
que existem hoje. Em semelhante ocasião festiva, perto de uma cidade
ou aldeia, até em nossos dias, o chefe árabe do próximo deserto
dificilmente deixaria de dizer uma palavra pessoalmente ou por um
mensageiro; e sua mensagem, tanto em sua forma como em sua
substância seria só uma cópia da de Davi” (Robinson).

Vv. 10-13. A RESPOSTA GROSSEIRA.


10-12. Respondeu Nabal aos moços de Davi e disse: Quem é
Davi?, etc. — A resposta de Nabal parece indicar que o país encontrava-
se em estado de relaxamento e desordem. A boa conduta de Davi,
entretanto, como também os serviços importantes rendidos por ele e seus
homens, foram prontamente reconhecidos pelos criados de Nabal. Os
preparativos de Davi para castigar sua linguagem insolente e sua ingrata
conduta, são exatamente iguais aos que fariam hoje os chefes árabes, os
quais protegem as fazendas dos grandes proprietários dos ataques das
tribos saqueadoras das fronteiras, e dos animais selvagens. Sua proteção
cria um direito a algum tipo de tributo, na forma de provisões e coisas
necessárias, que geralmente é dado de boa vontade e com gratidão. Mas
quando é denegado, é imposto como um direito. A negação de Nabal foi,
pois, uma violação dos costumes estabelecidos do lugar.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 83
13. duzentos ficaram com a bagagem — Esta concessão a seus
seguidores foi feita depois de sua volta a Judá (veja-se 1Sm_22:2).

Vv. 14-35. ABIGAIL O ACALMA.


18. Abigail tomou, a toda pressa — A prudência e habilidade de
sua esposa foram os meios de salvar a ele e a sua família de uma
destruição completa. Ela reconhecia as exigências de seus poderosos
vizinhos; mas pensando sabiamente, que para pagar as insolências de seu
marido, se fez necessária uma maior liberalidade, ela juntou uma grande
quantidade de alimento, acompanhando-a com os produtos mais
estimados do país.
odres — garrafas de couros de cabras, capazes de conter boa
quantidade.
trigo tostado — Era costume comer trigo torrado, quando estava
completamente desenvolvido embora não amadurecido.
19. disse aos seus moços: Ide adiante de mim, pois vos seguirei
de perto — O povo no Oriente sempre trata de produzir bom efeito com
seus presentes, por esta razão carregam sobre vários animais o que
poderia facilmente ser levado em um só, e os levam pela frente um por
um. Abigail não só despachou a seus criados nesta forma, mas resolveu
ir em pessoa, seguindo o seu obséquio, como se faz usualmente, para ver
a impressão que produziria sua generosidade.
23. apressou-se, desceu do jumento e prostrou-se sobre o rosto
diante de Davi, inclinando-se até à terra — Desmontar na presença de
um superior é a mais alta expressão de respeito que se pode dar; e ainda
é uma homenagem essencial aos grandes. Acompanhando este ato de
cortesia com a forma mais abjeta de prostração, ela, não só por sua
atitude mas por sua linguagem, fez expiação pela desatenção mostrada
por seu marido, e ao mesmo tempo rendeu o mais amplo tributo de
respeito ao caráter de Davi.
25. Nabal — significa idiota, deu pertinência às palavras de sua
esposa.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 84
26. Como Nabal, sejam os teus inimigos — Que sejam tão tolos e
vis como ele.
29. a tua vida será atada no feixe dos que vivem com o
SENHOR — Um orientalismo, que expressa a perfeita segurança da
vida de Davi, de todos os ataques de seus inimigos, sob o escudo protetor
da providência divina, quem o destinou para coisas elevadas.
32-35. Davi disse a Abigail: Bendito o SENHOR — Transportado
por paixões e cegado por vingança, ele estava à beira de perpetrar uma
grande injustiça; e, certamente, a oportuna chegada e a conduta prudente
de Abigail exerceram grande influência para que Davi mudasse seu
propósito. De qualquer maneira, foi o meio para lhe abrir os olhos diante
do caráter moral da conduta que tão impetuosamente ia seguir; e ao
aceitar seu obséquio, fala com viva satisfação assim como também com
gratidão a Abigail, por havê-lo libertado de derramar sangue.

Vv. 36-44. A MORTE DE NABAL.


36. ele fazia em casa um banquete, como banquete de rei — A
época da tosquia é sempre muito alegre. Os amos geralmente festejavam
a seus pastores; e até Nabal, embora de uma disposição mesquinha,
preparava as festividades com uma liberalidade suntuosa. Os árabes
modernos celebram a época com iguais alegrias.
37, 38. Pela manhã … sua mulher lhe deu a entender aquelas
coisas; e se amorteceu nele o coração — Ele provavelmente desmaiou
pelo horror que lhe causou a situação perigosa em que se colocou
inconscientemente e foi tal o choque que lhe produziu o susto em todo o
seu organismo, que rapidamente decaiu e morreu.
39-42. o SENHOR cair o mal de Nabal sobre a sua cabeça — Se
esta foi uma expressão de prazer, e os sentimentos vingativos foram
satisfeitos pelo conhecimento da morte de Nabal, foi um caso de
fraqueza humana que lamentamos. Mas talvez se referia ao imerecido
impropério (1Sm_25:10, 11), e ao desdém de Deus nele subentendido.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 85
Mandou Davi falar a Abigail que desejava tomá-la por mulher
— Este proceder informal estava totalmente de acordo com o estilo dos
monarcas orientais, os quais tão logo desejam uma dama enviam um
mensageiro para lhe fazer saber seu desejo de que ela vá viver ao
palácio, e é o dever dela obedecer. A conduta de Davi demonstra que os
costumes das nações orientais já eram imitadas pelos grandes de Israel; e
que a moralidade daqueles tempos que Deus permitia, tolerava a
poligamia. Seu casamento com Abigail lhe trouxe uma rica propriedade.
44. Mical — Pela vontade absoluta de seu pai, a que era esposa de
Davi, foi dada a outro homem; mas ela voltou, e mantinha o caráter de
sua esposa, quando Davi subiu ao trono.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 86
1 Samuel 26

Vv. 1-4. SAUL CHEGA À COLINA DE HAQUILA CONTRA


DAVI.
1. Vieram os zifeus a Saul, a Gibeá — Essa gente parece ter
pensado que seria impossível que Davi escapasse, e portanto quiseram
ganhar a boa vontade de Saul dando a ele informações secretas a respeito
de Davi (veja-se 1Sm_23:19). O conhecimento da perfídia deles faz com
que pareça estranho que Davi voltasse para seu anterior esconderijo nos
arredores; mas talvez o fez para estar perto das posses de Abigail, e sob a
impressão de que Saul se apaziguou. Mas o rei tinha reincidido em sua
velha inimizade. Embora Gibeá, como o seu nome indica, estava num
lugar alto, e o deserto de Zife, na região montanhosa de Judá,
possivelmente mais alto que Gibeá, foi necessário descer ao sair deste
lugar; por isso (v. 2) Saul “desceu ao deserto de Zife.”
4-5. enviou espias … Davi se levantou, e veio ao lugar onde Saul
acampara — Havendo Davi recebido certa informação do lugar, parece
que, acompanhado por seu sobrinho (v. 6), que se tinha escondido, talvez
disfarçado, num bosque próximo ou numa colina à beira do
acampamento real, esperou que fosse de noite para se chegar sob a
proteção da escuridão.

Vv. 5-25. DAVI PROÍBE A ABISAI QUE MATE A SAUL, MAS


TOMA SEU LANÇA E BOTIJA.
5. Saul estava deitado no acampamento, e o povo, ao redor dele
— Entre o povo nômade do Oriente, os acampamentos geralmente se
formam em círculo; a circunferência formada pela bagagem e os
homens, e o chefe no centro, quer seja que ocupe uma carpa ou não. Sua
lança, cravada em terra, indica sua posição. Semelhante era a disposição
do acampamento de Saul. Em sua pressa parece que não levava carpa,
mas sim dormia no solo. Toda a tropa estava mergulhada no sonho ao
seu redor.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 87
8-12. disse Abisai a Davi: Deus te entregou, hoje, nas mãos o teu
inimigo — Esta estratagema à meia-noite mostra a atividade e empresa
heroica de Davi, e estava de acordo com os métodos de guerra daqueles
tempos.
deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao chão, de um
só golpe — A veemência feroz do Abisai é evidente por sua linguagem,
mas a magnanimidade de Davi está muito acima das ideias de seus
seguidores. Embora a crueldade, e perfídia, e carência de princípios
corretos tenham rebaixado a Saul a um profundo grau de degradação,
entretanto, isso não foi motivo para que Davi o imitasse em suas obras
más. Além disso, ele era o soberano, Davi era um súdito. Embora Deus o
tivesse rejeitado do reino, este era o melhor proceder, e o mais
respeitoso, em vez de precipitar sua queda manchando suas mãos com o
sangue de Saul, e assim cometer um grande crime, esperando, antes, a
sentença daquela providência que mais cedo ou mais tarde o tiraria por
algum golpe repentino e mortal. Aquele que, em pressa impetuosa,
esteve prestes a exterminar Nabal, muito manso perdoou a Saul. Mas
Nabal se negou a dar um tributo ao qual, por justiça e por gratidão, não
menos que por costume Davi tinha direito. Saul estava sob a sentença
judicial do céu; pelo mesmo Davi refreou a mão de Abisai, mas ao
mesmo tempo lhe mandou levar algumas coisas que mostrariam onde
tinham estado e o que tinham feito. Assim obteve a melhor das vitórias
sobre Saul: amontoando brasas de fogo sobre a sua cabeça.
11. a lança que está à sua cabeceira e a bilha da água — A lança
oriental tinha, e ainda tem, um prego na ponta inferior com o fim de
cravar a lança em terra quando o guerreiro está descansando. Este
costume comum dos chefes árabes era também a prática dos chefes
hebreus.
sua cabeceira — lit., “sua cabeça”; mas talvez Saul sendo o
soberano tinha o luxo distinto de que se levasse para ele um travesseiro.
Uma “bilha de água” geralmente nos lugares de climas quentes se guarda
perto da cama, pois um gole à meia-noite é muito refrescante. A botija de
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 88
Saul seria provavelmente de materiais superiores, ou ornamentada mais
ricamente que as comuns, e portanto por sua forma ou tamanho seria
facilmente distinguida.
13-14. Tendo Davi passado ao outro lado, pôs-se no cimo do
monte … Bradou ao povo — (Veja-se Jz_9:7). A extraordinária pureza
e elasticidade do ar da Palestina fazem com que as palavras sejam
ouvidas distintamente, dirigidas por uma pessoa do cimo de uma
montanha a outra pessoa que está sobre outro cimo, separadas por uma
profunda quebrada. Desta maneira os grupos inimigos podem falar-se
ainda que uns estejam fora do alcance das armas lançadas dos outros.
Isto resulta das características peculiares do terreno em muitos dos
distritos montanhosos.
15. disse Davi a Abner: Porventura, não és homem? … Por que,
pois, não guardaste o rei, teu senhor? — A circunstância de que Davi
tinha penetrado até o centro do acampamento, através do círculo de
soldados adormecidos, constituía a razão desta mofa sarcástica. Esta
nova evidência da moderação e magnanimidade de Davi, junto com sua
séria e bondosa repreensão, mais uma vez abrandou a obstinação do
coração de Saul.
19. se é o SENHOR que te incita contra mim — Pelo espírito
mau que Ele enviou, ou por ofensas espirituais por meio das quais O
desagradamos mutuamente.
aceite ele a oferta — quer dizer, ofereçamos conjuntamente um
sacrifício para apaziguar a Sua ira contra nós.
se são os filhos dos homens — A prudência, mansidão e maneira
de falar de Davi ao atribuir a inimizade do rei às insinuações de alguns
caluniadores, e não ao zelo de Saul, são dignas de nota.
como que dizendo: Vai, serve a outros deuses — Esta era a
tendência de sua conduta. Ao expulsá-lo da terra e das ordenanças do
verdadeiro culto, e mandá-lo a países estrangeiros e pagãos, eles o
expunham à idolatria sedutora.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 89
20. como quem persegue uma perdiz — Os orientais, para caçar
perdizes e outras aves, perseguem-nas até as fatigar, depois de as fazer
levantar o voo duas ou três vezes se aproximam das aves cautelosamente
e lhes dão a volta com paus. (Shaw, Travels). Foi exatamente desta
maneira como Saul estava perseguindo Davi; de tempo em tempo o
tirava de seu esconderijo, esperando cansá-lo da vida ou ter uma
oportunidade para destruí-lo.
25. Então, Davi continuou o seu caminho — Apesar deste súbito
enternecimento de Saul, Davi não tinha confiança em suas profissões ou
promessas, mas sabiamente se mantinha à distância, e esperava o curso
da divina providência.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 90
1 Samuel 27

Vv. 1-4. SAUL, OUVINDO QUE DAVI HAVIA FUGIDO A


GATE, NÃO O BUSCA MAIS.
1. Disse, porém, Davi consigo mesmo … nada há, pois, melhor
para mim do que fugir para a terra dos filisteus — Esta resolução de
Davi foi errada em todo sentido: (1) porque se afastava do lugar onde o
oráculo de Deus intimou a que ficasse (1Sm_22:5); (2) por lançar-se a
uma terra idólatra, por se lançar a ela ele tinha pronunciado uma
imprecação sobre seus inimigos (1Sm_26:19); (3) foi um afastamento de
seu conselho e ajuda do povo de Deus. Foi um movimento, entretanto,
dirigido pela providência para o separar de sua pátria e deixar que os
desastres que estavam ameaçando a Saul e a seus seguidores, fossem
consumados pelos filisteus.
2. Aquis, filho de Maoque, rei de Gate — A descrição popular da
família deste rei nos faz crer que era um rei distinto do soberano que
reinava quando Davi fez a primeira visita a Gate. Se Davi recebeu dele
um convite ou uma simples permissão para entrar em seus territórios,
não se pode determinar. É provável que o primeiro seja o caso; pela
notoriedade universal dada à inimizade entre Saul e Davi, que agora
tinha chegado a ser irreconciliável, pôde ter parecido a Aquis que era boa
política lhe dar asilo como hóspede, e assim preparar o caminho para as
medidas hostis contra Israel, as quais estava meditando naquele então.

Vv. 5-12. DAVI PEDE ZICLAGUE A AQUIS.


5. dá-me lugar numa das cidades da terra, para que ali habite
— Foi uma medida prudente da parte de Davi; porque isto impediria que
ele fosse objeto de suspeita ciumenta, e de maliciosas conspirações entre
os filisteus. Também colocaria a seus seguidores mais longe dos perigos
de contaminação pela idolatria da corte e da capital; e lhe daria
oportunidade para fazer represálias contra as tribos saqueadoras sobre a
fronteira comum de Israel e os filisteus.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 91
6. Ziclague — Ainda que originalmente destinada a Judá
(Js_15:31), e subsequentemente a Simeão (Js_19:5) esta cidade nunca foi
possuída pelos israelitas. Pertencia aos filisteus, os quais a deram a Davi.
8-12. Subia Davi com os seus homens, e davam contra os
gesuritas — (veja-se Js_13:2).
os gersitas — ou os gerizi (dicionário de Gesênius, Js_12:12),
alguma horda árabe que tinha acampado ali.
e os amalequitas—Parte do distrito ocupado por eles ao sul da terra
de Israel (Jz_5:14; Jz_12:15).
10. perguntando Aquis: Contra quem deste hoje? — tinham
realizado uma correria, ou excursão hostil com o propósito de conseguir
gado ou outro despojo.
Davi respondia: Contra o Sul de Judá, e o Sul dos jerameelitas
— Jerameel foi bisneto de Judá, e seus descendentes ocupavam a porção
sul de aquele território que pertencia a sua tribo.
e o Sul dos queneus — descendência de Jetro, que ocupavam o sul
de Judá (Jz_1:16; Nm_24:21). A falsidade praticada contra seu real
protetor, e a matança geral cometida, para que não escapasse ninguém
que relatasse o acontecido, dá uma impressão desfavorável a esta parte
da história de Davi.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 92
1 Samuel 28

Vv. 1-6. A CONFIANÇA DO AQUIS EM Davi.


1. ajuntaram os filisteus as suas tropas para a guerra, a fim de
pelejarem contra Israel (TB) — A morte de Samuel, o
descontentamento general com Saul, e a ausência de Davi excitaram a
cobiça destes impacientes inimigos de Israel.
disse Aquis a Davi: Fica sabendo que comigo sairás à peleja, tu
e os teus homens — Evidentemente isto foi para prová-lo. Entretanto,
parece que Aquis cria haver ganho a confiança de Davi, e que tinha
direito a seus serviços.
2. Assim saberás quanto pode o teu servo fazer — Esta resposta
que parecia expressar uma boa disposição em aceder à proposição,
continha uma estudada ambiguidade — uma generalidade cautelosa e
política.
Por isso, te farei minha guarda pessoal — de minha vida; quer
dizer, capitão de minha guarda pessoal, posto de grande confiança e alta
honra.
3. Já Samuel era morto, etc. — Este acontecimento mencionado
aqui como que explica os métodos secretos e irregulares pelos quais Saul
buscava informação e orientação na atual crise de seus assuntos. Afligido
de perplexidade e temor, achava os canais legítimos de comunicação
com o céu fechados para ele; e sob a influência daquele espírito
melancólico, destemperado e supersticioso que o tinha dominado,
resolveu, em seu desespero, buscar a ajuda de um dos impostores
adivinhos, aos quais, segundo o mandado divino (Lv_19:31; Lv_20:6,
Lv_20:27; Dt_18:11), anteriormente ele mesmo tinha exterminado de
seu reino.
4. Ajuntaram-se os filisteus e vieram acampar-se em Suném —
Tendo juntado suas forças, partiram da costa e assentaram acampamento
no “vale de Jezreel”. O lugar em que o acampamento foi fixado era
Suném (Js_19:18), hoje Sulem, uma aldeia que ainda existe no pendente
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 93
do “Pequeno Hermom”. Sobre o lado oposto, na ascensão do Monte
Gilboa, junto à “fonte de Jezreel”, estava o exército de Saul,
permanecendo nas alturas os israelitas, segundo o seu costume, enquanto
seus inimigos ficavam na planície.

Vv. 7-25. SAUL BUSCA UMA ADIVINHA, PARA QUE


EVOQUE A SAMUEL.
7. Saul disse aos seus servos: buscai-me uma mulher que seja
médium (NKJV) — Devido às medidas enérgicas que ele mesmo tinha
tomado para extirpar os que praticavam as artes mágicas, tendo sido
declarado como ofensa capital seu exercício, seus cortesãos mais íntimos
tinham razões para duvidar da possibilidade de satisfazer os desejos de
seu senhor. Averiguações cuidadosas, entretanto, os levaram à
descoberta de uma mulher, radicada num lugar muito afastado, quem
tinha fama de possuir os poderes proibidos; e Saul acudiu à casa dela de
noite, disfarçado, acompanhado por dois servos fiéis.
En-Dor — este nome significa “a fonte do círculo”—os magos
constantemente assumiam uma posição parecida com a dessa figura;
estava essa população situada diretamente do outro lado da serra,
enfrente ao Tabor; de modo que, em sua aventura noturna, Saul teve que
passar o cimo da cordilheira em que estavam acampados os filisteus.
8. Peço-te que ... me faças subir aquele que eu te disser — Esta
pitonisa unia às artes de adivinhação a pretensão de ser considerada
necromante (Dt_18:11); e era de seu suposto poder o de evocar os
mortos do que Saul desejava valer-se. Embora a princípio se negou a
escutar sua petição, ela aceitou seu juramento de que não incorreria em
nenhum risco por agradá-lo, e é provável que seu estatura extraordinária,
a deferência de que era objeto da parte de seus acompanhantes, a curta
distância de seu acampamento a En-Dor, e a proposição de que se
evocasse ao grande profeta e primeiro magistrado de Israel — proposição
que não se atreveria a fazer nenhum indivíduo em particular — teria
despertado nela suspeita quanto à verdadeira posição e caráter de seu
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 94
visitante. Esta história produziu muitas discussões quanto a se houve
uma aparição verdadeira de Samuel ou não. Por um lado, a profissão da
mulher, profissão que estava proibida pela lei divina; a falta de vontade
de Deus para responder a Saul pelos meios divinamente estabelecidos; a
idade bem conhecida de Samuel, seu figura e sua vestimenta, as quais a
própria pitonisa poderia representar ou fazer representar por um
cúmplice; a aparição que evidentemente estava a alguma distância,
envolta e sem ser vista realmente por Saul, visto que este deve ter estado
prostrado em atitude de homenagem, deve ter impedido que Saul
distinguisse a pessoa embora tenham estado perto mutuamente e ainda
que a voz, que aparentemente saía da terra, tenha chegado até Saul; o
vago da informação, pela qual comunicou a Saul muito do que pôde
haver-se sabido mediante conjeturas naturais quanto ao provável
resultado do conflito que se aproximava; tudo isso, e a representação que
produziu a mulher, produziu em muitas pessoas a crença de que isto foi
um mero engano. Por outro lado, muitos escritores eminentes (tendo em
conta que a aparição veio antes que as artes da mulher fossem postas em
prática; que ela mesma foi surpreendida e alarmada; e que a predição da
morte de Saul e da derrota de suas forças foi feita com clareza e
firmeza), opinam que Samuel realmente apareceu.
24. Tinha a mulher em casa um bezerro cevado; apressou-se e
matou-o, etc. — (veja-se Gn_18:1-8).
25. se levantaram e se foram naquela mesma noite — Rendido
pela longa abstinência, e afligido pelo sofrimento mental, e agora levado
ao desespero, brotou em sua fronte um suor frio, e caiu inerte na terra.
Mas as atenções bondosas da mulher e seus próprios criados o
restauraram, e voltou para o seu acampamento para esperar seu destino.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 95
1 Samuel 29

Vv. 1-5. DAVI PARTINDO COM OS FILISTEUS A PELEJAR


COM ISRAEL.
1. Afeca — (Js_12:8), na tribo de Issacar, e na planície de
Esdralom. Quem compara o relato bíblico da última batalha de Saul com
os filisteus, com a região perto de Gilboa, tem a mesma evidência de que
o relato conta o que é verdadeiro, como se tem de que a batalha de
Waterloo teve lugar. Gilboa, Jezreel, Suném, En-Dor, todos se acham
com os mesmos nomes de antes. Todos se acham à vista um de outro.
Afeca é o único até agora sem ser identificada. Jezreel está no declive
setentrional da Gilboa, e a uma distância de vinte minutos a leste está
uma grande fonte, e uma menor está mais perto; é exatamente a posição
que escolheria um chefe, tanto por causa da altura como pela abundância
de água necessária para sua tropa. (Hackett, Scripture Illustrated).
2. Davi e seus homens iam com Aquis, na retaguarda — Como
chefe da guarda ia Aquis, general deste exército invasor dos filisteus.
3. há muitos dias ou anos — Fazia já um ano completo e quatro
meses (1Sm_27:7), e mais alguns anos antes. Pensou-se que Davi
mantinha uma correspondência particular com este príncipe filisteu por
sua natural generosidade, ou prevendo que um asilo em seu território,
mais cedo ou mais tarde seria necessário.
4. os príncipes dos filisteus muito se indignaram contra ele —
Isto se deve considerar como uma circunstância feliz, motivada pela
providência que tudo dirige, para resgatar a Davi do perigoso dilema em
que estava. Mas Davi não está livre de crítica por haver dito a Aquis
(1Sm_8), que estava disposto a fazer o que é provável que não tinha o
mais mínimo propósito de fazer; quer dizer, de pelejar com Aquis contra
Israel. É só um caso das consequências infelizes em que um passo falso
— um desvio da caminho reto do dever — trai a todo aquele que o
comete.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 96
9. porém os príncipes dos filisteus disseram — O governo filisteu
tinha suas restrições constitucionais. Ou pelo menos o rei não era
soberano absoluto. Sua autoridade estava limitada; seus transações
estavam sujeitas a ser refreadas pelos “poderosos barões daquele período
rude e primitivo, assim como os reis da Europa na Idade Média eram
refreados pela aristocracia orgulhosa e desordenada que os rodeava”.
(Chalmers).
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 97
1 Samuel 30

Vv. 1-5. OS AMALEQUITAS SAQUEIAM ZICLAGUE.


1. os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e
Ziclague — Enquanto o melhor das forças filisteias saía de seu país à
planície de Esdralom, os saqueadores amalequitas aproveitaram a
oportunidade do estado indefeso da Filístia, para invadir o território
meridional. Naturalmente a cidade de Davi sofreu os abusos destes
saqueadores, em vingança por sua recente incursão em seu território.
2. porém a ninguém mataram, nem pequenos nem grandes; tão-
somente os levaram consigo — A conduta deles parece estar em
favorável contraste com a de Davi (1Sm_27:11). Mas sua aparente
clemência não resultou de considerações humanitárias. Segundo os
antigos costumes de guerra no Oriente, os guerreiros de uma cidade
conquistada, recebiam morte sem piedade, porém como não havia
guerreiros em Ziclague naquele momento, e as mulheres e os meninos
foram reservados como escravos, e os anciãos perdoados por respeito a
seus anos.
3. Davi e os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada — A
linguagem dá a entender que a fumaça da conflagração ainda estava
visível, e que o saque se cometeu recentemente.

Vv. 6-15. ANIMADO POR DEUS, DAVI OS PERSEGUE.


6. Davi muito se angustiou — tinha motivos para isso, não só por
causas pessoais (1Sm_30:5), mas por causa do veemente clamor e das
ameaças insurrecionais contra ele por ter deixado o lugar tão indefeso,
que as famílias de todos os homens caíram vítimas fáceis do inimigo.
Sob a pressão de tão inesperada e geral calamidade, da qual ele era
acusado como o causador indireto, o espírito de qualquer outro capitão
guiado por motivos ordinários, abateu-se. “Porém Davi se reanimou no
SENHOR, seu Deus”. Seu fé lhe provia de recursos interiores de consolo
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 98
e energia, e mediante oportunas consultas por meio do Urim, ele inspirou
confiança ao ordenar a imediata perseguição dos saqueadores.
9. chegaram ao ribeiro de Besor — Agora, Wadi Gaza, corrente
de inverno, um pouco ao norte de Gaza. A ribeira de um arroio era um
lugar conveniente para o descanso dos soldados que não podiam
continuar a perseguição.
11-15. Acharam no campo um homem egípcio e o trouxeram a
Davi — Os escravos velhos e os nascidos no lar geralmente são tratados
com bondade; mas os escravos comprados ou tomados na guerra devem
cuidar de mesmos; porque se adoecerem, o amo os deixará perecer, para
não se incomodar com cargas adicionais. Este egípcio parece ter caído
fazia pouco em mãos de um amalequita, e como seu amo tinha
pertencido ao partido que havia atacado a Ziclague, poderia dar
informação útil a respeito do rumo tomado por eles em sua volta.
14. queratitas — quer dizer, os filisteus (Ez_25:16; Sf_2:5).
15. Jura-me, por Deus — Quer seja que houvesse entre estas
tribos idólatras uma crença perdurável num Deus único, ou que este
egípcio queria obrigar a Davi pelo Deus a quem adoravam os hebreus, a
solene sanção de um juramento foi reconhecida mutuamente.

Vv. 16-31. RECUPERA A SUAS DUAS MULHERES E TODOS


OS DESPOJOS.
16. Eis que estavam espalhados sobre toda a região — Crendo
que Davi e todos seus homens estavam longe, ocupados na guerra com a
expedição filisteia, consideravam-se perfeitamente seguros, e se
entregavam a toda sorte de farra bárbara. A promessa feita em resposta
às piedosas consultas de Davi (v. 8), foi cumprida. Os saqueadores foram
surpreendidos e sobressaltados de terror. Seguiu-se uma grande matança;
as pessoas assim como o despojo tomados em Ziclague foram
recuperados, além de grande quantidade de despojos que eles tinham
juntado numa vasta excursão de pilhagem.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 99
21. Chegando Davi aos duzentos homens que, de cansados que
estavam, não o puderam seguir — Esta inesperada aquisição dos
despojos estava prestes a causar ocasião de rixa pela egoísta avareza de
alguns de seus seguidores, e consequências sérias poderiam ter resultado
se não tivessem sido impedidas pela prudência de seu capitão, quem
decretou como ordenança permanente esta regra equitativa: que todos os
soldados participassem igualmente (Veja-se Nm_31:11, Nm_31:27).
26. Chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de
Judá — Isto foi proposto como um reconhecimento aos homens
principais daquelas cidades e aldeias de Judá, as quais tinham ministrado
a suas necessidades no curso de suas viagens. Foi o ditado de um
coração amável e agradecido; e o efeito desta liberalidade oportuna foi o
de atrair a seu campo um grande número de recrutas (1Cr_12:22). A
enumeração destes lugares indica o número de partidários com o qual
podia contar dentro de sua própria tribo [1Sm_30:27-31].
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 100
1 Samuel 31

Vv. 1-7. SAUL, TENDO PERDIDO O SEU EXÉRCITO EM


GILBOA, E SENDO MORTOS OS SEUS FILHOS, ELE E SEU
PAJEM DE ARMAS SE MATAM.
1. Entretanto, os filisteus pelejaram contra Israel — Num
combate regular em que os dois exércitos se enfrentaram (1Sm_28:1-4),
os israelitas cederam o lugar, perseguidos pelas flechas do inimigo,
àqueles que, destruindo-os à distância, antes que chegassem a combate
fechado, infundiram-lhes pânico e desordem. Valendo-se das alturas do
Monte Gilboa, buscaram refazer-se, mas foi em vão. Saul e seus filhos
pelejaram como heróis; mas sendo o ataque dirigido principalmente
contra a seção onde eles estavam, Jônatas e seus dois irmãos, Abinadabe
ou Isvi (1Sm_14:49) e Malquisua, afligidos por ser maior o número dos
inimigos, foram mortos nesse lugar.
3. Agravou-se a peleja contra Saul, etc. — Parece que
corajosamente se manteve em seu posto por um tempo depois; mas
rendido pelo cansaço e a perda de sangue, e temendo que o maltratassem
se caía em mãos do inimigo (Js_8:29; Js_10:24; Jz_8:21), pediu a seu
pajem de armas que o matasse, o que aquele oficial se negou a fazer;
então, caindo sobre a ponta de sua espada, Saul se matou; e o pajem de
armas, quem, segundo os escritores judeus, era Doegue, seguindo o
exemplo de seu senhor, pôs fim à sua vida também. Eles morreram pela
mesma espada, a mesma arma com que tinham matado os servos do
Senhor em Nobe.
6. Morreu, pois, Saul — (veja-se 1Cr_10:13-14; Os_13:11).
e seus três filhos — É evidente o influxo da providência ao
permitir a morte dos três filhos mais velhos e mais enérgicos de Saul,
particularmente a morte de Jônatas, a favor de quem, se tivesse
sobrevivido a seu pai, teria se levantado um forte partido, e assim teria
obstruído o caminho de Davi ao trono.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 101
todos os seus homens foram mortos naquele dia — Seus servos
ou guarda-costas (1Cr_10:6).
7. os homens de Israel que estavam deste lado do vale —
Provavelmente o vale de Jezreel — o mais longo e mais meridional dos
vales que correm entre o Pequeno Hermom e as alturas de Gilboa,
diretamente ao Jordão. Era natural que as pessoas das aldeias se
assustassem e fugissem, porque, se tivessem esperado a chegada dos
triunfadores, teriam sido privados de sua liberdade ou de suas vidas,
segundo era costume nas guerras daquele tempo.

Vv. 8-10. TRIUNFAM OS FILISTEUS SOBRE OS CORPOS


MORTOS.
8. Quando ao outro dia foram os filisteus despojar os mortos,
acharam a Saul e a seus três filhos estirados (TB) — Achando os
cadáveres dos príncipes que tinham morrido no campo de batalha, o
inimigo os reservou para ultrajá-los. Consagraram as armas de Saul e de
seus filhos ao templo de Astarote, penduraram seus cadáveres no templo
de Shen, enquanto que ignominiosamente fixaram as cabeças no templo
do Dagom (1Cr_10:10); dividindo assim a glória entre seus várias
deidades.
10. o muro — (2Sm_21:12) — “a rua” de Bete-Seã. A rua era
assim chamada pelo nome do templo que estava nela. Tinham que ir ao
longo dela até o muro da cidade (veja-se Js_17:11).

Vv. 11-13. OS HOMENS DE JABES-GILEADE RESGATAM OS


CADÁVERES, E OS SEPULTAM EM JABES.
11-13. Então, ouvindo isto os moradores de Jabes-Gileade, o
que os filisteus fizeram a Saul — Lembrando os serviços importantes e
oportunos que Saul lhes tinha feito, grata e heroicamente resolveram não
permitir que se infligissem semelhantes opróbrios nos restos da família
real.
1 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 102
12. caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul e os
corpos de seus filhos — Considerando que Bete-Seã está à distância de
uma hora e meia, e por uma estreita passagem elevada a oeste do Jordão
— sendo toda a viagem de Jabes-Gileade cerca de 16 quilômetros —
eles se apressaram para ir tirar os corpos, e retornar ao outro lado do
Jordão no curso de uma só noite.
os queimaram — Esta não era costume hebreu. Recorreu-se a esta
medida na presente ocasião para evitar o risco de que os do Bete-Seã
desenterrassem os restos reais para maiores insultos.
2 SAMUEL
Original em inglês:

2 SAMUEL

The Second Book of Samuel,

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

2 Samuel 1 2 Samuel 7 2 Samuel 13 2 Samuel 19

2 Samuel 2 2 Samuel 8 2 Samuel 14 2 Samuel 20

2 Samuel 3 2 Samuel 9 2 Samuel 15 2 Samuel 21

2 Samuel 4 2 Samuel 10 2 Samuel 16 2 Samuel 22

2 Samuel 5 2 Samuel 11 2 Samuel 17 2 Samuel 23

2 Samuel 6 2 Samuel 12 2 Samuel 18 2 Samuel 24


2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 2
2 Samuel 1

Vv. 1-16. UM AMALEQUITA TRAZ NOTÍCIAS DA MORTE


DE SAUL.
1. Davi … estando já dois dias em Ziclague — Embora
grandemente reduzida pelos incendiários amalequitas, aquela cidade não
foi saqueada nem destruída totalmente, de modo que Davi e seus 600
seguidores com suas famílias, puderam achar algumas comodidades.
2-12. sucedeu, ao terceiro dia, aparecer do arraial de Saul um
homem — Como no relato da morte de Saul dado no último capítulo do
Primeiro Livro, é inspirado, deve ser considerado verdadeiro, e o relato
do amalequita como uma ficção inventada por ele mesmo para
congraçar-se com Davi, o suposto sucessor ao trono. A pergunta de
Davi: “Conte o que foi que aconteceu!” [V. 4, NTLH], demonstra o
grande interesse que ele tinha na guerra — interesse que nascia de seus
sentimentos de altura e generoso patriotismo e não da ambição. —
Entretanto, julgando o amalequita que Davi estivesse animado por algum
princípio egoísta, inventou um conto improvável e inconsequente por
meio do qual cria que conseguiria uma recompensa. Tendo visto o ato
suicida de Saul, pensou utilizá-lo para seu proveito, e sofreu o castigo de
seu cálculo errado (cf. 2Sm_1:9 com 1Sm_31:4-5).
10. a coroa — pequena boina metálica ou banda, que servia como
elmo, com um pequeno chifre que sobressaía para a frente como símbolo
de poder.
o bracelete do seu braço (TB) — O bracelete levado mais acima
do cotovelo, marca antiga de dignidade real, ainda é levado pelos reis em
alguns países orientais.
13-15. perguntou Davi ao moço portador das notícias: Donde és
tu? — O homem havia dito no princípio quem era, mas agora lhe é feita
a pergunta formal e judicialmente. Poderá parecer severo demais o
castigo infligido ao amalequita, mas o respeito tributado aos reis do
Ocidente, não se deve considerar como a norma do que no Oriente se crê
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 3
próprio da dignidade real. A reverência de Davi a Saul como o ungido do
Senhor, estava em sua mente como um princípio sobre o qual ele mesmo
tinha agido várias vezes por ocasião de grandes tentações. Nestas
circunstâncias foi especialmente importante que fosse conhecido
publicamente este seu princípio; livrar-se da imputação de ser em algum
modo cúmplice do execrável regicídio, era para ele motivo de
preocupação sendo juiz justo, não menos que um bom político.

Vv. 17-27. DAVI LAMENTA A SAUL E A JÔNATAS.


17. Fez Davi este cântico fúnebre (TB) — Sempre foi costume dos
povos orientais, por ocasião da morte dos grandes reis e guerreiros,
celebrar seus qualidades e façanhas em canções fúnebres. Esta inimitável
elegia triste, segundo hipótese de muitos escritores, chegou a ser uma
canção de guerra nacional, e era ensinada aos jovens israelitas sob o
nome de “O Arco”, segundo a prática de muitos escritores hebreus e
clássicos de pôr títulos a seus canções de acordo com o tema principal
(Sl_22:1; 56:1; 60:1; 80:1; 100:1). Embora as palavras “uso de” sejam
acrescentadas pelos tradutores (da Versão Inglesa), podem ser
introduzidas corretamente, porque o sentido natural deste versículo entre
parêntese é que Davi tomou medidas imediatas para a instrução do povo
no conhecimento e prática do arco e flechas, pois sua inferioridade para
cm o inimigo no uso desta arma militar tinha sido a causa principal de
seu recente desastre nacional.
19. A tua glória, ó Israel — ou “a beleza”; literalmente, “a
gazela”, ou “antílope” de Israel. No Oriente este animal é o tipo da
beleza ou elegância de forma simétrica.
Como caíram os valentes! — Esta frase forma o coro do cântico.
21. não caia sobre vós nem orvalho, nem chuva — Ser privados
das benéficas influências atmosféricas, as quais, nestas colinas
antigamente cultivadas, parecem ter produzido muitas primícias nas
colheitas de grãos, é mencionado como a maior calamidade que os
sentimentos feridos do poeta puderam imaginar-se. Esta maldição parece
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 4
estar sobre eles ainda, porque as montanhas de Gilboa estão despidas e
são estéreis.
neles foi profanado o escudo dos valentes — Atirar o escudo era
considerado como uma vergonha nacional. Entretanto, naquela fatal
batalha de Gilboa, muitos dos soldados judeus que tinham mostrado
verdadeira coragem, esquecendo-se de sua própria fama e da honra da
pátria, jogaram os seus escudos e fugiram do campo. Esta conduta
desonrosa e covarde é mencionada com tristeza delicadamente patética.
24. Vós, filhas de Israel, chorai por Saul, que vos vestia de rica
escarlata, etc. — A aflição pelo vestido que antigamente distinguia as
mulheres orientais, é ainda sua característica. Se manifesta em seu amor
pelas cores claras, alegres e variados, na profusa ostentação de
ornamentos e em outras formas diferentes. Os sentimentos mais íntimos
do poeta se comoveram, e sua amável disposição se deixou ver em seu
forte desejo de celebrar as qualidades de Saul assim como também as de
Jônatas; mas os louvores a este formam o estribilho do poema, que
começa e termina falando daquele excelente príncipe.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 5
2 Samuel 2

Vv. 1-7. POR MANDADO DE DEUS, DAVI SOBE A HEBROM,


E É FEITO REI DE JUDÁ.
1. consultou Davi ao SENHOR — Por meio do Urim (1Sm_23:6,
1Sm_23:9; 1Sm_30:7-8). Sabia seu destino, mas sabia também que a
providência de Deus aplainaria o caminho; e portanto não queria dar
nenhum passo nesta crise pessoal e nacional, sem buscar a direção
divina. Foi dito que fosse a Judá e fixasse sua sede em Hebrom, para
onde foi com sua companhia que já era considerável. Ali seus interesses
eram muito poderosos; porque não só estava dentro de sua própria tribo,
e perto de chefes com aqueles que desde tempo atrás tinha estado em
relações amigáveis (veja-se 1Sm_30:26-31), mas sim Hebrom era a
capital e centro de Judá, e uma das cidades levíticas, cujos habitantes lhe
eram firmemente leais, tanto por simpatia a sua causa da matança em
Nobe, como pela perspectiva de realizar por meio dele a prometida
preeminência deles entre as tribos. Os príncipes de Judá, pois, lhe
ofereceram a coroa de sua tribo, a qual ele aceitou. Mas não podia fazer-
se com prudência, nas circunstâncias atuais da pátria (1Cr_11:3).
5-7. enviou Davi mensageiros aos homens de Jabes-Gileade —
Não pode haver dúvida de que esta mensagem de agradecimento por sua
valente e perigosa empresa de resgatar os corpos de Saul e seus filhos,
era uma expressão do sentimento pessoal e genuíno da satisfação de
Davi. Ao mesmo tempo, foi um rasgo de política sã e oportuna. Neste
aspecto, o anúncio de seu poder real em Judá, acompanhado pela
promessa de sua proteção aos homens de Jabes-Gileade em caso de que
se vissem expostos a perigos por causa de sua aventura em Bete-Seã,
teria um importante significado em todas as partes do país, e ofereceria a
segurança de que ele lhes daria o mesmo oportuno e enérgico socorro
que Saul lhes tinha dado no princípio de seu reinado.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 6
Vv. 8-17. ABNER FAZ REI DE ISRAEL A ISBOSETE.
8. Abner, filho de Ner, capitão do exército de Saul, tomou a
Isbosete — Aqui havia o estabelecimento de um reino rival, o qual,
entretanto, não teria existido se não tivesse sido por Abner.
Isbosete — ou Esbaal. (1Cr_8:33; 1Cr_9:39). Os hebreus
geralmente mudavam os nomes terminados em Baal por Bosete
(“vergonha”) (Jz_9:53, cf. com 2Sm_11:21). Chamava-se assim a este
príncipe por sua imbecilidade.
Abner — era primo irmão de Saul, comandante de seu exército, e
tido em alta estima por todo o país. Sua lealdade à casa de seu finado
senhor se mesclava com sua oposição a Davi e sua ambição pessoal, ao
começar este movimento faccioso. Ele também estava alerta à
importância de assegurar as tribos orientais; assim, levando a Isbosete
através do Jordão, proclamou-o rei em Maanaim, cidade sobre a ribeira
setentrional do Jaboque, santificado em tempos patriarcais pela presença
divina (Gn_32:2). Ali congregou as tribos ao redor do estandarte do
infeliz filho de Saul.
9-10. sobre Gileade — geralmente assim se indicava à terra além
do Jordão.
assuritas — A tribo do Aser no extremo norte.
Jezreel — O extenso vale que bordejava as tribos centrais.
sobre todo o Israel … somente a casa de Judá — Davi não podia
nem queria forçar os assuntos; mas estava contente esperando o tempo
assinalado por Deus; e cuidadosamente evitava todo conflito com o rei
rival, até que, depois de dois anos, começaram as hostilidades desde
aquele lado.
12. Saiu Abner, filho de Ner, com os homens de Isbosete, filho
de Saul, de Maanaim a Gibeão — Esta cidade estava perto dos limites
de Judá, e como o exército com o qual acampou Abner, parecia ter
algum propósito agressivo, Davi enviou um exército sob o mando de
Joabe para vigiar os seus movimentos.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 7
14. Disse Abner a Joabe: Levantem-se os moços e batam-se
diante de nós — Alguns creem que a proposta era só uma prova de
destreza para entreter-se. Outros supõem que estando ambas as partes
pouco dispostas a dar princípio a uma guerra civil, Abner ofereceu
deixar a contenda a doze homens escolhidos de cada parte. A luta, em
vez de terminar com o assunto, avivou as paixões dos dois partidos
rivais, e continuou uma batalha geral na qual Abner e os seus foram
vencidos, e fugiram.

Vv. 19-22. MORTE DE ASAEL.


19. Asael perseguiu a Abner — Ganhar as armas do general era
considerado como o troféu maior. Asael, pela ambição de obter as armas
de Abner, adiantou-se a todos os outros corredores, e estava alcançando
o general em sua retirada, mas este, consciente de ter mais força física, e
não querendo que houvesse “sangre” entre ele e Joabe, irmão de Asael,
duas vezes o instou para que o deixasse. Como o impetuoso soldado foi
surdo à generosa admoestação, o veterano Abner levantou o cabo
pontiagudo de sua lança, como o fazem na atualidade os árabes quando
são perseguidos, e com um repentino empurrão para trás, transpassou o
corpo de Asael de modo que caiu derrubando-se em seu sangue. Mas
Joabe e Abisai continuaram seguindo por outro caminho, até o pôr-do-
sol. Chegando a terra alta e recebendo os reforços de alguns benjamitas,
ajuntou Abner suas tropas espalhadas, e encarecidamente apelou aos
melhores sentimentos de Joabe para pôr fim ao derramamento de sangue,
que de continuar-se, levaria a consequências mais sérias, a uma
destrutiva guerra civil. Joabe, reprovando a seu contrário ser o único
causador da batalha, sentiu a força da exortação, e refreou os seus
homens; enquanto Abner, provavelmente temendo a renovação do ataque
quando Joabe chegasse ou seja da morte de seu irmão e buscasse
vingança, tratou de cruzar o Jordão naquela mesma noite por marchas
forçadas. Do lado do exército de Davi as perdas foram só dez e nove
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 8
homens além de Asael. Mas do exército do Isbosete caíram trezentos e
sessenta.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 9
2 Samuel 3

Vv. 1-5. NASCEM A DAVI SEIS FILHOS.


1. Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a casa de
Davi — Os bandos rivais tinham êxitos variáveis; mas continuamente
aumentavam os interesses de Davi; menos, entretanto, pelas fortunas da
guerra do que pela crescente adesão do povo a ele como rei divinamente
designado.
2. Em Hebrom, nasceram filhos a Davi — Os seis filhos
mencionados tiveram mães distintas.
3. Quileabe — (retrato de seu pai) — chamado também Daniel
(1Cr_3:1).
Maaca, filha de Talmai, rei do Gesur — Uma região da Síria, a
norte de Israel. Este casamento parece ter sido uma aliança política, feita
por Davi tendo em vista fortalecer-se contra o partido de Isbosete com a
ajuda de um poderoso amigo e aliado no norte. A devoção religiosa teve
que ceder à política, e os frutos amargos desta aliança com uma princesa
pagã Davi colheu na vida do turbulento Absalão.
5. Eglá, mulher de Davi — Este acréscimo “mulher de Davi”, levou
a muitos a crer que Eglá era outro nome de Mical, a primeira e própria
esposa de Davi, quem, embora não tivesse família depois de zombar
insolentemente de Davi (2Sm_6:23), pôde ter tido um filho antes.

Vv. 6-12. ABNER SE TORNA PARTIDÁRIO DE DAVI.


6. Abner se fez poderoso na casa de Saul — No oriente, as
esposas e concubinas de um rei passam a ser propriedade de seu sucessor
até o ponto de que se um homem aspirar a casar-se com uma delas, é
considerado como pretendente à coroa (veja-se 1Rs_2:17). Não se sabe
com certeza se estava bem fundada ou não a acusação contra Abner, mas
este se ressentiu pela acusação; e levado pela vingança, resolveu
transferir todo o peso de sua influência ao partido contrário.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 10
Evidentemente, punha um amplo valor sobre seus serviços, e parece que
dominava a seu fraco sobrinho de uma maneira orgulhosa e esmagadora.
12. ordenou Abner mensageiros a Davi — Embora sua linguagem
desse a entender uma convicção secreta de que, ao apoiar a Isbosete,
tinha estado agindo para frustrar o divino propósito de conferir a
soberania do reino a Davi, esta convicção não justificava as medidas que
ele estava adotando agora, nem os motivos que as animavam. Tampouco
parece possível aprovar a completa integridade e honra da conduta de
Davi, ao levar em consideração as insinuações secretas dele a respeito de
minar a Isbosete, se não levamos em conta a promessa divina do reino, e
sua crença de que a secessão de Abner era um meio proposto pela
providência para tal fim. A exigência da restauração de Mical, sua
esposa, era perfeitamente justa, mas a insistência de Davi neste momento
especial, como condição indispensável para entrar num tratado com
Abner, parece ter procedido não tanto de um afeto perdurável, e sim
como uma esperança de que a possessão dela inclinaria a alguns
partidários da casa de Saul a favorecer sua causa.
17-21. Falou Abner com os anciãos de Israel — Falou verdade ao
impressionar suas mentes com o bem conhecido feito da designação de
Davi para o reino. Mas jogou um papel baixo e hipócrita ao fingir que
seu presente movimento era motivado por impulsos religiosos, quando
na realidade nasceu inteiramente da maldade e vingança contra Isbosete.
Sua instância especial aos benjamitas foi uma medida política necessária;
sua tribo desfrutava da honra de ter dada origem à dinastia real de Saul; e
naturalmente não estavam dispostos a perder tal prestígio. Além disso,
eram um povo decidido, cuja proximidade a Judá poderia torná-los
incômodos e até perigosos. O alistar seu interesse, pois, no plano,
aplainaria o caminho para a adesão das outras tribos; e Abner possuía a
oportunidade mais conveniente de usar sua grande influência em ganhar
aquela tribo, enquanto acompanhava a Mical para levar a Davi com a
devida bagagem. Esta missão lhe permitia esconder os seus propósitos
traidores contra seu senhor; atrair a atenção dos anciãos e do povo para
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 11
com Davi; que unia em si a dupla recomendação de ser o nomeado pelo
Senhor e ao mesmo tempo estar vinculado com a casa real de Saul, e,
sem suspeitas de motivos desonrosos, advogar pela terminação da
dissensão civil, entregando a soberania ao marido de Mical. Com o
mesmo caráter de embaixador público, foi recebido e festejado por Davi;
e enquanto que ostensivamente a restauração de Mical fosse o único
objetivo de sua visita, diligentemente se ocupou em fazer ofertas
particulares a Davi pela entrega a sua causa daquelas tribos que ele
astutamente tinha seduzido. Abner seguiu uma conduta indigna de um
homem de honra; embora seu oferecimento fosse aceito por Davi, a
culpa e a infâmia da transação foram exclusivamente de Abner.

Vv. 22-30. JOABE MATA A ABNER.


24. Joabe foi ao rei e disse: Que fizeste? — O conhecimento que
tinha Joabe do caráter ardiloso de Abner, acaso o levou a duvidar da
sinceridade das proposições daquele homem, e desaprovar a política de
confiar em sua fidelidade. Mas, sem dúvida, houve outros motivos de
uma natureza particular e pessoal, os quais fizeram com que Joabe
estivesse descontente e alarmado pela recepção dada a Abner. Os
talentos militares daquele general, sua popularidade entre o exército, sua
influência em toda a nação, o constituíam em rival formidável; e no caso
dos seus oferecimentos serem realizados, o importante serviço de
transferir todas as tribos ao rei de Judá estabeleceriam tão forte
reclamação à gratidão de Davi, que seu acesso inevitavelmente
levantaria um sério obstáculo à ambição de Joabe. A estas considerações
se acrescentava a lembrança da inimizade que existia entre eles pela
morte de seu irmão Asael (2Sm_2:23). Resolvido, pois, a eliminar a
Abner, Joabe fingiu algum motivo, talvez em nome do rei, para fazê-lo
voltar, e saindo a encontrá-lo, apunhalou-o de improviso; não dentro de
Hebrom, porque era cidade de refúgio, mas sim junto a um poço que
havia nas cercanias.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 12
31. Disse, pois, Davi a Joabe e a todo o povo que com ele estava:
Rasgai as vossas vestes, cingi-vos de panos de saco — o pesar de Davi
foi sincero e profundo, e teve oportunidade de o expressar publicamente
pelos honras fúnebres que decretou para Abner.
o rei Davi ia seguindo o féretro — uma espécie de armação de
madeira, em parte semelhante a um ataúde, e em parte a uma angarilha.
33, 34. O rei pranteou a Abner (TB) — Esta curta elegia é uma
efusão de indignação tanto como de pesar. Como Abner tinha dado
morte a Asael em guerra aberta [2Sm_2:23], Joabe não tinha direito ao
“Goel”, ou vingador; e além disso, ele tinha usado um método de
vingança ilegal e execrável (veja-se 1Rs_2:5). O fato foi um insulto à
autoridade, como também muito prejudicial às perspectivas do rei. Mas
os sentimentos e a conduta de Davi para ouvir da morte, e do caráter e
acompanhamento da solenidade fúnebre, tendiam não só a afastar dele
toda suspeita de culpabilidade, mas ainda a voltar a corrente da opinião
pública a seu favor, e a aplainar o caminho para que reinasse sobre todas
as tribos mais honradamente que pelas negociações traidoras de Abner.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 13
2 Samuel 4

Vv. 1-8. BAANÁ E RECABE MATAM A ISBOSETE, E


TRAZEM A DAVI SUA CABEÇA.
4. Jônatas, filho de Saul, tinha um filho aleijado dos pés — Isto
se menciona como razão para que fosse considerado, segundo as
opiniões orientais, incapaz para exercer os deveres de soberano.
5. Indo Recabe e Baaná ... chegaram à casa de Isbosete, no
maior calor do dia, etc. — É ainda costume no Oriente conceder a seus
soldados certa quantidade de grão, junto com algum pagamento; e estes
dois capitães muito naturalmente foram ao palácio no dia anterior para
buscar o trigo, a fim de distribuí-lo entre os soldados, para que fosse
enviado ao moinho à hora habitual da manhã.
7. Tendo eles entrado na casa, estando ele no seu leito, no
quarto de dormir — Recabe e Baaná vieram no calor do dia, quando
sabiam que Isbosete, seu senhor, estaria descansando sobre seu divã; e
como era necessário, pela razão já dada, ter o grão um dia antes de ser
necessário, sua vinda a essa hora, embora pudesse ser um pouco mais
cedo que de costume, não criou nenhuma suspeita, e não chamou a
atenção. (Harmer).
andando toda a noite pelo caminho da planície — quer dizer,
pelo vale do Jordão, o qual levava de Maanaim a Hebrom.
8. Trouxeram a cabeça de Isbosete ao rei Davi, a Hebrom, e lhe
disseram: Eis aqui a cabeça de Isbosete — Tais troféus sangrentos de
traidores e conspiradores sempre foram aceitáveis aos príncipes no
Oriente, e os portadores são liberalmente recompensados. Sendo Isbosete
um usurpador, os dois assassinos creram fazer um serviço meritório a
Davi, tirando o único obstáculo existente para a união dos dois reinos.

Vv. 10-12. DAVI OS MANDA MATAR.


12. os mataram e, tendo-lhes cortado as mãos e os pés — Por
terem sido os instrumentos para perpetrar seu crime. A exposição dos
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 14
restos mutilados foi designada não só como castigo de seu crime mas
também como o atestado da abominação de Davi.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 15
2 Samuel 5

Vv. 1-5. AS TRIBOS UNGEM A DAVI REI SOBRE ISRAEL.


1. todas as tribos de Israel vieram a Davi — Uma comissão
composta pelas autoridades de todas as tribos [Veja-se 1Cr_11:1]. Davi
possuía a primeira e essencial qualidade para ocupar o trono: a de ser
israelita (Dt_17:15); de seus talentos militares tinha dado suficiente
prova, e o desejo do povo de que assumisse o governo de Israel, foi
aumentado por seu conhecimento da vontade e do propósito de Deus
expresso por Samuel (1Sm_16:11-13).
3. o rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, perante o
SENHOR — (Veja-se 1Sm_10:17). Esta declaração formal da
constituição era feita especialmente no começo de uma dinastia nova, e
na restauração da família real depois de uma usurpação (2Rs_11:17),
embora as circunstâncias algumas vezes conduzissem à sua renovação
pelo acesso de algum soberano novo (1Rs_12:4). Parece que esta foi
acompanhada por solenidades religiosas.

Vv. 6-12. DAVI TOMA SIÃO DOS JEBUSEUS.


6. Partiu o rei com os seus homens para Jerusalém, contra os
jebuseus — A primeira expedição de Davi como rei de todo o país, foi
dirigida contra este lugar, que até então tinha estado em mãos dos
nativos. Estava fortemente defendida, e considerada tão inexpugnável,
que os cegos e coxos eram enviados para guarnecer as ameias, como
zombaria ao ataque do rei hebreu, e para gritar: “Davi não entrará aqui”.
Para entender o significado e poder desta zombaria, é necessário lembrar
a profundidade e o escarpado do vale de Giom, e as altas muralhas da
velha fortaleza cananeia.
7. a fortaleza de Sião — Quer seja a colina do sudoeste usualmente
assim chamada, ou o cimo, agora nivelado, a norte do monte do templo,
é a altura dominante que chama a atenção de todos lados: “a montanha
fortaleza”, “castelo de penhascos” de Jerusalém.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 16
8. Todo o que está disposto a ferir os jebuseus suba pelo canal
— Alguns creem que isto quer dizer uma passagem subterrânea; outros,
um cano pelo qual se vertia água sobre o fogo que os sitiadores
frequentemente prendiam nas madeiras dos portões, e por cujas
saliências um escalador hábil poderia subir; outros traduzem as palavras:
“Quem os lançará contra o precipício?” (1Cr_11:6).
9. habitou Davi na fortaleza — Havendo-a tomado por assalto,
mudou seu nome para “a Cidade de Davi”, para dar a entender a
importância da conquista, e para perpetuar a memória do acontecimento.
foi edificando em redor, desde Milo e para dentro —
Provavelmente uma linha de baluartes de pedra sobre o lado norte do
Monte Sião, edificados por Davi para assegurar-se por aquele lado dos
jebuseus, os quais ainda viviam na parte mais baixa da cidade. A casa de
Milo era talvez a principal torre angular daquela muralha fortificada.
11, 12. Hirão rei de Tiro enviou … carpinteiros, e pedreiros —
A chegada de arquitetos e mecânicos tírios é uma clara evidência do
baixo estado a que tinham chegado os artesãos em Israel, devido às
desordens da longa guerra civil.

Vv. 13-16. NASCEM-LHE ONZE FILHOS.


13. Tomou Davi mais concubinas e mulheres — Com esta
conduta Davi violou uma lei positiva, que proibia que o rei de Israel
tomasse muitas esposas. (Dt_17:17).

Vv. 17-25. FERE OS FILISTEUS.


17. Ouvindo, pois, os filisteus que Davi fora ungido rei sobre
Israel — Durante a guerra civil entre a casa de Saul e Davi, esses
intranquilos vizinhos tinham ficado como espectadores da contenda. Mas
agora, ciumentos de Davi, resolveram atacá-lo, antes que seu governo
fosse totalmente estabelecido.
18. vale dos Refains — quer dizer, “vale de gigantes”, uma planície
larga e fértil, que desce gradualmente das montanhas centrais para o
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 17
noroeste. Era a rota pela qual partiam contra Jerusalém. A “fortaleza” a
qual desceu Davi, era algum lugar fortificado onde ele poderia opor-se
ao progresso dos invasores, e onde os derrotou notavelmente.
21. deixaram lá os seus ídolos — Provavelmente seus “lares” ou
deuses domésticos, que haviam trazido ao campo de batalha para que
pelejassem por eles. Foram queimados como mandava a lei (Dt_7:5).
22. Os filisteus tornaram a subir — No ano seguinte renovaram o
ataque com um exército maior, mas Deus manifestamente se interpôs a
favor de Davi.
24. estrondo de marcha pelas copas das amoreiras —
Geralmente se crê que não eram amoreiras, senão outra classe de árvore,
provavelmente álamos, próprios de lugares úmidos, cujas folhas
sussurram com o mais leve movimento do vento. (Royle).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 18
2 Samuel 6

Vv. 1-5. DAVI TRAZ A ARCA DE QUIRIATE-JEARIM.


1. Tornou Davi a ajuntar todos os escolhidos de Israel — (Veja-
se 2Sm_5:1). O objetivo desta segunda assembleia foi o de começar um
movimento nacional para estabelecer a arca em Jerusalém, depois de ter
estado quase cinquenta anos na casa de Abinadabe (veja-se 1Cr_13:1-5).
2. Baalá de Judá — Uma companhia grande de homens
selecionados foi tomada para este trabalho, para que a empresa não fosse
obstruída pelos filisteus. Além disso, um grande grupo de pessoas os
acompanhavam devido a sua veneração pelo sagrado móvel. A viagem
até Baalá de Judá, que se relata em 1Cr_13:6, é aqui subentendido, e o
historiador relata o curso da procissão desde aquele lugar até a capital.
3. Puseram a arca de Deus num carro novo — Ou carruagem
coberta (veja-se 1Sm_6:7). Este era um proceder atrevido e irrefletido,
em violação de um estatuto positivo (veja-se Nm_4:14-15; Nm_7:9;
Nm_18:3).

Vv. 6-11. UZÁ MORRE.


6. chegaram à eira de Nacom — Ou do Quidom (1Cr_13:9). A
Versão Caldeia traduz: “vieram ao lugar preparado para a recepção da
arca”; quer dizer, perto da cidade de Davi (v. 13).
os bois tropeçavam — (veja-se também 1Cr_13:9). Temendo que a
arca estivesse em perigo de ser derrubada, Uzá, sob o impulso de um
sentimento momentâneo, colheu-a com a mão para afirmá-la. Quer seja
que a arca caísse e o esmagasse, ou que alguma doença repentina o
atacasse, ele caiu morto instantaneamente, e este triste evento não só
lançou uma sombra sobre a cena prazerosa, mas também deteve
completamente a procissão; e ali foi deixada a arca, nas cercanias da
capital. É de grande importância observar a severidade proporcional dos
castigos que vinham pela profanação da arca. Os filisteus sofreram
doenças, das quais foram aliviados por suas ofertas, porque a eles não
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 19
tinha sido dada a lei [1Sm_5:8-12]; os de Bete-Semes também sofreram,
mas não fatalmente [1Sm_6:19], pois seu erro foi cometido pela
ignorância. Mas Uzá, que era levita, e bem instruído, sofreu a morte por
sua violação da lei. A severidade da sorte do Uzá poderá nos parecer
grande demais para a natureza e grau da ofensa, mas não nos convém
fazer juízo sobre as dispensações de Deus; e além disso, é evidente que o
propósito divino era o de inspirar respeito por Sua majestade, submissão
à Sua lei, e uma profunda veneração pelos símbolos e ordenanças de Seu
culto.
9-10. Temeu Davi ao SENHOR, naquele dia — Seus sentimentos
por este juízo espantoso foram incitados grandemente por várias razões:
temendo que o desagrado de Deus tivesse sido provocado pelo traslado
da arca; que o castigo fosse estendido a ele e a seu povo; e que eles
pudessem cair em algum erro ou negligência durante o ulterior traslado
da arca. Resolveu, pois, esperar mais luz e direção quanto ao seu dever.
Se a princípio tivesse feito uma consulta por meio do Urim, certamente
teria tido uma boa orientação, enquanto que assim, em sua perplexidade
e dor, estava colhendo os frutos da desconsideração e negligência.
11. Obede-Edom, o geteu — Levita (1Cr_15:18, 21, 24; 1Cr_16:5;
1Cr_26:4). Chama-se geteu, por sua residência em Gate, ou mais
provavelmente em Gate-Rimom, uma das cidades levíticas (Js_21:24-
25).

Vv. 12-19. MAIS TARDE DAVI TRAZ A ARCA A SIÃO.


12. avisaram a Davi, dizendo: O SENHOR abençoou a casa de
Obede-Edom e tudo quanto tem, por amor da arca de Deus — O
lapso de três meses não só restaurou a mente agitada do monarca, a um
estado tranquilo e claro, mas o levou a descoberta de seu erro anterior.
Sabendo que a arca foi guardada em seu lugar temporário de descanso
não apenas sem inconveniente nem perigo mas com grande vantagem,
resolveu imediatamente trasladar à capital, com a observância de toda a
formalidade e solenidade devidas (1Cr_15:1-13). Foi desta vez
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 20
transportada sobre os ombros dos sacerdotes, que tinham sido
cuidadosamente preparados para a tarefa, e a procissão se distinguiu pela
solenidade extraordinária e as demonstrações de alegria.
13. quando os que levavam a arca do SENHOR tinham dado
seis passos — Alguns pensam que foram levantados rapidamente quatro
altares para oferecer os sacrifícios à distância de cada seis passos (veja-
se 1Cr_15:26).
14. Davi dançava … diante do SENHOR. — Os hebreus, como
outros povos antigos, tinham suas danças sagradas, que eram executadas
em seus aniversários solenes e em outras grandes ocasiões para
comemorar algum sinal especial da bondade e do favor divinos.
com todas as suas forças — colocando violentos esforços de saltar,
e despojado de seu manto real, conduta evidentemente incompatível com
a gravidade da ancianidade e com a dignidade de um rei. Mas
indubitavelmente foi feito como um ato de homenagem religiosa, suas
atitudes e vestes eram, como sempre foram nos países orientais,
simbólicas de penitência, alegria, gratidão e devoção [1Cr_15:27].
17. Introduziram a arca do SENHOR e puseram-na no seu
lugar, na tenda que lhe armara Davi — O velho tabernáculo ficou em
Gibeão (1Cr_16:39; 1Cr_21:29; 2Cr_1:3). Provavelmente não foi
trasladado por ser grande demais para o lugar temporário que o rei havia
provido, e porque ele estava pensando em edificar um templo.
18. abençoou o povo — No duplo caráter de profeta e rei (veja-se
1Rs_8:55-56). [Veja-se 1Cr_16:2.]
19. um bolo de pão — sem levedura e fininho.
pedaço de carne — assado de vaca.

Vv. 20-23. A ESTERILIDADE DE MICAL.


20. Mical, filha de Saul, saiu a receber a Davi (TB) — Orgulhosa
de sua origem real, saiu a repreender a seu marido por ter rebaixado a
dignidade da coroa, e por comportar-se mais como um trapaceiro que
como um rei. Mas seu sarcasmo incômodo foi rejeitado de uma maneira
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 21
que não podia ser agradável a seus sentimentos, enquanto que indicava a
cálida piedade e gratidão de Davi.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 22
2 Samuel 7

Vv. 1-3. NATÃ APROVA O PROPÓSITO DE DAVI DE


EDIFICAR UMA CASA A DEUS.
2. disse o rei ao profeta Natã: Olha, eu moro em casa de cedros
— O palácio que tinha edificado em Jerusalém, para o qual Hirão tinha
enviado homens e materiais, foi terminado. Era magnífico naquele
tempo, embora feito inteiramente de madeira, pois as casas nos países
quentes não requerem a solidez nem a espessura de paredes que são
necessários para as moradias e as regiões expostas à chuva e ao frio. O
cedro era a madeira mais rara e custosa. O piedoso Davi se afligia pela
elegância e o esplendor de seu palácio contrastados com o humilde
tabernáculo provisório em que a arca de Deus estava colocada.
3. Disse Natã ao rei: Vai, faze tudo quanto está no teu coração
— A piedade que revelava este propósito fez com que o profeta desse
sua pronta aprovação e incentivo aos planos do rei. Os profetas, quando
seguiam os impulsos de seus próprios sentimentos e formavam opiniões
conjeturais, caíam em frequentes erros. (Veja-se 1Sm_16:6; 2Rs_4:27).

Vv. 4-17. DEUS NOMEIA A SEU SUCESSOR PARA QUE A


EDIFIQUE.
4. Porém, naquela mesma noite, veio a palavra do SENHOR a
Natã — A ordem foi dada ao profeta na noite seguinte; quer dizer, antes
que Davi pudesse tomar medidas ou fazer gastos.
11. também o SENHOR te faz saber que ele, o SENHOR, te
fará casa — Como recompensa por seus bons propósitos, Deus
aumentaria e manteria a família de Davi, e asseguraria a sucessão do
trono para a sua dinastia. [Veja-se 1Cr_17:10].
12. farei levantar depois de ti o teu descendente, etc. — É costume
que o filho mais velho nascido depois da sucessão do pai ao trono o
suceda em sua dignidade de rei. Davi teve vários filhos com Bate-Seba,
nascidos depois de seu traslado a Jerusalém (2Sm_5:14-16; cf. 1Cr_3:5).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Mas por ordenança especial e promessa de Deus seu sucessor tinha que
ser um filho nascido depois desta ocasião; e o sair do costume
estabelecido no Oriente de fixar a sucessão, não se poderá explicar por
outras razões, que não seja pelo cumprimento da promessa divina.
13. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei
para sempre o trono do seu reino — Esta declaração se referia, em sua
aplicação primária, a Salomão, e ao reino temporário da família de Davi.
Mas num sentido mais amplo e sublime, tinha em conta um Filho de
Davi de natureza distinta. (Heb_1:8). [Veja-se 1Cr_17:14.]

Vv. 18-29. ORAÇÃO E AÇÃO DE GRAÇAS DE DAVI.


18. Então, entrou o rei Davi na Casa do SENHOR, ficou
perante ele — Estar sentado era antigamente uma atitude de adoração.
(Êx_17:12; 1Sm_4:13; 1Rs_19:4). Quanto à atitude particular, Davi se
sentou, mais provavelmente, sobre seus calcanhares. Esta era a postura
dos antigos egípcios perante seus santuários; no Oriente esta é a postura
que indica mais profundo respeito diante dos superiores. Pessoas da mais
alta dignidade se sentam assim na presença de reis; e é a única atitude
assumida pelos modernos maometanos em seus lugares e ritos de
devoção.
19. isto é instrução para todos os homens, ó SENHOR Deus —
quer dizer: é costume que os homens mostrem tal condescendência a
pessoas tão humildes como eu o sou? (Veja-se 1Cr_17:17).
20. Que mais ainda te poderá dizer Davi? — Minhas obrigações
são maiores do que posso expressar.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 24
2 Samuel 8

Vv. 1, 2. DAVI SUBJUGA OS FILISTEUS, E IMPÕE TRIBUTOS


AOS MOABITAS.
1. Davi tomou a Metegue-Amá das mãos dos filisteus (RC) —
Isto é, Gate e seus subúrbios. (1Cr_18:1). Aquela cidade tinha sido um
“freio” por meio do qual os filisteus mantinham ao povo de Judá à
margem. Davi a usou desta vez como barreira para reprimir esse inimigo
inquieto.
2. Também derrotou os moabitas; fê-los deitar em terra e os
mediu: duas vezes um cordel — Isto se refere a uma prática bem
conhecida dos reis orientais, de ordenar que seus prisioneiros de guerra
se deitem no solo, especialmente os que se distinguem pela atrocidade de
seus crimes, ou pelo espírito indômito de resistência, e que pelo mesmo
exasperaram grandemente aos vencedores, depois do qual condenavam à
morte a certa porção deles, o que se determinava por sortes, mas mais
usualmente por uma cinta de medir. Nossa versão diz que matou a dois
terços deles, e perdoou a um terço. A LXX e a Vulgata dizem que foi a
metade. Esta uso de guerra, talvez não era praticada pelo povo de Deus;
mas uns escritores judeus afirmam que a causa desta severidade especial
foi que os moabitas tinham matado os pais e familiares de Davi, aos
quais ele, durante seu exílio, tinha confiado ao rei de Moabe.

Vv. 3-14. FERE A HADADEZER E OS SÍRIOS.


3. Zobá — (1Cr_18:3). Este reino estava limitado a leste pelo rio
Eufrates, e se estendia para o oeste desde aquele rio, talvez até Alepo ao
norte. Por muito tempo foi o principal entre os reinos menores da Síria, e
seu rei levava o título hereditário do Hadadezer (Hadade, quer dizer,
ajudado).
quando aquele foi restabelecer o seu domínio sobre o rio
Eufrates — Segundo as promessas de Deus a Israel, de que Ele lhes
daria todo o território até o rio Eufrates (Gn_15:18; Nm_24:17). Na
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 25
primeira campanha Davi o derrotou notavelmente, e, além do grande
número de prisioneiros, tomou dele grande quantidade de despojo em
carros e cavalos; reservando só um número pequeno destes, e jarretou
outros. A razão desta mutilação era que estando proibidos os cavalos aos
hebreus, tanto na guerra como na agricultura, era inútil tê-los; e seus
vizinhos dependiam muito da cavalaria, mas por falta de raça nativa, e
tendo que consegui-los por compra, o maior dano que poderia fazer-se a
esses inimigos, era o de tornar imprestáveis para a guerra os seus
cavalos. (Veja-se também Gn_46:6; Js_11:6, Js_11:9). Um rei da Síria
damascena veio em sua ajuda, mas Davi derrotou também estas forças
auxiliares, tomou possessão de seu país, pôs guarnições em suas cidades
fortificadas, e as fez pagar tributos.
9. Toí, rei de Hamate — Coele-Síria; no vale do Líbano. Para o
norte se estendia a cidade de Hamate, sobre o rio Orontes, a qual era
capital do país. O príncipe sírio, libertado do temor de um vizinho
perigoso, enviou a seu filho com valiosos obséquios para Davi,
felicitando-o por suas vitórias, e solicitando sua aliança e proteção.
10. Jeorão — Adorão (1Cr_18:10).
11. os quais também o rei Davi consagrou ao SENHOR — Os
príncipes orientais sempre estiveram acostumados a acumular grandes
quantidades de ouro. Este é o primeiro caso de uma prática
uniformemente seguida por Davi, de reservar, depois de pagar os gastos
e entregar a seus soldados recompensas apropriadas, o resto dos despojos
tomados em guerra, para acumular para o grande projeto de sua vida: a
edificação de um templo nacional em Jerusalém.
13. Ganhou Davi renome, quando, ao voltar de ferir os siros —
Em lugar de “sírios”, a LXX diz “edomitas”, a qual é a verdadeira
tradução como é evidente pelo v. 14. Esta conquista feita pelo exército
de Davi era devido ao hábil generalato e heroísmo de Abisai e Joabe
(1Cr_18:12; cf. Salmo 60, título). O vale era o vale do sal (o Ghor), junto
à Montanha do Sal, à extremidade sudoeste do Mar Morto, que separa os
antigos territórios de Judá e Edom. (Robinson).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 26
Vv. 15-18. SEU REINADO.
15. Reinou, pois, Davi … julgava e fazia justiça a todo o seu
povo — Embora ocupado em guerras estrangeiras, Davi mantinha um
excelente sistema de governo nacional; seu gabinete de ministros se
compunha dos homens mais eminentes de seu tempo.
16. Joabe … era comandante do exército — Em virtude de uma
promessa especial (2Sm_5:8).
cronista — Ou historiógrafo, posto de grande confiança e
importância no Oriente.
17. Zadoque … Abiatar, eram sacerdotes — Na matança de
sacerdotes em Nobe, Saul conferiu o sacerdócio a Zadoque, da família de
Eleazar (1Cr_6:50), enquanto que Davi reconheceu a Abiatar, da família
de Itamar, quem fugiu com ele. Os dois sumos sacerdotes exerciam seu
cargo sob os respectivos príncipes aos quais estavam aderidos. Quando
Davi obteve o reino de todo Israel, os dois retiveram sua dignidade,
oficiando Abiatar em Jerusalém, e Zadoque em Gibeão (1Cr_16:39).
18. quereteus (TB) — quer dizer, filisteus. (Sf_2:5).
peleteus (TB) — de Pelete (1Cr_12:3). Eram os homens valentes,
que, tendo acompanhado a Davi durante seu exílio entre os filisteus,
foram feitos seus guarda-costas.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 27
2 Samuel 9

Vv. 1-12. DAVI MANDA BUSCAR MEFIBOSETE.


1. Disse Davi: Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul?
— investigou-se e foi achado um mordomo de Saul, quem informou que
ainda tinha ficado Mefibosete, filho de Jônatas, quem tinha cinco anos
quando morreu seu pai, e a quem Davi, em exílio então, não tinha visto.
O fato de estar aleijado dos pés (2Sm_4:4) o havia impedido de tomar
alguma parte nos exercícios públicos de então. Além disso, segundo
opiniões orientais, o filho mais novo de um monarca coroado tem título
preferível para a sucessão ao de um filho do herdeiro aparente; e por este
motivo não se ouça seu nome mencionado como rival de seu tio Isbosete.
Sua insignificância deu lugar a que fosse perdido de vista, e foi
unicamente por meio do Ziba que Davi soube de sua existência, e da
vida retirada que levava com uma das grandes famílias na Canaã
transjordânica, que ficavam aderidas à dinastia caída. Mefibosete foi
convidado à corte, e foi apontado lugar na mesa real nos dias públicos,
como ainda é costume dos monarcas orientais. As posses da família de
Saul, que tinham tocado a Davi por direito de sua esposa (Nm_27:8), ou
cujo direito tinha perdido em favor da coroa por causa da rebelião de
Isbosete (2Sm_12:8), foram devolvidos a Mefibosete para que pudesse
viver de acordo com sua categoria, e Ziba foi nomeado mordomo para
dirigir a propriedade, sob a condição de receber a metade do produzido
como remuneração por seu trabalho, enquanto a outra metade seria paga
como aluguel ao dono da terra (2Sm_19:29).
10. Ziba quinze filhos e vinte servos — A menção de seus filhos e
escravos de sua casa foi feita para mostrar que Mefibosete foi honrado
ao ser considerado “como um dos filhos do rei”
12. Tinha Mefibosete um filho pequeno, cujo nome era Mica —
Se nasceu antes ou depois de sua residência em Jerusalém, não se pode
saber, mas por meio dele foram conservados o nome e a lembrança do
excelente Jônatas. (cf. 1Cr_8:34-35; 1Cr_9:40-41).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 28
2 Samuel 10

Vv. 1-5. MENSAGEIROS QUE DAVI ENVIOU A HANUM SÃO


TRATADOS VERGONHOSAMENTE.
2. disse Davi: Usarei de bondade para com Hanum, filho de
Naás, como seu pai usou de bondade para comigo — É provável que
este seja o Naás contra quem Saul fez guerra em Jabes-Gileade
(1Sm_11:11). Ao sair Davi de Gate, onde sua vida perigava, achou asilo
com o rei de Moabe; e como Naás, rei dos amonitas, era seu vizinho
mais próximo, talvez por inimizade com aquele, tenha sido bondoso e
hospitaleiro com Davi quando este fugia de Saul.
3. os príncipes dos filhos de Amom disseram a seu senhor,
Hanum — Sua suspeita não era justificada por atos nem por planos de
Davi; deve ter tido origem em seu conhecimento das denúncias da lei de
Deus contra eles (Dt_23:3-6) e do costume de Davi de ser muito apegado
a isso.
4. Tomou, então, Hanum os servos de Davi, e lhes rapou metade
da barba — Como os hebreus e outros orientais usavam vestidos
longos, o cortar suas roupas deve ter-lhes dado um aspecto ridículo e de
indelicadeza grosseira. Além disso, sabendo o respeito extraordinário e o
valor que sempre tem sido atribuído à barba no Oriente, pode-se explicar
a vergonha que sentiram os mensageiros, e o decidido espírito de
vingança que estalou em todo o Israel ao saber deste ultraje. Na história
moderna da Pérsia, conta-se de dois casos de insultos similares por reis
de gênio orgulhoso e altivo que envolveram a nação em guerra; e pelo
mesmo motivo não é preciso surpreender-se de que Davi jurou vingança
por este ultraje imperdoável e público.
5. Deixai-vos estar em Jericó — ou nos arredores, depois de
cruzar os vaus do Jordão.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 29
Vv. 6-14. OS AMONITAS VENCIDOS.
6. Vendo, pois, os filhos de Amom que se haviam tornado
odiosos a Davi — Para castigar a esses amonitas insolentes e inóspitos,
que tinham violado a lei comum das nações, Davi enviou um exército
grande sob o comando de Joabe, enquanto eles, informados do iminente
ataque, fizeram preparativos enérgicos para repeli-lo contratando o
serviço de um número imenso de mercenários sírios.
Bete-Reobe — capital de uma região baixa entre o Líbano e o Anti-
Líbano.
Zobá — (veja-se 2Sm_8:3).
do rei de Maaca — Seus territórios estavam do outro lado do
Jordão, perto de Gileade (Dt_3:14).
doze mil de Tobe — quer dizer, os homens de Tobe, lugar das
aventuras de Jefté (veja-se também 1Cr_19:6; Salmo 60, título). Como
os soldados israelitas se esparramavam no território amonita, aquele
povo os encontrou juntou à cidade fronteiriça da Medeba (1Cr_19:7-9),
sendo a cidade coberta pelas tropas nativas, enquanto que os mercenários
sírios estavam acampados a certa distância no campo. Ao fazer o ataque,
Joabe dividiu suas forças em dois, um destacamento, sob o comando de
seu irmão Abisai, tinha que concentrar o ataque contra a cidade,
enquanto que ele mesmo partia contra o poderoso exército dos auxiliares
mercenários. Foi uma guerra justa e necessária, que tinha sido imposta a
Israel, e eles podiam esperar a bênção de Deus sobre suas armas. Com
bom critério, a batalha se empreendeu com os mercenários, os quais não
puderam resistir a furiosa investida, e não sentindo que a causa fosse
dela, buscaram a segurança fugindo. Os amonitas, que haviam posto sua
principal dependência na ajuda estrangeira, retiraram-se para
entrincheirar-se dentro das muralhas da cidade.
14. Joabe parou de lutar … e voltou para Jerusalém—(NTLH)
— Provavelmente o tempo era muito avançado para empreender um sítio
da cidade.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 30
Vv. 15-19. OS SÍRIOS VENCIDOS.
16. Hadadezer mandou chamar os sírios que estavam no lado
leste do rio Eufrates — Este príncipe tinha desfrutado de um tempo
para respirar depois de sua derrota (1Sm_8:3), e alarmado pelo crescente
poderio e grandeza de Davi, e sendo também aliado dos amonitas, juntou
um enorme exército, não só em seu reino, mas também na Mesopotâmia,
para invadir o reino hebreu. Sobaque, seu general, em prosseguimento
deste plano, tinha partido com suas tropas até Helã, cidade fronteiriça de
Manassés oriental, quando Davi, cruzando o Jordão a marchas forçadas,
repentinamente os surpreendeu, derrotando-os e dispersando-os. O
resultado desta grande vitória decisiva foi que todos os pequenos reinos
da Síria se submeteram, e chegaram a pagar tributos a Davi (veja-se 1
Cr_19:1).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 31
2 Samuel 11

1. JOABE SITIA RABÁ.


no tempo em que os reis costumam sair para a guerra — A
volta da primavera era a ocasião usual para começar as operações
militares. Esta expedição foi feita no ano depois da guerra contra os
sírios; e foi empreendida porque o desastre da campanha anterior tinha
caído principalmente sobre os mercenários sírios, e os amonitas não
tinham sido castigados por seu insulto aos embaixadores.
enviou Davi a Joabe, e seus servos … que destruíram os filhos
de Amom — O poderoso exército de Joabe assolou o país amonita, e
cometeu grandes destroços em seus habitantes e suas propriedades, até
que chegando à capital,
sitiaram Rabá — Rabá significa cidade grande. Esta metrópole dos
amonitas estava situada na região montanhosa de Gileade, não longe das
fontes do rio Arnom. Ainda existem ruínas deste lugar.

Vv. 2-12. DAVI COMETE ADULTÉRIO COM BATE-SEBA.


2. Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito — Os hebreus, como
outros orientais, levantavam-se na aurora, mas sempre dormiam sesta à
hora que o calor do dia era mais forte, e depois descansavam sobre seus
eirados no ar fresco das tardes. É provável que nesta ocasião Davi tivesse
subido para desfrutar do ar fresco mais cedo que de costume.
3. Disseram-lhe — lit. “ele disse”: “Não é esta Bate-Seba”, etc.
Parece ter sido uma mulher célebre por sua beleza cujo renome já tinha
chegado aos ouvidos de Davi, como sucede no Oriente, pois as
informações são levadas pelas mulheres de um harém a outro.
Bate-Seba, filha da Eliã — de Amiel (1Cr_3:5), um dos nobres de
Davi (2Sm_23:34) e filho de Aitofel.
4. enviou Davi mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se
deitou com ela — Quando os reis despóticos do Oriente se empenham
em possuir uma mulher, enviam um oficial à casa onde vive, e anuncia
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 32
que o rei deseja que se traslade ao palácio. Ali lhe designa um
compartimento; e se for constituída reina, o monarca ordena que se
anuncie que ele a escolheu para ser reina. Muitos casos na história
moderna do Oriente, mostram a facilidade e prontidão com que se
contraem estes casamentos secundários, e se acrescenta uma beleza mais
ao harém real. Mas Davi teve que fazer uma promessa, ou antes, uma
estipulação expressa a Bate-Seba, antes que ela cedesse à sua vontade
(1Rs_1:13, 15, 17, 28); porque além de sua transcendente beleza, ela
parece ter sido uma mulher de talentos e capacidades superiores por sua
maneira de conseguir o objeto de sua ambição; por sua astúcia para obter
que seu filho sucedesse ao trono; por sua prontidão em dar aviso de sua
concepção; por sua atividade em frustrar a natural expectação de
Adonias de suceder no trono; por sua dignidade como mãe do rei—
vemos fortes indicações do domínio que ela exercia sobre Davi, quem,
talvez teve suficiente tempo e oportunidade para descobrir de muitas
maneiras o castigo desta infeliz união. (Taylor, Calmet).
5. A mulher concebeu e mandou dizer a Davi — Era necessário
tomar algumas medidas imediatas para ocultar o seu pecado, tanto para a
honra do rei como para a segurança dela, porque a morte era o castigo
das adúlteras (Lv_20:10).
Depois, disse Davi a Urias: Desce a tua casa — Esta repentina
mudança na conduta do rei, suas perguntas frívolas (v. 7) e a urgência de
que Urias dormisse em sua própria casa, provavelmente despertaram
suspeitas a respeito da causa deste proceder.
enviaram-lhe um presente da mesa real — O fato de se enviar
uma porção de carne da mesa real à casa ou alojamento de alguém é um
dos maiores cumprimentos que um príncipe oriental pode tributar.
9. Porém Urias se deitou à porta da casa real — É costume que
os servos durmam no vestíbulo ou galeria longa; e os guardas do rei
hebreu faziam o mesmo. Quaisquer que tenham sido suas suspeitas, a
negação de Urias para ir desfrutar das delícias caseiras e sua decisão de
dormir “à porta da casa real”, nasceu (v. 11) de um nobre e honorável
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 33
sentido do dever e da disciplina militar. Mas, sem dúvida, a resolução de
Urias foi rebatida por aquela providência que tira bem do mal, e que
conservou este triste episódio para advertência dos crentes.

Vv. 14-27. URIAS É MORTO.


14, 15. Davi escreveu uma carta a Joabe e lha mandou por mão
de Urias … Ponde Urias na frente da maior força da peleja —
Fracassaram as várias artes e estratagemas que o rei usou para enrolar a
Urias, até que enfim recorreu ao horrível crime do assassinato. A
crueldade a sangue frio de mandar a carta pela própria mão do valente
mas muito contestado soldado, o dispor de Joabe como partícipe de seu
pecado, a hipócrita manifestação de luto, e a prontidão indecente de seu
casamento com Bate-Seba, deixaram uma mancha indelével no caráter
de Davi, e demonstram uma prova dolorosamente humilhante do
extremo a que chegam os melhores homens, quando lhes falta a graça
refreadora de Deus.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 34
2 Samuel 12

Vv. 1-6. A PARÁBOLA DE NATÃ.


1. O SENHOR enviou Natã a Davi — O uso de parábolas é um
estilo favorito de falar entre os orientais, especialmente para participar
verdades indesejadas. Esta parábola esquisitamente patética se baseou
num costume comum do povo pastoril, que têm cordeiros mimados que
criam junto com os meninos, e aos quais falam em termos carinhosos. A
atrocidade da verdadeira ofensa, entretanto, excedeu muito à ofensa
fictícia.
5. o homem que fez isso deve ser morto — Este castigo foi mais
severo do que o caso merecia, ou mais severo do que ordenava o estatuto
divino (Êx_22:1). As simpatias do rei tinham sido ganhas, sua
indignação despertada, mas sua consciência ainda estava adormecida; e
no tempo em que ele estava fatalmente indulgente para com seus
próprios pecados, estava preparado a condenar os delitos e erros de
outros.

Vv. 7-23. NATÃ APLICA A PARÁBOLA A DAVI, QUEM


CONFESSA SEU PECADO E É PERDOADO.
7. disse Natã a Davi: Tu és o homem — Estas terríveis palavras
transpassaram seu coração, despertaram sua consciência, e o fizeram cair
de joelhos. A sinceridade e profundidade de sua penitente tristeza se
podem ver nos Salmos que ele compôs (Sl_32:1-11; Sl_51:1-19;
Sl_103:1-22). Foi perdoado no que se relacionava à restauração ao favor
divino. Mas como por sua alta fama pela piedade, e seu eminente lugar
na sociedade, sua deplorável queda causaria um grande dano à causa da
religião, foi necessário que Deus testificasse seu aborrecimento ao
pecado deixando que até seu servo colhesse os amargos frutos
temporários. O próprio Davi não foi condenado conforme a sua própria
opinião do que a justiça exigia (2Sm_12:5); mas teve que sofrer uma
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 35
expiação quádrupla na morte sucessiva de quatro filhos, além de uma
prolongada sequela de outros males.
8. dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em
teus braços — A fraseologia não significa nada mais do que Deus em
Sua providência tinha dado a Davi, como rei de Israel: tudo o que era de
Saul. A história dá uma evidência concludente de que realmente nunca
casou com nenhuma das mulheres de Saul. O harém do rei anterior
pertence a seu sucessor segundo as ideias orientais, como uma regalia.
11. Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, etc. —
O profeta fala por Deus ameaçando fazer somente o que Ele permitia que
se fizesse. O fato é que a perda de caráter de Davi pela descoberta de
seus crimes, tendia, no curso natural das coisas, a diminuir o respeito de
sua família, debilitar a autoridade de seu governo e alentar o predomínio
das desordens por todo seu reino.
15-23. o SENHOR feriu a criança … e a criança adoeceu
gravemente — O primeiro castigo visível sobre Davi apareceu na
pessoa daquele menino que era a evidência e a lembrança de sua
culpabilidade. Seus servos se surpreenderam por sua conduta, e em
explicação da singularidade dela, é necessário dizer que o costume no
oriente é, a de deixar aos parentes mais próximos do finado sumidos em
sua tristeza sem incomodá-los até o terceiro ou quarto dia (Jo_11:17);
outros parentes ou amigos o visitam, convidam-no a comer, conduzem-
no a um banho, lhe trazem uma muda de roupa, o qual é necessário
porque ficou sentado ou deitado na terra. Então, a surpresa dos servos de
Davi, os quais tinham visto sua amarga angústia enquanto o menino
estava doente, resultou evidentemente disto: que quando soube que
estava morto, aquele que tinha lamentado tão profundamente, levantou-
se da terra, sem esperar que eles viessem em busca dele, imediatamente
tomou banho e se ungiu, sem aparecer como enlutado, e depois de adorar
a Deus com solenidade, voltou a tomar sua comida habitual, sem
nenhuma interposição de outros.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 36
Vv. 24, 25. NASCE SALOMÃO.
24. Bate-Seba … teve ela um filho a quem Davi deu o nome de
Salomão — quer dizer, pacífico. Mas por mandado de Deus, ou talvez
como expressão do amor de Deus Natã lhe deu o nome do Jedidias. Esta
prova do amor de Deus e os nobres dons com que dotou a Salomão,
considerando o pecaminoso casamento de seus pais, é um notável
exemplo da bondade e a graça de Deus.

Vv. 26-31. RABÁ É TOMADA.


26. Joabe pelejou contra Rabá (TB) — O tempo durante o qual se
fazia este sítio, do tratamento com Bate-Seba e o nascimento de um
filho, senão dois, ocorrido durante o desenvolvimento do mesmo,
provavelmente se estendeu por dois anos.
27. a cidade das águas — Rabá, como Aroer, estava dividida em
duas partes—a cidade inferior, isolada pelo curso tortuoso do rio
Jaboque, que fluía quase a seu redor, e a superior e mais forte, chamada a
cidade real. “A primeira foi tomada por Joabe, mas a honra de tomar
lugar tão fortemente defendido como o era a outra parte, era uma honra
reservada para o próprio rei”.
28. cerca a cidade, e toma-a — Sempre foi característico dos
monarcas orientais o monopolizar as honras militares; e como o mundo
antigo não sabia nada da delicadeza dos reis modernos que ganham
vitórias por meio de seus generais, Joabe chamou Davi para que
comandasse o assalto final em pessoa. Sem muita dificuldade Davi
capturou a cidade real, e tomou posse de imensas riquezas.
para não suceder que, tomando-a eu, se aclame sobre ela o meu
nome — A circunstância de que uma cidade receba nome novo por
algum grande personagem, como Alexandria, Constantinopla,
Hyderabad, ocorre frequentemente na história antiga e moderna do
Oriente.
30. Tirou a coroa da cabeça do seu rei — Enquanto que os
tesouros da cidade foram dados aos soldados como despojo, Davi
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 37
reservou para si a coroa, que era de valor precioso. Pelo peso dela, é
provável que ficou suspensa sobre a cabeça, ou que estivesse fixa num
dossel sobre o trono.
pedras preciosas — Heb. “pedra”, uma bola redonda composta de
pérolas e outras joias, que estavam na coroa, e provavelmente tiradas
para ser postas na de Davi.
31. Trazendo o povo que havia nela, fê-lo passar a serras, etc. —
Esta excessiva severidade e o emprego de torturas, que não se tem
lembrança que os hebreus tenham praticado em nenhuma outra ocasião,
foi um ato de justiça retributiva num povo que tinha má reputação pelas
crueldades que praticava (1Sm_11:2; Am_1:13).
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 38
2 Samuel 13

Vv. 1-5. AMNOM AMA A TAMAR.


1. Tamar — filha de Davi e Maaca (2Sm_3:3).
2. sendo ela virgem — As filhas solteiras eram tidas em rigorosa
separação da companhia dos varões; não sendo permitido que as vissem
os estranhos, nem mesmo os parentes, sem a presença de testemunhas. É
claro que Amnom tinha visto a Tamar, porque se tinha despertado nele
uma paixão violenta por ela, a qual, ainda que proibida pela lei
(Lv_18:11), mas com a sanção do exemplo de Abraão (Gn_20:12) e a
prática comum nos países vizinhos de que os príncipes se casassem com
suas meias-irmãs, Amnom não considerava imprópria a relação. Mas ele
não tinha maneira de fazer com que ela soubesse do assunto, e agindo
em sua mente a dor desse contratempo se produziu uma mudança visível
em sua aparência e saúde.
3. Jonadabe, filho de Simeia — Ou Sama (1Sm_16:9). Por
conselho e maquinação deste intrigante primo urdiram um plano para
obter com ela uma entrevista sem restrições e lhe mostrar seu amor.
4. irmã de Absalão, meu irmão — Nos países orientais, onde
prevalece a poligamia, considera-se que as meninas estão sob o cuidado
e proteção especiais de seus irmãos uterinos, os quais são os guardiões
de seus interesses e sua honra, ainda mais que o próprio pai delas (veja-
se Gn_34:6-25).

Vv. 6-27. AMNOM A ESTUPRA.


6. Deitou-se Amnom na cama, e fingiu que estava doente (TB)
— Os orientais são muito adeptos a fingir doença, sempre que têm algum
objetivo a obter.
que minha irmã Tamar venha e prepare dois bolos à minha
presença — Amnom falou ao rei de Tamar como “minha irmã” termo
artificiosamente usado para despistar a seu pai; a petição parecia tão
natural, e como o apetite delicado de um doente precisa ser mimado, o
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 39
rei prometeu enviá-la. Os “bolos” parece que eram um tipo de pão
delicado, na preparação do qual as damas orientais têm especial deleite.
Tamar, adulada pelo convite, não perdeu tempo em fazer o serviço
pedido em casa de seu irmão doente.
12-14. não me forces — As súplicas e argumentos de Tamar eram
tão sensíveis e fortes, que, se não tivesse sido incitado Amnom por sua
paixão sensual da qual tinha chegado a ser escravo, poderiam ter
prevalecido com ele para que desistisse de seu propósito infame. O fato
de lhe pedir, entretanto “que fales ao rei, porque não me negará a ti”, é
provável que ela solicitasse isto como seu último recurso, dizendo-lhe
qualquer coisa que ela pensava que o agradaria, com o fim de escapar de
suas mãos no momento.
15. Depois, Amnom sentiu por ela grande aversão — Não é
inusitado que as pessoas agitadas por paixões violentas e irregulares
passem de um extremo a outro. No caso do Amnom a repentina reação
se explica facilmente. A atrocidade de sua conduta, com todos os
sentimentos de vergonha, remorso, temor ao escândalo, e castigo, agora
se apresentou a sua mente, fazendo com que a presença de Tamar lhe
resultasse intoleravelmente dolorosa.
17. fecha a porta após ela — A porta da rua das casas no Oriente
está sempre trancada com trancas de madeira. Nas grandes casas, onde
um porteiro está do lado de fora, dispensa-se esta precaução. A
circunstância, pois, de que um príncipe desse uma ordem tão fora do
comum, demonstra a veemente perturbação da mente de Amnom.
18. roupa de muitas cores (RC) — Como o bordado nos tempos
antigos era a ocupação das damas de alta categoria, a posse destes
objetos de cores variados era sinal de distinção. Eram levadas
exclusivamente pelas jovenzinhas de condição real. Desde que a arte de
fabricar tecidos de cor tem feito tanto progresso, os vestidos desta
descrição variada são mais comuns no Oriente.
19. Tamar tomou cinza sobre a sua cabeça, e a roupa de muitas
cores que trazia rasgou, e pôs as mãos sobre a cabeça, e foi-se
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 40
andando e clamando — quer dizer, soluçando. Os costumes orientais
provavelmente não veriam senão um forte sentido da ofensa que ela
tinha sofrido, se Tamar realmente rasgou sua roupa. Mas, como não se
menciona seu véu, é provável que Amnom a tivesse expulsado sem ele, e
que ela levantasse suas mãos com o propósito de esconder seu rosto. Por
estes sinais, especialmente a ruptura de sua roupa distintiva, Absalão
imediatamente suspeitou o que tinha acontecido. Recomendando a ela
que se calasse e não publicasse sua desonra e a da família, ele não
mencionou isso perante Amnom. Mas o tempo todo esteve “alimentando
a chama de sua ira”, e esperando seu tempo para vingar as injustiças de
sua irmã, e para tirar do herdeiro a coroa, talvez para favorecer seus
propósitos ambiciosos.
20. Assim ficou Tamar e esteve desolada em casa de Absalão,
seu irmão — Ele era seu protetor natural, pois os filhos de polígamos
viviam à parte, como se constituíssem famílias diferentes.
23. Absalão, que tinha tosquiadores em Baal-Hazor, junto a
Efraim — A festa da tosquia é sempre grande ocasião no Oriente.
Propondo Absalão dar tal festa em sua fazenda em Baal-Hazor, cerca de
doze quilômetros e meio a nordeste de Jerusalém, perto de uma aldeia
chamada Efraim (Js_11:10), convidou primeiro o rei e sua corte; mas
pelo fato de o rei se recusar, por causa dos pesados gastos que causaria
ao filho a recepção da realeza [2Sm_13:25], então limitou Absalão o
convite aos filhos do rei [2Sm_13:26], ao que Davi prontamente deu sua
aprovação, com a esperança de que tenderia a promover a harmonia e a
união fraternal.

Vv. 28-36. AMNOM É MORTO


28. Absalão deu ordem aos seus moços, dizendo: ... quando o
coração de Amnom estiver alegre de vinho … então, o matareis. Não
temais — Ao sinal lembrado de antemão, lançando os servos sobre
Amnom, mataram-no junto à mesa, enquanto outros irmãos, horrorizados
e temendo uma matança geral, fugiram com muita pressa a Jerusalém.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 41
29. cada um montou seu mulo — Este era o modo favorito de viajar
dos grandes. O rei Davi mesmo tinha seu mulo de estado. Os mulos da
Síria são superiores aos nossos em atividade, força e capacidade.
30. chegou a notícia a Davi: Absalão feriu todos os filhos do rei
— Foi natural que na consternação e o tumulto causados por um fato tão
atroz, chegasse a corte um relatório tão exagerado, pelo qual o rei
mergulhou em profunda dor e desespero. Mas a informação de Jonadabe,
quem parece ter estado informado do plano e da chegada dos demais
príncipes, fizeram conhecer o verdadeiro alcance da catástrofe.

Vv. 37-39. ABSALÃO FOGE A TALMAI.


37. Absalão, porém, fugiu e se foi a Talmai — A lei que
condenava o homicídio premeditado (Nm_35:21) não lhe dava nenhuma
esperança de poder ficar no país com impunidade; as cidades de refúgio
não podiam lhe dar asilo, e se viu obrigado a sair do reino, refugiando-se
na corte de Gesur, com seu avô materno, quem, sem dúvida, aprovaria
sua conduta.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 42
2 Samuel 14

Vv. 1-21. JOABE INSTRUI A UMA MULHER DE TECOA.


2. Enviou Joabe a Tecoa, e fez trazer de lá uma mulher sábia
(TB) — O rei estava muito apegado a Absalão; e tendo passado já sua
dor pela morte violenta de Amnom, desejava desfrutar novamente da
companhia de seu filho favorito, quem tinha estado ausente fazia três
anos. Mas o temor à opinião pública e a consideração pelos interesses
públicos, fizeram que vacilasse em chamar e perdoar a seu filho culpado;
de modo que Joabe, cuja mente perspicaz via a luta entre o afeto paternal
e o dever real, ideou um plano para o livrar destes escrúpulos, e ao
mesmo tempo satisfazer os desejos de seu senhor. Tendo conseguido
uma mulher camponesa de grande inteligência e graça, ordenou-lhe que
pedisse audiência com o rei, e ela, solicitando a real intervenção no
acerto de uma ofensa doméstica, convenceu-o de que a vida de um
homicida podia ser salva em alguns casos. Tecoa estava a 19 quilômetros
ao sul de Jerusalém, e a nove e meio de Belém. O motivo de trazer uma
mulher de tal distância, era o de evitar que a peticionária fosse
conhecida, ou que a verdade de seu relato fosse facilmente investigada.
Seu discurso foi em forma de parábola em circunstâncias, em linguagem,
e maneiras, apto para a ocasião; representava um caso tão parecido ao de
Davi como era prudente fazê-lo, para que não fosse prematuramente
descoberto. Tendo conseguido a promessa do rei, ela declarou que seu
motivo era o de satisfazer a consciência real de que ao perdoar Absalão,
ele não fazia nada mais do que teria feito em caso de um desconhecido,
no qual não poderia haver nenhuma imputação de parcialidade. A
estratagema teve êxito; Davi traçou a origem da mesma a Joabe; e,
secretamente agradado de ter o juízo daquele soldado rude, mas
geralmente sensato, comissionou-o para que fosse a Gesur, e trouxesse
para casa a seu filho banido.
7. apagarão a última brasa que me ficou — A vida do homem se
compara nas Escrituras a uma luz. Apagar a luz de Israel (2Sm_21:17) é
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 43
destruir a vida do rei; ordenar uma lâmpada para alguém (Sl_132:17) é
lhe conceder posteridade; apagar um brasa significa aqui a extinção da
única esperança que restava a esta mulher de que o nome e a família de
seu marido seriam preservados. A figura é bela: um brasa viva, sob um
montão de cinzas com brasas, era tudo o que ela possuía para acender de
novo o seu fogo, para acender sua lâmpada em Israel.
9. Respondeu a mulher de Tecoa ao rei: Sobre mim, ó rei meu
senhor, recaia a culpa (TB) — quer dizer, a iniquidade de refrear o
curso da justiça e de perdoar a um homicida, a quem o Goel—
vingador—estava obrigado a matar onde quer que o achasse, menos
numa cidade de refúgio. Isto era exceder a prerrogativa real e agir em
caráter de monarca absoluto. A linguagem da mulher se refere a uma
precaução comum tomada pelos juízes hebreus, de transferir
solenemente a responsabilidade do sangue que eles condenavam a ser
derramado, aos acusadores ou aos criminosos (2Sm_1:16; 3:28), e
algumas vezes os acusadores tomavam sobre si (Mt_27:25).
13-17. Por que pensas tu doutro modo contra o povo de Deus?,
etc. — Seu argumento poderá esclarecer-se na seguinte paráfrase: Tu me
concedeste o perdão de um filho que tinha matado a seu irmão, e ainda
não queres conceder a seus súditos a restauração de Absalão, cuja
culpabilidade não é maior que a de meu filho, visto que ele matou a seu
irmão em circunstâncias similares de provocação. Absalão tem motivo
para queixar-se de que ele seja tratado por seu próprio pai mais austera e
severamente que o súdito mais humilde do reino; e toda a nação terá
motivo para dizer que o rei presta mais atenção à petição de uma
humilde mulher que aos desejos de todo um reino. A morte de meu filho
é uma perda só para minha família, enquanto que a preservação de
Absalão é de interesse comum para todo Israel, que agora o olha como
sucessor ao trono.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 44
Vv. 22-33. JOABE TRAZ ABSALÃO A JERUSALÉM.
22. Hoje, reconheço que achei mercê diante de ti, ó rei, meu
senhor — Joabe deixa ver não pouco egoísmo em sua profissão de
alegria por este ato de graça para com Absalão, e se adula de que agora
tenha posto tanto o pai como o filho sob obrigações permanentes. Na
consideração deste ato de Davi, podem apresentar-se muitas
circunstâncias atenuantes em favor dele: a provocação dada a Absalão;
sua estadia num país onde a justiça não poderia alcançá-lo; o risco de
receber amor pelos princípios e culto pagãos; a segurança e interesses do
reino hebreu; junto com uma grande preferência do povo hebreu para
com Absalão, representada pelo estratagema de Joabe; estas
considerações formam uma apologia plausível pela concessão de perdão
por Davi a seu filho manchado de sangue. Mas ao conceder este perdão,
ele agia segundo o caráter de um déspota oriental, em vez de como rei
constitucional sobre Israel. Os sentimentos do pai triunfaram sobre o
dever do rei, quem, como o magistrado supremo, estava obrigado a
executar justiça imparcial em todo homicida, pela lei implícita de Deus
(Gn_9:6; Nm_35:30-31), a qual não lhe dava faculdade de dispensar
(Dt_18:18; Js_1:8; 1Sm_10:25).
25. Não havia, porém, em todo o Israel homem tão celebrado
por sua beleza como Absalão — Esta popularidade extraordinária
resultou não só de seu espírito ilustre e suas maneiras corteses, mas sim
de sua aparência bela fora do comum, um rasgo do qual, objeto de
grande admiração, era a profusão de cabelo bonito. Sua abundância
extraordinária o obrigava a cortá-lo “no fim de cada ano”, quando
chegava a pesar 200 siclos, ou seja em torno de três quilos, mas como
era pesado em siclos “segundo o peso real”, os quais eram menos que o
siclo comum, o peso deve ter sido menos, talvez 1,5 kg (Bockart), ou
menos.
28. Esteve Absalão por espaço de dois anos em Jerusalém sem
apresentar-se perante o rei (TB) — Quer seja que Davi cometesse
algum erro ao autorizar a volta de Absalão ou não, mostrou muita
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 45
prudência e domínio de seus sentimentos mais tarde, porque seu filho
não foi admitido perante sua presença, antes, foi limitado a permanecer
em sua própria casa e na sociedade de sua própria família. Esta pequena
severidade tinha por fim conduzi-lo ao arrependimento sincero, ao ver
que seu pai não lhe tinha perdoado plenamente, como também convencer
ao povo do aborrecimento de Davi pra com o pecado. Não sendo
permitido aparecer na corte nem adotar nenhum estado principesco, os
cortesãos se mantinham afastados dele; até seus primos não criam
prudente frequentar sua companhia.
Por dois anos sua liberdade estava mais restringida, e sua vida mais
separada de seus compatriotas em Jerusalém, que quando vivia em
Gesur. Tivesse podido continuar por mais tempo em desonra, se não
houvesse resolvido chamar a atenção de Joabe sobre seu caso, por meio
da violência; e (v. 30) pela influência e bondade de Joabe foi efetuada
uma completa reconciliação entre Absalão e seu pai.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 46
2 Samuel 15

Vv. 1-9. ABSALÃO ROUBA O CORAÇÃO DO POVO.


1. Absalão adquiriu para si um carro, e cavalos, e cinquenta
homens que corressem adiante dele — Isso era assumir o estado e
dignidade de príncipe. Os guardas reais, chamados corredores, chegavam
a cinquenta (1Rs_1:5). O carro, como indica o hebraico, era de estilo
magnífico; e os cavalos, uma novidade entre o povo hebreu, introduzidos
naquele tempo como pertinência da realeza (Sl_32:9; Sl_66:12),
formavam uma comitiva tão esplêndida, que fizeram com que Absalão
fosse visto por todos.
2. Levantando-se Absalão cedo, parava à entrada da porta —
Os negócios públicos no Oriente sempre se tratam de manhã cedo,
sentando os reis uma hora ou mais para ouvir causas ou receber petições,
num juízo celebrado antigamente e ainda em muitos lugares, ao ar livre,
na porta da cidade; de modo que, aqueles cujas circunstâncias os
levavam a ir ao rei Davi, precisavam assistir a estas recepções de
amanhã, e Absalão tinha que levantar-se cedo e estar ao lado do caminho
que conduzia à porta. Pela crescente fraqueza de sua ancianidade, ou as
ocupações do governo nas guerras estrangeiras, muitas causas
particulares tinham ficado sem decisão, e um profundo sentimento de
insatisfação prevalecia entre o povo. Este descontentamento era
astutamente fomentado por Absalão, quem atendia os demandantes, e
depois de ouvir o seu relato, agradava a cada um com uma opinião
favorável de sua causa. Ocultando cuidadosamente os seus propósitos
ambiciosos, expressou o desejo de ser investido com poder oficial para
acelerar o curso da justiça e adiantar os interesses públicos. Suas
profissões possuíam a aparência de uma generosidade e um desinteresse
extraordinários; por isso, e por seus artes aduladoras de prodigalizar
cumprimentos a todos, converteu-se no favorito do povo. Assim,
esforçando-se em mostrar um contraste entre seu próprio desdobramento
para tratar os assuntos públicos e o proceder lento da corte, fez com que
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 47
o povo considerasse o governo de seu pai como fraco, descuidado e
corrupto, e seduzia os afetos da multidão, a qual não se dava conta dos
motivos nem previa a tendência da conduta de Absalão.
7. Ao fim de quarenta anos (RC, TB, ASV, AV, NKJV) — De
modo general se reconhece que aqui há um erro e que em vez de
“quarenta”, se deve dizer “quatro anos” [BJ, RA, RSV], de acordo com
as Versões Siríaca e Arábica, e com Josefo — quer dizer, desde a volta
de Absalão a Jerusalém, até que começou a procurar granjear a
popularidade.
cumprir o voto que fiz ao SENHOR — Feito durante seu desterro
em Gesur; e o conteúdo do voto era, que quando Deus lhe preparasse o
caminho para seu estabelecimento de novo em Jerusalém, ofereceria um
sacrifício de ação de graças. Hebrom era o lugar escolhido para o
cumprimento deste voto, ostensivamente por ser o lugar de seu
nascimento (2Sm_3:3), e um famoso lugar alto, onde frequentemente se
ofereciam sacrifícios antes de o templo ser edificado; mas na realidade,
por ser em muitos sentidos, o lugar mais conveniente para o começo de
sua empresa sediciosa. Davi, quem sempre fomentava a piedade, e
desejava ver cumpridas pontualmente as obrigações religiosas, deu seu
consentimento e bênção.

Vv. 10-12. ABSALÃO FORMA UMA CONSPIRAÇÃO.


10. Enviou Absalão emissários secretos por todas as tribos de
Israel — Estes emissários tinham que sondar a inclinação do povo,
adiantar os interesses de Absalão, e exortar a todos os aderentes de seu
partido a estar preparados a congregar-se sob o seu estandarte quando
ouvissem que ele tinha sido proclamado rei. Como o aviso tinha que ser
feito pelo som de trombetas, é provável que se tinha preocupado por ter
corneteiros estacionados nas alturas e nos lugares convenientes, por ser
este um meio de comunicação que logo estenderia a notícia por todo o
país.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 48
11. De Jerusalém foram com Absalão duzentos homens
convidados — Por sua qualidade, reputação e alto posto, tais homens
dariam a impressão de que o rei patrocinava o movimento, e, por ser
velho e debilitado, estava desejoso de escolher a seu filho mais velho e
mais nobre para compartilhar com ele os cuidados e honras do governo.
12. Absalão mandou vir Aitofel — quem, Absalão sabia que
estaria preparado a tomar parte na rebelião, por desgosto e vingança,
como afirmam alguns escritores judeus, por causa da conduta de Davi
com Bate-Seba, quem era sua neta.
Gilo — Perto de Hebrom.
tornou-se poderosa a conspirata — O acordo rápido de um lugar
após outro do reino ao partido dos revoltados, demonstra que existia um
descontentamento profundo e geral contra Davi e seu governo. O resto
dos partidários de Saul, o infeliz assunto de Bate-Seba, a insolência
insuportável e os crimes de Joabe, a negligência e a obstrução na
administração da justiça, eram algumas das causas principais do êxito
deste levantamento tão estendido.

Vv. 13-37. DAVI FOGE DE JERUSALÉM.


14. Disse, pois, Davi … Levantai-vos, e fujamos — Ansioso pela
preservação da cidade que ele tinha embelezado, e confiando num apoio
maior por todo o país, sabiamente Davi resolveu sair de Jerusalém.
18. todos os geteus, seiscentos homens — Estes formavam um
corpo de guardas estrangeiros, nativos de Gate, aos quais Davi, quando
esteve no país dos filisteus, alistou em seu serviço e sempre os tinha
perto dele. Dirigindo-se ao seu comandante, Itai, fez uma prova
perscrutadora de sua fidelidade, convidando-os (v. 19) a ficar com o
novo rei.
23. ribeiro de Cedrom — ribeiro invernal que flui entre a cidade e
o lado ocidental do Monte das Oliveiras.
24. Zadoque, e com este todos os levitas que levavam a arca —
Conhecendo os fortes sentimentos do ancião rei, eles trouxeram a arca
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 49
para que o acompanhasse em sua angústia. Mas como ele não pôde
duvidar de que a arca e seu sagrado ofício eximiriam aos sacerdotes dos
ataques dos rebeldes, mandou-os atrás com ela, não só para que não
fossem expostos aos perigos das incertas andanças—porque parece que
punha mais confiança nos símbolos da presença divina que no próprio
Deus — senão para que, ficando em Jerusalém, pudessem lhe render
melhor serviço, vigiando os movimentos do inimigo.
30. Seguiu Davi pela encosta das Oliveiras — O mesmo caminho
acima daquela montanha se tem seguido sempre desde aquele dia
memorável.
tinha a cabeça coberta — em sinal de luto. A humildade e
resignação de Davi mostravam poderosamente seu espírito santificado, o
qual era um resultado de sua contrição por suas transgressões. Ele tinha
caído, mas foi a queda do justo; e levantou-se de novo, submetendo-se
humildemente à vontade de Deus. (Chalmers.)
31. disse Davi: Ó SENHOR, peço-te que transtornes em loucura
o conselho de Aitofel — Por ser este senador o apoio principal da
conspiração.
32. Ao chegar Davi ao cimo, onde se costuma adorar a Deus —
Olhando para Jerusalém, onde estavam a arca e o tabernáculo.
Husai, o arquita — Natural de Arqui, na fronteira entre Efraim e
Benjamim (Js_16:2). Comparando sua oração contra Aitofel com o
conselho de Husai, vemos quão poderosamente um espírito de piedade
fervente se combinava em seu caráter com as estratagemas de uma
política ativa e sagaz.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 50
2 Samuel 16

Vv. 1-4. ZIBA, COM FALSIDADE, RECLAMA A HERANÇA


DE SEU SENHOR.
1. eis que lhe saiu ao encontro Ziba, servo de Mefibosete — Este
homem ardiloso, prevendo o seguro fracasso da conjuração de Absalão,
tomou medidas para preparar o seu futuro progresso econômico por
ocasião da restauração do rei.
um odre de vinho — Um couro grande de cabra. Seu tamanho fez
com que a quantidade de vinho fosse em proporção com o resto de seu
obséquio.
2. Os jumentos são para a casa do rei, para serem montados —
Os fugitivos fugiam a pé, não pela impossibilidade de conseguir meio de
transporte, e sim conforme o seu presente estado de humilhação e
penitência.
3. Hoje, a casa de Israel me restituirá o reino de meu pai —
Semelhante esperança poderia naturalmente apresentar-se neste período
de confusão civil, pensando que a família de Davi se destruiria
mutuamente em suas contendas, e que o povo reabilitaria a velha
dinastia. Havia na história de Ziba um ar de plausibilidade. Muitos aos
quais o rei tinha prodigalizado favores, agora o abandonavam; não é
preciso maravilhar-se, pois, movido por sentimentos momentâneos,
criado pelo relatório de um caluniador, que Mefibosete estaria entre o
número deles, o rei pronunciasse um juízo precipitado e injusto por meio
do qual se infligia um grande dano sobre o caráter e os interesses de um
amigo fiel.

Vv. 5-19. SIMEI AMALDIÇOA A DAVI.


5. Tendo chegado o rei Davi a Baurim — Cidade de Benjamim
(2Sm_3:16; 19:16). Aqui se refere só aos limites do distrito.
um homem da família da casa de Saul, cujo nome era Simei —
A desgraça de sua família, e a ocupação por Davi do que ele considerava
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 51
as posses legais deles, provia uma causa natural, se não justificável, para
esta ebulição de rudes insultos e violência. Repreendeu a Davi como a
um usurpador ambicioso, e lhe recomendou, como pessoa cujos delitos
se voltavam sobre sua própria cabeça, que entregasse o trono para o qual
não possuía justo título. Sua linguagem foi a de um homem exasperado
pelos males que ele considerava que tinham sido feitos contra a sua
família. Davi era inocente do crime do qual o acusava Simei; mas sua
consciência lhe trazia à memória outras flagrantes iniquidades, e ele
considerava as maldições deste homem como castigo do céu. Sua
resposta à proposta de Abisai demonstrava o espírito de profunda e
humilde resignação, espírito que estava de acordo com a vontade da
providência, e reconhecia Simei como usado por Deus para castigá-lo.
Uma coisa é notável: que teve mais coragem nesta ocasião de grande
angústia para agir independentemente dos filhos de Zeruia, que aquele
que teve nos dias de sua prosperidade e poder.
13. Simei ia ao longo do monte, ao lado dele — ia descendo o
caminho áspero pelo leste do Monte das Oliveiras, mais acima de onde
iam Davi e sua comitiva.
caminhando e amaldiçoando — para acrescentar insulto à injúria,
nuvens de pó eram atiradas por este desleal súdito no caminho do infeliz
soberano.
atirava pedras e terra contra ele — Como sinal de desprezo e
insulto.
14. ali descansaram — quer dizer, na cidade de Baurim.
15-19. Tendo-se apresentado Husai ... a Absalão, disse-lhe: Viva
o rei — A devoção de Husai a Davi era tão bem conhecida, que sua
presença no campo dos conspiradores causou grande surpresa.
Professando, entretanto, considerar como seu dever apoiar a causa que a
providência e a vontade nacional, aparentemente, tinham decretado que
deveria triunfar, e alegando sua amizade com o pai como fundamento de
confiança em sua fidelidade ao filho, pôde persuadir a Absalão de sua
sinceridade, e foi admitido entre os conselheiros do novo rei.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Vv. 20-23. O CONSELHO DE AITOFEL.
20. Dai o vosso conselho sobre o que devemos fazer — Esta é a
primeira reunião de gabinete lembrada na história, embora a
consideração que se tinha a Aitofel, deu-lhe a inteira direção dos
assuntos.
21. Disse Aitofel a Absalão — Este conselheiro viu que a decisão
já estava feita; que as medidas pela metade não seriam convenientes; e
com o fim de eliminar toda possibilidade de uma reconciliação entre o
rei e o seu filho rebelde, deu este atroz conselho com relação às mulheres
que tinham sido deixadas para cuidar do palácio. Como se consideram
sagradas, as mulheres são geralmente respeitadas nas contingências de
guerra. A história do Oriente dá um só caso paralelo a este infame ultraje
de Absalão.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 53
2 Samuel 17

Vv. 1-14. UM CONSELHO DE AITOFEL TRANSTORNADO


POR HUSAI.
1. Então Aitofel disse a Absalão — A recomendação de que se
tomassem medidas prontas e decisivas, antes que as forças realistas
pudessem ser reunidas e coordenadas, mostrou a profunda astúcia
política deste conselheiro. A adoção de seu conselho teria extinto a causa
de Davi; uma terrível prova das medidas extremas que este príncipe cruel
estava disposto a tomar para obter os seus fins ambiciosos, é que este
conselho parricida “agradou a Absalão e a todos os anciãos de Israel”.
Entretanto, foi felizmente descartado pelo discurso de Husai, quem viu o
perigo iminente o qual exporia o rei e sua causa. Fez ênfase sobre o
caráter guerreiro e a experiência militar do velho rei; e apresentou a ele e
a seus aderentes como homens valentes, que pelejariam com desespero; e
que provavelmente estariam resguardados em alguma fortaleza fora de
seu alcance, enquanto que a perda menor dos homens de Absalão, no
começo, poderia ser fatal para o êxito da conspiração. Mas foi
manifestada a destreza de Absalão, especialmente naquela parte de seu
conselho que recomendava uma coleta geral em todo o país, e que ele
pessoalmente deveria ser o comandante da mesma, adulando assim ao
mesmo tempo o orgulho e a ambição do usurpador. Este príncipe
vanglorioso e ímpio engoliu o anzol.
12. cairemos sobre ele, como o orvalho cai sobre a terra —
Nenhuma outra coisa podia ter ilustrado aos orientais este repentino
ataque a um inimigo, como a queda silenciosa, irresistível e rápida desta
umidade natural sobre cada campo e cada folha.
13. todo o Israel levará cordas àquela cidade — Ao pôr sítio a
uma cidade, eram lançados ganchos ou gruas sobre as muralhas, por
meio dos quais, com sogas atadas a eles, arrancavam as fortalezas
reduzindo-as a uma massa de ruínas.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 54
14. Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o de Aitofel
— Sendo extremamente plausíveis as razões especificadas, e expressas
em linguagem fortemente hiperbólica, capaz de ofuscar a imaginação
dos orientais, o gabinete se declarou a favor do conselho de Husai; e sua
decisão foi a causa imediata da derrota da rebelião, embora o próprio
conselho era só um elo na cadeia de causas seguras pela mão
dominadora do Senhor.

Vv. 15-22. DAVI É AVISADO SECRETAMENTE.


16. mandai avisar depressa a Davi — Duvidando aparentemente
que seu conselho fosse seguido, Husai mandou que se avisasse
secretamente a Davi, de todo o acontecido, com uma recomendação
urgente de que cruzasse o Jordão sem demora, para em caso de que a
influência e as maquinações de Aitofel pudessem produzir uma mudança
na mente do príncipe, e fosse decidida uma perseguição imediata.
17. En-Rogel — O poço do lavadeiro, nas cercanias de Jerusalém,
mais abaixo da união do vale de Hinom com o de Josafá.
18. entraram em casa de um homem, em Baurim, que tinha um
poço. — O poço era um cisterna vazia. As melhores casas no Oriente
têm estes depósitos. Seria fácil que um destes poços, devido à escassez
de água, estivesse seco; em tal caso serviria como refúgio, tal como os
amigos de Davi acharam na casa daquele homem em Baurim. Prática
comum era a de estender uma coberta sobre a boca do poço, para secar
ali o grão

Vv. 23-29. AITOFEL SE ENFORCOU.


23. Vendo, pois, Aitofel que não fora seguido o seu conselho —
Sua vaidade foi machucada e seu orgulho foi humilhado ao ver que sua
influência se desvaneceu. Mas seu desgosto se agravou por outros
sentimentos: a convicção dolorosa de que pela demora que se havia
resolvido, a causa de Absalão estava perdida. Indo, pois, apressadamente
à sua casa, resolveu seus assuntos, e sabendo que a tormenta de vingança
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 55
retributiva cairia principalmente sobre ele como o instigador e quem
apoiou a rebelião, enforcou-se. Pode-se dizer que os israelitas, naquele
tempo, não negavam os ritos de sepultura ainda aos que morriam por sua
própria mão. Teve esse homem um imitador em Judas, quem lhe pareceu
em sua traição e em seu fim infame.
24. Davi chegou a Maanaim — O país alto de Gileade oriental,
sede do governo de Isbosete.
Absalão, tendo passado o Jordão — Não se diz quão longo
intervalo tinha passado, mas deve ter havido tempo suficiente para fazer
a proposta coleta em todo o reino.
25. Amasa — Pela genealogia parece que este capitão teve o
mesmo parentesco com Davi que Joabe, sendo os dois seus sobrinhos.
Por certo, Amasa era primo de Absalão, e embora ele fosse israelita, seu
pai era ismaelita (1Cr_2:17).
Naás — Alguns creem que Naás era outro nome de Jessé, ou
segundo outros, a esposa de Jessé.
27. Tendo Davi chegado a Maanaim — As necessidades do rei e
seu séquito foram hospitaleiramente atendidas por três chefes, cuja
generosa lealdade se consigna com honra no relato sagrado.
Sobi — Deve ter sido irmão de Hanum. Desaprovando, talvez, o
ultraje daquele jovem rei contra os embaixadores israelitas, foi escolhido
por Davi como governador por ocasião da conquista de seu país.
Maquir — (Veja-se 2Sm_9:4). Considerado por alguns como
irmão de Bate-Seba e
Barzilai — personagem rico, cuja grande idade e doenças fizeram
muito emocionante sua leal devoção ao monarca aflito. As provisões que
trouxeram, além de camas para os cansados, consistiam em pastos e
produtos especiais de seus terras férteis, e podem classificar-se como
segue: Comestíveis: trigo, cevada, farinha, favas, lentilhas, ovelhas e
queijo; potáveis: “mel, coalhada” ou nata, as quais mescladas, formam
uma beberagem leve e refrescante, que é considerado como refresco de
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 56
luxo (Ct_4:11); a provisão do mesmo demonstra a alta estima que foi
tributada a Davi por seus súditos fiéis e leais em Maanaim.
29. no deserto — Estendendo-se para além da mesa cultivada até as
planícies de Haurã.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 57
2 Samuel 18

Vv. 1-4. DAVI CONTA O SEU EXÉRCITO.


1. Contou Davi o povo que tinha consigo — Os fortes
montanheses de Gileade vieram em grandes números à chamada de seus
chefes, de modo que, embora sem dinheiro com que pagar suas tropas,
logo se viu Davi à cabeça de um exército considerável. Uma batalha
campal agora era inevitável. Mas como dependia muito da vida do rei,
não foi permitido a ele sair ao campo em pessoa; e portanto suas forças
foram divididas em três destacamentos sob Joabe, Abisai e Itai,
comandante dos guardas estrangeiros.

Vv. 5-13. ENCARREGA-OS DE TRATAREM BEM ABSALÃO.


5. Tratai com brandura o jovem Absalão, por amor de mim —
Este emocionante encargo que o rei deu a seus generais, procedia não só
de seu irresistível carinho para com os seus filhos, mas também de seu
conhecimento de que esta rebelião era o castigo de seus crimes, sendo
Absalão meramente um instrumento na mão da providência retributiva; e
também de sua piedade, para que o infeliz príncipe não morresse sem
arrepender-se de seus pecados.
6. bosque de Efraim — Este bosque então estava a leste do Jordão.
Seu nome se deriva, segundo alguns, da matança de efraimitas por Jefté;
segundo outros, pelo parentesco com o Manassés transjordânico.
7. foi o povo de Israel batido — Esta afirmação, junto com a
grande matança mencionada depois, demonstra até que grau estava
comprometido o povo nesta malograda contenda civil.
8. o bosque, naquele dia, consumiu mais gente do que a espada
— O espesso bosque de carvalhos e terebintos, obstruindo a fuga,
ajudava grandemente aos vencedores na perseguição.
9. Indo Absalão montado no seu mulo, encontrou-se com os
homens de Davi — Ou, foi alcançado. “É necessário estar
continuamente alerta contra os ramos das árvores; e quando o cabelo se
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 58
constitui de longas mechas como no caso do jovem ao qual nos
referimos, os ramos espessos, interpondo-se no caminho, facilmente
podem desalojar o cavaleiro de sua cadeira, e prender-se em seu cabelo
solto”. (Hartley). Alguns, entretanto, creem que o historiador sagrado
não se refere tanto ao cabelo como à cabeça de Absalão, a qual foi
apanhada entre dois ramos tão firmemente que não pôde livrar-se do
cabo, nem fazer uso de suas mãos.
o mulo, que ele montava, passou adiante — Não tendo os orientais
sela de montar como as nossas, não se sentam tão firmemente sobre os
animais em que cavalgam. Soltando Absalão a rédea, evidentemente para
livrar-se quando foi agarrado pela árvore, o mulo escapou.
11. disse Joabe ao homem que lho fizera saber: … forçoso me
seria dar-te dez moedas de prata e um cinto — quer dizer, o teria
elevado ao grau de oficial comissionado. Além de uma soma de dinheiro,
um cinturão ricamente lavrado era entre os hebreus antigos um sinal de
honra, e às vezes era entregue como recompensa por mérito militar. Este
soldado, entretanto, o qual se pode apresentar como uma amostra justa
dos fiéis súditos de Davi, tinha tão profundo respeito pela vontade do rei,
que nenhuma perspectiva de recompensas o teria tentado a agir
violentamente contra Absalão. Mas o forte sentido de dever público de
Joabe, o qual o fazia ver que não poderia haver segurança para o rei nem
paz para o reino nem segurança para si e para outros leais súditos,
enquanto vivesse aquele príncipe turbulento, venceu seus sentimentos, e
considerando o encargo que Davi tinha dado aos generais como mais
digno de um pai que de um príncipe, atreveu-se a desobedecê-lo.

Vv. 14-32. ABSALÃO É MORTO POR JOABE.


14. Tomou três dardos e traspassou com eles o coração de
Absalão — O fato, completo parcialmente por Joabe, foi completado
pelos guarda costas. Sendo uma violação do desejo rápido, assim como
também dos sentimentos paternais de Davi, devia ser uma ofensa ao rei,
que nunca foi esquecida (1Rs_2:5); mas há um motivo mais forte para
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 59
crer que Joabe o fez motivado por uma sincera preocupação pelos
interesses de Davi, como homem e como monarca.
16. tocou Joabe a trombeta, e o povo voltou de perseguir a
Israel — Sabendo que pela morte do usurpador não havia ocasião para
mais derramamento de sangue, pôs fim à perseguição, e nisto mostrou
uma política temperada em sua conduta. Por duro e insensível que Joabe
parecesse ao rei, não pode haver dúvida de que ele fez o papel de um
estadista sábio em considerar a paz e o bem-estar do reino mais que as
inclinações particulares de seu senhor, as quais eram contrárias à justiça
estrita e a seus próprios interesses. Absalão mereceu a morte segundo a
lei divina (Dt_21:18, Dt_21:21), por ser inimigo de seu rei e de sua
pátria, e não havia ocasião mais própria que quando encontrou a morte
em batalha aberta.
17. Levaram Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande
cova, e levantaram sobre ele mui grande montão de pedras — As
pessoas do Oriente manifestam seu aborrecimento à memória de pessoas
infames, atirando pedras ao lugar onde estão sepultadas. O montão
aumenta pela gradual acumulação de pedras que acrescentam os
transeuntes.
18. Absalão, quando ainda vivia, levantara para si uma coluna,
etc. — lit., “uma mão”. No vale de Josafá, a leste de Jerusalém, há uma
tumba ou cenotáfio, que se diz é esta “coluna” ou monumento; é de
quase 8 metros quadrados, chega a pouco mais de 12 metros de altura, e
termina em cúpula ou “meia laranja”. Este pode ser o lugar correto, mas
este não pode ser o trabalho de Absalão, pois evidentemente é de um
estilo de arquitetura mais recente.
19. disse Aimaás, filho de Zadoque: Deixa-me correr e dar
notícia ao rei — Os motivos de Joabe para rejeitar a oferta de Aimaás
de levar a notícia da vitória a Davi, e mais tarde deixá-lo ir junto com
outro, são diversamente expressos pelos comentadores. Mas não são
importantes, e, entretanto, o zelo dos mensageiros, assim como a ardente
ansiedade dos que esperavam notícias, relata-se graficamente.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 60
23. pelo caminho da planície — Ou “kikár”, círculo. A palavra só
é usada em outra parte referindo-se ao vale do Jordão. É possível que
tenha havido um lugar ou região chamado assim na mesa de Gileade,
como parece indicá-lo a LXX. Ou pode ser que Maanaim tenha estado
situada assim com relação ao campo de batalha, para ser mais acessível
por um declive à planície do Jordão, que através das colinas mesmas. Ou
a palavra pode significar, como explica Ewald, uma maneira de correr
rapidamente.
24. Davi estava assentado entre as duas portas — quer dizer, na
casa torre sobre a muralha que sobressaía a porta da cidade; perto estava
a torre do vigia, sobre a qual estava uma sentinela, como em tempo de
guerra, para dar aviso de todo acontecimento. A delicadeza da
comunicação de Aimaás foi completada pela evidente clareza da do
etíope. A morte de Absalão lhe causou uma grande aflição, e é
impossível não simpatizar com a expressão de sentimento pela qual Davi
mostrou que toda lembrança de vitória que ele como rei tinha obtido,
desapareceu completamente pela perda dolorosa que tinha sofrido como
pai. O ardor extraordinário e a força de seu carinho por este filho
indigno, desatam-se na redundância e veemência de suas dolorosas
expressões.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 61
2 Samuel 19

Vv. 1-8. JOABE FAZ COM QUE O REI DEIXE DE


LAMENTAR-SE.
3. Naquele mesmo dia, entrou o povo às furtadelas na cidade —
O rumor da condição desconsolada do rei infundiu uma tristeza geral e
inoportuna. Suas tropas, em vez de serem acolhidas como se recebia
sempre a um exército vitorioso, com música e outras demonstrações de
regozijo público, escorria-se secreta e silenciosamente na cidade, como
se estivessem envergonhadas por ter cometido algum crime.
4. Tendo o rei coberto o rosto — Um dos sinais usuais de luto
(veja-se 2Sm_15:30).
5. Hoje, envergonhaste a face de todos os teus servos —
Retirando-te para te entregares à tua dor, como se fossem desagradáveis
a ti os seus serviços, e irritante sua devoção. Em vez de cumprimentar
sua volta com alegria e gratidão, lhes negaste a pequena recompensa de
ver-te. A repreensão de Joabe era justa e necessária, embora fosse
pronunciada com dureza. Ele era daqueles que estragam os seus serviços
importantes pela insolência de suas maneiras; e que sempre despertam
um sentimento de obrigação naqueles aos quais rendem alguns serviços.
Ele falou com Davi num tom de arrogância, que não correspondia a um
súdito mostrar a seu rei.
7. Levanta-te, agora, sai e fala segundo o coração de teus servos
— O rei sentiu a verdade da repreensão de Joabe; mas a ameaça pela
qual foi esforçada, fundada na grande popularidade do general no
exército, assinalou-o como pessoa perigosa; e esta circunstância, e a
violação da ordem implícita de que tratasse benignamente a Absalão por
amor dele, produziu em Davi um ódio firme, o qual foi manifestado em
suas últimas ordens dadas a Salomão.
8. o rei se levantou e se assentou à porta — Aparecia diariamente
no lugar habitual para ouvir causas.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 62
Veio, pois, todo o povo apresentar-se diante do rei — quer dizer,
os nativos leais que tinham ficado fiéis a seu governo e que tinham
pelejado por sua causa.
Israel havia fugido — quer dizer, os aderentes de Absalão, aqueles
que, na derrota dele se esparramaram e se salvaram mediante a fuga.

Vv. 9-43. OS ISRAELITAS VOLTAM AO REI EM JERUSALÉM.


9. Todo o povo em todas as tribos de Israel queixava-se — O
reino estava completamente desorganizado. Os sentimentos de três
partidos diferentes são representados-nos vv. 9 e 10: os realistas; os
aderentes de Absalão, aqueles que tinham sido muito numerosos; e
aqueles que eram indiferentes à dinastia davídica. Nestas circunstâncias
o rei tinha razão para não voltar logo, como vencedor, para ascender
novamente ao trono. Era necessária uma reeleição em alguma forma.
Ficou por algum tempo do outro lado do Jordão, esperando ser
convidado a voltar. O convite foi feita sem a concorrência de Judá; e
Davi, desapontado e irritado pela aparente falta de entusiasmo de sua
própria tribo, despachou os dois sumos sacerdotes para insistir com os de
Judá a tomar um interesse proeminente em sua causa. Foi o ato de um
político hábil; como Hebrom tinha sido a sede da rebelião, foi ato cortês
de sua parte o alentá-los a voltar para sua lealdade e dever; e foi uma
instância a sua honra o não ser a última das tribos. Mas esta mensagem
especial, e a preferência dada a eles motivou uma explosão de ciúme
entre as outras tribos que quase foi seguida por consequências fatais
[veja-se 2Sm_19:40-43].
13. Dizei a Amasa, etc. — Este foi um golpe político destro. Davi
entendia perfeitamente a importância, para extinguir a rebelião, de tirar
daquela causa o único que a poderia ter viva; então secretamente intimou
sua intenção de elevar a Amasa ao comando de um exército em lugar de
Joabe, cuja arrogância tinha chegado a ser insuportável. O rei justamente
calculou que por têmpera natural assim como também por gratidão pelo
perdão real, ele se mostraria um servidor mais dócil. Certamente, Davi
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 63
pensou com toda sinceridade em cumprir sua promessa. Mas Joabe
procurou reter seu alto posto (veja-se 2Sam_20:4-10).
14. moveu ele o coração de todos os homens de Judá — quer
dizer, Amasa, quem tinha sido ganho, usou de sua grande influência para
unir novamente toda a tribo de Judá aos interesses de Davi.
15. Judá foi a Gilgal — Como lugar mais conveniente onde
pudessem fazer os preparativos para trazer o rei e a corte através do
Jordão.
16, 17. Simei … Com ele estavam mil homens de Benjamim —
Este desdobramento de seus seguidores tinha por fim mostrar as forças
que ele poderia levantar contra ou em apoio do rei. Expressando seu
profundo pesar por sua anterior conduta ultrajosa, foi perdoado
imediatamente; e embora o filho de Zeruia insistisse na conveniência de
fazer deste chefe um exemplo público, sua intromissão foi rejeitada por
Davi com magnanimidade, e com a maior confiança de que se sentia
restabelecido em seu reino (veja-se 1Rs_2:8).
17. Ziba, servo da casa de Saul — Tinha enganado a seu amo; e
quando recebeu ordem de preparar os jumentos para que o príncipe
rengo pudesse ir encontrar se com o rei, fugiu precipitadamente para ser
o primeiro em render homenagem ao rei; de modo que Mefibosete,
sendo coxo, teve que ficar em Jerusalém até a chegada do rei.
18. a barca (RC) — provavelmente eram balsas, como ainda se
usam nesta parte do rio.
20. sou o primeiro que, de toda a casa de José — quer dizer, antes
que todo o resto de Israel (Sl_77:15; Sl_80:1; Sl_81:5; Zc_10:6).
24-30. Mefibosete, filho de Saul, desceu a encontrar-se com o rei
— A recepção dada a Mefibosete foi pouco honrosa para Davi. A
sinceridade da dor daquele príncipe pelas desgraças do rei, não se podem
pôr em dúvida.
não tinha tratado dos pés — não se tinha banhado.
nem tinha feito a barba (TB) — Os hebreus cortavam o cabelo na
parte superior (veja-se Lv_13:45) e nas bochechas, mas cuidadosamente
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 64
fomentavam seu crescimento no queixo, de uma orelha a outra. Além de
tingir a barba de preto ou vermelho, coisa que não é uma regra geral no
Oriente, há várias maneiras de recortá-la: criam-na numa forma avultada
e cheia, torcida e redonda; ou a terminam como uma pirâmide, em ponta
aguda. Seja qual for a moda, a resolvem sempre com sumo cuidado; e
geralmente os homens carregam um pequeno pente com este propósito.
A negligência desta atenção à sua barba era prova indubitável da
profundidade da dor de Mefibosete. Parece que o rei o recebeu por via de
repreensão, e que não esteve totalmente seguro de sua culpa ou de sua
inocência. É impossível louvar o trato nem tampouco aprovar a
recompensa parcial de Davi neste caso. Se ele foi muito violento e
distraído por causa das circunstâncias para indagar amplamente o
assunto, deveria ter adiado sua decisão; porque se por “resolvo que
repartas com Ziba as terras” (2Sm_19:29) queria dizer que o anterior
acerto continuaria, pelo qual Mefibosete era reconhecido proprietário, e
que Ziba seria o lavrador da terra, foi uma injustiça dar a um trabalhador
que o tinha caluniado tão grosseiramente. Mas se por “resolvo que
repartas com Ziba as terras”, eles tinham que ter partes iguais, a injustiça
da decisão foi aumentada grandemente. De qualquer modo, o espírito
generoso e desinteressado que manifestou Mefibosete, era digno de um
filho do generoso Jônatas.
31-40. Barzilai, o gileadita — A categoria, a grande idade e a
devoção cavalheiresca de este chefe gileadita, conquista nosso respeito.
Sua negativa de ir à corte, sua recomendação de seu filho, seu
acompanhamento a través do Jordão, e a cena de separação do rei, são
incidentes interessantes. Que sorte de favor real foi concedida a Quimã,
não foi relatado; mas é provável que Davi tenha dado uma boa parte de
seu patrimônio pessoal em Belém a Quimã e seus herdeiros em
perpetuidade (Jer_41:17).
35. a voz dos cantores e cantoras — As bandas de músicos
profissionais formam uma dependência proeminente das cortes dos
príncipes orientais.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 65
37. morrerei ... e serei sepultado junto de meu pai e de minha
mãe — este é um caso do forte afeto que sentem os povos do Oriente
pelos lugares de sepultura pertencentes a suas famílias.
40-43. Dali, passou o rei a Gilgal … todo o povo de Judá e
metade do povo de Israel acompanharam o rei — Talvez por sua
impaciência por seguir sua viagem ou por outra causa, Davi não esperou
até que todas as tribos tivessem chegado para o conduzir de volta a sua
capital. A procissão começou logo que Amasa trouxe a escolta de Judá, e
a preferência dada a esta tribo produziu ciúmes tão amargos, que
estiveram prestes a acender uma guerra civil mais feroz que aquela que
acabava de terminar. Estabeleceu-se uma guerra de palavras entre as
tribos, apoiando Israel seu argumento em seus números superiores: “nós
temos no rei dez partes”; enquanto que Judá não tinha mais que uma.
Judá fundou seu direito de tomar a iniciativa, sobre a razão de seu mais
próximo parentesco com o rei. Esta era uma pretensão perigosa para a
casa de Davi; e demonstra que já tinham sido semeadas as sementes
daquela dissensão entre as tribos que com o tempo conduziu ao
desmembramento do reino.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 66
2 Samuel 20

Vv. 1-9. SEBA FORMA UM PARTIDO EM ISRAEL.


1. Sabá … homem de Benjamim — Embora não se saiba muito
deste homem, deve ter sido pessoa de considerável poder e influência,
para que tenha podido levantar uma rebelião tão repentina e extensa.
Pertencia à tribo de Benjamim, onde os adeptos da dinastia de Saul ainda
eram numerosos, e vendo o forte desgosto das outras tribos com a parte
assumida por Judá na restauração, seu coração, que pensava mal,
resolveu aproveitá-lo para a destruição da autoridade de Davi em Israel.
cada um para as suas tendas — Esta expressão proverbial pode
ter tido seu fundamento no fato de que muitas das pessoas do campo se
aderia ao costume dos patriarcas que lavravam a terra, mas que viviam
em tendas, como os patrícios sírios fazem ainda. Isto era o grito de
guerra de uma insurreição nacional, e pela verdadeira têmpera do povo,
foi seguido por resultados para além do que Sabá provavelmente
pensava.
2. desde o Jordão até Jerusalém — A disputa estalou pouco
depois do cruzamento do Jordão, entre Judá e as demais tribos, as quais
se retiraram; de modo que Judá foi deixado quase só para conduzir o rei
à metrópole.
3. tomou o rei as suas dez concubinas — Os escritores judeus
dizem que as viúvas dos monarcas hebreus, não tinham permissão de
casar-se de novo, e que eram obrigadas a passar o resto de sua vida em
estrita solidão. Davi tratou a suas concubinas da mesma maneira depois
de terem sido ultrajadas por Absalão. Não foram divorciadas, porque não
eram culpadas, mas não eram reconhecidas publicamente como suas
esposas; seu fechamento não era uma condenação muito pesada, naquela
região onde as mulheres não estavam acostumadas a sair muito.
4. Disse o rei a Amasa: Convoca-me, para dentro de três dias, os
homens de Jud — Amasa agora está instalado no comando que Davi lhe
tinha prometido. A revolta das dez tribos, provavelmente adiantou a
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 67
declaração pública desta nomeação, que ele esperava seria popular entre
eles; e a Amassa foi ordenado que em três dias aprontasse um exército de
Judá, suficiente para dominar a insurreição. A nomeação foi um
desatino, e o rei logo reconheceu o seu erro. Passou o tempo
especificado, mas Amasa não pôde juntar os homens. Temendo a perda
de tempo, o rei deu a comissão a Abisai, e não a Joabe — uma nova
afronta — que, sem dúvida, feriu o amor próprio deste austero e
orgulhoso general. Entretanto, apressou-se com os seus soldados unidos
a ir como segundo de seu irmão, resolvido a aproveitar a primeira
oportunidade para descarregar vingança sobre seu afortunado rival.
8. Amasa veio perante eles — Literalmente, “foi diante deles”.
Tendo juntado algumas força, por marchas forçadas alcançou a
expedição em Gibeão, e assumiu o seu lugar como comandante; e como
tal foi cumprimentado, entre outros, por Joabe.
trazia Joabe vestes militares e sobre elas um cinto — à maneira
dos viajantes e soldados.
uma espada dentro da bainha ... fez cair a espada — quer dizer,
saiu-se da bainha. Segundo Josefo, ele a deixou cair a propósito
enquanto se aproximava para cumprimentar a Amasa, para que,
agachando-se a recolhê-la, como se fosse acidental a queda, pudesse
cumprimentar o novo general com a espada despida na mão, sem
despertar suspeitas de seu propósito …
adiantando-se ele — de uma maneira cerimoniosa, para encontrar
o novo general em chefe, a fim de que parecesse render àquele soldado, a
quem considerava como usurpador de seu posto, uma insigne honra e
homenagem.
9. Tomou Joabe com a mão direita a barba de Amassa, para
beijá-lo — Este ato, comum no encontro de dois amigos, quando a gente
vinha de viagem, indica respeito e também bondade, e o cumprimento do
mesmo manifesta a negra hipocrisia de Joabe, quem por este ato fez com
que Amasa confiasse nele. Não é estranho, pois, que enquanto este ato de
amigável saudação depois de longa ausência ocupava a atenção de
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 68
Amasa, ele não percebesse a espada na mão esquerda de Joabe. O ato de
Joabe foi seriamente um fino cumprimento, mas nem suspeito nem raro,
e Amasa, prestando atenção a este cumprimento, e não duvidando
responder com a devida finura, pouco podia esperar o acontecimento
fatal que produziu a perfídia de Joabe.

Vv. 10-13. AMASA É ASSASSINADO.


10. este o feriu com ela no abdômen — Sede do fígado e as
vísceras, onde são fatais as feridas.
não o feriu segunda vez—quer dizer, matou-o com o primeiro
golpe.
11. Quem está do lado de Joabe e é por Davi, siga a Joabe — É
prova notável da influência sem rival de Joabe sobre o exército, o fato de
que, perpetrado à sua vista este ruim assassinato, eles unanimemente o
seguiram como a seu comandante, na perseguição de Seba. Um soldado
uniu seu nome com o de Davi, e tão mágico feitiço tinha o nome “Joabe”
que “passaram todos”—tanto os homens de Amassa como os demais. A
conjunção destes dois nomes é muito significativa; demonstra que um
não podia prescindir do outro; que não podia Joabe se rebelar contra
Davi, nem Davi se desfazer de Joabe, embora o odiasse.

Vv. 14, 15. JOABE PERSEGUE SEBA ATÉ ABEL.


14. Seba passou por todas as tribos de Israel até Abel-Bete-
Maaca — Juntando recrutas. Mas as marchas forçadas de Joabe o
alcançaram, e foi encerrado naquele estreito lugar.
15. Abel-Bete-Maaca — lugar fresco — o agregado “Maaca”
significa que pertence ao distrito da Maaca, situado muito acima do
Jordão, ao pé do Monte Líbano.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 69
Vv. 16-22. UMA MULHER SÁBIA SALVA A CIDADE COM A
CABEÇA DE SEBA.
16. Então, uma mulher sábia — O rogo da mulher, quem, como
Débora, provavelmente era juíza ou governadora do lugar, foi forte.
18. Antigamente, se costumava dizer — A tradução da margem
dá um significado melhor, o qual é neste sentido: Quando o povo te viu
pôr sítio a Abel, disseram: Certamente perguntará se temos paz, porque a
lei (Dt_20:10) prescreve que se ofereça paz a estrangeiros, muito mais
então às cidades israelitas; e se ele fizer isto, logo chegaremos a um
entendimento amigável, porque somos gente pacífica. A resposta de
Joabe revela o caráter daquele veterano insensível, como patriota de
coração, quem, ao prender o autor desta insurreição, estava preparado
para pôr fim ao derramamento de sangue, e livrar os pacíficos habitantes
de toda contrariedade.

Vv. 23-26. GRANDES OFICIAIS DE DAVI.


23. Joabe era comandante de todo o exército de Israel — Sejam
quais forem os desejos particulares de Davi, ele se dava conta de que não
tinha poder para tirar a Joabe; e fechando os olhos ao assassinato de
Amasa, restabeleceu a Joabe em seu posto anterior como comandante em
chefe. Dá-se aqui a enumeração do gabinete de Davi para mostrar que o
governo se constituiu de novo em seu curso habitual.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 70
2 Samuel 21

Vv. 1-9. A FOME DE TRÊS ANOS PELOS GIBEONITAS


TERMINA PELO ENFORCAMENTO DE SETE FILHOS DE SAUL.
1. o SENHOR lhe disse: Há culpa de sangue sobre Saul e sobre
a sua casa, porque ele matou os gibeonitas — A história sagrada não
lembra o tempo nem a causa desta matança. Alguns opinam que eles
sofreram na atrocidade perpetrada em Nobe (1Sm_22:19), onde muitos
deles podem ter residido como assistentes dos sacerdotes; enquanto que
outros supõem que é mais provável que Saul o fizesse tendo em vista
reconquistar a popularidade que ele tinha perdido entre toda a nação por
aquele execrável ultraje.
2. no seu zelo pelos filhos de Israel e de Judá — Sob pretexto de
uma execução rigorosa e fiel da lei divina a respeito do extermínio dos
cananeus, pôs-se a expulsar ou destruir aqueles aos quais Josué tinha
perdoado, embora isto tenha sido conseguido por meio do engano.
Parece que seu verdadeiro propósito foi que as posses dos gibeonitas,
confiscadas pela coroa, fossem divididas entre seu próprio povo
(1Sm_22:7). De toda maneira, seu proceder contra este povo foi uma
violação de um solene juramento, e esta violação significava culpa
nacional. A fome foi, na justa e sábia retribuição da providência, um
castigo nacional, visto que os hebreus ajudaram na matança, ou não se
interpuseram para evitá-la; desde que nunca trataram de reparar o mal,
nem expressaram nenhum horror por ele, um castigo geral e prolongado
era indispensável para inspirar um devido respeito e proteção aos
gibeonitas que tinham sobrevivido.
6. de seus filhos se nos deem sete homens, para que os
enforquemos ao SENHOR — A prática dos hebreus, como a dos
demais orientais, era matar primeiro, e logo pendurar na forca, não sendo
deixado o corpo depois do pôr-do-sol. O rei não pôde negar esta petição
dos gibeonitas, os quais, ao apresentá-la, só exerciam seu direito como
os vingadores de sangue, embora por temor e por um sentido de fraqueza
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 71
eles não tivessem exigido satisfação antes; mas agora, como Davi tinha
sido avisado pelo oráculo da causa da prolongada calamidade, ele creu
ser um dever dar aos gibeonitas plena satisfação; por isso eles
especificam o número sete, que se considerava como completo e
perfeito. E se parecesse injusto fazer sofrer os descendentes por um
crime que provavelmente teve sua origem no próprio Saul, entretanto,
seus filhos e netos podiam ser os instrumentos de sua crueldade, os
executores voluntários e zelosos desta incursão sangrenta.
Disse o rei: Eu os darei — Não se pode acusar a Davi de fazer isto
como uma maneira indireta de desfazer-se dos rivais do trono, porque os
que foram entregues eram só ramos colaterais da família de Saul, e
nunca pretenderam a soberania. Além disso, Davi só concedia a petição
dos gibeonitas como Deus lhe havia mandado.
8. os cinco filhos de Merabe, filha de Saul, que tivera de Adriel
— Merabe, irmã de Mical, foi a esposa do Adriel; mas Mical adotou e
criou os rapazes sob o seu cuidado.
9. os enforcaram no monte, perante o SENHOR — Não se
crendo obrigados pela lei criminal de Israel (Dt_21:22-23), foi seu
propósito deixar que os cadáveres ficassem suspensos nas forcas, até que
Deus, propiciado por sua oferta, enviasse chuva sobre as suas terras,
porque a falta dela tinha causado a fome. Era uma prática pagã a de
enforcar homens tendo em vista aplacar a ira dos deuses por ocasião de
fome, e os gibeonitas, que eram um resto dos amorreus (2Sm_21:2),
embora tenham chegado ao conhecimento do verdadeiro Deus, parece
que não estavam livres desta superstição. Em sua providência, Deus
permitiu que os gibeonitas pedissem e infligissem tão bárbaro desagravo,
a fim de que os oprimidos gibeonitas obtivessem justiça e alguma
reparação de seus males, e especialmente para que o escândalo
produzido em nome da verdadeira religião pela violação de uma solene
aliança nacional fosse apagado de Israel, e que se desse uma valiosa
lição sobre o respeito aos tratados e juramentos.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 72
Vv. 10, 11. A BONDADE DE RISPA PARA COM OS MORTOS.
10. Rispa … tomou um pano de saco e o estendeu para si sobre
uma penha — Ela levantou uma tenda perto do lugar, na qual ela e seus
servos vigiavam, como estavam acostumados a fazê-lo os parentes das
pessoas justiçadas, dia e noite, para afugentar as aves e animais de rapina
dos restos expostos sobre as forcas.

Vv. 12-22. DAVI SEPULTA OS OSSOS DE SAUL E JÔNATAS


NO SEPULCRO DE SEU PAI.
12. foi Davi e tomou os ossos de Saul e os ossos de Jônatas, seu
filho, etc. — Em pouco tempo, os copiosos aguaceiros, ou talvez uma
ordem do rei, deu a Rispa a satisfação de libertar os cadáveres de sua
ignominiosa exposição; e, animado por seu exemplo piedoso, Davi deu
ordem de que os restos de Saul e seus filhos fossem transferidos de sua
sepultura escura em Jabes-Gileade para ser sepultados decorosamente no
sepulcro da família na Sela, ou Zelza (1Sm_10:2), hoje Beit-jala.
15-22. De novo, fizeram os filisteus guerra contra Israel —
Embora os filisteus se submetessem completamente ao exército de Davi,
entretanto, a apresentação entre eles de campeões gigantescos levantava
a coragem, e os incitava a renovadas incursões ao território hebreu.
Provocaram quatro contendas sucessivas durante o último período do
reinado de Davi, e na primeira das quais o rei correu tão iminente risco
de vida que não mais foi permitido expor-se aos perigos do campo de
batalha.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 73
2 Samuel 22

Vv. 1-51. SALMO DE AÇÃO DE GRAÇAS DE DAVI PELA


PODEROSA LIBERTAÇÃO E MÚLTIPLAS BÊNÇÃOS DE DEUS.

O cântico contido neste capítulo é o mesmo que o do Salmo 18,


onde será dado o comentário completo. Basta fazer notar aqui,
simplesmente, que os escritores judeus observaram grande número de
pequenas diferenças entre a linguagem do cântico como se redige aqui, e
aquele que está no livro dos Salmos, o que se pode explicar pelo fato de
que este, que foi a primeira cópia do poema, foi cuidadosamente revisada
e mudada por Davi mais tarde, quando foi dedicado à música do
tabernáculo. Esta ode inspirada foi evidentemente a efusão de uma mente
iluminada com a piedade e gratidão mais sublimes, e está cheia dos mais
nobres pensamentos que se possam achar dentro dos tesouros da poesia
sagrada. É o grande tributo de gratidão pela libertação de seus poderosos
e numerosos inimigos, e pelo estabelecimento do poder e a glória de seu
reino.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 74
2 Samuel 23

Vv. 1-7. DAVI PROFESSA SUA FÉ NAS PROMESSAS DE DEUS.


1. São estas as últimas palavras de Davi — Existem várias
opiniões a respeito do significado verdadeiro desta declaração, a qual é
evidente que provém do compilador do sagrado cânon. Alguns pensam
que, como não há divisão de capítulos nas Escrituras Hebraicas, esta
introdução tinha por fim mostrar que o que segue, não é parte do cântico
anterior. Outros consideram esta como a última das produções poéticas
do rei; enquanto que outros, como a última de suas expressões como
escritor inspirado.
foi exaltado — De uma família obscura e de condição humilde a
um trono.
ungido do Deus de Jacó — Eleito para ser rei por nomeação
especial daquele Deus, a quem, por virtude de uma antiga aliança, o
povo de Israel devia todo o seu destino peculiar e seus privilégios
distinguidos.
mavioso salmista de Israel — Ameno, altamente estimado.
2. O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio — Nada
pode mostrar mais claramente que tudo o que é excelente em espírito,
belo em linguagem ou grande em imagens poéticas, contido nos Salmos
de Davi, se devia, não à superioridade de seus talentos naturais, nem a
conhecimentos adquiridos, e sim à sugestão e ditados do Espírito de
Deus.
3. a Rocha de Israel — Heb. “Rocha de Israel”. Esta metáfora, que
usualmente é aplicada pelos escritores sagrados ao Todo-poderoso, era
muito expressiva para o povo hebreu. Seus fortalezas nacionais, aonde
buscavam segurança na guerra, eram edificadas sobre rochas altas e
inacessíveis.
a mim me falou — quer seja preceptivamente, referindo-se a um
governante reto de Israel; ou profeticamente, a respeito de Davi e sua
dinastia, e do grande Messias, de quem muitos creem que esta é uma
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 75
profecia, pelas palavras: “Aquele que domina com justiça sobre os
homens”.
4. depois da chuva, faz brotar da terra a erva — Pequenos
campos de erva brotam rapidamente na Palestina depois da chuva; e até
onde a terra esteve seca e despida por longo tempo, em poucos dias ou
horas depois que começam a cair os benéficos aguaceiros, a face da terra
se renova de tal maneira que se cobre completamente com um manto
verde, puro e fresco.
5. Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu
comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura — “A luz
da manhã”, ou seja o começo do reino de Davi, não foi como a aurora
brilhante do dia oriental; foi obscurecida por muitas nuvens negras e
ameaçadoras; nem mesmo ele nem a sua família tinham sido como a
tenra erva que brota da terra e floresce pelas influências unidas do sol e
da chuva; mas antes, como a erva que se seca e é cortada
prematuramente. O sentido é, que embora a casa de Davi não tenha
florescido num curso ininterrupto de prosperidade e grandeza mundanas,
segundo suas esperanças; embora grandes crimes e calamidades tenham
obscurecido sua história familiar; embora alguns dos ramos mais
promissores da árvore familiar tenham sido cortados durante a sua vida,
e muitos de seus sucessores sofreriam da mesma maneira por seus
pecados pessoais; entretanto, embora muitos reveses e revoluções
surpreendessem a sua raça e o seu reino, era para ele motivo da maior
satisfação e gratidão o fato de que Deus manteria inviolável Sua aliança
com a família, até o advento de Seu Filho, o Messias, quem era o objeto
especial de seu desejo e o Autor de sua salvação.
6. Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora como os
espinhos — quer dizer, os inimigos ímpios e perseguidores deste reino
de justiça. Estes se assemelham àquelas plantas espinhosas, que se
entretecem, cujos espinhos vão para com todos os lados e são tão agudos
e fortes que não se podem tocar nem se chegar a eles sem perigo, e que
se necessitam instrumentos duros e meio violentos para destruí-los ou os
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 76
desarraigar. Assim Deus tirará ou destruirá todos os que sejam contrários
ao Seu reino.

Vv. 8-39. CATÁLOGO DE SEUS HOMENS VALENTES.


8. São estes os nomes dos valentes de Davi. — Este versículo
deveria traduzir-se assim: “Aquele que se senta na cadeira de Taquemoni
(Jasobeão filho do Hacmoni, 1Cr_11:11), o qual era chefe entre os
capitães; este era Adino o esnita [TB]; ele levantou sua lança contra
oitocentos, aos quais matou numa ocasião”. Em vez de “oitocentos” deve
ler-se “trezentos” (1Cr_11:11) [Davidson, Hermeneutics]. Sob Joabe ele
era chefe ou presidente do conselho de guerra. O grupo principal
consistia nele e seus dois colegas Eleazar e Sama. Parece que Eleazar foi
deixado sozinho para pelejar contra os filisteus, e quando ele obteve a
vitória, o povo voltou para tomar o despojo. De igual maneira Sama foi
deixado sozinho em sua glória, quando o Senhor por meio dele operou
uma grande vitória. Não é fácil saber se as façanhas relatadas depois,
foram feitas pelos primeiros três que são mencionados ou pelos segundos
três.
15. poço que está junto à porta de Belém — Uma antiga cisterna,
com quatro ou cinco poços na rocha maciça, a uns dez minutos de
caminhada a noroeste do monte de Belém, é assinalada pelos naturais
como Bir-Daoud, ou “a fonte de Davi”. O Dr. Robinson duvida da
identidade do poço; mas outros creem que não há razão para duvidar.
Certamente, considerando-se este como o verdadeiro poço, Belém teria
que ter-se estendido uns dez minutos mais a norte, e ter estado situado,
antigamente, não como agora, sobre o cimo, mas sim sobre a pendente
norte da colina; porque o poço está “à porta” (1Cr_11:7). A descrição
dos viajantes é que a opinião comum é a de que os capitães de Davi
tinham vindo do sudeste para conseguir, com o risco de sua vida, aquela
água tão ansiada; enquanto que se supõe que o próprio Davi estava na
cova grande que não está muito longe ao sudeste de Belém, a qual é
geralmente considerada como a de Adulão. Mas (Js_15:35) Adulão
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 77
estava “no vale” ou seja nas planícies ondulantes no sopé ocidental das
montanhas, de Judá, e por conseguinte a sudoeste de Belém. De qualquer
maneira os homens de Davi tiveram que abrir caminho entre o exército
dos filisteus, para poder chegar ao poço; e a localização de Bir-Daoud
está de acordo com isto. (Van de Velde).
19. aos primeiros três — Os valentes ou campeões do conselho
militar de Davi, estavam divididos em três classes: a primeira e mais
alta: Jasobeão, Eleazar e Sama; a segunda: Abisai, Benaia e Asael; e a
terceira, os trinta, da qual Asael era o chefe. Há trinta e um mencionados
na lista, Asael inclusive, e estes acrescentados às duas ordens superiores,
fazem trinta e sete. Dois deles sabemos que já estavam mortos, a saber,
Asael [2Sm_3:30] e Urias [2Sm_11:17]; e se os mortos, ao ser feita esta
lista, eram sete, então podemos supor que era uma legião de honra,
composta do número fixo de trinta, e quando ficavam vazios, eram
preenchidos com novas nomeações.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 78
2 Samuel 24

Vv. 1-9. DAVI ENUMERA AO POVO.


1. Tornou a ira do SENHOR a acender-se contra os israelitas, e
ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, levanta o censo de Israel
e de Judá — “Tornou” nos leva para trás, aos sinais anteriores de Sua
ira nos três anos de fome [2Sm_21:1]. Embora Deus não pode tentar a
nenhum homem (Tg_1:13), nas Escrituras frequentemente Ele aparece
como se Ele fizesse o que só permite que se faça. Assim, neste caso, Ele
permitiu que Satanás tentasse a Davi. O promotor ativo foi Satanás,
enquanto que Deus só retirava sua graça amparadora, e o grande tentador
prevaleceu contra o rei. (Veja-se Êx_7:13; 1Sm_26:19; 1Sm_16:10;
Sl_105:25; Is_7:17, etc.). Foi dada a ordem a Joabe, quem geralmente
não se sentia restringido por escrúpulos religiosos, mas agora não deixou
de manifestar, em termos fortes (veja-se 1Cr_21:3), o pecado e o perigo
desta medida, e fez uso de todo argumento para dissuadir ao rei de seu
propósito. A história sagrada não menciona objeções que ele nem outros
distinguidos oficiais apresentassem no conselho de Davi. Mas diz
expressamente que todas foram denegadas pela inflexível decisão do rei.
5. Tendo eles passado o Jordão — Este censo foi levantado
primeiro na parte oriental do reino hebreu; parece que Joabe ia
acompanhado por uma força militar, talvez para que ajudassem no
trabalho, ou para intimidar as pessoas que pudessem mostrar má vontade
ou oposição.
vale de Gade — Se estende sobre uma superfície de uns noventa e
seis quilômetros e meio; no verão está quase constantemente seco, mas
no inverno mostra sinais de ser varrido por correntes impetuosas (veja-se
Dt_2:36).
6. terra de Tatim-Hodchi (TB) — “terras recém adquiridas”,
novas. Deveria ser “Hodchi” em vez de “Absi”. Terra dos hagarenos
conquistada por Saul (1Cr_5:10). O avanço era feito rumo ao norte; dali
cruzaram o país, baixando ao longo da costa ocidental até os termos
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 79
meridionais do país, e finalmente chegaram a Jerusalém, tendo
completado o censo de todo o país no espaço de nove meses e vinte dias.
9. Deu Joabe ao rei o recenseamento do povo — O número aqui
dado, comparado com aquele que dá 1Cr_21:5, mostra uma diferença de
300.000. Esta discrepância é só aparente, e admite uma explicação fácil:
(veja-se 1 Cr_27:1-15), houve doze divisões de generais, os quais
mandavam mensalmente, e cujo dever era o de guardar a real pessoa,
tendo cada qual um corpo de 24.000 soldados e em conjunto formavam
um exército de 288.000 e como um destacamento especial de 12.000
assistia aos doze príncipes das doze tribos mencionadas no mesmo
capítulo, assim todos chegam a ser 300.000. Estes não se mencionou no
livro, porque estavam no serviço ativo do rei como exército permanente.
Mas 1Cr_21:5 junta estes com os demais, dizendo: “havia em Israel um
milhão e cem mil homens que puxavam da espada”; enquanto que o
autor de Samuel que considera só os 800.000, não diz “todos os de
Israel”, mas simplesmente “havia em Israel”, etc. Além disso deve se
notar que, além das tropas antes mencionadas, havia um exército de
observação sobre a fronteira dos filisteus, composto de 30.000 homens,
como se vê no capítulo 6:1; os quais conforme parece, foram incluídos
no número de 500.000 de Judá pelo autor de Samuel; mas o autor de
Crônicas, quem menciona só 470.000, dá o número daquela tribo
exclusive os trinta mil homens, porque não eram todos da tribo de Judá,
e portanto não diz “todos os de Judá”, assim como havia dito “todos os
de Israel”, mas sim somente “e em Judá”. Assim, se pode conciliar os
dois relatos.

Vv. 10-13. TENDO PROPOSTAS POR GADE TRÊS PRAGAS,


DAVI ARREPENDIDO, ESCOLHE TRÊS DIAS DE PESTILÊNCIA.
10. Sentiu Davi bater-lhe o coração, depois de haver recenseado
o povo, e disse ao SENHOR: Muito pequei no que fiz — O ato de
enumerar o povo, não foi pecaminoso em si; porque Moisés o fez pela
autoridade expressa de Deus. Mas Davi agiu não só independentemente,
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 80
sem ter uma ordem ou sanção, mas por motivos indignos de um rei de
Israel: por orgulho e vanglória, por confiança em si mesmo e falta de fé
em Deus, e, sobretudo, por seus desejos ambiciosos de conquista, no
adiantamento dos quais ele estava resolvido a obrigar o povo a prestar
serviço militar, e para isto investigou se poderia preparar um exército
suficiente para a magnitude das empresas que ele tinha em projeto
efetuar. Foi uma violação da constituição, uma infração das liberdades
do povo, e contrário àquela política divina que exigia que Israel
continuasse sendo um povo separado. Não foram abertos os seus olhos à
enormidade de seu pecado, enquanto Deus não lhe falasse por meio de
seu profeta Gade.
13. Queres que sete anos de fome te venham à tua terra? — a
mais dos três que já tinha havido, incluindo esse ano (veja-se
1Cr_21:11).
14. disse Davi a Gade: … caiamos nas mãos do SENHOR — O
sentido entristecedor de seu pecado o levou a consentir no castigo
pronunciado, apesar do aparente excesso de sua severidade. Ele agiu de
acordo com um bom princípio ao escolher a pestilência, pois assim ele
estava igualmente exposto ao perigo como seu povo e isto era justo;
enquanto que na guerra e a fome, ele possuía meios de proteção
superiores aos deles. Também, nisto ele mostrou sua confiança na
bondade divina fundada numa longa experiência.

Vv. 15-25. SUA INTERCESSÃO PERANTE DEUS; CESSA A


PRAGA.
15. desde a manhã — Desde aquela manhã quando veio Gade
[2Sm_24:18] até o termo dos três dias.
morreram setenta mil homens — Assim foi profundamente
humilhado o vanglorioso monarca, que confiava no número de sua
população.
16. arrependeu-se o SENHOR do mal — Com frequência fala-se
de Deus como arrependido de algo que começou a fazer.
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 81
17. Davi … disse a Jeová: -Eu pequei, eu fiz o mal; o que
fizeram estas ovelhas? — A culpa tem que ter enumerado ao povo,
correspondia exclusivamente a Davi. Mas no corpo político assim como
no físico, quando sofre a cabeça, todos os membros sofrem junto; e, além
disso, embora o pecado de Davi foi a causa imediata, o grande aumento
das ofensas nacionais naquele tempo (2Sm_24:1) tinha aceso a ira do
Senhor contra o povo.
18. Araúna — ou Ornã (1Cr_21:18), jebuseu, um dos antigos
habitantes, quem, convertido à verdadeira religião, reteve sua casa e suas
posses. Residia no Monte Moriá, lugar onde o templo foi construído
mais tarde (2Cr_3:1), mas aquele monte não estava incluído na cidade
naquele então.
21. Para comprar de ti esta eira, a fim de edificar nela um altar
ao SENHOR, para que cesse a praga — É evidente que não cessou a
praga até depois que foi edificado o altar e devotado o sacrifício, de
modo que o anterior foi relatado (2Sm_24:16) antecipadamente. Antes
de oferecer o sacrifício, Davi tinha visto o anjo destruidor e também
tinha devotado sua oração intercessória (2Sm_24:17). Este era um
sacrifício de expiação, e a razão por que lhe permitiu oferecê-lo no
Monte Moriá, foi em parte em bondosa consideração a seu temor de se
dirigir a Gibeão (1Cr_21:29-30), e em parte em previsão do traslado do
tabernáculo e a construção do templo naquele lugar (2Cr_3:1).
23. Tudo isto, ó rei, Araúna oferece ao rei — Indicando que este
homem antigamente tinha sido um rei ou chefe pagão, mas que agora era
um prosélito que ainda tinha propriedade e influência em Jerusalém, e
cuja piedade se vê na generosidade de seus oferecimentos. As palavras
“como rei”, dão a entender, segundo alguns, que simplesmente “deu com
generosidade real”.
24. Não, mas eu to comprarei pelo devido preço — A soma
mencionada aqui, cinquenta siclos, equivalente a seis libras inglesas, foi
paga pela eira, os bois e os instrumentos de madeira somente, enquanto a
2 Samuel (Jamieson, Fausset e Brown) 82
grande soma (1Cr_21:25) foi paga depois por todo o monte, onde Davi
fez os preparativos para a edificação do templo.
25. Davi … apresentou holocaustos e ofertas pacíficas — Parece
que houve dois sacrifícios: o primeiro expiatório, e o segundo em ação
de graças pela cessação da pestilência (veja-se 1Cr_21:26).
1 REIS
Original em inglês:

1 KINGS

The First Book of the Kings,

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

1 Reis 1 1 Reis 7 1 Reis 13 1 Reis 19

1 Reis 2 1 Reis 8 1 Reis 14 1 Reis 20

1 Reis 3 1 Reis 9 1 Reis 15 1 Reis 21

1 Reis 4 1 Reis 10 1 Reis 16 1 Reis 22

1 Reis 5 1 Reis 11 1 Reis 17

1 Reis 6 1 Reis 12 1 Reis 18


1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 2
1 Reis 1

Vv. 1-4. ABISAGUE ESQUENTA O REI EM SUA EXTREMA


VELHICE.
1. Sendo o rei Davi já velho — Estava no ano setenta (2Sm_5:4-
5). Mas a agitação da vida militar, e o cansaço corporal e mental, tinham
esgotado prematuramente as energias do forte corpo de Davi
(1Sm_16:12). Na Palestina moderna e no Egito, devido ao muito calor,
cada pessoa dorme em cama separada. Separam-se desta prática só por
motivos de saúde (Ec_4:11). O recurso recomendado pelos médicos de
Davi é o mesmo regime receitado em casos similares no Oriente hoje em
dia, especialmente entre a população árabe, não simplesmente para dar
calor, senão para “criar”, pois sabem que a inalação do alento juvenil dá
vigor ao corpo de uma pessoa que se debilitou. O fato de que a saúde de
uma pessoa jovem e mais sã é roubada para fortalecer a de uma pessoa
mais velha e doentia, está estabelecido entre a faculdade médica. De
modo que a receita para o ancião rei foi dada para a prolongação de sua
vida valiosa, e não precisamente para que desfrutasse do calor natural
comunicado a seu fraco corpo. (Tent and Khan). A poligamia daquela
época e país explica a introdução do costume. É evidente que Abisague
foi feita concubina ou esposa secundária de Davi (veja-se 1Rs_2:22).
3. Sunamita — Suném, na tribo de Issacar (Js_19:18), estava
situada na altura da planície de Esdralom, oito quilômetros ao sul do
Tabor. Hoje se chama Sulam.

Vv. 5-31. ADONIAS USURPA O REINO.


5. Então Adonias filho da Hagite se rebelou — Nada se diz da
origem de Hagite, de modo que é provável que ela não se distinguia por
sua descendência de família. Adonias, embora fosse o quarto filho de
Davi (2Sm_3:4; 1Cr_3:2), era o mais velho que vivia; e seu atrativo
pessoal e suas maneiras (1Sm_9:2) não só o recomendavam aos homens
principais da corte mas também o fizeram o favorito de seu pai, quem,
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 3
embora via que ele pretendia o trem que convinha só ao presumido
herdeiro ao trono (2Sm_15:1), não lhe dizia nada; e seu silêncio era
entendido como muitos, e também pelo próprio Adonias, como uma
expressão de consentimento. A saúde decadente do rei o alentou a dar
um passo decisivo na execução de seus planos ambiciosos.
7. Entendia-se ele com Joabe — A ansiedade de Adonias por
conseguir a influência de um dirigente tão atrevido, empreendedor e
popular no exército, era natural, e a adesão do velho comandante à sua
causa se explica facilmente que foi motivada pelo rancor que tinha ao rei
(2Sm_19:13).
e com Abiatar, o sacerdote — Sua influência foi tão grande com
os sacerdotes e levitas, grupo poderoso no reino, como a de Joabe no
exército. Eles puderam ter pensado que a coroa pertencia a Adonias pelo
direito de primogenitura, por sua idade amadurecida e porque assim o
povo esperava (1Rs_2:15).
8. Porém Zadoque, o sacerdote — Tinha sido sumo sacerdote no
tabernáculo em Gibeão durante o reinado de Saul (1Cr_16:39). Davi, ao
subir ao trono, tinha dado a ele e a Abiatar altas funções iguais
(2Sm_8:17; 2Sm_15:24; 2Sm_15:35). Mas é muito provável que alguma
causa de ciúme ou dissensão se suscitasse entre eles, e por isso cada um
emprestasse sua aprovação e apoio a partidos contrários.
Benaia — Distinto por sua valentia (2Sm_23:30); tinha sido
nomeado capitão da guarda do rei (2Sm_8:18; 2Sm_20:23; 1Cr_18:17),
e era considerado por Joabe como rival.
Natã, o profeta — foi tido em alta estima par Davi, e desfrutava de
relações íntimas com a família real (2Sm_12:25).
Simei — Provavelmente o mesmo que mais tarde foi posto na lista
dos grandes oficiais de Salomão (1Rs_4:18).
Reí — Supõe-se que era o mesmo que em 2Sm_20:25 é chamado
de Ira, o jairita.
e todos os grandes — A companhia seleta de homens dignos.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 4
9. fonte do Rogel — Situada a leste do Jerusalém (Js_15:7-10), em
lugar plano, imediatamente mais abaixo da união do vale do Hinom com
o de Josafá. É um poço muito fundo, que mede uns 39 metros; a água é
doce mas não é muito fria, e às vezes está cheio até o bordo. Os orientais
são muito afeiçoados às comidas ao ar livre nos lugares que têm as
vantagens de sombra, água e vegetação; nessas festas campestres não se
servem refeições rápidas, antes são convites magníficos, pois os animais
são mortos e enfeitados no mesmo lugar. A festa da Adonias em En-
Rogel foi uma deste tipo, e foi feita em grande escala (2Sm_3:4-5;
2Sm_5:14-16; 1Cr_14:1-7). Ao um novo rei subir ao trono eram
oferecidos sacrifícios (1Sm_11:15). Mas em tal ocasião não foi menos
usual convidar os grandes do reino e até o povo. (1Cr_12:23-40). Há
forte probabilidade de que a festa de Adonias fosse puramente política,
para obter popularidade e assegurar um partido que apoiasse sua
pretensão à coroa.
11-27. disse Natã a Bate-Seba … permite que eu te dê um
conselho, etc. — A revolta foi derrotada por este profeta, quem,
conhecendo a vontade do Senhor (2Sm_7:12; 1Cr_22:9), sentiu-se
obrigado, de acordo com seu caráter e ofício, a tomar a iniciativa em
acompanhar o cumprimento de tal vontade. Até aqui a sucessão da
monarquia hebraica não tinha sido estatuída. O Senhor tinha reservado
para Si o direito de nomeação (Dt_17:15), de acordo com o qual se
procedeu na eleição tanto de Davi como de Saul; agora no caso de Davi
se modificou a regra até o ponto em que a sua posteridade se garantiu a
possessão perpétua da soberania (2Sm_7:12). Este propósito divino era
reconhecido por todo o reino; mas não se tinha feito nenhuma intimação
de si o direito de herança tinha que pertencer ao filho mais velho. Com o
povo em geral, Adonias pensava que seria seguida esta disposição no
reino hebreu como em todos outros. Natã, quem conhecia a solene
promessa do velho rei a Salomão, e, ainda mais, que esta promessa foi
sancionada pela vontade divina, via que não havia tempo a perder.
Temendo os efeitos de uma comoção repentina do rei, no fraco estado
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 5
em que se encontrava, resolveu que Bate-Seba entrasse primeiro para lhe
informar do que passava fora das muralhas, e que ele a seguiria para
confirmar sua palavra. O relato aqui não só apresenta um quadro vivo de
uma cena no interior de um palácio, mas também dá a impressão de que
se tinha estabelecido na corte hebraica muito do cerimonial oriental de
estado.
20. todo o Israel tem os olhos em ti, para que lhe declares quem
será o teu sucessor que se assentará no teu trono — Quando morriam
os reis sem declarar sua vontade, então lhe sucedia o filho mais velho.
Mas frequentemente, muito antes de sua morte, designavam qual dos
filhos devia herdar o trono. Os reis de Pérsia, como os de outros países
orientais, exerceram o mesmo direito nos tempos modernos e até nossos
dias.
21. Eu e meu filho Salomão seremos tidos por culpados — Quer
dizer, seriam mortos, segundo o costume bárbaro que se praticava no
Oriente com os rivais ao trono.
28-31. Respondeu o rei Davi e disse: Chamai-me a Bate-Seba —
Renova a ela a solene promessa que lhe tinha feito, em termos cuja
solenidade e impressão demonstram que o ancião monarca estava à
altura de seu dever conforme o exigia a emergência.

Vv. 32-49. POR ORDEM DE DAVI, É UNGIDO SALOMÃO.


33. fazei montar meu filho Salomão na minha mula —
Imediatamente foram dadas ordens para a coroação de Salomão. Tinha
que se formar uma procissão pelos “servos de seu senhor” o guarda do
rei. Naquele então as mulas eram usadas pelos príncipes (2Sa_13:29);
mas havia uma mula de estado, cujo uso sem permissão especial, estava
proibido a todos os súditos, sob pena de morte; de sorte que o ser
concedido a Salomão foi uma declaração pública em seu favor como o
futuro rei (veja-se Et. 6:8, 9).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 6
levai-o a Giom — Uma fonte ou cisterna a oeste de Jerusalém
(veja-se 2Cr_32:30), escolhida como lugar igualmente público para a
contra proclamação.
34. o ungirão — Coisa feita só em caso de uma nova dinastia, ou
de uma sucessão que se disputava (1Sm_16:13; 2Sm_2:4).
35. Subireis após ele, e virá e se assentará no meu trono — O
reconhecimento público do sucessor ao trono, durante a vida do velho
rei, está de acordo com os costumes do Oriente.
39. tomou do tabernáculo o chifre do azeite — Era o azeite
sagrado (Êx_30:25), com o qual se ungia os reis.
40. Após ele, subiu todo o povo — quer dizer, do vale até a
cidadela de Sião.
41. Adonias e todos os convidados ... o ouviram, quando
acabavam de comer — As fortes aclamações levantadas pelo povo na
prazerosa proclamação em Giom, e repetidas pelos milhares de reunidos,
desde Sião a En-Rogel, eram facilmente ouvidas a essa distância por
Adonias e seus confederados. A chegada de um mensageiro de
confiança, quem deu um relatório detalhado da cerimônia de coroação
[1Rs_1:43-48], semeou o espanto em sua assembleia. A conspiração
ímpia e ambiciosa que eles tinham vindo realizar foi dissipada, e todos
os conspiradores buscaram sua salvação fugindo.

Vv. 50-53. FUGINDO ADONIAS AO ALTAR, É DESPEDIDO


POR SALOMÃO.
50. Adonias … foi agarrar se dos chifres do altar —
Provavelmente o altar dos sacrifícios queimados que tinha sido levantado
no Monte Sião, onde Abiatar, um de seus partidários, agia como sumo
sacerdote. Os cantos ou pontas salientes dos quatro cantos do altar, aos
quais se atavam os sacrifícios e que eram salpicados com o sangue das
vítimas, eram símbolos de graça e salvação para o pecador. Portanto o
altar era considerado como lugar de refúgio (Êx_21:14), mas não para os
traidores, nem homicidas, nem para os que tinham cometido
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 7
transgressões premeditadas. Havendo Adonias agido em oposição ao
príncipe reinante, era culpado de rebelião, e estava condenado por si
mesmo. Salomão lhe perdoou a vida sob a condição expressa de seu bom
comportamento: que vivesse uma vida estritamente particular, levasse
uma existência quieta, sem entremeter-se nos assuntos do reino nem da
corte.
53. trouxessem-no — da borda em torno do altar onde estava.
inclinou-se perante o rei — Rendeu homenagem a Salomão como
rei.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 8
1 Reis 2

Vv. 1-11. DAVI MORRE.


1. Davi, deu ele ordens a Salomão, seu filho — O mandado
relatado aqui foi dado a Salomão por ocasião da morte de Davi, e é
diferente de seu discurso de despedida pronunciado em público algum
tempo antes (1Cr_28:2-9). Introduz-se com grande solenidade.
2. Eu vou pelo caminho de todos os mortais — Bela e
impressionante paráfrase da morte.
Coragem, pois, e sê homem! — Este conselho é similar à
exortação apostólica (1Co_16:13), e refere-se à fortaleza e vigor que se
necessitavam para cumprir as pesadas funções de rei.
3. Guarda os preceitos do SENHOR, teu Deus — a lei divina
com todos os seus requisitos tanto cerimoniais quanto morais. Mas se
referia particularmente a suas instituições políticas, visto que só
observando estritamente a conduta que convinha ao monarca hebreu
(Dt_17:10-20) que ele asseguraria as bênçãos de paz e prosperidade para
seu reino (veja-se Dt_4:5; Dt_29:10).
4. nunca te faltará sucessor ao trono de Israel — Uma referência
à promessa feita a Davi de que a soberania residiria perpetuamente em
sua linhagem (2Sm_7:11-16), promessa que depois foi confirmada a
Salomão (1Rs_9:5), e repetida com referência a seu significado espiritual
muito tempo depois (Jr_33:17).
5, 6. Também tu sabes o que me fez Joabe — A conduta insolente
e despótica daquele general não só tinha sido profundamente ofensiva
aos sentimentos de Davi (2Sm_18:5-15; 2Sm_19:5-7), mas também
tinha sido com o fim de trazer opróbrio sobre seu caráter, danificar as
perspectivas e pôr em perigo seu trono. Passando por alto as injustiças
cometidas por Joabe contra ele, Davi fez ênfase sobre o vil assassinato
de Abner e Amasa.
em tempo de paz, vingou o sangue derramado em guerra, etc.
— O sentido óbvio é, que Joabe manifestou que ia em paz e se
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 9
comportou com eles como se tivessem estado em guerra; talvez estas
expressões foram usadas para impressionar vivamente a mente de
Salomão com o sentido da malícia, astúcia e crueldade por que foram
caracterizados esses assassinatos.
6. Faze, pois, segundo a tua sabedoria — A popularidade de
Joabe no exército exigia que qualquer processo contra ele fosse atacado
com grande prudência e deliberação.
8. também contigo está Simei — Embora Davi lhe prometeu
perdão, o qual, pela presença de mil partidários, não teria podido lhe ser
negado, advertiu a seu filho contra Simei fazendo-o ver que era de um
caráter turbulento e perigoso. Não é preciso supor-se que nestas
instruções finais, Davi mostrasse um espírito vingativo. Antes, se deve
considerar que agia em seu caráter de rei e magistrado, ao mencionar os
crimes que ele não tinha estado em situação de poder castigar, e
apontando as pessoas das quais Salomão estaria obrigada a desfazer-se
por serem perigosas ao estado. A menção favorável da bondade de
Barzilai [1Rs_2:7], foi, entretanto, um sentimento pessoal que faz honra
a seu bom coração; e seu silêncio com relação a Mefibosete, filho de seu
amado Jônatas, dá a entender que tinha morrido antes.
9. és homem prudente — Salomão tinha dado provas de sua
sabedoria desde antes de ser dotado milagrosamente com o dom celestial
(veja-se 1Rs_3:11), e sua própria sagacidade ditaria o curso que deveria
seguir em qualquer outra ofensa que Simei cometesse.
10. Davi descansou com seus pais — Umas seis semanas depois
da coroação de Salomão (cf. 2Sm_5:5, com 1Cr_29:27). O intervalo se
empregou em desenvolver seus ideias e planos para a glória futura do
reino, e em prover para o culto permanente de Deus (veja-se 1Cr_22:1 e
sgte.).
foi sepultado na Cidade de Davi — Não se permitiam sepulturas
dentro das cidades. Jerusalém, entretanto, foi uma exceção; e até ali o
privilégio era reservado principalmente para a família real (At_2:29).
Diz a tradição que os ossos de Davi descansam sobre o Monte Moriá, e
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 10
que a torre de uma pequena mesquita assinala o lugar que fixou a
tradição. Sua história é nobre, maravilhosa e humilhante. Foi homem
bom; entretanto, sua vida foi manchada por vários crimes muito
vergonhosos. Mas há muitos rasgos brilhantes e nobres em seu caráter:
era amante e zeloso da lei divina; seu reinado foi notável por seus muitos
serviços importantes que contribuíram a glória de Deus e ao
engrandecimento de Seu reino; e seu nome, como “o doce salmista de
Israel” será tido em honra até as épocas mais remotas do cristianismo.

Vv. 12-24. SALOMÃO O SUCEDE.


12. Salomão assentou-se no trono de Davi, seu pai — Sua
ascensão à dignidade real sucedeu sob as condições mais felizes. Como
tinha nascido quando seu pai já era monarca do reino inteiro, seu direito,
segundo as ideias orientais, era preferível ao de todos, até de seus irmãos
mais velhos. O reino hebreu desfrutava de prosperidade interna; era
respeitado e renomado no exterior, e Salomão sabia como melhorar estas
vantagens.
13-18. veio Adonias, filho de Hagite, a Bate-Seba — A pergunta
que ela lhe dirigiu, revela uma apreensão que poderia estar justificada
pela conduta recente dele; mas ele parecia reconhecer piedosamente a
vontade divina, o que indicava uma aquiescência tão completa no acerto
da sucessão [1Rs_2:15], que, em sua simplicidade feminina, ela não
percebeu a profunda astúcia e o propósito ímpio que se escondiam sob
sua petição, e prontamente tratou de favorecer seus desejos.
19, 20. Foi, pois, Bate-Seba ter com o rei Salomão — A filial
reverência e o ato particular de respeito que rendeu a Salomão, estavam
de acordo com os sentimentos e costumes do Oriente. À mão direita é o
lugar de honra; e como se diz expressamente que foi atribuído à “mãe do
rei”, é necessário fazer notar que quando morre o marido, sua viúva
adquire uma dignidade e poder sobre o seu filho, superiores aos que
possuía antes. Além disso, a dignidade de “mãe do rei” é um posto
oficial, ao qual se atribuem certas rendas. A possuidora do título tem seu
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 11
palácio ou corte à parte, assim como também exerce grande influência
nos assuntos públicos; e como é dignidade vitalícia, sucede às vezes que
por causa de alguma morte, a pessoa que tem o título não é a mãe do
monarca reinante. Bate-Seba evidentemente tinha sido investida deste
posto honorável.
22. Por que pedes Abisague? … Pede também para ele o reino
— (Veja-se 2Sm_16:11; 2Sm_12:8). Despertou-se a indignação de
Salomão; num momento compreendeu a ardilosa mutreta, e pela
associação dos nomes de Abiatar e Joabe, parece ter suspeitado que esses
dois conspiradores tinham sido os instigadores de Adonias.
23-25. Deus me faça o que lhe aprouver — Forma comum de
introduzir um juramento solene.
se não falou Adonias esta palavra contra a sua vida — Se havia
ou não propósito de traição nesta petição, o ato, segundo as ideias
orientais, era criminal e de consequências perigosas para o estado. Não
há fundamento para censurar a Salomão por crueldade ou precipitação
neste caso. Ele tinha perdoado a Adonias por sua anterior conspiração,
mas esta nova tentativa era rebelião contra o vice-rei nomeado pelo Rei
divino, e exigia o devido castigo. O ofício de verdugo entre os hebreus,
como em outros países antigos do Oriente, era exercido sem cerimônia e
em particular — com frequência sem advertência prévia — pelo capitão
da guarda ou por um de seus oficiais (Mt_14:10).
26, 27. Disse também o rei ao sacerdote Abiatar (TB) — Este
funcionário como conselheiro e cúmplice de Adonias, merecia
compartilhar sua mesma sorte. Mas por consideração a sua dignidade
sacerdotal e por sua longa associação com o finado rei, Salomão
pronunciou sobre ele a leve sentença de desterro a seus propriedades de
campo em Anatote, e portanto, como regente de Deus o privou de seu
posto e de seus emolumentos. O escritor sagrado vê na degradação do
Abiatar do sumo sacerdócio (veja-se 1Rs_4:4), o cumprimento notável
da condenação pronunciada contra a casa de Eli (1Sm_2:30).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 12
Vv. 28-45. JOABE É MORTO.
28. Chegando esta notícia a Joabe — A execução destas
sentenças em Adonias e Abiatar, preparou a Joabe para sua sorte. Por
seus grandes crimes (Nm_35:33) lhe teria sido infligida a morte desde
tempo atrás, se não tivesse sido porque seu poder no exército e sua
popularidade entre o mesmo amedrontavam o velho rei. Agora foge ao
altar, o qual era reconhecido como lugar de asilo, mas não para o traidor
nem o homicida (Êx_21:14). E se negou a sair dele, pois parece ter tido
uma débil esperança de que se tivesse escrúpulo religioso para pensar em
violar a santidade do lugar com derramamento de sangue. Benaia, não
querendo tomar a responsabilidade, referiu o assunto a Salomão, quem
resolveu que a lei seguisse o seu curso (Dt_19:13).
33. o SENHOR fará recair a culpa de sangue de Joabe sobre a
sua cabeça, etc. — Aqui se faz referência à maldição pronunciada
pública e solenemente por Davi (2Sm_3:28-29).
34. Benaia … arremeteu contra ele e o matou — Segundo os
termos do estatuto (Êx_21:14), e a prática em casos similares
(2Rs_11:15), o réu tinha que ser arrastado longe do altar para lhe dar
morte. Mas a verdade é que a santidade do altar era violada tanto pela
violência empregada em tirar pela força ao criminoso como em derramar
seu sangue ali mesmo; o mandado rápido de Deus autorizava aquilo, e
pelo mesmo, por inferência, permitia isto.
foi sepultado em sua casa — No mausoléu da família em sua
propriedade no deserto de Judá. Seu enterro foi incluído na ordem do rei,
como ordenado pela lei divina (Dt_21:23).

Vv. 34-46. SIMEI É MORTO.


36. mandou o rei chamar a Simei — Residia talvez em Baurim,
seu lugar natal, mas como era de caráter suspeito, Salomão o condenou a
viver em Jerusalém, sob pena de morte se ele saísse de suas portas.
Submeteu-se a este encerramento por três anos, quando, violando seu
juramento, foi detido e morto por ordem de Salomão, por perjúrio,
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 13
agravado por seu crime anterior de alta traição contra Davi [1Rs_2:42-
44].
46. assim se firmou o reino sob o domínio de Salomão — Agora,
pela morte de Simei, todos os dirigentes das facções rivais tinham sido
cortados.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 14
1 Reis 3

V. 1. SALOMÃO SE CASA COM A FILHA DO FARAÓ.


Salomão aparentou-se com Faraó — Este era um título real,
equivalente a sultão, e o nome deste monarca se diz que era Vafres. A
formação, por termos iguais, desta aliança matrimonial com a família
real do Egito, prova a alta consideração a que o reino hebreu tinha
ascendido. Rosellini nos deu, tomado dos monumentos do Egito, o que
se crê é um retrato desta princesa. Ela foi recebida na terra de sua adoção
com grande magnificência; porque o Cantar dos Cantares e o Salmo 45,
supõe-se que foram compostos em honra da ocasião, embora os dois
podem ter uma referência típica superior à introdução dos gentios na
igreja.
a trouxe à Cidade de Davi — quer dizer, a Jerusalém. Ela não era
aceitável na fortaleza de Sião, o edifício onde estava a arca (Dt_23:7-8).
Parece que ela se alojou primeiro nos compartimentos da mãe de
Salomão (Ct_3:4; Ct_8:2), porque ainda não tinha sido provida uma
residência adequada para ela no novo palácio (1Rs_7:8; 9:24; 2Cr_8:11).
de edificar … a muralha à roda de Jerusalém. — Embora Davi
tinha começado (Sl_51:18), segundo Josefo, foi reservado para Salomão
o estender e completar as fortificações da cidade. Perguntou-se se este
casamento estava conforme com a lei (veja-se Êx_34:16; Dt_7:3;
Ed_10:1-10; Ne_13:26). Mas em nenhuma parte das Escrituras é
censurado este casamento, como o são as alianças que Salomão formou
com outras estrangeiras (1Rs_11:1-3); de modo que se pode deduzir que
ele tinha estipulado para ela o abandono da idolatria e sua conformidade
com a religião judia (Sl_45:11).

Vv. 2-5. SALOMÃO SACRIFICA EM GIBEÃO.


3. Salomão amava ao SENHOR — Esta declaração, ilustrada pelo
que segue, dá clara evidência da piedade do jovem rei; não devemos
entender a palavra “ainda” que aparece na cláusula seguinte, como se
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 15
introduzisse uma circunstância modificadora que refletisse algum grau
de censura sobre ele. A intenção do historiador sagrado é descrever o
modo de culto que geralmente prevalecia antes do templo ser edificado.
Os “altos” eram altares construídos sobre alturas naturais ou artificiais,
provavelmente pela ideia de que ali os homens chegavam mais perto da
Deidade. Tinham sido usados pelos patriarcas, e tinham chegado a ser
tão comuns entre os pagãos que quase eram identificados com a
idolatria. Foram proibidos na lei (Lv_17:3-4; Dt_12:13-14; Jr_7:31;
Ez_6:3-4; Os_10:8). Mas, enquanto o tabernáculo era migratório, e os
meios para um culto nacional eram meramente provisórios, o culto
nesses altos era tolerado, assim que, para explicar sua continuação, é dito
expressamente (v. 2) que Deus ainda não tinha escolhido um lugar
exclusivo e permanente para o Seu culto.
4. Foi o rei a Gibeão para lá sacrificar — A distinção
proeminente deste lugar resultava do fato de que ali estavam, desde
muito tempo, o tabernáculo e o altar de bronze que Moisés fez no deserto
(1Cr_16:39; 1Cr_21:29; 2Cr_1:3-6). A viagem do rei era de importância
pública. Era época de devoção nacional. O rei ia acompanhado pela
nobreza principal (2Cr_1:2), e, como a ocasião era mais provavelmente
uma das grandes festividades anuais, que duravam vários dias, a alta
categoria do ofertante e a sucessão de ofertas diárias, poderão nos ajudar
a compreender a magnitude dos sacrifícios.
5. Em Gibeão, apareceu o SENHOR a Salomão, de noite, em
sonhos — Foi provavelmente no final deste tempo, quando sua mente
tinha sido elevada a um alto estado de ardor religioso pelos serviços
prolongados. Salomão sentiu um desejo intenso, e tinha elevado uma
ardente petição, pelo dom da sabedoria (1Rs_3:9-12). Em seu sonho,
seus pensamentos giravam sobre os temas de sua oração, e sonhou que
Deus lhe tinha aparecido e lhe tinha dado a opção de todas as coisas do
mundo, e que ele pediu sabedoria, e que Deus lhe concedeu sua petição.
Seu sonho não foi senão a repetição imaginária de seu desejo anterior,
mas a concessão dele por Deus foi real.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 16
Vv. 6-15. ESCOLHE A SABIDURIA.
6. Respondeu Salomão — quer dizer, tinha sonhado que respondia.
7. não passo de uma criança — Não em anos, porque já tinha
chegado à maturidade (1Rs_2:9), mas sim era novo e sem experiência
nos assuntos do governo.
10. Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão
pedido tal coisa — As orações que Salomão fez quando estava acordado
foram as que Deus ouviu e recompensou, mas a aceitação delas
manifestou-se neste visão.
15. Despertou Salomão; e eis que era sonho — A impressão viva
e a lembrança indelével que ele tinha deste sonho, a nova energia
comunicada a sua mente, e a corrente de prosperidade material que lhe
veio, deram-lhe a certeza de que este sonho foi por inspiração divina e
que teve sua origem na graça de Deus. Mas a sabedoria foi pedida e
obtida, nem tanto a sabedoria do coração como a da cabeça: ele pediu
sabedoria não para o seu próprio bem, mas para a sua função como rei,
para a administração de justiça, para o governo de um reino e para a
obtenção de conhecimentos científicos em geral.

Vv. 16-28. SEU JULGAMENTO ENTRE DUAS PROSTITUTAS.


16. vieram duas prostitutas ao rei — Os monarcas orientais em
geral administram a justiça pessoalmente, pelo menos em todos os casos
difíceis. Com frequência apelam aos princípios da natureza humana,
quando de outra maneira não conseguem chegar a descobrir a verdade,
ou ver claramente o que se deve fazer quando há diversos testemunhos.
A história moderna do Oriente abunda em causas judiciais nas quais é
dada a sentença pelo resultado de uma prova semelhante a esta, apelando
aos sentimentos naturais das partes litigantes.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 17
1 Reis 4

1-6. OS PRÍNCIPES DE SALOMÃO.


1. O rei Salomão reinou sobre todo o Israel — Este capítulo
contém uma descrição geral do estado e da glória do reino hebreu
durante os anos mais florescentes ou posteriores de seu reinado.
2. Eram estes os seus homens principais — ou funcionários
principais, como é evidente pelo fato de que dois deles se casaram com
filhas de Salomão.
Azarias, filho de Zadoque, o principal — antes, príncipe, como a
palavra hebraica frequentemente significa (Gn_41:45; Êx_2:16;
2Sm_8:18); pela prioridade dada a esta pessoa na lista, parece ter sido o
primeiro-ministro, o posto oficial mais alto depois do rei …
3. secretários — secretários de estado. Sob Davi tinha havido um
só. O emprego de três funcionários neste departamento indica que foi
melhorado pela divisão do trabalho, ou que houve um grande aumento
no trabalho devido a prosperidade, ou por uma correspondência mais
extensa com países estrangeiros.
cronista — historiógrafo ou cronista, posto de grande importância
nas cortes orientais, cujos deveres consistiam em fazer constar os
acontecimentos de cada dia.
4. Benaia, filho de Joiada, era comandante do exército —
Anteriormente capitão da guarda; foi o sucessor de Joabe como
comandante das forças armadas.
Zadoque e Abiatar eram sacerdotes — Só o primeiro cumpria as
funções sagradas; o outro tinha sido banido a sua residência rural, e só
ficava o nome de sumo sacerdote.
5. sobre os oficiais (TB) — governadores das províncias,
mencionados em 1Rs_4:17-19.
ministro de estado, amigo do rei (TB) — Talvez presidente do
conselho privado, e amigo íntimo e favorito. Este alto funcionário
provavelmente tinha sido criado junto com Salomão. Era muito natural
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 18
que concedesse estas honras aos filhos de Natã, considerando a estreita
intimidade do pai com o finado rei e o profundo agradecimento que
Salomão pessoalmente tinha para com o profeta.
6. Adonirão — ou Adorão (2Sm_20:24; 1Rs_12:18; (2Cr_10:18).
superintendente dos que trabalhavam forçados — Não a coleta de
dinheiro ou bens mas sim a partida de trabalhadores (cf. 1Rs_5:13, 14).

Vv. 7-28. SEUS DOZE GOVERNADORES.


7. Tinha Salomão doze intendentes sobre todo o Israel — Os
tributos reais se recolhiam segundo o uso antigo, e ainda se usa assim em
muitas partes do Oriente, não em dinheiro, mas em produtos da terra.
Deve ter havido considerável dificuldade em recolher e remeter estes
dízimos (1Sm_8:15); portanto, para facilitar o trabalho, Salomão
nomeou doze oficiais, cada um dos quais tinha a seu cargo uma tribo ou
distrito particular do país, de onde mensalmente se enviavam as
provisões para a manutenção da casa do rei, tendo sido depositadas
primeiro em “cidades de armazenagem” edificadas para esse propósito
(1Rs_9:19; 2Cr_8:4, 6).
8. Ben-Hur — ou seja filho de Hur. Nas partes rurais da Síria, e
entre os árabes, ainda é comum mencionar as pessoas não por seus
nomes próprios, mas sim dizendo “filho de seu pai”.
21. Dominava Salomão sobre todos os reinos desde o Eufrates
— Todos os reinos pequenos entre o Eufrates e o Mediterrâneo lhe
pagavam tributos. Algo semelhante é a declaração em 1Rs_4:24.
22. Era, pois, o provimento diário de Salomão — Não só para a
mesa do rei como também para todos os que estavam relacionados com a
corte, inclusive, além do estabelecimento real, os de seus consortes reais,
oficiais principais, guardas, visitantes estrangeiros, etc. A quantidade de
farinha fina usada se calcula que eram 240 “alqueires” (8.640 litros); e
de farinha comum 480 “alqueires” (17.280 litros). O número de cabeças
de gado necessárias para o consumo, além das aves e animais de caça,
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 19
que abundavam nas montanhas, não excedia a proporção do que se
necessitava em outras cortes do Oriente.
24. desde a Tifsa — isto é, Thapsacus, cidade grande e florescente
situada sobre a ribeira ocidental do Eufrates, o nome da qual se deriva do
célebre vau próximo, o mais abaixo do rio.
até Gaza — No termo sudoeste, não longe do Mediterrâneo.
25. cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira —
Esta é uma metáfora comum e bela da paz e segurança (Miq_4:4;
Zac_3:10), baseada na prática ainda comum na Síria moderna, de
cultivar estas plantas junto aos muros e as escadas das casas, para fazer
ramagens que deem boa sombra, sob as quais a pessoa se senta e se
recreia.
26. quarenta mil cavalos — Para uso de sua guarda (veja-se
2Cr_9:25).
28. a cevada e a palha — Não se usava a palha para ser jogada aos
animais, mas picada e mesclada com cevada servia para alimentá-los.
animais de trabalho (NTLH) — dromedários (AV), camelos de
uma só corcova, distinguidos por sua grande velocidade.

Vv. 29-34. SUA SABEDORIA.


29. Deu também Deus a Salomão sabedoria, grandíssimo
entendimento e larga inteligência — Altas faculdades mentais, grande
capacidade para receber e para repartir conhecimento.
30. Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do
Oriente — quer dizer, dos árabes, caldeus e persas (Gn_25:6).
toda a sabedoria dos egípcios — o Egito era renomado como sede
da erudição e das ciências, e os monumentos existentes, que demonstram
claramente o estado antigo da sociedade e as artes, manifestam a alta
cultura do povo egípcio.
31. Era mais sábio do que todos os homens — quer dizer, seus
contemporâneos dentro do país ou no estrangeiro.
mais que Etã — ou Jedutum, da família do Merari (1Cr_6:44).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 20
Hemã — (1Cr_15:17-19). Chefe dos músicos do templo e dos
videntes do rei (1Cr_25:5); os outros dois são desconhecidos.
filhos de Maol — Quer se considere como outro nome para Zerá
(1Cr_2:6), ou como um nome comum que significa dança, ou coro, “os
filhos do Maol” significam pessoas eminentemente aptas para a poesia e
a música.
32. Compôs três mil provérbios — que encerravam seus
sentimentos morais e seus observações sagazes sobre a vida e caráter
humanos.
foram os seus cânticos mil e cinco — Os Salmos 72, 127, 132, e o
Cantares de Salomão pertencem a ele.
33. Discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro que está no
Líbano até ao hissopo — Todas as plantas, das maiores até as mais
pequenas. Deus quis conservar relativamente poucas lembranças dos
frutos de sua mente gigantesca. A maior parte dos escritos que aqui lhe
atribuem, foram destroçados pelo tempo, ou desapareceram no cativeiro
babilônico, provavelmente por não ser inspirados.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 21
1 Reis 5

Vv. 1-6. HIRÃO MANDA SERVOS FELICITAREM SALOMÃO.


1. Enviou também Hirão, rei de Tiro, os seus servos a Salomão
— O neto do contemporâneo de Davi. (Kitto.) O próprio Hirão. (Winer e
outros). As relações amigáveis que o rei de Tiro tinha cultivado com
Davi, aqui são renovadas com seu filho e sucessor, por meio de uma
mensagem de felicitação por ter subido ao trono de Israel. A aliança
entre as duas nações tinha sido mutuamente benéfica pelo estímulo que
deu ao comércio. Sendo Israel nação agrícola provia grãos e azeite,
enquanto que os tírios, povo comercial, dava em troca suas manufaturas
fenícias, assim como também os produtos de países estrangeiros. Um
tratado especial foi feito agora para o progresso daquela empresa que foi
a obra maior do reinado esplêndido e pacífico de Salomão.
6. Dá ordem, pois, que do Líbano me cortem cedros — Em
nenhuma outra parte Salomão poderia ter conseguido materiais para a
obra de carpintaria do edifício que havia projetado. No tempo de
Salomão, os bosques do Líbano que estavam junto ao mar, pertenciam
aos fenícios, e como a madeira era um ramo lucrativo de suas
exportações, se empregavam constantemente um número imenso de
trabalhadores para cortar as árvores, assim como também no transporte e
na preparação das madeiras. Hirão estipulava prover a Salomão com uma
quantidade tão grande de cedros e ciprestes quanto ele necessitasse; e
como obrigação adicional, comprometeu-se a render o importante
serviço de fazê-la baixar, provavelmente pelo rio Dog, até o mar, e
transportá-la em jangadas ao longo da costa até o porto de Jope
(2Cr_2:16), de onde facilmente achariam meios de levá-la a Jerusalém.
os meus servos estarão com os teus — As operações seriam em
tão grande escala que só os tírios seriam insuficientes. Foi necessário
dividir o trabalho, enquanto os primeiros faziam o trabalho que requeria
artesãos destros, Salomão se comprometeu a prover os peões.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 22
Vv. 7-12. PROVÊ MADEIRA PARA EDIFICAR O TEMPLO.
7. Bendito seja, hoje, o SENHOR — esta linguagem não é uma
evidência de que Hirão fosse adorador do verdadeiro Deus, pois talvez o
disse só no sentido politeísta de reconhecer ao Senhor como o Deus dos
hebreus (veja-se 2Cr_2:12).
8. Enviou Hirão mensageiros a Salomão, dizendo: Ouvi o que
mandaste dizer. Farei toda a tua vontade — O contrato foi feito
formalmente em documento escrito (2Cr_2:11), o qual, segundo Josefo,
foi conservado tanto nos arquivos judeus como nos arquivos tírios.
10. madeira de faias (RC) — antes, madeira de cipreste (RA).
11. para sustento da sua casa — Esta era a provisão anual para o
palácio, diferente daquela que se menciona em 2Cr_2:10, que era para os
trabalhadores do bosque.

Vv. 13-18. OS ARTESÃOS E PEÕES DE SALOMÃO.


13. Formou o rei Salomão uma leva de trabalhadores — A nova
menção do dom de sabedoria que Deus deu a Salomão, se faz
evidentemente com o fim de preparar para o relato destas fortes mas
prudentes medidas que tomou para efetuar com êxito o seu trabalho. Tão
grande alcance de poder arbitrário como se indica nesta formação
obrigatória, podia ter produzido grande descontentamento, se não
oposição, a não ser pelo sábio arranjo que fez segundo o qual os
trabalhadores ficavam dois meses de cada três em seus lares; além disso,
o sagrado do trabalho, fez com que o povo se dispusesse a desempenhar
estes trabalhos forçados. O transporte de cargas e o trabalho incômodo
de escavar as pedreiras, foi dado ao resto dos cananeus (1Rs_9:20;
2Cr_8:7-9) e aos prisioneiros de guerra do tempo de Davi, em número de
153.600. O emprego de pessoas daquela condição em países orientais
para as obras públicas, faria que este acerto fosse menos estimado.
17. que trouxessem pedras grandes — A pedra do Líbano é “dura,
calcária, esbranquiçada, e sonora, como pedra franco”. (Shaw). A mesma
pedra branca e bela se consegue em todas as partes da Síria e Palestina.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 23
pedras lavradas — Ou nitidamente polidas, como o indica a
palavra hebraica (Êx_20:25). Tanto os edificadores judeus como os tírios
foram empregados em lavrar estas grandes pedras.
18. os giblitas — (Js_13:5), faz tempo que se considera que esta é a
tradução preferível. Esta tradução deve ceder à outra que recentemente
foi proposta, mediante uma ligeira mudança no texto hebraico, e que se
traduziria assim: “Os edificadores de Salomão e os de Hirão as cortaram
e as chanfraram” (Thenius). Estas grandes pedras chanfradas, algumas de
vinte pés e outras de trinta de comprimento, e de cinco a seis de largura,
ainda se veem nas estruturas que estão ao redor do lugar que ocupou o
templo; e, segundo a opinião dos observadores mais competentes, são as
que se empregaram originalmente “para se edificar a casa”.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 24
1 Reis 6

Vv. 1-4. A EDIFICAÇÃO DO TEMPLO DE SALOMÃO.


2. A casa que o rei Salomão edificou ao SENHOR — As
dimensões se dão em côvados, os quais se devem calcular segundo a
norma antiga (2Cr_3:3), ou em côvado santo (Ez_40:5; Ez_43:13), um
palmo mais longo que o côvado comum ou posterior. É provável que
aqui só se dê a altura do interior.
3. O pórtico — Este se estendia através de todo o fronte (veja-se
2Cr_3:4).
4. janelas de gelosias fixas (TB) — janelas de grades que podem
ser abertas ou fechadas, para deixar sair os vapores das lâmpadas e a
fumaça do incenso, e para que entre a luz. (Keil).

Vv. 5-10. AS CÂMARAS DO TEMPLO.


5. Contra a parede da casa, tanto do templo como do oráculo,
edificou andares ao redor — Por três lados havia aposentos de três
pisos, cada piso mais largo que o de baixo, pois os muros eram mais
estreitos conforme subiam, fazendo uma diminuição sobre a qual
descansavam as vigas do segundo piso, sem entrar na própria parede.
Chegava-se a estes aposentos do lado direito, no interior do térreo, por
uma escada de pedra em forma de caracol que conduzia aos dois andares
superiores.
7. Ao edificar-se ... não se ouviu na casa martelo, nem machado
— Uma pedreira subterrânea foi descoberta há pouco perto de Jerusalém,
onde se supõe que fossem cortadas as pedras para o templo. Nesta
pedreira se acha evidência inequívoca de que as pedras eram preparadas
ali, porque há partes do mesmo tamanho e da mesma natureza de pedra
que a das antigas ruínas do templo. Dali, provavelmente, eram levadas
sobre paus de macarrão pelo vale Tyropean até o próprio templo. (Porter,
Tent and Khan).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 25
9, 10. Assim, edificou a casa — O próprio templo aqui se distingue
das alas ou câmaras unidas a ele. O teto do templo era de cedro.
10. Os andares que edificou ... eram de cinco côvados de altura
— Essa era a altura dos três andares.
e os ligou com a casa com madeira de cedro — As vigas destes
aposentos que estavam aos lados, descansavam no muro do templo,
sobre uma espécie de degrau. A ala se unia à casa, e se comunicava com
o templo, em tal forma que não prejudicava o santuário. (Keil).

Vv. 11-14. AS PROMESSAS DE DEUS PARA O TEMPLO.


11. veio a palavra do SENHOR a Salomão — Provavelmente por
meio de algum profeta. Foi muito oportuna, em primeiro lugar com o
propósito de alentá-lo a continuar edificando, confirmando novamente a
promessa feita a seu pai Davi (2 Sm_7:12-16); e, em segundo lugar, para
o advertir contra o orgulho e a presunção de supor que depois da
construção de tão magnífico templo, ele e o povo teriam sempre a
presença e o favor de Deus. A única condição sob a qual se poderia
esperar aquela bênção, foi declarada expressamente. A morada de Deus
entre os filhos de Israel, refere-se àqueles símbolos de Sua presença no
templo, os quais eram os sinais visíveis de Sua relação espiritual com
aquele povo.

Vv. 15-22. O REVESTIMENTO E ADORNO DO TEMPLO.


15. revestiu as paredes da casa por dentro com tábuas de cedro;
desde o soalho da casa até ao teto, cobriu com madeira por dentro —
As paredes foram revestidas de madeira de cedro; o piso foi assoalhado
com madeira de cipreste. O interior foi dividido em dois compartimentos
por meio de portas giratórias, as quais se abriam e se fechavam com duas
cadeias de ouro; a peça posterior ou interior, o lugar santíssimo, era de
vinte côvados de comprimento e vinte de largura; o fronte, ou peça
exterior, o lugar santo, tinha quarenta côvados. A madeira de cedro era
belamente adornada com figuras em relevo, que representavam ramos de
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 26
folhas e flores, querubins e palmeiras; e todo o interior revestido de ouro,
de modo que não se via nem madeira nem pedra; nada encontrou o olho
senão ouro puro, liso ou cinzelado ricamente.
31-35. Para entrada do Santo dos Santos — A porta ao lugar
santíssimo era de madeira de oliveira maciça e adornada com figuras; a
do lugar santo era de cipreste, os lados de madeira de oliveira.
36. o átrio interior — Era para os sacerdotes, e seu muro, que tinha
marquise de cedro, se diz que era tão baixo que o povo podia ver acima
dele.

Vv. 37, 38. O TEMPO OCUPADO EM EDIFICÁ-LO.


37. No ano quarto, se pôs o fundamento — O edifício foi
começado no segundo mês do quarto ano, e terminado no oitavo mês do
décimo primeiro ano do reinado de Salomão, compreendendo um
período de sete anos e meio, que aqui se calcula em números redondos.
Não foi um edifício muito grande, mas sim muito esplêndido. Foram
necessários grande cuidado e habilidade, e uma boa distribuição do
trabalho. O imenso número de operários empregados, junto com a
preparação prévia dos materiais, serve para explicar o tempo tão curto
ocupado no processo da construção.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 27
1 Reis 7

V. 1. A CONSTRUÇÃO DA CASA DE SALOMÃO.


Salomão edificou a sua casa, levando treze anos (TB) — O tempo
ocupado em edificar o seu palácio foi quase o dobro do empregado na
ereção do templo [1Rs_6:38], porque não tinha havido a mesma
preparação prévia nem havia a mesma urgência como em prover um
lugar de culto, do qual dependesse grandemente o bem-estar nacional.

Vv. 2-7. A CASA DO LÍBANO.


2. Edificou a Casa do Bosque do Líbano — Não se entende
claramente se esta casa era outro edifício diferente do anterior, ou se sua
casa, a Casa do Bosque do Líbano, e a da filha de Faraó, eram parte de
um só grande palácio. Também é difícil decidir qual foi a origem do
nome; alguns supõem que se chamava assim por estar edificada sobre o
Líbano; outros, que estava dentro ou perto de Jerusalém, mas que
continha tão profusa quantidade de colunas de cedro que deu origem a
este nome tão peculiar. Temos uma peculiaridade semelhante no nome
do edifício que chamamos “a casa Índia Oriental”, embora esteja
localizada em Londres. — A descrição está de acordo com o arranjo dos
palácios orientais. O edifício estava em meio de uma área oblonga, a
qual estava rodeada por uma muralha, e contra esta eram edificadas as
casas e escritórios dos que estavam associados com a corte. O edifício
em si era oblongo, e consistia em dois pátios quadrados coligados com
uma longa sala, também oblonga, que formava o centro, e que tendo 100
côvados de comprimento por 50 de largura, era propriamente a “Casa do
Bosque do Líbano”, por ser a parte onde estavam as colunas de cedro
desta sala. Na frente estava o pórtico do juízo, o qual se dedicava à
transação de assuntos públicos. A um lado desta grande sala estava a
casa do rei, e do outro, o harém, ou compartimento real para a filha de
Faraó (Et_2:3, 9). Este arranjo do palácio está de acordo com o estilo
oriental de edificar, segundo o qual uma grande mansão sempre consistia
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 28
em três divisões, e casas separadas, todas unidas por portas e passagens,
vivendo os homens num extremo, e o elemento feminino da família no
outro, enquanto que as peças públicas ocupavam a parte central do
edifício.
10. O fundamento era de pedras de valor, pedras grandes —
Pedras enormes, que correspondem exatamente com as medidas dadas,
se acham em Jerusalém hoje em dia. Não só os muros do alicerce até as
vigas do teto foram edificados com grandes pedras lavradas, mas
também que os pátios espaçosos ao redor do palácio estavam
pavimentados com grandes pedras quadradas.
12. assim era também o átrio interior da Casa do SENHOR —
Deveria ser: como no átrio interior da Casa do Senhor; neste palácio,
assim como no templo, havia fileiras de pedras lavradas e vigas de cedro
que formavam o muro que os rodeava.

Vv. 13-51. OS TRABALHOS DE HIRÃO.


13. Enviou o rei Salomão mensageiros que de Tiro trouxessem
Hirão — Os tírios e outros habitantes da costa fenícia eram os mais
renomados artistas e trabalhadores em metais do mundo antigo.
14. filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali — Em
2Cr_2:14, diz-se que sua mãe era das filhas de Dan. A discrepância
aparente pode se explicar assim: a mãe de Hirão, embora pertencia à
tribo de Dan, casou-se com um naftalita, de modo que casada mais tarde
com um tírio, poderia dizer-se que era uma viúva da tribo de Naftali. Ou,
se era nativa da cidade de Dan (Laish), pode dizer-se que era das filhas
de Dan, por ser nascida ali, e da tribo de Naftali, como realmente lhe
pertencia.
trabalhava em bronze — referindo-se particularmente aos trabalhos
descritos neste capítulo, mas em 2Cr_2:13 sua perícia artística apresenta-
se como estendida a uma grande variedade de departamentos; e, de fato,
por seus grandes talentos naturais e perícia adquirida, foi nomeado
superintendente da execução de todas as obras de arte do templo.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 29
15-22. duas colunas de bronze; a altura de cada uma era de
dezoito côvados — Foram feitas de bronze, que tinha sido tirado do rei
de Zoba (1Cr_18:8). Em 2Cr_3:15, diz-se que eram de trinta e cinco
côvados de altura. Ali, entretanto, é dado o comprimento das seções
juntas; enquanto aqui o comprimento das colunas é dado separadamente.
Cada coluna era de dezessete côvados e meio, que se diz em números
redondos como dezoito. Suas dimensões em medidas inglesas são como
segue: as colunas sem os capitéis, mediam trinta e dois pés e meio de
comprimento; e sete pés de diâmetro; e se eram ocas as colunas, como
pensa Whiston, em sua tradução de Josefo (Jr_52:21), teriam umas três
polegadas e meia de espessura; de modo que toda a fundição de uma
coluna deve ter sido entre dezesseis e vinte toneladas de peso. A altura
dos capitéis era de oito pés e três quartos; e com a mesma espessura de
metal, não pesaria menos de sete ou oito toneladas cada um. A natureza
do trabalho na terminação destes capitéis nos é relatado em 1Rs_7:17-22.
As colunas colocadas, alcançariam quarenta pés de altura. (Napier’s
Metal).
17. redes de malhas (TB) — Obra que se assemelhava a ramos de
palmeira, e grinaldas tecidas em forma de cadeia, para formar algo como
coroa. Sete destas rodeavam em bordados cada capitel, e sobre elas e
debaixo delas havia franjas, cem em cada fileira; e duas fileiras de
granadas trespassadas em cadeias (2Cr_3:16) rodeavam o capitel
(1Rs_7:42; cf. 2Cr_4:12-13; Jr_52:23), o qual tinha forma de tigela ou
globo (1Rs_7:41). Estas fileiras tinham por fim formar uma união com a
obra ornamental, para que não estivesse separada; estavam colocadas de
tal maneira que estavam sobre os trabalhos em forma de cadeia, e abaixo
do lugar onde estavam os trabalhos em forma de ramos.
19. obra de lírios — Adornos belos semelhantes aos caules, folhas
e flores de lírio, de dimensões grandes, como correspondia à sua altura.
21. Jaquim … Boaz — Estes nomes eram simbólicos, e indicavam
a fortaleza e estabilidade, não do templo material, porque estas colunas
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 30
foram destruídas junto com o templo (Jr_52:17), mas sim do reino
espiritual de Deus, que estava simbolizado pelo templo.
23-26. Fez também o mar de fundição — No tabernáculo não
havia um copo semelhante; a “fonte” servia para o duplo propósito de
lavar as mãos e os pés dos sacerdotes, assim como também as partes dos
sacrifícios. Mas no templo havia copos especiais para estes serviços.
(Veja-se 2Cr_4:6). O mar de fundição era um imenso copo semicircular,
que media dezessete pés e meio de diâmetro, e oito pés e três quartos de
profundidade, e nele cabiam de 64.000 a 80.000 litros de água. Com
estas medidas contando três e meia polegadas de espessura, não poderia
pesar menos de 25 a 38 toneladas, tudo numa só peça de fundição. O
bordo estava cinzelado com flores de lírio, e tinha figuras de bois
esculpidas na parte de fora em todo o redor, em número de 300; e estava
posto sobre um pedestal de doze bois. Estes bois devem ter sido de
tamanho considerável, como os bois assírios, de modo que suas pernas
dariam consistência e força para sustentar tão grande peso; porque,
quando estava cheio de água o copo, todo o peso seria como de 100
toneladas. (Napier). (Veja-se 2Cr_4:5)
27-39. Fez também de bronze dez suportes — Estes eram
carrinhos de mão ou carros de quatro rodas, para o apoio e transporte das
fontes. A descrição de sua estrutura dá a entender que foram
elegantemente preparados, e habilmente adaptados a seu propósito. Não
descansavam sobre os eixos mas sim sobre quatro suportes pegados aos
eixos, de modo que os lados lavrados se elevavam grandemente sobre as
rodas. Eram todos exatamente iguais em forma e tamanho. As fontes que
eram levadas sobre estas bases, eram capazes de conter 1.200 litros de
água, mais de uma tonelada. O todo, quando estava cheio de água, não
pesaria menos de duas toneladas. (Napier).
40-45. fez Hirão os caldeirões, e as pás, e as bacias — Estes
versículos contêm uma enumeração geral dos trabalhos de Hirão, como
também os já mencionados como coisas menores. Os artistas tírios são
mencionados frequentemente pelos escritores antigos, como artífices
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 31
peritos em fabricar e gravar taças e bacias de metal; e não é de se
estranhar que os achemos empregados por Salomão em fazer os
utensílios de ouro e bronze para o templo e seus palácios.
46. O rei os fez fundir na planície do Jordão (TB) — Zaretã
(Js_3:16; 1Rs_4:12) ou Zereda (2Cr_4:17), estava sobre a ribeira do
Jordão no território de Manassés ocidental. Sucote estava situado na
ribeira oriental do Jordão, ao vau do rio perto da boca do Jaboque. Um
motivo dado pelos comentadores para que as fundições fossem fitas ali, é
que a tal distância de Jerusalém, aquela cidade não seria incomodada
pela fumaça e os vapores nocivos, inevitavelmente ocasionados pelo
processo. (Nota na Bagster’s Bible). Mas o verdadeiro motivo se acha na
natureza do solo; nota marginal “espessura do solo”. Aquela parte do
vale do Jordão abunda em marga ou depósitos de carbonato de cal com
argila e areia. A argila e areia são os materiais para fundir o bronze. As
grandes quantidades de metal contidas em um destes esvaziados, não
cabiam num só forno, mas sim exigiam uma série de fornos,
especialmente para uma fundição como “o mar de bronze” – se enchiam
os fornos com metal, e se esquentava e esvaziava ao mesmo tempo,
deixando correr o metal fundido no molde. Portanto se estabeleceu uma
fundição nacional na planície do Jordão. (Napier).
48. o altar de ouro — o altar de incenso.
49. castiçais de ouro finíssimo — Feitos, provavelmente, segundo
o modelo do que havia no tabernáculo, os quais, junto com outros artigos
de mobiliário, foram depositados na templo com a devida honra, como
relíquias sagradas. Mas parece que estes não se usavam no serviço do
templo; porque Salomão fez fontes novas, mesas e castiçais, dez de cada
um. (Veja-se mais informação a respeito de dimensões e móveis do
templo, em 2Cr_3:1 – 5:14).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 32
1 Reis 8

Vv. 1-12. A DEDICAÇÃO DO TEMPLO.


2. na ocasião da festa, no mês de etanim — A inauguração
pública e formal deste lugar de culto nacional não se realizou senão onze
meses depois do término do edifício. A demora provavelmente se
originou pelo desejo de Salomão de escolher a oportunidade mais
conveniente, quando houvesse uma assembleia geral do povo em
Jerusalém (v. 2), e isto não sucedeu senão até o ano seguinte. Aquele foi
o ano do Jubileu, e Salomão resolveu dar princípio a solene cerimônia
uns poucos dias antes da festa dos Tabernáculos, que era a data mais
apropriada, visto que aquela festa anual tinha sido instituída em
comemoração de que os israelitas tinham vivido em tendas durante sua
estada no deserto; assim como também em comemoração do
Tabernáculo erguido naquele então, no qual Deus prometeu habitar e
morar entre o Seu povo, santificando-o com Sua glória. E como o
tabernáculo tinha que ser substituído pelo templo, havia uma
conveniência admirável em escolher a festa dos tabernáculos como a
data para a dedicação do novo lugar de culto, e para pedir que os
mesmos privilégios que teve o tabernáculo, os tivesse o templo, e que
nele se manifestassem a presença e glória divinas. Na data assinalada
para a inauguração, o rei deu ordem para que todos os chefes e
representantes da nação se trasladassem a Jerusalém e tomassem parte na
augusta procissão. O primeiro lugar foi tomado pelo rei e os anciãos do
povo, cujo avanço foi lento, pois os sacerdotes se iam detendo para
oferecer um imenso número de sacrifícios em vários pontos do caminho
por onde a procissão passava; logo vinham os sacerdotes trazendo a arca
e o tabernáculo, o velho tabernáculo mosaico que foi trazido de Gibeão.
No final vinham os levitas, trazendo os copos e ornamentos que
pertenciam ao velho santuário, para os depositar na nova casa de Deus.
Houve uma pequena diferença neste modo de proceder e o da ordem de
marcha estabelecido no deserto (Nm_3:31; Nm_4:15); mas se observou
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 33
devidamente a ordem. A arca foi depositada no oráculo, o lugar
santíssimo, sob as asas dos querubins—não os querubins mosaicos, que
estavam firmemente aderidos à arca (Êx_37:7-8), e sim os que foram
feitos por Salomão, que eram muito maiores.
8. Os varais sobressaíam — Um pouco, de modo que sobressaíam
(veja-se Êx_25:15; Nm_4:6), e eram deixados nessa posição. O
propósito era que estes varais sobressalentes servissem como guia ao
sumo sacerdote para conduzi-lo àquele lugar, onde, uma vez por ano,
entraria para oficiar perante a arca, de outra maneira ele poderia perder o
caminho na escuridão, estando a arca completamente coberta pelas asas
dos querubins.
9. Nada havia na arca senão as duas tábuas de pedra — Nunca
havia nenhuma outra coisa na arca, os artigos mencionados em Heb_9:4
não estavam dentro e sim ao lado dela, tendo sido postos no lugar
santíssimo diante do testemunho. (Êx_16:33; Nm_17:10).
10, 11. uma nuvem encheu a Casa do SENHOR — A nuvem era
o símbolo visível da presença divina, e ao ocupar o santuário, era
testemunho da grata aceitação de Deus do templo, assim como do
tabernáculo. (Êx_40:34). A deslumbrante claridade, ou antes, talvez. A
densa e prodigiosa escuridão da nuvem, impressionou aos sacerdotes,
como anteriormente tinha feito a Moisés, com tal assombro e terror
(Lv_16:2-13; Dt_4:24; Êx_40:35) que eles não puderam ficar ali. Assim
o templo veio a ser o lugar onde se revelou a presença divina, e o Rei de
Israel estabeleceu a Sua residência real.

Vv. 12-21. A BÊNÇÃO DE SALOMÃO.


12. Então, disse Salomão — Para estabelecer a confiança dos
sacerdotes e do povo, o rei os lembrou de que a nuvem, em vez de ser
um sinal anunciador de mal, era sinal de aprovação.
O SENHOR declarou — Não em termos rápidos, mas por um
curso contínuo de ação (Êx_13:21; Êx_24:16; Nm_9:15).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 34
13. edifiquei uma casa para tua morada — este é um apóstrofo
dirigido a Deus, como que ele compreendia sua chegada por meio da
nuvem e que lhe dava as boas-vindas ao entrar como hóspede ou
habitante em Sua morada permanente, a qual, a seu mandado, tinha sido
preparada para O receber.
14. Voltou, então, o rei o rosto — Do templo, onde tinha estado
olhando o movimento da nuvem mística, e enquanto o povo estava em
pé, por uma parte como em atitude de devoção, e por outro lado por
respeito à realeza, o rei proferiu uma fervente expressão de louvor a
Deus pelo cumprimento de Sua promessa (2Sm_7:6-16).

Vv. 22-61. SUA ORAÇÃO.


22. Pôs-se Salomão diante do altar do SENHOR — No átrio,
sobre um púlpito de metal erigido para a ocasião (2Cr_6:13), diante do
altar dos sacrifícios queimados, e rodeado por um enorme grupo de
pessoas. Tomando a atitude de suplicante, de joelhos (v. 54, cf.
2Cr_6:24), e com mãos levantadas, ele executou o solene ato de
consagração, um ato notável, entre outras circunstâncias, porque foi
feito, não pelo sumo sacerdote ou alguma pessoa da família aarônica,
mas pelo rei em pessoa, quem podia ministrar o referente às coisas
santas, mas não as mesmas. Esta sublime oração, que expressa
sentimentos da mais elevada piedade e a mais profunda humildade,
naturalmente fez referência às bênçãos nacionais e à maldição contida na
lei — e a carga dela — depois de tributar louvor a Deus pela concessão
daquelas, fez uma ardente súplica pela libertação desta. Especifica sete
casos em que se necessitaria a misericordiosa interposição de Deus; e
ardentemente a pede sob a condição de que o povo orasse “para com”
aquele lugar santo. A bênção dirigida ao povo no final, é
substancialmente uma breve recapitulação da oração precedente.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 35
Vv. 62-64. SEU SACRIFÍCIO DE OFERTA PACÍFICA.
62. o rei e todo o Israel com ele ofereceram sacrifícios diante do
SENHOR — Esta foi uma oferta queimada com todos os seus
requisitos, e sendo a primeira oferecida no altar do templo, foi, como no
caso similar do tabernáculo, consumida por fogo milagroso do céu
(Veja-se 2Cr_7:1). Em ocasiões notáveis, os pagãos ofereciam
sacrifícios de cem vítimas, e até de mil animais, mas os sacrifícios
públicos oferecidos por Salomão nesta ocasião, superaram a todas as
outras ofertas da história, sem ter em conta os oferecidos por indivíduos
particulares, que sem dúvida, chegaram a um grande número adicional.
Uma grande parte dos sacrifícios eram ofertas pacíficas, as quais
proporcionaram ao povo a oportunidade de ter festejos.
63. Assim, o rei e todos os filhos de Israel consagraram a Casa
do SENHOR — A dedicação não era cerimônia ordenada pela lei, mas
sim foi feita por causa dos sentimentos de reverência que naturalmente
inspiram os edifícios destinados ao culto divino.
64. Aquele mesmo dia o rei santificou o centro do átrio — Isto é,
toda a extensão do pátio dos sacerdotes. Embora o altar de ofertas
queimadas fosse grande (2Cr_4:1), foi totalmente inadequado para o
imenso número de sacrifícios que distinguiram a ocasião. A santificação
do pátio do meio foi temporário, para responder às exigências de uma
ocasião extraordinária, em ajuda ao altar estabelecido, e no final foi
tirado do sagrado festival.

V. 65. O POVO PRAZEROSO.


desde a entrada de Hamate até ao rio do Egito — de um ponto
do reino até o outro. O povo concorria de todas as partes.
durante sete dias, e até outros sete dias, isto é, durante quatorze
dias — Os sete primeiros se ocuparam na dedicação, e os outros sete
para comemorar a festa dos tabernáculos (2Cr_7:9). A forma especial de
expressão indica que os quatorze dias não foram contínuos, e que houve
algum intervalo por causa do dia da expiação que caía no dia dez do
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 36
sétimo mês (v. 2), e que o último dia da festa dos tabernáculos foi no dia
vinte e três (2Cr_7:10), quando o povo voltou aos seus lares com
sentimentos da maior alegria e gratidão “por causa de todo o bem que o
SENHOR fizera a Davi, seu servo, e a Israel, seu povo”.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 37
1 Reis 9

Vv. 1-9. A ALIANÇA DE DEUS NUMA SEGUNDA VISÃO


COM SALOMÃO.
1. tendo acabado Salomão de edificar a Casa do SENHOR — O
primeiro versículo une-se com o versículo onze, sendo parentético todo o
conteúdo entre os versículos 2 a 10.
2. o SENHOR tornou a aparecer-lhe — Esta aparição, como a
anterior em Gibeão, provavelmente foi feita numa visão sobrenatural, na
noite imediata a dedicação do templo (2Cr_7:12). A ideia desta aliança
corresponde a esta opinião, porque consiste em respostas diretas a sua
solene oração inaugural. (o v. 3 é resposta à petição de 1Rs_8:29; os vv.
4, 5 são a resposta de 1Rs_8:25, 26; e os vv. 6-9 de 1Rs_8:33-46; veja-se
também Dt_29:22-24).
8. E desta casa, agora tão exaltada — Alta, quer por sua situação,
porque estava edificada num colina, e portanto, conspícua a todo mundo,
ou alta com relação a privilegio, honra ou renome; ou, esta “casa do
Altíssimo”, apesar de toda sua beleza e magnificência, será destruída, e
ficará em tal estado de ruínas e degradação que será um monumento ao
justo juízo de Deus. O relato desta segunda visão, em que se repetem as
condições da aliança de Deus com Salomão e as consequências da
violação da mesma, se inserida aqui como uma introdução apta a
narração que está por relatar-se, a respeito das empresas comerciais e os
desejos ambiciosos de glória mundana; porque este rei, permitindo a
imigração de gente estrangeira e o gosto pelos luxos estrangeiros,
rapidamente corrompeu sua própria mente e a de seus súditos, de modo
que eles e seus filhos se apartaram de Deus (v. 6).

Vv. 10-23. OS OBSÉQUIOS MÚTUOS DE SALOMÃO E HIRÃO.


10. Ao fim de vinte anos — Sete anos e meio foram empregados
em edificar o templo, e doze e meio ou treze, em erigir o seu palácio
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 38
(1Rs_7:1; 2Cr_8:1). Este versículo é só uma repetição do primeiro,
necessária para prosseguir com o relato.
11. deu o rei Salomão a Hirão vinte cidades na terra de Galileia
(RC) — Segundo Josefo, estavam situadas a noroeste da Galileia,
próximas a Tiro. Embora estavam dentro das fronteiras da terra
prometida (Gn_15:18; Js_1:4), nunca tinham sido conquistadas até
então, e eram habitadas por pagãos cananeus (Jz_4:2-13; 2Rs_15:29).
Provavelmente foram dadas a Hirão, cujos domínios eram pequenos,
como remuneração por seus importantes serviços ao prover operários,
materiais e uma imensa quantidade de ouro lavrado (v. 14) para o templo
e outros edifícios. (Michaelis). O ouro, entretanto, como pensam alguns,
pode ter sido a soma das multas que Hirão pagou a Salomão por não ter
podido responder a seus enigmas e aforismos, os quais, segundo Josefo,
em sua correspondência particular, mantinham os dois soberanos. Tendo
recusado Hirão estas cidades, provavelmente devido ao fato de que por
sua situação terra adentro não eram apropriadas para seu povo marítimo
e comercial. Salomão recompensou a seu aliado em outra forma; e,
tomando estas cidades em seus próprias mãos, reparou seus muros
destroçados, e as fez colônias de hebreus (2Cr_8:2).
15-24. A razão por que Salomão impôs o trabalho forçado é esta
— O tributo se refere tanto a homens como a dinheiro, e a necessidade
de Salomão a fazer, resultou das muitas obras gigantescas que ele se
propôs erigir.
Milo — Parte da fortaleza de Jerusalém sobre o Monte Sião
(2Sm_5:9; 1Cr_11:8), ou uma fileira de baluartes de pedras ao redor do
Monte Sião, sendo Milo uma grande torre angular daquela muralha
fortificada (1Rs_11:27; 2Cr_32:5).
o muro de Jerusalém — reparando algumas brechas nele (cap.
11:27), ou estendendo-o para incluir todo o Monte Sião.
Hazor — Fortificada por ser uma cidade importante situada na
fronteira setentrional do país.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 39
Megido (hoje Leijun) — Situada no caminho das caravanas entre o
Egito e Damasco, era a entrada a norte da Palestina pelo lado das
planícies ocidentais, e portanto foi fortificada.
Gezer — Sobre os limites ocidentais de Efraim e, embora fosse
cidade levítica, foi ocupada por cananeus. Tendo sido conquistada pelo
rei do Egito, quem por alguma causa a tinha atacado, a deu como dote a
sua filha, e foi fortificada por Salomão.
17. Bete-Horom, a baixa — Situada no caminho de Jope a
Jerusalém. Era um caminho tão transitado que precisava ser fortemente
guarnecido.
18. Baalate — Baalbek.
Tadmor — Palmira, entre Damasco e o Eufrates, foi reedificada e
guarnecida para proteger-se de invasões do norte da Ásia. Em levar a
cabo estas obras e várias outras que empreendia por todo o reino,
especialmente no norte, onde Rezom de Damasco, seu inimigo, poderia
mostrar-se perigoso, Salomão empregou um número imenso de cananeus
como escravos (2Cr_2:18), tratava-os como prisioneiros de guerra, e
estavam obrigados a fazer os trabalhos mais duros e penosos, enquanto
que os israelitas eram ocupados só em empregos honoráveis.
23. Os principais oficiais que estavam sobre a obra de Salomão
— Veja-se em 2Cr_8:10).

Vv. 24-28. OS SACRIFÍCIOS ANUAIS DE SALOMÃO.


24, 25. três vezes por ano — Na páscoa, no Pentecostes e na festa
dos tabernáculos (2Cr_8:13; 2Cr_31:3). As circunstâncias mencionadas
nestes dois versículos formam uma conclusão natural ao relato de seus
edifícios, e dão a entender que seu propósito ao erigir os de Jerusalém foi
corrigir alguns defeitos existentes no começo de seu reinado (Veja-se
1Rs_3:1-4).
26. Eziom-Geber, que está junto a Elate — Estes eram portos
vizinhos situados na cabeceira do braço oriental ou elanítico do Mar
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 40
Vermelho. Foram enviados para lá carpinteiros de naves e marinheiros
para os navios de Salomão (veja-se 2Cr_8:18, 19).
Eziom-Geber — Espinhaço de gigante, assim chamado por um
recife que há à entrada do porto.
Elate — Ou Elim, “as árvores”—um bosque de terebintos ainda
existe no nascimento do golfo.
28. Ofir — Nome geral, como aquele que nós damos às Índias
Orientais ou Índias Ocidentais que estão por todas as regiões meridionais
sobre as costas da África, Arábia ou Índia, conhecidas naquele então.
(Heeren).
quatrocentos e vinte talentos de ouro — (Veja-se 2Cr_8:18), a
razão de 125 libras troy, ou 1.500 onças por talento, e quatro libras
esterlinas por onça, isto chegaria a ser 2.604.000 libras.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 41
1 Reis 10

Vv. 1-13. A RAINHA DE SABÁ ADMIRA A SABEDORIA DE


SALOMÃO.
1. a rainha de Sabá — Quanto a onde estava seu país, alguns
creem que era o reino sabeu do Iêmen, cuja capital era Sabá, na Arábia
Feliz; outros, que era na Etiópia africana, ou Abissínia, rumo ao sul do
Mar Vermelho. As opiniões em geral se inclinam a favor da primeira.
Esta opinião harmoniza com a linguagem de nosso Senhor, pois o Iêmen
quer dizer “sul”; e este país que se estendia até as costas do Oceano
Índico, em tempos antigos, pode haver-se considerado como “as partes
extremas da terra”.
Tendo ... ouvido a fama de Salomão — Sem dúvida por meio da
frota que ia a Ofir.
com respeito ao nome do SENHOR — Isto indica seu grande
conhecimento de Deus, ou as coisas extraordinárias que Deus fez para
ele ou por ele.
perguntas difíceis — Enigmas ou adivinhações. Os orientais se
deleitam neste tipo de exercícios mentais, e provam a sabedoria pelo
poder e a prontidão em resolvê-los.
2. Chegou a Jerusalém com mui grande comitiva; com camelos
— Uma longa caravana destes animais forma o modo comum de viajar
da Arábia; e os presentes mencionados consistiam nos produtos naturais
daquele país. Claro, que uma comitiva real era maior e mais importante
que uma caravana ordinária.
6. Foi verdade a palavra que a teu respeito ouvi na minha terra
e a respeito da tua sabedoria — As provas que ela teve da sabedoria de
Salomão foram não só sua conversação, mas também suas obras: o
esplendor de seu palácio, o esplendor de sua cozinha e de sua mesa, a
ordem de sua corte, as categorias e os trajes primorosos de seus servos, e
sobretudo, o viaduto arqueado que levava de seu palácio ao templo
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 42
(2Rs_16:18), do qual foram descobertos recentemente alguns restos—a
afligiram com assombro [Veja-se 2Cr_9:4.].
9. Bendito seja o SENHOR, teu Deus — (Veja-se 1Rs_5:7). É
muito provável, como dizem alguns escritores judeus, que esta rainha
tenha sido convertida pela influência de Salomão, ao culto do verdadeiro
Deus; mas não há nenhum dado que indique que ela tenha feito algum
dom ou oferta ao templo.
10. Deu ela ao rei cento e vinte talentos de ouro — 720.000 libras.
11. madeira de sândalo — Junto com os obséquios da rainha de
Sabá, menciona-se uma madeira estrangeira, que era trazida nos navios
de Ofir. Alguns pensam que era madeira de sândalo; outros, que era uma
espécie de abeto cheiroso, muito usado na Índia para obras sagradas e
importantes. Salomão a usou para as escadas do templo e de seu palácio
(2Cr_9:11), mas especialmente para fazer instrumentos de música.
13. O rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo quanto ela desejou
e pediu, afora tudo o que lhe deu — quer dizer, Salomão não só deu a
sua ilustre visitante toda a informação que ela desejava, mas também,
segundo o costume oriental, deu-lhe uma remuneração ampla pelos
obséquios que ela lhe havia trazido.

Vv. 14-29. AS RIQUEZAS DE SALOMÃO.


14. O peso do ouro que se trazia a Salomão cada ano era de —
666 talentos, equivale a 3.996.000 libras esterlinas. Não se mencionam
as fontes de onde provinha esta renda; tampouco era a soma total de suas
estradas; porque esta era “além do que entrava dos vendedores, e do
tráfico dos negociantes, e de todos os reis da Arábia, e dos governadores
da terra”. O grande impulso que ele deu ao comércio, foi o meio de
enriquecer seu fisco real. Pelos lugares fortes que ele erigiu em várias
partes do reino, e especialmente em lugares tais como Tapsaco, um dos
vaus do Eufrates, e a Tadmor, no deserto sírio, deu completa segurança
ao tráfico de caravanas, pela devastação dos saqueadores árabes; e é
razoável que, em pagamento desta proteção, cobrasse ele certo imposto
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 43
pela introdução de mercadoria estrangeira. Uma renda considerável,
também, viria do uso das cidades de armazenagem ou khanes que
edificou; e é muito provável que aquelas cidades fossem empórios, onde
os mercadores das caravanas descarregavam seus fardos de especiarias e
outras mercadorias, e as vendiam aos agentes do rei, os quais, segundo a
prática moderna do Oriente, vendiam-nas ao varejo com grandes
vantagens, nos negociados ocidentais. “A renda recebida dos reis que
pagavam tributo e dos principais da terra”, deve ter consistido no tributo
que todos os magistrados inferiores traziam periodicamente a seus
soberanos no Oriente, em forma de obséquios dos produtos de suas
respectivas províncias.
16, 17. duzentos paveses de ouro batido; seiscentos siclos de
ouro — Estas armas defensivas antigamente se faziam de madeira
coberta de couro; mas estas foram cobertas de ouro fino. 600 siclos
usavam-se em dourar cada pavês, e 300 para cada escudo. Eram
destinados a casa de armas do estado no palácio (veja-se cap. 14:26).
18-26. grande trono de marfim — Parece ter sido feito, não de
marfim maciço, mas sim revestido. Era em forma de poltrona de braços,
com respaldo esculpido. A subida a ele era por seis degraus, sobre cada
um dos quais estavam leões em lugar de balaustrada, enquanto que um
leão, provavelmente de metal dourado, estava a cada lado, os quais,
podemos supor da analogia de outros tronos orientais, sustentavam um
dossel. Menciona-se (2Cr_9:18) um estrado de oro unido ao trono, cuja
magnificência é descrita como sem rival.
22. uma frota de naves de Társis — Tartessus que estava na
Espanha, onde o ouro, e especialmente a prata, eram conseguidos
antigamente em tão grande abundância que nada disso se contava nos
dias de Salomão. Mas Társis deveu ser um termo geral pelo Ocidente
(Jon_1:3).
no mar—Sobre o Mediterrâneo.
de três em três anos — Quer dizer, cada três anos. Sem a bússola
de marinheiro, tinham que costear ao longo da ribeira. O marfim, os
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 44
macacos e os perus reais devem ter sido comprados durante a viagem, na
costa norte da África, onde se achavam estes animais. São mencionados
em particular por ser os artigos mais raros que havia a bordo.
26-29. — (Veja-se 2Cr_1:14-17) [e veja-se 2Cr_9:25]).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 45
1 Reis 11

Vv. 1-8. AS ESPOSAS E CONCUBINAS DE SALOMÃO EM


SUA VELHICE.
1. amou Salomão muitas mulheres — Sua extraordinária
sabedoria não foi suficiente para o proteger de cair em erros graves e
fatais. Nunca houve promessa mais bela de verdadeira grandeza, nem foi
visto quadro mais belo de juvenil piedade, que aquele que mostrou no
começo de seu reinado. Nem se pode imaginar espetáculo mais triste,
mais humilhante ou mais terrível que a apostasia de sua velhice; e a ele
se podem aplicar as palavras de Paulo (Gl_3:3), de João (Ap_3:17) e de
Isaías (Ap_14:21). Um amor ao mundo, um contínuo buscar prazeres,
haviam insensivelmente corrompido o seu coração, e produzido, por um
tempo pelo menos, um estado de escuridão mental. A graça de Deus o
abandonou; e o filho do piedoso Davi, o menino que tinha sido educado
religiosamente por Bate-Seba (Pv_31:1-3), o discípulo de Natã, em vez
de mostrar a estabilidade de princípios sãos e de amadurecida
experiência, afinal veio a ser um rei velho e tolo (Ec_4:13). Sua queda se
atribui a seu “amor a muitas mulheres estrangeiras”. A poligamia era
tolerada entre os antigos hebreus, e, embora nos países orientais, a maior
parte dos homens por conveniência ou economia, limitam-se a uma só
mulher, ter um grande número de esposas é indicação de opulência ou
importância, assim como na Inglaterra ter um numeroso estábulo de
cavalos e uma grande carruagem. O soberano, naturalmente, quer ter um
harém mais numeroso que qualquer de seus súditos. Os estabelecimentos
femininos de muitos príncipes orientais, tanto em tempos antigos como
modernos, igualaram ou excederam o de Salomão. É provável, pois, que
de acordo com as ideias orientais, ele tenha recorrido a isso para dar
maior magnificência ao estado. Mas nele foi imperdoável, porque foi
uma violação direta e atroz da lei divina (Dt_17:17), e o resultado que se
desejava evitar por guardar este estatuto, realizou-se nele. Seu casamento
com a filha de Faraó não se censura aqui nem em nenhuma outra parte
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 46
(veja-se 1Rs_3:1). Foi unicamente seu amor por muitas mulheres
estrangeiras; porque as mulheres, embora no Oriente são consideradas
como inferiores, com frequência exercem uma influência sedutora,
silenciosa mas muito poderosa, sobre seus maridos tanto no harém, como
em outras partes, e assim se manifestou em Salomão.
3. Tinha setecentas mulheres, princesas — Elas eram,
provavelmente, segundo o costume existente, as filhas de chefes que
pagavam tributos, dadas como reféns pela boa conduta de seus pais.
concubinas — Eram legítimas, mas inferiores em categoria, ou
esposas secundárias. A estas, a principal ou primeira esposa olha sem o
mais mínimo zelo ou pesar, e elas a contemplam com sentimentos de
submissão respeitosa. As mulheres de Salomão chegaram a ser muito
bonitas, não de uma vez, mas sim gradualmente; pois desde muito
jovem, seu gosto pela ostentação oriental parece o ter levado a
estabelecimento de um harém considerável (Ct_6:8).
4. no tempo da velhice de Salomão (RC) — Não teria mais de
cinquenta anos.
suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros
deuses — Considerando incrível a queda de Salomão na idolatria, alguns
creem que só para adular a suas mulheres tolerava a prática de suas
superstições e presenciava seus ritos, mas que sua homenagem era
externa, no qual não participavam o seu entendimento nem o seu
coração. Esta apologia piora o assunto, pois manifesta a hipocrisia e o
desdém a Deus ao violar abertamente a Sua lei. Parece que não há
possibilidade de explicar a linguagem do sagrado historiador mas sim
como uma intimação de que Salomão chegou a ser verdadeiro e evidente
idólatra, adorando imagens de madeira e de pedra diante do mesmo
templo que em sua juventude ele tinha levantado ao verdadeiro Deus.
Portanto, aquela parte do Monte das Oliveiras era chamada o lugar alto
de Tofete (Jr_7:30-34), e a colina é ainda conhecida como o Monte da
Ofensa, ou Monte da destruição (2Rs_23:13).
5. Astarote — (Astarte).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 47
Milcom — (Moloque).
Quemos — Ele edificou altares para estes três deuses; mas, embora
é dito que (v. 8), fez o mesmo “para com todas as suas mulheres
estrangeiras”, não há evidência de que elas tivessem outros ídolos
distintos destes três, e não há sinal algum da idolatria egípcia.
8. queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses — O
primeiro era considerado como um ato superior de homenagem, e se usa
com frequência como sinônimo de culto (2Rs_22:17; 2Rs_23:5).

Vv. 9-13. DEUS O AMEAÇA.


9. o SENHOR se indignou contra Salomão — A aparição divina,
primeiro em Gibeão [1Rs_3:5], e logo em Jerusalém, depois da
dedicação do templo, com advertências para ele em ambas as ocasiões
[1Rs_3:11-14; 1Rs_9:3-9], tinha deixado indesculpável a Salomão; e era
próprio e necessário que caísse um terrível juízo sobre quem tinha sido
tão especialmente favorecido com dons celestiais, mas que tinha abusado
deles tão grosseiramente. A sentença divina foi anunciada provavelmente
pelo profeta Aías; mas havia misericórdia mesclada com o juízo, na
circunstância de que não lhe seria infligido a Salomão pessoalmente, e
que um remanescente do reino seria perdoado, “por amor de Davi, meu
servo, e por amor de Jerusalém, que escolhi” [v. 13] para pôr o nome de
Deus ali; não porque houvesse parcialidade para com Davi nem para
com Jerusalém senão para que ficasse firme a promessa divina
(2Sm_7:12-16).
13. darei uma tribo a teu filho — Foram deixadas para Roboão as
tribos de Judá, Benjamim e Levi (2Cr_11:12-13); e multidões de
israelitas, que depois do cisma estabeleceram sua residência dentro do
território de Judá para desfrutar dos privilégios da verdadeira religião
(1Rs_12:17). Todos estes se contaram como uma só tribo.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 48
Vv. 14-40. OS ADVERSÁRIOS DE SALOMÃO.
14. Levantou o SENHOR contra Salomão um adversário — quer
dizer, permitiu-o, mediante o impulso de sua própria ambição ou
vingança, atacar a Israel. Durante a guerra de extermínio, que levou
Joabe a Edom (2Sm_8:13), este Hadade, da família real, era só um
menino quando foi resgatado da espada e levado ao Egito, onde foi
hospitaleiramente recebido, e chegou a ser aliado da casa do rei egípcio.
Anos depois, empossando-se dele a lembrança de sua terra natal e de seu
reino perdido, e ouvindo sobre a morte de Davi e Joabe, renunciou à
tranquilidade, às posses e à glória de sua residência egípcia, para voltar
para Edom a tentar recuperar o seu trono ancestral. Os movimentos deste
príncipe parecem ter dado muita moléstia ao governo hebreu; como estes
foram desbaratados pelas guarnições numerosas e fortes estabelecidas no
território idumeu, Hadade foi oferecer seus serviços a Rezom, outro dos
adversários de Salomão (vv. 23-25). Este homem, que tinha sido general
de Hadadezer, e, na derrota daquele grande rei tinha retirado com êxito
um forte exército, foi embora ao deserto e levou uma vida foragida,
como tinham feito Jefté, Davi e outros, sobre as margens dos desertos
sírio e arábico, e tendo obtido grande poder, afinal foi feito rei em
Damasco, lançou de si o jugo, e “foi adversário de Israel todos os dias de
Salomão”. Foi sucedido por Hadade, cujos sucessores tomaram dele o
título oficial do Ben-Hadade, o ilustre fundador do reino da Síria
damascena. Estes vizinhos hostis, que por longo tempo tinham sido
restringidos pela fama tradicional das vitórias de Davi, cobraram valor, e
atacando para o fim do reinado de Salomão, não só devem ter
incomodado o seu reino por suas incursões, mas também arruinado suas
rendas, pondo fim a seu comércio lucrativo com Tadmor e o Eufrates.
26-40. Jeroboão — Este era um inimigo interno de caráter ainda
mais temível. Era homem jovem de talento e energia, quem tendo sido
nomeado por Salomão superintendente das obras de engenharia
projetadas nos arredores de Jerusalém, havia chamado a atenção pública;
e tendo sido informado mediante um ato muito significativo do profeta
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 49
Aías a respeito do destino real que o esperava por decreto divino, mudou
os seus propósitos.
29. se tinha vestido — antes, envolto. Quer dizer “Aías silonita, o
profeta, foi e se colocou convenientemente no caminho, e, a fim de não
ser conhecido, envolveu-se numa capa nova, a qual mais tarde rompeu
em doze pedaços”. Apesar deste isolamento, o relato, e a predição
relacionada com ele [1Rs_11:30-39], provavelmente chegaram aos
ouvidos do rei, e Jeroboão veio a ser um homem visto com desconfiança
[1Rs_11:40]. Sua ambição e sua impaciência pela morte de Salomão, o
levaram a formar conspirações, por causa das quais teve que fugir ao
Egito. Embora fosse escolhido de Deus, não quis esperar que a
providência de Deus tomasse seu curso, e portanto fez-se credor a pena
de morte por sua rebelião criminal. Os fortes impostos e os trabalhos
forçados (1Rs_11:28) que Salomão mais tarde impôs sobre seus súditos,
quando começavam a faltar os recursos estrangeiros, tinham preparado a
maior parte do reino para uma rebelião sob um demagogo tão popular
como era Jeroboão.
40. Sisaque — Quem deu asilo e alentou ao fugitivo rebelde, era de
uma dinastia diferente da do sogro de Salomão.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 50
1 Reis 12

Vv. 1-5. RECHAÇA O CONSELHO DOS ANCIÃOS.


1. Foi Roboão a Siquém — Ele era o filho mais velho de Salomão,
e sem dúvida tinha sido designado por seu pai como o herdeiro ao trono,
assim como Salomão o tinha sido por Davi. O incidente aqui relatado
ocorreu depois dos ritos fúnebres do finado rei, e de um período de luto
público. Quando “todo o Israel se reuniu lá, para o fazer rei”, não foi
para exercer seu velho direito de eleição (1Sm_10:19-21), porque, depois
da promessa de Deus de que perpetuamente reinaria a família de Davi, o
dever deles era a submissão à autoridade do herdeiro legítimo; mas seu
objetivo ao fazê-lo rei era o de renovar as condições e estipulações as
quais seus reis constitucionais estavam sujeitos (1Sm_10:25); e para
evitar que se repetissem condições e estipulações como aquelas em que
sob as circunstâncias especiais Salomão foi feito rei, eles estavam
dispostos a aceitar o absolutismo de seu governo.
Siquém — Cidade antiga, venerável e central, era o lugar de
reunião; e é evidente, se não pela eleição daquele lugar, pelo menos pelo
teor de sua linguagem e a presença concertada de Roboão [1Rs_12:3],
que o povo estava resolvido a rebelar-se.
4. Teu pai fez pesado o nosso jugo — Era tal o esplendor da corte
de Salomão e a magnitude de seus empresas, que nem o tributo dos
estados dependentes, nem os obséquios de príncipes estrangeiros, nem os
lucros de seus empresas comerciais, eram suficientes para levá-los
adiante, e ele se viu obrigado, para conseguir as entradas necessárias, a
começar um sistema de impostos pesados. O povo só olhava as cargas e
não os benefícios que eles tinham recebido do reinado pacífico e
próspero de Salomão, e os males dos quais eles pediam libertação eram
as opressões civis, e não a idolatria, a qual eles pareciam indiferentes, se
não a passavam.
5. Ele lhes respondeu: Ide-vos e, após três dias — Era prudente
considerar as petições do povo de uma maneira tranquila e deliberada. É
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 51
impossível dizer se algum bem teria resultado se ele tivesse seguido o
conselho dos velhos sábios e experimentados. Isso haveria pelo menos
tirado todo pretexto para a separação. [Veja-se 2Cr_10:7.] Mas ele
preferiu o conselho de seus companheiros jovens (não em anos, porque
eram todos como de quarenta e um anos, mas sim faltos de experiência),
os quais recomendavam medidas prontas e decisivas para subjugar os
descontentes.
11. açoite … escorpiões — Estes, em contraste com aqueles, dão a
entender correias engastadas com pontas agudas de ferro, usadas para
castigar os escravos.
15. O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque este
acontecimento vinha do SENHOR — Essa era a causa predominante.
A fraqueza de Roboão (Ec_2:18, 19) e sua inexperiência nos assuntos
públicos deram lugar a hipótese de que, como muitos outros príncipes do
Oriente, ele tinha estado isolado no harém até o tempo de subir ao trono
(Ec_4:14), porque seu pai temia que aspirasse ao trono como os dois
filhos de Davi, ou, o mais provável, é que temia expor prematuramente
sua imbecilidade. A resposta arrogante e violenta que deu a um povo
descontente e exasperado, indicava uma incapacidade tão grande para
apreciar a gravidade da crise, e uma falta tão completa de senso comum,
para fazer crer que ele estava incapacitado para emitir um juízo. Sua
resposta foi recebida com desprezo e escárnio. A rebelião foi
consumada, mas tão silenciosamente, que Roboão ficou em Siquém,
considerando o soberano de um reino unido, até que seu chefe coletor de
impostos, enviado imprudentemente a tratar com o povo, foi morto por
apedrejamento. Isto lhe abriu os olhos, e fugiu em busca de segurança
em Jerusalém.

Vv. 20-33. JEROBOÃO É FEITO REI SOBRE ELES.


20. Tendo ouvido todo o Israel que Jeroboão tinha voltado —
Este versículo fecha o relato parentético começado no versículo 2, e os
vv. 21-24 são a continuação da história que começa no versículo 1.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Roboão resolveu defender sua autoridade, levando um grande exército as
províncias dos descontentes. Mas a revolta das dez tribos já estava
completa, quando o profeta Semaías mandou em nome de Jeová, o
abandono de toda medida hostil contra os revolucionários. O exército,
intimidado pela proibição divina, debandou-se, e o rei foi obrigado a
submeter-se.
25. Jeroboão edificou Siquém — Destruída por Abimeleque
(Jz_9:1-49). Foi reedificada e talvez fortificada por Jeroboão, como
residência real.
edificou Penuel — Cidade arruinada, com uma torre (Jz_8:9), a
leste do Jordão, na ribeira norte do Jaboque. Foi objeto de importância
restaurar esta fortaleza e assegurar sua fronteira por aquele lado visto que
estava sobre o caminho de caravanas de Gileade a Damasco e Palmira.
26. Disse Jeroboão consigo: Agora, tornará o reino para a casa
de Davi — Tendo recebido o reino de Deus, Jeroboão devia ter confiado
na proteção divina; mas não fez assim. Tendo em vista retirar o povo do
templo e destruir as sagradas associações com Jerusalém, ele introduziu
inovações sérias e indesculpáveis nas observâncias religiosas do país,
sob o pretexto de economizar ao povo as moléstias e os gastos de uma
longa viagem. Primeiro, erigiu dois bezerros de ouro, Apis e Mnevis,
como símbolos, segundo os egípcios, do Deus verdadeiro, e o mais
parecido, segundo sua fantasia, às figuras dos querubins. Um foi
colocado em Dã, no norte de seu reino, e o outro em Betel, na parte
meridional, a vista de Jerusalém. Provavelmente pensou que Deus se
manifestaria neste lugar tanto como em Jerusalém (Gn_32:1-32;
2Rs_2:2). Este segundo lugar era o mais frequentado, porque as palavras
(v. 30) deveriam traduzir-se: “o povo até Dã ia adorar diante do um”
(Jr_48:13; Am_4:4-5; Am_5:5, Os_5:8; Os_10:8). Esta invocação foi um
pecado, tanto porque estabelecia o culto a Deus sob símbolos e imagens,
como também porque se afastava o povo do lugar que Deus tinha
escolhido para pôr o Seu nome. Em segundo lugar, mudou a festa dos
tabernáculos do dia 15 do sétimo mês a 15 do oitavo. A razão visível
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 53
poderia ser que o tempo da colheita era mais tarde nas partes
setentrionais do reino; mas o verdadeiro motivo era o de apagar as velhas
associações com esta, a festa mais grata e prazerosa do ano.
31. dentre o povo, constituiu sacerdotes — literalmente, dentre
todo o povo, negando-se aos levitas atuarem. O mesmo tomou sobre si as
funções do sumo sacerdote, pelo menos, na grande festa, provavelmente
porque tinha visto o rei do Egito unir os ofícios real e sagrado, e criando
o posto de sumo sacerdote muito alto para ser conferido a um súdito.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 54
1 Reis 13

Vv. 1-22. SECA-SE A MÃO DE JEROBOÃO.


1. Jeroboão estava junto ao altar, para queimar incenso — Foi
numa das festas anuais. Para dar mais importância ao novo ritual, o
próprio rei era o sacerdote oficiante. O altar e tudo relacionado com ele,
naturalmente exibiria todo o esplendor de um templo novo e
magnificamente adornado; mas o profeta predisse sua completa
destruição [1Rs_13:3].
veio de Judá a Betel um homem de Deus — Não sabemos quem
foi este profeta que veio por autoridade divina. Não pôde ser Ido nem
Aías, porque os dois viveram depois dos acontecimentos aqui relatados.
2. Clamou o profeta contra o altar — O qual foi posto como o
único sistema de culto organizado por Jeroboão em Israel.
um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias — Esta é
uma das profecias mais notáveis registradas nas Escrituras; por sua
clareza, seus detalhes circunstanciais, e a predição exata de um
acontecimento que sucedeu 360 anos mais tarde; apresenta um contraste
notável com os oráculos obscuros e ambíguos dos pagãos. Como foi
pronunciada publicamente, deve ter sido bem conhecida do povo, e todo
judeu que viveu na época do cumprimento do evento, deve ter-se
convencido da verdade de uma religião associada com semelhante
profecia. Foi dado um sinal de que era o Senhor que havia predito o que
aconteceria. Este sinal era: que se quebraria milagrosamente o altar a
vista do povo. Exasperado pelas palavras do homem, Jeroboão estendeu
sua mão, e mandou a seus ajudantes que prendessem o atrevido intruso.
Naquele momento o braço do rei ficou rígido e imóvel, e o altar se
rompeu em dois, de modo que o fogo e as cinzas caíram ao solo.
Assombrado pelos efeitos de sua impiedade, Jeroboão pediu a oração do
profeta. Sua petição foi concedida, e a mão foi restaurada a seu estado de
saúde. Jeroboão era ardiloso, e convidou o profeta à mesa real, não para
lhe fazer honra nem para lhe mostrar gratidão pela restauração de sua
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 55
mão, senão para ganhar, mediante sua cortesia e sua hospitalidade
liberal, a uma pessoa a quem não podia dominar mediante o poder. Mas
o profeta o informou de um mandado divino que expressamente lhe
proibia todo relacionamento social com qualquer pessoa do lugar, assim
como também que voltasse pelo mesmo caminho. A proibição de não
comer ou beber em Betel foi porque todos tinham apostatado da
verdadeira religião, e o motivo de não lhe ser permitido voltar pelo
mesmo caminho, foi para que não fosse reconhecido por alguma pessoa
que o tivesse visto na ida.
11. Morava em Betel um profeta velho — Se era profeta
verdadeiro, era homem mau.
18. um anjo me falou por ordem do SENHOR — Este modo
indireto de falar, em vez de dizer simplesmente: “O Senhor me falou”,
foi usado para esconder uma ambiguidade, um duplo sentido — um
sentido inferior dado à palavra “anjo” — para oferecer uma autoridade
aparentemente superior para persuadir o profeta, enquanto que na
realidade a autoridade era secretamente conhecida pelo orador como
inferior. O “anjo”, quer dizer “mensageiro”, eram seus próprios filhos, os
quais eram adoradores, e talvez sacerdotes em Betel; e como este homem
estava dominado por interesses egoístas, e desejava ganhar o favor do
rei, temia que este desistisse de seu propósito de se aderir a sua política
religiosa, por causa dos sinais prodigiosos que tinha havido. Sua pressa
para ir em busca do profeta de Judá, o engano que praticou com ele, e o
urgente convite pelo qual, na base da mentira, persuadiu o singelo
homem de Deus a acompanhá-lo de volta a sua casa em Betel, foram
com o propósito de criar a impressão na mente do rei, de que o profeta
era impostor, e que agia de modo a sua própria palavra.
21. clamou ao homem de Deus, que viera de Judá — antes, “a
palavra de Deus” clamou.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 56
Vv. 23-32. O PROFETA DESOBEDIENTE É MORTO POR UM
LEÃO.
24. um leão o encontrou no caminho e o matou — Havia um
bosque infestado de leões perto de Betel (2Rs_2:24). Esta catástrofe foi
um juízo severo mas necessário de parte de Deus, para testemunhar a
verdade da mensagem que se tinha encarregado ao profeta. Todas as
circunstâncias deste acontecimento trágico — o corpo que não tinha sido
devorado, e o jumento e os passageiros intactos — devem ter produzido
uma impressão inequívoca de que a mão de Deus estava nisso.
31. enterrai-me no sepulcro em que o homem de Deus está
sepultado — O motivo para fazer esta petição foi que seus restos não
fossem incomodados quando os acontecimentos preditos sucedessem
(veja-se 2Rs_23:18), ou que ele tinha alguma esperança supersticiosa de
ser beneficiado na ressurreição por estar sepultado com um homem de
Deus.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 57
1 Reis 14

Vv. 1-20. AÍAS DENUNCIA JUÍZOS DE DEUS CONTRA


JEROBOÃO.
1. Naquele tempo — Uma frase usada com frequência em sentido
indefinido na história sagrada. Este incidente da família de Jeroboão
ocorreu provavelmente para o fim de seu reinado; seu filho Abias era
maior de idade, e era considerado pelo povo como herdeiro ao trono.
2. Disse Jeroboão a sua mulher: Levanta-te e disfarça-te (TB)
— Jeroboão manifestou sua intensa ansiedade como pai e sua ardilosa
política como rei apóstata. Não queria que se soubesse que consultava ao
Deus verdadeiro em vez de a seus ídolos, por temor de pôr em perigo seu
sistema político; além disso, temia que Aías, a quem ele tinha ofendido,
se negasse a receber a rainha se esta ia abertamente consultá-lo. Por estes
motivos escolheu a sua esposa como a pessoa mais indicada para esta
missão secreta e confidencial, mas lhe recomendou que fingisse ser uma
mulher do povo. Que desatino, crer que Deus podia revelar o futuro, e
que não podia saber quem se escondia atrás de um disfarce!
3. Leva contigo dez pães, bolos e uma botija de mel e vai ter
com ele — Este era um obséquio de acordo com o caráter de camponesa
que ela tomou. Os bolos eram uma espécie de bolinhos doces com
sementes aromáticas. O profeta era cego, mas tendo recebido uma
verdadeira advertência divina a respeito da vinda da fingida camponesa,
no mesmo instante de sua chegada ele se dirigiu a ela como a rainha, e
lhe informou das calamidades que por causa da ingratidão de Jeroboão,
sua apostasia, e seu atroz governo de Israel, ameaçavam cair sobre sua
casa, e também sobre toda a nação que tão facilmente o havia seguido
em seus inovações idolátricas.
8. tu não foste como Davi, meu servo — Quem, embora caiu em
pecado grave, arrependeu-se, e sempre manteve o culto a Deus como
mandava a lei.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 58
10-11. trarei o mal sobre a casa de Jeroboão — Aqui se
empregam expressões fortes para indicar a completa extirpação de sua
casa; “o guardado como o desamparado em Israel” refere-se àqueles que
eram escondidos com todo cuidado, como ocorre com frequência com os
herdeiros ao trono nos países onde prevalece a poligamia; a frase anterior
não se pode referir aos homens, pois pela roupa solta que se usava no
Oriente, a prática deve ter sido distinta da que prevalece no Ocidente;
antes, refere-se aos meninos ou aos cães, para indicar que a destruição da
casa de Jeroboão seria tão completa que nem um cão escaparia. Esta
frase peculiar é somente para referir-se ao extermínio que ameaçava a
uma família (1Sm_25:22-34). Veja-se a forma do extermínio (1Rs_16:4;
21:24).
12. o menino morrerá — A morte e a lamentação geral no país
pela perda do príncipe, foram também preditas. O motivo do profundo
pesar como sua morte, se devia, segundo alguns escritores judeus, a sua
decidida oposição a construção dos bezerros de ouro, e a influência que
tinha com o pai para que concedesse a seus súditos a liberdade de ir
adorar em Jerusalém.
13. Todo o Israel o pranteará e o sepultará — O único da família
de Jeroboão que receberia os ritos de sepultura.
14. O SENHOR, porém, suscitará para si um rei … Há de ser já
— Quer dizer, Baasa (1Rs_15:27); já estava levantado, já existia, ainda
não estava no poder.
17. Tirza — Lugar de beleza extraordinária (Ct_6:4), a três horas
de viagem a leste de Samaria, eleito para residência real pelo primeiro
monarca, quando Israel chegou a ser um reino a parte. As planícies
férteis e as colinas mastreadas naquela parte de Efraim deram
oportunidade para a formação de parques e lugares de recreio similares
aos que eram os “paraísos” dos monarcas assírios e persas. (Stanley). O
lugar é ocupado hoje pela grande aldeia de Taltise. (Robinson). Logo que
chegou a rainha ao portão do palácio, recebeu a informação de que seu
filho estava morrendo, segundo a predição do profeta [v. 12].
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 59
19. Quanto aos mais atos de Jeroboão — Nenhuma das ameaças
pronunciadas contra esta família, produziu mudança alguma em sua
política ou governo.

Vv. 21-24. O MAU REINADO DE ROBOÃO.


21. reinou … em Jerusalém — Sua designação especial como
“cidade que o SENHOR escolhera de todas as tribos de Israel, para
estabelecer ali o seu nome”, parece que se menciona aqui como uma
censura da apostasia das dez tribos e como prova da grave maldade de
introduzir nela a idolatria e demais vícios.
Naamá era o nome de sua mãe, amonita — Sua origem pagã e
sua influência como rainha-mãe, se mencionam para explicar a tendência
de Roboão a se afastar da verdadeira religião. Animado pela advertência
do profeta (1Rs_12:23), e pela grande imigração de israelitas em seu
reino (1Rs_12:17; 2Cr_11:16), ele continuou durante os três primeiros
jumentos de seu reinado como fiel protetor da religião verdadeira
(2Cr_11:17). Mas depois ele começou e encabeçou uma apostasia geral;
a idolatria veio a ser a forma predominante de culto, e o estado religioso
durante seu reinado se descreve pelos lugares altos, as estátuas de ídolos,
os bosques e os ritos impuros que com licença desenfreada celebravam-
se neles. A descrição concorda com o caráter do culto cananeu.

Vv. 25-31. SISAQUE ATACA JERUSALÉM.


25, 26. Sisaque, rei do Egito, subiu — Ele foi o instrumento nas
mãos de Deus para castigar a apostasia nacional. Embora este rei tivesse
sido o sogro de Salomão, não era parente de Roboão; mas é muito
provável que ele pertencesse a outra dinastia (veja-se 2 Cr_12:2). Ele era
o Sesonque dos monumentos egípcios, o qual se apresenta num baixo
relevo em Carnaque, arrastando cativos, aqueles que, por sua fisionomia
peculiar, geralmente são considerados como judeus.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 60
29. Quanto aos mais dos atos de Roboão … não estão escritos no
Livro da História dos Reis de Judá? — Não o livro assim chamado e
compreendido no sagrado cânon, mas sim os arquivos nacionais de Judá.
30. Houve guerra entre Roboão e Jeroboão — Ao primeiro foi
proibido empreender uma guerra agressiva; mas como os dois reinos
mantinham uma forte rivalidade, ele estava obrigado a tomar medidas
vigilantes de defesa, e frequentes escaramuças ocorreriam nas fronteiras.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 61
1 Reis 15

Vv. 1-8. O REINADO ÍMPIO DE ABIÃO EM JUDÁ.


1. Abião (TB) — Seu nome antes era Abias (2Cr_12:16), em inglês
Abijah, sendo que “Jah” o nome de Deus, segundo costume antigo era
agregado aos nomes. Mas depois, quando se achava “em todos os
pecados que seu pai tinha cometido” [v. 3], aquela adição honorável foi
tirada, e seu nome na história sagrada foi mudado a Abião. (Lightfoot).
2. Reinou três anos — (cf. v. 1 com v. 9). Partes de anos se contam
nas Escrituras como anos inteiros. O reinado começou no ano dezoito de
Jeroboão, continuou até o dezenove, e terminou no curso do ano vinte.
Sua mãe chamava-se Maaca — ou Mica (2Cr_13:2),
provavelmente seu nome foi mudado quando chegou a ser reina, como
era comum quando se mudava de circunstâncias. Ela é chamada filha de
Absalão (2Cr_11:21) ou Uriel (2Cr_13:2). É provável que Tamar, filha
de Absalão (2Sm_14:27; 2Sm_18:18), casou-se com Uriel, e que Maaca
era filha deles.
3. seu coração não foi perfeito para com o SENHOR, seu Deus,
como o coração de Davi, seu pai — (cf. 1Rs_11:4; 14:22).
Positivamente ele não foi mau no princípio, porque se diz (1Rs_15:15)
que fez algo para restaurar os tesouros furtados do templo. Esta frase
contém uma referência comparativa ao coração de Davi. O fato de Davi
ter feito que é o reto aos olhos do Senhor (1Rs_15:5) é com frequência
usado ao se falar dos reis de Judá, e quer dizer que eles fizeram ou não
fizeram o que, no curso geral e a tendência de seu governo, era aceito a
Deus. Não proporciona evidência alguma quanto à legalidade ou piedade
de um ato específico.
4. por amor de Davi, o SENHOR, seu Deus, lhe deu uma
lâmpada — “Uma lâmpada” na casa é a frase oriental que indica a
continuação do nome e a prosperidade da família. Abião não foi
rejeitado somente por cumprimento da promessa divina dada a Davi
(veja-se 1Rs_11:13-36).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 62
Vv. 9-22. O BOM REINADO DE ASA.
10. Era o nome de sua mãe Maaca — Ela provavelmente era sua
avó, e se chama “a mãe do rei” pelo posto de dignidade que ela tinha no
princípio do reinado. Asa, como monarca constitucional, agiu como o
piedoso Davi, esforçando-se por abolir os rastros e as práticas
contaminadoras da idolatria, e em prosseguimento de sua conduta
imparcial, não perdoou os delinquentes até das classes mais distinguidas.
13. a Maaca, sua mãe, depôs da dignidade de rainha-mãe — A
sultana, ou rainha viúva, não era necessariamente a mãe natural do rei
(veja-se 1Rs_2:19), nem o era Maaca. Seu título e os privilégios
associados com aquela honra e dignidade que lhe davam precedência
entre as damas da família real, e grande influencia no reino, foram-lhe
tirados. Ela foi degradada por causa de sua idolatria.
porquanto ela havia feito ao poste-ídolo uma abominável
imagem — Uma imagem muito indecente, e o bosque se dedicava à
dissolução mais grosseira. Seus planos de reforma religiosa, entretanto,
não foram levados a seu termo completo; “os altos não se tiraram” (veja-
se 1Rs_3:2). As leis dos reis mais piedosos não puderam conseguir a
supressão deste culto particular que se oferecia sobre alturas naturais ou
artificiais, embora se proibiu depois que o templo fosse declarado o lugar
exclusivo de culto.
15. Trouxe à Casa do SENHOR as coisas consagradas por seu
pai — Provavelmente os despojos que Abião havia tirado do exército
vencido de Jeroboão (2Cr_13:16).
e as coisas que ele mesmo consagrara — Depois de sua vitória
sobre os etíopes (2Cr_14:12).
16. Houve guerra entre Asa e Baasa, rei de Israel, todos os seus
dias — Asa desfrutou de dez anos de paz depois da derrota de Jeroboão
por Abião, e este intervalo foi sábia e energicamente utilizado em fazer
reformas internas, assim como também em aumentar os meios de defesa
nacional (2Cr_14:1-7). No décimo quinto ano de seu reinado, entretanto,
o rei de Israel começou as hostilidades contra ele, e invadindo seu reino,
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 63
levantou uma fortaleza sólida em Ramá, perto de Gibeá, e a só nove
quilômetros e meio de Jerusalém. Temeroso de que seus súditos
deixassem seu reino e voltassem para o culto de seus pais, ele quis
interromper toda comunicação entre as duas nações. Ramá estava situada
num lugar alto que sobressaía de uma quebrada que separava a Israel de
Judá, e por isso ele adotou uma posição hostil neste lugar.
18-20. Asa tomou toda a prata e ouro restantes nos tesouros da
Casa do SENHOR — Vê-se agora um decaimento no caráter religioso
de Asa. Já não confiava no Senhor (2Cr_16:7). Nesta emergência Asa
solicitou a ajuda poderosa do rei da Síria Damascena; e para suborná-lo a
que rompesse sua aliança com Baasa, transferiu-lhe os tesouros que
estavam no templo e no palácio. Os mercenários sírios foram ganhos. Na
história antiga e moderna do Oriente mencionam-se casos de violação
repentina e sem escrúpulos de algumas alianças, pela apresentação de
algum obséquio tentador. Ben-Hadade lançou um exército nas províncias
setentrionais, e tendo tomado algumas cidades na Galileia, obrigou a
Baasa a retirar suas tropas de Ramá e levá-las dentro de seu próprio
território.
Ben-Hadade — (veja-se 1Rs_11:24).
22. O rei Asa convocou a todo o Judá (TB) — A fortaleza que
Baasa tinha levantado em Ramá, foi demolida, e com os materiais foram
construídas outras defesas, onde Asa cria que faziam falta, em Gibeá
(hoje Yeba) e Mispa (hoje Nebi Samwil), como duas horas a norte de
Jerusalém.
23. Asa ... no tempo da sua velhice, padeceu dos pés — (veja-se
2Cr_16:112), onde se dá prova adicional de sua degeneração religiosa.

Vv. 25-34. REINADO PERVERSO DE NADABE.


25. Nadabe, filho de Jeroboão, começou a reinar — Não se dá
nenhum relato dele, exceto sua estrita aderência à política má de seu pai.
27. Baasa ... o feriu em Gibetom — Esta cidade, dentro dos
limites de Dã, foi dada aos levitas (Js_19:44). Estava situada sobre a
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 64
fronteira filisteia, e tendo sido tomada por aquele povo, Nadabe lhe pôs
sítio para recuperá-la.
29. Logo que começou a reinar, matou toda a descendência de
Jeroboão — De acordo com o costume bárbaro, muito comum no
Oriente, de que o usurpador extirpasse a todos os candidatos ao trono;
mas isto foi o cumprimento da profecia de Aías a respeito de Jeroboão
(1Rs_14:10, 11).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 65
1 Reis 16

VV. 1-8. PROFECIA DE JEÚ CONTRA BAASA.


1. veio a palavra do SENHOR a Jeú — este é o único incidente
relatado da vida deste profeta. Seu pai também foi profeta (2Cr_16:7).
2. Porquanto te levantei — A condenação que ele pronunciou
contra Baasa, foi exatamente igual à pronunciada contra Jeroboão e sua
linhagem. Embora ele tenha chegado por meio de matanças até seu
trono, sua elevação ao trono foi devida a nomeação ou permissão
“dAquele por meio de quem reinam os reis”.
sobre o meu povo de Israel — Apesar de todos seus erros e quedas
na idolatria, não foram totalmente abandonados por Deus. Ele ainda
mostrava o Seu interesse neles, lhes enviando profetas e operando
milagres a seu favor, e possuía uma multidão de adoradores fiéis no
reino de Israel.
7. por intermédio do profeta Jeú — Esta não é uma profecia
distinta, antes o historiador sagrado a acrescenta para explicar a morte de
Baasa e a extinção de sua família. A condenação pronunciada contra
Jeroboão (1Rs_14:9) não deu a Baasa autoridade para tomar a execução
em suas mãos; mas pelo fato de que ele seguia o mesmo culto ao
bezerro, é evidente que ele tinha forjado a conspiração e o assassinato
daquele rei, em apoio a seus próprios desígnios ambiciosos, e por isso,
em seu próprio assassinato, achou a justa recompensa de suas obras. A
semelhança com Jeroboão se estende a sua morte como também a sua
vida, o reinado de seus filhos e a ruína de suas famílias.
8. Elá, filho de Baasa, começou a reinar — (cf. 1Rs_15:33). Disto
se infere que Baasa morreu no vigésimo terceiro ano de seu reinado
(veja-se 1Rs_15:2), e Elá, que era príncipe de costumes dissolutos, não
reinou dois anos completos.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 66
Vv. 9-22. A CONSPIRAÇÃO DE ZINRI.
9. Conspirou contra ele o seu servo Zinri (TB) — Durante uma
reunião de amigos em casa de seu mordomo, Zinri matou Elá, e
apoderando-se da soberania, tratou de consolidar o seu trono mediante a
matança de toda a parental real.
15. reinou Zinri sete dias — As notícias da conspiração logo se
espalharam, e como o exército tinha proclamado rei a Onri, seu general,
este oficial imediatamente levantou o sítio a Gibetom, e partiu
diretamente contra a capital onde o usurpador se estabeleceu. Zinri logo
se deu conta de que não estava em condições de fazer frente a todas as
forças do reino; de modo que, encerrando-se no palácio, prendeu-lhe
fogo, e, como Sardanápalo, preferiu perecer ele mesmo e reduzir tudo a
ruínas a deixar que o palácio e todos os tesouros reais caíssem em mãos
de seu afortunado rival. Os sete dias de reinado podem referir-se a breve
duração de sua autoridade real, ou ao período em que desfrutou, sem ser
incomodado, na tranquilidade do palácio.
19. por causa dos pecados que cometera — Este fim violento foi
uma justa retribuição por seus crimes. “Andando nos caminhos de
Jeroboão” pode ter-se manifestado no curso anterior de sua vida, ou em
seus decretos publicados ao subir ao trono, quando procurou ganhar a
simpatia do povo anunciando que continuava apoiando o culto ao
bezerro.
21. Então, o povo de Israel se dividiu em dois partidos — As
facções que se seguiram deram origem a quatro anos de anarquia e
guerra civil (cf. 1Rs_16:15 com 1Rs_16:23). Seja qual for a opinião
pública quanto aos méritos de Onri, uma boa parte do povo desaprovou
sua eleição, e se declarou a favor do Tibni. O exército, entretanto,
segundo sua norma em tais circunstâncias (e tinha a vontade da
providência a seu favor), prevaleceu sobre toda oposição, e Onri veio a
ser possuidor indisputável do trono.
22. Tibni morreu — O hebraico não nos permite determinar se sua
morte foi violenta ou natural.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 67
Vv. 23-28. ONRI EDIFICA SAMARIA.
23. No trigésimo primeiro ano de Asa, rei de Judá, Onri
começou a reinar — Os doze anos de seu reinado se calculam desde o
ano vinte e sete do reinado de Asa. Durante quatro anos seu reinado
esteve em contenda com Tibni; na data deste versículo, entrou em seu
reinado único e pacífico de oito anos.
24. De Semer comprou ele o monte de Samaria — Estando em
ruínas o palácio de Tirza, ao escolher Onri um lugar para seu palácio,
teve em consideração duas coisas: prazer e vantagem. Perto do centro de
um amplo vale rodeado de montanhas, cerca de nove e meio quilômetros
de Siquém, levanta-se uma colina oblonga, com flancos pendentes mas
acessíveis, e cimo longo e plano, que se estende de este a oeste, elevada
500 ou 600 pés sobre o vale; ali edificou Onri seu palácio. Esta cidade
tornou-se ser a capital do reino em lugar de Siquém. Foi como se
Versalhes tivesse tomado o lugar de Paris, ou Windsor o lugar de
Londres. Foi admirável a eleição de Onri, pois este era um lugar que
oferecia proteção, beleza e fertilidade, e estas qualidades não as reunia
nenhum outro lugar da Palestina. (Stanley).
dois talentos de prata — 684 libras esterlinas. Semer
provavelmente tinha posto como condição de venda que o nome fosse
retido. Mas como a cidade e o palácio foram edificados por Onri, estava
de conformidade com o costume oriental chamá-lo pelo nome do
fundador. Assim o faziam os assírios, e numa lápide tirada das ruínas de
Nínive foi achada uma inscrição a respeito de Samaria, na qual lhe
chama Beth-khumri, a casa do Onri. (Bayard). (Veja-se 2Rs_17:5).
25-27. Fez Onri o que era mau — O caráter do reinado do Onri e
sua morte são descritos na forma estereotipada, com relação a todos os
sucessores de Jeroboão tanto quanto a política como ao tempo.
30. Fez Acabe, filho de Onri, o que era mau perante o
SENHOR, mais do que todos os que foram antes dele. — O culto a
Deus por meio de símbolos até agora tinha sido a forma ofensiva da
apostasia de Israel, mas agora a idolatria é patrocinada abertamente pela
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 68
corte. Isto foi feito pela influência de Jezabel, a rainha esposa de Acabe.
Ela era “filha de Etbaal, rei dos sidônios”. Ele era sacerdote de Astarote,
ou Astarte, quem, tendo assassinado a Filetes, rei de Tiro, subiu ao trono
daquele reino, sendo o oitavo rei desde Hirão. Jezabel era a digna filha
desse regicida e sacerdote idólatra, e ao casar-se com Acabe, não
descansou até conseguir que fossem introduzidas todas as formas de seu
culto tírio.
32. Também Acabe fez um poste-ídolo — quer dizer, o sol,
adorado sob imagens diversas. Acabe levantou um (2Rs_3:2)
provavelmente como o Hércules tírio, no templo de Samaria. Não se
ofereciam sacrifícios humanos; o fogo ardia continuamente; os
sacerdotes oficiavam descalços; as danças e os beijos à imagem
(1Rs_19:18) eram os ritos principais.

V. 34. A MALDIÇÃO DE JOSUÉ CUMPRIDA EM HIEL DE


BETEL.
Em seus dias, Hiel, o betelita, edificou a Jericó — (veja-se
Js_6:26). A maldição teve efeito na família deste homem atrevido; mas
se seu filho mais velho morreu quando se lançava o alicerce, e o menor à
terminação da obra, ou se perdeu todos os seus filhos em rápida sucessão
até que no fim da empresa se achou sem filhos, a forma poética da
maldição não o dá a entender. Alguns comentadores modernos creem
que não há referência à morte natural nem violenta dos filhos de Hiel; e
sim começou na presença do filho mais velho, mas que algumas
dificuldades imprevistas, perdas e obstáculos, demoraram a terminação
até sua velhice, quando os portões foram postos na presença do filho
mais novo. Mas a maldição foi cumprida mais de 500 anos depois que
foi pronunciada; e pelo fato de que Jericó foi habitada depois do tempo
de Josué (Jz_3:13; 2Sm_10:5), se supôs que o ato contra o qual foi
dirigida a maldição, era a tentativa de restaurar as muralhas, as mesmas
muralhas que foram derrubadas milagrosamente. É evidente que Jericó
ficava dentro do território de Israel; e o ato de Hiel, não resistido por
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 69
ninguém, mostra uma dolorosa evidência de que o povo de Israel tinha
perdido todo conhecimento ou todo respeito pela palavra de Deus.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 70
1 Reis 17

Vv. 1-7. ELIAS, PROFETIZANDO CONTRA ACABE, É


ENVIADO A QUERITE.
1. Elias, o tisbita (RC) — Este profeta se apresenta tão
abruptamente como Melquisedeque, pois seu nascimento, seus pais, e
sua chamada ao ofício profético são todos igualmente desconhecidos.
Supõe-se que se chama o tisbita por ser de Tisbe, lugar a leste do Jordão.
dos moradores de Gileade — Ou, residentes de Gileade, o que
indica que não era israelita, e sim ismaelita, como Michaelis suspeita,
porque havia muitos daquela raça nos limites de Gileade. O emprego de
um gentio como ministro extraordinário deve ter sido para repreender e
envergonhar ao povo apóstata de Israel.
disse a Acabe — Parece que o profeta tinha estado advertindo ao
rei apóstata de quão fatal tanto para ele como para o povo seria a conduta
que ele estava seguindo; e a impossibilidade de que os esforços de Elias
fizessem impressão no coração obstinado de Acabe, se vê na pregação
penal pronunciada ao sair.
perante cuja face estou — Quer dizer, a quem sirvo (Dt_18:5).
nem orvalho nem chuva haverá nestes anos — Não
absolutamente, mas que o orvalho e a chuva não cairiam nas quantidades
usuais e necessárias. Tal suspensão de umidade era suficiente para
realizar os propósitos corretivos de Deus, enquanto que uma seca
absoluta converteria todo o país em deserto inabitável.
segundo a minha palavra — Não pronunciada em rancor,
vingança nem capricho, mas sim como ministro de Deus. A calamidade
ameaçadora era em resposta à sua fervente oração, e um castigo proposto
para um avivamento espiritual de Israel. A seca foi o castigo pela
idolatria nacional (Dt_11:16-17; Dt_28:23).
2, 3. Veio-lhe a palavra do SENHOR, dizendo: Retira-te daqui,
vai para o lado oriental, etc. — No princípio o rei deve ter desprezado
a predição considerando-a como a palavra de um vaidoso; mas quando
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 71
viu que a seca durava e aumentava, buscou Elias, quem, como era
necessário que ele fosse afastado da violência ou das insistências do rei,
foi divinamente dirigido a ir a um lugar de retiro, talvez a uma cova
sobre a “torrente de Querite, fronteira ao Jordão”, quer dizer, a leste do
Jordão. A tradição assinala um lugar sobre uma pequena corrente de
inverno, um pouco abaixo do vau de Bete-Seã.
6. Os corvos lhe traziam pela manhã pão e carne — A ideia de
que fossem empregadas para dar de comer ao profeta aves tão impuras e
vorazes, pareceu tão estranho a alguns, que se esforçaram por fazer
entender que os orebim, que em nossa versão se traduz “corvos”, é a
mesma palavra que se usa em Ez_27:27, que se traduz: “comerciantes”,
ou “árabes” (2Cr_21:16; Nee_4:7), ou os cidadãos de Arava, perto de
Bete-Seã (Js_15:6; Js_18:18). Mas a tradução comum é, em nossa
opinião, preferível a estas hipóteses; e, se Elias foi milagrosamente
alimentado por corvos, é vão perguntar onde acharam eles pão e carne,
porque nisto Deus os dirigia. Depois do lapso de um ano, a torrente se
secou, e esta foi uma nova prova para a fé de Elias.

Vv. 8-16. É ENVIADO A UMA VIÚVA DE SAREPTA.


8. Então, lhe veio a palavra do SENHOR — Sarepta, agora
Surafend, para onde ele foi dirigido, estava longe sobre a costa ocidental
da Palestina, cerca de 14 kms. ao sul de Sidom, e dentro dos domínios do
pai ímpio de Jezabel, onde também prevalecia a fome. Encontrando-se a
entrada do povo com a mesma mulher que, foi divinamente assinalada
para sustentá-lo, sua fé foi severamente provada ao saber que suas
provisões estavam esgotadas, e que estava preparando a última comida
para si e seu filho. Como o Espírito de Deus o havia movido a pedir, e a
ela a conceder a ajuda necessária, ela recebeu a recompensa do profeta
(Mt_10:41-42), e por uma comida dada a Elias, Deus, pelo milagroso
aumento de suas pequenas provisões, proveu a ela muitas comidas.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 72
Vv. 17-24. ELE RESSUSCITA O SEU FILHO.
17. adoeceu o filho da mulher, da dona da casa — Uma severa
calamidade doméstica parece ter feito esta mulher pensar, que, como
Deus tinha fechado os céus sobre uma terra pecaminosa por influência
do profeta, ela estava sofrendo por causa similar. Sem responder à sua
repreensão, o profeta tomou o menino, o colocou em sua cama, e depois
de uma ardente oração, teve a felicidade de ver sua restauração a vida, e
com ela, a alegria no coração e no lar da viúva. O profeta foi enviado a
esta viúva, não somente para que ele estivesse seguro, senão para
fortalecer a fé da mulher, foi enviado a ela antes que as muitas viúvas
que havia em Israel, que o teriam recebido prazerosas sob as mesmas
circunstâncias privilegiadas de ficar isentas da fome cruel. O alívio de
suas necessidades corporais veio a ser o meio preparatório para suprir as
suas necessidades espirituais, e para trazer a ela e a seu filho, mediante
os ensinos do profeta, a um claro conhecimento de Deus e a uma firme fé
em Sua palavra (Lc_4:25).
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 73
1 Reis 18

Vv. 1-16. ELIAS SE ENCONTRA COM OBADIAS.


1. no terceiro ano — É dito no Novo Testamento que não houve
chuva “por três anos e seis meses” [Tg_5:17]. A chuva temporã caía em
março, e a serôdia em nosso outubro. Embora Acabe poderia ter
ridicularizado o anúncio de Elias, entretanto quando nem uma nem outra
destas chuvas caíram em sua maturação, ele se indignou contra o profeta,
e o considerou como o causador deste juízo nacional, e o obrigou, sob a
direção de Deus, a buscar sua segurança, fugindo. Isto foi seis meses
depois que se havia dito ao rei que não haveria nem orvalho nem chuva,
e desde este período se contavam os três anos.
Vai, apresenta-te a Acabe — O rei tinha permanecido obstinado e
impenitente, mas lhe deu uma nova oportunidade para arrepender-se, e
Elias foi enviado para lhe declarar a causa do juízo nacional, e para lhe
prometer, sob a condição de que retirasse a causa, a bênção imediata de
chuva.
2. Partiu, pois, Elias — Prova maravilhosa da natural ousadia deste
profeta, de sua coragem e de sua confiança constante no cuidado protetor
de Deus, é que ele se aventurou a ir perante a presença do leão que ruge.
a fome era extrema em Samaria — Elias achou que a fome estava
apertando com severidade intensa na capital. O grão para o povo deve ter
sido conseguido no Egito ou nos países vizinhos, pois se não, a vida não
teria podido sustentar-se por três anos; Acabe, e o mordomo da casa real,
pessoalmente andavam buscando pasto para o seu ganho. Nas ribeiras
dos arroios, era natural que se pudessem achar tenros brotos de pasto,
mas secando os arroios, o verdor desapareceria. Nos distritos pastoris do
Oriente, geralmente era considerada como ocupação apta para um rei ou
chefe, ir à frente de semelhante expedição. Cobrindo uma grande
extensão de território, Acabe tinha passado por um distrito, e Obadias
por outro.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 74
3. Obadias temia muito ao SENHOR — Embora ele não seguisse
o exemplo dos levitas e a maioria dos israelitas piedosos, em tempo da
emigração a Judá (2Cr_11:13-16), era adorador secreto e sincero.
Provavelmente considerou o caráter violento do governo, e seu poder de
fazer algum bem ao açoitado povo de Deus como suficiente desculpa
para não ir adorar em Jerusalém.
4. cem profetas — Não homens dotados dos dons extraordinários
do ofício profético, mas sim devotos ao serviço de Deus, pregando,
orando, louvando, etc. (1Sm_10:10-12).
os sustentou com pão e água — Estes artigos se usam
frequentemente para incluir sustento de qualquer tipo. Como este socorro
lhes tinha sido dado por Obadias pondo em perigo seu posto e sua vida,
foi uma prova de sua fidelidade à verdadeira religião.
7-16. Estando Obadias já de caminho, eis que Elias se encontrou
com ele — Crendo imprudente ir à presença de Acabe sem prévia
intimação, o profeta pediu a Obadias que anunciasse a Acabe o seu
retorno. A comissão foi rejeitada com delicada alusão aos perigos que
ele tinha encontrado ao proteger a outros servos de Deus, considerava
que esta comissão era perigosa, pois temia que o Espírito levasse a Elias
a outro lugar; mas Elias dissipou os temores de Obadias, e este se
encarregou de levar a mensagem do profeta a Acabe, e solicitou uma
entrevista. Mas Acabe, resolvido a vingar-se, ou impaciente pela
chegada da chuva, foi encontrar se com Elias.
17, 18. És tu, ó perturbador de Israel? — Houve uma disputa
violenta. Acabe pensou amedrontá-lo, mas o profeta corajosa e
francamente disse ao rei que a calamidade nacional se devia
principalmente à proteção e prática da idolatria dele e de sua família.
Mas, enquanto reprovava os pecados, Elias tributou todo respeito ao alto
posto do ofensor, e insistiu com ele para convocar, por virtude de seu
mandado real, uma assembleia pública, em cuja presença seria decidido
solenemente quem era o perturbador de Israel. A petição não pôde ser
negada, e Acabe consentiu na proposta. Deus dirigiu e deu o resultado.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 75
19. Agora, pois, manda ajuntar a mim todo o Israel no monte
Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de
Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo — Pelo que se relata a
seguir parece que só aqueles vieram. Os profetas dos bosques, prevendo
algo desagradável, desobedeceram a ordem do rei.
que comem da mesa de Jezabel — Não na mesa real, onde ela
comia, mas sim que eram alimentados de sua cozinha (veja-se
1Sm_20:25; 1Rs_4:22). Estes eram os sacerdotes da Astarte, a deusa dos
sidônios.
20. monte Carmelo — É um promontório escarpado, que se
estende da costa oeste da Palestina, à baía de Acre, por vários
quilômetros para o este, até as colinas centrais de Samaria. É uma cadeia
longa, com muitos cimos, e cortada por numerosos arroios pequenos. O
lugar onde se realizou a prova está situado no extremo oriental, que é
também o ponto mais alto de toda montanha. Chama-se El-Mohhraka”,
“a Queima”, ou “Lugar Queimado”. Nenhum lugar poderia ter sido
melhor para que os milhares de Israel estivessem de pé sobre aqueles
declives. Nesse lugar a rocha se ergue quase como uma muralha
perpendicular de mais de 200 pés de altura, ao lado do vale de Esdralom.
Esta muralha fazia visível a prova por toda a planície, e pelas alturas em
derredor, onde estariam as multidões olhando.
21-40. Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando
coxeareis entre dois pensamentos? — Fazia tempo que eles estavam
tentando unir o serviço de Deus com o de Baal. Era uma união
impraticável, e o povo estava tão ofuscado por sua estultícia e pelo temor
de desgostar ao rei, que “nada lhe respondeu”. Elias lhes propôs decidir a
controvérsia entre Deus e Baal, apelando não à autoridade da lei, porque
isso não teria valor, mas sim apelando a receber um sinal visível do céu.
Como o fogo era o elemento sobre o qual se supunha-se que Baal
presidia, Elias propôs que se matassem dois bois, e que fossem
colocados sobre dois altares distintos sobre a lenha, um para Baal e o
outro para Deus, e sobre qualquer que descesse o fogo para consumi-lo,
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 76
seria o sinal que determinaria qual era o Deus verdadeiro, a quem fosse
seu dever servir. Como a proposta parecia em todo sentido razoável, foi
recebida pelo povo com aprovação unânime. Os sacerdotes de Baal
começaram a cerimônia invocando a seu deus. Em vão continuaram
invocando sua deidade insensível desde a manhã até o meio-dia, e desde
o meio-dia até a tarde, lançando os mais agudos gritos, fazendo gestos
fantásticos e até mesclando o seu sangue com o do sacrifício, mas não se
ouviu nenhuma resposta, nem desceu fogo nenhum. Elias expunha a
loucura e o engano deles com a ironia mais severa. Como o dia estava já
muito avançado, começou suas operações convidando o povo a chegar-
se para ver todo o procedimento. Primeiro, reparou um velho altar de
Deus que Jezabel tinha demolido; então, tendo arrumado a carne do boi,
cortada em pedaços, fez com que jogassem quatro barris ou cântaros de
água sobre o altar e na calha ao redor. Fez isto uma vez, duas vezes, três
vezes, e quando ele levantou uma fervente oração, desceu o fogo
milagroso (Lv_9:24; Jz_6:21; Jz_13:20; 1Cr_21:26; 2Cr_7:1), e
consumiu não só o sacrifício mas também as mesmas pedras do altar. A
impressão na mente do povo foi a de admiração mesclada com pavor; e a
uma só voz reconheceram a supremacia de Jeová como o Deus
verdadeiro. Aproveitando os sentimentos que os embargavam, Elias
insistiu com eles a prender os sacerdotes impostores, e com seu sangue
encher o canal do rio Quisom, o qual, por causa de sua idolatria, secou-
se; esta ordem, por severa e desumana que parecesse, foi seu dever dá-la,
como ministro de Deus. (Dt_15:15; Dt_18:20). As características
naturais da montanha correspondem exatamente com os detalhes do
relato. O cimo visível, 1.635 pés sobre o nível do mar, sobre o qual
estavam os dois altares, apresenta uma esplanada suficientemente ampla
para que o rei e os sacerdotes de Baal estivessem de um lado, e Elias do
outro. O solo é rochoso, sobre o qual há abundância de rochas soltas, de
onde agarrassem as doze pedras com as quais foi construído o altar; um
banco de terra maciça, no qual se poderia cavar uma calha, e entretanto,
a terra não tão solta para que a água lançada na calha, fosse absorvida;
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 77
250 pés mais abaixo do lugar do altar, há uma fonte perene, a qual
estando perto do altar do Senhor, não teria sido acessível ao povo, e da
qual, pois, até em época de séria seca, Elias pôde tirar as grandes
quantidades de água que verteu sobre o altar. A distância entre a fonte e
o altar é tão curta que é possível ir três vezes lá e voltar, mas não teria
sido possível ir nem uma só vez em toda a tarde a trazer água desde mar.
(Van de Velde). O cimo está a mil pés mais acima de Quisom, o qual em
nenhuma parte corre desde o mar tão perto da base da montanha como
imediatamente sob El-Mohhraka; de modo que os sacerdotes de Baal
puderam, em poucos minutos ser levados “ao ribeiro de Quisom” e ser
mortos ali.

Vv. 41-46. ELIAS, PELA ORAÇÃO, CONSEGUE CHUVA.


42. Subiu Acabe a comer e a beber — Acabe, estando em
dolorosa agitação pela cena angustiosa, não tinha comido o dia todo.
Recebeu recomendação de se refrescar sem demorar um momento; e
enquanto o rei estava assim ocupado, o profeta, longe de tomar descanso,
estava absorto em oração pelo cumprimento da promessa (1Rs_18:1).
meteu o rosto entre os joelhos — Uma postura de súplica ardente
ainda em uso.
43. Sobe e olha para o lado do mar — Desde o lugar do culto há
uma pequena elevação, que, a oeste e noroeste, obstrui a vista do mar,
(Stanley, Van de Velde). Mas pode-se subir em poucos minutos, e do
cimo se pode ver o Mediterrâneo. Seis vezes subiu o servo, mas o céu
estava claro e o mar tranquilo. A sétima vez viu o sinal da chuva que se
aproximava [v. 44].
44. Eis que se levanta do mar uma nuvem pequena como a
palma da mão do homem — A claridade do céu faz visível
distintamente a menor mancha; e na Palestina esta é precursora uniforme
da chuva. Sobe cada vez mais, e faz-se cada vez maior com rapidez
assombrosa, até que todo o céu se torna negro, e a nuvem rompe em
copiosa chuva.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 78
Aparelha o teu carro e desce, para que a chuva não te detenha
— Quer seja porque o rio Quisom subitamente se encha até ser
impossível cruzá-lo, ou pela profunda capa de terra que se torna em lodo
e impeça que passem as rodas.
45. Acabe subiu ao carro e foi para Jezreel — Hoje, Zerin, a uma
distância de uns 16 quilômetros. Esta carreira se fez em meio de uma
chuva tempestuosa, mas todos se alegraram com ela, visto que produziu
uma repentina difusão de frescura sobre toda a terra de Jezreel.
46. Elias … cingiu os lombos e correu adiante de Acabe —
Antigamente, e ainda em certos países do Oriente, é costume que os reis
e nobres levem corredores diante de seus carros, os quais estão rodeados
fortemente para isso. O profeta, como os beduínos de Gileade, de onde
ele era nativo, tinha sido ensinado a correr; e como a mão do Senhor
estava com ele, correu com agilidade e forças não diminuídas. Nestas
circunstâncias, era muito próprio que Elias rendesse este serviço. Tendia
a fortalecer a impressão favorável que tinha produzido no coração de
Acabe, e a refutar os sofismas de Jezabel, porque mostrava que aquele
que era tão zeloso no serviço de Deus, era também devotamente leal a
seu rei. O resultado desta solene e decisiva prova foi um forte golpe e um
grande desalento à causa da idolatria. Mas os atos subsequentes
demonstram que as impressões, embora profundas, não eram senão
parciais e temporárias.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 79
1 Reis 19

Vv. 1-3. ELIAS FOGE A BERSEBA.


3. levantou-se, e, para salvar sua vida, se foi — Ele entrou em
Jezreel cheio de esperanças. Mas uma mensagem da rainha irada e de
coração endurecido, que jurava vingança por seus sacerdotes mortos,
dissipou todas as suas brilhantes visões do futuro. É provável, entretanto,
que no estado de ânimo em que se encontrava o povo, até ela não se
tenha atrevido a lançar mão violenta sobre o servo do Senhor, e o
ameaçou porque não podia fazer nada mais. A ameaça produziu em Elias
o efeito desejado, porque de repente lhe faltou a fé, e fugiu do território
do reino até as partes mais setentrionais do território de Judá; não se
achou seguro até ali, porque, despedindo-se de seu servo, resolveu
buscar refúgio nas montanhas solitárias do Sinai, e ali desejou a morte
(Tg_5:17). Esta depressão mental, repentina e extraordinária, veio por
uma confiança demasiado grande inspirada pelos milagres operados no
Carmelo, e pela disposição do povo que lá esteve. Se Elias tivesse ficado
firme e imóvel, a impressão na mente de Acabe e do povo talvez teria
produzido bons resultados. Mas ele tinha sido exaltado sobremaneira
(2Co_12:7-9), e agora, ficando sozinho o grande profeta, em vez de
mostrar o espírito indomável de mártir, fugiu de seu posto de dever.

Vv. 4-18. É CONFORTADO POR UM ANJO.


4. Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho de um dia —
No caminho de Berseba a Horebe, larga expansão de dunas, cobertas de
retama (não zimbro), cujas altas e largas ramas, de folhas brancas,
davam uma sombra alegre e refrescante. Seu benévolo Deus não perdeu
de vista o fugitivo, mas o vigiava e, ministrando a suas necessidades
milagrosamente, lhe permitiu terminar sua viagem, num estado mental
melhor, embora não totalmente correto, devido à provisão sobrenatural.
Na solidão do Sinai, Deus apareceu para lhe instruir. “Que fazes aqui,
Elias?” foi uma pergunta penetrante dirigida a alguém que tinha sido
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 80
chamado a uma missão tão árdua e tão urgente como a sua. Por uma
terrível manifestação do poder divino, o profeta reconheceu que quem
lhe falava era Deus; sua atenção foi atraída, lhe tirou o mau humor, foi
tocado o seu coração, e lhe mandou voltar sem demora para a terra de
Israel, e seguir com a obra do Senhor ali. Para o convencer de que uma
nação idólatra não ficará sem castigo, Deus o comissionou para ungir a
três pessoas que estavam destinadas pela providência a vindicar a disputa
de Deus com o povo de Israel. Ungir se usa como sinônimo de nomear
(Jz_9:8), e se aplica a todos os mencionados, embora só a Jeú foi
derramado o azeite consagrado sobre sua cabeça. Os três foram
destinados a ser instrumentos eminentes em efetuar a destruição dos
idólatras, mas de maneiras distintas. Mas das três unções, Elias
pessoalmente executou uma só, a de Eliseu, ao ser chamado para ser seu
ajudante e sucessor, e por este foram cumpridas as outras duas.
(2Rs_8:7-13; 2Rs_9:1-10). Tendo satisfeito o zelo ardente do errante,
mas sincero e piedoso profeta, o Senhor começou corrigir uma impressão
errônea sob a qual Elias tinha estado lutando, a de que ele era o único
aderente à verdadeira religião no país; porque Deus, quem vê em
segredo, sabia que havia 7.000 pessoas que não tinham rendido
homenagem (literalmente, “beijado a mão”) a Baal.
16. Abel-Meolá — quer dizer, o prado de dançar, no vale do Jordão.

Vv. 19-21. ELISEU SEGUE A ELIAS.


19. Eliseu, filho de Safate — Provavelmente pertencia a uma
família distinguida por sua piedade, e por sua oposição ao culto do
bezerro.
andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele —
Indicando que era fazendeiro.
Elias ... lançou o seu manto sobre ele — Esta foi uma investidura
do ofício profético. Os brâmanes, os soofíes da Pérsia, e outros
personagens sagrados e sacerdotais do Oriente são nomeados desta
maneira, lançando um manto sobre as costas por algum sacerdote
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 81
eminente. Eliseu provavelmente tinha sido educado nas escolas dos
profetas.
20. Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo — quer dizer, vai,
mas leve em conta a solene cerimônia que eu acabo de fazer sobre ti.
Não sou eu, e sim Deus quem te chama. Não permitas que algum afeto
terrestre te detenha de obedecer a sua chamada.
21. tomou a junta de bois — Tendo preparado (2Sm_24:22)
apressadamente um convite de despedida para sua família e amigos,
deixou seu lugar natal, e se uniu a Elias como seu ministro.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 82
1 Reis 20

Vv. 1-12. BEN-HADADE PÕE SÍTIO A SAMARIA.


1. Ben-Hadade, rei da Síria — Este monarca era o filho daquele
Ben-Hadade, quem, no reinado de Baasa, fez uma incursão às cidades
setentrionais da Galileia (1Rs_15:20). Os trinta e dois reis que estavam
confederados com ele, eram provavelmente príncipes tributários. Os
antigos reis da Síria e Fenícia governavam apenas cidades pequenas, e
eram independentes uns de outros, exceto quando uma cidade grande
como Damasco, adquiria a ascendência, e até então, eles eram aliados só
em tempo de guerra. O exército sírio acampou às portas e pôs sítio a
Samaria.
3. Assim diz Ben-Hadade: A tua prata e o teu ouro são meus —
A esta mensagem enviada durante o sítio, Acabe devolveu uma resposta
mansa e submissa, pensando provavelmente que significava só a exação
de um tributo. Mas a demanda foi repetida com maior insolência, e
entretanto, pelo caráter abjeto de Acabe, há razões para crer que teria
cedido a esta demanda arrogante também, se não se tivesse levantado
contra isso a voz de seus súditos. O objetivo do Ben-Hadade nestas
ameaças jactanciosas foi o de intimidar a Acabe. Mas o fraco soberano
começou a mostrar um pouco mais de espírito, como podemos o vero no
v. 11, ao dirigir-se a Ben-Hadade sem dizer “rei meu senhor” como o faz
no v. 4, e ao lhe insinuar sarcasticamente que “não se gabe” enquanto
não seja ganha a vitória. Ficando irado perante o desafio, Ben-Hadade
deu ordem para o saque imediato da cidade.
12. quando bebiam ele e os reis nas tendas — choças feitas de
ramas e matagais, levantadas para os reis no acampamento, como fazem
ainda para os paxás e agaes turcos em suas expedições. (Keil).
disse aos seus servos: Ponde-vos de prontidão — Para cercar a
cidade.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 83
Vv. 13-20. OS SÍRIOS SÃO MORTOS.
13. um profeta se chegou a Acabe — Embora o rei e o povo o
tinham ofendido, Deus não os tinha rejeitado totalmente. Ainda alentava
propósitos de misericórdia para com eles, e aqui embora não foi pedida,
deu-lhes uma prova de Seu interesse neles, mediante o anúncio animador
do profeta de que o Senhor naquele dia entregaria as poderosas hostes do
inimigo em mãos de Acabe por meio de um grupo pequeno, fraco e
inadequado. De acordo com as indicações do profeta, duzentos e trinta e
dois jovens saíram valentes rumo ao acampamento do inimigo, enquanto
mais sete mil, evidentemente voluntários, seguiam-nos a certa distância,
ou se estacionaram junto à porta, preparados a apoiar os que iam mais
adiante, se a ocasião assim o demandasse. Ben-Hadade e outros reis que
tinham ido ajudá-lo já estavam a essa anterior hora — dificilmente meio-
dia — bebendo. Bêbados, e embora fossem informados da companhia
que avançava, confiando no número de suas tropas, ou talvez excitados
pelo vinho, deu ordem com indiferença de que os intrusos fossem
tomados vivos, quer viessem com intenções pacíficas ou hostis. Foi mais
fácil dizer isto que fazê-lo; os jovens cortaram a mão direita e a
esquerda, fazendo terrível estrago entre seus supostos apreensores; e seu
ataque, junto com a presença dos 7.000, que se lançaram a tomar parte
na contenda, criou tal terror no exército sírio, que imediatamente fugiu.
O próprio Ben-Hadade fugiu sobre um cavalo veloz, rodeado por um
esquadrão dos guardas da cavalo. Esta gloriosa vitória, ganha tão
facilmente, e com uma força tão desprezível contra número
entristecedor, foi concedida para que Acabe e seu povo pudessem saber
(v. 13) que Deus é o Senhor; mas não se menciona se eles o
reconheceram assim, nem se ofereceram sacrifícios em sinal de sua
gratidão nacional.
22. Então, o profeta se chegou ao rei de Israel e lhe disse — O
mesmo profeta que havia predito a vitória, logo voltou a aparecer,
aconselhando o rei que tomasse toda precaução para preparar-se porque
o rei da Síria voltaria a pelejar contra ele.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 84
daqui a um ano — quer dizer, na primavera, no fim da estação das
chuvas, quando começavam antigamente (2Sm_11:1) as campanhas
militares. Sucedeu como o profeta tinha admoestado de antemão. Os
cortesãos de Ben-Hadade atribuíam sua derrota a duas causas: em
primeiro lugar, como eram pagãos, criam que tinham sido vencidos
porque os deuses de Israel eram “deuses dos montes”; mas que se a
batalha tivesse sido na planície, seus deuses não poderiam tê-los
ajudado. A outra causa a qual os cortesãos sírios atribuíam sua derrota
em Samaria, foi a presença dos reis tributários, aqueles que
provavelmente fossem os primeiros a fugir; e recomendavam que fossem
postos capitães no lugar deles. Aprovando estas recomendações, Ben-
Hadade renovou a invasão na primavera seguinte com o sítio a Afeca no
vale de Jezreel (1Sm_29:1; com 1Sm_28:4), não longe de En-Dor.
27. como dois pequenos rebanhos de cabras — As cabras nunca
se veem em grandes rebanhos, nem espalhadas, como as ovelhas; e por
isso as duas pequenas divisões das forças israelitas são comparadas com
as cabras, e não com as ovelhas. Humanamente falando, este pequeno
punhado de homens devia ser afligido pelo grande número dos
contrários, mas um profeta foi enviado ao pequeno exército israelita para
lhe anunciar a vitória, a fim de convencer aos sírios de que o Deus de
Israel era onipotente em todas as partes, tanto no vale como nos montes.
Com efeito, depois que os dois exércitos estiveram acampados frente a
frente sete dias, empreendeu-se a batalha. Cem mil sírios ficaram mortos
no campo, enquanto que os fugitivos buscaram refúgio em Afeca, e ali,
amontoados sobre a muralha da cidade, trataram de opor resistência a
seus perseguidores; mas as muralhas cederam sob o seu peso, caíram e
sepultaram 27.000 nas ruínas. Ben-Hadade conseguiu livrar-se, e com
seus cortesãos, buscou esconderijo na cidade, fugindo de “câmara em
câmara”; ou, como alguns pensam, na câmara interior do harém; mas não
vendo meios de escape finais, lhe aconselharam entregar-se à tenra
misericórdia do monarca israelita.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 85
32. puseram cordas à roda da cabeça — Os cativos eram
arrastados em grupos, com sogas em seus pescoços, como se pinta nos
monumentos do Egito. Sua atitude voluntária e sua linguagem submissa
adulavam o orgulho de Acabe, quem, sem se importar com a grande
desonra feita ao Deus de Israel pelo rei sírio, e pensando nada mais na
vitória, fez alarde de sua clemência, chamou o rei derrotado “seu irmão”,
convidou-o a sentar-se no carro real, e o despediu com uma aliança de
paz.
34. monta os teus bazares em Damasco — Dando a entender que
a quarta parte daquela cidade devia ser cedida aos judeus, com o livre
exercício de sua religião e suas leis, sob seus próprios juízes. Esta
bondade errada para com um idólatra orgulhoso e ímpio, tão imprópria
de um monarca teocrático, expôs a Acabe à mesma censura e sorte que
Saul (1Sm_15:9, etc.) Foi contrária ao propósito que Deus tinha ao lhe
conceder a vitória.

Vv. 35-42. UM PROFETA REPREENDE A ACABE.


35. Esmurra-me — Supõe-se que este profeta era Micaías
[1Rs_20:8]. Este varão fez mal ao negar-se a ferir o profeta, porque lhe
negou a ajuda necessária no cumprimento de um dever ao qual tinha sido
chamado por Deus, e foi severamente castigado [1Rs_20:36], para que o
seu castigo servisse como um farol para advertir a outros (veja-se
1Rs_3:2-24). O profeta achou um ajudante voluntário, e logo, esperando
a Acabe, levou a rei inconscientemente, da mesma maneira parabólica
que Natã usou (2Sm_12:1-4), a pronunciar sua própria condenação; e
este castigo foi imediatamente anunciado por um profeta.
39. um talento de prata — 342 libras esterlinas.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 86
1 Reis 21

Ver. 14. NABOTE NEGA A ACABE SUA VINHA.


1. Nabote, de Jezreel, tinha uma vinha — Acabe estava desejoso,
pela contiguidade a seu palácio, de possuir esta vinha para fazer um
jardim de legumes. Propôs a Nabote lhe dar uma melhor em troca, ou
obtê-la pela compra; mas o dono se negou a desfazer-se dela; e ao
persistir em sua negativa, Nabote não foi animado por sentimentos de
deslealdade ou por falta de respeito ao rei, mas sim só por uma
consideração conscienciosa da lei divina, a qual por razões importantes
tinha proibido a venda de uma herança paterna [Lv_25:23; Nm_36:7]; ou
se, por extrema pobreza ou dívida, fosse inevitável a cessão dela, a
transferência era feita sob a condição de que fosse resgatável em
qualquer momento [Lv_25:25-27]; e em todo caso, que seria devolvida a
seu dono no ano Jubileu [Lv_25:28]. Enfim, não poderia ser alienada à
família, e foi por este motivo (1Rs_21:3) que Nabote se negou a cumprir
a demanda do rei. Não foi, pois, alguma rudeza ou falta de respeito o que
violentou e desgostou a Acabe, mas sim sua conduta manifesta um
espírito de egoísmo que não podia tolerar ser frustrado em seu objetivo, e
que o teria empurrado a uma tirania ilegal, se tivesse possuído alguma
força de caráter natural.
4. voltou o rosto — ou para esconder de seus cortesãos o
aborrecimento que sentia, ou para fingir uma grande tristeza, que
insistisse com eles a idear alguns meios de satisfazer seus desejos.

Vv. 5-6. JEZABEL FAZ COM QUE NABOTE SEJA APEDREJADO.


7. Governas tu, com efeito, sobre Israel? — Esta não foi uma
pergunta como em tom de admiração, mas sim como uma sarcástica
mofa; queria dizer: “Que lindo rei você é! Não pode usar o seu poder e
tomar o que seu coração deseja?”
Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha
— Logo que Jezabel conheceu a causa da tristeza de seu marido, ela,
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 87
depois de repreendê-lo por seu pusilanimidade, e lhe mandando que se
comportasse como rei, disse-lhe que não se incomodasse mais por
semelhante bagatela; que ela lhe garantia a possessão da vinha.
8. Então, escreveu cartas em nome de Acabe, selou-as com o
sinete dele — O anel com selo continha o nome do rei, e dava validez
aos documentos aos quais se fixava (Et_8:8; Dn_6:17). Ao permitir a ela
o uso de seu anel, Acabe passivamente consentiu com o procedimento de
Jezabel. Como foi escrito em nome do rei, tinha o caráter de um
mandado real.
as enviou aos anciãos e aos nobres que havia na sua cidade —
Eles eram as autoridades civis de Jezreel, e provavelmente eram os
instrumentos submissos de Jezabel. É evidente que, embora Acabe
tivesse estado recentemente em Jezreel, quando fez a oferta a Nabote,
tanto ele como Jezabel estavam agora em Samaria. (1Rs_20:43).
9. Apregoai um jejum, etc. — Aqueles magistrados lisonjeadores e
ímpios fizeram segundo as ordens. Fingindo que uma grave culpa pesava
sobre uma ou várias pessoas desconhecidas, acusadas de terem
blasfemado contra Deus e o rei, e que Acabe estava ameaçando vingança
sobre toda a cidade, se o culpado não fosse descoberto e castigado, eles
congregaram o povo para fazer um solene jejum. Mandava-se fazer
jejuns em ocasiões extraordinárias que afetavam os interesses públicos
do estado (2Cr_20:3; Ed_8:21; Jl_1:14; Jl_2:15; Jn_3:5). As autoridades
ímpias de Jezreel, ao proclamar jejum, desejavam aparentar justiça em
seus procedimentos, e produzir a impressão entre o povo de que o crime
de Nabote equivalia a traição contra a vida do rei.
trazei Nabote para a frente do povo — Durante um juízo a pessoa
acusada era posta em lugar alto, diante da presença de toda a corte; mas
como neste caso se supunha que a pessoa culpada era desconhecida, o
colocar a Nabote no alto entre o povo deve ter sido porque era das
pessoas distinguidas do lugar.
13. vieram dois homens malignos — homens vis que tinham sido
subornados para jurar uma mentira. A lei exigia duas testemunhas nas
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 88
ofensas capitais (Dt_17:6; Dt_19:15; Nm_35:30; Mt_26:60). Amaldiçoar
a Deus e amaldiçoar ao rei eram mencionados na lei (Êx_22:28) como
ofensas estreitamente unidas entre si, sendo o rei de Israel o
representante terrestre de Deus em seu reino.
o levaram para fora da cidade e o apedrejaram — A lei, que
proibiu amaldiçoar aos governantes do povo, não especifica a pena desta
ofensa; mas a prática a tinha sancionado ou as autoridades de Jezreel
tinham originado o apedrejamento como o castigo adequado. Sempre se
infligia fora da cidade (At_7:58).
14-15. Jezabel … disse a Acabe: Levanta-te e toma posse da
vinha — Tendo sido anunciada a execução de Nabote, e estando a
família (2Rs_9:26) envolta na mesma sentença fatal, a propriedade veio
a ser confiscada a favor da coroa, não por lei, mas por costume
tradicional (veja-se 2Sm_16:4).
16. levantou-se para descer — Desde Samaria a Jezreel.

Vv. 17-29. ELIAS DENUNCIA JUÍZOS CONTRA ACABE E


JEZABEL.
17-19. Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança? —
Enquanto Acabe estava no ato de contemplar sua posse mal havida.
Elias, por ordem divina, apresentou-se perante ele. A aparição do profeta
em tal ocasião era presságio de mal, mas sua linguagem o era muito mais
(cf. Ez_45:8; Ez_46:16-18). Em vez de se horrorizar pelo crime atroz,
Acabe com entusiasmo se apressou a ir até sua propriedade recém
adquirida.
No lugar em que os cães lamberam, etc. — Uma retribuição justa
da providência. A predição foi cumprida, não em Jezreel, mas em
Samaria; e não em Acabe pessoalmente, em consequência de seu
arrependimento (v. 20), mas em seu filho (2Rs_9:25). As palavras “no
lugar” podem interpretar-se “da mesma maneira como”.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 89
20. já te vendeste para fazeres o que é mau — quer dizer,
permitido que o pecado adquira domínio habitual e sem freio sobre ti
(2Rs_17:17; Rom_7:11).
21, 22. Farei a tua casa, etc. — (veja-se 1Rs_15:29; 16:3-12).
Jezabel, embora estava incluída entre os membros da casa de Acabe,
tinha sua sorte ignominiosa predita expressamente (veja-se 2Rs_9:30).
27-29. Acabe … rasgou as suas vestes, cobriu de pano de saco o
seu corpo e jejuou; dormia em panos de saco e andava cabisbaixo —
Ele não estava endurecido, como Jezabel. Este terrível anúncio fez uma
impressão profunda no coração do rei e o levou, por um tempo, ao
sincero arrependimento. Ele manifestou todos os sinais externos,
convencionais e naturais, de profundo pesar. Era miserável, e tão grande
é a misericórdia de Deus, que, como resultado de sua humilhação, o
castigo com que lhe tinha ameaçado foi adiado.
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 90
1 Reis 22

Vv. 1-36. ACABE MORTO EM RAMOTE DE GILEADE.


1. Três anos se passaram sem haver guerra entre a Síria e Israel
— A derrota desastrosa de Ben-Hadade tinha destruído de tal modo seu
exército e esgotado os recursos de seu país, que, por mais que quisesse
não podia começar de novo as hostilidades contra Israel. Mas que sua
inimizade hereditária continuava, foi manifesto por sua violação à
aliança por meio da qual ele se comprometeu a restaurar todas as cidades
que seu pai tinha tomado (1Rs_20:34).
2. desceu Josafá, rei de Judá, para avistar-se com o rei de Israel
— É estranho que uma liga de amizade entre os soberanos de Israel e
Judá, pela primeira vez, fosse formada por príncipes de tão contrários
caracteres, um piedoso, o outro ímpio. Nem esta liga nem a aliança
matrimonial pela qual foi cimentada a união entre as famílias reais,
tiveram a aprovação do Senhor (2Cr_19:2). Conduziu, entretanto, a uma
visita de Josafá, cuja recepção em Samaria foi distinguida pela
hospitalidade mais pródiga (2Cr_18:2). Aproveitou-se esta visita para
promover um assunto no qual Acabe havia posto o seu coração.
3. Não sabeis vós que Ramote-Gileade é nossa? — Cidade
levítica e livre sobre a fronteira norte de Gade (Dt_4:43; Js_21:38), sobre
o local do atual Lago salgado, na província de Belka. Ficava dentro do
território do monarca israelita, e foi injustamente alienada; mas se era
uma das cidades usurpadas pelo primeiro Ben-Hadade, que o filho tinha
prometido devolver, ou se era retida por alguma outra razão, o
historiador sagrado não diz. Na expedição que meditava Acabe para
recuperar a cidade, a ajuda de Josafá foi pedida e este prometeu que a
daria (veja-se 2Cr_18:3). Antes de declarar a guerra, era costume
consultar os profetas (veja-se 1 Sm_28:8); e havendo Josafá expresso um
ardente desejo de conhecer a vontade do Senhor com relação a esta
guerra, reuniu Acabe quatrocentos de seus profetas. Estes não podem ter
sido os profetas de Baal nem de Astarote (1Rs_18:19), mas parece
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 91
(1Rs_22:12) que foram falsos profetas, que rendiam culto simbólico a
Jeová por meio dos bezerros. Sendo eles criaturas de Acabe,
unanimemente predisseram um próspero resultado da guerra. Mas
descontente com eles, Josafá perguntou se havia algum profeta
verdadeiro do Senhor. Acabe consentiu, com grande relutância, em que
fosse chamado Micaías. Era o único profeta verdadeiro residente em
Samaria, e foi necessário tirá-lo do cárcere (1Rs_22:26), na qual,
segundo Josefo, tinha sido lançado por causa de sua repreensão a Acabe
por ter perdoado o rei da Síria.
11. Zedequias, filho de Quenaana, fez para si uns chifres de
ferro — Pequenas protuberâncias do tamanho e forma de nossos mata
candelas (levados em muitas partes do Oriente como adornos militares),
eram levados pelos sírios daquele tempo, e provavelmente pelos
guerreiros israelitas também. Zedequias, tomando dois chifres,
representava dois heróis, e, tendo-se por profeta, desejava desta maneira
representar os reis de Israel e Judá num triunfo militar. Foi ação
simbólica, para dar mais força a suas palavras (veja-se Dt_33:17); mas
não valia mais que o brandir de uma lança. (Calmet, Fragments).
14. o que o SENHOR me disser, isso falarei — No caminho o
mensageiro que o conduzia [Micaías] à presença real, informou-lhe do
teor das profecias já pronunciadas, e lhe recomendou que concordasse
com os demais, sem dúvida pelo propósito bondoso de o ver livre da
prisão. Mas Micaías, inflexivelmente fiel a sua missão divina como
profeta, anunciou seu propósito de proclamar honestamente o que Deus
lhe dissesse. Ao o rei lhe perguntar: “iremos a Ramote-Gileade à peleja
ou deixaremos de ir?”, o profeta deu precisamente a mesma resposta que
deram os oráculos antes; mas deve ter sido dada num tom sarcástico de
acordo com a maneira de falar deles. Mas ao lhe ser pedido
urgentemente que desse uma resposta séria e veraz, Micaías declarou o
que o Espírito lhe tinha revelado por meio de uma visão: “Vi todo o
Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor”. O
significado disto era, que o exército de Israel seria derrotado e disperso;
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 92
que Acabe cairia na batalha, e que o povo voltaria sem ser açoitado ou
destruído pelo inimigo.
18-23. Não te disse eu que ele não profetiza a meu respeito o que
é bom, mas somente o que é mau? — Como Acabe estava disposto a
atribuir esta desagradável verdade à inimizade pessoal, Micaías
prosseguiu sem medo contando detalhadamente ao irado monarca o que
lhe tinha sido revelado. Os profetas hebreus tiravam seus quadros
simbólicos de cenas terrestres, representando a Deus como rei em Seu
reino. E como os príncipes terrestres não fazem nada de importância sem
pedir a opinião de seus conselheiros, representa-se a Deus como
consultando a respeito da sorte de Acabe. Esta linguagem profética não é
preciso ser interpretada literalmente, e o mandado se deve considerar só
como uma concessão ao espírito mentiroso. (Rom_11:34). (Calmet).
24, 25. Zedequias, filho de Quenaana, chegou, deu uma
bofetada em Micaías — A insolência deste homem, chefe dos profetas
falsos, parece ter sido provocada por ciúme porque Micaías tinha o
espírito de inspiração. Este modo de ferir, geralmente com um sapato, é
severo e ignominioso. A resposta equânime do profeta do Senhor
consistia em anunciar a sorte dos falsos profetas como conselheiros da
expedição desastrosa.
26-28. Tomai Micaías … Metei este homem na casa do cárcere
— Acabe, sob o impulso de seu ressentimento veemente, manda outra
vez Micaías ao cárcere até sua volta. Pão de angústia, água de aflição—
quer dizer, o pior da comida da cárcere. Micaías se submeteu, mas
repetiu, para ouvidos de todos, que o resultado da guerra seria fatal para
Acabe.
29-39. Subiu … a Ramote-Gileade — O rei de Israel, decidido ir à
expedição, partiu acompanhado por seu aliado e com todo seu exército,
ao local; mas ao se aproximar à cena de ação, lhe falhou coragem, e,
esperando evitar o poder da profecia do Micaías mediante um
estratagema secreto, ele tomou o uniforme de um ajudante, enquanto que
aconselhava a Josafá a pelejar em sua roupa real. O rei sírio, tendo em
1 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 93
vista pôr fim à guerra o mais breve possível, ou talvez de apagar a
mancha de sua humilhação (1Rs_20:31), tinha dado ordem especial a
seus generais de que pelejassem só contra Acabe, e que o tomassem vivo
ou morto, como autor da guerra. Primeiro os oficiais dirigiram seu
ataque contra Josafá, mas reconhecendo seu erro, o deixaram. Acabe foi
ferido por um flecha disparada ao acaso, a qual, provavelmente estava
envenenada, e com a alta temperatura aumentou a virulência do veneno,
e ele morreu ao pôr-do-sol. O cadáver foi levado a Samaria; e como
estavam lavando o carro em que foi trazido, num lago perto da cidade,
do sangue que tinha deslocado abundantemente da ferida, os cães o
lamberam, tal como o Senhor havia predito por meio de Elias
[1Rs_21:19]. Acabe foi sucedido por seu filho Acazias [1Rs_22:40].
2 REIS
Original em inglês:

2 KINGS

The Second Book of the Kings,

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

2 Reis 1 2 Reis 6 2 Reis 11 2 Reis 16 2 Reis 21

2 Reis 2 2 Reis 7 2 Reis 12 2 Reis 17 2 Reis 22

2 Reis 3 2 Reis 8 2 Reis 13 2 Reis 18 2 Reis 23

2 Reis 4 2 Reis 9 2 Reis 14 2 Reis 19 2 Reis 24

2 Reis 5 2 Reis 10 2 Reis 15 2 Reis 20 2 Reis 25


2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 2
2 Reis 1

V. 1. MOABE SE REBELA.
revoltou-se Moabe contra Israel — Os moabitas tinham sido
subjugados por Davi (2Sm_8:2) e na divisão de Israel e Judá, tinham
caído em poder do reino de Israel. Mas aproveitaram a morte de Acabe
para sacudir o jugo (veja-se 2Rs_3:6). O acidente que sofreu Acazias
impediu que tomasse medidas para suprimir a revolta, a qual teve êxito
porque era um juízo providencial sobre a casa de Acabe por todos os
seus crimes.

Vv. 2-8. JUÍZO DE ACAZIAS ANUNCIADO POR ELIAS.


2-8. caiu Acazias pelas grades de um quarto alto — Esta persiana
pode ter sido parte da varanda ou cerco de madeira, que rodeia os tetos
planos das casas, e sobre o qual o rei se apoiou descuidadamente, e o
cerco cedeu sob o seu peso; ou pode ter sido uma abertura no próprio
teto como claraboia, coberta com gradeado de madeira e estavam muito
finos ou podres, que ao o rei pisar caiu. Esta hipótese provavelmente é a
mais correta, pois parece que Acazias não caiu na rua nem no pátio, mas
em uma quarto alto.
consultai a Baal-Zebube — Ansioso por saber se se restabeleceria
dos efeitos desta queda severa, mandou consultar a Baal-Zebube, “o deus
das moscas”, ao qual se considerava o deus da medicina. Em Ecrom foi
erguido um templo a este ídolo, ao qual acudiam gente de todos os
lugares próximos e até longínquos; e por causa dele foi destruído este
lugar (Zc_9:5; Am_1:8; Sf_2:4). “Não me estranha que chamassem a
esse ídolo o “deus das moscas”, pois quando visitei Ecrom havia tantos
destes insetos, que era difícil evitar que caíssem-nos alimentos.” (Van de
Velde).
3. o Anjo do SENHOR — Não um anjo, mas sim o anjo, que
levava todas as comunicações entre o Deus invisível e seu povo
escolhido. (Hengstenberg.) Este anjo comissionou a Elias para que se
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 3
encontrasse com os mensageiros do rei, detivera-os peremptoriamente
em sua diligência idolátrica e que levassem a rei o anúncio de sua morte
próxima. A consulta a um ídolo, sendo uma violação da lei fundamental
do reino (Éx_20:3; Dt_5:7) era uma rejeição atrevida e deliberada da
religião nacional. O Senhor, ao fazer este anúncio de sua morte, teve o
propósito de que ele visse neste acontecimento um juízo por sua
idolatria.
4. Da cama ... não descerás — Ao ser levantado depois de sua
queda, provavelmente foi posto no divã, armação alta, como de três pés
de largura, coberta de colchões e travesseiros, colocada junto à parede, e
que serve de sofá durante o dia e de cama durante a noite, a qual sobe
por uma escada.
Elias partiu — A sua residência, que nesse tempo era o Monte
Carmelo (2Rs_2:25; 1Rs_18:42)
5. os mensageiros voltaram para o rei, e este lhes perguntou —
Eles não o conheciam; mas seu tom autoritário, sua atitude imponente e
sua comovedora mensagem fizeram com que resolvessem voltar
imediatamente.
8. homem vestido de pelos — Esta não era a descrição de sua
pessoa, como no caso de Esaú, mas sim de seu traje, que era de pele sem
curtir de ovelha ou cabra (Hb_11:37), ou de tecido de pelos de camelo
do mais comum que se fabrica deste material—como o tecido que
usamos para envolver mercadorias. Os dervixes e os beduínos se vestem
desta maneira desordenada e tosca, usam o cabelo solto, e sobre suas
costas um saco peludo que se ata no peito e na cintura com um cinturão
de couro. Era semelhante a este o cinturão dos profetas, de acordo com
sua roupa tosca e seu ofício tão austero e inflexível.

Vv. 9-16. ELIAS FAZ COM QUE DESÇA FOGO DO CÉU


SOBRE OS MENSAGEIROS DE ACAZIAS.
9. lhe enviou o rei um capitão de cinquenta — Toda aparência de
crueldade que possa haver na sorte dos dois capitães e seus homens, será
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 4
desfeita, mediante uma completa consideração das circunstâncias. Sendo
Deus o Rei de Israel, estava Acazias obrigado a governar o reino
segundo a lei divina; capturar o profeta pelo fato de cumprir um dever
ordenado por Deus, foi ato de homem rebelde, ímpio e notório. Os
capitães apoiavam ao rei em sua rebelião; e excederam seu dever militar
com insultos.
Homem de Deus — Ao usar este termo, eles falaram com sarcasmo,
não crendo que fosse verdadeiro profeta; ou, se o considerassem profeta
verdadeiro, a ordem de entregá-lo preso ao rei era insulto ainda mais
flagrante; a linguagem do segundo capitão foi pior que a do primeiro.
10. fogo desceu do céu — antes, “descerá fogo”. Não para vingar
um insulto pessoal, mas sim um insulto a Deus na pessoa de Seu profeta;
e o castigo foi infligido, não pelo profeta, mas sim diretamente pela mão
de Deus.
15. Levantou-se e desceu com ele — Um caso maravilhoso de fé e
obediência. Embora ele sabia quão aborrecível era ao rei sua presença,
ao receber o mandado de Deus, foi sem vacilar, e repetiu com os seus
próprios lábios a terrível notícia que pouco antes lhe tinham levado os
mensageiros.

Vv. 17, 18. ACAZIAS MORRE, E É SUCEDIDO POR JEORÃO.


17. Jeorão — O irmão de Acazias (2Rs_3:1).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 5
2 Reis 2

Vv. 1-10. ELIAS DIVIDE AS ÁGUAS DO JORDÃO.


1. Quando estava o SENHOR para tomar Elias ao céu — Uma
revelação deste acontecimento tinha sido feita a Elias; mas, sem que ele
soubesse, havia sido revelada a seus discípulos, e a Eliseu em particular,
quem ficou constantemente ao lado de Elias.
Gilgal — Este Gilgal (hoje Jiljil) estava perto de Ebal e Gerizim.
Uma escola de profetas foi estabelecida ali. Em Betel também havia uma
escola de profetas que Elias tinha fundado, embora aquele lugar fosse o
centro do culto ao bezerro; e em Jericó havia outra escola. Viajando a
estes lugares, o que fazia por impulso do Espírito (vv. 2, 4-6), Elias
desejava fazer uma visita para se despedir destas instituições que
estavam no caminho ao lugar de sua ascensão; e, ao mesmo tempo, por
um sentimento de humildade e modéstia, desejava estar em solidão, onde
não houvesse testemunhas oculares de sua glorificação. Mas foram
infrutíferos todos os seus esforços por persuadir a seu ajudante para ficar
atrás. Eliseu sabia que o tempo estava perto, e em todas os lugares os
filhos dos profetas lhe falavam da próxima separação de seu mestre. Sua
última etapa foi ao lado do Jordão, ao chegar ali eram seguidos à
distância por cinquenta discípulos dos profetas de Jericó, os quais tinham
desejos de ser testemunhas da translação milagrosa do profeta. A
revelação deste acontecimento foi uma parte necessária da dispensação;
porque tinha o propósito de ser sob a lei, como a de Enoque na idade
patriarcal, uma prova visível de outro estado, e um tipo da ressurreição
de Cristo.
3. tomará o teu senhor — Alusão ao costume daquele tempo de o
discípulo sentar aos pés de seu mestre, estando este numa parte alta.
(At_22:3).
8. Então, Elias tomou o seu manto, enrolou-o e feriu as águas —
Sua manto, como a vara de Moisés, tinha o poder eficaz do Espírito
divino.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 6
9. Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que eu te faça —
Confiando em que poderia lhe dar o que pedisse, ou que Deus o
concederia, se ele o pedisse.
que me toque por herança porção dobrada do teu espírito —
Esta petição não foi, como usualmente se supõe, pelo poder de operar
milagres que excedessem em magnitude e número aos de seu senhor;
nem tampouco significa um dom superior do espírito profético; porque
Eliseu não era nem superior a seu predecessor, nem igual a ele. Mas a
frase “porção dobrada” se aplicava aos primogênitos, e portanto, a
petição de Eliseu foi, simplesmente, que o herdasse com o ofício e os
dons proféticos de seu senhor.
10. Dura coisa pediste — Uma bênção extraordinária que eu não
posso dar, mas sim só Deus. Entretanto, sem dúvida por direção secreta
do Espírito, propôs a Eliseu um sinal, a qual o teria em atitude de
expectação, assim como também de súplica.

Vv. 11-18. É LEVADO A CÉU NUM CARRO DE FOGO.


11. um carro de fogo, com cavalos de fogo — Algum resplendor
brilhante, que aos olhos dos espectadores se assemelhava a esses objetos.
subiu ao céu num redemoinho — Uma tempestade ou tormenta de
vento, acompanhada por vivos relampejos por meio dos quais se ilustram
os juízos divinos (Is_29:6).
12. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai — quer dizer,
pai espiritual, assim como os profetas chamam filhos a seus discípulos.
carros de Israel e seus cavaleiros! — quer dizer, que os reinos
terrestres dependem para sua defesa e glória dos preparativos guerreiros,
ali um só profeta fez mais pela preservação e prosperidade de Israel que
todos seus carros e gente a cavalo.
tomando as suas vestes, rasgou-as — Em sinal de dor por sua
perda.
13. Então, levantou o manto que Elias lhe deixara — A
transferência deste manto foi para ele uma prova de que ele tinha sido
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 7
nomeado sucessor, e para outros foi um sinal externo de que o espírito de
Elias descansava sobre ele.
14-18. feriu as águas — Ferir o rio com o manto, e a resultante
divisão das águas, era evidência de que o Deus de Elias estava com ele, e
como este milagre foi visto pelos discípulos dos profetas de Jericó, eles
imediatamente reconheceram a preeminência de Eliseu, como o novo
profeta de Israel.
16-18. há cinquenta homens valentes; ora, deixa-os ir em
procura do teu senhor — Embora os jovens profetas tinham visto Elias
passar o Jordão de uma maneira milagrosa, não o tinham visto subir ao
céu. Eles criam que o redemoinho o tinha lançado sobre um monte ou
em algum vale; ou que tinha sido levado ao céu, que seu corpo tinha
ficado em algum lugar da terra. Por isso eles rogavam a Eliseu que
enviasse homens para buscá-lo, e ele acedeu a seus rogos; mas lhes
advertiu qual seria o resultado.

Vv. 19-25. ELISEU SARA AS ÁGUAS.


20. Trazei-me um prato novo e ponde nele sal — As substâncias
nocivas que havia na água não podem ter sido destruídas pela infusão de
sal, pois até supondo que o sal possuísse uma propriedade purificadora
tão notável, toda a água da fonte não pôde ter sido purificada nem sequer
por um só dia com um prato cheio desta substância, muito menos pelo
tempo todo. A infusão do sal foi um ato simbólico com o qual Eliseu
acompanhou a palavra de Deus, por meio da qual a fonte foi curada.
(Keil).
23, 24. uns rapazinhos saíram — Os jovens idólatras ou infiéis do
lugar, aqueles que aparentando descrer o relatório da translação de seu
senhor, sarcasticamente insistiam com ele para que o seguisse na carreira
gloriosa.
calvo! — Epíteto depreciativo no Oriente, que se aplica até a
pessoas que têm muito cabelo. O juízo espantoso que lhes coube, foi pela
intervenção de Deus para apoiar a seu profeta recém investido.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 8
2 Reis 3

Vv. 1-3. O MAU REINADO DE JORÃO SOBRE ISRAEL.


1. Jorão, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em
Samaria, no décimo oitavo ano de Josafá — (cf. 1Rs_22:52).
Concorda a declaração nestes duas passagens, se supusermos que
Acazias, tendo reinado durante o ano dezessete e a maior parte do
décimo oitavo de Josafá, foi sucedido por seu irmão Jorão, par o fim do
ano dezoito; ou que Acazias, tendo reinado dois anos junto com seu pai,
morreu no final desse período, quando Jorão subiu ao trono. Sua política
foi tão hostil como a de seus predecessores para a religião verdadeira;
mas fez algumas mudanças. Fossem seus motivos para estas mudanças
quer por temor dos muitos juízos alarmantes que haviam trazido sobre
seu pai o amparo da idolatria ou se era uma pequena concessão aos
sentimentos de Josafá, seu aliado, aboliu Jorão a idolatria em sua forma
mais grosseira, e restabeleceu o culto simbólico de Deus, que os reis de
Israel, do tempo de Jeroboão, tinham posto como uma muralha de
separação entre os súditos deles e os de Judá.

Vv. 4, 5. MESA, REI DE MOABE, SE REBELA.


4. Mesa, rei dos moabitas, etc. — Como seus domínios
compreendiam extensos campos de pastoreio, pagava como tributo anual
a lã de 100.000 carneiros e 100.000 cordeiros. Ainda é costume comum
no Oriente pagar os direitos e impostos com os frutos ou produtos
naturais da terra.
5. revoltou-se o rei de Moabe — Esta é uma repetição de 1Rs_1:1,
para introduzir o relato da expedição confederada para vencer esta
revolta, a qual foi permitido continuar sem ser reprimida durante o curto
reinado de Acazias.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 9
Vv. 6-24. ELISEU PROMETE ÁGUA E VITÓRIA SOBRE
MOABE.
6. Jorão … fez revista de todo o Israel — Fez uma partida dentre
seus próprios súditos, e ao mesmo tempo pediu a aliança de Josafá, a
qual, como na ocasião anterior com Acabe, foi prometida de boa vontade
(1Rs_22:4).
8. Por que caminho iremos? Jeorão respondeu: Pelo caminho
do deserto do Edom — Esta foi uma rota longa e tortuosa pelo sul do
Mar Morto. Josafá, entretanto, preferiu-a, em primeiro lugar porque a
parte do território moabita a qual chegariam, era a mais indefesa; e
porque assim alistaria na expedição as forças do rei de Edom. Mas ao
penetrar no profundo e penhascoso vale de Ahsy, o exército confederado
sofreu grandes perdas tanto de homens como de animais, até ficar
extremamente reduzido, por causa da falta de água. Desalentaram-se
muito ao achar seco o wadi deste vale, a torrente de Zerede (Dt_2:13-18)
(Robinson), e Jorão sumiu no desespero. Mas o piedoso Josafá
perguntou por um profeta do Senhor; e lhe tendo informado que Eliseu
estava perto, os três reis desceram a ele; quer dizer, a sua tenda que
estava no acampamento ou perto dele. Ele tinha sido dirigido a esse lugar
pelo Espírito de Deus com este propósito especial. Foram a ele, não só
por respeito, mas também para suplicar sua ajuda, conhecendo sua
têmpera austera.
11. que deitava água sobre as mãos de Elias — Quer dizer, era
seu servo, pois esta era uma das tarefas comuns de um servo. A frase é
usada aqui como sinônimo de “profeta verdadeiro e eminente”, que nos
revelará a vontade de Deus.
13. Que tenho eu contigo? — Desejando produzir no rei de Israel
um espírito de humildade e contrição, Eliseu o rejeitou severamente,
desprezando-o e mandando que fosse consultar a Baal e seus adivinhos.
Mas a condição dolorosa, e especialmente a linguagem suplicante dos
peticionários reais, os quais reconhecem a mão do Senhor em sua
angústia, fizeram com que o profeta solenemente manifestasse que só
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 10
por respeito a Josafá, o verdadeiro servo do Senhor, tomava algum
interesse em Jorão.
15. trazei-me um tangedor — O efeito da música para confortar o
espírito é muito estimado no Oriente; parece que os antigos profetas,
antes de se entregarem a seus tarefas, preparavam-se por meio da música
de louvor e a oração para receber a inspiração profética.
veio o poder de Deus sobre Eliseu — Frase que indica claramente
que o dom de profecia não é natural ou inerente, mas sim conferido pelo
poder e a graça de Deus.
16. Fazei, neste vale, covas e covas — Capazes de conter água.
17. Não vereis vento (RC) — É comum no Oriente dizer ver o
vento, pelas nuvens de palha e de pó que com frequência o ar levanta
depois de uma longa seca.
20. ao apresentar-se a oferta de manjares — quer dizer, à hora
dos sacrifícios matinais, acompanhados, sem dúvida, de orações solenes;
talvez dirigidas nesta ocasião por Eliseu, como numa ocasião similar por
Elias (1Rs_18:36).
vinham as águas pelo caminho de Edom — Longe do
acampamento israelita, nas montanhas orientais de Edom, caiu uma
grande chuva, um forte toró, por meio do qual o wadi se encheu
imediatamente de água, sem que eles vissem o vento e a chuva. A
intervenção divina manifestou-se usando as leis da natureza para um fim
determinado, da maneira como se havia anunciado (Keil). O milagre não
só trouxe ajuda ao angustiado exército israelita, como também destruição
aos moabitas, os quais, vendo a água sob os resplandecentes raios do sol
matinal, tinta como sangue, creram que os reis confederados tinham
pelejado entre si e que o campo se empapou com seu sangue, de modo
que, lançando-se a seu acampamento com a expectativa de encontrar
grandes despojos, foram surpreendidos pelos israelitas, os quais, estando
preparados para a batalha, lutaram e os perseguiram. Seu país foi
arruinado de tal maneira que esta foi considerada a maior desolação no
Oriente (v. 24).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 11
25. Quir-Haresete — (Hoje Kerak) — Castelo de Moabe naquele
então provavelmente a única fortaleza no país.
27. tomou a seu filho primogênito, que havia de reinar em seu
lugar, e o ofereceu em holocausto — Por este feito de horror, ao qual o
exército aliado conduziu o rei de Moabe, veio sobre Israel um juízo
divino; isto é, os sitiadores temiam a ira de Deus, a qual eles se atraíram
por ter dado ocasião ao sacrifício humano proibido na lei (Lv_18:21;
Lv_20:3), e rapidamente levantaram o sítio.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 12
2 Reis 4

Vv. 1-7. ELISEU AUMENTA O AZEITE DA VIÚVA.


1. Certa mulher, das mulheres dos discípulos dos profetas,
clamou a Eliseu — Aos profetas era permitido se casar, assim como
também aos sacerdotes e levitas. Como seu marido não desfrutava dos
ganhos lucrativos de algum negócio, não tinha senão entradas
profissionais, as quais naquela época irreligiosa, seriam precárias e
limitadas, de modo que não estava em condições de prover o necessário
para sua família.
É chegado o credor para levar os meus dois filhos para lhe
serem escravos — Por estatuto da lei, um credor tinha direito a reclamar
a pessoa e os filhos do devedor insolvente, e a obrigá-los a lhe servir
como escravos até que o ano do Jubileu lhes desse a liberdade.
2. uma botija — ou ampulheta de azeite. Como nisto consistia toda
sua existência de utensílios domésticos, o profeta a mandou que pedisse
copos vazios, não poucos; que se encerrasse com seus filhos, e deitasse
azeite de sua botija aos copos emprestados, e então que vendesse o azeite
para pagar sua dívida, e com o resto que se mantiveram ela e seus filhos.
6. E o azeite parou — quer dizer, deixou de multiplicar-se;
cumpriu-se o objeto benévolo para o qual se operou o milagre.

Vv. 8-17. PROMETE UM FILHO PARA A SUNAMITA.


8. passou Eliseu por Suném — Agora, Sulam, na planície de
Esdralom, à base sudoeste do Pequeno Hermom. O profeta era
hospedado neste lugar por um de seus habitantes piedosos e ricos.
10. Façamos-lhe um pequeno quarto (TB) — Não edificá-lo, mas
sim prepará-lo. Ela queria dizer uma peça no oleah, o pórtico ou a
entrada (2Sm_18:33; 1Rs_17:19), acrescentada à frente da casa, dando
para o pátio ou aos compartimentos interiores. O fronte da casa, menos a
porta, era um muro sem uso, e por isso a peça chamava-se “câmara de
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 13
paredes”. Geralmente se emprestava às pessoas estranhas que ficavam
uma noite, e, por estar separada era confortável para o estudo e o retiro.
13. que se há de fazer por ti? — Desejando manifestar sua
gratidão por seus cuidados hospitaleiros, anunciou-lhe o nascimento de
um filho. “Por este tempo, daqui a um ano, abraçarás um filho”. A
importância de semelhante notícia só se pode estimar considerando que
as mulheres orientais, e as judias em particular, consideram uma desonra
a esterilidade, e acalentam um desejo mais ardente de ter filhos que as
mulheres de qualquer outra parte do mundo (Gn_18:10-15).

Vv. 18-37. RESSUSCITA A SEU FILHO MORTO.


19. Ai! A minha cabeça! — Pelos gritos da criança, a parte
afetada, e a estação do ano em que isto aconteceu, se crê-se que ele
sofreu insolação. Dor, estupor e febre inflamatória são sintomas deste
mal, o qual é com frequência fatal.
22. Chamou a seu marido — A maneira heroica como ela
encobriu a seu marido a morte da criança, não é o aspecto menos
interessante desta história.
24. Guia e anda — No Oriente é usual que as mulheres andem em
asnos, acompanhadas por um servo, o qual vai atrás e impele ao animal
com um pau, aguilhoando-o para que caminhe à velocidade desejada
pela mulher. A sunamita teve que fazer uma viagem de 8 ou 9 kms. para
chegar até o cimo do Carmelo.
26. Tudo bem. — A propósito, sua resposta a Geazi foi breve e
indefinida, porque reservava a completa revelação de sua perda, para o
ouvido do próprio profeta. Encontrou-se com Geazi ao pé da colina, mas
ela não se deteve na ascensão até que teve descarregado seu espírito
triste aos pés de Eliseu. O violento paroxismo de dor em que caiu ao se
aproximar dele, parecia a Geazi um ato de falta de respeito a seu senhor;
estava preparando-se a tirá-la, quando o olho observador do profeta
entendeu que ela estava afligida por alguma causa de aflição
desconhecida. Quão grande é o amor de uma mãe! Quão maravilhosas
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 14
são as obras da providência! O menino era em todo sentido um dom
gratuito de Deus. Se teria permitido a ela alegrar-se com sua possessão
apenas por um pouco de tempo, para logo ser transpassada pela tristeza
ao ver o cadáver do amado menino? Pereça a dúvida e a incredulidade!
Este acontecimento se realizou para que “as obras de Deus fossem
manifestadas” em seu profeta, “e para a glória de Deus”.
29. toma o meu bordão … põe o meu bordão sobre o rosto do
menino — O bordão era talvez uma vara oficial de certa forma e
tamanho. Os necromantes estavam acostumados a enviar seu bordão com
mensageiros, aos quais lhes ordenava que não deixassem que no
caminho ficasse perto de nada que pudesse dissipar ou destruir sua
virtude. Alguns pensaram que Eliseu mesmo tinha ideias semelhantes, e
estava sob a impressão de que a aplicação do bordão serviria tanto como
o tato de sua mão. Mas isto é uma imputação desonrosa ao caráter do
profeta. Ele queria ensinar a sunamita, quem evidentemente dependia
muito dele, uma lição memorável de confiança em Deus. Enviando a seu
servo para que colocasse o bordão sobre o menino, alentou suas
esperanças, mas ao mesmo tempo lhe ensinou que sua própria ajuda era
ineficaz — que “nem tinha voz nem sentido”. A ordem de “se alguém te
saudar, não lhe respondas”, mostrava a urgência da missão, não
simplesmente para evitar as saudações molestas e desnecessários tão
comuns no Oriente (Lc_10:1); senão para o exercício da fé e a oração. O
ato de permitir que Geazi fracassasse, foi com o fim de livrar a sunamita
e ao povo de Israel em geral, da crença supersticiosa de que uma virtude
milagrosa residia numa pessoa e numa vara, e que unicamente pela
oração e a fé no poder de Deus e para Sua glória, se fazia este milagre e
todos os milagres.
34. deitou-se sobre o menino, etc. — (veja-se 1Rs_17:21;
At_20:10) Embora este contato com um corpo morto transmitiria
impureza cerimonial, entretanto, no cumprimento de grandes deveres
morais de piedade e benevolência, às vezes se deixavam de lado as leis
positivas, particularmente pelos profetas.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 15
35. o menino espirrou sete vezes, e abriu os olhos (TB) — Estes
foram os primeiros atos de uma vida restaurada, e se mencionam como
passos sucessivos. Como regra geral os milagres se realizavam
instantaneamente; mas às vezes, também progressivamente. (1Rs_18:44-
45; Mar_8:24-25).

Vv. 38-41. CURA UMA SOPA MORTÍFERA.


38. Havia fome naquela terra — (veja-se 2Rs_8:1).
estando os discípulos dos profetas assentados diante dele —
Quando recebiam ensino, os discípulos se sentavam sob seus mestres.
Isto quer dizer que viviam sob o mesmo teto (cf. 2Rs_6:1).
Põe a panela grande — É muito provável que a panela judia era
semelhante a “grande panela” egípcia; segundo se vê nas pinturas dos
monumentos era uma panela grande com pés, que se punha sobre o fogo
no solo. A “sopa” consistia de carne cortada em pedaços pequenos,
mesclada com arroz ou farinha e vegetais.
39. saiu um ao campo a apanhar ervas — As ervas silvestres são
muito usadas pelo povo do Oriente, até pelos que têm pomares de
verduras. Diariamente se buscam nos campos malvas, aspargos e outras
plantas silvestres.
parra silvestre (TB) — lit. “parra do campo”, supõe-se que é a
coloquíntida, espécie de pepino, ou pepino que, em seus folhas e fruto,
tem semelhança à videira silvestre. Seu fruto é da cor e tamanho da
laranja e muito amargo; produz cólicas e excita os nervos; comidos em
quantidade ocasionariam tal desarranjo do estômago que poderia
ocasionar a morte. A farinha que Eliseu lançou na panela foi um sinal
simbólico de que as propriedades nocivas das ervas tinham sido tiradas.
sua capa — Um manto grande que se lança sobre o ombro
esquerdo, e se une sob o braço direito, para formar capa ou avental.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 16
Vv. 42-44. FARTA A CEM HOMENS COM VINTE PÃES.
43. Comerão, e sobejará — Este não foi um milagre de Eliseu,
mas sim só uma predição da palavra do Senhor; assim que difere
grandemente dos milagres de Cristo (Mt_15:37; Mc_8:8; Lc_9:17;
Jo_6:12).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 17
2 Reis 5

Vv. 1-7. A LEPRA DE NAAMÃ.


1. Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era grande
homem diante do seu senhor — Altamente estimado por seu caráter
militar e seus êxitos.
de muito conceito — antes, “muito rico”.
porém leproso — Esta lepra, que em Israel o teria excluído da
sociedade, não afetou suas relações com a corte da Síria.
2. uma menina — Quem tinha sido apreendida numa das muitas
incursões de assalto que eram feitas pelos sírios sobre a fronteira
setentrional de Israel (veja-se 1Sm_30:8; 2Rs_13:21; 24:2). Esta jovem
hebreia, escrava da esposa de Naamã, lhe fez saber a este que o profeta
de Israel poderia lhe tirar a lepra. Ao comunicar Naamã o assunto a seu
rei, foi dada imediatamente uma carta para o rei de Israel, e saiu a
Samaria, levando consigo, como algo indispensável, obséquios muito
custosos.
5. dez talentos de prata — 3.421 libras esterlinas; 6.000 siclos de
ouro; soma grande, de valor não determinado.
dez vestes festivais — Roupa esplêndida, para ocasiões festivas —
a honra consistia não só na beleza e finura do material, mas em ter
muitos vestidos para trocar vários numa mesma noite.
7. Tendo lido o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes —
Segundo uma prática antiga entre o povo oriental, o objetivo principal só
era mencionado na carta que levava a pessoa interessada, mas as demais
circunstâncias eram deixadas para serem tratadas na entrevista. Isto
explica a explosão emocional de Jorão — não horror pela suposta
blasfêmia, mas sim alarme e suspeita de que isto fosse feito só para
ocasionar uma disputa. Um príncipe como ele, era difícil que pensasse
em Eliseu, talvez nem sequer teria ouvido de suas obras milagrosas.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 18
Vv. 8-15. ELISEU O ENVIA AO JORDÃO, E É CURADO.
8. Ouvindo, porém, Eliseu, homem de Deus, que o rei de Israel
rasgara as suas vestes, mandou dizer ao rei: ... Deixa-o vir a mim —
Pela providência de Deus, este era o objetivo principal da viagem de
Naamã. Quando chegou o general sírio com sua imponente comitiva à
casa do profeta, Eliseu lhe enviou uma mensagem: “Vai, lava-te sete
vezes no Jordão”. Esta recepção, aparentemente tão descortês para um
estrangeiro de tão alta dignidade, exasperou de tal modo a Naamã, que
resolveu ir embora, gabando-se desdenhosamente: “Não são ... Abana e
Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?”.
11. moveria a mão sobre o lugar da lepra — quer dizer, agitá-la
sobre as partes doentes do corpo. Antigamente havia, e ainda continua,
uma superstição muito comum no Oriente, de que a mão de um rei ou de
uma pessoa de grande santidade, que toca uma chaga, a curará.
12. Abana e Farfar — O Barady e um de seus cinco afluentes, não
se sabe qual. As águas de Damasco ainda são altamente louvadas por
seus habitantes, por sua pureza e frescura.
14. Então, desceu e mergulhou no Jordão sete vezes —
Persuadido por seus assistentes, mais tranquilos e mais razoáveis, a
provar um método tão simples e fácil, seguiu as instruções, e foi curado.
A cura foi feita baseando-se na aliança de Deus com Israel, pela qual a
terra e tudo o que lhe pertence, eram abençoados. Sete era o símbolo da
aliança (Keil).

Vv. 15-19. ELISEU RECHAÇA OS OBSÉQUIOS DE NAAMÃ.


15. Voltou ao homem de Deus — Depois de sua cura milagrosa,
Naamã voltou a Eliseu e lhe manifestou sua crença na supremacia do
Deus de Israel, e lhe ofereceu uma recompensa liberal. Mas para mostrar
que não agia pelos motivos mercenários dos sacerdotes e profetas
pagãos, Eliseu, embora tivesse aceito presentes em outras ocasiões
(2Rs_4:42), respeitosa mas firmemente se negou a aceitá-los nesta
ocasião, desejando que os sírios vissem a piedade dos servos de Deus, e
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 19
sua superioridade a todo motivo terrestre e egoísta ao promover a honra
de Deus e os interesses da religião verdadeira.
17. uma carga de terra de dois mulos — Para construir um altar
(Êx_20:24) ao Deus de Israel. O motivo ou propósito disto talvez foi que
ele cria que Deus poderia ser adorado de modo aceitável só sobre seu
próprio solo, ou talvez ele desejava, quando estivesse longe do Jordão,
ter terra da Palestina com que esfregar-se, a qual usam os orientais como
substituto da água; ou se por fazer tal petição a Eliseu, cria que a
concessão da mesma daria alguma virtude; ou como os judeus modernos
e maometanos, ele resolveu ter uma porção desta terra santa por seu
travesseiro de noite, não é fácil de dizer. Não é estranho achar
semelhantes ideias em pagãos recém convertidos.
18. entra na casa de Rimom — Uma deidade síria; provavelmente
o sol, ou o sistema planetário, do qual a granada (Heb. Rimom) era
símbolo.
se encosta na minha mão — quer dizer, o serviço que Naamã
rendia como assistente ao soberano. Como a comissão de Eliseu não se
estendia senão à conversão de Israel da idolatria, não faz nenhum
comentário aprovando ou desaprovando a conduta de Naamã,
simplesmente dá (v. 19) a bênção de despedida.

Vv. 20-27. GEAZI, POR UMA MENTIRA, OBTÉM UM


PRESENTE, MAS PEGA LEPRA.
20. hei de correr atrás dele e receberei dele alguma coisa — A
cortesia respeitosa a Eliseu, demonstrada na pessoa de seu servo, e a
generosidade liberal de seus presentes, testemunham a plenitude da
gratidão de Naamã; enquanto que a mentira, a maneira ardilosa de
despedir os portadores de tesouros, e sua aparência falsa perante seu
senhor, como se não tivesse saído da casa, dão uma impressão
desfavorável do caráter de Geazi.
23. em dois sacos — O povo do Oriente, quando viaja, guarda seu
dinheiro de certas somas, colocado em sacos.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 20
27. leproso, branco como a neve — (Veja-se Lv_13:3). Esta
pesada aflição não era muito severa pelo crime de Geazi. Porque não só
a avareza foi castigada, mas também ao mesmo tempo, o mau uso feito
do nome do profeta para ganhar um objeto motivado pela má cobiça, e a
tentativa de escondê-la pela mentira. (Keil).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 21
2 Reis 6

Vv. 1-7. ELISEU FAZ COM QUE O FERRO FLUTUE.


1. o lugar em que habitamos contigo — Margem, “nos sentamos
perante ti.” Uma lição assinala uma residência comum; a outra, lugar de
reunião comum. O teor do relato mostra a condição humilde dos
discípulos de Eliseu. O lugar era Betel ou Jericó. O ministério e os
milagres de Eliseu trouxeram grandes aumentos a suas escolas.
2. Vamos, pois, até ao Jordão — Cujas ribeiras cobertas de árvores,
proveriam bastante madeira.
5. era emprestado — lit., “mendigado”. O apuro do discípulo
resultou da consideração de que o machado lhe tinha sido emprestado, e
que, devido a sua pobreza, não poderia conseguir outro.
6. cortou um pau, e lançou-o ali — Embora se usou este meio, não
era natural para fazer nadar o ferro. Além disso, o Jordão diante de Jericó
é tão profundo e tão rápido, que havia mil possibilidades contra uma de
que o pau caísse no buraco da cabeça do machado. Todas as tentativas
para explicar a recuperação do implemento perdido por teorias
semelhantes devem rejeitadas. O ferro flutuou, somente pelo exercício
milagroso do poder de Eliseu.

Vv. 8-17. DÁ A CONHECER O CONSELHO DO REI DA SÍRIA.


8. O rei da Síria fez guerra a Israel — Esta parece ter sido uma
espécie de guerrilha, consistente em incursões de saque contra diferentes
partes do país. Eliseu fez saber ao rei Jorão os propósitos secretos do
inimigo; assim, tomando medidas de precaução, pôde prever e frustrar os
seus ataques. Isso levou o rei sírio a suspeitar que alguns de seus servos
o traíam, tendo correspondência com o inimigo; e foi informado a
respeito de Eliseu, cuja captura resolveu efetuar imediatamente. Esta
decisão, naturalmente, se baseou na crença de que por grande que fosse o
conhecimento de Eliseu, se fosse tomado e tomado preso, não poderia
dar mais informações ao rei de Israel.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 22
13. Dotã — Ou Dothaim, um pouco a norte de Samaria (veja-se
Gn_37:17).
15. o seu moço lhe disse: Ai! Meu senhor! Que faremos? —
Como um destacamento sírio rodeou o lugar de noite, para a captura do
profeta, seu servo foi paralisado de temor. Este era um servo novo, quem
estava com Eliseu desde a despedida de Geazi, e por conseguinte tinha
pouca ou nenhuma experiência dos poderes de seu senhor. Sua fé foi
facilmente comovida por um alarme tão repentino.
17. Orou Eliseu e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os
olhos para que veja — Que veja o guarda invisível de anjos que nos
rodeiam e defendem (Sl_34:7). O abrir de olhos que pediu Eliseu, foi o
dos olhos do Espírito, e não do corpo. Os olhos da fé veem a realidade da
presença e proteção divinas, onde tudo é vazio e escuridão ao olho
comum. Os cavalos e carros eram símbolos do poder divino (veja-se
2Rs_2:12); e sua natureza ardente significava sua origem sobrenatural;
porque o fogo, o mais etéreo dos elementos terrestres, é o símbolo mais
apropriado da divindade (Keil).

Vv. 18-23. SEU EXÉRCITO FERIDO DE CEGUEIRA.


18. Fere, peço-te, esta gente de cegueira — Não uma cegueira
total e material, porque então não poderiam ter lhe seguir, e sim uma
alucinação mental (veja-se Gn_19:11), de modo que não lhe percebiam
ou reconheciam como o objetivo de sua busca.
19. Não é este o caminho, nem esta a cidade — Este dito é tão
verdadeiro que, como ele já tinha deixado o lugar de sua residência, eles
não o teriam achado por aquele caminho. Mas a ambiguidade de sua
linguagem foi intencionalmente feita para enganá-los; entretanto, o
engano deve ver-se à luz de um estratagema, que sempre se considerou
legítimo na guerra.
os guiou a Samaria — Quando tinham chegado no meio da capital,
seus olhos, a pedido de Eliseu, foram abertos, e se deram conta de sua
condição indefesa, porque Jorão tinha recebido aviso de sua chegada.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 23
Não foi permitido ao rei matar os seus inimigos que inconscientemente
foram postos em seu poder; o profeta lhe recomendou que os tratasse
com hospitalidade liberal, e que logo os enviasse a seu próprio país. Este
conselho foi humanitário; era contrário aos costumes de guerra matar a
sangue frio aos cativos, mesmo quando fossem tomados pela ponta de
espada, e ainda mais a esses aos quais o poder milagroso e a providência
de Deus tinham posto inesperadamente ao seu dispor. Em tais
circunstâncias, o tratamento bondoso e hospitaleiro era de toda maneira
mais conveniente em si, e produziria os melhores efeitos. Resultaria para
a boa reputação da verdadeira religião, a que inspirava tão excelente
espírito nos que a professavam; não só precaveria a futura oposição dos
sírios, mas também lhes inspiraria um temor reverencial para um povo
que, como eles tinham visto, estava protegido por um profeta do Senhor.
A cláusula final do v. 23 mostra que se realizaram estes efeitos
saudáveis. Havia-se ganho uma conquista moral sobre os sírios.

Vv. 24-33. BEN-HADADE SITIA A SAMARIA.


24. Ben-Hadade … sitiou a Samaria — Este foi o cumprimento
predito do resultado da bondade tola e errada de Acabe (1Rs_20:42).
25. a cabeça de um jumento por oitenta siclos de prata —
Embora o asno fosse considerado impuro para alimento, a necessidade
justificava a violação de uma lei positiva, quando as mães, por
necessidade, achavam-se violando a lei da natureza. A cabeça era a pior
parte do animal. Oitenta peças de prata equivaleriam a seis libras com
cinco xelins.
a quarta parte dum cabe de esterco de pombas (TB) — O “cabe”
era a medida menor para artigos secos. A proporção aqui notada seria
como um quarto de litro por doze xelins e seis peniques. “Esterco de
pombas” seria, conforme pensa Bochart, uma espécie de lentilha ou
alfarroba, comum na Judeia, e ainda achada nos armazéns do Cairo e
Damasco, e outros lugares, para uso das caravanas de peregrinos; Lineu
e outros botânicos creem que era uma raiz ou cebola branca da planta
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 24
Ornithogalum umbellatum, Estrela de Belém. O historiador sagrado não
diz que os artigos aqui mencionados fossem vendidos regularmente a
estes preços, mas só se conheciam casos dos altos preços mencionados.
26. Passando o rei de Israel — Para olhar as defesas, ou dar as
ordens necessárias para defender o muro.
29. Cozemos, pois, o meu filho e o comemos — (Veja-se
Dt_28:53).
30. Tendo o rei ouvido as palavras da mulher, rasgou as suas
vestes — O horrível relato desta tragédia doméstica fez com que o rei
rasgasse sua roupa, como resultado do qual se descobriu que levava uma
camisa penitencial de cilício. Mas é mais que duvidoso que ele se
humilhou por causa de seus pecados e os de seu povo, pois de outra
maneira não teria jurado vingança sobre a vida do profeta. A verdadeira
explicação parece ser que como Eliseu lhe tinha aconselhado a não
render-se, com a promessa, a condição de profunda humilhação, de ser
libertado, e como ele tinha assumido os sinais de contrição sem receber o
esperado alívio, ele considerava Eliseu como a causa da prolongada
miséria, por haver-se mostrado falso e infiel.
32. Estava, porém, Eliseu sentado em sua casa, juntamente com
os anciãos — A última cláusula do v. 33, que contém a exclamação
impaciente do rei, explica a ordem impetuosa que ele deu para que
Eliseu fosse decapitado. Embora Jorão era rei ímpio, e a maioria de seus
cortesãos se pareciam com seu senhor, muitos tinham sido ganhos, por
influência do profeta, para a religião verdadeira. Uma reunião destes,
provavelmente de oração, celebrava-se na casa onde ele se alojava,
porque não tinha casa própria (1Rs_19:20-21); e a eles não só lhes
informou do desígnio do rei contra sua pessoa, mas também lhes
descobriu também a prova de uma libertação premeditada.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 25
2 Reis 7

Vv. 1-16. ELISEU PREDIZ UMA ABUNDÂNCIA INCRÍVEL


EM SAMARIA.
1. Ouvi a palavra do SENHOR — Esta pregação, comunicada
primeiro aos anciãos reunidos, foi intimada aos mensageiros do rei, os
quais a comunicaram a Jorão (v. 18).
Amanhã, a estas horas mais ou menos, dar-se-á um alqueire de
flor de farinha por um siclo — Assim, pode-se calcular um celamim ou
seja 9 litros de farinha fina em dois xelins e seis peniques, e dupla
quantidade de cevada ao mesmo preço.
à porta de Samaria — Vegetais, gado, e todas os produtos do
campo, ainda se vendem todas as manhãs às portas das cidades no
Oriente.
2. o capitão a cujo braço o rei se apoiava — Quando um rei
oriental caminha ou se estaciona ao ar livre, sempre se apoia sobre o
braço do cortesão de mais alta posição.
Ainda que o SENHOR fizesse janelas no céu — A incredulidade
zombadora desta declaração, que foi um escárnio não só contra o profeta,
mas também contra o Deus a quem este servia, foi castigada justa e
notavelmente (veja-se v. 20).
3. Quatro homens leprosos estavam à entrada — A notícia do
repentino levantamento do sítio, e a inesperada provisão dada aos
habitantes famintos de Samaria, introduz-se com o relato da visita e a
descoberta feita por estes pobres homens sobre a fuga extraordinária dos
sírios.
leprosos ... à entrada da porta — Vivendo, talvez, em algum
lazareto ali. (Lv_13:4-6; Nm_5:3).
5. chegando à entrada do arraial dos siros (RC) — quer dizer, a
parte do acampamento mais próxima à cidade.
6, 7. o Senhor fizera ouvir no arraial dos siros ruído de carros e
de cavalos e o ruído de um grande exército — Esta ilusão do ouvido,
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 26
pela qual os sitiadores se imaginavam ouvir a marcha dos exércitos de
partes distintas, foi um grande milagre que Deus operou diretamente para
a libertação de seu povo.
8, 9. aqueles leprosos … comeram e beberam — Depois que
tiveram aplacada sua fome e escondida quantas coisas de valor puderam
levar, sua consciência lhes feriu por esconder seu descobrimento, e então
se apressaram a publicá-lo na cidade.
10. somente cavalos e jumentos atados, e as tendas como
estavam — A disposição uniforme dos acampamentos no Oriente é
colocar as tendas no centro, enquanto que os animais são atados ao
redor, como não muro exterior de defesa; e por isso os leprosos
mencionam os animais como os primeiros objetos que viram.
12-15. o rei ... disse a seus servos: Agora, eu vos direi o que é
que os siros nos fizeram — Semelhantes estratagemas se usaram com
frequência nas guerras antigas e modernas do Oriente, que não é preciso
admirar-se de que se despertassem as suspeitas de Jorão. Mas os
exploradores que ele despachou, logo acharam sinais inequívocos do
terror que se tinha apoderado do inimigo e que produziu uma fuga
precipitada.

Vv. 17-20. O PRÍNCIPE INCRÉDULO ATROPELADO E MORTO.


17. Dera o rei a guarda da porta ao capitão em cujo braço se
apoiara — As notícias se estenderam como relâmpago pela cidade, e
foram seguidas, como era natural, por um movimento impetuoso ao
acampamento sírio. Para guardar a ordem na porta, o rei ordenou a seu
ministro estar de guarda; mas a impetuosidade do povo faminto não
podia ser resistida. O príncipe foi atropelado e morto, e a profecia de
Eliseu se cumpriu em todos os seus detalhes.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 27
2 Reis 8

Vv. 1-6. AS TERRAS DA SUNAMITA RESTAURADAS.


1. Falou Eliseu àquela mulher — Melhor “tinha falado”. A
repetição da orientação dada por Eliseu a sunamita é dada como
introdução ao relato seguinte; e talvez sucedeu antes dos acontecimentos
relatados nos capítulos 5 e 6.
o SENHOR chamou a fome — Todas estas calamidades eram
castigos infligidos pela mão de Deus; e esta fome devia ser de dupla
duração com relação àquela que houve nos dias de Elias (Tg_5:17), um
aumento justo de severidade, pois os israelitas continuavam endurecidos
e incorrigíveis, sob o ministério e milagres de Eliseu (Lv_26:21,
Lv_26:24, Lv_26:28).
2. saiu com os de sua casa e habitou por sete anos na terra dos
filisteus — Recomendou a ela o território dos filisteus, por sua
contiguidade a sua residência habitual; e agora que este estado tinha sido
grandemente reduzido, havia menos perigo que antes das seduções da
idolatria; e muitos judeus e israelitas estavam residindo ali. Além disso,
uma emigração à Filístia era menos ofensiva ao rei de Israel que o ir
residir em Judá.
3. e saiu a clamar ao rei pela sua casa e pelas suas terras — Por
causa de sua longa ausência do país, suas posses eram ocupadas por seus
parentes, ou tinham sido confiscadas pela coroa. Nenhum estatuto da lei
de Moisés ordenava semelhante alienação, mas a inovação parece ter
sido adotada em Israel.
4. O rei falava com Geazi (TB) — Como a contaminação
cerimonial se comunicava só por contato, não houve nada que proibisse
esta conversação a distância com um leproso; e embora ele estava
excluído da cidade de Samaria, esta conversação pode ter tido lugar na
porta ou em um dos jardins reais. A providência de Deus ordenou de tal
modo que o rei Jeorão foi induzido a perguntar com grande interesse, a
respeito das obras milagrosas de Eliseu, e o servo do profeta estava
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 28
relatando o maravilhoso incidente da restauração do filho da sunamita,
quando ela se apresentou para fazer sua petição. O rei sentiu prazer em
conceder-lhe e um oficial de estado foi encarregado para lhe prestar toda
facilidade na recuperação de sua possessão de família das mãos daquele
que a ocupava.

Vv. 7-15. HAZAEL MATA A SEU SENHOR, E O SUCEDE.


7. Veio Eliseu a Damasco — Sendo dirigido lá pelo Espírito de
Deus, em prosseguimento da missão anteriormente dada a Elias em
Horebe (1Rs_19:15), de ungir a Hazael rei da Síria. Ao se saber da
chegada do profeta, Ben-Hadade, que estava doente, mandou lhe
perguntar a respeito do resultado de sua doença, e segundo a prática dos
pagãos ao consultar os seus adivinhos, mandou um presente liberal em
pagamento do serviço.
9. quarenta camelos carregados — O presente, consistente dos
produtos do país mais raros e valiosos, deve ter sido liberal e magnífico.
Mas não devemos supor que fosse tão grande para necessitar quarenta
camelos para levá-lo. Os orientais são muito amantes da ostentação, e
muito pomposamente carregam em quarenta animais o que facilmente
poderia ser levado em quatro.
Teu filho Ben-Hadade — Assim chamado pelo costume
estabelecido de chamar pai ao profeta. Este era o mesmo monarca sírio
que antes o perseguia (veja-se 2Rs_6:13, 14).
10. Vai e dize-lhe: Certamente, sararás — Não havia contradição
neste mensagem. Esta parte era propriamente a resposta a pergunta de
Ben-Hadade. A segunda parte era destinada a Hazael, quem, como
cortesão ardiloso e ambicioso, informou unicamente das palavras do
profeta quanto convinha a seus propósitos (cf. v. 14).
11. Olhou Eliseu para Hazael e tanto lhe fitou os olhos, que este
ficou embaraçado — Até envergonhar a Hazael. O olhar firme e
penetrante do profeta parece ter convencido a Hazael de que seus
propósitos secretos eram conhecidos, e as profundas emoções de Eliseu
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 29
eram justificadas pelas horríveis atrocidades que, muito comuns nas
guerras antigas, aquele usurpador afortunado devia cometer em Israel
(2Rs_10:32; 13:3, 4, 22).
15. tomou um cobertor, etc. — Uma colcha. No Oriente este
artigo é geralmente uma grossa colcha de lã ou algodão, de modo que,
com seu grande peso, quando está molhada, seria instrumento prático
para efetuar seu propósito homicida, sem deixar sinais de violência. Mas
muitos duvidam que Hazael intencionalmente matasse ao rei. É comum
que o povo oriental durma com seus rostos cobertos com um
mosquiteiro; e, em alguns casos de febre, molham a roupa de cama.
Hazael, sabendo que geralmente se recorria a estes remédios gelados,
teria podido com propósito honesto estender um pano refrescante sobre
ele. O acontecimento rápido da morte do rei e o enterro imediato eram
favoráveis a sua imediata elevação ao trono.

Vv. 16-23. O REINADO ÍMPIO DE JEORÃO.


16. começou a reinar Jeorão, filho de Josafá — (Veja-se 2Rs_3:1).
Seu pai renunciou ao trono a favor dele dois anos antes de sua morte.
18. filha de Acabe (TB) — Atalia, por cuja influência Jeorão
introduziu o culto de Baal e muitas outras influências más no reino de
Judá (veja-se 2Cr_21:2-20). Esta apostasia teria levado a total extinção
da família real naquele reino, se não tivesse sido pela promessa divina a
Davi (2Sm_7:16). Um castigo nacional foi infligido sobre Judá por meio
da rebelião de Edom, que, tendo sido governado por um rei tributário
(2Rs_3:9; 1Rs_22:47), levantou a bandeira de independência (veja-se
2Cr_21:9).

V. 24. ACAZIAS O SUCEDE.


Em seu lugar reinou seu filho Acazias — (veja-se 2Cr_22:1-6).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 30
2 Reis 9

Vv. 1-23. JEÚ É UNGIDO.


1. Ramote-Gileade — Cidade de grande importância para o povo
hebreu, a leste do Jordão, como fortaleza de defesa contra os sírios.
Jeorão voltou a tomá-la (2Rs_8:29). Mas o exército israelita ainda estava
acampado ali, sob o mando de Jeú.
Chamou o profeta Eliseu a um dos filhos dos profetas — Esta
diligência se referia à última comissão dada a Elias em Horebe
(1Rs_19:16).
vaso de óleo — (Veja-se 1Sm_10:1).
2. leva-o à câmara interior — Tanto para conseguir a segurança
do mensageiro como para evitar todo obstáculo na execução do assunto.
3. Ungi-te rei sobre Israel — Esta foi só parte da mensagem; o
anúncio completo do mesmo é dado nos vv. 7-10.
foge e não te detenhas — Por temor de ser surpreso e alcançado
pelos espiões ou servos da corte.
4. Foi, pois, o moço, o jovem profeta, a Ramote-Gileade — Seu
pronto empenho desta missão delicada e perigosa era prova notável de
sua piedade e obediência. O ato de ungir, feito por um profeta
comissionado, foi uma intimação divina de sua investidura com o poder
soberano. Mas às vezes o ato se cumpria muito antes da verdadeira
possessão do trono (1Sm_16:13), e, da mesma maneira, neste caso a
comissão tinha sido dada a Elias muito antes, quem, por razões válidas,
deixou-a a cargo de Eliseu, e ele esperou o tempo e a ordem de Deus
para executá-la (Poole).
10. no campo de Jezreel — aquele que antes tinha sido a vinha de
Nabote.
11. Vai tudo bem?, etc. — Os assistentes de Jeú sabiam que o
estranho pertencia à ordem dos profetas por sua roupa, gesto e forma de
saudação; e soldados como eles facilmente concluíam que tais pessoas
estavam loucas, não só pelo descuido de sua aparência pessoal e seu
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 31
desprezo pelo mundo mas por suas ocupações religiosas em que
passavam suas vidas, e as ações grotescas que frequentemente
executavam (cf. Jr_29:26).
13. se apressaram, e, tomando cada um o seu manto, os
puseram debaixo dele — A capa que estenderam sobre o solo, como
sinal de sua homenagem a seu distinto comandante (Mt_21:7).
sobre os degraus — Da peça onde o profeta tinha ungido
privadamente a Jeú, aquele general voltou a juntar-se com seus oficiais
companheiros no departamento público, os quais ao saber da elevação
que lhe tinha sido destinada, o conduziram escada acima ao teto, o lugar
mais conspícuo que se poderia escolher, sendo o mais alto do edifício e o
mais visível para o povo e os militares, fora do edifício (Kitto). A
popularidade de Jeú entre o exército, favoreceu os desígnios da
providência em conseguir sua proclamação imediata e entusiasta como
rei, e o topo da escada foi escolhida como o melhor substituto de um
trono.
14, 15. Tinha, porém, Jorão cercado a Ramote-Gileade — Tinha
estado guardando-a, sitiando-a, com a maior parte das forças militares de
Israel, as quais foram deixadas sob o mando de Jeú, devido ao fato de
que suas feridas tinham obrigado o rei a retirar-se da cena de ação.
16. Então, Jeú subiu a um carro e foi-se a Jezreel — Cheio de
propósito ambicioso, Jeú imediatamente passou a cruzar o Jordão, para
executar sua comissão sobre a casa de Acabe.
17. o atalaia estava na torre de Jezreel — Os palácios hebreus,
além de estar situados sobre colinas, geralmente tinham torres, não só
pelo prazer da bela vista, mas também como úteis lugares de vigilância.
A antiga torre de atalaia de Jezreel dominava uma vista de toda a região
rumo ao este, quase até o Jordão. Bete-Seã está sobre um terreno
ascendente, como nove ou dez quilômetros de Jezreel, e sobre o nível
mais baixo numa parte estreita da planície; e quando Jeú e sua comitiva
chegaram a esse ponto entre Gilboa e Bete-Seã, estariam totalmente
visíveis ao atalaia na torre, quem daria aviso a Jeorão em seu palácio
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 32
abaixo. Um mensageiro a cavalo é enviado pela planície abaixo a
encontrar-se com o visitante ambíguo, e a perguntar o objetivo de sua
chegada. “Há paz?” Podemos supor que este mensageiro se encontraria
com Jeú à distância de quase cinco quilômetros ou mais. Como se deu
aviso de que foi detido o mensageiro e dirigido à retaguarda da equipe,
um segundo mensageiro foi mandado da mesma maneira, quem
naturalmente se encontraria com Jeú a mais ou menos dois quilômetros
de distância sobre a planície. Como este também é dirigido a retaguarda,
o vigia agora distinguiu que “o guiar do carro parece como o de Jeú,
filho de Ninsi, porque guia furiosamente”. O monarca alarmado,
consciente do ameaçador perigo, rapidamente reuniu suas forças para
fazer frente à crise, e acompanhado por Acazias rei de Judá, os dois
soberanos sobem a seus carros para opor uma fraca resistência à
impetuosa investida de Jeú, quem rapidamente da planície ascende o
escarpado flanco setentrional do lugar onde se localiza Jezreel, e os
bandos opostos se encontraram “no campo de Nabote, o jezreelita”, onde
Jeorão foi vitimado por uma flecha do braço forte de Jeú. Fomos
impressionados com a óbvia exatidão do sagrado historiador; sendo as
localidades e distâncias tais como parecem naturalmente exigidas pelos
incidentes relatados, proporcionando justamente o tempo para que os
acontecimentos ocorressem na ordem em que se relatam (Howe).
25. joga-o a um extremo da herança de Nabote, etc. — Segundo
a condenação pronunciada por autoridade divina sobre Acabe
(1Rs_21:19), mas que por seu arrependimento foi deferida a ser
cumprida em seu filho.
26. o sangue de Nabote e o sangue de seus filhos, diz o SENHOR
— Embora a morte dos filhos não se menciona expressamente, se dá a
entender claramente no confisco de sua propriedade (veja-se 1Rs_21:16).

Vv. 27-35. ACAZIAS É MORTO.


27. Acazias — era sobrinho neto do rei Jeorão, e bisneto de Acabe.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 33
Ibleã — perto de Megido, na tribo de Issacar (Js_17:11; Jz_1:27), e
Gur era sobre uma colina próxima.
30. Jezabel … se pintou em volta dos olhos — Segundo costume
em Oriente entre as mulheres, de tingir as pálpebras com um pó negro
feito de antimônio pulverizado, aplicado com um pequeno pincel no
bordo dos olhos, de modo que parecem maiores e brilhantes. Seu objeto
foi, por seu adorno real, não cativar, mas sim intimidar a Jeú.
35. não acharam dela senão a caveira, os pés e as palmas das
mãos — O cão tem uma firme aversão a comer as mãos e os pés
humanos.

Vv. 36, 37. JEZABEL COMIDA POR CÃES.


36. Ele disse: Esta é a palavra do SENHOR, que falou por
intermédio de Elias — (Veja-se 1Rs_21:23). A declaração de Jeú,
entretanto, não é literal, mas sim paráfrase da profecia de Elias.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 34
2 Reis 10

Vv. 1-17. JEÚ FAZ COM QUE SEJAM DECAPITADOS


SETENTA FILHOS DE ACABE.
1. Achando-se em Samaria setenta filhos de Acabe — Como
parece (v. 13) que estão incluídos os netos, é provável que este número
inclua toda a posteridade de Acabe. O fato de que todos se achavam
reunidos naquela capital poderia resultar de que tinham sido deixados ali,
quando o rei foi embora para Ramote-Gileade, e de que eles se
refugiaram em alguma fortaleza daquela cidade, para ouvir da
conspiração de Jeú. Poderia inferir-se do teor das cartas de Jeú que sua
primeira intenção era a de escolher o mais apto da família real e elevá-lo
a rei, e talvez este desafio de Jeú foi proposto como golpe de política da
parte dele para obter os pontos de vista deles e provar se eles estavam
dispostos a ser pacíficos ou hostis. O caráter audaz do homem e o êxito
rápido de sua conspiração amedrontaram as autoridades civis de Samaria
e Jezreel e conseguiram a submissão delas.
5. teus somos — Antigamente, e ainda em muitos países orientais,
os grandes principais são encarregados da manutenção e educação dos
príncipes reais. Isto importava um gasto pesado que eles estavam
obrigados a suportar, mas pelo qual eles tratavam de achar alguma
compensação nas vantagens de sua relação com a corte.
6. tomai as cabeças dos homens, filhos de vosso senhor — A
prática bárbara do afortunado usurpador, de matar a todos os que possam
ter pretensões ao trono, foi imitada frequentemente na história antiga e
moderna do Oriente.
8. Ponde-as em dois montões à entrada da porta — A exibição
das cabeças de inimigos é considerada sempre um troféu glorioso. Às
vezes um montão de cabeças se levanta a porta do palácio; e uma cabeça
de aparência chamativa se escolhe para adornar o cimo da pirâmide.
9. disse a todo o povo: Vós estais sem culpa — Um grande
concurso de pessoas se reuniu para olhar este espetáculo novidadeiro e
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 35
lúgubre. O discurso que Jeú dirigiu aos espectadores foi astutamente
ideado para impressionar suas mentes com a ideia de que essa matança
em grandes quantidades, feita sem sua ordem e consentimento era o
resultado secreto dos juízos divinos pronunciados contra a casa de
Acabe; e o efeito do discurso foi o de preparar a mente do público para
ouvir, sem horror, uma similar tragédia repugnante, que logo seria levada
a cabo, ou seja, a extinção de todos os amigos que apoiavam a influência
da dinastia de Acabe, inclusive os da casa real de Judá.
13. Somos os irmãos de Acazias (TB) — quer dizer, não irmãos
cabais, mas sim meios-irmãos, filhos de Jeorão e de várias concubinas.
Ignorantes da revolução que se tinha efetuado, eles viajavam a Samaria
para fazer uma visita a seus parentes reais de Israel, quando foram
apreendidos e mortos, pelo temor de que eles provavelmente pudessem
estimular e fortalecer o partido que ainda permanecia fiel à dinastia de
Acabe.
filhos da rainha — a rainha mãe, ou “regente”, Jezabel.
15-18. Jonadabe, filho de Recabe — (Veja-se 1Cr_2:55). Pessoa
que, por sua piedade e sua maneira primitiva de vida (Jeremias 35), era
altamente estimada, e possuía grande influência no país. Num momento
Jeú viu a vantagem de que ganharia sua causa pela amizade e o apoio
deste homem venerável aos olhos do povo, e por isso lhe tributou a
distinguida atenção de convidá-lo a tomar assento em seu carro.
dá-me a mão — Não simplesmente para o ajudar a subir ao carro,
mas por um propósito muito mais significativo e importante, pois o dar,
ou, antes, unir as mãos, era o modo reconhecido de ratificar um
convênio, como também de testificar lealdade a um soberano novo; pois,
diz-se: “Jonadabe deu-lhe (a Jeú) a mão”.

18-29. DESTRÓI OS ADORADORES DE BAAL.


19. chamai-me, agora, todos os profetas de Baal — Os devotos
de Baal aqui estão classificados sob os títulos de profetas, sacerdotes e
servos, ou adoradores em geral. Facilmente poderiam reunir-se num
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 36
templo espaçoso, pois seu número tinha sido grandemente reduzido pela
influência do ministério de Elias e Eliseu, e também pela negligência e
abandono do culto pelo rei Jeorão. O decreto de Jeú de um sacrifício
solene em honra de Baal, e a chamada a todos os adoradores a participar
de sua celebração, foi uma sagaz trama que ele tinha disposto para a
extinção deles, uma medida em perfeita harmonia com a lei mosaica, e
digna de um rei constitucional de Israel. Foi feito, entretanto, não por
motivos religiosos mas sim puramente políticos, porque ele cria que a
existência e os interesses dos baalitas estavam inseparavelmente ligados
com a dinastia de Acabe, e porque ele esperava que pelo extermínio
deles, asseguraria a amizade de um partido muito maior e de maior
influência, que adoravam ao Deus de Israel. O apoio de Jonadabe teria
sido dado na crença de que Jeú era movido só pelos princípios mais
elevados de piedade e zelo.
22. Tira as vestimentas para todos os adoradores de Baal — Os
sacerdotes de Baal estavam vestidos provavelmente com togas de
“byssus” branco (linho fino do Egito), enquanto estavam ocupados nas
funções de seu ofício, e estas roupas estavam guardadas sob o cuidado de
um oficial num guarda-roupa do templo de Baal. Este massacre
traiçoeiro, e os meios usados para levá-lo a cabo, são semelhantes à
matança dos mestiços e outras terríveis tragédias da história moderna do
Oriente.
29. Porém não se apartou Jeú de seguir os pecados de Jeroboão
— Jeú não tinha desejo levar seu zelo pelo Senhor para além de certo
ponto, e como considerava imprudente alentar a seus súditos a ir até
Jerusalém, restabeleceu o culto simbólico dos bezerros.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 37
2 Reis 11

Vv. 1-3. JEOÁS SALVO DA MATANÇA DE ATALIA.


1. Atalia — (veja-se 2Cr_22:2). Ela tinha grande influência sobre
seu filho Acazias, quem, pelos conselhos dela, tinha dominado o espírito
de Acabe.
destruiu toda a descendência real — todos os relacionados com a
família real, os quais poderiam apresentar título ao trono, e que tinham
escapado das mãos homicidas de Jeú (2Cr_21:2-4; 2Cr_22:1; 2Rs_10:13,
14). Ela foi movida a perpetrar esta matança, em parte por uma resolução
de não deixar que a família de Davi sobrevivesse à sua; em parte como
medida de defesa própria para assegurar-se contra a violência de Jeú,
quem estava empenhado em destruir toda a posteridade de Acabe, a qual
ela pertencia (2Rs_8:18-26); mas especialmente por ambição pessoal de
reinar, e o desejo de estabelecer o culto a Baal. Tal foi o triste fruto da
aliança desigual entre o filho do piedoso Josafá e uma filha da casa
idólatra e ímpia de Acabe.
2. Jeoseba — ou, Jeosabeate (2Cr_22:11).
filha do rei Jorão — não de Atalia, e sim de uma esposa secundária.
tomou a Joás, filho de Acazias, e o furtou dentre os filhos do rei,
aos quais matavam — ou dentre os cadáveres, crendo-se que estava
morto, ou do lugar dos meninos do palácio.
numa câmara interior; e, assim, o esconderam de Atalia — Para
o uso dos sacerdotes, que estava em alguma parte do templo (v. 3), e da
qual só Joiada e sua esposa estavam encarregados. O que se chama
câmara das camas no Oriente, não é o tipo de compartimento que nós
entendemos por esse nome, mas sim um pequeno quarto no qual se
guardam durante o dia os colchões e outros objetos que se usam para
dormir, que se estendem sobre o piso das salas para dormir de noite. Tal
quartinho seria bem indicado como lugar confortável onde se reporia de
suas feridas, e como esconderijo para o menino real e seu tutor.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 38
Vv. 4-12. JOÁS É CONSTITUÍDO REI.
4. No sétimo ano — do reinado de Atalia e do resgate de Joás.
mandou Joiada chamar os centuriões (RC), etc. — Dificilmente
poderia ter conseguido tal convocação geral senão no tempo, ou sob
pretexto, de uma festa pública e solene. Tendo-lhes comunicado o
segredo da salvação do jovem príncipe, e feita aliança com eles para
derrubar a tirana, concertou com eles o lugar e tempo de executar seu
plano (veja-se 2Cr_22:10-12; 2Cr_22:23). A conduta de Joiada, quem
desempenhou a parte principal nesta conspiração, justifica-se fácil e
plenamente; porque, sendo Atalia usurpadora e membro de uma raça
condenada por juízo divino à destruição, até a esposa da Joiada tinha
melhor e mais sólido título ao trono; a soberania de Judá tinha sido
divinamente atribuída à família de Davi, e portanto o jovem príncipe a
quem se propunha conferir a coroa, possuía um direito intrínseco a ela,
direito do que a usurpadora não podia privá-lo. Além disso, Joiada era
mais provavelmente o sumo sacerdote, cujo dever oficial era vigiar a
devida execução das leis de Deus, e quem no atual momento era
animado e ajudado pela aprovação e apoio das autoridades principais,
tanto civis como eclesiásticas do país. E além de todas estas
considerações, parece que era dirigido por um impulso do divino
Espírito, pelos conselhos e exortações dos profetas daquele tempo.

Vv. 13-16. ATALIA É MORTA.


13. Ouvindo Atalia o clamor dos da guarda e do povo — O
profundo segredo com que se tinha levado a cabo a conspiração, fez tão
mais surpreendentes as aclamações inusitadas da vasta multidão, e
despertou as suspeitas da tirana.
veio para onde este se achava na Casa do SENHOR — quer
dizer, nos pátios, onde lhe era permitido entrar por ordem de Joiada (v.
8), para que fosse presa.
14. Olhou, e eis que o rei estava junto à coluna — ou sobre uma
plataforma levantada para a ocasião (2Cr_6:13).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 39
15. para fora das fileiras (TB) — para que o lugar sagrado não
fosse manchado com sangue humano.

V. 17. JOIADA RESTAURA O CULTO AO SENHOR.


17. Joiada fez aliança entre o SENHOR, e o rei, e o povo — Esta
aliança com o Senhor foi a renovação da aliança nacional com Israel
(Êx_19:24; “para serem eles o povo do SENHOR”, Dt_4:6; Dt_27:9). A
aliança entre o rei e o povo era a consequência desta aliança, e pela
aliança o rei se obrigava a governar segundo a lei divina, enquanto que o
povo se obrigava a submeter-se, e lhe dar lealdade como ao ungido do
Senhor. O fruto imediato da renovação da aliança foi a destruição do
templo, a matança dos sacerdotes de Baal (veja-se 2Rs_10:27) a
restauração do culto puro a Deus em toda sua antiga integridade, e o
estabelecimento do jovem rei sobre o trono hereditário de Judá.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 40
2 Reis 12

Vv. 1-18. JOÁS REINA BEM ENQUANTO JOIADA VIVE.


2. Fez Joás o que era reto perante o SENHOR — No que se
relacionava com os seus atos exteriores e curso do governo. Mas é
evidente, pelo que segue de sua história, que a retidão de sua
administração se devia mais a saudável influência de seu preservador e
tutor, Joiada, que aos ditados honestos e sinceros de sua própria mente.
3. os altos não se tiraram — Tão enraizado era o apego popular
aos ritos particulares e ilegais celebrados nos bosques e lugares
apartados dos colinas que até os monarcas mais poderosos tinham sido
impotentes para conseguir a supressão deles; não é de estranhar-se que
no reinado de tão jovem rei, e depois das irregularidades grosseiras que
se tinham permitido durante a má administração de Atalia, tenha sido
aumentada grandemente a dificuldade de pôr fim às superstições
associadas com os lugares altos.”
4. Disse Joás aos sacerdotes, etc. — Aqui se percebe as medidas
que tomou o jovem rei para reparar o templo exigindo impostos. (1) “O
dinheiro das coisas santas”, quer dizer, meio siclo, “que se trouxer à
Casa do SENHOR” (Êx_30:13). (2) “a taxa pessoal, o resgate de
pessoas”, quer dizer, o preço de redenção de todo homem que tinha
dedicado sua pessoa ou alguma coisa sua pertencente ao Senhor, e a
soma do qual era calculada segundo certas regras (Lv_27:1-8). (3)
Ofertas voluntárias feitas ao santuário. As duas somas primeiras eram
pagas anualmente (veja-se 2Cr_24:5).
7-10. Por que não reparais os estragos da casa? — Não
resultando tão produtivo este modo de arrecadação como se esperava, a
lentidão dos sacerdotes foi a causa principal do fracasso, e um novo
acerto foi proposto. Um arca foi posta pelo sumo sacerdote à entrada do
templo, na qual se devia lançar pelos levitas que guardavam a porta, o
dinheiro dado pelo povo para as composturas do templo. O objetivo
desta arca era fazer uma separação do dinheiro levantado para o edifício,
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 41
e de outros dinheiros destinados para o uso geral dos sacerdotes, com a
esperança de que o povo seria mais liberal em suas contribuições,
quando soubessem que suas ofertas seriam dedicadas enfim especial de
fazer as composturas necessárias; e que o dever de atender esta obra não
recairia mais sobre os sacerdotes, antes seria empreendido pelo rei.
11-13. O dinheiro, depois de pesado, davam nas mãos dos que
dirigiam a obra — O rei enviava seu secretário junto com um agente do
sumo sacerdote (2Cr_24:11) para contar o dinheiro na arca de tempo em
tempo, e entregar a soma aos inspetores do edifício, os quais pagavam
aos operários e compravam todos os materiais necessários. O costume de
colocar certas quantidades de dinheiro em bolsas, que são rotuladas e
lacradas por um oficial competente, é a maneira comum de enviá-lo a
Turquia e outros países orientais.
13-16. não se faziam nem taças de prata, etc. — Quando estavam
terminadas as reparações do templo, o restante foi suficiente para
comprar o mobiliário do templo. Como não se duvidava da honradez dos
inspetores da obra, não se exigia conta da maneira em que eles usavam o
dinheiro, assim que, outros dinheiros arrecadados no templo, ficavam à
disposição dos sacerdotes, conforme mandava a lei (Lv_5:16; Nm_5:8).
17, 18. Então, subiu Hazael, rei da Síria, e pelejou contra Gate
— (Veja-se 2Cr_24:23-24).

Vv. 19-21. JOÁS É MORTO.


20. Levantaram-se os seus servos … e feriram Joás na casa de
Milo — (Veja-se também 2Cr_24:25).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 42
2 Reis 13

Vv. 1-7. REINADO ÍMPIO DE JEOACAZ SOBRE ISRAEL.


1. Jeoacaz … reinou dezessete anos — Sob o seu governo, que
seguia a política de seus predecessores com relação ao culto do bezerro,
a apostasia de Israel do Deus verdadeiro foi maior e mais confirmada
que no tempo de seu pai Jeú. Por conseguinte, o castigo nacional, quando
veio, foi tanto mais severo; e os instrumentos empregados pelo Senhor
para flagelar a nação rebelde, foram Hazael e seu filho, o general Ben-
Hadade; ao resistir as sucessivas invasões deles o exército israelita foi
tristemente reduzido e debilitado. No pior de sua miséria, clamou
Jeoacaz, e foi ouvido, não por causa dele mesmo (Sl_66:18; Pv_1:28;
Pv_15:8), mas por causa da aliança antiga com os patriarcas (v. 23).
4. viu a opressão de Israel (RC) — quer dizer, compadeceu-se da
condição caída de Seu povo escolhido. A honra divina e os interesses da
verdadeira religião necessitavam que lhes fosse dada a liberdade, a fim
de deter o triunfo do inimigo idólatra, e pôr fim a seus escárnios
blasfemos de que Deus teria abandonado a Israel (Dt_32:27; Sl_12:4).
5. salvador — Isto não se refere a algum defensor patriótico, nem a
alguma vitória assinalada, mas sim a libertação conseguida para Israel
pelos dois sucessores do Jeoacaz, Jeoás, quem voltou a tomar as cidades
que os sírios tinham tomado de seu pai (v. 25), e Jeroboão, quem
restaurou as fronteiras anteriores de Israel (2Rs_14:25).
6. o poste-ídolo permaneceu em Samaria — Asera, o ídolo
levantado por Acabe (1Rs_16:33), e que deveria ter sido demolido
(Dt_7:5).
7. os havia destruído e feito como o pó — A debulha no Oriente é
feita ao ar livre sobre terreno plano, melado com uma capa para prevenir,
no possível, que se levante a terra, areia ou pedrinhas; apesar desta
precaução, uma grande quantidade de todas elas se levanta com o grão;
ao mesmo tempo a palha é destroçada. Por isto é uma figura muito
significativa, frequentemente empregada pelos orientais, para descrever
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 43
um estado de sofrimento nacional, um pouco menos que o extermínio
(Is_21:10; Mq_4:12; Jr_51:33). A figura se originou de um costume de
guerra bárbara, a qual Hazael seguiu literalmente (Am_1:3-4; cf.
2Sm_8:31; Jz_8:7).

Vv. 8-25. JEOÁS O SUCEDE NO TRONO.


8. tudo o que fez — Isto se menciona particularmente para mostrar
que a penosa opressão pelos inimigos estrangeiros, pela qual os israelitas
eram moídos, não se devia à covardia ou imbecilidade de seu rei, mas
sim somente ao justo e terrível juízo de Deus por causa de sua vil
apostasia.
12, 13. seu poder, com que pelejou contra Amazias — (veja-se
2Rs_14:8-14). Cedo se apresenta o sumário de sua vida e reinado, e se
repete novamente no relato do reinado do rei de Judá (2Rs_14:15).
14. Estando Eliseu padecendo da enfermidade de que havia de
morrer — A morte de qualquer homem é causada por alguma doença, e
assim foi a de Eliseu. Mas ao mencioná-la, parece que tacitamente se faz
um contraste entre ele e seu predecessor, quem não morreu.
Jeoás, rei de Israel, desceu a visitá-lo — Visitou-o onde jazia
doente desta doença mortal, e expressou profunda tristeza, não por causa
do respeito pessoal que tinha pelo profeta, mas pela perda incalculável
que sua morte ocasionaria para o reino.
Meu pai, meu pai! — (Veja-se 2Rs_2:12). Estas palavras parecem
ter sido uma frase cerimoniosa referida a alguém que se estimava como
guardião e libertador de sua pátria; e esta aplicação particular da frase a
Eliseu, quem, por seus conselhos e orações, tinha conseguido muitas
vitórias gloriosas para Israel, demonstra que o rei possuía alguma medida
de fé e confiança, a qual, embora fraca, foi aceita, e evocou a bênção do
profeta moribundo.
15. Toma um arco e flechas — As hostilidades geralmente eram
proclamadas por um arauto, às vezes por um rei ou general, que fazia
uma descarga formal e pública de uma flecha ao território do inimigo.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 44
Eliseu mandou ao Jeoás que fizesse isto, como ato simbólico, para
intimar mais completa e significativamente as vitórias prometidas ao rei
de Israel sobre os sírios. O ato de pôr sua mão sobre a mão do rei era
para representar o poder comunicado ao tiro do arco como proveniente
do Senhor por meio do profeta. O atirar a primeira flecha rumo ao
oriente — para aquela parte de seu reino que os sírios tinham tomado, e
que estava a leste de Samaria — foi uma declaração de guerra contra eles
pela invasão. O atirar as outras flechas na terra foi sinal do número de
vitórias que devia ganhar; mas o deter-se ao terceiro tiro revelou a
fraqueza de sua fé; porque, como a flecha atirada significava uma vitória
sobre os sírios, é evidente que quanto mais flecha atirasse, tantas mais
vitórias ganharia; e como logo se deteve, suas conquistas estariam
incompletas.
20. Morreu Eliseu — Tendo desfrutado uma vida mais feliz que
Elias, pois possuía um caráter mais aprazível e tinha uma comissão
menos difícil, seu traje tosco era honrado até na corte.
à entrada do ano — a primavera, a época habitual para começar as
campanhas em tempos antigos. As equipes de saqueadores de Moabe
geralmente faziam suas invasões nessa estação à terra de Israel. Uns que
levavam um cadáver, alarmados pela aparição de uma destas equipes,
precipitadamente, ao passarem depositaram sua carga no sepulcro de
Eliseu, o que se podia fazer facilmente tirando a pedra da boca da cova.
Segundo o costume judeu e oriental, seu corpo, o mesmo que o do
homem milagrosamente restaurado, não estava posto num ataúde, mas
sim só envolto; de modo que os dois corpos puderam tocar-se. O
objetivo do milagre foi o de estimular a fé do rei e do povo de Israel nas
predições de Eliseu com relação à guerra com os sírios, que ainda não se
tinham completado. Por conseguinte, o historiador em seguida conta o
cumprimento histórico da predição (vv. 22-25), da derrota do inimigo, da
recuperação das cidades que tinham sido tomadas, e de sua restauração
ao reino de Israel.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 45
2 Reis 14

Vv. 1-6. O BOM REINADO DE AMAZIAS SOBRE JUDÁ.


3-6. Fez ele o que era reto perante o SENHOR, ainda que não
como Davi, seu pai — O começo de seu reinado foi excelente, porque
fazia a parte de rei constitucional, segundo a lei de Deus, entretanto, não
com perfeita sinceridade de coração (cf. 2Cr_25:2), porque, como no
caso de seu pai Jeoás, a anterior promessa foi desmentida pelo curso
torcido que ele seguiu em sua vida posterior (veja-se sobre 2Cr_20:14),
como também pelas irregularidades públicas que tolerava em seu reino.
5. Uma vez confirmado o reino em sua mão — Foi um ato de
justiça não menos que de piedade filial vingar o assassinato de seu pai;
mas é evidente que os dois assassinos possuíam considerável peso e
influência, visto que o rei estava obrigado a retê-los em seu serviço, e
por temor de seus amigos e protetores, não se atreveu a proceder contra
eles enquanto seu poder não tivesse sido consolidado.
6. Porém os filhos dos assassinos não matou — Esta moderação,
inspirada pela lei mosaica (Dt_24:16), manifesta o bom caráter deste
príncipe; porque o curso assim seguido com as famílias dos regicidas,
era diretamente contrário aos costumes prevalecentes da antiguidade,
segundo a qual todos os relacionados com os criminosos eram
condenados a destruição sem misericórdia.

V. 7. AMAZIAS FERE EDOM.


7. Ele feriu dez mil edomitas — No reinado de Jeorão os edomitas
se rebelaram (2Rs_8:20). Mas Amazias, resolvido a reduzi-los a sua
sujeição anterior, formou uma expedição hostil contra eles, na qual
derrotou seu exército, e se tornou dono de sua capital.
vale do Sal — é aquela parte de Ghor que inclui a planície de sal e
areia ao sul do Mar Morto.
Sela — literalmente “Rocha”, geralmente se crê que fosse Petra.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 46
Jocteel — quer dizer, dado ou conquistado por Deus. Veja-se a
história desta conquista detalhada mais completamente em 2Cr_25:6-16.

Vv. 8-16. JEOÁS O VENCE.


8. Amazias enviou mensageiros a Jeoás, filho de Jeoacaz, filho
de Jeú, rei de Israel — Este desafio atrevido e orgulhoso, o qual mais
provavelmente foi estimulado por um desejo de satisfação pelos ultrajes
cometidos pelos auxiliares licenciados de Israel (2Cr_25:13) nas cidades
que estavam situadas sobre seu caminho a casa, o mesmo como vingança
pela matança de seus antepassados por Jeú (2Rs_9), originou-se, sem
dúvida, de sua vaidade e confiança em si mesmo, inspiradas por sua
vitória sobre os edomitas
9. Jeoás, rei de Israel, respondeu a Amazias — O povo do
Oriente com muita frequência expressa os seus sentimentos em forma
parabólica, especialmente quando querem participar verdades ingratas ou
escárnio desdenhoso. Este foi o propósito da fábula admonitória relatada
por Jeoás em sua resposta. O cardo, planta baixa, seria escolhida para
representar a Amazias, príncipe inferior; o cedro, o poderoso soberano
de Israel, e as bestas silvestres que pisaram o cardo, o exército
esmagador com que Israel poderia desolar a Judá. Mas, talvez, sem fazer
uma aplicação tão definida, a parábola poderia explicar-se geralmente,
para descrever de uma maneira chamativa, os efeitos da vaidade e
ambição, que se elevam para além de sua esfera natural, e que estão
seguros de cair com um estampido repentino e fatal. A moral da fábula
se acha no v. 10.
11. Mas Amazias não quis atendê-lo — O teor sarcástico desta
resposta incitou tanto mais ao rei de Judá; porque, encontrando-se em
estado de cegueira judicial e enfatuação (2Cr_25:20), estava de um modo
inalterável decidido a guerrear. Mas a energia superior do Jeoás o
surpreendeu antes que tivesse completado sua preparação militar.
Vertendo um exército numeroso no território de Judá, encontrou a
Amazias em batalha campal, derrotou seu exército, tomou preso ao
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 47
mesmo rei de Judá, e partindo a Jerusalém, não só demoliu parte da
muralha da cidade, mas também saqueou os tesouros do palácio e do
templo, e levou reféns para evitar mais moléstias da parte de Judá, e
assim terminou a guerra. Sem deixar guarnição em Jerusalém, retornou a
sua capital com toda rapidez, porque fazia falta sua presença e a de suas
tropas, para rebater as invasões incômodas dos sírios.

Vv. 17-20. AMAZIAS MORTO POR UMA CONSPIRAÇÃO.


19. Conspiraram contra ele em Jerusalém — A apostasia de
Amazias (2Cr_25:27) foi seguida por uma má administração geral,
especialmente o resultado desastroso da guerra com Israel — a condição
ruinosa de Jerusalém, o saque do templo, a perda de seus filhos que
foram levados como reféns — ele perdeu o respeito e a fidelidade não só
dos grandes mas também de seus súditos em geral, que estavam em
rebelião. O rei fugiu em terror a Laquis, cidade fronteiriça dos filisteus,
aonde, entretanto, foi rastreado, e assassinado. Seus amigos fizeram que
se trouxesse seu cadáver, sem pompa nem cerimônia, num carro militar,
a Jerusalém, onde foi enterrado entre seus antepassados reais.

Vv. 21, 22. É SUCEDIDO POR AZARIAS.


21. Todo o povo de Judá tomou a Azarias (RSV) — Ou Uzias
(2Rs_15:30; 2Cr_26:1). A oposição popular tinha sido dirigida contra
Amazias pessoalmente como autor de todas as suas calamidades, mas
não se estendia a sua família ou herdeiro.
22. Ele edificou a Elate — Fortificou aquele porto de mar. Esta
cidade se rebelou com o resto de Edom, mas é agora recuperada por
Uzias, como seu pai não tinha completado a conquista de Edom, deixou-
lhe esta obra a fazer.

Vv. 23-29. O MAU REINADO DE JEROBOÃO SOBRE ISRAEL.


23. Jeroboão, filho de Jeoás — Este era Jeroboão II, quem, tendo
reconquistado o território perdido, elevou o reino de Israel a grande
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 48
poder político (v. 25), mas se aderiu à favorita política religiosa dos
soberanos israelitas (v. 24); e, enquanto que Deus lhe concedeu uma
medida de prosperidade e eminência nacionais, consta expressamente
(vv. 26, 27) que a razão foi que os propósitos do ato divino proibiam
toda a destruição do reino das dez tribos (veja-se 2Rs_13:23).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 49
2 Reis 15

Vv. 1-4. REINADO DE AZARIAS EM JUDÁ.


1. No vigésimo sétimo ano de Jeroboão — Pensa-se que o trono
de Judá ficou vacante onze ou doze anos, entre a morte de Amazias e a
ascensão ao trono de seu filho Azarias, quem, sendo infante de quatro
anos quando foi assassinado seu pai, foi nomeada uma regência durante
sua minoria de idade.
começou a reinar Azarias — O caráter de seu reinado se explica
pela fórmula breve empregada pelo historiador inspirado, ao relatar a
política religiosa dos reis posteriores. Mas seu reinado foi muito ativo
como também cheio de acontecimentos, e se relata amplamente em
2Cr_26:1-23. Presunçoso pela possessão de grande poder, e
presunçosamente usurpando, como os reis pagãos, as funções do ofício
real como o sacerdotal, foi castigado com lepra, que, como a ofensa foi
capital (Nm_8:7), foi equivalente à morte, porque esta doença o excluía
de toda sociedade; e enquanto Jotão, seu filho, como vice-rei,
administrava os assuntos do reino — sendo como de quinze anos de
idade (cf. v. 33) — tinha que viver em lugar afastado ele sozinho (veja-
se 2Rs_7:3). Depois de um reinado longo, morreu e foi sepultado no
cemitério real, embora não no da “Cidade de Davi” (2Cr_26:33).

Vv. 8-16. REINADO DE ZACARIAS SOBRE ISRAEL.


8. No trigésimo oitavo ano de Azarias, rei de Judá, reinou
Zacarias, filho de Jeroboão, sobre Israel, em Samaria, seis meses —
Houve um interregno por alguma causa desconhecida entre o reinado de
Jeroboão e a ascensão de seu filho ao trono, que durou, segundo alguns,
dez ou doze anos, segundo outros, vinte e quatro anos ou mais. Este
príncipe seguiu a política religiosa do culto ao bezerro, e seu reinado foi
curto, sendo terminado bruscamente pela mão de violência. Em sua sorte
foi cumprida a profecia dirigida a Jeú (2Rs_10:30; também Os_1:4), de
que sua família possuiria o trono de Israel por quatro gerações; e, com
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 50
efeito, Jeoacaz, Jeoás, Jeroboão e Zacarias foram seus sucessores, mas
ali termina sua dinastia; e talvez foi o conhecimento público desta
predição o que inspirou o propósito homicida de Salum.
13-17. Salum … reinou durante um mês — Sendo oposto e morto
por Menaém, quem, segundo Josefo, era comandante das tropas, que, por
ocasião do relatório do assassinato do Rei, estavam sitiando a Tirza,
cidade a 19 quilômetros a leste de Samaria, e anteriormente sede dos reis
de Israel. Levantando o sítio, partiu diretamente contra o usurpador,
matou-o, e reinou em seu lugar.
16. Menaém feriu a Tifsa — Thapsacus, sobre o Eufrates, a cidade
fronteiriça do reino de Salomão (1Rs_4:24). Como os habitantes se
negaram a lhe abrir as portas, Menaém a tomou por assalto, e tendo-a
saqueado, cometeu os excessos mais bárbaros, sem olhar para idade nem
sexo.

Vv. 17-21. REINADO DE MENAÉM.


17. começou a reinar sobre Israel e reinou dez anos em Samaria
— Seu governo foi conduzido pela política religiosa de seus
predecessores.
19. Pul, rei da Assíria — este é o primeiro rei assírio depois de
Ninrode que se menciona na história bíblica. Seu nome recentemente foi
identificado com o de Phalluka nos monumentos de Nínive, e o de
Menaém foi descoberto também.
veio ... contra a terra — Em outra parte diz: “irá Efraim a Assur”.
Podem-se reconciliar estas duas declarações assim: Pul, de sua própria
iniciativa, instigado talvez pela expedição do Menaém contra Thapsacus,
avançou contra o reino de Israel; então Menaém lhe enviou mil talentos a
fim não só de desviar seus planos de conquista, mas também ao mesmo
tempo para comprar sua amizade e ajuda para o estabelecimento de sua
soberania precária, de modo que Menaém não convidou propriamente ao
assírio a entrar na terra, só mudou o inimigo, que vinha partindo contra o
país, por meio deste tributo, em confederado, para a segurança de seu
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 51
domínio usurpado; o que o profeta Oseias, menos interessado no fato
histórico que na disposição manifestada nisso, bem poderia censurar
como uma ida de Efraim aos assírios (Os_5:13; Os_7:1; Os_8:9) e um
acordo de uma aliança com Assur (2Rs_12:1). (Keil).
mil talentos de prata — 362.200 libras esterlinas. Este tributo que
Menaém levantou por meio de um imposto sobre os grandes de Israel,
subornou a Pul para que voltasse para seu próprio país (veja-se
2Cr_5:26).

Vv. 22-24. REINADO DE PECAÍAS.


23. começou a reinar Pecaías, filho de Menaém — Por uma
comparação da data dada com o reinado de Azarias, parece que vários
meses tinham passado entre a morte de Menaém e o reinado de Pecaías,
provavelmente devido a uma contenda a respeito do trono.
juntamente com Argobe e com Arié, etc. — Muitos comentadores
consideram a estes como cúmplices dos capitães. Mas é mais provável
que fossem amigos influentes do rei, os quais foram mortos juntamente
com ele.

Vv. 27-31. REINADO DE PEKA.


29. Nos dias de Peca, rei de Israel, veio Tiglate-Pileser — Este
monarca, que sucedeu a Pul no trono da Assíria, é o único de todos os
reis cuja genealogia não é dada, e por isto se supõe que terá sido
usurpador. Seus anais foram descobertos nos aterros de Ninrode, os
quais contam sua expedição a Síria. Os lugares são aqui mencionados, na
ordem em que ocorrem e foram conquistados no avanço da invasão.
30. Oseias, filho de Elá, conspirou … o feriu — Não conseguiu
possessão, entretanto, do reino, mas sim nove ou dez anos depois da
perpetração deste crime (Hales).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 52
Vv. 32-38. REINADO DE JOTÃO EM JUDÁ.
30. no vigésimo ano de Jotão — O reinado de Jotão durou só
dezesseis anos. Assim que o reinado de Oseias começou no vigésimo
ano depois do começo do reinado de Jotão, pois, o historiador sagrado,
não tendo introduzido ainda o nome de Uzias, calculou a data por Jotão,
a quem já tinha mencionado (veja-se 2Cr_27:8).
33. Tinha vinte e cinco anos de idade quando começou a reinar
— ou seja, sozinho, porque já tinha governado como vice-rei de seu pai.
35. Ele edificou a Porta de Cima da Casa do SENHOR—Não do
templo em si, mas de um de seus pátios, provavelmente aquele que
conduzia ao palácio (2Cr_23:20).
37. começou o SENHOR a enviar contra Judá a Rezim, rei da
Síria — Esta é a primeira insinuação dos sentimentos hostis dos reis de
Israel e Síria, para com Judá, os que levaram a uma aliança e a fazer
preparativos unidos para a guerra, a qual não se fez efetivamente até o
reinado do Acaz.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 53
2 Reis 16

Vv. 1-16. REINADO ÍMPIO DE ACAZ EM JUDÁ.


1-4. Não fez o que era reto perante o SENHOR — O caráter do
reinado deste rei, e a sensualidade e degeneração religiosa de todas as
classes do povo, são graficamente apresentados nos escritos de Isaías,
quem profetizava naquele período. O grande aumento de riqueza
mundana e luxo nos reinados de Azarias e Jotão tinham introduzido uma
multidão de corrupções, as quais, durante seu reinado e pela influência
de Acaz, deram como fruto as práticas idolátricas de toda sorte que
prevaleciam em todas partes do reino (veja-se 2Cr_28:24).
3. andou no caminho dos reis de Israel — Isto é descritivo da
primeira parte de seu reinado, quando, como os reis de Israel,
patrocinava o culto simbólico de Deus por meio de imagens, mas
gradualmente entrava mais na idolatria grosseira (2Cr_28:2).
fez a seu filho passar pelo fogo (TB) — (2Rs_23:10). As mãos do
ídolo Moloque se esquentavam até o vermelho, e os meninos eram
passados por entre elas, o qual se considerava como uma forma de
ilustração; mas há razão para crer que, em certas circunstâncias, os
meninos morriam queimados (Sl_106:37). Isto era fortemente proibido
na lei (Lv_18:21; Lv_20:2-5; Dt_18:10), embora não há evidência de
que se praticasse em Israel antes do tempo de Acaz.
5. Então, subiu Rezim, rei da Síria, com Peca, filho de Remalias,
rei de Israel, a Jerusalém para pelejarem contra ela — Apesar de
seus grandes esforços e preparativos militares, não conseguiram tomar a
cidade, e, desapontados, levantaram o sítio e voltaram para sua casa (cf.
Is_7:1).
6. Rezim, rei da Síria, restituiu Elate à Síria — que Azarias tinha
tomado para Judá (2Rs_14:22).
os siros vieram a Elate e ficaram habitando ali até ao dia de
hoje — A versão LXX diz “os edomitas”, o que muitos comentadores e
viajantes judiciosos (Robinson) preferem.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 54
7-9. Acaz enviou mensageiros a Tiglate-Pileser — Apesar das
seguranças dadas por Isaías mediante dois sinais, uma imediata, a outra
remota (Is_7:14; Is_8:4), de que os reis confederados não prevaleceriam
contra ele, Acaz buscou ajuda de parte do monarca assírio, para comprar
a qual enviou os tesouros do palácio e do templo. Tiglate-Pileser partiu
contra Damasco, matou a Rezim, o rei, e levou o povo cativo a Quir, que
se crê foi a cidade de Karine (Hoje Kerend), na Média.
10-16. o rei Acaz foi a Damasco, a encontrar-se com Tiglate-
Pileser, rei da Assíria — Esta foi uma visita de respeito e talvez de
gratidão. Durante sua estada naquela cidade pagã, Acaz viu um altar com
o qual se cativou. Imediatamente um esboço dele foi irradiado a
Jerusalém, com ordens a Urias, o sacerdote, de que fizesse construir um,
segundo o modelo damasceno, e que o novo altar substituísse o velho no
templo. Urias, com culpada complacência, agiu segundo suas ordens (v.
16). O pecado neste assunto consistia na intromissão por melhorar,
conforme gosto e capricho humanos, os altares do templo, cujos modelos
tinham sido providos por autoridade divina (Êx_25:40; Êx_26:30;
Êx_27:1; 1Cr_28:19). Urias foi uma das testemunhas tomadas por Isaías
para levar suas predições contra Síria e Israel (Is_8:2).

Vv. 17-19. PERVERTE O TEMPLO.


17. O rei Acaz cortou os painéis dos suportes, etc. — Pensa-se que
fez isto com o fim de empregar as esculturas para adornar seu palácio.
18. o passadiço coberto para uso no sábado — o pórtico por onde
entravam os sacerdotes ao templo no sábado.
a entrada real pelo lado de fora — A mudança feita por Acaz
consistia em mover ambas as coisas para dentro do templo por temor do
rei da Assíria, para em caso de sítio, poder assegurar a entrada ao
templo.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 55
2 Reis 17

Vv. 1-4. REINADO ÍMPIO DE OSEIAS.


1. No ano duodécimo de Acaz, rei de Judá, começou a reinar
Oseias, filho de Elá — A afirmação em 2Rs_15:30 concorda com esta
passagem da maneira seguinte: Oseias conspirou contra Peca no
vigésimo ano deste, o qual era o décimo oitavo do reinado de Jotão.
Passaram dois anos antes que Oseias fosse reconhecido como rei de
Israel, quer dizer, no quarto ano de Acaz, e o décimo segundo de Jotão.
No décimo segundo ano de Acaz, seu reinado começou a ser tranquilo e
próspero. (Calmet).
2. Fez o que era mau perante o SENHOR; contudo, não como os
reis de Israel — Distinto de seus predecessores do tempo de Jeroboão,
Oseias não estabeleceu os ritos de Baal, nem obrigava o povo a aderir-se
ao culto simbólico dos bezerros. Mas, embora, nestes sentidos, Oseias
agia como era próprio de um rei constitucional de Israel, entretanto, pela
influência dos dezenove príncipes que governaram antes dele, todos os
quais tinham sido protetores da idolatria, e muitos deles tinham sido
infames por seus crimes pessoais, toda a nação tinha chegado a ser tão
corrompida, que o justo juízo de um Deus irado a ameaçava.
3. Contra ele subiu Salmaneser, rei da Assíria — Salmaneser ou
Salmã (Os_10:14), o mesmo que o Sargão de Isaías [Is_20:1]. Muito
recentemente o nome deste rei assírio foi encontrado nos monumentos de
Nínive, como ocupado numa expedição contra o rei de Samaria, cujo
nome, embora mutilado, o Coronel Rawlinson o lê como Oseias.
4. achou Oseias em conspiração — Depois de pagar tributo
durante vários anos, Oséias, decidindo romper o jugo assírio, reteve o
tributo estipulado; e Salmaneser irritado por esta rebelião, declarou
guerra contra Israel. Isto foi no ano seis do reinado de Oseias.
enviara mensageiros a Sô, rei do Egito — o Sabaca dos
historiadores clássicos, um etíope famoso que por cinquenta anos ocupou
o trono egípcio, e por sua ajuda Oseias esperava resistir os ataques do
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 56
vencedor assírio que os ameaçavam. Mas Salmaneser, partindo contra
ele, percorreu todo o país, sitiou a Samaria a capital, e levou os
habitantes principais ao cativeiro em seu próprio país, e tendo tomado o
próprio rei, o fez prisioneiro por toda a vida. A antiga política de
transplantar povos conquistados a terras estrangeiras, baseou-se na ideia
de que, entre uma multidão mesclada, com diferentes idiomas e religião,
ficariam melhor sob sujeição, e teriam menos oportunidade para
combinar-se para conseguir sua independência.
6. transportou a Israel para a Assíria — quer dizer, as tribos
restantes (veja-se 2Rs_15:29).
os fez habitar, etc. — Esta passagem Gesênius a traduz assim: “e
os pôs em Hala, e sobre o Habor, um rio de Gozã, e nas cidades dos
medos”.
Hala — a mesma que Cala (Gn_10:11-12), na região do rio Laycus,
ou Zabe, como caminho de um dia das ruínas de Nínive.
Habor — é um rio, e é notável que haja um rio que nasce nas terras
montanhosas da Assíria que retém este nome, Khabour, sem mudar até
hoje.
Gozã — (pasto) ou Zozã, são as terras altas da Assíria, que
proveem pastos. A região em que nascem os rios Habor e Zabe, e por
onde correm, é peculiarmente deste caráter. Os nestorianos vão lá com
seus numerosos rebanhos, passando o verão sobre as ribeiras ou nas
terras altas do Habor ou Zabe. Tendo em conta a alta autoridade que
possuímos para considerar Gozã e Zozã como um só nome, não pode
haver dúvida de que é o mesmo Gozã mencionado nesta passagem.
cidades dos medos — “aldeias” segundo as Versões Siríaca e
Vulgata, ou “montanhas” segundo a Septuaginta. Como se tinham
rebelado os habitantes medos de Gozã, foram destruídos pelos reis da
Assíria, e nada havia mais natural que o que os assírios queriam era pôr
lá um povo industrioso, como os cativos israelitas, pois era muito apto
para sua vida pastoril. (Grant, Nestorians).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 57
Vv. 5-41. SAMARIA É TOMADA, E ISRAEL POR SEUS
PECADOS É LEVADO CATIVO.
7. porque os filhos de Israel pecaram — Aqui se dá uma
vindicação completa e impressionante da maneira divina de proceder ao
castigar o Seu povo tão privilegiado, mas rebelde e apóstata. Não é
preciso se estranhar de que numa perversão tão grosseira do culto do
Deus verdadeiro, e a tendência nacional de reverenciar os ídolos, a
paciência divina se esgotasse; e que o Deus a quem eles tinham
abandonado, permitisse que fossem ao cativeiro, para que aprendessem a
diferença entre o serviço a Ele, e a seus conquistadores despóticos.
24. O rei da Assíria trouxe gente de Babilônia, etc. — Este não
era Salmaneser, mas sim Esar-Hadom (Esd_4:2). Os lugares deixados
vazios pelos israelitas cativos, ordenou que fossem ocupados por várias
colônias de seus súditos, próprios de Babilônia e outras províncias.
de Cuta — A forma caldeia de Cuxe ou Susiana, hoje Khusistan.
Ava — Supõe-se que seja Ahivaz, situada sobre o rio Karuns, que
desemboca no Golfo Pérsico.
Hamate — Sobre o Orontes.
Sefarvaim — Sifara, cidade sobre o Eufrates rio acima de Babilônia.
a fez habitar nas cidades de Samaria, etc. — Não é preciso supor
que todos os israelitas fossem trasladados. Um grupo foi deixado,
principalmente, entretanto, das classes baixa e pobres, com os quais estes
colonos estrangeiros se mesclavam; de modo que o caráter predominante
da sociedade ao redor de Samaria era pagão e não israelita; porque os
colonos assírios deveriam ser donos da terra; e ao formar casamentos
com os judeus restantes, os habitantes deveriam ser uma raça mestiça, e
não mais o povo de Efraim (Is_7:6), os quais, imperfeitamente instruídos
na religião dos judeus, adquiriram uma doutrina mestiça. Como eram
muito poucos para encher a terra, os leões, pelos quais a terra tinha sido
infestada (Jz_14:5; 1Sm_17:34; 1Rs_13:24; 1Rs_20:36), multiplicaram-
se e cometiam frequentes dizimações entre eles. Reconhecendo nestes
ataques um juízo da parte do Deus da terra, a quem não tinham rendido
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 58
culto, pediram a corte assíria que lhes enviasse alguns sacerdotes judeus
que os instruíssem na maneira correta de adorar. O rei, respondendo a
seu pedido, enviou-lhes um dos sacerdotes desterrados de Israel, quem se
estabeleceu em Betel, e lhes ensinou como deviam temer ao Senhor. Não
se diz que ele tenha levado consigo um exemplar do Pentateuco, de
acordo com o qual lhes ensinaria. O ensino oral era mais apropriado para
a gente supersticiosa que a instrução de um livro escrito. Os ensinaria
mais eficazmente pela palavra falada. Crendo que adotaria o método
melhor e mais singelo para eles, é improvável que tenha levado a lei
escrita, e assim deu origem ao exemplar samaritano do Pentateuco.
(Davidson, Criticism). Além disso, é evidente pelo fato de que era um
dos sacerdotes desterrados e que se assentasse em Betel, que não era
levita, mas sim um dos sacerdotes adoradores do bezerro, e, por
conseguinte, seus ensinos não seriam nem sãos nem eficazes.
29. Porém cada nação fez ainda os seus próprios deuses — Estes
colonos assírios, entretanto, ensinados no culto, e reconhecendo a
existência do Deus de Israel, não supunham que fosse o único Deus.
Como outros pagãos, eles combinaram o culto a Deus com o de seus
próprios deuses, e como formavam uma sociedade mesclada
confusamente de diferentes províncias ou nações, conhecia-se entre eles
uma variedade de ídolos.
30. Sucote-Benote — isto é, as “tendas das filhas”, similares àquelas
em que as donzelas babilônias celebravam ritos impuros (Am_2:8).
Nergal — Os escritores judeus dizem que este ídolo era em forma
de um galo; frequentemente o galo está associado com o sacerdote nos
monumentos assírios (Layard). Mas críticos modernos, considerando o
caráter astrológico da idolatria assíria, geralmente consideram o Nergal
como o planeta Marte, o deus da guerra. O nome de este ídolo formava
parte do nome dos príncipes do rei de Babilônia (Jr_39:3).
Asima — Um ídolo sob a forma de uma cabra completamente
pelada.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 59
31. Nibaz — Sob a forma de um cão; aquela forma egípcia de culto
ao animal prevalecia na antiga Síria, como é evidente pela imagem de
um cão grande à boca do Nahr-el-Kelb, ou Rio do Cão.
Tartaque — segundo os rabinos, era em forma de um jumento,
mas outros o entendem como um planeta de mau agouro, provavelmente
Saturno.
Adrameleque — Considerado por alguns como o mesmo Moloque,
e na mitologia assíria representa o sol. Era adorado na forma de uma
mula; outros creem que em forma de pavão.
Anameleque — Adorado em forma de uma lebre; outros dizem, em
forma de cabra.
34. Até ao dia de hoje — O tempo do cativeiro babilônico, quando
foi escrito este livro. Sua religião era uma mixórdia estranha de serviço a
Deus e serviço aos ídolos. Tal foi a primeira colônia do povo, mais tarde
chamados samaritanos, os quais foram enviados desde Assíria para
colonizar a terra, quando foi destruído o reino de Israel, depois de ter
continuado 356 anos.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 60
2 Reis 18

Vv. 1-3. O BOM REINADO DE EZEQUIAS.


1, 2. começou a reinar Ezequias … Tinha vinte e cinco anos —
Segundo esta afirmação (cf. 2Rs_16:2), ele nasceu quando seu pai Acaz
não tinha mais que onze anos. A paternidade a uma idade tão jovem não
é sem precedente nos climas quentes, onde o ser humano se amadurece
mais cedo que nos climas frios. Mas o caso presente admite solução de
uma maneira diferente. Era costume dos reis posteriores de Israel
associar o seu filho e herdeiro no governo enquanto viviam; e como
Ezequias começou a reinar no terceiro ano de Oseias (v. 1), e Oseias no
décimo segundo ano de Acaz (2Rs_17:1), é evidente que Ezequias
começou a reinar no décimo quarto ano de seu pai Acaz, e assim reinou
dois ou três anos antes da morte de seu pai. Então, no começo de seu
reinado em cooperação com seu pai, ele deve ter tido vinte e dois ou
vinte e três anos, e Acaz uns poucos anos mais que o que o cálculo
comum lhe dava. Ou se pode resolver o caso assim: Como os escritores
antigos no cálculo do tempo tomam nota do ano que mencionam, seja
acabado ou seja recém começado, Acaz poderia ter quase vinte e um
anos no começo de seu reinado, e quase dezessete a mais em sua morte;
enquanto que, por outro lado, Ezequias, quando começou a reinar,
poderia estar entrando em seu vigésimo quinto ano, e assim, Acaz teria
quase quatorze anos quando seu filho Ezequias nasceu, que não é idade
fora do comum a que o homem chega a ser pai naquelas latitudes
(Patrick).

Vv. 4-37. DESTRÓI A IDOLATRIA.


4. Removeu os altos, quebrou as colunas — Os métodos adotados
por este bom rei para extirpar a idolatria, e conseguir uma reforma
completa na religião, estão detalhados amplamente em 2Cr_20:3;
2Cr_31:19. Mas aqui são indicados muito brevemente, e numa alusão
passageira.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 61
fez em pedaços a serpente de bronze — A conservação desta
notável relíquia da antiguidade (Nm_21:5-10), como a panela de maná e
a vara de Arão, poderia ter ficado como monumento interessante e
instrutivo da bondade e misericórdia divinas para com os israelitas no
deserto; e seria preciso o exercício de muita coragem e decisão para
destruí-la. Mas no processo de degeneração, tinha chegado a ser objeto
de culto idolátrico; e como os interesses da verdadeira religião tornaram
necessária a sua demolição, Ezequias, ao dar este passo valente,
considerou tanto a glória de Deus como o bem de seu país.
até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso — Não é
preciso supor que esta reverência supersticiosa lhe tivesse tributado
sempre do tempo de Moisés, porque semelhante idolatria não teria sido
tolerada por Davi nem por Salomão na primeira parte de seu reinado,
nem por Asa ou Josafá, se tivessem sabido de tal loucura. Mas o mais
provável é que a introdução desta superstição não vem de uma data
anterior ao tempo em que a família de Acabe, por sua aliança com o
trono de Judá, exercia uma influência perniciosa para preparar o caminho
para todo tipo de idolatria. É possível, como creem alguns, que sua
origem tenha resultado de um equívoco da linguagem de Moisés
(Nm_21:8). O culto à serpente, por repugnante que possa parecer, era
uma forma de idolatria extensamente difundida, e era mais facilmente
aceita em Israel, visto que muitas das nações vizinhas, tais como os
egípcios e fenícios, adoravam ídolos na forma da serpente, como
emblemas de saúde e imortalidade.
5. Confiou no SENHOR, Deus de Israel — Sem invocar a ajuda
ou pagar o apoio de auxiliares estrangeiros como Asa (1Rs_15:18-19) e
Acaz (2Rs_16:17; Is_7:1-25).
depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de
Judá, nem entre os que foram antes dele — Claro que Davi e Salomão
são excetuados, pois eles tinham a soberania de todo o país. No reino de
Judá, só Josias teve um testemunho similar a seu favor (2Rs_23:25). Mas
até ele foi superado por Ezequias, quem empreendeu uma reforma
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 62
nacional no começo de seu reinado, o que não fez Josias. O caráter
piedoso e a carreira excelente de Ezequias, eram estimulados, entre
outras influências secundárias, por um sentimento das calamidades que a
carreira ímpia de seu pai havia trazido sobre o país, como também pelos
conselhos de Isaías.
7. rebelou-se contra o rei da Assíria — quer dizer, o tributo anual
que seu pai tinha estipulado pagar, ele com presteza imprudente, reteve.
Seguindo a política de um soberano realmente teocrático, pela bênção
divina que repousou sobre seu governo foi elevado a uma posição de
grande poder público e nacional. Salmaneser se tinha retirado da
Palestina por estar ocupado em guerra com Tiro; ou provavelmente já
estava morto; e assumindo, por conseguinte, aquela soberania plena que
Deus tinha conferido sobre a casa de Davi, sacudiu o jugo assírio, e,
mediante um movimento enérgico contra os filisteus, recuperou daquele
povo o território que eles tinham tirado a seu pai Acaz. (2Cr_28:18).
13. Senaqueribe — O filho e sucessor de Salmaneser.
todas as cidades fortificadas de Judá — Não absolutamente todas
elas; porque, além da capital, algumas fortalezas firmes se mantiveram
contra o invasor (v. 17; 2Rs_19:8). O relato seguinte da invasão de Judá
por Senaqueribe e a maravilhosa destruição de seu exército, repete-se
quase palavra por palavra em 2Cr_32:1-33 e Is_36:1 – 37:38. Parece que
a expedição dirigia-se contra o Egito, cuja conquista era, desde há muito
tempo, a ambição principal dos monarcas assírios; mas a invasão de Judá
necessariamente vinha primeiro, pois este país era a chave para entrar no
Egito, o caminho real pelo qual os conquistadores da Ásia Superior
deviam ocorrer, e também porque tinha formado uma liga de defesa
mútua com o Egito (v. 24). Além disso, Judá ficava completamente
aberta, devido ao transplante de Israel a Assíria. Invadindo a Palestina,
Senaqueribe pôs sítio à fortaleza de Laquis, que estava como a 11 Kms
de Eleuterópolis, e portanto a sudoeste de Jerusalém sobre o caminho ao
Egito (Robinson). Entre as ilustrações interessantes da história sagrada
proporcionadas pelas recentes escavações em Assíria, há uma série de
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 63
baixos relevos que representam o sítio desta cidade cuja inscrição sobre a
escultura diz que é Laquis, e a figura de um rei cujo nome é dado, na
mesma inscrição, como Senaqueribe. A lenda escrita sobre a cabeça do
rei, diz: “Senaqueribe, o rei poderoso, rei do país da Assíria, sentado no
trono de juízo perante a cidade de Laquis (Lakhisha), Eu dou permissão
para sua matança.” (Nineveh and Babylon). Esta confirmação detalhada
da verdade do relato bíblico dá-se não só pelo nome Laquis que contém a
inscrição, mas pela fisionomia dos cativos trazidos perante o rei, a qual é
evidentemente judia.
14. enviou mensageiros ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: …
tudo o que me impuseres suportarei — Defraudadas suas esperanças
de ajuda do Egito, e sentindo-se incapaz de fazer frente a tão poderoso
conquistador, quem estava ameaçando a própria Jerusalém, Ezequias se
rendeu. O pagamento de 300 talentos de prata e 30 talentos de ouro—
351.000 libras esterlinas—trouxe um alívio temporário; mas ao levantar
o tributo imposto, não só teve que esgotar todos os tesouros do palácio e
do templo, mas também teve que arrancar das portas e colunas do
edifício sagrado o ouro que as adornava.

V. 17. SENAQUERIBE SITIA JERUSALÉM.


17. o rei da Assíria enviou, de Laquis, a Tartã — general.
(Is_20:1).
Rabe-Saris — chefe dos eunucos.
Rabsaqué — chefe copeiro. Estes eram os grandes oficiais
empregados em entregar a mensagem insultante de Senaqueribe a
Ezequias. Sobre as paredes do palácio de Senaqueribe, em Khorsabad,
certas figuras foram identificadas como os oficiais daquele soberano
mencionados nas escrituras. Em particular, as figuras de Rabsaqué,
Rabe-Saris e Tartã aparecem de corpo inteiro como retratos de pessoas
que tinham estes postos no reinado de Senaqueribe, e provavelmente os
mesmos indivíduos enviados nesta embaixada.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 64
com um grande exército … a Jerusalém — Depois de uma
campanha de três anos no Egito, Senaqueribe foi obrigado pelo rei de
Etiópia a retirar-se, e descarregando sua ira contra Jerusalém, enviou um
grande exército para pedir a rendição. (veja-se 2Cr_32:30).
na extremidade do aqueduto do açude superior — é o conduto
que ia do depósito de Giom Superior (Birket e Mamilla) ao lago inferior
(o Birket es-Sultan).
junto ao caminho do campo do Lavandeiro — o caminho público
que passava por este distrito, que lhes tinha sido destinado, para conduzir
seus negócios, fora da cidade, por causa do aroma desagradável. (Keil).
18. Tendo eles chamado o rei — Ezequias não fez apresentação
pessoal, mas comissionou a seus três ministros principais para que se
encontrassem com os disputados assírios numa conferência fora das
muralhas da cidade.
Eliaquim — Recém promovido a chefe da casa real. (Is_22:20).
Sebna — Deposto por seu orgulho e presunção (Is_22:15) daquele
posto, embora sendo ainda secretário real.
Joá … o cronista — guardião das crônicas, posto importante nos
países orientais.
19. Rabsaqué lhes disse — O tom insolente que assumiu, parece
surpreendente. Mas sua jactância, tanto no que disse como na maneira de
dizê-lo, a descrição tão bem colorida do poder e os recursos de seu
senhor, e a impossibilidade de que Ezequias fizesse uma resistência
eficaz, adornada por todos os argumentos e figuras que pudesse sugerir a
sua imaginação de homem oriental, foi aguçada em tudo, menos a
blasfêmia, por outras mensagens de desafio enviados em ocasiões
similares na história do Oriente.
27. para que comam, etc. — Isto tinha por objeto mostrar os
terríveis extremos a que, no sítio que os ameaçava, ficaria reduzido o
povo de Jerusalém.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 65
2 Reis 19

Vv. 1-5. EZEQUIAS EM PROFUNDA AFLIÇÃO.


1. Tendo o rei Ezequias ouvido isto, rasgou as suas vestes, etc.
— O rasgar os vestidos era um modo de expressar horror pela atrevida
blasfêmia; o cobrir-se de saco, sinal de angústia mental; a entrada ao
templo para orar, o refúgio de um homem piedoso em aflição; e o enviar
o relato do discurso do assírio a Isaías foi para receber o conselho e
consolo do profeta. A expressão em que a mensagem foi levada,
descreveu, por uma figura forte, a condição desesperada do reino, junto
com a sua própria inabilidade para ajudar-se a si mesmos; e nele se
insinuava uma esperança de que o desafio blasfemo ao poder do Senhor
pelo assírio ímpio, poderia intervir de alguma maneira direta, para
vindicação de sua honra e supremacia sobre todos os deuses pagãos.
4. o Deus vivo — é uma expressão significativa tomada em
conexão com as deidades insensíveis das quais se gabava Rabsaqué de
que eram impotentes para resistir as armas vitoriosas de seu senhor.

Vv. 6, 7. CONFORTADO POR ISAÍAS


6. Isaías lhes disse: … Não temas — A resposta do profeta foi da
mais alentadora, oferecia a perspectiva de uma libertação rápida do
invasor. O espírito (vento, sopro), o rumor, e a queda a espada
continham uma predição breve que logo foi cumprida em todos os três
pontos particulares—o alarme que apressou sua retirada, a destruição
que alcançou o seu exército, e a morte violenta que repentinamente
terminou a sua carreira.

Vv. 8-13. SENAQUERIBE ENVIA A EZEQUIAS UMA CARTA


BLASFEMA.
8. Voltou, pois, Rabsaqué e encontrou o rei da Assíria pelejando
contra Libna — Se Laquis tinha caído, não se diz. Mas Senaqueribe
tinha transferido seus aríetes contra a fortaleza vizinha da Libna
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 66
(Js_10:29; cf. 31; Js_15:42), onde o chefe copeiro informou sobre o
cumprimento de sua missão.
9. ouviu que a respeito de Tiraca, rei da Etiópia, se dizia: Eis
saiu para guerrear contra ti — Este foi o “rumor” a que se referiu
Isaías [2Rs_19:7]. Tiraca reinou no Alto Egito, enquanto Sô ou Sabaca
governou no Baixo Egito. Foi monarca poderoso, outro Sesóstris, e tanto
ele como Sabaca deixaram monumentos de sua grandeza. O nome e a
figura de Tiraca, no ato de receber cativos, ainda se veem no templo
egípcio de Medinet Abou. Esta era a ajuda esperada da qual zombou
(2Rs_18:21) Rabsaqué como “cana lascada”. A ira contra Ezequias por
ter-se aliado com o Egito, ou a esperança de poder melhor fazer frente ao
ataque do sul, o induziu, depois de ouvir o rumor do avanço de Tiraca, a
enviar uma carta ameaçadora a Ezequias, a fim de obrigar ao rei de Judá
a uma rendição imediata da capital. Esta carta, redigida no mesmo estilo
jactancioso e despótico que o discurso de Rabsaqué, excedeu em
blasfêmia, e continha uma enumeração mais longa de lugares
conquistados, tendo em vista espantar a Ezequias, e lhe mostrar quão
inúteis seriam todas as tentativas de resistir.

Vv. 14-34. A ORAÇÃO DE EZEQUIAS.


14. Tendo Ezequias recebido a carta ... leu-a; então, subiu à
Casa do SENHOR — Depois de ler a carta, Ezequias se apressou a ir ao
templo, e a estendeu com infantil fé diante do Senhor a qual continha
zombarias que profundamente afetavam a honra divina, e implorou
livramento de mão desse orgulhoso desafiador de Deus e dos homens. O
espírito devoto desta oração, o reconhecimento do Ser divino na
plenitude de Sua majestade — tão notavelmente contrastado com a
imaginação dos assírios a respeito de seu poder meramente local—sua
confissão das conquistas alcançadas sobre outras terras, e da destruição
de seus ídolos de madeira, que segundo o costume dos assírios, eram
lançados às chamas — porque suas deidades não eram deuses; e o
objetivo pelo qual suplicava a intervenção divina, era que todos os reinos
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 67
da terra soubessem que Jeová era o único Deus; esta foi uma atitude
digna de um piedoso rei teocrático do povo escolhido.
20. Então, Isaías ... mandou dizer — Tendo sido feita uma
revelação a Isaías, o profeta anunciou ao rei que sua oração foi ouvida. A
mensagem profética consistia em três partes diferentes: Primeiro,
Senaqueribe é mencionado (vv. 21-28) em linguagem altamente poética,
admiravelmente descritiva da vaidade pomposa, as orgulhosas
pretensões e a impiedade presunçosa do déspota assírio. Segundo, dirige-
se a Ezequias (vv. 29-31), e é dado um sinal da libertação prometida de
que por dois anos a presença do inimigo interromperia as ocupações
pacíficas da lavoura; mas que no terceiro ano o povo estaria em
condições de trabalhar seus campos e vinhas, e colher os frutos como
antes. Terceiro, anuncia-se o resultado da invasão de Senaqueribe (vv.
32-34).
33. mas, nesta cidade, não entrará — Nem se aproximaria o
bastante para atirar uma flecha, nem das máquinas mais poderosas que as
lançam de grandes distâncias, nem ocupariam alguma parte do terreno
perante a cidade com “escudo” ou mantelete, que servisse de defesa a
seus soldados, nem seria colocado “baluarte”, ou aterro para subir mais
alto que o muro para dominar a cidade. Nenhuma destas coisas, que
eram os principais modos de ataque segundo a arte militar antiga, seria
permitido a Senaqueribe empregar. Embora o exército de Rabsaqué
partiu rumo a Jerusalém, e se acampou a certa distância tendo em vista
lhe pôr sitio, demoraram, provavelmente esperando que o rei, depois de
tomar a Laquis e Libna, trouxesse suas forças, para que o exército
combinado cercasse a capital. Tão decidido estava o invasor a conquistar
Judá e os países vizinhos (Is_10:7), que só a intervenção divina poderia
salvar Jerusalém. Se poderia supor que o poderoso monarca que invadiu
a Palestina e levou as dez tribos de Israel, deixaria memoriais de suas
façanhas em pedras esculpidas e bulas votivas. Um relato longo e
detalhado desta expedição se acha nos Anais de Senaqueribe, tradução
dos quais se fez ao inglês, e, em seus comentários sobre ele, diz o
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 68
Coronel Rawlinson que a Versão Assíria confirma os aspectos mais
importantes do relato das Escrituras. As narrações judia e assíria da
campanha, em geral se ilustram mutuamente. (Outlines of Assyrian
History).

Vv. 35, 36. UM ANJO DESTRÓI OS ASSÍRIOS.


35. pela manhã, eis que todos estes eram cadáveres — Foi a
interposição milagrosa do Todo-poderoso o que defendeu Jerusalém.
Quanto ao agente secundário empregado na destruição do exército
assírio, é mais provável que se efetuasse por um vento quente do sul—o
simum, vento “envenenado” — tal como até hoje envolve e destrói
caravanas inteiras. Esta hipótese se apoia no v. 7, e Jr_51:1. A destruição
foi na noite; sentindo-se em completa segurança os oficiais e soldados,
estavam descuidados, estava relaxada a disciplina e as sentinelas não
estavam alerta, ou talvez eles mesmos foram os primeiros mortos, e os
que dormiam não estavam envoltos, e absorveram o veneno do ar em
quantidades. Se esta era uma noite de júbilo libertino (coisa comum nos
acampamentos), sua alegria (talvez por uma vitória segura), ou “a
primeira noite de atacar à cidade”, diz Josefo, veio a ser, por seus efeitos,
um meio de destruição. (Calmet, Fragments).
36. Retirou-se, pois, Senaqueribe, rei da Assíria, e se foi — O
caminho pelo qual tinha vindo (v. 33). A rota se descreve em Isaías 10.
O antigo rastro dos carros perto de Beirute está na dura rocha da base do
Líbano, que limita com o antigo Rio Licus—hoje Nahr el-Kelb. Sobre a
superfície perpendicular de pedra, a alturas diferentes, veem-se
inscrições em caracteres assírios, as quais foram decifradas, e contêm o
nome de Senaqueribe. De modo que pela preservação destas inscrições, a
ira dos invasores assírios está louvando a Deus.
voltou e ficou em Nínive — Esta declaração indica um período
considerável, e seus anais continuam sua história pelo menos cinco anos
depois de sua desastrosa campanha em Jerusalém. Não se acha nenhuma
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 69
lembrança de sua catástrofe, pois o costume assírio era o de lembrar só
as vitórias. As esculturas apresentam só o lado agradável do quadro.

Vv. 37. SENAQUERIBE É MORTO.


estando ele a adorar na casa de Nisroque, seu deus — Assur, o
chefe do Panteão Assírio, representado não como figura com cabeça de
abutre — agora se sabe que essa é um sacerdote — mas como figura
alada num círculo, que é a deidade guardadora da Assíria. O rei se
representa nos monumentos de pé ou de joelhos sob esta figura, com as
mãos levantadas em oração ou adoração.
Adrameleque e Sarezer, seus filhos, o feriram à espada — O
gênio de Senaqueribe, exasperado talvez por seus reversos, manifestou-
se na crueldade mais selvagem e uma tirania intolerável sobre seus
súditos e escravos, até que enfim foi assassinado por seus dois filhos, aos
quais, diz-se pensava sacrificar para apaziguar os deuses e para dispô-los
a que lhe concedessem o retorno de sua prosperidade. Como os dois
parricidas fugiram para Armênia, seu terceiro filho, Esar-Hadom, subiu
ao trono.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 70
2 Reis 20

Vv. 1-7. A VIDA DE EZEQUIAS PROLONGADA.


1. Naqueles dias, Ezequias adoeceu — Como seu reinado durou
vinte e nove anos (2Rs_18:2), e seu reino foi invadido no décimo quarto
(2Rs_18:13), é evidente que esta doença repentina e severa ocorreu no
mesmo ano da invasão assíria. Entre a ameaça de ataque e a própria
aparição do inimigo, deve ter tido lugar este incidente na história de
Ezequias. Mas segundo a do historiador sagrado, o relato de Senaqueribe
termina antes de entrar no que era pessoal do rei de Judá (veja-se
também Is_38:39).
Põe em ordem a tua casa — Como Isaías era de sangue real, deve
ter tido acesso à casa particular do rei. Mas como o profeta foi
comissionado para fazer este anúncio, pode-se considerar que a
mensagem se referia a assuntos de maior importância que o acerto dos
assuntos domésticos e particulares do rei. Terá tido a ver principalmente
com o estado do reino, como ainda não tinha ele filho (cf. v. 6 com
2Rs_21:1).
porque morrerás e não viverás — A doença era de caráter
maligno, e teria sido de efeitos mortais, se não tivesse intervindo
milagrosamente o poder curador de Deus.
2. virou Ezequias o rosto para a parede — Não como Acabe
(1Rs_21:4), em descontentamento, mas o fez para ter melhor
oportunidade para a oração.
3. Lembra-te, SENHOR, peço-te, de que andei diante de ti com
fidelidade, etc. — O curso dos pensamentos de Ezequias evidentemente
se dirigia à promessa de Deus a Davi e a seus sucessores no trono
(1Rs_8:25). Ele tinha completado as condições tão fielmente como
permitia a fraqueza humana, e como sempre tinha estado livre daqueles
grandes crimes por meio dos quais, pelo juízo de Deus, a vida humana
era com frequência cortada repentinamente, sua grande aflição poderia
resultar em parte de seu amor à vida, e em parte pela escuridão da
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 71
dispensação mosaica, onde a vida e a imortalidade não tinham chegado à
luz; e em parte porque seus planos para a reforma de seu reino seriam
frustrados por sua morte. Ele invocou o cumprimento da promessa.
4. Antes que Isaías tivesse saído da parte central da cidade — Do
castelo real.
5. Assim diz o SENHOR, o Deus de Davi, teu pai — Uma resposta
imediata foi dada a sua oração, contendo uma segurança de que o Senhor
cumpria sua promessa feita a Davi, e a cumpriria na experiência de
Ezequias, tanto na prolongação de sua vida como em sua libertação dos
assírios.
ao terceiro dia — A completa convalescença de uma doença
perigosa, dentro de um tempo tão curto, demonstra o caráter milagroso
da cura (veja-se sua canção de agradecimento, Is_38:9). A identidade da
doença não se pode averiguar; mas o texto não dá nenhuma insinuação
de que a peste prevalecesse em Jerusalém naquele então; embora os
árabes aplicam cataplasmas de figos aos furúnculos pestilentos, eles
fazem a mesma coisa em outros casos, pois consideram úteis os figos
para maturar e suavizar as úlceras inflamatórias.

Vv. 8-20. O SOL VOLTA ATRÁS DEZ GRAUS.


8. Ezequias disse a Isaías: Qual será o sinal de que o SENHOR
me curará? — No curso da natureza, sua melhoria era tão inesperada,
que o rei pediu algum sinal que justificasse sua confiança na verdade da
comunicação do profeta; e foi concedido o sinal que ele especificou. A
sombra do sol voltou atrás no quadrante de Acaz os dez graus que tinha
baixado. Várias conjeturas foram feitas a respeito deste relógio do sol. A
palavra no original é “graus” ou “degraus”, e disto muitos comentadores
têm suposto que era uma escada, tão habilmente inventada, que a sombra
nos degraus indicava as horas e o curso do sol. Mas é mais provável que
fosse um instrumento, e, pelo fato de que os hebreus não tinham palavra
que o designasse, que era uma das novidades estrangeiras importadas por
Acaz desde Babilônia. Parece que tinha sido de tal tamanho, e localizado
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 72
no pátio em tal forma, que Isaías o podia apontar e o rei vê-lo desde seu
dormitório. O retrocesso da sombra do sol no relógio foi feito
milagrosamente pela onipotência de Deus; mas o fenômeno foi
temporário, local, limitado à observação, e efetuado para a satisfação, de
Ezequias e sua corte.
12-19. Merodaque-Baladã — (Is_39:1). O primeiro rei de
Babilônia mencionado na história sagrada; anteriormente seus
governantes eram vice-reis dos monarcas assírios. Este indivíduo sacudiu
o jugo, e, defendendo sua independência, fez com êxito variável uma
resistência longa e obstinada. (Rawlinson’s Outlines). A mensagem de
felicitação a Ezequias, com toda probabilidade, foi acompanhada por
propostas de uma aliança defensiva contra seu comum inimigo assírio. O
rei de Judá, lisonjeado por esta honra, mostrou aos embaixadores todos
os seus tesouros, seu casa de armas e equipamento guerreiros; e seus
motivos por isso foi evidentemente o de que os deputados babilônios
fossem induzidos a apreciar sua amizade.
a prata, o ouro — Pagou tanto tributo a Senaqueribe, que sua
tesouraria ficou vazia (2Rs_18:16). Mas, depois da destruição de
Senaqueribe, presentes lhe eram trazidos de diferentes partes, por
respeito a um rei que, por sua fé e oração, tinha salvado a sua pátria; e
além disso, não é nada improvável que dos cadáveres no campo assírio
se pôde recuperar todo o ouro e a prata que ele tinha pago. A vã
ostentação, entretanto, foi ofensiva a seu divino Senhor, quem enviou a
Isaías a repreendê-lo. A resposta que ele deu ao profeta (v. 14)
demonstra o contente que estava pela visita deles; mas foi um erro, pois
apresentava um motivo para a cobiça desses estrangeiros rapazes, os
quais, em período não longínquo, voltariam e pilhariam seu país, e
transfeririam todas as posses que ele pomposamente tinha mostrado a
Babilônia, como também a posteridade dele, para ser assistentes na corte
daquele país. (Veja-se 2Cr_32:31).
19. Boa é a palavra do SENHOR que disseste — O que indica
uma humilde e piedosa resignação à vontade divina. A parte final de sua
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 73
resposta foi pronunciada depois de uma pausa, e foi provavelmente uma
exclamação dirigida a si mesmo, em que expressava sua gratidão por
que, embora grandes aflições cairiam sobre seus descendentes, a
execução do juízo divino tinha sido suspensa durante sua própria vida.
20. o açude e o aqueduto — Veja-se 2Cr_32:30).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 74
2 Reis 21

Vv. 1-18. REINADO ÍMPIO DE MANASSÉS, E GRANDE


IDOLATRIA.
1. Tinha Manassés doze anos de idade quando começou a reinar
— Deve ter nascido três anos depois da cura de seu pai; e sua minoria de
idade, passada sob a influência de tutores, hostis aos princípios religiosos
e à política de reforma de seu pai, pode explicar em parte os princípios
contrários à teocracia de seu reinado. A reforma religiosa que Ezequias
tinha empreendido se executou só parcialmente. Havia poucos sinais de
sua influência no coração e nos costumes do povo em geral. Ao
contrário, o verdadeiro temor de Deus tinha desaparecido da massa do
povo; a corrupção e os vícios aumentavam e se praticavam abertamente
(Is_28:7, etc.) pelos dirigentes degenerados, os quais, tomando ao jovem
príncipe em seu poder, dirigiam sua educação, ensinavam-no segundo
seus pontos de vista, e o seduziam para um patrocínio aberto da idolatria.
Então, quando chegou a ser soberano, introduziu o culto aos ídolos, a
restauração dos lugares altos, a construção de altares ou pilares a Baal, e
a colocação no templo de Deus de uma imagem de Asera, a árvore
sagrada ou simbólica, que representava “todas as hostes do céu”. Isto não
era idolatria, e sim puro culto às estrelas, de origem caldaica e assíria.
(Keil). O sol, como entre os persas, tinha carros e cavalos consagrados a
si (2Rs_23:11), e se oferecia incenso às estrelas sobre os tetos
(2Rs_23:12; 2Cr_33:5; Jr_19:13; Sf_1:5) e na área do templo com o
rosto dirigido rumo à saída do sol (Ez_8:16).
5. dois átrios da Casa do SENHOR — O pátio dos sacerdotes e o
pátio grande do povo.
6. Fez passar a seu filho pelo fogo (TB) — (Veja-se 2Rs_16:3).
adivinhava pelas nuvens — De uma observação das nuvens.
era agoureiro — Usava enganos e feitiços.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 75
tratava com médiuns — A LXX diz “ventríloquos”, aqueles que
fingia fazer perguntas a espíritos familiares, e davam a outros a resposta
dada pelo espírito.
e feiticeiros — Pretendidos sábios, os quais fingiam revelar
segredos, recuperar coisas perdidas e interpretar sonhos. Muitos destes
impostores em diferentes ocasiões tinham vindo de Caldeia à terra de
Israel para desenvolver suas lucrativas ocupações, especialmente durante
os reinados dos últimos reis, e Manassés não só era seu generoso
patrocinador mas também zeloso de aparecer ele mesmo como adepto às
artes. Elevou-os a classe influente em sua corte, como o eram na Assíria
e Babilônia, onde nada se fazia sem antes investigar a sorte que lhes
esperava e sem estar seguros do êxito.
7. Também pôs a imagem de escultura do poste-ídolo — A
colocação da Asera dentro dos recintos do templo, o qual estava
dedicado ao culto do verdadeiro Deus, considera-se como o ultraje mais
grave do rei idólatra.
8. não farei que os pés de Israel andem errantes da terra que dei
a seus pais — Referindo-se à promessa de 2Sm_7:10.
contanto que tenham cuidado de fazer, etc. — Esta condição foi
expressa desde o primeiro estabelecimento de Israel em Canaã. Mas
aquele povo não só não o guardou mas pela influência perniciosa de
Manassés foi seduzido a excessos maiores de corrupção idolátrica que
até os originais cananeus.
10-17. o SENHOR falou por intermédio dos profetas, seus
servos — Estes eram Oseias, Joel, Naum, Habacuque e Isaías. Seus
conselhos, admoestações e advertências proféticas foram postas em
protocolo nas crônicas nacionais (2Cr_33:18), e agora formam parte do
cânon sagrado.
12. todo o que os ouvir, lhe tinirão ambos os ouvidos — Uma
forte forma metafórica de anunciar um acontecimento extraordinário e
espantoso (veja-se 1Sm_3:11; Jr_19:3; Hab_1:5).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 76
13. o cordel de Samaria e o prumo da casa de Acabe — Os
cativos condenados a destruição às vezes eram agrupados e marcados
por meio de uma corda de medir e um chumbo (2Sm_8:2; Is_34:11;
Am_7:7); de modo que a corda de Samaria quer dizer a linha traçada
para a destruição de Samaria; o chumbo da casa de Acabe, para
exterminar a sua família apóstata; e o sentido da ameaçadora declaração
aqui é que Judá seria completamente destruído, como o tinham sido
Samaria e a casa de Acabe.
eliminarei Jerusalém, etc. — A mesma sorte é denunciada mais
fortemente numa figura significativa que não se pode errar.
14. Abandonarei o resto da minha herança — O povo de Judá,
que restava de todo o povo escolhido. A consequência do abandono de
Deus seria sua queda em poder de seus inimigos.
16. Além disso, Manassés derramou muitíssimo sangue inocente
— Não contente com o patronato e a prática das abominações
idolátricas, era cruel perseguidor de todos os que não se conformavam. A
terra era inundada com o sangue de homens bons; entre os quais, diz a
tradição, Isaías sofreu uma morte horrível, sendo serrado (veja-se
Hb_11:37).

Vv. 18-26. O ÍMPIO REINADO DE AMOM.


18. Amom, seu filho, reinou em seu lugar — Este príncipe
continuou a política idolátrica de seu pai; e depois de um reinado
ignominioso de dois anos, foi assassinado por alguns de seus domésticos.
O povo matou aos conspiradores regicidas, e pôs a seu filho Josias no
trono.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 77
2 Reis 22

Vv. 1, 2. O BOM REINADO DE JOSIAS.


1. Tinha Josias oito anos de idade quando começou a reinar —
Mais feliz que seu avô Manassés, parece que durante sua minoridade
esteve sob o cuidado de melhores guardiões, os quais lhe ensinaram os
princípios e as práticas da piedade; e tão fortemente tinham sido
arraigados seus jovens afetos à religião verdadeira e sem contaminação,
que continuou aderido toda sua vida, com perseverança sem rodeios, à
causa de Deus e da justiça.

Vv. 3-7. FAZ PROVISÃO PARA REPARAR O TEMPLO.


3. No ano décimo oitavo do rei Josias (TB) — Antes deste
período ele tinha começado a reforma nacional. Se deram os passos
preliminares; não só foram empregados os edificadores, mas também o
dinheiro tinha sido trazido por todo o povo, e recebido pelos levitas à
porta, e vários preparativos mais tinham sido feitos. Mas o curso deste
relato gira sobre um incidente interessante que sucedeu no décimo oitavo
ano do reinado de Josias, por isto se especifica esta data. Com efeito,
toda a terra foi completamente purificada de todo objeto e todos os
rastros da idolatria. O rei agora se deparou com a restauração e
embelezamento do templo, e deu ordens a Hilquias o sumo sacerdote de
que fizesse uma inspeção geral, para saber o que era preciso fazer (veja-
se 2Cr_34:8-15).

Vv. 8-15. HILQUIAS ACHA O LIVRO DA LEI.


8. disse o sumo sacerdote Hilquias … Achei o Livro da Lei na
Casa do SENHOR — quer dizer, a lei de Moisés, o Pentateuco. Era o
exemplar do templo — o qual, tendo sido posto (Dt_31:25-26) ao lado
da arca no lugar santíssimo, e durante os reinados ímpios de Manassés e
Amom, talvez sob Acaz, quando o próprio templo tinha sido profanado
pelos ídolos, e a arca também (2Cr_35:3) tirada de seu local — de algum
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 78
modo se perdeu, e foi achado novamente durante a reparação do templo.
(Keil). Entregue por Hilquias, o descobridor, a Safã, o escriba, por este
foi mostrado e lido ao rei. Creu-se que a passagem lida ao rei, e pelo qual
a mente real foi tão grandemente agitada, provavelmente foi uma porção
de Deuteronômio 28, 29 e 30, onde se conta da renovação da aliança
nacional, e uma enumeração das terríveis ameaças e maldições
denunciadas contra todos os que violassem a lei, quer fosse príncipe ou
do povo. As impressões de pesar e terror que a leitura produziu na mente
de Josias, pareceram a muitos inexplicáveis. Mas, como é seguro pelo
conhecimento extenso e familiar manifestado pelos profetas, que havia
outros exemplares em circulação popular, o rei devia conhecer até certo
ponto seu sagrado conteúdo. Mas pôde ter sido desconhecido a ele a
passagem lida; ou a leitura do mesmo, nas circunstâncias peculiares,
pôde ter chegado a seu coração de uma maneira que ele nunca antes
havia sentido. Sua firme fé na palavra divina, e seu doloroso sentimento
interior de que as funestas e prolongadas apostasias da nação os tinham
exposto ao castigo dos juízos denunciados, devem ter vindo com força
entristecedora sobre o coração de tão piedoso príncipe.
12-13. Ordenou o rei … Ide e consultai o SENHOR por mim,
etc. — Os sentimentos agitados do rei o comoveram a buscar conselho
imediato sobre como evitar as maldições sob as quais ficou o seu reino; e
imediatamente uma comissão de oficiais principais foi enviada a um
dotado do espírito profético.
Aicão — amigo de Jeremias (Jr_26:24).
14. Acbor — ou Abdom (2Cr_34:20), homem de influência na
corte (Jr_26:22). A ocasião foi urgente, portanto não foram enviados,
nem a Sofonias (Sf_1:1), quem era talvez jovem, nem a Jeremias, que
talvez estava ausente em sua casa de Anatote, e sim a uma mulher que
estava perto e era conhecida por seu espírito profético, a Hulda, quem
talvez era já viúva. Seu marido Salum era neto de Harás, “encarregado
das vestimentas”. Se isto quer dizer as vestimentas sacerdotais, ele deve
ter sido levita. Mas provavelmente se refere às vestimentas do rei.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 79
Ela habitava na cidade baixa de Jerusalém — Um bairro ou
subúrbio de Jerusalém. Ela era tida em tal veneração que dizem os
escritores judeus que ela e Joiada o sacerdote eram as únicas pessoas que
não eram da casa de Davi (2Cr_24:16) que foram sepultados em
Jerusalém.
15. Ela lhes disse: … Dizei ao homem que vos enviou a mim —
Ao ser consultada, deu-lhes uma resposta positiva na qual o juízo era
misturado com misericórdia; porque anunciou as calamidades
ameaçadoras que em período não distante açoitariam a cidade e seus
habitantes, mas ao mesmo tempo consolou o rei com uma segurança de
que esta época de castigo e tristeza não viria durante sua vida, por causa
da fé, a penitência e o zelo piedoso pela glória divina e o culto, que ele,
em sua capacidade pública e real influência, tinha manifestado.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 80
2 Reis 23

Vv. 1-3. JOSIAS FAZ COM QUE SE LEIA A LEI.


1. O rei Josias ordenou que todas as autoridades de Judá e de
Jerusalém se reunissem com ele (NTLH) — Este rei piedoso e
patriótico, não contente com a promessa de sua própria segurança,
depois da resposta de Hulda sentiu um desejo maior de apartar as
calamidades que ameaçavam o seu reino e o seu povo. Conhecendo a
riqueza da clemência e graça divinas aos arrependidos, convocou os
anciãos do povo, e colocando-se à frente deles, acompanhado pelo corpo
unido do povo, foi em procissão solene ao templo, onde mandou que o
livro da lei fosse lido aos ouvintes reunidos, e fez um pacto, em união de
seus súditos, para guardarem firmemente todos os mandamentos de
Jeová. Foi ocasião de interesse solene, intimamente unido a uma crise
nacional, e o belo exemplo de piedade na esfera mais alta deveria exercer
uma influência saudável em todas as classes do povo, animando sua
devoção e alentando seu retorno à fé de seus pais.
2. leu diante deles — lit., fez ler.
3. todo o povo anuiu a esta aliança — quer dizer, expressaram-se
de acordo com as proposições feitas. Assentiram ao que se exigia deles.

Vv. 4-28. DESTRÓI A IDOLATRIA.


4. o rei ordenou ao sumo sacerdote, etc. — quer dizer, ao sumo
sacerdote e outros sacerdotes, porque não havia variedade de graus
oficiais no templo.
todos os utensílios, etc. — todos os objetos usados no culto
idolátrico.
os queimou fora de Jerusalém — A lei exigia que fossem
entregues às chamas (Dt_7:25).
no campo do Cedrom — Mais provavelmente aquela parte do vale
de Cedrom, onde estão Jerusalém e o Monte das Oliveiras. Hoje é vale
espaçoso e nivelado, com abundantes plantações. (Robinson). O arroio
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 81
serpenteia ao longo do Este e sul da cidade, e o canal do arroio, grande
parte do ano está quase seco ou completamente seco, até depois das
chuvas fortes, quando repentinamente enche e transborda. Ali se
esvaziavam todas as impurezas do templo (2Cr_29:15-16) e da cidade.
Seus antecessores reformadores tinham mandado que as relíquias
mutiladas da idolatria fossem jogadas neste receptáculo de imundícies
(1Rs_15:13; 2Cr_15:16; 2Cr_30:14), mas Josias, imitando sua piedade,
excedeu-os em zelo; porque este fez com que a madeira queimada e os
fragmentos de metal quebrado fossem juntados e levados a Betel, para
poder, daí em diante, associar as ideias do horror e a aversão com aquele
lugar, como odioso pelas piores contaminações.
5. Aboliu também os sacerdotes idólatras — Heb. chemarim,
“chamuscados”, ou adoradores do fogo, distinguidos por um cinturão
(Ez_23:14-17) de lã e cabelo de camelo, enrolado duas vezes ao redor do
corpo, e preso com quatro nós, os quais tinham simbólico significado, e
era considerado uma defesa contra o mal.
aos que queimavam incenso a Baal, ao sol e à lua, etc. — ou,
Baal-shemesh, pois Baal às vezes era considerado como o sol. Esta
forma de culto falso não era por meio de imagens, mas sim puro culto às
estrelas, tomado dos velhos assírios.
e — antes, até a todo o exército dos céus.
6. Também tirou da Casa do SENHOR o poste-ídolo — quer
dizer, a árvore mística, posto por Manassés no templo, tirado por ele
depois de sua conversão, e voltado a colocar no santuário por seu ímpio
filho Amom. Josias fez com que fosse levado a Cedrom, se queimasse a
madeira, e se moesse o metal que havia nele, e espalhasse a cinza “sobre
as sepulturas do povo”. Os pobres eram sepultados em lugar comum no
vale Cedrom. Mas aqui se faz referência aos sepulcros “dos que tinham
sacrificado” (2Cr_34:4).
7. derribou as casas da prostituição-cultual — não casas firmes,
mas sim tendas, ou carpas, chamadas em outras partes [2Rs_17:30]
Sucote-Benote, tendas de mulheres jovens dedicadas ao serviço de Asera,
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 82
para as quais faziam colgaduras bordadas, e aonde se entregavam sem
freio à farra e a sensualidade, ou as colgaduras podem ter sido para a
própria Asera, pois é uma superstição popular no Oriente pendurar
pedaços de tecido nas árvores.
8. A todos os sacerdotes trouxe das cidades de Judá e profanou
os altos — Um grande número da ordem levítica, tendo-se abolido o
culto no templo nos reinados de Manassés e Amom, e os dízimos e
outras ofertas alienadas, tinham cometido a loucura de oficiar nos
lugares altos, e de apresentar os sacrifícios que lhes eram trazidos. Estas
irregularidades, embora o objeto fosse prestar culto ao Deus verdadeiro,
eram proibidas na lei (Dt_12:11). Aos que tinham sido culpados deste
pecado, Josias mandou trazer a Jerusalém, e, considerando-os como
contaminados, os excluiu dos serviços do templo, mas lhes dava um
salário dos tributos do templo, assim como aos coxos e aos incapacitados
para o sacerdócio (Lv_21:21-22).
desde Geba até Berseba — os lugares mais setentrionais e
meridionais de Judá, querendo dizer todas as partes do reino.
os altares … que estavam à entrada da porta de Josué — A casa
e porta do governador estavam à esquerda da porta da cidade, e junto à
entrada daquela mansão cívica havia altares públicos, dedicados, talvez,
ao verdadeiro Deus, mas contrariamente a suas próprias ordenanças de
culto (Is_57:8).
10. Tofete — assim chamado de tof — um tambor. A opinião
prevalecente entre os escritores judeus é que os gritos dos meninos
assustados quando estavam obrigados a passar pelo fogo naquele lugar
de horror idolátrico, eram afogados pelo som daquele instrumento.
11. Tirou também os cavalos que os reis de Judá tinham
dedicado ao sol — Entre os povos que antigamente adoravam ao sol, os
cavalos eram geralmente dedicados àquela deidade, pela suposta ideia de
que o próprio sol era puxado num carro por cavalos. Em alguns casos
estes cavalos eram sacrificados; mas eram empregados mais usualmente
nas procissões sagradas para levar a imagem do sol, ou para que os
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 83
adoradores cavalgassem todas as manhãs para dar as boas-vindas ao sol
em sua saída. Parece que os reis idólatras, Acaz, Manassés e Amom, ou
seus grandes oficiais iam nestes cavalos cedo cada dia da porta leste do
templo para cumprimentar e adorar ao sol quando aparecia sobre o
horizonte.
12. os altares que estavam sobre a sala de Acaz, sobre o terraço
— Altares foram construídos sobre os terraços das casas, onde os
adoradores de “exércitos dos céus” queimavam incenso (Sf_1:5;
Jr_19:13). Acaz tinha levantado altares para este propósito sobre a oleah,
ou câmara superior de seu palácio, e Manassés em alguma parte do teto
do templo. Josias demoliu estas duas estruturas.
13. os altos … os quais edificara Salomão — (Veja-se 1Rs_11:7).
à mão direita do monte da Destruição — O Monte das Oliveiras é
uma cadeia de montanhas a leste de Jerusalém. Esta cadeia tem três
cimos, das quais a central é chamada o Monte da Destruição, ou
Corrupção, assim chamada pelos templos de ídolos edificados ali, e,
como sabido, a da mão direita assinala a mais meridional. Diz-se que
Josias não destruiu, mas sim só “profanou” os lugares altos sobre o
monte da Destruição. É provável que Ezequias há tempo tinha demolido
os templos idolátricos edificados ali por Salomão; mas, como o povo
supersticioso prosseguia considerando o lugar como solo consagrado,
Josias o profanou.
14. o lugar onde estavam encheu ele de ossos humanos — Todo
monumento de idolatria que havia em seus domínios o destruiu da
mesma maneira, e os lugares onde estavam os profanou semeando ali
ossos de homens mortos. A presença de um cadáver tornava imundos
tanto as pessoas como os lugares aos olhos de judeus e pagãos.
15-20. Também o altar que estava em Betel, etc. — Não satisfeito
por tirar todo vestígio da idolatria de seus próprios domínios, este zeloso
iconoclasta fez uma viagem de inspeção pelas cidades de Samaria e todo
o território anteriormente ocupado pelas dez tribos, destruindo os altares
e templos dos lugares altos, entregando às chamas as postes-ídolos,
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 84
matando os sacerdotes dos altos, e mostrando seu horror pela idolatria
saqueando os sepulcros dos sacerdotes idólatras, e espalhando as cinzas
de seus ossos queimados sobre os altares antes de os demolir.
16. segundo a palavra do SENHOR, que apregoara o homem de
Deus, etc. — Ao levar a cabo estas atividades, Josias era movido por seu
próprio ódio intenso à idolatria. Mas é notável que este ato foi predito
326 anos antes dele nascer, e de seu nome ser mencionado
expressamente, como também o mesmo lugar onde sucederia
(1Rs_13:2). Esta é uma das mais notáveis profecias contidas na Bíblia.
17. Que monumento é este que vejo? — É provável que a atenção
do rei tinha sido atraída por uma lápide sepulcral mais chamativa que as
demais ao redor, a qual tinha o nome do que jazia nela, e isto incitou sua
curiosidade para fazer a pergunta.
os homens da cidade — não os colonos assírios—porque eles não
podiam saber nada dos antigos acontecimentos do lugar—mas sim
alguns dos velhos que tinham sido permitidos ficarem, e talvez o próprio
sepulcro não poderia ter sido visível, devido aos efeitos do tempo e ao
descuido, se algum “Velho Mortal” não tivesse adornado o sepulcro do
justo.
21-23. Deu ordem o rei a todo o povo, dizendo: Celebrai a
Páscoa ao SENHOR, etc. — Foi celebrada com grande solenidade, e
assistiram não só seus próprios súditos mas também o resto das pessoas
de Israel (veja-se 2Cr_35:1-19). Muitos dos israelitas que estavam em
Jerusalém, devem ter ouvido a respeito da lei, se não a ouviram ser lida
por Josias. É possível que eles podiam ter conseguido um exemplar da
lei, alentados como eram, para a melhor observância do culto do Senhor
pelas extraordinárias e solenes cerimônias em Jerusalém.
26. Nada obstante, o SENHOR não desistiu do furor da sua
grande ira, etc. — A reforma nacional dirigida por Josias, era aceita
passivamente pelo povo como submissão à vontade real; mas eles
conservavam uma inclinação secreta mas forte para a idolatria
suprimida. Exteriormente eles estavam purificados, mas seus corações
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 85
não eram retos para com Deus, como se vê em muitas passagens dos
escritos proféticos; não havia esperança de uma reforma cabal neles; e
Deus, que não via nenhum sinal de arrependimento, permitiu que seu
decreto 2Rs_21:12-15) para a destruição do reino tomasse seu efeito
fatal.
29. Nos dias de Josias ... Faraó-Neco — (Veja-se 2Cr_35:20-27).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 86
2 Reis 24

Vv. 1-7. JEOAQUIM OBTÉM SUA PRÓPRIA DESTRUIÇÃO.


1. Nabucodonosor — O filho de Nabopolassar, fundador da
monarquia caldeia. Esta invasão fez-se no quarto ano do reinado do
Jeoaquim e no primeiro de Nabucodonosor (Jr_25:1; cf. 46:2). Como
provavelmente o jovem rei da Assíria estava detido por causa do
falecimento do pai, ele enviou, junto com as tropas caldeus sobre sua
fronteira, um exército composto pelas nações tributárias que estavam
contíguas a Judeia, para castigar a rebelião de Jeoaquim. Mas este
exército hostil não era mais que um instrumento na execução do juízo
divino (v. 2) denunciado pelos profetas contra Judá pelos pecados do
povo; de modo que, embora partiam sob as ordens do monarca assírio, é
dito que foram enviados pelo Senhor (v. 3).
4. por isso, o SENHOR não o quis perdoar — (veja-se
2Rs_23:26; Jr_15:1).
6. Descansou Jeoaquim com seus pais — Esta frase só quer dizer
que morreu; porque não foi sepultado com seus antepassados reais; e
quer tivesse caído em batalha, ou quer seu corpo fosse submetido a
profanação, segundo a profecia, não foi honrado com os ritos de
sepultura (Jr_22:19; Jr_36:30).
Joaquim, seu filho, reinou em seu lugar — Quase não merece ser
levado em conta o breve reinado deste príncipe, o qual durou só três
meses, durante os quais ele foi vassalo humilde dos assírios, e por isso
não é de modo algum contraditória a ameaça profética denunciada contra
seu pai (Jr_36:30).
7. O rei do Egito — Faraó Neco.

Vv. 8, 9. JOAQUIM.
8. Joaquim — quer dizer, “nomeado por Deus”, contração de
Jeconias e Conias (Jr_22:24). [Jr_37:1]
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 87
Tinha Joaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar
— Na idade de oito anos o pai lhe deu participação no governo
(2Cr_36:9). Começou a reinar sozinho aos dezoito.
9. Fez ele o que era mau perante o SENHOR — Sem ter sido
ensinado pela experiência, e sendo surdo às advertências proféticas,
seguiu os cursos maus que haviam trazido tantos desastres sobre a
família real como também sobre o povo de Judá. Este caráter mau está
pintado figurada mas fortemente em Ez_19:5-7.

Vv. 10-16. JERUSALÉM É TOMADA.


10. Naquele tempo — Três meses depois de subir ao trono, era a
primavera do ano (2CR_36:10); tão cedo manifestou um sentimento
hostil a seu senhor assírio, formando uma aliança com o Egito.
Nabucodonosor enviou a seus generais para que sitiassem a Jerusalém,
como Jeremias havia predito (Jr_22:18; Jr_24:30), e logo depois seguiu
ele em pessoa. Convencido pelo desespero de fazer uma resistência
eficaz, foi ao acampamento dos sitiadores (v. 12), com a esperança
talvez de que lhe fosse permitido reter seu trono como vassalo do
império assírio. Mas já estava esgotada a clemência de Nabucodonosor
para com os reis de Judá, de modo que Joaquim foi enviado como cativo
a Babilônia, segundo a predição de Jeremias (Jr_22:24), acompanhado
pela rainha mãe, a mesma que tinha levado aquela dignidade sob Jeoacaz
(2Rs_23:31), seus generais e oficiais. Isto sucedeu no oitavo ano do
reinado de Nabucodonosor, calculando desde o tempo que estava
associado com seu pai no governo. Os que foram deixados, eram da
classe mais pobre, e os trabalhadores sem ofício. O palácio e o templo
foram saqueados. Os vasos de ouro menores tinham sido roubados na
primeira captura de Jerusalém, e colocados por Nabucodonosor no
templo de seu deus como lembranças de vitória, e usados por Belsazar
em sua festa ímpia, com o propósito de recompensar a seus generais com
estes troféus, entre os quais estavam provavelmente os castiçais de ouro,
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 88
a arca, etc. (cf. 2Cr_36:7; Dn_1:2). Agora as lâminas de ouro são todas
arrancadas do mobiliário maior do templo.
13. segundo tinha dito o SENHOR — (cf. 2Rs_20:17; Is_39:6;
Jr_15:13; Jr_17:3). Os melhores da nação, por sua posição, utilidade ou
valor moral, todos os que poderiam ser úteis em Babilônia ou perigosos
em Palestina, foram levados a Babilônia, em número de 10.000 (v. 14).
Estes se especificam (vv. 15, 16), guerreiros, 7.000; oficiais, 1.000;
esposas de reis, oficiais e príncipes, também sacerdotes e profetas
(Jr_29:1; Ez_1:1), 2.000; um total de 10.000 cativos.

Vv. 17-20. O MAU REINADO DE ZEDEQUIAS.


17. O rei da Babilônia estabeleceu rei, em lugar de Joaquim, ao
tio paterno deste, Matanias — Seguindo o antigo costume de fazer
alarde de sua monarquia, Nabucodonosor nomeou ao terceiro e mais
jovem filho de Josias (1Cr_3:15), irmão de Jeoacaz e tio do cativo
Joaquim. Mas, segundo o costume dos conquistadores, de mudar os
nomes dos grandes homens que tomavam cativos na guerra, em sinal de
supremacia, deu a Matanias o nome do Zedequias, que quer dizer
“justiça de Deus”. Como este nome é puramente hebreu, parece que o rei
teve permissão de escolher seu próprio nome, e que só foi confirmado
por ele. Seu coração para com Deus foi o mesmo como o de Jeoaquim,
impenitente e negligente da palavra de Deus.
20. Assim sucedeu por causa da ira do SENHOR ... a ponto de
os rejeitar de sua presença — quer dizer, no curso da providência justa
de Deus, sua política como rei resultou ruinosa para sua pátria.
Zedequias rebelou-se contra o rei da Babilônia — Foi instigado
pelos embaixadores dos estados vizinhos que vieram a felicitá-lo por sua
ascensão ao trono (cf. Jr_17:3 com 2Rs_28:1), e ao mesmo tempo lhe
induzir a juntar-se com eles numa liga comum para desfazer do jugo
estrangeiro. Embora foi advertido por Jeremias contra este passo, o fátuo
e perjuro Zedequias (Ez_17:13) persistiu em sua rebelião.
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 89
2 Reis 25

Vv. 1-3. JERUSALÉM NOVAMENTE SITIADA.


1. Nabucodonosor … veio contra Jerusalém, ele e todo o seu
exército, e se acamparam contra ela — Encolerizado pela rebelião do
Zedequias, o déspota assírio resolveu pôr fim à monarquia pérfida e
inconstante de Judá. Este capítulo relata sua terceira e última invasão,
que ele conduziu em pessoa a entre todas as nações tributárias baixo seu
domínio. Tendo invadido todas as partes setentrionais do país e tomado
quase todas as cidades fortes (Jr_34:7), partiu diretamente a sitiar a
Jerusalém. A data do princípio e do fim do sítio está marcada
cuidadosamente (cf. Ez_24:1; Jr_39:1; Jr_52:4-6); do qual parece que,
com uma breve interrupção causada pela ida de Nabucodonosor a fazer
frente a quão egípcios vinham para aliviar o sítio, mas aqueles que se
retirou sem pelejar, o sítio durou, ano e meio. Tão longa resistência se
deveu, não ao superiora arte militar e valor dos judias, mas sim ao firme
das fortificações da cidade, das quais dependia o rei muito
confiantemente (cf. Jeremias 21, 37, 38).
contra ela levantaram trincheiras ao redor (TB) — antes, talvez,
fez linhas ao redor, com uma sarjeta para evitar que saíssem da cidade.
Sobre este aterro foram levantadas suas máquinas militares para lançar
armas contra a cidade.
3. Aos nove dias do quarto mês, quando a cidade se via
apertada da fome — Por causa do bloqueio estreito e prolongado, os
habitantes eram reduzidos a terríveis limites; e, sob a influência
enlouquecedora da fome, eram perpetradas as mais desumanas
atrocidades (Lam_2:20, Lam_2:22; Lam_4:9-10; Ez_5:10). Isto foi o
cumprimento das denúncias proféticas ameaçadas sobre a apostasia do
povo escolhido (Lv_26:29; Dt_28:53-57; Jr_15:2; Jr_27:13; Ez_4:16).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 90
Vv. 4-30. ZEDEQUIAS É PRESO.
4. se abriu uma brecha na cidade (TB) — uma brecha foi feita,
como sabemos por outra passagem, numa parte da muralha da cidade
baixa (2Cr_32:5; 2Cr_33:14).
todos os homens de guerra fugiram de noite pelo caminho da
porta que está entre os dois muros perto do jardim do rei — O jardim
do rei estava (Nee_3:15) junto ao lago de Siloé, à entrada do vale do
Hinom. Um vestígio do exterior destes dois muros parece ainda existente
numa caminho rústico que cruza a entrada do vale, sobre um aterro perto
de uma velha amoreira, que assinala o lugar tradicional do martírio de
Isaías (Robinson). É provável que os sitiadores tivessem passado por alto
esta passagem.
o rei fugiu pelo caminho da Campina — quer dizer a Ghor, ou
vale do Jordão, que se calcula está como a cinco horas de distância de
Jerusalém. A planície perto de Jericó tem como 17 ou 18 quilômetros de
largura.
6. o tomaram preso e o fizeram subir ao rei da Babilônia, a
Ribla — Tendo Nabucodonosor deixado o sítio de Jerusalém para fazer
frente às forças auxiliares do Faraó-Hofra, deixou a seus generais para
que continuassem o sítio, não voltando ele para a cena de ação, e sim
tomando sua posição em Ribla na terra de Hamate (2Rs_23:33).
eles ditaram sentença contra ele (NKJV) — Eles, quer dizer, a
câmara de vereadores (Jr_39:3, Jr_39:13; Dn_6:7-8, Dn_6:12),
considerando-o vassalo sedicioso e rebelde, condenaram-no por violar
seu juramento e por desatender o anúncio da vontade divina como foi
feito conhecer por Jeremias (cf. Jr_32:5; Jr_34:2; Jr_38:17). Seus filhos
e os nobres que o tinham acompanhado em sua fuga, foram mortos em
sua presença (Jr_39:6; Jr_52:10). Conforme as ideias orientais, que
consideram que um cego é incapaz de governar, seus olhos foram
tirados; e carregado sob cadeias, foi levado a prisão perpétua a Babilônia
(Jr_52:11), a qual, embora chegou a ela, como havia predito Ezequiel,
não a viu (Jr_32:5; Ez_12:13; Ez_17:16).
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 91
8-18. aos sete dias do mês … veio a Jerusalém Nebuzaradã —
(cf. Jr_52:12). Ao tratar de encontrar concordância entre estas duas
passagens, é preciso supor que embora empreendeu a viagem no dia 7,
não chegou a Jerusalém até ao dia 10, ou que não pôs em execução suas
ordens até esse dia. Seu posto como capitão da guarda (Gn_37:36;
Gn_39:1) o autorizava a executar as sentenças de justiça nos criminosos;
e por isso, embora não estava ocupado no sítio de Jerusalém (Jr_39:13),
Nebuzaradã foi enviado para arrasar a cidade, saquear o templo, e
trasladar os habitantes a Babilônia, Os mais eminentes destes foram
levados ao rei em Ribla (v. 27), e ajuizados por serem instigadores e por
apoiar a rebelião, ou por algum outro motivo ofensivo ao governo
assírio. Entre eles estava Seraías, o sumo sacerdote, avô de Esdras
(Esd_7:1), seu deputado, sacerdote da segunda ordem (Jr_21:2; Jr_29:25,
Jr_29:29; Jr_37:3).
três guardas da porta (v. 18) — não eram simples porteiros, e sim
oficiais da maior confiança entre os levitas (2Rs_22:4; 1Cr_9:26).
19. cinco homens dos que eram conselheiros do rei — quer dizer,
que pertenciam à comitiva real; é provável que tenham sido cinco no
princípio, e que outros dois foram achados depois (Jr_52:25).
22. Nabucodonosor … nomeou governador sobre ele a Gedalias
— As pessoas aos quais foi permitido ficar no país, além das filhas do
rei, foram uns poucos cortesãos e outros (Jr_40:7) e muito insignificantes
para ser trasladados, os quais só podiam cultivar a terra e trabalhar nas
vinhas. Gedalias era amigo de Jeremias (Jr_26:24), e havendo, por
conselho do profeta, provavelmente fugido, da cidade como abandonada
por Deus, rendeu-se ao vencedor (Jr_38:2, Jr_38:17), e sendo promovido
ao governo da Judeia, fixou sua corte provincial em Mispa. Ele era apto
para vencer as dificuldades de reinar em semelhante crise. Muitos dos
judeus fugitivos, como os soldados do Zedequias, que tinham
acompanhado ao rei em sua fuga às planícies de Jericó, deixaram seus
esconderijos (Jr_40:11-12) e foram rodear ao governador; quem,
aconselhando-os a submeter-se, prometeu-lhes, se cumpriam esta
2 Reis (Jamieson, Fausset e Brown) 92
condição, segurança sob juramento de que eles reteriam suas posses e
desfrutariam do produto de suas terras (Jr_40:9).
25. Ismael … de família real, e dez homens, com ele, e feriram
Gedalias, e ele morreu — Tinha achado refúgio com Baalis, rei dos
amonitas, e volta com intentos maus, irritado por inveja de um
governador não descendido da família de Davi, ou subornado por Baalis
para assassinar a Gedalias. Embora fosse advertido das suas intenções, o
generoso governador se negou a dar crédito ao rumor, muito menos a
sancionar a sugestão feita por algum amigo, de que cortasse a Ismael. O
resultado foi que ele foi assassinado pelo próprio Ismael, quando o
hospedava em sua casa (Jr_41:1).
26. todo o povo … foram para o Egito — Apesar das dissuasões
(Jr_43:7-8) assentaram-se em várias cidades daquele país. (Jr_44:1).
27-28. No trigésimo sétimo ano do cativeiro de Joaquim —
correspondente ao ano da morte de Nabucodonosor e a ascensão de seu
filho Evil-Merodaque ao trono.
Evil-Merodaque … libertou do cárcere a Joaquim, rei de Judá.
Falou com ele benignamente — Deu-lhe a liberdade sob fiança. Diz-se
que este sentimento benigno teve sua origem no mútuo conhecimento
formado no cárcere, onde Evil-Merodaque tinha estado até a morte de
seu pai, por alguma malversação de recursos, quando agia como regente
durante os sete anos da doença de Nabucodonosor (Dn_4:32-33). Mas
sem dúvida a melhoria na condição de Joaquim deve atribuir-se à
providência soberana e à misericórdia dAquele que ainda alentava
propósitos de amor pela casa de Davi (2Sm_7:14-15).
29. Joaquim passou a comer pão na sua presença — quer dizer,
segundo o costume antigo nas cortes orientais, tinha assento na mesa real
nos dias especiais, e tinha uma provisão fixa concedida para a
manutenção de sua corte.
1 CRÔNICAS
Original em inglês:

1 CHRONICLES

The First Book of the Chronicles

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

1 Crônicas 1 1 Crônicas 9 1 Crônicas 17 1 Crônicas 25

1 Crônicas 2 1 Crônicas 10 1 Crônicas 18 1 Crônicas 26

1 Crônicas 3 1 Crônicas 11 1 Crônicas 19 1 Crônicas 27

1 Crônicas 4 1 Crônicas 12 1 Crônicas 20 1 Crônicas 28

1 Crônicas 5 1 Crônicas 13 1 Crônicas 21 1 Crônicas 29

1 Crônicas 6 1 Crônicas 14 1 Crônicas 22

1 Crônicas 7 1 Crônicas 15 1 Crônicas 23

1 Crônicas 8 1 Crônicas 16 1 Crônicas 24


1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 2
1 Crônicas 1

Vv. 1-23. LINHAGEM DE ADÃO ATÉ NOÉ.


1. Adão, etc. — Se subentende “engendrou”. Unicamente aquele
membro da família se menciona, quem vem na linha direta de sucessão.
4. Noé, Sem, Cam e Jafé — Os três filhos deste patriarca são
mencionados, em parte porque eles foram os fundadores do mundo novo,
e em parte porque de outra maneira o cumprimento da profecia de Noé
(Gn_9:25-27) não poderia aparecer como verificado.
12. Casluim (de quem descendem os filisteus) e a Caftorim —
eram irmãos, filhos de Casluim, e no princípio moravam juntos, pelo
qual seus nomes se usam mutuamente; e os caftorins se descrevem como
habitantes da Aia, ou Gaza, a sede dos filisteus.
14. jebuseus, etc. — Desde este versículo até o 17 os nomes não
são os de indivíduos, mas sim de povos, todos os quais desceram de
Canaã; e como vários deles ficaram extintos e foram mesclados com seus
irmãos, seus nomes nacionais são dados em vez dos nomes pessoais de
seus antepassados.
17. Uz, Hul, Geter e Meseque — Estes eram filhos do Arã, e netos
de Sem (Gn_10:23).
18. Arfaxade gerou a Selá — Cainã, o nome do pai, está omitido
aqui (Veja-se Lc_3:36).
19. Pelegue — (Veja-se Gn_10:25).
22. Ebal — ou Obal. (Gn_10:28).

Vv. 24-28. A LINHAGEM DE SEM ATÉ ABRAÃO.


24. Sem, etc. — Este abrange uma lista de dez, incluindo Abraão.

Vv. 29-31. OS FILHOS DE ISMAEL.


29. São estas as suas gerações — As cabeças de suas doze tribos.
O grande deserto setentrional da Arábia foi colonizado por estas tribos; e
se podemos achar, na geografia moderna desta parte do país, tribos
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 3
árabes que levem os nomes daqueles patriarcas, quer dizer, nomes
correspondentes aos conservados na lista original das Escrituras,
obtemos ao mesmo tempo muitas evidências, não só de semelhança, mas
também de absoluta identificação. (Foster).
Nebaiote — Deu origem aos nabateanos dos escritores clássicos, e
os Beni Nebate dos escritores orientais.
Quedar — A tribo árabe, El Khedeyre, sobre a costa de Hedgar.
Adbeel — Abdilla, nome de uma tribo no Iêmen.
30. Dumá — Dumá, ou Temá, as grandes tribos árabes de Beni
Theman. Assim este escritor (Historical Geography of Arabia) segue o
rastro dos nomes de todas as cabeças das doze tribos de Ismael como
estão perpetuados nas tribos dos árabes do dia presente.

Vv. 31-33. OS FILHOS DE QUETURA.


32. filhos da Quetura — Estes chegaram a ser fundadores de tribos
nômades no norte da Arábia e Síria, como Midiã dos midianitas.
(Gn_36:35; Jz_6:2).
e a Sua — De quem descendeu Bildade (Jó_2:11).

Vv. 34-42. DESCENDÊNCIA DE ABRAÃO POR ESAÚ.


36. filhos de Elifaz — A tribo Aditas, no centro do país dos
sarracenos, chamada assim por sua mãe Ada. (Gn_36:10).
Temã — Deu origem à terra de Temã, perto da cabeça do Mar
Vermelho.
Omar — A tribo Beni-Amma, localizada ao lado norte do Jebel
Shera (Monte Seir).
Zefi — A tribo Dzaf.
Gaetã — Katam, habitado pela tribo Al Saruat, ou “povo de Sara”.
Quenaz — A tribo de Aenezes, tribo cujo estabelecimento está
perto da Síria.
Amaleque — Os Beni Malak de Zohran, e os Beni Maledj do Shat
el Arab.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 4
37. Reuel — Um poderoso ramo da grande tribo Aeneze, os árabes
rowallas.
Sama — A grande tribo Beni Shammar. Da mesma maneira os
nomes de outros reis e duques se descobrem nas tribos modernas da
Arábia. Não é necessário mencionar alguns mais destes nômades
obscuros, exceto para tomar nota de que Jobabe (v. 44), um dos reis de
Edom, é considerado Jó, e que sua sede era a cidade real de Dinabá
(Gn_36:32), identificada com O’Daeb, cidade bem conhecida no centro
de Al Dahna, um grande deserto setentrional para com Caldeia e o
Eufrates. (Foster).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 5
1 Crônicas 2

Vv. 1, 2. OS FILHOS DE ISRAEL.

Vv. 3-12. DESCENDÊNCIA DE JUDÁ.


3. Os filhos de Judá — Seus descendentes são enumerados
primeiro, porque o direito e os privilégios da primogenitura lhe tinham
sido transferidos (Gn_49:8), e porque de sua tribo devia vir o Messias.
6. Zinri, Etã, Hemã, Calcol e Dara — estes cinco, diz-se, eram
filhos do Zerá”, quer dizer, Ezra, de onde são chamados ezraítas.
(1Rs_4:31). Naquela passagem diz-se que são “filhos de Maol”, o qual
não deve considerar-se como nome próprio, mas sim como nome comum
por “filhos de música e danças”, etc. A fama tradicional de sua grande
sabedoria e habilidades tinha descido até o tempo de Salomão, e formou
uma norma de comparação para mostrar a sabedoria superior daquele
monarca. Dizem escritores judeus que eram estimados como profetas por
seus compatriotas durante a estada no Egito.
7. Os filhos de Carmi — Foi o filho de Zinri, ou Zabdi, como é
chamado. (Js_7:1).
Acar — ou Acã (Js_7:1). Esta forma do nome é aqui usado, com
muita justiça, pois Acar quer dizer “perturbador”.

Vv. 13-17. OS FILHOS DE JESSÉ.


15. Davi, o sétimo — Como parece (1Sm_16:10; 1Sm_17:12) que
Jessé teve oito filhos, supõe-se, pelo fato de que aqui Davi é mencionado
como o sétimo, que um deles tinha morrido em idade anterior, sem
deixar descendência.
17. Jéter, o ismaelita — (cf. 2Sm_17:25). Nesta passagem é
chamado Itra, “certo homem chamado Itra”; e parece que não há razão
por que nos dias anteriores de Davi, alguém devesse ser distinto
especialmente como israelita. Esta hipótese está a favor do que diz a
Septuaginta, a qual o chama “Jetro, o jezreelita”. A circunstância de que
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 6
ele se radicasse em outra tribo, ou de que uma mulher se casasse com um
que não era de sua tribo, era o suficientemente rara e singular para
provocar a afirmação de que Abigail se casou com um homem de
Jezreel.

Vv. 18-55. A DESCENDÊNCIA DE CALEBE.


18. Calebe, filho de Hezrom — As menções desta pessoa parecem
confusas em nossa versão. No v. 19 diz-se que é o pai de Hur, enquanto
que no v. 50 é chamado “o filho de Hur”. As palavras desta passagem
foram transpostas na cópia; deve dizer assim: “Hur o filho de Calebe.”
gerou filhos de Azuba, sua mulher, e de Jeriote — Azuba parece
ter sido a esposa de Calebe, e Jeriote esposa secundária, e esta era mãe
dos filhos cujos nomes figuram na lista. Morta sua esposa principal, ele
casou com Efrata, e dela teve a Hur.
21. Hezrom … a filha de Maquir, pai de Gileade — quer dizer,
chefe daquela cidade, a qual com as terras adjacentes, era sem dúvida a
propriedade do Maquir, quem estava desejoso de ter herdeiro varão. Era
neto de José. A esposa do Maquir era da tribo de Manassés (Nm_26:29).
22. Jair, que teve vinte e três cidades na terra de Gileade —
sendo filho de Segube e neto de Hezrom, Jair era da tribo de Judá; mas
por sua descendência materna se chama (Nm_32:41; Dt_3:14) “o filho
de Manassés”. Este título indica que sua herança estava naquela tribo por
direito de sua avó; em outras palavras, porque seu bisavô materno e
bisavô adotivo era Maquir, o filho de Manassés; e como Jair herdou sua
propriedade, era seu representante linear; com efeito, assim se diz;
porque o grupo de aldeias de “Havote-Jair” foi adjudicado naquela tribo,
como recompensa de suas valentes façanhas patrióticas. Este acerto,
entretanto, foi feito prévio à lei (Números 36), pela qual se decretou que
as herdeiras deveriam casar-se dentro de sua tribo. Mas este caso de Jair
demonstra que no caso quando um homem obtivera herança em outra
tribo, exigia-se que ele se incorporasse na tribo como representante da
família da qual era recebida a herança. Ele tinha sido adotado em
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 7
Manassés, e nunca se teria imaginado que ele fosse outra coisa que “um
filho de Manassés”, se esta passagem não tivesse dado informação
suplementar a da passagem em Números.
23. tomaram — Essa declaração é para explicar que ele conseguiu
um território grande; o qual recebeu por direito de conquista de parte de
seus anteriores donos.
Quenate — este lugar, junto com suas aldeias vizinhas, foi ganho
por Noba, um dos oficiais de Jair, enviado por ele a tomá-la (Nm_32:42).
todos estes foram filhos de Maquir — Entre seu número se inclui
a Jair, pois se tinha identificado por seu casamento e residência em
Gileade, com a tribo de Manassés.
24. Calebe-Efrata — assim chamada pela união dos nomes dos
maridos (v. 19), supõe-se que seja a mesma que mais tarde chamava-se
Belém-Efrata.
Azur, pai de Tecoa — (2Sm_14:2-4). Chama-se o pai, por ser o
fundador original ou talvez o governador da cidade.
34-35. Sesã não teve filhos, mas filhas — não tinha filhos vivos ao
morrer, ou sua família consistia totalmente em filhas, das quais uma era
Alai (v. 31); menciona-se especialmente a ela por causa das relações
domésticas que logo se verificariam.
um servo Egípcio … Deu, pois, Sesã sua filha por mulher a Jara
— A adoção e o casamento de um escravo estrangeiro na família a qual
serve, não é um acontecimento raro ou extraordinário em países
orientais. Alguns pensam, entretanto, que tal união não era sancionada
pela lei de Moisés. (Michaelis). Mas esta objeção não está bem fundada,
pois a história dos judeus proporciona não poucos exemplos de
prosélitos estrangeiros que da mesma maneira conseguiram uma herança
em Israel; e sem dúvida Jara havia aceito a fé judaica em lugar das
idolatrias degradantes de seu Egito natal. Em tal caso, pois, não poderia
haver dificuldade legal alguma. Como escravo estrangeiro não tinha
herança em outra tribo, que prejudicar por esta união; mas sim seu
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 8
casamento com a filha de Sesã deu por resultado sua adoção na tribo de
Judá, e o fez herdeiro da propriedade familiar.
42. os filhos de Calebe (TB) — (cf. v. 18, 25). Os filhos aqui
mencionados são frutos de sua união com uma terceira esposa.
55. As famílias dos escribas — oficiais civis ou eclesiásticos de
origem queneu, os que aqui se classificam com a tribo de Judá, não como
descendentes dela, e sim como moradores dentro de seu território, e em
certa medida incorporados com seu povo.
Jabez — lugar em Judá (1Cr_4:9).
queneus, que vieram de Hamate — que se radicaram em Judá, e
assim se distinguiam de outra divisão da família queneu, que morava em
Manassés (Jz_4:11).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 9
1 Crônicas 3

Vv. 1-9. OS FILHOS DE DAVI.


1-3. Estes foram os filhos de Davi, que lhe nasceram em
Hebrom — É importante, para a devida compreensão dos acontecimentos
da história doméstica de Davi, ter presente o lugar e o tempo do
nascimento de seus filhos. O filho mais velho, nascido depois da
ascensão do pai à autoridade soberana, é, segundo as ideias orientais, o
herdeiro legítimo ao trono, e daqui a natural ambição de Amom, quem
por muito tempo ignorava sua alienação da coroa, e não podia facilmente
entender que os títulos de um irmão mais novo fossem superiores aos
dele (Veja-se 2Sm_3:1-5).
3. Eglá, sua mulher — Crê-se que seja outro nome de Mical, quem
não teve filho depois de zombar de Davi por ter dançado perante a arca,
mas pôde ter tido um antes dessa ocorrência. Tem o título de esposa
agregado a seu nome, porque era sua própria mulher; e a menção de seu
nome no final, provavelmente se deve à circunstância de que foi tirada a
Davi e dada a outro marido, mas mais tarde foi restaurada; assim que na
realidade veio a ser a última de suas esposas.
5. estes quatro lhe nasceram de Bate-Sua, filha de Amiel (RC)
— Ou, Bate-Seba (2Sm_11:3), e ali seu pai se chama Eliã. É verdade
que Salomão não foi seu “único filho”, mas assim é chamado (Pro_4:3)
pelo afeto distinto da qual era ele objeto, e embora fosse o maior, é
mencionado como o último dos filhos de Bate-Seba.
6. Elisama, Elifelete — Dois filhos do mesmo nome são
mencionados duas vezes (v. 8). Eram filhos de mães distintas, e tinham
provavelmente algum título ou epíteto agregado pelo qual se distinguiam
um do outro. Ou pode ser que os dois anteriores tivessem morrido, e seus
nomes fossem dados a filhos nascidos depois para perpetuar seus
memórias.
8. nove — O número de filhos de Davi nascidos depois de seu
traslado a Jerusalém, eram onze (2Sm_5:14), mas só se mencionam nove
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 10
aqui: dois deles estão omitidos, quer seja por causa de sua morte anterior
ou por não ter deixado descendência.

Vv. 10-16. SUA LINHAGEM ATÉ ZEDEQUIAS.


10. O filho de Salomão foi Roboão, etc. — Aqui a linhagem de
Davi se traça até o cativeiro, através de uma sucessão de monarcas bons
e maus, mas célebres e de influência. Raramente sucedeu que uma coroa
tenha sido transmitida de pai a filho, em descendência linear, durante
dezessete reinados. Mas esta foi a recompensa prometida pela piedade de
Davi. Observa-se alguma vacilação para o fim deste período — a coroa
passa de um irmão a outro, e até de um tio a sobrinho — sinal seguro de
tempos desordenados e de governo dividido.
15. Zedequias — É chamado filho de Josias (cf. Jr_1:3; Jr_37:1),
mas (2Cr_36:19) é descrito como irmão de Joaquim, quem era filho de
Jeoaquim, e por conseguinte neto de Josias. As palavras que expressam
parentesco se usam com grande amplitude em hebraico.
Salum — Não se menciona nenhum rei deste nome na história dos
filhos de Josias (2 Reis 14 e 23), mas há uma menção de Salum filho de
Josias (Jr_22:11), quem reinou em lugar de seu pai, e quem geralmente
se supõe que seja Jeoacaz, um filho mais jovem, aqui chamado o quarto
de Josias.

Vv. 17-24. SUCESSORES DE JECONIAS.


17. Os filhos de Jeconias, o cativo — antes, “Jeconias o prisioneiro,
ou cativo”. Esta menção de sua condição foi acrescentada para mostrar
que Sealtiel nasceu durante o cativeiro em Babilônia (cf. Mt_1:12).
Jeconias apresenta-se como sem filhos em Jr_22:30, predição que quer
dizer (como as palavras que seguem explicam) que este infeliz monarca
não teria filho que lhe sucedesse no trono.
18. Malquirão — Até Jeconias tudo está claro; mas há motivos
para crer que o texto nos versículos seguintes, foi desarrumado. O
objetivo do escritor sagrado é o de traçar a linha real através de
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 11
Zorobabel, entretanto, segundo a lição presente, o tronco genealógico
não se pode traçar desde Jeconias daí em diante.
Dá-se o seguinte arranjo do texto, para tirar todas as dificuldades.
[Davidson, Hermeneutics].
Versículo 17. E os filhos de Jeconias o cativo, Sealtiel (Ed_3:2;
Ne_12:1; Ag_1:12, 14; 2:2), seu filho;
Versículo 18. E os filhos do Sealtiel: Zorobabel, e Simei; e os filhos
de Zorobabel: Mesulão, Hananias, e Selomite sua irmã.
Versículo 19. E Hasuba e Oel, e Baraquias, Hasadias, Jusabe-
Hesede;
Versículo 20. E Malquirão, e Refaías, e Senazar, Jecamias, Hosama
e Nedabias.
Versículo 21. Os filhos de Hananias: Pelatias e Jesaías; Os filhos do
Refaías: seu filho Arnã, seu filho Obadias, seu filho Secanias.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 12
1 Crônicas 4

Vv. 1-8. DESCENDÊNCIA DE JUDÁ POR CALEBE O FILHO


DO HUR.
1. Os filhos de Judá — quer dizer, os descendentes, pois com
exceção de Perez, nenhum dos mencionados aqui foi seu filho imediato.
Na realidade, mencionam-se os outros somente para introduzir o nome
de Sobal, cuja genealogia o historiador se propõe traçar. (1Cr_2:52).

Vv. 9-20. JABEZ E SUA ORAÇÃO.


Jabez — era, como pensam muitos, o filho do Coz, ou Quenaz, e
aqui é elogiado por sua piedade sincera e fervente, como também, talvez,
por algumas obras públicas e patrióticas que fez. Escritores judeus dizem
que era eminente doutor da lei, cuja fama atraiu a tantos escribas a seu
lado que uma cidade leva seu nome (1Cr_2:55); e à piedade de seu
caráter esta passagem presta um testemunho amplo. A lembrança das
circunstâncias críticas que assinalaram seu nascimento, perpetuou-se em
seu nome (cf. Gn_35:15); entretanto, no desenvolvimento de seus belos
talentos, ou no valor distinto de sua vida posterior, sua mãe deve ter
achado satisfação e deleite que amplamente compensavam todas as suas
provas anteriores. A oração dele aqui relatada, que, como a de Jacó, está
em forma de voto (Gn_28:20), foi pronunciada, conforme parece,
quando ele estava por começar algum serviço importante ou crítico, para
cuja eficaz execução, não punha sua confiança em sua proeza nem na de
seu povo, mas sim buscava ansiosamente a ajuda e bênção de Deus. A
empresa foi provavelmente a expulsão dos cananeus do território que ele
ocupava, e como esta era guerra de extermínio, a qual o próprio Deus
tinha mandado, a bênção de Deus poderia ser pedida tanto mais
razoavelmente e também esperar-se na conservação deles de todos os
males aos quais a empresa poderia expô-los. Nas palavras “que não me
danifique” ou que não me cause tristeza, há uma alusão ao significado de
seu nome — Jabez — que significa tristeza; e o sentido deste pedido é
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 13
que não sinta eu a tristeza que significa o meu nome, e que meus pecados
possam produzir.
10. Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido — Seja qual for a
classe de empresa que despertou sua ansiedade, Jabez desfrutou da
prosperidade a um grau notável, e Deus, em seu caso, provou que ele era
não só Aquele que ouve a oração mas também Aquele que responde.
13. Os filhos do Quenaz — o avô de Calebe, quem, devido àquele
parentesco, chama-se o quenezeu (Nm_32:12).
14. Joabe, pai de Ge-Harasim (TB) — lit., o pai dos habitantes do
vale — vale dos artesãos, como a palavra significa. Eles viviam juntos,
segundo um costume que, independentemente de alguma lei, prevalece
extensamente em países orientais, de que pessoas do mesmo ofício
habitem na mesma rua ou no mesmo bairro, e que sigam a mesma
ocupação de pais a filhos, durante muitas gerações. A ocupação destes
Ge-Harasim era provavelmente a de carpinteiros, e o vale onde viviam
parece que foi nas cercanias de Jerusalém (Ne_11:35).
17, 18. ela teve mais a Miriã (RC) — É difícil, como estão os
versículos agora, ver quem se referem. O seguinte reajuste do texto
esclarece a obscuridade: “Estes foram os filhos da Bitia, filha de Faraó,
com a qual casou Merede, e gerou a Miriã, etc., e sua mulher, judia, deu
à luz a Jerede, etc.”
judia — para a distinguir da sua outra mulher, que era egípcia. Esta
passagem relata um fato muito interessante, o casamento de uma
princesa egípcia com um descendente de Calebe. O casamento deve ter
sido celebrado no deserto. As barreiras de diferente idioma e religião
nacional mantinham os hebreus separados dos egípcios; mas não
impediam totalmente as relações íntimas, nem mesmo casamentos entre
indivíduos das duas nações. Antes que se pudessem sancionar,
entretanto, tais uniões, a parte egípcia tinha que renunciar à idolatria, e
esta filha de Faraó, conforme parece por seu nome, converteu-se ao culto
do Deus de Israel.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 14
Vv. 21-23. OS DESCENDENTES DE SELÁ.
21. Lada, pai … da casa dos obreiros em linho — Aqui há outra
evidência incidental de que nos tempos primitivos certos ofícios
particularmente eram seguidos pelas famílias entre os hebreus,
aparentemente em sucessão hereditária. Seu conhecimento da arte da
manufatura do linho, provavelmente, foi adquirido no Egito, onde o
dever de criar a família nos trabalhos de seus pais era uma obrigação
forçosa, enquanto que em Israel, como em muitas partes da Ásia hoje,
era opcional, embora comum.
22, 23. dominavam sobre Moabe, e de Jasubi-Leém — “Estes
registros são antigos”, parecem uma tradução estranha de um nome
próprio; e, além disso, levam um sentido que não tem relação com a
narração. A seguinte tradução que se sugere parece melhor: “Moraram
em Moabe, mas voltaram para Belém e Adaberim-athekim. Estes e os
habitantes de Netaim e Gedera eram oleiros empregados pelo rei em sua
obra.” Gedera ou Gederote, e Netaim, pertenciam à tribo de Judá, e
estavam sobre a fronteira sudeste do território filisteu (Js_15:36;
2Cr_28:18).

Vv. 24-43. DE SIMEÃO.


24. Os filhos de Simeão — São classificados junto com os de Judá,
pois seu território foi tomado em parte do muito extenso de Judá
(Js_19:1). A diferença em vários lugares entre a genealogia dada aqui e a
de outras passagens, deve-se ao fato de que algumas pessoas
mencionadas tinham mais de um nome.
27. seus irmãos não tiveram muitos filhos — (Veja-se Nm_1:22;
Nm_26:14).
31-43. Estas foram as suas cidades, até ao reinado de Davi — Por
causa da preguiça ou covardia dos simeonitas, algumas cidades dentro de
seu território adjudicado eram suas só nominalmente, mas nunca foram
tomadas dos filisteus até o tempo de Davi, quando, havendo os
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 15
simeonitas perdido todo título a elas, ele as incorporou em sua própria
tribo de Judá (1Sm_27:6).
38, 39. se multiplicaram abundantemente. Chegaram até à
entrada de Gedor — Como Simeão tinha só uma parte da terra de Judá,
eles se viram obrigados a buscar seu conforto em outra parte; mas seu
estabelecimento nos novos e férteis pastos de Gedera, foi logo desfeito,
porque, tendo sido atacados por uma equipe de saqueadores, foram
empurrados de um lugar para outro, até que alguns deles, por força das
armas, fizeram uma colônia no monte Seir.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 16
1 Crônicas 5

Vv. 1-10. A LINHAGEM DE RÚBEN.


1. filhos de Rúben — Ao dar esta genealogia, o historiador sagrado
declara, num parêntese (vv. 1, 2), a razão por que Rúben não foi posto
primeiro tendo sido ele o filho mais velho de Jacó. A primogenitura, que
por um crime vil ele tinha perdido, implicava não só domínio mas
também uma porção em dobro da herança (Dt_21:17), e ambos os
direitos foram transferidos a José, cujos dois filhos, tendo sido adotados
como filhos de Jacó (Gn_48:5), receberam cada um sua porção,
formando duas tribos distintas em Israel. José, pois, tinha direito à
superioridade sobre os outros; e como sua descendência não foi
mencionada primeiro, o historiador sagrado creu necessário explicar que
“era o primogênito, mas, por ter profanado o leito de seu pai ... na
genealogia, não foi contado como primogênito”, mas com referência a
uma honra e privilégios superiores que tinham sido conferidos sobre
Judá — não o homem mas a tribo, por meio dos quais esta estava
investida da preeminência sobre as demais tribos, e dela devia nascer
Davi com sua linhagem real, e especialmente o grande Messias
(Heb_7:14). Estas eram as duas razões pelas quais, na ordem de
enumeração, a genealogia de Judá foi introduzida antes da de Rúben.
9. do lado oriental, até à entrada do deserto, o qual se estende
até ao rio Eufrates — O estabelecimento estava a leste do Jordão, e a
história desta tribo, que nunca tomou parte nos assuntos públicos ou
movimentos da nação, compreende-se na multiplicação de seu gado na
terra de Gileade”, em suas guerras com os beduínos filhos de Hagar, e
nos trabalhos singelos da vida pastoril. Tinham o direito de pastoreio
sobre uma extensa cordilheira de montanhas, sendo uma segurança
contra seus inimigos o grande deserto de Quedemote (Dt_2:26) e o rio
Eufrates.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 17
Vv. 11-26. A LINHAGEM DE GADE.
11-15. Os filhos de Gade habitaram defronte deles — a
genealogia dos gaditas e a meia tribo de Manassés (v. 24), é dada junto
com a dos rubenitas, visto que estas três estavam associadas numa
colônia à parte.
16. Sarom — O termo Sarom se referia como descritivo de
qualquer lugar de extraordinária beleza e fecundidade. Havia três lugares
assim chamados na Palestina. Este Sarom estava a leste do Jordão.
de todos os arredores — quer dizer, de Gileade e Basã. Gileade
mesmo, ou pelo menos a maior parte, pertencia aos rubenitas; e Basã, a
maior parte pertencia aos manassitas. Os gaditas ocupavam um
estabelecimento intermédio sobre terras situadas sobre suas fronteiras.
17. Todos estes foram inscritos na genealogia, nos dias de Jotão
— seu longo reinado e ausência de guerras estrangeiras, o mesmo que de
dificuldades intestinas, eram favoráveis para o levantamento de um
censo dos habitantes.
e nos dias de Jeroboão — o segundo daquele nome.
18-22. hagarenos — Originalmente sinônimo de ismaelitas, mas
mais tarde aplicado a certa tribo de árabes (cf. Sal_83:6).
19. Jetur — Seus descendentes se chamavam itureanos, e seu país
Auranitis, de Haurã, sua cidade principal. Estes, que eram destros no uso
do arco, foram invadidos em tempo de Josué por um exército
confederado das tribos de Rúben, Gade e meia tribo de Manassés,
aqueles que, provavelmente exasperados pelas frequentes incursões
daqueles vizinhos saqueadores, tomaram represálias em homens e gado,
desapropriaram a quase todos os habitantes originais, e logo colonizaram
eles mesmos o distrito. A divina providência favoreceu, de uma maneira
maravilhosa, ao exército hebreu nesta guerra justa.
26. o Deus de Israel suscitou o espírito de Pul — o Phalluka dos
monumentos de Nínive (veja-se 2Rs_15:19).
e o espírito do Tiglate-Pileser — o filho do Pul. Por eles as tribos
transjordânicas, inclusive a outra metade de Manassés assentada na
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 18
Galileia, foram transportadas à Média Superior. Este foi o primeiro
cativeiro (2Rs_15:29).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 19
1 Crônicas 6

Vv. 1-48. A LINHAGEM DOS SACERDOTES.


5. Uzi — Supõe-se que nos dias deste, o sumo sacerdócio, por
razões não mencionadas, foi transferido da família de Eleazar a de
Itamar, na qual continuou durante várias gerações.
10. este é o que serviu de sacerdote na casa que Salomão tinha
edificado em Jerusalém — É duvidoso se a pessoa a favor de quem se
dá este testemunho seja Joanã ou Azarias. Se for aquele, é a mesma
pessoa que Joiada, quem rendeu importantes serviços públicos (2 Reis
11); se for este, se refere à parte digna e independente que teve em fazer
frente às intrusões indesculpáveis do Uzias (2Cr_26:17).
na casa que Salomão tinha edificado em Jerusalém — descrita
desta maneira para a distinguir do segundo templo, que estava em
existência quando esta história foi escrita.
14. Azarias gerou a Seraías — Ele ocupava o posto de sumo
sacerdote no tempo da destruição de Jerusalém, e, junto com seu
segundo e outros, foi executado por ordem de Nabucodonosor em Ribla
(2Rs_25:18, 2Rs_25:21). A linha de sumos sacerdotes sob o primeiro
templo, que desde Zadoque chegou a doze, terminou com este.
16-48. Os filhos de Levi: Gérson, etc. — Esta repetição (v. 1) é
feita, como que o historiador aqui começa a traçar a genealogia das
famílias levíticas que não eram sacerdotes. A lista é longa, compreende
aos chefes ou cabeças de suas várias famílias até o reinado de Davi,
quem fez uma classificação nova e diferente deles por cursos.
20. de quem foi filho Zima — Seu neto (v. 42).
24. Uriel — Sofonias (v. 36).
27. Elcana — O pai do profeta Samuel (1Sa_1:1).
28. Os filhos de Samuel — Aqui se chamam Vasni (RC) e Abias.
O primogênito chama-se (1Sm_8:2) Joel; e este nome é dado aqui (RA)
e no v. 33 deste capítulo. Agora geralmente crêem os melhores críticos
que, por um erro do copiador, fez-se a omissão do nome do filho mais
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 20
velho, e que Vasni, que não é nome de pessoa, significa “e o segundo”.
Esta emenda crítica do texto torna tudo claro, como também consequente
com outras passagens relacionadas com a família de Samuel.
32. a Casa do SENHOR — quer dizer, a tenda que Davi fez
construir para receber a arca, depois que foi trasladada da casa do
Obede-Edom. Isto foi um tempo considerável antes do templo ser
edificado.
32. exercitavam o seu ministério segundo a ordem prescrita —
Segundo a ordem que Davi, sem dúvida pela direção do Espírito Santo,
tinha instituído para a melhor regulação do culto divino.
39. Seu irmão Asafe — Eram irmãos naturalmente, pois os dois
descendiam de Levi; assim como também oficialmente, pois os dois
pertenciam à ordem levítica.
42. Etã — ou, Jedutum (1Cr_9:16; 2Cr_35:15).
48. Seus irmãos, os levitas, foram postos para todo o serviço do
tabernáculo — dentre os levitas aqueles que eram dotados de gostos e
talentos musicais, empregavam-se em outros diferentes compartimentos
do serviço do templo.

Vv. 49-81. OFÍCIO DE ARÃO E SEUS FILHOS.


49. Arão e seus filhos faziam ofertas, etc. — O ofício e os deveres
dos sumos sacerdotes foram descritos, e os nomes dos que
sucessivamente ocupavam este importante posto, são mencionados.
60. ao todo, treze cidades — Não se mencionam mais de onze
aqui; mas duas mais são mencionados em Js_21:16-17, e se completam
as treze.
61. Aos filhos de Coate, que restaram — quer dizer, além dos
sacerdotes pertencentes à mesma família e tribo de Levi.
por sorte dez cidades — (Js_21:26). O sagrado historiador dá uma
explicação (v. 66). Oito destas mencionam-se, mas só duas delas são
tomadas da meia tribo de Manassés (v. 70); os nomes das outras duas se
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 21
dão em Js_21:21, onde se podem achar notícias completas e detalhadas
destas disposições.
62. Aos filhos do Gérson — Acrescente-se: “os filhos de Israel
deram”.
67. Pois lhes deram as cidades de refúgio — Os nomes das
cidades mencionadas aqui diferem grandemente das destinadas a eles em
Js_21:14. No curso dos séculos, e das revoluções na sociedade, era de se
esperar que se efetuariam mudanças nas formas e na pronúncia dos
nomes destas cidades; e isto explica suficientemente as variações que
achamos nas listas como são enumeradas aqui e num livro mais antigo.
Quanto a estas cidades, que foram dadas aos levitas, estavam muito
separadas entre si, em parte como cumprimento da profecia de Jacó
(Gn_49:7), e em parte para que os diferentes distritos do país pudessem
ter uma ampla provisão de mestres que instruíssem ao povo no
conhecimento da lei e os animassem na observância da mesma, a qual
tinha importante influência tanto em sua felicidade pessoal como em sua
prosperidade nacional.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 22
1 Crônicas 7

Vv. 1-5. OS FILHOS DE ISSACAR.


1. Jasube — ou, Jó (Gn_46:13).
2. descendentes da Tola ... nos dias de Davi, foi de vinte e dois
mil e setecentos — Embora se tenha levantado um censo no reinado de
Davi, por ordem daquele monarca, não é verdade que o sagrado
historiador o tivesse à vista, como achamos aqui enumerada a tribo de
Benjamim, cujo censo não foi levantado em tempo de Davi; e há outros
pontos de diferença.
3. cinco ao todo; todos eles chefes — Só quatro são mencionados,
de modo que, como se diz que são cinco, neste número o pai, Izraías,
deve ser considerado como incluído; de outro modo, um dos nomes terá
sido omitido do texto. Eles estavam cada um à frente de uma divisão
numerosa e importante de sua tribo.
5. foram oitenta e sete mil — Exclusive os 58.600 homens que a
descendência de Tola tinha produzido (v. 24), de modo que nos dias de
Davi a tribo teria tido uma população de 45.600. Este grande aumento
era devido à prática da poligamia, como também à fecundidade das
mulheres. A pluralidade de esposas, tolerada entre os hebreus, era
limitada geralmente aos grandes e ricos; mas parece que foi estimada
geralmente como privilégio pela tribo de Issacar “porque tiveram muitas
mulheres e filhos”.

Vv. 6-12. DE BENJAMIM.


6. Os filhos de Benjamim — Dez se contam em Gn_46:21, mas só
cinco em 1Cr_8:1; Nm_26:38-39. Talvez cinco deles se distinguiram
como chefes de famílias ilustres, mas como dois deles caíram nas
guerras sangrentas pelejadas contra Benjamim (Jz_20:46), ficaram só
três ramos desta tribo, e só estas são enumeradas.
Jediael — ou, Asbel (Gn_46:21).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 23
7. Os filhos de Bela — Cada um deles era chefe ou dirigente da
família a que pertencia. Num período anterior sete grandes famílias de
Benjamim são mencionadas (Nm_26:38), cinco delas encabeçadas por
estes cinco filhos de Benjamim, e duas descendidas de Bela. Aqui cinco
famílias de Bela são mencionados, pelo que temos que crer que o tempo
ou os assolamentos das guerras tinham mudado grandemente a condição
de Benjamim, ou que as cinco famílias de Bel estavam subordinadas às
outras divisões que nasceram diretamente dos cinco filhos do patriarca.
12. Supim e Hupim — Se chamam (Gn_46:21) Mupim e Hupim, e
(Nm_26:39) Hufã e Sufã; eram os filhos de Ir, ou Iri (v. 7).
e Husim, filho de Aer — Aer significa “outro”, e alguns críticos
eminentes, tomando Aer como nome comum, traduzem a passagem
assim: “e Husim outro filho”. Supim, Mupim e Husim são palavras no
plural, e portanto não indicam indivíduos, mas sim cabeças de suas
respectivas famílias; e como não estão incluídos na enumeração anterior
(vv. 7, 9), são acrescentados aqui em forma de apêndice. Alguns
traduzem a passagem: “Husim filho de outro”; quer dizer, outra tribo ou
família; este nome aparece entre os filhos de Dã (Gn_46:23), e crê-se
que esta é a verdadeira tradução, que, depois de ter registrado a
genealogia de Naftali (v. 13), o historiador sagrado acrescenta “os filhos
de Bila, a serva, que foi a mãe de Dã e Naftali”. Naturalmente
esperamos, pois, que estes dois sejam mencionados juntos, mas Dã só é
mencionado nesta passagem.

Vv. 13. DE NAFTALI.


13. Salum — ou, Silem (Gn_46:24).
filhos de Bila — como Dã e Naftali eram seus filhos, Husim e os
enumerados no v. 13, eram seus netos.

Vv. 14-40. DE MANASSÉS.


14. Os filhos de Manassés (TB) — ou descendentes; porque Asriel
era neto, Zelofeade era da geração posterior (Nm_26:33). O texto tal
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 24
como está, é tão confuso e complicado, que é extremamente difícil traçar
o fio genealógico, e se fizeram uma grande variedade de conjeturas
tendo em vista esclarecer a obscuridade. A passagem talvez deve ser
explicada assim: “Os filhos de Manassés eram Asriel, a quem sua
concubina síria lhe deu à luz, e Maquir, o pai de Gileade (a quem lhe deu
à luz sua esposa). Maquir tomou por mulher a Maaca, irmã de Hupim e
Supim”.
21. mortos pelos homens de Gate, etc. — Este interessante
episódio nos dá uma visão do estado da sociedade hebraica no Egito;
porque parece que o incidente narrado se efetuou antes que os israelitas
saíssem daquele país. O patriarca Efraim vivia então, embora deva ter
tido uma idade muito avançada; e o povo hebreu, pelo menos os que
eram seus descendentes, ainda retinham seu caráter pastoril. Está em
completa concordância com as ideias e hábitos dos pastores orientais,
que eles fizessem incursão contra a tribo vizinha de filisteus para lhes
roubar seu gado, porque não há nada mais comum entre eles que as
incursões hostis contra os habitantes das cidades, ou contra tribos
nômades com aqueles que não tem elo de amizade. Mas uma vista
diferente do incidente resulta, se em vez de “porque”, traduzimos a
partícula hebraica “quando” vieram a tomar seus gados, porque o teor do
contexto conduz, antes, à conclusão de que “os homens de Gate” fossem
os agressores, os quais, fazendo uma repentina correria contra os
rebanhos dos efraimitas, mataram aos pastores, inclusive a vários filhos
de Efraim. A calamidade estendeu uma profunda tristeza ao redor da
tenda do pai ancião, e foi ocasião para ele receber a visita de condolência
da parte de parentes longínquos, segundo o costume do Oriente, que se
exemplifica notavelmente na história de Jó (Jó_2:11; cf. Jo_11:19).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 25
1 Crônicas 8

Vv. 1-32. FILHOS E CHEFES DE BENJAMIM.


1. Benjamim gerou, etc. — Este capítulo contém alguns detalhes
além do que já se disse com relação à tribo de Benjamim (1Cr_7:6). Os
nomes de muitas pessoas mencionadas são diferentes dos dados por
Moisés, uma diversidade que se explica em parte sobre as bases já
mencionadas, ou seja, que as pessoas tenham tido mais de um nome, ou
que a palavra “filhos” se use em sentido indeterminável para netos ou
descendentes. Mas há outras circunstâncias que se devem levar em conta
ao considerar os detalhes desse capítulo: primeiro, que as genealogias
dos benjamitas foram desordenadas ou destruídas mediante o quase
completo extermínio desta tribo (Juízes 20); segundo, que um grande
número de benjamitas nascidos na Assíria são aqui mencionados, os
quais voltaram do longo cativeiro em Babilônia, e se estabeleceram,
alguns em Jerusalém e outros em diferentes partes da Judeia. Houve
mais pessoas desta tribo que de qualquer outra que retornaram de
Babilônia, com exceção de Judá; por isto se introduzem aqui muitos
nomes estranhos; alguns dos quais se acharão na lista dos desterrados
restaurados (cf. Esdras 2).
6. Estes são os filhos do Eúde — Mais provavelmente o juiz de
Israel (Jz_3:15). Seus descendentes, que antes estavam estabelecidos em
Gibeá de Benjamim, emigraram em massa sob a direção de Gera (v. 7) a
Manaate, onde seus números aumentados achariam confortos mais
amplos. Manaate estava dentro do território de Judá.
8. Saaraim gerou filhos nos campos de Moabe — Provavelmente
tinha sido obrigado a refugiar-se em terra estrangeira na mesma ocasião
calamitosa que fez com que Elimeleque emigrasse para lá (Rt_1:1). Mas,
sem ter afeto natural, abandonou ou se divorciou de suas duas esposas, e
em terra de sua morada casou com outra, de quem teve vários filhos.
Mas se deu outra explicação da conduta deste polígamo benjamita. Os
filhos que teve de Husim são mencionados (v. 11), enquanto que não se
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 26
menciona sua outra mulher. De modo que se pensou que é Baara, quem
se menciona sob o nome de Hodes, assim chamada porque seu marido,
depois de longo abandono, voltou e viveu com ela como antes.
28. Estes … habitaram em Jerusalém — Os habitantes regulares
de Jerusalém eram judaítas, benjamitas e levitas. Mas no tempo aqui
referido, os chefes ou cabeças das famílias principais que são
mencionados (vv. 14-27) estabeleceram-se na cidade depois de sua volta
do cativeiro.

Vv. 33-40. LINHAGEM DE SAUL E JÔNATAS.


33. Ner gerou a Quis — O pai de Ner, embora não esteja aqui
mencionado, se diz (1Cr_9:35) que era Jeiel. Além disso, é dito
(1Sm_9:1) que o pai do Quis foi Abiel, filho do Zeror, de onde parece
que Abiel e Ner eram nomes da mesma pessoa.
Abinadabe — o mesmo que Isvi (1Sm_14:49).
Esbaal — o mesmo que Isbosete.
34. Meribe-Baal — ou, Mefibosete.
36. Jeoada—ou, Jara (1Cr_9:42).
40. homens valentes, flecheiros — (veja-se Jz_20:16). Grande
força tanto como habilidade era requisito para dirigir o arco, como este,
que era de aço, era dobrado pisando-o com os pés e puxando a corda
com ambas as mãos.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 27
1 Crônicas 9

Vv. 1-26. REGISTROS ORIGINAIS DAS GENEALOGIAS DE


ISRAEL E JUDÁ.
1. Todo o Israel foi registrado por genealogias — Desde o começo
da nação hebreia se fazia arquivo público, que continha um registro do
nome de cada pessoa, e também da tribo e família a que pertencia. “O
livro dos reis de Israel e Judá”, não se refere aos dois livros canônicos
que se conhecem nas Escrituras por aquele nome, mas sim a cópias
autênticas daqueles registros, colocadas sob o cuidado oficial dos
soberanos; e como grande número de israelitas (v. 3) se refugiaram em
Judá durante a invasão de Salmaneser, levaram consigo os registros
públicos. As genealogias dadas nos capítulos anteriores foram tiradas
dos registros públicos tanto de Israel como de Judá; e as dadas neste
capítulo se referem ao período subsequente à restauração; de onde
aparece (cf. 1Cr_3:17-24) que os registros genealógicos foram guardados
durante o cativeiro em Babilônia. Estas tábuas genealógicas, pois, são da
mais alta autoridade pelo verdadeiro e correto, sendo tomada a primeira
porção dos registros autênticos da nação; e quanto aos que pertencem ao
tempo do cativeiro, foram confeccionados por um escritor
contemporâneo, quem, além de ter acesso aos melhores mananciais de
informação, e sendo da mais estrita integridade pessoal, foi guiado e
preservado de todo erro pela divina inspiração.
2. os primeiros habitantes que moravam nas suas possessões
(TB) — Este capítulo trata inteiramente dos primeiros exilados que
retornaram. Quase todos os nomes se repetem em Neemias 11, embora
haja diferencia que se explicarão ali. A mesma divisão do povo em
quatro classes, foi continuada depois do cativeiro como antes; quer dizer,
os sacerdotes, levitas, nacionais que agora se chamam pelo nome comum
de israelitas e os netineus (Js_9:27; Ed_2:47; Ed_8:20). Quando o
historiador fala dos “primeiros habitantes que moravam nas suas
possessões”, dá a entender que havia outros que mais tarde voltaram e se
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 28
radicaram em possessões não ocupadas pelos primeiros. Com efeito,
lemos de grandes números que retornaram sucessivamente sob Esdras e
Neemias numa data posterior. E alguns dos que voltavam para a antiga
herança de seus pais, tinham vivido na Palestina antes do tempo do
cativeiro. (Ed_3:12; Ag_2:4, 10).
18. porta do rei — O rei tinha uma porta de seu palácio ao templo
(2Rs_16:18), que sem dúvida estava constantemente fechada, exceto
para o uso do monarca; e embora não havia rei em Jerusalém à volta do
cativeiro, entretanto, o velho cerimonial era continuado, provavelmente
com a esperança de que logo seria restaurado o cetro à casa de Davi. É
uma honra pelo qual os reis orientais são distinguidos, o ter uma porta
dedicada exclusivamente a seu uso especial, e que permanece fechada,
exceto quando ele entra ou sai (Eze_44:2). Não havendo rei então em
Israel, esta porta deve ter estado sempre fechada.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 29
1 Crônicas 10

Vv. 1-7. DERROTA E MORTE DE SAUL.


1. os filisteus pelejaram contra Israel — Os detalhes deste
capítulo não têm relação com as genealogias anteriores, e parece ser
incluído só para introduzir o relato da exaltação de Davi ao trono de todo
o reino. O paralelo entre os livros de Samuel e Crônicas começa neste
capítulo que relata o resultado da fatal batalha de Gilboa quase nas
mesmas palavras de 1 Samuel 31.
3. Agravou-se muito a peleja contra Saul, os flecheiros o
avistaram, e ele muito os temeu — As palavras hebraicas podem
traduzir-se assim: “Os flecheiros o acharam, e ele temeu os flecheiros”.
Não estava ferido, pelo menos perigosamente, quando resolveu suicidar-
se. O fato foi pelo efeito de um terror repentino e uma entristecedora
depressão de espírito. (Calmet).
4. Porém o seu escudeiro não o quis, porque temia muito —
Estava colocado, com efeito, na mesma situação perigosa que Saul. Mas
é provável que os sentimentos que o detinham para cumprir o desejo de
Saul, era um profundo respeito à realeza, misturado com o temor do
estupor que semelhante catástrofe traria para os sentimentos e interesses
nacionais.
6. morreram Saul e seus três filhos; e toda a sua casa pereceu —
Seus filhos e cortesãos que estavam na batalha. Parece que Isbosete e
Mefibosete estavam detidos em Gibeá por causa de sua juventude.

Vv. 8-14. OS FILISTEUS TRIUNFAM SOBRE ELE.


10. Puseram as armas de Saul no templo de seu deus — Era
costume entre os pagãos prometer a uma deidade favorita ou nacional,
que, em caso de vitória, lhe seriam dedicadas as armas do rei inimigo e
de algum general, como oferta de gratidão. Tais troféus geralmente eram
pendurados nas colunas do templo.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 30
a sua cabeça afixaram na casa de Dagom — Enquanto que o torso
ou cadáver sem cabeça foi preso sobre o muro de Bete-Seã (1Sm_31:10).
13. morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra
o SENHOR — Por ter perdoado ao rei dos amalequitas e tomado os
rebanhos do povo como despojos, assim como também por ter
consultado a uma adivinha. Ambos os atos eram grandes pecados, o
primeiro por ser violação de um mandado expresso e positivo de Deus, e
o segundo contrário a um bem conhecido estatuto do reino (Lv_19:31).
14. e não buscou a orientação do SENHOR (RSV) — Ele o fez
na forma (1Sm_28:6), mas não no espírito de um penitente humilde, nem
com a confiança de fé de um sincero adorador. Sua consulta, com efeito,
foi uma mera zombaria, e sua total falta de toda impressão religiosa
correta, manifestou-se em seu abandono de Deus para ir a uma miserável
impostora que estava a serviço do diabo.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 31
1 Crônicas 11

Vv. 1-3. DAVI PROCLAMADO REI.


1. Então, todo o Israel se ajuntou a Davi, em Hebrom — Este
acontecimento ocorreu por ocasião da morte de Isbosete (veja-se
2Sm_5:1-3). A convenção dos estados do reino, a homenagem pública e
solene dos representantes do povo, e o unção do novo rei em sua
presença e por sua direção, parecem ter sido necessários para o
reconhecimento geral do soberano da parte da nação (cf. 1Sm_11:15).

Vv. 4-9. CONQUISTA A FORTALEZA DE SIÃO DOS


JEBUSEUS.
4. Partiu Davi e todo o Israel para Jerusalém, que é Jebus —
(Veja-se 2Sm_5:6-13).
8. Joabe renovou o resto da cidade — Davi edificou uma cidade
nova a norte da velha, sobre o monte Sião; mas encarregou a Joabe a
comissão de restaurar a parte que tinha sido ocupada pela antiga Jebus,
de reparar as brechas que se tinham feito durante o sítio, edificar as casas
que tinham sido demolidas ou queimadas no saque da cidade, e
conservar tudo o que tinha escapado à violência dos soldados. Esta obra
de reconstrução não se menciona em outra parte. (Calmet).

Vv. 10-47. LISTA DE SEUS VALENTES.


10. São estes os principais valentes — (veja-se 2Sm_23:8-39).
Aqui eles são descritos como os que apoiaram fortemente a Davi para o
fazer rei, etc. Nestas palavras o historiador sagrado indica o motivo para
introduzir a lista de seus nomes, imediatamente depois de seu relato da
eleição de Davi como seu rei, e a conquista de Jerusalém: quer dizer, que
eles ajudaram a torná-lo rei. Na forma original da lista, e com relação ao
que se relata em Samuel, não há referência à eleição de um rei; e até
nesta passagem, unicamente na cláusula introduzida no cabeçalho ocorre
tal referência. (Keil).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 32
11-13. Jasobeão, filho dum hacmonita (TB) — Chama-se também
filho do Zabdiel (1Cr_27:2), de modo que, falando estritamente, era neto
de Hacmoni (cf. 1Cr_27:32).
levantou a sua lança sobre trezentos, que matou duma só vez
(TB) — Em 2Sm_23:8, diz-se que a façanha foi a matança de oitocentos
num dia. Alguns tratam de concordar o que se diz naquela passagem e
nesta, supondo que matou oitocentos numa ocasião e trezentos em outra;
enquanto que outros supõem que atacou um corpo de oitocentos, e, tendo
matado a trezentos deles, outros fugiram. (Lightfoot)
12. os três valentes — Só se mencionam dois, quer dizer, Jasobeão
e Eleazar; o terceiro, Sama (2Sm_23:11), não se menciona nesta
passagem.
13. Este se achou com Davi em Pas-Damim — Isto foi no tempo
em que Davi era fugitivo no deserto, e, abrasado com sede sob o calor de
meio-dia, pensou desejando a fonte fresca de seu povo natal. Este é aviso
da façanha a qual Eleazar deveu sua fama, mas os detalhes se acham
somente em 2Sm_23:9-11, onde se diz que foi apoiado por Sama, fato
corroborado na passagem presente (v. 14), onde se diz dos heróis, que se
puseram “no meio da parcela”. Como se usa o número singular ao falar
de Sama (2Sm_23:12), parece que quando Eleazar parou pelo cansaço,
Sama entrou, e por sua proeza extraordinária manteve o campo.
cevada — ou, lentilhas (2Sm_23:11). Efes-Damim estava entre
Socó e Azeca [1Sm_17:1], no oeste do território de Judá. Estas façanhas
foram feias quando Davi agia como general de Saul, contra os filisteus.
15-19. Suspirou Davi e disse: Quem me dera beber água do
poço que está junto à porta de Belém! — (Veja-se 2Sm_23:15). Este
ato cavalheiresco demonstra a devoção entusiasta dos homens de Davi,
de modo que estavam preparados a satisfazer seu menor desejo até com
o risco de sua vida. É provável que ao pronunciar este desejo, Davi não
tenha lembrado a guarnição militar filisteia estacionada em Belém.
Geralmente se dá por entendido que os três campeões recém
mencionados, foram os que abriram caminho até o poço de Belém. Mas
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 33
isto está longe de ser claro, e, pelo contrário, parece que se refere a
outros três heróis, pois Abisai (v. 20) foi um deles. O acampamento dos
filisteus estava no vale de Refaim, mas um posto avançado estava em
Belém (v. 16), e por meio desta guarnição eles tiveram que abrir
caminho.
21. contudo, aos primeiros três não chegou — (ver 2Sm_23:19).
22. Benaia … de Cabzeel — Povo no sul de Judá (Js_15:21;
Ne_11:25). Diz-se que era homem “grande em obras”, embora se
mencionem só três como amostras de sua energia atrevida e de seu valor.
feriu ele dois heróis de Moabe — lit., “leões de Deus” ou
campeões. Esta façanha provavelmente se realizou na invasão hostil que
Davi fez em Moabe (2Sm_8:2).
Desceu numa cova e nela matou um leão no tempo da neve —
Provavelmente uma cova aonde Benaia se refugiou de uma tormenta de
neve, e aonde se encontrou com um leão selvagem que ali tinha sua toca.
Numa cova espaçosa a façanha seria muito maior que se o animal tivesse
sido caçado e posto num fosso.
23. desceu contra ele (TB) — A fraseologia usual para expressar:
empenhar-se em batalha. Este encontro de Benaia com o egípcio
gigantesco, em algum aspecto nos faz pensar no combate de Davi com
Golias. Pelo menos, a altura deste gigante, que era de uns oito pés, e suas
armas, se parecem com as de Gate.
com um cajado — quer dizer, não tendo à mão mais arma que um
bastão.
25. Davi o pôs sobre a sua guarda — Os queratitas e peleteus
compunham um pequeno corpo de guarda-costas para dar ajuda imediata
ao rei.
26. os heróis dos exércitos — Este era o terceiro grau de categoria
militar, e Asael era seu chefe; os nomes de poucos dos mencionados são
conhecidos historicamente.
27. Samote — Entre este nome e Gele, o de Elica evidentemente foi
omitido nesta passagem; em 2Sm_23:25 sim é mencionado. (Bertheau).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 34
30. Maarai — Chefe do destacamento de guardas que assistiam ao
rei no décimo mês, janeiro (1Cr_27:13; 2Sm_23:28).
39. Naarai — Escudeiro de Joabe (2Sm_23:37). A ausência do
nome de Joabe nas três listas se explica pelo fato de que seu posto como
comandante-em-chefe o elevava a uma posição superior a todas estas
ordens militares.
41. Urias, heteu — A presença deste nome em tal lista, que
testemunha seus distinguidos méritos como valente e devoto oficial,
agrava a criminalidade do ultraje de Davi contra sua vida e honra. O
número dos nomes dos vv. 26- 41 (exclusive Asael e Urias, que estavam
mortos) é trinta, e do v. 41 a 47 é dezesseis, perfazendo um total de
quarenta e oito (veja-se 1 Crônicas 27). Dos mencionados nos vv. 26- 41,
a maior parte pertenciam às tribos de Judá e Benjamim; os dezesseis
nomes dos vv. 41-47 estão associados com lugares desconhecidos, ou
com cidades e distritos a leste do Jordão. As tribos do norte parece que
não contribuíram com nenhum dirigente. (Bertheau).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 35
1 Crônicas 12

Vv. 1-22. AS COMPANHIAS QUE VIERAM A DAVI EM


ZICLAGUE.
1-7. São estes os que vieram a Davi, a Ziclague — Se dão três
listas neste capítulo, decididas, evidentemente, segundo a ordem do
tempo em que estas companhias se uniram ao estandarte de Davi.
quando fugitivo de Saul — quer dizer, quando o zelo do rei o tinha
forçado ao desterro da corte e do país.
Ziclague — (veja-se 1Sm_27:6). Foi durante seu retiro naquela
cidade filisteia quando se uniram a ele, em rápida sucessão, os heróis que
mais tarde contribuíram tanto à glória de seu reinado.
2. dos irmãos de Saul, da tribo de Benjamim — (cf. v. 29), mas
alguns podem ter sido parentes do rei. Este movimento, ao qual foram
guiadas estas companhias, sem dúvida pelo impulso secreto do Espírito,
foi de uma vasta importância à causa de Davi, deve ter sido fundado na
observação deles de que as bênçãos de Deus tinham sido tiradas de Saul
e que a divina presença favorecia a Davi, a quem se sabia universalmente
que o divino Rei de Israel lhe tinha dado a coroa por reversão. O acordo
dos benjamitas que vieram primeiro, e sua resolução de compartilhar as
fortunas dele, deve ter sido particularmente grata a Davi, como que foi
um testemunho publico e enfático daqueles que tinham desfrutado dos
melhores meios de informação à excelência irrepreensível de seu caráter,
como também um protesto decidido contra o doloroso mal infligido sem
causa ao proscrever a um homem que tinha rendido tão eminentes
serviços a seu país.
4. Ismaías, o gibeonita — Parece que não só os cananeus que
foram admitidos na congregação (Josué 9), mas sim pessoas da tribo de
Benjamim, estavam entre os habitantes de Gibeão. A menção do
“gederatita”, provavelmente da Gedera (Js_15:36), na terra baixa de
Judá; “de Coré” (v. 6) (1Cr_2:43), e de Gedor (v. 7), povo em Judá a
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 36
sudoeste de Belém (cf. 1Cr_4:4), demonstra que esta primeira lista
contém nomes de Judá o mesmo que de Benjamim. (Bertheau).
8-13. Dos gaditas passaram-se para Davi — quer dizer, do serviço
de Saul e dentre outros gaditas que ficaram firmes aderentes a sua causa.
à fortaleza — de Ziclague, que era no deserto de Judá.
seu rosto era como de leões, etc. — Um semblante feroz e leonino
(2Sm_1:23), e grande agilidade em correr (2Sm_2:18), eram qualidades
da mais alta estima nas guerras antigas.
14. o menor valia por cem homens, e o maior, por mil — Em
Ziclague Davi não tinha tão grande número de soldados para dar a cada
um destes o comando de tantos homens. Outro sentido, pois, se deve
buscar, excluindo “tinha cargo de”, que realmente não está no texto
hebraico, mas sim foi agregado pelos tradutores. O sentido da passagem
então poderia ser: que um dos menores seria capaz de bater-se com cem,
e um dos grandes com mil homens comuns, que é uma hipérbole para
expressar o valor incomum daqueles homens.
15. São estes os que passaram o Jordão no primeiro mês — quer
dizer, na primavera, quando o rio crescido cheia todo o leito do rio (veja-
se Js_3:15; Js_4:19; Js_5:10).
puseram em fuga a todos os que habitavam nos vales — Isto
provavelmente sucedeu quando eles se separaram: e tendo sido
descoberto seu propósito, tiveram que abrir caminho através dos
aderentes de Saul, tanto na ribeira oriental como na ocidental. A
impossibilidade de usar os vaus em tal estação, e a rapidez violenta da
corrente, fizeram com que seu cruzamento do Jordão fosse uma notável
façanha, em qualquer maneira que os gaditas o fizessem.
16. vieram alguns dos filhos de Benjamim e de Judá a Davi — É
provável que os benjamitas tenham convidado aos judaítas a acompanhá-
los para que Davi não suspeitasse deles. Suas antecipações estiveram
bem fundadas, como manifestaram os resultados. Davi, com efeito,
suspeitou deles, mas as dúvidas de Davi quanto ao objeto de sua vinda a
ele, prontamente foram dissipadas por Amasai, ou Amasa, que pelo
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 37
impulso secreto do Espírito, assegurou-lhe de sua forte amizade para
com ele e de seu serviço zeloso pela convicção unânime de que sua
causa era possuída e abençoada por Deus (1Sm_18:12-14).
19-22. Também de Manassés alguns se passaram para Davi —
O período de seu acordo se fixa como o tempo em que Davi veio com os
filisteus contra Saul a batalhar, “mas não os ajudaram” (Veja-se
1Sm_29:4).
20. quando voltou ele para Ziclague, passaram-se a ele — Se
estes manassitas se uniram a ele a sua volta a Ziclague, então sua
chegada sucedeu antes da batalha de Gilboa (cf. 1Sm_29:11).
Convencidos do estado desesperado dos assuntos de Saul, o
abandonaram e decidiram transferir sua lealdade a Davi. Mas alguns
eruditos crêem que vieram como fugitivos de aquele desastroso campo
de batalha (Calmet and Ewald).
chefes de milhares dos de Manassés — Aqueles sete eram os
comandantes das grandes divisões militares de sua tribo.
21, 22. Estes ajudaram Davi contra aquela tropa — quer dizer,
os amalequitas que tinham saqueado Ziclague durante a ausência de
Davi. Esta expedição foi feita por todos os seus homens (1Sm_30:9), os
quais, como primeiros ajudantes de Davi, se distinguem especialmente
dos que são mencionados na última parte do capítulo.
como exército de Deus — quer dizer, um exército grande e
poderoso.

Vv. 23-40. OS EXÉRCITOS QUE VIERAM A ELE EM HEBROM.


23. este é o número dos homens armados para a peleja, que
vieram a Davi, em Hebrom — depois da morte de Isbosete (2Sm_5:1).
para lhe transferirem o reino de Saul, segundo a palavra do
SENHOR — (1Cr_10:14; 11:3, 10). O relato começa pelas tribos do sul,
estando Levi associada com Judá e Simeão, pois a maioria dos homens
principais desta tribo residiam em Judá; e depois de enumerar aos
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 38
representantes das tribos do norte, conclui com os que estão a leste do
Jordão.
27. Joiada era o chefe da casa de Arão — não o sumo sacerdote
deste nome, porque esse era Abiatar (1Sm_23:9), mas sim o comandante
dos guerreiros aronitas, quem se supõe que fosse o pai de Benaia
(1Cr_11:22).
29. Benjamim … três mil — este número pequeno indica que o
movimento naquela tribo não era popular; pois, com efeito, diz-se que a
maioria das pessoas, ainda depois da morte de Isbosete, com muito
empenho trataram de assegurar a coroa na família de Saul.
32. dos filhos de Issacar, conhecedores da época, etc. — Os
escritores judeus dizem que os membros desta tribo eram eminentes por
seus conhecimentos nas ciências astronômica e física; e o objetivo da
menção foi provavelmente o de mostrar que as classes inteligentes e
instruídas estavam unidas com a militar, e se tinham declarado a favor de
Davi.
33. de Zebulom, dos capazes para sair à guerra — quer dizer,
que eram soldados mais disciplinados que os demais.
com ânimo resoluto — Embora seus números eram grandes,
estavam em alto grau do lado de Davi.
38. Todos estes homens de guerra, postos em ordem de batalha,
vieram a Hebrom, resolvidos a fazer Davi rei — tinham um desejo
unânime de que fosse elevado ao trono.
39, 40. Estiveram ali com Davi três dias, comendo e bebendo —
Conforme as informações dos versículos anteriores, o número de
guerreiros armados reunidos em Hebrom nesta ocasião, chegava a
300.000. Havia provisões em abundância, trazidas não só pelo povo das
cercanias, mas também de partes distantes do país, pois todos desejavam
que nas festividades houvesse liberalidade e magnificência de acordo
com a ocasião.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 39
1 Crônicas 13

Vv. 1-8. DAVI TRAZ A ARCA DE QUIRIATE-JEARIM.


1-3. Consultou Davi os capitães … tornemos a trazer para nós a
arca do nosso Deus — A gratidão a Deus pela alta e esplêndida
dignidade a qual tinha sido elevado neste período, naturalmente
repartiria animação e novos impulsos à piedade habitualmente fervente
de Davi; mas, ao mesmo tempo, estava animado por outros motivos;
entendia plenamente sua posição como governante sob a teocracia, e ao
começar os seus deveres. estava decidido a cumprir sua missão como rei
constitucional de Israel. Por conseguinte, seu primeiro ato como
soberano tinha que ver com os interesses da religião, e sendo a arca
então o grande instrumento e ornamento dela, aproveitou a oportunidade
da presença dos representantes da nação, para consultá-los a respeito da
conveniência de estabelecê-la num lugar público mais acessível. A
assembleia na qual ele falou disto, foi a dos “Sheloshim”, príncipes de
milhares (2Sm_6:1). Durante o reinado do finado rei, a arca tinha sido
deixada em completo descuido, e o resultado foi que o povo, em grande
medida, tinha sido negligente quanto às ordenanças do culto divino, e se
tinham satisfeito oferecendo sacrifícios em Gibeão, sem pensar na arca,
embora era a parte principal e vital do tabernáculo. O dever e as
vantagens deste movimento religioso sugerido pelo rei, eram evidentes, e
o propósito achou aprovação universal.
2. Se bem vos parece, e se vem isso do SENHOR — quer dizer,
eu entenderei que esta medida é aceitável a Deus, se receber sua
entusiasta aprovação.
enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros irmãos
— Ele queria fazer conhecer por todo o país, para que se realizasse uma
assembleia geral da nação, e que se fizessem os preparativos necessários
para celebrar de maneira digna a inauguração do augusto cerimonial.
e aos sacerdotes, e aos levitas com eles nas cidades e nos seus
arredores — (Veja-se Números 35). O termo original “enviaremos” dá a
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 40
entender uma execução imediata, e sem dúvida, depois da publicação do
decreto real se teria fixado uma data próxima para a projetada
solenidade, se não tivesse sido demorada por uma invasão repentina dos
filisteus, os quais foram duas vezes repelidos com grandes perdas
(2Sm_5:17); e pela tomada de Jerusalém e a transferência da sede de
governo àquela cidade. Um pouco depois, achando a paz restabelecida e
seu trono estabelecido, começou de novo os preparativos para o traslado
da arca à metrópole.
5. desde Sior do Egito — (Js_15:4, Js_15:47; Nm_34:5; 1Rs_8:65;
2Rs_24:7; 2Cr_7:8). Um pequeno arroio que desemboca no
Mediterrâneo, perto do moderno povo de Elarish, na fronteira sul da
Palestina.
até à entrada de Hamate — O desfiladeiro entre as cadeias de
montanhas da Síria e o limite da Palestina ao norte.
6-14. Davi, com todo o Israel, subiu a Baalá — (Veja-se
2Sm_6:1-11).
diante da qual é invocado o nome do SENHOR — antes, “onde
seja invocado o Seu nome” (2Sm_6:2, Versão Jünemann).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 41
1 Crônicas 14

Vv. 1, 2. BONDADE DE HIRÃO PARA COM DAVI; A


FELICIDADE DE DAVI.
1. Hirão, rei de Tiro — [Veja-se 2Sm_5:11]. A aliança com este
rei vizinho, e as vantagens importantes que resultaram dela, foi um dos
incidentes mais felizes do reinado de Davi. A providência de Deus
manifestou-se conforme a sua promessa de aplainar o princípio de seu
reinado. Tendo conquistado os jebuseus, e feito de Sião seu residência
real, junto com a prosperidade interna estabeleceu um tratado vantajoso
com um príncipe vizinho; e então, em conexão imediata com a menção
desta liga amistosa, diz-se: “Reconheceu Davi que o SENHOR o
confirmara rei sobre Israel.”
2. por amor do seu povo de Israel, o seu reino se tinha exaltado
muito — Esta é uma verdade importante, que os soberanos são
investidos de honra e autoridade reais, não por amor de si mesmos tanto
como pelo bem de seus povos. Esta é a verdade quanto a todos os reis,
mas se aplicava especialmente aos monarcas de Israel, e até a Davi foi
feito saber que toda sua glória e grandeza foram dadas só para capacitá-
lo, como o ministro de Deus, para executar os propósitos divinos para
com o povo escolhido.

Vv. 3-7. SUAS ESPOSAS.


3. Davi tomou ainda mais mulheres em Jerusalém — (veja-se
2Sm_3:5). São mencionadas suas concubinas (cap. 3:9,) e também se dá
uma lista de seus filhos (vv. 5-8), e os nascidos em Jerusalém
(2Sm_5:14-16). Naquela lista, entretanto, não aparecem os nomes do
Elifelete e Nogá, e Beeliada parece a mesma que Eliada.

Vv. 8-17. SUAS VITÓRIAS SOBRE OS FILISTEUS.


8. os filisteus … subiram todos para prender Davi — Com a
esperança de obter sua ruína (porque assim se usa a frase, 1Sm_23:15;
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 42
1Sm_24:2-3) antes que seu trono fosse consolidado. Sua hostilidade
resultou tanto de sua crença de que o patriotismo dele o levaria em pouco
tempo a apagar a desonra nacional de Gilboa, e do temor de que, em
qualquer invasão de seu país, o conhecimento completo que ele tinha de
seus pontos fracos, lhe daria vantagens superiores. Eles resolveram, pois,
surpreendê-lo e esmagá-lo antes que estivesse firmemente sentado em
seu trono.
11. Subindo Davi a Baal-Perazim, ali os derrotou — Num
encontro renhido sobre o Monte Perazim (Is_28:21), no vale de Refaim,
uns poucos kms. a oeste de Jerusalém, foram batidos e afugentados os
filisteus.
12. Ali, deixaram os seus deuses — (veja-se 2Sm_5:21).
13. os filisteus tornaram e fizeram uma investida no vale —
Renovaram a campanha na estação seguinte, tomando a mesma rota.
Seguindo as direções divinas, Davi não lhes fez frente.
14. Não subirás após eles — O texto de 2Sm_5:23, diz mais
corretamente: Não subas.
mas rodeia por detrás deles — quer dizer, que se deslizassem
depois de um bosque de amoreiras, e atacassem pela retaguarda.
15. porque Deus saiu adiante de ti — “um estrondo de marcha
pelas copas das amoreiras”, quer dizer, sussurrar de folhas por uma brisa
forte e repentina, foi o sinal pelo qual Davi foi avisado divinamente do
preciso momento para o ataque. A impetuosidade de seu arremesso foi
como a força de uma imensa corrente que arrasa tudo o que encontra em
seu curso. Em alusão a este incidente o lugar tomou seu nome.
16. desde Gibeão até Gezer — Agora, Yefa, na província de Judá.
(2Sm_5:25). A linha de Gibeão a Gezer era entrecortada por caminhos
que conduziam de Judá às cidades dos filisteus; a recuperação deste
lugar, como se fez nesta batalha decisiva, resultou na libertação de todas
as montanhas de Judá até seu declive mais ocidental (Bertheau).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 43
1 Crônicas 15

Vv. 1-24. DAVI TRAZ A ARCA DE OBEDE-EDOM.


1. Fez também Davi casas para si mesmo, na Cidade de Davi —
Mediante a liberalidade de seu aliado tírio (1Cr_14:1), Davi pôde
edificar não só um palácio para si mas também prover confortos
convenientes para sua numerosa família. Onde prevalece a poligamia,
cada esposa tem casa à parte ou compartimento para si e seus filhos.
preparou um lugar para a arca de Deus e lhe armou uma tenda
— quer dizer, fez um tabernáculo completamente novo, segundo o
modelo do anterior. O velho tabernáculo que Moisés tinha construído no
deserto, e que até então tinha servido como símbolo da proteção divina,
foi deixado em Gibeão, talvez porque os habitantes não queriam separar-
se de tão venerável relíquia, ou porque em Jerusalém não fazia falta,
onde se contemplava um edifício mais sólido e suntuoso. Se parecer
surpreendente que Davi fez “casas para si mesmo” antes de preparar este
novo tabernáculo, se deve lembrar que ele não tinha recebido intimação
divina alguma com relação a tal obra.
2. Então disse Davi: A arca de Deus não deve ser levada mas
pelos levitas — Depois de um intervalo de três meses (1Cr_13:14), o
propósito de trasladar a arca a Jerusalém se renovou. O tempo e a
reflexão tinham conduzido ao descobrimento da causa da dolorosa
catástrofe que empanou a primeira tentativa, e ao preparar para a solene
procissão que agora tinha que transportar o sagrado símbolo a seu lugar
de descanso, Davi se cuidou de que a condução fosse regulamentada em
estrita conformidade com a lei (Nm_4:5, 15; Nm_7:9; Nm_10:17).
3. Davi reuniu a todo o Israel — Alguns são de opinião de que
isto teve lugar numa das três grandes festividades, mas seja qual for o
tempo em que se realizou o cerimonial, foi importante que se fizesse
uma convocação geral do povo, muitos dos quais, devido às desordens
prolongados do reino, não teriam tido oportunidade de saber algo da
arca, a qual tinha ficado tão longo tempo na escuridão e o abandono.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 44
4. Reuniu também Davi aos filhos de Arão e aos levitas — Os
filhos de Arão eram os dois sacerdotes (v. 11) Zadoque e Abiatar,
cabeças das duas casas sacerdotais de Eleazar e Itamar, e colegas no
sumo sacerdócio (2Sm_20:25). Os levitas eram os chefes da casa de seu
pai (v. 12); quatro deles pertenciam aos coatitas, sobre cujos ombros a
arca devia ser levada: Uriel, Semaías — descendentes de Elzafã
(Êx_6:22) — Hebrom (Êx_6:18; 1Cr_6:2), e Aminadabe de Uziel
(Êx_6:22).
12. santificai-vos — Esta santificação especial, que se exigia em
todas as ocasiões sérias e importantes, consistia na abstinência mais
estrita, como também na limpeza, tanto da pessoa como do vestuário
(veja-se Gn_35:2; Êx_19:10, Êx_19:15); e em caso de descuido destas
regras não se poderia dar nenhum passo (2Cr_30:3).
16. Disse Davi aos chefes dos levitas que constituíssem a seus
irmãos, os cantores, para que, com instrumentos — Estes eminentes
levitas foram ordenados para preparar os músicos e cantores que sob eles
estavam para a solene procissão. Os participantes foram classificados em
três coros ou bandas, e os nomes dos dirigentes principais se mencionam
nos vv. 17, 18, 21, com os instrumentos usados em cada um. Bene (v.
18) é omitido no v. 20. Ou se usa a palavra “Ben” como nome comum,
para intimar que Zacarias era filho “Ben” de Jaaziel, ou Ben é o mesmo
que Azazias (v. 21).
22. Quenanias, chefe dos levitas — Não era dos seis cabeças de
famílias levíticas, e sim chefe por causa de seu posto, o que exigia
erudição, sem relação de nascimento ou família.
tinha o encargo de dirigir o canto — Ele dirigia as bandas quanto
ao tempo próprio quando cada uma devia entrar ou mudar de nota; ou,
como traduzem alguns: “Ele conduzia o estribilho, porque era perito”,
como de costume era necessário observar a condução das coisas
sagradas. (Bertheau).
23. Baraquias e Elcana eram porteiros — Que partiam em frente
da arca, enquanto que Obede-Edom e Jeiel vinham depois da arca.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 45
25. Davi, e os anciãos de Israel, e os capitães (RC) — O propósito
de Davi ao ordenar a todos os ministros principais e oficiais tomar parte
nesta obra solene, e ao dar tanta pompa e cerimônia imponente à
procissão, foi evidentemente o de inspirar a mente popular com uma
profunda veneração pela arca, e o de dar especialmente aos jovens sãs
impressões da religião, as quais seriam renovadas pela lembrança de que
eles tinham sido testemunhas da augusta solenidade na qual o rei e a
mais alta aristocracia da terra tomaram parte, competindo com todas as
outras classes em fazer honra ao Deus de Israel.
26. Tendo Deus ajudado os levitas que levavam a arca — (veja-
se 2Sm_6:13-23).
ofereceram em sacrifício sete novilhos e sete carneiros — Parece
que os levitas empreenderam sua tarefa com temor e tremor; e achando
que poderiam avançar sem indicações da ira divina tal como tinha
experimentado Uzá (1Cr_13:10), ofereceram um boi e uma ovelha
engordada imediatamente depois de empreender a marcha (2Sm_6:13), e
sete novilhos e sete carneiros—um sacrifício perfeito—no fim da
procissão (1Cr_16:1). É provável que se tenham feito preparativos para
oferecer sacrifícios similares a certos intervalos no caminho.
27. manto de linho fino — Heb. “butz”; antes, nos livros
posteriores supõe-se que queria dizer algodão.
uma estola sacerdotal — Um objeto de vestir, ou capa levada
sobre a roupa, cobrindo as costas e o peito. Era levado pelos sacerdotes,
mas não era tão peculiar a eles para que fosse proibido a outros
(1Sm_2:18; 1Sm_22:18).
29. Mical … vendo ao rei Davi dançando e folgando — Seus
movimentos devem ter sido pausados e solenes, de acordo com o caráter
solene e grave da música. Embora tinha tirado as roupas reais, ele estava
vestido como outros oficiais, mostrando assim uma humildade
conveniente perante a presença de Deus. Os sentimentos de Mical
manifestaram o rancor de uma mulher orgulhosa e apaixonada.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 46
1 Crônicas 16

Vv. 1-6. O SACRIFÍCIO FESTIVO DE DAVI E SUA


GENEROSIDADE PARA COM O POVO.
2. abençoou o povo em nome do SENHOR — Elogiou seu zelo,
suplicou a bênção divina sobre eles, e deu ordem para que os restos dos
sacrifícios de agradecimento, profusamente oferecidos durante a
procissão, fossem repartidos em certa proporção a cada indivíduo, para
que terminassem as cerimônias com festividades apropriadas (Dt_12:7).
3. frasco de vinho (RC) — As palavras “de vinho” são
acrescentadas por nossos tradutores, e a palavra traduzida “frasco”, em
outras versões não se traduz “frasco”, mas sim “torta”; uma “geleia”,
como a traduz a Septuaginta, feita de farinha e mel.
4-6. Designou dentre os levitas os que haviam de ministrar —
Logo que a arca esteve colocada em sua tenda, os levitas, que tinham que
oficiar em coros diante dela, começaram seus deveres. Um número
seleto de músicos foi eleito para este serviço, da lista (1Cr_15:19-21) dos
que tinham tomado parte proeminente na recente procissão. O mesmo
acerto tinha que se observar em seus deveres, visto que a arca novamente
estava em lugar fixo; Asafe, com seus associados, formava o primeiro ou
principal grupo, tocando címbalos; Zacarias e seus colegas, com aqueles
que estava associados Jeiel e Obede-Edom, formavam o segundo grupo,
usando harpas e instrumentos similares.
5. Jeiel — é o mesmo que Aziel (1Cr_15:20).
6. Benaia e Jaaziel — O nome daquele é mencionado entre os
sacerdotes (1Cr_15:24), mas este não. O dever indicado a estes foi o de
tocar trombetas a intervalos fixos diante da arca e no tabernáculo.

Vv. 7-43. SEU SALMO DE AGRADECIMENTO.


7. Naquele dia, foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a
Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos o SENHOR — Entre
outros preparativos para esta solene inauguração, o poeta real tinha
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 47
composto um hino para a ocasião. Sem dúvida, tinha estado antes nas
mãos de Asafe e seus colegas, mas agora publicamente lhes entrega, ao
entrar pela primeira vez no cumprimento de seus sagrados deveres. O
salmo ocupa a maior parte deste capítulo (v. 8-36), e parece que foi
compilado de outros salmos de Davi, anteriormente conhecidos pelos
israelitas, pois todo ele se acha, com pequenas variações, nos Salmos 96;
Sl_105:1-15; Sl_106:47, 48. Entretanto, na forma em que o dá o sagrado
historiador, parece ter sido o primeiro salmo destinado ao uso nos
serviços públicos do tabernáculo. Como abunda nas mais vivas formas
de louvor a Deus pela revelação de seu caráter glorioso e a manifestação
de suas obras maravilhosas; e contém muitas alusões concretas à origem,
privilégios e destino especial do povo escolhido, era admiravelmente
adaptado para animar a devoção e evocar a gratidão da multidão reunida.
36. todo o povo disse: Amém! — (cf. Sal_72:19-20; Sal_106:48).
No primeiro, o autor da doxologia ele mesmo pronuncia o amém,
enquanto que no último, exorta-se ao povo a dizer amém. Isto pode
resultar do fato de que este salmo (Salmo 106) originalmente concluía
com a exortação ao dizer amém. Mas neste relato histórico da festa, foi
necessário dizer que o povo obedeceu este mandado na ocasião referida,
e portanto as palavras “Que louve”, foram mudadas a “louvou”.
(Bertheau).
37-42. deixou ali diante da arca da Aliança do SENHOR a Asafe
e a seus irmãos — A última parte deste capítulo descreve a nomeação
dos músicos sagrados e suas respectivas obrigações.
38. a Obede-Edom com seus irmãos, em número de sessenta e
oito — Asa é mencionada no final deste versículo, e um grande número
mais (veja-se 1 Crônicas 26).
para serem porteiros — guardas da porta.
39, 40. a Zadoque, o sacerdote … diante do tabernáculo ... num
lugar alto de Gibeão — Enquanto que os oficiais já nomeados sob a
superintendência de Abiatar foram escolhidos para oficiar em Jerusalém,
aonde a arca tinha sido levada, Zadoque e os sacerdotes a ele
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 48
subordinados estavam estacionados em Gibeão para atender ao serviço
sagrado perante o antigo tabernáculo que ainda ficava ali.
40. continuamente de manhã e de tarde (TB) — como a lei
mandava (Êx_29:38; Nm_28:3, Nm_28:6).
segundo tudo o que está escrito na Lei — (Veja-se Números 28).
De modo que, no tempo de Davi, o culto se celebrava em dois lugares,
onde as coisas sagradas, transmitidas da idade de Moisés, eram
conservadas. Perante a arca em Jerusalém, Asafe e seus irmãos
oficiavam como cantores, Obede-Edom e Asa serviam de porteiros,
Benaia e Jaaziel tocavam trombetas; enquanto no tabernáculo ofereciam-
se holocaustos em Gibeão, Hemã e Jedutum dirigiam a música sagrada;
os filhos de Jedutum eram porteiros, e Zadoque, com seu corpo de
sacerdotes ajudantes, oferecia os sacrifícios.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 49
1 Crônicas 17

Vv. 1-10. A DAVI LHE É PROIBIDO EDIFICAR CASA A DEUS.


1. habitando Davi em sua própria casa — Os detalhes deste
capítulo foram dados em termos quase similares em 2 Samuel 7. A data
foi para o fim do reinado de Davi, porque se diz expressamente no livro
anterior, que foi quando cessaram todas as suas guerras. Mas como o
relatar os preparativos para o traslado da arca e para a construção do
templo, foi o objetivo principal do historiador, não se segue a cronologia
exata.
5. mas tenho andado de tenda em tenda, de tabernáculo em
tabernáculo — A tradução literal é “estive caminhando numa tenda e
numa habitação”. A intenção evidente (como vemos no v. 6), foi fazer
ênfase no fato de que Deus era um mithhallek (viajante), e ia de um lugar
a outro com Sua tenda e Sua morada eterna (a morada incluía não só a
tenda, mas também os pátios com o altar de holocaustos, etc.)
(Bertheau).
6. falei, acaso, alguma palavra com algum dos seus juízes? —
Em 2Sm_7:7, diz “a alguma das tribos” de Israel. Ambas se incluem.
Mas os juízes “a quem mandei apascentar o meu povo”, formam uma
antítese mais regulável a Davi.
Por que não me edificais uma casa de cedro? — um templo
sólido e magnífico.
7. Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eu te tirei do curral
(RC) — torre redonda de construção rústica, de altos muros mas coberta
desde acima, aonde se encerravam as ovelhas de noite para proteger as
das feras. O sentido é: Elevei-te ao trono desde uma condição humilde
somente por um ato de graça divina, e não por alguns méritos teus
antecedentes (veja-se 1Sm_16:11), e te permiti alcançar renome igual ou
superior ao de qualquer outro monarca. Teu reinado será considerado
como a era melhor e mais brilhante na história de Israel, porque
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 50
assegurará à nação uma firme herança de prosperidade e paz, sem as
pressões e desordens que os afligiam em tempos anteriores.
9-10. desde o dia em que mandei houvesse juízes — quer dizer,
inclusive todo o período desde Josué até Saul.
te fiz saber que o SENHOR te edificaria uma casa — Esta foi a
linguagem do próprio Natã, quem foi mandado especialmente para
assegurar a Davi, não só bênção pessoal e prosperidade, mas sim uma
linha contínua de descendentes reais.
11. farei levantar depois de ti o teu descendente — (2Sm_7:12).
13. a minha misericórdia não apartarei dele, como a retirei
daquele que foi antes de ti — Meu proceder ao tratar com ele será
diferente de minha disposição de Saul. Se sua conduta tiver que
necessitar castigo, perdoarei sua família. Se vir necessário tirar dele meu
favor e ajuda por um tempo, será uma disciplina corretiva só para
reformá-lo e restaurá-lo, e não para destruí-lo. (Sobre esta passagem
alguns formaram um argumento em apoio do arrependimento de Saul e
sua volta a Deus).
14. o confirmarei na minha casa — sobre meu povo Israel.
e no meu reino—Deus aqui afirma seu próprio direito de soberania
em Israel. Davi e Salomão, com seus sucessores, eram só os vice-reis aos
quais Ele nomeava, ou em Sua providência, lhes permitia governar.
o seu trono será estabelecido para sempre — A posteridade de
Davi herdou o trono em sucessão longa, mas não para sempre. Num caso
como este a frase “para sempre” se emprega num sentido restringido
(veja-se Lam_3:31). Naturalmente esperamos que o profeta voltará para
Davi, antes de concluir, depois de ter falado (v. 12) da edificação do
templo de Salomão. A promessa de que sua casa seria bendita, tinha
como objetivo uma compensação pela negação de seu desejo de edificar
o templo, e por isso esta segurança se repete no final do discurso do
profeta. (Bertheau).
15. Segundo todas estas palavras — A revelação da vontade
divina foi feita ao profeta num sonho.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 51
16. o rei Davi na Casa do SENHOR, ficou perante ele e disse —
(Veja-se 2Sm_7:18-29).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 52
1 Crônicas 18

Vv. 1, 2. DAVI SUBJUGA OS FILISTEUS E OS MOABITAS.


1. Davi … tomou a Gate e suas aldeias — A completa extensão
das conquistas de Davi no território filisteu aqui está relatada
claramente; na passagem paralela (2Sm_8:1) está descrita só de uma
maneira geral. Gate foi o “Metheg-ammah”, ou “brazo-freio”, como era
chamada por sua supremacia como capital sobre outras cidades filisteias,
ou porque na tomada daquela importante praça e seus dependências, ele
obteve o domínio completo de seus inquietos vizinhos.
2. derrotou os moabitas — As terríveis severidades pelas quais a
conquista daquele povo foi notável, e a provável razão pela qual foram
submetidos a tão espantosa retribuição, são narradas em 2Sm_8:2.
os moabitas … lhe pagavam tributo — quer dizer, ficaram sendo
tributários a Israel.

Vv. 3-17. FERE O ADAREZER E OS SÍRIOS.


3. Hadadezer — (2Sm_8:3), que era talvez a forma original do
nome, derivava-se de Hadade, uma deidade síria. Parece ter sido o título
oficial e hereditário dos governantes daquele reino.
Zoba — Sua situação se determina pelas palavras “até Hamate”,
um pouco a nordeste de Damasco, e segundo alguns, é o mesmo lugar
antes chamado Hobá (Gn_14:15). Antes do desenvolvimento de
Damasco, Zoba era a capital do reino que tinha a supremacia entre os
pequenos estados da Síria.
quando aquele foi restabelecer o seu domínio sobre o rio
Eufrates — Alguns referem isto a Davi, quem estava tratando de
estender suas posses em direção a um ponto sobre o Eufrates, de acordo
com a promessa (Gn_15:18; Nm_14:7). Mas outros opinam que, como o
nome de Davi é mencionado no em v. 4, esta referência é mais aplicável
ao Hadadezer.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 53
4-8. Tomou-lhe Davi mil carros — (Veja-se 2Sm_8:3-14). Naquela
passagem é dito que Davi tomou 700 homens a cavalo, mas aqui diz que
tomou 7.000. Esta discrepância no texto dos duas passagens parece ter-se
originado por causa de um copista que confundia as duas letras hebraicas
que indicam os números, e por esquecer de marcar ou apagar os pontos
sobre uma delas. Não temos meios de averiguar qual seja o número mais
correto, se 700 ou 7.000. Talvez seja 700. (Davidson, Hermeneutics).
menos para cem deles — Provavelmente para adornar sua
procissão triunfal em sua volta a Jerusalém, e depois de os usar desta
maneira, para destruí-los como os outros.
8. de Tibate e de Cum — Estes lugares se chamam Beta e Beerote
em 2Sm_8:8. Talvez um é o nome hebraico e o outro o nome sírio destes
povos. Não se conhece nem sua situação nem a conexão entre elas. A
Versão Árabe diz que são Emesa (agora Hems) e Baalbek, as quais
concordam bem em relação à posição de Zoba.
9-13. Toú — ou Toí (NTLH), cujos domínios limitam com os de
Hadadezer. (Veja-se 2Sm_8:9-12; 1Rs_11:15).
17. os quereteus e peleteus (TB) — Que formavam o corpo real de
guarda-costas. Os queratitas [quereteus] eram, mais provavelmente,
aqueles homens valentes que acompanharam a Davi o tempo todo que
esteve entre os filisteus, e daquele povo derivam seu nome (1Sm_30:14;
Eze_25:16; Sof_2:5), como também de sua destreza no uso do arco. Os
peleteus eram os que se uniram a ele em Ziclague; tomaram seu nome de
Pelete, o homem principal da companhia (1Cr_12:3), e, sendo
benjamitas, eram peritos no uso da funda.
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1 Crônicas 19

Vv. 1-5. MENSAGEIROS DE DAVI, ENVIADOS A CONSOLAR


A HANUM, SÃO MALTRATADOS.
1. Depois disto — Esta frase parece indicar que este incidente se
efetuou imediatamente, ou pouco depois das guerras relatadas no
capítulo anterior. Mas a ordem cronológica não se segue estritamente, e a
única dedução justa que se pode tirar do uso desta frase é que se dará
mais algum relatório das guerras contra os sírios.
morreu Naás, rei dos filhos de Amom — Tinha existido uma
relação muito amigável entre Davi e ele, começada durante o desterro
daquele, e vinculada, sem dúvida, por sua comum hostilidade a Saul.
3. Não vieram seus servos a ti para reconhecerem, destruírem e
espiarem a terra? — quer dizer, a seu capital, Rabá. (2Sm_10:3).
4. rapou-os — Não completamente, mas apenas a metade de sua
cara. Esta irreverência à barba, e a indecente exposição de suas pessoas,
porque seus roupas tinham sido cortadas do cinturão para baixo, era o
ultraje mais grosseiro a que os judeus, em comum com outros orientais,
podiam ser submetidos. Não há que estranhar que os homens tinham
vergonha de aparecer em público, de modo que o rei lhes recomendou
que se ficassem num lugar afastado sobre a fronteira, enquanto o sinal de
sua vergonha tivesse desaparecido; então poderiam, com confiança,
voltar para a corte.

Vv. 6-15. JOABE E ABISAI VENCEM AOS AMONITAS.


6. Vendo, pois, os filhos de Amom que se haviam tornado
odiosos a Davi — Um sentimento geral de indignação se levantou por
todo Israel, e todas as classes apoiavam o rei em sua decisão de vingar-se
deste insulto sem provocação à nação hebraica.
Hanum e os filhos de Amom tomaram mil talentos de prata —
soma equivalente a 312.100 libras esterlinas, para conseguir os serviços
de mercenários estrangeiros.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 55
carros e cavaleiros da Mesopotâmia, e dos siros (RV89), etc. —
As tropas de Mesopotâmia não chegaram para esta campanha (v. 16).
Síria de Maaca estava a norte dos israelitas transjordânicos, perto de
Gileade.
Zoba — (Veja-se 1Cr_18:3).
7. Alugaram para si trinta e dois mil carros — Heb., cavaleiros,
acostumados a pelejar a cavalo ou em carros, e ocasionalmente a pé. Se
aceitarmos isto como a verdadeira tradução, o número de auxiliares
alugados mencionado nesta passagem, concorda precisamente com o que
diz 2Sm_10:6. 20.000 e 12.000 (de Tobe), igualam a 32.000, e 1.000 do
rei de Maaca.
8. O que ouvindo Davi, enviou contra eles a Joabe com todo o
exército dos valentes — Todas as forças de Israel, inclusive as grandes
ordens militares, estavam ocupadas nesta guerra.
9. Saíram os filhos de Amom e ordenaram a batalha à entrada
da porta da cidade — quer dizer, fora dos muros da Medeba, cidade
fronteiriça sobre o Arnom.
os reis que vieram estavam à parte, no campo — Como o
exército israelita estava ameaçado pelos amonitas na frente e pelos
auxiliares sírios a retaguarda, Joabe resolveu atacar a estes, o exército
mais numeroso e formidável enquanto dirigia a seu irmão Abisai, com
um destacamento conveniente que atacasse aos amonitas. O discurso de
Joabe antes do encontro, manifesta uma fé e piedade que faziam honra a
um comandante hebreu. Vencidos os mercenários, decaiu a coragem dos
amonitas. Eles então fugiram para entrincheirar-se dentro das muralhas
fortificadas da cidade.

Vv. 16-19. SOFAQUE MORTO POR DAVI.


16. Vendo, pois, os siros que tinham sido desbaratados diante de
Israel — (Veja-se 2Sm_10:15-19).
18. Davi matou dentre os siros os homens de sete mil carros —
(Cf. 2Sm_10:18, onde diz 700 carros). O texto em um dos livros está
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errado, (Keil, Davidson), ou as cifras têm que ser combinadas, dando
este resultado 7.000 a cavalo, 7.000 carros, e 40.000 a pé (Kennicott,
Houbigant, Calmet).
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1 Crônicas 20

Vv. 1-3. RABÁ SITIADA POR JOABE, SAQUEADA POR DAVI.


1. no tempo em que os reis costumam sair para a guerra — na
primavera, a maturação usual em tempos antigos para empreender uma
campanha — quer dizer, um ano depois da guerra síria.
Joabe levou o exército, destruiu a terra dos filhos de Amom — A
campanha anterior tinha sido desastrosa para Amom, devido
principalmente aos mercenários dos amonitas; e como era necessário,
como também justo, que eles fossem severamente castigados por causa
de seu vil ultraje aos embaixadores hebreus, Joabe assolou seu país,
cercou a capital, Rabá, e depois de um sítio prolongado, tendo tomado
uma parte dela, a cidade baixa ou a “cidade das águas”, isolada pelo
curso tortuoso do Jaboque, e sabendo que a fortaleza chamada a “cidade
real” logo cairia, convidou ao rei a ir pessoalmente, e ter a honra de
tomá-la por assalto. Este feito (mencionado em 2Sm_12:26) permite-nos
concordar duas declarações: “Davi estava em Jerusalém” (v. 1) e “voltou
Davi com todo o exército a Jerusalém” (v. 3).
2. Tirou Davi a coroa da cabeça do seu rei e verificou que tinha
o peso de um talento de ouro — Igual a 125 libras, ou 56 quilos.
Alguns crêem que “Malkam”, em nossa versão traduzida “seu rei”,
deveria entender-se como nome próprio, Milcom, ou Moloque, o ídolo
amonita, o qual, com efeito, poderia portar uma coroa pesada. Mas como
muitas outras coroas de reis orientais, a que se tomou em Rabá, não se
portava sobre a cabeça, mas sim que se suspendia com cadeias de ouro
sobre o trono.
pedras preciosas — Heb. “uma pedra”, ou grupo de pedras
preciosas, que foi posta sobre a cabeça de Davi.
3. mandou cortá-los com serras (TB) — A palavra hebraica “o
cortou” é, com a diferença da letra final, a mesma que se traduz “o
obrigou a trabalhar” [NTLH], na passagem paralela de Samuel; e muitos
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 58
consideram que o pô-los a serras, machados, etc., só quer dizer que Davi
condenou aos habitantes a dura servidão.

Vv. 4-8. TRÊS DERROTAS DOS FILISTEUS, TRÊS GIGANTES


MORTOS.
4. guerra ... em Gezer — ou, Gobe (Veja-se 2Sm_21:18-22).
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1 Crônicas 21

Vv. 1-13. DAVI PECA AO CONTAR O POVO.


1. Satanás se levantou contra Israel — Retirando Deus sua graça
de Davi neste tempo (veja-se 2Sm_24:1), permitiu que o tentador
prevalecesse sobre ele; e como o resultado desta tentação teve o efeito de
uma pesada calamidade como castigo de Deus sobre o povo, poderia
dizer-se que “Satanás se levantou contra Israel”.
a que fizesse censo do povo — No ato de levantar um censo de um
povo não há mal, mas sim muita utilidade. Mas enumerar a Israel, aquele
povo que devia ser como as estrelas em multidão, o qual deu a entender
falta de confiança na promessa divina, sim, foi pecado; e embora se
tenha levantado um censo no tempo de Moisés com impunidade, naquela
enumeração cada um do povo tinha contribuído “meio siclo conforme ao
siclo do santuário”, para que não houvesse “entre eles praga nenhuma,
quando os arrolares” (Êx_30:12). Então a enumeração daquele povo foi
em si considerada como uma empresa pela qual a ira de Deus poderia ser
facilmente despertada; mas quando os arranjos foram feitos por Moisés
para levantar o censo, Deus não estava irado, porque o povo foi
enumerado com o propósito expresso de levantar um imposto para o
santuário, e o dinheiro que se reuniu (“o dinheiro das expiações”,
Êx_30:16), foi propício. Tudo, pois, dependia do propósito do censo.
(Bertheau). O pecado de Davi pela enumeração do povo consistia em
que para satisfazer seu amor próprio, era com o propósito de averiguar o
número de guerreiros que poderia reunir para algum plano de conquista
projetado, ou, talvez, mais provável ainda, para instituir um sistema
regular e permanente de impostos, o qual ele cria necessário para prover
um estabelecimento necessário para a monarquia, mas o qual era
considerado como uma extorsão tirânica e opressora, uma inovação
contrária à liberdade do povo, um abandono dos costumes antigos, o qual
era impróprio de um rei de Israel.
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3. Por que requer isso o meu senhor? Por que trazer, assim,
culpa sobre Israel? — Ou, trazer castigo sobre Israel. Em hebraico a
palavra “pecado” com frequência é usada se como sinônimo de “castigo
do pecado”. A providência age e o povo sofre frequentemente pela má
conduta de seus governantes.
5. Deu Joabe a Davi o recenseamento do povo — Chegou a soma
a um milhão e cem mil homens em Israel, capazes de portar armas,
exclusive os 300.000 militares (1Cr_27), que, estando já alistados no
serviço real, não foram contados (2Sm_24:9), e os 470.000 homens em
Judá, omitindo-se 30.000 que formavam um exército de vigilância,
estacionado sobre a fronteira filisteia (2Sm_6:1). Uma tão grande
população num período tão curto, considerando a extensão limitada do
território, e comparando-se com o censo anterior (Números 26), é uma
prova clara do cumprimento da promessa (Gn_15:5).
6. os de Levi e Benjamim não foram contados — Se este censo
foi ordenado com o propósito de impor impostos, esta foi a razão pela
qual os levitas, os quais não eram guerreiros, (v. 5), não fossem
enumerados (veja-se Nm_1:47-54). A população de Benjamim tinha sido
contada (veja-se 1Cr_7:6-11), e o registro conservado nos arquivos
daquela tribo. Este censo, entretanto, foi levantado em outra ocasião, e
por outra pessoa, e não por Joabe. O fato de não se ter enumerado estas
duas tribos pode ter sido pela especial providência e graça de Deus, em
parte porque Levi estava dedicado a Seu serviço, e Benjamim era a
menor de todas as tribos (Juízes 21); e em parte porque Deus previa que
elas ficariam fieis à casa de Davi na divisão das tribos, e portanto não
queria que elas fossem diminuídas. (Poole). Do curso seguido neste
reconhecimento (veja-se 2Sm_24:4-8), parece que Judá e Benjamim
eram as últimas tribos que deviam ser visitadas, e que, depois do censo
de Judá, Joabe, antes de empreender a de Benjamim, teve que voltar para
Jerusalém, onde o rei, reconhecendo seu grande erro, deu ordens de
suspender os procedimentos no assunto. Não só a repreensão de Joabe no
princípio, mas também seu lento progresso no censo (2Sm_24:4-8)
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 61
mostrava uma forte repugnância e até horror do velho general por esta
medida anticonstitucional.
9. Falou, pois, o SENHOR a Gade, o vidente de Davi — Embora
Davi estivesse dotado de dom profético, entretanto, em assuntos
relacionados consigo mesmo ou seu reino, ele tinha o costume de
consultar ao Senhor por meio dos sacerdotes, e quando deixava de fazê-
lo, algum profeta lhe era enviado, em ocasiões especiais, para repreendê-
lo ou castigá-lo. Gade, amigo particular, era empregado ocasionalmente
como portador destas mensagens proféticas.
11, 12. Escolhe o que queres, etc. — Aos três males, estes
correspondem em belo acordo: três anos, três meses, três dias.
(Bertheau). (Veja-se 2Sm_24:13).
13. caia eu, pois, nas mãos do SENHOR … mas nas mãos dos
homens não caia eu — A experiência lhe havia ensinado que a paixão e
vingança humanas não têm limites, enquanto que nosso sábio e bondoso
Pai celestial conhece o tipo e a extensão do castigo que cada um
necessita.
15. Enviou Deus um anjo a Jerusalém, para a destruir — Aqui
só se menciona a pestilência, sem nenhum relatório de sua duração nem
de seus estragos, enquanto que se dá uma descrição detalhada da
aparência visível do anjo destruidor e sua atitude ameaçadora.
estava junto à eira de Ornã, o jebuseu — Ornã era provavelmente
seu nome hebraico ou judeu, e Araúna [2Sm_24:16] seu nome jebuseu
ou cananita. Se era ou não o velho rei de Jebus, como tinha como título
(2Sm_24:23), converteu-se ao culto do verdadeiro Deus, e era possuidor
de propriedade e influência.
16. Davi e os anciãos, cobertos de panos de saco, se prostraram
com o rosto em terra — Eles apareceram com a roupa e assumiram a
atitude de humildes penitentes, confessando seus pecados e suplicando a
ira de Deus.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 62
Vv. 18-30. DAVI EDIFICA UM ALTAR.
18. o Anjo do SENHOR disse a Gade que mandasse Davi subir
— A ordem a respeito da edificação de um altar, como também a
indicação de seu lugar, é relatado em 2Sm_24:18 como trazida
diretamente por Gade. Aqui somos informados a respeito do lugar onde
o profeta recebeu sua comissão. Só nas etapas subsequentes da história
de Israel achamos a anjos empregados em comunicar a vontade divina
aos profetas.
20, 21. Ornã estava debulhando o trigo — Se o censo foi iniciado
em outono, começo do ano civil, os nove meses e meio que ocupou,
terminariam na colheita do trigo. A maneira comum de debulhar o grão é
estendê-lo sobre um lugar plano e alto, e fazer caminhar para trás e para
frente a dois bois atados a um rastro com paus de macarrão e ganchos na
parte de baixo. Outra pessoa trabalha retirando a palha do grão que está
mais abaixo.
23. eis que dou… os trilhos, para a lenha — quer dizer, para
queimar o sacrifício dos bois. De muito pouca significação real — a
pressa e o valor do presente devotado — pode considerar-se neste país.
O oferecimento foi feito para uso instantâneo. Esperando Ornã, por meio
disso, terminar a pestilência sem demora de um momento. “deu tudo”: os
bois, os trilhos e o trigo.
25. Davi deu a Ornã por aquele lugar a soma de seiscentos siclos
de ouro — Primeiro comprou só os bois e os trilhos, pelos quais pagou
cinquenta siclos de prata (2Sm_24:24); logo comprou toda a
propriedade, o Monte Moriá, sobre o qual estaria o futuro templo. Alta
no centro da plataforma do monte, levanta-se uma rocha notável, agora
coberta pela abóbada de “a Sakrah”. Sua forma é irregular, e mede como
sessenta pés por cinquenta. É a superfície natural do Monte Moriá, e
muitos crêem que é a rocha da era de Araúna, escolhida por Davi, e
continuada por Salomão e Zorobabel como a “pedra sem lavrar” sobre a
qual edificar o altar. (Bartlett, Walks about Jerusalem; Stanley).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 63
26. Davi edificou ali um altar (RC, RSV) — Foi em procissão
com seus homens principais desde o palácio real, Monte Sião abaixo, e
através da cidade interposta; e, embora tivesse espaço suficiente em sua
propriedade, foi ordenado, sob direção peremptória, ir a uma distância
considerável de sua casa, sobre o Monte Moriá, a erigir um altar sobre
terreno que deveria comprar. Estava no mesmo lugar, ou perto do lugar
onde Abraão ia oferecer a Isaque.
o qual lhe respondeu com fogo do céu — (Veja-se Lv_9:24;
1Rs_18:21-23; 2Rs_1:12; 2Cr_7:1).
28. Vendo Davi, naquele mesmo tempo, que o SENHOR lhe
respondera na eira de Ornã, o jebuseu, sacrificou ali — Ou,
continuou sacrificando ali. Vendo que foi aceito seu sacrifício, passou a
fazer ofertas adicionais ali, e para buscar o favor de Deus mediante a
oração e os ritos expiatórios; por temor de que o anjo ameaçador
destruísse Jerusalém, enquanto ele estivesse ausente no centro do culto
em Gibeão; especialmente a reverência pelo Ser Divino, levou-o a
continuar sua adoração naquele lugar que Deus (2Cr_3:1) tinha
santificado por sinais de Sua presença e Sua aceitação por graça.
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1 Crônicas 22

Vv. 1-5. DAVI FAZ PREPARATIVOS PARA EDIFICAR O


TEMPLO.
1. Disse Davi: Aqui, se levantará a Casa do SENHOR Deus —
Pelo sinal milagroso de fogo do céu, e talvez por outras indicações, Davi
compreendeu que a vontade de Deus era que o lugar do culto nacional se
estabelecesse ali, e ele imediatamente passou a fazer os preparativos para
a edificação do templo.
2. Deu ordem Davi para que fossem ajuntados os estrangeiros
— Alguns eram descendentes dos velhos cananeus (2Cr_8:7-10), aos
quais se exigiu um tributo de serviço, e outros que eram prisioneiros de
guerra (2Cr_2:7), foram reservados para trabalhar na grande obra que ele
tinha projetado.

Vv. 6-19. INSTRUI A SALOMÃO.


6. chamou a Salomão … e lhe ordenou — O ardor e a solenidade
deste discurso dá a impressão de que foi pronunciado um pouco antes da
morte do velho rei. Ele revelou o grande plano, que ele tinha projetado
desde muito tempo, encomendou a edificação da casa de Deus como um
dever sagrado para ele como filho dele e sucessor, e detalhou os recursos
que estavam ao seu dispor, para o prosseguimento da obra. A grande
quantidade de propriedade pessoal que tinha acumulado em metais
preciosos [1Cr_22:14], devem ter sido os despojos tomados dos povos
que tinha conquistado, e a cidades que tinha saqueado.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 65
1 Crônicas 23

Vv. 1. DAVI PROCLAMA A SALOMÃO REI.


1. Sendo, pois, Davi já velho e farto de dias, constituiu a seu
filho Salomão rei — Esta breve asserção, que compreende o relatado
em 1Rs_1:32-48, é aqui introduzida para apresentar os preparativos
feitos por Davi durante os últimos anos de sua vida, para prover um
lugar de culto nacional.

Vv. 2-6. NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO DOS LEVITAS.


2. Ajuntou todos os príncipes de Israel — Todas as medidas
relacionadas com o interesse público eram submetidas para sua
consideração em uma assembleia geral dos representantes das tribos.
(1Cr_13:1; 15:25; 22:17; 26).
3. Foram contados os levitas … trinta e oito mil — E quatro
vezes o número do primeiro censo levantado por Moisés (ver Números 4
e 26). Provavelmente este enorme aumento foi o que sugeriu aquela
classificação, feita nos últimos anos do reinado de Davi, a qual
descrevem este capítulo e os três seguintes.
contados um por um — As mulheres e os meninos não estavam
incluídos.
4. vinte e quatro mil para superintenderem a obra da Casa do
SENHOR — Eles não deviam presidir todos os serviços do templo. Os
levitas estavam sujeitos aos sacerdotes, e eram superiores aos netineus e
outros servidores que não pertenciam à tribo de Levi. Eles tinham certos
deveres assinalados, alguns dos quais se especificam aqui.
5. para louvarem o SENHOR com os instrumentos que Davi fez
— Davi parece ter sido o inventor de muitos dos instrumentos musicais
usados no templo (Am_6:5).
6. Davi os repartiu por turnos, segundo os filhos de Levi —
Estes são enumerados segundo as casas de seus pais, mas aqui não se
mencionam mais que os vinte e quatro mil que estavam ocupados nos
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 66
trabalhos relacionados com a casa do Senhor. As casas daqueles levitas
correspondiam com as classes em que eles (Josefo, Antiguidades), como
também os sacerdotes, estavam divididos (1Cr_24:20-31; 26:20-29).

Vv. 7-11. OS FILHOS DE GÉRSON.


7-11. Filhos de Gérson — Eles tinham nove casas dos pais: seis
descendentes de Ladã, e três de Simei.

Vv. 12-20. DE COATE..


12. Os filhos de Coate — O era fundador de nove casas dos pais
levíticos.
13. Arão foi separado — Como sumo sacerdote (veja-se 1Cr_25:1-
19).
14. Moisés ... seus filhos — Seus filhos foram contados entre os
levitas em geral, mas não introduzidos na porção distinguida dos
descendentes de Levi, aos quais lhes foram atribuídas as funções
especiais do sacerdócio.

Vv. 21-23. DE MERARI.


21. Filhos de Merari — Eles compreendiam seis casas dos pais.
Somando todas, Gérson fundou nove casas; Coate, nove; e Merari, seis;
total, vinte e quatro.

V. 24. OFÍCIOS DOS LEVITAS.


24. São estes os filhos de Levi … encarregados do ministério da
Casa do SENHOR, de vinte anos para cima — A enumeração dos
levitas foi feita por Davi (v. 3) sobre a mesma base que a seguida por
Moisés (Nm_4:3), quer dizer, de trinta anos. Mas viu mais tarde que esta
regra poderia mudar-se com benefício, e que o alistamento dos levitas
para seus próprios deveres poderia fazer-se desde os vinte anos de idade.
Como a arca e o tabernáculo agora estavam estacionados em Jerusalém,
o trabalho dos levitas foi grandemente diminuída, visto que eles não
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 67
estavam obrigados mais a transportar de um lugar a outro seu pesado
mobiliário. O número de 38.000 levitas, exclusive os sacerdotes, foi sem
dúvida mais que suficiente para os serviços rotineiros do tabernáculo.
Mas este piedoso rei creu que contribuiria à glória de Deus empregar
tantos oficiais em seu serviço divino quantos fosse possível. Estas
primeiras regras, entretanto, que instituiu Davi, eram temporárias, visto
que arranjos muito diferentes foram feitos depois que a arca tinha sido
depositada no tabernáculo de Sião.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 68
1 Crônicas 24

Vv. 1-19. DIVISÃO DOS FILHOS DE ARÃO EM VINTE E


QUATRO ORDENS.
1. Quanto aos filhos de Arão, foram eles divididos por seus
turnos — (Veja-se 1Cr_23:6).
2. Nadabe e Abiú morreram antes de seu pai — sem deixar filhos.
Eleazar e Itamar oficiavam como sacerdotes. — Devido à morte
dos dois filhos mais velhos, os quais não tinham filhos, os descendentes
de Arão foram incluídos nas famílias de Eleazar e de Itamar. Estes dois
filhos desempenhavam as funções sacerdotais como ajudantes de seu pai.
Eleazar o sucedeu, e sua linhagem continuou o sumo sacerdócio até ser
transferido à família de Itamar, na pessoa de Eli.
3. Zadoque … e com Aimeleque, dos filhos de Itamar — Esta
afirmação, com relação ao v. 6, parece discordante, pois (2Sm_15:24,
2Sm_15:35; 2Sm_20:25) Abiatar é mencionado como a pessoa unida
com Zadoque no tempo de Davi, no exercício associado do sumo
sacerdócio. Alguns pensam que as palavras foram transpostas, lendo-se
Abiatar, o filho de Aimeleque. Mas não há motivo para considerar falta
no texto. Os sumos sacerdotes da linhagem de Itamar eram os seguintes:
Aías ou Aimeleque, seu filho Abiatar, e seu filho Aimeleque.
Frequentemente achamos ao avô e ao neto chamados pelo mesmo nome
(ver a lista de sumos sacerdotes da linhagem de Eleazar, 1Cr_5:30-41).
De modo que o autor das Crônicas conhecia a Aimeleque, filho do
Abiatar, quem, por alguma razão, exercia os deveres de sumo sacerdote
no reinado de Davi, e na vida de seu pai (Porque Aimeleque vivia no
tempo de Salomão, 1Rs_2:27). (Keil).
4. achou-se que eram mais os filhos de Eleazar entre os chefes
de famílias — O hebraico poderá ser traduzido: “Havia mais homens
quanto a cabeças dos filhos de Eleazar”. É verdade, com efeito, que pelo
censo o número de indivíduos pertencentes à família de Eleazar foi
achado maior que na de Itamar. Isto necessariamente fez com que
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 69
houvesse mais casas paternas, e por conseguinte mais chefes de famílias
que na outra.
5. Repartiram-nos por sortes — Este método de distribuição foi
adotado manifestamente para tirar toda causa de ciúme quanto à
precedência e ao direito de ter deveres particulares.
6. sendo escolhidas as famílias, por sorte, alternadamente, para
Eleazar — A leitura da margem é preferível, diz: “uma casa do pai”.
Um lote foi lançado em solene e deliberada maneira em presença do rei,
dos príncipes, dos príncipes, dos dois sumos sacerdotes, e dos chefes das
famílias sacerdotais e levíticas. As cabeças de famílias pertencentes a
Eleazar e Itamar foram passados à frente alternativamente, e o nome de
cada indivíduo chamado era registrado por um secretário. Para acomodar
o ato de lançar sortes à desigualdade do número, pois havia dezesseis
casas de Eleazar e só oito de Itamar, foi decidido de modo que cada casa
de Itamar fosse seguida por duas de Eleazar; ou, o que é o mesmo, que
cada duas casas de Eleazar fossem seguidas por uma de Itamar. Então, se
supusermos que se começou por Eleazar, a ordem foi como segue: uma e
duas, Eleazar; três, Itamar; quatro e cinco, Eleazar; seis, Itamar; sete e
oito, Eleazar; nove, Itamar: e assim até o fim. (Bertheau). A sorte
determinava também a ordem do serviço dos sacerdotes. O serviço dos
levitas foi depois repartido pela mesma arranjo (v. 31).
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 70
1 Crônicas 25

Vv. 1-7. NÚMERO E OFÍCIO DOS CANTORES.


1. Davi, juntamente com os chefes do serviço — (veja-se
1Cr_23:2; 24:6). É provável que o rei tenha sido ajudado por ocasião de
decidir os cantores, pelas mesmas pessoas que se mencionaram na
regulação da ordem dos sacerdotes e levitas.
2. debaixo das ordens do rei — Heb. “pelas mãos do rei”, quer
dizer, “segundo a ordem do rei”, sob a superintendência de Asafe e seus
colegas.
3. que profetizava — ou seja, com relação a isto, tocava
instrumentos. A aplicação metafórica do termo “profecia”,
provavelmente se originou na prática dos profetas, os quais tentavam
despertar seu espírito profético sob a influência animadora da música
(veja-se 2Rs_3:15). Diz-se que Asafe fazia isto “segundo ordem de
Davi”, porque por nomeação real ele oficiava no tabernáculo de Sião
(1Cr_16:37-41), enquanto outros dirigentes da música sagrada estavam
estacionados em Gibeão.
5. Hemã, o vidente do rei — O título de vidente ou profeta de Davi
é dado também a Gade (1Cr_21:9), e a Jedutum (2Cr_29:15), nas
palavras (margem “assuntos”) de Deus.
para exaltar a corneta (RC) — Heb., “elogiar o chifre”; quer
dizer, tocar fortemente no culto a Deus; ou talvez queria dizer que ele
presidia aos que tocavam instrumentos de sopro, assim como Jedutum
com relação a harpa. Hemã foi nomeado primeiro para servir em Gibeão
(1Cr_16:41), mas parece que seu destino foi mudado mais tarde.
Deus deu a Hemã quatorze filhos e três filhas (TB) — Menciona-
se as filhas somente porque por seu gosto e seus talentos musicais elas
faziam parte do coro (Sal_68:25).
6, 7. Todos estes estavam sob a direção respectivamente de seus
pais — Asafe teve quatro filhos, Jedutum seis, e Hemã quatorze, total
vinte e quatro; fazendo com seus irmãos os cantores, um total de 288.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 71
Como os sacerdotes e levitas, os cantores estavam divididos em vinte e
quatro divisões de doze homens cada uma, que igualam a 288, que
serviam uma semana em turno; e estes, a metade dos quais oficiavam
cada semana com um número proporcionado de ajudantes, eram hábeis e
peritos músicos, capazes de dirigir e instruir o corpo musical geral, o
qual compreendia não menos de 4.000 (1Cr_23:5).

Vv. 8-31. A DIVISÃO DELES EM VINTE E QUATRO ORDENS.


8. Deitaram sortes para designar os deveres. — A sorte se
lançava para determinar a precedência das classes ou divisões sobre as
quais os dirigentes musicais presidiam; e, para conseguir um arranjo
imparcial de sua ordem, o dirigente e seus ajudantes, o mestre e seus
alunos, em cada classe ou companhia tomaram parte neste solene ato de
lançar sortes. Na primeira lista dada neste capítulo, os cursos estão
classificados segundo seu emprego como músicos; no segundo, estão
decididos na ordem de seus serviços.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 72
1 Crônicas 26

Vv. 1-12. DIVISÕES DE PORTEIROS.


1, 2. Quanto aos turnos dos porteiros — Havia 4.000 (1Cr_23:6),
todos tirados das famílias dos coatitas e meraritas (v. 14), divididos em
vinte e quatro ordens, como os sacerdotes e levitas.
Meselemias, filho de Coré, dos filhos de Asafe — Sete filhos do
Meselemias são mencionados (v. 2), enquanto que dezoito são dados no
v. 9, mas neste número se incluem os seus parentes.
5. Deus o tinha abençoado [a Obede-Edom] — A razão da
bênção foi sua fiel custódia da arca (2Sm_6:11-12), e a natureza da
bênção (Sal_127:5) consistia no aumento de origem pela qual se
distinguia sua casa. Setenta e dois descendentes são contados.
6. homens valentes — A circunstância da força física nota-se de
maneira proeminente neste capítulo, pois o ofício dos porteiros exigia
que eles não só servissem como sentinelas do edifício sagrado, e seus
preciosos móveis contra os ataques de saqueadores ou rebeliões
populares—a ser, com efeito, guarda militar—mas, depois que foi
edificado o templo, que abrissem e fechassem as portas, que eram
extraordinariamente grandes e pesadas.
10. Sinri, a quem o pai constituiu chefe, ainda que não era o
primogênito — Provavelmente porque a família com o direito de
primogenitura tinha cessado, ou porque nenhuma das famílias existentes
pôde apresentar título àquele direito.
12. A estes turnos dos porteiros, isto é, a seus chefes, foi
entregue a guarda — Estes tinham a obrigação de vigiar os guardas,
sendo cabeças das vinte e quatro ordens de porteiros.

Vv. 13-19. AS PORTAS DESIGNADAS POR SORTE.


13. deitaram sortes — Seus departamentos de trabalho, como as
portas que deveriam atender, foram repartidos por sorte, na mesma
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 73
maneira que os dos demais corpos levíticos, e os nomes dos chefes ou
capitães são dados com as respectivas portas assinaladas para cada um.
15. a da casa de depósitos — Ou coleções, provavelmente casa de
armazenagem, onde se guardava o grão, o vinho e outras ofertas para a
alimentação dos sacerdotes.
16. porta de Salequete — Provavelmente, a porta dos lixos, por
onde toda a imundície e lixo do templo e seus pátios eram jogados.
na estrada que sobe — Talvez o caminho ascendente, que foi
elevado no profundo vale entre o Monte Sião e o Monte Moriá, para a
entrada real ao lugar do culto. (2Cr_9:4).
guarda correspondendo uns aos outros — Alguns referem estas
palavras a Supim e Hosa, cujo dever era o de vigiar a porta ocidental e a
porta de Salequete, que estava em posição oposta; outros tomam, como
declaração geral aplicável a todos os guardas, e para dar a entender que
todas eram estacionadas a distâncias regulares entre si, e que todas eram
montadas e relevadas ao mesmo tempo em ordem uniforme.
17-19. ao oriente, estavam de guarda seis levitas — Porque a
porta ali era a mais frequentada. Havia quatro à porta setentrional; quatro
ao sul, ao armazém, que estava ao sul, e que tinha duas portas de entrada,
uma que conduzia para o sudoeste à cidade, e a outra diretamente a
oeste, com dois porteiros para cada uma; para a “câmara dos vasos”,
rumo ao ocidente, estavam estacionados seis homens, quatro sobre o
caminho terraplenado, e “a ascensão” (v. 16), e mais dois na câmara;
todos somam vinte e quatro, que estavam de guarda diariamente.

Vv. 20-28. OS LEVITAS QUE ESTAVAM A CARGO OS


TESOUROS.
20. Dos levitas Aías tinha cargo (TB) — O cabeçalho desta seção
é totalmente estranho, pois parece que o historiador sagrado vai começar
um tema distinto do que precede. Além disso, Aías, cujo nome ocorre
desde “os levitas”, não se menciona nas listas anteriores, é totalmente
desconhecido, e aqui se introduz abruptamente sem mais informação; e
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 74
finalmente, Aías é mencionado junto com os mesmos ofícios, cujos
ocupantes se mencionam nos versículos que seguem. Certamente a
tradução é incorreta. A LXX tem este cabeçalho muito apto: “E seus
irmãos levitas sobre os tesouros,” etc. (Bertheau). Dão-se os nomes dos
que tinham o encargo das câmaras de tesouros em suas respectivas
guardas, com uma descrição geral das coisas preciosas submetidas a seu
cuidado. Estes tesouros eram imensos, e consistiam nos despojos
acumulados das vitórias israelitas, como também das contribuições
voluntárias feitas por Davi e pelos representantes do povo.

Vv. 29-32. OFICIAIS E JUÍZES.


29. oficiais e juízes — A palavra traduzida “oficiais” ou
“governadores”, é o termo que significa escribas ou secretários, de modo
que a classe levítica aqui descrita eram magistrados, os quais, assistidos
por seus secretários, exerciam funções judiciais; deles houve 6.000
(1Cr_23:4), que provavelmente agiam como seus irmãos por turnos, e
estes estavam divididos em três classes: uma (v. 29), para os assuntos
exteriores de Israel; outra (v. 30), composta de 1.700, para o território a
oeste do Jordão “em todo serviço do SENHOR e interesses do rei” [v.
30]; e a terceira (vv. 31, 32), de 2.700 homens, “para todos os negócios
de Deus e para todos os negócios do rei” nas tribos de Rúben, Gade e na
meia tribo de Manassés, do outro lado do Jordão.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 75
1 Crônicas 27

Vv. 1-15. DOZE CAPITÃES PARA OS DOZE MESES.


1. turnos que entravam e saíam de mês em mês — Aqui temos
conta da força militar permanente de Israel. Uma milícia formada,
conforme parece, ao princípio do reinado de Davi (v. 7) foi recrutada na
ordem seguinte: Doze legiões correspondentes ao número das tribos,
foram alistadas no serviço do rei. Cada legião compreendia 24.000
homens cujo serviço era um mês por turno, e que estavam apostados em
Jerusalém ou em outro lugar onde pudessem fazer falta. Foi assim uma
força suficiente para os fins rotineiros do estado, como também para
resistir a ataques repentinos ou tumultos populares; e quando exigiam as
emergências extraordinárias uma força maior, o exército regular inteiro
poderia chamar a armas, com um total de 288.000 ou 300.000, inclusive
os 12.000 oficiais que assistiam aos doze príncipes (vv. 16-24). Tal
estabelecimento militar não seria carga ao país nem à tesouraria do rei;
porque o cumprimento deste dever era sinal de honra e distinção, e os
gastos de manutenção seriam suportados pelo próprio miliciano e
provido de um fundo comum de sua tribo. O breve período de serviço
ativo tampouco produziria algum transtorno no curso usual dos assuntos;
porque, no fim do término de um mês, cada soldado voltava para suas
atividades e deveres da vida particular durante os outros onze meses do
ano. Se os mesmos indivíduos eram alistados sempre, não se pode
determinar. A probabilidade é, que se se obtinha o número necessário,
não se fazia uma conscrição mais estrita. Uma mudança de homens, até
certo ponto, seria fomentado, visto que era parte do plano de Davi o
adestrar a todos os seus súditos no uso das armas; e fazer com que o
alistamento coubesse sempre ao mesmo indivíduo, teria frustrado aquele
propósito, como o ter limitado a repartição de cada mês estritamente aos
limites de uma tribo, poderia ser mais pesado àquelas tribos que eram
fracas e pequenas. Estando estabelecido o sistema de rotação, cada
divisão sabia qual mês lhe caberia, como também o nome do
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 76
comandante sob quem devia servir. Estes comandantes se chamavam “os
pais principais”, quer dizer, cabeças hereditárias das tribos, que
possuíam grande poder e influência.
capitães de milhares e de centenas — A legião de 24.000 se
dividia em regimentos de 1.000, e estes por sua vez em companhias de
100 homens, sob os seus respectivos suboficiais; havendo pois vinte e
quatro tribunos, ou capitães de mil, e 240 centuriões.
com os seus oficiais — Os “Shoterim”, que no exército faziam os
deveres de comissariado, guardando as listas, etc.
2, 3. Jasobeão, filho de Zabdiel — (Veja-se 1Cr_11:11; 2Sm_23:8).
Hacmoni foi seu pai, e Zabdiel provavelmente um de seus antepassados;
ou a mesma pessoa poderia ter diferentes nomes. Nos sistemas militares,
a dignidade de precedência, não de autoridade, era dada ao herói.
4. Sobre o turno do segundo mês estava Dodai — ou, Dodô. Aqui
parece que o texto necessita o suplemento de “Eleazar, filho de Dodô”
(2Sm_23:9).
7. Asael — Como este oficial foi morto no próprio começo do
reinado de Davi, seu nome provavelmente foi dado a esta divisão em
honra de sua memória, e seu filho foi investido do comando.

Vv. 16-34. PRÍNCIPES DAS DOZE TRIBOS.


16. Sobre as tribos de Israel eram estes — Esta é uma lista dos
chefes ou governantes hereditários das tribos, no tempo em que Davi fez
o censo do povo. Gade e Aser não estão incluídos, não sabemos por que.
A tribo de Levi tinha um príncipe (v. 17), como as outras tribos; embora
eclesiasticamente estava sujeita ao sumo sacerdote, mas em assuntos
civis, tinha um chefe ou cabeça, que possuía a mesma autoridade e poder
como nas outras tribos, somente que sua jurisdição não se estendia aos
sacerdotes.
18. Eliú — Provavelmente é o mesmo que Eliabe (1Sm_16:16).
23. Davi não contou os que eram de vinte anos para baixo — O
sentido é que o censo que Davi ordenou não se estendeu a todos os
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 77
israelitas; porque o atentar tal enumeração teria sido impossível
(Gn_28:14), e além disso teria sido uma ofensa a Deus. A limitação a
certa idade foi o que talvez tranquilizou a consciência de Davi quanto à
legalidade da medida, enquanto que a conveniência o impressionou
fortemente pelos arranjos do exército que tinha em vista.
24. o número não se registrou na história do rei — Talvez
porque a empresa não foi terminada, as tribos de Levi e Benjamim não
foram contados (1Cr_21:6); ou talvez os detalhes completos obtidos
pelos que faziam o censo não fossem comunicados a Davi, e por
conseguinte, não foram registrados nos arquivos públicos.
livro das crônicas (TB) — As notas diárias, ou anais de
acontecimentos do reinado de Davi. Nenhuma menção foi feita do censo
neste registro histórico, pois pela calamidade pública associada a ele,
teria ficado como uma lembrança dolorosa do juízo contra o rei e a
nação.
25. estava sobre os tesouros do rei — Estes tesouros consistiam
em ouro, prata, pedras preciosas, cedro, etc.; os que ele tinha em
Jerusalém, distintos de outros que tinha fora da cidade.
tesouros nos campos TB) — O grão coberto com uma capa de
palha se conserva frequentemente nos campos, sob montões de terra.
27. as vinhas — Estas parecem ter estado nos distritos próprios de
Judá, e estavam encarregadas a dois homens do lugar.
adegas — O vinho se guardava em botijas e se enterrava em
lugares feitos a propósito nos pátios das casas.
28. olivais e sicômoros que havia nas campinas — quer dizer, as
ricas planícies entre o Mediterrâneo e as montanhas de Judá.
29. gados que pastavam em Sarom (TB) — Uma planície fértil
entre Cesárea e Jope.
30, 31. camelos … gado miúdo — Estes provavelmente estavam
nas terras a leste do Jordão, e por isso estavam encarregados de seu
cuidado um ismaelita e um nazireu.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 78
31. administradores da fazenda do rei Davi — Como e quando
adquiriu o rei estas posses e esta variedade de propriedades—se foi em
parte por conquistas, ou em parte por confisco, ou por seu ativo cultivo
de terras abandonadas—não se diz. Provavelmente foi de todas estas
maneiras. A superintendência das posses particulares do rei estava
dividida em doze partes, como seus assuntos públicos; e os rendimentos
derivados destes lugares mencionados devem ter sido muito grandes.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 79
1 Crônicas 28

Vv. 1-8. DAVI EXORTA AO POVO A TEMER A DEUS.


1. Davi convocou para Jerusalém todos os príncipes de Israel —
os representantes do povo, os homens de influência no reino, os quais
são mencionados neste versículo segundo a sua posição ou grau de
autoridade.
os príncipes das tribos — (1Cr_27:16-22). Os chefes patriarcais
são mencionados primeiro por serem os mais altos em posição, uma
classe de nobreza hereditária.
os capitães — Os doze generais mencionados em 1Cr_27:1-15.
os administradores, etc. — (1Cr_27:25-31.)
os oficiais — Assistentes na corte (1Sm_8:15; 1Rs_22:9;
2Rs_22:18); além de Joabe, o comandante-em-chefe do exército, os
heróis que não tinham oficial posto (1Crónicas 11; 2 Samuel 23). Esta
assembleia, mista e geral, como aparece pelas pessoas convidadas, foi
mais numerosa e completamente diferente da mencionada em 1Crónicas
23.
2. Ouvi-me, irmãos meus — Este era o estilo de tratamento
conveniente de um rei constitucional de Israel (Dt_17:20; 1Sm_30:23;
2Sm_5:1).
edificar uma casa — Um templo sólido e permanente.
para o estrado dos pés do nosso Deus — Deus sentado entre os
querubins, aos extremos da arca, poderia dizer entronizado em sua
glória, e a tampa da arca seria seu estrado.
eu tinha feito o preparo para a edificar — Os tesouros imensos
que Davi tinha amontoado, e os cuidadosos preparativos que fez, devem
ter sido amplamente suficientes para a edificação do templo, do qual
apresentou um modelo a Salomão.
3. és homem de guerra e derramaste muito sangue — A igreja
ou estado espiritual do mundo, do qual o templo de Jerusalém devia ser
um tipo, seria presidida por Alguém que devia ser preeminentemente o
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 80
Príncipe da Paz, e portanto não seria representado tão aptamente por
Davi, cuja missão tinha sido de guerras e conquistas, como por seu filho,
quem reinaria numa paz completa.
4, 5. escolheu ele a meu filho Salomão (TB) — O espírito de sua
declaração é este: Não foi minha ambição, nem minha coragem, nem
meu mérito, o que resultou na entronização de minha pessoa e minha
família; foi a graça de Deus que escolheu a tribo, a família, a pessoa—a
mim mesmo em primeira instância; e agora Salomão, a quem, como o
ungido de Jeová, vós todos estais obrigados a submeter-se. Como o de
Cristo, de quem era um tipo, a nomeação de Salomão ao reino sobre
todos os seus irmãos foi frequentemente insinuada. (1Cr_17:12; 22:9;
2Sm_7:12-14; 2Sm_12:24-25; 2Rs_1:13).
7. Estabelecerei o seu reino para sempre, se perseverar ele em
cumprir os meus mandamentos — A mesma condição se fixa perante
Salomão por Deus (1Rs_3:14; 1Rs_9:4).
8. perante todo o Israel … guardai todos os mandamentos do
SENHOR — Similar à exortação de Moisés (Dt_29:15-20) é esta solene
e ardente exortação de Davi a todos os presentes e a todo Israel por seus
representantes a que continuassem fiéis na observância da divina lei
como essencial a sua prosperidade nacional e a sua permanência como
povo.

Vv. 9-20. ALENTA A SALOMÃO A EDIFICAR O TEMPLO.


9, 10. Tu, meu filho Salomão — O real orador agora se dirige a
Salomão, e de uma maneira impressionante lhe faz ver a importância da
piedade sincera e prática.
conhece o Deus de teu pai — Não queria dizer conhecimento
intelectual, pois Salomão já o possuía, mas sim aquele conhecimento
experimental de Deus o qual se obtém por amá-Lo e servi-Lo.
11. Deu Davi a Salomão, seu filho, a planta — Agora Davi põe
em mãos de seu filho e sucessor o plano ou modelo do templo, com
todas as medidas, compartimentos, e principais artigos de mobiliário,
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 81
todos os quais foram desenhados segundo o modelo dado por revelação
divina (v. 19).
12. a planta de tudo quanto tinha em mente — antes, “com ele
em espírito”; quer dizer, que tinha em sua mente.
15, 16. os candeeiros de ouro — Salomão os fez todos de oro –
neste e nalguns outros particulares menores se separou das instruções de
seu pai, nas quais ele manifestava o propósito de os executar de um
estilo mais esplêndido. Havia um só castiçal no tabernáculo, mas dez no
templo.
18. carro dos querubins — As asas estendidas dos querubins
formavam o que figuradamente chamava-se o trono de Deus, e como
eram emblema do movimento expresso, o trono ou assento chamava-se
às vezes “carro” (Sal_18:10; Sal_99:1). É bem claro que em todas estas
orientações Davi não era guiado por seu próprio gosto, ou pelo desejo de
tomar algum modelo de arquitetura existente, mas sim só uma
obediência à expressa revelação da vontade divina. Numa visão, ou
êxtase, o edifício inteiro, com suas dependências, tinha sido posto à sua
vista tão vívida e permanentemente, que ele tinha podido fazer um
esboço dele nos modelos entregues a Salomão.
20. Sê forte e corajoso — O discurso começado no v. 9, resume-se
e conclui no mesmo teor.
21. Eis aí os turnos dos sacerdotes e dos levitas — Provavelmente
eles estavam representados nesta assembleia, embora não sejam
mencionados.
como também os príncipes e todo o povo — quer dizer, tanto o
artesão hábil, perito e zeloso, como o operário que precisa ser dirigido
em todas as suas trabalhas.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 82
1 Crônicas 29

Vv. 1-9. Davi FAZ COM QUE OS PRÍNCIPES E O POVO


OFERTEM PARA A CASA DE DEUS.
1. Salomão … é ainda moço e inexperiente — Embora Salomão
fosse muito jovem, quando foi elevado ao poder soberano, seu reino
escapou do ai pronunciado em Ecl_10:16. A infância de um príncipe não
é sempre uma desgraça para a nação, porque há casos de governos
sabiamente administrado durante uma menoridade, e Salomão mesmo foi
uma prova brilhante de que um príncipe jovem pode ser uma grande
bênção; porque quando ele era só um menino quanto a seus anos,
nenhuma nação era mais feliz que Israel. Seu pai, entretanto, fez este
discurso antes de Salomão ser dotado do dom divino da sabedoria, e a
referência de Davi à extrema juventude de seu filho, com relação à
grande empresa nacional para a qual ele tinha sido divinamente nomeado
para executar, era para desculpar-se perante esta assembleia dos estados
— ou, antes, para expressar o motivo de seus preparativos para a obra.
3, 4. E ainda… o ouro e a prata particulares que tenho — Além
da imensa quantidade do tesouro de ouro e prata que Davi já tinha dado
para distintos usos no serviço do templo, agora faz uma contribuição
destinada a um propósito definido, o de investir de ouro as paredes da
casa. Esse dom voluntário provinha da fortuna particular do rei, e tinha
sido eleito com o maior cuidado. O ouro era “o ouro de Ofir”, então
estimado como o mais puro e fino do mundo (Jó_22:24; Jó_28:16;
Is_13:12). A quantidade era 3.000 talentos de ouro e 7.000 talentos de
prata refinada.
5. Quem, pois, está disposto, hoje, a trazer ofertas liberalmente
ao SENHOR? — Heb. “encher sua mão”; quer dizer, fazer uma oferta
(Êx_32:29; Lv_8:33; 1Rs_13:33). O sentido é, que qualquer que
contribuísse voluntariamente para o templo, como ele o fez, estaria
fazendo uma oferta voluntária ao Senhor. Era um sacrifício que todos
eles poderiam fazer, e ao fazê-lo, o próprio ofertante o apresentaria como
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 83
se fosse o sacerdote. Ao pedir as ofertas voluntárias para o templo, Davi
imitava a conduta de Moisés com relação ao tabernáculo (Êx_25:1-8).
6-8. Então, os chefes das famílias — ou “cabeças dos pais”
(1Cr_24:31; 27:1).
príncipes das tribos — (1Cr_27:16-22).
intendentes sobre as empresas do rei — Os que tinham o encargo
das estadias e outras posses do rei (1Cr_27:25-31).
voluntariamente contribuíram — Sob a influência do discurso
persuasivo e do exemplo do rei, eles responderam segundo a capacidade
de cada um, e suas contribuições chegaram à soma de 5.000 talentos e
10.000 salários de ouro; 10.000 talentos de prata, além do bronze e do
ferro.
7. daricos — antes, dracmas. Uma moeda persa, a qual os judeus
conheceram do tempo de seu cativeiro, e que mais tarde circulava
extensamente nos países da Ásia Ocidental. Calcula-se que era de igual
valor que 25 xelins britânicos.
dezoito mil talentos de bronze e cem mil talentos de ferro — Nas
Escrituras o ferro sempre é mencionado como artigo de valor
comparativamente baixo, e de maior abundância e mais barato que o
bronze. (Napier).
8. Os que possuíam pedras preciosas — antes, “todas as pedras
preciosas que encontravam junto com o resto, eles as davam”.
(Bertheau). Esses donativos foram depositados nas mãos de Jeiel, cuja
família estava encarregada dos tesouros da casa do Senhor (1Cr_26:21).

Vv. 10-25. SUA AÇÃO DE GRAÇAS.


10. louvou ao SENHOR — Esta bela oração de gratidão foi a
efusão transbordante de gratidão e deleite ao ver o interesse quente e
geral que se tinha em levar adiante o projeto primordial de sua vida. Sua
piedade se deixa ver no ardor do sentimento devocional, no
reconhecimento de que toda riqueza e grandeza terrestres provêm de
Deus como Doador, na menção da prontidão geral em contribuir para a
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 84
influência de Sua graça, na petição pela continuação desta disposição
entre o povo, e em encomendar solene e ardentemente ao jovem rei e seu
reino ao cuidado e a bênção de Deus.
16. toda esta abundância que preparamos — Poderá ser útil
exibir uma vista tabular do tesouro acumulado, e as contribuições
mencionadas pelo historiador como feitas para a edificação do templo.
Omitindo o bronze, o ferro, e as pedras preciosas, que, embora
especificadas em parte (v. 7), representam-se em outras porções como
“sem peso” (1Cr_22:3, 14), daremos nesta tábua só a quantidade de ouro
e prata; e tomando o talento de ouro como de valor de 5.475 libras
esterlinas (sendo o talento de 125 libras de peso; 56 quilos), o valor do
ouro seria como 73 xelins por onça. O talento de prata é dado a 342
libras esterlinas. A soma total das contribuições será:
Soma acumulada, na tesouraria pública (1Cr_22:14):
Ouro: U$ 2.500.000,00 Prata: U$ 1.700.000,00
Contribuição de Davi de seus recursos privados [1Cr_29:4]:
Ouro: U$ 82.000.000 Prata: U$12,000,000
Contribuição das réguas ajuntadas [1Cr_29:7]:
Ouro: U$125,000,000 Prata: $17,000,000
Embora haja sido a prática comum dos monarcas orientais acumular
grandes somas para levar a cabo os seus projetos, esta soma excede
muito não só toda coleção oriental lembrada, mas também até os limites
de probabilidade, de modo que se crê que há um erro no texto
(1Cr_22:14), ou que o cálculo do historiador foi segundo o talento
babilônico, que equivalia só a metade do talento hebreu; ou segundo o
talento sírio, que equivalia à quinta parte do talento hebreu. Isto traria o
relato das Escrituras a um acordo mais razoável com as afirmações de
Josefo, como também dentro dos limites de credulidade.
20. toda a congregação … adoraram o SENHOR e se
prostraram perante o rei — Embora a atitude externa possa ter sido a
mesma, os sentimentos eram muito diferentes nos dois casos — de culto
divino a um, e de homenagem civil ao outro.
1 Crônicas (Jamieson, Fausset, Brown) 85
21, 22. trouxeram sacrifícios … e comeram e beberam — Depois
que o assunto da assembleia terminou, o povo, sob a influência
comovedora da ocasião, ainda ficou, e no dia seguinte tomaram parte em
ritos solenes, e depois fizeram festa comendo os restos dos sacrifícios.
perante o SENHOR — perto da arca, ou, talvez, antes, num
espírito religioso e devoto, participando da comida sacrificada.
Pela segunda vez, fizeram rei a Salomão — Em referência à
primeira vez, que foi feito precipitadamente por ocasião da conspiração
de Adonias (1Rs_1:35).
e o ungiram … a Zadoque, por sacerdote — Esta declaração
indica que sua nomeação teve a aprovação pública. Sua elevação como
sumo sacerdote único foi por causa do opróbrio de Abiatar, um dos
cúmplices de Adonias.
23. Salomão assentou-se no trono do SENHOR — Sendo rei de
Israel, era o vice-rei de Jeová.
24. prestaram homenagens — Heb. “puseram suas mãos sob
Salomão”, segundo o costume ainda praticado no Oriente, de pôr a mão
sob a mão estendida do rei, e beijar o dorso dela (2Rs_10:15).

Vv. 26-30. SEU REINADO E MORTE.


26. Davi, filho de Jessé, reinou sobre todo o Israel — (Veja-se
1Rs_2:11).
2 CRÔNICAS
Original em inglês:

2 CHRONICLES

The Second Book of the Chronicles

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

2 Crônicas 1 2 Crônicas 10 2 Crônicas 19 2 Crônicas 28

2 Crônicas 2 2 Crônicas 11 2 Crônicas 20 2 Crônicas 29

2 Crônicas 3 2 Crônicas 12 2 Crônicas 21 2 Crônicas 30

2 Crônicas 4 2 Crônicas 13 2 Crônicas 22 2 Crônicas 31

2 Crônicas 5 2 Crônicas 14 2 Crônicas 23 2 Crônicas 32

2 Crônicas 6 2 Crônicas 15 2 Crônicas 24 2 Crônicas 33

2 Crônicas 7 2 Crônicas 16 2 Crônicas 25 2 Crônicas 34

2 Crônicas 8 2 Crônicas 17 2 Crônicas 26 2 Crônicas 35

2 Crônicas 9 2 Crônicas 18 2 Crônicas 27 2 Crônicas 36


2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 2
2 Crônicas 1

Vv. 1-6. SOLENE SACRIFÍCIO DE SALOMÃO EM GIBEÃO.


2. Falou Salomão a todo o Israel — quer dizer, as cabeças ou
oficiais principais, que mais adiante se especificam, foram chamados a
acompanhar ao soberano numa solene procissão religiosa. A data deste
acontecimento foi o segundo ano de seu reinado, e o alto de Gibeão foi
escolhido para celebrar os ritos sagrados, porque o tabernáculo e todo o
antigo mobiliário usado no culto nacional estavam depositados ali.
Zadoque foi o sumo sacerdote que oficiou (1Cr_16:39). É verdade que a
arca tinha sido trasladada, e colocada na nova tenda que Davi fez para
ela em Jerusalém [2Cr_1:4]; mas o altar de bronze, “diante do
tabernáculo do SENHOR”, sobre o qual os holocaustos deviam ser
oferecidos segundo a lei, estava em Gibeão; e embora Davi tenha sido
guiado por acontecimentos extraordinários e sinais da presença divina, a
sacrificar na eira de Araúna, Salomão creu que era seu dever apresentar
suas ofertas no lugar legalmente estabelecido “diante do tabernáculo”, e
sobre o altar honrado durante séculos, preparado pela destreza de Bezalel
no deserto (Êx_38:1).
6. ofereceu sobre ele mil holocaustos — Este holocausto,
naturalmente, ofereceu-o por mãos dos sacerdotes. A magnitude da
oblação era própria da alta posição do ofertante nesta ocasião de
solenidade nacional.

Vv. 7-13. SUA ESCOLHA DA SABIDURIA É ABENÇOADA


POR DEUS.
7. Naquela mesma noite, apareceu Deus a Salomão — (Veja-se
1Rs_3:5).

Vv. 14-17. SUA FORTALEZA E RIQUEZAS.


14. Salomão ajuntou carros e cavaleiros — Sua paixão pelos
cavalos foi maior que a de qualquer monarca hebreu antes ou depois
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 3
dele. Sua cavalaria compreendia 1.400 carros e 12.000 cavalos. Esta era
uma indulgência proibida se fossem usados como instrumento de luxo ou
de poder. Mas não foi meramente para seu próprio uso que ele importava
cavalos do Egito. O imenso estabelecimento equestre que ele erigiu, não
foi para exibição somente mas também para lucro. Os cavalos de raça
egípcia eram altamente estimados; embora eram tão finos como os
árabes, eram maiores e mais fortes, e muito aptos para ser unidos a
carros. Estes eram veículos leves, mas compactos e sólidos, sem
elásticos. Pelos preços mencionados (v. 17) por um carro e um cavalo,
parece que o carro custava quatro vezes o valor de um cavalo. Um
cavalo custava 150 siclos, ou seja, de 17 a 18 libras esterlinas, mas um
carro, 600 siclos, ou seja, de 68 a 75 libras esterlinas; e como o carro
egípcio geralmente era puxado por dois cavalos, o carro com um par de
cavalos sairia custando 112 libras. Como os sírios, que apreciavam os
cavalos de raça egípcia, os podiam importar a seu país só através da
Judeia, Salomão logo viu a vantagem que se derivava deste comércio, e
estabeleceu um monopólio. Seus agentes os compravam nos mercados e
nas feiras do Egito, e os traziam para as “cidades de carros”, depósitos
ou estábulos que ele tinha edificado nas fronteiras de seu reino, como
Bete-Marcabote, “a casa de carros”, e Hazar-Susa, “a aldeia de cavalos”
(Js_19:5; 1Rs_10:28).
17. os exportavam para todos os reis dos heteus — Um ramo
desta tribo poderosa tinha sido expulsa da Palestina, e se tinha situado ao
norte do Líbano, onde conseguiram grandes posses contíguas aos sírios.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 4
2 Crônicas 2

Vv. 1, 2. OS OPERÁRIOS DE SALOMÃO PARA EDIFICAÇÃO DO


TEMPLO.
1. Resolveu Salomão edificar — O templo é o grande tema desta
história, enquanto que o palácio, aqui e em outras partes deste livro,
menciona-se só incidentalmente. O dever de construir o templo foi
reservado para Salomão desde antes de seu nascimento. Tão logo chegou
a ser rei, ocupou-se do trabalho, e o historiador, ao começar a dar um
relato do edifício, começa relatando os arranjos preliminares.

Vv. 3-10. SUA MENSAGEM A HIRÃO POR ARTESÃOS.


3. Salomão mandou dizer a Hirão — A correspondência de ambas
as partes provavelmente levava-se por escrito (v. 11; veja-se também
1Rs_5:8).
Como procedeste para com Davi, meu pai — Isto parece decidir a
questão de se o Hirão então reinante em Tiro era o mesmo que tinha sido
amigo de Davi (veja-se 1Rs_5:1-6). Ao empreender o negócio, Salomão
baseou sua petição da ajuda tíria sobre duas razões. (1) O templo que ele
se propunha edificar, devia ser edifício sólido e permanente, porque o
culto devia continuar para sempre, e portanto os materiais empregados
deviam ser de qualidade mais duradoura. (2) Devia ser uma estrutura
magnífica, porque tinha que ser dedicada ao Deus que era maior que
todos os deuses; e, por esta razão, como poderia parecer uma ideia
presunçosa levantar um edifício a um Ser a quem “os céus e até os céus
dos céus o não podem conter”, explicou-se que o propósito de Salomão
não era o de edificar uma casa para que Deus habitasse nela, mas sim um
templo no qual o Seu povo pudesse oferecer sacrifícios em Sua honra.
Nenhuma linguagem poderia ser mais humilde e mais apropriada que
esta. O teor piedoso de sentimento era tal como convinha a um rei de
Israel.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 5
7. Manda-me, pois, agora, um homem que saiba trabalhar em
ouro — Não pedia pedreiros e carpinteiros; os quais Davi tinha
conseguido (1Cr_14:1) estavam provavelmente ainda em Jerusalém, e
tinham ensinado a outros. Mas necessitava um mestre de obras: uma
pessoa capaz, como Bezalel (Êx_35:31), de vigiar e dirigir todo
departamento; porque, como a divisão de trabalho naquele então era
pouco conhecida ou observada, um superintendente devia ser possuidor
de talentos e experiências. As coisas especificadas em que ele deveria ser
perito, relacionam-se não com a edificação, mas com o mobiliário do
templo. O ferro, que não se podia conseguir no deserto quando foi
edificado o tabernáculo, era agora, pelo tráfico com a costa, abundante e
muito usado. Os tecidos para cortinas pelas cores carmesim, escarlate e
jacinto que são mencionadas, eram evidentemente aqueles tecidos por
cuja manufatura e tintura eram famosos os tírios. O “esculpir” ou gravar,
provavelmente incluía o bordado de figuras como querubins como
também o esculpir em madeira amadurecidas e outros adornos.
8. Manda-me também madeira de cedros, ciprestes, etc. — O
cedro e o cipreste eram estimados por ser raros e também duradouros; o
sândalo (também uma madeira estrangeira) — embora não conseguido
no Líbano, é mencionado como conseguido por intermédio de Hirão
(veja-se 1Rs_10:11).
10. Aos teus servos, cortadores da madeira, darei vinte mil
coros de trigo batido — De trigo sem casca, cozido e empapado em
manteiga, faz-se frequentemente uma comida para o povo trabalhador no
Oriente (1Rs_5:11). Não há discrepância entre aquela passagem e esta.
As quantidades anuais de vinho e azeite mencionadas naquela eram
destinadas a corte de Hirão em pagamento pelos cedros enviados a
Salomão; os artigos de comida e bebida mencionados aqui eram para os
trabalhadores no Líbano.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 6
Vv. 11-18. A AFÁVEL RESPOSTA DE HIRÃO.
11. Porquanto o SENHOR ama ao seu povo — Esta linguagem
piedosa nos faz crer que Hirão tinha recebido algum conhecimento da
verdadeira religião mediante sua longa relação familiar com Davi. Mas
esta presunção, por agradável que seja, pode ser ilusória (veja-se
1Rs_5:7-12).
13, 14. Agora, pois, envio um homem sábio — (veja-se 1Rs_7:13-
51).
17, 18. Salomão levantou o censo de todos os homens
estrangeiros, etc. — (Veja-se 1Rs_5:13, 18).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 7
2 Crônicas 3

Vv. 1, 2. LUGAR E TEMPO DE EDIFICAR O TEMPLO.


1. no monte Moriá, onde o SENHOR aparecera a Davi — Estas
palavras parecem indicar que a região onde foi edificado o templo, era
conhecida previamente pelo nome Moriá (Gn_22:2), e não se apresentam
evidências suficientes para afirmar, como se fez ultimamente (Stanley),
que o nome fora dado primeiro ao monte, em consequência da visão de
Davi. O Monte Moriá era um cimo da cadeia de colinas que se conhecia
sob o nome geral de Sião. A plataforma do templo está ocupada, agora e
faz tempo, pelo “haram”, ou taipa sagrada, dentro da qual estão as três
mesquitas de Omar (o menor). De El Aksa, que em tempos primitivos
era um templo cristão, e de Kubbet el Sakhara, “a abóbada da rocha”,
assim chamada por um enorme bloco de pedra de cal que está no centro
do piso, a qual, supõe-se, formava a eira elevada de Araúna, e sobre a
qual estava o altar de bronze. O lugar do templo, pois, está estabelecido,
porque existe uma crença quase geral na autenticidade da tradição a
respeito da rocha El Sakhara, e foi conclusivamente provado que a área
do templo em seus lados este e sul, era idêntica a atual taipa do “haram”.
(Robinson). Que o templo estava situado em alguma parte dentro da
taipa oblonga no Monte Moriá, estão de acordo todos os topógrafos,
embora não fique nem mesmo o mais mínimo vestígio do sagrado
edifício; e prevalece uma diversidade de opiniões quanto à posição exata
dentro daquela área grande, uns opinam que estava no centro de haram,
e outros que no sudoeste. (Barclay). Além disso, a completa extensão da
área do templo fica por resolver, porque a plataforma do Monte Moriá
era muito estreita para os edifícios extensos e os pátios acrescentados ao
sagrado edifício, Salomão apelou aos meios artificiais para aumentá-la e
nivelá-la, levantando abóbadas; que, como diz Josefo, descansavam
sobre imensos montões de terra tirada da pendente da colina. Sempre se
deve levar conta sempre, que a grandeza do templo não consistia em sua
estrutura colossal, tanto como em seu esplendor interior, e os dilatados
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 8
pátios e edifícios a ele acrescentados. Não foi destinado para receber a
assembleia de adoradores, porque o povo sempre ficava nos pátios
exteriores do santuário.

Vv. 3-7. MEDIDAS E ADORNOS DA CASA.


3. Foram estas as medidas dos alicerces que Salomão lançou
para edificar a Casa de Deus — pelo plano escrito e as especificações
dadas por seu pai. As medidas são calculadas em côvados, “segundo o
primitivo padrão”, quer dizer, o velho modelo mosaico. Mas há grande
diferença de opinião com relação a isto; alguns consideram o côvado
como de dez e oito polegadas, e outros de vinte e uma. O templo foi feito
com os mesmos planos do tabernáculo, mas com materiais mais sólidos e
duradouros; sendo só duas vezes maior; era um edifício retangular, de
sessenta côvados de comprimento de este a oeste, e vinte côvados de
largura de norte a sul.
4. O pórtico — A largura da casa, de este a oeste, aqui é dada como
a medida da longitude do pórtico ou vestíbulo. De modo que seria de
trinta a trinta e cinco pés de comprimento, e de quinze a dezessete pés de
largura.
sua altura de cento e vinte — Esta, tomando o côvado a dezoito
polegadas seria de 180 pés; ou a vinte e uma polegadas, 210; de modo
que o pórtico deve ter sido como uma torre, ou duas torres piramidais,
cuja altura unida era 120 côvados, e cada uma delas como de 90 ou 105
pés de altura. (Stieglitz). Este pórtico, pois, seria como o propileu, ou
portal do palácio de Khorsabad (Layard), ou do templo de Edfou.
5. a sala grande — quer dizer, os lugares santos, a câmara da frente
ou exterior (veja-se 1Rs_6:17).
6. Também adornou a sala de pedras preciosas — É melhor:
pavimentou a casa com mármore precioso e belo (Kitto). Mas também
pode ser que aquelas fossem pedras com nervuras de diferentes cores
usadas para adornar as paredes. Este modo de embelezar era muito
antigo e verdadeiramente oriental. Havia um pavimento de mármore, o
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 9
qual era coberto com madeira de abeto. Todo o interior estava forrado de
madeira ricamente decorada com esculturas, molhos de folhas e flores,
entre as quais a granada e o lótus eram conspícuos; incluindo o piso,
tudo estava coberto de ouro (1 Reis 6).

Vv. 8-13. MEDIDAS, etc. DO LUGAR SANTÍSSIMO.


8. o Santo dos Santos — Era um cubo perfeito (cf. 1Rs_6:20).
cobriu-a de ouro puro do peso de seiscentos talentos—a razão de
4 libras por onça, igual a 3.600.000 libras esterlinas.
10-13. dois querubins — Estas figuras no tabernáculo eram de
ouro puro (Êxodo 25), e faziam sombra ao propiciatório. Os dois
colocados no templo eram feitos de madeira de oliveira, revestidos de
ouro. Eram de tamanho colossal, como as esculturas assírias; porque
cada um, com as asas estendidas, cobria um espaço de dez côvados de
altura e de longitude; duas asas se tocavam, enquanto as outras duas
tocavam as paredes de cada lado; seus rostos estavam para dentro, rumo
ao lugar santíssimo, conforme o seu uso, o qual era o de vigiar a arca.

Vv. 14-17. VÉUS E COLUNAS — Veja-se 1Rs_6:21).


A altura unida dá-se aqui; e embora as dimensões exatas seriam
trinta e seis côvados, cada coluna tinha só dezessete côvados e médio,
sendo ocupado meio côvado pelo capitel ou a base. Provavelmente foram
descritas, enquanto jaziam juntas, antes de ser levantadas em seu lugar.
(Poole). Teriam uma circunferência de dezoito a vinte e um pés, e altura
de quarenta. Estes pilares ou obeliscos, como alguns os chamam,
estavam ricamente adornados, e formavam uma entrada de acordo com o
esplêndido interior do templo.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 10
2 Crônicas 4

Ver. 1. ALTAR DE BRONZE.


1. Também fez um altar de bronze — Devem ter sido necessárias
escadas para subir a um altar tão elevado, mas o uso delas não se poderia
proibir (Êx_20:26) depois da introdução de um traje oficial para os
sacerdotes (Êx_28:42). Media trinta e cinco pés por trinta e cinco, e
dezessete e meio de altura. A espessura do metal usado para este altar
não se menciona em nenhuma parte; mas supondo-se que era de três
polegadas, todo o peso do metal não seria menos de duzentas toneladas.
(Napier).

Vv. 2-5. O MAR DE FUNDIÇÃO.


2. Fez também o mar de fundição — (veja-se 1Rs_7:23-26),
como nesta outra passagem diz “figuras de colocíntidas” em vez de
“bois”, supõe-se geralmente que essas figuras ornamentais eram em
forma de cabeças de bois.
3. Os bois se achavam em duas fileiras, tendo sido fundidos
quando o mar foi fundido (TB) — O sentido do qual é que o mar
circular e os bois de bronze que o apoiavam, eram todos de uma só peça,
que tinham sido fundidos no mesmo molde. Há uma diferença nos
relatos dados da capacidade deste mar, porque, enquanto em 1Rs_7:26,
diz-se que cabiam dois mil batos de água, nesta passagem diz-se que
caberiam três mil batos. Sugeriu-se que aqui há uma afirmação não
meramente da quantidade de água que cabia, mas também da quantidade
necessária para fazê-lo funcionar, para fazê-lo correr como uma fonte; a
quantidade que se requeria para encher tanto o mar como suas fontes.
Quando o mar funcionava como fonte, e todas suas partes se enchiam
com esse propósito, estas, junto com o mar recebiam 3.000 batos; mas o
mar exclusivamente continha só 2.000 batos, quando seu conteúdo
estava limitado à bacia circular. (Calmet, Fragments).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 11
Vv. 6-18. AS DEZ FONTES, CASTIÇAIS E MESAS.
6. dez pias — (Veja-se 1Rs_7:27-39). A pia do tabernáculo
provavelmente tinha sido destruída. As dez pias novas foram colocadas
entre o pórtico e o altar, e enquanto o mar de fundição era para os
sacerdotes lavarem suas mãos e pés, as fontes eram destinadas a lavar os
sacrifícios.
7. dez candeeiros — (veja-se 1Rs_7:49). O grande número de
castiçais não só estava de acordo com o esplendor característico do
edifício, senão para ser um emblema permanente aos hebreus, de que a
luz crescente da palavra era necessária para rebater a escuridão crescente
do mundo. (Lightfoot).
11. Depois, fez Hirão — (veja-se 1Rs_7:40-45).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 12
2 Crônicas 5

Ver. 1. OS TESOUROS DEDICADOS.


1. trouxe Salomão as coisas que Davi, seu pai, havia dedicado —
As somas imensas e a abundância de artigos valiosos que seu pai e
outros generais tinham reservado e apropriado para o templo
(1Cr_22:14; 1Cr_26:26).

Vv. 2-13. TRAZEM A ARCA DA ALIANÇA.


2, 3. Congregou Salomão … na ocasião da festa, que foi no
sétimo mês — A festa de dedicação do templo foi no dia oitavo daquele
mês. Isto se relata como em 1Rs_8:1-10.
10. Aí estão os varais até ao dia de hoje — quer dizer, até o tempo
em que foi composta esta história; depois do cativeiro babilônico não há
rastro da arca ou dos varais.
11. Quando saíram os sacerdotes … sem respeitarem os seus
turnos — O sistema de voltas semanais, introduzida por Davi, foi ideado
para os deveres ordinários do sacerdócio; em ocasiões extraordinárias,
ou quando havia mais solenidade que de costume nas cerimônias, todos
os sacerdotes assistiam como um corpo.
12. os levitas que eram cantores — Em grandes e solenes ocasiões
como esta, requeria-se um coro completo, e seus lugares eram ocupados
com uma atenção escrupulosa por suas partes oficiais; a família de Hemã
ocupava o lugar central, com a família de Asafe a sua direita, e a de
Jedutum a sua esquerda; e o lugar assinalado para o departamento vocal
era um espaço entre o pátio de Israel e o altar do lado leste do pátio dos
sacerdotes.
com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas
— A trombeta era sempre usada pelos sacerdotes, e no serviço divino era
empregada especialmente para convocar o povo durante as solenidades
santas, e para chamar a atenção às partes novas e sucessivas do ritual. O
número de trombetas usadas no culto divino não poderiam ser menos de
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 13
duas (Nm_10:2), e seu maior número nunca excedeu o precedente
estabelecido na dedicação do templo. O lugar dos sacerdotes que
tocavam trombetas, era à parte dos demais músicos; porque os levitas
cantores ocupavam uma orquestra a leste do altar, e os sacerdotes
estavam junto à mesa de mármore a sudoeste do altar. Ali ambos
estavam com seu rosto na direção do altar. A maneira de tocar as
trombetas era, primeiro, um som longo e plano, logo um som com
mudanças de tom e gorjeios, e depois novamente um som longo e plano.
(Brown, Jewish Antiquities).
13. a Casa do SENHOR, se encheu de uma nuvem — (veja-se
1Rs_8:10-11).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 14
2 Crônicas 6

Vv. 1-41. SALOMÃO ABENÇOA O POVO E LOUVA A DEUS.


1. O SENHOR declarou que habitaria em nuvem espessa! —
Esta introdução ao discurso de Salomão evidentemente foi sugerida pelo
notável incidente relatado no final do capítulo anterior: o fenômeno de
uma nuvem densamente opaca e uniformemente proporcionada, que
descia de uma maneira lenta e majestosa, e enchia toda a área do templo.
Ele mesmo a considerou, e mandou que o povo a considerasse, como
sinal evidente e promessa grata da presença divina e da aceitação do
edifício levantado em sua honra e para sua adoração. Não se referiu a
nenhuma declaração particular de Deus, mas sim ao fato de que a nuvem
tinha sido sempre na história de Israel o símbolo reconhecido da
presença divina (Êx_16:10; Êx_24:16; Êx_40:34; Nm_9:15; 1Rs_8:10-
11).
13. Salomão tinha feito uma tribuna de bronze — Espécie de
plataforma; mas a palavra hebraica traduzida aqui “tribuna”, sendo a
mesma que se usa para “bacia”, sugere a ideia de que esta plataforma
poderia ter alguma semelhança, em forma e estrutura, àquelas fontes que
havia no templo, sendo um púlpito redondo e elevado, colocado no meio
do pátio e diante do altar dos holocaustos.
pôs-se em pé sobre ela, ajoelhou-se — Depois de subir ao púlpito
de bronze, Salomão assumiu duas atitudes em sucessão, com objetos
diferentes. Esteve em pé enquanto se dirigia e abençoava a multidão ao
redor (vv. 3-11); depois se ajoelhou e estendeu suas mãos para o céu,
com o rosto talvez voltado ao altar, enquanto expressava a oração bela e
impressionante que se conserva nos versículos restantes deste capítulo.
Deve mencionar-se que não havia assento sobre este púlpito, porque o
rei estava em pé ou de joelhos o tempo todo que estava sobre ele. É
provável que tivesse dossel acima, ou estivesse coberto com um véu,
para proteger ao orador real dos raios do sol.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 15
18-21. quanto menos esta casa que eu edifiquei. Atenta, pois,
para a oração de teu servo — Nenhuma pessoa que tenha ideias justas
e elevadas da natureza espiritual do Ser Divino, suporá que possa erigir
um templo para que habite nele a Deidade, assim como um homem
edifica casa para si. Quase tão imprópria e inadmissível é a ideia de que
um templo possa contribuir a acrescentar a glória de Deus, assim como
um monumento levantado em honra a algum homem notável. Salomão
descreveu o uso verdadeiro e próprio do templo, ao dizer ao povo que
Deus ouviria a súplica “do teu servo e do teu povo de Israel, quando
orarem neste lugar”. Enfim, o grande propósito para o qual o templo foi
edificado, foi precisamente o mesmo que têm as igrejas, o de prover a
oportunidade e os meios do culto público e social, segundo o ritual da
dispensação mosaica; o de pedir a misericórdia e o favor divinos; o de
dar graças por anteriores casos de bondade e oferecer petições de
bênçãos futuras (veja-se 1Rs_8:22-61). Este objetivo do templo — o
ÚNICO templo do mundo — é com efeito seu ponto de vista de interesse
dominante.
22. Quando alguém pecar contra o seu próximo, e lhe for
exigido que jure, e ele vier a jurar diante do teu altar nesta casa —
Em casos de que não houvesse testemunhas e não houvesse maneira de
resolver uma diferença ou disputa entre duas pessoas mas por aceitar o
juramento do acusado; a prática se introduziu paulatinamente, e tinha
adquirido a força de lei consuetudinária, de que o sujeito fosse trazido
perante o altar, onde se tomava seu juramento com toda solenidade, junto
com a imprecação de uma maldição que caísse sobre ele se seu
juramento fosse achado falso. Há alusão a tal prática nesta passagem.
38. se converterem a ti … na terra do seu cativeiro, a que os
levaram presos, e orarem para a banda da sua terra — Estas palavras
deram origem a uma prática dos judeus antigos assim como dos
modernos, de dirigir-se em oração para o lado de Jerusalém, desde
qualquer parte do mundo em que se achem, e de dirigir os seus rostos na
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 16
direção do templo, mesmo quando estão em Jerusalém, e em qualquer
parte da terra santa (1Rs_8:44).
41. Levanta-te, pois, SENHOR Deus, e entra para o teu repouso
— Estas palavras não se acham nesta oração no Primeiro Livro de Reis;
mas sim, ocorrem no Salmo 132, que geralmente se crê foi composto por
Davi, ou antes, por Salomão, em referência a esta ocasião. “Levanta-te”
é expressão muito apropriada para usar-se quando a arca foi levada do
tabernáculo em Sião ao templo sobre o Monte Moriá.
para o teu repouso — Ou lugar de repouso; assim chamado o
templo (Is_66:1), por ser mansão fixa e permanente (Sl_132:14).
a arca do teu poder — A morada pela qual a tua gloriosa presença
é simbolizada, e de onde emites os seus oráculos autorizados e
manifestas teu poder a favor de teu povo, quando o desejam e
necessitam. Bem se poderia chamar a arca do poder de Deus, porque foi
por meio dela que foram operados grandes milagres, e ganhas muitas
vitórias, os quais distinguiam os primeiros anais da nação hebraica. A
vista dela inspirava a maior animação no peito de seu povo, enquanto
que difundia terror e desmaio entre as fileiras de seus inimigos.
(Sl_78:61).
os teus sacerdotes ... se revistam de salvação — Ou, “de justiça”
(Sl_132:9), quer dizer, vestidos não só de roupa de linho branco que
assinalaste como própria para oficiar, mas também adornados com a
beleza moral da verdadeira santidade, de modo que suas pessoas e seus
serviços sejam aceitos, tanto para eles como para todo o povo. Assim
estariam vestidos “de salvação”, porque este é o efeito e a consequência
do caráter santificado.
42. não faças virar o rosto do teu ungido (RC) — quer dizer, de
mim, quem pela tua promessa e nomeação fui instalado como rei e
governador de Israel. As palavras são em sentido equivalente a isto: Não
rejeites minha petição presente; não me expulses de teu trono de graça
com abatimento de semblante nem desanimado de coração.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 17
lembra-te das misericórdias que usaste para com Davi, teu
servo — quer dizer, as misericórdias prometidas a Davi, e em
consideração daquela promessa ouve e responde minha oração (cf.
Sl_132:10).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 18
2 Crônicas 7

Vv. 1-3. DEUS DÁ TESTEMUNHO À ORAÇÃO DE


SALOMÃO; O POVO ADORA.
1. desceu fogo dos céus e consumiu o holocausto — Todo ato de
culto era acompanhado por um sacrifício. A extraordinária corrente de
fogo incendiou a massa de carne, o qual foi sinal da aceitação divina da
oração de Salomão (veja-se Lv_9:24; 1Rs_18:38).
a glória do SENHOR encheu a casa — quer dizer, a nuvem, que
era símbolo da presença e majestade de Deus, encheu o interior do
templo (Êx_40:35).
2. Os sacerdotes não podiam entrar — Tanto pelo temor
reverencial do fogo milagroso que ardia sobre o altar, como pela nuvem
densa que envolvia o santuário, eles não podiam por algum tempo,
cumprir suas funções usuais. (Veja-se 1Rs_8:10-11). Mas mais tarde,
renascidas sua coragem e confiança, aproximaram-se do altar, e se
ocuparam em oferecer um imenso número de sacrifícios.
3. Todos os filhos de Israel … se encurvaram com o rosto em
terra sobre o pavimento — Esta forma de prostração, quer dizer,
lançados sobre os seus joelhos com a frente em contato com a terra, é a
maneira como que os hebreus e os orientais em geral, expressam os mais
profundos sentimentos de reverência e humildade. Os pátios do templo
estavam cheios de gente nesta ocasião, e a imensa multidão se encurvou
ao solo. O que subitamente induziu aos israelitas a assumir aquela
atitude prostrada naquela ocasião, foi o espetáculo da nuvem simbólica
que descia vagarosa e majestosamente sobre o templo, e logo o
envolveu.

Vv. 4-11. OS SACRIFÍCIOS DE SALOMÃO.


4. Então, o rei e todo o povo ofereceram sacrifícios — Se os
adoradores individuais mataram a seu próprio gado, ou se certo número
da ordem levítica que tinha assistido fizeram aquela obra, como algumas
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 19
vezes o faziam, seja qual for o caso as ofertas foram feitas por meio dos
sacerdotes, os quais apresentaram o sangue e a gordura sobre o altar
(veja-se 1Rs_8:62-64).
6. Assim, o rei e todo o povo consagraram a Casa de Deus — O
cerimonial de dedicação consistia principalmente na introdução da arca
no templo, e nas ofertas sacrificais que foram feitas numa escala de
magnitude de acordo com a ocasião tão extraordinária. Todos os
presentes, o rei, o povo e os sacerdotes, tomaram parte segundo os seus
respectivos postos, na execução do serviço solene. O dever,
naturalmente, recaiu principalmente sobre os sacerdotes, e portanto ao
passar a descrever os seus vários tipos de trabalho, o historiador diz: “Os
sacerdotes estavam nos seus devidos lugares”; enquanto grande número
estava ocupado em preparar e oferecer as vítimas, outros tocavam suas
trombetas, e as diferentes bandas dos levitas louvavam ao Senhor com
música vocal e instrumental, com o Salmo 136, cujo coro repete “para
sempre é a sua misericórdia”.
7. Salomão consagrou também o meio do átrio — Nesta ocasião
extraordinária, quando foram sacrificados um maior número de animais
que os que admitia um altar e as argolas onde se atavam os animais,
ocupou-se todo o espaço que havia entre o lugar das argolas e o lado
oeste do pátio, como lugar de altares temporários; naquela parte se
estavam queimando holocaustos por todos os lados.
8. celebrou Salomão a festa por sete dias — O tempo escolhido
para a dedicação do templo foi imediatamente anterior à festa dos
tabernáculos (veja-se 1Rs_8:1-12). Aquela estação, que vinha depois da
colheita, correspondente a nosso setembro e outubro, durava sete dias, e
durante uma festividade tão prolongada, havia tempo suficiente para
oferecer os imensos sacrifícios enumerados. Uma grande proporção
destes eram sacrifícios pacíficos, os quais proporcionavam ao povo os
meios de alegria festiva.
todo o Israel … desde a entrada de Hamate — quer dizer, o
desfiladeiro do Líbano.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 20
até ao rio do Egito — Rhinocorura, agora El-Arish, a fronteira sul
da Palestina.
10. No vigésimo terceiro dia do sétimo mês — Este era o último
dia da festa dos tabernáculos.

Vv. 12-22. DEUS LHE APARECE.


12. De noite, apareceu o SENHOR a Salomão — (Veja-se
1Rs_9:1-9). A dedicação do templo deve ter sido ocasião de intenso
interesse nacional para Salomão e seus súditos. Não foi o interesse
meramente temporário ou local. O relato dela é lido e meditado com
interesse que não diminui com o transcurso do tempo. O fato de que este
era o único templo de todas as nações no qual era adorado o verdadeiro
Deus, presta à cena uma grandeza moral, e prepara a mente para a oração
sublime que foi oferecida na dedicação. O puro teísmo daquela oração,
seu reconhecimento da unidade de Deus como também de suas
perfeições morais na providência e na graça, veio do mesmo manancial
divino que o fogo milagroso. Indicavam sentimentos e emoções de
devoção exaltada e espiritual, que emanavam não só da mente do
homem, mas também da fonte da revelação. A realidade da presença
divina foi testemunhada pelo milagre, e aquele milagre imprimiu o selo
da verdade na teologia do culto do templo.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 21
2 Crônicas 8

Vv. 1-6. OS EDIFÍCIOS DE SALOMÃO.


2. edificou Salomão as cidades que Hirão lhe tinha dado (TB),
etc. — Estas cidades estavam no noroeste da Galileia, e, embora
incluídas dentro dos limites da terra prometida, nunca tinham sido
conquistadas. Salomão concedeu o direito de ocupá-las a Hirão, quem,
depois de considerá-las, rejeitou-as por não serem convenientes para as
operações comerciais de seus súditos (veja-se 1Rs_9:11). Tendo
Salomão as tirado dos habitantes cananeus, reparou-as e as encheu com
uma colônia de hebreus.
3-6. foi Salomão a Hamate-Zoba — Hamate estava sobre o
Orontes, em Coele-Síria. Seu rei, Toí, tinha sido aliado de Davi; mas
pela combinação Hamate e Zoba, parece que tinha havido uma
revolução, que resultou na união destes dois pequenos reinos da Síria em
um só. Por que causa fui provocado o ressentimento de Salomão, não
somos informados, mas ele enviou uma força armada que o reduziu.
Também se fez dono de Tadmor, a famosa Palmira na mesma região.
Várias outras cidades ao longo das fronteiras de seus extensos domínios
as reparou e as preparou para servir como lugares de armazenagem para
adiantar suas empresas comerciais ou para assegurar seu reino contra as
invasões estrangeiras (veja-se 2Cr_1:14; 1Rs_9:15-24).

Vv. 7-11. OS CANANEUS FEITOS TRIBUTÁRIOS.


7. Quanto a todo o povo que restou, etc. — Os descendentes dos
cananeus, que ficaram no país, eram tratados como prisioneiros de
guerra, obrigados a “levarem as cargas” (2Cr_2:18), enquanto que os
israelitas não eram empregados em nenhuma obra mas naquelas que
eram de caráter honorável.
10. duzentos e cinquenta, que presidiam sobre o povo — (cf.
1Rs_9:23). Geralmente se crê que uma destas passagens está
corrompida.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 22
11. Salomão fez subir a filha de Faraó da Cidade de Davi para a
casa que a ela lhe edificara — Ao casar-se com a princesa egípcia no
princípio de seu reinado, destinou-lhe uma morada temporária na cidade
de Davi, quer dizer, em Jerusalém, até que fosse edificado um palácio
conveniente para sua esposa. Enquanto aquele palácio estava sendo
edificado, ele mesmo vivia no palácio de Davi, mas não permitiu a ela
ocupá-lo, porque, sendo ela prosélita pagã, e tendo trazido de seu país
um estabelecimento de servas pagãs, ele creu que teria sido impróprio
que ela estabelecesse residência numa mansão que era ou tinha sido
santificada pela recepção da arca. Parece que ela foi recebida a sua
chegada na residência da mãe de Salomão (Ct_3:4; Ct_8:2).

Vv. 15-18. SACRIFÍCIOS FESTIVOS DE SALOMÃO.


15. Não se desviaram do que ordenara o rei — isto é, Davi, em
nenhuma de seus ordenanças, que por autoridade divina ele estabeleceu.
aos sacerdotes e levitas, em coisa nenhuma, nem acerca dos
tesouros—em regular os ordens dos sacerdotes e levitas, ou no destino
de seus tesouros acumulados para a construção e ornamentação do
templo.
17. Então, foi Salomão a Eziom-Geber e a Elate — Estes dois
portos marítimos estavam sobre o golfo leste do Mar Vermelho, agora
chamado o Golfo de Akaba. Elate vê-se na moderna Akaba, Eziom-
Geber em El Gudyan. Salomão, resolvido a cultivar as artes da paz, foi
bastante sagaz para entender que seu reino poderia chegar a ser grande e
glorioso somente por alentar um espírito de empresa comercial entre
seus súditos; e, por conseguinte, com esse fim em vista, fez um contrato
com Hirão por naves e marinheiros que instruíssem a seu povo na
navegação.
18. Enviou-lhe Hirão … navios — Ou lhe enviou por terra
marinheiros; ou, tomando as palavras “enviado” em sentido mais geral, o
havia provido de navios, quer dizer, os havia construído nos estaleiros de
Elate (cf. 1Rs_9:26-27). Esta marinha de Salomão foi tripulada por
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 23
tírios, porque Salomão não tinha marinheiros capazes de empreender
expedições longínquas. Os pescadores hebreus, cujos botes sulcavam o
Mar de Tiberíades, ou costeavam pelo Mediterrâneo, não eram
competentes para conduzir grandes embarcações com carregamentos
valiosos em viagens longas e pelo vasto oceano solitário.
quatrocentos e cinquenta talentos de ouro — (cf. 1Rs_9:28). O
texto em uma destas passagens está corrompido.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 24
2 Crônicas 9

Vv. 1-12. A RAINHA DE SABÁ VISITA SALOMÃO E ADMIRA


SUA SABEDORIA E MAGNIFICÊNCIA.
1. Tendo a rainha de Sabá ouvido a fama de Salomão — (Veja-se
1Rs_10:1-13). Diz-se que entre as coisas de Jerusalém que mais
provocaram a admiração da real visitante foi “sua ascensão por onde
subia à casa do Senhor”. Este era o viaduto sobre arcos que cruzava o
vale do Monte Sião até a colina oposta. No comentário sobre a passagem
antes citada, fez-se alusão ao descobrimento recente dos restos do
mesmo. Aqui damos conta cabal do que, conceituado pela estrutura e
magnificência, era uma das maravilhas de Jerusalém. “Durante nossa
primeira visita à esquina sudoeste da área da mesquita, vimos várias das
grandes pedras sobressalentes da muralha ocidental, que à primeira vista
pareciam o efeito de uma forte pressão da parede por causa de algum
choque ou terremoto. Prestamos pouca atenção naquele momento; mas
ao mencionar o fato não muito depois a um círculo de amigos,
incidentalmente falou-se que as pedras tinham a aparência de ter sido
parte de um arco grande. Por esta observação, uma série de pensamentos
cruzou minha mente, que quase não me atrevia a levar a uma conclusão
lógica, enquanto não fosse outra vez ao lugar, para me satisfazer com os
meus próprios olhos quanto à verdade ou a falsidade da sugestão. Assim
o encontrei. Estas imensas pedras ocupam sua posição original; sua
superfície externa está cortada para formar uma curva regular; e,
ajustadas umas sobre outras, formam o começo ou o pé de um imenso
arco que sai deste muro ocidental em direção ao Monte Sião, acima do
vale Tiropeo. Este arco só podia ter pertencido à ponte, que, segundo
Josefo, conduzia desde esta parte do templo até o Xistus (colunata
coberta) de Sião; e isto prova a antiguidade daquela porção de onde sai”
(Robinson). A distância deste ponto até a escarpada rocha de Sião se
calcula que é de como trezentos e cinquenta pés (como 150 metros), a
provável longitude daquele antigo viaduto. Outro escritor acrescenta que
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 25
“o arco desta ponte, se sua curva fosse calculada com uma aproximação
à verdade, mediria sessenta pés, e que deve ter sido um dos cinco arcos
que sustentavam o viaduto (tendo em conta os pilares de cada lado), e
que os pilares que sustentavam o arco central desta ponte, devem ter tido
grande altura, não menos, talvez, de cento e trinta pés. A estrutura inteira
vista do extremo sul de Tiropeo, deve ter tido um aspecto de grandeza,
especialmente estando unida com os altos e suntuosos edifícios do
templo e de Sião à direita e à esquerda. (Edição das obras de Josefo, por
Isaque Taylor).

Vv. 13-28. SUAS RIQUEZAS.


13. O peso do ouro que se trazia a Salomão cada ano — (veja-se
1Rs_10:14-29).
seiscentos e sessenta e seis talentos — A soma é igual a 3.646.350
libras esterlinas; e se tomarmos a proporção de prata (v. 14), que não se
toma em consideração, como 1 a 9, deveria ser como 200.000 libras,
perfazendo uma entrada anual de quase 6.000.000 de libras, que é uma
soma enorme por um esforço infantil no comércio marítimo. (Napier).
21. o rei tinha navios que iam a Társis — antes, “os navios do rei
de Társis iam” com os servos de Hirão.
navios de Társis — em carga e construção como os grandes navios
construídos para serem usados em Társis.
25. Tinha Salomão quatro mil cavalos em estrebarias —
Suspeitou-se que a palavra original pode significar não só manjedoura ou
estábulo senão o número de cavalos que ocupam o mesmo número de
cavalariças. Supondo-se que dez fossem postos juntos numa parte, isto
totalizaria 40.000 cavalos. Segundo esta teoria de explicação, o
historiador de Reis refere-se a cavalos; enquanto que o historiador de
Crônicas fale de estábulos nos quais estavam os cavalos. Mas os críticos
mais recentes rejeitam este modo de resolver a dificuldade, e crendo que
os quatro mil estábulos estão de acordo com a magnificência geral dos
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 26
estabelecimentos de Salomão, consideram o texto de Reis como
corrompido por erro de algum copiador.
28. Do Egito e de todos os países traziam-se cavalos a Salomão
(TB) — (veja-se 2Cr_1:17). Sem dúvida, Salomão levou o reino hebreu
a seu mais alto grau de glória, e o cúmulo de sua grande obra, a
centralização do culto nacional em Jerusalém, aonde os cidadãos
acudiam três vezes por ano, deu a seu nome um lugar proeminente na
história da antiga igreja (a israelita). Mas seu reinado teve uma
influência desastrosa no povo escolhido, e o exemplo de suas deploráveis
idolatrias, suas relações com príncipes estrangeiros, as especulações
comerciais em que se colocava, e os luxos que introduziu no país,
parecem, em certa medida, ter mudado e deteriorado o caráter judeu.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 27
2 Crônicas 10

Vv. 1-15. ROBOÃO RECHAÇA O CONSELHO DOS ANCIÃOS.


1. Foi Roboão a Siquém — (Veja-se 1Rs_12:1). Este capítulo é,
com poucas mudanças verbais, o mesmo que em 1Rs_12:1-19.
3. Mandaram chamá-lo — antes, “porque o mandaram chamar,”
etc. Isto é o motivo da volta de Jeroboão do Egito.
7. Se te fizeres benigno para com este povo, e lhes agradares, e
lhes falares boas palavras — No Livro de Reis [1Rs_12:7], as palavras
são: “Se, hoje, te tornares servo deste povo, e o servires”. O sentido é
igual; quer dizer: Se lhes fizeres concessões razoáveis, corrigires suas
injustiças, e restaurares suas liberdades cortadas, assegurarás o seu afeto
firme e duradouro para ti o e governo.
15-17. O rei, pois, não deu ouvidos ao povo, porque isto vinha
de Deus — Roboão ao seguir um mau conselho, e o povo hebreu ao
levantar um movimento revolucionário, agiram como agentes livres,
obedecendo sua própria vontade e paixões. Mas Deus, que permitiu a
revolta das tribos do norte, usou-a como castigo para a casa de Davi pela
apostasia de Salomão. Este acontecimento demonstra a intervenção
providente de Deus nas revoluções dos reinos, e assim nos dá um caso,
similar a muitos outros casos notáveis que achamos nas Escrituras, das
predições divinas, pronunciadas muito tempo antes e que se cumprem
mediante as paixões humanas e no curso natural das coisas.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 28
2 Crônicas 11

Vv. 1-17. ROBOÃO LEVANTA UM EXÉRCITO PARA


SUBJUGAR A ISRAEL, E É PROIBIDO PELO SEMAÍAS.
1-4. Roboão … reuniu da casa de Judá e de Benjamim … para
pelejar contra Israel — (Veja-se 1Rs_12:21-24).
5-11. fortificou cidades em Judá — Esta evidentemente se usa
como o nome do reino do sul. Tendo Roboão agora em Israel um
inimigo acérrimo, creu prudente não perder tempo em fortificar várias
cidades localizadas ao longo da fronteira de seu reino. Jeroboão, por sua
vez, tomou precauções similares. (1Rs_12:25). Das quinze cidades
mencionadas, Aijalom (agora Yalo) e Zorá (agora Sul) estavam dentro
da província de Benjamim. Gate, embora cidade filisteia, tinha estado
sujeita a Salomão. Etã, que estava sobre a fronteira de Simeão, agora
incorporada com o reino de Judá, foi fortificada para repelir perigos
desde aquele lado. Estas fortalezas Roboão colocou sob um comandante
competente, e as abasteceu de provisões e equipamento militares,
suficientes para poder suportar um sítio, caso necessário. No estado
quebrado de seu reino, ele parecia ter medo de que chegasse a ser presa
de algum vizinho poderoso.
13-17. os sacerdotes e os levitas que havia em todo o Israel
recorreram a Roboão de todos os seus limites — Esta foi um acordo
de poder moral, porque o apoio da verdadeira religião é o melhor
sustento e defesa de uma nação; e como era especialmente o grande
manancial de poder e prosperidade da monarquia hebraica, os grandes
números de pessoas boas e piedosas que buscavam asilo dentro do
território de Judá, contribuíram grandemente para consolidar o trono de
Roboão. A causa de tão extensa emigração do reino de Israel, foi a
profunda e atrevida política de Jeroboão, quem se propôs romper a
unidade nacional abolindo inteiramente, dentro de seus domínios, as
instituições religiosas do judaísmo. Ele temia uma reunião eventual das
tribos, se o povo continuasse acudindo a Jerusalém três vezes por ano,
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 29
como pela lei estavam obrigados a fazer; e por conseguinte, com o
pretexto de que a distância daquela cidade era grande demais para as
multidões de seus súditos, designou dois lugares mais convenientes,
onde ele estabeleceu um modo novo de adorar a Deus sob símbolos
grosseiros e proibidos [1Rs_12:26-33]. Negando-se os sacerdotes e
levitas a tomarem parte nas cerimônias idolátricas, foram expulsos de
seus propriedades [2Cr_11:13, 14]; e junto com eles um grande número
de pessoas que eram fieis ao culto instituído de Deus, ofendidas e
escandalizadas pelas inovações ímpias, saíram do reino.
15. constituiu os seus próprios sacerdotes — As pessoas que ele
pôs no sacerdócio eram criaturas baixas e inúteis (1Rs_12:31;
1Rs_13:33); qualquer que levasse um boi e sete carneiros era consagrado
(2Cr_13:9; Êx_29:37).
para os altos — Aqueles lugares favoritos de culto religioso, eram
fomentados por todo o país.
para os demônios (RC) — termo usado algumas vezes para os
ídolos em geral (Lv_17:7), mas aqui aplicado distintivamente às
deidades cabras, que eram adoradas provavelmente nas partes
setentrionais de seu reino, onde abundavam ainda os pagãos cananeus.
e para os bezerros — figura dos deuses boi Apis e Mnevis, com os
quais Jeroboão se familiarizou no tempo que residiu no Egito. (Veja-se
1Rs_12:26-33).
17. fortaleceram o reino de Judá — As medidas inovadoras de
Jeroboão não foram introduzidas todas de uma vez. Mas à medida que
eram desenvolvidas, a secessão dos mais excelentes de seus súditos
começou, e continuando aumentando, baixou o tom da religião em seu
reino, enquanto que proporcionalmente alentava sua vida e estendeu sua
influência no de Judá.

Vv. 18-23. MULHERES E FILHOS DE ROBOÃO.


18. Roboão tomou por esposa a Maalate — Se dão os nomes do
pai e a mãe dela. Jerimote, o pai deve ter sido filho de uma das
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 30
concubinas de Davi (1Cr_3:9). Abiail, naturalmente, foi sua prima antes
que se casassem.
20. Depois dela, tomou a Maaca, filha de Absalão — quer dizer,
neta (2Sm_14:27) de Absalão, sendo Tamar, segundo Josefo, sua mãe.
(cf. 2Sm_18:18).
21. ele havia tomado dezoito mulheres e sessenta concubinas —
Este harém real, embora inferior ao de seu pai, foi igualmente uma
violação da lei, que proibia a um rei multiplicar mulheres para si.
[Dt_17:17]
22. Roboão designou a Abias … para ser chefe, príncipe entre
seus irmãos — Esta preferência parece ter sido dada a Abias somente
por causa da paixão louca do rei pela mãe de Abias e pela influência dela
sobre o rei. Indica-se claramente que Abias não era o filho mais velho da
família, e ao destinar a um filho mais novo para o reino, sem mandado
divino, como no caso de Salomão, Roboão agiu em violação da lei
(Dt_21:15).
23. Procedeu prudentemente — Agiu com uma política profunda
e calculada. (Êx_1:10).
e distribuiu todos os seus filhos por todas as terras de Judá — A
circunstância de que vinte e oito filhos do rei fossem feitos governadores
de fortalezas, em nossa parte do mundo produziria ciúme e
descontentamento. Mas os monarcas orientais asseguram a paz e
tranquilidade de seu reino dando postos de governo a seus filhos e netos.
Eles assim obtêm uma provisão independente, e estando separados são
menos propensos a formar conjurações durante a vida do pai. Roboão
procedeu assim, e sua sagacidade parecerá maior ainda se as esposas que
ele desejava para seus filhos pertencessem às cidades onde eles estavam
localizados. Estas relações os ligariam mais estreitamente a seus lugares
respectivos. Nos países modernos do Oriente, especialmente Pérsia e
Turquia, os príncipes mais jovens, até tempos muito recentes, eram
encerrados no harém durante a vida do pai; e para evitar rivalidade, eram
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 31
cegados ou mortos, quando seu irmão subia ao trono. Na Pérsia, o velho
costume de os espalhar pelo país, como fez Roboão, foi restabelecido.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 32
2 Crônicas 12

Vv. 1-12. ROBOÃO, ABANDONANDO A DEUS, É


CASTIGADO POR SISAQUE.
1. Tendo Roboão confirmado o reino — (veja-se 2Cr_11:17).
Durante os três primeiros anos de seu reinado, sua influência real se
prestava a alentar a verdadeira religião. Mas a segurança e o repouso
conduziram a um decaimento religioso, o qual no quarto ano chegou a
uma aberta apostasia. O exemplo da corte logo foi seguido pelos súditos,
porque estava “com ele todo Israel”; quer dizer, o povo de seu reino. No
ano seguinte, o quinto de seu reinado, o castigo foi infligido por meio da
invasão de Sisaque.
2. Sisaque, rei do Egito, subiu contra Jerusalém — Ele era o
primeiro rei da vigésima segunda dinastia ou bubástica. Qual foi a causa
imediata da invasão? Se era ressentimento por alguma provocação da
parte do rei de Judá, ou se em prosseguimento de algumas ondas
ambiciosas de conquista, não nos é dito. Mas o exército invasor foi uma
vasta horda, porque Sisaque trouxe junto com seus egípcios naturais um
número imenso de auxiliares estrangeiros.
3. Líbios — do nordeste da África.
suquitas — Alguns crêem que eram os árabes quenitas, moradores
em tendas, mas outros mantêm com mais justiça que eram os árabes
trogloditas, que habitavam as covas nas montanhas na costa ocidental do
Mar Vermelho.
etíopes — da região ao sul do Egito. Pela força avassaladora dos
números, tomaram as fortalezas de Judá, as quais logo se puseram em
estado de defesa, e partiram para pôr sitiar a capital. Enquanto Sisaque e
seu exército estavam perante as muralhas de Jerusalém, o profeta
Semaías dirigiu-se a Roboão e os príncipes, traçando esta calamidade à
apostasia nacional, e ameaçando-os com a ruína completa por ter
abandonado a Deus (v. 6).
6. os príncipes de Israel — (cf. v. 5, “os príncipes de Judá”).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 33
7, 8. Vendo, pois, o SENHOR que se humilharam — Seu
arrependimento e contrição foram seguidos pelos melhores efeitos;
porque Semaías foi comissionado para anunciar que a taça do juízo
divino não seria derramada plenamente sobre eles; que a completa
derrota do reino de Judá não viria naquele tempo, não pela mão de
Sisaque; e entretanto, embora se desfrutaria de uma trégua da destruição
total, [Judá] deveria ser província tributária do Egito, a fim de que o
povo aprendesse quanto mais leve e melhor é o serviço de Deus que o de
déspotas idólatras estrangeiros.
9. Subiu, pois, Sisaque, rei do Egito, contra Jerusalém — Depois
da cláusula parentética (vv. 5-8) que descreve os sentimentos e o estado
da corte da cidade sitiada, o historiador continua sua narração do ataque
contra Jerusalém, e o conseguinte saque tanto do templo como do
palácio.
tomou tudo — quer dizer, tudo de valioso que achou. Os paveses e
escudos se calcula que valiam 239.000 libras esterlinas. [Napier, Ancient
Workers in Metal]
os escudos de ouro — feitos por Salomão, eram guardados “na
casa do bosque do Líbano” (2Cr_9:16). Parece que eram levados como
maças, pelos donos ou guardas do palácio, quando assistiam ao rei no
templo ou em outras procissões públicas. Como foram roubadas estas
esplêndidas insígnias pelo conquistador egípcio, fizeram-se outras de
metal inferior, que eram guardadas no quarto da guarda do palácio,
preparadas para as usar como se continuasse com a velha etiqueta de
estado, em ocasiões públicas e solenes, apesar da glória empanada da
corte. Um relato desta conquista de Judá, com o nome de “rei de Judá”
como nome do cativo principal, segundo os intérpretes, está gravado e
escrito em hieróglifos sobre as paredes do grande palácio de Carnaque,
onde se pode ver hoje. Esta escultura tem 2.700 anos, e é de interesse
especial como testemunho notável da verdade da história bíblica.
12. Tendo-se ele humilhado, apartou-se dele a ira do SENHOR
— A promessa contida no v. 7 foi cumprida; a providência divina
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 34
conservou o reino em existência; uma reforma foi feita na corte,
enquanto a verdadeira religião e piedade se estendia pelo país.

Vv. 13-16. SEU REINADO E MORTE.


13. Fortificou-se, pois, o rei Roboão em Jerusalém e continuou
reinando — A invasão egípcia tinha sido uma expedição meramente de
rapina, não se estendendo para além dos limites de Judá, e
provavelmente rejeitada logo pelos invadidos. O governo de Roboão
adquiriu vida e novo vigor mediante um avivamento geral da verdadeira
religião, e seu reinado continuou muitos anos depois da partida do
Sisaque. Mas
14. não dispôs o coração para buscar ao SENHOR — quer dizer,
não se aderiu firmemente ao bom curso de reforma que ele mesmo tinha
começado, “e fez o mal”, porque pela infeliz influencia de sua mãe,
estrangeira pagã, ele havia recebeu em sua juventude uma forte
tendência rumo à idolatria (veja-se 1Rs_14:21-24).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 35
2 Crônicas 13

Vv. 1-20. ABIAS FAZ GUERRA A JEROBOÃO, E O VENCE.


2. Era o nome de sua mãe Micaía, filha de Uriel — Igual a Maaca
(veja-se 1Rs_15:2). Ela foi “a filha”, quer dizer, neta de Absalão
(1Rs_15:2; cf. 2 Samuel 14), mãe de Abias, avó (1Rs_15:10, margem)
de Asa.
de Gibeá — provavelmente indica que Uriel era relacionado com a
casa de Saul.
houve guerra entre Abias e Jeroboão — A ocasião desta guerra
não se menciona (veja-se 1Rs_15:6-7), mas pode-se inferir pelo teor do
discurso de Abias, que se suscitou por ambição juvenil de recuperar o
completo domínio hereditário de seus antepassados. Nenhum profeta
desta vez proibiu uma guerra com Israel (2Cr_11:23), porque Jeroboão
tinha perdido toda reivindicação à proteção.
3. Abias ordenou a peleja — quer dizer, saiu a campanha tomando
a iniciativa.
com um exército de valentes guerreiros, de quatrocentos mil …
Jeroboão … com oitocentos mil … — Estes são, sem dúvida, números
grandes, considerando a pequenez dos dois reinos. Deverá levar-se em
conta, entretanto, que os exércitos orientais são meras multidões; grandes
números acompanham ao acampamento só com esperança do despojo;
de modo que os números mencionados em expedições asiáticas,
excedem o número exato de homens armados para a briga. Mas ao
explicar o número grande de soldados alistados nos exércitos de Abias e
Jeroboão, não há necessidade de recorrer a esta explicação; porque
sabemos pelo censo de Davi, a imensa quantidade da população que era
capaz de portar armas (1Cr_21:5; cf. 2Cr_14:8; 17:14).
4-12. Pôs-se Abias em pé no alto do monte Zemaraim — Entrou
em território do inimigo, e se acampou sobre uma altura perto de Betel
(Js_18:22). O exército de Jeroboão estava ao pé da colina, e como se
esperava uma batalha campal, Abias, segundo o singular costume dos
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 36
tempos antigos, discursou ao inimigo. Os oradores em tais
circunstâncias, sempre elogiavam seus próprios méritos e vertiam
correntes de invectiva sobre o inimigo. Assim fez Abias. Deu ênfase
sobre o divino direito da casa de Davi ao trono, fazendo caso omisso das
ofensas de Salomão condenadas por Deus, e da nomeação divina de
Jeroboão, como também da sanção divina da separação do reino;
reprovou a Jeroboão como usurpador e a seus súditos como rebeldes que
aproveitaram a juventude e falta de experiência de Roboão. Então,
contrastando o estado religioso dos dois reinos, pintou um quadro negro
das inovações ímpias e da idolatria introduzida por Jeroboão, com a
expulsão e empobrecimento dos levitas (2Cr_11:14); estendeu-se com
razoável orgulho sobre a observância pura e regular das antigas
instituições de Moisés em seus próprios domínios [2Cr_13:11], e
concluiu com esta apelação enfática: “Ó filhos de Israel, não pelejeis
contra o SENHOR, Deus de vossos pais, porque não sereis bem
sucedidos.”
13-17. Mas Jeroboão ordenou aos que estavam de emboscada
que fizessem uma volta e dessem contra eles por detrás — A oração
de Abias, por muito animadora que tenha sido para suas próprias tropas,
não foi atendida pelos inimigos aos quais foi dirigida; porque enquanto
ele estava perdendo o tempo com palavras inúteis, Jeroboão tinha
mandado um destacamento de seus homens a que se dirigissem
silenciosamente pela base da colina, de modo que, quando Abias deixou
de falar, ele e seus seguidores foram surpreendidos pela retaguarda,
enquanto o corpo principal das forças israelitas ficavam na frente. Uma
desastrosa confusão poderia ter sucedido, se os dirigentes não tivessem
clamado “ao SENHOR” e os sacerdotes não tivessem tocado “as
trombetas”, o sinal da vitória (Nm_10:9; Nm_31:6); e, alentados por este
bem conhecido sinal, os homens de Judá responderam com o grito de
guerra, o qual, ressoando por todo o exército, foi seguido por um
arremesso impetuoso contra o inimigo. O encontro foi irresistível. As
filas dos israelitas foram quebradas, porque “feriu Deus a Jeroboão e a
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 37
todo o Israel”. Eles fugiram e a matança sem misericórdia que seguiu,
pode explicar-se somente atribuindo às paixões rancorosas acesas pela
guerra civil.
19. Abias perseguiu a Jeroboão — Esta ação sanguinária alargou
a dissensão entre os dois reinos. Abias abandonou seu propósito original
de subjugar as dez tribos, contentando-se em recuperar algumas cidades
fronteiriças, as quais, situadas dentro de Judá e Benjamim, tinham sido
alienadas ao novo reino do norte. Entre elas estava Betel, que, com suas
associações sagradas, ele estaria desejoso de resgatar da profanação.
20. Jeroboão não restaurou mais o seu poder no tempo de Abias
— A ação desastrosa de Zemaraim, que causou a perda da maior parte de
seu exército, quebrantou seu espírito e arruinou seu poder.
feriu o SENHOR a Jeroboão, que morreu — Viveu, com efeito,
dois anos depois da morte de Abias (1Rs_14:20; 1Rs_15:9). Mas ele
tinha sido ameaçado por grandes calamidades sobre si mesmo e sobre
sua casa, e aparentemente se faz referência antecipadamente aqui à
execução destas ameaças que causaram sua morte.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 38
2 Crônicas 14

Vv. 1-5. ASA DESTRÓI A IDOLATRIA.


1. em cujos dias a terra esteve em paz dez anos — Este longo
intervalo de paz era efeito da grande batalha de Zemaraim (cf.
1Rs_15:11-14).
2. Asa fez o que era bom e reto — (cf. 1Rs_15:14). Entretanto,
seu caráter e vida não estavam livres de faltas (2Cr_16:7, 10, 12).
3. quebrou as colunas — De Baal (veja-se 2Cr_34:3; Lv_26:30).
cortou os postes-ídolos — antes, Aserim.
5. aboliu … o culto nos altos — quer dizer, os dedicado a ritos
idolátricos.
aboliu de todas as cidades de Judá o culto nos altos e os altares
do incenso — Todos os objetos e relíquias da idolatria, em Jerusalém e
outras cidades por todo o seu reino foram destruídos; mas aqueles altos
onde se adorava a Deus sob a figura de um boi, como em Betel, foram
deixados (1Rs_15:14); neste ponto a reforma era incompleta.

Vv. 6-8. TENDO PAZ, FORTIFICA O SEU REINO.


6. Edificou cidades fortificadas em Judá — (veja-se 1Rs_15:22).
7. a terra ainda está diante de nós — quer dizer, enquanto temos
por toda parte progresso livre e indisputável; não há inimigo perto; mas,
como esta época feliz de paz pode não durar para sempre, e o reino é
pequeno e fraco, preparemos defesas convenientes para o caso de
necessidade. Também tinha um exército de 580.000 homens. Judá provia
os soldados fortemente armados, Benjamim os arqueiros. Este grande
número não quer dizer um corpo de soldados profissionais, tais como
compõem os exércitos europeus, mas sim todos os homens aptos para
portar armas, e sujeitos à chamada ao serviço.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 39
Vv. 9-15. VENCE A ZERÁ, E DESPOJA OS ETÍOPES.
9. Zerá, o etíope, saiu contra eles — Este pode ter sido não da
Etiópia, ao sul das cataratas do Nilo, porque no reinado de Osorkon I,
sucessor de Sisaque, não seria permitido a um exército estrangeiro livre
passagem pelo Egito. Zerá deve ter sido, pois, chefe dos cusitas, ou
etíopes da Arábia, como eles eram evidentemente uma horda nômade,
que tinham estabelecimento de carpas e gado nas cercanias de Gerar.
um milhão de homens e trezentos carros — “Vinte camelos
usados para levar mensageiros, podem ter conseguido com que aquele
número de homens se reunisse dentro de breve tempo. Como Zerá era o
agressor, tinha tempo para escolher quando chamaria a esses homens e
atacaria ao inimigo. Cada um destes pastores cusitas, levando consigo
suas próprias provisões de farinha e água, como é seu costume
invariável, poderiam ter pelejado junto a Zerá, sem comer um pão nem
beber meio litro de sua água”. (Bruce, Travels).
10. Asa saiu contra ele; e ordenaram a batalha … perto de
Maressa — Uma das cidades que Roboão tinha fortificado (2Cr_11:8);
perto da grande passagem setentrional nas terras baixas de Judá
(Js_15:44). O encontro dos dois exércitos se efetuou numa planície perto
da cidade, chamada “vale de Zefatá”, supõe-se que seja o caminho largo
que baixa por Beit Jibrin rumo a Tell Essafreh. (Robinson).
11-13. Clamou Asa ao SENHOR, seu Deus — Firme na confiança
de que o poder de Deus era capaz de dar a vitória igualmente com
poucos soldados como com muitos, o piedoso rei partiu com uma força
comparativamente pequena, para fazer frente a formidável hoste de
saqueadores sobre sua fronteira setentrional. Encomendada sua causa a
Deus, empreendeu a batalha, derrotou completamente ao inimigo, e
conseguiu obter como recompensa da vitória, um rico despojo de
tesouros e gado das tendas desta horda pastoril.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 40
2 Crônicas 15

Vv. 1-15. JUDÁ FAZ UMA SOLENE ALIANÇA COM DEUS.


1. Azarias, filho de Odede — Este profeta, que não se menciona
em nenhuma outra parte, aparece nesta etapa da história sagrada em
cumprimento de uma missão interessante. Saiu ao encontro de Asa,
quando voltava de seguir aos etíopes, e o discurso de felicitações aqui
relatado, foi pronunciado publicamente perante o rei na presença de seu
exército.
2. O SENHOR está convosco, enquanto vós estais com ele —
Vocês tiveram, em seu êxito assinalado, uma prova maravilhosa de que a
bênção de Deus está sobre vocês; sua vitória foi a recompensa de sua fé
e piedade. Se firmemente se aderirem à causa de Deus, podem esperar
uma continuação de seu favor; mas se a abandonam, logo colherão os
frutos amargos da apostasia.
3-6. Israel esteve por muito tempo sem o verdadeiro Deus, etc.
— Alguns crêem que Azarias se referia à situação triste e desastrosa a
qual a superstição e a idolatria tinham levado a vizinho reino de Israel.
Suas palavras deveriam ser tomadas num sentido mais amplo, porque
parece manifesto que o profeta tinha o olhar fixo em muitos períodos da
história nacional, quando o povo estava no estado descrito, estado de
pobreza e ignorância espirituais, e manifestava seu resultado natural pela
anarquia extensa, a dissensão mútua entre as tribos, e o sofrimento geral
(Jz_9:23; Jz_12:4; Jz_20:21; 2Cr_13:17). Deus permitia que estas
calamidades lhes acontecessem como castigo de sua apostasia. O
propósito de Azarias nestas observações era o de estabelecer a verdade
de seu conselho (v 2), e as ameaças, em caso de que o descuidassem,
apresentando-lhes o curso uniforme do divino proceder para com Israel,
como manifestado em todos os períodos de sua história; e então, depois
desta apelação à experiência nacional, concluiu com uma ardente
exortação ao rei a que prosseguisse com a obra de reforma tão bem
começada.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 41
7. Mas sede fortes — Firme resolução e energia indomável fariam
falta para enfrentar a oposição que achariam suas medidas de reforma.
a vossa obra terá recompensa — quer dizer, o que fizerem para a
causa e para a glória de Deus, certamente será seguido pelos resultados
mais felizes para vocês e seus súditos.
8. Tendo Asa ouvido estas palavras, e a profecia do profeta
Obede (TB) — A inserção destas palavras: “do profeta Obede”,
geralmente se consideram como uma corrupção do texto.
cobrou ânimo — Animado pelo discurso oportuno e piedoso de
Azarias, Asa veio a ser reformador mais zeloso que nunca, empregando
toda sua autoridade real e influência para extirpar todo vestígio de
idolatria da terra.
como também das cidades que tomara na região montanhosa de
Efraim — Ele poderia ter adquirido estas cidades, a conquista das quais
não se menciona (2Cr_17:2); mas supõe-se usualmente que a referência
é às cidades que tinha tomado seu pai Abias naquela região (2Cr_13:19).
renovou o altar do SENHOR … diante do pórtico — quer dizer,
o altar dos holocaustos. Como isto foi feito no ou perto do décimo quinto
ano do reinado deste piedoso rei, a renovação deve ter consistido em
algumas reparações esplêndidas, ou embelezamentos, que o fizessem
parecer como uma nova dedicação, e numa reconstrução de um altar
temporário, como aquele de Salomão (2Cr_7:7), para sacrifícios
extraordinários que seriam oferecidos numa próxima ocasião vindoura.
9-15. Congregou todo o Judá e Benjamim — Não satisfeito com
estas medidas menores de purificação e melhoramento, Asa meditou um
grande plano que tinha que empenhar a todo seu reino para completar a
obra de reforma, e com este objetivo esperou uma assembleia geral do
povo.
e também os de Efraim, Manassés — A população do reino de
Asa tinha aumentado grandemente pelo grande influxo de estrangeiros,
os quais, impulsionados por motivos de interesse ou de piedade,
buscavam em seus domínios aquela segurança e liberdade que não
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 42
podiam desfrutar entre as complicadas dificuldades que perturbavam a
Israel.
e Simeão — Embora uma porção daquela tribo, radicada dentro do
território de Judá, eram já súditos do reino do sul, o corpo geral dos
simeonitas se juntaram para formar o reino do norte de Israel. Mas
muitos deles agora voltavam por sua própria vontade.
10. no terceiro mês — Quando se celebrava a festa de Pentecostes,
a qual nesta ocasião se festejava em Jerusalém com um sacrifício
extraordinário de 700 bois e 7.000 ovelhas, sendo oferecidos os despojos
dos etíopes; e os adoradores reunidos entraram com grande e santo
entusiasmo numa aliança nacional de “buscarem ao SENHOR, Deus de
seus pais, de todo o coração e de toda a alma”; e ao mesmo tempo, de
que executariam com vigor as leis que fizeram com que a idolatria fosse
punível pela morte (2Cr_15:13; Dt_17:2-5; Hb_10:28). O povo testificou
uma satisfação sem limite com este importante movimento religioso, e
sua influência moral via-se na promoção da piedade, a ordem e a
tranquilidade por todo o país.
18. as coisas consagradas por seu pai — Provavelmente parte do
despojo tomado na vitória sobre Jeroboão, mas que, embora dedicado,
até agora não tinha sido apresentado.
e as coisas que ele mesmo consagrara — Do despojo tomado aos
etíopes. Estes dois agora foram depositados no templo como ofertas
votivas a ele cuja mão direita e braço santo lhes tinha dado a vitória.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 43
2 Crônicas 16

Vv. 1-14. ASA, POR ALIANÇA COM OS SÍRIOS, DISTRAI A


BAASA DE EDIFICAR A RAMÁ.
1-6. No trigésimo sexto ano do reinado de Asa, subiu Baasa ...
contra Judá — Baasa tinha morrido vários anos antes desta data
(1Rs_15:33), e os melhores críticos bíblicos estão de acordo em
considerar esta data como calculada desde a separação dos reinos, e
coincidente com o décimo sexto ano do reinado de Asa. Este modo de
calcular era, com toda probabilidade, seguido geralmente no livro dos
reis de Judá e Israel, os anais públicos dos tempos (v. 11), a fonte de
onde tirou o historiador inspirado seus dados.
Baasa … edificou a Ramá — quer dizer, fortificou-a. A bênção de
Deus, que manifestamente repousava neste tempo sobre o reino de Judá,
a vitória assinalada de Asa, a liberdade e pureza do culto religioso, e a
fama da recente aliança nacional, eram olhados com grande interesse por
todo Israel, e atraíam um número constantemente crescente de
imigrantes para Judá. Baasa, alarmado perante este movimento, resolveu
detê-lo; e como o caminho principal para Jerusalém passava por Ramá,
fez um forte militar naquela cidade fronteiriça, a uns nove e meio
quilômetros da capital de Asa, onde a vigilância de seus sentinelas
preveniria eficazmente toda passagem através da fronteira do reino (veja-
se 1Rs_15:16-22; Jr_41:9).
4. Ben-Hadade … enviou os capitães dos seus exércitos … feriu
a … Abel-Maim — “Prado de águas”, supõe-se que estava situado na
planície lamacenta perto dos lagos superiores do Jordão. As outras duas
cidades estavam no distrito norte da Palestina. Estas hostilidades
inesperadas de seu aliado sírio interromperam as fortificações de Baasa
em Ramá, e sua morte um pouco depois não permitiu que as continuasse.
7-10. veio ter o profeta Hanani com Asa … e lhe disse (TB) —
Seu objetivo foi o de mostrar ao rei seu erro em formar sua recente
aliança com Ben-Hadade. O profeta representou a apropriação dos
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 44
tesouros do templo para comprar os serviços dos mercenários sírios,
como que indicava desconfiança em Deus, mais culpado pela
experiência que tinha tido o rei; e que por consequência desta falta de fé,
Asa tinha perdido a oportunidade de ganhar uma vitória sobre as forças
unidas de Baasa e Ben-Hadade, mais esplêndida que a que tinha tido
sobre os etíopes, vitória, que destruindo seus exércitos, os teria privado
de todo poder para incomodá-lo no futuro: enquanto que, por sua política
tola e mundana, tão indigna do vice-rei de Deus, de usar imperfeitamente
os tesouros do templo, e corromper a fidelidade de um aliado do rei de
Israel, ele tinha tentado a avareza de um e aumentado a hostilidade do
outro, e ele mesmo se havia exposto a novas dificuldades (1Rs_15:32).
Esta repreensão foi aguda e, por sua verdade e exatidão, deveria ter
penetrado e afligido o coração de um homem como Asa. Mas seu amor
próprio foi ofendido pela liberdade tomada por este honorável censor da
realeza, e num arrebatamento de ressentimento apaixonado, mandou que
Hanani fosse lançado no cárcere.
10. na mesma ocasião, oprimiu Asa alguns do povo — Qual foi a
forma e grau desta opressão, não se menciona. A causa pela qual os
oprimiu foi provavelmente pela ofensa de Hanani, ou por uma forte
expressão de descontentamento com sua conduta em fazer aliança com
Ben-Hadade, ou pelo mau trato que estava dando ao servo do Senhor.
12. caiu Asa doente dos pés — Provavelmente a gota.
a sua doença era em extremo grave — antes, sua doença se
estendia “para cima” em seu corpo, o que demonstra quão violenta e
perigosa foi.
contudo, na sua enfermidade não recorreu ao SENHOR, mas
confiou nos médicos — Mais provavelmente médicos egípcios, que
antigamente eram de alta estima nas cortes estrangeiras, e que fingiam
expelir as doenças por meio de feitiços, encantos e artes mágicas. A falta
de Asa consistia em que confiava em semelhantes médicos, enquanto
deixava de suplicar a ajuda e bênção de Deus. Os homens melhores e
mais santos foram traídos por um tempo em pecados, mas mediante o
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 45
arrependimento se levantaram novamente, e como Asa é declarado
homem bom (2Cr_15:17), pode supor-se que ele também foi restaurado a
um melhor estado de mente.
14. Sepultaram-no no sepulcro que mandara abrir — As tumbas
nos arredores de Jerusalém, eram cavadas na ladeira de uma rocha. Uma
cova conteria várias tumbas ou sepulcros.
puseram-no sobre um leito, que se enchera de perfumes e de
várias especiarias — É evidente que foi feito um serviço fúnebre
suntuoso como tributo de respeito e gratidão por seu caráter piedoso e
seu governo patriótico. Mas se o “ataúde” quer dizer um leito, no qual
ele jazia exposto à vista pública, as “matérias odoríferas” foram postas
para neutralizar o aroma ofensivo do cadáver; ou se se refere a um
embalsamamento, no qual se usavam em abundância as especiarias
aromáticas, é impossível dizer.
Foi mui grande a queima que lhe fizeram — Segundo alguns,
para consumir as especiarias; mas segundo outros, foi uma magnífica
pira para a cremação do cadáver, um uso que naquele então e muito
depois era geral entre os hebreus, e a omissão do qual no caso de
personagens reais era considerada uma grande indignidade (2Cr_21:19;
1Sm_31:12; Jr_34:5; Am_6:10).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 46
2 Crônicas 17

Vv. 1-6. JOSAFÁ REINA BEM, E PRÓSPERA.


1. Josafá ... se fortificou contra Israel — O caráter e a conduta
dos reis de Israel fizeram necessário que ele preparasse medidas
vigorosas de defesa sobre a fronteira norte de seu reino, e estas
consistiam em encher completamente todas as fortalezas com suas tropas
e estabelecer fortes militares em várias partes do país, como também nas
cidades do Monte Efraim, as quais pertenciam a Josafá (1Cr_15:8).
3-5. andou nos primeiros caminhos de Davi, seu pai — Imitou a
piedade de seu grande predecessor na primeira parte de seu reinado,
antes daquelas quedas infelizes que desonraram seu caráter.
não procurou a baalins — Termo usado para falar dos ídolos em
geral para distinguir os do Senhor Deus de seu pai.
4. não segundo as obras de Israel — Observava com fidelidade
escrupulosa, e usava sua influência real para apoiar as instituições
divinas como decretadas por Moisés, aborrecendo aquele culto espúrio e
ilegal do bezerro, que agora era a religião estabelecida de Israel. Estando
assim afastado igualmente da idolatria e a apostasia israelitas, e
aderindo-se zelosamente às exigências da lei divina, descansavam sobre
seu governo as bênçãos de Deus; porque, como governava no temor de
Deus e para o bem de seus súditos, “o SENHOR confirmou o reino nas
suas mãos”.
5. todo o Judá deu presentes a Josafá — Isto era um costume do
povo no princípio de um reinado (1Sm_10:27), e depois, anualmente
fazia-se com os nobres e altos funcionários. Eram dados na forma de
ofertas voluntárias, para evitar a ideia odiosa de um imposto ou tributo.
6. Tornou-se-lhe ousado o coração em seguir os caminhos do
SENHOR — Cheio de fé e piedade, de zelo e coragem para empreender
a reforma de costumes, suprimiu todas as obras e objetos de idolatria
(veja-se 2Cr_20:23), e prestou alento ao culto puro de Deus.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 47
Vv. 7-11. ENVIA LEVITAS A ENSINAR EM JUDÁ.
7. No terceiro ano do seu reinado, enviou ele os seus príncipes
… para ensinarem nas cidades de Judá — A obra ordinária de ensino
correspondia aos sacerdotes. Mas comissionados extraordinários foram
nomeados, provavelmente para averiguar se a obra tinha sido feita ou
descuidada. Esta comissão de cinco príncipes, ajudados por dois
sacerdotes e nove levitas, devia fazer um percurso pelas cidades de Judá;
é a primeira medida prática de que temos lido, adotada por um dos reis
para a instrução religiosa do povo. O tempo e as oportunidades sem
interrupção foram concedidos para cumprir este excelente plano de
educação em cada uma das famílias, porque o reino desfrutava de
tranquilidade interna como também de liberdade de guerras estrangeiras.
É conforme ao estilo piedoso do historiador sagrado o traçar esta paz
profunda ao “o terror do SENHOR sobre todos os reinos das terras que
estavam ao redor de Judá”.
9. o livro da lei — quer dizer, o Pentateuco inteiro ou só o livro de
Deuteronômio, que contém um compêndio dela.
11. Alguns dos filisteus traziam presentes a Josafá e prata como
tributo — Ou tinham sido eles tributários, ou estavam desejosos de
conseguir sua valiosa amizade, e agora fizeram uma oferta voluntária de
tributo. Talvez eram os filisteus que se tinham submetido ao jugo de
Davi (2Sm_8:1; Sl_60:8).
também os árabes (TB) — As tribos nômades ao sul do Mar
Morto, aqueles que, buscando a proteção de Josafá depois de sua
conquista de Edom, pagaram seu tributo na forma mais própria segundo
seus hábitos pastoris, em tantas cabeças de ganho.

Vv. 12-19. SUA GRANDEZA, CAPITÃES E EXÉRCITO.


14. Este foi o número deles — Os guerreiros se classificavam
segundo as casas de seus pais. O exército de Josafá, mandado por cinco
grandes generais, e composto de cinco divisões desiguais, compreendiam
um milhão cento e oitenta mil homens, sem incluir os que guarneciam as
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 48
fortalezas. Nenhum monarca do tempo de Salomão, igualou a Josafá na
extensão de suas rendas, no poder de seus fortalezas e o número de suas
tropas.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 49
2 Crônicas 18

Vv. 1-34. JOSAFÁ E ACABE PARTEM CONTRA RAMOTE-


GILEADE.
2. Ao cabo de alguns anos, foi ter com Acabe, em Samaria —
Isto é, palavra por palavra, o mesmo que 1 Reis 22. (Veja-se comentário
sobre aquele capítulo).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 50
2 Crônicas 19

Vv. 1-4. JOSAFÁ VISITA SEU REINO.


1. Josafá, rei de Judá, voltou para sua casa em paz — (Veja-se
2Cr_18:16). Não muito depois que tinha começado de novo suas funções
ordinárias como rei em Jerusalém, um dia foi interrompido por uma
visita imprevista e ominosa de um profeta do Senhor. Este era Jeú, de
cujo pai já houve uma notícia (2Cr_16:7). O mesmo tinha sido chamado
a exercer o posto profético em Israel; mas talvez por sua valente
repreensão a Baasa (1Rs_16:1), tinha sido expulso por aquele monarca
arbitrário ao território de Judá, onde agora o encontramos com a licença
privilegiada de sua ordem, tomando a mesma supervisão religiosa das
atividades de Josafá, como antes fez com Baasa. Na entrevista aqui
relatada, condenou, em termos mais fortes, a aliança imprudente e
incongruente do rei de Judá com Acabe, inimigo aberto de Deus
(1Rs_22:2), como uma aliança ímpia que não conduziria nem à honra e
conforto de sua casa nem aos melhores interesses de seu reino; e
informou a Josafá que, por causa desta grave ofensa, “a ira da presença
de Jeová será sobre ti por isso”; um juízo que foi infligido pouco depois
(2Cr_20). A repreensão do profeta foi administrada num teor misturado
de severidade e doçura; porque interpôs um “porém” (2Cr_19:3), que
dava a entender que a tormenta ameaçada seria prevenida, em sinal da
aprovação divina de seus esforços pela promoção da verdadeira religião,
como também da sincera piedade de seu caráter e vida pessoais.
4. tornou a passar pelo povo — Isto quer dizer sua nova
nomeação da comissão de instrução pública (2Cr_17:7-9), talvez com
poderes novos e um corpo maior de ajudantes, para chegar a cada parte
do país. O grupo de mestres necessitado para aquele propósito seria
facilmente conseguido da tribo inteira de levitas que se estava
concentrando dentro do reino de Judá.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 51
Vv. 5-7. SUAS INSTRUÇÕES AOS JUÍZES.
5-7. Estabeleceu juízes no país, em todas as cidades — Tinha
havido cortes judiciais em períodos anteriores. Mas Josafá foi o primeiro
em modificar estas instituições segundo as circunstâncias do reino agora
fragmentado de Judá. Colocou tribunais em cada uma das cidades
fortificadas, sendo estas capitais provinciais de cada distrito (veja-se
Dt_16:18-20).

Vv. 8-11. AOS SACERDOTES E LEVITAS.


8. estabeleceu ... alguns dos levitas, e dos sacerdotes, e dos
cabeças das famílias — Certo número destas três classes constituíam
uma suprema corte, que se sentava em Jerusalém para revisar casos
apelados desde as cortes inferiores. Constava de duas divisões: a
primeira das quais tinha jurisdição em assuntos eclesiásticos; a segunda,
em casos civis, fiscais e criminais. Segundo outros, as duas divisões da
suprema corte, uma na lei contida nos livros sagrados, e a outra no
costume e equidade, como em alguns países no dia de hoje a lei escrita e
a lei não escrita são objetos de jurisdição separada.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 52
2 Crônicas 20

Vv. 1-21. INVADIDO PELOS MOABITAS, JOSAFÁ


PROCLAMA UM JEJUM.
1. os filhos de Moabe e os filhos de Amom, com alguns dos
meunitas — Supõe-se que seja o nome de certa gente chamada meunitas
(2Cr_26:7), que vivia no Monte Seir; quer seja um ramo da velha raça
edomita, ou uma tribo distinta radicada ali.
2. dalém do mar e da Síria — Em vez da Síria, algumas versões
dizem: “Edom”, e muitos críticos competentes preferem esta leitura
porque as tribos nômades aqui mencionadas estavam longe da Síria, e
porque se faz menção do Monte Seir, isto é, Edom. O sentido, então, é
que esta horda confederada se compunha de tribos diferentes que
habitavam as regiões longínquas sobre a costa norte e este do Mar
Vermelho. Seu progresso era aparentemente pelo sul do Mar Morto, até
En-Gedi, que, anteriormente se chamava Hazazom-Tamar (Gn_14:7).
Esta é a rota uniforme tomada pelos árabes em suas expedições de
pilhagem na atualidade; e ao vir pelo cabo sul do Mar Morto, podem
penetrar pelo sob o Ghor até muito ao norte, sem deixar que seus
movimentos sejam conhecidos pelas tribos e aldeias a oeste da cadeia de
montanhas. Assim antigamente a horda invasora no tempo de Josafá
tinha partido rumo ao norte até En-Gedi, antes que o conhecimento de
seu avanço fosse levado a corte. En-Gedi se reconhece como o moderno
Ain-jedy, e está situado a um ponto sobre a costa ocidental, quase
equidistante de ambos os extremos do lago.
3. Josafá … apregoou jejum em todo o Judá — Alarmado pela
inteligência, e consciente de sua total incapacidade de repelir esta hoste
de invasores, Josafá sentia que seu único refúgio estava no altar.
Resolveu empregar a ajuda de Deus, e, de acordo com esta resolução,
convocou a todos os seus súditos a observar um solene jejum no
santuário. Era costume dos reis hebreus proclamar jejuns em
circunstâncias perigosas, numa cidade, num distrito, ou por tudo seu
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 53
domínio, segundo a emergência. Nesta ocasião era um jejum geral que se
estendia aos meninos (v. 13; veja-se também Jl_2:15-16; Jon_3:7).
5-13. Pôs-se Josafá em pé … na Casa do SENHOR, diante do
pátio novo — no pátio grande ou exterior (2Cr_4:9), chamado o átrio
novo, provavelmente por ter sido naquele então ampliado e embelezado.
6. e disse: Ah! SENHOR, Deus de nossos pais — Esta oração
ardente e impressionante abrange todo tema e argumento que, como rei e
representante do povo, podia ele invocar; e logo conclui com uma
apelação ardente à justiça de Deus para que protegesse àqueles que, sem
provocação, eram atacados, e que eram impotentes para defender-se
contra números esmagadores.
14-18. veio o Espírito do SENHOR ... sobre Jaaziel — Este
profeta não se menciona em outra parte, mas seu título à inspiração de
um espírito profético foi verificado pelo anúncio sereno e distinto que
deu, tanto da maneira como da perfeição da libertação que ele predisse.
16. sobem pela ladeira de Ziz — Este parece ser nada mais que o
presente desfiladeiro que leva rumo ao norte de En-Gedi a Jerusalém,
saindo um pouco mais abaixo de Tecoa. O deserto de Jeruel era,
provavelmente, o grande distrito plano junto ao deserto de Tecoa,
chamado El-Husasah, por um wadi sobre seu lado norte.
18. Josafá se prostrou com o rosto em terra; e todo o Judá, etc.
— Esta atitude era expressiva de reverência a Deus e Sua palavra, de
confiança em Sua promessa e gratidão por favor tão extraordinário.
19. Dispuseram-se os levitas … para louvarem o SENHOR,
Deus de Israel, em voz alta — Sem dúvida, por mandamento do rei; e
seu motete foi cantado com aclamação tão prazerosa que mostrava que
eles consideravam a vitória como já ganha.
20, 21. ao saírem eles, pôs-se Josafá em pé e disse: Ouvi-me, ó
Judá e vós, moradores de Jerusalém! — Provavelmente na porta de
Jerusalém, o lugar de reunião; e como o povo estava por sair, ele os
exortou a pôr confiança implícita no Senhor e seu profeta, a não serem
tímidos ou desalentados ao ver o inimigo, e sim a estar firmes na
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 54
segurança de uma libertação milagrosa, sem que eles pegassem um só
golpe.
21. ordenou cantores … marchando à frente do exército,
louvassem a Deus — Tendo arrumado a linha de procissão, deu o sinal
para avançar; então levando a vanguarda os levitas com seus
instrumentos de música, e cantando o Salmo 136, o povo seguiu adiante,
não como um exército que partisse contra o inimigo, mas sim como
retornando de um triunfo, prazerosos depois da vitória.

Vv. 22-30. A DERROTA DO INIMIGO.


22. Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o
SENHOR emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe e os do
monte Seir — Alguns crêem que isto foi feito por anjos em forma
humana, cuja repentina aparição difundiu um terror ingovernável; outros
opinam que é mais provável que no acampamento desta vasta horda,
composta de tribos diferentes, suscitaram-se ciúme e animosidades, que
levaram a dissensões e rixas ferozes, e que eles desembainharam a
espada um contra outro. A consequência foi, que como a contenda mútua
começou, quando a procissão hebreia saía de Jerusalém, a obra de
destruição foi completada antes que Josafá e seu povo chegassem ao
campo de batalha. Tão fácil é para Deus fazer com que a ira dos homens
O louve, como confundir os conselhos de Seus inimigos e empregar as
mesmas paixões deles para destruir as maquinações que eles tinham
inventado para derrotar a Sua igreja e Seu povo.
24. Tendo Judá chegado ao alto que olha para o deserto —
Mais provavelmente a colina cônica Jebel Fereidis, ou Montanha Frank,
do cimo da qual eles tiveram a primeira vista da cena de matança. Josafá
e seu povo acharam o campo semeado de corpos mortos, de modo que
não tiveram que pelejar, mas sim tomar possessão de um despojo
imenso, a coleta do qual ocupou três dias. No quarto dia empreenderam a
volta a Jerusalém, na mesma ordem e espírito prazeroso como vieram. O
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 55
lugar onde se uniram antes da saída, pelo serviço de ação de graças, foi
chamado “O vale de Beraca” (bênção), agora Wady Bereikut.

Vv. 31-37. SEU REINADO.


31. Josafá reinou sobre Judá — (Veja-se 2Cr_24:1).
32. Ele andou no caminho de Asa, seu pai, e não se desviou dele
— Era mais firme e consequentemente religioso que ele (cf. 2Cr_15:18).
33. os altos não se tiraram — Aqueles em que se praticava a
idolatria eram completamente destruídos (2Cr_17:6), mas aqueles onde o
povo, apesar da ereção do templo, seguiam adorando ao Deus
verdadeiro, a prudência exigia que fossem lenta e gradualmente abolidos,
em consideração ao preconceito popular.
35-37. Depois disto, Josafá, rei de Judá, se aliou com Acazias …
para fazerem navios — Uma frota foi construída em Eziom-Geber, o
destino da qual foi o fazer viagens a Tartessus, mas naufragou. O motivo
de Josafá ao formar esta companhia foi o assegurar livre passagem por
Israel, porque os navios tinham que ser levados através do Istmo do
Suez, e navegar desde um dos portos da Palestina sobre o Mediterrâneo
para o oeste da Europa. Eliézer, profeta, denunciou esta aliança não
santa, e predisse como juízo divino, o total naufrágio da frota. O
resultado foi que, embora Josafá, em obediência à vontade divina,
rompesse a aliança com Acazias, formou um novo plano de uma frota
mercante, e Acazias quis ser admitido como sócio [1Rs_22:48]. A
proposta do rei israelita foi respeitosamente recusada [1Rs_22:49]. O
destino desta frota nova era Ofir, porque os portos israelitas não lhe eram
acessíveis para o comércio de Tartessus; mas estes navios, recém saídas
do dique, naufragaram sobre as rochas de arroio de Eziom-Geber.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 56
2 Crônicas 21

Vv. 1-4 JEORÃO SUCEDE A JOSAFÁ.


1. Descansou Josafá com seus pais … Jeorão, seu filho, reinou
em seu lugar — O finado rei deixou sete filhos; dois deles em nossa
versão se chamam Azarias; mas em hebraico parecem grandemente
diferentes; um se soletra Azariah, e o outro, Azariahu. Josafá fez suas
disposições de família com precaução prudente enquanto vivia (cf.
2Rs_8:16), como também fixou a sucessão ao trono em seu filho mais
velho; e nomeou a cada um dos demais ao governo de uma cidade
fortificada, lhes provendo assim uma independência honorável. Mas as
boas intenções do pai foram frustradas; porque tão logo se achou Jeorão
em possessão do poder soberano, por ciúme ou por causa de seu
parentesco, matou a todos os seus irmãos junto com algumas pessoas de
influência, os quais, suspeitava ele, estavam ligadas aos interesses deles,
ou vingariam sua morte. Tragédias similares foram tristemente
frequentes nas cortes orientais, onde o herdeiro da coroa olha a seus
irmãos como seus inimigos mais formidáveis, e portanto é tentado a
assegurar seu poder pela morte deles.

Vv. 5-7. SEU REINADO ÍMPIO.


6. Andou … como também fizeram os da casa de Acabe, porque
a filha deste era sua mulher — Os preceitos e exemplos de seu
excelente pai logo foram apagados por sua aliança matrimonial com uma
filha da casa real de Israel. Pela influência de Atalia, ele aboliu o culto
ao Senhor, e fomentou a introdução de todas as corrupções prevalecentes
no reino do norte. A vingança divina foi pronunciada contra ele, e teria
destruído completamente a ele e sua família, se não tivesse sido pela
promessa feita a Davi (2Sm_7:29; 2Rs_8:19).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 57
Vv. 8-17. EDOM E LIBNA SE REBELAM.
8. se revoltaram os edomitas — Aquela nação tinha sido feita
dependente de Israel por Davi, e até o tempo de Josafá era governada por
um rei tributário (1Rs_22:47; 2Rs_3:9). Mas quando aquele rei foi
assassinado numa insurreição interna, seu sucessor creu congraçar-se
com seus súditos elevando a bandeira de independência. (Josefo). A
tentativa foi vencida na primeira instância por Jeorão, quem possuía
todos os estabelecimentos militares de seu pai; mas renovada a rebelião
inesperadamente, os edomitas conseguiram emancipar completamente a
seus compatriotas do jugo de Judá (Gn_27:40). Libna, que estava sobre a
fronteira sul e rumo a Edom, seguiu o exemplo daquele país.
12-15. lhe chegou às mãos uma carta do profeta Elias — Como a
translação deste profeta sucedeu no reinado de Josafá [2Rs_2:11, 12],
temos que reconhecer que o nome de Elias, por erro de algum copiador,
foi posto pelo de Eliseu.
13. induziste à idolatria a Judá e os moradores de Jerusalém,
segundo a idolatria da casa de Acabe — quer dizer, introduziu as
superstições e vícios da idolatria fenícia (veja-se Dt_13:6-14). Por causa
disto, como também por suas crueldades desumanas, a vingança divina
foi denunciada contra ele, a qual pouco depois foi executada exatamente
como o profeta havia predito. Uma série de entristecedoras calamidades
aconteceu a este ímpio rei; porque além das rebeliões já mencionadas,
duas tribos vizinhas (veja-se 2Cr_17:11) fizeram incursões hostis contra
as porções sul e oeste de seu reino; seu país foi saqueado, sua capital
tomada, seu palácio despojado, suas esposas levadas, todos os seus filhos
mortos exceto o menor, e ele mesmo foi presa de uma disenteria
incurável, que depois de sujeitá-lo ao sofrimento mais doloroso durante o
período inusitado de dois anos, causou-lhe a morte, um monumento do
juízo divino; e, para encher sua degradação, sua morte não foi
lamentada, nem sua sepultura honrada por seus súditos. Este costume,
similar ao que se fazia no Egito, parece haver-se introduzido entre os
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 58
hebreus, de dar honras fúnebres a seus reis, ou de recusá-los, segundo o
caráter bom ou mau de seu reinado.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 59
2 Crônicas 22

Vv. 1-9. SUCEDENDO AO TRONO, ACAZIAS REINA


IMPIAMENTE.
1. Os moradores de Jerusalém ... fizeram rei a Acazias — Ou,
Jeoacaz (2Cr_21:17). Como todos os seus irmãos maiores tinham sido
assassinados pelos saqueadores árabes, o trono de Judá por direito lhe
pertencia como o único herdeiro legítimo de Jeorão.
2. Tinha Acazias quarenta e dois anos quando começou a reinar
(TB) — (cf. 2Rs_8:26). Segundo aquela passagem, o começo de seu
reinado está datado no ano vinte e dois de sua idade, e segundo este, no
ano quarenta e dois do reino da família de sua mãe. (Lightfoot). “Se
Acazias subiu ao trono no ano vinte e dois de sua vida, teria nascido no
ano dezenove de seu pai. Então, pode parecer estranho que tivesse
irmãos maiores; mas no Oriente se casam muito jovens, e os príncipes,
além da esposa principal, tinham concubinas, como as tinha Jeorão
(2Cr_21:17); ele, então, aos dezenove anos muito bem podia ter tido
vários filhos”. (Keil). (cf. 2Cr_21:20; 2Rs_8:17).
Atalia, filha de Onri (RC) — Mais propriamente, neta. A
expressão usa-se livremente, pois o relatório é dado simplesmente com o
propósito de indicar que ela pertencia àquela raça idólatra.
3, 4. sua mãe era quem o aconselhava … eles eram seus
conselheiros — O rei fraco se rendeu completamente à influência da
mãe e seus parentes. Atalia e seu filho introduziram uma corrupção geral
da moral, e fizeram que a idolatria fosse a religião da corte e da nação.
Por eles ele foi persuadido não só a conformar-se à religião do reino do
norte, mas também a tomar parte numa nova expedição contra Ramote-
Gileade (veja-se 2Rs_9:10).
5. foi … à peleja contra Hazael, rei da Síria — Pode mencionar-
se como confirmação minuciosa e portanto importante desta parte da
história sagrada, que os nomes de Jeú e Hazael seu contemporâneo
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 60
foram achados nas esculturas assírias; e ali também há uma notícia de
Etbaal, rei de Sidom, quem foi o pai de Jezabel.
6. desceu Acazias — quer dizer, de Ramote-Gileade, a visitar o rei
de Israel, quem estava em Jezreel curando-se de suas feridas; e lá fugiu
para ouvir da rebelião de Jeú.
9. mandou procurar a Acazias, e, achando-o em Samaria, onde
se havia escondido, o trouxeram — (cf. 2Rs_9:27-29). Os dois relatos
concordam. “Acazias fugiu primeiro à casa do jardim, e escapou a
Samaria; mas ali foi tomado pelos homens de Jeú, que lhe tinham
seguido, foi levado a Jeú, quem ainda estava em ou perto de Jezreel, e a
sua ordem foi morto na colina de Gur, ao lado de Ibleã, em seu carro;
quer dizer foi mortalmente ferido por uma flecha, de modo que, fugindo
outra vez, expirou em Megido”. (Keil). Jeú deixou o cadáver à
disposição dos assistentes do rei de Judá os quais o levaram a Jerusalém,
e por respeito à memória de seu avô Josafá, deram-lhe honorável
sepultura nos sepulcros dos reis.
ninguém houve na casa de Acazias que pudesse reinar — Seus
filhos eram muito jovens para tomar as rédeas do governo, e todos os
outros príncipes tinham sido massacrados por Jeú (v. 8).

Vv. 10-12. ATALIA DESTRÓI A SEMENTE REAL EXCETO


JEOÁS, USURPA O REINO.
10. Atalia … levantou-se e destruiu toda a descendência real —
(veja-se 2Rs_11:1-3). Irada pelo massacre da família real de Acabe, ela
resolveu que a casa real de Davi teria a mesma sorte. Conhecendo a
ordem que Jeú tinha recebido, de extirpar toda a posteridade de Acabe,
ela pensou que estenderia a ela a espada. Antecipando os seus
movimentos, ela resolveu, como sua única defesa e segurança, usurpar o
trono, e destruir a “semente real”, tanto porque eram hostis ao culto
fenício de Baal, que ela estava resolvida a apoiar, como porque se um
dos jovens príncipes chegava a ser rei, a mãe dele a suplantaria na
dignidade de mãe de rei.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 61
12. esteve seis anos com eles escondido na casa de Deus (TB) —
Certas pessoas relacionadas com o sacerdócio, tinham direito de ocupar
os edifícios da parte exterior do muro e toda a parte dentro do muro
interior com frequência a chamava o templo. Joiada e sua família viviam
em um destes compartimentos.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 62
2 Crônicas 23

Vv. 1-11. JOIADA FAZ REI A JOÁS.


1. No sétimo ano, Joiada … entrou em aliança com os capitães
de cem, etc. — (Veja-se 2Rs_11:4, 2Rs_11:17). Os cinco oficiais
mencionados aqui, tinham sido provavelmente da guarda real, e eram
conhecidos como fortemente descontentes com o governo de Atalia.
2. cabeças das famílias de Israel — Este nome usa-se
frequentemente em Crônicas por Judá e Benjamim, tudo o que ficava de
Israel. Havendo cautelosamente confiado o segredo da preservação do
jovem príncipe a todos os homens principais do reino, conseguiu o
interesse deles na causa real, e sua promessa de apoiá-la, mediante um
juramento secreto de fidelidade.
vieram para Jerusalém — O tempo escolhido para a grande
descoberta foi, provavelmente, uma das festas anuais, quando havia uma
reunião geral da nação na capital.
4. Esta é a obra que haveis de fazer — Os acertos para a defesa
do príncipe aqui se descrevem. O povo foi dividido em três corpos: um
servia como guarda do rei, enquanto que os outros dois estavam
estacionados às portas e os portões, e os capitães e oficiais militares, que
entraram no templo sem suas armas para evitar suspeitas, receberam
armas da casa de armas sagrada, onde Davi tinha depositado seus troféus
de vitória, e que foram tiradas nesta ocasião.
8. o sacerdote Joiada não despediu os turnos — Como era
necessário ter disponível uma força tão grande como pudesse mandar em
semelhante crise, o sumo sacerdote deteve os que, em outras
circunstâncias, teriam voltado para seus lares no final de sua semana de
serviço.
11. Então, trouxeram para fora o filho do rei, puseram-lhe a
coroa, entregaram-lhe o Livro do Testemunho — Alguns pensam que
a palavra original que se traduz “testemunho”, como sua derivação
justifica, aqui pode significar “insígnias”, especialmente o bracelete
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 63
(2Sm_1:10). Ao mesmo tempo, parece igualmente pertinente tomar
“testemunho” na acepção usual do termo; e, com efeito, muitos têm a
opinião de que um rolo que continha cópia da lei (Dt_17:18) foi posto
nas mãos do rei, o qual ele tinha como cetro ou fortificação; enquanto
outros, referindo-se a um costume oriental de que quando se recebe uma
carta ou documento da parte de personagem muito respeitado, levanta
sua cabeça antes de abri-lo, consideram que Joás, além da coroa, tinha o
livro da lei posto sobre sua cabeça (veja-se Jó_31:35-36).
Viva o rei!—Literalmente, longa vida ao rei.

Vv. 12-15. ATALIA É MORTA.


12. Ouvindo Atalia o clamor do povo — A rara comoção indicada
pelo som das trombetas e as aclamações veementes do povo, chamou-lhe
a atenção e despertou os seus temores. Ela deve haver-se felicitado,
crendo que, tendo massacrado a toda a família real, estava ela em
perfeita segurança; mas também é igualmente provável que, sabendo que
um escapou de suas mãos homicidas, não conviria iniciar uma
averiguação; mas a mesma ideia a tinha constantemente em estado de
suspeita zelosa e de irritação. Naquele estado de ânimo, ouvindo a ímpia
usurpadora a explosão de regozijo popular, além do vale Tiropeo se
lançou pela ponte até o lugar do templo, e, de uma só olhada ao dar-se
conta do significado de toda a cena emitiu o grito de “Traição!”
13. olhou, e eis que o rei estava junto à coluna, à entrada — A
coluna do rei estava no átrio do povo, frente ao dos sacerdotes. O jovem
rei, adornado com as insígnias reais, tinha sido tirado do átrio interior ao
exterior, a à vista do público. Alguns crêem que estava sobre a
plataforma de bronze de Salomão, levantado o lado da coluna [veja-se
2Cr_6:13].
14, 15. Não a matem na Casa do SENHOR … e ela, pelo
caminho da entrada dos cavalos, foi à casa do rei, onde a mataram
— O sumo sacerdote ordenou que ela fosse tirada imediatamente do
recinto do templo e fosse morta: “Abriram caminho para ela; ela foi pelo
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 64
caminho da entrada dos cavalos à casa do rei; e ali foi morta”
(2Rs_11:16, TB). “Agora, não temos que supor que os cavalos entrassem
na casa residencial do rei, mas na casa de cavalos do rei, ou hipódromo
(a porta das mulas do rei, segundo Josefo), que ele tinha edificado ao
sudeste do templo, nas imediações da porta de cavalos no vale do
Cedrom, vale que naquele então era uma espécie de lugar profanado pela
destruição de ídolos e seus pertences” (2Rs_23:2, 2Rs_23:6, 2Rs_23:12).
(Barclay, City of the Great King).

Vv. 16. JOIADA RESTAURA O CULTO DE DEUS, E


ESTABELECE O REI.
16. Joiada fez aliança entre si mesmo, o povo e o rei — (Veja-se
2Rs_11:17).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 65
2 Crônicas 24

Vv. 1-14. JOÁS REINA BEM TODOS OS DIAS DE JOIADA.


1-3. Joás ... começou a reinar — (Veja-se 2Rs_12:1-3).
3. Tomou-lhe Joiada duas mulheres — Como Joiada já era muito
velho para fazer tais alianças, os intérpretes em geral dizem que estas
palavras se referem ao jovem rei.
4-14. resolveu Joás restaurar a Casa do SENHOR — (Veja-se
2Rs_12:4-16).

Vv. 15, 16. A MORTE DE JOIADA.


15. Envelheceu Joiada e morreu — Sua vida prolongada a uma
velhice extraordinária, e utilizada no serviço de seu país, mereceu algum
tributo de gratidão pública, e este lhe foi rendido nas honras póstumas
que lhe foram feitas. Entre os hebreus, o enterro dentro dos muros era
proibido em todas as cidades exceto Jerusalém, e ali se fez a exceção
somente a favor da família real e pessoas de eminente mérito, sobre os
quais se conferia a distinção de ser sepultadas na cidade de Davi, entre
os reis, como no caso de Joiada.

Vv. 17-22. JOÁS CAI NA IDOLATRIA.


17. vieram os príncipes de Judá e se prostraram perante o rei
— Até então, enquanto Joás ocupava o trono, seu tio tinha levado as
rédeas do poder soberano, e com seus excelentes conselhos tinha dirigido
o jovem rei a tomar tais medidas que promovessem os interesses civis e
religiosos do país. A piedade fervente, sabedoria prática e firmeza
inflexível daquele sábio conselheiro exerciam uma influência imensa
sobre todas as classes da população. Mas agora que o leme do navio do
estado não era governado pela cabeça sã e a mão firme do venerável
sumo sacerdote, apareciam os méritos reais da administração de Joás; e
por falta de princípios bons e iluminados, como também de uma energia
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 66
natural de caráter, ele se deixou levar adiante sobre um curso que logo
fez naufragar o navio sobre escolhos ocultos.
o rei os ouviu, etc. — Eles eram secretamente apegados à idolatria,
e sua elevada posição proporciona uma prova triste de quão extensa e
profundamente a nação se corrompeu durante os reinados de Jeorão,
Acazias e Atalia. Com fortes profissões de lealdade, eles humildemente
pediram que não fossem obrigados à necessidade contínua de viagens
frequentes e custosas a Jerusalém mas sim que se lhes concedesse o
privilégio que tinham desfrutado de seus pais, de adorar a Deus nos altos
perto de seus lares; e eles redigiram sua petição desta maneira plausível e
menos ofensiva, sabendo bem que, desculpados de assistir ao templo,
poderiam, sem risco de ser descobertos e incomodados, satisfazer seus
gostos na observância de qualquer rito particular que gostassem. O rei,
fraco de espírito, concedeu-lhes sua petição, e o resultado foi que quando
deixaram a casa do Senhor Deus de seus pais, logo “serviram aos postes-
ídolos e aos ídolos”.
18. veio grande ira sobre Judá e Jerusalém — A menção especial
de Jerusalém como envolta no pecado dá a entender que a negligência do
templo e a idolatria conseguinte recebiam não só a tolerância do rei mas
também sua sanção; e naturalmente nos ocorre perguntar como, com sua
idade amadurecida, poderá explicar-se tal abandono de um lugar com o
qual estavam associados todas as suas lembranças juvenis. Sugeriu-se
que o que ele tinha visto da conduta de muitos sacerdotes no
cumprimento negligente do culto, e especialmente sua falta de vontade
para recolher o dinheiro assim para dedicar uma parte de seus entradas
para as composturas do templo, tinham-no afastado e aborrecido.
(Leclerc).
19. o SENHOR lhes enviou profetas — Eliseu, Miqueias, Jeú
filho do Hanani, Jaaziel, filho de Zacarias (2Cr_20:14), Eliézer, filho do
Dodavá (2Cr_20:37), viviam e ensinavam naquele tempo. Mas todas as
suas advertências e anúncios proféticos eram ignorados e desobedecidos.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 67
20. O Espírito de Deus se apoderou de Zacarias, filho do
sacerdote Joiada — provavelmente um filho mais novo, porque seu
nome não ocorre na lista dos sucessores de Arão (1Cr_6:4-47).
o qual se pôs em pé diante do povo — sendo da ordem sacerdotal,
falou do átrio interior, o qual era grandemente mais alto que o do povo.
e lhes disse: Assim diz Deus: Por que transgredis os
mandamentos do SENHOR, de modo que não prosperais? Porque
deixastes o SENHOR, também ele vos deixará. — Seu próximo
parentesco com o rei deveria ter criado um sentimento de delicadeza e
relutância de intervir; mas no final, ele também, foi movido por um
impulso irresistível de protestar contra a impiedade prevalecente. A
valente liberdade e energia de sua [de Zacarias] admoestação, como
também seu anúncio das calamidades nacionais que certamente
seguiriam, eram mais desagradáveis ao rei; enquanto que despertaram de
tal modo as paixões ferozes da multidão de tal maneira que uma banda
de ímpios, pela instigação secreta de Joás, o apedrejaram até matá-lo.
Este ato de violência atribui cumplicidade criminal da parte do rei. Foi
um ultraje horrendo sobre um profeta do Senhor, vil ingratidão a uma
família que lhe tinha conservado a vida, trato atroz a um verdadeiro
patriota hebreu, um exercício ilegal e injusto de seu poder e autoridade
de rei.
22. ao expirar, disse: O SENHOR o verá e o retribuirá — Estas
palavras, se foram uma imprecação reivindicativa, mostram um contraste
notável com o espírito dos primeiros mártires cristãos (Hch_7:60). Mas,
em vez de ser a expressão de um desejo pessoal, poderiam ser a
expressão de um juízo profético.

Vv. 23-27. É MORTO POR SEUS SERVOS.


23. Antes de se findar o ano, subiu contra Joás o exército dos
siros — Esta invasão foi feita sob a direção pessoal de Hazael, a quem
Joás, para evitar as misérias de um sítio, persuadiu a retirar suas forças
mediante um grande presente de ouro (2Rs_12:18). Mais provavelmente
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 68
também, prometeu o pagamento de um tributo anual, pelo descuido ou
negação do qual os sírios voltaram no ano seguinte, e com um punhado
de soldados infligiu uma derrota total e humilhante sobre as forças
unidas dos hebreus.
25. deixando-o gravemente enfermo — O fim de sua vida foi
amargurado por uma doença dolorosa, que por longo tempo o teve em
cama.
conspiraram contra ele os seus servos — Estes dois conspiradores
(cujos pais eram judeus, e suas mães estrangeiras) eram provavelmente
cortesãos, aqueles que, tendo acesso a seu dormitório, podiam mais
facilmente executar seu propósito.
por causa do sangue dos filhos do sacerdote Joiada — Leia “o
filho” de Joiada. A opinião pública parece ter atribuído os desastres de
sua vida e reinado àquele vil crime, e como o rei já tinha perdido a
estima e respeito de seus súditos, não houve expressão de horror nem
pesar por seu fim miserável.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 69
2 Crônicas 25

Vv. 1-4. AMAZIAS COMEÇA A REINAR BEM.


1. Era Amazias ... de vinte e cinco anos, etc. — (Ver 2Rs_14:1-6).

Vv. 5-10. CONTRATA UM EXÉRCITO DE ISRAELITAS


CONTRA EDOM.
5. Amazias … sob chefes de mil e chefes de cem, por todo o
Judá, etc. — Como todos os aptos a portar armas estavam obrigados a
prestar serviço, foi muito natural fazer as listas de recrutas, classificá-los
segundo as suas respectivas famílias e nomear oficiais da mesma
filiação; de modo que todos os soldados que formavam um regimento,
eram irmãos, parentes e amigos. Assim as tropas hebreias estavam
estreitamente enlaçadas, e tinham bons motivos para estar firmes em
suas fileiras.
achou trezentos mil escolhidos — Esta era só a quarta parte do
exército de Josafá (2Cr_17:14-19), mostrando-se quão tristemente o
reino de Judá, no espaço de oitenta e dois anos, tinha sido reduzido em
sua população por guerras estrangeiras, não menos que por corrupção
interna. Mas pode ser que o número completo das tropas de Amazias não
esteja aqui indicado.
6. tomou de Israel a soldo cem mil homens valentes por cem
talentos de prata — Esta soma foi paga ao real fisco de Jeoacaz, não
dava como prêmio aos próprios mercenários, os quais estavam obrigados
a servir à ordem de seu rei; a remuneração deles devia consistir no
despojo que conseguiriam. A soma chegaria a 50.000 libras, resultando
como dez xelins por homem, inclusive oficiais, soma miserável em
comparação com o bônus que se dá aos soldados neste país. Mas é
preciso lembrar que em tempos antigos as campanhas eram curtas, e os
perigos do serviço comparativamente pequenos.
7, 8. Porém certo homem de Deus veio a ele — enviado a
dissuadir a Amazias do curso que estava seguindo, sobre o princípio de
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 70
que “o SENHOR não é com Israel”. Esta declaração foi perfeitamente
inteligível ao rei. Mas o historiador, escrevendo muito depois, creu que
poderia necessitar elucidação, e acrescentou, pois, o comentário, “com os
filhos de Efraim”. A idolatria tinha sido desde muito tempo a religião
prevalecente daquele reino, e Efraim era seu centro principal de
adoração. Quanto à outra parte do conselho do profeta (2Cr_25:8), há
uma considerável obscuridade, na forma como segue o texto; e
consequentemente, alguns críticos eruditos sugeriram a inserção de
“não” à cláusula média, de maneira que o versículo seria assim [na RC]:
“esforça-te para a peleja; Deus não te fará cair diante do inimigo, porque
força há em Deus para ajudar e para fazer cair”. *
10. separou Amazias as tropas que lhe tinham vindo de Efraim
… muito se acendeu a ira deles contra Judá — Amazias, que conhecia
sua posição como vice-rei de Jeová, obedeceu o conselho do profeta, e
consentindo em perder o preço do contrato dos soldados israelitas,
despachou-os. Exasperados por este tratamento, eles resolveram repor a
perda de seu esperado despojo, e de volta a seus lares saquearam todas as
cidades em seu caminho, cometendo grande dano tanto de vida como de
propriedade, sem estorvo algum, pois o rei de Judá e seu exército tinham
saído em sua expedição (2Rs_14:7).
11. vale do Sal — Esta quebrada está ao sul do Mar Morto. As
armas de Amazias, em recompensa por sua obediência à vontade divina,
foram coroadas de vitória; dez mil idumeus foram mortos na batalha, e
um numero igual tomados prisioneiros, os quais foram mortos por
precipitação desde o “cimo de um penhasco” [2Cr_25:12]. Esta rocha
pode ter estado situada perto do campo de batalha, mas o mais provável
é que forma um dos altos penhascos acidentados de Sela (Petra), capital
dos edomitas, aonde Amazias partiu diretamente desde o vale do Sal, e a
qual tomou (2Rs_14:7). A crueldade selvagem usada com eles foi em
*
A RA (Almeida Revista e Atualizada, tradução padrão adotada) pôs o acréscimo “do contrário”,
seguindo o acréscimo even so da NKJV (New King’s James Version), posta em itálico no texto. –
Nota do Tradutor.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 71
compensação por barbaridades similares infligidas sobre os hebreus, ou
para colocar terror em povo tão rebelde, para o futuro. Este modo de
execução, de esmagar contra pedras (Sl_137:9), era comum entre muitas
nações antigas.
14-16. Amazias … trouxe consigo os deuses dos filhos de Seir —
Os edomitas adoravam o sol sob formas e ritos diferentes. Mas a queima
de incenso em altares era um ato principal de culto e isto foi exatamente
a mesma coisa que se diz que Amazias estava fazendo com estranha
paixão. Se ele tinha sido cativado pela beleza das imagens, ou se
esperava, por honrar estes deuses, tirar a irritação que tinham contra ele
por sua conquista e duro tratamento a seus adeptos, sua conduta em
estabelecer estes objetos de homenagem religiosa em Jerusalém, foi tola,
ignorante e altamente ofensiva a Deus, quem comissionou a um profeta
para que o repreendesse por sua apostasia, e o ameaçasse com a
calamidade que pouco depois lhe aconteceu.
16. Enquanto o profeta falava estas coisas, etc. — Os que estavam
investidos do caráter profético, tinham direito de aconselhar aos reis, e se
Amazias não se tivesse ofendido por esta ingrata verdade, teria admitido
a reclamação de este profeta, quem provavelmente era o mesmo que lhe
tinha dado conselho antes da guerra com Edom. Mas a vitória o tinha
exaltado e cegado.

Vv. 17. PROVOCA A JOÁS PARA SU PROPIA DERROTA.


17. Amazias … enviou mensageiros a Jeoás … Vem, meçamos
armas — (veja-se 2Rs_14:8-20).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 72
2 Crônicas 26

Vv. 1-8. UZIAS SUCEDE A AMAZIAS, E REINA BEM NOS


DIAS DE ZACARIAS.
1. Todo o povo de Judá tomou a Uzias — (veja-se 2Rs_14:21-22;
2Rs_15:1-3).
2. Ele edificou a Elate — Ou, “ele foi quem edificou a Elate”. O
relato das fortificações deste porto sobre o Mar Vermelho, que Uzias
restituiu ao reino de Judá (2Cr_33:13), coloca-se antes das notícias
cronológicas (v. 3), quer seja pela importância atribuída à conquista de
Elate, ou pelo desejo do historiador de introduzir a Uzias como o rei que
foi conhecido como o conquistador de Elate. Além disso, indica que a
conquista ocorreu no princípio de seu reinado; que era importante como
porto, e que os comerciantes hebreus mantinham o velho comércio entre
esse porto e os países do Oriente.
5. Propôs-se buscar a Deus nos dias de Zacarias — Conselheiro
sábio e piedoso, quem era perito em entender o sentido e as lições das
antigas profecias, e que exercia uma saudável influência sobre Uzias.
6, 7. Saiu e guerreou contra os filisteus — Ele os venceu em
muitas batalhas; desmantelou suas cidades, e edificou cidades
fortificadas, para os ter em sujeição.
Jabné — a mesma que Jabneel (Js_15:11). Alguns crêem que Gur-
baal é Gerar, outros, Gebal.
8. Os amonitas deram presentes — Os países a leste do Jordão
deveriam ter sido seus tributários, e por sucessão rápida e extensão de
vitórias, seu reino se estendeu até a fronteira egípcia.

Vv. 9, 10. SEUS EDIFÍCIOS.


9. Também edificou Uzias torres em Jerusalém, etc. — De onde
se poderia resistir e se poderiam usar armas de lançamento contra os
atacantes. Os lugares onde estavam as torres principais eram: a esquina
noroeste da cidade, “a porta do ângulo” (2Cr_25:23); a porta do vale, ao
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 73
lado oeste, onde está agora a porta Jope; junto às esquinas, uma curva no
muro ao lado leste de Sião. A cidade, neste ponto, dominava a porta dos
cavalos, a qual era defesa de Sião, e a colina do templo a sudeste.
10. Também edificou torres no deserto — Com este tríplice
propósito: vigilância, defesa, e proteção ao gado; também cavou muitos
poças, porque amava e incentivava todas os ramos da agricultura. Alguns
destes estavam no deserto, no distrito a sudoeste de Jerusalém e a oeste
do Mar Morto, um extenso distrito de pastoreio nas planícies entre as
montanhas de Judá e o Mediterrâneo; e nas planícies a leste do Jordão,
no território de Rúben (Dt_4:43; Js_20:8).

Vv. 11-15. SEU EXÉRCITO E MÁQUINAS DE GUERRA.


11. exército de homens destros nas armas, que saíam à guerra
— Levantou um forte corpo de milícia, dividido em companhias ou
regimentos de número uniforme, que serviam por turnos. A enumeração
foi feita por dois funcionários peritos em confeccionar listas de recrutas,
e sob a superintendência de Hananias, um dos altos oficiais da coroa. O
exército consistia em 307.500 homens seletos, sob o comando de dois
mil oficiais valentes, chefes ou cabeças de família. Estavam
completamente providos de todo tipo de equipe militar, desde elmos de
bronze e couraças, até fundas para atirar pedras.
15. Fabricou em Jerusalém máquinas, de invenção de homens
peritos … para atirarem flechas e grandes pedras — Esta é a
primeira notícia que ocorre na história do uso de máquinas para atirar
projéteis. A invenção aparentemente se credita a Uzias, e Plínio diz
expressamente que tiveram sua origem na Síria.
foi maravilhosamente ajudado, até que se tornou forte — Se
conduziu como convinha ao vice-rei do Rei divino, e prosperou.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 74
Vv. 16-21. INVADE A FUNÇÃO DO SACERDOTE, E É
FERIDO DA LEPRA.
16. cometeu transgressões contra o SENHOR, etc. — (Veja-se
2Rs_15:5). Este ato atrevido e ímpio nos dois relatos se atribui à
influência embriagante de amor próprio e vaidade. Mas aqui se
mencionam circunstâncias adicionais de que a sua entrada se opunham o
sumo sacerdote e oitenta sacerdotes inferiores, os quais fizeram fortes
repreensões (1Cr_6:10). A ira e as ameaças foram a única resposta que
se atreveu a fazer, mas Deus se encarregou de vindicar a santidade do
ofício sacerdotal, e no momento que o rei levantou o censo, o feriu de
lepra. É dito que o terremoto mencionado em Am_1:1 se sentiu naquele
momento (Josefo).
21. morou, por ser leproso, numa casa separada — Numa
enfermaria. (Bertheau).
23. o sepultaram no campo do sepulcro que era dos reis — Não
foi enterrado no sepulcro dos reis, mas sim perto dele, pois o cadáver de
um leproso o teria profanado.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 75
2 Crônicas 27

Vv. 1-4. REINANDO BEM, JOTÃO PROSPERA.


1. Tinha Jotão vinte e cinco anos — (Veja-se 2Rs_15:32-35).
Era o nome de sua mãe Jerusa, filha de Zadoque — Ou
descendente do famoso sacerdote com aquele nome.
2. Fez o que era reto — A retidão geral de seu governo se descreve
ao representá-lo como conduzido sobre os excelentes princípios que
tinham guiado a primeira parte do reinado de seu pai.
o povo continuava na prática do mal — (Veja-se 2Rs_15:35);
mas a descrição aqui é mais enfática no sentido de que, embora Jotão fez
muito para promover o bem do reino, e aspirava uma completa reforma,
a maldade geral e arraigada do povo frustrava todos os seus louváveis
esforços.
3. Ele edificou a porta de cima da Casa do SENHOR — Situada
ao norte, naquela porção da colina do templo que era alta em
comparação com a parte sul; por isto é chamada “a porta de cima” ou
superior (2Rs_15:35). Edificou, antes, reparou e embelezou.
edificou muitas obras sobre o Muro de Ofel — Heb. “Ofel”, quer
dizer, o monte ou eminência no declive rumo ao sudeste do monte do
templo, série de colinas entre os vales Cedrom e Tiropeo, chamada “a
cidade baixa”. (Josefo). Ele “edificou muito”, tendo o mesmo desejo do
pai de assegurar a defesa de Jerusalém por toda parte.
4. edificou cidades na região montanhosa de Judá e nos
bosques, castelos e torres — nos lugares elevados e mastreados, onde
não se podiam edificar cidades, levantou castelos e torres.

Vv. 5-9. DOMINA OS AMONITAS.


5. Ele também guerreou contra o rei dos filhos de Amom — Esta
invasão dos amonitas não só resistiu, mas também perseguindo os
amonitas em seu próprio território, impôs-lhes um tributo anual, o qual
eles pagaram por dois anos; mas quando Rezim, rei da Síria e Peca, rei
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 76
de Israel combinaram suas forças para atacar o reino de Judá, eles
aproveitaram a oportunidade para rebelar-se, e Jotão estava muito
distraído com outros assuntos para tentar a retomada (veja-se
2Rs_15:37).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 77
2 Crônicas 28

Vv. 1-21. ACAZ, REINANDO IMPIAMENTE, É AFLIGIDO


PELOS SÍRIOS.
1-4. Tinha Acaz vinte anos — (Veja-se 2Rs_16:1-4). Este príncipe
rejeitando os princípios e exemplos de seu excelente pai, mostrou uma
forte tendência para a idolatria. Reinou com uma autoridade arbitrária e
absoluta, e não como soberano teocrático; não só abandonou o templo de
Deus, mas também abraçou o culto simbólico do reino de Israel, e mais
tarde a idolatria praticada pelos cananeus.
5, 6. o SENHOR, seu Deus, o entregou nas mãos do rei dos siros
… também foi entregue nas mãos do rei de Israel — Estes versículos,
sem referir-se à formação de uma aliança entre os reis sírio e israelita
para invadir ao reino de Judá, ou sem relatar o princípio da guerra nos
últimos anos do reinado de Jotão (2Rs_15:37), só dão o resultado de
algumas batalha que foram livradas na primeira parte da campanha.
o entregou … o derrotaram … também foi entregue — quer
dizer, seu exército, porque Acaz pessoalmente não foi incluído no
número dos mortos ou dos cativos. A matança de 120.000 num dia foi
uma calamidade terrível, a qual, diz-se expressamente (v. 6), foi infligida
como um juízo sobre Judá, “por terem abandonado o SENHOR, Deus de
seus pais.” Entre os mortos, houve algumas pessoas de distinção, como:
7. Maaseias, filho do rei — Como os filhos de Acaz devem ter
sido muito jovens para tomar parte numa batalha, esta pessoa deve ter
sido um filho mais novo do finado rei Jotão.
Azricão, alto oficial — quer dizer, do palácio; e
Elcana, o segundo depois do rei — seu primeiro-ministro
(Gn_41:40; Est_10:3). Todos estes foram derrubados sobre o campo de
batalha pelo Zicri, um guerreiro israelita, ou como pensam alguns,
mortos por ordem depois da batalha. Um vasto número de cativos
também caíram em poder dos vencedores; feita uma divisão dos
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 78
prisioneiros igualmente entre os aliados, foram enviados sob escolta
militar às capitais da Síria e Israel [2Cr_28:8].
8. Os filhos de Israel levaram presos de Judá, seu povo irmão,
duzentos mil — Estes cativos incluíam um grande número de mulheres,
rapazes e moças, uma circunstância que cria o pressuposto de que os
hebreus, como outros orientais, eram acompanhados na guerra por
multidões de pessoas que não eram combatentes (Jz_4:8). O relatório de
que estes “irmãos” eram trazidos a Samaria como cativos, produziu uma
indignação geral entre os habitantes de bons sentimentos: e Obede, um
profeta, acompanhado pelos príncipes (v. 12, comparado com v. 14), saiu
enquanto se aproximava a escolta, para evitar o vergonhoso ultraje de
que tais prisioneiros fossem introduzidos na cidade. Naturalmente, os
oficiais dos esquadrões não tinham a culpa; eles só cumpriam seu dever
militar de conduzir a seu destino aqueles prisioneiros de guerra. Mas
Obede mostrou claramente que o exército israelita havia ganho a vitória,
não por uma superioridade de suas armas, mas em consequência do juízo
divino contra Judá; poderosamente expôs a enormidade de sua ofensa em
ter a “seus irmãos” como escravos; protestou ardentemente contra o
acrescentar esta grande ofensa de crueldade desumana e pecaminosa
(Lv_25:43-44; Mq_2:8-9) a já soma entristecedora de seus próprios
pecados nacionais; e tal foi o efeito de sua dura repreensão, e da
contrária onda de sentimento popular, que “os homens armados
deixaram os presos e o despojo diante dos príncipes e de toda a
congregação.”
15. Homens foram designados nominalmente — Estes eram “os
cabeças dos filhos de Efraim” (mencionados no v. 12), ou alguns outros
cidadãos importantes escolhidos para a benéfica obra. Sob a sua bondosa
superintendência, os prisioneiros não só foram libertados, mas também,
dos despojos foram providos de roupa e comida, e levados até Jericó no
caminho de volta a seus lares. Este é um incidente belo e cheio de
interesse, visto que demonstra que até neste período de decadência
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 79
nacional, havia bom número de pessoas que firmemente se aderiam à lei
de Deus.
16. Naquele tempo, mandou o rei Acaz pedir aos reis da Assíria
que o ajudassem — “Reis”, no plural em vez do singular, que se acha
em muitas versões antigas. * “Naquele tempo” refere-se ao período do
grande apuro de Acaz, quando, depois de uma sucessão de derrotas,
retirou-se dentro dos muros de Jerusalém, aonde, na mesma campanha
ou uma posterior, partiram os aliados sírios e israelitas a lhe pôr sitio
(veja-se 2Rs_16:7-9). Embora libertado deste perigo, outros inimigos
infestavam os seus domínios tanto do sul como do oeste.
17. vieram, de novo, os edomitas, e derrotaram Judá — Esta
invasão deve ter sido depois que Rezim (no começo da recente guerra
siro-israelita), havia libertado àquele povo do jugo de Judá (2Cr_15:11;
cf. 2Rs_16:6).
18. Gederote — Sobre a fronteira filisteia (Js_15:41).
Socó — (Js_15:35). Agora Showeikeh, aldeia no vale de Judá (veja-
se 1Sm_17:1).
Ginzo — Agora, Jimza, um pouco a leste de Lude (Lidda).
[Robinson.] Todos estes desastres, pelos quais “o SENHOR humilhou a
Judá”, eram por causa de Acaz rei de Israel (Judá), veja-se 2Cr_21:2;
2Cr_24:16; 2Cr_28:27, quem “permitira que Judá caísse em dissolução,
e ele, de todo, se entregou à transgressão contra o SENHOR”.
20. Tiglate-Pileser … o pôs em aperto, em vez de fortalecê-lo—
quer dizer, apesar do alívio temporário que Tiglate-Pileser lhe prestou
pela conquista de Damasco e pela morte de Rezim (2Rs_16:9), resultou
disso pouca vantagem, porque Tiglate-Pileser passou o inverno numa
farra voluptuosa em Damasco; e o relacionar-se com o rei assírio com o
tempo foi causa de novas e maiores calamidades e humilhações para o
reino de Judá (vv. 2, 3).
*
Neste caso, está correta a NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje), ao usar “rei da Assíria”,
singular, combinando com a RSV (Revised Standard Version) e com a Versão Jünemann (trad. da
LXX ao espanhol); também o singular cf. The Pulpit Commentary. – Nota do Tradutor.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 80
Vv. 22-27. SUA IDOLATRIA EM SEU APURO.
22. No tempo da sua angústia, cometeu ainda maiores
transgressões contra o SENHOR — Este rei enfatuado se rendeu à
influência da idolatria, e usou sua autoridade real para estendê-la, com a
intensidade de uma paixão, com a ignorância e temor servil de um pagão
(v. 23), e em desafio a Deus (veja-se 2Rs_16:10-20).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 81
2 Crônicas 29

Vv. 1, 2. O BOM REINADO DE EZEQUIAS.


1. Ezequias ... começou a reinar, etc. — (veja-se 2Rs_18:1-3). O
nome de sua mãe, que em 2Rs_18:2 aparece em forma abreviada, aqui é
dado completo.

Vv. 3-11. RESTAURA A RELIGIÃO.


3. No primeiro ano do seu reinado, no primeiro mês — Não no
primeiro mês depois de ter subido ao trono, mas em Nisã, o primeiro mês
do ano sagrado, a estação assinalada para a celebração da páscoa.
abriu as portas da Casa do SENHOR — As que tinham sido
fechadas por seu pai (2Cr_28:24).
e as reparou — ou, as embelezou (cf. 2Rs_18:16).
4. a praça oriental — O átrio dos sacerdotes, que estava em frente
da porta leste do templo. Juntando ali aos sacerdotes e levitas,
encarregou-lhes que começassem a imediata purificação do templo. Não
parece que a ordem se referisse à remoção de ídolos, porque dificilmente
teriam sido postos ali objetos de homenagem idolátrica, visto que as
portas estavam fechadas; mas em seu estado de abandono e desolação, o
templo e seus pátios tinham sido sujados por todo tipo de impurezas.
6-7. nossos pais prevaricaram — Acaz e a geração contemporânea
dele representam de maneira muito especial aquelas que “desviaram o
seu rosto do tabernáculo do Senhor”, quer voltassem os seus rostos ao
este para adorar o sol nascente, ou não, eles abandonaram o culto a Deus.
“Fecharam as portas do pórtico”, de modo que cessou totalmente o
sagrado ritual.
8. Pelo que veio grande ira do SENHOR sobre Judá e
Jerusalém — Este rei piedoso teve suficiente discernimento para
atribuir todas as calamidades nacionais que tinham acontecido ao reino, à
causa verdadeira, ou seja, a sua apostasia de Deus. O país tinha sido
assolado por sucessivas guerras de invasão, e seus recursos esgotados,
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 82
muitas famílias choravam a membros de seu lar que sofriam as misérias
do cativeiro estrangeiro, toda sua anterior prosperidade e glória fugiram,
e a que se devia este doloroso e humilhante estado de coisas, senão ao
manifesto juízo de Deus sobre o reino por seus pecados?
10, 11. Agora, estou resolvido a fazer aliança com o SENHOR
— Convencido do pecado e dos frutos amargos da idolatria, Ezequias
propôs inverter a política de seu pai, e restaurar, em toda sua pureza e
glória, o culto ao verdadeiro Deus. O fato de que punha por obra esta sua
resolução no princípio de seu reinado, é testemunha sobre sua sincera
piedade, e também prova a fortaleza de sua convicção de que a justiça
exalta a nação, porque em vez de esperar até que seu trono fosse
consolidado, ele ideou medidas de reforma nacional no próprio começo
de seu reinado, e com vigor fazia frente a todas as dificuldades que, em
tal curso, devia encontrar, depois que os hábitos do povo se amoldaram à
idolatria em tão longo tempo. Suas intenções foram primeiro descobertas
aos sacerdotes e levitas, porque a agência destes oficiais devia empregar-
se para pô-la com efeito.

Vv. 12-36. A CASA DE DEUS É LIMPADA.


12. Então, se levantaram os levitas — Quatorze chefes
empreenderam a tarefa de juntar e preparar a seus irmãos para a
importante obra de “limpar a casa de Jeová”. Começando pelos átrios
exteriores, o dos sacerdotes e o do povo; a limpeza destes ocupou oito
dias, depois dos quais ficaram purificando o interior; mas como os
levitas não tinham permissão de entrar dentro dos muros do próprio
templo, os sacerdotes tiraram os lixos até o pórtico, onde foram
recebidos pelos levitas, e jogadas no arroio Cedrom. Isto ocupou oito
dias mais; e no fim deste período se dirigiram ao palácio, e anunciaram
que não só o edifício sagrado tinha sido purificado por dentro e por fora,
mas sim todos os copos que o finado rei tinha tirado e destinado ao uso
comum no palácio tinham sido restaurados e “santificados”.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 83
20. o rei Ezequias se levantou de madrugada, reuniu os
príncipes da cidade — Sua ansiedade de começar o serviço expiatório,
visto que o templo tinha sido devidamente preparado para fazê-lo,
impediu que convocasse a todos os representantes do povo de Israel. O
número necessário de vítimas tinha sido provido, os oficiais do templo se
santificaram segundo os mandados da lei, e os sacerdotes foram
designados para oferecer os sacrifícios de expiação sucessivamente “pelo
reino”, quer dizer, pelos pecados do rei e seus antecessores, “pelo
santuário”, pelos pecados dos próprios sacerdotes, pela profanação do
templo, “e por Judá”, quer dizer, pelo povo que, por seu consentimento
voluntário, estava envolvido na culpa da apostasia nacional. Animais das
classes usadas no sacrifício eram oferecidos em números de sete, o
número que indica perfeição. Os levitas receberam ordem de louvar a
Deus com instrumentos musicais, os quais, embora não fossem usados
originalmente no tabernáculo, tinham sido introduzidos por Davi no
serviço do culto divino, por conselho dos profetas Gade e Natã, com o
propósito de estimular a devoção do povo. No final dos serviços
especiais da ocasião, quer dizer, o oferecimento de sacrifícios de
expiação, o rei e todos os oficiais cívicos presentes tomaram parte no
culto. Um grande motete foi cantado (v. 30) pelo coro, o qual consistia
em alguns dos Salmos de Davi e Asafe, e, a convite do rei, um grande
número de ofertas de gratidão, ofertas de louvor e holocaustos
voluntários foram apresentados.
31. Disse ainda Ezequias: Agora, vos consagrastes a vós mesmos
ao SENHOR; chegai-vos — Este discurso foi dirigido aos sacerdotes,
os quais, pelo sacrifício das ofertas de expiação, tinham sido
consagrados novamente ao serviço de Deus, e estavam aptos a continuar
as funções de seu sagrado ofício (Êx_28:41; Êx_29:32).
A congregação trouxe sacrifícios — quer dizer, o corpo de
funcionários cívicos presentes.
34. Os sacerdotes, porém, eram mui poucos … seus irmãos, os
levitas, os ajudaram — Os couros dos animais destinados a sacrifícios
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 84
pacíficos, poderiam ser tirados pelos oficiais, porque, em tais casos, a
cabeça de gado não era posta inteira sobre o altar; mas os animais para
ofertas queimadas que eram consumidos completamente pelo fogo, não
podiam ser esfolados senão pelos sacerdotes, nem os levitas tinham
permissão de tocá-los, a não ser em casos de absoluta necessidade
(2Cr_35:11). Como este dever era designado pela lei aos sacerdotes
(Lv_1:6), entendia-se pela prática habitual que estavam excluídos dele
todos os que não estavam unidos à família de Arão.
os levitas foram mais retos de coração, para se santificarem, do
que os sacerdotes — quer dizer, mostraram mais zelo que os sacerdotes.
Este serviço foi apressado pela solicitude enérgica do rei; quer seja
porque muitos dos sacerdotes estavam ausentes do país, não tinham
chegado a tempo, ou pela longa interrupção de seus deveres públicos,
alguns tinham sido negligentes em sua atenção à higiene pessoal, e
deviam fazer muitos preparativos, ou por haver alguns participado nos
serviços idolátricos introduzidos por Acaz, demoraram-se para chegar ao
templo — parece que uma censura é feita a sua ordem como negligentes
e não preparados para o dever (2Cr_30:15). Assim foi reaberto o templo
e novamente consagrado, para a grande alegria do piedoso rei e de todo o
povo.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 85
2 Crônicas 30

Vv. 1-12. EZEQUIAS PROCLAMA UMA PÁSCOA.


1. Ezequias enviou mensageiros por todo o Israel e Judá … para
que viessem à Casa do SENHOR, em Jerusalém, para celebrarem a
Páscoa — Esta grande festividade religiosa não tinha sido observada
regularmente pelos hebreus em sua capacidade nacional desde longo
tempo, por causa da divisão do reino e as muitas desordens que tinham
seguido àquele infeliz acontecimento. Ezequias ansiava grandemente ver
que se renovasse a celebração da mesma; e como a expressão de seu
desejo tinha recebido uma resposta entusiasta da parte dos príncipes e
homens principais de seu próprio reino, os passos preparatórios foram
dados para renovar a celebração como solenidade nacional.
escreveu também cartas a Efraim e a Manassés — Os nomes
destas tribos mais importantes se usam por todo o reino do norte. Como
se cria impossível, entretanto, que o templo, os sacerdotes e o povo
pudessem ser devidamente santificados para a data estabelecida para o
aniversário, quer dizer, para no dia quatorze do primeiro mês (Nisã),
resolveu que em vez de adiar a festa até o ano seguinte, a celebrassem no
dia quatorze do segundo mês: uma liberdade, que, tendo-se concedido
em certas circunstâncias (Nm_9:6-13) a indivíduos, cria-se que poderia
se conceder a todo o povo. A proclamação de Ezequias, com efeito, foi
autoritativa em seu próprio reino, mas não se poderia fazer e circular em
todas as cidades e aldeias do reino vizinho, sem a aprovação, ou, pelo
menos, a permissão do soberano israelita. Oseias, o soberano reinante, é
descrito como mau em certos sentidos, entretanto, estava mais disposto à
liberdade religiosa que qualquer de seus antecessores, da separação do
reino. Crê-se que este é o sentido da cláusula suavizante em seu caráter
(2Rs_17:2).
6. os correios — quer dizer, corredores, ou mensageiros reais, os
quais eram tomados da guarda do rei (2Cr_23:1, 2). Cada um, bem
montado, tinha certo número de quilômetros que andar, e tendo
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 86
completado sua tarefa, era relevado por outro, o qual devia cobrir igual
distância; de modo que, como mensageiros do governo eram
despachados em todas as direções, os decretos públicos eram
rapidamente difundidos por todo o país. A proclamação de Ezequias foi
seguida por um discurso verbal seu, no qual piedosamente instava ao
dever, e expôs as vantagens de um retorno à fé pura e às instituições que
Deus tinha dado a seus antepassados por meio de Moisés.
para que ele se volte para o restante que escapou do poder dos
reis da Assíria — Isto dá a entender que já se fizeram várias expedições
contra Israel da parte dos invasores assírios por Pul (2Rs_15:19), mas
ninguém tinha sido levado cativo; num período posterior, parece que
muitos dentre as tribos a leste do Jordão (1Cr_5:26), e mais tarde que as
tribos ao norte de Israel (2Rs_15:20), foram levados a exílio por Tiglate-
Pileser. A invasão do Salmaneser não pode ser mencionada, pois não
ocorreu senão no sexto ano do reinado de Ezequias (2Rs_17:16; ).
10. Os correios foram passando de cidade em cidade — Não é
surpreendente que depois de tão longa interrupção da sagrada festa, esta
tentativa de avivá-la tenha provocado em algumas partes ridiculez e
oposição, e, por conseguinte, entre as tribos de Efraim, Manassés e
Zebulom, os mensageiros de Ezequias recebessem insultos e maus
entendimentos. Muitos, entretanto, nestes mesmos distritos, como
também por todo o reino das dez tribos, geralmente aceitaram o convite;
enquanto que, no reino de Judá, havia uma sensação unânime de alta
expectação e piedoso deleite. A concorrência que acudiu a Jerusalém
nessa ocasião foi muito grande, e a ocasião sempre era considerada como
uma das páscoas maiores que jamais se celebraram.

Vv. 13-27. A ASSEMBLEIA DESTRÓI OS ALTARES DE


IDOLATRIA.
14. Dispuseram-se e tiraram os altares que havia em Jerusalém
— Como uma necessária preparação para a correta observância da
próxima solenidade, resolveu tirar os altares os quais Acaz tinha
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 87
levantado na cidade (2Cr_28:24); porque sendo o povo de Deus, os
hebreus estavam obrigados a extirpar todos os vestígios de idolatria; e foi
sinal feliz, e prova da influência do Espírito que penetrava nas mentes do
povo, quando voluntariamente se encarregaram desta importante obra
preliminar.
15. os sacerdotes e os levitas, cheios de vergonha, santificaram-
se — Embora os levitas são mencionados nesta declaração, referia-se
especialmente aos sacerdotes; os que deles tinham sido tardios e
negligentes em santificar-se (2Cr_29:34) passaram vergonha, e foram
estimulados a cumprir seu dever pelo maior ardor e zelo do povo.
16-18. os sacerdotes aspergiam o sangue, tomando-o das mãos
dos levitas — Esta foi uma separação das regras e práticas estabelecidas
na apresentação de ofertas no templo; o motivo foi que muitos presentes
nesta ocasião não se tinham santificado, e os levitas carneavam as
vítimas pascais (veja-se 2Cr_35:5) para todos os que estavam sem se
purificar; enquanto que em outras ocasiões os pais das famílias matavam
os cordeiros eles mesmos, e os sacerdotes recebiam de sua mão o sangue
e o apresentavam no altar. Multidões dos israelitas, especialmente os
vindos de certas tribos (v. 18), estavam neste estado não santificado, e
entretanto eles comeram a páscoa, rasgo excepcional e contrário à lei
(Nm_9:6); mas esta exceção foi permitida em resposta à oração de
Ezequias (vv. 18-20).
20. o SENHOR … sarou a alma do povo — Imaginamos que todo
o assunto deve ter sido assim: por causa de sua transgressão, eles tinham
causa para temer doença e ainda a morte (Lv_15:31). Ezequias oro pela
nação, a qual estava prestes a adoecer, e portanto poderia já se considerar
doente. (Bertheau).
21. Os filhos de Israel ... celebraram a Festa dos Pães Asmos —
O tempo assinalado pela lei para a continuação da festa era sete dias;
mas como por tão longo tempo tinha caído em desuso, eles duplicaram o
período da celebração, e a guardaram quatorze dias com alegria e
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 88
satisfação não diminuídas sendo supridos pelo rei e os príncipes dos
materiais para as comidas sacrificais adicionais.
24. os sacerdotes se santificaram em grande número — De modo
que houvesse número suficiente de pessoal para os serviços adicionais.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 89
2 Crônicas 31

Vv. 1-10. O POVO ATIVO EM DESTRUIR A IDOLATRIA.


1. todos os israelitas … saíram às cidades de Judá — As
solenidades deste período pascal deixaram uma impressão profunda e
saudável na mente dos adoradores reunidos; o afeto pelas antigas
instituições de sua pátria foi extensamente avivado; o ardor no serviço de
Deus animava cada coração; e sob o impulso dos sentimentos devotos
inspirados pela ocasião, tomaram medidas no final da páscoa para
extirpar as estátuas e altares idolátricos de todas as cidades, como no
princípio da festa tinham feito em Jerusalém.
Judá e Benjamim — indicam o reino do sul.
Efraim e Manassés — se referem ao reino do norte. Esta demolição
sem limites dos monumentos da idolatria recebeu todo apoio do rei e as
autoridades públicas do reino do sul; e à força da opinião pública foi
suficiente para obter os mesmos resultados entre as tribos de Israel,
apesar de qualquer oposição que tivessem feito o poder de Oseias e as
invectivas de alguns irmãos profanos. Assim, estando completamente
derrubado o reinado da idolatria e restabelecido o puro culto de Deus por
toda a terra, o povo retornou cada um a seu lar, com a segura esperança
de que, pela bênção divina, desfrutariam da paz e prosperidade
nacionais.
2. Estabeleceu Ezequias os turnos dos sacerdotes, etc. — O rei
agora dirigiu sua atenção a fazer provisão para o metódico cumprimento
do culto do templo, resolvendo os turnos dos sacerdotes e levitas, dando
a cada um o seu lugar e funções próprios e dando decretos para o
pagamento regular de aqueles impostos dos quais se faziam os gastos do
santuário. Para dar o devido exemplo a seus súditos, anunciou-se em
primeira instância a contribuição do rei, porque ao rei correspondia, de
seu pecúlio, custear o altar, tanto para os sacrifícios regulares como
ocasionais (Nm_28:3-4, Nm_28:9, Nm_28:11, Nm_28:19); e ao fazer
esta contribuição de seu pecúlio, Ezequias seguia o curso que tinham
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 90
tomado antes dele Davi e Salomão (veja-se 1Cr_8:14; 1Rs_9:25). Depois
assinalou os tributos do povo ao templo; e como era necessário emitir
um mandado real em referência a estes assuntos, parece que o tributo
sagrado, ou tinha sido negligenciado totalmente, ou, como se sabia que
os príncipes idólatras se apropriavam dele, o povo em muitos casos
recusava ou fugia ao dever. Mas no estado melhorado do sentimento
público o mandado de Ezequias foi obedecido prontamente, e as
contribuições das primícias e dos dízimos entravam com grande
liberalidade de todas as partes de Judá, como também de Israel. As
primícias, até de alguns artigos de produção que não eram aptos para o
sacrifício (Lv_2:11), tais como o mel (margem, “tâmaras”) eram
destinados aos sacerdotes (Nm_18:12-13; Dt_18:4); os dízimos
(Lv_27:31) eram destinados ao sustento de toda a tribo levítica.
(Nm_18:8, Nm_18:20, Nm_18:24).
6. e fizeram montões e montões — As contribuições começaram a
ser enviadas um pouco depois da celebração da páscoa que se tinha
celebrado nos meados do segundo mês. Algum tempo teria passado,
antes que a ordem do rei chegasse a todas partes do reino. A colheita de
trigo caía a meados do terceiro mês, de modo que os feixes daquele grão,
sendo apresentados antes de qualquer outra, formavam o “fundamento”,
o leito inferior da provisão de grãos do templo, e como as primícias dos
produtos de sua terra seguiam entrando sucessivamente durante todos os
meses do verão até o fechamento da estação de frutas e colheita de uvas,
quer dizer, no sétimo mês, continuavam levantando montões e montões.
9. Perguntou Ezequias aos sacerdotes e aos levitas acerca
daqueles montões — O objetivo de suas perguntas era o de saber se os
mantimentos davam a perspectiva de uma manutenção suficiente para os
membros da ordem sagrada.
10. Azarias, da casa de Zadoque, lhe respondeu: … grande
quantidade é o que sobra — Esta é provavelmente a pessoa mencionada
em 2Cr_26:17, e sua resposta foi a seguinte: Houve uma colheita
abundante, e a abundância correspondente de dízimos e primícias; o
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 91
povo testificou sua gratidão Àquele que coroou o ano com Sua bondade,
pela liberalidade deles para com os seus servos.

Vv. 11-19. EZEQUIAS NOMEIA OFICIAIS QUE DISPONHAM


DOS DÍZIMOS.
11. ordenou Ezequias que se preparassem depósitos na Casa do
SENHOR — novos armazéns, celeiros, ou porões deviam ser edificados,
ou reparados os velhos que se tinham destruído por descuido. As pessoas
em particular traziam suas próprias primícias ao templo; mas os dízimos
eram levantados pelos levitas, os quais levavam fiel conta deles em suas
diversas cidades de residência, e transmitiam a porção assinalada aos
sacerdotes. Nomeavam-se oficiais que repartissem rações igualmente nas
cidades dos sacerdotes, os quais, pela velhice ou outros motivos, não
podiam ir ao templo. Com exceção dos meninos de menos de três anos
de idade — exceção feita provavelmente por considerá-los não aptos
para receber alimentos sólidos — se levavam listas do número e a idade
de todos os varões; dos sacerdotes segundo a casa de seus pais, e dos
levitas desde vinte anos (Veja-se Nm_4:3; Nm_28:24; 1Cr_23:24). Mas,
além disso, fazia-se provisão para suas esposas, filhas e servos.
18. porque com fidelidade se houveram santamente com as
coisas sagradas — Esta é a razão pela qual se fazia provisão para as
esposas e os meninos das rendas do santuário, porque os sacerdotes,
retirando-se das ocupações pelas quais pudessem manter suas famílias,
entregavam-se inteiramente às funções do ministério.

Vv. 20, 21. SUA SINCERIDADE DE CORAÇÃO.


20. Ezequias … fez o que era bom, reto e verdadeiro —
Manifestava as qualidades de um rei constitucional, em restaurar e apoiar
as instituições antigas do reino, enquanto que seus esforços zelosos e
perseverantes por promover a causa da verdadeira religião e os melhores
interesses de seus súditos, o faziam digno de ser contado entre os mais
ilustres de seus antecessores (2Rs_18:15).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 92
2 Crônicas 32

Vv. 1-20 SENAQUERIBE INVADE A JUDÁ.


1. Depois destas coisas e desta fidelidade — quer dizer, a
restauração do culto no templo. A data exata é dada em 2Rs_18:13.
Determinado a recuperar a independência de seu país, Ezequias resolveu
negar-se a pagar o tributo que seu pai se comprometeu a pagar a Assíria.
Senaqueribe … entrou em Judá, acampou-se contra as cidades
fortificadas — Todo o país foi assolado; as fortalezas de Asdode
(Is_20:1) e Laquis tinham caído; o sítio de Libna começou quando o rei
de Judá, duvidando que podia resistir, mandou reconhecer sua falta, e
oferecer submissão por pagar o tributo. O começo desta guerra assíria foi
desastroso para Ezequias (2Rs_18:13). Mas as desgraças do primeiro
período aqui são passadas por alto, pois o historiador se apressa a relatar
a maravilhosa libertação que Deus operou para com Seu reino de Judá.
2-8. Vendo, pois, Ezequias que Senaqueribe vinha e que estava
resolvido a pelejar contra Jerusalém — Um relato dos meios
empregados para fortificar a Jerusalém contra o sítio que ameaçava, é
dado unicamente nesta passagem. Contaminar e cegar os poços de água,
e mudar o curso dos rios, é uma velha prática que ainda se usa nas
guerras do Oriente. O plano de Ezequias foi tapar os mananciais de
modo que não fossem descobertos pelo inimigo, e levar a água por
canais subterrâneos ou tubos à cidade, plano que asseguraria uma
abundância de água aos habitantes, mas que prejudicaria o inimigo, visto
que a campina ao redor de Jerusalém era muito desprovida de água.
4. Assim, muito povo se ajuntou, e taparam todas as fontes,
como também o ribeiro que corria pelo meio da terra — “Onde
estavam estas fontes, não temos agora meios positivos de averiguar;
embora En-rogel, e o manancial chamado agora a Fonte da Virgem, bem
se poderiam contar entre eles. Josefo menciona a existência de várias
fontes fora da cidade, mas não menciona nenhuma delas com relação a
isto, exceto a do Siloé. ‘O ribeiro’, entretanto, está localizado com
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 93
precisão suficiente para que possamos traçá-lo muito definidamente. Nos
é dito que ‘corria pelo meio da terra’. Mas um ribeiro que corresse pelo
Cedrom ou pelo Hinom, não se poderia dizer, em nenhum sentido
próprio, que corresse ‘pelo meio da terra’; mas um que corria pelo vale
Giom, e que separava Acra e Sião de Bezetha, Moriá e Ofel, como sem
dúvida fazia um ribeiro anteriormente, poderia se dizer com toda
propriedade que ‘corria pelo meio da terra’ sobre o qual estava edificada
a cidade. Que este é o sentido correto da frase, não só é evidente pela
força das circunstâncias, mas também positivamente se declara assim na
Septuaginta, onde, além disso, chama-se ‘rio’, o que, pelo menos, indica
uma corrente muito maior que o Cedrom, e concorda bem com a nota
marginal, onde é dito que ‘corria’ no meio do território. Anteriormente a
esta intervenção do homem, havia, sem dúvida, uma torrente muito
copiosa que brotava na parte superior daquela concavidade pouco
profunda em forma de bacia a norte da Porta de Damasco, a qual é
indubitavelmente o extremo superior do vale de Giom, e seguindo seu
curso tortuoso por este vale, entrava no Tiropeo em sua grande curva sul,
pelo qual corria ao vale de Cedrom”. (Barclay, City of the Great King).
5, 6. Ele cobrou ânimo, restaurou todo o muro — Fez uma
inspeção cuidadosa das defesas da cidade com o propósito de reparar o
muro aqui, renovar a alvenaria ali, subir máquinas de lançar flechas e
pedras às torres, e especialmente fortificar a parte baixa de Sião, quer
dizer, Milo” (em) a original cidade de Davi”. “Em” é agregado por
nossos tradutores; é melhor sem ele, porque não foi reparada a cidade
inteira, mas sim só a parte baixa de Sião, ou a original “cidade de Davi”.
reuniu-os na praça — quer dizer, o grande espaço aberto à porta das
cidades orientais, e tendo provido a seus soldados com um jogo completo
de veste militar, dirigiu-lhes a palavra em tom animador, insistindo nos
motivos que eles tinham para lhes inspirar coragem e confiança no êxito,
especialmente em sua convicção do favor e poder de Deus.
9-20 — (Veja-se 2Rs18:17-35; também 19:8-34).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 94
18. Clamaram os servos em alta voz em judaico contra o povo
de Jerusalém — Parece que o muro do lado oeste da cidade chegava até
o lado de cima do lago de Giom naquele então como agora, se não mais
longe, e o muro estava tão perto daquele lago que os enviados a negociar
com o general assírio, responderam-lhe em sua própria língua (veja-se
2Rs_18:27).

Vv. 21-23. UM ANJO DESTRÓI AOS ASSÍRIOS.


21. um anjo … destruiu todos os homens valentes — (veja-se
2Rs_19:35-37).

Vv. 24-26. DOENÇA E MELHORIA DE EZEQUIAS.


24. Naqueles dias, adoeceu Ezequias mortalmente — (Veja-se
2Rs_20:1-11).

Vv. 27-33. SUAS RIQUEZAS E OBRAS.


27. Teve Ezequias riquezas e glória em grande abundância —
(cf. 2Rs_20:13; Is_39:2). Uma porção de suas riquezas, como as de Davi
e Uzias, consistiam em imensas posses de produtos agrícolas e pastoris.
Além disso, tinha acumulado grandes tesouros de ouro, prata e pedras
preciosas que tinha tomado como despojos dos filisteus, e que tinha
recebido como obséquios de estados vizinhos, entre os quais era tido em
grande honra como rei sob a proteção especial do céu. Muito de seus
bens gastou em melhoras de sua capital, em levantar fortalezas, e em
promover os benefícios internos de seu reino.
30. tapou o manancial superior das águas de Giom e as
canalizou para o ocidente da Cidade de Davi. — (cf. 2Rs_20:20).
Aqui é dada especial atenção ao aqueduto, como entre as maiores das
obras de Ezequias. “Ao explorar o canal subterrâneo que leva a água da
Fonte da Virgem ao Siloé, descobri um canal similar que entrava do
norte, uns poucos metros desde o começo; e traçando-o até perto da porta
Mugrabin, onde estava abafado com escombros de modo que não se
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 95
podia seguir mais, ali achei que o canal dobrava a oeste em direção do
cabo sul da fenda, ou “cadeira”, de Sião, e se este canal não foi
construído com o propósito de levar as águas do aqueduto de Ezequias,
não posso sugerir nenhum outro propósito ao qual poderia ter sido
aplicado. Talvez o motivo pelo qual não foi dirigido pelo lado de Sião,
foi que Sião já estava bem sortido de água em sua porção baixa do
grande lago de baixo, “o lago de Giom de baixo”. Por conseguinte.
Williams (Holy City) traduz esta passagem: “tapou a saída de águas de
Giom, e as conduziu para o oeste da cidade”. (Barclay, City of the Great
King). A construção deste canal exigia não só destreza de pedreiros mas
também de engenheiros; porque a passagem foi brocada através de uma
massa contínua de rocha. O lago ou depósito de Ezequias, feito para
receber as águas dentro da parte noroeste da cidade, ainda permanece. É
um lago oblongo de 240 pés de comprimento por 144 ou 150 pés de
largura, mas, por recentes escavações, parece haver-se estendido algo
mais para o norte.
31. quando os embaixadores … enviados para se informarem do
prodígio, etc. – Trouxeram um obséquio (v. 23) (veja-se 2Rs_20:12-13),
e uma carta de felicitação por sua melhoria, na qual se fizeram
averiguações particulares a respeito do retrocesso do sol, fenômeno que
não pôde menos que despertar grande interesse e curiosidade em
Babilônia, onde muito se estudava a astronomia. Ao mesmo tempo, há
motivos para crer que eles propunham uma aliança defensiva contra os
assírios.
Deus o desamparou, para prová-lo — A ofensa de Ezequias não
foi tanta pela ostentação de provisões militares e tesouros, como por não
dar a Deus a glória tanto pelo milagre como por sua melhoria, e assim
levar àqueles embaixadores pagãos a conhecê-Lo.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 96
2 Crônicas 33

Vv. 1-10 REINADO ÍMPIO DE MANASSÉS.


1, 2. Manassés … Fez o que era mau perante o SENHOR —
(veja-se 2Rs_21:1-16).
10-19. É LEVADO A BABILÔNIA, ONDE SE HUMILHA
PERANTE DEUS, E É RESTAURADO A SEU REINO.
11. príncipes do exército do rei da Assíria — Este rei era Esar-
Hadom, quem, depois de dedicar os primeiros anos de seu reinado à
consolidação de seu governo doméstico, dirigiu sua atenção a reparar a
perda das províncias tributárias a oeste do Eufrates, as quais, por ocasião
do desastre e da morte de Senaqueribe, tinham aproveitado a
oportunidade de sacudir o jugo assírio. Tendo invadido Palestina e
trasladado ao remanescente que ficava do reino de Israel, enviou a seus
generais, o principal dos quais era Tartã (Is_20:1), com parte de seu
exército para reduzir a Judá também. Num ataque vitorioso a Jerusalém,
tomaram multidões de cativos, e conseguiram grande prêmio, inclusive
ao próprio rei entre os prisioneiros.
prenderam Manassés com ganchos — A tradução desta frase é
ambígua. Pode traduzir-se: “Capturaram a Manassés entre as sarças”. De
qualquer maneira não seria “com correntes”. A palavra pode significar
“argolas”. *
amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia — O estado
humilhante em que Manassés apareceu perante o monarca assírio, pode
julgar-se por um quadro numa lápide do palácio Khorsabad, o qual
representa prisioneiros conduzidos atados a presença do rei. “Os cativos
representados parecem habitantes da Palestina. Depois dos prisioneiros
estão quatro pessoas com inscrições em seus túnicas; os dois e primeiros
possuem barba, e parecem ser acusadores; os outros dois estão quase

*
Gesênius favorece este sentido da palavra, explicando no dicionário que se punham argolas no nariz
dos prisioneiros para dirigi-los facilmente. – Nota do Tradutor.
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 97
desfigurados; mas atrás destes aparece o eunuco, cujo dever parece que
era o de introduzir a presença do rei os que tinham permissão para
aparecer perante ele. O eunuco é seguido por outra pessoa da mesma
raça dos que estão sob castigo; suas mãos estão atadas, e em seus
tornozelos têm fortes argolas unidas por uma barra pesada”. (Nineveh
and Its Palaces). Não se dá nenhum nome, e, por isso não se pode tirar a
conclusão de que a figura represente a Manassés; mas as pessoas
parecem hebraicas, e esta cena pictórica nos permitirá imaginar a
maneira em que o cativo real de Judá foi recebido na corte de Babilônia.
Esar-Hadom tinha estabelecido ali sua residência, porque, embora
devido a muitas revoltas que seguiram por ocasião da morte de seu pai,
subiu primeiro só ao trono da Assíria, entretanto, algum tempo antes de
sua conquista de Judá, tendo recuperado a possessão de Babilônia, este
rei empreendedor tinha unido sob o seu poder os dois impérios de
Babilônia e Caldeia, e transferido sua sede de governo a Babilônia.
12, 13. Ele, angustiado, suplicou deveras ao SENHOR — Na
solidão do exílio, ou encarceramento, Manassés teve tempo para a
meditação. Os calamidades o obrigaram a fazer uma revisão de sua vida
passada, e teve a convicção de que as misérias de seu destronamento e
condição de cativo se deviam a sua apostasia terrível e sem precedente
do Deus (v. 7) de seus pais. Humilhou-se, arrependeu-se e orou pedindo
oportunidade de produzir frutos de arrependimento. Sua oração foi
ouvida; porque seu vencedor não só o libertou, mas também, depois de
dois anos, restaurou-o, com honra e pleno exercício de poder real, a um
reino tributário e dependente. Algum motivo político, sem dúvida,
induziu ao rei assírio a restaurar a Manassés, e o mais provável foi o de
ter o reino de Judá como barreira entre o Egito e seus domínios assírios.
Mas Deus dirigiu esta medida para propósitos mais elevados. Manassés
agora se mostrou, pela influência de sua aflição, novo homem e melhor;
porque fez uma mudança completa de sua política anterior, não só por
destruir todas as estátuas idolátricas e os altares que ele anteriormente
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 98
tinha edificado em Jerusalém, mas por desdobrar o zelo mais ardente em
restaurar e alentar a adoração de Deus.
14. edificou o muro de fora da Cidade de Davi, ao ocidente de
Giom … à entrada da Porta do Peixe — O local da Porta do Peixe,
demonstra que o vale de Giom não poderia ser outro senão aquele que
sai para o noroeste da porta de Damasco, e que desce brandamente para
o sul, unindo-se com Tiropeo ao ângulo nordeste do Monte Sião, onde
este dobra em ângulo reto para Siloé. O muro assim edificado por
Manassés ao lado oeste do vale de Giom, se estenderia da cercania do
ângulo nordeste do muro de Sião na direção do norte, até cruzar o vale
para formar união com o muro exterior na trincheira de Antônia,
precisamente no lugar onde o templo seria mais facilmente atacado.”
(Barclay).
17. o povo ainda sacrificava nos altos, mas somente ao
SENHOR — Aqui parece que o culto nos altos, embora tivesse sua
origem em grande medida nas práticas do paganismo, e com frequência
conduzia ao paganismo, entretanto, não indica necessariamente a
idolatria.

Vv. 20-25. MORRE, E AMOM O SUCEDE.


20, 21. Manassés descansou com seus pais … Amom … reinou
em seu lugar — (Veja-se 2Rs_21:17-26).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 99
2 Crônicas 34

Vv. 1, 2. REINADO BOM DE JOSIAS.


1. Tinha Josias oito anos — (Veja-se 2Rs_22:1-2). O testemunho
dado da firmeza sem flutuar e de sua aderência à causa da verdadeira
religião, coloca seu caráter e reinado em honorável contraste com os de
muitos de seus antecessores reais.

Vv. 3-7. DESTRÓI A IDOLATRIA.


3. no oitavo ano de seu reinado — Este era o décimo sexto ano de
sua idade, e, como os reis de Judá eram considerados menores enquanto
não cumpriam os treze anos, foi três anos depois que chegou a sua
maioridade. Muito cedo havia ele manifestado a piedade e excelentes
disposições de seu caráter. No décimo segundo ano de seu reinado, mas
o vigésimo de sua idade, começou a tomar um vivo interesse em
purificar seu reino de todos os monumentos de idolatria que, no curto
reinado de seu pai, tinham sido edificados; e num período posterior, seu
crescente zelo por assegurar a pureza do culto divino, levou-o a vigiar a
obra de demolição em várias partes de seus domínios. O curso da
narração nesta passagem é algo diferente daquele seguido no livro de
Reis. Porque o historiador, fazendo alusão às anteriores manifestações do
zelo de Josias, continua com um detalhe completo das medidas que este
bom rei adotou para a extirpação da idolatria, enquanto que o autor do
livro de Reis começa com a purificação do templo, imediatamente antes
da celebração da páscoa, e aproveita essa ocasião para dar uma descrição
geral da política de Josias em livrar a terra da contaminação idolátrica. A
ordem cronológica exata não se segue nem em Reis nem em Crônicas;
mas em ambos se lembra claramente que a abolição da idolatria começou
no décimo segundo ano e foi completada no décimo oitavo ano do
reinado de Josias. Apesar da evidente sinceridade e zelo de Josias, e da
aparente obediência do povo aos decretos do rei, ele não pôde extinguir o
afeto que tinham profundamente enraizado às idolatrias introduzidas na
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 100
primeira parte do reinado de Manassés. Esta preferência latente aparece
claramente desenvolvida nos reinados seguintes, e o decreto divino da
remoção de Judá, tanto como de Israel, ao cativeiro, foi decretado
irrevogavelmente.
4. as sepulturas dos que lhes tinham sacrificado — Tratou as
sepulturas como culpados dos crimes daqueles que jaziam nelas.
(Bertheau.)
5. Os ossos dos sacerdotes queimou sobre os seus altares — Uma
infâmia maior não teria sido possível impor aos sacerdotes idólatras que
a exumação de seus ossos, e maior profanação não poderia ter sido feito
aos altares de idolatria que o queimar sobre eles os ossos dos que ali
tinham oficiado em sua vida.
6. no meio das suas ruínas — ou, “em seus desertos”, de modo
que este versículo quer dizer: “O mesmo fez (romper os altares e
queimar os ossos dos sacerdotes) nas cidades de Manassés. Efraim,
Simeão, até em Naftali, em seus subúrbios despovoados.” O leitor talvez
se surpreende ao notar que Josias, cujas posses hereditárias eram
limitadas ao reino de Judá, exercia tanta autoridade entre as tribos de
Efraim, Manassés, Simeão e outras até Naftali, como em seus próprios
domínios; e, portanto, é necessário lembrar que depois da destruição de
Samaria por Salmaneser, os remanescentes que ficaram nas montanhas
de Israel, mantinham um relacionamento íntimo com Judá, e
consideravam os soberanos daquele reino como seus protetores naturais.
Os reis de Judá adquiriram grande influência entre eles, a qual exerceu
Josias tirando todo vestígio de idolatria da terra. Ele não teria podido
fazê-lo sem a conformidade do povo no próprio deste proceder,
conscientes eles de que isto estava de acordo com suas antigas leis e
instituições. Os reis assírios, que eram agora os senhores do país, devem
ter estado descontentes com as liberdades que Josias tomava para além
de seus territórios, mas eles, ou não eram informados a respeito de suas
façanhas, ou não se incomodavam a respeito de seu proceder religioso,
relacionado, como creriam eles, com o deus da terra, especialmente
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 101
como ele não tratou de tomar alguma cidade, ou de perturbar a lealdade
do povo. (Calmet).

Vv. 8-18. REPARA O TEMPLO.


8. No décimo oitavo ano do seu reinado … enviou a Safã —
(veja-se 2Rs_22:3-9).

Vv. 19-33. FAZENDO LER A LEI, RENOVA A ALIANÇA


ENTRE DEUS E O POVO.
19. Tendo o rei ouvido as palavras da lei, etc. — (veja-se
2Rs_22:11-20; 2Rs_23:1-3).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 102
2 Crônicas 35

Vv. 1-19. JOSIAS CELEBRA UMA SOLENE PÁSCOA.


1. Josias celebrou a Páscoa ao SENHOR — (Cf. 2Rs_23:21-23).
Os primeiros nove versículos apresentam os preparativos feitos para a
celebração da festa solene. O dia assinalado pela lei foi guardado nesta
ocasião (cf. 2Cr_30:2, 13). Os sacerdotes estavam dispostos em suas
ordens, e foram exortados a estar preparados para cumprir as suas
obrigações na maneira como a pureza legal exigia (cf. 2Cr_29:5). Os
levitas, ministros ou instrutores do povo em todos os assuntos
pertencentes ao culto divino, foram ordenados (v. 3): “Ponde a arca
sagrada na casa que edificou Salomão”. Seu dever era o de transportar a
arca de lugar a lugar segundo as circunstâncias. Alguns crêem que a arca
tinha sido tirada ignominiosamente do santuário por ordem de algum rei
idólatra, provavelmente por Manassés, quem colocou uma imagem
esculpida na casa de Deus (2Cr_33:7), ou Amom; enquanto que outros
são de opinião de que tinha sido temporariamente trasladada pelo próprio
Josias a alguma câmara contígua durante a reparação do templo. Ao
repô-la, evidentemente os levitas a tinham levado sobre seus ombros,
crendo que esse era ainda seu dever que a lei lhes impunha. Mas Josias
lhes lembrou a mudança de circunstâncias; como o serviço de Deus
agora se tinha no templo fixo e permanente, eles já não deviam ser
portadores da arca; e estando livres deste serviço, deveriam entregar-se
com mais ardor ao cumprimento de outras funções.
4. Preparai-vos segundo as vossas famílias, segundo os vossos
turnos — quer dizer, cada curso ou divisão devia se compor daqueles
que pertenciam à mesma casa paternal.
como o ordenaram Davi … e a de Salomão — Suas instruções
estão protocolizadas (2Cr_8:14; 1 Crônicas 23, 24, 25, 26).
5. Ministrai no santuário — no átrio do povo, o lugar onde eram
carneadas as vítimas. O povo era admitido segundo suas famílias em
grupos ou companhias em várias casas a um tempo. Quando a primeira
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 103
companhia entrava no átrio (que consistia usualmente em tantos quantos
podiam caber), fechavam-se as portas, e se fazia a oferta. Os levitas
estavam em filas, desde o lugar da matança ao altar, e passavam o
sangue e a gordura de um a outro dos sacerdotes oficiantes (2Cr_30:16-
18).
6. Imolai o cordeiro da Páscoa, etc. — O motivo das orientações
detalhadas aqui era o de facilitar a distribuição de cordeiros pascais.
Estes deviam ser comidos pelas respectivas famílias segundo seu número
(Êx_12:3). Mas multidões de pessoas, especialmente as de Israel,
reduzidas a pobreza pelas devastações assírias, eram providas dos meios
para comemorar a páscoa; e, por isso, o rei insistiu com os levitas que
quando fossem trazidos os cordeiros pascais para serem mortos (7-9),
eles cuidariam de ter tudo em ordem, de modo que os cordeiros, depois
da devida apresentação, pudessem ser facilmente entregues às distintas
famílias para ser assados e comidos por eles à parte.
7. Ofereceu Josias a todo o povo cordeiros e cabritos do
rebanho — Estes com toda probabilidade eram destinados aos pobres;
um cordeiro ou cabrito podiam usar conforme conviesse a cada família
(Êx_12:5).
e … bois — que eram oferecidos após os cordeiros em cada um dos
dias sucessivos da festa.
8. os seus príncipes — Eles deram aos sacerdotes e levitas, como
os príncipes de Ezequias (2Cr_30:24). Eram eles príncipes eclesiásticos;
quer dizer, Hilquias o sumo sacerdote (2Cr_34:9), Zacarias,
provavelmente o segundo sacerdote da linha de Eleazar (2Rs_16:18), e
Jeiel, da linha de Itamar. E como os da tribo levítica não estavam ainda
suficientemente providos (v. 9), alguns de seus eminentes irmãos, os
quais tinham sido distinguidos no tempo de Ezequias (2Cr_31:12-15),
deram uma grande contribuição adicional para o uso dos levitas
exclusivamente.
10. Assim, se preparou o serviço, etc. — Feitos, pois, todos os
preparativos necessários, e chegado o tempo assinalado para a páscoa,
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 104
celebrou-se a solenidade. Um detalhe notável no relato é a parte
proeminente que foi tomada pelos levitas na preparação dos sacrifícios:
ou seja, a matança e a esfoladura, que eram por direito os deveres
próprios dos sacerdotes; mas como estes funcionários não podiam
cumprir a quantidade extraordinária de trabalho, e os levitas tinham sido
devidamente santificados para o serviço, foram empregados neste dever
sacerdotal. Na páscoa do tempo de Ezequias, os levitas oficiaram nos
mesmos deveres, sendo o motivo expresso o estado sem preparação de
muitos do povo (2Cr_30:17). Mas nesta ocasião o povo inteiro tinha sido
devidamente santificado, de modo que o uso excepcional dos serviços
dos levitas deve ter sido necessário inevitavelmente devido às multidões
que estavam celebrando a páscoa.
12. Puseram de parte o que era para os holocaustos — Alguns
dos animais pequenos destinados para os holocaustos eram postos à
parte, para que não se misturassem com os cordeiros pascais, os que
eram cuidadosamente selecionados segundo certas regras, e destinados a
serem comidos sacramentalmente; e a maneira como eram apresentadas
estas ofertas, sendo queimadas, parece ter sido como segue: “Todas as
subdivisões das diferentes casas dos pais vieram ao altar em procissão
solene, uma após outra, para trazer para os sacerdotes as porções que
tinham sido cortadas, e os sacerdotes colocavam estas peças sobre o fogo
do altar dos holocaustos.”
13. Assaram o cordeiro da Páscoa no fogo, segundo o rito —
(veja-se Êx_12:7-9). Este modo de preparação era prescrito pela lei
exclusivamente para o cordeiro pascal; as demais ofertas eram
cozinhadas em panelas, etc. (1Sm_2:14).
os levitas as repartiram entre todo o povo — A pressa era devida,
ou à multiplicidade de trabalhos dos sacerdotes, ou porque o calor e
sabor das comidas de outra maneira teria diminuído. De modo que
parece que a comida consistia não só nos cordeiros pascais mas na carne
das ofertas de gratidão, porque parte da carne correspondia aos
ofertantes, quem, sendo neste caso o rei e os príncipes, a parte
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 105
correspondente era posta à disposição do povo, a quem se recomendou
que a comesse no mesmo dia da oferta, embora não fosse proibido fazê-
lo no dia seguinte (Lv_7:15-18).
14. Depois, as prepararam para si e para os sacerdotes — Os
levitas prestaram esta ajuda aos sacerdotes somente devido ao fato de
que eles estavam ocupados todo o dia e não tinham tempo livre para
prover algum refrigério para si.
15. Os cantores … estavam nos seus lugares — Enquanto os
sacerdotes e o povo estavam ocupados desta maneira, o coro não estava
desocupado. Eles deviam cantar certos Salmos (113 a 118), uma, duas e
até três vezes, durante a continuação de cada companhia de ofertantes.
Como eles não podiam deixar seus postos, pois o canto era repetido
conforme vinha chegando cada companhia, os levitas prepararam para
eles também; porque as várias bandas se relevavam umas a outras em
turnos, e enquanto o coro geral seguia fazendo seu dever, uma porção
destes cantores, no tempo que eram relevados, participaram das comidas
que lhes foram trazidas.
18. Nunca, pois, se celebrou tal Páscoa em Israel, desde os dias
do profeta Samuel — Um detalhe pelo qual foi distinguida esta páscoa,
foi a liberalidade de Josias. Mas o que a distinguiu sobre todas as
solenidades anteriores foi, não a grandeza imponente das cerimônias,
nem a imensidão da assembleia de adoradores, porque estes, com
exceção de uns poucos do reino de Israel, limitavam-se a duas tribos;
antes, a devoção ardente do rei e do povo, a desatenção a costumes
puramente tradicionais, e a aderência inusitadamente estrita, até nos
detalhes menores, as formas de observância prescritas na lei, a
descoberta de uma cópia original da qual tinha produzido tão grande
sensação. Em vez de “os dias do profeta Samuel”, o autor de Reis diz:
“desde os dias dos juízes que julgaram Israel” [2Rs_23:22]. O sentido é
o mesmo em ambas as passagens, pois Samuel concluiu a era dos juízes.
nem durante os dias dos reis de Israel, nem nos dias dos reis de
Judá — A grande maioria de povo do reino do norte estava no desterro,
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 106
mas alguns dos demais habitantes fizeram a viagem a Jerusalém nesta
ocasião. 37.600 cordeiros e cabritos pascais foram empregados, assim
que, contando dez pessoas por cada companhia, daria 376.000 pessoas
que assistiam à festa.
19. No décimo oitavo ano do reinado de Josias, se celebrou esta
Páscoa — “Está escrito (2Rs_22:3) que Josias enviou a Safã a Hilquias
no oitavo mês daquele ano”. Se esta declaração descansar sobre base
histórica, todos os acontecimentos relatados aqui (desde 2Cr_34:8 a
35:19) devem ter acontecido como no espaço de cinco meses e meio.
Então teríamos prova de que o oitavo ano do reinado de Josias se
contava desde o outono (cf. 2Cr_29:3). “O oitavo mês” do ano sagrado
no décimo oitavo ano de seu reinado, seria o segundo mês de seu décimo
oitavo ano, e o primeiro mês do novo ano seria o sétimo mês. (Bertheau.)

Vv. 20-27. SUA MORTE.


20. Depois de tudo isto, havendo Josias já restaurado o templo
— Mais provavelmente ele calculava que a restauração do culto divino,
com o avivamento de uma religião vital, conduziria, segundo a promessa
de Deus e a experiência uniforme do povo hebreu, a um período de paz
firme e prosperidade crescente. Suas esperanças foram defraudadas. Foi
breve o belo intervalo de tranquilidade que seguiu a seu restabelecimento
da verdadeira religião. Mas é preciso notar-se que esta interrupção não
procedeu de alguma infidelidade na promessa divina, mas sim do estado
ao qual o reino de Judá tinha chegado pela apostasia, a qual estava
trazendo sobre ele os juízos de Deus desde bastante tempo ameaçados
mas por longo tempo adiados.
subiu Neco, rei do Egito, para guerrear contra Carquemis,
junto ao Eufrates — Neco, filho de Psamético, subiu ao trono do Egito
no vigésimo ano de Josias. Era rei audaz e empreendedor; entrou de todo
coração na luta que os dois grandes poderes do Egito e Assíria, desde
muito tempo, mantinham pela ascendência política. Cada um, zeloso dos
movimentos agressivos de seu rival, estava desejoso de ter a Palestina
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 107
como barreira fronteiriça. Depois da derrota de Israel, o reino de Judá
veio a ser por este motivo duplamente importante, e embora o rei e o
povo tinham uma forte inclinação para com uma aliança com o Egito,
entretanto desde o tempo de Manassés, Judá tinha chegado a ser um
vassalo da Assíria, e Josias, fiel a suas obrigações políticas não menos
que a suas obrigações religiosas, sentia-se obrigado a apoiar os interesses
de seu soberano assírio. Então, “subiu Neco, rei do Egito, para guerrear
contra Carquemis, junto ao Eufrates. Josias saiu de encontro a ele”.
Carquemis, sobre a ribeira leste do Eufrates era a chave da Assíria a
oeste, e ao ir lá o rei do Egito deve ter transportado suas tropas por mais
ao longo da costa da Palestina, rumo ao norte. Josias, como vassalo fiel,
resolveu opor-se à marcha de Neco através da parte setentrional do país.
Encontraram-se no vale de Megido, o vale ou planícies de Esdralom. O
rei egípcio tinha vindo por água ou pelas planícies da Filístia, tendo-se
constantemente ao longo da costa, dobrando pelo ângulo do Monte
Carmelo, e assim até as grandes planícies de Megido. Este não era
somente seu caminho mais direto ao Eufrates, mas sim a única rota apta
para seus carros, enquanto que por este caminho também deixava a Judá
e Jerusalém muito a sua direita. Neste vale, entretanto, o exército egípcio
necessariamente devia dirigir-se através do país, e foi nesta ocasião
quando Josias poderia mais virtualmente lhe cortar o passo. Para evitar a
dificuldade de cruzar o rio Quisom, Neco ficou ao sul dele, e portanto
teve que passar o Megido. Josias, ao seguir com seus carros e cavalaria
de Jerusalém, teve que partir rumo ao norte pelo caminho principal, por
Samaria pela via Kefr-Kud (a antiga Caper-Cotia) até Megido. (Van de
Velde).
21. Neco lhe mandou mensageiros, dizendo: Que tenho eu
contigo, rei de Judá? — Não desejando gastar tempo e forças
inutilmente, Neco informou ao rei de Judá que não tinha intenção de
incomodar aos judeus; que sua expedição dirigia-se unicamente contra
seu antigo inimigo assírio; e que a tinha empreendido por uma comissão
expressa de Deus. Os comentadores não estão de acordo a respeito de se
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 108
realmente lhe tinha sido dada uma divina comissão por intermédio de
Jeremias, ou se só usou o nome de Deus como uma autoridade, para que
Josias não se negasse a lhe obedecer. Como não pôde ele conhecer a
verdade da declaração de Neco, não pecou Josias em lhe fazer frente, ou,
se pecou, foi pecado de ignorância. Travou-se a batalha. Josias foi
mortalmente ferido [v. 23].
24. Seus servos o tiraram do carro, levaram-no para o segundo
carro — o carro que ele tinha para usos ordinários, e que lhe seria mais
confortável para a vítima real, que o carro de guerra. A morte deste bom
rei foi causa de geral e prolongado pesar.
25. Jeremias compôs uma lamentação sobre Josias. — A elegia
de Jeremias não chegou até nós; mas parece que foi conservada por
muito tempo entre seus concidadãos, e cantada em certas ocasiões
públicas por cantores profissionais, os quais tiravam seus lamentos de
uma coleção de odes fúnebres compostas por ocasião da morte dos
grandes homens da nação. O lugar no vale de Megido, onde se travou a
batalha estava perto do povo de Hadade-Rimom; e por este motivo a
lamentação pela morte de Josias chamava-se “a lamentação de Hadade-
Rimom no vale de Megido,” a qual era grande e tão usada, que a
lamentação de Hadade-Rimom, mais tarde chegou a ser uma frase
proverbial para expressar qualquer grande e extraordinária tristeza
(Zac_12:11).
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 109
2 Crônicas 36

Vv. 1-4. JEOACAZ, O SUCESSOR, É DEPOSTO POR FARAÓ.


1. O povo da terra tomou a Jeoacaz — Imediatamente depois da
derrota e morte de Josias, o povo elevou ao trono a Salum (1Cr_3:15),
depois chamado Jeoacaz, em preferência a seu irmão mais velho
Eliaquim, de quem os cidadãos não esperavam grande coisa. Diz-se que
Jeoacaz (2Rs_23:30) recebeu em Jerusalém a real unção, cerimônia esta
que não se cria necessária em circunstâncias da regular sucessão
indisputada. Mas no caso de Jeoacaz, valeu-se dela para dar mais validez
ao ato da eleição popular, e talvez fazer menos provável que o ato fosse
incomodado por Neco, quem como todos os egípcios, associava a ideia
de santidade com o unção real. Jeoacaz era o filho mais novo de Josias,
mas o favorito popular, devido provavelmente a seu espírito marcial
(Ez_19:3) e sua oposição firme aos propósitos agressivos do Egito. Ao
subir ao trono a terra estava livre da idolatria; mas este príncipe, em vez
de seguir nas pegadas de seu excelente pai, adotou a política criminal de
seus predecessores apóstatas, e por sua influência, usada direta ou
indiretamente, cresceu a idolatria (veja-se 2Rs_23:32).
2. e reinou três meses em Jerusalém — Sua possessão do poder
soberano foi de uma duração muito curta; porque Neco resolveu
aproveitar a vantagem já ganha em Judá, e, crendo conveniente ter um
rei nomeado por ele sobre o trono daquele país, depôs ao monarca eleito
pelo povo, e elevou ao trono a seu irmão Eliaquim ou Jeoaquim, quem
cria seria um vassalo muito obsequioso. O curso dos acontecimentos
parece ter sido assim: ao receber relatório, depois da batalha, do subida
de Jeoacaz ao trono, e talvez também como consequência de alguma
queixa que Eliaquim tenha levado perante ele com relação a este assunto,
Neco saiu com parte de suas tropas para Jerusalém, enquanto as suas
demais tropas partiam pausadamente para Ribla; pôs tributo sobre o país,
elevou a Eliaquim (Jeoaquim) ao trono como vassalo dele, e ao ir-se
levou consigo cativo Jeoacaz a Ribla. Os antigos expositores geralmente
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 110
supunham que Neco, depois da batalha de Megido, partiu diretamente
contra Carquemis, e logo ao voltar veio a Jerusalém. A improbabilidade,
ou antes, a impossibilidade, de que tivesse feito assim, vê-se disto: Que
Carquemis distava setecentos ou oitocentos quilômetros de Megido, de
modo que em “três meses” um exército não teria podido fazer este
caminho, vencer a cidade cercada de Carquemis, e depois, partir para
trás uma distância ainda maior até Jerusalém, e tomar aquela cidade.
(Keil).
3. cem talentos de prata — 3.418 libras esterlinas,
e um de oro — 5.475 libras; total do tributo, 8.893 libras, e o levou
(Jeoacaz)
4. tomou Neco e o levou — a Jeoacaz.
ao Egito — Ali morreu (Jr_22:10-12).

Vv. 5-8. JEOAQUIM, POR REINAR MAL, É LEVADO A


BABILÔNIA.
5. Jeoaquim … Fez ele o que era mau perante o SENHOR —
quer dizer, seguiu o curso de seus antepassados idólatras, e o povo, em
grande parte indisposto à política reformadora de seu pai, ardentemente
se valia da libertinagem viciosa que sua negligente administração
restabelecia. Seu caráter é retratado pela mão mestra na profecia de
Jeremias (2Cr_22:13-19). Como agente do rei do Egito, afastou-se mais
que seu predecessor dos princípios de governo de Josias; e tratando de
satisfazer a cobiça insaciável de seu amo, por sua excessiva exigência a
seus súditos, Jeoaquim temerariamente se meteu em toda sorte de mal.
6. Subiu, pois, contra ele Nabucodonosor, rei da Babilônia —
Isto se refere à primeira expedição de Nabucodonosor contra a Palestina,
em vida de seu pai Nabopolassar,o qual, sendo velho e doente, tomou a
seu filho como ajudante, e o enviou, no comando de seu exército, contra
os egípcios que invadiam seu império em Carquemis, e expulsando-os
fora da Ásia, reduziu todas as províncias a oeste do Eufrates a
obediência, e entre outros o reino de Jeoaquim, quem veio a ser vassalo
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 111
do império assírio (2Rs_24:1). Jeoaquim no fim de três anos rejeitou o
jugo, instigado provavelmente a rebelar-se por conselho do rei do Egito,
quem projetava uma nova expedição contra Carquemis. Mas foi
completamente vencido pelo rei babilônio, quem lhe tirou todas as suas
posses entre o Eufrates e o Nilo (2Rs_24:7). Então partindo contra o
aliado do Egito em Judá, tomou Jerusalém, levou uma porção dos vasos
sagrados do templo, talvez em lugar do tributo que não lhe tinha sido
pago, e os depositou no templo de seu deus, Bel, em Babilônia (Dan_1:2;
Dan_5:2). Embora Jeoaquim tinha sido tomado prisioneiro, e pensava-se
primeiro transportá-lo em cadeias a Babilônia, teve permissão para ficar
em seu trono tributário. Mas tendo feito um pouco depois alguma nova
ofensa, Jerusalém foi sitiada por um exército de ajudantes, numa saída
contra os quais Jeoaquim foi morto (veja-se 2Rs_24:2-7; também
Jr_22:18-19; Jr_36:30)
9. Tinha Joaquim oito anos (RSV) — chamado também Jeconias,
ou Conias (Jr_22:24). “Oito”, deveria ter sido “dezoito” [RA], como
aparece em 2Rs_24:8, como também se pode ver no completo
desenvolvimento de seus princípios e hábitos irreligiosos (veja-se
Ez_19:5-7). Sendo de tão curta duração seu reinado, não se pode
considerar em desacordo com a denúncia profética contra seu pai
(Jr_36:30). Mas sua nomeação pelo povo causou ressentimento a
Nabucodonosor, quem “na primavera do ano” (v. 10), quer dizer na
próxima primavera quando geralmente começam as campanhas, foi
pessoalmente contra Jerusalém, capturou a cidade, e enviou a Joaquim
em cadeias a Babilônia, transportando ao mesmo tempo a todos os
nobres e artesãos mais hábeis, furtando todos os outros tesouros tanto do
templo como do palácio (veja-se 2Rs_24:8-17).

Vv. 11-21. O REINADO DE ZEDEQUIAS.


11. Zedequias — Nabucodonosor o nomeou. Seu nome,
originalmente Matanias, foi, segundo o costume dos conquistadores
orientais, mudado para Zedequias, e embora fosse filho de Josias
2 Crônicas (Jamieson, Fausset e Brown) 112
(1Cr_3:15; Jr_1:2-3; Jr_37:1), é chamado (v. 10) irmão de Joaquim
segundo a amplitude do estilo hebreu em palavras que expressam
parentesco (veja-se 2Rs_24:18; 2Rs_26:1-21).
13. que o tinha ajuramentado por Deus — Zedequias recebeu sua
coroa sob a condição expressa de um solene juramento de lealdade ao rei
de Babilônia (Ez_17:13), de modo que sua rebelião ao unir-se com o
Faraó-Hofra, rei do Egito, significava um crime de perjúrio. Sua própria
vaidade e sua obstinada impiedade, a incurável idolatria da nação e seu
temerário desprezo às advertências proféticas, trouxeram sobre seu reino
já tristemente reduzido, os juízos de Deus, já de há muito tempo preditos.
Nabucodonosor, o executor da vingança divina, começou o terceiro sítio
de Jerusalém, que, depois de resistir um ano e meio, foi tomada no
décimo primeiro ano do reinado de Zedequias, terminando com a queima
do templo, mais provavelmente, a arca, e a destruição do reino de Judá
(veja-se 2 Reis 25; Ez_12:13; Ez_17:16).
21. até a terra ter desfrutado dos seus sábados (RSV) — A volta
de cada sétimo ano devia ter-se como ano sabático, tempo de descanso a
todas as classes, até à própria terra, a qual devia ser arada. Esta
instituição divina, entretanto, foi descuidada—quão logo e quanto tempo,
aparece na profecia de Moisés (Lv_26:34) e de Jeremias nesta passagem
(veja-se Jr_25:9-12), a qual disse que por retribuição divina devia ficar
desolada por setenta anos. Como os conquistadores assírios colonizavam
geralmente suas províncias conquistadas, tão notável separação do
costume geral da Palestina deverá ser atribuído à providência soberana
de Deus.

Vv. 22, 23. PROCLAMAÇÃO DE CIRO.


22. despertou o SENHOR o espírito de Ciro — (Cf. Ed_1:1-3).
ESDRAS
Original em inglês:
EZRA
The Book of Ezra
Commentary by Robert Jamieson
Tradução: Carlos Biagini

Esdras 1 Esdras 4 Esdras 7 Esdras 10

Esdras 2 Esdras 5 Esdras 8

Esdras 3 Esdras 6 Esdras 9


Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 2
Esdras 1

Vv. 1-6. DECRETO DE CIRO PARA A EDIFICAÇÃO DO


TEMPLO.
1. No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia — O Império Persa,
que incluía Pérsia (hoje o Irã), Média, Babilônia e Caldeia, com muitas
dependências menores, foi fundado por Ciro no 536 a.C. (Hales).
para que se cumprisse a palavra do SENHOR, por boca de
Jeremias — (Veja-se Jr_25:12; Jr_29:10). Esta referência é uma
afirmação entre parêntese do historiador, e não formava parte do decreto
de Ciro.
2. O SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra
— Embora isto está no estilo oriental de hipérbole (veja-se também
Dan_4:1), foi literalmente verdade que o Império Persa era o maior
poder governante do mundo daquele tempo.
me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém — A
fraseologia deste decreto independentemente do rápido testemunho de
Josefo, proporciona-nos a prova indisputável de que Ciro tinha visto,
provavelmente por meio de Daniel, seu venerável primeiro-ministro e
favorito, aquelas profecias nas quais foram claramente preditos, duzentos
anos antes que ele nascesse, seu nome, sua carreira vitoriosa e os
serviços importantes que prestaria aos judeus (Is_44:28; Is_46:1-4). A
existência de predições tão maravilhosas o fez reconhecer que todos os
seus reinos eram dons que lhe foram conferidos pelo “Senhor, Deus dos
céus”, e o incitava a cumprir o dever que lhe tinha sido imposto muito
tempo antes de seu nascimento. Isto foi a iniciativa e a origem do grande
favor que fazia aos judeus. A proclamação, embora saiu “no primeiro
ano de Ciro” [Ed_1:1], não teve efeito senão no ano seguinte.
3. Quem dentre vós é do seu povo (TB) — A intenção do decreto
foi o de conceder plena permissão a todos os desterrados judeus, em
todas as partes de seu reino, os que assim desejassem, para retornar a seu
próprio país, como também o de recomendar aos compatriotas deles que
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 3
ficavam, que ajudassem aos pobres e debilitados em seu caminho, e que
contribuíssem liberalmente para a reedificação do templo.
5, 6. Então se levantaram os cabeças das famílias, etc. —
Naturalmente tomaram a dianteira neste movimento os chefes paternais e
eclesiásticos do último cativeiro, os das tribos de Judá e Benjamim, com
alguns das outras tribos (1Cr_9:3), os quais conservavam seu afeto pelo
culto puro a Deus, e o exemplo daqueles foi seguido por todos os
compatriotas cuja piedade e patriotismo eram bastante poderosos para
que eles fizessem frente aos distintos desalentos inerentes à empresa. Os
que retornavam, eram ajudados por multidões de seus compatriotas
cativos, que, nascidos em Babilônia, ou comodamente estabelecidos ali
por vínculos de família ou pela possessão de propriedades, optaram por
ficar. Parece também que seus amigos e vizinhos assírios, quer seja por
uma disposição favorável para com a fé hebraica, ou por imitação do
proceder da corte, mostraram entusiasmo, boa vontade e grande
liberalidade em ajudar e alentar os propósitos dos emigrantes.

Vv. 7-11. CIRO DEVOLVE OS VASOS SAGRADOS.


7. Ciro tirou os utensílios da Casa do SENHOR — Embora se
diga (2Rs_24:13) que estes copos foram quebrados em pedaços, isso não
se faria com os vasos grandes e magníficos, e, se estes tinham sido
partidos, as partes poderiam ser juntadas. Mas é de duvidar-se que a
palavra hebraica traduzida como quebrados em pedaços, signifique
meramente separados do uso posterior no templo.
8. Sesbazar, príncipe de Judá — quer dizer, Zorobabel filho do
Sealtiel (cf. Ed_3:8; 5:16). Ele nasceu em Babilônia, e era chamado pelo
nome de sua família Zorobabel, que quer dizer “estrangeiro ou banido
em Babilônia”. Sesbazar, “adorador do sol”, era o nome que lhe foi dado
na corte, como assim outros nomes foram dados a Daniel e seus amigos.
Entre os desterrados era reconhecido como príncipe hereditário de Judá.
11. Todos os utensílios de ouro e de prata foram cinco mil e
quatrocentos — Os vasos aqui mencionados sobem ao número de
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 4
2.499. Portanto é provável que não se mencionem senão os vasos
maiores, enquanto que o inventário de tudo, incluindo-se grandes e
pequenos, alcance a soma total indicada no texto.
todos estes ... subiram da Babilônia para Jerusalém — Nem
todos os desterrados judeus abraçaram o privilégio que o rei persa lhes
concedeu. Muitíssimos deles, nascidos em Babilônia, preferiram
continuar em seus lares confortáveis a empreender uma longa viagem,
custosa e perigosa para uma terra desolada. Tampouco foram de uma só
vez os que retornavam, pois a primeira companhia deles foi com o
Zorobabel, outros mais tarde com Esdras, e um grande número com
Neemias numa data ainda mais tarde.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 5
Esdras 2

Vv. 1-70. O NÚMERO DOS QUE RETORNARAM.


1. filhos da província — quer dizer, da Judeia (Ed_5:8), chamados
assim por serem reduzidos agora de um reino ilustre, independente e
poderoso a uma província obscura, servil e tributária do Império Persa.
Este nome é usado pelo historiador sagrado para insinuar que os
desterrados judeus, embora libertados do cativeiro e com permissão para
retornar a sua terra própria, eram ainda súditos de Ciro, habitantes de
uma província dependente de Pérsia.
voltaram para Jerusalém e para Judá, cada um para a sua
cidade — ou à cidade que tinha sido ocupada por seus antepassados, ou,
como as maiores partes da Judeia estavam já desoladas ou possuídas por
outros, à cidade que era reedificada e designada agora para cada um.
2. os quais vieram com Zorobabel — Ele foi o chefe ou condutor
da primeira companhia de desterrados que retornavam. Mencionam-se
também os nomes de outras pessoas influentes, que estavam associadas
na direção das caravanas, nomes tirados provavelmente dos arquivos
persas, onde se conservava o registro; notáveis naquele número eram
Jesua, o sumo sacerdote, e Neemias.
3. Os filhos — Esta palavra, usada em todo este catálogo, quer
dizer a posteridade ou os descendentes.
5. Os filhos de Ará, setecentos e setenta e cinco — O número,
conforme o menciona Ne_7:10, não foi senão 652. É provável que todos
os mencionados como pertencentes a esta família tivessem concorrido ao
lugar de concentração, ou se tivessem alistado na primeira instância
como dispostos a ir; mas no intervalo de preparação, alguns morreram,
outros não foram por doença ou obstáculos insuperáveis, de modo que
no final não chegaram mais de 652 a Jerusalém.
23. Os homens de Anatote — É grato ver que muitos retornaram a
esta cidade judia. Era cidade dos levitas; mas os habitantes rejeitaram
desdenhosamente a advertência profética, e trouxeram sobre si uma das
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 6
predições mais severas (Jr_32:27-35). Esta profecia foi cumprida na
conquista assíria. Anatote foi derrubada, e continuou sendo um montão
de ruínas. Mas durante o cativeiro chegaram a um estado de mente mais
sensato, retornaram e reedificaram sua cidade.
36-39. Os sacerdotes — Cada uma de suas famílias se congregava
sob seu príncipe ou cabeça, como as das demais tribos. Deve-se lembrar
que todo o corpo de sacerdotes estava dividido em vinte e quatro classes,
ou turnos, um dos quais, em rodízio, cumpria os deveres sacerdotais cada
semana, e cada divisão era chamada pelo nome de seu príncipe ou chefe.
Por este relato nos damos conta de que só quatro das divisões dos
sacerdotes retornaram do cativeiro babilônico; mas estes quatro turnos
mais tarde, quando aumentaram as famílias, foram divididos em vinte e
quatro, os quais eram conhecidos pelos nomes dos turnos originais
nomeados por Davi [1Cr_23:6-13]. De sorte que achamos o turno ou a
divisão de Abias (1Cr_24:10) existente no começo da era cristã (Lc_1:5).
55. Os filhos dos servos de Salomão — Ou os estrangeiros que o
monarca contratou na construção do templo, ou pessoas que viviam em
seu palácio, o que era considerado uma alta honra.
61, 62. os filhos do Barzilai — Ele preferiu aquele nome ao de sua
família, crendo que era distinção maior ser unido com família tão nobre,
que pertencer à casa de Levi. Mas por esta ambição mundana perdeu o
título à dignidade e as vantagens do sacerdócio.
63. Tirsata (AV) — título dado aos governadores persas da Judeia
(veja-se também Ne_7:65-70; Ne_8:9; Ne_10:1). Deriva-se da palavra
persa torsh, severo, e é equivalente a “sua severidade”, “sua reverência”.
64. Toda esta congregação junta foi de quarenta e dois mil
trezentos e sessenta — Esta soma total é 12.000 mais do que a soma dos
números particulares dados no catálogo. Somando os números
particulares, veremos que chegam a 29.818 neste capítulo, e a 31.089 no
capítulo paralelo de Neemias [Ne_7:66-69]. Esdras também menciona
494 pessoas omitidas por Neemias, e Neemias menciona 1.765 não
catalogadas por Esdras. Se o restante de Esdras fosse acrescentado à
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 7
soma total de Neemias, e o restante de Neemias fosse acrescentado à
soma total de Esdras, veremos que ambas as somas serão 31.583.
Subtraindo esta quantidade de 42.360, haverá uma falta de 10.777
pessoas. Estas foram omitidas, por não pertencerem a Judá e Benjamim,
ou aos sacerdotes, mas sim às outras tribos. Os servos e cantores,
homens e mulheres, são contados à parte (v. 65), de modo que somando-
se todos estes artigos, o número de todos os que foram com Zorobabel
chegou a 50.000 com 8.000 animais de carga. (Alting, citado em
Hermeneutics, de Davidson.)
68. Alguns dos cabeças de famílias, vindo à Casa do SENHOR
… deram voluntárias ofertas para a Casa de Deus, etc. — A visão
daquele lugar consagrado pelas lembranças mais carinhosas e santas,
mas que agora jaz em abandono e ruínas, fez com que as fontes de sua
piedade e patriotismo brotassem de novo, e antes de tomar alguma
medida para proporcionar para si e suas famílias algum conforto, os
cabeças dentre eles levantaram uma grande coleta em contribuições
voluntárias para a restauração do templo.
69. dracmas de ouro (NKJV) — antes, como está na RA e RC,
daricos, moeda persa (veja-se 1Cr_29:7).
vestes sacerdotais — (cf. Ne_7:70). Naquelas circunstâncias, esta
foi uma oferta muito oportuna. Em geral, pode notar-se que obséquios de
objetos de vestir, ou de outros produtos úteis, por estranho que nos
pareça, estão de acordo com ideias e costumes estabelecidos no Oriente.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 8
Esdras 3

Vv. 1-13. LEVANTA-SE O ALTAR.


1. Em chegando o sétimo mês — A saída dos desterrados que
retornavam de Babilônia foi na primavera, e por algum tempo depois de
sua chegada, eles estiveram ocupados na tarefa necessária de levantar
para si habitações entre as ruínas de Jerusalém e nas cercanias.
Terminado este trabalho preliminar, dirigiram sua atenção à edificação
do altar de sacrifícios, e como chegava o sétimo mês do ano —
correspondendo aos fins de nosso setembro — quando correspondia
celebrar a festa dos tabernáculos (Lv_23:34), resolveram celebrar esta
festividade religiosa, como se o templo tivesse sido completamente
restaurado.
2. Jesua — Era o neto de Seraías, o sumo sacerdote morto por
Nabucodonosor em Ribla (2Rs_25:18-21). Seu pai Jeozadaque tinha sido
levado cativo a Babilônia, e ali morreu algum tempo antes deste
acontecimento.
Zorobabel — foi, segundo a ordem da natureza, filho de Pedaías
(1Cr_3:17-19), mas como tinha sido criado por Sealtiel, chamava-se
filho deste.
edificaram o altar do Deus de Israel, para sobre ele oferecerem
holocaustos — Isto foi de uma necessidade urgente e imediata, a fim de,
primeiro, fazer propiciação pelos seus pecados; em segundo lugar, para
que recebessem a bênção divina sobre os seus preparativos para o
templo, como também para animar os seus sentimentos de piedade e
patriotismo para o prosseguimento daquela obra nacional.
3. Firmaram o altar sobre as suas bases — Quer dizer,
levantaram-no sobre o alicerce antigo, de modo que ocupou tão
exatamente como foi possível, o local onde tinha estado antigamente.
ofereceram sobre ele holocaustos ao SENHOR, de manhã e à
tarde. — Crendo que seu dever era cumprir os ritos públicos da religião,
não esperaram até que o templo estivesse reedificado e dedicado; mas,
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 9
desde o começo, renovaram o serviço diário prescrito pela lei (Êx_29:38-
39; Lv_6:9, Lv_6:11); e também observaram as épocas anuais de
observância solene.

Vv. 4-7. RENOVAM-SE AS OFERTAS.


4-6. Celebraram a Festa dos Tabernáculos … Desde o primeiro
dia do sétimo mês — Eles reavivaram naquele tempo os sacrifícios
diários, e no dia décimo quinto de aquele mês começou a festa dos
tabernáculos.
7. deram … bebida e azeite aos sidônios — Fizeram acordo com
os tírios para que lhes mandassem artesãos, e também madeira, sob as
mesmas condições e com os mesmos objetivos como fez Salomão
(1Rs_5:11; 2Cr_2:15-16).

Vv. 8-13. É LANÇADO O ALICERCE DO TEMPLO.


8. começaram a obra ... constituíram levitas ... para a
superintenderem — quer dizer, para que agissem como capatazes dos
trabalhadores, e os dirigissem e os animassem nos diferentes
departamentos.
9. Então, se apresentaram Jesua com seus filhos — não o sumo
sacerdote, mas sim um levita (Ed_2:40). A estes, distinguidos
provavelmente por sua destreza mecânica e seu gosto, foi encomendado
especialmente o dever de servir como superintendentes.
12. muitos dos sacerdotes, e levitas, e cabeças de famílias …
choravam em alta voz — Aquelas dolorosas emoções foram
estimuladas pelo triste contraste entre as circunstâncias prósperas em que
foram postos os alicerces do primeiro templo, e o estado desolado e
reduzido do país e da cidade, quando se começava a construir o segundo;
entre o tamanho inferior e o custoso das pedras usadas nos alicerces do
segundo (1Rs_7:9-10), e a extensão muito mais reduzida do próprio
fundamento incluindo-se todos as pertences do edifício (Ag_2:3); entre a
pequenez comparativa de seus meios presentes e os recursos imensos de
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 10
Davi e Salomão. Talvez, a causa principal de dor foi, que o segundo
templo estaria desprovido daquelas coisas que formavam a grande glória
eminente do primeiro: quer dizer, a arca, a “shekinah”, o Urim e Tumim,
etc. Não que este segundo templo não fosse um grande e belo edifício;
mas por grande que fosse seu esplendor material, foi inferior neste
sentido ao de Salomão. Entretanto, a glória do segundo sobrepujou em
muito a do primeiro templo em outro e mais importante sentido, quer
dizer, por receber dentro de suas paredes ao Salvador encarnado
(Ag_2:9).
13. não se podiam discernir as vozes de alegria das vozes do
choro — Entre o povo oriental, as expressões de tristeza são sempre
fortes e veementes. Isto é indicado no soluço, o uivo do qual às vezes
não é facilmente distinguível dos gritos de alegria.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 11
Esdras 4

Vv. 1-6. A EDIFICAÇÃO É ESTORVADA.


1. os adversários de Judá e Benjamim — quer dizer, estrangeiros
radicados na terra de Israel.
2. Deixai-nos edificar convosco, porque, como vós, buscaremos
a vosso Deus; como também já lhe sacrificamos desde os dias de
Esar-Hadom … que nos fez subir para aqui. — Uma interessante
explicação desta passagem descobriu-se há pouco nas esculturas assírias.
Sobre um cilindro grande, depositado no Museu Britânico, está inscrita
uma cópia longa e perfeita dos anais de Esar-Hadom, nos quais se dão os
detalhes de uma grande deportação de israelitas da Palestina, e do
estabelecimento subsequente de colonos babilônios em lugar deles. É
uma confirmação surpreendente da afirmação feita nesta passagem.
Aqueles colonos assírios se casavam com as restantes das mulheres
israelitas, e seus descendentes, uma raça mestiça, conheciam-se pelo
nome de samaritanos. Embora originalmente idólatras, eram ensinados
no conhecimento de Deus, de modo que podiam dizer: “Buscaremos a
seu Deus”; mas o serviam de uma maneira supersticiosa própria deles
(veja-se 2Rs_17:26-34, 2Rs_17:41).
3. Zorobabel, Jesua e os outros cabeças de famílias lhes
responderam: Nada tendes conosco na edificação da casa a nosso
Deus — Esta negação a cooperar com os samaritanos, fossem quais
fossem os motivos dela, foi usada pela Providência para o bem final;
porque, se os dois povos tivessem trabalhado juntos, teriam resultado
relações estreitas e casamentos mistos, e o resultado poderia ter sido uma
recaída dos judeus na idolatria, e mais certamente teria havido confusão
e escuridão na evidência genealógica que provava a linhagem do
Messias; enquanto que, em sua condição hostil e separada, eram
observadores zelosos dos procedimentos os uns dos outros, vigiando
com mútuo cuidado a preservação e integridade dos livros sagrados,
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 12
guardando a pureza e a honra do culto mosaico, e contribuindo assim à
manutenção do conhecimento e a verdade religiosos.
4. Então, as gentes da terra desanimaram o povo de Judá, etc.
— Exasperados por este rechaço, os samaritanos tratavam de qualquer
maneira de incomodar os operários como também impedir o progresso
da edificação; enquanto que não puderam mudar o decreto que Ciro tinha
expedido a respeito, entretanto por meio de subornos e artes clandestinas
praticadas na corte, esforçavam-se por frustrar os efeitos do decreto. Seu
êxito nestes negócios dissimulados foi grande, porque Ciro estando com
frequência ausente, e muito absorto em suas expedições guerreiras,
deixava o governo nas mãos de seu filho Cambises, príncipe ímpio e
extremamente hostil aos judeus e sua religião. As mesmas artes foram
praticadas assiduamente durante o reinado de seu sucessor Esmerdis até
o tempo do Dario Histaspes. A consequência das dificuldades e os
obstáculos assim interpostos, durante um período de vinte anos, o
progresso da obra foi muito lento.
6. No princípio do reinado de Assuero, escreveram uma
acusação — Assuero era o título real, e o rei aludido era o sucessor do
Dario, o famoso Xerxes.

Vv. 7-24. A CARTA A ARTAXERXES.


7. nos dias de Artaxerxes … lhe escreveram, etc. — Supõe-se que
os três oficiais nomeados fossem os governadores deputados nomeados
pelo rei de Pérsia sobre todas as províncias súditas a seu império a oeste
do Eufrates.
na língua siríaca — ou, em idioma aramaico, chamado às vezes
em nossa versão, caldeu. Este idioma era usado pelos persas em seus
decretos e comunicações com relação aos judeus (cf. 2Rs_18:26;
Is_36:11). O objetivo desta carta foi o de trazer para a atenção real a
inoportunidade e o perigo em reedificar os muros de Jerusalém.
Esforçaram-se muito para predispor a mente do rei contra tal medida.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 13
9. os dinaítas — Os povos nomeados eram os colonos enviados
pelo monarca babilônio para ocupar o território das dez tribos. “O grande
e afamado Osnapar” (v. 10) era Esar-Hadom. Imediatamente depois do
assassinato de Senaqueribe, os babilônios, os medos, os armênios e
outros povos tributários aproveitaram a oportunidade de rejeitar o jugo
assírio. Mas, tendo Esar-Hadom, no décimo terceiro de seu reinado
recuperado Babilônia, e subjugado a outros súditos rebeldes, transportou
grandes números deles às cidades desoladas de Samaria (Hales).
12. os judeus que subiram de ti vieram a nós — O nome “judeus”
foi usado geralmente depois da volta do cativeiro, porque os desterrados
que retornaram pertenciam principalmente às tribos de Judá e Benjamim.
Embora o edito de Ciro retornar os que quisessem, permissão da qual
alguns dos israelitas se valiam, a grande maioria dos que vieram a
estabelecer-se na Judeia, eram os homens de Judá.
13. os direitos, os impostos e os pedágios — o primeiro era um
imposto de capacitação; o segundo imposto era sobre a propriedade; e o
terceiro era um imposto sobre o comércio e as mercadorias. Esta carta e
o decreto seguinte, ordenando a imediata cessação do trabalho nos muros
da cidade, formam o tema exclusivo do relato de Ed_4:7-23. E após esta
digressão [a história] volta para Ed_4:24 a reatar o fio de sua história a
respeito da reedificação do templo.
14. como somos assalariados do rei — literalmente, “somos
salgados com o sal do rei”. “Comer o sal” de um príncipe é uma frase
oriental, equivalente a “receber manutenção da parte dele”.
24. Cessou, pois, a obra da Casa de Deus — Este foi o
acontecimento que primeiro deu origem a forte antipatia religiosa entre
os judeus e os samaritanos, a qual foi depois grandemente agravada pela
construção de um templo rival no monte Gerizim.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 14
Esdras 5

Vv. 1-17. ZOROBABEL E JESUA LEVAM ADIANTE A


EDIFICAÇÃO DO TEMPLO NO REINADO DE DARIO.
1. os profetas Ageu e Zacarias … profetizaram ... em nome do
Deus de Israel — Pelos escritos de Ageu e Zacarias, parece que as
dificuldades havidas, e os muitos obstáculos postos no caminho,
primeiro tinham moderado o zelo dos judeus na edificação do templo, e
depois chegaram ao abandono da obra, sob uma crença fingida de que
não tinha chegado ainda o tempo para a reedificação (Ag_1:2-11).
Durante quinze anos a obra ficou completamente suspensa. Estes dois
profetas repreendiam ao povo com severas recriminações por sua
preguiça, negligência e egoísmo mundano (Ag_1:4), ameaçando-os com
juízos severos, se continuavam indo para trás, e prometiam que seriam
abençoados com grande prosperidade nacional, se continuassem e
prosseguissem a obra com alegria e vigor.
Zacarias, filho de Ido — antes, neto (Zc_1:1).
2. Então, se dispuseram Zorobabel … e Jesua … e começaram a
edificar a Casa de Deus — As fortes instâncias e exortações
animadoras destes profetas deram novo impulso à edificação do templo.
No segundo ano do reinado de Dario Histaspes a obra, depois de uma
longa interrupção, foi continuada.
3, 4. Nesse tempo, veio a eles Tatenai, governador daquém do
Eufrates — O Império Persa que está a oeste do Eufrates, incluía
naquele então Síria, Arábia, Egito, Fenícia e outras províncias sujeitas a
Dario. O império estava dividido em vinte e quatro províncias, chamadas
satrapias. Síria formava uma satrapia, inclusive Palestina, Fenícia e
Chipre, e proporcionava uma renda anual de 350 talentos. Era presidida
por um sátrapa, ou vice-rei, que residia naquele então em Damasco, e
embora fosse superior aos governadores judeus de Jerusalém, nomeados
pelo rei persa, o sátrapa nunca intervinha em seu governo interno, mas
sim quando havia uma ameaça de desordem. Tatenai, o governador (se
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 15
este era seu nome pessoal ou título oficial, não se sabe), provavelmente
tinha sido incitado pelas queixas e as tropelias violentas dos samaritanos
contra os judeus; mas reservava seu juízo, e prudentemente se trasladou
a Jerusalém, para poder averiguar o verdadeiro estado das coisas por
meio de uma inspeção e indagação pessoais, junto com outro oficial
elevado e sua câmara de vereadores provincial.
5. Porém os olhos de Deus estavam sobre os anciãos dos judeus,
etc. — A presença inusitada, o séquito imponente, as interrogações
peremptórias do sátrapa pareciam formidáveis, e poderiam ter produzir
uma influência paralisante e conduzido a consequências desastrosas, se
tivesse sido ele um juiz parcial e corrompido, ou movido por sentimentos
não amistosos para a causa judia. O historiador, pois, com piedade
característica, inclui este versículo entre parêntese para insinuar que
Deus tinha afastado a nuvem ameaçadora e procurado o favor para os
anciãos e dirigentes dos judeus, de sorte que eles não foram
interrompidos em suas operações até comunicar-se com a corte e
recebesse resposta. Nem uma palavra foi pronunciada para desalentar
aos judeus ou causar triunfo a seus inimigos. As operações deviam
continuar, enquanto não se recebessem ordens contrárias de Babilônia.
Depois de examinar o trabalho ativo, perguntou, primeiro, com que
autoridade se empreendeu a edificação deste templo nacional; e, em
segundo lugar, os nomes dos promotores e dirigentes principais da
empresa. A estas duas classes de perguntas os judeus tinham respostas
preparadas e claras. Então, tendo sabido que o assunto se originou num
decreto de Ciro, quem não só tinha libertado os desterrados judeus do
cativeiro, e permitido sua volta a sua própria terra com o propósito
rápido de reedificar a casa de Deus, mas também, por um ato de graça
real, havia-lhes devolvido os vasos sagrados que Nabucodonosor levou
como troféus do templo anterior, Tatenai transmitiu toda esta informação
num relatório oficial a seu amo imperial, acompanhando-o com uma
recomendação de que se fizesse uma busca entre os arquivos de
Babilônia, do decreto original de Ciro, para que fosse comprovada a
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 16
verdade da declaração dos judeus. Toda a conduta de Tatenai, como
também o tom geral de sua comunicação, caracteriza-se por uma
discrição sã e moderação prudente, livre de todo preconceito partidarista,
mostrava só um desejo de cumprir seu dever. Em todos os aspectos, ele
aparece em contraste favorável com Reum, seu antecessor (Ed_4:9).
8. à casa do grande Deus, a qual se edifica com grandes pedras
— lit., “pedras de rodar”, quer dizer pedras de tamanho tão
extraordinário que não podiam ser levadas; deviam ser rodadas e
arrastadas sobre a terra.
13. o rei Ciro expediu um decreto (TB) — Os judeus estavam
plenamente justificados segundo os princípios do governo persa para
prosseguirem com a edificação em virtude do decreto de Ciro. Porque
em todas as partes um decreto público se considera como continuando
em força, enquanto não seja revogado; mas “a lei dos medos e dos persas
... se não pode revogar.”
16. Então, veio o dito Sesbazar … daí para cá, se está edificando
— isto não é parte da resposta dos judeus, pois eles não poderiam ter
dizer isto, sabendo que tinha cessado a construção por longo tempo. Mas
Tatenai usou estas expressões em seu relatório, ou olhando a cessação
como uma interrupção temporária, ou supondo que os judeus sempre
estavam trabalhando um pouco, segundo os meios e as oportunidades.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 17
Esdras 6

Vv. 1-12. O DECRETO DE DARIO PARA QUE SE


ADIANTASSE A EDIFICAÇÃO.
1. o rei Dario — Este foi Dario Histaspes. Arrojou-se grande e
interessante luz sobre a história deste monarca e as transações de seu
reinado, mediante a interpretação das inscrições cuneiformes nas rochas
de Behistun.
nos arquivos reais da Babilônia, onde se guardavam os
documentos — Uma ideia da forma desta casa babilônica de registros,
como também da maneira de conservar os arquivos públicos dentro
destes repositórios, pode-se conseguir das recentes descobertas em
Nínive. Foram achadas duas pequenas câmaras no palácio do Koyunjik,
as quais, pelos fragmentos achados neles, considera o Sr. Layard “como
uma casa de livros” ou “rolos”. Depois de lembrar a seus leitores que os
registros históricos e documentos públicos dos assírios eram guardados
sobre tabuletas ou cilindros de argila cozida, dos quais muitos
exemplares foram trazidos a este país (Escócia), segue dizendo: “As
câmaras que estou descrevendo, parece que eram um depósito no palácio
de Nínive para tais documentos. Até a altura de 27½ cm. do solo
estavam completamente cheias deles; alguns inteiros, mas a maior parte
quebrados em muitos fragmentos, provavelmente pela queda da parte
superior do edifício. Estes objetos eram de tamanhos diferentes; as
tabuletas maiores eram planas, e mediam como 20 cm. por 15 cm.; os
menores eram algo convexos, e alguns mediam quase três centímetros de
comprimento, com apenas uma ou duas linhas de escritura. Os caracteres
cuneiformes na maioria deles eram especialmente nítidos e bem
definidos, mas tão diminutos em alguns casos para ser quase ilegíveis
sem uma lente de aumento. Parece que os documentos são de diferentes
classes. Os documentos descobertos na ‘casa de livros’ em Nínive
provavelmente sobrepujam todos os que produziram os monumentos do
Egito, e quando estiverem reunidos e transcritos os fragmentos
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 18
inumeráveis, a publicação destes documentos será da maior importância
para a história do mundo antigo.” (Nineveh and Babylon).
2. Acmetá — Por longo tempo se creu que era a capital da Grande
Média, a Ecbatana dos tempos clássicos, a Hamadan dos modernos, ao
pé da cadeia das montanhas Elwund, onde, por sua frescura e
salubridade, tinham Ciro e seus sucessores no trono persa estabelecida
sua residência de verão. Havia outra cidade, entretanto, do mesmo nome,
a Ecbatana de Atropatene, e a capital mais antiga da Média setentrional,
e recém identificada pelo Coronel Rawlinson nas notáveis ruínas do
Takhti-Soleiman. Mas tudo tende a mostrar o afeto de Ciro a sua cidade
natal, a Ecbatana Atropatenia, antes, que a capital mais forte da Grande
Média, o Coronel Rawlinson se inclina a pensar que ali depositou Ciro,
em sua fortaleza, o famoso decreto com relação aos judeus, junto com
outros registros e tesouros de seu império. (Nineveh and Persepolis).
8-10. da tesouraria real, isto é, dos tributos dalém do rio, se
pague, pontualmente, a despesa a estes homens — O decreto lhes
concedeu o privilégio de tirar da tesouraria provincial da Síria, até o total
do que necessitassem para o adiantamento do trabalho e provisão de
sacrifícios para o serviço do templo, para que os sacerdotes pudessem
orar diariamente pela saúde do rei e a prosperidade do império.
11-12. todo homem que alterar este decreto — Esta advertência
foi dirigida especialmente contra os samaritanos turbulentos e fanáticos.
O teor tão extremamente favorável deste decreto sem dúvida se devia em
alguma medida à influência de Ciro, por quem Dario tinha uma grande
admiração, e com as duas filhas de quem se casou. Mas também ainda
mais procedia da profunda impressão feita até sobre o povo idólatra
daquele país e aquela época, com relação à existência e providência do
Deus de Israel.

Vv. 13-15. O TEMPLO É CONCLUÍDO.


13. Então, Tatenai … e os seus companheiros assim o fizeram
pontualmente — Menciona-se uma combinação de acontecimentos
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 19
favoráveis como acelerando a restauração do templo, e infundindo um
novo espírito e energia nos operários, os quais agora trabalhavam com
uma assiduidade não diminuída, até que chegou a seu termo. O alicerce
foi posto em abril do ano 536 a.C. (Ed_3:8-10) e a obra foi terminada em
fevereiro 21 do ano 515 a.C., vinte e um anos depois. (Ligthfoot).

Vv. 16-18. AS FESTAS DA DEDICAÇÃO.


16. Os filhos de Israel … celebraram com regozijo a dedicação.
— Levou-se a cabo o cerimonial com demonstrações da mais viva
alegria. Os anciãos que tinham chorado quando se começou a lançar os
alicerces [Ed_3:12], a maioria, senão todos, já tinham morrido; e todo o
povo desfrutava na terminação desta empresa nacional.
17. doze cabritos — como na dedicação do tabernáculo (Nm_7:87;
Nm_8:17).
18. Estabeleceram os sacerdotes nos seus turnos e os levitas nas
suas divisões … segundo está escrito no Livro de Moisés — Embora
Davi organizou os sacerdotes e levitas em seus turnos conforme a suas
famílias, foi Moisés quem designou aos sacerdotes e levitas seus direitos
e privilégios, seus posições e diversos deveres.

Vv. 19-22. A FESTA DA PÁSCOA.


21. todos os que, unindo-se a eles, se haviam separado da
imundícia dos gentios — quer dizer, aqueles que tinham dado prova
satisfatória de ser verdadeiros prosélitos não só por renunciar ao culto
impuro de idolatria, mas por submeter-se ao rito da circuncisão,
condição indispensável para a participação na Páscoa.
22. Celebraram a Festa ... com regozijo, porque o SENHOR os
tinha alegrado, mudando o coração do rei da Assíria a favor deles —
quer dizer, o rei do Império Persa, o qual agora incluía as posses, e tinha
superado a glória, da Assíria. A disposição favorável que manifestou
Dario para com os judeus, assegurou para eles a paz e a prosperidade, e
os privilégios de sua própria religião durante o resto do reinado dele. A
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 20
alegria religiosa que caracterizou tão marcadamente a celebração da
festa, manifestou-se pelas vivas expressões de gratidão a Deus, cujo
poder sobrepujante e graça transformadora tinham produzido uma
mudança tão maravilhosa no coração dos poderosos potentados, e os
tinham disposto, embora fossem pagãos, a ajudar a causa e prover para o
culto do verdadeiro Deus.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 21
Esdras 7

Vv. 1-10. ESDRAS SOBE A JERUSALÉM.


1. no reinado de Artaxerxes — o Assuero de Ester.
Esdras, filho de Seraías — quer dizer, neto, ou bisneto. Seraías foi
o sumo sacerdote morto por Nabucodonosor em Ribla (2Rs_25:18). Um
período de 130 anos tinha passado entre aquela catástrofe e a viagem de
Esdras a Jerusalém. Como um neto de Seraías, Jesua, que tinha o posto
de sumo sacerdote, tinha acompanhado a Zorobabel na primeira
caravana de repatriados, Esdras deveria ser com toda probabilidade um
neto, descendente de um filho mais novo de Seraías, estando o ramo
maior em posse do pontificado.
6. Ele era escriba versado na Lei de Moisés — A palavra “escriba”
não quer dizer um escrivão, nem mesmo um advogado prático nas
formas da lei, e hábil nos métodos de preparar documentos públicos e
particulares. Ele era um rabino, ou doutor, versado na lei mosaica, e em
tudo relacionado a constituição política e eclesiástica e costumes do
povo hebreu. Os escribas desta classe possuíam grande influência e
autoridade (cf. Mat_23:25; Mar_12:28).
o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira — Saiu de Babilônia
levando uma comissão importante para ser executada em Jerusalém. A
maneira como ele conseguiu este ofício, relata-se detalhadamente na
passagem seguinte. Aqui se menciona, mas com um reconhecimento
piedoso da graça e bondade divinas que dispuseram a mente real a favor
dos objetos patrióticos de Esdras. Os levitas, etc., não foram nesta
ocasião, e são mencionados aqui por antecipação.
8. Esdras chegou a Jerusalém no quinto mês — ou seja,
correspondente ao fim de nosso mês de julho ou princípios de agosto.
Como saiu de Babilônia no primeiro dia do ano (v. 9), a viagem deve ter
ocupado não menos de quatro meses, período longo, mas era necessário
andar a passo lento, e por etapas curtas, visto que devia conduzir uma
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 22
caravana grande de pessoas pobres, inclusive mulheres, meninos e todo
mobiliário caseiro (veja-se Ed_8:24).
10. Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do
SENHOR, etc. — Seu desejo predominante tinha sido o de estudar a lei
divina, seus princípios, instituições, privilégios e exigências; e agora por
amor e zelo, dedicou-se, como sendo a missão de sua vida, a obra de
instruir, reformar e edificar a outros.

Vv. 11-26. A COMISSÃO GRATA DE ARTAXERXES.


11. Esta é a cópia da carta que o rei Artaxerxes deu ao
sacerdote Esdras — A medida que autorizou este documento, e o
surpreendente interesse nos judeus nele demonstrado, muito
provavelmente se deviam a Ester, quem se crê foi elevada ao alto posto
de rainha uns poucos meses antes da partida de Esdras. (Hales). Segundo
outros, que adotam uma cronologia diferente, foi mais provavelmente
apresentada à atenção da corte persa por Esdras, quem, como Daniel,
mostrava ao rei as profecias; ou por judeus principais no advento de
Artaxerxes, os quais, vendo o estado instável e desordenado da colônia
após a morte de Zorobabel, Jesua, Ageu e Zacarias, recomendaram a
nomeação de uma comissão que corrigisse os abusos, suprimisse as
desordens e impusesse o cumprimento da lei.
12. Artaxerxes, rei dos reis — Aquele título poderia ser tomado,
com verdade literal, como aplicável a ele, visto que muitos dos príncipes
tributários ainda retinham o nome e a autoridade de reis. Mas foi
provavelmente um mero orientalismo, significando um príncipe grande e
poderoso, como o céu dos céus queria dizer o céu mais alto, e vaidade de
vaidades, a vaidade maior. Este título vanglorioso foi tomado pelos reis
da Assíria, dos quais passou aos soberanos da Pérsia.
ao sacerdote Esdras, escriba da Lei do Deus do céu — A
nomeação de Esdras para esta missão influente, foi da mais alta
importância para o povo hebreu, porque uma grande proporção deles
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 23
tinha vindo a ser, em grande medida, estranha tanto ao idioma como às
instituições de seus pais.
14. da parte do rei e dos seus sete conselheiros — Este era o
número fixo do câmara de vereadores privada dos reis da Pérsia
(Et_1:10, Et_1:14). Este documento descreve, com grande clareza e
precisão, a natureza da comissão de Esdras, e a extensão de poder e
prerrogativas com a qual era investido. Deu-lhe autoridade, em primeiro
lugar, para organizar a colônia na Judeia, e instituir um governo regular,
segundo as leis dos hebreus, e por magistrados e governantes de sua
própria nação (vv. 25, 26), com poder para castigar aos ofensores com
multas, encarceramento, desterro ou morte, segundo o grau de sua
criminalidade. Em segundo lugar, foi autorizado a levar uma grande
doação em dinheiro, em parte do tesouro real, e em parte levantada por
contribuições voluntárias entre seus compatriotas para criar um fundo do
qual fazer uma provisão adequada para a manutenção do regular culto de
Deus em Jerusalém (vv. 16, 17). Em terceiro lugar, os oficiais persas em
Síria foram ordenados lhe prestar toda ajuda por doações de dinheiro
dentro de certo limite especificado, em levar a cabo os objetivos de sua
missão patriótica (v. 21).
22. cem talentos de prata — 22.000 libras esterlinas, segundo o
valor do talento de prata da Babilônia. Em quarto lugar, Artaxerxes deu
sua real sanção ao estabelecimento da lei divina, a que eximia os
sacerdotes e levitas dos impostos e tributos, e confirmava para eles o
direito exclusivo de oficiar nos serviços sagrados do santuário. E,
finalmente, na expressão do desejo do rei da bênção divina sobre o rei e
seu governo (v. 23), vemos a forte persuasão que penetrava a corte persa,
e tinha sido produzida pelo cativeiro do povo hebreu, quanto à existência
e a providência dirigente do Deus que eles adoravam. Se notará,
entretanto, que a comissão se relacionava exclusivamente com a
reedificação do templo, e não dos muros. Pois os samaritanos (Ed_4:20-
22) tinham conseguido alarmar a corte persa por suas representações do
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 24
perigo para o império, de fortificar uma cidade notória pelo caráter
turbulento de seus habitantes e a proeza de seus reis.

Vv. 27, 28. ESDRAS BENDIZ A DEUS POR ESTE FAVOR.


27. Bendito seja o SENHOR, Deus de nossos pais — Esta devota
ação de graças está em uníssono com todo o caráter de Esdras, quem
discerne a mão de Deus em todo acontecimento e sempre está preparado
a expressar um reconhecimento piedoso da bondade divina.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 25
Esdras 8

Vv. 1-14. OS COMPANHEIROS DE ESDRAS VINDOS DE


BABILÔNIA.
1. São estes os cabeças de famílias, com as suas genealogias, os
que subiram comigo da Babilônia — O número dado aqui chega a
1.754. Mas este é o registro só dos varões adultos, e como havia
mulheres e meninos também (v. 21), pode-se considerar que toda a
caravana compreendia entre 6.000 e 7.000.

Vv. 15-20. ENVIA A IDO PARA BUSCAR MINISTROS PARA


O SERVIÇO DO TEMPLO.
15. Ajuntei-os perto do rio que corre para Aava — Este rio não
foi identificado. A probabilidade é que o Aava fosse uma rede de ribeiros
ou numerosos canais de Mesopotâmia que comunicam com o Eufrates.
(Enciclopédia de Literatura Bíblica). Mas certamente foi em Babilônia
sobre a ribeira daquele rio; e provavelmente na vizinhança de uma aldeia
do mesmo nome foi o lugar assinalado para a reunião geral dos viajantes.
Os emigrantes acamparam ali três dias, segundo o costume oriental,
enquanto se aperfeiçoavam os preparativos para a partida, e Esdras
resolvia a ordem da caravana.
não tendo achado nenhum dos filhos de Levi — quer dizer, os
levitas comuns. Apesar do privilégio da franquia de todos os impostos
para pessoas ocupadas no serviço do templo, nenhum dos da tribo
levítica foram persuadidos a tomar parte no estabelecimento de
Jerusalém; e com dificuldade Esdras persuadiu a alguns da família
sacerdotal a acompanhá-lo.
16, 17. enviei Eliézer, Ariel … Enviei-os a Ido, chefe em —
Esdras enviou esta deputação, ou por virtude de autoridade que por seu
caráter sacerdotal tinha sobre os levitas, ou da real comissão com que
estava investido. A deputação foi despachada a Ido, que era um príncipe
ou chefe dos netineus; porque o governo persa permitia que os hebreus
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 26
durante seu desterro retivessem seu governo eclesiástico por seus
próprios chefes, como também que desfrutassem do privilégio do culto
livre. A influência de Ido conseguiu e trouxe para o acampamento em
Aava trinta e oito levitas e 220 netineus, descendentes dos gibeonitas, os
quais cumpriam os deveres servis do templo.

Vv. 21-36. PROCLAMA-SE UM JEJUM.


21. Então, apregoei ali um jejum junto ao rio Aava — Os perigos
das caravanas de parte dos árabes beduínos que infestavam o deserto,
eram em tempos antigos tão grandes como o são agora; e parece que os
viajantes geralmente buscavam a proteção de uma escolta militar. Mas
Esdras tinha falado tanto ao rei a respeito da suficiência do cuidado
divino de Seu povo, que se teria ruborizado em solicitar um guarda de
soldados; e portanto resolveu que seus seguidores, num ato solene de
jejum e oração, se encomendassem ao Guardador de Israel. Sua fé foi
grande, se se considerar os muitos e constantes perigos de uma viagem
através das regiões beduínas, e sua fé foi premiada com a alegria de uma
perfeita segurança durante todo o caminho.
24-32. Então, separei doze dos principais … Pesei-lhes a prata, e
o ouro, etc. — A custódia das contribuições e dos vasos sagrados foi,
durante a viagem, encarregada a doze dos sacerdotes principais, os quais,
com a ajuda de dez de seus irmãos, deviam vigiá-los estritamente no
caminho, e entregá-los na casa do Senhor em Jerusalém. Os tesouros em
prata e ouro, segundo o valor do talento babilônico, subiam a quase
515.000 libras esterlinas.
27. dois objetos de lustroso e fino bronze, tão precioso como
ouro. — Quase todos os comentadores convêm em dizer que os
referidos objetos não foram feitos de cobre, mas sim de uma liga capaz
de pegar um alto brilho, o que pensamos muito provável, visto que o
cobre então estava em uso comum entre os babilônios, e não seria “tão
precioso como ouro”. Esta liga, muito estimada entre os judeus,
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 27
compunha-se de ouro e outros metais, a qual pegava um alto brilho, e
não estava sujeita a deslustrar-se. (Noyes).
31. Partimos do rio Aava, no dia doze do primeiro mês —
Calculando-se desde o tempo de sua partida com o período de sua
chegada, eles ocupavam como quatro meses no caminho. Sua saúde e
segurança eram maravilhosas durante uma viagem tão longa. As
caravanas de peregrinos em tempos recentes faziam estas longas viagens
sob a proteção de algum oficial turco e escolta de soldados. Mas para um
grupo tão grande, composto como o de Esdras, de alguns milhares de
homens, mulheres e meninos, não habituados a viajar, não disciplinados
para a ordem, e sem poder militar, e com tal provisão de tesouros, muito
tentador às tribos de saqueadores do deserto, fazer uma viagem tão longa
e árdua em perfeita segurança, é um das acontecimentos mais
surpreendentes da história. Nada menos que o cuidado vigilante da
Providência poderia tê-los levado salvos a seu destino.
33. No quarto dia, pesamos, na casa do nosso Deus, a prata —
Eles dedicaram os três primeiros dias depois de sua chegada a Jerusalém,
ao descanso; no dia seguinte os tesouros foram pesados e entregues à
custódia dos sacerdotes oficiantes do templo. Os desterrados que
voltavam, ofereceram holocaustos, e Esdras entregou a real comissão aos
sátrapas e magistrados inferiores; enquanto a porção levítica prestou toda
a ajuda que podia, para cumprir o trabalho adicional que tinha
ocasionado a chegada de tantos novos adoradores.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 28
Esdras 9

Vv. 1-4. ESDRAS LAMENTA A AFINIDADE DO POVO COM


OS ESTRANGEIROS.
1, 2. Acabadas, pois, estas coisas — Os primeiros dias depois da
chegada de Esdras a Jerusalém, foram empregados em executar as
diferentes comissões a ele confiadas. A natureza e o desígnio do cargo
com o qual a real autoridade o tinha investido, foram publicamente
dados a conhecer em seu próprio povo pela formal entrega da
contribuição e os vasos sagrados trazidos de Babilônia aos sacerdotes
para serem depositados no templo. Logo foram apresentadas
particularmente suas credenciais aos governadores provinciais; e por esta
conduta prudente e ordenada, estabeleceu-se no melhor lugar para
aproveitar todas as vantagens concedidas pelo rei. Numa vista superficial
tudo contribuiu para satisfazer os seus sentimentos patrióticos no estado
aparentemente florescente da igreja e do estado. Mas um conhecimento
ulterior descobriu a existência de grandes corrupções, que exigiam uma
correção imediata; e uma foi especialmente trazida a sua atenção como
sendo a origem de todas as demais, quer dizer, um abuso sério que se
praticava com relação à lei do casamento.
vieram ter comigo os príncipes, dizendo — O relatório que eles
lhe apresentaram, foi que muitos do povo, em violação da lei divina
(Dt_7:2-3), tinham contraído casamento com mulheres gentias, e que a
culpa desta prática desordenada, longe de estar limitada às classes mais
baixas, era compartilhada por vários sacerdotes e levitas, como também
pelos homens principais do país. Esta grande irregularidade
inevitavelmente traria muitos males como resultado; alentaria e
aumentaria a idolatria, derrubaria as barreiras de distinção, as quais, por
motivos importantes, Deus tinha levantado entre os israelitas e outros
povos. Esdras previu estas consequências perigosas, mas se sentiu
afligido pela dificuldade para corrigir o mal, quando tinham sido
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 29
formadas alianças, compromissos de afeição, famílias criadas e
interesses estabelecidos.
3. Ouvindo eu tal coisa, rasguei as minhas vestes e o meu manto,
etc. — o objeto exterior e interior, o que foi sinal não só de grande pesar,
mas também, ao mesmo tempo, do terror da ira divina.
arranquei os cabelos da cabeça e da barba — o que foi sinal
mais significativo da dor esmagadora.
4. Então, se ajuntaram a mim todos os que tremiam das
palavras do Deus de Israel, etc. — Todas as pessoas piedosas que
reverenciavam a palavra de Deus, e temiam Suas ameaças e juízos,
juntaram-se a Esdras para lamentar o pecado nacional e para buscar os
meios de reformá-lo.
porém eu permaneci assentado atônito até ao sacrifício da tarde
— A percepção de tão vergonhosa violação da lei de Deus por aqueles
que tinham sido levados ao cativeiro por causa de seus pecados, e
aqueles que, restaurados, ainda não estavam reformados, produziu um
efeito tão atordoante na mente de Esdras que ele ficou longo momento
incapaz de fala ou de ação. A hora do sacrifício vespertino era o tempo
habitual de assembleia, e naquele momento, tendo rasgado novamente
seu cabelo e roupa, fez uma oração pública e confissão de pecado.

Vv. 5-15. ESDRAS ORA A DEUS.


5. me pus de joelhos, estendi as mãos para o SENHOR, meu
Deus — O motivo de sua oração, que foi ditada por um profundo sentido
da emergência, foi porque se sentia esmagado pela enormidade deste
pecado, e a impiedade atrevida de, como povo, ter continuado nele
depois, ter experimentado tão recentemente as pesadas amostras do
desgosto divino. Deus tinha começado a mostrar novos favores a Israel
na restauração de alguns. Mas só agravava seu pecado o fato de que logo
após seu restabelecimento em sua terra natal, eles violaram abertamente
os preceitos claros e tão repetidos, os quais mandavam que eles
extirpassem os cananeus. Semelhante conduta, ele clamava, não podia
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 30
ter êxito, mas antes trazer algum grande castigo da parte do Deus
ofendido, e assegurar a destruição do pequeno remanescente de nós que
ficou, a não ser que, pela ajuda da graça divina, nos arrependamos e
produzamos os frutos do arrependimento numa reforma imediata e
completa.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 31
Esdras 10

Vv. 1-17. ESDRAS REFORMA OS CASAMENTOS ILEGAIS.


1. Enquanto Esdras orava e fazia confissão — Como esta oração
foi pronunciada em público, quando havia uma concorrência geral do
povo na hora do sacrifício vespertino, e como foi acompanhada por todas
as demonstrações de amarga tristeza e angústia, não é surpreendente que
o espetáculo de um homem tão respeitado, sacerdote tão santo,
governador tão digno como era Esdras, que parece tão angustiado e
cheio de temor perante o triste estado de coisas, produzisse uma
sensação profunda no povo; e o relatório de sua ardente tristeza e
expressões no átrio do templo, estendendo-se pela cidade, uma grande
multidão se reuniu no lugar.
2. Secanias … tomou a palavra e disse a Esdras: Nós temos
transgredido — Este foi um dos homens principais, quem não era, ele
mesmo, delinquente no assunto, porque seu nome não aparece na lista
seguinte. Ele falou em nome geral do povo, e sua conduta manifestou
uma consciência tenra e uma não pequena coragem em fazer semelhante
proposta; porque como seu pai e cinco tios paternos (v. 26) estavam
envoltos na culpa de casamentos ilegais, mostrou, pela medida que
recomendou, que ele cria melhor obedecer a Deus que agradar a seus
parentes mais próximos.
mas, no tocante a isto, ainda há esperança para Israel — Esta
esperança, entretanto, dependia de medidas oportunas de reforma, e,
portanto, em vez de entregar-se ao desespero ou ao desalento, ele lhes
aconselhou a corrigir seu erro sem demora, confiando-se na misericórdia
de Deus quanto ao passado. Embora possa parecer dura e cruel a
proposta, entretanto, sob as circunstâncias peculiares dos judeus, foi
justa como também necessária; e impunha com insistência sobre Esdras
a execução deste dever, como a única pessoa competente para levá-lo a
efeito, pois possuía destreza e competência para tarefa tão delicada e
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 32
difícil, e estava investido por Deus, e abaixo dEle pelo rei persa
(Ed_7:23-28), da necessária autoridade para levá-lo a cabo.
5-8. Então, Esdras se levantou … e entrou na câmara de Joanã
— Num conselho privado de vereadores de príncipes e anciãos que ali
estavam, sob a presidência de Esdras, resolveu entrar numa aliança geral
para se despedir de suas mulheres estranhas e seus filhos; que fosse feita
uma proclamação para que todos os regressados da Babilônia
concorressem a Jerusalém dentro de três dias, sob pena de excomunhão e
confisco de sua propriedade.
9-11. Então, todos os homens de Judá e Benjamim — Os cativos
retornados pertenciam principalmente a estas duas tribos; mas estavam
incluídos sob estes nomes outros israelitas, visto que todos estavam
ocupando o território anteriormente destinado a estas duas tribos.
no dia vinte do mês nono — quer dizer, entre os dias finais de
dezembro e princípios de janeiro, que é a estação mais fria e chuvosa do
ano na Palestina.
todo o povo se assentou na praça — quer dizer, o tribunal.
10. Então, se levantou Esdras, o sacerdote, e lhes disse: Vós
transgredistes — Tendo apresentado a enormidade de seu pecado, e
insistido para que dissolvessem suas uniões ilegais, sentia prazer em
receber o pronto reconhecimento da justiça de sua repreensão e a
promessa de cumprimento com sua recomendação. Mas como o estado
do tempo estava desfavorável, e os culpados eram muito numerosos para
passar em revista de uma vez, resolveu nomear uma comissão que se
trataria de todo o assunto. Os comissionados, ajudados pelos juízes e
anciãos das respectivas cidades, fizeram uma investigação em cada caso,
e no fim de três meses de tarefa tiraram totalmente os sinais do abuso.
Sem dúvida, foi feita uma provisão adequada para as esposas e os
meninos repudiados, segundo os meios e as circunstâncias dos maridos.
Esdras (Jamieson, Fausset y Brown) 33
Vv. 18-44. OS QUE TOMARAM ESPOSAS EXTRANGEIRAS.
18. dentre os filhos dos sacerdotes estes, que casaram com
mulheres estrangeiras — Dos nomes de tantos homens de grau
aparecendo na lista seguinte, se pode formar uma pequena ideia das
grandes e complicadas dificuldades ao atender o trabalho reformatório.
19. Com um aperto de mão, prometeram — isto é, caiu sob um
compromisso solene, que era normalmente ratificado pelo dar a mão
direita (Pv_6:1; Ez_17:18). Os delinquentes da ordem sacerdotal
limitaram-se eles mesmos a fazer como os israelitas comuns (Ed_10:25),
e buscaram expiar seu pecado sacrificando um carneiro como uma oferta
pela transgressão.
NEEMIAS
Original em inglês:

NEHEMIAH -

The Book of Nehemiah

Commentary by Robert Jamieson

Tradução: Carlos Biagini

Neemias 1 Neemias 5 Neemias 9 Neemias 13

Neemias 2 Neemias 6 Neemias 10

Neemias 3 Neemias 7 Neemias 11

Neemias 4 Neemias 8 Neemias 12


Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 2
Neemias 1

Vv. 1-3. SABENDO POR HANANI O ESTADO AFLITO DE


JERUSALÉM, NEEMIAS LAMENTA, JEJUA E ORA.
1. Neemias, filho do Hacalias — Este judeu eminentemente
piedoso e patriótico, deve distinguir-se de outras duas pessoas com o
mesmo nome: uma delas menciona-se como ajudando a reedificar os
muros de Jerusalém (Ne_3:16), e a outra menciona-se na lista dos que
acompanharam a Zorobabel no primeiro grupo de desterrados que
voltaram (Ed_2:2; Ed_7:7). Embora pouco se saiba da genealogia de
Neemias, é altamente provável que fosse descendente da tribo de Judá e
da família real de Davi.
No mês de quisleu — que corresponde aos dias finais de novembro
e boa parte de dezembro.
Susã, a capital do país (NTLH) — A capital da antiga Susã,
situada a leste do rio Tigre, província da Pérsia. Desde os tempos de Ciro
era a residência de inverno favorita dos reis persas.
2-3. Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá — Hanani
é chamado (v. 2) seu irmão. Mas como aquele termo era usado pelos
judeus e outros orientais de uma maneira vaga, é provável que não queira
dizer mais de que era da mesma família. Segundo Josefo, Neemias,
caminhando ao redor dos muros do palácio, ouviu de passagem algumas
pessoas conversando sobre a língua hebraica, e tendo sabido que elas
tinham retornado fazia pouco da Judeia, foi informado por elas, em
resposta a suas ansiosas perguntas, sobre a condição imperfeita e
desolada de Jerusalém, como do estado indefeso dos retornados. Como
as comissões antes dadas a Zorobabel e Esdras se estendiam só à
reedificação do templo e das moradias particulares, deixou-se que os
muros e portões da cidade ficassem convertidos numa massa de ruínas,
assim como estavam desde o sítio pelos exércitos caldeus.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 3
Vv. 4-11. SUA ORAÇÃO.
4. Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e
lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando. — O relato
afetou profundamente os sentimentos patrióticos deste bom homem, e
não podia achar consolo a não ser na oração ardente e prolongada para
que Deus favorecesse o propósito, que parece ter-se formado
secretamente em seu coração, de pedir a permissão real para ir a
Jerusalém.
11. eu era copeiro do rei — Este oficial, nas cortes orientais, era
sempre pessoa de categoria e importância; e, pela natureza íntima de
seus deveres e seu acesso freqüente a real presencia, possuía grande
influência.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 4
Neemias 2

Vv. 1-20. ARTAXERXES COMPREENDENDO A CAUSA DA


TRISTEZA DE NEEMIAS, ENVIA-O COM CARTAS E UMA COMISSÃO
PARA EDIFICAR DE NOVO OS MUROS DE JERUSALÉM.
1. No mês de nisã — Isto foi quase quatro meses depois que ele
soube do estado desolado e ruinoso de Jerusalém (Ne_1:1).
como o vinho estivesse posto diante dele, eu o tomei e o
ministrei ao rei (TB) — Xenofonte observou particularmente a maneira
polida e elegante em que os copeiros dos monarcas medos e persas
cumpriam seu dever de apresentar o vinho a seus amos reais. Tendo
lavado a taça na presença do rei, e vertido em sua mão esquerda um
pouco do vinho, que bebiam em sua presença, eles então davam ao rei a
taça, não empunhada, mas sim sustentada ligeiramente com as pontas
dos dedos. Esta descrição recebeu algumas ilustrações curiosas nos
monumentos da Assíria e Pérsia, nos quais os copeiros freqüentemente
são representados no ato de dar o vinho ao rei.
2. O rei me disse: Por que está triste o teu rosto? — Foi
considerado muito impróprio apresentar-se na presencia real com objetos
de luto ou sinais de tristeza (Est_4:2); e por isso não foi estranho que o
rei se surpreendesse pelo ar decaído de seu copeiro, enquanto que seu
assistente, da sua parte, sentia muito aumentada sua agitação por sua
profunda ansiedade com relação ao resultado da conversação começada
tão abruptamente. Mas a piedade e a intensa seriedade do homem lhe
restaurou [Neemias] imediatamente ao tranqüilo domínio de si, e lhe
capacitou a comunicar, primeiro, a causa de sua tristeza, e logo, o desejo
patriótico de seu coração de ser um instrumento honrado para avivar a
antiga glória da cidade dos seus antepassados.
6. estando a rainha assentada junto dele — Como os monarcas
persas não admitiam suas esposas nas festividades de estado, esta terá
sido uma ocasião particular. A rainha mencionada foi talvez Ester, cuja
presença animaria grandemente a Neemias para expressar seu desejo; e
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 5
pela influência dela habilmente empregada, também por sua simpatia
com o propósito patriótico, o pedido de Neemias foi concedido, de ser
vice-governador da Judeia, acompanhado por uma escolta militar, e
investido de amplos poderes para conseguir materiais para a edificação
em Jerusalém, como também para receber toda ajuda necessária para
promover sua empresa.
eu lhe apontei um prazo (TB) — Considerando a grande prontidão
em levantar os muros, é provável que esta licença a princípio estivesse
limitada a um ano ou seis meses, depois de cujo tempo Neemias voltou
para suas obrigações em Susã. A circunstância de fixar tempo preciso
para sua volta, como também o encomendar a sua cuidado obra tão
importante como a fortificação de Jerusalém, comprova o favor e a
confiança que desfrutava Neemias na corte persa, e a grande estimativa
em que eram considerados os seus serviços. Depois de um período
longo, recebeu ele uma comissão nova para o melhor acerto dos assuntos
da Judeia, e ficou como governador daquela província durante doze anos
(Ne_5:14).
7. dêem-se-me cartas para os governadores dalém do Eufrates
— O Império Persa daquele tempo era de vasta extensão, alcançando do
rio Indo até o Mediterrâneo, e o rio Eufrates era considerado como
dividindo-se em duas partes, a oriental e a ocidental (veja-se Ed_5:3-4).
8. a boa mão do meu Deus era comigo — Aparece em toda
circunstância a piedade de Neemias. A concepção de seu propósito
patriótico, a disposição favorável do rei e o sucesso da empresa, tudo ele
atribui a Deus.
10. Sambalate, o horonita — Como Horonaim era cidade de
Moabe, é provável que esta pessoa seja moabita.
Tobias, o servo amonita — O termo usado indica que ele tinha
sido escravo, elevado agora a alguma dignidade oficial. Estes eram
magistrados de distrito sob o governo do sátrapa da Síria; e parece que
eram os principais da facção samaritana.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 6
11, 12. Cheguei, pois, a Jerusalém, e depois de estar ali três dias
— Profundamente afetado pela desolação de Jerusalém, e indeciso a
respeito do curso a seguir, ficou ali três dias antes de informar a ninguém
do objeto de sua missão [Ne_2:17, 18], e enfim do terceiro dia,
acompanhado por uns assistentes, sob a sombra da noite, fez uma
inspeção secreta dos muros e portões [Ne_2:13-15].
13-15. saí pela Porta do Vale — quer dizer, a porta de Jaffa, perto
da torre de Hípico.
para o lado da Fonte do Dragão — uma fonte que está no lado
contrário do vale.
e para a Porta do Monturo — Portão que está ao lado oriental da
cidade, pelo qual corria um esgoto comum ao arroio Cedrom e o vale de
Hinom.
14. Passei — ou seja, depois de passar pelo portão dos Essênios.
à Porta da Fonte — quer dizer, Siloé, de onde dobrando pela fonte
do Ofel.
ao açude do rei; mas não havia lugar por onde passasse o
animal que eu montava — quer dizer, pelos lados deste lago — o de
Salomão — visto que havia água no lago, e muitos desperdícios em
redor para permitir a passagem do animal.
15. Subi à noite pelo ribeiro — quer dizer, o Cedrom.
entrei pela Porta do Vale e tornei para casa. — O portão que
conduzia ao vale de Josafá, a leste da cidade. Saiu por este portão e
tendo rodeado a cidade voltou a entrar pelo mesmo. (Barclay, City of the
Great King).
16-18. Não sabiam os magistrados — No dia seguinte, tendo
reunido aos anciãos, apresentou Neemias suas credenciais, e os exortou a
ajudar na obra. A vista de suas credenciais e o teor animador de seu
discurso e exemplo, avivaram de tal maneira seus espíritos decaídos, que
resolveram imediatamente começar a edificação, o que fizeram, apesar
do amargo escárnio e as zombarias de alguns homens de influência.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 7
Neemias 3

Vv. 1-32. OS NOMES E A ORDEM DOS QUE EDIFICAVAM


OS MUROS DE JERUSALÉM.
1. levantou-se Eliasibe, o sumo sacerdote (RC) — O neto de Jesua,
e o primeiro sumo sacerdote depois da volta de Babilônia.
levantou-se … com os seus irmãos, os sacerdotes (RC) — quer
dizer, apresentaram um exemplo para outros, começando o trabalho,
sendo os seus trabalhos limitados aos lugares sagrados.
reedificaram a Porta das Ovelhas — perto do templo. Seu nome
provém do mercado de ovelhas, ou do lago de Betesda, onde eram
lavadas, o qual estava ali (Jo_5:2), e dali eram levadas a templo para os
sacrifícios.
consagraram-na, assentaram-lhe as portas — Sendo a entrada
comum ao templo, e a primeira parte do edifício reparada, é provável
que fossem observadas algumas cerimônias religiosas em gratidão por
havê-la terminado. “Foi a primícia, e por isso, na santificação dela, todo
o edifício foi santificado”. (Poole).
Torre dos Cem — Esta palavra incorretamente é considerada em
nossa versão como nome de uma torre; é a palavra hebraica “cem”, de
modo que o sentido é que eles não só reedificaram a porta das ovelhas,
mas também cem côvados do muro, que se estendia até a torre de
Hananel.
2. Junto a ela trabalharam os homens de Jericó, etc. — O muro
estava dividido em porções, cada uma das quais era assinalada
respectivamente a cada uma das grandes famílias que tinham retornado
do cativeiro. Esta distribuição, pela qual a edificação era dirigida em
todas as partes simultaneamente com grande energia, foi eminentemente
favorável para que o trabalho fosse rapidamente terminado. “As aldeias
onde os restauradores residentes são principalmente mencionados, se
verá que esta circunstância permite um sintoma de indicação geral da
parte da parede em que eles trabalharam, lugares estes que estão naquele
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 8
lado da cidade mais próxima de seu domicílio; a única exceção aparente
era, possivelmente, onde eles decidiram mais que seu pedaço. Tendo
completado sua primeira empresa (se eles trabalhassem mais), não
haveria mais trabalho a ser feito no lado próximo de sua residência, ou
tendo chegado depois dos reparos naquela parte da cidade mais próxima
deles sob a operação foram completadas, iriam em qualquer lugar que
seus serviços fossem exigidos” [Barclay, City of the Great King].
8. e restauraram Jerusalém até ao Muro Largo — ou muro duplo,
que se estendia desde a porta de Efraim até a porta da esquina, 400
côvados de comprimento. Este muro foi derrubado antes por Jeoás, rei de
Israel [2Cr_25:23], mas depois reedificado por Uzias [2Cr_26:9], quem
o fez tão forte, que os caldeus, achando-o difícil de destruir, deixaram-no
em pé.
12. Salum … ele e suas filhas — as que eram herdeiras ou viúvas
ricas, que se encarregaram de pagar os gastos de uma parte do muro que
estava junto a seus propriedades.
13. os moradores de Zanoa — havia duas aldeias assim chamadas
em território de Judá (Jos_15:34, Jos_15:56).
14. Bete-Haquerém — cidade de Judá, supõe-se que atualmente ali
está Bethulia sobre uma colina do mesmo nome, a qual é às vezes
chamada de monte dos Francos, situado entre Jerusalém e Tecoa.
16. até defronte dos sepulcros de Davi, até ao açude artificial e
até à casa dos heróis — quer dizer, ao longo dos penhascos escarpados
de Sião. (Barclay).
19. no ângulo — quer dizer, do muro ao través do Tiropeo, sendo
continuação do primeiro muro, unindo o Monte Sião ao muro do templo.
25. torre que sai da casa real — torre de guarda que está junto ao
palácio real. (Barclay).
26. os servos — Não só os sacerdotes e levitas, mas sim as pessoas
mais humildes que pertenciam à casa de Deus, contribuíam para a obra.
Comemoram-se os nomes dos que repararam os muros de Jerusalém,
porque foi uma obra de piedade e patriotismo a de reparar a cidade santa.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 9
Foi um exemplo de religião e valor o defender os verdadeiros adoradores
de Deus, para que pudessem servir com tranqüilidade e segurança, e, em
meio a tantos inimigos, continuar esta obra, confiando piedosamente no
poder de Deus para seu sustento. (Bispo Patrick).
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 10
Neemias 4

Vv. 1-6. ENQUANTO OS INIMIGOS ZOMBAM, NEEMIAS


ORA A DEUS, E CONTINUA A OBRA.
1. Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em
ira — A facção samaritana mostrou sua inflamada animosidade aos
judeus ao descobrir o plano sistemático de fortificar novamente a
Jerusalém. A princípio sua oposição se limitou às zombarias e aos
insultos, por meio dos quais os governadores se faziam notáveis, e
propagavam todo tipo de comentários difamantes que pudessem
aumentar os sentimentos de ódio e desprezo para com os judeus entre os
partidários daqueles. A fraqueza dos judeus pelas riquezas e os números,
o absurdo de seu propósito de evidentemente reconstruir os muros e
celebrar a festa de dedicação num dia, a ideia de levantar os muros sobre
os seus alicerces velhos, como também de usar os despojos das ruínas
como materiais para reconstruir edifícios, e a esperança de que um
baluarte como aquele que eles pudessem levantar, fosse capaz de servir
como fortaleza de defesa – tudo isto provia temas férteis para hostilizá-
los e ridicularizá-los.
3. vindo uma raposa — São mencionadas as raposas, porque era
sabido que tinham em grande número infestado os lugares arruinados e
desolados no monte e na cidade de Sião (Lam_5:18).
4, 5. Ouve, ó nosso Deus, pois estamos sendo desprezados — As
imprecações aqui podem parecer duras, cruéis e reivindicativas; mas
deve-se lembrar que Neemias e seus amigos consideravam aqueles
dirigentes samaritanos como inimigos da causa de Deus e do Seu povo, e
por isso merecedores de serem visitados com juízos severos. É preciso
considerar a oração, pois, como emanando de corações em que não
dominam o ódio, a vingança, nem paixão alguma inferior, mas um zelo
piedoso e patriótico pela glória de Deus e o êxito de Sua causa.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 11
6. todo o muro se fechou até a metade de sua altura — Todo o
circuito do muro tinha sido repartido em seções a diferentes companhias
de pessoas, e foi terminado até a metade da altura projetada.

Vv. 7-23. NEEMIAS ESTABELECE UMA GUARDA.


7. ouvindo Sambalate e Tobias … que a reparação dos muros de
Jerusalém ia avante e que já se começavam a fechar-lhe as brechas
— O progresso rápido das fortificações, apesar de todas as predições
contrárias, incitava os samaritanos a um frenesi, e eles, temendo o perigo
do crescente poder dos judeus, formaram uma conspiração para
surpreendê-los, derrubar sua obra, e dispersar ou intimidar os
edificadores. Sendo descoberta a conspiração, Neemias adotou as
medidas mais enérgicas para assegurar a segurança comum, como
também a construção ininterrupta dos muros. Até agora o governador,
com o interesse de terminar, tinha posto na obra todos os seus ajudantes
e guardas; agora a metade deles estavam retirados para estar
constantemente sob armas. Os operários trabalhavam com a colher de
pedreiro numa mão e uma espada na outra; e, como num circuito tão
grande, eles estavam tão afastados entre si, Neemias, quem estava de
noite e de dia na obra, e por suas exortações piedosas e o exemplo
animava a seu povo, tinha sempre a seu lado uma trombeta, para que,
quando algum indício de uma surpresa chegasse a ele, se pudesse tocar o
alarme, e fosse prestada ajuda ao destacamento longínquo de seus
irmãos. Por estas precauções constantes, os conselhos do inimigo foram
destruídos, e a obra prosseguia. Quando Deus tem uma obra pública a
fazer, nunca deixa de levantar os instrumentos para levá-la a cabo, e na
pessoa de Neemias, que com sua grande acuidade natural acrescentava
uma piedade fervorosa e dedicação heroica, Deus proveu um guia, cujas
excelentes qualidades o capacitaram para as exigências da crise. A
vigilância de Neemias previa cada dificuldade, suas medidas prudentes
venceram cada obstáculo, e com uma rapidez surpreendente esta
Jerusalém foi feita novamente “uma cidade fortaleza”.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 12
Neemias 5

Vv. 1-5. O POVO SE QUEIXA DE SUAS DÍVIDAS,


HIPOTECAS E SERVIDÃO.
1. Foi grande, porém, o clamor do povo … contra os judeus,
seus irmãos — Semelhante crise na condição dos judeus em Jerusalém
— fatigados pelo trabalho árduo, incomodados pelas maquinações de
inimigos inquietos, e sem realizar as belas visões que a esperança lhes
tinha pintado de uma felicidade pura em sua volta à terra de seus pais—
deveria ter sido penosa para sua fé e paciência. Mas, além destas
opressões provocadoras, muitos começavam a afundar-se sob um novo e
mais grave mal. Os pobres apresentavam fortes queixas contra os ricos
de que se valiam das necessidades deles, e os moíam sob extorsões de
agiotagem. Muitos deles, por causa destas opressões, tinham sido
levados a tais medidas extremas, que tiveram que hipotecar suas terras e
casas, para poder pagar os impostos do governo persa, e finalmente, até
vender a seus filhos como escravos para conseguir os meios de vida. A
condição dos habitantes mais pobres ficou seriamente deplorável;
porque, além das colheitas deficientes causadas pelas grandes chuvas
(Ed_10:9; também Ag_1:6-11), agora havia a ameaça de escassez devido
ao fato de que o inimigo tinha tal multidão encerrada na cidade, e
impedia que os camponeses trouxessem provisões.

Vv. 6-19. OS AGIOTAS SÃO REPREENDIDOS .


6. Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me
aborreci. — Quando semelhantes desordens chegaram ao conhecimento
do governador, despertou sua indignação justa contra os perpetradores
do mal, e tendo convocado uma assembleia pública, com justa
severidade condenou sua conduta fazendo contraste entre a conduta deles
e a dele, em que ele com seu dinheiro redimiu a alguns dos desterrados
judeus, que, por dívida ou outra maneira, tinham perdido sua propriedade
pessoal em Babilônia. Insistiu com os credores ricos não só a que
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 13
abandonassem seu sistema ilegal e tirânico de usura, mas também
restaurassem os campos e vinhedos dos pobres, de modo que se pusesse
remédio para um mal, a introdução do qual tinha trazido muita desordem
atual, e cuja continuação inevitavelmente seria ruinosa para a colônia
recém restaurada, por violar os princípios fundamentais da constituição
hebreia. A admoestação foi eficaz. A consciência dos opressores agiotas
não pôde resistir a petição tão poderosa e comovedora, e com emoções
confundidas com a vergonha, a contrição e o temor, eles com
unanimidade expressaram sua disposição de cumprir as recomendações
do governador. Terminaram as transações do dia obrigando-se por
juramento solene, administrado pelos sacerdotes, de que redimiriam sua
promessa, e o governador, pelo gesto solene e significante de sacudir a
ponta de seu vestido, invocava maldição sobre os que violassem a
promessa. O historiador se cuidou de afirmar que o povo cumpriu
segundo esta promessa.
14. desde o dia em que fui nomeado seu governador … nem eu
nem meus irmãos comemos o pão devido ao governado. — Temos a
comprovação tanto da opulência como do desinteresse pessoal de
Neemias. Como ele se negava, por motivos de consciência, a aceitar os
emolumentos legais inerentes a seu governo, e ainda manteve durante
doze anos uma hospitalidade principesca, é evidente que seu posto de
copeiro na corte de Susã deve ter sido muito lucrativo.
15. os primeiros governadores … oprimiram o povo e lhe
tomaram pão e vinho, além de quarenta siclos de prata — As rendas
dos governadores orientais se pagam uma parte em produtos agrícolas e
uma parte em dinheiro. “Pão” quer dizer todas classes de provisões. Os
quarenta siclos de prata equivaleriam a um salário de 1.800 libras
esterlinas anuais.
17. Também cento e cinqüenta homens dos judeus … eram
meus hóspedes — No oriente sempre foi o costume calcular os gastos
de um rei ou um grande, não pela soma de dinheiro desembolsado, mas
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 14
pela quantidade de provisões consumidas (veja-se 1Rs_4:22; 1Rs_18:19;
Ec_5:11).
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 15
Neemias 6

Vv. 1-19. SAMBALATE FAZ TENTATIVAS INSIDIOSAS


CONTRA NEEMIAS.
2. Sambalate e Gesém mandaram dizer-me — Os dirigentes
samaritanos, convencidos de que não podiam vencer a Neemias com
armas, resolveram ganhar uma vantagem sobre ele por engano e
estratagema. Com isto em vista, sob pretexto de terminar suas diferenças
de uma maneira amigável, convidaram-no a uma conferência. O lugar da
reunião se fixou “numa das aldeias da planície de Ono”. “Numa das
aldeias”, em hebraico é “em Ceferim”, ou Cafira, nome de uma aldeia no
território de Benjamim (Jos_9:17; Jos_18:26). Neemias, entretanto,
temeroso de algum mal tramado, prudentemente rejeitou o convite, e,
embora foi repetido quatro vezes, sua resposta uniforme foi que sua
presença era indispensável em tão grande obra que estava fazendo. Esta
foi uma das razões, embora não a única. O motivo principal de sua
negação foi que sua captura ou morte em mãos deles certamente poria
fim a mais progresso das fortificações
5-9. Sambalate me enviou pela quinta vez o seu moço, o qual
trazia na mão uma carta aberta — Na Ásia ocidental, as cartas, depois
de ser enroladas como um mapa, são aplanadas à largura de uma
polegada, e em vez de ser seladas, são coladas nos cabos. Na Ásia
oriental, os persas formam seus cartas em rolos como de seis polegadas
de comprimento, e um pedaço de papel é fixado ao redor com borracha,
e seladas com a impressão de tinta. As cartas eram, e ainda são, enviadas
a pessoas de distinção numa bolsa ou carteira, e até para pessoas de
iguais condições são fechadas, sendo feita uma atadura com cinta tinta.
Mas para gente inferior, ou para pessoas tratadas com desprezo, as cartas
se enviavam abertas, quer dizer, não encerradas em bolsas. Neemias,
acostumado ao cerimonial minucioso da corte persa, logo notaria a falta
da formalidade usual, e saberia que se fazia assim por falta de respeito. O
teor da carta foi igualmente insolente. Foi com este teor: Que as
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 16
fortalezas em que ele estava tão ocupado, tinham por objetivo garantir
sua posição em vista da rebelião que se meditava; que ele tinha ajustado
profetas que incitassem o povo a entrar num complô, e apoiar sua
pretensão de ser seu rei nativo, e que para acabar com tais rumores, era
solicitado a encarecidamente concorrer a tão desejada conferência. Firme
na convicção de sua própria integridade, e penetrando no propósito deste
néscio artifício, Neemias respondeu que não havia tais rumores; que a
ideia de uma revolta e a contratação de demagogos alugados eram contos
da invenção do próprio escritor da carta, e que ele se negava agora, como
antes, a deixar sua obra.
10-14. Fui à casa de Semaías, etc. — Este homem era filho de um
sacerdote, quem era amigo íntimo de Neemias. O jovem pretendia estar
dotado do dom da profecia. Tendo sido subornado secretamente por
Sambalate, em sua pretendida capacidade de profeta, disse a Neemias
que seus inimigos naquela noite deviam fazer um atentado contra sua
vida, e o aconselhou ao mesmo tempo que buscasse salvamento
escondendo-se no santuário. Mas o nobre governador resolveu, com todo
risco, ficar em seu posto, e não trazer descrédito sobre a causa de Deus e
a religião por sua indigna covardia em deixar o templo e a cidade
indefesos. Este complô, e a secreta inteligência entre o inimigo e os
nobres de Judá, que estavam favoravelmente dispostos com o ímpio
samaritano por causa de suas relações judias (v. 18), foram frustrados
pela ardente coragem e a vigilância de Neemias e com a bênção de Deus,
a construção dos muros, feita em tempos confusos (Dan_9:25) foi
terminada (v. 15) no breve espaço de cinqüenta e dois dias. Execução tão
rápida, supondo-se que algumas partes do antigo muro estavam em pé,
não se pode explicar suficientemente, senão pela consideração de que os
edificadores trabalhavam com o ardor de um zelo religioso, como
homens empregados na obra de Deus.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Neemias 7

Vv. 1-4. NEEMIAS ENCOMENDA A HANANI E HANANIAS O


CARGO DE JERUSALÉM.
2. Entreguei a Hanani, meu irmão, e a Hananias, governador do
castelo, o cargo de Jerusalém — Se, como usualmente se supõe,
Neemias estava contemplando uma volta a Susã segundo sua promessa, é
natural que queria confiar a custódia de Jerusalém e o manejo de seus
assuntos cívicos a homens em cuja habilidade, experiência e fidelidade
ele poderia confiar. Hanani, parente próximo (Ne_1:2), era um, e com
ele estava associado como colega, Hananias, “príncipe do palácio”, quer
dizer, o marechal ou chefe de câmara da corte do vice-reinado, que
Neemias tinha mantido em Jerusalém. O alto princípio religioso, como
também o espírito patriótico destes dois homens, os recomendavam
como preeminentemente capacitados para ser investidos de um cargo
oficial de importância tão peculiar,
temia a Deus mais do que muitos — A piedade de Hananias
menciona-se especialmente como o fundamento de sua eminente
fidelidade no cumprimento de todos os seus deveres e, por conseguinte,
o motivo da confiança que Neemias depositava nele, porque estava
plenamente persuadido de que o temor de Deus da parte de Hananias o
preservaria daquela tentação a perfídia e infidelidade que ele
provavelmente encontraria depois da partida do governador de
Jerusalém.
3. Não se abram as portas de Jerusalém, até que o sol faça
sentir o seu calor, etc. — No Oriente é costume abrir as portas de uma
cidade ao nascer do sol, e fechá-las ao pôr-do-sol, uma regra que
raramente é infringida e somente para pessoas de autoridade. Neemias
recomendou que não fossem abertos os portões de Jerusalém tão cedo –
precaução necessária neste tempo em que os inimigos estavam ensaiando
toda sorte de estratagemas perigosos – para assegurar que todos os
habitantes estivessem levantados e possuídos de visão clara para
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 18
observar os movimentos suspeitos de algum inimigo. A conveniência de
trancar os portões regularmente ao pôr-do-sol foi, neste caso,
acompanhada pela nomeação de alguns do povo para que servissem de
sentinelas, e montassem guarda cada um diante de sua casa.
4. a cidade era larga e grande — Como evidentemente os muros
foram construídos sobre os alicerces velhos, a cidade cobria uma grande
extensão de superfície, como todas as cidades orientais, estando as casas
separadas com jardins e pomares no meio. Esta extensão, no estado de
Jerusalém daquele tempo, era tão mais notável, pois era
comparativamente pequena a população e as habitações de construção do
tipo mais tosco e singelo, meros alpendres de madeira ou abrigos de
pedras soltas, sem mescla.

Vv. 5-38. A GENEALOGIA DOS QUE VIERAM PRIMEIRO DA


BABILÔNIA.
5. Meu Deus me incitou a juntar os nobres, os magistrados, etc.
— O arranjo prestes a descrever-se, embora ditado pela mera prudência
comum, de acordo com os sentimentos piedosos de Neemias, não se
atribui à prudência ou reflexão dele, mas sim à graça de Deus que lhe
sugeria e dirigia. Resolveu preparar um registro dos desterrados que
tinham retornado, o qual contivesse uma constância exata da família e
residência ancestral de cada indivíduo, e enquanto assim dirigia sua
atenção, descobriu um registro do primeiro destacamento, que veio sob a
direção de Zorobabel. Está transcrito nos versículos seguintes, e difere
em alguns casos da lista dada em Esdras 2; mas se explica a discrepância
satisfatoriamente pela diferença de circunstâncias em que foram feitos os
dois registros: o de Esdras foi feito na Babilônia, enquanto que o de
Neemias foi confeccionado em Judeia, depois que foram reedificados os
muros de Jerusalém. Naturalmente se esperaria que um lapso de tantos
anos faria com que aparecesse uma diferença no catálogo, por
falecimentos ou outras causas; em particular, que alguma pessoa,
segundo o costume judeu, seja chamada por nomes distintos. Desta
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 19
maneira Harife (v. 24) é a mesma pessoa que Jora (Ed_2:18), Sia
(Ne_7:47), etc. Além de outros propósitos aos quais servia esta
genealogia dos nobres, os sacerdotes e o povo, um objeto principal por
ela contemplado foi o de averiguar com exatidão as pessoas a quem
correspondia o dever de ministrar no altar e dirigir outros serviços do
templo; e para chegar a uma informação exata sobre este importante
ponto de averiguação, foi inapreciável a posse do velho registro de
Zorobabel.

Vv. 39-73. DOS SACERDOTES.


39. Sacerdotes — Parece que só quatro das divisões de sacerdotes
retornaram do cativeiro, e que a de Abias (Luc_1:5) não está na lista.
Mas é preciso notar que estas quatro divisões mais tarde foram divididas
em vinte e quatro, as quais retinham os nomes dos cursos originais que
tinha estabelecido Davi.
70. Alguns dos cabeças das famílias, etc. — Com o v. 69 termina
o registro de habitantes, e com este versículo Neemias continua sua
história. Ele era o Tirsata, ou governador, e a liberalidade desdobrada
por ele e alguns dos homens principais para a devida instalação dos
ministros de religião, forma o tema dos versículos restantes deste
capítulo. Seus donativos consistiam principalmente em objetos de vestir.
Esta pareceria uma descrição estranha de presentes, feitos por alguém
entre nós; mas, no Oriente, um obséquio de roupa ou de qualquer artigo
de uso, está de acordo com os sentimentos e os costumes existentes na
sociedade.
daricos — O darico era uma moeda da antiga Pérsia, que valia uma
libra esterlina e meia.
71. arráteis — quer dizer, a mina (sessenta siclos, ou 9 libras
esterlinas).
73. todo o Israel habitavam nas suas cidades. — A utilidade
destes registros genealógicos assim se viu em levar a um conhecimento
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 20
das cidades e dos distritos em cada tribo aos quais pertencia antigamente
cada família.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 21
Neemias 8

Vv. 1-8. A MANEIRA RELIGIOSA DE LER E OUVIR A LEI.


1. todo o povo se ajuntou como um só homem — A ocasião foi a
celebração da festa do sétimo mês (Ne_7:73). O começo de cada mês era
introduzido como uma festa sagrada; mas este, o começo do sétimo mês,
foi guardado com honra distinta como “a festa das trombetas”, que durou
por dois dias. Foi o primeiro dia do sétimo ano eclesiástico, e o dia de
ano novo do ano civil, por causa do qual foi considerado “dia grande”. O
lugar onde se reuniu a concorrência geral do povo foi “à Porta das
Águas”, ao sul da muralha. Por aquela porta os netineus ou gibeonitas
traziam a água ao templo, e havia uma área espaçosa na frente dela.
e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o Livro da Lei de
Moisés — Ele tinha vindo a Jerusalém doze ou treze anos antes de
Neemias; e quer tinha permanecido ali, ou tinha voltado para Babilônia
em obediência à ordem real, e para o cumprimento de deveres
importantes. Tinha retornado junto com Neemias, mas numa capacidade
subordinada. Do tempo da nomeação de Neemias como tirsata, Esdras
se tinha retirado à vida particular; e, embora cooperava cordial e
zelosamente com aquele patriota em suas importantes medidas de
reforma, o piedoso sacerdote tinha dedicado seu tempo e atenção
principalmente à produção de uma edição completa das Escrituras
canônicas. A lei exigia a leitura pública das Escrituras cada sétimo ano,
mas durante o longo período do cativeiro, esta prática excelente, com
muitas outras, tinha caído em desuso, até que foi restabelecida nesta
ocasião. É indicação de um tom grandemente melhorado do sentimento
religioso o fato de que havia um desejo forte e geral entre os retornados
em Jerusalém, de ouvir a leitura da palavra de Deus.
4. Esdras, o escriba, estava num púlpito de madeira — Não na
forma como agora conhecemos, mas apenas um tablado ou plataforma,
larga o suficiente para que quatorze pessoas pudessem estar
comodamente em pé. A tarefa de Esdras foi pesada, pois continuava
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 22
lendo da manhã até meio-dia, mas seu trabalho foi aliviado pela ajuda
dos outros sacerdotes que estavam presentes. Sua presença foi útil em
parte para mostrar seu cordial acordo com a declaração que Esdras fazia
da verdade divina; e em parte para participar do importante dever de ler e
explicar as Escrituras.
5. abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. — Assumiram esta
atitude ou por respeito à palavra de Deus, ou, antes, porque a leitura foi
precedida por uma oração solene, a qual se concluía com uma expressão
geral de “Amém! Amém!”
7, 8. ensinavam o povo na Lei … dando explicações — Os
comentadores estão divididos em opinião a respeito do sentido desta
declaração: alguns crêem que Esdras leu a lei no puro hebraico,
enquanto os levitas, que o ajudavam, traduziam-na cláusula por cláusula
ao caldeu, o dialeto que falavam os desterrados em Babilônia; enquanto
que outros afirmam que o dever destes consistia em explicar ao povo,
muitos dos quais tinham chegado a ser muito ignorantes do que Esdras
lia.

Vv. 9-15. O POVO CONSOLADO.


9. Este dia é consagrado ao SENHOR, vosso Deus, pelo que não
pranteeis, nem choreis — Um profundo sentido de seus pecados
nacionais, trazido de modo poderoso a sua lembrança pela leitura da lei e
suas acusações, afetou o coração do povo com uma tristeza penitencial;
apesar da lembrança dolorosa de seus pecados nacionais, que a leitura da
lei tinha despertado, exortou-se ao povo a alentar os sentimentos de
alegria e gratidão associadas com uma festividade sagrada (veja-se
Lv_23:23-25) e pelo envio de porções de sua comida festiva a seus
irmãos mais pobres (Dt_16:11, 14; Et_9:19), fazer com que eles
participassem nos regozijos públicos.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 23
Vv. 16-18. GUARDAM A FESTA DOS TABERNÁCULOS.
16. Saiu, pois, o povo, trouxeram os ramos e fizeram para si
cabanas, etc. — (Veja-se Lv_23:34; Dt_16:13).
17. nunca fizeram assim os filhos de Israel, desde os dias de
Josué. — Esta festa nacional não tinha sido descuidada por um período
tão prolongado; porque, além de ser impossível que tal notório descuido
da lei fosse tolerado por Samuel, Davi e outros governantes piedosos,
sua observância está suficientemente indicada (1Rs_8:2, 1Rs_8:65;
2Cr_7:9) e expressamente relatada (Ed_3:4). Mas o sentido é que os
sentimentos populares nunca tinham sido elevados a tal altura de
entusiasmo desde o tempo de sua entrada em Canaã, como agora depois
de seu cativeiro tão longo e doloroso.
18. Dia após dia, leu Esdras no Livro da Lei — Isto é mais do
que foi ordenado (Dt_31:10-12), e suscitou do zelo exuberante do tempo.
no oitavo dia, houve uma assembleia solene, segundo o
prescrito. — Este foi o último dia e dia grande da festa (Nm_30:35). Em
tempos posteriores foram acrescentadas outras cerimônias, as quais
aumentavam o regozijo (Jo_7:37).
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 24
Neemias 9

Vv. 1-3. UM SOLENE JEJUM E ARREPENDIMENTO DO POVO.


1. No dia vinte e quatro deste mês — quer dizer, o segundo dia
depois da clausura da festa dos tabernáculos, a qual começou no dia
quatorze, e terminou no dia vinte e dois (Lv_23:34-37). O dia imediato
após a festa, o dia vinte e três, tinha sido ocupado em separar os
delinqüentes de suas esposas ilegais, como também talvez em tomar
medidas para os manter afastados no futuro das relações desnecessárias
com os pagãos ao redor. Embora anteriormente Esdras (Ed_10:1-17)
iniciou esta medida necessária de reforma, a qual se cumpriu
satisfatoriamente naquele então (até onde ele conhecia os abusos
existentes, ou possuía poder para corrigi-los); entretanto, parece que esta
obra reformadora de Esdras tinha sido somente parcial e imperfeita.
Muitos casos de delinqüência escaparam, ou tinham aparecido novos
infratores que tinham contraído estas alianças proibidas; e havia uma
urgente necessidade de que Neemias novamente tomasse medidas
vigorosas para tirar um mal social que ameaçava as conseqüências mais
desastrosas para o caráter e a prosperidade do povo escolhido. Agora se
observou um jejum solene para a expressão daqueles sentimentos
penitenciais e dolorosos que tinha produzido a leitura da lei, mas que
tinham sido suprimidos durante a celebração da festa; e a sinceridade de
seu arrependimento foi manifestado pelos passos decisivos tomados para
a correção dos abusos existentes no assunto do casamento.
2. fizeram confissão dos seus pecados e das iniqüidades de seus
pais. — Não só leram eles em seus sofrimentos recentes um castigo da
apostasia e culpa nacionais, mas também se fizeram a si mesmos
partícipes nos pecados de seus pais ao seguir os mesmos caminhos maus.
3. leram no Livro da Lei — Sua zelo extraordinário os levou a
continuar isto como antes.
uma quarta parte do dia — quer dizer, durante três horas, visto
que a duração do dia judeu era de doze horas (Jo_11:9), de maneira que
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 25
esta solene dieta de adoração, que provavelmente começou com o
sacrifício da manhã e continuou durante seis horas, quer dizer até o
tempo do sacrifício vespertino. A adoração que deram ao Senhor, seu
Deus, nesta época de solene humilhação, consistia em reconhecer e
adorar Sua grande misericórdia no perdão de seus grandes e múltiplas
ofensas, em livrá-los dos juízos merecidos, ou que eles tinham motivos
de temer, em continuar entre eles a luz e as bênçãos de Sua palavra e
culto, e em suplicar a continuação de Sua graça e proteção.

Vv. 4-38. OS LEVITAS RECONHECEM A MÚLTIPLA


BONDADE DE DEUS E CONFESSAM SUA PRÓPRIA MALDADE.
4. se puseram em pé no estrado — O tablado ou plataforma de
onde os levitas estavam habituados a dirigir a palavra ao povo. Havia
provavelmente várias destas plataformas colocadas a distâncias
convenientes, para evitar confusão e para que a voz de um orador não
afogasse a de outros.
e clamaram em alta voz ao SENHOR — Tal esforço, com efeito,
foi indispensavelmente necessário, a fim de que os oradores fossem
ouvidos pela grande multidão reunida ao ar livre. Mas estes oradores
naquele então estavam ocupados em expressar seu profundo sentido de
pecado, como também em pedir fervorosamente a misericórdia
perdoadora de Deus, e “clamar em voz alta” era o acompanhamento
natural desta extraordinária reunião de oração, como os gestos e tons
violentos são sempre a maneira em que os judeus e outros povos do
Oriente estão acostumados a expressar sentimentos profundos e ardentes.
5. Os levitas ... disseram: Levantai-vos, bendizei ao SENHOR,
vosso Deus — Se esta oração foi pronunciada por todos estes levitas em
comum, deveria ter sido preparada e adotada de antemão, talvez por
Esdras; mas é possível que só incorpore a substância da confissão e da
ação de graças.
6. Só tu és SENHOR, etc. — Nesta oração solene e impressionante,
na qual faziam pública confissão de seus pecados e suplicavam piedade
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 26
diante dos juízos devido às transgressões de seus pais, eles começam
com uma profunda adoração a Deus, cuja majestade suprema é
reconhecida na criação, preservação e governo de todos. Logo passam a
enumerar as Suas misericórdias e distintos favores a eles como nação,
desde o período da chamada de seu grande antepassado, e as promessas
benignas insinuadas a ele em seu nome divinamente concedido de
Abraão, promessa que dava a entender que ele devia ser o Pai dos fiéis, o
antecessor do Messias, e o indivíduo honrado em cuja semente deviam
ser benditas todas as famílias da terra. Traçando em detalhe completo as
assinaladas instâncias da intervenção divina na libertação deles e em
favor de seus interesses – em sua libertação da escravidão do Egito – sua
passagem milagrosa pelo Mar Vermelho; a promulgação da lei divina; a
paciência e tolerância mostradas a eles em suas freqüentes rebeliões; os
triunfos assinalados obtidos sobre seus inimigos; seu feliz
estabelecimento na terra prometida; e todas as bênçãos extraordinárias,
tanto na forma de prosperidade temporária e de privilégios religiosos,
com que Sua bondade paterna os tinha favorecido sobre todos os outros
povos; eles se acusam de ter-se desforrado miseravelmente, confessam
seus numerosos e premeditados atos de desobediência; vêem, na perda
de sua independência nacional e seu longo cativeiro, o severo castigo de
seus pecados; reconhecem que, em todos os juízos pesados e continuados
sobre sua nação, Deus fez o bem, mas eles tinham feito o mal, e ao
confiar-se à Sua misericórdia, expressam seu propósito de entrar numa
aliança nacional, mediante o qual se comprometem a Lhe prestar uma
obediência reverente no futuro.
22. lhes deste reinos e povos — quer dizer, os colocou na posse de
uma terra rica, de um território extenso, que antes estava ocupado por
uma variedade de príncipes e povos,
lhes repartiste em porções — dividido entre tribos. O próprio da
expressão provém dos diferentes distritos que se tocam uns aos outros
em distintos pontos e ângulos.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 27
a terra de Seom, a saber, a terra do rei de Hesbom — Como
Hesbom era a cidade capital, a passagem deveria expressar-se assim: “a
terra de Seom ou a terra do rei de Hesbom”.
32. Agora, pois, ó Deus nosso … que guardas a aliança e a
misericórdia — Se reconhece claramente a fidelidade de Deus a Sua
aliança, e bem poderia, porque toda a história nacional dos judeus dá
testemunho disso. Mas como este feito podia lhes proporcionar pouco
fundamento para consolo ou esperança, enquanto eram conscientes de ter
violado aquela aliança, eles se viram obrigados a buscar refúgio nas
riquezas da graça divina; e por isso o estilo peculiar da invocação usada
aqui: “ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temível, que guardas a
aliança e a misericórdia”.
36. até na terra ... somos servos nela — Apesar de sua feliz
restauração a sua terra natal, eles eram ainda tributários a um príncipe
estrangeiro, cujos oficiais os governavam, e não eram, como seus pais,
os livres possuidores da terra que Deus lhes tinha dado.
37. Seus abundantes produtos são para os reis que puseste sobre
nós por causa dos nossos pecados — Nossos trabalhos agrícolas
começaram de novo na terra: aramos, semeamos e cultivamos o solo, e
abençoas os trabalhos de nossas mãos com rendimento abundante; mas
este fruto não é para nós, como o era antes, senão para nossos amos
estrangeiros, aos quais temos que pagar grande e pesado tributo.
e, segundo a sua vontade, dominam sobre o nosso corpo — Suas
pessoas expostas a ser obrigadas, por mandado de seu vencedor assírio, a
prestar serviço ao império, quer fosse na guerra ou em obras públicas. E
seus animais são tomados para promover o prazer de seus amos.
38. estabelecemos aliança fiel e o escrevemos — quer dizer,
subscrevemo-la, ou assinamos. Este documento escrito exerceria uma
influência sã em refrear suas apostasias ou em animá-los em seus
deveres, por ser testemunha contra eles no futuro, se fossem infiéis aos
seus compromissos.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 28
Neemias 10

Vv. 1-27. OS NOMES DOS ASSINANTES DA ALIANÇA.


1. Neemias, o Tirsata (AV) — Seu nome foi posto em primeiro
lugar na lista por sua dignidade oficial, como comissionado do monarca
persa. Na lista subscrita estavam incluídas todas as classes; mas o povo
estava representado por seus anciãos (v. 14), pois teria sido impossível
que cada pessoa do país assinasse.

28. OUTROS DO POVO SE COMPROMETEM A GUARDÁ-LO.


Os que não estavam presentes ao assinar a aliança, ratificaram-na dando
seu consentimento, quer por palavra ou levantando a mão, e se
comprometeram por juramento solene, a caminhar na lei de Deus,
praguejando uma maldição sobre si mesmos em caso de a violar.

Vv. 29-39. ARTIGOS DA ALIANÇA.


29. de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos,
etc. — Esta aliança nacional além de conter uma promessa solene de
obediência à lei divina em geral, mencionou especificamente seu
compromisso em alguns deveres particulares, que o caráter e a exigência
dos tempos marcavam com certa urgência e importância, os quais se
podem resumir da seguinte maneira: que se absteriam de contrair
alianças matrimoniais com os pagãos; que guardariam estritamente o
sábado; que deixariam a terra em descanso e perdoariam as dívidas cada
sétimo ano; que contribuiriam para a manutenção do serviço do templo,
gastos que antes tinham sido pagos pela tesouraria do templo
(1Cr_26:20), e quando ali faltavam os recursos, eram dados dos recursos
particulares do rei (2Cr_31:3); e que fariam o pagamento ordenado dos
salários dos sacerdotes. Fez-se uma enumeração detalhada e particular
dos primeiros frutos, as primícias, para que todos fossem conscientizados
de suas obrigações, e que ninguém pudesse desculpar-se, sob o pretexto
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 29
de ignorância, de reter impostos, que a pobreza de alguns e a irreligião
de outros os tinham feito muito propensos a esquecer.
32. a terça parte de um siclo para o serviço da casa do nosso
Deus — A lei exigia que cada indivíduo de vinte anos de idade para
cima pagasse meio siclo ao santuário. Mas como conseqüência da
pobreza geral, ocasionada pela guerra e o cativeiro, este tributo foi
reduzido à terça parte de um siclo.
34. deitamos sortes acerca da oferta da lenha — Carregar a lenha
antes tinha sido o trabalho dos netineus. Mas como poucos deles tinham
voltado, este dever foi assinalado como se diz no texto. A prática mais
tarde chegou a grande importância, e Josefo fala (Guerras dos Judeus,
2.17) sobre a “xyloforia”, ou certos tempos fixos e solenes quando o
povo trazia a lenha ao templo.
38. O sacerdote, filho de Arão, estaria com os levitas quando
estes recebessem os dízimos — Este foi um arranjo prudente. A
presença de um sacerdote sério asseguraria a entrega pacífica dos
dízimos; pelo menos a superintendência e influência do sacerdote
tenderia a evitar a perpetração de alguma fraude na transação, quer o
povo enganasse aos levitas, ou os levitas enganassem aos sacerdotes.
os dízimos dos dízimos — ou seja, tendo os levitas recebido a
décima parte de todos os produtos da terra, eles eram obrigados a dar a
décima parte disto aos sacerdotes. Os levitas estavam encarregados
também da obrigação adicional de levar os dízimos recebidos, e
depositá-los nas dispensas do templo, para uso dos sacerdotes.
39. não abandonaremos a casa do nosso Deus (TB) — Esta
solene promessa foi repetida no final da aliança como uma expressão do
intenso zelo pelo qual o povo neste então era animado para a glória e o
culto de Deus. Sob os sentimentos agudos de pesar e arrependimento por
seus pecados nacionais, dos quais a apostasia do serviço do verdadeiro
Deus foi o principal, e sob a lembrança fresca e dolorosa de seu cativeiro
prolongado, eles juraram. e, sentindo o impulso de uma devoção ardente
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 30
como também de gratidão por sua restauração eles se lisonjeavam de que
nunca se esqueceriam de seu voto, de ser do Senhor.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 31
Neemias 11

Vv. 1, 2. OS GOVERNANTES, HOMENS VOLUNTÁRIOS, E


UM HOMEM DE CADA DEZ ELEITO POR SORTE, RESIDEM EM
JERUSALÉM.
1. Os príncipes do povo habitaram em Jerusalém — Como a
cidade era a metrópole do país, era justo e próprio que a sede do governo
estivesse ali. Mas a exigência dos tempos requeria que se tomassem
medidas especiais para assegurar ali a residência de uma população
adequada para a custódia dos edifícios e a defesa da cidade. Pelas
moléstias dos inimigos inquietos e maliciosos, que provaram todos os
meios para destruir as fortificações que se levantavam, havia algum
perigo inerente num estabelecimento em Jerusalém, e por isso a maior
parte dos que voltaram, para ganhar como também assegurar as
recompensas de seu dever, preferiram permanecer no campo ou nas
aldeias provinciais. Para remediar este estado de coisas, resolveram
escolher por sorte a cada décimo homem das tribos de Judá e Benjamim,
para que fossem residentes da capital. A necessidade de tal medida fez
com que recebessem a aprovação geral. O povo se submeteu facilmente
visto que em todos os momentos críticos da história judia, recorria-se à
sorte, a qual era considerada pelo povo como uma decisão divina
(Pv_18:18). Esta emergência despertou fortemente o espírito nacional; os
voluntários patriotas se apresentaram para responder aos desejos das
autoridades, serviço que exigia grande sacrifício e valor, e sob estas
circunstâncias considerava-se de tanta importância que aqueles que o
prestavam se faziam credores da gratidão pública. Não é de surpreender
que a conduta destes voluntários despertasse o tributo da admiração
pública; porque eles sacrificaram sua segurança e conforto pessoais pelos
interesses da comunidade, porque Jerusalém naquele então um lugar
contra o qual os inimigos dos judeus estavam dirigindo milhares de
conspirações. Portanto, a residência nela em tal ocasião era mantida por
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 32
gastos e moléstias diversas das quais a vida rural estava inteiramente
livre.

Vv. 3-36. OS NOMES DAQUELES VOLUNTÁRIOS.


3. os chefes da província — quer dizer, da Judeia. Neemias fala
dela, tal como era então, uma pertinência pequena do Império Persa.
nas cidades de Judá habitou cada um na sua possessão, nas suas
cidades — Os que voltaram do cativeiro, que vieram de Babilônia,
foram em sua maioria, e por impulso natural, para as terras e cidades de
todo o país, as quais tinham sido antigamente atribuídas.
Israel — Este nome geral, que identificava os descendentes de Jacó
antes da infeliz divisão do reino sob o reinado de Roboão, foi restaurado
depois do cativeiro visto que os israelitas se uniram então com os judeus,
e todo rastro de sua separação anterior ficou apagado. Embora a maioria
dos retornados do cativeiro pertenciam às tribos de Judá e Benjamim,
esta parte refere-se a eles como Israel; porque um grande número dentre
todas as tribos agora estavam misturados, e estes eram principalmente os
ocupantes das aldeias rurais, enquanto que não residiam em Jerusalém
senão os de Judá e Benjamim.
levitas — estes se empossaram das cidades a eles designadas,
conforme tinham oportunidade.
netineus (RC) — certa ordem de homens, ou gibeonitas ou pessoas
unidas com eles, os quais se dedicava ao serviço de Deus.
4. Habitaram, pois, em Jerusalém alguns dos filhos de Judá —
A diferença que aparece entre esta lista [Ne_11:4-36] e a lista dada em
1Cr_9:1-9, resultou não só da prática oriental e judia, de mudar ou
modificar os nomes de pessoas por uma mudança de circunstâncias, mas
pelas alterações que deveriam produzir-se no curso do tempo; a lista em
Crônicas continha os que vieram com o primeiro destacamento dos que
voltaram, enquanto que a lista nesta passagem provavelmente incluía
também os que retornaram com Esdras e Neemias; ou esta lista foi feita
provavelmente mais tarde, quando alguns tinham morrido, ou alguns que
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 33
tinham sido inscritos como fazendo a viagem, finalmente ficavam, e
outros vieram em seu lugar.
9. superintendente — capitão ou chefe.
11. príncipe da casa de Deus (TB) — ajudante do sumo sacerdote
(Nm_3:32; 1Cr_9:11; 2Cr_19:11).
16. presidiam o serviço de fora da Casa de Deus — quer dizer,
aquelas coisas que se faziam fora, ou no campo, tal como a coleta de
provisões (1Cr_26:29).
17. o chefe, que dirigia os louvores — ou seja, o diretor do coro
que cantava os louvores do sacrifício da manhã e da tarde. Aquele
serviço era sempre acompanhado por algum salmo apropriado, sendo
escolhida e dirigida a música sagrada pela pessoa nomeada.
22. filhos de Asafe, que eram cantores ao serviço da Casa de
Deus — Foram escolhidos para ter o encargo da provisão das coisas que
faziam falta para o interior do templo e seus serviços, enquanto que a
outros era cometido o cuidado do “serviço de fora da Casa de Deus” (v.
16). Este dever muito propriamente foi encomendado aos filhos de
Asafe, porque, embora fossem levitas, eles não vinham a Jerusalém por
turno, como outros ministros de religião. Sendo residentes permanentes,
e empregados em deveres comparativamente leves e fáceis, eram muito
competentes para fazer frente a esta tarefa.
23. havia um mandado do rei a respeito deles — O desejo do
monarca persa foi fazer seu decreto para que o serviço do templo fosse
reavivado em toda sua plenitude e solenidade; e como esta provisão
especial para os cantores tinha sido pelo mandado do rei, segundo se
dizia, a ordem foi dada provavelmente a pedido ou sugestão de Esdras ou
Neemias.
24. Petaías … estava à disposição do rei, em todos os negócios
do povo — Esta pessoa tinha o encargo do poder judicial, ou pelo
interesse do monarca persa, ou por nomeação dele e seu dever consistia
em ajustar os casos de disputa civil ou em resolver assuntos fiscais.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 34
25. alguns dos filhos de Judá habitaram em Quiriate-Arba —
Toda a região em que estão situadas as aldeias aqui mencionadas, tinha
sido completamente assolada pela invasão dos caldeus; e por isto é
necessário supor que estas aldeias tinham sido reedificadas antes que “os
filhos de Judá habitassem” nelas.
36. Dos levitas, havia grupos tanto em Judá como em Benjamim
— antes, havia divisões para os levitas, quer dizer, os que não residiam
em Jerusalém, foram distribuídos em povoados das províncias de Judá e
Benjamim.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Neemias 12

Vv. 1-9 OS SACERDOTES E LEVITAS QUE VIERAM COM


ZOROBABEL.
1. São estes os sacerdotes — Segundo o v. 7, “os chefes dos
sacerdotes”, cabeças das vinte e quatro divisões em que foi dividido o
sacerdócio (1Cr_24:1-20). Só quatro das divisões retornaram do
cativeiro (Ne_7:39-42; Ed_2:36-39). Mas estas quatro foram divididas
por Zorobabel ou Jesua no número original de vinte e quatro. Só vinte e
duas são enumeradas aqui, e não mais de vinte nos vv. 12-21. A
discrepância deve-se à circunstância extremamente provável de que duas
das vinte e quatro divisões ficaram extintas em Babilônia; porque não se
informa de nenhum pertencente a elas que tenha retornado (vv. 2-5),
quer dizer, pode-se omitir a Hatus e Maadias no registro das famílias
destas pessoas (v. 12), porque não tiveram filhos varões.
Sealtiel — ou Salatiel [BJ, NTLH].
Esdras — Esta pessoa foi distinta do dirigente piedoso e patriótico.
Se tivesse sido a mesma pessoa, nesta ocasião teria chegado a uma idade
muito avançada, e neste caso sua longevidade sem dúvida se deveria a
sua eminente piedade e moderação, que são grandemente condizentes à
prolongação da vida; mas sobretudo se deveria à bênção especial de
Deus, quem o teria conservado e fortalecido para a consumação da obra
importante que foi chamado a empreender naquele período crítico da
história eclesiástica.
4. Abias — Um dos antepassados de João Batista (Luc_1:5).
9. seus irmãos ... cada qual no seu mister — quer dizer, segundo
alguns, seus locais, ou seja, os lugares onde estavam oficiando, “durante
seu turno” (v. 24); ou, segundo outros, em turnos alternados, e segundo o
sistema de rotação.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 36
Vv. 10-47. A SUCESSÃO DE SUMOS SACERDOTES.
10. Jesua gerou a Joiaquim, etc. — Esta enumeração foi de grande
importância, não só por estabelecer sua pureza individual de
descendência, mas também porque a cronologia dos judeus a partir de
agora devia contar-se não como antes pelos reinados de seus reis, mas
pelas sucessões de seus sumos sacerdotes.
11. Jadua — Muitos comentaristas pensam que esta pessoa era o
sumo sacerdote, cuja presença augusta, maneiras solenes e roupagem
esplêndida intimidaram e chamaram tão poderosamente a atenção do
orgulhoso Alexandre, o Grande; e se não fosse o mesmo, pois objetam
alguns, que este Jadua não ocupou o cargo, senão em um período
grandemente posterior por ocasião da morte de Neemias, possivelmente
era pai dele, quem levava o mesmo nome.
12. Nos dias de Joiaquim, foram sacerdotes, cabeças de famílias
— ou seja, assim como havia sacerdotes nos dias de Jesua, assim no
tempo de Joiaquim. o filho e sucessor de Jesua, os filhos daquelas
pessoas ocupavam o cargo sacerdotal em lugar de seus pais, alguns dos
quais ainda viviam, embora muitos já tinham morrido.
23. Os filhos de Levi foram inscritos … no Livro das Crônicas
— ou seja, nos registros públicos em que se guardavam as genealogias
com grande regularidade e exatidão.
27-43. Na dedicação dos muros de Jerusalém — Esta cerimônia
de consagrar o muro e os portões da cidade foi um ato de piedade da
parte de Neemias, não meramente para dar graças a Deus de uma
maneira geral por ter podido terminar felizmente a edificação, mas pelo
motivo especial de que aquela cidade era o lugar que Deus tinha
escolhido e que tinha o templo que foi santificado pela manifestação de
Sua presença, e novamente foi dedicado ao serviço divino. Por causa
disto Jerusalém foi chamada “a Santa Cidade”, e por este ato público e
solene de observância religiosa, depois de um longo período de
abandono e profanação, a cidade foi restaurada a seu legítimo
proprietário. A dedicação consistiu num solene cerimonial, no qual as
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 37
autoridades principais, acompanhadas por cantores levitas, convocados
de todas as partes do país, e por uma vasta afluência do povo, partiram
em procissão imponente ao redor dos muros da cidade, e, detendo-se a
intervalos, imploravam a presença, o favor e a bênção de Deus sobre “a
cidade Santa” “A assembleia se congregou junto à porta Jaffa, onde
começa a procissão. Então fiz subir (v. 31) os príncipes de Judá sobre o
muro; (perto do portão do Vale), e ordenei dois grandes coros em
procissão, um à mão direita sobre o muro do lado da porta do monturo
(por Bethzo). E ia detrás deles Hosaías, e a metade dos príncipes de Judá.
E (v. 37) à porta da Fonte, em direito diante deles, (descendo ao lado da
Torre de Salomão ao interior, e logo voltando a ascender) subiram pelos
degraus da cidade de Davi, pela ascensão do muro, da casa de Davi, até a
Porta das Águas ao oriente (pela escada da fortaleza, tendo descido para
dedicar as instalações da fonte). E o segundo coro ia do lado oposto
(havendo partido ambas as companhias do ponto de união do muro
primeiro e segundo), e eu atrás dele, com a metade do povo sobre o
muro, da torre dos Fornos até o muro largo (para além da porta da
esquina). E de cima da porta de Efraim até a porta velha (e a porta de
Benjamim), e à Porta do Peixe, e a torre de Hananel, e torre de Hamate,
até a porta das Ovelhas; e pararam na porta da Cárcere (a porta alta, ao
cabo oriental da ponte). Pararam logo os dois coros na casa de Deus; e
eu, e a metade dos magistrados comigo (fazendo o circuito dos muros
que rodeiam a cidade)”. (The City of the Great King, por Barclay).
43. o júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe — Os
acontecimentos do dia, vistos em conexão com o estado da cidade agora
reparada e embelezada, elevaram o sentimento popular ao mais alto grau
de entusiasmo, e a fama de seus regozijos foi estendida por toda parte.
44. porções designadas pela Lei — ou seja, porções prescritas pela
lei.
Judá estava alegre, porque os sacerdotes e os levitas
ministravam ali. — A causa desta satisfação geral foi ou a plena
restauração do serviço do templo, e a provisão reorganizada para o
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 38
sustento permanente do ministério, ou foi o caráter piedoso e os dons
eminentes dos guardiões da religião.
45. executavam o serviço do seu Deus e o da purificação; como
também os cantores e porteiros — quer dizer, tomaram cuidado de que
nenhuma pessoa não purificada entrasse nos recintos do sagrado edifício.
Este foi o dever oficial dos porteiros (2Cr_23:19), com os quais, devido
à pressão das circunstâncias, creu-se conveniente que estivessem
associados os cantores como ajudantes.
47. Todo o Israel … dava aos cantores e aos porteiros as
porções, etc. — O povo, juntando os dízimos e os primeiros frutos,
dedicavam-nos ao uso dos levitas, aos quais pertenciam por mandado da
lei. Os levitas fizeram outro tanto com os dízimos deles para os
sacerdotes. Assim todas as classes do povo desdobraram uma fidelidade
conscienciosa em pagar os impostos para o templo e os servos de Deus
nomeados para administrá-los.
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 39
Neemias 13

Vv. 1-9. AO LER A LEI, É FEITA A SEPARAÇÃO DOS


CASAMENTOS MISTOS.
1. Naquele dia — Isto não sucede imediatamente depois da
dedicação do muro e das portas, mas sim depois da volta de Neemias da
corte persa a Jerusalém, tendo durado sua ausência um tempo
considerável. A transação aqui relatada provavelmente sucedeu numa
das ocasiões periódicas para a leitura pública da lei, quando se chamou a
atenção do povo particularmente a algumas violações dela que clamavam
por uma correção imediata. Aqui se apresenta mais um caso, além
daqueles que já mencionamos, das vantagens resultantes da leitura
pública e periódica da lei. Foi uma provisão estabelecida para a instrução
religiosa do povo, para difundir um conhecimento e reverência pelo
tomo sagrado, como também para tirar aqueles erros e corrupções que
pudessem infiltrar-se, com o passar do tempo.
que os amonitas e os moabitas não entrassem jamais na
congregação de Deus — ou seja, não serem incorporados no reino
israelita, nem unidos em relações matrimoniais com aquele povo
(Dt_23:3-4). Este recurso à autoridade da lei divina levou a dissolução
de todas as alianças gentílicas (Ne_9:2; Ed_10:3).
4. antes disto — A prática destes casamentos mistos, em aberto
descuido e violação da lei, tinha sido tão comum, que até a casa
pontifical, que deveria haver dado melhor exemplo, foi manchada por
semelhante mistura impura.
Eliasibe, sacerdote … se tinha aparentado com Tobias — Esta
pessoa era o sumo sacerdote (v. 28: também Ne_3:1), quem, em virtude
de seu elevado posto, tinha a superintendência e o manejo dos
departamentos acrescentados ao templo. A frouxidão de seus princípios,
como também de suas práticas, é suficientemente aparente em que tinha
contraído aliança familiar com tão notório inimigo de Israel como foi
Tobias. Mas seus cuidados lisonjeadores o tinham levado mais longe
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 40
ainda, porque para acomodar pessoa tão importante como Tobias em
suas viagens ocasionais a Jerusalém, Eliasibe lhe havia provido um
esplêndido apartamento no templo. Não se pode explicar incongruência
tão grande, mas por supor que na ausência dos sacerdotes, e a cessação
dos serviços, o templo veio a ser considerado como um edifício público
comum, o qual, nas circunstâncias presentes, poderia ser usado como
residência palaciana.
6. Mas, quando isso aconteceu, não estive em Jerusalém —
Eliasibe, inferindo que, visto que Neemias tinha saído de Jerusalém, ao
expirar o prazo de sua licença para estar ausente, teria renunciado ao
governo, e teria saído para não voltar, começou a usar de grandes
liberdades, e, não tendo ficado ali ninguém cuja autoridade ou desagrado
temesse, tomou a liberdade para fazer coisas completamente indignas de
seu ofício sagrado, as quais, embora de acordo com seu próprio caráter
irreligioso, não se teria atrevido a fazer durante a residência do piedoso
governador. Neemias residiu doze anos como governador de Jerusalém,
e tendo conseguido reparar e fortificar a cidade, no fim daquele período
voltou para seus deveres em Susã. Quanto tempo [Neemias] ficou ali não
se diz expressamente, mas “ao cabo de certo tempo”, que é uma
fraseologia escriturística para um ano ou um número de anos, recebeu
permissão para reassumir o governo de Jerusalém, e, para sua própria
aflição e pesar, achou os assuntos no estado de abandono e desordem
aqui descrita. Irregularidades tão chocantes como as praticadas,
corrupções tão extraordinárias como tinham entrado, evidentemente
indicam o tempo considerável que passou. Além disso, estas coisas
manifestam o caráter de Eliasibe, o sumo sacerdote, numa luz a mais
desfavorável; porque, enquanto que, por seu posto, deveria ter
conservado a santidade inviolável do templo e seus móveis, sua
influência se tinha usado diretamente para o mal; especialmente tinha
dada permissão e aprovação para um ultraje o mais indecente, a
apropriação dos melhores apartamentos do sagrado edifício a um
governador pagão, um dos piores e mais decididos inimigos do povo e
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 41
do culto de Deus. A primeira reforma que resolveu fazer Neemias em
sua segunda visita, foi pôr fim a esta profanação indecente, e a câmara
que tinha sido manchada pela residência do amonita idólatra foi, depois
de ser submetida ao processo de purificação ritual (Nm_15:9), devolvida
a seu uso próprio, como depósito para os objetos sagrados.

Vv. 10-14. NEEMIAS FAZ UMA REFORMA DOS OFICIAIS NA


CASA DE DEUS.
10. Também soube que os quinhões dos levitas não se lhes
davam — O povo, aborrecido com as malversações de Eliasibe, ou com
a celebração frouxa e irregular dos sagrados ritos, reteve os seus dízimos,
de modo que os ministros de religião se viram obrigados a retirar-se a
posses patrimoniais no campo; os serviços do templo tinham cessado;
todos os deveres religiosos tinham caído no abandono; e o dinheiro posto
na tesouraria sagrada tinha sido esbanjado em obsequiar a um pagão
amonita, inimigo aberto e insolente de Deus e de Seu povo. A volta do
governador pôs fim a estes comportamentos vergonhosos e profanos.
Subministrou uma forte repreensão àqueles sacerdotes aos quais foi
encomendada a administração do templo, pelo total abandono de seus
deveres, e a violação das promessas solenes que tinham feito no
momento de sua partida para Babilônia. Repreendeu-os com a séria
acusação não só de ter retido dos homens suas posses, mas também de
ter roubado a Deus, abandonando o cuidado de Sua casa e serviço. E
tendo-os despertado a um sentido de seu dever, e tendo-os animado a
confessar seu pesar por sua negligência criminal por uma renovada
devoção a sua obra sagrada, Neemias restabeleceu os serviços do templo,
chamando os levitas dispersos ao cumprimento regular de seus deveres,
enquanto que o povo em geral, percebendo que suas contribuições já não
seriam mais pervertidas para usos impróprios, voluntariamente
trouxeram os seus dízimos como antes. Homens de integridade e bons
antecedentes foram postos a servir como procuradores dos tesouros
Neemias (Jamieson-Fausset-Brown) 42
sagrados, e assim foram estabelecidas a ordem, a regularidade e o
serviço ativo no templo.

Vv. 15-31. A VIOLAÇÃO DO SÁBADO.


15. Naqueles dias, vi em Judá os que pisavam lagares ao sábado
— A cessação dos serviços do templo foi seguida necessariamente por
uma profanação pública do sábado, e isto tinha procedido a tal ponto que
seu trabalho no campo era feito, e o peixe era trazido aos mercados no
dia sagrado. Neemias deu o passo decisivo de ordenar que as portas da
cidade fossem fechadas, e não abertas, enquanto não passava no sábado;
e para assegurar o fiel cumprimento desta ordem, estacionou alguns de
seus próprios servos como guardas, para evitar a introdução de
mercadorias naquele dia. Achando os mercadores e outros traficantes
negada a entrada à cidade, levantaram barracos fora dos muros, com a
esperança de seguir fazendo negócio com os camponeses, mas o
governador os ameaçou com medidas violentas para tirá-los, se
continuassem. Com este propósito um corpo de levitas foi localizado
junto à porta, com poderes incondicionais para proteger a santidade do
sábado.
24. Seus filhos falavam meio asdodita e não sabiam falar
judaico, mas a língua de seu respectivo povo — Um dialeto mestiço
recebido de suas mães, junto com muitos princípios e hábitos
estrangeiros.
25. os amaldiçoei — quer dizer, pronunciou sobre eles um
anátema, que incluía excomunhão.
espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos — cortar o
cabelo dos ofensores parece um castigo, mais vergonhoso que severo;
entretanto, supõe-se que a dor se acrescentava à vergonha, e que eles
arrancaram os cabelos com violência, como se depenassem vivo a um
pássaro.
ESTER
Original em inglês:
ESTHER -
The Book of Esther,
Commentary by Robert Jamieson
Tradução: Carlos Biagini

Ester 1 Ester 4 Ester 7 Ester 10

Ester 2 Ester 5 Ester 8

Ester 3 Ester 6 Ester 9


Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 2
Ester 1

Vv. 1-22. ASSUERO FAZ UMA FESTA RÉGIA.


1. Assuero — Geralmente se reconhece agora que o Assuero
mencionado neste episódio é o Xerxes que figura na história grega.
3. deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos —
Banquetes em escala tão grande e estendida e num período tão longo,
têm sido frequentemente providos pelos monarcas luxuriosos de países
orientais, tanto em tempos antigos como modernos. Entretanto, parece
que a primeira parte desta temporada era dedicada às diversões,
especialmente a uma exibição da magnificência e dos tesouros da corte,
e terminou com uma festa especial de sete dias de duração, levada a cabo
nos jardins do palácio real. O antigo palácio de Susã em anos recentes
foi desenterrado dentre uma enorme massa de terra e escombros, e
naquele palácio – que é, sem dúvida, o mesmo edifício indicado nesta
passagem – há uma sala grande de pilares de mármore. “A localização da
grande sala de colunas corresponde ao relato dado aqui. Está sobre uma
altura no centro de uma espécie de aterro, o resto do qual poderíamos
imaginar que, segundo o modo persa, estava ocupado com um jardim e
fontes. Nesta forma a sala de colunas representaria o ‘pátio do palácio
real’ com suas ‘colunas de mármore’. Me inclino a crer que a expressão
‘o palácio real’ aplica-se especialmente a esta porção de ruínas, para
diferenciá-la da cidadela e da cidade de Susã”. (Chaldea and Susania,
por Loftus).
6. branco, linho fino e estofas de púrpura atados com cordões
de linho e de púrpura, etc. — Em casa dos grandes, em ocasiões
festivas, costumavam adornar as câmaras do meio da parede para abaixo
com colgaduras de damasco e veludo de cores diversas suspensas por
ganchos, colgaduras que podiam ser puxadas à vontade.
A armação dos leitos era de ouro e de prata — quer dizer, divãs
sobre os quais, segundo costume oriental, os convidados se recostavam,
e estes foram feitos inteiramente de ouro e prata, ou incrustados destes
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 3
metais custosos, colocados sobre piso elevado de mármore de várias
cores.
7. Dava-se-lhes de beber em vasos de ouro — Há motivo para
crer por este relato, como também pelo que se diz em Ed_5:6; 7:2, 7, 8,
onde o beber vinho ocupa sem dúvida o lugar mais proeminente na
descrição, porque este era um banquete mais que uma festa.
9. Também a rainha Vasti deu um banquete às mulheres — A
celebração foi em dobro porque, segundo costume oriental, os dois sexos
não se mesclavam em público, a rainha festejava às damas da corte num
compartimento particular.
10-12. Ao sétimo dia, estando já o coração do rei alegre do
vinho — Como passavam os dias em festa, entregavam-se mais
livremente às bebidas, de modo que a conclusão geralmente se
caracterizava por grandes excessos de farra.
mandou a … sete eunucos — estes eunucos tinham a seu cargo o
harém real. A negativa de Vasti de obedecer uma ordem que exigia que
ela fizesse uma exposição indecente de sua pessoa perante uma
companhia de bêbados festivos, foi própria tanto pela modéstia de seu
sexo como por sua qualidade de rainha; porque, segundo os costumes
persas, a rainha, mais que as esposas de outros homens, era retirada do
olhar público; e se não estivesse o sangue do rei reaquecido pelo vinho,
ou sua razão dominada pela força do amor próprio ofendido, ele haveria
entendido que sua própria honra, tanto como a dela, era defendida pela
séria conduta dela.
13. o rei consultou os sábios — Estes eram provavelmente os
magos, sem cujo conselho quanto ao tempo propício de fazer algo, os
reis persas nunca davam passo algum; e as pessoas nomeadas em
Et_1:14 eram os “sete príncipes” (cf. Ed_7:14), que formavam o
ministério do estado. A sabedoria combinada de todos, conforme parece,
foi posta a serviço do rei para determinar que curso deveria tomar-se
depois de acontecimento tão inaudito como foi a desobediência de Vasti
à chamada real. É dificilmente possível que imaginemos o assombro
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 4
produzido por semelhante negativa num país e numa corte onde a
vontade do soberano era absoluta. Os grandes que estavam reunidos
ficaram petrificados de horror por uma afronta tão atrevida. O alarma
pelas consequências que poderiam resultar para cada um deles em sua
própria casa, logo se apoderou de suas mentes, e os sons da farra bêbada
foram fazer calados em meio de uma consulta profunda e ansiosa a
respeito de que castigo deveria impor-se a rainha desobediente. Mas um
propósito foi servido pela adulação do rei e a escravidão de todas as
mulheres. Os consultores estavam muito bêbados, ou obsequiosos, para
opor-se ao conselho insinuante de Memucã. Resolveu-se unanimemente,
com sábia consideração pelos interesses públicos da nação, que o castigo
de Vasti não fosse nada menos que a degradação de sua dignidade real.
Com efeito, a sentença foi pronunciada e publicada em todas as partes do
império.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 5
Ester 2

Vv. 1-20. ESTER É ESCOLHIDA RAINHA.


1. Passadas estas coisas, e apaziguado já o furor do rei Assuero
— Caindo em si depois da violenta excitação de sua bebedeira e raiva, o
rei se sentiu transpassado de profunda tristeza pelo imerecido tratamento
que ele tinha dado a sua bela e digna rainha. Mas, segundo a lei, que
fazia irrevogável a palavra dos reis persas, ela não podia ser restaurada.
Os conselheiros, por seus próprios interesses, eram solícitos em lhe tirar
sua inquietação, e se apressaram a lhe recomendar a adoção de meios
convenientes para contentar a seu real senhor com outra consorte de
atrativos iguais ou superiores aos de sua rainha divorciada. Nos países
despóticos do Oriente, prevalece o costume de que quando se envia a
uma família ordem de que uma donzela se apresente ao palácio real,
queiram ou não os pais, não se atrevem a recusar a honra para sua filha;
e embora saibam que uma vez que ela esteja no harém real, eles não
voltarão a vê-la mais, vêem-se obrigados a ceder em consentimento
silencioso e passivo. Na ocasião a que se refere, ordenou-se uma busca
geral por todo o império das mulheres mais belas, com a esperança de
que entre elas o desconsolado monarca pudesse escolher uma para ser a
sucessora das honras reais de Vasti. As donzelas, em sua chegada ao
palácio, foram postas sob a custódia de Hegai, “eunuco do rei, guarda
das mulheres,” geralmente algum velho repugnante, de quem dependiam
as damas da corte, e cujo favor elas são sempre desejosas de conseguir.
5. na cidadela de Susã havia certo homem judeu — Mardoqueu
ocupava algum posto perto da corte. Mas estar “sentado à porta do rei”
(v. 21) não quer dizer necessariamente que ele estivesse na condição
humilde de um porteiro; porque, segundo uma regra de Ciro, exigia-se
que todos os oficiais de estado esperassem nos pátios exteriores até
serem chamados a presença do rei. Então Mardoqueu poderia ter sido
pessoa de certa dignidade oficial. Este homem tinha sob seu cuidado
uma sobrinha órfã, nascida durante o desterro, a qual sendo distinguida
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 6
por sua grande beleza pessoal, foi uma das donzelas levadas ao harém
real nesta ocasião, e que tinha tido a sorte de granjear a benevolência do
eunuco do rei [v. 9]. Sua aparência doce e amável a fez uma favorita
com todos os que a viam (v. 15, última cláusula). Seu nome hebraico (v.
7) era Hadassa, quer dizer, mirto, o qual foi mudado, em sua introdução
ao harém real, por Ester, quer dizer, a estrela Vênus, que indica beleza e
boa sorte. (Gesênius).
11. Passeava Mordecai todos os dias diante do átrio da casa das
mulheres — O harém é um santuário inviolável, e o que transpira dentro
de seus muros é tão secreto para os de fora, como se estes estivessem a
milhares de quilômetros de distância. Mas lhe chegaram insinuações por
meio dos eunucos.
12. Em chegando o prazo de cada moça vir ao rei Assuero —
Todo um ano se passou em preparativos para a honra proposta.
Considerando-se que isto sucedeu no palácio, o longo período prescrito,
junto com a profusão de cosméticos custosos e fragrantes empregados,
provavelmente era exigido pela etiqueta oficial.
17. O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres — A
preferência coube a Ester, quem achou favor aos olhos de Assuero, e foi
elevada à dignidade de esposa principal, ou rainha. As outras
competidoras tiveram atribuídos para seu uso compartimentos no harém
real, e foram retidas como esposas secundárias, das quais os príncipes
orientais tinham grande número.
o rei pôs-lhe na cabeça a coroa real — A coroa não consistia
senão em uma cinta purpúrea com listas brancas, atada ao redor da
fronte. As núpcias foram celebradas com um banquete magnífico, e, em
honra da ocasião auspiciosa, ele “concedeu alívio às províncias e fez
presentes segundo a generosidade real”. A dotação das rainhas persas
consistia em lhes consignar os impostos de certas cidades, em várias
partes do reino, com os quais costear seus desembolsos pessoais e
domésticos. Alguns destes impostos o rei perdoou ou diminuiu.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 7
Vv. 21-23. MARDOQUEU, DESCOBRINDO UMA TRAIÇÃO, É
REGISTRADO NAS CRÔNICAS.
21. Naqueles dias … se indignaram e tramaram atentar contra
o rei Assuero, etc. — Esta conspiração secreta contra a vida do rei
provavelmente se suscitou como vingança pelo divórcio de Vasti, em
cujos interesses, e por cuja instigação pode ser que tenham agido estes
eunucos. Foi frustrado o complô pela vigilância de Mardoqueu, cuja
fidelidade, entretanto, passou inadvertida, enquanto que os conspiradores
foram condenados a ser mortos; e como o assunto foi registrado nos
anais da corte, veio a ser depois ocasião da exaltação de Mardoqueu ao
lugar de poder e influência para o qual, na proporção dos interesses
nacionais dos judeus, destinou-lhe a divina providência.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 8
Ester 3

Vv. 1-15. HAMÃ, PROMOVIDO PELO REI, E DESPREZADO


POR MARDOQUEU, BUSCA VINGANÇA EM TODOS OS JUDEUS.
1. Depois destas coisas, o rei Assuero engrandeceu a Hamã … e
o exaltou, e lhe pôs o trono acima de todos os príncipes — quer dizer,
elevou-o à posição de vizir, ou primeiro-ministro confidencial, cuja
preeminência em posto e poder via-se na cadeira elevada de estado
destinada àquele funcionário. Tal distinção dos assentos era considerada
de vasta importância na corte da Pérsia.
2. Todos os servos do rei, que estavam à porta do rei, se
inclinavam e se prostravam perante Hamã — Se entra nas grandes
mansões no Oriente por um vestíbulo espaçoso, ou portão, aos flancos do
qual tomam assento os visitantes, e são recebidos ali pelo senhor da casa;
porque ninguém, com exceção dos parentes mais próximos ou amigos
especiais, é deixado passar mais para dentro. Ali os oficiais do antigo rei
da Pérsia esperavam até ser chamados, e rendiam homenagem ao
poderoso primeiro-ministro do dia.
Mordecai, porém, não se inclinava, nem se prostrava — A
homenagem lisonjeadora de prostração, não inteiramente estranha aos
costumes do Oriente, não foi exigido por vizires anteriores; mas este
cortesão vaidoso exigia que todos os oficiais subordinados se
inclinassem diante dele com seu rosto na terra. Mas para Mardoqueu tal
atitude de profunda reverência não era devida senão a Deus. Além disso
o fato de que Hamã ser amalequita, membro de uma raça condenada e
maldita, foi, sem dúvida, outro elemento na negativa de Mardoqueu.
Chegando ao conhecimento de Hamã que o recusante era judeu, cuja
inconformidade se fundava sobre escrúpulos religiosos, a magnitude da
afronta lhe parecia tanto maior, pois o exemplo de Mardoqueu seria
imitado por todos os seus compatriotas. Se a homenagem tivesse sido um
simples sinal de respeito civil, Mardoqueu não se teria recusado; mas os
reis persas demandavam uma espécie de adoração, que, como bem
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 9
sabemos, até os gregos consideravam uma degradação expressar, e como
Xerxes, na altura de seu favoritismo, tinha ordenado que fossem dadas as
mesmos honras a seu ministro como a ele mesmo, isto foi o motivo da
negativa de Mardoqueu.
7. No primeiro mês … se lançou o Pur, isto é, sortes — Ao
recorrer a este método de averiguar o dia mais auspicioso para pôr em
execução sua projeto atroz, Hamã agia como têm feito sempre os reis e
nobres da Pérsia, de não atacar nenhuma empresa sem consultar os
astrólogos e satisfazer-se quanto à hora afortunada. Jurando vingança,
mas desdenhando lançar mão de uma só vítima, meditava a maneira de
extirpar toda a raça judia, pois ele sabia que os judeus eram inimigos
juramentados de seus patrícios, e astutamente fazendo os judeus
aparecerem como gente que eram estranhas em costumes e hábitos, e
inimigas dos demais súditos do império, buscou a autorização do rei para
a projetada matança. Apelando à cobiça do rei insistiu em seu plano.
Temendo que seu senhor objetasse que o extermínio de um grupo
numeroso de seus súditos privaria o tesouro de uma boa quantidade de
dinheiro, Hamã prometeu compensar a perda.
9. eu pesarei dez mil talentos de prata para que entrem nos
tesouros do rei — Esta soma, calculada pelo talento babilônico, seria
como 2.119.000 libras esterlinas; mas estimada segundo o talento judeu,
excederia os 3.000.000 de libras, uma contribuição imensa para ser feita
de uma fortuna particular. Mas a história clássica faz menção de várias
pessoas cujos recursos parecem quase incríveis.
10. Então, o rei tirou da mão o seu anel, deu-o a Hamã — Havia
um selo oficial no anel. A entrega do anel, com o nome do rei, e o do
reino gravados nele, fez-se com muita cerimônia, e isto foi tanto como se
o rei houvesse posto sua assinatura num decreto real.
12-15. Chamaram, pois, os secretários do rei … tudo se
escreveu — Os secretários do governo se ocuparam em escrever o
decreto que autorizava a matança universal dos judeus num dia. O
decreto foi traduzido aos dialetos de todos os povos por todo o vasto
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 10
império, e foram enviados mensageiros velozes para levá-lo a todas as
províncias, e, no dia assinalado, todos os judeus deviam ser mortos, e sua
propriedade confiscada; talvez por meio do confisco destas propriedades,
esperava Hamã pagar na tesouraria nacional seu tributo prometido. Nos
parece inexplicável como um monarca pôde dar seu consentimento à
extirpação de uma classe numerosa de seus súditos. Mas semelhantes
atos de barbárie louca, infelizmente, não raro foram autorizados por
déspotas descuidados e voluptuosos, os quais têm permitido que seus
ouvidos sejam cativados e sua política dirigida por cortesãos orgulhosos
e egoístas, que buscam satisfazer suas próprias paixões e servir a suas
próprias ambições.
15. o rei e Hamã se assentaram a beber, mas a cidade de Susã
estava perplexa — A perfeição deste quadro retórico neste versículo é
primorosa. O historiador, numa simples pincelada, traçou um quadro
gráfico de um déspota oriental que, com um de seus favoritos, se lança
nos prazeres sensuais, enquanto suas crueldades tirânicas estão
destroçando os corações e os lares de milhares de seus súditos.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Ester 4

Vv. 1-14. MARDOQUEU E OS JUDEUS FICAM DE LUTO.


1. Quando soube Mordecai tudo quanto se havia passado —
Confiando na natureza irrevogável do decreto do monarca persa
(Dan_6:15), Hamã o publicou uma vez que conseguiu a real autorização
e Mardoqueu foi um dos primeiros que o ouviram. Por amor de si
mesmo, como também por seus compatriotas, este decreto assombroso
lhe causou grande aflição. Os atos descritos nesta passagem são, segundo
costume oriental, expressivos da dor mais penetrante; e sua chegada à
porta do palácio, sob o impulso de emoções indômitas, foi para
apresentar uma petição, ardente embora vã, pela misericórdia real. O
acesso, entretanto, a presença do rei era impossível para pessoa em seu
estado desfigurado; “porque ninguém vestido de pano de saco podia
entrar pelas portas do rei.” Mas achou meios de fazer chegar a rainha
Ester o conhecimento da horrível conspiração.
4. A rainha ficou em extremo entristecida, e enviou roupa para
que, tirando-lhe o saco, vestissem a Mordecai (TB) — Seu motivo
para fazer isto foi ou capacitá-lo para continuar em seu posto de antes,
ou talvez, pô-lo em condições de vir perto do palácio o bastante para
informá-la a causa de angústia tão repentina e tão excessiva.
5. Então, Ester chamou a Hataque, um dos eunucos do rei, que
este lhe dera para a servir — Quase nunca se pode ter comunicação
com as mulheres no harém, e unicamente por meio dos guardas. O chefe
dos eunucos recebe a mensagem dos lábios da rainha, a leva a algum
oficial inferior do harém, e, quando se cumpriu a comissão, o
subordinado a comunica à superintendente, por meio de quem é levada a
rainha. Este eunuco chefe, geralmente um velho que se recomendou
mediante um longo curso de serviço fiel, é sempre nomeado pelo rei;
mas é para seus interesses, como também seu dever, congraçar-se com a
rainha também; por conseguinte, achamos a Hataque fazendo-se muito
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 12
serviçal em levar estas comunicações particulares com Mardoqueu,
quem pelo mesmo meio pôde conseguir a poderosa influência dela.
8. mostrasse a Ester e a fizesse saber, a fim de que fosse ter com
o rei — A linguagem aqui é excessivamente forte, e, como dificilmente
se pode supor que Mardoqueu ainda estivesse usando de autoridade
sobre ela como filha adotiva, é preciso considerar que lhe estava rogando
mais que mandando, em nome dos irmãos dela, e em nome de seu Deus,
que fizesse uma apelação direta aos sentimentos de seu real marido.
11. qualquer homem ou mulher que, sem ser chamado, entrar
no pátio interior para avistar-se com o rei — Os reis persas estavam
rodeados de tanto formalismo que quase era impossível chegar-se a eles.
A lei mencionada foi decretada primeiro pelo Deioces, rei da Média, e
depois, quando foi estabelecido o império, foi adotada pelos persas, de
que todo assunto fosse tratado e as petições transmitidas ao rei por meio
de seus ministros. Embora não se pensasse que a restrição fosse aplicável
a rainha, entretanto, pelo caráter estrito e inflexível das leis persas, e pelo
desejo extremado de exaltar a majestade do soberano, até sua esposa
favorita não tinha o privilégio de entrada, senão por favor e
condescendência especiais. Ester estava sofrendo pela severidade desta
lei, e como não tinha sido admitida a presença do rei durante todo um
mês, ela tinha motivos para temer que o carinho imperial tivesse sido
alienado dela, pouca esperança tinha de poder ajudar a sua pátria nesta
terrível emergência.
13, 14. Então, lhes disse Mordecai que respondessem a Ester —
A resposta de Mardoqueu foi neste sentido: Que ela não devia entregar-
se à vã esperança de que ela, por sua conexão real, escaparia da
condenação geral de sua raça; que ele, Mardoqueu, cria confiantemente
que Deus Se interporia, e, se não por meio dela, por algum outro
libertador, salvaria a Seu povo; mas que o dever evidentemente
correspondia a ela, visto que havia grandes razões para crer que este era
o propósito da providência ao elevá-la à dignidade de rainha, e portanto
que ela devia ir com coração valente, não duvidando do êxito.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 13
16. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei — A
petição de Mardoqueu foi irresistível, e tendo estabelecido um solene
jejum por três dias, ela manifestou sua decisão firme de fazer a súplica
ao rei, embora perecesse na tentativa.
eu e as minhas servas também jejuaremos — É provável que ela
tivesse reunido ao redor de si donzelas judias, ou mulheres que eram
prosélitas daquela religião.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 14
Ester 5

Vv. 1-14. ESTER CONVIDA O REI E HAMÃ PARA UM


BANQUETE.
1. Ester se aprontou com seus trajes reais — Em tal ocasião, não
é só natural como também muito justo e conveniente que a rainha se
embelezasse num estilo digno de sua posição elevada. Em ocasiões
ordinárias ela poderia razoavelmente fazer ressaltar seus encantos o mais
vantajoso possível; mas, nesta ocasião, como ela desejava conseguir o
favor de quem não apenas era seu marido, mas também o soberano,
devia considerar não só sua segurança pessoal, mas também a salvação
de seus patrícios sentenciados, e estas considerações lhe impunham a
conveniência de usar todos os meios legítimos para ganhar a atenção
favorável de Assuero.
o rei estava assentado no seu trono real fronteiro à porta da
residência — Parece que o palácio deste rei persa tinha sido edificado,
como muitos mais da mesma qualidade e descrição, com uma galeria ao
redor de um pátio, diante do portão de entrada. Em tais estruturas
abertas, entre seus guardas e conselheiros, estão os bashaws, cádis e
outros oficiais importantes, acostumados a repartir a justiça e dirigir os
assuntos públicos das províncias. (Shaw, Travels). Em tal situação estava
sentado o rei persa. O assento que ocupava, não era um trono, segundo
nossas ideias de tronos, mas simplesmente uma cadeira, e tão alta que
necessitava uma banqueta, que era feito de ouro, ou que tinha chapa ou
incrustações de ouro, e estava coberto com tapeçarias esplêndidas.
Ninguém senão o rei podia sentar-se nele sob pena de morte. Acha-se
com frequência desenhado nos monumentos da Pérsia, e sempre é do
mesmo estilo.
2. estendeu o rei para Ester o cetro de ouro que tinha na mão —
Este cetro de ouro recebe uma ilustração interessante nos monumentos
esculpidos da Pérsia e da Assíria. Nos baixos-relevos de Persépolis,
copiados por Sir Robert Ker Porter, vemos o rei Dario entronizado em
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 15
meio a sua corte, e caminhando fora da mesma maneira; em ambos os
casos ele levava em sua mão direita uma vara fina, da mesma altura que
ele, adornada com um pequeno botão no cabo de cima. Nos alabastros
assírios, tanto nos achados em Nimroud como nos de Khorsabad, “o
grande rei” está provido da mesma insígnia de dignidade real, uma vara
fina, mas desprovida de borla e de todo adorno. Nos relevos de
Khorsabad a vara está pintada de vermelho, sem dúvida para representar
o ouro, o que prova que “o cetro de ouro” era uma simples vara daquele
metal precioso, usualmente carregada na mão direita, com um cabo
apoiado no solo, quer seja que o rei estivesse sentado ou caminhando. “O
cetro de ouro” recebeu pouca mudança ou modificação desde tempos
antigos. (Goss). Foi estendido o cetro para Ester como sinal não só de
que sua intrusão era perdoada, mas também de que sua visita era
recebida com agrado e uma recepção favorável à petição que tinha vindo
apresentar.
Ester se chegou e tocou a ponta do cetro — Esta era a maneira
usual de reconhecer a condescendência real, e ao mesmo tempo de
expressar reverência e submissão à augusta majestade do rei.
3. Até metade do reino se te dará — Este modo de falar teve sua
origem no costume persa de apropriar para a manutenção de homens
grandes e favoritos reais, uma cidade para seu pão, outra para seu vinho,
uma terceira para sua roupa, etc., de modo que a frase indicava grande
liberalidade.
4. venha o rei e Hamã, hoje, ao banquete que eu preparei ao rei
— Havia grande graça neste proceder de Ester, porque, mostrando tanto
respeito ao favorito do rei, ela poderia melhor insinuar-se no afeto real e
ganhar uma melhor oportunidade de fazer conhecer sua petição.
8. venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar
— O rei estava acostumado a comer sozinho, e seus convidados numa
sala contígua; mas estes eram admitidos a sentar-se com ele à hora do
vinho. Como Hamã foi o único convidado com o rei e a rainha, foi
natural que se ensoberbecesse pela honra.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 16
Ester 6

Vv. 1-14. ASSUERO RECOMPENSA A MARDOQUEU POR


UM SERVIÇO ANTERIOR.
1. o rei não pôde dormir; e mandou que lhe trouxessem o livro
dos registros das crônicas (TB) — Nas cortes orientais, há escribas ou
oficiais, cujo dever é o fazer um diário, ou registro, de todos os
acontecimentos dignos de nota. Um livro deste tipo, com abundantes
ilustrações, está cheio de coisas interessantes, e era costume dos reis
orientais de todos os tempos, fazer com que frequentemente lessem
perante eles os anais do reino. Recorre-se a isso, não só como um
passatempo para entreter o aborrecimento de uma hora, mas sim como
fonte de instrução aos monarcas, passando-se em revista os incidentes de
sua própria vida, como também os de seus antepassados. Não havia,
pois, nada estranho em que este monarca persa pedisse o livro diário da
corte. Mas o fato de não poder dormir naquela oportunidade, o fato de
pedir que lessem para ele o livro, e o fato de sua atenção ser dirigida aos
serviços importantes de Mardoqueu, serviços ainda não gratificados,
deixa claramente visível a intervenção imediata da divina providência.
4. Ora, Hamã tinha entrado no pátio exterior da casa do rei —
Isto foi cedo de manhã. O costume invariável dos reis nos países
orientais é tratar seus assuntos pela manhã, antes que o sol esquente, com
frequência ao ar livre, e assim com toda probabilidade tinha vindo Hamã,
em caráter oficial, para atender a seu senhor.
6. ¿Que se fará ao homem a quem o rei deseja honrar? — Ao
conferir sinais de seu favor, os reis da Pérsia não determinam no ato, e
como se fosse por sua própria vontade, o tipo de honra que será
concedida; antes, se dirigem ao cortesão presente em categoria mais
próxima a si, e perguntam o que se fará ao indivíduo que rendeu certo
serviço mencionado; e segundo a resposta recebida, expede-se o decreto.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 17
8. as vestes reais, que o rei costuma usar — Um objeto que foi
usada por um rei ou príncipe, considera-se um obséquio honorífico, e é
entregue com grande cerimônia.
o cavalo em que o rei costuma andar montado — A Pérsia é o
país de cavalos, e o corcel brioso em que cavalgava o rei, tomava, aos
olhos de seus súditos venais, uma espécie de caráter sagrado por aquela
circunstância.
tenha na cabeça a coroa real — Talvez o turbante real, ou pode ser
a tiara, com que, em procissões oficiais, adorna-se a cabeça do cavalo.
9. entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres
príncipes do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar —
Em grandes ocasiões públicas, o corcel real é conduzido pela mão do
súdito mais elevado, pelas principais ruas da cidade, cerimônia que pode
durar várias horas.
11. Hamã tomou as vestes, etc. — Este contratempo, por doloroso
que tivesse sido para Hamã como indivíduo, é particularmente
característico dos costumes persas.
14. chegaram os eunucos do rei e apressadamente levaram
Hamã ao banquete que Ester preparara — Além do convite estendido
para uma função, sempre se envia uma mensagem aos convidados,
imediatamente no dia e na hora combinados, para anunciar que todas as
coisas estão preparadas.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 18
Ester 7

Vv. 1-6. ESTER PEDE POR SUA VIDA E A DE SEU POVO.


4. fomos vendidos, eu e o meu povo, para nos destruírem,
matarem — quer dizer, pelo cruel e pérfido projeto daquele homem,
quem ofereceu uma soma imensa de dinheiro para comprar nosso
extermínio. Ester deu ênfase na atrocidade projetada, e o fez com uma tal
variedade de expressões, que puseram de manifesto a profundidade de
suas próprias emoções, as quais estavam destinadas a despertar
sentimentos semelhantes no peito do rei.
se ainda como servos e como servas nos tivessem vendido, calar-
me-ia — Embora seriam uma grande calamidade para os judeus, a
escravidão daquele povo poderia ter enriquecido o fisco nacional, e, de
qualquer maneira, o projeto, se fosse achado inconveniente, poderia ser
mudado. Mas a destruição de semelhante coletividade de pessoas, seria
um mal irreparável, e todos os talentos que Hamã pudesse dar à
tesouraria do reino, não compensariam a perda dos serviços deles.

Vv. 7-10. O REI FAZ ENFORCAR A HAMÃ NA MESMA


FORCA QUE ELE CONSTRUIU.
7. Hamã … viu que o mal contra ele já estava determinado pelo
rei. — Quando o rei manda que um ofensor seja executado, e logo o rei
se levanta e entra no departamento das mulheres, é sinal de que não é
preciso esperar misericórdia. Até o ato de levantar-se subitamente irado,
era o mesmo como se tivesse pronunciado sentença.
8. Hamã tinha caído sobre o divã em que se achava Ester —
Não sabemos a forma exata dos leitos em que se reclinavam à mesa os
persas; mas é provável que não fossem muito diferentes dos usados pelos
gregos e romanos. Hamã, talvez, primeiro se pôs em pé para rogar
perdão a Ester; mas impelido em seu apuro a tomar uma atitude da
súplica mais ardente, caiu prostrado sobre o leito onde estava inclinada a
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 19
rainha. Voltando o rei naquele instante, sua ira se acendeu pelo que
parecia um ultraje à modéstia feminina.
cobriram o rosto de Hamã — O significado deste ato chamativo é
que um réu é indigno de olhar o rosto do rei, e por isso, quando os
malfeitores são sentenciados à morte na Pérsia, a primeira coisa que
fazem, é cobrir a cara com um véu ou guardanapo.
9. disse Harbona, um dos eunucos que serviam o rei: Eis que
existe junto à casa de Hamã a forca — Este eunuco provavelmente
tinha sido o mensageiro enviado com o convite a Hamã, e naquela
ocasião tinha visto a forca. O relatório que ele agora ofereceu, poderia
ter resultado do horror pela conspiração sanguinária de Hamã como por
simpatia com sua amável rainha, que estava envolta com seu povo em
iminente perigo.
10. Enforcaram, pois, Hamã na forca que ele tinha preparado
— Não foi ele o único urdidor do mal cujos pés tenham sido enredados
na rede que eles mesmos esconderam (Sal_9:15). Mas nunca uma
condenação foi mais justa nem retribuição mais merecida, que a
execução daquele criminoso gigantesco.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 20
Ester 8

Vv. 1-6. MARDOQUEU PROMOVIDO.


1. Naquele mesmo dia, deu o rei Assuero à rainha Ester a casa
de Hamã — A propriedade dele foi confiscada com tudo o que lhe
pertencia, como alguma compensação pelo perigo ao qual ela esteve
exposta.
Mordecai veio perante o rei — quer dizer, foi introduzido na
corte, e nomeado um dos sete conselheiros. Ester manifestou grande
prudência e destreza em reconhecer o parentesco de Mardoqueu com ela,
no momento mais propício para ser de utilidade para ele.
2. Tirou o rei o seu anel … e o deu a Mordecai — Por aquele ato
transferiu a ele todo o poder e a autoridade que o anel simbolizava, e o
promoveu à alta dignidade que antes Hamã tinha ocupado .
Ester pôs a Mordecai por superintendente da casa de Hamã. —
Como seu mordomo ou gerente, para que dirigisse aquela fazenda grande
e opulenta que lhe tinha sido destinada.
3. Falou mais Ester perante o rei e se lhe lançou aos pés —
Naquele momento o rei não estava recostado à mesa, mas sim sentado
num divã, mais provavelmente na atitude dos persas, recostado contra
almofadões, com um pé dobrado sob seu corpo.
e, com lágrimas, lhe implorou que revogasse a maldade de
Hamã — quer dizer, que revogasse o decreto sanguinário que, pela
instigação secreta de Hamã, há pouco se decretou.
4. Estendeu o rei para Ester o cetro de ouro — Em sinal de que
foi aceita sua petição, e de que não tinha ela necessidade de manter mais
a humilde atitude de uma suplicante.
5, 6. escreva-se que se revoguem os decretos concebidos por
Hamã … para aniquilar os judeus — Toda a conduta de Ester neste
assunto está caracterizada pelo grande discernimento, e a grande
variedade de expressões pelas quais ela descreve sua complacente
submissão a seu real marido, a destreza com que ela lança sobre Hamã
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 21
toda a infâmia da matança meditada, e o argumento que tira do fato de
que a autorização do rei foi conseguida fraudulentamente, para que o
decreto fosse imediatamente revogado, tudo indica a sabedoria e
habilidade da rainha, e neste ponto teve ela êxito também.

Vv. 7-14. ASSUERO OUTORGA AOS JUDEUS O DIREITO DE


DEFENDER-SE.
8. Escrevei, pois … em nome do rei, e selai-o com o anel do rei
— Disto é evidente que o anel do rei tivesse um selo, o qual, fixado em
algum documento, autorizava-o com o sinal da aprovação real.
não se podem revogar—Isto se acrescenta como a razão pela qual
não podia satisfazer a petição da rainha de uma mudança ou revogação
das cartas de Hamã, ou seja, que as leis dos medos e persas, uma vez
decretadas, eram irrevogáveis.
10. as cartas foram enviadas por intermédio de correios
montados em ginetes — Sendo muito urgente o assunto se empregaria a
classe mais veloz de camelos, e assim o indica a palavra no original – o
camelo de vento – dromedários jovens se usam para levar despachos,
pois são notáveis pela agilidade e facilidade de seus movimentos.
Animais desta descrição podiam levar o novo rescrito de Assuero por
todo o Império Persa a tempo para relevar aos judeus da interdição sob a
qual estavam.
11-13. o rei concedia aos judeus ... que se reunissem e se
dispusessem para defender a sua vida, para destruir, matar e
aniquilar de vez toda e qualquer força armada, etc. — O caráter fixo
e inalterável invocado para os decretos persas, frequentemente colocava
o rei em algum dilema embaraçoso; porque, por amargamente que lhe
pudessem pesar as coisas feitas em momento de apuro e sem reflexão,
estava além de seu poder o evitar as consequências. Este foi o motivo
pelo qual o rei se achava sob a necessidade de não revogar, mas sim de
expedir um decreto contraditório, segundo o qual foi decretado que, se,
por virtude do primeiro decreto, fossem atacados os judeus, poderiam
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 22
eles, por virtude do segundo decreto, defender-se e até matar a seus
atacantes. Por estranho e até ridículo que possa parecer este modo de
proceder, foi, segundo as particularidades da etiqueta judicial da Pérsia,
o único curso que se podia adotar. Ocorrem casos assim na história
sagrada (Dan_6:14), não menos que na profana. Muitas passagens da
Bíblia testemunham a verdade disto, especialmente o bem conhecido
incidente de que Daniel foi lançado na cova dos leões, de acordo com
um decreto temerário de Dario, embora, como aparece depois, contrário
ao desejo pessoal daquele monarca. Que a lei da Pérsia não
experimentou nenhuma mudança neste particular, e que o poder do
monarca não é menos imutável, aparece em muitas ilustrações relatadas
nos livros de viajantes modernos naquele país.

Vv. 15-17. AS HONRAS DE MARDOQUEU, E A ALEGRIA


DOS JUDEUS.
15. Mordecai saiu … com veste real — Foi investido de khelaat
de honra oficial. Um vestido de azul e branco era tido em grande estima
entre os persas. Então Mardoqueu “aquele a quem o rei deseja honrar”,
foi, com efeito, adornado com o vestido real e com insígnias reais. A
classe e variedade de insígnias usadas por algum favorito, imediatamente
faz as pessoas saberem da dignidade especial a qual foi elevado.
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 23
Ester 9

Vv. 1-19. OS JUDEUS MATAM A SEUS INIMIGOS, ENTRE


ELES OS DEZ FILHOS DE HAMÃ.
1. No dia treze do duodécimo mês — Este foi o dia que os
conselheiros supersticiosos lhe aconselharam a escolher como o mais
afortunado para levar a cabo sua conspiração de extermínio dos judeus
[Et_3:7].
2. Os judeus ... se ajuntaram … e ninguém podia resistir-lhes —
Os papéis agora são trocados, e a favor dos judeus. Embora seus
inimigos tenham feito seu ataque por longo tempo meditado, os judeus
não só tinham liberdade para defender-se, mas por poderosas influências
preparadas a seu favor na corte, junto com a bênção de Deus, foram
vitoriosos.
o terror que inspiravam caiu sobre todos aqueles povos — Veio
esta impressão não só pelo conhecimento de que era compatriota deles o
onipotente vizir, mas também porque aparecia a mão de Deus tão
visivelmente interposta para efetuar seu livramento estranho e
inesperado.
5-16. Os judeus feriram à espada a todos os seus inimigos e os
mataram (TB) — O efeito dos dois decretos antagônicos foi, enquanto
isso, o de suscitar uma guerra sangrenta entre os judeus e seus inimigos
por todo o império persa; mas por temor a Ester e Mardoqueu, os
governadores provinciais universalmente favoreceram a causa dos judeus
de sorte que seus inimigos caíram em grande número.
13. conceda-se aos judeus que se acham em Susã que também
façam, amanhã, segundo o edito de hoje — Escondendo-se habilmente
os inimigos no primeiro dia, poderiam ter voltado no dia seguinte,
quando se imaginariam que estivesse terminado o privilégio concedido
aos judeus, de sorte que o povo teria sido surpreendido e massacrado. A
extensão do decreto para um dia a mais a pedido especial da rainha, a
expôs à acusação de ter sido movimento por uma disposição cruel e
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 24
vingativa. Mas sua conduta ao fazer esta petição é capaz de uma defesa
completa, por motivo (1) de que os filhos de Hamã tendo tomado parte
proeminente em vingar a queda de seu pai, e tendo morrido antes na
refrega, a ordem de que seus cadáveres fossem expostos na forca só tinha
por motivo assinalá-los com infâmia pública por sua malícia e ódio aos
judeus; e (2) como o partido antijudaico tinha sido excitado pelas artes e
a influência de Hamã a atos de opressão rancorosa e dissoluta, o estado
de sentimento existente entre a população nativa necessitava alguma
medida vigorosa e decisiva para evitar o estalo de agressões futuras. As
circunstâncias de os judeus terem matado a oitocentos homens na
vizinhança imediata do juízo (Et_9:6, Et_9:15) é uma prova da energia
ousada e malícia enraizada pelas quais multidões eram movidas contra
os judeus. Uma ordem de extensão, pois, do decreto permissivo aos
judeus para que se defendessem, talvez não teve mais objetivo que o de
dar uma oportunidade para que seus inimigos fossem publicamente
conhecidos; e embora tenha levado a tal espantosa matança de 75.000 de
seus inimigos, há motivo para crer que estes foram principalmente
amalequitas, na queda daqueles que nesta ocasião foram cumpridas as
profecias contra aquela raça condenada (Êx_17:14, Êx_17:16;
Dt_25:19).
19. dia de alegria … e de mandarem porções dos banquetes uns
aos outros — Os príncipes e o povo do Oriente não só convidavam a
seus amigos às festas, mas também costumavam lhes enviar uma porção
do banquete àqueles que não podiam assistir, especialmente a seus
parentes e aos retidos em casa por luto ou doença.

Vv. 20-32. OS DOIS DIAS DO PURIM TRANSFORMADOS EM


DIAS DE FESTA.
20. Mordecai escreveu estas coisas — Os comentadores não estão
de acordo a respeito do que quer dizer “estas coisas”, se se refere às
cartas seguintes, ou ao relato destes acontecimentos maravilhosos que
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 25
deviam ser guardados nas famílias do povo judeu, e transmitidos de
geração em geração.
26. Por isso, àqueles dias chamam Purim, do nome Pur — Pur,
no idioma persa, quer dizer “sorte”, ou “dado”; e a festa de Purim, ou
sortes, tem referência à data que tinha sido fixada por Hamã pela decisão
da sorte. Como consequência do livramento nacional memorável que
lhes concedeu a divina providência das maquinações infames de Hamã,
Mardoqueu mandou aos judeus que comemorassem aquele
acontecimento numa festa anual, que devia durar dois dias, segundo a
guerra de defesa de dois dias que eles tiveram que suportar. Havia uma
pequena diferença no tempo desta festa; porque havendo-se os judeus
defendido nas províncias contra seus inimigos no dia treze, dedicavam o
dia quatorze às festividades; enquanto seus irmãos em Susã, tendo
estendido seu trabalho por dois dias, não observavam sua ação de graças
senão no dia quinze. Mas isto foi remediado pelas autoridades, as quais
fixaram no quatorze e quinze de Adar. Veio a ser ocasião de gratas
lembranças para o povo judeu; e, pelas cartas de Mardoqueu, enviadas
por toda parte do Império Persa, foi estabelecido como festa anual, cuja
celebração ainda se guarda. Nos dias da celebração, os judeus modernos
lêem em suas sinagogas toda a Megillah ou livro de Ester. O exemplar
lido não deve ser impresso, mas sim escrito em pergaminho na forma de
rolo; e os nomes dos dez filhos de Hamã estão escritos nele de uma
maneira peculiar, estando dispostos, conforme dizem, como tantos
cadáveres numa forca. O leitor deve ler todos estes nomes sem respirar.
Sempre que se pronuncia o nome de Hamã, os que assistem à sinagoga
fazem um grande ruído. Alguns batem os pés no solo, e os rapazes têm
martelos com os quais batem para fazer ruído. Eles se preparam para esta
espécie de carnaval mediante um jejum prévio, o qual deveria continuar
por três dias, em imitação do jejum de Ester; mas agora o reduziram
virtualmente a um só dia. (Jennings, Jewish Antiquities).
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Ester 10

Vv. 1-3. A GRANDEZA DE ASSUERO. O AVANÇO DE


MARDOQUEU.
1. Assuero impôs tributo — Como este capítulo é um agregado à
história, e sem motivo separado do capítulo anterior, pode ser que a
ocasião do novo tributo tenha resultado das comemorações suscitadas
pela conspiração de Hamã. Nem a natureza nem a importância do
imposto estão anotados; unicamente que não foi um imposto local, mas
foi levantado em todas as partes do vasto império.
2. relatório completo da grandeza de Mordecai — A experiência
deste judeu piedoso e excelente comprova a declaração de que “aquele
que se humilha será exaltado” [Mt_23:12; Lc_14:11; Lc_18:14]. Desde
sua atitude de sentado contente à porta do rei, foi levantado a dignidade
do súdito mais elevado, o poderoso governante do reino. Como ele agia
de maneira uniforme sobre os grandes princípios de verdade e justiça,
sua grandeza descansava sobre alicerce firme. Professava abertamente
sua fé, e sua influência como um mestre da verdadeira religião foi da
maior utilidade em promover o bem-estar do povo judeu como também
em exaltar a glória de Deus.
3. Mordecai foi o segundo depois do rei … e grande para com os
judeus, etc. — A exaltação deste judeu piedoso e patriótico à posição do
poder oficial mais alto foi de grande importância à igreja sofredora
naquele período; porque o habilitava, quem possuía sempre a disposição,
a dirigir agora a influência e autoridade reais em promover os interesses
e estender os privilégios de seus compatriotas desterrados. Vistas as
coisas sob esta luz, a providência de Deus é claramente traçada em todos
os passos que conduziram a sua inesperada ascensão, e esta interposição
providencial é tanto mais notável, em que, como no caso análogo de
José, foi manifestada em fazer com que o curso natural e ordinário das
coisas conduzisse aos resultados mais maravilhosos. Para usar as
palavras piedosas de um eminente prelado, “embora no todo deste
Ester (Jamieson-Fausset-Brown) 27
episódio não houve nenhuma manifestação extraordinária do poder de
Deus, nenhuma causa ou agente em sua operação foi avançando sobre o
grau ordinário da natureza, entretanto o desígnio e o acomodação destes
agentes ordinários postos por Deus, são em si mais admiráveis do que
teria resultado, se o mesmo fim se efetuasse por meios que fossem
verdadeiramente milagrosos”. O adiantamento repentino de indivíduos
da escuridão e o abandono até os postos mais altos de poder e influência
não é, nas cortes orientais, um acontecimento extraordinário nem
incomum. O capricho, a fraca parcialidade do soberano reinante, ou pode
ser, seu penetrante discernimento em descobrir energia e talento latentes,
frequentemente têm “levantado o pobre do pó, para assentá-lo com os
príncipes”. Alguns dos vizires poderosos na Pérsia moderna, e não
poucos paxás no Egito foram elevados a suas dignidades respectivas
desta maneira. E, portanto, o avanço que “Mordecai foi o segundo depois
do rei” e foi “grande para com os judeus”, estava em completo acordo
com a rápida volta da “roda da fortuna” naquela parte do mundo. Mas,
considerando-se todas as circunstâncias do progresso de Mardoqueu, não
só em ganhar o favor do rei, mas em que fosse “estimado pela multidão
de seus irmãos, tendo procurado o bem-estar do seu povo”, foi fora de
toda controvérsia ato do Senhor, e coisa maravilhosa aos olhos de seu
povo.
estimado pela multidão de seus irmãos — Longe de serem
invejosos por sua grandeza, eles bendiziam a Deus pela elevação ao
poder oficial de homem tão bom.
tendo procurado o bem-estar do seu povo e trabalhado pela
prosperidade de todo o povo da sua raça — Enquanto que era dirigida
sua administração com mão suave e imparcial, ele manifestava um
sentimento caloroso e amigável para com todos os compatriotas, quando
eles buscavam seu conselho ou ajuda.

Original em inglês:
JOB -
The Book of Job
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução
Jó 1 Jó 10 Jó 19 Jó 28 Jó 37
Jó 2 Jó 11 Jó 20 Jó 29 Jó 38
Jó 3 Jó 12 Jó 21 Jó 30 Jó 39
Jó 4 Jó 13 Jó 22 Jó 31 Jó 40
Jó 5 Jó 14 Jó 23 Jó 32 Jó 41
Jó 6 Jó 15 Jó 24 Jó 33 Jó 42
Jó 7 Jó 16 Jó 25 Jó 34
Jó 8 Jó 17 Jó 26 Jó 35
Jó 9 Jó 18 Jó 27 Jó 36
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Jó, uma Pessoa Real. — Há aqueles que supõem que o livro de Jó


é uma alegoria, não uma narração verídica, por causa do caráter artificial
de muitas de seus declarações. Por exemplo, mencionam-se muitas vezes
os números sagrados, três e sete. Jó teve sete mil ovelhas, sete filhos,
tanto antes como depois de suas provas; seus três amigos se sentam com
ele sete dias e sete noites; tanto antes como depois de suas provas, teve
três filhas. Assim também o número e a forma dos discursos dos vários
oradores parecem artificiais. O nome de Jó, também, deriva-se de uma
palavra árabe que significa arrependimento.
Mas Ez_14:14 (cf. vv. 16, 20) fala de "Jó" em conexão com "Noé"
e "Daniel," como pessoas reais. Tg_5:11 também se refere a Jó como
exemplo de "paciência," o que não teria sido provável se Jó fosse apenas
uma pessoa fictícia. Também os nomes de pessoas e lugares se
especificam com uma particularidade que não se espera numa alegoria.
Quanto à duplicação de suas posses depois de sua restauração, sem
dúvida dá-se o número redondo em vez do número preciso, porquanto
este se aproxima daquele: coisa que se faz muitas vezes em livros
indubitavelmente históricos. Quanto ao número e forma predeterminados
dos discursos, parece provável que os argumentos fossem
substancialmente os mesmos que aparecem no livro, mas que lhes foi
dada a forma poética estudada pelo próprio Jó, guiado pelo Espírito
Santo. Ele continuou vivendo cento e quarenta anos depois de suas
provas, e nada teria sido mais natural que ele, em sua oportunidade,
amoldasse numa forma perfeita os argumentos que se usaram em tão
notável debate, para a ilustração da Igreja de todas as idades.
Provavelmente, também, o debate em si compreendeu várias sessões; e
se decidiria por convênio prévio o número de discursos atribuídos a cada
um, e lhe seria concedido o intervalo de um dia ou mais para a
preparação cuidadosa do discurso por turnos. Quanto ao nome Jó —
arrependimento (supondo-se que a derivação seja exata) — era costume
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 3
em tempos antigos pôr nomes a pessoas pelas circunstâncias havidas
num período avançado da vida, e isto não é argumento contra a realidade
da pessoa.
Onde Viveu Jó. — Uz, segundo Gesênio, significa solo arenoso
fino, e estava no norte da Arábia Desértica, entre a Palestina e o
Eufrates, chamada por Ptolomeu (Geografia, 19) Ausitai ou Asistai. Em
Gn_10:23; Gn_22:21; Gn_36:28; 1Cr_1:17, 1Cr_1:42 Uz, é o nome de
um homem; em Jr_25:20; Lm_4:21; e Jó_1:1, é um país. Uz, em
Gn_22:20-21, é dito ser filho de Naor, irmão de Abraão, distinto do neto
de Sem com o mesmo nome (Gn_10:23). A probabilidade é que o país
tomasse seu nome do segundo, pois este foi o filho de Arã, de quem os
arameus tomam o seu nome, os quais habitavam a Mesopotâmia, entre os
rios Eufrates e Tigre. Cf. quanto à região dos filhos de Sem em
Gn_10:30: "a região montanhosa do oriente", o que corresponde a "os
orientais" (Jó_1:3).
Rawlinson, em sua decifração das inscrições assírias, diz que: "Uz é
o nome prevalecente do país que estava na desembocadura do Eufrates."
É provável que Elifaz, o temanita, e os sabeus vivessem em tal região; e
sabemos que os caldeus habitavam ali, e não perto de Idumeia, país que
alguns identificam com o Uz. O "grande vento” que se levantou do lado
do deserto" (Jó_1:19) concorda com a ideia de que era a Arábia
Desértica. Jó era tido (Jó_1:3) como o homem “maior de todos os do
Oriente”; mas a Idumeia está não a leste, mas sim ao sul da Palestina:
portanto em linguagem bíblica a frase não se pode aplicar a Idumeia,
mas sim provavelmente se refere à parte norte da Arábia Desértica, entre
a Palestina, a Idumeia e o Eufrates. Assim que os árabes ainda ensinam
no Houran um lugar chamado Uz como a residência de Jó.
A Época em que Jó Viveu. — Eusébio a fixa duas eras anteriores a
Moisés, ou seja, como do tempo de Isaque: mil e oitocentos anos antes
de Cristo, e seiscentos anos depois do dilúvio.
Em apoio disto estão as seguintes considerações:
1. A longevidade de Jó de 200 anos concorda com a era patriarcal.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 4
2. Não alude senão à forma mais primitiva de idolatria, ou seja, o
culto ao sol, lua, e as hostes celestiais (chamadas Saba, de onde surge o
título de Senhor de Sabaoth em oposição ao sabeísmo) (Jó_31:26-28).
3. O número de touros e bodes sacrificados é de sete, como no caso
de Balaão. Isto não o teria Deus permitido depois de dada a lei mosaica,
mesmo quando Ele poderia graciosamente Se adaptar aos costumes
existentes antes da lei.
4. A linguagem de Jó é o hebraico, misturado ocasionalmente com
expressões siríacas e arábicas, o que sugere uma época em que todas as
tribos semíticas falavam uma língua comum, antes da divisão dos
distintos dialetos, hebraico, siríaco, e arábico.
5. Fala da forma mais antiga de escritura, ou seja, a escultura.
Estima-se a riqueza de alguém em termos do gado. O termo hebraico
vertido uma moeda deveria traduzir-se , antes, um cordeiro.
6. Não há alusão alguma ao êxodo do Egito nem aos milagres
acompanhantes; nem à destruição de Sodoma e Gomorra (Patrick,
entretanto, crê que sim há), embora deve ter um dilúvio (Jó_22:17); e
estes eventos, que aconteceram em lugares próximos de Jó, teriam sido
exemplos surpreendentes do argumento em favor da interposição de
Deus na destruição dos iníquos e na vindicação dos justos, se Jó e seus
amigos tivessem sabido dos mesmos. Não há nenhuma referência não
duvidosa à lei ritual e sacerdócio judaicos.
7. A religião de Jó é aquela que prevalecia entre os patriarcas
previamente à lei; os sacrifícios administrados pela cabeça da família,
sem sacerdócio oficial, templo, nem altar consagrado.
O Autor. — Todos os fatos que acabamos de considerar
concordam com o fato de que o próprio Jó fosse o autor. O estilo do
pensamento, as figuras e os modos, são tais quais esperaríamos na obra
de um emir árabe. Há precisamente aquele grau de conhecimento da
tradição primitiva (veja-se Jó_31:33, quanto a Adão) que estava
divulgada universalmente nos dias de Noé e Abraão, e que
subsequentemente foi incorporada nos primeiros capítulos de Gênesis,
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 5
Jó, em seus discursos, demonstra que ele era muito mais competente para
compor a obra que Eliú, a quem a atribui Lightfoot. O estilo proíbe que
se atribua a Moisés, ao qual alguns atribuem a composição, "enquanto
estava entre os midianitas, como pelo ano 1520 a.C." Mas o fato de que,
sem ser livro judaico, aparece entre os escritos hebraicos, torna provável
que chegasse ao conhecimento de Moisés durante os quarenta anos que
passou em partes da Arábia, principalmente perto de Horebe; e que ele,
sob a direção divina, introduziu-o como escritura sagrada aos israelitas,
aos quais, em seus aflições, a paciência e a restauração de Jó seriam uma
lição de especial utilidade. Que é escrito inspirado aparece no fato de que
Paulo (1Co_3:19) cita Jó_5:13, com a fórmula: "Está escrito". Nosso
Salvador também (Mt_24:28), claramente se refere a Jó_29:30. Cf.
também Tg_4:10 e 1Pe_5:6 com Jó_22:29; e Rm_11:34-35 com
Jó_15:8. É provavelmente o livro mais antigo do mundo. Está entre os
"hagiógrafos" na divisão tríplice da Escritura na Lei, os Profetas e os
Hagiógrafos ("Salmos", Lc_24:44).
O Propósito do Livro. — É um debate público em forma poética
sobre uma questão importante referente ao governo divino; além disso, o
prólogo e o epílogo, que estão em prosa, lançam o interesse da história
viva sobre o debate, o que de outro modo não seria senão uma contenda
de raciocínios abstratos. A cada orador dos três amigos é atribuído três
discursos. Jó, que não tem a ninguém que o apoie, tem a permissão de
responder a cada discurso de cada um dos três. Elifaz, o mais velho, abre
o debate. Zofar, em seu terceiro turno, deixa de responder, dando-se
assim virtualmente por derrotado (Jó_27:1-23). Portanto Jó continua
proferindo os seus três discursos (Jó 26, 27, 28, 29, 30, 31). A Eliú
tocam quatro discursos (Jó 32-37). O Senhor pronuncia três discursos
(Jó 38-41). Assim, através de tudo há uma divisão tripartida: o prólogo, o
poema em si, e o epílogo. O poema, em três: 1. a disputa entre dois e
seus três amigos; 2. o discurso de Eliú; 3. O discurso de Deus. Há três
séries na controvérsia, e na mesma ordem. O epílogo (Jó_42:1-17)
também é tríplice; a justificação de Jó; a reconciliação com seus amigos;
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 6
a restauração. Os oradores também em seus discursos sucessivos
avançam regularmente de menor a maior veemência. Com esta
composição artificial, tudo parece fácil e natural.
A questão a resolver, como está exemplificada em Jó, é esta: Por
que, em consonância com a justiça de Deus, são afligidos os justos? A
doutrina da retribuição depois da morte é, sem dúvida, a maior solução
da dificuldade. E a esta Jó se refere claramente em Jó_14:14 e Jó_19:25.
A isto se objeta, que o explícito da linguagem referente à ressurreição é
inconsequente com a escuridão que havia em relação ao tema nos
primeiros livros do Antigo Testamento; mas se refuta com o fato de que
Jó desfrutava da visão divina (Jó_38:1; Jó_42:5), e portanto, pela
inspiração, predisse estas verdades. Logo, as revelações feitas fora de
Israel, por ser poucas, devem ser bem mais explícitas; assim a profecia
de Balaão (Nm_24:17) foi clara o bastante para dirigir os magos do
Oriente pela estrela (Mateus 2:2); e na era anterior à lei escrita, era tanto
mais necessário que Deus não ficasse sem testemunho da verdade.
Contudo, Jó evidentemente não entendeu plenamente o significado
expresso pelo Espírito nas próprias palavras dele (cf. 1Pe_1:11-12). A
doutrina, embora existisse, não estava claramente revelada, ou ao menos
não entendida. Portanto não se refere primordialmente a esta solução.
Na verdade, até hoje em dia nos falta algo adicional a esta solução. Davi,
que firmemente cria numa futura retribuição (Sl_16:10; Sl_17:15),
sentia, entretanto, que a dificuldade não estava totalmente resolvida, e
assim o expressa (Sl_83:1-18). A solução não estava nos discursos de Jó
nem nos de seus três amigos. Deve estar, pois, no de Eliú. Deus celebrará
um juízo final, sem dúvida, para esclarecer tudo o que pareça obscuro
em seus procedimentos atuais; mas Ele também agora providencial e
moralmente governa o mundo e todos os eventos da vida humana.
Mesmo os comparativamente justos não estão sem pecado que precisa
ser corrigido. A justiça e o amor de Deus administram a correção
totalmente merecida mas misericordiosa. A tribulação é, pois, aos
piedosos misericórdia e justiça disfarçadas. Assim o vê o crente aflito
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 7
quando se arrepende. "Via crucis, via salutis" [O caminho da cruz, o
caminho da libertação]. Embora afligidos, os piedosos são mais felizes
até agora que os ímpios, e quando a aflição obtém sua finalidade, é
tirada pelo Senhor. No Antigo Testamento as consolações são mais
temporárias e externas; no Novo Testamento, mais espirituais; mas não
exclusivamente nem naquele nem neste.
"A prosperidade — diz Bacon — é a bênção do Antigo Testamento;
a adversidade é a do Novo Testamento, que é o sinal do favor mais
especial de Deus. Mas até no Antigo Testamento, se se escutar a harpa
de Davi, ouvem-se tantos cânticos fúnebres como canções de alegria; e a
pena do Espírito Santo trabalhou mais descrevendo as tribulações de Jó
que as felicidades de Salomão. A prosperidade não está sem muitos
temores e desgostos; e a adversidade não está sem consolos e
esperanças".
Esta explicação de Eliú está apoiada pelos discursos de Deus, nos
quais se ensina que Deus deve ser justo (porque ele é Deus), assim como
Eliú tinha demonstrado como Deus pode ser justo, e não obstante os
justos podem ser afligidos. Concorda nisso também Jó, quem não faz
réplica. Deus censura aos três amigos, mas não a Eliú. O curso geral de
Jó fica aprovado; recebe ordem par interceder por seus amigos, e lhe é
restaurado o dobro de sua prosperidade anterior.
A Poesia. — Em todos os países a poesia é a forma de composição
mais primitiva que se pode reter melhor na memória, e no Oriente
especialmente era costume conservar os sentimentos numa forma pura,
proverbial e poética (chamada macha). A poesia hebraica não consiste
em ritmo nem métrica, mas em uma forma única peculiar:
1. Num arranjo alfabético algo parecido ao nosso acróstico, por
exemplo. Lamentações 1.
2. O mesmo verso repetido a intervalos, como nos Salmos 42 e 107.
3. O ritmo de gradação: salmos dos degraus ou graduais: 120-134,
nos quais a expressão do verso se resume e termina no que segue
(Salmo 121.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 8
4. A característica principal da poesia hebraica é o paralelismo, ou
seja, a correspondência da mesma ideia nas cláusulas paralelas. O
mais antigo exemplo dele está na profecia de Enoque (Jd_1:14,
15) e na paródia dela por Lameque (Gén_4:23). Ocorrem três
tipos de paralelismo:
(1) O paralelismo sinônimo, em que o segundo verso repete a
ideia do primeiro, com sem aumento de força (Sl_22:27;
Is_15:1); às vezes com dobro paralelismo (Is_1:15).
(2) O antitético, em que a ideia da segunda cláusula é o oposto da
do primeiro (Pv_10:1).
(3) O sintético, em que há uma correspondência entre diferentes
proposições, de substantivo com substantivo, verbo com
verbo, frase com frase, o sentimento, além disso, sendo não
meramente repetido, nem posto em contraste, mas sim
reforçado com ideias acessórias (Jó_3:3-9).
Também alternado (Is_51:19). "Assolamento e quebrantamento,
fome e espada", quer dizer, o assolamento pela fome, e o
quebrantamento pela espada. O introvertido, em que a quarta
cláusula corresponde à primeira e a terceira à segunda (Mt_7:6).
Assim, o paralelismo oferece com frequência uma chave para a
interpretação. Para maior informação, veja-se Lowth (Introduction
to Isaiah, and Lecture on Hebrew Poetry) e Herder (Spirit of
Hebrew Poetry, translated by Marsh). As formas simples e menos
artificiais preponderam em Jó: sinal de sua data primitiva.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 9
Jó 1

Vv. 1-5. A SANTIDADE DE JÓ, SUA RIQUEZA, etc.


1. Huz — no norte da Arábia Desértica, rumo ao Eufrates; foi nesta
região, e não na de Idumeia, onde viviam os caldeus e sabeus que
roubaram a Jó. Os árabes dividem seu país no norte, chamado sham, ou
seja, “a esquerda”, e o sul, chamado o Iêmen, ou “a direita”: porque eles
davam o rosto rumo ao este, de modo que o norte estava à sua esquerda e
o sul à sua direita. A Arábia Desértica estava no este, a Arábia Pétrea no
oeste, e a Arábia Feliz no sul.
Jó — O nome vem de uma palavra árabe que significa voltar, isso,
a Deus, arrepender-se, referente a seu fim (Eichorn), ou, antes, de um
vocábulo hebraico que significa alguém em quem se deixa ver a
inimizade, grandemente provada. (Gesênius). Muitas vezes se davam
nomes significativos a hebreus, sugeridos por eventos posteriores da vida
(cf. Gn_4:2. Abel: alimentador de ovelhas). Assim o emir de Huz por
consentimento comum foi chamado Jó, por causa de suas provas. A
única outra pessoa assim chamada foi um filho de Issacar (Gn_46:13).
Perfeito (AV) — não de perfeição absoluta, sem falha (cf. Jó_9:20;
Ec_7:20), mas sim a integridade, a sinceridade, a compatibilidade no
tudo, em todas as relações da vida (Gn_6:9; Gn_17:1; Pv_10:9;
Mt_5:48). Foi o temor de Deus que o preservou do mal (Pv_8:13).
3. jumentas — muito apreciadas pelo leite, e não como animal de
montaria (Jz_5:10). Não se mencionam casas nem terras entre os bens do
emir, visto que os nômades vivem em tendas transportáveis, e
principalmente do pastoreio, e o direito aos campos não era um
privilégio dos indivíduos. As “quinhentas juntas de bois”, entretanto, dão
a entender que Jó lavrasse a terra. Também parece que possuía uma casa
no povoado, a este respeito diferia dos demais patriarcas. Os camelos se
chamam os barcos do deserto, de especial valor para as caravanas,
porquanto podiam beber suficiente quantidade de água que lhes era
suficiente para dias, e pastavam de muito poucos abrolhos e espinheiros.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 10
mui numeroso o pessoal ao seu serviço — Gn_26:14. A outra
acepção que o hebreu admite, “lavoura”, não é tão provável.
todos os do Oriente — Denota na Escritura aqueles que viviam a
leste da Palestina, como os povos da Arábia Desértica setentrional
(Jz_6:3; Ez_25:4).
4. cada um por sua vez — quer dizer, em seu aniversário (Jó_3:1).
Sugere o amor e a harmonia reinantes entre os membros da família, em
contraste com a ruína que logo pôs fim a tal cena de felicidade.
Especificam-se as irmãs, visto que estas festas não eram para orgias, o
que teria sido incompatível com a presença de irmãs. Estas eram
convidadas pelos irmãos, embora elas, por sua vez, não davam convites.
5. Decorrido o turno de dias — no fim de todos os aniversários
coletivamente, completado o círculo de banquetes por todas as famílias.
Jó … os santificava — Pela oferta de tantos holocaustos
expiatórios quantos filhos tinha (Lv_1:4). Isto se fazia de amanhã
(Gn_22:3; Lv_6:12). Assim Jesus estava acostumado a fazer suas
devoções de “de madrugada” (Mc_1:35). O holocausto, ou seja, a oferta
queimada, era devotado (lit., fazia-se ascender, com referência à fumaça
que subia ao céu) por todo pai de família, que atuava como sacerdote em
favor de sua família.
blasfemado contra Deus — O mesmo vocábulo hebraico significa
amaldiçoar, e abençoar; Gesênius diz que o sentido original é de
ajoelhar-se, e assim veio a significar dobrar o joelho para invocar ou
uma bênção ou uma maldição. A maldição é uma perversão da bênção,
como todo pecado o é da bondade. O pecado é uma degeneração, não
uma geração. Não é provável, entretanto, que Jó temesse a possibilidade
de que seus filhos amaldiçoassem a Deus. Parece suficiente o sentido de
despedir-se, derivado da costumeira bênção ao separar-se (Gn_47:10).
De modo que Umbreit traduz: “… e terão expulso a Deus de seus
corações”, quer dizer, no meio do êxtase de prazer (Pv_20:1). Este fato
ilustra o “temor de Deus” que tinha Jó (Jó_1:1).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Vv. 6-12. SATANÁS, APRESENTANDO-SE PERANTE DEUS,
ACUSA FALSAMENTE A JÓ.
6. os filhos de Deus — Anjos (Jó_38:7; 1Rs_22:19). Apresentam-
se para dar conta de seu “ministério” em outras partes do universo
(Hb_1:14).
o SENHOR — Heb. Jeová, o auto-existente Deus, fiel a Suas
promessas. Deus diz (Êx_6:3) que ele não era conhecido por este nome
aos patriarcas. Mas, como o nome aparece previamente em Gn_2:7-9,
etc., o que quer dizer que este nome não era conhecido senão até o tempo
da libertação de Israel que foi conhecido peculiar e publicamente no
caráter que representa este nome, ou seja, quem faz as coisas surgirem,
cumprindo as promessas feitas aos antecessores deles. O aparecimento
deste nome, pois, aqui, não é objeção contra a antiguidade do livro de Jó.
Satanás — foi extensamente divulgada a tradição de que ele tinha
sido o agente na tentação de Adão. Portanto dá-se o nome dele aqui sem
comentário. O sentimento com que contempla a Jó é similar àquele com
que olhava a Adão no paraíso: animado por seu êxito no caso de alguém
ainda não caído em pecado, ele está seguro de que a piedade de Jó, quem
pertence à raça caída, não resistirá à prova. Ele próprio havia caído
(Jó_4:19; Jó_15:15; Jd_1:6). É no livro de Jó onde pela vez primeira o
nome de Satanás aparece: no hebraico significa alguém que espreita; um
adversário na corte de justiça (1Cr_21:1; Sl_109:6; Zc_3:1); o acusador
(Ap_12:10). Ele tem do seu lado a lei de Deus por causa do pecado do
homem, e contrária ao homem. Mas Jesus Cristo cumpriu a lei por nós; a
justiça está de novo do lado do homem contra Satanás (Is_42:21); de
modo que Jesus Cristo pode interceder como nosso Advogado contra o
adversário. Diabo é o nome grego: o caluniador, ou acusador. Ele está
sujeito a Deus, quem usa o ministério dele para castigar o homem. No
árabe, Satã aplica-se com frequência à serpente (Gn_3:1). É chamado o
Príncipe deste mundo (Jo_12:31); o deus deste mundo (2Co_4:4); o
Príncipe das potestades do ar (Ef_2:2). Deus aqui o interroga, a fim de
justificar seus próprios caminhos, diante dos anjos.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 12
7. rodear a terra — indo rapidamente daqui para lá. A ideia
original no árabe é a veemência da pressa (Mt_12:43; 1Pe_5:8). Satanás
parece ter tido alguma conexão peculiar com esta terra. Talvez era
anteriormente o governador dela sob Deus. O homem herdou este vice-
reinado (Gn_1:26; Sl_8:6). O homem o perdeu, e Satanás chegou a ser o
Príncipe deste mundo. O Filho do homem (Sl_8:4), o homem
representativo, redime a herança perdida (Ap_11:15). As réplicas de
Satanás são caracteristicamente curtas. Quando aparecem os anjos
perante Deus, Satanás está entre eles, assim como houve um Judas entre
os apóstolos.
8. Observaste — “puseste teu coração”, consideraste atentamente.
Nenhum servo fiel de Deus escapa do olho do Adversário de Deus.
9. Jó debalde teme a Deus? — É uma característica dos filhos de
Satanás mofar-se de alguém e não crer que haja uma piedade
desinteressada. “A recompensa” de Deus para Seu povo não consiste
tanto em Seus dons como o próprio Deus é a recompensa (Gn_15:1).
10. os seus bens se multiplicaram — Lit., estendidos como uma
inundação; os gados de Jó cobriam a face do país.
11. blasfema contra ti na tua face — Em antítese ao louvor de
Deus a Jó (Jó_1:8), “temente a Deus.” As palavras de Satanás são muito
verídicas com relação a muitos. Tirar-lhes a prosperidade é lhes tirar sua
religião (Ml_3:14).
12. está em teu poder — Nenhum poder tem Satanás contra o
homem enquanto Deus não o dá. Deus não quer tocar a Jó com a mão,
mesmo quando Satanás pede que o faça (Jó_1:11, RC - “tua mão”), mas
sim permite que o inimigo o faça.

Vv. 13-22. JÓ, EM AFLIÇÃO, BENDIZ A DEUS.


13. vinho — não especificado no v. 4. A alegria motivada pelo
vinho aqui contrasta tão mais tristemente com o alarme que a
interrompeu.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 13
14. as jumentas pastavam (TB) — Quadro destacado do repouso
rural e a paz; quanto mais horrível, pois, por contraste é o ataque
repentino dos saqueadores árabes.
15. os sabeus — Não aqueles da Arábia Feliz, mas sim os da
Desértica, descendentes de Seba, o neto de Abraão e Quetura (Gn_25:3).
Os árabes beduínos da atualidade se parecem, em costumes roubadores,
a estes sabeus (cf. Gn_16:12).
só eu escapei — astutamente tramado por Satanás. Um em cada
caso escapa (Jó_1:16, 17, 19), para levar a mesma classe de notícia. Isto
foi para esmagar a Jó, sem lhe deixar tempo para recuperar-se da rápida
sucessão de calamidades: “os infortúnios nunca vêm sozinhos.”
16. Fogo de Deus — Hebraísmo, que significa um fogo forte: como
cedros de Deus, cedros muito altos. Não o relâmpago, que não teria
consumido todas as ovelhas e os moços. Umbreit entende que era o vento
abrasador da Arábia, chamado pelos turcos “vento de veneno”. É dada
permissão ao “príncipe das potestades do ar” de dirigir tais agências
destrutivas.
17. Os caldeus — Não meramente roubadores como os sabeus, mas
sim guerreiros experimentados, como se entende porquanto formaram
“três esquadrões” (Hab_1:6-8). Rawlinson distingue três períodos dos
caldeus: (1) Quando o assento de seu Império estava no sul, na
confluência do Tigre e Eufrates. Foi este período caldaico do ano 2300
a.C. até o 1500 a.C. Neste período esteve Quedorlaomer (Gn_14:1), o
Kudur de Ur dos caldeus, nas inscrições assírias, e o conquistador da
Síria. (2) de 1500 a.C. a 625 a.C. o período assírio. (3) De 625 a.C. a
538 a.C. (quando Ciro o persa tomou a Babilônia) o período babilônico.
Os caldeus no hebraico Chasdim. Eram parentes, talvez, dos hebreus,
como a morada de Abraão em Ur e o nome de seu sobrinho, Quésede. Os
três esquadrões foram provavelmente para atacar os três milhares
separados de camelos de Jó (v. 3).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 14
19. grande vento do lado do deserto — do sul da casa de Jó. O
furacão se movia tanto mais violentamente sobre o deserto, por não ser
ali interrompido (Is_21:1; Os_13:15).
os jovens (RC) — e as moças, porquanto se incluía as filhas (assim
em Rt_2:21).
20. Jó se levantou — Não precisamente de estar sentado, mas sim
se refere à perturbação interna, e no começo de tomar alguma ação.
Tinha escutado com calma os outros mensageiros, mas ao saber da morte
de seus filhos, então se levantou: ou como Eichorn traduz, começou a
mover-se (2Sm_13:31). Rasgar o manto era sinal convencional de
profunda dor (Gn_37:34). Os orientais levam uma túnica, ou camisa, e
calças largas; e sobre estes um manto ondeante (especialmente os
homens de categoria e as mulheres). Rapar a cabeça era também comum
no luto (Jr_41:5; Mq_1:16).
21. Nu — (1Tm_6:7.) “Ventre da mãe” é poeticamente a terra, a
mãe universal (Ec_5:15; Ec_12:7; Sl_139:15). Jó aqui põe por obra a
declaração de Deus (v. 8), em oposição a de Satanás (v. 11). Em vez de
amaldiçoá-lo, abençoa o nome de Jeová (Hebreu). O nome do Senhor é
mesmo Jeová, como se manifesta a nós em Seus atributos (Is_9:6).
22. nem atribuiu a Deus falta alguma — antes, não se permitiu
cometer loucura contra Deus. (Umbreit.) Jó_2:10 prova que tal é o
sentido aqui. Não como a expressão marginal inglesa: não atribuiu
loucura a Deus. Palavras precipitadas contra Deus, embora naturais na
amargura, são insensatez; lit., coisa insípida, sem sabor (Jó_6:6;
Jr_23:13 margem.) A insensatez (“despropósito”) na Escritura é sempre
equivalente a iniquidade. Porque quando o homem peca, é a si mesmo,
não a Deus, a quem prejudica (Pv_8:36). Devemos nos submeter às
provas, não porque vejamos a razão delas, nem como se fossem assuntos
da casualidade, mas sim porque Deus as determina ou as permite, e tem
o direito de as enviar, e tem ele suas próprias boas razões para nos
enviar isso
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 15
Jó 2

Vv. 1-8. SATANÁS PROVA A JÓ DE NOVO.


1. Num dia — Dia assinalado para que nele os anjos dessem conta
de seu ministério a Deus. Aqui temos as palavras “vieram apresentar-se
perante o SENHOR,” que não estão em Jó_1:6, pois agora Satanás já tem
um relatório especial que apresentar com relação a Jó.
3. integridade — lit., perfeição; daí, “perfeito,” outra forma da
mesma palavra hebraica (Jó_11:7).
me incitasses contra ele — Assim 1Sm_26:19; cf. 1Cr_21:1 com
2Sm_24:1.
4. Pele por pele — Um provérbio. Acrescente-se: ele dará. A pele
é figurativo de qualquer bem externo. Nada externo é tão caro que o
homem não o mude por algum outro bem exterior; mas a vida, o bem
interno, não pode ser substituída; por amor a ela o homem sacrificaria
qualquer outra coisa. Satanás escarnece amargamente do egoísmo do
homem, e diz: Jó levará a perda de seus bens, e de seus filhos, porque
estes não são senão bens externos e substituíveis; mas tudo abandonará,
até sua própria religião, a fim de salvar a vida, se Tu lhe tocares os ossos
e a carne. Pele e carne estão em antítese. (Umbreit.) Os mártires
comprovam que o escárnio de Satanás é falso. Rosenmuller o explica
não tão bem. Um homem entrega de vontade a pele ou seja a vida de
outro por sua própria pele ou seja sua própria vida. De modo que Jó
poderia suportar a perda de seus filhos, etc., com equanimidade, sempre
que ele mesmo ficasse imune; mas quando for tocado em sua própria
pessoa, até renunciará a Deus. Assim “pele” em primeiro caso significa a
pele (isso, corpo) de outro; em segundo caso, “pele” de si mesmo, como
em Êx_21:28.
6. poupa-lhe a vida — antes, só lhe perdoe a vida. Não o mate.
Satanás demonstra sua ingenuidade ao infligir a dor, e também seu
conhecimento de quanto o corpo de alguém pode suportar sem prejuízo
vital.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 16
7. tumores malignos — Furúnculos malignos; antes, chaga ou
úlcera ardente. O uso da telha [v. 8] concorda com esta ideia. Era aquela
forma da lepra chamada negra (para distingui-la da branca), ou a
elefantíase, porque os pés se incham como as patas de elefante. O
arábico judham (Dt_28:35), a maligna pústula, é, antes, o negro
furúnculo ardente (Is_1:6).
8. um caco — Não um pedaço de laje quebrada, mas sim um
instrumento feito para rasgar (da raiz do verbo hebraico rasgar); a úlcera
era muito repugnante para tocar com a mão. “Sentar-se em cinzas”
significa o luto mais profundo (Jon_3:6); também da humildade, como se
aquele que estava de luto não fosse senão pó e cinza; assim Abraão
(Gn_18:27).

Vv. 9-13. JÓ CENSURA A SUA MULHER.


9. Amaldiçoa a Deus — antes, “renuncia a Deus”. (Veja-se
Jó_1:5). (Umbreit.) Entretanto, era costume entre os pagãos, quando
ficavam desiludidos das petições que acompanhavam a suas ofertas a
seus deuses, reprová-los e amaldiçoá-los.
e morre — isso é, se despeça de Deus, e assim morra. Porque
nenhum bem deve-se obter da religião, nem para cá nem para além; ou
quando menos, não nesta vida. (Gill.) Nada leva os ímpios a se irarem
tanto como ver os piedosos não zangados sob a prova.
10. mulher tola (TB) — O pecado e a insensatez estão na mesma
categoria na Escritura (1Sm_25:25; 2Sm_13:13; Sl_14:1).
não receberíamos também o mal? — suportando-o com
conformidade (Lm_3:39).
11. Elifaz, o temanita — Não se pode aceitar a noção de
Rawlinson de que os nomes dos três amigos de Jó representam os
tempos caldaicos, a isso de 700 a.C.”. Elifaz é um nome idumeu, do filho
mais velho de Esaú (Gn_36:4); e Temã, filho do Elifaz (Gn_36:15),
chamado “duque”. Eusébio situa a Temã na Arábia Pétrea (mas veja-se
Jó_6:19). Temã significa à mão direita, e portanto, o sul, ou seja: parte
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 17
de Idumeia; capital de Edom (Am_1:12). Os geógrafos hebreus davam a
frente rumo ao este, não a norte como nós fazemos; portanto para eles a
mão direita era o sul. Os temanitas eram famosos pela sabedoria
(Jr_49:7). Baruque os menciona como “autores de fábulas (quer dizer,
provérbios que resultavam da observação), e esquadrinhadores dos
conhecimentos”.
Bildade, o suíta — Sua (uma fossa), filho de Abraão e Quetura
(Gn_25:2). Ptolomeu menciona a região da Syccea, na Arábia Desértica,
a leste da Batanea.
Zofar, o naamatita — Não dos de Naamá de Judá (Jos_15:41), que
distava muito, mas sim alguma região da Arábia Desértica. Fretelio diz
que havia uma Naamã em Uz.
12. lançava pó ao ar — Violentamente arrojaram cinzas para cima
que lhes caíssem sobre seus cabeças e as cobrissem. Sinal de profunda
dor (Jos_7:6; At_22:23).
13. sete dias e sete noites — Não ficaram prostrados e sem
alimento o tempo todo, mas pela maior parte deste período cada dia e
cada noite. O sentar-se na terra era sinal de luto (Lm_2:10). Usualmente
o luto durava sete dias (Gn_50:10; 1Sm_31:13). Este silêncio pode ser
que se devesse a suspeita de maldade em Jó que lhes nascia na mente:
mas principalmente porque são somente as dores comuns os que acham
expressão na linguagem; os extraordinários são muito grandes para a
fala: são inexprimíveis.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 18
Jó 3

Vv. 1-19. JÓ AMALDIÇOA O DIA DO SEU NASCIMENTO, E


DESEJA A MORTE.
1. passou Jó a falar. — Os orientais raramente falam, e quando
falam, o fazem de maneira sentenciosa. Isto é o que motiva a fórmula,
que expressa deliberação e seriedade (Sl_78:2). Jó começou
formalmente.
amaldiçoou o seu dia (TB) — o dia de seu nascimento, não a Deus.
Esta é a palavra hebraica exata por amaldiçoar, distinta da de Jó_1:5.
2. Disse. — Heb. “respondeu”, quer dizer, não a uma pergunta
anterior com efeito, mas sim à questão em volta virtualmente no caso.
Sua exclamação é singularmente temerária (Jr_20:14). O desejo de
morrer a fim de livrar-se do pecado é sinal de graça; o desejo de morrer
para estar livre das lutas é sinal de corrupção. Aquele está mal preparado
para morrer que tão pouca vontade tem de viver. Mas as provas de Jó
eram maiores e suas luzes menores que as nossas.
3. a noite em que se disse — Noite está personificada, e
poeticamente é levada a falar. Assim é no v. 7, e no Sl_19:2. O
nascimento de um filho varão no oriente é sempre ocasião de alegria;
não assim muitas vezes com o nascimento de uma mulher.
4. Deus ... não tenha cuidado dele — antes, poeticamente, “não o
rebusque”; “não se condescenda Deus de seu brilhante trono para
levantá-lo do lúgubre esconderijo”. A maldição do dia do v. 3 está
ampliada-nos vv. 3, 4; a maldição da noite nos vv. 6-10.
5. sombra de morte — as trevas mais profundas (Is_9:2).
espante-o — “Manchem-no”: tal é o sentido posterior do verbo
(Gesênius); melhor é a ideia antiga e mais poética: “Que a escuridão (a
antiga noite de lôbrego caos) reassuma seu direito sobre a luz (Gn_1:2) e
a reclame como sua”.
nuvens — nuvem no sentido coletivo, uma acumulação
ameaçadora de nuvens negras.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 19
tudo o que pode enegrecer o dia — lit., os obscurecimentos do
dia, tudo que o obscurece (Gesênius.) O verbo no hebraico expressa
terror repentino. Que aquele dia seja repentinamente aterrorizado por sua
própria escuridão. Umbreit o explica como encantamentos mágicos que
obscurecem o dia, como culminação das frases anteriores: o v. 8
similarmente fala de maldições do dia. Mas a ideia anterior é mais
singela. Outros a referem ao venenoso vento simum.
6. Aquela noite, que dela se apoderem densas trevas — que a
agarre qual presa, desfazendo-a totalmente.
não entre na conta, etc. — Melhor, por personificação poética:
“Que não se desfrute no ciclo de dias e noites e meses, que formam o
ciclo dos anos”.
7. estéril — antes, infrutífera. “Tomara que não me tivesse dado
nascimento ”.
8. aqueles que sabem amaldiçoar o dia — Se pranto for a
tradução exata na segunda cláusula deste versículo, estas palavras se
referem aos chorões com salário (Jr_9:17). Mas o hebraico que aqui se
traduz por pranto em todos os outros lugares significa um animal, quer
seja o crocodilo, ou alguma serpente enorme (Is_27:1), segundo o
sentido de leviatã. Portanto, a expressão, amaldiçoadores do dia, tem
referência aos encantados, que, segundo se acreditava, podiam mediante
seus encantos fazer com que um dia fosse de mau presságio para alguém.
Assim Balaão, Nm_22:5. Isto concorda com o parecer de Umbreit (v. 7);
e com os etíopes e os atlantes, que “estavam acostumados a amaldiçoar o
sol ao sair, por tê-los queimado e a sua terra.” (Heródoto). Os
necromantes pretendiam ter o poder de dirigir ou incitar à vontade as
feras, assim como os hindus encantadores de serpentes de hoje em dia
(Sl_58:5). Jó não diz que tinham tal poder; mas sim, supondo que o
tivessem, que amaldiçoassem o dia. Schuttens o traduz suprindo palavras
como seguem: “Os que estejam dispostos para qualquer coisa que o
chamem (por dia) o levantador do leviatã” (crocodilo, Sl_41:1), quer
dizer, de uma multidão de maus.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 20
9. as pálpebras dos olhos da alva — a alvorada. Os poetas árabes
chamavam o sol o olho do dia. Seus primeiros raios, pois, que
fulguravam antes de sair o sol, eram as pálpebras ou pestanas da manhã.
12. me receberam os joelhos (RC) — A referência é feita ao
reconhecimento solene do recém-nascido pelo pai, que o recebia sobre os
joelhos como dele, ao qual estava obrigado a criar (Gn_30:3; Gn_50:23;
Is_66:12).
13. repousaria tranquilo; dormiria, e, então, haveria para mim
descanso — Uma gradação. Não só houvesse eu jazido, mas também
descansado, e ainda mais dormido. A morte na Escritura chama-se sono
(Sl_13:3); especialmente no Novo Testamento, onde está mais
claramente ensinado o despertar na ressurreição (1Co_15:51; 1Ts_4:14;
1Ts_5:10).
14. com os reis ... que para si edificaram mausoléus — que
edificaram para si o que resultou ser (não palácios, mas sim) ruínas! O
dolorido espírito de Jó, uma vez um grande emir ele mesmo, doente por
causa das vãs lutas dos grandes homens mortais, por obter as grandezas,
agora contempla os palácios dos reis já feitos montões de desolações e
ruínas. O fato de ele considerar o repousar da morte o fim mais desejável
dos grandes da terra, cansados de amontoar as riquezas perecíveis,
assinala a ironia que aparece dentre as negras nuvens da melancolia
(Umbreit). O “para si” demonstra o egoísmo deles. Michaelis o explica
fracamente como de mausoléus, tais como se acham ainda, em
proporções estupendas, nas ruínas de Petra de Idumeia.
15. encheram de prata as suas casas — Alguns entendem isto
como dos tesouros que os antigos estavam acostumados a enterrar com
seus mortos. Mas veja-se o versículo anterior.
16. como aborto — (Sl_58:8). É preferível à vida do inquieto avaro
(Ec_6:3-5).
17. os ímpios (TB) — O original significa: os sempre inquietos, os
cheios de desejos (Is_57:20-21).
repousam os cansados — Aqueles com forças cansadas (Ap_14:13).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 21
18. os presos juntamente repousam — Descansam de suas
cadeias.
19. o servo — O escravo ali fica emancipado da servidão.

Vv. 20-26. QUEIXA-SE DA VIDA POR CAUSA DE SUA


ANGÚSTIA.
20. Por que se concede luz ao miserável? — ou seja, Deus a
concede. Com frequência omitido por reverência (Jó_24:23; Ec_9:9).
Luz: isto é, vida. A luz prazerosa mal enquadra com os enlutados. A
tumba está mais ao uníssono com os sentimentos dele.
23. cujo caminho é oculto — Este quadro de Jó se tira do andante
que perdeu o caminho, e que está rodeado de tal forma que não tem por
onde escapar (Os_2:6; Lm_3:7, 9).
24. em vez do meu pão me vêm gemidos — Isto é, me impede de
comer. (Umbreit). Ou, consciente de que o esforço para comer trouxe a
doença, Jó deve suspirar antes de comer. (Rosenmuller.) Ou, o suspirar
deslocou ao bem (Sl_42:3). (Good.) Mas a primeira explicação concorda
melhor com o texto.
os meus lamentos se derramam como água — Figura do som
ruidoso de muita água corrente.
25. Aquilo que temo, etc. — No princípio de suas provas, ao saber
da perda de uma bênção, temeu a perda de outra, e ao receber a notícia
da perda desta, temeu a perda de uma terceira.
o que receio me acontece — ou seja, a má opinião de seus amigos,
como se por causa de suas provas ele fosse um hipócrita.
26. Não tenho descanso … e já me vem grande perturbação —
Referindo-se, não a sua condição anterior, mas sim ao começo de seus
pesares. Desde aquele tempo, não tenho repouso, não há intermissão de
tristezas. E já me veio (sem o adversativo não obstante) ainda outra
perturbação, ou seja, a suspeita de meus amigos de que eu seja hipócrita.
Isto é o que motivou toda a controvérsia que se segue.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 22
Jó 4

Vv. 1-21. O PRIMEIRO DISCURSO DE ELIFAZ.


1. Elifaz — O mais brando dos três acusadores de Jó. A magnitude
das calamidades de Jó, suas queixas contra Deus, e a opinião de que as
calamidades são provas de culpabilidade, levaram os três a duvidar da
integridade de Jó.
2. Se intentar alguém falar-te — antes, são duas perguntas: “Nos
permite provar uma palavra contigo? Ofender-te-ás com isso?” Até os
amigos piedosos muitas vezes têm só por um toque o que nós sentimos
como ferida.
3. mãos fracas — Is_35:3; 2Sm_4:1.
5. tu te enfadas — antes, sai de suas casinhas, perde o aprumo
(1Ts_3:3).
6. não é o teu temor de Deus aquilo em que confias …? — Vem
ao seu temor, sua confiança, etc.? Não vem só a isto, que agora desmaia?
Antes, por transposição, “Não é o seu temor (de Deus), sua esperança, e
a perfeição de seus caminhos, sua confiança? Se for assim, pensa você,
“quem jamais pereceu inocente?” [Umbreit]. Mas Lc_13:2-3 ensina que,
embora haja um governo divino retributivo até nesta vida, entretanto nós
não podemos julgar pelas meras aparências externas. “O mesmo sucede
ao justo e ao ímpio” (Ec_9:2); mas, contudo, devemos aceitar com
confiança o que Deus age com justiça até agora (Sl_37:25; Is_33:16).
Não julguem por uma parte, mas pelo todo da vida do piedoso, e pelo
fim dele, até aqui (Tg_5:11). Um mesmo evento externo é uma coisa
totalmente diferente em seus efeitos internos sobre os piedosos e os
ímpios até aqui. Mesmo a prosperidade, quanto mais a calamidade, é um
castigo para os ímpios (Pv_1:32). As provas são castigos para o bem
deles (dos justos) (Sl_119:67, 71, 75). Veja-se a Introdução sobre o
Propósito deste livro.
8. os que lavram a iniquidade … isso mesmo eles segam —
(Pv_22:8; Os_8:7; Os_10:13; Gl_6:7-8).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 23
9. assopro de Deus (TB) — Sua ira. Figura sugerida pelos ventos
quentes do oriente (Gl_1:16; Is_5:25; Sl_18:8, 15).
10-11. leão — ou seja, os iníquos, sobre os quais Elifaz desejava
mostrar que caem as calamidades apesar de seus vários recursos, assim
como a destruição alcança o leão, apesar de sua notável força (Sl_58:6;
2Tm_4:17). Ocorrem cinco termos hebraicos distintos para leão. O
bramido do leão (o dilacerador), a voz do leão que ruge, os dentes dos
leãozinhos, não cachorrinhos, mas suficientemente crescidos para caçar
a presa. O leão velho (não forte, da Versão Inglesa), os filhos da leoa
(não do leão). (Barnes e Umbreit). As várias fases da iniquidade se
expressam por esta variedade de termos: obliquamente, Jó, sua esposa e
filhos podem ser o sugerido por leão, leoa, e os cachorrinhos. O verbo,
são quebrantados, não concorda com os dois sujeitos; portanto, supra-se:
“o bramido é fazer calado”. O leão velho morre no fim de fome, e os
cachorrinhos, arrancados à mãe, são espalhados, e a raça fica extinta.
12. Uma palavra — Heb. uma palavra. Elifaz confirma sua
opinião com uma declaração divina que foi repartida secretamente e de
improviso.
um sussurro dela — lit., um murmúrio. Sugere o silêncio que
rodeava, e que foi comunicado mais do que as palavras pronunciadas
poderiam expressar (Jó_26:14; 2Co_12:4).
13. Entre pensamentos de visões — “Em pensamentos …” [Assim
Winer]. Enquanto revolvia as visões que lhe foram feitas previamente de
noite (Dn_2:29). Antes, “Em meus múltiplos (heb. divididos)
pensamentos, antes de começar as visões da noite”; então, não um sonho
ilusório (Sl_4:4). (Umbreit).
profundo sono (RV89) — (Gn_2:21; Gn_15:12).
16. um vulto estava diante dos meus olhos — Primeiro a aparição
se desliza perante Elifaz, logo fica imóvel, mas com aquela confusão
nebulosa que cria tal impressão de espanto; um suave murmúrio; não um
silêncio (da Versão Inglesa); porque em 1Rs_19:12, a voz, em contraste
com a tormenta prévia, denota um murmúrio calmo ou aprazível.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 24
17. mortal … homem — São usadas duas palavras hebraicas para
homem; a primeira denota fraqueza, a segunda, força. Quer seja fraco,
ou forte, o homem não é justo diante de Deus.
justo … puro — Mas isto seria evidente sem um oráculo.
18. imperfeições — A imperfeição deve ser atribuída aos anjos em
comparação com Deus. A santidade de alguns deles se desvaneceu
(2Pe_2:4), e o melhor deles é a santidade de criatura. Imperfeição é a
falta no sentido de consideração moral (Umbreit).
19. casas de barro — (2Co_5:1). São comuns no oriente as casas
de tijolo cru; facilmente se desabam pelo efeito da água (Mt_7:27). O
fundamento do homem é este pó (Gn_3:19).
como a traça —antes, como pela traça, que está habituada a
devorar a roupa (Jó_13:28; Sl_39:11; Is_50:9). O homem, que do ponto
de vista físico, não pode estar de pé diante da traça, menos poderá
moralmente, estar de pé diante de Deus.
20. de manhã e à tarde — Sem cessar; ou melhor, entre a manhã e
a tarde de um curto dia (assim Êx_18:14; Is_38:12).
perecem — melhor, “se perdem”, se Deus lhe retirasse sua benigna
proteção. Portanto o homem não deve crer-se santo diante de Deus, mas
sim deve receber a santidade e tudo o mais de Deus (v. 17).
21. Sua excelência (AV) — (Sl_39:11; Sl_146:4; 1Co_13:8). Mas
Umbreit comparando à figura oriental de um arco, inútil, por estar sem
corda, “Seu nervo ou corda (deles) seria arrancado”. Michaelis, mais de
acordo com o v. 19, faz com que a alusão seja às cordas do tabernáculo,
que são arrancadas (Is_33:20).
morrem e não atingem a sabedoria — antes, “Pereceriam, mas
não de conformidade com a sabedoria”, mas sim segundo a eleição
arbitrária, se Deus não fosse imensamente sábio e santo. O ofício do
espírito é ensinar que a existência continuada do fraco homem prova a
inconcebível sabedoria e a santidade de Deus, as quais só salvam o
homem da ruína. (Umbreit.) Bengel ensina pela Escritura que a
santidade (kadosh, no hebraico) de Deus compreende todas as Suas
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 25
excelências e Seus atributos. De Wette perde o objetivo, ao lhe dar a
explicação da brevidade da vida do homem, em contraste com os anjos
“antes que eles alcançassem a sabedoria”.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Jó 5

Vv. 1-27. A CONCLUSÃO QUE ELIFAZ TIRA DA VISÃO.


1. Haverá alguém que te atenda? — antes, “Responderá ele
(Deus) a ti?” Jó, depois da revelação que se acaba de dar, não pode ser
tão presunçoso para pensar que Deus ou algum dos santos (Dn_4:17,
anjos) ao redor de seu trono lhe deva conceder uma resposta (expressão
judicial) a sua rebelde queixa.
2. ira … zelo — Queixas irritantes e apaixonadas como aquelas das
quais Elifaz acusa a Jó (Jó_4:5; assim Pv_14:30). Não, a ira de Deus
mata ou tolo, e Seu zelo, etc.
3. o louco — O ímpio, ao pecador vi estender suas raízes em
grande prosperidade; entretanto, de repente ocorreram circunstâncias que
deram ocasião para que sua morada uma vez próspera fosse amaldiçoada
como assolada (Sl_37:35-36; Jr_17:8).
4. Seus filhos ... espezinhados às portas — Fórmula judicial. A
porta da cidade era o tribunal de justiça, e sede de outros atos públicos
(Sl_127:5; Pv_22:22; Gn_23:10; Dt_21:19). Tais propileus se
encontraram entre as ruínas assírias. Elifaz alude indiretamente à
calamidade que fez desaparecerem os filhos de Jó.
5. do meio dos espinhos — Mesmo quando uma parte do grão
fique pendurada dos espinheiros (ou, cresça entre espinhos, Mt_13:7), o
faminto segador não se toma o trabalho de agarrá-lo, pois o campo do
ímpio está completamente arrasado.
os roubadores (AV) — Como os sabeus, que roubaram a Jó. Antes,
traduza-se sedentos como comprova a antítese com os famintos do
paralelismo.
6. Porque — antes, “certamente” (Umbreit).
a aflição não vem do pó — Como a má erva, de sua própria
natureza. Elifaz insinua que a causa da aflição estava no próprio Jó.
7. Mas — antes, Certamente a aflição não vem pela casualidade,
mas sim como o que Deus assinalou como pagamento do pecado; quer
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 27
dizer, do pecado original com que o homem nasce. Elifaz passa do
pecado particular e o conseguinte sofrimento de Jó, ao pecado universal
e as aflições da humanidade. Estas surgem do pecado comum do homem
por uma lei de consequências naturais tão necessárias quanto as
centelhas (heb. filhos de carvão, faíscas) levantam-se para voar. As
tribulações são muitas e fogosas, como as faíscas (1Pe_4:12; Is_43:2).
Umbreit, para centelhas tem aves de rapina; lit., filhos do relâmpago,
não muito acertado.
8. Porém (TB) — Melhor, “portanto” (porquanto a aflição está por
Deus ordenada por causa do pecado) eu gostaria que você buscasse a
Deus (Is_8:19; Am_5:8; Jr_5:24).
11. Una-se com o v. 9. Seus inescrutáveis procedimentos fazem-se
com o fim de levantar os humildes e rebaixar os soberbos (Lc_1:52).
Portanto Jó deveria voltar-se humildemente a Deus.
12. as suas mãos não possam realizar — lit., realização. O
hebraico combina numa palavra as duas ideias, sabedoria e felicidade, a
existência duradoura sendo a raiz etimológica e filosófica da noção
combinada. (Umbreit).
13. Paulo (1Co_3:19) cita esta cláusula, com a fórmula que
estabelece a inspiração da mesma, está escrito. Cita as precisas palavras
hebraicas, não a versão grega da LXX como está acostumado a fazer
(Sl_9:15). Hamã foi enforcado na mesma forca que tinha preparado para
Mardoqueu (Et_5:14; 7:10).
os sábios — os ardilosos.
astúcia — Seu complô fica precipitado antes de maturar-se.
14. A cegueira judicial com frequência alcança os mundanos
(Dt_28:29; Is_59:10; Jo_9:39).
15. Da espada que sai da boca deles (Sl_59:7; Sl_57:4).
16. há esperança para o pobre — da interposição de Deus.
a iniquidade tapa a sua própria boca — (Sl_107:42; Mq_7:9-10;
Is_52:15). Especialmente, de vergonha, no último dia (Jd_1:15;
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 28
Mt_22:12). A boca foi a ofensora (vv. 15), e a boca será então tapada
(Is_25:8) mo final.
17. Bem-aventurado — Não que seu padecimento seja com efeito
prazeroso, mas sim a consideração da justiça de quem o envia, e a
finalidade da correção enviada, fazem dele motivo de gratidão, não de
queixas, tais como Jó pronunciava (Hb_12:11). Elifaz insinua que a
finalidade neste caso é para voltar a Jó do pecado particular que Elifaz
pressupõe que Jó cometeu. Paulo parece aludir a esta passagem em
Hb_12:5; deste modo Tg_1:12; Pv_3:12. Elifaz não dá a devida
importância a esta verdade, mas sim, ao pecado de Jó. É Eliú sozinho
(Jó_32:1—37:37), quem desenvolve plenamente a verdade de que a
aflição é misericórdia e justiça em disfarce, para o bem daquele que a
padece.
18. ele faz a ferida e ele mesmo a ata — (Dt_32:39; Os_6:1;
1Sm_2:6). A figura de enfaixar uma ferida. A arte de curar naquele então
consistia muito em aplicações externas.
19. De seis … e na sétima — (Pv_6:16; Am_1:3). O modismo
hebraico fixa certo número (aqui o seis), a fim de chamar a atenção a
uma coisa de importância; logo aumenta a força acrescentando um na
sétima, o outro número maior que segue; aqui sete, o número sagrado e
perfeito. Em todas as tribulações possíveis; não limitadas meramente ao
número sete.
20. de mão de ferro te desatará (Versão Jünemann) — (Jr_5:12).
Dão-se mãos à espada personificada (Ez_35:5 margem), como agente
vivente.
21. (Sl_31:20; Jr_18:18).
açoite — (Sl_73:9.)
22. da fome te rirás — Não “apesar da destruição e fome”, o que é
verdade (Hab_3:17-18), mas não a verdade que Elifaz queria dizer; mas
sim [devia rir] porque estas calamidades não lhe sobreviriam. Uma
palavra hebraica distinta da de Jó_5:20; ali, a fome em geral; aqui, a
frouxidão dos que carecem da devida nutrição (Barnes.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 29
23. com as pedras do campo terás a tua aliança — Não
prejudicarão a fertilidade de sua terra; nem os animais danificarão seus
frutos. Isto é dito na Arábia Desértica, onde abundavam as pedras.
Arábia, derivada de Arabá — planície desértica. A primeira cláusula
deste versículo corresponde à primeira cláusula do v. 22; e a última deste
versículo corresponde à última daquele. O pleno cumprimento disto é
ainda futuro (Is_65:23, Is_65:25; Os_2:18).
24. Saberás — “Descansarás na segurança de que tua habitação é a
morada da paz; e que (se) conta teu gado, tuas esperanças não resultarão
falazes.” (Umbreit.) Pecará não concorda com o contexto. A palavra
hebraica é por falhar o alvo, como de arqueiros (Jz_20:16, “não
erravam”). O hebraico para morada significa em primeira acepção redil;
e para visitar [RC; “percorrerás” na RA]], com frequência tomar conta,
enumerar. “Paz” é a comum saudação oriental; que incluía a
prosperidade interna e externa.
25. como a erva — (Sl_72:16.) Corretamente, erva que produz
semente (Gn_1:11-12).
26. Em boa velhice (TB) — em idade plena: assim cheio de dias
(Jó_42:17; Gn_35:29). Não mero comprimento de anos, mas sim a
maturidade para a morte é o que se quer dizer, como também que o
pleno desenvolvimento interno e externo não se corta prematuramente
(Is_65:22). Entrarás não é literal, mas sim expressa a conformidade com
que morra. Elifaz fala do ponto de vista do Antigo Testamento, que fazia
dos anos cheios a recompensa dos justos (Sl_91:16; Êx_20:12), e a
morte prematura, a sorte dos ímpios (Sl_55:23). Os justos são imortais
enquanto que sua obra não estiver terminada. Retê-los por mais tempo os
faria menos preparados para morrer. Deus os leva quando estão no
melhor (Is_57:1). Os bons se comparam ao trigo (Mt_13:30).
se recolhe— lit., ascende. O grão se levanta da terra, e é levado a
celeiro; assim o bom “é levantado dentre um montão de feixes.”
(Umbreit.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 30
27. havemos inquirido … para teu bem — (Sl_111:2; Pv_2:4;
Pv_9:12).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 31
Jó 6

Vv. 1-30. RÉPLICA DE JÓ A ELIFAZ.


2. Oh! Se a minha queixa, de fato, se pesasse — Tomara que, em
lugar de censurar minhas queixas, quando devesse , antes, te compadecer
de mim, cotejasse acertadamente minhas dores e minhas calamidades;
minha tortura ultrapassa a minhas queixas nas balanças.
3. a areia — (Pv_27:3.)
precipitadas—Veja Margem [isto é, “quero palavras para expressar
meu pesar”]. É claro que Jó não se desculpa por não ter palavras
suficientes, mas sim de ter falado muito e muito ousadamente. (Umbreit,
Gesênius, Rosenmuller.) “Portanto foram minhas palavras tão
temerárias.”
4. as flechas … estão em mim cravadas — me atravessaram.
Figura poética que representa o Todo-poderoso vingador, armado de
arco e setas (Sl_38:2-3). Aqui as setas estão envenenadas. Linguagem
apropriada com referência às agudas dores que lhe penetravam, qual
veneno, até o mais interior (o espírito; como contrastado com as feridas
superficiais) do corpo de Jó.
se arregimentam contra mim — Uma figura militar (Jz_20:33).
Todos os terrores que a ira divina pode reunir contra mim (Is_42:13).
5. Nem os animais silvestres, como o asno montês, nem os
domésticos, como o boi, estão descontentes, quando lhes bastam os
alimentos. Assim, argúi Jó, se ele se queixa, não é sem causa; ou seja,
suas dores, que são, por assim dizer, alimento desabrido, aquele que
Deus lhe dá (v. 7). Mas ele deve ter-se lembrado que pelo fato de ser
racional ele deveria mostrar melhor espírito que o bruto.
6. insípido — sem sabor, sem sal. O sal é uma necessidade
primordial no Oriente, onde a comida principal é legumes.
clara do ovo — lit., a saliva, a que se parece a clara do ovo
(1Sm_21:13).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 32
7. Tocar se contrasta com comida. “Meu paladar se nega sequer a
tocá-lo, mas me dá de comer semelhante comida de doença.” Leia-se:
“coisas … tal é a doença de minha comida.” Sente asco, ao seu gosto
natural, sequer o tocar a comida insípida, e tais formas de alimento.
Porque minha doença é como tal comida nauseabunda. (Umbreit.)
(Sl_42:3; Sl_80:5; Sl_102:9). Não é raro, pois, aquele que eu me queixe.
8. Desejar a morte não é prova da preparação para a morte. Os
ímpios às vezes desejam morrer, a fim de evitar tribulações, sem pensar
no além. Os piedosos desejam a morte, para poder estar com o Senhor,
mas pacientemente aguardam a vontade de Deus.
9. esmagar-me — lit., moer ou esmagar (Is_3:15).
soltasse a sua mão — Deus tinha estendido a mão somente para
ferir a superfície da carne de Jó (Jó_1:12; Jó_2:6); Jó deseja que aquela
mão fosse solta para ferir mais profunda e mortalmente.
acabasse comigo — me cortasse: metáfora do tecedor que corta o
tecido, já terminada, dos cabos de linho (Is_38:12).
10. saltaria de contente — “Me endureceria com (minha) dor”;
antes, “Exultaria na dor”, se soubesse que tal dor apressasse minha morte
(Gesênius); “não daria trégua.” Umbreit traduz o hebraico: “Que (Deus)
não dê trégua,” e o conecta com dor.
negado — Não desconheci, em palavra nem em fato, os
mandamentos do Santo (Sl_119:46; At_20:20). Isto o diz em réplica à
insinuação de Elifaz de que Jó é hipócrita. Aqui chama-se o Santo a
Deus, para expressar a obrigação recíproca do homem de ser santo, como
Deus é santo (Lv_19:2).
11. Que forças físicas tenho que me garantam a esperança de me
curar?, esperança que Elifaz tinha sugerido. E o que senão um miserável
fim de vida está diante de mim, para que eu desejasse prolongar a vida?
(Umbreit.) Umbreit e Rosenmuller traduzem, não tão acertadamente as
últimas palavras como ter paciência.
12. Tão ferozmente lhe tinha atacado a doença que sua força
deveria ser como pedra, e sua carne como bronze, para não ter que se
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 33
afundar sob ela. Mas não tem senão a mesma carne dos demais homens.
Portanto, deverá ceder, de modo que é vã a esperança sugerida por Elifaz
(cf. Jó_5:11).
13. Jamais haverá socorro para mim — Traduza-se: “Não há
ajuda em mim”. Por socorro, é melhor traduzir libertação. “E a
libertação me falta totalmente.”
14. compaixão — Um provérbio. A caridade é o amor que julga
indulgentemente ao próximo; está ao par da veracidade em Pv_3:3,
porque as duas coisas juntas formam a essência da perfeição moral.
(Umbreit.) É o espírito do cristianismo (1Pe_4:8; 1Co_13:7; Pv_10:12;
Pv_17:17). Se é preciso usar dela para com todos, quanto mais para com
os amigos. Mas aquele que não emprega tal amor abandonou (renunciou)
o temor do Onipotente (Tg_2:13).
15. Os que eu tinha como meus irmãos, dos quais esperava a
fidelidade em minha adversidade, desiludiram-me, assim como faltam os
arroios durante a seca; os wadis da Arábia, cheios no inverno mas secos
no verão, defraudavam a esperança das caravanas que esperavam achar
água neles. A abundância e o ruído destas correntes temporárias
correspondem às longas e fortes profissões de amizade passadas de meus
amigos; sua secura de estio, para a carência de amizade quando mais é
necessário. O provérbio árabe diz do amigo traiçoeiro: “Não confiarei
em sua corrente” (Cf. Is_58:11, margem).
torrente que transborda — ou antes, “o arroio da quebrada que
passa”. Não tem manancial perpétuo com que renovar-se (Jr_2:13;
Is_33:16), e portanto como rapidamente se enche, rapidamente esvazia.
16. turvada — Lit., “Vão como enlutados em roupagem negra”
(Sl_34:14). Figura vívida e poética da corrente turva e negra de neve e
gelo derretidos, que descem das montanhas para o vale. No v. que segue,
a neve derretida é, no dizer do poeta, escondida na corrente. (Umbreit.)
17. desaparecem — (Mas logo) (Umbreit.) “ficam mais estreitos
(correm pelo leito mais estreito), vão silenciosas (perdem o ruído
torrentoso); no calor (do sol) são consumidas ou desaparecem de seu
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 34
lugar. Primeiro o arroio passa entre ribeiras estreitas; logo cala seu ruído;
enfim todo fio de água desaparece pela evaporação sob o quente sol.”
(Umbreit.)
18. Desviam-se as caravanas dos seus caminhos — As caravanas
(viajantes hebreus) mudam de rumo, por caminhos diversos, buscando
água. Na primavera tinham visto o arroio cheio de água; agora no calor
estival, cansados da viagem, desviam-se por caminho errado para
alcançar as águas viventes que lembravam com tanto prazer. Mas,
quando “vão”, entram “num deserto.” (Noyes e Umbreit.) Não como a
Versão Inglesa, “Vão ao nada,” o que seria uma repetição insípida do
secamento de águas do v. 17; em lugar de águas, acham um “deserto
vazio”, e não tendo forças para voltar até o caminho, amargurados de
desilusão, perecem. A brevidade é o mais expressivo.
19. As caravanas — em caravana.
Temá — no norte da Arábia Desértica, perto do deserto Sírio;
assim chamado de Tema, filho de Ismael (Gn_25:15; Is_21:14;
Jr_25:23). Chamado assim ainda pelos árabes. Jó_6:19, 20 dá outro
quadro da humilhação das esperanças defraudadas; quer dizer, das
caravanas que no caminho direto aguardam com ânsia a volta de seus
companheiros do vale distante. A menção da localidade de procedência
das caravanas dá viva realeza ao quadro.
Sabá — aqui não se refere aos saqueadores da Arábia Desértica
Norte (Jó_1:15), e sim aos mercantes (Ez_27:22) do sul, da Arábia Feliz,
ou seja, Iêmen, “longínqua” (Jr_6:20; Mt_12:42; Gn_10:28). As
caravanas mencionam-se primeiro em Gn_37:25; deviam viajar assim
em companhias, para defender-se contra os roubadores ambulantes, e
para a ajuda mútua.
os viajantes … suspiram — não pode ter referência aos que
tinham ido em busca de águas; porque Jó_6:18 descreve a completa
destruição deles.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 35
20. Lit., “cada um tinha esperado”, ou seja, que seus companheiros
achariam água. Quanto maior tinha sido sua esperança, tanto mais
amargo agora seu desengano;
em chegando ali — o lugar.
confundem-se — lit., ardeu-lhes o rosto, frase oriental que expressa
a vergonha e a consternação da esperança desiludida. Assim
envergonhado quanto a desengano (Rm_5:5).
21. Como o arroio seco à caravana assim são vós para mim; quer
dizer, o nada; foi o mesmo que não existissem. (Umbreit.) A expressão
“como elas” (as águas do arroio), não é tão boa. “Nada sois vós.”
vedes … espantais — aterrorizam-se ao ver minha angústia, e
perdem a presença de ânimo. Jó dá uma interpretação branda da falta
deles em lhe aliviar com consolação carinhosa.
22. E contudo não lhes pedi que me trouxessem dádiva, nem que me
pagassem recompensa (ao Juiz, para me redimir de meu castigo) de seus
bens; tudo que lhes peço é um tratamento carinhoso.
23. tiranos — O opressor ou credor, em cujo poder se achava o
devedor. (Umbreit.)
24, 25. Ironia. Se me podeis ensinar a atitude devida, disponho-me
a ser corrigido, e a me calar, e a que me façam ver o meu erro. Mas, se
suas palavras forem as palavras devidas, por que são tão fracos? “Mas,
quão fracos são as palavras que vocês chamam palavras de retidão (a
atitude reta)!” Assim o hebraico é usado em Mq_2:10; 1:9. A Versão
Inglesa “quão fortes”, não concorda muito bem com a segunda cláusula.
25. que é o que repreende …? — Lit., “as repreensões que saem
de vós;” a ênfase está em vós; vós sois os que criticais, que não estais em
minha situação. (Umbreit.)
26. pensais em — ou, querem dizer.
reprovar as minhas palavras, ditas por um desesperado ao
vento? — que são como nada, como vento, não dignos de ser
esquadrinhados tanto? Umbreit não tão bem toma o hebraico “ao vento,”
como “sentimentos”; fazendo sentimentos formais antitéticos a meros
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 36
“discursos” e suprindo, não a palavra “censurar,” mas sim a “pensais
em,” da primeira cláusula.
27. lançaríeis sorte — Lit., “Fazem (de sua ira) (Umbreit) uma
rede, quer dizer, rede de raciocínios (Noyes e Schuttens), para cair sobre
o indefeso (como o órfão);
especularíeis com o vosso amigo — ou seja, para agarrá-lo no uso
de palavras descuidadas. (Noyes.) (Sl_57:6); metáfora dos caçadores que
apanham os animais em fossas escondidas com ramas. Umbreit, da
versão siríaca, e de conformidade com sua interpretação da primeira
cláusula, põe: “Se zangariam com um amigo?” O hebraico em Jó_41:6,
significa “devorar” Na primeira, pergunta: O caçariam numa rede?, de
modo que a segunda segue: logo devorariam em banquete a ele e a suas
angústias? Assim a LXX.
28. se sois servidos — Visto que vocês julgaram tão falsamente
minhas palavras, olhem em mim, quer dizer, meu rosto: porque (está
evidente diante de vós) se mentir; minha biografia me trairá, se eu for o
hipócrita que supõem que eu seja.
29. Tornai a julgar — Antes bem, retratem suas acusações.
não haja iniquidade — quer dizer, (retratem) essa injustiça não me
seja feita. Sim, retratem isso de “minha justiça não está nisso”. Isto é,
meu direito está envolto neste assunto.
30. Dirão que minha culpa está no órgão da fala, e que o invocarão
contra mim? ou é que meu paladar (gosto) ou discernimento não é capaz
de formar juízos das coisas perversas? É assim como explicam o fato de
que não tenho consciência de culpa?
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 37
Jó 7

Vv. 1-21. JÓ DESCULPA SEU DESEJO DE MORRER.


1. a vida — antes, guerra, ou dura luta contra o mal (Is_40:2;
Dn_10:1); traduza-se “tempo assinalado” (Jó_14:14). Jó retrocede a
triste descrição que tem feito do homem, por grande que seja (Jó_3:14),
e trata neste capítulo das misérias, que seus amigos verão, se, segundo
sua petição, olham nele (Jó_6:28). Até o soldado cristão, que “peleja a
boa batalha”, alegra-se ao terminá-la (1Tm_1:18; 2Tm_2:3; 2Tm_4:7-8).
2. suspira — O hebraico: ofega pela sombra (vespertina). Os
orientais medem o tempo pelo comprimento de sua sombra. Se o servo
desejar a tarde, quando se lhe paga o jornal, por que não pode Jó desejar
a terminação de seu duro trabalho, quando deve entrar na alegria de sua
recompensa? Isto prova que Jó não cria, como muitos insistem, que a
tumba era um mero sonho.
3. Meses de infortúnio desconsolador.
me deram — Lit., me faz herdeiro. Ironia. Ser herdeiro é,
comumente, assunto de alegria; mas aqui significa uma herança
involuntária e lôbrega. Meses, por dias, para expressar longa duração.
Assinalado, lit., enumerados: indicando claramente o inevitável destino
que lhe estava ordenado.
4. Lit., “quando fugirá a noite?” (Gesênius.) Umbreit, não tão bem,
“a noite se alonga muito”: lit., está medida ao longo.
5. Na elefantíase se criam vermes nas úlceras (At_12:23; Is_14:11).
crostas terrosas — sujeira seca e supuração acumulada (Jó_2:7-8).
pele fendida e aberta—, antes,, junta-se para curar, e logo abre-se
pela supuração. (Gesênius.) Mais singelo é o hebraico: “Minha pele
descansa (por um tempo) e (outra vez) se derrete” (Sl_58:7).
6. (Is_38:12). Cada dia como a lançadeira deixa atrás de si um fio; e
cada um se gastará enquanto tece. Mas o pensamento de Jó é que seus
dias devem ser cortados rapidamente como um tecido:
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 38
sem esperança — ou seja, de uma recuperação e renovação da vida
(Jó_14:19; 1Cr_29:15).
7. Palavras dirigidas a Deus.
sopro — quadro de desagregação (Sl_78:39).
não tornarão a ver — esta mudança de um desejo diferente de
Jó_3:17, etc., é o mais natural. Jó agora está de melhor humor; e uma
lembrança de dias anteriores de prosperidade que lhe vem à memória, e
o pensamento do mundo invisível, onde não é mais visto (Jó_7:8),
arranca dele uma expressão de pesar de deixar este mundo de luz
(Ec_11:7); o mesmo que Ezequias em Is_38:11. A graça transcende a
natureza (2Co_5:8).
8. O olho daquele que me olha (presente, não passado), no próprio
ato de me olhar, não me vê mais.
os teus olhos me procurarão, mas já não serei — Desaparece, até
enquanto Deus o está olhando. Jó não pode sobreviver o olhar do Senhor
(Sl_104:32; Ap_20:11). Não: “Seus olhos me buscam, e não tenho que
ser achado”; pois o olho de Deus penetra até o mundo invisível ainda
(Sl_139:8). Umbreit ilogicamente entende que teus refere-se a um dos
três amigos.
9. (2Sm_12:23.)
sepultura — O sheol, ou lugar dos espíritos idos, que não refuta a
crença de Jó na ressurreição. Significa meramente que “não voltará
mais” na presente ordem de coisas.
10. (Sl_103:16). O oriental ama ardentemente sua morada. Nas
elegia arábicas o abandono da casa é com frequência tema de tristeza. A
graça também vence isto (Lc_18:29; At_4:34).
11. Portanto, como esta é minha sorte, pelo menos terei a satisfação
melancólica de expressar minha tristeza em palavras. Em hebraico,
portanto eu, em todo caso, expressa a auto elevação. (Umbreit.)
12-14. Por que me nega o consolo do sonho atenuante?
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 39
Acaso, sou eu o mar — Na poesia do Antigo Testamento se
considera o mar como violenta, rebelde contra Deus, o Senhor de natura,
quem portanto lhe refreia a violência) (Jr_5:22)
ou uma baleia (AV) — ou outro monstro da mar (Is_27:1), para
que você me vigie e me refreie? Os egípcios vigiavam bem os crocodilos
para que não fizessem mal.
14. Os sonhos aterradores que resultam da elefantíase ele os atribui
a Deus; a crença comum atribuía todas as visões noturnas a Deus.
15. Umbreit traduz: “De modo que poderia desejar me estrangular
— me matar com minhas próprias mãos.” Ele atenua a ideia de que Jó
abrigasse o pensamento do suicídio, representando-o como o pensamento
somente de sonhos cruéis, o qual se repudia com horror no versículo que
segue (Jó_7:16): “aborreço” melhor, “o (de me afogar) aborreço.” Isto é
forte e gráfico. Pode ser que signifique simplesmente: “Minha alma
escolhe (até) o estrangulamento (ou outra morte violenta qualquer) de
preferência a minha vida, lit., a meus ossos (Sl_35:10); isso, em lugar do
gasto esqueleto doente que resta. Segundo esta ideia, o “aborreço” (v.
16) refere-se a sua vida.
16. Deixa-me — deixa de me afligir durante os poucos dias vãos
que ainda ficam.
17. (Sl_8:4; Sl_144:3) Jó quer dizer: “O que é o homem, para que
lhe dês tanta importância, e tenhas tanta atenção (de coração) para com
ele” para lhe fazer o sujeito de tão severas prova? Jó deve antes ter
raciocinado que, pela condescendência da parte de Deus para ter em
conta o homem, devia haver algum sábio propósito amoroso nas provas.
Davi empregou as mesmas palavras com sua devida aplicação, para
expressar a admiração de que Deus fizesse tanto como faz para o homem
insignificante. Quanto mais as empregam os cristãos, que conhecem a
Deus manifestado em Cristo Jesus.
18. Com cada novo dia (Sl_73:14). São, antes, as misericórdias de
Deus, não nossas provas, as que são “novas cada manhã” (Lm_3:23). A
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 40
ideia é a de um pastor que faz a conta de seu rebanho cada manhã, para
saber se estivessem todas as ovelhas. (Cocceius.)
19. Até quando não tirará (como guarda zeloso) os olhos de mim
(assim o hebraico, “fará ir-se de mim”)? “Até que trague a saliva;” lit., o
momento que necessite para tragar a saliva. Um provérbio árabe, como o
nosso: até que tome alento.
20. Se pequei — Mas, que pecado posso fazer contra (Jó_35:6) ti
(de tal natureza, para que me vigie e me tire todas minhas forças, como
se me temesse)? Contudo, Tu és aquele que sempre tem de vista aos
homens, sempre os vigia) — “Guarda (Jó_7:12; Dn_9:14), dos homens.”
Jó tinha suportado com paciência as provas como enviadas de Deus
(Jó_1:21; Jó_2:10); mas é que sua razão não pode reconciliar a
continuação incessante de suas dores mentais e físicas com suas ideias da
natureza divina.
fizeste de mim um alvo para ti—Por que me tem feito o ponto de
ataque? quer dizer, me atacando continuamente com novas dores.
(Umbreit.) (Lm_3:12).
21. Pois agora — muito em breve.
agora — Não na ressurreição, porque então Jó será achado. É a
figura de alguém que busca o doente pela manhã, para encontrar-se com
que o fato de que morreu durante a noite. Infere Jó que, se Deus não for
em seu socorro em seguida, será tarde demais, pois já se foi. A razão por
que Deus não dá o sentido imediato do perdão para despertar os
pecadores, é porque creem ter direito a isso da parte de Deus.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 41
Jó 8

Vv. 1-21. O DISCURSO DE BILDADE.


2. qual vento impetuoso — que faz caso omisso de restrições, e
desafiando a Deus.
3. A repetição de perverterá dá uma ênfase que irrita a Jó
(Jó_34:12). “Gostaria que Deus (como suas palavras insinuam)
pervertesse o juízo,” deixando sem castigar seus pecados? Ele assume a
culpabilidade de Jó por causa dos padecimentos dele.
4. Se — antes, “Visto que seus filhos pecaram contra ele e (visto
que) os jogaste por (no hebreu, pela mão de) suas transgressões,
(contudo) se buscasse a Deus … se fosse limpo.… certo (até) agora
despertaria para ti”. Umbreit traduz: “Porquanto seus filhos .… ele os
jogou … em (a mão de) seu próprio pecado (ou culpa).” Bildade
expressa a justiça de Deus, a qual Jó tinha censurado. Seus filhos
pecaram, Deus os deixa para a consequência de seu pecado. Palavras
muito agudas ao coração de um pai enlutado.
5. se tu de madrugada buscares a Deus (RC) — Cedo. Fizeres
disso o primeiro e principal cuidado (Sl_78:34; Os_5:15; Is_26:9;
Pv_8:17; Pv_13:24).
6. ele, sem demora, despertará em teu favor — isto é, Ele Se
levantará para te socorrer. Deus parecia dormido para com o aflito
(Sl_35:23; Sl_7:6; Is_51:9).
fará próspera (TB) — Restaurará a prosperidade de tua justa
habitação. Bildade presume que foi até agora morada de culpabilidade.
7. O teu primeiro estado — O princípio de sua nova felicidade
depois da restauração.
o teu último estado (TB) — (Jó_42:12; Pv_23:18).
8, 9. Os sábios da antiguidade alcançavam uma idade mais longa
que a dos da época de Jó (Veja-se Jó_42:16); e, portanto, podiam dar um
testemunho de uma experiência mais plena.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 42
9. de ontem — isso é, de uma raça recente. Não sabemos nada em
comparação com eles, por causa da brevidade de nossas vidas. Assim
Jacó também (Gn_47:9). O conhecimento pois consistia na observação,
incorporada em provérbios poéticos, e transmitida pela tradição. A
longevidade dava oportunidade para observação mais ampla.
a sombra — (Sl_144:4; 1Cr_29:15).
10. te ensinarão — Jó 6:24 havia dito: “me instruam.” Bildade,
pois, diz: Visto que desejas ensino, inquire dos pais, eles te ensinarão.
proferirão estas palavras — mais que o mero falar: “pronunciar
palavras bem consideradas.”
do próprio entendimento — Da observação e meditação deles.
Não meramente, da boca deles; tal como Bildade insinua eram as
palavras de Jó. Jó_8:11-13 incorporam em forma poética e sentenciosa
(provavelmente o fragmento de um poema antigo) a observação dos
anciãos. O duplo ponto de comparação o ímpio e o papiro (“erva”) é: (1)
A prosperidade frondosa primeiro, e (2) A destruição repentina.
11. o junco (TB) — antes, o cano do papel: o papiro do Egito, que
se usa para fabricar roupa, sapatos, cestas botes e papel (palavra dele
derivada). O papiro e o gladíolo ou junco crescem só em lugares
pantanosos (como ao longo do Nilo). Assim, o ímpio floresce só da
prosperidade externa; não há no hipócrita estabilidade interna alguma;
sua prosperidade é como o rápido crescimento das plantas aquáticas .
12. ainda na sua verdura — Antes de maturar-se, de estar
preparado para a foice; murcha antes de qualquer outra erva, porque não
tem em si poder sustentador algum, uma vez acabada a umidade, a que
outras plantas não necessitam em igual quantidade. Assim a ruína chega
aos ímpios no clímax da prosperidade, mais rápido que aos que parecem
estar menos firmes em sua possessão. (Umbreit.) (Sl_112:10)
13. veredas — (Pv_1:19.)
todos quantos se esquecem de Deus — O rasgo distintivo dos
ímpios (Sl_9:17; Sl_50:22).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 43
14. será cortada (NKJV) — Assim Gesênius. Ou conforme à
metáfora da casa da aranha, “A confiança (sobre a que edifica) será
lançada em ruínas” (Is_59:5-6).
15. agarrar-se-á a ela — Indicando que se agarra firmemente dela,
quando vem a tormenta das provas. Como a aranha “se retém
firmemente” por meio de seu tecido; mas com esta diferença, a leve
aranha está sustentada por aquilo em que confia, o ímpio não tem senão
um tecido fino em que apoiar-se. A expressão “agarrar-se” aplica-se
devidamente à aranha que sustenta o tecido, mas muda-se para aplicá-la
ao homem. A hipocrisia, como a teia de aranha, é fina, fraca, e tecida por
suas próprias invenções, como o tecido da aranha que sai de seus
intestinos. Um provérbio árabe diz: “O tempo destrói a casa bem
construída, assim como à teia de aranha”
16. antes do sol (AV) — isto é, ele (o ímpio) é verde somente
enquanto o sol não sai; mas não pode suportar o calor do sol, e portanto
se seca. Assim as plantas suculentas, como a aboboreira (Jon_4:7-8).
Mas o estender-se no jardim não concorda com isto. Melhor, “ao sol”; o
sol representa a sorridente fortuna do hipócrita, enquanto progride
maravilhosamente. (Umbreit.) A figura é a da erva daninha que cresce
exuberante e se estende até sobre montões de pedras e muros, e logo é
rapidamente desarraigada.
17. montão de pedras — Em hebraico, “a casa de pedras;” ou seja,
a muralha que rodeia o jardim. A planta parasita, que sobe e se arrasta
por toda a muralha – ao último limite do jardim – diz-se figurativamente
que vê a casa de pedras.
18. se Deus o arranca — Se Deus o arrancar, rápida e
violentamente, de seu lugar. “Este (lugar personificado) lhe negará”
(Sl_103:16). A mesma terra se envergonha da erva daninha que jaz seca
sobre sua superfície, como se nunca tivesse tido contato com ela. Do
mesmo modo, quando o ímpio cai de sua prosperidade, seus amigos mais
íntimos o desconhecem
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 44
19. Ironia amarga. O hipócrita se gaba de sua alegria. Este é, pois,
sua “alegria” no final.
do pó brotarão outros — Outros imediatamente, que tomam o
lugar do homem assim castigado. Não homens piedosos (Mt_3:9).
Porque “o lugar” da erva daninha é entre as pedras, onde o jardineiro não
quer plantas. Mas os ímpios; uma nova colheita de erva má sempre brota
no lugar das arrancadas: nunca se acabam os hipócritas na terra.
(Umbreit.)
20. Bildade tem a Jó por um justo que tem caído em pecado.
Deus não rejeita ao íntegro — (nem ao piedoso, tal qual Jó tinha
sido), se tão somente se arrepender. Só os que perseverem no pecado não
socorrerá Deus (no hebraico, tomará de mãos dadas; Sl_73:23; Is_41:13;
Is_42:6) quando caírem.
21. ainda (TB) — Lit., “até o ponto de encher …” As bênçãos de
Deus a ti, arrependido, irão aumentando ainda, até o ponto, etc.
22. Os que aborrecem a Jó são os ímpios. Eles serão vestidos de
vergonha (Jr_3:25; Sl_35:26; Sl_109:29), quando falta sua esperança de
que Jó pereceria totalmente, e porquanto eles, em lugar dele, são
destruídos.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 45
Jó 9

Vv. 1-35. RÉPLICA DE JÓ A BILDADE.


2. sei que assim é — Que Deus “não perverte o juízo” (Jó_8:3).
Mas (mesmo quando tiver certeza de estar eu no que é justo) como pode
um homem declarar sua justiça (ser justo) para com Deus? O evangelho
responde (Rm_3:26).
3. Se (Deus) quiser contender — Lit., “se dignar entrar em juízo”.
nem a uma de mil coisas lhe poderá responder — (O homem)
não se atreveria, mesmo quando tivesse preparadas mil respostas a uma
pergunta de Deus, a dar sequer uma de seus respostas, por temor a sua
Majestade.
4. sábio de coração — em entendimento – e poderoso em forças!
Deus confunde ao arguidor mais capaz com sua sabedoria e ao mais
poderoso com Seu poder.
quem se endureceu contra ele (RC) — a si mesmo, ou a nuca
(Pv_29:1); isso, desafiou a Deus. Para poder prosperar a pessoa deve se
conformar aos arranjos providenciais e graciosos Deus.
5. sem que saibam — Expressão hebraica por “de repente, de
supetão, antes que se dê conta disso” (Sl_35:8); “impensadamente;” em
hebraico: o que não sabe (Jl_2:14; Pv_5:6).
6. A terra é pintada poeticamente descansando sobre colunas, que
tremem por causa do terremoto (Sl_75:3; Is_24:20). A verdade pura
quanto à terra dá-se em Jó_26:7.
7. O sol, sem que Deus mande, não sai; ou seja, de um eclipse, ou
da escuridão que acompanha os terremotos (v. 6).
sela as estrelas — encobre totalmente, como quem sela um quarto,
de modo que não se veja seu conteúdo.
8. estende — (Is_40:22; Sl_104:2.) Mas no máximo, o que aqui se
expõe não é tanto a criação de Deus como Seu poder e governo da
natureza. Uma tormenta parece uma luta entre Natura e seu Senhor!
Melhor, então: “Aquele que sopra os céus sozinho,” sem a ajuda de
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 46
outro alguém. Deus desce da abóbada dos céus até a terra (Sl_18:9). A
tormenta, em que as nuvens descem, sugere a figura. Na descida da
abóbada do céu, Deus desceu de Seu alto trono, e caminha majestoso
sobre as ondas montanhosas (hebraico, alturas), como conquistador que
doma a violência delas. Deste modo, pisar (Dt_33:29; Am_4:13;
Mt_14:26). O hieróglifo egípcio que representa a impossibilidade é um
homem que caminha sobre ondas.
9. quem fez — antes, do árabe, quem encobre. Isto concorda
melhor com o contexto, que descreve seu ilimitado poder como
governador, antes que de criador. (Umbreit.)
Arcturo (AV) — A Ursa Maior, que gira em redor do pólo e nunca
se põe. Os caldeus e os árabes antigamente denominaram e agruparam as
estrelas em constelações; viajando com frequência e vigiando seus
rebanhos de noite, isto o fariam naturalmente, principalmente quanto a
saída e posta de algumas estrelas assinalavam a distinção das estações.
Brinkley, pressupondo que as estrelas aqui mencionadas são as de Touro
e Escorpião, e que estas eram as constelações cardeais da primavera e do
outono, calcula, pela precessão de equinócios, o tempo de Jó como de
818 anos depois do dilúvio, e 184 anos antes de Abraão.
Órion — em hebraico, “o néscio”; em Jó_38:31, ele aparece preso
com ligaduras. A lenda antiga representa esta estrela como um herói,
que supostamente se rebelou contra Deus, e foi portanto um néscio, e
como castigo foi encadeado no céu; porquanto sua saída faz-se no
período tempestuoso do ano. Entre os assírios ele é Ninrode (rebelde
extremamente ímpio); é Órion entre os gregos. Confundia-se na pessoa
dele o sabeísmo (culto às hostes do céu) e o culto aos heróis. Ele
primeiro subverteu a ordem patriarcal no fato do caudilho baseado na
conquista (Gn_10:9-10).
Plêiades (TB) — lit., “o montão de estrelas;” o árabe: “nó de
estrelas.” Os vários nomes desta constelação no oriente expressa a união
íntima das estrelas da mesma (Am_5:8).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 47
as recâmaras do Sul — As regiões invisíveis do hemisfério
meridional, com seus próprios grupos de estrelas, como distintos dos
mencionados do norte. Está implícita aqui a verdadeira estrutura da terra.
10. Repetido de Elifaz (Jó_5:9).
11. ele passa … e não o vejo — A figura é a de um vento
impetuoso (Is_21:1). Qual ele, invisivelmente se desencadeia sobre o
homem: de modo que Deus é sentido nos terríveis efeitos de Sua ira; mas
ele não é visto (Jo_3:8). Portanto, raciocina Jó, é impossível disputar
com ele.
12. Se “ele tirar”, como em meu caso tudo que me é caro, mesmo
um mortal não pode lhe exigir conta. Não arrebata senão o que é Seu
próprio. Ele é Rei absoluto (Ec_8:4; Dn_4:35).
13. Deus não revogará a sua própria ira — enquanto o mortal se
lhe opuser obstinadamente (Umbreit).
os auxiliadores soberbos (RC) — antes, os arrogantes que queriam
ajudar ao que disputa contra Deus, nada podem com ele.
14. Como, então, lhe poderei eu responder?—Que sou fraco,
vendo que os poderosos se encurvaram diante dEle. Escolha palavras
(bem escolhidas, a fim de raciocinar) com ele.
15. (Jó_10:15.) Ainda quando não tivesse consciência de pecado,
não ousasse dizê-lo, mas sim deixaria que me justificasse o juízo e
misericórdia dEle (1Co_4:4).
16, 17. Ainda que o chamasse ... creria eu que desse ouvidos à
minha voz—aquela que me quebra (como uma árvore limpa de seus
folhas) pela tormenta.
19. Umbreit entende que estas são palavras de Deus, e traduz
“Quanto aproveita o poder do forte?” “Eis aqui (diz), o que pode a
justiça? quem citará a pleito?” (Assim Jr_49:19). Por certo estas últimas
palavras se aplicam melhor a Deus que a Jó. O sentido é
substancialmente o mesmo se fazemos referir o pronome “me” a Jó. O
“eis aqui” (Versão Inglesa) expressa a rápida prontidão de Deus quando
é desafiado.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 48
20. ele — (Jó_15:6; Lc_19:22); ou, “Ele” Deus.
21. Lit., aqui (e em Jó_9:20). “Eu perfeito! não conheceria minha
alma;” quer dizer, embora consciente de minha inocência, seria
compelido, discutindo com o infinito Deus, a desconhecer minha alma e
aborrecer minha vida passada, como se fosse culpado [Rosenmuller].
22. tudo é o mesmo — “É tudo um: seja perfeito ou vil — ele
destrói.” Este foi o ponto que Jó defendia contra seus inimigos, que
sofrem os justos e assim os ímpios, e que os grandes padecimentos aqui
não provam que haja grande culpabilidade (Lc_13:1-5; Ec_9:2).
23. Se — antes, “Enquanto (seu) açoite mata prontamente (ao
ímpio, Jó_9:22), se ri (faz caso omisso: não se molha) da prova dos
inocentes.” A única diferença, diz Jó, entre os inocentes e os culpados é,
que estes são mortos por um golpe repentino, e aqueles adoecem até
morrer. A tradução de “prova” não expressa a antítese com “arbusto de
mata”, tão bem como com o “adoecer.” (Umbreit.)
24. Referindo-se aos juízes justos, em antítese aos ímpios” da
cláusula paralela: Enquanto que com frequência se dá ao iníquo opressor
a terra nas mãos, e os juízes justos são levados a execução, os culpados
já tinham o rosto coberto preparados para sua execução (Et_7:8). Assim
o contraste dos justos e iníquos aqui corresponde àquele de Jó_9:23.
se não é ele … quem é? — Se Deus não for a causa destas
anomalias, onde tem que achar-se, e quem é?
25. um correio (TB) — Mensageiro. No grande império persa
havia tais correios, em dromedários ou a pé, empregados para levar a
províncias longínquas os decretos reais (Et_3:13, Et_3:15; Et_8:14).
Meus dias não são como as lentas caravanas, mas sim qual o correio
rápido. Diz-se poeticamente que os dias não veem o bem, e não que Jó o
vê neles (1Pe_3:10).
26. barcos de junco — antes, canoas de juncos, ou esquifes de
papiro, empregados sobre o Nilo, velozes por ser leves (Is_18:2).
28. A apódose de Jó_9:27, “Se disser …” Até tenho medo de (que
me voltem) meus trabalhos, porque sei que não me terá (declarará, me
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 49
tirando os padecimentos) por inocente. “Como pois poderei deixar meu
aborrecimento?
29. O se é melhor que se omita da Versão Inglesa: Eu sou (tido de
Deus por) ímpio: por que então trabalharei em vão (para refutar a carga?)
Jó submete-se, nem tanto porque cria que Deus tenha a razão, como
porque Deus é poderoso e ele é fraco (Barnes)
30. água de neve — Que se tinha mais que por água de lavar,
devido à brancura da neve (Sl_51:7; Is_1:18).
purifique as mãos com cáustico — Melhor, para corresponder
com o paralelismo da primeiro cláusula, que expressa o material de
limpeza, a lixívia. Os árabes usavam o álcali misturado com azeite, como
sabão (Sl_73:13; Jr_2:22).
32. (Ec_6:10; Is_45:9.)
33. árbitro — a imposição de cuja mão expressa o poder de
adjudicar entre as pessoas. Poderia haver alguém do mesmo nível com
Jó, de um lado; mas Jó, por outro lado, não sabia de ninguém do nível do
Onipotente (1Sm_2:25). Temos os cristãos conhecimento de tal
Mediador (não, entretanto, no sentido de um referee) sobre o nível de
ambos, o homem-Deus, Cristo Jesus (1Tm_2:5).
34. vara — Não aqui o símbolo de castigar, mas sim de autoridade,
Jó não pode encontrar-se com Deus em condições propícias, enquanto
Deus lidar com ele sobre o plano de Seu onipotente poder.
35. Pois eu não sou assim (TB) — Melhor: Como estão as coisas,
não tirando Deus a vara, não estou em dito plano de igualdade para me
defender.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 50
Jó 10

Vv. 1-22. CONTINUA A RÉPLICA DE JÓ A BILDADE.


1. darei livre curso à minha queixa — antes, “Darei rédea solta a
minhas queixas” (cf. Jó_7:11.)
2. faze-me saber — Não me trate, em virtude de Sua soberania
única, como culpado, sem me ensinar as razões.
3. Jó não está disposto a crer que Deus possa tomar contentamento
em usar de Seu poder para oprimir ao fraco, e em tratar como de nenhum
valor ao homem, a obra de Suas próprias mãos (Jó_10:8; Sl_138:8).
favoreças o conselho dos perversos, etc. — favorecendo-os com a
prosperidade (Sl_50:2).
4-6. Vês Tu tão imperfeitamente como o homem? quer dizer, com o
mesmo olho caridoso, como por exemplo, dos amigos de Jó. É tão breve
Teu tempo? Impossível! Entretanto, se poderia crer, pela rápida sucessão
dos Teus golpes, que não terias tempo a perder em me afligir.
7. Embora bem o conheces (o Onisciente: conecte-se com Jó_10:6),
esquadrinha meu pecado.”
ninguém há que me livre da tua mão — Portanto não tem
necessidade de me tratar com a rápida violência que o homem
empregaria (Veja-se Jó_10:6).
8. me fizeram (TB) — com empenho: indicando uma obra difícil e
de arte; aplicando a Deus linguagem só aplicável ao homem.
devorar-me — Inferindo que o corpo humano é uma unidade
completa, as partes em volta do qual poderão suportar o escrutínio mais
rigoroso.
9. barro — O versículo 10 prova que a referência aqui não é tanto à
natureza perecível dos materiais, como a sua maravilhosa formação pelo
Oleiro divino.
10. Na organização do corpo desde seus rudes começos, o original
líquido gradualmente assume uma consistência mais sólida, como o leite
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 51
se coalha formando o queijo (Sl_139:15-16). A ciência revela que o
quilo que circula nas vasos lácteos se provê para todos os órgãos.
11. me entreteceste — ou “incrustaste” (Sl_139:15); “curiosamente
operado.” (Umbreit.) No feto a pele aparece primeiro, logo a carne, logo
as partes mais duras.
12. teu cuidado — Tua providência vigilante.
espírito (TB) — alento.
13. resolveste contigo — Era Seu propósito. Todos os procedimentos
de Deus com Jó em sua criação, preservação, e aflições presentes, eram
parte de Seu conselho secreto (Sl_139:16; At_15:18; Ec_3:11).
14, 15. Jó fica perplexo, porque Deus “observa” cada pecado com
um rigor tão incessante. Quer Jó seja “mau” (ímpio e hipócrita), ou
“justo” (comparativamente: sincero), o mesmo Deus condena e castiga.
15. não ouso levantar a cabeça — Em consciente inocência
(Sl_3:3).
cheio de ignomínia — Vejo muito bem minha aflição (o que
parece provar minha culpabilidade). (Umbreit.)
16. se a levanto (a cabeça) — antes, “(se) levanto (a cabeça), caça-
me …” (Umbreit.)
tu me caças — Assim como se o leão não matasse de uma vez a
presa, mas sim voltasse a torturá-la de novo.
17. as tuas testemunhas — as suas provas acumuladas eram como
uma sucessão de testemunhas apresentadas como prova de sua culpa,
para afligir ao acusado.
multiplicas contra mim a tua ira — antes, “(Diriges) contra mim
exército após exército,” (lit., “mudanças e um exército,” isto é, uma
sucessão de hostes), ou seja, suas aflições, e logo recriminação após
recriminação da parte de seus amigos.
20. Mas, visto que fui destinado desde meu nascimento a sofrer
estes males, dê-me ao menos um breve prazo de descanso durante os
poucas dias que restam (Jó_9:34; Jó_13:21; Sl_39:13).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 52
22. As ideias de ordem e luz, de desordem e trevas, harmonizam
(Gn_1:2). Usam-se três palavras hebraicas para “escuridão”: (1) em
Jó_10:21, a palavra comum “trevas;” (2) aqui, “terra da sombra,”
lúgubre (de uma raiz hebraica para encobrir); (3.) “a escuridão em si
mesma,” densa, ou “negrume” (de uma raiz que expressa o pôr-do-sol).
“Onde a própria luz é tenebrosa” Sua única luz solar é densa escuridão.
Um tipo de figura poética. Jó, em melhor humor, tem pensamentos mais
agradáveis do mundo invisível. Mas suas opiniões quando melhores,
carecem da nítida claridade das do cristão. Cotejem-se estas suas
palavras com Ap_21:23; Ap_22:5; 2Tm_1:10.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 53
Jó 11

Vv. 1-20. O PRIMEIRO DISCURSO DE ZOFAR.


2. Zofar reprova a Jó pelas palavras ocas proferidas, e
indiretamente, a seus dois amigos, pelas frouxas respostas deles. A
melancolia se aprecia altamente entre os orientais (Pv_10:8, Pv_10:19).
3. tuas parolas — Sua jactância vã (Is_16:6; Jr_48:30). “Os
homens” é enfático; homens de critério; em antítese a “tuas parolas.”
zombarás — Você repreenderá a Deus com suas queixas?
4. A minha doutrina — dito a propósito dos discursos de Jó, que
pareciam lições de doutrina (Dt_32:2; Pv_4:2).
teus olhos — de ti, ou Deus. Jó defendeu sua sinceridade contra
seus amigos, não sua inculpabilidade.
6. sabedoria, que é multiforme — antes, “de duplo valor que a
sabedoria” do homem. (Michaelis.) Assim se verte o hebraico (Pv_2:7).
Os caminhos de Deus, que você critica, se Ele lhe revelasse a sabedoria
secreta dos mesmos, apareceriam superiores em muito aos do homem, e
aos seus (1Co_1:25)
permite seja esquecida — antes, “Deus consigna ao esquecimento
em favor de você muita de sua culpabilidade.”
7. antes, “Você se compenetrará das perfeições do Todo-poderoso?”
(Jó_9:10; Sl_139:6.)
8. as alturas — antes, “mais alta” a “sabedoria” de Deus (v. 6). É
forte a brutalidade do hebraico: “a altura dos céus! O que pode você
fazer (quanto a alcançá-los com o olhar, Sl_139:8)?
que poderás saber? — ou seja, Suas perfeições.
10. Se ele passa — antes, como em Jó_9:11, passa como
tempestade; isto é, precipitar-se irado
prende — na prisão, tendo em vista um ajuizamento.
e chama a juízo — aos litigantes a juízo; celebrar assembleia
judicial, para opinar contra os detentos.
11. (Sl_94:11.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 54
não o terá em consideração? (RC) — com o fim de castigá-lo.
Antes, de acordo com a conexão, Jó_11:6: “Ele vê também a iniquidade
que o homem não percebe”; lit., “Mas ninguém (outro, sem ele)
percebe-o.” (Umbreit.) A “sabedoria” (Jó_11:6) de Deus descobre o
pecado, onde o olho humano de Jó não alcança (v. 8) ver.
12. vãos — ocos.
se tornará sábio — Quer crer-se “sábio”: oposto à sabedoria de
Deus (Veja-se Jó_11:11); recusa ver o pecado onde Deus o vê
(Rm_1:22)
cria de um asno montês — Provérbio em vez de ferocidade
indômita (Jó_39:5, 8; Jr_2:24; Gn_16:12; o hebraico: “um homem asno
montês”). O homem deseja parecer sagazmente obediente a seu Senhor,
enquanto que é, desde o seu nascimento, insubordinado no espírito.
13. A apódose do “se” está em Jó_11:15. A “preparação” do
coração deve-se obter (Pv_16:1) pelo “estender as mãos” em oração
(Sl_10:17; 1Cr_29:18).
14. “Se você quer afastar de si a iniquidade de sua mão” (como fez
Zaqueu, Lc_19:8). A apódose ou conclusão está Jó_11:15: “Então
levantará …”
15. Zofar refere-se às mesmas palavras de Jó (Jó_10:15): “Não
levantarei minha cabeça,” embora justo. Zofar declara que se Jó seguir
seu conselho, “poderá levantar o rosto.”
sem mácula — (Dt_32:5).
firme (TB) — lit., fundido em um, como metais que se põem firmes
e fortes mediante a fundição. O pecado do contrário, titubeia.
16. Assim como quando a corrente se seca (Jó_6:17), esquece-se o
perigo com que ameaçavam as furiosas ondas (Is_65:16). (Umbreit.)
17. A tua vida — dias da vida.
o meio dia — isso é de sua prosperidade anterior; a qual, na
imaginação do poeta, tinha ido aumentando até que sua altura como o sol
ascenda cada vez mais até chegar a seu zênite (Pv_4:18).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 55
Resplandecerás (AV) — antes, “Embora estejas agora sob sombra,
deves ser como a manhã,” ou, “suas trevas (se alguma escuridão lhe fizer
sombra) serão como a manhã” (só a luz baixa crepuscular, não a
escuridão noturna). (Umbreit.)
18. A experiência de sua vida te ensinará que há esperança para o
homem em todas as suas provas.
cavarás (AV)—ou seja, poços: a maior necessidade no oriente.
Melhor: “Embora envergonhado agora (Rm_5:5; em contraste com
“esperança” que antecede) dormirás seguro.” (Gesênius.)
19. (Sl_4:8; Pv_3:24; Is_14:30). Figuras orientais da prosperidade.
procurarão obter o teu favor — lit., “acariciarão a tua cara”
(Pv_19:6).
20. Admoestação a Jó, no caso de não querer voltar a Deus.
perversos — isso é, pecadores obstinados.
olhos … desfalecerão — isto é, buscando alívio em vão
(Dt_28:65). Zofar infere que a única esperança de alívio para Jó está
num mudança de coração.
o seu refúgio perecerá — “Todo refúgio desaparecerá deles.”
sua esperança será o render do espírito — Sua esperança sairá
deles, como o alento do corpo (Pv_11:7).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 56
Jó 12

Vv. 1-24. A RÉPLICA DE JÓ A ZOFAR


2. convosco morrerá a sabedoria — Ironicamente. Como se toda a
sabedoria do mundo estivesse concentrada neles, e morresse com a morte
deles. A sabedoria faz “um povo;” uma nação fátua não é “um povo”
(Rm_10:19).
3. eu não vos sou inferior — Não estou vencido em argumento
nem em “sabedoria” (Jó_13:2).
coisas como essas — tais máximas ordinárias pomposamente
aduzidas por vós.
4. As infundadas acusações dos amigos de Jó eram uma “mofa”
contra ele. Alude à palavra de Zofar, “mofas” (Rm_11:3).
eu, que invocava a Deus — antes, “Eu, quem invoco a Deus, para
que me responda favoravelmente (Umbreit.)
5. antes, “Uma lâmpada é objeto de desprezo nos pensamentos
daquele que repousa certamente (a seus larguras), embora (ao qual) foi
preparada para seus pés resvaladiços (Umbreit.) (Pv_25:19).
“Pensamentos” e “pés” estão em contraste; também “está a suas
larguras” e “a escorregar.” O viajante, chegando à estalagem noturna,
desdenhosamente joga a um lado a tocha que guiou seus incertos passos
pela escuridão. Como a tocha é ao peregrino, Jó o é a seus amigos. Num
tempo prazerosamente aproveitavam sua ajuda que lhes faltava; agora
em sua prosperidade se mofam de Jó na necessidade dele.
6. Jó demonstra que o assunto de fato contradiz a teoria de Zofar
(Jó_11:14, 19-20), de que a iniquidade causa a “insegurança” das
“habitações” dos homens. Ao contrário, os que roubam as “habitações”
(“tendas”) de outros “prosperam” “seguros” nas próprias.
têm o punho por seu deus — antes, “que fazem um deus de suas
mãos,” que consideram seu poder como seu único princípio diretor.
(Umbreit.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 57
7, 8. Os animais, aves, peixes, e plantas – raciocina Jó – ensinam
que os violentos vivem o mais seguros (Jó_12:6). O abutre vive mais
seguro que a pomba, o leão que o boi, o tubarão que o golfinho, o
espinheiro que a rosa por ele rasgada.
8. fala com a terra — antes, “aos arbustos da terra.” (Umbreit.)
9. Em todos estes casos – diz Jó – a agência deve ser atribuída ao
Senhor, embora pareçam ao homem significar a imperfeição (Jó_12:6;
Jó_9:24). este é o único texto autêntico da parte poética onde ocorre o
nome “Jeová”; nas partes históricas ocorre muitas vezes.
10. a alma — quer dizer, a vida animal. O homem, raciocina Jó,
está sujeito às mesmas leis que os animais inferiores.
11. Como o paladar escolhe o que lhe agrada, assim o ouvido prova
as palavras de outros e retém as que convencem. Cada um escolhe
segundo o seu gosto. A conexão com Jó_12:12 é em referência à
invocação aos “antigos” por Bildade (Pv_8:8). Tem razão em invocá-los,
visto que “nos velhos está a ciência (sabedoria).” Mas você escolhe tais
provérbios deles que convenham a seus pareceres; assim eu posso
escolher dos mesmos, aqueles que me convenham.
12. os idosos — (Jó_15:10.)
13. Em contraste “Está a sabedoria com os idosos” (Jó_12:12), Jó
cita um ditado dos antigos que apoia seu argumento, “Com Deus está a
(verdadeira) sabedoria” (Pv_8:14); e por esta “sabedoria e fortaleza”
“derrubará … como soberano absoluto, sem permitir ao homem que
entre nos mistérios dele; a porção do homem é dobrar-se perante os
imutáveis decretos de Deus (Jó_1:21). O ditado maometano é: “Se Deus
quiser, e como Deus quiser.”
14. O que ele deitar abaixo — (Is_22:22.) Jó se refere ao
“encerrar” de Zofar (Jó_11:10).
15. Aludindo provavelmente ao dilúvio.
16. (Ez_14:9.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 58
18. Dissolve a autoridade dos reis — Ele desata a autoridade de
reis – a “atadura” com que oprimem a seus súditos (Is_45:1; Gn_14:4;
Dn_2:21).
uma corda — o cordão com que estão atados como cativos, em
lugar do cinto real que uma vez portavam (Is_22:21), e a atadura com
que uma vez atavam a outros. Assim “rodear”: tomar as ataduras de um
detento comum, em vez do cinto comum (Jo_21:18).
19. príncipes (AV) — antes, sacerdotes, como se verte o hebraico
em Sl_99:6. Nem estão isentos os sagrados ministros da religião dos
contrários e do cativeiro.
aos poderosos — os “arraigados em poder:” a raiz árabe expressa
água sempre corrente. (Umbreit.)
20. Aos eloquentes — antes, “os seguros em sua eloquência,” isto
é, os oradores na porta (Is_3:3). (Beza.)
o entendimento — lit., o gosto, ou seja, o discernimento que a
experiência dá aos anciãos. A mesma palavra hebraica se aplica à
sabedoria de Daniel na interpretação (Dn_2:14).
21. O Sl_107:40 cita este versículo em sua primeira cláusula, e em
sua segunda, o versículo 24 deste capítulo [Jó_12:24].
afrouxa o cinto — lit., desata o cinto; os orientais vestem roupas
ondeantes; quando se ativa fortemente, apertam seus roupas com um
cinto. Portanto aqui: “enfraquece a força” deles, aos olhos do povo.
22. (Dn_2:22.)
23. Is_9:3; Sl_107:38, Salmo que cita outra parte deste capítulo.
(Cf. Jó_12:21.)
de novo as congrega — Antes: lit., as guia dentro; as reduz.
24. o entendimento — a inteligência.
vaguear pelos desertos sem caminho — Figurativo; não se refere
a fato real. Isto não prova que Jó vivesse depois das peregrinações de
Israel no deserto. O Sl_107:4, Sl_107:40 cita este texto.
25. Dt_28:29; Sl_107:27 de novo cita a Jó, mas em diferente
conexão.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 59
Jó 13

Vv. 1-28. CONTINUA A RÉPLICA DE JÓ A ZOFAR.


1. tudo isso — quanto às providências divinas (Jó_12:3).
3. Jó deseja fazer seu pleito diante de Deus (Jó_9:34, 35), porquanto
está cada vez mais convencido do caráter inútil de seus pretendidos
“médicos” (Jó_16:2).
4. forjadores de mentiras (TB) — lit., ardilosos torcedores de
vãos discursos (Umbreit.)
5. (Pv_17:28.) Os árabes dizem: “Os sábios são mudos; o silêncio é
sabedoria.”
7. mentiras — Usam de falácias para vindicar a Deus em seus
procedimentos, como se o fim justificasse os meios. Suas “mentiras” em
favor de Deus, contra Jó, foi que eles declararam que ele era pecador,
porque era sofredor.
8. parciais por ele — ser parcial com as pessoas em favor de Deus,
como quando um juiz favorece a um opositor num juízo, por causa de
considerações pessoais.
a favor de Deus — ou seja, com falácias e ideias preconcebidas
contra Jó antes do juízo (Jz_6:31). A parcialidade nunca pode agradar ao
Deus imparcial, nem pode a bondade da causa ser desculpa da injustiça
dos argumentos.
9. Serão bons os resultados quando Deus os esquadrinhar e aos seus
argumentos? Ele os terá como puros e desinteressados?
zombareis dele — (Gl_6:7.). Antes, “Podem vocês enganá-Lo
como um homem?”
10. Se fizerem acepção de pessoas, embora seja secretamente.
(Jó_13:8; Sl_82:1-2), Deus pode com êxito vindicar os Seus atos, e não
necessita dos argumentos falaciosos do homem.
11. vos amedrontará — quer dizer, empregando sofismas em
nome dEle (Jr_10:7, 10).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 60
12. máximas—“Máximas proverbiais”, assim chamadas para serem
bem lembradas.
provérbios de cinza — Ou seja, “parábolas de cinza;” a figura da
frivolidade ou do nada (Is_44:20).
Baluartes — antes, “entrincheiramentos”; os de barro, em contraste
com os de pedra, são fáceis de destruir; assim o provérbio atrás do qual
eles se entrincheiram, não os amparará, quando Deus aparecer para lhes
reprovar sua injustiça feita a Jó.
13. Jó gostaria que eles economizassem os seus discursos, para
poder dizer tudo o que está em sua mente com relação a sua miséria
(Jó_13:14), aconteça o que acontecer.
14. Um provérbio como: “Por que deveria eu desejar salvar minha
vida?” (Eichorn.) A figura da primeira cláusula é a de uma fera, que a
fim de conservar sua presa, leva-a nos dentes. A da segunda refere-se aos
homens que retêm na mão o que querem guardar seguro.
15. nele (NKJV, RC) — Assim lê a nota marginal, o keri. Mas a
leitura textual ou o cetib é “não,” o que concorda melhor com o contexto,
e outras passagens, onde diz Jó que não tem esperança alguma (Jó_6:11;
Jó_7:21; Jó_10:20; Jó_19:10). “Embora me mate, e não me atrevo a
esperar mais, contudo defenderei …” Quer dizer, “Desejo me vindicar
diante dele”, como sendo não um hipócrita. (Umbreit e Noyes.)
16. Ele (NKJV) — antes: “Isto também já fala em meu favor (lit.,
para minha saúde, justificação), porque um hipócrita não quereria
comparecer perante Deus” (como eu desejo). (Umbreit.) (Cf. última
cláusula de Jó_13:15.)
17. as minhas razões — ou seja, que eu desejo que se me permita
me defender imediatamente perante Deus.
dai ouvidos — quer dizer, com atenção
18. Tenho já bem encaminhada minha causa—denota constante
preparação para a defesa tendo a confiança em sua inocência.
19. eu me calaria — Antes, “Então calaria e expiraria; isso, se
alguém me pleiteasse e me provasse falso, não teria eu mais o que dizer.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 61
“Me calarei, e morrerei.” Como diríamos, “Eu apostaria a vida nisso.”
(Umbreit.)
20. Dirigido a Deus.
não me esconderei (TB) — Me defenderei com franqueza.
21. (Cf. Jó_9:34; Sl_39:10.)
22. Interpela-me — a demanda ao defensor a que responda à
acusação.
Responderei — começa a audiência.
deixa-me falar — como demandante.
tu me responderás — em defesa daquele. Expressões judiciais.
23. O catálogo de meus pecados deve ser grande, a julgar pela
severidade com que Deus de novo esmaga a alguém que já está afligido.
Oh, que fizesse a conta deles! Então Ele veria o quanto minhas
calamidades excedem àqueles.
meu pecado — no singular: “Não tenho consciência de um só
pecado particular, quanto menos, de muitos.” (Umbreit.)
24. escondes o rosto — Figura da impressão lôbrega causada pelo
passo repentino do sol depois de uma nuvem.
inimigo — Deus tratava a Jó como um inimigo a quem lhe devia
tirar o poder com os intermináveis padecimentos (Jó_7:17, 21).
25. (Lv_26:36; Sl_1:4.) Jó se compara a uma folha já caída que a
tormenta faz voar daqui para lá.
aterrorizar — lit., sacudir com (teus) terrores. Jesus Cristo não
“quebrantará o pavio que fumega” (Is_42:3; Is_27:8).
26. decretas — Uma frase jurídica, para anotar o castigo opinado.
A sentença do condenado costumam pô-la por escrito. (Is_10:1;
Jr_22:30; Sl_149:9). (Umbreit.)
coisas amargas — amargos castigos.
me fazes herdar (RC, NKJV) — Faz-me herdeiro. Na ancianidade
ele recebe posse da herança de pecado impensadamente adquirida na
juventude. “Herdar pecados” é herdar os castigos inseparavelmente
conectados com os mesmos nas ideias hebraicas (Sl_25:7).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 62
27. cepos — em que se afirmavam os pés do detento até a hora de
sua execução (Jr_20:2)
observas — Como o guarda vigiaria ao detento.
traças limites — ou a armadilha, ou a doença, marcava-lhe as solas
dos pés (hebraico, raízes), como espancados. Melhor: Traças uma linha,
(cavas) uma trincheira, (Gesênius) ao redor de minhas solas, de onde não
posso passar. (Umbreit.)
28. Jó fala de si mesmo em terceira pessoa, formando assim a
transição à sorte geral do ser humano (Jó_14:1; Sl_39:11; Os_5:12).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 63
Jó 14

Vv. 1-22. JÓ PASSA DE SUA PRÓPRIA CALAMIDADE À DA


HUMANIDADE.
1. mulher — fraca, e no oriente desprezada (Gn_2:21). O homem,
nascido de alguém frágil deve ser ele mesmo frágil também (Mt_11:11).
breve tempo — (Gn_47:9; Sl_90:10). O homem é o oposto
totalmente de dias e curto de insipidezes.
2. (Sl_90:6; veja-se Jó_8:9).
3. sobre tal homem abres os olhos — Não em benevolência; mas
sim “Clavas os olhos no tal?” (Cf. Jó_7:20; também Jó_1:7). É digno
alguém tão fraco como o homem ser alvo de vigilância tão constante da
parte de Deus? (Zc_12:4).
o fazes entrar — a ele tão fraco.
contigo (TB) — tão onipotente.
4. Um pedido de mitigação. A doutrina do pecado original cria-se
desde o começo. “O homem é imundo desde o começo; como pois pode
Deus esperar a perfeita pureza de tal homem e tratar comigo tão
severamente?”
5. contados — (Jó_7:1; Is_10:23; Dn_9:27; Dn_11:36).
6. Desvia dele os olhares — volta dele a vista, de o vigiar tão
zelosamente (Jó_14:3).
jornaleiro — (Jó_7:1.)
tenha prazer — antes, “desfrutar”. Para que ao menos desfrute a
medida de descanso de um jornaleiro, quem cansado se reconcilia com
sua sorte na esperança de seu descanso e recompensa. (Umbreit.)
7. O homem pode tanto mais reclamar uma vida pacífica, quanto
que separado dela pela morte, nunca volta para ela. Isto não nega a vida
futura, mas sim o retorno a esta presente condição de vida. É patente que
Jó espera um estado futuro (Jó_14:13; Jó_7:2). Mas não é mais que uma
esperança tremente, não uma segurança; salvo aquele único vislumbre
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 64
claro de Jó_19:25. Fazia falta a revelação evangélica para mudar os
temores, esperanças e vislumbres em clara certeza definida.
9. ao cheiro das águas — Antes, a exalação, que a umidade faz
com que germine a árvore. Na antítese ao homem, à árvore o personifica,
e poeticamente lhe atribui a volição.
como a planta — “como recém plantada.” (Umbreit.) Não como se
as árvores e plantas fossem de espécies diferentes.
10. homem … homem—Duas palavras hebraicas distintas se
empregam aqui: Geber, homem potente; embora poderoso morre; Adão,
homem de pó: porque terrestre, morre.
expira — vem ao nada; não pode reavivar-se na presente condição,
como faz a árvore. O cipreste e o pinheiro, que cortados não renascem,
eram símbolos da morte entre os romanos.
11. mar (TB) — isso é, uma lacuna formada pelo transbordamento
do rio. Jó vivia perto do Eufrates; e “mar” aplicava-se a tal rio (Jr_51:36;
Is_27:1). Deste modo o Nilo (Is_19:5).
se esgota — desaparecido totalmente pela evaporação. Os rudes
canais das que uma vez foram correntes águas representam o cadáver
tendido (“jaz”, Jó_14:12) do homem que uma vez vivia
12. enquanto existirem os céus — Isto só denota que Jó não tinha
esperança de viver outra vez na presente ordem de coisas, não que não
tivesse esperanças de vida numa nova ordem vindoura. O Sl_102:26
prova que muito em breve sob o Antigo Testamento se esperava a
dissolução da presente terra e céus (cf. Gn_8:22). Enoque antes de Jó
insinuou que os santos voltarão a viver” (Jd_1:14; Hb_11:13-16).
Mesmo quando Jó, em seu estado mais pessimista de sentimento, por
esta frase gostaria de dizer que “nunca” (Sl_89:29), embora o Espírito
Santo o tenha feito usar inconscientemente (1Pe_1:11-12) linguagem que
expresse a verdade, de que a ressurreição deve ser precedida pela
dissolução dos céus. Em Jó_14:13-15 passa claramente a esperanças
mais otimistas de um mundo por vir.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 65
13. Jó deseja ficar escondido na tumba, até passar a ira de Deus
contra ele. Assim enquanto a ira de Deus estiver visitando a terra por
causa da abundância da apostasia que deve preceder à segunda vinda, o
povo de Deus estará escondido até a glória na ressurreição (Is_26:19-21).
prazo — decretado (At_1:7).
14. tornará a viver? — A resposta implícita é que há esperança de
que viverá, embora não na presente ordem de vida, como o demonstram
as palavras que se seguem. Jó tinha negado (Jó_14:10-12) que o homem
deva voltar a viver neste presente mundo. Mas ao desejar um “prazo”
quando Deus se lembrar dele levantando-o do “esconderijo” da tumba
(Jó_14:13), declara-se disposto a esperar “todos os dias de sua idade”
(tempo ordenado) a continuar na tumba, por longo e duro que fosse.
os dias da minha luta — lit., guerreio, serviço duro; denota a
dureza de estar excluído da esfera da vida, de luz e de Deus durante a
estada no sepulcro (Jó_7:1).
minha mudança — Minha libertação, como a do soldado de seu
posto mediante a substituição de guarda (Jó_10:17) (Umbreit e
Gesênius), mas em outra parte Gesênius a explica por renovação, como
das plantas na primavera (Jó_14:7), mas isto não concorda tão bem com
a metáfora do “prazo” ou “guerreiro.”
15. ou seja, na ressurreição (Jo_5:28; Sl_17:15).
terias saudades — lit., empalidecer de ardente desejo (Gn_31:30;
Sl_84:2); estando implícita a absoluta improbabilidade de que Deus
deixasse ao esquecimento “a criatura que ele tão terrível e
maravilhosamente tem feito.” Objeta-se que se Jó tivesse sabido de uma
retribuição futura, teria feito dela o tema principal da decisão do
problema das tribulações dos justos. Mas (1) “Ele não quis exceder os
limites do que estava claramente revelado; a doutrina estava então só
numa forma vaga. (2) Fazia falta a vindicação da doutrina do governo
moral de Deus nesta vida, independentemente do futuro.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 66
16. Melhor, “Não vigiará assiduamente (como até agora) meu
pecado.” Dali em diante, em vez de tomar severa conta de todo pecado
de Jó, Deus o guardará contra todo pecado.
contarias os meus passos — ou seja, os atenderá cuidadosamente,
a fim de que não vagueiem. (Umbreit.) (1Sm_2:9; Sl_37:23).
17. selada — (Sl_9:7.) Está selada em eterno esquecimento. Deus
já não fará memória dos pecados passados. Encobrir pecados em
esquecê-los completamente (Sl_32:1; Sl_85:2). As bolsas de moeda no
oriente usualmente eram seladas.
encoberto — antes, “encobre” afim da palavra arábica por “tampar
com cores.” Esquecer totalmente.
18. se desfaz — lit., empalidece; figura poética de folha de árvore
(Is_34:4). Aqui Jó se volve com seus prognósticos lúgubres quanto ao
sepulcro. Em lugar de “E certamente,” traduza-se “entretanto:”
assinalando a transição a suas esperanças mais otimistas. Até a sólida
montanha cai e se desfaz; portanto o homem não pode “esperar” escapar
da dissolução ou viver de novo no mundo atual (Jó_14:19).
do seu lugar — assim o será o homem (Sl_103:16).
19. A ordem do hebraico é mais enérgica: “As próprias pedras são
desgastadas pela água.” Há uma graduação de “monte” e “pedras”
(Jó_14:18), e por último “o pó da terra”; de modo que o sólido monte
enfim desaparece totalmente.
20. prevaleces — dominando-o por seu superior poder.
ele passa — à morte.
mudas-lhe o semblante — A mudança na fisionomia com a morte.
Diferentemente em Dn_5:9.
21. Um rasgo marcado se escolhe do triste quadro da separação dos
mortos de tudo quanto passa no mundo (Ec_9:5), ou seja a completa
separação dos pais dos filhos.
22. “Carne” e “alma” descrevem o todo do homem. A Escritura
repousa na esperança de uma vida futura, não na inerente imortalidade
da alma, mas na restauração do corpo com a alma. No mundo invisível,
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 67
Jó em seu pessimismo se antecipa, o homem estará limitado ao
pensamento de seu próprio infortúnio. “A dor, pela personificação, por
nossos sentidos enquanto vivemos, atribui à carne e à alma, como se o
homem pudesse sentir em seu corpo quando está morto. São os mortos
em geral, não os iníquos, que aqui quer dizer.”
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 68
Jó 15

Vv. 1-35. O SEGUNDO DISCURSO DE ELIFAZ.


2. o sábio — que Jó pretende ser.
ciência de vento — heb. conhecimento ventoso; lit., “de vento”
(Jó_8:2). Em Ec_1:14, no hebraico, caçar o vento, expressa a ânsia pelo
que é vão.
vento oriental — Mais forte que o “vento”, pois naquelas partes o
vento oriental era o mais destruidor dos ventos (Is_27:8). Assim aqui:
violência oca.
ventre (TB) — As partes internas, o seio (Pv_18:8).
4. temor — Reverência para com Deus (Jó_4:6; Sl_2:11).
oração — A meditação, em Sl_104:34; assim a devoção. Se suas
opiniões fossem verdade, raciocina Elifaz, de que Deus não leva em
conta as tribulações dos justos e faz prosperar aos maus, toda devoção
acabaria.
5. O sofisma de seus próprios discursos prova sua culpabilidade.
6. Nenhum homem piedoso pronunciaria tais sentimentos.
7. Quer dizer, Serás Tu a sabedoria personificada? A sabedoria
existiu antes que as colinas, isto é, o eterno Filho de Deus (Pv_8:25;
Sl_90:2). Esteve em existência antes de Adão? Quanto mais remontava a
época de alguém, tanto mais próximo estava da Sabedoria Eterna.
8. secreto — Melhor, “Estiveste escutando o secreto conselho de
Deus?” “O hebraico significa propriamente os almofadões de um divã
em que se sentavam os conselheiros no oriente. Os servos de Deus são
admitidos nos secretos de Deus (Sl_25:14; Gn_18:17; Jo_15:15).
limitaste — antes, levou-te, tomou emprestada dali (ou seja, do
divã de conselheiros) sua sabedoria? Elifaz nisto (Jó_15:8, 9) replica
com as mesmas palavras de Jó contra ele mesmo (Jó_12:2-3; Jó_13:2).
9. em nós — Ou “conosco”: hebraísmo para estamos a par.
10. De nossa parte estão anciãos, que pensam como nós. Jó tinha
admitido que com os tais há sabedoria (Jó_12:12). Elifaz parece ter tido
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 69
mais idade que Jó; talvez os outros dois também (Jó_32:6). Jó, em
Jó_30:1, não faz referência a seus três amigos; o texto pois não motiva
objeção. Os árabes se orgulham na plenitude de anos.
11. consolações — ou seja, a revelação que Elifaz tinha declarado
como repreensão consoladora a Jó, e que repete em Jó_15:14.
alguma coisa se oculta (RC) — Você tem alguma sabedoria
secreta ou fonte de consolação que o leve a desprezar aquelas por mim
sugeridas? (Jó_15:8). Antes, de outra raiz hebraica, Trata você como
sem valor a palavra de bondade ou de brandura que eu te dirijo?
(Umbreit.)
12. piscas os teus olhos — quer dizer: Por que seus olhos
demonstram soberba? (Pv_6:13; Sl_35:19).
13. Isto é, zanga-te contra Deus, e deixa cair palavras temerárias.
14. Elifaz repete em substância a revelação (Jó_4:17), mas emprega
as mesmas palavras de Jó (Jó_14:1, nascer de mulher) para o ferir com
seus próprias armas.
15. Repetido de Jó_4:18; os “servos” ali são “santos” aqui, quer
dizer, os santos anjos.
céus — lit., ou se não, corresponde aos “anjos” (Jó_4:18; veja-se
Jó_25:5).
16. vil — Em árabe azedo (Sl_14:3; Sl_53:3), corrompido de sua
pureza original.
bebe — (Pv_19:28.)
17. Em contradição direta à posição de Jó (Pv_12:6, etc.), de que a
sorte dos ímpios era a mais próspera aqui, Elifaz invoca (1) sua própria
experiência, e (2) a sabedoria dos antigos.
18. Antes, “a qual (sabedoria) tal como era transmitida de seus pais,
não têm encoberto.”
19. Elifaz fala qual árabe verdadeiro quando se gaba de que seus
antepassados sempre possuíram a terra sem mistura de estrangeiros.
(Umbreit.) Suas palavras tinham por propósito contradizer as de Jó
(Jó_9:24); “a terra”, no caso deles não foi “dada em mãos de iníquos.”
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 70
Refere-se à divisão da terra por ordenação divina (Gn_10:5; Gn_25:32).
Também pode ser que insinue que os sentimentos de Jó teriam sido
corrompidos de sua pureza original por sua proximidade aos sabeus e
caldeus. (Rosenmuller.)
20. atormentado — antes, “treme de si,” embora não há perigo
real. (Umbreit.)
no curto número de anos — Esta é a razão por que o ímpio treme
continuamente, ou seja porque não sabe no momento em que sua vida
deve terminar.
21. A consciência má concebe alarme por todo som repentino,
mesmo quando seja tempo de paz (“prosperidade”), quando não há
perigo verdadeiro (Lv_26:36; Pv_28:1; 2Rs_7:6).
22. trevas—quer dizer, perigo ou calamidade. Lançando um olhar
a Jó, quem desesperava da restauração: em contraste com os bons
quando estão em trevas (Mq_6:7-8).
o espera a espada — isto é, Está destinado à espada. (Gesênius.) ,
antes, (na noite de perigo), “olhe ansiosamente rumo à espada,” como se
toda espada estivesse desembainhada contra ele. (Umbreit.)
23. Vaga em ansiosa busca de pão. A fome no Antigo Testamento
simboliza a dura necessidade (Is_5:13). Contraste a sorte do piedoso
(Jó_5:20-22).
sabe — tem firme convicção. Contraste-a mesma palavra aplicada
ao homem pio (Jó_5:24-25).
preparado — Está à mão: expressão árabe que denota que uma
coisa está totalmente ponta e em plena presença, como se estivesse na
mão.
24. prevalecem — se lançarão em ataque repentino e terrivelmente,
como um rei (Pv_6:11).
25. estendeu a mão — Dirigindo o dardo, como intrépido rebelde
contra Deus (Jó_9:4; Is_27:4).
26. com o pescoço erguido — antes, “com nuca estendida,” isso, a
de rebelde. (Umbreit.) (Sl_75:5).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 71
depois da espessa barreira — antes, “com … as ombreiras delas
(do rebelde, não as de Deus).” Pinta-se à rebelde e seus cúmplices
unindo seus escudos para formar uma proteção compacta sobre a cabeça
contra os projéteis jogados de um forte. (Umbreit e Gesênius.)
27. O bem alimentado corpo do rebelde é sinal de sua prosperidade.
enxúndia — massas de gordura. Regala-se e engorda com
indulgências sensuais. Portanto sua rebelião é contra Deus (Dt_32:15;
1Sm_2:29).
28. A classe de ímpios aqui descrita é dos roubadores que saqueiam
as “cidades,” e tomam as casas dos cidadãos banidos (Is_13:20). Elifaz
escolhe esta classe, porque Jó tinha escolhido a mesma (Jó_12:6).
em ruínas — de ruínas, escombros.
29. Antes, não aumentará sua riqueza; já alcançou o ponto máximo;
sua prosperidade não continuará.
seus bens — antes, “Sua riqueza adquirida, suas possessão não será
estendida …”
30. escapará — (Jó_15:22, 23.)
secará — é o vento abrasador do oriente, pelo qual se murcham de
repente as plantas de mais seiva.
renovos — isso é, sua prole (Jó_1:18-19; Sl_37:35).
a boca de Deus — isto é, a ira de Deus (Is_11:4).
31. vaidade — o que não é substancial. O pecado é seu próprio
castigo (Pv_1:31; Jr_2:19).
32. Esta — lit., “Esta (árvore, ao qual lhe compara, Jó_15:30, ou se
não, sua vida) não alcançará sua plenitude em seu tempo”; isto é,
“acabará antes de seu tempo.”
não reverdecerá — Figura de uma árvore seca; a extinção sem
filhos dos ímpios.
33. Figuras de um estado incompleto. A perda das uvas sem
maturar, poeticamente faz-se a obra da própria videira, a fim de
expressar com mais precisão que a ruína do pecador é o fruto de sua
própria conduta (Is_3:11; Jr_6:19)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 72
34. Antes, a união dos hipócritas (ímpios) será sem fruto. (Umbreit.)
as tendas de suborno — isto é, as casas de juízes injustos, muitas
vezes censuradas no Antigo Testamento (Is_1:23). O “fogo de Deus” que
consumiu as posses de Jó (Jó_1:16), insinua Elifaz, teria sido por causa
dos subornos de Jó como cacique ou emir árabe.
35. Amarga ironia, que ilustra quão infrutífera é a vida do ímpio
(Jó_15:34). Seus concepções e seus iluminações consistem tão somente
em maldades, etc. (Is_33:11).
Concebem a malícia — premeditam.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 73
Jó 16

Vv. 1-22. RÉPLICA DE JÓ.


2. (Jó_13:4.)
3. “Palavras de vento,” como no hebraico. Responde a Elifaz nas
palavras da repreensão dele (Jó_15:2).
te instiga — lit., O que é que te fatiga para que contradigas? Quer
dizer, o que eu disse que te provoque? (Schuttens.) Ou, como melhor
concorda com a primeira cláusula, Por que te fatigas contradizendo?
(Umbreit.)
4. poderia dirigir-vos — antes, “manobraria (um exército de)
palavras contra ti.”
menear ... a minha cabeça — em mofa; significa o sinal de
assentir não a sacudida de cabeça negativa; a sacudida de cabeça não é
para nós, como no oriente, um gesto de escárnio (Is_37:22; Jr_18:16;
Mt_27:39).
5. com as minhas palavras — Lit., “com minha boca”, ironia
amarga. Em alusão às jactanciosas “consolações” de Elifaz (Jó_15:11).
O oposto de alentar com o coração; isto é, a consolação verdadeira.
Traduza-se: “Eu também (como você) alentaria com a boca,” isto é, com
fala insensível. “E o movimento de meus lábios (mero consolo de lábios)
apaziguaria” (da mesma maneira que vocês). (Umbreit). O “cordial
conselho” (Pv_27:9) é o oposto.
6. qual é o meu alívio? — lit., “O que (porção de meu
padecimento) se separa de mim?”
7. Na verdade — antes, “Ah!”
família — antes, “grupo de testemunhas,” ou seja, os que poderiam
testemunhar sua inocência, seus filhos, servos, etc. Assim se traduz no
versículo seguinte [Jó_16:8]. Umbreit faz com que as testemunhas sejam
o próprio Jó, porque ai! não tinha outra testemunha a seu favor. Isto é
muito recôndito.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 74
8. encarquilhado — antes, (como também a mesma palavra
hebraica em Jó_22:16: “cortados”): “Você me algemou, sua testemunha”
(além de cortar minha companhia de testemunhas, Jó_16:7); quer dizer,
você me incapacitou pelas dores de testemunhar devidamente minha
inocência. Mas outra “testemunha” se levanta contra ele, ou seja, sua
“fraqueza” ou miserável condição de corpo, interpretada por seus amigos
como prova de culpabilidade. O sentido radical do hebraico é juntar, de
onde vem o duplo sentido de atar ou encadear, e no siríaco, enrugar.
magreza — significa também mentira; insinua que era uma
“testemunha” falsa.
9. Figura de uma fera. Assim Deus é representado em Jó_10:16.
tem animosidade contra mim — antes, “e duramente me
persegue.” Jó não atribuiria “ódio” a Deus (Sl_50:22).
meu adversário — (Sl_7:12). Lança-me olhadas graciosas, como
um inimigo (Jó_13:24).
10. abrem contra mim a boca — Não a fim de O devorar, mas de
mofar-se dele. Para cúmulo de calamidade, a mofa de seus amigos (v.
10) adiciona-se ao trato hostil de Deus (v. 9).
me esbofeteiam — fig., de ultraje insolente (Lm_3:30; Mt_5:39).
se ajuntam — “Conspiram unanimemente” (Schuttens.)
11. me entrega — lit., jogou-me de cabeça.
dos perversos — ou seja, a seus amigos professos, que lhe
perseguiram com discursos ferinos.
12. Em paz eu vivia — em tempos passados (Jó_1:1-3).
pelo pescoço — como uma fera à presa (assim Jó_10:16).
me despedaçou — em contraste com sua condição anterior de
quietude (Sl_102:10).
Alvo — (Jó_7:20; Lm_3:12). Deus me deixa sempre recuperar
forças, a fim de me atormentar incessantemente.
13. seus flecheiros (RC) —Continua a figura do versículo anterior
[Jó_16:12]. Deus, ao me fazer seu “alvo,” está acompanhado pelos três
amigos, cujas palavras lhe são como flechas agudas.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 75
o meu fel — tal por uma parte vital. Assim o fígado (Lm_2:11).
14. A figura é do assédio de uma fortaleza que faz brechas nas
muralhas (2Rs_14:13).
guerreiro — forte guerreiro.
15. Cosi — que denota o ajuste apertado da roupa de luto; era um
saco com abertura para os braços, costurado ajustado ao corpo.
pus minha cabeça—figura do gado chifrudo que, quando excitado,
cavam na terra com os chifres. O chifre é emblema de poder
(1Rs_22:11). Aqui, está
no pó — o que aplicado a Jó, denota sua humilhação de sua
grandeza anterior. Arrojar alguém no pó é sinal de luto; esta ideia está
aqui unida a de nervoso desespero, pintado pela fúria de um animal
chifrudo. Os drusos do Líbano ainda levam chifres como ornamentos.
16. afogueado — antes, “vermelho,” isso, ruborizado e acalorado.
(Umbreit e Noyes).
sombra da morte — Literalmente, ou seja enegrecidos pelas
muitas lágrimas (Lm_5:17). Jó aqui se refere à acusação de Zofar
(Jó_11:14). Quase as mesmas palavras se usam referente a Jesus Cristo
(Is_53:9). Assim Jó_16:10 corresponde à descrição de Jesus Cristo
(Sl_22:13; Is_50:6; Jó_16:4 com Sl_22:7). Ele só realizou o que Jó
aspirava alcançar, a justiça externa de atos e a pureza interna de
devoção. Jesus Cristo como o homem representativo está tipificado até
certo ponto em todo servo de Deus no Antigo Testamento.
18. meu sangue—isso é, meu padecimento não merecido.
Compara-se ao assassinado, cujo sangue a terra se nega a absorver
enquanto não for vingado. (Gn_4:10-11; Ez_24:1, Ez_24:8; Is_26:21).
Os árabes dizem que o orvalho do céu não desce num lugar molhado por
sangue inocente (cf. 2Sm_1:21).
não haja lugar — nenhum lugar de descanso. “Que meu clamor
nunca cesse!” Que se estenda ao longe! “Terra” neste versículo está em
antítese com “céu” (v. 19). Que seja minha inocência tão bem conhecida
os homens como o é ao próprio Deus!
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 76
19. Eis que também (RC)—ainda agora, quando estou tão mal
compreendido na terra, Deus no céu é sensível a minha inocência.
minha testemunha—Em meio de toda sua impaciência, Jó ainda
confia em Deus.
20. Hebraico: “são meus mofadores”; mais enfático “meus
mofadores – meus amigos!” Paradoxo ferino. (Umbreit.) É somente a
Deus a quem pode pedir confirmação de sua inocência; suplica isto com
olhos lacrimosos.
21. homem — antes, o próprio Deus. “Tomara que advogasse por
um homem (ou seja, por mim) contra Deus.” Jó singularmente diz: Deus
deve me defender contra Deus; porque ele me faz sofrer, e só Ele sabe
que sou inocente. (Umbreit.) Assim ajudou Deus a Jacó contra si mesmo
(cf. Jó_23:6; Gn_32:25). Deus em Cristo advoga com Deus pelo homem
(Rm_8:26-27).
filho do homem — lit., “o Filho do homem,” prefigurando a
intercessão de Jesus Cristo: bênção que Jó desejava desfrutar (Rm_9:33),
embora a plenitude espiritual de seus próprias palavras, sortes para todas
as idades, eram-lhe pouco compreendidas (Sl_80:17).
próximo — Hebraico: amigo. O próprio Jó (Sl_42:8) intercedeu
por seus “amigos”, embora eram “lutadores” ou “mofadores” (v. 20);
deste modo Jesus Cristo o Filho do homem (Lc_23:34) por seus
“amigos” (Jo_15:13-15).
22. poucos anos — lit., “anos de número,” quer dizer, poucos, o
oposto de “inúmeros” (Gênesis (Gn_34:30).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 77
Jó 17

Vv. 1-16. CONTINUA A RÉPLICA DE JÓ.


1. espírito se vai consumindo — o efeito da elefantíase. Mas
Umbreit: “Meu alento (espírito) está desgastado.”
se vão apagando — A vida se compara à luz que se apaga. “A luz
de meus dias está apagada.”
sepultura — no plural, para aumentar a ênfase.
2. (Umbreit.) Mais enfaticamente “Se só tivesse que suportar a
mofa, em meio das contenções deles eu (meus olhos) ficaria quieto.”
“Continuar o olho toda a noite,” é a figura hebraica que expressa o
descanso não perturbado; o contrário do expresso (Jó_16:20) quando o
olho de Jó derrama lágrimas a Deus sem descanso.
3. sê o meu fiador — Ó Deus, testemunha minha inocência, visto
que meus amigos só se mofam de mim (Jó_17:2). Ambas as partes
litigantes deviam depositar uma soma como garantia antes do litígio.
Dá-me, pois, um penhor — Disponha a soma por mim (para
litigar) contigo. Um presságio da “fiança” (Hb_7:22), ou de “um
Mediador entre Deus e o homem” (cf. Jó_16:21).
me possa dar a mão (TB) — “Quem mais (salvo o próprio Deus)
poderia tocar mãos comigo?” quer dizer, ser meu fiador (Sl_119:122). O
hebraico toca a mão daquele de quem se faz fiador (Pv_6:1).
4. seu coração — o intelecto de seus amigos.
não os exaltarás — antes, imperativo: não os elogie. Não os deixe
vencer. (Umbreit.) (Is_6:9-10).
5. O hebraico para lisonja é lisura; logo chegou a ser a presa
repartida por sortes, porque se usava uma pedra lisa para lançar sortes
(Dt_18:8), “uma porção” (Gn_14:24). Portanto traduza-se: “Aquele que
entrega a seu amigo qual presa (o que a conduta de seus amigos dava a
entender que fariam) …” (Noyes.) (Jó_11:20). Isto o diz Jó referente aos
filhos do pecador, em réplica à recriminação deles referente por ocasião
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 78
da morte dos seus (Jó_5:4; Jó_15:30). Isto concorda com a dispensação
da retribuição legal do Antigo Testamento (Êx_20:5).
6. Ele [oculto] — Deus. O poeta reverentemente suprime o nome de
Deus, quando fala de calamidades infligidas.
provérbio — (Dt_28:37; Sl_69:11.) Meu horrível castigo faz
execrado meu nome em todo lugar, como se eu devesse ter sido
superlativamente mau para merecê-lo.
rosto — Honrado como Davi foi (1Sm_18:6). Antes, de outro
radical hebraico: “Me trata à cara como um objeto repugnante,” lit.,
uma coisa que deve ser cuspida (Nm_12:14). Assim significa Raca
(Mt_5:22). (Umbreit.)
7. (Sl_6:7; Sl_31:9; Dt_34:7).
membros — lit., figuras; todos os membros individuais são formas
peculiares do corpo; oposto de “sombra,” que parece uma figura sem
solidez.
8. pasmam — de meus pensamentos não merecidos.
contra o ímpio — Os justos sentem ferido seu sentido de justiça
(“se ressentirão”) por causa da prosperidade do ímpio. Ao dizer
“hipócrita” talvez dê uma olhada a seus falsos amigos.
9. A força do princípio religioso aumenta com o infortúnio. Os
piedosos recuperarão novos brios para perseverar, do exemplo do sofrido
Jó. A figura é de um guerreiro que recebe nova valentia na luta
(Is_40:30-31; Fp_1:14).
10. vinde cá — Se tiverem algo de sábio para propor, coisa que
duvido, venham tomar a palavra. Porque até agora não encontro sábio
entre vós.
11. Só que não falem inutilmente da restauração de minha saúde,
porque “os meus dias passaram.”
se malograram — quebrados, como os fios cortados do tear
(Is_38:12).
propósitos — lit., posses; quer dizer, todos os sentimentos e boas
esperanças que meu coração uma vez alentava. Estes pertencem ao
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 79
coração, como os “propósitos” ao entendimento; as duas coisas aqui
descrevem todo o homem interno.
12. Eles (oculto) — Quer dizer, meus amigos.
Convertem-me a noite em dia — quiseram mudar a noite em dia,
ou seja, tratar de me persuadir de uma mudança de minha miséria em
alegria, o que é impossível (Umbreit) (Jó_11:17); (mas) a luz da
prosperidade (não poderia ser desfrutada) seria breve por causa da
escuridão da adversidade. Ou antes, em vez de “breve”, a palavra
hebraica “perto”; “e a luz da nova prosperidade estaria próxima diante
das trevas da morte,” quer dizer, quiseram me persuadir de que a luz está
perto, mesmo quando a escuridão se aproxima.
13. Antes: Se esperar este sepulcro (sheol, ou o mundo invisível)
por minha casa, e faço minha cama nas trevas, e digo (v. 14) à vala
elipse onde, pois … minha esperança? (v. 15). (Umbreit.) A apódose está
no v. 15: “Quem a verá?”
14. tu és meu pai, etc. — o que expressa a conexão mais íntima
(Pv_7:4). Sua condição de doente fê-lo parente próximo do sepulcro e do
verme.
15. quem a poderá ver? — ou seja, a “esperança” (Jó_11:18) da
restauração que eles me ofereciam.
16. descerá — minha esperança: será enterrada comigo.
portas da morte — (Is_38:10.), antes, os desperdícios da fossa
(sheol, o mundo invisível).
juntamente no pó teremos descanso — O que resta de mim e de
minhas esperanças estão no pó. Aquele e estas morrem juntos. A palavra
descansar denota que as incessantes esperança do homem não fazem
senão lhe roubar o repouso.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 80
Jó 18

Vv. 1-21. A RÉPLICA DE BILDADE.


2. Até quando andarás à caça — Os outros dois amigos de Jó, aos
quais Bildade reprova de terem falado meras “palavras”, ou seja,
discursos ocos, o oposto de “entendam”, quer dizer, estejam atentos,
considerem o assunto inteligentemente, e logo falemos.
3. animais — Aludindo ao que Jó disse (Jó_12:7; assim Is_1:3).
curtos de inteligência — antes, de uma raiz hebraica, tampar.
“Teimosos,” correspondente à estupidez implícita na primeira cláusula
paralela. (Umbreit.) Por que devemos dar ocasião por seus discursos
vãos para que sejamos tidos por ignorantes, aos olhos de Jó e
mutuamente perante nós mesmos? (Jó_17:4, Jó_17:10).
4. Antes, voltando para Jó, “você que chorou em ira” (Jó_5:2).
será ... abandonada — Voltará assolada. Alude aqui às palavras de
Jó quanto ao monte que se desfaz (Jó_14:18-19); mas com aplicação
diferente. Diz amargamente: “por ti.” Se não estivesse castigado como
está, e como não o quer suportar, seria alvoroçada a eterna ordem do
universo e seria assolada a terra por causa da maldade não vingada.
(Umbreit.) Bildade pressupõe que Jó é grande pecador (Jó_8:3-6;
Is_24:5-6). “Será removido aquilo que está firme qual rocha para te
acomodar especialmente a ti?”
5. Isso (Jó_18:4) não pode ser. O decreto de Deus é inalterável, a
luz (prosperidade) dos ímpios no fim será apagada.
seu fogo — Alusão feita à hospitalidade arábica, que se orgulhava
de receber o estranho ao calor da tenda, e até acendia o fogo que servisse
para o dirigir para ela. Os ímpios serão privados dos meios de
hospitalidade. Sua habitação será escura e desolada!
6. lâmpada — que no oriente usualmente a suspendem do teto. O
azeite abunda naquelas regiões, e a lâmpada iluminava toda a noite,
como no Egito hoje em dia, onde o mais pobre prefere privar-se da
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 81
comida a não ter a lâmpada presa de noite (Sl_18:28). Apagar a lâmpada
era uma figura de completa desolação.
7. seus passos fortes — Hebraico: Seus fortes passos. O passo firme
indica saúde. Ter passos cortados é o não ser já capaz de mover-se à
vontade (Pv_4:12).
sua própria trama — ou planos serão os meios de sua queda
(Jó_5:13).
8. entre redes caminha — antes,, “deixa-se meter na rede.”
(Umbreit.) Ou se deixarmos a palavra “rede” deve entendê-la fossa
armadilha dissimulada com ramas e terra, que pegada se desaba
(Sl_9:15; Sl_35:8).
9. armadilha — Em vez de responder a rede (laço) na cláusula
paralela “o laço deve agarrar-se dele” (Umbreit).
11. assombros — Mencionados muitas vezes no livro (Jó_18:14;
Jó_24:17, etc.). Personifica-se os terrores causados pela consciência má.
“Magor-Missabibe” (Jr_20:3-4).
o perseguirão a cada passo — antes: o perseguirão (lit.,
espalharão, Hab_3:14), pisando-lhe os calcanhares (Hab_3:5;
1Sm_25:42; hebraico). A figura é a de um vencedor que espalha ao
inimigo. (Umbreit.)
12. O hebraico é claro e ousado: “sua força será faminta.”
miséria — uma calamidade grande. (Pv_1:27).
ao seu lado — logo a destruí-lo (Pv_19:29).
13. Umbreit traduz: “Ele comerá;” isto é, “na violência de sua fome
devorará seu próprio corpo”: ou a seus próprios filhos (Lm_4:10). ,
antes, o “ruína” do versículo anterior é nominativo para “devora”.
Membros — lit., ramos de árvore.
primogênito da morte — Uma personificação exuberante do
horror poético. O primogênito ocupava o posto principal (Gn_49:3);
assim aqui a doença mais principal (mais mortal) que a morte jamais
engendrou (Is_14:30; “o primogênito dos pobres” — o mais pobre). Os
árabes chamam à febre “filha da morte.”
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 82
14. está confiado — Tudo aquilo em que confiava o pai para a
felicidade doméstica, filhos, fortuna, etc., referindo-se às perdas de Jó,
arrancado — desarraigada repentinamente, será levado; quer dizer,
ele será levado; ou como Umbreit tem melhor; “Tu (Deus) me trarás
lentamente.” O hebraico expressa “andar a longos passos lenta e
solenemente.” O ímpio por muito tempo tem perante os olhos uma morte
horrorosa, que afinal o alcançará. Aludindo ao caso de Jó. O Rei dos
espantos, não como o Plutão dos pagãos, o governador fabuloso dos
mortos, mas sim a Morte, com todos os seus terrores para os ímpios,
personificada.
15. morará — ou seja, o espanto, e não outro como opina Umbreit,
como a segunda cláusula prova.
Nenhum dos seus — Já não é dele.
enxofre — Provavelmente comparando a calamidade de Jó pelo
“fogo de Deus” (Jó_1:16) à destruição da culpada Sodoma por fogo e
enxofre (Gn_19:24).
16. raízes — ele mesmo.
ramos — seus filhos (Jó_8:12; Jó_15:30; Ml_4:1).
17. praças — Não o cumprimentarão ao encontrá-lo pelas ruas.
Antes, pelo campo ou planície; os pastores nem mencionarão mais seu
nome. Um quadro da vida nômade. (Umbreit.)
18. luz … trevas — existência … não existência.
19. neto (RC) — Assim Gn_21:23; Is_14:22. “Sobrinho” (AV).
Traduza-se “parente”.
20. os de ocidente … os de oriente — quer dizer, todas os povos;
lit., os de atrás … os da frente; na geografia os orientais dão a face
voltada para o leste (não ao norte como nós); de modo que a frente é o
leste, as costas o oeste (Assim Zc_14:8).
dia dele — da ruína (Ob_1:12).
se espantam — Aterrorizados (Zc_21:6; Is_13:8).
21. (Jó_8:22, margem).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 83
Jó 19

Vv. 1-29. A RÉPLICA DE JÓ A BILDADE.


2. Até quando, etc. — Replicando nas mesmas palavras de Bildade
(Jó_18:2). Concedendo que o castigo é merecido, é benigno continuar
martelando sempre nisso ao que o sofre? E nem mesmo o tinham
provado ainda.
3. Hebraico: “estas dez vezes,” anteposto o pronome ao numeral por
ênfase (Gn_27:36).
dez — com frequência (Gn_31:7).
me vituperastes — antes, me aturdir. (Gesênius.)
4. errado — O hebraico expressa erro consciente. Jó não estava
consciente de pecado voluntário.
ficará — lit., passará a noite. Eu aguento a consequência.
5. engrandecer-vos — Vocês falam arrogantemente (Ob_1:12;
Ez_35:13).
contra mim — repetido enfaticamente (Sl_38:16).
e me arguis — A Versão Inglesa faz esta parte da prótase, “se”
sendo entendido, e a apódose que começa em Jó_19:6. Melhor, com
Umbreit, “Se na verdade queriam fazer-se grandes heróis contra mim,
provem (demonstrem) a culpa (opróbrio) minha que declaram.” Na
Versão Inglesa “opróbrio” significará as calamidades de Jó, as que
“aduziram” contra ele como prova de culpabilidade.
6. com a sua rede me cercou — Alusão às palavras de Bildade
(Jó_18:8). Saibam que não sou eu quem qual ímpio tenha sido apanhado
em minha própria rede, mas sim é Deus quem me rodeou com a sua; o
por quê não sei.
7. violência — que lhe vem de parte de Deus.
não há justiça — Deus não tirará minhas calamidades, para assim
vindicar minha justa causa: e meus amigos não farão justiça com meu
caráter passado.
8. Figura de um viajante tomado de noite.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 84
9. me despojou … coroa — Figura de um rei despojado de sua
roupagem e coroa: apropriado para Jó um emir com dignidade quase real
(Lm_5:16; Sl_89:39).
10. Arruinou-me de todos os lados — “Sacudido em todo lugar,
de modo que caio no pó”; figura de uma árvore desarraigada sacudida
violentamente de todos os lados. (Umbreit.) Com isto concorda a
cláusula que segue (Jr_1:10).
a esperança — Quanto a esta vida (em contradição a Zofar,
Jó_11:18); não quanto ao mundo porvir (Jó_19:25; Jó_14:15).
11. adversário — (Jó_13:24; Lm_2:5).
12. tropas — Calamidades que avançavam juntas qual tropas hostis
(Lm_10:17).
se acamparam ao redor da minha tenda — Um exército deve
abrir um caminho de acesso, ao partir contra uma cidade (Is_40:3).
13. irmãos — parentes os mais próximos, em distinção dos
“conhecidos.” Os dois substantivos se correspondem no paralelismo
(Jó_19:14). O provérbio árabe é: “O irmão, isto é, o amigo verdadeiro só
se conhece em tempo de necessidade.”
se apartaram — lit., voltaram as costas com repugnância. Jó de
novo inconscientemente usa linguagem que prefigura o abandono que
sofreu o Senhor Jesus (Jó_16:10; Lc_23:49; Sl_38:11).
15. Os que se abrigam na minha casa — os servos, que vivem
temporariamente em sua casa. Notem o contraste: o estranho admitido
para passar um tempo qual dependente trata o dono como um estranho
em sua própria casa.
16. criado — nascido em minha casa (distinto dos moradores), e
pertencente totalmente à família. Mas até ele desobedece a minha
chamada.
boca (RC) — quer dizer, em voz forte; antes bastava um sinal da
cabeça. Como não atende a meu olhar, devo lhe rogar com palavras.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 85
17. hálito … repugnante — Seu alento pela elefantíase veio a ser
muito mudado e ofensivo, de modo que sua mulher o abandonava como
a um estranho (Jó_19:13; Jó_17:1).
filhos do meu corpo (RC) — No hebraico “filhos de meu corpo”,
onde esperaríamos “de meus lombos”, como corpo, ou ventre, aplica-se
à mulher. O possessivo “meus” proíbe que se aplique a sua esposa. Além
disso seus filhos estavam mortos. Em Jó_3:10 as mesmas palavras “meu
ventre” significam o ventre de minha mãe; portanto, traduza-se:
“Embora rogava aos filhos do ventre de minha mãe”, quer dizer, a meus
próprios irmãos. Um aumento de força, em comparação com a segunda
cláusula de Jó_19:16. (Umbreit.) Não só devo rogar humilhado a meu
servo, mas também a meus próprios irmãos (Sl_69:8). Aqui também
prefigura a Jesus Cristo (Jo_7:5).
18. crianças — No hebraico significa garotinhos (Jó_21:11).
Respeito à ancianidade é um dever primordial no Oriente. A palavra
significa “iníquo” (Jó_16:11). Assim a aplica aqui Umbreit, não tão bem.
querendo eu levantar-me — Melhor: “Se me levantasse”:
porquanto Jó não estava em condições para levantar-se. “Se me
levantasse, falariam (abusivamente) contra mim.” (Umbreit.)
19. amigos íntimos — lit., “homens de meu segredo” – aos que
confiei minhas confidências mais íntimas.
20. Extrema fraqueza. O osso parecia aparecer pela pele, estando
visível pela secura da carne, do osso separado. A lição marginal inglesa:
“Meu osso se pega a meu couro; e quanto a minha carne …” esclarece o
sentido.
pele dos meus dentes — Dito proverbial. Com muita dificuldade
escapei com a vida. Estou são somente com a pele nos dentes; isto é, só
tenho sãs as gengivas; toda a demais pele de meu corpo a tenho rota com
úlceras (Jó_7:5; Sl_102:5). Satanás perdoou a Jó a fala, na esperança de
que ela amaldiçoaria a Deus.
21. Quando Deus fez dele espetáculo tão choroso, seus amigos
deveriam lhe poupar a perseguição adicional de seus cruéis discursos.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 86
22. como Deus — me perseguiu. Prefigurando a Jesus Cristo
(Sl_69:26). Aquele que Deus aflige não é razão por que o homem deva
acrescentar mais aflição àquela que sofre (Zc_1:5).
não cessais de devorar a minha carne? — Não é suficiente que
Deus me castigue na carne literalmente (Jó_19:20), vocês devem “comer
minha carne” metaforicamente (Sl_27:2); isto é, proferir as piores
calúnias, como com frequência significa a frase no árabe.
23. Desesperando-se para receber justiça da parte dos amigos de
antigamente, deseja que suas palavras sejam conservadas imperecíveis
para a posteridade, para testemunhar esta sua esperança de vindicação na
ressurreição.
fossem agora escritas — não a nossa impressão moderna, mas sim
a entalhadura.
24. com chumbo — líquido derramado sobre as letras gravadas,
para as tornar mais visíveis. (Umbreit.) Não em pranchas de chumbo;
porque era “em pedra” onde seriam esculpidas. Talvez era o martelo que
era de chumbo, visto que os escultores acham que se pode fazer incisões
mais delicadas com martelo de chumbo que com martelos de material
mais duro. Foster demonstrou que as inscrições na rocha do Wadi
Mokatta, sobre a rota dos israelitas pelo deserto, lembram as jornadas de
tal povo, como asseverou Cosmas Indicopleustes no ano 535 d.C.
para sempre — enquanto dure a mesma rocha.
25. Redentor — Umbreit (e outros) entendem que isto e Jó_19:26
refere-se à aparição de Deus como vingador de Jó antes de sua morte,
quando seu corpo se desgastou até mero esqueleto. Mas Jó
uniformemente se desespera pela restauração e vindicação de sua causa
nesta vida (Jó_17:15-16). Uma só esperança fica, a qual revelou o
Espírito: a vindicação numa vida futura; não seria vindicação plena, se
sua alma só tivesse que ser feliz sem o corpo, como alguns explicam
(Jó_19:26) fora de minha carne. Foi seu corpo o que sofreu
principalmente; só a ressurreição do corpo, pois, poderia vindicar sua
causa: o ver a Deus com seus próprios olhos, e num corpo renovado
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 87
(Jó_19:27), refutaria a imputação de culpabilidade que sobre ele estava
por causa dos padecimentos presentes de seu corpo. O fato de que esta
verdade não se acha ampliada mais por Jó, nem notada por seus amigos
só demonstra que para ele era um belo vislumbre passageiro do que era a
esperança do Antigo Testamento, antes, que a luz firme da segurança
evangélica; para nós esta passagem tem uma claridade determinada, que
não tinha na mente de Jó (cf. Jó_21:30). A ideia que havia em
“Redentor” para Jó é Reivindicador (Jó_16:19; Nm_35:27), que retifica
seus males; que incluía para nós, e provavelmente para ele, a ideia do
predito Esmagador da cabeça da serpente. Foster ensina que a queda
motivada pela serpente está perfeitamente representada no templo de
Osíris em Philae; e a ressurreição, sobre a tumba do egípcio Miquerinos,
de há quatro mil anos a esta parte. Os sacrifícios de Jó sugerem um
sentido do pecado e da necessidade de propiciação. Satanás era quem
ultrajava o corpo de Jó; Jesus Cristo é seu Reivindicador, o Vivente que
dá vida (Jo_5:21, Jo_5:26).
e por fim — antes, “o Último”, o título peculiar de Jesus Cristo,
embora Jó podia não soubesse o pleno significado de suas inspiradas
palavras, e pode ser que compreendesse apenas a ideia de alguém que
vinha depois (1Co_15:45; Ap_1:17). Jesus Cristo é o Último. O dia de
Jesus Cristo é o último dia (Jo_6:39).
se levantará — Como se diz que Deus “levantou” o Messias
(Jr_23:5; Dt_18:15).
pó — muitas vezes associado ao corpo na decomposição dele em
pó (Dt_7:21; Dt_17:16); portanto, apropriadamente aqui. Em cima do
mesmo pó com o qual se mescla o putrefativo corpo do homem, se
levantará o Reivindicador do homem. “Acima do pó”, expressa
chamativamente o fato de que Jesus Cristo mesmo levantou-se sobre o
pó (1Co_15:20, 1Co_15:23). O Espírito quis dizer pelas palavras de Jó
mais do que Jó entendia plenamente (1Pe_1:12). Embora Ele parece, ao
me abandonar, um morto, agora certamente “vive” no céu: no futuro
aparecerá também sobre o pó da terra. O Goel, ou vingador de sangue
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 88
era o parente mais próximo do assassinado. Assim Jesus Cristo tomou
nossa carne, para ser nosso parente mais chegado. O homem perdeu a
vida por Satanás o “homicida” (Jo_8:44), aqui o perseguidor de Jó
(Hb_2:14). Coteje-se também quanto à redenção da herança pelo
parente do morto (Rt_4:3-5; Ef_1:14).
26. Antes, “Embora depois que minha pele (já não seja mais) isto
(meu corpo) seja destruído (“corpo” se omite, por estar tão desgastado e
não merecer menção), contudo desde minha carne (meu corpo renovado,
como o ponto de partida de visão. Ct_2:9; “olhando pelas janelas”) verei
a Deus”. A outra cláusula prova que se quer dizer a visão corporal,
porque estão especificados “meus olhos.” A outra cláusula [Jó_19:27]
prova o sentido de uma visão corporal (Rosenmuller, 2da. Edição.) O
hebraico contradiz “em minha carne”. A pele foi primeiro destruída pela
elefantíase, logo o “corpo”.
27. por mim mesmo — A minha vantagem, como meu amigo.
não outros — Meus olhos o olharão já não como quem está
inimizado, como agora, comigo. (Bengel.)
meus rins (TB) — o interior do coração.
desfalecem dentro em mim (TB) — quer dizer, desejam
dolorosamente o descanso para aquele dia (Sl_84:2; Sl_119:81). Os
gentios não tiveram senão poucas promessas reveladas: que bênção que
aquelas poucas fossem tão explícitas! (Cf. Nm_24:17; Mt_2:2).
28. Antes, Devem dizer então (quando vier o Vingador): Por quê?
a raiz do assunto se encontra em mim (NKJV) — A raiz da
integridade piedosa, a qual é o ponto debatido, se fosse possível que se
ache em mim, que estou tão aflito. Umbreit, com muitos MSS e versões,
lê: “nele”. “Ou como encontramos nele base de contenção.
29. o seu furor — a violência apaixonada pela qual os amigos
perseguiram Jó.
a espada — lit., é o pecado da espada.
para saberdes — Eu o digo para que saibam.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 89
um juízo — Inseparavelmente conectado com a vinda do
Reivindicador. A “ira” de Deus em seu aparecimento para a vindicação
temporária de Jó contra seus amigos (Jó_42:7) é uma garantia da ira
eterna na vinda final para glorificar os santos e para julgar os inimigos
deles (2Ts_1:6-10; Is_25:8).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 90
Jó 20

Vv. 1-29. A RÉPLICA DE ZOFAR.


2. Visto que — Quanto mais me comovo pelo discurso de Jó, tanto
mais por essa mesma razão tenho que responder com calma
consideração. Lit., “Não obstante; meus pensamentos calmosos (como
em Jó_4:13) darão minha resposta, por causa da agitação (pressa) dentro
de mim”. (Umbreit.)
3. repreensão, que me envergonha — As acusações com o
propósito de me envergonhar.
meu entendimento — meu espírito racional; corresponde a
“pensamentos” calmos (v. 2). Apesar de sua repreensão que me incita à
precipitação, responderei com calmo raciocínio.
5. perversos — lit., o ímpio (Sl_37:35-36)
6. (Is_14:13; Ob_1:3, 4.)
7. esterco — Em contraste com a altivez do ímpio (v. 6); este forte
termo expressa o desagrado e a mais baixa degradação (Sl_83:10;
1Rs_14:10).
8. (Sl_73:20.)
9. Antes, “o olho que o segue, mas já não o pode discernir mais.”
quer dizer um olhar agudo (Jó_28:7; Jó_7:10).
10. Seus filhos — propiciarão aos pobres (devolvendo-lhes os bens
que o pai lhes roubou). (De Wette.) Melhor que esta expressão da Versão
Inglesa, “os filhos” se veem rebaixados à condição humilhante de
“implorar o favor dos muito pobres”, que o pai tinha oprimido.
suas mãos — ou seja, as dos filhos dele.
os bens que roubou (TB) — os bens dos mesmos pobres. Justa
retribuição! (Êx_20:5.)
11. (Sl_25:7.) “Cheios dos pecados de suas mocidades”, assim a
Vulgata. Gesênius tem: “cheios de juventude;” quer dizer, na plenitude
de suas forças juvenis será lançado ao pó. Mas “ossos” claramente se
refere à doença de Jó, provavelmente as mesmas palavras de Jó
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 91
(Jó_19:20). Umbreit traduz: “cheios de pecados secretos” (Sl_90:8); sua
culpabilidade secreta no tempo de sua aparente justiça, qual veneno
escondido, enfim o humilha até o pó. A Versão Inglesa é melhor. Zofar
alude às mesmas palavras de Jó (Jó_17:16).
com ele — Seu pecado tanto penetrou sua natureza que o
acompanha até a tumba; para a eternidade o pecador não pode desfazer-
se dele (Ap_22:11).
12. Ainda que o mal lhe seja doce na boca — A fascinação do
pecado é como o veneno doce ao paladar, mas no fim mortal aos órgãos
vitais. (Pv_20:17; Jó_9:17-18).
ele o esconda … língua — Tentava prolongar a alegria, guardando
o bocado doce muito tempo na boca (assim v. 13).
14. se transformará — O hebraico denota uma mutação total para
um contraste desagradável (Jr_2:21; cf. Ap_10:9-10).
fel — Cria-se que o veneno dos áspides estava no fel. Ao contrário,
está numa vesícula na boca. A escritura emprega a linguagem popular,
sempre que por isso não faça perigar alguma verdade moral.
15. Vê-se obrigado a despojar-se de seus mal adquiridos bens.
16. Chupará (TB) — Se descobrirá aquele que chupou o veneno.
17. ribeiros — lit., correntes de inundações, rios copiosos de leite,
etc. (Jó_29:6; Êx_3:17). O mel e a manteiga são mais fluídas no Oriente
que em outras partes, e se tornam em jarras como líquidos. Estes “rios”
ou arroios no quente Oriente são emblemas de prosperidade.
18. Figura da comida é tirada de alguém antes que possa tragá-la.
Devolverá — (Assim Pv_6:31). O paralelismo favorece a Versão
Inglesa “Aquilo em que trabalhou (por adquirir) o devolverá, e não o
tragará”, antes, que a tradução de Gesênius: “Como possessão a ser
restaurada em que não toma contentamento.”
não tirará prazer nenhum — Seu aproveitamento de seus lucros
mal adquiridos então acabará (v. 5).
19. Oprimiu — enquanto que deve ter defendido a causa deles
(2Cr_16:10).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 92
desamparou — os deixou indefesos.
casas — assim deixando aos pobres sem teto (Is_5:8; Mq_2:2).
20. Umbreit traduz: “Suas partes interiores não conhecem
descanso” dos desejos.
seu ventre (RC) — isto é, a quietude interna.
não chegará a salvar — lit., “Não escapará com aquilo que …”
Aludindo a que Jó tinha sido despojado de tudo.
21. Por não — Antes, “Porque seu bem (sua prosperidade) não terá
duração.”
22. ver-se-á angustiado — antes, “se sentirá apertado.” A outra
cláusula explica em que sentido.
toda a força da miséria — antes, “Toda a mão dos miseráveis (aos
quais ele quebrantou) sobrevém-lhe”; quer dizer, o sentimento de ter
oprimido aos pobres, agora por sua vez lhe sobrevém com todo seu
poder (mão). Isto causava sua angústia ainda na prosperidade.
23. Antes, “Deus enviará (que Deus envie) (Umbreit) sobre ele a
fúria de sua ira para lhe encher o ventre.
mandará chover — Chuva de fogo, isto é, o relâmpago (Sl_11:6;
aludindo às desgraças de Jó, Jó_1:16). A força da figura se sentirá se a
pessoa se imaginar a natureza oposta de uma chuva refrescante no
deserto (Êx_16:4; Sl_68:9).
24. bronze — Enquanto que o ímpio foge do um perigo, cai em
outro maior que vem do lado oposto. (Umbreit.)
25. Ele arranca das suas costas a flecha — Ele (Deus) saca (a
espada, Jos_5:13), e (assim que o faz quando) atravessa o fel (“corpo” do
pecador) (Dt_32:41-42; Ez_21:9-10). Figura feliz do relâmpago é a
espada reluzente.
fel — isto é, sua vida (Jó_16:13). “Inflige uma ferida mortal”.
assombro — Zofar repete as palavras de Bildade (Jó_17:11;
Sl_88:16; Sl_55:4).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 93
26. reservadas — ou seja, todas as calamidades que sobrevenha ao
ímpio será escondida (armazenada) em seus depósitos secretos, ou
tesouros (de Deus) (Jd_1:13; Dt_32:34).
fogo não atiçado — não aceso por mãos de homem, mas pelas de
Deus (Is_30:33; a LXX, MS. Alexandrino, lê “fogo inapagável”,
Mt_3:12). Demonstram tato os amigos de Jó ao não mencionar
expressamente as calamidades de Jó, mas sim fazendo alusão a elas sob
cor de casos gerais; aqui (Jó_1:16) Umbreit o explica: a iniquidade é um
“fogo que se prende sozinho”; nela estão os princípios da destruição.
devorará o que fique em sua morada — Todo rasgo do iníquo
deve ser erradicado, ou apagado (Jó_18:15).
27. Toda a criação está em guerra com ele, e denúncia a
culpabilidade, que ele trata de encobrir.
28. As riquezas — o aumento, a prosperidade. Mal adquirida,
esbanjada.
espalhados — Como as águas que desaparecem no verão; a mesma
metáfora que Jó emprega contra si mesmo (Jó_6:15-17; 2Sm_14:14;
Mq_1:4).
seu furor — o de Deus.
29. assinala-lhe — Não é um assunto da casualidade, mas pelo
“decreto” divino (margem) e princípio estabelecido.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 94
Jó 21

Vv. 1-34. RÉPLICA DE JÓ.


2. consolação — Se me querem escutar com calma, isto será tido
por “consolação”, aludindo à palavra jactanciosa (“consolações”) de
Elifaz (Jó_15:11), as quais Jó sentia mais como escárnio (Jó_21:3) que
como “consolação” (Jó_16:2).
3. podereis zombar — Lit., “Comecem suas mofas” (Job_17:2).
4. A dificuldade de Jó não era com relação a homem, mas com
relação a Deus, por que o havia aflito tanto, como se fosse um culpado
hipócrita, como alegavam seus amigos. A Vulgata traduz: “Minha
disputa” com homem.
ainda que assim fosse (RC) — Antes, “Visto que é assim”.
5. ponde a mão sobre a boca — (Pv_30:32; Jz_18:19.) Assim
estava pintado o deus pagão do silêncio com a mão sobre a boca. Havia
bastante no caso de Jó para fazer calar o de terror (Jó_17:8).
6. só de pensar nisso — Medito nisso. Vocês se maravilham de que
eu prorrompesse em queixas, quando minha luta não era com homens, e
sim com o Onipotente? Reconciliem, se puderem, os ais intermináveis
do inocente com a justiça divina! Não basta para fazer tremer a alguém?
(Umbreit.)
7. A resposta está em Rm_2:4; 1 Tm_1:16; Sl_73:18; Ec_8:11-13;
Lc_2:35; Pv_16:4; Rm_9:22).
envelhecem — em oposição a seus amigos, que asseveravam que
os pecadores são “destruídos” cedo (Jó_8:12; Jó_8:14.)
8. Em contradição de Jó_18:19; Jó_5:4.
9. Lit., “suas casas paz de temor”; com força poética. Suas casas são
a própria paz, afastadas do temor. Oposto à declaração dos amigos
quanto aos ímpios (Jó_15:21-24; Jó_20:26-28), e vice-versa, quanto aos
bons (Jó_5:23, 24).
10. A primeira cláusula do verso descreve a fácil concepção, a
segunda o feliz nascimento. (Umbreit.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 95
11. Deixam correr — ou seja, das portas, para brincar alegremente
sob o céu azul, como rebanho contente, para os pastos.
crianças — qual cordeirinhos.
filhos — Algo maiores de idade que aqueles.
saltam — não dançando formalmente, mas sim saltando, qual
cordeirinhos, em prazeroso esporte são.
12. cantam — antes, elevam a voz (cantam) aos sons de (Umbreit)
tamboril — antes, tamborim.
órgão (AV) — Não o “órgão” moderno, mas sim uma espécie de
“pífano” (Gn_4:21). A primeira cláusula refere-se a instrumentos de
corda, a segunda, aos de sopro; assim, com “a voz” toda sorte de música
se enumera.
13. Passam eles os seus dias — Não por uma doença lânguida.
Bênção grande! Vida prolongada com prosperidade, e morte repentina e
sem dor (Sl_73:4).
14. E são estes — antes, “E entretanto” são tais para dizer”, etc.,
isto é, dizer, não em tantas palavras, mas por sua conduta (assim os
gadarenos, Mt_8:34). Quão diferentemente os piedosos! (Is_2:3).
teus caminhos — O curso de ação que Deus assinala; como em
Sl_50:23, margem.
15. (cf. Jr_2:20; Pv_30:9; Êx_5:2).
que nos aproveitará — (Jó_35:3; Ml_3:14; Sl_73:13). Os
pecadores perguntam não o que é justo, mas sim o que é que aproveitará
a alguém. Esquecem de que “embora a religião custa algo a alguém, a
falta dela lhe custará imensamente mais.”
16. não provém deles — mas provém de Deus. Esta é a dificuldade
de Jó, que Deus tendo em sua mão o bem (prosperidade) dos iníquos,
permita que eles o tenham.
longe de mim — Assim Umbreit. Isto se segue naturalmente do
sentimento da primeira cláusula: Não se pense por isso que eu considere
senão com horror os caminhos dos ímpios, apesar da prosperidade deles.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 96
17. Jó em toda esta passagem até o v. 21, cita a asseveração de seus
amigos a respeito da breve permanência da prosperidade dos ímpios, não
dá seus próprios sentimentos. No v. 22 continua refutando os mesmos.
“Quantas vezes a lâmpada …”, citando os sentimentos de Bildade (vv. 5-
6) para pôr em dúvida a veracidade do dito (Mt_25:8).
reparte dores — (Aludindo a Jó_20:23, 29).
dores — Umbreit traduz “laços,” lit., cordas, que se assemelham ao
relâmpago em sua moção espiral (Sl_11:6).
18. Jó alude a um sentimento parecido de Bildade (Jó_18:18),
usando as mesmas palavras prévias dele (Jó_13:25).
19. Igualmente questionável é a declaração de seus amigos de que
se o próprio ímpio não é castigado, seus filhos o são (Jó_18:19;
Jó_20:10); e que Deus lhe retribui aqui por sua iniquidade, e que ele
saberá com grande custo para ele. Assim “conhecerá” (Os_9:7).
20. Outra asseveração duvidosa dos amigos é a de que o ímpio verá
em seus dias sua própria destruição e a de seus filhos.
beber do furor — (Sl_11:6; Is_51:17; Lm_4:21).
21. O argumento de seus amigos em prova do v. 20, de que prazer
poderá ter de sua casa (filhos) quando estiver morto (“depois dele”;
Ec_3:22).
cortado já o número — (Ec_14:21.) Ou, antes, O que tem que ver
com filhos …? (Assim o hebraico em Ec_13:1; Ec_8:6). É necessário
portanto “que seus olhos vejam a sua destruição e a deles.” (veja-se
Jó_14:21)
cortado — antes, “Quando estiver completado o número assinalado
de seus meses” (Jó_14:5). De palavra árabe, flecha, usada para jogar
sortes. Portanto flecha: o destino inevitável. (Umbreit).
22. Réplica de Jó: “Em todas estas asseverações tentam ensinar a
Deus como Ele deveria tratar os homens, em vez de que provarem que
Ele de fato o faz assim com eles. A experiência os contradiz. Deus dá a
prosperidade e a adversidade como Ele quer, não conforme dite a
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 97
sabedoria do homem — com base em princípios para nós inescrutáveis”
(Is_40:13; Rm_11:34).
os que estão nos céus — os altos, não somente os anjos, mas
também homens (Is_2:12-17).
23. Lit., “no osso de sua perfeição”, quer dizer, a plena força de sua
prosperidade intacta. (Umbreit.)
24. baldes — odres, ou vasilhas para líquidos. (Lee.) Mas
(Umbreit) “estações ou descansos para seus gados perto de água”; em
contradição a Zofar (Jó_20:17); a primeira cláusula refere-se a sua
abundante riqueza, a segunda a sua saúde vigorosa.
cheios — comparando o corpo do homem a um campo bem regado
(Pv_3:8; Is_58:11).
26. (Ec_9:2).
27. Seus pensamentos errôneos contra Jó ele os declara no v. 28.
Eles não apontam sinceramente a Jó, mas sim insinuam sua
culpabilidade.
28. direis — referindo-se a Zofar (Jó_20:7).
a casa — com referência à queda da casa do filho mais velho de Jó
(Jó_1:19) e a destruição de sua família.
príncipe — a palavra paralela “iníquos” da segunda cláusula requer
que se tome esta no sentido mau de tirano, opressor (Is_13:2), a mesma
do hebraico, “nobres”, opressores.
a casa — antes, pavilhões, lit., tenda que tem muitas moradas, tal
como teria um grande emir, como Jó, com muitos servidores.
29. Jó vendo que seus amigos não o querem admitir como juiz
imparcial, visto que consideram que suas calamidades provam sua
culpabilidade, pede-lhes que perguntem a opinião dos que viajam
(Lm_1:12), os que têm a experiência tirada da observação, e que não têm
relação alguma com Jó. Esta objeção Jó põe a Bildade (Lm_8:8) e a
Zofar (Jó_20:4).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 98
declarações — ou, intimações (quer dizer, inscrições, provérbios,
que deem os resultados de sua observação), testemunho. Lit., gestos ou
provas em confirmação da palavra falada (Is_7:11).
30. O testemunho deles (referindo-se talvez aos que tinham visitado
a região onde Abraão, quem desfrutou de uma revelação, então vivia) é
que “o mau é (agora) reservado (ou perdoado) até o dia da destruição”
(do futuro). O hebraico não tão bem concorda com (Umbreit) “no dia da
destruição”. Jó não nega o futuro castigo dos pecadores; o que nega é o
castigo deles nesta vida. Eles têm seus “bens” agora. No além, sua sorte
e a dos piedosos, serão mudadas (Lc_16:25). Jó, mediante o Espírito,
com frequência pronuncia verdades que resolvem a dificuldade que o
fatigava. Principalmente suas aflições aturdiam sua fé, de outro modo
teria compreendido a solução oferecida por suas próprias palavras. Isto
responde à objeção de que se ele soubesse da ressurreição (Jó_19:25), e
da futura retribuição (Jó_21:30), por que em outras partes não tirava
destas verdades suas conclusões, coisa que não faz? O correto governo
de Deus, entretanto, deve ser vindicado quanto a esta vida também,
portanto, o Espírito Santo fez com que o argumento girasse
principalmente nisso, dando ao mesmo tempo vislumbres de uma mais
plena vindicação futura dos caminhos de Deus.
é poupado — não “levado seguro”, nem “escapará” (em referência
a esta vida), como o entende Umbreit.
dia do furor — a ira feroz e multiplicada.
31. Quem se atreve a acusá-lo abertamente de caminhos maus? ou
seja, nesta vida presente. Concedo (Jó_21:30) que lhe será retribuído no
futuro.
32. é levado — com pompa solene (Sl_45:15).
sepultura — lit., as sepulturas, isto é, o lugar onde estão as
sepulturas.
se faz vigilância — antes, continuarão vigiando sobre a tumba, ou
montão sepulcral. Mesmo depois da morte parece viver ainda e vigiar
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 99
(isso é ter a “memória” conservada) por meio de um monumento sobre a
tumba. Em oposição a Bildade (Jó_18:17).
33. Como reza o ditado clássico, “a terra está leve sobre ele”. Seu
repouso será “doce”.
o seguem — Seguirão. Compartilharão a sorte comum dos mortais;
não em condição pior que eles (Hb_9:27). Umbreit não tão bem (porque
não é assim com “todo homem”): “Os demais homens continuam em
seus maus passos como outros tais inumeráveis lhe precederam”.
34. falsidade — lit., iniquidades. Suas jactanciosas “consolações”
(Jó_15:11) resultam contraditas pelos atos (“em vão”), portanto só traem
seus maus intentos (“iniquidade”) contra mim.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 100
Jó 22

Vv. 1-30. COMO NO PRINCÍPIO, COMEÇA ELIFAZ.


1. Elifaz demonstra que a bondade do homem não aumenta, nem a
maldade do homem faz minguar, a felicidade de Deus; não pode ser
porque Deus por Seu próprio proveito envie a prosperidade a alguns e as
calamidades sobre outros; a causa dos bens e os males deve estribar nos
próprios homens (Sl_16:2; Lc_17:10; At_17:25; 1Cr_29:14). Assim, as
calamidades de Jó devem ser motivadas pela culpabilidade. Elifaz em
vez de fazer frente aos fatos, tenta demonstrar que não podia ser assim.
2. o sábio — antes, por certo o piedoso aproveita. Assim “o
entendido”, ou “sábio”, por piedoso (Dn_12:3, Dn_12:10; Sl_14:2).
(Michaelis.)
3. interesse — Acordo de prazer; é verdade que Deus tem agrado
na retidão do homem (Sl_45:7), mas não é dependente para Sua
felicidade, do caráter do homem.
4. Castiga a ti por temor de ti, a fim de te desarmar, como Jó tinha
insinuado (Jó_7:12, 20; Jó_10:17).
entra contra ti em juízo — Isto Jó o havia desejado (Jó_13:3, 21).
Devia falar como no Sl_143:2.
5. Até aqui Elifaz só tinha insinuado a culpabilidade de Jó; agora a
declara patentemente; mas só com base nos padecimentos dele.
6. Os crimes alegados, por inferência cruel, por Elifaz contra Jó são
os que ele cria mais provável que um rico cometeria. A lei mosaica
(Êx_22:26; Dt_24:10) subsequentemente incorporou o sentir que existia
entre os piedosos do tempo de Jó contra a opressão dos devedores quanto
às fianças. Aqui o caso não é precisamente o mesmo; Jó é acusado de
tomar fiança quando não tinha direito justo a isso; e na segunda cláusula
é representado como quem toma o objeto (a roupa que servia ao pobre
de abrigo no dia e cama de noite) a alguém que não tinha “mudas de
roupa” (que constituíam usualmente a riqueza no Oriente), mas sim que
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 101
se vestia insuficientemente (despidos) (Mt_25:36; Tg_2:15); pecado
tanto mais vil num rico tal como Jó.
7. O alojamento do cansado viajante considerava-se no Oriente um
dever de primeira ordem (Is_21:14).
8. braço forte — Heb., “homem de braço” (Sl_10:15; ou seja, Jó).
homens favorecidos — aceitos de rosto (Is_3:3; 2Rs_5:1), quer
dizer, homens de autoridade. Elifaz repete sua acusação (Jó_15:28; como
Zofar, Jó_20:19) de que pela violência Jó tinha despojado aos pobres de
suas casas e terras, aos quais agora tinha negado todo alívio (Jó_22:7, 9).
(Michaelis.)
9. vazias — sem terem suas necessidades satisfeitas (Gn_31:42). A
lei mosaica protegia de maneira especial as viúvas e os órfãos
(Êx_22:22); a violação da lei com relação a isto pelos poderosos é uma
queixa dos profetas (Is_1:17).
braços — a manutenção, o amparo, no qual alguém confia
(Os_7:15). Você lhes roubou o seu único amparo. Jó o refuta em
Jó_29:11-16.
10. laços — aludindo à admissão de Jó (Jó_19:6; cf. Jó_18:10;
Pv_22:5).
11. águas transbordantes — inundações. O perigo das mesmas é
uma figura menos frequente neste livro que no resto do Antigo
Testamento (Jó_11:16; Jó_27:20).
12. Elifaz diz isto para provar que Deus pode das alturas olhar todas
as coisas; inferindo gratuitamente que Jó o negava, porque negava que os
ímpios são castigados aqui.
alturas — o hebraico: cabeça, isto é, elevação (Jó_11:8).
13. Antes: E, contudo, você diz que Deus não se preocupa com
(“sabe”) os assuntos humanos (Sl_73:11).
14. “No circuito do céu” somente, sem ocupar-se nada nos assuntos
terrestres. Alega-se que Jó abrigava estes sentimentos epicureus.
(Lm_3:44; Is_29:15; Is_40:27; Jr_23:24; Ez_8:12; Sl_139:12).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 102
15. rota — seguir o caminho (assim o hebraico, 2Sm_22:22). Em
tal caso, guarda-te de compartilhar o mesmo fim deles.
antiga — Os caminhos degenerados do mundo antediluviano
(Gn_6:5).
16. arrebatados — antes, “acorrentados”, como em Jó_16:8; isto é,
presos pela morte.
antes do tempo — Prematuramente, repentinamente (Jó_15:32;
Ec_7:17); lit., cujo fundamento foi derramado (para o que deveria ser)
uma corrente ou inundação. A terra firme passou por baixo de seus pés
uma inundação ou dilúvio (Gn_7:11).
17. A propósito, Elifaz emprega as próprias palavras de Jó
(Jó_21:14-15). O que lhes pode fazer o Onipotente? Creem-se capazes
de fazer tudo por si mesmos.
18. “Contudo” você diz (veja-se Jó_21:16) que é Ele quem “lhes
tinha enchido suas casas de bens” — “seu” “bem não está em suas
mãos”, mas sim provém de Deus.
Longe … o conselho — Elifaz sarcasticamente cita em continuação
palavras de Jó (Jó_21:16). Entretanto, depois de pronunciar estes
sentimentos ímpios, acrescenta hipocritamente: “Seja o conselho …”
19. A alegria triunfante dos piedosos pela queda dos recentes
seguidores dos pecadores antediluvianos. Estando no ato de negar que
Deus não lhes possa fazer bem ou mal, são por ele cortados. Elifaz com
isto se justifica a si e a seus amigos por sua conduta para com Jó: não a
mofa aos miseráveis, mas sim a alegria da vindicação dos caminhos de
Deus (Sl_107:42; Ap_15:3; Ap_16:7; Ap_19:1-2).
20. Dito triunfal dos piedosos. Se se retiver “substância” [AV],
traduza-se, antes, como a versão dos LXX, “não lhes foi tirada sua
substância, e …” Mas, antes, o hebraico é: “Por certo nosso adversário
está cortado.” (Gesênius.) A mesma oposição existe entre a semente
piedosa e a ímpia que entre os anjos não caídos e o Adão restaurado, e
Satanás (adversário); isto forma a base do livro de Jó (Jó_1:1 – 2:13;
Gn_3:15).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 103
resto — tudo o que “sobra” do pecador: repetição de Jó_20:26, o
que torna mais improvável a expressão do Umbreit de glória” (margem),
“excelência”.
o fogo — aludindo a Jó (Jó_1:16; Jó_15:34; Jó_18:15). Primeiro
menciona-se a destruição por água (v. 16); aqui, por fogo (2Pe_3:5-7).
21. Elifaz pressupõe que Jó ainda não conhece a Deus: “Reconcilia-
te” com Deus; lit., torne-se companheiro de Deus. Volte-se para Deus
com íntima confiança.
tem paz — A segunda frase expressa imperativamente a
consequência da primeira. (Sl_37:27).
paz — a prosperidade e restauração de Jó; aplicável espiritualmente
a nós também (Rm_5:1; Col_1:20).
assim te sobrevirá o bem — (1 Tm_4:8.)
22. põe — (Sl_119:11.)
23. serás restabelecido — de novo, como uma casa restaurada.
se afastares — assim o entende Michaelis.
24. Antes, como parte da prótase da última cláusula do v. 23: Se
tiveres o brilhante metal por pó (“terra”), lit., põe-no sobre o pó;
estimando-o de tão pouco valor como o pó onde jaz. A apódose está no
v. 25, “então, o Todo-Poderoso será o teu ouro.” Deus ocupará o lugar
do ouro, em que você antes confiava.
ouro — antes, “metal precioso,” ou “brilhante”, paralelo com
“(ouro) de Ofir, da 2ª cláusula. (Umbreit e Maurer.)
Ofir — Derivado de uma palavra hebraica, para pó; ou seja, pó de
ouro. Heeren opina que é um nome geral pelos países ricos do sul, sobre
as costas africana, índica, e especialmente a arábica (onde estava o porto
de Afar. “Ofir”, também, cidade de Omã, era uma vez o centro do
comércio árabe). É curioso o fato de que os nativos de Malaca ainda
chamam Offires a suas minas.
pedras dos ribeiros — Se você deixar o ouro de Ofir ficar em seu
vale nativo entre as pedras do arroio; quer dizer, o ter de tão pouco
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 104
valor como as pedras … O ouro era levado pelos correntes das
montanhas e depositado entre as pedras e a areia do vale.
25. Apódose. “então, o Todo-Poderoso …”
teu ouro — antes, como significa o próprio hebraico no v. 24 (cf. a
nota): Seus metais preciosos; Deus será para você em lugar das riquezas.
prata escolhida — antes, “E te será em lugar dos laboriosamente
obtidos tesouros de prata.” (Gesênius.) Significando elegantemente que é
menos trabalho encontrar a Deus que os metais escondidos; ao menos
para o humilde que O busca (Jó_28:12-28). Mas (Maurer.) “a lustrosa
prata.”
26. levantarás o rosto — repetição de Zofar (Jó_11:15).
27. (Is_58:9, Is_58:14.)
pagarás os teus votos — Que você prometeu a Deus no caso de
serem ouvidas as suas orações: Deus lhe dará a ocasião de pagar aqueles,
ao Ele ouvir estas.
28. luz — sucesso.
29. Se estes descem — ou seja, Quando (seus caminhos; de
Jó_22:28) (por um tempo), você disser (logo terá de novo a grande
alegria de dizer): Há exaltação (volta para mim a prosperidade)
(Maurer.) Hebreu, “ele isto é de olhos baixos.”
o humilde — Heb. “o que tem olhar humilde”. Elifaz infere que Jó
não o é agora em sua tribulação; por isso esta continua: com isto ele
contrasta o bendito efeito de ser humilde sob a aflição (Tg_4:6; 1Pe_5:5,
provavelmente citam esta passagem). Portanto é melhor, penso eu,
entender que a 1ª cláusula refere-se ao fato de que “Deus resiste ao
soberbo”. Quando os homens estiverem abatidos, você dirá (eis aqui os
efeitos do) orgulho. Elifaz deste modo se justifica por atribuir as
calamidades de Jó a seu orgulho. “Dá graça aos humildes,” corresponde
à 2ª cláusula.
30. ilha (AV) — isto é, habitação.
ele — O hebraico expressa o negativo (1Sm_4:21), traduza-se:
“Assim (Deus) livrará ao que não era sem culpa”, ou seja, aquele que
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 105
como Jó mesmo ao converter-se será salvo, não porque fosse — como
constantemente se declara Jó ser — inocente, mas sim porque se humilha
(Jó_22:29); um ataque oblíquo contra Jó, até mesmo o último. Não é “a
ilha” que deve ser livrada, mas sim “ele (aquele que até agora não era
inocente) será libertado pela pureza (adquirida com a conversão) de suas
mãos”; por sua intercessão (como Gn_18:26, etc.). (Maurer.) A ironia se
exibe chamativamente ao Elifaz dizer inconscientemente as palavras que
concordem precisamente com o que sucedeu no fim: ele e os outros dois
foram “livrados” por aceitar Deus a intercessão de Jó a favor deles
(Jó_42:7-8).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 106
Jó 23

Vv. 1-17. A RÉPLICA DE JÓ.


2. hoje — O que talvez dê a entender que o debate se prolongou por
mais dias do que um (cf. Introdução).
queixa — (Jó_7:11; Jó_10:1.)
meu gemido — A mão de Deus contra mim (Jó_19:21; Sl_32:4).
mais se agrava (RC) — É tão pesada que não me posso aliviar
adequadamente gemendo.
3. O mesmo desejo como em Jó_13:3 (cf. Hb_10:19-22).
tribunal — A ideia do hebraico é de um bem preparado trono
(Sl_9:7).
4. Exporia — Declararia metodicamente (Jó_13:18; Is_43:26).
encheria — Teria abundância de argumentos para aduzir.
5. ele — Enfático: importa pouco o que o homem diga de mim, se
só souber o que de mim Deus julga.
6. Sugere uma objeção ao dizer este seu desejo (v. 5). Desejo com
isto que Ele pleiteie comigo com Sua Onipotência? Longe disso!
(Jó_9:19, Jó_9:34; Jó_13:21; Jó_30:18).
ele me atenderia — De modo que eu prevalecesse com Ele: como
no caso de Jacó (Os_12:3-4). Umbreit e Maurer traduzem melhor como
em Jó_4:20 (Só desejo que ele) “me atendesse”, isto é, me desse paciente
audiência como juiz comum, não empregando Sua Onipotência, mas sim
somente Seu divino conhecimento de minha inocência.
7. Ali — antes, “então”: se Deus me “atendesse” (v. 6).
homem reto — isto é, o resultado de minha disputa seria que Ele
me reconheceria como justo.
eu me livraria — “Seria libertado” da suspeita de culpabilidade da
parte de meu Juiz.
8. Mas desejo em vão. Porque “eis aqui …”
se me adianto … se torno para trás — Lit., “adiante … atrás”. Os
geógrafos hebreus se orientavam olhando ao leste, a saída do sol: não ao
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 107
norte como nós. Assim “adiante” significa o este; atrás, o oeste (assim os
hindus). Para a frente — este; para trás — a oeste; Daschina, à direita —
sul: Bama, à esquerda — norte. Uma referência similar à saída do Sol
aparece no nome Ásia, saída do sol; no de Europa, pôr-do-sol; puros
nomes babilônicos, como Rawlinson demonstra.
9. no Norte (NTLH) — As gloriosas obras de Deus se veem
especialmente rumo à região setentrional do céu por alguém que está no
hemisfério norte. A antítese está o operar de Deus e o esconder-se, o não
ser visto: como em Jó_9:11, entre “ele passa”, e “não O vejo”. Se o
hebraico o permite, o paralelismo da 2ª. cláusula quadra melhor com a
tradução de Umbreit, esconde-se; mas em tal caso a antítese a verei
(vejo) perde-se.
esconde-se — Apropriadamente, no inexplorado sul, então tido por
inabitável por causa do calor (cf. 34:29).
10. Mas — Corrigindo-se pelo desejo de que sua causa fosse
conhecida de Deus. O Onisciente já conhece o meu caminho (meus
princípios interiores: o caminho, ou curso de atos, externo dele
menciona-se no v. 11; igualmente, em mim, Jó_4:21); embora por
alguma razão inescrutável ainda se esconde (v. 8, 9).
se ele me provasse — “Quando tiver provado …” que tão somente
prove minha causa, sairei, etc.
11. Os meus pés seguiram — firmemente seu rastro. A lei na
poesia do Antigo Testamento é um caminho, indo adiante de nós Deus
como nosso guia, em cujas pisadas temos que andar (Sl_17:5).
não me desviei — (Sl_125:5)
12. escondi — como um tesouro achado (Mt_13:44; Sl_119:11);
aludindo às palavras de Elifaz (Jó_22:22). Não há necessidade de me
dizer isso já o fiz (Jr_15:16).
meu alimento (RC) — “A porção assinalada” de alimento: como
em Provérbios (Jr_30:8). Umbreit e Maurer traduzem “Mais que minha
lei”, minha própria vontade em antítese ao “mandamento de seus lábios”
(Jo_6:38). Provavelmente se inclui sob o termo geral “o que me está
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 108
assinalado” (o mesmo hebraico está em Jó_23:14), tudo o que ministra
aos apetites do corpo e a vontade carnal.
13. alguma coisa — Não obstante minha inocência, ele é imutável
em Seu propósito de me provar culpado (Jó_9:12).
a sua alma (TB) — Sua vontade (Sl_115:3). A soberania de Deus.
Ele tem um grande propósito; nada Lhe é casualidade; cada coisa tem o
seu devido lugar para o cumprimento de Seu propósito.
14. muitas coisas como estas — Tem para me dar ainda outros
muitos males, embora escondidos em seu peito (Jó_10:13).
15. Os decretos de Deus, irresistíveis, que nos deixam em
ignorância quanto ao que sobrevirá logo, são para encher a mente de
terror. (Barnes.)
16. me fez desmaiar — abrandou, fez desfalecer. Desvaneceu-me a
coragem. Aqui de novo a linguagem de Jó é a do Senhor Jesus (Sl_22:14)
17. Porque não fui tirado pela morte por não ver o mal que vem
(lit., de diante do rosto das trevas, Is_57:1). Aludindo às palavras
(Jó_22:11), “trevas”, isto é, calamidade.
desfalecido — antes, no sentido do árabe, Levado a terra do
silêncio; fazer calada pela morte minha triste queixa. (Umbreit.)
escuridão — não é a mesma palavra hebraica para trevas. Em lugar
de “cobrir a nuvem (de mal) além do meu rosto”, me “cobre” com a
mesma (Jó_22:11).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 109
Jó 24

1. Por que é que, vendo que os tempos de castigo (Ez_30:3;


“tempo” no mesmo sentido) não estão escondidos ao Todo-Poderoso, os
que O conhecem (seus verdadeiros adoradores, Jó_18:21) não veem os
dias (de vingança) dEle (Jl_1:15; 2Pe_3:10)? Ou, com Umbreit menos
simplesmente, balançando mais nitidamente as cláusulas: Por que não
estão poupados (“entesourados,” Jó_21:19; ordenados) os tempos de
castigo pelo Todo-poderoso? Quer dizer, Por que não estão ordenados de
modo que o homem os veja agora? como o esclarece a 2ª cláusula. Jó
não duvida de que estão assim ordenados, ao contrário, assevera-o
(Jó_21:30); o que deseja é que Deus faça todos verem que é assim.
2-24. Exemplos de homens ímpios que com aparente impunidade
cometem o pior.
2. removem — os ímpios.
limites — Os limites entre os diferentes pastos (Dt_19:14;
Pv_22:28).
3. Tomam em penhor (TB) — aludindo a Jó_22:6. Outros fazem
com efeito, e com impunidade, o que Elifaz acusa falsamente a Jó de ter
feito.
4. Literalmente, empurram os pobres fora do caminho ao encontrá-
los. Figurativamente, se aproveitam deles pela força e injustiça (aludindo
à acusação de Elifaz, Jó_22:8; 1Sm_8:3).
pobres — em espírito e em circunstâncias (Mt_5:3).
têm de esconder-se — Da injustiça de seus opressores, que os
despojaram de tudo o que tinham e os expulsaram a lugares pouco
frequentados (Jó_20:19; Jó_30:3-6; Pv_28:28).
5. asnos monteses — (Jó_11:12) Assim chama Ismael feroz homem
asno, em hebraico (Gn_16:12). A isso saem os ladrões beduínos, com a
selvageria desenfreada do asno do deserto. A pilhagem é sua obra
“ilegal.” O deserto, que não rende alimento a outros, dá-o aos salteadores
e a seus filhos pelo roubo das caravanas.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 110
madrugando (RC) —No oriente se empreende a viagem anterior,
antes de começar o calor.
6. Como asnos monteses (v. 5: estes beduínos), colhem
(metaforicamente) seus vários grãos (assim o hebraico, pelos cereais em
geral). O asno montês não deixa que o homem amontoe num estábulo a
forragem variada (Is_30:24); deste modo, estes ladrões acham seu
alimento ao ar livre, já no deserto (v. 5), já nos campos.
vindimam (RC) — “Recolhem a colheita de uvas dos ímpios”: a
colheita de uvas de pilhagem, não de indústria honesta. Se traduzirmos
“pertencente aos ímpios”, então quererá dizer que só os maus têm
vinhas, os piedosos pobres, (v. 4) nenhuma. “Vindimar”, no hebraico, é
recolher tarde: como a primeira cláusula refere-se à colheita anterior do
grão, assim a segunda, à colheita de uvas tardia do outono.
7. Umbreit o entende com referência aos roubadores beduínos, que
não cuidam dos confortos da vida, que “passam a noite despidos … e
sem cobre”. Mas a alusão a Jó_22:6 torna preferível nossa versão (veja-
se Jó_24:10). Não é rara a geada de noite naquelas regiões (Gn_31:40).
8. são molhados — os assaltantes nômades.
abraçam-se com as rochas — Se refugiam debaixo delas
(Lm_4:5).
9. ao peito — da mãe viúva. O rapto de meninos que se vendem por
escravos. Aqui Jó passa dos males cometidos no deserto, aos atos entre
as habitações dos homens.
penhor — ou seja, a túnica do pobre devedor, segundo Jó_24:10.
10. (Veja-se Jó_22:6.) Em Jó_24:7 se alude a um pecado similar;
mas ali se entende o roubo aberto de roupas no deserto; aqui, o roubo
mais refinado na vida civilizada, sob o nome de “penhor”. Tendo
despojado aos pobres, obrigam-nos além disso a trabalhar na ceifa, e
nem os deixam saciar a fome com algo do mesmo grão que levam a
montão. Tratamento pior que aquele que se dava ao boi, segundo
Dt_25:4. Traduza-se: “Eles (os lavradores pobres) famintos levam os
feixes”. (Umbreit)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 111
11. espremem — Os mesmos pobres: “dentro das paredes deles”,
quer dizer, não só nos campos abertos (v. 10), mas também dentro das
vinhas e dos olivais bem murados do opressor (Is_5:5). E contudo não se
lhes permite aplacar a “sede” com as uvas e azeitonas. Aqui, sedentos;
no v. 10, famintos.
12. homens — antes, “os mortais”, (não o hebraico comum para
“homens”); a pontuação massorética das vogais permite nossa versão de
“homens”, mas tal pontuação é moderna. A expressão correta é: os
moribundos que corresponde à cláusula paralela: assim a Siríaca. Não
somente no campo (v. 11), mas também na cidade há oprimidos que
sofrem, que clamam em vão por socorro. “Desde dentro da cidade
gemem”, desejando ser livres e sair dela (Êx_1:11; Êx_2:23).
feridos — Pelo opressor (Ez_30:24).
não tem isso por anormal — Não leva em conta (castigando-o) de
seu pecado (“tolice”, na linguagem da Escritura, para estorvo; Jó_1:22).
este é o ponto principal de toda a prévia lista de pecados (At_17:30).
Umbreit, com a Siríaca, por uma mudança de pontos vocálicos, lê: “Não
faz caso das súplicas deles”.
13. Até aqui os pecados cometidos abertamente; agora, os atos na
escuridão. Traduza-se: “Há entre eles (os ímpios) que se rebelam”, etc.”
luz — Tanto literal como figurativamente (Jo_3:19-20; Pv_2:13).
caminhos — lugares iluminados.
14. De madrugada — madrugando, enquanto ainda está escuro,
quando o viajante no oriente empreende a marcha, e o pobre sai ao seu
trabalho; é então quando o roubador sangrento espreita (Sl_10:8).
se torna ladrão — Os ladrões no este furtam de noite, enquanto as
pessoas dormem; os roubadores matam na madrugada. O mesmo
homem que furta de noite, ao amanhecer não só rouba, mas também
mata para escapar da identificação.
15. (Pv_7:9; Sl_10:11.)
cobre o rosto — fica um véu.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 112
16. minam as casas — Feitas no Oriente de tijolos crus, ou tijolos
secados ao sol (assim Mt_6:19). “Ladrões minam:” lit., furam cavando
(Ez_12:7).
encerrados — Antes, como em Jó_9:7: “encerraram-se” (em suas
casas); lit., “selaram-se”.
se conservam — Para seus próprios fins, para evitar a detenção.
nada querem com a luz — Evitam-na.
17. esquivam-se da luz da manhã”, tanto como os outros homens,
da escuridão mais negra (“a sombra de morte”).
sendo conhecidos (RC) — isto é, identificados. Antes: “Bem
conhecem eles os terrores da sombra …” (Umbreit.) Ou como Maurer,
“Conhecem os terrores de (esta) escuridão”, ou seja, da manhã, a luz, a
qual para eles é tão terrível como a escuridão (“sombra de morte”) é para
outros homens.
18-21. Nestes versículos Jó cita as opiniões de seus adversários
ironicamente; assim as citou anteriormente (Jó_21:7-21). Nos vv. 22-24
pronuncia sua própria observação em sentido contrário. Vocês dizem que
os pecadores “são instáveis”, que passam rapidamente (como flutuando)
na superfície das águas (Ec_11:1; Os_10:7).
maldita — Amaldiçoada pelos que contemplam sua “rápida”
destruição.
não andam … vinhas — fig., por: Não pode aproveitar-se de seus
prazenteiras posses (Jó_20:17; Jó_15:33). Incluem-se seus campos,
férteis como as vinhas: o oposto do caminho do deserto”.
19. Figura arábica; a neve derretida, em contraste com os
mananciais viventes, seca-se logo na areia cálida, sem deixar rastros
após si (Jó_6:16-18). O hebraico é claro e elíptico, para expressar a
pronta e completa destruição dos ímpios: (assim) “o sepulcro — eles
pecaram!”
20. A mãe — A mesma mãe que o iluminou, a última em
“esquecer” aquele a quem amamentou (Is_49:15), o descartará de sua
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 113
memória (Jó_18:17; Pv_10:7). O verme chupará, isto é, “se alimentará
docemente” dele qual manjar delicioso (Jó_21:33).
o injusto — lit., “a iniquidade”: o abstrato pelo concreto (como em
Jó_5:16).
como árvore — Completamente (Jó_19:10). Umbreit melhor:
“Como uma vara.” A vara quebrada é emblema da ruína irreparável
(Is_14:5; Os_4:12).
21. A razão dada pelos amigos de por que o pecador merece tal
destino.
estéril — Sem filhos, que a tivessem protegido.
viúva — Sem marido que a mantenha.
22-25. Réplica de Jó à opinião de seus amigos. A experiência prova
o contrário. Traduza-se: “Mas (Deus) prolonga a vida dos poderosos com
o poder de sua força; Sl_36:10). (O ímpio) levanta-se (do leito de
doente), mesmo quando tenha abandonado a esperança de (lit., quando já
não cria em) a vida” (Dt_28:66).
23. Lit., Ele (Deus, como se omite muitas vezes: Jó_3:20; Ec_9:9,
reverentemente lhe dá (ao ímpio, para que esteja em) segurança.
contudo (NKJV; mas, NTLH) — Jó quer dizer: Que estranho que
Deus os favoreça assim, e, entretanto, o tempo todo tem os olhos sobre
os iníquos caminhos deles! (Pv_15:3; Sl_73:4)
24. Jó repete o que disse (Sl_21:13), que morrem pecadores em
posições exaltadas, não de morte longa e angustiosa que creríamos
adequada, mas sim de morte repentina e fácil. Traduza-se: “Um
momento — e já não são mais! São humilhados, como todos (outros)
recolhem-se os pés para morrer (assim o hebraico: “São tirados do
caminho”). Uma morte natural (Gn_49:33).
pontas das espigas — Em plena idade amadurecida, não
prematuramente (Jó_5:26).
25. (Deste modo em Jó_9:24.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 114
Jó 25

Vv. 1-6. A RÉPLICA DE BILDADE. Trata de demonstrar a


temeridade de Jó (Jó_23:3) por argumentos tirados de Elifaz (Jó_15:15),
com os quais cf. Jó_11:17.
2. o domínio e o poder — autoridade aterradora.
paz nas alturas — Quer dizer que seu poder é tal nas alturas para
sufocar toda oposição, não só lá, mas também na terra. O Espírito Santo
aqui antecipou várias verdades do evangelho (Col_1:20; Ef_1:10).
3. exércitos — Anjos e estrelas (Is_20:26; Jr_33:22; Gn_15:5;
inúmeras, Dn_7:10).
sua luz — (Tg_1:17.)
4. (Jó_4:17-18; Jó_14:4; Jó_15:14.)
5. Eis que até a lua — “Estrelas” aqui corresponde a “santos”
(anjos) em Jó_15:15; “a lua” aqui aos “céus” em Jó_15:15. Até as
“estrelas” que são os objetos mais brilhantes aos olhos do homem, e os
anjos, aos quais as estrelas simbolizam (Jó_4:18; Ap_9:1), são
imperfeitos diante dos olhos dEle. Deles são a luz e a pureza, mas é de
criaturas; sua luz é a do Criador.
6. (Jó_4:19-21; Jó_15:16.)
verme … vermezinho (TB) — Duas palavras hebraicas distintas. A
primeira, verme criado na podridão; alusão à corrupção do homem. A
segunda, vermezinho que se arrasta: o qual denota que o homem é fraco
e rasteiro.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 115
Jó 26

Vv. 1-14. RÉPLICA DE JÓ.


2, 3. ao que não tem força … braço que não tem vigor — Usa-se
os negativos em lugar de positivos, impotência, etc., a propósito (assim
Is_31:8; Dt_32:21). Admitindo que eu sou, como dizem (Jó_18:17;
Jó_15:2), a mesma impotência, etc. Como é que ajudaste a tal homem?
prestar socorro — amparar.
3. plenitude — Antes, “abundantemente”. Bildade fez grandes
pretensões de abundante sabedoria. Como a demonstrou?
4. Para a instrução de quem falaste? Se for para mim, eu conheço o
assunto (a onipotência de Deus) melhor que meu instrutor: os vv. 5-14
são uma amostra do conhecimento dela por parte de Jó.
de quem é o espírito — não o de Deus (Jó_32:8); antes, melhor, o
sentimento pedido emprestado de Elifaz (Jó_4:17-19; Jó_15:14-16).
5-14. Como antes nos caps. 9 e 12, Jó se tinha manifestado não
inferior à incapacidade de seus amigos de descrever a grandeza de Deus,
assim agora a descreve como manifestada no inferno (“sepulcro”: o
mundo dos mortos), Jó_26:5, 6; sobre a terra, Jó_26:7; no céu, Jó_26:8-
11; o mar, Jó_26:12; os céus, Jó_26:13.
A alma dos mortos — “As almas dos mortos (Refaim) tremem.”
Não, só existe o poder de Deus (como Bildade diz, Jó_25:2) “em seus
alturas” (os céus), mas também alcança até a região dos mortos. Refaim
aqui, como em Pv_21:16 e Is_14:9, são de uma raiz hebraica que
significa ser fraco, portanto falecido; em Gn_14:5 aplica-se aos gigantes
cananeus; talvez com escárnio, para expressar a fraqueza deles, apesar
de sua estatura gigantesca, em comparação com Jeová (Umbreit); ou
como a imaginação dos viventes aumenta as aparições, o termo
originalmente aplicava-se a fantasma ou espectro, e logo a gigantes em
geral. (Magee.)
debaixo das águas — Umbreit une “debaixo” com a palavra
antecedente “tremem” (por “são formadas”): tremem de abaixo (assim
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 116
Is_14:9). Mas o texto massorético a une com “as águas.” Então o lugar
dos mortos será representado como “debaixo das águas” (Sl_18:4-5); e
as águas como debaixo da terra (Sl_24:2). Magee bem traduz assim: “As
almas dos mortos tremem; (os lugares) debaixo das águas e seus
habitantes”. Assim se retém a conexão massorética; e ao mesmo tempo
se balançam bem as cláusulas paralelas. “Os habitantes dos lugares
debaixo das águas” são os que estão no Geena, a inferior das duas partes
em que se divide o Sheol, segundo os judeus; eles correspondem a
“destruição” (por “inferno”) de Jó_26:6, assim como “Refaim” (Jó_26:5)
ao “Sheol” (por “sepulcro”) (Jó_26:6). Sheol vem de uma raiz hebraica
que significa pedir, porque é insaciável (Pv_27:20); ou pedir emprestado
para devolver, denotando que o Sheol não é mais que uma morada
temporária, prévia à ressurreição; assim pela versão, “são formadas”, a
Versão dos LXX e a Caldeia traduzem: nascerão, ou renascerão,
expressando que os mortos têm que ser devolvidos desde o Sheol e
renascer num estado novo. (Magee.)
6. (Jó_38:17; Sl_139:8; Pv_5:11).
Sheol (NKJV)— a morada de destruição, quer dizer, das almas
perdidas. Hebraico, Abadom (Ap_9:11).
não há coberta — dos olhos de Deus.
7. Sugestão da teoria verídica da terra. Sua suspensão no espaço se
declara na 2ª. cláusula. O norte em particular está especificado na
primeira, como cria-se a parte mais alta da terra (Is_14:13). Inclui-se o
hemisfério norte, ou seja, a abóbada do céu; muitas vezes comparado a
uma cortina estendida (Sl_104:2). As câmaras do meio-dia mencionam-
se em Jó_9:9; quer dizer, o hemisfério meridional, consequentemente
com a forma esférica da terra.
8. e as nuvens — como em vasilhas de ar, que por leves que são,
não se arrebentam com o peso da água que nelas há (Pv_30:4).
9. Encobre — Antes, rodeia, e encerra. Deus faz das nuvens um
véu para encobrir a glória não só de Sua Pessoa, mas também até do
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 117
exterior de Seu trono, dos olhos profanos. Sua mediação está em todas as
partes, mas Ele mesmo, invisível (Sl_18:11; Sl_104:3).
10. Antes, “Ele traçou um termo circular ao redor das águas”
(Pv_8:27; Sl_104:9). O horizonte parece um círculo. Esta indicação é
dada devido à forma globular da terra.
até aos confins — até os limites da luz e das trevas. Quando a luz
cai sobre nosso horizonte, o outro hemisfério está escuro. Umbreit e
Maurer traduzem: “Ele traçou o mais perfeito possível (lit., com
perfeição) o termo (palavra tirada da 1ª. cláusula) entre a luz e as trevas”
(cf. Gn_1:4, 6, 9, onde a limitação da luz das trevas está em próxima
conexão com a das águas).
11. colunas — Poeticamente, em lugar das montanhas, que
parecem sustentar o céu (Sl_104:32).
tremem — quer dizer, do terror. Personificação.
sua ameaça — (Sl_104:7.) O trovão que retumba de penhasco em
penhasco (Hab_3:10; Nah_1:5).
12. fende — “Divide” (Sl_74:13). Talvez na criação (Gn_1:9-10).
A cláusula paralela favorece a Umbreit: “O sossega”. Mas o hebraico
significa ele se move. Talvez quer dizer tal “mover-se” como o de
mitigar a inundação com o vento que “Deus faz passar por” ela (Gn_8:1;
Sl_104:7).
soberba (RC) — o orgulho do mar (Jó_9:13).
13. Umbreit com menos simplicidade: “Com seu alento faz reviver
os céus”: quer dizer, seu vento dissipa as nuvens, que obscureciam as
cintilantes estrelas. E assim a outra cláusula em contraste: “Sua mão
estrangula”, quer dizer, obscurece a constelação do norte, o dragão. A
astronomia pagã tipificava o dilúvio como que tentava destruir a arca por
meio da constelação dragão, estando para devorar a lua em sua forma
crescente de eclipsada como uma nave, (Jó_3:8, margem). Mas melhor é
como a Versão Inglesa (“adornou”) (Sl_33:6).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 118
enroscadiça (RC) — Que denota o curso oblíquo, das estrelas, ou a
elíptica. “Fugaz”, ou “veloz” (Umbreit) (Is_27:1). Esta constelação
particular lhe faz representar o esplendor de todas as estrelas.
14. orlas — Antes: “só os extremos limites de … e quão baixinho o
murmúrio que ouvimos dele!”
trovão do seu poder — Toda a plenitude. Em antítese a “murmúrio
(“o pouco”) (1Co_13:9-10, 1Co_13:12).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 119
Jó 27

Vv. 1-23. Agora o turno cabia a Zofar para que falasse. Mas como
ele e os outros dois guardaram silêncio, assim admitindo virtualmente a
derrota, Jó depois de uma pausa prossegue.
1. Prosseguindo — Continuou falando, o que indica uma elevação
de discurso.
parábola (AV, RC) — aplicada no oriente a uma sentenciosa
incorporação figurativa de sabedoria em forma poética, uma máxima
(Sl_49:4).
2. (1Sm_20:3.)
me tirou o direito — palavras que predizem inconscientemente a
Jesus Cristo (Is_53:8; At_8:33). Deus não dará a Jó o que é seu direito,
declarando sua inocência.
amargurou — (Rt_1:20.)
3. Indicando o conhecimento de Jó do fato de que a alma vivente foi
soprada no homem por Deus (Gn_2:7). “O tempo todo.” Mas Maurer:
“até agora meu alento está em mim” (apesar de minhas provas): a razão
pela qual posso falar tão francamente.
4. (Jó_6:28, 30.) Seria “engano”, se ele admitisse a culpabilidade
contrariamente ao testemunho de sua consciência.
5. eu vos dê razão — aprove suas opiniões.
minha justiça — a que vocês negam, por causa de minhas
calamidades.
6. Antes, meu “coração” (consciência) não reprova nem um de
meus dias desde que existo. (Maurer.)
7. meu inimigo — isso é, aquele que se opõe à minha asseveração
de inocência deve ser considerado como tendo agido por hostilidade
criminal. Não uma maldição sobre seus inimigos.
8. “Que esperança tem o hipócrita, apesar de todos os seus lucros,
quando …?” “Roubado” é antitético a “arrebatar”. A tradução do
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 120
Umbreit é uma tautologia sem sentido: “Quando Deus cortar, quando
tirar sua vida.”
quando lhe for cortada — lit., tirar a alma do corpo, como se
desembainha a espada (Jó_4:21; Sl_104:29; Dn_7:15). Jó diz que admite
o que disseram Bildade (Jó_8:13) e Zofar (Jó_20:5). Mas diz que o fato
de que segue ainda invocando a Deus (Jó_27:10) em meio de suas
provas o que um hipócrita não se atreveria a fazer – demonstra que ele
não é “hipócrita”.
9. (Sl_66:18.)
10. Aludindo a Jó_22:26.
em todo o tempo — Pode ser que invoque a Deus em tempos de
prosperidade, para que seja tido por religioso. Mas ele não vai invocar a
Deus, como eu, nas calamidades à beira da morte. Portanto, não é
possível que eu seja “hipócrita” (Jó_19:25; Jó_20:5; Sl_62:8).
11-23. Estas palavras são contrárias aos prévios sentimentos de Jó
(Veja-se Jó_21:22-33; Jó_24:22-25). Parece porque estas palavras são a
declaração de Jó, embora não concordam com seus próprios sentimentos,
antes, com o que Zofar teria dito, ao chegar seu turno para falar (no fim
do cap. 26). De modo que Jó aqui põe a opinião de seus amigos
(Jó_21:17-21; Jó_24:18-21). A objeção o respeito é: Por que Jó não
refuta esta opinião de Zofar que ele mesmo expõe? A verdade é que é
provável que Jó, tacitamente, dando no cap. 28 uma resposta geral
somente, dê a entender que, apesar de que os ímpios com frequência
morrem – como ele disse – na prosperidade, ele não quer negar que os
maus devem ser tratados em geral segundo o direito, e que Deus nisso
vindica Seu governo moral até aqui. Jó portanto declara o argumento de
Zofar mais fortemente do que Zofar teria feito. Pela comparação de
Jó_27:13 com Jó_20:29 (“sorte”, “herança”), se verá que é o argumento
de Zofar, antes, que o próprio, o que Jó declara. Concedendo que é
assim, insinua Jó, não deveriam usá-lo como argumento para me
incriminar. Porque (Jó 28) os caminhos da divina Sabedoria ao castigar
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 121
os piedosos são inescrutáveis; tudo o que o homem sabe de seguro é: O
temor do Senhor é a sabedoria (Jó_28:28).
o que encerra a mão de Deus — antes, concernente à mão de
Deus, ou seja, o que Deus faz no governo aos homens.
o que está com o Todo-Poderoso — o conselho ou princípio que
regula os procedimentos de Deus.
12. “Todos vós o vistes” que muitas vezes os ímpios sofrem aflições
(embora com frequência é o contrário, Jó_21:33). Mas é em vão,
(“desvanecem-lhes”) que façam disto um argumento para provar por
minhas aflições que eu seja um ímpio.
13. (Veja-se v. 11.)
14. A família do tal só cresce para perecer da espada ou da fome
(Jr_18:21; o contrário, Jó_5:20).
15. Os que escapam da guerra ou da fome (v. 14) serão sepultados
em morte, quer dizer, pela praga mortal (Jó_18:13; Jr_15:2; Ap_6:8). A
praga da Idade Média chama-se “a morte negra”. Sepultados por ela dá a
entender que não teriam senão a própria praga mortal (poeticamente
personificada) que dirigiria seus ritos fúnebres; isso, não os haveria.
suas viúvas — dele, antes, deles. Não está implícita a poligamia
porque é frequente a transição do singular ao plural.
16. pó … barro — Figuras de multidões (Zc_9:3). As muitas
mudas de roupa formam a principal riqueza no oriente.
17. Paralelismo introvertido; veja-se Introdução. Das quatro
cláusulas dos dois versículos, a 1ª. corresponde à 4ª., a 2ª. à 3a. (assim
como Mt_7:6).
18. (Jó_8:14; Jó_4:19.) A relação que há entre “roupa” (Jó_27:16) e
a “casa” da “traça”, que é a habitação desta, quando se encontra em
estado de larva é natural. A casa da larva da traça por ser tão frágil,
rompe-se sempre que a roupa se sacode.
como a choça — Cabana de ramos que erige o guarda de vinha
como amparo provisório (Is_1:8).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 122
19. se deita — Sepultado honrosamente (Gn_25:8; 2Rs_22:20).
Mas Umbreit, de acordo com o v. 18, que descreve a curta duração da
prosperidade do ímpio: “deita-se sendo ainda rico em sua cama, e nada
lhe é roubado; abre os olhos, e não há nada mais”. Segundo a Versão
Inglesa o sentido é: embora seja rico ao morrer, não será honrado com
funerais, primeira cláusula, e na segunda: quando abre os olhos no
mundo invisível, será só para ver sua destruição. A versão dos LXX em
lugar de “não recolhido”, diz, Não avança, quer dizer não vai mais a sua
cama. Assim Maurer.
20. (Jó_18:11; Jó_22:11, Jó_22:21.) Como uma violenta inundação
repentina (Is_8:7-8; Jr_47:2): em sentido adverso (Sl_32:6).
21. (Jó_21:18; Jó_15:2; Sl_58:9)
22. lança — ou seja, os raios (Jó_6:4; Jó_7:20; Jó_16:13; Sl_7:12-
13).
23. lhe batem palmas — de alegria pela queda dele (Lm_2:15;
Na_3:19).
o apupam com assobios — zombeteiramente (Jr_25:9). Jó alude às
palavras de Bildade (Jó_18:18).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 123
Jó 28

Vv. 1-28. O DISCURSO DE JÓ CONTINUADO.


No capítulo anterior Jó tinha admitido tacitamente que a declaração
de seus amigos era muitas vezes verdade, que Deus vindica Sua justiça
castigando os ímpios nesta vida: mas, contudo, fica sem explicação a
tribulação dos piedosos. O homem, com sua arte, tirou os metais
preciosos de seu esconderijo. Mas a divina Sabedoria, que governa os
assuntos humanos, não a pode assim descobrir (v. 12, etc.). Entretanto, a
figura dos mesmos metais (Jó_23:10), insinua Jó, fez algum progresso
rumo à solução do enigma de sua vida, ou seja, que a aflição é para ele
como o fogo refinador o é para o ouro.
1. minas — Mina, lugar onde se refina, no hebraico, cava-se.
o ouro ... lugar — Onde se pode achar o ouro, que os homens
refinam. Não segundo nossa Versão Corrigida, “lugar em que o
derretem”, (Ml_3:3). Contrastado com o ouro achado no leito e areia de
rios, que não necessita refinamento, como o ouro escavado de minas.
Ornamentos de ouro se encontraram no Egito que datam do tempo de
José.
2. cobre — não “bronze”, da Versão Inglesa; pois o bronze é um
metal misturado de cobre e zinco, de invenção moderna. O ferro se
descobre e é trabalhado com menos facilidade que o cobre; portanto, o
cobre estava em uso comum muito antes que o ferro. A pedra de cobre
Plínio a chamava “cádmio” (Natural History, 34:1; 36:21). O ferro diz-
se propriamente tirado do “pó”, porque em sua forma natural se parece à
própria terra.
3. “Os homens põem termo às trevas”, explorando as mais escuras
profundidades (com tochas).
até aos últimos confins — esquadrinha o melhor as pedras que há
na escuridão e na sombra de morte (trevas as mais densas), quer dizer, as
pedras, dos minerais que sejam, incrustadas nas vísceras mais escuras da
terra (Umbreit) (Jó_26:10).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 124
4. Três dificuldades da mineração:
1. “Brota uma corrente a um lado de onde está o estrangeiro,”
quer dizer, do mineiro, um estranho recém vindo a lugares até
agora inexplorados; expressa sua surpresa, pela irrupção
repentina da corrente a seu lado (Versão Inglesa: do
habitante);
2. “Esquecidos (não sustentados) pelo pé, suspendem-se por
meio de cordas, ao descer. No hebraico o ali precede esta
cláusula colocando-o graficamente como se fora diante dos
olhos. “As águas” adiciona-se em nossa versão. “Secam-se”
[AV], deve traduzir-se: “estão suspensos”. Na Versão Inglesa
talvez se entendesse: as águas de cuja existência o homem
anteriormente era ignorante, perto das quais nunca andou; e
entretanto, a energia do homem é tal que com a bomba, etc.,
logo faz com que “se sequem e se vão”. (Assim Herder).
3. “Longe dos homens, movem-se com passos incertos”;
cambaleiam; não que se vão do homem”. (Umbreit).
5. Sua superfície fértil produz alimento; mas “debaixo dela está
levantada como por fogo”. Assim Plínio (História Natural, 33) sobre a
ingratidão do homem, que retribui a dívida que tem para com a terra
desentranhando-a. O “fogo” usa-se na mineração. (Umbreit.) A Versão
Inglesa é mais singela: quer dizer as pedras preciosas que brilham como
fogo; assim Jó_28:26 continua naturalmente (Ez_28:14).
6. As safiras se acham no terreno aluvial perto de rochas e
incrustados no gnaisse. Os antigos distinguiam duas classes: 1. O real, de
azul transparente; 2. O impropriamente chamado opaco, com manchas
douradas, ou seja, o lápis-lazúli. A este, parecido ao pó de ouro, Umbreit
refere “seus pós de ouro”. A Versão Inglesa é melhor: “As pedras dela
são o lugar de safiras, e seu grumo (Vulgata) de ouro”; são assim mais
nítidas as cláusulas paralelas.
7. ave — ave de rapina, ou águia, que tem a vista mais penetrante
das aves (Isaías 46:11). O abutre alcança ver um corpo morto de uma
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 125
distância surpreendente. O mineiro penetra a terra por uma via invisível
a melhor vista de ave.
8. nem o leãozinho passou (TB) — O hebraico sugere o passo
arrogante do leão.
passou — O mineiro se aventura aonde o leão feroz não se atreve a
ir depois da presa.
9. rochedo — Estende a mão para partir a rocha mais dura.
desde as suas raízes — Desde os seus alicerces, minando-os.
10. Ele corta canais para separar a água, que impede seu trabalho de
mineiro, e indo a água, pode ver o apreciado, coisas preciosas, na terra.
11. veios de água — “Detém os rios em seu nascimento”;
expressão poética da água subterrânea que jorra, que lhe impede; que
corresponde à 1ª. cláusula do v. 10; assim também correspondem à 2ª.
aqui à 2ª. ali.
12. Pode o homem descobrir a divina Sabedoria que governa a este
mundo, da maneira como descobre os tesouros escondidos na terra? Por
certo que não. Concebe-se a divina Sabedoria como uma pessoa
(Jó_28:12-27) distinta de Deus (Jó_28:23; também em Pv_8:23,
Pv_8:27). O todo-poderoso Verbo, Jesus Cristo, nós sabemos agora, é
aquela Sabedoria. A ordem do mundo foi originado e mantido pela
exalação (Espírito) da Sabedoria, insondável e inalcançável pelo homem.
Em Jó_28:28 se declara o único aspecto dela que se relaciona com o
homem e que lhe pode ser compreensível.
entendimento — Penetração no plano do governo divino.
13. O homem não pode lhe pôr preço, porque não se acha em parte
alguma da habitação do homem (Is_38:11). Jó dá a entender o valor
apreciável da sabedoria, e a impossibilidade de comprá-la a todo preço.
15. Não é a palavra usual por “ouro”; de uma raiz hebraica, que
significa encerrar com cuidado: quer dizer, ouro puríssimo (1Rs_6:2).
se pesa — Se pesavam os metais, antes de conhecer a cunhagem de
moedas (Gn_23:16).
16. ouro de Ofir — O mais precioso (Veja-se Jó_22:24; Sl_45:9).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 126
ônix — (Gn_2:12); antigamente de mais valor que agora. O termo é
grego, para unha, por alguma aparência na cor. O arábico denota: de
duas cores, o branco preponderado.
17. cristal — ou se não, o vidro, muito custoso, se na verdade se
conhecia então. De uma raiz, ser transparente.
18. Coral vermelho (Ez_27:16).
pérolas — Lit., o que é gelado. Provavelmente cristal; e Jó_28:17
então será vidro.
rubis (RC, NKJV) — Umbreit traduz pérolas (cf. Lm_4:1;
Pv_3:15). O Urim e o Tumim: quer dizer os meios de consultar a Deus
por meio das doze pedras sobre o peitoral do sacerdote, “as pedras do
santuário” (Lm_4:1), têm seus semelhantes neste capítulo; as pedras
preciosas que simbolizam a “luz” e a “perfeição” da divina Sabedoria.
19. Etiópia — Cuxe em hebraico. Quer seja a Etiópia, ou o sul da
Arábia, perto do Tigre.
20. O versículo 12 repetido com grande força.
21. Ninguém vendo-a pode saber de onde nem aonde, etc.
aves — O dom da adivinhação os pagãos o atribuíam especialmente
às aves. Seu voo veloz céu acima e o poder de sua vista originariam esta
superstição. Jó pode ser que aluda a isso: Nem a alardeada adivinhação
das aves tem penetração nela (Ec_10:20). Mas pode ser que signifique
somente, como em Jó_28:7, que escapa ao olho da ave mais perspicaz.
22. Quer dizer, as moradas da destruição e dos mortos. “Morte”,
posta por Sheol (Jó_30:23; Jó_26:6; Sl_9:13).
Ouvimos com os nossos ouvidos — o rumor dela. Não a vimos.
Na terra dos viventes (Jó_28:13) as obras da sabedoria se veem, mas não
ela mesma. Na região dos mortos só se ouça sua fama, rumores dela, não
estando visíveis suas obras da natureza (Ec_9:10).
23. Deus tem sabedoria; Ele mesmo é sabedoria.
24. “vê quanto há sob os céus”.
25. Deus pôs o peso dos ventos, aparentemente tão imponderáveis,
para que não fizessem mal, por serem muito pesados, ou muito leves.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 127
Mede as águas, pondo-lhes limites, tendo por seu conselheiro a sabedoria
(Pv_8:27-31; Is_40:12).
26. O decreto que regula o tempo, o jogar, e a quantidade de chuva
que deve cair.
caminho — através das nuvens partidas (Jó_38:25; Zc_10:1)
27. a manifestou — Deus em Suas obras (Sl_19:1-2). Assim a
aprovação dada pelo Criador às Suas obras (Gn_1:10, Gn_1:31); cf. o
“regozijo” da sabedoria pelas mesmas (Pv_8:30); que Umbreit traduz:
“Eu era perito artífice a seu lado”).
estabeleceu-a — não a criou, porque a sabedoria é desde a
eternidade (Pv_8:22-31); “estabeleceu-a” como Governadora do mundo.
a esquadrinhou — Esquadrinhou as obras dela, por ver se era ela
adequada para a tarefa de governar o mundo. (Maurer.)
28. E disse — antes: Mas disse ao homem … Minha sabedoria é
aquela pela qual são governadas todas as coisas; sua sabedoria está no
temor a Deus e evitar o mal, e em se sentir seguro de que minha
sabedoria sempre age retamente, embora você não entende o princípio
que a regula; quer dizer, ao afligir os piedosos (Jo_7:17). Os amigos de
Jó, portanto, não compreendendo a divina Sabedoria não devem inferir a
culpabilidade de Jó por causa de seus padecimentos. Apenas aqui no
livro aparece o nome de Deus, “Adonai”. Senhor ou dono, muitas vezes
aplicado ao Messias no Antigo Testamento. Apropriadamente aqui, ao
falar do Verbo ou Sabedoria, por quem o mundo foi feito (Pv_8:22-31;
Jo_1:3; Eclo_24:1-34).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 128
Jó 29

1. Jó faz uma pausa, para que lhe respondam. Como não o fazem,
procede a ilustrar o misterioso dos procedimentos de Deus como o
exposto em Jó_28:1-28, por seu próprio caso.
2. me guardava — da calamidade.
3. lâmpada — Quando seu favor me iluminava (Jó_18:6; Sl_18:28).
trevas — Com sua proteção passava seguro pelos perigos. Alude
talvez às luzes que levavam diante das caravanas nos viagens noturnas
pelo deserto. (Noyes.)
4. vigor — Lit., o outono; o tempo do fruto amadurecido de minha
prosperidade. Aplicado à juventude, porquanto os orientais principiavam
o ano com o outono, a estação mais temperada no Oriente.
amizade de Deus — Quando a íntima amizade de Deus repousava
sobre minha tenda (Pv_3:32; Sl_31:20; Gn_18:17; Jo_15:15). O hebraico
muitas vezes significa um divã para deliberação.
6. em leite — antes, a nata, lit., leite espesso. Por onde quer que
dirigia meus passos me fluíam abundantemente o leite e o mel.
quando eu lavava os pés — Figura da vida pastoril. Não quer dizer
literalmente lavar os pés em leite; como esclarece a 2ª. cláusula: comigo
(V. Inglesa) ou seja, perto de meu caminho, onde caminhasse
(Dt_32:13). As oliveiras dentre rochas davam o azeite melhor. O azeite
no Oriente é usado para alimento, luz, unguento, e medicina.
7-10. A muita influência que Jó tinha sobre jovens e velhos, e sobre
os nobres.
saía … praça — antes: Quando saía de minha casa de campo (cf.
Jó 1, prólogo) para a porta (ascendendo) à cidade (que estava em terreno
elevado), e quando preparava meu assento (judicial) na praça. O
mercado era o sítio do tribunal, à porta ou propileu da cidade, tal como
se encontra nas restos de Nínive e Persépolis (Is_59:14; Sl_55:11;
Sl_127:5).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 129
8. se retiravam — Não literalmente. Antes, ficavam atrás,
reverentemente. Os de idade, que já estavam sentados, levantavam-se e
ficavam de pé (hebraico), até que Jó se sentasse. Urbanidades orientais.
9. (Jó_4:2; Jó_21:5.)
reprimiam as suas palavras — em meio de seus discursos.
10. emudecia — calava (Ez_3:26).
a sua língua se apegava ao paladar — quer dizer, pelo temor
respeitoso de minha presença, os emires ou sheiks se calavam.
11. feliz — Louvavam minhas virtudes (Pv_31:28). Leia-se “os que
ouviam de mim (em geral, não no mercado, Jó_29:7-10) louvavam-me
…”
dava testemunho — de meu caráter honorável. Figura da corte de
justiça (Lc_4:22).
algum olho — isto é, face a face; em antítese aos “ouvidos”; ou
seja, rumores de mim.
12-17. Louvavam a Jó em base (Jó_29:11) a seu socorro aos
afligidos (Sl_72:12) que clamavam a ele, como a um juiz, ou como a um
filantropo. Traduza-se: “O órfão que não teve a ninguém para ajudá-lo.”
13. Longe de despedir as “viúvas” vazias (Jó_22:9).
estava a perecer — (Pv_31:6.)
14. (Is_61:10; 1Cr_12:18.) Margem.
justiça — a justiça administrada.
turbante — Este e o largo manto ondulante eram as características
proeminentes do vestir de um grande senhor oriental ou do sumo
sacerdote (Zc_3:5). Deste modo caracterizava a Jó especialmente sua
justiça.
15. Lit., o cego (Dt_27:18); o coxo (2Sm_9:13); figurativamente,
também o amparo espiritual que os mais espirituais dão aos menos
espirituais (Jó_4:3; Hb_12:13; Nm_10:31).
16. Longe estava eu de quebrantar os braços dos órfãos, como
Elifaz disse (Jó_22:9), antes fui “pai” aos tais.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 130
causas dos desconhecidos — Antes, daquele que não conhecia, o
estrangeiro (Pv_29:7 (Umbreit); contraste-se Lc_18:1, etc.). Aplicável à
esmola (Sl_41:1); mas aqui em primeiro termo, à consciência judicial
(Jó_31:13).
17. Figura da luta com as feras (Jó_4:11; Sl_3:7). Tão compassivo
era Jó para com o oprimido, tão terrível ao opressor!
queixos — Jó quebrantava o poder do iníquo, de modo que já não
podia danificar mais, e lhe arrebatava o despojo que ele tinha arrancado
de outros.
18. Eu dizia — Em meu coração (Sl_30:6).
no meu ninho — antes, “Com meu ninho”, visto que a 2ª. cláusula
se refere à vida longa. Em vez de morrer minha família antes que eu,
como resultou, viveria tanto como para morrer com eles: proverbial pela
longa vida. Jó com efeito realizou esta sua esperança (Jó_42:16).
Entretanto, No seio de minha família, faz bom sentido (Nm_24:21;
Ob_4). Diz-se “ninho” por morada segura.
areia — (Gn_22:17; Hab_1:9). Mas a Versão dos LXX e a Vulgata
e intérpretes judeus, favorecem a tradução da ave fênix”. “Ninho” da
cláusula paralela sustenta a referência à ave. “Areia” por multidão,
aplica-se a homens, antes que a anos. O mito era de que o fênix
abandonou seu ninho de mirra, feito por seu pai antes de morrer, e que
depois vinha da Arábia (país de Jó) a Heliópolis (cidade do Sol) no
Egito, uma vez cada 500 anos e ali queimava a seu pai (Heródoto, 2:73.)
A arqueologia moderna demonstrou que este era o modo egípcio de
representar hieroglificamente uma era ou ciclo cronológico particular. A
morte e a ressurreição cada 500 anos, e a referência a sol, sugere um
grande ciclo semelhante que começa de novo do mesmo ponto em
relação ao sol do qual o anterior tinha começado. É provável que Jó se
refira a isto.
19. Lit., “aberta às águas.” O oposto de Jó_18:16. Saúde vigorosa,
20. Meu renome, como minha saúde física, estava continuamente
fresco.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 131
arco — Metáfora com referência à guerra, por minha força, que me
procura o renome, a qual sempre se renovava (Jr_49:35).
21. Jó volta com prazer sobre sua dignidade anterior nas
assembleias (Jó_29:7-10).
22. não replicavam — Não me contradiziam.
destilava — Afetava-lhes a mente, como a generosa chuva que cai
lentamente sobre a terra (Am_7:16; Dt_32:2; Ct_4:11).
23. Continua a figura do v. 22. Aguardavam meu proveitoso
conselho, como a terra seca, à chuva benfeitora.
abriam a boca — Ofegavam pela chuva; figura oriental
(Sl_119:131). A “chuva temporã” cai em outono e depois, em tempo da
semeadura. A “chuva serôdia”, cai em março e adianta a ceifa, a que
amadurece em maio ou junho. Entre a temporã e a serôdia cai alguma
chuva, mas não em tantas quantidades. Entre março e outubro não cai
chuva alguma (Dt_11:14; Tg_5:7).
24. Quando deixava minha habitual seriedade (uma virtude
estimada no oriente), e sorria, eles não o podiam crer, e não obstante
minha condescendência, não deixavam de lado a reverência por minha
seriedade. Mas o paralelismo é melhor na tradução do Umbreit: “Eu são
ria benignamente aos que não confiavam em mim”, isto é, em tempos de
perigo animava aos que estavam desalentados. Os quais não podiam
abater (por seu desespero) minha serenidade de rosto (motivada por
minha confiança em Deus) (Pv_16:15; Sl_104:15). A frase oposta
(Gn_4:5-6). A luz de rosto não possa ser o significado de “gravidade”.
25. Eu lhes escolhia o caminho — “Escolhia …” Gostosamente
subia às assembleias deles (desde minha residência campestre, Jó_29:7).
como rei … tropas — supremo em meio de seu exército.
consola os que pranteiam — Aqui de novo Jó inconscientemente
prefigura ao Senhor Jesus (Is_61:2-3). As tribulações de Jó, como as do
Senhor, o preparavam para o ofício posterior (Is_50:4; Hb_2:18).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 132
Jó 30

1. os de menos idade — não os seus três amigos (Jó_15:10;


Jó_32:4, 6, 7). Uma descrição geral: Jó_30:1-8, os mais baixos do povo
se mofam dele; Jó_30:9-15, a mofa mesma. Anteriormente os anciãos
ficavam de pé perante mim (Jó_29:8). Agora não somente meus
inferiores em idade, os que me devem reverência (Lv_19:32), mas até os
vis e bastardos escarnecem de mim; o oposto de “me sorria” (Jó_29:24).
Isto excede ainda a “mofa” de Jó por seus parentes e amigos (Jó_12:4;
Jó_16:10, Jó_16:20; Jó_17:2, Jó_17:6; Jó_19:22). Os orientais se
ressentem profundamente por qualquer indignidade da parte dos jovens.
Jó fala como rico emir árabe, orgulhoso de sua ascendência.
cães — aborrecidos no oriente como animais imundos (1Sm_17:43;
Pv_26:11). Não se permite que entrem em casa, mas sim rondam pelos
subúrbios e vivem dos lixos, etc. (Sl_59:14-15). Aqui de novo nos
lembra ao Senhor Jesus (Sl_22:16). “Seus pais, meus contemporâneos,
eram tão vis e famintos que apesar disso, eu não gostaria que se
associassem com os cães (menos pô-los entre eles) que guardavam os
meus rebanhos”.
2. Se seus pais não puderam me ser de proveito, muito menos os
filhos, que eram mais fracos que eles; e em cujo caso a esperança de
chegar à ancianidade se dissipou totalmente, tão fracos que eram
(Jó_5:26). (Maurer.) Embora tivessem “força de mãos”, já não poderiam
me ser de serviço, visto que tudo que necessito em minha presente
condição é a simpatia.
3. míngua e fome — Lit., duros como a rocha; assim, antes,
traduza-se: secados, gastos pela fome. Jó descreve a raça mais rude dos
beduínos (Umbreit.)
roem — Assim a Septuaginta. Melhor, como Siríaca, Arábica, e
Vulgata, “roedores da solidão”. Os que roem segue em Jó_30:4.
lugares secos, desde muito em ruínas — Lit., “a noite da
desolação e deserto” (o cúmulo de assolamentos; Ez_6:14); quer dizer,
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 133
aqueles desertos mais temíveis ao homem que a noite, que estão ali desde
tempos imemoriais. Creio que ambas as ideias estão nas palavras trevas
(Gesênius) e antiguidade (Umbreit). (Is_30:33, Margem)
4. malvas — antes, a erva salina, que cresce nos desertos, e é
comida como salada pelos pobres. (Maurer.)
zimbro — antes, uma espécie de mata, Spartium (retama) na
Arábia, assim como no hebraico de Jó, as amargas raízes da qual comem
os pobres.
5. grita-se contra eles — Dando expressão ao ódio que a esta raça
alentavam os árabes civilizados e bem nascidos. Quando estes
vagabundos selvagens faziam incursões contra as aldeias, eram corridos
como ladrões.
6. Viam-se forçados a “habitar”.
nos desfiladeiros — antes, “nos lúgubres (escuridão dos) arroios”,
ou wadis. Morar em vales, vale dizer no Oriente, sinal de miséria. Os
trogloditas, em partes da Arábia, viviam em tais habitações como covas,
etc.
7. Bramam — Como os asnos monteses (Jó_6:5, por alimento). Os
tons inarticulados desta multidão incivilizada são um pouco melhores
que os das bestas do campo.
se ajuntam — antes, derramavam-se em pequenos grupos para cá e
acolá: representação gráfica do desordenado de seu acampamento, atrás
dos espinheiros.
espinheiros — ou sarças (Umbreit).
8. filhos de doidos — ou seja, os ímpios e abandonados.
(1Sm_25:25).
raça infame — bastardos.
da terra são escorraçados — Antes, arrojados fora da terra. Os
horitas do Monte Seir (comp. Gn_14:6 com Gn_36:20-21; Dt_2:12,
Dt_2:22) eram provavelmente os aborígenes, expulsos pela tribo a qual
Jó pertencia; seu nome significa trogloditas, ou cavernícolas (que moram
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 134
em cavernas). Jó alude aos mesmos aqui (Jó_30:1-8 e Gn_24:4-8, cf. os
dois juntos).
9. (Jó_17:6.) Singularmente parecido ao escárnio que o Senhor
sofreu (Lm_3:14; Sl_69:12). Aqui Jó volta para sentimento de Jó_30:1.
É aos tais que eu cheguei a ser uma canção de “zombaria”.
10. no rosto — Antes, Não cuidam para cuspir em aberto escárnio
em minha presença. Cuspir sequer na presença de alguém é tido como
insultante no Oriente, muito mais quando é feito com o propósito de
indicar o “aborrecimento”. Cf. o outro insulto ao Senhor Jesus (Is_50:6;
Mt_26:67).
11. Deus — antiteticamente a eles, a Versão Inglesa, aqui segue a
lição marginal (Keri).
a corda — figura do arco sem corda; o oposto de Jó_29:20. O
Texto (Cetib), “sua corda” ou “rins” é melhor; “não só isto, cada um
deles desata seus rins”. (Umbreit.)
12. súcia — Antes, uma estirpe (baixa). Levantar-se à direita
equivale a acusar, por ser tal a posição do acusador no tribunal (Zc_3:1;
Sl_109:6).
Empurram os seus pés (TB) — Me empurram pela frente
(Jó_24:4).
contra mim prepara o seu caminho — quer dizer, seus caminhos
de (com o propósito por mim) ruína. Figura, como em Jó_19:12, do
exército sitiador que se abre caminho de entrada à cidade
13. continua-se a figura da fortaleza assediada. Transtornam o
caminho por onde o socorro me poderia chegar.
promovem a minha calamidade — (Zc_1:15).
gente para quem já não há socorro — Provérbio arábico por
pessoas aborrecíveis. E contudo tais pessoas atormentam a Jó.
14. “Vieram por larga brecha de águas” (AV). Assim 2Sm_5:20.
Mas é melhor reter a figura dos vv. 12, 13. “Sobreviveram-me como por
uma abertura larga”, feita pelos sitiadores da fortaleza (Is_30:13).
(Maurer.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 135
se revolvem avante entre as ruínas — Antes, “no meio do
desmoronamento (de obra de alvenaria, ou com gritaria estrondosa)
resolveram contra mim.”
15. Sobrevieram-me pavores — as mesmas confusões, ou terrores.
a minha honra — Antes, minha dignidade. (Umbreit.)
minha felicidade — minha prosperidade.
nuvem — (Jó_7:9; Is_44:22).
16-23. As calamidades externas de Jó lhe afetam a mente.
se me derrama a alma — Em queixas que não se podem reprimir
(Sl_42:4, Jos_7:5).
17. No hebraico, noite está poeticamente personificada, como em
Jó_3:3: “A noite me broca os ossos (de modo que caem) por mim (não
“em mim”, segundo a Versão Inglesa); veja-se Jó_30:30).
ossos — “Tendões” (V. Inglesa); Assim o árabe, veias, afim do
hebraico; antes, roedores, como no v. 3 (nota), ou seja, as dores que me
roem nunca cessam. Os efeitos da elefantíase.
18. grande violência — Antes, “de Deus” (Jó_23:6).
está desfigurada — de uma túnica de honra, a uma de luto, literal
(Jó_2:8; Jo_3:6) e metaforicamente. (Umbreit.) Ou antes, com Schuttens,
de conformidade com Jó_30:17, “Minha roupa exterior está mudada em
aflição”; quer dizer, a aflição veio a ser minha roupa exterior, também
me rodeia em volta (do pescoço) assim como o pescoço do saco interior;
é pois a aflição um objeto interior como exterior. Observe-a distinção
entre o objeto interior e o exterior. Esta se refere a suas aflições que
vinham de fora (Jó_30:1-13); as primeiras, a suas aflições pessoais
(Jó_30:14-23). Umbreit faz com que Deus seja o sujeito quem “rodeia”,
como em Jó_30:19.
19. Poeticamente diz-se que Deus faz o que o triste faz a si mesmo
(Jó_2:8). Recostado nas cinzas, voltou-se, qual elas, de uma cor suja.
20. Ponho-me em pé (TB) — A atitude reverencial de um
suplicante diante do rei (1Rs_8:14; Lc_18:11-13).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 136
não — interpolado, da 1ª. cláusula. Mas o afirmativo “Ponho-me
em pé” que intervém, faz com que esta elipse seja improvável. Antes,
como Jó_16:9 (não só se nega a me socorrer “em pé” qual suplicante,
mas também) contempla-me com cenho; olha-me severamente.
22. Levantas-me sobre o vento — Como uma “folha” ou uma
“palha” (Jó_13:25). As colunas movediças de areia, levantadas pelo
vento até as nuvens, descritas pelos viajantes, ilustrariam ao agitado
espírito de Jó, se é que às mesmas faz referência.
dissolves-me — A lição hebraica marginal (Keri), “minha riqueza”,
ou se não, “sabedoria”, ou seja o sentir e o espírito, ou “minha esperança
de libertação”. Mas o texto (Cetib) é melhor: Dissolves-me (com temor,
Êx_15:15) no desmoronamento (do redemoinho; como em Jó_30:14).
(Maurer.) Umbreit traduz como verbo: “Você me aterroriza.”
23. Isto demonstra que Jó_19:25 não pode limitar-se à esperança de
Jó de uma libertação temporária.
morte — como em Jó_28:22, a esfera dos mortos (Hb_9:27;
Gn_3:19).
24. Que expressa a fé de Jó quanto ao estado depois da morte.
Embora se deve ir à tumba, contudo Deus já não infligirá mais na ruína
do corpo (assim o hebraico por sepulcro) ali, se se estando arruinado
clama a ele. O “estender a mão” para castigar depois da morte
corresponde antiteticamente a “clamarão” na 2ª. cláusula. Maurer dá
outra tradução, que concorda com o tema de Jó_30:24-31; se for natural
que alguém na aflição peça socorro, por que se considera incorreto
(pelos amigos) em meu caso? “Entretanto, não estenda a mão um homem
em sua calamidade” (implorando socorro, Jó_30:20; Lm_1:17)? Se
alguém estiver em sua adversidade, não se faz um “clamor” (por ajuda)?
De modo que no paralelismo “clamarão” corresponde a “estenderão a
mão”; “em sua calamidade (“quebrantá-los”), a “em ruína” (“sepulcro”).
O negativo da 1ª. cláusula se subentende na 2ª. como em Jó_30:25
(Jó_28:17).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 137
25. Não se me permite queixar-me de minha calamidade e pedir
alívio, quando eu mesmo me compadeço do “aflito” (lit., duro de dias; os
que experimentam as durezas da vida)
26. Devem me permitir pedir ajuda, vendo que “quando esperava o
bem tendo como base minha piedade e minha caridade), vem, não
obstante, o mal”.
luz — (Jó_22:28.)
27. entranhas (TB) — tidas pela sede do sentimento profundo
(Is_16:11).
fervem (TB) — Violenta e calorosamente agitadas.
dias de aflição — inesperadamente me sobrevieram, de supetão.
28. Ando de luto — Antes, ando quase enegrecido, mas não do sol;
quer dizer, que enquanto que muitos são enegrecidos pelo sol, eu o estou
pelo calor da ira de Deus (assim “fervem”, Jó_30:27); a elefantíase me
cobrindo com o negrume da pele (Jó_30:30), como com um manto de
luto (Jr_14:2). Esta notável forma enigmática da expressão hebraica
aparece em Is_29:9.
levanto-me — como um homem inocente que pede justiça numa
assembleia judicial (Jó_30:20).
29. chacais … avestruzes — que ambos os dois lançam alaridos
extremamente funestos (Mq_1:8); no qual respeito, como também vivem
nas solidões, Jó lhes é irmão e companheiro”, quer dizer, assemelha-se a
eles. “Dragão”, hebraico, tannim, usualmente significa o crocodilo;
assim talvez aqui, suas queixadas abertas rumo ao céu, e o som que faz
ao fazê-lo como se lamentasse seu destino. (Bochart.)
30. me cai — Antes, como em Jó_30:17, minha pele está denegrida
(e cai) de mim.
meus ossos — (Jó_19:20; Sl_102:5.)
31. flauta — Antes, pífano (Jó_21:12); “Minha alegria se tornou
em voz de lamentações” (Lm_5:15). Estes instrumentos são mais
próprios para a alegria (Is_30:29, Is_30:32), o que faz com que seu uso
aqui seja tanto mais triste pelo contraste.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 138
Jó 31

1-4. Jó passa a provar que ele merecia uma sorte melhor. Como em
Jó 29 patenteou sua justiça como emir, ou magistrado na vida pública,
assim neste vindica seu caráter na vida particular. Declara que se
guardava de ser seduzido ao pecado pelos sentidos.
1. fixaria — Antes, lançar-lhe um olhar (sensual). Não somente
não o fazia, mas sim o tornava impossível por ter feito uma aliança com
seus olhos que não lhe pusessem a tentação (Pv_6:25; Mt_5:28).
2. Porque, de ter permitido que meus sentidos me tentassem, “que
galardão (haveria para mim, quer dizer, esperaria eu) de Deus acima, e
que herança do Onipotente?” (Maurer) (Jó_20:29; Jó_27:13).
3. Resposta à pergunta de Jó_31:2.
infortúnio — extraordinário.
4. Ou não vê Deus …? Sabendo isto, eu não podia esperar senão o
“quebrantamento” (Jó_31:3), se cometia tal pecado (Pv_5:21).
5. Jó se abstinha de atos maus.
engano — Lit., “vaidade” (Sl_12:2).
6. Parentético. Traduza-se: “Tomara que me pesasse … então
saberia …”
7. Conectado com Jó_31:6.
do caminho — de Deus (Jó_23:11; Jr_5:5). Uma vida piedosa.
se o meu coração segue os meus olhos — Se meu coração cobiçou
o que meus olhos viam (Ec_11:9; Jos_7:21).
mãos — (Sl_24:4)
8. A apódose de Jó_31:5, 7; as maldições que profere contra si, de
ter feito ele estas coisas (Lv_26:16; Am_9:14; Sl_128:2).
semeie eu — antes, o que semeio, minhas colheitas.
9-12. Declara sua inocência do adultério.
Se o meu coração se deixou seduzir — se se deixou seduzir
(Pv_7:8; Gn_39:7-12).
se andei à espreita — até que saísse o marido.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 139
10. moa minha mulher para outro — dê volta ao moinho à mão.
Seja a abjeta escrava e concubina (Is_47:2; 2Sm_12:11).
11. Desde os tempos mais primitivos era crime de pena capital
(Gn_38:24). Assim foi em tempos posteriores (Dt_22:22). Até aqui tinha
falado somente de pecados contra a consciência; agora, de um contra a
comunidade, que demanda o conhecimento do juiz.
12. (Pv_6:27-35; Pv_8:6-23, Pv_8:26, 27). Nenhum crime provoca
mais a Deus para que envie a destruição qual fogo devorador, e nenhum
desola tanto a alma.
13-23. Jó afirma sua inocência de ter agido injustamente com seus
servos, de dureza e opressão para com os carentes.
Se desprezei o direito — negando-se de lhes fazer justiça.
14, 15. Parentético; a razão pela qual não menosprezava o direito de
seus servos. Traduza-se: O que pois (se o tivesse feito) poderia ter feito,
quando Deus se levantasse (para me exigir conta), etc.
15. Os proprietários de escravos tratam de defender-se alegando a
inferioridade original do escravo. Mas Ml_2:10; At_17:26; Ef_6:9,
fazem da origem comum de amos e escravos o argumento a favor do
amor fraterno que aqueles devem para com estes.
16. fiz desfalecer — se desesperar, na vã espera de amparo
(Jó_11:20).
17. Os costumes arábicos de hospitalidade requeriam que se
servisse primeiro ao estrangeiro, e do melhor.
18. Parentético: afirmando que ele praticava o oposto destas coisas
de Jó_31:16, 17.
cresceu — o órfão.
fui o guia — lhe dando conselho e proteção. Sobre isto e “como
pai”, veja-se Jó_29:16.
19. se a alguém vi perecer — isso é, estivesse por perecer
(Jó_29:13).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 140
20. lombos — as partes do corpo favorecidos por Jó poeticamente
descritas dando graças a Jó; os lombos antes despidos, quando os vesti
de lã, desejaram-me toda bênção.
21. sabendo que — isto é, porque.
por me ver apoiado — porque podia contar com a “ajuda” de um
partido poderoso “na porta” (corte de justiça), se fosse eu chamado pelo
órfão injuriado.
22. A apódose de Jó_31:13, 16, 17, 19, 20, 21. Se tivesse cometido
esses crimes, teria aproveitado mal minha influência (meu braço
figurativamente, Jó_31:21); portanto, se os tiver feito, seja quebrado meu
braço (literalmente). Jó alude à acusação de Elifaz (Jó_22:9). “Braço” é ,
antes, o antebraço.
o osso — Lit., um cano, o braço superior, do côvado.
23. Porque — isto é, a razão por que Jó se guardava contra tais
pecados. O temor de Deus embora podia escapar do juízo do homem
(Gn_39:9). Umbreit mais animadamente traduz: Sim, a destruição e
terror de parte de Deus poderiam me haver sobrevindo (se tivesse feito
aquilo): o mero temor não sendo o motivo.
majestade — poder majestoso.
24, 25. Jó declara a liberdade que tinha da confiança no dinheiro
(1Tm_6:17). Agora volta sobre seu dever para com Deus, como já tinha
falado antes de seu dever para consigo e com o seu próximo. A cobiça é
idolatria secreta, visto que transfere o coração do Criador ao criado
(Col_3:5). Em Jó_31:26, 27 passa a falar da idolatria aberta.
26. Se tenho olhado ao sol (como objeto de adoração) porque
resplandecia; ou à lua porque ia bela … O sabeísmo (de tsaba, as hostes
celestiais) foi a forma mais primitiva de culto falso. Deus, portanto,
chama-se em contra distinção o “Senhor (ou Jeová) de Sabaoth”. O sol,
lua, e estrelas, os objetos mais brilhantes da natureza, e vistos desde
todas as partes, supunha-se serem os representantes visíveis do Deus
invisível. Não tinham templos, mas os adorava em lugares altos e sobre
os eirados (Ez_8:16; Dt_4:19; 2Rs_23:5, 2Rs_23:11). O hebraico aqui
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 141
para “sol” é luz. Provavelmente adorava-se a luz como a emanação de
Deus, antes que aos objetos de luz, o sol, etc. Este culto preponderava na
Caldeia; portanto a abstenção de Jó da idolatria de seus vizinhos era tão
mais exemplar. Nosso “domingo” e “segunda-feira” (dia do senhor Sol,
dia da lua) conservam rasgos do sabeísmo,
27. se deixou enganar — foi secretamente seduzido à idolatria.
beijos lhes atirei com a mão — adoração, lit. significa isto: na
adoração a pessoa se beijava a mão, e logo atirava o beijo, como se
fosse, rumo ao objeto de seu culto (1Rs_19:18; Os_13:2).
28. A lei mosaica incorporou subsequentemente o sentimento que
os piedosos dos tempos antigos alentavam contra a idolatria, como
merecedora de penas judiciais: como era a traição contra o Supremo Rei
(Dt_13:9; Dt_17:2-7; Ez_8:14-18). Esta passagem não prova que Jó fora
posterior a Moisés.
29. Se me alegrei — em malicioso triunfo (Pv_17:5; Pv_24:17;
Sl_7:4).
30. boca — lit., paladar. (Veja-se Jó_6:30)
pedindo — lit., “de modo de demandar a alma (de meu inimigo),
isto é, vida por uma maldição”. Este versículo parenteticamente confirma
o v. 29. Jó na idade patriarcal, anteriormente à lei, realiza o espírito
evangélico, aquele que foi o fim da lei (cf. Lv_19:18; Dt_23:6, com
Mt_5:43-44).
31. a gente — Lit., “homens de minha tenda”: Quem nos permitisse
devorar a carne do inimigo de Jó, não estaremos contentes enquanto não
o fizermos! Mas Jó se refreava de desejar sequer a vingança (1Sm_26:8;
2Sm_16:9-10). Deste modo Jesus Cristo (Lc_9:54-55). Mas melhor (cf.
Jó_31:32) traduza-se: “Quem pode indicar (lit., dar) ao homem que não
se contentasse com a carne provida por Jó?” Nunca deixava que se fosse
de sua porta um pobre sem lhe dar o suficiente para comer.
32. estrangeiro — lit., caminho, isto é, viajante, caminhante; assim
expresso para incluir gente de toda classe (2Sm_12:4).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 142
33. como Adão — (Os_6:7). Umbreit traduz: “como os homens”.
Mas nossa versão “como Adão”, é mais natural. A mesmo palavra
encobrir, ou esconder emprega-se em Gn_3:8, 3:10, referente a Adão
que se escondeu de Deus. Jó em outra parte faz alusão ao dilúvio. De
modo que facilmente poderia ter sabido da queda de Adão, por meio dos
dois elos que conectavam a Adão e Abraão (como da época de Jó), ou
seja, Matusalém e Sem. Adão é representativo da tendência do homem
caído de encobrir (Pv_28:13). Era de Deus de quem Jó “não escondeu
sua iniquidade em seu seio”, como em sentido contrário era de Deus que
“Adão” se escondeu em seu esconderijo. Isto refuta a tradução de “como
os homens”: visto que é de seus companheiros que os “homens” desejam
principalmente esconder seu verdadeiro caráter culpado. Magee, para
fazer mais exata a comparação com Adão, em vez de “meu seio” traduz:
“meu esconderijo”.
34. A apódose de Jó_31:33. Traduza-se: “Então eu seja quebrantado
(aterrorizado) perante uma grande multidão, e o menosprezo … me
atemorize … e rua (a maior humilhação para um patriota antes tão
proeminente nas assembleias) … e não saia …” Uma justa retribuição,
que aquele que esconde seu pecado de Deus, tenha-o descoberto diante
dos homens (2Sm_12:12). Mas Jó não tinha sido assim descoberto; antes
ao contrário, era estimado nas assembleias das tribos (“famílias”): uma
prova, ele insinua, de que Deus não lhe tem por culpado de encobrir
pecados (2Sm_24:16, contrastado com Jó_29:21-25).
35. Jó volta sobre seu desejo (Jó_13:22; Jó_19:23).
minha defesa assinada — minha marca com que subscrevo as
declarações que acabo de dar em minha defesa: a marca da assinatura era
originalmente uma cruz: e portanto a letra Tau ou a T. Traduza-se
também: “Oh que o Onipotente respondesse …” Aponta a Deus como o
“sujeito” da primeira cláusula.
adversário — aquele que pleiteia contra mim, refere-se também a
Deus. A incerteza é para expressar “o fato de quem quer que seja que se
oponha judicialmente a mim” — embora fosse o próprio Onipotente.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 143
escreva a sua acusação — redija a sua acusação.
36. Longe de encobrir o “testemunho” ou “acusação” do adversário
por temor.
a levaria sobre o meu ombro — como uma honra pública (Is_9:6).
coroa — não uma marca de ignomínia, mas sim de distinção
(Is_62:3).
37. A boa consciência reparte uma dignidade principesca perante o
homem, e livre acesso a Deus. Isto se pode realizar, não da maneira de Jó
(Is_42:5-6), mas sim só por meio do Senhor Jesus (Hb_10:22).
38. Personificação. As queixas dos proprietários injustamente
desalojados se transpassam aos próprios campos (Jó_31:20; Gn_4:10;
Hab_2:11). Se eu adquiri campos injustamente (Jó_24:2; Is_5:8).
sulcos — A especificação destes torna provavelmente implícito
aqui que: “Se não paguei ao lavrador sua lavoura”; como o outro
Jó_31:39, “Se não lhe paguei a colheita de sua substância (frutos)” (dos
sulcos). Assim das quatro cláusulas de Jó_31:38, 39, a 1ª. refere-se ao
mesmo tema que a 4ª., e a 2ª. está conectada com a 3ª. mediante o
paralelismo introvertido. Cf. Tg_5:4, que evidentemente alude a esta
passagem: cf. “Senhor de Sabaoth”, com Jó_31:26 aqui.
39. sufoquei a alma (RC) — “fatiguei” ou “persegui” mortalmente;
até que me cedesse gratuitamente o campo (Maurer); como em Jz_16:16;
“alma reduzida”, tirando os seus meios de vida (Umbreit) (1Rs_21:19).
40. cardos — espinhos.
joio — lit., plantas nocivas.
Fim das palavras — ou seja, a controvérsia com seus amigos. Jó
falou outra vez no livro, mas não a eles. Jó_31:37 seria o lugar da
conclusão lógica em arte estrita. Mas Jó_31:38-40 foi natural acrescentá-
los a alguém cuja mente em agitação volta sobre seu sentir de inocência,
mesmo quando tenha passado o ponto devido de pausa; isto lhe tira a
aparência de artifício retórico. Assim que não é justificável a
transposição por Eichorn de Jó_31:38-40 depois de Jó_31:25.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 144
Jó 32

Vv. 1-26. O DISCURSO DE ELIÚ (CAPÍTULOS 32-37).


1-6. Prosa (a poesia começa com: “Eu sou menor …”).
1. porque (TB) — e porquanto não puderam provar que fosse
injusto.
2. Eliú — que significa “Deus é o Senhor”. Em seu nome, e no
caráter de mensageiro entre Deus e Jó, prefigura a Jesus Cristo
(Jó_33:23-26).
Baraquel — que quer dizer “Deus abençoa”. Os dois nomes
indicam a piedade da família, e sua separação da idolatria.
buzita — Buz era filho de Naor, irmão de Abraão. Assim se
nomeou uma região da Arábia Desértica (Jr_25:23).
Rão — Arã, sobrinho do Buz. Jó provavelmente era de uma
geração mais velho que Eliú. Entretanto, a identidade de nomes não
prova necessariamente a identidade de pessoas. A particularidade com
que se dá a descendência de Eliú, em contraste com os outros, levou a
Lightfoot a inferir que Eliú foi o autor do livro. Mas a razão desta
particularidade se deveu, provavelmente, a que Eliú era menos conhecido
que os três chamados “amigos” de Jó: e que era justo que o poeta
assinalasse em forma especial àquele que devia resolver principalmente
o problema do livro.
mais justo do que Deus — quer dizer, era mais desejoso de
vindicar-se a si mesmo que a Deus. Em Jó_4:17, Jó nega que o homem
possa ser mais justo que Deus. Umbreit traduz: “Perante (na presença de)
Deus”.
3. Embora seus argumentos tenham sido refutados, conservavam
ainda sua opinião.
4. esperara para falar a Jó — Heb. “em palavras”, refere-se,
antes, a suas próprias “palavras” de réplica, as quais ele há muito as tinha
preparadas, mas se reteve pela deferência na maioridade dos amigos que
falaram.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 145
6. temi — a raiz hebraica significa arrastar-se (Dt_32:24).
7. os dias — quer dizer, os anciãos (Jó_15:10).
8. Eliú se atribui a inspiração, como mensageiro a Jó divinamente
comissionado (Jó_33:6, Jó_33:23); e essa pretensão não é contradita em
Jó_42. Traduza-se: “Mas o espírito (que Deus põe) no homem e a
inspiração … são o que os faz entender …;” não os meros “anos”
(Pv_2:6; Jo_20:22).
9. os velhos — Assim o hebraico, em Gn_25:23. “Mais velho, mais
novo, por mais novo, menor de idade.
o que é reto — o que é certo.
10. dizia (TB) — antes, digo [RA]
opinião — antes, conhecimento.
11. Então Eliú estava presente do começo.
palavras — Lit., compreensões, quer dizer, o sentido significado
pelas palavras,
enquanto — Esperei até que descobrissem uma réplica apropriada
a Jó.
13. Isto está assim ordenado, “não fosse que vocês” se
ensoberbecessem por lhes ter vencido por sua “sabedoria” (Jr_9:23, o
grande propósito do livro de Jó); e para que soubessem que “Deus só
pode lançá-lo (quer dizer, refutá-lo), não o homem”. Assim Eliú baseia
sua refutação não nas máximas dos sábios, como os amigos fizeram, mas
sim sobre sua comissão especial da parte de Deus (Jó_31:8; Jó_33:4, 6).
14. Estou totalmente livre de preconceitos. Porque não fui eu a
quem Jó se dirigiu. “Suas razões” estão influenciadas pela irritação.
15. Aqui Eliú deixa os amigos e se dirige a Jó: e portanto passa da
segunda à terceira pessoa; transição frequente nas repreensões (Jó_18:3-
4).
faltam-lhes as palavras — deixaram de falar por falta de mais
razões.
17. minha resposta — de minha parte.
minha opinião — meu conhecimento.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 146
18. Estou cheio de palavras, enquanto que os amigos não têm nem
uma palavra que acrescentar.
o meu espírito — (Jó_32:8; Jó_33:4; Jr_20:9; At_18:5).
19. coração (RSV). A palavra coração neste versículo
provavelmente significa peito [TB], seio, interior [RA: dentro de mim].
Isto se explica no fato de que no Oriente as palavras se pronunciam
numa forma muito gutural e que para nós é difícil imitar. “Como o vinho
(novo) (em fermentação) sem abertura” de escapamento. O vinho novo
se guarda em odres novos. Eliú se compara a um odre no qual se pôs
vinho novo e que não tem respiradouro e por conseguinte está preparado
para arrebentar. (Mt_9:7).
20. respirarei (RC) — lit., para que me haja ar (1Sm_16:23).
21. “Que nunca eu faça acepção …” Eliú alude às palavras de Jó
(Jó_13:8, Jó_13:10), quando Jó se queixa de que os amigos defendem a
Deus com parcialidade, “fazendo acepção de pessoas”. Eliú diz que ele
não fará isto, antes agirá imparcialmente entre Deus e Jó. “Nem usarei
… de lisonjas … (Pv_24:23).
22. me levaria — como castigo (Sl_102:24).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 147
Jó 33

Vv. 1-33. DIRIGIDO A JÓ, COMO O ANTERIOR FOI AOS


TRÊS AMIGOS.
2. minha boca — antes, o paladar, por aquele que se discerne o
gosto. Todo homem fala com a boca, mas muito poucos, como Eliú,
provam suas palavras com distinção primeiro, e dizem só o justo e bom
(Jó_6:30; Jó_12:11).
fala — está por falar.
3. Falarei de conformidade com minha convicção interna.
puro saber — com pureza, sinceramente, não torcendo a verdade
pela paixão, como os amigos fizeram.
4. O Espírito de Deus me fez — como a ti: a 2ª. cláusula do v. 6
(Gn_2:7). Portanto não deve me temer, como temeria a Deus (v. 7;
Gn_9:34). Além disso o alento, “a inspiração, do Onipotente me
inspirou” (como em Jó_32:8); não como nossa versão: “me dá vida”;
portanto, “Eu sou segundo seu desejo (dito) (Gn_9:32, 33) em lugar de
Deus para ti; um árbitro, um mediador, entre Deus e você. Assim que
Eliú foi designado pelo Espírito Santo para que fosse um tipo de Jesus
Cristo (Jó_33:23-26).
5. Figura da corte de justiça.
levanta-te (RC) — aludindo a palavras de Jó (Jó_30:20).
6. (Veja-se Jó_33:4; 31:35; Jó_13:3, 20, 21).
formado — embora aja como representante de Deus, não sou senão
criatura, como você. O árabe: comprimido, como a massa de argila pelo
oleiro, ao formar um copo. (Umbreit.) O hebraico: cortado, como a
porção de argila para formá-lo. (Maurer.)
7. minha mão — Aludindo a palavras de Jó (Jó_13:21).
8. tuas palavras — (Jó_10:7; 16:17; 23:11, 12; 27:5, 6; 29:14.) Em
Jó_9:30; 13:23, Jó tinha reconhecido seu pecado; mas o espírito geral de
suas palavras foi para sustentar que ele estava “limpo”, e acusar a Deus
de injustiça. Excedeu os limites ao opor-se às falsas acusações de seus
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 148
amigos de hipocrisia. Os próprios piedosos, embora dispostos a
confessar-se pecadores em geral, muitas vezes lhes desagrada toda
acusação particular que se lhes apresenta. Faz falta pois a aflição para
lhes fazer sentir que o pecado neles merece até mais do que eles sofrem,
e que Deus não lhes faz injustiça alguma. Logo, no fim, humilhados sob
Deus encontram que a aflição é para seu bem verdadeiro, e que assim
lhes é tirada, enfim, quer aqui ou depois da morte. A missão de Eliú foi
para ensinar isto.
9. puro — sem mancha.
10. pretextos — ocasiões para hostilidade; lit., inimizades
(Jó_13:24; 16:9; 19:11; 30:21).
11. (Jó_13:27.)
observa — espião de perto (Jó_14:16; 7:12; 31:4).
12. Nisto — visão de Deus e de Seu governo. Não é possível que
Deus vigie zelosamente o homem, embora seja “limpo”, como
“inimigo,” ou como alguém que tinha medo dele como igual. Por que
“Deus é maior que o homem!” Deve ter pecado no homem, mesmo
quando ele não seja hipócrita, pecado que necessita castigo para o bem
daquele que o suportar.
13. (Is_45:9.)
atos — caminhos. Nosso dever é, não “pleitear” com Deus, mas
sim nos submeter. Crer que é justo, porque Deus o faz, não porque
entendamos todas as razões pelas quais o faz.
14. Traduza-se: “Contudo o homem não o considera”; ou antes,
como Umbreit: “Sim, duas vezes (repete a advertência), se o homem não
presta atenção” à primeira admoestação. Eliú dá a entender que Deus
envia a aflição porque quando Ele comunicou sua vontade em várias
maneiras, o homem na prosperidade não tem feito caso dela; Deus,
portanto, deve provar que efeito produzirá a aflição (Jo_15:2; Sl_62:11;
Is_28:10, Is_28:13).
15. sonho ... visão — A luz está oposta a “sono profundo”. Eliú
está lembrando o que disse Elifaz (Jó_4:13), e também o que Jó mesmo
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 149
disse (Jó_7:14). “Os sonhos” no sono, e as “visões” de aparições reais,
eram os modos em que Deus então falava com os homens (Gn_20:3).
16. Deus revela ou comunica sua admoestação ou conselho aos
homens, e às vezes faz tal revelação ao ouvido, como se quisesse que se
guardasse em segredo, com segurança protegido por um selo.
17. desígnio — Assim Jó_36:9. Assim “negocio” no sentido mau
(1Sm_20:19). Eliú alude a palavras de Jó (Jó_17:11). “A soberba” é
“fossa” aberta (“corrupção”, Jó_33:18) que Deus tapa ou esconde, para
que o homem não caia nela. Até os piedosos têm necessidade de
aprender a lição ensinada pelas provas: a “humilhar-se sob a poderosa
mão de Deus”.
18. sua alma — sua vida.
cova — a tumba, símbolo do inferno.
passar pela espada — isso é, uma morte violenta; no Antigo
Testamento um símbolo do futuro castigo dos ímpios.
19. Quando o homem não dá importância às advertências da noite, é
castigado … O novo pensamento sugerido por Eliú é que a tribulação é
disciplinadora (Jó_36:10); para o bem dos piedosos.
muitos (NKJV) — assim a lição marginal hebraica (Keri). Melhor
segundo o texto (Cetib): “E com a perpétua (forte) contenda de seus
ossos;” a incontível febre de seus ossos (Sl_38:3) (Umbreit).
20. sua vida — ou seja, o apetite, que ordinariamente sustenta a
vida (Jó_38:39; Sl_107:18; Ec_12:5). O fato de a doença tirar o desejo
do alimento simboliza o afastamento dos desejos maus pela aflição,
desejos daquele que alenta a febre espiritual do orgulho.
alma — desejo.
21. Sua carne uma vez proeminente “já não se pode ver.” Seus
ossos uma vez invisíveis agora aparecem proeminentes.
descobrem — lit., estão despidos. A lição marginal (Keri). O texto
(Cetib) tem um substantivo (tornaram-se) “nudez”. O Keri era sem
dúvida uma nota explicativa de copistas.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 150
22. portadores da morte — anjos da morte ordenados por Deus
para pôr fim à vida do homem (2Sm_24:16; Sl_78:49). As dores de
morte personificadas podem, entretanto, ser o que se entende; assim os
“roedores” (Veja-se Jó_30:17).
23. Eliú refere-se a si mesmo como o enviado de Deus (Jó_32:8;
Jó_33:6) como “mensageiro”, o “intérprete”, para explicar a Jó e para
vindicar a justiça de Deus; tal personagem Elifaz tinha negado que Jó
pudesse esperar (Jó_5:1), e Jó (Jó_9:33) tinha desejado tal árbitro ou
intérprete entre ele e Deus. O “anunciador” do bem está em antítese com
os que causam a morte” (Jó_33:22).
com ele — Se lhe for concedido ao aflito. O ofício do
“anunciador”, ou mensageiro se declara: “anunciar ao homem o seu
dever”, ou seja, a justiça de Deus em seus procedimentos; ou segundo
Umbreit, “a conduta reta do homem para com Deus” (Pv_14:2). A
primeira tradução é a melhor; Jó defendia sua própria “retidão”
(Pv_16:17; Pv_27:5-6): Eliú, ao contrário, vindica a de Deus.
um dos milhares — é um homem tão raramente encontrado. Assim
Jesus Cristo (Ct_5:10). Eliú, o mediador de Deus enviado de uma
libertação temporária (v. 24-26), é tipo do homem divino Jesus Cristo, o
Mediador da libertação eterna: “o Mensageiro da aliança” (Ml_3:1). Esta
é uma obra maravilhosa do Espírito Santo que as pessoas e as coisas se
movam em sua própria esfera de tal maneira que inconscientemente
prefigurem Àquele, cujo “testemunho é o Espírito da profecia”; assim
como o mesmo ponto pode ser o centro de um círculo pequeno e de um
círculo concêntrico toscamente maior.
24. A apódose de Jó_33:23.
Redime-o — Lit., redime. Nesta palavra e no “resgate” (por
“redenção”) há referência à retribuição, pela qual Deus perdoa e alivia
os afligidos; aqui é primordialmente a intercessão de Eliú. Mas a
linguagem é muito forte para que seu sentido pleno se esgote nisto. O
Espírito Santo deve ter sugerido a mensagem que recebe sua plena
realização somente na “eterna redenção achada” por Deus no preço que
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 151
Jesus Cristo pagou por ela, ou seja: Seu sangue e Sua meritória
intercessão (Hb_9:12). “Obteve”, lit., “achou”, expressando o ardente
desejo, sabedoria e fidelidade daquele que acha, e da prazerosa novidade
do achado. Jesus Cristo não poderia senão tê-la encontrado, mas até
fazia falta que ele continuasse buscando. (Bengel.) (Lc_15:8) Deus o Pai
é o Descobridor (Sl_89:19). Jesus Cristo, o Redentor, a quem Deus diz:
Redime (assim o hebraico) a ele de ir … (2Co_5:19).
resgate — usada em sentido general por Eliú, mas o Espírito Santo
quis dizer em seu sentido estrito como se aplica a Jesus Cristo, como
preço pago pela libertação (Êx_21:30), uma expiação (isto é, uma
maneira de convencer rapidamente, quer dizer, reconciliar a dois que
estão inimizados) uma cobertura, como da arca com o betume, típico do
que nos cobre em proteção contra a ira (Gn_6:14; Sl_32:1). A cova aqui
é primordialmente a “sepultura” (Is_38:17), mas representa
especialmente a cova espiritual (Zc_9:11).
25-28. Os efeitos da restauração ao favor de Deus; lit., a Jó uma
revivificação temporária; espiritualmente, uma regeneração eterna. Estas
notáveis palavras não podem limitar-se a seu sentido temporário, tal qual
usadas por Eliú (1Pe_1:11-12).
A sua carne faz-se mais fresca do que a duma criança (TB) —
Assim Naamã, 2Rs_5:14; espiritualmente, Jo_3:3-7.
26. Jó não orará mais a Deus, na forma como se esteve queixando
em vão (Jó_23:3, Jó_23:8-9). Isto se refere especialmente aos redimidos
em Jesus Cristo (Jo_16:23-27).
verá (Jó) a face de Deus — ou, Deus fará com que lhe veja a face.
(Maurer.) Deus já não “esconderá mais seu rosto” (Jó_13:24). Verídico
quanto ao crente agora (Jo_14:21-22); eternamente (Sl_17:15;
Jo_17:24).
sua justiça — de Deus. Deus fará com que o Jó restaurado já não
duvide mais (“perverti o reto”, Jó_33:27) da justiça de Deus, mas sim
justifique seus procedimentos. O penitente justifica a Deus (Sl_51:4).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 152
Deste modo o crente recebe permissão de ver a justiça de Deus em Jesus
Cristo (Is_45:24; Is_46:13).
27. Olhará (RC) — Deus. Antes, com Umbreit; “Agora (o
penitente restaurado) canta prazeroso (correspondente a “júbilo”, v. 26;
Sl_51:12) diante dos homens, e diz …” (Pv_25:20; Sl_66:16;
Sl_116:14).
perverti — quer dizer, torci ao que era direito; assim como Jó tinha
representado mal o caráter de Deus.
segundo merecia — “retribuído”, antes, “Meu castigo não foi
mensurável com meu pecado” (assim Zofar, Jó_11:6); o oposto do que
Jó disse (Jó_16:17; Sl_103:10; Ed_9:13).
28. Veja-se Jó_33:24; antes, como o texto hebraico (a Versão
Inglesa lê como a marginal hebraica, Keri: “sua alma, sua vida”), “O
libertado minha alma … minha vida”. A continuação do testemunho do
penitente ao povo.
luz — (Jó_33:30; 3:16, 20; Sl_56:13; Ec_11:7).
29. duas e três vezes — com frequência, aludindo a Jó_33:14; uma
vez, para visões, Jó_33:15-17; logo, pelas aflições, Jó_33:19-22; agora
em terceiro lugar, pelo “anunciador”. Jó_33:23.
30. Que se refere a Jó_33:28 (Sl_50:13).
32. justificar-te — fazer-te justiça, e, se eu puder, consistentemente
com isso, te declarar inocente. Com Jó_33:33, Eliú faz pausa a espera de
réplica; então continua em Jó 34.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 153
Jó 34

1. Disse — continuou.
2. Este capítulo está dirigido também aos “amigos”, como o
capítulo 33, a Jó somente.
3. paladar — Veja-se Jó_12:11; Jó_33:2.
4. direito — Escolhamos entre os sentimentos contraditórios já
aduzidos, qual passaria a prova do exame.
5. meu direito — palavras próprias de Jó (Jó_13:18; 27:2).
6. Quer dizer, Se eu renunciasse a meu direito (isto é, me confessar
culpado), morreria. Jó virtualmente o havia dito (Jó_27:4, 5; 6:28).
Maurer, não tão bem: “Apesar de meu direito (inocência) me trata como
mentiroso”, para Deus, ao Ele me afligir.
minha ferida — lit, minha seta, antes, por ela feita. Assim “minha
chaga”, (mão, Jó_23:2). Minha doença (Jó_6:4; 16:13).
sem que haja pecado em mim — Sem culpa minha de havê-lo
merecido (Jó_16:17).
7. (Jó_15:16). Figura do camelo.
zombaria — contra Deus (Jó_15:4).
8. Jó virtualmente vai com os maliciosos (faz causa comum com
eles), ao assumir os sentimentos deles (Jó_9:22, 23, 30; 21:7-15), ou ao
menos ao dizer que os que agem movidos por tais sentimentos ficam
impunes (Ml_3:14). Negar o governo justo de Deus, porque não vemos a
razões de Seus atos, é virtualmente tomar parte com os ímpios.
9. em Deus — na intimidade (Sl_50:18).
10. A verdadeira resposta a Jó, a que Deus resume (Jó 38). O
homem tem que crer que os caminhos de Deus são retos, porque são
dEle, não porque vejamos que o são (Rm_9:14; Dt_32:4; Gn_18:25).
11. Parcialmente aqui; plenamente, no além (Jr_32:19; Rm_2:6;
1Pe_1:17; Ap_22:12).
12. (Jó_8:3.) Em contradição a Jó, Jó_34:5, não o fará: não pode.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 154
13. Se o mundo não fosse a propriedade de Deus, não tendo sido
feito por Ele, mas sim confiado a Seu cargo por algum superior, então
poderia ser possível que Ele agisse injustamente, pois em tal caso não
estaria assim Se danificando a Si mesmo; mas, como está o assunto, que
Deus agisse injustamente transtornaria toda a ordem do mundo, e assim
danificaria a propriedade do próprio Deus (Jó_36:23).
organizou (TB) — fundou (Is_44:7), estabeleceu o círculo da terra.
14, 15. “Se ele fosse pôr seu coração sobre o homem”, ou para o
danificar, ou para tomar justa conta de seus pecados. O contexto indica,
antes, (Umbreit) que “Se ele considerar (só) a si mesmo, e tomar para si
(Sl_104:29) o espírito de homem … (que ele envia, Sl_104:30;
Ec_12:7), toda carne perecerá juntamente …” (Gn_3:19). A amorosa
preservação por Deus de seus criaturas prova que Ele não pode ser
egoísta, e portanto não pode ser injusto.
16. Em Jó_34:2, Eliú tinha falado a todos em geral, agora chama a
atenção de Jó em especial.
17. Pode governar acaso aquele que (segundo seu parecer) aborrece
o juízo (justiça)? O governo do mundo seria impossível, se se
sancionasse a injustiça. Deus deve ser justo, porque Ele governa
(2Sm_23:3).
governará — Lit., atará, ou seja, pela autoridade (assim “reinará”,
1Sm_9:17). Umbreit traduz como “reinará”, reprimirá a ira, quer dizer,
contra Jó pelas acusações do mesmo.
justo e potente — antes, “ao que é ao mesmo tempo poderoso e
justo” (em seu governo do mundo).
18. Lit., (É próprio que) diga-se a um rei? Seria um enorme ultraje
reprovar em tal forma a um monarca terrestre, muito mais ao Rei dos reis
(Êx_22:28). Mas Maurer com a Versão dos LXX e Vulgata lê: (Não é
próprio acusar de injustiça àquele) que diz a um rei: Você é iníquo; a
príncipes: Vocês são ímpios, isto é, os que castigam imparcialmente aos
grandes como aos pequenos. Isto concorda com Jó_34:19.
19. (At_10:34; 2Cr_19:7; Pv_22:2; Jó_31:15)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 155
20. morrem — “os ricos” e “os príncipes”, que ofendem a Deus.
os povos — ou seja, dos príncipes culpados: culpados eles mesmos
também.
à meia-noite — Figura de um ataque noturno inimigo ao
acampamento, que deve ser fácil presa (Êx_12:29-30).
por força invisível — sem mediação visível, pela só palavra de
Deus (assim Jó_20:26; Zc_4:6; Dn_2:34).
21. A onisciência e a onipotência de Deus O habilitam a executar
justiça imediata. Não precisa estar longo tempo vigiando, como Jó
pensava (Jó_7:12; 2Cr_16:9; Jr_32:19).
22. sombra da morte (TB) – Densas trevas (Am_9:2-3; Sl_139:12).
23. (1Co_10:13; Lm_3:32; Is_27:8.) Melhor, como Umbreit: “Ele
não considera (não precisa considerar) (como em Jó_34:14; Is_41:20) ao
homem longo momento (assim o hebraico, Gn_46:29) a fim de que vá
(seja trazido por Deus) a juízo”. Assim em Jó_34:24, “sem pesquisa”,
sem (ter que) buscar” “como é necessário nos juízos humanos.
24. Quebranta — fará em pedaços (Sl_2:9; Jó_12:18; Dn_2:21)
25. Porquanto (TB) —Porquanto ele conhece todas as coisas
(Jó_34:21). Sabe as obras deles, sem investigação formal (Jó_34:24).
de noite — Repentina, inesperadamente (v. 20). Propriamente na
noite, pois era então que os maus se escondiam (v. 22). Umbreit, menos
simplesmente, para “transtornará”, traduz “caminhará”; quer dizer, Deus
está sempre alerta, descobrindo toda iniquidade.
26. fere — Castiga.
como a perversos — quer dizer, porque o são.
à vista de todos — Os pecadores se escondem nas trevas; portanto,
serão castigados diante de todos, em plena luz do dia. Figura do lugar da
execução pública (Jó_40:12; Êx_14:30; 2Sm_12:12).
27, 28. As bases do castigo deles em Jó_34:26. Jó_34:28 declara em
que respeito “não consideraram os caminhos de Deus”, ou seja, pela
opressão com a qual causaram “o clamor dos pobres …”
29. (Pv_16:7; Is_26:3).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 156
condenará — (Rm_8:33-34). Maurer, porquanto a referência é só
aos ímpios, na cláusula seguinte e em Jó_34:20, traduz: “Quando Deus
se cala (deixa perecer os homens)” (Sl_83:1); (Umbreit) do árabe (lança
por terra), “Quem o condenará como injusto?” Jó_34:17.
Se encobrir o rosto — (Jó_23:3, 9; Sl_13:1).
povo … homem — Quer seja contra uma nação culpada
(2Rs_18:9-12), ou contra o indivíduo, que Deus assim agir.
30. laços (RC) — no pecado (1Rs_12:28, 30). Ou antes,
“acorrentados por mais opressão”, Jó_34:26-28.
31. Jó conforme o diz (Jó_40:3-5; Mq_7:9; Lv_26:41). Foi para o
guiar até isto que Eliú foi enviado. Embora não fosse hipócrita, Jó, como
todos, tinha pecado, e portanto devia chegar a humilhar-se sob Deus
mediante a aflição. Toda tribulação é uma prova da comum herança do
pecado, na qual o piedoso participa; portanto, deveria considerá-la como
uma correção misericordiosa. Umbreit e Maurer perdem este sentido ao
traduzir, como o hebraico admite: “Terá alguém o direito de dizer a
Deus: Eu sofri castigo, mas, não obstante, alguma vez pequei?” (assim
Jó_34:6).
Sofri — ou seja, a pena do pecado, como em Lv_5:1, 17.
não pecarei mais — Lit., tratarei destrutiva e corruptamente
(Nee_1:7).
32. (Jó_10:2; Sl_32:8; Sl_19:12; Sl_139:23-24).
não o farei mais — (Pv_28:13; Ef_4:22.)
33. Antes, “Deveria Deus retribuir (aos pecadores) segundo sua
mente? Então cabe a ti rejeitar e escolher, e não a mim.” (Umbreit); ou
como Maurer: “Porque você recusou a maneira de recompensar de Deus;
declara pois sua maneira, pois você deve escolher, não eu”, quer dizer,
cabe a você, não a mim ensinar um caminho melhor que o de Deus.
34, 35. “Dirão os homens … e o homem sábio (Jó_34:2, 10) que me
escuta que Jó …”
36. A lição marginal, não tão bem, Meu pai, de Eliú, que se dirige a
Deus. Este título não aparece em nenhuma outra parte de Jó.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 157
provado — pelas calamidades. As provas dos piedosos não são
tiradas enquanto não produzam os efeitos desejados.
37. bate ele palmas — Com escárnio (Jó_27:23; Ez_21:17).
multiplica as suas palavras – (Jó_11:2; Jó_35:15). “A seu pecado”
original, para corrigir o qual foram enviadas as provas, “acrescentou
rebelião”, ou seja, “palavras” que põem em juízo a justiça de Deus.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 158
Jó 35

2. Maior é a minha justiça do que — Antes, como em Jó_9:2;


25:4: “Sou justo (lit., minha justiça está) diante de Deus”. Entretanto,
nossa versão concorda com Jó_9:17; Jó_16:12-17; Jó_27:2-6. Em
Jó_4:17 se presta a qualquer das duas interpretações. Eliú quer dizer que
Jó não o expressou em palavras, mas sim tacitamente.
3. Antes, explicativo disto” do v. 2, “Que disse (a ti mesmo, como
se fosse a pessoa distinta): Que vantagem tiras de tua integridade)? Ou
que proveito terei (de minha integridade) mais que a que teria tido por
meu pecado?” Quer dizer, mais que se tivesse pecado (Jó_21:13-15); no
qual tacitamente sanciona os sentimentos deles. Apresenta-se esta
mesma mudança da forma indireta de dirigir-se às pessoas (Jó_19:28;
Jó_22:17).
4. amigos — Os que abraçam sentimentos como os teus (Jó_34:8,
36).
5-8. Eliú, como Elifaz, demonstra que Deus está muito exaltado na
natureza para ser suscetível ao benefício dos justos nem ao prejuízo dos
ímpios; são eles mesmos os que se beneficiam pela justiça, ou se
danificam com o pecado.
contempla as altas nuvens acima de ti — Dito com ironia. Não só
que são mais altas que você, mas também nem as pode alcançar
claramente com o olho. E estas não são tão altas como o trono de Deus.
Portanto, Deus é muito exaltado para depender do homem. Então não há
nada que O induza à injustiça em Seus procedimentos para com o
homem. Quando manda a aflição, deve ser com um motivo diferente; ou
seja, o bem do aflito.
6. que mal lhe causas tu? — Como você O pode afetar?
que lhe fazes? — que lhe possa danificar? (Jr_7:19; Pv_8:36).
7. (Sl_16:2; Pv_9:12; Lc_17:10).
9. (Ec_4:1.) Eliú declara em palavras de Jó (Jó_24:12; Jó_30:20) a
dificuldade; o fato de que “os clamores dos oprimidos” não sejam
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 159
ouvidos fará com que os homens pensem que os males não são
castigados por Ele.
10-13. Mas a razão disso é que os inocentes que sofrem com
frequência não buscam humildemente o socorro da parte de Deus; de
modo que o orgulho deles deve ter a culpa de sua ruína; também porque
eles (Jó_35:13-16), como Jó, em vez de aguardar o tempo de Deus em
confiança piedosa, são propensos a se desesperar, quando o socorro não
está imediatamente visível Jó_33:19-26). Se aquele que sofre pedisse a
Deus com humilde espírito arrependido, Deus O escutaria.
Onde, etc. — (Jr_2:6, 8; Is_51:13).
canções — De alegria pela libertação (Sl_42:8; Sl_149:5;
At_16:25).
durante a noite — Inesperadamente (Jó_34:20, Jó_34:25). Antes,
em calamidade.
11. O espírito do homem, que o distingue do bruto, é a prova mais
forte da beneficência de Deus; pelo uso dele podemos entender que Deus
é o Todo-Poderoso ajudador de todos os sofredores que humildemente O
buscam; e que erram aqueles que não O buscam assim.
aves — (Veja-se Jó_28:21).
12. Ali (TB) — Antes, Então (quando ninguém se entrega
humildemente nas mãos de Deus, v. 10). Clamam arrogantemente contra
Deus, antes, que humildemente a Deus. Assim que, porquanto o
propósito da aflição é para humilhar o sofredor, não pode haver resposta
enquanto a “soberba” não ceda lugar a humilde oração penitencial
(Sl_10:4; Jr_13:17).
13. gritos vazios — ou seja, os clamores elevados num espírito não
humilhado, v. 12, como se aplica até certo ponto aos clamores de Jó;
ainda mais aos dos ímpios (Jr_27:9; Pv_15:29).
14. ainda que dizes que não o vês — (como libertador temporário;
visto que esperava sim a um Redentor no além, Jó_19:25-27; passagem
que não pode consistentemente com a asseveração de Eliú ser aqui
interpretado no sentido de “ver” um Redentor temporário) Jó_7:7; 9:11;
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 160
23:3, 8, 9, contudo, há juízo diante dele; portanto espera você … Mas o
hebreu favorece ao Maurer: “Quanto menos (ouvirá Deus, v. 13), visto
que você diz que não te olhará”. Assim em Jó_4:19. Assim Eliú alude a
palavras de Jó (Jó_19:7; Jó_30:20).
tua causa — quer dizer, teu direito; como em Sl_9:16; Pv_31:5,
Pv_31:8.
espera — com paciência, até que Ele considere sua causa (Sl_37:7).
15. Antes, Mas agora, porque não é assim (que Jó não esperava
paciente e confiantemente, v. 14; Nm_20:12; Sof_3:2; Mq_7:9), Deus
visitou … mas não tomou (severo) conhecimento da grande multidão de
pecados; portanto Jó não deve queixar-se de ser castigado com excessiva
severidade (Jó_7:20; Jó_11:6). Maurer traduz: “Porque sua ira não
visitou (não castigou imediatamente a Jó por suas queixas ímpias), nem
tomou estrita (grande) conta de sua vaidade (discursos pecaminosos),
portanto …” Para “rigor”, Umbreit com os rabinos traduz: multidão.
Gesênius lê com a versão dos LXX e a Vulgata sem necessidade:
“transgressão”.
16. Apódose ao v. 15.
com palavras vãs — com temeridade.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 161
Jó 36

1, 2. Eliú argui que os padecimentos são disciplinadores aos


piedosos, com o fim de levá-los a alcançar até um valor moral superior, e
a razão da continuação dos mesmos não é, como os amigos declaravam,
por causa da extraordinária culpabilidade do aflito, mas sim porque a
disciplina ainda não realizou sua finalidade, ou seja, de guiá-lo a que se
humilhe arrependido diante de Deus (Is_9:13; Jr_5:3). Este é o quarto
discurso de Eliú. Assim que excede o número ternário dos demais. Daí,
pois, sua fórmula de cortesia: espere-me um pouco. Permita-me um
pouco mais de tempo. Ainda tenho (muito, Jó_32:18-20). Há caldeísmos
neste verso, de acordo com a crença de que o cenário do livro está perto
do Eufrates e dos caldeus.
3. De longe — Não trivialidades insubstanciais, mas sim exemplos
das poderosas obras de Deus.
atribuirei a justiça — Enquanto que Jó tinha atribuído injustiça
(Jó_34:10, 12). Um homem, ao inquirir os caminhos de Deus, deve no
princípio supor que são todos justos, estar disposto a achá-los assim, e
estar à expectativa de que o resultado da investigação provará que o são;
tal pessoa nunca será defraudada. (Barnes.)
4. Eu não “falarei impiamente por Deus”, como os três amigos
(Jó_13:4, Jó_13:7-8): quer dizer vindicar a Deus com argumentos
insalubres.
quem é senhor do assunto — Melhor, como o paralelismo requer:
“um homem de integridade em sentimentos está contigo” (é aquele com
quem tem que te haver). Eliú alude a si mesmo, em contraste com os
raciocínios desonestos dos amigos (Jó_21:34).
5. força da sua compreensão — de compreensão (coração), a
força da repetição de “poderoso”; por mais poderoso que Deus seja,
ninguém é tão baixo que seja “desprezado” por Ele; porque Sua força”
está especialmente em “sua força de compreensão”, pela que
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 162
esquadrinha as coisas mais miúdas, a fim de dar a cada um seu direito.
Eliú confirma sua exortação (Jó_35:14).
6. justiça aos aflitos — defende a causa dos afligidos.
7. (1Pe_3:12.) Deus não desampara os piedosos, como Jó insinuava,
antes os “estabelece”, ou, os faz assentar sobre tronos qual reis
(1Sm_2:8; Sl_113:7-8). O mesmo quanto aos crentes num sentido
superior, já em parte (1Pe_2:9; Ap_1:6); mais adiante completamente
(Ap_5:10; Jó_22:5).
são exaltados — para que sejam exaltados.
8-10. Se sofrerem tribulações, não é nenhuma prova de que sejam
hipócritas, como os amigos insistiam, nem de que Deus não faça conta,
nem de que nada lhe importe que os homens sejam bons ou maus, como
assevera Jó; com isso Deus lhes opera a “correção”, “dando-lhes a
conhecer” seus pecados; e se se submetam em espírito reto sob a
visitação de Deus, seguirão as maiores bênçãos.
9. suas obras — suas transgressões.
prevaleceram (RC) — se comportaram poderosamente (lit.,
grandemente), quer dizer, arrogantemente, ou ao menos, com presunção.
10. (Jó_33:16-18, Jó_33:23.)
11. o servirem — isto é, adorarem; como em Is_19:23. A Deus está
implícito (cf. Is_1:19-20).
12. (Jó_33:18).
sem conhecimento (RC) — por causa de sua insensatez (Jó_4:20-
21).
13-15. Os mesmos sentimentos dos vv. 11, 12, ampliados.
13. hipócritas — Ou os ímpios (Maurer); mas “hipócritas” é talvez
uma classe distinta dos abertamente ímpios (v. 12).
amontoam para si a ira — “Amontoam ira” de Deus contra si
mesmos (Rm_2:5). Umbreit traduz: “alimentam sua ira contra Deus”,
em lugar de “lhe clamar”. Isto concorda bem com o paralelismo e com o
hebraico. Mas a Versão Inglesa dá um paralelismo bom: “hipócritas”
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 163
correspondente a “não clamarão” (Jó_27:8, 10); “amontoam ira” contra
si, ao “os atar” com correntes de aflição (v. 8).
14. Antes, (Dt_23:17), sua vida (acaba-se) como a de (lit., entre) os
imundos, prematura e desonestamente. Assim a 2ª. cláusula corresponde
à primeira. Uma advertência para que Jó não fizesse causa comum com
os ímpios (Jó_34:36).
15. aflito — O piedoso aflito.
lhe abre os ouvidos — (v. 10); de modo que seja admoestado na
aflição para buscar a Deus arrependido, e assim ser libertado (Jó_33:16,
Jó_17:23-27)
16. Antes, “Apartar-te-á também das queixadas da angústia”
(Sl_18:19; Sl_118:5). O “lugar espaçoso” expressa a liberdade, e a
“mesa” a abundância dos prósperos (Sl_23:5; Sl_25:6).
17. Antes, “Mas se você estiver cheio (inteiramente) do juízo do
ímpio (quer dizer, da culpa que merece o juízo (Maurer)”; ou como
Umbreit, com referência a Jó_34:5, 6, 7, 36, o juízo pronunciado contra
Deus pelos culpados no infortúnio), juízo (de Deus sobre os ímpios;
Jr_51:9, fazendo jogo no duplo sentido de “juízo”) e justiça seguirão
perto um do outro. (Umbreit.)
18. (Nm_16:45; Sl_49:6-7; Mt_16:26). Nem o “resgate” dado pelo
Senhor Jesus (Jó_33:24) será de valor aos desprezadores temerários
(Hb_10:26-29).
a ira não te induza a escarnecer — (Jó_34:26). Umbreit traduz:
“Olhe não seja que a ira de Deus (sua severa calamidade) leve-te a
desprezar” (Jó_34:7; Jó_27:23). Isto concorda melhor com o verbo da
2ª. cláusula paralela, a qual se deve traduzir: “Não te seduza (margem,
você à parte, como se pudesse com ele te livrar a “ira”) o grande resgate
(de dinheiro, que não possa dar). Como “ira” (escárnio) da 1ª. cláusula
corresponde a “juízo do ímpio” (v. 17,), assim “seduza … resgate” a
“estima de riquezas” (v. 19). Assim que o v. 18 é uma transição entre o
v. 17 e o v. 19.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 164
19. todos os teus grandes esforços — isto é, os recursos da riqueza
(Sl_49:7; Pv_11:4).
20. Não suspires pela noite — Jó tinha desejado a morte (Jó_3:3-9,
etc.).
noite — (Jo_9:4.)
em que — antes, por meio de que.
serão tomados — Lit., ascendem, como o trigo é cortado e
levantado ao carro ou à pilha (v. 26).
de seu lugar — Lit., debaixo deles mesmos; assim, sem mover-se
de seu lugar, repentinamente (Jó_40:12). (Maurer) Umbreit traduz: “Não
desejes … ascender (o que é, como acharás teu grande custo, descer) aos
povos abaixo” (lit., debaixo de si): o que corresponde melhor ao
paralelismo, e ao hebraico. Suspiras pela morte como desejável, mas ela
é uma “noite” ou região de trevas; tua imaginária ascensão
(melhoramento) dará como resultado uma descida (deterioração)
(Jó_10:22); portanto não o desejes.
21. iniquidade — ou seja, de falar supostamente contra Deus (vv.
17, 18; Jó_34:5).
pois isso — suportar “a aflição” com paciência piedosa. Os homens
pensam que é um alívio queixar-se contra Deus, mas isto não é mais que
acrescentar pecado à penúria; é o pecado, não a aflição, o que pode na
realidade nos danificar (contraste-se Hb_11:25).
22-25. Deus não deve ser acusado impiamente, mas sim louvado
por Seu poder, demonstrado em Suas obras.
se mostra grande — antes, faz grandezas, demonstra Seu poder
excelso (Umbreit) (Sl_21:13).
mestre — (Sl_94:12, etc.). A conexão é: voltando para v. 5, “o
poder” de Deus se demonstra em Sua “sabedoria”; ele só pode ensinar;
mas, porquanto Ele; como soberano, não explica todos os Seus
procedimentos, na verdade Jó não deve presumir de ensinar a Ele
(Is_40:13-14; Rm_11:34; 1Co_2:16). Deste modo a transição ao v. 23 é
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 165
natural. Umbreit com a versão dos LXX traduz: “Quem é Senhor?”
erroneamente, porquanto este sentido pertence ao hebraico posterior.
23. Jó não se atreveu a ordenar a Deus o que deveria fazer
(Jó_34:10, 1Co_34:13).
24. Em vez de denunciar, seja o seu princípio fixo o de engrandecer
a Deus em suas obras (Sl_111:2-8; Ap_15:3); estas, que todos podem
“contemplar”, podem nos convencer de que tudo que não vemos será
totalmente prudente e bom (Rm_1:20).
celebram — como “veem”, o v. 25, prova; não como Maurer:
“cantam”, louvam (Jó_33:27).
25. contemplam — quer dizer, com grande admiração. (Maurer)
as admira o homem — antes, (contudo) os mortais (vocábulo
hebraico distinto de “homem”) veem-na (só) de longe”, alcançam a ver
só uma parte (Jó_26:14).
26. (Jó_37:13.) A grandeza de Deus no céu e na terra: uma razão
pela qual Jó deveria submeter-se sob a mão disciplinadora dEle.
26. não o podemos compreender — Senão em parte (v. 25;
1Co_13:12).
seus anos — (Sl_90:2; Sl_102:24, Sl_102:27); aplicado a Jesus
Cristo (Hb_1:12).
27, 28. A maravilhosa formação da chuva (assim Jó_5:9, 10).
atrai para si as gotas — antes, “Ele faz subir a si, Ele atrai (da
terra abaixo) as gotas de água; estas derramam chuva (que é) seu vapor”.
“Vapor” está em oposição a “chuva”, indicando a maneira em que se
forma a chuva, ou seja, do vapor subido ao ar por Deus e logo
condensado em gotas, as quais caem (Sl_147:8). A suspensão de
semelhante massa de água, e sua descida sem alagamento, mas em gotas
de chuva vaporosa, são uma maravilha. A seleção desta ilustração
particular da grandeza de Deus forma um prelúdio próprio para a
tormenta em que Deus aparece (Jó_40:1).
28. gotejam sobre o homem — Lit., sobre muitos homens.
29. (Jó_37:5.) As maravilhas de Deus no trovão e relâmpagos.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 166
29. o estender-se das nuvens — A abóbada de nuvens densas que
cobrem o céu na tormenta (Sl_105:39).
os trovões, etc. — poeticamente se diz que Deus tem Seu pavilhão
entre negras nuvens (Sl_18:11; Is_40:22).
30. sua luz (RC) — relâmpago [RA].
sobre elas — isto é, sobre Seu pavilhão. A luz, tendida
instantaneamente sobre a vasta massa de negras nuvens, forma um
quadro admirável. “Estende” se repete do v. 29, para formar a antítese.
“Ele estende não só as nuvens, mas também a luz”.
encobre as profundezas do mar — Na tormenta as profundidades
da mar se descobrem; e a luz as “encobre”, ao mesmo tempo que se
“estende” a través do escuro céu. Deste modo em Sl_18:14-15, o
descobrimento dos “canais de águas” segue depois dos “relâmpagos”.
Umbreit traduz: “Ele estende sua luz sobre si, e se cobre com as raízes
da mar” (Sl_104:2); o manto de Deus está tecido de luz celestial e das
profundidades aquosas, subidas ao céu para formar seu pavilhão de
nuvens. A frase “se encobre com as raízes do mar” é áspero; mas a figura
é grandiosa.
31. Estes (a chuva e relâmpagos) são maravilhosos, e
incompreensíveis (v. 29), mas necessários; “porque por esses meios
castiga (por um lado) … (e por outro, por eles) dá comida” (Jó_37:13;
Jó_38:23, Jó_38:27; At_14:17).
32. Antes, “Ele cobre as mãos de luz (relâmpago, Jó_37:3), e lhe dá
mandamento contra seu adversário” (lit., contra quem lhe ataca; Sl_8:2;
Sl_139:20; Jó_21:19). Assim que como no v. 31, expressam-se os
resultados em dobro de suas águas, também aqui quanto a sua luz; por
um lado o relâmpago destrutivo contra os maus; e por outro, a luz genial
para o bem de seus amigos (v. 33). (Umbreit.)
33. fragor da tempestade — antes, ele anuncia referente a ela (a
luz) a seu amigo (antítese a adversário, v. 32, assim se traduz o hebraico,
Jó_2:11); também a gado e plantas (lit., ao que brota, “eleva-se”;
Gn_40:10; Gn_41:22). Como se menciona (v. 31) o efeito genial da
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 167
“água” no crescimento de comida, assim aqui o da “luz” na manutenção
do gado e das plantas. (Umbreit.) Se se mantiver a Versão Inglesa de
“ruído” (trovão), traduza-se: “Seu ruído anuncia a respeito dele (sua
vinda na tormenta), o gado (para anunciar) a respeito dele quando está
(ele) por levantar-se” (na tormenta). Alguns animais dão vários sinais de
que são sensíveis à aproximação da tormenta. (Virgílio, Georgics I. 373,
etc.)
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 168
Jó 37

1. Sobre isto — Quando ouço o trovão da Divina Majestade.


Talvez já se estava levantando a tormenta, da qual Deus devia falar com
Jó (Jó_38:1).
2. Dai ouvidos — ao ruído do trovão, e então sentirá que há boa
razão por que tremer.
estrondo (TB) — o retumbo do trovão.
3. ele o solta — Seja como for o ziguezague do relâmpago; ou
antes, aplica-se ao retumbar do trovão. O todo compreensivo poder de
Deus.
aos confins — Lit., asas ou saias, sendo a terra habitável
comparada a um manto tendido (Jó_38:13; Is_11:12).
4. O estrépito do trovão segue instantes depois do relâmpago.
ele não retém o relâmpago — quando se ouvir o trovão (Maurer.);
antes, entenda-se que isso indica os usuais fenômenos concomitantes do
trovão, ou seja a chuva, e saraiva (Umbreit) (Jó_40:4).
5. (Jó_36:26; Sl_65:6; Sl_139:14). A sublimidade da descrição está
nisto, que Deus está em todas as partes da tormenta, dirigindo-a aonde
Ele deseja. (Barnes). Veja-se Sl_29:1-11, onde, como aqui, a “voz” de
Deus se repete com grande efeito. O trovão na Arábia é sublimemente
terrível.
6. Cai sobre a terra — “seja” é mais forte que “cai”, como
Umbreit traduz Gn_1:3. O crescimento da água que cai de chuvas
“pequenas” a “grandes” (garoa, aguaceiros) se expressa por chuvas no
plural (margem) que se seguem à chuva no singular. Chuva invernal
(Ct_2:11).
7. No inverno Deus faz cessar as atividades à intempérie.
torna ele inativas as mãos de todos os homens — Lit., “encerra”
(Jó_9:7). Ata-lhes, ou sela, as mãos de todos.
obras dele — De Deus: em antítese às próprias do homem (“mão”),
que em outros tempos os homens se ocupam, de modo que são propensos
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 169
a esquecer-se de sua dependência de Deus. Umbreit mais lit. traduz: Que
todos os homens que ele tem feito (lit., de sua feitura) cheguem a
reconhecimento
8. feras (TB) — bestas.
ficam — repousam em seu abrigo. Está belamente ordenado que
durante os frios, quando não é possível conseguir alimento, podem jazer
embotados; numa condição em que não necessitam alimento. A
desolação dos campos, a mandado de Deus, é poeticamente gráfica.
9. De suas recâmaras — Literalmente; câmaras relacionadas com
o sul (Jó_9:9). Os redemoinhos se têm poeticamente por encerrados por
Deus em suas câmaras meridionais, de onde as envia (assim Jó_38:22;
Sl_135:7). Quanto aos redemoinhos do sul (veja-se Is_21:1; Zc_9:14),
levam diante de si as cálidas areias; principalmente de fevereiro a maio.
do norte ... frio — No hemisfério setentrional. Lit., espalhadores: o
vento norte espalha as nuvens.
10. sopro de Deus — Poético: o vento norte que produz o gelo.
se congelam — Lit., endireitada, fisicamente exato; o gelo
comprime e contrai o líquido expandido em massa congelada (Jó_38:29-
30; Sl_147:17-18).
11-13. Como as nuvens do temporal se dissipam, ou são
empregadas por Deus, seja para correção ou para misericórdia.
de umidade carrega — Carregando-a de água.
espargem — a faz cansar de modo que carregada cai em forma de
chuva; assim “cansar” corresponde ao paralelo “espalha” (cf. Nota, v. 9);
resultando num céu limpo em ambos os casos.
relâmpagos — Lit., nuvem de sua luz, isto é, de seu relâmpago.
Umbreit por “regando …” traduz: “Resplendor despede as nuvens, sua
luz espalha as nuvens densas;” assim fica bem o paralelismo, mas o
hebraico dificilmente a permite.
12. segundo o rumo que ele dá — Direção (Sl_148:8); lit.,
timoneio; as nuvens obedecem à direção de Deus, como a nave ao piloto.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 170
Deste modo o relâmpago (Veja-se Jó_36:31-32); nem aquelas nem este
são acidentais em seus movimentos.
redondeza da terra — Na face do círculo da terra.
13. faz ele vir — Lit., Faz com que encontre lugar (a nuvem), já
para a correção, se (está destinada) para sua terra (quer dizer, para a parte
habitada pelo homem, com quem Deus lida, em contraste com as outras
partes, onde outras vezes lhe assinala que caia, Jó_38:26-27), ou para
misericórdia. “Se está destinada para sua terra” é uma hipótese
parentética. (Maurer.) Na Versão Inglesa, esta cláusula desfaz o justo
balanço da antítese entre “açoite” (margem) e “misericórdia” (Sl_68:9;
Gênesis 7).
14. (Sl_11:2.)
15. as opera — Impõe a estas maravilhas (v. 14) seu mandado de
elevar-se.
luz (RC) — relâmpago [RA].
faz resplandecer — Como é que a luz pode surgir da nuvem
escura?
16. O hebraico: “compreendeste o balanço …” como as nuvens se
equilibram no ar, de modo que sua gravidade aquosa não as faz descer a
terra? A umidade condensada, que desce pela gravidade, encontra uma
temperatura mais quente, que a dissipa em vapor (cuja tendência é de
elevar-se) e assim rebate a força para baixo.
perfeito em conhecimento — Deus; não é o sentido aqui em que
Eliú emprega o termo com relação a si (Jó_36:4).
17. tuas vestes — antes, como o corpo se esquenta, de modo que
afeta teus vestidos com quentura?
vento sul — Lit., região do sul: “Quando ele faz quieta (e
abafadiça) a terra (ou seja, a atmosfera) pelo (durante) o vento sul
(Ct_4:16).
18. com ele — Como ele faz (Jó_40:15).
estendeste — deste expansão.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 171
sólido — de onde o termo “firmamento” (Gn_1:6; margem,
extensão, Is_44:24).
espelho fundido — de metal fundido: figura do brilhante céu
sorridente. Não se fabricavam ainda de vidro os espelhos.
19. Não podem os homens explicar as maravilhas de Deus;
devemos, portanto, nos calar e não disputar com Deus. Se Jó opinar de
outra maneira, “que ele nos mostre o que lhe temos a dizer.”
envoltos em trevas — escuridão mental, ignorância. “Os olhos se
cegam extraviados, quando se voltam para os brilhantes céus em atrevida
controvérsia com Deus” (v. 18). (Umbreit.)
20. O que diria um mortal contra os procedimentos de Deus não
seria digno de contar a Ele. Em oposição do desejo de Jó de “falar”
perante Deus (Jó_13:3, Jó_13:18-22).
Seria isso desejar o homem ser devorado — O paralelismo
favorece mais a Umbreit: “Atreve-se a falar um homem (perante ele,
queixando) do que (sem causa) lhe destrói?”
21. que o deixa limpo — isto é, deixa limpo o ar de nuvens.
Quando “a luz esplendente” do sol, antes “não visível” através das
“nuvens”, de repente brilha atrás delas, devido ao fato de que “o vento as
limpa”. O efeito é ofuscante aos olhos; do mesmo modo, se a majestade
de Deus, agora invisível, se revelasse repentinamente em toda sua força,
estenderia a “escuridão” sobre os olhos de Jó, desejoso como estava
disso (cf. Jó_37:19). (Umbreit.) É porque agora “não se pode ver a luz
esplendente” (a ofuscante majestade de Deus), devido às “nuvens”
intermediárias (Jó_26:9), que os homens se atrevem a desejar “falar”
diante de Deus (Jó_37:20). Prelúdio da aparição de Deus (Jó_38:1). As
palavras são efetivas num sentido não desejado por Eliú, mas incluído
talvez pelo Espírito Santo. Jó e outros afligidos não podem ver a luz do
rosto de Deus através das nuvens da prova: mas o vento logo as limpará
todas, e Deus voltará a aparecer: só que esperem com paciência, porque
Deus sempre brilha, mesmo quando por breve espaço não O vejam (cf.
Jó_37:23).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 172
22. áureo esplendor — Maurer traduz: ouro. O ouro se acha nas
regiões do norte. Mas Deus não pode ser “alcançado” (descoberto) por
causa de Sua “majestade” (v. 23). Assim o cap. 28 corresponde; a Versão
Inglesa é mais simples.
Do norte — com Ele se associa principalmente a claridade (Veja-
se Jó_23:9). Aqui, talvez, porque o vento norte limpa a atmosfera
(Pv_25:23). De modo que esta cláusula corresponde à última de
Jó_37:21; como a 2ª. deste verso a 1ª. do v. 21. Paralelismo invertido.
(Veja-se Is_14:13; Sl_48:2).
Deus está cercado — como um manto (Sl_104:1-2).
majestade — esplendor.
23. a ninguém oprime (RC) — Opressivamente, de modo de
“perverter o juízo”, como Jó insinuava (Veja-se Jó_8:3); mas veja-se
Jó_37:21. A lição, “não responderá”, quer dizer, não dará conta de Seus
procedimentos, é como uma correção de copista, tirada de Jó_33:13,
margem.
24. os homens o temem — é seu dever.
os que se julgam sábios — em seu próprio orgulho.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 173
Jó 38

1. O Senhor aparece num redemoinho (que já se preparava,


Jó_37:1, 2), o símbolo de “juízo” (Sl_50:3-4, etc.), ao qual Jó havia
desafiado. Diz-lhe agora que se prepare para a contenda. Pode Jó
explicar os fenômenos do governo natural de Deus? Como pode, pois,
entender os princípios de Seu governo moral? Deus assim confirma o
sentimento de Eliú, de que a parte do homem é submeter-se, sem
raciocínios, aos caminhos de Deus. Isto e o desígnio disciplinador das
provas dos piedosos são a grande lição de este livro. Não resolve a
dificuldade pela referência à futura retribuição: porque isto não é a
questão imediata: olhadas de dita doutrina já foram dados nos cap. 14 e
19, estando reservada para o tempo do evangelho a plena revelação. Mas
até agora nos é mister aprender a lição ensinada por Eliú e Deus no livro
de Jó.
2. este — Jó.
desígnios — Que impugna minha divina sabedoria nos arranjos
providenciais do universo. Tais “palavras” (inclusive as dos três amigos)
obscurecem, em vez de iluminar meus caminhos. Deus está a ponto de
tornar-se o Reivindicador de Jó, mas primeiro deve convertê-lo ao
devido estado de mente para que receba o alívio.
3. como homem — herói, armado para a batalha (1Co_16:13),
como tinha desejado (Jó_9:35; Jó_13:22; Jó_31:37). O manto,
usualmente usado ondulante, atava-se com cinturão quando os homens
corriam, trabalhavam, ou pelejavam (1Pe_1:13).
4. Para compreender a causa das coisas, o homem deveria ter estado
presente na origem delas. A finita criatura não pode aprofundar a infinita
sabedoria do Criador (Jó_28:12; Jó_15:7-8).
tens entendimento — (Pv_4:1).
5. medidas — de suas proporções. Figura dois planos
arquitetônicos de um edifício.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 174
cordel — de medição (Is_28:17). A terra está formada segundo um
plano muito sapiente.
6. suas bases — Não encaixes, como a margem.
fundadas — Lit., afundadas, baixadas, como uma pedra de
alicerces, até que se afirme no barro (Jó_26:7). A força da gravidade faz
uma esfera da terra e a conserva assim.
7. Como na fundação do templo de Zorobabel (Ed_3:10-13). Assim
no futuro, na conclusão da Igreja, o templo do Espírito Santo (Zc_4:7);
como quando foi fundada (Lc_2:13-14). Com estas coisas se associa
apropriadamente a manhã da criação, sendo o começo do dia deste
mundo. Figuradamente se diz que as estrelas cantam os louvores de
Deus, como em Sl_19:1; Sl_148:3. São símbolos dos anjos, levando a
mesma relação à terra que os anjos nos levam. Portanto, correspondem a
“filhos de Deus”, ou anjos, no paralelismo. Veja-se Jó_25:5.
8. portas — comportas: sua abertura resultou no dilúvio (Gn_8:2);
ou se não, as ribeiras.
irrompeu da madre — do caos. As vísceras da terra. Figura de um
parto (Jó_38:8, 9; Ez_32:2; Mq_4:10). O oceano ao nascer é envolto em
fraldas de nuvens.
10. tracei limites — para ela o lugar assinalado. As ribeiras são
geralmente penhascos abruptos e quebrados (cf. Versão Inglesa). O
grego para ribeira significa lugar quebrado. Quebrei-lhe, ou lhe medi,
meu limite, quer dizer, o limite que achei próprio (Jó_26:10).
11. se quebrará — Heb., um limite será posto.
12-15. Passa da criação aos fenômenos do atual mundo inanimado.
12. deste ordem … —Como Deus faz cada dia.
à madrugada — que amanheça.
fizeste a alva — desde que nasceu.
seu lugar — Varia em seu lugar de sair de dia em dia, mas tem seu
lugar cada dia segundo as leis fixas.
13. pegasse nos limites (TB) — Estender-se sobre a terra até seus
últimos limites num momento.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 175
os ímpios (TB) — Os que aborrecem a luz, e fazem suas maldades
à escuridão (Jó_24:13).
fossem sacudidos (TB) — Se prende das pontas (hebraico, asas ou
margens), como de um vestido, e são sustentadas, as margens, pela
aurora, para sacudir dela os ímpios.
14. Que explica a 1ª. cláusula do v. 13, como o v. 15 explica a
segunda. Como a argila plástica apresenta as várias figuras nela
estampadas por um selo, assim a terra, que na escuridão estava privada
de toda forma, iluminada pela aurora, apresenta as várias formas,
colinas, vales, etc.
A terra se modela — (heb., “gira sobre si”,) faz alusão ao selo
cilíndrico rolante, tais como os achados em Babilônia, que rodando
deixam sua impressão na argila: assim a luz matutina vai rodando sobre
a terra.
tudo se apresenta — as formas de beleza, desenvolvidas pela
alvorada, destacam-se qual vestimenta, da qual a terra está adornada.
15. dos perversos se desvia a sua luz — na qual eles trabalham, ou
seja, a escuridão, que é o dia deles (Jó_24:17), fica extinta pela luz do
dia.
levantado — O braço levantado para homicídio ou outro crime lhe
é quebrado: cai de repente, impotente, por temor à luz.
16. mananciais — Lit., mananciais, debaixo do mar (Sl_95:4-5).
o mais profundo do abismo — antes, os nichos mais recônditos,
lit., o que se descobre só esquadrinhando, as fundas cavernas do oceano.
17. viste — A 2ª. cláusula aumenta o pensamento da primeira. O
homem em vida nem “vê” as portas do reino dos mortos (“morte,”
Jó_10:21), muito menos que se lhe abrem. Mas estão “despidas” diante
de Deus (Jó_26:26).
18. Tens ideia — Como Deus faz (Jó_28:24).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 176
Vv. 19-38. As maravilhas nos céus.
19. A origem da luz e das trevas. Em Gn_1:3-5, Gn_1:14-18, “a
luz” é criada distinta e previamente aos corpos estrelas do céu.
20. Conhece o lugar dela (elas) tão bem para poder guiá-la (“levar”,
como em Is_36:17 mas Umbreit, “alcançá-la em”) a seu próprio termo,
quer dizer, o limite entre a luz e as trevas (Jó_26:10)?
21. Ou sem a interrogação, em sentido irônico. (Umbreit.)
nesse tempo — Quando eu criei a luz e as trevas (Jó_15:7).
22. depósitos — de onde tira Deus a neve e a saraiva. A neve é o
vapor congelado no ar, antes de juntar-se em gotas o suficiente para
formar a saraiva. Sua forma é a de cristais em grande variedade de
figuras belas. A saraiva se forma pela chuva ao cair pelo ar frio e seco.
23. até ao tempo da angústia — o tempo em que eu proponho
castigar os homens (Êx_9:18; Jos_10:11; Ap_16:21; Is_28:17; Sl_18:12-
13; Ag_2:17).
24. se difunde — de modo a difundir-se sobre toda a terra, embora
pareça vir de um só ponto. A luz viaja do sol até a terra, noventa milhões
de milhas, em oito minutos.
se espalha — antes, E por que caminho se estende (espalha) o
vento sul (personificado) …” A luz e o vento oriental se associam, visto
que ambos vêm do mesmo lado, e com frequência se levantam juntos
(Jon_4:8).
25. regos — A chuva cai, não numa massa num ponto dado, mas
por inúmeros canais separados no ar assinalados para ela.
caminho para os relâmpagos — (Jó_28:26.)
26. Como a chuva cai também em locais não habitados pelo
homem, não é possível que o homem guie o curso da mesma. Tal chuva,
embora o homem não pode explicar a razão disso, não é perdida. Nisso
Deus tem algum propósito importante.
27. Como se a terra desértica sofresse a sede das chuvas de Deus.
Personificação. A beleza repartida aos lugares despovoados agrada a
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 177
Deus, para quem primordialmente todas as coisas existem, e nisso ele
tem suas finalidades ulteriores.
28. Pode ser designado pelo homem alguma origem visível da
chuva e o orvalho? O orvalho é a umidade, suspensa no ar, que se
condensa ao fazer contato com a temperatura inferior noturna dos
objetos da terra.
29. Jó_37:10.
30. As águas em forma líquida estão escondidas debaixo das
geladas, como com uma cobertura de pedra.
ficam duras como a pedra — Lit., agarra-se: as partículas se
agarram umas de outras formando a coesão.
31. os laços — A alegria difundida pela primavera, época em que
aparecem as Plêiades. Os poetas orientais, Hafiz, Said, etc., descrevem-
nas como “brilhantes rosetas.” Gesênius traduz: “ataduras”, ou “nós”, o
que quadra melhor ao paralelismo. Mas nossa versão concorda melhor
com o hebraico. As sete estrelas estão estreitamente “atadas” em uma
(Veja-se Jó_9:9). “Você pode atar ou desatar a ligadura?” “Pode soltar as
ataduras que têm firme a constelação Órion” (representada no Oriente
como gigante ímpio acorrentado ao céu)? (Veja-se Jó_9:9).
32. Pode você tirar de seus lugares ou casas (Mazzaloth, 2Rs_23:5,
Margem; ao que Mazzaroth aqui é equivalente) no céu os signos do
zodíaco em suas respectivas estações — os doze alojamentos aonde o sol
sucessivamente mora, ou aparece, no céu?
Ursa — a Ursa Maior [NTLH].
seus filhos — As três estrelas de sua cauda. Você as pode fazer
aparecer no céu? (2Rs_9:9). As Ursas maior e menor, os árabes as
chamam “Filhas do Féretro”, o quadrângulo sendo o féretro, e as outras
três as enlutadas.
33. ordenanças — Que regulam as alterações das estações, etc.
(Gn_8:22).
domínio (TB) — a influência governante dos corpos celestiais, o
sol, a lua, etc., sobre a terra (as marés, clima) (Gn_1:16; Sl_136:7-9).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 178
34. (Jr_14:22; Jó_22:11, metaforicamente.)
35. Eis-nos aqui — Às suas ordens (Is_6:8).
36. nas camadas de nuvens — Mas (Umbreit) “negras nuvens”
(“fenômenos brilhantes”) (Maurer) — “meteoro”, com referência à
consulta destas como sinais meteorológicos pelos lavradores (Ec_11:4).
A conexão é: “Quem te deu a inteligência para compreender em algum
grau os fenômenos agora especificados?”
entendimento — não o termo hebraico usual, mas sim um da raiz,
contemplar; a percepção.
37. Quem dispõe por sua sabedoria a devida medição das nuvens?
quem os pode despejar — antes, esvaziar; lit., inclinar de modo
que se derrame.
odres dos céus — as nuvens saturadas de água.
38. massa sólida — antes, derramar-se numa massa pela chuva,
como metal em fusão; então, traduza-se: “Quem é aquele que derrama …
quando …” A Versão Inglesa, entretanto, é defensável: “É feito numa
massa”, pelo calor, como metal fundido, antes que caia a chuva; “Quem
pode esvaziar os copos da chuva, e fazer baixar a chuva num tempo tal?”
(v. 38).
39. Desde este versículo até Jó_39:30, os instintos de animais. É
você aquele que lhes dá o instinto para caçar sua presa? (Sl_104:21).
fome — Lit., vida: a que depende da fome, ou melhor, apetite
(Sl_33:20).
40. à espreita — à presa (Sl_10:9)
41. Lc_12:24; A transição da nobre leoa até o corvo grasnador.
Embora ao homem repugna, como mau agouro, Deus cuida dele, assim
como de todas as Suas criaturas.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 179
Jó 39

1. Até as feras, afastadas de todo cuidado do homem, desfrutam do


cuidado de Deus em seus tempos de maior necessidade. Seu instinto vem
diretamente de Deus, e as dirige a socorrer-se em tempo do parto:
ocasião em que o boiadeiro tem o maior cuidado de seu ganho.
cabras monteses — O íbex (Sl_104:18; 1Sm_24:3).
corças — cervos; os animais mais tímidos e indefesos, mas são
cuidados por Deus.
2. Dão à luz com facilidade, e não precisam calcular os meses de
gravidez, como o pastor em caso de seus rebanhos.
3. encurvam-se — na obra de parir; caem de joelhos (1Sm_4:19).
lançam de si — Lit., fazem com que a cria abra a matriz e saia.
dores — sua cria, a causa de suas dores momentâneas.
4. crescem—Estão em boa condição, crescem fortes.
no campo — sem o cuidado do homem.
nunca mais tornam — Sendo capazes para cuidar de si mesmos.
5. jumento selvagem — Duas palavras hebraicas distintas se usam
aqui pelo mesmo animal, a jumenta dos bosques, e a jumenta selvagem.
(Veja-se Jó_6:5; Jó_11:12; Jó_24:5; Jr_2:24.)
soltou as prisões — deu-lhes liberdade. O homem pode roubar a
liberdade aos animais, mas não lhes dar, como Deus, a liberdade, junto
com a subordinação de leis fixas.
6. terra salgada — Lit., sai, isto é, infrutíferos. (Assim Sl_107:34,
Margem)
7. tumulto — antes, o ruído: não faz conta, estando longe do
vaivém na liberdade do deserto.
arrieiro — que toca com látego ao asno doméstico. O asno montês
é símbolo no oriente da liberdade descontrolada. Até aos reis foi
aplicado este nome.
8. O que descobre (RC) — Lit., o esquadrinhar, o que encontra
buscando.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 180
9. unicórnio (RC) — Plínio, História Natural 8:21, menciona tal
animal; sua figura se acha desenhada nas ruínas de Persépolis. O
hebraico “reem” dá a ideia de altivez e poder (cf. Ramah, o índico Rão, o
latino Roma). O rinoceronte é talvez o tipo original do unicórnio. O
arábico “rim” é um animal bicorne. Às vezes “unicórnio” ou reem não é
mais que um símbolo poético ou uma abstração; mas o búfalo é o animal
aqui referido, pelo contraste com o boi doméstico, usado para arar (v. 10,
12).
manjedoura — (Is_1:3.).
10. com cordas — atar-lhe aos chifres, pois sua maior força está na
cabeça e os ombros.
após ti — obediente a ti; disposto a seguir, em lugar de ser
aguilhoado diante de ti.
11. trabalho — rústico; lavoura.
12. Fiarás dele — confiará.
o recolha — a colheita, produto (1Sm_8:15).
eira — antes, juntará o conteúdo de sua eira; lugar da debulha.
(Maurer)
13. Antes, “belas asas da fêmea da avestruz”; lit., a ave chorona;
pois seu nome arábico significa canto; com referência a seus gritos
noturnos (Jó_30:29; Mq_1:8) que vibram prazerosamente. Não são como
as asas e penas da ave piedosa (a cegonha)? (Umbreit.) A vibrante asa
tremente, que serve ao mesmo tempo de vela e remo, é característica da
avestruz em plena corrida. Suas penas de cauda e asas brancas e negras
são como as de cegonha. Mas, dessemelhante a tal ave, símbolo do amor
paterno no Oriente, parece carecer desse natural (“piedoso”) afeto, pois
abandona a sua cria. Ambas as aves se denominam por nomes poéticos
descritivos em vez de seus usuais.
14-15. Mas (não como a cegonha) desampara seus ovos. Portanto os
árabes a chamam a ímpia. Entretanto, a verdade é que os põe com muito
cuidado e os incuba, como as demais aves; mas em países quentes os
ovos não necessitam de incubação constante; portanto os deixa, e às
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 181
vezes esquece o lugar ao voltar; além disso, os ovos externos do ninho
são para alimento, e os dá de comer aos pintinhos; estes ovos, apartados
na areia, expostos ao sol, deram origem à ideia de que ela os abandonava
totalmente. Deus a descreve tal qual ela parece com o homem; dando a
entender que embora pareça fatuamente descuidar a sua cria, na verdade
é guiada por um instinto seguro de parte de Deus, tanto como os animais
de instintos muito distintos.
16. Ao menor ruído muitas vezes abandona seus ovos e não volta,
como se “se endurecesse para com seus filhos”.
seu trabalho — de pôr ovos tenha sido em vão; entretanto, não se
inquieta por eles. Diferente de outras aves, é-lhe tirado um e outro ovo,
continuará pondo até que se cumpra o número pleno.
17. sabedoria — tal como a que Deus dá a outros animais, e ao
homem (Jó_35:11). A parábola arábica é: “fátuo como o avestruz”.
Entretanto, sua aparente falta de sabedoria não é sem o propósito
sapiente de Deus, embora o homem não o deixa de ver; assim como nas
provas dos piedosos, que a Jó parecem ser tão irrazoáveis, escondeu um
sábio propósito.
18. Apesar de suas deficiências, ela tem excelências que a
distinguem.
se levanta — para correr; não pode voar pelo ar. Gesênius traduz:
açoita-se para sua carreira batendo as asas. Versões mais antigas
favorecem a Versão Inglesa, e o paralelo “se zomba” corresponde a “em
alto” (arrogantemente).
19. A alusão ao “cavalo”, v. 21, sugere a descrição dele. Os poetas
árabes se deleitam em exaltar o cavalo; entretanto, não se lhe menciona
entre as posses de Jó (Jó_1:3 e Jó_42:12). Parece que naquele então
empregavam-se principalmente para fins guerreiros, antes que para os
domésticos.
crinas — poeticamente por: “nuca arqueada inspira temor qual
trovão.” (Umbreit.), antes: “a ondulante crina tremente”, que
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 182
corresponde ao bater de asas (Veja-se Jó_39:16) Maurer. Crina no grego
também é de uma raiz que significa temor.
20. o fazes pular — antes, “Você pode (como eu) fazê-lo saltar
como ao gafanhoto?” Assim em Jl_2:4 a comparação é entre gafanhotos
e cavalos de guerra. As cabeças delas e eles são tão parecidas que os
italianos chamam cavaletta, “cavalinho”, ao gafanhoto.
fogoso respirar — furiosamente bufando
21. no vale — onde ocorre a batalha.
sai — (Nm_1:3; Nm_21:23).
23. aljava — pelas setas na mesma, que se dirigem “contra ele”.
ferro flamante da lança (RC) — lit., o brilho da lança, como
“relâmpago da lança” (Hab_3:11).
24. devora — Lit., traga-se: chutando de irritação e impaciência,
arrasta a terra a si mesmo, como se a tragasse. O paralelismo ensina que
tal é o sentido: não como Maurer: “desliza-se acima dela”.
não se contém — antes, nem fica quieto quando (ouve) o som da
buzina.
25. ele diz — poeticamente aplicado a seu fogoso relincho, pelo
qual demonstra seu amor à batalha.
Cheira — soprando; discerne (Is_11:3, Margem).
o trovão — retumbante.
26. O instinto, pelo qual algumas aves migram a climas mais
quentes no inverno. O voo rápido peculiarmente caracteriza a todo o
gênero do gavião
27. águia — Remonta mais que todas as aves; portanto lhe chama a
ave dos céus.
28. Habita — em segurança (Sl_91:1); habita no mesmo lugar
quase por toda a vida.
cimo — Lit., dente (1Sm_14:5, margem).
penhasco — Cidadela, fortaleza.
29. descobre — a águia avista a presa de uma distância
assombrosa, melhor do que localizá-la pelo olfato.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 183
30. Chamado em parte pelo Senhor Jesus (Mt_24:28). O alimento
dos pintinhos é o sangue das vítimas trazida pelos pais, enquanto são
muito jovens para comer a carne.
mortos — como o abutre se alimenta principalmente de corpos
mortos, é provável que se lhe inclua no gênero da águia.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 184
Jó 40

Vv. 1-24. SEGUNDA ORIENTAÇÃO DE DEUS.


1. Disse mais o SENHOR — depois de uma pausa, Jó ficando
calado.
2. quem usa de censuras — Como Jó muitas vezes expressou o
desejo de fazer. Ou, repreende. Deseja Jó ainda (tendo visto e ouvido a
majestade e sabedoria de Deus) lhe corrigir?
responda — às perguntas que lhe acabo de fazer.
3. SENHOR — Jeová no hebraico.
4. Sou (muito) vil (para responder). É uma coisa tão diferente nos
vindicar diante de Deus que nos vindicar perante os homens. Isto podia
fazer Jó, mas não aquilo.
Ponho a mão na minha boca — Nenhum pedido tenho a fazer
(Jó_21:5; Jz_18:19).
5. Uma vez … duas vezes — Muitas vezes, mais de uma vez
(Jó_33:14, cf. com Jó_33:29; Sl_62:11).
falei — isso é, contra Deus.
não replicarei — Não pleitearei mais contra Ti.
6. o SENHOR — Jeová.
7. (Veja-se Jó_38:3). Visto que Jó não só tinha falado contra Deus,
mas também até O havia acusado de injustiça, Deus o desafia a fazer a
prova, se ele podia governar ao mundo, como Deus o faz por Seu poder,
e castigar aos arrogantes e maus (Jó_40:7-14).
8. Quererá você, não só disputar comigo mas também até invalidar
meu juízo ou justiça no governo do mundo?
me condenarás — Você Me declarará injusto, a fim de ser tido por
justo (inocente, imerecidamente aflito).
9. braço — a onipotência de Deus (Is_53:1).
trovejar — a voz de Deus (Is_37:4).
10. Veja, você tem poder e majestade, como Deus, para poder
julgar e governar a este mundo?
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 185
11. torrentes da tua ira — derrama as abundantes correntes de ira.
atenta — prove se puder, como Deus, com o olhar abater ao
soberbo (Is_2:12, etc.).
12. soberbo — alto (Dn_4:37).
no seu lugar — onde estão; repentinamente, antes que possam
mover-se de seu lugar (Veja-se Jó_34:26; Jó_36:20).
13. (Is_2:10). Humilha-os e tira-os de diante dos homens.
encerra-lhes o rosto — isso é, encerra suas pessoas. (Maurer.)
Mas a referência é, antes, ao costume de atar um pano sobre o rosto de
pessoas que estão para ser executadas (Is_9:24; Et_7:8).
em oculto (RC) — entrega-os às trevas.
14. confessarei — antes, elogiarei; “eu também”, que agora te
censuro. Mas visto que você não pode fazer estas coisas, você deve
louvar meu governo, em lugar de censurá-lo.
tua mão direita te dá vitória — (Sl_44:3.) O mesmo quanto à
salvação eterna por Jesus Cristo (Is_59:16; Is_63:5).
15-24. Deus ensina que se Jó não pode dominar aos animais
inferiores (dos que assinala os dois mais notáveis, o beemote na terra, o
leviatã na água), muito menos é capaz de governar o mundo.
beemote (TB) — A descrição concorda em parte com o
hipopótamo, em parte com o elefante, mas nem com o um nem o outro
em todos os detalhes. É, antes, uma personificação poética dos
paquidermes, ou herbívoros (pois “erva come …”), estando
predominante a ideia do hipopótamo. No v. 12, “a cauda como de cedro”
dificilmente se aplica a este (o mesmo vv. 15, 18, “Jordão”, onde só os
elefantes podiam chegar, mas veja-se Nota, v. 18). Por outro lado, os vv.
16, 17 são característicos do anfíbio cavalo marinho. Deste modo o
leviatã (o animal torcedor) Jó_41:1, é um termo generalizado pelos
cetáceos, pítons, sáurios, dos mares e rios próximos, inclusive o
crocodilo, que é o mais proeminente, e é associado muitas vezes com o
cavalo marinho pelos antigos escritores. O “beemote” parece ser o
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 186
Pehemout, “boi marinho”, hebraizado, do Egito, assim chamado por sua
aparência ao boi, daqui que o italiano “bombarino”.
criei contigo — como Eu te fiz a ti. Mas quanta diferença! A
múltipla sabedoria e poder de Deus!
come a erva — Maravilhoso de um animal que vive tanto na água;
também singular que semelhante monstro não fosse carnívoro.
16. músculos — o ponto mais fraco do elefante; portanto ele não é
o indicado.
17. como cedro — Dobrado pelo furacão, de modo que se meneia
qual lisa cauda grossa. (Umbreit.) Mas o cedro indica retidão e
comprimento pelo qual não se aplica à curta cauda do cavalo marinho,
mas sim talvez a alguma espécie de animal extinta (veja-se Jó_40:15).
entretecidos — como uma soga grossa.
18. como o bronze — antes, tubos de cobre. (Umbreit.)
19. obra-prima — principal das obras de Deus; assim “caminhos”
(Jó_26:14; Pv_8:22).
o proveu de espada — antes, “proveu-lhe sua espada” ou seja,
seus dentes como foices, com que corta o grão. Mas nossa versão é
literalmente correta.
20. As montanhas não são usualmente sua habitação. Bochart diz
que às vezes encontra-se lá (?).
os animais do campo folgam — Um rasgo pictórico: armado como
está de tais dentes, deixa que os animais pulem junto a ele sem danificá-
los, pois é herbívoro.
21. Deita-se — Leva uma vida inativa.
lotos — Traduza-se: debaixo dos lótus, como requer o v. 17.
22. As árvores sombrias o cobrem (RC) — os lotos [RA].
23. Antes, “(Embora) um rio seja violento (transborde-se), ele não
treme;” (porque embora vive na terra, pode viver também na água), está
a salvo, embora um Jordão cresça até a boca dele. “Jordão” expressa
qualquer rio grande (conforme com o “beemote”), sendo uma
generalização poética (Nota, v. 10). O autor não pode ter sido um
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 187
hebreu, como Umbreit assevera; de sê-lo, não teria mencionado o Jordão,
rio onde não havia cavalos marinhos. Alude a ele como nome de
qualquer rio, mas não como um rio a ele conhecido, mas por rumores.
24. Antes, “Tomará alguém a força aberta (lit., perante os olhos),
ou lhe perfurará o nariz com cordas?” Não; só pode ser tomado por
engano, e em alguma armadilha (Jó_41:1-2).
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 188
Jó 41

1. leviatã (RC, TB) — Lit., o animal torcido, que se encerra em


dobras; sinônimo dos “thannin” (Jó_3:8, margem; veja-se Sl_74:14; tipo
do tirano egípcio; Sl_104:26; Is_27:1; o tirano babilônico). Uma
generalização poética que compreende todos os monstros cetáceos,
serpentinos e sáurios (Cf. Jó_40:10), portanto não se aplica toda a
descrição a algum animal específico; especialmente ao crocodilo, aquele
que se descreve naturalmente segundo o cavalo marinho, como os dois
se acham no Nilo.
língua — O crocodilo não tem língua, mas sim uma muito pequena
que se adere à queixada inferior. Mas como na pesca, o peixe com a
língua recebe o anzol com a isca de peixe, assim pergunta Deus: Você
pode assim pescar o leviatã?
2. vara de junco — antes, soga de juncos.
gancho — antes, anel, ou gancho de ferro. Assim se guiavam os
animais silvestres caçados (Is_37:29; Ez_29:4); os peixes igualmente se
prendiam desta maneira, deixados na água para os ter vivos.
3. palavras brandas — Para que você o trate com generosidade.
Não; é indomável.
4. Pode ser amansado para usos domésticos (Assim Jó_39:10-12)?
5. passarinho — que está domado.
6. companheiros (RC) — antes, sócios (na pesca).
banquete (RC) — O paralelismo antes apoia ao Umbreit: “Desejam
os sócios comprá-lo?” (Assim o hebreu, Dt_2:6).
mercadores — Lit., cananeus, que eram notáveis mercadores
(Os_12:8, margem).
7. Seu couro não é penetrável, como a pele de peixe.
8. Se você lhe jogar a mão, terá algo por que se lembrar … você
nunca mais fará a prova.
9. sua esperança — de agarrá-lo.
será o homem derribado — de temor, “só de vê-lo”.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 189
10. ousado — Se o homem não se atreve a atacar a uma de minhas
criaturas (Gn_49:9; Nm_24:9), quem ousará (como Jó tinha desejado)
opor-se (Sl_2:2) a mim, o Criador? Tal é o fio principal da descrição do
leviatã.
11. primeiro me deu a mim — me favoreceu primeiro; antecipou-
me com serviço (Sl_21:3). Ninguém me pode pedir conta (“estar diante
de mim”, v. 10) como injusto, porque eu lhe tenha retirado os favores
(como no caso de Jó); porque ninguém me fez devedor seu previamente,
me dando algo que não fosse já meu. O que pode o homem dar àquele
que possui tudo, inclusive o própria homem? O homem não pode obrigar
a criatura que lhe seja “serva” (v. 4), muito menos ao Criador.
12. Não me calarei — encobrirei. Continuação da descrição
interrompida por uma digressão, que formou uma mudança agradável.
sua grande força — Lit., seu caminho, isso, a verdadeira expressão
ou proporção de sua força (assim o hebraico, Dt_19:5).
graça — Lit., a beleza de sua estrutura (seu aparelho; assim
“ordinário de vestidos”, Jz_17:10). (Maurer.) Umbreit traduz: “sua
armadura”. Mas esta segue depois.
13. as vestes — antes, a superfície de sua vestimenta (pele,
Jó_10:11); tirar a dura capa exterior que cobre a interior.
couraça dobrada — antes, “entrar dentro de suas queixadas
dobradas”, lit., freio: portanto, aquilo dentro do qual fica o freio, a dupla
fila de dentes; mas “freio” diz-se para indicar que ninguém se atreve a
colocar a mão para pôr a brida onde a outros animais ficam (Jó_41:4;
Jó_39:10).
14. as portas do seu rosto — a boca. Os dentes são sessenta em
número, maiores em proporção que seu corpo, alguns sobressalentes,
outros serrados, que se encaixam uns nos outros como um pente.
(Bochart.)
15. Antes, seus sulcos de escudos (como “tubos”, ou “canais”, cf.
Jó_40:18), isso, filas de escamas, como escudos que lhe cobrem: tem
dezessete de tais filas.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 190
bem encostada como por um selo que as ajusta — Nem lhe
penetra a bala de fuzil, senão pelo olho, garganta e ventre.
18. Os animais anfíbios, ao sair de estar muito tempo sob a água
com a respiração detida, respiram com violência, emitindo o alento como
se espirrassem; no esforço os olhos, usualmente dirigidos para o sol,
parecem lançar faíscas; ou, é seu alento expelido que, no sol, parece
emitir luz.
pestanas da alva — Os hieróglifos egípcios pintam os olhos de
crocodilo como o símbolo da manhã, porque os olhos são a primeira
coisa que aparece, quando todo o corpo emerge da água. (Horae
Hierogliphicae 1.65. Bochart])
19. tochas — ou seja, que com a expulsão de ar (v. 18) parecem
sair.
20. fervente — Lit., sopro debaixo, aquilo debaixo do qual o fogo é
soprado.
21. faz incender os carvões — Figura poética (Sl_18:8).
22. reside — permanentemente. Seu maior força está no pescoço.
desespero — Ansiedade ou angústia personificada.
salta — antes, dança, alegra-se; onde quer que vá espalha o terror
“diante de si”.
23. partes carnudas — antes, a papada. O que cai abaixo
(Margem). “Apertadas” firmes e fortes, unidas, não suspensas e frouxas,
como no boi.
são bem pegadas entre si — Umbreit e Maurer: “estão
estendidas”.
24. coração — Bochart: “Nos animais maiores, que são os menos
sensíveis, há grande dureza no coração, e moção mais lenta”. (Bochart.)
A pedra de moinho inferior, sobre a qual gira a superior, é especialmente
dura.
25. Levantando-se ele — Literalmente. O crocodilo é um tipo do
terror que inspira o Criador quando Ele se levanta em ira.
tremem — da mente, isto é, o terror.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 191
purificar-se (AV) — antes, Vagam do caminho; quer dizer, fogem
atordoados. (Maurer e Umbreit.)
26. de nada vale — Não se afirmará no duro couro dele.
27. ferro … cobre — quer dizer, armas.
28. seta — Lit., filho do arco; figura oriental (Lm_3:13; Margem).
restolho — As setas não lhe produzem mais efeito que se lhes
arrojassem restolho.
29. Os porretes — antes, paus.
30. escamas pontiagudas — antes, vasos, as escamas afiadas e
pontiagudas da barriga, qual fragmentos de vasos de barro.
instrumento de debulhar — não para os frutos da terra, mas “no
barro”; ironia. Quando se lança no barro, deixa impressas nele as marcas
de suas escamas, em tal forma que se imaginaria que a máquina de
debulhar teria passado sobre ele (Is_28:27).
31. Cada vez que se move.
mar — o Nilo (Is_19:5; Na_3:8).
caldeira de unguento — O copo em que se mescla. Apropriado do
crocodilo, o qual emite um aroma almiscarado.
32. sulco luminoso — A espuma em seus rastros.
encanecido — brancas ondas espumosas.
34. olha com desprezo — lit., contempla: olha toda coisa alta,
como que ele é superior a elas.
filhos da soberba — Literalmente, os orgulhosos animais ferozes.
Assim Jó_28:8. Para humilhar a soberba do homem, e lhe ensinar a
submissão implícita, é a finalidade do discurso do Senhor (e deste livro):
portanto com isto referente ao leviatã, o tipo de Deus em seu senhorio
sobre a criação, conclui.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 192
Jó 42

Vv. 1-6. A RESPOSTA PENITENCIAL DE JÓ


2. Na primeira cláusula Jó reconhece que Deus é onipotente sobre a
natureza, em contraste com sua própria fraqueza, que Deus tinha
provado (Jó_40:10; Jó_41:34); na segunda, que Deus é o supremo justo
(o que deve ser, para ser governador do mundo) em todos os Seus
procedimentos, em contraste com sua própria baixeza (Jó_42:6), e
incompetência para tratar com os ímpios como juiz justo (Jó_40:8-14).
planos — propósito, como em Jó_17:11; mas usualmente aplica-se
a desígnios maus (Jó_27:27; Sl_10:2): a palavra ambígua se escolhe a
propósito para expressar que, enquanto que ao que parece humano de Jó
os planos de Deus parecem maus, para o Onisciente seguem sem
impedimento em seu desenvolvimento, e por fim estes planos serão
vistos tão bons como são assim como imensamente sábios (Tg_1:13,
Tg_1:17); mas é a prerrogativa dele rebater o mal para bem.
3. Eu sou o homem! Jó nas palavras do próprio Deus (Jó_38:2)
expressa seu profundo arrependimento humilhado. As palavras de Deus
referentes a nossa culpabilidade devem ficar gravadas em nossos
corações e formar a base de nossa confissão. Os mais homens, ao
confessar o pecado, dissimulam-no, em vez de confessá-lo. Jó ao omitir
o “com palavras” (Jó_38:2), vai ainda mais além da acusação de Deus.
Não somente minhas palavras, todos meus pensamentos e caminhos são
“sem ciência” (conhecimento, nem sabedoria).
maravilhosas demais — Com temeridade eu negava que Tu
tivesses propósitos fixos no governo dos assuntos humanos, só porque
Teu plano era “muito maravilhoso” (oculto) para minha compreensão.
4. Quando eu disse: “Ouça …” (Jó_13:22): aquela demanda de Jó
lhe convenceu que era “sem compreensão”. Só Deus podia falar assim
com Jó; não Jó a Deus: portanto ele cita de novo as palavras de Deus
como a base de sua retratação de seus próprias palavras insensatas.
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 193
5. só de ouvir — (Sl_18:44, margem). O ouvir e o ver muitas vezes
estão em antítese (Jó_29:11; Sl_18:6).
meus olhos te veem — não o rosto de Deus (Êx_33:20), mas sim
Sua presença no véu de uma negra nuvem (Jó_38:1). Jó infere também
que, além da visão literal, agora via espiritualmente o que antes havia
aceito indistintamente de rumores da infinita sabedoria de Deus. Isto
“agora” o prova; tinha visto num sentido literal antes, no começo do
discurso de Deus, mas não tinha visto espiritualmente senão “agora” à
conclusão do mesmo.
6. me abomino — antes, “aborreço”, e me retrato dos discursos
temerários que fiz contra ti, Jó_42:3, 4. (Umbreit).

Vv. 7-17. O EPÍLOGO EM PROSA


7. a Elifaz — Porque ele tinha sido o mais dianteiro dos três
amigos; os discursos dos outros não eram senão eco dos dele.
o que era reto — Lit., fundamentado, seguro e verdadeiro. Seu
espírito para com Jó era sem benevolência, e para justificar-se nisso
usaram de argumentos falsos (Jó_13:7) (ou seja, que as calamidades
sempre provam a culpa particular); portanto, embora foi “por Deus” que
falaram assim falsamente, Deus os “repreende”, como Jó disse que faria
(Jó_13:10).
como … Jó — Jó tinha falado retamente com relação a eles e seus
argumentos, negando a teoria deles, e o fato alegado, de que ele era
particularmente culpado e hipócrita; mas incorretamente referente a
Deus, quando foi ao extremo oposto de quase negar toda culpabilidade.
Deste extremismo agora está arrependido, e por esta razão Deus tinha
falado dele como totalmente “reto”.
8. sete — (cf. Introdução). O número devotado pelo profeta
gentílico (Nm_23:1). Jó, está claro, vivia antes do sacerdócio legal, etc.
Os patriarcas agiam como sacerdotes para suas famílias; e às vezes como
mediadores na oração (Gn_20:17), prefigurando assim ao verdadeiro
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 194
Mediador (1Tm_2:5), mas acompanha nisso o sacrifício, e chega a ser o
fundamento em que repousa a mediação.
dele aceitarei a intercessão — antes, “sua pessoa (rosto) somente”
(Veja-se Jó_22:30). A “pessoa” deve ser aceita primeiro, antes que possa
Deus aceitar a oferta ou obra (Gn_4:4); isso não pode ser senão por meio
de Jesus Cristo.
loucura — antes, “segundo sua insensatez”: impiedade (Jó_1:22;
Jó_2:10).
9. O espírito perdoador de Jó prefigura o amor do Senhor Jesus e
dos cristãos aos inimigos (Mt_5:44; Lc_23:34; At_7:60; At_16:24,
At_16:28, At_16:30-31).
10. Mudou o SENHOR a sorte — Lit., cativeiro: proverbial por
restaurou, ou amplamente lhe indenizou por tudo o que tinha perdido
(Ez_16:53; Sl_14:7; Os_6:11). Assim a futura vindicação do homem,
corpo e alma, contra Satanás (Jó_1:9-12), na ressurreição (Jó_19:25-27),
tem seu penhor e sombra na vindicação temporária de Jó no fim pelo
Senhor em pessoa.
o dobro — Assim será à afligida Jerusalém literal e espiritual
(Is_40:2; Is_60:7; Is_61:7; Zc_9:12). Como no caso de Jó, assim no de
Jesus Cristo, a gloriosa recompensa segue à “intercessão” pelos inimigos
(Is_53:12).
11. Tinha sido queixa de Jó em suas tribulações em que seus
“irmãos”, etc., estavam “distanciados” dele (Jó_19:13); estes agora
voltam com a volta da prosperidade (Pv_14:20; Pv_19:6-7); o amigo
verdadeiro ama em todo tempo (Pv_17:17; Pv_18:24). “Os amigos
superficiais se vão no inverno, para retornar com a primavera”. (Henry.)
comeram com ele — em sinal de amizade (Sl_41:9).
uma moeda — Os presentes são de costume ao visitar-se a um
homem de posição no Oriente, especialmente depois de uma calamidade
(2Cr_32:23). O hebraico, Kesita. Magee traduz: um cordeiro (meio de
intercâmbio então, enquanto ainda não se usava a moeda), como na lição
marginal de Gn_33:19; Jos_24:32. Mas vem do árabe, Kasat, “pesado”
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 195
(Umbreit), não cunhado; assim Gn_42:35; Gn_33:19; cf. com Gn_23:15,
faz provável que seja igual a quatro siclos; o hebraico kashat, “puro”, ou
seja, metal. O termo, em vez do habitual “siclo”, etc., é uma marca de
antiguidade.
pendente (RC) — fosse para o nariz ou a orelha (Gn_35:4;
Is_3:21). Muito do ouro no Oriente, por falta de bancos, está na forma de
ornamentos.
12. Provavelmente por graus, nem tudo de uma vez.
13. O mesmo número como antes; talvez por uma segunda mulher;
em Jó_19:17 menciona-se sua mulher pela última vez.
14. Nomes significativos de sua prosperidade restaurada (Gn_4:25;
Gn_5:29).
Jemima — “luz do dia”, depois de sua “noite” de calamidade; mas
Maurer: “pomba”.
Quezia — cássia, erva aromática (Sl_45:8), em lugar das úlceras e
alento ofensivos.
Quéren-Hapuque — “chifre de estíbio”, uma tinta com que as
mulheres se coloriam as pálpebras; em contraste ao “minha cabeça no
pó” (Jó_16:15). Os nomes também refletem a beleza de suas filhas.
15. herança entre seus irmãos — favor não usual no Oriente para
com as filhas, as quais, na lei judaica, somente herdavam, se não havia
filhos (Nm_27:8): uma prova das riquezas e da unanimidade.
16. Segundo a Versão dos LXX Jó viveu 170 anos depois de sua
calamidade, e 240 anos ao todo. Isto lhe daria setenta anos ao tempo de
sua calamidade, mais os 140 do texto hebraico perfazem um total de 210:
um pouco menos que a idade (205) de Tera, pai de Abraão,
possivelmente seu contemporâneo. A longevidade do homem se cortou
gradualmente, até alcançar aos setenta do tempo de Moisés (Sl_90:10).
filhos de seus filhos — Uma prova do favor divino (Gn_50:23;
Sl_128:6; Pv_17:6).
17. farto de dias — Plenamente satisfeito e contente com toda a
felicidade que a vida lhe poderia dar; realizando o que Elifaz lhe tinha
Jó (Jamieson-Fausset-Brown) 196
pintado como a sorte do piedoso (Pv_5:26; Sl_91:16; Gn_25:8;
Gn_35:29). A LXX acrescenta: “Está escrito que ele ressuscitará de novo
com aqueles que o Senhor levantará.” Cf. Mt_27:52-53, de onde talvez
teve ilegitimamente sua origem.
SALMOS
Original em inglês: PSALMS Tradução: Carlos Biagini

Introdução
Salmo 1 Salmo 31 Salmo 61 Salmo 91 Salmo 121
Salmo 2 Salmo 32 Salmo 62 Salmo 92 Salmo 122
Salmo 3 Salmo 33 Salmo 63 Salmo 93 Salmo 123
Salmo 4 Salmo 34 Salmo 64 Salmo 94 Salmo 124
Salmo 5 Salmo 35 Salmo 65 Salmo 95 Salmo 125
Salmo 6 Salmo 36 Salmo 66 Salmo 96 Salmo 126
Salmo 7 Salmo 37 Salmo 67 Salmo 97 Salmo 127
Salmo 8 Salmo 38 Salmo 68 Salmo 98 Salmo 128
Salmo 9 Salmo 39 Salmo 69 Salmo 99 Salmo 129
Salmo 10 Salmo 40 Salmo 70 Salmo 100 Salmo 130
Salmo 11 Salmo 41 Salmo 71 Salmo 101 Salmo 131
Salmo 12 Salmo 42 Salmo 72 Salmo 102 Salmo 132
Salmo 13 Salmo 43 Salmo 73 Salmo 103 Salmo 133
Salmo 14 Salmo 44 Salmo 74 Salmo 104 Salmo 134
Salmo 15 Salmo 45 Salmo 75 Salmo 105 Salmo 135
Salmo 16 Salmo 46 Salmo 76 Salmo 106 Salmo 136
Salmo 17 Salmo 47 Salmo 77 Salmo 107 Salmo 137
Salmo 18 Salmo 48 Salmo 78 Salmo 108 Salmo 138
Salmo 19 Salmo 49 Salmo 79 Salmo 109 Salmo 139
Salmo 20 Salmo 50 Salmo 80 Salmo 110 Salmo 140
Salmo 21 Salmo 51 Salmo 81 Salmo 111 Salmo 141
Salmo 22 Salmo 52 Salmo 82 Salmo 112 Salmo 142
Salmo 23 Salmo 53 Salmo 83 Salmo 113 Salmo 143
Salmo 24 Salmo 54 Salmo 84 Salmo 114 Salmo 144
Salmo 25 Salmo 55 Salmo 85 Salmo 115 Salmo 145
Salmo 26 Salmo 56 Salmo 86 Salmo 116 Salmo 146
Salmo 27 Salmo 57 Salmo 87 Salmo 117 Salmo 147
Salmo 28 Salmo 58 Salmo 88 Salmo 118 Salmo 148
Salmo 29 Salmo 59 Salmo 89 Salmo 119 Salmo 149
Salmo 30 Salmo 60 Salmo 90 Salmo 120 Salmo 150
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

O título hebraico deste livro é Louvores (Tehilim), ou Hinos, visto


que um de seus rasgos principais é o louvor, embora esta palavra ocorra
no título de um só salmo (Sl_145). O título grego (na Versão dos
Setenta, feita 200 anos antes de Cristo) é Psalmoi, de onde vem nosso
vocábulo Salmos. Este corresponde ao hebraico mizmoi, designação que
ocorre no título de sessenta e cinco salmos, e que o siríaco, língua afim
do hebreu, usa como título de todo o livro. Significa, como o grego, ode
ou canção, cujo canto se acompanha com algum instrumento,
particularmente a harpa (Cf. 1Cr_16:4-8; 2Cr_5:12-13). Alguns salmos
são antepostos pelo hebraico shîr, uma canção. Paulo parece que alude a
todos estes termos em Ef_5:19, "cantando … em salmos, hinos, e
cânticos espirituais".
Títulos. — Mais de cem salmos levam títulos que dão uma ou mais
(e num caso, o Salmo 60, todas) das seguintes indicações: orientações
para o músico, nome do autor ou do instrumento, uso da música ou da
poesia, o tema ou ocasião. A autenticidade destas inscrições foi debatida
por alguns escritores. Dizem que os primeiros tradutores, como os
gregos e os siríacos, descuidaram a tradução, variando algumas e
alterando outras, e em vários casos, acrescentando títulos a salmos que
no hebraico não tinham nenhum. Também se alega que o tema de algum
salmo, dado no título, não concorda com seu conteúdo. Mas tais
tradutores também se afastaram da correta tradução de muitas passagens
da Bíblia, em cuja autenticidade todos concordam; e pode-se demonstrar,
com uma investigação mais acertada, que as inconsequências alegadas
não existem. A reconhecida antiguidade destes títulos, por outro lado, e
até sua obscuridade, são uma prova em seu favor, e tais prefácios de uma
composição concordam com os usos daquela época e daquelas partes do
mundo (cf. Is_38:9).
"Ao Músico Principal" — Este era o diretor da música (cf.
1Cr_15:21-22 com os Salmos 39 e 70). A preposição "a" anteposta ao
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 3
título significa pertencente a em seu caráter oficial. Este título se acha
em 53 salmos, e se anexa à oração do Habacuque (Cap. 3.) A mesma
preposição se antepõe ao nome do autor, e se traduz "de", como em "um
salmo de Davi", "de Asafe", excetuando a expressão: "os filhos de
Coré." Ali a tradução, "para os filhos de Coré," evidentemente é
inadequada, porque vai a indicação usual, "ao músico principal," e não se
sugere outro como autor. Para a aparente exceção desta última
advertência, veja-se mais adiante, e o título do Salmo 88. A explicação
de outras particularidades dos títulos se dará, conforme ocorrerem.
Os Autores — Este livro usualmente chama-se "Os Salmos de
Davi," sendo ele o único autor mencionado no N.T. (Lc_20:42), e
aparecendo seu nome em mais títulos que o de nenhum outro autor.
Além de quase a metade dos salmos onde assim aparece, se atribuem a
ele o segundo e o 95, em At_4:25 e Hb_4:7 respectivamente. Foi
provavelmente, o autor de outros muitos que aparecem sem nome. Davi
se esforçou muito por embelezar o culto do santuário. Entre os 288
levitas que ele assinalou para cantar e tocar os instrumentos musicais,
achamos menção dos "filhos de Coré" (1Cr_9:19), inclusive Hemã
(1Cr_6:33-38); também de Asafe (1Cr_39-44) e de Etã (1Cr_44-49).
Sem dúvida quis Deus dotar a estes homens com a inspiração de seu
Espírito, de modo que usassem aqueles talentos poéticos que suas
relações com a arte da música os teriam inspirado a cultivar, na produção
de composições parecidas com as de seu rei e patrão. A Asafe são
atribuídos doze salmos; aos filhos de Coré, onze, inclusive o 88, aquele
que se atribui também a Hemã, sendo este o único caso em que se
menciona o nome do "filho" (ou descendente); e a Etã, um. O nome de
Salomão aparece diante do Salmo 72 e 127; e o de Moisés antes do 90.
Serão discutidas as questões levantadas com relação ao autor em cada
caso.
O Conteúdo — Como o livro compõe-se de 150 composições
diferentes, não se presta a nenhuma análise lógica. Porquanto os judeus
os dividiram em cinco livros, porque cinco eram os livros de Moisés (1º.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 4
1-42; 2º. 43-72; 3º. 73-89; 4º. 90-106; 5º. 107-150), fizeram-se muitas
tentativas para descobrir, nesta divisão, algum valor crítico ou prático;
mas foram em vão. Vários são os esforços feitos para classificar os
salmos por temas. O de Angus, que se inclui mais abaixo, é talvez o mais
útil.
Contudo, os Salmos têm uma forma e caráter que lhes são
peculiares; com as diversidades de estilo e de conteúdo, todos se
assimilam a tal forma, e juntos constituem um sistema consequente de
verdade moral. São odes poéticas, e daquele paralelismo (cf. Introdução
aos Livros Poéticos) que distingue à poesia hebraica. São todos líricos,
ou seja, canções adaptadas a instrumentos musicais, e todos da lírica
religiosa, destinados como tais, para o uso do culto do santuário.
O rasgo distintivo dos Salmos é seu caráter devocional. Seja seu
conteúdo didático, histórico, profético ou prático, forma a base ou tema
da oração, da louvor, ou de ambas as coisas. Neles se inculcam as
doutrinas da teologia e os preceitos da moral. Desenvolvem-se a natureza
de Deus, seus atributos e perfeições, e as obras da criação, a providência,
e a graça. Nos conceitos mais sublime do verso mais exaltado, celebra-se
a gloriosa supremacia de Deus sobre as potestades do céu, terra e
inferno, e seu sábio e poderoso domínio de todas as operações materiais
e imateriais. Se manifesta a grande aliança de graça baseado na promessa
fundamental de um Redentor — sendo aquele e esta provisões da
ilimitada misericórdia de Deus, com relação às doutrinas da regeneração
pelo Espírito, o perdão dos pecados, o arrependimento para com Deus, e
a fé para com Jesus Cristo, enquanto que seus gloriosos resultados, que
abrangem a salvação dos homens "dos cabos da terra," são proclamados
em confidente oração profética e em louvor e gratidão. A história pessoal
dos autores e a de Davi especialmente em seus aspectos espirituais, é a
mesma do povo de Deus em geral. A biografia cristã é edificante só na
maneira em que a verdade é ilustrada na experiência, tal como a que
produzem a palavra e o Espírito de Deus. Ela pode ser fictícia quanto a
origem e de autenticidade duvidosa; mas nos Salmos a experiência dos
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 5
verdadeiramente piedosos está detalhada, sob a influência divina, e "em
palavras que o Espírito Santo" ensinou. Toda a vida interior de piedoso
fica revelada, e é aqui onde os cristãos de todas as idades têm as
tentações, conflitos, perplexidades, dúvidas, temores, os gemidos de
arrependimento, e as tristezas esmagadores de um lado, e de outro, a
alegria e a esperança da misericórdia clemente, a vitória sobre as
seduções dos falsos lisonjeadores e a libertação do poder de Satanás,
com os quais comparar seus próprios exercícios espirituais. Nos Salmos
também aparecem os frutos daquela soberana misericórdia que com tanta
frequência se busca em ofegante oração e tantas vezes se canta em
alegria enlevada, exibidos pela paciência na adversidade, pela
moderação na prosperidade, no zelo pela glória de Deus, no amor ao
homem, na justiça para o oprimido, no santo desdém do arrogante, na
magnanimidade para com os inimigos, na fidelidade para com os
amigos, na alegria pela prosperidade de Sião e na oração confiada por
seu engrandecimento e sua perpetuidade.
As recapitulações históricas dos Salmos são em extremo instrutivas.
A eleição dos patriarcas por Deus, os padecimentos dos israelitas no
Egito, seu êxodo, seus tentações a Deus, seus rebeliões e calamidades no
deserto, seu estabelecimento em Canaã, suas apostasias e reformas, tudo
provê ilustrações do governo providencial de Deus sobre seu povo,
individual e coletivamente, e tende a exaltar sua adorável graça e a
rebaixar o orgulho humano. Mas as promessas e profecias relacionadas
com estas recapitulações, e apresentadas em outras partes dos Salmos,
têm alcance muito mais amplo, e demonstram as relações do livro com o
grande tema da promessa e da profecia:
O Messias e seu Reino — Davi era o servo de Deus escolhido para
governar a seu povo, como a cabeça ao mesmo tempo do Estado e da
Igreja, o ascendente "segundo a carne," de seu adorável Filho e tipo dele
em suas relações oficiais, tanto no padecimento como no triunfo.
Geralmente, as provas de Davi à mãos dos ímpios, simbolizam as de
Cristo, e seus êxitos finais, os do reino de Cristo. Tipicamente, ele usa
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 6
linguagem para expressar seus sentimentos que só encontram seu sentido
pleno nos sentimentos de Cristo. Em tal sentido se cita e se aplica no
N.T. E, ademais, quanto à grande promessa (2 Samuel 7) feita a ele e a
sua semente, a que se faz frequente referência nos Salmos, Davi soube
pela revelação que, embora seu reino terrestre perecesse, seu reino
espiritual sempre perduraria no poder, na beneficência e na glória de
Cristo. Repetindo e amplificando tal promessa, Davi fala, não só como
tipo, mas sim "sendo profeta, e sabendo que Deus lhe tinha jurado com
um juramento que do fruto de seus lombos, quanto à carne, exaltaria o
Cristo sobre seu trono," ele "predisse os padecimentos de Cristo e a
glória que seguiria. Sua encarnação, sua humilhante tristeza, a
perseguição, e morte cruel, revelam-se nos clamores angustiantes do
oprimido desesperançado; e sua ressurreição, e ascensão, seu sacerdócio
eterno, sua dignidade real, seu ofício profético, sua recepção e repartição
dos dons do Espírito, a conversão das nações, o estabelecimento,
crescimento e perpetuidade da Igreja, a consumação das idades, e a bem-
aventurança dos justos que reconhecem a este Rei em Sião e a ruína dos
maus que o rejeitam, tudo se prediz na linguagem de segura confiança e
de alegria inefável."
Enquanto que estes grandes temas proporcionaram ao povo de Deus
uma teologia popular e um guia na experiência religiosa e na moral
cristã, revestidos na linguagem da devoção, deram uma liturgia inspirada
por meio da qual os piedosos de todos os credos e seitas, por quase três
mil anos, deram expressão a suas orações e louvores. Os judeus, antes da
vinda de Cristo, choraram a adversidade de Sião e celebraram suas
glórias futuras, nas palavras de seu antigo rei. Nosso Salvador, com seus
discípulos, entoou um destes hinos na noite em que foi traído; de um
deles tirou as palavras com que expressou a terrível angústia de sua
alma, e exaltou com as de outro salmo em seus lábios. Paulo e Silas no
calabouço, os primitivos cristãos nos lugares secretos de culto, ou as
ricas igrejas de tempo posterior e os fracos e esparramados rebanhos na
escuridão e o erro prevalecentes das Idades Medievais, alimentaram sua
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 7
fé e esquentaram seu amor com estes consoladores cânticos. Hoje em
dia, a través do culto cristão, em formas inumeráveis de versão, paráfrase
e imitação, por papistas e protestantes, prelados e presbiterianos
independentes, batistas, metodistas — por homens de todos as terras e de
todos os credos, em culto público e particular, ainda Deus é adorado nos
sentimentos expressos nestes Salmos veneráveis. Do tom de tristeza e
padecimento que enche as primeiras partes são levados entre alternados
conflitos e triunfos, entre melancólicas queixas e confiança nascente;
conforme nos aproximamos de sua terminação, os tons de tristeza vão
minguando, e os de louvor se ouvem mais fortes, até que, nas harmonias
enlevadas do último Salmo, o coro da terra se confunde com os aleluias
da multidão que ninguém pode contar, no santuário superior.
O arranjo de Angus ou de Bickersteth pode usar-se com proveito
como guia para achar um salmo de tema particular. Segue em forma algo
modificada:

1. Didáticos.
(1) Os bons e os maus: Salmos 1, 5, 7, 9-12, 14, 15, 17, 24, 25,
32, 34, 36, 37, 50, 52, 53, 58, 73, 75, 84, 91, 92, 94, 112, 121,
125, 127, 128, 133;
(2) a lei de Deus: Salmos 19, 119;
(3) a vaidade da vida humana: Salmos 39, 49, 90;
(4) o dever dos governantes: Salmos 82, 101.

2. Louvor.
(1) Pela bondade de Deus geralmente a Israel: Salmos 46, 48, 65,
66, 68, 76, 81, 85, 98, 105, 124, 126, 129, 135, 136, 149;
(2) Aos bons: Salmos 23, 34, 36, 91, 100, 103, 107, 117, 121,
145; 146;
(3) Misericórdias a indivíduos: Salmos 9, 18, 22, 30, 40, 75, 103,
108, 116, 118, 138, 144;
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 8
(4) Por seus atributos geralmente: Salmos 8, 19, 24, 29, 33, 47,
50, 65, 66, 76, 77, 93; 95-97; 99; 104; 111; 113-115, 134,
139, 147, 148, 150.

3. Devocional — expressivos de
(1) Arrependimento: Salmos 6, 25, 32, 38, 51, 102, 130, 143;
(2) Confiança na aflição: Salmos 3, 16, 27, 31, 54, 56, 57, 61, 62,
71, 86;
(3) Tristeza com esperança: Salmos 13, 22, 69, 77, 88;
(4) Profunda Aflição: Salmos 4, 5, 11, 28, 41, 55, 59, 64, 70, 109,
120, 140, 141, 143;
(5) Sentimentos pela Privação de Privilégios: Salmos 42, 43, 63,
84;
(6) Desejo de Socorro: Salmos 7, 17, 26, 35, 44, 60, 74, 79, 80,
83, 89, 94, 102, 129, 137;
(7) Intercessão: Salmos 20, 67, 122, 132, 144.

4. Históricos — Salmos 78, 105, 106.

5. Proféticos — Salmos 2, 16, 22, 40, 45, 68, 69, 72, 97, 110, 118.

Nota. — O compilador das citações que se seguem, omitiu toda


referência aos autores por crê-la um embaraço desnecessário para o
comentário. Fez uso das obras de Calvino, Scott, Poole, Ainsworth,
Cobbin, Geike, Vatablo J. H. Michaelis, Rosenmuller e Alexander. Com
os últimos dois nomeados tem uma dívida em particular pelas passagens
paralelas. Fez uso franco das opiniões expostas por tais autores, e não
pretende crédito por coisa alguma na obra salvo a concisão unida com a
plenitude da exposição. Qualquer pessoa que fizer a prova achará que é
muito mais fácil escrever um comentário longo que um breve.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 9
Salmo 1

O caráter e condição, e o destino presente e futuro, dos piedosos e


dos ímpios se descrevem e se contrastam, ensinando que a verdadeira
piedade é a fonte da felicidade final, e o pecado, a da miséria. Como tal é
o resumo de todo o livro, este Salmo, tenha sido posto assim de
propósito ou não, forma um prefácio muito próprio.
1. Bem-aventurado — lit., oh, a felicidade, exclamação de forte
emoção, como se resultasse da meditação no assunto. O uso do plural
pode denotar a plenitude e a variedade (2Cr_9:7).
conselho … caminho … roda — Com seus correspondentes
verbos, indicam as graduações da maldade, seguindo os princípios,
cultivando o companheirismo, e conformando-se permanentemente à
conduta dos ímpios, descritos pelos três termos, o último dos quais
expressa a mais descarada impiedade (cf. Sl_26:4-5; Jr_15:17).
2. A Lei — toda a palavra de Deus então escrita, especialmente os
livros de Moisés (cf. Sl_119:1, 55, 97, etc.)
3. como a árvore — (Jr_17:7-8.)
plantado — estabelecido, afirmado.
junto a — ou sobre.
correntes de águas — canais de irrigação.
prosperará — lit., fará prosperar, levará à perfeição. A base desta
condição e caráter dá-se no Sl_32:1.
4. não são assim — nem quanto à conduta nem à felicidade.
como a palha — que pelos modos orientais da debulha contra o
vento voa por completo
5. não prevalecerão — não serão absolvidos. Serão arrojados
dentre os bons (Mt_25:45-46).
6. conhece o caminho — os atende e defende (Sl_101:6; Pv_12:10;
Os_13:8).
caminho dos ímpios — todos seus planos acabarão em desengano
e ruína (Sl_37:13; Sl_146:8; Pv_4:19).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 10
Salmo 2

O número e o autor deste Salmo nos é dado em At_4:25 e At_13:33


respectivamente. Mesmo quando os eventos guerreiros do reino de Davi
podem ter sugerido o fundo imaginativo, as cenas pintadas e os temas
apresentados podem achar sua aplicação na história e no caráter de Jesus
Cristo, como testificam muito distintamente os escritores do N.T.
segundo as citações anteriores e Hb_1:5 e Hb_5:5. Num estilo
extremamente vigoroso e poético, o escritor, em “quatro estrofes de três
versos cada uma”, expõe a inveterada e furiosa, assim como vã
hostilidade dos homens contra Deus e seu ungido; a resolução de Deus
de levar a cabo seu propósito; tal propósito explicado mais plenamente
pelo Filho, ou seja, o estabelecimento do reino mediador e a destruição
dos que se opõem a Ele; e a bênção para todos os que recebem a este
poderoso e triunfante Rei.

1. Por que se enfurecem os gentios, etc. — Vendo em visão


profética, aos povos e nações como em tumultuosa assembleia,
bramando como o mar, com propósitos de resistir ao governo de Deus, o
escritor prorrompe numa exclamação em que estão mescladas a surpresa
pela loucura deles e a indignação por sua rebeldia.
os gentios — São nações em geral, não em contraposição aos
judeus.
os povos — ou lit., “povos”, ou raças de homens.
2. Os reis e os governantes conduzem a seus súditos.
se levantam — sentados, decididos.
conspiram — estão reunidos para deliberar; tempo presente em
outras versões.
seu Ungido — em hebraico, Messias; em grego, Cristo (Jo_1:41).
O unção, como emblema dos dons do Espírito Santo, conferia-se a
profetas (Is_61:1), a sacerdotes (Êx_30:30), e a reis (1Sm_10:1;
1Sm_16:13; 1Rs_1:39). De modo que este título é muito próprio para
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 11
aquele que tem todos estes ofícios, e era o que usavam geralmente os
judeus antes de sua vinda, para designá-lo (Dn_9:26). Enquanto que o
profeta contempla a oposição geral dos homens, a pinta aqui em seu
aspecto culminante como se vê no grande julgamento de Cristo. Pilatos e
Herodes, e os príncipes (Mt_27:1; Lc_23:1-25), juntos com o furioso
povo, estão claramente pintados.
3. Aqui se anunciam mais distintamente os propósitos rebeldes por
esta representação de sua manifestação tanto em palavras como em
ações.
laços … algemas — todas as restrições do governo.
4. Mediante uma figura, cujo atrevimento se permite só a um
escritor inspirado, relata-se a conduta e a linguagem de Deus com
relação a esta oposição.
Aquele que habita nos céus — ou está sentado, entronizado em
repousada dignidade (cf. Sl_29:10; Is_40:22).
se rirá (RC) — em supremo desdém; a vã ira deles provoca sua
hilaridade. Ele continua sendo o Senhor, lit., o Soberano, embora eles se
rebelem.
5. Então lhes falará — despertou sua justa indignação tanto como
seu desprezo. Para Deus, falar é agir, pois o que Ele resolve Ele faz
(Gn_1:3; Sl_33:9)
os confundirá — lhes infundirá o terror (Sl_83:15).
6. Aqui se declara seu propósito, em cuja execução envolve a
derrota deles.
porém— é a conjunção em sentido adversativo.
Eu ... constituí — ungi, ou firmemente coloquei, com alusão no
hebraico a “pôr uma imagem no molde.” O sentido não varia
materialmente neste ou naquele caso.
o meu Rei — ordenado por mim e para mim (Nm_27:18).
sobre o meu santo monte Sião —colina escolhida por Davi para a
morada da arca, e a sede da residência visível de Deus, como (1Rs_8:1)
também a de Davi, a cabeça da Igreja e a nação, e tipo de Cristo, era
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 12
chamada santa, e a própria Igreja veio a se chamar do mesmo modo
(Sl_9:11; Sl_51:18; Sl_99:2; Is_8:18; Is_18:7, etc.).
7. O rei, assim constituído, declara a lei fundamental de seu reino,
na manifestação de sua filiação, relação que envolve seu domínio
universal.
Eu hoje te gerei (TB) — como em 2Sm_7:14 (“ele será meu
Filho”), é um solene reconhecimento desta relação. A interpretação deste
texto no sentido de descrever a inauguração de Cristo como Rei
mediador em nenhuma maneira impugna a Eterna Filiação de sua
natureza divina. Em At_13:33, a citação de Paulo não denota uma
aplicação deste texto à ressurreição; porque “ressuscitar” aqui se usa no
sentido de At_3:22, etc., para expressar sua introdução ao mundo como
homem, não no da ressurreição, como em At_2:30; Rm_1:4, onde se faz
alusão à sua morte. Pela ressurreição, diz Paulo, foi declarado, quanto a
sua natureza divina, ser Filho de Deus, o que só ensina que aquele evento
manifestou uma verdade já existente. Um reconhecimento similar de sua
filiação apresenta-se em Hb_5:5 com estas palavras, e com outras em
Mt_3:17 e 17:5.
8. As esperanças dos rebeldes ficam assim defraudadas, e não só
isto; o reino ao qual se opõem está destinado a ser coextensivo com a
mesma terra.
as extremidades da terra — Sl_22:27, denota a universalidade.
9. Seus inimigos se submeterão a seu terrível poder (Jó_4:9;
2Ts_2:8), assim como seu povo se submeterá a sua graça (Sl_110:2-3).
vara de ferro — expressa a severidade (Ap_2:27).
vaso de oleiro — feito em pedaços, não pode ser remendado, o que
descreve a destruição total.
10-12. reis … juízes — pois os governantes em geral (Sl_148:11)
que foram os caudilhos da rebelião, deveriam ser exemplos da submissão
penitente, e pelo temor aos terríveis juízos, misturado com a confiança
em sua misericórdia, reconhecer.
12. Beijai — a autoridade do Filho.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 13
pereçais no caminho — isto é, repentinamente e sem comiseração.
dentro em pouco se lhe inflamará — ou seja, por um pouco de
tempo.
aqueles que nele confiam (RC) — ou, cf. a RA, os que nele se
refugiam (Sl_5:11). Embora os homens alimentem em seus corações a
oposição a Cristo, e a evidenciam em suas vidas. Sem confiança alguma,
sua ruína é inevitável (Hb_10:29), por outro lado, no favor dele sua
felicidade está igualmente assegurada.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 14
Salmo 3

Para a mencionada ocasião histórica, cf. 2 Samuel 15-17. Davi, em


meio de grande tribulação, com confiança filial, implora o socorro
divino, e em antecipação do alívio, oferece louvor.

1. SENHOR, como tem crescido o número — A extensão da


rebelião (2Sm_15:13) o surpreende e o entristece.
2. dizem de mim — ou seja, de minha alma; quer dizer de mim (cf.
Sl_25:3). Este uso de “alma” é muito comum; originou-se talvez por
considerar a alma como a parte principal do homem.
Não há ... salvação para ele — Socorro.
em Deus — que o abandonou. Esta é a recriminação mais amarga
para um homem piedoso, e expressa um espírito de triunfo maligno.
Selá (RC) — Este vocábulo é de significado muito escuro.
Provavelmente significa pausa, ou silêncio, tanto da música como do
canto, sugerindo algo enfático no sentimento (cf. Sl_9:16).
3. Porém — lit., “e”, adversativa (Cf. Sl_2:6). Repudia a
recriminação, protestando sua confiança contínua.
escudo — figura favorita e muito frequente da proteção.
minha glória — a fonte de minha glória.
exaltas a minha cabeça — me eleva de meu desespero.
4. clamo … me responde — Tal foi minha experiência; respondeu-
me misericordiosamente.
do seu santo monte — desde sua santa colina, Sião (Sl_2:6), sua
visível residência terrestre.
5 me sustenta — lit., “sustentar-me-á”, como se fosse sua
linguagem ou seu pensamento no momento de deitar-se, e a razão de sua
quietude.
6. milhares do povo — ou seja, miríades, qualquer número muito
grande (cf. 2Sm_16:18)
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 15
7. Levanta-te, SENHOR — figurativamente se representa a Deus
como dormindo, em expressão de sua aparente indiferença (2Sm_7:6).
nos queixos — como se fossem feras dispostas a devorar
(2Sm_27:2); ou ferir na bochecha (1Rs_22:24) denota violência e
insulto.
quebras — Deus interveio em seu socorro tirando ao inimigo todo
o poder de danificar.
8. Tributo de louvor a um Deus libertador, cujo favor é benefício
eficiente.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 16
Salmo 4

Sobre Neginote, ou seja, em instrumentos de corda, a classe de


acompanhamento musical. Para o resto do título, cf. a Introdução. A
ocasião histórica provavelmente foi a mesma do anterior [Veja-se
Sl_3:1, Título]. O escritor, ao pedir socorro de novo, adverte a seus
inimigos a vaidade de atacar ao servo de Deus, exorta-lhes ao
arrependimento, e declara sua confiança e sua paz no favor de Deus.
1. Responde-me — Lit., “ouve-me”, mas cf. o Sl_3:4.
Deus da minha justiça — ou seja, meu justo Deus (como “meu
santo monte”, Sl_2:6), que operará para comigo sobre princípios justos.
me tens aliviado — expressa o alívio repartido em contraste com a
aflição indicada pela palavra “angústia”. O favor anterior é a base da
esperança para o futuro.
2. Ó homens — Homens de renome e proeminência (cf. 2Cr_21:9).
ornareis a minha glória — minha dignidade real.
em vexame — em ignomínia ou recriminação.
a vaidade — uma empresa néscia e vã (2Cr_2:1).
3. o piedoso — um objeto tanto como um sujeito do favor divino
(cf. Sl_105:14, 15).
4. Irai-vos e não pequei — (Ef_4:26) da versão dos Setenta “irai-
vos”. Ambas as frases regidas pelo negativo.
5. Não só devem arrepender-se, mas também manifestá-lo também
com sacrifícios de justiça, isto é, com sacrifícios justos.
6, 7. O contraste da verdadeira com a vã confiança.
a luz do teu rosto — figura que significa favor (Nm_6:26; Sl_44:3;
Sl_81:16).
fartura — colheita abundante que dá grande alegria (Is_9:3).
cereal … vinho — lit., novo grão e mosto.
8. Em paz me deito — em plena confiança e doce repouso (Is_3:5).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Salmo 5

Sobre o Nehiloth — em flautas ou instrumentos de vento. O escritor


roga ser escutado tomando como o respeito que tem Deus pelo povo de
sua aliança e pelos verdadeiros adoradores, em contraste com seu
aborrecimento dos maus. Pede a direção divina, por causa de seus
vigilantes, malignos e enganosos inimigos, e a destruição dos mesmos,
porquanto são também inimigos de Deus. Ao mesmo tempo expressa sua
confiança em que Deus prestará socorro a seu povo.

1. meu gemido — lamentação daquela forma meio falada que


motivam os sentimentos profundos, gemidos, como em Rm_8:26-27.
2. Escuta — Inclina o ouvido (Rm_10:17, cf. Sl_61:2) – presta
muita atenção.
voz que clama — em demanda de socorro (Sl_61:2; Jr_8:19).
Rei meu — interessado assim pela relação pactual em minha causa.
3. te apresento — lit., porei em ordem minha oração, como se
apresentava cada dia o pão da proposição (Êx_40:23).
4. Pois, etc. — Deus só considera os adoradores sinceros.
contigo— sob Tua proteção.
5. arrogantes — vangloriosos e insolentes.
iniquidade — especialmente tal que denota uma negação, ou um
defeito, quer dizer, de princípio moral.
6. sanguinário — o homicida.
7. porém eu — conjunção adversativa, como no Sl_2:6.
tua casa — (1Cr_9:23), o tabernáculo.
teu santo Templo — lit., palácio aplicado à residência de Deus, o
lugar santíssimo (1Sm_3:3; 2Sm_22:7); a parte interior do tabernáculo.
diante do — não dentro; só o sumo sacerdote tinha permissão de
entrar.
8. adversários — lit., os que me espreitam (Sl_27:11), portanto a
necessidade especial de direção.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 18
na tua justiça — atributo que expressa a fidelidade nas promessas
tanto como nas admoestações.
endireita … o teu caminho — isto é, torna claro o caminho da
providência.
9. Os maus não são dignos de confiança, porque por natureza estão
cheios de maldades de toda sorte (Rm_8:7).
sepulcro — morada da corrupção que emite a podridão moral.
lisonjeiam— ou seja, abrandam.
a língua — fala engañosamente.
10. Declara-os culpados — condena-os à destruição, porque são
culpados.
11. amam o teu nome — suas manifestas perfeições (Sl_9:10).
12. abençoas — beneplácito, aludindo ao favor repartido à oferta
aceitável e ao adorador (Lv_7:18; Lv_19:7).
escudo — (cf. o Sl_3:3).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 19
Salmo 6

Em Neginot (cf. o Salmo 4) sobre Seminith — o oitavo —


instrumento para a oitava nota — ou mais provavelmente, o baixo, pois
se contrasta com o Alamote (o soprano, Salmo 46) em 1 Crón_15:20, 21.
Em profunda aflição o salmista implora a misericórdia de Deus para o
alívio do castigo, que de outro modo deve destruí-lo e incapacitá-lo para
o serviço de Deus. Assegurado da resposta favorável, reprova com
desdém a seus inimigos.

1. O salmista reconhece sua culpabilidade ao pedir alívio do


castigo.
2. debilitado — como planta arrancada. (Is_24:4).
meus ossos — A própria ossatura.
estão abalados — (Sl_2:5) — sacudidos pelo temor.
3. até quando? — seguirá isto (Sl_79:5)?
mas tu — a frase incompleta expressiva de forte emoção.
4. Volta-te — em meu socorro; ou, retorna, havendo já voltado o
rosto.
por tua graça — como evidência da mesma.
5. (cf. Sl_115:17-18; Is_38:18.) Não há incredulidade alguma
quanto ao estado futuro. O contraste faz-se entre a cena da vida e a
tumba ou, sheol, o mundo invisível dos mortos.
te dará louvor — em gratidão, por suas misericórdias—
6. Com uma forte figura se pinta a abundância assim como a
intensidade da tristeza.
7. amortecidos — desgastados, em expressão de desfalecimento
geral (Sl_13:3; Sl_38:10).
envelhecem — debilitam, escurecem.
de mágoa — tristeza mesclada com a indignação.
8, 9. Seguro de que Deus o ouve, repentinamente desafia a seus
inimigos em palavras que significam que já não os teme;
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 20
10. e que sabe que eles por sua vez serão desapontados e
aterrorizados ou confundidos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 21
Salmo 7

Sigaiom — canção triste ou elegia. Obscuro em detalhes, este título


parece sugerir que a ocasião do salmo foi algum evento na perseguição
de Davi por Saul. Pede o alívio, porque é inocente e porque Deus será
glorificado em sua reivindicação. Passa assim ao louvor do justo governo
de Deus, ao defender o justo e castigar o mau, cujos desígnios maliciosos
causam sua ruína, e confiante no socorro de Deus, termina com regozijo.

1, 2. Muitos inimigos o atacam, mas destaca-se um, proeminente,


que se compara à fera que rasga a presa (cf. 1Sm_20:1; 1Sm_23:23;
1Sm_26:19).
3. se eu fiz o de que me culpam — isto é, o crime de que se o
acusam nas palavras “do cuxita” (cf. 1Sm_24:9).
4. Se tiver prejudicado a meu amigo.
eu, que poupei — Isto lhe dá bom sentido, mas interrompe o curso
do pensamento, portanto se propõe que se traduza “se tiver despojado a
meu inimigo” — em ambos os casos. (cf. 1Sm_24:4-17; 1Sm_31:8,
1Sm_31:11).
5. Tal é a consequência, se tal haja sido a minha conduta.
a minha glória — (cf. o Sl_3:3; Sl_4:2) – minha dignidade pessoal
e oficial.
6. Deus está comprometido, como se se tivesse descuidado até
então aquém dele (Sl_3:7; Sl_9:18).
indignação — a mais violenta, qual o transbordamento de um rio.
o juízo que designaste — juízo pronunciado, uma decisão justa.
7. Reúnam-se — como em demanda de justiça.
ao redor de ti — a tomar o assento de juiz, para ser honrado deles
como Juiz justo.
8. Embora não pretenda a inocência em geral, pode fazê-lo
confiantemente neste caso, e ao pedir um juízo ao Juiz de toda a terra,
pede com efeito a justificação.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 22
9. a mente e o coração — os afetos e motivos dos homens, ou o
assento deles (cf. o Sl_16:7; Sl_26:2); como nós dizemos o coração ou o
peito.
10. escudo — (Sl_5:12)
11. emite sentença (RV) — como no Sl_7:8.
contra o ímpio — não está no texto, mas está implícito, pois só
ficam os ímpios como objetos de sua ira;
12, 13. e aqui fica explícito na construção, “Se o homem não se
converter,” implícito o ímpio, em contraste com o justo, ambos em
sentido genérico. As figuras militares são de sentido óbvio.
setas — Alguns traduzem, “faz suas setas para incêndio,” o que
quadraria bem com o sítio de uma cidade, não para o ataque a uma
pessoa ou companhia em campo raso.
14. A primeira frase expressa a ideia geral de que os ímpios
trabalham para fazer o mal; as demais enchem plenamente a figura.
15, 16. 1Sm_18:17; 1Sm_31:2 ilustram a proposição, esteja ou não
aludida. Estes versículos são interpretativos do Sl_7:14, e demonstram
como as mutretas dos maus terminam em decepções, defraudando suas
esperanças.
17. a sua justiça — evidenciada assim na defesa de seu servo e no
castigo dos ímpios.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 23
Salmo 8

Sobre Gitite — provavelmente significa que se dirigia a execução


musical segundo uma toada com este nome, que, derivado de Gath,
lagar, denota uma música de caráter alegre, para a festa da colheita de
uvas. Todos aqueles salmos que levam anteposto este termo [Sl_8:1;
Sl_81:1; Sl_84:1], são de tal caráter. O salmista dá livre expressão à sua
admiração pelas manifestas perfeições de Deus, celebrando sua
providência condescendente e providente a favor do homem, evidenciada
pela posição da raça, na criação original, dando-lhe o domínio sobre as
obras de Suas mãos.

1. o teu nome — suas perfeições (Sl_5:11; 7:17).


expuseste — lit., talvez “a qual glória puseste” para fazê-la mais
conspícua, como se a terra fosse teatro muito pequeno para sua exibição.
2. Tão manifestas são as perfeições de Deus que por meio de
instrumentos muito fracos ele expõe plenamente seu louvor. As crianças
não são só uma evidência maravilhosa do poder e arte de Deus, em sua
constituição física, seus instintos, e seu anterior desenvolvimento
intelectual, mas também em sua admiração espontânea das obras de
Deus, pelo que envergonham.
para fazeres emudecer — ou calam os que injuriam e litigam
contra Deus. Exemplo especial deste texto é dado em Mt_21:16, quando
nosso Salvador fez calar a seus contrários citando estas mesmas
palavras; pois as glórias de que Deus investiu a seu Filho encarnado, até
em sua humilhação, constituem uma manifestação maravilhosa das
perfeições de sua sabedoria, amor e poder. À vista do alcance do Sl_8:4-
8 (veja-se abaixo), esta cita do Senhor pode ter-se por uma exposição do
caráter profético das palavras.
crianças de peito — entre os hebreus eram provavelmente de idade
suficiente para poder falar (cf. 1Sm_1:22-24; Mc_7:27).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 24
suscitaste — ou aperfeiçoaste, palavra que ocorre em Mt_21:16, e
segundo a versão dos Setenta tem o mesmo sentido.
força — na citação no N.T., ocorre louvor, a consequência ou
efeito em lugar da causa (cf. Sl_118:14).
o vingador — como no Sl_44:16; o desejoso de vingar-se, disposto
a brigar, e assim apto para conspirar contra o governo de Deus.
3, 4. Esta alusão à magnificência dos visíveis céus, apresenta-se
para expressar a condescendência de Deus, quem, não obstante ser o
poderoso Criador destes gloriosos mundos de luz, faz do homem objeto
de sua consideração e recebido de favores.
4. homem — lit., o fraco homem, alusão a sua fraqueza essencial.
filho do homem — só varia a forma do discurso.
visites — com favor (Sl_65:10). Segue a ilustração deste favor.
5-8. Deus tem fez o homem um pouco menor que os anjos [RC] em
dignidade, e o coroou com o império do mundo.
de glória e de honra — são atributos da dignidade real (Sl_21:5;
Sl_45:3). A posição atribuída ao homem é a descrita (Gn_1:26-28) como
pertencente a Adão, em sua condição original, correspondendo os termos
usados para detalhar os objetos dominados pelo homem, aos lá
empregados. Num sentido modificado, em seu atual estado de caído, o
homem ainda tem algum resíduo deste domínio original. É muito
evidente, entretanto, pelas exposições inspiradas do apóstolo (Hb_2:6-8;
1Co_15:27-28) que a linguagem aqui empregada acha seu cumprimento
só na glorificação final da natureza humana de Cristo. Não há limite a
“todas as coisas”, excetuando-se somente a Deus, quem “sujeita todas as
coisas.” O homem, na pessoa e destino glorioso de Jesus de Nazaré, o
segundo Adão, a cabeça e representativo da raça, será restaurado, não só
a sua posição original, mas também exaltado muito acima dela. “O
último inimigo, a morte,” por temor ao qual o homem, em sua condição
atual, está “por toda a vida sujeito à escravidão,” [Hb_2:15] “será
destruído” [1Co_15:26]. Então todas as coisas ficarão postas debaixo de
seus pés, “principados e poderes ficarão sujeitos a ele” [1Pe_3:22]. Esta
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 25
interpretação, longe de ser inaplicável a esta passagem, é mais
consequente que qualquer outra; porque não se pode conceber que se
reparta ao homem maior honra que a de ser assim exaltado na pessoa e
destino de Jesus de Nazaré. Ao mesmo tempo, em nenhuma outra de
suas gloriosas manifestações declarou Deus mais notavelmente aqueles
atributos que distinguem o Seu nome que no plano da redenção, do que a
atual economia forma rasgo tão importante e essencial. A linguagem,
que descreve a relação atual do homem com as obras da mão de Deus,
em seu valor genérico, pode considerar-se como típico, permitindo-se
assim não só a aplicação usual, mas também este sentido superior que
lhe deram os escritores do N.T.
9. Corretamente, o salmista termina esta breve mas sublime canção
de louvor com os termos de admiração com que a abriu.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Salmo 9

Sobre Muthlabben, ou da maneira segundo “a morte do Filho,” o


título de algum canto conhecido, com cuja melodia devia-se cantar este
salmo. Este modo de chamar uma canção por alguma palavra ou palavras
proeminentes da mesma, é ainda usual (cf. Sl_22:1). O salmista louva a
Deus pela libertação de seus inimigos, e celebra o governo divino, pela
proteção dada ao povo de Deus e o castigo dos ímpios. Tomando assim
coragem, pede outras ocasiões para contar as graças de Deus; e confiado-
nos contínuos juízos sobre os maus e na reivindicação dos oprimidos,
implora uma manifestação imediata e eficiente da soberania divina.

1. A gratidão do coração tem que ser expressa.


3-5. ao retrocederem — é só o resultado do poder de Deus. Deus,
Juiz justo (Sl_7:11), vindica a Seu povo. Reprova tanto com os atos
como com as palavras (Sl_6:1; Sl_18:15), e tão eficazmente, que destrói
as nações tanto como as pessoas.
6. Lit., Quanto ao inimigo, acabadas ficam seus ruínas para
sempre, Tu (Deus) destruíste … (1Sm_15:3, 1Sm_15:7; 1Sm_27:8-9).
Os ímpios estão totalmente confundidos. Seus ruínas nunca serão
reparadas.
7, 8. Contrasta-se a eterna possessão por Deus de um trono de
justiça, com a destruição dos ímpios.
9, 10. De modo que os oprimidos, e todos os que O conhecem
(1Sm_5:3; 1Sm_7:1) acham nEle seguro refúgio.
11. (Cf. Sl_2:6; e Sl_3:4).
12. o sangue — isto é, homicídios (Sl_5:6), inclusive toda a
opressão a seu povo.
aquele que requer — (cf. Gn_9:5). Vingará a causa deles.
13. portas — ou regiões.
da morte — as portas, ou a entrada, diz-se pelos limites.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 27
14. às portas ... de Sião — o cerco da cidade (cf. o Sl_48:12;
Is_23:12), ou a igreja, contrastada nesta frase com a da morte, leva a
ideia da exaltação assim como da libertação. Os assinalados favores
devem nos levar a render assinaladas ações de graças públicas.
15, 16. Os resultados impensados das artimanhas dos ímpios lhes
comprovam que são intervenção de Deus, especialmente quando tais
resultados causam a destruição dos próprios ímpios.
16. Higaiom (TB) — significa meditação, e combinada com Selá,
parece indicar uma pausa de solenidade e ênfase incomuns (cf. Sl_3:2).
Embora ocorra o vocábulo Selá 73 vezes, só aqui se encontra com o
Higaiom. Na explicação aqui dada da retribuição sobre os ímpios como
exemplo da sapiente e santa intervenção de Deus, convém que façamos
pausa com adoração, admiração e fé.
17. serão lançados — ou se tornarão, em derrota sob a vingança de
Deus, e corridos por ele ao extremo da destruição, até o próprio inferno.
Os que se esquecem de Deus são tidos por depravados e abertamente
profanos.
18. (cf. Sl_13:1-6.)
o necessitado — privado de alguma coisa; portanto, miserável.
a esperança dos aflitos — os mansos, humildes, fitos assim pela
aflição.
19. Levanta-te — (cf. Sl_4:7.)
não prevaleça — (Sl_8:4.)
julgadas — e, é óbvio, condenadas.
20. Mediante a sujeição efetiva deles, faça com que reconheçam sua
natureza fraca (Sl_8:4), e os detenha de toda arrogância e futura rebelião.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 28
Salmo 10

O salmista lamenta a aparente despreocupação de Deus por suas


aflições, ofendidas pela triunfante malícia, blasfêmia, orgulho, dolo, e
profanação dos ímpios. Confia na justa e acertada providência de Deus
para a destruição deles e a defesa dos necessitados.

1. Estes são, é óbvio, termos figurativos (cf. Sl_7:6; Sl_13:1, etc.)


te escondes — Supre “seus olhos” ou “cara”.
2. Lit., Na arrogância dos maus (os pobres ou humildes, Sl_10:17;
Sl_12:5) serão tomados nos artifícios que (os arrogantes) idearam.
3. se gloria — ou seja, o êxito de sua baixeza.
maldiz o SENHOR — quer dizer, o ímpio bendiz o ambicioso e
maldiz o Senhor.
4. O rosto expressa a hipocrisia, cujo fruto é o ateísmo prático
(Sl_14:1).
5, 6. Tal é a confiança do ímpio na permanência de sua má carreira,
que desconhece o governo providencial de Deus (invisível, porque não
quer olhar, Is_26:11), escarnece de seus inimigos, e se gaba de sua
perpétua liberdade do mal.
7-10. Depois da maldade e do engano (Is_140:3) dos tais, seguem
atos de artimanha, fraude e violência combinadas. Pobres, em
Sl_10:8,10,14, representa um vocábulo peculiar a este Salmo, que
significa triste ou abatido; no Sl_10:9, como de costume, a palavra
significa o piedoso ou manso sofrido.
8. seus olhos — vigia com os olhos entreabertos, aparentando não
ver.
espreitam — como o leão, agacha-se o mais possível para poder
dar o salto maior.
10. lhe caem — deixa-se a figura do leão. Lit., “para que caiam …”
por seus fortes, seus cúmplices do mal.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 29
11. Como acima, tal conduta expressa a incredulidade ou
desconhecimento do governo de Deus.
12. (Cf. o Sl_9:19 e o Sl_3:7.)
Levanta-te — exerce Teu poder.
pobres — humildes, como no Sl_10:17.
13, 14. É fútil pensar que Deus fará caso omisso do pecado, por
longânimo que seja; pois Ele esquadrinha e vê todas as maldades, que
cairão sob o Seu castigo providencial (sua mão).
14. trabalho … dor — provocação e irritação ao aflito (Sl_6:7;
Sl_7:14).
15. braço — poder.
até nada mais achares — Longe de dissimulá-los (Sl_10:11,
Sl_10:13), Deus destruirá totalmente o ímpio e os seus atos (Sl_9:5-6;
Sl_34:16; Sl_37:36).
16-18. Deus reina. Os ímpios, embora por um tempo prosperem
serão cortados. Ouve, e confirma o coração de seu povo sofrido
(Sl_112:7), executa justiça a favor do fraco, e reprime o orgulho e a
violência dos arrogantes (Sl_9:16).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 30
Salmo 11

Sobre o título cf. a Introdução. Referindo-se a algum evento de sua


vida, como em 1Sm_23:13, o salmista proclama sua confiança em Deus,
quando lhe intima que fuja de seus ferozes perseguidores, os que lhe
inutilizaram todos os meios de escapamento. A base de sua confiança é o
supremo domínio de Deus, seu cuidado de seu povo, seu ódio aos ímpios
e os juízos que lhes tem reservados, e seu amor à justiça e aos justos.

1. à minha alma — quer dizer, a mim (1Sm_3:2).


Foge — Lit., fujam; quer dizer, ele e seus companheiros.
como pássaro, para o teu monte — Como aves, têm segurança só
na fuga (cf. 1Sm_26:20; Lm_3:52).
2. às ocultas — traiçoeiramente.
3. Lit., Os fundamentos (da lei e ordem) serão destruídos. O que
tem feito o justo (para mantê-los)? Todos os seus esforços fracassaram.
4. templo … céus — a conexão parece indicar a residência celestial
de Deus: o termo empregado é sugerido pelo lugar de sua visível
residência terrestre (Sl_2:6; Sl_3:4; Sl_5:7). De modo que Deus
esquadrinha os homens de perto.
5. As aflições dos justos resultam em sua justificação, em contraste
com o ódio de Deus aos ímpios.
6. O castigo dos mesmos se descreve em figuras vivas que
expressam a completa destruição repentina e terrível (Gn_19:24;
Jó_18:15; Sl_7:15; Sl_9:15).
cálice — é figura comum do favor de Deus, como também de sua
ira (Sl_16:5; Sl_23:5; Mt_20:22-23)
7. a face — de Deus: Lit., seus rostos, o uso do plural aplicado a
Deus, como em Gn_1:26; Gn_3:22; Gn_11:7; Is_6:8). significando a
plenitude de suas perfeições, ou mais provavelmente originando na
referência à trindade de pessoas. Rostos usa-se como olhos (Sl_11:4),
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 31
para expressar aqui a complacência de Deus para com os justos (cf.
Sl_34:15-16).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 32
Salmo 12

Sobre o título, cf. o Salmo 6. O salmista lamenta a diminuição dos


justos. O orgulho e o dolo dos iníquos provocam a ira de Deus, cuja
promessa de vingar a causa dos piedosos se verificará embora seja no
meio da iniquidade prevalecente.

1. homens piedosos — Lit., a fidelidade (Sl_31:23).


2. A falta da qual se ilustra com a preponderância do engano e da
instabilidade.
3, 4. A jactância (Dn_7:25) é, como a adulação, uma espécie de
mentira.
lábios … língua — por pessoas.
5. O escritor manifesta sua confiança descrevendo as ações de Deus
(cf. Sl_9:19; Sl_10:12), as quais têm por fim salvar os pobres do
escárnio dos ímpios (Sl_10:5).
6. As palavras — lit., os ditos (Sl_12:5).
sete vezes — completamente (Dn_3:19).
8. Os maus rodeiam sem ser incomodados, enquanto se louva a
baixeza e aos vis.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 33
Salmo 13

Sobre o título, cf. a Introdução. O salmista, lamentando a ausência


de Deus e o triunfo de seus inimigos, pede alívio antes que seja
totalmente destruído, e recebe alento para crer que sua confiança não
será em vão.

1. As formas de expressão e figuras aqui usadas são frequentes (cf.


Sl_9:12, Sl_9:18; Sl_10:11, 12.)
Até quando? — Deve ser para sempre?
2. Os conselhos e os planos de seu coração não oferecem alívio.
3. Ilumina-me os olhos — Obscurecidos e debilitados, o que dá a
entender a morte próxima (cf. 1Sm_14:27-29; Sl_6:7; Sl_38:10).
4. não se regozijem — Melhor, não se alegrem, como celebrando
triunfo,
vindo eu a vacilar — seja movido, arrojado de uma posição firme
(Sl_10:6).
5, 6. À confiança segue o regozijo pela libertação que Deus efetua
e, em lugar de seus inimigos, é ele quem pode entoar cântico de triunfo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 34
Salmo 14

Descreve-se o ateísmo prático e a depravação total e universal dos


ímpios, assim como o ódio que estes têm aos bons. Contudo, como eles
temem os juízos de Deus quando vier a seu povo, o salmista pede o
poder libertador de Deus.

1. Os pecadores sãos denominados insensatos, porque pensam e


agem contrariamente à razão (Gn_34:7; Js_7:15; Sl_39:8; Sl_74:18,
Sl_74:22).
no seu coração — em seu íntimo (Gn_6:12).
2. olha — com sincero desejo de saber.
quem entenda — em contraste com o insensato.
3. se corromperam — se têm estragado, azedado (Jó_15:16;
Rm_3:12).
4-6. A conduta deles demonstra a indiferença, em vez da ignorância
do divino; porque quando ele aparece em juízo, toma grande temor.
devoram o meu povo — expressa a ferocidade dos ímpios
(Pv_30:14; Hc_3:14); invocam significa adoração.
7. cativeiro (TB) — denota qualquer calamidade grande.
Sião — a morada de Deus, de onde revelava seus propósitos de
misericórdia, como o faz agora mediante a Igreja (cf. Sl_3:4; Sl_20:2), a
qual ele dirige, e todas as coisas, para o bem de seu povo (Ef_1:22).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Salmo 15

Os que são dignos da comunhão com Deus podem ser conhecidos


por sua conformação à lei de Deus, o que se ilustra em várias
particularidades importantes.

1. habitará — peregrinará (cf. Sl_5:4) onde está sob a proteção de


Deus, assim como em comunhão (Sl_23:6; Sl_27:4, Sl_27:6).
tabernáculo — sede da arca (2Sm_6:17), símbolo da presença de
Deus.
monte santo — (Sl_2:6).
2. que anda — (cf. Sl_1:1)
em integridade — de uma maneira completa, quanto a toda fase da
conduta (Gn_17:1), não quanto ao grau.
justiça — o que é justo.
em seu coração — com sinceridade (Pv_23:7.).
3. O que nem calunia, nem propaga calúnia.
4. O amor e o menosprezo se graduam com relação a Deus.
o que jura com dano próprio — cumpre sua palavra, mesmo
quando sofre por isso (cf. Lv_5:4).
5. (Cf. Lv_25:37; Dt_23:19-20).
usura — se deriva do verbo que significa morder. É ilícito todo
lucro feito pela perda injusta de outros.
aceita suborno — Se não houvesse suborno, o inocente não seria
condenado (cf. Êx_23:8; Dt_16:19). O suborno de todo tipo fica
denunciado.
Quem deste modo procede — Os tais são recebidos na presença e
favor de Deus e nunca escorregarão (Sl_10:6; Sl_13:5).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 36
Salmo 16

Michtam, ou mudando uma letra Michtab — um escrito, tal como


um poema ou canção (cf. Is_38:9). Tal mudança da letra m pela b não é
rara. A posição deste vocábulo com relação ao nome do autor, sendo a
mesma que está acostumado a ocupar algum termo, tal como salmo ou
cântico, em expressão do estilo ou a composição, favorece esta opinião,
embora não sabemos por que este e os Salmos 56-60 devem chamar-se
especialmente um escrito. Um (Salmo) de ouro, ou um comemorativo,
são explicações que se propõem; mas, aplicáveis ou não aqui, não
parecem adotáveis aos outros salmos onde ocorre o vocábulo. Segundo
Pedro (At_2:25) e Paulo (At_13:35), este Salmo se relaciona com Cristo,
e expressa os sentimentos de Sua natureza humana, em vista, de seus
padecimentos e sua vitória sobre a morte, inclusive sua subsequente
exaltação à mão direita de Deus. Tal é a exposição dos melhores
intérpretes cristãos primitivos.
Alguns modernos têm sustentado que o Salmo se relaciona
exclusivamente com Davi; mas este parecer fica expressamente
contradito pelos apóstolos; outros opinam que a linguagem do Salmo é
aplicável a Davi como tipo de Cristo, que merece o sentido superior que
se lhe dá no N.T. Mas então, a linguagem do versículo 10 em nenhum
sentido pode se aplicar a Davi, porque “ele viu a corrupção.” Outros
ainda dizem que a primeira parte refere-se a Davi, e a segunda, a Cristo;
mas é evidente que não se indica nenhuma mudança no sujeito do Salmo.
Ao contrário, a pessoa que pede socorro a Deus é a mesma que se alegra
por tê-lo recebido. Ao fazer referir-se todo o Salmo a Cristo, entretanto,
de maneira nenhuma se nega que muito de sua linguagem é expressivo
dos sentimentos de seu povo, até, quanto em sua humilde medida tem o
sentir da confiança em Deus expresso por Cristo, sua cabeça e
representante. Tal uso na linguagem dele, achado em sua última oração
(Jo_17:1-26), e até a que usou no Getsêmani, sob modificações
similares, é igualmente próprio. A razão desta referência do Salmo a
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 37
Cristo, aparecerá em seu alcance e na interpretação. À vista dos
padecimentos que O esperavam, o Salvador, com aquele terror instintivo
à morte manifestado no Getsêmani, clama a Deus que O preserve;
declara seu deleite na santidade e seu ódio aos ímpios e à impiedade; e
pela “alegria que foi proposto, desprezando a vergonha” [Hb_12:2],
anima-se a si mesmo; contemplando as glórias da herança que lhe está
atribuída. Deste modo até a morte e a tumba perdem seus terrores, na
segurança da vitória por alcançar-se e da glória que seguirá” [1Pe_1:11]

1. Guarda-me — vigia meus interesses.


em ti me refugio — como quem busca refugio na presença do
perigo.
2. A minha alma (RC) — palavras tácitas; expressas em casos
similares (Sl_42:5, Sl_42:11).
Senhor; outro bem não possuo— Este texto obscuro se explica em
várias maneiras. Há duas interpretações que vêm bem ao contexto. Outro
bem ou merecimento não está por causa de Ti, isto é, não é para teu
proveito. Logo segue o contraste do v. 3 (mas sim), com relação ou para
os santos, etc., isto é, alcança até eles. Ou, outro bem (ou felicidade) não
está fora de Ti — isto é, não tenho outra fonte de felicidade senão em Ti.
Logo, “aos santos, etc.” significa que o mesmo privilégio de alcançar a
felicidade em Deus somente, é para eles também. A primeira explicação
concorda melhor com o caráter messiânico do salmo, embora a outra não
é inconsequente com tal sentido.
3. santos — ou pessoas consagradas a Deus; separadas de outras
para o serviço de Deus.
na terra — quer dizer, a Palestina — lar do povo eleito de Deus—
figura da Igreja.
notáveis — os nobres, distinguidos pela excelência moral.
4. Expressa seu ódio aos que buscam outras fontes de felicidade ou
objetos de culto, e caracterizando seus ritos como libações de sangue,
tem-nos por idólatras. O vocábulo para dores alguns o traduzem como
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 38
ídolos; há um parônimo que significa ídolos, mas não é o mesmo. Ao
escolher tal termo, pode haver uma alusão, pelo autor, às dores, ou
tristezas, produzidos pelas práticas idolátricas.
5-7. Deus é o bem por excelência, e supre todas as necessidades
(Dt_10:9).
porção … meu cálice — pode ser que aluda ao plano cotidiano
como também à herança de Levi (Dt_18:1-2).
és o arrimo — ou sacas (presente) minha sorte, a aumenta. A frase
que segue amplia ainda mais a ideia.
7. me aconselha — cuidou de mim (pretérito).
o meu coração — o assento suposto da emoção e do pensamento
(Sl_7:9; Pv_26:2).
me ensina — ou incita a atos de louvor (Is_53:11-12; Hb_12:2).
8. Com a presença e ajuda de Deus, tem certeza da segurança
(Sl_10:6; Sl_15:5; Jo_12:27-28; Hb_5:7-8).
9. o meu espírito exulta — como o coração (Hb_7:5), por pessoa
em si. A referência em At_2:26 segue a LXX, desfrutou-se minha
língua, o instrumento do louvor, glória, a Deus.
carne (TB) — se for entendido em contraste com a alma
(Sl_16:10), pode significar o corpo [RA]; se não, a pessoa completa (cf.
Sl_63:1; Sl_84:2).
10. alma — Este uso de alma por pessoa é frequente (Gn_12:5;
Gn_46:26; Sl_3:2; Sl_7:2; Sl_11:1), mesmo quando o corpo seja a parte
principalmente afetada, como em Sl_35:12; Sl_105:18. Citam-se alguns
casos, como Lv_22:4; Nm_6:6; Nm_9:6, Nm_9:10; Nm_19:13;
Ag_2:13, etc., que parecem justificar a aplicação do sentido de corpo ou
corpo morto; mas se verá que este sentido lhe é dado mediante algum
explicativo rápido ou tácito.
não deixarás a minha alma … inferno (RC) — Não abandonarás
ao poder do (Jó_39:14; Sl_49:10). O inferno como (Gn_42:38; Sl_6:5;
Jon_2:2) o estado e a região da morte, e assim frequentemente – ou a
própria tumba (Jó_14:13; Jó_17:13; Ec_9:10, etc.). Assim o grego
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 39
Hades (At_2:27, At_2:31). O contexto só pode decidir se o estado
mencionado é o de sofrimento e o lugar dos condenados (cf. o Sl_9:17;
Pv_5:5; Pv_7:27).
o teu Santo — (Sl_4:3), alguém que é o objeto do favor de Deus, e
assim receptor de graça divina que exibe — piedoso.
veja — experimente (Lc_2:26).
corrupção — Alguns traduzem a fossa, abismo, o que seria
possível, salvo pelo sentido óbvio que lhe dá a exposição do apóstolo
(At_2:27; At_13:36-37). O sentido de toda a passagem é claramente
como segue: pelo uso de carne e alma, indica-se o estado de separação
produzido pela morte; porque as duas linhas do Sl_16:10 são paralelas, e
o Santo corresponde a alma, e corrupção a inferno. Como o Santo, ou
Davi (At_13:36-37), que significa pessoa, inclusive alma e corpo, usa-se
por corpo ao qual só se pode aplicar a ideia de corrupção (cf. At_2:31);
assim, por outro lado, alma, que literalmente significa a parte imaterial,
usa-se por pessoa. Pode-se parafrasear a linguagem assim: “Na morte
esperarei a ressurreição; porque não serei deixado sob o domínio dela
nem dentro de seus limites, nem serei submetido à corrupção, que
usualmente acontece”.
11. Levantado da morte, não morrerá mais, a morte já não tem mais
poder sobre ele.
me farás ver — me guiarás para alcançá-la.
os caminhos da vida — ou, vidas, o plural significa variedade e
abundância – a bem-aventurança imortal de toda sorte – como vida com
frequência significa.
na tua presença — ou, diante de teus rostos. O uso comum desta
maneira plural por rostos pode ser que contenha alusão à Trindade
(Nm_6:25-26; Sl_17:15; Sl_31:16).
na tua destra — aonde Cristo foi exaltado (Sl_110:1; At_2:33;
Cl_3:1; Hb_1:3). Nas glórias deste estado Ele verá o trabalho (Is_53:10-
11; Fp_2:9) de sua alma, e ficará satisfeito.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 40
Salmo 17

Este Salmo chama-se oração. porque prepondera nele a linguagem


de petição. Com uma causa justa, sinceramente apresentada, o autor pede
uma sentença justa e o socorro e a proteção. Alegando misericórdias
anteriores, encarece sua oração à vista da malícia, arrogância, rapina e
egoísmo de seus inimigos, cujo caráter contrasta com sua própria
devoção e seu deleite no favor de Deus.

2. o julgamento — a justificação.
de tua presença — ou presença, em seu tribunal.
com equidade — lit., as coisas que são iguais.
3. Sondas-me … me visitas, provas-me — seu caráter foi provado
o mais rigorosamente, em todo tempo, e por todos os métodos, inclusive
a aflição (Sl_7:10).
Determinado estou (TB) — ou, minha boca não se excede de meu
propósito – eu sou sincero.
4. ações dos homens — as práticas pecaminosas.
palavra dos teus lábios — como uma guia (Sl_119:9, 11, 95).
violento — homem violento.
5. Pode ler-se como indicativo: “meus passos, ou idas, ficaram em
teus caminhos.”
6. me respondes — isto é, com clemência (Sl_3:4).
7. Mostra — separa como especiais e eminentes (Êx_8:18; Sl_4:3).
tua destra — vale dizer, seu poder.
8. Figuras similares de quão precioso é o Seu povo diante dEle se
veem em Dt_32:10-11; Mt_23:37.
9. me oprimem — (cf. Sl_118:10-12.)
10. Insensíveis … lábios insolentes — Orgulhados na
prosperidade, e insolentes para com Deus (Dt_32:15; Sl_73:7).
11. Perseguem-nos, como as bestas espreitam a presa.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 41
12. Especifica a figura pela de leão que espreita desde o
esconderijo.
13-15. defronta-os — lit., “vindo antes,” ou, “faça-lhe frente”
supre “com” à frente de “espada” (Sl_17:13), e “mão” (Sl_17:14). Estes
denotam energia de Deus
14. com a tua mão — o poder de Deus.
homens mundanos — Todos os homens atuais. Parecem prosperar,
pela abundância de pão e famílias grandes; mas deixa ver que isto é
passageiro, em contraste com a união prazerosa dele com Deus no
futuro.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 42
Salmo 18

“O servo de Jeová,” que no hebraico precede a “Davi,” é parte


significativa do título (e não um mero epíteto de Davi), que denota o
caráter inspirado do cântico, como a produção de um encarregado da
execução da vontade de Deus. Não foi favorecido por Deus, porque O
servia, mas sim O servia porque foi escolhido e encarregado por Deus
em Sua soberana misericórdia. Depois de uma expressão geral de louvor
e de confiança em Deus para o futuro, Davi faz uma sublime descrição
poética da libertação de Deus, a qual caracteriza como ilustração da
justiça de Deus para com os inocentes e de Seu governo justo. Suas
próprias façanhas e êxitos são celebrados como resultado da ajuda
divina, e confiante em que esta continuará, termina em termos de
triunfante louvor. 2 Samuel 22 é uma cópia deste Salmo, com umas
poucas variações sem importância ali escritas como parte da história, e
se repete aqui como parte de uma coleção proposta para uso permanente.

1. Eu te amo — com a maior ternura.


2, 3. Os termos usados descrevem a Deus como objeto de absoluta
confiança.
rocha — lit., rocha gretada, para esconderijo.
meu rochedo — rocha firme, incomovível.
chifre da minha salvação (AV) — o chifre [RA, força], o meio de
ataque e de defesa dos mais fortes animais, é símbolo frequente de poder
ou de força eficazmente exercida (cf. Dt_33:17; Lc_1:69).
alto refúgio (TB) — torre, ou lit., lugar alto, fora do alcance de
perigos.
3. digno de ser louvado — pelos favores anteriores e digno de
confiança.
4. me cercaram — lit., ligaduras como de uma rede (Sl_116:3).
torrentes — representa uma multidão.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 43
5. morte — e inferno (Sl_16:10), personificam-se como os maiores
inimigos do homem (Ap_20:13-14).
me surpreenderam — me encontraram, cruzaram-se num caminho
e me fizeram perigar. Não quer dizer que estivesse em poder deles.
6. Conta seus métodos de procurar alívio em suas angústias, e seu
êxito.
7, 8. A intervenção de Deus em seu favor pintada em figuras tiradas
de sua aparição no Sinai (cf. Dt_32:22).
8. Das suas narinas ... fumaça — amargo em sua ira (cf. Sl_74:1).
brasas — (Êx_19:18.)
9. densa escuridão — ou, uma nuvem densa (Êx_19:16); Dt_5:22).
10. querubim — agentes angélicos (cf. Gn_3:24), figuras dos quais
estavam sobre a arca (1Sm_4:4), que representava a morada de Deus;
vocábulo usado aqui para engrandecer a majestade do advento divino.
Anjos e vento podem representar todas as agências racionais e irracionais
das providências de Deus (cf. o Sl_104:3-4).
voou — a rapidez do movimento aumenta a grandeza da cena.
11. escuridade de águas — ou, nuvens carregadas de vapor.
12. Desta escuridão, que enche de terror a testemunha, Deus se
revela mediante luz repentina e os meios de Sua grande ira (Js_10:11;
Sl_78:47).
13. Estala a tormenta – o trovão segue ao raio, e a saraiva com
relâmpagos repetidos, que às vezes se veem quais bolas ou brasas de
fogo (Êx_9:23).
14. O fulgor avermelhado dos raios, em forma de setas de fogo
lançadas pelo ar, bem representa a parte mais terrível de uma tormenta
espantosa. Na presença de semelhante cena aterrorizadora os inimigos
ficam confundidos e desbaratados.
15. A tempestade do ar é acompanhada com os resultados
conseguintes sobre a terra. A linguagem, mesmo quando não expressa
mudanças físicas especiais, representa o maior transtorno na ordem
natural. Diante de tal Deus, ninguém pode estar de pé.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 44
16-19. Do alto — como sentado num trono, dirigindo estas terríveis
cenas, Deus.
me estendeu — sua mão (Sl_144:7), alcançou até seu humilde
servo e o livrou.
das muitas águas — calamidades (Jó_30:14; Sl_124:4-5).
18. Assaltaram-me — “me tenderam” do Sl_18:5.
19. um lugar espaçoso — segurança e alívio, em contraste com a
angústia e temor (Sl_4:1). Toda sua libertação se atribui a Deus, e esta
sublime representação poética dá-se para inspirar confiança aos piedosos
e temor aos ímpios.
20-24. Os protestos de inocência, de justiça, etc., referem-se sem
dúvida a sua conduta, pessoal e oficial e a seus propósitos, durante todas
as provas que lhe passaram nas perseguições de Saul e na rebelião de
Absalão, assim como nas várias guerras que fez como cabeça e defensor
da Igreja e do povo de Deus.
23. íntegro para com ele — em minha relação com Deus fui
perfeito quanto a todas as partes da Sua lei. A perfeição não se relaciona
com o grau.
me guardei da iniquidade — talvez o pensamento de sua mente
era o de matar a Saul (1Sm_24:6). O que Davi não alude a toda sua
conduta, em todas as relações, é evidente pelo Sl_51:1, etc.
25-27. Deus retribui aos homens segundo os seus atos no sentido
penal, não no sentido vingativo. (Lv_26:23-24).
benigno — ou bondoso (Sl_4:3).
27. povo humilde — isto é, os piedosos humildes.
olhos altivos — o orgulho (Sl_101:5; Sl_131:1).
28. Iluminar a alguém é fazê-lo próspero (Jó_18:5-6; Jó_21:17).
tu (RC) — é enfático, como querendo dizer: posso confiar
plenamente em Ti por socorro.
29. Confia por causa de seus experiências anteriores na vida militar,
expressas nestas figuras.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 45
30-32. A perfeição de Deus é a fonte da perfeição de Davi, que
resulta de sua confiança de um lado, e da prometida ajuda de Deus, de
outro.
provada — “como se provam os metais pelo fogo para saber sua
pureza” (Sl_12:6)
escudo — (Sl_3:3).
32. me revestiu — o ater-se era essencial para o livre movimento,
por causa da folga da roupa oriental; daí a figura expressiva para
descrever o dom da fortaleza.
33-36. Outra descrição mais da ajuda de Deus – dá presteza para
perseguir ou para evitar a seus inimigos (Hc_3:19), força, proteção, e
firmeza de pé.
35. tua clemência — aplicada a Deus – condescendência – ou, o
que Ele dá, no sentido de humildade (Pv_22:4).
36. Alargaste os meus passos (TB) — deu ampla capacidade (cf.
Pv_4:12).
37-41. Na mesma batalha, pela ajuda de Deus, a derrota do inimigo
está assegurada. Quer dizer, um êxito presente e continuado.
39. os que se levantaram contra mim — Pôs debaixo de mim os
que se levantaram contra mim, aos insurgentes (Pv_3:1; Sl_44:5).
40. fizeste que os meus inimigos me dessem as costas (TB) — os
fez fugir (Êx_23:27; Js_7:8).
42. A conquista foi completa.
43-45. Não só vence os inimigos civis, mas também os estrangeiros,
que são expulsos de seus refúgios.
44. se me mostram submissos — isto é, demonstraram uma
submissão forçada.
46. Vive o SENHOR —contrasta-O com os ídolos (1Co_8:4).
47, 48. por mim tomou vingança — Deus toma como Sua a causa
de Davi.
48. me exaltaste, etc. — para segurança e honras.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 46
49, 50. Paulo (Rm_15:9) cita esta doxologia, para demonstrar que
na economia do A.T., outros além dos judeus eram tidos como sujeitos
do governo espiritual, do qual Davi era cabeça, e em tal caráter suas
libertações e vitórias eram típicas dos triunfos mais ilustres daquele
Filho mais velho de Davi. A linguagem do Sl_18:50 justifica este
parecer em sua distinta alusão a grande promessa (2 Sm_7:12). Em todos
os êxitos de Davi ele divisava o penhor de um cumprimento de tal
promessa; e chorou em todas suas adversidades não só devido a seu
padecimento pessoal, mas também porque via nelas evidência de que
perigavam os grandes interesses confiados a sua custódia. É nestes
aspectos de seu caráter onde nos leva a apreciar devidamente a
importância que corresponde a suas tristezas e padecimentos, a suas
alegrias e seus êxitos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 47
Salmo 19

Logo depois de exibir a revelação harmoniosa das perfeições de


Deus feita por Suas obras e por Suas palavras, o salmista ora a fim de
poder conformar-se ao ensino divino.

1. a glória de Deus — é a soma de suas perfeições (Sl_24:7-10;


Rm_1:20).
o firmamento — ou seja, os céus (Gn_1:8).
2. discursa — como uma corrente, um testemunho perpétuo.
3. Embora não há fala articulada nem palavras, contudo se ouve a
sua voz.
4. a sua voz — ou, a sua instrução – a influência exercida por sua
demonstração tácita das perfeições de Deus. Paulo (Rm_10:8), citando a
versão dos Setenta, usa som, que dá o mesmo sentido.
5, 6. O sol, por ser o corpo celestial mais glorioso, usa-se em
particular para ilustrar o sentimento; e sua alegre, vigorosa carreira diária
e extensa, e seu calor vivificante (inclusive a luz), bem patenteiam a
maravilhosa sabedoria de seu Criador.
7-9. A lei é descrita com seis palavras, o testemunho de Deus em
apoio da verdade, sua prescrição especial e geral do dever, o temor
(como sua causa), e a decisão judicial. É clara e certa, digna de
confiança, justa, pura, santa e verdadeira. Portanto reanima os
deprimidos pelas dúvidas, faz sábios os indoutos (2Tm_3:15), alegra o
amante da verdade, fortalece os desanimados (Sl_13:4; Sl_34:6), provê
princípios permanentes de conduta, e pela graça de Deus traz rica
recompensa.
12-14. Quanto mais clara for nossa compreensão da lei, tanto mais
manifestos são nossos pecados. Entretanto, para os efeitos plenos da lei,
necessitamos a graça divina que nos ensine nossas faltas, que nos
encaminhe, que nos refreie da prática do pecado e nos liberte de seu
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 48
poder. Assim só pode ser nossa conduta sem mácula, e aceitos a Deus
nossas palavras e pensamentos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 49
Salmo 20

É provável que Davi tenha composto este salmo para expressar as


orações dos piedosos por sua prosperidade como cabeça da igreja e da
nação ao mesmo tempo. Como as outras composições das quais Davi,
em tais relações, é o tema, os sentimentos têm um valor permanente –
estando compreendida a prosperidade do reino de Cristo, assim como
tipificada, no de Israel e de seu rei.

1. O SENHOR te responda — favoravelmente (Sl_4:1).


o nome — ou seja, as perfeições manifestadas como poder,
sabedoria, etc.
te eleve em segurança — ponha em alto, fora do alcance de
perigos (Sl_9:9; Sl_18:3)
2. te sustenha — no conflito; concedendo-lhe até os benefícios
físicos, assim como a coragem para a batalha, os que vêm do sentir do
favor divino, recebidos no uso de privilégios espirituais.
3. todas as tuas ofertas — ou dons, ofertas vegetais.
aceite — lit., “reduza a cinza” (cf. 1Rs_18:38).
Selá (RC) — (1Rs_3:2.)
4. os teus desígnios — planos ou propósitos.
5. vitória — libertação feita e experimentada por ti.
hastearemos pendões — (Nm_2:3, Nm_2:10). No sentido usual,
ou, como traduzem alguns, seremos engrandecidos.
6. Fala como se estivesse de repente seguro de uma audiência.
do seu santo céu — ou, lit,. “os céus de sua santidade”, onde reside
(Nm_2:6; Nm_11:4).
força de sua destra — o poder de Deus que traz a salvação.
seu ungido — não só Davi pessoalmente, mas também como a
cabeça especialmente ordenada da Igreja.
7. nos gloriaremos — ou faremos menção [RC], mencionaremos
com gratidão (1Sm_17:45; Sl_33:16;).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 50
8. Eles — isto é, os que confiam em carros, etc.
nos levantamos — lit., pusemo-nos eretos, livres de nosso temor.
9. Ouça-nos o Rei (RC) — como o representante de Deus,
libertado para libertar. Talvez um sentido melhor é, “Senhor, salva o rei,
ouve-nos quando clamarmos,” ou orarmos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 51
Salmo 21

O salmista guia os piedosos na celebração dos favores divinos


dispensados ao rei nas bondades já recebidas e nas vitórias até por
receber-se. A doxologia acrescentada pode relacionar-se com dois
salmos: com o anterior, que é de petição, mas principalmente com este,
que é de ação de graças, tributando honra a Deus pela demonstração de
sua graça e poder a sua Igreja em todas as idades, não somente sob Davi,
mas também sob seu último sucessor, “o Rei dos judeus.”

1. tua força … salvação — as que Deus reparte.


2. O sentimento da primeira fase em sentido positivo se repete na
segunda no negativo: paralelismo adversativo.
3. Pois o supres — amigavelmente. (cf. Sl_59:10; cf. o oposto em
Sl_17:13).
bênçãos de bondade — bênçãos que repartem boas coisas, ou a
felicidade.
coroa de ouro fino — figura da maior prosperidade real.
4-6. (cf. 2Sm_7:13-16.) A glória e a bem-aventurança do rei como
cabeça de sua linha, inclusive de Cristo, tanto como sendo o servo
especialmente eleito de Deus, excedem as de qualquer outro.
6. Pois o puseste por bênção — ou, puseste-o para que seja
bênçãos, como Abraão (Gn_12:2).
com a tua presença — com Tua vista (Sl_16:11), ou com Teu
favor expresso pela luz de Teu rosto (Nm_6:25), ou por ambas as coisas.
7. A causa mediata da fé do rei, a eficiente, é a misericórdia de
Deus.
8. Agora dirige-se a palavra ao rei.
mão — denota poder, e
destra — um grau mais ativo e eficiente de seu exercício.
alcançará — indica o êxito na perseguição de seus inimigos.
9. O rei não é mais que o agente de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 52
sua indignação — lit., seu rosto, sua aparição contra eles.
fornalha ardente — como no mesmo.
10. sua posteridade — seus filhos (Sl_37:25; Os_9:16).
11. Esta terrível derrota, que alcança até a posteridade deles, deve-
se a seus crimes (Êx_20:5-6).
12. porquanto lhes farás voltar as costas — literalmente.
mirarás o rosto deles com o teu arco —atirar-lhes as setas no
rosto faria que se dessem as costas em sua fuga.
13. A glória por tudo deve dar-se somente a Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 53
Salmo 22

As obscuras palavras Ajeleth-sahar desta inscrição têm várias


explicações. A maioria dos intérpretes concordam em traduzi-las por “a
cerva da manhã”. Mas existe grande diferença quanto ao sentido destas
palavras. Opinam alguns (cf. Sl_9:1) que formam o nome da toada a qual
lhe acomodaram estas palavras; outros, que é o nome de um instrumento
musical. Possivelmente seja melhor a opinião de que a frase expressa
enigmaticamente o tema – o aflito assemelha-se a cerva que na
madrugada é perseguida pelo caçador – ou que enquanto que cerva
sugere a ideia de uma humilde, inocente vítima, o complemento de
amanhã denota o alívio recebido. Estão representados vivamente os
sentimentos de um piedoso sofredor na tristeza e na libertação. Pede
encarecidamente o socorro divino fundado em sua relação com Deus,
cujas bondades anteriores para com seu povo alimentam a esperança, e
pede ademais por causa do iminente perigo que lhe ameaça. A
linguagem de queixa muda-se pela de regozijo com a segurança de
receber alívio das dores e a vitória sobre os inimigos.

O uso das palavras do Sl_22:1 por nosso Salvador na cruz, e a


citação do Sl_22:19 por João (Jo_19:24) e do Sl_22:18 por Paulo
(Hb_2:12), como cumpridas na vida do Senhor, sugere claramente o
caráter profético e messiânico do Salmo. A intensidade do pesar, e a
plenitude e a glória da libertação e triunfo, deste modo parecem
representações impróprias das vitórias de um personagem de menos
importância. Num sentido geral e modificado (cf. Sl_16:1), a experiência
aqui detalhada pode adaptar-se ao caso de todo cristão que sofre por
causa dos males espirituais e que é libertado pelo socorro divino, visto
que Cristo em sua natureza humana é cabeça e representante deles.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 54
1. Um resumo de sua queixa. O abandono de Deus é o cúmulo da
miséria do sofredor esmagado pela desgraça.
palavras de meu bramido — demonstra que a queixa se expressa
adequadamente, mesmo quando o termo bramido, melhor, rugido, é
figurado, sugerido pelo comportamento dos animais irracionais na dor.
2. A longa duração da desgraça se mostra por:
clamo de dia ... também de noite — que significa, ou que clamo
continuamente, ou, correspondente a não me respondes, que não há para
mim quietude nem descanso.
3. Entretanto, não só se cuida de acusar nesciamente a Deus; mas
também demonstra sua confiança em Deus ao lhe invocar.
tu és santo — possuidor de todos aqueles atributos que alimentam
a confiança; o devido objeto dos louvores da Igreja: portanto, aquele que
sofre não precisa se desesperar.
4, 5. As experiências passadas do povo de Deus são uma base da
confiança. A menção de “nossos pais” não impede que as palavras se
apliquem à linguagem da natureza humana de nosso Salvador.
6. Aquele que foi desprezado e rejeitado por seu próprio povo,
como uma desgraça para a nação, bem podia usar estas palavras de
abatimento, que expressam não seu valor verdadeiro dele, mas sim o que
lhe é imputado.
7, 8. Pois os judeus usaram uma das expressões (Mt_27:39) aqui
mencionadas, escarnecendo dEle suspenso na cruz, e O insultaram
(Mt_27:43) em quase a mesma linguagem desta passagem.
afrouxam — ou, abrem.
os lábios — (Cf. Sl_35:21).
8. Confiou no SENHOR — lit., fez rodar – quer dizer, sua carga
(Sl_37:5; Pv_16:3) sobre o Senhor. Tal é a linguagem dos inimigos que
fazem zombaria da fé dele na hora de seu desamparo.
9, 10. Embora dito ironicamente, a exortação a confiar, estava bem
fundada em suas experiências anteriores do socorro divino, e ele tira
como exemplo especial disso o período de sua impotente infância.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 55
me preservaste — lit., tornou-me seguro.
11. Ao dar a razão de sua súplica, renova-a, arguindo sua dupla
necessidade: a proximidade da pena, e a ausência de qualquer ajudador.
12, 13. Seus inimigos, qual fortíssimos touros e leões rugidores,
rodeiam-no, avidamente procurando a sua ruína. A força de ambas as
figuras é maior sem nenhuma partícula de comparação.
14, 15. Seu completo esgotamento e sua fraqueza desesperada,
nestas circunstâncias de iminente perigo, expõem-se nas figuras mais
expressivas; a solidez do corpo fica destruída, e deve ser como água; os
ossos se abrem; o coração, o próprio assento da vitalidade, derrete-se
como cera; todos os sucos do sistema se secaram; a língua já não
funciona, e jaz rígida e seca (cf. Gn_49:4; 2Sm_14:14; Sl_58:8). Nisto é
Deus tido como a última fonte, e os homens como instrumentos.
15. no pó da morte — É óbvio, significa a tumba. Não é preciso
tentarmos achar a precisa correspondência de cada detalhe desta
descrição nas particularidades do padecimento de nosso Salvador. A
linguagem figurativa assemelha-se aos quadros de cenas históricas, que
apresentam a verdade em substância, sob exemplos que, mesmo quando
não são essenciais aos atos, não são inconsequentes com os mesmos. Se
deveu especificar-se alguma porção dos terríveis padecimentos de Cristo,
sem dúvida foi do jardim do Getsêmani.
16. Os malfeitores se descrevem bem como cães, que no Oriente,
rodeando-se em manadas, ferozes e selvagens, são justamente objeto de
grande aborrecimento.
traspassaram-me — Esta frase foi tema de muita discussão
(ficando em dúvida a genuinidade do vocábulo hebraico traduzido por
perfuraram), que não vem ao caso elucidar. Embora não se cita no N.T.,
a notável aplicabilidade da descrição aos atos referentes à vida de Cristo,
junto com as dificuldades envoltas em qualquer outro modo de explicar a
frase no hebraico, justifica sua adesão aos termos de nossa versão e seu
óbvio sentido.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 56
17. Seu corpo gasto, outro detalhe de suas misérias, vem a sê-lo
tanto mais por ser objeto de agradada contemplação da parte de seus
inimigos. Os verbos olhar e fixar a vista, ocorrem com frequência como
sugestivos do sentimento de satisfação (Sl_27:13; Sl_54:7; Sl_118:7).
18. Esta predição cumprida ao pé da letra conclui o triste quadro do
exibido e desamparado sofredor.
19, 20. Agora volta com inalterável desejo e confiança a Deus,
quem é um contraste em sua força e fidelidade com os iminentes perigos
detalhados.
20. minha alma — minha pessoa (cf. o Sl_3:2; Sl_16:10).
minha vida — minha alma solitária, pobre e abatida (Sl_25:16;
Sl_35:17).
21. A libertação se pede fundada no socorro anterior, no meio do
perigo iminente, do inimigo mais poderoso, representado pelo unicórnio,
ou seja, o búfalo selvagem.
boca do leão (TB) — (cf. Sl_22:13). O leão, figura frequente de
inimigos violentos; a menção da boca sugere a rapacidade.
22-24. Declara seu propósito de celebrar os procedimentos
misericordiosos de Deus e de publicar suas manifestas perfeições (nome,
Sl_5:11), etc., e logo convida aos piedosos, que têm reverencial temor a
Deus, a unir-se em louvor especial pela libertação, manifestando a
bondade de Deus para com os humildes, que pelos homens são
descuidados [Sl_22:24]. Esconder o rosto ou os olhos significa o
estudado descuido da causa de alguém, a denegação de socorro ou de
simpatia (Sl_30:7; Is_1:15).
25, 26. De ti vem o meu louvor — Melhor talvez, da parte de ti;
Deus dá a graça para que O louvem. Ao oferecer louvor, dá outra
evidência de sua gratidão prometendo pagar seus votos na celebração da
festa usual ordenada pela lei (Dt_12:18; Dt_16:11); os piedosos e
humildes, e os que buscam ao Senhor, seus verdadeiros adoradores, se
unirão com o salmista em abundantes louvor [Sl_22:26]. No entusiasmo
produzido por seus vivos sentimentos, dirige-se a eles, assegurando-lhes
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 57
o perpétuo favor de Deus [Sl_22:26]. Viverá nosso coração significa a
vida, como a morte do coração, (1Sm_25:37) a morte.
27-31. O caso do salmista ilustra o justo governo de Deus. Para
além do tempo e do povo atuais, outros serão induzidos a reconhecer e a
adorar a Deus; os gordos, ou seja, os ricos, assim como os pobres, os
impotentes não podem sustentar-se a si mesmos juntos, se unirão na
celebração do poder libertador de Deus, e transmitirão os relatos de sua
graça ao povo que há de nascer.
30. falar-se-á do Senhor — será relatado a respeito do Senhor até
uma geração. Se contarão as maravilhosas obras de Deus de uma geração
até a outra.
31. contarão que foi ele quem o fez — anunciarão o que Ele fez:
ou seja, o que o salmo desenvolveu.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Salmo 23

Sob uma metáfora tirada das cenas da vida pastoril, a que Davi
conhecia bem, descreve o cuidado providencial de Deus que prodigaliza
o refrigério, a direção, proteção, e abundância, e que dá assim base para
a confiança em seu favor perpétuo.

1. A relação de Cristo com seu povo com frequência apresenta-se


na figura de pastor (Jo_10:14; Hb_13:20; 1Pe_2:25; 1Pe_5:4), o que
motiva a opinião de que ele é o Senhor, assim descrito aqui, e em
Gn_48:15; Sl_80:1; Is_40:11, opinião que não carece de certa dose de
boa razão.
2. pastos — não mencionados com relação ao alimento, mas sim
como lugar fresco, de refrigério.
águas de descanso — tranquilas, cujo correr convida ao repouso.
Contrastam-se, por um lado, com as correntes ruidosas, e com as
repugnantes águas estancadas, por outro.
3. refrigera-me a alma — Significa restaurá-la, ou avivá-la
(Sl_19:7), ou aliviá-la (Lm_1:11, Lm_1:19).
veredas da justiça — as de segurança, dirigidas por Deus, e
agradáveis a Ele.
por amor do seu nome — ou, com relação a suas perfeições,
empenhadas para o bem de Seu povo.
4. Na hora mais obscura e de mais prova Deus está perto.
vale da sombra da morte — é uma quebrada rodeada de
penhascos escorregadios, com densos bosques, que bem pode inspirar o
medo ao tímido e proporcionar guarda para as feras. Enquanto expressa
qualquer perigo grande ou motivo de terror, não exclui por certo o maior
de todos, ao que se aplica usualmente, e aquele que o termo sugere.
o teu bordão e o teu cajado — são símbolos do ofício pastoril.
Com eles dirige as ovelhas.
5, 6. Outra figura expressa a providência de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 59
mesa — ou, o alimento.
óleo — para unção, símbolo de regozijo, e a
cálice transborda — representa abundância. Estas coisas são
preparadas para o filho de Deus, quem pode festejar-se apesar de seus
inimigos, confiado em que este favor lhe assistirá sempre. Este belo
Salmo nos pinta maravilhosamente em sua figura principal, a de um
pastor, o tenro e amante e seguro cuidado estendido ao povo de Deus,
quem, como Pastor, governa-o e o alimenta. O último versículo ensina
que as bênçãos mencionadas são espirituais.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 60
Salmo 24

A suprema soberania de Deus exige a devida santidade de vida e de


coração da parte de seus adoradores; um sentimento sublimemente
ensinado na descrição de sua entrada no santuário, pelo símbolo de sua
adoração — a arca, requerendo a mais profunda homenagem à glória de
sua majestade.

1. tudo o que nela se contém — todas as coisas.


mundo — o globo habitável.
os que nele habitam — que forma uma expressão paralela à frase
anterior.
2. Poeticamente representa os atos de Gn_1:9.
3, 4. A forma interrogativa presta vivacidade. Mãos, coração e
alma são órgãos de ação, de fala e sentimento, o que compõe o caráter.
monte do SENHOR — (cf. o Sl_2:6, etc.) Sua Igreja, a verdadeira
ou invisível, tipificada pelo santuário terrestre.
4. não entrega a sua alma — posto seu afeto (Gn_25:1) em algum
objeto; aqui,
falsidade — ou, em qualquer coisa falsa, ou seja jurar uma
declaração falsa, ou jurar em maneira fraudulenta.
5. justiça — as recompensas que o Senhor reparte a Seu povo, ou a
graça para conseguir tais recompensa, tanto como o resultado.
6. Jacó — por “Jacó,” podemos entender o povo de Deus (cf.
Is_43:22; Is_44:2, etc.), que corresponde à geração.” etc., assim como se
tivesse dito: “Os que buscam seu rosto são seu povo escolhido.”
7-10. A entrada da arca ao santo santuário, com a procissão
acompanhante, nos representa. A repetição dos termos presta ênfase.
10. O SENHOR dos Exércitos — ou plenamente, Senhor Deus das
hostes (Os_12:5; Am_4:13), descreve a Deus com um título indicativo
da supremacia sobre todas as criaturas, e em particular sobre os exércitos
celestiais (Js_5:14; 1Rs_22:19). Seja ou não, como alguns pensam, que a
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 61
dilatação das antigas portas de Jerusalém seja a base da figura, o efeito
totalmente é para nos impressionar com um conceito da sem-par
majestade de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 62
Salmo 25

O tom geral deste salmo é o de súplica da libertação dos inimigos.


Temas proeminentes são: a aflição, embora estimule uma sensação de
pecado, a humilde confissão, o perdão pedido, a preservação do pecado,
e a direção divina.

1. elevo a minha alma — (Sl_24:4; Sl_86:4), ponho o meu afeto


(cf. Cl_3:2).
2. não eu seja envergonhado — por ver defraudadas as esperanças
de socorro.
3. A oração geral a favor dos que esperam no Senhor, quer dizer, os
que esperam os seus favores. Por outro lado, pede-se que sejam
desapontados os pérfidos, que sem ser provocados, cometeram maldades
(cf. 2Sm_22:9).
4, 5. Fundando-se em favores anteriores, invoca a direção divina,
conforme a graça de Deus manifesta em seus procedimentos e em sua
fidelidade.
6, 7. Confessando os pecados passados e presentes, suplica a
misericórdia, não como um paliativo do pecado, mas sim como base da
benevolência bem conhecida de Deus.
8, 9. reto — que obra de conformidade com sua promessa.
pecadores — o termo geral, limitado pelos
humildes — os arrependidos.
9. Guia … na justiça — reta, justamente.
o seu caminho — o caminho providencial de Deus.
10. as veredas — sentido similar – seus modos de tratar (cf. o
Sl_25:4).
misericórdia e verdade — (Jó 14), a Graça de Deus ao prometer e
sua fidelidade ao cumprir.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 63
11. manifestam-se as perfeições divinas de amor, misericórdia,
bondade, e verdade (seu nome, cf. o Sl_9:10) no perdão do pecado, e a
imensidão do pecado faz tanto mais necessário o perdão.
12, 13. O que pede para si é a sorte de todos os piedosos.
13. herdará a terra — (cf. Mt_5:5). A frase que alude à promessa
de Canaã, expressa todas as bênçãos incluídas em tal promessa, as
temporais tanto como as espirituais.
14. explica-se a razão da bênção: os piedosos desfrutam da
comunhão com Deus (cf. Pv_3:21, Pv_3:12), e por certo, aprendem as
condições liberais de seu perdão.
15. Está firme sua confiança em Deus.
laço — figura frequente dos perigos causados pelos inimigos
(Pv_9:15; Pv_10:9).
16-19. Uma série de petições ofegantes de socorro, porquanto
parecia que Deus lhe tinha abandonado (cf. Sl_13:1; Sl_17:13, etc.); seus
pecados o oprimiam, seus inimigos lhe aumentavam as penas, crescendo
em número, em ódio e em violência (Sl_9:8; Sl_18:48).
20. Guarda-me a alma — (Sl_16:1.)
em ti me refugio — me acolho em busca de refúgio (Sl_2:12).
21. Consciente de sua inocência das culpas imputadas pelos
inimigos, confiantemente remete sua causa a Deus. Alguns aplicam
sinceridade, etc. — a Deus, querendo dizer sua fidelidade à
aliança. Tal sentido, por bom que seja, não é aplicação comum dos
termos.
22. Torna extensivas estas bênçãos a todo o seu povo em todas as
suas angústias.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 64
Salmo 26

Depois de apelar a critério do juízo de Deus como base de sua


declarada integridade e de sua inocência das acusações de seus inimigos,
o salmista manifesta seu deleite no culto a Deus, e roga ser eximido da
sorte dos ímpios, e expressa sua confiança no favor de Deus.

1. Faze-me justiça — decide meu caso; a reclamação da inocência.


na minha integridade — livre de toda mancha (cf. Sl_25:21). Sua
confiança em sua perseverança resulta de sua confiança na graça
sustentadora de Deus.
2. Pede o mais cuidadoso escrutínio de seus afetos e pensamentos
(Sl_7:9), ou seus motivos.
3. Os favores anteriores são, frequentemente, a base da petição de
socorro ao presente.
4-8. Exemplificados aqueles pelos frutos da divina graça,
apresentados em sua vida, especialmente em sua separação dos maus e
em seus propósitos de acolher-se ao culto a Deus.
6. Lavo as mãos — símbolo expressivo de libertação dos atos
pecaminosos (cf. Mt_27:24).
8. a habitação de tua casa — onde estivesse a sua casa, pois o
tabernáculo ainda não estava posto em sítio permanente.
o lugar onde tua glória — alusão ao Lugar Santíssimo.
9. Não colhas a minha alma — não me baixe à morte.
homens sanguinários — (cf. o Sl_5:6).
10. Toda a conduta deles é de violência e fraude.
11, 12. Quanto a mim, porém — Contrasta seu caráter e seu
destino com os dos ímpios (cf. o Sl_26:1-2).
12. O meu pé está firme — lit., num lugar plano, livre de tropeços,
significando a segurança de seu modo de vida. Portanto dará a Deus seu
louvor publicamente.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 65
Salmo 27

Num tom geral de confiança, esperança e alegria, especialmente no


culto a Deus, no meio dos perigos, o salmista apresenta uma oração por
socorro e guia divinos.

1. luz — figura comum de conforto.


fortaleza — que dá a segurança contra a violência. As
interrogações dão maior clareza às negações implícitas.
2. me destruir — (Jó_19:22; Sl_14:4). A alusão às feras ilustra a
rapacidade dos inimigos.
tropeçam — “Eles” é enfático; não eu, mas sim eles caíram.
3. Nos maiores perigos.
4, 5. O segredo de sua confiança é seu deleite na comunhão com
Deus (Sl_16:11; Sl_23:6), contemplando a harmonia de suas perfeições,
e buscando seus favores em seu templo ou palácio; vocábulo aplicável
ao tabernáculo (cf. o Sl_5:7), onde se acha a salvo (Sl_31:21; Sl_61:5).
Muda-se a figura na última proposição, mas o sentimento não se altera.
6. será exaltada a minha cabeça — Serei posto fora do alcance de
meus inimigos. Portanto, declara o seu propósito de apresentar
prazerosamente ofertas de gratidão.
7. Mas ainda a urgente necessidade demanda a oração de socorro.
quando eu com a minha voz clamar (TB) — denota o
encarecimento. No comum, os cristãos fervorosos oram em alta voz,
embora seja em segredo.
8. O sentido está claro, embora a construção numa tradução literal é
obscura. A Tradução Brasileira supre a frase, “Quando disseste: Buscai
o meu rosto; a ti te disse o meu coração: O teu rosto, Jeová, buscarei.”
Buscar o rosto de Deus equivale a dizer, buscar o seu favor (Sl_105:4).
9. Não escondas — (Sl_4:6; Sl_22:24.) Para não ser rejeitado,
invoca a misericórdia e amor antes recebidos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 66
10. Na maior indigência e desamparo terrestre (Sl_31:11;
Sl_38:11), provê Deus (Mt_25:35).
11. o teu caminho — da providência.
vereda plana — caminho direito, patente (Sl_26:12).
por causa dos que me espreitam — lit., os que vigiam para ver
minha queda (Sl_5:8).
12. vontade — lit., alma, desejo (Sl_35:25).
adversários — lit., opressores. A mentira aumenta a crueldade
contra ele.
respiram — como cheios de crueldade (At_9:1).
13. A forte emoção está expressa pela construção incompleta; nossa
versão supre a ideia tácita com itálicos, Houvesse eu desacordado.
verei — equivale dizer experimentarei (Sl_22:17).
14. Espera — na expectativa confiada. A última cláusula é
literalmente, “e espera”, como se esperando novas medidas de ajuda.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 67
Salmo 28

Um clamor sincero pelo socorro divino contra seus inimigos; logo


segue o louvor do salmista na segurança de uma resposta favorável, e
uma oração por todo o povo de Deus.

1. rocha minha — (Sl_18:2, 31.)


não sejas surdo para comigo — lit., “para comigo” surdo e
desatento.
semelhante — que não me toque a sorte deles.
à cova — (Sl_30:3).
2. quando erguer as mãos — gesto de oração (Sl_63:4; Sl_141:2).
santuário, etc. — para com o teu santo templo, ou oráculo, lugar
para falar (Êx_25:22; Nm_7:89), onde Deus responde a seu povo (cf. o
Sl_5:7).
3. Não me arrastes — denota o castigo assim como a morte (cf.
Sl_26:9). A hipocrisia é o pecado aqui especificado .
4. A imprecação fica justificada no Sl_29:5. Aumenta-se a força da
passagem com a acumulação dos termos que descrevem os pecados
deles.
a malícia dos seus atos — a maldade deliberada.
5. O desprezo dos juízos de Deus traz justo castigo.
ele os derribará, etc. — A forma positiva está fortalecida pela
negativa.
6. vozes súplices — clamores pela misericórdia.
7. A repetição de coração denota a sinceridade .
8. A distinção que se fazia entre o povo.
a força do seu povo e o ungido — pode ser que indique a rebelião
de Absalão como a ocasião.
9. Apoia esta interpretação a oração especial a favor do povo.
apascenta-o — (cf. o Sl_23:1, etc.).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 68
Salmo 29

A confiança em Deus é fortalecida pela celebração de seu grande


poder manifestado em seu domínio sobre o mundo natural, nas exibições
terríveis e maravilhosas.

1. Dai (RC) — ou, como na RA: Tributai (Dt_32:3).


filhos de Deus — Seres celestiais, como os anjos (Dt_89:6).
2. nome — (Sl_5:11; Sl_8:1.)
beleza da santidade — o encanto de um culto espiritual, do qual a
beleza patente do culto do santuário não era senão um tipo.
3. voz do SENHOR — demonstração audível de seu poder na
tempestade, do qual o trovão é um exemplo, mas não o uniforme e único
exemplo.
as águas — as nuvens ou vapores (Dt_18:11; Jr_10:13).
4. poderosa … majestade — lit., “em poder, em majestade”.
5, 6. Os cedros altos e grandes, especialmente os do Líbano, são
estilhaçados. A ondulação dos bosques montanhosos pelo vento se
expressa com a figura do pulo ou salto.
7. despede — lit., curta, ou desmorona. O relâmpago, como faíscas
e lascas cortadas de pedra ou de madeira, voa pelo ar.
8. o deserto — de Cades em particular, ao sul de Judá, escolhe-se
como cenário desta exibição do poder divino, pois impressiona a mente
uma vasta região desolada, assim como as montanhas, com figuras de
grandeza.
9. Terminam a ilustração os animais aterrorizados e a natureza
despida. Na presença desta cena da terrível sublimidade, os adoradores
de Deus respondem à chamada do Sl_29:2, exclamando “Glória!” Por
“Templo”, ou “palácio” (a residência de Deus, Sl_5:7) aqui pode
significar o céu, ou toda a estrutura da natureza, pois se convida aos
anjos a dar louvor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 69
10, 11. Está Deus entronizado sobre este terrível rugir dos
elementos, dirigindo e restringindo com seu soberano poder; e assim
consola o seu povo. “Este terrível Deus é o nosso, nosso Pai e nosso
Amor.”
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 70
Salmo 30

Lit., Um Salmo lírico — uma composição para ser cantada com


instrumentos musicais, ou sem eles—ou, “Canção de dedicação,” etc., o
que especifica o caráter particular do Salmo. Alguns supõem que “de
Davi ” deve unir-se com o nome da composição e não com “casa”; e que
se refere à ocasião da seleção do lugar para o templo (1Cr_21:26-30;
1Cr_22:1). Mas “casa” nunca se usa para determinar absolutamente o
templo, e dedicação não é termo que se aplique bem a tal ocasião.
Embora a frase “dedicação da casa de Davi” é no hebraico uma forma
não usual, entretanto é igualmente raro desconectar o nome do autor e a
composição. Como uma “dedicação da casa de Davi” (tal qual está
ordenada, Dt_20:5), o alcance do Salmo bem corresponde ao estado de
quietude e de meditação sobre as passadas provas do autor, próprio para
tal ocasião (2Sm_5:11; 2Sm_7:2). Porque, principiando com uma
celebração do favor libertador de Deus, em que convida a outros a unir-
se, recita sua oração de angústia e a oportuna resposta bondosa de Deus.

1. me livraste — melhor, me levantaste, como de um poço


(Sl_40:2).
2. me saraste — a aflição com frequência se descreve como doença
(Sl_6:2; Sl_41:4; Sl_107:20), e assim o alívio como a cura da mesma.
3. Os termos descrevem perigo extremo.
alma — ou , “eu mesmo”.
sepultura — lit., o inferno, ou hades, a região da morte, como no
Sl_16:10.
preservaste-me a vida — Me avivou da condição de moribundo
(cf. Sl_28:1.).
4. memória (RC) — a coisa lembrada ou comemorada.
santidade (RC) — como a soma das perfeições de Deus (cf.
Sl_22:3), usada como nome (Êx_3:15; Sl_135:13).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 71
5. Relativamente, a experiência mais prolongada da ira divina pelo
homem piedoso, não é mais que momentânea. Estas preciosas palavras
deram consolo a milhões.
6, 7. A sorte particular de prosperidade aqui mencionada não
sabemos qual é. Talvez fosse a ocasião de seu acesso ao trono. Em seu
júbilo e complacência foi rejeitado por Deus ao lhe esconder o rosto (cf.
o Sl_22:24; Sl_27:9).
7. conturbado — confundido com o temor (Sl_2:5).
8-11. Como em Sl_6:5; Sl_88:10; Is_38:18, a petição de
misericórdia se baseia na destruição do dom de Davi de louvar a Deus,
produzida pela morte dele. Os termos que expressam alívio são poéticos,
e não se devem forçar, embora o vocábulo dance é a tradução de uma
palavra que significa alaúde, cujas notas alegres contrastam com o luto,
ou (Am_5:16) o pranto.
11. pano de saco — de cilício, era usado, até pelos reis, na aflição
(1Cr_21:16; Is_37:1); mas alegria, como objeto de vestir, demonstra que
a linguagem é figurativa.
12. Embora minha [minha glória, TB] supre-se antes no original, é
melhor entendê-lo como língua, como no Sl_16:10, o órgão da louvor. O
objeto ulterior das misericórdias de Deus para conosco é nosso louvor a
Ele.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 72
Salmo 31

A oração de um crente em tempo de profundo pesar. Na primeira


parte os clamores de socorro se mesclam com as expressões de
confiança. Logo o detalhe das amarguras ocupa a atenção, até que, na
segurança da fé, forte mas submissa, chega à linguagem da pura
confiança prazerosa, e exorta a outros a que tenham igual amor e
confiança para com Deus.

1. Expressa o tom geral do sentimento do Salmo.


2-4. Ele busca socorro no justo governo de Deus (Sl_5:8), e suplica
que lhe empreste ouvido e lhe dê a ajuda pronta e eficaz. Sem outro meio
e sem nenhum merecimento, confia somente na integridade de Deus para
com seus próprias perfeições, para a direção segura e a libertação dos
laços de seus inimigos. Com referência ao termo “rochas” e outros
termos, cf. Sl_17:2; Sl_18:2, 50; Sl_20:6; Sl_23:3; Sl_25:21.
5, 6. entrego o meu espírito — minha vida, minha pessoa, ou ser.
Nosso Salvador usou estas palavras na cruz [Lc_23:46], não como
proféticas, mas sim, como no caso de muitos piedosos, como expressivas
de sua confiança inquebrantável em Deus. O salmista descansa na
fidelidade de Deus para com suas promessas feitas a seu povo, e portanto
protesta que ele é um deles, repudiando a todos os que reverenciam os
objetos da idolatria (Dt_32:21; 1Co_8:4).
7. conheceste as angústias de minha alma — me levaste em conta
em minha angústia.
8. não me entregaste, etc. — não me abandonou ao inimigo
(1Sm_23:11).
em lugar espaçoso — lugar de segurança (cf. Sl_18:19).
9, 10. os meus olhos, etc. — Denota extrema fraqueza (cf. Sl_6:7).
tristeza — a tristeza e a indignação mescladas (Sl_6:7).
alma … corpo — a pessoa inteira.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 73
10. Embora os efeitos atribuídos à dor não são meras figuras de
dicção.
tristeza … gemidos — deve entender-se em sentido modificado de
desgastado e corrompido.
iniquidade — ou o mal que ela faz sofrer (cf. Sl_40:12).
11. A última cláusula descreve o progresso de sua desgraça até o
último grau, até que,
12. ele fica esquecido como um morto, e menosprezado como um
inútil copo quebrado.
13. Pois — introduz outras razões de sua oração; os propósitos
injustos, deliberados e sangrentos de seus inimigos.
14-18. Em sua declaração de sua confiança inclui os termos da
oração que a expressam.
15. os meus dias — o curso da vida.
livra-me das mãos — que me tivesse encerrado (Sl_31:8).
16. Faze resplandecer — (cf. Nm_6:25; Sl_4:6.) Suplicando para
si mesmo, pragueja sobre os ímpios o desagrado de Deus, e pede que se
faça cessar contra ele a virulenta perseguição deles.
19-21. Deus manifesta abertamente a bondade que pensa repartir a
seu povo.
20. No recôndito da tua presença — ou, na coberta de seu rosto, a
presença, a proteção assim dispensada; cf. alguma figura similar no
Sl_27:5, onde pavilhão usa-se como presença aqui. Apresenta-se a ideia
de segurança além pela figura de uma tenda (carpa, tabernáculo) e de
uma cidade forte.
22. Eu disse — dicção de sentido adversativo: Entretanto eu, assim
favorecido, fiquei desesperado.
na minha pressa — em meu terror.
excluído da tua presença — de toda a proteção de sua presença.
23, 24. O SENHOR preserva —lit., “Jeová guarda a fé,” isto é,
cumpre Sua aliança com o Seu povo, e julga com justiça ao mau. Assim,
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 74
que ninguém se desespere, mas sim tenha ânimo, porque suas esperanças
não serão vãs.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 75
Salmo 32

Masquil, lit., que dá instrução. O salmista descreve as bênçãos do


perdão de Deus para os que se arrependem, e de sua própria experiência
deduz ensino e exortação para outros.

1, 2. (Cf. Rm_4:6).
perdoada — tirada, o contrário de retida (Jo_20:23).
coberto — lit., cobertos, de modo que Deus já não leva em conta
(Sl_85:3).
2. atribui — pesa contra ele e o trata de conformidade.
dolo — engano, nenhuma falsa estimativa de si (orgulho), nem a
insinceridade para com Deus (Rm_8:1).
3, 4. Descrição viva do pecado sentido mas não confessado.
enquanto — lit., porque, como no Sl_32:4.
4. a tua mão — o poder de Deus para o afligir (Sl_38:2).
o meu vigor — os sucos vitais do corpo: o calor e a seca expressam
a angústia da alma. Sobre as demais figuras, cf. Sl_6:2, 6:7; Sl_31:9-11.
Se foi composto na mesma ocasião do Salmo 51, esta angústia pode ser
que durasse vários meses.
5. Ao pronto cumprimento da confissão pensada segue o imediato
perdão.
6. Sendo assim — ou seja, minha feliz experiência.
homem piedoso — piedoso, no sentido do Sl_4:3.
tempo — (Is_55:6); quando o Espírito de Deus nos inclina a buscar
perdão, ele está disposto a perdoar.
muitas águas — denota alto risco (Is_18:17; Is_66:12).
7. Sua experiência ilustra o que acabava de dizer (Sl_32:6).
8. Seja a linguagem, como o é provavelmente, de Davi (Sl_51:13),
ou de Deus, esta é promessa de orientação divina.
sob as minhas vistas — vigiando e dirigindo seu caminho.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 76
9. de outra sorte não te obedecem — lit., “porquanto não se
aproximam de ti”; isto é, porque não virão a menos que se lhes force
com cabresto e freio.
10. As tristezas do impenitente se contrastam com a paz e a
segurança resultantes da misericórdia de Deus.
11. Os justos e os retos, os que se conformam ao ensino divino para
conseguir a bênção divina, bem podem dar gritos de alegria.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 77
Salmo 33

Uma exortação ao vivo e prazeroso louvor a Deus, por Seus


gloriosos atributos e obra vistos na criação e em Sua providência geral e
particular, e portanto o salmista, com todos os piedosos, dá expressão a
sua confiança e alegria, e invoca a misericórdia de Deus.

1-3. O sentimento concorda com o do Sl_32:11 (cf. 1Co_14:15). Os


instrumentos (Sl_92:3; Sl_144:9) não excluem a voz.
3. novo cântico — recente, adaptado à ocasião (Sl_40:3;
1Co_96:1).
com júbilo — antes, com destreza (cf. o Sl_15:16, Sl_15:21).
4-9. As razões da louvor: a verdade, fidelidade, e misericórdia de
Deus, em geral; logo, Seu poder na criação, que deve ser respeitado.
6. Em “palavra” e espírito ou “alento de sua boca”, haveria uma
alusão ao Filho (Jo_1:1) e ao Espírito Santo.
9. ele falou — a palavra.
e tudo se fez; — o acréscimo de “tudo” debilita o sentido (cf.
Gn_1:3-10).
10, 11. Deus em Sua providência frustra os propósitos dos homens
e executa os próprios.
12-19. O que se infere do antes dito se ilustra no Sl_33:12 pela
providência especial de Deus, o que demonstra Seu conhecimento de
todos os homens.
13. olha — atentamente (cf. Is_14:16.
15. forma — portanto conhece e dispõe (Pv_21:1).
contempla — ou entende; Deus conhece os motivos dos homens.
16, 17. São vãs as coisas nas quais geralmente os homens confiam
em seus maiores apuros.
17. Montado em cavalo guerreiro (cf. Jó_39:19-25).
é vão (RC; TB, falaz) — uma mentira, que nos engana
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 78
18, 19. Não assim, em contraste, a direção de Deus e seu poder para
salvar do maior dos males humanos e do mais cruel perseguidor, e de
tudo.
20-22. espera — em algumas versões, com viva expectação.
21. seu santo nome — (cf. Sl_5:12; Sl_22:22; Sl_30:4.) Nossa fé
fixa a medida da misericórdia (Mt_9:29); e se é de graça, já não é mais
por dívida (Rm_11:6).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 79
Salmo 34

Sobre o título cf. 1Sm_21:13, Abimeleque era o nome geral do


soberano (Gn_20:2). Depois de celebrar os benéficos procedimentos de
Deus para com ele, o salmista exorta a outros a que façam prova de seu
cuidado providencial, ensinando-lhes como consegui-lo. Logo contrasta
o cuidado de Deus para com Seu povo e Sua providência punitiva para
com os maus.

1-4. Até na calamidade, a qual estimula a orar, sempre há motivo


por que louvar a Deus e lhe dar graças (Ef_5:20).
2. se gloriará (RC) — (Sl_105:3; cf. Gl_6:14).
os humildes — os piedosos, como no Sl_9:12; Sl_25:9.
3. Engrandecei —tributem a Ele grandeza, um ato de louvor.
comigo — junto, ou do mesmo modo (Sl_33:15), sem exceção.
4. livrou-me … temores — assim como dos maus efetivos
(Sl_64:1).
5-7. Celebra-se o favor de Deus feito aos piedosos em geral, e ao
salmista em particular.
Os que olharam (TB) — com o desejo de socorro.
iluminados — de radiante alegria, em contraste com o rosto caído
dos envergonhados e dos desapontados (Sl_25:2, 3).
6. este aflito — lit., humilde, sendo o salmista um exemplo dos tais.
7. anjo — da aliança (Is_63:9), do qual como chefe das hostes de
Deus (Js_5:14; 1Rs_22:19), é própria a frase –
acampa, etc. — ou melhor, anjo usa-se coletivamente por todos os
anjos (Hb_1:14).
8. Provai — provem e experimentem.
9. aos que o temem — os piedosos temem e amam (Pv_1:7;
Pv_9:10).
santos — os consagrados a seu serviço (Is_40:31).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 80
10. bem nenhum lhes faltará — “Bem” é enfático; pode ser que
sejam afligidos (Is_34:10); mas isto será um bem (2Co_4:17-18;
Hb_12:10-11).
11. filhos — meninos, sujeitos à instrução (Pv_1:8, Pv_1:10).
12. Quem é o homem …? — Aquele que deseja as bênçãos da
piedade, atenda.
13, 14. Os pecados da mente se incluem com os da fala (Lc_6:45):
evitar o mal e fazer o bem em nossas relações com os homens se baseia
na devida relação com Deus.
15. Os olhos do SENHOR repousam sobre os justos — (Sl_32:8;
Sl_33:18).
16. O rosto — heb., o rosto de Jeová contrário a eles (Lv_17:10;
Lv_20:3).
extirpar … a memória — destruir completamente (Sl_109:13).
17, 18. Os arrependidos são objeto da tenra consideração especial
de Deus (Sl_51:19; Is_57:15).
20. ossos — armação, ossatura do corpo.
21, 22. O contraste do destino dos justos e dos ímpios; aqueles
serão livrados e nunca virão a condenação (Jo_5:24; Rm_8:1); estes
ficarão condenados e desolados.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 81
Salmo 35

O salmista invoca o socorro divino, contrastando a hipocrisia, a


astúcia e a malícia de seus inimigos com sua própria integridade e
generosidade. As imprecações da primeira parte com uma breve menção
de sua conduta, a exposição plena da hipocrisia e malícia na segunda, e a
ardente súplica de libertação do arrogante triunfo deles na terceira,
terminam em cada caso (Sl_35:9, 10, 18, 27, 28) com promessas de
louvor pelo socorro desejado, em que seus amigos tomarão parte. A
ocasião histórica provavelmente é 1 Samuel 24.

1-3. Deus é invocado em seu caráter de guerreiro (Êx_15:3;


Dt_32:41).
3. Empunha a lança, etc. — lit., devora a meus devoradores.
reprime o passo — o caminho a meus perseguidores; oponha-se a
eles.
Eu sou a tua salvação — Eu sou quem te salva.
4. (Cf. Sl_9:17.)
contra mim intentam o mal (RC) — se propõem me fazer mal.
5, 6. (cf. Sl_1:4) — um destino terrível: corridos pelo vento sobre
um caminho escorregadio na escuridão, e perseguidos de perto por uma
violência sobre-humana (2Sm_24:16; At_12:23).
7, 8. encobriram de mim a rede (RC) — ou, o fossa de sua rede,
armadilha em forma de fossa como santo monte, por monte de sua
santidade (At_2:6). As imprecações sobre os impenitentes rebeldes
contra Deus não necessitam vindicação; sua justiça e sua ira são para os
tais; sua misericórdia para os penitentes. Cf. Sl_7:16; Sl_11:5, referente
ao destino particular dos ímpios aqui anotado.
10. Todos os meus ossos — toda parte.
daquele que é demais forte para ele — (cf. o Sl_10:2.)
11. iníquas testemunhas — lit., testemunhas de injustiça e
crueldade (cf. o Sl_11:5; Sl_25:19).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 82
12-14. Embora eles pagaram mal por bem, manifestou-lhes tenra
simpatia em sua aflição.
desolação para a minha alma — Os modos comuns de expressar a
tristeza são figuras de sua própria tristeza.
13. oração … peito — pode ser que signifique a postura: a cabeça
inclinada (1Rs_18:42), ou, que a oração fosse em segredo. Alguns
opinam que aqui há referência ao resultado: que a oração beneficiaria a
ele, se não a eles.
14. portava-me — como amigo, e mais, como irmão.
de luto, como quem chora por sua mãe — em ocasiões de luto se
descuidava o asseio pessoal. Sua dor foi como o luto por um parente
dele.
15, 16. Eles, pelo contrário, alegraram-se da angústia dele. A
coxeadura, ou manqueira, é figura de qualquer sofrimento (Jó_38:17).
os abjetos — ou por ser coxos (2Sm_4:4), ou degradados por ter
sido açoitados (Jó_30:1-8).
eu não conhecia — tanto às pessoas como às razões de tal conduta.
dilaceraram-me sem tréguas — lit., “não estava em silêncio” –
demonstrando que o dilacerar significa o caluniar.
16. bufões — gozadores pagos para fazer rir nas festas (Pv_28:21).
17. minha predileta — (cf. Sl_22:20-21)
18. (Cf. Sl_22:22)
19. os que sem causa — isto é, injustamente, por alegações falsas e
calúnias.
pisquem os olhos — um gesto insultante (Pv_6:13).
sem causa — o que manifesta mais malícia que o ter uma causa
errada.
20. tramam enganos contra os pacíficos — longe de promover a
paz, inventam falsas acusações contra os mansos, amantes da paz.
21. Sobre o gesto, cf. Sl_22:7; sobre as expressões de arrogante
triunfo, cf. Sl_10:13; Sl_28:3,
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 83
23, 24. (cf. Sl_7:6, Sl_26:1; 2Ts_1:6). O justo governo de Deus é a
esperança dos piedosos, e o terror dos ímpios.
25. Demos cabo dele — destruído totalmente (Sl_21:9; Lm_2:16).
26. cubram-se — sejam completamente cobertos (Jó_8:22).
27. têm prazer na minha retidão — alegrem-se nisto, quando for
reivindicada por ti.
Glorificado seja — por seu cuidado do justo.
28. Neste louvor do justo governo de Deus (Jó_5:8) o salmista
promete ocupar-se sempre.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 84
Salmo 36

Sobre servo do Senhor cf. o título do Salmo 18. Contrasta-se a


maldade do ímpio com a excelência das perfeições e dispensações de
Deus; se busca o benefício destas, e se repudia aquela.

1. O sentido geral deste difícil texto é, “que os ímpios não têm


temor a Deus.” Pode-se interpretar assim: “Diz a meu coração a
transgressão, em relação ao ímpio, não há temor …,” isto é, tal é minha
meditação sobre as transgressões dos homens.
2-4. A meditação detalhada:
que a sua iniquidade — Persuade-se a si mesmo que Deus não a
achará, para aborrecê-la; envolve a ideia do castigo. Daí suas palavras de
engano e de iniquidade, e seu arrogante rechaço de todos os princípios
retos de conduta. O cúmulo é que deliberadamente adota e fomenta o
pecado. As formas negativas afirmam mais enfaticamente as verdades
opostas.
5, 6. benignidade … fidelidade — como misericórdia e verdade
(Sl_25:10).
6. justiça … juízos — qualidades de um bom governo (Sl_5:8;
Sl_31:1). As mesmas estão expressas como ilimitadas, pelas figuras
usadas.
7. à sombra das tuas asas — (Cf. Dt_32:11; Sl_91:1.)
8. abundância — riqueza.
sua casa — residência – os privilégios e as bênçãos da comunhão
com Deus (Sl_23:6; Sl_27:4).
torrente das tuas delícias — sortido copioso; possível alusão ao
Éden.
9. Luz é o emblema de todas as bênçãos, dadas por Deus como
meios de receber mais.
10. aos que te conhecem — o devido conhecimento de Deus é a
fonte dos adequados afetos e da conduta.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 85
11. o pé da insolência … a mão do ímpio — toda sorte de
procedimentos violentos.
12. Tombaram — Nos atos de violência foram derrubados. Uma
derrota singular.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 86
Salmo 37

Recomenda-se a confiança sossegada e uniforme em Deus e a


integridade constante, à vista da bem-aventurança dos piedosos,
contrastada em seus vários aspectos com a ruína final dos maus. Assim
se vindicam a sabedoria e a justiça de Deus, e se explicam as aparentes
desigualdades que incitam as reflexões dos maus e a falta de fé dos
piedosos. A história pessoal de Davi ilustra abundantemente o salmo.

1, 2. Expressam o sentimento geral de todo o salmo. Os justos não


devem inquietar-se pela prosperidade dos iníquos, porque é passageira, e
o fim deles, indesejável.
3. Confia — ou, vive você, repousa tranquilo.
alimenta-te — isto é, da promessa de Deus (Sl_36:5; cf. Os_12:1).
4. desejos — desejos expressos (Sl_20:5; Sl_21:2), lícitos e justos,
verdadeiramente bons (Sl_84:11).
5. Entrega ... caminho — (Pv_16:3). As obras: o que deve fazer e
não pode, expresso como uma carga.
confia nele — lit., “sobre ele”. Ele fará o que você não pode (cf.
Sl_22:8; Sl_31:6). Não permitirá que se suspeite de seu caráter.
7, 8. Descansa — lit., esteja em silêncio perante Deus.
e espera — seja submisso; evita a petulância e murmurações, a ira
e temeridade.
9. Duas razões: a prosperidade dos maus é breve; e os piedosos, em
humilde confiança, receberão todas as bênçãos da aliança envoltas na
frase, “herdará a terra” (Sl_25:13).
10, 11. não existirá — lit., “não é” – é não ser achado.
11. paz — inclui a prosperidade.
12. ringe os dentes — em ira bestial.
13. (Cf. Sl_2:4.)
pois vê — sabe com certeza.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 87
seu dia — de castigo, que, por demorado que esteja, chegará
(Hb_10:37).
14, 15. espada … arco — por quaisquer instrumentos de violência.
matar — lit., “matança” (1Sm_25:11).
o pobre e necessitado — o povo de Deus (Sl_10:17; Sl_12:5). O
castigo dos maus o trazem sobre si: mencionado com frequência
(Sl_7:15-16; Sl_35:8).
16. as riquezas (RC) — lit., a bulha e o vaivém, concomitantes das
muitas riquezas (cf. o Sl_39:6). Assim se torna mais vivo o contraste
com “o pouco” de um homem.
17. Os próprios membros do corpo necessários para sustentar as
armas serão destruídos.
18, 19. Deus, que sabe as mudanças de Seu povo, dá proteção
contra o mal e supre todas as necessidades deles.
20. Enquanto isso os maus, por poderosos que sejam, são destruídos
completamente, como a fumaça que desaparece e não deixa rastros.
21, 22. não paga — não pode pagar, empobrecido já (cf. Dt_15:7).
A capacidade de um e a incapacidade de outro não excluem as
disposições morais. A bênção de Deus ou sua maldição faz a distinção.
22. serão exterminados — em contraste com “herdarão a terra”
(Cf. Lv_7:20-21).
23, 24. os passos — o caminho, ou curso da vida; de modo que os
fracassos não serão permanentes.
26. será uma bênção — (Gn_12:2; Sl_21:6). Esta posição é
verdadeira ainda como regra da economia de Deus (1Tm_4:8; 1Tm_6:6).
27-29. A exortação é fortalecida pela segurança da retidão essencial
de Deus naquele governo providencial que reparte bênçãos perpétuas
para os bons e miséria eterna para os iníquos.
30, 31. descreve-se o caráter dos justos a respeito dos elementos de
pensamento, palavra e ação.
31. seus passos — seu conduta, que não flutua (Sl_18:36).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 88
32, 33. Fracassam os desígnios dos maus contra os bons, porque
Deus os justifica.
34. Do contrário, não só se abençoa os bons, mas também lhes
permite ver a ruína de seus inimigos.
35, 36. Um quadro da qual dá-se na figura de uma árvore verde que
logo se seca.
36. já não foi encontrado — (cf. Sl_37:10).
37. O “final ditoso” significa recompensa (Pv_23:18; Pv_24:14), ou
esperança de êxito, como no Sl_37:38, que dá o contraste do final dos
ímpios, ou seja, sua posteridade será destruída (Cf. o Sl_73:17).
38. à uma — inteiramente (Sl_4:8).
39, 40. fortaleza — (Sl_27:1; Sl_28:8.)
tribulação — (Sl_9:9; Sl_10:1). Na confiança e na tranquilidade é
a salvação dos piedosos de todos seus inimigos e de todos os desígnios
deles.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 89
Salmo 38

Para lembrar a Deus com relação à Sua misericórdia, e ao salmista,


de seus pecados. Rogando a Deus que lhe dê alívio de seu pesado
castigo, declara sua integridade perante os homens, queixa-se da
defecção de seus amigos e da perseguição de seus inimigos; e
repousando em Deus em espírito submisso, e com penitente confissão,
invoca a aliança com Deus e sua própria inocência a respeito das
acusações de seus inimigos, e pede o divino consolo e socorro.

1-4. Pede libertação do justo castigo, o qual descreve (Sl_6:1) sob a


figura de doenças físicas [Sl_38:3].
2. tuas setas … tua mão — as agudas e pesadas aflições que sofria
(Dt_32:23).
4. as minhas iniquidades — quer dizer, o castigo das mesmas
(2Sm_16:12; Sl_31:10; Sl_40:12).
se elevam acima de minha cabeça — como uma inundação.
5-8. A abominação, corrupção e tortura esgotante expressam a
angústia mental do salmista. É possível que se tratasse de alguma doença
corporal [Sl_38:6].
7. os lombos — o assento da força. Seu esgotamento lhe deixou
apenas a energia para gemer [Sl_38:9].
9. Deus pode ouvir (Rm_8:26).
10. Bate-me agitadamente o coração (TB) — como se quase não
sobrevivesse.
luz dos meus olhos — esgotamento total (Sl_6:7; Sl_13:3).
11, 12. Os amigos lhe abandonam, os inimigos aumentam em
malignidade.
12. tramam tirar-me a vida — (1Sm_20:1; 1Sm_22:23.)
13, 14. Submete-se com paciência sem proferir recriminações nem
réplicas (Jo_19:9) aos insultos deles.
15-17. porque está convencido de que –
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 90
Senhor, Deus meu — lit., o Soberano (de quem é servo)
responder-lhe-á (Sl_3:4; Sl_4:1), e não permitirá que aqueles triunfem
pela possível claudicação dele.
18. A consciência do pecado aumenta o sofrimento, o qual
devidamente recebido leva a confissão.
19, 20. Contudo, humilhado perante Deus, é vítima de seus mortais
inimigos, cheios de malícia e traição.
inimigos são vigorosos — lit., são de vida, querem me tirar a
minha, isto é, mortais.
21, 22. (Cf. Sl_22:19; Sl_35:3). Termos de frequente uso. Neste
Salmo a linguagem em geral se permite aplicar-se a Cristo como
sofredor, sendo que Davi é o tipo como tal. Isto não nos obriga a aplicar
a confissão de pecado a Cristo, mas sim somente as penas e penalidades
que Ele levou por nós.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 91
Salmo 39

A Jedutum (1Cr_16:41-42), um dos cantores principais. Seu nome


mencionado talvez como uma honra especial. Sob a impressão
pessimista de sua fraqueza e da prosperidade dos maus, o salmista,
tentado a murmurar, refreia a expressão de seus pensamentos até que,
contemplando sua causa desde o ângulo devido, suplica a justa
consideração de sua condição e a compaixão divina.

1. Disse — ou, resolvi.


guardarei — vigiarei.
caminhos — a conduta, da qual a língua é parte (Tg_1:26).
mordaça — lit., focinheira (Dt_25:4).
enquanto ... na minha presença — melhor, diante de mim,
enquanto contemplo sua prosperidade (Sl_37:10, 36).
2. calei acerca do bem — (Gn_31:24), calei-me com relação a
tudo.
3. Suas emoções, qual chama sufocada, explodem.
4-7. Alguns opinam que estas palavras denotam aborrecimento, mas
tal interpretação não é essencial. A pintura de descontentamento aparece
pelo caráter de suas emoções reprimidas. Mas quando se dirige a Deus,
suaviza-as e refreia.
Dá-me a conhecer … o meu fim — apreciar experimentalmente.
qual a soma dos meus dias — lit., quando deixarei de ser.
5, 6. sua oração é respondida quando obtém a visão impressionante
da vaidade da vida de todos os homens e de seu estado passageiro. A
pompa deles é mera imagem, e seus tesouros os juntam, não sabem para
quem.
7. A interrogação torna mais forte a implícita negação. Embora este
mundo nada ofereça para nossa expectação, Deus é digno de toda
confiança.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 92
8-10. Paciente e submisso, pede que se lhe tire o castigo, e que ele
não seja uma recriminação.
11. Aplica o argumento de seu caso ao de todos os homens, que a
destruição das alegrias do homem é devido ao pecado.
12, 13. Em consonância com o teor do salmo, pede a consideração
compassiva de Deus para ele como estrangeiro aqui, e que sendo
peregrino como seus pais, ele seja fortalecido como eles, em vez de ficar
sob a ira e castigado por Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 93
Salmo 40

Neste salmo uma celebração da libertação de Deus é seguida pela


profissão da devoção a seu serviço. Logo segue a petição de alívio dos
perigos iminentes, que envolve a derrota de inimigos e o regozijo de
amigos compassivos. Em Hb_10:5, etc., Paulo cita Sl_40:6-8 como
palavras de Cristo, quem se oferecia como sacrifício melhor. Alguns
opinam que Paulo acomodou as palavras de Davi para expressar os
sentimentos de Cristo. Mas o valor da citação assim seria destruído, pois
não teria força alguma em seu argumento, a menos que os leitores de
Paulo a entendessem no sentido original da passagem do Antigo
Testamento. Outros opinam que o salmo descreve os sentimentos de
Davi na dor e na alegria; mas que a linguagem chamada por Paulo, no
sentido por ele dado, não podia aplicar-se a Davi em nenhuma de suas
relações, pois como tipo, a linguagem não se adapta para descrever
evento ou condição alguma da carreira de Davi, e como um indivíduo
que representasse os piedosos em geral, nem ele nem eles poderiam
corretamente usar uma tal linguagem (veja-se o Sl_40:7 abaixo). O
Salmo deve ser entendido, pois, como também o dezesseis, como
expressão do sentir da natureza humana de Cristo. As dificuldades
pertinentes a esta interpretação serão consideradas conforme ocorrerem.
As figuras de profundo pesar são ilustradas na história de Jeremias
(Jr_38:6-12). A paciência e a confiança manifestadas na aflição, a
libertação em resposta à oração, e o efeito benéfico dela como motivo de
louvor de parte dos verdadeiros adoradores de Deus, nos ensinam que os
padecimentos de Cristo nos dão exemplo, e sua libertação deles nos dá
animação e consolo (Hb_5:7-8; Hb_12:3; 1Pe_4:12-16).

1. se inclinou — (o ouvido, Sl_17:6), para sentir o mais fraco


suspiro.
3. novo cântico — (Sl_33:3).
temerão, e confiarão — reverenciarão com amor e confiança.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 94
4. Bem-aventurado — (Sl_1:1; Sl_2:12).
não pende — lit., acode, como a alguém de confiança.
se desviam (RC) — que se se separam do Deus verdadeiro e de sua
lei para o falso no culto e na conduta.
5. anunciá-los — Cf. Sl_5:3; Sl_33:14; Is_44:7), muitos para
poder-se enumerar em ordem. Isto é só um exemplo dos muitos. O uso
do plural concorda com a união de Cristo com o Seu povo. No
padecimento como no triunfo, são um com Ele.
6-8. Na opinião de Paulo, esta passagem significa mais que a mera
expressão do agradecimento e consagração ao serviço de Deus. Ele põe
na boca de Cristo a declaração de que os sacrifícios, fossem de legumes
ou de animais, fossem expiatórios ou especiais, não terão valor algum
para cumprir as demandas da lei de Deus, e de que ele tinha vindo para
dar a satisfação requerida, a qual diz foi consumida pela “oferta do corpo
de Cristo” [Hb_10:10], porque tal é “a vontade de Deus” que Cristo
precisou cumprir, a fim de realizar a redenção do homem. Vemos assim,
pois, que o contraste com o caráter inaceitável aplicado às ofertas do
A.T., no Sl_40:6 se acha no cumprimento da lei de Deus (cf. Sl_40:7-8).
É óbvio, como Paulo e outros escritores do N.T., explicam a obra de
Cristo, esta consistia em mais que no ser Ele feito sob a lei ou o obedecer
os preceitos dela: requereu uma “obediência até a morte” [Fp_2:8], e tal
é a obediência aqui significada principalmente, e a que põe claro o
contraste com o Sl_40:6.
abriste os meus ouvidos — Seja ou não que a alusão se faça ao
costume de perfurar a orelha de um escravo, em sinal de escravização
voluntária e perpétua (Êx_21:6), ou que a abertura do ouvido, como em
Is_48:8; Is_50:5 (embora se expressa com vocábulo diferente no
hebraico), signifique a obediência, pela figura comum de ouvir por
obedecer, é evidente que o propósito da frase é para expressar uma
consagração à vontade de Deus que se manifesta mais plenamente no
Sl_40:8 e que já foi explicada. Paulo, entretanto, emprega as palavras,
“corpo me preparaste” [Hb_10:5], que se acham na LXX em lugar
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 95
destas: “Tem aberto meus ouvidos.” Ele não insiste em tal frase, e seu
argumento é completo sem ela. Talvez se deve considerar, antes, como
uma interpretação ou tradução livre pela LXX do que um acréscimo ou
tentativa de tradução verbal. Os tradutores da LXX poderiam ter tido
referência aos padecimentos vicários de Cristo tal qual são ensinados em
outros textos, como em Is_53:4-11; em todo caso o sentido é
substancialmente o mesmo, pois um corpo era essencial para a
obediência requerida (cf. Rm_7:4; 1Pe_2:24).
7. Então — em tal caso, sem referência necessariamente à ordem
cronológica.
Eis aqui venho (RC) — Estou preparado para fazer, etc.
no rolo do livro — Tais rolos, como de mapas, usam-se ainda nas
sinagogas.
está escrito a meu respeito — ou me está prescrito (2Rs_22:13).
Aquele é o sentido adotado por Paulo. Em cada caso, se refere ao
Pentateuco, a lei de Moisés; e enquanto que tem muito com relação a
Cristo diretamente, como em Gn_3:15; Gn_49:10; Dt_18:15, e
indiretamente, no rito levítico, em nenhuma parte se faz alusão alguma a
Davi.
9, 10. Proclamei — lit., evangelizei; disse boas novas. O ofício
profético de Cristo aqui se ensina. Ele “pregou” as grandes verdades do
governo de Deus aos pecadores.
11. Pode ser traduzido como uma asserção, de que Deus não reterá
(Sl_16:1).
12. os males — infligidos por outros.
as minhas iniquidades — iniquidades ou aflições penais, e às
vezes, as calamidades em sentido amplo. Este significado do vocábulo é
muito comum (Sl_31:11; Sl_38:4; cf. Gn_4:13, o castigo de Caim;
Gn_19:15, o de Sodoma; 1Sm_28:10, o da feiticeira de En-Dor; também
2Sm_16:12; Jó_19:29; Is_5:18; Is_53:11). A ideia penal é favorecida
também pela frase “me alcançaram”, tão propriamente dos padecimentos
mas não de pecados (cf. Jó_27:20; Sl_69:24). De modo que,
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 96
desaparecem as dificuldades que resultam ao aplicar este Salmo a Cristo
na leitura usual deste versículo. Sobre as terríveis aflições aludidas, e
sofridas a nosso favor, cf. Lc_22:39-44, e a narração das cenas do
Calvário.
o coração me desfalece — “A minha alma está triste até a morte”
(Mt_26:38).
me impedem a vista — lit., não posso ver, que não significa
depressão por causa de culpabilidade consciente, como em Lc_18:13,
mas sim o esgotamento pela dor, a fraqueza da vista (Sl_6:7; Sl_13:3;
Sl_38:10). Todo o contexto assim sustenta o sentido aplicado a
iniquidades.
13. (Cf. o Sl_22:19).
14, 15. A linguagem não é necessariamente imprecatória, mas
antes, de confiante expectação (Sl_5:11), embora o sentido anterior não é
inconsequente com a oração de Cristo pelo perdão de seus verdugos,
porquanto a mesma confusão e vergonha deles podiam ser os meios para
prepará-los para buscar humildemente o perdão (cf. At_2:37).
15. por causa — lit., em consequência.
Bem-feito, bem-feito! — (Cf. Sl_35:21, Sl_35:25.)
16. (Cf. 35:27).
amam a tua salvação — que se deleitam no dom da salvação para
outros tanto como para si mesmos.
17. Um resumo de sua condição e de suas esperanças.
cuida de mim — proverá para mim. “Ele foi ouvido”, “quando
ofereceu orações e súplicas com forte clamor e lágrimas, àquele que era
poderoso para salvá-lo da morte” [Hb_5:7].
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 97
Salmo 41

O salmista celebra a bem-aventurança dos que se compadecem dos


pobres, conduta fortemente contrastada com o rancor de seus inimigos e
o descuido de seus amigos na calamidade. Pede a misericórdia de Deus
em seus males não merecidos; e confiante no alívio próximo, pede que
Deus vindique sua causa, e termina com uma doxologia.

1-3. Deus recompensa a bondade para com os pobres (Pv_19:17)


Do Sl_41:2 e 11 se pode inferir que o salmista descreve sua própria
conduta.
ao necessitado — em pessoa, posição, e posses.
2. será abençoado (RC) — ou, será bendito, lit., será bem guiado,
em segurança, será prosperado (Sl_23:3).
na terra — prometida (Sl_25:13; Sl_27:3-9, etc.).
3. As figuras de este versículo são tomadas dos atos de bondosa
enfermeira.
4. Disse eu — Eu pedi a misericórdia da qual tinha usado.
sara a minha alma — (cf. Sl_30:2). “O pecado e a dor vão
unidos”, é um dos grandes ensinos dos salmos.
5, 6. Um quadro fiel da conduta do inimigo maligno.
6. vem visitar-me (TB) — para espiar minha condição.
amontoando no coração malícias — ou, “fala vaidade com
relação a seu coração”, não fala com ingenuidade, “junta para si
iniquidade”, reúne os elementos para fazer mal, e logo divulga os
resultados de sua hipocrisia.
7, 8. Quanto a outros, todos fazem o mesmo.
8. Peste maligna — lit., uma palavra de Belial, alguma calúnia.
deu nele — lit., derramou-se sobre ele.
Caiu de cama — O mesmo que tem o mal, já está caído em cama;
“está totalmente desfeito, e nossa vitória está assegurada”.
9. meu amigo íntimo — quer dizer, meu amigo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 98
que comia do meu pão — de mim dependia e era bem tratado.
levantou contra mim o calcanhar — com violência e desdém.
Como Davi e suas desventuras tipificavam a Cristo e as dele (cf. a
Introdução), assim estas palavras expressam o trato que aquele recebeu,
assim como também aquele que recebeu nosso Senhor; portanto, mesmo
quando não são distintamente proféticas, nosso Salvador (Jo_13:18)
aplicou-as a Judas, “para que a Escritura seja cumprida”. Esta última
frase tem amplo uso no N.T., e não se restringe a denotar profecias
específicas.
10. O castigo legal dos criminosos não é vingança, nem é
inconsequente com o bem final deles (cf. o Sl_40:14-15).
11-13. tu te agradas de mim — ou, ama-me com ternura
(Gn_34:19), o que se comprova com minha libertação de meus
adversários; e além disso, Deus reconhece a inocência dele, sustentando-
o.
12. à tua presença — diante de seu rosto, sob sua vigilância e
cuidado, como Deus diante do rosto do homem (Sl_16:8) é objeto de
confiança e de amor.
13. Bendito — Seja louvado, a frase usualmente aplicada a Deus.
Aplicada a palavra aos homens significa felicidade, bem-aventurança
(Gn_1:1; Gn_32:1). Com esta doxologia se termina o rolo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 99
Salmo 42

Masquil — (cf. o título do Salmo 32). Para, ou de (cf. Introdução)


os filhos de Coré. O escritor, talvez um da família levítica de cantores
que acompanhavam a Davi no desterro, chora sua ausência do santuário,
por causa da tristeza agravada pela injúria dos inimigos, e é consolado na
esperança do alívio. Esta linha de pensamento se repete com alguma
variedade de detalhe, e se repete a mesma terminação em cada caso.

1, 2. (Cf. Sl_63:1).
suspira — anela num estado de esgotamento.
2. me apresentarei ante a face de Deus (RC) — em atos de
adoração; estes termos aparecem na lei que ordena a apresentação
pessoal prescrita dos judeus no santuário.
3. O teu Deus, onde está? — Insinua que Deus o tinha
desamparado (2Sm_16:7; Sl_3:2; Sl_22:8).
4. Lembro-me — A memória deste tempo de aflição dará maior
ardor aos privilégios do culto, quando forem recuperados.
5. Portanto repreende sua alma desalentada, e se reconforta na
segurança de sua esperança.
auxílio (TB) — socorro.
do seu rosto (TB) (cf. Nm_6:25; Sl_4:6; Sl_16:11).
6. O abatimento expresso de novo.
portanto — quer dizer, não achando consolo em mim mesmo,
volto a Ti, embora esteja nestas distantes “terras do Jordão e do monte
Hermom”, a região a leste do Jordão.
outeiro de Mizar — nome de uma pequena colina em contraste
com as montanhas que rodeiam Jerusalém, talvez expressa o desprezo
com que se olhava o lugar do desterro.
7. O ruído das ondas sucessivas, correspondentes às inundações
pelas chuvas, representa as amarguras que lhe oprimiam.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 100
8. Até conta com um rio igualmente constante de misericórdia
divina que motivará seu louvor e inspirará sua oração a Deus;
9, 10. em vista do qual [Sl_42:8] dita para si mesmo uma oração
baseada em sua aflição, ofendida como estava pelos gestos cruéis e
sugestões pérfidas de seus inimigos.
11. Renova a repreensão própria e volta a alentar suas esperanças.
salvação (TB) — ou socorro.
do meu rosto (TB) — (cf. Sl_42:5), quem me alenta, que afugenta
as nuvens de tristeza de diante do meu rosto.
Deus meu —De sua existência e de seu favor meus inimigos
querem me fazer duvidar.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 101
Salmo 43

Salvo pela repetição do estribilho, não há boa razão justificada por


que supor que este seja parte do salmo anterior, embora seu objeto é o
mesmo. Sempre esteve separado.

1. Faze-me justiça — ou, me vindique (Sl_10:18).


pleiteia a minha causa — (Sl_35:1.)
homem fraudulento e injusto — nem em caráter nem em
condição, objetos do favor divino (cf. Sl_4:3).
2. Deus da minha fortaleza — em virtude da relação pactuada
(Sl_18:1).
rejeitas — com desdém.
sob a opressão — em tais circunstâncias de opressão
3. a tua luz — como no Sl_27:1.
verdade — ou, fidelidade (Sl_25:5) manifesta-a no cumprimento
das promessas. Luz e verdade são personificadas como mensageiras que
o guiarão ao lugar privilegiado do culto.
tabernáculos — no plural, uma referência aos vários pátios.
4. ao altar — o lugar principal do culto. A menção do harpa sugere
a proeminência da louvor como parte da oferta do salmista.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 102
Salmo 44

Num tempo de uma grande catástrofe nacional, provavelmente no


reinado de Davi, o salmista conta os procedimentos benignos de Deus
em tempos anteriores, e a confiança que tinha aprendido a depositar nele.
Depois de dar um quadro vívido de suas calamidades, humildemente se
queixa do aparente esquecimento da parte de Deus, lembrando-lhe da
fidelidade de seu povo e de suas aflições.

1-3. Esta época é a do estabelecimento em Canaã (Js_24:12;


Jz_6:3).
nos têm contado — (cf. Êx_10:2.)
2. os estabeleceste — isto é, a nossos pais; aos mesmos também
desapossaste — os espalhou, pelas várias regiões. Gente e povos
foram expulsos para abrir espaço para os israelitas.
4. Tu és o meu rei — lit., aquele que é meu Rei, que sustenta a
mesma relação como com os “pais”.
5. calcamos aos pés — pisaremos, a figura se tira dos hábitos do
boi.
6-8. Deus não só é nosso único socorro, mas também unicamente
Ele é digno de louvor.
7. cobriste de vergonha — (cf. Sl_6:10.), desgraçado
8. o teu nome — como no Sl_5:11.
9. porém — contrastando desprezaste como aborrecível (Sl_43:2).
não sais — lit., não sairás (2Sm_5:23). Em vários versículos
consecutivos o verbo principal é futuro, e o que lhe segue é pretérito (no
hebraico), o que denota causas e efeitos. Assim (Sl_44:10-12),
derrotados, segue a pilhagem; livrados como ovelhas, segue a dispersão,
etc.
11. Não significa necessariamente o cativeiro babilônico. Houve
outros (cf. 1Rs_8:46).
13, 14. (cf. Dt_28:37; Sl_79:4.).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 103
15. A minha ignomínia ... diante de mim — se ruboriza de sua
vergonha.
16. As causas dela, o escárnio e a presença de inimigos ímpios
(Sl_8:2).
17-19. Não tinham apostatado totalmente; ainda eram o povo de
Deus.
18. Não tornou atrás — afastado da lei do Deus
19. onde vivem os chacais — o deserto rochoso, desolado e estéril
(Sl_63:10; Is_13:22).
as sombras da morte — (cf. o Sl_23:4.)
20, 21. Súplica solene a Deus para que reconheça a integridade
deles.
estendido as mãos — em gesto de adoração (Êx_9:29; Sl_88:9).
22. Seus padecimentos prolongados como povo de Deus
testemunham sua constância. Assim Paulo descreve (Rm_8:36) a firmeza
do cristão na perseguição.
23-26. Este uso ao dirigir-se a Deus como desatento a Seu povo é
frequente (Sl_3:7; Sl_9:19; Sl_13:1, etc.). Por humilde que seja a
condição deles, invoca-se a Deus sobre a base e pela honra de Sua
misericórdia.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 104
Salmo 45

Sosanim — lit., Lírios, seja descritivo de um instrumento em forma


de lírio, ou significa o nome de alguma toada ou ária com a qual se devia
cantar o salmo (cf. o título do 8.) Canção de amores ou canção de
amadas — canção conjugal. Masquil — (cf. o Salmo 32 e o 42) denota o
caráter didático do salmo; quer dizer, que dá instrução, sendo a canção
alegórica e não de sentido literal. Aqui se descrevem a glória e a união
de Cristo e a Igreja. É aclamado como rei dotado de todas as graças
essenciais, como conquistador exaltado sobre um trono de governo justo
e eterno, e como noivo de esplendor nupcial. A Igreja está representada
na pureza e beleza de uma noiva regiamente adornada e acompanhada,
convidada a abandonar seu lar e a compartilhar as honras de seu noivo e
senhor.
O quadro de um casamento oriental assim exposto, deve ser
completado com a representação dos presentes de felicitação dos ricos
que honram a ocasião, da procissão da noiva em seu adorno
esplendoroso, atendida por seus companheiras virgens, e da entrada da
multidão prazerosa ao palácio do rei. Em lugar do desejo usualmente
expresso a respeito (Gn_24:60; Rt_4:11-12), fecha-se o Salmo com a
predição de uma prole numerosa e distinguida.
Todos os antigos intérpretes judaicos e cristãos pensavam que o
Salmo era uma alegoria com o significado acima sugerido. Nos Cantar a
alegoria se desenvolve mais plenamente. Oseias (Oseias 1:1 – 3:5) trata a
relação de Deus com o Seu povo sob a mesma figura, e seu uso para
figurar a relação de Cristo e Sua Igreja a encontramos em ambas as
partes da Bíblia (cf. Is_54:5; Is_62:4-5; Mt_22:3; Mt_25:1; Jo_3:29;
Ef_5:25-32, etc.).
Foram sugeridos outros métodos de interpretação, mencionando-se
vários monarcas judaicos desde Salomão até o ímpio Acabe, e vários
príncipes estrangeiros, como o herói do cântico. Mas a nenhum deles se
podem aplicar os termos aqui usados, e dificilmente se for provável que
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 105
se desse lugar a uma mera canção nupcial, e menos a de um rei pagão,
entre as canções sagradas dos judeus. Os que advogavam por uma
interpretação diferente que a messiânica, geralmente se calaram uns aos
outros em sucessão, enquanto que a aplicação das mais rigorosas regras
de um justo sistema de interpretação não tem feito mais que fortalecer as
evidências em favor da interpretação messiânica. Esta explicação do
salmo é fácil, e é defendida pela explicação de seus detalhes. A citação
do Sl_45:6-7 por Paulo (Hb_1:8-9), aplicada a Cristo, deveria ser
conclusiva, e a exposição destes textos demonstra a propriedade de tal
aplicação.

1. Prefácio animado indicativo de forte emoção..


transborda, etc. — lit., transbordando, como uma fonte que flui.
um bom assunto eu falo; as coisas que tenho feito referente ao Rei. Arde
de ardor.
a minha língua é como a pena — um mero instrumento para o uso
de Deus.
habilidoso escritor — de muita soltura. O tema inspira, e a
linguagem flui com facilidade.
2. Ao seu encanto pessoal se acrescenta a graça dos lábios, os
poderes sedutores da fala. Estas dotes devem ser fonte de poder e resulta
em bênçãos. Cristo é Profeta (Lc_4:22).
3, 4. o rei se prepara para sair à batalha.
espada — (cf. Ap_1:16, Ap_19:15.)
herói — ou, poderoso (cf. Is_9:6).
a tua glória e a tua majestade — expressão comum de atributos
de Deus (Sl_96:6; Sl_104:1; Sl_111:3), aplicada em casos especiais a
mortais (Sl_21:5), talvez como tipos.
4. cavalga prosperamente — que dirija a campanha com êxito.
pela causa da verdade — em prol da verdade.
verdade … justiça — sem a conjunção, quer dizer, um governo
justo e equitativo, notável pela mansidão ou condescendência (Is_18:35).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 106
destra — ou, o poder; órgão do poder.
coisas terríveis (TB) — na conquista dos inimigos.
5. O resultado.
os povos — nações inteiras ficam vencidas.
6. Nenhuma construção lícita pode ser ideada que mude o sentido
dado a este texto e sustentado pelas antigas versões, e sobretudo por
Paulo (Hb_1:8). Sobre a perpetuidade deste governo, cf. 2Sm_7:13;
Sl_10:16; Sl_72:5; Sl_89:4; Sl_110:4; Is_9:7.
7. Como é proeminente no versículo anterior a natureza divina,
neste texto se alegam as qualidades morais do homem como razão ou
base do regozijo medianeiro. Alguns traduzem: “Ó Deus, teu Deus,” em
vez de
Deus, o teu Deus — mas esta tradução é sustentada pela mesma
forma no Sl_50:7, e só era a unção de sua natureza humana o que se
podia pregar (cf. Is_61:3).
óleo de alegria — emblema de alegria (cf. 1Rs_1:39-40).
companheiros — outros reis.
8. O rei assim instalado agora aparece como noivo, em roupagem
ricamente perfumada, tirado de
palácios de marfim — Seu residência real; o que, a julgar pela
ocasião nupcial, alegrou o seu coração.
9. Para completar o quadro de núpcias, o assistem as donzelas de
famílias ilustres, enquanto a rainha em adorno muito fino (Sl_45:13)
prepara-se para a procissão nupcial.
10, 11. Ela é convidada a unir-se a ele, devendo portanto abandonar
a sua família. Alegoricamente representa a Igreja, figura achada em
todas as Escrituras que desde Gn_12:1 em diante falam do povo de Deus
como povo escolhido, separado e peculiar. A relação de sujeição a seu
marido concorda ao mesmo tempo com a lei do casamento dada em
Gn_3:16; Gn_18:12; Ef_5:22; 1Pe_3:5-6, e a relação da Igreja com
Cristo (Ef_5:24). O amor do marido se relaciona intimamente com a
completa devoção a qual se exorta a noiva.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 107
12. a filha de Tiro — no singular — (Sl_9:14) denota o povo de
Tiro, célebre por sua grande riqueza, é escolhida para representar as
nações mais ricas, ideia confirmada pela frase seguinte. Estes presentes
se dão como meios de conciliar-se com os hóspedes reais, o que
representa a submissão reconhecida dos oficiais. Isto expõe bem a
posição exaltada da Igreja e sua cabeça, cujas qualidades morais recebem
a homenagem do mundo. A contribuição da riqueza material para
sustentar as instituições da igreja pode ser subentendida (cf. “riquezas
dos gentios”, Sl_72:10; Is_60:5-10).
13. a filha do Rei — Expressão de dignidade. Pode ser que sugira
também, com alguma alusão do ensino da alegoria, que a esposa de
Cristo, a Igreja, é a filha do grande Rei, Deus.
no interior — não só é custosa a sua vestimenta exterior, mas
também toda a sua vestimenta é de textura muito fina.
recamada de ouro — bordada de ouro, ou pano em que ouro é
tecido.
14, 15. O progresso da procissão se descreve; conforme o costume,
a noiva e seus acompanhantes são conduzidas ao palácio.
Em roupagens bordadas — Alguns propõem a versão “sobre
panos bordados”, pois na maneira oriental se tendia sobre o solo
tapeçaria de lindo bordado para que caminhasse a noiva. Com vestidos
parece ser a melhor tradução.
serão trazidas — em forma solene (cf. Jó_10:19; Jó_21:22). A
entrada ao palácio com grande regozijo fecha a cena. Assim enfim a
Igreja será levada a seu Senhor, mesclada entre as festividades dos seres
santos dos céus.
16. Como os monarcas terrestres governam impérios muito
extensos por seus vice-reis, assim este glorioso rei se representa impondo
a todos os principados da terra, príncipes de sua própria origem
numerosa.
17. As glórias deste império serão extensas como a terra e
duradouras como a eternidade.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 108
pelo que — porquanto seu glorioso louvor será universal e
perpétuo. Alguns escritores se esforçaram em sua ingenuidade por achar
na história e nas riquezas de Cristo e sua igreja, paralelos precisos de
cada detalhe desta bela alegoria sem excetuar sequer sua primorosa
aparência oriental. Assim, pensa-se que os vestidos do rei e da rainha
devem significar os dotes eminentes e as graças de Cristo e de Seu povo.
As mulheres assistentes consideradas (por inconsequente que parecesse
com o caráter de uma obra inspirada) como concubinas, representam às
igrejas gentílicas, assim como a noiva, à judaica, etc., etc. Mas é
evidente que não se pode seguir semelhante modo de interpretação.
Porque, seguindo a alegoria, teríamos que adiar para um futuro remoto
os resultados de uma união cuja consumação como um casamento está
ainda distante (cf. Ap_21:9).
Com efeito, a representação aqui e em outras partes nos põe a igreja
em dois aspectos. Como corpo, é ainda incompleto, o tudo fica ainda por
ser reunido. Como instituição moral, é ainda imperfeita. Na catástrofe
final, ficará completa e perfeita. Assim, como noiva adornada, será unida
a seu Senhor. Expõe-se assim a união de Cristo e a Igreja triunfante. Por
outro lado, quanto a suas partas componentes, a relação de Cristo como
cabeça, como marido, etc., já existe, e como estas partes formam uma
instituição neste mundo, é por sua união com ela, e pelos dons e graças
que lhe reparte, como a semente espiritual brota e se estende no mundo.
Portanto devemos fixar a mente só na única verdade singela mas
grande, que Cristo ama a Igreja, é cabeça sobre todas as coisas para
ela, eleva-a na exaltação dEle à suprema dignidade moral, dignidade
em que todo discípulo, até o mais indigno, deve. Quanto à data, então,
em que esta profecia alegórica deve ser cumprida, pode-se dizer que não
se especificam períodos de tempo algum. As características da relação
de Cristo e Sua Igreja são o que está indicado, e podemos supor que todo
o processo de sua exaltação da declaração de sua filiação, por sua
ressurreição, até a grande catástrofe do juízo final, com todas as bênçãos
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 109
colaterais para a Igreja e para o mundo, está perante a visão do profeta
inspirado.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 110
Salmo 46

Sobre Alamote — o mais provável é que denota o soprano, ou a


parte cantada pelas vozes femininas, significando a palavra virgens; a
que era cantada com algum instrumento de própria elevação de tom (cf.
1Cr_15:19-21; o título do Salmo 6). O tema pode pôr-se nas bem
conhecidas palavras de Lutero, “Castelo forte é nosso Deus.” A grande
libertação (2Rs_19:35; Is_37:36) pode ter sido a ocasião de sua
composição.

1. refúgio — lit., um lugar de confiança (Sl_2:12).


fortaleza — (Sl_18:2).
socorro bem presente — lit., uma ajuda Ele foi achado
extremamente.
tribulações — como o Sl_18:7.
2, 3. As mais violentas comoções civis são ilustradas pelas maiores
comoções físicas.
3. fúria — inchaço, bem representa o orgulho e arrogância dos
inimigos insolentes.
4. O favor de Deus denotado por um rio (cf. o Sl_36:8; Zc_14:8;
Ap_22:1).
a cidade de Deus, o santuário — sua morada terrestre, Jerusalém e
o templo (cf. Sl_2:6; Sl_3:4; Sl_48:2, etc.). O favor de Deus, como rio
cujas águas são conduzidas pelos canais, distribui-se a todas as partes de
sua Igreja.
Altíssimo — que expressa Sua supremacia (Sl_17:2).
5. ao romper da manhã (RC) — ponto de tempo crítico (Sl_30:5;
cf. Is_37:36).
6. (cf. o Sl_46:4)
a terra se derreteu — dissolvidas todas as virtudes pela mera
palavra dEle (Sl_75:3; Os_2:22).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 111
7. conosco — do nosso lado; Sua presença significa terror para
nossos inimigos, segurança para nós.
refúgio — lugar alto (Sl_9:9; cf. também o Sl_24:6, 10).
8. desolações — a destruição de nossos inimigos.
9. As armas comuns de guerra (Sl_7:12), assim como os que as
usavam, se acabam.
10. Aquietai-vos — lit., deixem de resistir e de vexar a Meu povo.
Eu estou sobre todas as coisas para a segurança deles (cf. Is_2:11;
Ef_1:22).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 112
Salmo 47

Louva-se a Deus pela vitória, talvez pelo registro (2_Cr_20:20-30);


e se declara o Seu domínio sobre todos os povos, judeus e gentios.

1. povos — lit., “povos” ou “nações” (cf. Dt_32:43; Sl_18:49;


Sl_98:9).
2, 3. Sua soberania universal já existe, e se dará a conhecer.
3. sob os nossos pés — isto é, de seus santos; as vitórias
temporárias de Israel eram tipos das conquistas espirituais da verdadeira
Igreja.
4. Escolheu-nos a nossa herança — os gentios serão possuídos por
Sua Igreja (Sl_2:8), como Canaã pelos judeus.
glória de Jacó — lit., orgulho; aquilo em que se gloriava (com
frequência, mas não necessariamente, no sentido mau), os privilégios do
povo escolhido.
a quem ele ama — sendo seu amor a só causa de conceder-lhe
5-7. Deus, vencedor de seus inimigos, reascende ao céu, entre as
aclamações triunfantes do Seu povo, que celebra Seu domínio soberano.
Esta soberania é o que ensina o Salmo; portanto acrescenta:
7. cantai louvores com inteligência (RC) — lit., cantem e toquem
um (salmo) instrutivo. O todo tipifica a ascensão de Cristo (cf. o
Sl_68:18).
8, 9. Continua a instrução.
santo trono — (cf. Sl_2:6; Sl_23:3).
9. príncipes — que representam povos.
povos — Todos os povos se unem sob pacto com o Deus de
Abraão, não sob a aliança mosaica.
escudos — como em Os_4:18, os governantes.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 113
Salmo 48

Este Salmo é uma canção viva (cf. Sl_30:1), sugerido


provavelmente pela mesma ocasião que o anterior. Expõe os privilégios
e bênçãos do domínio espiritual de Deus como terror para os ímpios e
alegria para os justos.

1. mui digno de ser louvado — sempre: é um epíteto, como o


Sl_18:3.
no seu monte santo (ACF) — Sua Igreja (cf. Is_2:2-3; Is_25:6-7,
Is_25:10); o santuário foi edificado primeiro no Monte Sião, logo (como
templo) no Monte Moriá. Daí a figura.
2, 3. belo e sobranceiro — melhor, belo em elevação;
alegria de — fonte de alegria.
para os lados do Norte — poeticamente por eminente, alto,
distinto, pois os antigos pensavam que o norte era a parte mais elevada
da terra (cf. Is_14:13).
3. palácios —lit., “cidadelas”.
refúgio — (Sl_9:10; Sl_18:3). Deus era conhecido neles, porque
desfrutavam de sua presença.
4-6. Por isso — a razão é dada. Embora se combinaram os reis
(talvez os de Moabe e Amom, cf. Sl_83:3-5), uma convicção da presença
de Deus em Seu povo, manifestada pelo valor extraordinário que os
profetas (cf. 2Cr_20:12-20) lhes tinham inspirado, apossou-se das
mentes daqueles, e tomados de súbito e intenso alarme fugiram atônitos.
7. as naus de Társis — as de mais valor, pois empregavam-se num
comércio distante e lucrativo. A frase pode ilustrar o controle de Deus
sobre todos os meios materiais, signifique-se aqui ou não, sua destruição
literal.
8. Esta presente experiência ressegura aquele cuidado perpétuo que
Deus estende à sua Igreja.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 114
9. Pensamos … na tua misericórdia — lit, comparamos, ou
consideramos, considerando-a com relação a procedimentos anteriores.
no … templo — em atos de solene adoração (cf. 2Cr_20:28).
10. Como … louvor — quer dizer, como tuas perfeições
manifestadas (cf. o Sl_8:1; Sl_20:1-7) demandam louvor, será dada, em
todo lugar.
tua destra — Seu governo justo é exibido por Seu poder.
11. filhas de Judá — as cidades pequenas, ou o povo com suas
principais cidades, ou os dirigentes da Igreja.
juízos — decisões e atos de um governo justo.
12-14. Convida-se a contemplar a Sião, ou a Igreja, como cidade
fortificada, com o fim de sugerir “quão fielmente Deus preserva a Seu
rebanho.” Esta segurança é perpétua, e a promessa dela é a orientação
divina a través desta vida.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 115
Salmo 49

Este Salmo instrui e consola. Ensina que as vantagens terrestres não


são dignas de confiança para assegurar a felicidade permanente, e que
por mais prósperos que sejam os mundanos por algum tempo, seu
destino final é ruína, enquanto que os piedosos estão seguros no cuidado
de Deus.

1-3. Convida-se a todos a escutar o que a todos interessa.


mundo (TB) — lit., a duração da vida, o tempo presente.
4. Inclinarei — para escutar atentamente (Sl_17:6; Sl_31:2).
parábola — no hebreu como no grego, parábola e provérbio são
traduções da mesma palavra. Denota uma comparação, ou forma de
dicção, que sob uma imagem inclui muitas, e é expressiva de uma
verdade geral capaz de várias ilustrações. Daí que pode ser usada como
uma ilustração ela mesma. No primeiro sentido corresponde a tradução
de provérbio (isto é, uma palavra por várias); no sentido de comparação,
convém parábola (uma coisa posta ao lado de outra). A distinção nem
sempre se observa, visto que aqui, e no Sl_78:2, provérbio expressaria
melhor o estilo da comparação (cf. também Pv_26:7, Pv_26:9; Hc_2:6;
Jo_16:25, Jo_16:29). Tais formas de dicção são com frequência muito
figurativas e também escuras (cf. Mt_3:12-15). Daí o uso da palavra
paralela.
enigma — dito escuro (cf. Ez_17:2).
ao som da harpa — o acompanhamento para um lírico.
5. iniquidade — ou, calamidade (Ez_40:12).
dos que me perseguem — “de meus calcanhares” (AV), lit., de
meus suplantadores (Gn_27:36), ou opressores: “estou rodeado pelos
males que eles me fazem.”
6. Eles são vangloriosos:
7-9. contudo, incapazes para salvar-se a si mesmos, nem a outros.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 116
8. cessará a tentativa para sempre — o resgate falta, fracassa; o
preço é muito caro.
9. corrupção (RC) — metaforicamente, sepultura. Deste modo a
vida que vai é alma no original
10. porquanto vê-se — possivelmente, porque ele a (sepultura) vê.
morrerem os sábios — (Gn_14:1; Pv_1:32; Pv_10:1).
igualmente (RC) — do mesmo modo, todos juntos (Pv_4:8)
morrem; todos recebem o mesmo destino.
11. Entretanto, enfatuados e presunçosos com esperanças de
perpetuidade, põem nomes a suas terras, ou “celebram seus nomes por
causa de suas terras.”
12. Em contraste com esta vanglória está sua fraqueza. O honrado
não permanece em sua ostentação — lit., não passará a noite,
pois de repente perece como as bestas, mortas sem advertência.
13. Embora seu caminho seja loucura, outros seguem o mesmo
curso de vida.
14. Como ovelhas — (cf. v. 12), sem notar.
a morte é o seu pastor — melhor, os regerá, como um pastor (cf.
alimentar, Sl_28:9).
de manhã (TB) — repentinamente, ou por sua vez.
a sua formosura — beleza, lit., forma, “será para a destruição”,
quer dizer, da tumba.
é o lugar em que habitam — “(quando forem) de sua residência,”
ao sepulcro.
15. Os piedosos libertados do “poder do sheol”.
poder — lit., de mãos dadas, da morte, são recebidos sob o cuidado
de Deus.
16-19. Não os turvem (Sl_37:1), porque a morte corta os ricos
prósperos que vocês temem.
18. Ainda que durante a vida — lit., porque em sua vida
abençoava sua alma, ou a si mesmo (Lc_12:19; Lc_16:25); contudo
(Sl_49:19), coube-lhe sua sorte.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 117
ainda que o louvem — Os lisonjeiros encarecem a vanglória do
rico insensato; a forma da dicção faz insistência no sentimento.
20. (Cf. o Sl_49:12.)
revestido de honrarias — objeto da adulação. A tolice se expressa
mais distintamente com não entende, substituído aqui por não
permanecerá no Sl_49:12.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 118
Salmo 50

Na grandeza e solenidade de um juízo divino, apresenta-se a Deus


instruindo aos homens na natureza do verdadeiro culto, expondo a
hipocrisia, admoestando os maus, e animando os piedosos.

1-4. A descrição desta majestosa aparição de Deus se parece à da


entrega da lei (cf. Êx_19:16; Êx_20:18; Dt_32:1).
4. em cima — lit., acima (Gn_1:7).
céus … terra — pois todas as criaturas são testemunhas (Dt_4:26;
Dt_30:19; Is_1:2).
5. os meus santos — (Sl_4:3)
fizeram — lit., cortaram.
aliança — alusão à vítima dividida para o sacrifício, ato pelo qual
se ratificavam as alianças, passando as partes pactuantes por entre as
porções divididas (cf. Gn_15:10, Gn_15:18).
6. Os habitantes do céu, que bem conhecem o caráter de Deus, dão
testemunho de sua justiça como Juiz.
7. testemunharei contra ti — por sua falta de não adorar.
o teu deus — e assim, pela aliança como também como Criador,
mereço uma adoração pura.
8-15. Por escrupuloso que fosse o culto externo, o ofereciam como
se cumprissem uma obrigação de dar a Deus o que fosse dEle e com a
ideia degradante de que fizesse falta a Deus [Sl_50:9-13]. Reprovando
tais noções tolas e blasfemas, ensina-lhes a oferecer, ou lit., sacrificar,
ação de graças, e a pagar, ou fazer, seus votos; isto é, apresentar junto
com o externo serviço simbólico, a homenagem do coração, e a fé,
arrependimento, e amor. A isto se acrescenta um convite para buscar, e a
promessa de repartir, todo oportuno socorro.
16-20. ao ímpio — quer dizer, aos formalistas que acaba de
denunciar, e os que vivem vidas viciosas (cf. Rm_2:21, Rm_2:23). São
indignos de usar sequer as palavras da lei de Deus. Sua hipocrisia e sua
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 119
maldade ficam expostas por ilustrações de pecados contra o sétimo, o
oitavo e o nono mandamentos.
21, 22. Deus, que já não passa por alto (não aparentemente) tais
coisas, denuncia os pecados deles, e admoesta com castigo terrível.
22. vos esqueceis de Deus — o que denota ignorância do
verdadeiro caráter de Deus.
23. sacrifício de ações de graças — (Sl_50:14), de modo que o
culto externo é indício verdadeiro do coração.
ao que prepara — age de maneira devida, reta, e não
contrariamente, deixando o caminho (Sl_25:5). Nos tais, a adoração pura
e a vida pura evidenciam sua verdadeira piedade, e eles desfrutarão a
presença e o favor de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 120
Salmo 51

Sobre a ocasião cf. 2Sm_11:12. O Salmo ilustra o verdadeiro


arrependimento, em que se compreendem a compunção, confissão,
tristeza, súplica de misericórdia, e a resolução de emendar-se,
acompanhado de uma fé viva.

1-4. Uma petição de misericórdia é uma confissão de culpa.


apaga — como de um registro.
transgressões — (Sl_19:13; Sl_32:1.)
2. Lava-me — A pureza tanto como o perdão é desejada pelo
verdadeiro penitente.
3. Pois … meu — A convicção precede ao perdão, e pede o perdão
como um dom de Deus (2Sm_12:13; Sl_32:5; 1Jo_1:9).
4. contra ti — primordialmente, e como os pecados contra outros
são violações da lei de Deus, são num sentido contra ti somente.
de maneira que serás tido por justo — isto é, exclui-se toda
paliação de seu crime; é seu propósito ao fazer sua confissão reconhecer
a justiça de Deus, por mais severa que fosse a sentença.
5, 6. Sua culpabilidade é agravada por sua essencial
pecaminosidade natural, a que é tão contrária à pureza interior que Deus
requer, como o são os pecados externos às leis da boa conduta.
6. me fazes conhecer — Me farás compreender, segundo outras
versões: pode ser que expresse o propósito benigno de Deus em vista de
seu estrito requerimento: propósito do qual Davi poderia ter-se
aproveitado como um freio para seu natural amor ao pecado, para assim
não agravar sua culpa.
verdade … e … sabedoria — termos comuns para expressar a
piedade (cf. Jó_28:28; Sl_119:30).
7-12. Uma série de petições de perdão e purificação.
Purifica-me com hissopo — O uso desta planta no ritual
(Êx_12:22; Nm_19:6, Nm_19:18) sugere a ideia da propiciação como
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 121
proeminente aqui; o verbo (purificar) compreende a ideia da satisfação
vicária (Nm_19:17-20).
8. júbilo e alegria — por me perdoar, mudando minha amargura
em alegria.
9. Esconde o rosto —vire-se por não contemplar.
10. Cria — obra de um poder superior.
em mim — lit., para mim; me reparta o dom de um coração livre da
mancha do pecado (Sl_24:4; Sl_73:1).
renova — significa que o tinha possuído; o princípio essencial de
uma natureza nova não tinha sido perdido; mas sim sua influência foi
interrompida (Lc_22:32); pois o Sl_51:11 demonstra que Davi não tinha
perdido a presença de Deus nem o Espírito de Deus (1Sm_16:13),
embora tinha perdido “a alegria da tua salvação” (Sl_51:12), cuja
devolução suplica.
espírito reto — lit., constante, firme, que não ceda à tentação.
12. espírito voluntário — Um espírito livre, disposto a conformar-
se à lei de Deus, para assim guardar ao salmista num curso reto de vida.
13. Então — como resultado desta obra de graça.
os teus caminhos — da providência e do dever humano (Sl_18:21,
Sl_18:30; Sl_32:8; Lc_22:32).
14. Livra-me — (Sl_39:8), da culpabilidade de homicídio
(2Sm_12:9-10; Sl_5:6).
a tua justiça — como no Sl_7:17; Sl_31:1.
15. abre os meus lábios (TB) — me tirando o sentido de culpa.
16. O louvor é melhor que o sacrifício (Sl_50:14), e compreende a
fé, o arrependimento e o amor, e glorifica a Deus. Nos verdadeiros
arrependidos a alegria do perdão se confunde com o pesar pelo pecado.
18. Faze bem — Não retribua meu pecado sobre sua Igreja.
edifica os muros — a forma de fazer bem a Sião; cf. o Sl_89:40,
oposto em forma e ideias.
19. Reconciliado a Deus, então lhe serão aceitos os sacrifícios
materiais (Sl_4:5; Is_1:11-17).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 122
Salmo 52

Cf. 1Sm_21:1-10; 1Sm_22:1-10, para a história do título. O


primeiro versículo (Sl_52:1) dá o lema: a jactância do ímpio sobre o
justo é vã, pois Deus cuida sempre do Seu povo. Amplia-se a ideia
descrevendo a malícia e o engano, e logo a ruína do ímpio, e a condição
feliz do piedoso.

1. homem poderoso — lit., herói. Pode ser que assim se dirija a


Doegue, ironicamente, com relação a seu poder na calúnia.
2. língua — pela pessoa.
planos de destruição — para outros (Sl_5:9; Sl_38:12).
enganos — (Sl_10:7), como a navalha afiada, que corta silenciosa,
mas profundamente.
4. palavras devoradoras — lit., devoradoras, que destroçam
completamente (cf. o Sl_21:9; Sl_35:25).
5. Também — Como têm feito a outros, Deus lhes fará a vocês
(Sl_18:27). Os termos sucessivos descrevem a ruína mais completa.
6. temerão—considerarão com reverência piedosa.
se rirão — da loucura do mau;
7. por confiar nas riquezas e ser forte na “iniquidade”.
perversidade — ou malícia (Sl_52:2), em vez de confiar em Deus.
o homem — lit., o poderoso, o herói (Sl_52:1).
8. É comum a figura aqui usada (Sl_1:3; Jr_11:16).
verdejante — novo, recente.
na Casa, etc. — em comunhão com Deus (cf. o Sl_27:4-5).
para todo o sempre — qualidades da misericórdia.
9. porque assim o fizeste — isto é, o que diz o contexto:
“conservaste-me” (Sl_22:31).
esperarei no teu nome — em tuas perfeições, manifestadas para
bem (Sl_5:11; Sl_20:1).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 123
porque é bom — isto é, seu nome, e todo o método ou resultado de
sua manifestação (Sl_54:6; Sl_69:16).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 124
Salmo 53

Sobre Maalate — (cf. título o do Salmo 88). Por que esta repetição
do Salmo 14, é dada, não sabemos.

1-4. com umas poucas variações, correspondem ao Sl_14:1-4.


5. Em vez da segurança da presença de Deus com os piedosos, e de
uma queixa contra os maus, o Sl_14:5-6 manifesta a ruína destes, cujos
bens “também são derramados” (cf. o Sl_141:7), porque tinham rejeitado
a Deus com escárnio.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 125
Salmo 54

Cf. o título dos Salmos 4 e 32; para sua história, cf. 1Sm_23:19,
1Sm_23:29; 1Sm_26:1-25. Depois de um clamor fervente pelo socorro,
o salmista promete o louvor na segurança de ser ouvido.

1. por seu nome — (Sl_5:11), especialmente com seu poder.


me defenda — como no Sl_7:8; o 26:1, declara minha inocência,
2. (cf. Sl_4:1; Sl_5:1.)
3. estranhos — talvez os zifeus.
homens violentos — lit., terríveis, violentos (Is_13:11; Is_25:3).
Tais eram Saul e seu exército.
não puseram, etc. — operaram como ateus, sem temor de Deus (cf.
o Sl_16:8).
4. (Cf. Sl_30:10).
com os … que estão de parte deles e da minha (Sl_46:11).
5. devolverá — ou, “recairá sobre” (Sl_7:16) meus inimigos ou
vigilantes, os que espreitam para me fazer danifico.
por sua verdade — sua promessa verificada.
6. Voluntariamente sacrificarei — apresentarei uma oferta de
benevolência (Lv_7:16; Nm_15:3).
7. meus olhos — (cf. o Sl_59:10; Sl_112:8), expressa a satisfação
de contemplar a derrota dos inimigos deles, como a dos de Deus sem que
isso signifique egoísmo nem sentimento profano (cf. o Sl_52:6-7).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 126
Salmo 55

Aterrorizado por causa dos inimigos, e entristecido pela traição de


um amigo, o salmista oferece uma oração ardente pelo alívio. Confunde
suas expressões de absoluta confiança no favor de Deus para com ele e
as invocações e predições dos juízos vingativos de Deus contra os
ímpios. O tom harmoniza com a experiência de Davi, seja nos tempos de
Saul, seja nos de Absalão, embora talvez não aqueles nem estes estavam
em sua mente.

1. não te escondas — (cf. o Sl_13:1; Sl_27:9), não retenha a ajuda.


2. A segunda linha expressa plenamente sua dor.
3. opressão — lit., perseguição.
sobre mim lançam calamidade — lit., “vertem sobre mim
falsidades.”
4, 5. expressam grande alarma.
6. descansaria (TB) — lit., moraria, isso, permanentemente.
7, 8. Até um deserto é lugar mais seguro que ali onde há males
como ventos e tempestades.
9. Destrói — lit., traga (Sl_21:9).
confunde os seus conselhos — ou, confunde sua fala, e assim seus
conselhos (Gn_11:7).
cidade — talvez Jerusalém, cenário da anarquia.
10, 11. aqui descrita em detalhe (cf. o Sl_7:14-16).
11. destruição — lit., malícias, os males resultantes (Sl_5:9;
Sl_52:2, Sl_52:7).
praças — lit., “lugares espaçosos”, negociados, tribunais de justiça,
e qualquer lugar público.
12-14. Esta descrição da traição não nega, antes agrava a injúria dos
inimigos.
13. meu companheiro — lit., amigo (Pv_16:28; Pv_17:9).
meu íntimo amigo — no hebraico, alguém mais íntimo que amigo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 127
14. Juntos andávamos — lit., com uma multidão, em desfile
festivo.
15. A morte os assalte — ou, “Desolações estão sobre eles.”
desçam — lit., descerão.
vivos — ou vivendo no meio da vida, a morte lhes sobrevirá (cf.
Nm_16:33).
no seu íntimo — ou dentro deles, em seus corações (Sl_5:9;
Sl_49:11).
16-18. Deus responde a suas constantes e repetidas orações.
18. são muitos contra mim — isto é, pelo contexto, lutando contra
mim.
19. Irado, Deus escuta os ímpios.
preside — lit., está sentado.
desde a eternidade — entronizado como soberano.
mudança nenhuma — A prosperidade os endurece (Sl_73:5).
20, 21. A traição está agravada pela hipocrisia. A mudança de
número em Sl_55:15, 23, e aqui, torna vivo o quadro, e denota que o
traidor principal e seus cúmplices são considerados juntos.
22. cuidados — lit., dom, o que te está designado.
te susterá — lit., proporcionará alimento e assim suprirá toda
necessidade (Sl_57:25; Mt_6:11).
jamais permitirá que o justo seja abalado — não permitirá que
seja removido, da segura posição no favor de Deus (Sl_10:6).
23. sanguinários e fraudulentos — (cf. o Sl_5:6; Sl_51:14), o
engano e a disposição homicida com frequência unidos. A ameaça é
dirigida especialmente (não como uma verdade geral) contra os ímpios,
segundo o parecer do autor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 128
Salmo 56

Sobre a Pomba Silenciosa, tradução de Jonate-Elém-Recoquim, que


ou indica uma melodia (cf. o Salmo 9) de dito nome própria para o canto
do Salmo; ou é uma forma enigmática para assinalar o tema, como o
dado na história aludida (1Sm_21:11, etc.), assemelhando-se Davi à
pomba mansa que não se queixa, deslocado de seu lar para vagar em
desterro. Rodeado de inimigos domésticos e estranhos, Davi com
confiança invoca a Deus, expõe suas queixas, e termina antecipando
prazerosa e confiantemente a continuação do amparo divino.

1, 2. procura ferir-me — lit., ofegaria como fera detrás de mim


(At_9:1).
2. Os que me espreitam — os que me espiam (Sl_54:5).
Altíssimo (RC) — como não se atribui o termo a Deus em outra
parte, alguns o traduzem aqui por arrogante, ou orgulhosamente,
qualificando aos que pelejam.”
3. em ti — lit., rumo a ti, para com quem ele se volta na aflição.
4. Em Deus, cuja palavra eu exalto — Por Sua graça ou ajuda
(Sl_60:12; Sl_108:13), “Me gloriarei em Deus com relação à Sua
palavra”; em todo caso, a palavra de Deus é o assunto especial e a causa
de seu louvor.
mortal — por humanidade (Sl_65:2; Is_31:3), significando a
fraqueza.
5, 6. Quadro vivo da conduta maliciosa dos inimigos.
7. Escaparão eles pela iniquidade? — ou, “Seu escapamento é
pela iniquidade.”
Derruba — Humilha aos que arrogantes se opõem a seu servo.
8. Deus se dá conta de seu desterro e se lembra de suas lágrimas. O
costume de engarrafar as lágrimas dos que choram como uma
lembrança, que existiu em algumas nações orientais pode explicar a
figura.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 129
9. Deus é por mim — Está do meu lado, a meu favor (Sl_118:6;
Sl_124:1-2), portanto, está seguro da derrota de seus inimigos.
12. render-te-ei ações de graças — Pagarei o que votei.
13. A interrogação de algumas versões (“Não livraste também os
meus pés de tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz da
vida?”) insinua uma resposta afirmativa, baseada na experiência passada.
da queda — como de um precipício.
na presença de Deus — em seu favor durante a vida.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 130
Salmo 57

Não destruas — tradução de Al-taschith. Talvez seja uma alusão


enigmática à circunstância crítica relacionada com a história, sobre a
qual cf. 1Sm_22:1; 1Sm_26:1-3. Na oração de Moisés (Dt_9:26),
proeminente petição é a de suplicar a ira de Deus contra o povo. Esta
explicação quadra bem com o Salmo 58 e o 59 também. Asafe usa este
título no Salmo 75 no qual há alusão a alguma emergência. Mictão —
(cf. o Salmo 16). Ao clamor fervente pelo socorro divino, o salmista
acrescenta, como outras muitas vezes, a linguagem de louvor, na
segurança de ser ouvido favoravelmente.

1. de mim — eu mesmo, ou minha vida, a que está ameaçada.


à sombra das tuas asas — (Deu_17:8; Deu_36:7).
calamidades — ou lit., malícia na relação de sua libertação com ao
que principiou.
2. tudo executa — ou, completa o que Ele começou.
3. os que me ferem — “que me devora”, que ofega ferozmente
detrás de mim (Sl_56:2).
misericórdia e a sua fidelidade — (Sl_25:10; Sl_36:5), como
mensageiros (Sl_43:3) enviados para livrá-lo.
4. As figuras confundidas de feras (Sl_10:9; Sl_17:12) e armas de
guerra (Sl_11:2) aumentam o quadro de perigo.
espada afiada — calúnias.
5. Esta doxologia ilustra sua crença na relação de sua libertação
com a glória de Deus.
6. (Cf. Sl_7:15; Sl_9:15, 16.)
7. cantarei e entoarei louvores — O salmista louvará tanto com a
voz como com o instrumento.
8. Refere-se a sua glória, ou língua (Sl_16:9; Sl_30:12), e a seu
saltério, ou alaúde, e harpa.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 131
Quero acordar — o mesmo (lit.) despertarei a alvorada,
expressando poeticamente seu zelo e sua diligência.
9, 10. Como sua misericórdia e verdade, assim seu louvor encherá a
terra.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 132
Salmo 58

A situação crítica de Davi em algum período da perseguição de


Saul é provavelmente o que ocasiona este salmo, no qual o salmista
ensina que a pecaminosidade inata e efetiva dos homens merece, e
receberá a justa retribuição de Deus, enquanto que os piedosos podem
consolar-se em Seu sapiente e santo governo dos homens.

1. ó juízes — lit., oh mudos, vocábulo usado aqui nunca se traduz


para “congregação.” A tradução pode ser: “São mudos vós, os que
devem falar justiça?”. Em todo caso, o salmista censura, possivelmente,
a um conselho reunido para julgar a sua causa e é obrigado a dar uma
sentença justa.
2. Isto não era seu propósito, mas sim
fazeis pesar a violência (RC) — ou davam decisões de violência.
Pesar é figura para expressar os atos dos juízes.
na terra — publicamente.
3-5. descreve aos maus em geral, que pecam natural, fácil, maligna
e teimosamente.
4. tapa os ouvidos — isto é, o ímpio (o singular em sentido
coletivo) vem a parecer-se à áspide surda, que não tem ouvido.
6. Pede a destruição deles, sob a figura de feras de rapina (Sl_3:7;
Sl_7:2).
7. Desapareçam — lit., se apartarão juntos, desaparecendo, como
as correntes montanhosas.
ao dispararem — Diz figuradamente entesar a seta, em vez do
arco (Sl_64:3).
fiquem elas embotadas — lit., como se se cortassem, isto é,
embotam-se e se inutilizam.
8, 9. Outras figuras desta completa ruína. Em menos tempo que o
que se precisa para que as panelas sintam o calor dos espinhos no
trabalhador braçal –
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 133
9. serão arrebatados como por um redemoinho — lit., “apagá-
los-á”.
tanto os verdes como os que estão em brasa — verdes ou
abrasados os espinhos se vão com o vento; assim tão fácil e tão
ligeiramente são levados os ímpios. A figura do caracol talvez aluda a
sua perda de saliva ao mover-se. As frases são obscuras, mas o sentido
geral da passagem é claro.
10, 11. banhará os pés … ímpio — denota grande matança. A
alegria do triunfo é porque são inimigos de Deus, e a derrota deles
demonstra que Deus reina (cf. o Sl_52:5-7; Sl_54:7). Nesta segurança,
desfrutam os céus e a terra (Sl_96:10; Sl_97:1; etc.).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 134
Salmo 59

Cf. o Salmo 57 e para a história, 1Sm_19:11, etc. O conteúdo é


muito parecido ao do Salmo 57; a oração por causa dos inimigos
malignos e violentos, e a alegria pela esperança do alívio.

1. põe-me acima do alcance — “defende-me” (RC).


daqueles que se levantam contra mim (RC)— (cf. o Sl_17:7).
2. (cf. Sl_5:5; Sl_6:8).
4, 5. se preparam (RC) — lit., ficam em ordem de batalha.
desperta — (cf. Sl_3:7; Sl_7:6), invoca a Deus na relação pactuada
com o Seu povo (Sl_9:18).
6, 7. São como cães selvagens que caçam a presa, e como tais
uivam — (tempo presente), lit., vomitam, ou seja, calúnias, seu
impudico latido.
7. Pois dizem eles: Quem há que nos escute? — Para a expressão
completa com as palavras expressas, cf. o Sl_64:5.
8. (cf. Sl_2:4; Sl_37:13).
9. força minha, etc. — Expositores de critério, com boas razões,
traduzem, “oh minha força, te esperarei” (Sl_59:17).
alto refúgio — forte (Sl_18:3), torre alta.
10. virá ao meu encontro — cf. o Sl_21:3, “sair ao encontro.”
me fará ver — em sua ruína (Sl_54:7)
inimigos — como no Sl_5:8.
11. Não os mates — de uma vez (Jz_2:21-23); antes perpetue seu
castigo (Gn_4:12; Nm_32:13), derramando-os, fazendo-os vagar,
humilhando-os.
12. na sua própria soberba sejam enredados — enquanto
demonstrem o orgulho, isto é, sejam castigados por suas mentiras, etc.
13. A inteira destruição dos ímpios, retardada por razões prudentes,
virá por fim, e a presença de Deus com Sua Igreja e Seu poder em favor
dela, se darão a conhecer (1Sm_17:46; Sl_46:10-11).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 135
14, 15. Enquanto isso, que andem errantes os cães, pois não podem
machucar os piedosos; sim, vagarão famintos e sem dormir.
15. passem a noite sem se fartarem (RC) — lit., passarão toda a
noite; nada obterão.
16, 17. Em contraste está a sorte dos servos de Deus, que empregam
seu tempo louvando a Deus.
cantarei a tua força; pela manhã — quando aqueles se retiram
mortos de fome e desenganados; ou pode significar alegria e diligência
no louvor, como no Sl_30:5.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 136
Salmo 60

Susã-Edute — Lírio de testemunho. O lírio é emblema da beleza


(cf. o título do Salmo 45). Este termo duplo pode ser que denote um
poema belo que testifica da fidelidade de Deus demonstrada nas vitórias
referidas na história citada. Arã-Naraim — a Síria dos dois rios, ou a
Mesopotâmia além do rio (Eufrates) (2Sm_10:16) Aram-Zobá — a Síria
de Zobá (2Sm_10:6), de cujo rei era tributário o rei daquela. A guerra
com Edom, por Joabe e Abisai (2Cr_18:12, 2Cr_18:25), teve lugar como
ao mesmo tempo. Provavelmente, enquanto se alternavam as dúvidas e
os temores, com relação aos resultados destas guerras, o escritor compôs
este salmo, no qual pinta, na linguagem do povo de Deus, suas tristezas
em meio de desgraças anteriores, eleva preces pelos presentes dilemas, e
se alegra na esperança segura do triunfo mediante a ajuda de Deus.

1-3. Alude aos desastres.


tu nos rejeitaste — com escárnio (Sl_43:2; Sl_44:9).
nos dispersaste — quebrantou nossa fortaleza (cf. 2Sm_5:20).
Restabelece-nos — ou, nos devolva (a prosperidade). As figuras de
comoções físicas denotam as grandes comoções civis (2Sm_46:2-3).
3. vinho que atordoa — de assombro, ou de cambaleio; isto é,
debilitou-nos (cf. Sl_75:8; Is_51:17, Is_51:22).
4, 5. Entretanto se reanimarão perante a bandeira de Deus, e pedirão
que guiados e sustentados pelo poder de Deus (por sua mão direita,
Sl_17:7; Sl_20:6), estejam seguros.
5. responde-nos — outra versão, ouve-nos.
6-10. Deus disse (RC) — Falou Deus (RA).
na sua santidade — ou por Sua santidade (Sl_89:35; Am_4:2),
pela honra de Seus atributos (Sl_22:3; Sl_30:4). Cobrando ânimo da
promessa de Deus de lhes dar posses (Êx_23:31; Dt_11:24) (e renovada
a ele talvez por revelação especial), com júbilo descreve a conquista
como já realizada.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 137
dividirei … medirei — significa ter o controle completo.
Siquém … Sucote — pontos muito separados, e -
7. Gileade … Manassés — distritos grandes, a leste e a oeste do
Jordão, representam toda a terra.
Efraim — denota o poder militar (Dt_33:17) e -
Judá — (o legislador, Gn_49:10), o civil. As nações estranhas logo
aparecem como vencidas.
8. Moabe — é minha vasilha – do mais comum.
Edom — (como escravo) arroja sua calçada.
sobre a Filístia jubilarei — clama, aclama; reconhece a sujeição
(cf. o Sl_108:9, “sobre a Filístia jubilarei”).
9, 10. Está persuadido de que Deus, embora uma vez irado, agora
está por operar em favor de seu povo.
Quem me guiará? — ou quem me levou?, como se o fato houvesse
já principiado.
10. Não nos rejeitaste, ó Deus? — “Certamente” responde a sua
pergunta; mas com a pergunta, “Não serás tu?”; infere-se a resposta
afirmativa.
11, 12. Portanto fecha com uma oração pelo êxito, expressando sua
confiança nele mesmo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 138
Salmo 61

Neginah — ou Neginote (cf. o Salmo 4, título). Afastado dos


privilégios espirituais costumeiros, talvez pela rebelião de Absalão, o
salmista pede o socorro divino sobre a base de misericórdias anteriores,
na confiança de que será ouvido.

1-3. Desde os confins — desde os lugares remotos do santuário


(Dt_28:64).
2. no abatimento do meu coração — lit., coberto de escuridão, ou
de calamidade.
a rocha (Dt_18:2; Dt_40:2).
alta demais para mim — a que de outro modo não poderia subir.
3. refúgio ... torre forte — repetem o mesmo sentimento.
4. Habitarei (TB)— assim desejo fazer (Sl_23:6).
eu me abrigo — (cf. o Sl_17:8; Sl_36:7).
5. herança — parte nas bênçãos espirituais de Israel (Sl_21:2-4).
os meus votos — compreende orações.
6, 7. ao rei — Davi mesmo e sua linhagem real que termina em
Cristo. A misericórdia e a verdade personificadas, como no Sl_40:11;
Sl_57:3.
7. Permaneça … diante de Deus — lit., estará sentado como um
rei na presença de Deus, sob a proteção de Deus.
8. Assim pelas novas bênçãos novos votos de louvor para sempre
serão pagos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 139
Salmo 62

A Jedutum — (cf. o Salmo 39, título). O tom geral deste salmo é


expressivo de confiança em Deus. Aproveita-se da ocasião para advertir
os ímpios dos seus pecados e o castigo de suas maldades.

1. espera silenciosa — confia submissa e confiantemente qual uma


serva.
2. Estes títulos muitas vezes se aplicam a Deus (Sl_9:9; Sl_18:2).
não serei muito abalado — “Não serei movido” (Sl_10:6); não
receberá dano permanente, apesar das armadilhas de seus inimigos.
3. Sua destruição virá; como parede cambaleante eles já estão
fracos e prestes a cair.
para o derribardes, como se fosse uma parede pendida —
melhor suprir “sois”. Pode-se ler, “São como parede desabada”. Alguns
supõem que estas frases estão aplicadas à condição do homem; isto é, o
piedoso sofre: “Matarão o justo?” Mas o outro sentido é o melhor.
4. sua dignidade — a elevação a que Deus o elevou (Sl_4:2). Isto
tratam de fazer mediante as mentiras e a doblez. (Sl_5:9).
5, 6. (Cf. Sl_62:1:2).
6. não serei jamais abalado — não serei movido por nada;
aumentou sua confiança.
7. a rocha da minha fortaleza (RC) — seu mais forte amparo
(Sl_7:10; Sl_61:3).
8. derramai ... o vosso coração — Deem plena expressão às
emoções (1Sm_1:15; Jó_30:16; Sl_42:4).
ó povo — povo de Deus.
9. Nenhuma classe de homem é digno de confiança, em comparação
com Deus (Is_2:22; Jr_17:5).
todos juntos — Lançados todos juntos na balança serão levantados,
porque são mais leves que a vaidade (Sl_34:3).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 140
10. Não só não são motivos de jactância a opressão e a rapina,
meios ilícitos de riquezas, mas sim as próprias riquezas, aumentadas
licitamente, não devem contaminar o coração.
11. Uma vez … duas vezes — (como em Jó_33:14; Jó_40:5), usa-
se para dar ênfase ao sentimento. O poder de Deus é temperado por sua
misericórdia, a qual também fortalece.
12. a cada um retribuis — lit., que tu pagas, etc., ligada com a
expressão anterior, “Duas vezes ouvi que … tu pagas”, o que ensina que
Deus com Sua fortaleza possa operar tanto a misericórdia como a justiça.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 141
Salmo 63

A ocasião histórica referida no título foi provavelmente durante a


rebelião de Absalão (cf. 2Sm_15:23, 2Sm_15:28; 2Sm_16:2). Davi dá
expressão a um desejo ardente do favor de Deus e a uma forte esperança
de realizá-lo em sua libertação e na destruição de seus inimigos.

1. De madrugada te buscarei (RC) — cedo, com diligência


(Is_26:9). As figuras
terra árida, exausta — lit., cansaço, denotam miséria moral,
sugerida por suas circunstâncias externas.
alma — e — corpo — o homem inteiro (Sl_16:9-10).
2. O que desejava especialmente eram as perfeições de Deus
demonstradas no culto (Sl_27:4).
3. Tendo experimentado a misericórdia de Deus, seus lábios se
abrirão para louvá-Lo (Sl_51:15).
4. Assim — lit., na verdade.
te bendirei (RC) — Te louvarei (Sl_34:1).
levanto as mãos — em adoração (cf. o Sl_28:2).
em teu nome — em louvor de Tuas perfeições.
5-8. Plenas bênçãos espirituais satisfazem seus desejos, e os atos de
louvor ocupam seus pensamentos e seu tempo.
6. durante a vigília da noite — assim como de dia. Os favores
anteriores lhe dão a segurança do futuro, e portanto se acolhe
fervorosamente a Deus, cujo poder o sustenta (Sl_17:8; Sl_60:5).
9, 10. os que me procuram ... destruir – isto é, “os que buscaram
me fazer dano são (estão ordenados) (cf. o Sl_35:8) para destruição”.
abismar-se-ão — ou, “irão aos sítios,” ou seja, à tumba, à morte;
porquanto seus corpos serão porção das raposas, ou lit., os chacais.
11. O rei — isto é, Davi mesmo, e todo aquele que reverência a
Deus “desfrutarão porção gloriosa”, enquanto os inimigos traiçoeiros
serão para sempre emudecidos (Sl_62:4).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 142
Salmo 64

Uma oração por sua libertação dos ardilosos inimigos maliciosos,


antecipando com confiança a derrota deles, a qual honrará a Deus e
deleitará aos justos.

1. preserva-me ... do terror — do perigo que motiva o medo.


2. conspiração — insurreição; lit., alvoroço, assaltos ruidosos,
assim como do conselho secreto.
3, 4. Figuras similares de calúnia (Sl_57:4; Sl_59:7).
apontam — ou atiram setas; lit., pisaram; pisaram nos arcos, para
dobrá-los ou tendê-los e assim disparar as setas (Sl_58:7).
4. atingirem o íntegro — inocente das acusações daqueles.
e não temem — com relação a Deus (Sl_55:19).
5. Um sentimento aqui expresso mais completamente descrevendo a
malícia deliberada deles.
7. O contraste se torna maior, sugerindo que Deus usa as mesmas
armas que eles.
8. a própria língua se voltará contra eles — como consequências
de seus pecados (cf. o Sl_10:2; Sl_31:16).
todos os que os veem — seus cúmplices no mal ficarão espantados.
9, 10. Os homens, em geral, reconhecerão a obra de Deus, e os
justos, alegrando-se com ela, serão animados a confiar nEle (Sl_58:10).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 143
Salmo 65

Esta é uma canção de louvor a Deus por Seus bênçãos espirituais a


Seu povo e por Sua benigna providência sobre toda a terra.

1. A ti … louvor — lit., “A ti o silêncio é louvor”, quer dizer, o


louvor atende qual uma serva; te é devida (Sl_62:1). Assim também é
um dever pagar os votos. Estas duas partes do culto aceito, mencionadas
no Sl_50:14, são oferecidas em Sião, onde Deus opera principalmente
Sua misericórdia e recebe homenagem.
2. Todos animados a orar pela prontidão de Deus a escutar.
3. Só a misericórdia de Deus nos livra das cargas da iniquidade,
purificando e expiando as transgressões que estão contra nós, e que se
chamam –
iniquidades — ou palavras de iniquidade.
4. assista nos teus átrios … satisfeitos … casa — significam
comunhão com Deus (Sl_15:1; Sl_23:6; cf. Sl_5:7). Esta é uma bênção
para todo o povo de Deus, indicado pela mudança do número gramatical.
5. tremendos feitos — isto é, pela manifestação de justiça e ira
sobre os inimigos, e de misericórdia a seu povo (Sl_63:9-11; Sl_64:7-9).
esperança — Tu, o objeto da confiança.
de todos … da terra — de todo o mundo, e justamente assim,
pensem-no ou não os homens.
6-13. O grande poder e a bondade de Deus são o fundamento desta
confiança. São ilustrados em Seu governo das agências mais poderosas
da natureza e das nações, os que infundem terror aos homens (Sl_26:7;
Sl_98:1, etc.), e nas chuvas que fertilizam a terra e a fazem produzir
abundantemente para os homens e os animais.
8. Os que habitam nos confins da terra — todos os povos do
Oriente até o Ocidente.
9. Tu visitas — em misericórdia (cf. o Sl_8:4).
os ribeiros de Deus — Seus recursos inesgotáveis.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 144
11. tuas pegadas — lit., teus caminhos, caminhos de providência
(Sl_25:4, Sl_25:10).
12. deserto — lugares despovoados mas adaptados para o pastoreio
(Lv_16:21-22; Jó_24:5).
as pastagens — estadias no Sl_65:12; lit., redil, às pressas cercado
para o gado. O mesmo vocábulo pode traduzir-se por cordeiros
(Sl_37:20), de modo que “as manadas se vestem de cordeiros”, figura
que expressa um aumento grande.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 145
Salmo 66

O escritor convida a todos os homens a unir-se em louvor; cita


ocasiões notáveis que a merecem; promete ações de graças especiais, e
celebra a grande misericórdia de Deus.

1. Aclamai — “Fazei um ruído prazeroso” (versão inglesa).


2. seu nome — como no Sl_29:2.
dai glória ao seu louvor — Seja seu louvor tal que O glorifique, ou
que seja honroso para Ele.
3, 4. Um exemplo de tal louvor.
Que tremendos — (cf. o Sl_65:8.)
se mostram submissos — manifestarão uma entrega forçada
(Sl_18:44), produzida pelo temor,
5, 6. As obras terríveis ilustradas na história de Israel (Êx_14:21).
Com este exemplo, admoesta-se aos rebeldes.
7. vigiam as nações — vigiam a conduta deles.
8, 9. Aqui se cita talvez uma libertação recente.
9. preserva com vida a nossa alma — lit., põe nossa alma em
vida; isto é, fora de perigo (Sl_30:3; Sl_49:15).
resvalem — sejam movidos (Sl_10:6; Sl_55:22).
10-12. De provas duras Deus os havia trazido a lugar seguro (cf.
Is_48:10; 1Pe_1:7).
11. oprimiste — opressão, como no Sl_55:3, que pesava sobre as
costas — o assento das forças (Dt_33:11), debilitados pela
opressão.
12. os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça — passar
acima.
pelo fogo, etc. — figura que descrevem a prostração e as peripécias
(cf. Is_43:2; Ez_36:12).
lugar espaçoso — lit., lugar que transborda, ou irrigado, e portanto
fértil.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 146
13-15. Estas várias ofertas completas constituem o pagamento dos
votos (Lv_22:18-23).
15. imolarei — lit., farei ascender, aludindo à fumaça da oferta
queimada, o que explica o uso de “perfume”.
aroma — que em qualquer outro lugar significa a fumaça do
incenso.
16-20. Com estes une seus atos públicos de agradecimento, e
convida para ouvir os que temem a Deus (Sl_60:4; Sl_61:5, seus
verdadeiros adoradores). Afirma sua sinceridade, porquanto Deus nunca
ouviria os hipócritas, como a ele havia escutado.
17. com a língua o exaltei — lit., a exaltação (estava) sob minha
língua, como depositário, de onde procedia: isto é, honrar a Deus me era
habitual.
18. contemplara a vaidade — isto é, com prazer.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 147
Salmo 67

Uma oração para que, mediante as bênçãos de Deus sobre o Seu


povo, Sua salvação e Seu louvor sejam estendidos sobre toda a terra.

1. faça resplandecer sobre nós o rosto — que nos ensine seu favor
(Nm_6:24-25; Sl_31:16).
2. o teu caminho — seus procedimentos de graça (Is_55:8),
explicados como –
3-5. Louvores de gratidão serão oferecidas pelas bênçãos de seu
sábio e santo governo (cf. Is_2:3-4; Is_11:4).
6, 7. As bênçãos de uma colheita frutífera são mencionadas -se
como tipos de maiores bênçãos espirituais, sob as quais todas as nações
temerão e amarão a Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 148
Salmo 68

Este é um salmo-canção (cf. o Salmo 30, título), sugerido talvez


pelas vitórias de Davi, as que lhe asseguraram o trono e deram descanso
à nação. Em termos gerais, o juízo de Deus sobre os ímpios, e a equidade
e a bondade de seu governo aos piedosos, são celebrados. Ilustra-se o
sentimento com exemplos do relacionamento de Deus citados na história
judaica e relatados em termos altamente poéticos. Portanto, o escritor
recomenda que se esperem triunfos iguais e até maiores, e ordena a todas
as nações a unir-se nos louvores ao Deus de Israel. O Salmo é
evidentemente típico da relação que Deus, na pessoa de Seu Filho,
mantém com a Igreja (Sl_68:18).

1-3. Cf. Nm_10:35; Sl_1:4; Sl_22:14, sobre as figuras aqui usadas.


de sua presença — como diante da presença do fogo, como de
coisa temível; mas em Sl_68:3, em sua presença é como sob sua
proteção (Sl_61:7).
3. Os justos — todos os verdadeiramente piedosos, sejam eles de
Israel ou não.
4. exaltai o que cavalga sobre as nuvens — lit., “elevai aquele
que cavalga pelos desertos” (Sl_68:7), alusão à representação poética de
Sua direção de Seu povo no deserto, como um conquistador, diante do
qual deve ser preparado, ou elevado, um caminho (cf. Is_40:3; Is_62:10),
Já é o seu nome (TB) — ou seja, Jeová, do qual é uma contração
(Êx_15:3; Is_12:2) (hebraico).
nome — ou as perfeições (Is_9:10; Is_20:1), as quais —
5, 6. são ilustradas pela proteção dos indefesos, pela defesa dos
inocentes, e pelo castigo dos rebeldes, atribuídas a ele.
6. faz que o solitário more em família — lit., acomoda os
solitários (ou peregrinos) em lar. Sendo uma verdade geral, é talvez uma
alusão aos israelitas.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 149
rebeldes habitam em terra estéril — se separados dos confortos
da casa.
7, 8. (Cf. Êx_19:16-18).
Ao saíres — num pilar de fogo.
ao avançares — partindo, com movimento majestoso.
8. o próprio Sinai — se abalou, melhor, derreteu-se como em
Jz_5:5.
9, 10. Copiosa chuva — uma chuva de dons, como o maná e as
codornas.
10. a tua grei — lit., tua tropa como em 2Sm_23:11, 13 – sendo
proeminente o aspecto militar do povo, de conformidade com as figuras
do contexto.
Nela (RC) — na terra prometida.
os necessitados — o Seu povo humilde (2Sm_68:9; cf. Sl_10:17;
Sl_12:5).
11. publicam as boas novas — isto é, do triunfo.
companhia das mulheres — ou coro de mulheres, que celebraram
a vitória (Êx_15:20).
12. Reis de exércitos — quer dizer, com seus exércitos.
a dona de casa — principalmente as mulheres assim ficavam, e a
tranquilidade da vitória é aparente porquanto elas puderam, sem perigo,
desfrutar-se na quietude dos despojos.
13. Aqui alguns traduzem: “Quando os deitarem entre os apriscos
(ou fronteiras), serão …”, comparando o repouso pacífico nos limites da
terra prometida à beleza proverbial da mansa pomba. Outros entendem
que se deve traduzir a palavra por “vasos,” as paredes defumadas das
covas aonde os israelitas se refugiaram no tempo dos juízes; ou entender
tudo figurativamente, pelas filas de pedras de onde pendiam as vasilhas
de cozinha; e assim se contrasta sua anterior condição humilde e aflitiva
com sua prosperidade posterior. Em todo caso, descreve-se um estado de
paz e quietude mediante uma bela figura.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 150
14. Dispersos seus inimigos, o contraste de sua prosperidade com
suas aflições anteriores é representado pelo da neve que cai sobre o
monte Zalmom.
15, 16. Os montes são com frequência símbolos de nações (Sl_46:2;
Sl_65:6). O monte de Basã, a nordeste da Palestina, denota uma nação
pagã; descreve-se como um monte de Deus, ou monte alto. As tais se
representam como invejosas do monte (de Sião) onde Deus reside;
17. e à declaração de que Deus o fará Sua morada, acrescenta-se a
evidência de que o protegerá. É pintado em meio de seus hostes
celestiais.
milhares de milhares — lit., milhares de repetições, ou milhares
de milhares, isto é, de carros. A palavra anjos [na AV] foi talvez
introduzida de Dt_33:2, e Gl_3:19. subentende-se, é óbvio, que eles são
condutores de carros.
o Sinai está no santuário (TB) — isto é, ele apareceu em Sião
como apareceu uma vez em Sinai.
18. Desde o cenário da conquista sobe a Seu trono, levando cativo o
cativeiro — ou a muitos cativos (Jz_5:12).
recebeste dons (TB) — aceitando a homenagem deles, mesmo
quando fora forçado como de parte de rebeldes.
para que o SENHOR Deus habite — quer dizer, fazer deste
monte, de Seu povo, ou da Igreja, a Sua morada. Este Salmo tipifica as
conquistas da Igreja sob Seu divino Mestre, Cristo. Por certo, “aquele
que estava com a Igreja no deserto” (At_7:38) é o Senhor (Jeová),
descrito nesta ascensão ideal. Portanto, Paulo (em Ef_4:8) aplica esta
linguagem para descrever sua verdadeira ascensão, quando, tendo
vencido o pecado, a morte, e o inferno, o Senhor da glória
triunfantemente entra no céu, acompanhado pelas multidões de anjos
adoradores, para sentar-Se no trono e dirigir o cetro de um domínio
eterno.
A frase “recebeste dons dos (lit., entre os) homens” — Paulo a
interpreta: “Deu dons aos homens.” Ambas as frases descrevem os atos
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 151
de um vencedor, que recebe e distribui o despojo de guerra. O salmista
usa “receber” como sinal da vitória; Paulo, “deu” como o ato de um
conquistador, que tendo derrotado a seus inimigos, passa a recompensar
a seus amigos. A aplicação especial desta passagem por Paulo foi para a
comprovação da exaltação de Cristo. O que o Antigo Testamento
representa com relação à descida e a ascensão dele corresponde a sua
história. Aquele que desceu é o mesmo que ascendeu. Como a ascensão
então foi um elemento de Seu triunfo, assim o é agora; e Aquele que, em
Sua humilhação, deve ser reconhecido como nosso sacrifício vicário e
como Sumo sacerdote de nossa profissão, deve ser também adorado
como Cabeça de Sua Igreja e o Autor de todos os benefícios espirituais
que ela recebe.
19-21. Deus socorre amplamente nossas necessidades diárias. As
vicissitudes e as escapadas da morte estão sob a direção dAquele que é o
Deus que nos salva e que destrói os inimigos deles e nossos.
21. esmigalhará a cabeça (TB) — destruirá violentamente
(Nm_24:8; Sl_110:6).
do que anda ... próprios delitos — segue caminhando, que persiste
em sua impenitência.
22. Generaliza exemplos anteriores da libertação de Deus: assim
como tem feito, assim fará.
De Basã — região a mais longínqua; e de –
profundezas do mar — das aflições mais severas. As figuras do
Sl_68:23 denotam a perfeição da conquista, e não implicam crueldade
selvagem alguma (cf. 2Rs_9:36; Is_63:1-6; Jr_15:3).
24-27. Descreve a procissão triunfal, terminada a libertação.
Viu-se — impessoalmente, “Viram-se os teus caminhos,” e os
o cortejo — ou saídas, como na frase anterior, como encabeçando a
procissão, como que guiava a arca, símbolo da presença de Deus.
Seguem as várias bandas de música (Sl_68:25), e todos os que são
26. da estirpe de Israel — isto é, os descendentes de Jacó são
convidados a unir-se na doxologia. Logo, por uma das tribos mais
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 152
próximas, por uma das mais eminentes e duas das mais remotas, é
representada toda a nação, que marcha adiante (Números 7).
28, 29. confundem-se na canção de louvor a gratidão pelas vitórias
anteriores e a oração confiante pelas futuras vitórias de Sião
29. seu templo — em, lit., sobre.
Jerusalém — Seu palácio ou residência simbolizava (Sl_5:7) Sua
presença protetora entre o Seu povo, e portanto é objeto de homenagem
da parte de outros.
30. As nações mais fortes são representadas pelos animais mais
fortes.
31. Príncipes — lit., os gordos, os eminentes da nação mais rica e
da mais distante representam a sujeição universal.
corre a estender mãos — ou, “apressará as mãos delas”,
denotando pressa.
32-35. Àquele que se apresenta cavalgando em triunfo através de
seus antigos céus; àquele que, na natura e ainda mais nas maravilhas de
Seu governo espiritual, desde seus santuários (Jr_43:3), é terrível, que
rege a Sua Igreja, e por Sua Igreja governa o mundo com justiça; a Ele
lhe deem todas as nações e os reinos a honra e o poder e o domínio para
sempre jamais.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 153
Salmo 69

Sobre Sosanim — (cf. o título do Salmo 45). Com linguagem mista


de oração e de queixa, o sofredor, cuja condição aqui se expõe, suplica o
socorro divino como quem sofre pelo amor de Deus, implora a divina
retribuição sobre seus inimigos, e assegurado da libertação que virá,
promete que darão louvor ele mesmo e outros que receberão tais bênçãos
de Deus. Este Salmo é chamado sete vezes no N.T. como profético de
Cristo e dos tempos evangélicos. Embora pareça a alguns que o caráter
do salmista no Sl_69:5 é o de pecador; entretanto, sua condição de
vítima inocente dos crimes alegados sustenta o caráter típico da
composição, e pode ser tomado pois no todo, como no Salmo 22, por
tipicamente expressivo dos sentimentos de nosso Salvador na carne.

1, 2. (cf. Sl_40:2.)
as águas me sobem até à alma — pondo-o em perigo de ser
afogado (Jon_2:5).
3. (Cf. o Sl_6:6).
os meus olhos desfalecem — cansados de olhar (Sl_119:28).
4. Aqueles que me aborrecem (RC), etc. — (cf. Jo_15:25.) Sobre
o número e força de seus inimigos, cf. o Sl_40:12.
restituir — sofreu injustamente sob a imputação de roubo.
5. Pode entender-se como uma reclamação, defendendo sua
inocência, como se tivesse dito: “Se sou mau, Tu sabes.” Contudo, a
condição de Davi como sofredor pode tipificar a de Cristo, sem exigir-se
que se ache um paralelo no caráter.
6. por minha causa — em minha confusão e em minha vergonha.
7-12. Esta petição contempla sua relação com Deus como sofredor
por amor a Deus. A recriminação, o distanciamento familiar (Mc_3:21;
Jo_7:5), o esgotamento no serviço de Deus (Jo_2:17), o escárnio dos vis:
tudo isto ele tinha sofrido.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 154
10. Chorei, em jejum está a minha alma — Desfiz minha alma
(minha vida) chorando; linguagem figurativa de fundo pesar.
12. à porta — em lugar público (Pv_31:31)
13-15. Crescendo na confiança em Deus, pede socorro, descrevendo
sua aflição em figuras do Sl_69:1-2.
16-18. Estes ardentes termos que se usam com frequência, dirigem-
se a Deus como se fosse indiferente ou adverso, como no Sl_3:7;
Sl_22:24; Sl_27:9, etc.
19, 20. Clamando a Deus para que olhe sua aflição, expressa o
agravamento da mesma produzida pela falta de amigos simpatizantes (cf.
Is_63:5; Mc_14:50).
21. Em vez destes, seus inimigos aumentam sua dor dando-lhe
alimento e bebida repugnantes. O salmista pode haver descrito assim em
figura o que Cristo experimentou na realidade (cf. Jo_19:29-30).
22, 23. Com mudanças verbais sem importância, esta passagem é
usada por Paulo para descrever o rechaço dos judeus que se negaram a
receber o Salvador (Rm_11:9-10). O sentido das figuras é que as
bênçãos se tornarão em maldições, a mesa de alegria (mesa de banquete)
numa rede, o bem-estar deles, (ou condição pacífica, ou segurança) numa
armadilha. Olhos obscurecidos e lombos debilitados completam a figura
da ruína que lhes sobrevém como retribuição pedida.
23. faz tremer — extraviar-se ou dobrar-se de fraqueza.
24, 25. Espera-lhes a devastação completa. Não só serão
desalojados de suas casas, mas também estas, lit., palácios indicativos de
riquezas, serão desoladas (Cf. Mt_23:38).
26. Embora ele tenha sido ferido por Deus (Is_53:4), nem por isso
foram menos culpados os que o perseguiram (At_2:23).
acrescentam dores — o que implica risada e zombarias.
golpeaste — lit., de morte,
27, 28. iniquidade — ou castigo (Sl_40:12).
não gozem, etc. — Não participem de seus benefícios.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 155
28. Livro dos Vivos — ou da vida, modo figurativo que com a
frase que segue representa os salvos inscritos num registro (Cf.
Êx_32:32; Is_4:3).
29. amargurado e aflito — pobre e triste, os piedosos afligidos,
com frequência assim denotados (cf. Sl_10:17; Sl_12:5).
ponha-me ... em alto refúgio — lit., por-me-á em alto, fora do
alcance do perigo.
30, 31. Melhores são as ofertas espirituais que as materiais
(Sl_40:6; Sl_50:8); portanto promete aquelas, e fala zombeteiramente
destas.
32, 33. Outros desfrutarão. Os humildes e carentes, como no
Sl_69:29.
o vosso coração — dirigido para com Ele (cf. Sl_22:26).
33. prisioneiros — peculiarmente expostos ao desprezo.
34-36. O convite ao universo para o louvor está bem sustentado
pela predição de extensas bênçãos perpétuas que receberá o povo que
tem aliança com Deus. Embora, como de costume, as figuras são tiradas
dos termos usados na Palestina, todo o teor do contexto indica que se
significam os privilégios e bênçãos espirituais da Igreja.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 156
Salmo 70

Este corresponde ao Sl_40:13-17, com muito poucas variações,


como são voltados (v. 3) por sejam assolados, e te apresse a mim (v. 5)
por pensará de mim. Forma um apêndice próprio para o salmo anterior, e
chama-se “um salmo que faz lembrar,” como o Salmo 38.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 157
Salmo 71

O salmista, provavelmente em sua ancianidade, invoca o socorro de


Deus contra os seus inimigos; com base em favores anteriores dá a
conhecer sua presente necessidade, e seguro de ser ouvido em sua
súplica, promete ação de graças e louvor.

1-3. (Cf. o Sl_30:1-3.)


3. ordenaste — lit., ordenaste, como no Sl_44:4; Sl_68:28.
rocha … fortaleza — (Sl_18:2).
4, 5. homem injusto e cruel —corrompido e de mau humor — lit.,
acre.
6-9. Sua vida da anterior infância ilustra o cuidado de Deus; seus
maravilhosos livramentos eram ao mesmo tempo ocasiões de louvor e
motivo de confiança para o futuro.
és motivo para os meus louvores — lit., “em ti” ou “para ti”
(Sl_22:25).
10, 11. A astúcia e as injúrias de seus inimigos agora o levam a
pedir socorro (sobre os termos, cf. 2Sm_17:12; Sl_3:2; Sl_7:2).
12. (Cf. Sl_22:19; Sl_40:4).
13. (Cf. Sl_35:4; Sl_40:14).
14-16. A destruição de seus inimigos, em prova da fidelidade de
Deus, é uma libertação para ele, e razão de confiança para o futuro.
15. eu não saiba o seu número — inumeráveis, como se ele não
tivesse tempo para os contar.
16. Virei com os poderosos feitos (TB) — ou possivelmente,
“Virei (confiante) nas obras poderosas …”
a tua justiça — o fiel cumprimento das promessas feitas aos
piedosos (Sl_7:17; Sl_31:1).
17-21. Outra vez a experiência de antes o reanima.
Tu me tens ensinado — pelos procedimentos providenciais.
19. até aos céus — Distinguida (Sl_36:5; Is_55:9).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 158
20. abismos da terra — da humilhação, ou de condição humilde.
21. Aumenta — quer dizer, as coisas grandes feitas a meu favor
(cf. Sl_71:19 com Sl_40:5).
22-24. À ocasião para os louvores agora acrescenta a promessa das
dar.
te darei graças (TB) — lit., agradecerei.
a tua verdade — a respeito de sua verdade ou fidelidade.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 159
Salmo 72

Para, ou lit., de Salomão. O versículo final refere-se a todo o


segundo livro dos Salmos, dos quais este é o último. Foi acrescentado
talvez pelo compilador para indicar que aqui termina a coleção a que está
posta o nome de Davi como o autor principal. Segundo este parecer,
podem ser incluídas corretamente as composições de outros, como os de
Asafe, os dos Filhos de Coré e os de Salomão; e uns quantos de Davi
podem ser inseridos nas séries que seguem. O fato de que aqui seja
usado o modo comum de expressar o autor, dá mais força à ideia de que
Salomão é o autor deste Salmo, porquanto não aparece objeção mais
forte, que a que se acaba de anular. O Salmo, em estilo altamente
figurativo, descreve o reino de um rei como “justo, universal, benéfico e
perpétuo.” Pelos intérpretes judeus antigos e os mais cristãos modernos,
foi aplicado a Cristo, cujo reino único, presente e futuro, corresponde a
tais declarações. Como as figuras do Salmo dois indicam o caráter
marcial do reino de Davi, as deste indicam o pacífico e próspero estado
do reino de Salomão.

1. Concede ao rei — uma oração equivalente a uma predição.


juízos — os atos e (figurativamente) os princípios de um governo
justo (Jo_5:22; Jo_9:39).
justiça — as qualidades necessárias para dirigir tal governo.
filho do rei — a mesma pessoa que o rei – título muito próprio para
o Cristo, como tal, em ambas as naturezas.
2. Os efeitos de tal governo dirigido por alguém assim dotado são
assim detalhados.
teu povo ... teus aflitos — os mansos, os piedosos súditos de seu
governo.
3. Como os montes e as colinas não são usualmente produtivos,
usam-se estes termos aqui para expressar a abundância da paz.
trarão — produzirão, como a árvore sua fruto.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 160
justiça — “Levarão paz ao povo os montes e as colinas em justiça,”
isto é, por meio de seus métodos de governo eminentemente justos e
bons.
4. Tal paz, inclusive a prosperidade, é uma característica destacada
do reino de Cristo (Is_2:4; Is_9:6; Is_11:9), e será notável pela segurança
dada aos indefesos e carentes e pelo castigo aplicado aos opressores,
cujo poder para fazer mal ou perturbar a paz de outros, será destruído (cf.
Is_65:25; Zc_9:10).
os filhos dos necessitados — metáfora, dos carentes (cf. filhos de
estranhos, Sl_18:45).
5. enquanto existir o sol … — lit., com o sol, coexistente, e na
presença da lua enquanto ela durar (cf. Gn_11:28, perante Tera, lit., na
presença de Tera, enquanto ele viveu).
6. Uma figura bela expressa a natureza benevolente de sua
influência;
7. e para completar a figura, os resultados se pintam na produção
abundante.
florescerá o justo (RC) — lit., a retidão (vida reta) brotará.
8. As nações estrangeiras mencionadas (Sl_72:9-10) não poderiam
ser incluídas dentro dos limites, se se queria indicar as fronteiras do reino
de Salomão. Os termos, embora derivados dos usados (Êx_23:31;
Dt_11:24) para denotar as posses de Israel, devem ter um sentido mais
amplo. De modo que “os cabos da terra” nunca determina a Palestina,
mas sim sempre o mundo.
9-11. A extensão das conquistas.
Aqueles que habitam no deserto — lit., os que moram no deserto,
as tribos incultas e ferozes do despovoado.
lamberão o pó — em profunda submissão. As nações mais remotas
e mais ricas o reconhecerão (cf. o Sl_45:12).
12-14. Não são conquistas das armas, mas sim as influências dos
princípios humanos e pacíficos (cf. Is_9:7; Is_11:1-9; Zc_9:9-10).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 161
15. Em sua vida prolongada seguirá recebendo os dons honrosos
dos ricos, e as orações de seu povo serão elevadas em favor dele, e os
louvores dele lhe serão dadas.
16. As bênçãos espirituais, como muitas vezes nas escrituras,
expressam-se em termos das materiais, cuja abundância se descreve na
figura de um punho (um pedacinho, um pouquinho) de grão que jogado
em terra a menos propícia, produzirá trigais exuberantes que ondeiam no
vento como os bosques do Líbano.
da cidade … terra — denota o rápido e abundante aumento da
cidade de Jerusalém, centro e sede do reino típico.
floresçam — ou reluzirão como pasto novo, ou erva em flor. O
aumento de povo corresponde com o da produtividade. Assim, conforme
se difundam as bênçãos do evangelho, se levantarão aumentando, de
dentro da Igreja onde Cristo reside como Cabeça, os que as receberão.
17. o seu nome — as seus gloriosas perfeições.
enquanto resplandecer o sol — (cf. Sl_72:5 ).
sejam abençoados — benditos (Gn_12:3; Gn_18:18).
18, 19. Estas palavras concluem o Salmo em termos consequentes
com o estilo do contexto, enquanto que o Sl_72:20 é evidentemente, por
seu estilo prosaico, um acréscimo, mais acima explicado [veja-se o
Sl_72:1].
20. Findam — terminam; não cumpridas, no sentido que se dá a
este vocábulo em tempos muito posteriores, salvo o caso de Ed_1:1 e
Dn_12:7.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 162
Salmo 73

De Asafe — (cf. a Introdução). Deus é bom a seu povo. Pois embora


o salmista foi tentado pela prosperidade dos maus e as aflições dos justos
a duvidar do governo de Deus, entretanto a terrível ruína repentina dos
ímpios, à luz da revelação de Deus, ressegura-lhe o coração, e
reprovando-se sua loucura, renova sua confiança em Deus, e celebra sua
bondade e amor.

1. O anúncio abrupto do tema indica que é a conclusão de um


perplexo conflito mental, logo detalhado (cf. Jr_12:1-4).
Com efeito — ou, em verdade, é assim.
os de coração limpo — (Sl_18:26) descreve o verdadeiro Israel.
2. As figuras expressam a fé flutuante do salmista, em termos que
denotam bamboleio e fraqueza (cf. o Sl_22:5; Sl_62:3).
3-9. Os ímpios prósperos são insolentes e arrogantes (cf. o Sl_5:5).
Morrem, assim como vivem livres das perplexidades; o orgulho os
adorna, e a violência é sua roupagem; com efeito, inflam-se por seu êxito
inaudito.
8. Motejam — lit., zombam (presente), falam maliciosa e
arrogantemente, e até invadem o céu com a blasfêmia (Ap_13:6), e
cobrem a terra com calúnias (Jó_21:7-14).
10-12. Portanto o povo de Deus se confunde; dão volta para cá e
acolá, perplexos, duvidando do conhecimento e cuidado de Deus, e
tristes.
12. sempre tranqüilos — sempre seguros.
13, 14. O salmista, compartilhando tais perturbações, preocupa-se
especialmente por seu próprio caso, pois apesar de quão diligentes
fossem seus esforços por levar uma vida santa, achava-se ainda
duramente provado.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 163
15. Livre de figuras de dicção, este versículo expressa uma
hipótese, “Se eu houvesse dito …” dando a entender que tinha calado
seus dúvidas.
geração de seus filhos — seu povo (1Jo_3:1).
teria traído — lit., enganado, ou desviado.
16, 17. Contudo –
achei — lit., estudou (pretérito), ponderou este enigma; mas em
vão; seguiu sendo impenetrável, até que ele veio –
17. no santuário — para inquirir (cf. Êx_25:22; Sl_5:7; Sl_27:4).
18-20. o fim [v. 17] — futuro deles (Sl_37:37-38), que é lúgubre,
terrível, e súbito (Pv_1:27; Pv_29:1), agravado e apressado pelo terror.
Como as pessoas desprezam um sonho fantástico, assim Deus,
levantando-se para juízo (Sl_7:6; Sl_44:23), despreza a vã sombra de
felicidade deles (Sl_39:6; Is_29:7). Sua ruína é como uma casa que se
desaba (Sl_74:3).
21, 22. Confessa quão ignorante e falto de entendimento tinha sido
seu modo de pensar.
22. à tua presença — perante Deus.
23. Todavia — ficava com Deus, como beneficiário dependente, e
Deus lhe guardou de cair (Sl_73:2).
24. Calam-se todas as suas dúvidas na confiança da divina guia e a
glória futura.
me recebes na glória — (cf. o Sl_68:18; Ef_4:8).
25, 26. Deus é o único bem que o satisfaz.
26. a fortaleza — (Sl_18:2).
herança — (Sl_16:5; Lm_3:24).
27, 28. A sorte dos apóstatas, descrita numa figura de frequente uso
(Jr_3:1, Jr_3:3; Ez_23:35), contrasta-se com a felicidade do salmista em
sua intimidade com Deus (Tg_4:8) e com sua alegria de declarar seus
louvores.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 164
Salmo 74

Se as alusões dos vv. 6-8 se referem, como é provável, ao período


do cativeiro, o autor era provavelmente um descendente ou xará de
Asafe, cantor contemporâneo de Davi (Cf. 2Cr_35:15; Ed_2:41).
Queixa-se de que Deus tenha desamparado a Sua Igreja, e invoca o Seu
socorro, e se anima lembrando alguns dos atos maravilhosos de Deus, e
encarece sua petição baseando-se na relação de aliança com o Seu povo,
e na iniquidade do inimigo comum dEle e deles.

1. rejeitas — com aborrecimento (cf. Sl_43:2; Sl_44:9). Isto não


significa negação de culpa. Com frequência usa-se a figura do fogo para
denotar a ira de Deus; e aqui, como em Dt_29:20, o emprego da palavra
“fumegar” significa a continuação da mesma figura.
ovelhas … pasto — (cf. o Sl_80:1; Sl_95:7).
2. Os termos que denotam a relação de Deus com o Seu povo
aumentam em força; “congregação”, “adquiriu”, “redimiu”, “Sião”, sua
habitação.
3. Dirige os teus passos — (Gn_29:1), quer dizer, “Vem (a
contemplar) os assolamentos” (Sl_73:19).
4. bramam — com a fúria de feras.
assembleias — as assembleias em adoração.
símbolos — Substituídos seus objetos idolátricos, ou emblemas de
autoridade, pelos artigos do templo que representavam a presença de
Deus.
5, 6. Embora alguns dos vocábulos e as frases aqui sejam obscuros,
o sentido geral é que os despojadores destruíram as belezas do templo
com a violência de lenhadores.
Parecem-se com os que — lit., “eram conhecidos”.
6. lavores de entalhe — (1Rs_6:29), do templo; na mente do
escritor, embora, não o expressa até o v. 7, onde menciona sua destruição
pelo fogo (2Rs_25:9; Is_64:11).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 165
7. profanam — como no Sl_89:39.
8. lugares santos — lit., assembleias, lugares de reunião, fossem
das escolas dos profetas (2Rs_4:23), ou as sinagogas no sentido usual;
está em dúvida.
9. símbolos — da presença de Deus, como a arca, o altar, etc. (cf.
Sl_74:4; 2Cr_36:18-19; Dn_5:2).
já não há profeta — (Is_3:2; Jr_40:1; Jr_43:6).
até quando — tem que durar isto. A profecia de Jeremias
(Jr_25:11), se é que estava publicada, não era geralmente sabida nem
entendida. Para a generalidade do povo, durante o cativeiro, os serviços
proféticos ocasionais e locais de Jeremias, Ezequiel e Daniel não teriam
feito exceção à declaração: “não há mais profeta”.
10. (Cf. Sl_31:1).
nos afrontará — com a zombaria de estar desamparados por Deus.
blasfemará … o teu nome — suas perfeições, tal como o Seu
poder, bondade, etc. (Sl_29:2).
11. Por que deixa de nos socorrer? (Cf. Sl_3:7; Sl_7:6; Sl_60:5).
12. Ora — lit., “E”, em sentido adversativo.
13-15. Exemplos das obras de salvação feitas são mencionadas.
dividiste o mar — separou as águas do Mar Vermelho.
sobre as águas a cabeça dos monstros — Faraó e seu exército (cf.
Is_51:9-10; Ez_29:3-4).
14. as cabeças do Leviatã (RC) — a palavra coletiva, e assim é
usada por muitos.
habitantes do deserto — isto é, animais, como os coelhos (cf.
Pv_30:25-26), que se chamam povo. Há os que interpretam a passagem
literalmente, isto é, que os monstros do mar jogados em terra seca foram
alimento para os árabes nômades.
15. Abriu a fonte — isto é, rachou a pedra de Horebe e a do Cades,
para obter mananciais de água.
secou — o Jordão, e talvez o Arnom e o Jaboque (Nm_21:14).
16, 17. As ordenações da natureza e os limites da terra são de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 166
18. (Cf. o v. 10; Dt_32:6). O contraste é chamativo: que tal Deus
seja desta maneira insultado!
19. bestas — por companhia de homens (Sl_68:10).
rola — isto é, a mansa e solitária Igreja; quer dizer,
a vida de seus pobres — representada assim a Igreja como o
remanescente de um exército, derrotada e saqueada, exposta à violência.
20. E a prevalência da injustiça ou anarquia nas terras pagãs é a
razão por que invocar a Deus com relação a sua promessa (cf.
Nm_14:21; Sl_7:16; Sl_18:48).
21. Não volte — de buscar a Deus.
o abatido — lit., o quebrantado (Sl_9:9).
envergonhado — (Sl_35:4).
22, 23. (Cf. Sl_3:7; Sl_7:6). Deus ouve os ímpios para a própria
ruína deles (Gn_4:10; Gn_18:20).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 167
Salmo 75

Não destruas — Al-taschith (Cf. título do Salmo 57). Sob perigo


iminente e antecipando o socorro em razão do justo governo de Deus, o
salmista se reanima e oferece louvores.

1. O nome, ou as perfeições, de Deus se manifesta em Suas obras


maravilhosas.
2, 3. Estes versículos expressam o propósito de Deus de administrar
um governo justo, quem no tempo da anarquia sustenta à nação. Alguns
aplicam estas palavras ao salmista.
Hei de aproveitar o tempo determinado — o tempo fixo, ou
próprio, para a audiência (Sl_102:13; Os_2:3).
3. as suas colunas — da terra (1Sm_2:8).
4-8. Fala aqui o escritor em vista do que Deus falou, admoestando
aos ímpios.
5. Não levanteis altivamente a vossa força — não elogiar o poder
dos maus, não ser arrogantes, não inflar-se eles mesmos.
nem faleis com insolência — insolentemente.
6, 7. exaltação (NKJV, RC) — Só o Senhor é o justo juiz dos
merecimentos.
8. na mão … cálice … vinho ... mistura — desta maneira se
representa com frequência a ira de Deus (cf. Is_51:17; Jr_25:15).
até às escórias — o sedimento, sedimento do vinho da ira de Deus:
juízo completo.
9, 10. contrasta-se a sorte dos justos, os que louvarão a Deus, sob
cuja direção destruirão o poder dos malignos e enaltecerão aos justos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 168
Salmo 76

Sobre Neginote — (Cf. o título do Salmo 4). Este salmo comemora


o que o precedente antecipa: a libertação por Deus do Seu povo por uma
notável interposição do Seu poder contra os inimigos deles. a ocasião
provavelmente foi dos eventos narrados em 2Rs_19:35; Isaías 37. (Cf. o
Salmo 46).

1, 2. Estes bem conhecidos termos denotam o povo de Deus e a


Igreja, e suas íntimas e gloriosas relações com eles.
Salém — (Gn_14:18) é Jerusalém.
3. despedaçou ele os relâmpagos do arco — lit., raios de trovão
(Gn_78:48), por seu rápido correr ou ignição (cf. Sl_18:14; Ef_6:16).
4. Tu — Deus.
montes eternos — de presa, grandes nações vencedoras, como
Assíria (Is_41:15, Ez_38:11-12; Zc_4:7).
5. jazem a dormir o seu sono — morreram (Sl_13:3).
nenhum ... pode valer-se das próprias mãos — eram impotentes.
6. carros e cavalos — ou seja, os que neles pelejaram (cf. o
Sl_68:17).
7. quem pode subsistir à tua vista? — quem pelejará contigo?
(Dt_9:4; Js_7:12).
8, 9. O juízo de Deus sobre os ímpios é a libertação do Seu povo
(Sl_9:12; Sl_10:7).
10. A ira do homem louva a Deus pela vaidade dela na presença
divina.
restringirás (RC) — lit., rodear-te-á, isto é, como com uma espada
para destruir, ou como ornamento de teu louvor.
11, 12. Convida a que deem homenagem a tal Deus (2Cr_32:23),
que pode cortar o alento de reis e de príncipes quando quer (Dn_5:23).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 169
Salmo 77

Para Jedutum — (cf. o título do Salmo 39). Em tempo de aflição,


pronto a se desesperar, o salmista encontra alívio lembrando as
maravilhosas obras de Deus feitas no passado por Seu poder libertador e
sua graça.

1. Expressa o propósito do Salmo,


2. Sua importunidade.
erguem-se as minhas mãos — lit., minha mão se estendia. (cf. o
Sl_44:20).
não se cansam — não se debilitou (Gn_45:26; Sl_38:8).
minha alma, etc. — (cf. Gn_37:35; Jr_31:15).
3-9. Sua triste condição contrastada com os alegrias anteriores.
passo a gemer — violentamente agitado (Sl_39:6; Sl_41:5).
me desfalece o espírito — (Sl_107:5; Jon_2:7).
4. Não me deixas pregar os olhos — vigiando, de modo que não
posso dormir. Segue expressando a sua ansiedade com várias perguntas
graves indicativas de sua impaciência e tristeza.
10. Prescindindo das palavras em itálicos, Mas traremos à memória
(AV), podemos traduzir: “Esta é minha doença (ou aflição) os anos …”
de aflição (cf. Sl_90:15) ordenada por Deus.
11, 12. Acha alívio contrastando os livramentos anteriores de Deus
Receberão bens de suas mãos e não males? Ambas as coisas são a
ordenação da misericórdia infalível e do amor inesgotável.
13. O teu caminho … no santuário (RC, ASV, AV NKJV) — de
graça e de providência (Sl_22:3; Sl_67:2), ordenados sobre princípios
santos, desenvolvidos no culto (santuário, por santidade); ou
compreendidos em suas perfeições (cf. Êx_15:11).
14-20. Ilustrações do poder de Deus em suas intervenções especiais
a favor do Seu povo (Êxodo 14), e mais no controle comum mas sublime
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 170
da natureza (Sl_22:11-14; Hc_3:14), que talvez acompanhavam tais
intervenções (Êx_14:24).
15. Jacó … José — que representam a todos.
19. Pelo mar, etc. — pode referir-se à condução do povo por mar,
como também expressar os mistérios da providência.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 171
Salmo 78

Este Salmo parece ter sido ocasionado pela mudança do santuário


de Siló, na tribo de Efraim, até Sião, da tribo de Judá, e a transferência
conseguinte da preeminência israelita daquela a esta tribo, evidenciada
pelo estabelecimento de Davi como cabeça da Igreja e da nação. Embora
isto foi o desenvolvimento do propósito de Deus, procedeu também do
juízo divino contra Efraim, sob cuja direção o povo tinha manifestado o
mesmo caráter pecaminoso e rebelde que tinha distinguido a seus
antepassados no Egito.

1, 2. povo meu, a minha lei — linguagem de um mestre religioso


(v. 2; Lm_3:14; Rm_2:16, Rm_2:27; cf. o Sl_49:4). A história que segue
foi uma parábola — “dito obscuro,” ou enigma, e para entendê-lo se
requeriam sabedoria e atenção.
3-8. Esta história tinha sido transmitida (Êx_12:14; Dt_6:20) para a
honra de Deus, e para que os princípios de sua lei fossem transmitidos e
observados pela posteridade. Este importante sentimento se reitera em
(Sl_78:7, 8) forma negativa.
5. testemunho (Sl_19:7)
8. geração obstinada e rebelde — (Dt_21:18).
coração inconstante — para servir a Deus (2Cr_12:14).
9-11. Os privilégios da primogenitura que cabiam a José (1Cr_5:1-
2) foram atribuídos a Efraim por Jacó (Gn_48:1). A supremacia desta
tribo assim intimada, foi reconhecida por sua posição (na marcha da
nação até Canaã) junto à arca (Nm_2:18-24), pela escolha da primeira
localidade permanente para a arca dentro de seus limites, em Siló, e pela
extensa e fértil província que foi dada para a sua possessão. Rastros desta
proeminência ficam depois do cisma sob Roboão, no uso por escritores
posteriores, de Efraim, por Israel (cf. Os_5:3-14; Os_11:3-12). Embora
fosse tribo forte e bem armada e, desde cedo, competidora e arrogante
(cf. Js_17:14; Jz_8:1-3; 2Sm_19:41), parece aqui que ganhava nas
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 172
demais na covardia, antes que na valentia; e tinha causado o desagrado
de Deus, porque, desconfiada de Suas promessas, sempre cumpridas até
agora, tinha deixado de ser caudilho para cumprir os termos da aliança,
expulsando os gentios (Êx_23:24; Dt_31:16; 2Rs_17:15).
12-14. Agora dá-se um relato dos procedimentos de Deus e dos
pecados do povo. O escritor dá a história do êxodo até o retiro de Cades;
logo contrasta os pecados deles com as razões de sua confiança,
detalhando os atos de Deus no Egito e dando um resumo da história
subsequente até o tempo de Davi.
Zoã — no lugar de Egito, por ser sua antiga capital (Nm_13:22;
Is_19:11).
15, 16. Dois milagres similares (Êx_17:6; Nm_20:11).
abismos e água — denotam abundância.
17-20. prosseguiram em pecar — lit., acrescentaram pecados, em
vez de serem levados ao arrependimento (Rm_2:4).
18. no seu coração — (Mt_15:19)
Tentaram a Deus no seu coração — ilustrado pelas absurdas
dúvidas deles, na presença do poder reconhecido de Deus.
21. fogo — o efeito da ira (Nm_11:1).
22. (Cf. Hb_8:8-9).
23-29. (Cf. Êx_16:11-15, Nm_11:4-9).
25. pão dos anjos — lit., pão de poderosos (Sl_105:40), assim
chamado porque veio do céu.
comida — lit., provisões, como para uma viagem.
29. o desejo (RC) — o que tinham desejado [RA].
30, 31. ainda na boca — não tinham terminado de desfrutar a
comida quando …
31. semeou a morte — a alguns dos mais robustos.
escolhidos (RC) — jovens e fortes, e ninguém pôde resistir.
33-39. Embora houve reformas parciais depois do castigo, e Deus
em misericórdia retirou a mão por um tempo, contudo, a conduta deles
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 173
em geral foi rebelde, e Deus foi assim provocado a destruí-los mediante
a longa e inútil peregrinação pelo deserto.
36. com a língua lhe mentiam — a obediência fingida (Sl_18:44).
37. corações não era firme — não firmes (Sl_78:8; Sl_51:10).
39. vento … não volta — lit., alento (Sl_103:16; Tg_4:14).
40, 41. Houve dez tentações (Nm_14:22).
41. tentaram … provocaram (TB) — como nos vv. 19, 20.
Alguns preferem entristeceram a provocaram.
voltaram (TB) — Significa a retirada de Cades (Dt_1:19-23), quer
seja o retorno para trás, ou a repetição da ofensa.
45. enxames de moscas — vários tipos, ou multidões, de moscas,
ou mosquitos.
46. lagartas (TB) — nomeado assim no hebraico por sua
voracidade, e
os gafanhotos — por sua multidão.
47, 48. Os efeitos adicionais da tormenta que se nomeiam (cf.
Êx_9:23-34) concordam com o relato de Moisés.
48. Entregou à saraiva o gado — (cf. Sl_31:8).
49. anjos portadores de males — ou anjos de maldade; muitos
sem dúvida eram empregados, e outros males infligidos.
50, 51. Deu livre curso — se abriu passo, tirou todo obstáculo.
51. as primícias da virilidade — repetição figurativa de
primogênito do paralelismo (Gn_49:3; Dt_21:17).
Cam — Um de cujos filhos deu nome (Mizraim, hebreu) ao Egito.
52-54. o guiou, etc. — ou os trouxe por jornadas periódicas (cf.
Êx_15:1).
54. até ao limite do seu santuário (RC) — ou limite santo; isto é,
região da qual –
este monte — (Sião) era, como a sede do governo civil e religioso,
representativo, expressivo de toda a terra, como agora da Igreja (Is_25:6-
7).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 174
adquiriu — redimiu, ou procurou, com sua mão direita ou poder
(Sl_60:5).
55. com cordas (AV) — de agrimensura.
repartiu — às gente (cf. Dt_6:11).
56, 57. arco enganoso — que se dobra e não lança a seta
(2Sm_1:22; Os_7:16). Recaíram.
58. A idolatria resultou de se ter perdoado os pagãos (cf. vv. 9-11).
59, 60. ouviu isso — o percebeu (Gn_11:7).
se indignou — grandemente, mas não totalmente.
60. a tenda de sua morada — lit., tenda que fez morar, que
levantou (Js_18:1).
61. sua força — a arca, como simbólica da mesma (Sl_96:6).
62. Entregou — ou encerrou.
o seu povo — (v. 48; 1Sm_4:10-17).
63. fogo — ou figurativo da matança (1Sm_4:10), ou um incêndio
literal pelos pagãos.
64. (Cf. 1Sm_4:17); e sem dúvida houve outros mais.
não fizeram lamentações — ou por estarem estupefatas, ou
impedidas pelo inimigo.
65. (Cf. Sl_22:16; Is_42:13).
66. a golpes — nas costas. Os filisteus nunca recuperaram sua
posição de antes depois desta derrota por Davi.
67, 68. a tenda de José — ou a casa, ou a tribo, a que a
a tribo de Efraim — era paralela (cf. Ap_7:8). Sua preeminência,
como a de Saul, somente permitida; Judá tinha sido sempre a escolhida
(Gn_49:10).
69. firme como — sobre montes, e assim permanentes como a
terra.
70-72. A soberania de Deus se demonstra nesta eleição. O contraste
é chamativo; a humildade e a exaltação, e a correspondência é bela.
71. suas crias — lit., as que criavam (cf. Is_40:11). Sobre os
termos pastoris cf. o Sl_79:13.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 175
Salmo 79

Este Salmo, como o 74, provavelmente pinta os assolamentos dos


caldeus (Jr_52:12-24). Compreende as queixas usuais, a oração, e a
promessa de ação de graças pela libertação.
1. (Cf. Sl_74:2-7.)
2, 3. (Cf. Jr_15:3; Jr_16:4.)
4. (Cf. Sl_44:13; Jr_42:18; Lm_2:15.)
5. Até quando (Sl_13:1).
Será para sempre a tua ira? — (Sl_74:1-10).
Arderá … o teu zelo? — (Dt_29:20).
6, 7. (Cf. Jr_10:25). Embora mereçamos castigo, não o merecem
mais os pagãos por sua violência feita contra nós (Jr_51:3-5; Zc_1:14)?
O singular denota o poder principal, e o uso do plural indica os
confederados combinados.
não invocam o (por) seu nome — que não proclamaram (pretérito)
seus atributos nem professaram lealdade (Is_12:4; At_2:21).
8. (Cf. Sl_21:3).
9. pela glória … por amor do teu nome — ambos meios para
ilustrar os Seus atributos, fidelidade, poder, etc.
perdoa-nos os pecados — A libertação do pecado e do sofrimento
para o bem deles e a glória de Deus caracterizam com frequência as
orações dos santos do A.T. (cf. Ef_1:7).
10. Este argumento usado com frequência nas orações (Êx_32:12;
Nm_14:13-16). sangue … derramado — (Sl_79:3).
11. gemido do cativo — Todo o povo cativo.
braço (RC) — (Sl_10:15).
12. no seio (TB) — O regaço, ou a dobra do vestido usado pelos
orientais para receber objetos. A figura denota a retaliação (cf. Is_65:6-
7). Reprovavam a Deus tanto como ao Seu povo .
13. ovelhas do teu pasto — (Cf. Sl_74:1; Sl_78:70).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 176
Salmo 80

Sosanim — Lírios (título do Salmo 45.) Eduth — Testemunho,


referindo-se ao tema como um testemunho de Deus ao Seu povo (cf. o
Sl_19:7). Este Salmo provavelmente se refere ao cativeiro das dez tribos,
como o anterior, ao de Judá. Sua queixa está agravada pelo contraste da
prosperidade anterior, e a petição de socorro se repete como um
estribilho através do salmo.

1, 2. José — em lugar de Efraim (1Cr_7:20-29; Sl_78:67; Ap_7:8),


por Israel.
pastor — (Cf. Gn_49:24).
conduzes — guias (Sl_77:20).
acima dos querubins — (Êx_25:20), o lugar da glória visível de
Deus, de onde se comunicava com o povo (Hb_9:5).
2. Perante Efraim, etc. — Estas tribos partiam junto à arca
(Nm_2:18-24). O nome de Benjamim pode ser que se introduza
meramente como alusão a tal feito, e não porque tal tribo se identifique
com Israel no cisma (1Rs_12:16-21; cf. também Nm_10:24).
3. Restaura-nos — isto é, do cativeiro.
resplandecer o teu rosto — (Nm_6:25.)
4. estarás indignado — Estarás irado.
5. pão de lágrimas — uma figura oriental da atualidade, de aflição.
6. em contendas — como objeto ou motivo dela (Is_9:11).
zombam — cf. o Sl_79:4; Ez_36:4).
8-11. Trouxeste uma videira — (Sl_78:47). A figura (Is_16:8)
representa a condição florescente de Israel, como predita (Gn_28:14), e
realizada (1Rs_4:20-25).
12. as cercas — (Is_5:5).
13. O javali — pode ser que represente ao assírio assolador; e
os animais — outras nações gentios.
14, 15. visita esta vinha — favoravelmente (Is_8:4).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 177
15. plantou — lit., “e protege ou guarda o que plantou sua mão
direita”.
o sarmento — lit., “filho de homem.”
para ti — alusão tácita à petição de socorro; porque
16. A vinha, lit., a videira e o povo estão sofrendo por causa de seu
desagrado.
17. Seja a tua mão, etc. — isto é, “fortalece-o” (Ed_7:6; Ed_8:22).
o povo da tua destra — pode ser que aluda a Benjamim
(Gn_35:18).
filho do homem — correspondem aos termos do v. 15, e
confirmam a exposição ali do “renovo”.
18. Necessitamos a graça vivificante (Sl_71:20; Sl_119:25) para
perseverar no culto devido (Gn_4:26; Rm_10:11).
19. (Cf. Sl_80:3: “Oh Deus,” e Sl_80:7: “Oh Deus dos exércitos).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 178
Salmo 81

Gitite — (Cf. o título do Salmo 8). Salmo festivo, provavelmente


para a páscoa (Cf. Mt_26:30), no qual, depois da exortação de louvar a
Deus, representa-se a Deus, lembrando a Israel suas obrigações,
reprovando-lhe o seu descuido, e lhe expressando os ditosos resultados
da obediência.

1. nossa fortaleza (TB) — (Sl_38:7).


2. Reúne as classes mais prazerosas da música, vocal e
instrumental.
3. Lua Nova — ou o mês.
no tempo marcado (RC) — (cf. Pv_7:20).
5. como testemunho (TB) — as festas, em particular a páscoa,
testemunhavam a relação de Deus com seu povo.
José — por Israel (Sl_80:1).
contra a terra — no êxodo de Israel.
Ouço — mudança de pessoa; o escritor fala pela nação.
linguagem — lit., lábio (Pv_14:1). Um agravante ou elemento de
opressão foi o fato de seus opressores serem estrangeiros (Dt_28:49).
6. Esta declaração de Deus alude à onerosa escravidão dos
israelitas.
7. no lugar secreto (TB) — na nuvem, de onde feriu os egípcios
(Êx_14:24).
te experimentei — (Êx_7:10; Sl_17:3) — provou a fé deles pelo
milagre.
8. (Cf. Sl_50:7). Explica a prova nos vv. 9-12.
se me escutasses — Logo propõe as condições de sua aliança: só
têm que adorá-Lo, quem (v. 10) tinha-os libertado, e lhes tem que
conceder ainda todas as bênçãos necessitadas.
11, 12. Eles fracassaram, e Ele os entregou a seus próprios desejos e
à dureza de seus corações (Dt_29:18; Pv_1:30; Rm_11:25).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 179
13-16. A obediência lhes asseguraria todas as bênçãos prometidas e
a submissão dos inimigos. Melhor tradução aqui é “ouvisse, andasse,
derrubaria, ” etc. que “tivesse ouvido andado, teria derrubado,” etc.,
expressando a intenção de Deus naquele então, quer dizer, quando
saíram do Egito.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 180
Salmo 82

Diante do grande Juiz os juízes da terra são reprovados, exortados e


ameaçados.

1. congregação — (Cf. Êx_12:3; Êx_16:1).


congregação divina — antes, de Deus, de sua ordenação.
deuses — ou juízes (Êx_21:6; Êx_22:9), os representantes de Deus.
2. tomareis partido — lit., receber ou levantar os rostos; isto é, do
desalento, ou admitir ao favor e comunhão, sem considerar os
merecimentos (Lv_19:15; Pv_18:5).
3, 4. Deste modo devem agir os juízes bons (Sl_10:14; Jó_29:12).
4. fraco ... necessitado — (Cf. Sl_34:10; Sl_41:1).
5. Pela ignorância, temeridade e negligência dos juízes resulta a
anarquia (Sl_11:3; Sl_75:3).
vacilam — são sacudidos (Sl_9:6; Sl_62:2).
6, 7. Mesmo quando Deus reconhecia a dignidade oficial deles, os
faz lembrar que são mortais.
7. haveis de sucumbir — Serão cortados repentinamente (Sl_20:8;
Sl_91:7).
8. Como soberano por direito da terra, invoca-se a Deus
pessoalmente, para que Ele corrija os males dos Seus representantes.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 181
Salmo 83

De Asafe — (Cf. o título do 74). A ocasião histórica é


provavelmente a de 2Cr_20:1-2 (Cf. os Salmos 47, 48). Depois de uma
petição geral, descrevem-se a sutileza e a crueldade dos inimigos,
recitam-se os procedimentos anteriores de Deus, e se pede uma sumária
e pronta destruição similar para eles

1. Dirige-se a Deus como indiferente (cf. Sl_35:22; Sl_39:12).


nem fiques inativo — não fiques quieto.
2. Os teus inimigos — são tanto dEle como nossos (Sl_74:23;
Is_37:23).
3. os teus protegidos — especialmente protegidos por Deus
(Sl__27:5; Sl__91:1).
4. não constituam nação (TB) — completa destruição (Is_7:8;
Is_23:1).
Israel — usado aqui por Judá, tendo sido o nome usual.
5. concordemente — unanimemente, cordialmente
6-8. tendas — por povos (Sl_78:67). Todos estes se uniram com os
filhos de Ló (os amonitas e as moabitas; cf. 2Cr_20:1).
9-11. Compare o destino similar destes (2Cr_20:23) com o dos
inimigos mencionados em Jz_7:22, aqui aludidos. Exterminaram-se uns
aos outros (Jz_4:6-24; Jz_7:25). Corpos humanos serviram para abonar a
terra (2Rs_9:37; Jr_9:22).
12. Linguagem dos invasoras.
habitações — cercados, como redis para ovelhas (Sl_65:12).
de Deus — como os proprietários da terra (2Cr_20:11; Is_14:25).
13. remoinho — pó de terra em redemoinho (Is_17:13); o felpa
levado pelo vento (Sl_1:4).
14, 15. Persegue-os até acabar com eles completamente.
16. para que busquem — antes, “para que busquem o Teu nome”
os homens em geral, não os inimigos, pois o sentimento de sua
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 182
destruição continua nos vv. 17, 18, para ensinar a lição do nome, ou
perfeições de Deus a todos os homens (cf. 2Cr_20:29).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 183
Salmo 84

Cf. os títulos do Salmo 8 e do 42. O escritor descreve quão


desejável é o culto do Senhor, e ora para que sejam restabelecidos os
privilégios do mesmo.

1. amáveis — antes, amadas.


tabernáculos — (Sl_43:3).
2. suspira — anela intensamente.
desfalece — lit., desmaia; seu desejo o consome, esgota-o
(Gn_31:30; Sl_17:12).
átrios — como tabernáculos (v. 1) – o edifício inteiro.
exultam — Lit., cantam de alegria; mas aqui e em Lm_2:19 o
verbo expressa um ato de tristeza como o substantivo correspondente
(Sl_17:1; Sl_61:2).
coração … carne—como no Sl_63:1.
3. os teus altares — ou seja, ofertas queimadas e incenso,
significando toda a casa. Sua estrutura dava facilidades aos pardais e
andorinhas para satisfazer as suas sabidas predileções por tais lugares.
Alguns entendem que o dito a respeito dos pássaros é uma comparação.
“como eles encontram casa, assim desejo eu os teus altares,” etc.
4. Favorece tal ideia a linguagem aqui, pois como no Sl_15:1; e
Sl_23:6, reconhece a bem-aventurança de ser membro da família de
Deus, o que significa a frase morar em tua casa.
5. (Cf. Sl_68:28.)
em cujo coração … caminhos — isto é, aquele que conhece e ama
o caminho que chega ao favor de Deus (Pv_16:17; Is_40:3-4).
6. vale árido — ou de pranto. A través de tais vales, em razão de
sua condição árida, os adoradores com frequência deviam passar em
caminho para Jerusalém. Como eles podiam chegar a ser graça de Deus,
pelos exercícios do culto, refresca e reaviva o coração do Seu povo, de
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 184
modo que em lugar de tristeza tenham “rios de deleite” (Sl_36:8;
Sl_46:4).
7. Desenvolve-se a figura do peregrino, que diariamente renova sua
força física até que chega a Jerusalém; do mesmo modo aquele que adora
em espírito recebe diariamente a força espiritual da graça de Deus, até
aparecer diante de Deus no céu.
aparece, etc. — Traduza-se: “Cada um deles comparece diante de
Deus em Sião” – linguagem requisitória com relação à assistência às
festas (cf. Dt_16:16).
9. escudo — no v. 11, se chama a Deus sol e escudo.
seu ungido — Davi (1Sm_16:12).
10. Escolheria antes estar à porta — prefere o lugar mais
humilde na casa de Deus, aos palácios dos iníquos.
11, 12. Deus, qual sol, ilumina (Sl_27:1); qual escudo protege. A
graça é o favor de Deus; fruto dela é a glória, a honra que Deus reparte.
andam retamente — (Sl_15:2; Sl_18:23.)
12. confia — constantemente.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 185
Salmo 85

Tomando como base misericórdias anteriores, o salmista pede


bênçãos renovadas, e se alegra na confiança de que as receberá.

1. restauraste — não necessariamente do cativeiro babilônico, mas


sim de qualquer grande desgraça (Sl_14:7).
2, 3. (Cf. Sl_32:1-5.)
3. O ter voltado da ira de seu furor implica que Deus era
reconciliável, embora
4-7. tinha ainda ocasião por que zangar-se, o que procura evitar.
5. Prolongarás — (Sl_36:10).
8. Está seguro de que Deus favorecerá ao Seu povo penitente
(Sl_51:17; Sl_80:18).
santos — como no Sl_4:3, os “piedosos.”
9. Aqui os chama os “que o temem” e a graça produz glória
(Sl_84:11).
10. As promessas de Deus de misericórdia serão verificadas por sua
verdade. (cf. Sl_25:10; Sl_40:10); e a justiça [as obras de justiça] em
seu santo governo serão “paz” (Is_32:17). Há um contraste implícito
com uma dispensação sob a qual a verdade de Deus mantém Sua
ameaçada ira e Sua justiça inflige a miséria sobre os ímpios.
11. Transbordarão a terra e o céu das bênçãos de seu governo;
12, 13. sob o qual o deserto será produtivo, e porá em caminho ou
guiará os homens nos caminhos santos. Sem dúvida, nesta descrição do
retorno do favor de Deus, o escritor tinha pela frente aquele período mais
glorioso no qual Cristo estabelecerá o Seu governo sobre a justiça
reconciliada e a abundante misericórdia de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 186
Salmo 86

Este salmo é uma oração em que o escritor, com profunda emoção,


confunde petições e louvores, seja na demanda urgente de socorro, seja
na exaltação da esperança, com motivo das misericórdias anteriores. A
ocorrência de muitos vocábulos e frases características de Davi indica
claramente o autor.

1, 2. aflito e necessitado — filho sofrido de Deus (cf. Sl_10:12,


Sl_10:17; Sl_18:27).
eu sou piedoso — (Sl_4:3; Sl_85:8).
4. elevo a minha alma — com forte desejo (Sl_25:1).
5-7. te invocam — ou te adoram (Sl_50:15; Sl_91:15), por
indignos que sejam (Êx_34:6; Lv_11:9-13).
8. nada existe que se compare às tuas obras — lit., nada como as
tuas obras, em benefício, têm os deuses,
9, 10. Os judeus piedosos criam que a relação de Deus, comum a
todo mundo, seria finalmente reconhecida por todos os homens
(Sl_45:12-16; Sl_47:9).
11. Ensina-me — me mostre, me indique.
o teu caminho — caminho da providência.
andarei — segundo as declarações de sua verdade.
dispõe-me — afirma todos meus afetos (Sl_12:2; Tg_4:8).
só temer o teu nome — (cf. o v. 12) honre suas perfeições.
13, 14. A razão: Deus o livrou da morte e do poder dos insolentes,
violentos e ímpios perseguidores (Sl_54:3; Ez_8:12).
15. Deus contrastado com seus inimigos (cf. o v. 5).
16. filho da tua serva — escravo nascido na casa (cf. Lc_15:17).
17. Mostra-me um sinal — faça de mim uma amostra ou prova do
Teu cuidado providencial. Assim pela prosperidade dele seus inimigos
seriam confundidos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 187
Salmo 87

Esta canção de triunfo foi ocasionada provavelmente pelo mesmo


evento que o do Salmo 46. O escritor celebra a glória da Igreja, como o
meio das bênçãos à nação.

1. O seu fundamento (RC) — de Deus, ou o que Ele fundou, ou


seja, Sião (Is_14:32).
sobre os montes santos — Está em seus santos montes, a
localidade de Sião, no sentido amplo, pela Capital, ou Jerusalém, que
estava sobre várias colinas.
2. as portas — pelos muros, ou a cidade a que davam entrada
(Sl_9:14; Sl_122:2; cf. Sl_132:13-14).
3. se têm dito de ti — ou em ti, na cidade de Deus (Sl_46:4;
Sl_48:2).
4. Isto é o que é dito por Deus.
os que me conhecem — lit., meus conhecedores, os verdadeiros
adoradores (Sl_36:10; Is_19:21). Estes mencionam-se como amostras.
os que me conhecem (RC) — isto é, esta nação.
é nascido ali (RC) — De cada um diz-se, “este é nascido,” ou é
nativo de Sião, espiritualmente.
5. O escritor resume –
Este e aquele — lit., homem e homem, isto é, muitos (Gn_14:10;
Êx_8:10, Êx_8:14), ou todos (Is_44:5; Gl_3:28).
o próprio Altíssimo a estabelecerá — Deus é o protetor dela.
6. A mesma ideia se expõe sob a figura de um registro que Deus
tem (cf. Is_4:3).
7. Como numa grande procissão dos assim inscritos, ou registrados,
buscando Sião (Is_2:3; Jr_50:5), os cantores e os tocadores irão à
vanguarda, dizendo:
Todas as minhas fontes — “Todas as fontes de minha alegria
espiritual estão em ti”. (Sl_46:4; Sl_84:6).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 188
Salmo 88

Sobre Maalate — ou um instrumento, como o alaúde, para o


acompanhamento, Leanote, do cantor, ou como outros pensam, um título
enigmático (cf. os títulos de Salmos 5, 22 e 45, que expressam o tema:
isto é, “doença ou maus, para humilhar,” a ideia dos males espirituais
estando muitas vezes representados por doença (cf. o Sl_6:5-6;
Sl_22:14-15, etc.). A respeito dos outros termos cf. o Sl_42:1; Sl_32:1.
Hemã e Etã (título do Salmo 89) eram cantores de Davi (1Cr_6:18,
1Cr_6:33; 1Cr_15:17), da família de Coate. Se as pessoas aludidas eram
estrangeiras (1Rs_4:31; 1Cr_2:6), provavelmente foram adotadas na
tribo de Judá. Embora se chame canção, que usualmente expressa alegria
(Sl_83:1), tanto o estilo como o conteúdo deste Salmo são muito tristes;
entretanto as invocações a Deus evidenciam a fé, e assim podemos supor
que a palavra canção pode se aplicar também a tais composições.

1, 2. Sobre os termos daqui, cf. Sl_22:2; Sl_31:2.


3. morte — lit., inferno (Sl_16:10), a morte no sentido amplo.
4. baixam à cova — da destruição (Sl_28:1).
como um homem — lit., como homem vigoroso cuja força se lhe
tenha ido totalmente.
5. atirado entre os mortos — cortado, afastado do cuidado de
Deus, como os mortos, que caídos sob a ira de Deus, já não são
sustentados por sua mão.
6. Figuras similares das aflições se acham em Sl_63:9; Sl_69:3.
7. Referente a primeira frase cf. o Sl_38:2; e da 2a. cf. Sl_42:7.
8. Carece da simpatia de seus amigos, e até lhes é repugnante
(Sl_31:11).
9. olhos desfalecem — lit., apodrecem: denota esgotamento
(Sl_6:7; Sl_31:9).
venho clamando — (Sl_86:5, 7).
te levanto as minhas mãos — pedindo socorro (Sl_44:20).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 189
10. os mortos se levantarão (RC) — louvarão a Deus os cadáveres
(os restos de espíritos)?
11, 12. Ampliam o anterior: todo o propósito (como no Sl_6:5) é
para contrastar a morte e a vida como ocasiões para louvar a Deus.
13. se antecipa — ou prevenirá, diligentemente se apresentará
perante Deus em demanda de socorro (Sl_18:41).
14. Sobre os termos cf. Sl_27:9; Sl_74:1; Sl_77:7.
15. desde moço — toda minha vida.
16, 17. Pintam os extremos da angústia e o desespero.
18. Leia-se: “Minhas conhecidos são as trevas”.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 190
Salmo 89

De Etã — (cf. o título do Salmo 88). O Salmo foi composto durante


algum tempo de desgraça nacional, talvez a rebelião de Absalão. Põe em
comparação a prometida prosperidade e perpetuidade do trono de Davi
(com referência à grande promessa de 2Sm_7:12-17), com um tempo,
quando parecia que Deus Se esqueceu da Sua aliança. Este quadro pode
ser que tipifique as promessas e as adversidades do reino de Cristo, e as
expressões de confiante súplica a Deus são orações muito próprias para
conseguir o socorro divino e a bênção prometida.

1. misericórdias — as prometidas (Is_55:3; At_13:34).


tua fidelidade — fidelidade em cumprir as promessas.
2. disse eu — dei expressão a minhas convicções (2Co_4:13).
3, 4. O objeto desta confiança está expresso nas palavras de Deus
(2Sm_7:11-16).
aliança com o meu escolhido — a aliança está em forma de uma
promessa.
6, 7. Isto é digno de que o creiamos, porque sua fidelidade (é
louvada) pela congregação dos santos, ou sejam, os anjos (cf. Dt_33:2;
Dn_8:13).
seres celestiais — (Cf. Sl_29:1). Assim tem que ser Ele admirado
na terra.
8-14. Em ilustração do Seu poder e fidelidade cita exemplos da
história. Deles são: seu domínio do mar (o objeto mais poderoso instável
da natureza), e do Egito (Sl_87:4), o primeiro grande inimigo de Israel
(rebaixado de seu orgulho e insolência à maior impotência). Ao mesmo
tempo toda a estrutura da natureza fundada e sustentada por Ele, o Tabor
e o Hermom (que representam o oriente e o ocidente), e “o Norte e o
Sul:” o conjunto, representando todo mundo, declara a mesma verdade
referente aos Seus atributos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 191
12. exultam em teu nome — louvarão as Suas perfeições pela
existência deles.
15. Seu justo governo é administrado pela misericórdia e a verdade
como ministros (Sl_85:10-13).
o povo que conhece os vivas de júbilo — que entendem e sabem
apreciar as bênçãos espirituais simbolizadas pelas festas, às quais o povo
será chamado pela trombeta (Lv_25:9, etc.)
na luz da tua presença — viver sob Seu favor (Sl_4:6; Sl_44:3).
16, 17. na tua justiça — em seu fiel e justo governo.
17. glória — ou beleza.
de sua força — serão adornados assim como protegidos.
nosso poder — (Sl_75:10; Lc_1:69).
18. Assim apresenta-se a promessa a “nosso escudo,” a “nosso rei”
Davi.
19-37. Então (TB) — Quando foi estabelecida a aliança, de cujo
cumprimento dá segurança a majestosa descrição de Deus aqui dada.
aos teus santos — ao objeto de seu favor (Lc_4:3). Natã é a pessoa
aludida (2Sm_7:17; 1Cr_17:3-15).
o poder de socorrer — Davi foi eleito e logo exaltado.
20. Encontrei — tendo-o buscado e logo escolhido. (1Sm_16:1-6).
21. Protegê-lo-á e sustentá-lo-á (Is_41:10).
22-25. Refreando e derrotando a seus inimigos, e levando a cabo
meus benevolentes propósitos de estender seu domínio.
25. mão ... a sua direita — poder (Sl_17:7; Sl_60:5).
o mar … os rios — os limites de seu império (Sl_72:8).
26, 27. primogênito — um que é o principal, o mais amado ou
distinto (Êx_4:22; Cl_1:15). Nos olhos e propósitos de Deus ele era o
primeiro entre todos os monarcas, e o era especialmente em sua relação
típica com Cristo.
28-37. Esta relação é perpétua com os descendentes de Davi, como
um todo típico na posição oficial de seu último e maior descendente. De
modo que mesmo quando nas relações pessoais qualquer deles podia ser
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 192
infiel e portanto castigado, sua relação típica devia continuar. Seu
juramento confirma sua promessa, e os objetos mais duradouros da terra
ilustram a força perpétua de tal relação (Sl_72:5, Sl_72:7, Sl_72:17).
35. por minha santidade — como um Deus santo.
Uma vez — uma coisa (Sl_27:4).
não mentirei (RC) — lit., se eu mentir, uma parte da fórmula de
juramento (1Sm_24:6; 2Sm_3:35).
37. como a lua — O trono será estabelecido, firme, para sempre,
como a lua, que é uma testemunha fiel no céu.
38-52. Apresentam um marcado contraste com estas luminosas
promessas, nas tristes evidências da perda do favor de Deus.
38. repudiaste — e rejeitaste — (cf. Sl_15:4; Sl_43:2; Sl_44:9).
39. Um insulto à coroa, como era esta de origem divina, era uma
profanação.
40-45. A ruína se pinta sob várias figuras: uma vinha e uma
fortaleza, cujos cercados e muralhas, respectivamente, derrubados
convidam os despojadores e invasores; um guerreiro, cujos inimigos são
ajudados por Deus, o fio de cuja espada — lit., rocha ou força (Js_5:2)
— fica inutilizado; e um jovem prematuramente envelhecido.
45. os dias da sua mocidade — o vigor juvenil, isto é, da linhagem
real, ou um reino perpétuo prometido, sob a figura de um homem.
46. Até quando? — (cf. Sl_13:1; Sl_88:14; Jr_4:4).
47. Estas repreensões são provocadas pelo reconhecimento da
prosperidade deste reino, a qual se identifica com o bem-estar de toda a
humanidade (Gn_22:18; Sl_72:17; Is_9:7; Is_11:1-10); porque se tal é a
sorte desta linhagem real escolhida,
48 Qual é o homem (lit., homem robusto) que continuará a viver?
(TB) — e com efeito, não foi em vão a criação de todos os homens, no
que toca à glorificação de Deus?
49-51. Os termos queixosos se usam já que realmente parecia que
Deus tinha abandonado ao Seu povo e Se esquecido de Sua promessa, e
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 193
se urge a petição de socorro por causa dos reprovações dos inimigos
Seus e do Seu povo (Cf. Is_37:17-35).
50. trago no peito — pesando-lhe a aflição de sua nação (Sl_69:9).
51. os passos — os caminhos (Is_55:6).
52. Bendito — denota a confiança em Deus restabelecida (Sl_34:1-
2).
Amém e amém! — Conclui o terceiro livro dos Salmos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 194
Salmo 90

Contrastando as fraquezas do homem com a eternidade de Deus, o


escritor o lamenta como o castigo do pecado, e implora o retorno do
favor divino. Oração (principalmente) de Moisés varão de Deus —
(Dt_33:1; Js_14:6); como tal escreveu este salmo (cf. os títulos do Salmo
18 e do 36).

1. refúgio — lar (cf. Ez_11:16) como um refúgio ( Dt_33:27).


2. nascessem e se formassem — ambas as palavras expressam a
ideia de produção por nascimento.
3. reduzes o homem ao pó — lit., até o próprio pó (Gn_3:19).
Tornai —voltem-se; isto é, ao pó: repetição da ideia da frase
anterior.
4. Fossem os dias nossos agora de mil anos, como os de Adão,
ainda nossa vida não seria senão um momento diante de Deus (2Pe_3:8).
vigília — uma terça parte da noite (Cf. Êx_14:24).
5, 6. A vida é como a erva, a que embora se renove com o orvalho
da noite e floresce de manhã, logo é cortada e se seca (Sl_103:15;
1Pe_1:24).
7, 8. Pois — a razão disto: o infligir da ira de Deus.
conturbados — lit., confundido pelo terror (Sl_2:5). A morte veio
pelo pecado (Rm_5:12). O pecado, embora seja secreto, o rosto de Deus,
qual lâmpada, trá-lo-á para a luz (Pv_20:27; 1Co_4:5).
9. se passam — (Jr_6:4).
acabam-se — lit., consumimos, como um pensamento, ou suspiro.
(Ez_2:10).
10. A vida de Moisés foi uma exceção (Dt_34:7).
passa rapidamente — a idade, ou a vida: corrida; o mesmo verbo
usado por ocasião das codornas trazidas em Nm_11:31. Devido a este
logo e seguro fim, a vida está cheia de tristeza.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 195
11. Quem? — Está implícita a resposta negativa: “Ninguém sabe o
que a Sua ira pode fazer, nem o que é Sua indignação, estimadas pela
verdadeira piedade”.
12. Isto mesmo pede que o possamos compreender, de modo a
poder contar ou apreciar a brevidade de nossa vida, a fim de que sejamos
sábios.
13, 14. (Cf. Sl_13:2).
Volta-te — lit., arrependa-te, uma figura forte, como em Êx_32:12,
implorando uma mudança nos procedimentos de Deus.
15. Como o foram nossas penas, sejam nossas alegrias assim
grandes e de longo tempo.
16. as tuas obras — os atos providenciais.
a tua glória — (Sl_8:5; Sl_45:3), a honra resultante de Sua obra de
misericórdia para conosco.
17. Seja sobre nós a graça do Senhor — seja manifestada em nós
a soma de Suas obras de graça, em sua harmonia, e favoreça nossa
empresa.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 196
Salmo 91

Davi é o autor mais provável; e a pestilência mencionada em


2Samuel 24, é a mais provável ocasião especial a que possa referir o
Salmo. As mudanças da pessoa gramatical, permissíveis na poesia, são
frequentes aqui.

1. O que habita no esconderijo — lit., Aquele que habita no lugar


secreto (Sl_27:5; Sl_31:20) denota proximidade a Deus. Os que o fazem
vivem ao abrigo dos assaltos, e bem podem fazer suas as seguintes
expressões de confiança:
2, 3. laço … peste perniciosa — lit., pagamento de maldade
(Sl_5:9; Sl_52:7), são figuras expressivas de vários males.
4. sob suas asas — Cf. a mesma figura em Dt_32:11; Mt_23:37.
pavês — lit., te rodeiem; uma espécie de escudo que tampava tudo.
5. terror —aumentado por ser de noite.
seta — isto é, dos inimigos.
7, 8. A segurança é de mais valor, porquanto é especial e, portanto,
evidentemente de Deus; e enquanto que caem dez mil dos ímpios, os
justos ficam em tal segurança que só chegam a ver a calamidade.
9-12. Esta isenção do mal é o resultado da confiança em Deus,
quem emprega os anjos como espíritos administradores (Hb_1:14).
13. Até os animais mais fortes e ferozes podem ser pisados com
impunidade.
14-16. Deus mesmo fala (cf. Sl_46:10; Sl_75:2, 3). Todos os termos
expressivos da segurança e paz indicam a confiança mais inquebrantável
(cf. Sl_18:2; Sl_20:1; Sl_22:5).
a mim se apegou com amor — ou o mais ardente amor.
16. lhe mostrarei — (cf. Sl_50:23; Lc_2:30).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 197
Salmo 92

Um Salmo-canção — (cf. o título do Salmo 39). O tema é: Deus


deve ser louvado por seus justos juízos para todas as ocasiões, é-o com
especialidade para as meditações do dia do descanso.

1. cantar … ao teu nome — celebrar suas perfeições.


2. de manhã … durante as noites — diligente e constantemente
(Sl_42:8).
fidelidade — no cumprimento das promessas (Sl_89:14).
3. Em louvar a Deus deve-se aproveitar todos os meios lícitos.
com som solene (RC) — sobre Higaiom (cf. Sl_9:16), talvez um
instrumento de tal nome, que por seu som se assemelhasse ao murmúrio
da meditação, expressa pelo mesmo vocábulo. Este se acompanha com a
harpa.
4. os teus feitos — isto é, da providência (Sl_90:16, 17).
5. grandes … feitos — correspondem a pensamentos profundos e
vastos (Sl_40:5; Rm_11:23).
6. O homem brutal nada sabe — “O embrutecido não conhece” as
obras de Deus; com o mesmo qualificativo o salmista se descreve a si
mesmo (Sl_73:22), assombrado pela prosperidade dos ímpios; agora o
entende e o explica.
8. Isto faz em parte contrastando a rotina deles com a exaltação e
eternidade de Deus.
Altíssimo — que ocupa o posto mais excelso do céu (Sl_7:7;
Sl_18:16).
9, 10. Outro contraste com os ímpios, na sorte dos justos: a
segurança e o triunfo.
10. tu exaltas o meu poder — Aumentarás meu poder (Sl_75:5).
ungido com óleo fresco (TB) — (Sl_23:5), figura de refrigério (cf.
Lc_7:46). Tal uso do óleo é comum até agora no Oriente.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 198
11. verão … ouvirão meu desejo (AV) — lit., considerar meus
inimigos e ouvir falar dos ímpios (cf. Sl_27:11; Sl_54:7), isto é, verei
com agrado a queda deles.
12-14. O vigor, a longevidade, a utilidade, fragrância e beleza
destas nobres árvores, representam a vida, caráter e destino dos piedosos;
15. e eles assim declaram a glória de Deus, seu forte e justo
governador.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 199
Salmo 93

Este e os seis salmos seguintes os aplicavam os judeus aos tempos


do Messias. O tema é a supremacia de Deus na criação e a providência.

1. A Deus o descreve como rei que começa o seu reino, e que por
roupagem real se reveste dos gloriosos atributos de sua natureza. O
resultado de tal governo é a estabilidade do mundo.
2-4. Seu poder, que ninguém lhe transmitiu, excede às mais
sublimes exibições dos objetos mais poderosos da natureza (Sl_89:9).
5. Enquanto Seu poder inspira medo, Sua vontade revelada deveria
assegurar nossa confiança (cf. Sl_19:7; Sl_25:10), e assim temor e amor
combinados, que produzem todas as emoções santas, deveria caracterizar
a adoração que oferecemos à Sua casa, tanto a terrestre como a celestial.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 200
Salmo 94

O escritor, invocando a Deus por causa da opressão dos inimigos,


reprova-lhes a sua maldade e a sua loucura, e se reanima na confiança de
que Deus castigará os malfeitores e favorecerá os justos.

1, 2. A vingança de Deus é o infligir judicial do justo castigo.


2. Exalta-te — ou levanta-te; ambas as figuras representam a Deus
como até aqui indiferente (Cf. Sl_3:7; Sl_22:16, 20).
3, 4. Numa repreensão ardente expressa o seu desejo de que termine
o triunfo dos ímpios,
5, 6. povo … herança — são sinônimos: com frequência se chama
o povo como herança de Deus. Como a justiça aos fracos é prova de bom
governo, a opressão deles é sinal de governo mau (Dt_10:18; Is_10:2).
7. A crueldade deles é excedida só por sua ímpia e absurda
presunção (Sl_10:11; Sl_59:7).
8. estúpidos — brutais (Cf. Sl_73:22; Sl_92:6).
9. A evidência do governo providencial de Deus vê-se em Seu
poder criador e em Sua onisciência, o que também nos assegura de que
ele pode castigar os ímpios por todos os seus vãos propósitos.
12, 13. Por outro lado, favorece aos piedosos, embora os castiga, e
os ensinará, e os guardará até que os prósperos ímpios sejam derrotados.
14, 15. Isto resulta devido ao Seu eterno amor (Dt_32:15),
evidenciado ademais por sua restauração da ordem em seu governo, cuja
justa administração será passada pelos justos.
16. Estas interrogações expressam que ninguém além de Deus
ajudará (Sl_60:9),
17-19. um fato plenamente confirmado por suas experiências
passadas.
região do silêncio — como na tumba (Sl_31:17).
19. meus cuidados (RC) — minhas angústias.
20. trono — o poder, os governantes.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 201
iniquidade … o mal — são maus ou danos feitos a outros, como o
v. 21 explica.
22, 23. Contudo, o salmista está seguro no cuidado de Deus.
baluarte — defesa (Sl_59:9).
rochedo em que me abrigo — refúgio, como no Sl_9:9; no
Sl_18:2.
23. faz recair … iniqüidade — (Cf. Sl_5:10; Sl_7:16)
pela malícia … os destruirá — enquanto se estão ocupando na
mesma.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 202
Salmo 95

Davi (Hb_4:7) exorta os homens, a louvar a Deus por sua grandeza,


e os admoesta, em palavras de Deus, a que não abandonem o culto.

1. Os termos usados para expressar a classe mais sublime de


alegria.
rocha (RC, TB)— uma base firme, que dá a segurança da salvação
(Sl_62:7).
2. Vamos comparecer diante dele (NTLH) — lit., nos
aproximemos, vamos ao Seu encontro (Sl_17:13).
3. deuses — assim cridos pelos homens, embora na realidade não
são nada (Jr_5:7; Jr_10:10-15).
4, 5. Os termos descrevem o mundo em toda a sua extensão,
submetido a Deus.
6. Vinde — ou entrem, em forma solene assim como com coração
sincero.
7. Esta relação ilustra nossa inteira dependência (cf. Sl_23:3;
Sl_74:1). A última frase Paulo (Hb_3:7) a une ao versículo que segue
(cf. Sl_81:8),
8-11. admoestando-os contra a negligência; e isto o encarece
citando o destino melancólico de seus antepassados rebeldes, cuja
insolência provocadora se descreve citando a linguagem da queixa de
Deus (Nm_14:11) com relação à conduta deles em Meribá e Massá
(Êx_17:7), nomes postos para comemorar a rixa e contenção deles com
Deus (Sl_78:18, Sl_78:41).
10. erra de coração (RC) — suas andanças pelo deserto não eram
senão figuras de sua ignorância e perversidade inatas.
não entrarão — lit., se entrarão, etc., parte da fórmula de jurar (cf.
Nm_14:30; Sl_89:35).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 203
Salmo 96

A substância de este Salmo, e porções do Salmo 97, 98, e 100,


acham-se em 1 Cr_16:7-36, os quais foram usados sob a direção de Davi
na dedicação do tabernáculo no Monte Sião. A dispensação do Messias a
tipificava este evento, que sugere claramente um assento mais
permanente do culto e a introdução de serviços adicionais e mais
espirituais. Portanto, a linguagem destes salmos, sem dúvida, tem um
significado mais sublime que aquele que correspondesse à ocasião
quando era assim publicamente usado.

1-3. Convida-se a todas as nações a unir-se neste louvor tão


prazeroso.
cântico novo — lit., recente, pelas misericórdias recentes (Sl_33:3;
Sl_40:3).
2. proclamai — lit., deem novas de alegria.
salvação — ilustra a glória de Deus em suas maravilhas de amor e
misericórdia.
4, 5. Porque Ele não é um Deus local, mas sim das operações
universais enquanto que os ídolos nada são
6. Glória e majestade — honra e majestade; são os Seus
acompanhantes, manifestos em Suas poderosas obras, enquanto que se
veem o poder e a graça especialmente em suas relações espirituais com o
Seu povo.
7-9. Tributai — Deem (Sl_29:1) a honra devida a seu nome
mediante os solenes atos determinados em Sua casa.
8. oferendas —ofertas de graças.
9. beleza da sua santidade — (Sl_29:2).
tremei diante dele — (Sl_2:11)
10. Saibam todos que o governo do mundo está ordenado em
justiça, e que eles desfrutarão paz firme e duradoura (cf. Sl_72:3,
Sl_72:7; Is_9:6-7).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 204
11-13. Por cuja razão convida-se o universo a unir-se na alegria, e
até a inanimada natura (Rm_8:14-22) representa-se poeticamente como
capaz de unir a nós em coros de louvor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 205
Salmo 97

O escritor celebra o domínio do Senhor sobre as nações e sobre a


natureza; descreve seus efeitos sobre inimigos e amigos; e a estes os
exorta e anima.

1, 2. Este domínio é motivo de alegria, porque, por muito que


nossas mentes se aterrorizem diante do trono do Rei dos reis (Êx_19:16;
Dt_5:22), sabemos que está baseado em princípios e juízos justos que
são segundo a verdade.
3-5. Os exemplos resultantes do terrível juízo de Deus sobre os
inimigos (Sl_83:14) veem-se na manifestação de Sua onipotência nos
elementos da natureza (cf. Sl_46:2; Sl_77:17; Hc_3:6, etc.)
6. Os céus — ou os seus habitantes (Sl_50:6), em contraste com as
nações da frase anterior (cf. Is_40:5; Is_66:18).
7. Os idólatras são confundidos e envergonhados, porque se os
anjos devem adorar a Deus, quanto mais devem fazê-lo os anjos a quem
adoravam.
todos os deuses — lit., todos vós anjos (adorem) (Sl_8:5; Sl_138:1;
Hb_1:6; Hb_2:7). Paulo cita o texto, não como profecia, mas sim como
linguagem usada com relação ao Senhor Deus, quem na “teofania” do
Antigo Testamento é a segunda pessoa da divindade.
8, 9. A exaltação do Rei de Sião é alegria aos justos e tristeza aos
ímpios.
filhas de Judá — (cf. Sl_48:11).
9. acima de todos os deuses — (Sl_95:3).
10-12. A gratidão pelas bênçãos da providência e da graça devem
estimular os santos (Sl_4:3) ao santo viver. Estão guardadas bênçãos
espirituais, simbolizadas pela luz (Sl_27:1) e a alegria.
11. semeia-se (TB) — a luz, que brotará e produzirá
abundantemente para aqueles que só podem bem e devem alegrar-se no
santo governo do Seu soberano Senhor (cf. Sl_30:4; Sl_32:11).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 206
Salmo 98

À vista das maravilhas de graça e justiça desdobradas na salvação


que Deus operou, convida a toda a criação a unir-se em louvor.

1. alcançaram a vitória — lit., fez salvação, permitiu-lhe salvar ao


Seu povo.
a sua destra e o seu braço santo — indica poder.
a sua destra e o seu braço santo — ou, braço de santidade, o
poder de perfeições morais unidas (Sl_22:3; Sl_32:11).
2. salvação — o resultado de sua justiça (Sl_7:17; Sl_31:1), e tanto
uma como a outra se manifestam publicamente.
3. A união da misericórdia e a verdade (Sl_57:3; Sl_85:10)
asseguram as bênçãos da promessa (Gn_12:3; Gn_18:18) a todo o
mundo (Is_52:10).
4-6. cantai louvores — ou, prorrompam em louvores (Is_14:7;
Is_44:23).
6. perante o SENHOR, que é rei — aclamem-nO como Seu
Soberano; enquanto que, com toda ajuda para mostrar zelo e alegria,
convida às criaturas inteligentes a louvar, como no Sl_96:11-13, chama-
se também à natureza inanimada a que honre Àquele que triunfa e rainha
em justiça e equidade.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 207
Salmo 99

O governo de Deus se leva a cabo especialmente em Sua Igreja e


por Sua Igreja, a qual O deve louvar por Suas obras de graça.

1. entronizado acima dos querubins — (cf. 1Sm_4:4; Sl_80:1).


abale-se — ou que será comovida; isto é, pelo temor dos juízos de
Deus.
2. é grande em Sião — onde Ele habita (Sl_9:11).
3. o teu nome — suas perfeições de justiça, poder, etc.
grande e tremendo — ou terrível, que inspira terror (Dt_10:17), e
para ser louvado por aqueles sobre os quais está exaltado (Sl_97:9).
é santo — quer dizer, Deus é santo (Sl_95:5, 9; Is_6:3).
4, 5. Ao Seu sábio e justo governo todas as nações tributarão honra.
A força do rei … a justiça (TB) — o Seu poder está combinado
com a justiça.
Santo é Ele — (cf. Sl_22:3).
6-8. A experiência destes servos do Senhor se cita para animar. A
declaração pode referir-se a cada um dos três (cf. Êx_18:19; Lv_8:15;
Dt_5:5; 1Sm_9:13).
7. coluna de nuvem— era o meio da intercomunicação divina
(Êx_33:9; Nm_12:5). A obediência estava unida à adoração. Deus lhes
respondeu como intercessores pelo povo, os quais, embora, perdoados,
não estavam ainda purificados (Êx_32:10, Êx_32:34).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 208
Salmo 100

Como terminação desta série de salmos (cf. o Salmo 93), este é uma
chamada a toda a terra a tributar jubiloso louvor ao Deus Criador,
protetor e benfeitor dos homens.

1, 2. Com louvor de gratidão deve acompanhar o serviço da parte


dos súditos do Rei (Sl_2:11, 12).
3. Às obrigações de uma criatura e um súdito adiciona-se a de um
beneficiário (Sl_95:7).
4. Unam-se prazerosamente no culto público a Deus. Os termos, é
óbvio, são figurativos (cf. Sl_84:2; Sl_92:13; Is_66:23).
Entrai — venham com solenidade (Sl_95:6).
5. A razão por que: a eterna misericórdia e verdade de Deus
(Sl_25:8; Sl_89:7).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 209
Salmo 101

Neste Salmo a profissão dos princípios de seu governo doméstico e


político, assim como as ações em consonância com o mesmo,
testemunham a avaliação que tinha Davi da misericórdia de Deus para
com ele e de seu juízo contra seus inimigos: portanto, canta e celebra os
procedimentos de Deus.

2. Protesta seu sincero propósito de agir retamente, com a ajuda de


Deus (Gn_17:1; Sl_18:30).
3. Não porei ... diante dos meus olhos — como exemplo para ser
aprovado e seguido.
coisa injusta — lit., palavra, plano ou propósito de Belial
(Sl_41:8).
[os] que se desviam — os apóstatas.
se me pegará — não me comprometerei nisso (cf. Sl_1:1-3).
4. coração perverso — (Sl_18:26). Não consentirei com tal
temperamento; nem conhecerei ímpio, nem o maligno.
5, 6. Os caluniadores e altivos, tão perigosos na sociedade, não os
reconhecerei; mas
6. Os meus olhos procurarão — quer dizer, escolherei para meus
servos homens de confiança e honrados.
7. Não há de ficar — lit., sentar-se, demorar, ou ser estabelecido.
8. Manhã após manhã — quer dizer, diligentemente.
a cidade do SENHOR — ou lugar santo (Sl_48:2), onde os
homens ímpios não serão jamais tolerados.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 210
Salmo 102

Oração do pobre, etc. — Os termos gerais parecem significar que


se deve considerar este Salmo propriamente expressivo das ansiedades
de algum dos descendentes de Davi, piamente preocupado pelo bem-
estar da Igreja. Provavelmente foi composto por Davi, sugerido talvez
por algumas provas particulares, descritivas de tempos futuros.
Angustiado — (cf. Sl_61:2.) Derramar a alma (Sl_62:8). Lamento,
queixa (Sl_55:2). Prepondera o tom queixoso; entretanto, em vista das
promessas de Deus e de Sua constante fidelidade, muda-se com
frequência pelo de confiança e esperança.

1-3. Os mesmos termos ocorrem no Sl_4:1; Sl_17:1, 6; Sl_18:6;


Sl_31:2, 10; Sl_37:20.
4. (Cf. Sl_121:6.)
até me esqueço — por causa de minha aflição (Sl_107:18), e assim
perdi as forças.
5. meu dolorido gemer — o efeito dito pela causa; minha agonia
me debilita.
6, 7. As figuras expressam extrema solidão.
8. praguejam com o meu próprio nome — lit., juram ou
amaldiçoam por mim, desejando que outros fossem tão miseráveis como
eu (Nm_5:21).
9. cinza — símbolo de tristeza, meu pão; o choro, ou as lágrimas,
minha bebida (Sl_80:5).
10. arrojaste (TB) — como o felpa pelo redemoinho (Is_64:6).
11. como a relva — desaparecendo com a chegada da noite.
12. Em contraste com a fraqueza humana (cf. Sl_90:1-7).
a memória do teu nome — a lembrança de ti, ou seja, tua
promessa.
13, 14. Portanto, aqui se deduz –
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 211
é tempo ... a sua hora — da promessa, indício do qual é a
preocupação do povo de Deus pela cidade de Sião.
15-17. O favor de Deus para com a Igreja aterrarão os inimigos
dela.
16. edificou — ou, tenha edificado a Sião, razão do afeto causado a
outros; porque Deus Se glorifica grandemente operando assim,
escutando aos humildes.
18. a geração futura — (cf. Sl_22:31), um corpo organizado, como
uma Igreja.
19-22. Um resumo do que será escrito.
que — “Se escreverá que Deus olhou,” falando da condescendência
de Deus.
condenados à morte — (cf. o Sl_79:11).
21. a fim de que seja anunciado — para que o nome de Deus seja
celebrado nas assembleias do Seu povo reunido dentre todas as nações
(Zc_8:20-23), e consagrado a Seu serviço.
23-28. O escritor, falando em nome da Igreja, acha reanimação em
meio das aflições. A eterna existência de Deus é a garantia de Sua
fidelidade no cumprimento das Suas promessas.
no caminho — da providência.
abateu — o levou a temer um fim prematuro, uma figura das
apreensões da Igreja, de que Deus não fosse cumprir Suas promessas,
tirada dos temores de uma pessoa motivados pelo perigo de uma morte
anterior (cf. Sl_89:47). Paulo em Hb_1:10 cita Sl_102:26-28, dirigido a
Cristo em Sua natureza divina. O conjunto do Salmo, como já notamos,
longe de ser contrário, favorece esta opinião, principalmente pelos
sentimentos expressos em Sl_102:12-15 (cf. Is_60:1). A associação do
Messias com o dia de glória futuro era muito familiar nas mentes dos
escritores do A.T.; e com a correta interpretação de sua natureza, é muito
consequente que se considere Senhor e Cabeça de Sua Igreja Aquele que
consumaria aquele glorioso futuro, que eles sempre antecipavam com
grande alegria e amor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 212
Salmo 103

Salmo de louvor prazeroso, em que o salmista sobe de um


reconhecimento agradecido das bênçãos pessoais até uma celebração
vibrante dos atributos divinos de graça, não somente como dignos
intrinsecamente de louvor, mas também especialmente acomodados à
fraqueza do homem, e termina convidando a todas as criaturas a unir-se
em sua canção.

1. Bendize — Com Deus como objeto direto, bendizer significa


louvar.
minha alma — eu mesmo (Sl_3:3; Sl_25:1), com alusão ao ato,
como ato de inteligência.
tudo o que há em mim — (Dt_6:5.)
seu santo nome — (Sl_5:11), sua completa perfeição moral.
2, 3. enfermidades — como castigos penais (Dt_29:2; 2Cr_21:19).
4. redime — ou resgata, o que representa um custo.
da cova — lit., abismo de corrupção (Sl_16:10).
coroa — ou, adorna (Sl_65:11).
misericórdia — compaixão (cf. Sl_25:6; Sl_40:11).
5. Pela providência divina, o santo conserva um vigor juvenil como
as águias (Sl_92:14; cf. Is_40:31).
6. Lit., retidão e juízos, significando os vários atos do governo de
Deus.
7. caminhos — de providência, etc., como usualmente (Sl_25:4;
Sl_67:2).
feitos — lit., maravilhas (Sl_7:11; Sl_78:17).
8-10. A benevolência de Deus nenhum mérito significa. Torna os
pecadores objeto dela, os quais são castigados também por um tempo
(Êx_34:6).
nem conserva para sempre a sua ira — em Lv_19:18, guardar
rancor (Jr_3:5, Jr_3:12).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 213
11. é grande — é eficiente.
12. afasta de nós — de modo que já não afetam nossas relações
para com ele.
13. se compadece — lit., tem compaixão de.
14. Ele — que nos formou (Jr_94:9)
conhece a nossa estrutura — lit., nossa forma.
somos pó — dele atos, e a ele retornaremos (Gn_2:7).
15, 16. Tão curta e tão frágil é a vida que com um sopro a pode
destruir.
desaparece — lit., já não é.
não conhecerá — não o reconhece mais (Sl_90:6; Is_40:6-8).
17, 18. Para um contraste similar cf. Sl_90:2-6; 102:27, 28.
os que guardam, etc. — limita os anteriores termos gerais.
sua justiça — como é usual (cf. Sl_7:17; Sl_31:1).
19. O firme e universal domínio de Deus são o penhor de que
cumprirá as Suas promessas (Sl_11:4; Sl_47:8).
20-22. ordens … palavra — seus atos de obediência são tão
pontuais que sempre sabem ouvir, e conhecer, e seguir naturalmente a
vontade declarada de Deus (cf. Dt_26:17; Lc_1:19).
todos os seus exército — miríades, inúmeras, como a multidão de
seus anjos de grande poder.
todas as suas obras — suas criaturas de toda sorte e de todo lugar.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 214
Salmo 104

O salmista celebra a glória de Deus em Suas obras da criação e da


providência, ensinando a dependência de todos os seres viventes; e
contrasta a felicidade dos que O louvam, com o terrível fim dos ímpios.

1. A glória essencial de Deus assim como a que se manifesta em


Suas obras poderosas, dá motivo de louvor.
2. luz — é representação figurativa da glória do invisível Deus
(Mt_17:2; 1Tm_6:16). Seu uso nesta relação pode referir-se à primeira
obra da criação (Gn_1:3).
Tu estendes o céu — os céus visíveis, que cobrem a terra como
uma cortina (Is_40:12).
3. nas águas — ou, pode ser, sobre as águas; o uso deste fluido por
raios, ou armadura, de Sua residência, concorda com a figura das nuvens
por Seus carros, e os ventos como meios de locomoção.
voas — ou se move (cf. Sl_18:10-11; Am_9:6).
4. Este versículo é citado por Paulo (Hb_1:7) para expressar a
posição subordinada dos anjos; quer dizer, não são senão mensageiros
como outras agências materiais.
espíritos (NKJV) — lit., ventos [RA].
labaredas de fogo — (Sl_105:32) sendo assim chamados aqui.
5. A terra está firmemente posta por Seu poder.
6-9. Estes versos descrevem as maravilhas do dilúvio, antes que a
criação (Gn_7:19-20; 2Pe_3:5-6). O método de Deus de fazer cessar o
dilúvio e a vazante de suas águas é chamado poeticamente, uma
repreensão (2Pe_76:6; Is_50:2), e o processo da baixada pelas
ondulações entre as colinas e os vales se descreve vividamente.
10-13. Uma vez destruidoras, estas águas agora estão sujeitas a
serviço das criaturas de Deus. Da chuva e o orvalho de seus aposentos
(v. 3), e dos mananciais e correntes, elas dão de beber aos animais
sedentos, e fertilizam os campos. As árvores assim nutridas dão refúgio
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 215
aos pássaros cantores, e a terra transborda dos produtos das sábias
agências de Deus,
14, 15. de modo que homens e animais são providos de abundante
alimento.
para o serviço — lit., para o cultivo, por aquele que ele consegue
os resultados.
15. azeite … rosto — lit., faz luzir (brilhar) seu rosto mais que o
azeite; quer dizer, tanto o anima e o fortalece que exteriormente parece
melhor que ungido com azeite.
lhe sustém as forças — dá vigor ao homem (cf. Jz_19:5).
16-19. O cuidado de Deus até dos animais silvestres e dos lugares
não cultivados.
20-23. Provê para as necessidades do homem e as adapta aos
tempos e maturações assinalados.
24-26. Deste quadro da terra assim repleta das bênçãos de Deus, o
escritor passa ao mar, que em sua imensidão, e como cenário e meio das
atividades comerciais do homem, e como habitação de inúmeras
multidões de criaturas, também manifesta o divino poder e seus
benefícios. A menção do
26. leviatã (RC, TB)— (Jó_41:1) realça a estimativa da grandeza
do mar e do poder Daquele que provê semelhante lugar para que ali
lancem as Suas criaturas.
27-30. Descreve-se a inteira dependência de Deus, desta imensa
família. Para Ele é tão fácil matar como fazer viver. Esconder o rosto é
reter o favor (Sl_13:1). Por Seu espírito ou Seu alento, ou Sua mera
palavra, Ele dá vida. É Sua providência constante a que repara as perdas
do tempo e da doença.
31-34. Enquanto que Deus poderia glorificar-se igualmente
mediante a destruição, Ele o faz na conservação por causa de Sua rica
bondade e misericórdia, de modo que nós bem podemos passar a vida em
louvor agradecido, para a honra dEle e para a alegria dos corações
piedosos (Sl_147:1).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 216
35. Os que repudiam a tal protetor e Lhe negam tal culto de louvor,
danificam a beleza das obras de Deus, e devem perecer longe dele. O
salmo termina com uma invocação de louvor, composta de uma frase
que traduzimos por “aleluia”, e pode ser que servisse de estribilho,
como com frequência sucede em nossa salmódia, ou para dar maior
expressão às emoções do escritor. É peculiar aos salmos compostos
depois do cativeiro, como Selá é peculiar aos de data anterior.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 217
Salmo 105

Depois de uma exortação para louvar a Deus, dirigida


especialmente ao povo escolhido, o escritor apresenta a razão particular
do louvor, num resumo da história da chamada de Abraão até a ocupação
de Canaã; e lhes lembra que a obediência deles era o fim de todos os
benignos procedimentos de Deus.

1. invocai o seu nome — (Sl_79:6; Rm_10:13). Invoquem-no de


conformidade com Sua glória histórica manifestada: segundo o exemplo
de Abraão, quem quantas vezes Deus adquiria um nome para Si mesmo,
guiando-o, invocava em solene adoração o nome do Senhor (Gn_12:8;
Gn_13:4).
entre os povos — (Sl_18:49).
feitos — (Sl_103:7).
3, 4. Só buscando na verdade o favor de Deus é possível alcançar a
verdadeira felicidade, e sua fortaleza [Sl_105:4] é a única fonte de
proteção (cf. Sl_32:11; Sl_40:16).
Gloriai-vos … nome —Glorifiquem-se em Suas perfeições. O
mundo se gaba de seus cavalos e seus carros contra a Igreja de Deus
lançada por terra; mas nossa esperança está em Seu nome, isto é, no
poder e amor de Deus para com o Seu povo, manifestos nos livramentos
de antigamente.
5, 6. juízos de seus lábios — Suas sentenças judiciais a favor dos
justos e contra os maus.
6. escolhidos — antes, qualifica “filhos” em vez de Jacó, como
palavra plural.
7. Antes, “Ele, Jeová, é o nosso Deus.” Seu título, Jeová, expressa
que Ele, o Ser imutável, auto-existente, leva as coisas a cabo, isto é,
cumpre Suas promessas, e portanto não desamparará a Seu povo. É Deus
especialmente de Seu povo, mas não obstante, é Deus sobre todos.
8-11. A aliança foi ratificada muitas vezes.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 218
palavra — corresponde a aliança da frase paralela, ou seja, a
palavra da promessa, a que, segundo o v. 10, propôs como lei inviolável.
empenhou — ordenou (Sl_68:28).
gerações — perpetuamente. Alusão verbal a Dt_7:9 (cf. Êx_20:6).
10, 11. Aludindo à promessa feita a Jacó (Gn_28:13). De todo o
conjunto das promessas de Deus, uma só se sublinha aqui, ou seja, a
referente à possessão de Canaã. Tudo gira ao redor desta. As maravilhas
e os juízos têm por finalidade o cumprimento desta promessa.
12-15. eles em pequeno número — aludindo às palavras de Jacó
(Gn_34:30): “Como tenho poucos homens.” “Quando não eram senão
poucos em número: muito poucos na verdade, e estrangeiros nela”
(Versão Inglesa) (cf. Is_1:9).
forasteiros — estrangeiros na terra de sua futura habitação, como
em terra estranha (Hb_11:9).
13-15. de nação em nação — e assim de um perigo a outro; seja no
Egito, seja no deserto, e por fim, em Canaã. Embora eram uns poucos
estrangeiros, peregrinando entre várias nações, Deus os protegia.
14. repreendeu a reis — Faraó no Egito e Abimeleque de Gerar
(Gn_12:17; Gn_20:3).
15. Não toqueis — cf. Gn_26:11, onde Abimeleque diz quanto a
Isaque: “Qualquer que tocar neste homem ou em sua mulher, certamente
morrerá.”
meus ungidos — os especialmente consagrados a Mim (Sl_2:2). O
patriarca era o profeta, sacerdote e rei de sua família.
meus profetas — em sentido semelhante (cf. Gn_20:7). Os
ungidos” são aquelas vasilhas de Deus, consagradas a Seu serviço, “nos
quais (como disse Faraó a José, Gn_41:38) está o Espírito de Deus.”
(Hengstenberg.)
16. Deus ordenou a fome.
Fez vir fome — como se fosse um servo, disposto a vir ao chamado
de Deus. Cf. as palavras do centurião, com relação à doença como serva
de Deus (Mt_8:8-9).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 219
sobre a terra — ou seja, Canaã (Gn_41:54).
os meios de se obter pão — lit., bastão, ou apoio; o pão que
mantém a vida (Lv_26:26; Sl_104:15; Is_3:1).
17-21. José foi enviado de Deus (Gn_45:5).
18. com grilhões — (Gn_40:3).
puseram em ferros— lit., sua alma, ou ele (Gn_16:10) entrou em
ferros, e foi encadeado à sua dor (cf. Sl_3:2; Sl_11:1). Destaca-se a José
como tipo próprio dos “aprisionados em aflição e em ferros”
(Sl_107:10). A “alma” usa-se por toda a pessoa, porquanto a alma do
cativo sofre ainda mais que o corpo.
19. a profecia a respeito dele — Sua profecia (Gn_41:11-20) aos
oficiais se verificou, ou foi cumprida (Jz_13:12, Jz_13:17; 1Sm_9:6,
explicam esta dicção).
a palavra do SENHOR — ou decreto de Jeová.
tê-lo provado — pelas aflições que ordenou que padecesse antes de
sua elevação (Gn_41:40-43).
22. Para sujeitar (TB) — lit., atar: exercesse sobre eles absoluto
controle, como ensina a frase paralela; e segundo Gn_41:40, 44, onde se
fala não de um encadeamento literal, mas sim do mandamento de
obediência. Refere-se ao v. 18. A alma que alguma vez se atou a si
mesma, agora ata a outros, até a príncipes. A mesma atadura moral se
atribui aos santos (Sl_149:8).
aos seus anciãos ensinar a sabedoria — a razão de seu elogio por
Faraó foi sua sabedoria (Gn_41:39), ou seja, na ordem política e boa
ordenação do reino.
23-25. Israel … Jacó — isto é, o próprio Jacó, como a v. 24 fala de
“seu povo”. Entretanto, ele chegou com toda a sua casa (Gn_46:6-7).
peregrinou — (Gn_47:4.)
terra de Cam — ou seja, Egito (Sl_78:51).
25. Mudou-lhes o coração — Deus dirige os atos livres dos
homens (cf. 1Sm_10:9). Quando Saul “tornou seu ombro para partir de
Samuel (o profeta), Deus lhe tornou (margem) a outro coração” (cf.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 220
Êx_1:8, etc.). Qualquer mal que o mau concebe contra o povo de Deus,
Deus o restringe até no coração, de modo que não faça nem um só plano
senão aquele que Deus permita. Assim diz Isaías (Is_43:17) que foi Deus
quem tirou o exército de Faraó para que perseguisse Israel até sua
própria destruição (Êx_4:21; Êx_7:3).
26. Moisés … Arão … escolhera — os dois foram o que eram pela
divina eleição (Êx_78:70).
27. os seus sinais — ou coisas (no hebraico) de seus sinais, isto é,
as maravilhas do Seu poder (Sl_145:5 margem). Cf. “palavras de
iniquidades,” o mesmo hebraísmo na Sl_65:3, margem.
28-36. A nona praga se destaca aqui por ser peculiarmente
maravilhosa.
não foram rebeldes — Moisés e Arão pontualmente obedeceram a
Deus (Hb_11:27) (cf. Éx_7:1 – 11:10, e Sl_78:44-51, com os que este
resumo concorda substancialmente). Ou, antes, a escuridão aqui é só
figurativa (Jr_13:16), a praga literal das trevas (Êx_10:22-23) sendo só
aludidas como o símbolo da ira de Deus suspensa qual nuvem negra
sobre o Egito durante todas as pragas. Portanto, aqui se coloca primeiro,
e não em ordem histórica. Assim que o “não foram rebeldes à sua
palavra,” refere-se aos egípcios. Cada vez que Deus enviava uma praga
contra eles, dispunham-se a deixar ir a Israel, para negar-se a isso logo
que cessasse a praga. “Sua palavra” é sua ordem de deixar ir a Israel
(Hengstenberg). Das dez pragas aqui se mencionam oito, estando
omitidas as da peste e dos tumores.
29, 30. Privou-os do peixe, seu prato predileto, e em seu lugar lhes
deu fora da água rãs repugnantes, e sobre a terra lhes deu moscas
atormentadoras (mosquitos grandes, segundo Maurer) ou piolhos
(mosquitos, segundo Hengstenberg).
32. Em vez da chuva fertilizadora, a saraiva destruidora de árvores.
Isto forma a transição ao reino vegetal.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 221
deu-lhes — referindo-se a Lv_26:4 : “Eu darei sua chuva em seu
tempo.” Seu “dom” aos inimigos de Israel é de uma classe muito
diferente do que dá a Seu povo.
33. dos seus limites — por toda sua terra (Sl_78:54).
34. gafanhotos — lit., lambedor, inseto devorador.
36. os primogênitos — O clímax ascendente passa do alimento do
homem até o próprio homem. A linguagem aqui é citação do Sl_78:51.
37. com prata e ouro — dados de presente pelos egípcios, em
reconhecimento da dívida dos trabalhos forçados (cf. Êx_12:35).
doente (RC) — nenhum não apto para a marcha. Cf. “armados,”
equipados, organizados, qual exército em marcha (Êx_13:18; Is_5:27).
38. (Cf. Êx_12:33; Dt_11:25).
39. por coberta — no sentido de proteção (cf. Êx_13:21;
Nm_10:34). Nas areias quentes do deserto a nuvem protegia a
congregação do calor do sol: emblema do favor de Deus de proteger ao
Seu povo, conforme interpreta Isaías (Is_4:5, 6; cf. Nm_9:16).
42-45. As razões destes procedimentos são: (1) a fidelidade de Deus
à sua aliança, “sua santa promessa” de Canaã, é a fonte de onde fluíam
tantos atos de maravilhosa bondade ao Seu povo (cf. os vv. 8, 11).
Êx_2:24 é o texto fundamental. (Hengstenberg). (2) Para que eles fossem
obedientes. O cumprimento por Abraão dos mandamentos de Deus foi o
objeto de Sua aliança com Ele (Gn_18:19), como foi também da aliança
com Israel, para que observassem os Seus estatutos.
sua santa palavra … Abraão — isto é, Sua aliança confirmada a
Abraão.
44. herdaram o trabalho dos povos — os frutos dos trabalhos
deles; seu grão e seus vinhas (Js_21:43-45).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 222
Salmo 106

Este Salmo dá uma confissão detalhada dos pecados de Israel em


todos os períodos de sua história, com especial referência aos termos de
sua aliança, aludidos no Sl_105:45. Começa com louvor a Deus por Sua
misericórdia, e conclui com uma súplica a favor do Seu povo aflito e
com uma doxologia.

1. Rendei graças, etc. — (Sl_104:35), assim começa e termina,


intimando as obrigações do louvor, por muito que pequemos ou
soframos. 1Cr_16:34-36 é a fonte que motiva o princípio e a terminação
deste Salmo.
2. Suas obras ultrapassam a nossa compreensão, e o Seu louvor
supera o nosso poder de expressão (Rm_11:33). Sua grandeza
inexprimível, não obstante, não deve nos refrear, mas sim nos incitar a
maior esforço por louvá-lo o melhor que pudermos (Sl_40:5; Sl_71:15).
3. As bênçãos se limitam àqueles cujos princípios e obras são retos.
Quão “bem-aventurado” seria Israel agora, se tivesse “observado os
estatutos de Deus” (Sl_105:45).
4, 5. À vista dos merecimentos dos pecados a serem confessados, o
escritor invoca a misericórdia pactuada para si e para a Igreja, em cujo
bem-estar alegra-se. Quem fala não é o salmista mas sim o povo, a
presente geração (cf. o v. 6).
visita-me — (Cf. Sl_8:4.)
5. eu veja o bem (AV, RC) — participe dele (Sl_37:13).
teus escolhidos — ou seja, Israel (Is_43:20; Is_45:4). Como
parecia que Deus Se esqueceu deles, talvez Se lembre” deles com o favor
que lhes pertence como o Seu povo, e que uma vez tinham desfrutado.
a tua herança — (Dt_9:29; Dt_32:9).
6. Cf. 1Rs_8:47; Dn_9:5, onde os mesmos três verbos ocorrem na
mesma ordem e relação, a origem dos dois textos posteriores sendo o
primeiro, a oração de Salomão de quando dedicou o templo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 223
cometemos iniquidade … pais — como eles, e assim participaram
de sua culpa. Os termos denotam uma graduação ascendente do pecado
(cf. o Sl_1:1).
como nossos pais — nós com eles formamos juntos uma massa de
corrupção.
7-12. Confissão especial. Sua rebelião no mar (Êx_14:11) foi
porque não tinham lembrado nem entendido os milagres de Deus feitos
para o bem deles. Que Deus os salvasse na incredulidade foi por Sua
pura misericórdia, e para Sua glória.
mar, o Mar Vermelho — as mesmas palavras com as quais cantou
Moisés a cena da libertação de Israel (Êx_15:4). Israel começou a
rebelar-se contra Deus no mesmo momento e cenário de sua libertação
por Deus.
8. por amor de seu nome — (Ez_20:14.)
9. Repreendeu — (Sl_104:7.)
como por um deserto — (Is_63:11-14.)
12. creram nas suas palavras — Isto se diz não para louvar aos
israelitas, mas sim a Deus, Aquele que constrangeu até a um povo tão
incrédulo a “crer” momentaneamente, na presença imediata de Suas
maravilhas, uma fé que logo depois perderam (v. 13; Êx_14:31;
Êx_15:1).
13-15. A fé induzida pela exposição por Deus de Seu poder em prol
deles foi de curta vida, e a nova rebelião e tentação deles foi visitada por
Deus com novo castigo, deixando-os aos resultados da gratificação de
seus apetites e lhes enviando a pobreza espiritual (Nm_11:18).
Cedo, porém, se esqueceram — “Depressa [o povo] se desviou do
caminho” (Êx_32:8). A pressa de nossos desejos é tal que quase não
podemos ceder a Deus um dia. A menos que Ele responda
imediatamente ao nosso chamado, logo há impaciência, e por fim o
desespero.
suas obras — (Dt_11:3-4; Dn_9:14).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 224
o seu conselho (RC) — não esperaram o desenvolvimento do
conselho de Deus, nem Seu plano da libertação deles, segundo o tempo
e modo próprio de Deus.
14. entregaram-se à cobiça — lit., cobiçaram uma cobiça (citação
de Nm_11:4, margem). Previamente tinha havido impaciência quanto às
necessidades da vida; agora é a concupiscência (Sl_78:18).
15. fez definhar-lhes a alma — ao lhes dar o que pediram:
“Tinham ainda na boca o alimento, quando se elevou contra eles a ira de
Deus” (Sl_78:30, 31).
almas (RV89) — a alma animal, que pede comida (Nm_11:6;
Sl_107:18). Esta alma alcançou seu desejo, e com ele e nele seu próprio
castigo. O lugar foi chamado de Quibrote-Hataavá, “os sepulcros do
desejo,” porque ali enterraram os que cobiçaram. Os desejos carnais
quando são satisfeitos principalmente dão só fome e cobiça de mais
(Jr_2:13),
16-18. Toda a congregação tomou parte com Datã e Coré, etc., e
seus cúmplices (Nm_16:41).
Arão, o santo — como sacerdote consagrado; não um atributo
moral, mas sim a designação de seu ofício como santo ao Senhor. A
rebelião foi seguida por um duplo castigo: (1) (v. 17) dos rebeldes não
levíticos, os rubenitas, Datã e Abirão, etc. (Dt_11:6; Nm_26:10), os que
foram tragados pela terra.
17. cobriu — “a terra os cobriu” (Nm_16:33. (2) Os rebeldes
levíticos, encabeçados por Coré (v. 18; Nm_16:35; Nm_26:10), os que
tinham pecado com fogo e foram castigados por fogo, como o foram
antes os filhos de Arão sumo sacerdote (Lv_10:2; Nm_16:1-35).
19-23. Do desconhecimento indireto de Deus, passam ao direto.
Fizeram um bezerro — embora fosse proibido (Êx_20:4-5) fazer
semelhanças, imagens, nem mesmo do verdadeiro Deus.
um bezerro — assim chamado em desdém. Fizeram um boi, ou um
touro, mas o seu ídolo resultou ser um mero bezerro; imitação dos
símbolos divinos, os querubins; ou do touro sagrado da idolatria egípcia.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 225
Esta idolatria foi tão mais pecaminosa em vista de sua recente
experiência do poder de Deus no Egito e de Suas maravilhas no Sinai
(Êx_32:1-6). Embora pretendessem adorar ao Senhor sob o símbolo do
bezerro, contudo como isto era incompatível com a natureza divina
(Dt_4:15-17), na realidade O tinham abandonado, e portanto foram
abandonados por Deus. Em vez do Senhor dos céus, eles tiveram por sua
glória a imagem de um boi, que nada faz senão comer pasto.
23. os teria destruído (RC) — segundo a versão inglesa: “Portanto
disse (a Moisés) que os destruiria (Dt_9:13). Com Deus o dizer é tão
certo como o fazer; mas Seu propósito, embora cheio de ira contra o
pecado, toma em conta a mediação daquele de quem Moisés foi o tipo
(Êx_32:11-14; Dt_9:18-19).
Moisés, seu escolhido — escolhido para ser o Seu servo (cf. o
Sl_105:26).
na brecha (AV) — como se um guerreiro cobrisse com seu corpo a
abertura de uma parede ou fortaleza sitiada, um lugar de perigo
(Ez_13:5; Ez_22:30).
impedindo que sua cólera — (Nm_25:11; Sl_78:38.)
24-27. O pecado de negar-se a invadir Canaã, “a terra agradável”
(Jr_3:19; Ez_20:6; Dn_8:9), “a terra de beleza,” foi castigado com a
destruição daquela geração (Nm_14:28), e pode ser que se acrescentasse
a ameaça da dispersão (Dt_4:25; Dt_28:32) feita depois à posteridade
deles, e cumprida nas grandes calamidades de que agora se lamentam.
24. desprezaram — menosprezaram (Nm_14:31).
não deram crédito à sua palavra — da promessa de que lhes daria
a terra, mas antes a palavra dos espias infiéis (cf. o Sl_78:22).
26. jurou, de mão erguida — ou, jurou; a forma usual de jurar (cf.
Nm_14:30, margem)
27. derribaria — fazer cair, aludindo às palavras de Nm_14:39.
entre as nações … terras — o “deserto” não foi mais destrutivo
aos pais (v. 26) pelo que será aos filhos sua residência entre “os pagãos”
(nações). Lv_26:33, 38 está aqui na mente do salmista, o propósito
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 226
contra a “semente” quando fica rebelde, não sendo expresso em
Nm_14:31-33, mas sim envolto no propósito contra os pais.
28-30. sacrifícios dos ídolos mortos — isto é, dos ídolos sem vida,
em contraste com o Deus vivo (Jr_10:3-10; cf. Sl_115:4-7; 1Co_12:2).
Também se juntaram a Baal-Peor — veja-se Nm_25:2-3,
Nm_25:5.
Baal-Peor — isto é, o possuidor de Peor, o monte sobre o qual
adorava-se a Quemos, o ídolo de Moabe, e diante do qual Israel então
estava acampado (Nm_23:28). O nome nunca ocorre senão em relação
com tal localidade e com aquela circunstância.
29. provocaram — motivando tristeza e indignação (Sl_6:7;
Sl_78:58).
30. se levantou — como Arão “pôs-se em pé entre os mortos e os
vivos; e a praga cessou” (Nm_16:48).
executou o juízo — julgou, inclusive a sentença e o ato.
31. Isso lhe foi imputado por justiça — “uma ação justa e
elogiável.”
por justiça — para a justificação, como em Rm_4:2; Rm_10:4.
Aqui foi um ato particular, não fé, nem seu objeto Cristo; e o que foi
obtido não estava justiça justificadora, ou que fosse para ser
recompensada com a vida eterna; pois nenhum ato de um homem pode
ser tomado como completa obediência. Mas foi aquilo que Deus aprovou
e recompensou com o sacerdócio perpétuo para ele e seus descendentes
(Nm_25:13; 1Co_6:4, etc.)
32, 33. (Cf. Nm_20:3-12; Dt_1:37; Dt_3:26).
sucedeu mal a Moisés — isto que fizeram. Sua conduta, embora
foi sob grande provocação, foi castigada com sua exclusão de Canaã.
34-39. Não só deixaram de destruir os gentios, como Deus
lhes ordenara — (Êx_23:32-33), mas sim que se conformaram à
idolatria daqueles [Sl_106:36], e assim se tornaram adúlteros espirituais
(Sl_73:27).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 227
37. aos demônios — Na LXX “demônios” (cf. 1Co_10:20), ou
espíritos malignos.
38. derramaram sangue — lit., sangue ou homicídios (Sl_5:6;
Sl_26:9).
40-43. Aquelas nações primeiro os seduziram e logo os oprimiram
(cf. Jz_1:34; Jz_2:14; Jz_3:30). Com suas apostasias, mal agradecidos,
pagaram as muitas misericórdias de Deus, até que Ele por fim os
abandonou ao castigo (Lv_26:39).
44-46. Se, como é provável, este Salmo foi escrito no tempo do
cativeiro, o escritor agora sugere os sinais do retorno dos favores de
Deus.
45. se arrependeu (TB) — (Cf. Sl_90:13.)
46. lograssem compaixão — (1Rs_8:50; Dn_1:9). Estes sinais
incitam à oração e à promessa de louvor (Sl_30:4), e com razão termina
com uma doxologia.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 228
Salmo 107

Embora o tema geral deste Salmo possa sugerir o favor particular


de Deus para com os israelitas na restauração deles do cativeiro, deve ser
estendido como uma celebração didática de louvor a Deus por Sua
providência misericordiosa a todos os homens em suas várias
emergências. Destas mencionam-se algumas: a cativeiro e servidão, as
migrações por terra e mar, e a fome; algumas são evidências do
desagrado de Deus; e todos os livramentos, provas de Sua bondade e
misericórdia para com os que com humildade O buscam.

1, 2. Esta chamada ao louvor e ação de graças forma a tese, ou


estribilho, do Salmo (cf. os vv. 8, 15, 21).
2. remidos do SENHOR — (Cf. Is_35:9-10.)
Digam-no — Digam que é para sempre sua misericórdia.
3. congregou — aludindo à dispersão dos cativos através do
império babilônico.
do mar — lit., “o mar”, o mar Vermelho.
4-7. Um quadro vívido dá-se dos padecimentos dos que de terras
longínquas voltaram para Jerusalém, ou –
cidade em que habitassem — que pode ser o significado da
Palestina,
5. desfalecia neles a alma — desesperavam (Sl_61:3; Sl_77:3).
8, 9. Ao estribilho adiciona-se, como uma razão de louvor, um
exemplo das provas sugeridas, a da fome extrema, a mais penosa
privação de uma viagem pelo deserto.
10-16. Seus padecimentos foram por causa de sua rebeldia contra
(Sl_105:28) as palavras, propósitos, ou promessas de Deus para o bem
deles. Humilhados, clamam a Deus, Ele os libra de sua escravidão,
descrita como um calabouço escuro com grades e portas de metal, onde
estão encadeados.
sombras da morte — trevas com perigo (Sl_23:4).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 229
16. arrombou as portas — (Is_45:2).
17-22. Como é esta ou não a mesma emergência, ilustra aquela
dispensação de Deus segundo a qual o pecado traz seu próprio castigo.
serão afligidos — lit., afligiram-se. Causam-se a doença, como na
figura do repúdio do alimento e da aproximação
18. às portas — ou domínios (Sl_9:13).
20. Enviou-lhes a sua palavra — isto é, estendeu o Seu poder.
do que lhes era mortal — com o que os ameaçava. Ao estribilho
adiciona-se o modo de dar graças, ou seja, com um sacrifício e com
cânticos de alegria (Sl_50:14).
23-32. Aqui se expõem os perigos dos marinheiros, a futilidade do
esforço do homem e a eficácia do socorro de Deus.
descem — indicando a elevação da terra na costa.
24. esses veem — ou veem as maravilhas de Deus, tanto na
tormenta que se levanta como na calma que ordena (Sl_33:9).
25. as ondas — as de Deus (Sl_42:7).
27. perderam todo tino — lit., toda a sua sabedoria se devora a si
mesma, destrói-se com suas mutretas vãs e contraditórias, as quais fazem
se desesperar. Se descrevem aqui não os atos do templo, mas sim os da
sinagoga, onde o povo com a assembleia, ou sessão, de anciãos, reunia-
se para a leitura, o canto, oração e ensino.
33-41. A providência de Deus se descreve notavelmente em sua
influência sobre dois importantes elementos da prosperidade humana: a
produtividade da terra, e os poderes de governo. Castiga os maus,
destruindo as fontes da fertilidade, ou em misericórdia, torna frutíferos
os desertos, os quais se tornam em habitação de uma população agrícola
viva e próspera. Pelo mau governo e a tirania, esta cena de prosperidade
muda-se numa adversidade. O Senhor reina, levantando um e derrubando
a outro.
42, 43. Neste governo providencial, se alegrarão os bons, e cessarão
as reflexões dos ímpios (Jó_5:16; Is_52:15), e todos os que pensam
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 230
retamente apreciarão a infalível misericórdia de Deus e o Seu ilimitado
amor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 231
Salmo 108

Este Salmo está composto, parte (vv. 1-5) do Sl_57:7-11, e parte


(vv. 6-12) do Sl_60:5-12. As variações são verbais e corriqueiras, com
exceção do v. 9, “Sobre Palestina (Filístia) triunfarei”, difere do Sl_60:8,
cuja interpretação confirma. Seu tom totalmente triunfante pode sugerir
que foi preparado por Davi — omitindo as porções queixosas comuns de
outros salmos, — como comemorativo dos favores de Deus nas vitórias
do Seu povo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 232
Salmo 109

O escritor queixa-se de seus virulentos inimigos, contra os quais


implora o justo castigo de Deus; e à súplica da divina interposição a seu
favor acrescenta a expressão de sua confiança e uma promessa de seus
louvores. Este Salmo é notável pelo número e a severidade de suas
imprecações. Seu caráter típico evidente (cf. o v. 8) justifica a explicação
já dada, de que, como linguagem de Davi com relação a seus próprios
inimigos e aos de Cristo, leva em conta não os arrependidos mas sim os
inimigos impenitentes e implacáveis do bem humano, e de Deus e Sua
causa, cujo inevitável destino está assim indicado por autoridade divina.

1. Deus do meu louvor — objeto dela: assim reconhece a Deus


como ajudador verdadeiro.
não te cales — (cf. Sl_17:13; Sl_28:1).
2. lábios maldosos … com mentirosa língua falam — lit., “eles
têm aberto uma boca ímpia”.
contra mim — lit., comigo; isto é, sua conversação é mentirosa, e
me calunia na cara (Mt_26:59).
3. (Cf. Sl_35:7; Sl_69:4.)
4, 5. Tornam mal por bem (cf. Sl_27:12; Pv_17:13).
oro — lit., eu (sou) oração; ou, quanto a mim, a oração, quer dizer,
a oração é a fonte de consolo em minha angústia.
6. contra ele — um de seus inimigos, destacados na malignidade
(Sl_55:12).
Satanás esteja (AV, RC)— como acusador, cujo posto era ao lado
direito do acusado (Zc_3:1-2).
7. seja condenado — condenado como ímpio, culpado.
a sua oração — se torne pecado. A condenação se agrava quando a
petição de clemência se toma por pecado.
8. O oposto desta maldição é a bênção de longa vida (Sl_91:16;
Pv_3:2).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 233
seu encargo — lit., cargo (LXX), referência de Pedro com relação
a Judas (At_1:20).
9-12. Que sua família compartilhe o castigo: que seus filhos saiam
da casa desolada como esmoleiros vagabundos, que o avaro agiota
arrebate sua substância, seu trabalho ou seja, o fruto dela; passe a
estranhos e não a seus herdeiros, e que seus indefesos filhos órfãos
morram de fome, de modo que sua posteridade seja totalmente cortada.
13. posteridade — lit., o fim, como no Sl_37:38; ou o que vem
depois da recompensa, do êxito, ou a esperança do mesmo, do qual a
posteridade era para o judeu uma parte importante.
14, 15. Logo o terrível desmoronamento devido a seu próprio
pecado segue a imputação da culpa de seus pais, para que venha diante
de Deus, a fim de que Deus meça as devidas consequências, cortando da
terra toda memória de tais perversos pais (Sl_34:16).
16. Porquanto — Justifica as imprecações pronunciadas. Lembre-
se Deus da culpa daquele, porque o mau não se lembrou da misericórdia.
o aflito e o necessitado … o quebrantado de coração — o
sofredor piedoso (Sl_34:18; Sl_35:10; Sl_40:17).
17-19. Que a maldição que amou venha sobre ele em castigo
(Sl_35:8), que o encha como água ou azeite, que lhe penetre em cada
parte de seu ser (cf. Nm_5:22-27), e lhe seja como vestido e cinto sobre
ele para sempre.
20. o galardão — o pagamento, preço do trabalho, o fruto da
maldade do inimigo.
da parte do SENHOR — como um ato judicial.
21, 22. age por mim — isto é, benignamente.
22. ferido — lit., transpassado (Sl_69:16, Sl_69:29).
23. como a sombra — (cf. Sl_102:11).
atirado — impelido (cf. Êx_10:19).
24, 25. As injúrias e as recriminações pioram seu estado fraco e
aflito (Sl_22:6-7).
26, 27. Sê minha libertação para Tua glória (cf. o Sl_59:13).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 234
28-31. Na confiança de que a bênção de Deus viria sobre ele, e
confusão e vergonha sobre os seus inimigos (Sl_73:13), deixa de pensar
em suas maldições, e antecipa um grato tempo de pública ação de graças;
porque Deus está perto para proteger (Sl_16:8; Sl_34:6) aos pobres de
todos os juízes injustos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 235
Salmo 110

A explícita aplicação deste Salmo a nosso Salvador, por ele


(Mt_22:42-45), e pelos apóstolos (At_2:34; 1Co_15:25; Hb_1:13), e sua
frequente referência à sua linguagem e sentido (Ef_1:20-22; Fp_2:9-11;
Hb_10:12-13), não deixam dúvida alguma de seu caráter puramente
profético. Não só não havia nada na posição ou caráter, pessoal ou
oficial, de Davi nem de outro descendente dele, que justifique uma
referência aos mesmos, mas sim a absoluta separação do ofício real de
todas as funções sacerdotais (tema indiscutível deste Salmo)
absolutamente proíbe tal referência. O Salmo celebra a exaltação de
Cristo ao trono de um reino eterno e crescente, e um perpétuo sacerdócio
(Zc_6:13) que envolve a subjugação de seus inimigos e a multiplicação
de Seus súditos, e tornado infalivelmente seguro pela palavra e
juramento do Deus todo-poderoso.

1. Disse o SENHOR — Lit., um dito de Jeová (cf. o Sl_36:1), uma


fórmula, usada em declarações proféticas ou outras solenes e expressas.
ao meu Senhor — Que os judeus entendiam que este termo
denotava o Messias o demonstram suas tradições, e também o comprova
a maneira em que Cristo arguía baseado em tal assunção (Mt_22:44).
Assenta-te à minha direita — não só era sinal de honra
(1Rs_2:19), mas também envolvia a participação no poder (Sl_45:9;
Mc_16:19; Ef_1:20).
Assenta-te — como um rei (Sl_29:10), embora sugere-se a posição,
em vez da postura.
até que eu ponha, etc. — O domínio de Cristo sobre os Seus
inimigos, que Lhe é entregue com todo o poder para subjugá-los
(Mt_28:18), em verdade se verificará (1Co_15:24-28). Este não é nem o
Seu governo como Deus, nem aquele que como Salvador encarnado
exerce sobre o Seu povo, da qual Ele será sempre a Cabeça.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 236
inimigos debaixo dos teus pés — expressão derivada do costume
dos conquistadores orientais (cf. Js_10:24; Jz_9:7), que significa
submissão completa.
2. o cetro do seu poder — a vara de correção (Is_9:4; Is_10:15;
Jr_48:12), pela qual se fará conhecer Sua fortaleza, ou força. Esta é sua
Palavra de verdade (Is_2:3; Is_11:4), que converte a uns e confunde a
outros (cf. 2Ts_2:8).
de Sião — ou, da Igreja, em que Deus mora por meio do Seu
Espírito, como alguma vez morou por meio de um símbolo visível no
tabernáculo de Sião (cf. o Sl_2:6).
Domina — sobre seus inimigos agora submetidos.
entre os — que uma vez Te atacaram como feras (Sl_22:16), mas
agora humildemente, embora a contra gosto, Te reconhecem como
Senhor (Fp_2:10-11).
3. Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo — Lit., teu povo
(é ou será) ofertas voluntárias, pois tal é o sentido deste substantivo (não
adjetivo) (cf. Êx_25:2; Sl_54:6, também uma forma similar em Jz_5:2-
9).
no dia do teu poder — seu povo livremente se oferece (Rm_12:1)
para o Seu serviço, alistando-se sob a Sua bandeira.
na beleza da santidade (AV) — ou como no Sl_29:2, a beleza do
culto espiritual, do qual o culto do templo, com todo o seu esplendor
material, não era senão um tipo; ou o que é mais provável, a aparição dos
adoradores que neste reino espiritual são uma nação de reis e sacerdotes
(1Pe_2:9; Ap_1:5), que servem a este Sacerdote e Rei, vestidos daquelas
graças eminentes tipificadas pelas mui belas vestimentas dos sacerdotes
aarônicos (Lv_16:4). A mui obscura frase
do próprio seio da alva ... mocidade (RC) — pode ser explicada
desta maneira; A palavra mocidade denota um período da vida
distinguido pelo vigor e a atividade (Cf. Ec_11:9) — o orvalho é
emblema constante de refrigério e fortalecimento (Pv_19:12; Os_14:5).
O Messias, pois, dirigindo a Seu povo, representa-se de contínuo no
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 237
vigor da juventude, refrescada e fortalecida pelo orvalho matutino da
graça e Espírito de Deus. Assim a frase corresponde como complemento
do paralelismo com “o dia do Teu poder.” “Na Beleza da santidade”
(AV) pertence ao segundo membro do paralelismo, e corresponde a “Teu
povo”, do primeiro. Outros preferem esta explicação: Sua juventude, ou
vigor juvenil, ou corpo, será constantemente refrescada por acréscimos
sucessivos de pessoas como o orvalho natural; e isto concorda com a
ideia neotestamentária de que a Igreja é o corpo de Cristo (cf. Miq_5:7).
4. A perpetuidade do sacerdócio, aqui declarada pelo juramento de
Deus, corresponde à do ofício do rei, que se acaba de explicar.
segundo a ordem — (Hb_7:15) segundo a semelhança de
Melquisedeque, está plenamente explicado por Paulo, significando não
só a perpetuidade, a ordenação de Deus, e um sacerdócio real, mas
também a ausência de toda descendência e sucessão sacerdotal, e a
superioridade à ordem aarônica.
5. à tua direita — como no Sl_109:31, Te sustentando e Te
ajudando; o que não está em desacordo com o v. 1, onde a figura denota
a participação no poder, porque aqui Ele está apresentado sob outro
aspecto, como guerreiro que sai contra os inimigos, sustentado por Deus.
esmagará — transpassará.
reis — não os homens comuns, mas sim os reis deles com todos os
seus súditos (Sl_2:2, Sl_2:10).
6. Há mudança de novo de pessoa. Descrevem-se as conquistas do
Messias, embora a obra dela e a de Deus seja a mesma. Assim como
depois de uma batalha, cuja areia está coberta de cadáveres, o
conquistador sobe à sede do império, assim julgará o Senhor ou regerá
entre muitas nações, e subjugará
cabeças — ou cabeça, no original, usado coletivamente em muitas
terras.
esmagará — lit., transpassará.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 238
7. Como um conquistador, “cansado, mas ainda perseguindo,” se
refrescará pelo arroio do caminho, e seguirá os Seus gloriosos e divinos
triunfos até o término feliz.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 239
Salmo 111

O salmista celebra os procedimentos benévolos de Deus com seu


povo, dando um resumo dos mesmos.

1. Aleluia — “Louvai ao SENHOR” (Sl_104:35). Este parece ser o


título dos salmos que se seguem, os quais, como este, tratam do governo
benévolo de Deus e Seus preciosos frutos. Este louvor requer
todo o coração — (Sl_86:12), e se faz publicamente.
justos — título do verdadeiro Israel (Sl_32:11).
2. as obras — de providência e de graça; são buscadas, ou
cuidadosamente estudadas pelos que as desejam conhecer
3, 4. glória e majestade — lit., honra e majestade, que ilustram
suas gloriosas perfeições.
justiça — (Sl_7:17; Sl_31:1), que Ele tem feito memorável pelas
maravilhas do Seu amor e misericórdia preenchendo as necessidades do
Seu povo de conformidade com as condições da aliança.
6-8. Seu poder manifestou-se especialmente em lhes dar a terra
prometida, e Sua fidelidade e Sua justiça assim demonstradas são, como
Seus preceitos, de absoluta confiança e de perpétua obrigação.
9. A libertação que lhes deu concordava com a Sua aliança
estabelecida. De modo que se manifestou merecedor de reverência na
soma das Suas perfeições (Sl_20:1, 7; Sl_22:3).
10. E assim o amor e o temor a tal Deus é o principal elemento da
verdadeira sabedoria (cf. Pv_1:7; Pv_9:10).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 240
Salmo 112

Este Salmo pode ser considerado como uma exposição do


Sl_111:10, apresentando a felicidade dos que temem e obedecem a Deus,
e contrastando a sorte dos ímpios.

1. O verdadeiro temor produz a obediência, e esta, a felicidade.


3. Bênçãos temporais seguem ao serviço a Deus, havendo exceções
somente quando Deus vê que tais coisas são incompatíveis com aquelas
bênçãos espirituais que são melhores.
4. luz — figurativa de alívio (Sl_27:1; Sl_97:11).
benigno — O reto é assim como Deus (Lc_6:36; Sl_111:4).
5-9. A generosidade, a integridade, bom juízo, e a confiança em
Deus formam um caráter que tira o temor ao mal e assegura o êxito
contra os inimigos. Enquanto que aquele que é assim verdadeiramente
piedoso, sendo liberal, recebe aumento de bens.
6. não será jamais abalado — (cf. Sl_13:4; Sl_15:5).
8. O seu coração, bem firmado — firme nos princípios retos.
ver … o seu desejo — (Sl_50:23; Sl_54:7).
10. Desenganados em seus malévolos desejos pela prosperidade dos
piedosos, os ímpios se veem castigados pela operação de suas más
paixões, e perecem.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 241
Salmo 113

A majestade de Deus contrastada com a Sua condescendência e os


Seus benévolos procedimentos para com os humildes é digna de ser
meditada e incita ao louvor. Diz-se que os judeus usavam este Salmo e
os Salmos 114 a 118 em suas grandes festas, e os chamavam o Hallel
Maior, ou hino maior.

1-3. As repetições enfáticas denotam sinceridade e zelo.


servos do SENHOR — quer dizer, todo o povo de Deus.
o nome do SENHOR — Suas perfeições (Sl_5:11; Sl_111:9).
3. Do nascimento do sol — em todo o mundo.
4-6. A exaltação de Deus engrandece a Sua condescendência;
7, 8. que se ilustra cada vez que se eleva o pobre e carente a um
posto de honra (cf. 1Sm_2:8; Sl_44:25).
9. Neste caso especial, Cf. 1Sm_2:21. A esterilidade era
considerada como uma desgraça, e é um tipo de uma Igreja desamparada
(Is_54:1).
Faz que a mulher estéril viva em família — “Ele faz a estéril da
casa (ama da casa) a mãe prazerosa de filhos”.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 242
Salmo 114

O escritor brevemente e em maneira bela celebra o prévio cuidado


de Deus para com seu povo, para cujo benefício a natureza contribuía
maravilhosamente.

1-4. povo bárbaro (RC) — povo de língua estranha (cf. o Sl_81:5).


4. saltaram como carneiros — (cf. o Sl_29:6), descreve a
ondulação dos bosques montanhosos poeticamente, como se fosse o
movimento dos próprios montes. A poética descrição do efeito da
presença de Deus alude à história (Êx_14:21; Js_3:14-17). Judá está
posto como paralelo de Israel, por causa de ser a destinada como a real
proeminência de tal tribo.
5-8. As interrogações colocam as respostas implícitas numa forma
mais marcante.
7. na presença do — lit., de diante de, como aterrorizados pela
maravilhosa manifestação do poder de Deus. Bem se pode confiar num
Deus semelhante, e grande deveria ser o Seu louvor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 243
Salmo 115

O salmista pede que Deus vindique a Sua glória, a que se contrasta


com a vaidade dos ídolos, enquanto que a insensatez dos idólatras se
contrasta com a confiança do povo de Deus, e estes são estimulados a
exercer a confiança e a unir-se no louvor que ela motiva.

1-3. A defesa da misericórdia e fidelidade de Deus (Sl_25:10;


Sl_36:6) é a glória do Seu nome, que se deseja ilustrar na libertação do
Seu povo, como a maneira implícita de Sua manifestação. À vista do
escárnio dos incrédulos, reconhece-se a fé no domínio de Deus
entronizado nos céus (Sl_2:4; Sl_11:4).
2. Onde está agora o Deus deles? (AV) — Agora não é advérbio
de tempo, mas sim como no sentido de pois.
4-7. (Cf. Is_40:18-20; Is_44:9-28).
7. som nenhum lhes sai da garganta — lit., resmungam
(presente), nem fazem som articulado.
8. quantos neles confiam — sejam ou não seus fabricantes.
9-13. As repetições denotam encarecimento.
14. Contrariamente ao decréscimo lógico devido ao cativeiro.
15-17. Não só eram o povo peculiar de Deus, mas também como
habitantes vivos da terra, estava-lhes confiada a obra de Seu louvor
como monumentos do divino poder, sabedoria e bondade.
18. Portanto, cumpramos o propósito de nossa criação, e
manifestemos o Seu louvor para sempre.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 244
Salmo 116

O escritor celebra sua libertação de perigos extremos pelo favor de


Deus, e se compromete a dar público reconhecimento de gratidão.

1, 2. Um amor verdadeiramente agradecido se fará conhecer pelos


atos de culto, que a invocação a Deus expressa (v. 13; Sl_55:16;
Sl_86:7; cf. Sl_17:6; Sl_31:2).
3, 4. Similares figuras de abatimento (Sl_18:4-5).
me cercaram — outra forma da mesma palavra é havia eu achado
e significa que a doença o atacou.
5-8. O alívio que pediu não é o resultado de seu merecimento, o
qual reconhece assegurando-se (a sua alma. Sl_11:1; Sl_16:10) o
descanso e a paz. Todas as calamidades [Sl_116:8] representam-se pela
morte, lágrimas, cair dos pés (Sl_56:13).
9. Andarei na presença do SENHOR — agirei, ou viverei sob o
Seu favor e guia (Gn_17:1; Sl_61:7).
terra dos viventes — (Sl_27:13).
10, 11. A confiança em Deus em contraste com a desconfiança dos
homens, que não são dignos daquela (Sl_68:8-9). Fala de uma
experiência do resultado de sua fé.
11. perturbação — lit., terror, ou agitação, causada por sua
aflição (Sl_31:22).
12-14. Estes são modos de expressar os atos de adoração (cf.
Sl_116:4; Sl_50:14; Jon_2:9).
13. cálice da salvação — a libação que era parte da oferta de
gratidão (Nm_15:3-5).
14. Agora (RC) — portanto, pois, como no Sl_115:2.
15, 16. Por ser escravo por nascimento, reclama seu direito ao amor
pactual de Deus por Seu povo.
17-19. Declaração mais ampla do Seu propósito, indicando o lugar,
a casa de Deus, Sua morada terrestre em Jerusalém.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 245
Salmo 117

Este pode ser considerado como doxologia, própria para atribuir a


qualquer salmo de caráter semelhante, e como profético da prevalência
da graça de Deus no mundo. Neste aspecto é citado por Paulo
(Rm_15:11; cf. Sl_47:2; Sl_66:8).
2. mui grande, etc. — Sua misericórdia prevaleceu sobre nós, ou
nos protegeu.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 246
Salmo 118

Logo depois de exortar a outros a unir-se em louvor, o escritor


celebra o cuidado protetor e salvador de Deus para com ele, e então se
representa com o povo de Deus entrando no santuário e unindo-se em
solene louvor, pedindo a continuação das bênçãos. Fosse composto por
Davi em sua ascensão ao poder, ou por algum escritor posterior em
memória da restauração de Babilônia, seu tom é alegre e confidencial; e
ao descrever a fortuna e o destino da Igreja judaica e sua visível cabeça,
é típico e profético da Igreja Cristã e sua Cabeça maior e invisível.

1-4. A tríplice repetição é enfática (cf. Sl_118:10-22, 15, 16;


Sl_115:12, 13).
Diga, pois, Israel — Oh, que dissesse Israel!
agora (RC) — como no Sl_115:2; também nos vv. 3, 4, e leia-se:
“Que o diga, pois, Israel (ou seja: Louvem a Deus), porque para sempre é
sua misericórdia”.
5. tribulação — lit., estreiteza, a que corresponde largura, como
no Sl_4:1; Sl_31:8.
6, 7. Os homens são impotentes para o danificar, se Deus estiver
com ele (Sl_56:9), e se forem inimigos, serão vencidos (Sl_54:7).
8, 9. Até nos mais poderosos é preciso ter-se menos confiança que
em Deus.
10-12. Embora sejam tão numerosos como as abelhas e tão
molestos, seus inimigos seriam destruídos com a ajuda de Deus.
12. como fogo em espinhos — repentinamente.
em nome, etc. — pelo poder (Sl_20:5; Sl_124:8).
13-16. Fala-se garbosamente ao inimigo como se estivesse presente.
15. de júbilo e de salvação — esta é a causa daquele.
16. A destra … se eleva — o poder de Deus grandemente exercido.
17-18. Desejava viver, porque estava seguro de que sua vida seria
para a glória de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 247
19-21. Quer signifique uma entrada real ou figurativa à casa de
Deus, se expressa o propósito de um louvor solene, em que só os justos
participariam ou poderiam fazê-lo.
22, 23. Estas palavras Cristo as aplicou (Mt_21:42) a si mesmo,
como o fundamento da Igreja (cf. At_4:11; Ef_2:20; 1Pe_2:4, 7). Pode
ser que aqui denote a maravilhosa exaltação por Deus ao poder e a
influência dAquele que os governantes da nação menosprezaram. Seja
Davi ou seja Zorobabel (cf. Ag_2:2; Zc_4:7-10) o aludido aqui em
primeira ordem, há aqui figurativamente representados atos mais
maravilhosos de Deus, na glorificação de Cristo, Aquele que foi
crucificado como impostor, para que fosse o Príncipe e Salvador e
Cabeça de sua Igreja.
24. Este é o dia — ou período de tempo assinalado pelo favor de
Deus a todos os homens.
25. Salva-nos agora (RC) — Heb., Hosana (cf. o Sl_115:2, etc.,
com relação a agora, uma forma de oração desde então (Sl_20:9), em
nosso uso, de louvor.
26. o que vem ... SENHOR — Como notamos acima, isto pode
aplicar-se à visível cabeça da Igreja judaica que entra no santuário, à
frente da procissão; em figura pertence Àquele de quem a frase chegou a
ser um epíteto (Ml_3:1; Mt_21:9).
27-29. nos concedeu a luz (RC) — favoreceu-nos (Sl_27:1;
Sl_97:11). Com a vítima atada ao altar está unida à oferta mais
espiritual, a de louvor (Sl_50:14, Sl_50:23), expressa nos termos com
que principia o Salmo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 248
Salmo 119

Este célebre Salmo tem várias peculiaridades. Está dividido em


vinte e duas partes ou estrofes, assinaladas pelas vinte e duas letras do
alfabeto hebraico. Cada estrofe contém oito versos, e a primeira letra de
cada verso é a que dá o nome à estrofe. O conteúdo é, principalmente, de
louvores à palavra de Deus, exortações a que seja lida e reverenciada,
orações por sua devida influência, e queixas contra os ímpios que a
desprezam. Não há senão dois versículos (Sl_119:122, 132) que não
tenham algum termo ou descrição da palavra de Deus. Estes termos são
de várias derivações; mas aqui se empregam, principalmente, em forma
sinônima, embora o propósito aparente da variedade de termos é para
expressar melhor os vários aspectos de nossa relação à revelada palavra
de Deus. O Salmo não parece ter relação alguma à ocasião ou interesse
particular da Igreja ou nação judaicas; mas evidentemente foi “destinado
como manual de pensamentos piedosos, para a instrução principalmente
dos jovens; e sua peculiar estrutura artificial talvez foi adotada para
facilitar o estudo e a lembrança da linguagem”.

Álef (vv. 1-8)


1. irrepreensíveis — lit., completos, perfeitos, ou sinceros (cf.
Sl_37:37).
no seu caminho — na sua vida.
andam na lei — agem segundo ela (cf. Lc_1:6). Lei, de um
vocábulo que significa ensinar, é um termo de significado, antes, geral,
que denota a instrução da palavra de Deus.
2. testemunhos (RC) — Assim se chama a própria palavra de
Deus, porque nela Deus testifica em prol da verdade e contra o pecado.
o buscam — que buscam o conhecimento de Deus, com o desejo
de conformar-se à Sua vontade.
3. seus caminhos — o curso reto que Deus revela.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 249
4. mandamentos — preceitos, são regulamentações relacionadas
com uma conduta específica, de um vocábulo que significa inspecionar.
5. estatutos — ou ordenanças, leis positivas de natureza
permanente. Ambos os termos originalmente denotam leis, mais
positivas que morais, que têm força por divina ordenação, quer seja sua
natureza ou sua razão de ser, entendida por nós ou não.
6. mandamentos — ou instituições. O termo é compreensivo, mas
denota, antes, indicações fundamentais para a conduta, as que ordenam e
as que proíbem.
7. juízos — regras de conduta formadas pelas decisões judiciais de
Deus; daí o sentido amplo da palavra nos salmos, de modo que inclui as
decisões de aprovação assim como as de proibição.
8. Reconhece a necessidade da graça divina.
Bêt (vv. 9-16)
9. Pode ler-se todo o versículo como interrogação: Com o que
limpará … para ocupar-se (nisso) segundo sua palavra? A resposta está
implícita, e se infere dos vv. 5, 10 e 18, ou seja: pela graça de Deus.
10-16. Devemos entesourar cuidadosamente a palavra de Deus,
declará-la a outros, meditar nela, e nos deleitarmos sinceramente nela, e
logo pela graça agirmos de conformidade com ela.
Guímel (17-24)
17-20. A vida é desejável a fim de servir a Deus; para poder fazê-lo
devidamente, devemos buscar ter os olhos abertos para contemplar sua
verdade, e desejar zelosamente entendê-la bem.
21-24. Deus reprovará os que desprezam sua palavra, e livrará a
Seus servos da repreensão daqueles, dando-lhes coragem na verdade e
pela verdade, até diante dos mais poderosos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 250
Dálet (vv. 25-32)
25-27. Se deprimidos nos submetemos a Deus, Ele nos reavivará
com Suas promessas, e nos induzirá a declarar Sua misericórdia a outros.
28-32. A fim de nos aderir à Sua palavra, devemos procurar nos
livrar das tentações do pecado e também do desalento.
32. dilatares o meu coração (RC) — com os afetos benévolos.

He (vv. 33-40)
33-38. Para nos animar a pedir a ajuda divina em nosso esforço de
nos aderir à Sua verdade, nos permite crer que com Sua ajuda o
obteremos.
33. o caminho dos teus decretos — isto é, o caminho ou modo de
vida prescrito neles. A ajuda que esperamos obter pela oração deve ser o
ponto de apoio de nossas resoluções.
37. Desvia os meus olhos — lit., “Faça com que meus olhos não se
fixem em coisas vãs”.
a vaidade — lit., a falsidade, qualquer outro objeto de confiança
que não seja Deus: os ídolos, o poder humano, etc. (Sl_31:6; Sl_40:4;
Sl_60:11; Sl_62:9).
vivifica-me no teu caminho — faça-me seguir com energia vivente
o caminho que Tu me indicares. Reaviva-me da morte da impotência
espiritual (Sl_119:17, 25, 40, 50; Sl_116:3).
38. que te temem — traduza-se: Confirma … sua palavra, que é
para (produzir) seu temor. “A qual é para os que te temem.” Porque a
palavra de promessa de Deus pertence em maneira peculiar aos tais (cf.
Gn_18:19; 1Rs_2:4; 1Rs_8:25). (Hengstenberg)
39, 40. Nossa esperança da liberdade da recriminação da
inconsequência está em que o poder de Deus nos vivifique de modo que
vivamos segundo sua palavra, a qual nos induz a amar.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 251
porque os teus juízos são bons — Já deve ser o tempo para que
Tua justiça torne “o opróbrio” da Igreja sobre o mundo (Is_25:8;
Is_66:6; Sof_2:8-10).

Vav (41-48)
41-44. O sentimento se desenvolve plenamente. As misericórdias e
a salvação de Deus, como reveladas em Sua palavra, produzem a
esperança do perdão do passado e a segurança numa vida reta para o
futuro.
42. A possessão da salvação (v. 41) de Deus será a resposta do
salmista ao “opróbrio” (ou seja, a recriminação) do inimigo, de que sua
esperança é enganosa.
45-48. A libertação do opróbrio, imbuída na verdade de Deus,
acrescenta-lhe “muita confiança na fé,” acompanhada com crescente
prazer na santa lei, que se torna um elemento de felicidade.
48. Para os teus mandamentos ... levantarei as mãos — Orando
sempre (Sl_28:2) dirigirei o meu coração para guardar os Teus
mandamentos.

Zain (vv.49-56)
49-51. A confiança nas promessas consola os que são afligidos e
escarnecidos pelos insolentes.
49. na qual — antes, “Lembra-te … porque me tem feito.” Assim o
requer o hebraico. (Hengstenberg).
50. Leia-se: “Meu consolo em minha aflição é, que sua declaração
(palavra) vivificou-me.” (Maurer). O que a palavra já fez é garantia do
que ainda fará.
52-56. Os piedosos, impedidos e afligidos pela impiedade dos que
rejeitam a lei de Deus, consolam-se lembrando que os grandes princípios
da verdade divina permanecerão apesar de tudo; e também os
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 252
52. juízos de outrora — quer dizer, Suas passadas interposições a
favor do Seu povo, são penhor de que outra vez intervirá para livrá-los; e
estas chegam a ser o tema de constante e prazerosa meditação. Quanto
mais guardamos a lei de Deus, tanto mais a amamos.
53. indignação — antes, “veemente ira.” (Hengstenberg.)
54. cânticos — como o banido canta suas canções caseiras
(Sl_137:3), assim o filho de Deus, “estrangeiro na terra,” entoa os
cânticos do céu, seu verdadeiro lar (Sl_39:12). Em tempos antigos, as
leis se redigiam em verso, a fim das gravar o máximo possível na
memória do povo. De modo que, as leis de Deus são cânticos do crente.
casa da minha peregrinação — a vida presente (Gn_17:8;
Gn_47:9; Hb_11:13).
56. Antes, “Isto é peculiarmente meu, que (não porque) guardei os
Teus preceitos.” (Hengstenberg).

Hêt (57-64)
57-60. Sinceros desejos do favor de Deus, a humildade e a
atividade, evidenciam seriamente a sinceridade dos que professam ter
achado em Deus sua felicidade (Nm_18:20; Sl_16:5; Lm_3:24).
58. tua graça — lit., teu rosto, Teu favor (Sl_45:12).
59. Assim como o filho pródigo, já na estreiteza da miséria
(Lc_15:17-18).
61, 62. E tanto mais assim, se a oposição dos inimigos, ou o amor à
quietude fica vencido honrando assim a lei de Deus.
me enleiam — rodeado ou com restrições forçosas como correntes
ou com as cordas de suas redes. Hengstenberg traduz “laços de ímpios.”
62. à meia-noite — Hengstenberg supõe uma referência ao tempo
em que o Senhor saiu a matar os primogênitos egípcios (Êx_11:4;
Êx_12:29; cf. Jó_34:20). Antes, isto se refere aos louvores e orações
noturnas do próprio salmista. Cf. Paulo e Silas (At_16:25; cf. Sl_63:6).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 253
63. A comunhão dos santos. O deleitar-se na companhia deles é
evidência de lhes pertencer (Sl_16:3; Am_3:3; Ml_3:16).
64. Enquanto se opõem aos ímpios, e resistem a eles, os piedosos se
deleitavam nos que temem a Deus, mas afinal de contas, esperam o favor
e a direção não confiantes em merecimento algum senão na misericórdia.

Tét (vv. 65-72)


65-67. A confiança nas promessas (Sl_119:49) é fortalecida pela
experiência de procedimentos anteriores conforme as promessas, e pelas
orações elevadas no meio da humilhação.
66. Ensina-me bom juízo e conhecimento — quer dizer, em Tua
palavra (para poder sondar sua espiritualidade); porque a expressão
correspondente (Sl_119:12, 64, 68), é “Ensina-me teus estatutos.”
67. Hengstenberg o faz referir ao efeito purificador produzido nas
mentes dos judeus pelo cativeiro (Jr_31:18-19). É uma verdade geral
(Jó_5:6; Jo_15:2; Hb_12:11).
68. Referente ao Senhor Jesus (At_10:38).
69, 70. A ardilosa malícia dos ímpios que o caluniava, longe de
separá-lo da palavra de Deus, o amarra em mais estreita união a ela. Os
malévolos são muito estúpidos para poder apreciar a palavra de Deus.
Contra mim — Hengstenberg faz referir as “mentiras” às calúnias
tais contra os judeus durante o cativeiro, como a dos sediciosos de
Ed_4:1-6.
70. O coração deles está gordo como a gordura (NKJV) —
denota insensibilidade espiritual (Sl_17:10; Sl_73:7; Is_6:10).
71, 72. A aflição de qualquer tipo age como uma disciplina salutar,
que faz com que os piedosos apreciem em mais alto grau a verdade e as
promessas de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 254
Iode (vv. 73-80)
73. Como Deus nos fez, assim Ele pode nos governar. Quanto a
Israel, ele dava a Deus toda a sua própria existência tanto a interna como
a externa (Dt_32:6).
74. De modo que quando tiver feito que confiemos em Sua verdade,
fará com que sejamos para o louvor de Sua graça da parte de outros. “Os
que te temem se alegrarão” por minha prosperidade, segundo considerem
como minha causa a causa deles (Sl_34:2; Sl_142:7).
75-78. com fidelidade — sem violar Tua fidelidade no mais
mínimo; porque meus pecados mereciam o castigo, e eu necessitava do
castigo paternal. Se se suportar o castigo com calma filial (Hb_12:6-11),
se verificarão as promessas de misericórdia de Deus (Rm_8:28), e Ele
dará o consolo na tristeza (Lm_3:22; 2Co_1:3-4).
77. Baixem sobre mim, etc. — porque não me posso achegar a
elas. Mas os ímpios serão confundidos.
78. meditarei nos teus preceitos — e assim não serei
“envergonhado” (Sl_119:80.
79, 80. Os que puderam ter crido que as aflições do salmista (ou de
Israel) eram evidência de seu rechaço por Deus, então serão induzidos a
achegar-se a Deus; como o fizeram os amigos de Jó quando este foi
restabelecido, aquele que anteriormente chegou, por causa de suas
desgraças, a duvidar da realidade de sua religião.
80. irrepreensível — perfeito, sincero.
envergonhado — desiludido em minha esperança da salvação.

Caf (vv. 81-88)


81-83. Na dor o coração piedoso deseja o consolo das promessas de
Deus (Sl_73:26; Sl_84:2).
82. Os meus olhos desfalecem pela tua palavra (ACF) — isto é,
por causa do anelo da Tua palavra. Quando desfalecem os olhos, não
obstante, não deve faltar a fé.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 255
83. odre na fumaça — como um velho com a pele enrugada e seca,
por causa da aflição. Os odres se curtiam à fumaça, antes de ser usados
para guardar o vinho. (Maurer).
84-87. A brevidade da vida faz urgente que me seja dado alívio de
meus adversários.
85. covas — complôs para minha destruição.
não procedem — Leia-se: “Os quais (soberbos) não são segundo a
tua lei.”
87. me consumiram sobre a terra (TB) — Hengstenberg traduz
“na terra”; entendendo “me” a nação de Israel, da qual ficava só um
remanescente; mas a versão inglesa é mais singela: Ou “me consumaram
até não deixar quase nada de mim sobre a terra;” ou “me quase me
destruíram e prostraram por terra”. (Maurer).
não abandonei os teus preceitos (TB) — apesar de tudo; portanto
não estou desamparado por Ti (Sl_39:5, Sl_39:13; 2Co_4:8-9), e as
injúrias e insultos dos ímpios encarecem a necessidade de sua acolhida.
Eles, entretanto, agem sem levar em conta a Sua lei; os piedosos por
outro lado, aderindo-se aos Seus ensinos, recebem a graça vivificadora e
são mantidos firmes.

Lâmed (vv. 89-96)


89-91. Em todas as alterações, a palavra de Deus não muda
(1Pe_1:25). Ela, como os céus, testemunha o poder inesgotável e o
cuidado imutável de Deus (Sl_89:2).
está firmada … céus — fica tão firme como os próprios céus, onde
mora e de onde emanou.
90. (cf. Sl_33:9.)
91. tudo — antes, eles perseveram, ou seja, os céus (v. 89) e a terra
(v. 90). Hengstenberg traduz: “Eles estão para (executar) os seus juízos,”
como servos obedientes. O propósito deste Salmo favorece esta
interpretação. Mas cf. Jr_33:25.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 256
92-94. Portanto se anima aos piedosos a procurar o conhecimento
da palavra, e a perseverar no meio dos esforços dos que conspiram e
espreitam para destruí-los.
92. o meu prazer — não meramente o deleite, mas sim a soma dos
deleites.
96. Os limites da perfeição criada podem ser definidos, mas os da
lei de Deus em sua natureza, aplicação e influência, são infinitos. Não há
coisa humana alguma que seja tão perfeita que não careça de algo; os
seus limites são estreitos, enquanto que a lei de Deus é de amplitude
infinita, adequada para todos os casos, preenchendo perfeitamente as
necessidades de cada um, e para todos os tempos (Sl_19:3, Sl_19:6,
Sl_19:7-11; Ec_3:11). Não pode ser circunscrita dentro de definição
alguma de sistemas dogmáticas humanos. O homem nunca aperfeiçoa
seu conhecimento dela. Ela não surpreende ao ignorante com
antecipações declaradas de descobrimentos que ele ainda não tenha feito;
enquanto que acha nela o homem de ciência sua mais recente descoberta
mediante as antecipações tácitas dispensadas.

Mem (vv. 97-104)


97. Este característico amor pela lei de Deus (cf. Sl_1:2) assegura o
aumento
98-100 — de conhecimento, tanto da matéria de toda verdade
moral, útil, como da experiência de sua aplicação.
98. mais sábio que os meus inimigos — com todo o seu artifício
carnal (Dt_4:6, Dt_4:8).
eu os tenho sempre comigo — O verbo hebraico é singular; “(Ela)
está comigo sempre (eternamente)”; quer dizer, os mandamentos, que
compreendem o todo completo, Tua lei.
99. entendimento (RC) — na arte prática (Sl_2:10; Sl_32:8).
100. mais ... que os idosos — a antiguidade não é de nenhuma
ajuda contra a estupidez, quando não concorda com a palavra de Deus
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 257
(Lutero) (Jó_32:7-9). A Bíblia é a chave de todo conhecimento, a
história do mundo, passado, presente, e por vir (Sl_111:10). Aquele que
faz a vontade de Deus conhecerá a doutrina (Jo_7:17).
101-104. O abandono dos caminhos pecaminosos é o efeito assim
como os meios de crescimento no conhecimento das coisas divinas (cf. o
Sl_19:10).

Nun (vv. 105-112)


105. Não só nos ilumina a palavra de Deus no conhecimento da Sua
vontade, mas também, como lâmpada no caminho de escuridão, ensina-
nos como seguir o bom caminho e evitar o mau. A lâmpada da palavra
não é o sol. Este nos cegaria os olhos a respeito de nosso atual estado de
caídos; mas devemos bendizer a Deus pela luz que está iluminando
nosso escuro caminho, até que venha o Sol da Justiça, que então nos
habilitará a vê-Lo (2Pe_1:19; Ap_22:4). A lâmpada é alimentada pelo
azeite do Espírito. A alusão e feita às lâmpadas e tochas que se levavam
de noite diante das caravanas orientais.
106-108. Tal foi a aliança ou concerto nacional no Sinai e nos
campos de Moabe.
108. oferendas voluntárias (RC) — a espontânea expressão de sua
gratidão, em contraste com “as ofertas” ordenadas do templo (Os_14:2;
Hb_13:15). O salmista resolve seguir o seu caminho, confiante no poder
vivificador de Deus para a aflição (v. 50), e na aceitação benévola de
seus “sacrifícios espirituais de oração e louvor” (Sl_50:5, Sl_50:14,
Sl_50:23).
109-110. No meio dos perigos mortíferos (a frase se tira do fato de
que o que levamos nas mãos, facilmente nos cai, Jz_12:3; 1Sm_28:21;
Jó_13:14; cf. 1Sm_19:5), e exposto aos inimigos ardilosos, Sua
segurança e Sua direção estão na verdade e nas promessas de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 258
111, 112. Estas eles as aceita como a sua herança perpétua, para
desempenhar as suas obrigações e receber os consolos que elas
proporcionam, para sempre jamais.

Sâmeq (vv. 113-120)


113. irresolutos (TB) — melhor, “pessoas instáveis,” lit., homens
divididos, pessoas de mente dividida, que duvida (Tg_1:8), “homem de
ânimo dobre” (Hengstenberg), céticos, ou noções céticas em contraste
com a certeza da palavra de Deus.
114. refúgio — (cf. Sl_27:5).
escudo — (Sl_3:3; Sl_7:10).
espero — confiando em seus ensinos e suas promessas.
115-117. Portanto não teme aos ímpios nem se angustia,
refugiando-se em Deus com a lei divina como regra da vida.
Apartai-vos de mim — pois nada me poderão fazer, porque
guardarei, etc. (Sl_6:8).
118-120. Mas os desobedientes e rebeldes serão visitados pela ira
de Deus, a qual inspira aos piedosos o santo temor e a reverência.
120. Os “juízos” são os que são feitos sobre os iníquos
(Sl_119:119). A esperança prazerosa vai de mãos dadas com o temor
(Hc_3:16-18).

Áin (vv. 121-128)


121-126. Sobre a base de sua integridade, seu desejo da palavra de
Deus, e de suas relações de aliança com Ele, o servo de Deus pode pedir
a divina proteção contra os ímpios e a grata direção rumo ao
conhecimento da verdade, e ao mesmo tempo, a eficiente vindicação por
Deus dos justos e da causa deles, a qual é também a causa de Deus.
122. Sê fiador do teu servo — Defende judicialmente a minha
causa contra os meus adversários (Gn_43:9; Is_38:14).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 259
127, 128. Por isso (ACF) — isto é, em vista destes benefícios, ou
por causa da glória da Tua lei, tão louvada nas partes anteriores deste
salmo.
amo os teus mandamentos … (y) por isso (repetido) — Todos os
preceitos, sobre todos os assuntos, são estimáveis por sua pureza, e
inspiram a pessoa a aborrecer todo o mal (Is_19:10). A palavra de Deus
não admite nenhum ecletismo: seu mais mínimo título é perfeito
(Sl_12:6 Mt_5:17-19).

Pê (vv. 129-136)
129. Maravilhosos — lit., maravilhas, da excelência moral.
130. A exposição — a entrada, lit., a abertura; a palavra de Deus,
como uma porta aberta, deixa entrar a luz, ou o conhecimento.
Hengstenberg explica: “a elucidação,” ou “a explicação da palavra.” Ao
homem natural as portas da palavra de Deus lhe estão fechadas.
Lc_24:27, Lc_24:31, At_17:3; Ef_1:18, confirmam esta declaração:
“Abrindo e propondo …”
aos símplices — aos que necessitam e desejam entendimento (cf. o
Sl_19:7).
131-135. Expressam um ardente desejo (cf. Sl_56:1-2) de
iluminação espiritual, libertação dos ímpios, e evidência do favor de
Deus.
Abri a boca e respirei — como o viajante pelo árido deserto
suspira pelas brisas refrescantes (Sl_63:1; Sl_84:2).
132. Volta-te para mim — o contrário de esconder-se ou voltar o
rosto (cf. Sl_25:15; Sl_86:6; Sl_102:17).
segundo costumas — ou, “como é justo com relação aos que amam
seu nome.” Os tais têm o direito às manifestações da graça de Deus,
baseando-se na natureza de Deus como fiel à Sua promessa feita aos
mesmos, não confiando em seus próprios méritos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 260
133. Firma os meus passos — Afirma-os, de modo que não haja
vacilação (Sl_40:2).
iniquidade alguma — O Sl_119:134 apoia a Hengstenberg,
“nenhum iníquo,” “opressor.” Mas a frase paralela antecedente
(Sl_119:133) favorece nossa versão (Sl_19:13). Sua esperança de
libertação da opressão externa do homem (Sl_119:134) funda-se em sua
libertação do interno “domínio da iniquidade”, em resposta a sua oração
(Sl_119:133).
136. Zeloso, ele próprio, em guardar a lei de Deus, aflige-se
profundamente quando outros a violam (cf. o Sl_119:53). Lit., Os meus
olhos derramam rios de água (Lm_3:48; Jr_9:1).
porque, etc. — (cf. Ez_9:4; Jr_13:17.

Tsade (vv. 137-144)


137-139. A justiça e a fidelidade de Deus em Seu governo agravam
o descuido dos ímpios, mas avivam mais o zelo de seu povo.
139. (Sl_69:9).
140. Puríssima — refinada; demonstrada pura pela experiência.
141. Os piedosos, embora desprezados pelos homens, são
distinguidos aos olhos de Deus pelo respeito que têm para a lei de Deus.
142-144. Os princípios da lei de Deus são permanentes e dignos de
aceitação, e no mais profundo pesar, o Seu povo os tem por tema de
grata meditação e por fonte de poder te vivifiquem (vv. 17, 116).
justiça eterna — mesmo quando pela aparência externa pareça
morta.
tua lei é a própria verdade — não pode enganar pois, com relação
a Suas promessas.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 261
Cof (vv. 145-152)
145-149. Uma devoção inteligente é dirigida pelas promessas
divinas a um aumento de afabilidade, resultante da contemplação da
verdade revelada.
147. Antecipo-me — não só ao alvorecer, mas também até às
divisões usuais da noite; ao chegar as vigílias da noite quando me pode
crer dormido, acham-me acordado (Sl_63:6; Sl_77:4; Lm_2:19). Tal é a
sinceridade do desejo e do amor da verdade de Deus.
149. vivifica-me — o coração conforme aos princípios de justiça
que se fundam em Sua própria natureza, e revelados em Sua lei, os quais
patenteiam especialmente a Sua misericórdia para com os humildes e
também a Sua justiça para com os ímpios (cf. o Sl_119:30). Embora os
iníquos estão perto para danificar, porquanto estão longe da lei de Deus,
Ele está perto para socorrer, e é fiel à Sua palavra, que permanece para
sempre.
150-152. Embora os ímpios estão quase a ferir, porque estão longe
da lei de Deus, Ele está perto para ajudar, e fiel a sua palavra, que dura
para sempre.

Rêsh (vv. 153-160)


153-155. Embora o lembrar-se da a lei de Deus não é meritório,
entretanto demonstra um temperamento filial, e dá aos piedosos as
promessas que estimulam a orar, enquanto que os ímpios, descuidando a
Sua lei, rejeitam a Deus e desprezam as Suas promessas (cf. Sl_9:13;
Sl_43:1; Sl_69:18).
154. Defende a minha causa — Hengstenberg traduz: “Peleja
minha peleja” (cf. Sl_35:1; Sl_43:1; Miq_7:9).
156. (cf. Sl_119:149).
157. (cf. Sl_119:86, 87, 95.)
158. (cf. Sl_119:136).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 262
infiéis — lit., traidores, os que são infiéis a um soberano justo, e
que apoiam a seus inimigos (cf. Sl_25:3, 25:8).
159. (cf. Sl_119:121-126; Sl_119:153-155).
me vivifique — (Sl_119:88). Esta é a novena vez que ocorre esta
petição, o que demonstra um fundo sentido de fraqueza.
160. Deus foi sempre fiel, e os princípios do Seu governo seguirão
sendo dignos de absoluta confiança.
o princípio — isto é, “toda palavra, desde Gênesis” (chamado
pelos judeus por seus primeiras palavras, “No princípio”) até o fim das
escrituras, é verdadeira.” Hengstenberg traduz mais literalmente, “A
soma das tuas palavras é verdade.” O sentido é substancialmente o
mesmo. Todo o corpo da revelação é verdade. “Sua palavra nada é senão
a verdade.” (Lutero).

Shin (vv. 161-168)


161-165. (cf. Sl_119:46, 86.)
161. teme — o temor reverencial, não o medo servil, aquele que
não poderia coexistir com o amor (Sl_119:163; 1Jo_4:8). Em vez de ter
medo a seus perseguidores, só teme a palavra de Deus (Lc_12:4-5). Os
judeus inscrevem na primeira página da grande Bíblia (Gn_28:17):
“Quão terrível é este lugar! Não é outra coisa senão a casa de Deus, e
porta do céu!”
162. (cf. Mt_13:44-45). Embora sejam perseguidos pelos
poderosos, não se desviam os piedosos da reverência da autoridade de
Deus para buscar o favor daqueles; antes se alegram na possessão desta
“pérola de grande preço,” como os vencedores se deleitam nos despojos
de guerra. Abominando a mentira e amando a verdade, e louvando a
Deus por isso, com frequência, todos os dias, acham a paz e a liberdade
da tentação.
163. mentira — isto é, como em Sl_119:29, a infidelidade à aliança
de Deus; a apostasia.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 263
166-168. Visto que eles guardam a lei de Deus motivados pelo
amor a ela, e estão livres do medo servil, estão dispostos a submeter suas
vidas à inspeção de Deus.
168. na tua presença estão todos os meus caminhos — desejo
ordenar os meus caminhos como diante de ti, em vez de com referência
ao homem (Gn_19:1; Sl_73:23). Os caminhos de todos os homens estão
sob o olho de Deus (Pv_5:21); só os piedosos percebem este fato, e
vivem conforme isso.

Tau (vv. 169-176)


169-170. Pede primeiro a compreensão, e logo a libertação. A
realização da primeira petição, é a base do cumprimento da segunda
(Sl_90:11-17). Sobre os vocábulos clamor e oração (súplica), cf. o
Sl_6:9; Sl_17:1.
171, 172. Os meus lábios proferiram louvor — o, transbordarão
louvor (cf. Sl_19:2), farão correr os Seus louvores como de um
manancial que transborda e salta.
172. A minha língua celebre a tua lei — lit., responderá a sua
palavra, quer dizer, com louvor. Toda expressão de nosso louvor a Deus
e a Sua palavra é uma resposta, um reconhecimento, que corresponde às
perfeições dAquele a quem louvamos.
173, 174. (Cf. Sl_119:77, 81, 92.)
escolhi — com preferência a qualquer todo outro objeto de deleite.
175. Salva a minha vida para que eu possa Te louvar.
os teus juízos — como em Sl_119:149, 156.
176. Embora se tenha afastado de Deus, o verdadeiro piedoso
sempre deseja ser trazido de novo a Ele, e embora seja por um tempo
negligente com o dever, nunca se esquece do mandamento que lhe foi
ensinado.
ovelha desgarrada — ou perdida, e portanto absolutamente
impotente para salvar-se (Jr_50:6; Lc_15:4). Nem o pecador antes da
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 264
conversão pode se salvar, nem tampouco pode o crente, depois de sua
conversão, restaurar-se; mas este, depois de se desviar temporariamente,
sabe a quem buscar para a restauração. Estes dois versículos parecem
resumir as petições, as confissões, e as profissões do Salmo. O escritor
deseja o favor de Deus, para poder louvá-Lo por Sua divina verdade;
confessa que errou, mas, em meio de suas peregrinações e adversidades,
professa um apego permanente à revelada palavra de Deus, tema de seus
louvores tão reiterados, e a fonte reconhecida de tão grandes e tão
inúmeras bênçãos. De modo que este salmo didático fora do comum, faz-
se o meio das duas partes da adoração: a oração e o louvor.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 265
Salmo 120

Este é o primeiro de quinze salmos (Salmos 120-134) intitulados


cada um “Um cântico dos degraus” (o Salmo 121 — lit., “Um cântico
para os degraus”), ou das ascensões. Parece mais provável que fossem
compostos para o uso do povo quando subiam (cf. 1Rs_12:27-28) a
Jerusalém por ocasião das festas (Dt_16:16) três vezes por ano. O nome
de Davi aparece como autor de quatro deles, Salomão parece ser o autor
de um (Sl_127:1), e outros são anônimos, sendo compostos
provavelmente depois do cativeiro. Neste Salmo o escritor reconhece a
misericórdia de Deus, suplica a libertação de um inimigo malicioso, cujo
castigo antecipa, e logo repete sua queixa.

2, 3. A calúnia e a falsidade das que acusa a seus inimigos,


pressupõem a inocência do salmista.
lábios — como no Sl_52:2, 4.
4. brasas vivas de zimbro — que retêm o calor por longo
momento.
Setas agudas do valente — castigos destrutivos. Este versículo
pode ser lido como uma descrição dos perversos, mas mais propriamente
como o castigo deles, em resposta à pergunta do v. 3.
5. Uma habitação daquelas terras longínquas dá a entender sua
miserável condição.
6, 7. Enquanto que os que o rodeavam eram maliciosos e hostis, ele
era pacífico. Bem pode este Salmo ser o primeiro de uma série como
este, como um contraste com os alegrias prometidas do culto de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 266
Salmo 121

Celebra-se o cuidado de Deus, o guardador de Israel.

1. Elevo os olhos — expressa desejo (cf. o Sl_25:1) misturado com


a expectativa. A última cláusula pode ler-se como pergunta, e a resposta
segue no v. 2 –
2. ao dizer que é Deus quem socorre, de cujo poder é objeto o Seu
poder criador (Sl_115:15), junto com sua incansável vigilância,
3, 4. Ele não permitirá que os teus pés vacilem — (Cf. o
Sl_38:16; Sl_66:9).
5. à tua direita — o posto de protetor (Sl_109:31; Sl_110:5).
6-8. Deus guarda a Seu povo em todo momento e em meio de todos
os perigos.
nem de noite, a lua — representa poeticamente os perigos da noite,
presididos pela lua (Gn_1:16).
8. a tua saída, etc. — Todos os Teus caminhos (Dt_28:19;
Sl_104:23).
para sempre — inclui o estado de além-túmulo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 267
Salmo 122

Este Salmo bem pode ser que expresse a sagrada alegria que sentem
os peregrinos ao entrar na cidade santa, onde se celebra o louvor,
metrópole religiosa tanto como a civil; e por sua prosperidade, que
representa a Igreja, elevam-se orações.

1, 2. Os nossos pés estão (RC) — lit., estão.


dentro das tuas portas (RC) — (Cf. o Sl_9:14; Sl_87:2).
3-5. cidade compacta — Todas as suas partes unidas, como no
tempo de Davi.
4. testemunho (TB) — Se até [até ao testemunho, ACF] é termo
tácito em vez de como [como testemunho, RC], então testemunho denota
a arca da aliança (Êx_25:10-21); de outro modo o ato de subir é
indicado, chamado um testemunho, em alusão ao requisito da lei
(Dt_16:16), do qual é cumprimento.
5. estão os tronos — o, “estão postos os tronos”, usados pelos que
os ocupam, os filhos de Davi (2Sm_8:18).
6, 7. Haja paz — prevaleça, e a prosperidade, em todas partes.
8, 9. No bem-estar da cidade, como em suas relações civis e
especialmente nas religiosas, estava envolto o de Israel.
agora — É conjunção ilativa, como no Sl_115:2.
9. Casa do SENHOR — num sentido mais amplo, a Igreja, cujo
bem-estar seria promovido pela prosperidade de Jerusalém.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 268
Salmo 123

Uma petição ansiosa da proteção divina no meio da aflição.

1. (Cf. Sl_121:1).
que habitas — lit., que estás assentado como entronizado (cf. o
Sl_2:4; Sl_113:4,5). A deferência, a submissão, e a confiança,
expressam-se pela figura. No Oriente, os servos que atendem a seus
amos são dirigidos quase inteiramente por sinais, o que requer que
prestem a maior atenção às mãos destes. Os servos de Deus devem (1)
olhar à mão dEle, para que os dirija e lhes assinale o trabalho; (2) e
esperar de Sua mão providente (Sl_104:28), que lhes dê sua porção no
tempo oportuno; (3) olhar Sua mão protetora, que defenda a causa deles;
(4) e Sua mão corretora (Is_9:13; 1Pe_5:6; Cf. Gn_16:6; (5) e Sua mão
recompensadora.
3. desprezo — isto é, da parte dos gentios, e talvez dos samaritanos
(Nee_1:3; Nee_2:19).
4. dos que estão à sua vontade — despreocupados, que fazem caso
omisso da lei de Deus, e desprezam ao Seu povo.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 269
Salmo 124

O escritor, pela Igreja, louva a Deus pelas passados livramentos do


poder dos inimigos, e expressa sua confiança com relação às futuras.

1, 2. ao nosso lado — (Sl_56:9).


que o diga — diga pois; ou, Oh que diga.
2. se levantaram contra — (Sl_3:1; Sl_56:11.)
3. então (RC) — quer dizer, no tempo de perigo.
vivos — (Nm_16:32-33), descrição da ferocidade.
4, 5. (Cf. Sl_18:4, Sl_18:16).
5. O epíteto soberbas com águas representa os inimigos insolentes.
6, 7. Muda-se a figura pela de uma fera devoradora (Sl_3:7), e logo
pela de um caçador de aves (Sl_91:3), e a ruptura do laço significa
escape completo.
8. (Cf. Sl_121:2).
nome — no sentido usual (Sl_5:11; Sl_20:1). Contrapõe pois com
os maiores perigos ao todo-poderoso Deus, e sufoca, como se fosse num
cântico, a maldade de todo o mundo e do inferno, assim como um grande
fogo consome uma gotinha de água. (Lutero).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 270
Salmo 125

Deus honra a confiança do Seu povo com a proteção e a libertação,


mas abandona os hipócritas à condenação dos ímpios.

1, 2. o monte Sião — como emblema de permanência, e a


localidade de Jerusalém como uma de segurança, representam a
condição firme e protegida do povo de Deus (cf. o Sl_46:5), sustentado
não só pela Providência, mas também pela promessa da aliança. Embora
se vão os montes, e as colinas sejam removidas, contudo, a bondade de
Deus não se apartará, nem será tirada sua aliança de paz (Is_54:10).
Os que confiam — são o “Seu povo”. (v. 3).
3. Embora Deus pode deixá-los por um tempo sob a vara ou poder
(Is_2:9), e a opressão dos iníquos para castigo, não os deixará ser
provados de modo que caiam em pecado (1Co_10:13). Os iníquos lhes
serão só uma vara de correção, não uma espada de exterminação;
tampouco permitirá que tal vara permaneça (“repouse”) sobre eles, não
seja que tentados se desesperem e apostatem (1Co_73:13-14). Deus até
pode provar o Seu povo em grau absoluto: quando já não houver nada
diante de nossos olhos senão o desespero; então nos liberta e nos dá vida
na morte, e nos abençoa no meio da maldição (2Co_1:8-9). (Lutero).
a sorte — a possessão. Lit., Canaã, espiritualmente, a herança
celestial de santidade e de delícia ordenada para os justos. O reinado do
pecado não permanecerá para sempre entre o crente e sua herança.
4. (Cf. o Sl_7:10; Sl_84:11).
5. Os que se apartam (sob a prova) permanentemente demonstram
que são hipócritas, e sua sorte, ou porção, será com os iníquos (Sl_28:3).
os seus caminhos tortuosos (RC) — “caminhos torcidos” (cf.
Dt_9:16; Ml_2:8-9). “Seus” é enfático; as “caminhos tortuosos”
procedem de seus próprios corações. O verdadeiro Israel distingue-se
nisto do falso. A Escritura contradiz em todas as partes a ilusão judaica
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 271
de que a mera descendência externa salve (Rm_2:28-29; Rm_9:6-7;
Gl_6:16). Distingue os desvios do pecado do caminho da vida.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 272
Salmo 126

Ao louvor pelo favor de Deus ao Seu povo, adiciona-se a oração


pela contínua manifestação do mesmo.

1-3. Quando o SENHOR — A alegria dos que voltaram do


cativeiro babilônico foi enlevada, o que motivou a admiração até da
parte dos gentios, como ilustração do grande poder e bondade de Deus.
trouxe do cativeiro (RC) — isto é, restaurou os cativos (Jó_39:12;
Sl_14:7; Pv_12:14). Hengstenberg traduz: “Quando Jeová se voltou à
voltada de Sião;” Deus Se volta ao Seu povo quando o Seu povo se torna
a Ele (Dt_30:2-3).
4. Nem todos voltaram logo; daí a oração pela repetição dos
favores.
as torrentes no Neguebe — as correntes do sul desértico da Judéia,
que, dependentes das chuvas (Js_15:19), reapareciam depois das
estações da seca (cf. Jó_6:15; Sl_68:9). O ponto da comparação é a
alegria pelo reaparecimento daquilo de que com tanta tristeza se sentia
falta.
5, 6. Como na lavoura, o semeador talvez espalha semente numa
terra seca e queimada, dúvida e temores, assim recolherão abundante
colheita os que trabalham com lágrimas mas com a oração de fé. (Cf. a
história, Ed_6:16, Ed_6:22).
6. sai andando — A repetição denota que não teria fim o choro
aqui, como lá não terá fim a alegria (Is_35:10).
os seus feixes — antes, semente que se leva no costal para semear.
referente a este Salmo, cf. Jr_31:9, etc.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 273
Salmo 127

O tema deste Salmo, que as empresas humanas se realizam só com


a bênção divina, associava-se provavelmente com a edificação do
templo de Salomão, quem é autor do mesmo. Pode ser que neste sentido,
combinado em maneira especial com esta série de salmos, fosse adotado
como devidamente expressivo dos sentimentos dos adoradores com
relação à edificação do segundo templo.

1, 2. Sugerem o tema que demos acima.


2. aos seus amados ele o dá enquanto dormem — isto é, o Seu
cuidado providencial nos dá o sono, que nenhum esforço nosso poderia
de outra maneira procurar, e isto é razão para ter confiança com relação
às outras coisas (cf. Mt_6:26-32).
3-5. Representa-se a descendência com frequência como uma
bênção de Deus (Gn_30:2, Gn_30:18; 1Sm_1:19-20). Os filhos são
defensores, setas figurativas, de seus pais na guerra e nos litígios.
5. inimigos à porta — são os adversários perante o tribunal, ou no
mercado (cf. Jó_5:4; Sl_69:12).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 274
Salmo 128

As bênçãos temporários da verdadeira piedade. O capítulo 8 de


Zacarias é virtualmente um comentário sobre este Salmo. Cf. o Sl_128:3
com Zc_8:5; e o Sl_128:2 com Lv_26:16; Dt_28:33; Zc_8:10; e o
Sl_128:6. com Zc_8:4.

1. (Cf. o Sl_1:1)
2. Pois comerás (RC) — Leia-se: “Porque comerás …” Quer dizer,
é uma bênção viver dos frutos da própria indústria de alguém.
3. no interior — ou, dentro da casa (cf. o Sl_48:2).
rebentos da oliveira — os quais são especialmente exuberantes
(Sl_52:8).
5. Nas bênçãos materiais os piedosos não se esquecem das maiores
bênçãos da graça de Deus, as quais desfrutarão para sempre.
6. A vida longa coroa todos os outros favores temporários. Como o
Sl_125:5, este é concluído com oração pela paz e a prosperidade para o
povo de Deus.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 275
Salmo 129

O povo de Deus, tantas vezes libertado dos inimigos, está confiante


em Seu favor que se verificará na derrota daqueles, no futuro.

1. Israel que o diga — ou, diga agora, etc.; diga, pois; oh, deixem
que diga (Sl_124:1). A juventude de Israel foi a estada no Egito (Jr_2:2;
Os_2:15).
2. não prevaleceram — não puderam realizar o seu propósito
contra mim (Sl_13:4).
3, 4. A aradura é uma figura do açoite ou castigo, toda sorte do
qual é adequadamente representada pela aplicação do severo castigo
físico.
4. as cordas — com as quais os bois estavam preparados para o
arado; o cortou denota que Deus fez cessar a perseguição.
5, 6. A mal arraigada erva dos telhados, que se murcha antes de
crescer e nenhuma bênção brinda aos colhedores (Rt_2:4), simboliza a
absoluta inutilidade dos ímpios e seu consequente rechaço.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 276
Salmo 130

A esperança do pecador penitente está só na misericórdia de Deus.

1, 2. Das profundezas — por grande aflição (Sl_40:2; Sl_69:3).


3. Se observares — se levares em estrita conta (Jó_10:14;
Jó_14:16), o que significa o reconhecimento da existência do pecado.
quem, Senhor, subsistirá? — ou estará de pé (cf. o Sl_1:6), em
contraste com o abatimento culpado no temor e remorso (Ml_3:2;
Ap_6:15-16). A interrogação pressupõe uma resposta negativa, a qual se
assevera nesta forma tão mais forte.
4. O perdão produz o temor e amor filial. O juízo sem a esperança
do perdão cria o medo e o desagrado. O sentido do perdão, longe de
produzir a libertinagem, promove a santidade (Jr_33:9; Ez_16:62-63;
1Pe_2:16). “Há perdão contigo, não para que se presuma de ti, mas sim
que se tema.”
5, 6. Aguardo o SENHOR — em expectativa (1Pe_27:14).
eu espero — expressam a sinceridade e o anelo.
7, 8. Espere Israel, etc. — convida-se a todos a buscar e a
participar do perdão divino.
de todas as suas iniqüidades — Ou, dos castigos deles (Sl_40:12).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 277
Salmo 131

Este Salmo, enquanto que expressa os piedosos sentimentos de


Davi ao assumir o seu posto de rei, ensina o temperamento humilde e
submisso de um verdadeiro filho de Deus.

1. nem altivo o meu olhar — evidência do orgulho (Sl_18:27).


não ando, etc. — nem me ocupei em grandezas.
2. Pelo contrário, etc. — A forma é a de um juramento ou uma
asseveração fortíssima. A submissão se denota pela figura de um menino
desmamado. Como um menino é afastado pela mãe de seu seio, assim
ainda tenho que fazer calar em mim a demanda de meu orgulho
(Mt_18:3-4; Is_11:8; Is_28:9). Os meninos hebreus com frequência não
eram desmamados antes dos três anos de idade. Alma pode entender-se
por desejo, o que dá um sentido mais definido, embora seja o sentido
incluído na ideia, expresso por seu conteúdo usual, o de pessoa, ou o
ego.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 278
Salmo 132

O escritor, talvez Salomão (cf. Sl_132:8, 9), logo depois de falar do


piedoso zelo de Davi pelo serviço de Deus, suplica o cumprimento da
promessa (2Sm_7:16), que, além de prover a perpetuação do reino de
Davi, envolvia a do devido culto de Deus e o estabelecimento do reino
maior e espiritual do maior Filho de Davi. DEle e de Seu reino tanto o
templo e seu culto, como os reis e o reino de Judá, eram tipos. A
congruência de tal tema com o teor desta série de salmos é óbvia.

1-5. Este voto não está registrado em nenhuma outra parte.


Expressa, em linguagem forte, o ardente desejo de Davi de ver o
estabelecimento do culto de Deus, assim como também o do reino
divino.
Lembra-te ... a favor de Davi — lit., por Davi; isto é, de todas as
provas e angústias de Davi.
5. morada — lit., moradas, usado geralmente para denotar o
tabernáculo.
6. Estas podem ser “as palavras de Davi” e seus piedosos amigos,
os quais,
em Efrata — ou em Belém (Gn_48:7) onde ele alguma vez viveu,
podem ter ouvido da arca, que ele encontrou por vez primeira.
no campo de Jaar — ou Jair, ou Quiriate-Jearim (Cidade de
bosques) (1Sm_7:1; 2Sm_6:3-4), de onde foi levada a Sião.
7. declara-se o propósito de ocupar-se no culto a Deus.
8, 9. A solene entrada da arca, simbólica da presença e poder de
Deus, com a assistência dos sacerdotes, no santuário, proclama-se com
as palavras usadas por Salomão (2Cr_6:41).
10-12. Por amor de … teu servo — Por causa da promessa que foi
feita.
não desprezes, etc. — Não rejeites aquele que, como descendente
de Davi, invoca a promessa de que se perpetuaria sua linhagem real.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 279
Recitada a promessa, substancialmente como em 2Sm_7:12-16 (cf.
At_2:30, etc.), apoia sua petição,
13. fundada na eleição por Deus de Sião (usada aqui por Jerusalém)
para a Sua morada, porquanto a prosperidade do reino estava relacionada
com a da Igreja (Sl_122:8-9).
14-18. Tal eleição está expressa nas palavras de Deus, aqui
habitarei, aqui me sentarei ou aqui me sentarei entronizado. A alegria
do povo surge das bênçãos de Sua graça, repartidas por meio do
sacerdócio.
17. farei brotar a força — aumentarei seu poder.
lâmpada — figura da prosperidade (Sl_18:10, Sl_18:28; Sl_89:17).
Junto com a confusão de seus inimigos vem a prosperidade de Davi e o
esplendor interminável de sua coroa.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 280
Salmo 133

As bênçãos da unidade fraternal.

1, 2. Como é refrescante a fragrância do óleo, assim isso dispõe


encanto. O óleo sagrado para a unção dos sumos sacerdotes era de oliva
misturado com quatro das melhores especiarias (Êx_30:22, Êx_30:25,
Êx_30:30). Sua rica profusão tipificava a abundância das graças do
Espírito. Como o copioso orvalho, que caía sobre o Hermom, cai com
poder fertilizante sobre os montes de Sião, assim esta unidade dá frutos
em boas obras.
3. Ali, ordena — ou seja, em Sião, a Igreja; a Sião material,
abençoada com os orvalhos ao seu redor, sugere esta alusão à fonte da
influência desfrutada pela Sião espiritual.
ordena … bênção — (Cf. o Sl_68:28.)
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 281
Salmo 134

1, 2. Os grupos de peregrinos, ao chegar ao santuário, clamam aos


sacerdotes, que
assistis na Casa do SENHOR — para que se unam no louvor a
Deus, em nome deles e de todo o povo, com os gestos devidos, aos quais
respondem os sacerdotes pronunciando a bênção mosaica, a qual só eles
podiam pronunciar. É um epílogo próprio para todo o rolo de salmos
dedicados aos peregrinos (Salmos 120-134).
nas horas da noite — no culto vespertino (Sl_141:2) como oposto
ao matutino (Sl_92:2).
2. erguei as mãos — (Cf. o Sl_28:2).
3. te abençoe — conforme a Nm_6:23.
De Sião — a Igreja, como sua residência, e portanto a sede das
bênçãos. Assim terminam os salmos, ou cânticos graduais.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 282
Salmo 135

Um Salmo de louvor, em que se contrastam a vaidade dos ídolos e


da idolatria, as relações de Deus com a Sua Igreja, o Seu poder no
mundo natural, e a Sua maravilhosa libertação do Seu povo.

1-3. Na invocação ao louvor, os sacerdotes, que estão na casa do


Senhor, são mencionados em particular.
4-7. A eleição de Israel por Deus é a primeira razão dada do louvor;
a segunda, Sua manifesta grandeza na criação e na providência.
6. céus … terra … mar, etc. — significam a universalidade.
8, 9. A última praga se cita para ilustrar Seus sinais e prodígios.
10-12. A conquista da Palestina se levou a cabo pelo poder de Deus,
não pelo do povo.
12. em herança — ou possessão.
13. O teu nome ... a tua memória — cada termo denota aquilo
pelo qual Deus Se faz conhecer.
14. julga — faz justiça (Sl_72:2).
se arrependerá (TB) — mudará os Seus procedimentos (Sl_90:13).
15-18. (Cf. Sl_115:4-8).
18. Como eles se tornam — ou, serão. etc. Os idólatras se tornam
espiritualmente estúpidos, e perecem junto com os seus ídolos (Is_1:31).
19-21. (Cf. Sl_115:9-11). Ali se diz confiam, em vez de bendizei
como aqui.
21. Desde Sião — (Cf. Sl_110:2; Sl_134:3). Desde a Igreja, como
um centro, o Seu louvor se difunde por toda a terra.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 283
Salmo 136

O tema é o mesmo que o Salmo 135. A Deus se deve louvar por


Suas obras da criação e por Sua providência, Sua libertação e cuidado de
Seu povo, pelos juízos contra os inimigos deles, e por Suas bondades
para com todos. O estribilho de cada versículo está nos termos do
Sl_106:1; e do Sl_118:1-4, e era usado talvez no Amém do povo, no
culto (cf. 1Cr_16:36; Sl_105:45).

1-3. Os títulos divinos denotam supremacia.


4. único — sem necessidade de nenhuma ajuda.
5, 6. com entendimento — (Sl_104:24).
fez, etc. — Lit., fazedor dos céus.
sobre as águas — mais alta que as águas (cf. o Sl_24:2).
12. cf. expressões similares (Êx_3:20; Dt_4:34, etc.).
15. precipitou — lit., sacudiu, como em Êx_14:27, como alguém
que rejeitasse com repugnância uma víbora.
23. se lembrou de nós — (Sl. 132:1).
em nosso abatimento — isto é, cativeiro.
24. e nos resgatou — lit., arrebatou-nos, aludindo a libertação
repentina efetuada pela derrota de Babilônia.
25. A lista de favores especiais feitos ao Seu povo lhe acrescenta o
relato das bondades de Deus a todas as Suas criaturas (cf. Mt_6:30).
26. Deus dos céus — ocorre uma só vez (Jon_1:9) antes do
cativeiro. É usada a frase pelos escritores posteriores especialmente para
distinguir a Deus, dos ídolos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 284
Salmo 137

Este Salmo relata o pranto dos israelitas cativos, e uma oração e


uma predição relativas à destruição dos inimigos deles.

1. rios da Babilônia — O nome da cidade usado por todo o país.


lembrando-nos de Sião — ou, Jerusalém, como no Sl_132:13.
2. Nos salgueiros — que pode ser que crescessem ali então, embora
agora não; como também a palmeira, que uma vez era comum, mas
agora é rara na Palestina.
3, 4. Fosse a petição por curiosidade ou por zombaria, responde-se
que sua concessão era incompatível com seus sentimentos tristes
(Pv_25:20).
5, 6. Porque cânticos de alegria significariam o esquecimento de
suas casas desoladas e da Igreja caída. As solenes imprecações contra a
“mão” e “língua” por semelhante esquecimento, relacionam-se com a
arte e sutileza na música e o poder no canto.
7-9. Contra os filhos de Edom, lembra-te — (Cf. o Sl_132:1),
quer dizer, para castigá-los.
dia de Jerusalém — de sua queda (Lm_4:21-22; Ob_1:11-13).
8. Filha da Babilônia — os babilônicos (Sl_9:13). Sua destruição
tinha sido amplamente predita (Is_13:14; Jr_51:23). Aquela destruição
terrível foi pelo justo juízo de Deus, e não pelas paixões dos zangados
israelitas.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 285
Salmo 138

Davi agradece a Deus os benefícios recebidos, e antecipando uma


extensão mais ampla da glória de Deus por causa de Suas obras, expressa
a Sua confiança na continuação da presença e da fidelidade divinas.

1. Render-te-ei graças, SENHOR, de todo o meu coração — (Cf.


Sl_9:1)
na presença dos deuses (RC) — sejam anjos (Sl_8:5), ou príncipes
(Êx_21:6; Sl_82:6), ou ídolos (Sl_97:7), significa a presteza para adorar
só ao Deus verdadeiro, e uma repugnância para com qualquer outro
objeto de culto.
2. (Cf. o Sl_5:7).
acima de tudo o teu nome e a tua palavra — quer dizer, a
promessa de Deus (2Sm_7:12-16), cumprida por sua misericórdia e
verdade, sobrepujava a qualquer outra manifestação do próprio Deus,
como tema de louvor.
3-5. Tal promessa, como resposta à oração do aflito Davi, reavivou
e fortaleceu a sua fé, e será, como a base de outras revelações do
Messias, a ocasião de louvor da parte de todos os que a ouvem e a
recebem (Sl_68:29, Sl_68:31; Is_4:3).
5. pois grande é a glória — ou, quando for grande a glória, no
cumprimento por Deus de Seus propósitos de redenção.
6, 7. Neste principio geral do governo de Deus (Is_2:11; Is_57:15;
Is_66:2), confia para receber o favor salvador de Deus e conseguir a
derrota de seus inimigos.
conhece de longe — conhece os seus caminhos e os seus
merecimentos (Sl_1:6).
8. Deus tem que cumprir os Seus propósitos.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 286
Salmo 139

Logo depois de apresentar as sublime doutrinas da onipresença e da


onisciência de Deus, o salmista apela a Ele, protestando sua inocência,
seu aborrecimento aos ímpios, e sua pronta submissão ao
esquadrinhamento mais estrito. A admoestação aos iníquos e o consolo
para os piedosos são deste modo as inferências implícitas destas
doutrinas.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 287
Salmo 140

O estilo deste Salmo assemelha-se aos de Davi da primeira parte do


livro, apresentando como apresenta a habitual queixa, a oração, e a
esperança do alívio.

1. homem perverso — qual dos inimigos de Davi se especifica não


é importante.
2-5. Esta característica do ímpio, e os desígnios contra o piedoso,
correspondem ao Sl_10:7; Sl_ 31:13; Sl_58:4, etc.
3. Aguçam a língua como a serpente — Não como faz a serpente,
mas sim são assim como a serpente na astúcia e no veneno.
5. armadilhas e cordas — denotam os perigos que ameaçam (cf. o
Sl_38:12; Sl_57:6).
6. (Cf. o Sl_5:1-12; Sl_16:2).
7. dia da batalha — quando se usam as armas.
8. (Cf. Sl_37:12; Sl_66:7).
para que se não exaltem — ou, eles (plural) se exaltarão, se lhes
for permitidos prosperarem.
9. Contrasta sua cabeça coberta por Deus (Sl_140:7) com a deles,
ou (como cabeça emprega-se por pessoa) com eles, cobertos dos
resultados de suas obras más (Sl_7:16).
10. (Cf. Sl_11:6; Sl_120:4).
11. caluniador, etc. — O caluniador não será tolerado (Sl_101:7).
o mal o perseguirá, etc. — Pode traduzir-se: “Ao mau (Deus) o
caçará.”
12. (Cf. o Sl_9:4).
13. Depois de todas as alternativas, os justos terão motivos de
louvor. Os tais morarão, ou repousarão em segurança, sob a proteção de
Deus (Sl_21:6; Sl_41:12).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 288
Salmo 141

Este salmo, como o anterior, dá a entender quem é o autor,


mediante sua estrutura e o caráter de seu conteúdo. É uma petição de
libertação do pecado, a quem a aflição tentava, e dos inimigos, que a
causavam.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 289
Salmo 142

Masquil — (cf. o título do Salmo 32), Quando estava na cova — ou


a de Adulão (1Sm_22:1), ou a de En-Gedi (1Sm_24:3). Isto não significa
que o Salmo fosse composto na cova, mas sim o modo precário de vida,
do qual o seu refúgio nas covas era uma ilustração vívida, foi a ocasião
da queixa, a qual constitui a primeira metade do Salmo e oferece a razão
da oração com que termina, e que, como característica proeminente, dá-
lhe o nome.

1. Com a minha voz — audivelmente, porque foi sinceramente.


2. (Cf. o Sl_62:8).
Derramo ... a minha queixa — ou, “uma meditação melancólica”.
3. conheces a minha vereda — A petição é indicativa da inocência
consciente; conheceu-a por reta; sabes, portanto, que minha aflição se
deve aos laços dos inimigos, e não por minha culpa (cf. o Sl_42:4;
Sl_61:2).
4. Expressa a completa desolação.
à minha direita — o lugar de um protetor (Sl_110:5).
quem me reconheça — lit., quem buscasse me fazer bem.
5. (Cf. Sl_31:14; Sl_62:7).
6. (Cf. Sl_17:1).
7. (Cf. Sl_25:17).
para que eu dê graças — lit., para louvor; para que Teu nome seja
louvado, isto é, pelos justos, os que me cercarão com alegria e simpatia
(Sl_35:27).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 290
Salmo 143

Em sua estrutura e seu estilo, este Salmo, como os anteriores


(Salmos 140-142), comprova que é de Davi. É uma petição de perdão, e
de libertação dos inimigos; as aflições, como de costume, produzem a
confissão e o arrependimento.
1. segundo a tua fidelidade, segundo a tua justiça — quer dizer,
o respeito de Deus às reclamações que Ele permite fazer a Seu povo em
atenção à Sua aliança.
2. Não entres em juízo — não cumpras estritamente Tua justiça.
não há justo nenhum vivente — não há justo, não há inocente
(Jó_14:3; Rm_3:20).
3, 4. O por que de sua oração — suas aflições — motivaram a
confissão que acaba de fazer: agora apresenta a queixa, ou questão.
como aqueles que morreram — privado dos confortos da vida (cf.
o Sl_40:15; Sl_88:3-6).
5, 6. A aflição se agrava pelo contraste do bem-estar anterior
(Sl_22:3-9), cuja restituição deseja.
terra sedenta — que necessita a chuva, como seu espírito desejava
a comunhão e a graça de Deus (Sl_28:1; Sl_89:17).
7. o espírito me desfalece — o ânimo o esgotava.
8. (Cf. Sl_25:1-4; Sl_59:16).
o caminho por onde devo andar — ou seja, o caminho da
segurança e da justiça (Sl_142:3-6)
9. Cf. Sl_31:15-20.)
10. (Cf. Sl_5:8; Sl_27:11).
terreno plano — lit., terra plana (Sl_26:12).
11. (Cf. Sl_23:3; Sl_119:156).
12. A misericórdia de Deus para com o Seu povo é com frequência
ira para os inimigos dEle e deles (cf. Sl_31:17).
teu servo — eleito para sê-lo, portanto com direito à consideração
divina.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 291
Salmo 144

O louvor de Davi a Deus como seu todo suficiente socorro, é


encarecido pelo reconhecimento da indignidade intrínseca do homem.
Implorando constantemente a interposição de Deus contra seus inimigos,
prorrompe em louvor e prazerosa antecipação da prosperidade de seu
reino, uma vez libertado dos homens vãos e ímpios.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 292
Salmo 145

Um Salmo de louvor a Deus por Seu governo poderoso, justo, e


benévolo de todos os homens, e em particular do Seu humilde povo
sofrido.

1, 2. (Cf. Sl_30:1).
bendirei o teu nome — celebrarei Tuas perfeições (Sl_5:11).
Dirige-se a Deus como rei, aludindo ao Seu governo dos homens.
3. (Cf. o Sl_18:3; Sl_48:1).
a sua grandeza — manifesta em Suas obras.
4. anunciará — lit., eles declararão, isto é, todas as gerações.
5. Meditarei — (Sl_77:12; Sl_119:15).
tuas maravilhas — ou palavras de Tuas maravilhas, quer dizer, as
que as descrevem (Sl_105:27, margem.)
6. grandeza — lit., atos terríveis, atos que aterrorizam.
7. memória — (Sl_6:5), a lembrança, ou o que faz lembrar.
justiça — como no Sl_143:1, a bondade de conformidade com o
combinado.
8, 9. (Cf. o Sl_103:8; Sl_111:4).
permeiam todas, etc. — repousam sobre todas as Suas obras.
10. te renderão graças — como no v. 1, que louvam com
reverência, mais que meramente louvar.
11, 12. A declaração da glória de Deus é para a extensão de Seu
conhecimento e de Suas perfeições no mundo.
13. (Cf. Dn_4:3, Dn_4:34.)
14. (Cf. o Sl_37:17, Sl_54:4).
15, 16. esperam os olhos de todos — olham com fé expectante
(Sl_104:27, 28).
17. Lit., Justiça é Jeová … e bondade misericordiosa …”, o
substantivo correlativo para o adjetivo (Sl_144:2).
18, 19. (Cf. Sl_34:7, Sl_34:10).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 293
20. Os que O temem (v. 19) são os que aqui se diz que O amam.
21. (Cf. o Sl_103:1, Sl_103:20-22).
toda carne — (Sl_65:2). O Salmo termina, como principia, com
tributo de louvor, no qual os piedosos se deleitarão em particular para
sempre.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 294
Salmo 146

Uma exortação de louvar a Deus, quem, pelo exercício


misericordioso e fiel de seu poder em bondade para com os carentes, é
digno ele sozinho de toda confiança.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 295
Salmo 147

Este Salmo e os três restantes se supõem especialmente designados


para celebrar a reconstrução de Jerusalém (cf. Nee_6:16; Nee_12:27).
Principiam todos e fecham com a emocionante chamada ao louvor. Este
especialmente declara o cuidado providencial de Deus para com todas as
criaturas, e em particular para com o Seu povo.

1. (Cf. Sl_92:1; Sl_135:3).


2. (Cf. Sl_107:3; Is_11:12).
3. Embora aplicável aos israelitas cativos, é uma verdade geral e
preciosa.
4, 5. O poder de Deus na natureza (Is_40:26-28), e com frequência
é apresentado como penhor de Seu poder para socorrer ao Seu povo.
conta … estrelas — o que nenhum homem pode fazer (Gn_15:5).
6. Dito poder se exerce para o bem dos humildes e piedosos, e para
a confusão dos ímpios (Sl_146:8-9).
7-9. Sua providência supre em abundância as necessidades dos
animais silvestres.
Cantai ao SENHOR — Lit., respondam … isto é, em louvor de
gratidão por Suas bondades, assim manifestadas em Suas obras.
10, 11. As vantagens prestadas, como na guerra pela força do
cavalo ou pela agilidade do homem, não inclinam a Deus a favorecer a
ninguém; mas sim que os que O temem e por certo, confiam nEle, são os
que receberão a Sua aprovação e a Sua ajuda.
12-14. reforçou as trancas, etc. — os meios de defesa contra os
invasores.
14. nas tuas fronteiras — (Gn_23:17; Is_54:12).
15-18. A palavra de Deus, qual mensageiro veloz, executa o Seu
propósito, pois para Ele o mandar é levar a cabo (Gn_1:3; Sl_33:9), e
realiza as maravilhas de Sua graça com tanta facilidade como os homens
espalham migalhas.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 296
17. em migalhas — isto é, de alimentos (Gn_18:5), talvez aqui
denota saraiva.
19, 20. Este poderoso governador e benfeitor dos céus e da terra, o é
em particular de Seu povo eleito ao Quem unicamente (Dt_4:32-34) fez
conhecer a Sua vontade, deixando a outros na escuridão. Portanto, que
prorrompam na grande aleluia.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 297
Salmo 148

O alcance deste Salmo é o mesmo que o do anterior.

1. céus … alturas — são termos sinônimos.


2. exércitos — (Cf. Sl_103:21).
4. céus dos céus — o próprio altíssimo.
águas — as nuvens, que estão sobre os céus visíveis (cf. Gn_1:7).
5. Louvem o nome — que representa as Suas perfeições.
mandou ele — Ele é enfático, o que atribui a criação só a Deus.
6. A perpetuidade da forma da criação está, é óbvio, sujeita à
vontade dAquele que a criou.
lei que não ultrapassarão (RC) — Seus decretos que governam os
séculos não serão alterados (Jr_36:31), não passarão (Jó_34:20;
Sl_37:36).
7-10. A invocação à terra, oposta a dos céus, inclui os mares, ou
abismos, cujos habitantes se representam com o dragão (cf. o leviatã,
Sl_104:26, RC), um dos maiores. Introduzem-se os agentes mais
destrutivos e ingovernáveis da natureza inanimada.
8. que lhe executam a palavra — cada um: fogo, saraiva, neve,
vapor, vento, cumpre a Sua lei.
9. árvores frutíferas — os frutíferos, em distinção dos florestais.
Incluem-se animais selvagens e domésticos, grandes e pequenos.
11, 12. Logo todos os seres racionais, da posição mais alta até as
mais modestas.
príncipes — ou chefes militares.
13. Louvem — todos os mencionados.
excelso — excelente, ou exaltado (Is_12:4).
a sua majestade — (Is_45:3).
acima da terra e do céu — destes os esplendores unidos não a
chegam a igualar.
14. exalta o poder — estabelece o Seu poder (Is_75:5-6).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 298
o louvor de todos os seus santos — Leia-se: “… chifre do seu
povo, (para) louvor de todos seus santos …,” ocasião para que O
louvem. São o povo dEle, e estão próximos a Ele, desfrutando por um
cuidado combinado, uma relação peculiarmente íntima.
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 299
Salmo 149

Este Salmo sustenta uma relação íntima com o precedente. O povo


eleito é exortado a louvar a Deus, em atenção aos favores recebidos e às
vitórias futuras sobre os inimigos, das quis estão implicitamente
assegurados.

1. (Cf. Sl_96:1).
2. Deus assinalou a Sua relação de soberano, pelo fato de lhes haver
restaurado sua terra nacional.
3. com danças (TB) — (cf. Sl_30:11). A dança está relacionada
com outros termos expressivos da grande alegria da ocasião. O vocábulo
pode traduzir-se alaúde, usado aqui com outros instrumentos musicais.
Louvem — ou cantem e toquem.
4. se agrada — lit., aceita, aludindo à aceitação das ofertas
propiciatórias (cf. o Sl_147:11).
adorna — adorna os humildes, de fé, esperança, alegria e paz.
5. de glória — a condição honrosa a que são elevados.
no seu leito — alguma vez lugar de pranto (Sl_6:6).
6. Nos seus lábios estejam os altos louvores de Deus — louvores,
ou atos elevados. Sairão como guerreiros religiosos, como uma vez,
obreiros religiosos (Nee_4:17).
7. A destruição dos ímpios incorrigíveis assiste à propagação da
verdade de Deus, de modo que as proezas militares dos judeus, depois do
cativeiro, tipificavam os triunfos do evangelho.
9. a sentença escrita — sejam os decretos de Deus, ou talvez o de
Dt_32:41-43.
o que será honra — Esta honra: de ser assim empregado, será um
serviço honorável a ser atribuído –
para todos os seus santos — os piedosos (Sl_16:3).
Salmos (Jamieson-Fausset-Brown) 300
Salmo 150

Esta é uma doxologia muito própria para todo o livro, que recita o
“lugar, o tema, modo, e extensão da excelso louvor de Deus.”

1. no seu santuário — sobre a terra.


no firmamento do seu poder (RC) — firmamento, que ilustra o
Seu poder.
2. atos poderosos — (Sl_145:4).
3, 4. A trombeta era usada para convocar assembleias religiosas;
outros instrumentos, no culto.
5. címbalos — próprios para louvor forte, altissonante
(Nee_12:27).
6. Vozes viventes recolherão os sons moribundos dos instrumentos
mortos, e quando estas cessem na terra, aquelas dos espíritos redimidos e
dos santos anjos, como com o som do poderoso trovão, prolongarão
eternamente o louvor, dizendo: “Aleluia! A salvação, e a glória, e o
poder são do nosso Deus.” “Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o
Todo-Poderoso.” Amém!
PROVÉRBIOS
Original em inglês:
PROVERBS -
The Book of Proverbs
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução

Provérbios 1 Provérbios 9 Provérbios 17 Provérbios 25

Provérbios 2 Provérbios 10 Provérbios 18 Provérbios 26

Provérbios 3 Provérbios 11 Provérbios 19 Provérbios 27

Provérbios 4 Provérbios 12 Provérbios 20 Provérbios 28

Provérbios 5 Provérbios 13 Provérbios 21 Provérbios 29

Provérbios 6 Provérbios 14 Provérbios 22 Provérbios 30

Provérbios 7 Provérbios 15 Provérbios 23 Provérbios 31

Provérbios 8 Provérbios 16 Provérbios 24


Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

I. A Natureza e o Uso dos Provérbios. — O provérbio é uma


oração vigorosa que expressa concisamente alguma verdade bem
estabelecida e suscetível de várias ilustrações e aplicações. A palavra é
de derivação latina, e significa literalmente por uma palavra, dito, ou
discurso; isso, uma expressão como muitas. O vocábulo hebraico
(mashal) quer dizer comparação. Muitos supõem que este se empregava,
porque a forma ou o conteúdo do provérbio, ou ambas as coisas,
envolviam a ideia de comparação. Os demais provérbios são como
estrofes de dois ou de três versos, ou modificações destes, os quais se
correspondem em estrutura e extensão como se estivessem resolvidos
para comparar um com o outro. Ilustram as variedades do paralelismo,
um rasgo distintivo da poesia hebraica. Veja-se Introdução aos Livros
Poéticos. Muitos, está claro, também envolvem a ideia de uma
comparação dos sentimentos expressos (cf. Pv_12:1-10; Pv_25:1-15;
Pv_26:1-9). Por outro lado, às vezes a omissão a propósito de um dos
versos, ou membros, desperta a curiosidade e exercita a sagacidade do
leitor para supri-lo, e assim apresenta-se o provérbio como um "enigma"
ou "dito obscuro" (cf. Pv_30:15-31; Pv_1:6; Sl_49:4).
A forma sentenciosa de expressão, que assim chegou a ser uma
característica marcante do estilo proverbial, foi adotada também para o
discurso continuativo, mesmo quando não conserve traços de
comparação nem de forma nem de matéria (cf. Provérbios 1 a 9). Em
Ez_17:2; Ez_24:3, vemos a mesma palavra traduzida apropriadamente
parábola, para determinar um discurso ilustrativo. Logo os tradutores
gregos usaram uma palavra parabola (parábola), que os escritores
neotestamentários (menos João) empregam para indicar os discursos de
nosso Senhor, do mesmo caráter, a qual também parece envolver a ideia
de comparação, embora não seja seu significado primário. Pareceria,
pois, que os estilos proverbial e parabólico de produção literária fossem
original e essencialmente o mesmo. O provérbio é uma "parábola
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 3
concentrada, e a parábola, a extensão do provérbio mediante uma
ilustração ampla." O provérbio é, deste modo, a moral ou tema de uma
parábola, que às vezes lhe precede, como em Mt_19:30 (cf. Pv_29:1); ou
que lhe segue, como em Mt_22:1-16; Lc_15:1-10. Sendo o estilo
poético, e adaptado à expressão de uma ordem elevada de sentimento
poético, tal como a profecia, achamos o mesmo termo empregado para
designar tais composições (cf. Nm_23:7; Mq_2:4; Hc_2:6).
Embora os hebreus usavam o mesmo vocábulo para provérbio e
parábola, o grego emprega dois, embora os escritores sagrados não
parecem reconhecer sempre alguma distinção. O termo paroimia o
usaram os tradutores gregos para intitular este livro, evidentemente com
referência especial à definição posterior da parábola, ou seja, uma forma
sentenciosa de dicção comum, a qual parece ser o melhor sentido do
termo. João usa o mesmo termo para designar as instruções do Salvador,
em vista de sua característica obscuridade (cf. Jo_16:25-29, grego), e até
para indicar os seus discursos ilustrativos (Jo_10:6), cujo sentido nem
todos os seus ouvintes compreendiam em seguida. Esta forma de
ilustração estava bem adaptada para ajudar o aprendiz. A estrutura
paralela das orações, a repetição, o contraste, a comparação de
pensamento, tudo estava calculado para facilitar os esforços da memória;
e os preceitos de sabedoria, que desenvolvidos em discursos lógicos,
teriam deixado de impressionar por causa de sua extensão ou caráter
complicado, eram compendiados em sentenças substanciosas e
principalmente bem singelas. Tal modo de instrução distinguiu a
literatura já escrita ou tradicional de todas as nações, e foi e ainda é
peculiar no Oriente.
Neste livro, entretanto, se nos reparte uma sabedoria proverbial
produzida pelo selo da divina inspiração. Deus condescendeu em fazer-
se nosso ensinador nos assuntos práticos pertencentes a todas as relações
da vida. Adaptou sua instrução aos singelos e analfabetos, apresentando
por este método notável e impressionante, os grandes princípios do dever
para com Ele e para com os nossos semelhantes. Ao motivo primordial
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 4
de toda conduta reta, o temor de Deus, são acrescentados todos os
incentivos lícitos subordinados, tais como a honra, o interesse, o amor, o
temor, e o afeto natural. Além do terror excitado pelo conhecimento dos
justos juízos de Deus, se nos admoesta com relação ao mal proceder pela
exibição dos inevitáveis resultados temporários da impiedade, a
injustiça, a libertinagem, o ócio, a preguiça, a indolência, a embriaguez,
e a dissolução. Como recompensas da verdadeira piedade que segue na
eternidade, prometem-se a paz, a segurança, o amor e a aprovação do
bem, e os consolos da boa consciência, que fazem com que seja esta vida
verdadeiramente feliz.

II. A Inspiração e o Autor — Sem exceções de importância, os


escritores judaicos e cristãos têm aceito este livro como produto
inspirado de Salomão. É o primeiro livro da Bíblia que leva no prefácio
o nome do autor. O Novo Testamento abunda em citações dos
Provérbios. Sua excelência intrínseca nos recomenda isso como produto
de uma autoridade superior à dos escritos apócrifos, tais como a
Sabedoria, ou Eclesiástico. Salomão viveu 500 anos antes dos "sete
sábios" da Grécia, e 700 anos antes da época de Sócrates, Platão e
Aristóteles. É bem patente, pois, seja qual for a teoria das origens de seu
conhecimento que se adote, que ele nada tirou de nenhum dos escritos
pagãos dos quais temos conhecimento. Ao contrário, é muitíssimo mais
provável que pelas várias migrações, cativeiros, e dispersões dos judeus,
os filósofos gentílicos recebessem desta fonte de inspiração muitas das
correntes que continuam refrigerando a humanidade no meio dos áridos
e estéreis desertos da literatura profana.
Mas como os Salmos como um todo se atribuem a Davi, por ser ele
o autor principal, do mesmo modo, o atribuir este livro a Salomão é
completamente consequente com os títulos dos capítulos 30 e 31, os
quais atribuem tais capítulos a Agur e Lemuel respectivamente. Destas
pessoas nada sabemos. Não cabe aqui discutir as várias especulações
com relação a eles. Por uma singela mudança de leitura alguns propõem
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 5
traduzir Provérbios 30:1: "Palavras de Agur, filho da que foi obedecida
(ou seja, a rainha de) Massá:" e o Pv_31:1: "Palavras do Lemuel, rei de
Massá"; mas está em contradição com todas as primeiras versões; e nada
menos que a mais rigorosa necessidade exegética deveria permitir a
justificação do abandono de uma leitura e tradução bem estabelecidas
quando não se ganha nada útil para nosso conhecimento. Melhor é
reconhecer a ignorância que tolerar conjeturas inúteis.

É provável que dos "três mil provérbios" (1Rs_4:32) que Salomão


pronunciou, selecionasse e editasse em vida os Provérbios 1-24. Os
Provérbios 25-29, são também de sua composição, copiados nos dias de
Ezequias como seus "homens," talvez, os profetas Isaías, Oseias, e
Miqueias. Tal obra esteve evidentemente no espírito de este piedoso
monarca, quem pôs tudo seu coração no propósito de reformar o culto de
Deus. Homens eruditos procuraram estabelecer a teoria de que Salomão
mesmo não foi mas sim um colecionador, ou de que as outras partes do
livro, do mesmo modo que estes capítulos, são também selecione atas
por outras mãos; mas as razões aduzidas para defender estas premissas
nunca foram tão satisfatórias para fazer mudar as opiniões comuns sobre
o assunto, as que têm a sanção das autoridades mais antigas e de mais
confiança.

III. As Divisões do Livro — Uma obra como esta, é óbvio, não se


presta para nenhuma análise lógica. Entretanto há certas indicações bem
definidas para uma divisão, de modo que o livro em geral se divide em
cinco ou seis partes.
1. A primeira contém nove capítulos, nos quais se discutem e se
reforçam ilustrando, admoestando, e animando, os princípios e as
bênçãos da sabedoria, e os estratagemas e práticas perniciosas dos
pecaminosos. Estes capítulos são preliminares. Representam muito
poucos modelos do verdadeiro provérbio, mas se distinguem pela
concisão e a elegância que o caracterizam. A dicção segue estritamente a
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 6
forma do paralelismo, e são geralmente da classe dos sinônimos,
havendo somente quarenta dos sintéticos e tão somente quatro (Pv_3:32-
35) dos antitéticos. O estilo é adornado, as figuras, antes, audazes e
amplas, e as ilustrações chamativas e extensas.
2. Os paralelismos antitético e sintético à exclusão do sinônimo
distinguem Provérbios 10:1 a 22:16; e os versos correm sem enlace entre
si, cada um formando em si mesmo um sentido completo.
3. Provérbios 22:17 a 24:34 apresentam uma série de admoestações
dirigidas como se fosse a um estudante; e geralmente o tema ocupa dois
ou mais versos.
4. Provérbios 25-29 logicamente podem ser considerados como
porção distinta, pelas razões acima sortes com relação a sua origem. Seu
estilo é muito misto; a respeito de seus peculiaridades, vejam-na 2ª. e 3ª.
partes.
5. Provérbios 30 é peculiar, não só com relação a seu autor, mas
também como um exemplo do tipo de provérbios que se têm descrito
como "ditos obscuros" ou enigmas.
6. Além de umas admoestações abundantes e concisas, próprias
para um rei, Provérbios 31 nos dá um retrato inimitável da mulher. Na
divisão 5ª. como na 6ª., a particularidade distintiva do estilo proverbial
original dá lugar às modificações que como já notamos, assinalam a
composição posterior; mas tanto aquele como esta conservam o método
conciso e vigoroso de expor a verdade, de igual valor ambos para sua
profunda impressão e a permanente retenção na memória.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 7
Provérbios 1

Depois de pôr o título, o escritor define o propósito e a natureza das


instruções do livro. Com paterno amor chama a atenção a estas
instruções, e admoesta a seus leitores contra as seduções dos ímpios.
Logo se apresenta a sabedoria numa bela personificação de uma maneira
assaz solene e impressionante, e convida os homens a receber seus
ensinos, admoestando os que rejeitam e animando aos que aceitam os
ensinos oferecidos.

1-4. (Cf. o primeiro ponto da Introdução).


2. Para aprender a sabedoria e o ensino — tal é o propósito
destes escritos.
sabedoria — ou seja o emprego dos melhores meios para obter os
melhores fins, é o vocábulo usado neste livro geralmente para expressar
a verdadeira piedade.
ensino — instrução, ou disciplina, para a formação do caráter.
para entender — lit., palavras de compreensão, palavras que
facilitam o discernimento do bem e do mal.
3. obter o ensino — receber aquela disciplina que a discrição
reparte. O hebraico para “ensino” difere da “sabedoria” no v. 2, e denota
um conselho bastante discreto. Cf. os rasgos opostos do néscio
(Pv_16:22).
justiça ... equidade — três atributos de alguém que é reto em todas
as suas relações com Deus e com o homem.
4. simples — os facilmente levados ou ao bem ou ao mal; é o
paralelo.
jovens — os sem experiência.
prudência — astúcia (Pv_3:21; Pv_5:21).
bom siso — mutreta, ardil, qualidades boas ou más, segundo o uso
delas. Aqui se refere às boas, visto que envolve a astúcia para evitar o
mal e achar o bem.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 8
5, 6. Tais escritos serão apreciados pelos sábios, os que perseguem
as finalidades retas pelos meios justos.
entender — não o ato de aprender, mas sim a matéria aprendida.
habilidade — ou a arte e os princípios de governo.
6. as palavras — lit., figura.
palavras ... dos sábios — (Cf. o v. 2).
enigmas — (Cf. Sl_49:4; Jo_16:25, e o ponto primeiro da
Introdução).
7. O temor do SENHOR — O princípio da verdadeira piedade (cf.
Pv_2:5; Pv_14:26, 27; Jó_28:28; Sl_34:11; Sl_111:10; At_9:31).
o princípio — a primeira parte, o fundamento.
loucos — os insensatos e indiferentes ao caráter e governo de Deus;
portanto, os ímpios.
8. Filho meu — A forma paternal denota consideração carinhosa
para com o leitor. Os sentimentos filiais ocupam o primeiro lugar depois
da piedade para com Deus, e asseguram as mais distinguidas
recompensas (cf. Pv_6:20; Ef_6:2-3).
9. Sobre as figuras do v. 9, cf. Gn_41:42; Ct_1:10; Ct_4:9.
10-19. Solene advertência a respeito da tentação.
10. querem seduzir-te — lit., “se te abrirem o caminho,” tentam,
seduzem.
não o consintas — Pecado é o consentir, ceder à tentação, não o ser
tentado.
11-14. O homicídio e o roubo são ilustrações específicas que se
dan.
Ponhamo-nos em emboscada … Espreitemos — expressam
esforço e esperança de êxito no artifício.
traguemo-los, etc. — façamos desaparecer a vítima e todo rastro do
crime (Nm_16:33; Sl_55:15). Prometem-se abundantes recompensa de
vilania como frutos deste proceder fácil e seguro.
15, 16. A companhia (caminho, vereda) dos maus é perigosa. Evita
os começos do pecado (Pv_4:14; Sl_1:1; Sl_119:101).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 9
17-19. Os advertidos devem evitar o pecado, como as aves
instintivamente fogem da rede tendida à vista. Mas os insensatos
pecadores se apressam à sua própria ruína (Sl_9:16), e ávidos de lucro,
prosperam nas mesmas mutretas que os destroem (1Tm_6:10), fracassam
na captura de outros, e causam a sua própria destruição.
20-33. Alguns exegetas consideram que esta trecho é linguagem do
Filho de Deus sob o nome de Sabedoria (cf. Lc_11:49). Outros opinam
que a sabedoria, como atributo divino especialmente empregado em atos
de conselho e admoestação, está aqui personificada, e representa a Deus.
Seja como for, a linguagem constitui uma das mais solenes
admoestações divinas, cujo conteúdo e espírito são eminentemente
evangélicos e impressionantes (cf. Nota sobre Pv_8:1).
20. sabedoria — lit., as sabedorias, sendo usado o plural, ou por
causa do sentido não comum, ou como indicativo da grande excelência
da sabedoria (cf. Pv_9:1).
nas praças — publicamente, não em segredo.
21. A publicidade indicada ademais por termos que assinalam os
lugares mais frequentados.
22. néscios — (cf. o v. 4).
necedade — que envolve a ignorância.
escarnecedores — (Sl_1:1), os que menosprezam, assim como
rejeitam, a verdade.
loucos — vocábulo diferente do usado no v. 7 que, contudo,
expressa o mesmo sentido.
23. repreensão — sugere o convencimento de que se merece (cf.
Jo_16:8 margem).
derramarei — repartirei abundantemente.
o meu espírito — ou seja o da sabedoria personificada, ou o de
Cristo, um agente divino.
24. estendi a mão — figura que expressa o encarecimento,
especialmente nas súplicas (cf. Jó_11:13; Sl_68:31; Sl_88:9).
25. rejeitastes — como de nenhum valor.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 10
não quisestes — recebê-la, nem fazer caso dela.
26, 27. Em extremo entristecido, ele não só lhes negará o socorro,
mas também agrava a negação com a zombaria.
27. terror — lit., ruído tumultuoso, que denota a completa
confusão deles; desolação.
perdição — ou calamidade (v. 26) comparável ao redemoinho, por
sua rapidez fatal.
tribulação — (Sl_4:1; Sl_44:11).
angústia — um estado de opressão inextricável; o desespero mais
profundo.
28. Já não são de eficácia nem as orações nem a busca mais
empenhada (Pv_8:17).
29, 30. O rechaço caprichoso do pecador lhe traz a ruína.
31. fruto do seu procedimento — o resultado lógico de sua
conduta (Is_3:10; Ez_11:21; Rm_6:21; Gl_6:7-8).
se fartarão — ( Sl_123:4).
32. o desvio — isto é, da chamada do v. 23.
néscios — como no v. 22.
prosperidade — a quietude que envolve a indiferença.
33. habitará seguro — (Dt_12:10).
tranquilo — na verdadeira prosperidade.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Provérbios 2

Intima-se aos homens para buscarem a sabedoria, porque ela ensina


aqueles princípios pelos quais podem obter a direção de Deus e evitar a
companhia e influência dos ímpios, cuja conduta perniciosa se descreve.

1-5. São necessárias a diligência no ouvir e a oração para conseguir


o grande princípio da piedade, o temor de Deus.
1. esconderes — como um depósito (cf. Pv_7:1).
2. Escute você com atenção e reflexão seriamente (cf. Pv_1:24;
Sl_130:2).
entendimento — a devida percepção da verdade.
3. se clamares — lit., Quando (y) se clamares; isto é, em tal caso.
inteligência — o poder do discernimento.
entendimento — como no v. 2.
4. Deve haver oração intensa e esforço.
5. entenderás — perceberás inteligentemente.
acharás — obterás.
6. Porque — Deus está disposto (Tg_1:5; Tg_4:8).
da sua boca — pela revelação que Ele dá.
7. a verdadeira sabedoria — lit., a substância, como oposta ao
fictício. Segundo o contexto, esta pode ser o socorro, como que aqui
corresponde a
escudo — ou com a segurança, ou a sabedoria que a procura (cf.
Pv_3:21; Pv_8:14; Pv_18:1; Jó_6:13; Jó_12:13).
8. guarda ... caminho — Deus defende o caminho reto e aos que
por ele caminham.
santos — objetos de Seu favor (cf. o Sl_4:3, etc.). Ele os guia e os
guarda.
9. Então — enfático, em tal caso.
justiça ... veredas — Tudo o que deve-se a Deus e ao homem.
10, 11. Ampliam a ideia do v. 9; sobre os termos cf. o v. 4 e o v. 3).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 12
12-15. para te livrar — como de um grande perigo (Sl_6:5).
caminho ... homem — (Sl_1:1).
13. caminhos das trevas — perversidades (Pv_6:14; Pv_23:23), o
oposto da verdade.
para andarem — conduta habitual;
14. e isso com prazer, em ignorância do bem e em busca do mal.
perversidades — não só nas suas próprias, mas também que se
deleitam nas alheias. Amam com maior ardor as coisas piores.
15. tortuosas — sem princípios, sem escrúpulos.
se desviam —lit., andam para atrás; não só desviados do reto, mas
em sentido contrário.

Vv. 16-19. A libertação de outra sorte de perigo.


mulher estranha (AV, RC) — este vocábulo é usado com
frequência no sentido de prostituta, ou mulher dissoluta (Juí_11:1-2),
seja casada (Pv_7:5, 19) ou não (1Rs_11:1), assim chamada porque as
tais, talvez a princípio, eram mulheres estrangeiras embora estranho
pode também denotar qualquer coisa contrária ao reto e próprio, como
fogo estranho (Nm_3:4); incenso estranho (Êx_30:9).
lisonjeia — lit., aplana, ou alisa.
com palavras — ( Sl_5:9).
17. amigo da sua mocidade — seu esposo legal (Jr_3:4).
aliança do seu Deus — o casamento consumado em nome de Deus.
18. se inclina — vai abaixo, afunda-se (cf. Nm_13:31).
para os mortos (RC) — ou sombras dos defuntos (Sl_88:10).
19. Quer dizer, os que não se arrependem (cf. Ec_7:26).
veredas da vida — (Sl_16:11), em contraposição com as que vão
para os mortos.
20. Para que andes (RC) — tal é o objetivo destas admoestações.
21, 22. (Cf. Sl_37:3, Sl_37:9, Sl_37:22, Sl_37:27).
22. perversos — os ímpios rebeldes (cf. Jr_9:2).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 13
eliminados — completamente destruídos, como árvores
desarraigadas.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 14
Provérbios 3

O estudo da verdade recomendado. Deus deve ser temido, honrado,


e se deve confiar nEle, manifestando a submissão filial sob o castigo.
Urge-se a excelência da sabedoria, e se ilustra adequadamente nos
conselhos divinos. A piedade se encarece pelo contraste do destino dos
justos e dos ímpios.

1. lei ... mandamentos (RC) — todas as instruções divinas (cf. o


Sl_119:1, 4).
o teu coração guarde — ou observe com sinceridade (Pv_4:13;
Pv_5:2).
2. aumentarão ... vida — prometida muitas vezes como bênção
(Sl_21:4; Sl_91:16).
paz — que inclui a prosperidade (Sl_125:5).
3. a benignidade e a fidelidade — A fidelidade de Deus a Suas
promessas frequentemente se expressa com estes termos (Sl_25:10;
Sl_57:3). Como atributos dos homens, expressam a integridade em
sentido amplo (Pv_16:6; Pv_20:28).
ata-as … escreve-as … coração — Os motivos devem ter adorno
exterior e governo interno.
4. graça — amabilidade (Pv_22:11; Sl_45:2); unida a esta,
boa compreensão — discernimento, que assegura o êxito; ou bom
nome, boa fama,
aos olhos de Deus e dos homens — aprovada por Deus assim
como pelo homem.
5. Confia … coração — este é o centro e medula da verdadeira
sabedoria (Pv_22:19; Pv_28:25). O dever positivo tem sua negação
correspondente na admoestação contra a suficiência própria.
6. caminhos — (Sl_1:1).
Reconhece-o — buscando Sua sábia ajuda (Pv_16:3; Sl_37:5;
Jr_9:23-24).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 15
endireitará — lit., esclarecerá (cf. Heb_12:13).
7. (Cf. Pv_27:2; Rm_12:16.)
teme … mal — observando reverentemente a Sua lei.
8. será — isso será; esta conduta.
medicina — literalmente.
o teu umbigo (RC) — a todos os órgãos da alimentação.
ossos — esqueleto, a armadura do corpo; a piedade verdadeira
promove a saúde física.
9, 10. (Cf. Pv_11:25; Êx_23:19; Dt_18:4; Is_32:8; 2Co_9:13).
11, 12. O verdadeiro propósito das aflições; não contradizem a
asseveração da bem-aventurança dos piedosos (Jó_5:17; Heb_12:5-6).
A quem quer — ou recebe, o que envolve a reconciliação referente
à ofensa que motivou o castigo.
13. acha — lit., alcança, procura com esforço.
obtém — lit., saca, como metais escavados.
14, 15. Completam a figura do v. 13.
mercadoria (RC) — a adquirido pelo comércio.
o ouro mais fino — oro extraído sólido como a semente.
16, 17. A sabedoria personificada como quem traz as melhores
bênçãos (cf. Mt_6:33; 1Tm_4:8).
Os seus caminhos — aqueles pelos quais ela nos dirige.
18. A sabedoria alegorizada como uma
árvore de vida — (Gn_2:9; Gn_3:22), cujo fruto conserva a vida,
dá tudo o que torna venturosa a vida.
19, 20. O lugar da sabedoria na economia da criação e a
providência, recomenda-a aos homens, os quais, em proporção a seus
poderes finitos, podem possuir este inapreciável atributo, e são assim
animados pelo exemplo divino a tratar de fazer uso dela também.
21. estas coisas — as instruções dos versículos antecedentes.
a verdadeira sabedoria — (Pv_2:7,) e
não se apartem ... dos teus olhos — isto é, estas palavras de
instrução.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 16
22-24. assinalam o valor que têm “estas coisas” para a felicidade e
o adorno, para a direção e sustento nos perigos, tão quando um vela
como quando dorme.
25. pavor repentino — o que o causa (Pv_1:27), qualquer mal
inesperado (Sl_46:3; Sl_91:12; 1Pe_3:14).
assolação (RC)— Desolação (Pv_1:27).
26. A razão: os tais são objetos do favor de Deus.
a tua segurança — lit., em tua confiança, na fonte de tua fortaleza
(cf. Na_3:9; a mesma construção hebraica).
27, 28. O cumprimento de todas as obrigações tanto de justiça como
de caridade (cf. Tg_2:15-16).
29, 30. Não abuse da confiança, e evite os litígios.
31. homem violento — homem de violência, ímpio. O destino dos
malfeitores impunes adverte o perigo de tal sorte (Sl_37:1-2, Sl_37:35-
36).
32-35. As razões da advertência:
perverso — (Pv_2:15).
retos … intimidade — em sua comunhão com Deus (Am_3:7).
33. maldição … perverso — permanece com eles, e será
manifesta.
34. A retribuição dos pecadores, como no Sl_18:26.
35. herdarão — como uma porção.
ignomínia — o oposto a honra.
tomam sobre si — a levarão, como diploma, certificado de sua
desonra.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Provérbios 4

Rogando encarecidamente a atenção a seus ensinos, o escritor


recomenda a sabedoria, citando e sublinhando os conselhos de seu pai e
mestre. A isto acrescenta uma precaução contra as artimanhas dos
ímpios, e uma série de exortações à docilidade, integridade, e retidão.

1, 2. (Cf. Pv_1:8).
boa doutrina — a matéria do ensino (Pv_1:5), tal como a que ele
tinha recebido (Lm_3:1).
3. filho em companhia de meu pai — enfático, a estima especial
de um filho, e chamado delicado, ou tenro, como objeto de especial
cuidado (1Cr_22:7; 1Cr_29:1); ideia ampliada com o termo
único em estima (RC) — como um filho único (Gn_22:2), embora
tivesse irmãos (1Cr_3:5).
4. ele me ensinava — me encaminhava.
Retenha — que receba, e que retenha.
guarda … vive — observa-os, para que vivas (Pv_7:2).
adquire — como uma possessão que nunca se renuncia.
nem te apartes (RC) — de obedecer minha palavra.
6. Não só aceita a sabedoria, mas também a ama, que te guardará do
mal, guardará o mal de ti.
7. (Cf. Jó_28:28).
com tudo o que possuis — ou possessão que se adquire.
8. Conforme a estime, ela te fará honrar.
se a abraçares — com afeto carinhoso.
9. diadema — tal como a grinalda do conquistador.
entregará — (Cf. Gn_14:20). A alusão ao escudo, contida no
hebraico, sugere proteção tanto quanto honra (cf. o v. 6).
10. (Cf. Pv_2:1; Pv_3:2).
11, 12. caminho da sabedoria — aquele que ela prescreve.
te fiz andar — (Sl_107:7).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 18
não se embaraçarão — terão amplo espaço (Sl_18:36).
13. (Cf. Pv_3:18). A figura de reter com as mãos a instrução sugere
o esforço sincero.
14. (Cf. Sl_1:1). Evita toda tentação de principiar o mal.
16, 17. A razão disso se acha no caráter dos pecadores, cujo zelo no
fazer o mal se descreve com força (Pv_6:4; Sl_36:5). Eles vivem do
flagrante vício (Pv_1:13).
comem o pão — Alguns preferem traduzir: “Seu pão é maldade, e
sua bebida é violência” (Cf. Jó_15:16; Jó_34:7).
18, 19. Como a luz do dia aumenta do crepúsculo até o esplendor
do meio-dia, assim cresce em pureza a vida dos justos; mas a dos ímpios
é como a densa escuridão, em que a pessoa não sabe em que tropeça.
20-22. (Cf. os vv. 10, 13; Pv__3:8, etc.).
22. são vida — a conservam dos vícios que destroem a saúde.
23. Sobre tudo o que se deve guardar — diligentemente: mais que
de qualquer outra custódia (cf. Ez_38:7).
dele procedem — Porque o coração é o depósito de toda sabedoria
e a fonte de tudo o que afeta a vida e o caráter (Mt_12:35; Mt_15:19).
24. falsidade da boca — isto é, uma boca, ou palavras de mau
humor. O vocábulo hebraico é distinto do dos Pv_2:15; Pv_3:32.
a perversidade dos lábios — isto é, palavras queixosas.
25. Persiga você um fim sincero e direito, evitando as tentações.
26. Pondera — Considere bem; o caminho prudente resulta de uma
sábia previsão.
27. (Cf. o v. 25). Evite todo desencaminhamento na direção do mal
(Dt_2:27; Dt_17:11). Uma vida de integridade requer a atenção com o
coração, a fala, os olhos e a conduta.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 19
Provérbios 5

Uma advertência contra as artes sedutoras de mulheres más,


particularizada pela consideração das vantagens da castidade, e do
miserável fim dos iníquos.
É frequente o uso de sabedoria e inteligência, ou entendimento, na
mesma relação (Pv_2:2; Pv_3:7); aquela indica o uso de meios sábios
para fins sábios, e esta o exercício da devida discriminação na seleção
dos mesmos.

2. conserves — pondo-o por obra.


3. (Cf. Pv_2:16). Seus carinhos são enganosos.
4. o fim dela — lit., seu futuro, no sentido da recompensa, pelo que
resulta (cf. o Sl_37:37; e o Sl_73:17). Sua natureza se manifesta pelo uso
de figuras opostas às do v. 3. Notório é que os sofrimentos físicos e
morais dos alucinados licenciosos são terríveis.
5. Os seus pés, etc. — Seu modo de vida culmina na morte.
6. seus caminhos, etc. — Alguns preferem traduzir: “Para que
considere o caminho da vida …” Mas talvez o melhor sentido é: “Os
seus caminhos são vários, de modo que evitam seu conhecimento do
verdadeira caráter da vida, e assim a verdadeira felicidade.”
8, 9. Que evite a mais mínima tentação.
a tua honra — seja o que a constitua, seja a força física (Pv_3:13),
ou a riqueza.
os teus anos — diminuindo-os pela dissolução.
a cruéis — Os sensuais facilmente se tornam cruéis.
10. teu trabalho — os frutos de teus esforços fatigantes (Sl_127:2).
Pode haver uma referência à escravidão, que se comutava pela pena de
morte que cabia ao adúltero (Dt_22:22).
11. no fim de tua vida — quer dizer, em todo caso, como
recompensa (cf. o v. 4).
gemas — de dor.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 20
carne … corpo — toda a pessoa sob doença incurável.
12-14. O arruinado pecador em vão lamenta seu descuido da
admoestação e sua triste sorte de apresentar um espetáculo ignominioso.
14. mal — por aflição, como em Gn_19:20; Gn_49:15.
15-20. Com linguagem figurada, em que água, cisterna, e
manancial [Pv_5:15, Pv_5:18] representam a esposa, e rios de água, os
filhos, exorta-se os homens à constância e à satisfação dos lícitas alegrias
conjugais.
16. por fora as tuas fontes — fontes (plural) denota, antes, o
produto, ou águas, de uma fonte; lit., o que emana, e corresponde a rios
de águas.
17. para ti somente — os filhos da rameira não têm pai conhecido.
18. a mulher da tua mocidade — casada na juventude.
19. corça … gazela — outras figuras que representam a esposa,
tiradas da bem conhecida beleza destes animais.
seios — (Cf. Ct_1:13; Ez_23:3, Ez_23:8.)
embriaga-te — lit., embriagado, isto é, plenamente satisfeito.
21. A razão; o olho de Deus está sobre ti
22, 23. e Ele fará com que o pecado imponha seu próprio castigo.
23. falta de disciplina — por havê-la rejeitado (cf. Jó_13:18;
Heb_11:24).
andará errado — lit., estará ébrio. A palavra embriaga-te do v. 19
aqui significa plenitude de castigo.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 21
Provérbios 6

Depois das advertências contra os que pedem fiança e a preguiça


(vv. 6-8), apresenta o caráter e destino dos maus em geral, e o escritor
(20-35) reitera as admoestações contra a incontinência, assinalando os
certos e terríveis resultados.

1, 2. se — prótase dupla (v. 1), como a apódose (v. 2).


ficaste — tens garantido.
te empenhaste — fez o trato (cf. Jó_17:3).
ao estranho — isto é, por um amigo (cf. Pv_11:15; e Pv_17:18).
3. nas mãos — no poder de.
humilha-te (RC) — para lhe suplicar.
importuna — roga ao amigo que faça outro acerto para sua dívida,
que consiga outra fiança.
4, 5. O perigo requer pressa.
6-8. O descuidado preguiçoso usualmente necessita fiança. Os tais
são intimados à laboriosidade com o exemplo da formiga.
9, 10. Sua conduta descrita geograficamente;
11. e os frutos de sua dissolução e indolência se destacam.
como um ladrão — lit., como quem vai e vem, isto é, um
bandoleiro.
homem armado — preparado para destruir.
12. homem de Belial — lit., um homem de Belial, ou homem inútil
para o bem, já depravado ou ímpio (cf. 1Sm_25:25; 1Sm_30:22). A
indolência e o vício são aliados. Embora seja ocioso de atos, é (anda)
ativo e habitualmente de falar mal (Pv_4:24).
13, 14. Se por temor de ser descoberto, não fala, faz gestos para
obter suas intrigas. Tais gestos são ainda feitos no Oriente.
maquina o mal — lit., construindo, como artesão; inventando mal.
contendas — como em Pv_2:14. A artimanha é o talento dos fracos
e preguiçosos.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 22
15. A precipitação agrava o mal (cf. v. 11; Pv_29:1).
destruição — lit., um peso esmagador.
quebrantado — feito pedaços qual copo de oleiro; completamente
destruído (Sl_2:9).
16-19. seis … e sete — Modo de falar para captar a atenção
(Pv_30:15, 18; Jó_5:19).
17. olhos altivos — lit., olhos de altivez (Sl_131:1). Olhos, língua,
etc. por pessoas.
19. profere mentiras — lit., respira mentiras; habitualmente minta
(Sl_27:12; At_9:1).
20-23. Cf. Pv_1:8; Pv_3:3., etc.
21. ata-os — ou seja, o mandamento e o ensino. Isso evita a entrada
do mal, dando bons pensamentos, até nos sonhos (Pv_3:21-23; Sl_19:9;
2Pe_1:19).
23. repreensões — (Pv_1:23) convencimento do erro produzido
pela instrução.
24. Um exemplo do benefício dela. Apreciando a verdade, os
homens não se afetam pela lisonja.
25. Uma das precauções desta instrução: evitar a beleza sedutora.
suas olhadelas — antes, pálpebras: ao pintá-las, as mulheres
aumentam sua beleza.
26. As palavras supridas dão melhor sentido do que a antiga versão:
“o preço de uma prostituta é um pedaço de pão.”
a adúltera — ideia sustentada pelo contexto paralelo. Sobre os
resultados similares deste pecado, cf. Pv_5:9-12.
anda à caça — aludindo às armadilhas da prostituta (cf. Pv_7:6-8).
vida preciosa — a vida, de mais valor que todas as coisas.
27-29. A culpabilidade e o perigo completamente óbvios.
30, 31. Tal ladrão inspira lástima, mas castigado severamente.
sete vezes tanto — (cf. Êx_22:1-4), por muitos; ampla satisfação
(cf. Gn_4:24; Mt_18:21), embora lhe tirem todos os seus bens.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 23
32. falto de entendimento (RC) — ou de coração; carece de todo
principio moral e de prudência.
33. infâmia — além do dor física (Pv_3:35).
opróbrio — não haverá restituição que satisfaça;
34, 35. nem condições de reconciliação que se aceitem.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 24
Provérbios 7

Continua-se o mesmo tema, traçando as artes da mulher estranha,


como uma advertência aos incautos.

Vv. 1-4. Chamadas similares (Pv_3:1-3; Pv_4:10, etc.)


2. menina dos teus olhos — pupila do olho, um depósito
custodiado (Pv_4:23) de especial valor.
3. Ata-os aos dedos — como inscrições gravadas em anéis.
5. A finalidade do ensino (cf. Pv_2:16; Pv_6:24).
6. Porque — ou visto que, dando um exemplo para ilustrar a
advertência, a qual, seja narração ou parábola, é em cada caso pertinente.
olhando — a propósito e com empenho (Juí_5:28).
7. simples — como no Pv_1:4.
carecente de juízo — (Cf. Pv_6:32).
8. esquina da mulher — onde ela costumava encontrar-se.
seguia o caminho, etc. — lit., caminhava pomposamente,
mostrando talvez a confiança que tinha em si mesma.
9. A hora, ao crepúsculo, antes de escurecer.
trevas — lit., a menina, ou pupila da noite: a meia-noite.
10. vestes — o da prostituta era, às vezes, peculiar.
11, 12. turbulenta (TB) — ruidosa, atos para chamar a atenção.
contenciosa (RC) — obstinada, insubmissa.
cujos pés, etc. — (Cf. 1Tm_5:13; Tt_2:5).
13-15. Os preparativos para uma festa não necessariamente
denotam profissões religiosas particulares. Aquele que oferecia uma
vítima retinha uma parte para uma festa (Lv_3:9, etc.). Esta festa
pretende ela havê-la preparado precisamente para este, a quem
cumprimenta com atrevimento como o buscado especialmente para
participar da mesma.
16, 17. o meu leito — ou canapé, adornada da maneira mais
custosa.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 25
leito — leito para dormir.
18-20. Não há temor de ser descoberto.
por volta da lua cheia —lit., uma lua cheia, isto é, uma quinzena.
21. Seduziu-o — persuadiu-o, levou-o a ceder.
lisonjas — (cf. o Pv_5:3).
o arrastou — contra seus escrúpulos.
22. num instante — em seguida, ligeiro, ou como ignorante do
perigo, ou incapaz de oferecer resistência.
23. até que — Já está preso (cf. Pv_6:26).
24. A admoestação por inferência é seguida,
26, 27. por um alegação por escrito mais geral dos males deste
vício. Até os mais fortes não podem resistir a mortal sedução da rameira.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Provérbios 8

Contrastadas com os carinhos sensuais estão as vantagens da


sabedoria divina, que publicamente convida os homens, oferece os
melhores princípios de vida, e os benefícios de mais valor resultam de
receber os Seus conselhos. Apresentam-se suas relações com o plano
divino, como em Pv_3:19, 20, embora mais extensamente, para
recomendar aos homens os benefícios da sabedoria, terminando com o
convencimento de que os que a acham encontram o favor de Deus, e os
que a rejeitam causam sua própria ruína. Muitos opinam que esta
passagem é uma descrição do Filho de Deus pelo título, Sabedoria, que
os judeus mais antigos usavam (e pelo qual Ele é chamado chama em
Lc_11:49), assim como Jo_1:1, etc., Ele é chamado pelo de Logos, a
Palavra (Verbo). Mas pode-se entender que se usa o termo aqui como a
personificação da sabedoria: porque, (1) Embora se diga que estava com
Deus, não se declara que seja Deus. (2) O uso dos atributos pessoais é
igualmente compatível com a personificação como com a descrição da
própria pessoa. (3) Os pronomes pessoais aqui usados concordam com o
gênero (feminino) de sabedoria constantemente, e nunca se mudam pelo
de alguma pessoa indicada, como ocorre no uso análogo de espírito, que
no grego é neutro, mas ao qual se aplica o pronome masculino
(Jo_16:14) quando se trata dos atos do Espírito Santo. (4) Tal
personificação está em consonância com o estilo deste livro (cf. Pv_1:20;
Pv_3:16, 17; Pv_4:8; Pv_6:20-22; Pv_9:1-4), enquanto que não há
alusões proféticas ou outras ao Salvador nem à nova dispensação se
acham entre as citações deste livro feitas no Novo Testamento. (5) Esta
interpretação nada tira da importância desta passagem, que continua
sendo um ensino inspirador das mais adornadas e também solenes e
impressionantes sobre o valor da sabedoria.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 27
1-4. contrasta-se a publicidade e universalidade da chamada da
sabedoria com a ocultação e intrigas dos ímpios (Pv_7:8, etc.).
5. prudência — lit., a sutileza, num sentido bom; a prudência.
simples — como em Pv_1:22, insensatos.
6. coisas excelentes — ou claras, manifestas.
coisas retas — palavras retas.
7. boca proclamará — lit., Meu paladar meditará, ou (como
faziam os orientais) murmurará; meus pensamentos expressos só a mim,
são verdade.
a impiedade — especialmente, a mentira, como oposta à verdade.
8. Em justiça (RC) — ou justas (Sl_9:8; Sl_11:7).
coisa torta, nem perversa — antes, torcida, ou contraditória (à
verdade), nem perversa.
9. retas — “São claras ao que entende,” facilmente vista pelos que
fazem uso da mente.
acham — porque buscaram.
10. não a prata — em preferência a ela, porque a frase paralela
indica comparação.
11. (cf. Pv_3:14, 15).
12. prudência —prudência, como no v. 5. A relação da sabedoria e
a prudência é a dos ditados da sã sabedoria e a aplicação dela.
de conhecimentos e de conselhos — “Conhecimento e prudência”;
a estratégia, maneiras discretas (Pv_1:4).
13. Tal é o efeito do temor de Deus: o ódio ao pecado protege a
pessoa contra o pecado.
boca perversa — a fala perversa (Pv_2:12; Pv_6:14).
14. Dá também os elementos de bom caráter no conselho.
a verdadeira sabedoria — traduza-se: “a sã sabedoria” (Pv_2:7).
eu sou, etc. — “Quanto a mim, o entendimento é minha fortaleza”;
a fonte dela (Ec_9:16); o bom juízo dá mais eficiência às ações;
15, 16. das que um governo sagazmente levado é um exemplo.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 28
17. de madrugada (RC) — quer dizer, com diligência; pode ser
que inclua a ideia de cedo na vida, de menino.
18. bens duráveis, etc. — duradouras; tais são as riquezas fontes
permanentes de felicidade em posses morais (cf. Pv_3:16).
19. (Cf. o v. 11; Pv_3:16).
20, 21. Os caminhos por onde a sabedoria guia, conduzem a uma
verdadeira prosperidade presente (Pv_23:5).
22-31. Na verdade, os atributos de Deus são uma parte dEle mesmo.
Entretanto, com a estrutura poética de toda esta passagem esta
recomendação da Sabedoria é inteiramente conforme. Em ordem de
tempo todos os seus atributos são tão coincidentes e eternos quanto Ele.
Mas a fim de expor a importância da sabedoria como criadora da
benevolência e do poder, é-lhe atribuído aqui uma precedência. Como
tem tal coisa nos assuntos divinos, deveria tê-la também nos negócios
humanos (cf. Pv_3:19).
22. possuía — ou criou; em qualquer sentido, está a ideia da
precedência.
no início — ou simplesmente, princípio, em oposição a me.
23. fui estabelecida — fui ordenado, ou instalado (Sl_2:6). Os
outros termos ampliam a ideia da antiguidade mais remota, e os vv. 24-
29 a ilustram com os detalhes da criação.
24. fui gerada (RC) — (Cf. o Sl_90:2).
fontes — que transbordam de águas.
25. firmados — afundados até ficar cimentados.
outeiros — uma referência a “desertos”, como oposto a mundo
(habitável).
26. princípio — ou soma, todas as partículas juntas.
27. traçava um círculo (TB) — marcou um círculo, segundo a
ideia popular de que a terra era circular, rodeada por abismos sobre os
que os visíveis céus côncavos descansavam.
firmava — os afirmou de modo de sustentar as águas de cima e
represar as que estavam debaixo do firmamento (Gn_1:7-11; Jó_26:8).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 29
fixava — melhor, a ribeira, isto é, do mar.
fundamentos — figurativamente denota a estrutura sólida
(Jó_38:4; Sl_24:2).
30, 31. era seu arquiteto — “Eu estava com ele como perito
operário”; como objeto de especial consideração agradável. O oferecer a
sabedoria aos homens se representa como o achado de uma residência
deleitosa e como agradando a Deus.
32-36. Tal atributo insta com os homens para buscá-lo.
34. velando … esperando — de modo que vigie … guarde:
prestando a mais assídua atenção.
35. (Cf. Lc_13:23-24.)
36. peca contra mim — Ao contrário de “aquele que me achar,”
aquele que deixa de me encontrar; pecar significa errar o alvo, como
aquele que não dá acerta caminho.
amam a morte — Agem como se a amassem (cf. Pv_17:9).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 30
Provérbios 9

Continua a recomendação da sabedoria, sob a figura de um hóspede


dadivoso, e seus benefícios como a de uma festa (Lc_14:16-20). A
descrição dos convidados segue-se pela dos que rejeitam o bom
conselho; e com os convites da sabedoria se contrasta a sedução da
mulher má.

1. casa — (cf. Pv_8:34).


sete colunas — o número sete por muitos, ou muitos (Pv_6:31).
2. misturou — para enriquecer o sabor (Pv_23:30; Is_5:22).
3. deu ordens às suas criadas — para convidar (cf. o Sl_68:11;
Is_40:9).
desde as alturas — lugares conspícuos.
4-6. (Cf. Pv_1:4; Pv_6:32). A sabedoria não só oferece os
princípios bons, mas também proíbe os maus.
7, 8. afronta — ignomínia (Pv_3:35).
mancha (RC) — poluição sobre o caráter. Ambos os termos
denotam o mau feito a alguém cuja fidelidade assegura o amor do sábio.
9. Quanto mais aprende o sábio, tanto mais ama a sabedoria.
10. (Cf. Pv_1:7).
do Santo — li., “santos”, pessoas ou coisas, ou ambos. Este
conhecimento dá a reta percepção.
11. (Cf. Pv_3:16-18; Pv_4:10).
12. Preocupa-se principalmente por sua própria conduta.
13. mulher louca (RC) — lit., mulher de loucura, exemplos da
qual se descrevem a seguir.
alvoroçadora (RC) — (Cf. Pv_7:11).
ignorante — lit., não sabe o que (é o reto e próprio).
14. numa cadeira (RC) — lit., num trono, coloca-se num lugar
conspícuo, imprudentemente e com arrogância.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 31
15, 16. para seduzir os íntegros e aos que são como os aludidos no
v. 4 como
simples — os facilmente transtornados (Pv_1:4) mas desejosos de
fazer o reto.
17. Linguagem proverbial, que significa que os prazeres proibidos
são doces e agradáveis, como frutas perigosas.
18. (Cf. Pv_2:18, 19; Pv_7:27).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 32
Provérbios 10

Aqui principia a segunda parte do livro (Pv_10:1-22:16), a qual,


como a terceira (Pv_22:17 – 25:28), contém séries de provérbios cujo
sentido abrange um ou dois versículos e que por não ter inter-relação
lógica, não permitem análise. Os paralelismos de Provérbios 10 a 15 são
principalmente antitéticos; os de Provérbios 16:1 – 22:16, sintéticos. As
evidências de arte na estrutura são muito claras, e indicam,
provavelmente o propósito de facilitar a memorização.

1. sábio … insensato — conforme sigam ou rejeitem os preceitos


da sabedoria.
2. da impiedade — Os lucros injustamente obtidos não dão
verdadeira felicidade (Pv_4:17; Mt_6:19).
justiça — retidão, especialmente a beneficência (Sl_112:9).
morte — o maior dos males.
3. (Cf. Sl_37:16-20).
rechaça — leia-se, antes, “Repelirá os ávidos desejos dos ímpios.”
4. enriquece (TB) — (cf. o v. 22).
remissa — lit., enganosa, que falha em seu propósito (Os_7:16).
5. dorme — de ocioso, não de cansado.
envergonha — (Cf. Pv_14:35; Pv_17:2).
filho — lit., filho, como em Pv_1:8, 10, etc.
6. bênçãos — lit., louvores.
violência — Leia-se, “Violência lhe cobrirá a boca…,” encobre as
intrigas para ser efetuadas oportunamente (Sl_5:9; Sl_10:7; Rm_3:14),
que portanto não recebe bênçãos sobre a cabeça (cf. o v. 11).
7. abençoada — lit., “Será para bênção”, ou louvor.
cai em podridão — lit., será comido de vermes, isto é, inútil e
repugnante.
8. O sábio, etc. — (cf. Pv_9:8, 9, 16), contrariamente a
o insensato de lábios — ou, de linguagem vil.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 33
vem a arruinar-se — cairá de cabeça, subitamente.
9. perverte os seus caminhos — age engañosamente.
conhecido — lit., conhecido, e assim castigado.
10. Dois vícios contrastados: a hipocrisia, ou a insinuação de mal
contra alguém (Pv_6:13; Sl_35:19), e a temeridade de palavra. Em cada
caso os resultados caem sobre o malfeitor.
11. manancial — fonte de bem para si e para outros (Jo_7:37-38).
Sobre a última cláusula cf. o v. 6.
12. contendas — litígios.
cobre — perdoando e tolerando.
13. falto de senso — (Cf. Pv_6:32; Pv_7:7).
14. entesouram o conhecimento — isto é, guardam como tesouros
para o bom uso.
a boca ... ruína — ou, quanto à boca, etc., a destruição está perto;
eles se expõem ao mal por seu falatório.
15. Os que confiam na “incerteza das riquezas” (1Tm_6:17), assim
como os miseráveis, não temendo a Deus, caem em perigos.
16. Só o trabalho do justo tem verdadeiro êxito, enquanto que os
lucros dos maus tentam e seduzem ao pecado.
17. guarda — observar (Pv_3:18; Pv_4:22).
a repreensão — que o tivesse dirigido para bem.
19. O muito falar envolve o risco do pecado; daí a prudência de
refrear a língua (Sl_39:1; Tg_1:26).
20. A linguagem devida é o fruto do coração bom, mas os maus
demonstram que o seu é inútil.
22. enriquece — é enfático. As riquezas que são de Deus carecem
da tristeza das mal adquiridas (cf. Ec_2:21-23; 1Tm_6:9-10, 1Tm_6:17).
23. O pecado é o prazer dos ímpios; a sabedoria, o dos bons.
24. isso — isso mesmo. Os maus recolhem o mal temido; os bons
recebem o bem desejado.
25. (Cf. Sl_1:4; Sl_37:9-10, Sl_37:36).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 34
Justo ... fundamento — lit., o justo é alicerce eterno (Mt_7:24-
25).
26. vinagre, etc. — As três coisas causam vexame.
27. (Cf. Pv_9:11; Sl_55:23).
28. alegria — na confiança de receber o esperado.
Esperança ... perecerá — na desilusão.
29. O caminho, etc. — isto é, a providência de Deus sustenta os
justos, e derruba os ímpios (Os_14:9).
30. (Cf. Pv_12:3; Sl_37:9-11; Sl_102:28).
terra — ou, “terra da promessa”.
31. produz — lit., germina como uma planta.
perversidade — (Cf. Pv_2:12, 14).
desarraigada — como uma planta improdutiva.
32. sabem — consideram e provêm (Sl_1:6).
perversidades (RC) — Todos os tipos de dolo e de mau humor. A
palavra é plural.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Provérbios 11

1. Os hebreus usavam pedras como pesos.


peso justo — medida justa.
2. A soberba é ingovernável; os humildes crescem em sabedoria (cf.
Pv_16:18; Pv_18:12).
3. os guia — guia, como o pastor as ovelhas (Pv_6:37; Sl_78:52).
falsidade — natureza má.
destrói — com violência.
4. Cf. Pv_10:2).
dia da ira — de Deus.
5. endireita — fará claro o caminho; os caminhos maus não são
claros (Pv_13:17).
6. os livrará — do mal, que os maus sofrem por causa de seu mal
proceder (Pv_5:22; Sl_9:16).
7. morre a sua esperança — porque a morte põe fim a todos os
seus planos (Lc_16:25).
expectação da iniquidade — antes, da maldade, seja da riqueza,
ou do prazer (cf. Is_40:29, hebraico). Até a mesma esperança de lucros
morre com o homem.
8. da angústia — que talvez prepararam para ele os iníquos, ou que
lhe vêm por herança (v. 6).
9. (Cf. Sl_35:16; Dn_11:32). O justo se salva por seu superior
discernimento.
10, 11. cidade … cidade — O v. 11 pode ser a razão do v. 10.
Ambos juntos expõem o relativo valor moral dos bons e dos maus.
Pela bênção — envolve a benevolência ativa.
12. despreza — antes, injuria, ato que contrasta com o prudente
silêncio dos justos.
se cala — como se não ouvisse, nem caso fizesse.
13. O fofoqueiro como um vendedor ambulante em escândalos, cuja
propensão a falar o leva a trair a confiança.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 36
14. sábia direção — a arte do bom governo (Pv_1:5).
conselheiros — lit., alguém dando conselho, o particípio singular
em sentido coletivo.
15. (Cf. Pv_6:1).
fiador — no hebraico, os que tocam mãos, os fiadores; os atores
dito pelos atos ou pela ação, a que se pode aborrecer.
16. alcança — retém (em presente), ou lit., lança mão dela como
um apoio. A honra para uma fraca mulher de tanto valor como as
riquezas aos homens.
17. bondoso — benigno para com outros: oposto-o a cruel. Os tais
se beneficiam fazendo benefícios a outros (Pv_24:5), enquanto que os
cruéis fazem mal a si mesmos e a outros.
a si mesmo — ou seja, seu corpo, por sua mesquinharia (Cl_2:23).
18. salário ilusório — ou pagamento falso, que deixa de contentar,
ou que voa (Pv_10:2; Pv_23:5).
recompensa verdadeira — ou lucro que se obtém de comercializar
(Os_10:12; Gl_6:8-9).
19. A inferência do v. 18. (cf. os vv. 5, 6; Pv_10:16).
20. (Cf. o v. 5).
perversos — como em Pv_2:15; o oposto à simplicidade e pureza
dos retos (perfeitos).
de coração — ou de conduta.
21. O poder combinado dos maus não pode livrá-los do justo
castigo, enquanto que os filhos dos justos, sem ajuda, acham libertação
em razão de suas relações piedosas (Sl_37:25-26).
22. As jóias com frequência se levavam pendentes do nariz
(Gn_24:47; Is_3:21). Um porco assim adornado repugna menos que uma
mulher bela e indiscreta.
23. (Cf. Pv_10:28). A ira é a de Deus.
24-31. Esta passagem completa é um comentário sobre o v. 23. A
liberalidade (v. 24) assim, pela bênção de Deus, obtém um incremento,
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 37
enquanto que a mesquinharia, em vez do lucro esperado, procura a
pobreza.
25. prosperará — (Pv_28:25; Dt_32:15; Lc_6:38).
dá a beber … dessedentado — antes, regar … regado, figura
comum da bênção.
26. Outro exemplo da verdade do v. 23: o avaro perde o bom nome,
mesmo quando economize o grão.
que o vende (TB) — a bom preço.
27. bem … mal — isto é, de outros; implicitamente, com êxito.
sobrevirá — o mal que busca contra outro, lhe sobrevirá.
28. (Cf. Pv_10:15; Sl_49:6; 1Tm_6:17).
justos … folhagem — (Sl_1:3; Jr_17:8).
29. perturba — como Pv_15:27 explica, por sua avidez de lucro
(cf. o v. 17).
herda o vento — embora tenha êxito, seus lucros não lhe são de
verdadeiro valor. De modo que o insensato, que age assim, ou se verá
empobrecido, ou entesoura para o proveito de outros.
30. árvore de vida — Das obras do justo resultam bênçãos para
outros (Pv_3:18).
ganha almas — fazer-lhes bem, em contraste a Pv_6:25; Ez_13:18
(cf. Lc_5:10).
31. Eis que (RC) — ou, eis aqui, chamando assim a atenção às
ilustrações (cf. o v. 23), o sentimento do qual fica confirmado aqui
agora, sem excluir os futuros castigos e recompensas.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 38
Provérbios 12

1. ama a disciplina — como o fruto da correção, ou instrução


(Pv_1:2).
aborrece a repreensão — insensato, sem levar em conta seu
próprio bem-estar (Sl_49:10; Sl_73:22).
3. A iniquidade não pode dar permanentemente prosperidade.
raiz … removida — firme como uma árvore vigorosa (Sl_1:3;
Sl_15:5; Jr_17:8).
4. mulher virtuosa — no sentido amplo de estar bem disposta a
todos os deveres morais (Pv_31:10).
a que procede vergonhosamente — lit., a que envergonha, isto é,
por seu má conduta.
podridão — um mal incurável.
5. pensamentos — ou propósitos.
retos — decisões verdadeiras.
conselhos — (Cf. Pv_11:14).
engano — o oposto a verdade e honra.
6. as palavras — ou os desígnios expressos dos ímpios, os que são
propósitos ímpios.
a boca — as palavras dos retos, que libertam, e não enredam aos
homens.
7. Tal conduta, tal resultado correspondente: a ruína dos ímpios, e o
bem-estar do justo e de sua família.
8. desprezado — ou menosprezado, pouco ou nenhum renome
(1Sm_18:23; Is_3:5).
9. faz o seu trabalho — denota que tem meios de vida honesta.
o vanglorioso — um orgulhoso.
10. atenta — lit., conhece (Sl_1:6).
estranhas … cruéis (TB) — como atos de misericórdia prestados
a contragosto ao necessitado. O justo trata melhor a um animal do que o
ímpio a um homem.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 39
11. O destino do ocioso é o resultado da indolência e a falta de
princípios (Pv_6:32; Pv_7:7).
12. deseja, etc. — a presa agarrada na rede, ou, ama as artes sutis
do engano.
raiz … fruto — seus próprios recursos lhes abastecem; ou pode-se
traduzir: “O (Deus) dá, ou põe (Ez_17:22) a raiz do justo,” e portanto
está firme; ou, impessoalmente: “Quanto à raiz … está firme”
(Pv_17:19).
13, 14. Amplia-se o sentimento. Enquanto que os maus, mentirosos,
aduladores, etc., caem por suas próprias palavras, os justos permanecem
ilesos. Sua boa conduta lhes granjeia amigos, e Deus os recompensa.
15. O … insensato — crê-se todo suficiente (cf. o v. 1; Pv_1:32;
Pv_10:17; Tg_3:17).
16. cordato — o prudente é lento para denunciar a seus injuriadores
(Tg_1:19).
18. cuja tagarelice é como, etc. — ligeiro, ou indiscretamente
(Sl_106:33), como o irado que responde com invectivas e provocações.
língua … medicina — com linguagem branda e calmante.
19. As palavras verazes são consequentes, e suportam toda prova,
mas as mentiras logo vêm à luz.
20. maquinam mal — (Pv_3:29). Projetam um plano enganoso,
que com todos os seus males e perigos para eles e para outros, é
contrário à felicidade dos pacificadores (Cf. Mt_5:9; Rm_12:18).
21. Nenhum agravo — (como no Sl_91:10), sob as sábias
limitações de Deus (Rm_8:28)
o mal — a penitenciária, castigo.
22. os que agem fielmente — de acordo com as promessas (Cf.
Jo_3:21).
23. oculta — por sua modéstia (Pv_10:14; Pv_11:13).
proclama — assim como seus lábios expressam os seus
pensamentos (cf. Ec_10:3).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 40
24. remissa — como negligentes, chamados assim por não cumprir
as suas promessas.
trabalhos forçados — Não em pagamento de impostos, mas com o
trabalho imposto como dependente.
25. boa palavra — uma de consolo.
26. serve de guia — lhe é guia, ou, tem mais êxito, enquanto que a
má fracassa; a capacidade dos justos para socorrer a outros, contrasta-se
com a ruína aonde o caminho dos maus os leva.
27. (Cf. o v. 24).
não assará — Não aproveita suas oportunidades; caça, mas não
come.
o bem precioso — ou, a riqueza de um homem de honra é o ser
diligente, ou a diligência.
precioso — lit., honra (Ec_10:1).
28. (Cf. o Pv_8:8. 20, etc.). Um sentimento reiterado; primeiro
afirmativa, logo negativamente.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 41
Provérbios 13

1. (Cf. Pv_6:1-5; Pv_10:1, 17).


2. comerá — isto é, obterá (Pv_12:14).
prevaricadores (RC) — cf. Pv_2:22.
violência — ou, “dano” para eles mesmos.
3. O que guarda a boca … alma — Porque a linguagem má
provoca a violência e põe em perigo a vida.
o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína — Sobre a
última cláusula, cf. Pv_10:14.
4. (Cf. Pv_12:11, 27).
5. perverso ... vergonha — (Cf. Pv_19:26), pela calúnia,
aborrecível aos justos.
6. Um sentimento que ocorre frequentemente de que a piedade
beneficia, e o pecado danifica.
7. De modos vários os homens dissimulam para granjear-se honra
ou riquezas.
8. As riquezas poupam a alguns o castigo, enquanto que outros
sofrem porque não querem receber a repreensão da indolência, que os
faz e os conserva pobres.
9. luz … lâmpada — a prosperidade; aquela, a maior, e
brilha — ou continua, enquanto que esta, no melhor dos casos
pequena, logo se apaga.
10. A obstinação que acompanha a arrogância, produz contendas, as
quais os avisados, mostrando assim a modéstia, evitam.
11. Os bens que facilmente se ganham — resultantes de coisas
vãs ou inúteis para o público (como o jogo ou vícios similares).
à força do trabalho — laboriosamente, pouco a pouco.
12. árvore de vida — o que dá a felicidade.
13. a palavra — de conselho, ou de instrução (cf. Pv_10:27;
Pv_11:31).
14. (Cf. Pv_10:11).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 42
fonte — ou origem da vida.
para que se evitem — (cf. Pv_1:2-4). ou, “para partir,” etc., e
então dê vida.
15. A devida percepção e ação asseguram a boa vontade, enquanto
que os caminhos maus são difíceis e penosos. Os ímpios desamparados
de Deus, acham no pecar o castigo do pecado.
intransitável — áspero (cf. o hebraico, Dt_21:4; Jr_5:15).
16. com conhecimento — com previsão.
loucura — por falta de precaução.
17. O mau — ou infiel.
mensageiro se precipita no mal — ou por, equívoco, por causa de
sua maldade, e assim fracassa seu encargo. Em contraste está o caráter
do fiel, cuja fidelidade beneficia a outros.
18. (Cf. Pv_10:17; Pv_12:1.)
19. O sacrifício, que os néscios se negam a suportar, é essencial
para o êxito.
20. contrastam-se os benefícios da boa companhia e os males da
má.
21. (Cf. o Pv_11:31.)
serão galardoados — ou Ele (Deus) retribuirá o bem.
22. O homem de bem deixa herança, etc. — A fortuna dos justos
permanece na família, mas ordena Deus que os lucros dos pecadores
passem aos justos (cf. Pv_28:8; Sl_37:18, Sl_37:22, Sl_37:26, etc.).
23. Os pobres laboriosos prosperam mais que os que louca e
impiamente tratam, por fraude ou violência, de eximir-se do trabalho
legal.
24. O que retém a vara — aquele que deixa de corrigir a seu filho,
aborrece-o — ou age como se o aborrecesse (cf. Pv_3:12;
Pv_8:36).
cedo, o disciplina — com diligencia busca para ele toda disciplina
útil.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 43
25. A comparativa prosperidade temporária dos justos e dos ímpios
nota-se, antes, que o contentamento e o descontentamento.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 44
Provérbios 14

1. A mulher sábia — lit., as sabedorias (cf. Pv_9:1) das mulheres,


uma forma de dicção distributiva.
edifica a sua casa — aumenta a riqueza; que a insensata, com os
desarrumações, diminui.
2. retidão — é o fruto do temor de Deus, assim como a mentira e o
mau humor (Pv_2:15; Pv_3:32) são o resultado de desprezar a Sua lei.
3. vara da soberba (RC) — o castigo do orgulho, que evidenciam
com suas palavras. Os lábios dos sábios procuram o bem dos outros.
4. limpo — e assim vazio; assim “a limpeza dos dentes” denota
falta de alimento (Am_4:6). Os homens recebem o devido fruto de seus
atos (Gl_6:7).
5. testemunha verdadeira — Alguém comprovado como tal.
se desboca em (ou respira) mentiras — isto é, habitualmente
(Pv_6:19; cf. At_9:1). Ou, o sentido, é, que a veracidade habitual, ou a
falsidade será manifestada no testemunho.
6. O espírito humilde e dócil terá êxito em sua busca (Pv_8:9;
Jo_7:17; Tg_1:5-6).
7. Foge da companhia dos que não te podem ensinar.
8. As aparências enganam ao descuidado, mas o prudente discerne.
9. zombam — O pecado engana os néscios.
há boa vontade — a de Deus, em lugar do castigo do pecado.
10. Cada qual conhece melhor que outro suas próprias tristezas e
alegrias.
11. (Cf. o Pv_12:7.) O contraste totalmente é aumentado pelo de
casa e tenda, morada permanente e temporária.
12. o fim dele (RC) — ou recompensa, o que resulta (Pv_5:4).
caminhos de morte — que conduzem à morte.
13. O sentimento anterior se ilustra pelas desilusões da alegria
maléfica e abortiva.
14. se farta — receberá retribuição (Pv_1:31).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 45
homem de bem — estará satisfeito com o seu, ou afastado de si
mesmo; ou melhor, afastado de tal homem; não quer ter procedimentos
com “o compartimento de razão”.
15. O simples — É crédulo, não de amor, mas sim de descuido
(Pv_13:16).
16. (Cf. Pv_3:7; Pv_28:14.)
é arrogante (TB) — se comporta orgulhosamente e com afetação.
17. presto se ira — Cf. o oposto, no v. 29.
o homem de maus desígnios — isto é, o malfeitor deliberado é
mais aborrecível que o temerário.
18. herdam — como sua porção (cf. o Pv_3:35).
se coroam — lit., são rodeados dela, transbordarão de sabedoria.
19. Descreve a humilhação dos ímpios pelo castigo motivado por
seus pecados.
20. Este quadro da natureza humana, triste mas verídico, dá-se não
como uma aprovação, mas sim só como um fato.
21. Tal menosprezo pecaminoso do pobre é contrastado com a
virtuosa compaixão do bom.
22. Como de costume, a interrogação negativa fortalece a
afirmação.
amor e fidelidade — as de Deus (Sl_57:3; Sl_61:7).
23. trabalho — penosa diligencia.
meras palavras — promessas e planos ociosos e vãos.
24. (Cf. Pv_3:16.)
estultícia, etc. — continua sendo insensatez, ou a produz; não tem
benefício.
25. almas — a vida com frequência depende da veracidade.
enganador — aquele que respira mentiras é doloso, não tem que
ser de confiança (v. 5).
26. As bênçãos da piedade alcançam até os filhos (Pv_13:22;
Pv_20:7; Êx_20:6).
27. (Cf. o Pv_13:14).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 46
temor do SENHOR — a lei dos sábios, é sabedoria (Sl_111:10).
28. A doutrina da verdadeira economia política.
29. tardio em irar-se (TB) — (Cf. o v. 17).
o de ânimo precipitado — (Cf. o v. 17).
exalta a loucura — a torna conspícua, como se se deleitasse em
honrá-lo.
30. sereno — são literal e figurativamente, contrariamente aos
efeitos conhecidos das paixões más sobre a saúde.
31. ultraja ao seu Criador (TB) — que é Deus do pobre, assim
como do rico (Pv_22:2; Jó_31:15; e especialmente 1Sm_2:8; Sl_113:7).
32. derribado — com violência (cf. Sl_35:5-6).
tem esperança — ou confia (Pv_10:2; Pv_11:4; Sl_2:12), o que dá
a certeza do socorro.
33. repousa — guardado em quietude para o serviço, enquanto que
os néscios publicam sua insensatez (Pv_12:23; Pv_13:16).
34. justiça — princípios e ações justos.
exalta — elogia com honra.
é o opróbrio —faz sobrevir-lhes a antipatia de outros (cf. Pv_13:6).
35. prudente — discreto, ou prudente.
causa vergonha (TB) — (Pv_10:5; 12:4) age vergonhosamente.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 47
Provérbios 15

1. desvia o furor — de quem quer que seja.


suscita — agita, como se atiça o fogo.
2. adorna o conhecimento — ou “fala sabedoria devidamente”;
encomenda a sabedoria, ou conhecimento, mediante o uso devido dela.
derrama — derrama copiosamente (Pv_12:23), e assim desgosta a
outros.
3. contemplando — (cf. Pv_5:21; Sl_66:7.)
4. língua serena — Heb. “cura de língua”; linguagem branda,
pacificador.
árvore de vida — (Cf. Pv_3:18; Pv_11:30).
a perversa — a linguagem áspera, maliciosa.
quebranta o espírito — (Cf. Is_65:14, hebraico), entristece, em
vez de suavizar.
5. (Cf. Pv_4:1; Pv_10:17; Pv_13:1-18).
o que atende à repreensão — age discretamente.
7. (Cf. Pv_10:20, 21.)
8, 9. O sacrifício … oração — são atos de adoração. Como Deus
contempla respectivamente o culto e atos de justiça dos justos e dos
ímpios, declaram-no o Sl_50:17; Is_1:11.
10. (Cf. Pv_10:17.)
o caminho (TB) — pelo qual Deus gostaria que fora (Pv_2:13;
Sl_119:1).
11. O inferno (RC) — (Sl_16:10).
perdição (RC) — o Abadom, lugar do destruidor. Todo mundo
invisível está à vista de Deus, quanto mais os corações dos homens.
12. (Cf. Pv_9:8).
para os sábios — para ser instruído.
13. aformoseia — beneficia.
espírito se abate — com o efeito conseguinte ao rosto, ou
semblante.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 48
14. (Cf. o Pv_10:21, 22.) O sábio aumenta em sabedoria, o néscio,
na insensatez (Pv_9:9).
15. A condição do coração determina a do exterior.
maus — o oposto à alegria da festa.
16. inquietação — envolve as angústias e perplexidades que
causam as riquezas dos mundanos (Pv_16:18; 1Tm_6:6).
17. um prato — ou ração (2Rs_25:30).
de hortaliças — e ela a mais singela.
e, com ele, o ódio — (Cf. Pv_10:12, 18).
18. (Cf. Pv_14:29; Pv_16:32).
19. As dificuldades dos preguiçosos resultam de sua falta de
energia; os justos encontram por caminho
um meio-fio — lit., uma autoestrada, por sua diligência
(1Sm_10:7; Sl_1:3).
20. (Cf. Pv_10:1.)
21. anda retamente — e nisso acha sua alegria (Pv_3:6;
Pv_10:23).
22. conselho — ou deliberação, o que denota prudente deferência
para as opiniões dos sábios e bons, em contraste com a temeridade.
23. O bom conselho dá bênção ao que o dá, assim como ao que o
recebe.
24. (Cf. Cl_3:2). Os sãos propósitos evitam o pecado e suas
consequências.
25. Os mais desventurados que desfrutam a ajuda de Deus têm bens
mais permanentes que os pecadores temerários (Pv_2:22; Pv_12:7).
a herança — sua propriedade dentro dela (Sl_78:54).
26. as palavras bondosas lhe são aprazíveis — isto é, aprazíveis a
Deus (Pv_8:8, 9).
27. (Cf. Pv_11:17). Sua avareza traz males a ele e aos seus.
o suborno — (Êx_23:8; Sl_15:5); não é ambicioso.
28. (Cf. o v. 14; Pv_10:11.) A precaução é o fruto da sabedoria; a
temeridade, o da insensatez.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 49
29. O SENHOR está longe — com o Seu amor e os Seus favores
(Sl_22:11; Sl_119:155).
30. A luz dos olhos (RC) — (Pv_13:9). O que dá luz alegra o
coração, tirando a incerteza quanto a nosso proceder, e assim a
boa fama — ou doutrina (Is_28:9; Is_53:1).
fortalecem — ou dão prosperidade (Pv_3:13-17; Pv_9:11). A
segunda frase ilustra a primeira.
31, 32. (Cf. Pv_10:17).
repreensão da vida (RC) — a que leva a vida.
no meio dos sábios — tido por um deles.
menospreza, etc. — age como se menosprezasse a sua alma, ou
vida (Pv_1:25; Pv_4:15).
33. A sabedoria instrui na verdadeira piedade.
a humildade precede — (Cf. Lc_24:26; 1Pe_1:11); o oposto (cf.
Pv_16:18).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 50
Provérbios 16

1. do homem — sua pertinência.


a resposta ... do SENHOR — a eficiente ordenação é de Deus; “O
homem propõe; mas Deus dispõe”.
2. puros — sem repreensão.
pesa — prova, julga, expressa os que são faltos (Pv_21:2;
Pv_24:12).
3. Confia em Deus para o êxito de seus projetos lícitos.
4. determinados fins — Deus fez cada coisa para que cumprisse a
finalidade dela, ou o propósito de Deus, segundo o plano de Deus; os
maus são para o dia mau (Sl_49:5; Jr_17:18); o pecado e o padecimento
se correspondem mutuamente; indissoluvelmente unidos.
5. (Cf. Pv_3:32.)
6. Pela misericórdia e pela verdade — as de Deus (Sl_85:10); Ele
efetua a propiciação pelo pecado, ou seja, cobre-o”; e os princípios da
verdadeira piedade inclinam os homens a apartar-se do mal; ou, a
misericórdia e verdade podem ser do homem, isso indicativo das
disposições benévolas que agem instrumentalmente para procurar o
perdão (Lv_16:33; Is_27:9).
7. Com a exceção das perseguições, é óbvio.
8. (Cf. o Pv_15:6, 16, 17).
9. (Cf. o v. 3).
dirige — estabelece.
10. A segunda oração depende da primeira, expressando a
importância da equidade nas decisões, tão peremptórias.
11. pertencem ao SENHOR; obra sua — isto é, o que Ele
ordenou e, portanto, deve ser cumprido pelos homens.
12. Espera-se com razão da parte dos governantes, por sua posição,
que aborrecerão o mal; pois eles conservam seu poder mediante sua
retidão. Uma especificação do sentimento geral do verso anterior.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 51
14, 15. Esta ira, tão terrível e certa, como mensageiros de morte
(1Rs_2:25), pode ser aplacada pelo sábio.
15. O semblante alegre — o favor do rei (Sl_4:6).
significa vida — conserva a vida, ou dá bênçãos que a tornam de
valor.
chuva serôdia — que caía um pouco antes da ceifa, e a maturava;
portanto era de grande valor (Dt_11:14).
16. (Cf. Pv_3:16; Pv_4:5.)
17. O caminho — caminho comum, claro, representa o proceder
habitual dos justos que se se separam do mal.
guarda o seu caminho — persiste na retidão.
18, 19. (Cf. Pv_15:33).
soberba … altivez — denota a suficiência própria, que produz o
descuido, e por esta razão a queda, lit., o escorregão.
19. repartir o despojo — vale dizer, conquistar. Evite a
companhia dos soberbos (Tg_4:6).
20. atenta para o ensino — de Deus (cf. Pv_13:13).
confia — (Cf. Sl_2:12; Sl_118:8-9).
21. sábio de coração — que considera devidamente o dever.
doçura no falar — discurso eloquente, que persuade e instrui a
outros.
22. entendimento — a discrição, uma fonte constante de bênção
(Pv_13:14), que beneficia a outros; mas os melhores esforços dos
néscios são insensatez.
23. O coração é o manancial da sabedoria que flui da boca.
24. (Cf. Pv_15:26.) As palavras afáveis, aprazíveis, acalmando a
mente, dão saúde ao corpo.
25. (Cf. Pv_14:2.)
26. A diligência é o que se deve a si mesmo, porque suas
necessidades requerem trabalho.
27. O homem vil (TB) — (Cf. Pv_6:12.)
cava o mal — se fatiga por causa dele.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 52
lábios … fogo — suas palavras são calúnias (Tg_3:6).
28. (Cf. Pv_6:14; Pv_10:31).
difamador — (Pv_18:8; Pv_26:20.)
29. homem violento — de violência (Pv_3:31).
alicia — (Pv_1:10.)
30. fecha os olhos — o que denota pensamento profundo (Sl_64:6).
morde os lábios — em obstinada resolução (Pv_6:13).
31. (Cf. Pv_20:29.) A longa vida é a bênção, ou galardão da
piedade (Pv_3:16; Pv_4:10).
32. (Cf. Pv_14:29.)
toma uma cidade — isto é, pelejando.
33. Ao que parece, até os eventos mais fortuitos são ordenados por
Deus.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 53
Provérbios 17

1. casa … contendas — Lit., “casa cheia de vítimas (ou festas onde


se come delas) de contenda” (resultantes do banqueteio) (Pv_7:14;
Lv_2:3; Lv_7:31).
2. (Cf. Pv_14:35.)
causa vergonha — age vergonhosamente (Pv_10:5).
herança — a porção que cabe a um irmão (Cf. Nm_27:4,
Nm_27:7).
3. Só Deus sabe, pois é Ele quem prova (Sl_12:6; Sl_66:10) o
coração.
4. Os malfeitores assim como os desbocados se deleitam na calúnia.
5. (Cf. Pv_14:31.)
se alegra da calamidade — alheia, dos males de outros. Os tais são
castigados por Deus, pois Ele conhece os seus corações.
6. A prosperidade prolongada é uma bênção; sua suspensão é uma
maldição (Pv_13:22; Sl_109:13-15), portanto os filhos podem gloriar-se
de seus antepassados virtuosos.
7. Falar com arrogância é repreensível num néscio; quanto mais o é
a um príncipe mentir (Pv_16:12, 13).
8. Aquele que é tão corrompido para aceitar o suborno, demonstra
sua estimativa do mesmo, sujeitando-se à sua influência (Pv_18:16;
Pv_19:6).
9. adquire amor — O contraste entre o pacificador e o fofoqueiro.
10. Mais aproveita ao sábio a repreensão que os açoites ao néscio.
11. Os tais recebem a justa retribuição (1Rs_2:25).
mensageiro cruel — que inflige o castigo.
12. Irados, são menos racionais que as feras.
13. (Cf. Sl_7:4; Sl_35:12.)
mal — o dano feito a outro (Pv_13:21).
14. o abrir-se da represa — abrindo brecha na represa.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 54
antes que haja rixas — antes de alagar as águas, antes de
envolver-se na questão.
15. Que agem da maneira oposta ao método de Deus (Pv_3:32;
Pv_12:2).
16. Embora as riquezas não possam comprar a sabedoria para os
que não a amam, entretanto, a sabedoria procura as riquezas (Pv_3:16;
Pv_14:24).
17. A segunda parte deste paralelismo lhe aumenta o sentido: que o
amor do irmão se pode ver em maneira especial na adversidade.
18. (Cf. Pv_6:1-5; Pv_11:15.)
do seu próximo — ou deixa de pedir conselho ao amigo, ou deixa
de segui-lo.
19. pecado — ou transgressão.
contenda — ou contenção, a qual é pecado e leva a pecado.
faz alta a sua porta — que satisfaz sua vanglória de possuir um
edifício custoso.
facilita — ou a encontra assim como se a buscasse (cf. “ama a
morte,” Pv_8:36).
20. A segunda oração adianta a primeira: os maliciosos carecem do
bem, e os litigiosos causam o mal.
21. (Cf. Pv_23:24.)
estulto … insensato — ambos os vocábulos denotam a insensatez e
a impiedade.
22. (Cf. Pv_14:30; Pv_15:13.) O efeito da mente sobre o corpo é
bem conhecido.
faz secar — como se a medula estivesse gasta.
remédio — ou corpo, que melhor corresponde com ossos.
23. seio (RC) — O dinheiro e outros artigos de valor se levavam na
dobra da roupa, chamado o seio.
perverter — com o suborno.
24. a sabedoria — de uma estimativa permanente, enquanto que os
afetos do néscio sempre flutuam.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 55
25. amargura — ou desgosto (cf. o v. 21; Pv_10:1).
26. Também (AV) — igualmente, é preciso evitar outros pecados,
tais como castigar os súditos bons, ou resistir aos governantes bons.
27, 28. Recomenda-se a linguagem prudente, o espírito excelente,
ou aprazível, não excitado à vã conversação.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 56
Provérbios 18

1. busca — tenta obter sua própria satisfação.


insurge-se — precipitadamente (Pv_17:14), contrariamente a toda
sabedoria, ou ao que é de valor (Pv_2:7).
2. externar o seu interior — se deleita em revelar suas loucuras
(Pv_12:23; Pv_15:2).
3. Tanto é verdade que o pecado e o castigo se relacionam
mutuamente (Pv_16:4). O ímpio, pela impiedade, corresponde à desonra
(assim está o hebraico); e menosprezo, sentimento que o ímpio inspira
contra ele, com afronta, ou repreensão, uma manifestação do desprezo.
4. A linguagem sábia é como um rio inesgotável de benefício.
5. para torcer o direito — ou, “Ter respeito … não é bom; nem é
bom fazer cair …” (Cf. Sl_82:2).
6, 7. Os queixosos se machucam a si mesmos. Sua linguagem
temerária os enreda (Pv_6:2).
8. (Cf. Pv_16:28.)
são doces bocados — melhor, “são como manjares doces,” que os
homens engolem com alegria.
do ventre — ou da mente, ou do coração (cf. Pv_20:27-30;
Sl_22:14).
9. empobrece-se um por não alcançar, o outro por dissipar.
desperdiçador — lit., mestre esbanjador, pródigo.
10. nome do SENHOR — as perfeições manifestas (Sl_8:1;
Sl_20:2), como a fidelidade, poder, misericórdia, etc., nas quais os
homens confiam.
está seguro — fora do alcance do perigo (Sl_18:2; Sl_91:4).
11. Contrasta-se com o verso anterior (cf. Pv_10:15). Tal confiança
é uma confiança vã (Sl_73:6).
12. (Cf. Pv_15:33; Pv_16:18.)
13. A fala ligeira revela a arrogância, e causa a humilhação
(Pv_26:12).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 57
14. doença — a física, não o mal externo.
espírito abatido — o espírito vencido. Ferido o espírito
sustentador, não há outro sustento, senão como se insinua em Deus.
15. (Cf. Pv_1:5, 15:31.)
16. (Cf. Pv_17:8, 23.). Envolve-se a desaprovação do fato
declarado.
17. As declarações unilaterais não são de confiança.
examina — (Pv_17:9, 19).
18. lançar da sorte — o que Deus dispõe (Pv_16:13), se usado
devidamente, pode ser um modo justo de resolver as disputas.
19. Não há contendas tão difíceis de solução como as que se
suscitam entre parentes; portanto devemos nos esforçar para evitá-las.
20. (Cf. Pv_12:14; Pv_13:2.) As palavras dos homens são o fruto ou
aumento de seus lábios, e se forem boas, beneficiam-nos.
se satisfaz — se contentará (cf. Pv_1:31; Pv_14:14).
21. A morte e a vida — ou seja, o maior mal e bem.
a ama — isto é, a língua, ou o uso dela para bem ou mal.
come do seu fruto — (cf. o v. 19; Tg_1:19.)
22. As versões antigas inserem “boa” antes de “esposa”, ideia
envolta na segunda frase, e em Pv_19:14 (cf. Pv_31:10).
23. o rico responde com durezas — é tolerado porque é rico,
implicando que estimar a um homem por suas riquezas é mau.
24. O homem … amigo — Melhor, “O homem pode celebrar
(Sl_108:9), ou gritar de alegria (Sl_5:11), isto é, congratular-se.” A
Versão Americana Standard: “Aquele que faz muitos amigos os faz para
sua própria ruína; mas há amigo …” Por certo, há um amigo melhor que
irmão: aquele é o “Amigo de pecadores,” aquele que pode ser que
estivesse na mente do escritor.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Provérbios 19

1. (Cf. Pv_28:6.) Melhor, “rico” por “perverso” aqui. A integridade


é melhor que as riquezas (Pv_15:16, 17; Pv_16:8).
2. A segunda oração ilustra a primeira. A precipitação, que resulta
da ignorância, traz consequências funestas.
3. perverte — o desvia do justo (Pv_13:6; Tg_1:13); e culpa a
Deus pelo seu fracasso.
4. (Cf. Pv_14:20). Tais atos com frequência se apresentam com a
insinuada desaprovação.
5. Cf. o v. 9, onde perece explica o não escapa aqui (Cf. Sl_88:9-
10).
8. (Cf. Margem; Pv_15:32.)
ama sua alma — ou se ama a si mesmo, o que evidencia
guardando seus melhores interesses.
conserva a inteligência — a aproveita.
10. (Cf. Pv_17:7.) O insensato é incapaz de desfrutar devidamente o
prazer nem o conhecimento; contudo, é menos incongruente que o tenha,
que a indevida elevação dos serventes. Cada qual permaneça na condição
em que foi chamado (1Co_7:20).
11. (Cf. Pv_14:29; Pv_16:32.) Este inculcar do espírito perdoador
demonstra que a verdadeira religião é sempre a mesma (Mt_5:22-24).
12. (Cf. Pv_16:14, 15; Pv_20:2.) Um motivo por que submeter-se à
autoridade legal.
13. desgraça — lit., calamidades, variadas e múltiplos.
gotejar contínuo — um desgosto contínuo que esgota a paciência.
14. Um contraste entre os dons dos homens e os de Deus, o qual,
sendo autor de ambas as bênçãos, confere a segunda por uma
providência mais especial.
mas do SENHOR — Denota que os males do v. 13 se evitam só
pelo cuidado dEle.
15. em profundo sono — um estado de completa indiferença.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 59
alma (TB) — isto é, pessoa (Cf. Pv_10:4; Pv_12:24).
16. (Cf. Pv_10:17; Pv_13:13.)
desprezar os seus caminhos — se nega a guardar ou observar,
descuida (Pv_16:17) como indigna de sua atenção sua conduta moral.
17. (Cf. Pv_14:21; Sl_37:26.)
se compadece do pobre — em evidência de sua piedade.
18. (Cf. Pv_13:24; Pv_23:13.)
não alçarás a tua alma — lit., não se levante sua alma (Sl_24:4;
Sl_25:1), isto é, não deseje sua morte: uma advertência aos pais
apaixonados contra o castigo irado.
19. Os repetido esforços de benignidade para com os malévolos são
vãos.
se tu o livrares, etc. — Versão Inglesa: “Se o libras (uma vez),
terás que fazê-lo até outra vez.”
20. (Cf. Pv_13:18-20).
nos teus dias por vir — (Cf. Pv_5:11). Na juventude se prepare
para a velhice.
21. (Cf. Pv_16:1, 9; Sl_33:10-11). Compreende-se o fracasso dos
propósitos do homem.
22. torna agradável — isto é, o fazer o bem indica a boa
disposição do homem (Pv_11:23); e os pobres assim afetados são
melhores que os mentirosos, os que dizem mas não fazem.
23. O temor … vida — (Cf. Pv_3:2).
aquele que o tem — viverá contente (1Tm_4:8).
mal nenhum o visitará — (1Tm_10:3; Sl_37:25), com os castigos:
neste sentido com frequência se usa o vocábulo visitar (Sl_89:32;
Jr_6:15).
24. no prato — lit., um prato largo em que se colocava a mão ao
comer (Mt_26:23). Cf. Pv_26:15, o mesmo sentimento expresso com
igual ironia e menos exagero.
25. Tal é o benefício da repreensão; aos simples aproveita, quanto
mais aos sábios,
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 60
26. A conduta indigna do filho com frequência condenada
(Pv_17:21-25; Pv_20:20; Dt_21:18, Dt_21:21).
27. Evite-se tudo o que desvia da verdade.
28. testemunha de Belial — falso por seus princípios maus (cf.
Pv_6:12).
escarnece — inutiliza os ditados da justiça.
devora — lit., traga, como manjar agradável.
29. Seu castigo é seguro, fixo e aparelhado (cf. Pv_3:34; Pv_10:13).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 61
Provérbios 20

1. escarnecedor — O vinho torna os homens escarnecedores.


bebida forte — vinho misturado com especiarias (Is_5:11,
Is_5:22).
é vencido — ou talvez, cambaleia.
2. (Cf. Pv_19:12.) Os que resistem à autoridade se ferem a si
mesmos (Rm_13:2).
3. desviar-se de contendas — ou melhor, “viver afastado de
contendas,” como hábito de vida.
se mete — (Pv_17:14).
4. mendigará (RC) — lit., pedirá, neste sentido cf. Sl_109:10.
5. águas profundas — isto é, profundamente encoberto (Pv_18:4;
Sl_13:2). O sábio sabe discernir bem.
6. Os jactanciosos não são de confiança.
benignidade — disposição bondosa.
7. A conduta dos bons publica os sãos princípios deles. A aliança de
Deus e o bom exemplo disso asseguram a bênção para os Seus filhos
(Pv_4:26; Sl_112:1-2).
8. Como em Pv_14:35; Pv_16:10, 15, este é o caráter de um rei
bom, não de todos os reis.
9. A interrogação em sentido afirmativo fortalece a negação
implícita (cf. Jó_15:14; Ec_7:20).
10. Medidas diversas, o que expressa que algumas são falsas (cf.
Pv_11:1; Pv_16:11).
11. A conduta dos filhos ainda é a melhor prova dos princípios
(Mt_7:16).
12. Portanto, é verdade que Deus saberá tudo o que você faz
(Sl_94:9).
13. A atividade e a diligência contrastadas com a do ocioso
(Pv_6:9; Pv_10:11).
para que não empobreças — lit., seja privado da herança.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 62
14. se gaba — de sua astúcia com relação aos lucros.
15. O contraste denota o valor superior do conhecimento (Cf. o
Pv_3:14-16).
16. Tirar a roupa significa exigência estrita, justificada pela
temeridade do fiador.
estrangeiros — expressão preferível a de estranhos (Pv_27:13), e
fortalece o sentido. O libertino é de menos confiança que o meramente
descuidado.
17. Suave — ou doce, por consegui-lo quer ilicitamente (Pv_9:17),
ou facilmente.
pedrinhas de areia — bem expressa a dor e tristeza que motiva no
final.
18. (Cf. Pv_15:22.) Seja cuidadoso e discreto nos planos de
importância.
19. Os que gostam de contar novidades quase não guardarão os
segredos.
muito abre os lábios — (Cf. Pv_1:10.)
não te metas com — lit., “não se junte,” ou “não se associe.”
20. a lâmpada — (Cf. Pv_13:9; Pv_24:20.)
21. adquirida ... apressadamente (TB) — contrariamente à
providência de Deus (Pv_28:20), denota a obtenção injusta e fácil;
portanto, o homem é castigado, ou, gasta-se rapidamente o que se ganha
facilmente (cf. o v. 17).
22. (Cf. Sl_27:14; Rm_12:17-19.)
23. (Cf. o v. 10; o Pv_11:1.)
24. passos do homem — lit., passos pomposos do homem forte.
entender — ou perceber.
25. Laço … santo —ou, melhor, “quem temerariamente fale
promessas,” ou “dedica o que é santo,” consagrando qualquer coisa. Isto
quadra melhor a última cláusula, que expressa uma visão semelhante dos
resultados do jurar temerariamente.
26. (Cf. o v. 8.)
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 63
a roda — usada para debulhar, figura que expressa a severidade
(Am_1:3).
27. O espírito do homem ... SENHOR — a mente dos homens é
dom de Deus, a qual lhes permite esquadrinhar o coração, ou
pensamentos íntimos uns dos outros (cf. o v. 5; Pv_18:8, 17; 1Co_2:11).
28. (Cf. Pv_3:3; Pv_16:6, 12.)
29. Cada idade tem sua própria excelência particular (Pv_16:31).
30. vergões das feridas — lit., juntando-se, o processo de unir os
bordes de uma ferida, que arroja a matéria purulenta.
as chagas — açoites: Assim o castigo provê a cura da alma
(Pv_18:8), livra-se do assunto purulento.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 64
Provérbios 21

1. ribeiros de águas — acéquias, canais de irrigação (Sl_1:3), cuja


direção se podia facilmente mudar (Dt_11:10). Deus dispõe até a
vontade dos reis como Ele quer (Pv_16:9; Sl_33:15).
2. (Cf. Pv_14:2; Pv_16:2-25.)
3. (Cf. o Sl_50:7-15; Is_1:11, Is_1:17.)
4. Olhar altivo — (Cf. Sl_131:1).
coração orgulhoso — ou coração de folga, inchado (cf. Sl_101:5).
lâmpada — figura frequente da prosperidade (Pv_20:20), e assim
de alegria ou deleite.
5. O contraste será entre a diligência constante e a precipitação (cf.
Pv_19:2).
6. adquirir tesouro, etc. — ou os bens assim obtidos (cf. Jó_7:2;
Jr_22:13, o hebraico).
vaidade fugitiva (TB) — como um vapor levado daqui para lá;
como o felpa que o vento leva (Pv_20:17-21; Sl_62:10). Tal obtenção
não satisfaz.
buscam a morte (RC) — que agem como se a buscassem
(Pv_8:36; Pv_17:19).
7. A violência — ou destruição, especialmente a opressão, da qual
são autores.
os arrebata — lit., serrará (1Rs_7:9), virá a arruiná-los
completamente. Os seus pecados serão visitados sobre eles do mesmo
modo.
praticar a justiça — fazer o que é justo e reto.
8. homem perverso (RC) — sua conduta oposta à verdade, e
separada da verdade. O probo comprova sua integridade por sua conduta
correta.
9. eirado — torrezinha, pavilhão sobre o teto.
casa espaçosa (TB) — lit., casa de companheirismo, ou o bastante
grande para várias famílias.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 65
10. Com tanto ardor deseja fazer o mal (Sl_10:3; Ec_8:11), que
nem terá misericórdia de seu amigo, se este o estorvar.
11. (Cf. Pv_19:25.). O que o simples aprende à pancadas, o sábio o
aprende pelo ensino.
12. (Cf. Sl_37:35-38; Sl_73:17, Sl_73:20.)
casa — a família ou os interesses.
os arrasta — por Deus, (cf. Pv_10:24) infere-se; por causa do mal.
13. Os princípios da retribuição, tantas vezes ensinados (cf. o
Sl_18:26; Mt_7:1-12).
14. O efeito do suborno (Pv_17:23) é aumentado por estar em
segredo, pois o subornado não quer que seus motivos sejam descobertos.
15. Mas o justo ama a retidão, e não precisa de suborno. Os maus
no final acham a destruição, embora por um tempo se contentam
encobrindo a corrupção.
16. caminho do entendimento — (cf. Pv_ 12:26; Pv_14:22).
repousará — isto é, a descansar no final da viagem; a morte será
sua morada inalterável.
17. O luxo empobrece.
18. (Cf. Pv_11:8.) Sofrendo o que eles maquinaram para os justos,
os malignos foram o resgate destes, no senso comum de substitutos (cf.
Jos_7:26; Est_7:9).
para os retos — em lugar deles.
19. (Cf. o v. 9).
terra deserta — pastagem, mas despovoada (Sl_65:12).
20. Os sábios, com diligência e cuidado, fazem-se e aumentam
riquezas, enquanto que os insensatos as dissipam, lit., as tragam
avidamente.
21. Aquele que trata de agir justa e benignamente (Sl_34:14)
prosperará e obterá justiça e honra.
22. “A sabedoria é melhor que a fortaleza” (Ec_7:19; Ec_9:15).
23. (Cf. Pv_13:2, 3; Tg_3:6-10.)
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 66
24. Merecem nome reprovável os que tratam os outros com ira e
escárnio.
25. O desejo (RC) — isto é, do ócio e brandura, que o fazem
morrer de fome.
26. O pecado da avareza indica o ocioso, assim como a virtude da
benevolência assinala o justo.
27. Deus considera o coração, e a hipocrisia Lhe é mais aborrecível
que a inconsequência.
com intenção maligna — com maquinação, malícia (Pv_1:4).
28. (Cf. Pv_19:5.)
o homem que ouve (TB) — ou faz caso da instrução, e assim
cresce em sabedoria.
falará sem ser contestado (TB) — ou habitará de maneira que
permaneça; fala com sinceridade (Hc_1:5), e portanto inspira confiança
(Pv_12:19; Tg_1:19).
29. mostra dureza no rosto — é obstinado.
considera o seu caminho — reflete, e age de acordo.
30, 31. Os melhores desígnios e confiança dos homens são vãos, em
comparação com os de Deus, ou sem a ajuda dEle (Pv_19:21; Sl_20:7;
Sl_33:17).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 67
Provérbios 22

1. bom nome — (Jó_30:8, hebraico). Bom é suprido aqui desde


Ec_7:1.
o ser estimado — benigna consideração, quer dizer, dos sábios e
bons.
2. Diante de Deus todos estão no mesmo nível (Pv_14:31;
Pv_17:5).
3. o mal — ou castigo, isto é, por sua temeridade; porque o mal não
é necessariamente punitivo, pois de outro modo os prudentes poderiam
havê-lo recebido.
4. humildade e o temor do SENHOR — Uma produz o outro.
Sobre os resultados, cf. Pv_3:16; Pv_8:18.
5. o que guarda a sua alma — os que devidamente vigiam as suas
almas são assim guardados dos perigos que há no caminho dos perversos
(Pv_16:17).
6. Ensina a criança — iniciar, ou instruir honestamente.
no caminho — segundo o curso e método determinados para ela;
porque a disciplina anterior assegura a continuação habitual nela.
7. Que a influência das riquezas faz a um lado as distinções morais,
entende-se e, é óbvio, desaprova-se (cf. Pv_19:6; Pv_21:14, etc.)
8. (Cf. Pv_11:18; Sl_109:16-20; Gl_6:7-8).
falhará — seu poder de fazer o mal será destruído.
9. O generoso — uma disposição benfeitora.
porque dá — seus atos o comprovam.
10. Os escarnecedores fomentam a contenda por suas invectivas e
injúrias.
11. pureza do coração — as palavras afáveis e benignas ganham o
favor, até dos reis.
12. conservam aquele que tem conhecimento — guardam o
conhecimento, ou seja, os princípios e aos possuidores do mesmo.
13. As desculpas frívolas satisfazem a consciência do indolente.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 68
14. a boca — Os discursos aduladores (Pv_5:3; Pv_7:5) enlaçam os
homens, como a cova, fossa, onde se apanha o animal. Deus faz com que
os pecados deles lhes sejam por castigo.
15. a vara — O castigo impede o crime, e assim leva a reforma de
princípios.
16. Estes dois vícios pertencem ao mesmo sentimento egoísta, e
ambos são com razão aborrecíveis a Deus e merecem o castigo.
17. Aqui começa outra divisão do livro, assinalada por aquelas
palavras de recomendação de que se siga a sabedoria, que se acham em
capítulos anteriores. Se notará que desde o v. 22 até Pv_24:12, os
provérbios se expressam em dois versos em vez de um só (cf. a
Introdução).
18. Estas lições devem guardar-se na mente e fixar-se nos lábios,
para as ter sempre prontas para o uso.
19. Para que, etc. — este é o propósito da instrução.
20. excelentes coisas — ou provavelmente, anteriormente.
conhecimentos — tanto o conselho como a instrução.
21. Deseja em particular que aprendam com exatidão e primor para
poder ensinar a outros.
22, 23. Aqui se seguem dez preceitos de dois versos cada um.
Mesmo quando os homens deixem de defender os pobres, Deus o fará
(Pv_17:5; Sl_12:5).
na porta (RC) — lugar de reuniões públicas (Jó_5:4; Sl_69:12).
24, 25. (Cf. Pv_2:12-15; Pv_4:14.)
25. laço para a tua alma (RC) — os não suspicazes são desviados
muitas vezes pela má companhia.
26, 27. (Cf. Pv_6:1; Pv_17:18.)
27. ficam por fiadores — isto é, os credores.
28. (Cf. Pv_23:10.). Não mude o poste antigo; não invada a
propriedade do vizinho. (Dt_19:14; Dt_27:17.)
29. A diligência assegura o êxito (Pv_10:4; Pv_21:5).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 69
Provérbios 23

1-3. Evite você os perigos da glutonaria.


2. faca à garganta — uma figura oriental, para refrear o apetite.
3. comida enganadora (TB) — comida de bom sabor, mas
prejudicial à saúde.
4, 5. (Cf. 1Tm_6:9-10.)
não apliques nisso a tua inteligência — o que considera as
riquezas intrinsecamente como bênção.
5. fitarás os olhos — Como voa a vista pelas riquezas, assim se
voam elas mesmas: ou são passageiras, ou deixam de satisfazer. São
voláteis.
6-8. Cuidado com os enganosos, cujas cuidados você se arrependerá
de haver aceito.
os olhos malignos (RC) — propósitos maliciosos (Pv_22:9;
Dt_15:9; Mt_6:23).
8. Vomitarás, etc. — Quer dizer: Aborrecido pelo verdadeiro
caráter do tal, anula-se toda a alegria de seu companheirismo.
9. (Cf. Pv_9:8). “Nem lanceis aos porcos as vossas pérolas …”
(Mt_7:6).
10, 11. (Cf. Pv_22:22, 23.)
o seu Vingador — (Lv_25:25-26; Nm_35:12), advogado
(Jó_19:25).
pleiteará ... contra ti — (cf. Jó_31:21; Sl_35:1; Sl_68:5).
12. Aqui começa outra série de preceitos.
13, 14. Enquanto que há pouco perigo de que “o divino
mandamento da vara” produza dano físico, a esperança de benefício
espiritual é grande.
15, 16. O motivo da diligência é a alegria que o progresso do
discípulo produz no mestre.
16. o meu íntimo — (Cf. o Sl_7:9; rins).
17, 18. É breve a prosperidade dos maus.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 70
18. haverá bom futuro — ou, vida futura, ou outro tempo, quando
as desigualdades aparentes serão ajustadas (cf. o Sl_37:28-38).
19-21. guia retamente, etc. — dirija os seus pensamentos pelo
devido curso da conduta (cf. Pv_4:4; 9:6).
20. comilões ... carne — os glutões; ou comer mais do que o
necessário; de carne, comida de prazer.
21. a sonolência — profundo sono dos preguiçosos.
22. Ouve — quer dizer, obedece (Pv_1:8; Ef_6:1).
mãe ... envelhecer — os adultos reverenciam aos pais, aos quais
uma vez quando crianças, obedeceram.
23. Compra — lit., procura (Pv_4:5).
a verdade — geral e especificamente como oposta a todos os tipos
de erros.
24, 25. (Cf. Pv_10:1; Pv_17:21, 25.)
26-35. Uma advertência solene contra a fornicação e a bebedeira
(Os_4:11).
Dá-me ... coração — o convite daquela sabedoria divina, tão
reiterada (Pv_8:1; Pv_9:3, etc.).
coração — confiança.
se agradem — observem, guardem.
meus caminhos — os que ensino a você (Pv_3:17; Pv_9:6).
27, 28. cova profunda ... poço estreito — de onde é difícil subir.
se põe a espreitar — para fazer cair os homens, como os caçadores
apanham a presa (cf. Pv_22:14).
28. multiplica, etc. — (Pv_5:8-10.) O vício aludido em maneira
peculiar endurece o coração.
29, 30. O quadro, por infelicidade, reproduz-se hoje em dia.
bebida misturada — (Cf. Pv_9:2; Is_5:11.)
31. se mostra vermelho — denota maior força (cf. Gn_49:11;
Dt_32:14).
resplandece — lit., dá seu olho, isto é, cintila.
se escoa — lit., move-se bem; significa talvez a espuma.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 71
32. As misérias agudas resultantes da bebedeira contrastada com as
tentações.
33, 34. Os efeitos morais; inflama as paixões (Gn_19:31,
Gn_19:35), expõe o coração, produz a insensibilidade a maiores perigos,
e impede a reformação, sob padecimentos dos mais duros.
35. quando despertar — da bebedeira (Gn_9:24). É a linguagem
dos atos mais que da língua.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 72
Provérbios 24

1, 2. (Cf. Pv_23:3, 17; Sl_37:1.)


2. maquina — medita.
falam para o mal — sua expressa intenção é de fazer mal.
3, 4. (Cf. Pv_14:1; Is_54:14.)
a casa — inclusive a família.
4. pelo conhecimento ... bens — (Is_8:18; Is_21:20).
5, 6. A asseveração geral (Ec_9:16, 18) está especialmente ilustrada
(cf. Pv_21:22; o Sl_144:1).
7. (Cf. Pv_14:16.)
na porta (RC) — (Cf. Pv_22:22.)
8. Assim o chamarão mesmo quando não chegue a fazer o mal.
9. Variação do mesmo pensamento.
10. Lit., “Se fracassas no dia da estreiteza (adversidade), estreita
(ou pouca) é sua força,” então posta à prova.
11, 12. Como os bons manjares estimulam o apetite, assim devem
as recompensas da sabedoria nos estimular a buscá-la.
14. bom futuro — lit., o posterior, os resultados próprios (cf.
Pv_23:18; Sl_37:37-38).
15, 16. As ciladas dos ímpios contra os justos, mesmo quando
tenham êxito parcial, nunca é completo (Sl_37:24); enquanto que os
maus, caindo sob a pena merecida, não acham socorro.
16. sete vezes — repetidas, ou muitas vezes (Pv_1:16, 31; 9:1).
17, 18. Que ninguém se alegre da desgraça dos ímpios, não seja que
Deus castigue tal espírito mau aliviando a dor daqueles (cf. o Pv_17:5;
Jó_31:29).
19, 20. (Sl_37:1, Sl_37:38; Sl_18:28.)
20. lâmpada — ou, a prosperidade; ela chegará ao seu fim
(Pv_13:9; Pv_20:20).
21, 22. Uma advertência contra a impiedade e a anarquia
(Rm_13:1-7; 1Pe_2:17).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 73
não te associes — evite a companhia dos inconstantes, os que
buscam mudanças.
22. sua perdição — sua calamidade, a pena, quer seja infligida por
Deus, ou pelo rei, ou, o que os tais inconstantes e seus companheiros
sofrem; é melhor o primeiro.
23. São ... dos sábios — como autores (cf. “os Salmos de Davi”,
hebraico). “Estas coisas” são os versículos seguintes (vv. 23-34).
Parcialidade — lit., discernir rostos, manifestar parcialidade,
24, 25. pelo que é exemplo justificar ao mau: o oposto ao qual é
repreender-lhe um ato benéfico.
26. beijo nos lábios — Ama e obedece, dá homenagem (Sl_2:12;
Ct_8:1).
palavras retas — opostas às obscuras, enganosas.
27. apronta ... no campo — Procura com diligência o devido
sustento, e edifica a casa logo; provê primeiro o necessário; depois os
confortos; isto é, em clima benigno que permite o uso de tendas, ou
carpas.
28. Não fale sequer a verdade contra ninguém, quando não for
necessário, e jamais o falso.
29. Evite especialmente a vingança (Mt_5:43-45; Rm_12:17).
30, 31. Figura viva dos efeitos da preguiça.
32-34. Aprenda a sabedoria mediante a desgraça do preguiçoso
(Pv_6:10, 11).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 74
Provérbios 25

O caráter deste grupo de provérbios concorda com o título (cf. a


introdução).
1. também — refere-se à parte anterior do livro.
copiaram — lit. trasladaram, de outro livro a este; não dados de
cor.
2. A inescrutabilidade de Deus nos produz terror (cf. Is_45:15;
Rm_11:33). Mas os reis, como são finitos, devem consultar conselheiros
sábios;
3. os quais reis guardam os segredos de estado, que às pessoas
comuns são tão inacessíveis como as alturas e as profundidades.
4, 5. Como a separação das impurezas da escória deixa pura a prata,
assim tirar os maus conselheiros do rei deixa um governo sábio e
beneficente.
6, 7. Não entre de intruso diante do rei, porque a elevação do
humilde é honrosa, mas vergonhosa é a humilhação do orgulhoso
(Lc_14:8-10).
8. (Cf. Pv_3:30.)
pois, ao fim, que farás, etc. — ou, “não seja que se diga no fim (do
pleito),” o que vais fazer?
em apuros — ou envergonhado.
9, 10. (Cf. Mt_5:25, margem.)
o segredo — isto é, de seu contrário, que lhe é desvantajoso, para
que assim não seja envergonhado por não ter discutido com ele suas
dificuldades.
11. a palavra dita a seu tempo — lit., oportunamente como dá
volta a roda, precisamente a tempo. Do mesmo sentido são as figuras
“maçãs de ouro,” etc.
maçãs — ou as verdadeiras de cor dourada, numa cesta tecida de
prata, ou imitação de ambas as coisas bordadas em ouro e prata.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 75
12. é o sábio repreensor, etc. — Os que desejam saber e fazer o
reto apreciam em alto grau o bom conselho (Pv_9:9; Pv_15:31). O
ouvido que percebe é melhor que a orelha com brinco de ouro.
13. A neve das montanhas usava-se para esfriar as bebidas:
igualmente refrescante é o mensageiro fiel (Pv_13:17).
14. nuvens — lit., vapores (Jr_10:13), nuvens só na aparência.
dádivas que não fez — lit., dom de falsidade; prometido, mas
nunca entregue.
15. A brandura e a bondade fazem ceder até os mais poderosos e
obstinados.
longanimidade — “lento para a ira” (Pv_14:29; Pv_15:18).
16, 17. Uma comparação: como o excesso de mel produz um mal-
estar físico, assim sua presença, por agradável que seja com moderação,
pode, se se excede fazer você aborrecível ao amigo.
18. Um testemunho falso é tão prejudicial ao bom nome como tais
armas ao corpo (Pv_24:28).
levanta falso testemunho — lit., responde a perguntas, como
diante do juiz, contra o vizinho.
19. A prevaricação incomoda tanto quanto engana.
20. Não só se significa a incongruência das canções (alegres) e a
tristeza, mas também se expressa o aumento de tristeza pela falta de
simpatia.
21, 22. (Cf. Mt_5:44; Rm_12:20.) Como se fundem os metais
pondo-lhes brasas, assim o coração se abranda com a bondade.
23. Melhor: “Como o vento do norte traz (Sl_90:2) ou produz a
chuva, assim a língua dolosa produz a ira.”
24. (Cf. Pv_21:9, 19.)
25. (Cf. o v. 13).
boas-novas — isto é, a respeito de um assunto de interesse especial
ou de um amigo ausente, mais gratas ainda por ser da distância.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 76
26. De fontes turvas e de mananciais corrompidos não tem que
tirar-se água saudável; assim o poder dos bons para fazer o bem fica
cortado ou destruído quando são oprimidos pelos maus.
27. A fartura enche (v. 16); assim os vangloriosos sofrem a
humilhação.
28. Tais pessoas estão expostas à invasão de pensamentos maus e
tentações irresistíveis.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 77
Provérbios 26

1. As incongruências da natureza ilustram também as do mundo


moral. Envolve-se também a indignidade do néscio. (Pv_17:7;
Pv_19:10).
2. Os movimentos do pássaro — e da andorinha — não
claramente para nós, têm sua razão de ser; do mesmo modo a penalidade
nunca sobrevém a alguém sem justa causa.
3. A vara é tão necessária para os néscios, e tanto lhes convém,
como o látego e cabresto são para o cavalo e o asno.
4, 5. Não respondas — isto é, com aprovação e com igual
estultícia.
5. responde — com repreensão.
6. Tão seguro é o fracasso do néscio como se fosse coxo.
o dano bebe (TB) — isto é, recebe-o em abundância (Jó_15:16;
Jó_34:7).
7. As pernas ... pendem bambas — “Estão frouxas:” “não são
iguais;” “tirem-se” (versões várias). Em todo caso, está a ideia de que
são ocasião de tropeçar, tal como a que mostra o néscio tentando usar
uma parábola ou provérbio (cf. a Introdução; Pv_17:7). Uma pedra,
atada à funda, é inútil; assim a honra conferida ao néscio é honra atirada.
9. O ébrio se machuca mais tentando tirar o espinho; assim o néscio
é incapaz de usar a parábola mal ou bem.
10. O texto do hebraico aqui é obscuro. Melhor talvez: “Muito dano
(lit., feridas) faz ele a todos os que recompensam …” Quer dizer, a
sociedade é danificada quando se compraz aos malévolos.
transgressores — deve traduzir-se por vagabundos;
11. Embora repugne a outros, o néscio se deleita em sua estultícia.
12. É mais difícil ensinar aos vaidosos que aos insensatos.
13. (Cf. Pv_22:13.)
14. (Cf. Pv_6:10; Pv_24:33.). Move-se, mas não desocupa o seu
lugar.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 78
15. (Cf. Pv_19:24.)
16. Os irrefletidos, alheios a sua ignorância, se enfatuam.
17. Quem se mete — como em Pv_20:19; Pv_24:21.) Como tomar
o cão pelas orelhas, ou soltá-lo, envolve perigo de ser mordido, assim o
êxito ou fracasso alheio envolve o risco inútil do bom nome, não faz
nenhum bem, e pode ser que faça mal.
18, 19. engana — o possível dano de uma pessoa irresponsável.
20, 21. O fofoqueiro espalha a contenda (Pv_16:28); o contencioso
a acende.
22. (Cf. Pv_18:8.)
23. Como o chapeado de prata não dá valor ao áspero vaso de barro,
tampouco as profissões calorosas o dão à insinceridade.
24. dissimula — O ódio faz hipócritas.
25. O desenvolvimento do sentimento do v. 24.
sete — vale dizer “muitos” (Pv_24:16).
26, 27. O engano se manifesta no fim, e os ímpios muitas vezes por
sua própria arte operam sua retribuição (cf. Pv_12:13; Sl_7:16; Sl_9:17,
etc.)
28. Os homens odeiam aos que injuriam.
língua falsa — cf. os lábios pela pessoa (Pv_4:24; Sl_12:3).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 79
Provérbios 27

1. Não confie cegamente em seus planos (Pv_16:9; Pv_19:21;


Tg_4:13-15).
2. Evita o louvar a você mesmo.
3. Em sentido literal de pesado, aplicado a objetos materiais, ilustra
o figurativo, oneroso, aplicado ao moral.
a ira do insensato — é irracional e excessiva.
4. inveja — ou ciúme (Pv_6:34), é mais inaplicável que as paixões
más, mais simples.
5, 6. amor — não manifestado em atos é inútil e embora
manifestado em repreensões nos fira, é preferível aos frequentes e
enganosos beijos do inimigo.
7. O luxo proporciona menos felicidade que o são apetite do
trabalhador.
8. Os tais não só estão fora de lugar, mas também fora do dever e
em perigo.
9. alegram o coração — o órgão que percebe o que agrada aos
sentidos.
assim, o amigo — “Assim a doçura do amigo alegra o homem …”
Ou, o bom conselho do amigo é também agradável.
10. Achegue-se ao amigo provado. Os laços de sangue pode ser que
sejam de menos confiança que os de genuína amizade.
11. A sabedoria dos filhos credita a reputação dos pais, assim como
também facilita alívio para os mesmos por ocasião de dificuldades.
12, 13. (Cf. Pv_20:16; Pv_22:3)
14. O zelo excessivo em louvar ao amigo cheira a egoísmo.
15. (Cf. Pv_19:13.)
16. É tão fútil pretender um como o outro.
mão direita — o órgão de poder. Nem com a mão pode conter o
óleo, ou unguento perfumado (Sl_17:7; Sl_18:35). Tal mulher não pode
ser domada.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 80
17. o ferro com o ferro se afia — quer dizer, que a conversação
promove a inteligência, que o rosto exibe.
18. A diligência alcança alguma recompensa, até para o servo
humilde.
19. Podemos observar nosso próprio caráter no temperamento
formado de outros.
20. A avidez dos homens é tão insaciável como o sepulcro.
21. O louvor prova o caráter, segundo a maneira de recebê-lo: os
vaidosos o buscam; os fracos se inflam por causa dele; os sábios não
fazem caso dele.
22. A maldade obstinada dos tais não se cura nem pelo castigo mais
severo.
23, 24. teus rebanhos — que constituíam a riqueza principal. É só
pela diligência e o cuidado como podem se perpetuar as posses mais
sólidas (Pv_23:5).
25-27. O fato de que a providência oferece os meios de
competência aos que usam deles devidamente, é outro motivo da
diligência (cf. o Sl_65:9-13).
as ervas — o pasto (Jó_40:15; Sl_104:14).
27. casa — a família (At_16:15; 1Co_1:16).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 81
Provérbios 28

A má consciência torna tímidos os homens; só os justos têm valor


na verdade (Pv_14:26; Sl_27:1).
2. A anarquia, que produz governantes rivais, corta o reinado de
ambos.
se faz estável — o governo; ou será prolongado. Os governantes
bons são bênção para o povo. O governo mau como castigo do mal,
contrasta-se bom que é bênção para os bons.
3. O homem pobre — Tal homem, no poder, exige com mais
dureza, e deixa nus a seus súditos.
4. desamparam a lei louvam o perverso — Os malfeitores se
animam uns aos outros.
5. (Cf. Jo_7:17.) A ignorância da verdade moral deve-se à falta de
vontade de conhecê-la.
6. (Cf. Pv_10:6:) As riquezas não podem compensar os efeitos do
pecado, nem afeta a falta das mesmas a integridade.
7. (Cf. Pv_17:25.)
comilões (RC) — (Pv_23:20, 21.)
8. juros e ganância — termos de quase o mesmo sentido: devem
denotar os juros excessivos.
ajunta-os para o que se compadece — melhor: “achega-os para o
que tem piedade dos pobres.” A providência de Deus indica o devido uso
das riquezas.
9. (Cf. Pv_15:8; Pv_21:27).
ouvir a lei — obedecê-la. Deus exige a sinceridade da parte dos
que O adoram (Sl_66:18; Jo_4:24).
10. (Cf. Pv_26:27.)
11. Um homem pobre mas sagaz pode descrever (e expor) ao
opulento e vaidoso.
12. “Há glória grande,” há razão dela da parte do povo, porque os
justos se alegram pelo bem, e a justiça engrandece a nação (Pv_14:34).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 82
os homens se escondem — Vale dizer que o povo se esconde; os
bons se retiram, ou todas as classes tratam de evadir-se de um governo
mau.
13. (Cf. o Sl_32:3-5.) O encobrimento do pecado não livra a
ninguém da ira de Deus, mas Ele usa de misericórdia para com os
arrependidos (Sl_51:4).
14. temente a Deus — e assim arrependido.
endurece o coração — torna-se insensível ao pecado, de modo que
não se arrependerá (Pv_14:16; Pv_29:1).
15. A rapacidade e a crueldade de tais animais representa alguns
homens ímpios (Cf. Sl_7:2; Sl_17:12).
16. falto de inteligência — Não se dá conta que a opressão põe em
risco o êxito de seu governo. A cobiça muitas vezes produz a opressão,
daí o contraste.
17. homem carregado do sangue — ou que está oprimido pelo
sangue de vida (Gn_9:6), que ele verteu.
cova — fossa, ou destruição (Pv_1:12; Jó_33:18-24; Sl_143:7).
detenha — melhor: sustentará, ou livrará.
18. (Cf. Sl_10:9; Sl_17:20.) A doblez mais cedo ou mais tarde é
fatal.
19. os (Cf. 10:4; 20:4.)
ociosos (TB) — se infere que também são ímpios (Pv_12:11;
Pv_26:14).
20. se apressa, etc. — envolve o engano ou fraude (Pv_20:21), e
assim o oposto a de verdade (fiel) ou de confiança.
21. Parcialidade — (Pv_24:23.) Os tais são levados a mal por
motivos ínfimos.
22. (Cf. o v. 20.)
olhos invejosos — no sentido geral de Pv_23:6; aqui mais
especificamente no de cobiça (cf. Pv_22:9; Mt_20:15).
há de vir sobre ele a penúria — pela providência de Deus.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 83
23. (Cf. Pv_9:8, 9; Pv_27:5.) Os que se aproveitam da repreensão
devem amar a seus monitores.
24. (Cf. Mt_15:4-6.) Os tais, sendo herdeiros, são virtualmente
ladrões, da mesma classe dos salteadores.
25. altivo de ânimo (RC) — inflado, ou seja, arrogante. e portanto
imperioso e litigioso.
prosperará — (Pv_11:25; Pv_16:20).
26. (Cf. Pv_3:6-8.)
anda sabiamente — isto é, confiando em Deus (Pv_22:17-19).
27. (Cf. Pv_11:24-26.)
esconde os olhos —(Sl_27:9; Sl_69:17), denota desatenção.
28. A elevação dos maus ao poder impele os homens a buscar
refúgio da tirania (cf. o v. 12: Pv_11:10; Sl_12:8).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 84
Provérbios 29

1. endurece a cerviz — recusar obstinadamente o conselho


(2Rs_17:14; Ne_9:16).
quebrantado — esmiuçado, irreparavelmente.
2. (Cf. Pv_11:10; Pv_28:28.)
domina — lit., são aumentados em poder.
3. (Cf. Pv_4:6, 7; Pv_10:1, etc.)
4. com juízo — sentenças justas, o oposto às decisões pelo suborno
(cf. Pv_28:21), o que perverte ao bom governo.
terra — por nação.
5. (Cf. Pv_26:28.)
arma-lhe uma rede, etc. — o faz errar quanto a seu verdadeiro
caráter; o adulador o leva ao mal, preparado por ele mesmo ou por
outros.
6. Na transgressão — melhor, a transgressão o coloca em
dificuldades; mas o justo segue prosperando, e portanto, cantando,
alegrando-se.
7. Informa-se — (Cf. o Sl 1:6.)
causa — isto é, nas cortes de justiça (cf. o v. 14). O descuido
voluntário dela pelos ímpios ocasiona a opressão.
8. escarnecedores — os que malignamente desprezam a lei de
Deus.
alvoroçam — Melhor versão: Acendem uma cidade, ou originam
contendas; por outro lado, os sábios
desviam — ou diminuem a ira.
9. discute — defender uma causa perante a lei.
se encolerize ... se ria — O néscio, irado ou de bom humor, fica
indeciso: ou se se refere ao sábio, o sentido é, que todos os seus esforços,
severos ou brandos, são ineficazes para apaziguar o néscio.
10. sanguinários — homicidas (Sl 5:6; Sl_26:9).
aborrecem — (Cf. o Pv_1:11; Gn_3:4.)
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 85
procuram, etc. — Melhor: Buscam sua vida (dele), isto é, tentam
protegê-la.
11. (Cf. Pv_12:16; Pv_16:32.)
ira — dá toda expressão a sua ira ou outra paixão má que o sábio
sabe refrear.
12. Seus servos o imitam.
13. (Cf. Pv_22:2)
opressor — lit., o homem de vexames, o exator.
é o SENHOR quem dá luz aos olhos — conserva suas vidas
(1Sm_14:27; Sl_13:3), quer dizer, ambos confiam nEle, e Ele fará
justiça.
14. (Cf. Pv_20:28; Pv_25:5.) Tal é o caráter do Rei dos reis
(Sl_72:4, Sl_72:12).
15. (Cf. Pv_13:24; Pv_23:13.)
16. (Cf. os vv. 2, 12; Sl_12:1-8).
verão a ruína — e triunfarão na queda deles (Sl_37:34-38;
Sl_58:10-11).
17. (Cf. os vv. 3, 15; Pv_19:18.)
descanso — (Cf. o v. 9.)
18. Não havendo profecia — ou visão profética, instrução na
verdade de Deus a qual vinha pelos profetas mediante visões (1Sm_3:1).
se corrompe — (Cf. margem) privado de refreamentos morais.
guarda a lei — cumpre as instruções (Pv_14:11, 34; Sl_19:11).
19. servo — que carece de princípios bons.
não te atenderá — não obedecerá.
20. (Cf. Pv_21:5.)
precipitado nas suas palavras — por ser jactancioso (Pv_26:12).
21. ele quererá ser filho — assumirá o lugar e os privilégios de um
filho.
22. (Cf. Pv_15:18.) Os tais se deleitam na discórdia e na violência.
23. (Cf. Pv_16:18; Pv_18:12.)
o humilde — ou, o humilde … alcançará honra (Pv_11:16).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 86
24. aborrece a própria alma — (Cf. Pv_8:36.)
ouve as maldições — (Lv_5:1). corre perigo do castigo antes de
revelar a verdade.
25. teme … ciladas — envolve os homens em dificuldades (cf. o v.
6).
está seguro — (cf. margem; Pv_18:10).
26. (Cf. a margem; Sl_27:8.). Só Deus pode fazer justiça, e a fará.
27. (Cf. Pv_3:32.)
abominação, etc. — (Cf. o v. 16; Sl_37:12).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 87
Provérbios 30

1. este é o título do capítulo (cf. a Introdução).


o oráculo (RC) — lit., a carga (cf. Is_13:1; Zc_9:1), que expressa
qualquer instrução divina; não necessariamente uma predição, que é só
um tipo de profecia (1Cr_15:27, uma canção). Os profetas eram homens
inspirados que falavam por Deus ao homem, ou pelo homem a Deus
(Gn_20:7; Êx_7:14-15, Êx_7:16). Tais, também, eram os profetas do
Novo Testamento. Em sentido geral, Gade, Natã e outros o eram, embora
nunca predisseram, que saibamos.
Disse o homem — lit., o dito do homem; expressão para indicar
qualquer anúncio solene e importante (cf. 2Sm_23:1; Sl_36:1; Sl_110:1;
Is_1:24, etc.). Itiel e Ucal talvez eram estudantes.
2-4. estúpido — termo forte para denotar a humilde estimativa de si
mesmo; ou pode ser que fale assim de sua condição natural, em contraste
com a onisciência e onipotência de Deus, que vê tudo. As interrogações
negam enfaticamente que os atributos mencionados sejam os de alguma
criatura, e particularizam a inferência de que a ciência, ou conhecimento,
é de Deus (cf. Dt_30:12-14; Is_40:12; Ef_4:8).
5. (Cf. Sl_12:6; Sl_119:140).
6. Nada acrescentes — Quer dizer que sua confiança inteira estava
no tudo suficiente ensino de Deus.
te repreenda — descobrindo a verdade.
7-9. Uma petição de ser eximido da iniquidade, e dos extremos da
pobreza e das riquezas, as duas coisas mencionadas. Entende-se o desejo
do contentamento.
8. A vaidade (RC) — toda sorte de atos pecaminosos
9. negue — que não me infle de orgulho pela prosperidade.
profane — não significa tomar o nome de Deus em vão, mas sim
arrebatar violentamente uma coisa, isto é, atacar o nome, ou seja, os
atributos de Deus, Sua justiça, misericórdia, etc., o que os pobres às
vezes se veem tentados a fazer.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 88
10. Não calunies — (Sl_10:7).
fiques culpado — antes, sejas achado culpado. Não seja que o
humilde servo, exasperado, volte-se contra ti e esclareça tua culpa.
11-14. Quatro tipos de pessoas aborrecíveis: (1) os filhos
desrespeitosos, (2) os hipócritas, (3) os vaidosos, (4) os opressores cruéis
(cf. o v. 14. Sl_14:4; Sl_52:2), que são ilustrados nos versículos que
correspondem como segue: (1) vv. 15, 16, a insaciabilidade dos filhos
pródigos e seu destino; (2) v. 17, a hipocrisia, ou a dissimulação do
verdadeiro caráter; (3 e 4) vv. 18-20 vários exemplos do orgulho e a
opressão.
15, 16. sanguessuga — alguns supõem que é o vampiro (animal
fabuloso) que era literalmente insaciável; mas as outras coisas
mencionadas são reais, e comparativamente, insaciáveis. O uso de uma
criatura fabulosa consequente com as noções populares, não é
inconsequente com a inspiração (cf. Is_14:31).
três coisas ... quatro — (cf. Pv_6:16).
17. Os olhos — pela pessoa, com referência ao órgão que se usa
para expressar o escárnio e o ódio, e também pelo qual o castigo é
recebido.
corvos … águia — ou que morrem não naturalmente, ou que ficam
insepultos, ou as duas coisas.
18-20. Ilustra-se a hipocrisia com quatro exemplos do encobrimento
de todos os métodos ou rastros de ação, acrescentando um exemplo de
doblez no próprio vício, ou seja, da adúltera.
20. come, e limpa — quer dizer, encobre as evidências de sua
vergonha, e pretende a inocência.
21-23. O orgulho e a crueldade, a exaltação indevida dos que são
incapazes para ter o poder, produzem os vícios que inquietam a
sociedade (cf. Pv_19:10; Pv_28:3).
23. a mulher desdenhada — ou aborrecível.
herdeira da sua senhora — quer dizer, ocupe o lugar de uma
esposa (Gn_16:4).
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 89
24-31. Estes versículos apresentam duas classes de ilustrações
adequadas, de vários aspectos do mundo moral, cuja aplicação se deixa a
critério do leitor. Pela primeira se recomenda a diligência e a
providência; o bem-estar destes insignificantes animais deve-se à sua
instintiva sagacidade e atividade, antes que à força.
28. a aranha (RC) — tolerada até nos palácios, para matar moscas.
se apanha com as mãos — usa ativamente os membros que tem
para caçar a presa. As outras espécies são símiles de tudo o que é
majestoso ou modesto, unindo a eficiência com a graça.
32. Como ninguém pode esperar resistir com êxito a tal rei, que se
suprima o mesmo pensamento de tal tentativa.
põe — tácita; talvez não necessitada; “Mão sobre a boca!”
(Juí_18:19; Jó_29:9; Jó_40:4).
33. A contenda, ou outros males, resultam de más maquinações
assim como os efeitos naturais, de causas naturais.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 90
Provérbios 31

1. Sobre o título desta, a 6a. parte do livro. cf. a Introdução.


profecia (RC) — como em Pv_30:1.
2. Que te direi, filho meu? — “O que tenho a dizer?” A repetição
denota encarecimento.
filho de meu ventre — “Filho de minhas vísceras”, termo de
carinho especial.
dos meus votos — como de alguém dedicado a Deus; tal pode ser o
significado da palavra Lemuel.
3-9. Advertências sucintas mas solenes contra os vícios que de
maneira especial tentam os reis, porquanto os prazeres carnais e o
governo opressivo e injusto se aproveitam para manter a indulgência
sensual.
3. tua força — os recursos mentais e corporais que são para saúde e
bem-estar.
teus caminhos — o curso da vida.
destroem — Evita os prazeres destrutivos (cf. Pv_5:9; Pv_7:22, 27;
Os_4:11).
4, 5. Os estimulantes debilitam a razão, e pervertem o coração, e
não convêm aos governantes, os quais necessitam mentes claras e firmes
e afetos bem dominados (cf. Pv_20:1; Pv_22:29).
pervertam, etc. — façam decisões injustas em prejuízo dos pobres.
6, 7. O devido uso de tais bebidas é para tonificar aos corpos fracos
e às mentes deprimidas (cf. o Sl_104:15).
8, 9. Abre a boca, etc. — Defende aos que não podem defender-se
por si só, como o órfão, o estrangeiro, etc. (cf. o Sl_72:12; Is_1:17).
os que se acham desamparados — os que de outra maneira ficam
arruinados por seus opressores (cf. Pv_29:14, 16).
10-31. Este delicioso quadro de uma esposa verdadeiramente bela
está concebido e traçado de conformidade com os costumes de nações
orientais, mas seus ensinos morais caem bem a todos os climas. No
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 91
hebraico os versos principiam com as letras do alfabeto hebraico em
ordem (cf. a Introdução aos Livros Poéticos).
quem a achará? — A pergunta denota que as tais são raras, mas
não totalmente inexistentes (cf. Pv_18:22; 19:14).
virtuosa — isto é, de caráter moral (cf. Pv_12:4; Rt_3:11).
seu valor — (cf. Pv_3:15).
11. O coração … confia — tem confiança na prudência e arte dela.
falta de ganho — não carece de lucros, com especialidade das
obtidas pelos riscos da guerra.
13, 14. A mulher de posição, de antigamente, assim trabalhava com
as mãos, e tais eram os costumes, com efeito, das mulheres ocidentais até
faz poucos séculos. No Oriente também os tecidos eram artigos de
mercadoria.
15. Diligentemente atende os gastos assim como a acumulação de
bens;
16. e portanto tem os meios para comprar propriedades.
17, 18. À energia acrescenta astúcia no trato e uma laboriosidade
incansável e até penosa.
18. não se apaga — denota talvez figurativamente que sua
prosperidade (Pv_24:20) não é de pouca duração.
19. Ela não despreza trabalho honrado nenhum, por humilde que
seja.
20. Sua indústria permite que seja caridosa.
21. de púrpura é a sua veste (RC) — A versão inglesa diz “vestida
de escarlate”, ou, púrpura, em razão das tintas usadas nos melhores
tecidos, como assunto de gostos; a cor dos trajes de inverno
22. cobertas — ou travesseiros estofados, para camas.
linho fino — (Cf. Êx_26:1; Êx_27:9).
púrpura — quer dizer, os artigos mais custosos.
23. entre os juízes — (cf. Pv_22:22). Seus confortos domésticas
facilitam seu adiantamento na dignidade pública.
Provérbios (Jamieson-Fausset-Brown) 92
24. linho fino — ou camisas de linho, ou o material para as
mesmas.
cintas — para vender, ou como presentes.
aos mercadores — no hebraico, ao cananeu.
25. A força e a dignidade — forte e bela é sua roupa; ou
figurativamente, de seu caráter vigoroso e honorável.
quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações — ou rirá do
futuro (a incerteza não lhe causa temor), ou se alegrará do dia futuro na
confiança da segura manutenção.
26. Sua conversação é prudente e aprazível.
27. (Cf. 1Tm_5:14; Tt_2:5). Ela acrescenta a seus objetos a da
direção sábia de seus familiares.
28. Honram-na os que melhor a conhecem.
29. Estas são palavras de seu marido, que a louva.
Muitas mulheres — textualmente, muitas filhas.
procedem virtuosamente — ou agem virtuosamente (cf. o v. 10).
30. a graça — o ar pessoal, conduta graciosa.
formosura — de rosto, ou de forma (cf. o Pv_11:22). Só a
verdadeira piedade demanda o respeito e afeto permanentes (1Pe_3:3).
31. O resultado de seus trabalhos é seu melhor elogio. Nada se pode
acrescentar à beleza singela de este admirável retrato. Sobre a medida de
sua realização nas filhas de nosso próprio dia, descansa o bem-estar
doméstico do povo, e portanto também, o civil e religioso.
ECLESIASTES
Original em inglês:
ECCLESIASTES -
Ecclesiastes; or The Preacher
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução

Eclesiastes 1 Eclesiastes 5 Eclesiastes 9

Eclesiastes 2 Eclesiastes 6 Eclesiastes 10

Eclesiastes 3 Eclesiastes 7 Eclesiastes 11

Eclesiastes 4 Eclesiastes 8 Eclesiastes 12


Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

O título hebraico é Qohelet, que o autor do livro se aplica a si


mesmo (Ec_1:12). "Eu, Qohelet, fui rei sobre Israel". Significa alguém
que reúne ou Convocador de reunião, e um Pregador de tal reunião. A
forma feminina do substantivo hebraico, e sua construção uma vez
(Ec_7:27) com o verbo em feminino, demonstra que não somente
significa Salomão, o pregador das assembleias (quando se constrói com
o verbo, ou substantivo masculino), mas também a sabedoria divina
(vocábulo feminino no hebraico), a qual fala pela boca do rei inspirado.
Em seis dos sete casos se constrói no masculino. Salomão foi dotado de
sabedoria inspirada (1Rs_3:5-14; 1Rs_6:11-12; 1Rs_9:1, etc.; 1Rs_11:9-
11), o que o preparou devidamente para sua tarefa. Os orientais se
deleitam em tais reuniões para os discursos solenes. Assim os árabes
antes tinham uma assembleia anual, no Ocadh, para ouvir e recitar
poemas. Cf. "Mestres das congregações" (nota de Ec_12:11, também de
Ec_12:9). "O Pregador ensinava a sabedoria ao povo", provavelmente
pessoalmente; 1Rs_4:34; 1Rs_10:2, 1Rs_10:8, 1 Rs_10:24; 2Cr_9:1,
2Cr_9:7, 2Cr_9:23, evidentemente se referem a um divã ou algo em
lugar público reunido para discussão literária. De modo que "propôs",
(dissertou, falou, o mesmo verbo no hebraico) três vezes repetido (1
Rs_4:32-33), refere-se não a composições escritas, mas sim a discursos
falados em assembleias convocadas a esse fim. O Espírito Santo, sem
dúvida, significa também pelo termo, que a doutrina de Salomão está
destinada à "grande congregação," a Igreja de todos os lugares e idades
(Sl_22:25; Sl_49:2-4).
Salomão, está claro, é o autor (Ec_1:12, 16; Ec_2:15; Ec_12:9).
Que os rabinos o atribuam a Isaías ou a Ezequias se explica pela hipótese
de que aquele ou este o incluiu no cânon. A diferença de seu estilo,
comparado com o de Provérbios e Cantares, deve-se à diferença de
temas, e ao período diferente de sua vida na qual se escreveu cada um:
ou seja, Cantares, no ardor de seu primeiro amor a Deus; Provérbios,
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 3
como ao mesmo tempo, ou algo depois; mas Eclesiastes em sua
ancianidade, como selo e testemunho do arrependimento de sua
apostasia no período correspondente: o Sl_89:30, Sl_89:33 comprova
seu arrependimento. A substituição do título Qohelet por Salomão (isto
é, paz), pode ser que implique que, tendo conturbado a Israel, perdeu
enquanto isso seu nome de paz (1Rs_11:14, 1Rs_11:23); mas agora,
havendo-se arrependido, deseja ser daí em diante um Pregador de
justiça. As pretendidas expressões estrangeiras no hebraico poderiam ter
sido facilmente importadas, pela grande intercomunicação com outras
nações durante seu longo reinado. Além disso os supostos caldeísmos
podem ser fragmentos conservados da língua comum da qual o hebraico,
o siríaco, o caldeu e o arábico foram brotos.
O propósito do Eclesiastes é demonstrar a vaidade de todas as
ocupações meramente humanas, quando se faz delas a principal
finalidade, em contraste com a verdadeira bem-aventurança da
verdadeira sabedoria, ou seja, a religião. A imortalidade da alma
menciona-se incidentalmente, como subsidiária ao propósito principal. A
lei de Moisés pressupunha esta verdade, e tirou suas sanções de
recompensa e de retribuição de acordo com a teocracia, que estava sob
uma providência especial de Deus como Rei temporário de Israel, da
vida presente, em lugar da futura. Mas depois que Israel escolheu um rei
terrestre, Deus retirou, em parte, Sua providência extraordinária, de
modo que sob Salomão, as recompensas temporárias não
invariavelmente seguiam à virtude, nem os castigos ao vício (cf.
Ec_2:16; Ec_3:19; Ec_4:1; Ec_5:8; Ec_7:15; Ec_8:14; Ec_9:2, 11).
Portanto se suscitou a necessidade de demonstrar que estas anomalias
serão retificadas no além, e esta é a "conclusão", pois, de "tudo" o livro
que, vendo que há um juízo vindouro, e que os bens atuais não
satisfazem à alma, "Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque
isto é o dever de todo homem" (Ec_12:13, 14), e enquanto isso
aproveitar, em prazerosa e serena sobriedade, e não abusar, da vida
presente (Ec_3:12, 13).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 4
Objeta-se que parece que se inculca o epicurismo sensual (Ec_3:12,
13, 22, etc.); mas o que se ensina é o gozo agradecido dos atuais dons de
Deus, em oposição ao espírito murmurador, angustiado, avaro, como se
comprova por Ec_5:18, cf. com Ec_5:11-15, não fazendo daqueles dons
o fim principal da vida; não o gozo da obscenidade de insensatez; a má
compreensão advertida em Ec_7:2-6; Ec_11:9; Ec_12:1. Outra vez,
Ec_7:16 e Ec_9:2-10 poderia parecer que ensinam o fatalismo e o
cepticismo. Mas estas são palavras postas em boca de um contrário; ou
antes, foram da linguagem de Salomão mesmo durante sua apostasia,
que encontra eco no coração de todo sensual que deseja ser incrédulo e
que, portanto, vê no mundo que o rodeia muitas dificuldades em que
basear sua voluntariosa incredulidade. A resposta é dada (em Ec_7:17,
18; Ec_9:11, etc.; Ec_11:1, 6; Ec_12:13). Mesmo quando se compreenda
que estas palavras são de Salomão, devem ser entendidas como uma
proibição de uma "justiça própria" de alguém, que pretenda obrigar a
Deus a repartir a salvação a quem praticar obras boas imaginárias e um
rigor externo esgotante; também proíbem aquela especulação que
pretende sondar os inescrutáveis conselhos de Deus (Ec_8:17), e aquela
despreocupação a respeito do futuro, de conformidade com Mt_6:25.
O Sumo Bem é aquele cuja possessão nos torna felizes, que deve
ser buscado como o fim, por amor dele mesmo; não sendo todas as
demais coisas senão os meios para seu alcance. Os filósofos que fizeram
dele o grande tema de suas investigações, limitaram-no à vida presente,
considerando que o eterno era irreal, e útil somente para atemorizar as
pessoas. Mas Salomão demonstra a vaidade de todas as coisas humanas
(inclusive os assim chamados filósofos) para satisfazer a alma, e que só a
sabedoria celestial é o bem principal. Assim tinha ensinado quando era
jovem (Pv_1:20; Pv_8:1, etc.); também em Cantares tinha
espiritualizado o tema numa alegoria; e agora, depois de ter provado
pessoalmente tanto tempo as tantas maneiras em que o mundo busca
alcançar a felicidade, dá na idade avançada o fruto de sua experiência.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 5
Eclesiastes se divide em duas partes: Ec_1:1-6, que demonstram a
vaidade das coisas terrenas; e Ec_6:10 a Eclesiastes 12, que ensinam a
excelência da sabedoria celestial. Ocorrem separações dos estritos
métodos lógicos nestas divisões, mas nos de maior importância,
observam-se. Fazem com que o estilo seja rígido e artificioso, e portanto
mais acomodado a todas as capacidades mentais. É poético; a divisão
hemistiquial é a forma mais observada, mas nem sempre. A escolha de
epítetos, as figuras, a ordem investida de palavras, a elipse, o paralelismo
ou, em sua ausência, a similaridade de dicção, caracterizam a
versificação.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 6
Eclesiastes 1

INTRODUÇÃO.
1. do Pregador — e Convocador a assembleias para o propósito.
Veja-se a Introdução. Qohelet no hebraico, nome simbólico de Salomão
e da Sabedoria celestial que falava por meio dele e se identificava com
ele. O v. 12 revela que “rei de Jerusalém” está em aposto não com
relação a “Davi,” mas com relação a “Pregador”.
em Jerusalém — meramente sua metrópole, não seu reino inteiro.
2. O tema proposto da primeira parte de seu discurso,
Vaidade de vaidades — hebraísmo: por vaidade absoluta. Como
“Santo dos (lugares) santos” (o Santíssimo) (Êx_26:33); “servo de
servos” (Gn_9:25). A repetição aumenta a força.
tudo — heb. “o tudo,” tudo sem exceção, ou seja, as coisas
terrenas.
vaidade — não em si mesmas, pois Deus nada faz em vão
(1Tm_4:4-5), mas sim vãs quando são postas em lugar de Deus, e feitas
o fim em vez dos meios (Sl_39:5-6; Sl_62:9; Mt_6:33); vãs também por
causa da “vaidade” a que foram “sujeitas” pela queda (Rm_8:20).
3. Que proveito … trabalho — isto é, com relação ao sumo bem
(Mt_16:26). O trabalho é proveitoso em seu devido lugar (Gn_2:15;
Gn_3:19; Pv_14:23).
debaixo do sol — quer dizer, nesta vida, em oposição com o
mundo vindouro. A frase volta a aparecer muitas vezes, mas só no
Eclesiastes.
4. terra permanece para sempre — Sl_104:5.) Enquanto que a
terra permanece a mesma, as gerações dos homens vão mudando
sempre; que proveito pode haver, pois, das fadigas daquele cuja estada
na terra, como indivíduo, é tão breve? O “sempre” tem sentido
comparativo, não absoluto (Sl_102:26).
5. (Sl_19:5-6.)
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 7
volta ao seu lugar — O verbo no hebraico é ofegar, e
metaforicamente significa apressar-se, de um que corre (“o forte,”
Sl_19:5) na carreira. Aplica-se, antes, ao sol nascente, que parece surgir
laboriosamente até o meridiano, e não ao sol poente; os acentos também
favorecem a Maurer, quem diz: “E (tornando também) a seu lugar, onde
ofegante se levanta.”
6. faz o seu giro — volta de novo por seus giros, caminhos
anteriores, por muitas que sejam suas voltas até agora. O vento do norte
e o do sul são os dois prevalecentes no Egito e Palestina.
7. Pelas cavidades subterrâneas, e pela evaporação que forma as
nuvens de chuva, os mananciais e os rios recebem água do mar, a qual
depois retorna. A ideia que corresponde é, que os homens individuais
vão mudando continuamente, enquanto a sucessão da raça continua;
assim como o sol, o vento, e os rios, mudam, enquanto o ciclo por onde
gira é inalterável; voltam para ponto de partida. Portanto no homem,
como nestes objetos da natureza que lhe são análogos, com todas as
mudanças aparentes, “nada há, pois, novo” (v. 9).
8. Maurer traduz: “Todas as palavras se matam de cansaço”, isto é,
são inadequadas, como também “o homem não pode expressar” todas as
coisas do mundo que sofrem este incessante, inalterável ciclo de
vicissitudes: “O olho não se satisfaz as contemplando.” Mas é
evidentemente um retorno à ideia (v. 3) com relação ao “trabalho” do
homem, que não é mais que esgotante e sem proveito; “nada novo” de
bom resulta dele (v. 9); porque como o sol sai … etc., assim os trabalhos
fatigantes do homem se movem num ciclo imutável. O “olho” e o
“ouvido” são dois dos capatazes pelos quais trabalha o homem. Mas
estes nunca “se fartam” (Ec_6:7; Pv_27:20). Nem poderão fartar-se
depois de agora, porque não haverá “nada novo.” Não assim o sumo
bem, Jesus Cristo (Jo_4:13-14; Ap_21:5).
9. nada há, pois, novo — antes, “nada há novo absolutamente”,
como em Nm_11:6. Isto não significa em sentido geral; mas sim não há
fontes novas de felicidade (o tema em discussão) que se possam
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 8
inventar; repetindo-se vez após vez o mesmo círculo de prazeres
comuns, cuidados, afazeres, estudo, guerras, etc. (Holden).
10. séculos — Heb. “eras”.
Já foi — O plural hebraico não pode ser unido ao verbo no
singular. Assim, traduza-se: “O que foi feito perante nós (em nossa
presença. 1Cr_16:33), já foi feito nos tempos antigos.”
11. A razão por que se crêem novas algumas coisas, que na
realidade não o são, é que é imperfeita a história existente das idades
precedentes entre seus sucessores.
os que hão de vir depois delas — quer dizer, os que vivam mesmo
depois das “coisas, antes, as pessoas ou gerações (v. 4) com as quais
este verso está relacionado, os seis versos intermédios são meramente
ilustrações do v. 4 (Weiss), que têm que vir” (Ec_2:16; Ec_9:5).
12. Reassume-se o v. 1, sendo os vv. intermediários palavras
introdutórias de sua tese. Assim que se repete “o Pregador” (Qohelet).
fui rei (TB) — em lugar de “sou rei,” porque está para dar os
resultados de sua experiência passada durante seu longo reinado.
em Jerusalém — especificado, contrariamente a Davi, quem reinou
em Hebrom e também em Jerusalém, enquanto que Salomão reinou só
em Jerusalém. “Rei de Israel em Jerusalém” denota que reinou sobre
Israel e Judá combinados; enquanto que Davi, em Hebrom, reinou só
sobre Judá, e até que se estabeleceu em Jerusalém, não reinou sobre
ambos Israel e Judá.
13. este enfadonho trabalho — ou seja, de “informar-me com
sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu.” Não a sabedoria
humana em geral, a que vem depois (Ec_2:12, etc.), mas sim a laboriosa
investigação e as especulações a respeito das obras dos homens, por
exemplo, a ciência política. Como o homem está destinado a procurar
seu pão, assim também seu conhecimento, pelo suor de seu rosto
(Gn_3:19). (Gill.)
para que se ocupem — quer dizer, “sejam disciplinados: lit., para
que nisso se castiguem ou se humilhem.”
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 9
14. Dá-se aqui a razão pela qual a investigação das “obras” do
homem não é mais que “enfadonho trabalho” (v. 13), ou seja, porque
todos os caminhos do homem são vãos (v. 18) e não podem ser
endireitados (v. 15).
correr — o cair sobre a presa.
atrás do vento — Maurer traduz: “a perseguição do vento” como
em Ec_5:16; Os_12:2: “Efraim se apascenta do vento.” Versões antigas
apoiam a inglesa, “na qual se diz exercitar-se.”
15. A investigação (v. 13) dos caminhos humanos é trabalho vão,
porque são desesperadamente “torcidos” e não podem ser “endireitados”
com ela (Ec_7:13). Só Deus, o sumo bem, pode fazer isto (Is_40:4;
Is_45:2).
o que falta — (Dn_5:27.)
não se pode calcular — de modo a fazer um número completo:
equivale a ser suprido. (Maurer.) Ou, antes, o estado do homem é do
estado faltante, e o que é totalmente defectivo não pode ser enumerado
nem calculado. O investigador pensa que pode reunir, em números
exatos, a estatística das necessidades do homem; mas estas, inclusive os
defeitos do investigador, não são parciais, mas sim totais.
16. Eu falei no meu coração (TB) — (Gn_24:45.)
eu me engrandeci — antes, “exaltei-me e adquiriu”
sobrepujei em sabedoria a todos — ou seja, os sacerdotes, juízes,
e os dois reis anteriores a Salomão. Sua sabedoria excedia a de todos os
que foram antes de Jesus Cristo, o Qohelet antitípico, ou o “Convocador
de homens” (Lc_13:34), e a “sabedoria” encarnada (Mt_11:19;
Mt_12:42).
tem tido, etc. — (Jr_2:31.) Contraste-se com isto o glorificar-se na
sabedoria mundana (Jr_9:23-24).
17. sabedoria … loucuras — quer dizer, seus efeitos, as obras da
sabedoria e da insensatez respectivamente. “Loucura,” lit., extravagância
vaidosa; Ec_ 2:12 e Ec_7:25, etc., apoiam nossa versão tem tido, melhor
que Dathe, “assuntos esplêndidos.” Desvarios” (tolice) lê-se em alguns
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 10
MSS, em vez da do presente texto hebraico de “prudência.” Se este for
conservado, deve entender a “prudência,” falsamente assim chamada
(1Tm_6:20), ou “astúcia” (Dn_8:25).
18. sabedoria … ciência — não em geral; mas sim o conhecimento
especulativo dos caminhos do homem (vv. 13, 17), o qual, quanto mais
balança, mais dor motiva a alguém quando se dá conta de quão
“torcidos” e “faltos” são (v. 15; Ec_12:12).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Eclesiastes 2

Salomão agora prova o prazer e o luxo, retendo, contudo, sua


“sabedoria” humana (Ec_3:9), mas tudo resulta em “vaidade” com
relação ao sumo bem.
1. Eu disse no meu coração (TB) — (Lc_12:19.)
Eu te provarei — para ver se pode achar aquele bem efetivo no
prazer, que não houve na “sabedoria mundana.” Mas isto também resulta
“vaidade” (Is_50:11).
2. riso — termo que inclui a prosperidade, e a alegria em geral
(Jó_8:21).
loucura — quer dizer, quando se toma pelo maior bem; é
inofensiva em seu devido lugar.
de que serve — para conseguir o sumo bem? (Ec_7:6; Pv_14:13).
3-11. Ilustração mais ampliada dos vv. 1, 2.
Resolvi — depois de inquirir em muitos projetos.
dar-me ao — lit., arrastar minha carne (corpo) ao vinho (inclusive
todo banqueteio). Figura tirada do cativo arrastado atrás do carro de
guerra, no triunfo (Rm_6:16, Rm_6:19; 1Co_12:2); ou, de alguém que é
seduzido (2Pe_2:18-19).
regendo-me … sabedoria — Lit., “e meu coração (ainda) se
comportava, ou se guiava, com sabedoria” (Gesênius.) Maurer traduz:
“cansou-se da sabedoria” (mundana). Mas o fim do v. 9 apoia a versão
inglesa: “ensinando ainda a meu coração a sabedoria.”
loucura — ou seja, os prazeres da carne, chamados “loucura” (v.
2).
os poucos dias — Heb. o número de dias de sua vida (Ec_6:12;
Jó_15:20).
4. (1 Rs_7:1-8; 1 Rs_9:1, 1 Rs_9:19; 1 Rs_10:18, etc.)
vinhas — (Ct_8:11.)
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 12
5. jardins — Heb. paraísos, vocábulo estranho; Armênio e Árabe:
“recreio com flores e plantas perto da casa ou castelo do rei.” Nenhum
paraíso terrestre pode fazer as vezes do celestial (Ap_2:7).
6. açudes — para a irrigação da terra (Gn_2:10; Ne_2:14; Is_1:30).
Ainda existem três de tais depósitos, chamados as cisternas de Salomão
como a dois mil metros de Jerusalém.
bosque, etc. — “antes, o bosque que floresce com árvores.”
(Lowth.)
7. servos nascidos em casa — “servos nascidos em minha casa,”
estimados de mais valor que os comprados (Gn_14:14; Gn_15:2-3;
Gn_17:12-13, Gn_17:27; Jr_2:14), chamados filhos da serva de alguém
(Êx_23:12; cf. com Gn_12:16; Jó_1:3).
8. (1 Rs_10:27; 2Cr_1:15; 2Cr_9:20.)
tesouros de reis e de províncias — contribuições destes, como
tributários do rei (1 Rs_4:21, 1 Rs_4:24); um substituto vil daquela
sabedoria “cuja aquisição é melhor que o ouro fino” (Pv_3:14-15).
cantores — também Davi (2Sm_19:35).
instrumentos, etc. — usados-nos banquetes (Is_5:12; Am_6:5-6);
antes, uma princesa e princesas, de raiz árabe. Uma esposa própria, ou
rainha (Et_1:9); a filha de Faraó (1Rs_3:1); outras mulheres secundárias,
princesas, distintas das “concubinas” (1Rs_11:3; Sl_45:10, Ct_6:8).
(Weiss, Gesênius). Se estas forem omitidas, a enumeração seria
incompleta.
9. engrandecido — “Fui grande,” opulento (Gn_24:35; Jó_1:3; cf.
1 Rs_10:23).
perseverou — (v. 3).
10. minhas fadigas — para procurar o prazer.
isso — este desfruto desvanecente foi minha única “porção de todo
meu trabalho” (Ec_3:22; Ec_5:18; Ec_9:9; 1 Rs_10:5).
11. Mas todas estas coisas percebi que eram só “vaidade,” e de
nenhum “proveito” referente ao bem principal. A “sabedoria” (o senso
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 13
comum mundano, a sagacidade), que até “perseverou comigo” (v. 9),
ensinou-me que estas não me podiam proporcionar a sólida felicidade.
12, 13. Tinha provado a sabedoria mundana; (Ec_1:12-18) e a
estultícia (prazer néscio Ec_2:1-11); agora as compara (v. 12), e acha
que enquanto que
a sabedoria é mais proveitosa do que a estultícia (v. 13) —
contudo, um evento, a morte, toca a ambas (vv. 14-16), e assim a riqueza
adquirida pelo trabalho do sábio pode passar ao “néscio” que não
trabalhou (vv. 18, 19, 21); portanto, todo o seu trabalho é vaidade (vv.
22, 23).
Que fará o homem que seguir ao rei? (v. 12) — (Ec_1:9.)
Parentético. O investigador futuro não poderá traçar nada “novo” de
modo a chegar a uma conclusão diferente da minha ao comparar “a
sabedoria e o prazer néscio.” Holden, com menos elipse, traduz: “O que,
oh homem, virá depois do rei …?” Melhor, Grocio: “Que homem poderá
vir depois do (rivalizar com o) rei nas coisas que estão feitas?” Nenhum
outro poderá ter os mesmos meios para provar o que podem fazer todas
as coisas terrenas por satisfazer a alma: ou seja, a sabedoria mundana, a
ciência, as riquezas, o poder, a longevidade, todos combinados.
14. (Pv_17:24.) O “sábio” deste mundo tem bom sentido no manejo
de seus assuntos, a arte e bom gosto na edificação e na plantação, e se
mantém dentro dos limites seguros e respeitáveis no prazer, enquanto
que o “néscio” é falto neste respeito (“trevas” equivale a erro fatal,
enfatuação cega), contudo, um evento, a morte, acontece a ambos
(Jó_21:26).
15. por que, pois, busquei eu — assim tão ansioso a tornar-se, etc.
(2Cr_1:10).
Então — visto que tal é o caso.
isso — ou seja, o seguir a sabedoria (mundana), que nunca pode
tomar o lugar da verdadeira (Jó_28:28; Jr_8:9).
16. memória — uma grande ambição dos mundanos (Gn_11:4). Só
os justos a alcançam (Sl_112:6; Pv_10:7).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 14
para sempre — memória, ou reputação perpétua.
dias vindouros (TB) — Maurer: “Nos dias vindouros todas as
coisas há muito tempo estarão esquecidas.”
17. Desenganado num experimento após o outro, fica aborrecido da
vida. O apóstata devia ter refletido como o filho pródigo (Os_2:6-7;
Lc_15:17-18).
me foi penosa a obra — (Jó_10:1.)
18, 19. Restou uma só esperança a este decepcionado mundano, ou
seja, a perpetuação de seu nome e suas riquezas, penosamente reunidas,
por meio de seu sucessor. Porque o egoísmo é principalmente a raiz da
alegada providência dos pais mundanos a favor de seus filhos. Mas agora
a lembrança de como ele próprio, o filho piedosamente criado de Davi,
tinha menosprezado o mandamento de seu pai moribundo (1Cr_28:9),
sugeriu-lhe triste pressentimento quanto ao que Roboão, seu filho da
idólatra amonita, Naamá, resultasse ser; presságio realizado em demasia
(1 Reis 12; 1Cr_14:21-31).
20. Desesperado me desfiz de toda esperança de fruto permanente
de meu trabalho.
21. homem — Dado o caso haver tal homem.
com … destreza — antes, “com êxito,” como o hebraico se traduz
em Ec_11:6 “prosperar”, mas a margem lê “com retidão.”
grande mal — não em si mesmo, porque este é o curso comum das
coisas, mas sim “mal” com relação ao bem principal, que alguém tivesse
trabalhado tanto sem proveito.
22. O mesmo sentimento que o do v. 21, expresso
interrogativamente.
23. O único fruto que ele tem não só são as dores em seus dias, mas
também todos os seus dias são dores, e seu trabalho, (não só tem dores
envoltas nele, mas também ele mesmo é) dor, ou tristeza.
24. Esta versão dá um aparente sentido epicurista, contrário ao
contexto. O hebraico é, lit., “Não é bom ao homem comer e beber, e
fazer com que sua alma veja o bem” (ou “manifestar sua alma, em si,
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 15
alegre”), etc. (Weiss.) Segundo Holden e Weiss, Ec_3:12, 22 difere deste
versículo em texto e sentido; aqui quer dizer o escritor que “Não é bom
que o homem banqueteie, nem que aparente estar falsamente alegre em
sua alma;” assim se refere aqui à falsa pretensão de felicidade adquirida
pelas próprias pessoas e para si mesmo, e em Ec_3:12, 22 e Ec_5:18,19,
ao verdadeiro ver, ou achar prazer quando Deus o dá. Ali é dito que é
bom ao homem desfrutar com satisfação e gratidão as bênçãos que Deus
dá; aqui édito que não é bom que alguém tome para si um prazer irreal
mediante o banqueteio, etc.
vi também que isto — Recebi pela experiência que o bem (prazer
verdadeiro) não tem que receber-se à vontade, mas sim vem só da mão
de Deus (Weiss) (Sl_4:6; Is_57:19-21). Ou segundo Holden: “É a
ordenação de mãos dadas de Deus que o sensual não tenha sólida
satisfação” (bem).
25. pode alegrar-se — lit., “se apressará” atrás dos prazeres
(Pv_7:23; Pv_19:2); seguirá com avidez as alegrias. Ninguém pode
competir comigo nisto. Se eu, pois, com todas as minhas oportunidades
prazenteiras não pude absolutamente obter o prazer sólido de minha
própria produção, à parte de Deus, quem o pode fazer? Deus
misericordiosamente poupa a Seus filhos do triste experimento que fez
Salomão, negando-lhes os bens que eles com frequência desejam. Dá-
lhes os frutos da experiência de Salomão, sem que eles paguem o alto
preço com que Salomão a comprou.
26. É a verdade, literalmente, na teocracia judaica: e até certa
medida em todas as idades (Jó_27:16-17; Pv_13:22; Pv_28:8). Embora a
retribuição não seja tão visível e imediata agora como então, não é
menos real. A felicidade até aqui é mais verdadeiramente a porção dos
piedosos (Sl_84:11; Mt_5:5; Mc_10:29-30; Rm_8:28; 1Tm 4:8).
para que ele ajunte — o pecador, isto é, inconscientemente, e
apesar dele. O piedoso Salomão tinha satisfação em suas riquezas e
sabedoria, quando Deus as dava (2 Cr_1:11, 12). O Salomão apóstata
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 16
não teve felicidade quando a buscava nelas à parte de Deus; as riquezas
que ele entesourou chegaram a ser o despojo de Sisaque (2 Cr_12:9).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Eclesiastes 3

As ocupações terrestres são, sem dúvida, lícitas em sua devida


ordem e tempo (vv. 1-8), mas sem proveito quando as tem fora de tempo
e lugar; como por exemplo, as tem como bem único e principal (vv. 9,
10); enquanto que Deus faz belas todas as coisas em sua oportunidade o
que o homem imperfeitamente compreende (v. 11). Deus permite ao
homem que desfrute com moderação e virtuosamente os dons terrenos
que lhe concede (vv. 12, 13). O que nos consola no meio da instabilidade
das bênçãos terrestres, é que os conselhos de Deus são imutáveis (v. 14).
1. O homem tem seu ciclo assinalado de estações e de vicissitudes,
como o sol, vento, e água (Ec_1:5-7).
todo propósito — como existe um “momento propício” fixo nos
“propósitos” de Deus (por exemplo, fixou ele tempos para alguém
quando nascer, e quando morrer. v. 2), assim há também um “tempo”
(prazo) lícito para que o homem leve a cabo os seus “propósitos” e
inclinações. Deus não condena o “uso” das bênçãos terrestres, mas sim o
passa (v. 12); o que condena é o “abuso” das mesmas, o fazer delas o fim
principal (1Co_7:31). A terra, sem os desejos humanos, o amor, o gosto,
alegria, tristeza, seria um vazio lúgubre, um deserto sem água; mas por
outro lado, o mal uso ou o excesso deles, deve ser restringido, como uma
inundação. Razão e revelação são dadas para restringi-los.
2. tempo de morrer — (Sl_31:15; Hb_9:27).
plantar — Como o homem não pode reverter o tempo e ordem de
“plantar” e de “arrancar”, e transplantar, como tampouco pode alterar a
data de seu nascimento ou de sua morte. Pretender “plantar” fora de
maturação é vaidade, por boa que seja a maturação; do mesmo modo,
fazer das coisas terrenas o fim principal é vaidade, por boas que sejam
em ordem e maturação. Gill o entende figurativamente (Jr_18:7, Jr_18:9;
Am_9:15; Mt_15:13).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 18
3. Tempo de matar — quer dizer, judicialmente, a criminosos, ou
na guerra defensiva; não com malícia. Fora do tempo e ordem, o matar é
homicídio.
de curar — Deus tem seus tempos para “curar” (lit., Is_38:5,
Is_38:21; fig., Dt_32:39; Os_6:1; espiritualmente, Sl_147:3; Is_57:19).
Curar espiritualmente antes que o pecador sentisse sua úlcera, seria fora
do tempo, e assim danoso.
tempo de derribar – cidades, como Jerusalém, por Nabucodonosor.
edificar — como Jerusalém, no tempo de Zorobabel;
espiritualmente (Am_9:11), “o tempo fixo” (Sl_102:13-16).
4. chorar — ou seja, pelos mortos (Gn_23:2).
dançar (TB) — como Davi diante da arca (2Sm_6:12-14;
Sl_30:11), espiritualmente (Mt_9:15; Lc_6:21; Lc_15:25). Os fariseus,
exigindo a tristeza fora do tempo, erraram gravemente.
5. espalhar — arrojar pedras: como fora do jardim ou da vinha
(Is_5:2).
ajuntar pedras — para edificar, fig., os gentios, que uma vez
foram pedras desprezadas, a seu tempo foram feitos parte do edifício
espiritual (Ef_2:19-20), e filhos de Abraão (Mt_3:9); deste modo logo os
judeus restabelecidos (Sl_102:13-14; Zac_9:16).
abster-se de abraçar — (Jl_2:16; 1Co_7:5-6.)
6. buscar — por ex., ganhara a vida honestamente (Ef_4:23.)
perder — Quando Deus dispõe perda para nós, então cabe a nós
contentar-nos com isso.
guardar — não dar ao mendigo ocioso (2Ts_3:10).
deitar fora — para a caridade (Pv_11:24); ou nos despojar do mais
querido, em vez de perder a alma (Mc_9:43). O ser cuidadoso é bom em
seu lugar, mas não quando isso se interpõe entre nós e o Senhor
(Lc_10:40-42).
7. rasgar — rasgar a roupa, no pranto (Jl_2:13). Fig., dividir
nações, como Israel de Judá, já predito, nos dias de Salomão
(1Rs_11:30-31), a ser “cosidas” numa depois (Ez_37:15, Ez_37:22).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 19
estar calado — (Am_5:13), na calamidade nacional, ou na de um
amigo (Jó_2:13); também, não murmurar sob a visitação de Deus
(Lv_10:3; Sl_39:1-2, Sl_39:9).
8. aborrecer — por ex., o pecado, a concupiscência (Lc_14:26); é
como dizer, amar a Deus tanto mais quanto pareça em comparação,
aborrecer a “pai e mãe”, quando se interpõem entre nós e Deus.
tempo de guerra … paz — (Lc_14:31.)
9. Mas estas ocupações terrestres, lícitas em seu tempo, são “sem
proveito” quando o homem faz delas o que Deus nunca quis, o bem
principal. Salomão tinha buscado criar uma alegria artificialmente
forçada, às vezes quando devia ter agido a sério; o resultado, pois, de seu
esforço para ser feliz fora da ordem de Deus, foi um desengano. “Um
tempo de plantar” (v. 2), refere-se à plantação dele (Ec_2:5); o “rir” (v.
4), a “juntar pedras” (vv. 3, 5), à “edificação” dele (Ec_2:4); o “abraçar”
e “amar,” à “princesa” dele (Ec_2:8); o “buscar” (possivelmente também
o “juntar,” 5, 6), ao “achegar” dele (Ec_2:8). Todas estas coisas foram
sem “proveito,” porque não foram segundo o tempo e ordem de Deus
para repartir a felicidade.
10. (Ec_1:13.)
11. no seu devido tempo — isto é, em sua devida estação (Sl_1:3),
em contraste com os mundanos, que põem as ocupações terrestres fora
de seu próprio tempo e ordem (v. 9).
pôs a eternidade no coração do homem — lhes deu a capacidade
para compreender o mundo da natureza, que reflete a sabedoria de Deus
em seus muito belos tempos e ordem (Rm_1:19-20). “Tudo” (todas as
coisas) corresponde no paralelismo a “o mundo.”
de maneira que (TB) — isto é, que o homem veja só uma porção,
não o todo “desde o princípio até ao fim” (Ec_8:17; Jó_26:14;
Rm_11:33; Ap_15:4). Parkhurst traduz: “Mas pôs a escuridão no meio
deles,” lit., um segredo; daí, pois, a ofuscação mental do homem quanto
ao mistério pleno da obra de Deus. Assim traduzem Holden e Weiss.
Esta incapacidade de “alcançar” (esquadrinhar, compreender) a obra de
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 20
Deus é principalmente o fruto da queda. O mundano desde então, não
conhecendo o tempo nem ordem de Deus, trabalha em vão, porque
trabalha fora do tempo e ordem.
12. para o homem — nas obras de Deus (v. 11), assim que se
relacionem com o dever do homem. O homem não as pode compreender
totalmente, mas deve receber prazerosamente (“alegrar-se” em) os dons
de Deus, e “fazer o bem” com elas a si mesmo e a outros. Tal coisa
nunca está fora de época (Gl_6:9-10). Não a alegria sensual, nem a
luxúria (Fp_4:4; Tg_4:16-17).
13. Lit., “E também quanto a todo homem que come … isto é o
dom de Deus” (v. 22; Ec_5:18). Quando se recebem como dons de Deus,
e para a glória de Deus as coisas boas da vida são desfrutadas em seu
devido tempo e ordem (At_2:46; 1Co_10:31; 1Tm_4:3-4).
14. (1Sm_3:12; 2Sm_23:5; Sl_89:34; Mt_24:35; Tg_1:17.)
eternamente — para sempre, o oposto aos trabalhos do homem que
perecem (Ec_2:15-18).
acrescentar … tirar — não segundo as obras do homem, “torcidas
e faltosas” (Ec_1:15; Ec_7:13). O resultado dos trabalhos do homem
depende inteiramente do propósito imutável de Deus. O que cabe ao
homem, pois, é fazer e desfrutar todo bem terrestre em sua devida época
(vv. 12, 13), não deixando de lado a ordem de Deus, mas sim observando
profunda reverência para com Deus; porque o mistério e a imutabilidade
de Seus propósitos divinos têm por fim conduzir o “homem ao temor de
Deus.” O homem não sabe o resultado de cada ato; de outro modo se
creria independente de Deus.
15. Volta ao tema de Ec_1:9. Sejam quais forem as mudanças
havidas, a sucessão de eventos está ordenada pelas “perpétuas” leis de
Deus (v. 14), e retornam num ciclo fixo.
fará renovar-se o que se passou — Depois de muitas alterações, a
lei de Deus requer o retorno do mesmo ciclo de eventos, como aquele
que passou (lit., que foi impelido adiante). A LXX e a Siríaca traduzem:
“Deus requer (venha) ao açoitado;” transição aos vv. 16, 17.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 21
16. Eis aqui uma dificuldade sugerida. Se Deus requerer que os
eventos corram em seu ciclo perpétuo, “por que permite aos ímpios que
tratem injustamente no lugar onde menos deve haver injustiça”, ou seja,
“no lugar do juízo” (Jr_12:1)?
17. A solução da dificuldade. Há um juízo vindouro no qual Deus
vindicará os Seus justos caminhos. É curto o “tempo” do pecador para
sua injusta “obra”. Deus também tem o Seu “tempo” e Sua obra” de
juízo; e enquanto isso, Ele está intervindo para o bem final no que agora
parece obscuro. O homem não pode agora discernir o plano de operação
de Deus (v. 11; Sl_97:2). Se o juízo seguisse imediatamente a cada
pecado, não haveria lugar para o arbítrio, a fé, e a perseverança dos
santos apesar das dificuldades. A anterior escuridão fará mais gloriosa a
luz no final.
aqui (BJ) — (Jó_3:17-19) na eternidade, na presença do divino
Juiz, em contraste com o “aqui” no lugar do juízo humano (v. 16); deste
modo “desde então” (Gn_49:24).
18. por causa — o estado do homem caído está ordenado (estes
males permitidos) de tal maneira que Deus possa “manifestá-lo,” quer
dizer, assim prová-los, e que eles mesmos vejam sua fraqueza mortal,
como a dos animais.
filhos dos homens — antes, filhos de Adão, frase que significa
homens caídos. A tolerância da iniquidade até o juízo tem por finalidade
“manifestar” o caráter dos homens em sua condição de caídos, para ver
se os oprimidos se comportam corretamente em meio a seus males,
sabendo que o tempo está curto, e que há um juízo por vir. Os oprimidos
participam da morte, mas a comparação aos “animais” aplica-se
especialmente aos opressores ímpios (Sl_49:12, Sl_49:20); eles também
devem ser “manifestados” (provados). Se por acaso, sabendo que logo
devem morrer como os “animais,” e temendo o juízo vindouro, eles se
arrependerão (Dn_4:27).
19. Lit., “Porque os filhos dos homens (de Adão) são uma mera
casualidade.” Estas palavras não podem ser senão os sentimentos dos
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 22
céticos opressores. A tardança de Deus no juízo dá amplitude para a
“manifestação” da infidelidade deles (Ec_8:11; Sl_55:19; 2Pe_3:3-4).
São “animais brutos,” moralmente (v. 18; Jd_1:10); e acabam
sustentando que o homem, fisicamente, não tem preeminência sobre o
animal, sendo ambos igualmente “casualidades”. Este seria talvez a
linguagem de Salomão mesmo em sua apostasia. Responde-lhe no v. 21.
Se os vv. 19, 20 são palavras dele, só expressam que referente à
probabilidade da morte, com exclusão do juízo vindouro — como fazem
os céticos opressores — o homem está no mesmo nível que os animais.
A vida é “vaidade,” é contemplada independentemente da religião. Mas
o v. 21 assinala a vasta diferença entre eles com relação ao destino
futuro; também (v. 17) os animais não têm nenhum “juízo” vindouro.
fôlego — vitalidade.
21. Quem sabe — Não há dúvida do destino da alma do homem
(Ec_12:7); mas “quão poucos compreendem, por causa da mortalidade
externa, a que está exposto o homem assim como o animal, e que é a
base do argumento do cético, a grande diferença entre o homem e o
animal” (Is_53:1). O hebraico expressa a diferença fortemente: “O
espírito do homem ascende, e pertence ao de acima; mas o espírito do
animal, que desce, pertence ao de baixo, à terra.” O destino e o elemento
correspondente diferem absolutamente. (Weiss.)
22. (Cf. o v. 12; Is_5:18.) Inculca a alegria agradecida dos dons de
Deus, e o desempenho prazeroso dos deveres do homem, baseando-se no
temor de Deus; não como o sensual (Ec_11:9); nem como o laborioso
avaro (Ec_ 2:23; Ec_5:10-17).
sua recompensa — na vida presente. Se fosse feita sua porção
principal, seria “vaidade” (Ec_2:1; Lc_16:25).
porque quem (RC) — nossa ignorância referente ao futuro, que é o
tempo de Deus (v. 11), deve nos induzir a usar o presente no melhor
sentido e a deixar o futuro à infinita sabedoria de Deus (Mt_6:20,
Mt_6:25, Mt_6:31-34).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 23
Eclesiastes 4

1. voltei-me (RC) — quer dizer, ao pensamento proposto (Ec_3:16;


Jó_35:9).
poder (TB) — Maurer, não tão bem, “a violência.”
sem que ninguém os consolasse — é dito duas vezes para
expressar a dor continuada sem quem desse o consolo (Is_53:7).
2. Um sentimento profano, se se separar de seu contexto; mas justo
em sua relação com o propósito de Salomão. Se não se tivesse em conta
a religião (Ec_3:17, 19), seria desejável morrer o antes possível, para não
sofrer nem presenciar as “opressões;” e ainda mais ainda, nem ter
nascido (Ec_7:1). Jó (Jó_3:13; Jó_21:7), Davi (Sl_73:3, etc.), Jeremias
(Jr_12:1), Habacuque (Hc_1:13), todos passaram pela mesma
perplexidade, até que entraram no santuário, e olharam para além do
presente até o “juízo” (Sl_73:17; Hc_2:20; Hc_3:17-18). Então viram a
necessidade da demora, antes que fossem castigados completamente os
ímpios, para dar lugar a que se arrependessem, ou se não, para a
acumulação da ira (Rm_2:15); e para que, antes de ser dada a
recompensa completa aos piedosos, se desse tempo para o exercício da
fé e a perseverança na tribulação (Sl_92:7-12).
3. não viu — nem experimentou.
4. destreza em obras — antes, “prosperidade” (veja-se Ec_2:21).
Prosperidade, que os homens tanto cobiçam, é a mesma fonte da
provocação a opressão (v. 1) e de “inveja,” e longe está de constituir o
bem principal
5. Entretanto:
O tolo (o cruel opressor) não deve ser invejado até nesta vida, quem
“cruza os braços” em ociosidade (Pv_6:10; Pv_24:33), vivendo dos bens
arrancados imperfeitamente dos outros; porque tal homem
come a própria carne — quer dizer, atormenta-se a si mesmo,
nunca satisfeito, afligindo-se seu espírito (Is_9:20; Is_49:26).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 24
6. O hebraico: “Mais vale uma palma cheia de quietude que dois
punhos cheios de fadiga.” O “descanso” (tranquilidade mental resultante
de trabalho honesto), o contrário de “comer a própria carne” (v. 5), e
também do trabalho fatigante pelo lucro (v. 8; Pv_15:16-17; Pv_16:8).
7. Esta vaidade se descreve no v. 8.
8. sem ninguém — nenhum sócio.
não tem filho nem irmão (TB) — sem herdeiro (Dt_25:5-10).
olhos — (Ec_1:8). O avaro não poderia prestar conta de sua
enfatuação.
9. dois — em contraste com “um” (v. 8). Os laços do casamento, da
amizade, fraternidade religiosa, são melhores que a egoísta solidão do
avarento (Gn_2:18).
paga — a vantagem resultante de seus esforços em conjunto.
Talman diz: “Um homem sem companheiro é como a mão esquerda sem
a direita.”
10. se caírem — se cair um ou o outro, como pode suceder a
ambos, principalmente, em aflição de corpo, mente, ou alma.
11. (Cf. 1Rs_1:1.) A figura se tira da relação do casamento, mas
aplica-se universalmente à simpatia calorosa dos vínculos sociais. Assim
também os laços cristãos (Lc_24:32; At_28:15).
12. um — algum inimigo.
cordão de três dobras — proverbial de uma combinação de
muitos; por exemplo, marido, esposa e filhos (Pv_11:14); assim também
os cristãos (Lc_10:1; Cl_2:2, Cl_2:19). Destorça o cordão, e os fios
separados facilmente se rompem.
13. O “cordão de três dobras” [v. 12] do vínculo social sugere o
tema do governo civil. Neste caso também, conclui que o poder real
tampouco oferece nenhuma felicidade permanente. O “jovem pobre e
sábio,” embora fosse um caso suposto por Salomão, corresponde,
naquele caso previsto pelo Espírito Santo, a Jeroboão, então um jovem
pobre mas valente, uma vez “escravo” de Salomão, e (1Rs_11:26-40)
ordenado por Deus por meio do profeta Aías para ser herdeiro do reino
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 25
das dez tribos que deviam ser arrancadas a Roboão. O “rei velho e
insensato” corresponde ao próprio Salomão, quem tinha perdido sua
sabedoria quando, desafiando as duas advertências de Deus (1Rs_3:14;
1Rs_9:2-9), abandonou a Deus.
não se deixa admoestar — visto que não quis ser advertido, Deus
já havia por meio de Abias intimado a vinda do juízo sobre Salomão (1
Rs_11:11-13).
14. saia do cárcere — Salomão fala de um caso suposto, por ex.,
de José elevado de um calabouço para ser senhor do Egito. Suas palavras
foram dirigidas pelo Espírito de tal maneira que correspondem
virtualmente a Jeroboão, quem escapou de ser “encarcerado” e morto por
Salomão, e foi a Sisaque do Egito (1Rs_11:40). Este presságio
inconsciente de sua própria condenação, e da de Roboão, constitui a
ironia. A elevação de Davi da pobreza e do desterro, sob Saul (o que
pode ser que estivesse na mente de Salomão), teve como correlação a de
Jeroboão.
ou nasça pobre — antes, “Embora em seu reino (o jovem) nasceu
pobre em seu reinado,” (na terra que depois devia governar).
15. “Eu considerei a todos os viventes,” a presente geração, com
relação ao “segundo jovem” (o sucessor legítimo do “velho rei,” em
oposição ao “jovem pobre,” o primeiro mencionado, que estava por ser
elevado da pobreza até o trono), ou seja, Roboão.
em lugar do rei — do velho rei.
16. Não obstante que eles agora adoram a um sol nascente, o
herdeiro aparente, eu considerei que não há “fim (limite nem
estabilidade, 2Sm_15:6; 2Sm_20:1; nenhum freio ao amor à invasão) de
tudo o que foi antes deles,” quer dizer, da geração passada; assim
tampouco os que virão depois — a próxima geração,
tampouco ... se hão de regozijar — principalmente, Roboão. O
paralelo, “tampouco ... se hão de regozijar,” dá o sentido de “Não tem
fim,” nenhuma aderência permanente, embora agora os homens estão
contentes, se alegram nele.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Eclesiastes 5

1. Da vaidade relacionada com os reis, ele passa às vaidades (v. 7)


que podem tentar os que servem ao Rei dos reis, até aos que,
convencidos da vaidade da criatura, desejam adorar ao Criador.
Guarda o teu pé (RC) — Ao ir adorar, vá com um sentimento
considerado, circunspeto, reverente. Alude-se ao costume de tirar os
sapatos ou sandálias ao entrar num templo (Êx_3:5; Js_5:15, textos que
talvez deram origem ao costume). Weiss sem necessidade lê: “Guarda
suas festas” (Êx_23:14, Êx_23:17; as três grandes festas).
ouvir — antes, “Estar pronto (aproximar-se com o desejo) a ouvir
(obedecer) é um sacrifício melhor que a oferta dos néscios.” (Holden.)
(Vulgata, Siríaca.) (Sl_51:16-17; Pv_21:3; Jr_6:20; Jr_7:21-23;
Jr_14:12; Am_5:21-24.) A advertência é contra a autojustificação
cerimonial, como em Ec_7:12. Obediência é o espírito das exigências da
lei (Dt_10:12). Salomão tristemente contempla seu descuido anterior
disto mesmo (cf. 1Rs_8:63 com Ec_11:4, 6). Os preceitos positivos de
Deus devem ser guardados, mas não farão as vezes da obediência de seus
preceitos morais. Estes não dispunham sacrifício algum pelo pecado
premeditado (Nm_15:30-31; Hb_10:26-29).
2. Não te precipites — o contrário à reverência considerada
(“guarda o teu pé”, v. 1). Este versículo ilustra o v. 1, quanto à oração na
casa de Deus (“diante de Deus,” Is_1:12); o mesmo os vv. 4-6, quanto
aos votos. O remédio para tais vaidades se declara (v. 7), “Mas tu, teme a
Deus.”
Deus está no céu — Portanto você deve se aproximar dEle com
palavras cuidadosamente escolhidas, você, fraca criatura da terra.
3. Porquanto a “muita ocupação.” que absorve a mente, faz vir
“sonhos” incoerentes, as muitas palavras, tais inconsideradamente na
oração, dão origem ao “discurso do néscio” (Ec_10:14). (Holden e
Weiss.) Mas o v. 7 sugere que o “sonho” não é uma comparação, mas
sim os vãos pensamentos do néscio (pecador, Sl_73:20), que resultam da
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 27
multiplicidade de “ocupações” (mundanas). Seu sonho é de que Deus o
ouça por seu muito falar (Mt_6:7), independentemente da condição de
sua mente. (Maurer.)
voz do tolo — corresponde a “sonho” no paralelo; vem por meio
das muitas “palavras” que emanam do “sonho” do néscio.
4. Quando a Deus fizeres algum voto — Palavras ligeiras na
oração (vv. 2, 3) sugere o tema dos votos feitos ligeiramente. Não deve
fazer um voto ligeiramente (Jz_11:35; 1Sm_14:24). Uma vez feito, deve
cumprir-se (Sl_76:11), assim como Deus cumpre Sua palavra para
conosco (Êx_12:41, Êx_12:51; Js_21:45).
5. (Dt_23:21, Dt_23:23.)
6. a tua carne (RC) — Não faça com sua boca um voto (por ex.,
um jejum) que a concupiscência do corpo, ou carne (Ec_2:3), o tente a
violar (Pv_20:25).
anjo (RC) — O “mensageiro” de Deus (Jó_33:23); ministro
(Ap_1:20); isto é, o sacerdote (Ml_2:7) “diante do qual a falta de um
voto devia ser confessada (Lv_5:4-5). Os cristãos, em nossos votos (por
eixo., no batismo, ou a Ceia do Senhor) fazemos o voto na presença de
Jesus Cristo, “o Anjo da Aliança” (Ml_3:1), e dos anjos ministradores
como testemunhas (1Co_11:10; 1Tm_5:21). Não faltemos por nenhum
motivo a nossas promessas.
7. (Veja-se v. 3.) O serviço de Deus, que deve ser nosso sumo bem
vem pelos “sonhos” (fantasias néscias quanto ao que Deus requer de nós
no culto), e pelas “palavras” impensadas a ser uma positiva “vaidade.”
“Teme a Deus” (Ec_12:13).
8. Como em Ec_3:16, assim aqui se sugere a dificuldade; se Deus
for tão exato em castigar até as palavras precipitadas (vv. 1-6), por que
permite a grossa injustiça? Nas “províncias” remotas, “os pobres” muitas
vezes tiveram que pôr-se como proteção contra as invasões dos filisteus,
etc., sob os chefes, que os oprimiram, até no reino de Salomão
(1Rs_12:4).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 28
de semelhante caso — lit., o prazer ou propósito (Is_53:10). Não te
maravilhes desta dispensação da vontade de Deus, como se Ele tivesse
desamparado o mundo. Por certo vem no fim um juízo capital, e penhor
do mesmo são os castigos parciais que no intervalo recebem os
pecadores.
alto — (Dn_7:18).
vigia (TB) — (2Cr_16:9.)
outros mais elevados — Há superiores; o plural no hebraico, isto é,
as três pessoas da divindade, ou, “está olhando (não só aos reis mais
altos, dos quais ele é mais alto, mas também aos tiranos ajudantes das
províncias, ou seja, aos altos que estão sobre eles” (os pobres). (Weiss.)
9. “O proveito (produto) da terra está (ordenado) para (o bem
comum de) todos: até o próprio rei se serve do (os frutos do) campo”
(2Cr_26:10). Portanto o Senhor comum de todos, dos altos e dos baixos,
castigará no final os que roubam aos “pobres” sua porção do proveito
(Pv_22:22-23; Am_8:4-7).
10. Não só Deus castigará no final, mas também enquanto isso, os
ganhadores opressivos de “prata” não acham verdadeira “satisfação” no
dinheiro.
jamais dele se farta — de modo que o opressor “come a própria
carne” (Ec_4:1, 5).
nunca se farta — não ficará satisfeito com o lucro adquirido.
11. os que deles comem — aumenta o número de dependentes do
rico (Sl_23:5).
12. Outro argumento contra a cobiça de riquezas: “Doce é o sonho.”
corresponde a “descanso” (Ec_4:6): “não o deixa dormir,” a “aflição de
espírito.” Os temores por seus bens, e o estômago cheio sem “trabalhar”
(cf. Ec_4:5), não deixará o rico opressor dormir.
13, 14. Provas dos juízos de Deus até neste mundo (Pv_11:31). As
riquezas do rico opressor provocam inimizades, roubos, etc. Logo,
depois de as haver guardado para um filho esperado, perde-as antes por
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 29
desgraça (“por más ocupações”), e o filho nasce para herdar a pobreza.
Em Ec_2:19, 23 dá outro aspecto do mesmo tema.
16. Até na suposição de que não perda suas riquezas antes da morte,
então ao menos deve ir-se despojado de tudo (Sl_49:17).
haver trabalhado para o vento — (Os_12:2; 1Co_9:26.)
17. comeu — posto com razão em vez de “viverá” em geral, como
relacionado com os vv. 11, 12 e 18.
Nas trevas — o oposto a “luz (alegria) de rosto” (Ec_8:1;
Pv_16:15).
muito enfado — irritação, lit., “sua dor é muito, e sua doença (de
corpo) e ira.”
18. Volta para sentimento (Ec_3:12, 13, 22); traduza-se: “Eis aqui o
bem que vi e que convém” (num homem).
Deus lhe deu — tanto o bem de seu trabalho como a vida.
sua porção — porção legítima. É o dom de Deus o que a faz assim,
quando como tal se considera. Tal pessoa saberá aproveitar as coisas
terrenas e não abusará delas (1Co_7:31). Em contraste com a angústia
dos ambiciosos (vv. 10, 17).
19. Como o v. 18 se refere ao homem que “trabalha” (v. 12), assim
o v. 19 ao “rico” que recebe suas riquezas não pela “opressão” (v. 8),
mas pelo “dom de Deus.” Distingue-se também do “rico” (Ec_6:2) por
ter recebido pelo dom de Deus não só as “riquezas,” mas também “a
faculdade de comer delas,” o que o outro não tem.
receber a sua porção — limita-o ao uso lícito das riquezas, não
tirando de Deus a parte de Deus enquanto desfruta a sua própria.
20. Não se lembrará muito (revolvendo em sua memória os
desenganos, como fazem os ímpios: Ec_2:11) dos dias de sua vida.
Deus lhe enche o coração de alegria — Deus responde a suas
orações dando-lhe “faculdade” de desfrutar suas bênçãos. Gesênius e a
Vulgata traduzem: “Porque Deus o ocupa com alegria” etc., de tal modo
que não pensa muito nas imperfeições e penas da vida. Holden: “Embora
Deus não dá muito (quanto à verdadeira alegria), entretanto lembra os
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 30
dias (o homem com gratidão); pois (sabe que) Deus o exercita na alegria
…” (prova-o pela prosperidade).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 31
Eclesiastes 6

1. mui frequente (RC) — ou ainda mais lit., grande sobre os


homens, cai pesadamente sobre os homens.
2. e nada lhe falta — Melhor: “De modo que nada falte para sua
alma,” quer dizer, para sua felicidade.
Deus não lhe concede que disso coma — Isto o distingue do
“rico” do Ec_5:19; isto também o distingue daquele que obteve suas
riquezas mediante a “opressão” (Ec_5:8, 10).
estranho — nem mesmo seus parentes, mas sim seus inimigos
(Jr_51:51; Lm_5:2; Os_7:9). Parece que as tem em seu “poder” para
fazer delas o que lhe agrada; mas um poder invisível o faz presa de sua
própria avareza: Deus dispõe que trabalhe para um “estranho” (Ec_2:26)
que achou graça diante de Deus.
3. Embora um homem (de tal caráter) tenha muitíssimos filhos
(como significa aqui cem) (2Rs_10:1), e não tenha por herdeiro um
“estranho (Ec_6:2), e viva longo tempo (“muitos anos” expressa a
brevidade da vida no melhor, Gn_47:9), e contudo não desfrute nenhum
“bem” verdadeiro na vida, e jaza desonrado, sem “sepultura,” em sua
morte (2Rs_9:26, 2Rs_9:35), o embrião é melhor que tal homem. No
Oriente estar sem sepultura é o cúmulo da degradação. “Melhor é o fruto
que cai da árvore antes de maturar que aquele que se deixa lá até
apodrecer.” (Henry.)
4. este (AV)— antes, “isto”, o “aborto”, assim “o nome disto”, não
“seu nome”.
debalde vem — Lit., “em, ou para, vaidade veio o nascimento
prematuro (aborto,)” que nunca recebeu o “seu nome.”
debalde — a nenhum propósito; um tipo de existência vagabunda
de quem faz das riquezas o bem principal.
trevas — do aborto; um tipo da morte sem honra e do escuro futuro
de além-túmulo do avarento.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 32
5. Esse (TB)— O aborto, contudo, “tem mais descanso” que o
triste, lôbrego avarento.
6. Se se considerar que a “longevidade” do avarento o eleva acima
do abortivo, Salomão responde, a longa vida sem a fruição do verdadeiro
bem não é mais que a miséria prolongada, e as riquezas não evitam que
ele vá para onde “vão todos”. Ele não é apto nem para a vida, nem para a
morte, nem para a eternidade.
7. do homem — quer dizer, daquele homem, o avarento (vv. 3-6).
Pois nem todos os homens trabalham “para a sua boca,” quer dizer, para
a satisfação egoísta.
seu apetite — Heb. “a alma”. A insaciabilidade do desejo evita
aquilo que só é a finalidade do trabalho, ou seja, a satisfação própria; “o
homem” aquele, pois nenhum “bem” saca de suas riquezas (v. 3).
8. Porque (RC) — Entretanto (Maurer). O “porquê” significa (em
contraste com a insaciabilidade do avarento), Porque que outra
vantagem tem o sábio sobre o néscio?
que (RC) — vantagem, quer dizer, superioridade, sobre aquele que
não sabe caminhar com retidão.
o pobre que sabe andar perante os vivos? — isto é, que sabe
aproveitar e desfrutar da vida devidamente (Ec_5:18, 19), aptidão para
“caminhar” alegre, agradecido, piedoso (Sl_116:9).
9. A resposta à pergunta do v. 8. Esta é a vantagem:
Melhor é a vista dos olhos — a piedosa fruição das presentes
bênçãos visíveis
do que o andar ocioso da cobiça — lit., o percorrer (Sl_73:9),
desejos vagos, insaciáveis pelo que ele não tem (v. 7; Hb_13:5).
isto — a errante inquietação do desejo, o não desfrutar contente o
presente (1Tm_ 6:6, 1Tm_6:8).
10. Aqui começa a divisão II. Visto que os trabalhos do homem são
vãos qual é o bem principal? (v. 12). A resposta está contida no resto do
livro.
A tudo quanto há de vir — as variadas circunstâncias do homem.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 33
já se lhe deu o nome — não só existiu (Ec_1:9; Ec_3:15), mas sim
recebeu seu justo nome, a ‘vaidade,’ faz tempo,
sabe-se o que — a vaidade
é o homem — Heb. Adão, equivale a homem “do pó vermelho,”
como o denominou propriamente o Criador, por causa de sua fraqueza.
não pode contender, etc. — (Rm_9:20.)
11. Visto que (TB) — Visto que o homem não pode escapar da
“vaidade,” que pela poderosa vontade de Deus é inerente às coisas
terrestres, e não pode pôr em dúvida a sabedoria de Deus nestas
dispensações (equivale a “disputar”),
que vantagem tira delas o homem? (TB) — da parte destas coisas
vãs referente ao sumo bem? Nada absolutamente.
12. Pois quem sabe …? — Os ímpios não sabem o que na
realidade é “bom” durante a vida, nem “o que será depois deles,” quer
dizer, qual será o resultado de seus empresas (Ec_3:22; Ec_8:7). Os
piedosos poderão ver-se tentados a “disputar com Deus” (Ec_6:10)
quanto a seus dispensações; mas não podem conhecer totalmente os
propósitos sábios por eles consumados agora e depois de agora. Seus
padecimentos a mãos dos opressores são de mais proveito verdadeiro
que a prosperidade sem nuvens; os pecadores têm permissão de encher
sua medida de culpabilidade. A retribuição justifica em parte até agora
os caminhos de Deus. O juízo esclarecerá tudo. Em Eclesiastes 7, ele
declara o que é bom, em resposta à presente pergunta.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 34
Eclesiastes 7

1. (Veja-se a nota de Ec_6:12.)


nome (TB) — caráter; uma mente e vida piedosas; não a mera
reputação entre os homens, mas sim o que o homem é aos olhos de
Deus, para quem o nome e a realidade são a mesma coisa (Is_9:6.) Isto
solo é “bom,” tudo o mais é “vaidade,” quando se faz disso o maior bem.
unguento — usado prodigamente em banquetes suntuosos, e
refrescante em particular no quente Oriente. O hebraico para nome e
unguento tem uma feliz paronomásia: Sheem e Shemen. O “unguento” é
fragrante só onde está a pessoa cuja cabeça e roupagem estão
perfumados, e só por breve momento. O “nome” que Deus dá a Seu filho
(Ap_3:12) é para sempre e em todo lugar. O mesmo no caso da mulher
que recebeu do Senhor Jesus um nome eterno, em recompensa de seu
precioso unguento (Is_56:5; Mc_14:3-9). Jesus Cristo mesmo tem um
nome semelhante, como o de Messias, equivalente a Ungido (Ct_1:3).
e o dia da morte, etc. — não uma censura geral contra Deus por ter
criado o homem, mas sim com relação à frase anterior, ao que tem um
nome piedoso, é-lhe “melhor” a morte que o dia de seu nascimento: “é
muito melhor,” segundo Fp_1:23.
2. Prova que não é o prazer sensual dos bens terrenos o que se
significa nos textos Ec_3:13; Ec_5:18. O uso com gratidão destes é bom,
mas o banqueteio frequente Salomão o tinha encontrado como danoso
para a piedade em seu próprio caso. Tal era o temor de Jó (Ec_1:4, 5). A
casa do festejo com frequência exclui os pensamentos de Deus e da
eternidade. Ver o morto na “casa do luto” faz com que “os vivos”
pensem em seu próprio “fim.”
3. mágoa — ou tristeza, tal como resulta da séria contemplação da
eternidade.
riso — a hilaridade desenfreada (Ec_2:2).
com a tristeza do rosto se faz melhor o coração — (Sl_126:5-6;
2Co_4:17; Hb_12:10-11). Maurer traduz: “Em tristeza de rosto há (pode
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 35
haver) coração bom (alegre).” Assim no hebraico “bom” equivale a
alegre (Hb_11:9).
5. (Sl_141:4-5). A repreensão piedosa ofende a carne, mas beneficia
o espírito. A canção dos néscios na casa da alegria agrada a carne, mas
danifica à alma.
6. o crepitar — corresponde à hilaridade ruidosa dos néscios. É o
mesmo fogo que ao consumi-los produz o ruído aparentemente alegre
(Jl_2:5). A luz deles logo se apaga na negra escuridão. Há uma
paronomásia no hebraico: Sirim (espinhos) Sir (panela). Os ímpios com
frequência são comparados a “espinhos” (2Sm_23:6; Na_1:10). O
esterco seco era o combustível comum; sua chama lenta faz com que seja
mais gráfica a figura da rapidez com que ardem os espinhos, o que
representa a destruição repentina dos inimigos (Sl_118:12).
7. opressão — volve-se à ideia de Ec_3:16; Ec_5:8. Sua conexão
com os vv. 4-6 é esta: a visão da “opressão” perpetrada pelos “néscios
pode ser que tente aos “sábios” a pôr em dúvida as dispensações de Deus
e que imitem a loucura (insensatez) aqui descrita (vv. 5, 6). Weiss traduz
opressão como distração, que resulta do regozijo. Mas em Ec_5:8
favorece nossa versão.
suborno — isto é, a vista do suborno “em lugar da justiça”
(Ec_3:16) pode fazer com que os sábios percam sua sabedoria (equivale
a “coração,”) (Jó_12:6; Jó_21:6-7; Jó_24:1, etc.)
8. Refere-se ao v. 7. Que os “sábios” esperam “o fim;” e as
“opressões” (extorsões) que agora (em “seu princípio”) confundem a fé,
verão que são a obra de Deus, que intervém para o bem deles. “A
tribulação” produz a paciência (Rm_5:3), a que é imensamente melhor
que o “espírito altivo” que a prosperidade pude inspirar neles, como o
tem feito nos néscios (Sl_73:2-3, Sl_73:12-14, Sl_73:17-26; Tg_5:11).
9. irar-te — impaciente pela adversidade que te sobreveio, como Jó
esteve (Tg_5:2; Pv_12:16).
10. Não ponha em dúvida os caminhos de Deus que têm feito seus
dias anteriores melhores que os presentes, como o fez Jó (Pv_29:2-5).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 36
11. Antes, “a ciência (sabedoria) em comparação com uma herança
é boa,” isto é, tão boa como uma herança; e (se;) é melhor (lit., e um
proveito) aos que veem o sol” (ou seja, os viventes, Ec_11:7; Jó_3:16;
Sl_49:19).
12. Lit., (Estar) em (quer dizer, sob) a sombra (Is_30:2) da
sabedoria (é o mesmo como estar) em (sob) a sombra do dinheiro; a
sabedoria não defende a um dos males da vida, “menos que o dinheiro.
o proveito da sabedoria é que, etc. — Leia-se: “A excelência do
conhecimento da sabedoria dá vida,” isto é, vida no sentido mais alto, a
presente e a futura (Pv_3:18; Jo_17:3; 2Pe_1:3). A sabedoria (religião)
não se pode perder, como o dinheiro. Ela protege a alguém na
adversidade assim como na prosperidade; o dinheiro, só na prosperidade.
A pergunta do v. 10 envolve a falta de sabedoria.
13. Considera quanto a obra de Deus, que é impossível alterar Suas
dispensações; porque,
quem poderá endireitar o que ele torceu? — O homem não pode
emendar o que Deus dispôs que faltasse ou fosse adverso. (Ec_1:15;
Jó_12:14).
14. reflete — resumido do v. 13. “Reflete,” isto é, tem-na como
“obra de Deus;” porque “Deus fez (Heb., pôs) isto (esta adversidade.)
também assim como o outro” (a prosperidade). “A adversidade” é uma
das coisas “que Deus torceu,” e que o homem não pode “endireitar”.
Deve então ter paciência (v. 8).
depois dele — equivale a: “Para que o homem não ache nada (do
que queixar-se) depois de (considerar as obras de) Deus” (v. 13). Vulgata
e Siríaca: “contra ele” (Cf. v. 10; Rm_3:4).
15. Uma objeção que Salomão concebeu
nos dias de minha vaidade — sua apostasia (Ec_8:14; Jó_21:7).
justo que perece — (1Rs_21:13). A morte temporária, não a
eterna (Jo_10:28). Mas veja-se nota do v. 16; “justo” provavelmente é
justiceiro, ou aquele que pretende justificar-se.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 37
perverso que prolonga — veja-se o antídoto para o abuso desta
asseveração em Ec_8:12.
16. Holden julga que este versículo (v. 16) é a inferência sardônica
do impedimento, e que o v. 17 é a resposta do Salomão arrependido.
Assim a objeção do cético (1Co_15:32) e a resposta (1Co_15:33).
Entretanto, o “Não sejas demasiadamente justo”, pode ser entendido
como palavras de Salomão para condenar uma justiça arrogante de
observâncias externas, que arrancaria de Deus a salvação, em vez de
recebê-la como o dom de Sua graça. É uma justificação farisaica,
fanática, à parte de Deus; porque sua antítese é “o temor de Deus” (v. 18;
Ec_5:3, 7; Mt_6:1-7; Mt_9:14; Mt_23:23-24; Rm_10:3; 1Tm_4:3).
exageradamente sábio — (Jó_11:12; Rm_12:3, Rm_12:16.),
supostamente auto-suficiente, como se relacionado com a completa
verdade divina.
te destruirias a ti mesmo — te expondo à perseguição
desnecessária, às austeridades e à ira de Deus; e assim a uma morte
prematura. “te destruirias” corresponde a “perece” (v. 15);
“demasiadamente justo” a “justo” (v. 15). Portanto, no v. 15 é uma
pessoa com autojustificação o que se tem, não um homem
verdadeiramente justo.
17. demasiadamente perverso — “mau em excesso,” assim dito
para corresponder a “justo em excesso” (v. 16). Porque se não se toma
assim, pode inferir-se que podemos ser maus um pouquinho. “Mau” aqui
refere-se a “homens maus” (v. 15); “morrerias fora do teu tempo,” a
“prolonga os seus dias,” antiteticamente. Pode haver homens maus aos
quais se permite “viver muitos anos,” devido ao fato de que evitam os
excessos nocivos (v. 15). Salomão diz, então, nem seja insensato (que
corresponde antiteticamente a “sábio em excesso,” v. 16), tanto como
para arriscar tal excesso de vícios que Deus seja provocado a cortar
prematuramente seu dia de graça (Rm_2:5). O preceito se dirige a um
pecador. Cuidado em agravar seu pecado, de modo que faça do seu caso
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 38
um caso desesperado. Refere-se aos dias da “vaidade” de Salomão
(apostasia, v. 15), quando só um preceito semelhante seria aplicável.
18. isto … daquilo — os dois excessos opostos (vv. 16, 17), a
justiça fanática, justiça aos seus olhos, e a maldade presunçosa,
temerária.
quem teme a Deus, escapará de um e de outro (TB) — escapará
de todos os tais extremos (Pv_3:7).
19. A sabedoria — com o artigo hebraico, a verdadeira sabedoria,
a religião (2Tm_3:15).
mais do que dez poderosos — generais capazes e valentes (v. 12;
Ec_9:13-18; Pv_21:22; Pv_24:5). Estes atalaias vigiam em vão, a menos
que o Senhor guarde a cidade (Sl_127:1).
20. Referência ao v. 16. Não seja você justiceiro, tratando de se
fazer “justo” diante de Deus por uma superabundância de observâncias
que você se imponha; “porque a verdadeira sabedoria, ou justiça,
demonstra que não há justo …”
21. Como você, pois, estando longe de ser perfeitamente justo, tem
muito do que ser perdoado por Deus, não faça muita conta, como fazem
os justiceiros (v. 16; Lc_18:9, Lc_18:11), e assim cortam seus dias (vv.
15, 16), das palavras ditas por outros contra si mesmos, verbi gratia [por
exemplo], seu servo: Você é meu “conservo” diante de Deus (Mt_18:32-
35).
22. (1Rs_2:44.)
23. Tudo isto — resumindo o “tudo isto” do v. 15; os vv. 15-22
assinalam pois o fruto de sua custosa experiência dos dias de sua
“vaidade.”
tornar-me-ei sábio — Tentei “ser sábio,” independentemente de
Deus. A verdadeira sabedoria estava “longe dele,” apesar de sua
sabedoria humana, que ele conservava pela graça de Deus. Assim
“exageradamente sábio” (v. 16).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 39
24. longe … profundo — Assim é a sabedoria verdadeira quando é
buscada independentemente “do temor de Deus” (v. 18; Dt_30:12-13;
Jó_11:7-8; Jó_28:12-20, Jó_28:28; Sl_64:6; Rm_10:6-7).
25. Lit., Voltei-me a mim mesmo e a meu coração para saber.”
Frase peculiar em Eclesiastes, e muito própria do penitente que volta a
comunicar-se com seu coração sobre sua vida passada.
a perversidade é insensatez (RC) — ele está agora a um passo
mais no caminho do arrependimento que em Ec_1:17; Ec_2:12, onde
fica “insensatez” sem o qualificativo “perversidade.”
meu juízo — antes, a devida estimativa das coisas. Holden traduz:
também “a insensatez (isso, a loucura pecaminosa, que corresponde a
‘maldade’ no paralelo) da loucura” (quer dizer, os insensatos propósitos
do homem.)
26. “Achei” que, de todas minhas loucuras pecaminosas, nenhuma
foi tão ruinosa para me desviar de Deus como as mulheres idólatras
(1Rs_11:3-4; Pv_5:3-4; Pv_22:14). Como “o favor de Deus é melhor que
a vida”, a que seduz e aparta de Deus é “mais amarga que a morte.”
Quem agradar a Deus (TB) — como José (Gn_39:2-3, Gn_39:9).
É só a graça de Deus a que guarda alguém de cair.
27. Eis o que achei — ou seja, o que segue no v. 28.
conferindo uma coisa com outra — comparando a uma coisa com
a outra. (Holden e Maurer)
meu juízo — a devida estimativa. Mas o v. 28 apoia a Gesênius:
“considerando as mulheres uma por uma …”
28. Antes, referindo-se a sua experiência passada: “que minha alma
buscou ainda mais, mas eu não achei …”
entre mil homens achei um — isto é, digno do nome de “homem,”
“reto;” não mais de um entre mil de meus cortesãos (Jó_33:23; Sl_12:1).
Só Jesus Cristo dentre os homens, realiza este ideal perfeito de
“homem”. “Assinalado entre dez mil” (Ct_5:10). Nenhuma “mulher”
perfeita existiu jamais, nem mesmo a virgem Maria. Salomão, com a
palavra “mil”, alude a suas trezentas mulheres e as setecentas
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 40
concubinas. Entre estas não é provável que encontrasse a fidelidade que
uma verdadeira esposa tributa ao um marido. Relacionado com o v. 26;
não uma condenação absoluta do sexo, como Pv_12:4; Pv_31:10, etc.,
comprovam.
29. A única maneira (“somente”) de explicar a escassez de homens
e mulheres comparativamente retos, quer dizer, porquanto Deus os fez
retos, eles buscaram … O único relato “achado” da origem do mal, o
grande mistério da teologia é aquele dado na Santa Palavra (Gênesis 2,
3). Entre as “contas” (invenções) do homem estava aquela especialmente
referida no v. 26, cujos amargos frutos experimentou Salomão, a
violação da primitiva lei marital de Deus, que unia um homem a uma
mulher (Mt_19:4-6). “Homem” é singular, ou seja, Adão; “eles”, plural,
Adão, Eva, e sua posteridade.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 41
Eclesiastes 8

1. Continua-se o louvor da sabedoria verdadeira (Ec_7:11, etc.).


“Quem” deve ser tido igualmente ao “sábio”? “Quem (como ele) sabe a
interpretação” das providências divinas (v. graça, Ec_7:8, 13, 14), e a
palavra de Deus (cf. Ec_7:29, Pv_1:6)?
faz reluzir o seu rosto — (Ec_7:14; At_6:15.) Um rosto brilhante,
o reflexo da consciência tranquila e da mente serena. É dado pela
comunhão com Deus (Êx_34:29-30).
dureza — austeridade.
muda-se — na benigna expressão da sabedoria (religião)
verdadeira (Tg_3:17). Maurer traduz: “O brilho de seu rosto se dobra,”
arguindo que o vocábulo para “austeridade” nunca se usa no sentido mau
(Pv_4:18). Sobre o sentido de “fortaleza,” em vez de “dureza,” cf.
Ec_7:19; Is_40:31; 2Co_3:18. Mas o adjetivo está usado no sentido mau
(Dt_28:50).
2. do rei — Jeová, em sentido peculiar o rei de Israel na teocracia;
os vv. 3, 4, comprovam que não se trata de um rei terrestre.
juramento de Deus (Versão Jünemann) — a aliança que Deus fez
com Abraão e renovou com Davi; Salomão se lembrou do Sl_89:35; “Eu
jurei …” e os castigos resultantes se os filhos de Davi o quebrantassem
(vv. 30-32); sofridos por Salomão mesmo; contudo, Deus não o
desamparou “totalmente” (vv. 33, 34).
3. Não te apresses — antes: “Não te aterrorizes de modo que saias
de diante dele.” Servilmente “apavorado” é característico do sentimento
do pecador para com Deus; inutilmente tenta fugir de Sua presença
(Sl_139:7); o contrário do “rosto reluzente” da confiança filial (v. 1;
Jo_8:33-36; Rm_8:2; 1Jo_4:18).
porque ele faz — Deus inflige aos pecadores persistentes o castigo
que Ele quer (Jó_23:13; Sl_115:3). Só de Deus se pode dizer isso.
4. A própria palavra de Deus é “potestade,” ou “poder.” Também a
palavra do evangelho (Rm_1:16; Hb_4:12).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 42
quem lhe dirá, etc. — (Jó_9:12; Jó_33:13; Is_45:9; Dn_4:35). A
Escritura não atribui tal poder arbitrário a reis terrestres.
5. tempo — o descuido dos “tempos” devidos causa muito da
loucura pecaminosa dos espiritualmente não sábios (Ec_3:1-11).
juízo (TB) — a maneira correta (Holden). Mas como o futuro
“juízo” de Deus se relaciona com o “tempo para todo propósito”
(Ec_3:17), também nisto. O castigo dos pecadores persistentes (v. 3) o
sugere. O sábio se dá conta do fato de que, como há “tempo” próprio
para tudo, há tempo para o “juízo.” Este pensamento o reanima na
adversidade (Ec_7:14; Ec_8:1).
6. é grande o mal — porquanto o pecador insensato não pensa nos
“tempos” devidos, e no “juízo”.
7. não sabe — o pecador, por ignorar os tempos (por ex., “o tempo
aceitável,” o dia da salvação, 2Co_6:2), e de surpresa toma o juízo
(Ec_3:22; Ec_6:12; Ec_9:12). Os piedosos dão importância aos tempos
oportunos, e prevendo o juízo, não os toma de surpresa, embora não
sabem o “quando” preciso (1Ts_5:2-4); sabem sim o “tempo” para os
propósitos da salvação (Rm_13:11).
8. espírito (RC) — o alento da vida (Ec_3:19), sentido que
requerem as palavras que seguem. Não o “vento,” como pensa Weiss
(Pv_30:4). Este versículo com naturalidade segue com o tema de
“tempos” e “juízo” (vv. 6, 7).
nem há tréguas — Não dão de baixa, aludindo à probabilidade do
serviço militar obrigatório a todos os de vinte anos (Nm_1:3); mas se
eximia a muitos (Dt_20:5-8). Mas “em tal guerra” (ou batalha, a morte)
não há exceções.
aquele que a ela se entrega — lit., o dono dela. A maldade pode
conseguir dinheiro para o pecador, mas não o pode livrar da morte
temporária e eterna, a qual é seu pagamento (Is_28:15, Is_28:18).
9. para arruiná-lo — o governante tirânico faz “mal” não só a seus
súditos, mas também a si mesmo; assim sucedeu a Roboão (1 Reis 12);
mas o “tempo” deste “mal” (dano) refere-se principalmente à ruína
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 43
eterna, causada pela “maldade,” no dia da morte” (v. 8), e no “tempo” do
“juízo” (v. 6; Pv_8:36).
10. os ímpios (RC) — ou seja, os governantes (v. 9).
sepultados (RC) — com a pompa fúnebre, embora pouco a
mereceram (Jr_22:19); mas isto só fazia mais terrível o contraste com
sua morte temporal e eterna infligida por Deus (Lc_16:22-23).
frequentavam o lugar santo — foram ao lugar de magistratura e
saíram dali, onde estiveram sentados como representantes de Deus
(Sl_82:1-6), com pompa. (Holden). Weiss traduz: “Sepultados e ide-vos
(totalmente), até do lugar santo partiram.” Como Joabe, por mandado de
Salomão, foi enviado à tumba do lugar santo” no templo, o que não era
santuário para os homicidas (Êx_21:14; 1Rs_2:28, 1Rs_2:31). O uso da
mesma palavra “sepultados” ali torna plausível este parecer; contudo,
pode-se reter “vieram e partiram …” (da versão inglesa). Joabe veio ao
altar, mas teve que ir-se dali; assim os governantes (v. 9) “ímpios”
(inclusive os sumos sacerdotes) vieram e saíram do templo, em ocasiões
do culto solene, mas nem por isso escaparam de seu destino.
foram esquecidos — (Pv_10:7.)
11. O por quê os ímpios perseveram no pecado: a demora do juízo
de Deus (Mt_24:48-51; 2Pe_3:8-9). “Não veem a fumaça do abismo,
portanto não temem o fogo” (South.) (Sl_55:19.) A libertação de Joabe
do castigo pela morte de Abner, longe de “levá-lo a arrependimento,”
como era de se esperar (Rm_2:4), conduziu a outro homicídio, o de
Amasa.
12. Isto diz para que o pecador não abuse da declaração (Ec_7:15):
“Há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade.”
diante dele (TB) — servindo-O com reverência, consciente de Sua
contínua presença.
13. nem prolongará os seus dias — não é uma contradição do v.
12. Ali a “prolongação” de seus dias (não a dilatação do castigo) é só
aparente e não real. Tendo em conta sua existência eterna, seus dias
atuais, por mais que pareçam longos, são na realidade curtos. A demora
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 44
de Deus (v. 11) existe só na limitada concepção do homem. Dá prazo
para que o pecador se arrependa, ou se não, para que encha a medida de
sua culpabilidade; a demora, neste ou aquele caso, presta-se para a
vindicação final dos caminhos de Deus. Também dá exercício à fé,
paciência, e perseverança dos santos.
sombra — (Ec_6:12; Jó_8:9.)
14. Aqui principia uma objeção (concebida por Salomão em sua
apostasia), como em Ec_3:16; Ec_7:15, à verdade da justiça retributiva,
baseada no fato de que os justos e os ímpios não estão recebendo agora
sempre segundo seus respectivos merecimentos; sofisma que parece teria
mais peso para os homens que viviam sob o convênio mosaico de
sanções temporárias. O impedimento acrescenta, como havia dito
Salomão, que os eventos do mundano são “vaidade” (v. 10); “Digo (não
‘disse’), isto também é vaidade; portanto louvei (recomendei) a alegria.”
(Holden.) Os vv. 14, 15 podem, entretanto, explicar-se como se
ensinassem o uso alegre, agradecido dos dons de Deus “sob o sol,” quer
dizer, não fazendo deles o sumo bem, como fazem os sensualistas, o que
se proíbe em Ec_2:2; Ec_7:2; mas no temor de Deus”, como em
Ec_3:12; Ec_5:18; Ec_7:18; Ec_9:7, em contraste com a abstinência do
ascético justiceiro (Ec_7:16), e a do avarento (Ec_5:17).
15. melhor — “coisa melhor para o justo,” cujo sumo bem é a
religião, não para o mundano.
isso o acompanhará — Isto permanecerá (Hebraico: se aderirá a)
com ele; não para sempre, mas sim é o único bem seguro para ser
desfrutado de seus trabalhos terrestres (“trabalho dos dias de sua vida”).
Entretanto, a linguagem se assemelha ao preceito cético (1Co_15:32),
apresentado aqui só para ser refutado; e “acompanhará” é vocábulo
muito forte, talvez, para ser aplicado por um religioso ao “comer” e à
“alegria.”
16. A resposta aos vv. 14, 15. Quando me pus a esquadrinhar os
esforços do homem para obter a felicidade (tão incessantes alguns deles
que não dessem tempo suficiente para “dormir”), então (v. 17, a
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 45
apódose) vi que o homem não pode alcançar (averiguar a razão de) os
inescrutáveis procedimentos de Deus com os justos e com os ímpios aqui
(v. 14; Ec_3:11; Jó_5:9; Rm_11:33); é seu dever conformar-se com tais
procedimentos, porque são de Deus, mesmo quando não veja todas as
razões dos mesmos (Sl_73:16). Basta saber que “os justos ... estão nas
mãos de Deus” (Ec_9:1).
17. o sábio — “exageradamente sábio” (Ec_7:16); as especulações
para além do que está escrito são vãs.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 46
Eclesiastes 9

1. entender — antes, explorar; o resultado de minha exploração é


este: “Os justos … estão nas mãos de Deus. Ninguém sabe nem o amor
nem o ódio (de Deus para com eles) mediante tudo o que está diante
deles,” isto é, pelo que é exteriormente visto em Seus procedimentos
atuais (Ec_8:14, 17). Entretanto, pelo sentido das mesmas palavras, no v.
6, “amor e ódio” parecem ser o sentir dos ímpios para com os justos,
pelo que causam a estes ou consolo ou tristeza. Traduza-se: “Até o amor
e o ódio” (exibidos para com os justos) estão nas mãos de Deus
(Sl_76:10; Pv_16:7). “Ninguém sabe tudo o que está diante deles.”
2. Tudo … igualmente — não universalmente; mas quanto à
morte. Ec_9:2-10 são tidos por Holden como a objeção do sensual
cético. Entretanto, podem-se explicar como linguagem de Salomão. Ele
repete o sentimento já expresso em Ec_2:14; Ec_3:20; Ec_8:14.
o mesmo sucede — não eternamente; mas a morte é comum a
todos.
bom — moralmente.
puro — cerimonialmente.
sacrifica — como Josias que sacrificava a Deus, e como Acabe,
que fez cessar os sacrifícios.
jura — superficial e falsamente.
3. Traduza-se: “Há um mal sobre todos (os males) que são feitos
…”, ou seja, que não só “há um mesmo evento para todos,” mas também
o coração dos filhos dos homens” faz deste fato a razão por que persistir
loucamente no “mal durante a vida e depois …,” o pecado da “loucura”.
aos mortos — (Pv_2:18; Pv_9:18.)
4. Para — antes, Contudo, para....
entre os vivos — Heb. “unido aos vivos”
esperança — não meramente de bem temporário (Jó_14:7), mas
sim de ainda arrepender-se e ser salvos.
cão — metáfora das pessoas mais vis (1Sm_24:14).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 47
leão — o mais nobre dos animais (Pv_30:30).
mais vale — quanto à esperança da salvação; os mais nobres se
morrerem inconversos, não têm esperança; os mais vis enquanto vivem,
têm esperança.
5. sabem que hão de morrer — e portanto podem ser induzidos “a
contar seus dias de tal modo que tragam para o coração sabedoria”
(Ec_7:1-4; Sl_90:12).
os mortos não sabem coisa nenhuma — isto é, assim que
concerne aos sentidos corporais e assuntos mundanos (Jó_14:21;
Is_63:16); além disso, não sabem de porta que se lhes abra para o
arrependimento, tal qual a que há para todos em vida.
recompensa — nenhuma vantagem de seus trabalhos terrestres
(Ec_2:18-22; Ec_4:9).
sua memória — não dos justos (Sl_112:6; Ml_3:16, ) mas sim dos
ímpios, que com todas as dores que têm para perpetuar seus nomes
(Sl_49:11), logo são esquecidos (Ec_8:10).
6. amor … ódio … inveja — (referindo-se ao v. 1; veja-se nota.)
Não que estes cessem no mundo futuro absolutamente (Ez_32:27;
Ap_22:11); mas sim como diz “sob o sol,” refere-se a pessoas e coisas
deste mundo. O amor e o ódio do homem já não poderão fazer-se para
bem ou para mal como aqui; mas seus frutos permanecem. Tal qual se
acha a morte, assim permanece para sempre. “A inveja,” também,
assinala os ímpios como aludidos, visto que com inveja tinham atacado
os justos (v. 1, nota).
parte — a “porção” deles era “nesta vida” (Sl_17:14), já não a
podem ter mais.
7. Vai — dirige-se ao “justo sábio,” célebre no v. 1. Estando “na
mão de Deus,” quem agora aceita “suas obras” em seu serviço, como
anteriormente aceitou sua pessoa (Gn_4:4), pode “comer … com coração
alegre” (não sensualmente alegre) (Ec_3:13; Ec_5:18; At_2:46).
8. brancos os teus vestidos (TB) — em sinal de alegria (Is_61:3).
Salomão se vestia de branco (Josefo, Antiguidades, 8:7, 3); portanto, sua
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 48
vestimenta se compara aos lírios” (Mt_6:29; típica da perfeita justiça de
Jesus Cristo, que usarão os remidos (Ap_3:18; Ap _7:14).
óleo — (Sl_23:5), o oposto a um exterior lúgubre (2Sm_14:2;
Sl_45:7; Mt_6:17); típico também (Ec_7:1; Ct_1:3).
9. a mulher que amas — amor santo e verdadeiro, em contraste
com os “laços” das “mil” concubinas (Ec_7:26, 28), “entre” as quais
Salomão não pôde encontrar o amor real que une um homem a uma
mulher (Pv_5:15, Pv_5:18-19; Pv_18:22; Pv_19:14).
10. Tudo quanto — ou seja, no serviço de Deus. Este e o versículo
anterior evidentemente são linguagem de Salomão, não de um cético,
como Holden o quer explicar.
mão, etc. — (Lv_12:8, margem; 1Sm_10:7).
tuas forças — diligencia (Dt_6:5, Jr_48:10, margem).
no além … não há obra — (Jo_9:4; Ap_14:13.) “O dia de recreio
da alma é dia de trabalho de Satanás; quanto mais ocioso o homem, tanto
mais ocupado o tentador.”(South.)
11. Este versículo qualifica o sentimento dos vv. 7-9. Os “prazeres”
terrestres, mesmo sendo lícitos em seu lugar (Ec_3:1), devem dar tempo,
quando se requer para qualquer obra que deve ser feita para Deus.
Voltando ao sentimento (Ec_8:17), devemos, pois, não só fazer a obras
de Deus “com força” (v. 10), mas também com o sentir de que o evento
está totalmente “na mão de Deus” (v. 1).
não é dos ligeiros o prêmio — (2Sm_18:23); espiritualmente
(Sof_3:19; Rm_9:16).
nem dos valentes, a vitória — (1Sm_17:47; 2Cr_14:9, 2Cr_14:11,
2Cr_14:15; Sl_33:16.)
o pão — a subsistência.
o favor — dos grandes.
acaso — a casualidade aparentemente, a providência na realidade.
Mas como o homem não pode “alcançá-la” (compreendê-la) (Ec_3:11).
convém-lhe “segundo suas forças” aproveitar as oportunidades. Nossos
são os deveres; os eventos, de Deus.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 49
12. a sua hora — o tempo de sua morte (Ec_7:15; Is_13:22). Daí o
perigo da demora em fazer a obra de Deus, pois a pessoa não sabe
quando terminará sua oportunidade (v. 10).
a rede traiçoeira — que lhes é fatal. A súbita chegada da captura é
o ponto de comparação. Assim a segunda vinda de Jesus Cristo, “como
um laço” (Lc_21:35, RC).
tempo da calamidade — como “a rede traiçoeira,” fatal para eles.
13. Antes: “Vi sabedoria desta sorte também,” quer dizer, descrita
da maneira como segue. (Maurer.)
14, 15. (2Sm_20:16-22.)
baluartes — obras militares de sitiar.
15. pobre — de vantagens temporárias da verdadeira sabedoria,
embora com frequência salva a outros. Recebe pouca recompensa de
parte do mundo, que não admira senão aos ricos e grandes.
ninguém se lembrou — (Gn_40:23.)
16. Resumindo o sentimento (Ec_7:19; Pv_21:22; Pv_24:5).
a sabedoria do pobre — não a sabedoria do pobre mencionado no
v. 15; porque a dele não poderia ter salvo a cidade, se não tivessem “sido
ouvidas suas palavras;” mas sim a dos pobres em geral. Assim aconteceu
com Paulo (At_27:11).
17. As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio — Embora
geralmente não é ouvido o sábio pobre (v. 16), contudo, “as palavras dos
sábios, ouvidas na calma (e assim tomadas a peito, como no v. 15), são
mais proveitosas que …”
de quem governa — como o “grande rei” (v. 14). Salomão volta
para quem “tem domínio sobre outro homem, para arruiná-lo” (Ec_8:9).
18. um só pecador — (Js_7:1, 11-12.) Embora a sabedoria excede
à insensatez (v. 16; Ec_7:19), contudo, “um pouco de loucura
(equivalente a pecado) pode destruir muito bem”, tanto na própria pessoa
(Ec_10:1; Tg_2:10) como em outros. A “sabedoria” deve, por antítese de
“pecador,” significar religião. Assim tipicamente, a “cidade pequena”
pode aplicar-se à igreja (Lc_12:32; Hb_12:22); o grande rei a Satanás
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 50
(Jo_12:31); o sábio pobre e menosprezado, a Jesus Cristo (Is_53:2-3;
Mc_6:3; 2Co_8:9; Ef_1:7-8; Cl_2:3).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 51
Eclesiastes 10

1. Amplia a ideia de Ec_9:18.


a quem é estimado (NKJV) — por ex., Davi (2Sm_12:14);
Salomão (1 Reis 11); Josafá (2 Crônicas 18; 2Sm_19:2); Josias
(2Cr_35:22). Quanto mais delicado o perfume, tanto mais facilmente
corresponde o unguento. O óleo comum não se estraga tão facilmente.
Assim quanto mais elevado o caráter religioso do homem, mais dano lhe
faz uma leve loucura pecaminosa. O mau sabor se tolera no óleo, mas
não no que pretende ser, e que está composto pelo perfumista como,
fragrância. “Moscas” corresponde a “uma pequena loucura” (pecado),
propriamente, sendo pequenas (1Co_5:6); também, “Belzebu” significa
príncipe de moscas. “Unguento” corresponde a “estimado” (Ec_7:1;
Gn_34:30). Os verbos estão no singular, o substantivo no plural, o que
indica que cada mosca dá mau cheiro.
2. (Ec_2:14.)
à sua mão direita — A direita é mais prática (mão direita) que a
esquerda. O sábio piedoso está mais alerta que o pecador insensato,
embora às vezes escorrega. Melhor um diamante com uma falha que um
calhau perfeito.
3. pelo caminho — em seu curso comum; em seus atos mais
singelos (Pv_6:12-14). “Diz a todos (virtualmente) que ele (mesmo) é
néscio” (segundo a LXX); mas segundo a Vulgata: “Ele pensa que é
néscio todo (aquele com quem se encontra).”
4. a indignação — a ira.
o ânimo sereno, etc. — pacifica (Pv_15:1). Isto explica o “não
deixes teu lugar”, não te retires em espírito de oposição de seu posto do
dever (Ec_8:3).
5. como o erro (RC) — antes, “por causa de um erro …” (Maurer e
Holden.)
6. os ricos — não de meras riquezas, mas em sabedoria, como
demonstra a antítese da estultícia” (por “néscios”). Assim no hebraico,
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 52
rico, equivale a “liberal”, no sentido bom (Is_32:5). Mardoqueu e Hamã
(Et_3:1, 2; Et_6:1-11).
7. servos a cavalo — os inúteis exaltados à dignidade (Jr_17:25); e
vice-versa (2Sm_15:30).
8. Os resultados fatais para os reis de tão imprudente política; o mal
feito a outros volta sobre eles mesmos (Ec_8:9); caem na fossa que
cavaram para outros (Es_7:10; Sl_7:15; Pv_26:27). Abrindo uma brecha
num muro defensivo de seu trono, sofrem inesperadamente eles mesmos;
como quando morde a pessoa a serpente escondida no muro do vizinho
(Sl_80:12), que ele maliciosamente derruba (Am_5:19.)
9. Quem arranca pedras — quer dizer, derrubando um edifício
antigo (Weiss). Os postes do vizinho (Holden). Da pedreira (Maurer).
será maltratado — pelas lascas, ou pelo machado que sai da
manga. No Oriente são comuns os aforismos fortes. O sentido é: As
violações da verdadeira sabedoria voltam a cair sobre os perpetradores.
10. Se o ferro está embotado, e não se lhe afia o corte —
“cortando a lenha” (v. 9), o que corresponde a “néscio elevado” (v. 6),
que necessita de acuidade. Em ambos os casos é preciso usar mais força;
mas a força sem o juízo faz perigo a alguém. “Se a pessoa embotou seu
ferro” (Maurer.) A preferência pelos conselheiros temerários aos
judiciosos, que envolveu a precipitação dos assuntos pela força, resultou
ser prejudicial a Roboão (1 Reis 12).
a sabedoria resolve — Traduza-se: “Mas convém a sabedoria para
dirigir,” em vez de forçar os assuntos para o prejuízo da própria pessoa
(Ec_9:16, 18).
11. Uma serpente morderá se não se usa o encantamento; assim o
enganador caluniador não é melhor. Portanto, como se pode escapar de
uma serpente encantando-a (Sl_58:4-5), assim pela discrição se pode
evitar a peçonha do caluniador (v. 12). (Holden.) Assim que, “não está
encantada,” corresponde a “se o ferro está embotado” (v. 10),
expressando ambas as frases a falta de juízo. Maurer traduz: “Não há
lucro para o encantado,” de seus encantamentos, porque a serpente
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 53
morde antes que faça uso deles; daí a necessidade da precaução contínua.
Vv. 8-10, precaução na ação; v. 11 e seguintes, precaução no falar.
12. cheias de graça (TB) — assim toma cuidado para evitar o dano
repentino (v. 11).
o devoram (RC) — (Pv_10:8, Pv_10:14, Pv_10:21, Pv_10:32;
Pv_12:13; Pv_15:2; Pv_22:11).
13. Ilustra a insensatez e o preconceito das palavras do néscio;
última cláusula do v. 12.
14. multiplica — Lit., “Está cheio de palavras” (Ec_5:2).
o homem não sabe o que sucederá — (Ec_3:22; Ec_6:12; Ec_8:7;
Ec_11:2; Pv_27:1.) Se o homem, universalmente (inclusive o sábio), não
pode predizer o futuro, muito menos o pode fazer o néscio; suas “muitas
palavras” são, pois, fúteis.
15. O trabalho do tolo o fatiga — (Is_55:2; Hc_2:13.)
nem sabe ir à cidade — provérbio que denota a ignorância dos
assuntos mais comuns (v. 3); espiritualmente, não sabe ir à cidade
celestial (Sl_107:7, Mt_7:13-14). Maurer relaciona o v. 15 com os que
seguem. O trabalho fatigante causado pelos néscios (príncipes maléficos,
vv. 4-7) fatiga àquele que “não sabe ir à cidade”, para poder pôr-se bem
com eles. Nossa versão é mais singela.
16. criança — menino, dado aos prazeres; comporta-se com
leviandade infantil. Não em anos; porque uma nação pode estar feliz sob
um príncipe jovem, como Josias.
se banqueteiam já de manhã — o tempo propício no Oriente para
administrar a justiça (Jr_21:12); aqui, entregue ao festejo (Is_5:11;
At_2:15).
17. filho de nobres — não meramente nobres de sangue, mas em
virtude, a verdadeira nobreza (Ct_7:1; Is_32:5, Is_32:8).
a seu tempo — no tempo devido (Ec_3:1), cumpridos já os
assuntos em trâmite.
para refazerem as forças — e isso para alimentar o corpo, e não
para orgias e bebedeira.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 54
18. teto — Lit., a juntura das vigas, ou seja, o reino (v. 16; Is_3:6;
Am_9:11).
mãos — (Ec_4:5; Pv_6:10).
tem goteiras (TB) — pelo descuido em reparar a tempo o teto.
19. Referindo-se ao v. 18. Em vez de reparar as brechas do domínio
(edifício figurativo), os príncipes fazem festa para “risada,” e bebem
“vinho” para alegria (Sl_104:15).
o dinheiro atende a tudo — satisfaz seus desejos provendo “tudo,”
isto é, recebem suborno para pagar suas extravagâncias; e daí se
suscitam os males que se perpetram (vv. 5, 6; Ec_3:16; Is_1:23;
Is_5:23). Maurer entende que “tudo” significa os males que os príncipes
são instigados a cometer pelo “dinheiro;” por exemplo, os impostos
onerosos, que causaram a perda das dez tribos para Roboão (1Rs_12:4,
etc.).
20. pensamento — Lit., consciência.
rico — o grande. A linguagem, que sugere que os príncipes
terrestres sabem o “pensamento,” é figurativo. Mas é uma realidade
referente ao Rei dos reis (Salmo 139), cujo conhecimento de todo
pensamento mau, deveríamos levar em conta.
quarto — dormitório, o lugar mais secreto (2Rs_6:12).
aves dos céus — proverbial (cf. Hc_2:11; Lc_19:40); de uma
maneira tão maravilhosa e rápida, como se as aves ou algum mensageiro
alado tivessem levado ao rei a informação da maldição assim
pronunciada. No Oriente se atribuía às aves uma sagacidade sobre-
humana (cf. Jó_28:21; daí o provérbio).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 55
Eclesiastes 11

1. O v. 2 demonstra que aqui se inculca a caridade.


pão — Como no Pai Nosso, todo o necessário para o corpo e alma.
Salomão volta ao sentimento (Ec_9:10).
águas — figura tirada do costume de lançar a semente de botes
sobre as águas transbordantes do Nilo, ou, sobre terrenos pantanosos.
Depois da vazante das águas, o grão brotava da inundação (Is_32:20).
“Águas” expressa multidões; como o v. 2; Ap_17:15; também o caráter
pelo que parece sem esperança dos recipientes da caridade; mas será
comprovado afinal que não foi atirado (jogado) (Is_49:4).
2. Reparte — de seu pão.
sete — o número perfeito.
oito — ainda mais que sete, isto é, a muitíssimos (como “águas”,
no v. 1); sim, aos muitos necessitados (Jó_5:19; Miq_5:5).
mal — pode ser que esteja perto o dia em que você necessitará o
socorro daqueles que foram ligados a você por suas bondades (Lc_16:9).
É o mesmo argumento que usam os avarentos contra a liberalidade (ou
seja, que podem vir dias difíceis), os sábios o usam a favor dela.
3. nuvens — corresponde a “mal” (v. 2), e significa: Quando
estiverem amadurecidos os tempos do mal, o mal deve sobrevir; a
especulação anterior a respeito dele, de modo a evitar que alguém semeie
a semente da liberalidade, é vã (v. 4).
árvore — uma vez desarraigada, jaz para o norte ou para o sul,
conforme tenha caído. Assim o caráter do homem é imutável, quer seja
para o inferno ou para o céu, no dia que a morte o alcança (Ap_22:11,
Ap_22:14-15). Agora é o tempo para liberalidade, antes que venha o
mal.
4. Portanto semeie sua caridade em fé, sem vacilação nem
especulações a respeito dos resultados, porque estes poderão parecer não
tão promissores (Ec_9:10). Assim no v. 1, manda-se ao homem lançar o
seu “pão sobre as águas” de tão pouca promessa aparentemente
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 56
(Sl_126:5-6). Sairia muito mal o agricultor que, em vez de semear e
segar, passasse o tempo olhando o vento e as nuvens.
5. vento — mais provável, o espírito, como dá vida ao corpo.
Assim a transição à ideia da formação do corpo na matriz é mais natural
do que seria traduzindo-o, como Maurer, por vento (Ec_1:6; Jo_3:8).
como se formam os ossos — (Jó_10:8-9; Sl_139:15-16.)
não sabes as obras de Deus — (Ec_3:11; Ec_8:17; Ec_9:12.)
6. pela manhã … à tarde — cedo e tarde; quando jovens e quando
velhos; ao sol e sob as nuvens.
semente — de obras piedosas (Os_10:12, 2Co_9:10; Gl_6:7).
qual prosperará — (Is_55:10-11).
se aquela ou se ambas — o que se semeia, promissor ou o
contrário, pode ser que leve bom fruto em outros; sem dúvida o levará
para o semeador fiel.
7. luz — a luz da vida (Ec_7:11; Sl_49:19). A vida é agradável,
principalmente aos piedosos.
8. Mas mesmo quando o homem agradecido desfrute da vida, que
se lembre que não dura para sempre. Os “muitos dias das trevas,” quer
dizer, do mundo invisível (Jó_10:21-22; Sl_88:12), também dias de
“males” neste mundo (v. 2) devem vir; portanto que se semeie a boa
semente enquanto durar a vida e os dias bons, que não nos sobram para
levar a cabo os deveres da vida.
Tudo quanto sucede — quer dizer, tudo o que se segue nos dias
maus e de trevas é (será) vaidade, assim que concerne a obra que é para
Deus (Ec_9:10).
9. Alegra-te — não é conselho, mas sim advertência. Assim
também 1Rs_22:15 é ironia; se alegrar-te (carnalmente, Ec_2:2; Ec_7:2,
não com moderação, como no Ec_5:18), etc., então “sabe que … Deus te
trará a juízo” (Ec_3:17; Ec_12:14).
juventude … mocidade — vocábulos hebraicos distintos: a
adolescência e a juventude em pleno desenvolvimento. Indica o
progresso gradual nos prazeres físicos, tentações às quais a juventude
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 57
facilmente cede; veem as rosas, mas não descobrem os espinhos, até ser
furados por eles. A religião exige a abnegação, mas a falta dela resulta
muito mais cara (Lc_14:28).
10. o desgosto — ou tristeza, resultante das concupiscências, em
contraste com o “alegra-te,” e “recreie-se” (v. 9, margem). “desgosto”.
Se for “irritação”, corresponde a “caminhos de seu coração” (v. 9),
“remove,” em oposição a “anda neles (v. 9).
carne — o órgão físico pelo qual os pensamentos do “coração” se
realizam em atos.
adolescência (RC) — como no v. 9. Motivo para a continência; dia
virá quando o vigor da juventude, em que tanto confia, parecerá vão,
salvo se tiver sido consagrado a Deus (Lc_12:1).
juventude (RC) — Lit., o amanhecer de seus dias.
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Eclesiastes 12

1. Como Ec_11:9, 10 ensina o que os jovens devem evitar, este


versículo demonstra o que devem seguir.
Criador — “Lembra-te” que você não é seu próprio dono; você é
propriedade de Deus; porque Ele o criou (Sl_100:3). Portanto, sirva-O
com seu “todo” (Mc_12:30), e com seus melhores dias, não com a
escória deles (Pv_8:17; Pv_22:6; Jr_3:4; Lm_3:27). O hebraico é
Criadores, no plural, que sugere a pluralidade de pessoas, como em
Gn_1:26; deste modo o hebraico em Is_54:5, “Criadores”.
antes que venham os maus dias — (Pv_8:26.), principalmente a
calamidade e a velhice, quando a pessoa já não pode servir a Deus, como
na juventude (Ec_11:2, 8).
contentamento — prazer sensual (2Sm_19:35; Sl_90:10). O prazer
em Deus continua na velhice piedosa (Is_46:4).
2. Ilustra “os maus dias” (Jr_13:16). “Luz,” “sol”, etc., expressam a
prosperidade, a “escuridão,” dor e calamidade (Is_13:10; Is_30:26).
nuvens … chuva — depois da chuva pode-se esperar o sol
(consolo), mas após breve olhada voltam as lúgubres nuvens (dor).
3. guardas da casa — ou seja, as mãos e os braços que protegem o
corpo, como fazem os guardas do palácio (Gn_49:24; Jó_4:19;
2Co_5:1), agora tremem pela paralisia.
se curvarem os homens outrora fortes — (Jz_16:25, Jz_16:30.)
Qual colunas que sustentam os pés e os joelhos (Ct_5:15); os membros
mais fortes (Sl_147:10).
moedores — literalmente.
cessarem — estarão ociosos.
os teus olhos nas janelas — os olhos; os poderes da vista, que
olham por debaixo dos pálpebras que se abrem e fecham quais janelas.
4. portas — os lábios, que se juntam muito como portas, quando os
velhos comem, para que a comida não caia fora (Jó_41:14; Sl_141:3;
Miq_7:5).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 59
da rua — a porta da rua, “as exteriores.” (Maurer e Weiss.)
alta voz — a dentadura gasta, os lábios “fechados” ao comer, é
dificilmente audível o som da mastigação.
das aves — o galo. No Oriente a pessoa se levanta geralmente à
alvorada. Mas os velhos com vontade levantam mesmo antes, do leito
insone, quer dizer, quando o galo canta, antes de amanhecer (Jó_7:4).
(Holden). O menor ruído os desperta. (Weiss.)
filhas da música — os órgãos que produzem e que desfrutam a
música; a voz e o ouvido.
5. o que é alto — os velhos se assustam de ascender uma colina.
te espantares — (lit., temores)
no caminho — até na rua plana estão cheios do temor de cair.
como floresce a amendoeira — no Oriente o cabelo é
principalmente preto. A cabeça branca entre os morenos é como a
amendoeira, com suas flores brancas, entre as árvores escuras
circunstantes (Holden). A amendoeira lança flores no caule sem folhas
no inverno (correspondente à velhice, quando todos os poderes dormem),
enquanto que as demais árvores estão sem flor. Gesênius toma o
hebraico florescer de una raiz distinta, lançar; quando o velho perde
seus cãs, como a amendoeira lança suas flores brancas.
gafanhoto — o velho seco e enrugado; sua espinha dorsal curvada
para frente, seus braços caídos para trás, cabisbaixo, e as apófises
aumentadas, parece-se a tal inseto. Assim se originou a fábula do Titono,
que em grande velhice foi transformado em cigarra (Parkhurst). “A
cigarra (tradução talvez preferível a gafanhoto) eleva-se para voar;” o
ancião que está para deixar o corpo é como a cigarra quando assume sua
forma alada e está para voar. (Maurer.)
o gafanhoto te for um peso — seu corpo lhe deve ser uma carga.
te perecer o apetite — já não há satisfações. Em vez de apetite a
Vulgata tem “carpe,” provocador do desejo; não cai bem aqui.
vais à casa eterna — (Jó_16:22; Jó_17:13.)
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 60
os pranteadores — (Jr_9:17-20), contratados para a ocasião
(Mt_9:23).
6. Figura dupla que representa a morte, como os vv. 1-5, à velhice.
(1) A lâmpada de matéria frágil, mas no Oriente, dourada,
pendurada com frequência do teto com uma corda de seda e prata tecida,
como a lâmpada faz-se pedacinhos ao cortá-la corda, assim o homem ao
vir a morte: a terrina de ouro da lâmpada corresponde ao crânio, que,
pela preciosidade vital de seu conteúdo, pode chamar-se “de ouro,”
dourado; a “cadeia de prata” é a medula espinhal, e se liga com o
cérebro.
(2) A fonte de onde se tira a água com um cântaro e uma soga posta
sobre uma roda; como, quebrados o cântaro e a roda, não se possa tirar
mais água, assim a vida cessa quando se esgotam as energias vitais. A
“fonte” pode ser que signifique o ventrículo direito do coração; o
“poço,” o esquerdo; o cântaro, as veias; a roda, a aorta (Smith). A
circulação do sangue, fosse ou não conhecida por Salomão, parece estar
implícita na linguagem que o Espírito Santo põe na boca dele. Este
lúgubre quadro da velhice aplica-se aos que “não se lembraram de seu
Criador na juventude.” Não têm nenhum dos consolos de Deus; que
tivessem podido conseguir na juventude; já é tarde demais para buscá-
los. Uma boa velhice é uma bênção para os piedosos (Gn_15:15;
Jó_5:26; Pv_16:31; Pv_20:29).
7. o pó — da terra: o corpo formado dele.
espírito — que sobrevive ao corpo; envolve sua imortalidade
(Ec_3:11).
8-12. Resumo da primeira parte.
Vaidade, etc. — A renovação do sentimento com que principiou o
livro (Ec_1:2; 1Jo_2:17).
9. ensinou ao povo o conhecimento — lit., pesou. O ensino do
povo parece ter sido oral; os “provérbios”, por escrito. Deve ter havido
pois auditores congregados para ouvir a inspirada sabedoria do
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 61
pregador. Veja-se a explicação de “Qohelet” na Introdução e em
Eclesiastes 1 (1Rs_4:34).
conhecimento — Procurou escrever justa ou corretamente as
“palavras de verdade.” (Holden e Weiss.) “Agradáveis” significa bom
estilo; “escritura reta,” sentimento devido.
11. aguilhões — que se afundam na hortelã (At_2:37; At_9:5;
Hb_4:12); evidentemente palavras inspiradas, como o fim do versículo
comprova.
fixados — antes, pelo gênero das palavras no hebraico: “(As
palavras) estão fincadas (na memória) como pregos.” (Holden.)
mestres de assembleias — antes, “aos mestres de coleções (quer
dizer, colecionadores de ditos inspirados; Pv_25:1) são dados (os ditos)
(levantados como atas [Holden]) por um Pastor,” ou seja, pelo Espírito
de Jesus Cristo (Weiss) (Ez_37:24). Entretanto, a menção de “aguilhões”
favorece a versão: “como pregos fincados pelos mestres …” quer dizer,
pelos subpastores, inspirados pelo Sumo Pastor (1Pe_5:2-4). Schmidt
traduz: “Os mestres … estão fincados (assegurados) como pregos,”
como em Is_22:23.
12. (Veja-se Is_1:18.)
muitos livros (TB) — de mera composição humana, em contraste
com “filho meu, sê admoestado,” (admoestado, uma possível tradução,
TB); estes escritos inspirados são a única fonte segura de aviso de
advertência.
muito estudar — estudo em excesso, dos livros meramente
humanos, cansa o corpo, sem proveito sólido para a alma.
13, 14. Resumo da segunda parte.
13. A grande inferência de todo o livro.
Teme a Deus — o antídoto para o culto às criaturas, e as
“vaidades,” fosse a justiça própria (Ec_7:16, 18), ou a opressão
maliciosa e outros males (Ec_8:12, 13), ou a alegria desenfreada
(Ec_2:2; Ec_7:2-5), ou a avareza atormentadora (Ec_8:13, 17), ou a
juventude esbanjada sem Deus (Ec_11:9; 12:1).
Eclesiastes (Jamieson-Fausset-Brown) 62
o tudo do homem (TB) — o ideal pleno do homem, como foi
originalmente determinado, realizado completamente só por Jesus
Cristo: e por meio dEle pelos santos, agora em parte, e no além
perfeitamente (1Jo_3:22-24; Ap_22:14).
14. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras — O juízo
futuro será a prova final do que é “vaidade,” pelo que é sólido, com
relação ao sumo bem, o grande tema do livro.
CANTARES DE SALOMÃO
Original em inglês:
SONG OF SOLOMON -
The Song of Solomon
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução
Cantares 1 Cantares 5
Cantares 2 Cantares 6
Cantares 3 Cantares 7
Cantares 4 Cantares 8
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

O Cantares de Salomão, chamado na Vulgata e na versão dos LXX,


"O Cantar dos Cantares," pelas primeiras palavras do mesmo. Este título
denota sua excelência superior, de conformidade com o idiotismo
hebraico; deste modo o santo dos santos, indica o lugar santíssimo
(Êx_29:37); o céu dos céus, equivalente aos céus mais altos (Dt_10:14).
É um dos cinco volumes (Megillot) postos imediatamente depois do
Pentateuco nos MSS. das Escrituras Judaicas. É também o quarto da
Hagiografia ("Ketubim," escritos), a terceira divisão do Antigo
Testamento, sendo as outras duas a Lei, e os Profetas. A ordem judaica
do Ketubim é: Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações,
Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras (inclusive Neemias), e Crônicas. Sua
canonicidade está estabelecida; acha-se em todos os MSS. hebraicos das
Escrituras; também na Grega dos LXX; nos catálogos do Melito, bispo
de Sardes, 170 d.C. (Eusébio, Ecclesiastical History, IV. 26), e em
outros da antiga Igreja.
Orígenes e Jerônimo dizem que os judeus proibiram sua leitura a
todos os de menos de trinta anos de idade. De fato é mister um grau de
maturidade espiritual para poder penetrar devidamente no santo mistério
do amor, que expõe em forma alegórica. Para os que alcançaram esta
maturidade, seja da idade que forem, o Cantares é um dos escritos
sagrados mais edificantes. Rosenmuller diz com justiça: As transições
repentinas da noiva da corte até o bosque são inexplicáveis, na hipótese
de que descreve meramente o amor humano. Sendo assim, teria sido
positivamente repreensível, e nunca teria sido admitido no santo cânon.
A alusão dos "carros de Faraó" (Ct_1:9) foi base para conjeturar que os
amores de Salomão e a filha de Faraó são o tema de Cantares. Mas tal
passagem alude a um evento notável da história da Igreja do Antigo
Testamento, a libertação de Israel das hostes e carros do rei do Egito no
Mar Vermelho. (Veja-se contudo, a nota ali.) As outras alusões são bem
contrárias a semelhante noção; representa-se a noiva às vezes como uma
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 3
pastorzinha (Ct_1:7), ofício que era "uma abominação aos egípcios"
(Gn_46:34); deste modo os textos Ct_1:6; Ct_3:4; Ct_4:8; Ct_5:7 são
contrários a tal ideia. Os pais cristãos, Orígenes, Teodoreto, compararam
o ensino de Salomão a uma escada de três degraus: Eclesiastes, natural (a
natureza das coisas sensíveis, vã); Provérbios, moral; Cantares, místico
(figurativo da união de Cristo com a Igreja). Os judeus comparavam os
Provérbios ao pátio exterior do templo de Salomão. Eclesiastes ao lugar
santo, e Cantares ao santíssimo. Entendido alegoricamente, Cantares fica
livre de toda dificuldade. "Sulamita" (Ct_6:13), a noiva, é assim um
nome que vem bem ao caso, Filha de Paz, sendo a forma feminina de
Salomão, equivalente a Príncipe da Paz. Ela é por sua vez vinhateira,
pastora, atalaia noturna, seja esposa, seja filha do príncipe, e ele é agora
um suplicante empapado do orvalho da noite, ora rei em seu palácio, em
harmonia com as várias relações da Igreja e Cristo. Como Eclesiastes
expõe a vaidade do amor da criatura, Cantares expressa a plenitude do
amor que une os crentes e Cristo. A inteira economia da salvação, diz
Harris, tem por objeto restaurar ao mundo o espírito do amor que esteve
perdido. Deus é amor, e Cristo é a encarnação do amor de Deus. Como
outros livros da Bíblia apresentam particularmente seus próprios
aspectos da verdade divina, assim Cantares proporciona ao crente a
linguagem do amor santo, com o qual seu coração pode desfrutar da
comunhão com seu Senhor; e descreve a intensidade do amor de Cristo
para com alguém; o efeito do amor foi criado no homem para ser uma
transcrição do amor divino, e Cantares envolve a este num roupagem de
palavras; se não fosse assim, careceríamos da linguagem, que tivesse
sanção divina, com que expressar, sem presunção, o ardor do amor que
há entre Cristo e nós. A figura da noiva, do marido, e o casamento, para
representar a união espiritual, desfruta da sanção de todas as Escrituras; e
mais, a união espiritual foi o fato original na mente de Deus, do qual o
casamento é a cópia (Is_54:5; Is_62:5; Jr_3:1, etc.; Ezequiel 16 e 23;
Mt_9:15; Mt_22:2; Mt_25:1, etc.; Jo_3:29; 2Co_11:12; Ef_5:23-32,
onde Paulo não vai da relação conjugal à união de Cristo com a Igreja,
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 4
como se aquela fosse a primeira; mas sim desce desde esta pondo-a
primeiro, que é o fato reconhecido como o melhor em que basear a
relação do casamento; Ap_19:7; Ap_21:2; Ap_22:17). Sobretudo,
Cantares parece corresponder aos Salmos 45 e 72 e forma com eles uma
trilogia, que contém o mesmo fundo figurativo; assim como o Salmo 37
corresponde aos Provérbios, e os Salmos 39 e 73 a Jó. O amor a Cristo é
o mais forte, pois é o mais puro, das paixões humanas, e necessita,
portanto, a linguagem mais forte para expressá-lo; aos puros de coração
a fraseologia, tirada do rico fundo imaginativo da poesia oriental, não só
não parecerá indecoroso ou exagerado, mas antes, inferior à realidade.
Um só emblema é tipo: os ritos com efeito, incidentes, e pessoas do
Antigo Testamento foram tipos ordenados de verdades para ser reveladas
depois. Mas a alegoria é uma metáfora continuada, em que as
circunstâncias são palpavelmente com frequência puras criações
poéticas, enquanto que a coisa figurada é totalmente real. A chave do
sentido de Cantares não deve buscar-se na própria alegoria, mas em
outras partes da Bíblia. "Repousa no estojo da revelação uma deliciosa
joia, cinzelada com caracteres emblemáticos, sem nenhum realismo que
destrua a consequência de sua beleza." (Burrowes.) Isto explica a razão
de que o nome de Deus não apareça no livro. Enquanto que na parábola
o escritor narra, na alegoria nunca o faz. Cantares consiste por completo
em conversas imediatas, ou de Cristo à alma, ou da alma a Cristo. "O
conhecimento experimental da beleza de Cristo e do amor do crente é o
melhor comentário, em suma, deste Cantar alegórico." (Leighton.) Como
as lâmpadas orientais curiosamente lavradas não revelam a beleza de
seus emblemas transparentes até que são iluminadas de dentro, assim os
tipos e alegorias das Escrituras, "a lâmpada a nosso caminho"
[Sl_119:105], necessitam a luz íntima do Espírito Santo de Jesus para
revelar seu significado. Não se deve dar aos detalhes da alegoria
interpretações forçadas. Em Cantares, com a profusão da criação
imaginativa oriental, numerosos objetos belos e plausíveis se reúnem,
que não são estritamente congruentes, mas descrevem conjuntamente
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 5
mediante sua própria diversidade as mil belezas variadas e pelo que
parece contraditórias que encarnam em Cristo.
A unidade do tema do princípio ao fim, e a repetição das mesmas
expressões (Ct_2:6, 7; Ct_3:5; Ct_8:3, 4; Ct_2:16; Ct_6:3; Ct_7:10;
Ct_3:6; Ct_6:10; Ct_8:5), comprovam a unidade do poema, contra os
que fazem com que consista num número de canções exóticas,
separadas. As transições repentinas — por exemplo, do tamborilar à
porta de uma humilde choça à meia-noite, à gloriosa descrição do Rei —
concorda com as experiências alternativas do crente. Entre as muitas
divisões sugeridas de Cantares, muitos comentadores observaram quatro
intervalos (outros se imaginaram muitos mais), seguidos por quatro
começos abruptos (Ct_2:7; Ct_3:5; Ct_5:1; Ct_8:4). Assim resultam
cinco partes, terminando cada uma em pleno repouso e refrigério. Lemos
(1Rs_4:32) que os versos de Salomão foram "mil e cinco." O número
raro de cinco acrescentado além do número completo de mil sugere a
probabilidade que o "cinco" se refira a Cantares, que consiste em cinco
partes.
Cantares corresponde à poesia idílica de outras nações. Os judeus o
explicam como símbolo da união de Jeová e o antigo Israel; as alusões
feitas ao templo e ao deserto concordam com isto; alguns cristãos o
explicam como símbolo da união de Cristo e a Igreja; outros, de Cristo e
o crente individual. Tudo isto é verdade; porque a Igreja é uma em todas
as idades, a antiga tipificando a moderna, e correspondendo sua história
a de cada alma individual que a compõe. Jesus "vá a todos, como se
todos fossem um; ama a um, como se aquele um fosse todos." "A data
concordava com o modo desta revelação; porque os tipos e as alegorias
pertenciam à antiga dispensação, que alcançou sua maturidade sob
Salomão, quando se edificou o templo." (Moody Stuart.) "A filha de
Sião estava àquela maturação abertamente casada com Jeová;" porque é
desde então quando os profetas começam a repreender o subsequente
pecado de Israel, falando dele como uma violação da aliança
matrimonial. As canções por ela cantadas anteriormente eram hinos
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 6
preparatórios de sua infância: "o último e melhor Cantar dos Cantares
ficou já composto para já donzela preparada, para o dia de seu casamento
com o Rei dos reis." (Orígenes.) Salomão estava peculiarmente
preparado para adornar este santo mistério com a bela criação natural em
que abunda Cantares, porque "dissertou a respeito das árvores, desde o
cedro do Líbano, até o hissopo que brota da parede" (1Rs_4:33).
Preparação superior foi seu conhecimento da eterna Sabedoria, ou
Palavra de Deus (Provérbios 8), o Marido celestial. Davi, seu pai, tinha
preparado o caminho, nos Salmos 45 e 72; o filho aperfeiçoou a alegoria.
Parece ter sido escrito em sua vida anterior, muito antes de sua apostasia;
porque depois dela uma canção de santa alegria quase não teria sido
adequada. Foi a canção de seu primeiro amor, na benignidade de seus
esponsais sendo jovem com Jeová. Como outros livros inspirados, seu
sentido não está limitado àquela idade local e temporária em que o
escritor o teria entendido; alcança a todas as idades, e manifesta verdades
eternas (1Pe_1:11-12; 2Pe_1:20-21).

"Queria saber como suas luzes se combinam,


E conhecer a configuração de sua glória,
Pois vejo não só como seus versos iluminam;
Contemplo além cada estrela da história." - Herbert.

Três notas de cronologia sugerem-se. (Moody Stuart.)


(1) A Igreja judaica fala com a gentílica (Ct_8:8) rumo ao fim;
(2) Cristo fala com os apóstolos (Ct_5:1) rumo à metade;
(3) A Igreja fala da vinda de Cristo (Ct_1:2) no princípio. Assim
temos, em ordem direta, a Cristo por vir, e o clamor por seu advento; a
Cristo ao acabar sua obra na terra, e a última Ceia; a Cristo ascendido, e
a chamada dos gentios.

Em outro aspecto temos:


Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 7
(1) O anelo na alma individual da manifestação a ela do Senhor
Jesus, e as várias alterações na experiência (Ct_1:2, 4; Ct_2:8; Ct_3:1, 4,
6, 7)) de sua manifestação;
(2) O gozo abundante de seus consolos sensíveis, que logo são
retirados por causa do descuido da noiva (Ct_5:1-3, etc.), seus anelos por
seu retorno e a reconciliação (Ct_5:8-16; Ct_6:3, etc., Ct_7:1, etc.);
(3) Os efeitos no crente da manifestação de Cristo, ou seja, a
segurança, obras de amor, paixão pelas almas perdidas, zelo pela
segunda volta do Senhor (Ct_7:10, 12; Ct_8:8-10, 14).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 8
Cantares 1

CÂNTICO I. (Ct_1:1 – 2:7) — A Noiva Busca e Encontra o Rei.


1. Cântico dos cânticos — A mais excelente de todas as canções,
idiotismo hebraico (Êx_29:37; Dt 10:14). As primícias na terra do
“cântico novo” para ser entoado na glória (Ap_5:9; 14:3; 15:2-4).
de Salomão — “Rei de Israel,” ou de “Jerusalém,” não se
acrescenta aqui, como em Pv_1:1 e Eclesiastes 1:1, não porque Salomão
não houvesse já subido ao trono (Moody Stuart), mas sim porque sua
personalidade está escondida atrás de Cristo, o verdadeiro Salomão
(equivalente a Príncipe da Paz). O Salomão terrestre não se apresenta, o
que teria interrompido a consistência da alegoria. Embora a noiva leve o
papel principal em tudo, o Cântico não é dela, mas sim de seu
“Salomão.” É ele quem a anima. Ele e ela, a Cabeça e os membros,
formam um só em Cristo. (Adelaide Newton.) Arão o prefigurou como
sacerdote; Moisés como profeta; Davi, como rei sofrido; Salomão, como
triunfante príncipe da Paz. O acampamento no deserto representa a Igreja
no mundo; o pacífico reinado de Salomão, subjugados todos os seus
inimigos, representa a Igreja no céu, de cuja alegria o Cântico é
primícias.
2. ele (RC) — abruptamente. Não o nomeia, como é natural a
alguém cujo coração está tomado de algum amigo muito desejado; assim
Maria Madalena perante o sepulcro não nomeou a Cristo (Jo_20:15),
como se todo mundo deveria saber a quem se referia, o único objeto
principal de seu desejo (Sl_73:25; Mt_13:44-46; Fp_3:7-8).
beijos — o sinal de paz de parte do Príncipe da Paz (Lc_15:20);
“nossa Paz” (Sl_85:10; Cl_1:21; Ef_2:14).
de tua boca — em sinal do mui tenro afeto. Que um rei permitisse
que se lhe beijasse a mão, ou sequer a sua roupa, era tido como grande
honra; mas que ele próprio beijasse a outro com sua boca era a honra
maior. Deus em tempos passados falou pela boca de seus profetas, os
que tinham declarado o casamento da Igreja; a noiva agora deseja o
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 9
contato com a boca do próprio Noivo (Jó_23:12; Lc_4:22; Hb_1:1-2).
Deste modo a Igreja antes do primeiro advento desejava “a esperança de
Israel.” “o desejado das nações;” também a alma despertada anela o
beijo de reconciliação; e além disso, aquele beijo que é o sinal do
contrato matrimonial (Os_2:19-20), e de amizade (1Sm_20:41;
Jo_14:21; Jo_15:15).
o teu amor — prova do amor, as carícias.
vinho — que alegra “o coração pesaroso” de quem está por perecer,
de modo que “de sua miséria não mais se lembra” (Pv_31:6-7). Assim
em sentido melhor, o amor de Cristo (Hc_3:17-18). Ele dá o mesmo
louvor ao amor da noiva, com o acréscimo enfático de “quão belos”
(Ct_4:10). Jesus criou vinho em seu primeiro milagre (João 2), e deu
vinho como objeto de seu amor na Última Ceia. O vinho simbólico é seu
sangue, o espiritual, seu Espírito, o “novo” e melhor vinho do reino
(Mt_26:29), que nunca poderemos beber em excesso (Ef_5:18; cf.
Sl_23:5; Is_55:1).
3. Antes, “Quanto ao sábio de seus unguentos, é bom.” (Maurer.)
Em Ct_4:10, 11, o Marido retribui o louvor da noiva nos mesmos
termos.
teu nome — o caráter e ofício de Cristo como o “Ungido” (Is_9:6;
Is_61:1), como o “aroma de unguento” são as graças que rodeiam a Sua
pessoa (Sl_45:7-8). Eclesiastes 7:1, em seu sentido mais pleno, aplica-se
a Ele. O santo óleo da unção do sumo sacerdote, que era morte para
qualquer outro que o fabricasse (cf. At_4:12), implica a exclusiva
preciosidade do nome do Messias (Êx_30:23-28; 30:31-38); assim Maria
quebrou o alabastro de unguento precioso sobre o Senhor, com toda
propriedade (Mc_14:5), tipificando o alabastro quebrado a seu corpo,
que, quebrado, difundiu toda graça: composto de várias especiarias, etc.
(Cl_1:19; Cl_2:9); de suave aroma (Ef_5:2).
derramado — (Is_53:12; Rm_5:5.)
por isso — por causa da manifestação do caráter em Cristo
(1Jo_4:9, 1Jo_4:19). Deste modo a penitente (Lc_7:37-38, Lc_7:47).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 10
as donzelas — virgens, os puros de coração (2Co_11:2; Ap_14:4).
O hebraico se traduz “seus escondidos” (Sl_83:3). O “unguento” do
Espírito “derramado” produz o “amor de Cristo” (Rm_5:5).
4. (1) O clamor do antigo Israel pelo Messias, por ex., Simeão, Ana
etc. (2) O clamor da alma despertada pela atração do Espírito, ao ver a
beleza de Cristo e sua própria impotência.
Leva-me — me aproxime de ti. O Pai atrai (Jo_6:44). O Filho atrai
(Jr_31:3; Os_11:4; Jo_12:32). “Atrair” e “faça-me saber” (v. 7) qualifica
reverentemente a palavra “beijar” (v. 2)
apressemo-nos — nenhum crente deseja ir sozinho ao céu.
Convertemo-nos como indivíduos; seguimos a Cristo como unidos numa
comunhão de santos (Jo_1:41, Jo_1:45). A individualidade e a
comunidade se reúnem na noiva. Seu zelo se inflama enquanto ora
(Is_40:31; Sl_119:32, Sl_119:60).
após ti — Leia-se: “Correremos após ti”; não diante de ti (Jo_10:4).
O rei me introduziu — (Sl_45:14-15; Jo_10:16). O é o Sacerdote
ungido (v. 3); Rei (v. 4).
recâmaras — se concede sua petição ainda mais além de seus
desejos. Não só lhe permite correr após ele, mas também que se a
introduz no pavilhão mais íntimo, onde os reis orientais admitiam
somente a seus amigos mais íntimos (Et_4:11; 5:2; Sl_27:5). A
edificação do templo de Salomão foi a primeira introdução da noiva nas
câmaras permanentes, em vez das migratórias, do rei. O corpo de Cristo
na terra foi a segunda (Jo_2:21), pelo qual os crentes são colocados
dentro do véu (Ef_2:6; Hb_10:19-20). A entrada à câmara de oração é o
primeiro passo. Penhor da futura reunião no céu (Jo_14:3). As câmaras
dele são também da noiva (Is_26:20). Há várias câmaras, no plural
(Jo_14:2).
nos regozijaremos e nos alegraremos — o regozijo interno e
externo,
Em ti — (Is_61:10; Fp_4:1, Fp_4:4). Não em nossa condição
espiritual (Sl_30:6-7).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 11
nos lembraremos — antes, celebremos com louvor (Is_63:7). A
mera memória de alegrias espirituais é melhor que o gozo atual dos
alegrias carnais (Sl_4:6-7).
do teu amor — antes, em retidão, sinceramente te amam (Sl_58:1;
Rm_12:9); como Natanael (Jo_1:47); Pedro (Jo_21:17); ou,
merecidamente. (Maurer.)
5. morena — quer dizer, “como as tendas do Quedar,” equivalente
a escuridão (Sl_120:5). Ela tira a figura das peles de cabras negras com
que os árabes escenitas (Quedar estava na Arábia Pétrea) cobrem suas
carpas (em contraste com a esplendente tenda oficial, onde o Rei
esperava a sua noiva, de conformidade com o costume oriental); o que
tipifica o negrume do estado natural do homem. Sentir-se assim, e
contudo, sentir-se também um em Jesus Cristo “tão belo como as tendas
de Salomão,” caracteriza o crente (Rm_7:18, etc.; Rm_8:1); 1Tm_1:15;
“Eu sou o primeiro;” assim diz ela não meramente: “era”, mas sim
“sou,” ainda negra em si mesma, mas bela por causa da beleza dele, da
qual estava revestida (Ez_16:14).
tendas — cortinas: primeiro, as tapeçarias e o véu do templo de
Salomão (Ez_16:10); logo, também, o “linho fino, que são as justiças
dos santos” (Ap_19:8), a branca vestimenta nupcial provida por Jesus
Cristo (Is_61:10; Mt_22:11; 1Co_1:30; Cl_1:28; Cl_2:10; Ap_7:14).
Historicamente, negras tendas de Quedar representam a Igreja Gentílica
(Is_60:3-7, etc.) Como a vinha no final é tirada dos judeus, que não
tinham guardado a sua, e dada aos gentios, assim os gentios são
apresentados no começo do cântico; porque eles estavam entre os
primeiros que buscaram ao Senhor (Mt_2:1-12); os magos do Oriente
(Arábia, ou Quedar).
filhas de Jerusalém — professores de religião, não a noiva, nem
“as virgens” nem contudo, inimigos; os convidados às bênçãos
evangélicas (Ct_3:10, 11; tão perto de Jesus Cristo com toda
probabilidade encontrá-lo (Ct_5:8); desejosos de buscá-lo com ela
(Ct_6:1; cf. Ct_6:13; Ct_7:1, 5, 8). Em Ct_7:8, 9, o Amado da noiva
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 12
deve ser o amado deles; entretanto, não de todos eles (Ct_8:4; cf.
Lc_23:27-28).
6. Ela sente que seu negrume é tanto que todos a olham fixamente.
Os filhos de minha mãe — (Mt_10:36.) Ela tem que esquecer-se
“dos dela e da casa de seu pai,” quer dizer, das relações mundanas de sua
vida não regenerada ainda (Sl_45:10); tinham-na maltratado (Lc_15:15-
16). Filhos da mesma mãe, mas não do mesmo pai (Maurer.) (Jo_8:41-
44). Fizeram dela mera guarda de vinhas, pelo que foi queimada pelo
sol; assim não guardou sua própria vinha, quer dizer, sua beleza. Assim o
mundo, assim a alma (Mt_16:26; Lc_9:25). O crente deve guardar-se do
mesmo perigo (1Co_9:27). Assim, em vez de recriminações como esta
poderá dizer como em Ct_8:12: “A minha vinha que me pertence …”
7. amado de minha alma — mais intensamente que “as donzelas,”
e “os retos” (vv. 3, 4; Mt_22:37). Para cumprir o objeto da alegoria,
representa-se o acampamento real em movimento de parte em parte, em
busca de verde pasto, sob o Rei Pastor (Salmo 23). A noiva, tendo
desfrutado a comunhão com ele no pavilhão, está disposta a segui-lo em
trabalhos e perigos; é movida por seu amor invencível (Lc_14:26); nisto
se distingue do formalista (Jo_10:27; Ap_14:4).
apascentas — (Is_49:11; Hb_13:20; 1Pe_2:25; 1Pe_5:4; Ap_7:17).
Nenhum tipo apenas expressa todos os ofícios de Jesus Cristo, portanto
surge a variedade de figuras usadas para manifestar os múltiplos
aspectos dEle; estas seriam bastante incongruentes, se o Cântico se
referisse ao Salomão terrestre. A relação dela com ele é peculiar. Ela
ouve sua voz, e com ninguém fala senão com ele. Contudo, é através de
um véu; ela não o vê (Jó_23:8-9). Se queremos nos alimentar, devemos
seguir o Pastor através de toda a amplitude de Sua palavra, e não ficar
num só lugar.
onde o fazes repousar pelo meio-dia — distinto a “apascentas”;
dão períodos de descanso depois do trabalho (Is_4:6; Is_49:10;
Ez_34:13-15). A comunhão em particular deve ir acompanhada da parte
com ele em público.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 13
para que não ande eu, etc. — antes, “como uma tampada com
véu,” quer dizer, como uma rameira, não a verdadeira noiva (Gn_38:15).
(Gesênius); ou, como uma enlutada (2Sm_15:30) (Weiss): ou como uma
desconhecida. (Maurer.) Tudo denota o distanciamento do Noivo. Ela se
sente estranha mesmo entre os verdadeiros servos de Cristo,
correspondentes a “seus companheiros” (Lc_22:28), enquanto não tem a
ele mesmo presente. O espírito oposto a 1Co_3:4.
8. Se tu — Ela devia ter sabido (Jo_14:8-9). A confissão de sua
ignorância e negrume (morena, v. 5) o leva a chamá-la “mais formosa”
(Mt_12:20). Longe demais a tinha levado seu zelo por ter deixado ele
que “seus companheiros” sequer tomassem o lugar dele (v. 7). Manda
segui-los, como eles o seguiam (1Co_11:1; Hb_6:10, Hb_6:12); cumprir
os mandamentos e o ministério; que onde eles estão, ele está (Jr_6:16;
Mt_18:19-20; Hb_10:25). Deixando-se levar não é a maneira de
encontrá-lo. Foi deste modo, literalmente como Zípora achou a seu noivo
(Êx_2:16). Ela sem vacilar pergunta aos guardas depois (Ct_3:3).
cabritos — (Jo_21:15.) Cristo deve ser achado no serviço ativo
tanto como na oração (Pv_11:25).
tendas dos pastores — os ministros no santuário (Sl_84:1).
9. éguas dos carros de Faraó — aqueles cavalos eram notáveis por
sua beleza, ligeireza, e vivacidade, ao Mar Vermelho (Êx_14:15). Estas
qualidades, que parecem pertencer aos ímpios, na realidade pertencem
aos santos. (Moody Stuart.) A alusão pode ser que se faça aos cavalos do
Egito comprados por Salomão a grande preço (2Cr_1:16-17). Assim é
redimida a noiva do Egito espiritual pelo verdadeiro Salomão (Is_51:1;
1Pe_1:18-19). Mas a libertação de Faraó no Mar Vermelho concorda
com a alusão feita ao tabernáculo (Ct_1:5; Ct_3:6, 7); com razão fica no
princípio do chamado de Cristo. O ardor e a beleza da noiva formam o
ponto de comparação; (v. 4) “correremos;” (v. 5) “cobiçável,” isto é,
bela. Também, como os cavalos de Faraó, ela forma uma grande
companhia (Ap_19:7, Ap_19:14). Como Jesus Cristo é tanto Pastor
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 14
como Conquistador, assim os crentes são não só ovelhas delas, mas
também, como Igreja militante agora, seus carros e cavalos (Ct_6:4).
10. pendentes — (Ez_16:11-13.) Olerius diz: As mulheres pérsicas
levam duas ou três filas de pérolas sobre a cabeça, que caem da fronte
por ambas as bochechas e debaixo da barba, de modo que a cara parece
estar encaixada em pérolas (Ez_16:11). A comparação a cavalos (v. 9)
implica a energia vital da noiva; este versículo, suas graças excelsas
(Pv_1:9; Pv_4:9; 1Tm_2:9; 2Pe_1:5);
11. Nós te faremos (TB) — Nós: a Trindade, inferida pelo Espírito
Santo, estivesse assim ou não na mente do escritor de Cantares
(Gn_1:26; Pv_8:30; Pv_30:4). “Os judeus reconheceram a Deus como
rei, e o Messias por rei, ao interpretar Cantares, mas não souberam que
os dois são um.” (Leighton.)
te faremos — não meramente “daremos” (Ef_2:10).
Enfeites de ouro ... com incrustações de prata — O Senhor se
deleita em dar mais “ao que tem” (Mt_25:29). A coroa de sua obra a faz
em nós (Is_26:12). Os “enfeites” aqui são equivalentes a “pendentes” (v.
10), mas aqui, o Rei parece completar a vestimenta dela, acrescentando
uma coroa de ouro com incrustações de prata, como em Es_2:17. Coroa
ou grinalda assim real como nupcial. O vocábulo hebraico para esposa é
a coroada (Ct_4:8; Ez_16:12; Ap_2:10). A coroa dá-se uma vez na
conversão, em título, mas depois em sensível possessão (2Tm_4:8).
12. Enquanto — É a presença do Sol da justiça o que torna
possíveis os aromas de graça do crente. Foi sua presença na mesa o que
fez com que duas mulheres tirassem para ele seus unguentos (Lc_7:37-
38; Jo_12:3; 2Co_2:15). Completo historicamente em Mt_2:11;
espiritualmente em Ap_3:20; no culto, em Mt_18:20; e na ceia do
Senhor especialmente, porque a comunhão pública da Igreja com ele na
mesa entre seus amigos menciona-se, pois o v. 4 refere-se à comunhão
particular (1Co_10:16, 1Co_10:21); tipicamente (Êx_24:9-11); o perfeito
cumprimento futuro (Lc_22:30; Ap_19:9). A alegoria supõe que o Rei
terminou suas migrações e está sentado com seus amigos no divã. Que
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 15
graça aquele que prepara para nós uma mesa enquanto ainda militamos
(Sl_23:5)!
meu nardo — Não se gaba, mas reconhece como sua a graça do
Senhor que age nela. Alegra-se de que ele sinta prazer destas graças
(Fp_4:18). O nardo é uma erva comum, emblema da humildade.
13. saquitel de mirra — preciosidade (grego) abundante
(1Pe_2:7). Um pouquinho sequer de mirra era custoso; quanto mais um
saquitel (Cl_2:9). Burrowes o entende por aromatizador cheio de mirra
líquida; o líquido obtido por incisão dava à planta seu principal valor.
posto entre — é a mirra o que guarda em seu seio, não o amado,
assim como o ramo de flores de hena nas vinhas (v. 14).
toda a noite (AV) — um coração não dividido (Ef_3:17; cf.
Jr_4:14; Ez_16:15, Ez_16:30). Mas por causa da aliança eterna, Deus
restaura a adúltera (Ez_16:60, Ez_16:62; Os_2:2, etc.). A noite é a
completa dispensação presente até a madrugada do dia eterno
(Rm_13:12). Também, literalmente, “noite” (Sl_119:147, Sl_119:148), a
noite de aflição (Sl_42:8).
14. racimo — Jesus Cristo é um, mas múltiplo em Suas graças.
hena — cujas flores cheirosas crescem em cachos, de cor branca e
amarela confundidas; a casca é escura, e as folhas verde claro. Com ela
as mulheres se adornam. A beleza de Jesus Cristo.
vinhas — que vem com relação a aquele que é “a videira”. O nardo
era para o banquete (v. 12); a mirra ficava em seu seio continuamente (v.
13); a alfena está em meio das belezas naturais, eclipsadas, contudo, pela
beleza do ramo, o Senhor Jesus, preeminentemente sobre todas elas.
En-Gedi — Na Palestina Sul, perto do Mar Morto (Jos_15:62;
Ez_47:10), famosa por seus arbustos aromáticos.
15. formosa — Ele discerne a beleza da qual disse: “Sou morena
(negra)” (v. 5), por causa da aliança eterna (Sl_45:11; Is_62:5; Ef_1:4-
5).
olhos são como os das pombas — grandes e belos nas pombas da
Síria. Os rasgos proeminentes de sua beleza (Mt_10:16), a mansidão,
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 16
inocência, e constante amor, emblema do Espírito Santo, quem nos muda
em sua própria semelhança (Gn_8:10-11; Mt_3:16). O tipo oposto de
olhos (Sl_101:5; Mt_20:15; 2Pe_2:14).
16. A resposta da noiva. atreve-se a lhe chamar amado, porque ele
assim a chama primeiro. Chama-me “bela;” se o for, não é de mim
mesma, tudo é de ti (Sl_90:17); mas Tu és belo em Tua própria virtude
(Sl_45:2).
amável — (Pv_3:17) para com seus amigos (2Sm_1:26).
A grama verde será a nossa cama (NTLH) — a grama verde onde
se sentam o Rei e sua noiva “para descansar ao meio-dia.” Assim lhe
concede sua petição do v. 7; um oásis verde no deserto, que se acha
sempre perto dos mananciais no Oriente (Sl_23:2; Is_41:17-19). O
cenário é um quiosque, casa do verão. Historicamente, o descanso literal
da Criança de Belém e de seus pais sobre o pasto verde recolhido para o
gado (Lc_2:7, 12). Aqui há uma alusão incidental à oferta, no v. 15
(Lc_2:24). De modo que o “cedro” e “cipreste” se referem ao templo
(1Rs_5:6-10; 1Rs_6:15-18), tipo do templo celestial (Ap_21:22).
17. nossa casa — Cf. nota do v. 16; mas em primeira ordem, o
quiosque (Is_11:10), “o descanso dele.” O cedro é agradável à vista e ao
olfato; duro, e nunca destruído pelos vermes.
cipreste — também forte, duradouro, e fragrante, de uma cor
avermelhada. (Gesênius, Weiss e Maurer.) Em contraste com as “tendas”
nômades (v. 5), sua casa é “nossa casa” (Sl_92:13; Ef_2:19; Hb_3:6). A
unidade perfeita dele com a noiva (Jo_14:20; Jo_17:21). Há o resguardo
do teto principesco, do calor do sol (Sl_121:6), sem a reclusão de
paredes, e entre as belezas naturais. O teto esculpido representa as
excelências maravilhosas de sua natureza divina.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Cantares 2

1. rosa — Se for aplicado a Jesus Cristo, ela, com o lírio branco


(manso, 2Co_8:9), corresponde a “branco e rosado” (Ct_5:10). Mas é,
antes, o açafrão do prado; no hebraico significa radicalmente uma planta
com um bulbo acre, inaplicável à rosa. Assim o Siríaco. É de uma cor
branca e violeta. (Maurer, Gesênius, e Weiss.) A noiva assim fala de si
mesma como humilde embora bela, em contraste com a senhorial
macieira, ou limoeiro, o noivo (v. 3); assim “lírio” aplica-se a ela (v. 2).
Sarom — (Is_35:1-2.) Na Palestina Norte, entre o Monte Tabor e o
Lago de Tiberíades (1Cr_5:16). A versão dos LXX e a Vulgata traduzem
“planície,” mas erroneamente; a Bíblia Hebraica em nenhuma parte
favorece esta ideia, embora o paralelismo com “vales” demonstra que,
no nome próprio de Sarom, há uma referência tácita a seu sentido de
humildade. A beleza, a delicadeza, e a humildade devem estar nela,
como estiveram nele (Mt_11:29).
2. Jesus Cristo à Noiva (Mt_10:16; 1Jo_15:19; 1Jo_5:19); espinhos,
equivalente aos iníquos (2Sm_23:6; Sl_57:4).
as donzelas — filhas dos homens, não de Deus; não são “as
virgens.” “Se você for o lírio de Jesus Cristo, tome cuidado para não
suceder que com a impaciência, os juízos impensados, e o orgulho,
converta-te em espinho.” (Lutero.)
3. A resposta dela: macieira — termo genérico, que inclui o limão
dourado, a amadurecido e a laranjeira (Pv_25:11). O amado combina a
sombra e a fragrância do limoeiro com a doçura da fruta da laranjeira e
da romãzeira. A folhagem é perpétua; no ano inteiro há uma sucessão de
flores, fruta, e perfume (Tg_1:17).
entre os jovens — filhos, paralelo a entre as donzelas (v. 2). Só ele
é frutífero entre as estéreis árvores silvestres (Sl_89:6; Hb_1:9).
desejo muito a sua sombra e debaixo dela me assento — antes,
“com deleite,” lit., com animação desejei e me sentei (Sl_94:19;
Mc_6:31; Ef_2:6; 1Pe_1:8).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 18
sombra — (Sl_121:5; Is_4:6; Is_25:4; Is_32:2). Jesus Cristo
interpõe a sombra de Sua cruz entre os ardentes raios da justiça e nós
pecadores.
fruto — a fé o recolhe (Pv_3:18). O homem perdeu a árvore da
vida (Gn_3:22, 23). Jesus Cristo a recuperou: em parte como dEle agora
(Sl_119:103; Jo_6:55, Jo_6:57; 1Pe_2:3) abundantemente, depois
(Ap_2:7; Ap_22:2, Ap_22:14); não merecido pelo suor do rosto, mas
pela justiça dEle (Romanos 10). Contraste o fruto do mundano (Dt
32:32; Lc_15:16).
4. Historicamente completo na alegria de Simeão e Ana no templo,
sobre o menino Jesus (Lc_2:25-38), e no de Maria também (cf.
Lc_1:53); tipificado (Êx_24:9-11). Espiritualmente, a noiva, ou a amada,
é levada à câmara do Rei, e então é atraída a Ele em resposta a suas
orações; logo é recebida no divã de cor verde sob o quiosque de cedro; e
enfim num “salão de banquete,” tal qual aquele que, diz Josefo, Salomão
tinha em seu palácio, “onde todas as vasilhas eram de ouro”
(Antiguidades, 8:5, 2). A transição é do retiro sagrado aos ritos públicos,
o culto da igreja, e a ceia do Senhor (Sl_36:8). A noiva, como a rainha
de Seba, recebe “todo seu desejo” (1Rs_10:13; Sl_63:5; Ef_3:8,
Ef_3:16-21; Fp_4:19); tipo da vindoura festa celestial (Is_25:6, Is_25:9).
seu estandarte … amor — Depois de nos resgatar do inimigo,
nosso vitorioso capitão (Hb_2:10) faz-nos sentar no banquete sob uma
bandeira em que está inscrito Seu nome “amor” (1Jo_4:8). Seu amor nos
venceu; sua bandeira nos rodeia com as forças da onipotência, para nossa
proteção; indica a que pátria pertencemos, ao céu, a morada do amor, e
em que mais nos glorificamos, na cruz de Jesus Cristo, por meio de
quem vencemos (Rm_8:37; 1Co_15:57; Ap_3:21). Cf. com “sobre
mim”, “debaixo estão os braços eternos.” (Dt_33:27)
5. passas — (Maurer prefere traduzir “tortas de passas de uva;” do
radical hebraico fogo, quer dizer, secadas ao fogo. Mas “a câmara do
vinho” (v. 4) favorece “frascos”; o “vinho novo” do reino, o Espírito de
Jesus Cristo.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 19
maçãs — da árvore (v. 3), tão doces a ela, as promessas de Deus.
desfaleço de amor — o máximo grau do gozo sensível pode ser
alcançado aqui. Pode ocorrer numa época anterior ou posterior da
experiência. Paulo (2Co_12:7). Na última doença de J. Welch, se ouviu
ele dizer: “Senhor, segure a minha mão; basta; teu servo é vasilha de
barro, e nela não cabe mais” (Fleming, Fulfilling of the Scriptures). Na
maior parte dos casos esta intensidade de alegria está reservada para o
banquete celestial. Historicamente, Israel o teve, quando a glória do
Senhor encheu o tabernáculo e logo o templo, de modo que os sacerdotes
não puderam estar para cumprir os serviços; deste modo na Igreja cristã,
no Pentecostes. A noiva dirige-se principalmente a Cristo, mesmo
quando em seu êxtase usa o plural “me sustentem,” em termos gerais.
Longe de pedir o retiro das manifestações que a tinham vencido, pede
mais: “ardentemente deseja” (Sl_84:2); também Pedro, no monte da
transfiguração (Lc_9:33): “Façamos três tabernáculos … não sabendo o
que dizia.”
6. Sua petição (“me sustentem”, v. 5) lhe concede (Dt_33:12,
Dt_33:27; Sl_37:24; Is_41:16). Ninguém pode arrancar daqueles braços
(Jo_10:28-30). Suas mãos nos guardam de cair (Mt_14:30-31), nelas
podemos entregar-nos (Sl_31:5).
mão esquerda — A esquerda é inferior à mão direita pela qual o
Senhor manifesta menos notavelmente seu amor; a mão secreta da
providência comum, em distinção da mão da graça manifesta (a direita).
Na verdade as duas agem juntas, embora apareçam às vezes divididas;
aqui ambas se fazem sentir ao mesmo tempo. Teodoreto entende que a
esquerda equivale a juízo e ira, e a direita a honra e amor. A mão da
justiça já não se eleva para ferir, mas está debaixo da cabeça do crente
para sustentá-la (Is_42:21), a mão de Jesus atravessada pela justiça por
causa de nosso pecado, sustenta-nos. A petição de não estorvar ao amado
ocorre três vezes; mas o sentimento, “sua esquerda debaixo de minha
cabeça,” não se expressa claramente em outra parte; o que concorda com
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 20
a intensidade da alegria (v. 5), tampouco achada em outra parte; em
Ct_8:3, é só condicional (cf. nota ali.)
7. pelas gazelas — não um juramento, mas sim uma ordem solene,
de que se movessem com a cautela do caçador de tais bichinhos tímidos;
o tal deve avançar com absoluta circunspeção se tiver que caçá-los; deste
modo aquele que não queira perder a Jesus Cristo e ao Espírito, que
facilmente lhe entristece de modo que se retrai, deve ser de sensível
consciência e vigilante (Ez_16:43; Ef_4:30; Ef_5:15; 1Ts_5:19). Veja-se
Nota, do título do Salmo 22, onde diz “o cervo da manhã”, que é caçado
até a morte pelos cães (cf. aqui os vv. 8, 9, onde salta e salta, Sl_18:33).
Agora repousa, mas com o sonho que facilmente se interrompe
(Sof_3:17). Tem-se pela maior rudeza no Oriente despertar a alguém que
dorme, especialmente a uma pessoa de distinção.
o amor — no hebraico, o feminino pelo masculino, o abstrato pelo
concreto, sendo Jesus Cristo a encarnação do próprio amor (Ct_3:5;
Ct_8:7, onde, como aqui, o contexto requer-se que se aplique a ele, não a
ela). Ela também é “amor” (Ct_7:6), pois o amor dele evoca o amor dela.
Entristece ao Espírito a arrogância da parte do crente tanto quanto o
desespero. O carinho e a beleza da cerva e da gama (Pv_5:19) incluem-
se nesta figura emblemática de Jesus Cristo.

CÂNTICO II. (Ct_2:8 – 3:5). — O Ministério de João Batista.


8. voz — exclamação de surpresa prazerosa, evidentemente depois
de longo silêncio. A inquietação do pecado e a inconstância dela tinham
embaraçado o descanso dele em sua presença, embora ela tinha
pretendido que não queria que despertasse “até que queira”. Deixou-a,
mas por graça suprema, inesperadamente anuncia seu retorno. Ela
desperta, e em seguida conhece sua voz (1Sm_3:9-10; Jo_10:4); seu
sonho não é tão mortalmente profundo como em Ct_5:2.
saltando (RC) — como a gama, sobre os obstáculos mais ásperos
(2Sm_2:18; 1Cr_12:8); como o pai do pródigo “teve compaixão dele e
correu” (Lc_15:20).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 21
sobre os outeiros — como os raios do sol, de uma colina a outra.
Como o título de Jesus Cristo (Salmo 22.) “o cervo da manhã” (tipo da
ressurreição). Historicamente, significa a vinda do reino dos céus (a
dispensação evangélica), anunciada por João Batista; é primordialmente
o jardim; ou a vinha; assim chama-se a noiva em sentido secundário. “A
voz” de Jesus Cristo é indireta, por meio do “amigo do noivo” (Jo_3:29),
João Batista. Pessoalmente, ele fica silencioso durante o ministério de
João, quem despertou a dormida Igreja com o grito, “toda colina será
aplainada”, com o espírito de Elias, nas “montanhas partidas”
(1Rs_19:11, cf. Is_52:7). Está implícito que Jesus Cristo vem com desejo
intenso (Lc_22:15; Hb_10:7), fazendo caso omisso das montanhas de
obstáculos elevadas pelo pecado dos homens.
9. está (de pé) — tendo cruzado os espaços intermédios, saltando
qual gamo. Muitas vezes Ele está perto, enquanto nossa incredulidade O
esconde de nossa vista (Gn_28:16; Ap_3:14-20). Sua maneira comum:
longo tempo prometido e esperado; repentinamente, no fim; como ao
visitar o segundo templo (Ml_3:1); deste modo no Pentecostes (At_2:1-
2); igualmente ao visitar a alma individual, Zaqueu (Lc_19:5-6; Jo_3:8);
também, na segunda vinda (Mt_24:48, Mt_24:50; 2Pe_3:4, 2Pe_3:10).
Assim será na segunda vinda dEle (1Ts_5:2-3).
parede — sobre a abóbada da qual aparece primeiro: logo, olhe
pela janela (pois está do lado de fora), espiando furtivamente (não
mostrando-se) pelas grades. As profecias, tipos, etc., do A.T. são as
olhadas dEle através das grades, apesar da parede de separação
levantada pelo pecado (Jo_8:56), olhadas não sem sombras (Jo_1:26). A
parede de separação legal não devia ser tirada senão com a Sua morte
(Ef_2:14-15; Hb_10:20). Até agora se pode vê-Lo só pela fé, a través das
janelas de Sua palavra e as grades dos ritos cristãos (Lc_24:35;
Jo_14:21); não a visão plena (1Co_13:12); incentivo por que esperar Sua
segunda vinda (Is_33:17; Tt_2:13).
10, 11. Reanimação amorosa dada por Jesus Cristo à noiva, para
que não pensasse que a tinha deixado de amar por causa da infidelidade
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 22
dela, motivada por seu retiro temporário. Convida-a a alegrias mais
gloriosas que os mundanas (Miq_2:10). Não só deseja o santo “partir
para estar com ele”, mas também ele ainda mais deseja ter o santo
consigo em Sua glória (Jo_17:24). Historicamente, a vinha ou jardim do
Rei, aqui apresentada pela primeira vez, é “o reino dos céus pregado”
por João Batista, a quem precediam “a lei e os profetas” (Lc_16:16).
11. o inverno — a lei da aliança das obras (Mt_4:16).
cessou a chuva — (Hb_12:18-24; 1Jo_2:8). Então pela primeira
vez a Igreja gentílica foi chamada “amada à que não era amada”
(Rm_9:25). Assim, para o crente “o inverno” de distanciamento e pecado
“passou” (Is_44:22; Jr_50:20; 2Co_5:17; Ef_2:1). A saída do “Sol da
justiça” dissipa “a chuva” (2Sm_23:4; Sl_126:5; Ml_4:2). O inverno na
Palestina termina em abril, mas as chuvas não acabam todas senão em
maio. A estação aqui descrita é a que chega com a cessação das chuvas
invernais. No sentido melhor, a vindoura ressurreição e a libertação da
terra da maldição anterior está aqui implícita (Rm_8:19; Ap_21:4;
Ap_22:3). Já não mais “se tornarão as nuvens em chuva” (Ecl_12:2;
Ap_4:3; cf. Gn_9:13-17); “o arco ao redor do trono” são o penhor disto.
12. aparecem as flores — sinal de que passou a ira e veio a graça.
“A noiva convidada tem permissão”, dizem alguns dos pais, “de tecer
delas grinaldas de beleza com que adornar-se para ir ao encontro do
Rei”. Historicamente, as flores, etc., só são promessa; o fruto ainda não
está amadurecido; próprio para a pregação de João, “o reino dos céus
está perto”; ainda não vindo plenamente.
tempo de cantarem — o regozijo no advento de Jesus Cristo.
Gregório Nyssenus faz referir a voz da rola a João Batista. Tal ave com
uma folha de oliva anunciou que “a chuva se foi” (Gn_8:11). Do mesmo
modo João, espiritualmente. Sua voz chorosa corresponde à pregação por
ele, do arrependimento (Jr_8:6-7). A Vulgata e a LXX traduzem: “o
tempo da poda”, quer dizer a primavera (Jo_15:2). A menção do arrulho
da rola concorda melhor com nossa versão. A rola é migratória (Jr_8:7).
e “vem” no começo de maio; emblema do amor, e o mesmo do Espírito
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 23
Santo. O amor, também, será a nota tônica do “cântico novo” (Is_35:10;
Ap_1:5; Ap_14:3; Ap_19:6). No crente individual agora, a alegria e o
amor estão aqui declarados em seus primeiras manifestações (Mc_4:28).
13. começou a dar — maturou, lit., avermelhou. (Maurer). Os figos
verdes, que crescem no inverno, começam a maturar cedo na primavera,
na Palestina, e em junho estão amadurecidos totalmente. (Weiss).
vides em flor — em flor; lit., “as videiras em flor”. (Maurer). As
flores da videira eram tão doces que com frequência as punham secas no
vinho novo para lhe dar sabor. Aplicável às primeiras manifestações de
Jesus Cristo, “a videira verdadeira”, tanto à Igreja como aos indivíduos;
como a Natanael sob a figueira (Jo_1:48).
levanta-te, etc. — Seu chamado, descrito pela noiva, termina como
principiou (v. 10); é um todo consequente; o “amor” do início ao fim
(Is_52:1-2; 2Co_6:17-18). “Vem”, no fim de Ap_22:17, como em Sua
anterior manifestação (Mt_11:28).
14. Pomba — expressa aqui o carinho (Sl_74:19). As pombas são
famosas pelo apego constante; emblemáticas, por seu orgulho, dos
penitentes compungidos (Is_59:11; Ez_7:16); outros pontos de
semelhança são: sua beleza; “suas asas cobertas de prata e de ouro”
(Sl_68:13), o que tipifica a mudança do convertido; seu espírito manso,
inspirado ao santo, pelo Espírito Santo, cujo emblema é a pomba; as
mensagens de paz que vêm de Deus aos pecadores, como a pomba de
Noé, com a folha de oliva (Gn_8:11), dando a entender que o dilúvio da
ira tinha cessado; o acanhamento, que foge com temor, do pecado e de si
mesma à ferida Rocha da eternidade (Is_26:4; margem; Os_11:11); ave
gregária, como os que se associam no reino de Jesus Cristo (Is_60:8); a
mansa simplicidade (Mt_10:16).
fendas — o refúgio das pombas da tormenta e do calor (Jr_48:28;
cf. Jr_49:16). Gesênius traduz o hebraico de outro radical, “os refúgios”.
Mas cf. sobre “fenda”, Êx_33:18-23. Só quando estamos em Cristo nossa
“voz” é doce (na oração, Ct_4:3, 11; Mt_10:20; Gl_4:6, porque é a voz
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 24
dEle em nós; também ao falar dEle, Ml_3:16); e é “belo nosso aspecto”
(Êx_34:29; Sl_27:5; Sl_71:3; Is_33:16; 2Co_3:18).
rochas escarpadas — (Ez_38:20, margem). É em tais lugares
secretos onde Jesus Cristo persuade as almas a nEle se refugiarem do
mundo (Miq_2:10; Miq_7:14). Como Jacó entre as pedras de Betel
(Gn_28:11-19). Moisés em Horebe (Êxodo 3), também Elias (1Rs_19:9-
13); o Senhor com os três discípulos num “alto monte à parte”
(Mt_17:1); João em Patmos (Ap_1:9). “Das oito bem-aventuranças,
cinco têm por tema alguma condição aflitiva. Enquanto as águas
estiverem sobre a terra, moraremos na arca; mas quando a terra estiver
seca, até a própria pomba será tentada a vagar”. (Jeremy Taylor), Jesus
Cristo não a convida a deixar a pedra, mas sim a entrar nela (nEle
mesmo), lançando a um lado, contudo, o espírito de temor, levantando o
rosto por ter sido aceita por Ele, orando, louvando, e confessando a Ele
(em contraste com seu acanhamento ao ser olhar, Ct_1:6), (Ef_6:19
Hb_13:15; 1Jo_4:18); entretanto, embora trema ela, a voz e o aspecto de
sua alma em Cristo são agradáveis a Ele. A Igreja não encontrou
nenhuma fenda na legalista Rocha sinaítica, embora tinha onde
esconder-se; mas em Jesus Cristo ferido por Deus a nosso favor, como a
rocha ferida por Moisés (Nm_20:11), há esconderijo (Is_32:2). A noiva
louvou a “voz” dele (vv. 8, 10); portanto a dela, embora trêmula, lhe é
“doce”, aqui.
15. Transição à vinha; com frequência formada em “degraus”
(Ct_2:14), ou terraços, onde entre as folhas se escondiam as raposas.
raposas — termo genérico, que inclui os chacais. Só comiam as
uvas, não as flores; mas era preciso corrê-las a tempo, antes de maturara
a uva. Ela tinha deixado de vigiar antes (Ct_1:6); agora convertida, é
mais zelosa dos pecados sutis (Sl_139:23). No inverno espiritual se
congelam em nós certos males, assim como certas bondades; na
primavera de avivamentos surgem daqueles, sem ser vistos, falsos
mestres artificiosos, o orgulho espiritual, a falta de amor, etc. (Sl_19:12;
Mt_13:26; Lc_8:14; 2Tm_2:17; Hb_12:15). Os pecados “pequenos”
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 25
(raposinhas, bichinhos) engendram os maiores (Ecl_10:1; 1Co_5:6).
Historicamente, João Batista a custo de sua vida não perdoou ao ardiloso
Herodes (Lc_13:32), quem como a videira deu no princípio promessas
de fruto (Mc_6:20), nem aos saduceus, “geração de víboras;” nem as
várias formas sutis do pecado (Lc_3:7-14).
16. meu … dele — antes, “é para mim … para ele” (Os_3:3), onde,
como aqui, há segurança de união indissolúvel, não obstante a ausência
temporária. No v. 17 lhe roga que volte, o que indica que tinha ido
embora, talvez por ela ter deixado de vigiar contra as raposinhas
(“pequenos pecados”) (v. 15). A ordem das frases está invertida em
Ct_6:3, quando ela está já mais firme na fé; ali ela confia mais em ser
dele; aqui em ser ele dela; e, sem dúvida, seu sentido do amor a Ele é
garantia de que Ele é dela (Jo_14:21, Jo_14:23; 1Co_8:3); este é seu
consolo na retirada dEle agora.
eu sou dele — pela criação (Sl_100:3), pela redenção (Jo_17:10;
Rm_14:8; 1Co_6:19).
apascenta — antes, pasta como a gama, ou gazela (v. 17; o instinto
infalivelmente o levará de volta à sua pastagem “entre os lírios”. Assim o
Senhor Jesus, embora agora retirado, a noiva está segura de que voltará
para seu favorito lugar de descanso (cf. Ct_7:10; Sl_132:14). Também
mais tarde (Ap_21:3). Título do Salmo 45, chama puros e brancos “os
lírios” de sua bela noiva, embora, entre os espinheiros. (Hengstenberg).
17. Noite é a figura do mundo atual (Rm_13:12). “Eis aqui os
homens, como se vivessem numa caverna subterrânea”. (Platão
República, VII. 1).
refresque — lit., respire, indicando as brisas refrescantes da
alvorada no Oriente, ou o ar da vida, que distingue a manhã do silêncio
mortal da noite. Maurer entende que este verso refere-se à aproximação
da noite, quando se levantam as brisas depois do calor do dia (cf. Gn_3:8
com Gn_18:1), e as “sombras” que se perdem na noite (Sl_102:11);
assim nossa vida será o dia; a morte, a noite (Jo_9:4). Nossa versão
concorda melhor com Ct_3:1. “Pelas noites” (de noite) (Rm_13:12).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 26
volta — para mim.
Beter (RC) — as montanhas perto de Bitrom, separadas do resto de
Israel pelo Jordão (2Sm_2:29), não longe de Betânia, onde João batizou
e Jesus primeiro Se manifestou. Antes, segundo a versão dos LXX,
montes de separação, montanhas cruzadas por grandes quebradas,
difíceis de atravessar, que separam a noiva de Jesus Cristo. Em Ct_8:14
as montanhas são de especiarias, não de separação; porque em sua
primeira vinda teve que cruzar o golfo feito pelo pecado entre ele e nós
(Zc_4:6-7); na segunda, só descerá daquele monte de fragrância no alto,
para receber a sua preparada noiva. Historicamente, no ministério de
João Batista, a chamada de Cristo à noiva não foi, como depois (Ct_4:8)
“Vem comigo,” mas sim “Sai,” isto é, a meu encontro (Ct_2:2, 10, 13).
Sentada na escuridão (Mt_4:16), ela “aguardava,” e o “esperava” com
ânsia, “grande resplendor” (Lc_1:79; Lc_2:25, Lc_2:38); ao sair Ele, as
sombras da lei (Cl_2:16-17; Hb_10:1) deviam “fugir.” De modo que nós
aguardamos a segunda vinda, quando os meios da graça, tão preciosos
agora, serão substituídos pela presença do Sol da justiça (1Co_13:10,
1Co_13:12; Ap_21:22-23). Até então a palavra é nossa luz (2Pe_1:9).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 27
Cantares 3

1. De noite — Continuação do anelo do amanhecer do Messias


(Ct_2:17; Sl_130:6; Ml_4:2). O abandono espiritual aqui (Ct_2:17;
Ct_3:5) não se deve à indiferença, como em Ct_5:2-8. “Como para as
flores são melhores as noites e o orvalho que o sol contínuo, assim a
ausência de Cristo (às vezes) dá seiva a humildade e dá à fé amplo
campo onde exercitar-se.” (Rutherford.) Contraste Ct_1:13 e Sl_30:6-7.
no meu leito — o segredo de seu fracasso (Is_64:7; Jr_29:13;
Am_6:1, Am_6:4; Os_7:14).
a quem ama a minha alma (RC) — não falta de sinceridade, mas
sim de diligência, a qual corrige agora, deixando a cama para buscá-lo
(Sl_22:2; Sl_63:8; Is_26:9; Jo_20:17). Quatro vezes ela chama Jesus
Cristo: “aquele a quem ama a minha alma,” indicando que está ausente; a
linguagem do desejo: “Ele me amou,” devia ser a linguagem da fruição
atual (Ap_1:5). Ao perguntar aos guardas (v. 3), nem dá o nome dEle,
tão pleno dEle está seu coração. Tendo-o achado à alvorada (porque em
tudo isto Ele é a manhã), ela manda às donzelas que não diminuam pela
intromissão o tempo da estadia dEle. Cf. a referente à busca cuidadosa
de Jesus Cristo nos dias de João Batista, vã ao princípio, depois com
êxito (Lc_3:15-22; Jo_1:19-34).
não o achei — Tomara que agíssemos honestamente para nosso
próprio bem (Pv_25:14; Jd_1:12)!
2. Bem despertados para Deus (Lc_14:18-20; Ef_5:14). “uma
resolução honesta muitas vezes é ao (cumprimento do) dever, como a
agulha que faz correr o fio.” (Durham.) Não um mero desejo, que não
leva em conta o custo: deixa a cama macia, e se vai vagando de noite em
sua busca (Pv_13:4; Mt_21:30; Lc_14:27-33).
a cidade — Jerusalém, lit., (Mt_3:5; Jo_1:19), e espiritualmente, a
Igreja aqui (Hb_12:22), na glória (Ap_21:2).
praças — às portas das cidades orientais, onde o povo se reunia
para tratar os assuntos. Também as assembleias dos adoradores (Ct_8:2,
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 28
3; Pv_1:20-23; Hb_10:25). Em seu primeiro despertamento se retraiu do
povo, buscando Jesus Cristo sozinha; mas pediu a ela que seguisse os
rastros do rebanho (Ct_1:8), e agora em sua segunda tentativa, por si
mesmo sai ao encontro deles. “Quanto mais cresce a alma na graça, e
quanto menos se apoia nos ritos, quanto mais os aprecia e se aproveita
deles.” (Moody Stuart). (Sl_73:16-17).
não o achei — nada menos que Jesus Cristo a pode satisfazer
(Jó_23:8-10; Sl_63:1-2).
3. os guardas — os ministros (Is_62:6; Jr_6:17; Ez_3:17;
Hb_13:17), pessoas idôneas para consultar (Is_21:11; Ml_2:7).
Encontraram-me — o ofício geral da palavra é “achar” as almas
que individualmente estão buscando Jesus Cristo (Gn_24:27, últ. parte;
At_16:14); enquanto que os formalistas ficam sem comover-se.
4. Jesus Cristo geralmente é “achado” perto dos guarda e dos meios
de graça; mas estes não são ele, a estrela que assinala a Belém não é o
Sol que ali saiu: ela (a noiva) passa os marcos depressa rumo à meta.
(Moody Stuart.) Nem os anjos puderam satisfazer Maria Madalena em
lugar de Jesus Cristo (Jo_20:11-16).
encontrei logo o amado — (Is_45:19; Os_6:1-3; Mt_13:44-46.)
não o deixei — disposto a estar seguro; não contente do contrário
(Gn_32:26; Mt_28:9; Lc_24:28-29; Ap_3:11). “Como o garotinho que
chora se prende fortemente à sua mãe, não porque seja mais forte que
ela, mas sim porque a compaixão dela a constrange a não abandoná-lo,
assim Jesus Cristo por ter compaixão pelo crente não pode deixá-lo,
porque não quer” (Durham). Em Ct_1:4 é ele quem leva a noiva dentro
de seus câmaras; aqui é ela a que o introduz nas de sua mãe. Há vezes
quando a graça de Jesus Cristo parece nos atrair a Ele; há outras quando
nós com grandes clamores O atraímos a nós e aos nossos. No Oriente um
salão grande muitas vezes serve para toda a família; por isso a noiva fala
da câmara de sua mãe e a sua como uma só. A menção da “mãe” exclui
toda ideia imprópria, e reparte a do amor celestial, puro como o de uma
irmã, mais ardente que o de uma noiva; portanto o título frequente de
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 29
“minha irmã-esposa.” Nossa mãe, depois do Espírito, é a igreja, a nova
Jerusalém (Jo_3:5-8; Gl_4:19, Gl_4:26); por ela devemos orar
continuamente (Ef_3:14-19), também pela Jerusalém nacional (Is_62:6-
7; Rm_10:1), também pela família humana, que é nossa mãe e parenta
segundo a carne; estes filhos de nossa mãe nos trataram mal (Ct_1:6),
mas, como nosso Pai, temos que lhes devolver bem por mal (Mt_5:44-
45), e assim levar a Jesus Cristo ao coração deles (1Pe_2:12).
5. Como em Ct_2:7; mas ali é para que não interrompam sua
comunhão com Jesus Cristo pelo que se preocupa; aqui é para que o
Espírito Santo não seja entristecido da parte das filhas de Jerusalém.
Evitem-se zelosamente a obscenidade, o descuido, e as ofensas que
enfeiam a obra de graça começada em outros (Mt_18:7; At_2:42-43;
Ef_4:30).

CÂNTICO III. (Ct_3:6 – 5:1). — O Noivo Com a Noiva.


Historicamente, o ministério de Jesus Cristo na terra.
6. Uma nova cena (vv. 6-11). Os amigos do noivo veem chegar o
cortejo. Seu palanque e sua guarda.
que sobe — o deserto estava a menos elevação que Jerusalém.
(Maurer.)
colunas de fumaça — pelos perfumes queimados em volta dele e
da noiva. Figura de Israel e do tabernáculo (correspondente a “liteira,” v.
7), que marcharam pelo deserto com coluna de fumaça de dia e coluna
de fogo de noite (Êx_14:20), e as colunas de fumaça que ascendiam dos
altares de incenso e da propiciação; assim são a justiça, a propiciação, e a
eterna intercessão de Jesus Cristo. Balaão, o último representante do
patriarcado, foi obrigado a amaldiçoar a igreja judaica, assim como ela
não devia sucumbir sem luta ao cristianismo (Nm_22:41), mas ele teve
que abençoar em linguagem similar à daqui (Nm_24:5-6). Anjos também
fazem a mesma pergunta, quando Jesus Cristo com o tabernáculo de seu
corpo (que corresponde a liteira, v. 7; Jo_1:14, “morou” (grego) em
tenda tabernáculo, Jo_2:21) sobe ao céu (Sl_24:8-10), também quando
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 30
veem a sua noiva gloriosa com Ele (Sl_68:18; Ap_7:13-17). Animação
para ela; entre as provas mais penosas (v. 1), segue ainda no caminho da
glória (v. 11) num palanque, pavimentado “a espalda de ouro” (v. 10);
ela está agora “vindo” espiritualmente, exalando as doces graças, a fé, o
amor, alegria, paz, oração, e louvor; (o fogo ilumina dentro, a “fumaça”
vê-se fora. At_4:13); é no deserto da prova onde ela tem provas, ela é a
“comerciante” que compra de Jesus Cristo sem dinheiro e sem aprecio
(Is_55:1; Ap_3:18); assim como se obtém a mirra e o incenso, não do
Egito, mas sim dos areais da Arábia e as montanhas da Palestina. Mais
adiante ela “virá” (vv. 6, 11) em corpo glorificado também (Fp_3:21).
Historicamente, Jesus Cristo volta do deserto, cheio do Espírito Santo
(Lc_4:1, Lc_4:14). O mesmo “quem é esta …” (Is_63:1, Is_63:5).
7. No v. 6 se descreve o caráter de deserto da Igreja; no v. 7 e no v.
8, seu aspecto militante. Nos vv. 9, 10, Jesus Cristo é visto morando nos
crentes, os que são Seu “carro” e Seu “corpo.” No v. 11, a consumação
na glória.
palanquim — Seu corpo, lit., guardado por um número
determinado de anjos, exatamente como sessenta (Mt_26:53), do deserto
(Mateus 4:1, 11), e continuamente (Lc_2:13; Lc_22:43; At_1:10-11);
assim como os 600.000 de Israel guardaram o tabernáculo (Nm_2:17-
32), um por cada dez mil. Em contraste com a “cama de ócio” (v. 1),
valentes — (Jos_5:13-14.) Os anjos que guardaram sua tumba
usaram palavras similares (Mc_16:6).
de Israel — súditos verdadeiros, não mercenários.
8. manejar a espada — rodeadas sobre a coxa, como seu Senhor
(Sl_45:3). Também os crentes são guardados pelos anjos (Sl_91:11;
Hb_1:14), e eles mesmos necessitam que “cada homem” (Nee_4:18)
esteja armado (Sl_144:1-2; 2Co_10:4; Ef_6:12, Ef_6:17; 1Tm_6:12), e
seja hábil (2Co_2:11).
por causa dos temores noturnos — Os saqueadores árabes muitas
vezes convertem as bodas em velório por um ataque noturno. Do mesmo
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 31
modo o cortejo nupcial dos santos na noite do deserto era o principal
objeto dos ataques de Satanás.
9. palanquim — fabricado com mais primor que a “liteira” (v. 7),
da raiz hebraica, elaborar (Ewald). Assim o templo foi construído dos
“cedros de Líbano,” em comparação com o tabernáculo provisório, que
foi feito de madeira de cedro (2Sm_7:2, 2Sm_7:6-7; 1Rs_5:14;
1Rs_6:15-18). o corpo de Jesus Cristo é o antítipo, “feito” para Ele pelo
Pai (1Co_1:30; Hb_10:5), a madeira corresponde à Sua natureza
humana, o ouro à divina; sendo as dois um só Cristo.
10. colunas — que sustentavam o toldo nos quatro cabos; cortinas
em cada lado protegiam de sol às pessoas que estavam dentro. Colunas
com encaixes de prata sustentavam o véu que encobria o lugar
santíssimo; emblema da força de Jesus Cristo (1Rs_7:21), “prata”,
emblema da pureza (Sl_12:6); como os santos mais adiante (Ap_3:12).
espalda — na Vulgata e na LXX. (Maurer.) Assim o piso e o
propiciatório, a morada de Deus (Sl_132:14) no templo, eram de ouro
(1Rs_6:30).
assento — como em Lv_15:9. Mais adiante os santos
compartilharão o assento dele (Ap_3:21).
púrpura — o véu do lugar santíssimo era em parte purpúreo, e
vestiram a Jesus Cristo de púrpura. A “púrpura,” (inclusive o escarlate e
a grana) é emblema da realeza; tipificada pelo sangue do cordeiro pascal,
e o vinho quando os doze se reclinaram à mesa do Senhor.
ornado — obra de tesselas, como pavimento de mosaicos, dos
vários atos e promessas do amor do Pai, Filho e Espírito Santo
(Sof_3:17; 1Jo_4:8, 1Jo_4:16), em contraste com as tábuas de pedra “no
meio” da arca, que nelas tinham gravados os rígidos mandados da lei (cf.
Jo_19:13); isto é, toda graça e amor aos crentes, que correspondem às
filhas de Jerusalém” (Jo_1:17). O exterior de prata e ouro, cedro,
púrpura, e os guardas, pode ser que impeçam, mas quando a noiva entra,
descansa ela sobre o pavimento de amor.
11. Saí — (Mt_25:6.)
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 32
filhas de Sião — espíritos dos santos, e anjos (Is_61:10; Zc_9:9).
coroa — nupcial (Ez_16:8-12), (os hebreus portavam coroas ou
grinaldas custosas nos casamentos), e real (Sl_2:6; Ap_19:12). A coroa
de espinhos foi uma vez sua grinalda nupcial, seu sangue o cálice das
bodas (Jo_19:5). “Sua mãe,” que assim o coroou, é a raça humana, pois
ele é “o Filho do homem,” não meramente o filho de Maria. A própria
mãe reconciliada com Ele (Mt_12:50) está de parto pelas almas, que
apresenta a Ele como coroa (Fp_4:1; Ap_4:10). Não se envergonha de
chamá-los irmãos (Hb_2:11-14), Ele chama a mãe deles Sua mãe
(Sl_22:9; Rm_8:29; Ap_12:1-2).
contemplai — (2Ts_1:10.)
no dia do seu casamento (NTLH) — principalmente o casamento
final, quando o número dos escolhidos estiver completo (Ap_6:11).
júbilo — (Sl_45:15; Is_62:5; Ap_19:7). Moody Stuart observa com
relação a este cântico (Ct_3:6 – 5:1), o coração do Livro, estas
peculiaridades:
(1) O noivo faz o papel principal, enquanto que nas outras partes é a
noiva quem fala principalmente;
(2) Em outras partes ele é ou o “Rei” ou “Salomão;” aqui duas
vezes é chamado “o Rei Salomão.” Seis vezes nesta parte a noiva é
chamada “esposa;” nunca antes nem depois; quatro vezes também
“irmã”, e em nenhuma outra parte exceto em Ct_5:2;
(3) Ele e ela nunca estão separados; nenhuma ausência, nem queixa,
há neste cântico, das que abundam-nos demais.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 33
Cantares 4

1. Contraste-se o estado natural da noiva (Is_1:6) com sua condição


pela graça de Deus (vv. 1-7), “perfeita por causa de minha beleza que te
pus” (Ez_16:14; Jo_15:3). O louvor de Jesus Cristo não danifica como a
do mundo, antes edifica; visto que é Sua a glória, não nossa (Jo_5:44;
Ap_4:10-11). Sete característicos de beleza se especificam (vv. 1-5)
(“lábios” e “fala” são um só característico, v. 3), o número da perfeição.
A cada um destes se liga uma comparação da natureza; estes pontos de
semelhança não consistem tanto na aparência externa, como nas
sensações combinadas de deleite produzidas pela contemplação destes
objetos naturais.
das pombas — os grandes olhos brandos da pomba síria aparecem
especialmente belos entre a folhagem de seus bosques nativos; assim os
olhos da noiva “entre as tuas tranças” [RC] (Lc_7:44). Maurer em vez de
“tranças” tem “véu” [RA]; mas tranças convém melhor ao contexto;
assim o traduz o hebraico (Is_47:2). A pomba é a única ave tida por
“limpa” para os sacrifícios. Uma vez o coração foi “a trança de toda ave
imunda e aborrecível.” A graça faz a mudança.
olhos — (Mt_6:22; Ef_1:18; contraste-se Mt_5:28; Ef_4:18;
1Jo_2:16). Castos e sem engano (Mt_10:16, margem; Jo_1:47). João
Batista, historicamente, foi “a rola” (Ct_2:12), com o olho dirigido rumo
ao noivo que vinha; seu cabelo de nazireu sem cortar, corresponde às
“tranças” (Jo_1:29, Jo_1:36).
cabelos … cabras — o cabelo das cabras no Oriente é fino qual
seda. Como o cabelo longo é sua glória, e assinala sua sujeição ao
homem (1Co_11:6-15), assim o cabelo do nazireu assinalava sua
sujeição e separação para Deus. (Cf. Jue_16:17 com 2Co_6:17; Tt_2:14;
1Pe_2:9.) Jesus Cristo cuida das necessidades mais insignificantes de
Seus santos (Mt_10:30).
que descem — lit., “estão lançadas desde …” lançadas ao longo da
colina, parecem penduradas nela; retrato das tranças pendentes da noiva.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 34
Gileade — depois do Jordão: ali esteve o “monte de testemunho”
(Gn_31:48).
2. tosquiadas (RC) — o hebraico se traduz (1Rs_6:25) “de um
tamanho:” assim o ponto de comparação com os dentes é sua simetria de
forma, como no “sobem do tanque”, a perfeita brancura; e em “gêmeas,”
a exata correspondência dos dentes superiores e os inferiores; e em
“nenhuma … estéril,” nenhum dente falta, nenhum sem seu
companheiro. A fé é o dente com o qual comemos o pão da vida
(Jo_6:35, Jo_6:54). Contraste-se dente de pecadores (Sl_57:4;
Pv_30:14); também seu destino (Sl_3:7; Mt_25:30). A fé guia o rebanho
ao tanque (Zc_13:1; 1Co_6:11; Tt_3:5).
nenhuma … estéril (RC) — (2Pe_1:8.) Aquele que é gerado de
Deus gera instrumentalmente a outros filhos de Deus.
3. fio — como um tecido delicado. Não grossos e brancos como
lábios de leproso (tipo do pecado), que têm que ser “cobertos”, pois,
como “imundos” (Lv_13:45).
escarlata — o sangue de Jesus Cristo (Is_6:5-9) limpa a lepra, e
abre os lábios (Is_57:19; Os_14:2; Hb_13:15). O cordão de escarlata de
Raabe (Jos_2:18) é típico dela.
tua boca — não é um característico à parte dos lábios (Sof_3:9;
Cl_4:6). Contraste-se “lábios incircuncisos” (Êx_6:12). Maurer e
Burrowes traduzem: “tua boca.”
tuas faces — antes, a parte superior do rosto debaixo das têmporas
que deixa ver o rubor; assim “dentro de suas tranças,” nenhuma
ostentação (1Co_11:5-6, 1Co_11:15). Sinal de verdadeiro
arrependimento (Esd_9:6; Ez_16:63). Contraste-se Jr_3:3; Ez_3:7).
romã partida — quando cortada, deixa ver filas de semente
transparente, como cristal, tinta de vermelho. A modéstia da noiva não
está na superfície, mas sim dentro, onde pode olhar o Senhor Jesus.
4. pescoço — majestoso: em belo contraste com as têmporas
enrubescidas (v. 3); não “dura de nuca” (Is_48:4; At_7:51); nem
“estirada” lascivamente (Is_3:16); nem carregada do jugo legalista
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 35
(Lam_1:14; At_15:10); mas sim erguida na liberdade evangélica
(Is_52:2).
torre de Davi — provavelmente em Sião. Ele foi homem de guerra,
que preparou o reino de Salomão, rei de paz. Assim a guerra no caso de
Jesus Cristo e seus santos precede o descanso vindouro. Cada alma por
Ele arrancada das garras de Satanás é um troféu que adorna a noiva
(Lc_11:22); (cada uma pendurada sobre Ele, Is_22:23, Is_22:24);
também cada vitória de sua fé. Como os escudos adornam as paredes de
um templo (Ez_27:11), assim os colares penduram do pescoço da noiva
(Jue_5:30; 1Rs_10:16).
5. peitos (RC) — sem cobrir, segundo o modo de vestir no Oriente.
A couraça do sumo sacerdote era feita de “duas” partes, dobrada uma
sobre a outra, onde se colocavam o Urim e o Tumim (luzes e perfeição).
A “fé e amor” são a dupla couraça (1Ts_5:8), que corresponde para
“ouvir a palavra” e “guardá-la,” em conexão com os vestidos em
Lc_12:27-28.
gazela — ele retribui o louvor dela (Ct_2:9). Emblema de amor e
satisfação (Pv_5:19).
se apascentam — (Sl_23:2.)
entre os lírios — evitando os espinheiros da contenção,
mundanalidade, e impiedade (2Sm_23:6; Mt_13:7). Pastam entre as
flores, não as comem. Entre elas há umidade, que produz o pasto verde.
As açucenas, ou lírios, representam a roupagem branca dela (Sl_45:14;
Ap_19:8).
6. Historicamente, Monte da mirra é o Calvário, onde “pelo eterno
Espírito se ofereceu a Si mesmo;” o monte da mirra é seu
embalsamamento (Jo_19:39) até o amanhecer da ressurreição. O terceiro
Cântico se ocupa do um dia sem nuvens de Sua presença na terra, que
começa com a noite (Ct_2:17) e termina com a noite de Sua partida
(Ct_4:6). Sua promessa é feita quase nas mesmas palavras que a petição
dela (Ct_2:17), (o Espírito Santo soprando em Jesus Cristo e em Seu
povo que ora), com a diferença de que ela então esperava Sua vinda
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 36
visível. Agora diz a ela que quando Ele foi embora, ainda se deve ter
comunhão com Ele espiritualmente na oração (Sl_68:16; Mt_28:20), até
que amanheça o dia da eternidade, quando O veremos face a face
(1Co_13:10, 1Co_13:12).
7. A certeza de que vai embora dela em amor, não em desagrado
(Jo_16:6-7).
toda formosa — linguagem mais forte que a de Ct_1:15; Ct_4:1.
não há defeito — nosso privilégio (Ef_5:27; Cl_2:10); nosso dever
(2Co_6:17; Jud_1:23; Tg_1:27).
8. Convite para que ela deixe as montanhas fronteiriças (a elevação
mundana mais alta) entre as terras hostis a norte da Palestina e a Terra
Prometida (Sl_45:10; Fp_3:13).
Amana — Ao sul do Anti-Líbano; o rio Abana, ou Amana, estava
perto de Damasco (2Rs_5:12).
Senir — Toda a montanha era chamada Hermom; a parte ocupada
pelos sidônios chamava-se Siriom; a parte dos amorreus, Senir (Dt_3:9).
Infestada pelo leão devorador e o sigiloso e ágil leopardo (Sl_76:4;
Ef_6:11, 1Pe_5:8). Em contraste com o monte de mirra, etc. (v. 6;
Is_2:2); a boa terra (Is_35:9).
comigo — repetido enfaticamente. A presença de Jesus Cristo supre
a ausência de qualquer outro ser querido (Lc_18:29-30; 2Co_6:10).
Moisés teve permissão de ver Canaã desde o Pisga; Pedro, Tiago e João
tiveram uma antecipação da glória no monte da transfiguração.
9. minha irmã, minha esposa (RC) — este título é aqui usado pela
primeira vez, pois ele está logo para instituir o Jantar, penhor da união
nupcial. Pelo termo “irmã” se exclui toda ideia carnal; o ardor do amor
de marido se combina com a pureza do de irmã (Is_54:5; cf. Mc_3:35).
teus olhares — um só olhar é suficiente para conseguir o amor dele
(Zc_12:10; Lc_23:40-43). Não meramente a Igreja coletivamente, mas
sim cada um dos seus membros (Mt_18:10, Mt_18:14; Lc_15:7,
Lc_15:24, Lc_15:32).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 37
colar — (Is_62:3; Ml_3:17, correspondente aos “escudos”
pendurados na torre de Davi (v. 4). Cf. os “adornos” (1Pe_3:4);
“colares” (Pv_1:9; Pv_3:22).
10. amores (RC) — múltiplos sinais de seu amor.
Quanto melhores (RC) — corresponde à linguagem dela (Ct_1:2),
mas com força aumentada. Enche o Cântico um caráter pastoril, como os
clássicos idílios e églogas amebeus.
vinho — o amor de seus santos, é-lhe um cordial mais confortante
que o vinho; por ex., na festa na casa de Simão (Lc_7:36, Lc_7:47;
Jo_4:32; cf. Zc_10:7).
o aroma dos teus ungüentos … toda sorte de especiarias —
corresponde ao louvor dela (Ct_1:3), com força aumentada. Fragrantes,
como frutos de Seu Espírito em nós (Gl_5:22).
11. destilam — Transbordam de doçura (Pv_10:19; Ct_5:13; Dt
32:21; Mt_12:34).
favos de mel (RC) — (Pv_5:3; Pv_16:24.)
debaixo da tua língua — não sobre a língua, mas sim debaixo
dela, a ponto de cair (Sl_55:21). Contraste a condição anterior dela
(Sl_140:3; Rm_3:13). “Mel e leite” eram a glória da boa terra. A
mudança se ilustra na conversão do ladrão “penitente.” Contraste-se
Mt_27:44 com Lc_23:39, etc. foi literalmente com “um” olho, um olhar
de lado de amor “melhor que o vinho,” como ele refrescou ao Senhor
(vv. 9, 10). “Hoje estarás comigo (cf. o v. 8) no Paraíso” (v. 12), é a
única palavra prazerosa das sete proferidas na cruz.
fragrância dos teus vestidos — Era costume no Oriente perfumar
a roupa (Sl_45:8). O perfume vem dEle sobre nós (Sl_133:2).
Aproximamo-nos de Deus em roupagem perfumada por nosso Irmão
mais velho (Gn_27:27; cf. Jud_1:23).
Líbano — que abundava em árvores odoríferas (Os_14:5-7).
12. Jardim — o hebraico não tem “é”. Aqui ela se distingue do
jardim (Ct_5:1), contudo, está identificada com ele (v. 16) como uma
com Ele em seus padecimentos. Historicamente o Paraíso, aonde a alma
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 38
de Jesus Cristo veio a morrer; e a tumba de José, onde foi posto Seu
corpo entre “mirra,” etc. (v. 6), situado num jardim bem cuidado (cf. “o
jardineiro,” Jo_20:15); “selado” com uma pedra (Mt_27:66); onde se
assemelha às “fontes” do Oriente (Gn_29:3, Gn_29:8). foi num jardim
de luz onde Adão caiu; num jardim de trevas, o Getsêmani, e
particularmente no da tumba, onde o segundo Adão nos redimiu.
Espiritualmente o jardim é o evangélico reino dos céus. Aqui tudo está
amadurecido; anteriormente (Ct_2:13) era “a videira em flor.” O jardim
é dele, embora ele diz que são dela as plantas (v. 13), como o dom dEle
(Is_61:3).
manancial … fonte — Jesus Cristo (Jo_4:10) selado, enquanto
estava na tumba selada: derramou a fonte seu pleno caudal no
Pentecostes (Jo_7:37-39). Sempre é fonte selada para alguém até que o
Espírito Santo a abre (1Co_12:3). A Igreja também é “jardim fechado”
(Sl_4:3; Is_5:1, etc.). Contraste-se Sl_80:9-12. Também “fonte”
(Is_27:3; Is_53:11); “selada” (Ef_4:30; 2Tm_2:19). Como as mulheres
se apartam do olhar dos homens no Oriente, assim os crentes (Sl_83:3;
Cl_3:3). Contrastem-se as correntes abertas que “passarão” (Jó_6:15-18;
2Pe_2:17).
13. pomar — parque, lugar de prazer e jardim. Não só de flores,
mas também de árvores frutíferas também (Jo_15:8; Fp_1:11).
hena — não a cânfora (Ct_1:14), mas sim hena, flores do cipreste.
14. cálamo — (Êx_30:23; Jr_6:20.)
a mirra e o aloés — Os unguentos se associam com a morte dEle,
assim como com as festas (Jo_12:7). Lembra-se o ministério da noiva
com “mirra e aloés” (Jo_19:39).
15. fonte … poço — deste parque, não depende de meros
depósitos; tem um manancial suficiente para regar muitos “jardins”
(plural)
vivas — (Jr_17:8; Jo_4:13-14; Jo_7:38-39).
do Líbano — Embora a fonte seja humilde, sua origem é alta;
alimentada pelas perpétuas nevadas do Líbano, sempre refrescante
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 39
(Jr_18:14), que fertilizava os jardins de Damasco. Salta sobre a terra; sua
origem é o zelo. Já não está selada; já são “rios” abertos (Ap_22:17).
16. Levanta-te — tudo o mais está disposto; a única coisa que falta
é o sopro de Deus. Este segue precisamente depois da Sua morte
(Ct_6:12; At_2:1-4) É a Sua chamada ao Espírito para que venha
(Jo_14:16); em Jo_3:8 comparado com “o vento;” vivificador (Jo_6:63;
Ez_27:9). Os santos elevam a mesma oração (Sl_85:6 Hc_3:2). O vento
norte “desperta,” ou se levanta forte, quer dizer, o Espírito Santo, como
quem repreende (Jo_16:8-11); o vento sul “vem” suave, quer dizer, o
Espírito como consolador (Jo_14:16). O vento oeste traz a chuva do mar
(1Rs_18:44-45; Lc_12:54). O vento leste é tempestuoso (Jó_27:21;
Is_27:8), e secante (Gn_41:23). Estes, pois, não se deseja; mas sim o
vento norte, que limpa o ar (Jó_37:22; Pv_25:23), e logo o morno vento
do sul (Jó_37:17); assim o Espírito Santo, que primeiro limpa a neblina
da tristeza, incredulidade, e pecado, que interceptam a luz de Jesus
Cristo, e logo infunde o calor espiritual (2Co_4:6), que faz com que as
graças exalem seus perfumes.
Venha o meu amado — a resposta da noiva. O fruto já estava
grandemente amadurecido; chegou a última páscoa, tão desejada
(Lc_22:7, Lc_22:15-16, Lc_22:18), o único caso em que Ele próprio Se
encarregou dos preparativos.
para o seu jardim — corresponde a “Meu” jardim de Jesus Cristo,
da frase anterior. Ela reconhece que o jardim é dEle, e que os frutos que
há nela, não o nega em falsa humildade (Sl_66:16; At_21:19;
1Co_15:10) são dele também (Jo_15:8; Fp_1:11).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 40
Cantares 5

1. A resposta à oração dela (Is_65:24; Ap_3:20).


Já entrei — (Ct_4:16); “entrei” (Gn_28:16)
irmã minha, minha esposa — Como a de Adão foi criada da carne
dele, de seu lado aberto, não havendo outro ser na terra ao mesmo tempo
que ele, assim a noiva vem do lado aberto do Salvador (Ef_5:30-32).
colhi a minha mirra — Sua carreira já estava terminada; a mirra,
etc. (Mt_2:11; Mt_26:7-12; Jo_19:39), emblemas da iminência do
Espírito de unção, estavam já preparadas.
especiaria — lit., bálsamo.
comi — corresponde ao “como” dela (Ct_4:16).
favo — diferente da “mel” líquido que goteja das árvores. A Última
Ceia, aqui figurada, é um dos esponsais, do futuro casamento (Ct_8:14;
Ap_19:9). As festas com frequência se faziam nos jardins. Por falta do
açúcar, então não conhecido, usava-se o mel mais que entre nós. Que ele
coma mel com leite, indica sua verdadeira e imaculada natureza humana
da infância (Is_7:15); e depois de sua ressurreição (Lc_24:42).
meu vinho — (Jo_18:11) — taça de ira para Ele, de misericórdia
para nós, pelo que a palavra e as promessas de Deus nos devem ser
“leite” (Sl_19:10; 1Pe_2:2). “Meu” corresponde a “seu” (Ct_4:16). A
“mirra” (emblema, por sua amargura, de arrependimento), o mel, o leite
(a fé incipiente), o vinho (fé forte), com relação aos crentes, denotam que
Ele aceita todas as graças deles, embora sejam de distintos graus.
Comei — Ele deseja nos fazer partícipes de Sua alegria (Is_55:1-2;
Jo_6:53-57; 1Jo_1:3).
amigos — (Jo_15:15.)
bebei fartamente — (Ef_5:18; como Ag_1:6).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 41
CÂNTICO IV. (Ct_5:2 – 8:5). — Da Agonia do Getsêmani Até a
Conversão de Samaria
2. Mudança repentina de cenário da tarde a meia-noite, dos
esponsais ao frio rechaço. O saiu da festa sozinho; é de noite; bate na
porta de seu prometida; ela ouça, mas por preguiça não sacode seu
semiconsciente sonho, isto é, o torpor dos discípulos (Mt_26:40-43), “o
espírito pronto, a carne fraca” (cf. Rm_7:18-25; Gl_5:16-17, 24). Não
um sonho total. A lâmpada ardia ao lado da virgem prudente que
dormitava, mas precisava ser avivada (Mt_25:5-7). É a voz dEle que a
desperta (Jon_1:6; Ef_5:14; Ap_3:20). Em vez de recriminações
amargas, fala-lhe com os títulos mais carinhosos, “minha irmã, meu
amor,” etc. Cf. seu pensamento de Pedro depois da negação (Mc_16:7).
orvalho — que cai abundante nas noites estivais do Oriente
(Lc_9:58.)
gotas da noite — (Sl_22:2; Lc_22:44.) Sua morte não está
expressa, como imprópria da alegoria, canção de amor e alegria; o v. 4
refere-se à cena do tribunal de Caifás, quando Jesus aproveitou o canto
do galo e Seu olhar de amor para despertar a dormida consciência de
Pedro, de modo que foi comovido até as lágrimas (Lc_22:61-62); vv. 5,
6, os discípulos providos de “mirra,” etc. (Lc_24:1, Lc_24:5), buscam
Jesus Cristo na tumba, mas não O acham, porque Se tinha retirado
(Jo_7:34; Jo_13:33); v. 7, as provas dos guardas seguem através de toda
a noite de Seu retiro do Getsêmani até a ressurreição; tiraram o “véu” do
disfarce de Pedro; também, literalmente, o lençol do jovem (Mc_14:51);
v. 8. a simpatia dos amigos (Lc_23:27).
imaculada minha — não contaminada de adultério espiritual
(Ap_14:4; Tg_4:4).
3. Desculpas corriqueiras (Lc_14:18).
túnica — em preparação para a cama.
lavei os pés — segundo o costume oriental; levavam sandálias, não
sapatos. A preguiça (Lc_11:7) e desânimo (Dt_7:17-19).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 42
4. A chave, no Oriente, era usualmente uma vara de madeira com o
número de cavilhas que correspondia com os buracos do passador
interior. Assim Jesus Cristo “coloca a mão (quer dizer, seu Espírito,
Ez_3:14), pelo (hebraico desde; também em Ct_2:9) buraco; para
“castigar” (Sl_38:2; Ap_3:14-22, textos muito parecidos com este), e
outros métodos inesperados de fazer-se entrar (Lc_22:61-62).
4. o meu coração se comoveu — Foi Ele quem primeiro teve
compaixão de nós, o que ao mesmo tempo nos comoveu por Ele
(Jr_31:20; Os_11:8).
5. destilavam mirra — A melhor prova de boas-vindas que uma
noiva podia dar a seu amado era a de ungir-se (especialmente a parte
externa da mão, a parte mais fresca do corpo) profusamente com os
melhores perfumes (Êx_30:23; Et_2:12; Pv_7:17); “perfumes
aromáticos” é no hebraico, antes, a “exsudação espontânea” da árvore, e
é, portanto, o melhor perfume. Era sua intenção também ungi-lo, cujos
“cabelos” receberam “as gotas da noite” (Lc_24:1). A mirra tipifica o
amargo arrependimento, o fruto da unção do Espírito (2Co_1:21-22).
maçaneta do ferrolho — os pecados que fecharam o coração
contra Ele.
6. se retirara — Ele chamou quando ela dormia; se a tivesse
deixado então, teria resultado no sono mortal; ele se retira visto que ela
desperta; precisa de correção (Jr_2:17, Jr_2:19), que pode receber e
suportar agora, não antes. “Os fortes Ele os provará fortemente”
(1Co_10:13).
quando, antes, ele me falou — antes, por causa de seu falar; ao
lembrar suas tenras palavras (Jó_29:2-3; Sl_27:13; Sl_142:7), ou, até
que falasse.
não me respondeu — (Jó_23:3-9; Jó_30:20; Jó_34:29; Lam_3:44).
A fé fraca recebe consolo imediato (Lc_8:44, Lc_8:47-48); a fé forte é
provada com a demora (Mt_15:22-23).
7. os guardas — Historicamente, os sacerdotes judaicos, etc. (cf.
Nota, do v. 2); espiritualmente, os ministros (Is_62:6; Hb_13:17), fiéis
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 43
em “ferir” (Sl_141:5), mas (como os deixa, v. 8) são muito severos ou
talvez, infiéis; desagradando-se do zelo com que ela buscava Jesus
Cristo, primeiro, com oração espiritual, “lhe abrindo” seu coração, e logo
com obras de caridade pela “cidade”; chamando-o imperfeitamente
fanatismo (Is_66:5), e lhe tirando o véu (a maior indignidade para uma
dama oriental), como se ela fosse positivamente desonesta. Ela o tinha
buscado antes de noite nas ruas, sob o forte afeto (Ct_3:2-4), e assim sem
recriminação de parte dos “guardas,” achou-o imediatamente; mas agora
após o seu descuido pecaminoso, encontra dor e demora. Deus perdoa os
crentes; mas é coisa séria gabar-se de Seu perdão; assim vê-se em Juízes
a reserva crescente de parte de Deus para com Israel, conforme o povo
repete as demandas de Sua graça.
8. Ela se volta dos antipáticos guardas a pessoas mais humildes, as
que ainda não o conhecem, mas que estão em caminho de conhecê-lo.
Historicamente, Seus amigos secretos na noite de seu retiro (Lc_23:27-
28). Os que buscam Jesus Cristo podem achá-Lo (“se O acharem”), antes
que a que o entristeceu volte a achá-lo.
Lhe façais saber (TB) — em oração (Tg_5:16).
desfaleço de amor — de outra causa (Ct_2:5) que não pelo excesso
de prazer por sua presença; agora pelo excesso de dor por sua ausência.
9. Sua própria beleza (Ez_16:14), e sua saudade dele, motivam a
pergunta destas (Mt_5:16); até agora “outros senhores além dele, se
ensenhoreavam delas;” portanto não tinham visto “nenhuma beleza nele”
(Is_26:13; Is_53:2).
10. (1Pe_3:15.)
alvo e rosado — são e belo. Assim era Davi (equivalente a amado),
seu antepassado segundo a carne, e tipo dele (1Sm_17:42). “O Cordeiro”
é ao mesmo tempo seu nome nupcial e sacrifical (1Pe_1:19; Ap_19:7),
caracterizado pelo branco e vermelho; o branco, sua imarcescível
humanidade (Ap_1:14). Em hebraico branco é propriamente iluminado
pelo sol, “branco como a luz” (cf. Mt_17:2); o vermelho de sua
roupagem tingida de sangue como imolado (Is_63:1-3; Ap_5:6;
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 44
Ap_19:13). Os anjos são brancos, não vermelhos; o sangue dos mártires
não entra no céu; só o dEle se vê ali.
distinguido — lit., o porta-estandarte; isto é, tão conspícuo sobre
outros como o é o porta-estandarte entre as hostes (Sl_45:7; Sl_89:6;
Is_11:10; Is_55:4; Hb_2:10; cf. 2Sm_18:3; Jó_33:23; Fp_2:9-11;
Ap_1:5). O primeiro dos pecadores necessita o “principal” dos
salvadores.
11. cabeça … ouro — a divindade de Jesus Cristo, a cabeça como
distinta de seu calcanhar, quer dizer, sua humanidade, que foi “ferida”
por Satanás; sendo as duas coisas um só Cristo (1Co_11:3). Também sua
soberania, como Nabucodonosor foi “a cabeça de ouro” (Dn_2:32-38;
Cl_1:18), a criatura maior, em comparação com ele, não é mais que
bronze, ferro e barro. “Preciosidade” (gr., 1Pe_2:7).
crespos — sinal de soberania. Em contraste com as tranças dela
(Ct_4:1), sinal de sua sujeição a ele (Sl_8:4-8; 1Co_11:3, 1Co_11:6-15).
O hebraico é (suspenso como) os ramos da palmeira, que em flor se
assemelham a penas movidas.
pretos — Expressam a juventude; sem cãs (Sl_102:27; Sl_110:3-4;
Os_7:9). Jesus Cristo foi crucificado no vigor de Sua força e juventude.
No céu, por outro lado, seu cabelo é “branco,” sendo Ele o Ancião de
dias (Dn_7:9). Estes contrastes ocorrem nEle com frequência (v. 10),
“branco e loiro;” o “corvo” (v. 12) e a “pomba,” ambos com Noé na arca
(Gn_8:11), emblemas de juízo e de misericórdia.
12. olhos são como os das pombas — (Sl_68:13); banhando-se nos
“arroios;” combinando assim em suas penas “de prata” a brancura de
leite com o brilho reluzente da água que as banhava (Mt_3:16). O “leite”
alude possivelmente ao branco que rodeia a pupila do olho. As “águas”
refere-se ao olho como a fonte das lágrimas de compaixão (Ez_16:5-6;
Lc_19:41). A viveza, pureza, e amor, são os três rasgos tipificados.
postos — como a joia incrustada no anel; como as pedras preciosas
da couraça de sumo sacerdote. Antes, traduza-se como na Vulgata: “(as
pombas) assentadas à plenitude” do arroio; ou como Maurer (os olhos)
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 45
colocados plenamente, não afundados nas conchas (Ap_5:6), (“sete que
expressa plena perfeição), (Zc_3:9; Zc_4:10).
13. faces — o assento da beleza, segundo o sentido hebraico.
(Gesênius.) Entretanto, ferem-nas os homens, e cospem nelas (Is_50:6).
canteiro — tábua, ou quadro de terra numa pomar; fragrante de
unguentos, como tábuas de plantas aromáticas (lit., bálsamo).
ervas — antes, “montões de plantas aromáticas,” em paralelismo
com “canteiro”, que deriva de uma raiz hebraica que significa elevação
(“terraço de aromáticas”).
lábios — Sl_45:2; Jo_7:46).
lírios — lírios vermelhos. Brandos e tenros (1Pe_2:22-23). Quão
distintos eram os lábios do homem (Sl_22:7)!
que gotejam mirra — quer dizer, os lábios dele, tão doces como as
gotas do orvalho que caem do cálice do lírio.
14. de jacintos — hebreu, tarshish, assim chamado pela cidade. O
antigo crisólito, cor de ouro (Versão dos LXX), nosso topázio, uma das
pedras da couraça do sumo sacerdote, também do fundamento da Nova
Jerusalém (Ap_21:19, 20, também Dn_10:6). As mãos dobradas se
comparam a belos anéis, sendo as unhas as pedras do engaste. Burrowes
descreve os anéis como cilindros usados como selos, tais como os
achados em Nínive, e que parecem dedos. Um anel é sinal de filiação
(Lc_15:22). Não se permitia ao escravo portar anel de ouro. Jesus Cristo
nos reparte a condição de filhos e a liberdade (Gl_4:7); também sinal de
autoridade (Gn_41:42; cf. Jo_6:27). Selou-nos no nome de Deus com o
Seu selo (Ap_7:2-4), cf. Ct_8:6, onde ela mesma deseja ser um selo
sobre o braço dele (Is_49:16; contraste-se Ag_2:23, com Jr_22:24.)
ventre — Burrowes e Moody Stuart traduzem “corpo.” Newton,
como está em outras partes: “vísceras;” quer dizer, sua compaixão
(Sl_22:14; Is_63:15; Jr_31:20; Os_11:8).
alvo — lit., bem elaborado, de modo que brilha; como seu corpo
“preparado” (Hb_10:5); o “palácio de marfim” do rei (Sl_45:8); sem
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 46
mancha, puro, assim “o pescoço da noiva é como torre de marfim”
(Ct_7:4).
safiras — cintilando no cinto que o rodeia (Dn_10:5). “Todas as
coisas são puras para os puros.” Como na estatuária, para o artista o
corpo parcialmente vestido é sugestivo só da beleza, livre de
imoralidade, assim são aos santos as excelências pessoais de Jesus
Cristo, tipificadas sob o ideal da forma humana mais nobre. Entretanto,
como a noiva e o noivo estão em público, pressupõe-se que usam os
vestidos usuais, ricamente adornados (Is_11:5). As safiras indicam sua
natureza celestial (assim diz Jo_3:13, “está no céu”), até em Sua
humilhação, “cobrindo” Seu corpo humano de marfim (Êx_24:10). De
cor celeste, a altura e a profundidade do amor de Jesus Cristo (Ef_3:18).
15. colunas — fortaleza e firmeza. Contraste-se “pernas” de
homem (Ecl_12:3). Alusão ao templo (1Rs_5:8, 9; 1Rs_7:21), os cedros
do “Líbano” (Sl_147:10). As “pernas” de Jesus Cristo não foram
quebradas na cruz, embora as dos ladrões foram; sobre elas descansa o
peso de nossa salvação (Sl_75:3).
bases de ouro puro — suas sandálias, que correspondem aos
encaixes das colunas; “Desde a eternidade fui estabelecida” (Pv_8:22-
23). Da cabeça (v. 11) até o pé “de ouro fino.” Foi provado com fogo no
crisol, e achado sem mescla.
aspecto — seu porte assim como sua estatura (cf. 2Sm_23:21 com
1Cr_11:23). Desde cada uma das partes ela procede ao efeito geral da
pessoa inteira de Jesus Cristo.
Líbano — assim chamado por seus brancas pedras de cal.
esbelto — excelente, belo e alto como aqueles cedros (Ez_31:3,
etc.). A majestade é o pensamento proeminente (Sl_21:5). Também a
duração dos cedros (Hb_1:11); seu verdor (Lc_23:31), e o refúgio que
oferecia (Ez_17:22-23).
16. Lit., “Seu paladar é doçura, sim todo beleza”, quer dizer, ele é a
essência destas qualidades. Sua “boca;” como em Ct_1:2, não os
“lábios” (v. 13), seu alento (Is_11:4; Jo_20:22). “Através de tudo,” todas
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 47
as belezas repartidas entre as criaturas se reconcentram
transcendentalmente nEle (Cl_1:19; Cl_2:9).
meu amado — porque O amo.
meu amigo (RC) — porque Ele me ama (Pv_18:24). Glorificar-se
na santidade (Sl_34:2; 1Co_1:31.)
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 48
Cantares 6

1. Historicamente, na crucificação e sepultamento de Jesus Cristo,


José de Arimatéia, e Nicodemos, e outros, uniram-se com os discípulos
declarados. Ao falar a noiva perto de Jesus Cristo, faz bem não só à sua
própria alma, mas também a outros (veja-se Ct_1:4; Ml_3:16; Mt_5:14-
16). Compare o emprego ambíguo de palavras similares (Mt_2:8).
2. desceu — Jerusalém estava sobre uma colina (corresponde a sua
elevação moral), e os jardins estavam a certa distância abaixo nos vales.
canteiros de bálsamo — que ele mesmo chama o “monte de mirra”
(Ct_4:6), e outra vez (Ct_8:14), o lugar de descanso de seu corpo entre
aromas, e de sua alma no paraíso, e agora no céu, onde está de pé como
Sumo Sacerdote para sempre. Em nenhuma outra parte do Cântico há
menção de montanhas de aromas.
para pastorear nos jardins — isto é, nas igrejas, embora se tenha
retirado do crente pessoal: ela implica um convite às filhas de Jerusalém
para entrar na Igreja espiritual, e converter-se em lírios, embranquecidos
no Seu sangue. Ele está juntando alguns lírios agora para plantar na terra,
outros para transplantar no céu (Ct_5:1; Gn_5:24; Mc_4:28-29;
At_7:60).
3. Falando de Jesus Cristo a outros, ela recupera sua própria
segurança. Lit., “Eu sou para o meu amado e o meu amado para mim.”
Ordem inversa em Ct_2:16. Ela agora, depois do período de trevas,
baseia suas convicções no amor dele para com ela, mais que no dela para
com ele (Dt 33:3). Ali, era a crente jovem que concluía que ela era dEle,
pela convicção plausível de que Ele era dela.
4. Tirza — significa agradável (Hb_13:21); “prazenteira”
(Mt_5:14); a cidade real de um dos antigos reis de Canaã (Jos_12:24); e
depois da sublevação de Israel, a capital de seus reis até que Onri
edificou Samaria (1Rs_16:8, 1Rs_16:15). Não há razão por que atribuir a
Cantares uma data posterior a Salomão, porque Tirza era já no tempo
dele a capital do norte (Israel), como Jerusalém era do sul (Judá).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 49
Jerusalém — a residência dos reis de Judá, como Tirza, dos de
Israel (Sl_48:1; Sl_122:1-3; Sl_125:2). A beleza, segurança, unidade, e
lealdade; também a união de Israel e Judá na Igreja (Is_11:3; Jr_3:18;
Ez_37:16-17, Ez_37:22; cf. Hb_12:22; Ap_21:2, Ap_21:12).
formidável — Não só armada como uma cidade à defensiva, mas
sim como um exército à ofensiva.
com bandeiras — (Ct_5:10; Sl_60:4); Jeová Nissi (2Co_10:4).
5. (Ct_ 4:9; Gn_32:28; Êx_32:9-14; Os_12:4.) Assim não só
“vence” (v. 4) “o exército” os inimigos, mas sim Jesus Cristo assim
vence “com os olhos fixos em” Deus (Sl_25:15; Mt_11:12).
Historicamente os vv. 3, 4, 5, representam a restauração de Jesus Cristo à
Sua Igreja na ressurreição; Ele a envia como um exército, com novos
poderes (Mc_16:15-18, Mc_16:20); repete as mesmas instruções (cf. o v.
6) que quando estava com eles (Lc_24:44).
me tomaram de assalto (TB) — lit., assediaram-me.
6. Não uma vã repetição de Ct_4:1, 2. O uso das mesmas palavras
demonstra que Seu amor para ela é inalterável apesar da infidelidade
temporária dela (Ml_3:6).
8. Sessenta — número indefinido, como em Ct_3:7. Não as rainhas,
etc., de Salomão mas sim as testemunhas dos esponsais, os governantes
da terra contrastados com os santos, que, sendo muitos, não são senão
“uma” noiva (Is_52:15; Lc_22:25-26; Jo_17:21; 1Co_10:17). A única
noiva está contrastada com as muitas esposas que os reis orientais
tiveram violando a lei nupcial (1Rs_11:1-3).
9. Os crentes nominais, como meio esposa, não têm parte com a
única noiva.
única — “A única de sua mãe,” ou seja, a Jerusalém de “cima”
(Gl_4:26). A “irmã pequena” (Ct_8:8) não é inconsequente com o fato
de ela ser “a única;” porque tal irmã é uma com ela mesma (Jo_10:16.)
escolhida — (Ef_1:4; 2Ts_2:13). Como O elogiou sobre todos
(Ct_5:10), assim Ele a ela agora.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 50
as filhas lhe chamarão bem-aventurada (RC) — (Is_8:18;
Is_61:9; Ez_16:14; 2Ts_1:10.) Também em sua aparição depois de
Pentecostes (At_4:13; At_6:15; At_24:25; At_26:28).
10. São palavras que expressam a admiração das donzelas.
Historicamente (At_5:24-39).
como a alva do dia — pois ainda não chegou à plenitude de sua luz
(Pv_4:18).
lua — que ilumina de noite, pela luz que recebe do sol; assim a
noiva, nas trevas deste mundo, reflete a luz do Sol da justiça (2Co_5:21;
1Jo_4:17). A lua tem menos luz, e tem só a metade iluminada; assim a
santificação da noiva está ainda imperfeita. Sua futura glória (Mt_13:43).
exército — (v. 4.) O clímax requer que isto se aplique às radiantes
hostes angélicas, pelas quais Deus é chamado o Senhor (Jeová) de
Sabaoth. Sua glória final (Gn_15:5; Dn_12:3; Ap_12:1). A Igreja
patriarcal, “a alvorada;” a levítica, “a lua;” a Evangélica, “o sol;”
formidável, “o exército com bandeiras” (Ap_19:14).
11. Palavras da noiva; porque quem narra em todas as partes é ela, e
com frequência monólogo, o que Ele nunca faz. O primeiro jardim
(Ct_2:11-13) era da primavera, cheio de flores e de uvas ainda não
amadurecidas; o segundo, outonal, com aromas (que nem sempre se
relacionam com a pessoa de Jesus Cristo), e sem nenhum verdor
(Ct_4:13, etc.). O terceiro aqui, de “nozes,” do prévio outono; o fim do
inverno, e em vésperas da primavera; a Igreja no cenáculo (At_1:13,
etc.), ao terminar uma dispensação, a outra para começar; a casca dura
deve ser quebrada, e sua doce fruta interna tirado (Orígenes) —
(Lc_24:27, Lc_24:32); esperando o Espírito Santo que introduzisse a
primavera espiritual. “Nogueiras”— com a casca exterior amarga, a
interior dura, o fruto doce. Assim a palavra de Deus é desanimada aos
distraídos; despertada a consciência, o pecador encontra dura a letra, até
que o Espírito revela o doce espírito interior.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 51
renovos do vale — Maurer traduz: “os produtos do rio em flor,”
isto é, as plantas que crescem na margem do rio que corre pelo jardim.
Ela vai ver os primeiros brotos das várias plantas
12. O repentino derramamento do Espírito no Pentecostes (At_2:1-
13), enquanto a Igreja usava os meios (corresponde ao jardim,” v. 11;
Jo_3:8).
carro do meu nobre povo — supõe-se que seja proverbial, notório,
por seu rápido correr. Similarmente (Ct_1:9). Antes, meu povo disposto
(Sl_110:3). Um carro disposto levou um “povo disposto;” Aminadib (BJ;
na NVI: “um príncipe”) é o príncipe Jesus Cristo (Sl_68:17). Ela é
levada num momento à presença dEle (Ef_2:6).
13. Rogos das donzelas de Jerusalém, à noiva que foge delas como
em carro rápido (cf. 2Rs_2:12; 2Sm_19:14).
Sulamita — novo nome, que se lhe aplica aqui pela primeira vez. O
feminino de Salomão, Príncipe da Paz; Sua noiva, filha de paz, aceita-o e
o proclama (Is_52:7; Jo_14:27; Rm_5:1; Ef_2:17). Historicamente, este
nome corresponde ao tempo em que, não sem um plano divino, a jovem
Igreja se reuniu no pórtico de Salomão (At_3:11; At_5:12). O rogo,
“volta, ó sulamita,” corresponde ao desejo do povo de deter Pedro e a
João, depois de curado o coxo, quando eles estavam para entrar no
templo. Sua resposta, que atribui a glória não a eles mesmos, mas sim a
Jesus Cristo, corresponde à réplica da noiva aqui: “Por que quereis
contemplar” (RC) em mim? “como para as fileiras …” (RC). Aceita o
nome de Sulamita, que verdadeiramente a descreve. Mas acrescenta que,
embora seja “uma” (v. 9), entretanto ela é “dois.” Suas glórias são as de
seu Senhor, que brilham ao través dela (Ef_5:31-32). Os dois exércitos
são a família de Jesus Cristo no céu e na terra, unida e uma nEle; uma
militante, a outra triunfante. Ou Jesus Cristo e seus anjos
administradores são um exército, a igreja o outro, sendo ambos um
(Jo_17:21-22). É feita alusão a Maanaim (RA e TB) (que significa duas
hostes), o cenário do conflito vitorioso de Jacó mediante a oração
(Gn_32:2, Gn_32:9, Gn_32:22-30). Embora ela é paz, tem contudo
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 52
guerra aqui, entre a carne e o espírito interiormente e com os inimigos
fora; sua força, como a de Jacó em Maanaim, é Jesus Cristo e Seu
exército alistado em sua defesa mediante a oração; deste modo obtém
aquelas graças que despertam a admiração das donzelas de Jerusalém.
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 53
Cantares 7

1. teus pés — antes, suas idas (Sl_17:5). Alusão evidente a Is_52:7:


“Quão formosos … os pés do que anuncia paz!” (Sulamita, Ct_6:13).
sandálias (NVI) — ricamente adornadas com pedras preciosas no
Oriente (Lc_15:22; Ef_6:15). Ela está evidentemente “sobre os montes,”
aonde voou (Ct_6:12), sobre as donzelas de Jerusalém, as quais
descrevem primeiro os pés dela.
filha — de Deus o Pai, com o qual Jesus Cristo é um (Mt_5:9).
“filhas de (o) Deus (de paz), equivalente a Sulamita (Sl_45:10-15;
2Co_6:18), assim como também a noiva (esposa) de Jesus Cristo.
do príncipe — principesca ela mesma, dando livremente a palavra
a outros, não regulando os “pés,” como em Ct_5:3; Êx_12:11. Agir na
ofensiva é nos defender a nós mesmos.
como colares — a plena curva bela da quadril da figura feminina,
como a forma arredondada de um colar (o significado do hebraico
traduzido por “jóias” na RC). Cf. Ef_4:13-16; Cl_2:19). Ou se não,
aplique-se ao cinto que afirma a roupa ao redor da cintura (Ef_6:14).
mãos de artista — (Sl_139:14-16; Ef_2:10, Ef_2:22; Ef_5:29-30,
Ef_5:32).
2. umbigo — antes, a fivela do cinto, chamada umbigo por levar-se
sobre esta parte do corpo. As “sandálias” (v. 1) comprova que se trata de
cada um dos objetos do vestido. Ela é a “noiva adornada para seu
marido;” as “partes menos honestas”, as melhor adornadas (1Co_12:23).
A fivela estava adornada de rubis vermelhos semelhantes a taças de
vinho misturado com especiarias (não “licor,” Ct_8:2; Is_5:22). O vinho
do Novo Testamento é o Seu sangue (Lc_22:20). A hilaridade espiritual
causada por ele se confundiu com a causada pelo mosto (At_2:13-17;
Ef_5:18).
ventre — isto é, a roupa que o cobria. Como em Sl_45:13-14, o
ouro e a costura compunham o adorno da noiva, assim o formam aqui, o
dourado “trigo” e os brancos “lírios”. O grão amadurecido, em sinal da
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 54
alegria da ceifa, costumavam adorná-lo com lírios; assim também a
comida espiritual acumulada (Jo_6:35; Jo_12:24) livre da felpa, não
rodeada de espinheiros, mas sim feita atrativa com lírios (os crentes
Ct_2:2; At_2:46-47; At_5:13-14, participando dele em comum).
Associa-se o trigo com o vinho de alegria em Zc_9:17, como aqui.
3. As filhas de Jerusalém a descrevem nas mesmas palavras que
Jesus Cristo em Ct_4:5. Os testemunhos do céu e da terra coincidem.
gêmeas — a fé e o amor.
4. torre de marfim — em Ct_4:4, Jesus Cristo diz “torre de Davi,
edificada para casa de armas”. A fortaleza e a conquista são o
pensamento principal de sua descrição aqui, a beleza e a brancura polida;
contraste com Ct_1:5.
piscinas — vista por Burckhardt, claros (Ap_22:1), fundas,
tranquilos e cheias (1Co_2:10, 1Co_2:15).
Hesbom — a leste do Jordão, residência do rei amorreu Seom
(Nm_21:25, etc.), depois ocupada por Gade.
Bate-Rabim — Filha de uma multidão; uma avenida lotada de
gente. Seus olhos (Ct_4:1) são por Jesus Cristo chamados “olhos de
pomba,” que O esperam. Mas aqui, olhadas pelas filhas de Jerusalém,
comparam-se a uma lacuna tranquila. Ela está em calma até no meio do
tumulto (Pv_8:2; Jo_16:33).
nariz — ou rosto.
torre do Líbano — uma fortaleza fronteiriça, de onde se vigiava a
hostil Damasco. Diante de Jesus Cristo ela tem a cara cheia de santa
vergonha (veja-se Ct_4:1, 3); para com seus inimigos hostis, como uma
fortaleza (Hc_2:1; Mc_13:37; At_4:13), elevada, de modo que ela olhe
não da terra para o céu, mas sim do céu para a terra. Se deixarmos
“nariz” significa o discernimento da fragrância espiritual.
5. tua cabeça — coberta da cabeça, adorno, “sobre” ela.
Carmelo — que significa campo bem cultivado (Is_35:2). Em
Ct_5:15 é comparado ao majestoso Líbano, a ela aqui, ao frutífero
Carmelo. Sua cobertura da cabeça, ou coroa (2Tm_4:8; 1Pe_5:4).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 55
Também as almas ganhas por ela (1Ts_2:19-20), sinal de sua
fecundidade.
púrpura — cor da realeza (Ap_1:6). Aplicada ao cabelo, expressa
o brilho lustroso do cabelo negro (lit., cabelo pendente) tão apreciado no
Oriente (Ct_4:1). Enquanto o Rei compara o cabelo dela ao cabelo
ondulante das cabras (sinal da sujeição), as filhas de Jerusalém o
comparam a púrpura real.
tranças — (como em Ct_1:17, margem; Ap_21:3.) Mas Maurer
traduz: “em anéis ondulantes;” com estas e com correias (assim traduz
Lee, do árabe) “o Rei está retido” ligado (Ct_6:5; Pv_6:25). Sua coroa
purpúrea de mártir impressionou o Rei especialmente, ao aparecer Ele
em seus corredores (At_7:55-56). Como a força de Sansão estava em
suas tranças (Jue_16:17). Aqui as próprias donzelas veem o Rei pela
primeira vez.
6. A aproximação das mesmas à Igreja (At_2:47; At_5:13, últ.
parte). O amor a ela é o primeiro sinal do amor a Ele (1Jo_5:1, últ.
parte).
em delícias — encantos deliciosos para elas e para o Rei (v. 5;
Is_62:4, RC = Hefzibá) [RA: Minha Delícia]. Mais adiante, também
(Sof_3:17; Ml_3:12; Ap_21:9).
7. palmeira — (Sl_92:12.) O sinal certo de água próxima
(Êx_15:27; Jo_7:38).
cachos — não de tâmaras, como opina Moody Stuart. O
paralelismo (v. 8), “cachos de videira,” demonstra que aqui são de uvas.
As videiras com frequência as fazem subir (diz-se “casar-se com”) pelas
árvores.
8. As filhas já não se contentam admirando-se, mas sim que se
resolvem lançar mãos dos frutos dela, por mais altos que estejam estes.
O tronco da palmeira está despido até grande altura, e tem os ramos
carregadas de fruto no topo. É o símbolo da alegria triunfante
(Jo_12:13); também mais adiante (em Ap_7:9).
seios — (Is_66:11.)
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 56
vide — Jesus Cristo (Os_14:7, final; Jo_15:1).
respiração — heb., nariz, alento; o Espírito Santo que Ele soprou
nos narizes dela; a boca dEle é “muitíssimo suave” (Ct_5:16).
maçãs — limões, da árvore a que é semelhante a Ele (Ct_2:3).
9. teu paladar (RC) — tua voz (Pv_15:23).
bom vinho — o vinho novo do reino evangélico (Mc_14:25),
derramado no Pentecostes (At_2:4, At_2:13, At_2:17).
para o meu amado — (Ct_4:10.) Aqui as donzelas pela primeira
vez o chamam dela, e devem ser uma coisa com a noiva. Os passos são
sucessivamente; Ct_1:5, onde a julgam mal (Ct_3:11); Ct_5:8, onde se
expressa a possibilidade de achá-lo, elas antes de ela o recuperar; Ct_5:9
(Ct_6:1; Ct_7:6, Ct_7:9; Jo_4:42).
dos que dormem (RC) — (Is_35:6; Mc_5:19-20; At_2:47;
Ef_5:14). O primeiro milagre de Jesus Cristo foi mudar a água em
“vinho bom guardado até agora” (Jo_2:10); assim como o evangelho
reaviva os que dormem e morrem sob a lei (Pv_31:6; Rm_7:9-10,
Rm_7:24-25; Rm_8:1).
10. Palavras das filhas de Jerusalém e a noiva, agora unidas numa
(At_4:32). São novamente mencionadas distintamente (Ct_8:4), pois se
acrescentam novos convertidos entre os que buscam, e a estes se deve
acostumá-los a não entristecer ao Espírito.
é para mim que tende o seu desejo — forte convencimento. E é
seu desejo nos dar o sentido de seu desejo para conosco (Sl_139:17-18;
Lc_22:15; 1Jo_4:16).
11. ao campo — A tenra uva (“videira em floração,” Maurer
traduz, “flores”) e videiras ocorrem antes (Ct_2:13). Mas aqui ela lhe
prepara toda sorte de frutas secas e frescas; também, ao sair para as
buscar, antecipa a comunhão com Ele em “amores.” “Cedo de manhã”
denota ardor imediato. “Nas aldeias” indica distância de Jerusalém. Com
a morte de Estêvão, os discípulos foram espalhados dali pela Judeia e
Samaria, pregando a palavra (Hech_8:4-25). Jesus Cristo esteve com
eles, confirmando a palavra com os milagres. Eles juntaram frutos
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 57
antigos, dos que Jesus Cristo tinha semeado a semente (Jo_4:39-42)
como também frutos novos.
Moremos — deixando casas por amor de Jesus Cristo (Mt_19:29).
12. (Mc_1:35; Jo_9:4; Gl_6:10). O convencimento gera a
diligência, não a indolência.
13. mandrágoras — Hebraico, dudaim, do radical que significa
amar; maçãs de amor, que se cria encantavam os espíritos e excitavam o
amor. Só são mencionadas aqui e em Gn_30:14-16. Atropa mandrágora
de Lineu; suas filhas são como a alface, mas de verde escuro, com flores
purpúreas, seu fruto do tamanho da maçã, avermelhado e aromático, que
se juntava na colheita do trigo, quer dizer, em maio. (Mariti, ii. 195.)
portas — a entrada ao quiosque, ou casa de verão. O amor
“armazena” o melhor de tudo para a pessoa amada (1Co_10:31; Fp_3:8;
1Pe_4:11), armazenando assim inconscientemente para si mesmo
(1Tm_6:18-19).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Cantares 8

1. Ele já tinha sido um irmão. Por que, então, esta petição aqui?
Refere-se ao tempo depois da ressurreição, quando já não se permitiu a
prévia intimidade externa, com Ele; mas se insinua que será renovada
com a segunda vinda (Jo_20:17); por isso a Igreja ora aqui; enquanto
isso ela desfruta a comunhão espiritual interna com Ele. O último em
“beijar” a Jesus Cristo na terra foi Judas, o traidor. O retorno da noiva à
casa de sua mãe com o Rei corresponde a At_8:25, depois da missão
enviada a Samaria. O resto mencionado (v. 4) corresponde a At_9:31.
como meu irmão … de minha mãe — irmão nascido da mesma
mãe; o vínculo mais íntimo.
2. Ela deseja introduzi-lo em seu íntimo círculo familiar (Jo_1:41);
tu me ensinarias — ou seja, como lhe agradaria melhor (Is_11:2-3;
Is_50:4; Lc_12:12; Jo_14:26; Jo_16:13).
vinho aromático — Devemos dar a Jesus Cristo os melhores dons.
Nunca se introduzem as especiarias no cântico durante Sua ausência;
portanto se contempla o tempo de Seu retorno do “monte das
especiarias” (v. 14). A taça dos esponsais foi dada por Ele na Última
Ceia; a taça das bodas será apresentada por ela no Seu retorno
(Mt_26:29). Até então o crente não poderá sentir nem pensar a respeito
dEle da maneira que quiser.
3, 4. A “esquerda e direita,” etc. ocorre, com efeito, uma só vez
(Ct_2:6), e de modo optativo, aqui. Somente em suas primeiras
manifestações a Igreja O abraçou palpavelmente; em Sua segunda vinda
haverá outra vez sensível comunhão com Ele. O resto do v. 4, que é a
realização espiritual do desejo do v. 3 (1Pe_1:8), e a ordem de não
interrompê-la, fecha os cânticos 1.º, 2.º, e 4.º, não o 3.º, pois nele o
próprio noivo se encarrega, nem o 5.º, porque, se o repouso formasse seu
término, poderíamos confundir o estado presente com nosso futuro
descanso. A terminação desejada, interrompida, como a de toda a Bíblia
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 59
(Ap_22:20), lembra-nos que estamos aguardando um Salvador que vem.
Sobre “donzelas (filhas) de Jerusalém” veja-se Ct_7:10.

V. CÂNTICO — (Ct_8:5-14) — Da Chamada dos Gentios Até o


Fim da Revelação.
5. Quem é esta — são palavras das donzelas de Jerusalém, quer
dizer, as igrejas da Judéia; referindo-se a Paulo a seu retorno da Arábia
(“o deserto”), aonde tinha ido depois de sua conversão (Gl_1:15-24).
te despertei, etc. — (At_26:14-16.) São as primeiras palavras de
Jesus Cristo à noiva desde sua ida ao jardim das nozes (Ct_6:9, 10);
assim sua aparição a Paulo é a única desde Sua ascensão; o v. 13 não é
dirigido a Ele como se estivesse visível; a resposta dela denota que Ele
não está visível (1Co_15:8). Espiritualmente, ela foi achada no deserto
moral (Ez_16:5; Os_13:5); agora está “subindo” dali (Jr_2:2; Os_2:14),
especialmente na última etapa de sua viagem, arrojando sua consciente
fraqueza tão mais plenamente “sobre” Jesus Cristo (2Co_12:9).
“Despertei” (levantei) (Ef_2:1-7). Tendo sido achada arruinada debaixo
da árvore proibida (Gn_3:22-24), é restaurada sob a sombra de Jesus
Cristo “a árvore verde” (Lc_23:31), frutificando pela cruz (Is_53:11;
Jo_12:24). Nascida de novo pelo Espírito “ali” (Ez_16:3-6). Neste
versículo, pela dependência dela, no v. similar, Ct_3:6, etc., a
onipotência dEle para sustentá-la, patenteia-se (Dt 33:26).
6. Denota a próxima ausência do Noivo.
selo — que tem o nome e imagem dela gravados nele. Seu sumo
sacerdócio também no céu (Êx_28:6-12; Êx_28:15-30; Hb_4:14); “seu
coração” ali corresponde a “seu coração” aqui; e os “dois ombros” a
“braço.” (cf. Jr_22:24, com Ag_2:23.) Pelo Espírito Santo (Ef_1:13-14).
Como no v. 5 ela “se apoiava” nele, quer dizer, com seu braço no braço
dele e sua cabeça sobre o peito dele, sua imagem pode estar gravada
tanto sobre o coração como sobre o braço, o que corresponde ao Seu
amor e ao Seu poder (Sl_77:15, veja-se Gn_38:18; Is_62:3).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 60
o amor é forte como a morte — (At_21:13; Rm_8:35-39;
Ap_12:11). Este amor deles até a morte emana do amor dEle (Jo_10:15;
Jo_15:13).
como a sepultura, o ciúme — o amor ciumento, ciumento de tudo
o que se põe entre a alma e Jesus Cristo (1Rs_19:10; Sl_106:30-31;
Lc_9:60; Lc_14:26; 1Co_16:22).
duros — inflexíveis, que não cedem; como o sepulcro não deixa ir
os que uma vez estão nele (Jo_10:28).
labaredas do SENHOR (BJ) — Lit., a labareda de Jeová
(Sl_80:16; Is_6:6). Em nenhuma outra parte se acha o nome de Deus em
Cantares. O zelo que ardia em Jesus Cristo (Sl_69:9; Lc_12:49-50)
acendeu-se em Seus discípulos (At_2:3; Rm_15:30; Fp_2:17).
7. muitas águas — em contraste com “brasas de fogo” (v. 6,
1Rs_18:33-38). As perseguições (At_8:1) não podem apagar o amor
(Hb_10:34; Ap_12:15-16). As muitas provocações nossas não podem
apagar o Seu amor (Rm_8:33-39).
ainda que alguém desse ... casa ... seria de todo desprezado —
nada que não seja o próprio Jesus Cristo, nem tampouco o céu sem Ele,
pode satisfazer ao santo (Fp_3:8). Satanás oferece o mundo, como a
Jesus Cristo (Mt_4:8), também ao santo, em vão (1Jo_2:15-17; 1Jo_5:4).
Nada a não ser o nosso amor, ao mesmo tempo, O pode satisfazer
(1Co_13:1-3).
8. irmãzinha — a Igreja Gentil (Ez_16:48). “Temos,” ou seja, a
Igreja Hebraica, que até agora admitia a gentios à comunhão, somente se
eles se tornarem prosélitos judaicos. Agora pela primeira vez idólatras
gentios são admitidos diretamente (At_11:17-26). Geralmente, a
preocupação do santo por outras almas (Mc_5:19; Jo_4:28-29).
não tem seios — nem fé nem amor até agora (Ct_4:5), os que “vêm
pelo ouvir” dAquele que nos amou primeiro. Não apta ainda para ser Sua
noiva, nem mãe de filhos espirituais.
que faremos …? — a questão principal do primeiro concílio da
Igreja primitiva (At_15:23-29). Como tratará “o irmão mais velho” ao
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 61
“mais novo,” já recebido pelo Pai (Lc_15:25-32)? Geralmente
(2Sm_15:15; Jo_9:4; At_9:6; Gl_6:10).
no dia em que for pedida — quando for solicitada para
casamento (Jue_14:7), quer dizer, por Jesus Cristo, o Noivo celestial,
9. muro … porta — os mesmos termos empregados quanto à
questão gentil (At_14:21; Ef_2:14). Se ela for um muro em Sião,
fundado sobre Jesus Cristo (1Co_3:11), não “estorvaremos a Deus”
(At_11:17; At_15:8-11). Se ela o for, não edificaremos (At_15:14-17)
sobre ela “madeira, feno, palha” (1Co_3:12), quer dizer, ritos judaicos,
etc., mas sim “um palácio de prata,” quer dizer, todos os privilégios
superiores da comunhão da Igreja (Gl_2:11-18; Ef_2:11-22). A figura é
das belas torrezinhas “edificadas” sobre os “muros” de Jerusalém, as
quais flanqueavam a “porta” ou entrada. A Igreja Gentil é a “porta,” o
tipo de acessibilidade universal (1Co_16:9); mas não tem que ser uma
vereda singela de acesso, mas sim deve ser guarnecida de obra de
madeira, não somente para admitir, mas também para encerrar em
segurança: o cedro é fragrante, belo, e duradouro.
10. A alegria da Igreja Gentílica por sua livre aceitação aos
privilégios evangélicos (At_15:30-31). Ela é um muro do templo
espiritual do Espírito Santo, a Igreja Hebraica é o outro; Jesus Cristo, o
alicerce comum, une os dois (Ef_2:11-22).
seios … torres — alusão ao palácio de prata, que as donzelas
nupciais planejam edificar sobre ela (v. 9). “Seios” de consolação
(Is_66:11); fé e amor (1Ts_5:8); o oposto de sua condição anterior de
“sem seios” (v. 8; 2Ts_1:3). Assim se cumpriu Ez_16:46, Ez_16:61,
sendo assim unidos tanto Samaria como os gentios à Igreja Evangélica
Judaica.
como a que acha paz (TB) — A Igreja Gentílica também veio a ser
a Sulamita (Ct_6:13), a pacífica noiva de Salomão, ou seja, de Jesus
Cristo, o Príncipe da Paz (Rm_5:1; Ef_2:14). Não rejeitem aqueles que
Deus recebe (Nm_11:28; Lc_9:49; At_15:8-9). Antes, pelo contrário,
prodigalizem aos tais todo socorro e privilégio (v. 9).
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 62
11. A Igreja unida fala da vinha de Jesus Cristo. A transferência
dela dos judeus (que não deram os frutos dela) assim se pressupõe pela
falta de toda alusão de entrega aos gentios (Mt_21:33-43).
Baal-Hamom — equivalente ao dono de uma multidão; como
Israel nos dias de Salomão (1Rs_4:20); assim Is_5:1: “num outeiro
fertilíssimo” que abunda em privilégios tanto como em números.
mil peças de prata — ou seja, siclos. A vinha tinha provavelmente
mil videiras; cada videira por um siclo, a este talvez se refira a passagem
de Is_7:23.
12. a minha (RC) — pela concessão do verdadeiro Salomão. Não
meramente “arrendada a lavradores,” como a dispensação judaica de
obras, mas sim “minha” pela graça. “Está diante de mim,” isto é, em
meu poder (Maurer). Mas embora já não sob o constrangimento do
“guardar a lei,” como mera letra ou aliança de obras, o amor a Jesus
Cristo a constrangerá tanto mais livremente a entregar tudo a Salomão
(Rm_8:2-4; 1Co_6:20; Gl_5:13; 1Pe_2:16), tendo Ele pago tudo o que a
justiça e a Sua vontade teriam exigido que pagassem os outros
(1Co_7:29-31; 1Co_9:14). “Diante de mim,” pode também significar
“Eu nunca a perderei de vista” (Contraste Ct_1:6). (Moody Stuart). Ela
não guardará isso para si só, mesmo quando foi dada tão livremente, mas
sim para o Seu uso e glória (Lc_19:13; Rm_6:15; Rm_14:7-9;
1Co_12:7.) Ou as “duzentas” pode significar o dízimo em dobro (dois
décimos) totalmente devolvido por Jesus Cristo como a recompensa de
graça por nossa entrega totalmente (o milhar) a Ele (Gl_6:7; Hb_6:10);
ela, pois, e “os guardas” são os mesmos. (Adelaide Newton.) Mas Jesus
Cristo retribui não meramente com dois dízimos, mas sim o Seu tudo
pelo nosso tudo (1Co_3:21-23).
13. Palavras de Jesus Cristo dirigidas a ela; já não visivelmente
presente. Ela uma vez “não guardou” sua vinha (Ct_1:6); agora “mora”
nela, não como proprietária da mesma, mas sim como mordomo sob
Jesus Cristo, com os lavradores (“companheiros”), por exemplo, Paulo,
etc. (At_15:25-26), sob ela (vv. 11, 12); estes devem obedecer a ela,
Cantares (Jamieson-Fausset-Brown) 63
quando ela obedece a Jesus Cristo. Deve ser ouvida constantemente a
voz dela em oração e louvor por Jesus Cristo, e sua voz diante dos
homens deve ser eficácia (Ct_2:14, final; At_6:4; At_13:2-3).
14. (Veja-se Ct_2:17.) Como ela principiou com grandes anelos por
Sua primeira vinda (Ct_1:2), assim termina suplicando Seu segundo
advento (Sl_130:6; Fp_3:20-21; Ap_22:20). Moody Stuart faz com que o
“gamo dos aromas” seja o cervo almíscar. Como há quatro jardins, assim
quatro montes, os quais formam não meramente figura, como Gileade,
Carmelo, etc., mas sim parte da estrutura do Cantares. (1) Beter, ou seja,
divisão (Ct_2:17), a justiça de Deus que nos aparta de Deus. (2) Os dos
leopardos (tigres)” (Ct_4:8), o pecado, o mundo, e Satanás. (3) Aquele
de “mirra e incenso” (Ct_4:6, 14), o sepulcro do Calvário. (4) Os das
“especiarias,” que aqui correspondem ao “monte de incenso” (Ct_4:6),
onde sua alma esteve os três dias de sua morte, e ao céu, onde Ele agora,
o Sumo Sacerdote, oferece a nosso favor o incenso sobre o fragrante
monte de sua obra terminada (Hb_4:14; Hb_7:25; Ap_8:3-4); de modo
que Ele domina os outros três montes, da justiça de Deus, de nosso
pecado, da morte. O monte dos aromas é tanto maior que nossos pecados
como são mais altos os céus que a terra (Sl_103:11). A conclusão
abrupta, com a petição desejosa de Sua vinda visível demonstra que as
bodas são futuras e que nossa atitude devida é a de aguardá-las com
ardor (1Co_1:7; 1Ts_1:10; Tt_2:13; 2Pe_3:12).
ISAÍAS
Original em inglês:
ISAIAH –
The Book of the Prophet Isaiah
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução Isaías 17 Isaías 34 Isaías 51


Isaías 1 Isaías 18 Isaías 35 Isaías 52
Isaías 2 Isaías 19 Isaías 36 Isaías 53
Isaías 3 Isaías 20 Isaías 37 Isaías 54
Isaías 4 Isaías 21 Isaías 38 Isaías 55
Isaías 5 Isaías 22 Isaías 39 Isaías 56
Isaías 6 Isaías 23 Isaías 40 Isaías 57
Isaías 7 Isaías 24 Isaías 41 Isaías 58
Isaías 8 Isaías 25 Isaías 42 Isaías 59
Isaías 9 Isaías 26 Isaías 43 Isaías 60
Isaías 10 Isaías 27 Isaías 44 Isaías 61
Isaías 11 Isaías 28 Isaías 45 Isaías 62
Isaías 12 Isaías 29 Isaías 46 Isaías 63
Isaías 13 Isaías 30 Isaías 47 Isaías 64
Isaías 14 Isaías 31 Isaías 48 Isaías 65
Isaías 15 Isaías 32 Isaías 49 Isaías 66
Isaías 16 Isaías 33 Isaías 50
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Isaías, filho do Amoz (não de Amós), foi contemporâneo de Jonas,


Amós e Oseias, em Israel, embora fosse mais jovem que eles; e de
Miqueias, em Judá. Crê-se que sua chamada ao grau máximo do ofício
profético (Isaías 6) se efetuou nos últimos tempos do reinado de Uzias,
mais ou menos em 754 a.C. Os capítulos 1-5 pertencem aos últimos anos
desse reinado, e não, como creem alguns, ao de Jotão. Durante o reinado
deste último, parece que exerceu seu ministério verbalmente, e que não
deixou nenhuma crônica escrita de seus profecias, por não estar
destinadas a todos os séculos. Das profecias dos primeiros vinte anos de
seu ministério, os capítulos 1-6 constituem tudo o que estava destinado à
Igreja Universal. As novas épocas históricas, como as transcorridas nos
reinados de Acaz e Ezequias, durante as quais se mesclaram os eventos
ocorridos em Israel com os dos impérios asiáticos, estão assinaladas
pelos escritos proféticos. Os profetas tiveram então que interpretar os
juízos do Senhor, a fim de fazer com que o povo tivesse consciência de
Sua justiça punitiva, assim como de Sua misericórdia. Is_7:1–10:4
pertencem ao reinado de Acaz. Os capítulos 36-39 são históricos, e se
estendem até o décimo quinto ano de Ezequias. É provável que os
capítulos 10-12 e todos os compreendidos entre o 13 e o 26 inclusive,
pertençam ao mesmo reinado. A seção histórica foi acrescentada para
facilitar a correta compreensão destas profecias; com o que temos que o
ministério de Isaías se estende desde 760 até 713 a.C., quer dizer, durou
quarenta e sete anos. A tradição talmúdica refere que Isaías foi serrado
em dois, por ordem de Manassés, com uma serra de madeira, por haver
dito que tinha visto o Senhor (Êx_33:20; 2Rs_21:16; Hb_11:37). O
relato de 2Cr_32:32, parece dar a entender que Isaías sobreviveu a
Ezequias, mas a frase "primeiros e últimos", não está acrescentada como
em Is_26:22 deste mesmo livro, o que torna possível que sua história de
Ezequias não fosse completa.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 3
A segunda parte, Isaías 40-66, que contém queixas por causa da
obscena idolatria, não necessita que seja limitada ao reinado de
Manassés, mas sim é aplicável aos reinados precedentes. Quando
Manassés subiu ao trono, Isaías teria oitenta e quatro anos; de maneira
que se profetizou até oito anos depois, deve ter sofrido o martírio aos
noventa e dois anos. Sendo assim, Oseias profetizou por uns sessenta
anos. Uma tradição oriental diz que Isaías viveu até os cento e vinte
anos. O argumento decisivo contra a tradição é que, segundo a inscrição,
todas as profecias de Isaías estão incluídas no período do Uzias a
Ezequias; e a evidência interna o confirma.
Sua esposa é chamada a profetiza [Is_8:3], quer dizer, dotada, como
Miriã, do dom profético.
Seus FILHOS não foram considerados por ele como meramente
deles; em seus nomes: Sear-Jasube — "o resto retornará" [Is_7:3,
Margem], e Maer-Salal-Hás-Baz, "É veloz ao despojo, ele se apressa à
presa" [Is_8:1, Margem], insinuam-se ao povo os dois assuntos
principais de suas profecias, ou seja os juízos de Deus sobre Seu povo e
o mundo, e Sua misericórdia, apesar de tudo, para com os escolhidos.
Seu vestido de saco (Is_20:2), era também uma pregação prática
silenciosa, visto que por meio deste vestuário ele mesmo se apresenta
personificando o arrependimento que pregava.
SUAS OBRAS HISTÓRICAS. — A história, conforme a
escreveram os profetas, é uma profecia retrovertida. Como o passado e o
futuro procedem igualmente da essência de Deus, uma inspirada
penetração no passado dá a entender uma penetração no futuro e vice-
versa. Daqui que a maior parte dos relatos do Antigo Testamento tenham
sido escritos por profetas e estejam classificados entre seus escritos. As
Crônicas, ao não estar classificadas entre estes, não podem ter sido
escritas pelos profetas, mas sim foram tiradas de suas monografias
históricas. Exemplo: a vida de Uzias por Isaías (2Cr_26:22); igualmente
a de Ezequias (2Cr_32:32); destas últimas tudo o que se considerou
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 4
importante para todos os séculos nos foi preservado; enquanto que o
resto, que era local e temporário, perdeu-se.
A INSCRIÇÃO (Is_1:1) tem aplicação a todo o livro, e indica que
Isaías é o autor da segunda parte (Isaías 40-66), do mesma maneira que
da primeira. Pois as palavras "referente a Judá e Jerusalém" [Is_1:1], não
se opõem à ideia de que a inscrição se aplique a todo o livro, visto que o
que diz contra outras nações deve-se à relação que estas mantinham com
Judá. Daí que Amós use a inscrição "referente a Israel" [Am_1:1],
mesmo quando seguem várias profecias contra outras nações. Ewald
sustenta que os Isaías 40-66, embora espúrios, foram acrescentados à
parte precedente a fim de que esta fosse preservada. Mas isto não
significa que a primeira parte não estivesse conectada com a última.
Aquela termina com a deportação a Babilônia (Is_39:6); esta começa
com a futura redenção do cativeiro. A seção que compreende a seção
Isaías 40-46, não tem cabeçalho próprio, o que prova que está
intimamente conectada com a precedente, e que está compreendida no
cabeçalho geral de Is_1:1.
Josefo, Antiguidades, 11:1, sec. 1, 2, diz que Ciro foi induzido pelas
profecias de Isaías (Is_44:28; 45:1, 13) a ajudar os judeus a retornar a
sua pátria e a reedificar o templo. Esdras 1, confirma isto mesmo; Ciro,
em seu decreto, refere-se claramente às profecias da segunda parte, nas
quais o Senhor lhe atribui o império, e o dever de reconstruir o templo. É
provável que ele tomasse delas seu histórico nome de Ciro (Coresh).
Além disso, profetas subseqüentes imitaram esta segunda parte, que
Ewald atribui a tempos posteriores; por exemplo, cf. Jeremias 50-51,
com as predições de Isaías contra Babilônia. A frase "O Santo de Israel",
que ocorre só três vezes em outras partes do Antigo Testamento
[2Rs_19:22; Sl_78:41; Sl _89:18; Jr_50:29; Jr_51:5], é uma expressão
favorita da segunda parte de Isaías assim como da primeira, que expressa
a fidelidade de Deus em cumprir as promessas de Sua aliança. Jeremias
cita esta expressão dela; o mesmo faz o autor de Eclesiástico 48:22-25
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 5
("consolou"), que cita Is_40:1, como de Isaías. Lc_4:17 cita Is_61:1, 2
como de Isaías, e lido por Jesus Cristo na sinagoga.
A PRECISÃO das profecias é surpreendente; o que ocorre na
segunda parte de Isaías, acontece em Mq_4:8-10, onde o desterro
babilônico e a libertação são PREDITOS 150 anos antes de se iniciaram
as hostilidades entre Judeia e Babilônia. Por outro lado, todos os profetas
que predisseram a invasão assíria coincidem em afirmar que Judá seria
livrada não pela ajuda egípcia, mas sim diretamente pelo Senhor. Ainda
mais, Jeremias, quando os Caldeus estavam na cúspide de sua
prosperidade, predisse sua conquista pelos Medos, os quais entrariam em
Babilônia pelo leito seco do Eufrates, uma noite de orgia. Nenhum
cálculo humano poderia revelar estes acontecimentos. Eichorn qualifica
estas profecias como "vigiadas descrições históricas", reconhecendo, a
despeito de si mesmo, que são algo mais que fantasias poéticas. Isaías 53
foi escrito com certeza séculos antes do advento do Messias; entretanto,
aqui se descrevem minuciosamente Seus sofrimentos. Estes não podem
ser uma invenção judia, porque os judeus esperavam por um Messias que
devia reinar, não sofrer.
Os racionalistas têm até certo ponto razão em dizer que as
PROFECIAS descansam sobre UMA BASE GERAL que as distingue da
adivinhação. Isto se deve a que descansam sobre a ideia essencial de
Deus. Os profetas, compenetrados deste conhecimento interior de seu
caráter, têm consciência das leis eternas pelas quais o mundo está
governado, ou seja, que o pecado é a ruína do homem, e que deve ser
seguido pelo juízo, mas que a aliança de misericórdia feita por Deus com
Seus escolhidos, é imutável. Sem a profecia o resto dos escolhidos teria
decrescido, e até os juízos de Deus teriam fracassado em seus propósitos
ao não reconhecer-se esse caráter, visto que seriam meros atos isolados,
carentes de significado. Babilônia estava nos dias de Isaías sob o
domínio da Assíria; tinha, sem êxito, buscado rebelar-se; mas os
elementos de seu êxito e grandeza posteriores, já existiam então. O
Espírito Santo iluminou as faculdades naturais do profeta para discernir
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 6
seu levantamento, e seus faculdades espirituais para prever sua queda:
consequência infalível, segundo as eternas leis de Deus, do orgulho que
o êxito pagão gera; e também a restauração de Judá, como o povo da
aliança com quem Deus, de conformidade com Seu essencial caráter, não
estaria irado para sempre. A verdadeira conversão é o grande remédio
que o profeta propõe contra todos os males. Nisto unicamente consiste
sua norma de conduta. O repreender, ameaçar e prometer se sucedem de
uma maneira regular. A ideia básica de tudo se acha em Is_26:7-9;
Lv_10:3; Am_3:2.
O USO DO PRESENTE E DO PRETÉRITO na profecia não prova
que o autor seja posterior a Isaías, pois os videntes veem o futuro como
presente, e indicam que o passado ideal não foi um passado real. É que
veem as coisas à luz de Deus, quem "chama as coisas que não são como
se já fossem". Quando contemplamos de uma grande eminência uma
paisagem, parece-nos que as colinas estão unidas umas a outras, embora
na realidade estão muito separadas. É o que ocorre com os eventos
preditos: a ordem, a sucessão e o agrupamento estão presentes, enquanto
que os intervalos de tempo se passam por alto. Entretanto, às vezes se
indica o tempo (Jr_25:12; Dn_9:26). E assim vemos que a libertação do
cativeiro de Babilônia e a que mais tarde efetuaria o Messias, estão
agrupadas pela LEI DA SUGESTÃO PROFÉTICA; entretanto, nenhum
profeta confunde de tal maneira as duas que faça do Messias o caudilho
de Israel que o tire de Babilônia. Para o profeta provavelmente não
havia nenhum duplo sentido; mas para seus olhos espirituais, os dois
eventos, embora distintos, estavam tão próximos e eram tão análogos
que não pôde separá-los na descrição que deles fez sem incorrer em
infidelidade para com o retrato que tinha perante si. Entretanto, Isaías
sempre se refere primeiro ao mais remoto e antitípico evento, ou seja, a
vinda do Messias, e é o que descreve mais minuciosamente, antes o tipo
mais próximo; por exemplo, a profecia referente a Ciro (Cf. Is_45:1 com
Isaías 53). Em alguns casos, o profeta se situa em meio de eventos; por
exemplo, a humilhação de Jesus Cristo, que ele contempla como coisa
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 7
passada, e sua glorificação, como coisa por vir, fazendo uso, com
relação a esta última, do tempo futuro (cf. Is_53:4-9 com Is_53:10-12).
As indicações referentes ao tempo em que aconteceram os eventos se
dão com muita escassez pelos profetas; entretanto, pelo que corresponde
ao Messias, são bastante precisas para criar a expectação geral de sua
vinda no tempo em que nasceria.
OS CALDEÍSMOS que se consideram como uma prova contra a
autenticidade da segunda parte de Isaías, encontram-se em maior número
na primeira parte. A verdade é que estes termos se acham em todo o
Antigo Testamento, especialmente nas partes poéticas, onde se preferem
as expressões desusadas. Isto se deve ao fato de que os patriarcas viviam
rodeados de gente que falava o caldeu; e no tempo de Isaías estavam em
uso alguns vocábulos dessa língua que eram introduzidos por
estrangeiros.
SEUS SÍMBOLOS são poucos e singelos, e suas imagens poéticas
são corretas. O contrário ocorre com os profetas durante o desterro e
depois dele. Ageu e Malaquias não são exceções, visto que seu estilo,
distinto ao de Isaías, carece de imagens temerárias e quase não se elevam
sobre a prosa; prova evidente de que Isaías existiu muito antes da
deportação a Babilônia.
Quanto a VISÕES estritamente assim chamadas, só tem uma, a do
Isaías 6, e até é mais singela que as dos profetas posteriores. Mas ele faz
uso frequente de SINAIS; por exemplo, usa um fato atual como sinal do
que acontecerá no mais distante futuro; isto se deve ao fato de que Deus
condescende com a fraqueza do homem (Is_7:14; Is_37:30; Is_38:7).
As VARIEDADES EM SEU ESTILO não provam que fosse falso;
o que ocorria é que seu estilo variava com o assunto. A segunda parte
não se dirige tanto a seus contemporâneos, como ao futuro povo do
Senhor, o resto escolhido purificado por juízos prévios. Daí a ternura de
seu estilo, e seus frequentes repetições (Is_40:1). Para a reconfortante
exortação emprega muitas palavras. Também acrescenta muitos epítetos
no nome de Deus, destinados a servir de consolador apoio, onde a fé
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 8
possa descansar a fim de não dar lugar ao desespero. Há igualmente em
ambas as partes do livro peculiaridades características de Isaías; por
exemplo: "o ser chamado" equivalente a SER; a repetição das mesmas
palavras, em lugar de sinônimos, nos membros paralelos dos versículos;
a inserção de hinos em suas profecias: "o resto das Oliveiras", em vez do
remanescente do povo que escapou dos juízos de Deus. Cf. também
Is_65:25 com Is_11:6.
O ARRANJO CRONOLÓGICO favorece a opinião de que o
próprio Isaías colecionou suas profecias num volume, e não os homens
de Ezequias, como opina o Talmude baseado em Pv_25:1. Todas as
partes e datas que podem ser determinadas, encontram-se em seu próprio
lugar, com exceção de uns quantos exemplos, onde as profecias de
idêntico conteúdo estão juntas: Com a terminação da invasão assíria
(Isaías 36-39) terminou a vida pública de Isaías. A segunda parte
constitui seu legado profético feito ao pequeno grupo de fiéis,
semelhante aos últimos discursos de Moisés e de Jesus Cristo a seus
respectivos discípulos.
A EXPECTAÇÃO DO MESSIAS é tão forte em Isaías que
Jerônimo, ad Paulinum, chama seu livro não profecia, mas sim
Evangelho; e diz de Isaías: "Não é tanto um profeta como um
evangelista". O Messias já tinha sido descrito vagamente em Gn_49:10,
como Siló ou Tranquilizador; também foi representado assim nos
Salmos 2; 45; 72; 110. Isaías o apresenta com mais precisão; e enquanto
que aqueles se estendem no ofício de Cristo como rei, Isaías descreve
principalmente Seu ofício sacerdotal e profético. O Salmo 110 também
exibe Seu sacerdócio; mas um sacerdócio real, e não um expiatório,
como o faz ressaltar Isaías. O profeta se estende de modo particular na
segunda parte, por estar dirigida aos fiéis eleitos; enquanto que na
primeira, dirigida a todo o povo, estende-se nas glórias do Messias, o
antídoto contra os temores de que o povo estava possuído, e a segurança
de que o reino de Deus representado então pela Judá, não seria esmagado
pelas nações circunvizinhas.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 9
SEU ESTILO (Hengstenberg, Cristologia do Antigo Testamento) é
singelo e sublime; sua fantasia ocupa um lugar intermédio entre a
pobreza de Jeremias e a exuberância de Ezequiel. Seu domínio do estilo
o demonstra por sua perícia em variá-lo para acomodá-lo ao assunto.
A FORMA é em geral a do paralelismo poético hebraico, embora
com uma liberdade desembaraçada de indevidas restrições.
JUDÁ, povo menos apóstata que Israel, foi o assunto de suas
profecias. Sua residência foi principalmente em Jerusalém. Pelo que
corresponde a seus louvores veja-se Eclesiástico 48:22-25. Cristo e os
Apóstolos não citam a nenhum profeta com tanta frequência como a
Isaías.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 10
Isaías 1

1. O Título Geral ou Programa de todo o livro; nele não há


fundamento para a tradição talmúdica de que Isaías foi serrado por
Manassés.
Isaías — equivalente a “Jeová salvará”; é alusivo ao assunto de
suas profecias. Referente à “visão”, veja-se 1Sm_9:9; Nm_12:6; e minha
Introdução.
Judá e Jerusalém — Suas profecias também correspondem a
outras nações, mas unicamente quanto a sua relação com os judeus
(Isaías 13-23); o mesmo ocorre com as dez tribos de Israel, às quais se
contemplam unicamente à luz da mesma relação (Isaías 7-9). Jerusalém
se especifica de modo particular, por ser o assento do templo, o centro da
teocracia e o futuro trono do Messias (Sl_48:2-3, Sl_48:9; Jr_3:17).
Jesus Cristo é o “Leão da tribo de Judá” (Ap_5:5).
Uzias — chamado também Azarias (2Rs_14:21; 2Cr_26:1, 17;
26:20). As profecias do Antigo Testamento interpretam espiritualmente
as partes históricas, do mesmo modo que as Epístolas do Novo
Testamento interpretam os Evangelhos e Os Atos. Estudem-se, pois, uns
e outros e se deixarão ver suas mútuas relações espirituais. Isaías
profetizou tão somente uns quantos anos antes da morte de Uzias; mas as
profecias proferidas nesse período (Isaías 1-6) também têm aplicação ao
reinado de Jotão, durante o qual é provável que não escrevesse nada;
pois Isaías 7 inicia com o reinado de Acaz, que segue ao de Uzias em
Isaías 6. Depois seguem as profecias proferidas durante o reinado de
Ezequias.
2. Começa com as mesmas palavras de Moisés (Dt_32:1); isso dá a
entender que a lei foi a constituição e fundamento de toda profecia
(Is_8:20).
o SENHOR — Jeová; em hebraico significa: Aquele que existe por
si mesmo e cumpre o prometido, o Imutável. Os judeus nunca
pronunciavam este santo nome, mas sim o substituíam pelo de Adonai.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Na versão inglesa (como em nossa Versão Almeida) a palavra SENHOR
com maiúsculas fica em lugar de Jeová, embora SENHOR seja o
equivalente de Adonai que de Jeová.
filhos — (Êx_4:22)
estão revoltados — como filhos (Dt_21:18) e como súditos, por ser
Deus o Rei da teocracia (Is_63:10). “Criei”, lit., elevado, ou seja,
privilégios peculiares (Jr_2:6-8; Rm_9:4-5).
3. (Jr_8:7)
manjedoura — o estábulo onde se dá alimento (Pv_14:4).
Espiritualmente, simboliza a Palavra de Deus, o Batismo e a Ceia.
Israel — Toda a nação, o reino de Judá e o de Israel, em sentido
restringido. Deus considera o povo de Sua aliança como uma unidade.
não tem conhecimento — ou seja, a seu dono, como o reclama o
paralelismo; quer dizer, não o reconhece como a tal (Êx_19:5,
equivalente a “Meu povo”, Jo_1:10-11).
não entende — para prestar atenção a seu Dono (Is_41:8), não
obstante o alimento espiritual que Ele lhes subministra (o que responde a
pesebre na cláusula paralela).
4. povo — nome peculiar da nação escolhida por Deus (Os_1:10).
Aquele que estivesse “carregado de iniquidade” é o mais monstruoso. O
pecado é uma carga (Sl_38:4; Mt_11:28).
raça — outro qualificativo dos escolhidos de Deus (Gn_12:7;
Jr_2:21), destinado a ser uma “linhagem santa” (Is_6:13); mas, embora
cause espanto dizê-lo, eram “raça de malignos”.
filhos — por adoção (Os_11:1), bem como “malfeitores”; e não só
eram isso, mas também “corruptores” de outros (Gn_6:12); em
progressão ascendente: “nação, povo, raça, filhos.”
blasfemaram — lit., desprezaram até a provocação (Pv_1:30-31),
Santo de Israel — a peculiar atrocidade de seu pecado consistiu
em que este foi cometido contra Deus (Am_3:2).
abandonaram … voltaram para trás — lit., inimizaram-se
(Sl_58:3).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 12
5. Por que...? — Ou, antes, como a Vulgata: Sobre que parte?
Imagem tirada de um corpo coberto inteiramente com sinais de golpes
(Sl_38:3). Não há parte alguma que não tenha sido golpeada,
Toda a cabeça ... doente — não se refere, como se costuma citar, a
seus pecados, mas sim à universalidade de seu castigo. Entretanto, o
pecado, a doença moral da cabeça ou intelecto, e do coração, constitui
sem dúvida seu próprio castigo (Pv_1:31; Jr_2:19; Os_8:11). “Doente”,
lit., “está em estado de doença” [Gesênius]; “converteu-se em doença”
[Maurer].
6. Das classes mais humildes do povo até as mais elevadas: “o
ancião e honorável, a cabeça; o profeta que ensina mentiras, a cauda”.
Veja-se Is_9:13-16. Primeiro expõe sua mísera condição, evidente a
todos (vv. 6-9); logo, não antes, seu estado de irreligiosidade, a causa
dela.
feridas — infligidas judicialmente (Os_5:13).
amolecidas … óleo — A arte da medicina no Oriente consiste
principalmente em aplicações externas (Lc_10:34; Tg_5:14).
7. Judá, no reinado de Uzias, ainda não se tinha restabelecido do
saque dos sírios durante o reinado de Josias (2Cr_24:24), nem do de
Israel, durante o reinado de Amazias (2Cr_25:13, 2Cr_25:23, etc.). O
profeta Amós (Am_4:6-11), contemporâneo de Isaías, compara a Israel,
como aqui (vv. 9, 10), com “Sodoma e Gomorra”, por causa dos juízos
de “fogo” que lhe sobreviriam.
em vossa presença — perante seus próprios olhos, sem que possam
evitá-los,
devastada — lit., uma desolação tal como um poderia esperar a de
invasores estrangeiros.
8. A filha de Sião é deixada — A cidade de Jerusalém (Sl_9:14) e
seus habitantes (2Rs_19:21); filha feminino, singular, usado como
coletivo neutro, equivalente a filhos (veja-se abaixo Is_12:6, margem).
[Maurer]. Metrópole ou cidade mãe é o termo correspondente. A ideia de
juvenil beleza está incluída no termo filha.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 13
é deixada — como um resíduo que escapa à destruição geral.
choça — uma cabana feita para proporcionar refúgio temporário
aos que cuidam da vinha.
palhoça — que não é permanente.
cidade sitiada — antes, como cidade “deixada”; o v. 9, requer
preservada, ou seja, da desolação que a rodeia [Maurer].
9. Jeová de Sabaoth, isto é, Deus dos Exércitos angélicos e estelares
(Sl_59:5; Sl_147:4; Sl_148:2). As estrelas eram objeto de idolatria, daí
que seu culto se chamasse sabeísmo (2Rs_17:16). Deus está até acima
delas (1Cr_16:26). “Os bosques” eram símbolos destes exércitos
estelares. O culto rendido por eles a Sabaoth e não ao Senhor de Sabaoth,
foi causa de sua presente desolação. (2Cr_24:18). Necessitava-se nada
menos que Seu poder para preservar sequer “o resto”; e assim, mostra
Sua condescendente graça, por amor dos escolhidos, visto que Ele não
necessita de nós, desde que possui inumeráveis hostes de servidores.
10. Sodoma — num sentido espiritual (Gênesis 19; Jr_23:14;
Ez_16:46; Ap_11:8).
11. Deus aqui não despreza absolutamente os sacrifícios que são tão
antigos e universais como o pecado (Gn_3:21; Gn_4:4), e o pecado é
quase tão antigo como o mundo; o que aqui despreza são os sacrifícios
que não vão acompanhados da obediência do coração e de uma vida
consagrada (1Sm_15:22; Sl_50:9-13; Sl_51:16-19; Os_6:6). Os preceitos
positivos são meros meios; a obediência moral é o fim. Isto prefigura o
Evangelho, quando o único e verdadeiro sacrifício devia substituir todas
as sombras e “introduziria a justiça eterna” (Sl_40:6-7; Dn_9:24-27;
Hb_10:1-14).
Estou farto — até não poder mais, cansado.
dos holocaustos — estes eram inteiramente queimados, exceto o
sangue, que era aspergido ao redor do altar (Lv_3:4-5, Lv_3:11,
Lv_3:17).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 14
12. Quando vindes para comparecer perante mim — no templo,
onde a divina Shekiná, que repousava sobre a arca, era símbolo da
presença de Deus (Êx_23:15; Sl_42:2).
quem vos requereu …? — como se fizessem um serviço a Deus
com essas hipócritas ofertas (Jó_35:7). Deus as prescreveu (Êx_23:17),
mas não para Lhe oferecer com esse espírito (Mq_6:6-7).
os meus átrios — o espaço que ocupavam os adoradores. Ninguém
podia entrar no templo propriamente dito, exceto os sacerdotes.
13. ofertas vãs — ofertas sem sangue, quer dizer, de flor de
farinha, frutos, azeite, etc. (Lv_2:1-13). Em hebraico “minchah”.
incenso — posto sobre os sacrifícios, e queimado sobre o altar do
perfume; tipo da oração (Sl_141:2; Ap_8:3).
Lua nova — observada como dias festivos (Nm_10:10; Nm_28:11,
Nm_28:14) com sacrifícios e sons de trombetas de prata,
sábados — tanto o sétimo dia como os dias em que começavam e
terminavam as grandes festas. (Lv_23:24-39).
não posso suportar — Maurer traduz: “Não posso suportar a
iniquidade e as solenes reuniões”, isto é, as reuniões associadas com a
iniquidade. Lit., os dias de clausura das festas. Tais eram os excessos dos
grandes dias (Lv_23:36; Jo_7:37).
14. solenidades — o sábado, a Páscoa, o Pentecostes, o Dia da
Expiação e a Festa dos Tabernáculos [Hengstenberg]; só estas se
celebravam em certas épocas fixas do ano.
estou cansado — (Is_43:24).
15. (Sl_66:18; Pv_28:9; Lm_3:43-44.)
quando estendeis as mãos — em oração (1Rs_8:22). O hebraico
diz: “sangrentas”, por causa dos horríveis pecados, especialmente a
perseguição dos servos de Deus (Mt_23:35). A vocação dos profetas foi
dissipar a ilusão, tão contrária à lei (Dt_10:16), de que o ritualismo
externo satisfaria a Deus.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 15
16. Deus diz aos pecadores: “Lavai-vos,” etc., para que
certificando-se de sua incapacidade de “limpar-se” a si mesmos,
clamassem a Deus; lava-me, limpe-me (Sl_51:2, Sl_51:7, Sl_51:10).
de diante dos meus olhos — não devia ser uma mera reforma
exterior aos olhos dos homens, que não podem, como Deus, ver o
interior do coração (Jr_32:19).
17. atendei à justiça — justiça, como magistrados, em lugar de
buscar suborno ou suborno (Jr_22:3, Jr_22:16).
defendei o direito do órfão — vindiquem (Sl_68:5; Tg_1:27).
18. Deus se propõe a debater o caso conosco, para que todos
possam ver o justo e amoroso princípio de sua conduta para com os
homens (Is_43:26).
a escarlata — a cor da túnica de Cristo quando carregou os nossos
“pecados” (Mt_27:28). Da mesma cor era o cordão de Raabe (Js_2:18,
cf. com Lv_14:4). Dizem os rabinos que depois de lançadas as sortes
sobre os dois bodes, ficava uma banda escarlata sobre a cabeça do que
devia ser levado a deserto, e que depois de o sumo sacerdote ter
confessado os pecados dele e os do povo sobre o bode a banda se tornava
branca. O milagre cessou, segundo eles, quarenta anos antes da
destruição de Jerusalém, isto é, exatamente quando Jesus Cristo foi
crucificado. Esta é uma notável admissão de seus adversários. O sentido
fundamental do termo “escarlata” em hebraico é: “tingido duas vezes”.
Tão profundamente fixado está o pecado no coração que não bastam as
lágrimas para lavá-lo.
neve — (Sl_51:7). Pressupõe-se que deve haver arrependimento
antes de o pecado poder ser embranquecido como a neve (vv. 19, 20);
este (o arrependimento) também é um dom de Deus (Jr_31:18, b;
Lm_5:21; At_5:31).
vermelhos — refere-se ao sangue” (v. 15).
como a lã — será restaurado a sua brancura original. Este verso
demonstra que os antigos pais não confiaram unicamente nas promessas
temporárias (art. VII, do Livro da Oração Comum). Os pecados por
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 16
ignorância e outros semelhantes, eram expiados por meio de ofertas
pequenas; daí que as culpas mais graves necessitavam maiores
sacrifícios, visto que “sem derramamento de sangue não há remissão”.
Embora um sacrifício tal não se havia provido, o perdão era prometido e
esperado. Por conseguinte, os judeus espirituais devem ter buscado o
único mediador do Antigo e Novo Testamentos, embora tenham tido a
respeito do mesmo uma ideia algo confusa.
19, 20. As bênçãos temporais na “terra de que tomaram possessão”
foram conspícuas entre as promessas do Antigo Testamento, como
convinha à infância da Igreja (Êx_3:17). As promessas espirituais
neotestamentárias derivam sua similitude daquelas (Mt_5:5).
20. a boca do SENHOR o disse — As profecias de Isaías
descansam sobre a Lei (Lv_26:33). Deus não altera a Sua palavra
(Nm_23:19).
21. prostituta — (Ez_16:28-35).
fiel — como uma esposa (Is_54:5; Is_62:5; Os_2:19-20).
Ela, que estava cheia de justiça — (2Pe_3:13).
mas, agora, homicidas — opressores assassinos, que é a antítese
requerida (veja-se v. 15; 1Jo_3:15).
22. Teus príncipes e teus habitantes degeneraram de seu sólido
valor, equivalente a “prata” (Jr_6:28, Jr_6:30; Ez_22:18-19), e no uso
que eles faziam da Palavra vivente, equivalente a “vinho” (Ct_7:9).
se misturou — lit., circuncidado. Em árabe, assassinar o vinho,
equivale a diluí-lo.
23. companheiros de ladrões — por convivência (Pv_29:24).
recompensas — (Ez_22:12). A corrupção de uma nação começa
por seus governantes.
24. o Senhor, Jeová (TB) — equivalente ao Adonai Jeová.
o Poderoso de Israel — poderoso para tomar vingança, assim
como antes o era para salvar.
Ah! — que denota indignação.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Tomarei satisfações — Minha longa e provada paciência se
desafogará no último castigo (Ez_5:13). A linguagem de Deus se
acomoda aos conceitos humanos.
25. Voltarei contra ti a minha mão — não em ira, mas em graça
(Zc_13:7), “sobre ti”, como o demonstram os vv. 26, 27; contrastado
com os inimigos, dos quais ele mesmo se vingará (v. 24).
purificar-te-ei — Lit., como limpa o álcali.
tuas escórias … metal impuro — não seus pecados, mas sim as
pessoas pecaminosas (Jr_6:29); “inimigos” (v. 24); os príncipes
degenerados (V. nota 22) misturados com o “resíduo” eleito por graça.
estanho (TB) — hebraico, bedil; a liga de chumbo, estanho, etc.,
separados da prata mediante a fundição. O piedoso bispo Bedell tomou
isto como divisa de seu escudo.
26. Como a degeneração se manifestou principalmente entre os
magistrados (vv. 17-23), na “restauração” estes serão o mesmo que
aqueles que contemplou “no princípio” o governo teocrático; isto
sucederá em parte depois do retorno de Babilônia, mas em sua totalidade
sob o domínio do Messias (Is_32:1; 52:8; Jr_33:7; Mt_19:28)
cidade fiel — e já não mais “uma prostituta”.
27. redimida — temporal, civil e moralmente; tipo da redenção
espiritual comprada com o preço do sangue de Jesus Cristo (1Pe_1:18-
19), o qual é o fundamento do “juízo” e da “justiça” e, por conseguinte,
do perdão. O juízo e a justiça são primeiro de Deus (Is_42:21;
Rm_3:26); e logo chegam a ser possessão do homem assim que se tenha
convertido (Rm_8:3-4); são tipificados no desdobramento da justiça “de
Deus” quando libertou a Seu povo, daí que a justiça ou “retidão” foi
mostrada neles.
os que se arrependem — convertidos. Assim traduz Maurer. Mas
segundo a Margem da versão inglesa, são “Os que dela retornarão”, ou
seja, o resíduo que voltará do cativeiro. Entretanto, como Isaías ainda
não havia predito expressamente a cativeiro de Babilônia, a versão
inglesa é mais exata.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 18
28. destruídos — Lit., feitos em pedaços (Ap_2:27). Os profetas se
apressam a vaticinar a extinção final do ímpio (Sl_37:20; Ap_19:20;
Ap_20:15), da qual são tipos os juízos antecedentes.
29. vos envergonhareis — (Rm_6:21.)
carvalhos — Outros traduzem os terebintos ou abetos. Os bosques
estavam consagrados aos ídolos. Os druidas da Inglaterra se chamaram
pelo vocábulo grego que significa “carvalhos”. É frequente achar uma
árvore sagrada nas esculturas assírias, símbolo das hostes siderais
adoradas pelos sabeus.
jardins — recintos mastreados para a idolatria — a contraparte do
jardim de Éden.
30. carvalho — eles serão semelhantes aos carvalhos, o objeto de
seus “desejos” (v. 29). O povo chegou a ser semelhante aos deuses que
adorava; nunca se elevaram acima de seu nível (Sl_135:18). Assim os
pecados dos homens resultam um açoite para eles mesmos (Jr_2:9). A
folha do idolátrico terebinto se murcha por virtude da lei da necessária
consequência, ao carecer da seiva vital ou da “água” procedente de Deus.
Assim que, “bosque” ou jardim, corresponde a bosques ou jardins (v.
29).
31. O forte — os poderosos governantes (Am_2:9).
e a sua obra — Ele será ao mesmo tempo o combustível, “estopa,”
e a causa do fogo, por acender a primeira “faísca”.
ambos — o governante iníquo, e “sua obra” a qual “é como uma
faísca.”
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 19
Isaías 2

Vv. 1-22.
1. A inscrição.
Palavra — a revelação.
2. O mesmo que em Miqueias 4:1. Como Miqueias profetizou no
reinado do Jotão e Isaías no de Uzias, Miqueias se apoia em Isaías, ao
qual confirma, não vice-versa. Hengstenberg, apoiando-se em fracos
fundamentos, diz que Miqueias 4:1 é o original.
Nos últimos dias — quer dizer, os tempos do Messias,
especialmente os tempos por vir, aos quais se encaminha a profecia,
quando “a casa do Deus de Jacó”, ou seja, Jerusalém, será o centro ao
qual as nações convertidas irão em multidão (Mt_13:32; Lc_2:31-32;
At_1:6-7); onde “o reino” de Israel se considera como estabelecido, e
unicamente o tempo se vê como incerto (Sl_68:15-16; Sl_72:8,
Sl_72:11).
o monte da Casa do SENHOR será estabelecido no cimo, etc. —
o templo sobre o Monte Moriá, tipo do evangelho, que começa em
Jerusalém e, semelhante a um objeto colocado sobre a mais alta colina,
faz-se tão visível que todas as nações se sentem atraídas para ele.
afluirão — como uma longa corrente (Is_66:12).
3. Se a predita maldição contra Israel se cumpriu literalmente, assim
o será a prometida bênção. Nós os gentios, assim como reconhecemos
sua maldição, devemos reconhecer sua bênção, e não negá-la ao
espiritualizá-la. O Espírito Santo será derramado a fim de obter uma
conversão geral (Jr_50:5; Zc_8:21, Zc_8:23; Jl_2:28).
de Jerusalém — (Lc_24:47), um objeto das futuras relações de
Jerusalém com a cristandade (Rm_11:12, Rm_11:15).
4. julgará — como árbitro soberano que resolverá todas as
controvérsias (cf. Is_11:4) Lowth traduz: produzirá convicção.
relhas de arados — No Oriente, estas se parecem com uma espada
curta (Is_9:6, 7; Zc_9:10).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 20
5. A conexão é: visto que o alto destino de Israel é o de ser causa de
bênção a todas as nações (Gn_12:3), os filhos de Israel devem andar de
uma maneira digna. (Ef_5:8).
6. Pois — antes, porquanto, visto que expressa as razões pelas
quais é tão necessária a exortação no v. 5.
tu — transição a SENHOR. Transições abruptas como esta são
naturais quando a mente está plena de um assunto.
se encheram — de superstições do Oriente, Síria e Caldeia.
agoureiros — prática que estava proibida (Dt_18:10-14).
filisteus — habilitavam ao sudoeste da Palestina, oposto “ao
oriente”.
se associam — antes, se dão as mãos, quer dizer, contraem alianças
matrimoniais e nacionais, o que estava proibido (Êx_23:32; Ne_13:23,
etc.)
7. ouro — estava proibido acumulá-lo (Dt_17:17). Salomão falhou
nisso (1Rs_10:21, 1Rs_10:27).
cavalos … carros — igualmente proibidos (Dt_17:16). Mas esse
rei também desobedeceu nisso (1Rs_20:26). Os cavalos se podiam
utilizar em operações de guerra nas planícies do Egito, mas não na
montanhosa Judeia. Deus tinha disposto que Israel se diferenciasse o
mais amplamente possível dos egípcios. Seu desígnio era que Seu povo
dependesse tão somente dEle, em lugar dos meios comuns de fazer a
guerra (Sl_20:7). Além disso, os cavalos estavam relacionados com a
idolatria (2Rs_23:11), daí sua objeção. Desse modo a transição aos
“ídolos” (v. 8) resulta natural.
8. (Os_8:4). Não se trata tanto da idolatria em público, que não
estava autorizada nos reinados do Uzias e de Jotão, como da particular
(veja-se 2Rs_15:4, 2Rs_15:35)
9. o homem — nem tanto por sua posição social quanto moral; em
oposição aos grandes. O primeiro se chama em hebraico, Adam; os
demais, ish.
se avilta — aos ídolos. Todas as classes sociais eram idólatras.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 21
não lhes perdoarás — uma ameaça expressa no modo imperativo
em hebraico. Tão identificado está Isaías com a vontade de Deus que ora
por aquilo que sabe que constitui o propósito de Deus (veja-se Ap_18:6).
10. Forma poética de expressar que os pecados deles eram tais que
se veriam obrigados por causa dos juízos de Deus, a buscar um lugar que
os ocultasse da ira divina (Ap_6:15-16).
pó — que equivale às “aberturas da terra”, ou pó (v. 19).
ante o terror — lit., do rosto aterrador de Jeová.
11. Os olhos altivos — lit., olhos de orgulho (Sl_18:27).
humilhada — por calamidades. Deus vindicará de tal maneira Sua
honra “naquele dia” de juízos, que ninguém “será exaltado” (Zc_14:9).
12. Os homens tiveram muitos dias; mas no final virá “o dia do
Senhor”, o qual começará com o juízo; será um dia que não terminará
jamais, no qual Deus será “tudo em todos” (1Co_15:28; 2Pe_3:10).
todo — não meramente as pessoas, como o expressa a Versão
Inglesa, mas sim tudo aquilo de que se orgulhava a nação.
13. cedros … carvalhos — imagem dos nobres e príncipes altivos
(Am_2:9; Zc_11:1-2; cf. Ap_19:18-21).
Basã — ao oriente do Jordão, a norte do arroio Jaboque, famoso
por seus belos carvalhos, seus pastos e ganhos. Possivelmente haja na
voz “carvalhos” alguma alusão à idolatria deles (Is_1:29).
14. montes altos — que se referem aos “altos” em que se ofereciam
sacrifícios ilegalmente, até no reinado de Uzias (Equivalente a Azarias)
(2Rs_15:4.) Deste modo em lugares fortes, inexpugnáveis, nos quais
confiavam mais que em Deus.
15. torre … muro — As torres se levantavam sobre os muros das
cidades.
forte — fortemente fortificado.
16. Társis — Tartessus ao sudoeste da Espanha, não longe da
desembocadura de Guadalquivir e próximo a Gibraltar. Este também
inclui a região adjacente. Era uma colônia fenícia; daí sua conexão com
Palestina e a Bíblia (2Cr_9:21); este nome também se usava num sentido
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 22
mais amplo e equivalia ao mais longínquo oeste, assim como as nossas
Índias Ocidentais (Is_66:19; Sl_48:7; Sl_72:10). As naves de Társis,
uma frase que chegou a ser equivalente a naves ricamente carregadas e
de alto bordo. O juízo será sobre tudo aquilo que serve de luxo ao
homem (cf. Ap_18:17-19).
pinturas desejáveis (RC) — cuja destruição foi ordenada
(Nm_33:52). Estas até podem ver-se nos muros dos palácios de Nínive.
Coisa notável que enquanto todas as outras antigas nações civilizadas:
Egito, Assíria, Grécia e Roma deixaram monumentos pertencentes às
belas artes, Judeia, imensamente mais adiantada que aquelas por causa
da possessão das palavras de vida, não deixou nada daquilo. As belas
artes, como na Roma moderna, estavam tão frequentemente associadas
com o politeísmo que Deus requereu de Seu povo que se separasse das
outras nações neste e noutros aspectos (Dt_4:15-18). Mas a tradução da
Vulgata talvez seja melhor: “Tudo o que é belo à vista”; não só quanto a
pinturas, mas no que corresponde a todos os adornos luxuosos; frase
compreensiva de tudo o que antecede (cf. Ap_18:12, Ap_18:14,
Ap_18:16).
17. Isto é uma repetição do v. 11, à maneira de enfática
confirmação.
18. ídolos — lit., “coisas vãs” “nada” (1Co_8:4). Isto se cumpriu ao
pé da letra. Antes do cativeiro de Babilônia, os judeus eram inclinados à
idolatria; mas desde então nunca mais o foram. (Quanto ao futuro
cumprimento, veja-se Zc_13:2; Ap_13:15; Ap_19:20).
19. O cumprimento responde exatamente à ameaça (v. 10).
se meterão — os adoradores dos ídolos.
cavernas — as que abundam na Judeia, terra montanhosa, lugares
de refúgio em tempos de alarme (1Sm_13:6).
espantar a terra — e também os céus (Hb_12:26). Esta é uma
figura de juízos severos e universais.
20. toupeiras — Outros traduzem: ratos. O sentido é sob o solo,
nas trevas.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 23
morcegos — animal impuro (Lv_11:19), que vive nas ruínas
desabitadas (Ap_11:13).
22. Os grandes (vv. 11, 13), naqueles em quem o povo confia,
“serão humilhados” (Is_3:2); por conseguinte, “deixem” de depender
deles, e dependam do Senhor (Sl_146:3-5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 24
Isaías 3

Vv. 1-26.
1. Porque — continuação de Is_2:22.
o SENHOR dos Exércitos — e por conseguinte, poderoso para
fazer o que diz.
tira — o presente pelo futuro, para significar seu exato
cumprimento.
sustento … apoio — a mesma palavra hebraica, uma é masculina,
a outra feminina; um modismo árabe que equivale a todo tipo de apoio.
Que mudança depois do luxo precedente! (Is_2:7). Cumpriu-se durante o
sítio de Nabucodonosor e mais tarde durante o cerco de Tito (Jr_37:21;
Jr_38:9).
2. Cumprido (2Rs_24:14).
o adivinho — (Dt_18:10-14); pessoa em quem eles confiavam, e
quem lhes falharia naqueles dias. Há uma referência a este ofício
(embora em bom sentido) em Pv_16:10, passagem que os judeus
interpretam como referindo-se a um rei, sem o qual tinha estado Israel
por longo tempo (Os_3:4).
o ancião — homem de idade e experiência (1Rs_12:6-8)
3. o capitão de cinquenta — não só os capitães de mil e os de cem,
mas até os de cinquenta faltarão.
o respeitável — lit., de distinto aspecto.
o hábil entre os artífices — o perito. Os trabalhos mecânicos
estarão paralisados durante o sítio e a subseqüente desolação do Estado.
Os artesãos não são um desprezível “sustento” entre os defensores da
nação.
e o encantador perito — melhor dito, como a Vulgata, um hábil
em sussurrar, isto é, encantador (Sl_58:5). Veja-se Is_8:19; e a nota
sobre “adivinho” (v. 2) acima.
4. meninos — quanto à sua capacidade para governar; antítese de
“anciãos” (veja-se v. 12; Ec_10:16).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 25
crianças — em força bélica, antítese de “poderoso” e “homem de
guerra”
5. A anarquia que resulta de ter governantes tão ineptos (v. 4);
mútuas e injustas exações; as normas de respeito violadas (Lv_19:32).
o povo — de baixa condição. Comparem as notas sobre “os últimos
dias” de 2Tm_3:2.
6. Será tal a carência de homens de riqueza e capacidade, que
“lançarão mão” (Is_4:1) do primeiro homem que encontrem que tenha
alguma propriedade, para fazê-lo “governante”.
irmão — alguém que não tem mais direito hereditário a ser
governante que quem roga a ele para que o seja.
Tu tens roupa — coisa que nenhum de nós possui. As mudas de
roupa no Oriente constituem riqueza (2Rs_5:5)
ruína — Tome a cargo nossos ruinosos assuntos.
7. levantará este a sua voz — lit., elevar, quer seja sua mão, o
gesto usado como atestado solene ou sua voz, quer dizer, responderá;
como aparece na Vulgata.
Não sou médico — do corpo político, incuravelmente doente
(Is_1:6).
nem veste alguma — para socorrer o povo e manter a dignidade de
governante. O estado de uma nação deve na verdade ser muito mau
quando nenhum de seus homens, ambiciosos por natureza, sente desejos
de aceitar um cargo.
8. O profeta dá as razões pelas quais todos recusam aceitar o
governo.
a sua gloriosa presença — para provocar a “gloriosa” majestade
de Deus com o que se apresenta aos seus olhos” (cf. Is_49:5; Hc_1:13).
O siríaco e Lowth, devido a uma leve mudança do hebraico, traduzem:
“a nuvem de sua glória”, o Shekiná.
9. O aspecto — O hebraico significa “o que pode saber-se pelo
aspecto de seus rostos” [Gesênius e Weiss]. Mas Maurer traduz: “Sua
acepção de pessoas”; assim também o siríaco e o caldeu. Mas a palavra
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 26
paralela “pregam”, favorece a outra opinião. Kimchi traduz do árabe:
Sua dureza (Jó_19:3, margem da V. Inglesa), ou a impudência do rosto
(Jr_3:3). É que não só perderam a essência da virtude, mas também a cor
da mesma.
testifica contra eles — lit., corresponde-lhes, seu aspecto
corresponde a seu caráter íntimo (Os_5:5) (Jd_1:13). “Espumam sua
própria falta de vergonha”; longe de fazê-lo em segredo se glorificam
disso (Fp_3:19).
a si mesmos — (cf. Pv_1:31; Pv_8:36; Jr_2:19; Rm_1:27).
10. A infidelidade de muitos não é prova de que todos sejam infiéis.
Embora não se ouça mais que o coaxar das rãs na superfície de uma
lagoa, não temos que deduzir que não haja peixes dentro da água
[Bengel]. (Veja-se Is_1:19, 20).
fruto das suas ações — (Pv_1:31); em bom sentido (Gl_6:8;
Ap_22:14). Não alude à salvação pelas obras, mas sim aos frutos da fé
(Is_45:24; Jr_23:6). Gesênius e Weiss traduzem: “Declarem ao justo que
…” Maurer: “Dizei que o justo é abençoado”.
11. Mal — antítese de “bem (v. 10); elipse enfática das palavras
grifadas. “Mal!”
mãos — sua conduta; por serem as mãos os instrumentos dos atos
(Ec_8:12, 13).
12. (Veja-se v. 4.) Estes, que deviam ser protetores; são exatores;
tão desqualificados eram para governar como “os rapazes”, e tão
efeminados como as mulheres”. Possivelmente indica deste modo que
estavam sob a influência de seu respectivo harém, as mulheres da corte.
guiam — o hebraico, chamam-te bendito; ou seja, os falsos
profetas, que lisonjeiam o povo com promessas de segurança mesmo
quando vivam em pecado; pois os governantes civis estão mencionados
na primeira cláusula.
o caminho por onde deves seguir — (Jr_6:16). O caminho reto
exposto na Lei. No hebraico, tragam; quer dizer, fazem com que
desapareça tão completamente que não se deixa dele o menor vestígio.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 27
13. põe-se de pé (TB) — já não mais sentado em silêncio.
pleitear — indignado contra um povo ímpio (Is_66:16; Ez_20:35)
14. anciãos — daí que se diga deles que serão tirados (vv. 1, 2).
consumistes — ou seja, mediante as “exações opressivas” (v. 12).
Tipo do pecado culminante dos lavradores ímpios dos dias de Jesus
(Mt_21:34-41).
esta vinha — a teocracia judaica (Is_5:1-7; Sl_80:9-13).
roubastes … em vossa casa — (Mt_23:14)
15. Que direito têm vocês de socar, etc.? (Sl_94:5; Mq_3:2-3).
moeis — mediante exações, ao ponto de não lhes deixar nada.
a face dos pobres — as pessoas; com a ideia adicional de fazer isto
aberta e palpavelmente. “Presença”, equivalente a rosto, em hebraico.
16. O luxo tinha chegado a ser grande no próspero reinado de Uzias
(2Cr_26:5).
altivas — com orgulho, soberbas (Sl_75:5).
olhares impudentes — fazendo movimentos com os olhos, isto é,
movendo-os lascivamente (Pv_6:13). [Maurer]. Mas Lowth: “Fazendo
ressaltar falsamente os olhos com ruge”. As mulheres no Oriente
colorem frequentemente as pálpebras com antimônio ou pó de chumbo
(Veja-se Jó_42:14; Jr_4:30, margem).
vão dançando (RC) — a passos curtos [RA].
fazendo tinir os ornamentos de seus pés — com os braceletes de
ambos os pés, atadas com cadeiazinhas, que soavam ao andar obrigando
a caminhar a passos curtos. Às vezes acrescentavam pequenas
campainhas (vv. 18, 20).
17. fará tinhosa a cabeça — fazendo com que fiquem calvas,
mediante doença.
porá a descoberto — fará experimentar a maior indignidade que
pode sobrevir a uma mulher cativa, que é a de despi-la e ver exposto seu
corpo despido (Is_47:3; cf. Is_20:4).
18. ornamentos — as galas (v. 16).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 28
as toucas — para a cabeça. Ou, segundo uma raiz árabe, as luetas,
que correspondem a “diademas” ou adornos “semelhantes a luas”
(Jz_8:21). O chumarah ou meia-lua, também se leva na fronte sobre o
véu da cabeça na Ásia Ocidental.
19. os pendentes — que penduram ao redor do pescoço e caem
sobre o peito.
véus esvoaçantes — que cobrem o rosto com aberturas para os
olhos; fechados por cima e soltos por abaixo. A raiz da palavra quer
dizer trêmulo, por causa do cambiante efeito que produzem as
lentejoulas sobre o véu.
20. turbantes — bonés ou turbantes.
cadeiazinhas para os passos — pequenas cadeias atadas aos
braceletes de ambos os pés para caminhar a passos uniformes (v. 16).
as cintas — lit., cintos.
caixinhas de perfumes — isto é, perfume.
os amuletos — que penduravam do pescoço ou das orelhas, com
fórmulas mágicas. A raiz significa sussurrar ou conjurar.
21. as jóias pendentes do nariz — estes penduravam da cartilagem
que divide as fossas nasais, que se perfurava para introduzi-los;
geralmente pendiam da fossa esquerda.
22. Aqui começam todos os artigos de vestir. Os anteriores eram
simples adornos.
de festa — de uma raiz que significa tirar-se; não se usavam
habitualmente, mas que se usavam em ocasiões especiais, e logo se
tiravam (Zc_3:4).
mantos — túnicas amplas com mangas, que se punham sobre a
comum, as quais chegavam aos pés.
os xales — isto é, cachecóis, capuzes. Em Rt_3:15, possivelmente
seja uma capa ampla ou xale que envolvia o corpo e cobria a cabeça.
as bolsas — bolsas para o dinheiro (2Rs_5:23).
23. espelhos — de metal polido (Êx_38:8). Mas na Versão LXX é
um vestido transparente, como a gaze.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 29
as camisas finíssimas — mitras ou diademas (Is_62:3; Zc_3:5),
os véus — compridos o bastante para cobrir a cabeça e o corpo,
embora distintos dos do versículo 19 (Gn_24:65), sinal da sujeição da
mulher (1Co_11:10).
24. podridão — que sairia das úlceras (Zc_14:12).
corda — melhor na LXX, “uma soga”, emblema de pobreza; os
pobres não tinham outra coisa com a qual circundar suas roupas.
cinta — para ao caminhar rodear as vestes soltas usadas no Oriente.
calvície — (v. 17).
encrespadura de cabelos — (1Pe_3:3-4).
faixa de peito (TB) — cinturão largo trancado.
cinto de cilício — (1Sm_3:31).
marca de fogo — causada nos rostos pelo sol ao trabalhar como
cativos sem seus turbantes e véus sob um sol abrasador (Ct_1:6).
25. Os teus homens — de Jerusalém.
26. portas — os lugares de concurso, personificados, são
representados chorando a perda das multidões que em outro tempo os
frequentavam.
cairão à espada — esta foi a figura exata sob a qual foi
representada Judeia nas medalhas cunhadas pelos romanos depois de sua
destruição por Tito: uma mulher sentada sob uma palmeira com
expressão de tristeza. A inscrição reza: Judeia capta — Judá cativa
(Jó_2:13; Lm_2:10, onde se alude primeiro, como aqui, a sua destruição
por Nabucodonosor).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 30
Isaías 4

Vv. 1-6.
1. Sete — número indefinido entre os judeus. Tantos homens
seriam mortos que haveria muito mais mulheres que homens; por
exemplo, sete mulheres, contrariamente a seu natural pudor, lançariam
mão de um homem (Is_3:6) para casar-se com ele.
naquele dia — o período calamitoso descrito em Isaías 2.
comeremos do nosso pão (RC) — renunciando assim aos direitos
que a lei concede às esposas quando um homem tem mais de uma
(Êx_21:10).
tira o nosso opróbrio — de ser solteiras e carecer de filhos, o que
muito se lamentava entre os judeus, os quais esperavam a “semente da
mulher”, Jesus Cristo, descrito no v. 2; Is_54:1, 4; Lc_1:25.
2. Em contraste com aqueles que seriam objeto de vingança, Jesus
Cristo se manifesta aos “de Israel que forem salvos”, com Seus atributos
característicos de beleza e glória, tipificados pelos vestidos sagrados de
Arão (Êx_28:2). Sua santificação lhes é prometida como resultado de
terem sido “inscritos” no Livro da Vida pelo soberano amor (v. 3); os
meios com que isto se efetuará serão o “espírito de juízo” e de
“purificador” (v. 4). Promete “defendê-los” mediante a especial presença
de Jesus Cristo (vv. 5, 6).
o Renovo — o renovo de Jeová. O Messias (Jr_23:5; Jr_33:15;
Zc_3:8; Zc_6:12; Lc_1:78). A cláusula paralela não se opõe a isto, como
objeta Maurer; porque “o fruto da terra” corresponde a “renovo”; não
será um renovo seco, mas sim um frutífero (cf. 27:6; Ez_34:23-27). É
“da terra” quanto a seu nascimento e morte, enquanto que também é de
Jeová (Jo_12:24). Seu nome, “o Renovo”, refere-se principalmente a sua
descendência de Davi, quando a família deste era humilde e pequena
(Lc_2:4, Lc_2:7, Lc_2:24); um broto com mais glória que a de Davi, que
brota de uma árvore decaída (Is_11:1; Is_53:2; Ap_22:16).
de beleza — (Hb_1:4; Hb_8:6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 31
glória — (Ct_5:15-16; Ez_16:14).
para os de Israel que forem salvos — o resto eleito (Rm_11:5);
(1) na volta de Babilônia; (2) na fuga da destruição de Jerusalém por
Tito; (3) no assalto, ainda futuro, de Jerusalém e a libertação da “terça
parte”; eventos reciprocamente análogos, a semelhança de círculos
concêntricos (Zc_12:2-10; Zc_13:8-9; Zc_14:2; Ez_39:23-29; Joel 3).
3. ficarem em Jerusalém — equivalente aos “de Israel que forem
salvos” (v. 2).
serão chamados — (Is_9:6).
santos — (Is_52:1; 60:21; Ap_21:27).
inscritos — no livro da vida simbolicamente (Fp_4:3; Ap_3:5;
Ap_17:8). Principalmente, no registro conservado pelas famílias de
Israel e as tribos.
os vivos (TB) — não apagados do registro como se estivessem
mortos, mas sim inscritos nele como entre “de Israel que forem salvos”
(Dn_12:1; Ez_13:9). Esta alusão especial aqui corresponde, antes, aos
eleitos de Israel que aos salvos em geral (Jl_3:17).
4. quando — isto é, depois.
lavar — (Zc_13:1).
imundícia — moral (Is_1:21-25).
filhas de Sião — o mesmo que no Is_3:16.
limpar — purificar mediante juízos que destroem aos ímpios, e
corrigem e refinam aos pios.
do sangue — (Is_1:15).
com o Espírito — o que Deus faz no universo, Ele o faz por meio
do Seu Espírito, “sem a mão” do homem (Jó_34:20; Sl_104:30). Ele é
representado aqui empregando seu poder como Juiz.
Espírito purificador — (Mt_3:11-12). O mesmo Espírito Santo,
que santifica aos crentes pelo fogo da aflição (Ml_3:2-3), sentencia os
incrédulos ao fogo da condenação (1Co_3:13-15).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 32
5. Criará — “a nova criação” requer tanta onipotência criadora da
parte de Deus como a que requereu a criação material (2Co_4:6;
Ef_2:10). Tal será o caso da santa Jerusalém futura (Is_65:17, 18).
sobre — a coluna de nuvem mantinha-se sobre o tabernáculo, como
símbolo do favor e da presença de Deus (Êx_13:21-22; Sl_91:1), tanto
sobre cada uma das famílias (sobre “cada morada”), como sobre as
sagradas assembleias gerais (Lv_23:2). A “nuvem” se convertia em fogo
de noite, para que o povo do Senhor a visse.
sobre toda a glória — o glorioso conjunto, ou seja, sobre todo o
povo do Senhor e Seu santuário. [Maurer]. Não pode isto significar que
haverá resguardo ou proteção “sobre tudo aquilo em que a glória (a
Shekiná de que se falou na cláusula precedente) tenha que descansar?” O
símbolo de sua presença também oferecerá proteção, como a que
ofereceu aos israelitas contra os egípcios no Mar Vermelho (Êx_14:19-
20). Assim ocorrerá a literal Jerusalém no futuro (Zc_2:5), como
também à Igreja, a Sião espiritual (Is_32:18; Is_33:15-17; Hb_12:22).
6. tabernáculo (RC) — figura do corpo de Cristo (Jo_1:14). “O
Verbo habitou (gr. tabernaculou) entre nós” (Jo_2:21; Hb_8:2). Cristo
será uma “sombra contra o calor” e um “refúgio contra a tempestade”.
Estes termos descrevem a ira divina contra os pecados do homem
(Is_25:4). No Oriente, o calor e as tormentas são terríveis, de tal sorte
que uma tenda de campanha portátil é parte indispensável da equipagem
de um viajante. Tal será a ira de Deus no futuro, da qual os “de Israel
que forem salvos” serão protegidos por Jesus Cristo (Is_26:20, 21;
Is_32:2).
esconderijo — corresponde a “defesa” (v. 5). O equivalente
hebraico de defesa no v. 5 é “cobertura”; a tampa da arca, ou seja, o
propiciatório, recebeu seu nome da mesma palavra hebraica kafar, que
se usa neste versículo. O propiciatório, ao ser aspergido com sangre pelo
sumo sacerdote uma vez por ano, no dia da expiação, cobria tipicamente
ao povo da ira. Jesus Cristo é o verdadeiro Trono de Misericórdia, ou
Propiciatório, sobre quem descansava a Shekiná, e debaixo da qual se
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 33
guardava a Lei, a qual estava literalmente dentro da arca. O simbolismo
disto é que o homem está coberto da tempestade (a ira). O Israel
redimido, em virtude de sua união com Ele, também será um tabernáculo
para a glória de Deus, o qual, diferente do que estava no deserto, não
será jamais abatido (Is_38:20).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 34
Isaías 5

Vv. 1-30. Parábola da Vinha do Senhor. Uma nova profecia


completa em si mesma. É provável que fosse pronunciada quase ao
mesmo tempo que Isaías 2 e 3, durante o reinado de Uzias. Cf. vv. 15 e
16 com Is_3:14. Entretanto, no fim do capítulo, alude-se geralmente à
futura longínqua invasão dos assírios num reinado posterior (cf. o v. 26
com Is_7:18; e o v. 25 com Is_9:12). Ao se aproximar o momento, de
acordo com o uso profético ordinário trata mais particularmente dos
detalhes (Isaías 7 e 8); ou seja, as calamidades resultantes da invasão
sírio-israelita, e a subsequente dos assírios aos quais Acaz tinha chamado
em seu ajuda.
1. Agora — antes, referente a [Gesênius], quer dizer, em nome de
meu amado, como seu representante [Vitringa]. Isaías insinua a distinção
das Pessoas divinas ao mesmo tempo que sua unidade (cf. Ele com Eu,
vv. 2, 3).
do meu amado — inspirado por ele. Ou, antes, um doce canto
[Castalio]. Devido a uma ligeira variação na lição. um canto de seu amor
[Houbigant]. “O Amado” é Jeová, a segunda Pessoa, o “Anjo de Deus o
Pai, não em Seu caráter como encarnado Messias, mas sim como Deus
dos Judeus (Êx_23:20-21; Êx_32:34; Êx_33:14).
vinha — (Is_3:14; Sl_80:8, etc.) O povo judeu da aliança, separado
das nações para Sua glória, como o objeto de seu peculiar cuidado
(Mt_20:1; Mt_21:23). Jesus Cristo na vinha da Igreja do Novo
Testamento é o mesmo que o Angel da Aliança judia do Antigo
Testamento.
outeiro fertilíssimo — lit. um chifre (pico, como o shreckhorn
suíço) do filho do azeite; expressão poética, que significa muito frutífero,
sugestiva de isolamento, segurança e ensolarado aspecto. Isaías alude
claramente aos Cantares de Salomão (Ct_6:3; Ct_8:11-12) com as
palavras “Sua vinha” e meu “Amado” (cf. Is_26:20; Is_61:10, com
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Ct_1:4; Ct_4:10). A transição de “Renovo” (Is_3:2) a “vinha”, não é
antinatural.
2. a cercou (RC) — antes, abriu fossas no solo para plantar as
videiras [Maurer].
videiras escolhidas — em hebraico sorek; chamadas ainda em
Marrocos serki; as uvas tinham uma semente quase imperceptível: em
persa kishmish ou bedana, isto é, sem semente (Gn_49:11)
torre — para vigiar sobre a vinha contra as depredações de homens
e animais, e para uso do dono (Mt_21:33).
um lagar — escavado no rochoso subsolo da vinha por razões de
frescura.
uvas bravas — o hebraico expressa prejudicial putrefação, que
corresponde ao corrupto estado dos judeus. Fruto fétido da videira
silvestre [Maurer], em lugar de uvas escolhidas. O venenoso capuz de
frade, ou acônito [Gesênius]. Os árabes chamam o fruto da erva-moura
“uvas de lobo” (Dt_32:32-33; 2Rs_4:39-41). Jerônimo trata de explicar
os detalhes da parábola: A cerca” são os anjos; as “pedras” eliminadas,
os ídolos; a “torre”, o templo “no meio” da Judéia; o “lagar”, o altar.
3. Agora, pois — Deus apela a eles mesmos como em Is_1:18;
Mq_6:3. Isto mesmo faz Jesus Cristo em Mt_21:40-41, quando usa a
mesma forma de expressão e os obriga a pronunciar sentença contra eles
mesmos. Deus condena os pecadores por sua própria boca (Dt_32:6;
Jó_15:6; Lc_19:22; Rm_3:4).
4. Deus fez tudo o que se podia fazer para a salvação dos pecadores,
conforme com Sua justiça e bondade. O Deus da natureza sente-se, por
assim dizer, surpreso perante o fruto antinatural de uma vinha tão
esmeradamente cuidada.
5. vos farei saber — prestem atenção.
a sua sebe … o seu muro — pois tinha ambos; prova do cuidado
do dono. Mas agora será pisada pelas bestas do campo (seus inimigos)
(Sl_80:12-13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 36
6. darei ordem — A parábola se interrompe em parte, e como no v.
7, insinua-se que o Senhor é o Dono; pois só ele, não um vinhateiro
qualquer, podia dar semelhante ordem (Mt_21:43; Lc_17:22).
que não derramem chuva — simbolicamente, os ensinos de
origem celestial proclamadas pelos profetas (Am_8:11). Esta profecia
não se cumpriu durante o cativeiro de Babilônia, visto que Jeremias,
Ezequiel, Daniel, Ageu e Zacarias profetizaram durante o cativeiro ou
depois dele, mas no tempo do Evangelho.
7. Aqui Isaías não faz senão aplicar a parábola. Não se trata de um
dono meramente humano, nem de uma vinha literal.
Porque a vinha do SENHOR — Sua única (Êx_19:5; Am_3:2).
planta dileta — “a planta de seus deleites”; pois assim como o
vinhateiro se deu o trabalho de selecionar o sorek, ou videiras escolhidas
(v. 2), outro tanto fez Deus na eleição dos judeus.
juízo — justiça. O jogo de palavras é surpreendente no hebraico.
“Ele esperava mishpat (juízo), mas eis aqui mispat (efusão de sangue);
esperava tsedaqua, (justiça) mas eis aqui tseaqua (o clamor que segue à
anarquia, a cobiça e a dissipação, vv. 8, 11, 12; cf. o grito da chusma
devido ao qual a justiça foi pisada no caso de Jesus Cristo, Mt_27:23-
24).

Vv. 8-23 — Seis Ais Distintos Contra os Crimes.


8. (Lv_25:13; Mq_2:2). A recuperação das posses no jubileu estava
destinada a servir de freio contra a avareza.
até que não haja mais lugar — até que não haja lugar para outro.
ficam como únicos moradores … da terra? — o território.
9. A meus ouvidos ... SENHOR — me revelou, como em
Is_22:14.
desertas — lit., feitas uma desolação, ou seja, por causa dos
pecados nacionais.
grandes e belas — casas.
10. jeiras — o que uma junta de bois podia arar num dia.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 37
um bato — de vinho; trinta e três e meio litros.
um ômer — duzentos e oitenta e dois litros de semente dariam
vinte e oito litros (Ez_45:11).
11. Segundo Ai — contra a intemperança.
se levantam pela manhã — quando se considerava vergonhoso o
beber (At_2:15; 1Ts_5:7). Os banquetes de orgia começavam mais cedo
que de costume (Ec_10:16, 17).
e continuam até alta noite — estão bebendo todo o dia até a noite.
12. A música era comum nos festins dos antigos (Is_24:8, 9;
Am_6:5-6)
viola (AV) — instrumento de doze cordas [Josefo, Antiguidades,
Am_8:10].
tamboris — Em hebraico, toph, o uso dos quais afogava os gritos
dos meninos sacrificados a Moloque, de onde se deriva o nome do
Tofete, ou seja o lugar onde se ofereciam estes sacrifícios. Em árabe duf,
tambor de forma de caldeirão.
flautas — ou flautas doces, da raiz hebraica, brocar, ou em outro
sentido dançar (cf. Jó_21:11-15).
não olham ... SENHOR (RC) — efeito frequente de passar o
tempo em festas (Jó_1:5; Sl_28:5).
a obra — de castigar ao culpado (v. 19; Is_10:12).
13. será levado — O profeta vê o futuro como se o tivesse perante
os olhos.
por falta de entendimento — por causa de sua néscia temeridade
(v. 12; Is_1:3; Os_4:6; Lc_19:44).
terão fome — horrível contraste com suas sibaríticas festas (vv. 11,
12).
multidão — de plebeus, em contraste com os “homens honoráveis”
ou nobres.
sede — (Sl_107:4-5). Em contraste com seu beber (v. 11). Em sua
deportação e desterro terão fome e sede.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 38
14. sepultura (RC) — em hebraico sheol; em grego, hades; o
mundo invisível dos espíritos. Este não é o lugar das torturas.
Poeticamente, representa-se como alongando-se ilimitadamente, a fim de
receber as inumeráveis hostes de judeus que pereceriam (Nm_16:30).
seu tumulto — do povo judeu.
e quem nesse meio folgava — o bebedor libertino de Jerusalém.
15. (Cf. Is_2:9, 11, 17). Todas as classes sociais, o “ínfimo” e o
“poderoso” igualmente; e assim “o honorável” e a “multidão” (v. 13).
16. Deus será “exaltado” na opinião do homem, por causa da
manifestação de Sua “justiça” ao castigar o culpado.
santificado — considerado como santo, em razão de seus justos
procederes.
17. segundo o seu costume (AV) — lit., “de acordo com sua
própria palavra”, isto é, a vontade. Em outras palavras, como em seus
próprios pastos [Gesênius]. Este é o significado do hebraico em
Mq_2:12. As terras dos recabitas que habitam em tendas de campanha
(Jr_35:7). Os pastores árabes vagarão pela vizinhança livremente por ter
toda a Judeia ficado tão desolada que se converterá num vasto campo de
pastoreio.
e os nômades se nutrirão — as desertas terras dos ricos
(Sl_22:29), os quais então terão ido em cativeiro; os estranhos, isto é, as
tribos nômades farão pastar os seus rebanhos nelas [Maurer]. Em sentido
figurado, os “cordeiros” são os justos; as “grosas”, os ímpios. Por esta
razão, os discípulos de Jesus Cristo são chamados “cordeiros”
(Jo_21:15); por ser mansos, inofensivos, pobres e perseguidos. Cf.
Ez_39:18, onde os “gordos” são os ricos e grandes (1Co_1:26-27). Os
estranhos são, deste ponto de vista “as outras ovelhas” que não são do
“aprisco” judaico (Jo_10:16); isto é, os gentios, aos quais Jesus Cristo
trará para que sejam partícipes dos ricos privilégios (Rm_11:17) que os
judeus (as “gordas”, Ez_34:16) menosprezaram. Desta maneira,
“segundo o seu costume” expressaria que a igreja cristã adoraria a Deus
em liberdade, desligada da escravidão legal (Jo_4:23; Gl_5:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 39
18. Terceiro Ai — contra a obstinada perseverança no pecado,
como se quisessem provocar os divinos juízos.
iniquidade — a culpa que atrai castigo [Maurer].
cordas … tirantes de carro — Os rabinos dizem: “Uma má
inclinação é a princípio semelhante a um fino cabelo, mas no final
semelha-se a uma tirante de carro”. A antítese refere-se às finas cordas
da sofisma, parecidas com a teia de aranha (Is_59:5; Jó_8:14), com as
quais um pecado arrasta a outro pecado, até que, finalmente o homem se
ata a si mesmo mediante um grande delito, à maneira de tirante de carro,
com o qual se mantêm persistentemente no pecado.
de injustiça — de maldade.
e o pecado — Se aproximam do “pecado” e ao seu castigo
temerariamente.
19. a sua obra — de vingança (v. 12). Esta linguagem é um desafio
feito a Deus. Assim se vangloriou Lameque de sua impunidade
(Gn_4:23-24; cf. com Jr_17:15; 2Pe_3:3-4).
conselho — o propósito de Deus de castigá-los é ameaçado.
20. Quarto Ai — contra os que não fazem as devidas distinções
entre o justo e o injusto (Rm_1:28), “mente depravada”, gr., inepta para
discernir: a percepção moral entrevada.
o amargo … doce — o pecado é amargo (Jr_2:19; Jr_4:18;
At_8:23; Rm_3:14; Hb_12:15); mesmo quando pareça doce por um
tempo (Pv_9:17-18). A religião é doce (Sl_119:103).
21. Quinto Ai — contra os que eram tão “sábios a seus próprios
olhos” que pensavam que sabiam mais que o profeta, e assim
desprezavam suas admoestações (Is_29:14, 15).
22, 23. Sexto Ai — contra os juízes corruptos, os que eram “heróis
para beber vinho” (jactância não pouco comum ainda), embora não
fossem defender a seu país, bem que o eram para obter os meios para dar
de presente a si mesmos, aceitando a dádiva suborno ou “suborno”. Os
dois versículos estão intimamente unidos [Maurer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 40
misturar bebida forte — não com água, mas com especiarias para
torná-las embriagantes (Pv_9:2, Pv_9:5; Ct_8:2).
negam justiça — desprezam as justas reclamações daqueles que
têm a razão de sua parte.
24. Lit., a língua de fogo come (At_2:3).
a língua de fogo consome o restolho — antes, a erva murcha
sucumbe diante da chama (Mt_3:12).
sua raiz … sua flor — tanto sua oculta base como suas
manifestações externas de prosperidade, apodrecem inteiramente,
perecendo uma e outra (Jó_18:16; Ml_4:1).
rejeitaram a lei do SENHOR — em seu espírito, enquanto que
retinham a letra.
25. se acende a ira — (2Rs_22:13, 2Rs_22:17).
tremem os montes — isto fixa com alguma probabilidade a data
deste capítulo, pois se refere ao terremoto dos dias de Uzias (Am_1:1;
Zc_14:5). A terra tremeu como se tivesse consciência da presença de
Deus (Jr_4:24; Hc_3:6).
como monturo — antes, como esterco (Sl_83:10).
Com tudo isto — A cominação destes versos de monotonia
sinistra, repete-se em Is_9:12, 17, 21; Is_10:4. Apesar de todas as
calamidades passadas, ainda ameaçam mais fortes juízos, que o profeta
especifica no resto do capítulo (Lv_26:14, etc.)
26. Ele arvorará o estandarte — para chamar as nações hostis a
executar seus juízos sobre a Judeia (Is_10:5-7; Is_45:1). Em Is_11:12 e
Is_18:3, a bandeira é levantada mas a fim de mostrar piedade ao povo.
assobiará — (Is_7:18). Fazia-se com que as abelhas saíssem da
colmeia aos som da flauta, ou vaiando ou assobiando (Zc_10:8). Deus
reunirá as nações dos contornos da Judeia do mesmo modo que as
abelhas (Dt_1:44; Sl_118:12).
das extremidades da terra — às submetidas e distantes raças de
que se compunha o exército assírio (Is_22:6). O cumprimento ulterior
ocorreu durante o sítio do romano Tito. Cf. “a extremidade da terra”
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 41
(Dt_28:49). O emprego do singular (“virá”) aqui e nos vv. seguintes
especifica alguma nação ou pessoa em particular [Horsley].
27. cansado — pelas longas marchas (Dt_25:18, etc.).
ninguém ... nem dormirá (TB) — não precisará descansar.
o cinto — com que se cingiam antigamente a solta vestimenta para
poder agir. Estavam sempre preparados para partir e entrar em batalha.
nem se lhe rompe das sandálias a correia — a sola estava aderida
aos pés mediante correias. Estariam tão solidamente calçados que não se
lhes soltava nenhuma correia das sandálias, de forma que lhes impedisse
a marcha.
28. retesados — preparados para a batalha.
unhas … pederneira — Os antigos não ferravam os cavalos, daí o
valor dos cascos duros para as grandes marchas.
rodas dos seus carros — O exército assírio tinha numerosa
cavalaria e muitos carros (Is_22:6, 7; Is_36:8).
29. seu rugido — seu grito de guerra.
30. angústia … a luz se escurece — em outras palavras, angústia e
luz (quer dizer, esperança e temor), sucedendo-se estas coisas
alternativamente (como é costume suceder num desordenado estado de
coisas), e as trevas surgirão [Maurer].
céus (AV) — o termo céus significa literalmente nuvens [RA], quer
dizer, que seu céu o constituem “as nuvens”, antes, o firmamento. De
outro ponto de vista, e tomando uma raiz hebraica diferente, significa
sua destruição ou ruína. Horsley explica a frase nesta forma: “o mar …
olhará para a terra”, como uma nova imagem tomada dos marinheiros de
um barco de cabotagem (como o eram todos na antiguidade) de buscar a
costa mais próxima, a qual costumava ocultar a escuridão da
tempestade; de maneira que unicamente as trevas e a angústia pode
dizer-se que eram visíveis.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 42
Isaías 6

Vv. 1-13. Visão de Jeová em Seu Templo. Isaías está na parte


exterior, perto do altar, na frente do templo. Supõe-se que se abrem as
portas do santuário e que o véu que oculta o lugar santíssimo se abre,
apresentando-se à vista do profeta uma visão do Senhor, que é
apresentado à maneira de um monarca oriental, assistido por serafins,
como seus ministros de estado (1Rs_22:19), e revestido de um manto
flutuante com cauda (símbolo de dignidade no Oriente) que enche o
templo. Esta afirmação de que Isaías tinha visto a Deus, foi o pretexto,
segundo a tradição, para que o serrassem, no reinado de Manassés
(tradição não confirmada por Is_1:1; veja-se a Introdução) (Hb_11:37).
No caso dos outros profetas, as visões ocorrem com frequência; mas em
Isaías ocorre só esta vez, a qual se singulariza por sua clareza e
simplicidade.
No ano da morte do rei Uzias — Seja de morte literal ou civil,
quando, por causa de sua lepra, deixou de exercer suas funções de rei
[Chaldee] (2Cr_26:19-21) em 754 a.C. [Calmet]. Segundo a cronologia
comum, em 758 a.C. Não se trata do começo das profecias de Isaías, mas
sim de sua elevação a um grau superior no ministério profético; o v. 9 e
seguintes têm o tom de alguém que já conhecia por experiência a
obstinação daquele povo.
Senhor — aqui significa Adonai; no v. 5, Jeová. Insinua-se que
aquele que fala no v. 10, segundo Jo_12:41, é Jesus Cristo. Isaías só
pôde ter “visto” o Filho, não a divina Essência (Jo_1:18). As palavras do
v. 10 se atribuem por Paulo ao Espírito Santo (At_28:25-26). Desde
onde se infere que aqui está subentendida a Trindade como uma unidade,
como também na tríplice repetição da palavra “Santo” (v. 3). Isaías
menciona o manto, o templo e os serafins, mas não a forma de Deus.
Seja disso o que for, a cena era diferente da usual Shekiná. Esta se
manifestava sobre o propiciatório; enquanto que aquela apareceu sobre
um trono; a Shekiná se manifestava em forma de nuvem e de fogo; desta
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 43
outra não se especifica nenhuma forma. Sobre a primeira estavam os
querubins; sobre a segunda os serafins. A primeira não tinha nenhuma
roupagem; a segunda tem um amplo manto e cauda.
2. estavam — não quer dizer precisamente que estavam de pé, mas
sim o assistiam [Maurer], mantendo-se no ar com as asas estendidas.
serafins — em nenhuma outra parte aplica-se este nome aos anjos
que assistem a Deus, mas sim às serpentes ardentes e voadoras
(chamadas assim, não por terem asas, mas por se moverem rapidamente)
que morderam os israelitas (Nm_21:6), chamadas assim pela venenosa
inflamação que causavam com suas mordidas. Seraf (em hebraico)
significa arder, o que denota ardente zelo, deslumbrante brilhantismo
(2Rs_2:11; 2Rs_6:17; Ez_1:13; Mt_28:3) e rapidez de parte dos serafins,
similar a da serpente, para servir a Deus. A forma de Satã, semelhante à
serpente (Najash), ao aparecer à mulher, possivelmente tenha alguma
relação com sua forma original de um “seraf” de luz. A cabeça da
serpente era o símbolo da sabedoria no Egito (cf. Nm_21:8; 2Rs_18:4).
Os serafins, com seis asas e uma face, dificilmente podem ser
identificados com os querubins, que tinham quatro asas (os do templo só
tinham dois e quatro rostos (Ez_1:5-12). (Mas cf. com Ap_4:8.) O
“rosto” e os “pés” denotam forma humana; algo de uma forma serpentina
(talvez a cabeça de um basilisco, como nos templos de Nô-Amom), pode
haver-se incluído; daí que o querub se compusesse de várias formas de
animais. A voz seraf, entretanto, talvez provenha de uma raiz que
significa: à semelhança de um príncipe aplicada em Dn_10:13 a Miguel
[Maurer]; do mesmo modo que querub provém de uma raiz que significa
nobre mudando o m em b).
duas — só duas asas das seis estavam dispostas para voar a ponto
para servir a Deus; duas cobriam seus rostos, como indignos de olhar ao
Santo Deus ou de penetrar em Seus secretos conselhos, que eles
cumpriam (Êx_3:6; Jó_4:18; Jó_15:15), duas cobriam seus pés, ou,
antes, todas as partes inferiores de suas pessoas — prática observada na
presença dos monarcas orientais, como sinal de reverência (cf. Ez_1:11,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 44
seus corpos). O serviço do homem por mais forte razão consiste numa
espera reverente, antes, que num serviço ativo prestado a Deus
3. (Ap_4:8). Aqui se acha implícita a Trindade (veja-se a nota sobre
“Senhor”, v. 1). A santidade de Deus é o princípio fundamental de todas
as profecias de Isaías.
toda a terra — O hebraico é mais enfático, a plenitude de toda a
terra é sua glória (Sl_24:1; Sl_72:19.
4. os umbrais das portas (RC) — mais exato, os alicerces dos
umbrais.
casa — o templo.
de fumaça — a nuvem da Shekiná (1Rs_8:10; Ez_10:4).
5. vou perecendo (RC) — (Êx_33:20.) O mesmo efeito produziu-
se em outros pela presença de Deus (Jz_6:22; Jz_13:22; Jó_42:5-6;
Lc_5:8; Ap_1:17).
lábios — apropriado ao contexto que descreve os louvores dos
lábios, cantados responsivamente (Êx_15:20-21; v. 3) pelos serafins;
apropriado deste modo ao ofício de falar como um profeta de Deus,
ofício que estava prestes a ser conferido a Isaías (v. 9).
viram — não ao próprio Jeová, em sentido estrito (Jo_1:18;
1Tm_6:16), mas sim o símbolo de Sua presença.
6. para mim — o serafim estava no templo, Isaías fora dele.
uma brasa viva — lit., uma pedra quente, usada, como em alguns
países em nossos dias, para assar carne, como a carne dos sacrifícios. O
fogo era símbolo de purificação, visto que elimina a escória dos metais
(Ml_3:2-3).
do altar — dos holocaustos, situado no átrio dos sacerdotes diante
do templo. O fogo que ardia sobre ele foi aceso a primeira vez por Deus
(Lv_9:24), e mantido continuamente ardendo.
7. boca … lábios — Cf. a nota do v. 5. A boca foi tocada, por ser
esta a parte que devia empregar o profeta depois de sua consagração
como tal. Daí que as “línguas de fogo” pousassem sobre os discípulos
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 45
(At_2:3-4) quando eram consagrados para falar em várias línguas a
respeito de Jesus.
iniquidade — a consciente indignidade para desempenhar seu
ofício como mensageiro de Deus.
expiado (ACF) — lit., coberto, quer dizer, expiado, não por algum
efeito físico do fogo para limpá-lo do pecado, mas em relação com o
altar dos sacrifícios, do qual, o Messias, que é quem comissiona aqui a
Isaías, devia ser em sua morte o antítipo. Desde onde se infere que só por
virtude do sacrifício pode-se perdoar o pecado.
8. enviarei … por nós — A mudança de número indica a Trindade
(cf. Gn_1:26; Gn_11:7). Embora este não é argumento seguro para
fundamentar esta doutrina, pois o plural pode ser uma mera indicação de
majestade, concorda com a verdade provada em outro lugar
A quem … quem — o que indica que poucos estariam dispostos a
realizar o sacrifício que a apresentação de tão desagradável mensagem
para os judeus, requereria da parte do mensageiro (cf. 1Cr_29:5).
Eis-me aqui — prontidão de zelo agora que foi especialmente
habilitado para isso (v. 7; cf. 1Sm_3:10-11; At_9:6).
9. Ouvis (RC) — hebraico, ouvindo ouça, isto é, embora ouçam as
admoestações do profeta repetidas vezes, já estão sentenciados, por
causa de sua perversa vontade (Jo_7:17), para não entender. Em sua
revelação Deus deu bastante luz para guiar os que sinceramente desejam
saber, a fim de que possam fazer a vontade de Deus; também deixou
trevas bastante densas para confundir os cegos voluntários (Is_43:8). Tal
é o que fez Jesus ao pronunciar Suas parábolas (Mt_13:14).
vedes, em verdade (RC) — melhor: Embora vejam repetidas vezes,
entretanto, etc.
10. Engorda o coração (RC) — (Sl_119:70). “Torna-o mais
endurecido mediante tuas admoestações” [Maurer]. Este resultado não é
o fruto da própria verdade, mas sim do corrupto estado de seus corações;
por isso Deus os abandona aqui judicialmente (Is_63:17). Gesênius usa
os imperativos como futuros: “Proclamem a verdade, e o resultado de tal
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 46
proclamação será que se tornarão tanto mais endurecidos” (Rm_1:28;
Ef_4:18); mas tal exposição não define tão bem como a primeira o
desígnio de Deus de abandonar os pecadores ao endurecimento judicial
(Rm_11:8; 2Ts_2:11). Na primeira cláusula a ordem é: o coração, os
ouvidos, os olhos; na segunda é o reverso: os olhos, os ouvidos, o
coração. A corrupção flui do coração e penetra nos ouvidos e nos olhos
(Mc_7:21-22); mas através dos olhos e dos ouvidos, a cura chega ao
coração (Rm_10:17) [Bengel]. (Jr_5:21; Ez_12:2; Zc_7:11; At_7:57;
2Tm_4:4). Em Mt_13:15, as palavras estão citadas no modo indicativo,
está engrossado (LXX), não no imperativo, engorda; a Palavra de Deus
quanto ao futuro é tão segura como se já se tivesse cumprido. O ver com
os próprios olhos não convencerá a vontade que se opõe à verdade (cf.
Jo_11:45-46; Jo_12:10-11). “A gente tem que amar as coisas divinas
para as entender” [Pascal].
seja sarado (TB) — de sua doença espiritual (Is_1:6; Sl_103:3;
Jr_17:14).
11. Até quando — continuará este miserável estado de
endurecimento da nação que a conduzirá a sua destruição?
Até — (Is_5:9), cumprida primeiro no cativeiro de Babilônia, e
mais plenamente na dispersão quando a cidade capital foi tomada pelo
romano Tito.
12. (2Rs_25:21.)
o desamparo — isto é, o abandono dos domicílios da parte de seus
habitantes (Jr_4:29).
13. se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída
— melhor: Mas voltará a ser abandonada, para ser consumida; se uma
décima parte sobreviver à primeira destruição, será destruída por uma
segunda (Is_5:25; Ez_5:1-5, Ez_5:12). [Maurer e Horsley]. Na Versão
Inglesa “voltará”, refere-se ao resíduo de pobres deixado no país por
causa da deportação a Babilônia (2Rs_24:14; 2Rs_25:12), os quais
depois fugiram de medo ao Egito (2Rs_25:26), e retornaram
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 47
posteriormente de lá com outros que tinham fugido a Moabe e a Edom
(Jr_40:11-12. Estes sofreram ulteriores juízos divinos.
carvalho — (Is_1:29).
depois de derribados, ainda fica o toco — melhor: “Como o
terebinto ou o carvalho que quando são cortados (Jó_14:7), o tronco
subsiste, assim a semente santa (Ed_9:2) será a vitalidade daquela
terra”. As sementes da vitalidade ainda existem naquela terra e no
esparso povo da Judeia, as quais só aguardam a volta da primavera do
favor de Deus para brotar (Rm_11:5, Rm_11:23-29). Segundo Isaías,
nem todo o Israel está destinado à salvação, mas sim tão somente o
resíduo eleito. Deus mostra imutável severidade para com o pecado, mas
também fidelidade à Sua aliança ao preservar um resto, e precisamente é
para este para quem Isaías reserva o legado da segunda parte de seu livro
(Isaías 40-66).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 48
Isaías 7

Isaías 7, 8 e Is_9:1-7. Predição do mau êxito da invasão siro-israelita


contra Judá — aliança de Acabe com Assíria, e seus fatais resultados para
Judeia — não obstante, a certeza da preservação final e da vinda do Messias.
Nas inscrições assírias, o nome de Rezim, rei de Damasco, figura
entre os tributários de Tiglate-Pileser, os anais de cujo reinado, que
durou dezessete anos, foram decifrados. Referente aos feitos históricos
deste capítulo, veja-se 2Rs_15:37–16:9, Rezim da Síria e Peca de Israel,
como aliados, avançaram contra Jerusalém. Na primeira campanha “o
derrotaram e levaram dele em cativeiro uma grande multidão”
(2Cr_28:5). Seu propósito era, provavelmente o de unir os três reinos
contra a Assíria; o Egito parece ter favorecido este plano, a fim de
interpor estes reinos aliados entre sua própria fronteira e a da Assíria (cf.
v. 18, “Egito”; e 2Rs_17:4, aliança entre Oseias e o Egito). Rezim e Peca
teriam advertido a inclinação de Acaz para com a Assíria, antes que para
com sua própria confederação; de modo que isso e a antiga inimizade
entre Israel e Judá (1Rs_12:16), foram a causa para que Rezim e Peca
invadissem a Judá. Acaz, na segunda incursão de seus inimigos (cf. 2
Crônicas 28 e 2Rs_15:37, com Is_16:5), ferido em seu amor próprio por
causa de sua primeira derrota, acudiu a Tiglate-Pileser, a despeito da
admoestação de Isaías neste capítulo, de que, em vez disso, confiasse em
Deus; por conseguinte, tal rei atacou Damasco e matou Rezim
(2Rs_16:9). Isto ocorreu provavelmente ao mesmo tempo que conduziu
uma parte de Israel em cativeiro (2Rs_15:29), a menos que fossem dois
os ataques contra Peca: sendo o primeiro o de 2Rs_15:29 e o segundo em
que Tiglate auxiliou a Acaz posteriormente [G. V. Smith]. Acaz se
salvou ao sacrificar a independência de Judá e pagar um forte tributo que
continuou até a derrota de Senaqueribe, no reinado de Ezequias (Isaías
37; 2Rs_16:8, 2Rs_16:17-18; 2Cr_28:20). O reinado de Acaz começou
pelo ano 747 a.C., e Peca foi morto no ano 738 a.C. [Winer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 49
1. Acaz — Nos primeiros anos de seu reinado se realizou o
desígnio dos dois reis que se levantaram contra Judá, o qual foi
planejado no reinado de Jotão (2Rs_15:37).
Síria — Em hebraico, Arã (Gn_10:22-23); originalmente abrangia
toda a região compreendida entre o Eufrates e o Mediterrâneo, inclusive
Assíria, da qual Síria é contração; aqui se faz referência à região que
compreende o circuito de Damasco até o monte Líbano.
Jerusalém — Esta teve que suportar um verdadeiro sítio, mas
resultou frustrado (2Rs_16:5).
2. está aliada — acampou no território de Efraim [Maurer]; ou
melhor dizendo: como Rezim tinha acampado contra Jerusalém, “está
apoiado por” [Lowth] Efraim, cujo território se acha situado entre Síria e
Judá. A menção de “Davi” alude, por via de triste contraste, ao tempo
presente e ao de Davi, quando este submeteu a Síria sob seus domínios
(2Sm_8:6).
Efraim — as dez tribos.
como … as árvores do bosque — foi uma agitação simultânea.
3. Sai agora — fora da cidade, ao lugar onde Acaz se achava
dirigindo as obras de defesa, e cortando a provisão de água para o
inimigo, abastecendo pelo contrário dela à cidade. Assim o diz Is_22:9;
2Cr_32:4.
Sear-Jasube (RC) — isto é, um resto voltará (Is_6:13). Este
mesmo nome (cf. v. 14; Is_8:3) foi um memorial permanente para Acaz
e os judeus de que a nação, não obstante a calamidade geral (vv. 17-25;
Is_8:6-8) não seria totalmente destruída (Is_10:21, 22).
canal (RC) — um aqueduto do lago ou depósito para abastecer de
água a cidade. Ao pé da colina de Sião estava a fonte de Siloé (Is_8:6;
Ne_3:15; Jo_9:7), a que também chamava-se Giom; e ficava a oeste de
Jerusalém (2Cr_32:30). Essa fonte abastecia a dois lagos: o Superior ou
Antigo (Is_22:11), ou do Rei (Ne_2:14), e o Inferior (Is_22:9), que
recebia as águas supérfluas do superior. Este, que ainda existe, dista uns
seiscentos metros da porta de Jafa. A estrada que conduzia ao campo do
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 50
lavadeiro, o qual estava perto da água para poder lavar os tecidos antes
das secar e as branquear, provavelmente corria paralela ao aqueduto.
4. Acautela-te e aquieta-te — quer dizer: Procure estar quieto
(não buscando a ajuda dos assírios, num acesso de pânico).
dois tocos — meras extremidades de tições quase consumidos
(prestes a cair diante dos assírios, v. 8), e pelo mesmo inofensivos.
fumegantes — como prestes a extinguir-se; não em chamas.
filho de Remalias — Peca, um usurpador (2Rs_15:25). Os
orientais expressam seu desprezo designando um não por seu nome, mas
pelo pai, especialmente quando este é bem pouco conhecido
(1Sm_20:27, 1Sm_20:31).
6. e amedrontemo-lo — antes, façamo-la cair em consternação
[Gesênius],
e o conquistemos para nós — Melhor: Partamo-la em dois. Seu
plano era dividir uma grande parte do território entre eles mesmos, e
constituir sobre o resto, e como rei vassalo, a um dos seus.
filho do Tabeal — um desconhecido; um nome que soa como sírio,
favorecido possivelmente por um partido em Jerusalém (Is_8:6, 9, 12).
7. (Is_8:10; Pv_21:30.)
8. cabeça — isto é, tanto na Síria como em Israel, a capital
continuará sendo a mesma. Os aliados não conquistarão a Judá, mas sim
cada qual seguirá em possessão de seus domínios.
sessenta e cinco anos … deixará de ser povo — como estas
palavras rompem a simetria do paralelismo neste versículo, deve-se
colocá-las ou depois “do filho de Remalias”, no v. 9, ou referi-las a
alguma profecia anterior de Isaías, ou de Amós (conforme o expõem os
escritores judeus) como um parêntese, cujo paralelismo o constituem as
palavras “se o não crerdes … não permanecereis” [v. 9]. Uns dois anos
depois desta data teve lugar uma deportação de israelitas sob Tiglate-
Pileser (2Rs_15:29). Uns vinte anos mais tarde, efetuou-se outra por
Salmaneser (2Rs_17:1-6), quando reinava Oseias. Mas a última, que
“cortou” inteiramente a Israel, ao ponto de “não ser já povo”, e que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 51
seguida pela colonização de Samaria como estrangeiros, teve lugar sob
Esar-Hadom, quem levou também Manassés, rei de Judá, no vigésimo
segundo ano de seu reinado, sessenta e cinco anos depois de ter-se
proferido esta profecia (Cf. Ed_4:2-3, Ed_4:10, com 2Rs_17:24;
2Cr_33:11) [Usher]. O evento, embora tão longínquo, foi suficiente para
infundir confiança ao povo de Judá, de que Deus como cabeça da
teocracia, interviria no fim para destruir os inimigos de Seu povo, de
sorte que poderiam agora contar com Ele.
9. se o não crerdes ... não permanecereis — Acaz foi vítima da
angústia por desconfiar de Deus e pôr sua confiança em Assíria.
11. Pede — Visto que você não crê nas palavras do profeta.
sinal — uma prova milagrosa que lhe assegure que Deus cumprirá
Sua promessa de salvar a Jerusalém (Is_37:30; Is_38:7, 8). Os “sinais”,
ou seja, atos presentes ou próximos que servem como objetos para o
mais longínquo futuro, ocorrem frequentemente em Isaías.
Pede ... nas profundezas — lit., aprofunda-te, pede-a, isto é,
Desce ao profundo da terra ou do Hades (a Vulgata e Lowth) ou sobe ao
alto para alcançar o sinal (lit., remonta-te ao alto). Esta ideia encontra-se
em Mt_16:1. Os sinais no céu se contrastam com os da terra, e as
debaixo da terra (como o ressuscitar os mortos) que Jesus Cristo devia
operar (cf. Rm_10:6-7). O profeta oferece a Acaz amplos limites dentro
dos quais fizesse sua escolha.
12. nem tentarei — uma saída hipócrita sob pretexto de que
guardava a lei (Dt_6:16); “tentar”, isto é, pôr à prova a Deus, como em
Mt_4:7, buscando sua milagrosa intervenção sem motivo justificado.
Mas aqui estava a garantia do profeta de Deus; o pedir um sinal, quando
este lhe era oferecido, não teria sido tentar a Deus. A verdadeira razão
de Acaz ter declinado de pedir o sinal foi porque estava resolvido a não
fazer a vontade de Deus, mas sim negociar com a Assíria e perseverar na
idolatria (2Rs_16:7-8, 2Rs_16:3-4, 2Rs_16:10). Há homens que com
frequência desculpam sua desconfiança em Deus e confiam em suas
próprias invenções, sob pretexto de professada reverência para com
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 52
Deus. Acaz pôde ter imaginado que embora o Senhor fosse o Deus da
Judeia e podia realizar um sinal ali, isso não era prova de que o deus
local da Síria não pudesse ser mais poderoso. Tal era a noção pagã
comum (Is_10:10, 11; Is_36:18-20).
13. acaso, não vos basta …? — Não lhes é o bastante? (Nm_16:9).
A alusão a “Davi” é para contrastar sua confiança em Deus com a
desconfiança de seu degenerado descendente Acaz.
fatigardes os homens — ao pôr à prova a paciência dos homens,
ou seja, dos profetas. Isaías até agora não apresentou nenhum sinal
externo de que era o enviado de Deus; mas agora Deus lhe ofereceu um
sinal que Acaz desprezou publicamente. Por conseguinte, o pecado
agora não é meramente contra “os homens”, mas sim abertamente
“contra Deus”. Por essa razão, Isaías muda suas maneiras delicadas num
atrevida recriminação.
14. o Senhor mesmo — Visto que você não quer pedir um sinal;
mais ainda, você rejeitou o oferecimento de um.
vos dará um sinal — por amor à casa do crente “Davi” (Deus
lembra Sua aliança eterna, feita com esse rei); não por causa do
incrédulo Acaz.
eis que — chama a atenção ao extraordinário da profecia.
virgem — de uma raiz que significa manter-se oculta; as virgens
no Oriente eram guardadas cuidadosamente da vista dos homens, sob a
custódia de seus pais. No hebraico e na LXX, o artigo precede no nome,
outro tanto ocorre no original grego de Mt_1:23, onde se lê: a virgem,
uma mulher determinada, conhecida do profeta e de seus ouvintes;
assinala em primeiro termo a mulher, ainda virgem, que logo chegaria a
ser a segunda esposa e daria à luz um filho, cuja chegada à idade do
discernimento (uns três anos) estaria precedida pela libertação de Judá de
seus dois invasores. Mas seu mais pleno significado cumpre-se na
mulher” (Gn_3:15), cuja linhagem esmagaria a cabeça da serpente e
livraria o homem do cativeiro (Jr_31:22; Mq_5:3). Está escolhido uma
linguagem tal que enquanto que é aplicável em parte para evento
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 53
imediato, contudo, recebe seu mais pleno, apropriado e final
cumprimento nos acontecimentos messiânicos. A apropriação de tais
profecias do Novo Testamento não é uma forçada “acomodação”; antes,
o cumprimento temporário, e a adaptação de uma transcendental
profecia, ao presente e transitivo evento que anuncia tipicamente o
grande fim central da profecia: Jesus Cristo (Ap_19:10). Evidentemente,
a fraseologia é de tal natureza que é mais aplicável a Jesus Cristo que ao
filho do profeta; “virgem” aplica-se no sentido mais puro à Virgem
Maria, em vez de à profetisa, que tinha deixado de ser virgem quando
“concebeu”. “Emanuel”, Deus conosco (Jo_1:14; Ap_21:3), não pode
aplicar-se em sentido estrito ao filho de Isaías, mas sim só ao que
imediata e explicitamente se chama (Is_9:6) “o Menino, o Filho, o
Admirável (cf. Is_8:18), o Deus forte”. Características locais e
temporárias (como nos vv. 15 e 16) acrescentam-se a cada tipo; de outra
maneira já não seria um tipo, mas sim a coisa em si. Há suficientes
semelhanças ao grande protótipo, como para que as possam reconhecer
os que as buscam, e muitos dessemelhanças para confundir aos que não
as desejam descobrir.
chamará — ela, ou como reza uma lição marginal: você, oh
Virgem, chamará. Era frequente que as mães pusessem as nomes a seus
filhos (Gn_4:1, Gn_4:25; Gn_19:37; Gn_29:32). Em Mt_1:23 o grego
reza “chamarão.” Quando se cumpriu a profecia de uma maneira
plenária, o nome Emanuel já não esteve limitado à noção que tinha a
profetisa quanto ao caráter do Messias e ao parcial cumprimento da
profecia em seu filho, mas sim então todos lhe chamaram por esse nome
(não literalmente), ou, antes, consideraram que o nome descritivo de
Emanuel era o que o caracterizava da maneira mais peculiar e adequada.
(1Tm_3:16; Cl_2:9).
nome (RC) — não um mero apelativo, o qual nem o filho de Isaías
nem Jesus Cristo levaram de modo literal, mas sim o que descreve seus
revelados atributos; isto é, seu Caráter (assim Is_9:6). O nome, se se
considerar o objeto para o qual foi destinado, não foi arbitrário, mas sim
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 54
característico do indivíduo. O pecado destruiu a faculdade de perceber o
ser interior; esta é a causa da separação que agora existe entre o nome e a
pessoa. No caso de Jesus Cristo e de muitos que registra a Escritura, o
Espírito Santo supriu esta falta [Olshausen].
15. manteiga — Melhor, requeijão, cujo ácido é muito apreciado
no Oriente (Jó_20:17).
mel — Este existe em grande quantidade na Palestina (Jz_14:8;
1Sm_14:25; Mt_3:4). Os médicos diziam que o primeiro alimento que se
devia dar a um menino era mel, o seguinte, leite (Epístola de Barnabé).
Horsley crê que isto sugere a humanidade real de Jesus Cristo, por ter
sido alimentado como os outros infantes (Lc_2:52). O v. 22, além de
aludir à propriedade do leite e do mel para a alimentação dos meninos,
também dá a entender o estado de angústia em que se acharão habitantes
quando, por causa das invasões, o leite e o mel, alimentos que se
produzem espontaneamente, serão os únicos artigos alimentícios dos
quais haverá abundância [Maurer].
quando souber — melhor: até que saiba.
o mal … escolher o bem — aos três anos aproximadamente
começa a despertar a consciência moral (cf. Is_8:4; Dt_1:39; Jn_4:11).
16. Pois (TB) — a libertação que está implícita no nome “Emanuel”,
e o afastamento da angústia por falta de alimentos (vv. 14, 15), durará
somente até que o menino cresça suficientemente para conhecer o bem e
o mal.
será desolada a terra, ante cujos dois reis tu tremes — melhor,
desolada será a terra diante de cujos reis você está alarmado
[Hengstenberg e Gesênius).
a terra — ou seja, Síria e Samaria, consideradas como uma só
(2Rs_16:9; 2Rs_15:30); esta profecia se cumpriu exatamente dois anos
depois, tal como ela o prediz. Horsley interpreta: “A terra (Judá e
Samaria) da qual (a primeira) tu és a praga (lit., o espinho), será
abandonada”, etc., uma predição que vaticina que Judá e Israel
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 55
(apropriadamente consideradas como uma “terra”) cessariam de ser
reinos (Lc_2:1); Gn_49:10) antes que Emanuel viesse.

Vv. 17-25. Fatais Consequências da Política de Acaz Com Assíria.


Embora Judá está prestes a ser livrada temporariamente (Is_7:16;
Is_8:4) e a libertação final virá com o Messias, a primeira libertação será
seguida de um severo castigo. Depois de subjugar a Síria e a Israel, os
assírios se enfrentarão com o Egito (2Rs_23:29), e Judá será o campo de
batalha onde ambos os exércitos lutarão. Portanto, esta será feita
tributária da própria Assíria (2Cr_28:20; 2Rs_16:7-8) que agora é
convidada como aliada (Is_39:1-6). O Egito também deverá ser um
aliado fatal (Is_36:6; Is_31:1, etc.).
18. assobiará — para atrair as abelhas (Is_5:26).
moscas — que existe em quantidade nas imediações dos braços do
Nilo e seus canais (Is_19:5-7; Is_23:3), chamados aqui “rios”. Daqui
surgiu a praga de moscas que se menciona em Êx_8:21. Em sentido
figurado, alude-se a numerosos e incômodos inimigos das partes mais
remotas do Egito: por exemplo, Faraó-Neco.
abelhas — (Dt_1:44; Sl_118:12). Na Assíria as abelhas são tão
numerosas como as moscas no pantanoso Egito. Senaqueribe, Esar-
Hadom e Nabucodonosor cumpriram esta predição.
19. pousarão — Continua a imagem das moscas e abelhas. O
inimigo cobrirá a terra por toda parte, inclusive os “desoladas vales”
espinhos — em contraste com os “pastos” [TB] que eram
estimados e cultivados com cuidado
20. navalha — os assírios seriam os instrumentos usados por Deus
para a devastação da Judeia, na mesma forma em que uma navalha acaba
com a barba que se acha diante dela (Is_10:5; Ez_29:19-20).
alugada — faz alusão ao tratado de Acaz (2Rs_16:7-8) com
Tiglate-Pileser contra Síria e Israel, ou seja,
que está nas regiões além do Rio (TB) — isto é, o Eufrates, limite
oriental dos conhecimentos geográficos dos judeus (Sl_72:8); o rio que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 56
Abraão tinha cruzado; pode ser que também inclua o Nilo (v. 18) [G. V.
Smith]. Gesênius traduz: “Com uma navalha alugada nas partes além do
rio”.
cabeça … pés (TB) — todo o corpo, inclusive as partes mais
honrosas. Cortar a barba de um oriental era lhe lançar a maior desonra
(Is_50:6; 2Sm_10:4-5; Ez_5:1).

Vv. 21-25. O Estado de Desolação da Terra Devido aos Assírios e


aos Egípcios.
21. criará — isto é, algo próprio.
uma vaca — uma vitela que já dá leite. A agricultura cessará, e o
país se converterá num grande campo de pastoreio.
22. abundância — por causa da vasta extensão de terra que jazerá
desolada, poderão vagar por ela vacas, ovelhas e inclusive cabras.
manteiga — leite gordo ou nata.
mel — (Veja-se v. 15). Os alimentos que se produzem
espontaneamente serão os únicos recursos alimentícios dos poucos
habitantes que terão sido deixados. O mel abundará, pois as abelhas
acharão abundância de flores silvestres por toda parte.
23. todo lugar em que houver — o lugar onde até naquele tempo
tinha existido uma vinha tão valiosa que tinha 1.000 videiras, que valiam
um siclo de prata cada uma (25 centavos ouro; preço elevado), será para
os espinheiros unicamente (Ct_8:11). Os vinhedos se estimam pelo
número e qualidade de seus vides. Judeia é suscetível ao cultivo intenso,
necessário para que seja produtiva; sua atual esterilidade deve-se à
negligência.
24. Se converterá num vasto campo de caça, em que abundarão os
animais monteses (cf. Jr_49:19).
25. costumam sachar — para plantar videiras e cultivá-las
(Is_5:6).
para ali não irás — isto é, nenhum temente aos espinheiros se
aproximará, ao ver que estes abundam por toda parte [Maurer]. Em
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 57
outras palavras, “Você não se aproximará por medo dos espinheiros”
[Gesênius]. Unicamente o gado poderá penetrar no espinhoso terreno.
de bois — do gado menor — ovelhas e cabras.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Isaías 8

Isaías 8 e Is_9:7. Os primeiros sete versículos de Isaías 9 pertencem


a esta seção. Em Isaías 8 se continua o assunto de Isaías 7, mas num
período posterior (cf. Is_8:4 com Is_7:16), o que dá a entender que o
intervalo até o cumprimento, é agora mais curto que em Isaías 7. O tom
de Is_8:17, 21, 22 expressa uma calamidade mais imediata e aflitiva que
em Is_7:14, 15, 22.
1. grande — adequado, com letra bastante grande para que todos o
vejam.
volume — antes, uma tabuleta de madeira, de metal ou de pedra
(cf. Is_30:8; Hc_2:2), coberta às vezes de uma capa de cera, sobre a qual
se traçavam os caracteres com um instrumento pontiagudo ou com o
estilo de ferro; também se usavam peles e papiros (Is_19:7).
de maneira inteligível — isto é, com caracteres comuns que a
pessoa mais humilde possa ler (Hc_2:2). Em hebraico enosh significa um
homem comum, por via de contraste com as classes elevadas (Ap_21:17;
Rm_3:5). Não em hieróglifos. O objeto era que, depois do evento, todos
pudessem ver que já tinha sido predito por Isaías.
referente (AV) — ao título e assunto da profecia.
Maer-Salal-Hás-Baz — “Eles (isto é, os assírios) apressam-se ao
despojo (ou seja, da Síria e Samaria); dão-se pressa à presa”. [Gesênius].
Em outras palavras, “o despojo (isto é, o despojador) apressa-se; a rapina
avança apressadamente” [Maurer]
2. juntei — antes, o Senhor me disse que tomasse, etc. [Maurer].
Urias — cúmplice de Acaz na idolatria, e portanto, uma testemunha
que não se prestaria a ajudar o profeta de Deus a construir uma profecia
depois de ter-se completado. (2Rs_16:10). Os testemunhos tinham por
objetivo o comprovar, quando o fato ocorresse, que a tabuleta que
continha a profecia tinha sido gravada no tempo que ela expressava.
Zacarias — (2Cr_29:13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 59
3. profetisa — talvez a mesma mulher mencionada como a
“virgem” (Is_7:14), nesse ínterim casada com Isaías, em qualidade de
segunda esposa; isto é, num sentido primário e temporário. Emanuel é,
neste sentido, distinto de Maer-Salal-Hás-Baz. É assim como
transcorrem quando menos dez e oito meses desde que a profecia foi
predita (Is_7:14): nove antes do nascimento do Emanuel, e dez desde
esse tempo até o nascimento de Maer-Salal-Hás-Baz; se acrescentarmos
a estes onze ou doze meses antes que este último pudesse dizer “meu
Pai” (Is_8:4), temos uns três anos no total, o que concorda com Is_7:15,
16.
4. antes — dentro de um ano.
6. as águas de Siloé … brandamente — Sua fonte se acha a
sudoeste de Sião e a leste de Jerusalém. Esse termo significa enviado,
devido ao fato de que a água é enviada mediante um aqueduto (Jo_9:7).
Isto representa figurativamente o suave, embora fraco no presente,
domínio da casa de Davi. Em seu mais elevado sentido, Siloé expressa o
benéfico domínio do Senhor em seu reino teocrático, regido mediante a
instrumentalidade de Davi. A fonte de Siloé é contrastada com o violento
Eufrates, “o rio” que tipifica a Assíria (v. 7; Ap_17:15). “Este povo”
refere-se tanto a Israel, que preferiu aliar-se com Rezim da Síria, em vez
de com os reis de Judá; assim como Judá por causa de um partido que
parece ter favorecido as pretensões do filho de Tabeal para reinar sobre
Judá, em prejuízo da linhagem de Davi (Is_7:6); também o desejo de
Judá de buscar uma aliança com a Assíria, é incluído na censura
(Is_7:17). O v. 14 demonstra que se alude a ambas as nações, visto que
tanto uma como a outra rejeitaram igualmente ao Divino Siloé. Não se
refere a “meu povo”, como em outras ocasiões quando Deus expressa o
Seu favor, mas sim a “este povo” (Is_6:9).
7. eis que — pela razão dada no v. 6, a inundação assíria alagará
primeiro a Síria e Samaria e subirá alto o suficiente para alcançar
também a rebelde Judá (v. 8).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 60
águas — O Eufrates, transbordado na primavera, pelo degelo das
neves das montanhas de Armênia (cf. v. 6; Is_7:20).
com toda a sua glória — Os reis do Oriente viajam com ostentosa
comitiva.
todos os seus leitos (TB) — ou canais, naturais e artificiais da
plana região da Mesopotâmia.
8. Penetrarão em — a inundação não se deterá em Síria e Samaria,
mas sim penetrará na Judeia.
pescoço — Quando um náufrago tem a água na garganta, está
quase a se afogar; mas enquanto a água não cobrir a cabeça há
esperanças de salvação. Jerusalém, que se ergue acima das colinas, é a
cabeça que estará em perigo iminente com a invasão de Senaqueribe,
durante o reinado de Ezequias; mas será perdoada. (Is_30:28).
alas — as tropas do exército assírio; o que se cumpriu (Is_36:1;
Is_37:25).
tua terra, ó Emanuel — Embora isto seja aplicável
temporariamente ao filho de Isaías, no sentido mais completo só é
aplicável ao Messias, que Judeia, sendo dEle, foi, e até é, um objeto de
que, por muito lamentável que seja seu abatimento, no final será salva; a
“cabeça” no presente está ilesa e aguarda o momento da restauração
(At_1:6); estas palavras querem dizer ao mesmo tempo que não obstante
a libertação temporária da Síria e de Israel, implícita no nome
“Emanuel”, devem se seguir as maiores calamidades para Judá.
9. Enfurecei-vos — quer dizer, Suscitem tumultos ou enfurecei-vos,
isto é, fazei o pior de tudo [Maurer]. Possivelmente se refira ao ataque de
Rezim e de Peca contra Jerusalém.
e sereis despedaçados — melhor, não obstante sereis presa da
consternação. Em hebraico está no imperativo, de conformidade com um
modismo em virtude do qual o segundo de dois imperativos sugere o
futuro, isto é, o resultado da ação contida no primeiro (assim Is_6:9). O
nome “Emanuel” no v. 8 (cf. v. 10) sugere o pensamento de que a última
proteção de Judá da parte de Emanuel, será de seus dois invasores atuais
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 61
assim como dos próprios assírios, não obstante a desoladora inundação
predita nos versículos anteriores. A sucessão da casa de Davi não pode
deixar-se de um lado em Judá, porque o Messias deve nascer nela, como
herdeiro de Davi, de quem o filho de Isaías é só um tipo (Is_9:4, 6).
dai ouvidos, todos ... de países longínquos — presenciem a
derrota dos inimigos de Judá. A profecia também vislumbra a final
conspiração do Anticristo e seus partidários, contra o herdeiro do trono
de Davi nos últimos dias, e sua completa derrota [Horsley].
cingi-vos e sereis despedaçados — a repetição expressa com
veemência a certeza de que serão presa da consternação (e não, como
diz aqui, “despedaçados”).
10. ordens — A palavra de ordem para o assalto de Jerusalém.
Deus é conosco — Emanuel quer dizer isto (Nm_14:9; (Sl_46:7).
11. com uma forte mão (RC) — ou de outra maneira, quando
travou de mim com sua mão [Horsley]. Maurer, segundo a Versão
Inglesa: “Com o ímpeto de sua mão”, isto é, o impulso que senti de Sua
inspiração em minha mente (Jr_15:17; Ez_1:3; Ez_3:14, Ez_3:22;
Ez_37:1).
pelo caminho deste povo — sua desconfiança no Senhor e o
pânico que os induziu a eles e a Acaz para buscar a ajuda da Assíria.
12-16. As palavras de Jeová.
12. conjuração — ou antes, uma conspiração; um termo
apropriado para designar a aliança antinatural de Israel com a
estrangeira Síria, contra Judeia e a teocracia, com as quais estava a
primeira vinculada por laços de sangue e de religião [Maurer].
a tudo — antes, a tudo o que este povo chama conspiração [G. V.
Smith].
o que ele teme — ou seja, o objeto de seu temor: a conspiração dos
inimigos.
nem tomeis isso por temível — antes, [Maurer], “nem façam
outros temerem”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 62
13. santificai — Honrai o Seu santo Nome, considerando-O como a
única esperança de proteção (Is_29:23; Nm_20:12).
seja ele o vosso temor — temor de não provocar Sua ira, por temer
ao homem e desconfiar dEle.
14. santuário — asilo inviolável, semelhante ao altar do templo
(1Rs_1:50; 1Rs_2:28; Ez_11:16; cf. Pv_18:10); ou seja, para aqueles que
lhe temem e confiam nEle.
às duas casas — Israel e Judá. Aqui a profecia volta a estender-se
para além da temporária aplicação ao tempo de Acaz.
pedra de tropeço — isto é, uma rocha contra a qual tropeçariam
para dano próprio; quer dizer, daqueles que não queriam crer. A mesma
pedra, Emanuel, que teria sido um santuário por meio da fé, converte-se
num fatal estorvo por causa da incredulidade. Jesus Cristo refere-se a
isto em Mt_21:44. (Cf. Dt_32:4, 15, 18, 32:30-31, 37; Dn_2:34;
Rm_9:33; 1Pe_2:8).
laço — armadilha com que se caçam pássaros inadvertidamente
(Lc_21:35; 1Ts_5:2). Assim foi na destruição de Jerusalém por Tito.
15. tropeçarão e cairão, serão .… presos — imagens tomadas dos
meios empregados para caçar animais selvagens.
16. Ata … sela (TB) — O que Isaías havia anotado antes
brevemente, ao gravar o nome Maer-Salal-Hás-Baz numa tabuleta
fixada num lugar público, escreveu-o depois mais detalhadamente num
rolo de pergaminho (Is_30:8); isto é o que agora tem que selar, não
meramente para que nada seja acrescentado nem tirado, por estar
completo, senão para denotar que se relaciona com eventos ainda
longínquos, e que, portanto, é um testemunho selado e não entendido
(Is_6:9, 10), exceto em parte entre “os discípulos de Deus”; quer dizer,
aqueles que “santificam ao Senhor” mediante obediente confiança.
(Sl_25:14). As revelações subsequentes esclareceriam posteriormente o
que agora era obscuro. É assim como o Apocalipse explica o que em
Daniel foi deixado sem explicar (cf. Dn_8:26; Dn_12:9). Estas palavras
estão fechadas e seladas até o tempo do cumprimento; mas em
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 63
Ap_22:10, diz: “Não seles as palavras da profecia … porque o tempo
está próximo” (cf. Ap_5:1, Ap_5:5, Ap_5:9).
testemunho — confirmado por Urias e Zacarias (v. 2).
lei — a revelação que acaba de fazer-se, a que tem força de lei.
discípulos — Não como afirma Maurer: Urias e Zacarias (cf.
Jo_7:17; Jo_15:15).
17. Esperarei — seja qual for o que o resto da nação faça, eu
olharei unicamente ao Senhor.
que esconde o seu rosto — embora agora pareça que apartou Seu
rosto de Judá (que então representava a “casa de Jacó”). Esperemos e
confiemos nEle, mesmo quando não O possamos ver (Is_50:10; Is_54:8;
Hc_2:3; Lc_2:25, Lc_2:38).
18. Eis-me aqui, e os filhos — Isaías significa salvação de Jeová;
os nomes de seus filhos também eram “sinais” sugestivos da vindoura e
final libertação (Is_7:3; Is_7:14; Is_8:3).
maravilhas — isto é, símbolos do futuro (Is_20:3; Zc_3:8). “Eis-
me aqui, e os filhos que o SENHOR me deu”, acha-se chamado em
Hb_2:13 para provar a humanidade do Messias. Este é o principal e
último cumprimento da profecia, pois em seu sentido temporário aplica-
se ao tempo de Acaz. Isaías, nos versículos 17 e 18, representa
tipicamente o Messias, ao mesmo tempo como “Pai” e “Filho”, Isaías e
Emanuel, Menino e Deus Forte e é, por conseguinte, chamado aqui um
“prodígio”, como em Is_9:6, “Maravilhoso”; daí que em Hb_2:13, os
crentes sejam chamados “filhos”; mas nos vv. 11, 12, seus “irmãos”.
Com referência a “os filhos que o SENHOR me deu” veja-se Jo_6:37,
Jo_6:39; Jo_10:29; Jo_17:12.
que habita no monte Sião — e protegerá portanto a Jerusalém.
19. Consultai — Consultem em suas dificuldades nacionais.
os necromantes — os feiticeiros. Assim o fez Saul, logo que
abandonou a Deus (1Sm_28:7, etc.), consultando à adivinha de En-Dor
em suas dificuldades. Estes seguiram a esteira da idolatria que prevalecia
no reinado de Acaz (2Rs_16:3-4, 2Rs_16:10), o qual imitou a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 64
adivinhação dos damascenos, como o fez antes com o altar que estes
tinham (cf. Lv_20:6, que proíbe estas coisas, Is_19:3).
adivinhos — pessoas que presumem ter conhecimentos
sobrenaturais.
chilreiam — melhor: chiam fracamente, como os passarinhos
muito pequenos; este som era atribuído geralmente aos espíritos dos que
haviam partido deste mundo; mediante a ventriloquia, os adivinhos
produziam um som baixo, como se procedesse de um sepulcro ou de um
morto. Daqui que, na Versão dos LXX a palavra hebraica que significa
necromantes nesta passagem está traduzida por “ventríloquos” (Is_29:4).
não consultará … ao seu Deus? — É a resposta que Isaías
recomenda se dê aos que aconselham que se recorra aos necromantes.
pelos vivos, etc., — “deveria alguém para a proteção dos vivos
recorrer (ou consultar) aos mortos?” [Gesênius]. Lowth traduz: “Em
lugar de (consultar a) os vivos, “deveria se consultar os mortos?”
20. À lei — à revelação de Deus dada a Seu profeta, a qual manda
que recorram os que aconselhavam a apelar à necromancia.
Se eles não falarem … jamais verão — A Versão Inglesa explica
que o termo “falarem” se refere aos necromantes. Mas a palavra hebraica
traduzida porque, não significa isto, mas sim aqueles que; e em lugar de
si não falarem, deve, em lugar disso, dizer verdadeiramente dirão assim
aqueles aos quais não lhes alvoreceu a luz matinal (no hebraico se
entende que se refere àqueles que não desfrutam de prosperidade depois
de uma noite de tristezas) [Maurer e G. V. Smith]. Os que se acham na
escura noite da prova, sem a aurora da esperança, certamente dirão: Não
recorram, como o fizemos nós, à necromancia, mas sim “à lei”, etc. Aqui
a lei, talvez inclua a lei de Moisés, que era a “Carta Magna” que o
profetismo comentava [Kitto].
21, 22. Aqui temos uma descrição mais detalhada do desespero em
que cairão os que recorreram à necromancia antes que a Deus. O v. 20
sugere que se darão conta tarde demais de quanto melhor lhes teria sido
haver recorrido à lei, etc. (Dt_32:31); mas agora estão entregues ao
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 65
desespero. Portanto, embora vejam a verdade de Deus, não fazem senão
“amaldiçoar a seu Rei e Deus”, o que é presságio da mesma conduta que
observarão no futuro aqueles que pertençam ao “reino da besta” quando
forem visitados pelas pragas divinas (Ap_16:11; cf. com Jr_18:12).
Passarão — ou seja, pela terra;
oprimidos — deprimidos pela ansiedade.
famintos — com fome mais aflitiva que a temporal do tempo de
Acaz, por causa da Assíria; então havia algum alimento; mas agora não
há nada (Is_7:15, 22; Lv_26:3-5, Lv_26:14-16, Lv_26:20.
seu rei … Deus — Jeová, Rei dos judeus (Sl_5:2; Sl_68:24).
Olharão para a terra — seja que olhem ao céu ou à terra da
Judeia, não haverá nada mais que desespero.
angústia, escuridão — as trevas causadas pela tribulação
(Pv_1:27).
lançados para densas trevas — (Jr_23:12). Serão lançados para
frente como por uma arrasadora tormenta. A rejeição pelos judeus de
“seu Rei e Deus”, o Messias, foi seguido por estas espantosas
calamidades.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 66
Isaías 9

Vv. 1-7. Continuação da Profecia de Isaías 8.


1. Mas, etc. — antes, “Porque as trevas não estarão
(continuamente) sobre ela (isto é, sobre a terra) sobre a qual há (agora)
aflição” [Hengstenberg e Maurer]. O porque, não se refere às palavras
imediatamente anteriores, mas sim às consolações de Is_8:9, 10, 17, 18.
Não desesperem, porque, etc.
nos primeiros tempos — antes, assim como a primeira vez trouxe
o desprezo sobre a terra de Zebulom e de Naftali (ou seja, a deportação
de seus habitantes por Tiglate-Pileser, 2Rs_15:29, acontecida um pouco
antes de proferir-se esta profecia), assim os dias por vir, trarão honra ao
caminho do mar (o distrito do contorno do lago da Galileia), a terra do
outro lado do [mas Hengstenberg diz: Junto ao] Jordão ou seja a Pereia,
a leste do Jordão, pertencente às tribos de Rúben, Gade e a meia tribo de
Manassés, o círculo [Hengstenberg, “Galileia”] (isto é, a região) dos
“gentios”. [Maurer, Hengstenberg, etc.] Galil em hebraico é um círculo,
ou circuito, e dele procede o nome da Galileia a norte de Naftali,
habitada por uma raça mestiça de judeus e gentios, procedentes da raça
fronteiriça de Fenícia (Jz_1:30; 1Rs_9:11). Além da recente deportação
de Tiglate-Pileser, tinham sido infelizmente assolados por Ben-hadade
da Síria, 200 anos antes (1Rs_15:20). Depois da deportação assíria foi
povoada por colonos gentios, por Esar-Hadom (2Rs_17:24). Daqui
nasceu o desprezo que os judeus meridionais de sangue mais puro,
sentiam pelos galileus (Jo_1:46; Jo_7:52). Essa região, que esteve tão
entenebrecida em outro tempo, figurará entre as primeiras que receberão
a luz do Messias (Mt_4:13, Mt_4:15-16). Foi nesta desprezada Galileia
onde primeiro e com mais publicidade exerceu Jesus o Seu ministério.
Dela eram a maior parte dos apóstolos. De acordo com o predito em
Dt_33:18-19; At_2:7; Sl_68:27-28, Jerusalém, a capital teocrática,
poderia ter facilmente conhecido o Messias. Para compensar a menos
favorecida Galileia, Ele exerceu nela a maior parte de Seu ministério. O
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 67
grande envilecimento dessa região a levou a sentir a necessidade de um
salvador, sentimento que não experimentaram os judeus, que se tinham a
si mesmos por justos (Mt_9:13). Também era próprio que Ele, que era a
“Luz a ser revelada aos gentios, e a glória de seu povo de Israel”,
exercesse o Seu ministério principalmente na região fronteiriça de Israel
perto dos gentios.
2. O povo — toda a nação, Judá e Israel.
sombra da morte — a negra miséria do cativeiro.
3. Tens multiplicado este povo — em primeiro lugar, refere-se ao
rápido crescimento dos israelitas depois da volta de Babilônia; em
segundo lugar, e em forma mais cabal e completa, à rápida propagação
que teve o cristianismo no princípio.
não aumentaste a alegria (AV) — Fazendo uma leve mudança no
hebraico, alguns substituem o não por sua (alegria), visto que a frase
“não aumentaste alegria”, parece o oposto do que segue imediatamente:
“se alegrarão.” etc. Hengstenberg retém o não assim: “Cujo gozo não
aumentaste” (isto é, o diminuíste). Outros traduzem: “Não aumentaste a
alegria?” A real dificuldade com a leitura não, torna menos provável que
se trate de uma interpolação. Horsley se expressa melhor quando explica:
O profeta contempla em visão uma cambiante cena em que abrange de
uma olhada a história da Igreja cristã até os tempos mais remotos — vê
uma terra escura e escassamente povoada — nisto, é iluminada por uma
luz, que se acende de repente — ele a vê cheia de novos habitantes —
logo vê que estes lutam com dificuldades, e outra vez a vê livrada
mediante a completa e final destruição de seus inimigos. O influxo dos
conversos gentios (representados aqui pela “Galileia dos gentios”) logo
devia ser seguido pelo crescimento da corrupção e a aparição do
Anticristo, que deve ser destruído; enquanto isso o povo de Deus é
libertado, como no caso da vitória de Gideão sobre Midiã, não pela
proeza de um homem, mas pela especial interposição de Deus.
diante de ti — uma frase tirada das festas sacrificais; o dízimo da
colheita era comido diante de Deus (Dt_12:7; Dt_14:26).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 68
como exultam quando repartem os despojos — isto se refere aos
juízos dos inimigos do Senhor e do Seu povo, que em geral são
acompanhados de revelações de Sua graça.
4. A ocasião da “alegria”, foi a libertação não só de Acaz e de Judá
de ser tributários da Assíria (2Rs_16:8) e das dez tribos de Israel, do
opressor (2Rs_15:19), mas também a libertação da igreja judaico-cristã
de seu último grande inimigo.
quebraste — o tempo passado em vez do futuro nas visões
proféticas; o qual expressa a certeza do evento.
o jugo que pesava sobre eles — o jugo que os curvavam.
a vara que lhes feria os ombros — a vara com que lhe castigavam
as costas [Maurer]; ou o lenho, semelhante a um jugo, que punham sobre
o pescoço dos escravos, como sinal de servidão [Rosenmuller].
no dia dos midianitas — (Jz_7:8-22). Assim como Gideão, com
uns quantos homens, venceu as hostes de Midiã, assim o menino Messias
(v. 6) demonstrará que é “Príncipe da Paz”; então o pequeno Israel, sob
Suas ordens, vencerá as poderosas hostes do Anticristo. (cf. Mq_5:2-5),
onde se acha o mesmo contraste, aquele que também alude ao “assírio”,
que era então inimigo da Igreja, e segundo Isaías aqui, o tipo do último
grande inimigo. Para analogias adicionais entre a vitória de Gideão e o
evangelho, cf. 2Co_4:7 com Jz_7:22. Assim como a frase “exultam
quando repartem os despojos” (v. 3) precedia ao que “não era motivo de
alegria”, que foi a feitura da idolátrica estola sacerdotal (Jz_8:24-27),
assim a vitória do Evangelho, no princípio, não demorou para ser
seguida pela apostasia; outro tanto ocorrerá depois da milenial derrota do
Anticristo (Ap_20:10).
5. toda batalha — melhor: “toda caneleira (do guerreiro que está
revestido de caneleiras), no estrépito da batalha, e o traje marcial (ou
casaca, chamada pelos romanos ságum) serão empapados de sangue e
convertidos em combustível para o fogo” [Maurer]. Será destruída toda
equipe militar por já não a requerer a nova era de paz (Is_2:4; Is_11:6, 7;
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 69
Sl_46:9; Ez_39:9; Mq_5:5, Mq_5:10; Zc_9:9-10). Cf. Ml_4:1, pelo que
concerne à anterior queima dos ímpios.
6. porque — fundamento destas grandes expectações.
nos — primeiro, para benefício dos judeus, e logo dos gentios. cf.
com “vos” (Lc_2:11).
um filho se nos deu — (Sl_2:7.), o dom gratuito de Deus, ao qual o
homem não tinha direito (Jo_3:16; Rm_6:23).
o governo está sobre os seus ombros — A insígnia de seu ofício, a
que era levada sobre o ombro como sinal de exercer o governo
(Is_22:22). Aqui o governo sobre o ombro do Messias se acha em
marcada oposição ao “jugo e à fortificação” do que oprime o ombro de
Israel (v. 4). Ele receberá do Pai o reino da terra, para vindicá-lo do mau
governo de aqueles aos quais foi confiante para que o exercessem em
nome do Altíssimo e como seus subordinados, mas os que procuram
retê-lo até pôr em dúvida o Seu direito. O Pai afirma Seu direito a esse
governo por meio de Seu Filho, por ser o “Herdeiro de todas as coisas” e
quem sustentará o reino do Pai. (Dn_7:13-14).
o seu nome será — Seus características essenciais serão.
Maravilhoso — (Veja-se Is_8:18; Jz_13:18; 1Tm_3:16).
Conselheiro — (Sl_16:7; Rm_11:33-34; 1Co_1:24; Cl_2:3).
Deus forte — (Is_10:21; Sl_24:8; Tt_2:13). Horsley traduz
“Poderoso Deus e homem”. Deus conosco é equivalente ao Emanuel”
(Is_7:14).
Pai da Eternidade — Isto o assinala como “Maravilhoso”, pois
sendo “um menino”, é, entretanto, “o Eterno Pai” (Jo_10:30; Jo_14:9).
Os reis da terra deixam a seus súditos depois de um curto reinado; mas
Aquele que reinará sobre eles e os abençoará o fará para sempre
[Hengstenberg].
Príncipe da Paz — (Veja-se v. 5; Gn_49:10; Siló, “o
Tranquilizador”). Finalmente (Os_2:18). Até agora ele é “nossa paz”
(Lc_2:14; Ef_2:14).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 70
7. para que se aumente … sem fim — seu governo régio irá
aumentando sem cessar até chegar a ser ilimitado (Dn_2:44).
o trono de Davi — (1Rs_8:25; Sl_2:6; Sl_132:11; Jr_3:17-18;
Ez_34:23-26; Ez_37:16, Ez_37:22; Lc_1:32-33; At_2:30).
juízo … justiça — Não é um reino caracterizado meramente pelo
poder nem pelo triunfo da força sobre seus inimigos, mas sim um reino
de justiça (Is_42:21; Sl_45:6-7) ao qual se pode entrar unicamente por
meio do Messias.
O zelo — que inclui não só a secreta vitória espiritual de Cristo
sobre Satanás em Sua primeira vinda, mas também a vitória pública,
acompanhada de “juízos”, sobre o Anticristo e sobre todo inimigo, em
Seu segundo advento (Is_59:17).

Vv. 8-21 e Is_10:1-4. Profecia Referente às Dez Tribos.


Proferida um pouco mais tarde que a precedente. Os caps. 9 e 10
deveriam ter-se dividido cronologicamente. A atual divisão da Bíblia em
capítulos foi realizada pelo cardeal Hugo, em 1250; e a divisão em
versículos foi feita por Roberto Estêvão, famoso impressor de Paris, em
1551. À invasão da Síria, pelos assírios seguirá a de Efraim (2Rs_16:9);
os vv. 8-11, 17-20 predizem as discórdias intestinas de Israel depois que
Oseias matou Peca (739 a.C.), isto é, exatamente depois das invasões
assírias, quando o país esteve privado pelo espaço de sete anos de
magistrados e dividido em facções. Há quatro estrofes, cada uma das
quais refere o crime de Efraim e seu conseguinte castigo, as quais
terminam com a sentença “Com tudo isto, não se aparta a sua ira” (vv.
12, 17, 21 e 10:4).

V. 8. Cabeçalho da profecia: (vv. 8-12), a primeira estrofe.


contra Jacó — contra as dez tribos [Lowth] (Dn_4:31).
9. o saberá — a seu custo, por experiência própria (Os_9:7).
Samaria — a capital de Efraim (cf. quanto à frase em Is_1:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 71
10. tijolos — No Oriente são secados geralmente ao sol, e por
conseguinte logo se desfazem com a chuva. Concedendo, dizem os
efraimitas em sua resposta às ameaças do profeta, que nossos assuntos se
encontrem em estado ruinoso, nós faremos com que recuperem maior
magnificência que antes. A arrogante negativa de fazer pouco caso dos
juízos de Deus (Is_26:11).
com pedras lavradas — (1Rs_5:17).
sicômoros — Estes crescem em profusão nas terras baixas da
Judeia, e embora úteis para a construção, por causa de sua propriedade
antisséptica (que induziu os egípcios a usá-los para ataúdes para suas
múmias), não são, porém, de muito valor. O cedro, por outro lado, era
cheiroso, sem nós, durável e precioso (1Rs_10:27). “Nós substituiremos
com palácios nossas cabanas.”
11. os adversários de Rezim — os assírios, aqueles que atacaram
primeiro a Damasco, logo avançaram contra ele (Efraim). Este é o
castigo do orgulho de Efraim ao menosprezar (v. 10) o juízo já infligido
por Deus mediante Tiglate-Pileser (2Rs_15:29). Depois virá uma
segunda invasão assíria (Nota no princípio de Isaías 7).
suscita — antes, armará; vesti-los-á com armaduras [Maurer].
os inimigos — de Rezim.
12. siros — Embora agora são aliados de Efraim, depois da morte
de Rezim se unirão aos assírios contra Efraim. A expressão “suscita” do
vv. 11, refere-se a isto. As nações conquistadoras engancham
frequentemente a seus exércitos, soldados das raças que submeteram
(Is_22:6; cf. com 2Rs_16:9; Jr_35:11) [Aben-Ezra, Gesênius]. Horsley,
com menos probabilidade, toma os sírios do Oriente, não como os
súditos de Rezim, mas sim os assírios, pois Arã é o nome com que
usualmente se designa os Sírios e os Assírios.
filisteus — da Palestina.
do Ocidente — ou o Oeste; ao assinalar os pontos cardeais, os
orientais se voltam para o Este, e o têm na frente; às suas costas fica o
Oeste; o Sul à sua direita e o Norte à sua esquerda.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 72
devoram — como animais de rapina (Is_1:20; Jr_10:25; Jr_30:16;
Nm_14:9).
Com tudo isto, etc. — é a sentença cominatória de cada estrofe.

Vv. 13-17. Segunda estrofe.


não se voltou para quem o fere — o desígnio dos castigos de
Deus não se cumpriu neste caso, porque surge um novo motivo para que
lhes torne a castigar (Jr_2:30; Jr_5:3).
14. a cabeça e a cauda — Provérbio que alude às classes alta e
baixa (Dt_28:13, Dt_28:44).
a palma e o junco — outra imagem que expressa o mesmo
pensamento (Is_19:15). A palma está no alto da árvore; o junco é tosco e
baixo.
15. o homem de respeito — o homem de posição.
o profeta … mentira … cauda — em Samaria havia muitos destes
(1Rs_22:6, 1Rs_22:22-23; cf. “cauda”, Ap_9:19).
16. guias — Veja-se a nota a Is_3:12.
17. não se regozija — o paralelismo “não se compadece” ensina
que isto significa que Ele não terá tal deleite em seus jovens guerreiros,
por mais que muitos deles serão o deleite e a confiança da nação, para os
salvar da espada inimiga (Is_31:8; cf. Jr_18:21).
órfãos — nem sequer aqueles que costumam ser o objeto de Sua
compaixão (Sl_10:14, 18; Sl_68:5; Jr_49:11; Os_14:3), escaparão.
ímpios — antes, libertinos, corrompidos [Horsley].
malfazejos — perversos (Sl_14:1).
Com tudo isto — não obstante todos estes juízos, restam alguns
mais.

Vv. 18-21. Terceira estrofe.


lavra como um fogo — faz consumação; não só se estende
rapidamente, mas também consome, à semelhança do fogo; o pecado é
seu próprio castigo.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 73
os espinheiros e os abrolhos — emblema do ímpio, especialmente
dos de posição inferior (Is_27:4; 2Sm_23:6).
brenhas — a chama dos humildes arbustos se estende ao extenso
bosque, e alcança as árvores altas e as baixas.
estas sobem … fumaça — antes, “eles (os matagais do bosque) se
elevarão orgulhosamente em (ou convertidos em) espirais de ascendente
fumaça” [Maurer]. [O termo hebraico provém de uma raiz siríaca que
significa um galo, que expressa a majestade de seu movimento rebolando
ao andar. Horsley].
19. está abrasada — ou seja com a fumaça (v. 18). A Versão dos
LXX e o caldeu traduzem: “consumidos por completo”. Assim traduz
Maurer, de uma raiz árabe que significa mormaço.
ninguém poupa a seu irmão — As discórdias intestinas romperão
os mais tenros laços naturais.
20. tem fome — não a literal. Imagem de uma implacável fome;
retrato das facções internas e a relaxação dos mais tenros laços (v. 19),
assim como da incontível extensão da miséria e mortandade que haverá
por toda parte (Jr_19:9).
devora — não literalmente, mas sim destruirá (Sl_27:2; Jó_19:22).
a carne do seu próximo — daqueles parentes mais próximos; seu
principal sustento ou ajuda (Is_32:2) [Maurer].
21. Manassés ataca a Efraim — Os dois filhos de José. Tão
intimamente unidos que formavam uma só tribo; mas agora se acham
rasgados por facções, mutuamente sedentos um do sangue do outro.
Desunidos em todas as demais coisas; mas, isso sim, “unidos os dois
contra seu irmão Judá” (2Rs_15:10, 2Rs_15:30).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 74
Isaías 10

Vv. 1-4. Quarta estrofe.


1. Ai dos que decretam — Alusão aos juízes injustos.
escrevem leis de opressão — não os escribas, mas sim os
magistrados que tomam decisões injustas (lit. injustiça ou crueldade) que
devem ser consignadas por eles (Is_65:6) [Maurer]. (Is_1:10, 23)
2. para desviarem do juízo (TB), etc. — O efeito de sua conduta é
a perversão da causa do necessitado [Horsley.] Na Versão Inglesa, a
expressão “do juízo”, significa “de obter justiça”.
arrebatarem o direito — despojar do direito (o que é uma justa
demanda) [Horsley].
3. que fareis? — Por que caminho escapará?
visitação (TB) — da ira de Deus (Is_26:14; Jó_35:15; Os_9:7).
vem de longe — da Assíria.
deixareis a vossa glória — antes, “depositarão (para que esteja
certamente guardada) sua riqueza” [Lowth]. Assim o Sl_49:17.
4. Nada mais vos resta a fazer — Não tendo a quem acudir (v. 3).
senão dobrar-vos — faltos de força, cairão; ou do contrário,
jazerão encadeados.
os mortos — lit., no lugar dos … [Horsley]. A expressão “debaixo
dos” que aparece na Tradução Brasileira, pode explicar-se que “serão
pisados sob os (pés dos) prisioneiros levados em cativeiro”, e “afligidos
sob os montões de mortos no campo de batalha” [Maurer].

Isaías 10:5 – 11:16. Destruição dos Assírios; Vinda do Messias;


Hino de Louvor.
Os versículos 9 e 11 dão a entender que Samaria foi destruída antes
desta profecia ser proferida. foi escrita quando Assíria se propunha
destruir a Judá e a Jerusalém, como havia destruído Samaria, desígnio
que Senaqueribe tratou pouco depois de levar a cabo. Esta é a primeira
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 75
parte das profecias de Isaías durante o reinado de Ezequias,
provavelmente entre os anos 722 e 715 a.C. (Veja-se v. 27).
5. Ai da Assíria — melhor “Alto” (Mas Maurer traduz: Ai do
assírio!) * . Ele é a vara e a fortificação da Minha ira (Meu instrumento
para castigar; Jr_51:20; Sl_17:13). Nas mãos deles está a Minha
indignação”. [Horsley seguindo a Jerônimo]. Eu pus em mãos dos
assírios a execução de Minha indignação contra meu povo
6. Envio-a ** — “o coração do rei [está] na mão do SENHOR”
(Pv_21:1).
nação — Judá, contra a qual estava Senaqueribe tramando
desígnios.
ímpia — contaminada [Horsley].
o povo da minha indignação — objeto de ira.
lhe dou ordens — (Jr_34:22).
para ser pisado — Horsley traduz: “E logo farei com que o assírio
seja pisoteado sob os pés como o lodo das ruas”. (Assim o v. 12, Is_33:1;
Zc_10:5).
7. Ela, porém, assim não pensa — Ela só pensa em seus desígnios,
enquanto que Deus os dirige para que cumpram os Seus propósitos.
intenta — o proporá. Os planos dos pecadores não são menos
culpados embora cumpram com eles inconscientemente com os
desígnios de Deus (Sl_76:10; Mq_4:12). Assim fizeram os irmãos de
José (Gn_50:20; Pv_16:4). O que move o pecador, não o resultado (que
depende de Deus), será a prova no juízo.
seu coração … não poucas (TB) — A ambição de Senaqueribe
não se limitava à Judeia. Seu plano era também conquistar o Egito e a
Etiópia (Is_20; Zc_1:15).
8-11. Jactâncias dos assírios, ilustradas pelas inscrições
assiriológicas decifradas por Hincks, nas quais se louvam a si mesmos.

*
A NVI (Nova Versão Internacional): “Ai dos assírios, a vara do meu furor.” – Nota do Tradutor.
**
Em concordância com o v. 5, A NVI traduz o v. 6: “Eu os envio” [os assírios]. – Nota do Tradutor.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 76
8. Meus príncipes … reis — Os sátrapas e os governadores de
província no Oriente, tinham usualmente títulos e diademas de reis.
Daqui o título de “Rei dos reis”, que alude à grandeza daquele que estava
constituído sobre eles (Ez_26:7 : Ed_7:12).
9. Não é … como …? — Houve alguma destas cidades que fosse
capaz de resistir-me? Nenhuma. Assim se vangloria Rabsaqué
(Is_36:19).
Calno — Calné edificada por Ninrode (Gn_10:10). seu capital num
tempo, sobre o Tigre.
Carquemis — a Circesium do Eufrates, tomada depois por Neco,
rei do Egito, e reconquistada por Nabucodonosor, na batalha ocorrida
perto do Eufrates (Jr_46:2).
Hamate — Em Síria, a norte de Canaã (Gn_10:18), tomada por
Assíria, pelo ano 753 a.C. Alguns dos habitantes foram levados pelos
assírios a Samaria.
Arpade — perto de Hamate.
Samaria — agora destruída.
Damasco — (Isaías 17).
10, 11. achou (TB) — incapazes de resistir: subjugou-os (assim no
Sl_21:8).
suas (TB) — Esta cláusula até “Samaria”, é um parêntese.
eram melhores — eram mais poderosas. Senaqueribe considerava
Jerusalém idólatra, opinião a que ela havia contribuído com frequência
muito fundamento: Jeová era, em seu conceito, o deus meramente local
da Judeia, assim como Baal o era dos países onde era adorado; e até
inferior em poder a alguns deuses nacionais (Is_36:19, 20; Is_37:12).
Veja-se em oposição, Is_37:20; Is_46:1.
Do mesmo modo que a minha mão achou … não farei eu ...
como tenho feito ... ? (TB) — dupla prótase; a agitação faz com que o
profeta acumule cláusulas.
12. toda a sua obra — Todo o seu plano referente ao castigo dos
judeus (vv. 5-7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 77
Sião — a residência real, a corte (os príncipes e os nobres), como
distante de “Jerusalém”, o povo em geral.
o fruto (TB) — o resultado dos planos emanados dos mesmos.
a arrogância — heb., a grandeza ou o orgulho de coração.
altivez — arrogância.
13. sou inteligente — atribui seus triunfos à sua prudência, não à
providência de Deus.
removi os limites — eliminei as antigas fronteiras dos reinos e as
substituí por outras novas conforme a minha vontade. Um ato criminal,
pois Jeová mesmo tinha assinalado os limites das nações (Dt_32:8).
os seus tesouros — os tesouros acumulados [Horsley.]
abati os que se assentavam — “como homem valente derrubei (de
seus assentos) aos que estavam assentados” (isto é, em seus tronos:
como em Sl_2:4; Sl_29:10; Sl_55:19. O termo hebraico significa
“aquele que está sentado num trono); ou se não: fazer baixar aos
habitantes cativos a Assíria, país que está num plano mais baixo que a
Índia); por conseguinte subiu — (Is_36:1, 10) para trazê-los abaixo
[Maurer].
14. como a um ninho — O que indica quão fácil foi levar tudo
diante de si.
ovos abandonados — pela ave.
não houve quem movesse a asa — imagem da ave que resiste aos
que a despojam de seu “ninho”.
piasse — piasse mesmo baixo (Is_8:19). Nenhuma resistência me
fez, de fato nem de palavra.
15. gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? —
Embora livre em certo sentido, e não obstante como tal levava a cabo os
seus planos, contudo, o assírio estava realizando inconscientemente os
propósitos de Deus.
o que a maneja — para trás e para frente.
o bastão levantasse a quem não é pau! — melhor: “como se a
vara (isto é, o homem, o instrumento dos juízos de Deus sobre seu
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 78
próximo) pudesse anular a ação daquele que não é pau”, quer dizer, que
não é um mero instrumento, como o é um homem. Sobre a expressão
“não é pau”, cf. Dt_32:21, “o que não é Deus”; Is_31:8, demonstra que
Deus está aqui aludido pela expressão “não é pau” [Maurer].
16. os seus gordos — (Is_5:17). Os robustos e escolhidos soldados
assírios (Sl_78:31 onde o termo “robustos” está emparelhado com
“escolhidos” ou “jovens”, margem).
tísica — é um complemento da figura “gordos”. Destruição
(Sl_106:15). O que se cumpriu (Is_37:36).
sua glória — os nobres da Assíria. Assim se interpreta Is_5:13,
margem da Versão Inglesa; Is_8:7.
acenderá — nova imagem do fogo, que consome rapidamente os
materiais secos (Zc_12:6.)
17, 18. Luz de Israel — que leva implícita a imagem que se acha
no final do v. 16. Jeová, que é luz de Israel, será o “fogo” (Dt_4:24;
Hb_12:29) que acenderá os espinhos (isto é, os assírios, a semelhança do
combustível seco, apto para ser presa da chama).
18. a glória da sua floresta — Os soldados rasos, os príncipes, os
oficiais, etc., todos juntos serão igualmente consumidos (Nota, Is_9:18)
num dia (Is_37:36).
seu campo fértil — lit., o Carmelo, uma rica montanha do
território da tribo de Aser, figurada pelo poderoso exército de
Senaqueribe. Possivelmente aluda a seus jactanciosas palavras, prestes a
ser proferidas (Is_37:24): “Virei depois … ao monte de seu Carmelo”.
alma … corpo — expressão proverbial, por completamente; o
homem inteiro está composto de alma e corpo.
será como quando um doente se definha — antes: “Serão como
quando um doente (de uma raiz siríaca) se vai consumindo”. Cf.
“fraqueza”, isto é, consumidora destruição (v. 16). [Maurer.] Ou:
“haverá uma completa dissipação, semelhante a um derretimento
perfeito,” ou seja, do exército assírio. [Horsley.]
19. O resto — os que sobrevivam à destruição do exército.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 79
sua floresta — a mesma imagem que no v. 18, pelo outrora
compacto exército.
um menino saberá escrever o número — tão poucos terão ficado
que um menino poderá contá-los.
20-22. O efeito sobre o “resto” (contrastado com o resíduo assírio,
v. 19), isto é, sobre os que tiverem ficado depois da invasão de
Senaqueribe, será que sairão da dependência das nações idólatras do
exterior, como Assíria e Egito (2Rs_18:21; 2Rs_16:7-9) e se voltarão
para Deus da teocracia; o que se cumpriu em parte nos dias do piedoso
rei Ezequias; mas quanto ao aspecto futuro, do qual Paulo contempla
toda a profecia em Rm_9:27-28 (cf. “palavra abreviada” com “toda sua
obra”, do v. 12 deste cap.) o “resto” ou seja aqueles “que esperam no
Senhor”, verão provavelmente seu total cumprimento naquela porção de
judeus que subsistirão depois de o Anticristo tiver sido destruído, os
quais se converterão ao Senhor (Is_6:13; 7:3; Zc_12:9-10; Zc_14:2-3;
Sf_3:12).
21. ao Deus forte — (Is_9:6) Deus demonstrará tal poder
destruindo os inimigos de Israel. Como os assírios durante o reinado de
Senaqueribe não levaram Judá em cativeiro, o retorno do “resto” não se
pode referir particularmente a este tempo.
22. ainda que o teu povo — antes, no sentido em que Paulo o cita
em Rm_9:27: “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia
do mar, o remanescente (o restante) é que será salvo”. A grande maioria
perecerá. A razão é dada a seguir: porque “a destruição (a completa
consumição) lembrada (lit., decidida, pronta a aplicar-se) transbordará
justiça (Is_30:28; Is_8:8); quer dizer, que é a aplicação de um justo
castigo (Is_5:16) [Maurer].
23. destruição — a consumição e tudo aquilo que está determinado
ou lembrado [Maurer].
no meio — de Sião, o lugar central da terra, onde Jeová manifesta
Sua presença.
terra — de Israel. A LXX traduziu: “Em todo o mundo habitado”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 80
24. Pelo que — Volta para a proposição principal, ou seja, o último
castigo da Assíria, não obstante ter sido empregada como a “vara” de
Deus para castigar a Judeia por algum tempo.
Povo meu — expressão de ternura de parte de Deus para com seu
povo eleito.
à maneira dos egípcios — assim como o Egito e Faraó te
oprimiram. Isso nos faz entender também que assim como Israel foi,
apesar de tudo, livrado deles, assim o seria agora do assírio Senaqueribe.
A antítese do v. 26 requer esta interpretação [Maurer.]
25. porque — Não temam (v. 24), porque, etc.
se cumprirá a minha indignação — os castigos de Deus infligidos
a Israel serão consumados e terminados (Is_26:20; Dn_11:36). “Até que
a indignação seja consumada”.
a minha ira — se voltará contra eles (os assírios) para sua
destruição.
26. a matança — o golpe que receberão.
Midiã — (Is_9:4; Jz_7:25).
a sua vara estará sobre o mar, e ele a levantará — antes, faz-se
referência ao golpe que ocorre na oração anterior: “assim como o golpe
de sua vara sobre o Mar Vermelho” (Êx_14:16, Êx_14:26). Sua “vara”
levantada sobre o assírio (vv. 24, 26), acha-se em atrevido contraste com
o assírio empregado como “vara” para golpear a outros (v. 5).
como fez no Egito — quando ele levantou sua vara contra o Egito
no Mar Vermelho.
27. o peso — a opressão assíria (Is_9:3). Judá ainda era tributária
da Assíria; Ezequias ainda não se rebelou, como o fez a princípios do
reinado de Senaqueribe.
por causa — (Os_10:15).
da unção (RC) — isto é, do Messias (Dn_9:24) exatamente como
em Is_9:4-6, a “ruptura do jugo” imposto pelos inimigos, atribui-se ao
Messias, porque “um menino se nos deu”, etc., assim também aqui.
Maurer não traduz tão bem, quando diz: “por causa da gordura”, imagem
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 81
da ferocidade e injustificável orgulho dos assírios, tomada ou inferida de
um touro bem alimentado que sacode o jugo de sobre si (Dt_32:15).
Assim o precedente v. 16 e Is_5:17, “as grosas”.
28-32. Avanço gradual do exército de Senaqueribe rumo a
Jerusalém e o pânico dos habitantes vivamente pintado perante os olhos.
vem a — Vem qual repentino invasor (Gn_34:27).
Aiate — a mesma que Ai (Js_7:2; Ne_7:32) a norte de Benjamim;
assim também as outras cidades, situadas todas no caminho por onde a
inimiga avança para Jerusalém.
Micmás — a nove milhas a norte de Jerusalém.
larga a sua bagagem — deixou ali sua bagagem mais pesada (lit.,
carros, em vez do causado, At_21:15) em Micmás a fim de sentir-se
mais ligeiramente equipado para o sítio de Jerusalém (1Sm_17:22;
1Sm_25:13; 1Sm_30:24 [Jerônimo e Maurer]).
29. Passa o desfiladeiro — o vau ou desfiladeiro de Micmás
(1Sm_13:23; 1Sm_14:4-5.)
aloja-se — para passar a noite, depois de ter passado o desfiladeiro
onde poderia ter estado um guarda contra eles.
Ramá — perto da Geba, a onze quilômetros de Jerusalém.
Gibeá de Saul — lugar de seu nascimento e de sua residência, no
território de Benjamim (1Sm_11:4), distinta da de Judá (Js_15:57).
30. filha de Galim — Galim e seus filhos (Nota, Is_1:8;
2Rs_19:21). “Grita em alta voz presa da consternação”.
Laís — não a cidade da tribo de Dã (Jz_18:7), mas sim una do
mesmo nome perto de Jerusalém (1Ma_9:9).
Anatote — a cinco quilômetros de Jerusalém, na tribo de
Benjamim berço de Jeremias. É-lhe dito “Pobre” por lástima, por causa
de sua iminente calamidade. Outros traduzem: responda-lhe, ó Anatote.
31. Madmena — Não é a cidade da tribo de Simeão (Js_15:31),
mas sim uma aldeia próxima a Jerusalém.
fogem — fugiram de medo. Juntar-se-ão para escapar. “Põem seus
bens em lugar seguro” [Maurer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 82
32. Nesse mesmo dia — lit., “Até lhes concede este (único) dia
(aos soldados), para que façam um lugar alto em Nobe”, e descansem;
este lugar se acha ao nordeste de Jerusalém, sobre o Monte Olivete, uma
cidade de sacerdotes (Ne_11:32).
filha — “Elevará sua mão” em forma ameaçadora, o que dá a
entender que ele está agora em Nobe, ao alcance da vista de Jerusalém.
33. os ramos — lit., a beleza da árvore, o ramo belo.
de alto porte — “o tronco direito”, como distinto dos anteriores
“ramos” [Horsley.]
34. Este versículo e o 33 descrevem a repentina detenção e derrota
de Senaqueribe no cimo de seu êxito; os vv. 18, 19: Ez_31:3, 14, etc.,
contêm a mesma imagem; o Líbano e seu bosque representam o exército
assírio; o machado de ferro que derrubou o bosque refere-se ao destroço
dos cento e oitenta e cinco mil assírios (2Rs_19:35). O “Poderoso” é
Jeová (v. 21; Is_9:6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 83
Isaías 11

Vv. 1-16. Deixando já a libertação local e temporária, o profeta se


traslada, pela lei da sugestão e por ser uma transição fácil, de tal
libertação no fim de toda profecia: a libertação eterna que se efetuará sob
o reinado do Messias, e refere-se não apenas à sua primeira vinda, mas
principalmente à segunda vinda de Cristo. A linguagem e as ilustrações
procedem, entretanto, do assunto temporário e nacional com que
começou; mas as glórias descritas nele pertencem ao reinado do Messias.
O tema do assunto não pode ser Ezequias, como alguns creem, porque
este já tinha vindo; enquanto que “o tronco de Jessé” era ainda futuro
(“sairá”). (cf. Mq_4:11, etc.; Mq_5:1-2; Jr_23:5-6; Jr_33:15-16;
Rm_15:12).
1. um rebento — quando os orgulhosos “ramos” do “Líbano”
(Is_10:33, 34, os assírios) sejam podados e as vastas selvas sejam
cortadas, em meio desta fúria, um aparentemente humilde rebento (o
Messias) sairá de Jessé, o qual retribuirá os danos causados pela “vara”
assíria a Israel (Is_10:5, 6, 18, 19).
tronco — lit., o toco de uma árvore cortada perto das raízes, que
expressa felizmente o decaído estado em que se encontraria a casa real
de Davi, devido ao hostil ataque contra ela (Is_10:18, 19), quando o
Messias viesse para elevá-la a uma glória muito maior que a primeira.
Lc_2:7 prova isto mesmo (Is_53:2; Nota, Is_8:6; cf. Jó_14:7-8),
um renovo — um broto. Ele é, contudo, também a “raiz” (v. 10;
Ap_5:5 22:16. “Raiz e linhagem” se combinam mutuamente, Zc_3:8;
Zc_6:12).
2. o Espírito do SENHOR — O Espírito pelo qual falaram os
profetas; porque o Messias devia ser Profeta (Is_61:1; Dt_18:15,
Dt_18:18). Especificam-se sete dons do Espírito Santo, para denotar que
Ele devia possuí-los em sua plenitude. Cf. “os sete Espíritos” (Ap_1:4),
quer dizer, o Espírito Santo em sua perfeita plenitude, pois sete é o
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 84
número sagrado. Os profetas só tiveram uma parte da “plenitude” que o
Filho de Deus tinha (Jo_1:16, Jo_3:34; Cl_1:19).
Repousará — permanentemente; não virá meramente sobre Ele em
forma passageira (Nm_11:25-26).
sabedoria — (1Co_1:30; Ef_1:17; Cl_2:3).
entendimento — unido à “sabedoria”, que é seu fruto. (Mt_22:18;
Jo_2:25).
conselho … fortaleza — a faculdade de formar conselhos e a de
executá-los (Is_28:29). Conselheiro (Is_9:6).
conhecimento — das coisas profundas de Deus (Mt_11:27). O
conhecimento a respeito dEle constitui o verdadeiro conhecimento
(Ef_1:17).
temor do SENHOR — o reverencial e obediente temor, que é o
primeiro passo para a aquisição do verdadeiro “conhecimento”
(Jó_28:28; Sl_111:10).
3. Deleitar-se-á no temor do SENHOR — lit., “hábil em farejar o
temor de Jeová”. Será dotado de singular sagacidade para discernir o
genuíno princípio religioso do temor de Deus, que jaz latente no coração
do ainda não despertado pecador (Mt_12:20; Atos 10; Mt_16:14)
[Horsley]. Mas Maurer traduz: “Se deleitará no temor de Jeová”. O
hebraico significa deleitar-se no aroma de alguma coisa (Êx_30:38;
Am_5:21); “cheirar” quer dizer, deleitar-se em algo.
segundo a vista — segundo as meras aparências externas (Jo_7:24;
Jo_8:15; Tg_2:1; 1Sm_16:7). Aqui o Messias está representado como
um juiz e governador justo. (Dt_1:16-17).
repreenderá — decidirá, como o demonstra o paralelismo.
segundo o ouvir dos seus ouvidos — por meros plausíveis
rumores, mas pelos méritos de cada caso (Jo_6:64; Ap_2:23).
4. julgará — Se encarregará de que se faça a justiça
imparcialmente. “Julgar” pode significar aqui “governar”, como no
Sl_67:4.
decidirá —Mas Lowth traduz: “Criará convicção”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 85
mansos da terra — Cf. com Mt_5:5 e Ap_11:15.
terra — seus habitantes ímpios, o que corresponde paralelamente
aos ímpios”, e como antítese aos pobres” e “mansos”, isto é, em espírito,
ou seja, o piedoso humilde (Mt_5:3). Isto dá a entender ao mesmo tempo
que “a terra” se terá tornado extraordinariamente ímpia quando Ele vier a
julgar e a reinar. Seu reinado será, por conseguinte, anunciado com
juízos sobre os apóstatas (Sl_2:9-12; Lc_18:8; Ap_2:27).
a vara de sua boca — as sentenças condenatórias que procederão
de Sua boca contra os ímpios (Ap_1:16; Ap_2:16; Ap_19:15, 21).
o sopro dos seus lábios — suas decisões judiciais (Is_30:28;
Jó_15:30 Ap_19:20; Ap_20:9-12). Ele, como Palavra de Deus,
(Ap_19:13-15) deve dar aquele golpe que decidirá Seus direitos ao reino,
usurpado previamente por Satanás e a “Besta”, a quem Satanás delega o
seu poder. Esse será um dia de juízo para a dispensação dos gentios,
assim como foi na primeira vinda para os judeus. Cf. um tipo da “vara”
em Nm_17:2-10.
5. A justiça será o cinto — (Ap_1:13; Ap_19:11). O antitípico
sumo sacerdote (Êx_28:4). O cinto rodeia firmemente o resto dos
vestidos (1Pe_1:13). Assim também “a verdade” transmite ao caráter
firme estabilidade (Ef_5:14). Em Is_59:17, a justiça é sua couraça.
6. lobo … cordeiro — cada animal é emparelhado com aquele que
é sua presa natural. Um estado de coisas próprio do reinado do Príncipe
da Paz (Is_65:25; Ez_34:25; Os_2:18). Estas podem ser figuras de
homens que, por seu caráter, se pareçam com esses animais. (Ez_22:27;
Ez_38:13; Jr_5:6; Jr_13:23; Mt_7:15; Lc_10:3). Entretanto, a
interpretação mais provável é que talvez se trate de uma mudança literal
nas relações dos animais com o homem, e entre eles mesmos,
restaurando-se assim o estado de coisas que existia no Éden. Cf.
Gn_2:19. 20 com o Sl_8:6-8, que descreve a restituição ao homem, na
pessoa do “Filho do Homem”, de seu perdido domínio sobre o reino
animal, para o qual tinha sido designado como compassivo vice-gerente
da parte de Deus, em benefício de seus súditos irracionais (Rm_8:19-22).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 86
7. pastarão — isto é, juntas, tomado da segunda cláusula.
palha — já não se alimentarão de carne e sangue.
8. brincará — lit., se deleitará em brincar.
áspide — serpente fabulosa que se supunha que nascia do ovo de
um galo. O termo hebraico quer dizer um tipo de víbora mais venenosa
que o áspide. Bochart supõe que se trata do basilisco, o qual se cria que
até envenenava com seu alento.
9. em todo o meu santo monte — Sião, isto é Jerusalém. O assento
do governo e do trono do Messias menciona-se em lugar de toda a terra
(Jr_3:17).
mar — assim como a água do mar penetra em todas as cavidades
de suas profundezas, assim também o cristianismo penetrará em todos os
recessos da terra (Hc_2:14). Assim como os vv. 1-5 descrevem as
qualidades pessoais do Messias, e os vv. 6-9 os regeneradores efeitos de
Sua vinda sobre a criação, assim os vv. 10-16, descrevem os resultados
dela na restauração de Seu povo, os judeus, e a conversão dos gentios
por meio daqueles.
10. raiz — antes, um broto da raiz (cf. Nota, v. 1; Is_53:2; Ap_5:5;
Ap_22:16).
está posta — permanente e ostensivamente, como uma bandeira
que é içada para indicar o ponto de reunião de um exército ou povo
(Is_5:26; Jo_12:32).
dos povos — as nações gentílicas.
recorrerão — diligentemente (Jó_8:5). Prestarão leal obediência ao
divino Rei (Is_2:2; 60:5; Zc_2:11). Horsley traduz: “os gentios
perguntarão a respeito dele; quer dizer, num sentido religioso,
recorrerão como a um oráculo para consultá-lo nas dificuldades
(Zc_14:16). Cf. Rm_15:12, que cita esta passagem assim: “nele os
gentios esperarão”.
morada — lugar de descanso (Is_60:13; Sl_132:8, Sl_132:14;
Ez_43:7). O santuário no templo de Jerusalém, era “o lugar de descanso
da arca e de Jeová”. Assim a Igreja gloriosa, que deve ser descrita como
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 87
um oráculo, ao qual recorrerão todas as nações, estará cheia da visível
glória de Deus.
11. tornará a estender a mão — empreenderá a obra. Por
conseguinte, a futura restauração dos judeus terá que ser distinta da
posterior à deportação a Babilônia, e contudo deve ser parecida. A
primeira foi literal; por conseguinte, assim terá que ser a segunda. Esta,
entretanto, que está subentendida aqui, será de alcances mais universais
que a primeira (Is_43:5-7; Is_49:12, 17, 18; Ez_37:21; Os_3:5;
Am_9:14-15; Mq_4:6-7; Sf_3:19-20; Zc_10:10; Jr_23:8).
Patros — Uma das três divisões do Egito, o Alto Egito.
Etiópia — Ao sul do Egito, agora a Abissínia, ou as partes
meridionais da Arábia, sobre a costa do Mar Vermelho.
Elão — Pérsia, especialmente a parte meridional do que agora se
chama Susiana.
Sinar — a Mesopotâmia babilônica, a planície entre o Eufrates e o
Tigre. Aqui foi onde começou-se a edificar a torre de Babel (Gn_10:1).
Nas inscrições assírias, Rawlinson distingue três períodos: O 1.º, o
caldeu, de 2300 a.C. até 1500, quando Quedorlaomer é derrotado
(Gênesis 14); chamado nos tabletes cuneiformes Kudur de Hur, ou Ur
dos Caldeus, e descrito como conquistador da Síria. O território do
primeiro império caldeu ficava no sul, rumo à confluência do Tigre e do
Eufrates. O 2.º, o assírio, até 625 a.C. O 3.º, o babilônico, de 625 até 538
a.C., quando Babilônia foi tomada por Ciro da Pérsia.
ilhas do mar (TB) — as longínquas regiões ocidentais de ultramar
[Jerônimo]. Quanto ao “resíduo” destinado por Deus a sobreviver aos
juízos que viriam sobre a nação, cf. Jr_46:28.
12. Na primeira restauração, só Judá foi restaurada, possivelmente
com alguns de Israel (pertencentes às dez tribos); na futura restauração,
especifica-se a ambos (Ez_37:16-19; Jr_3:18). A Israel se atribuem os
“desterrados” (no gênero masculino) no original hebraico, e a Judá as
“espalhadas” (em gênero feminino), pois os primeiros foram desprezados
por mais tempo e mais de cheio que os últimos, embora não de uma
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 88
maneira definitiva (Jo_7:35). O masculino e o feminino unidos
expressam a universalidade da restauração.
13. a inveja de Efraim … — a qual começou em tempos remotos
(Jz_8:1; Jz_12:1, etc.) Josué tinha nascido e vivido entre os efraimitas
(Nm_13:9; Js_19:50); o santuário esteve entre eles por um tempo
(Js_18:1). Desde então, o ciúme foi aumentando com o tempo (2Sm_2:8,
etc.; 2Sm_19:41; 2Sm_20:2; 2Sm_3:10); e mesmo antes da época de
Davi (1Sm_11:8; 1Sm_15:4), apropriaram-se para si o nome nacional de
Israel. O resultado foi a separação (1Rs_11:26, etc.; 12; cf. 2Rs_14:9;
Sl_78:56-71).
os adversários de Judá — antes, os adversários procedentes de
Judá, isto é, aqueles que em Judá eram hostis aos efraimitas [Maurer].—
O paralelismo “a inveja de Efraim”, ou seja, contra Judá, requer isto,
como também o que segue, é ou seja, “nem Judá afligirá a Efraim”
(Ez_37:15, Ez_37:17, Ez_37:19).
14. Com suas forças unidas, eles submeterão a seus inimigos
(Am_9:12).
voarão — como aves de rapina (Hc_1:8).
sobre os ombros — Isto alude a um ataque inesperado pela
retaguarda. A imagem é o mais apropriado, pois no hebraico para
ombros em Nm_34:11, usa-se também para denotar uma costa marítima.
Eles farão uma vitoriosa invasão de suas fronteiras ao sudoeste de Judá.
os filhos do Oriente — hebraico, os filhos do Oriente, os árabes,
aqueles que, sempre hostis, não devem ser reduzidos por nenhum
governo regular, mas devem ser unicamente despojados (Jr_49:28-29).
Edom — ao sul de Judá, do Mar Morto até o Mar Vermelho.
Moabe — a leste do Jordão e o Mar Morto.
lhes serão sujeitos — tomarão posse deles (Dn_11:42).
Amom — a leste da Judeia, a norte de Moabe, entre o Arnom e o
Jaboque.
15. Haverá um segundo êxodo, destinado a eclipsar o primeiro, o do
Egito, em suas maravilhas. Assim o expressam as profecias em outras
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 89
partes (Sl_68:22; Êx_14:22; Zc_10:11). A mesma libertação provê as
imagens com que se descreve a volta de Babilônia (Is_48:20, 21).
destruirá — lit., consagrá-la-á ou condenará à destruição, porque o
que Deus julga perece (Sl_106:9; Na_1:4).
a língua da mar do Egito — o braço Bubastis do Nilo [Vitringa];
mas como o Nilo não era uma obstrução para o Exodo, , antes, será a
língua ocidental ou a confluência do Heroópolis do Mar Vermelho.
com a força do seu vento — como o “forte vento do oeste”
(Êx_14:21), mediante o qual Deus abriu caminho a Israel através do Mar
Vermelho. Em hebraico “forte” significa terrível. Maurer traduz: “Com o
terror de sua ira”; isto é: Sua terrível ira.
em sete canais — melhor: “ferirá (dividi-lo-á, ferindo-o) em sete
ou sejam, muitas correntes, de forma que sejam facilmente cruzadas
[Lowth]. Foi assim como Ciro dividiu o rio Gindes, que retardava seu
avanço contra Babilônia, em 360 canais, de forma que até uma mulher o
pudesse cruzar facilmente [Heródoto, 1.189]. Trata-se do rio Eufrates,
que é uma obstrução para o retorno de Israel procedente da Assíria (v.
16), o qual é figura dos futuros impedimentos para a restauração dos
judeus.
de sandálias — Assim aparece no hebraico. E até com sandálias
poderão passar pelo outrora caudaloso rio sem molhar-se (Ap_16:12).
16. Haverá caminho — limpo de impedimentos (Is_19:23; 35:8).
como o houve para Israel — (Is_51:10, 11; Is_63:12, 13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 90
Isaías 12

Vv. 1-6. Hino de Ação de graças dos Restaurados e Convertidos


Judeus.
Exatamente como Miriã, depois da libertação do Mar Vermelho
(Is_11:16), celebrou esse fato com uma ode de louvor (Êxodo 15).
2. minha fortaleza e minha canção — Termos derivados de
Êx_15:2; Sl_118:14. A ideia de salvação estava associada de maneira
peculiar à festa dos tabernáculos (veja-se o v. 3). Daí o grito Hosana!—
“Salva, rogamos-te”, que acompanhou a entrada de Jesus em Jerusalém
esse dia, o dia 15 do sétimo mês (Mt_21:9; cf. Sl_118:25-26); o qual é
objeto da perfeita “salvação” que Ele brindará a Seu povo em Sua
segunda aparição em Jerusalém (Hb_9:28); “Aparecerá a segunda vez,
sem pecado, aos que o esperam para salvação”. Cf. Ap_21:3 : “Eis o
tabernáculo de Deus com os homens”. Cf. Lc_9:33: “três enramadas, una
para ti, etc.” (a transfiguração foi um objeto do futuro reino), (Sl_118:15;
Zc_14:16). Assim como a festa dos tabernáculos lembrava aos judeus
suas peregrinações em tendas de campanha, através do deserto, assim a
futura igreja judaico-cristã lembrará com ações de graças as diversas
etapas passadas por onde Deus, finalmente, a conduziu ao céu, “uma
cidade em que habitassem”. (Sl_107:7).
o SENHOR Deus é — A repetição do nome denota ênfase, e o
imutável do caráter de Deus.
3. tirareis água ... da salvação — Figura expressiva num país
quente. No último dia da festa dos tabernáculos, os judeus estavam
acostumados a levar em procissão uma ânfora de ouro cheia de água da
fonte de Siloé, a qual, ao mesclá-la com vinho, a derramavam sobre o
sacrifício que estava sobre o altar, em meio de grande regozijo. As
palavras de Jesus proferidas “no último dia da festa” (Jo_7:2, Jo_7:37-
39) aludem a este costume. O verter da água indicava arrependimento
(1Sm_7:6; cf. referente ao arrependimento futuro dos judeus, Zc_12:10).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 91
Deve ter um posterior derramamento do Espírito Santo, à semelhança do
primeiro, no dia de Pentecostes (Jl_2:23).
fontes — não das meras correntes, que podem secar-se, mas das
fontes que fluem perenemente (Jo_4:14; Jo_7:38), “De seu ventre”; isto
é, de dentro da própria pessoa — água viva (Is_42:18; Sl_84:6; Zc_13:1;
Ap_7:17).
4. tornai manifestos — hebraico: fazei que se lembrem.
5. Cantai — que alude a Êx_15:21.
6. ó habitante de Sião — isto é, Sião e seu povo.
no meio de ti — da literal Jerusalém (Jr_3:17; Ez_48:35; Sf_3:15,
Sf_3:17; Zc_2:10).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 92
Isaías 13

Vv. 1-22. Os caps. 13-23 contêm as profecias referentes às nações


estrangeiras. Os caps. 13, 14 e 27 contêm profecias relacionadas com
Babilônia e Assíria.
As predições a respeito das nações estrangeiras foram proferidas
por amor ao povo da aliança, para preservá-lo da desespero ou de confiar
em alianças humanas, e fortalecer sua fé em Deus; assim como também
para extirpar seu intolerante patriotismo. Deus é Jeová para Israel, não
por causa de Israel unicamente, senão para que desse modo chegue a ser
o Elohim das nações. Estas profecias se acham em seu correto lugar
cronológico, a princípios do reinado de Ezequias; foi então que as nações
da Ásia ocidental, das margens do Tigre e do Eufrates, mostraram pela
primeira vez uma aparência extremamente ameaçadora.
1. Sentença — grave ou lutuosa profecia [Grocio]. Em outras
palavras, declaração simplesmente profética, de uma raiz hebraica que
significa publicar pessoalmente uma coisa, como em Nm_23:7 [Maurer].
contra a Babilônia — referente a Babilônia.
2. Alçai um estandarte — (Is_5:26; Is_11:10).
sobre o monte escalvado — antes, sobre uma despida montanha,
(cortada, isto é, sem árvores), para que se pudesse ver de longe, a fim de
poder reunir os povos contra Babilônia.
para eles — aos medos (v. 17), os assaltantes de Babilônia. É
notável que Isaías não prediga aqui o cativeiro dos judeus em Babilônia;
mas pressupõe esse acontecimento; e ainda vai mais longe, ao predizer
outro evento ainda mais remoto: a destruição da cidade dos opressores
de Israel. Essa predição a fez com cento e setenta e quatro anos de
antecipação.
acenai-lhes com a mão — façam gestos; agitem para indicar às
nações que partam contra Babilônia.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 93
tiranos — babilônicos. Nm mau sentido, tiranos; pois em Is_14:5,
os “senhores” segundo o paralelismo, são “os ímpios”; o mesmo que em
Jó_21:28 [Maurer].
3. consagrados — os soldados medos e persas foram separados
solenemente por Mim para a destruição de Babilônia. Não foram
“santificados” interiormente, mas sim designados para cumprir um santo
propósito de Deus Jr_51:27-28; Jl_3:9, Jl_3:11; onde o termo usado em
hebraico para preparar a guerra, é santificar a guerra).
para executarem a minha ira — para executá-la.
exultam com a minha majestade (RC) — “Os que foram feitos
para triunfar para minha glória” [Horsley]. Dos pagãos medos não se
podia dizer que se alegravam na glória de Deus.” Maurer traduz: “Meus
orgulhosamente alegrados” (Sf_3:11); uma característica especial dos
persas [Heródoto, Sf_1:88]. Alegraram-se em sua própria alteza; mas
era na excelsitude de Deus em que eles se glorificavam, embora
inconscientemente.
4. sobre os montes — os que separam a Média da Assíria e sobre
um dos quais se içaria a bandeira para reunir os exércitos que se supunha
seriam recrutados.
rumor como o de muito povo — Os babilônios se acham aqui
vivamente retratados como aqueles que ouvem um desagradável som
semelhante ao vozerio de uma multidão, cujo rumor procuram distinguir;
mas só percebem um tumultuoso murmúrio.
nações — os medos, persas e armênios compunham o exército de
Ciro.
5. Já vêm — quer dizer, “Jeová” e os exércitos que constituem “os
instrumentos da sua indignação”.
de um país remoto — da Média e da Pérsia, que se estendem até o
extremo Norte e pelo Este.
desde a extremidade do céu — do remoto Oriente (Sl_19:6).
para destruir — antes, para sequestrar [Horsley].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 94
6. o Dia do SENHOR — dia de Sua vingança contra Babilônia
(Is_2:12). Figura do “futuro dia da ira” (Ap_6:17).
assolação — lit., uma tempestade devastadora.
do Todo-poderoso — não de um mero homem; por conseguinte,
será irresistível. “Todo-poderoso”, hebraico SHADDAI.
7. se tornarão frouxos … o coração de todos os homens se
derreterá — Assim Jr_50:43; cf. Js_7:5. Babilônia foi tomada de
surpresa na noite da profana festa de Belsazar (Dn_5:30). Daí o
repentino desmaio e diluição dos corações
8. angústias — O hebraico significa também um mensageiro.
Horsley, por conseguinte, traduz como a LXX: “Os arautos (que trazem
a notícia da inesperada invasão) estão aterrados”. Maurer concorda com
a Versão Inglesa. Literalmente, “se apoderarão deles angústia e dores”.
mulher que está de parto (TB) — (1Ts_5:3).
olharão atônitos — mostrarão o estúpido e aturdido olhar de quem
está consternado.
o seu rosto … flamejante — “Seus rostos têm o lívido matiz de
uma chama” [Horsley]; por causa da angústia e a indignação.
9. cruel — não estritamente cruel, mas impiedosamente justo,
oposto a misericordioso. Também corresponde à crueldade (em sentido
estrito) de Babilônia para com outros (Is_14:17), agora prestes a ser
visitada.
a terra — “toda a terra” [Horsley]. A linguagem do v. 9 ao 13 pode
se aplicar só primária e parcialmente a Babilônia; e de uma maneira
completa e acabada aos juízos futuros que daí em diante virão sobre
toda a terra. Cf. v. 10 com Mt_24:29; Ap_8:12. Os pecados de Babilônia,
a arrogância (v. 11; Is_14:11; Is_47:7, 8), a crueldade, o falso culto
(Jr_50:38), a perseguição do povo de Deus (Is_47:6) são características
peculiares do mundo anticristão dos últimos dias (Dn_11:32-37;
Ap_17:3, Ap_17:6; Ap_18:6-7, Ap_18:9-14, Ap_18:24).
10. estrelas, etc. — em sentido figurado a anarquia, a angústia e as
revoluções nos reinos (Is_34:4; Jl_2:10; Ez_32:7-8; Am_8:9; Ap_6:12-
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 95
14). Pode ser que no final haja um cumprimento literal, simbolizado por
estas imagens (Ap_21:1).
e constelações — O termo hebraico significa um parvo ou ímpio;
aplicado à constelação de Órion, que era representada por um ímpio
gigante (Ninrode deificado, fundador de Babilônia) encadeado ao céu
(Nota, Jó_38:31).
11. o mundo — os ímpios do mundo (cf. Is_11:4).
a arrogância — o pecado dominante de Babilônia (Dn_4:22-30).
violentos — Melhor, tiranos [Horsley].
12. os homens sejam mais escassos do que o ouro puro —
Eliminarei de tal maneira os defensores de Babilônia que um homem
ordinário será tão raro e precioso como o ouro mais fino.
13. Imagem de fortes revoluções (Is_24:19; Is_34:4; Hc_3:6,
Hc_3:10; Ag_2:6, 7; Ap_20:11).
14. Cada um será — Babilônia.
como a gazela — animal muito tímido e facilmente assustadiço.
como a ovelha que ninguém recolhe (RC) — indefesa (Zc_13:7).
cada um … para a sua terra — os “povos mesclados” de terras
estrangeiras fugirão dela (Jr_50:16, Jr_50:28, Jr_50:37; Jr_51:9).
15. achado — na cidade.
for apanhado — “que tenha sido detido” [Maurer]. “Qualquer que
se tenha afastado”, isto é, que se tenha escondido nas casas [Gesênius].
16. Sl_137:8-9).
17. medos — (Is_21:2; Jr_51:11, Jr_51:28). Nesse tempo estavam
sujeitos à Assíria; posteriormente, Arbaces, sátrapa da Média, rebelou-se
contra o efeminado Sardanápalo, rei da Assíria, destruiu a Nínive e
chegou a ser rei da Média no século IX a.C.
não farão caso de prata — em vão tratarão de comprar deles sua
vida mediante resgate. O pagão Xenofonte (Ciropedia, Jr_5:1, Jr_5:10)
descreve a Ciro como atribuindo aos medos a característica de desprezar
as riquezas. Isso é uma curiosa confirmação desta profecia.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 96
18. arcos — os persas eram particularmente hábeis atiradores do
arco.
19. a jóia dos reinos — (Is_14:4; Is_47:5; Jr_51:41).
glória e orgulho dos caldeus — Em hebraico, a glória do orgulho
dos caldeus. Essa cidade era a glória de que eles se gabavam.
como Sodoma e Gomorra — tão completamente destruída como
elas (Jr_49:18; Jr_50:40; Am_4:11). Foi tomada por Ciro, mediante a
abertura de um canal para fazer baixar o nível da água do Eufrates; logo,
desviando a água para o canal, pôde entrar na cidade pelo velho leito do
rio durante a noite.
20. Profecia literalmente cumprida.
não armará ali o árabe a sua tenda (TB) — Não só não será
residência permanente, mas nem sequer será um lugar de descanso
temporário. Os árabes, por medo dos maus espíritos, pois creem que o
espírito de Ninrode frequenta essa paragem, não passarão nele a noite
(cf. v. 21).
nem tampouco os pastores — Essa região foi em outro tempo
muito fértil; mas agora, devido ao fato de que o Eufrates já não se
mantém dentro de seus primitivos canais, converteu-se num terreno
pantanoso, impróprio para os rebanhos; e em suas desoladas ruínas de
tijolos e cimento não cresce pasto alguém.
21. feras do deserto — Em hebraico tsiyim, animais que habitam
nas solidões.
corujas — notáveis por seus uivos [Bochart].
avestruzes — animal pacato, que se deleita em viver nas paragens
desertas e que faz um ruído espantoso [Bochart].
sátiros — cabras selvagens (TB); semideuses da selva, metade
homem e metade cabra, que frequentam — segundo os árabes — estas
ruínas; provavelmente são animais da espécie do macacus arabigus
[Vitringa]. Adoradores do diabo que dançam certa noite em meio das
ruínas [J. Wolff].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 97
22. uivarão — Melhor: responderão uns aos outros, como os lobos
na noite, produzindo um muito triste efeito.
hienas — na Versão Inglesa, dragões, serpentes de várias espécies
que assobiam e emitem um triste som. A fábula lhes atribui asas, por
manter ereto boa parte do corpo, para lançar-se velozmente. Maurer crê
que se trata aqui de alguma outra espécie de chacal.
chacais — chamados pelos árabes filhos do uivo; animal que ocupa
um meio termo entra a raposa e o lobo [Bochart e Maurer].
e os seus dias não se prolongarão — Embora faltavam 174 anos,
entretanto, estava perto para Isaías, que se supõe estava falando com os
judeus como se já estivessem cativos em Babilônia (Is_14:1, 2).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 98
Isaías 14

Vv. 1-3. A Certeza da Libertação do Jugo de Babilônia.


1. elegerá — seu eleito. Trata-se de uma eleição deliberada
[Horsley]. Sua restauração se funda em sua eleição (ver Sl_102:13-22).
estrangeiros — prosélitos (Et_8:17; At_2:10; At_17:4, At_17:17).
Tácito, que era pagão, refere (Histórias 5:5) o fato dos numerosos
gentios que se tornaram judeus em seu tempo. Isso é um objeto do futuro
efeito que terá sobre os pagãos do mundo a restauração espiritual dos
judeus (Is_60:4, 5, 10; Mq_5:7; Zc_14:16; Rm_11:12).
2. Os povos — o de Babilônia, em primeiro lugar, e os de todo
mundo gentio, por último (Is_49:22; Is_66:20; Is_60:9).
aos lugares deles — Judeia (Esdras 1).
e … os possuirá — os receberá em possessão.
cativarão — não mediante força física mas sim moral; pela força
do amor, e em consideração ao Deus de Israel (Is_60:14).
3. descanso — (Is_28:12; Ez_28:25-26).

Vv. 4-23. Canto Triunfal que Cantarão os Judeus Então.


“Este canto se desenvolve dentro de um prolongado elegíaco ritmo,
a semelhança de uma lamentação pelos mortos, e está saturado de
elevado desdém.” [Herder].

Vv. 4-8. Um Coro de Judeus Expressa sua Alegre Surpresa Perante


a Queda de Babilônia — toda a terra se alegra; os cedros do Líbano o
desprezam.
4. motejo — Os orientais, como têm poucos livros, resumiram seus
pensamentos em graves e concisos aforismos em sentido figurado. Aqui
trata-se de um insultante cântico de triunfo (Mq_2:4; Hc_2:6).
o rei — o representante ideal de Babilônia; possivelmente era
Belsazar (Daniel 5). Em última instância se alude à mística Babilônia.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 99
A cidade dourada (RC) — antes, a exatora de ouro [Maurer]. Mas
os tradutores antigos leem no hebraico diferentemente: a opressora, que
favorece o paralelismo (cf. 3:5).
5. o cetro — não o cetro (Sl_2:9), mas sim o fortificação com que
se pega a outro; pois fala-se de mais de um tirano (Is_9:4; Is_10:24;
Is_14:29). [Maurer].
dominadores — os tiranos, como o prova o paralelismo, “os
ímpios” (cf. Nota. Is_13:2).
6. os povos — os povos submetidos a Babilônia.
dominavam as nações, com perseguição — No hebraico está na
voz ativa: perseguia-as sem que ninguém o impedisse [Vulgata,
Jerônimo e Horsley].
7. descansa … toda a terra — as nações em outro tempo
submetidas. Houbigat coloca o ponto final depois das “haja” (v. 8). “Os
próprios ciprestes cantaram”, etc.; mas o paralelismo está melhor na
Versão da Valera.
8. os ciprestes — agora ninguém os molesta.
se alegram sobre ti — (Sl_96:12). Por sua queda (Sl_35:19,
Sl_35:24).
contra nós para nos cortar — como antes quando estava no poder
(Is_10:34; Is_37:24).

Vv. 9-11. A cena passa da terra ao inferno.


O Hades (o Amentes do Egito), a invisível morada dos mortos;
alguns de seus habitantes, em outro tempo poderosos monarcas, estão
representados mediante uma atrevida personificação, como levantando-
se de seus assentos, atônitos, vendo que desce aonde eles estão o
humilhado rei de Babilônia. Isto prova, na opinião do Warburton, Div.
Leg., que existia entre os judeus a crença de que havia um Sheol ou
Hades, onde os “refains” ou filhos do gigante habitavam.
9. se turba por ti — experimentou uma agitação.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 100
por ti — referente a ti. Isto é, “saiu a te encontrar na tua chegada”
[Maurer].
príncipes — lit., bodes; quer dizer, carneiros, chefes do rebanho;
príncipes (Zc_10:3). A ideia da maldade em gigantesca escala está
incluída (Ez_34:17; Mt_25:32-33). Magee deriva o termo refains (os
mortos, segundo Almeida Atualizada) da raiz que significa decompor-se
em seus primeiros elementos; daqui que se refira aos espíritos dos mortos
(Is_26:14; Pv_21:16). Os vivos as engrandeciam imaginariamente, lhes
atribuindo uma gigantesca estatura; daí que lhes dessem o nome de
gigantes em geral (Gn_6:4; Gn_14:5; Ez_32:18, Ez_32:21). A LXX
traduz “refains” como gigantes (cf. Nota, Jó_26:5-6). Desde então, como
os gigantes refains de Canaã se tornaram notórios até naquela
pecaminosa terra, uma tremenda maldade chegou a relacionar-se com
esse termo. De maneira que os refains deveram ser os espíritos malignos
da Geena: a parte inferior das duas em que se dividia o Sheol.
10. Eles o vituperam, e, ao ver sua calamidade, sentem-se
consolados em meio de sua própria desgraça (Ez_31:16).
Tu também, como nós, estás fraco? — ficaste como espectro,
privado de sangue e de vida. O termo refains, talvez, provenha de uma
raiz hebraica que significa similarmente fraco, impotente. As palavras
tais pelos mortos terminam no versículo seguinte.
11. A “Pompa” e a música, que foram o acompanhamento dos
anteriores festins de Babilônia (Is_5:12; Is_24:8) agora dão lugar à
corrupção e ao silêncio do sepulcro (Ez_32:27).
gusanos — os que se criam na podridão.
vermes — propriamente aqueles dos quais se obtém a cor
carmesim. Quadra muito bem aqui: em lugar da colcha carmesim sobre
ti, haverá “vermes”. Em lugar do suntuoso canapé, debaixo de ti, haverá
larvas de insetos.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 101
Vv. 12-15. Os judeus voltam a dirigir-se a ele como a estrela caída,
outrora brilhante.
A linguagem está construída de tal maneira que pode aplicar-se
primariamente ao rei de Babilônia, e ao mesmo tempo representar em
sua pessoa ao grande inimigo final, o homem do pecado, o Anticristo de
Daniel, de Paulo e de João. Só ele poderá cumprir inteiramente todos os
esboços dados neste lugar.
12. ó estrela da manhã — da alvorada. Título que pertence na
realidade a Cristo a estrela resplandecente, e da manhã (Ap_22:16), e
que, portanto, será usado no futuro para denotar o Anticristo. Gesênius,
não obstante, traduz aqui o termo hebraico como em Ez_21:12, e
Zc_11:2; quer dizer uivo.
debilitavas — prostravas, como em Êx_17:13; “derrotava”.
13. ao céu … estrelas de Deus — Em Dn_8:10, o termo “estrela”
usa-se para designar os potentados terrestres, como também aos
principados celestiais (Jó_38:7).
monte da congregação — o lugar da solene reunião de Deus e seu
povo no templo de Jerusalém. Em Dn_11:37 e 2Ts_2:4, atribui-se isto ao
Anticristo.
nas extremidades do Norte — isto é aos lados do Monte Moriá,
sobre o qual se levantava o templo, a norte do Monte Sião (Sl_48:2).
Entretanto, o paralelismo apoia a noção de que o rei de Babilônia se
expressa de acordo com sua opinião, e não segundo a opinião dos judeus
(assim em Is_10:10). Desta maneira, “o monte da congregação” deve
significar o monte do Norte (situado possivelmente na Armênia), que os
fabulistas babilônios imaginavam ser o comum lugar de reunião de seus
deuses. Ambos os lados formam o ângulo em que se encontram ou
juntam ambos os lados. A expressão pois, deve significar as partes
extremas do Norte. Desta maneira os hindus situam o Meru, a habitação
de seus deuses, no Norte das montanhas do Himalaia. O próprio fazem
os gregos, colocando-o no Olimpo setentrional. Os persas sequazes do
Zoroastro colocam o Ai-bordesh no Cáucaso, a norte deles. A alusão às
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 102
estrelas harmoniza com isto, ou seja, com as que estão próximas ao Polo
Norte, a região das auroras boreais (cf. Nota Jó_23:9; Jó_37:22)
[Maurer, a LXX e a Siríaca].
14. nuvens — antes, a nuvem, singular. Possivelmente se refira à
nuvem, o símbolo da presença divina (Is_4:5; Êx_13:21). Nessa forma
concorda com 2Ts_2:4; “levantando-se contra tudo o que chama-se
Deus”; como aqui “sobre a nuvem” e como a Shekiná, estava
relacionado com o templo de Deus, segue dizendo o versículo que o
Anticristo se assenta no templo de Deus como Deus, o qual corresponde
à presente frase: “serei semelhante ao Altíssimo”. Além disso Ap_17:4-5
representa o Anticristo, sentado em Babilônia, a cuja cidade, literal e
espiritualmente, Isaías aqui se refere.
15. ao inferno (RC) — ao Sheol (v. 9). “Tu dizias no teu coração:
Eu subirei ao céu” (v. 13) “levado serás ao inferno” (Mt_11:23).
para as extremidades do abismo (TB) — Antítese da “os lados do
vento norte” ou Norte (v. 13). De maneira que a alusão é aos lados da
redondeza do sepulcro, onde se colocavam os mortos em nichos. Mas
Maurer aqui, como no v. 13, traduz “o extremo” ou as partes mais
interiores do sepulcro, como em Ez_32:23 (cf. 1Sm_24:3).

Vv. 16-20. Os transeuntes contemplam atônitos o corpo do rei de


Babilônia, lançado fora, em lugar de jazer num mausoléu, e quase não
podem crer em seus sentidos de que seja ele.
16. Os que te virem te contemplarão — para certificar-se de que
não estão errados.
hão de fitar-te — “meditarão sobre isso”. [Horsley].
17. a seus cativos não deixava ir para casa? — Mas [Maurer] diz:
“Não soltou a seus cativos para que voltassem para suas casas”.
18. Todos — quer dizer, esta é a prática corrente.
com honra — num grande mausoléu.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 103
túmulo — isto é, o sepulcro, como em Ec_12:5; “sepultura” (v.
19). Ser excluído do sepulcro da família era grande infâmia (Is_34:3;
Jr_22:19; 1Rs_13:22; 2Cr_21:20; 2Cr_24:25; 2Cr_28:27).
19. és lançado fora — Não que tivesse jazido na sepultura e logo
fosse arrojado fora dela; mas sim “foi privado de sepultura”.
renovo — como broto inútil que brota da raiz de uma árvore e é
cortada pelo granjeiro.
coberto de mortos ... à espada — empapada de sangue, e olhado
com horror como impuro, pelos judeus. Antes, vestido próprio de
mortos, como em Jó_7:5: “A minha carne se tem vestido de vermes e de
torrões de pó” [Maurer].
cujo cadáver desce à cova e é pisado de pedras — cujos corpos
foram sepultados em sepulcros escavados em rochas, enquanto que o rei
de Babilônia é um insepulto cadáver pisado sob os pés.
20. Com eles não te reunirás na sepultura — enquanto que os
príncipes mortos em sua companhia serão enterrados, tu não o serás.
destruíste a tua terra — Belsazar (ou Nabonido) oprimiu a seu
país com guerras e tirania, de maneira que foi muito aborrecido
(Xenofonte, Cyropaedia 4:6, 3; 7:5, 32).
a descendência dos malignos jamais será nomeada — A dinastia
babilônica terminará com Belsazar; sua família não se perpetuará
[Horsley].

Vv. 21-23. Deus decreta destruir a Babilônia.


21. Preparai — Deus dá ordens aos Medos e Persas como se
fossem seus conscientes instrumentos.
os filhos — Os de Belsazar (Êx_20:5).
não se levantem — para ocupar o lugar de seus pais.
e encham … de cidades — Maurer traduz “de inimigos”
(1Sm_28:16; Sl_139:20); quer dizer, para que não inundem o mundo
com seus exércitos. Vitringa traduz: “Perturbadores”. O sentido da
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 104
Versão Inglesa é “não seja que encham a terra de tais cidades”, que
despertem o orgulho, como Babilônia.
22. contra eles — contra a família do rei de Babilônia.
o nome — todos os varões que a representam, de sorte que o nome
se extinguirá (Is_56:5; Rt_4:5).
e os sobreviventes, os descendentes — tudo o que ficar deles. A
dinastia fenecerá (Dn_5:28-31). Cf. o referente a Babilônia em geral,
com Jr_51:62.
23. possessão de ouriços – melhor, “o ouriço” [Maurer e Gesênius].
Estrabão (Jr_16:1) afirma que nas ilhas do Eufrates havia enormes
ouriços.
e a lagoas de águas — por causa da separação das águas do
Eufrates ao acampo efetuada por Ciro.
com a vassoura — com rede varredora [Maurer] (1Rs_14:10;
2Rs_21:13).

Vv. 24-27. Confirmação Disso Pela Predita Destruição dos


Assírios sob Senaqueribe.
Uma garantia para assegurar os cativos em Babilônia que Aquele
que com tanta facilidade tinha vencido ao assírio, poderia igualmente
realizar os Seus propósitos com relação a Babilônia. O rei de Babilônia,
que é a matéria desta predição, é Belsazar, como representante do reino
(Daniel 5).

Vv. 24-27. Fragmento Referente à Destruição dos Assírios às


Ordens de Senaqueribe.
Isto consolaria aos judeus cativos em Babilônia, e ao mesmo tempo
seria um objeto de que Deus, que por esse tempo tinha completado a
promessa referente a Senaqueribe (embora nesse momento era coisa
ainda futura) cumpriria também Sua promessa de destruir a Babilônia, a
inimiga de Judá. Neste v. 24 o pensamento (propósito do Senhor) acha-
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 105
se contraposto aos pensamentos dos assírios (Is_10:7). (Veja-se
Is_46:10, 11; 1Sm_15:29; Ml_3:6).
25. para que — meu propósito, ou seja, é que …
seu jugo — (Is_10:27).
e nas minhas montanhas — O exército de Senaqueribe foi
derrotado nas montanhas próximas a Jerusalém (Is_10:33, 34). Deus
olhava a Judá como peculiarmente dela.
26. Este é o desígnio que se formou ... toda a terra — uma
indicação de que a profecia em seu alcance compreende ao mundo de
todas as idades, da qual o propósito referente a Babilônia e a Assíria, que
representavam então o poder mundial, é só uma parte,
e esta é a mão que está estendida sobre — ou seja, para castigar
(Is_5:25).
27. (Dn_4:35).

Vv. 28-32. Profecia Contra Filístia.


Para consolar aos judeus, não fosse acontecer que temessem àquele
povo; e não para chamar os filisteus ao arrependimento, visto que era
provável que a profecia nunca circulasse entre eles. Estes tinham sido
submetidos por Uzias ou Azarias (2Cr_26:6); mas no reinado de Acaz
(2Cr_28:18), eles se apoderaram de várias cidades do Sul da Judeia.
Agora Isaías denuncia sua final subjugação por Ezequias.
28. No ano em que morreu … Acaz — 726 a.C. Provavelmente
foi nesse ano quando os filisteus sacudiram o jugo a que Uzias os tinha
submetido.
29. Filístia — lit., a terra dos residentes.
quebrada a vara — o jugo imposto por Uzias (2Cr_26:6) foi
sacudido no reinado de Acaz (2Cr_28:18).
porque da estirpe da cobra — o tronco de Jessé (Is_11:1). Uzias
foi sem dúvida considerado pelos filisteus como uma serpente que
mordia. Mas embora se tenham libertado dos efeitos de sua mordida,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 106
uma víbora ou basilisco mais venenosa (lit., origem da víbora, como o
considerava Filístia), ou seja, Ezequias te espera. (2Rs_18:8).
30. primogênitos dos pobres — Hebraísmo que significa os pobres
mais abjetos, sendo os primogênitos os primeiros da família. Seguir o
“primogênito da morte” (Jó_18:13) é sofrer uma morte fatal. Os judeus,
expostos até agora às invasões e alarmes dos filisteus, viverão seguros.
Cf. Sl_72:4 onde “os filhos do necessitado” são aqueles que se acham
numa situação precária.
apascentados — imagem tirada de um rebanho que pasta certamente.
a tua raiz — fala de destruição radical.
farei morrer — Jeová o fará.
31. porta — isto é, vós os que se amontoam à porta; o principal
lugar de concurso de uma cidade.
fumaça — Ígneo sinal que o exército hostil usava a fim de reunir-se
(o ígneo sinal dos judeus a que se alude aqui é “a coluna de nuvem e de
fogo” Êx_13:21; Ne_9:19); ou pode referir-se à região devastada pelo
fogo [Maurer]. Gesênius, com menos probabilidade, explica isto como a
nuvem de pó levantada pelo exército invasor.
do Norte — A Judeia, a norte e a leste da Palestina.
ninguém há ... das fileiras — Melhor: “Não haverá nas fileiras (de
seus inimigos) nenhum atrasado”. A hoste dos judeus avançará sobre a
Palestina em compacta ordem de batalha; nenhum se retrairá ou atrasará
por causa de cansaço. (Is_5:26, 27). [Lowth]. Maurer não crê que possa
traduzir o termo hebraico a fileiras ou exércitos. Assim que traduz: “Não
haverá nenhum (dos sentinelas dos filisteus) que queira permanecer
sozinho (exposto ao inimigo) em seu posto”, por causa do medo. Sobre
“só” cf. Sl_102:7; Os_8:9.
32. mensageiros dos gentios — Quando mensageiros da Filístia
vierem averiguar a respeito do estado da Judeia, a resposta será que
Jeová, etc. (Sl_87:1, Sl_87:5; Sl_102:16).
aflitos — (Sf_3:12).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 107
Isaías 15

Vv. 1-9. Os capítulos 15 e 16 formam uma profecia a respeito de


Moabe.
Lowth crê que foi proferida nos primeiros anos do reinado de
Ezequias e cumprida no quarto, quando Salmaneser, em seu avanço para
invadir a Israel, pode ser que tenha tomado as fortalezas de Moabe. É
provável que Moabe tenha feito causa comum com Israel e Síria
mediante uma liga contra Assíria. Daí que incorresse na vingança da
Assíria. Jeremias introduziu boa parte desta profecia em Jeremias 48 de
suas profecias.
1. Certamente — lit., Eu afirmo que [Maurer].
numa noite — o tempo mais apropriado para uma incursão hostil
(Is_21:4; Jr_39:4).
Ar — que no hebraico significa a cidade; a metrópole de Moabe,
ao sul do rio Arnom.
Quir — lit., uma cidadela; não longe de Ar, rumo ao sul.
2. Sobe-se — o povo de Moabe.
Bajite (RC) — antes, “ao templo” [Maurer]; que corresponde ao
“santuário” (Is_16:12) num contexto similar.
a Dibom — como esta ficava numa planície a norte de Arnom a
ideia é que “Dibom sobe aos altos”, ou seja, os lugares onde usualmente
se sacrificava no Oriente. Dibom e Dimom são a mesma cidade (v. 9).
para chorar — a repentina calamidade.
no cume de Nebo (TB)— antes, “no Nebo”; não por causa do
Nebo (cf. v. 3) [Maurer]. A cidade de Nebo estava perto da montanha
desse nome, não longe da margem setentrional do Mar Morto. Era ali
que se rendia culto a Quemos, o ídolo de Moabe (cf. Dt_34:1).
Medeba — ao sul de Hesbom, sobre uma colina a leste do Jordão.
todas as cabeças … calvas … toda barba é rapada — Os
orientais olhavam a barba com peculiar veneração. O cortar a barba era a
maior demonstração de tristeza e de mortificação (cf. Jr_48:37).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 108
3. nos seus terraços — lugares planos para orar ou para outros
usos, no Oriente (At_10:9).
choram abundantemente — Horsley prefere traduzir “descendo a
chorar”. Desta maneira, há um “paralelismo mediante alternada
construção [Lowth], ou dupla antítese; “uivarão” refere-se aos “terraços”
das casas e “descer a chorar”, às “ruas ou lugares aonde se desce dos
terraços.
4. Hesbom — Cidade de amorreu, a trinta e dois quilômetros a leste
do Jordão; tomada por Moabe, depois de ter sido proscrito Israel (cf.
Jeremias 48).
Eleale — perto de Hesbom, no território de Rúben.
Jaza — A leste do Jordão, em território rubenita. Perto dela Moisés
derrotou a Siom.
por isso — por causa da repentina destruição de suas cidades. Os
mesmos homens armados, em lugar de lutar em defesa de seu país, se
unirão ao clamor geral.
a sua alma treme — melhor, “Sua alma está afligida” (1Sm_1:8)
[Maurer].
5. O meu coração — O próprio profeta sente-se movido de piedade
por Moabe. Os ministros que denunciam a ira de Deus contra os
pecadores deveriam fazê-lo com profunda dor, não com alegria.
cujos fugitivos — que fogem de Moabe, vagam até Zoar, situada
na margem do extremo sul do Mar Morto. Horsley traduz: Sua nobreza
ou “governantes” (Os_4:18).
novilha — isto é, “levantará o grito”, como os mugidos de uma
novilha (cf. Jr_48:34-36). A expressão “de três anos”, quer dizer que está
em todo o seu vigor (Gn_15:9) e que ainda não foi atada ao jugo, como
Moabe, que até então não tinha sido subjugada, mas agora vai ser
domada. Assim dizem Jr_31:18, Os_4:13. Maurer traduz “Eglath”,
(“novilha” na Versão Inglesa) “Shelishijah” (isto é, a terceira para
distinguir a das outras duas do mesmo nome).
vão chorando pela subida de Luíte — uma montanha de Moabe.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 109
levantam grito — um grito expressivo da destruição que visita seu
país.
Horonaim — uma cidade moabita, não longe de Zoar (Jr_48:5).
Esta voz significa as duas balizas, próximos a seus covas.
6. águas de Ninrim — Esta será a causa de sua fuga para o sul.
(Veja-se 2Rs_3:19, 2Rs_3:25). As regiões do norte e até a cidade de
Ninrim (cujo nome significa águas cristalinas, que se acha em Gileade,
perto do Jordão) carecem de água e de pastos.
7. pelo que — por causa da devastação da terra.
o que pouparam — mais que as riquezas necessárias para a vida.
torrentes dos salgueiros — Os fugitivos fogem de Ninrim, por
falta de água, a lugares melhor regados. A margem da Versão Inglesa
tem o Vale dos árabes, isto é, o vale que serve de limite entre eles e a
Arábia Pétrea, chamado agora Wady-el-Arabah. Arábia significa
deserto.
8. Eglaim — (Ez_47:10), En-Eglaim. Não é o Agalum de Eusébio,
a treze quilômetros de Aerópolis, para o sul; o contexto reclama uma
cidade nos mesmos limites de Moabe ou para além deles.
Beer-elim — lit., o poço dos príncipes (Nm_21:16-18), além da
fronteira oriental de Moabe.
9. Dimom — A mesma cidade que Dibom (v. 2). A regam as águas
do Arnom.
estão cheias de sangue — Tantos assim serão os mortos de Moabe.
acrescentarei — novas calamidades, ou seja, “leões”, mencionados
depois (2Rs_17:25; Jr_5:6; Jr_15:3). Vitringa crê que “o leão” refere-se
a Nabucodonosor; mas esta voz está em plural: “leões”. Os
“Acréscimos”, ele as explica como a adição feita às águas de Dimom
pelos cursos de sangue dos mortos.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 110
Isaías 16

Vv. 1-14. Continuação da Profecia Referente a Moabe.


1. cordeiros — Conselho que dá o profeta aos moabitas que
fugiram ao sul para Idumeia, de que enviem ao rei de Judá o tributo de
cordeiros que antigamente pagavam a Israel, prática da qual tinham
desistido (2Rs_3:4-5). É provável que Davi impusesse este tributo antes
da separação de Judá e Israel (2Sm_8:2). Por conseguinte recomenda a
Moabe que ganhe o favor e a proteção de Judá, pagando esse tributo ao
rei judeu. Isto é um tipo da necessidade de submeter-se ao Messias
(Sl_2:10-12; Rm_12:1)
desde Sela, pelo deserto, até — melhor, “Desde Pétrea até (lit.,
rumo a) o deserto” [Maurer]. Petra, que em grego significa “rocha”, é a
capital de Idumeia e da Arábia Pétrea. Neste lugar as moradas estão em
seu maior parte lavradas na rocha. O país dos arredores era um vasto
campo “deserto”, comum a todos para o pastoreio, ao que os moabitas
tinham fugido da invasão proveniente do oeste (Is_15:7).
dominador da terra — quer dizer, de Idumeia, ou seja o rei de
Judá; Amazias se fez senhor de Idumeia e de Sela (2Rs_14:7).
2. lançado fora do ninho — Melhor: “Como ninhada lançada
fora” (em oposição a uma ave que vaga”, ou , antes, aves que vagam),
isto é, uma ninhada que acaba de empenar e que é lançada do ninho em
que nasceu [Horsley]. Cf. 10:14; Dt_32:11.
as filhas de Moabe — isto é, os habitantes de Moabe. Assim
2Rs_19:21; Sl_48:11; Jr_46:11; Lm_4:22 [Maurer].
nos vaus — tratando de cruzar o fronteiriço rio de Moabe para
escapar do país. Ewald e Maurer fazem de “vaus” uma expressão poética
que significa “os moradores de Arnom”, que corresponde à cláusula
paralela de igual sentido que “filhas de Moabe”.
3-5. Gesênius e Maurer, etc., olham estes versículos como uma
mensagem dos moabitas fugitivos dirigida aos judeus, pedindo proteção;
e assim traduzem, v. 4: “Permite que meus proscritos de Moabe habitem
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 111
contigo, oh Judá”. A proteção lhes será recusada pelos judeus por causa
do orgulho de Moabe (v. 6). Vitringa o interpreta como um conselho
adicional dado a Moabe, além do de pagar o tributo: Dá, oh Moabe, asilo
aos judeus proscritos que buscam refúgio em sua terra (vv. 3, 4); assim
qualquer rei que se sente no trono de Davi usará por sua vez de
“misericórdia” contigo (v. 5). Isaías prevê que Moabe será muito
orgulhoso para pagar tributo ou reconciliar-se com Judá, albergando a
seus proscritos (v. 6); portanto se executará com ela o juízo que merece.
Entretanto, como Moabe foi representada pouco antes como proscrita
em Idumeia, parece incongruente que seja convidada a dar asilo aos
judeus proscritos. Assim que parece, antes, que é uma predição do
ruinoso estado de Moabe quando seu povo pedisse asilo aos judeus;
porque lhe seria negado por causa de seu orgulho.
faze a tua sombra no pino do meio-dia como a noite — emblema
de um sombrio resguardo contra o deslumbrante calor do meio-dia
(Is_4:6; Is_25:4; Is_32:2).
não descubras os fugitivos — Não enfaixa os fugitivos a seu
perseguidor. Antes: “Morrem contigo (Judá) os proscritos de Moabe”
[Horsley].
4. Quando o homem violento — provavelmente, o opressor
assírio.
tiver fim — Quando Moabe pedir asilo a Judá, este estará em
condições de outorgar-lhe porque o opressor assírio terá sido expulso do
país.
5. Se Judá acolher a suplicante Moabe, permitindo-lhe permanecer
em Idumeia, semelhante ato redundará em bênção para o próprio Judá e
seu “trono”.
em benignidade … juízo … justiça — esta linguagem tão
divinamente esboçada é apropriada para se aplicar aos “últimos dias” sob
o reinado do Rei Messias, quando Jeová “fará retornar o cativeiro de
Moabe” (Sl_72:2; Sl_96:13; Sl_98:9; Jr_48:47; Rm_11:12).
e não tarde — logo em executá-lo.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 112
6. Temos — os judeus. Temos desprezado sua súplica por causa de
seu orgulho.
sua jactância — falsa jactância.
é vã — resultará vã (Is_25:10; Jr_48:29-30; Sf_2:8). “Não será
assim; suas mentiras não terão tal efeito”.
7. Portanto — Toda esperança de que os judeus lhe concedam asilo
se frustrará.
fundamentos (RC) — isto é, as ruínas, devido ao fato de que ao
derrubar as casas, só ficam os fundamentos (Is_58:12). No lugar paralelo
de Jr_48:31, acha-se “homens” os que são os fundamentos ou sustentos
de uma cidade.
Quir-Haresete — lit., uma cidadela de tijolos.
profundamente abatidos — unindo-o com “gemerão” diria, antes:
“Gemerão completamente feridos” [Maurer e Horsley].
8. campos — os vinhedos (Dt_32:32).
vinha de Sibma — perto de Hesbom: ou seja, ressecam-se.
senhores das nações — os príncipes gentios, os assírios, etc.,
aqueles que invadiram Moabe e destruíram suas vinhas. Assim Jeremias
na passagem paralela (Jr_48:32-33) de sua profecia. Maurer opina que as
palavras seguintes requerem, antes, que seja traduzido assim: “Seus
brotos (os vinhos obtidos da videira de Sibma) venciam (por seu
delicioso gosto e força) os senhores das nações” (Gn_49:11-12,
Gn_49:22).
se estenderam até Jazer — (os brotos da videira) chegaram até
Jazer, distante vinte e quatro quilômetros de Hesbom.
se estenderam — com exuberante viço pelo deserto da Arábia,
rodeando a Moabe.
mar — o Mar Morto ou algum lago próximo a Jazer, agora seco.
Em Jr_48:32 se chama o mar de Jazer; veja-se a nota, sobre esse
versículo (Sl_80:8-11).
9. prantearei — sua desolação embora pertença a outra nação
(Nota, Is_15:5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 113
com o pranto de Jazer — como chora Jazer.
caiu já dos inimigos o eia — através de seus frutos estivais e de
suas luxuriantes videiras se ouvirá o vozerio (o grito de combate, em
lugar do grito prazeroso dos vindimadores, comum na colheita de uvas)
(v. 10; Jr_25:30; Jr_51:14). Na passagem paralela (Jr_48:32) as palavras
expressam substancialmente o mesmo sentido. “O despojador tem caído
sobre seus frutos estivais”.
10. alegria — que se experimenta na coleta de uma rica colheita.
Como não haverá colheita nem colheita de uvas, devido à desolação da
terra, tampouco haverá alegria.
11. minhas entranhas (RC) — Nas Escrituras, estas são o assento
de uma ofegante compaixão. Significa o assento interior das emoções, o
coração, etc. (Is_63:15; cf. Is_15:5; Jr_48:36).
soam ... como harpa (RC) — do mesmo modo como soam suas
cordas quando pulsadas com o plectro ou a mão.
12. quando Moabe se apresentar (RC) — “Quando Moabe
parecer (diante de seus deuses; cf. Êx_23:15); quando estiver cansado
(isto é, quando se tiver fatigado com a observância de seus fatigantes
ritos, 1Rs_18:26, etc.) nos altos (cf. Is_15:2), e vá a seu santuário (do
ídolo Quemos, no Monte Nebo) a orar, não prevalecerá”: nenhum
resultado obterá com suas orações [Maurer]
13. há muito — antes, “com relação a esse tempo” [Horsley] e
Barnes traduz “antigamente”, em contraste com “Agora, porém” (v. 14);
quer dizer, em outro tempo se proferiram profecias anteriores contra
Moabe (Êx_15:15; Nm_21:29) das quais Isaías deu a substância; agora,
porém, destaca-se um tempo preciso e fixo.
14. Dentro de três anos, tais como os de jornaleiros — Assim
como um assalariado tem o tempo fixado deve servir, tanto que nem ele
nem seu patrão permitirão que o alongue ou corte, assim o limite dentro
do qual Moabe deve cair, está inalteravelmente fixado (Is_21:16).
Quanto ao tempo, cumpriu-se quando os assírios levaram em cativeiro a
Israel. As ruínas de Eleale, Hesbom, Medeba, Dibom, etc., ainda existem
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 114
para confirmar a inspiração da Escritura. A particularidade da exata
especificação dos lugares, feita há 3.000 anos, confirmada pelas
investigações modernas, é um forte testemunho em favor da verdade da
profecia.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 115
Isaías 17

Vv. 1-11. Profecia Referente a Damasco e Samaria, Sua Aliada,


quer dizer, Síria e Israel, aqueles que tinha formado uma aliança (Isaías
7 e 8). Já Tiglate-Pileser tinha levado a povo de Damasco a Quir, no
quarto ano de Acaz (2Rs_16:9); mas agora, no reinado de Ezequias,
prediz-se outra derrota (Jr_49:23; Zc_9:1). Salmaneser também levou
Israel de Samaria para a Assíria, no sexto ano de Ezequias de Judá (o
nono ano de Oseias de Israel) (2Rs_17:6; 2Rs_18:10-11). Esta profecia
foi, sem dúvida, proferida nos primeiros anos de Ezequias, quando as
nações estrangeiras estiveram prestes a pelejar contra Judá, devido à
aparência ameaçadora da Assíria.
1. Damasco — antepôs a Israel (Efraim, v. 3), ao qual se alude
principalmente no que segue, por causa que esta era a potência que
preponderava na aliança, com a qual Efraim mantinha-se em pé ou caía
(Isaías 7).
2. As cidades de Aroer — quer dizer, as cidades do contorno de
Aroer e sob sua jurisdição [Gesênius]. As “cidades” com suas aldeias”
(Js_15:44); “Hesbom, e todas as suas cidades” (Js_13:17). Aroer ficava
perto de Rabá, sobre o rio Gade, um braço do Jaboque (2Sm_24:5),
fundada pelos gaditas (Nm_32:34).
hão de ser para os rebanhos — (Is_5:17).
3. a fortaleza cessará (TB) — as fortalezas serão derrubadas
(especialmente Samaria. Os_10:14; Mq_1:6, Hc_1:10).
o restante da Síria — Tudo o que foi deixado depois da derrota
infligida por Tiglate-Pileser (2Rs_16:9).
como a glória de … Israel — Terão o mesmo destino que Israel,
sem aliado.
4. glória de Jacó — O reino de Efraim e tudo aquilo em que eles
confiam (Os_12:2; Mq_1:5).
a gordura da sua carne desaparecerá — (Nota, Is_10:16).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 116
5. segador, etc. — os habitantes e a riqueza de Israel, tudo será
roubado com exceção de uns quantos, da maneira como o segador
recolhe o grão e os frutos e só deixa uma porção de algumas espiga e
cachos (2Rs_18:9-11).
e com o braço — com a mão esquerda agarra os caules do trigo
para poder cortá-los com a foice que tem na direita.
Refains — fértil planície a sudoeste de Jerusalém, em direção a
Belém e à terra dos filisteus (2Sm_5:18-22).
6. nele (TB) — quer dizer na terra de Israel.
duas ou três … na ponta do ramo — serão deixados em Israel uns
quantos habitantes pobres, à semelhança de duas ou três azeitonas
deixadas nos ramos superiores, por não valer a pena incomodar-se para
as recolher.
7. olhará o homem para o seu Criador — em lugar de confiar em
suas fortalezas (v. 3; Mq_7:7).
8. os postes-ídolos (aserins, TB) — Uma árvore simbólica
encontra-se frequentemente nas inscrições assírias, que representa as
hostes do céu (Saba), aquele que corresponde a Astarote ou Astarte, a
rainha do céu, assim como Baal ou Bel é o rei. Este é o significado da
expressão “imagem esculpida de Asera”, que se acha em 2Rs_21:7.
imagens do sol (TB) — isto é, de Baal, que corresponde ao sol, do
mesmo modo que Astarte, às hostes do céu (2Rs_23:5; Jó_31:26).
9. lugares abandonados no bosque — antes: “Os lenhos deixados”
pelo lenhador ao destruir as árvores do bosque (Cf. v. 6).
os quais outrora foram abandonados ante os filhos de Israel, e
— antes, “que (os inimigos) deixarão para os filhos de Israel”; lit.,
“deixarão ao partir da presença dos filhos de Israel” [Maurer]. De tantas
cidades só umas quantas serão deixadas a Israel, conforme ao desígnio
de Deus executado pelo assírio.
10. te esqueceste do Deus da tua salvação — (Dt_32:15,
Dt_32:18).
faças plantações — melhor, viveiros, jardins [Maurer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 117
mudas de fora — estaca de plantar trazidas de longe, e portanto,
valiosas.
11. no dia em que as plantares — “no dia de sua plantação”
[Horsley].
as fizeres crescer — Maurer traduz: “Você lhes fez uma paliçada,”
isto é, o jardim. A cláusula paralela “as fizeres florescer” favorece a
Versão Inglesa. Logo que as plantas cresçam.
na manhã seguinte — isto é, imediatamente depois; daqui que o
Sl_90:14, o termo hebraico que significa “pela manhã” está traduzido
“disposto”.
ainda assim a colheita voará — apesar do que prometiam as
perspectivas [Horsley].
no dia da tribulação — Melhor dizendo: “no dia de (esperada)
possessão” [Maurer]. “No dia da inundação” [Horsley]
e da dor desesperada — Ou: “E a tristeza será desesperada ou
irremediável”. Na Versão Inglesa, montão e tristeza, podem tomar-se
por uma hendíadis. “Os frutos colhidos serão desesperadora tristeza”
[Rosenmuller].

Cap. 17:12 – 18:7. Repentina Destruição de um Grande Exército


na Judeia (ou seja, o do assírio Senaqueribe), e o Anúncio do Evento dos
Embaixadores da Etiópia. A vinculação deste fragmento com o que
precede é: não obstante as calamidades que sobrevirão a Israel, o povo
de Deus não será inteiramente destruído (Is_6:12, 13); os despojadores
assírios perecerão (Is_17:13, 14).
12. Ai da multidão (RC) — melhor: Ei! (escutem) um ruído de,
etc. O profeta percebe em visão o grande e heterogêneo exército assírio
(hebraico: “Muitos povos”, veja-se a nota sobre Is_5:26: sobre as colinas
de Judá (“montanhas” Is_17:13); mas à repreensão de Deus “voarão
como palha”.
que bramam — (cf. Is_8:7; Jr_6:23).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 118
13. Deus as repreenderá, e fugirão — (Sl_9:5). O evento
apresenta-se à vista como presente, não futuro.
como a palha dos montes — As eiras no Oriente estão ao ar livre,
em lugares elevados, a fim de conseguir que o vento separe a palha do
trigo (Sl_88:13; Os_13:3).
como pó levado pelo tufão — qualquer coisa que gira; a palha.
14. Ao anoitecer … antes que amanheça — Comprido
plenamente na destruição, “antes da manhã”, do imenso exército, que à
tarde causou tanto terror (“inquietação”) em Judá. Quanto à própria
frase, veja-se Sl_90:6; Sl_30:5.
já não existem — já não existe o inimigo.
nos — os judeus. Declaração geral a respeito da sorte que espera
aos inimigos do povo de Deus (Is_54:17).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 119
Isaías 18

Isaías anuncia o desastre das forças de Senaqueribe, e deseja que os


embaixadores da Etiópia, presentes em Jerusalém, levem a notícia disso
à sua nação, e convida o mundo inteiro a presenciar o acontecimento (v.
3). Assim como Is_17:12-14 anunciava a presença do inimigo, assim
este capítulo prediz igualmente seu desastre.
1. Ai — O cabeçalho na Versão Inglesa “Deus destruirá os
etíopes”, é um erro nascido da errônea tradução de “Ai!”; pois o hebraico
não expressa ameaça, mas sim um chamado de atenção (Is_55:1;
Zc_2:6): “Ei!”. Ele não fala contra os etíopes, mas sim os convida a
escutar o anúncio referente à destruição de seus inimigos.
que ensombra com as suas asas (RC) — melhor dito: “a terra de
alados barcos”, isto é, “barcos com velas semelhantes a asas, o que
responde a navios de juncos ou papiros” no v. 2; a palavra “rios” no
paralelismo favorece isto mesmo como também a Versão dos Setenta e a
Caldaica. [Ewald]. “A terra do ruidoso som de asas”, isto é, exércitos,
como em Is_8:8; a tradução de “barco” ou “nave” é algo duvidosa
[Maurer]. Os referido exércitos são os do Faraó Tiraca, que avançam ao
encontro dos assírios (Is_37:9). Na Versão Inglesa, a frase “que faz
sombra” significa que protege, estendendo suas asas para defender um
povo fraco, ou seja, o dos hebreus [Vitringa]. A voz hebraica para “asas”
é a mesma que serve para designar o ídolo Cneph, que nas esculturas dos
templos era representado com asas (Sl_91:4).
que está além dos rios — de Meroe, a ilha entre os “rios” Nilo e
Astaboras, famosa por seu comércio, e por ser provavelmente o assento
do governo etiópico; daí que se dirija a ela, como a representante de todo
o império. Ainda podem-se ver nela ruínas de templos e o nome de
Tiraca” nas inscrições. Esta região insular foi provavelmente a parte
principal dos domínios da rainha Candace (At_8:27). Outros, em lugar
de “detrás”, traduzem menos literalmente “que é fronteiriça”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 120
Etiópia — lit., Cuxe. É provável que Horsley tenha razão, ao dizer
que a última e mais ampla alusão da profecia seja à restauração dos
judeus na Terra Santa, mediante a instrumentalidade de algum povo
distante destro em navegação (v. 2; Is_60:9, 10; Sl_45:15; Sl_68:31;
Sf_3:10): possivelmente seja a Inglaterra. Os viajantes fenícios, que
navegavam ao longo das costas, estavam acostumados a situar todas as
terras ocidentais remotas como “além” de bocas do Nilo. “Cuxe”
também tem um amplo sentido, que se aplica não só à Etiópia, mas
também à Arábia Deserta e Feliz, e ao longo do Golfo Pérsico, até o
Tigre (Gn_2:13).
2. embaixadores — enviados a Jerusalém ao tempo em que se
tramitavam as negociações entre Tiraca e Ezequias contra o esperado
ataque de Senaqueribe (Is_37:9).
por mar — pelo Nilo (Is_19:5), como o prova o que segue.
navios de junco (RC) — rápidas canoas, feitas de papiro,
embreadas de peixe. O mesmo foi feito com o cesto de junco em que foi
exposto Moisés (Êx_2:3).
Ide — Isaías lhes diz que levem as boas novas do que Deus está
prestes a fazer (v. 4) contra o inimigo comum de Judá e Etiópia.
poderosa e esmagadora — melhor: forte e enérgica [Maurer]. A
voz hebraica traduzida forte é lit., prolongada (Sl_36:10; Ec_2:3).
“Enérgica”, lit., aguda (Hc_1:8; O verbo significa afiar uma espada,
Ez_21:15-16); também significa polir. Heródoto (3:20, 114) caracteriza
os etíopes como “os homens mais altos e belos”. G. V. Smith traduz:
“altos e galhardos”, lit., estendidos (Is_45:14, “homens de estatura”) e
polidos (os etíopes têm a cútis suave e lustrosa). Na Versão Inglesa, a
alusão é aos judeus, os espalhados párias, afligidos pela indignidade (lit.,
que têm o cabelo arrancado, Horsley)
terrível — Os etíopes são famosos por seus proezas guerreiras
[Rosenmuller]. Os judeus, que por causa da praga de Deus, fizeram que
outros temessem o mesmo (Dt_28:37). Melhor: “horrivelmente notável”
[Horsley]. Deus, no princípio, infundiu o terror de Seu povo nas nações
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 121
vizinhas (Êx_23:27; Js_2:9); assim há de suceder nos últimos dias
(Zc_12:2-3).
desde o seu princípio (RC) — A Versão Inglesa, mais corretamente
traduz: Desde o seu princípio até agora. Mas Gesênius traduz: “A
terrível nação (o Alto Egito) e ainda mais além” (aos etíopes, chamados
assim com muita propriedade).
de medidas (RC) — O hebraico: de linha, linha. A linha de medir
usava-se na destruição de edifícios (Is_34:11; 2Rs_21:13; Lm_2:8). Daí,
em sentido ativo, significa “um povo que mede”, “um povo que a tudo
destrói”, o que se adapta ao contexto melhor que “medido”, em sentido
passivo [Maurer]. Horsley, entendendo isto dos judeus, traduz:
“Esperando (numa atitude de contínua expectação do Messias) e
pisoteado sob os pés”; que encerra um quadro gráfico deles. A maioria
traduz: De força, força (da raiz que significa fortalecer os tendões), isto
é, um povo muito poderoso.
pisa aos pés — o qual é exato, aplicado aos judeus. Mas Maurer o
traduz em sentido ativo, um povo que pisoteia sob suas plantas a todos
os seus inimigos, isto é, um povo vitorioso (Is_14:25), isto é, os etíopes.
dividem — O Nilo está formado pela reunião, na Abissínia, de
muitas correntes, tais como: o Atbara, o Astapus ou rio Azul (entre os
quais se encontra Meroe, aludida aqui com o nome de “Etiópia”), e o
Astaboras ou rio Branco. Estas correntes regam o território do Alto Egito
por ambas as margens, e depositam suas águas no Baixo Egito. G. V.
Smith traduz: “Dividem”. Horsley toma em sentido figurado pelos
exércitos conquistadores que com frequência arruinaram” a Judeia.
3. olhai … escutai — Convida a toda a terra a ser testemunha do
que Jeová está prestes a fazer. Ele “arvorará um estandarte” para chamar
as matizadas hostes assírias a reunir-se (Is_5:26) “sobre os montes” que
circundam Jerusalém para sua destruição. Isto declara (Isaías 18) a futura
derrota destes exércitos, cuja presença se anuncia em Is_17:12, 13. O
mesmo motivo que induziu a Ezequias para buscar a ajuda do Egito, o
induziu a aceitar alegremente a do etíope Tiraca (Is_36:6; Is_37:9). A
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 122
Etiópia, o Egito e a Judeia estavam provavelmente aliados contra o
inimigo comum, 713 a.C. Vejam-se as notas a Isaías 22, onde se observa
uma diferença de tom (como referindo-se a um período diferente) no que
corresponde à Etiópia. Horsley entende pela ‘estandarte”, a cruz, e pela
“trombeta”, a trombeta do evangelho, que soará com maior sonoridade
nos últimos dias.
4. Olhando da minha morada, estarei calmo — Olharei com
calma, e não me interporei enquanto tudo promete êxito ao inimigo;
quando sentido figurado “o calor do sol” e “o orvalho da noite maturarão
sua colheita”; mas “antes que esta chegue a sua maturidade eu a
destruirei (v. 5; Ec_8:11, 12).
como o ardor quieto do sol — “no tempo de claro (ou sereno)
calor” Maurer traduz “à luz do sol” (Jó_31:26; Jó_37:21; Hc_3:4).
como … orvalho — Melhor: “No tempo da nuvem de orvalho”. O
“silêncio” de Deus é erroneamente tomado pelos ímpios como
consentimento; e Sua demora em tomar vingança, por esquecimento
(Sl_50:21); e assim a vingança que se anunciará nos últimos dias,
quando tiver lugar a restauração dos judeus, será prévia (Is_34:1-8;
Is_57:11, fim do versículo; 2Pe_3:3-10).
5. Porque — Melhor: Mas.
está perfeito (RC) — Acabamento. Quando os planos do inimigo
estejam prestes a ser consumados.
as uvas amadurecem (RC) — “Quando a flor tenha maturado”
[Maurer].
os sarmentos — os renovos com uvas neles. Deus não só
transtornará seus atuais planos, mas também impedirá que haja outros no
futuro. Horsley toma aqui a “colheita” e a colheita de uvas como
referindo-se aos juízos purificadores que fazem com que os ímpios sejam
extirpados de sobre a terra e que os fiéis desfrutem de paz neste mundo.
Mas este não é o juízo final (Jo_15:2; Ap_14:15-20).
6. às aves … aos animais — É uma transição das imagens
“sarmentos” e “ramos” ao que elas significam: Os soldados e chefes
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 123
assírios serão presa das aves e as bestas durante o ano inteiro, inverno e
verão tão numerosos como os cadáveres. Horsley traduz a voz hebraica,
que está no singular, “acima disso”, não “sobre eles”: “isso” refere-se ao
lugar da habitação de Deus (v. 4) na Terra Santa, da qual o próprio
Anticristo (é a ave de rapina” junto com as “bestas”, seus rebeldes
hostes) deve tomar possessão e na qual deve perecer.
7. presente ... homens altos e de pele brunida — Para a correta
tradução, veja-se a nota ao v. 2. A repetição de epíteto realça a honra
tributada a Jeová por tão poderosa nação. Os etíopes, atônitos perante
semelhante interposição de Jeová em favor do Seu povo, enviarão ofertas
a Jerusalém, para honrá-Lo (Is_16:1; Sl_68:31; Sl_72:10). Traduza-se,
pois assim: “um presente de um povo”. Traduzindo-o como a Versão
Inglesa, “o presente” significaria o povo da Etiópia convertido a Deus
(Rm_15:16). Horsley opina que o povo convertida a Jeová, refere-se aos
judeus, nos últimos dias.
ao lugar do nome do SENHOR — Onde Jeová manifesta Sua
glória de modo especial. Em At_2:10 e At_8:27, mostra-se como os
adoradores acudiram do “Egito” e da “Etiópia” a Jerusalém. Frumencio,
que era egípcio, converteu a Abissínia ao cristianismo no século IV,
onde ainda floresce uma igreja cristã governada por Abuna ou arcebispo.
O cumprimento plenário disto pode ser que seja ainda futuro.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 124
Isaías 19

Vv. 1-25. Os caps. 19 e 20 estão relacionados entre si, mas com um


intervalo entre um e outro. O Egito tinha sido dominado por uma dinastia
etiópica, a de Sabaca, Sevechus ou Sabaca II, e por Tiraca, por espaço de
quarenta ou cinquenta anos. Sevechus (chamado Sô, aliado de Oseias,
2Rs_17:4) retirou-se do Sob o Egito, por causa da resistência que lhe
opuseram os sacerdotes, e possivelmente também devido às ameaças dos
Assírios em contra o Baixo Egito. Em sua retirada, Sebes, pertencente à
casa sacerdotal, apoderou-se do poder, e fez sua capital Tanis (“Zoã”)
ou, antes, Mênfis, 718 a.C.; enquanto isso os etíopes retiveram em seu
poder o Alto Egito, com Tebas como capital, sob o domínio de Tiraca.
Em Saís, a oeste do Baixo Egito surgiu uma terceira dinastia nacional.
Pertenceu a esta dinastia, num período posterior, Psamético, o primeiro
que admitiu os gregos e seus exércitos no Egito. Ele foi um da
dodecarquia, um número de reis insignificantes, entre os quais foi
dividido o território egípcio. Estes, com a ajuda de tropas auxiliares
estrangeiras, submeteram o resto do país, em 670 a.C.
Gesênius refere as divisões deste último tempo no v. 2; e de
Psamético diz no v. 4, que era um “senhor cruel”. Também alude às
dissensões das castas governantes. Mas a época referida é muito anterior
à de Psamético. No v. 1, representa-se a invasão do Egito como causada
por Jeová”; e no v. 17 fala-se de “Judá” como “o terror do Egito”, coisa
que ela quase não poderia ser por si só. É portanto provável que se
insinue aqui a invasão do Egito por Assíria, às ordens de Sargão, quando
Judá era aliada da Assíria e Ezequias ainda não tinha recusado pagar o
tributo, como o fez no princípio do reinado de Senaqueribe. Que a
Assíria estava no pensamento de Isaías, é evidente pela forma em que
esta se une a Israel e o Egito em prestar culto a Jeová (v. 24, 25). Desta
maneira, as dissensões referidas (v. 2) aludem ao tempo do retiro dos
etíopes do Baixo Egito, provavelmente não sem luta, especialmente com
a casta sacerdotal; pode ser que também aluda ao tempo em que Sebes
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 125
usurpou o trono e entrou em contenda com a casta militar, mediante a
ajuda da população das cidades, quando a dinastia saíta foi novo motivo
de divisão. O reinado de Sargão teve lugar entre 722-715 a.C., e foi em
718 a.C. quando Sebes usurpou o seu trono. [G. V. Smith]
1. Sentença — (Nota, Is_13:1).
cavalgando uma nuvem — (Sl_104:3; Sl_18:10).
vem ao Egito — para tomar vingança. “Egito” em hebraico é
Mizraim, forma plural para expressar as duas regiões do Egito. Bunsen
observa: O título de seus reis reza assim: “Senhor do Alto e Baixo Egito”.
ídolos — o touro, o crocodilo, etc. Diz-se poeticamente dos ídolos
que se comovem na presença de Um que se supõe ainda mais poderoso
do que se supunha que fossem eles (Êx_12:12; Jr_43:12).
2. farei com que — incitarei. Gesênius traduz: “armarei”.
egípcios ... contra egípcios — O Baixo Egito contra o Alto: e o
Saítico contra ambos (veja-se Is_3:10). Newton relaciona esta passagem
com as guerras civis entre os Apries e os Amasis, ao tempo da invasão
de Nabucodonosor; e também entre Tacos, Nectanebus e os
Mendisianos, antes de Ochus subdividir o Egito.
reino contra reino — A LXX traduziu “nomo contra nomo”. o
Egito foi dividido em quarenta e dois nomos ou distritos.
3. espírito — sabedoria, pela que era famoso (Is_31:2; 1Rs_4:30;
At_7:22); corresponde a “conselho” na cláusula paralela.
se esvaecerá — lit., será vertido, isto é, será dissipado (Jr_19:7).
“Buscarão” ajuda em fontes que não a podem subministrar: os
“encantados”, etc. (Is_8:19).
encantadores — lit., os que produzem um fraco som: os adivinhos
imitavam o fraco som que atribuíam aos espíritos dos mortos (Nota,
Is_8:19).
4. senhor duro — Sargão; em hebraico diz senhores; mas se
emprega o plural com frequência para expressar grandeza onde se alude
a um só (Gn_39:2). A palavra paralela “rei” (no singular) prova-o.
Newton diz que se refere em geral a Nabucodonosor, e em particular, a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 126
Cambises, filho de Ciro (quem matou ao boi Apis, o deus egípcio) e a
Ochus, conquistadores persas do Egito, notados por sua “feroz
crueldade”. Gesênius o atribui a Psamético, quem tinha levado os gregos
e outros mercenários ao Egito para subjugar os onze príncipes da
dodecarquia.
5. do mar (ACF, RC, TB) — o Nilo. Sabe-se, pela história, que as
calamidades físicas vão frequentemente acompanhadas de convulsões
políticas (Ez_30:12). O Nilo “deixará” de subir até a desejada altura, e o
resultado disto será a esterilidade e a fome. Suas águas, ao tempo de seu
transbordamento, se assemelham a um mar (Pliny, Natural History,
85.11); e ainda é chamado pelos egípcios como El-Bahr, “o Mar”
(Is_18:2; Jr_51:36). No Cairo se tem um cômputo público da ascensão
diária da água no tempo do transbordamento, o que ocorre em agosto; se
a ascensão chegar a uma altura menor de doze côvados, não inundará a
terra, e o resultado será a fome. Isso mesmo ocorre também quando a
ascensão é superior a dezesseis côvados, porque nesse caso as águas não
se retiram com a suficiente presteza para poder semear o solo.
6. Os canais exalarão mau cheiro — antes, as correntes se
tornarão pútridas; isto é, as correntes artificiais para a irrigação se
estancarão e se tornarão repugnantes ao faltar a água [Maurer]. Horsley e
a LXX traduzem: “E as águas do mar lhes servirão de bebida”; por falta
da água do rio se verão reduzidos à água do mar.
os braços do Nilo — Melhor: “Os canais do Egito”; canais, lit.,
“Nilos”; os canais do Nilo é o nome plural do termo egípcio que designa
o grande rio. A mesma palavra hebraica Matzor, de onde procede
Mitzraim, designa ao Egito, e a um lugar de “defesa”. Horsley, assim
como a Versão Inglesa, traduz “canais terraplenados”.
as canas e os juncos — o papiro. “O cano e o junquilho”
murcharão completamente.
7. A relva — melhor: os pastos; lit., lugares despidos de árvores, e
famosos por seus ricos pastos, nas margens do Nilo (Gesênius). Cf.
Gn_13:10; Dt_11:10. Horsley traduz: “Nudez sobre o rio’, expressão
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 127
descritiva da aparência de um rio quando seu fundo está visível e seus
arremata desprovidas de verdor, devido a uma prolongada seca: assim se
lê na Vulgata.
junto às suas ribanceiras — antes, junto à fonte [Vulgata]. “Até a
vegetação imediata à margem do rio se secará de tal maneira que será
esparramada na forma de pó pelo vento”. (A Versão Inglesa,
“afugentada”). [Horsley]
8. Os pescadores — O Nilo era famoso por seus peixes (Nm_11:5);
muitos desses pescadores ficariam sem trabalho por falta de peixes.
anzol — Usava-se nos “arroios” e canais do mesmo modo que a
“rede” nas águas” do mesmo rio.
9. linho fino — Gesênius em vez de “fino”, traduz “penteado”. O
linho fino unicamente os ricos o usavam (Lc_16:19). O Egito era famoso
por seu linho (Êx_9:31; 1Rs_10:28; Pv_7:16; Ez_27:7). O procedimento
de sua fabricação está representado nas tumbas egípcias. Israel aprendeu
a arte de fabricá-lo no Egito (Êx_26:36). O tecido que agora
encontramos nas múmias era de linho, como o demonstrou o
microscópio. Wilkinson fala de um fio do Egito que tinha 540 (ou 270
duplos) fios numa polegada de urdidura, enquanto que certa cambraia
moderna só tem 160 [Barnes].
rede — antes, tecido branco (Et_1:6; 8:16).
10. seus grandes … esmagados — melhor, fundamentos, isto é,
“os nobres serão quebrantados” ou humilhados; assim se lê em Is_3:1;
Sl_11:3; cf. v. 13. “Os príncipes — o sustento das tribos”. Os árabes
chamam um príncipe “coluna do povo” [Maurer]. “Seus bastidores de
tecer” [Horsley]. “Diques” [Barnes].
todos os que fazem viveiros para peixes (AV) — “construtores de
represas”, para encerrar as águas que transbordam do Nilo em lagos
artificiais para peixes [Horsley]. “Busca-vidas”, o comum do povo, que
tem que ganhar a vida, em oposição aos “nobres” mencionados
anteriormente [Maurer]
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 128
11. Zoã — Os gregos a chamavam Tanis; era uma cidade do Baixo
Egito, situada a leste do braço do Nilo chamado Tanítico. Agora se
chama San. Era uma das cidades egípcias mais próximas da Palestina
(Nm_13:22), cenário dos milagres de Moisés (Sl_78:12, Sl_78:43). Esta,
ou antes, Mênfis, era a capital em tempo de Sebes.
Sou filho de sábios … de antigos reis — Vocês não têm nenhum
conselho a sugerir para Faraó na crise; não obstante isso, gabam-se de
descender de sábios e de antepassados régios. Os sacerdotes eram os
“conselheiros” habituais dos reis do Egito. Estes eram escolhidos
geralmente dentre a casta sacerdotal, ou se eram dentre a casta militar,
eram admitidos na sagrada ordem, e eram chamados sacerdotes. Estes
são, portanto, os aludidos na expressão “filho de sábios, filho de antigos
reis”. Era esta sua jactância favorita (Heródoto, 2.141; cf. Am_7:14;
At_23:6; Fp_3:5). “Faraó” era o nome comum de todos os reis. É
provável que seja Sebes o aludido aqui
12. Anunciem-te — isto é, Como é que apesar de toda sua jactância
de saber o futuro (Diodorus, 1.81), ignoram o que Jeová dos exércitos,
etc.?
13. de Mênfis — (Os_9:6), situada na ribeira ocidental do Nilo.
Esta era capital do Baixo Egito, segunda em importância unicamente
depois de Tebas, em todo o Egito, e residência dos reis até que os
Ptolomeus se trasladaram a Alexandria. Seu nome significa o porto dos
bons (Plutarco). É provável que fosse governada pela casta militar: “Eles
também se enganam”, ao imaginar-se que seu país está coberto da
invasão assíria.
a pedra de esquina das suas tribos — melhor: a “pedra angular de
seus castas” [Maurer], isto é, os príncipes, as duas castas governantes: os
sacerdotes e os guerreiros; a imagem está tomada de um edifício que
descansa principalmente sobre suas pedras angulares. (Nota, v. 10;
Is_28:16; Sl_118:22; Nm_24:17, margem da Versão Inglesa; Jz_20:2;
1Sm_14:38, margem; Zc_10:4).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 129
14. fizeram estontear … em toda a sua obra — refere-se à
anarquia que surgiu de seus feudos internos. Horsley traduz: “com
relação a todas as suas (de Deus) obras”; eles interpretavam mal a cada
passo os atos divinos. “Mesclavam”: Aqui temos a imagem exata de um
“bêbado”, assim como alguém que mescla diversas especiarias com o
vinho, que o tornam embriagante (Is_5:22; Pv_9:2, Pv_9:5), assim Jeová
verteu sobre eles espírito de atordoamento, de sorte que se veem tão
desamparados como um “bêbado”.
15. Não aproveitará ao Egito obra alguma — Nada que o Egito
faça para sair da dificuldade.
pela cabeça ou cauda — o alto ou o baixo (vv. 11-15, e 8-10).
pela palma ou junco — a elevado ramo da palma ou o humilde
junco (Is_9:14, 15; Is_10:33, 34).
16. como mulheres — tímidos e desamparados (Jr_51:30;
Na_3:13).
ao levantar-se da mão — seus juízos realizados mediante os
invasores (Is_10:5, 32; Is_11:15).
17. A terra de Judá será espanto para o Egito — não ela mesma,
mas sim porque por este tempo Ezequias era o ativo e subordinado
aliado da Assíria quando se efetuou a invasão do Egito em tempo de
Sargão. Semelhante a esta aliança de Judá com Assíria é a de 2Rs_23:29,
onde Josias sai a campanha contra Faraó-Neco do Egito, provavelmente
como aliado da Assíria contra Egito [G. V. Smith]. Vitringa expressa que
o Egito, em meio de suas calamidades, lembraria que os profetas de Judá
as haviam predito, e assim Judá seria “o terror do Egito”.
dela — de Judá.
aquele — o Egito.
18-22. O infortúnio conduzirá ao arrependimento. Presa do “terror”
e do “medo” (v. 17) por causa dos juízos de Jeová, o Egito se converterá
a Ele: sim, até a Assíria se unirá ao Egito para servir a Jeová; de sorte
que Israel, Assíria e Egito, outrora inimigos recíprocos, se unirão,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 130
mediante o laço de uma fé comum, como um só povo. Outro resultado
semelhante a este será o de outras profecias (Is_18:7; Is_23:18).
18. cinco cidades — isto é, várias cidades, como em Is_17:6;
Is_30:17; Gn_43:34; Lv_26:8. Melhor: cinco definidas cidades do Baixo
Egito (v. 11, 13; Is_30:4) que tinham estreita relação com as cidades
judias vizinhas [Maurer]. Uns dizem que são: Heliópolis, Leontópolis
(ou Dióspolis), Migdol, Dafne (Tahpanes), e Mênfis.
a língua de Canaã — isto é dos hebreus de Canaã, a língua da
revelação. Fig. por: Abraçarão a religião judia. Assim como uma
linguagem pura e a conversão a Deus estão associados em Sf_3:9, assim
também a primeira confusão e multiplicação de línguas foi o castigo de
imaginar em Babel que havia outros deuses distintos do único verdadeiro
Deus. O Pentecostes (At_2:4) foi a contraparte de Babel; a separação de
nações não é impedimento para a unidade da fé; a plena realização disto
é coisa ainda futura (Zc_14:9; Jo_17:21). A cláusula seguinte “jurar por
Jeová dos exércitos”, concorda com esta opinião, quer dizer, que se
ligam a Ele mediante uma aliança solene (Is_45:23; Is_65:16; Dt_6:13):
Cidade do Sol (cidade de Destruição) — “cidade do Sol”, quer
dizer, Om ou Heliópolis. Onias, sumo sacerdote dos judeus do Egito,
persuadiu a Ptolomeu Filopáter (149 a.C.) a que lhe permitisse construir
um templo na prefeitura (Nomo) de Heliópolis, fundado em que isso
induziria os judeus a residir ali, e que o verdadeiro sítio tinha sido
predito por Isaías 600 anos antes. A leitura do texto hebraico, entretanto,
tolera melhor, “cidade de destruição”, referindo-se a Leontópolis, o sítio
do templo de Onias, o que encerra uma recriminação para aquela cidade,
porque estava prestes a conter um templo rival do único santuário
sancionado: o de Jerusalém. Maurer, com alguns manuscritos, traduz
“cidade de defesa” ou de “libertação”, ou seja, Mênfis, ou alguma
cidade semelhante, à qual Deus estava prestes a enviar “um salvador” (v.
20) para livrá-los.
19. altar — não para sacrificar, mas sim como “coluna” para
memorial e culto de adoração (Js_22:22-26). Isaías não contempla
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 131
nenhum templo no Egito, porque o único templo legal estava em
Jerusalém; mas, à semelhança dos patriarcas, terão altares em vários
lugares.
coluna — semelhante à que Jacó levantou (Gn_28:18; Gn_35:14);
era prática comum no Egito levantar obeliscos que comemoravam
divinos e prodigiosos eventos.
na sua fronteira — do Egito e Judá, para proclamar a ambos os
países uma fé comum. Esta passagem demonstra como o Espírito Santo
elevou a Isaías acima de um estreito nacionalismo a uma caridade
antecipadora da universalidade do Evangelho.
20. Servirá — a coluna.
de sinal — (do cumprimento da profecia) para seus
contemporâneos.
e de testemunho — a seus descendentes.
ao SENHOR — já não mais a seus ídolos, mas sim a Jeová.
ao SENHOR clamarão — ou, “um testemunho, etc., de que eles
clamaram, etc., e que ele lhes enviou um salvador”. Provavelmente este
foi Alexandre o Grande (tão grande) que os egípcios o receberam e
cumprimentaram como a um libertador (em grego Soter, título dos
Ptolomeus) do domínio dos persas, aqueles que os tinha “oprimido” em
tempo do Cambises. Em Alexandria (chamada assim para perpetuar seu
nome), foi traduzido ao grego o Antigo Testamento, para os judeus que
falavam o grego, um grande número dos quais habitavam no Egito, em
tempo dos Ptolomeus, sucessores de Alexandre. O Messias é o antítipo
final que se tem à vista (cf. At_2:10, Egito).
21. e ofertas de manjares — oferta sem derramamento de sangue.
22. curará — como está descrito (vv. 18-20).
converter-se-ão — porque o pecado do paganismo e da idolatria
são uma apostasia da verdade primitiva.
23. estrada — livre comunicação, fundada sobre bases superiores,
a fé comum de ambos (v. 18; Is_11:16). A Assíria e o Egito se uniram
sob Alexandre, como partes de um império: os judeus e os prosélitos de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 132
ambos os países se juntavam nas festas de Jerusalém, o que era tipo dos
futuros tempos evangélicos.
adorarão — servirão (AV) a Jeová, os egípcios com os assírios.
Efetivamente, “servir” usa-se em sentido absoluto (Jó_36:11).
24. terceiro — Os três se unirão como uma só nação.
bênção — Israel será uma fonte de bênçãos para outras nações, e
ele será objeto das bênçãos delas.
no meio da terra — isto é, do planeta (Mq_5:7). Judá está
destinada a ser o grande centro de toda a terra (Jr_3:17)
25. Quem (AV) — melhor aos quais, isto é, ao povo da terra
[Maurer].
meu povo — designação peculiar de Israel, o povo eleito, aplicada
aqui ao Egito, para expressar sua completa admissão aos privilégios
religiosos (Rm_9:24-26; 1Pe_2:9-10).
obra de minhas mãos — espiritualmente falando (Os_2:23;
Ef_2:10).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 133
Isaías 20

Vv. 1-6. Continuação do Assunto do Cap. 19, Mas Numa Data


Posterior. Cativeiro do Egito e Etiópia.
Durante o reinado de Sargão (722-715 a.C.), sucessor de
Salmaneser, efetuou-se uma invasão do Egito pelos assírios. Aqui se
prediz o êxito da mesma; daí que se admoeste a certo partido dentre os
judeus, por causa de sua louca “esperança” de ajuda da parte do Egito e
Etiópia. Em época posterior (Isaías 18), quando Tiraca da Etiópia era
aliado deles, os etíopes eram tratados como amigos; Deus anuncia a estes
a derrota do assírio Senaqueribe, o inimigo comum. Egito e Etiópia neste
capítulo (vv. 3, 4) estão representados como aliados, resultado sem
dúvida do medo causado pelo inimigo comum; eles haviam
anteriormente disputado entre si; e o rei de Etiópia, antes da usurpação
cometida por Sebes, tinha evacuado parte do Baixo Egito. Daqui que “o
Egito” seja mencionado sozinho em Isaías 19, o qual se refere a alguma
das primeiras etapas do mesmo evento, e que contém uma delicada nota
de verdade. Parece que Sargão foi o rei que concluiu a conquista de
Samaria que Salmaneser tinha começado. A aliança de Oseias com Sô ou
Sabaca II de Etiópia, assim como sua negativa a lhe pagar o costumeiro
tributo, incitaram Salmaneser a empreender a invasão.
Nos selos cilíndricos de barro achados no palácio de Senaqueribe de
Koyunjik, decifrou-se o nome do Sabaca. Por suas inscrições, crê-se que
os dois selos foram aderidos ao tratado de paz entre o Egito e a Assíria,
resultado da invasão daquele por Sargão, descrita neste capítulo. É
curioso que a passagem de 2Rs_18:10, confirma a opinião derivada das
inscrições assírias, de que embora Salmaneser tenha começado a
conquista de Samaria, Sargão a terminou; mas foi tomada pelos dois (cf.
2Rs_17:4-6). As inscrições achadas no palácio de Sargão em Korsabad
afirmam que foram levados cativos 27.280 israelitas pelo fundador do
palácio. É provável que, enquanto Salmaneser estava ocupado no assédio
de Samaria, Sargão ocupasse o poder e eliminasse a Salmaneser. O cerco
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 134
iniciou em 723 e terminou em 721 a.C., ou seja no primeiro ano do
reinado de Sargão. Daí provém a exiguidade de inscrições dos dois
predecessores de Sargão: Tiglate-Pileser e Salmaneser pelas haver
destruído o usurpador, do mesmo modo que Tiglate-Pileser destruiu as
de Pul (Sardanápalo), o último renovo da antiga dinastia de Nino. Os
nomes do pai e do avô de Sargão, decifrados no palácio de seu filho
Senaqueribe, não aparecem na lista dos reis assírios, o qual confirma a
opinião de que foi um sátrapa aquele que usurpou o trono. Tão hábil
general foi que Ezequias não fez esforço algum para escapar do tributo a
que lhe pagava até o reinado de Senaqueribe; daí que Judá não fosse
invadido agora como o foram o Egito e a terra dos Filisteus. Depois de
conquistar a Israel, enviou a seu general Tartã a que atacasse as cidades
filisteias, Asdode, etc., como medida preliminar para sua invasão do
Egito e Etiópia; pois a linha de avanço para o Egito corre ao longo da
costa sudoeste da Palestina. As inscrições confirmam a profecia onde nos
é dito que recebeu tributo de Faraó do “Egito”, além de aniquilar em
parte para a etíope Tebas ou Nô-Amom (Na_3:8). Diz-se que também
guerreou com os reis de Asdode, Gaza, etc.; tudo em harmonia com o
que diz aqui Isaías. Uma tabuleta memorial sua se achou deste modo em
Chipre, na qual se demonstra que tinha levado suas armas até aquela
ilha. Seu reinado durou uns seis ou sete anos mais ou menos de 722-715
a.C. [G. V. Smith].

1. Tartã — é provável que fosse o mesmo general enviado por


Senaqueribe contra Ezequias (2Rs_18:17). Gesênius toma o nome
“Tartã” como título.
Asdode — Chamada pelos gregos Azoto (At_8:40) à beira do
Mediterrâneo, uma das cinco cidades dos filisteus. A tomada desta
cidade pelos assírios foi um ato preliminar para a invasão do Egito, por
ser a chave daquela região; pois os filisteus eram aliados do Egito. Tão
bem a fortificaram que os assírios resistiram um sítio que durou vinte e
nove anos, no fim dos quais foi reconquistada pelo egípcio Psamético.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 135
enviado por — Sargão se manteve na retaguarda, ocupado em
combater as cidades fenícias, ou pode ser que conduzisse o grosso de
suas forças sem mais tardança ao Egito, passando por Judá [G. V. Smith].
2. por intermédio de — lit., pela mão de (cf. Ez_3:14).
o pano grosseiro — o folgado vestido exterior, de tosco tecido de
cabelo escuro, usado pelos que estavam de luto (2Sm_3:31) e pelos
profetas, apertado à cintura por um cinturão (Mt_3:4; 2Rs_1:8; Zc_13:4).
despido — antes, descoberto; ele tirou meramente o saco exterior,
ficando ainda a túnica ou roupa interior (1Sm_19:24; Am_2:16;
Jo_21:7), emblema que indicava que o Egito seria despojado de suas
possessões. A mesma roupagem de Isaías era uma calada exortação ao
arrependimento.
3. três anos — O ato simbólico de Isaías não prossegue
ininterruptamente todo este tempo, mas sim a intervalos, para o manter
vivo perante os olhos do povo durante esse período [Rosenmuller]. Em
vez disso, trata-se de um sinal de três anos, isto é, um sinal de que uma
calamidade que duraria três anos viria sobre o Egito e Etiópia [Barnes],
(Is_8:18). Este é o único exemplo de um ato estritamente simbólico feito
por Isaías. Tais atos foram comuns nos profetas posteriores, como
Jeremias e Ezequiel. Em alguns casos foram realizados não literalmente,
mas sim só em visão profética.
prodígio — que envolve uma ameaça referente ao futuro. [G. V.
Smith].
contra — com referência a, contra.
4. com as nádegas descobertas — Belzoni diz que os cativos estão
representados assim nos monumentos egípcios (Is_47:2, 3; Na_3:5,
Na_3:8-9), onde, como aqui, o Egito e a Etiópia se mencionam como
aliados.
5. se assombrarão — os filisteus, aliados do Egito, os quais
confiavam que este os ajudaria contra Assíria. Esta é uma admoestação
dirigida a um partido entre os judeus, cujos componentes, embora
sabiam que Judá era na época a subordinada aliada da Assíria, preferiam
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 136
o Egito como aliado (Is_30:7). A Etiópia era a esperança deles; pois
embora Palestina não tinha obtido ainda uma aliança com ela, contudo
esperava consertá-la. Egito era sua glória”, isto é, sua jactância
(Is_13:19); pois a aliança com ele se levou a cabo.
6. ilha — isto é, a costa mediterrânea — a Filístia, talvez a Fenícia
(cf. Is_23:2; Is_11:11; Is_13:22; Sl_72:10).
livrar-nos — enfático; se o Egito, no qual havemos confiante, foi
derrotado, como escaparemos nós que constituímos um pequeno e fraco
estado?
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 137
Isaías 21

Vv. 1-10. Repetição das Seguranças Dadas nos Caps. 13 e 14 aos


judeus que Estariam Cativos em Babilônia, De que Seu Inimigo Seria
Destruído e Eles Livrados.
O profeta não narra o evento, mas se imagina graficamente que está
como vigia em Babilônia e contempla os acontecimentos segundo se vão
sucedendo.

1. deserto — a campina entre a Babilônia e a Pérsia. Esta foi em


outro tempo um deserto, e devia voltar a sê-lo.
do mar — A planície estava coberta com a água do Eufrates, o que
semelhava um “mar” (Jr_51:13, Jr_51:36; assim Is_11:15, o Nilo), até
que Semíramis levantou grandes diques para canalizá-la. Ciro eliminou
esses diques, com o que todo o país voltou a ser um vasto deserto
pantanoso.
tufões … do Sul — (Jó_37:9; Zc_9:14). O vento do sul sopra sobre
Babilônia procedente dos desertos da Arábia, e sua violência é tanto
maior quanto em todo o seu curso nada o rebate através da planície
(Jó_1:19).
deserto — A planície existente entre Babilônia e Pérsia.
horrível terra — a Média. Para defender-se dela Nitocris fez
construir suas grandes obras (Heródoto 1:185). Cf. quanto a “horrível”
aplicada a um deserto, por estar cheio de perigos desconhecidos, com
Dt_1:19.
2. o pérfido procede perfidamente — refere-se aos estratagemas
militares empregados por Ciro para tomar a Babilônia. Pode-se traduzir
lhe recompensa com perfídia; nesse caso o objeto do verbo é Babilônia,
a qual se lhe retribui com sua mesma moeda: Is_33:1 e Hc_2:8,
favorecem este conceito.
Sobe — Isaías recita de maneira abrupta a ordem que Deus reparte
aos persas, instrumentos de sua vingança (Is_13:3, 17).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 138
Elão — No hebraico aparece Elão, uma província da Pérsia, onde
primitivamente se estabeleceram (Gn_10:22), a leste do Eufrates. O
nome da Pérsia não esteve em uso até o cativeiro; significa cavaleiro;
Ciro primeiro exercitou os persas na equitação. Isso é uma nota de
autenticidade de que o nome não se achou antes de Daniel e Ezequiel
[Bochart].
todo gemer — o “gemido” causado por Babilônia (Is_14:7, 8).
3. Isaías se imagina que se acha entre os expatriados em Babilônia e
não pode senão comover-se em face das calamidades que lhes
sobrevieram. Assim sucedeu com Moabe (Is_15:5; Is_16:11).
angústias — (Cf. Is_13:8; Ez_30:4, Ez_30:19; Na_2:10).
não posso ouvir — O hebraico pode significar: Tão arrasado me vi
que não pude ouvir; tão triste me senti que não pude ver (Gn_16:13;
Sl_69:23). [Maurer]
4. cambaleia — “me aturdiu” [Barnes].
a noite que eu desejava — O profeta se figura que é um dos
comensais no festim de Belsazar na noite em que Babilônia ia ser
tomada de surpresa. Daí sua expressão meu desejo ou prazer (Is_14:11;
Jr_51:39; Daniel 5).
5. Põe-se a mesa — isto é, prepara o festim de Babilônia, durante o
qual Ciro abriu as comportas dos diques de deságue, feitos por
Semíramis, a fim de reduzir o Eufrates a um só canal e fazer com que
inundassem a campina; de modo que pôde entrar em Babilônia pelo leito
do rio. Isaías representa em primeiro lugar o rei ordenando que se
prepare o festim. O repentino da irrupção do inimigo está graficamente
expresso pela rapidez da mudança de linguagem, que se converte num
alarme dirigido aos príncipes de Babilônia. “Levantai-vos”, etc. (cf.
Is_22:13). Maurer traduz: “Eles prepararam a mesa”, etc. Mas veja-se
Is_8:9.
estendem-se tapetes — antes, ponham a sentinela. Feito isto,
creram que podiam banquetear com inteira segurança. Babilônia tinha
muitas sentinelas sobre suas muralhas.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 139
untai o escudo — Isto se fazia para impedir que o couro do escudo
se endurecesse e se gretasse. “Prepare-os para a defesa”; a menção do
“escudo” indica unicamente que se trata dos farristas babilônicos, aos
quais se convida a preparar-se para a iminente defesa de si mesmos.
Horsley traduz: “Empunhem o ungido escudo”.
6. As instruções de Deus a Isaías para que ponha uma sentinela que
refira o que veja. Mas como no v. 10 se representa ao próprio Isaías
como alguém que “declarava”, para Horsley a sentinela é o próprio
profeta, e assim traduz: “Ei, que aquele que está sobre sua guarda diga o
que vê”.
7. uma tropa de cavaleiros — antes, um corpo de cavaleiros, ou
seja: alguns cavalgam em pares sobre cavalos (lit., pares de cavaleiros,
isto é, de dois em dois), outros em asnos, outros em camelos (cf. v. 9;
Is_22:6). O “carro” não é apropriado para que ser puxado por “asnos”,
como traduz a Versão Inglesa; o hebraico significa simplesmente no v. 7
o mesmo que no v. 9, “um corpo de homens a cavalo”. Os persas usavam
asnos e cavalos na guerra [Maurer]. Horsley traduz: “Alguém que levam
num carro puxado por um asno e um camelo, na companhia de dois
cavaleiros”. O homem é Ciro; o carro puxado por um camelo e um asno,
atados juntos e conduzidos por dois condutores, um montado sobre o
asno e o outro sobre o camelo, é o exército misto de medos e persas, com
seus respectivos chefes. Ele crê que os mais antigos carros militares
eram conduzidos por homens que montavam sobre os animais que deles
puxavam; o v. 9 favorece esta crença.
8. como um leão — antes, “(a sentinela) gritou: “Eu sou como um
leão” (Is_62:5; Sl_11:1). O ponto de comparação com “um leão” se acha
(pela sonoridade do grito) em Ap_10:3. Mas aqui se trata, antes, de sua
vigilância. As pálpebras do leão são curtas, de sorte que até estando
dormido parece estar alerta ou acordado; daí o fato de se pintá-lo nas
portas dos templos, como símbolo de vigilância, guardando o edifício.
(Hor. Apollo.) [Horsley].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 140
9. tropa de homens — carros que conduzem homens; ou antes, o
mesmo corpo de cavaleiros, soldados de cavalaria de dois em dois, como
no v. 7. [Maurer]. Mas segundo Horsley, trata-se de “um homem
conduzido num carro na companhia de dois cavaleiros”. A primeira
metade deste versículo descreve o que a sentinela vê; a segunda, o que a
sentinela diz, como consequência do que vê. No intervalo entre o v. 7 e o
9, a derrota de Babilônia pelos cavaleiros ou pelo homem que vai no
carro, cumpre-se. A derrota era mister que fosse anunciada ao profeta
pela sentinela, por causa da grande extensão da cidade. Heródoto (1:131)
diz que uma parte da cidade foi tomada algum tempo antes de que a
outra se impor da notícia.
e disse — não a algo dito precedentemente, mas com referência ao
assunto que ocupa a mente do escritor, inferido do precedente discurso;
proclamou (Jó_3:2; Margem da Versão Inglesa, Dn_2:26; At_5:8).
Caiu, caiu — A repetição expressa ênfase e certeza (Sl_92:9;
Sl_93:3; cf. Jr_51:8; Ap_18:2).
imagens de escultura — Bel, Merodaque, etc. (Jr_50:2; Jr_51:44,
Jr_51:52). Os persas não tinham imagens, nem templos, nem altares, e
tratavam de loucos os que as faziam (Heródoto 1:131); por conseguinte,
“romperam contra o solo as imagens babilônicas”.
10. Povo meu, debulhado — isto é, meu povo (os judeus)
oprimidos por Babilônia.
trigo da minha eira — hebraico, meu filho da era; isto é, meu
povo, tratado como o trigo estendido sobre a eira para debulhá-lo; isso
indica também que mediante a aflição, um resíduo (o grão) seria
separado dos ímpios (palha). [Maurer]. Horsley traduz: “Ó você, objeto
de minhas irremissíveis proféticas penas”. Veja-se Is_28:27, 28. Alguns,
fundando-se em Jr_51:33, fazem de Babilônia o objeto da debulha; mas
é evidente que Isaías se dirige a seus patrícios, como o demonstram as
seguintes palavras, não aos babilônios.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 141
Vv. 11, 12. Uma Profecia Dirigida aos Idumeus que Vituperavam
os Afligidos Judeus que estavam no Cativeiro de Babilônia.
Alguém que sai de Seir pergunta: a que hora estamos da noite? Há
esperança de chegar a aurora da libertação? Isaías responde: A manhã
começa a alvorecer (para nós); mas a noite vem também (para vós). Cf.
Sl_137:7. Os cativos hebreus seriam libertados, e o insolente Edom,
castigado. Se o idumeu quer voltar a perguntar, pode fazê-lo; se deseja
uma resposta de paz para seu país, então “voltem (que se arrependam) e
venham” [Barnes].
11. Dumá — Tribo e região de Ismael, na Arábia (Gn_25:14;
1Cr_1:30); agora se chama Dumá a Pétrea, situada nos limites da Arábia
e o deserto da Síria. Aqui se toma a parte pelo todo de Edom. Vitringa
pensa que “Dumá”, em hebraico “silêncio”, emprega-se aqui por
Idumeia, para denotar que esta logo ia ser reduzida ao silêncio ou ser
destruída.
Seir — A principal montanha de Idumeia, ao sul do Mar Morto, na
Arábia Pétrea. “Gritam-me de Seir,” “Há um chamado do Seir”. O me,
refere-se a Isaías. Da mesma maneira, o pagão Balaque e Acazias
receberam oráculos de um profeta hebreu.
Guarda — o profeta (Is_62:6; Jr_6:17), é chamado assim, porque
vigiando de uma torre, à semelhança de um sentinela, anuncia os eventos
futuros que vê em sua visão profética (Hc_2:1-2).
a que hora estamos da noite? — “Que notícias temos referente ao
estado da noite?” Ou antes: “Quanto resta da noite?” Quanto transcorreu
dela? [Maurer]. A noite significa uma calamidade (Jó_35:10; Mq_3:6),
que então, por causa das guerras entre o Egito e Assíria, pesava
dolorosamente sobre Edom ou sobre Judá (se como pensa Barnes, a
pergunta parece como mofando-se dos sofrimentos dos judeus em
Babilônia). A repetição da pergunta indica, segundo a primeira opinião,
a ansiedade dos idumeus.
12. Resposta do profeta: A manhã (a prosperidade) vem, e depois a
noite (a adversidade). Embora vós, ó idumeus, tenham um brilho de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 142
prosperidade, este logo será seguido de nova adversidade. Em outras
palavras, como Barnes, “A prosperidade vem (para os judeus), a que
logo será seguida pela adversidade (para vós) os idumeus, que se
alegram pela queda de Jerusalém e vos haveis apoderado da parte
meridional de sua terra, em sua ausência, durante o cativeiro, e agora os
escarneceis com sua pergunta” (Is_34:5-7). Ob_1:10-21 favorece esta
opinião.
se quereis perguntar, perguntai — Se resolvem me perguntar
outra vez, façam isso. (Em Gn_43:14; 2Rs_7:4; Et_4:16 ocorre uma
frase semelhante).
voltai, vinde — “Convertei-vos a Deus, (e então) venham”
[Gesênius]; então recebereis uma resposta mais favorável.

Vv. 13-17. Profecia de que a Arábia Seria Invadida por Um


Inimigo Estrangeiro Dentro de Um Ano.
Isto sucederia provavelmente durante as guerras entre a Assíria e o
Egito; a Idumeia e a Arábia ficavam um tanto sobre a linha intermédia de
avanço.
13. contra a — isto é, referente a.
bosques — não um monte de árvores, mas sim uma região de
espesso matagal, escarpado e impenetrável; pois a Arábia não tem
bosques de árvores.
ó viandantes — as caravanas. Serão guiados por causa do medo do
inimigo a rotas não frequentadas (Is_33:8; Jz_5:6; Jr_49:8, são paralelos
desta passagem).
dedanitas — de Dedã, situada no norte da Arábia (Gn_25:3;
Jr_25:23; Ez_25:13; Ez_27:20; outra “Dedã” ocorre em Gn_10:7).
14. Tema — nome de uma tribo afim e de um oásis naquela região
(Jr_25:23). Os temanitas dão água aos desfalecidos e sedentos dedanitas,
o ato mais importante da hospitalidade nas ardentes terras do Oriente,
onde a água é tão escassa.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 143
levai pão — isto é, antecipem-se às necessidades dos fugitivos
dedanitas, subministrando-lhes pão (Gn_14:18).
pão — “o do fugitivo”, quer dizer, o pão que se deve a eles, o pão
necessário para seu sustento. Assim “seu sepulcro” (Is_14:19) [Maurer].
15. fogem — os dedanitas e outros árabes.
16. um ano, tal como o de jornaleiro — (Veja-se nota Is_16:14).
Quedar — tribo nômade (Sl_120:5). Com este nome se designa o
Norte da Arábia Pétrea e o Sul da Arábia Deserta, tomadas pela Arábia
em geral.
17. o restante … será diminuto — o resíduo dos guerreiros árabes,
famosos como arqueiros, deixado depois da invasão, será pequeno.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 144
Isaías 22

Vv. 1-14. Profecia Referente ao Ataque Contra Jerusalém, realizado


por Senaqueribe, no ano 14 do reinado de Ezequias: os vv. 8-11 falam
dos preparativos para a defesa e das medidas tomadas para a provisão de
água, o que corresponde exatamente ao referido em 2Cr_32:4-5,
2Cr_32:30. “Sebna” (v. 15) era escriba também neste tempo (Is_36:3)
[Maurer]. A linguagem dos vv. 12-14 a respeito da infidelidade e a
consequente total ruína dos judeus, parece, antes, predizer a destruição
no reinado de Zedequias, por Nabucodonosor, e não pode restringir-se ao
tempo de Ezequias [Lowth].
1. Sentença contra o vale da Visão — antes, com relação ao vale
das visões, ou seja, Jerusalém, assento das divinas revelações e visões: “a
escola dos profetas” [Jerônimo], (Is_2:3; 29:1; Ez_23:4; Lc_13:33). Esta
cidade está situada num “vale” rodeado por colinas mais altas que a de
Sião e de Moriá (Sl_125:2; Jr_21:13).
subiste (TB) — o povo de Jerusalém personificado.
aos telhados — sobressaltados de terror, subiram aos terraços para
olhar dali e ver se o inimigo estava perto, e também para defender-se
desses tetos (Jz_9:51, etc.)
2. Tu, cidade que estavas cheia — em outro tempo, porque não se
poderia chamar agora “cidade alegre” (Is_32:13). A causa de sua alegria
(v. 13) pode ser que fosse devido ao fato de Senaqueribe ter aceito a
oferta de Ezequias de renovar o pagamento do tributo, e assim se
alegraram de poder desfrutar de paz por algum tempo, até à custa de
humilhar-se (2Rs_18:14-16): ou por causa de estar aliados com o Egito.
Se a alusão for ao tempo de Zedequias, a alegria e deleite não são
inaplicáveis, porque essa temeridade era uma característica geral dos
judeus incrédulos (Is_56:12).
não foram mortos à espada — mas sim de fome e pestilência,
prestes a ser causadas pelo próximo sítio. (Lm_4:9). Maurer atribui isto à
praga por causa da qual ele crê que foi destruído o exército de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 145
Senaqueribe (Is_37:36) e causou a doença de Ezequias (Is_38:1). Mas
não há nada que autorize a hipótese de que os judeus da cidade
sofressem os rigores de semelhante praga nesse tempo em que Deus
destruiu a seus inimigos. Barnes o atribui aos que foram mortos ao fugir,
e não em honrosa e legítima “batalha”; o v. 3 favorece esta opinião.
3. teus principais homens (TB) — antes, generais (Js_10:24;
Jz_11:6, Jz_11:11).
arqueiros (RC) — Lit., pelo arco. Assim Is_21:17. Os arqueiros
eram as tropas ligeiras, cujo cometido era combater no fronte e perseguir
os fugitivos (2Rs_6:22; 2Rs_25:5); este versículo aplica-se com mais
propriedade ao ataque de Nabucodonosor que ao de Senaqueribe.
presos — antes, “capturados”.
todos os teus — todos os que se acharam na cidade (Is_13:15), não
meramente os “príncipes” ou gerais.
longe na fuga — aqueles que de distintas partes tinham fugido a
Jerusalém, como a lugar seguro, antes, fugiram longe
4. desviai de mim a vista — Alguém possuído de grande tristeza
procura estar sozinho; enquanto outros se banqueteavam jubilosamente.
Isaías lamenta diante das perspectivas do desastre que se abate sobre
Jerusalém (Mq_1:8-9).
filha — Veja-se a nota a Is_1:8; Lm_2:11.
5. alvoroço … da parte do Senhor, o SENHOR dos Exércitos —
isto é, enviado por, ou procedente de Jeová (Nota Is_19:15; Lc_21:22-
24).
vale da Visão — (Nota, v. 1.). Alguns creem que se alude a um
vale próximo a Ofel, próximo a ser cenário da devastação (Nota,
Is_32:13, 14).
derribar de muros — quer dizer, “um dia dedicado para derrubar
as muralhas” da cidade.
e clamor que vai até aos montes — os chorosos gritos dos
habitantes da cidade chegam às montanhas, as quais devolvem o eco.
Josefo descreve com esta mesma linguagem a cena do assalto a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 146
Jerusalém pelas tropas romanas, sob as ordens de Tito. É provável que a
profecia se refira principalmente a este último. Se, como creem alguns, o
“grito” é aquele que dão os que escapam às montanhas, cf. Mt_13:14;
Mt_24:16, com esta passagem.
6. Elão — é o país que se estende a leste do Baixo Tigre, o qual
responde ao que depois se chamou Pérsia (Nota, Is_21:2). Mais tarde,
Elão constituiu uma província da Pérsia (Ed_4:9). No tempo de
Senaqueribe Elão pertencia a Síria (2Rs_18:11), e por isso proveu o
exército invasor com um contingente de tropas. Os elamitas eram
famosos como arqueiros ou flecheiros (Is_13:18; Jr_49:35), tanto que só
os etíopes os avantajavam.
em carro de homens e de cavaleiros — quer dizer, que dirigem o
arco o mesmo indo em carro que a cavalo. “Carros de homens”, isto é,
carros em que se transportam homens, ou seja carros de guerra (cf. Nota,
Is_21:7, 9).
Quir — outra nação sujeita à Assíria (2Rs_16:9); a região em
contorno ao rio Kur, entre os mares Cáspio e Negro.
descobre os escudos — para preparar-se para a batalha, tirou-lhe
ao escudo o couro que o cobria para proteger do pó ou outro danifico
durante a marcha, as figuras em relevo que continha. “A aljava” e “o
escudo” expressam duas classes de tropas armadas: a ligeira e a pesada.
7. vales — situados ao oriente, ao norte, e ao sul de Jerusalém, o de
Hinnom, na parte sul, era o mais rico.
se põem em ordem às portas — Rabsaqué deteve-se junto ao lago
superior, próximo à cidade (Is_36:11-13).
8. Tira-se a proteção — antes, o véu de Judá será tirado [Horsley],
sentido figurado por expô-lo à vergonha como um cativo (Is_47:3;
Na_3:5). Senaqueribe desmantelou todas as cidades “muradas de Judá”
(Is_36:1).
olharás para as armas da Casa do Bosque — construída de
madeira de cedro procedente do bosque do Líbano, por Salomão, sobre
uma ladeira do Monte de Sião, chamado Ofel (1Rs_7:2; 1Rs_10:17;
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 147
Ne_3:19). Isaías diz (vv. 8-13) que seus compatriotas confiariam em
suas próprias forças para defender-se, enquanto outros dentre eles
afogariam a tristeza experimentada por seu país, em festins; mas que
nenhum olharia a Jeová.
9. Notareis — antes, vereis.
cidade de Davi — a cidadela sobre o cimo de Sião, ao sul de
Jerusalém (2Sm_5:7, 2Sm_5:9; 1Rs_8:1); cercada por um muro; mas até
neste haverá “brechas”. Os preparativos de Ezequías para a defesa
concordam com isto (2Cr_32:5).
e ajuntareis — recolhereis.
açude inferior — lago de baixo (Nota, v. 11). Trarão para a cidade,
por um conduto subterrâneo aberto na rocha de Sião, a água da fonte da
qual se surte a pesqueira, ou lago de baixo (mencionado tão somente
aqui). A nota a Is_7:3; 2Rs_20:20; e 2Cr_32:3-5 descrevem a Ezequias
como tapando as fontes para impedir que os assírios se abastecessem de
água; mas isto é compatível com o que se diz nesta passagem. As águas
supérfluas do lago de baixo se dirigiam ao vale de Hinom, e através do
de Josafá, desaguavam na torrente de Cedrom. Ezequias construiu um
muro ao seu redor e represou as águas que transbordavam dele para
impedir que o inimigo se aproveitasse delas, e as conduziu à cidade.
10. Também contareis — para ver qual delas deve ser demolida
com a menor perda para a cidade, e com a maior vantagem para a
reparação das muralhas e a construção de torres (2Cr_32:5).
e delas derribareis — antes, derrubarão.
11. Fareis também um reservatório — melhor dizendo, farão um
depósito para conter a água. Ezequias cercou o açude de Selá, cujo
líquido alimentava o antigo lago (do rei, ou superior), com um muro que
uniu ao muro de Sião por ambos os lados; entre estes dois muros fez um
novo lago, rumo ao qual fez derivar a água do primeiro, privando assim
o inimigo de abastecer-se de água. A abertura pela qual o lago superior
se abastecia de água, estava mais perto de Sião que o outro pelo qual o
de baixo recebia seu caudal de água; de modo que a água que fluía do
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 148
primeiro podia ser represada facilmente mediante um muro; enquanto
que a que fluía do último, só podia ser conduzida mediante condutos
subterrâneos (cf. Nota, v. 9; Is_7:3; 2Rs_20:20; 2Cr_32:3-5, 2Cr_32:30;
Ec_48:17). Ambos os lagos estavam a sudoeste de Jerusalém.
não cogitais de olhar para cima — que corresponde a maneira de
contraste, com você olhou à armadura; vocês viram (tiveram respeito ou
consideração) às rupturas ou brechas (vv. 8, 9).
naquele que há muito as formou — por cujo mandamento e ajuda
se fizeram estas defesas, e nos deu esta fonte “há muito tempo”. G. V.
Smith traduz: “A aquele que o faz”, isto é, que tem trazido esta
calamidade sobre vós. “Àquele que o preparou desde muito tempo”, quer
dizer, que o planejou em tempos remotos.
12. o SENHOR dos Exércitos, vos convida — Geralmente eram
os sacerdotes os que exortavam a nação a chorar e lamentar-se (Jl_1:14);
agora é o próprio Jeová quem exorta; o “chamado” consistirá em fazer
com que se presente um terrível inimigo. Traduza-se: chamará.
rapar a cabeça — signo de dor (Jó_1:20; Mq_1:16).
13. Não obstante a chamada de Jeová a “chorar, prantear” (v. 12),
muitos se alegrarão como razão para entregar-se irresistivelmente à
reunião de amigos, o desesperado estado da nação (Is_5:11, 12, 14;
Jr_18:12; 1Co_15:32).

Vv. 15-25. Profecia de que Sebna Seria Deposto Como Prefeito do


Palácio e que Eliaquim Seria Promovido a esse Posto.
Em Is_36:3, 22; Is_37:2 achamos que Sebna é “escriba”, e que já
não é prefeito do palácio (“sobre a casa”) e que Eliaquim foi promovido
a esse ofício, como aqui se prediz. Sebna está especialmente assinalado
como tema da profecia (único exemplo de um indivíduo semelhante em
Isaías); pois, pertencendo à facção irreligiosa que desprezou as
admoestações do profeta (Isaías 28-33), possivelmente fosse ele o que
aconselhou a ignominiosa submissão de Ezequias a Senaqueribe.
15. Anda, vai ter com — antes, entra na casa.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 149
administrador — “aquele que habita no tabernáculo” [Jerônimo];
ou seja, num quarto do templo, afastado para o tesoureiro. Antes, “o
amigo do rei”, ou “o principal funcionário da corte”. (1Rs_4:5;
1Rs_18:3; 1Cr_27:33, “o conselheiro do rei”) [Maurer]. “Esse” está
usado como um prefixo depreciativo (Êx_32:1).
com Sebna — A palavra hebraica para “com” indica que Isaías
aproxima-se a Sebna com uma mensagem ingrata.
16. Que é que … a quem …? — O profeta fala com Sebna no
mesmo lugar onde estava construindo um grande sepulcro para si e sua
família (cf. Is_14:18; Gênesis 23; Gn_49:29; Gn_50:13). O que (assunto)
o traz aqui? Ou a quem você tem (de sua família a quem provavelmente
o sepultará) aqui, para que construa, etc., visto que logo você será
deposto de seu cargo e levado em cativeiro? [Maurer].
em lugar alto — os sepulcros eram construídos nas rochas mais
altas (2Cr_32:33, Margem da Versão Inglesa).
a tua própria morada — cf. “cada um no seu túmulo” (Is_14:18).
17. te arrojará violentamente —“te atirará de si com forte
violência” [Maurer].
e de todo te envolverá (RC) — de vergonha, onde levanta um
monumento para perpetuar sua fama [Vitringa]. “Rodando te fará rodar”,
isto é, te fará rodar continuamente como uma bola que é lançada longe
[Maurer]. Cf. v. 18.
18. te fará rolar como uma bola — lit., girando te fará girar sem
interrupção [Maurer]. Ele te fará girar ao redor, e logo te arrojará longe
de Si como uma pedra de funda que primeiro se faz girar repetidas vezes
antes de lançá-la [Lowth].
para terra espaçosa — possivelmente Assíria.
carros.… ó tu, vergonha da casa do teu senhor — antes, “Os teus
esplêndidos carros lá estarão, ó tu, desonra da casa do teu senhor”
[Noyes]. “Os carros da tua glória” significa “teus magníficos carros”.
Isso não quer dizer que teria tais carros num país longínquo, como os
tinha em Jerusalém, mas sim seria levado lá de uma maneira
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 150
ignominiosa, em lugar de sê-lo em seus magníficos carros. Os judeus
dizem que foi preso às caudas de cavalos pelo inimigo, a quem ele se
propôs trair em Jerusalém, pois os inimigos creram que se mofava deles,
e por isso lhe deram semelhante morte.
19. Eu te lançarei fora —é Deus quem fala. Uma mudança
semelhante de pessoas ocorre no Is_34:16.
do teu posto — ou ofício.
20. Eliaquim, filho de Hilquias — Kimchi supõe que este não era
outro senão Azarias, filho de Hilquias que talvez tinha dois nomes, “o
qual era mordomo sobre a casa”, no tempo de Ezequias (1Cr_6:13).
21. vesti-lo-ei da tua túnica — isto é, da própria do ofício.
com a tua faixa — cinturão do qual pendurava a espada;
geralmente estava adornado de ouro e de pedras preciosas.
e ele será como pai — isto é, conselheiro e amigo.
22. chave — emblema de seu ofício sobre a casa, para “abrir” ou
“fechar”, pois o acesso a ela dependia dele.
sobre seu ombro — Dessa forma era como se levavam às vezes as
chaves no Oriente. as quais penduravam do ombro, acima das costas do
turbante. Mas a frase é, antes, figurada, para denotar que levaria o peso
do governo sobre os ombros. Eliaquim, como se desprende de seu nome,
é evidentemente neste lugar, tipo do Deus-Homem, Cristo Jesus, o filho
de “Davi”, referente a quem Isaías emprega (no Is_9:6) a mesma
linguagem que se usa na primeira cláusula deste versículo; e o mesmo
Jesus, em Ap_3:7, faz uso da mesma linguagem usada nesta última
cláusula (Jó_12:14).
23. como a um prego … lugar firme (RC) — Os pregos grandes
ou tacos eram usados nas casas antigas (como cabides) para pendurar os
ornamentos da família. O sentido é: Tudo o que é de valor para a nação
descansará seguro sobre ele. Em Ed_9:8 “prego” (ACF, estaca) denota
uma estaca grande que se crava na terra para assegurar as cordas da
tenda de campanha.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 151
trono — lugar de descanso para sua família, aplica-se a Eliaquim;
mas assento ou trono, em sentido estrito aplica-se ao Messias, o antítipo
(Lc_1:32-33).
24. É a mesma imagem que no v. 23. Era costume “pendurar” as
coisas valiosas de uma casa em pregos (1Rs_10:16-17, 1Rs_10:21;
Ct_4:4).
a prole e os descendentes — antes, “os renovos da família”, os
altos e os baixos [Vitringa]. Eliaquim refletiria honra até sobre os
últimos.
utensílios menores — de pouca capacidade, o que responde aos
baixos e humildes renovos.
taças — copos maiores, que respondem aos altos renovos
25. a estaca que fora fincada — Alude a Sebna, a quem se
supunha estar bem afirmado em seu posto.
e a carga que nela estava — tudo o que dele dependia, seus
emolumentos e sua posição viriam abaixo, assim como ao desprender-se
de repente uma cavilha cai junto com os ornamentos que dela penduram.
O pecado alcança com seus efeitos até a família do culpado (Êx_20:5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 152
Isaías 23

Vv. 1-18. Profecia Com Relação a Tiro.


O historiador Menandro faz menção de um sítio de Tiro por
Salmaneser, pela mesma época do sítio de Samaria. Sidom, Aco e a
antiga Tiro, em terra firme, logo foram reduzidas; mas a Nova Tiro,
como estava sobre uma ilha, a meia milha da costa, resistiu por cinco
anos. É provável que Sargão terminasse o cerco. Senaqueribe, entretanto,
não a menciona entre as cidades conquistadas pelos reis (Isaías 36, 37).
A expressão “caldeus” (v. 13), pode ser que envolva uma alusão ao sítio
por Nabucodonosor, que durou treze anos. Alexandre o Grande destruiu
a Nova Tiro depois de um sítio de sete meses.

1. Tiro — hebraico, Tsur, isto é, a Rocha.


navios de Társis — barcos de Tiro que retornam de sua viagem a
Társis, ou Tarteso, na Espanha, com a que os fenícios mantinham um
grande comércio (Ez_27:12-25). “Navios de Társis” é frase que se usava
para designar os grandes barcos mercantes que faziam longas viagens
(Is_2:16; 1Rs_10:22; Sl_48:7).
não haver nela casa — Tal foi o caso da velha Tiro depois do sítio
de Nabucodonosor.
nem ancoradouro — Não há casas para que se possa entrar nelas
(Is_24:10). [G. V. Smith]. Ou, Tiro foi deixada tão desolada que não há
possibilidade de entrar no porto [Barnes], o qual tinha sido apropriado
para as “naves” em outro tempo.
Quitim — Chipre, as cidades da qual, incluindo Citium, no Sul (de
onde procede “Quitim”), eram principalmente fenícias (Ez_27:6). Os
navios de Társis, de passagem para Tiro, receberam as novas (“lhes foi
isto revelado”) da queda dessa cidade. Algum tempo depois, Quitim
queria dizer as ilhas e costas do Mediterrâneo (Dn_11:30).
2. Calai-vos — mudos de espanto, pelo terror. Palavras dirigidas
aos que, de volta ao país, foram testemunhas oculares de sua ruína
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 153
(Lm_2:10). Ou, em contraste com as ruidosas atividades comerciais que
caracterizavam a Tiro em outras épocas, agora tudo é quietude e silêncio.
ilha — estritamente aplicável à Nova Tiro; em litoral refere-se à
cidade situada em terra firme, a Velha Tiro (cf. v. 6; Is_20:6).
de Sidom — da qual Tiro era uma colônia, fundada quando Sidom
foi conquistada pelos filisteus de Ascalom. Sidom significa lugar de
pesca; tal foi em sua origem.
vós a quem os mercadores de Sidom enriqueceram — de riqueza
e com uma população industriosa (Ez_27:3, Ez_27:8, Ez_27:23). Aqui
“Sidom”, como a cidade mais antiga de Fenícia, compreende a todas as
populações fenícias, situadas na faixa de terra da costa. Dessa maneira,
Etbaal, rei de Tiro (Josefo, Antiguidades, 8:3, 2), chama-se rei dos
sidônios (1Rs_16:31); nas moedas, Tiro era chamada a metrópole dos
sidônios.
3. o cereal — o grão ou colheita, como em 1Sm_8:15; Jó_39:12.
vastas águas — as muito largas águas do mar.
Nilo — Sior, que lit., significa obscuramente colorido, aplicado a
esse rio, como a voz egípcia Jeor, e a grega Melas, para expressar as
escuras e turvas cores que adquirem suas águas com o fertilizante
sedimento que deixa seu anual transbordamento (Jr_2:18).
a ceifa do Nilo — a enchente do Delta; ou seja a produção devida
ao transbordamento do Nilo. O Egito era o celeiro do mundo antigo
(Gênesis 41-43)
feira das nações — os barcos de Tiro transportavam os produtos
egípcios que obtinham ao mudá-los por vinho, azeite, vidro, etc., em
vários países, com o qual obtinham enormes lucros (Ez_27:3). Nenhuma
cidade estava mais vantajosamente situada para o comércio.
4. Sidom — chamada, pois na realidade o era, mãe pátria de Tiro
(v. 12). Aqui equivale a Fenícia em geral, para que sentisse a vergonha
de carecer agora de filhos, como se nunca o tivesse tido (pois no Oriente
o não tê-los é considerado vergonhoso). “Nunca estive de parto, nem dei
à luz, etc.” “A fortaleza do mar” quer dizer, a Nova Tiro, um forte, ou
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 154
seja que estava edificada sobre uma rocha (pois Tiro significa) rodeada
pelo mar (Ez_26:4; Ez_15:17; e assim Veneza foi chamada “Noiva do
Mar” Zc_9:3).
5. chegar — Quando a notícia chegue a conhecimento do povo
egípcio, este se sentirá profundamente triste pelo que corresponde a Tiro,
isto é, por sua destruição. Assim opina Jerônimo. “Quando os egípcios
ouvirem que uma nação tão poderosa foi destruída, compreenderão que
seu próprio fim está próximo” [Lowth, etc.]
6. Passai a Társis — Escapem Tiro a suas colônias, como as de
Társis (cf. v. 12). Os tírios fugiram a Cartago e a outras partes, durante
os sítios de Nabucodonosor e de Alexandre.
7. São estas silenciosas ruínas tudo o que lhes restou de sua antes
alegre cidade? (v. 12).
origem ... remotos dias — Os sacerdotes tírios se gabavam em
tempo de Heródoto de que seu cidade tinha uma antiguidade de 2300
anos; um exagero, mas dava a entender que já para então era
antiquíssima.
cujos pés — seriam levados cativos a uma terra inimiga, fazendo o
trajeto a pé.
8. Quem formou este desígnio …? — ao que responde o v. 9: “O
Senhor dos exércitos”.
a cidade distribuidora de coroas — a que dava coroas, quer dizer,
a cidade a qual deviam sua origem os reinos dependentes dela, como o
de Tarteso, na Espanha; o de Citium, em Chipre, e o de Cartago, na
África. (Ez_27:33).
cujos mercadores — lit., cananeus, tornados famosos como
comerciantes (Os_12:7, Margem.)
9. Sejam quais forem os instrumentos utilizados em abater os
pecadores ensoberbecidos, Deus, que tem todos os exércitos sob o seu
mando, é a Primeira Causa (Is_10:5-7).
denegrir — melhor, profanar, como em Êx_31:14, no sábado e
outros objetos religiosos dignos de reverência; assim aqui, “a soberba de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 155
toda glória” pode ser que aluda ao templo tírio de Hércules, o mais
antigo do mundo, segundo o historiador Ariano (Is_2:16); o profeta do
verdadeiro Deus, naturalmente, escolheria para menção o ídolo de Tiro
[G. V. Smith]. Entretanto, isto pode ser uma proposição geral; a
destruição de Tiro manifestará a todos que Deus eclipsa o brilho de
qualquer altivo (Is_2:11).
10. como o Nilo — em hebraico, o rio; ou seja, o Nilo.
ó filha de Társis — Tiro e seus habitantes (Is_1:8), por causa da
ruína de Tiro, estão prestes a chegar a ser os futuros habitantes de sua
colônia de Tarteso. Para isso sairiam de Tiro, deslizando-se como as
águas quando se abrem as comportas que as detêm [Lowth]. Antes,
Társis ou Tarteso, e seus habitantes, como frase, significa geralmente
que tinham sido mantidos em dura escravidão, trabalhando nas minas de
prata e de chumbo, próximas a Társis, pela cidade mãe (Ez_26:17); mas
agora a ligadura de sujeição ou “ataduras” Sl_2:3, pois assim se deve
traduzir a palavra “fortaleza”) foi tirada, desde que Tiro já não existe.
11. a mão — de Jeová.
os reinos — as cidades fenícias e seus colônias.
Canaã — quer dizer, o norte dela, ou seja, a Fenícia. Em suas
moedas o nome de seu país é Canaã.
12. E disse — Deus.
Nunca mais exultarás — sediciosamente (v. 7).
oprimida — “desflorada”; desprezando a figura tomada pela
tempestade: os árabes comparam uma cidade que nunca foi tomada com
uma virgem imaculada (cf. Na_3:5, etc.)
filha de Sidom — Atiro; ou , antes,, filhos de Sidom; isto é, toda a
terra e população de Fenícia (Nota, v. 2). [Maurer].
Quitim — Citium, no Chipre (v. 1).
ali não terás descanso — Tendo sido suas colônias severamente
tratadas por ti, agora elas te retribuirão com a mesma moeda (v. 10). Mas
Vitringa o relaciona com as calamidades que sucederam aos tírios
posteriormente em suas colônias, ou seja, em Sicília, Córsega, Cartago e
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 156
Espanha, devidas todas elas à primitiva maldição com que Noé
amaldiçoou à posteridade de Canaã (Gn_9:25-27).
13. Eis a terra dos caldeus — um chamado de atenção ao fato, tão
humilhante para Tiro, de que o povo de ontem, como era o caldeu,
destruiria a mais antiga das cidades: Tiro.
não era — não tinha existência como nação reconhecida. Os
caldeus, em tempos pretéritos, não eram senão um povo rude e
depredador (Jó_1:17).
a Assíria a fundou — Os caldeus (“os que habitam no deserto”)
originalmente levavam uma vida de nômades nas montanhas de Armênia
(Arfaxade, em Gn_10:22, refere-se a essa região da Assíria, perto de
Armênia), a norte e a leste da Assíria propriamente dita. Pode ser que
alguns se estabeleceram na Mesopotâmia e Babilônia bem no princípio, e
tenham dado origem aos astrônomos chamados caldeus em tempos
posteriores. Mas a maior parte desse povo tinha sido trasladada um
pouco antes do tempo desta profecia, de seu assento original, no norte da
Mesopotâmia, e pouco mais tarde, ao sul de Babilônia. “A fundou”,
significa “atribuiu” (a terra) a eles que haviam (até então) habitado no
deserto, como seu domicílio permanente (assim e Sl_104:8). [Maurer]. A
política assíria consistiu em infundir na população da planície o sangue
novo dos robustos montanheses, com a finalidade de conseguir recrutas
para seu exército. Finalmente, os caldeus, mediante sua poderosa casta
sacerdotal, obtiveram a supremacia e a consolidaram, fundando assim o
império caldeu. Horsley atribui isto a Tiro, fundada por uma raça de
origem assíria.
levantou suas torres — ou seja, as de Babilônia, cujas torres, diz
Heródoto, foram “construídas” pelos assírios [Barnes]. Antes, os caldeus
levantaram as torres do cerco contra Tiro, para atacar as altas muralhas,
das quais os sitiadores lançavam projéteis, como o demonstram as
esculturas assírias [G. V. Smith].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 157
arrasou os palácios — antes, deixaram a descoberto, ou seja, os
fundamentos de seus palácios (de Tiro); isto é, destruíram-nos
completamente (Sl_137:7).
14. fortaleza — suas defesas (cf. Ez_26:15-18).
15. posta em esquecimento — Tendo perdido seu primeiro
renome, Tiro entraria na escuridão.
setenta anos — (assim Jr_25:11-12; Jr_29:10).
dias de um rei — quer dizer, de uma dinastia. A monarquia
babilônica durou propriamente tão somente setenta anos. Do primeiro
ano de Nabucodonosor até a tomada de Babilônia, por Ciro, passaram
setenta anos; para então as nações que lhe estavam sujeitas recuperariam
a liberdade. Tiro foi tomada nos meados desse período; mas é
classificada em comum com as restantes; pois embora fossem
conquistadas umas mais cedo e outras mais tarde, entretanto todas seriam
igualmente libertadas no fim desse período. Aqui o termo “rei” está
empregado por dinastia (Dn_7:17; Dn_8:20). Nabucodonosor, seu filho
Evil-Merodaque e seu neto Belsazar formaram a totalidade da dinastia
(Jr_25:11-12; Jr_27:7; Jr_29:10).
com Tiro o que consta na canção da meretriz — Será para Tiro
como a canção da rameira, quer dizer, de uma prostituta que foi
abandonada, mas que volta a chamar a atenção com seu canto. Os
grandes empórios comerciais são comparados frequentemente com as
meretrizes que buscam muitos amantes; quer dizer, que cortejam os
clientes de todas as nações, e admitem a qualquer um por amor ao lucro
(Na_3:4; Ap_18:3). A cobiça está estreitamente aparentada com a
idolatria e a licenciosidade, como o prova a conexão (Ef_5:5 e Cl_3:5;
cf. Is_2:6-8, 16).
16. Aqui temos a mesma figura para expressar que Tiro voltaria a
prosperar, e que induziria as nações a que estabelecerem relações
comerciais com ela, e que seria a mesma alegre e desenfreada cidade de
antes.
17. visitará (RC) — não com ira, mas com misericórdia.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 158
ao salário — imagem de uma meretriz que lucra com o comércio.
Depois que a dinastia babilônica desapareceu, Tiro foi reconstruída: o
mesmo sucedeu depois de sua destruição por Alexandre Magno.
18. O ganho e o salário … dedicados — Seu tráfico e seu lucro
serão no fim (depois da restauração mencionada no v. 17), consagrados a
Jeová. Jesus Cristo visitou a vizinhança de Tiro (Mt_15:21); Paulo achou
discípulos nela (At_21:3-6); e logo foi criado nela um bispado cristão.
Mas a completa evangelização de toda aquela raça, como a dos etíopes
(Isaías 18), a dos egípcios e a dos assírios (Isaías 19), é coisa ainda
futura (Is_60:5).
não serão entesourados — mas liberalmente se gastará em seu
serviço.
para os que habitam perante o SENHOR — os ministros da
religião. Mas Horsley traduz “os que se sentam diante de Jeová” como
discípulos.
tenham vestes duráveis (RC) — As mudas de roupa constituíam
grande parte da riqueza dos primitivos tempos.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 159
Isaías 24

Vv. 1-23. Os Últimos Tempos do Mundo em Geral, e da Judeia e a


Igreja em Particular.
Os capítulos 24-27, formam uma contínua profecia poética, que
descreve a dispersão e as sucessivas calamidades dos judeus (Is_24:1-
12); a pregação do evangelho pelos primeiros conversos judeus por todo
mundo (v. 13-16); os juízos dos adversários da igreja e o triunfo final
desta (v. 16-23); ação de graças pela destruição da facção apóstata
(Isaías 25), e estabelecimento dos justos em paz eterna (Isaías 26); juízo
do Leviatã e completa purificação da igreja (Isaías 27). Tendo tratado
das várias nações em particular: Babilônia, Filístia, Moabe, Síria, Israel,
Egito, Edom e Tiro (a miniatura que representa a todas, visto que todos
os reinos se congregavam ali), o profeta passa aos últimos tempos do
mundo em geral e de Judá, a representante e futura cabeça das igrejas.

1. a terra — antes, a terra de Judá (assim nos vv. 3, 5, 6; Jl_1:2).


A desolação de Nabucodonosor prefigurava a de Tito.
2. O que suceder ao povo sucederá ao sacerdote — Todos
igualmente compartilharão da mesma calamidade: não haverá nenhuma
classe favorecida que escape dela (cf. Ez_7:12-13; Os_4:9; Ap_6:15).
4. A terra — o reino de Israel; como em Is_13:11, Babilônia.
os mais altos do povo — lit., a altura do povo: o abstrato pelo
concreto, isto é, as classes altas; até os nobres compartilharão a aflição.
5. a terra — antes, o país,
está contaminada por causa dos seus moradores — quer dizer,
com o sangue inocente (Gn_4:11; Nm_35:33; Sl_106:38).
as leis … os estatutos … a aliança eterna — as leis morais, os
estatutos positivos e a aliança nacional, destinados a estar sempre entre
Deus e eles.
6. a terra — o país.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 160
consome — quer dizer, consome com a ira do céu, quer seja
interiormente, como em Jó_30:30 [Rosenmuller] ou exteriormente; o
profeta tem perante os olhos o povo que se consome pela murcha aridez
de sua sentenciada terra (assim, Jl_1:10, Jl_1:12) [Maurer].
7. Pranteia — e visto que não há quem o beba [Barnes]; antes,
tornou-se insípido [Horsley].
enlanguesce — porque agora já não resta ninguém que a cultive.
8. (Ap_18:22).
9. entre canções — o acompanhamento usual nas festas.
bebida forte — (Nota, Is_5:11.) “Vinho de tâmaras” [Horsley].
é amarga — por causa das calamidades nacionais.
10. Demolida está a cidade caótica — antes, desolação. Horsley
traduz: “A cidade está destruída; é uma ruína”.
estão fechadas — por temor, ou antes, ficou coberta com suas
ruínas.
11. Gritam por vinho — para fazer calar suas tristezas com o
vinho (Is_16:9); Jl_1:5, escrito por esse mesmo tempo, assemelha-se a
esta passagem.
12. com estalidos (RC) — antes, com estrépito [Gesênius]. “Batem
no portal com grande tumulto” [Horsley].
13. terra — Judeia. Haverá entre o povo um resto que terá sido
deixado, à semelhança das azeitonas que ficam nos ramos mais altos da
oliveira, depois que esta foi sacudida para recolher seu fruto (Is_17:5, 6).
14. Estes — os que foram deixados: o resto.
cantarão … por causa da glória do SENHOR — cantarão um
hino de ação de graças pela bondade do Senhor, por tê-los preservado em
Sua grande misericórdia.
desde o mar — desde longínquas terras além-mar, para as quais
escaparam.
15. no Oriente — nos fogos (AV). Vitringa traduz: nas covas.
Poderia significar os fogos da aflição (1Pe_1:7)? Pois por esse então
estavam desterrados. O fogo só libra das carnais ataduras da alma, sem
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 161
danificar um só cabelo, como no caso de Sadraque, Mesaque e Abede-
Nego. Lowth lê, nas ilhas (Ez_26:18). Antes, em vez de “fogos” deveria
ser “as regiões da aurora”, isto é, o oriente, como antítese das “ilhas do
mar”, ou seja, o ocidente [Maurer]. Por onde quer que vocês forem
espalhados, seja no Oriente ou no Ocidente, mesmo assim glorifiquem o
Senhor (Ml_1:11).
16. Cânticos a Deus chegam juntamente a Palestina de longínquas
terras, como um grande coro.
Glória ao Justo — é o estribilho dos cânticos (Is_26:2, 7). No meio
do desterro, não obstante a perda do templo e de tudo aquilo que é caro a
um homem, sua confiança em Deus é incomovível. Estes cânticos lhes
lembram a alegria de outros tempos, e, ao pensar em Jerusalém e suas
atuais calamidades, proferem este grito: “Minha fraqueza!” Horsley
traduz como Almeida: “Glória ao Justo!” Assim que, “definho, definho,
ai de mim!” expressa seu conceito referente à corrupção do homem, a
que induziu os judeus “a proceder perfidamente” (Jr_5:11), ao crucificar
ao Justo; e referente à sua falta de justiça, a que fez com que o homem
precisasse vestir-se da justiça do Justo (Sl_106:15).
Os pérfidos tratam perfidamente — As nações estrangeiras que
oprimem a Jerusalém e a dominam, valendo-se de estratagemas (assim
em Is_21:2) [Barnes].
17. Este versículo explica a miséria de que fala o v. 16. Jeremias
(Jr_48:43, 44) emprega as mesmas palavras, as quais se têm feito
proverbiais; o v. 18 expressa que os habitantes não estavam seguros em
nenhuma parte, visto que escapavam de um perigo, caíam em outro pior,
pelo lado oposto (Am_5:19). “Medo” é o termo aplicado às cordas com
penas de todas cores, as quais, quando agitadas no ar, espantam os
animais, fazendo-os a cair na armadilha, ou os pássaros no laço. Horsley
o coordena assim: Indignado pelo tratamento que o Justo tinha recebido,
o profeta ameaça a nação culpada com iminente vingança.
18. voz do terror — o grito destinado a levantar a caça e tocá-la
rumo à armadilha.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 162
as represas do alto se abrem — imagem tirada do relato do
dilúvio (Gn_7:11); comportas de eclusa. Assim, os juízos finais de fogo
que virão sobre o mundo apóstata, são comparados com o dilúvio
(2Pe_3:5-7).
19. A terra — a de Canaã, imagem de um terremoto.
20. balanceará como rede de dormir — (Nota, Is_1:8). Aqui se
trata de uma rede atada às árvores com cordas, tais como as que segundo
Niebuhr têm os árabes que guardam os campos, os quais lhes permitem
manter-se vigilantes e ao mesmo tempo estar protegidos das feras.
Traduza-se: “Balançarão de um lado para outro, à semelhança de uma
rede” que balança com o vento.
pesa sobre ela — como uma carga entristecedora.
e jamais se levantará — não quer dizer que nunca jamais se
levantaria (v. 23), mas que em meio daquelas convulsões não se
levantaria, e sim, certamente, cairia.
21. as hostes celestes — o exército celeste, quer seja o visível
exército dos céus (sendo abolida a presente economia da natureza,
afetada pelo sol, a lua e as estrelas, objetos de idolatria, Is_65:17;
Is_60:19, tanto como a corrupta constituição política dos homens), ou
antes, os invisíveis governantes das trevas deste mundo, pois a antítese
“aos reis da terra” o demonstra. Além disso, os anjos presidem, por
assim dizer, os reinos do mundo (Dn_10:13, Dn_10:20-21).
22. em masmorra — antes, na cova [Horsley]. “No calabouço”
[Maurer]. Imagem dos cativos lançados juntos num calabouço.
na prisão — isto é, como na prisão. Isto lança luz sobre a disputada
passagem de 1Pe_3:19, onde também a prisão tem sentido figurado. O
“fechamento” dos judeus em Jerusalém por Nabucodonosor, e por Tito
mais tarde, foi seguido por uma visitação de misericórdia “depois de
muitos dias”; setenta anos passaram no primeiro caso; e no segundo, o
tempo ainda não se cumpre. Horsley toma o termo “visitados” em mau
sentido, quer dizer, visitados com ira, como em Is_26:14; cf. Is_29:6;
quando o castigo é mais rigoroso devido ao fato da demora.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 163
Provavelmente, este termo se refere a uma dupla visitação: a libertação
dos eleitos e a ira para os incrédulos endurecidos; pois o v. 23 contempla
claramente os juízos dos ensoberbecidos pecadores, simbolizados pelo
“Sol” e a “Lua”.
23. (Jr_3:17). Trata-se de algo ainda futuro, do qual foi um objeto a
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém entre hosanas.
seus anciãos — os mais velhos de Seu povo; ou em geral, Seu
antigo povo, os judeus. Depois da destruição dos reinos do mundo, Jeová
será entronizado com um esplendor tal que ultrapassará ao do sol e ao da
lua sob a anterior ordem de coisas (Is_60:19, 20).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 164
Isaías 25

Vv. 1-12. Continuação do Cap. 24. Ação de graças pela Destruição


da Facção Apóstata, e o Levantamento do Trono de Jeová em Sião.
O retorno de Babilônia e o restabelecimento da teocracia foram um
tipo e objeto disto.
1. maravilhas — (Is_9:6).
os teus conselhos antigos — (Is_42:9; Is_46:10). Os propósitos
planejados há muito tempo; aqui, com relação à libertação do Seu povo.
fiéis e verdadeiros — Hebraico, Amém; que observa a aliança; que
é fiel a suas promessas; característica peculiar de Jesus (Ap_3:14).
2. da cidade fizeste um montão — Babilônia, tipo do assento do
Anticristo, que deve ser destruído nos últimos dias (cf. Jr_51:37, com
Apocalipse 18, seguido, como aqui, pelo cântico de ação de graças dos
santos, em Apocalipse 19). “Montão” é um quadro gráfico de Babilônia
e de Nínive, tal como se encontram atualmente.
fortaleza — Babilônia, considerada por seu esplendor como um
grande palácio. Mas Maurer traduz: uma cidadela.
estranhos — estrangeiros, cuja capital era preeminentemente,
Babilônia, a metrópole do mundo pagão. “Separados da comunidade de
Israel e estranhos às alianças da promessa” (Is_29:5; Ef_2:12; veja-se
em contraste com isto, Jl_3:17).
jamais será reedificada — (Is_13:19, 20, etc.)
3. povos fortes — Isto não se pode aplicar aos judeus, mas sim a
outras nações sobre as quais Babilônia tinha exercido sua crueldade
(Is_14:12), e que adorarão a Jeová, aterradas pelo castigo infligido a
Babilônia (Is_23:18).
cidade — não a de Babilônia, que estará então destruída, mas sim
que se diz coletivamente pelas cidades das nações circunvizinhas.
4. a fortaleza do pobre ... fortaleza do necessitado — os judeus
desterrados de seu país (Is_26:6; Is_41:17).
o calor — as calamidades (Is_4:6; Is_32:12).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 165
o bufo — quer dizer, sua ira.
a tempestade contra o muro — uma tempestade de chuva, ou
inundação hibernal que se precipita contra a parede de uma casa e a
derruba.
5. Traduza-se: “Como o calor em lugar seco [é abatido pela sombra
de uma nuvem, assim] tu humilharás o orgulho [o grito de triunfo sobre
seus inimigos] dos estranhos (estrangeiros); e como o calor [diminui]
pela sombra de uma nuvem, assim o pimpolho (a descendência) dos
robustos será diminuído”. Parkurst traduz o hebraico “ramo” por canto
jubiloso. Jerônimo traduz a última cláusula assim: “E como quando o
calor debaixo de uma nuvem queima, você fará com que o ramo dos
terríveis se murche”; o ramo que se murcha até sob a benéfica sombra de
uma nuvem tipifica os ímpios, arrastados à ruína, não por carência de
meios naturais para prosperar, mas pela ação direta de Deus.
6. neste monte — o de Sião: o reino do Messias ia começar, e seu
assento central (daí em diante) o teria em Jerusalém, como o país comum
de todas as nações (Is_2:2, etc.).
a todos os povos — (Is_56:7; Dn_7:14; Lc_2:10).
banquete — imagem de felicidade (Sl_22:26-27; Mt_8:11;
Lc_14:15; Ap_19:9; cf. Sl_36:8; Sl_36:87).
coisas gordurosas — bocado delicioso, símbolo das ricas
misericórdias de Deus em Cristo (Is_55:2; Jr_31:14; Jó_36:16).
pratos gordurosos com tutanos — os mais seletos manjares
(Sl_63:5).
vinhos velhos bem clarificados — vinhos deixados muito tempo
em repouso, quer dizer, vinhos generosos muito antigos, purificados de
todo sedimento. (Jr_48:11).
7. a máscara do rosto (RC) — descrição tomada de quem está de
luto, quem segundo o costume cobria o rosto com um véu (2Sm_15:30).
“Rosto da cobertura”, quer dizer, a mesma cobertura, como em
Jó_41:13, “o rosto de sua cobertura”, o mesmo vestido. A coberta ou véu
é a névoa da ignorância referente a um futuro estado, assim como
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 166
referente ao caminho da vida eterna que envolve às nações (Ef_4:18) e
ao judeu incrédulo (2Co_3:15). O judeu, entretanto, deve converter-se
antes de se efetuar a conversão de todas as nações; porque é “neste
monte”, ou seja, em Sião, onde será tirado o véu a estes últimos
(Sl_102:13, Sl_102:15-16, Sl_102:21-22; Rm_11:12).
8. Citado em 1Co_15:54, apoio à ressurreição.
Aniquilará (RC) — será “abolida” completa e permanentemente
(2Tm_1:10; Ap_20:14; Ap_21:4; Cf. Gn_2:17; Gn_3:22).
o opróbrio — (Cf. Mc_8:38; Hb_11:26).
9. “Depois de que a morte tiver sido tragada para sempre, o povo de
Deus, que foi libertado do domínio da morte, dirá ao Senhor: Eis aqui,
este é nosso Deus, ao qual os incrédulos olharam como um mero
homem” [Jerônimo]. “As palavras são tão precisas que nos estão
mostrando a pessoa do Filho de Deus, que nos ‘salva’. Assim como
outorgou a Israel salvação temporária, assim aparece aos Seus escolhidos
para lhes conceder salvação eterna”. [Vitringa]. Entretanto, as palavras
“este é o nosso Deus” são aplicáveis especialmente aos judeus. (Veja-se
Nota ao v. 6).
em quem esperávamos — “Esperar” é a característica do povo de
Deus em todas as idades (Gn_49:18; Tt_2:13).
na sua salvação exultaremos e nos alegraremos — cf. Sl_118:24,
que se refere à segunda vinda de Jesus (cf. Sl_118:26 com Lc_13:35.)
10. descansará — como seu permanente protetor; referente à
“mão” neste sentido, cf. Ed_7:6, Ed_7:28.
Moabe — Enquanto Israel é protegido, o inimigo é destruído;
Moabe representa a todos os inimigos do povo de Deus.
no seu lugar — Melhor dito, em seu próprio lugar ou país
(Êx_10:23; Êx_16:29).
na água da cova da esterqueira — ou seja, na água do montão de
esterco, onde era pisada a palha para convertê-la em abono (Sl_83:10).
Horsley traduz: Ora “nas águas de Madmena”, ou seja, para a fabricação
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 167
de tijolos; ou como na LXX: “assim como debulham a eira com carros”.
(Veja-se a margem da Versão Inglesa em Mq_4:11-13).
11. estenderá ele (Jeová) as mãos — para ferir por este e o outro
lado, e com tão pouco esforço como o do nadador, que estende seus
braços para abrir passagem através da água. [Calvino] (Zc_5:3). Lowth o
atribui a Moabe, o qual, ao ver-se no transe de afundar-se, esforçará
todos os seus nervos para salvar-se; mas Jeová fará com que ela se
afunde (isto é, que “seu orgulho seja abatido” de Moabe, Is_16:6).
a perícia das suas mãos — lit., os despojos adquiridos com as
mutretas de suas mãos (as de Moabe) [Barnes]. O orgulho de Moabe
como o repentino afeto de suas mãos (pelo qual ela procura evitar
afogar-se) [Lowth]. “Junto com as juntas de suas mãos”, quer dizer,
embora Moabe lute com mãos e pés contra Jeová [Maurer].
12. as altas fortalezas — os castelos de Moabe, representante dos
inimigos do povo de Deus [Barnes]. Babilônia [Maurer], a sociedade dos
infiéis, representada como uma cidade (Ap_11:8).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 168
Isaías 26

Vv. 1-21. Relacionado Com os Capítulos 24 e 25. Cântico de


Louvor de Israel, Depois de Ser Reintegrado a Sua Terra.
Assim como a derrota da facção apóstata se descreve em Isaías 25,
assim a paz dos fiéis se descreve aqui sob a figura de uma bem
fortificada cidadela.
1. cidade forte — Jerusalém, forte pela proteção de Jeová, tipo da
Nova Jerusalém (Sl_48:1-3), contrastada com a derrota dos ímpios
inimigos (vv. 4-7, 12-14; Ap_22:2, Ap_22:10-12, etc.).
salvação por muros — (Is_60:18; Jr_3:23; Zc_2:5). Maurer
traduz: “Jeová faz com que Sua ajuda sirva de muro”, etc. (Is_33:20, 21,
etc.)
baluartes — o fosso com os antemurais, obras exteriores.
2. Discurso do povo que retorna às portas de Jerusalém (tipo da
cidade celestial, Hb_12:22; Sl_24:7, 9; Sl_118:19). Antitipicamente
(Ap_22:14; Ap_21:25, Ap_21:27).
nação justa — a que não apostatou durante o cativeiro. Horsley
traduz: “A nação do Justo”, quer dizer, os judeus.
3. cujo propósito é firme — (Sl_112:7-8.) Jesus pode criar
“perfeita paz” em sua mente, embora as tormentas da prova rujam fora
(Is_57:19; Mc_4:39); como uma cidade solidamente defendida por
dentro por uma forte guarnição, embora esteja sitiada exteriormente
(Fp_4:7). “conservarás”. lit., o guardarás como com uma guarnição.
Horsley traduz: A feitura (de Deus), (é provável que o hebraico não
signifique “pensamento”, mas sim “uma coisa formada”, Ef_2:10) tão
constantemente “sustentada” ou de outra maneira, feita e sustentada (por
ti), Tu a preservarás (isto é, à nação justa) em perpétua paz”.
4. o SENHOR Deus — Heb., Jah Jehovah. A união dos dois
nomes expressa em sumo grau o imutável amor e poder de Deus
(Sl_68:4). Esta passagem e Is_12:2, Êx_6:3 e Sl_83:18, são as quatro em
que a Versão Inglesa retém o nome de Jeová do original. Maurer traduz:
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 169
“Porque Jah (o Eterno e Invariável, Êx_3:14) é Jehovah, a Rocha dos
séculos” (cf. Is_45:17; Dt_32:15; 1Sm_2:2).
5. cidade elevada — Babilônia, representante da força dos
inimigos do povo de Deus em todas as épocas (Is_25:2, 12; 13:14).
6. dos pobres — (Is_25:4), os cativos judeus uma vez afligidos. “O
pé a pisará”, é uma figura que expressa o regozijo pela queda dos
inimigos de Deus (Ap_18:20).
7. retidão — antes, o caminho é direito, isto é, que Deus dirige
para um próspero resultado, por muitas que sejam suas aflições nesse
ínterim (como no caso dos desterrados judeus); o contexto exige este
sentido (Sl_34:19; Pv_3:6; Pv_11:5). [Maurer]: assim “caminho”
significa a conduta de Deus para com os justos (Sl_37:23).
tu, que és justo — (Dt_32:4).
aplanas — (1Sm_2:3; Pv_5:21). Antes, Fazes plano o caminho do
justo [Maurer], eliminando todos os obstáculos (Is_40:3, 4).
8. caminho dos teus juízos (TB) — esperamos que castigasses o
inimigo (vv. 9, 10) [Maurer]. Horsley traduz os vv. 7, 8: “O caminho do
Justo é perfeitamente plana; nivelarás um caminho plano para o Justo, ou
seja, a senda de Tuas leis, ó Jeová. Em ti esperamos”.
teu nome … tua memória — a revelação caráter de Deus pelo
qual Ele seria lembrado (Is_64:5; Êx_3:15).
9. Com minha alma — lit., Eu … minha alma, em aposto; os
judeus fiéis falam aqui individualmente. A derrota do inimigo e a
restauração dos judeus devem seguir à oração da parte destes e de todo o
povo de Deus (Is_62:1-4, 6, 7; Sl_102:13-17).
de noite — (Sl_63:6; Ct_3:1).
do mundo aprendem justiça — o resíduo que ficou depois dos
juízos (Sl_58:10-11; Zc_14:16).
10. justiça — antes, prosperidade, como no v. 7, que responde a
“piedade” no paralelismo, e como antítese a “juízos na terra” (v. 9);
onde prosperidade aplica-se ao ímpio como ao justo: “ele não aprenderá
justiça”, portanto é preciso enviar juízos para que “aprenda” [Maurer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 170
11. a tua mão está levantada — para castigar aos inimigos do
povo. Fará ver os que não querem ver por dura experiência (Is_5:12).
verão o teu zelo pelo povo e se envergonharão — Lowth traduz:
“Eles verão, com confusão o Seu zelo pelo Seu povo”.
o fogo consumirá os teus adversários (RC) — o fogo ao qual os
Seus inimigos estão sentenciados (Is_9:18).
12. paz — o favor de Deus, que inclui todas as bênçãos temporais e
espirituais como opostas a suas anteriores provas (Sl_138:8).
13. senhores — senhores temporais; os reis pagãos (2Cr_12:8;
2Cr_28:5-6), Nabucodonosor, etc., e também espirituais, como os ídolos
e as sensualidades (Rm_6:16-18).
a ti somente — a ti só se deve que novamente te demos culto,
como a nosso Senhor [Maurer]. “Nós somos teus unicamente, e
celebraremos o Teu nome” [Horsley]. Tal é o efeito santificante da
aflição (Sl_71:16; Sl_119:67, Sl_119:71).
14. Aqueles povos estão mortos (NTLH) — Os “outros senhores”,
os tiranos (v. 13).
não tornarão a viver — não voltarão a viver.
sombras não ressuscitam — Heb., Refaim, estão sem poder
algum, no mundo das sombras (Is_14:9, 10).
por isso — porquanto (Gn_18:5; Gn_19:8).
15. a todos os confins da terra dilataste — antes, “Estendeste para
longe todas as fronteiras da terra”; assim Vitringa.
16. derramaram — (Sl_62:8), como recipiente que se esvazia de
todo seu conteúdo.
oração secreta (RC) — lit., uma oração sussurrada (margem
Versão Inglesa), um suspiro secreto, como pedindo a ajuda divina
(Jr_13:17; Dt_8:16).
17. Imagem de angústia acompanhada de expectação, a qual deve
seguir tal alegria que fará com que a angústia seja totalmente esquecida.
Sião que busca a libertação, aparentemente em vão, mas que na realidade
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 171
está prestes a ser gloriosamente salva (Mq_4:9, Mq_4:10-13; Mq_5:1-3;
Jo_16:21-22).
18. o que demos à luz foi vento — Michaelis o explica referindo-o
à doença chamada empneumatosis. “Vento” é, antes, uma figura para
demonstrar que um esforço se malogrou. O plural do verbo se acha como
contraposto ao singular “meu”, “teu” (v. 19). O que nós inutilmente
tentamos, Deus o executará.
não trouxemos à terra livramento algum — lit., na terra (da
Judeia) não (há) segurança, isto é, não se converteu num lugar de
segurança contra nossos inimigos.
não nasceram moradores do mundo — o mundo em sua
totalidade, como contraposto à terra”, isto é, Judeia. O mundo, inimizado
com a cidade de Deus, ainda não foi submetido. Mas Maurer vincula a
voz “caíram”, com o nascimento de um menino, do qual, segundo um
modismo árabe, diz-se que cai quando nasce; “os habitantes do mundo
(de Israel, Is_24:4, não do mundo em geral) ainda não nasceram”; quer
dizer, o país se acha ainda desolado, pois ainda não foi povoado.
19. Em contraposição ao v. 14, “Eles (os inimigos de Israel) não
viverão”; “Os teus mortos (os de Jeová, ou seja os judeus) viverão”; quer
dizer, primeiro, serão restaurados no sentido espiritual (Is_54:1-3), civil
e nacional (v. 15); enquanto que os inimigos não o serão; finalmente,
dentro do mais amplo alcance da profecia, serão restaurados
literalmente à vida (Ez_37:1-14; Dn_12:2).
e também o meu cadáver — antes, meu corpo (ou corpos) morto
(a nação judia personificada, que tinha estado espiritual e civilmente
morta; ou a nação considerada como uma mãe, que fala dos corpos de
seus filhos individualmente. Nota, v. 9): Os “mortos” (os de Jeová) e
“meus mortos” são uma só e a mesma coisa [Horsley]. Entretanto, como
Jesus é o antítipo de Israel (Mt_2:15), a Versão Inglesa dá um verdadeiro
sentido, o qual se percebe na profecia: o corpo morto de Cristo, que é
devolvido à vida, origem de (todo o povo de Jeová e especialmente os
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 172
crentes, os israelitas espirituais) os que também devem ressuscitar
(1Co_15:20-22).
despertai — (Ef_5:14) espiritualmente.
no pó — prostrados e mortos espiritual e nacionalmente; e também
literalmente (Is_25:12; 47:1).
como o orvalho — aquele que cai copiosamente no Oriente e supre
em algo a falta de chuva (Os_14:5).
dará à luz os seus mortos — isto é, tornará a trazê-los à vida.
20. entra nos teus quartos — Quando Deus estiver por tomar
vingança dos ímpios, os santos serão encerrados por Ele em lugar
seguro, como o foram Noé e sua família nos dias do dilúvio (Gn_7:16) e
como aos israelitas foi recomendado não saírem fora da porta de suas
casas na noite da matança dos primogênitos egípcios (Êx_12:22-23;
Sl_31:20; Sl_83:3). Os santos tranquila e confiantemente devem
aguardar o resultado final (Êx_14:13-14).
21. (Mq_1:3; Jd_1:14).
descobrirá o sangue — (Gn_4:10-11; Jó_16:18; Ez_24:7-8). Todo
o sangue inocente que se verteu, e todas as demais injustiças que até
agora continuaram aparentemente impunes, serão então vingadas
(Ap_16:6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 173
Isaías 27

Vv. 1-13. Continuação dos Capítulos 24, 25 e 26.


No tempo em que Israel for libertado e as nações ímpias sejam
castigadas, Deus também castigará o grande inimigo da igreja.
1. com a sua dura espada — bem temperada.
leviatã — em árabe, o animal enroscado, aplicável a todo animal
anfíbio, como as serpentes marinhas, os crocodilos, etc. Em Ez_29:3;
Ez_32:2; Dn_7:1, etc.; Ap_12:3, etc., descrevem-se da mesma maneira
os potentados hostis a Israel. Como um antítipo se alude, por último, a
Satanás (Ap_20:10).
sinuosa — rígida [Lowth]. Voadora [Maurer e a LXX]. Longa
estendida, quer dizer, que não pode dobrar o corpo facilmente para trás
[Houbigant].
dragão — Hebreu, Tenim; o crocodilo.
no mar — o Eufrates, ou a expansão deste nas cercanias de
Babilônia.
2. No dia quando o leviatã for destruído, a vinha (Sl_80:8), a Igreja
de Deus, já purificada de suas imperfeições, será bela aos olhos de Deus.
Para expressar melhor este sentido, Lowth, mediante a mudança de uma
letra hebraica, traduz: grato, agradável, como aplicado ao “vinho tinto”.
Cantai — um cântico responsivo [Lowth].
dela (TB) — referente a ela (Nota, Is_5:1) ou seja, ao Estado Judeu
[Maurer].
3. para que ninguém lhe faça dano — a ataque [Maurer]. Não
seja que haja algo defeituoso nela. [Horsley].
4. Não há indignação em mim — quer dizer, já não seguirei irado
com a minha vinha.
Quem me dera espinheiros … Em guerra, eu iria contra eles —
Tomara que tivesse os espinheiros, etc., (os inimigos: Is_9:18; 10:17;
2Sm_23:6), diante de mim! “Eu os atravessaria de parte a parte” ou
antes, “eu iria contra eles”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 174
5. Ou — A única alternativa que têm os inimigos de Israel, se
querem escapar de “ser queimados juntos”.
homens se apoderem da minha força — antes, o refúgio que eu
lhes brindo [Maurer]. “Apodere-se da minha defesa” (TB), refere-se aos
chifres do altar aos quais se agarravam frequentemente os fugitivos, à
maneira de asilo (1Rs_1:50; 1Rs_2:28). Jesus é a “força” ou “refúgio” de
Deus, ao qual devem ir os pecadores e lançar mão dele, se hão de ter paz
com Deus (Is_45:24; Rm_5:1; Ef_2:14, cf. Jó_22:21).
6. Aqui termina o canto do Senhor referente à Sua vinha (vv. 2-5),
cujos conceitos o profeta confirma no canto sob a imagem de uma
videira (cf. Sl_92:13-15; Os_14:5-6).
Israel … do mundo … encherá — (Rm_11:12).
7. o feriram — os inimigos de Israel. Castigou Deus a seu povo tão
severamente como aos inimigos que Ele empregou para castigar a Israel?
Não! Longe de isso. Depois de suas provas, Ele deve restaurar a Israel; e
a seus inimigos Ele totalmente destruirá afinal.
ou foi ele morto como foram mortos os que o mataram? —
antes, “foi morto Israel com a morte com que foi morto o inimigo?
[Maurer].
8. Com medida (RC) — não além da medida, mas com moderação
(Jó_23:6; Sl_6:1; Jr_10:24; Jr_30:11; Jr_46:28).
quando a rejeitaste (RC) — figura da videira; mas, passando da
figura à coisa em si, “quando a despediste (ou seja, a Israel enviando-a
ao desterro, Is_50:1; Deus se limita a despedir a adúltera quando poderia
com justiça, condená-la à morte) e a castigaste”. [Gesênius].
ele a tirou (RC) — antes, (como na margem da Versão Inglesa)
“quando ele a afastar com seu robusto vento, no dia”, etc.
vento leste — violento, especialmente no Oriente (Jó_27:21;
Jr_18:17).
9. Portanto — O desterro de Israel, (a deportação, v. 8).
será expiada — expiada [Horsley].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 175
e este é todo o fruto — este é todo o benefício que se esperava
receber com o castigo, ou seja, a eliminação de seu pecado (de Israel).
(Isto é, os objetos da idolatria; Dt_9:21; Os_10:8).
quando o SENHOR fizer — na destruição de Jerusalém por
Nabucodonosor, seu instrumento. Os judeus, desde então, sempre
aborreceram a idolatria (Is_17:8).
não ficarão em pé — já não se erigirão (os bosques e as imagens)
[Horsley].
10. a cidade fortificada — Jerusalém, a demolição de cujos altares
e imagens se mencionou no v. 9 (cf. Is_24:10-12).
pastam os bezerros — (Is_17:2), será um inculto lugar de pastoreio.
ramos — volta a usar a figura da videira (vv. 2, 6).
11. seus ramos … são quebrados — assim são chamados os
judeus (Rm_11:17, Rm_11:19-20).
e lhes deitam fogo — usando-as como combustível; as mulheres
estão especificadas devido ao fato de que provavelmente era sua
ocupação recolher o combustível e acender o fogo para fazer a comida.
não é povo de entendimento — no que toca aos caminhos de Deus
(Dt_32:28-29; Jr_5:21; Os_4:6).
12. Retorno dos judeus de sua dispersão, descrito mediante a figura
do sacudimento das árvores para recolher os seus frutos.
debulhará — do mesmo modo que se golpeia o fruto de uma
árvore com um pau (Dt_24:20), e logo se reúne.
ribeiro do Egito — nos limites da Palestina e Egito (Nm_34:5;
Js_15:4, Js_15:47), agora se chama Wady-el-Arish, a vinha de Jeová,
Israel, estendida de acordo com o Seu propósito do Nilo até o Eufrates
(1Rs_4:21, 1Rs_4:24; Sl_72:8).
um a um — reunidos com o maior cuidado, não meramente como
nação, mas sim como indivíduos.
13. se tocará uma grande trombeta — figura tirada das trombetas
tocadas no primeiro dia do sétimo mês, para convocar o povo à santa
assembleia (Lv_23:24). Simbolicamente, é a trombeta do evangelho
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 176
(Ap_11:15; Ap_14:6) que os judeus escutarão nos últimos dias
(Zc_12:10, Zc_13:1). Assim como a páscoa, no primeiro mês,
corresponde à crucificação de Cristo, assim o dia da expiação e a ideia
da “salvação”, vinculada com a festa dos tabernáculos, que também tinha
lugar no sétimo mês, correspondem à coroação da redenção, o que terá
lugar em Sua segunda vinda; por isso figura a redenção no final em
1Co_1:30.
Assíria — aonde tinham sido levadas as dez tribos; mas a alusão é
principalmente a Babilônia, a qual pertencia Assíria naquela época. As
duas tribos (Judá e Benjamim) foram restauradas e alguns das dez as
acompanharam. Entretanto, “Assíria” menciona-se intencionalmente
para pôr finalmente de relevo o futuro restabelecimento pleno das dez
tribos, coisa que ainda não se cumpriu (Jr_3:18).
Egito — aonde muitos tinham fugido ao tempo do cativeiro de
Babilônia (Jr_41:17-18). Cf. no que respeita ao futuro restabelecimento,
os textos Is_11:11, 12, 16; Is_51:9-16 (“Raabe” é o Egito).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 177
Isaías 28

Vv. 1-29. Os capítulos 28 a 33 formam quase uma profecia


contínua a respeito da destruição de Efraim, a impiedade e loucura de
Judá, o perigo de sua liga com o Egito, as estreitezas a que seriam
reduzidos pela Assíria, das quais seriam livrados por Jeová ao converter-
se a Ele; Isaías 28 se refere a um pouco antes do ano VI do reinado de
Ezequias; o resto ocorreu não muito antes do ano XIV de seu reinado.

1. soberba coroa — pela orgulhosa coroa dos ébrios, etc.


[Horsley], quer dizer, Samaria, a capital de Efraim ou Israel. “Bêbados”
lit., (vv. 7, 8; Is_5:11, 22; Am_4:1; Am_6:1-6) e metaforicamente,
semelhantes a ébrios, que correm para sua própria destruição.
flor caduca da sua gloriosa formosura — “cuja magnífica beleza
ou ornamento é uma flor que murcha”. Continuação da imagem dos
“ébrios”. Era costume coroar-se nos festins com uma grinalda de flores;
assim Samaria “está sobre a cabeça do vale fértil”; quer dizer, situada
sobre uma colina rodeada de ricos vales, como uma grinalda
(1Rs_16:24); mas essa grinalda “murcha”, como acontece com
frequência, pois Efraim agora está prestes a ser arruinado (cf. Is_16:8);
isto se cumpriu em 721 a.C. (2Rs_17:6, 2Rs_17:24).
2. homem valente — o assírio (Is_10:5).
como uma tempestade de impetuosas águas — com violência
(Is_8:11).
as derribará por terra — a Efraim (v. 1) e a Samaria, sua coroa.
4. A flor caduca — antes, a flor murcha, sua magnífica beleza (v. 1)
que está sobre a cabeça do abundante (fértil) vale, será como os
primeiros figos [G. V. Smith]. Os figos maturam normalmente em
agosto; mas aqui se refere aos precoces (heb., bikkurah, em português
brava) que maturam em junho, e que eram considerados como uma
guloseima (Jr_24:2; Os_9:10; Mq_7:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 178
mal o apanha — isto é, imediatamente, sem demora; o que
descreve a avidez do assírio Salmaneser, não só para conquistar, senão
para destruir completamente a Samaria; enquanto que outras cidades
conquistadas foram com frequência perdoadas.
5-13. O profeta agora se volta para Judá com uma misericordiosa
promessa para o resto (o “resíduo”); admoestando-o para que Judá não
fosse compartilhar a sorte de Samaria, no caso de praticar os mesmos
pecados que ela.
coroa — em contraposição à coroa caduca de Efraim (v. 1, 3).
os restantes — primariamente Judá, no próspero reinado de
Ezequias (2Rs_18:7), tipicamente, os eleitos de Deus; pois Ele é
chamado aqui “a coroa e diadema” deles e por isso são chamados dEle
(Is_62:3); uma bela reciprocidade
6. Jeová inspirará justiça aos magistrados deles e aos soldados
revestirá de força de espírito.
recuar o assalto contra as portas — os defensores de seu país não
só repelem o inimigo, mas também o perseguem até as portas de suas
cidades (2Sm_11:23; 2Rs_18:8).
7. Embora Judá deve sobreviver à queda de Efraim, contudo, “eles
também” (os homens de Judá) perpetraram pecados semelhantes aos de
Samaria (Is_5:3, 11) que devem ser castigados por Deus.
cambaleiam ... cambaleiam — Repetição que expressa a
frequência de seu vício.
o sacerdote e o profeta — se os ministros da religião pecam tão
gravemente, quanto mais os outros governantes! (Is_56:10, 12).
visão — até na mais sagrada função do profeta, que é a de declarar
a revelada vontade de Deus.
juízo — os sacerdotes tinham o encargo da interpretação da Lei de
Deus (Dt_17:9; Dt_19:17). Era contrário à lei que os sacerdotes
tomassem vinho antes de entrar no tabernáculo (Lv_10:9; Ez_44:21).
9, 10. Aqui se exibe os bêbados comentando zombeteiramente as
admoestações de Isaías: “A quem quer (Isaías supostamente) ensinar o
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 179
conhecimento? A quem fará entender Jeová a instrução? Aos recém
desmamados (tomando a nós como tais)? Pois (ele está nos repetindo
constantemente como a garotinhos) preceito sobre preceito”, etc.
regra — regra ou lei [Maurer]. A repetição dos sons hebraicos
tzav latzav, tzab latzav, qav laqav, qav laqav, expressam o desdém dos
arremedadores da linguagem de Isaías, pois este falava gaguejando (v.
11). A forma como Deus ensina, por sua simplicidade, ofende o orgulho
dos pecadores (2Rs_5:11-12; 1Co_1:23). O fato de eles gaguejarem
durante suas bebedeiras e o fato de serem crianças no tocante ao
conhecimento de Deus, tornava necessário lhes falar em linguagem
infantil, e como gaguejando (cf. Mt_13:13), como retribuição justa e
misericordiosa.
11. Pelo que — antes, Verdadeiramente. Esta é a resposta de Isaías
aos mofadores: Suas perguntas de bêbados serão respondidas por Deus
mediante severas lições repartidas pelos assírios e os babilônios. O
dialeto destes, embora semítico, como o hebraico, era tão diferente deste,
que soava aos judeus como a fala de gagos (cf. Is_33:19; 36:11). Para os
que não queiram entender, Deus lhes falará ainda mais
ininteligivelmente.
12. Melhor, “Ele (Jeová) que lhes disse:”
Este é o descanso — a alusão pode ser que se refira primariamente
a “repousar” dos preparativos bélicos nacionais, pois os judeus estavam
por esse então “cansados” por causa das precedentes calamidades, como
a invasão siroisraelita (Is_7:8; cf. Is_30:15; Is_22:8; Is_39:2; 36:1;
2Rs_18:8). Mas espiritualmente, o “descanso” aludido é o que se acha na
obediência daqueles mesmos mandamentos de Deus (v. 10) dos quais
eles zombavam (Jr_6:16; Mt_11:29).
13. pois — isto é, porque “não quiseram escutar” (v. 12).
para que vão … — é o resultado designado para os que por uma
falha da vontade, longe de aproveitar o método de Deus para instruir:
“preceito sobre preceito”, etc. o converteram num tropeço (Os_6:5;
Os_8:12; Mt_13:14).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 180
e caiam — descrição apropriada dos “ébrios” (vv. 7, 8 como o eram
eles), os quais ao tratar de “ir” para frente caíam para trás.
14. escarnecedores — (Nota. vv. 9, 10).
15. dizeis — se não com palavras, virtualmente, com sua conduta.
aliança — pode ser que haja uma tácita alusão à confiança que
tinham em sua “aliança” com os assírios nos primeiros anos do próspero
reinado de Ezequias, antes de este ter cessado de lhes pagar o tributo,
como se Judá estivesse a salvo de qualquer dano que pudesse ocorrer na
vizinhança de Efraim (v. 1). O sentido plenário é manifesto pela
linguagem (“a aliança com a morte — o inferno” ou o sheol) aplicado a
qualquer adormecido com os arrulhos de uma falsa segurança espiritual
(Sl_12:14; Ec_8:8; Jr_8:11). Unicamente os piedosos têm aliança com a
morte (Jó_5:23; Os_2:18; 1Co_3:22).
quando passar — o exército assírio pela Judeia, em seu avanço
para com o Egito, para castigá-lo por ser o protetor de Samaria
(2Rs_17:4).
o dilúvio do açoite — No que precede e no que se segue há duas
metáforas. Aqui se alude aos hostis exércitos assírios, semelhantes a uma
irresistível inundação.
a mentira — Eles não disseram estas palavras, mas Isaías expressa
os sentimentos dos tais por seu verdadeiro nome (Am_2:4).
16. Lit., Eis-Me aqui como Aquele que a pôs …; isto é, em Meu
divino conselho (Ap_13:8); ninguém fora de Mim poderia pô-la
(Is_63:5).
pedra — Jesus Cristo; Ezequias [Maurer], ou o templo [Ewald],
eles não se dão conta do significado plenário da linguagem; pois só
tipicamente designam Aquele em quem a profecia recebe seu total
cumprimento. Seja que Isaías entendesse ou não sua força (1Pe_1:11-
12), o Espírito Santo determinou claramente que seu cumprimento se
verificaria unicamente em Cristo; assim em Is_32:1; cf. Gn_49:24;
Sl_118:22; Mt_21:42; Rm_10:11; Ef_2:20.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 181
já provada — pelo diabo (Lc_4:1-13) e os homens (Lc_20:1-38), e
até por Deus (Mt_27:46); uma pedra de provada solidez para suportar a
superestrutura do edifício da redenção do homem. A provada justiça de
Cristo comunica seu mérito peculiar a Seu sacrifício vicário. A relação
com o contexto é que, embora um “açoite” visitará a Judeia (v. 15),
entretanto, o misericordioso propósito de Deus para com o remanescente
eleito e Seu reino, cujo centro será “Sião”, não se frustrará, porque tanto
um como o outro descansam sobre o Messias (Mt_7:24-25; 2Tm_2:19).
preciosa — lit., de preciosidade. “Ela é pois honra” (1Pe_2:7),
literalmente em grego: Ele é uma preciosidade.
angular — (1Rs_5:17; 1Rs_7:9; Jó_38:6); a pedra colocada no
ângulo onde se juntam duas paredes, e as une; esta é frequentemente
custosa.
não foge — não fuja precipitadamente como assustado; mas a
Versão LXX tem: “Não será confundido”, que, em essência, é o mesmo;
aquele que descansa nEle não experimentará a vergonha de um
desapontado, nem fugirá presa de repentino pânico (veja-se Is_30:15;
32:17).
17. o juízo pela linha (RC) — que se usa para traçar ruas, etc.
Horsley traduz assim: “Decidirei em juízo pela regra, e farei justiça pelo
prumo”. Assim como a pedra angular está colocada em forma vertical e
em exata proporção, assim também Jeová, enquanto que oferece Sua
graça aos crentes que descansam sobre a pedra fundamental, julgará os
zombadores (v. 15) de acordo com a estrita justiça da Lei (cf. Tg_2:13).
saraiva — juízos divinos (Is_30:30; 32:19).
18. será anulada — apagada como as letras traçadas sobre
tabuletas de cera, que se apagam com o extremo oposto do estilo.
serão … pisados — aqui se passa da metáfora do “açoite” ao que
ele significa, ou seja, o exército que pisa a seus inimigos.
19. Todas as vezes que passar — “Tantas vezes que cruzar (isto é,
atravessar) vos apanhará” [Horsley]; à semelhança de uma inundação
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 182
que se produz periodicamente, sobrevirão sobre Judá, depois da
deportação das dez tribos, frequentes e hostis invasões.
puro terror o só ouvir tal notícia — será motivo de terror até
ouvir o mero anúncio do que sobrevirá [Maurer] (1Sm_3:11). Mas G. V.
Smith: “Unicamente um duro tratamento (Horsley, a dispersão) vos fará
entender a instrução”; eles faziam menosprezo da forma singela com que
o profeta a inculcava (v. 9); portanto é preciso que sejam ensinados
mediante as severas lições da adversidade.
20. É um dito proverbial, porque comprovarão que aquilo em que
baseavam sua confiança, vai lhes falhar. Em seus assuntos tudo será
desesperada perplexidade.
21. Perazim — No vale de Refaim (2Sm_5:18, 2Sm_5:20;
1Cr_14:11); ali Jeová, por meio de Davi, brotou como as águas, e abriu
uma brecha entre os filisteus, inimigos de Davi. Este é o significado de
Perazim, ocasionando assim uma repentina e completa derrota.
Gibeão — (1Cr_14:16; 2Sm_5:25, margem da Versão Inglesa).
Não se trata da vitória de Josué (Js_10:10).
estranha — por ser contrária a Seu povo; o juízo não é algo em que
Deus Se deleite; embora necessário, contudo é raro nEle (Lm_3:33).
obra — a de castigar a culpa (Is_10:12).
22. não mais escarneçais — é o pecado que tinham cometido (vv.
9, 10).
grilhões — eram escravos da Assíria (Is_10:27); Judá era então
tributária da Assíria; ou: “não seja que seu castigo seja ainda mais
severo” (Is_24:22).
destruição — (Is_10:22, 23; Dn_9:27).
23. É um chamado de atenção a seguinte ilustração tirada das
tarefas agrícolas (Sl_49:1-2). Assim como o lavrador realiza diferentes
tipos de trabalho e cada um em seu devido tempo, e dentro da devida
proporção, assim Deus adapta Suas medidas às variadas exigências dos
diversos casos: ora misericórdia, ora juízo; já castigando mais cedo, já
mais tarde (isto é uma resposta aos que zombavam de que Seus juízos,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 183
ao ser diferidos para tão longínquos tempos, na realidade nunca se
cumpririam, Is_5:19); o objetivo dos mesmos não era destruir a Seu
povo, como não é o propósito do agricultor, ao debulhar o trigo, o de
destruir a colheita. Com isto se vindica a “sua [de Deus] obra estranha”
(v. 21), de castigar a Seu povo. Cf. a mesma imagem com Jr_24:6;
Os_2:23; Mt_3:12.
24. todo dia — enfático; ele não está sempre arando; mas também
“semeia”, e isto também de acordo com regras fixas (v. 25).
esterroa — Está sempre sulcando?
25. superfície — a superfície do terreno: sulcado ou nivelado,
passando-lhe o degrau.
endro — ou erva-doce; Nigella romana, cuja semente é negra e
fácil de debulhar; no Oriente usa-se como condimento e como remédio.
Assim a LXX, o “cominho” usava-se na mesma forma.
não lança nela o trigo — Não plantará o trigo em filas? (Cria-se
que o trigo produziria uma colheita maior se se cultivasse com
parcimônia (Plínio, Natural History, 18.21); [Maurer] “Semeie o trigo
regularmente” [Horsley]. Porém Gesênius, o mesmo que a Versão
Inglesa, traduz “gordo” ou “principal”; isto é, trigo excelente.
ou cevada, no devido lugar — antes: “a cevada no lugar
assinalado” [Maurer].
ou a espelta, na margem? — antes, “na margem (de seu campo)”
[Maurer].
26. o instrui devidamente — o instrui nas práticas do cultivo da
terra. Isto foi a primeira coisa que Deus ensinou ao homem (Gn_3:23).
27. O agricultor faz uso da mesma discrição na debulha. O endro e
o cominho, grãos tenros e leguminosos, não são debulhados como o
trigo, etc., com o pesado trilho (instrumento de debulhar), mas com “um
pau”; os instrumentos pesados danificariam a semente, esmagando-a.
roda de carro — duas rodas de ferro, com dentes do mesmo metal,
parecidos com uma serra, unidas por um eixo de madeira. “O trilho” do
Oriente se compunha de três ou quatro cilindros, armados por baixo com
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 184
dentes de ferro ou pedras de pederneira, unidos como num rastro ou
trenó. Ambos os instrumentos cortavam a palha para a usar como
forragem, e ao mesmo tempo separavam o grão.
com pau — este também se usava para debulhar uma pequena
porção de trigo: o malho (Rt_2:17).
28. O trigo (RC) — o grão de que se faz o pão.
é esmiuçado — com o trilho (em contraste com o endro e o
cominho, golpeados com a vara), ou “pisados” pelos cascos dos animais
que se faziam trotar sobre a eira. [V. G. Smith] (Dt_25:4; Mq_4:13).
mas (RC) — embora o grão se debulha com um pesado
instrumento, contudo, nem sempre se debulhará assim.
se esmiúça (RC) — fazendo passar acima a roda de seu trilho
[Maurer].
com os seus cavalos (RC) — empregados para debulhar.
29. Também isso — A destreza com que o lavrador se adapta às
diversas maneiras de debulhar foi dada por Deus, como também a
habilidade (v. 26) com que cultiva e semeia a terra (vv. 24, 25). Portanto,
Deus precisa ser capaz de adaptar Seus modos de tratamento às diversas
necessidades morais de Suas criaturas. O objetivo que Ele persegue ao
enviar uma tribulação (palavra derivada do latim tribulum, instrumento
para debulhar, Lc_22:31; Rm_5:3) é o de separar a palha moral do trigo,
não o de esmagá-lo completamente; “Seus juízos, em geral, estão em
consonância com nossas ofensas; daí que pela natureza desses juízos
possamos, por regra geral, descobrir a natureza do pecado visitado”
[Barnes].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 185
Isaías 29

Vv. 1-24. A Próxima Invasão de Jerusalém; Seu Fracasso;


Incredulidade dos Judeus.
Este capítulo inicia a série das profecias referente à invasão da
Judeia por Senaqueribe, e sua libertação.
1. Ariel (RC) — Jerusalém. Ariel significa Leão de Deus, isto é,
cidade feita invencível por Deus. O leão é emblema de um grande herói
(2Sm_23:20). Também quer dizer Lareira de Deus, isto é, lugar onde o
fogo do altar arde continuamente para Deus (Is_31:9; Ez_43:15-16).
Acrescentai ano a ano — é uma ironia; deixem que transcorram
insensivelmente os anos e que se ofereçam como rotina, por mera
formalidade, insensivelmente, os mesmos “sacrifícios”. Antes,
“acrescentem ainda outro ano” ao que acaba de fenecer [Maurer]. Que
transcorra outro ano e algo mais (Is_32:10, margem da Versão Inglesa.)
deixai as festas que completem o seu ciclo — antes, que sigam
oferecendo os animais (de outro ano)” [Maurer]: isto é, à terminação de
um ano “afligirei a Ariel”.
2. pranto e lamentação — antes, para preservação da paronomásia
hebraica, gemendo e lamentando.
porei a Ariel (RC) — num e noutro caso, “a cidade será como leão
de Deus, quer dizer, sairá invicta de seus perigos; ou será como o altar
das ofertas queimadas”, que consome com fogo aos sitiadores (v. 6;
Is_30:30; 31:9; Lv_10:2); ou melhor, pois o versículo seguinte continua
a ameaça e a promessa de libertação não vem senão no v. 4, “será
semelhante a um ardente forno”; quer dizer, uma cena de devastação
causada pelo fogo [G. V. Smith]. É provável que a profecia contemple,
em última instância, além da aflição e libertação do tempo de
Senaqueribe, a destruição de Jerusalém pelos romanos, a dispersão dos
judeus, sua restauração, a destruição dos inimigos que sitiam a cidade
(Zc_14:2), e a glória final de Israel (vv. 17-24).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 186
3. Acamparei — Jeová, que age mediante os assírios, etc., Seus
instrumentos (Is_10:5).
trincheiras (RC) — aterros ou montículos que sobressaem sobre as
altas muralhas (Is_37:33). Ou, um posto militar de guerreiros para
manter o sítio.
ao derredor — isto não se realizou totalmente por Senaqueribe,
mas sim durante o sítio dos romanos (Lc_19:43; Lc_21:20).
baluartes — torres de sítio (Dt_20:20).
4. Jerusalém será como uma cativa, humilhada até o pó. Sua voz
sairá da terra como a de um invocador de espíritos ou necromante
(Is_8:19), fraca e aguda como se supunha que era a dos mortos. A
ventriloquia era sem dúvida a mutreta empregada para simular que a voz
provinha da terra (Is_19:3). A apropriada retribuição que receberia
Jerusalém por consultar aos necromantes consistiria em fazer com que
fosse como eles.
5. Mas a multidão — entretanto, em meio desta estreiteza, o
socorro chegará e o inimigo será disperso.
inimigos — os inimigos estrangeiros, invasores do país (Is_25:2).
será — a destruição do inimigo.
de repente — instantaneamente (Is_30:23).
6. vem o castigo — refere-se às forças da Assíria.
trovões — não literalmente no caso dos assírios (Is_37:36); mas
sim figuradamente, no que se refere a um horrível juízo (Is_30:30;
28:17). O cumprimento posterior, no caso dos inimigos dos judeus dos
últimos dias, pode ser que seja mais literal (veja-se, referente ao
“terremoto”, Zc_14:4).
7. baluartes — fortalezas.
8. Sua desilusão, estando na cúspide de sua confiante esperança de
tomar a Jerusalém, será tão grande como a daquele que tem fome e
sonha que come, mas que ao despertar ainda sente fome (Sl_73:20); seu
fatal sonho se desvanece ao despertar no dia seguinte (Is_37:36).
sua alma (RC) — simplesmente seu apetite: ele ainda tem sede.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 187
9. Estatelai-vos — antes, surpreendei-vos, que expressa a estúpida
e atônita incredulidade com que os judeus receberam o anúncio de Isaías,
e maravilhai-vos (RC) — o segundo imperativo, como ocorre com
frequência, é uma ameaça (Is_8:9); o primeiro contém a simples
declaração de um fato: “aterrai-vos, visto que o preferis, pois vos sentis
assim por causa da profecia, logo vos sentireis pasmados diante da vista
da realidade”. [Maurer].
cegai-vos e permanecei cegos — ofusquem-se (visto que escolhem
estar assim, por mais que a luz brilha em torno de vocês) que logo
ficarão seriamente cegos para seu desconsolo. [Maurer]. (Is_6:9, 10).
bêbados estão — o passo da segunda pessoa à terceira indica que o
profeta, por causa da estúpida incredulidade dos judeus, deixa-os, e
profetiza para uma época mais longínqua.
não de vinho — mas sim de paralisia espiritual (Is_51:17, 21).
10. Jeová, por um ato de justiça, os entrega à dureza de seus
corações (cf. Zc_14:13). Citado por Paulo, da LXX com alterações:
Rm_11:8. Veja-se Is_6:10; Sl_69:23.
olhos … os profetas — antes, “Fechou seus olhos, isto é, os dos
profetas; e suas cabeças (veja-se Is_3:2), os videntes, ele cobriu”. Os
filhos do Oriente cobrem a cabeça para dormir; dessa maneira, “cobriu”
é paralelo de “fechou seus olhos” (Jz_4:19). Cobrir o rosto era o
preparativo para uma execução (Est_7:8). Isto não se pode aplicar ao
tempo em que Isaías profetizou, mas sim a épocas subsequentes.
11. Toda visão — Aqui visão é o mesmo que revelação ou lei; em
Is_28:15, a mesma palavra hebraica está traduzida concerto [Maurer].
selado — (Is_8:16). Deus sela a verdade para que até os eruditos,
por causa de carecer de docilidade, não possam discerni-la (Mt_13:10-
17; Mt_11:25). A profecia foi, até certo ponto, um livro selado
(Dn_12:4, Dn_12:9), até que Jesus, “o único digno”, “abriu os selos”
(Ap_5:1-5, Ap_5:9; Ap_6:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 188
12. Não foi melhor aos iletrados que aos eruditos, não por falta de
humana erudição, como eles se imaginavam, mas por carecer do ensino
divino (Is_54:13; Jr_31:34; Jo_6:45; 1Co_2:7-10; 1 Jo_2:20).
13. mandamentos de homens — em lugar dos preceitos de Deus,
dados por Seus profetas; o mesmo sucedeu com o culto externo, que
rendiam de uma maneira mecânica, e não sinceramente, como Deus o
exigia (Jo_4:24). Cf. a citação que Cristo fez deste versículo, tomada da
Versão LXX.
14. (Hc_1:5; At_13:41). A obra maravilhosa” é a sem igual
vingança que se tomará dos hipócritas: cf. “sua estranha obra”, Is_28:21.
O juízo também visitará os sábios no que respeita àquilo de que mais se
orgulham: sua sabedoria, a que foi ocultada deles de maneira que já não
pareça que auxilia a nação em seu sofrimento (cf. 1Co_1:19).
15. escondem profundamente o seu propósito do SENHOR —
antes, que “tentam ocultar-se no profundo” (cf. Is_30:1, 2). A alusão é ao
plano secreto que muitos nobres judeus tinham feito de buscar a ajuda do
Egito contra os assírios, o que era contrário ao conselho de Isaías. Ao
mesmo tempo se retrata os hipócritas em geral, aqueles que, sob uma
plausível aparência exterior, buscam ocultar o seu verdadeiro caráter,
não só da vista dos homens, mas também até da de Deus.
16. Antes, ó quanta perversidade! Como se o oleiro devesse ser
estimado como o barro! [Maurer]. Ou: “Vocês invertem ou alteram a
ordem natural das coisas, pondo-se a si mesmos em lugar de Deus,” e
vice-versa, como se o oleiro devesse ser estimado o barro [Horsley]
(Is_45:9; Is_64:8).
17. se converterá — em contraste com seu “transtorno das coisas”
(v. 16), haverá outras e melhores alterações ou revoluções: o
derramamento do Espírito nos últimos dias (Is_32:15); primeiro sobre os
judeus, o que será seguido de seu restabelecimento como nação (Nota, v.
2, Zc_12:10); logo o será sobre os gentios (Jl_2:28).
em campo fértil (RC) — lit., um Carmelo (Nota, Is_10:18). A
mudança moral da nação judia será tão grande como se o Líbano
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 189
arborizado chegasse a converter-se em campo frutífero, e vice-versa. Cf.
Mt_11:12, grego, “o reino dos céus faz-se violência”, como se
disséssemos, para que o homem o aceite; pois em vez de buscar os
homens ao Messias, como tinham buscado antes a João no deserto, o
Messias é aquele que se apresenta a eles para chamá-los amorosamente;
dessa maneira, os corações humanos, verdadeiros desertos em outro
tempo, são transformados, a fim de que produzam frutos de justiça: e
vice-versa, os ímpios que pareciam prósperos, num sentido moral e
literal, serão expostos em sua esterilidade.
18. os surdos … os cegos — (Cf. Mt_11:5). Aqui se alude
principalmente aos cegos espirituais; “o livro” que por antonomásia
chama-se Revelação, já não estará “selado”, como o descreve no v. 11,
mas o menos inteligente verá e ouvirá (Is_35:5).
19. mansos — antes, os piedosos afligidos: alusão ao sofrimento
virtuoso (Is_61:1; Sl_25:9; Sl_37:11) [Barnes].
os pobres entre os homens — quer dizer, os mais pobres dos
homens, ou seja, os pobres piedosos.
se alegrarão — quando virem que seus opressores são castigados
(v. 20, 21), e que Jeová Se apresenta como seu protetor e galardoador
(vv. 22-24; Is_41:17; Tg_2:5).
20. o tirano — ou seja, os perseguidores dentre os nobres judeus.
o escarnecedor — (Is_28:14, 22).
todos os que cogitam — estes não só cometem a iniquidade, mas
também buscam as oportunidades de cometê-la, constituindo isto sua
principal preocupação (Veja-se Mq_2:1; Mt_26:59; Mt_27:1).
21. Antes, “Os que declaram um homem culpado em sua causa”
[Gesênius]; isto é, que o condenam injustamente. “Um homem” em
hebraico é um homem pobre, a quem se podia fazer vítima de tão
injustas condenações com maior impunidade que ao rico; cf. v. 19, “os
mansos … os pobres”.
ao que repreende — antes, ao que defende; alguém que tem uma
causa em litígio.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 190
porta — o lugar de concorrência de uma cidade, onde funcionavam
os tribunais de justiça (Rt_4:11; Pv_31:23; Am_5:10, Am_5:12).
justo — alguém que tem uma justa causa; ou, Jesus Cristo “o
justo.” [Horsley].
Sem motivo negam — antes, “mediante falsidade”, por uma
decisão que é nula em justiça” [Barnes]. Cf. no que corresponde a Cristo,
com Pv_28:21; Mt_26:15; At_3:13-14; At_8:33.
22. Una-se com “acerca da casa de Jacó, assim diz”.
remiu — tirando-o de Ur, terra de idólatras (Js_24:3).
não será mais (TB) — depois da revolução moral (descrita no v.
17), os filhos de Jacó já não darão lugar a que seus antepassados se
envergonhem deles.
empalidecerá — de vergonha, e pelo desengano de ver sua
posteridade degenerada, e de temor por seu castigo.
23. quando ele — Jacó.
obra das minhas mãos — espiritualmente, como também
fisicamente (Is_19:25; 60:21; Ef_2:10). Pela ação de Jeová, Israel será
purificado de sua corrupção, de sorte que se comporá inteiramente de
homens piedosos (Is_54:13, 14; 52:1; 60:21).
no meio deles — quer dizer, de sua terra. Ou do contrário, “seus
filhos” são os gentios adotados entre os israelitas, seus descendentes em
linha direta (Rm_9:26; Ef_3:6) [Horsley].
24. E os que erram — (Is_28:7).
virão a ter entendimento — ou melhor, disciplina ou instrução.
“O murmurar” foi a característica da rebelião de Israel contra Deus
(Êx_16:8; Sl_106:25). Mas isso já nunca mais sucederá. Os castigos e no
conceito do Horsley, a piedade dos gentios, que desperta nos judeus uma
santa emulação (Rm_11:11, Rm_11:14), produzirá então o tão desejado
efeito.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 191
Isaías 30

Vv. 1-32. Os Caps. 30-32, É Provável que se Refiram ao Verão de


714 a.C., Assim Como o 29 Refere-se à Páscoa Daquele Ano.
Os embaixadores judeus se acham em viagem ao Egito para
solicitar ajuda contra a Assíria (Is_30:2-6, 15; 31:1). Isaías denuncia esta
confiança posta no Egito em vez de em Jeová. Deus tinha proibido
alianças como esta com nações pagãs, pois era um ponto de vital
importância na política judia que fossem um povo separado (Êx_32:32;
Dt_7:2).

1. executam planos — antes, como o denota o v. 4 e 6, dá a


entender executar conselhos.
se cobriram com uma cobertura (RC) — isto é, cobrir-se com o
manto de uma confiança que supunha deslealdade para com Jeová. Dessa
maneira, “cobrir-se” corresponde a “tratar de ocultar bem seu conselho,
do Senhor” (Is_29:15). Mas o hebraico diz lit., “que oferece libações”,
que era a forma como se consertavam tais ligas (Êx_24:8; Zc_9:11),
traduza-se: “que faz liga”.
mas não do meu Espírito (RC) — não inspirada “por meu Espírito”
(Nm_27:21; Js_9:14).
para acrescentarem — Aqui se fala das consequências que se
seguirão de sua desavergonhada intenção de seguir pecando, ou seja, que
um pecado conduz a outro pecado (Dt_29:19).
2. Que descem ao — agora seus embaixadores estão em caminho
(v. 4).
Egito — Veja-se a nota no princípio de Isaías 19 e 20.
Faraó — Este era o nome genérico dos reis do Egito, como o era
César dos imperadores romanos. Faraó, em língua egípcia, significa rei
(Josefo, Antiguidades, 8:6, 2). Phra, “o sol”, era o símbolo e título do
rei.
sombra — figura do resguardo do calor: proteção (Sl_121:5-6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 192
3. vergonha — desengano. Egito, debilitado por suas dissensões
internas, não pode brindar uma sólida ajuda.
4. seus embaixadores — os embaixadores de Judá (cf. 9:21).
em Zoã — Já tinham chegado ali, em sua ida à corte de Faraó
(veja-se 19:11).
já chegaram a Hanes — atracaram ali. Esta ficava ao ocidente do
Nilo, no Egito central. Em egípcio chamava-se Hnes: era a grega
Heracleópolis: talvez fosse a Anysos de Heródoto (2:137); segundo
Grocio, é a contração de Tafnes (Jr_43:7-9); Hanes e Zoã, eram
domínios respectivamente de dois príncipes reinantes naquela época; daí
que os embaixadores judeus visitassem ambas as cidades.
5. (Jr_2:36).
6. Sentença contra — profecia referente a, etc. [Maurer]; aqui o
novo título assinala enfaticamente a predição que segue. Ou, antes, Isaías
contempla em visão as bestas de carga dos embaixadores, carregadas de
ricos presentes, em viagem ao Sul (ou seja, ao Egito, Dn_11:5-6), e
exclama: Ai da carga de tesouros que levam as bestas! (Os_8:9;
Os_12:1).
terra da aflição — a do deserto entre a Palestina e o Egito, carente
de água e infestada de animais daninhos (Dt_8:15; Jr_2:6).
a serpente volante — (Is_14:29). Uma espécie que se lança das
árvores como uma flecha sobre a sua presa.
levam a lombos de jumento — como presentes ao Egito
(1Rs_15:19).
7. “Egito é vaidade e sua ajuda será inútil” [G. V. Smith].
Egito — heb., Raabe, termo que designa o Egito (Is_51:9; Sl_87:4,
que insinua sua altiva ferocidade. Traduza-se: “Portanto a chamei
Arrogância que permanece quieta”. Ela que se gabava da ajuda que lhe
daria, chegado o momento de fazê-la efetiva, esteve quieta (Is_36:6). A
Versão Inglesa concorda com o v. 15 e Is_7:4.
8. tabuinha — uma tabuleta (Hc_2:2), para ser exibida em público,
a qual continha a profecia abreviada, para que todos a lessem.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 193
num livro — quer dizer, um rolo de pergaminho que continha a
profecia em sua totalidade, para conhecimento da longínqua posteridade.
Sua verdade ressaltará daí em diante quando o acontecimento se realizar.
Vejam-se notas em Is_8:1, 16,
para que fique registrado para os dias vindouros, para sempre
— Leia-se: “Por testemunho perpétuo” [Chaldee, Jerônimo, Lowth]. “O
testemunho se junta frequentemente com a noção de perpetuidade”
(Dt_31:19, Dt_31:21, Dt_31:26).
9. mentirosos — infiéis a Jeová, cuja aliança tinham prometido
obedecer, como filhos adotivos de Deus (Is_59:13; Pv_30:9).
10. (Mq_2:6, Mq_2:11; Mq_3:5).
Não tenhais visões — como o fazem agora, predizendo desditas.
Não profetizeis para nós o que é reto — Não é que eles pedissem
abertamente tal coisa; mas o expressavam de maneira virtual em sua
conduta. Ninguém quer ser declaradamente enganado; mas muitos
buscam certo tipo de ensino que é um engano; se o examinassem,
comprovariam o que realmente era (1Rs_22:13). Os judeus desejavam
que lhes fosse predito bom êxito como resultado de sua aliança com o
Egito, embora o profeta de Deus lhes tenha predito que teriam funestos
resultados. Nisto precisamente consistia “o engano”.
11. Separai-vos do verdadeiro “caminho” (assim At_19:9,
At_19:23) da religião.
não nos faleis — que não ouçamos mencionar mais o Seu nome. A
santidade de Deus é o que mais incomoda os pecadores
12. o Santo — Isaías condescende tão pouco com seus ímpios
preconceitos, que repete o mesmo nome e a mesma verdade que eles
desgostavam.
esta palavra — exortação de Isaías a confiar em Jeová.
opressão — em virtude da qual reuniram tesouros injusta e
violentamente para enviá-los ao Egito, para ganhar sua amizade (v. 6).
e na perversidade — ao apoiar-se no Egito e não em Jeová.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 194
13. brecha — figura tomada da curva de um muro (Sl_62:3).
Quando essa parte cai, origina a queda de todo o muro. Tal será o fim de
sua política com o Egito.
14. o quebrará — o inimigo, ou , antes, Deus (Sl_2:9; Jr_19:11),
ao Estado judeu.
o vaso do oleiro — por ser de barro e frágil.
cacos — fragmentos de uma vasilha, bastante grandes para levar
brasas acesas neles.
da poça — uma cisterna ou atoleiro. A curvatura de um muro, a
princípio é imperceptível e gradual, mas no final se produz o
desmoronamento. Assim ocorrerá com o decaimento do Estado judeu.
15. Em vos converterdes e em sossegardes — desistindo de sua
embaixada ao Egito e de seus preparativos bélicos.
tranquilidade — que corresponde a “esperar” (em Deus) (v. 18).
16. fugiremos — não como fugitivos, mas sim aceleraremos nossa
marcha, ou seja, contra os assírios, mediante a ajuda da cavalaria provida
pelo Egito (Is_31:1). Isto era categoricamente contrário à Lei de Moisés
(Dt_17:16; cf. Nota, Is_2:7; Os_14:3).
fugireis — lit., “diante de seus inimigos”; seu pecado e seu castigo
guardam correspondência.
17. Mil homens — Um milhar ao mesmo tempo ou como um só
homem [Maurer].
pela ameaça — ao grito de combate.
todos vós fugireis — pela ameaça de cinco fugirão todos (em
contraste com “mil homens”) tão completamente que nem sequer a dois
de vocês deixarão juntos; mas sim cada um estará tão solitário como
“um mastro” [G. V. Smith], ou como “bandeira no cimo de uma colina”
(Is_5:26; 11:12). O mastro se levantava para chamar uma nação à guerra.
Os judeus que ficassem seriam outros tantos faróis para admoestar a
todos as homens a respeito da justiça de Deus e da certeza de Suas
ameaças. Gesênius fundamentado em Lv_26:8; Dt_32:30, insere
arbitrariamente “dez mil”. “Pela ameaça de cinco fugirão dez mil”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 195
18. Por isso, o SENHOR — por causa de sua malignidade (vv. 1,
2, 9, 15, 16), demorará sua misericórdia para convosco [Horsley]. Antes,
esperará para vos castigar, ou adiará o castigo, a fim de vos dar tempo
para que vos arrependais (vv. 13, 14, 17) [Maurer]. Ou: portanto, por
causa da angústia de que se falou nos versículos precedentes. Essa
angústia conduzirá os judeus ao arrependimento, e dessa maneira Jeová
se compadecerá deles [Gesênius].
será exalçado (RC) — os homens terão conceitos mais elevados
referente à misericórdia de Deus. Ou, antes, “Ele se levantará para ter
misericórdia de vós” [G. V. Smith]. Ou, interpretando a cláusula anterior
como Maurer: “Portanto, Jeová demorará” em vos castigar, “a fim de
que ele possa ser misericordioso convosco”, se vos arrependerdes. Ele
se afastará muitíssimo de ti [Assim no Sl_10:5, muito longe da vista],
quer dizer, Ele não descerá imediatamente para vos castigar, “a fim de
que possa ter misericórdia”, etc.
de justiça — de fidelidade a sua aliança.
nele esperam — cf. v. 15, aguardar, ou seja, suas oportunidades de
ter misericórdia.
19. (Is_65:9). A volta de Babilônia só tipifica o pleno cumprimento
da profecia (vv. 18-33).
tu não chorarás mais — (Is_25:8).
teu clamor — (Is_26:8, 9; Jr_29:12-14).
20. Antes, “O Senhor vos dará”. O “Embora” não está no original.
pão de angústia — Ele não te negará suficiente alimento para te
salvar em tua adversidade (1Rs_22:27; Sl_127:2).
não se esconderão — já não se verão obrigados a esconder-se por
causa da perseguição, antes serão aberta e reverentemente acolhidos
[Maurer]. Coteje-se com o Sl_74:9; e Am_8:11.
21. palavra — a consciência dirigida pelo Espírito Santo
(Jo_16:13).
22. reveste as tuas imagens — (feitas de madeira, de argila y)
cobertas de prata. Ezequias e mais tarde Josias as profanaram
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 196
(2Rs_23:8, 2Rs_23:10, 2Rs_23:14, 2Rs_23:16; 2Cr_31:1; cf. Is_2:20;
Dt_7:25).
23. chuva sobre a tua semente — antes, “para a tua semente”. A
prosperidade física sempre acompanha a piedade nacional,
especialmente sob o Antigo Testamento. A chuva temporã caía pouco
depois que a semente tinha sido semeada, outubro ou novembro; a
serôdia, na primavera, antes de amadurecer o grão; ambas eram
necessárias para a realização de uma boa colheita.
pão … será farto — feito de farinha do melhor trigo (Gn_49:20;
Dt_32:14).
24. lavram — isto é, cultivam. Os asnos eram empregados nos
trabalhos agrícolas, o mesmo que os bois (Dt_22:10).
forragem com sal — antes, forragem salgada [Gesênius). Um
provérbio árabe diz: A forragem doce é como pão para o camelo; a
salgada, como confeitos. O próprio gado participará da futura felicidade.
Ou, antes: a bem fermentada mistura, isto é, a forragem composta de
diversos grãos mesclados, como: o trigo, centeio, etc., e sal.
padejado (RC) — não como se está acostumado a dar ao gado,
antes de tê-lo separado da palha; o grão será tão abundante que será dado
padejado.
com pá — com a qual se atirava o grão ao ar para que o vento
levasse a palha.
joeira (TB) — outro instrumento para peneirar.
25. Então até as colinas geralmente estéreis serão bem regadas
(Is_44:3).
no dia da — os desobedientes entre os judeus tenham sido mortos,
como foi predito no v. 16: “as torres”, isto é, os poderosos (Is_2:15). Ou,
antes, as torres do assírio Senaqueribe, ou de Babilônia, tipos de todos os
inimigos do povo de Deus.
26. Imagem tomada dos corpos celestes, para expressar o
incremento da luz e da felicidade espirituais, pois “sétuplo” indica a
perfeição dessa felicidade, visto que sete é número sagrado. Tudo o que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 197
se cumprirá no futuro na cidade celestial (Is_60:19, 20; Ap_21:23-24;
Ap_22:5).
a chaga — a ferida ou calamidade enviada por Deus, por causa de
seus pecados (Ap_1:5).
27. o nome do SENHOR — isto é, o próprio Jeová (Sl_44:5;
Sl_54:1) representado como uma tormenta que se aproxima e pronta a
desencadear-se sobre os assírios (v. 30, 31).
ardendo na sua ira — lit., dolorosa é a chama, isto é, a chama que
provém dEle, qual dardo, é dolorosa. Ou, antes, (como o hebraico, que
dá a entender uma elevação) a elevação de uma nuvem é opressiva [G.
V. Smith]; a concentração de nuvens se efetua gradualmente até que se
desencadeia.
28. (Is_11:4; 2Ts_2:8).
chega até ao pescoço — o máximo perigo; entretanto, assim como
se devia fazer graça à cabeça ou capital de Judá (Is_8:8), assim também
escaparia Senaqueribe, cabeça ou soberano da Assíria.
peneira de destruição (Is_41:16).
um freio ... estará nos queixos — tal como se representa aos
prisioneiros nas inscrições assírias (Is_37:29).
dos povos — (Is_63:17). Heb., os povos, para denotar as várias
raças que compunham os exércitos assírios (Is_5:26).
29. na noite ... festa santa — como a noite em que vocês celebram
sua libertação do Egito, assim vocês celebrarão seu resgate da escravidão
assíria. Traduza-se: “a solenidade’ (Êx_12:42).
sai ao som da flauta — Os judeus estavam acostumados a subir a
Jerusalém (“o monte de Jeová”, Sião) às três festas, com música e alegria
(Dt_16:16; Ed_2:65; Sl_122:1-4).
30. “A potente voz” de Jeová que se eleva contra o inimigo (v. 27),
torna-se a mencionar aqui em contraste com a música (v. 29), com a qual
Seu povo virá a adorá-Lo.
e fará ver o golpe do seu braço, que desce — (v. 32; Sl_38:2). A
descida de seu braço ao ferir.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 198
de chuvas torrenciais — isto é, um vento impetuoso que dispersa,
ou uma inundação [Maurer].
31. A vara assíria que golpeou será por sua vez golpeada, e o que é
pior, o será pela voz do Senhor, quer dizer, por um invisível instrumento
divino (Is_10:5, 24).
32. com a vara — a vara vingadora.
lhe der — antes, decretado, designado [Maurer].
eles — os assírios, tipo de todos os inimigos de Deus de todos os
tempos. A margem da Versão Inglesa e Maurer constroem assim “Por
cada passo (Is_28:15) por onde a vara designada passar (para castigo)
etc., o fará ao som de tamboris”, isto é, avançará acompanhada do
regozijo dos povos libertados.
combaterá vibrando golpes — isto é, estrondo de batalhas
(Is_19:16; cf. com “peneira e peneirar, v. 28).
contra eles — ou seja, os assírios.
33. Tofete (TB) — lit., Um lugar de abominação; o vale dos filhos
do Hinom, ao sudeste de Jerusalém, onde Israel ofereceu sacrifícios
humanos a Moloque pelo fogo; daí que se trate de um lugar de queima
(2Rs_23:10; Jr_7:31). Posteriormente, Ge-hinom ou Geena, quer dizer,
vale de Hinom, veio a ser o lugar onde se jogavam o lixo de Jerusalém,
para o queimar mediante um fogo que ardia continuamente. Daí proveio
que prefigurasse o inferno, o lugar de torturas. No primeiro sentido,
resultou ser um lugar adequado para simbolizar a pira fúnebre do
exército assírio (embora na realidade não pereceu ali); os hebreus não
queimavam seus mortos, antes os sepultavam; mas os pagãos assírios
deviam ser queimados, como uma nota de ignomínia. No segundo
sentido, Tofete é o receptáculo “preparado para o diabo (antítipo do rei,
Is_14:12-15) e seus anjos”, assim como para os incrédulos (Mt_5:22;
Mt_25:41; Mc_9:43-44).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 199
Isaías 31

Vv. 1-9. A Força Mais Poderosa do Exército Egípcio Era Sua


Cavalaria.
e se estribam em cavalos; que confiam em carros — Isto se devia
ao fato que as férteis planícies do Egito se prestavam muito bem para o
emprego dos cavalos assim como para alimentá-los (Êx_14:9;
1Rs_10:28). Na montanhosa Palestina não era tão fácil adquiri-los nem
utilizá-los. Daí que os judeus se mostrassem tão ávidos a entrar em
aliança com o Egito, para poder valer-se de seus carros de guerra contra
a cavalaria assíria. Nas esculturas assírias vê-se que os carros eram
puxados por três cavalos, e com três homens neles (veja-se Is_36:9;
Sl_20:7; Dn_9:13).
2. Todavia, este é sábio — da mesma forma que os sacerdotes
egípcios, tão famosos por sua sabedoria (At_7:22), mas diante dele são
uns “parvos” (Is_19:11). Ele não só inventa, mas também executa o que
inventa, sem que tenha que revogar sua palavra (Nm_23:19).
casa — toda a raça.
ajuda — o socorro egípcio, buscado pelos judeus.
3. não espírito — carentes de poder divino (Sl_56:4; Sl_146:3,
Sl_146:5; Zc_4:6).
o auxiliador — o Egito.
o ajudado — Judá.
4. (Is_42:13; Os_11:10).
rugem — ruge por sua presa.
espantam — descoroçoando-se ou assustando-se.
5. Do mesmo modo que na imagem “do leão” o ponto de
comparação está na impávida força de Jeová, assim na imagem das aves,
a comparação reside no solícito afeto com que Ele as dotou para com
seus pintinhos (Dt_32:11; Sl_91:4; Mt_23:37).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 200
voam (RC) — antes, protegem sua cria com suas asas; o voar é o
sentido secundário da voz hebraica. [Maurer]. Revoam para proteger sua
cria. [G. V. Smith].
passando (RC) — como o anjo exterminador que passou para
salvaguardar as casas dos israelitas assinaladas com sangue, na primeira
páscoa (Êx_12:13, Êx_12:23, Êx_12:27). Ele passou, ou saltou adiante
[Lowth], para destruir o inimigo e perdoar o Seu povo.
6. O poder e o amor de Jeová expressos são os mais fortes
incentivos para voltar-se a Ele (Ez_16:62-63; Os_6:1).
Convertei-vos … filhos de Israel — A mudança de pessoa indica
que quando se converterem ao Senhor, Ele se dirigirá a eles em termos
que expressem confiança, que é a segunda pessoa; mas enquanto se
mantiverem rebeldes, Deus falará deles na terceira pessoa, em vez de
dirigir-se a eles mesmos.
7. No dia da prova se convencerão de que os ídolos não prestam
ajuda alguma, razão pela qual os desprezarão. Cf. quanto à futura
restauração e conversão de Israel simultaneamente com a interposição de
Jeová em sua defesa, com Zc_12:9-14; Zc_13:1-2.
vossas mãos fabricaram para pecardes — isto é, por causa das
quais foram feito particularmente culpados (1Rs_12:30).
8. a Assíria — O assírio Senaqueribe, representante de algum
poderoso governante ímpio, nos últimos tempos [Horsley].
pela espada, não de homem — mas pela espada invisível de Deus.
fugirá — Senaqueribe fugiu sozinho para o seu país, depois da
derrota de seu exército (1Rs_37:37).
seus jovens — a flor de seu exército.
trabalhos forçados — isto é, sujeitos ao tributo de servir
pessoalmente como escravos (Dt_20:11; Js_9:21) [Maurer]. Ou, embora
não tão corretamente, consumidos. [Rosenmuller].
9. Antes, “passará para além de seus fortificações”. Não se deterá
nelas por causa do medo, para buscar refúgio (Jz_20:47; Jr_48:28).
[Gesênius].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 201
bandeira — a bandeira de Jeová que protege os judeus [Maurer].
cujo fogo … e cuja fornalha — luz e fogo, quer dizer, o altar de
Jeová em Jerusalém (Is_29:1). “O forno”, possivelmente para o
distinguir de “fogo”, pode ser que signifique que o lugar de sua
habitação (seu lar) era Jerusalém (Is_4:5); ou, antes, o terrível forno que
está esperando a todos os inimigos que tiverem atacado a Jerusalém.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 202
Isaías 32

Vv. 1-20. O Reino do Messias: Desolações Seguidas por Uma


Duradoura Paz, Depois do Derramamento do Espírito.
Os tempos de pureza e felicidade que se seguirão à derrota dos
inimigos do povo de Jeová (vv. 1-8). O período de ira antes daquele feliz
estado (vv. 9-14). A garantia da final prosperidade da igreja se repete
(vv. 15-20)
1. rei — Não Ezequias, que já ocupava o trono, enquanto que se
contempla um tempo futuro. Se de algum modo se alude a ele, só pode
ser como tipo do Rei Messias, o mesmo a quem isto pode plenamente ser
aplicado (Os_3:5; Zc_9:9; vejam-se notas, Is_11:3-5,). O reino passará
do domínio dos reis deste mundo, cujo poder exerceram contra Deus, em
lugar de o exercer para Ele, ao legítimo Rei dos reis (Ez_21:27;
Dn_7:13-14).
príncipes — os que lhe estarão subordinados; isto se refere a todos
os que ocupem cargos de autoridade, como auxiliares de Cristo, em seu
futuro reino terrestre, ou seja, os apóstolos, etc. (Lc_22:30; 1Co_6:2;
2Tm_2:12; Ap_2:26-27; Ap_3:21).
2. o homem (Versão Jünemann) — o homem Cristo [Lowth]; pois
tendo sofrido como “Filho do homem”, como Filho do homem deve
também reinar (Mt_26:64; Jo_5:27; Jo_19:5). E não como o explica
Maurer que “cada um dos príncipes será”, etc.
torrentes — tão refrescantes como são a água e a fresca sombra
para o sufocado viajante (Is_35:6, 7; 41:18).
3. dos que veem — os videntes ou profetas.
e os ouvidos dos que ouvem — aqueles que recebem instrução
(Is_35:5, 6).
4. O coração dos temerários — Melhor, os apressados (cf. com
“não se apresse”, Is_28:16); o temerário, quem não tomará tempo para
ponderar devidamente as verdades religiosas. Ou, o muito instruído
[Horsley].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 203
gagos — os que falam confusamente das coisas divinas (Cf.
Êx_4:10-12; Jr_1:6; Mt_10:19-20). Ou melhor, os escarnecedores
bêbados, aqueles que imitavam gaguejando as admoestações de Isaías
para zombar delas [Maurer] (Is_28:7-11, 13, 14, 22; 29:20); segundo esta
opinião, é preciso traduzir: “falai o reto” (de acordo com a lei divina);
não como a Versão Inglesa, que se refere à claridade da articulação;
claramente.
5. louco — melhor, o parvo [Lowth]; isto é, o ímpio (Sl_14:1;
Sl_74:18).
nobre — melhor de caráter nobre.
generoso (RC) — em sentido religioso.
fraudulento — [Gesênius]. O mesquinho ateu, que inveja a
esperança do crente de desfrutar de uma “plena imortalidade”. Este já
não será tido por um patriota que luta por emancipar da superstição ao
gênero humano [Horsley].
6. o louco fala loucamente — Melhor “o néscio (irreligioso) falará
nesciamente”. Deve preferir o presente do indicativo: o néscio (muito
longe está de merecer aquele que o qualifique de “generoso”) visto que
fala e obra nesciamente, etc.
iniquidade (RC) — dissolução [Horsley].
hipocrisia — impiedade, raciocínios perversos.
faminto — em sentido espiritual (Mt_5:6).
7. fraudulento — o trapaceiro; este versículo se refere à última
cláusula do v. 5; assim como o v. 6 se referia à primeira.
a causa do pobre é justa — defende uma justa causa (Is_29:21);
espiritualmente, “a causa do pobre” é a divina doutrina, sua regra de fé e
de conduta.
8. nobre — Melhor, generoso.
perseverará — será aprovado sob o governo do justo Rei.
9-20. Discurso dirigido às mulheres de Jerusalém que pouco se
inquietavam pelos signos políticos dos tempos, mas sim viviam
desenfreadamente (Is_3:16-23); em que se prediz a falta de alimentos
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 204
por causa das devastações do inimigo, cujo objetivo era, provavelmente,
influir nelas, apelando à sua qualidade de mães de família, acostumadas
até então a viver no luxo. Vitringa entende por “mulheres e filhas” as
cidades e aldeias de Judá (Ezequiel 16). Veja-se Am_6:1.
10. daqui a um ano e dias — Melhor, dentro de pouco mais de um
ano. [Maurer]. Lit., Dias sobre um ano (Assim em Is_29:1).
a vindima se acabará, e não haverá colheita — por causa da
chegada do invasor assírio. Como não se menciona a colheita do trigo,
Isaías esperaria que a invasão se realizaria no verão de 714 a.C., quando
o trigo já se teria posto a boa cobrança, e o fruto tardio estaria
“recolhido” e a colheita de uvas ainda estaria em perigo.
11. Despi-vos — de vossas roupas vistosas (Nota, Is_2:19, 21).
12. Batei no peito — Melhor, golpearão os peitos, como
lamentação “pelos campos agradáveis” (Na_2:7) [Maurer]. Na Versão
Inglesa usa-se “peitos” por terras férteis, as quais nutrem a vida, à
semelhança dos peitos. A transição da segunda pessoa à terceira (vv. 11
e 12) é frequente.
13. (Is_5:6; 7:23).
casas onde há alegria — nas subúrbios de Jerusalém; não de
Jerusalém propriamente dita, mas de outras cidades destruídas por
Senaqueribe, durante seu avanço (Is_7:20-25). Entretanto, a profecia, em
seu sentido plenário, refere-se à total desolação da Judeia e sua capital
por Roma, e posteriormente, a que precederá a segunda vinda do Rei
(Sl_118:26; Lc_13:35; Lc_19:38); a “cidade que exulta” é, neste aspecto.
Jerusalém (Is_22:2).
14. O palácio — Aplicável sobretudo a Jerusalém (V. nota 13).
a cidade populosa ficará deserta — o ruidoso estrépito da cidade,
isto é, a cidade com sua ruidosa multidão jazerá abandonada [Maurer].
Ofel — (isto é, o baluarte), termo aplicável especialmente ao
declive do monte Sião, circundado por seu próprio muro (2Cr_27:3;
2Cr_33:14; 2Rs_5:24), e provido com “torres” (ou atalaias) (Ne_3:26-
27).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 205
para sempre — limitado por Deus, com o “até”, etc., do seguinte
versículo, isto é, por um longo tempo.
15. Isto só se pode aplicar em parte para despertamento espiritual
acontecido no tempo de Ezequias; seu total cumprimento pertence à
dispensação cristã; primeiro no Pentecostes (Jl_2:28; At_2:17); e de uma
maneira perfeita, em tempos vindouros (Sl_104:30; Ez_36:26; Ez_39:29;
Zc_12:10), quando o Espírito será derramado sobre Israel, e, através
deste, sobre os gentios (Mq_5:7).
o deserto … em campo fértil … bosque (RC) — quando a Judeia,
por tanto tempo desolada, seja populosa e frutífera e a terra dos inimigos
de Deus seja desolada. Ou: “o campo, agora frutífero, não será mais que
um bosque estéril em comparação com o que será então” (Is_29:17). O
estéril se tornará frutífero mediante a regeneração; os já regenerados
produzirão tal abundância de frutos que sua primeira vida não parecerá
senão um deserto infrutífero.
16. juízo — justiça.
deserto — então será cultivável.
campo fértil — então se tornará mais frutífero (v. 15); desta
maneira, o “deserto” e “o campo fértil” compreenderão toda a Judeia.
17. O efeito — (Pv_14:34; Tg_3:18).
será paz — interior e exterior.
18. seguras … descanso (RC) — livres do temor de uma invasão.
19. Literalmente, “Mas granizará caindo saraiva sobre o bosque, e a
cidade (Nínive) será abatida, isto é, humilhada”. A “saraiva” é a colérica
visitação de Jeová (Is_30:30; 28:2, 17). O bosque é o exército assírio, tão
denso como a arvoredo de um bosque (Is_10:18, 19, 33, 34; Zc_11:2).
20. Enquanto o inimigo é “abatido”, os judeus cultivarão sua terra
em tranquila prosperidade.
todas as águas — os bem regados prados (Is_30:25). A alusão é a
Ec_11:1, cujo sentido é: “Lance sua semente sobre as águas quando o rio
está transbordado; a semente se afundará na lama e brotará quando as
águas baixem, e você a achará depois de muitos dias numa rica colheita”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 206
Antes da semeadura fazem entrar na água o gado bovino para que pise
no solo, para logo semear. Castalio crê que nisto há uma alusão ao
preceito mosaico de não arar com boi e asno junto, o qual, em sentido
místico quer dizer que o judeu não deve relacionar-se com os gentios. O
Evangelho aboliu esta distinção (Cl_3:11); desta sorte, o sentido aqui
seria: Benditos vocês, os que semeiam a semente do Evangelho sem
distinção de raça quanto aos mestres e aos discípulos. Mas não há
necessidade de supor que o boi e o asno aqui estejam atados juntos; o
provável é que fossem colocados separadamente, como em Is_30:24.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 207
Isaías 33

Vv. 1-24. A Última das Profecias de Isaías Referente à Destruição


de Senaqueribe (v. 19).
Os versículos 1, 8, 9 descrevem o despojador assírio. Este, não
obstante ser tão forte, cairá diante de Jeová, que é mais forte que ele (vv.
2-6, 10-12). O Tempo é o outono de 713 a.C.
1. não foste destruído — quer dizer, embora você nunca foi
saqueado; embora você não foi tratado traiçoeiramente (Nota, Is_24:16),
seu despojo e traição não têm, por conseguinte, desculpa, por não ter
sido provocados.
Acabando — Uma vez que tenha feito, com a permissão de Deus, o
pior dos atos que tem que fazer para a execução de seus planos, então
terá chegado sua hora (Is_10:12; 14:2; Hc_2:8; Ap_13:10).
2. tem misericórdia de nós; em ti temos esperado; sê tu o nosso
braço — O profeta intercede pelo seu povo. Separando-se deles
momentaneamente com o pensamento, volta em seguida a identificar-se
com eles mediante a palavra “nosso”.
manhã após manhã — ao amanhecer de cada dia, especialmente
durante nossa hora de perigo, como o demonstra a frase paralela “tempo
da angústia”.
3. do tumulto — A aproximação de Jeová é semelhante ao avanço
de uma tormenta (Is_29:6; 30:27), cujos trovões representam sua voz
(Ap_1:15), que faz o povo “fugir”.
os povos — os recrutamentos assírios.
4. Os invasores, em sua fuga, deixarão atrás de si o “despojo”, e os
judeus se apoderarão dele.
os gafanhotos — Melhor, o gafanhoto sem asas, ao reunir-se; a
palavra hebraica para “reunir” é propriamente a que se usa para
expressar a coleta dos frutos da colheita (Is_32:10).
saltam — ao arrecadar os frutos na colheita.
sobre ele — isto é, o despojo.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 208
6. sabedoria — a sagrada; quer dizer, a piedade.
teus tempos — os de Ezequias, ou melhor, os da Judeia. “Teu”
refere-se ao mesmo; mudanças semelhantes do pronome possessivo da
segunda pessoa à terceira são frequentes na poesia hebraica.
tesouro — As riquezas da nação consistirão nem tanto em bens
materiais como na piedade (Pv_10:22; Pv_15:16).
7-9. Da visão da glória futura, Isaías volta os olhos ao desastroso
presente; a pena dos “valentes” (paralelo e idêntico com os
“embaixadores de paz”), os homens de posição, enviados com presentes
para pedir a paz, mas enquanto esperam “fora” do campo inimigo, sua
demanda é rejeitada (2Rs_18:14, 2Rs_18:18, 2Rs_18:37). Os caminhos
reais estão desertos por causa do temor, as cidades são desprezadas, os
campos devastados.
pranteiam — (Is_15:4).
8. rompem-se as alianças — Quando Senaqueribe invadiu Judeia,
Ezequias lhe pagou uma grande soma para que abandonasse o país;
Senaqueribe recebeu o dinheiro, mas mesmo assim enviou seu exército
contra Jerusalém (2Rs_18:14, 2Rs_18:17).
já não se faz caso — os teve em pouco como incapazes de resistir
(Is_10:9; 36:19), visto que facilmente os capturaria
9. (Is_24:4).
Líbano — personificado; pode ser que seja uma alusão ao assírio,
que corta seus cedros escolhidos (Is_14:8; 37:24.)
Sarom — ao sul do Carmelo, ao longo do Mediterrâneo, proverbial
por sua fertilidade (Is_35:2).
Basã — chamado mais tarde Batanea (Is_2:13).
despidos de suas folhas — jazem tão desolados como no inverno.
10. A contemplação da miséria de seu povo desperta a Jeová. Ele
deixou que o inimigo fosse bastante longe.
Agora, me levantarei — enfático; Deus mesmo fará o que o
homem não pôde fazer.
11. Concebestes palha — o inimigo (Is_26:18; 59:4).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 209
o vosso bufo enfurecido é fogo — Melhor, seu espírito de ira e
ambição [Maurer] (Is_30:28).
12. (Is_9:19; Am_2:1). Possivelmente aluda ao fato que estavam
prestes a ser queimados na pira fúnebre (Is_30:33).
espinhos — os ímpios (2Sm_23:6-7).
13. os que estais longe — as nações longínquas.
os que estais perto — os judeus e os povos adjacentes (Is_49:1).
14. pecadores em Sião — os falsos professos religiosos no meio do
povo eleito (Mt_22:12).
ímpios — Melhor, os profanos, os abandonado [Horsley].
Quem …? — Se a ira de Jeová pôde consumir semelhante multidão
numa noite, quem a poderia sofrer se continuasse para sempre?
(Mc_9:46-48). O fogo é uma imagem frequente dos juízos divinos
(Is_29:6; 30:30.
dentre nós — Se tão horrorosos juízos têm caído sobre os que não
conheciam verdadeiro Deus, quão imensamente piores cairão sobre nós,
se entre tantos privilégios que desfrutamos e as profissões de religião que
fazemos, pecamos contra Deus? (Lc_12:47-48; Tg_4:17).
15. Em contraste com os “pecadores em Sião [que] se assombram”
(v. 14), os justos estarão seguros no meio dos juízos; estes são descritos
de acordo com o conceito que se tem da justiça no Antigo Testamento
(Sl_15:2; Sl_24:4).
o que tapa os ouvidos … fecha os olhos — “Aquele que não se
alegra na iniquidade” (1Co_13:6; cf. com Is_29:20; Sl_10:3; Rm_1:32).
Os sentidos são avenidas para a entrada do pecado (Sl_119:37).
16. nas alturas — nas cimos inacessíveis para o inimigo (Is_26:1)
pão … águas — descrição do esperado cerco de Senaqueribe. Não
obstante o estarem sitiados exteriormente pelas provas, os piedosos terão
alimento literal e espiritual, pois Deus cuida de seu bem-estar (Is_41:17;
Sl_37:25; Sl_34:10; Sl_132:15).
17. Os teus olhos — os dos santos.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 210
verão o rei na sua formosura — não como agora Ezequias em
saco, oprimido pelo inimigo, mas sim ao Rei Messias (Is_32:1) “na sua
beleza” (Ct_5:10, Ct_5:16; Ap_4:3).
a terra que se estende até longe — melhor, a terra em sua mais
remota extensão (já não mais encurralado como estava Ezequias por
causa do cerco). Veja-se margem da Versão Inglesa. Jerusalém converte-
se no cenário da glória do Rei (v. 20, etc.), da qual não se podia dizer
que “estava muito longe”, a não ser que a “terra muito longínqua” fosse
o céu, a Jerusalém de cima, que deve seguir ao reinado terrestre do
Messias numa literal Jerusalém (Is_65:17-19; Jr_3:17; Ap_21:1-2,
Ap_21:10).
18. se recordará — “o terror” causado pelo inimigo, que agora já
passou.
Onde está aquele … ? — é a linguagem dos judeus, que se
alegram por ter escapado do perigo.
escrivão (RC) — aquele que alistava o exército [Maurer]; ou aquele
que prescrevia o tributo que se devia pagar [Rosenmuller]; ou aquele que
levava a conta do despojo. “O principal escriba do exército” (2Rs_25:19;
Jr_52:25). As crônicas assírias não contêm os exageros de que adoecem
as egípcias. Em todos os baixos-relevos assírios se veem dois escribas
que anotam os diversos objetos que lhes trazem, como: as cabeças dos
mortos, os prisioneiros, o gado mais velho, as ovelhas, etc.
o que pesou — Layard menciona entre as inscrições assírias “umas
balanças para pesar os despojos”.
o que contou as torres — era alguém cujo dever consistia em
reconhecer a força da cidade que devia ser sitiada, e informar referente a
ela.
19. aquele povo atrevido — já não se permitirá aos assírios entrar
em Jerusalém (2Rs_19:32). Ou: já não verá mais os ferozes inimigos te
ameaçando como antes; tais como os assírios, os romanos e a hoste de
anticristãos que ainda devem assaltar Jerusalém (Dt_28:49-50; Jr_5:15;
Zc_14:2).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 211
de fala obscura — bárbara; tão profunda, etc., isto é, ininteligível.
A língua assíria só diferia da hebraica na pronúncia; mas entre os
recrutas do exército assírio havia muitos que não eram nem de raça nem
de língua semítica, como os medos, os elamitas, etc. (cf. Nota, Is_28:11).
20. solenidades, isto é, as assembleias solenes, nas grandes festas
(Veja-se Is_30:29; Sl_42:4; Sl_48:12).
que não será removida — Figura dos cativos “tirados” de sua terra
(Is_36:17). Já não haverá “desterro” para a terra inimiga. Ou, dentre
nômades que habitam em tendas transportáveis. Os santos que viveram
outrora em tabernáculos, quais peregrinos, terão “um edifício de Deus,
eterno nos céus” (2Co_5:1; Hb_11:9-10; cf. Is_54:2).
cujas estacas — fixadas na terra. A estas se atavam as “cordas”. A
Igreja de Cristo nunca decairá (Mt_16:18). Outro tanto ocorrerá aos
crentes individualmente (Ap_3:12).
21. ali — ou seja, em Jerusalém.
lugar de rios (RC) — Jeová será como um largo rio que rodeará
nossa cidade (cf. Is_19:6; Na_3:8), e ademais este será um rio de tal
natureza que nenhum navio de guerra o poderá passar (cf. Is_26:1).
Jerusalém não desfrutava da vantagem de ter um rio; Jeová será como
um para ela, o que lhe brindará todas as vantagens, sem nenhuma das
desvantagens que causa o ter um.
barco nenhum de remo passará — barco de guerra de forma
prolongada, movido à força de remos; os barcos mercantes eram mais
largos e eram impelidos por velas.
grande — é a mesma palavra hebraica que significa “glorioso”,
usada anteriormente; poderoso seria adequado em ambas as passagens,
pois tanto num como no outro se alude a um barco de guerra. Nenhum
“barco poderoso” se atreverá a penetrar aonde se encontre o “poderoso
Senhor” para nossa defesa.
22. o SENHOR — repetido três vezes (coisa frequente): a Trindade
(Nm_6:24-26).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 212
juiz … legislador … Rei — o perfeito ideal da teocracia, que
unicamente chegará a ser um fato sob o Messias. As funções de juiz, de
legislador e de administrador como rei, ele as exercerá em pessoa
(Is_11:4; 32:1; Tg_4:12).
23. As tuas cordas (RC) — Continuando a alegoria do v. 21, o
profeta compara as hostes dos inimigos a uma galera de guerra que,
privada dos equipamentos de barco ou cordas, mediante as quais o
mastro se mantém em pé e as velas se desdobram, certamente vai
naufragar no “largo rio” (v. 21), para chegar a ser presa de Israel.
estão frouxas — de maneira que já “não podem ter firme o mastro”
Então — quando as hostes assírias tenham sido derrotadas.
Ezequias tinha dado trezentos talentos de prata e trinta de oro a
Senaqueribe (2Rs_18:14-16), para o qual teve que despojar o templo de
seu ouro para lhe dar. Esse tesouro era provavelmente parte do despojo
achado no campo inimigo. Depois da invasão, Ezequias teve tanta
riqueza que fez uma imprudente ostentação dela (2Rs_20:13-15). É
provável que esta riqueza fosse em parte resgatada do poder dos assírios.
os coxos — até o mais fraco despojará o campo dos assírios (cf.
Is_35:6; 2Sm_5:6)
24. Estou doente — Smith crê que se alude no começo da
pestilência por causa da qual morreram os assírios, a qual, enquanto que
poupou os justos, atacou a alguns dentro da cidade (“aos pecadores de
Sião”); pode ser que a doença de Ezequias tenha sido causada por esta
praga (Is_38). Na futura Jerusalém não haverá “doenças”, porque nela
não haverá nenhuma “iniquidade”, por ter sido perdoada (Sl_103:3). A
última cláusula do versículo contém a causa da primeira (Mc_2:5-9).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 213
Isaías 34

Vv. 1-17. Juízos Sobre Idumeia.


Isaías 34 e 35 formam uma profecia, a primeira parte da qual
denuncia os juízos de Deus contra os inimigos do Seu povo, dos quais
Edom é o representante; a segunda parte trata do florescente estado da
igreja, consequência daqueles juízos. Isto forma a terminação das
profecias da primeira parte de Isaías; Isaías 36-39 são históricos, e
devem ser uma espécie de sumário do que sucedeu anteriormente,
expondo a principal verdade: Israel será libertado de todos os seus
inimigos, depois do que virão tempos mais felizes sob o governo do
Messias.
1. Convida-se a toda a criação a ouvir os juízos de Deus (Ez_6:3;
Dt_32:1; Sl_50:4; Mq_6:1-2), porque ela é a expressão de Sua glória, e
com este fim foi formada. (Ap_15:3; Ap_4:11).
tudo quanto produz — quer dizer: “tudo o que há no mundo”; ou,
como no hebraico, “tudo o que o enche” (margem da Versão Inglesa).
2. ele as destinou para a destruição — melhor, Ele as sentenciará
à completa maldição [Horsley].
as entregou — as destinará.
3. lançados fora — ficarão insepultos (Is_14:19).
se inundarão — serão lavados como com uma torrente.
4. (Sl_102:26; Jl_2:31; Jl_3:15; Mt_24:29).
se dissolverá — (2Pe_3:10-12). As violentas convulsões da
natureza se empregam na Escritura como imagens das grandes mudanças
no mundo humano (Is_24:19-21), e os acompanharão à expiração da
presente dispensação.
como um pergaminho — Naqueles tempos os livros eram de
folhas de pergaminho em forma de rolo (Ap_6:14).
cairá — as estrelas cairão quando os céus em que estão fixadas
passem.
figueira — (Ap_6:13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 214
5. se embriagou — ou seja, de ira (assim, Dt_32:42). “Nos céus”,
indica o lugar onde o desígnio da ira de Deus se forma, em antítese a sua
“descida”, na cláusula seguinte.
minha espada — (Jr_46:10). Ou, uma faca de sacrificar; pois Deus
não se apresenta aqui como um guerreiro com sua espada, mas sim como
um sacerdote prestes a sacrificar as vítimas destinadas à matança
[Vitringa] (Ez_39:17).
Edom — No princípio se estendia desde o mar Morto até o Mar
Vermelho; depois se empossou do oeste de Moabe, cuja capital era
Bozra. Petra ou Sela, chamada Jocteel (2Rs_14:7), era a capital do Sul de
Edom (Nota, Is_16:1). Edom foi submetida por Davi (2Sm_8:13-14);
mas no reinado de Jeorão os edomitas recuperaram sua independência
(2Cr_21:8). Mas durante o reinado de Amazias voltaram a ser
subjugados, e Sela foi tomada (2Rs_14:7). Durante o tempo que Judá
esteve cativa em Babilônia, Edom insultou em toda forma os judeus,
seus caídos senhores, e deu morte a muitos dos que tinham deixado os
caldeus; daí que Deus os considerasse culpados de ter cometido
fratricídio (pois Esaú, seu antepassado, era irmão de Jacó). Tal foi a
causa das denúncias dos profetas contra Edom (Is_63:1, etc.; Jr_49:7;
Ez_25:12-14; Ez_35:3-15; Jl_3:19; Am_1:11-12; Ob_1:8, 10, 12-18;
Ml_1:3-4). Mas Nabucodonosor humilhou a Idumeia na mesma forma
(Jr_25:15-21).
juízo — isto é, que vai ser executado.
destinei para a destruição — condenado a ser anatematizado.
6. cheia — saciada. Prossegue a imagem de um sacrifício.
sangue, engrossada da gordura — as partes consagradas
especialmente a Deus em sacrifício (2Sm_1:22).
cordeiros ... bodes — animais sacrificados; isto é, os idumeus de
todas as classes sociais, sentenciados a morrer (Sf_1:7).
Bozra — chamada Bostra pelos romanos, etc. atribuída em
Jr_48:24 a Moabe, de sorte que parece ter estado num tempo sob o
domínio de Edom, e em outro, sob o de Moabe (Is_63:1; Jr_49:13,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 215
Jr_49:20, Jr_49:22); estritamente falando, não estava em Edom mas era a
capital de Auranitis (o Houran). Edom parece ter estendido seu domínio
para incluí-la (Lm_4:21).
7. unicórnios (RC) — em hebraico reem, conota a ideia de
elevação, poder e preeminência (veja-se Nota a Jó_39:9), na Bíblia; em
certa época, a imagem contida nesse termo correspondeu à realidade
existente na natureza; em outra, simbolizou uma abstração, sendo o
rinoceronte o tipo original. Rim, em árabe significa bicorne; era este o
órix (o leucoryx, antílope, atrevido e belicoso); mas quando por acidente
ou artifício lhe privaram de um dos chifres, surgiu a noção do unicórnio.
Esta figura tipifica a fração dos edomitas que eram fortes e bélicos.
cairão — melhor, cairão mortos [Lowth].
com eles — com os “cordeiros” e “cabritos”, isto é, os edomitas
menos poderosos (v. 6).
novilhos ... touros — os edomitas jovens e velhos; quer dizer,
todas as classes sociais.
seu pó — o solo.
8. retribuições pela causa de Sião — quer dizer, no ano quando
Deus retribuirá os que disputaram com Sião. A controvérsia desta é a
dEle. Edom tinha pensado estender suas fronteiras apoderando-se das
terras de seus vizinhos, e até tinha instigado a Babilônia à crueldade para
com a prostrada Judá (Sl_137:7; Ez_36:5); por isso mesmo, Edom terá
que sofrer as mesmas coisas (Lm_4:21-22). O desenlace final da
controvérsia entre Deus e a totalidade de Seus inimigos e dos de Seu
povo também é profetizado (Is_61:2; 63:4; 66:14-16; Ml_4:1, Ml_4:3;
2Ts_1:7-8, 2Ts_1:9; Ap_11:18; Ap_18:20; Ap_19:2).
9. Imagens tomadas da destruição de Sodoma e Gomorra
(Gn_19:24-28; assim, Dt_29:23; Jr_49:17-18).
10. para sempre a sua fumaça — é a queima de seu piche, etc. (v.
9; Ap_14:11; Ap_18:18; Ap_19:3).
de geração em geração — (Ml_1:4).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 216
para todo o sempre ninguém passará — A ofensa original de
Edom consistiu em que não permitiu que Israel passasse pacificamente
por sua terra, em direção a Canaã. Deus os “recompensa” na mesma
forma: nenhum viajante passará por Edom. O incrédulo Volney se viu
forçado a confirmar a verdade desta profecia: “pelos relatórios dos
árabes no Sudeste do Mar Morto, num trajeto de três dias de caminho, há
mais de trinta cidades em ruínas, completamente desertas”.
11. pelicano — A voz hebraica se traduz em Sl_102:6, por
pelicano, que é uma ave marinha, que não pode ser a significada aqui;
certa ave aquática (a katta segundo Burckhardt) que habita no deserto, é
a aludida.
o ouriço — antes, o porco-espinho [Gesênius] (Is_14:23).
bufo — coruja; por estar enumerada entre as aves aquáticas em
Lv_11:17; Dt_14:16, Maurer crê que se trata da garça; o nome provém
de uma raiz hebraica que significa sopro, pois emite um som semelhante
ao produzido por um chifre (Ap_18:2).
cordel de destruição — devastação.
prumo de ruína — metáfora tomada da arquitetura (Nota, Is_18:2;
28:17); Deus lhe devolverá conforme a exata medida da justiça, sem
misericórdia (Tg_2:13; 2Rs_21:13; Lm_2:8; Am_7:7-8). Edom agora é
um deserto de “pedras”.
12. Antes, “quanto a seus nobres, não haverá nenhum que proclame
um reino”, isto é, um rei [Maurer]. Ou, “Não haverá nenhum a quem
convidar para ocupar o trono” [Rosenmuller] (Is_3:6, etc.) A Idumeia foi
governada a princípio por duques (Gn_36:15). Dentre eles foi eleito o rei
quando se transformou em monarquia.
13. chacais — (Nota, Is_13:21, 22).
morada — habitação de avestruzes.
14. As feras do deserto — antes, cabras selvagens (Is_13:21).
as criaturas noturnas (NVI) — o espectro noturno que, segundo a
superstição judia era uma mulher elegantemente vestida, a qual
arrebatava os meninos de noite. O texto não afirma que existissem
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 217
semelhantes objetos de superstição, mas sim descreve o lugar como
aquele que as pessoas supersticiosas imaginariam estar povoado de tais
seres.
15. a coruja fará ninho, chocará seus ovos (NVI) — a serpente
dardo, chamada assim por lançar-se como um dardo sobre sua presa
[Gesênius].
na sombra abrigará os seus filhotes — acariciará sua cria sob sua
sombra, etc. (Jr_17:11).
16. livro do SENHOR — o volume em que as diversas profecias e
outras partes da Escritura começaram a reunir-se e a colecionar-se desde
então (Is_30:8; Dn_9:2). “Inquiram” (assim Is_8:16, 20; Jo_5:39;
Jo_7:52).
faltará — destas profecias (Mt_5:18).
Nenhuma destas criaturas falhará — imagem dos animais
mencionados ao aparelhar-se, v. 15 (“companheira”): nenhuma predição
deixará de realizar-se para que tenha seu cumprimento. Ou melhor,
nenhum destes animais selvagens (de que se falou) faltará. Nenhum
carecerá de companheira com que aparelhar-se e multiplicar-se na
desolada Idumeia.
as ajuntará — as feras.
17. ele lançou as sortes — assim como os conquistadores rateiam
as terras por sorte, assim Jeová designou e assinalou (“dividiu”) a Edom
para o dar às feras (Nm_26:55-56; Js_18:4-6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 218
Isaías 35

Vv. 1-10. Continuação da Profecia de Isaías 34.


Veja-se em Isaías 34 a sua introdução
1. O deserto — lit., um lugar seco, sem mananciais. Com o que se
significa um deserto moral. Por causa do castigo infligido ao inimigo de
acordo com a precedente profecia, é provável que nas bênçãos expostas
neste capítulo estejam incluídas as causas da alegria (Is_55:12).
a rosa (RC) — melhor, o cólquico, uma flor outonal, com raízes
bulbosas; assim a versão siríaca.
2. a glória do Líbano — seu ornamento, isto é, seus cedros.
(Is_10:34).
o esplendor do Carmelo — isto é, sua beleza.
Sarom — famoso por sua fertilidade.
verão a glória do SENHOR, o esplendor — (Is_40:5,9), enquanto
que o deserto, que não tinha nem “glória” nem “beleza”, terá uma e a
outra, pois “lhe serão dadas”; Jeová terá toda a “glória” e “beleza” que se
atribuam a Ele e não ao deserto transformado (Mt_5:16).
3. Fortalecei as mãos … firmai os joelhos — em hebraico,
“confortar” refere-se à força que reside na mão para agarrar e reter uma
coisa fortemente; e “firmar”, à firmeza com que a pessoa se mantém em
seu lugar, de maneira que não seja desalojado por outro [Maurer].
Alentem aos judeus que estão agora abatidos, com a segurança das
bênçãos prometidas.
4. desalentados — margem da Versão Inglesa, apressado, quer
dizer, de coração agitado por causa da pressa.
5, 6. Figurativamente, descreve a alegria experimentada pela
libertação do domínio da Assíria e Babilônia; e literalmente, é aplicável
aos tempos do Messias e seus milagres (vejam nas passagens paralelas
na margem da Versão Inglesa)
6. saltarão — Completo literalmente (At_3:8; At_14:10).
cantará — alegres ações de graças.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 219
água … no deserto — (Is_41:18).
7. A areia esbraseada — melhor, “a miragem (heb., sharab, o
calor do sol) se converterá num (verdadeiro) lago”. Os raios do sol
refratados na ardente areia ao meio-dia, têm a aparência de um lago de
água, que frequentemente engana o sedento viajante (cf. Jr_2:13;
Is_41:18).
onde outrora viviam os chacais — os chacais habitarão em meio
de canas e juncos, que só crescem onde há água (Jó_8:11). Onde em
outro tempo não havia água, haverá em abundância.
8. caminho — um meio-fio ou aterro, (de uma raiz hebraica,
levantar) como as que se usavam para a marcha dos exércitos. Os vales
se preenchiam e as colinas e outros obstáculos se eliminavam (Is_62:10;
cf. 40:3, 4).
Caminho de Santidade (NVI) — hebraísmo, por caminho santo.
Horsley traduz: “O caminho do Santo”; mas as palavras que seguem e o
v. 10 demonstram que é o caminho que conduz os redimidos que voltam
tanto para a Jerusalém terrestre como para a celestial (Is_52:1; Jl_3:17;
Ap_21:27); Cristo ainda voltará a ser o Guia do caminho, por cuja razão
se chama “O caminho do Senhor” (Is_40:3; Ml_3:1).
quem quer que por ele caminhe — melhor, “Ele (o Santo)
caminhará com eles por esse caminho” [Horsley].
nem mesmo o louco — melhor, nem mesmo os insensatos, ou
simples, se extraviarão, porque “Ele irá com eles” (Mt_11:25; 1Co_1:26-
28).
9. Ali não haverá leão — pois se temia encontrar-se com um ao
retornar à Judeia, pelo caminho do deserto infestado de feras. O povo
que voltar será protegido de todo perigo (Is_11:6-9; Ez_34:25; Os_2:18).
Cf. espiritualmente, Pv_3:17.
10. Linguagem literalmente aplicada à volta de Babilônia;
figurativamente e de maneira mais plena, à completa redenção do Israel
literal e espiritual.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 220
alegria ... sobre a sua cabeça (RC) — (Sl_126:2). Essa alegria se
refletirá em seus semblantes. Alguns supõem que é uma alusão ao
costume de verter azeite “sobre a cabeça”, ou a de usar grinaldas por
ocasião de certas festividades públicas (Ec_9:8).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 221
Isaías 36

Vv. 1-22. Invasão de Senaqueribe; Blasfemas Incitações de


Rabsaqué; Ezequias se Informa delas.
Este capítulo e Isaías 37, 38 e 39, formam o apêndice histórico que
fecha a primeira divisão das profecias de Isaías, acrescentados para que
as partes delas que se referem a Assíria resultem mais inteligíveis. O
mesmo ocorre em Jeremias 52; cf. 2 Reis 25. Esta seção ocorre quase
palavra por palavra em 2Rs_18:13, 2Rs_18:17-20, 2Rs_18:37.
Entretanto, 2Rs_18:14-16, é material adicional. O “escrito” de Ezequias
também se acha em Isaías, não em Reis (Is_38:9-20). Sabemos por
2Cr_32:32, que Isaías escreveu os atos de Ezequias. É, pois, provável
que sua crônica consignada aqui (Is_36-39), fosse incluída no livro dos
Reis por seu compilador. Senaqueribe segundo as inscrições assírias,
viveu mais de vinte anos depois de sua invasão; mas como Isaías
sobreviveu a Ezequias (2Cr_32:32), quem viveu acima de quinze anos
depois da invasão (Is_38:5), a crônica da morte de Senaqueribe
(Is_37:38) não é objeção a que esta seção provenha de Isaías; 2 Crônicas
32, é provável que seja um resumo tirado do relato de Isaías, como o
mesmo cronista o deixa entrever (v. 32).
Pul foi provavelmente o último monarca da antiga dinastia, e
Sargão, um poderoso sátrapa, usou de astúcia para se apoderar do poder
supremo e fundar uma nova dinastia (veja-se nota, Is_20:1). Judá,
durante seu vigoroso reinado, não fez nada para sacudir o jugo assírio. O
advento ao trono de seu filho Senaqueribe foi considerado por Ezequias
como o momento propício para se negar a lhe seguir pagando o tributo.
Egito e Etiópia, para obter um aliado contra Assíria na fronteira oriental
destes, prometeram (a Ezequias) ajudá-lo. Isaías, embora se opusesse a
se submeter à Assíria, aconselhou que confiassem em Jeová, e não no
Egito; mas o seu conselho foi desprezado, e assim Senaqueribe invadiu a
Judeia em 712 a.C. Ele foi quem construiu o maior dos palácios
escavados, o de Coyunjik. Hincks decifrou seu nome nas inscrições.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 222
Estas dizem que no terceiro ano de seu reinado invadiu a Síria, tomou a
Sidom e a outras cidades fenícias. Logo avançou para o sudoeste da
Palestina, onde derrotou os egípcios e etíopes (cf. 2Rs_18:21; 2Rs_19:9).
Sua posterior retirada, a raiz da destruição de seu exército por Deus, foi,
é óbvio, omitida nas inscrições. Mas outros detalhes que figuram nas
mesmas concordam de maneira surpreendente com a Bíblia, tais como: a
tomada das cidades “fortes de Judá”, a devastação do país e a deportação
de seus habitantes; o acrescido tributo que impôs a Ezequias — trinta
talentos de ouro — esta cifra exata está consignada na Bíblia e nas
inscrições. A prata, segundo as inscrições, sobe a 800 talentos, e,
segundo a Bíblia, a 300. Pode ser que esta última cifra tenha sido a
verdadeira soma que foi levada, e a primeira pode ser que inclui a prata
do templo, os pilares, etc. (2Rs_18:16).
1. décimo quarto — o terceiro do reinado de Senaqueribe. Seu
último objetivo foi o Egito, aliado de Ezequias. Daí que com o grande
corpo de seu exército (2Cr_32:9) avançasse rumo à fronteira egípcia, ao
sudoeste da Palestina, e não se aproximasse de Jerusalém.
2. Rabsaqué — Em 2Rs_18:17, Tartã e Rabe-Saris se reúnem com
ele. Rabsaqué era provavelmente o chefe; Rab é o título de autoridade,
“chefe dos copeiros”.
Laquis — cidade fronteiriça, a sudoeste de Jerusalém, situada em
território de Judá; a representa nos baixos-relevos do Koyunjik
(atualmente no Museu Britânico), como uma grande cidade fortificada,
em território montanhoso e fértil. Seu nome também se acha numa laje
sobre uma figura de Senaqueribe sentado em seu trono.
açude superior — o lado para o qual se dirigiam os assírios ao se
aproximar de Jerusalém, vindo do sudoeste (Nota, Is_7:3).
3. Eliaquim — sucessor de Sebna, quem tinha estado “sobre a
casa”, isto é, primeiro-ministro do rei. Em Is_22:15-20, foi predito isto
mesmo.
escrivão — secretário, cronista; literalmente, alguém que lembra,
um recordador para manter o rei informado dos acontecimentos
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 223
importantes e desempenhar o cargo como historiógrafo. Em 2Rs_18:18,
consigna-se o fato adicional de que os enviados assírios “chamaram o
rei”; em consequência, Eliaquim, etc., “saiu a recebê-los”.
4. o grande rei (RC) — era o título comum dos reis da Pérsia e da
Assíria, devido ao fato de que tinham muitos príncipes ou reis vassalos
sobre as províncias (Is_10:8).
5. conselho — o Egito era famoso por sua sabedoria.
6. Existia uma aliança semelhante com Sô (isto é, Sabaca, ou
Seveco), o rei etíope do Egito, que tinha provocado o assírio a invadir e
destruir a Israel, o reino do Norte, durante o reinado de Oseias.
7. As reformas religiosas de Ezequias, por causa das quais eliminou
os lugares altos (2Rs_18:4), foram interpretadas equivocadamente pelos
assírios, como feitas contra Jeová. Alguns dos lugares altos podem ter
sido dedicados a Jeová; mas adorado sob a forma de uma imagem, em
violação do segundo mandamento. Ezequias também destruiu a
“serpente de bronze”, chamando-a Neustã; “um pedaço de metal”,
porquanto era adorada por Israel. Esta tinha sido levantada a princípio
por ordem divina. Daí que o dito pelos assírios pode qualificar-se como
um argumento enganoso; vocês não podem esperar ajuda de Jeová,
porque seu rei eliminou os Seus altares.
a Jerusalém — (Dt_12:5, Dt_12:11; Jo_4:20).
8. se ... achares cavaleiros — um insultante desafio. Me deem tão
somente uma garantia de que podem proporcionar dois mil cavaleiros e
eu lhes proporcionarei dois mil cavalos. Mas já que nem sequer têm esse
escasso número (Nota, Is_2:7), como poderão resistir aos esquadrões da
cavalaria assíria? Os judeus procuraram suprir sua fraqueza apoiando-se
no Egito (Is_31:1).
9. capitão — um governador subordinado a um sátrapa; até ele
comandava um corpo de cavalaria maior que este.
10. É esta uma jactanciosa inferência dos passados acontecimentos
assírios, cujo fim era influir sobre os judeus para que se rendessem; pois
os princípios destes os obrigavam a submeter-se à vontade de Jeová.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 224
Pode ser que Rabsaqué soubesse, por conduto de seus partidários dentro
de Judá, o que Isaías havia predito (Is_10:5, 6).
11. aramaico — a língua falada no norte e no leste da Palestina, e
entendida pelos assírios, por pertencer à mesma família linguística que a
sua, a qual era quase similar à hebraica, embora ininteligível para a
multidão (cf. 2Rs_5:5-7). Arã significa terra alta, a qual compreende
partes da Assíria como também da Síria.
em judaico — Os habitantes de Judá, da separação de Israel,
pretendiam que o hebraico era sua língua própria e peculiar, como se
eles fossem agora os únicos verdadeiros representantes de todas as tribos
de Israel.
aos ouvidos do povo ... sobre os muros — O parlamento se
realizou a uma distância tal que da cidade podia se ouvir. A multidão
estava sobre a muralha, ávida de saber o que diziam os assírios. Os
governantes judeus temem que o dito por Rabsaqué aterrasse o povo, e
por isso mesmo lhe pedem que fale em aramaico.
12. Fui eu enviado a seu senhor e a ti? Não, e sim aos homens que
estão sobre o muro, para lhes fazer saber (pois muito longe está de mim
o calar, para que não ouçam o que os espera, que é o que você gostaria),
ou seja, que a menos que se rendam, serão reduzidos aos mais horrendos
extremos da fome durante o cerco. Em 2Cr_32:11, explica-se a palavra
que figura aqui, ou seja, comer seus próprios excrementos; ou
conectando “para que comam”, etc., com os “assentados sobre o muro”,
os quais enquanto se mantêm sobre ele, expõem-se por vontade própria
aos mais horríveis extremos [Maurer]. Isaías, como fiel historiador,
assinala a suja e blasfema linguagem dos assírias, para caracterizar com
exatidão a verdadeira natureza do ataque a Jerusalém.
13. Rabsaqué fala mais alto e mais claramente que antes aos que
estão sobre o muro.
15. Os inimigos do povo escolhido não podem ter êxito contra ele,
salvo que este deixe de confiar em Deus (cf. v. 10).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 225
16. Fazei as pazes comigo — literalmente, bênção, chamada assim
por causa das congratulações que mutuamente se prodigalizam na
ratificação da paz. Assim Chaldee. Ou: “me rendam homenagem”
[Horsley].
vinde para mim — Rendam-se a mim; depois poderão permanecer
em tranquila possessão de suas terras até minha volta do Egito, quando
os levarei a uma terra frutífera como a sua. Rabsaqué trata de suavizar,
aos ouvidos dos judeus, a bem conhecida política dos assírios, de
debilitar os povos vencidos, deportando-os a outras terras (Gn_47:21;
2Rs_17:6).
19. Hamate … Arpade — (Nota, 2Rs_10:9)
Sefarvaim — lit., os dois escribas; agora se chama Sifara, a leste
do Eufrates, mais acima de Babilônia. Isto foi uma justa retribuição
(Pv_1:31; Jr_2:19). Israel adorou aos deuses de Sefarvaim, e assim os
colonos deste lugar foram estabelecidos na terra de Israel (chamada
desde então Samaria), pelo conquistador assírio (2Rs_17:24, cf.
2Rs_18:34).
Samaria — Salmaneser iniciou o sítio contra Oseias, por causa de
sua conspiração com Sô do Egito (2Rs_17:4), mas foi terminado por
Sargão. Em seu palácio de Korsabad consignou o número de Israelitas
levados cativos: 27. 280 [V. G. Smith].
20. (cf. Is_10:11; 2Cr_32:19) Aqui contradiz sua própria asserção
(v. 10) “de que tinha vindo contra o país com o Senhor”. Os embusteiros
precisam ter boa memória. Este iguala a Jeová com os ídolos de outras
terras; mais ainda o crê inferior a eles em proporção à extensão de Judá,
que estava sob sua tutela, a qual era menor que os países que estavam
sob a tutela dos ídolos.
21. palavra — a fim de não entrar numa contenda de palavras com
o blasfemo (Êx_14:14; Jd_1:9).
22. rasgaram suas vestes — possessos de tristeza e horror por suas
blasfêmias (Mt_26:65).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 226
Isaías 37

Vv. 1-38. Continuação da Narração de Isaías 36.


1. pano de saco — (Nota, Is_20:2).
Casa do SENHOR — Ponto de reunião do povo de Deus em
tempo de angústia (Sl_73:16-17; Sl_77:13).
2. ao profeta Isaías — o que indica a importância da posição do
profeta nesse tempo; os enviados eram funcionários principais da corte
(cf. 2Rs_22:12-14).
3. castigo — isto é, a repreensão de Jeová pelos pecados de Seu
povo (Sl_149:7; Os_5:9).
blasfêmias (RC) — o blasfemo escárnio de Rabsaqué.
filhos, etc. — expressão proverbial, por: Encontramo-nos no maior
dos perigos e carecemos de meios para conjurá-lo (cf. Os_13:13).
4. terá ouvido — Tomará conhecimento (2Sm_16:12).
e repreenderá — e o castigará pelas palavras, etc., (Sl_50:21).
pelo resto que ficou (RC) — as duas tribos do reino de Judá, pois
Israel já tinha sido deportado. Isaías é convidado a agir como intercessor
perante Deus.
6. os servos — lit. jovens, meros rapazes, o que indica menosprezo,
não uma embaixada de anciãos veneráveis. A voz hebraica é diferente da
de “servos” do v. 5.
blasfemaram — (Is_36:20).
7. um espírito — (Is_28:6; 1Rs_22:23), que exercerá tal influência
em seu juízo que quando ouvir o relatório (v. 9 a respeito de Tiraca)
retornará [Gesênius]; o relatório da destruição do exército em Jerusalém,
que chegou a conhecimento de Senaqueribe quando estava no sudoeste
da Palestina, na fronteira do Egito, induziu-o a retirar-se.
à espada — (v. 38).
8. Voltou — para acampamento de seu amo.
Libna — que significa brancura, a Blanche-garde dos cruzados
[Stanley]. Eusébio e Jerônimo a situam mais ao sul, no distrito de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 227
Eleuterópolis, dezoito quilômetros a noroeste de Laquis, que
Senaqueribe tinha capturado (Nota, Is_36:2). Libna ficava na Judeia, a
qual tinha sido dada aos sacerdotes (1Cr_6:54, 1Cr_6:57).
9. Tiraca — (Vejam-se Notas, Is_17:12; 18:6). Egito foi governado
em parte por três sucessivos monarcas etíopes, durante quarenta ou
cinquenta anos: Sabaca, Seveco e Tiraca. Seveco se retirou do Baixo
Egito, devido à resistência dos sacerdotes, com o qual Sebes, sumo
sacerdote, obteve o poder supremo, tendo como capital Tanis (na
Escritura “Zoã”) ou Mênfis. Os etíopes se mantiveram no Alto Egito, às
ordens de Tiraca, tendo como capital a Tebas. A fama de Tiraca, como
conquistador, rivalizou com a de Sesóstris; ele e um pelo menos dos
Faraós do Baixo Egito, foram aliados de Ezequias contra Assíria. A
notícia de sua aproximação fez com que Senaqueribe se mostrasse mais
ansioso de empossar-se de Jerusalém antes que seu rival.
enviou — 2Rs_19:9 expressa mais amplamente a avidez de
Senaqueribe, ao acrescentar “tornou a enviar”.
10. Ele procura influir a Ezequias, do mesmo modo que o fez
Rabsaqué com o povo, dirigindo-se a ele.
Não te engane o teu Deus — (cf. Nm_23:19).
11. a todas as terras — (Is_14:17). Menos ao Egito, que não se
atreve a pô-lo na lista.
12. Gozã — na Mesopotâmia, sobre Habor (2Rs_17:6; 2Rs_18:11).
Gozã é o nome do distrito, Habor, do rio.
Harã — mais a oeste. Abraão se trasladou a ela ao sair de Ur
(Gn_11:31); é a “Carroe” dos Romanos.
Rezefe — mais a oeste, na Síria.
Éden — Há uma antiga aldeia, Adna, a norte de Bagdá. Alguns
creem que Éden é o nome de uma região (de Mesopotâmia ou sua
vizinhança) na qual esteve o Paraíso. O Paraíso não era o Éden em si
(Gn_2:8). “Um jardim ... no Éden”.
Telassar — Agora chama-se Telafer, a oeste do Mosul [Layard].
Tel significa colina, em árabe e assírio.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 228
13. Hena … Iva — em Babilônia. Os colonos de Ava foram
levados a Samaria (2Rs_17:24).
14. estendeu-a — desembrulhou o rolo do escrito. Deus “conhece
nossas necessidades antes que lhe peçamos”; mas Ele se deleita em que
as declaremos diante dEle com filial confiança (2Cr_20:3, 2Cr_20:11-
13).
16. habitas (RC) — a Shekinah, ígneo símbolo da presença de
Deus, que habita no templo com Seu povo, procede do Shachan, habitar
(Êx_25:22; Sl_80:1; Sl_99:1).
querubins — voz derivada, por transposição, quer seja da raiz
hebraica “Rachab”, cavalgar; ou melhor de “Baraque,” abençoar.
Estavam formados de ouro puro, assim como o propiciatório (Êx_25:19,
margem da Versão Inglesa). A frase “habita entre os querubins” surgiu
da posição que cada um deles ocupava em um dos extremos do
propiciatório, enquanto que a Shekiná e o sacrossanto nome de Jeová,
gravado em letras, estavam no espaço intermediário. Tão
inseparavelmente associados estavam os querubins à manifestação da
glória de Deus, que quer seja que o Senhor estivesse em quietude ou em
atividade, sempre são mencionados com Ele (Nm_7:89; Sl_18:10). (1)
São mencionados pela primeira vez (Gn_3:24) “no extremo” (que é
como poderia traduzir a frase “ao oriente” do Éden; a voz hebraica para
“colocar” significa propriamente “colocar no tabernáculo”, o que dá a
entender que este era um tabernáculo local, em que os símbolos da
presença de Deus estavam adequadamente expostos, de acordo com as
alteradas circunstâncias em que o homem, depois de sua queda, estava
acostumado a apresentar-se perante Deus. Foi aqui onde Caim e Abel e
os patriarcas, até o dilúvio, apresentaram suas ofertas. Por isto é
chamado “a presença do Senhor” (Gn_4:16). A fins da dispensação
patriarcal, quando se suprimiram esses símbolos, fizeram-se pequenos
modelos dos mesmos para uso doméstico, chamados em caldeu Serafins
ou Terafins. (2) Os querubins do tabernáculo mosaico e do templo de
Salomão eram, quanto à forma, como os das cercanias do Éden: figuras
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 229
compostas, em que se combinavam as propriedades que distinguiam as
diversas criaturas: o boi, como o primeiro entre os animais mansos e
úteis; o leão, entre as feras; a águia, entre as aves; o homem, a cabeça de
todos (o senhorio original que tinha sobre o reino animal, que está para
ser restaurado na pessoa de Jesus Cristo, Sl_8:4-8, também está inferido
nesta combinação). Estes são, através da Escritura, representados como
distintos de Deus; nem poderiam ser semelhantes a Ele, visto que Ele
tinha proibido absolutamente fazer imagens. (3) Foram introduzidos na
terceira dispensação, ou seja a evangélica (Ap_4:6), como seres viventes;
estes não são anjos, mas sim seres estreitamente vinculados com a
redimida Igreja. Assim ocorre também em Ezequiel 1 e 10. É assim
como através das três dispensações, parecem ser símbolos daqueles que
em todas as idades estudariam e proclamariam oficialmente a multiforme
sabedoria de Deus.
tu somente — lit. “Tu só és o Deus de todos os reinos”; enquanto
Senaqueribe tinha classificado a Jeová entre os deuses pagãos, Ezequias
afirma o nada destes e o exclusivo senhorio daquele.
17. o teu ouvido … os teus olhos (TB) — singular, plural. Quando
queremos ouvir uma coisa aproximamos um ouvido; quando queremos
ver algo abrimos ambos os olhos.
18. assolaram — com o que admite a verdade do alegado pelo
assírio (Is_36:18-20), mas acrescenta a razão: “Porque eles não eram
deuses”.
19. lançaram no fogo os deuses deles — A política dos assírios
para alienar os povos conquistados de seu próprio país era levá-los a
outras partes e destruir os ídolos tutelares de sua nação, por ser o laço
mais forte que os ligava a seu país natal. A política dos romanos era
precisamente o contrário.
20. O argumento mais forte que se pode usar ao fazer uma súplica a
Deus, é o de Sua honra (Êx_32:12-14; Sl_83:18; Dn_9:18-19).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 230
21. Visto que me pediste — isto é, porquanto não tens confiado em
tuas próprias forças, mas em Mim (cf. 2Rs_19:20). “O que me rogaste
contra Senaqueribe, etc., Eu te ouvi” (Sl_65:2).
22. Uma transição poética no paralelismo.
A virgem, filha — Termos honrosos. “Virgem” dá a entender que a
cidade é ainda incorrupta. “Filha” é uma personificação coletiva
feminina abstrata da população, que denota os filhos do lugar (Nota,
Is_23:10; 1:8). Sião e seus habitantes.
meneia a cabeça — em sinal de escárnio (Sl_22:7; Sl_109:25;
Mt_27:39). Entre nós, mover a cabeça é sinal de negativa ou de
desagrado; mas os gestos têm diferentes significados em cada país
(Is_58:9; Ez_25:6; Sf_2:15).
23. A quem afrontaste …? — Não a um ídolo.
24. disseste — virtualmente: Tens dito dentro de ti mesmo?
ao cimo dos montes — Figura tirada da demolição de árvores no
Líbano (Is_14:8; 33:9); sentido figurado, por “Eu conduzi meu vitorioso
exército através das regiões mais inacessíveis, às terras remotas”.
ao mais interior — melhor, depressões [V. G. Smith].
ciprestes escolhidos — não ciprestes, como alguns traduziram;
ainda há pinheiros e cedros no noroeste do Líbano [Stanley].
ao seu mais alto cimo — Em 2Rs_19:23, “os alojamentos de seus
limites”. Na ascensão da cimo, possivelmente havia algum lugar de
descanso, ou o limite até onde chegavam os que frequentemente queriam
subir ao topo [Barnes]. Aqui se fala simplesmente do alto de seu limite”.
bosque de seu Carmelo (AV) — antes, “seu denso bosque”.
Carmelo expressa sua grande exuberância (Nota, Is_10:18; 29:17).
25. Cavei e bebi as águas — Em 2Rs_19:24, diz “águas alheias”.
Penetrei em terras estrangeiras onde tive que abrir poços para abastecer
de água a meus exércitos; mas a carência natural de água não me
impediu de avançar.
os rios do Egito — antes, as correntes (canais do Nilo) do Egito.
“Com a planta de meus pés”, expressa que assim que seus exércitos
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 231
penetravam numa região, as correntes ficavam esgotadas por eles; ou
melhor, que os rios não eram obstáculo para o avanço de seus exércitos.
Assim Is_19:4-6, que se refere ao Egito, “o rio canais de defesa, se
secarão”. Horsley traduz o hebraico “os lugares sitiados”, as rochas.
26. Resposta de Deus a Senaqueribe.
já há muito — Você se gaba de que tudo se deve-se ao seu
conselho e poder; mas sou Eu quem há muito tempo, o ordenei assim
(Is_22:11); você foi só o instrumento em Minhas mãos (Is_10:5, 15). Tal
foi a razão pela qual “os habitantes tiveram escassas forças diante de ti”
(v. 27), ou seja, que Eu o havia assim disposto. Entretanto, você está em
Minhas mãos e conheço os seus caminhos (v. 28), e por isso Eu
reprimirei você (v. 29). Conecte-se também: Eu o tenho disposto desde
tempos antigos (ou “formado”). A versão Almeida está respaldada por
Is_33:13; 45:6, 21; 48:5.
27. Por isso, os seus moradores, debilitados — não por causa de
seu poder, mas sim porque Eu os fiz incapazes de resistir.
erva — que facilmente murcha (Is_40:6; Sl_37:2).
o capim dos telhados — o qual, por ter pouca terra para nutrir-se,
seca-se rapidamente (Sl_129:6-8).
antes de amadurecer — “O campo de trigo (frágil e tenro) antes
que o grão amadureça” [Smith].
28. o teu assentar — (Sl_139:2). Estas expressões descrevem todo
o curso da vida de um homem (Dt_6:7; Dt_28:6; 1Rs_3:7; Sl_121:8).
Aqui há também uma alusão especial ao primeiro estado de Senaqueribe
em seu país, logo a sua saída contra Judá e Egito, assim como a seu furor
contra Jeová (v. 4).
29. a tua arrogância — insolência.
anzol no teu nariz — como a uma fera conduzida com argola no
nariz, o obrigará a retornar a seu país (cf. Jó_41:1-2; Ez_19:4; Ez_29:4;
Ez_38:4). Num baixo-relevo de Korsabad, os cativos são conduzidos
perante o rei sujeitos por uma corda atada a um gancho ou argola
pendente do lábio inferior ou superior, e do nariz.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 232
30. Estas palavras estão dirigidas a Ezequias.
sinal — o qual, uma vez cumprido, confirmaria a verdade de toda a
profecia referente à derrota do inimigo. Os dois anos durante os quais
seriam alimentados com o que a terra produzisse espontaneamente se
referem ao tempo em que Judeia foi arrasada por Senaqueribe
(Is_32:10). Traduza-se: “Vocês comeram (no primeiro ano) o que cresce
dela e no segundo ano o que cresce dela, mas neste terceiro ano vocês
semearão”, etc., porque neste ano a terra será libertada de seu inimigo. O
fato de Senaqueribe levantar imediatamente depois seu acampamento e ir
embora, demonstra que os dois primeiros anos se referem ao passado,
não ao futuro [Rosenmuller]. Outros que remetem os primeiros dois anos
ao futuro, saem da dificuldade com relação à urgente saída de
Senaqueribe ao supor que esse ano era sabático; o segundo, o jubileu;
mas o contexto não contém nenhuma indicação a respeito.
31. O resto que escapar (TB) — Judá permaneceu depois que as
dez tribos foram levadas em cativeiro; também se alude aos que
sobreviveriam à invasão de Senaqueribe.
33. com escudo — aproximou-se dela, mas na realidade, não foi
permitido sitiá-la.
tranqueiras — uma defesa para os agressores ao atacar os muros.
34. (Veja-se v. 29, 37; Is_29:5-8.)
35. eu defenderei — Não obstante as medidas de defesa tomadas
por Ezequias (2Cr_32:3-5), Jeová foi seu verdadeiro defensor.
por amor de mim — porquanto o Nome de Jeová foi blasfemado
por Senaqueribe (v. 23).
e por amor do meu servo Davi — por causa da promessa que fez a
Davi (Sl_132:17-18), e ao Messias, o herdeiro do trono de Davi (Is_9:7;
11:1).
36. Alguns creem que a destruição foi motivada pela pestilência
(Nota, Is_33:24), a qual pôde ter causado a doença de Ezequias, narrada
a seguir; mas Is_33:1, 4, prova que os judeus despojaram os cadáveres,
coisa que não se teriam atrevido a fazer se tivesse havido neles alguma
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 233
infecção pestilenta. O segundo agente, segundo Is_29:6; 30:30, foi uma
tormenta de saraiva, de trovões e relâmpagos (cf. Êx_9:22-25). O simum
pertence, antes, à África e à Arábia que à Palestina, além do que
comumente não produz esses destrutivos efeitos. Alguns elementos do
exército, segundo 2Cr_32:21, parece que sobreviveram à catástrofe e
acompanharam a Senaqueribe até sua terra.
Heródoto (2:141) transmitiu-nos um relato que confirma a Escritura
referente ao repentino descalabro do exército assírio. Acrescenta que os
sacerdotes egípcios lhe disseram que Senaqueribe se viu forçado a
retirar-se do Pelúsio devido a uma praga de ratos de campo, enviados por
um de seus deuses, os quais roeram as cordas dos arcos e as correias
dos escudos dos assírios. Cf. a linguagem do v. 33: “Nem lançará nela
flecha alguma, não virá perante ela com escudo”, que os egípcios
corromperam em sua versão do relato. Por esse então Senaqueribe estava
com uma parte de seu exército, não em Jerusalém, mas na fronteira do
Egito, ao sudoeste da Palestina. A repentina destruição de suas forças,
perto de Jerusalém, que formavam uma parte considerável de seu
exército, assim como o avanço do etíope Tiraca, o induziram a se retirar,
evento que os egípcios referiram numa forma que redundava em honra
de seus deuses. O rato era o emblema egípcio da destruição. O Apolo
grego, o deus protetor da agricultura, era chamado Smintheús, de uma
palavra cretense que significa rato, e o representava com um pé sobre
um rato, visto que o rato camponês danificava o grão. As inscrições
assírias suprimem, é óbvio, sua derrota, mas em nenhuma parte se acha
que se gabassem de ter tomado Jerusalém, e a única razão que se pode
dar de que Senaqueribe não tenha retornado a Judeia, em meio de tantas
expedições subsequentes consignadas em seus monumentos, foi a
terrível calamidade que ali tinha sofrido, que o convenceu de que
Ezequias estava sob a proteção divina.
Rawlinson diz: “No relato que Senaqueribe faz de suas guerras com
Ezequias, escrito em caracteres cuneiformes na sala do palácio de
Koyunjik, construído por ele (de 42 metros de comprimento por 33 de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 234
largura) em que até estão retratadas as fisionomias dos cativos judeus,
aparece uma notável passagem: depois de referir a captura de duzentos
mil prisioneiros judeus, acrescenta: “Logo orei a Deus”; único exemplo
de uma inscrição em que aparece o nome de Deus sem nenhum
aditamento pagão. É provável que o Salmo 46 comemore a libertação de
Judá. Esta ocorreu durante uma “noite”, segundo 2Rs_19:35, com cuja
passagem coincidem involuntariamente as palavras de Isaías: “quando se
levantaram pela manhã, etc.”.
e, quando se levantaram — os judeus.
cadáveres — assírios.
37. habitou em Nínive (TB) — uns vinte anos depois do desastre,
segundo as inscrições. A palavra “habitou” é compatível com qualquer
extensão indefinida de tempo. Nínive, chamada assim, provém de Ninus,
isto é, de Ninrode, seu fundador. Seu nome significa ímpio extremamente
rebelde; pois subverteu a existente ordem patriarcal da sociedade,
introduzindo o caciquismo, fundado na conquista; a caça foi sua escola
preparatória para a guerra. Era da raça de Cão; transpassou os limites
assinalados por Deus (Gn_10:8-11, Gn_10:25); transpassou deste modo
os limites da possessão de Sem; abandonou a Babel por um tempo,
depois da milagrosa confusão de línguas, e fundou Nínive. Depois de sua
morte, foi adorado como Órion, a constelação desse nome (Nota, Jó_9:9;
Jó_38:31).
38. Nisroque — Nisr, em língua semítica, significa águia; a
terminação oque significa grande. A águia com cabeça humana nas
esculturas assírias é sem dúvida Nisroque, ou seja, o próprio Assur, o
principal deus assírio. A deusa que correspondia a este era Asera ou
Astarte. Este nome significa “bosque” ou árvore sagrada, achado
frequentemente como o símbolo dos exércitos celestes (Seba) nas
esculturas; assim como Assur o epônimo herói da Assíria (Gn_10:11)
correspondia ao sol ou Baal, Belo; que descreve seu ofício de Senhor.
Isto explica o termo “imagem de escultura do poste-ídolo” (2Rs_21:7). A
águia era adorada pelos persas e os árabes da antiguidade.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 235
Esar-Hadom — Em Ed_4:2, acha-se mencionado por ter levado
colonos a Samaria. Também se crê que foi este o rei que levou a
Manassés cativo para Babilônia (2Cr_33:11). Este mesmo rei construiu o
palácio levantado no montículo do Nebiyunus, e o chamou palácio do
Sudoeste de Nimroud, o qual foi destruído pelo fogo, mas seu nome e as
guerras que fez estão consignadas nos decretos encontrados nesse
edifício. Os materiais de construção foram tirados dos palácios do
noroeste, pertencentes à antiga dinastia, a qual se extinguiu com Pul.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 236
Isaías 38

Vv. 1-22. Doença de Ezequias; Relacionada Talvez Com a Praga


ou Vendaval que Destruiu o Exército Assírio.
1. Põe em ordem a tua casa — Faça acertos referente à sucessão
no trono, pois por esse então Ezequias não tinha nenhum filho; e a
respeito de seus outros assuntos.
porque morrerás — fala segundo o curso ordinário da doença. O
fato de terem sido concedidos quinze anos mais de vida, não significa
que Deus mudasse de propósito, mas sim é uma ilustração de como os
procedimentos de Deus estão invariavelmente ordenados de acordo com
o estado do homem em sua relação para com Ele.
2. As camas no Oriente se colocam ao longo das paredes das casas.
Ele virou o seu rosto dos espectadores para ocultar sua emoção e
recolher seus pensamentos para orar.
3. Menciona sua passada sinceridade religiosa, não como jactância
ou como base para justificar-se, mas sim de acordo com a dispensação
do Antigo Testamento, em que as recompensas temporais (como longa
vida, etc., Êx_20:12) eram seguidas pela obediência à lei de Deus, e
assim faz de sua conduta religiosa um argumento para pedir a
prolongação de sua vida.
andei — a vida é uma viagem; o piedoso “anda com Deus”
(Gn_5:24; 1Rs_9:4).
perfeito (RC) — sincero; não absolutamente perfeito, mas sim
tendia a sê-lo (Mt_5:45); isto é, o sincero propósito de andar na presença
de Deus (Gn_17:1). A letra da justiça legal do Antigo Testamento era,
entretanto, um modelo muito inferior ao espírito da lei exposto por
Cristo (Mt_5:20-48; 2Co_3:6, 14, 17).
e chorou — Diz Josefo: A razão pela qual chorou Ezequias com
grande pranto, foi porque, carecendo de filhos, ia deixar o reino sem
sucessor. Com que frequência, quando nossos desejos se veem
cumpridos, viram maldições! Ezequias viveu para ter um filho; esse filho
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 237
foi o idólatra Manassés, a causa principal da ira de Deus contra Judá e do
transtorno do reino (2Rs_23:26-27).
4. Em 2Rs_20:4 a prontidão da resposta dada por Deus à oração é
notável. “Antes que Isaías tivesse saído da parte central da cidade, veio a
ele a palavra do SENHOR”, quer dizer, antes que tivesse deixado a
Ezequias ou pelo menos, quando acabava de deixá-lo, Ezequias ainda se
encontrava em oração, depois de ter ouvido a mensagem de Deus por
conduto de Isaías (cf. Is_65:24; Sl_32:5; Dn_9:21).
5. o SENHOR, o Deus de Davi — Deus lembra aos filhos a aliança
celebrada com seu pai (Êx_20:5; Sl_89:28-29).
tuas lágrimas — (Sl_56:8).
aos teus dias quinze anos — Os anos do homem, por muitos que
sejam, não são senão como outros tantos dias (Gn_5:27).
6. Em 2Rs_20:8, depois deste versículo, acha-se a declaração que
figura no fim, para não interromper a mensagem de Deus (v. 21, 22)
transmitido por Isaías (v. 5-8).
Livrar-te-ei — a cidade já estava livrada; aqui só se dão
seguranças a Ezequias de que já não terá motivos para temer aos assírios.
7. sinal — um objeto de que Deus cumpriria sua promessa: de que
Ezequias “ao terceiro dia” subiria “à casa do Senhor” (2Rs_20:5,
2Rs_20:8); as palavras em itálico não estão em Isaías.
8. farei retroceder — faço com que retorne (Js_10:12-14). Em
2Rs_20:9, 2Rs_20:11, afirma-se que foi dado a Ezequias escolher, se
queria que a sombra avançasse ou retrocedesse dez graus. Ao que
respondeu: “É coisa leve (um milagre menos decisivo) que a sombra
desça (seguindo seu curso habitual) dez graus, sim; mas que retroceda
dez graus …” Por conseguinte, Isaías clamou a Jeová para que assim se
fizesse. E assim se fez (cf. Js_10:12, Js_10:14).
no relógio de Acaz — Heródoto (2:109) afirma que o relógio solar
e a divisão do dia em doze horas, foram inventados pelos babilônios;
Acaz se apropriou do seu invento. É provável que dada sua relação com
Tiglate-Pileser, tenha feito isso (2Rs_16:7, 2Rs_16:10). “A sombra dos
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 238
graus” significa a sombra projetada sobre os graus. Josefo crê que estes
graus eram degraus ascendentes ao palácio de Acaz; o tempo diurno
estava indicado pelo número de degraus alcançados pela sombra. Mas é
provável que se aluda, a um relógio de sol, estritamente assim chamado;
e era de tal tamanho e estava de tal maneira colocado, que Ezequias,
durante sua convalescença, pôde ver o milagre desde sua câmara. Cf. os
vv. 21, 22 com 2Rs_20:9, onde se traduz: “avançará a sombra, etc.” O
quadrante estava sem dúvida à vista, provavelmente “no meio do pátio”
(2Rs_20:4), o lugar de onde se voltou Isaías para lhe anunciar a Ezequias
a misericordiosa resposta de Jeová. O retrocesso da sombra pode ser que
se efetuou por refração; uma nuvem mais densa que o ar, interpondo-se
entre o gnômon e o quadrante causaria o fenômeno; o qual não o despoja
de seu caráter milagroso, pois Deus lhe permitiu escolher se a sombra
avançaria ou retrocederia, e até assinalou o tempo e o lugar.
Bosanquet faz com que o ano 14 de Ezequias seja o 689 a.C.,
célebre por um eclipse solar, ao qual atribui a retrogradação da sombra.
O que quer que seja, não há necessidade de supor nenhuma alteração de
posições no Sol com relação à Terra, mas sim um mero efeito produzido
na sombra (2Rs_20:9-11); esse efeito foi unicamente local, destinado a
satisfazer a Ezequias, pois os astrônomos e o rei de Babilônia enviaram
embaixadores para inquirir o portento que se tinha produzido no país
(2Cr_32:31), o que dá a entender que não se tinha estendido a sua terra.
Antes do ano de 700 a.C., nenhuma menção ocorre de algum
instrumento para medir o tempo que seja anterior a este relógio de Acaz.
A primeira menção da “hora” faz-se por Daniel em Babilônia (Dn_3:6).
9-20. A oração e o cântico de ação de graças de Ezequias se
consignam unicamente nesta passagem, não nas passagens paralelas de 2
Reis e de 2 de Crônicas; o versículo 9 é o cabeçalho ou inscrição.
10. hei de entrar — melhor, “irei”, como em Is_46:2. [Maurer].
roubado estou — Rosenmuller traduz: “no meridiano”; quando o
sol encontra-se no zênite; daí a expressão “o dia é perfeito” (Pv_4:18).
Antes, “na tranquilidade de meus dias”, quer dizer, naquele período da
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 239
vida em que poderia esperar um tranquilo reinado [Maurer]. Assim está
traduzido o hebraico por alguns em Is_62:6, 7.
do resto dos meus anos — aqueles que eu tinha calculado. Deus
envia doenças para ensinar ao homem que não faça projetos para o
manhã, mas sim viva inteiramente para Deus, como se cada dia fosse o
último de sua vida.
11. SENHOR … SENHOR (ACF) — A repetição, como no v. 19,
expressa os agitados pensamentos do monarca. Ver ao Senhor (“Jeová”)
é uma expressão figurada, por desfrutar de seus excelentes dons. Uma
correspondência semelhante existe entre o Sl_27:13: “Eu creio que verei
a bondade do SENHOR na terra dos viventes” e o Sl_34:12: “Quem é o
homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?”
mundo — traduza-se, antes, “entre os habitantes da terra do
silêncio”, isto é, o Hades [Maurer], como antítese paralela à “terra dos
viventes”, da primeira cláusula. A voz hebraica provém de uma raiz que
significa descansar ou cessar (Jó_14:6).
12. A minha habitação — como o demonstra a cláusula que segue,
“como a tenda de pastor”. Assim o árabe.
removida — quebrada ou trasladada, como uma tenda, a outro
lugar. A mesma imagem ocorre em 2Co_5:1; 2Pe_1:12-13. Ele espera
evidentemente seguir vivendo, não cessando de existir em outro estado,
como ocorre com o pastor, que segue vivendo depois de ter levantado a
tenda e a tenha trasladado a outro lugar.
me cortarás a vida — Ele se atribui o que é a vontade de Deus
referente a ele, pois ele expressa essa vontade, à semelhança de Jeremias,
do qual se diz que foi posto “para arrancar” reinos, porque ele declara o
propósito de Deus para fazer isso (Jr_1:10). O tecelão corta o tecido de
seu tear logo que terminou que tecê-lo. Em Jó_7:6, achamos uma
imagem semelhante. Os gregos representavam às Parcas fiando e
cortando os fios da vida dos homens.
do tear me cortará — antes, dos cadilhos, ou fios que sujeitam o
tear à urdidura do tecedor.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 240
do dia para a noite — isto é, no espaço de um só dia, entre a
manhã e a noite (Jó_4:20).
13. Espero com paciência — acalmava (meu cérebro durante a
noite, esperando algum alívio com a chegada da “manhã”, assim Jó_7:4);
pois me quebrantou os ossos como um leão [Vitringa]. (Jó_10:16;
Lm_3:10-11). O hebraico do Sl_131:2 se traduz “calei”. Ou, “Fiz-me
como um leão (rugindo por causa da dor) ao me ter ele quebrantado os
ossos”. Os poetas comparam frequentemente um grande gemido ao
rugido de um leão; daí que no seguinte versículo compare seus gemidos
com os sons de outros animais (Sl_22:1). [Maurer].
14. Antes, “Semelhante a uma andorinha ou a um grou” (de uma
raiz que significa revolver a água, uma ave que a frequenta) [Maurer].
(Jr_8:7).
eu chilreava — Gorjeava, fazendo sons com a voz, expressivos de
dor.
pomba — Chamada pelos árabes filha do luto, por suas lúgubres
notas (Is_59:11).
alçava os olhos ao alto (RC) — a Deus, pedindo alívio.
Fica por meu fiador (RC) — lit., seja minha garantia; me
assegure de que serei restaurado (Sl_119:122).
15-20. A segunda parte do canto passa do rogo à ação de graças por
ter sido ouvida a sua oração.
Que direi? — É a linguagem de alguém a quem lhe faltam as
palavras para expressar o sentimento causado por uma inesperada
libertação.
Como prometeu, assim me fez — (Nm_23:19). Prometeu-o e o
realizou (1Ts_5:24; Hb_10:23). Nenhum outro poderia tê-lo feito
(Sl_98:1).
passarei … amargura da minha alma — antes, “por causa da
amargura”. Me conduzirei humildemente em lembrança de minha
passada tristeza e doença, da qual fui libertado pela misericórdia de Deus
(veja-se 1Rs_21:27, 1Rs_21:29). No Sl_42:4, o mesmo verbo hebraico
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 241
expressa o lento e grave porte de alguém que sobe à casa de Deus; não se
acha em nenhum outro lugar; daí que Rosenmuller o explique assim: “Eu
assistirei reverentemente às sagradas festas do templo”. Mas tal elipse
seria dura; melhor é tomar metaforicamente a palavra pelo calmo, solene
e submisso caminho da vida.
16. nelas — isto é, nos benefícios de Deus, aos quais se alude no
contexto (v. 15). “Ele mesmo me fez isso”. Todos os homens vivem
mediante estes benefícios (Sl_104:27-30), “inteiramente delas depende o
meu espírito”, isto é, “eu também vivo por eles” (Dt_8:3).
e faze-me viver — No hebraico está no modo imperativo, “faze
com que eu viva”. Neste sentido acrescenta uma oração à confiante
esperança baseada em sua relativa convalescença, expressa assim: “Tu
me restabelecerás” [Maurer].
17. grande amargura — lit., amargura para mim, amargura que
expressa intensa emoção.
para minha paz — em lugar da prosperidade que antes tinha;
“amaste a minha alma”, como quando dois se abraçam meigamente.
“amando a minha alma, a livraste da cova da corrupção” (TB); frase
cheia de sentido, equivalente a: Teu amor desceu até a cova para me tirar
dela. A “cova” aqui, no pensamento de Ezequias, é simplesmente a
morte; mas isto se cumpriu de uma maneira plenária unicamente com
referência à redenção da alma do inferno por Jesus Cristo (Is_61:1),
quem desceu à fossa com esse fim (Sl_88:4-6; Zc_9:11-12; Hb_13:20).
O pecado e a doença estão estreitamente relacionados (Sl_103:3; cf.
Is_53:4 com Mt_8:17; Mt_9:5-6); especialmente no que respeita às
sanções temporais vigentes durante a dispensação do Antigo Testamento.
E até agora mesmo, a doença, embora não se deve invariavelmente ao
pecado dos indivíduos, relaciona-se com ele, segundo o conceito moral
da generalidade.
lançaste para trás de ti — lançou no esquecimento o meus
pecados. Esta mesma frase ocorre em 1Rs_14:9; Ne_9:26; Sl_50:17.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 242
Contraste-se com Sl_90:8: “Diante de ti puseste as nossas iniqüidades, à
luz do teu rosto os nossos pecados”.
18. a morte — isto é, os mortos; o Hades e seus habitantes
(Jó_28:22; veja-se nota, v. 11). Evidentemente, Ezequias cria num
mundo de espíritos desencarnados; sua linguagem não dá a entender o
que o cepticismo inferiu dele, antes olhava aos que tinham deixado o
corpo como incapazes de publicar os louvores de Deus na presença dos
homens, porque com relação a este mundo, um invisível lugar de
silêncio; só “os vivos” podem louvar a Deus na terra; e Ezequias se
refere unicamente a isto. Is_57:1, 2, demonstra que por este tempo se
tinha um correto conceito da bem-aventurança dos justos mortos, embora
não com a plena clareza do Evangelho, que “trouxe à luz a vida e a
imortalidade” (2Tm_1:10).
esperam em tua fidelidade — (Sl_104:27). Sua prova chegou ao
fim. Já não precisam exercer nem a fé nem a esperança no que
corresponde à Tua fidelidade a Tuas promessas, que se limitam à vida
presente. Pois a esperança termina (até no caso dos piedosos) quando
começa a ver-se o que se espera (Rm_8:24-25); pelo contrário, o ímpio
“não tem esperança” (1Ts_4:13). A esperança na verdade de Deus é um
dos fundamentos para O louvar (Sl_71:14; Sl_119:49). Outros traduzem:
“Não podem celebrá-Lo”.
19. O que vive, o que vive (TB) — repetição enfática, como no v.
11; tão cheio está seu coração do principal objeto de sua oração, que, por
carência de palavras adequadas, repete a mesma expressão,
o pai … aos filhos — uma geração dos viventes o fará notório a
outra. É provável que também indique seu desejo de viver até ter um
filho que lhe suceda no trono, e ao qual possa instruir na verdade de
Deus, e desta maneira perpetuá-la.
fidelidade — a fidelidade a Suas promessas; em especial a feita a
Ezequias, Sua promessa de que ouviria sua oração.
20. veio salvar-me — Jeová foi por salvação, isto é, salvou-me
(Is_12:2).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 243
nós o louvaremos — eu e meu povo.
na Casa do SENHOR — Este canto estava destinado, como
muitos outros salmos, como uma fórmula, para cantá-lo no culto público
em dias assinalados, possivelmente em cada aniversário de seu
restabelecimento; daqui a expressão: “todos os dias de nossa vida”.
pasta de figos — uma torta de figos prensados até formar uma
massa (1Sm_25:18). Deus opera valendo-se de meios, o mais
insignificante dos quais o torna eficaz.
úlcera — úlcera inflamada, produzida pela praga.
22. Casa do SENHOR — Por isso dá tanta proeminência aos
louvores que se devem cantar-se nela (v. 20; Sl_116:12-14, 17-19).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 244
Isaías 39

Vv. 1-8. Erro de Ezequias em Ostentar Suas riquezas Perante os


Embaixadores de Babilônia.
1. Merodaque-Baladã — Pelo espaço de 150 anos, antes da
destruição de Nínive por Ciáxares, o Medo, uma sucessão de
governantes, em sua maioria vice-reis da Assíria, governou a Babilônia,
da época do Nabonassar, 747 a.C. Essa data chama-se “a eira do
Nabonassar”. Então Pul ou Faluka foi destronado, estabelecendo-se em
Nínive uma nova dinastia, a de Tiglate-Pileser. Semíramis, mulher de
Pul, retirou-se a Babilônia com Nabonassar, seu filho, cuja ascensão ao
trono de Babilônia, depois do destronamento da antiga linha em Nínive,
iniciou uma nova Era. Às vezes os vice-reis de Babilônia se declaravam,
por um tempo, independentes da Assíria; isso mesmo fez Merodaque-
Baladã por esse então, estimulado a isso pela derrota assíria na
campanha da Judeia. Isso já o fez antes, no primeiro ano do reinado de
Senaqueribe, mas foi derrotado, como está consignado em caracteres
cuneiformes no palácio que esse monarca tinha no Koyunjik.
Nabopolassar foi o primeiro em afirmar sua independência com caráter
permanente; seu filho, Nabucodonosor, elevou a Babilônia à altura que
Nínive teve em outro tempo; mas devido à falta de pedra nas imediações
do Baixo Eufrates, os edifícios de Babilônia, feitos de tijolos crus, não
resistiram à deterioração do tempo como os de Nínive.
Merodaque — era um ídolo, o mesmo que Marte, o planeta e deus
da guerra (Jr_50:2). Os reis levavam frequentemente os nomes de seus
deuses, por estar de modo particular baixo sua tutela; por exemplo
Belsazar provém de Bel. Baladã significa Bel é seu senhor.
A crônica de Eusébio contém um fragmento de Berosus, em que diz
se que Acises, um vice-rei assírio, usurpou o comando supremo de
Babilônia. Merodaque (ou Berodaque) Baladã o assassinou, e o sucedeu
no trono. Senaqueribe venceu Merodaque-Baladã, e deixou a Esar-
Hadom, seu filho, como governador de Babilônia. Merodaque-Baladã
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 245
buscaria, como é natural, a aliança de Ezequias, quem como ele, tinha
sacudido o jugo do rei da Assíria; Ezequias também se alegraria de ter
como aliado ao rei de Babilônia contra Assíria; daí a excessiva
deferência com que tratou os embaixadores do usurpador.
doente — Esta é uma razão adicional que se dá (2Cr_32:31). “Os
embaixadores dos príncipes da Babilônia lhe foram enviados para se
informarem do prodígio que se dera naquela terra”, ou seja, a
retrogradação da sombra no relógio solar de Acaz. Para os astrônomos
caldeus, tal evento teria especial interesse por ter sido o relógio solar
inventado em Babilônia.
2. se alegrou (RC) — Não foi o mero ato, mas sim o espírito que o
animou, o que provocou a Deus (2Cr_32:25), “Ezequias não pagou
conforme ao bem que lhe tinha sido feito, antes se enalteceu o seu
coração”. Cf. também o v. 31. Deus “prova” a seu povo em diferentes
ocasiões e de diferentes maneiras, para lhe mostrar “tudo o que há em
seu coração”, a fim de que se persuada de sua multiforme corrupção.
Confira-se com o caso de Davi numa ocasião semelhante (1Cr_21:1-8).
casa do seu tesouro — antes, a casa de suas especiarias
(aromáticas); de uma raiz hebraica que significa fazer pedaços, como se
faz com as especiarias para extrair seus aromas.
a prata, o ouro — tomado em parte dos assírios (Is_33:4); e em
parte proveniente de presentes (2Cr_32:23, 2Cr_32:27-29).
os óleos finos — usados para ungir os reis e sacerdotes.
todo o seu arsenal — ou, copos em geral; mas a passagem paralela
de 2Cr_32:27, “tesouros de escudos”, favorece a versão Almeida
Atualizada. Era o seu arsenal.
3. Que foi que aqueles homens disseram e donde vieram a ti? —
o que quer dizer que, qualquer proposta que viesse dos idólatras inimigos
de Deus, com os quais estava proibido celebrar aliança, devia receber-se
de qualquer maneira menos com alegria. Depositar confiança em
Babilônia em lugar de em Deus, era um pecado semelhante ao da
precedente confiança depositada no Egito (Isaías 30 e 31).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 246
De uma terra longínqua — o que indica que ele não fez nada mais
próprio que mostrar-se atento com os estrangeiros “de um longínquo
país”.
4. tudo — Uma franca e completa confissão de sua falta. O rei
submete sua conduta ao escrutínio de um súdito, porque esse súdito tinha
sido revestido de autoridade por Deus. Contraste-se com Asa (2Cr_16:7-
10).
5. SENHOR dos Exércitos — O qual tem teus bens ao Seu dispor.
6. virão dias — 120 anos mais tarde. É esta a primeira insinuação
de que os judeus seriam levados a Babilônia, e a primeira designação do
lugar de seu castigo. A profecia geral de Moisés (Lv_26:33; Dt_28:64); a
mais particular de Aías, no tempo de Jeroboão (1Rs_14:15), “para além
do rio”; e a de Am_5:27, a respeito do cativeiro “para além de
Damasco”, concentram-se agora nesta profecia específica de “Babilônia”
(Mq_4:10). Foi uma exata retribuição, visto que assim como Babilônia
tinha sido o instrumento para que Ezequias e Judá pecassem, assim
também seria o instrumento de seu castigo.
7. Dos teus próprios filhos, que tu gerares — Os filhos que
Ezequias (conforme nos conta Josefo) queria ter (Nota, Is_28:3, sobre
“chorou com grande choro”), estarão entre os primeiros no sofrimento.
para que sejam eunucos — o que se cumpriu (Dn_1:2-3, Dn_1:7).
8. Haverá paz … em meus dias — o castigo não foi aplicado,
como no caso de Davi, (2Sm_24:13-15), nos tempos de Ezequias. O
verdadeiro arrependimento submete-se a todos os procedimentos de
Deus, e encontra razão para Lhe dar graças quando mitiga um tanto o
castigo.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 247
Isaías 40

Vv. 1-31. Segunda Parte das Profecias de Isaías.


As anteriores eram de caráter local e temporal em seu alcance. Estas
pertencem a um longínquo futuro e são de interesse universal. A
libertação do cativeiro babilônico, por ordem de Ciro, predito aqui
mediante profética sugestão, induz o profeta a predizer outra libertação
maior, a ser realizada pelo Messias, o Salvador de judeus e gentios na
atual eclética Igreja, assim como Restaurador de Israel e, finalmente,
Cabeça literal e espiritual de Seu reino universal. Assim como a Assíria
era a potência inimiga mundial de que trata a primeira parte, a qual tem
referência ao tempo de Isaías, assim Babilônia o é na última parte, com
relação a um período muito posterior. Entretanto, o elo que conecta a
ambas as partes, acha-se no final da primeira (Is_39:6). A última foi
escrita na velhice de Isaías, como se pode ver por seu estilo, mais
amadurecido e pelo tom de que está penetrado; é menos veemente, mais
tenro e delicado que o da primeira parte.

1. Consolai — Repetido duas vezes, para brindar uma dupla


segurança. Tendo anunciado o futuro cativeiro dos judeus em Babilônia,
Deus agora deseja que Seus servos, os profetas (Is_52:7), os consolem.
A cena tem lugar em Babilônia; o tempo, perto do fim do cativeiro; a
base do consolo, a pronta terminação do cativeiro, cujo condutor será o
próprio Senhor.
meu povo ... vosso Deus — expressões correlativas (Jr_31:33;
Os_1:9-10). A base de Sua intervenção em seu favor, depois de havê-los
castigado por um tempo (Is_54:8), é a relação devida à aliança celebrada
com Seu povo e à palavra da promessa dada a seus antepassados (v. 8)
2. Falai ao coração — não meramente ao intelecto.
Jerusalém — Embora então em ruínas, Deus a contempla como
prestes a ser reconstruída. Alude-se principalmente a seu povo; mas fala-
se da cidade, personificada.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 248
bradai-lhes — pública e enfaticamente, como um arauto clama em
voz alta (v. 3).
já é findo o tempo — o assinalado tempo de sua miséria (Jó_7:1,
margem da V. Inglesa; Jó_14:14; Dn_10:1). É provável que seja uma
insinuação de que o tempo preciso da economia legal dos pesados ritos
está chegando ao seu fim (Gl_4:3-4).
perdoada — O hebraico expressa que seu pecado está tão expiado
que Deus agora se deleita em restaurá-lo.
em dobro … por todos os seus pecados — Isto, em sentido muito
restringido, só pode aplicar-se à restauração de Judá, depois do primeiro
cativeiro. Porque, como pode dizer-se “que seu tempo já se cumpriu”,
quando o duro jugo de parte de Antíoco e também de Roma ainda os
ameaça? A declaração “em dobro … por todos os seus pecados”, deve
referir-se a duplo cativeiro, o assíria e o romano, à futura terminação
desta última dispersão, e unicamente então poderá dizer-se que “sua
iniquidade” será perdoada ou completamente expiada [Houbigant]. Isto
não significa o dobro do que ela merece, mas sim um amplo castigo em
seu duplo cativeiro. O Messias tem uma relação íntima com Israel (Cf.
Mt_2:15 com Os_11:1). A verdade é que Ele recebeu um castigo muito
mais amplo que aquele que se necessitava para expiar “nossos pecados”
(Rm_5:15, Rm_5:17). Ou: (bradai-lhe) “que receberá o dobro (de
bênçãos) da mão do Senhor que o castigo por todos os seus pecados”
(“pecado” usa-se assim em Zc_14:19, margem da V. I.) [Lowth]. A
Versão Almeida Atualizada é mais singela.
3. que clama no deserto — Nesta forma a LXX e Mt_3:3
conectam as palavras; mas os acentos no hebraico fazem com que diga
assim: “No deserto preparai vós …” O paralelismo também requer que
se diga: “Preparai vós no deserto”, que corresponde a “fazei (veredas)
retas no deserto”. Mateus estava facultado, inspirado como estava, para
variar a conexão e dar outro sentido que estava compreendido dentro do
propósito do Espírito Santo; em Mt_3:1.… “João Batista, pregando no
deserto”, corresponde à voz de alguém que clama no deserto”. Maurer
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 249
toma o particípio como empregado em lugar da inflexão verbal (assim
como no v. 6): e traduz “Uma voz clama”. A cláusula “no deserto”,
alude à passagem de Israel por tal lugar em sua saída do Egito para
Canaã (Sl_68:7), cujo guia era Jeová; outro tanto acontecerá na futura
restauração de Israel, da qual a de Babilônia foi só um tipo (não a plena
realização; pois o caminho por onde retornaram desta não foi através do
“deserto”). No lugar onde João pregava (ou seja, no deserto, tipo deste
mundo, que é um deserto moral), os ouvintes recebem a ordem de
preparar o caminho do Senhor, porque este estava para chegar ali
[Bengel].
João, embora fosse seguido imediatamente pelo Messias que devia
padecer, é, antes, o arauto do Messias que deve reinar, como Ml_4:5-6
(“antes que venha o grande e temível dia do Senhor”) prova-o. Mt_17:11
(cf. At_3:21) insinua que não se alude exclusivamente a João; que,
embora em certo sentido Elias veio, em outro, ainda tem que vir. João
era o metafórico Elias, que vinha “no espírito e poder de Elias”
(Lc_1:17); a passagem de Jo_1:21, onde o Batista nega que ele seja o
real Elias, concorda com esta opinião. A passagem de Ml_4:5-6 não
pode ter recebido seu total cumprimento na pessoa de João Batista, pois
os judeus sempre o entenderam como o literal Elias. Com efeito, assim
como deve ter outro consumador advento do Messias, assim também
pode ser que haja outro de seu precursor Elias, quem se achava deste
modo presente na transfiguração.
SENHOR — como isto se aplica a Jesus, Ele deve ser Jeová
(Mt_3:3).
4. Os monarcas do Oriente, quando empreendem uma viagem,
enviam arautos diante de si para que eliminem os obstáculos do
caminho, façam levantar aterros nos vales e nivelem calçadas. Deste
modo o dever de João era levar o povo à obediência da Lei, eliminando
toda confiança própria, todo orgulho quanto a privilégios nacionais, toda
hipocrisia e irreligião, de maneira que estivessem preparados para Sua
vinda (Ml_4:6; Lc_1:17).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 250
o que é tortuoso — os declives.
5. a verá — A LXX diz: “verá a salvação de Deus”. Assim Lc_3:6
(cf. Lc_2:30, isto é, o Messias); mas é provável que o evangelista
tomasse estas palavras de Is_52:10.
a boca — antes: “Toda carne verá que a boca de Jeová o falou”
[Bengel].
6. Uma voz — a do mesmo arauto divino, como no v. 3.
e alguém — um dos ministros ou profetas (Nota, v. 1), cujo dever
era, sob a direção da “voz”, “consolar ao aflito povo do Senhor com as
promessas de melhores dias”.
Toda carne é erva — A conexão é: Todas as coisas humanas, por
mais piedosas que sejam, são transitivas; só são firmes as promessas de
Deus (vv. 8, 15, 17, 23, 24); semelhante contraste já foi sugerido no v. 5,
“Toda a carne … a boca do SENHOR”. Esta passagem aplica-se
evidentemente, segundo 1Pe_1:24-25, à mensagem evangélica do
Messias. (Cf. Jo_12:24; Tg_1:10).
7. hálito do SENHOR — (Sl_103:16). O ardente vento oriental
daqueles países enviado por Jeová (Jn_4:8).
o povo — antes, este povo [Lowth], que pode referir-se aos
babilônios [Rosenmuller], mas é melhor entender o gênero humano em
geral, como em Is_42:5; assim o v. 6, “toda a carne”; toda esta raça;
isto é, o homem.
9. Melhor: “Ó tu, que trazes boas coisas a Sião; tu, que trazes boas-
novas a Jerusalém”. Tu, por conseguinte, é a personificação coletiva dos
mensageiros que anunciam os misericordiosos propósitos de Deus a Sião
(Nota, v. 1); Is_52:7, confirma-o [Vulgata e Gesênius]. Se se retiver a
Versão Inglesa, o sentido será: a feliz mensagem devia ser proclamada
primeiro a Jerusalém e logo sê-lo desde esta cidade, como seu centro, a
toda “Judeia, Samaria e até os confins da terra” (Lc_24:47, Lc_24:49;
At_1:8). [Vitringa e Hengstenberg].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 251
monte — Era costume dos que devem anunciar algo importante,
subir ao alto de uma colina para que todos pudessem ver e ouvir
facilmente (Jz_9:7; Mt_5:1).
não temas — anunciar aos expatriados que seu futuro retorno à
pátria estará acompanhado de perigos no meio dos babilônios. O
ministro do evangelho “deve abrir a boca ousadamente” (Pv_29:25;
Ef_6:19).
Eis aí está — especialmente em Sua segunda vinda (Zc_12:10;
Zc_14:5).
10. com poder — antes, como um valente [Maurer]. Ou: contra o
forte, ou seja, Satanás (Mt_12:29; Ap_20:2-3, Ap_20:10). [Vitringa].
braço — poder (Sl_89:13; Sl_98:1).
dominará — isto é, Ele não precisa buscar a ajuda de ninguém;
pois em virtude de Seu inerente poderio obtém o poder para Si (assim o
v. 14).
sua recompensa — isto é, a recompensa que dará a Seus operários
por seu trabalho (Is_62:11; Ap_22:12).
11. apascentará — no que estão compreendidos todos os cuidados
pastorais (Ez_34:23; Sl_23:1; Hb_13:20; 1Pe_2:25).
recolherá — aplicável à restauração de Israel pelo Messias, como
ovelhas dispersas por todos os países e incapazes de trasladar-se eles
mesmos a sua própria terra (Sl_80:1; Jr_23:3). Assim como Israel “foi
levado no seio” (isto é, em seus primeiros dias) (Is_63:9, 11, 12;
Sl_77:20), assim o será também “na velhice” (em seus últimos dias)
(Is_46:3, 4).
guiará mansamente — como faz um pastor sensato, que faz com
que as paridas “amamentem” suas crias (Margem da V. Inglesa)
(Gn_33:13-14).
12. Para que os judeus não fossem supor que o descrito como pastor
era um mero homem, Ele é agora descrito como Deus.
Quem …? — Que outro, a não ser Deus, poderia fazer isso? Por
conseguinte, embora a redenção e a restauração de Seu povo, preditas
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 252
neste lugar, fosse uma obra superior à forças do homem, não deveriam
duvidar de que teriam cumprimento, já que todas as coisas são possíveis
para Aquele que pode regular exatamente a proporção das águas como
se as tivesse medido com Sua mão (cf. v. 15). Mas Maurer traduz:
“Quem pode medir?”, etc.; quer dizer, quão imensuráveis são as obras de
Deus! A primeira explicação é melhor (Jó_28:25; Pv_30:4).
aos palmos (RC) — palmo, o espaço da ponta do dedo polegar até
o extremo do mindinho estendidos; Deus mede os vastos céus como a
gente mediria um pequeno objeto com o palmo de mãos dadas.
o pó da terra — a terra em sua totalidade. Para Ele toda a terra não
é mais que como uns grãos de pó contidos numa diminuta medida (lit., a
terça parte de uma medida).
outeiros em balança — dispostos conforme as devidas proporções
e lugares, tão exatamente como se os tivesse pesado.
13. Chamado em Rm_11:34; 1Co_2:16. A voz hebraica traduzida
aqui “ensinou” é a mesma que no v. 12 traduzida “medida”. De maneira
que o sentido é: “Jeová mede os céus com Seu palmo”; Mas, quem O
pode medir?; isto é, quem pode conhecer seu Espírito (sua mente), com
o qual conhece perfeitamente e acerta todas as coisas? Maurer verte
exatamente o hebraico no mesmo sentido que no v. 12 (assim também
Pv_16:2; Pv_21:2); “pesar”, “ponderar”.
14. caminho de entendimento — sua sabedoria, em virtude da
qual Ele pode dispor tão artisticamente os lugares e as proporções de
todas as coisas criadas.
15. de um balde — melhor (que caem) de um caldeirão. [Maurer].
como um grão de pó — “são como uma mera partícula de pó” (que
é levada pelo vento); lit., que alguém recolhe (Êx_16:14). [Maurer].
ilhas — antes, terras em geral, que responde às “nações” na
cláusula paralela. Possivelmente sejam terras semelhantes a
Mesopotâmia, encerrada entre rios [Jerônimo], (assim Is_42:15).
Entretanto, a voz “ilhas” na Versão Almeida Atualizada responde muito
bem a “montes” (v. 12), por ser umas e outras elevadas pelo poder de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 253
Deus; com efeito, as ilhas são montes surgidos do fundo do mar,
mediante a ação dos vulcões. Só que aqui, Isaías aparentemente, deixou
de falar de coisas inanimadas (v. 12) para falar das coisas animadas,
como nações e terras, ou seja, seus habitantes.
16. Todos os bosques do Líbano não seriam muitos para prover a
lenha para os sacrifícios dignos da glória de Deus (Is_66:1; 1Rs_8:27;
Sl_50:8-13).
seus animais — que tanto abundavam no chamado monte.
17. (Sl_62:9; Dn_4:35).
coisa que não é nada — Maurer traduz como Is_41:24, de nada
(partitivamente; ou expressivo da natureza de uma coisa) um mero nada.
como um vácuo — ou seja o vazio.
18. Qual dos ídolos dos pagãos pode, pois, comparar-se com este
Deus todo-poderoso? Esta passagem, se não se escreveu, segundo Barnes
crê, tão tardiamente como a idolátrica época de Manassés, contém pelo
menos uma antecipada e admoestadora alusão a ela e aos subsequentes
reinados. O resultado do castigo da idolatria dos judeus, mediante o
cativeiro de Babilônia, foi que depois da restauração nunca mais
voltaram a cair nela. Estas profecias possivelmente tenham contribuído a
esse resultado (veja-se 2Rs_23:26-27).
19. a imagem — uma imagem em geral; por ser incongruente falar
de fundições de metal ao tratar-se de uma imagem esculpida, isto é,
esculpida em madeira. Assim Jr_10:14.
a cobre — (Nota, Is_30:22).
cadeias — ornamento de luxo usado pelos ricos do Oriente
(Is_3:18, 19), com que adornavam deste modo a seus ídolos. As relíquias
egípcias demonstram que os egípcios suspendiam seus ídolos com
cadeias em suas casas.
20. O empobrecido (RC) — lit., o imerso em dificuldades, e que
não pode cobrir seu ídolo com pranchas de ouro e prata (v. 19).
uma imagem esculpida que não oscile — que seja durável.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 254
21. Acaso, não sabeis? — vós os idólatras? A pergunta é enfática e
supõe que eles o sabiam.
desde o princípio — (Is_41:4, 26; 48:16). Deus é o princípio
(Ap_1:8). A tradição transmitida de um princípio, de que todas as coisas
fossem criadas por Deus, deveria os convencer de Sua onipotência e da
imbecilidade da idolatria.
22. Ele é o que está assentado — antes, se se ligar com o último
versículo: “Acaso, não sabeis?” — Não compreendestes Aquele que está
sentado ... ? (v. 26). [Maurer].
a redondeza — aplicável à forma esférica da terra; sobre ela e a
abóbada do céu que a rodeia, Ele se assenta.
como gafanhotos — aos Seus olhos (Nm_13:33), pois Ele olha do
alto (Sl_33:13-14; Sl_113:4-6).
como cortina — Isto alude ao toldo que os habitantes do Oriente
tendiam sobre o pátio que havia no centro de suas casas, para proteger do
calor.
23. (Sl_107:4; Dn_2:21).
os príncipes — isto é, os governantes; pois estes exerciam funções
judiciais (Sl_2:10). O hebraico, shoftee corresponde aos principais
magistrados cartagineses chamados suffetes.
24. plantados — os “príncipes e juízes” (v. 23), que se opõem aos
propósitos de Deus e a Seu povo, os quais se compara frequentemente a
árvores altas (Sl_37:35; Dn_4:10).
semeados — a semente; quer dizer, a raça, se extinguirá
(Na_1:14).
seu tronco — nem mesmo brotos lançará seu toco depois de que a
árvore tiver sido cortada: não terá descendente alguém (Jó_14:7; Nota,
Is_11:1).
quando — Maurer traduz: “Quase não foram (lit. ainda não, como
em 2Rs_20:4) plantados, etc., quando ele (Deus) sopra sobre eles”,
sopro — A figura está tirada do abafadiço vento oriental (o simum)
que resseca a vegetação.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 255
tempestade … palha — (Sl_83:13), onde sob o símile de uma
roda, alude à ação rotatória do redemoinho sobre o restolho.
25. (cf. v. 18).
26. faz sair o seu exército — imagem tomada de um general que
passa revista a seu exército: Ele é o Senhor de Sabaoth, os exércitos
celestiais (Jó_38:32).
pelo nome — sendo tão numerosas as estrelas, Deus conhece cada
uma delas e todas suas distintivas características: Neste sentido usa-se a
palavra “nomes” frequentemente nas Escrituras; tanto que em Gn_2:19-
20, Adão, como vice-gerente de Deus, chama os animais pelo “nome”,
isto é, caracterizou-os por suas diversas qualidades, que, na verdade,
Deus lhes tinha repartido.
nem uma só vem a faltar — antes, “em razão da abundância de
sua (íntima e essencial) força e a firmeza de seu poder, nenhuma delas
vaga ao acaso”; alusão à suficiência das forças físicas com que Ele
dotou os corpos celestes para impedir qualquer desordem em seus
movimentos [Horsley]. Na Versão Inglesa o sentido é: “Ele as dotou
com seus peculiares atributos (nomes), em virtude da grandeza de Seu
poder” e o poder de sua força (melhor tradução que a de “Porque ele é
forte”).
27. Visto que isto é assim, não tens nenhuma razão para supor que
Deus se desentenda de seus interesses (“caminho”; isto é situação,
Sl_37:5; Jr_12:1).
meu Deus — de quem especialmente poderia esperar que se
interessaria por mim.
o meu direito passa — antes, Deus descuidou minha causa; Ele
passa por alto meu caso, em minha escravidão e angústia, e não repara
nisso.
28. Não sabes — por sua própria observação e a leitura das
Escrituras.
ouviste — mediante a tradição dos pais.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 256
o eterno Deus — Estes atributos de Jeová deveriam infundir
confiança ao Seu povo afligido.
Não se pode esquadrinhar o seu entendimento — portanto, tua
causa, embora você diga o contrário, Ele não a ignora; embora haja
muito em Seus caminhos de inescrutável, Ele não pode errar (Jó_11:7-
9). Ele nunca se “cansa” ou se “fatiga” de atender às inumeráveis
necessidades de Seu povo, suprindo-o delas.
29. Ele não só “não se cansa” (v. 28), mas fortalece aos cansados.
multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor — um
aparente paradoxo. Aos “que não têm forças” em si mesmos; mas nEle as
têm, com o acréscimo de que Ele as acrescenta (2Co_12:9).
30. Os jovens — lit. os selecionados; os escolhidos por causa de
seu juvenil vigor para alguma empresa.
31. sobem com asas — (2Sm_1:23). Antes: “Criarão nova
plumagem como águias”; como se dissesse: se renovarão a si mesmos; a
cláusula paralela “terão novas forças” confirma este sentido. Cria-se que
a águia mudava sua plumagem na velhice, e com isso renovava sua
força. Assim traduz a LXX e a Vulgata, Sl_103:5. Entretanto, a “Versão
Almeida Corrigida está respaldada por gradação descendente: subirão,
correrão, caminharão. O filho de Deus que em todas as situações ora e
espera “é forte no Senhor” (Sl_84:7; Mq_4:5; Hb_12:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 257
Isaías 41

Vv. 1-29. Razões Adicionais pelas Quais os Judeus Poriam Sua


confiança nas Promessas de Deus de livrá-los. Para Isso Ele Levantará
Um Príncipe como Libertador, Enquanto que os Ídolos Não Poderiam
Libertar as Nações Pagãs Daquele Príncipe.
1. (Zc_2:13). Deus está prestes a discutir o caso; escutem, pois, as
nações com reverente silêncio. Cf. Gn_28:16-17, com relação ao espírito
com que devemos nos conduzir diante de Deus.
Calai-vos — antes, tornai-vos a Mim [Maurer].
ilhas — incluso todas as regiões ultramarinas (Jr_25:22), as
regiões marítimas, não meramente as ilhas estritamente falando.
renovem as suas forças — reúnam sua força para argumentar;
aduzam seus mais sólidos argumentos (Is_1:18; Jó_9:32). “Juízo” aqui
significa decidir o assunto que se debate entre nós.
2. Quem? — que outro fora de Deus? O fato de Deus levantar Ciro
e o capacitar a ser o conquistador das nações e o libertador do povo de
Deus, é um poderoso argumento que demonstra que deveriam confiar
nEle. O futuro aqui é profético, representado como presente ou passado.
o justo (RC) — Ciro; pois Is_44:28; 45:1-4, 13; 46:11, “do
Oriente”, provam-no. É chamado de “justo”, nem tanto por causa de sua
equidade (Heródoto 3:89), quanto por ter completado a justa vontade de
Deus, ao tirar os judeus de seu injusto cativeiro. A justiça chama [TB]. A
LXX toma o hebraico como nome: justiça. Maurer traduz: “Aquele que
despertou àquele a quem a salvação (nacional e temporal, dádiva da
justiça de Deus outorgada aos bons, Is_32:17; cf. Is_45:8; 51:5) segue-
lhe os passos” (para onde quer que for). Diz-se que Ciro deve vir do
oriente, porque Pérsia está a leste de Babilônia; mas no v. 25, diz-se que
procede do norte, como aludindo à Média. Por outro lado, o sentido
plenário de justiça ou justo e o de toda a passagem refere-se unicamente
ao Messias, como antítipo de Ciro (pois este não conhecia a Deus,
Is_45:4). Ele sai como o Conquistador Universal das “nações”, fazendo
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 258
Sua guerra em justiça (Sl_2:8-9; Ap_19:11-15; Ap_6:2; Ap_2:26-27).
“Ele abolirá totalmente os ídolos” (cf. 7:23, com Is_2:18). A justiça
sempre procedeu do Oriente. O Paraíso estava a leste do Éden; os
querubins estavam no leste do jardim. Abraão foi chamado do leste; a
Judeia, berço do Messias, estava no leste.
chama para o seguir — o chamou para que seguisse os passos de
Deus; isto é, para que seguisse Suas diretivas. Em Ed_1:2; Ciro
reconhece a Jeová como Aquele que O fez vitorioso. Submeteu as
nações do Ponto Euxino até o Mar Vermelho, e até o Egito (diz
Xenofonte).
pó — (cf. 17:13; 29:5; Sl_18:42). Pérsia, país de Ciro, era famosa
pelo emprego do “arco” (Is_22:6). “Se lhe submetam” significa que “as
submeteu a seu poder” (Js_10:12). Maurer traduz: “Fez com que a
espada do inimigo fosse de pó e o arco como folhagem” (Jó_41:26,
Jó_41:29).
3. Ciro não tinha visitado as regiões do Eufrates nem as do oeste até
que as conquistou. Assim as conquistas do evangelho penetraram em
regiões onde o nome de Deus era antes desconhecido.
4. Quem — que outro exceto Deus?
tem chamado as gerações à existência — A origem e a
localização das nações deve-se a Deus (Dt_32:8; At_17:26); o que se diz
de Ciro e suas conquistas pode dizer-se de todos os movimentos da
História, desde o começo; tudo provém de Deus.
com os últimos — isto é, os últimos (Is_44:6; 48:12).
5. temeram — de que seriam subjugados.
aproximaram-se e vieram — se uniram para a defesa comum.
6. Sê forte — Não se alarmem por causa de Ciro, antes, fazei novas
imagens para obter o favor dos deuses contra ele.
7. Um operário anima ao outro para terminar logo de fazer o ídolo,
a fim de conjurar o perigo que os ameaça.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 259
com pregos — para que se mantenha em seu lugar. O livro apócrifo
da Sabedoria 13:15, 16, contém uma descrição similar da tolice da
idolatria.
8. Contraste entre as nações idólatras que Deus destruirá mediante
Ciro e Israel, ao qual Deus libertará pela instrumentalidade desse mesmo
homem, por amor de seus antepassados.
servo — chamado assim por Deus o ter escolhido para que O
adorasse e encaminhasse a outros povos a fazer o mesmo (Is_45:4).
Jacó, a quem elegi — (Sl_135:4).
meu amigo — lit., aquele que me ama.
9. Abraão, pai dos judeus, tomado da remota Ur dos Caldeus.
Outros o aplicam a Israel, convidado a sair do Egito (Dt_4:37; Os_11:1).
dos seus cantos mais remotos — lit., os cotovelos; assim as
juntas; daí a raiz que une a árvore à terra; fig., os de antiga e nobre
estirpe. Mas a cláusula paralela (“os fins da terra”) favorece a Gesênius,
que traduz: “Os extremos da terra”; assim Jerônimo.
10. não temas — lit., olhando-os ansiosamente com desalento um
ao outro.
com a minha destra fiel — quer dizer, com Minha mão direita
preparada de acordo com minha justiça (a fidelidade a minhas
promessas) para te sustentar.
11. envergonhados — expostos à vergonha da derrota (cf.
Is_54:17; Rm_9:33).
12. buscá-los-ás, porém não os acharás — dito de alguém
totalmente eliminado, de tal modo que não se podem achar vestígios do
mesmo (Sl_37:36).
serão como nada — visto que serão completamente exterminados.
13. (Dt_33:26, Dt_33:29).
14. vermezinho — dado seu estado de menosprezo e aflição, ao
que todos abominam e pisoteiam; esta é a mesma expressão que o
Messias aplica-se a Si mesmo sobre a cruz (Sl_22:6), tão completamente
identificados e assimilados estão o Senhor e Seu povo. “Os que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 260
constituem o povo de Deus são como vermes, por causa do humilde
conceito que têm de si mesmos e dos desdenhosos pensamentos que seus
inimigos alentam para com eles; vermes sim, mas não víboras, ou seja
linhagem da serpente” [Henry].
povozinho — subentendendo-a voz homens, como o requer o
paralelismo, associada com a ideia de pouquíssimos ou fraqueza. Lowth
traduz: “Vós os mortais de Israel”. Na LXX, “completamente diminuto”.
Maurer confirma a Versão Inglesa, como a que melhor concorda o texto
hebraico.
o SENHOR — em geral.
e o teu Redentor — em particular; uma razão mais sólida pela qual
Ele os “ajudaria”.
15. Deus fará de modo que Israel destrua a seus inimigos qual trilho
oriental (Is_28:27, 28) que bate nos feixes com os dentes e ventila a
palha para que o vento a espalhe.
lâminas duplas — engrenado, para cortar a palha para forragem, e
separar o grão da palha.
montes … e outeiros — os reinos mais ou menos poderosos que
foram hostis a Israel (Is_2:14).
16. ventilará — para que o vento os leve (cf. Mt_3:12).
redemoinho os espalhará — (Jó_27:21; Jó_30:22).
17. Os aflitos e necessitados — principalmente, os desterrados em
Babilônia.
águas — em sentido figurado, refrigério, prosperidade depois de
sua aflição. A linguagem está construída de tal modo que só se pode
aplicar em parte para acontecimento local e temporal do retorno do
cativeiro de Babilônia; mas se cumprirá plenamente na água da vida e do
Espírito, sob a economia do evangelho (Is_30:25; 44:3; Jo_7:37-39;
Jo_4:14); pois não lemos que Deus tenha feito milagres em nenhum
deserto durante a volta de Babilônia.
se seca — antes, está rígida e abrasada [Horsley].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 261
18. Alusão à água com que Israel era milagrosamente abastecido no
deserto, depois de sua saída do Egito.
altos — lugares despidos de árvores, estéreis e sem água (Jr_4:11;
Jr_14:6). Os altos e vales, em sentido espiritual, expressam que em todas
as circunstâncias, favoráveis ou desfavoráveis, o povo de Deus receberá
o refrigério necessário para suas almas, por pouca esperança que se deva.
19. (Is_32:15; 55:13).
a acácia — ou o espinheiro do Egito, do qual se extrai a borracha
arábica [Lowth].
cipreste — antes, ciprestes, agradáveis por sua sombra.
olmeiro — Gesênius traduz: “o aquifólio”.
álamo (RC) — Não o arbusto tão usado para orlar os maciços dos
jardins; mas sim um gênero de cedro [Gesênius], notável pela pequenez
de seus abacaxis e a direção vertical de seus ramos.
20. saibam — lit., entesourá-lo em (seus corações); voltem (a
atenção) a ele. O plural alude a todas as terras (v. 1; Sl_64:9; Sl_40:3).
O efeito que a manifesta interposição de Deus em favor de Israel
produzirá sobre os gentios será o de que buscarão o Deus de Israel
(Is_2:3; Zc_8:21-23).
21. Novo desafio dirigido aos idólatras (vejam-se vv. 1, 7), que lhes
diz: Podem seus ídolos predizer eventos futuros como o pode Jeová? (vv.
22-25, etc.)
vossas razões — As razões que alegam para dar culto aos ídolos,
por pareceres sólidas.
22. as coisas que hão de acontecer — “Aproximem-se e declarem
os eventos futuros” [Horsley].
as profecias anteriores … as coisas futuras —Mostre-nos as
primeiras predições feitas pelos ídolos para que as comparemos com os
acontecimentos finais. Ou façam novos vaticínios (“declarem o porvir”)
(Is_42:9) [Maurer]. Barnes o expõe mais secretamente: “Predigam a
série completa dos eventos que mostrem, por ordem, as coisas que
primeiro ocorrerão, como também as que devem acontecer no final”. Os
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 262
falsos profetas se esforçaram em predizer acontecimentos isolados que
não tinham relação mútua, não uma longa série de eventos recíproca e
ordenadamente relacionados, que se estendessem até um futuro
longínquo. É que nem sequer o tentaram, porque isso ninguém pode
fazer, exceto Deus (Is_46:10; Is_44:7, 8). “Ou … as coisas futuras”;
segundo esta maneira de ver, estas palavras quererão dizer: Se não
puderem predizer a série, predigam claramente alguns acontecimentos
isolados.
23. fazei bem … mal — dêem, em suma, alguma prova de seu
poder, ora recompensando a seus amigos, ora castigando a seus inimigos
(Sl_115:2-8).
para que nos assombremos — Maurer traduz: “Para que nós
(Jeová e os ídolos) nos olhemos um a outro face a face (isto é, encontre-
se um com os outras, 2Rs_14:8, 2Rs_14:11); e se torne a ver” nosso
respectivo poder mediante uma prova. Horsley traduz: “Logo ao
momento de ter contemplado, ficaremos espantados”. O plural refere-se
a Jeová e a Seus adoradores.
24. do que nada — (veja-se Is_40:17). O texto hebraico aqui está
corrompido.
abominação — o abstrato pelo concreto; não só o abominável, mas
também a essência de qualquer coisa que o for (Dt_18:12).
quem vos escolhe — como objeto de culto.
25. Do Norte — No v. 2 “do Oriente”. Tanto um quanto o outro são
exatos: ver Nota ali.
suscito a um — com um propósito, o qual não se cumpriu até
passados 150 anos.
desde o nascimento do sol — Do oriente.
invocará o meu nome — reconhecendo-me como Deus e
atribuindo a Mim o seu êxito; isto o fez na proclama que se encontra em
Ed_1:2. Isso não quer dizer necessariamente que ouvindo renunciasse à
idolatria, mas sim ouvindo que a profecia predita 150 anos antes,
cumpriu-se tão exatamente nos atos realizados por ele, reconheceu a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 263
Jeová como verdadeiro Deus, embora reteve seu ídolo (assim procedeu
Naamã, 2 Reis 5; cf. 2Rs_17:33, 2Rs_17:41; Dn_3:28; Dn_4:1-3,
Dn_4:34-37).
magistrados — os sátrapas de Babilônia ou governadores de província.
barro — Os pisará sob os pés como sujeira (Is_10:6).
26. Quem …? — Qual dos adivinhos idólatras? Quando se cumprir
esta profecia, todos verão o que Deus predisse referente a Ciro, coisa que
nenhum dos adivinhos tem feito.
desde o princípio — antes que o evento ocorresse.
Ele é justo? (TB) — antes, isso é verídico. Trata-se de que era
verdadeira profecia, como o demonstra o evento. “Ele é justo?”, deve
interpretar-se na Versão Inglesa assim: O cumprimento das palavras do
ídolo provará que ele é fidedigno.
não há quem anuncie — antes, “nenhum houve (entre os
adivinhos) que mostrasse ou declarasse: nenhum ouviu suas palavras”
que predizem o acontecimento.
27. Antes, “darei a Sião e a Jerusalém portador de alegres novas,
que digam: Gela aqui”. A frase “gela aqui” (que alude ao desejado
evento, agora uma realidade), se inserida na oração, qual isolada
exclamação, mediante uma elegante transposição, que faz com que a
linguagem resulte algo abrupto, como o de um que queria pôr
vividamente, por assim dizer, diante dos olhos de outros algum feliz
evento que acabasse de ouvir [Ludovicus De Dieu]. (Cf. Is_40:9).
Nenhum dos ídolos havia predito estes eventos. Jeová foi o “primeiro”
em fazê-lo (veja-se o v. 4)
28. nem mesmo entre eles há conselheiro — Nenhum dos
idólatras adivinhos que podia advertir (Nm_24:14) aos que os
consultavam o que teria que suceder. Cf. “o conselho dos meus
mensageiros” (Is_44:26).
a quem eu pergunte — quer dizer, desafiei-os, neste capítulo.
29. vácuo — isto é, vacuidade [Barnes].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 264
Isaías 42

Vv. 1-25. O Messias Antítipo de Ciro


Descrição do caráter daquele por Deus (vv. 1-4). Deus Se dirige
diretamente a ele (vv. 5-7). Fala com o povo para que preste atenção ao
assunto (vv. 8, 9). Chamada dirigida a todos, especialmente aos
expatriados dos judeus, para que se alegrem pela vindoura libertação (vv.
10-25).

1. meu servo — A lei da sugestão profética faz com que Isaías


deixe de falar de Ciro, para ocupar-se de outro Libertador maior, que
eclipsa o primeiro. A citação literal em Mt_12:18-20 e a descrição só
podem aplicar-se ao Messias (Sl_40:6; com o qual cf. Êx_21:6; Jo_6:38;
Fp_2:7). Israel, por constituir um altíssimo ideal, é chamado “servo” de
Deus (Is_49:3). Mas esse ideal cumpre-se unicamente no antitípico
Israel, cujo humano representante e Cabeça é o Messias (cf. Mt_2:15
com Os_11:1). O caráter assumido pelo Filho de Deus através de sua
humilhação foi o de “servo”.
meu escolhido — Escolhido por Deus antes da fundação do mundo
para um ato de expiação (1Pe_1:20; Ap_13:8). A redenção não foi um
recurso tardio para remediar um mau imprevisto (Rm_16:25-26; Ef_3:9,
Ef_3:11; 2Tm_1:9-10; Tt_1:2-3). Em Mt_12:18, traduz-se “meu
amado”: o único Filho amado, amado em distinto sentido que todos os
outros. A eleição e o amor de Deus estão inseparavelmente unidos.
minha alma — expressão humana aplicada a Deus, por causa da
prevista união da humanidade com a divindade: Eu mesmo.
se compraz — sente-se muito agradada, e o aceita como
propiciação. Deus não podia deleitar-se em nenhum ser criado como
mediador (cf. v. 21; Is_63:5; Mt_3:17).
sobre ele o meu Espírito — (Is_11:2; 61:1; Lc_4:18; Jo_3:34).
juízo (RC) — a dispensação evangélica, fundada sobre a justiça, o
cânon do governo divino e princípio de juízo chamado a “lei” (Is_2:3; cf.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 265
v. 4; 51:4; 49:6). O evangelho possui diferente efeito judicial; é salvador
para os penitentes; condenatório para Satanás, o inimigo (Jo_12:31;
Jo_16:11), e para os voluntariamente impenitentes (Jo_9:39). Mt_12:18
diz: “anunciará”, por “porá de manifesto” ou “fará com que se
publique”. Cristo produziu e anunciou o Seu “juízo”. O hebraico detém-
se principalmente sobre produzir; Mateus, sobre pronunciar; mas os dois
conceitos se unem nEle.
2. Mateus assinala a classe de “clamor”, como ao de uma briga, ao
citar, “Não disputará” (Is_53:7).
praças — A LXX traduz “fora”. Imagem tomada de uma briga
numa casa em voz bastante alta como para que se ouça da rua: o qual é
próprio daquele que “se afastou” da pública notoriedade, originada por
Seus milagres, retirando-Se à solidão (Mt_12:15; v. 34, onde assinala
outro e mais severo aspecto de seu caráter, aquele que também se acha
indicado no termo “juízo”).
3. quebrada — Foi da vontade do Senhor quebrantá-lo (Is_53:5,
10; Gn_3:15); assim Ele pode compadecer-se dos quebrantados. Assim
como no v. 2 se descreve seu plácido espírito para com seus violentos
inimigos (Mt_12:14-16), e sua total despreocupação pela notoriedade,
assim no v. 3. vemos sua sensibilidade para apreciar as primeiras
chispadas da graça nos penitentes (Is_40:11).
cana — frágil: “agitada facilmente pelo vento” (Mt_11:7). Os que
no melhor dos casos são fracos e se sentem além disso oprimidos por
alguma calamidade ou pelo sentido do pecado.
Não esmagará — não a esmagando inteiramente ou a condenando.
Cf. “para enfaixar os quebrantados” (Is_50:4; 61:1; Mt_11:28).
o pavio (RC) — a mecha da lâmpada feita de linho. O crente é a
lâmpada (assim o grego, Mt_5:15; Jo_5:35): sua consciência iluminada
pelo Espírito Santo é a mecha: “que fumega”, significa que arde
fracamente fumegando, por não ter-se extinto inteiramente a chama. Isto
expressa o lado positivo da religião do penitente; assim como uma “cana
quebrada”, expressa o negativo. O de coração quebrantado não deixa de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 266
possuir alguma faísca ou luzinha, que provém literalmente do alto.
Cristo lhe suprirá ao tal a graça como azeite. Pode ser que signifique
deste modo a luz da natureza fumegando nos gentios no meio da nociva
fumaça de seus erros. Cristo não só não a apagou, mas também lhe tirou
essa fumaça e lhe acrescentou a nova claridade da revelação. Veja-se
Jerônimo, To Algasia, Question 2.
com verdade (TB) — Mt_12:20, “até que faça triunfar o juízo.
Mateus, divinamente inspirado, dá o sentido virtual, mas varia a palavra,
a fim de manifestar um novo aspecto da mesma coisa. A verdade possui
em si mesma os elementos da vitória sobre todas as forças que se lhe
opõem. A Verdade é a vitória daquele que é a “verdade” (Jo_14:6). A
peneirada judicial evangélica (“o juízo”) de crentes e incrédulos já
começou em parte (Jo_3:18-19; Jo_9:39), mas será vitoriosamente
consumado na realidade unicamente em Sua segunda vinda; vv. 13, 14,
aqui, e Mt_12:32, Mt_12:36, Mt_12:41-42, provam que se referem ao
aspecto judicial do evangelho, especialmente no final. Além do aprazível
triunfo de Jesus, quem se apresenta agora ao penitente cheio de
misericórdia (v. 2), terá lugar finalmente o juízo de seus inimigos,
quando a “verdade” se haja perfeitamente revelado. Cf. Is_61:1-3, onde
as duas vindas estão analogamente unidas (Sl_2:4-6, Sl_2:8; Ap_15:2,
Ap_15:4; Ap_19:11-16). Sobre o “juízo”, veja-se nota do v. 1.
4. Não desanimará — desmaiará o homem, em religião, pode
chegar a ser como o quase apagado pavio (v. 3), mas não assim Jesus em
Seus propósitos de graça.
quebrará — lit, quebrantado, isto é, detido em seu zelo, pelo
desalento (cf. Is_49:4, 5). Rosenmuller não traduz tão bem: “Ele não será
muito lento, por uma lado, nem correrá muito às pressas, por outro”.
juízo (RC) — Seu verdadeira religião, o cânon de seus juízos e de
seu justo reinado.
as ilhas aguardarão (RC) — os longínquos países ultramarinos
porão sua confiança em seu evangélico plano de salvação. Mt_12:21,
contém virtualmente o mesmo sentido, com a inspirada adição de outro
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 267
aspecto da mesma coisa: “Em seu nome confiassem os gentios” (que é o
que significa aqui “aguardarão”, Is_30:18). “Sua lei” não é algo distinto
dEle mesmo, mas sim é na verdade Ele mesmo, a manifestação do
caráter de Deus (“nome”) em Cristo, que é a personificação da lei
(Is_42:21; Jr_23:6; Rm_10:4). “Ilhas” aqui e no v. 12, pode ser que
aluda ao fato de que as populações de que se formou a igreja ao princípio
eram gentios dos países às margens o Mediterrâneo.
5. Deus tinha falado anteriormente do Messias; agora (vv. 5-7) Ele
fala a Ele. Para mostrar a todos que Ele é poderoso para sustentar o
Messias na obra que Lhe foi atribuída; e para que todos O possam aceitar
como comissionado por tão poderoso Deus, começa proclamando-Se a
Si mesmo como o Onipotente Criador e Preservador de todas as coisas.
formou a terra — (Sl_136:6).
6. em justiça — antes, “para um justo propósito” [Lowth], (Veja-se
v. 21). Deus propôs a Seu Filho como “propiciação, a fim de declarar
Sua justiça (a de Deus), para que Este pudesse ser justo e (não obstante)
justificador daquele que crê em Jesus” (Rm_3:25-26, cf. Nota, Is_41:2;
45:13; 50:8, 9).
tomar-te-ei pela mão — Cf. a respeito de Israel, tipo do Messias,
Os_11:3.
aliança — o intermediário da aliança, feita no princípio entre Deus
e Abraão (Is_49:8), “Mediador de uma melhor aliança” (Hb_8:6) que a
lei (veja-se Is_49:8; Jr_31:33; Jr_50:5). Assim a abstrato “paz” se toma
pelo concreto pacificador (Mq_5:5; Ef_2:14).
com o povo — de Israel, como Is_49:8 comparado com o v. 6 o
prova (Lc_2:32).
7. cegos — em sentido espiritual (vv. 16, 18, 19; Is_35:5; Jo_9:39).
prisão — (Is_61:1, 2).
trevas — oposto “a luz” (v. 6; Ef_5:8; 1Pe_2:9).
8. Deus deixa de falar com Messias e o faz com o povo.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 268
Eu sou o SENHOR — este é o nome distintivo e incomunicável de
Deus, que expressa Seu ser essencial e Sua imutável fidelidade (cf.
Êx_6:3; Sl_83:18; Sl_96:5; Os_12:5).
meu — o que se me deve, e só a mim.
9. as primeiras predições — as primeiras predições de Deus que
agora se cumpriram, aduzem-se aqui em prova de que eles deveriam
confiar só nEle como Deus, ou seja, as predições referentes à restauração
de Israel, tirado de Babilônia.
novas — ou seja, as predições referente ao Messias, o qual tem que
levar a todas as nações ao culto de Jeová (vv. 1, 4, 6).
antes que sucedam — a mesma ideia, tirada das plantas ao
começar a germinar, encontra-se em Is_43:19, e 58:8. Antes de que haja
a mais leve indicação que permita ao mais sagaz observador inferir o
evento, Deus o prediz.
10. cântico novo — tal que nunca se cantou, motivado por uma
nova manifestação da graça de Deus, que expresse o que nenhum outro
hino por passadas misericórdias poderia apropriadamente expressar. Esse
novo cântico se cantará quando o Senhor reine em Jerusalém e todas as
nações corram a ela (Is_2:2; 26:1; Ap_5:9; Ap_14:3).
os que navegais pelo mar — cuja conversão será o meio de levar o
evangelho a longínquas terras.
tudo quanto há nele — Todos os seres viventes que enchem o mar
(Sl_96:11) [Maurer]. Ou: todos os marinheiros e viajantes [Gesênius].
Mas esses já foram mencionados na cláusula precedente: ali ele convida
a todos os que descem ao mar, aqui a todos os animais que há nela, e no
v. 11, convida igualmente a todo o inanimado do deserto a que levante a
voz. Será tal a renovação da natureza visível que estará em consonância
com a renovação na ordem moral.
11. cidades — de uma região que não tenha sido inteiramente
desolada; mas isto sucederá principalmente nos oásis, aqui e ali.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 269
Quedar — situada na Arábia Deserta (Is_21:16; Gn_25:13). Os
quedarenos levavam uma vida nômade, errante. Desta maneira, os
quedarenos estão tomados aqui em geral por aquela classe de homens.
os que habitam nas rochas — Sela, isto é, Petra, a metrópole da
Idumeia dos ismaelitas nabateus. Ou, pode ser que se refira aos da
Arábia Pétrea, cujas moradas estavam escavadas na rocha.
montes — ou seja, de Param, ao sul do Sinai, na Arábia Pétrea
[Vitringa].
12. o seu louvor nas ilhas (RC) — (Is_24:15).
13-16. Jeová já não conterá sua ira: sairá qual poderoso guerreiro
(Êx_15:3) aos Seus destruir e os do Seu povo, e a libertar a Israel (cf.
Sl_45:3).
despertará o seu zelo — despertará a Sua indignação.
clamará — imagem do grito de batalha de um guerreiro.
14. Por muito tempo — isto é, durante a desolação de Israel
(Is_32:14).
calei — (Cf. Sl_50:21; Hc_1:2).
darei gritos como a parturiente — que depois de reter seu alento
por certo tempo, enfim, vencida pelos dores da iluminação, deixa ouvir
sua voz com um ofegante suspiro; assim Jeová dará plena saída para sua
longamente reprimida indignação. Traduza-se em lugar de “destruir …
devorar”, “respirarei forte e ofegante ao mesmo tempo”, isto é, darei
rédea solta à minha indignação.
15. Destruirei a todos os meus inimigos.
montes — Na Palestina, estes estão geralmente plantados com
videiras e oliveiras, em terraços até o topo.
em terra firme — antes, terras secas, Deus destruirá os Seus
inimigos, os pagãos e seus ídolos, e secará as fontes de seus oráculos,
seus doutrinas e instituições, cujo símbolo é a água, e suas escolas
promotoras da idolatria [Vitringa].
16. os cegos — o povo de Deus, Israel no cativeiro, quem necessita
um guia. Em sentido remoto, a igreja do Novo Testamento. que ia ser
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 270
dirigida e iluminada pelo Filho de Deus, como seu Chefe e Pastor no
deserto do Império Romano, até chegar à cidade de habitação. “Um
caminho que não conhecem” refere-se aos diversos meios empregados
pela Providência para o estabelecimento da igreja no mundo, os quais
nunca teriam sido inventados por um mero homem. Chama-os “cegos”,
porque não tinham visto até então os caminhos de Deus para dispor as
coisas de sua igreja.
tornarei as trevas em luz, etc. — quer dizer que o glorioso
resultado só seria conhecido pelo próprio acontecimento [Vitringa]. O
mesmo se aplica ao crente individual (Is_30:21; Sl_107-7; cf. com
Os_2:6, Os_2:14; Ef_5:8; Hb_13:5).
17. Tornarão atrás e confundir-se-ão — desapontados em sua
confiança; a mesma frase menciona-se no Sl_35:4.
18. Surdos — ou seja, à voz de Deus.
cegos — a seu dever a interesse; e isso voluntariamente (v. 20).
Nisto eles diferem dos “cegos” (v. 16). Aqui se alude aos judeus. Isaías
havia dito que Deus destruiria a idolatria; aqui os lembra que até Israel,
Seu “servo” (v. 19), de quem poderiam esperar-se coisas melhores, está
manchado com esse pecado.
19. meu servo — ou seja, Israel. Qual dos pagãos é tão cego?
Considerando os altos privilégios de Israel, a cegueira dos pagãos era
como nada comparada com a dos idólatras israelitas.
o servo do SENHOR — Deus tinha designado a Israel para que
fosse o arauto de Sua verdade a outras nações.
perfeito (AV) — provido de instituições civis e religiosas,
adaptadas a seu perfeito bem-estar. Cf. o título “Jesurum”, o perfeito,
aplicado a Israel (cf. com Is_44:2), como o tipo do Messias [Vitringa].
Ou, traduza-se: o amigo de Deus, que era Israel, em virtude de ser
descendente de Abraão, o qual foi assim chamado (Is_41:8). [Gesênius].
Os nomes “meu servo” (cf. v. 1), “mensageiro” (Ml_3:1), “perfeito”
(Rm_10:4; Hb_2:10; 1Pe_2:22), podem considerar-se como tipos que se
aplicam unicamente a Cristo, de tal maneira que o v. 21 refere-se
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 271
evidentemente a Ele. “Cego” e “surdo” em seu caso refere-se a sua
resistência para suportar os sofrimentos e as recriminações, como se Ele
nem falasse nem ouvisse (Sl_38:13-14). Aqui há, pois, uma transição à
maneira de contraste da cegueira moral de Israel (v. 18) a paciente
cegueira e surdez do Messias [Horsley].
20. observas — As “muitas coisas” são as muitas provas que desde
o começo e sem interrupção Deus tinha dado a Israel de Sua bondade e
poder (Dt_4:32-38; Dt_29:2-4; Salmo 78; 105).
tens os ouvidos abertos — quer dizer, embora Israel tem os
ouvidos abertos (Nota, Is_6:10). Esta linguagem também (Nota, v. 19) se
aplica ao Messias, como servo de Jeová (Is_50:5; Sl_40:6)
21. sua própria justiça — não a de Seu povo, mas a Sua. O v. 24
demonstra que eles não tinham justiça própria (Is_45:24; 59:16). Deus
estava muito agradado de seu Filho (“em quem Minha alma se deleita”,
v. 1); aquele que “cumpre toda justiça” (Mt_3:15), em favor deles, e
com eles por amor dEle (cf. v. 6; Sl_71:16, Sl_71:19; Mt_5:17;
Rm_10:3-4; Fp_3:9). Pode ser que na “justiça” de Deus aqui, esteja
incluída Sua fidelidade a Suas promessas feitas aos antepassados de
Israel [Rosenmuller]; por causa disso ele Se agrada de Israel, embora
desagradado de seu pecado, reprovado neste lugar; mas essa promessa só
pôde basear-se na justiça do Messias, a semente prometida, que é a
justiça de Deus.
22. cavernas — apanhados por seus inimigos nas cavernas onde
tinham buscado refúgio [Barnes]. Ou aprisionados em calabouços
subterrâneos [Maurer].
cárceres — já sejam prisões literais ou em suas próprias casas, de
onde não se atreviam a sair por medo do inimigo. A conexão é: Não
obstante o favor de Deus para com o Seu povo, por amor de Sua justiça
(v. 21), caíram na miséria (os cativeiros babilônico e romano e em sua
atual dispersão), devido a seu desprezo da lei divina; a prisão espiritual
também está incluída (v. 7).
ninguém há que os livre — Não há nenhum libertador (Is_63:5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 272
23. Um convite a que aprendessem com os passados juízos de Deus
a Lhe obedecer daí em diante.
24. Quem …? — sua calamidade não era efeito da casualidade,
mas sim ato direto de Deus, por seus pecados.
Jacó … Israel … temos pecado (AV, NVI, TB) — Mudança da
terceira pessoa à primeira. Isaías lhes fala qual profeta, como distinto
deles; logo se identifica com eles e reconhece sua parte de culpabilidade
nos pecados da nação (Cf. com Js_5:1).
25. eles — Israel (v. 24).
contudo, não o entenderam — Israel não aprendeu a lição do
arrependimento que se propunha ensinar-lhes com o juízo (Is_5:13; 9:13;
Jr_5:3).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 273
Isaías 43

Vv. 1-28. Uma Sucessão de Argumentos para que Israel se


Persuada de que Não obstante Sua Perversidade para com Deus
(Is_42:25), Ele os Livrará e Restaurará.

1. Mas agora — Não obstante os passados justos juízos de Deus


pelos pecados de Israel.
o SENHOR, que te criou — não só em sentido geral, mas também
te criei especialmente como povo peculiar para Mim mesmo (vv. 7, 15,
21; Is_44:2, 21, 24). De igual maneira, os crentes são “criados em Cristo
Jesus” (Ef_2:10), “um povo peculiar” (1Pe_2:9).
te remi — Um segundo argumento pelo qual deveriam confiar
nEle, além do de ser Sua criação. O hebraico significa resgatar mediante
preço pago pelos cativos (cf. com o v. 3). Babilônia devia ser o resgate
neste caso, quer dizer, devia ser destruída, a fim de que eles pudessem
ser livrados; assim Cristo Se fez maldição, ao ser sentenciado à morte,
para que nós fôssemos redimidos.
chamei-te pelo teu nome — Não meramente te chamarei em geral,
como em Is_42:6; 48:12; 51:2, mas sim te destinei a ser Meu povo
peculiar (cf. com o Is_45:3, 4; Êx_32:1; Êx_33:12; Jo_10:3).
2. pelos rios, eles não te submergirão — assim foi passar o
Jordão, mesmo quando este estava “transbordado”, quando sua crescente
era especialmente perigosa (Js_3:15; Jr_12:5).
fogo — frase proverbial para designar os perigos extremos
(Sl_66:12; também Sl_138:7). Cumprido literalmente no Mar Vermelho
(Êx_14:21, 22), e no caso dos três jovens lançados no forno de fogo por
causa de sua consciência (Dn_3:25, 27).
3. Egito por teu resgate — Ou Egito ou Israel deve perecer; Deus
dispôs que fosse o Egito; embora mais poderoso, devia ser destruído a
fim de que o Seu povo pudesse ser libertado; desta maneira o Egito
ocupou o lugar de Israel, como uma espécie de “resgate”. O hebraico
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 274
kofer, significa propriamente aquilo com que uma coisa se cobre, como
o betume com que se calafetou a arca de Noé, daí aquilo que cobre
nossos pecados: uma expiação. Nabucodonosor tinha submetido o Egito,
Etiópia (heb., Cush) e Seba, que descia de Cuxe, Gn_10:7,
provavelmente Meroe de Etiópia, uma grande ilha formada pelo Atbara e
o Nilo, conquistada pelo Cambises, sucessor de Ciro. Estas comarcas as
recebeu Ciro de Deus com o resto dos domínios babilônicos, em atenção
a que estava prestes a livrar a Israel. A alusão, entretanto, pode ser que
seja aos três anos de guerra, em que Sargão venceu estes países, e assim
tinha sua atenção desviada de Israel (vejam-se as Notas a Is_20:1)
[Vitringa]. Mas a alusão é mais geral, ou seja, a todas as instâncias em
que Jeová sacrificou a poderosas nações pagãs, quando a segurança de
Israel o requeria.
4. Visto que — Sempre, desde o começo, como quiser que jamais
houve tempo durante o qual Israel não fosse povo de Deus. A apódose
seria “Eu darei”. “Porque você sempre foi de grande estima aos Meus
olhos, foi honorável, e Eu te amei, darei”, etc. [Maurer]. Gesênius
entende como a Versão Inglesa que desde que significa: Porquanto. Se a
apódose for como na Versão Inglesa, “Desde que você foi preciosa” se
referirá ao tempo em que Deus tirou seu povo do Egito, manifestando
então, pela primeira vez, o amor que eternamente tinha tido para com
eles (Jr_31:3; Os_11:1); “honorável” e “amado” se referem aos signos
externos da honra e amor de Deus.
homens … povos — outras nações por ti (assim o v. 3) * .
tua vida — tua pessoa.
5. (Dt_30:3).
descendência — seus descendentes dispersos em todos os países.
Vitringa o interpreta da “linhagem” espiritual da igreja por mística
regeneração; pois a expressão é “trarei”, não “voltarei a trazer”. Este

*
A NVI (Nova Versão Internacional) deixa bem claro: “homens em seu lugar, e nações em troca de
sua vida” – Nota do Tradutor.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 275
sentido possivelmente esteja incluído, mas não até o ponto de excluir a
restauração literal de Israel (Jr_30:10-11; Am_9:9; Zc_2:6-13).
6. entrega — ou seja, o Meu povo.
filhos … filhas — o feminino unido ao masculino expressa a
completa totalidade de qualquer coisa (Zc_9:17).
7. chamados pelo meu nome — pertencentes a Israel, cujo povo,
como filhos de Deus, levam o nome de seu Pai (Is_44:5; 48:1).
para minha glória — (v. 21; Is_29:23).
8. Solene convite feito por Deus às nações, para discutir com Ele o
assunto de que Ele era superior a seus ídolos, e que possui poder para
libertar o Seu povo Israel (Is_41:1).
povo cego (RC) — os gentios, aqueles que, também, à semelhança
de Israel (Is_42:19), são cegos (espirituais), mesmo quando têm olhos,
isto é, faculdades naturais, pelas quais poderiam conhecer a Deus
(Rm_1:20-21) [Lowth]. Ou , antes, os judeus [Vitringa].
9. quem dentre eles pode anunciar isto …? — qual dos adivinhos
dos ídolos predisse isto, ou seja, quanto a que Ciro será o libertador de
Israel?
as predições antigas — as primeiras predições, como em Is_42:9)
[Maurer]. Ou: as coisas que têm que suceder primeiro (Nota, Is_41:21,
22). [Barnes].
Apresentem as suas testemunhas — como eu as Minhas (v. 10).
por elas se justifiquem — manifestem-se verazes em suas
pretendidas profecias.
e — que os homens ouçam sua predição e digam do evento:
verificou-se (Nota, Is_41:26).
10. Vós — Os judeus, aos quais tenho feito predições confirmadas
pelos atos, livrando-os, tão frequentemente, manifestei meu poder
(vejam-se vv. 3, 4; Is_44:8).
o meu servo — ou seja, todo o povo judeu (Is_41:8).
e me creiais — confiem.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 276
se formou — antes que eu existisse, nenhum dos falsos deuses se
formou. “Se formou” aplica-se aos ídolos, não a Deus. Ap_1:11 emprega
a mesma linguagem para provar a deidade de Jesus, como Isaías o faz
aqui para provar a de Jeová.
11. o SENHOR … não há salvador — em sentido temporal, de
Babilônia; em sentido eterno, do pecado e do inferno (Os_13:4;
At_4:12). Estes mesmos títulos, aplicados a Deus, aplicam-se a Jesus.
12. Eu anunciei — predisse o futuro (Is_41:22, 23).
salvação — à nação em tempos de perigo.
fiz ouvir — que Eu era Deus.
deus estranho não houve — ao qual as predições proferidas por
Mim pudessem atribuir-se. “Estranho” significa estrangeiro, introduzido
do estrangeiro.
13. antes — lit. desde o tempo da primeira existência do dia.
impedirá? — traduza-se, antes: quem “anulará”? [Horsley].
14. enviarei — ou seja, os medos e persas (Is_10:5, 6; 13:3).
farei embarcar — ao mar (Is_42:10) a fim de escapar da
ameaçadora destruição de Babilônia.
fugitivos — ou seja, os estrangeiros que residiam na populosa
Babilônia (Is_13:14), distintos dos caldeus [Maurer].
nos navios em que exultam (TB) — os que se alegram em seus
navios junto com os alegres marinheiros, os quais gritam com
fanfarronice. Sua alegria anterior dentro de seus navios contrasta
infelizmente com seu presente pânico, que os leva a refugiar-se nelas
(Is_22:2; Sf_2:15). Babilônia estava situada sobre o Eufrates, o qual
estava unido ao Tigre por um canal, e desaguava no Golfo Pérsico. O
Eufrates era famoso pelos barcos que o sulcavam e por seu comércio até
que os monarcas persas, para impedir uma revolta ou alguma invasão,
obstruíram a navegação mediante represa construídas através de ambos
os rios.
15. vosso — demonstrou ser especialmente vosso por lhes haver
libertado.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 277
Criador de Israel — (v. 1).
16, 17. Alusão à libertação de Israel e à derrota de Faraó no Mar
Vermelho, ilustração permanente do imutável caráter de Deus para com
o Seu povo (Êx_14:21, 22, 27, 28).
17. força — o poderio do exército inimigo, toda força bélica.
jazem juntamente — o modo como o exército de Faraó se afundou
em sua totalidade na aquática sepultura.
18. Tão maravilhosas serão as futuras interposições de Deus em seu
favor, que as passadas, comparadas com estas, serão lançadas no
esquecimento. O último evento a que evidentemente se alude é ao da
futura restauração de Israel. De maneira que as “coisas passadas” são os
acontecimentos da destruição de Senaqueribe e a volta de Babilônia. As
coisas “antigas” são eventos mais antigos ainda, como a libertação do
Egito, a do Mar Vermelho e a entrada em Canaã [Vitringa].
19. nova — sem precedente por seu maravilhoso caráter (Is_42:9).
está saindo à luz — como erva que germina; bela imagem do
silencioso embora seguro e gradual crescimento dos eventos da
Providência de Deus (Mc_4:26-28).
caminho no deserto — tal como Israel foi guiado e abastecido de
água por Jeová no caminho do deserto, desde o mar Vermelho até entrar
em Canaã; mas a nova libertação será seguida de manifestações do poder
e amor de Deus que eclipsarão a antiga (cf. com Is_41:17-19). “Eu
abrirei um caminho, não meramente no Mar Vermelho, mas no deserto
do mundo inteiro; e não brotará da rocha meramente um rio, mas sim
muitos, que refrescarão, não os corpos, como antes, mas sim as almas
dos sedentos, de maneira que se cumprirá a profecia: ‘Com alegria
tirareis água das fontes da salvação’” [Jerônimo]. “Um caminho” fica
com frequência em lugar da verdadeira religião (At_9:2; At_18:26).
“Rios” expressam as influências do Espírito Santo (Jo_7:37-39). A literal
restauração de Israel no futuro está incluída aqui, como se desprende
comparando Is_11:15, 16.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 278
20. A besta (NKJV) — imagem dos idólatras, manchados e
contaminados de sangue, que habitam, à semelhança dos dragões, etc.,
nas solidões da gentílica ignorância, bem que devem converter-se. Ou:
lit., que Deus dará tão copiosa inundação de água no deserto que as
próprias bestas louvarão (linguagem poética) ao Senhor (Sl_148:10)
[Jerônimo].
os chacais — (Nota, Is_13:22).
21. Esse povo (RC) — ou seja, o mesmo que “meu povo, meu
escolhido” (vejam-se vv. 1, 7; Sl_102:18).
meu louvor — por causa dos muitos e grandes benefícios que lhes
foram outorgados, especialmente o de seu restauração.
22. Israel, entretanto, não deve pensar que esses divinos favores se
devam a sua piedade para com Deus. Outro tanto deve pensar o crente
(Tt_3:5).
Contudo — antes, pois.
de mim te cansaste — (Am_8:5-6; Ml_1:13). Embora “eu não me
cansei que ti” (v. 23), entretanto, “de mim te cansaste”.
23. o gado miúdo dos teus holocaustos — melhor, o cordeiro ou
cabrito, que exigia a lei que se oferecesse a Deus diariamente
(Êx_29:38; Nm_28:3).
sacrifícios — que se ofereciam de certa maneira; enquanto que o
hebraico, por holocausto ou “oferta queimada”, denota o que sobe como
oferta consumida pelo fogo.
não te dei trabalho — quer dizer, prestar o serviço de um escravo
(Mt_11:30; Rm_8:15; 1Jo_4:18; 1Jo_5:3).
com ofertas de manjares — ofertas sem derramamento de sangue
(Lv_2:1-2).
te cansei — em oposição ao v. 22. “de mim [Tu] te cansaste”.
Embora Deus exigia na lei tais ofertas, contudo, não as exigia de modo
que “fatigasse” ao que as oferecia, ou as exigisse em casos, como o do
cativeiro de Babilônia, quando lhes era fisicamente impossível oferecê-
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 279
las. Deus não requereu deles senão a subordinação a deveres morais
superiores (Sl_50:8-14; Sl_51:16-17; Mq_6:3, Mq_6:6-8).
24. Não me compraste — pois a cana aromática (aromatic
calamus) não era indígena da Palestina, mas devia ser comprada em
países estrangeiros (Jr_6:20). Esta era usada pelos hebreus para fazer o
unguento sagrado (Êx_30:23). Oferecia-se com frequência como sinal de
hospitalidade.
satisfizeste — (Jr_31:14). Deus Se digna usar a linguagem humana
para adaptar-Se aos modos do pensamento humano.
me deste trabalho — bem “que Eu não te fiz servir a ti” (v. 23).
Nosso pecado fez com que o Filho de Deus se fizesse “servo”. Ele teve
que servir para nos salvar da servil escravidão (Fp_2:7; Hb_2:14-15).
me cansaste — Embora Eu “nem te cansei” (v. 23; veja-se
Is_1:14).
25. (Is_44:22).
Eu, eu mesmo, sou — o Deus contra quem foi cometido seu
pecado e o único que pode e quer lhes perdoar.
por amor de mim — (Is_48:9, 11). Que coisa mais abominável é o
pecado! Como que é cometido contra Deus, a fonte da graça! “Apago” é
uma imagem tomada de um livro de contas, em que, quando se salda
uma dívida, a soma debitado fica apagada.
e dos teus pecados não me lembro — (Jr_31:34). Deus quando
perdoa, esquece, isto é, trata o pecador como se tivesse esquecido os seus
pecados.
26. Desperta-me a memória — Lembra-me todas as desculpas que
você tiver que alegar perante mim em sua defesa. Imagem tomada de um
processo (Is_1:18; 41:1). Nossa melhor defesa consiste em lembrar a
Deus Suas promessas. É o que fez Jacó em Maanaim e em Penuel
(Gn_32:9, Gn_32:12). Deus então, em lugar de “argumentar contra nós
com Seu grande poder”, “porá sua força em nós” (Jó_23:6); e dessa
maneira nos convertemos naqueles que fazemos “lembrar ao Senhor”
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 280
(Is_62:6) “Declara a justiça de Deus”, vindicada por Jesus Cristo, “para
que sejas justificado” (Rm_3:26; cf. Isaías 20 e Sl_143:2).
27. Teu primeiro pai — dito coletivamente em lugar de seus “mais
antigos antepassados”, como o demonstra o paralelismo seus “guias”
[Maurer]. Ou, seus principais ministros de religião ou sacerdotes
[Gesênius]. É difícil que seja Adão, o pai comum de todas as nações, o
aludido neste lugar, visto que seria impróprio mencionar seu pecado num
discurso dirigido especialmente aos judeus. Tampouco pode ser Abraão,
visto que o cita em todas partes como exemplo de fidelidade, não de
pecado. Entretanto, se aplica-se a passagem em seu significado primário
à igreja em geral, o aludido nele seria Adam.
guias — lit., intérpretes entre Deus e o homem: os sacerdotes
(Jó_33:23; Ml_2:7).
28. profanarei os príncipes — (Sl_89:39; Lm_2:2, Lm_2:6-7). Eu
os estimei ou tratou como pessoas não sagradas. Eu os deixei sofrerem o
mesmo trato que o comum do povo, despojados de sua sagrada função e
levados em cativeiro.
príncipes do santuário — governadores (1Cr_24:5); que dirigem
seus santos serviços: os sacerdotes.
anátema (RC) — hebreu jerim, anátema solene, ou excomunhão.
opróbrio — (Sl_123:3-4).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 281
Isaías 44

Vv. 1-28. Continuação do Capítulo Precedente (vv. 1-5).


1. Agora — Embora hajas pecado, ouve, entretanto, a promessa
misericordiosa de Deus referente à tua libertação.
escolhi — (Is_41:8).
2. (Is_43:1-7).
formou desde o ventre — (Assim o v. 24; Is_49:1, 5). O sentido é
semelhante ao de Is_1:2: “Criei filhos e os engrandeci”.
Jesurum — Diminutivo dado a Israel. O título afetivo completo
era Israelum, o qual por contração resultou Jesurum, com uma alusão à
raiz hebraica, jashar, “justo”, “perfeito” (veja-se nota, sobre “Aquele que
é perfeito”, Is_42:19) [Gesênius] (Dt_32:15).
3. (Is_41:18).
sobre o sedento — (Is_35:6, 7), figurado, por um homem sedento
de justiça (Mt_5:6).
torrentes — as abundantes influências do Espírito, mais fortes que
a água.
meu Espírito — incluso todos os dons espirituais e temporais,
como o paralelo “bênçãos” o demonstra (Is_11:2; 32:15).
descendentes — (Is_59:21).
4. brotarão — sua “linhagem” e seus “descendentes” (v. 3).
como salgueiros — “crescerão como salgueiros entre a erva, junto
aos cursos de água” [Horsley]. Ou: “Crescerão entre a erva (isto é, com
louçania; porque o que cresce entre a erva cresce exuberantemente)
como salgueiros junto às correntes de água”, que faz com que as
cláusulas paralelas resultem melhor equiparadas [Maurer].
5. A terceira cláusula responde no paralelismo à primeira, a quarta à
segunda.
Eu sou do SENHOR — (Jr_50:5; 1Co_6:19-20; 2Co_8:5).
se chamará do nome de Jacó — Os gentios (como resultado do
derramamento do Espírito Santo sobre Israel, “a semente” de Jeová,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 282
primeiro), se unirão aos filhos de Jacó para adorar a Deus (cf. Is_43:7;
Sl_49:11). Ou chama, isto é, invoca e celebra o nome de Jacó, e se une à
sua nação e religião [Maurer]. (Sl_24:6).
escreverá na própria mão: Eu sou do SENHOR — à maneira de
solene e pública aliança, consagrando-se ao serviço de Deus (cf.
Ne_9:38), diante de “testemunhas” (Hb_12:1), à maneira de um contrato
civil (Jr_32:10, Jr_32:12, Jr_32:44). Assim sucede ao cristão com o
batismo e a Ceia do Senhor [Barnes]. Lit., “encherá a mão de cartas
(Êx_32:15; Ez_2:10) em honra de Jeová”; ou “escreverá sobre sua mão:
Eu sou de Jeová” (cf. Is_49:16; Ap_13:16); que alude à punção de mãos
dadas com tinta, mediante a qual um soldado denotava que pertencia ao
seu comandante; por esse meio os cristãos estavam acostumados a
marcar-se a si mesmos com o nome de Cristo [Lowth]. A primeira
interpretação é a mais natural.
por sobrenome tomará o nome de Israel — Maurer e Gesênius
interpretam isto como o autoriza o hebraico, que responde a sua tradução
da segunda cláusula paralela: “invoca brandamente o nome de Israel”
(fala em termos honoráveis a respeito dele). Se retivermos a Versão
Inglesa, devemos, segundo o hebraico, entendê-lo assim: “Tomará por
sobrenome o honorável nome de Israel” (Is_45:4).
6. Aqui segue um argumento em favor de Jeová, como o único
Deus, e contra os ídolos, como coisas vãs (veja-se Nota a Is_41:4; 43:1,
10-12).
7. Quem pode, exceto Deus, predizer eventos futuros e declarar
deste modo a ordem e o momento em que cada um sucederá? (Nota a
Is_41:22, 23; 45:21).
chamará (RC) — Quem proclamará abertamente (Is_40:6) as
coisas futuras? [Maurer]. Ou: fará vir o evento, ordenando que ocorra?
(Is_46:11; 48:15). [Barnes].
porá em ordem (RC) — Não há casualidade ou confusão; todos os
eventos ocorrem na ordem mais apropriada para que sirvam aos planos
de Deus.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 283
perante mim (RC) — Todas as coisas existem e têm lugar por
Deus (Ap_4:11). Mas Maurer traduz: “Que ele me faça saber”
(Jó_37:19).
desde que ordenei um povo eterno (RC) — Os judeus, desde que
os escolhi como Meu povo em tempos antigos, tenho-lhes feito predições
a respeito do futuro; por conseguinte, estavam qualificados para ser Suas
testemunhas (v. 8). Quanto a que fossem “o antigo povo de Deus”, veja-
se Dt_32:7-9; Jr_31:3; tipo da igreja redimida (Ef_1:4).
8. temais — lit., se assombrem ou fiquem aturdidos de temor.
desde aquele tempo — isto é, dede o tempo que te “escolhi por
meu povo” (v. 7). Desde que chamei a Abraão os seus descendentes
foram os depositários das predições do Redentor, enquanto que a
promessa de Ciro não foi conhecida até o tempo de Isaías; por
conseguinte, o evento alvo da predição e ao cumprimento do qual Deus
apela em prova de que só Ele é Deus, é a redenção do homem por um
descendente de Abraão em cuja pessoa “o antigo povo” foi no princípio
formalmente “escolhido”. A libertação dos judeus por Ciro menciona-se
depois como objeto dessa grande misericórdia [Horsley].
não há outra Rocha — hebreu tsur “rocha” (Dt_32:4), quer dizer,
uma fortaleza para refugiar-se nela, e um sólido fundamento para
edificar em cima.
9. (Is_40:18, 20; 41:29).
e as suas coisas preferidas — os ídolos de que se orgulham e nos
quais se deleitam.
de nenhum préstimo — (Hc_2:18),
eles mesmos são testemunhas — contraste-se com “Vós sois as
minhas testemunhas” (v. 8). “Eles”, quer dizer, os ídolos e os que os
fazem, são eles próprios testemunhas contra si mesmos, porque os ídolos
nada podem ver nem saber (Sl_115:4-8).
para que eles sejam confundidos — consequência que se deduz de
todo o argumento anterior, e não meramente das palavras imediatamente
anteriores, como Is_28:13; 36:12. Eu digo tudo isto para mostrar que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 284
estão sentenciados a perecer vergonhosamente, que é o único fim
apropriado para eles.
10. Quem ... ? — Pergunta sarcástica: “Quão degradado é o homem
que faz um deus!” Há aqui uma contradição de termos. Um deus feito,
adorado por aquele que o fez! (1Co_8:4).
11. seus seguidores — Os associados de quem faz um ídolo ou do
próprio ídolo (veja-se Dt_7:26; Sl_115:8; Os_4:17).
não passam de homens — são em si homens mortais. No que pode
ser melhor o ídolo que seu construtor?
ajuntem-se todos e se apresentem — como num tribunal de
justiça, para assistir em juízo ao debate entre Deus e eles (Nota, Is_41:1,
21). O resultado do processo será: “Serão atemorizados, etc.”
12. faz o machado — antes, “prepara (tem que suprir-se de) um
machado”; quer dizer, aquilo com que deve cortar a árvore escolhida
para fazer dele o ídolo. O “ferreiro” (heb., o que trabalha em ferro) aqui
responde ao “carpinteiro” (o heb., o que trabalha em madeira). “Ele
trabalha (o machado, não o ídolo, que era madeira, não metal) nas
brasas”, etc. O machado a trabalha ou a lavra; não se funde com ela. O
ferreiro faz o machado para o carpinteiro.
fome … não bebe água — está ansioso para acabar a sua obra
enquanto o ferro está quente. Se o deus pudesse algo, não permitiria que
o trabalhador “desmaiasse” de fome ou de sede. O missionário Williams
diz que os ilhéus dos mares austrais quando fazem um ídolo se abstêm de
comer e beber.
13. Depois do trabalho do ferreiro, que prepara as ferramentas, vem
o do carpinteiro, que faz o ídolo.
cordel — antes, “linha” [Barnes].
com o lápis — um lápis [Horsley]. lit., ocre vermelho, aquele que
se usa para assinalar sobre a madeira o desenho da figura [Lowth]. Ou
melhor, o estilo ou buril, com que se faz a incisão do contorno
[Gesênius].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 285
plaina — melhor, cinzel ou as ferramentas de esculpir, pois uma
plaina não seria adequada para esculpir.
compasso — de uma raiz hebraica, que significa fazer um círculo.
De essa maneira se obtém a simetria da forma.
à semelhança e beleza de um homem — Esta é uma ironia. A
ideia mais elevada que os pagãos podiam formar-se de um deus era a de
imaginá-lo à semelhança deles. Jerônimo dizia: “Quanto mais linda é a
estátua tanto mais augusto o deus era considerado”. A encarnação do
Filho de Deus condescende com este sentimento antropomórfico, tão
natural no homem, mas em forma tal como para elevar os pensamentos
do homem até o infinito Deus, que “é espírito”.
possa morar em uma casa — Era a única coisa para que servia,
visto que nem podia ouvir nem salvar (cf. livro da Sabedoria 13:15).
14. Descrição do material de que se fazia o ídolo.
carvalho — Da raiz hebraica, ser duro, como o é o carvalho, tão
abundante em Palestina [Gesênius].
fazendo escolha — lit., “e cobra força entre as árvores do bosque”;
quer dizer, que (o carpinteiro) esforça-se para prover-se de grande
quantidade de madeira [Lowth]. Ou: “escolhe”, pois “o tem feito forte
para ti”. Como se dissesse: escolheste-o (Sl_80:15, Sl_80:17).
[Gesênius]. Mas o sentido da Versão Inglesa é correto: “fortaleceste-o,
cedo”, quer dizer, para que fosse uma árvore viçosa; sentido que se
ajusta ao do Sl_80:15, Sl_80:17, onde se compara a Israel com uma
videira plantada por Jeová [Maurer].
a chuva o faz crescer — Embora a árvore fosse plantada pelo
homem, este, não obstante, não a pôde fazer crescer; e assim, se dispor-
se a fazer um ídolo, deve depender do verdadeiro Deus para a chuva
(Jr_14:22).
15. A mesma árvore que provê o material para o ídolo usa-se em
parte como combustível para o fogo, com que devem suas comidas e
esquentar-se.
se prostra — diante delas, ou seja, de tais imagens [Maurer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 286
16. Metade … metade (RC) — não partes distintas, mas sim a
mesma parte do lenho (cf. v. 17).
assa-a — para comê-la (v. 19).
vi o fogo (RC) — experimentei os benefícios de seu calor.
18. se lhes grudaram os olhos — Deus os entregou à cegueira
judicial; não de uma maneira fisicamente direta, mas por Sua providente
intervenção com que exercita Seu governo moral (Is_6:9, 10).
“Grudaram”, lit., mela, engessa; é costume no Oriente selar em alguns
casos os olhos dos delinquentes.
19. Nenhum deles cai em si — não leva em consideração
(Is_42:25; Jr_12:11).
abominação — é o termo escritural para designar um ídolo, não
meramente abominável, mas sim a essência do que isso é aos olhos de
Deus, zeloso de Sua glória (1Rs_11:5, 1Rs_11:7).
20. se apascenta de cinza — fig., porque o idólatra se deleita no
que é vão (Pv_15:14; Os_12:1). “Alimenta-se de vento”. Possivelmente
haja também aqui uma alusão ao fato de que tendo sido o deus feito de
uma árvore, a metade do qual foi reduzido a cinzas pelo fogo (vv. 15, 16,
17); o ídolo, por não ser melhor, pôde e deve ter-se reduzido a cinzas,
assim como a outra metade.
seu coração enganado — O coração e a vontade são os primeiros
em errar, logo seguem o intelecto e a conduta (Rm_1:28; Ef_4:18).
Não é mentira aquilo em que confio? — Não é meu artefato (o
ídolo) um engano?
21. Lembra-te — “Não seja como os idólatras, que não repensam
em seu coração” (v. 19).
destas coisas — As que se acabam de dizer referente à estupidez da
idolatria.
és meu servo — não como os idólatras, escravos do tronco de uma
árvore (v. 19). Vejam-se vv. 1, 2.
não me esquecerei — Por conseguinte, você deve “se lembrar” de
mim.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 287
22. Desfaço — a dívida de seu pecado, apagando-a do livro de
contas em que estava anotada (Êx_32:32-33; Ap_20:12).
como a nuvem — que dispersa o vento (Sl_103:12).
como a névoa — gradação descendente. Não só a nuvem das mais
graves “transgressões”, mas também a “névoa” (“vapor”) [Lowth], não
tão densa, mas que cobre o céu como uma bruma) dos inúmeros
“pecados”. Estes últimos, embora o homem não lhes dê muita
importância, necessitam, tanto como os primeiros, ser eliminados pelo
Sol da justiça; do contrário, serão uma bruma que nos separará do céu
(Sl_19:12-13; 1Jo_1:7-9).
torna-te … porque — A antecedente redenção é o fundamento e o
motivo do arrependimento. Não nos arrependemos para que nos redima,
mas sim porque nos redimiu (Zc_12:10; Lc_24:47; At_3:18-19). Aquele
que crê que foi perdoado, não pode menos que O amar (Lc_7:43,
Lc_7:47).
23. Chamada à inanimada natureza a louvar a Deus, porquanto esta
também participará da vindoura libertação do “cativeiro da corrupção”
(Rm_8:20-21).
fez isto — efetuou a redenção do literal e espiritual Israel.
profundezas da terra — por oposição aos “céus”, as “montanhas”,
os “bosques” e as “árvores”, que são os objetos intermediários em
gradação descendente (veja-se Sl_96:11-12).
24-28. Confirmação de Suas promessas à igreja e a Israel, mediante
vários exemplos de sua onipotência; entre estes a restauração dos judeus
por Ciro.
sozinho — Lit. Quem foi comigo? Quer dizer, quando eu fiz isto,
que corresponde a “por mim mesmo”, na cláusula paralela (cf.
semelhantes frases com Os_8:4; Jo_5:30) [Maurer].
25. os sinais — os prognósticos, os pretendidos milagres que eles
fazem como provas de seus poderes sobrenaturais.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 288
dos profetizadores de mentiras — (Jr_50:36) exorcistas ou
astrólogos; homens que levam uma vida retirada e contemplativa, para
estudar a adivinhação pelos signos das estrelas [Vitringa].
que faço tornar atrás — envergonhados de que suas predições não
se realizaram. “Fazer voltar o rosto” é impedir uma derrota (Is_36:9;
1Rs_2:15). Os “magos” são os adivinhos que, quando Babilônia foi
atacada por Ciro, predisseram a destruição dele.
26. Seu servo (NKJV) — em sentido coletivo, pelos profetas em
geral, os quais predisseram o retorno de Babilônia, o que concorda com
seus “mensageiros” (plural, na cláusula paralela) [Maurer]. Finalmente,
e como antítipo, o Messias, que consumará a incorporação de todos os
profetas e mensageiros de Deus (Ml_3:1; Mt_21:34, Mt_21:36-37;
Jo_10:36); daí o singular, “Seu servo”.
o conselho — as predições, os conselhos dos profetas referente ao
futuro (cf. “conselheiro” Is_41:28).
Jerusalém — considerada, profeticamente, como em ruínas.
27. Refere-se ao Eufrates, que foi desviado por outro canal, perto de
Babilônia, por Ciro, quem tirou desse modo a cidade. O “profundo”
aplica-se ao Eufrates, como se fosse “um mar” (Jr_51:32, Jr_51:36). Por
“rios” se alude aos canais artificiais traçados do Eufrates para a rega dos
campos; quando este foi desviado de seu leito para com um leito
diferente, ou seja, um lago de 64 quilômetros quadrados, formado
originalmente para receber a água supérflua de uma inundação, os canais
se secaram.
28. meu pastor — tipo do Messias (Is_40:11; Sl_23:1; Sl_77:20;
Ez_34:23).
tudo o que me apraz — tal fará o Messias (Is_42:1; 53:10). Esta é
a primeira vez que expressamente se nomeia a Ciro; e isso 150 anos
antes de começar a reinar, que foi em 550 a.C. O nome procede do persa
Khorschid, “o sol”; era frequente que os reis usassem os nomes de seus
deuses, e o sol era adorado como deus pelos persas.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 289
que digo — antes, “e que diz”. Isto se refere a Deus não a Ciro. A
Palavra de Deus será instantaneamente eficaz para levar a cabo Sua
vontade.
de Jerusalém … e do templo — anteriormente a mesma voz
hebraica se traduziu “de Ciro” [Barnes]. A Versão Almeida é mais
gráfica. Segundo Josefo, Ciro chegou a ter conhecimento desta profecia
de Isaías, pronunciada tanto tempo antes; daí que se sentisse induzido a
fazer uma coisa tão contrária à política do Oriente, que foi prestar ajuda
aos cativos judeus para retornar à sua pátria e reedificar o templo e a
cidade.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 290
Isaías 45

Vv. 1-25. Continua o Assunto da Libertação por Ciro

Vv. 1-7. Estes sete versículos deveriam ter-se acrescentado ao


último capítulo, e começar o novo com o v. 8: “Destilai, ó céus”
[Horsley]. As alusões à libertação do Messias aparecem frequentemente
dentre os detalhes locais e temporais da libertação de Babilônia, como o
grande e supremo fim da profecia.

1. Seu ungido — Ciro é chamado assim por ter sido consagrado


pela Providência de Deus como rei para cumprir Seus propósitos
especiais. Embora na Pérsia não se ungia os reis, a expressão aplica-se a
ele por referir-se ao costume judeu de consagrar os reis para sua régia
função, ungindo-os.
a quem tomo pela mão direita — Imagem ocasionada pelo
costume de sustentar uma pessoa fraca pela mão direita (Is_42:6).
abater as nações — ou seja, os cilicianos, os sírios, babilônios,
lídios, bactrianos, etc.; seu império se estendia desde o Egito e o
Mediterrâneo até o Oceano Índico, e desde a Etiópia ao Ponto Euxino
(hoje Mar Negro).
descingir os lombos — isto é, o cinto com que se cingiam; e desse
modo debilitá-los. No Oriente, quando os vestidos soltos os cingiam
fortemente ao corpo, era emblema de força e de preparação para a ação;
o ato de descingir era indício de fraqueza (Jó_38:3; Jó_12:21); “debilitar
a força do poderoso” (Margem da Versão Inglesa), “afrouxar o cinturão
do forte”. “Se desataram os cintos de seus lombos”; isto é, de Belsazar
(Dn_5:6). Isto sucedeu durante o sítio posto por Ciro, em vista da
misteriosa escritura nas paredes do palácio. Aquele que teria sido tirado
de surpresa, desapercebido, é predito aqui.
abrir ... portas — Durante a reunião de amigos de Babilônia, na
noite de sua tomada, as portas interiores das ruas que davam ao rio,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 291
foram deixadas abertas, pois havia paredes com portas de ambos os lados
do Eufrates, as quais, se tivessem sido fechadas, as hostes invasoras
teriam ficado encerradas no leito do rio, onde os babilônios as teriam
facilmente destruído. As portas do palácio também foram deixadas
abertas, de maneira que a cidade ficou acessível por toda parte. E era tal
a extensão do palácio que os que viviam em seus extremos foram feitos
prisioneiros antes que as vozes de alarme chegassem ao centro do
mesmo. [Heródoto, 1. sec. 191.]
2. endireitarei os caminhos tortuosos — (Is_40:4), melhor: “Farei
plainas as montanhas” [Lowth], isto é, eliminarei do caminho todas as
pessoas e coisas que estorvem. O KERI lê como no v. 13: “endireitarei”
(ver a margem da Versão Inglesa).
portas de bronze — (Sl_107:16). Heródoto, 1, sec. 179, diz:
Babilônia tinha 100 portas de bronze maciço, vinte e cinco por cada um
dos quatro lados da cidade. Os pilares também eram de bronze.
trancas de ferro — com os quais eram trancadas as portas.
3. tesouros escondidos — isto é, em lugares subterrâneos, prática
comum no Oriente. Os feiticeiros pretendiam poder mostrar onde se
encontravam esses tesouros; em oposição a tais pretensões, diz Deus que
daria realmente a Ciro tesouros ocultos (Jr_50:37; Jr_51:13). Plínio
(Natural History, 33:3) diz que Ciro obteve da conquista da Ásia o peso
de 15.640 quilos de ouro, além de copos desse mesmo metal, e 500.000
talentos de prata, assim como a taça de Semíramis, que pesava quinze
talentos.
para que saibas — isto é, que ele não era meramente “o Deus de
Israel”, mas sim o era Jeová, o verdadeiro Deus. Ed_1:1-2, demonstra
que a correspondência do evento com a predição tinha o desejado efeito
em Ciro.
que te chama pelo teu nome — havendo designado a você por seu
nome faz tanto tempo (Is_43:1).
4. (Nota, Is_41:8; 43:14).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 292
e te pus o sobrenome — isto é, designei-te para levar a cabo meu
desígnio de restaurar a Judá (vejam-se Notas, Is_44:5; 44:28; 45:1).
Maurer aqui, o mesmo que em Is_44:5, traduz: “Eu te pus um honroso
nome”.
ainda que não me conheces — antes de te haver chamado a
cumprir esta função; depois do chamado de Deus, Ciro O conheceu em
certo grau (Ed_1:1-3).
5. (Is_42:8; 43:3, 11; 44:8; 46:9).
Eu te cingirei — ao mesmo tempo que afrouxarei o cinturão dos
lombos dos reis (v. 1), corroborarei a ti, mas os debilitarei diante de ti.
ainda que não me conheces — (v. 4). Deus conhece os Seus
escolhidos antes de que eles O conheçam (Gl_4:9; Jo_15:16).
6. Do nascimento do sol até onde se põe; isto é, do oriente até o
ocidente: todo o mundo habitável. Não se diz “do norte até o sul”,
porque isso não indicaria o mundo habitável, como o indica “do oriente
ao ocidente” (Ed_1:1, etc.). A conquista de Jerusalém por Babilônia, a
capital do mundo, e a destruição desta e a restauração dos judeus, por
Ciro, quem reconheceu expressamente que era o instrumento nas mãos
de Deus, foram admiravelmente adequadas para obter que Jeová fosse
reconhecido em todo mundo como o único verdadeiro Deus.
7. Eu formo a luz e crio — Yatzar, dar “forma” à matéria já
existente. Bara, “criar” do nada o escuro e caótico material.
luz … trevas — lit. (Gn_1:1-3); é deste modo emblemático da
prosperidade de Ciro e da calamidade de Babilônia e das nações que
deviam ser vencidas [Grocio]. Isaías também alude à crença dos persas
em dois coexistentes e eternos princípios, sempre em luta um com o
outro, a luz ou o bem e as trevas ou o mal, Aúra-Masda e Arimã. Deus
aqui, em oposição a esse conceito, afirma sua soberania sobre ambos
[Vitringa].
crio o mal — não o mal moral (Tg_1:13), mas sim, em contraste
com a “paz” na cláusula paralela, a guerra, os desastres (cf. Sl_65:7;
Am_3:6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 293
8. Destilai — a fertilizante chuva (Sl_65:12).
céus — as nuvens. Mais baixas que os “céus”.
a justiça — quer dizer, o orvalho do Espírito Santo em virtude do
qual prevalecerá a “justiça” (veja-se o final do versículo).
terra — sentido figurado, pelos corações dos homens que vivem
nela, abertos para receber a verdade mediante a ação do Espírito Santo
(At_16:14).
abra-se … e produza — que a terra e os céus produzam a justiça,
etc. Horsley prefere a lição da Bíblia da rainha Isabel: “Abrase a terra e
surjam a salvação e a justiça; brotem junto; Eu Jeová o criei” (v. 13).
Maurer traduz: “Que todas as sortes de salvação (prosperidade)
frutifiquem” (Sl_72:3, Sl_72:6-7). O despertar religioso depois da volta
de Babilônia sugere ao profeta a difusão do evangelho do Messias,
especialmente em dias ainda futuros; daí a elevação do estilo a um tom
superior ao aplicável ao estado da religião depois da aludido retorno.
9. O profeta se antecipa às objeções que os judeus pudessem alegar
quanto a por que Deus permitia o cativeiro deles, e por que os teria que
fazer retornar dele mediante um príncipe estrangeiro, como era Ciro, e
não mediante um judeu (Is_40:27). Mas o que principalmente e em
última instância se adianta é as objeções que os judeus estavam prestes a
fazer contra o ato soberano de Deus de adotar a todo mundo gentio
como o Israel espiritual (v. 8, que se refere à difusão universal do
evangelho), como se isto fosse uma violação de seus privilégios
nacionais; isto mesmo o cita Paulo expressamente em Rm_9:4-8;
Rm_9:11-21.
Ai daquele … Criador! E não passa de um caco de barro entre
outros cacos — “um vaso entre os vasos da terra”. Uma criatura frágil e
indigna como é o fragmento de uma vasilha entre outros como ele! e
pretende, entretanto, lutar com seu Criador! A Versão Inglesa denota que
é pertinente que um homem lute com outro homem, em oposição a
2Tm_2:24 [Gesênius].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 294
Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua
obra não tem alça — dirá sua obra a respeito de ti: Não tens mãos?
10. Se for agravante o fato de que um filho nascido em condições
desfavoráveis censure a seus pais o fato de havê-lo trazido ao mundo,
por mais forte razão é repreender a Deus por seus procedimentos para
conosco. Traduza-se, antes, ao pai e à mulher. Os judeus consideravam-
se os filhos exclusivos de Deus, e estavam indignados de que Jeová
adotasse aos gentios além deles. Ai daquele que diz ao pai: Por que
geraste mais filhos?! [Horsley].
11. Perguntai-me … demandai-me (RC) — Em lugar de lutar
comigo com relação aos Meus propósitos, Sua sabedoria consiste em
perguntar em oração e até em me mandar, sempre que redunde a minha
glória e a seu real proveito (Mc_11:24; Jo_16:23, Jo_16:13, final do
versículo; 1Jo_3:22).
de meus filhos — (Is_54:13; Gl_3:26).
das obra de minhas mãos — em sentido espiritual (Ef_2:10); e
também no literal, Israel (Is_60:21). Maurer traduz: Em lugar de
“mandar”, deixem a meu cuidado o que concerne a meus procedimentos
para com os Meus filhos; e quanto à obra de Minhas mãos, fazer o que
eu quero com o Meu. Lowth lê isto interrogativamente: Atrevem-se a Me
perguntar, e a me ditar o que devo fazer? (vv. 9, 10). O sentido é o
mesmo se se tomarem as palavras ironicamente. Mas a Versão Inglesa
está melhor.
12. O mesmo argumento em favor da oração, inferido da
onipotência de Deus e o consequente poder para conceder qualquer
petição, encontra-se em Is_40:26-31.
Eu ... as minhas mãos — Assim reza o texto hebraico (Sl_41:2).
“Tu … Tua mão” (ambos, nominativos em aposto).
13. a Ciro — Ciro, tipo do Messias, que redime os cativos de
Satanás “sem dinheiro e sem preço” (Is_55:1), “livremente”
(gratuitamente) (Is_52:3; 61:1; Zc_9:11; Rm_3:24).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 295
na minha justiça — para cumprir os Meus justos propósitos (Nota,
Is_41:2; 42:6; Jr_23:6).
14. A linguagem alude só de passagem ao Egito, Etiópia e Sela,
dados a Ciro como resgate em lugar de Israel, ao qual ele tinha libertado
(Is_43:3); mas no principal e de modo plenário, descreve a reunião dos
gentios com Israel (At_2:10-11; At_8:27-38), especialmente na futura
restauração de Israel (Is_2:2; 14:1, 2; 19:18-22; 60:3-14; 49:23;
Sl_68:31; Sl_72:10-11).
A riqueza — quer dizer, a riqueza adquirida com o trabalho
(Jr_3:24).
os sabeus, homens de grande estatura — os nativos do Meroe, no
Alto Egito. Heródoto (Jr_3:30) chama os etíopes “os homens mais altos”
(Notas, Is_18:2; 1Cr_11:23).
seguir-te-ão — Jerusalém “minha cidade”, v. 13).
em grilhões — (Sl_149:8). “Os santos julgarão o mundo”
(1Co_6:2, ) e “governarão as nações com vara de ferro” (Zc_4:12-14;
Ap_2:26-27). Os “grilhões” no caso dos obedientes, serão o jugo suave
do Messias; do mesmo modo que “a espada do Espírito” é salvadora para
o crente e condenatória para o descrente (Jo_12:48; Hb_4:12;
Ap_19:15).
contigo está Deus — (Jr_3:19).
15. Deus que te ocultas (RC) — Horsley, à semelhança de
Jerônimo, explica isto como a confissão do Egito, etc., de que Deus está
oculto em forma humana na pessoa de Jesus. Antes, se o relacionarmos
com os vv. 9 e 10, o profeta, contemplando o maravilhoso resultado dos
aparentemente obscuros conselhos de Deus, censura os que se atrevem a
pôr em tela de juízo os procedimentos de Deus (Is_55:8, 9; Dt_29:29). A
fé percebe, até sob o véu que o oculta, ao mantenedor da aliança, o Deus
salvador de Israel (Is_8:17).
16. Envergonhados (TB) — desapontadas na esperança de que
seus ídolos os deviam ajudar (Notas, Is_42:17; Sl_97:7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 296
17. pelo SENHOR — (vv. 24, 25) contrastado com os ídolos, que
não podem subministrar nem sequer a ajuda temporal (v. 16); mas em
Jeová há eterna salvação (Is_26:4).
não sereis envergonhados — como oposto à ruína dos idólatras, os
quais, em suas obrigações, serão envergonhados (nota v. 16).
18. (nota v. 12).
não a criou para ser um caos, mas para ser habitada — Por
conseguinte, Judá, desolada durante o cativeiro de Babilônia, será
povoada de novo pelos expatriados. Os judeus inferem desta passagem
que depois da ressurreição a terra será habitada, pois não há razão válida
para que esta exista então em vão (2Pe_3:13).
19. Não falei em segredo — não como os oráculos pagãos, que
davam seus respostas desde as escuras cavernas, com estudada escuridão
de sentido (Is_48:16). Cristo cita claramente estas palavras, mediante as
quais Se identifica a Si mesmo com Jeová (Jo_18:20).
não disse … Buscai-me em vão — Quando lhes mandei que me
buscassem (Jeová assim o disse; v. 11: “me peçam”, etc.); não lhes
mandei isso para os despedir vazios (Dt_32:47). Especialmente nos
tempos de prova de Israel, a interposição de Deus em favor de Sião daí
em diante, está expressamente enunciada como resposta iminente à
oração (Is_62:6, 7-10; Sl_102:13-17, Sl_102:19-21). O mesmo ocorre no
caso de todos os crentes, aqueles que é o Israel espiritual.
verdade — isto é, o verdadeiro; não nos equívocos termos das
respostas pagãs, adequadamente simbolizadas nos “lugares escuros”, dos
quais se davam.
direito — verdade (Nota, Is_41:26).
20. vós que escapastes das nações — os gentios que terão
escapado da matança infligida por Ciro. Agora enfim, verão a loucura
de “rogar a um deus que não pode salvar” (v. 16). Ultimamente, alude-se
aos que ficarão de “todas as nações que atacarão a Jerusalém”
(Zc_14:16). Esses se converterão ao Senhor (Is_66:23, 24; Jr_3:17;
Zc_8:20-23).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 297
21. Provocação lançada aos adoradores dos ídolos (Is_41:1).
Que tomem conselho uns com os outros — referente a buscar os
melhores argumentos com que defender a causa da idolatria.
quem … desde a antiguidade? — (Is_41:22, 23; Nota, Is_44:8).
Qual dos ídolos tem feito o que Deus faz, ou tem feito predições,
primeiro quanto a Ciro; logo quanto à final restauração de Israel? A
idolatria de Israel antes do tempo de Ciro terá seu contraparte no
Anticristo e a apostasia, a qual precederá a manifestação de Cristo.
Deus justo e Salvador — Justo, por cumprir Suas promessas, e
portanto, Salvador de Seu povo. Isto não só não está em contradição com
Sua retidão ou justiça, mas sim é o resultado dela, que é o de que ele
salvaria aos Seus redimidos (Is_42:6, 21; Sl_85:10-11; Rm_3:26).
22. Olhai para mim e sede salvos — O segundo imperativo
expressa o resultado que se seguirá à obediência do primeiro
(Gn_42:18); serão salvos (Jo_3:14-15). Nm_21:9: “E foi, que quando
alguma serpente mordia a alguém, olhava à serpente de metal, e vivia”.
Que coisa tão singela o olhar! Nada devia fazer o tal, senão olhar ao
Salvador (At_16:30-31). Os crentes olham pela fé, que é o olho da alma.
O olhar é o ato de voltar-se para Deus, quem é ao mesmo tempo “Justo e
Salvador” (v. 21), quer dizer, esse olhar é o da conversão (Sl_22:27).
23. Por mim mesmo tenho jurado — equivalente a “Como Eu
vivo”, como o cita Rm_14:11. Assim Nm_14:21. Deus não podia jurar
por alguém maior; por conseguinte, jura por Si mesmo (Hb_6:13,
Hb_6:16).
palavra de justiça (RC) — antes, “a verdade (nota, v. 19) saiu que
minha boca, a palavra (da promessa), e não voltará (isto é, não será
revogada)” [Lowth]. Mas os acentos favorecem a Versão Inglesa.
jurará toda língua — ou seja, prestará juramento de lealdade a
Deus, como seu verdadeiro Rei (Nota, Is_19:18; 65:16). Entretanto,
ainda tem que cumprir-se (Zc_14:9).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 298
24. Antes, “Só em Jeová, dirão os homens de mim (esta cláusula é
um parêntese), há justiça’” (o que inclui salvação, v. 21, Deus Justo e
Salvador”, Is_46:13), etc. [Maurer].
e força — para salvar.
até ele virão — Os que se levantaram contra Deus virão a Ele
arrependidos do passado (Is_19:22).
envergonhados (v. 16; Is_54:17; 41:11).
25. toda … Israel — o Israel espiritual (Rm_2:29) e o literal, isto é,
o resto final, todos os quais serão salvos (v. 17; Rm_11:26).
justificada — tratada como se fosse Justa, por causa da justiça e a
morte de Cristo (Jr_23:5).
gloriará — lit., cantará em louvor a Ele. (Jr_9:24; 1Co_1:31).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 299
Isaías 46

Vv. 1-13. Os Ídolos de Babilônia Não Puderam Salvar-se a Si


mesmos e Muito Menos à Cidade. Mas Deus Quer e Pode Salvar a
Israel. Ciro É o Instrumento.
1. Bel se encurva — É o mesmo que o fenício Baal. Bel, isto é,
senhor, o deus principal de Babilônia, ao qual foi dedicada a célebre
torre daquela cidade, no centro de uma das duas partes em que se dividia
aquela urbe, estando o palácio real na outra. Identificava-se com o sol, e
lhe rendia culto em pequenas torres, terraços e outros lugares altos para
estar mais perto das hostes celestiais (Sabeísmo) (Jr_19:13; Jr_32:29;
Sf_1:5). Gesênius identifica Bel com o planeta Júpiter, o qual, com o
planeta Vênus (sob o nome do Astarte ou Astarote), era adorado no
Oriente como o deus da fortuna, a estrela mais propícia para nascer sob
seus auspícios (Nota, Is_65:11). Segundo o relato apócrifo de Bel e o
Dragão, Bel foi derrubado por Ciro. (Is_10:4; 1Sm_5:3-4; Sl_20:8).
Nebo se abaixa — o planeta Mercúrio ou Hermes em astrologia. O
escriba dos céus, que corresponde ao egípcio Anúbis. O difundido culto
de este se torna de ver pelos muitos nomes próprios compostos com o
seu; como: Nabucodonosor, Nebuzaradã, Nabopolassar.
são postos — como carga. Era costume transportar os deuses dos
vencidos ao país dos vencedores, crendo que por esse meio manteriam
sujeitos aos povos submetidos (1Sm_5:1, etc.; Jr_48:7; Jr_49:3;
Dn_11:8).
sobre bestas — das que levavam a bagagem. Ou as imagens que
costumáveis levar antes em suas solenes procissões [Maurer].
para as bestas já cansadas — antes, postos como carga sobre
bestas [Maurer]. Horsley traduz: Os que deveriam ser seus portadores
(como o Senhor o é de Seu povo, vv. 3, 4) converteram-se em “cargas”
(ver Nota v. 4).
2. salvar — das mãos de seus inimigos.
carga — suas imagens postas sobre animais (v. 1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 300
eles mesmo — os deuses. Aqui os deuses se distinguem de suas
imagens.
3. Em contraste com o precedente, os ídolos de Babilônia, longe de
levar a seu povo com segurança, pelo contrário, têm eles que ser levados
em animais de carga; enquanto que Jeová leva a Seu povo certamente
das vísceras maternas até a velhice (Is_63:9; Dt_32:11; Sl_71:6,
Sl_71:18). Deus Se compara a Si mesmo com uma ama que cria o
menino com ternura. Compare a linguagem de Moisés (Nm_11:12).
4. vossa velhice — isto certamente compreende aos judeus desde a
infância até a idade mais avançada de sua história (Is_47:6).
eu serei o mesmo — (Sl_102:27; Jo_8:24; Hb_13:8).
eu vos carregarei — Não só não preciso ser carregado, como os
ídolos (v. 1), mas sim …
5. (Is_40:18, 25).
6. (Is_40:19, 20; 41:7). Esbanjam o ouro de seus sacos e não
regulam nenhum gasto com seus ídolos. Sua profusão deveria
envergonhar, por sua mesquinharia, aos que professam servir a Deus
com o que nada os costa. O pecado sempre é um serviço custoso.
7. recorrem a ele … a ninguém livra … tribulação — (Is_45:20,
cf. com o v. 19).
8. Lembrai-vos … e tende ânimo — desprezem a infantilidade da
idolatria, mostrando-se homens, sentido justificado pelo que precede
(1Co_14:20; 1Co_16:13; Ef_4:14). Para ser varonis temos que ser
piedosos, pois o homem foi feito “à imagem de Deus” e só alcança sua
verdadeira dignidade, quando está unido com Deus: virtude se deriva do
latim vir, “homem”.
tomai-o a sério — tomem a peito.
prevaricadores — Dirige-se aos idólatras dentre os judeus.
9. das coisas passadas — quer dizer, das provas de que Jeová é a
única Deidade, pelas predições cumpridas, e as intervenções de Deus em
favor de Israel (Is_45:5).
10. (Is_45:21; 41:22, 23; 44:26).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 301
farei toda a minha vontade — (Is_53:10; Rm_9:19).
11. chamo a ave — Ciro, chamado assim por causa da rapidez de
suas marchas desde as longínquas regiões da Pérsia para cair sobre sua
presa (vejam-nas notas a Is_41:2, 25; Jr_49:22; Ez_17:3). O estandarte
de Ciro era uma águia dourada sobre uma lança (veja-se o historiador
pagão Xenofonte, Cyropaedia, livro 7, cap. I, onde quase usa a mesma
palavra aetós, como aqui ayit.)
homem do meu conselho — (Is_44:28; 45:13). Babilônia
representa misticamente a facção apóstata: a destruição de seus ídolos
simboliza a futura extirpação geral de toda idolatria e incredulidade.
tomei este propósito, também o executarei — (Is_43:13).
12. de obstinado coração — obstinados em resistir a Deus
(Sl_76:5; At_7:51).
longe da justiça — (Is_59:9; Hc_2:4).
13. Faço chegar — como antítese a “longe” (v. 12; Is_51:5; 56:1;
61:10, 11; Rm_10:6-8).
minha justiça — que responde a “salvação” na cláusula paralela;
por conseguinte, aqui significa minha justa libertação; justa porque
prova a verdade das promessas de Deus, e tão bem ideada que não
compromete Sua justiça, mas sim a vindica (Is_42:21; Rm_3:26).
Sião … minha glória — antes, “darei salvação em Sião; a Israel
(darei) minha glória” [Horsley]. (Is_63:11; Sl_14:7; Lc_2:32).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 302
Isaías 47

Vv. 1-15. A Destruição de Babilônia Representada pela Imagem de


Uma Virgem Real Derrubada num Instante de Seu Magnífico Trono e
Afundada na Maior Degradação.
1. no pó — (nota, Is_3:26; Jó_2:13; Lm_2:10).
virgem — isto é, não cativa antes de agora [Heródoto 1:191].
filha de Babilônia — Babilônia e seus habitantes (Notas, 1:8;
37:22).
não há trono — A capital do império foi trasladada a Susã.
Alexandre teve a intenção de fazer de Babilônia a capital de seu império,
mas a Providência desbaratou esse desígnio, visto que não demorou para
morrer. Fundada Selêucia em suas cercanias, despojou-a de seus
habitantes e até de seu nome.
delicada — alusão à efeminada libertinagem e prostituição de todas
as classes sociais nos banquetes e nos ritos religiosos [Curtius 5:1;
Heródoto 1:199; Baruque 6:43].
2. a mó — semelhante ao moinho de mão em uso na Inglaterra
antes da invenção dos moinhos de água e de vento. Constam de uma
pedra convexa, que se faz girar com a mão sobre outra de forma
côncava, com o qual se demole o grão que penetra entre elas. Este
trabalho — o mais degradante no Oriente — o realizava uma escrava
(Jó_31:10; Mt_24:41).
tira o teu véu — “te tire o véu” [Horsley]. É possível que isto
compreenda a eliminação do cabelo trancado que as mulheres usavam
em volta das têmporas. O cabelo também é um véu (1Co_11:15); a
eliminação deste e a do véu era sinal da mais baixa degradação feminina;
pois no Oriente a cabeça era considerada como o assento da modéstia
feminina; o rosto de uma mulher raramente se vê descoberto, e a
totalidade da cabeça quase nunca (Nota, Is_22:8).
desnuda as pernas — levantando a saia de seu vestido, a perna
ficava descoberto. Na Mesopotâmia as mulheres de classe inferior,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 303
quando a ocasião o requer, vadeiam os rios com as pernas despidas, ou
os cruzam a nado despojadas inteiramente de seus vestidos. “Muda tua
bela, solta e régia roupagem pelo da mais abjeta condição, que é a de ir
de um a outro lado, através dos rios, como uma escrava, para tirar água”.
descobre as coxas (NKJV) — Recolhe o vestido, para vadear.
3. não pouparei a homem algum — isto é, não permitirei que
nenhum homem interceda perante mim — não darei audiência a homem
alguém [Horsley]. Ou: “Não farei a paz com nenhum homem” antes de
todos serem destruídos. Lit., ligar-se com; frase tomada do costume de
unir as mãos ao fazer uma aliança [Maurer]. (Nota, Pv_17:18; Pv_22:26;
Pv_11:15, Margem da V. Inglesa), ou da de golpear as vítimas
sacrificadas ao fazer algum tratado.
4. É preciso suprir “Assim diz nosso Redentor” [Maurer]. Lowth
supõe que este versículo é uma exclamação de um coro que rompe em
louvores: “Nosso Redentor Jeová dos exércitos” (Jr_50:34).
5. Assenta-te — É a postura de quem está de luto (Ed_9:4;
Jó_2:13; Lm_2:10).
trevas — luto e a miséria (Lm_3:2; Mq_7:8).
senhora de reinos — proprietária do mundo (Is_13:19.
6. Aqui se dá a razão da vingança de Deus sobre Babilônia: ao
executar a vontade de Deus sobre o Seu povo, o fez com desenfreada
crueldade (Is_10:5, etc.; Jr_50:17; Jr_51:33; Zc_1:15).
profanei a minha herança — (Is_43:28).
sobre os velhos — até aos anciãos desprezaram os caldeus, os quais
tratou a todos com a mesma crueldade (Lm_4:16; Lm_5:12).
[Rosenmuller]. Ou talvez “o ancião” signifique Israel, consumido pelas
calamidades do último período da história (Is_46:4), pois à primeira
etapa desta se chama sua “juventude” (Is_54:6; Ez_16:60).
7. Até agora não — Por causa de tua vã esperança de ser rainha
para sempre, elevas de tal maneira o tom de sua insolência que não
creste que “estas coisas” ( ou seja, tua destruição, vv. 1-5) seriam
possíveis.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 304
do seu fim — a de sua insolência, entendida em suas palavras “Eu
serei senhora para sempre”.
8. tu que és dada a prazeres — (Nota ao v. 1). Em nenhuma outra
cidade havia tantos incentivos à licença.
Eu só, e além de mim — (v. 10). Linguagem que soa a arrogância
na boca do homem; próprio unicamente de Deus (Is_45:6). Veja-se
Is_5:8, no final.
viúva, nem conhecerei a perda de filhos — Um estado,
representado pela figura de uma mulher, que por ter sido vencida, é
chamada viúva, por causa de que seu rei já não existe, e sem filhos,
porque não tem habitantes, por terem sido levados cativos (Is_23:4; 54:1,
4, 5; Ap_18:7-8).
9. num momento — A decadência não viria lentamente, mas seria
repentina e inesperadamente destruída; com efeito, numa só noite foi
tomada por Ciro. A profecia se tornou a cumprir literalmente quando
Babilônia se rebelou contra Dario; e a fim de resistir até o fim, cada
homem escolheu uma mulher de sua família e estrangulou o resto, para
economizar as provisões. Dario empalou a 3.000 dos rebeldes.
virão em cheio sobre ti — quer dizer, “medida completa”
apesar da … e da — isto é, “não obstante … não obstante …”
“apesar de” [Lowth]. (Assim também em Nm_14:11). Quanto a
Babilônia era famosa por suas “expiações ou sacrifícios, e outros
encantamentos, mediante os quais tratavam de evitar o mal e alcançar o
bem” [Diodoro de Sicília].
10. maldade — como em Is_13:11, a crueldade com que Babilônia
tratava os estados conquistados.
Não há quem me veja — (Sl_10:11; Sl_94:7). “Ninguém há que
reclame que eu seja castigada”. Os pecadores não estão seguros, pese ao
segredo de seus atos.
A tua sabedoria — astrológica e política (Is_19:11, etc., como ao
Egito),
isso te fez desviar — te desviaram do reto e seguro caminho.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 305
11. não saberás a origem (RC) — heb., o amanhecer disto; quer
dizer, sua primeira origem. O mal virá sobre ti sem a menor advertência
prévia [Rosenmuller]. Mas amanhecer não se aplica ao “mal” mas sim à
prosperidade que brilha depois da miséria (Is_21:12). Traduza-se:
“Você não verá nenhum amanhecer” ou alívio [Maurer].
por expiação não te poderás livrar — melhor, “eliminar mediante
expiação”; não terminará jamais.
como não imaginavas — repentinamente: o que você não
compreende. O que prova a falácia de suas adivinhações e de sua
astrologia (Jó_9:5; Sl_35:8).
12. Deixa-te estar — É um irônico desafio aos magos de Babilônia
para que demonstrem que podem defender sua cidade.
te fatigaste — O serviço do diabo é laborioso, mas infrutífero
(Is_55:2).
13. cansada — (cf. 57:10; Ez_24:12.)
os que dissecam os céus (astrólogos) — lit., os que formam as
combinações dos céus; que observam as conjunções e oposições das
estrelas. “Adivinhos das configurações do céu” [Horsley]. Gesênius o
explica assim: os distribuidores do céu: Ao produzir um nascimento,
observavam quatro signos: o horóscopo, ou signo que aparecia no tempo
que alguém nascia; o meridiano superior; o signo oposto ao horóscopo
rumo ao ocidente; e o hipogeu.
os que em cada lua nova te predizem — Os que a cada nova lua
pretendem dizer por esse meio o que vai suceder. Acrescente-se não
como a Versão Inglesa, “salvai-vos dessas coisas,” etc., mas sim: “Os
que nas novas luas fazem saber por meio delas as coisas que virão sobre
ti” [Maurer].
14. (Is_29:6; 30:30).
nenhuma brasa restará — À semelhança do restolho, serão
reduzidos a cinzas, sem deixar uma brasa no rescaldo (Is_30:14), tão
completa será a sua destruição.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 306
15. Assim, etc. — Tal será a sorte dos astrólogos, que te custam
tanto dinheiro e incômodos.
negociaste desde a tua mocidade — quer dizer, com aqueles que
traficaste desde os primeiros tempos de tua história. São os estrangeiros
residentes em Babilônia por causa de seus negócios (Is_13:14; Jr_51:6,
Jr_51:9; Na_3:16-17). [Barnes]. Antes, são os astrólogos, com os quais
mantinha Babilônia tantas relações (vv. 12-14) [Horsley].
pelo seu caminho — lit., em linha reta diante de si (Ez_1:9,
Ez_1:12). Os estrangeiros, sejam adivinhos ou comerciantes, fugirão de
Babilônia (Jr_50:16).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 307
Isaías 48

Vv. 1-22. As Coisas que sucederam a Babilônia Preditas por Jeová


Muito Antes, Não Fosse o Fato de Israel as Atribuir, Dada a Sua
“Obstinada” Perversidade, aos Deuses Estranhos (v. 1-5).

1. das águas de Judá (RC) — que brotaram da fonte de Judá


(Nm_24:7; Dt_33:28; Sl_68:26, margem da V. I.) A Judá se atribui a
“fonte”, porque sobreviveu às dez tribos, e dela devia sair o Messias.
jurais pelo nome do SENHOR — (Is_19:18; 45:23; 65:16).
fazeis menção (RC) — nas orações e nos louvores.
mas não em verdade — (Jr_5:2; Jo_4:24).
2. Pois eles se chamam (TB) — merecem estes recriminações,
porque eles se chamam cidadãos da “cidade santa” (Is_52:1), mas não na
verdade (v. 1; Ne_11:1; Dn_9:24); tanto assim era que a inscrição de
suas moedas no tempo dos Macabeus era: “Jerusalém, a Santa”.
3. desde a antiguidade — as coisas que sucederam em tempos
passados a Israel (Is_42:9; 44:7, 8; 45:21; 46:10).
de repente agi — sucederam tão inesperadamente que a profecia
não pôde ser resultado da mera sagacidade humana.
4. obstinado — (Dt_9:27; Ez_3:7).
tendão de ferro — inflexível (At_7:51).
testa de bronze — desavergonhada como uma rameira (veja-se
Jr_6:28; Jr_3:3; Ez_3:7).
5. (Vejam-se Notam vv. 1, 3).
6. Já o tens ouvido — Assim, pois, “sois minhas testemunhas”
(Is_43:10). Você pode testemunhar que a predição foi proferida muito
antes de seu cumprimento: “olha para tudo isto”, ou seja, que o evento
corresponde à profecia.
te faço ouvir — fiz saber o fato como prova de que só Jeová é
Deus (Is_44:8).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 308
coisas novas — ou seja, a libertação de Babilônia por Ciro, nova,
com a diferença das primeiras predições que se tinham cumprido
(Is_42:9; 43:19). Antitipicamente, a profecia tem em vista as novas
coisas do tesouro evangélico (Ct_7:13; Mt_13:52; 2Co_5:17; Ap_21:5).
Desde este momento em diante, as profecias relativas à primeira e
segunda vindas de Cristo e a restauração de Israel, têm uma nova e
circunstancial clareza, que não caracterizava as anteriores, nem mesmo
as de Isaías. Segundo esta opinião, Babilônia corresponde à mística
Babilônia do Apocalipse.
ocultas — que a sagacidade dos políticos não pôde adivinhar
(Dn_2:22, Dn_2:29; 1Co_2:9-10).
7. As causas existentes não poderiam produzir semelhantes
resultados naturais, pois os eventos, quando se efetuaram, foram
produzidos por um poder criador, como nunca antes tinha existido
“desde o começo”.
antes deste dia delas não ouviste — antes, [Maurer]: “E antes do
dia (em que sucederam) não as soubeste”, isto é, mediante a humana
acuidade de alguém; mas sim só se soube delas mediante o presente
inspirado anúncio.
8. Tu nem as ouviste — repetido, como também não “as tinha
ouvido”, do último versículo.
nem tampouco antecipadamente se te abriram os ouvidos —
“Desde o começo não se te abriu tua orelha”; isto é, para obedecer
[Rosenmuller]. “Abrir a orelha” denota, obediente atenção (Is_50:5). Ou:
“Não se abriu”, para as receber, isto é, essas coisas não te foram
reveladas por mim antes, porque se te tivesses informado delas, é tal sua
perversidade, que não te terias reprimido [Maurer]. Segundo o primeiro
conceito, o sentido das palavras seguintes é: “Porque Eu sabia que se Eu
não tivesse predito a restauração de Babilônia tão claramente que fosse
impossível torcer Minhas palavras, tu terias perversamente atribuído tal
predição aos ídolos ou a qualquer outra causa antes que a Mim” (v. 5).
Deste modo, teriam reincidido na idolatria, e para curá-los dela foram
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 309
levados a Babilônia; pois isso é o que eles tinham feito no passado
(Êx_32:4). Depois da volta, abandonaram os ídolos completamente e
para sempre.
eras chamado de transgressor — por ser nome apropriado
(Is_9:6).
desde o ventre — isto é, desde o começo da existência de Israel
como Nação (Is_44:2).
9. me conterei — lit., me amordaçarei; depois da volta teve que
reprimir sua ira por um tempo, e logo, por causa de seus pecados, dar
saída de novo (Sl_78:38).
10. (Nota Is_1:25).
não como a prata (RC) — antes, “para que seja prata”. Eu procurei
te purificar mediante a aflição, mas não foste como a prata, obtida
mediante fundição, mas sim como escória [Gesênius]. Seu
arrependimento não foi completo: ainda não é como prata refinada.
Rosenmuller o explica: não como a prata, não com o intenso calor que
se requer para fundir a prata (por ser mais difícil de derreter que o ouro),
isto é, não com a máxima severidade. O primeiro sentido é o melhor
(Is_1:25; 42:25; Ez_22:18-20, Ez_22:22).
provei-te — ou melhor, ensaiei-te … te provei [Lowth]. Segundo
Gesênius lit., para esfregar com a pedra de toque; ou cortada em
pedaços para examiná-los (Zc_13:9; Ml_3:3; 1Pe_1:7)
11. como seria profanado o meu nome — Maurer, em lugar de
“meu nome” do v. 9, usa “minha glória” da cláusula seguinte; e traduz:
“Quão (vergonhosamente) foi profanada minha glória!” Na Versão
Inglesa o sentido é: “Eu me reprimirei (v. 9. para não te destruir
inteiramente), porque por que haveria eu de permitir que meu nome
fosse profanado? e, com efeito, o seria se o Senhor destruísse
completamente a Seu povo eleito” (Ez_20:9).
A minha glória, não a dou a outrem — Se Deus abandonasse a
Seu povo para sempre, os gentios atribuiriam seu triunfo sobre Israel a
seus ídolos; e em tal caso, a glória de Deus seria dada a outrem.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 310
12-15. O Todo-poderoso que fundou o céu e a terra, pode e quer
restaurar o Seu povo.
o primeiro … o último — (Is_41:4; 44:6).
13. estendeu — (Is_40:12).
quando eu os chamar, eles se apresentarão juntos — (Is_40:26;
Jr_33:25). Mas não é tanto a Sua criação ao que se alude, quanto a que,
como ministros de Deus, os céus e a terra estão preparados e às Suas
ordens para executar Seus decretos (Sl_119:91). [Rosenmuller].
14. dentre eles — entre os deuses e os astrólogos dos caldeus
(Is_41:22; 43:9; 44:7).
O SENHOR amou a Ciro e executará — isto é, aquele a quem
Jeová amou o fará, etc. [Lowth], quer dizer, Ciro (Is_44:28; 45:1, 13;
46:11). Entretanto, a linguagem amorosa de Jeová é muito forte para
aplicá-lo a Ciro, exceto como tipo do Messias, o único a quem se pode
aplicar de uma maneira plenária (Ap_5:2-5).
a sua vontade — não a de Ciro, mas sim a de Jeová.
15. Eu o trouxe — Eu o guiei em seu caminho.
farei próspero — tome-se nota da mudança da primeira pessoa à
terceira; isto é, que Jeová prosperará o caminho (de Ciro).
16. não falei em segredo — (Is_45:19). Jeová predisse o advento
de Ciro, não com a estudada ambiguidade dos oráculos gentílicos, mas
sim claramente.
desde o tempo em que isso vem acontecendo — desde o momento
em que o propósito começou a cumprir-se com o levantamento de Ciro,
Eu estava presente.
me enviou a mim — O profeta fala aqui reclamando atenção a seu
anúncio referente a Ciro, baseado em que sua missão era de Deus e de
Seu Espírito. Mas ele não fala tanto em sua própria pessoa como na do
Messias, a quem são aplicáveis as palavras na plenitude de seu sentido
(Is_61:1; Jo_10:36). Evidentemente, a linguagem de Is_49:1, que é a
continuação de Isaías 48 desde o versículo 16, onde se produz a mudança
da pessoa que fala de parte de Deus, são palavras do Messias (vv. 1, 12-
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 311
15). Lc_4:1, 14, 18, demonstra que o Espírito Se uniu com o Pai para
enviar ao Filho. “Seu Espírito”, portanto é o nominativo de “enviar”, não
o acusativo do que segue.
17. te ensina o que é útil — mediante a aflição, como, por
exemplo, o cativeiro de Babilônia e a assaz prolongada dispersão atual
de Israel (Hb_12:10).
18. paz — (Sl_119:165). Cf. o desejo expresso pelo próprio
Messias (Mt_23:37; Lc_19:42).
rio — (Is_33:21; 41:18), um rio que flui do trono de Deus é o
símbolo de livres, abundantes e sempre transbordantes bênçãos de Deus
(Ez_47:1; Zc_14:8; Ap_22:1).
sua justiça — sua prosperidade religiosa, mãe da “paz” ou da
prosperidade nacional; por conseguinte, “paz” corresponde a justiça,
segundo o paralelismo (Is_32:17).
19. areia — com a qual se continua a metáfora do “mar” (v. 18).
como os grãos da areia — antes, como o hebraico, “semelhante
aos produtos das vísceras da mar”, que se refere aos incontáveis seres
viventes, peixes, etc., do mar, em vez de aos grãos. Maurer, Jerônimo, a
Caldeia e a Siríaca confirmam a Versão Inglesa.
seu nome … eliminado — transição da segunda pessoa “tu”, à
terceira “seu”. O nome de Israel foi eliminado como nação durante o
cativeiro de Babilônia; isso também ocorre agora, ao qual se refere
especialmente a profecia (Rm_11:20).
20. Saí da Babilônia … até ao fim da terra — Acima de tudo é
uma profecia da prazerosa libertação de Babilônia, e uma indicação de
que deveriam abandoná-la quando Deus abrisse o caminho. Mas o
anúncio “até ao fim da terra”, prova que tem um alcance antitípico e
universal; a passagem de Ap_18:4, indica que, em última instância, se
alude à Babilônia mística.
remiu … Jacó — (Is_43:1; 44:22, 23).
21. Esdras, descrevendo a volta, não faz menção de que Deus
fendesse a penha no deserto [Kimchi]. Portanto, as circunstâncias da
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 312
libertação do Egito (Êx_17:6; Nm_20:11; Sl_78:15; Sl_105:41) e da de
Babilônia estão bem combinadas, bem que a linguagem refere-se mais
diretamente à última libertação; contudo, como está misturado com
circunstâncias da primeira, que são estritamente aplicáveis à última, não
pode referir-se inteiramente nem à uma nem à outra, mas sim à
libertação mística do homem pelo Messias, e literalmente, a final
restauração de Israel.
22. Repetido (Is_57:21). Todas as bênçãos recém mencionadas (v.
21) pertencem unicamente aos piedosos, não aos ímpios. Israel primeiro
lançará de si a incredulidade antes de herdar a prosperidade nacional
(Zc_12:10-14; Zc_13:1, Zc_13:9; Zc_14:3, Zc_14:14, Zc_14:20-21). O
sentido também se aplica a todos os ímpios (Jó_15:20-25, Jó_15:31-34).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 313
Isaías 49

Vv. 1-26. Semelhante ao Cap. 42:1-7 (Vv. 1-9).


O Messias, como o Israel ideal (v. 3), expõe o objeto de sua missão,
sua falta de êxito por um tempo, mas sua segurança do êxito final.
1. ilhas (RC) — Aqui se contempla o Messias como rejeitado pelos
judeus (vv. 4, 5), e como voltando-se para os gentios, aos quais o Pai O
deu “por luz e salvação”. “Ilhas” significa todas as regiões além-mar.
desde o meu nascimento — (Is_44:2; Lc_1:31; Jo_10:36).
desde o ventre … fez menção do meu nome — Seu nome “Jesus”
(quer dizer, Deus-Salvador) foi designado por Deus antes do Seu
nascimento (Mt_1:21).
2. minha boca … espada — (Is_11:4; Ap_19:15). O duplo oficio
da Palavra de Deus, salvadora e condenadora, está entendido (Is_50:4;
Jo_12:48; Hb_4:12).
flecha — (Sl_45:5). “Polida”, isto é, livre de toda ferrugem, dá a
entender sua imaculada pureza.
me guardou na sua aljava — como uma espada em sua bainha ou
uma flecha em sua aljava, o Messias, antes de aparecer, estava oculto em
Deus, preparado para manifestar-se no momento que Deus o
considerasse oportuno [Heingstenberg]; também protegido sempre por
Deus, como a flecha pela aljava (Is_51:16).
3. és Israel — aplicado ao Messias, de acordo com o verdadeiro
significado do nome Príncipe que tinha influência junto a Deus para
lutar em favor do homem, e prevalecer (Gn_32:28; Os_12:3-4). Deste
modo, Ele é o Israel Ideal, o homem que representa a nação (cf. Mt_2:15
com Os_11:1).
por quem hei de ser glorificado — (Jo_14:13; Jo_17:1-5).
4. Eu — o Messias.
debalde — comparativamente, tratando do caso do maior número
de seus compatriotas. “Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam” (Is_53:1-3; Lc_19:14; Jo_1:11; Jo_7:5). Depois de Seu
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 314
ministério pessoal ter terminado só se reuniram 120 discípulos
(At_1:15).
todavia, o meu direito está perante o SENHOR — em última
instância Deus fará justiça à minha causa, e recompensará (cf. Is_40:10;
62:11) os Meus trabalhos e padecimentos. Ele nunca “desanimou”
(Is_42:4; 50:7, 10). Com calma, e a despeito do aparente mau êxito por
algum tempo, deixou o resultado com Deus, confiando no triunfo final
(Is_53:10-12; 1Pe_2:23). Assim devem fazer os ministros de Cristo
(1Co_4:1-5; 1Pe_4:19).
5. A razão pela qual confiava em que Sua obra seria aceita e
recompensada, era por “ser ele de estima aos olhos de Deus”, etc.
para que torne a trazer Jacó — (Mt_15:24; At_3:26).
Israel não se deixou ajuntar (AV, RC) — metáfora tomada de um
rebanho disperso, que o pastor junta de novo. Ou de uma galinha e os
frangos (Mt_23:37). Em lugar do “não” do texto, o Keri tem a palavra
hebraica similar, “a ele”, coisa que o paralelismo favorece: “E que Israel
se juntará a ele”.
porque — antes, à maneira de parêntese, “Contudo, Eu sou
glorioso, e meu Deus é minha fortaleza”. Então (v. 6), resumindo as
palavras do princípio do v. 5, “Ele disse” (Eu o repito), etc. Horsley o
explica assim: “Não obstante a incredulidade dos judeus, o Messias será
glorificado com a conversão dos gentios”; isto, lendo como a Versão
Inglesa; mas o sentido será se se lê o Keri: “Israel será em um ou outro
tempo reunido, apesar de sua incredulidade, durante a permanência do
Messias na terra”.
6. Pouco é — “É muito pouco que você seja”, etc. [Heingstenberg],
isto é, não é bastante honra para ti o levantar e a Israel; mas eu tenho
feito um desígnio maior referente a ti, ou seja, que seja o meio de
iluminar os gentios (Is_42:6, 7; 60:3).
os remanescentes — quer dizer, os que subsistiram depois dos
juízos de Deus sobre a nação, o resto dos escolhidos de Israel
preservados por pura misericórdia. Lowth, com uma ligeira embora
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 315
desnecessária mudança do hebraico, traduz os renovos — os ramos, em
lugar de “tribos” e de “remanescentes”.
7. ao que é desprezado — o hebraico, o desprezado de alma; quer
dizer, por toda alma, por todos os homens (Is_52:14, 15; 53:3; 50:6-9;
Sl_22:6). Lowth traduz: “Cuja pessoa é desgraçada”.
ao aborrecido — lit., aquele que é uma abominação para a nação
(Lc_23:18-23). Os judeus o chamam sempre depreciativamente Tolvi, “o
crucificado”. Eu prefiro, por causa de que Goi é o termo hebraico de
nação, aplicado aos gentios, e o de povo, aos judeus (Os_1:9; que
respectivamente se correspondem com o grego etne e Laos (Rm_9:25),
tomar aqui “nação” em sentido coletivo pelo mundo gentil, aquele que
também o desdenhou (Sl_2:1-3; At_4:25-27).
ao servo dos tiranos — (Mt_17:27). Aquele que não quis exercer
seu poder contra os governantes (Mt_26:52-53).
verão — ou seja, o cumprimento das promessas de Deus (v. 3, 6),
quando ele seja uma luz para os gentios.
se levantarão — para te reverenciar (Sl_72:10-11; Fp_2:10).
príncipes — antes, por causa do paralelismo, supra-se a elipse
assim: “Príncipes o verão e o adorarão”.
fiel — isto é, a Suas promessas.
te escolheu — como o eleito de Deus (Is_42:1).
8. Como aqui se representa o Messias como tendo pedido a Deus a
graça em favor dos pecadores, este versículo contém a resposta favorável
de Deus Pai.
No tempo aceitável — “em tempo de graça” [Heingstenberg].
Tempo limitado (Is_61:2; 2Co_6:2). É o tempo considerado por Deus
como o mais adequado para efetuar os propósitos de Sua graça mediante
o Messias.
eu te ouvi — (Sl_2:8; Hb_5:7).
dia da salvação — quando “a plenitude dos tempos” (Gl_4:4) tiver
vindo. O dia de salvação é “hoje” (Hb_4:7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 316
te socorri — te prestei a ajuda necessária para te capacitar, como
homem, para cumprir a salvação do gênero humano, e
guardar-te-ei — dos assaltos e esforços de Satanás para te apartar
de Tua voluntária morte para salvar o homem.
pacto al pueblo — (Nota, Is_42:6). “O povo”, no singular, sempre
se aplica exclusivamente a Israel.
para restaurares a terra — antes, “para que tornes Israel à terra”,
ou seja, a de Canaã; espiritualmente, o retorno volta é o da igreja (o
Israel espiritual) à terra celestial, perdida pelo pecado do homem, o qual
também está incluído.
e lhe repartires as herdades assoladas — imagem tomada do
desolado estado da Judeia durante o cativeiro de seu povo em Babilônia,
espiritualmente o mundo gentio que é uma desolação moral, se
converterá no jardim do Senhor. Lit., a Judeia que jaz desolada há
centenas de anos, voltará a ser possuída por Israel (Is_61:7, “em sua
terra”). Jesus, antítipo de Josué, o qual leva seu mesmo nome (Hb_4:8),
dividirá, como ele, a terra entre seus herdeiros (Is_54:3; 61:4).
9. (Is_42:7; Zc_9:12).
presos — os judeus submetidos a legal servidão.
e aos que estão em trevas — os gentios que não têm luz referente
ao único Deus verdadeiro [Vitringa].
Aparecei — não se limitem a ver, antes fazei que os vejam
(Mt_5:16; Mc_5:19). Saiam das trevas de sua prisão à luz do Sol da
justiça.
nos caminhos — No deserto não há “caminhos”, nem lugares altos
com “pastos”; daí que o sentido seja este: “Terão seus pastos, não em
desertos, mas em cultivados e habitados lugares.” Deixando de lado a
figura, as igrejas de Cristo no princípio juntar-se-ão não em escuras e
desconhecidas regiões, mas nas partes mais populosas do Império
Romano, como Antioquia, Alexandria, Roma, etc. [Vitringa]. Outro
sentido é provável que seja o correto. Israel, em sua viagem de volta à
Terra Santa, não terá que desviar-se por torcidas veredas em busca do
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 317
necessário, mas sim o achará em todos os lugares por onde passar; assim
Rosenmuller. Deus o proverá como se Ele fizesse crescer a erva nos
trilhados caminhos e sobre os estéreis lugares altos.
10. O Messias satisfará abundantemente todas as necessidades do
Israel literal em seu caminho a Palestina, como as do espiritual em sua
viagem ao céu, como seu pastor (Is_65:13; Mt_5:6); isso mesmo o fará,
no céu (Ap_7:16-17).
11. meus montes —Todas as coisas pertencem a Deus.
montes em caminhos — Eliminarei todos os estorvos do caminho
(Is_40:4).
serão alteadas — isto é, aplainá-las-á (Is_57:14; 62:10) por
exemplo, sobre os vales. Vitringa explica “montes” como os grandes
reinos do Egito, Síria, etc., submetidos a Roma para facilitar a difusão do
evangelho; as “calçadas” (ou estradas), a doutrina cristã pela qual
caminharão os que se unem à igreja, a qual no tempo de Constantino,
devia ser levantada uma posição de preeminência sobre todos, e ser
publicamente protegida (Is_35:8, 9).
12. da terra do Sinim — Os árabes e outros asiáticos chamados
chineses, Sem ou Tchin; os chineses não tinham um nome especial para
designar-se a si mesmos, mas sim adotavam ora o da dinastia reinante ou
alguns títulos extremamente sonoros. Esta opinião referente aos da terra
de Sinim” concorda com o contexto, que requer que o aludido seja um
povo longínquo, e distinto dos do norte e do oeste [Gesênius].
13. Assim Ap_12:12. Deus terá misericórdia do aflito, por causa de
Sua compaixão; de Seu aflito, por causa de sua aliança.
14. Sião — A queixa do Israel literal como se Deus o tivesse
abandonado no cativeiro de Babilônia; e também em sua dispersão
anterior à sua futura restauração, razão pela qual a misericórdia de Deus
será posta de manifesto (Is_63:15-19; Sl_77:9-10; Sl_102:17).
15. (Is_44:21; Sl_103:13; Mt_7:11).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 318
16. Alude ao costume dos judeus (inferida possivelmente de
Êx_13:9) de tatuar nas mãos uma representação de sua cidade e do
templo, em sinal de zelo por eles [Lowth], (Ct_8:6).
17. teus filhos — Israel (vv. 20, 21; Is_43:6). Jerônimo leu em
lugar de “teus filhos,” “teus edificadores”; os que te destruíram, se
apressarão a reconstruir sua desolada capital.
virão apressadamente — Seus destruidores deixarão a Judeia a
Israel para que a possuam tranquilamente.
18. Assim como a Sião se compara com frequência com uma noiva
(Is_54:5), assim a adição dos conversos é semelhante aos adornos
nupciais (“jóias”, Is_62:3; Ml_3:17). Entretanto, o sentido primário é
que se refere a seus filhos literais, pois pelo contexto pode-se ver que
alude à sua restauração; e só em sentido secundário refere-se a seus
filhos espirituais, feito tais por sua conversão a Cristo. Israel será o
instrumento para a completa conversão final dos gentios (Mq_5:7;
Rm_11:12, Rm_11:15).
como noiva — coloca os seus atavios.
19. teus lugares desertos — tua terra, outrora cenário de
destruição.
serás estreita — (Is_54:1, 2; Zc_10:10).
20. os teus filhos, que de ti foram tirados — antes, filhos de tua
viuvez, quer dizer, aqueles dos quais tinhas sido privada durante tua
dispersão em terras estrangeiras (Nota, Is_47:8) [Maurer].
dá-me espaço em que eu habite — ou melhor: fique perto de mim,
a fim de que possamos habitar neste estreito lugar [Horsley]. Compare
quanto aos filhos espirituais e a extensão da esfera do evangelho com
Rm_15:19, Rm_15:24; 2Co_10:14-16. Mas o v. 22 (cf. Is_66:20)
demonstra que se alude primariamente a seus filhos literais. Gesênius
traduz: “Dêem lugar”.
21. Quem …? — A maravilhosa alegria de Sião perante a
inesperada restauração das dez tribos; secundariamente, alude-se à
adição dos israelitas espirituais à igreja mãe de Jerusalém, procedentes
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 319
dos gentios. Isto, no princípio, foi causa de surpresa (At_10:45;
At_14:27; At_15:3-4).
eu estava desfilhada e estéril, em exílio e repelida — antes, “fui
estéril no desterro e proscrita” [Horsley]. Tinha sido “despedida” por
Jeová, seu marido (Is_50:1); daí sua surpresa perante os filhos gerados
para ela.
22. levantarei a mão — isto é, farei gestos (Nota, Is_13:2).
arvorarei a minha bandeira — (Is_11:12).
trarão os teus filhos nos braços — Os gentios ajudarão a restaurar
Israel em sua terra (Is_60:4; 66:20). No Oriente, meninos capazes de
caminhar por si mesmos são levados nos ombros; mas os infantes são
levados nos braços ou escarranchados na garupa (Is_60:12). “Seus
filhos” devem ser distintos dos “gentios” que os levam, portanto, não
pode referir-se, primariamente, aos conversos de procedência gentílica.
23. lamberão o pó dos teus pés — isto é, beijar-te-ão os pés em
sinal de humilde submissão.
os que esperam em mim não serão envergonhados — A
restauração de Israel será a resposta à suplicante espera no Senhor
(Is_30:18, 19; Sl_102:16-17; Zc_12:10; Zc_14:3).
24. a presa — Israel, cobiçada presa das poderosas nações
gentílicas, cuja opressão chegará a seu ponto culminante sob o domínio
do Anticristo (Dn_11:36-37, Dn_11:41, Dn_11:45).
presos justamente — Os judeus, justamente deportados, por seus
pecados (Is_50:1) como cativos do inimigo. Em sentido secundário,
Satanás e a morte são os “poderosos” conquistadores do homem, sobre o
qual lhes dá “legítimo direito” seu pecado. Cristo responde esse direito
pelos pecadores; e dessa maneira o cativo é posto em liberdade
(Jó_19:25; Jó_14:14; Mt_12:29; Os_6:2, onde o v. 4 demonstra que a
primeira alusão é a restauração de Israel, a qual se corresponde com a
ressurreição; Is_26:19; Ef_4:8; Hb_2:14-15). Outros não traduzem tão
bem traduzindo “os cativos tomados dentre os israelitas justos”.
25. (Is_53:12; Sl_68:18; Cl_2:15).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 320
eu contenderei com os que contendem contigo — (Is_54:17).
26. Sustentarei os teus opressores com a sua própria carne —
uma frase referente às lutas intestinas (Is_9:20).
seu próprio sangue — é uma justa retribuição por ter derramado o
sangue dos servos de Deus (Ap_16:6).
como com vinho novo — o suco da uva antes de fermentar. Os
antigos podiam preservá-lo por longo tempo, ao ponto de conservar seu
sabor. Era tão suave que era preciso tomar uma grande quantidade para
embriagar-se; daí que a ideia expressa aqui é que se derramaria
muitíssimo sangue (Ap_14:10, Ap_14:20).
Todo homem saberá — o efeito dos juízos de Deus sobre o mundo
(Is_66:15, 16, 18, 19; Ap_15:3-4).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 321
Isaías 50

Vv. 1-11. Os Juízos de Israel Foram Provocados por Seus Crimes,


Contudo Não Serão Finalmente Desprezados por Deus.

1. Onde está a carta de divórcio de vossa mãe …? — Sião é “a


mãe”; os judeus, os filhos; e Deus, o Marido e Pai (Is_54:5; 62:5;
Jr_3:14). Gesênius crê que pela pergunta Deus Se propõe a negar que lhe
tivesse dado “carta de divórcio”, como faziam frequentemente os
maridos, com pretextos fúteis (Dt_24:1), ou que ele tivesse vendido os
“filhos” de ambos (dele e dela), como às vezes estavam acostumados a
fazer os pais pobres (Êx_21:7; 2Rs_4:1; Ne_5:5), diante da pressão dos
“credores”; pois foram eles que se venderam por causa de seus pecados.
Maurer o explica assim: “Mostrem-me a carta de repúdio de vossa mãe;
assinalem os credores aos quais foram vendidos; dessa maneira se verá
que isso não foi devido a nenhum capricho meu, mas foi devido a tuas
faltas que vossa mãe foi despedida e vós vendidos” (Is_52:3). Horsley o
explica melhor (como o evidencia a antítese entre “eu” e “vós”, embora
Lowth traduz: “Vós fostes vendidos”): Eu nunca dei uma carta de
divórcio à vossa mãe, como deve ser; mas sim meramente “a despedi”
por um tempo, e posso, portanto, com direito, como marido, voltar a
recebê-la, se for submissa e obediente; tampouco entreguei os filhos a
nenhum “credor” para satisfazer alguma dívida; portanto, ainda me
assiste o direito de pai sobre vós, e posso vos receber, se vos
arrependerdes, embora como filhos rebeldes vos vendestes ao pecado e a
seu castigo (1Rs_21:25).
carta … pela qual — antes, “a carta com que eu a despedi”
[Maurer].
2. eu vim — O Messias.
ninguém — quis me crer nem me obedecer (Is_52:1, 3). A mesma
Pessoa Divina tinha “vindo” por Seus profetas no Antigo Testamento (a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 322
chamá-los, mas em vão, Jr_7:25-26), quem estava prestes a vir na
economia do Novo Testamento.
se encolheu tanto a minha mão … — figura oriental de fraqueza,
como a mão longa e estendida o é de poder (Is_59:1). Não obstante seus
pecados, ainda posso “redimir-vos” de sua escravidão e dispersão.
secar o mar — (Êx_14:21). O segundo êxodo excederá o primeiro,
embora se parecerá quanto às maravilhas (Is_11:11, 15; 51:15).
torno os rios um deserto — converto a prosperidade dos inimigos
de Israel em adversidade.
até que cheirem mal os seus peixes — o mesmo juízo infligido a
seus inimigos no Egito no primeiro êxodo (Êx_7:18, Êx_7:21).
3. os céus de negridão — outro dos juízos que vieram sobre o
Egito, que tem que ser repetido sobre o último inimigo do povo de Deus
(Êx_10:21).
pano de saco — (Ap_6:12).
4. O Messias, como “o servo de Jeová” (Is_42:1), declara que o
ofício que lhe foi atribuído é o de alentar aos exaustos expatriados de
Israel “para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado”, adequadas à sua
situação; e que qualquer sofrimento que isto Lhe possa causar não O
retrairá de fazê-lo (vv. 5, 6), pois Ele sabe que Sua causa deve triunfar no
final (vv. 7, 8).
de eruditos — não em mera erudição humana, mas nos
conhecimentos e na eloquência divinamente repartidos (Is_49:2;
Êx_4:11; Mt_7:28-29; Mt_13:54).
saiba dizer boa palavra ao cansado — (Pv_15:23; Pv_25:11).
Lit., “para socorrer com palavras”, ou seja, no tempo de sua necessidade
aos “cansados” de Israel (Dt_28:65-67). Igualmente ao cansado
espiritual (Is_42:3; Mt_11:28).
Ele me desperta todas as manhãs — Cf. “Madrugando cada dia”
(Jr_7:25; Mc_1:35). A imagem está tomada de um mestre que desperta
cedo os discípulos para que assistam a classe.
desperta-me o ouvido — para receber seus divinas instruções.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 323
para que eu ouça como os eruditos — como a pessoa ensinada
por Ele. E assim “aprendeu a obediência” por experiência própria
“mediante as coisas que teve que sofrer”; dessa maneira alcançou essa
erudição prática que o adaptou para “dizer boa palavra” aos que
sofressem (Hb_5:8).
5. me abriu os ouvidos — (veja-se Nota, Is_42:20; 48:8); isto é,
fez com que prestasse obediente atenção (mas Maurer “me informou a
respeito do dever”) de um servo para com seu amo (cf. Sl_40:6-8, com
Fp_2:7; Is_42:1; 49:3, 6; 52:13; 53:11; Mt_20:28; Lc_22:27).
não fui rebelde — antes pelo contrário, foi muito obediente à
vontade do Pai em proclamar e buscar a salvação do homem à custa de
Seus próprios sofrimentos (Hb_10:5-10).
6. aos que me feriam — que me feriam com açoites e com a mão
aberta (Is_52:14; Mc_14:65). O que se cumpriu literalmente (Mt_27:26;
Mt_26:67; Lc_18:33). “Arrancar o cabelo de alguém” é o maior insulto
que se pode inferir a alguém no Oriente (2Sm_10:4; Lm_3:30).
“Ofereci” dá a entender a índole voluntária de Seus sofrimentos; Seu
exemplo se corresponde com Seu preceito (Mt_5:39).
me cuspiam — cuspir na presença de outrem é um insulto no
Oriente, muito mais o é fazê-lo sobre alguém; mas o pior é lhe cuspir no
rosto (Jó_30:10; Mt_27:30; Lc_18:32).
7. Um exemplo de que não se “desalentou” (Is_42:4; 49:5).
o meu rosto como um seixo — me propus resolutamente não me
retrair de minha obra de amor por vergonha ou temor ao sofrimento
(Ez_3:8-9).
8. (Is_49:4). O crente por virtude de sua unidade com Cristo, usa a
mesma linguagem (Sl_138:8; Rm_8:32-34). Mas o “justificar”, em Seu
caso, é a judicial aceitação e vindicação dele da parte de Deus sobre a
base de Sua própria justiça (Lc_23:44-47; Rm_1:4; 1Tm_3:16, cf. com
1Pe_3:18); enquanto que no caso deles, sua justificação tem por base a
justiça e a morte meritória de Jesus, as quais lhes são imputadas
(Rm_5:19).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 324
Apresentemo-nos juntamente — em juízo para examinar o pleito
de minha causa.
adversário — lit., aquele que tem um motivo real de acusação
contra mim, de maneira que possa exigir em juízo algo que lhe deva ser
dado (cf. Zc_3:1, etc.; Ap_12:10).
9. (Cf. Is_52:13; 53:10; Sl_118:6; Jr_23:5).
como um vestido — (Is_51:6, 8; Sl_102:26). Um dos principais
elementos de riqueza no Oriente é o ter uma muda de roupa, a que está
exposta a ser comida pela traça; daí que na Escritura, frequentemente se
use esta figura.
10. O Messias exorta aos piedosos com Seu exemplo (Is_49:4, 5;
42:4) para que quando passarem por provas (“trevas”, Is_47:5) confiem
unicamente no braço de Jeová.
Quem há …? — (Jz_7:3).
ouça a voz de seu servo — ou seja, o Messias. Os piedosos
“honram o Filho como honram o Pai” (Jo_5:23).
andou em trevas — (Mq_7:8-9). Deus nunca teve um filho que
não tenha estado alguma vez em trevas. Até o próprio Cristo, seu Filho
unigênito, exclamou: “Deus meu, Deus meu!, por que me desamparaste”
sem nenhuma luz — antes, esplendor; ou seja a brilhante claridade
solar; pois o servo de Deus nunca está totalmente privado de “luz”.
[Vitringa]. O caminho do piedoso pode ser obscuro, mas seu fim será
paz e luz. O caminho do ímpio pode ser que seja brilhante, mas seu fim
será de completas trevas (Sl_112:4; Sl_97:11; Sl_37:24).
confie — como o fez o Messias (vv. 8, 9).
11. Em contraste com os piedosos, (v. 10), os ímpios, em tempo de
trevas, em lugar de confiar em Deus, confiam em si mesmos (acendem
uma luz para caminhar apoiados em si mesmos) (Ec_11:9). Esta
descrição continua do v. 10, “trevas”, ou seja, as invenções humanas
para obter a salvação (Is_19:21; 16:9, 25), são semelhantes à faísca que
se opaca num instante nas trevas (cf. Jó_18:6; Jó_21:17, com Sl_18:28).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 325
de setas incendiárias — não são luzes persistentes, mas sim faíscas
que se extinguem imediatamente.
andai — não é um mandado, mas sim dá a entender que com a
mesma segurança com que eles fariam isso, seriam presa do infortúnio
(Jr_3:25). Na mesma proporção com que a mística Babilônia se gabou de
si mesma assim será o infortúnio que lhe espera (Mt_25:30; Mt_8:12;
Ap_18:7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 326
Isaías 51

Vv. 1-23. Exortação ao Resto Fiel de Israel a Confiar em Deus


Para a Libertação de Seu Longo Desterro em Babilônia e de Sua Atual
Dispersão.

1. Ouvi-me vós — que sou o Deus de seus pais.


os que procurais a justiça — os piedosos da nação; o v. 7 prova
isto mesmo (Pv_15:9; 1Tm_6:11). “Vós os que seguis a justiça”
busquem, portanto, em Mim, que “estou pronto a trazê-la”; esta será uma
justiça “que não será abolida” (vv. 6, 7); olhem a Abraão, seu pai (v. 2),
como exemplo de como se pode obter de Mim a justiça. E Eu, o mesmo
Deus que o abençoou, os abençoarei no final (v. 3); confiem, pois, em
Mim, e não temam a oposição do homem (vv. 7, 8, 12, 13). O erro dos
judeus até então, consistiu, não em que eles “seguissem a justiça”, mas
em que a seguissem “pelas obras da Lei”, em lugar de “pela fé”, como
Abraão (Rm_9:31-32; Rm_10:3-4; Rm_4:2, Rm_4:5).
caverna do poço — A ideia não é, como frequentemente se cita,
inculcar a humildade, lembrando aos homens o abatido estado de onde
foram tirados, mas sim a de que Abraão, a pedreira, por assim dizer (cf.
48:1), de onde sua nação tinha sido cortada, tinha sido chamado a sair de
uma terra estrangeira para herdar a de Canaã, onde foi abençoado por
Deus, e que esse mesmo Deus pode livrá-los e restaurá-los também
(Mt_3:9).
2. solo — Traduza-se: chamei-o, quando ele era um só (Ez_33:24).
O argumento é que o mesmo Deus que havia abençoado de tal maneira a
“um” indivíduo, ao ponto de chegar a ser uma poderosa nação (Gn_12:1;
Gn_22:7), pode também acrescentar e abençoar o pequeno resto de
Israel, tanto o deixado no cativeiro de Babilônia, como o deixado no
presente e o dos últimos dias (Zc_14:2); o “resíduo” (Is_13:8, 9).
3. Porque — Referente ao argumento, veja-se a última Nota.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 327
como o jardim do SENHOR — A restauração do primitivo
Paraíso (Gn_2:8; Ez_28:13; Ap_2:7).
som de música — Heb., salmo. Voltarão a ouvir os louvores de
Deus.
4. povo meu — os judeus. Esta lição é melhor que a de Gesênius:
“Ó povos … nações”, quer dizer, os gentios. É uma chamada aos judeus
para ouvir, e a alegrar-se na extensão da verdadeira religião entre as
nações; pois no princípio a pregação do evangelho, o mesmo que no final
do século vindouro, é de Jerusalém de onde a lei evangélica saiu e tem
que sair (Is_2:3).
a lei … juízo (RC) — a dispensação evangélica e suas instituições
(Is_42:1, “juízo”).
estabelecerei — estabelecerei firmemente.
luz — (Is_42:6).
5. Perto está a minha justiça — quer dizer, o fiel cumprimento da
prometida libertação, que se corresponde com “salvação” na cláusula
paralela (Is_46:13; 56:1; Rm_10:8-9). Vocês, os que seguem a “justiça,”
busquem em Mim e não terão que ir longe para buscá-la (v. 1).
meus braços — em lugar dEle mesmo. Eu com minha força.
dominarão — (Is_2:3, 4; Sl_98:9).
as terras do mar — (Is_60:9).
meu braço — (Rm_1:16), “o poder de Deus para salvação dos
gentios como também dos judeus”
6. (Is_40:6, 8; Sl_102:26; Hb_1:11-12).
desaparecerão — lit., se rasgarão como um vestido [Maurer]; que
concorda com o contexto.
como — Mas Gesênius traduz: “Semelhante a um mosquito”;
semelhante ao mais ínfimo e vil dos insetos. Jerônimo traduz como a
Tradução Brasileira, e infere que “da mesma maneira” que um homem,
os céus (ou seja o firmamento) e a terra não têm que ser aniquilados, mas
sim melhorados (Is_65:17).
justiça — minha promessa fielmente cumprida (V. nota 5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 328
7. conheceis a justiça — (V. nota 1)
8. (Nota, Is_50:9; Jó_4:18-20). Não que a traça coma os homens,
mas sim serão destruídos por tão insignificantes instrumentos como a
traça que come a roupa.
9. Apaixonada oração dos judeus expatriados.
dias passados — (Sl_44:1).
Raabe (RC) — nome poético do Egito (Nota, Is_30:7).
dragão (RC, TB)— em hebraico, tannνn. É o crocodilo, emblema
do Egito, representado nas moedas cunhadas depois da conquista do país
como Augusto, aqui é, antes, seu rei. Faraó (Nota, Is_27:1; Sl_74:13-14;
Ez_32:2 Margem da AV; Ez_29:3).
10. Não és Tu o mesmo onipotente poder que … etc.?
que secou o mar — o Mar Vermelho (Is_43:16; Êx_14:21).
11. (Is_35:10).
Assim — segura confiança; ou, antes, resposta de Jeová à sua
oração. Tão certo como Deus redimiu a Israel do Egito, redimi-los-á do
cativeiro de Babilônia, tanto da literal no século seguinte, como da
mística, dos últimos tempos (Ap_18:20-21). Disto se segue que tem que
haver um segundo êxodo (Is_11:11-16; 27:12, 13).
com júbilo — imagem do costume de cantar numa viagem ao
passar a caravana pelas extensas planícies do Oriente.
perpétua — (Jd_1:24).
fugirão a dor e o gemido — (Ap_21:4).
12. aquele que vos consola — (v. 3; Is_40:1).
tu — Sião.
o filho do homem — frágil e mortal como seu pai Adão.
não passa de erva — que murchará como a erva (Is_40:6, 7).
13. (Is_40:12, 26, 28); é o mesmo argumento de consolo inferido da
onipotência do Criador.
que se prepara — lit., “quando dirigia”, ou seja, sua flecha para
destruir (Sl_21:12, Sl_7:13; Sl_11:2). [Maurer].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 329
14. O exilado cativo — lit., o arrasado como um cativo (Is_10:4).
[Maurer]. A cena ocorre em primeiro lugar, em Babilônia, e um pouco
antes de terminar o cativeiro. Em segundo lugar e antitipicamente,
refere-se à mística Babilônia, o último inimigo de Israel e da igreja, às
mãos da qual sofreram ambos por longo tempo, mas da qual devem ser
gloriosamente libertados.
masmorra (NVI) — como o eram muitos dos antigos calabouços
(Jr_38:6, 11, 13; Gn_37:20).
o seu pão não lhe faltará — (Is_33:16; Jr_37:21).
15. agito o mar — o Mar Vermelho. A mesma palavra hebraica
“fazer descansar” (v. 4). Antes, “que aterro o mar”, isto é, o detenho por
Minha repreensão, “quando suas ondas rugem”. [Gesênius]. O hebraico
favorece a Maurer, “que aterro o mar de sorte que rugem as ondas”. Este
sentido favorece a Gesênius (Jr_5:22; Jr_31:35); ou à Versão Inglesa
(vv. 9, 10, que favorece as referências especiais ao êxodo do Egito),
16. Dirigido a Israel, personificado no servo do Senhor” (Is_42:1),
o Messias, Cabeça ideal e representante do Israel espiritual, por meio de
quem deve ser restaurado o remanescente eleito.
Ponho as minhas palavras na tua boca — é verdade com relação
a Israel, guardião da verdadeira religião, embora realizado unicamente
no Messias, cabeça e antítipo de Israel (Is_49:2; 50:4, 5; 59:21;
Dt_18:18; Jo_3:34).
te protejo com a sombra da minha mão — te protegi (Nota,
Jo_49:2).
estenda — antes, “levantar” como uma tenda; assim deveria
traduzir-se (Dn_11:45). A “nova criação” que agora avança pelo mundo
espiritual mediante o evangelho (Ef_2:10), e que se estenderá no futuro
pelo mundo visível, é o que aqui se insinua (Is_65:17; 66:22; cf.
Is_13:13; 2Pe_3:10-13).
a Sião — Seu restauração é a parte principal na futura nova criação
(Is_65:17-19).
17. Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém — (Is_52:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 330
que ... bebeste — a ira de Jeová se compara a uma bebida
embriagante, porque turba ao que a bebe e o faz cair (Jó_21:20; Sl_60:3;
Sl_75:8; Jr_25:15-16; Jr_49:12; Zc_12:2; Ap_14:10); (“derramada sem
mistura”; antes, o suco puro do vinho misturado com drogas
embriagantes).
de atordoamento — que produz confusão ou embriaguez.
e o esgotaste — até a última gota; as fezes eram os sedimentos de
várias substâncias, como do mel, das tâmaras e as drogas, acrescentadas
ao vinho para acrescentar sua força e doçura.
18. Prosseguindo a ideia da embriaguez, e da confusão da taça da
ira de Deus do v. 17, ela não tem a ninguém que a guie em seu estado de
desamparo; é que não despertou ainda do sonho causado pela bebida.
Isto não se pode aplicar ao cativeiro de Babilônia, porque então tinha a
Ezequiel, a Daniel, a Esdras e a Neemias como “guias”, e logo
despertaram daquele sonho; mas sim que se aplica aos judeus atuais e até
será mais aplicável a eles em sua futura opressão pelo Anticristo.
19. duas — classes de maus, porque ele enumera quatro, ou seja, a
desolação e a destruição da terra e do estado: a fome e a espada para o
povo.
quem teve compaixão de ti? — de maneira que te proporcione
eficaz alívio, como o diz a cláusula paralela: “Por quem te poderei
consolar?” (Lm_2:11-13).
20. de todos os caminhos — Lm_2:19; Lm_4:1).
antílope — antes, o órix [Jerônimo], ou a gazela [Gesênius], ou a
cabra montês [Bochart], caçada no Oriente usualmente mediante uma
larga rede, com a qual se caçavam as bestas juntas. As ruas do Oriente
têm normalmente portas que se fecham de noite; de maneira que uma
pessoa que queria escapar seria atalhada e detida como um animal numa
rede.
21. embriagada, mas não de vinho — (Is_29:9; cf. vv. 17, 20;
Lm_3:15).
22. que pleiteará — (Sl_35:1; Jr_50:34; Mq_7:9).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 331
jamais dele beberás — (Is_54:7-9). Isto não se pode aplicar a
Israel depois da volta de Babilônia, mas sim unicamente depois de sua
restauração final.
23. (Is_49:26; Jr_25:15-29; Zc_12:2).
Abaixa-te, para que passemos — Os conquistadores estavam
acostumados a pisar literalmente os pescoços dos reis vencidos, como o
fez Sapor da Pérsia com o imperador romano Valério (Js_10:24;
Sl_18:40; Sl_66:11-12).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 332
Isaías 52

Vv. 1-15. Os Vv. 1 aos 13 Estão Relacionados Com o Cap. 51.


Sião, que tinha estado por longo tempo na escravidão (Is_51:17-
20), é exortada a vestir suas roupas de beleza, como signo de futura
prosperidade.

1. tua fortaleza — como gala; o que responde a “roupas de beleza”


na cláusula paralela. Levante-se de seu abatimento e cobre confiança.
cidade santa — (Ne_11:1; Ap_21:2).
nem imundo — (Is_35:8; 60:21; Jl_3:17; Ap_21:27). Profecia
ainda não cumprida.
incircunciso — em sentido espiritual (Ez_44:9; At_7:51).
2. do pó — em que se sentavam os que estavam de luto (Jó_2:12-
13).
levanta-te e toma assento — ou seja, em lugar mais digno; sobre
um divã ou trono [Lowth], depois de ter sacudido o pó pegado às roupas
flutuantes enquanto esteve sentada no solo, ou simplesmente: “levanta-
te, e senta-te direita” [Maurer].
solta-te das cadeias de teu pescoço — o jugo de seu cativeiro.
3. Assim como fostes feitos escravos de seus inimigos, sem que eles
pagassem preço algum por vós (Jr_15:13), assim vos libertarão sem
exigir nenhum preço ou recompensa (Is_45:13), (onde se representa a
Ciro fazendo isso, o qual é tipo de sua restauração final, a qual será
igualmente gratuita). Assim o Israel espiritual, “vendido sob pecado”,
gratuitamente (Rm_7:14), também será redimido gratuitamente
(Is_55:1).
4. O meu povo — Jacó e seus filhos.
desceu — A Judeia era um país alto comparado com o Egito.
para nele habitar — Eles desceram lá só para permanecer ali até
que a fome terminasse em Canaã.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 333
e a Assíria — Senaqueribe. Lembrem como eu lhes livrei do Egito
e do assírio. Que coisa haverá, pois, que me impeça lhes tirar das duas
Babilônias, a literal e a mística, e do Anticristo, nos últimos dias?
sem razão — que responde a “de balde” do v. 5; foi esse um ato de
injustificada opressão, tanto no caso presente como no outro.
5. que farei eu aqui — quer dizer, o que tenho eu que fazer aqui?
O fato de “que meu povo seja levado em cativeiro de balde” (Is_49:24,
25) (mediante injustificada opressão, v. 4; veja-se também a nota do v.
3) que pede minha intervenção.
Os seus tiranos sobre ele — ou o tiranizam, ou seja, Babilônia, a
literal e a mística.
dão uivos — ou levantam o grito de júbilo sobre eles [Maurer].
blasfemado — quer dizer, em Babilônia; que é a razão para que
Deus liberte Seu povo, e não a bondade deles; mas em consideração ao
Seu santo Nome (Ez_20:9, Ez_20:14).
6. saberá o meu nome … naquele dia — quando Cristo se
revelará a Israel de uma maneira visível; único meio pelo qual será
subjugada sua obstinada incredulidade (Sl_102:16; Zc_12:10; Zc_14:5).
7. formosos … os pés — isto é, o advento de semelhante arauto
visto sobre as longínquas “montanhas” (Notas, Is_40:9; 41:27; 25:6, 7;
Ct_2:17), correndo depressa com as longamente esperadas boas-novas, é
o mais grato que podia haver para a desolada cidade (Na_1:15).
boas-novas — aplicável só em parte para a volta de Babilônia; e
em forma plenária e antitipicamente, ao evangelho (Lc_2:10-11)
“começando em Jerusalém” (Lc_24:47), “a cidade do grande Rei”
(Mt_5:35), onde o Messias, na final restauração de Israel, “reinará”,
como na peculiar Sião de Deus (“O teu Deus reina”, cf. Sl_2:6).
8. atalaias — homens que desde torres levantadas a intervalos
sobre uma muralha dão a primeira notícia da aproximação de algum
mensageiro portador de alguma mensagem (cf. Is_21:6-8). O hebraico é
mais enérgico que a Versão Inglesa: “A voz dos teus atalaias”,
(exclamativa como em Ct_2:8). “Elevarão a voz, cantarão juntos”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 334
olho a olho verão — isto é, verão de perto, assim, claramente
[Gesênio]. Nm_14:14, “face a face”; Nm_12:8, “boca a boca”. Cf.
1Co_13:12; Ap_22:4, uma prefiguração da qual foi a contemplação do
Salvador por Simeão (Lc_2:30). Os atalaias espirituais são os ministros
do evangelho e outros que oram pela paz de Jerusalém (Is_62:6, 7).
vêem o retorno — isto é, a restaurar. Ou, “retornam” [Maurer.]
9. (Is_14:7, 8; 42:11).
remiu — em sentido espiritual e nacional (Is_48:20).
10. desnudou o seu santo braço — metáfora dos guerreiros que
despem o braço para entrar em batalha (Ez_4:7).
todos … da terra verão a salvação do nosso Deus — A libertação
operada por Deus em favor de Israel fará com que todas as nações
reconheçam a Jeová (Is_66:18-20). O cumprimento parcial disto
(Lc_3:6) é antecipação do que se efetuará em forma completa no futuro.
11. (Is_48:20; Zc_2:6-7). A longa residência em Babilônia fez com
que muitos estivessem pouco dispostos a deixá-la; assim sucederá com a
Babilônia mística (Ap_18:4).
purificai-vos, vós que levais os utensílios do SENHOR — os
sacerdotes e levitas, cujo ofício era levar os copos do templo (Jr_27:18).
Nabucodonosor os tinha levado a Babilônia (2Cr_36:18). Ciro os
restituiu (Ed_1:7-11).
purificai-vos — separando-os inteiramente dos idólatras
babilônios, místicos e literais.
12. não saireis apressadamente — como quando saíram do Egito
(Êx_12:33, Êx_12:39; Dt_16:3; cf. Nota, Is_28:16). Vocês terão tempo
para se limparem e se prepararem tranquilamente para partir.
o SENHOR — como seu líder, irá à frente (Is_40:3; Êx_23:20;
Mq_2:13).
será a vossa retaguarda — isto é, cobrirá a retaguarda de suas
hostes. É frequente a transição da glória do Messias em Sua vinda para
reinar, a Sua humilhação em Sua vinda para sofrer. Com efeito, os dois
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 335
adventos se contam de tal maneira por um, que não se diz de Sua
segunda vinda que esteja prestes a retornar, mas sim de vir.
13. Aqui deveria começar Isaías 53 e Isaías 52 terminar no v. 12.
Esta seção, daqui até o final de Isaías 53, põe fim à controvérsia com os
judeus referente a se o Messias for a pessoa aludida nele; e a com os
incrédulos, sobre se foi escrita por Isaías, ou foi um pouco antes da vinda
de Cristo. A correspondência entre a vida e a morte de Jesus Cristo é tão
minuciosa que mal poderia ser resultado de uma conjetura ou acidente.
Um impostor não teria podido forjar o curso dos eventos, de forma que
seu caráter e vida se apresentassem como o cumprimento de tais eventos.
O escrito é, além disso, declaradamente profético. As citações que dele
são feitas no Novo Testamento demonstram: (1) que antes do tempo de
Jesus estava reconhecido como parte integrante do Antigo Testamento;
(2) que se refere ao Messias (Mt_8:17; Mc_15:28; Lc_22:37; Jo_12:38;
At_8:28-35; Rm_10:16; 1Pe_2:21-25). As alusões indiretas confirmam
ainda mais claramente a interpretação messiânica. Tão universal era essa
interpretação que se alude a ela relacionando-a com a virtude expiatória
de sua morte, sem citá-la formalmente (Mc_9:12; Rm_4:25; 1Co_15:3;
2Co_5:21; 1Pe_1:19; 1Pe_2:21-25; 1Jo_3:5).
O genuíno da passagem é indubitável, porque os judeus não teriam
querido forjá-la, visto que isso se opunha à sua noção do Messias, como
um triunfante príncipe temporal. Os cristãos tampouco o puderam ter
forjado, porque os judeus, inimigos do cristianismo, são “nossos
bibliotecários” [Paley]. Os judeus buscam fugir da força da passagem
com a invenção de dois Messias, um paciente (Ben Josef), o outro,
triunfante (Ben Davi). Hillel sustentava que o Messias já tinha vindo na
pessoa de Ezequias. Buxtorf afirma que muitos dos rabinos modernos
creem que Ele veio faz já muito tempo; mas que não se manifestou por
causa dos pecados dos judeus. Mas os antigos judeus, segundo a
paráfrase caldeia de Jônatas, aplica a passagem ao Messias; tal ocorre
com o Medrasch Tauchuma (um comentário do Pentateuco); o mesmo
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 336
sucede com o rabino Moisés Haddarchan (veja-se Hengstenberg,
Christology of the Old Testament).
Alguns dizem que isto se refere ao povo judeu, seja no exílio de
Babilônia, seja em sua atual dispersão e sofrimentos. Outros, que se
refere à parte piedosa da nação, tomada coletivamente, cujos
padecimentos são uma vicária satisfação dada pelos ímpios. Outros, que
é Isaías ou Jeremias [Gesênius], os profetas coletivamente. Mas a
descrição refere-se evidentemente a um indivíduo que sofre voluntária,
inocente e pacientemente como a causa eficiente da justiça de seu povo,
o qual não se pode aplicar a nenhum outro, exceto ao Messias (Is_53:4-
6, 9, 11; cf. com Jr_20:7; Jr_15:10-21; Sl_137:8-9). Is_53:9 não pode
aplicar-se a nenhum outro. A objeção de que os padecimentos referidos
em Is_53:1-10, estão representados como passados e a glorificação só
como futura (Is_52:13-15; 53:11, 12) procede de não advertir que o
profeta se acha colocado em meio das cenas que descreve como futuras.
A maior proximidade do primeiro advento e o intervalo entre este e o
segundo, inferem-se do emprego do tempo passado quanto ao primeiro,
e ao futuro quanto ao segundo.
Eis que — para chamar a atenção ao surpreendente retrato do
Messias que segue a seguir (Jo_19:5, Jo_19:14).
o meu Servo — o Messias (Is_42:1).
procederá com prudência — melhor, será prosperado; assim
traduz Gesênio, tradução que favorece a cláusula paralela (Is_53:10).
Ou: unindo ambos os sentidos, reinará bem [Hengstenberg]. Este
versículo expõe no princípio o resultado final de Seus sofrimentos, cuja
descrição segue a seguir e a qual é a conclusão (Is_53:12); a seção
(52:13, 53:12) começa como termina: com Sua glória final.
será exaltado — (Mc_16:19; Ef_1:20-22; 1Pe_3:22).
14 e 15 — é um sumário da história do Messias, exposta com mais
detalhe em Isaías 53. “Como se pasmaram de ti muitos (pasmo
acompanhado de aversão, Jr_18:16; Jr_19:8, etc.); seu semblante, etc.;
assim ele aspergirá”, etc. Israel se corresponde nisto com seu antítipo o
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 337
Messias, ao presente “um assombro e um escárnio” (Dt_28:37), prestes a
ser uma bênção e um meio de salvação para muitas nações (Is_2:2, 3;
Mq_5:7).
estava mui desfigurado — Hebraico, a desfiguração; o abstrato
pelo concreto, não só desfigurado, mas também a própria desfiguração.
mais do que a dos outros filhos dos homens — Castelio traduz:
“de tal sorte que já não era a de um homem” (cf. Sl_22:6). Quanto mais
perfeito suponhamos que era o “corpo que foi preparado” por Deus
(Hb_10:5), tanto mais lamentável resultará o contraste da desfiguração
de Seu rosto e de Sua forma.
15. borrifará muitas nações (RC) — Gesênius traduz a antítese de
“como se pasmaram” por “fará com que se alegrem”. Mas a palavra em
todo o Novo Testamento significa, seja aspergir com sangue, como o
fazia o sumo sacerdote ao fazer a expiação (Lv_4:6; Lv_16:18-19); ou
com água, para purificar (Ez_36:25; cf. quanto ao Espírito, At_2:33),
ambos os sentidos apropriados ao Messias (Jo_13:8; At_9:13-14;
At_10:22; At_12:24; 1Pe_1:2). A antítese ressalta bastante sem
necessidade de recorrer a nenhuma tradução forçada. Muitos ficaram
atônitos; tantas nações (não meramente indivíduos) serão aspergidas.
Estas se surpreenderam de que uma pessoa tão abjeta pretendesse ser o
Messias; entretanto, é Ele quem justificará e purificará. Os gentios
ficaram mudos perante o assombroso do escárnio feito a um desfigurado
mais que o mais ínfimo dos homens, sendo o mais elevado deles; até os
reis (Is_49:7, 23) ficaram atônitos de terror e veneração (“fecharão suas
bocas”; Jó_29:9-10; Mq_7:16).
aquilo que não lhes foi anunciado — as maravilhas da redenção;
daí que os reis as veneram tanto; porque nunca antes lhes tinham sido
contadas; mas então lhes serão anunciadas coisas que eles nunca tinham
ouvido ou visto (Is_55:1; Rm_15:21; Rm_16:25-26).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 338
Isaías 53

Vv. 1-12. A Incredulidade do Homem. Os Sofrimentos do Messias e


Seu Triunfo Final para Proveito do Homem.
O orador, segundo Horsley representa os judeus arrependidos nos
últimos séculos do mundo vindouro, por causa de sua fé no Redentor. A
soma de tudo é a penitente confissão desse povo. Esta opinião concorda
com o contexto (Is_52:7, 9), mas não se cumprirá inteiramente até que
Israel seja restaurado. Não obstante, esta é a abrupta exclamação do
profeta: “Quem creu em nossa pregação?” ou seja, a de Isaías e a dos
outras profetas referente ao Messias. Antecipa-se à objeção dos
incrédulos, motivada pela incredulidade dos judeus, a qual é respondida
assim: Que a incredulidade e sua causa (a humilhação do Messias, pois
eles esperavam a Um que deveria reinar) foram previstas e preditas.

1. pregação — lit., o ouvido. Paulo, referindo-se ao sentido dessa


frase, disse: “Logo a fé é pelo ouvir” (Rm_10:16-17).
braço — poder (Is_40:10), que se exerce fazendo milagres e
salvando homens (Rm_1:16; 1Co_1:18). O profeta como se estivesse
presente durante o ministério do Messias sobre a terra, sente-se
profundamente afetado ao ver quão poucos criam nEle (Is_49:4;
Mc_6:6; Mc_9:19; At_1:15). Dão-se duas razões do porquê todos
deviam ter crido: (1) O “dito” dos “antigos profetas”; (2) o “braço do
Senhor” manifestado no Messias enquanto esteve na terra. No conceito
de Horsley, esta será a penitente confissão dos judeus: “Quão poucos dos
de nossa nação, nos dias do Messias, creram nEle!”
2. foi subindo — melhor, tinha crescido.
como renovo — O Messias cresceu silenciosa e insensivelmente
qual broto de um antigo tronco aparentemente morto (ou seja, a casa de
Davi, então num estado decaído) (Nota, Is_11:1).
perante ele — diante de Jeová. Embora desconhecido para o
mundo (Jo_1:11), o Messias foi cuidado por Deus, o qual ordenou o
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 339
mais minuciosamente as circunstâncias que concorreram a Seu
crescimento.
raiz — quer dizer, broto de uma raiz.
aparência — belo aspecto; a tristeza tinha desfigurado Seu aspecto
que em outro tempo tinha sido belo.
olhamo-lo — melhor, unindo a frase às palavras precedentes, “Nem
beleza (ou atrativo) para que o olhemos (com deleite)”. A estudada
reticência do Novo Testamento quanto à Sua forma, estatura, cor, etc.,
fez-se com o desígnio de impedir que nos detivéssemos para considerar o
corporal em vez de Sua beleza moral; Sua santidade, o amor, etc.; é deste
modo um protesto providencial contra a feitura e veneração de suas
imagens. A carta de P. Lêntulo ao imperador Tibério, em que descreve
Sua pessoa, é espúria; é-o deste modo o conto do envio de seu retrato a
Abgar, rei da Edessa; também o é a alegada impressão de Sua face no
tecido da Verônica. A primeira parte deste versículo refere-se ao Seu
nascimento e infância; a última, à sua primeira aparição em público.
[Vitringa]
3. rejeitado — “abandonado dos homens” [Gesênius]. “O mais
abjeto dos homens”; lit., “aquele que cessa dentre os homens”, isto é,
que já não é considerado como homem [Hengstenberg]. (Nota, Is_52:14;
49:7).
homem de dores — quer dizer, cuja característica distintiva era a
dor.
que sabe o que é padecer — familiarizado com a aflição por Seu
constante contato com ela. quebra. Lit., doença; em sentido figurado,
por todo gênero de calamidades (Jr_6:14); como a lepra, que
representava especialmente a quebra, por ser um juízo direto de Deus. É
notável o fato de não se mencionar que Jesus jamais tenha estado doente.
de quem os homens escondem o rosto — antes, como alguém que
dá lugar a que os homens escondam seus rostos dEle, em sinal de
aversão [Maurer]. Ou: “Foi como uma ocultação do rosto diante dele”,
isto é, como uma coisa perante a qual um homem cobre sua face com
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 340
desgosto. [Hengstenberg]. Ou, “como alguém perante quem há o
encobrimento do rosto”; perante quem se cobre o rosto em desgosto.
[Gesênius].
não fizemos — O profeta identifica-se com os judeus. Veja-se a
opinião do Horsley (nota v. 1).
dele não fizemos caso — desprezo negativo; as palavras anteriores
expressam o positivo.
4. Certamente … nossas enfermidades — lit., mas contudo, “ele
levou nossas doenças”; quer dizer, que os que O desprezaram por seus
doenças humanas, antes, deveriam tê-Lo estimado por causa delas,
porque dessa maneira, Ele mesmo tomou nossas doenças (as
indisposições corporais). Assim está citado em Mt_8:17. No vocábulo
hebraico que se traduz “levar” ou tomar, há provavelmente uma dupla
noção, ele levou sobre si como substituto, e assim tirou … Sua perfeita
humanidade mediante a qual foi afligido corporalmente por nós, e em
todas nossas aflições (Is_63:9; Hb_4:15) foi a razão pela qual curou aos
doentes; de maneira que a citação de Mateus não é uma mera
acomodação. Veja-se Nota 42 do arcebispo Magee, Expiação. O
hebraico nessa passagem é possível que signifique afligido pelas trevas;
a hora de trevas do Messias foi temporal (Mt_27:45), que corresponde a
ser ferido no calcanhar; a de Satanás é eterna, que corresponde ao
esmagamento de sua cabeça (cf. Is_50:10).
as nossas dores levou sobre si — noção estrita de substituição.
“Levou”, ou seja como uma carga, “as dores”, isto é, as mentais; assim
como “quebras” se referem às do corpo (Sl_32:10; Sl_38:17). Mt_8:17
pareceria opor-se a isto: “E levou nossas doenças”. Mas Ele usa
“doenças” em sentido figurado por pecados, os quais são a causa delas.
Cristo tomou sobre Si todas as doenças do homem, a fim de eliminá-las:
as corporais, mediante a ação direta do milagre, baseado em Sua
participação nas doenças humanas; as da alma, por Seus sofrimentos
substitutivos que eliminaram a fonte de ambas. O pecado e a doença
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 341
estão eticamente relacionados como causa e efeito (Is_33:24; Sl_103:3;
Mt_9:2; Jo_5:14; Tg_5:15).
nós o reputávamos por aflito — em sentido judicial [Lowth], quer
dizer, por seus pecados, sendo assim que foi pelos nossos. “Nós o
reputamos um leproso” [Jerônimo, Vulgata], visto que a lepra era o juízo
divino direto sobre a culpa (Levítico 13; Nm_12:10, Nm_12:15;
2Cr_26:18-21).
ferido — pelos juízos divinos.
oprimido — por seus pecados; tal foi o ponto em que tanto eles
erraram (Lc_23:34; At_3:17; 1Co_2:8). Foi, é certo, “aflito”, mas não
por Seus pecados.
5. traspassado — com feridas corporais; não meramente com dores
mentais; lit., transpassado ou brocado; admiravelmente apropriado ao
Messias, cujas mãos, pés e lado foram transpassados (Sl_22:16). A
margem da Versão Inglesa está errada, ao traduzir “atormentado”, de
uma raiz hebraica.
pelas … pelas … — (Rm_4:25; 2Co_5:21; Hb_9:28; 1Pe_2:24;
1Pe_3:18). A causa pela qual sofreu não era dEle, mas por nossos
pecados.
moído — afligido pelos sofrimentos internos e externos (Nota, v.
10).
o castigo — lit., a disciplina infligida por um pai a seus filhos para
seu bem (Hb_12:5-8, Hb_12:10, 11). Não foi estritamente falando
castigado; porque isso só pode ter lugar onde há culpa, coisa que Ele não
tinha; mas sim tomou sobre si mesmo o castigo em virtude do qual a paz
(a reconciliação com o Pai) dos filhos de Deus devia efetuar-se (Rm_5:1;
Ef_2:14-15, Ef_2:17; Hb_2:14).
sobre ele — como uma carga; expressão paralela de “tinha levado”.
e pelas suas pisaduras — uma profecia precisa quanto a que seria
açoitado (Mt_27:26; 1Pe_2:24).
sarados — espiritualmente (Sl_41:4; Jr_8:22).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 342
6. confissão penitente dos crentes e de Israel nos últimos dias
(Zc_12:10).
desgarrados como ovelhas — (Sl_119:176; 1Pe_2:25). A antítese
é “quanto a nós mesmos estamos desencaminhados; por Cristo fomos
recolhidos; por natureza vagamos, nos lançando de cabeça ao abismo da
ruína; mas por Cristo achamos o caminho que conduz à porta da vida”
[Calvino]. Isto também é aplicável literalmente a Israel antes de sua
restauração (Ez_34:5-6; Zc_10:2, Zc_10:6; cf. com Ez_34:23-24;
Jr_23:4-5; e com Mt_9:36).
fez cair sobre ele — “fez com que descesse sobre ele” [Lowth].
Antes, “fez com que se precipitasse sobre ele” [Maurer].
a iniquidade — quer dizer, sua tristeza; ou, antes, como em
2Co_5:21; Ele não foi meramente uma oferta pelo pecado (visto que isso
destruiria sua antítese: a justiça), mas sim “foi feito pecado por nós”; o
próprio pecado vicário, o representante do pecado coletivo de toda a
humanidade; não os pecados em plural, porque o “pecado” do mundo é
um (Rm_5:16-17); desta maneira nós não somos feitos meramente
justos, mas sim justiça, “a justiça de Deus”. O inocente foi castigado
como se fosse culpado, para que o culpado pudesse ser recompensado
como se fosse inocente. O que diz este versículo não poderia aplicar-se a
um mero mártir.
7. oprimido — Lowth traduz: “Foi preso e feito responsável”. O
verbo significa exigir rigorosamente o pagamento de uma dívida
(Dt_15:2-3), e pelo mesmo, ser oprimido em geral; é provável que se
aluda à exigência da totalidade da pena de nossos pecados mediante os
Seus sofrimentos.
e humilhado — ou, entretanto, Ele sofreu, ou levou Ele mesmo
pacientemente, etc. [Hengstenberg e Maurer]. Lowth traduz: “Foi feito
responsável”, o qual dificilmente pode-se aceitar à luz do hebraico.
não abriu a boca — Jr_11:19 e Davi no Sl_38:13-14; Sl_39:9, que
prefigura ao Messias (Mt_26:63; Mt_27:12, Mt_27:14; 1Pe_2:23).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 343
8. Antes, “foi levado (isto é, cortado) pela opressão e por uma
sentença judicial”, uma hendíades, por “uma opressiva sentença judicial”
[Lowth e Hengstenberg]. Gesênius não traduz tão bem: “Ele foi libertado
da opressão e do castigo” unicamente pela morte. A Versão Inglesa
também traduz “da … da,” não “por … por”. Mas o “da prisão” não é
verdade no caso de Jesus, porque não foi encarcerado; mas sim detido e
maniatado (Jo_18:24) está mais de acordo com o hebraico. At_8:33,
traduz como a LXX: “Em sua humilhação seu juízo (o processo legal)
foi tirado”. O sentido virtual do hebraico o verte Lowth, sancionado pelo
inspirado autor dos Atos: Foi tratado como um tão vil, que foi privado de
um processo justo (Mt_26:59; Mc_14:55-59). Horsley traduz: “Depois
de sua condenação e sentença foi aceito”.
de sua linhagem, quem dela cogitou? — Quem poderá referir (a
maldade de) sua geração?, isto é, de seus contemporâneos [Alford em
At_8:33], que concorda melhor com o paralelismo “a maldade de sua
geração”, que corresponde com “opressivo juízo”. Mas Lutero traduz: “a
duração de sua vida”, quer dizer, sua futura vida não terá fim (v. 10; )
Rm_6:9). Calvino inclui os dias de sua igreja, a qual não pode existir
separada dEle. Hengstenberg: “Sua posteridade”. Ele na verdade será
cortado, mas sua raça será tão numerosa que ninguém a poderá contar
inteiramente. Crisóstomo, etc.; “Sua eterna filiação e milagrosa
encarnação”.
cortado — o que dá a entender morte violenta (Dn_9:26).
do meu povo — Isaías se inclui a si mesmo entre o povo mediante
a palavra “meu” [Hengstenberg]. É, antes, Jeová que fala mediante a
pessoa de Seu profeta, “Meu povo”, pela eleição de graça (Hb_2:13).
foi ele ferido — o hebraico: “o golpe foi dado a ele”. Gesênius diz
que o hebraico significa eles, o corpo coletivo, quer dos profetas, quer
do povo, ao qual atribuem os judeus toda a profecia. Mas Jerônimo e as
versões Siríaca e Etiópica traduzem: a ele; com efeito, este é singular
em algumas passagens: Sl_11:7; Jó_27:23, singular; Is_44:15, singular; a
LXX lê o hebraico lambo, “sobre ele”; e as palavras similares lamuth
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 344
“até a morte”, que daria de mão ao ponto de interpretação judia “sobre
eles”. Orígenes, que cotejou diligentemente o texto hebraico com a LXX,
lê-o assim e o alega contra os judeus de seu tempo, os quais teriam
negado que fosse essa a verdadeira lição, se a palavra não se encontrasse
realmente então no texto hebraico [Lowth]. Se só sua autoridade se
considerar insuficiente, lambo talvez indique que o Messias era o
representante do corpo coletivo de todos os homens; daí a equívoca
forma plural-singular.
9. Antes, “assinalaram sua sepultura”. “Lhe designaram sepultura”
[Hengstenberg]; quer dizer, que eles, ao crucificá-Lo com os ladrões,
determinaram que fosse sepultado “com os ímpios” (Mt_27:38) (Cf.
com Jo_19:31). Negar-Lhe a um honrosa sepultura considerava-se uma
grande ignomínia (Notas, Is_14:19; Jr_26:23).
com o rico — antes, mas ele a teve com um rico”, etc. Gesênius,
por causa do paralelismo “os iníquos”, traduz “os ímpios”, (porque o
efeito das riquezas é fazer de alguém um ímpio); mas o hebraico
significa em todos os casos rico, nunca ímpio; o paralelismo é deste
modo um contraste entre o desígnio e o fato ordenado por Deus
(Mt_27:57; Mc_15:43-46; Jo_19:39-40); dois homens ricos O honraram
em sua morte: José de Arimatéia e Nicodemos.
na sua morte — Heb., mortes. Lowth traduz: “Sua tumba”;
bamoth, de uma raiz diferente que significa lugares altos, e assim
montículos para sepulturas (Ez_43:7). Mas todas as versões se opõem a
isto, e o hebraico dificilmente o admite. Traduza-se, antes, “depois de
sua morte” [Hengstenberg], pois dizemos “a sua morte”. O plural mortes
intensifica a força; assim como Adão, pecando, (“morrendo morreu”,
Gn_2:17, margem da Versão Inglesa) incorreu em morte, física e
espiritual; assim o Messias, seu substituto, sofreu a morte em ambos os
sentidos: a espiritual, durante seu temporário abandono pelo Pai; e a
física, quando entregou o Seu espírito.
posto que — antes, como o exige o sentido (assim Jó_16:17)
“embora nunca fez ele”, etc. [Hengstenberg[. (1Pe_2:20-22; 1Jo_3:5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 345
10. Transição de Sua humilhação a Sua exaltação.
ao SENHOR agradou — Eis aí o segredo de Seus sofrimentos. O
Messias os sofreu voluntariamente, a fim de que por esse meio pudesse
Ele “fazer a vontade de Deus” (Jo_6:38; Hb_10:7-9) referente à
redenção do homem; assim no fim do versículo, “a vontade do SENHOR
prosperará nas suas mãos.”.
moê-lo — (Veja-se o v. 5); dessa maneira se cumpriu Gn_3:15,
embora a palavra hebraica traduzida ali quebrantar, não é a usada aqui.
A palavra “mesmo” em Mateus, quer dizer uma condução sobre si
mesmo de nossas doenças, espirituais e físicas, que incluía como
consequência a cura de nossas doenças corporais. Estas são o reverso do
pecado. O levar sobre Si nossa doença espiritual envolve que a levou
com amor, e curando-a, curava as doenças externas, que com seu fruto e
expressão. Hengstenberg objeta com razão a tradução de Magee de
“tirou”, em lugar de “levou”, visto que anularia o paralelismo “levar em
peso”. Além disso, a palavra hebraica em outros lugares, quando se acha
relacionada com o pecado, significa levá-lo, assim como a pena do
mesmo (Ez_18:20). Mateus, em outra parte, fala deste modo de sua
expiação vicária (Mt_20:28).
quando der ele — quer dizer, como na margem, “quando sua alma
tenha feito oferta, etc.” Na Versão Inglesa a mudança de pessoa do verbo
é muito abrupta: de Jeová, a quem se fala na segunda pessoa (v. 10), a
Jeová quem fala na primeira pessoa no v. 11. A lição da margem,
corretamente, faz com que o profeta fale em nome de Jeová neste
versículo.
por expiação do pecado (RC) — (Rm_3:25; 1Jo_2:2; 1Jo_4:10).
posteridade — Sua posteridade espiritual será numerosa
(Sl_22:30); ainda mais, embora Ele deve morrer, Ele os verá. Entre os
hebreus, uma numerosa posteridade se reputava como uma grande
bênção; e mais o era o fato de que não vivesse para vê-la (Gn_48:11;
Sl_128:6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 346
prolongará os seus dias — o qual também se estimava como uma
especial bênção entre os judeus (Sl_91:16). Depois de Sua morte, o
Messias voltará a levantar-Se para viver para sempre (Os_6:2; Rm_6:9).
prosperará — (Is_52:13).
11. Jeová ainda está falando.
do penoso trabalho de sua alma — Verá tão copiosos frutos como
efeito de Seus padecimentos, que será amplamente retribuído por eles
(Is_49:4, 5; 50:5, 9). A “satisfação” de ver o completo fruto do trabalho
de Sua alma na conversão de Israel e do mundo, experimentá-la-á nos
últimos dias (Is_2:2, 4).
com o seu conhecimento — antes, com o seu conhecimento
experimental (Jo_17:3; Fp_3:10).
justificará — tratando-os como se fossem justos, em sentido
forense, sobre a base de Seus meritórios sofrimentos e não pela justiça
deles.
o meu Servo — O Messias (Is_42:1; 52:13).
O Justo — o fundamento sobre o qual ele justifica a outros é Sua
própria justiça (1Jo_2:1).
as iniqüidades deles levará sobre si — (vv. 4, 5), como substituto
do pecador.
12. eu lhe darei muitos como a sua parte — como vencedor que
divide o despojo depois da vitória (Sl_2:8; Lc_11:22).
com os poderosos — Hengstenberg traduz: “Dar-lhe-ei os
poderosos como porção”. Assim também a LXX. Mas a cláusula paralela
diz “com os fortes” favorecendo assim a Versão Almeida. Seus triunfos
não os obterá meramente sobre poucos e fracos, mas sim sobre muitos e
fortes.
despojo — (Cl_2:15; cf. com Pv_16:19). “Com os grandes, com os
poderosos” pode ser que signifique como um grande e poderoso herói.
derramou a sua alma — a qual se cria que residia no sangue
(Lv_17:11; Rm_3:25).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 347
foi contado com — Não que Ele fosse um transgressor, mas sim foi
tratado como se fosse, ao ser crucificado com ladrões (Mc_15:28;
Lc_22:37).
pelos transgressores intercedeu — Este ofício o começou na cruz
(Lc_23:34), e agora o continua no céu (Is_59:16; Hb_9:24; 1Jo_2:1).
Ponha-se porquanto diante de “foi contado … teve … intercedeu”. Sua
meritória morte e Sua intercessão são a causa de Seu triunfo final.
Maurer, por causa do paralelismo, traduz: “foi posto ao mesmo nível dos
transgressores”. Mas a Versão Inglesa concorda melhor com o hebraico,
no sentido e no fato, no que se refere a Cristo. A tradução de Maurer
depois de “Foi contado com os transgressores”, seria uma tautologia;
pois o paralelismo não necessita de tão servil repetição. “e pelos
transgressores intercedeu” responde ao paralelo “foi contado com, etc.”
como o efeito responde à causa; pois Sua intercessão pelos pecadores é o
efeito que flui de ter sido contado com eles.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 348
Isaías 54

Vv. 1-17. O Fruto dos Sofrimentos do Messias e o Arrependimento


Final de Israel de Sua Passada Incredulidade (Is_53:6); sua prazerosa
restauração e aumento por Jeová, cuja ira foi momentânea; enquanto
que sua bondade é eterna.
Israel convertido é comparado com uma esposa despedida por
infidelidade, e recebida de novo no lar. Os gentios convertidos estão
representados por uma nova origem da esposa por longo tempo
abandonada. A preeminência da igreja hebraica como a igreja mãe da
cristandade é a ideia dominante. A conversão dos gentios está
mencionada só como parte da felicidade de Israel [Horsley].

1. Canta alegremente — (Sf_3:14).


ó estéril — A igreja judia, outrora abandonada por Deus, e pelo
mesmo destituída durante certo tempo de filhos espirituais (v. 6).
que não deste à luz — principalmente durante o exílio em
Babilônia. Secundária e principalmente durante a presente dispersão de
Israel.
os filhos — os gentios adotados por graça especial na igreja
original (v. 3; Is_49:20, 21).
que os filhos da casada — que eram seus filhos espirituais, quando
Israel era ainda a esposa mística de Deus (sob a lei, antes do cativeiro de
Babilônia) antes de ser desprezada como tal. [Maurer]. Assim Paulo
contrasta a igreja universal do Novo Testamento com a dispensação do
Antigo Testamento, citando esta mesma passagem (Gl_4:27). Mas seu
cumprimento plenário pertence ainda ao futuro.
2. (Is_49:19, 20; Jr_31:31-36, Jr_31:38, 39). Tantos serão os filhos
que terá que alargar suas fronteiras para contê-los.
cortinas (RC) — o tecido que constituía a coberta da carpa.
não o impeças — proveja com abundância os meios para o
alargamento da igreja (2Co_9:5-7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 349
cordas … estacas — quanto mais se alargue a tenda mediante o
alongamento das cordas, com as quais se assegura ao solo, tanto mais se
requer que as estacas, as quais se amarram às cordas, sejam fortificadas.
A igreja não se deve limitar somente a ganhar novos conversos, mas
também deve fortalecer os que já ganhou. Esta figura é apropriada, pois
o tabernáculo era o símbolo da antiga igreja israelita (nota, Is_33:20).
3. transbordarás — antes, deve alargar-te com o crescimento; sua
descendência crescerá, o que responde à “sua semente” na cláusula
paralela.
a tua posteridade — Israel e seus filhos, como distintos dos
gentios”.
as cidades assoladas — de Israel (Is_44:26).
4. (Is_41:10, 14).
vergonha da tua mocidade — a infidelidade de Israel como esposa
de Jeová, quase do começo de sua história.
opróbrio da tua viuvez — o castigo de Israel, como consequência
de sua demissão por Deus e sua falta de filhos espirituais em Babilônia e
em sua atual dispersão (v. 1; Is_49:21; Jr_3:24-25; Jr_31:19; Os_2:2-5).
5. (Is_62:5; Jr_3:14). O fato de que Deus fosse o “Criador” de
Israel, tanto dos indivíduos como do reino teocrático, é objeto de
segurança de que Ele será seu Redentor (Is_43:1-3). Em hebraico,
“criadores ... maridos”, o plural pelo singular, para denotar excelência.
Santo de Israel … de toda a terra — Enquanto não Se manifeste
como Deus de Israel, não Se revelará como o Deus de toda a terra
(Sl_102:13, Sl_102:15-16; Zc_14:5, Zc_14:9).
6. desamparada — que tinha sido abandonada.
te chamou — isto é, voltou a chamar-te; o passado pelo futuro.
repudiada —“ou quando foi repudiada” a que tinha sido a esposa
da juventude (Ez_16:8, Ez_16:22, Ez_16:60; Jr_2:2), ao tempo em que
(tu o) ela foi desprezada por infidelidade [Maurer]. “Uma esposa da
juventude, mas depois desprezada” [Lowth].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 350
7. Por breve momento — comparado com a grande prosperidade
futura de Israel (Is_26:20; 60:10). Assim o Israel espiritual (Sl_30:5;
2Co_4:17).
torno a acolher-te — para mim, de sua dispersão.
8. num ímpeto de indignação — antes, “num transbordamento de
ira”, como em Pv_27:4, margem da Versão Inglesa [Gesênius]. A ira,
embora só fosse por um momento, transbordou enquanto durava.
escondi de ti a minha face — (Is_8:17; Sl_30:7).
eterna — em contraste a “Por breve momento”.
9. Estou prestes a fazer o mesmo neste caso como no dilúvio de
Noé. Assim como jurei então que não se repetiria (Gn_8:21; Gn_9:11), e
mantive essa promessa, assim agora juro a Meu povo — e cumprirei
Minha promessa — que não se repetirá o dilúvio de Minha ira sobre eles.
Lowth, com insuficiente autoridade, lê (o mesmo farei agora como) “nos
dias de Noé”.
10. (Is_51:6 Sl_89:33-34; Rm_11:29).
aliança da minha paz — (2Sm_23:5). A aliança em virtude do
qual tenho feito a paz contigo.
11. desconsolada — de ninguém; ninguém a ajudou ou consolou.
assentarei as tuas pedras — antes, “cimentarei … com cimento de
cobre em pó [Lowth]. O vocábulo hebraico significa o stibium, ou seja o
antimônio, com que as mulheres do Oriente pintavam as pálpebras e as
pestanas (2Rs_9:30). O mesmo cimento será de cor muito bela
(Ap_21:18-21).
12. baluartes — melhor, suas guarnecidas muralhas. Lit., sóis;
dito das muralhas, por sua radiante aparência.
cristalinas (RC) — melhor, de rubis [RA]
de carbúnculos — lit., de pedras resplandecentes. O carbúnculo,
quando se expõe ao sol, assemelha a um carvão aceso.
e toda a tua muralha — antes, todo o seu circuito, que consta de
pedras preciosas. Refere-se à glória da igreja na terra, quando a igreja
hebraica, segundo o desígnio original, seja a metrópole da cristandade.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 351
13. Citado pelo Salvador (Jo_6:45), para provar que para ir a Ele, os
pecadores devem ser levados pelo Pai. O mesmo se menciona em
Jr_31:34; Mq_4:2; 1Co_2:10; Hb_8:10; Hb_10:16; 1Jo_2:20.
e será grande a paz — geralmente (Sl_119:165). Refere-se
especialmente à pacífica prosperidade que prevalecerá sob o governo do
Messias nos últimos dias (Is_2:4; 9:6).
14. justiça — a característica do reinado do Messias (Is_11:4, 5;
Sl_72:2, Sl_72:4; Ap_19:11).
longe da opressão — “pois nada terá a temer”.
15. conspira contra ti — quer dizer, se suceder que seus inimigos
“se aliarem” contra ti (Sl_2:2), não terão sido enviados por Mim (cf.
Os_8:4) como instrumentos de Minha ira, (não, mas procederão com
Minha desaprovação); “quem queira aliar-se” (Sl_59:3).
cairá diante de ti — melhor, “deverão pôr-se a seu lado”. [Lowth].
lit., “se submeterão a ti” (Jr_21:9; Jr_39:9). Isto se cumprirá plenamente
com Jerusalém, no futuro (Zc_14:16).
16. “O operário que forja armas contra ti” (v. 17) está inteiramente
em Meu poder; por conseguinte, você não tem por que temer, tendo a
Mim do seu lado.
para o seu devido fim — antes, “por sua obra” [Horsley].
“segundo as exigências de sua obra” [Maurer].
assolador, para destruir — Is_10:5-7; 37:26, 27; 45:1-6). O
conquistador que semeia a desolação usando “instrumentos” forjados
pelo “ferreiro”. A repetição de “eu” indica entretanto, que há algo na
última parte do versículo que contrasta com a primeira; entendendo-se
portanto assim: “Eu tenho em meu poder tanto o que forja as armas
como o que as destrói” [Rosenmuller].
17. língua ... condenarás — figura de um tribunal de justiça. Os
que desejem “te condenar”, tu “os condenarás” (Êx_11:7; Js_10:21;
Sl_64:8; Rm_8:1, Rm_8:33).
a sua justiça que vem de mim (RC) — (Is_45:24; 46:13). , antes,
(esta é) sua justificação por mim. Seus inimigos os “condenarão”, mas
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 352
Eu os justifico e os vindico, e dessa maneira eles condenarão a seus
inimigos.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 353
Isaías 55

Vv. 1-13. A Chamada à Fé Feita ao Mundo Gentílico É o


Resultado da Graça de Deus, Outorgada Primeiro aos Judeus.

1. Todos vós — A seguir dos especiais privilégios de Israel, segue


como consequência o convite universal aos gentios (Lc_24:47;
Rm_11:12, Rm_11:15). Todos vós reclama a mais séria atenção.
os que tendes sede — expressão que encerra um profundo sentido
de necessidade (Mt_5:6)
águas … vinho … leite — é uma gradação. Não água meramente,
tão necessária para manter a vida absolutamente, mas sim vinho e leite
para fortalecer, alegrar e nutrir; alude-se às bênçãos espirituais do
evangelho (Is_25:6; Ct_5:1; Jo_7:37). “Águas” no plural, para denotar
abundância (Is_43:20; 44:3).
sem dinheiro — Entretanto, no v. 2, diz-se: “gastais o dinheiro”,
um aparente paradoxo. Na realidade, vocês são uns carentes; contudo,
imaginam que têm dinheiro, isto é, um culto forjado por vocês mesmos;
e o esbanjam naquilo “que não é pão”, ou seja, nos ídolos, sejam literais
ou espirituais.
comprai, sem dinheiro — outro paradoxo. Nós fomos comprados,
mas não por preço pago por nós mesmos (1Co_6:20; 1Pe_1:18-19). Em
certo sentido, nós temos que “comprar” a salvação, isto é, nos
desprender de tudo o que se interponha entre nós e Cristo, quem a
comprou para nós, a fim de que fosse nossa (Mt_13:44, Mt_13:46;
Lc_12:33; Ap_3:18).
2. naquilo que não é pão — (Hc_2:13). “O pão do engano”
(Pv_20:17). Contraste-se isto com “o pão da vida” (Jo_6:32, Jo_6:35;
também, Lc_14:16-20).
naquilo que não satisfaz — (Ec_1:8; 4:8).
Ouvi-me atentamente, comei — Quando ocorrem dois
imperativos, o segundo expressa a consequência de obedecer o ordenado
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 354
no primeiro (Gn_42:18). Ouvindo, comerão. Assim no v. 1, “comprem e
comam”. Comprando, farão com que seja seu, e o comerão, isto é,
desfrutá-lo-ão experimentalmente (Jo_6:53). Confira-se o convite com
Pv_9:5-6; Mt_22:4.
com finos manjares — (Sl_36:8; Sl_63:5).
3. a mim … a vossa alma viverá — por vir para mim, viverão; pois
“Eu sou a vida” (Jo_14:6).
convosco farei uma aliança perpétua — (Jr_32:40; 2Sm_23:5). A
aliança de Deus com o antitípico Davi, o Messias (Ez_34:23), e assim
conosco, por nossa identificação com Ele.
misericórdias — as misericórdias em virtude da graça (Is_63:7;
Jo_1:16), que Eu convim em dar a Davi, e especialmente, ao Messias,
seu antítipo. Citado em At_13:34.
fiéis — o que responde a “eterno”, irrevogável, que não falta, em
que se pode confiar (Sl_89:2-4, Sl_89:28, Sl_89:34-36; Jr_33:20-21;
2Sm_7:15-16; 2Co_1:18-20).
4. o — ao místico Davi (Ez_37:24-25; Jr_30:9; Os_3:5). Dado por
Deus (Is_49:6).
testemunho — Ele deu testemunho a favor de Deus, de Sua lei, de
Suas reivindicações e do plano de redimir, até a morte (Jo_18:37;
Ap_1:5). O Apocalipse é um “testemunho”; porque tem por objetivo ser
aceito sob a autoridade de quem o deu, e não meramente porque se possa
provar com argumentos.
príncipe — “Mestre” [Horsley]. “Legislador” [Barnes].
5. Eis que chamarás — Jeová Se dirige ao Messias.
correrá — Deus tem que chamar o homem antes de que este possa
ou queira correr (Ct_1:4; Jo_6:44). Não tem que vir meramente, antes
tem que correr avidamente.
uma nação que não conheces — agora como Seu povo (assim em
Mt_7:23).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 355
uma nação que nunca te conheceu — Gradação de Israel, uma
nação, o evangelho se estende a muitas nações; isso mesmo acontecerá
mais amplamente quando Israel se converter.
por amor do SENHOR, teu Deus … porque este te glorificou —
(Is_60:5, 9; Zc_8:23); onde em linguagem similar dirige-se a Israel; por
causa da identificação deste com o Messias, o Israel ideal (Mt_2:15; cf.
com Os_11:1; veja-se At_3:13).
6. As condições para obter benefícios espirituais, e suas limitações
(vv. 1-3): (1) Buscar ao Senhor. (2) Buscá-Lo enquanto pode ser achado
(Is_65:1; Sl_32:6; Mt_25:1-13; Jo_7:34; Jo_8:21; 2Co_6:2; Hb_2:3;
3:13, 15).
invocai-o — lancem-se completamente nos braços de sua
misericórdia (Rm_10:13). Expressão mais forte que “buscai”; assim
também “perto” é mais positivo que “enquanto se pode achar”
(Rm_10:8-9).
perto — isto é, enquanto se mostra propício (Sl_34:18; Sl_145:18).
7. o ímpio (RC) — O hebraico diz: o homens de iniquidade;
aplicável a todos os homens. O ímpio peca mais descaradamente em
“seu caminho”; o “ímpio” refere-se às mais sutis operações do pecado
nos “pensamentos”. Todos são igualmente culpados em último sentido,
embora muitos se imaginam estar a salvo, porque seus “ímpios
caminhos” não são visíveis (Sl_94:11). O paralelismo é o de uma
gradação. O progresso do penitente tem que ser da reforma negativa, (1)
abandonando o seu caminho, e logo (2) dando um passo mais: “seus
pensamentos”, para chegar a um positivo arrependimento, e (3)
voltando-se para o Senhor (que é o único verdadeiro arrependimento,
Zc_12:10), e fazer de Jeová seu verdadeiro Deus, à semelhança dos
outros filhos de Deus (sendo o ponto culminante a apropriação de Deus
para nós mesmos como “nosso Deus”). “Converta-se”, dá a entender que
o homem caminhava originalmente com Deus, mas logo apostatou.
Isaías diz “nosso Deus”, o Deus dos israelitas crentes; os remidos
desejam que outros se voltem para seu Deus (Sl_34:8; Ap_22:17).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 356
rico em perdoar — Lit., grande para perdoar, que ainda é mais
que “ter misericórdia”. Quanto mais conhecemos a Deus, quanto mais
conhecemos Sua clemência (Sl_130:7).
8. Porque — alude ao v. 7. Não têm por que duvidar de Sua boa
vontade para outorgar um “amplo perdão” (cf. v. 12); porque embora os
caminhos do “ímpio” e os pensamentos do “injusto” sejam tão graves
que pareçam imperdoáveis, contudo, os “pensamentos” de Deus e Seus
“caminhos” (ou métodos) para perdoar não estão regrados pela
proporção daqueles, como faria um homem que tivesse que perdoar a um
próximo que lhe tivesse ofendido (cf. referente a “porque” (Sl_25:11;
Rm_5:19).
9. (Sl_57:10; Sl_89:2; Sl_103:11). Maurer, depois da negação,
traduz “mas”.
10. Os corações dos homens outrora estéreis quanto à
espiritualidade, os fará com que, mediante o derramamento do Espírito
pelo Messias, produzam os frutos de justiça (Is_5:6; Dt_32:2; 2Sm_23:4;
Sl_72:6).
e a neve — a qual protege as plantas da geada no inverno, e uma
vez derretida na primavera, rega a terra.
e para lá não tornam — vazia, como no v. 11; não volta na mesma
forma, ou sem “cumprir” o fim desejado.
11. (Mt_24:35). A chuva pode nos parecer perdida quando cai num
deserto, mas cumpre algum propósito de Deus. Assim a palavra
evangélica, caindo num coração duro, no final produz alguma mudança;
e embora não o produzir, deixa o homem sem desculpa. O total
cumprimento deste versículo e dos vv. 12 e 13, deve efetuar-se no final
da restauração dos judeus e da conversão do mundo (Is_11:9-12; 60:1-5,
21).
12. Saireis — dos vários países em que vocês (os judeus) estão
espalhados, para sua terra (Ez_11:17).
guiados — guiados pelo Messias, o seu “Guia” (v. 4; Is_52:12;
Mq_2:12-13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 357
montes … árvores — Imagens usadas para expressar a aparente
participação da natureza na alegria do povo de Deus. Pois quando o
pecado for eliminado, o mundo da natureza será libertado de “vaidade” e
renovado, de sorte que estará em harmonia com o mundo moral
regenerado (Is_44:23; Sl_98:8; Rm_8:19-22).
13. espinheiro — emblema dos ímpios (2Sm_23:6; Mq_7:4).
cipreste — os piedosos (Is_60:13; Sl_92:12). Cf. quanto à mudança
que terá que efetuar-se, com Rm_6:19.
sarça — emblema de falta de cultivo (Is_5:6).
murta — em hebraico, hedés, do qual procede Hadassa, nome
original de Ester; tipo da igreja cristã, por ser uma planta baixa, embora
seja um arbusto belo, fragrante e sempre verde (Sl_92:13-14).
por nome, por sinal eterno (RC) — para glória de Jeová
(Jr_13:11; Jr_33:9).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 358
Isaías 56

Vv. 1-12. A Preparação Necessária Daqueles que Queiram Ser


Admitidos no Reino de Deus.

1. juízo — Equidade. João Batista pregou igualmente o retorno à


justiça, como preparação necessária para a primeira vinda do Messias
(Lc_3:3, Lc_3:8-14). O mesmo acontecerá antes da segunda vinda
(Ml_4:4-6).
prestes a vir — (Mt_3:2; Mt_4:17), referente deste modo à
segunda vinda (Is_62:10, 11; Lc_21:28, Lc_21:31; Rm_13:11-12;
Hb_10:25).
justiça — que responde a “salvação” na cláusula paralela; significa
portanto a justiça que traz salvação (Is_46:13; Rm_3:25-26).
2. (Lc_12:43).
o homem — heb., enosh “um homem de humilde condição”, a
diferença de ish, “um homem de posição superior”. Até o mais humilde,
como, por exemplo, “o forasteiro” e “o eunuco” (vv. 4, 6), são
admissíveis a estes privilégios.
que faz isto — que alude ao que segue: “que guarda o sábado”, etc.
(Is_58:13, 14; Ez_20:12). Isto prova que o sábado, no espírito de sua
exigência, devia ser obrigatório na dispensação do evangelho (Is_66:23).
Que isto se refere aos tempos do evangelho é evidente, visto que não diz
que é bem-aventurado aquele que observa o ritual nos sacrifícios da lei
judia.
que nisto se firma — descrição de alguém que agarra fortemente
algum objeto precioso por temor de que o tirem dele pela violência. O
“sábado” aqui são todos os atos do culto divino sob a nova lei evangélica.
guarda a sua mão de … mal — A observância da segunda tábua
da lei; pois o sábado se acha consignado na primeira. As duas em
conjunto encerram todos os deveres do homem, o culto de Deus e a
prática de uma vida santa.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 359
3. Sob a nova economia, Deus acolhe a todos os crentes, sem
distinção de pessoas (At_10:34-35).
que se houver chegado ao SENHOR — (Nm_18:4, Nm_18:7).
“Prosélitos”.
me separará — Os prosélitos dos gentios não tinham direito aos
mesmos privilégios que os israelitas naturais. Esta barreira que existia
entre judeus e gentios devia ser eliminada (Ef_2:14, Ef_2:16).
eunuco — (At_8:27). Os eunucos eram guardas dos haréns, ou
ministros dos reis.
árvore seca — estéril (Lc_23:31); estes não eram admissíveis na
congregação de Israel (Dt_23:1-3). Sob o evangelho, o eunuco e o
estrangeiro seriam eximidos das desqualificações civis e religiosas.
4. aquilo que me agrada — que sacrificam seu gosto ao Meu.
e abraçam a minha aliança — (nota, v. 2).
5. lugar (RC) — lit., uma mão.
na minha casa — o templo, figura da igreja (1Tm_3:15). Já não se
limitarão a ser prosélitos, com acesso ao átrio exterior do templo, antes
serão admitidos ao “lugar santíssimo” (Hb_10:19-20).
e um nome melhor do que filhos — Embora o eunuco careça de
filhos (v. 3), Eu lhe darei um nome mais duradouro que o do pai de filhos
e filhas (o qual era olhado como uma alta honra entre os hebreus)
(Jo_1:12; Jo_10:3; 1Jo_3:1; Ap_2:17; Ap_3:12).
6. que se chegam ao SENHOR — (Jr_50:6). Condições de
admissão aos privilégios da adoção.
7. também os levarei — (Ef_2:11, Ef_2:13).
ao meu santo monte — Jerusalém, assento do trono do Senhor em
seu futuro reino (Is_2:2 Jr_3:17).
alegrarei — (Rm_5:11).
os seus holocaustos e os seus sacrifícios — espirituais, dos quais
foram tipo os literais (Rm_12:1; Hb_13:15; 1Pe_2:5).
serão aceitos — (Ef_1:6).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 360
meu altar — (Hb_13:10), espiritualmente, a cruz de Cristo, que
santifica nossos sacrifícios de louvor e oração.
casa … para todos os povos — Já não será exclusivamente de um
povo predileto (Ml_1:11; Jo_4:21, Jo_4:23; 1Tm_2:8). Isto terá plena
realização na segunda vinda de Cristo (Is_2:2-4). Já não serão sacrifícios
literais, mas sim espirituais; quer dizer, que se elevarão orações
(Sl_141:2; Sl_141:52; Sl_141:17; Ml_1:11; Mt_21:13).
8. Jeová não só restaurará os desprezados e espalhados de Israel
(Is_11:12; Sl_147:2) à sua própria terra, mas sim “reunirá a outros
(estrangeiros) a si (isto é, a Israel,) além dos reunidos” de sua dispersão
(Jo_10:16; Ef_1:10; Ef_2:19).
9. as bestas (Versão Jünemann) — as idólatras nações gentílicas
hostis aos judeus, reunidas por Deus para castigá-las (Jr_12:7-9;
Jr_50:17; Ez_34:5): os caldeus e, posteriormente, os romanos. A menção
dos “desprezados de Israel” (v. 8) nos põe perante os olhos a baixeza,
causado pelos pecados de seus governantes (vv. 10-12).
vinde comer — ou seja, a Israel,
10. Os seus atalaias — os chefes espirituais de Israel (Is_62:16;
Ez_3:17).
cães mudos — descrição tomada dos cães pastores imprestáveis,
que não ladram para avisar que se aproximam as feras.
cegos — (Mt_23:16).
sonhadores preguiçosos — antes, “sonhadores, folgazões”
[Lowth]. Não dormem meramente inativos, mas sim dormitam sob
visionárias ilusões.
gostam de dormir — não só dormitam involuntariamente, mas
também gostam de dormir.
11. nunca se fartam — lit., de forte apetite (quer dizer, que são
insaciáveis) (Ez_34:2-3; Mq_3:11).
nada compreendem — são incapazes de compreender as
necessidades espirituais do povo. Assim o v. 10, “não podem ladrar”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 361
se tornam para o seu caminho — quer dizer, atendem a seus
interesses egoístas; não ao bem-estar espiritual do povo (Jr_6:13;
Ez_22:27).
todos sem exceção — antes, do mais alto até o mais baixo [Lowth].
“Todos sem exceção”: quer dizer, de um extremo ao outro (Gn_19:14).
12. traremos vinho e beberemos (RC) — é a linguagem dos
mestres da nação, que se excitam mutuamente a beber. Barnes traduz:
“Tomarei outra taça” (Is_5:11).
o dia de amanhã — seu desenfreio era habitual e intencional; não
bebiam meramente, mas sim era seu propósito continuar fazendo-o.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 362
Isaías 57

Vv. 1-21. A Tranquila Morte de Alguns Justos: A Impiedade dos


Ímpios: Um Resto de Crentes Sobreviverá aos Juízos Gerais e Será
Restituído à Sua Terra pelo Autor da Paz.
No meio dos excessos dos atalaias infiéis (Is_56:10-12), a maior
parte dos poucos piedosos perece: em parte por vexame da predominante
impiedade; em parte por morte violenta, em tempo de perseguição;
profecia dos persecutórios tempos de Manassés, anteriores aos juízos de
Deus que darão lugar ao cativeiro de Babilônia, e novamente, aos que se
efetuarão nos últimos tempos da igreja, antes dos juízos finais da
apostasia (2Rs_21:16; Mt_23:29-35, Mt_23:37; Ap_11:17). O hebraico
em “perecem” e “tirados” expressa morte violenta (Mq_7:2).

1. não há quem se impressione — repare nisso como uma pública


calamidade.
os homens piedosos — os sujeitos da misericórdia.
sem que alguém considere nesse fato — quer dizer, que foi um
desígnio da Providência levar embora os piedosos.
antes que venha o mal — heb., da face do mal, isto é, do mal
moral em todas as partes (Is_56:10-12), e dos males iminentes como
castigo dos pecados nacionais, como as invasões, etc. (Is_56:9; 57:13).
Daí que a morte de Aías se represente como uma bênção que foi
outorgada por Deus por causa de sua piedade (1Rs_14:10-13; veja-se
também 2Rs_22:20).
2. entra na paz — em contraste com as perseguições que sofreu
neste mundo (Jó_3:13, Jó_3:17). A margem não se traduz tão bem: “irá
em paz” (Sl_37:37; Lc_2:29).
descansam — o tranquilo descanso de seus corpos em suas
sepulturas (chamadas “leitos”; 2Cr_16:14; cf. com Is_14:18; porque
“dormem” nelas, com a certeza de despertar na ressurreição, 1Ts_4:14) é
o emblema do eterno descanso (Hb_4:9; Ap_14:13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 363
os que andam em retidão — melhor, em sua retidão. Esta cláusula
define o caráter dos que na sua morte “repousam em seus leitos”, ou seja,
todos os que caminharam retamente.
3. Mas ... vós — Em contraste com os justos” e seus últimos anos,
anuncia aos judeus incrédulos sua sentença.
filhos da agoureira — (feiticeira) — isto é, vós os viciados na
feitiçaria. Esta estava vinculada ao culto dos falsos deuses (2Rs_21:6).
Para um oriental não há maior insulto que manchar o nome de sua mãe
(1Sm_20:30; Jó_30:8).
descendência da adúltera — se alude ao adultério espiritual: a
idolatria e a apostasia (Mt_16:4).
4. De quem vocês estão zombando? (NVI) — (Is_66:5).
Conhecem a glória dAquele de quem zombam, ao zombar de Seus
servos (“os justos”, v. 1)? (2Cr_36:16).
escancarais a boca — (Sl_22:7, Sl_22:13; Sl_35:21; Lm_2:16).
filhos da transgressão — Não meramente filhos de transgressores
e linhagem de pais falsos, mas sim da própria transgressão e falsidade,
inteiramente desleais para com Deus.
5. que vos abrasais — que ardem de luxúria idolátrica [Gesênio];
ou, antes, nos bosques de terebintos, sentido que o hebraico e o
paralelismo favorecem (Nota, Is_1:29). [Maurer].
debaixo de toda árvore — (2Rs_17:10). A árvore, como nas
esculturas assírias, era convertida em idolátrico símbolo dos corpos
celestes.
sacrificais os filhos — como sacrifício a Moloque, etc.
(2Rs_17:31; 2Cr_28:3; 2Cr_33:6).
nos vales — o vale do Filho do Hinom. Esquentavam uma estátua
oca de bronze e logo punham o menino sobre seus esquentados braços;
tocavam-se tambores (hebreu, tof) para afogar os gritos da criança; daí
que era chamado Vale de Tofete (2Cr_33:6; Jr_7:3).
nas fendas dos penhascos — a escuridão das cavernas convinha a
suas tenebrosas superstições.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 364
6. As alisadas pedras com a forma de ídolos são os deuses
escolhidos por você como sua porção (Sl_16:5).
apresentas ofertas de manjares — não um sacrifício com sangue,
mas sim um de farinha amassada com azeite (Lv_14:10).
Contentar-me-ia eu com estas coisas? — “Tenho que sofrer estas
coisas com paciência?” [Horsley].
7. monte alto … o teu leito — descrição tomada de um adultério
público e desenfreado (Ez_23:7); o “leito” corresponde ao altar
idolátrico, a cena de sua espiritual infidelidade para com seu divino
Marido (Ez_16:16, Ez_16:25; Ez_23:41).
8. símbolos eróticos — quer dizer, memoriais de tua idolatria; os
objetos que você reteve como lembrança. Penduravam-nos como deuses
tutelar da família “atrás das portas”, o mesmo lugar em que Deus lhes
tinha ordenado para escreverem Suas leis: “sobre os postes das portas”
(Dt_6:9; Dt_11:20); e também tinha sido pronunciada uma maldição
sobre quem tivesse uma imagem “num lugar secreto” (Dt_27:15).
puxas as cobertas — descrição tomada de uma adúltera.
sobes ao leito e o alargas — para receber mais amantes.
fazes concerto com eles (RC) — com os ídolos: em aberta violação
de sua aliança com Deus (Êx_19:5; Êx_23:32). Ou: “marcaste com eles
lugar e hora” [Horsley].
tua cama … sua cama (RC) — O pecado dos judeus foi duplo;
concorreram aos lugares de idolatria (“tua cama”), e introduziram ídolos
no templo de Deus (“sua cama”).
onde quer que (RC) — antes, sempre desde então [Horsley]. A voz
hebraica em qualquer lugar que significa habitação (Margem da Versão
Inglesa) um lugar; traduza-se, portanto, “hás provido um lugar para ela”
(para “tua cama”), quer dizer, mediante o admitir altares idolátricos em
sua terra [Barnes]; Ou: “Escolheste um lugar (conveniente) para ti
mesma” em sua cama [Maurer]. (Is_56:5).
9. ao rei — o ídolo ao qual eles deviam adorar, perfumado com
azeite, à semelhança das rameiras (Jr_4:30; Ez_23:16, Ez_23:40). Daí é
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 365
que “rei” signifique ídolo (Am_5:26; Sf_1:5); malkam, que quer dizer
“rei” [Rosenmuller]. Antes, o rei da Assíria ou do Egito, e outros
príncipes estrangeiros, em quem Israel confiava, em lugar de confiar em
Deus; a “unção” se referirá desta maneira às ofertas (Os_12:1), e
possivelmente à submissão às idolatrias estrangeiras, pelas quais Israel
buscava ganhar o favor de estrangeiros [Lowth] (Is_30:6; Ez_16:33;
Ez_23:16; Os_7:11).
envias os teus embaixadores — não meramente às nações
vizinhas, mas às longínquas, em busca de novos ídolos, ou antes,
alianças.
até à profundidade — até a degradação mais baixa possível.
10. Na tua longa viagem — o comprido de sua viagem em busca
de deuses estranhos, ou, antes, em busca de ajuda estranha (Jr_2:23-24).
Não obstante não ter derivado nenhum bem destas longas viagens, ainda
não renunciou à sua esperança (Jr_2:25; Jr_18:12).
Achaste com que renovar as tuas forças (TB) — por “ainda achas
vida (isto é vigor) suficiente em tua mão” para fazer novos ídolos
[Maurer], ou seja, para buscar novas alianças (porque então se tomava a
mão como signo de força, em geral).
não desfaleces — antes, “por conseguinte, não és fraco” [Maurer];
pois tendo “vida em tua mão”, ainda és forte em esperança.
11. Israel não quis parecer que tinha negado completamente a Deus.
Portanto, mentiram-lhe. Deus pergunta: Por que fizeste isso? “A quem
temes? Não a Mim, certamente; porque não te lembraste que Mim”.
Traduza-se: “Visto que não te lembraste que Mim”.
nem de mim te importasses — antes, “nem me tens no coração”,
não me tiveste acatamento, e isso por causa que Eu guardei silêncio, e
não te castiguei. Lit., “Não calei por longo tempo? E tu não me temeste”
(Sl_50:21; Ec_8:11). Melhor teria sido apartar-se abertamente de Deus
que “O lisonjear” com mentiras de falsas profissões (Sl_78:36).
[Ludovicus De Dieu]. Entretanto, Is_51:12, 13 favorece todo o versículo
tal como o verte a Almeida; “a silenciosa” longa paciência de Deus, cujo
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 366
desígnio foi levá-los a arrependimento, fez com que “não lhe temessem”
(Rm_2:4-5).
12. Eu publicarei — Eu exporei sua (hipócrita) justiça.
Demonstrarei abertamente quão vãs são suas obras, como o provará o
recorrer aos ídolos ou a estranhas alianças (v. 3)
13. Quando clamares — No tempo de sua tribulação.
a tua coleção de ídolos — isto é, os ídolos, reunidos por ti de todas
as partes, ou, antes, os estrangeiros chamados em tua ajuda.
o vento … os arrebatará — (Jó_21:18; Mt_7:27).
herdará a terra — isto é, a literal terra da Judeia e o monte de
Sião; o resto crente de Israel retornará e herdará a terra. Em sentido
secundário, refere-se à herança celestial e a Sião espiritual (Is_49:8;
Sl_37:9, Sl_37:11; Sl_69:35-36; Mt_5:5; Hb_12:22). “Aquele que põe
em Mim sua confiança”, qualquer que seja sua condição social,
alcançará o patrimônio espiritual do judeu apóstata [Horsley].
14. Este dirá (TB) — O nominativo (ou sujeito) é “aquele que
confia em mim” (v. 13). O resto crente verá aplainado todo obstáculo
que haja no caminho para seu retorno, na futura restauração de Israel, o
antítipo da volta de Babilônia (Is_35:8; 40:3, 4; 62:10, 11).
Aterrai, aterrai — um caminho real para os judeus que retornam.
os tropeços — Jesus foi uma pedra de tropeço para os judeus, mas
então já não o será (1Co_1:23); seus preconceitos serão retirados do
caminho.
15. O orgulho e a justiça própria do judeu eram as pedras de tropeço
que havia no caminho que conduzia ao reconhecimento de Cristo. A
contrição de Israel nos últimos dias será seguida da interposição de Deus
em seu favor. Dessa maneira, sua humilhação expressa em Is_66:2, 5,
10, etc., precede a sua final prosperidade (Zc_12:6, Zc_12:10-14);
haverá provavelmente um período prévio de incredulidade mesmo
depois de seu retorno (Zc_12:8-9).
16. Pois — que se refere à promessa dos vv. 14, 15, de restaurar a
Israel quando se mostrar “contrito” (Gn_6:3; Gn_8:21; Sl_78:38-39;
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 367
Sl_85:5; Sl_103:9, Sl_103:13-14; Mq_7:18). Deus “não disputará para
sempre” com Seu povo, porque seu humano espírito seria, em tal caso,
completamente esmagado; enquanto que o objetivo de Deus, é castigá-
los, não destruí-los (Lm_3:33-34; Mq_7:8-9). Com o ímpio Ele está
irritado cada dia (Sl_7:11; Ap_14:11).
o espírito definharia diante de mim — isto é, o espírito humano
que saiu de mim (Nm_16:22), que responde ao “que eu criei”, na
cláusula paralela.
17. cobiça — análoga à idolatria; e como esta, apartou de Deus o
coração de Israel (Is_2:7; 56:11; 58:3; Jr_6:13; Cl_3:5).
escondi a face — (Is_8:17; 45:15).
rebelde — resultado de Deus ter ocultado o Seu rosto (Sl_81:12;
Rm_1:24, Rm_1:26).
18. Antes, “Vi seus caminhos (que são pecaminosos); entretanto, eu
o curarei”; isto é, que restaurará a Israel em sentido espiritual e temporal
(Jr_33:6; Jr_3:22; Os_14:4-5) [Horsley]. Contudo, a frase “aos que dele
choram” favorece a Versão Almeida Atualizada; “seus caminhos” serão
por essa causa caminhos de arrependimento; e o perdão de Deus,
havendo “visto os seus caminhos”, responde à promessa (Is_61:2, 3;
Jr_31:18, Jr_31:20).
19. fruto dos seus lábios — quer dizer, ação de graças, que brotam
dos lábios. Eu farei com que os homens se voltem para Mim com ação
de graças (Os_14:2; Hb_13:15).
paz, paz — “perfeita paz” (Ver a margem da Versão Inglesa,
Is_26:3; Jo_14:27). Em primeiro lugar, esta paz consistirá na cessação
das atuais tribulações que afligem os judeus, como anteriormente no
exílio de Babilônia. De maneira mais geral, esta paz consistirá em que o
evangelho proclama, tanto a Israel, que está “perto”, como aos gentios,
que estão “longe” (At_2:39; Ef_2:17).
20. que não se pode aquietar — melhor, “porque não pode ter
repouso” (Jó_15:20; Pv_4:16-17). A Versão Inglesa representa o mar
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 368
agitado ocasionalmente; mas o hebraico expressa que nunca pode estar
em repouso.
21. (Is_48:22; 2Rs_9:22).
meu Deus — O profeta, que tem a Deus por seu Deus, fala na
pessoa de Israel, considerado profeticamente como havendo-se enfim
apropriado de Deus e sua “paz” (Is_11:1-3), dirige-se aos impenitentes,
admoestando-os e dizendo-lhes que enquanto continuem na
impenitência, não poderão ter paz.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 369
Isaías 58

Vv. 1-14. Recriminação Dirigida aos Judeus por Sua confiança


Posta em Meras Formas Externas de Culto.

1. a plenos pulmões — Heb., com a garganta, isto é, a voz em


grito, não meramente com os lábios (1Sm_1:13). Fala bastante alta para
atrair a atenção.
meu povo — Os judeus do tempo de Isaías e de novo os do tempo
do Senhor, eram mais zelosos dos atos externos que da santidade
interior. Rosenmuller crê que é uma alusão aos judeus do cativeiro, os
quais praticavam seus ritos para granjear o favor de Deus e sua
libertação; e daí em diante que não se mencionem os sacrifícios, mas sim
unicamente os jejuns e as observâncias dos sábados, que podiam
cumprir, embora se achavam muito longe do templo de Jerusalém. Isto
mesmo se aplica igualmente à sua atual dispersão, na qual não podem
oferecer sacrifícios, mas sim só podem mostrar um zelo religioso
mediante jejuns, etc. Cf. quanto ao tempo de nosso Senhor, Mt_6:16;
Mt_6:23; Lc_18:12.
2. Ponha-se o ponto depois de “caminhos”, e enlace-se “como gente
que” etc., com o que segue, “como povo que pratica a justiça”; assim
responde a “perguntam-me pelos direitos da justiça” (isto é, direitos de
justiça que lhes sejam devidos, como a salvação para eles, e a destruição
para seus inimigos); a expressão “e não deixa o direito do seu Deus”
responde a “têm prazer em se chegar a Deus” (para que Deus Se
aproximasse deles para exercer os “justos juízos” em proveito deles e
contra os seus inimigos). [Maurer]. Jerônimo diz assim: “Com a
confiança, por assim dizer, de quem tem boa consciência, pedem um
justo juízo, empregando a linguagem própria dos santos: Julga-me, ó
Deus, porque andei em minha integridade.” O mesmo se menciona em
Ml_2:17, onde afetam escandalizar-se perante a impunidade dos ímpios,
e impugnam a justiça de Deus [Horsley]. É assim que “me buscam cada
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 370
dia, e desejam saber os meus caminhos” refere-se à sua necessidade de
saber por que Deus demorava tanto em ajudá-los. A Versão Inglesa dá
um sentido diferente, mas exato, ou seja, que dissipa a ilusão de que
Deus ficaria satisfeito com as observâncias externas, mesmo quando o
espírito da lei fosse violado e o coração não experimentasse mudança
alguma (vv. 3-14; Ez_33:31-32; cf. com Jo_18:28), onde se vê a
escrupulosidade lado a lado com o assassinato. Os profetas eram os
comentadores da lei, sua Carta Magna, em seu espírito e não meramente
na letra.
3. Por que? — São palavras dos judeus: “Por que é — dizem —
que quando jejuamos Tu não te dás por informado” (nos livrando)?” Eles
pensam que com o seu jejum põem a Deus sob obrigação (Sl_73:13;
Ml_3:14).
afligimos a nossa alma — (Lv_16:29).
Eis que — é a resposta de Deus.
no dia em que jejuais — como antítese à sua jactância de ter
“afligido as suas almas”. Eles só se desfrutavam em ostentações
exteriores. Gesênio não traduz tão bem, ao traduzir: “negócios”.
exigis que se faça todo o vosso trabalho — antes, que vos sirvam
em opressivos trabalhos [Maurer]. Horsley, o mesmo que a Vulgata,
traduz: “Exigem a seus devedores tudo o que lhes devem”; aos que lhes
devem os fazem trabalhar (Ne_5:1-5, Ne_5:8-10, etc.)
4. não jejueis (RC) — melhor, não jejuem neste tempo, para fazer
com que sua voz seja ouvida no alto, ou seja, no céu; seu objetivo ao
jejuar é brigar, e não conseguir que Deus lhes ouça [Maurer] (1Rs_21:9,
1Rs_21:12-13). Na Versão Inglesa o sentido é: Se querem ser aceitos a
Deus não devem jejuar como agora o fazem, em meio de rixas, para que
sua voz seja ouvida no alto.
5. que o homem um dia aflija a sua alma — A dor sentida pela
abstinência não é o fim perseguido, como se fosse meritória; só é de
valor na medida em que nos leve a reformar nossos caminhos (vv. 6, 7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 371
incline a sua cabeça … pano de saco — para fingir exteriormente
aos olhos dos homens que ele jejua (Mt_6:17-18; 1Rs_21:27; Est_4:3).
6. que soltes as ligaduras da impiedade — isto é, soltar toda
atadura com que a pessoa haja injustamente preso a seu próximo
(Lv_25:49, etc.), como a servidão, um contrato fraudulento, etc.
desfaças as atadura — heb., soltar as ligaduras do jugo. Deixar ir
livre, indica que se alude aos “quebrantados” com o jugo da escravidão
(Ne_5:10-12; Jr_34:9-11, Jr_34:14, 16). Jerônimo o interpreta:
quebrantados pela pobreza; a bancarrota.
7. que repartas — distribuas (Jó_31:16-21).
os pobres desabrigados — antes, reduzidos [Horsley].
o nu, o cubras — (Mt_25:36).
da tua carne (RC) — teus parentes (Gn_29:14). Irmãos também
por descendência comum de Adão e irmãos em Cristo (Tg_2:15).
“Esconder-se” significa mostrar-se estranho para com eles, e não
socorrê-los em sua pobreza (Mt_15:5).
8. luz — emblema de prosperidade (v. 10; Jó_11:17).
cura — lit., uma longa atadura aplicada pelos cirurgiões ao curar
uma ferida (cf. Is_1:6). Daí, uma restauração de todas as calamidades
passadas.
irá adiante de ti — Sua conformidade à aliança divina age à
maneira de guia, que te conduz em paz e prosperidade.
e a glória … a tua retaguarda — à semelhança da coluna de
nuvem e de fogo, o símbolo da “glória” de Deus, que ia atrás de Israel,
mantendo-os a distância dos egípcios, seus perseguidores (Is_52:12;
Êx_14:19-20).
9. então, clamarás, e o SENHOR te responderá — Quando se
renuncia ao pecado (Is_65:24). Quando não prestarmos ouvidos à
chamada do Senhor, Ele tampouco ouvirá nosso “clamor” (Sl_66:18;
Pv_1:24, Pv_1:28; Pv_15:29; Pv_28:9).
o dedo que ameaça — o dedo do escárnio, apontando a homens
singelos e piedosos. Os romanos usavam o dedo cordial para esse fim.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 372
o falar injurioso — proferir palavras injuriosas [Lowth].
10. se abrires a tua alma — “compartilhando com ele tua
subsistência” [Horsley]. “Alma” é uma figura “por aquilo com que você
sustenta a alma” ou a “vida”.
a tua luz nascerá nas trevas — as calamidades serão
repentinamente substituídas pela prosperidade (Sl_112:4).
11. fartará a tua alma até em lugares áridos — (Is_41:17, 18).
Lit., lugares secos [Maurer].
fortificará os teus ossos — fortalecê-los-á [Noyes]. “Conceder-te-
á o livre uso de teus ossos” [Jerônimo]; ou de tua força [Horsley].
jardim regado — um quadro oriental de felicidade.
jamais faltam — heb., “não enganam”, como ocorre com as
correntes de água que desapontam as caravanas que esperavam achar
água, como antes, mas as acharam secas (Jó_6:15-17).
12. Os teus filhos — teu povo, os israelitas.
as antigas ruínas — as antigas ruínas de Jerusalém (Is_61:4;
Ez_36:33-36).
os fundamentos de muitas gerações — quer dizer, os edifícios que
jazem em ruínas até os alicerces por muitos séculos, chamados na
passagem paralela (Is_61:4) “os desertos antigos”. Se alude ao
restabelecimento literal e espiritual, o qual produzirá tão bendito
resultado no mundo gentil (Am_9:11-12; At_15:16-17).
serás chamado — apropriadamente: o nome indicará realmente o
que farás.
de brechas — a calamidade com que Deus visitou Israel por seu
pecado (Is_30:26; 1Cr_15:13).
veredas para morar — não que veredas fossem ser habitadas, mas
sim os caminhos que levam a suas habitações eram para ser restauradas;
“calçadas para habitar na terra” [Maurer].
13. (Is_56:2; Ne_13:15-22). O sábado sob a nova dispensação, será
obrigatório (Is_66:23).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 373
o teu pé — o instrumento da locomoção (cf. Pv_4:27); os homens
não terão que viajar por mero prazer no sábado (cf. At_1:12). Era
proibido aos judeus viajarem nele a uma distancia maior que para ir ao
tabernáculo ou ao templo. Se guardares o teu pé de seguir os teus
caminhos e de “fazer a tua própria vontade”, etc. (Êx_20:10-11).
no meu santo dia — Deus o reclama como Seu dia; empregá-lo
para fazer nosso gosto é roubar a Deus o que é Seu próprio. Esta é a
forma em que mais se viola o sábado, fazendo dele um dia de prazer
carnal, em lugar de ser uma espiritual “delícia”.
santo dia do SENHOR, digno de honra — não o predicado, mas
sim o sujeito: “se chamares honorável o santo (dia) de Jeová”; se você o
tratar como um dia que deve ser honrado.
e o honrares — isto é, como sábado.
não seguindo os teus caminhos — o que responde a “Se desviares
o teu pé do sábado” (RC);
de fazeres a tua vontade (AC) — que responde a “não
pretendendo fazer a tua própria vontade”. “Observar o dia do repouso de
uma maneira ociosa, é o repouso dos bois e os asnos; passá-lo de uma
maneira jovial é o repouso do bezerro de ouro, quando o povo se
assentou a comer e a beber e levantou-se de novo a jogar; observá-lo em
meio de excessos é observar o repouso de Satanás, a festa do diabo”
[Bispo Andrews].
nem falando palavras vãs — que responde a “chamares ao sábado
deleitoso … digno de honra”. “As palavras” com que o homem o
chamaria, seriam “tédio”, “aborrecimento”; é a natureza espiritual dada
de cima que o chama “deleitoso” (Am_8:5; Ml_1:13).
14. te deleitarás no SENHOR — Deus recompensa com a mesma
moeda e com a mesma moeda castiga. Assim como nos “deleitamos” em
guardar o “sábado” de Deus, assim também Deus fará com que nos
deleitemos nEle (Gn_15:1; Jó_22:21-26; Sl_37:4).
Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra — Eu te farei
supremo senhor da terra; a frase está tomada de um conquistador que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 374
avança sobre um carro de guerra e ocupa as colinas e fortalezas de um
país [Vitringa]. (Dt_32:13; Mq_1:3; Hc_3:19). A Judeia é uma terra de
colinas; a ideia, por conseguinte, é: “Eu te restaurarei à tua própria terra”
[Calvino]. As palavras paralelas, “a herança de Jacó” confirmam isto
(Gn_27:28-29; Gn_28:13-15).
a boca do SENHOR o disse — Fórmula que assegura aos homens
o cumprimento de qualquer promessa solene feita por Deus (Is_40:5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 375
Isaías 59

Vv. 1-21. O Pecado do Povo É Causa de Juízos. Enfim, o


confessam: A Futura Interposição do Redentor em Sua Necessidade.
A razão pela qual Jeová não livra o Seu povo, não obstante seus
ofícios religiosos (Is_58:3), não é por falta de poder da parte dEle, mas
por causa dos pecados deles (vv. 1-8); os vv. 9-15 contêm sua confissão;
os vv. 16-21, encerram a consequente promessa do envio do Messias.

1. a mão ... não está encolhida — (Nota, Is_50:2).


nem surdo o seu ouvido — (Is_6:10).
2. encobrem — hebraico, foram causa de que ocultasse (Lm_3:44).
3. (Is_1:15; Rm_3:13-15).
vossas mãos … dedos — não meramente as “mãos” perpetraram
atos da maior enormidade, mas os “dedos” cometem atos minuciosos de
“iniquidade”.
lábios … língua — Os lábios “dizem” abertamente “mentiras”, a
língua “murmura” maliciosas insinuações (“perversidade”; perversas
falsidades de outros) (Jr_6:28; Jr_9:4).
4. Antes, “ninguém leva a um tribunal o seu adversário com
justiça”; quer dizer, ninguém dispõe um pleito justo: “Ninguém advoga
com verdade”.
confiam no que é nulo — (Assim Jó_15:35; Sl_7:14).
5. áspide — É provável que seja a serpente basilisco, cerastes. Em
lugar de esmagar o mal no ovo, antes, o fomentam
teias de aranha — Não se refere isto à teia de aranha em si, feita
para servir de armadilha, mas sim a sua magreza em contraste com os
resistentes “vestidos”, como o demonstra o v. 6. Suas obras são vãs e
transitivas (Jó_8:14; Pv_11:18).
o que comer os ovos dela — aquele que tome parte em seus planos
ou tenha algo que ver com eles, achá-los-á pestilentos.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 376
se um dos ovos é pisado — Do ovo, quando se rompe, sai assim
como uma víbora; seus planos, embora aparentemente plausíveis, em sua
forma rudimentar à semelhança de um ovo, uma vez desenvolvidos,
resultam perniciosos. Embora a víbora é vivípara (de onde procede a
palavra víbora), contudo, durante a gestação, a cria está contida em ovos
que se rompem ao nascer [Bochart]. Entretanto, as metáforas
frequentemente combinam coisas que não representam exteriormente
tudo o que respeita à vida.
6. não … para vestes — à semelhança da folha de figueira com
que Adão e Eva buscaram em vão cobrir suas vergonhas, o que contrasta
com “as vestes de peles” que Deus lhes fez para os vestir com eles
(Is_64:6; Rm_13:14; Gl_3:27; Fp_3:9). Aqui há uma alusão aos
artifícios e enganosos sofismas da filosofia humana (1Tm_6:5;
2Tm_2:16, 2Tm_2:23).
7. Os seus pés — todos os seus membros são ativos para fazer o
mal; no v. 3, as mãos, os dedos, os lábios e a língua estão especificados.
correm … são velozes — (Rm_3:15), o que contrasta com o correr
e apressar-se de Davi nos caminhos de Deus (Sl_119:32, Sl_119:60).
os seus pensamentos — não meramente os seus atos, mas sim
todos os seus pensamentos.
8. paz — quer seja com relação a Deus, quer com sua consciência,
quer com os seus semelhantes (Is_57:20, 21).
juízo (RC) — justiça (RA).
fizeram para si veredas tortuosas — o oposto a “retas” (Pv_2:15;
Pv_28:18).
9. está longe … o juízo — é a retribuição na mesma moeda,
porquanto eles “não tinham praticado o juízo em suas ações” (v. 8).
“Deus recusa vindicar nossos justos direitos”.
nós — No v. 8 e nos anteriores, “eles” está na terceira pessoa; aqui
está na primeira, “nós”. Isso é por ser a nação a que fala. Desta maneira,
Deus faz com que eles se condenem a si mesmos, do mesmo modo que
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 377
Ele os tinha condenado antes por Seu profeta. Isaías se inclui a si mesmo
com seu povo, e fala em nome da nação.
justiça — a justiça de Deus que traz salvação (Is_46:13).
luz — a aurora de uma prosperidade que retorna.
trevas — a adversidade (Jr_8:15).
10. Apalpamos — cumprindo-se assim a ameaça de Moisés
(Dt_28:29).
tropeçamos ao meio-dia como nas trevas — nossos males não nos
dão trégua; no momento, quando poderíamos esperar o meio-dia do
alívio, ainda perdura a noite de nossas calamidades.
entre os robustos somos como mortos — melhor, para acomodá-
lo às palavras “ao meio-dia”, em férteis (lit., abundantes; Gn_27:28)
campos [Gesênio] (onde tudo é promissor) nós somos como os mortos
(que já perderam toda esperança); Ou: Onde outros estão prósperos, nós
vagamos como mortos. É aplicável a todos os incrédulos (Is_26:10;
Lc_15:17).
11. bramamos — gememos doloridos como ursos famintos, que
grunhem por falta de alimento.
pombas — (Is_38:14; Ez_7:16).
salvação — é a retribuição em espécie, pois “em seus caminhos”
não havia salvação, mas sim “destruição” (v. 7).
12. (Dn_9:5, etc.).
perante ti … contra nós — é uma antítese.
conosco — isto é, temos consciência deles (Jó_12:3; Jó_15:9).
e conhecemos — reconhecemos nossas iniquidades.
13. As particularidades dos pecados geralmente confessados no
versículo precedente (Is_48:8; Jr_2:19-20). O ato, a palavra e o
pensamento de apostatar estão todos aqui assinalados: a transgressão e o
afastamento, etc., o mentir (cf. v. 4), o conceber e proferir de coração.
14. O direito e a justiça foram proscritos dos tribunais de justiça.
pelas praças — no fórum, o lugar onde estavam os tribunais,
geralmente nas portas do muro da cidade (Zc_8:16).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 378
e a retidão não pode entrar — é que foi excluída do fórum ou
tribunais de justiça.
15. sumiu — não foi encontrada.
e quem se desvia … como presa — Aquele que não se acomoda à
geral iniquidade se expõe a ser presa dos ímpios (Sl_10:8-9).
O SENHOR viu isso — A iniquidade de Israel, tão desesperada,
até o ponto de requerer nada menos que a interposição de Jeová para
remediá-la, tipifica a própria necessidade de um divino Mediador, a qual
existe na profunda corrupção do homem; Israel, a nação modelo, foi
escolhida para ilustrar este fato espantoso.
16. não havia varão (TB) — quer dizer, para que fizesse
propiciação mediante sua justiça pela injustiça do povo. “Varão” aqui é
enfático, como em 1Rs_2:2; nenhum homem representativo pode
remediar a situação dos homens caídos (Is_41:28; 63:5, 6; Jr_5:1;
Ez_22:30).
um intercessor — ninguém se interpôs “para ajudar” a “sustentar-
se” (Is_63:5).
seu próprio braço — (Is_40:10; 51:5). Não o braço do homem,
mas sim o Seu unicamente (Sl_98:1; Sl_44:3).
a sua própria justiça — o “braço” do Messias. Ele obteve a vitória
por nós, não pelo mero poder, como Deus, mas por Sua invencível
justiça, como homem que tinha o “Espírito sem medida” (Is_11:5; 42:6,
21; 51:8; 53:11; 1Jo_2:1).
17. O Messias está representado como um guerreiro em todos os
pontos, que sai a vindicar a Seu povo. Devido à unidade de Cristo e de
Seu povo, a armadura deste é semelhante à Sua, exceto que eles não têm
“vestidos de vingança” (o qual é prerrogativa de Deus, Rm_12:19), nem
“capa de zelo” (no sentido de fúria judicial que castiga ao ímpio; este
“zelo” pertence propriamente a Deus, 2Rs_10:16; Rm_10:2; Fp_3:6;
zelo no sentido de ansiedade pela honra de Jeová, eles o têm,
Nm_25:11, Nm_25:13; Sl_69:9; 2Co_7:11; 2Co_9:2); e pela “salvação”,
a qual pertence exclusivamente a Deus (Sl_3:8), eles têm por “seu
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 379
capacete a “esperança da salvação” (1Ts_5:8). O “capacete da salvação”
se atribui a eles (Ef_6:14, Ef_6:17) em sentido secundário, por derivar-se
dEle, e até agora só em esperança, não em alegria (Rm_8:24). A
segunda vinda, como acontece com frequência, está compreendida nesta
representação do Messias. Seu “zelo” (Jo_2:15-17) em sua primeira
vinda foi só tipo de Seu zelo e de Sua vingança dos inimigos de Deus em
Sua segunda vinda (2Ts_1:8-10; Ap_19:11-21).
18. o devido — Heb., “a recompensa”, “conforme o demandem
seus atos” [Maurer]. Este versículo prediz os juízos da segunda vinda do
Senhor, os quais precederão a redenção final do Seu povo (Is_66:13, 15,
16).
às terras do mar — (Nota, Is_41:1). Alude aos países longínquos.
19. (Is_45:6; Ml_1:11). Resultado dos juízos de Deus (Is_26:9;
66:18-20).
como torrente — (Jr_46:7-8; Ap_12:15).
arvorará contra ele a sua bandeira (RC) — antes, de uma raiz
hebraica diferente, o porá em fuga, afugentá-lo-á [Maurer]. Lowth, lhe
dando à voz hebraica, traduzida “inimigo”, um sentido diferente do que
tem no v. 18, e um significado forçado à frase hebraica o “Espírito de
Jeová”, traduz: “Quando o Senhor venha como um rio endireitado em
seu curso, que um forte vento impele para frente”.
20. a Sião — Rm_11:26, cita “de Sião”. Desta maneira, Paulo, por
inspiração, suplementa o sentido do Sl_14:7; aquele que era e deve vir a
Sião, primeiro com redenção, saindo como homem de Sião. A LXX
traduz: “Por amor de Sião”. Paulo aplica este versículo ao futuro
restabelecimento espiritual de Israel.
aos de Jacó que se converterem — (Rm_11:26). “desviará de Jacó
as impiedades”; assim a LXX em que está incluído o sentido plenário
dado por Paulo por inspiração. Eles se voltam da transgressão, porque
Ele os volta primeiro dela e esta deles (Sl_130:4; Lm_5:21).
21. esta é a minha aliança com eles … sobre ti — A aliança é
com Cristo e com eles, unicamente por estarem unidos a Ele (Hb_2:13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 380
Jeová Se dirige ao Messias, o típico Israel ideal. O Israel literal e o
espiritual são Sua semente, aos quais lhes tem que cumprir a promessa
(Sl_22:30).
o meu Espírito … não se apartarão dela … para todo o sempre
— (Jr_31:31-37; Mt_28:20).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 381
Isaías 60

Vv. 1-22. A Glória de Israel Depois de Sua Aflição.


Uma ode de congratulações cantada em honra de Sião em sua
restauração, por ocasião do segundo advento do Senhor, à sua verdadeira
posição de Igreja Mãe, que deve difundir o evangelho por todo mundo
gentio. A primeira promulgação do evangelho entre os gentios, que
começa em Jerusalém [Lc_24:47], é um objeto disto. A linguagem é
muito brilhante para aplicá-la a um acontecimento já completo.

1. Levanta-te (RC) — do pó em que estiveste sentada como


chorosa cativa (Is_3:26; 52:1, 2).
resplandece — ilumina a outros com a luz que agora te foi dada a ti
(v. 3). A margem da Versão Inglesa e Gesênio traduzem: “te esclareça”;
resplandece com sua origem; o imperativo em lugar do futuro de
indicativo: “Serás esclarecida” (Is_58:8, 10; Ef_5:8, Ef_5:14).
a glória do SENHOR — não meramente a Shekiná ou a nuvem de
glória, que descansava sobre a arca na antiga dispensação, mas sim a
glória do Senhor em pessoa (Jr_3:16 17).
nasce — como o sol (Ml_4:2; Lc_1:78, Margem Versão Inglesa)
2. trevas … a terra — o resto da terra, contrastada com a “luz
sobre ti” (v. 1). A terra será depois ilustrada por Israel (Is_9:2).
aparece — de modo conspícuo; assim o hebraico.
3. (Is_2:3, 11:10; 43:6; 49:22; 66:12).
reis — (Is_49:7, 23; 52:15).
para o resplendor que te nasceu — ao resplendor de teu
nascimento qual sol, isto é, a brilhantismo que surge sobre ti.
4. Levanta em redor os olhos — Palavras dirigidas a Jerusalém,
como a mulher com a vista baixa por causa de sua aflição.
todos estes — As nações gentílicas juntar-se-ão para trazer de volta
os dispersos hebreus, reconstruir sua cidade e adorar a Jeová e lhe fazer
ofertas.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 382
são trazidas nos braços — antes, levadas, etc. No Oriente é
costume levar os meninos escarranchado sobre os quadris, com os braços
ao redor do corpo (Is_66:12).
5. verás — (v. 4), principalmente, la vuelta de tus hijos.
e serás radiante de alegria — “transbordarás de alegria” [Lowth],
ou, de uma raiz hebraica diferente: “brilharás de alegria” [Gesênio].
(Jó_3:4).
o teu coração estremecerá e se dilatará — antes, pulsará pela
agitação causada por uma imensa alegria motivada pelo maravilhoso
espetáculo [Horsley] (Jr_33:9).
e se dilatará — se inchará de deleite. O pesar, pelo contrário, p
contrai.
a abundância do mar — a riqueza dos países de ultramar, como
em tempo de Salomão, tipo do reinado do Príncipe da Paz.
se tornará a ti — em lugar de converter-se ao pecado e à idolatria.
6. de camelos — carregados de mercadorias; o camelo é “o barco
do deserto” (cf. com o Is_30:6).
te cobrirá — Haverá tantos deles!
dromedários — estes têm uma corcunda sobre as costas, enquanto
que o camelo tem duas: o dromedário distingue-se por sua velocidade
(Jr_2:23).
Midiã — Ao oriente da ramo elenítico do Mar Vermelho que se
estende rumo ao noroeste, ao longo da montanha do Seir, associado ao
tráfico dos ismaelitas (Gn_37:25, Gn_37:28).
Efa — parte de Midiã, a leste do Mar Morto. Nela abundavam os
camelos (Jz_6:5).
Sabá — Na Arábia Feliz, famosa pelo incenso e o ouro (Sl_72:15;
Jr_6:20), que eram objeto de comércio (Is_45:14; Jó_6:19; Ez_27:22).
7. Quedar — (Is_21:16; Ct_1:5), no sul da Arábia Deserta, ou a
norte da Arábia Pétrea; seu comércio consistia em rebanhos (Ez_27:21).
Nebaiote — filho de Ismael, como o era Quedar. Era pai dos
nabateos da Arábia Pétrea.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 383
te servirão (RC) — subindo como sacrifício aceito.
para o meu agrado subirão ao meu altar — isto é, de modo
aceitável. Os carneiros ofereciam-se voluntariamente (Sl_68:30;
Rm_12:1; 1Pe_2:5), sem esperar a intervenção de nenhum outro
sacerdote. Estes representam aos crentes fortes na fé, semelhantes quanto
à mansidão a um cordeiro, vestidos com o manto da santidade, branco
como um velocino [Vitringa].
a casa de minha glória — o templo (Ezequiel 41; Ag_2:7, 9;
Ml_3:1).
8. O profeta, vendo em visão novos exércitos que se aproximam
velozmente como nuvem de pombas, pergunta quem são.
9. (Nota, Is_42:4).
virão primeiro os navios de Társis — As naves de Tartessus
(Nota, 2:16; 23:1, isto é, navios que navegam até as mais longínquas
regiões) figurarão entre os primeiros em conduzir os espalhados
israelitas (Is_66:20).
a sua prata — As nações entre as quais tenham sido espalhados os
judeus, ajudá-los-ão com seu dinheiro a retornar (vv. 5-7, 11, 16), como
foi o caso da volta de Babilônia (Ed_1:4; cf. Sl_68:30-31).
do nome … do Santo de Israel — antes, por causa do nome, por
causa do Santo (cf. Is_55:5) [Lowth].
10. reis te servirão — (v. 7; Is_49:23).
no meu furor te castiguei — (Is_54:7, 8; 57:17).
11. (Ap_21:25). As portas estão para sempre abertas para receber
novas ofertas e conversos (Is_26:2; At_14:27; Ap_3:8). Em tempo de
paz as portas de uma cidade estão abertas: assim, sob o Príncipe da Paz,
não haverá necessidade de trancá-las contra os invasores.
te sejam trazidas riquezas das nações — como cativos da
verdade; ou: se não voluntariamente, talvez o sejam mediante juízos,
para as submeter a Israel (vv. 12, 14). Gesênio o explica assim: “Sejam
escoltados por uma comitiva”.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 384
12. Porque — A razão que induzirá os reis e as nações gentílicas a
submeter-se, será o temor de Deus em Israel (Zc_14:17).
13. A glória — isto é, as árvores que engalanavam o Líbano,
emblema de homens eminentes em dons naturais, que consagram ao
Deus de Israel tudo que há neles (Os_14:5-6).
cipreste ... olmeiro ... buxo — antes, cipreste ... azinheira ... cedro.
o lugar do meu santuário — Jerusalém (Jr_3:17).
o lugar dos meus pés — não mais a arca (Jr_3:16), “a base” de
Jeová (Sl_99:5; Sl_132:7; 1Cr_28:2); mas sim “o lugar de seu trono, o
lugar das plantas de seus pés, onde habitará no meio dos filhos de Israel
para sempre”, no novo templo (Ez_43:7).
14. os filhos — seus pais, por ter afligido a Israel, foram eliminados
mediante juízos divinos (Is_14:1, 2; 49:23).
Sião do Santo de Israel — Real corte do Santo. Maurer traduz:
“Sião, o santuário (o lugar santo) de Israel” (Is_57:15; Sl_46:4).
15. abandonada — (Sl_78:60-61).
ninguém passava por ti — Sua terra estava tão desolada que
nenhum viajante ou caravana passava por ela; é bem verdade, tratando-se
de Israel, não assim da igreja (Lm_1:4).
glória — isto é, será perpetuamente honrada.
16. Mamarás — atrairás para com ti os gentios, e desfrutará de
todo o valioso que eles possuam, etc. (Is_49:23; 61:6; 66:11, 12).
saberás — pelos favores que te forem concedidos, e os concedidos
por seu meio aos gentios.
17. Em sentido poético, alude figuradamente ao mobiliário do
templo; todas as coisas naquela idade feliz chegarão a ser mudadas por
outras melhores.
exatores — dos tributos.
justiça — Todos os governantes da restabelecida Jerusalém não só
serão pacíficos e justos, mas sim serão, por assim dizer, a “paz” e a
“justiça” personificadas, em sua administração.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 385
18. (Is_2:4). Não só te manterão seus muros a salvo de seus
inimigos, mas também a “salvação” te servirá de muro, convertendo a
seus inimigos em amigos, e dessa maneira te assegurará perfeita
segurança (Is_26:1, 2).
portas — as quais em outra época foram cenários de “destruição”
quando os vitoriosos inimigos irrompiam por elas (Ne_1:3); daí em
diante não só devem ser cenários de louvor, mas também o mesmo
“louvor”. As portas, como lugares de público concurso eram cenários de
ação de graças (2Cr_31:2; Sl_9:14; Sl_24:7; Sl_100:4). “Judá”, a tribo
favorecida, significa louvor.
19. O sol e a lua, os objetos mais brilhantes do dia e da noite, serão
eclipsados pela sobrepujante glória do Deus que se manifesta a ti
(Is_30:26; Zc_2:5; Ap_21:23; Ap_22:5).
20. Já não haverá mais obscurecimento nacional e espiritual como
antes (Jl_2:10; Am_8:9).
e os dias do teu luto findarão — (Is_25:8; Ap_21:4).
21. todos … justos — (Is_4:3; 52:1; Ap_21:27).
herdarão a terra — (Is_49:8; 54:3; 65:9; Sl_37:11, Sl_37:22;
Mt_5:5).
renovos por mim plantados — (Is_61:3; Sl_92:13; Mt_15:13).
obra das minhas mãos — Alude aos israelitas convertidos
(Is_29:23; 45:11).
para que eu seja glorificado — o objeto final de todas as relações
da graça de Deus (Is_49:3; 61:3).
22. O menor — um, e esse o menor em número e posição, se
multiplicará por mil em ambos os sentidos (Mq_5:2; Mt_13:31-32).
seu tempo — não nosso tempo; nós poderíamos desejar que se
apressasse, mas virá a seu devido tempo, como no caso da primeira
vinda de Jesus (Gl_4:4). Assim será quando se efetuar o
restabelecimento de Israel e a conversão do mundo (Is_66:8; Hc_2:3;
At_1:7; Hb_10:37).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 386
Isaías 61

Vv. 1-11. Ofícios do Messias: Restauração de Israel.


O Messias anuncia sua dupla comissão; na primeira vinda traria a
clemência evangélica; na segunda, os juízos sobre os incrédulos e o
consolo para Sião (vv. 1-9); a linguagem pode aplicar-se a Isaías, que
consola os desterrados em Babilônia; mas só em sentido secundário.

1. está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu — Isto foi


chamado por Jesus como Suas credenciais para a pregação (Lc_4:18-21).
O Espírito está sobre mim ao pregar, porque Me ungiu no ventre de
minha mãe (Lc_1:35), e no batismo, com o Espírito “sem medida”, para
manter-se permanentemente sobre Mim (Is_11:2; Jo_1:32; Jo_3:34;
Sl_45:7; cf. com estes passagens 1Rs_1:39-40; 1Rs_19:16; Êx_29:7).
“Ungido” como Messias, Profeta, Sacerdote e Rei.
boas-novas — que é o significado da palavra evangelho.
aos quebrantados — antes, aos pobres”, como diz em Lc_4:18,
quer dizer, aos afligidos pelas calamidades, pobres por causa das
circunstâncias adversas, e pobres em espírito (Mt_11:5).
a proclamar libertação — (Jo_8:31-36). Linguagem tomada da
libertação dos cativos em Babilônia, para descrever a libertação do
pecado e da morte (Hb_2:15); também procede da liberdade proclamada
a todos os escravos no ano do jubileu (v. 2; Lv_25:10; Jr_34:8-9).
a pôr em liberdade os algemados — O hebraico indica, antes, “a
mais ampla abertura,” ou seja, a dos olhos daqueles que estão
aprisionados, quer dizer, a libertação da prisão; pois os cativos estão por
assim dizer, cegos na escuridão da prisão (Is_14:17; 35:5; 42:7).
[Ewald]. Assim o interpretam Lc_4:18, e a LXX. Lc_4:18, divinamente
inspirado, acrescenta a isto, para maior elucidação da simples cláusula
no hebraico: “para pôr em liberdade aos quebrantados”: dessa maneira
expressa a dupla “abertura” indicada, ou seja, a dos olhos (Jo_9:39) e a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 387
da prisão (Rm_6:18; Rm_7:24-25; Hb_2:15). Seus milagres foram
parábolas executadas.
2. o ano aceitável — o ano do jubileu, em que se proclamava
“liberdade aos cativos” (v. 1; 2Co_6:2).
dia da vingança — O tempo da boa vontade de Jeová é um “ano”;
o da “vingança”, só um dia (assim Is_34:8; 63:4; Ml_4:1), Jesus “fechou
o livro” antes desta cláusula (Lc_4:20-21); pois o intervalo desde sua
primeira vinda até a segunda, é o “ano da boa vontade”; “o dia da
vingança” não ocorrerá até que Ele volte outra vez (2Ts_1:7-9).
nosso Deus — Os santos o chamam “nosso Deus”, porque vem
para “vingá-los” (Ap_6:10; Ap_19:2).
os que choram — a palavra “todos” parece que inclui os enlutados
israelitas espirituais, assim como os literais, aos quais lhes chama no v.
3 “os que em Sião estão de luto”, aos quais se refere Is_57:18.
3. a ordenar … que se lhes dê (RC) — O verbo, repetido com um
só e mesmo acusativo. reparte-lhe uma fulgurante veemência ao estilo.
coroa em vez de cinzas — No som e significado das palavras
hebraicas: peer, efer há uma espécie de aliteração; lit. “gorro ornamental
para a cabeça”, ou tiara (Ez_24:17), que se levava em momentos de
alegria, em lugar de uma touca coberta de “cinza”, em sinal de luto
(2Sm_13:19).
óleo de alegria — um perfume que se vertia na cabeça dos
hóspedes nas comidas e festas (Sl_23:5; Sl_45:7-8; Am_6:6). Em
ocasiões de tristeza se prescindia dele (2Sm_14:2).
veste de louvor — vestidos de brilhantes cores, que expressavam
gratidão em lugar dos que expressavam abatimento, como o cilício
(Jo_16:20).
carvalhos de justiça — heb., terebintos, símbolo dos homens
fortes na justiça, em lugar de estar como até agora, dobrados como um
cano, pelo pecado e as calamidades (Is_1:29, 30; 42:3; 1Rs_14:15;
Sl_1:3; Sl_92:12-14; Jr_17:8).
plantados pelo SENHOR — (Nota, Is_60:21).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 388
para a sua glória — (Jo_15:8).
4. os lugares antigamente assolados — Jerusalém e as cidades de
Judá que jazem em ruínas desde muito há (Nota, Is_58:12).
5. se apresentarão — serão seus serventes (Is_14:1, 2; 60:10).
6. Mas vós — em contraste com os “estrangeiros”. Vocês não terão
necessidade de cuidar de seus rebanhos e terras: os estrangeiros farão
isso por vocês; sua exclusiva ocupação será o serviço de Jeová, qual
“sacerdotes” deles (Êx_19:6, o qual ainda não se cumpriu; cf. quanto ao
Israel espiritual, Is_66:21; 1Pe_2:5, 1Pe_2:9; Ap_1:6; Ap_5:10).
ministros — (Ez_44:11).
comereis as riquezas das nações — (Is_60:5-11).
e na sua glória vos gloriareis — antes, “substitui-los-ão em seu
esplendor”; lit., vós mesmos lhes substituirão [Maurer].
7. dupla — em lugar de sua passada porção, terão não meramente
uma recompensa igual, mas sim uma “dupla” (Is_40:2; Zc_9:12; cf. com
a terceira parte deste versículo).
afronta — antes, humilhação ou contumélia.
na vossa terra — Alude ao Israel literal, não à igreja em sua
totalidade. Celebrarão com júbilo sua porção [Maurer]. Transição da
segunda pessoa à terceira.
perpétua alegria — (Is_35:10).
8. o juízo — A justiça requer que Eu restaure a Meu povo, e lhe dê
o dobro em compensação de seus sofrimentos.
a iniqüidade do roubo — antes, de uma raiz hebraica distinta, o
despojo de iniquidade [Horsley]. Assim em Jó_5:6. Desde que Eu
aborreço a rapina combinada com a iniquidade perpetrada em Meu povo
por seus inimigos, Eu vindicarei a Israel.
eu lhes darei sua recompensa em verdade — antes, “dar-lhes-ei a
recompensa de sua obra” (cf. a margem da Versão Inglesa do Is_40:10;
49:4; 62:11), em fidelidade.
9. conhecida — honradamente; será ilustre (Sl_67:2).
família bendita — (Is_65:23).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 389
10. Sião (v. 3) dá graças a Deus pelo favor de tê-los feito retornar
(cf. Lc_1:46-47; Hc_3:18).
vestes de salvação … manto de justiça — inseparavelmente
reunidos. O “manto” é uma espécie de capa folgada, lançado sobre as
outras partes do vestido (Sl_132:9, Sl_132:16; Sl_149:4; Ap_21:2;
Ap_19:8).
se adorna — antes, “fez-me uma tiara sacerdotal”, quer dizer,
uma mitra como a que usava o sumo sacerdote, uma espécie de turbante
com uma lâmina ou coroa de ouro no fronte [Áqüila, etc.] Apropriado
“para o reino de sacerdotes”, dedicados a oferecer sacrifícios espirituais
a Deus continuamente (Êx_19:6; Ap_5:10; Ap_20:6).
jóias — , antes,, ornamentos em geral [Barnes].
11. (Is_45:8; 55:10, 11; Sl_72:3; Sl_85:11).
renovos — os tenros brotos.
louvor — (Is_60:18; 62:7).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 390
Isaías 62

Vv. 1-12. Orações Intercessoras pela Restauração de Sião,


Acompanhadas das Promessas de Deus Com relação aos Meios
Assinalados para Seu Cumprimento.

1. não calarei — O profeta, como representante de todos os que


oram a Deus, quem ama a Sião e intercede por ela (cf. vv. 6, 7;
Sl_102:13-17), ou o Messias (cf. v. 6), a quem se representa como
infatigável em seus esforços em favor de Seu povo (Is_42:4; 50:7).
sua justiça — não que seja inerentemente dela, mas sim lhe foi
imputada, por sua restauração ao favor de Deus. Daí que justiça, segundo
o paralelismo, corresponde-se com salvação. “Judá” tem que ser “salva”
pelo Senhor nossa justiça (a de Judá e da igreja) (Jr_23:6).
como um resplendor — propriamente o resplandecente brilho do
sol nascente (Is_60:19; 4:5; 2Sm_23:4; Pv_4:18).
tocha — qual brilhante tocha.
2. (Is_11:10; 42:1-6; 49:7, 22, 23; 60:3, 5, 16).
um nome novo — expressão de sua nova e melhorada condição (v.
4), o mais valioso e duradouro, por ter sido concedido pelo próprio Jeová
(v. 12; Is_65:15; Ap_2:17; Ap_3:12).
3. (Zc_9:16).
na mão do SENHOR — Como a coroa se usa sobre a cabeça, não
“na mão”, a mão aqui deve tomar-se em sentido figurado de “sob a
proteção de Jeová” (cf. Dt_33:3). “Todos os seus santos estão em sua
mão”. Seu povo está em Sua mão, enquanto é para ele “uma coroa de
glória” (Ap_6:2; Ap_19:12); por sua vez, Ele é para os seus uma coroa
de glória e uma diadema de beleza (Is_28:5; cf. Ml_3:17).
4. te chamarão — nunca mais será “abandonada”, a fim de que
essa palavra não te seja aplicada.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 391
Hefzibá (RC) — (2Rs_21:1), nome da mulher de Ezequias, tipo de
Jerusalém, como Ezequias o era do Messias (Is_32:1): Hefzibá significa
“meu deleite está nela”;
Beulá (RC) — “Tu és casada”. Veja-se o mesmo contraste entre o
passado e o futuro de Sião sob a mesma figura (Is_54:4-6; Ap_21:2-4).
a tua terra se desposará — com Jeová, como seu Senhor e
Marido: o que indica não só propriedade, mas também proteção de parte
do Dono [Horsley].
5. teus filhos — antes, mudando os pontos vocais que carecem de
autoridade em hebraico, “seu edificador” ou “restaurador”, isto é, Deus;
porque na cláusula paralela e no v. 4, dá-se a entender que Deus está
“casado” com ela; enquanto que de seus “filhos” dificilmente se poderia
dizer que estavam casados com sua mãe; e em Is_49:18, diz-se que eles
são seus ornamentos nupciais, não seu marido. A forma plural,
edificadores, usa-se falando de Deus, em sinal de reverência, o mesmo
que “maridos” (Nota, Is_54:5).
com a noiva (RC) — na possessão da noiva (Is_65:19; Jr_32:41;
Sf_3:17).
6. Sobre os teus muros — Fala Isaías na pessoa do Messias.
pus guardas — imagem dos guarda postos sobre os muros de uma
cidade para observar a aproximação de um mensageiro portador de boas
novas (Is_52:7, 8); as boas-novas da volta dos judeus deportados a
Babilônia, que prefigura a volta da atual dispersão (cf. Is_21:6-11;
56:10; Ez_3:17; Ez_33:7). Os guardas no Oriente se anunciavam
mediante um grito para indicar a vigilância dos guarda,
os que fareis lembrado o SENHOR — Heb., Vós os que estão no
pensamento de Jeová; são os servos de Deus que, mediante suas orações,
“lembram a Deus suas promessas” (Is_43:26); nos pede que façamos
lembrar a Deus, como se Ele pudesse (o que é impossível) esquecer Suas
promessas (Sl_119:49; Jr_14:21).
7. nem deis a ele descanso — hebraico “silencio”; não guardem
silêncio, não o deixem repousar em silêncio. Cf. quanto ao mesmo
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 392
Messias, “não calarei ... não me aquietarei” (v. 1); os guardas do Messias
(v. 6, 7) imitam-no(v. 1) em interceder “orando sem cessar” por
Jerusalém (Sl_122:6; Sl_51:18); fazendo-o deste modo pela Jerusalém
espiritual, a igreja (Lc_18:1-7; Rm_1:9).
louvor — (Nota, Is_61:11; Sf_3:20).
8. Jurou ... pela sua mão direita — Seu poderoso instrumento
para cumprir a Sua vontade (cf. Is_45:23; Hb_6:13).
os estrangeiros — Os estrangeiros já não te roubarão o fruto dos
teus trabalhos (cf. Is_65:21, 22).
9. comerão e louvarão — não o consumirão em suas sensualidades
e sem ações de graças.
beberão nos átrios — Os que o vindimaram o beberão nas festas
celebradas nos átrios que circundam o templo (Dt_12:17-18; Dt_14:23,
etc.).
10. Aquilo que Isaías, na pessoa do Messias, propôs-se buscar sem
descanso (v. 1), e em favor do qual os guardas deviam orar sem cessar
(v. 7), por ser algo que Jeová havia solenemente prometido (vv. 8, 9),
está agora prestes a cumprir-se. As nações gentílicas são ordenadas
“passar pelas portas”, ora de suas próprias cidades [Rosenmuller], ora de
Jerusalém [Maurer], a fim de eliminar todos os obstáculos “do caminho
do povo” (de Israel) (nota, Dt_57:14; Dt_40:3; Dt_52:10-12),
bandeira — para que os dispersos judeus se reúnam em torno, com
o objetivo de sua volta (Is_49:22; 11:12).
11. Salvador — melhor, salvação, incorporada no Salvador (veja-
se Zc_9:9).
a sua recompensa — (Is_40:10).
12. Procurada — Buscada e altamente premiada por Jeová, que
corresponde a “não abandonada” na cláusula paralela; já não mais
abandonada, mas sim amada; descrição tomada de uma mulher casada
(v. 4; Jr_30:14).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 393
Isaías 63

Vv. 1-19. Vem o Messias Como Vingador em Resposta às Orações


de Seu Povo.
Ao Messias, que se aproxima de Jerusalém, depois de ter vingado a
seu povo nos inimigos dele e dos deles, lhe representa sob a figura
tomada da destruição de “Edom”, tipo do último e mais cruel dos
inimigos de Deus e de seu povo (veja-se Is_34:5, etc.).

1. Quem …? — Pergunta Isaías em visão profética.


Bozra — (Nota, Is_34:6).
vestes tintas (RC) — tingido de escarlate e sangue (vv. 2, 3;
Ap_19:13).
que marcha — na grandeza. Melhor, majestosamente; lit., a
cabeça para trás [Gesênio].
falo em justiça — resposta do Messias: Eu, que tendo feito uma
fiel promessa de libertação, estou prestes a cumpri-la. Antes, fala de
justiça (Is_45:19; 46:13); a salvação é o que significa como resultado de
Sua justiça” [Maurer].
para salvar — É o mesmo Messias, que destrói ao descrente e
salva ao crente.
2. O profeta lhe pergunta por que eram vermelhos Seus vestidos.
lagar — o sítio onde se pisavam as uvas com os pés, o suco das
quais costumava manchar o vestido de quem as pisava (Ap_14:19-20;
Ap_19:15). A figura é apropriada, pois nos contornos de Bozra
abundavam as uvas. Este golpe final, infligido pelo Messias e Seus
exércitos (Ap_19:13-15), decidirá Suas reivindicações ao reino usurpado
por Satanás e pela “besta”, a quem Satanás delegou seu poder. Será um
dia de juízo para os adversários gentios, do mesmo modo que foi Sua
primeira vinda para os descrentes judeus.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 394
3. Resposta do Messias. Quanto à imagem, veja-se Lm_1:15. Ele
“pisa aqui o lagar”, não como paciente, mas sim como quem toma
vingança.
e o seu sangue — lit., o suco espirituoso da uva, espremido
mediante a pressão dos pés. [Gesênio].
4. estava — Isto expressa a razão pela qual destruiu ao inimigo
(Sf_3:8).
meus redimidos — meu povo que deve ser redimido.
o dia … o ano — Aqui, como em Is_34:8; 61:2, o tempo da
“vingança” está expresso por um “dia”; o da graça e da “recompensa”
dos “redimidos”, por um “ano”.
5. As mesmas palavras que em Is_59:16, exceto que ali se diz que é
Sua justiça” a que o sustentou, enquanto que aqui se diz que é Sua ira.
6. A mesma figura menciona-se em Is_51:17, 21-23; Sl_75:8;
Jr_25:26-27.
derramando por terra o seu sangue — antes, derramei seu
sangue vital (as mesmas palavras hebraicas que no v. 3) na terra” [Lowth
e a LXX].
7. Confissão penitencial de Israel e oração por sua restauração
(Sl_102:17, Sl_102:20), a qual se estende desde este versículo até o fim
de Is_64.
benignidades … louvores … misericórdias … benignidades
(RC) — os plurais e as repetições indicam que a linguagem é inadequada
para expressar em toda a sua amplitude a bondade de Deus.
nos — os judeus da dispersão na época precedente à sua
restauração final.
casa de Israel — de todos os séculos; Deus Se mostrou bondoso,
não meramente para com os judeus atualmente dispersos, senão para
com Israel em todas as épocas de sua história.
8. dizia — Jeová “dizia”, quer dizer, pensou escolhê-los como o
povo de Sua aliança; e assim “disse” (Sl_95:10). Não que Deus
ignorasse que os judeus não lhe guardariam fidelidade, mas sim aqui se
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 395
diz de Deus o que, segundo a maneira de pensar humana, disse Ele para
Consigo mesmo sobre qual era o próprio e natural que podia esperar dos
judeus, como resultado de Sua bondade para com eles. Daí que a
enormidade de sua desumana perversidade esteja vividamente exposta.
mentirão — prova de que são falsos para comigo (Sl_44:17).
Assim, em virtude de havê-los escolhido, converteu-se em seu Salvador
(Jr_31:33). Sua eterna eleição é o fundamento de que Ele salve agora aos
homens (Ef_1:3-4).
9. foi ele angustiado — A Versão Inglesa lê o hebraico como o
keri (da margem): “Houve aflição para ele”. Mas o Jetib (ou seja o texto)
lê: “Não houve aflição”. (No hebraico, a mudança consiste numa só
letra), quer dizer. “Em todas suas aflições não houve aflição (que fosse
inteiramente entristecedora)” [Gesênio]; ou: “Assim que lhes sobreveio
uma aflição, quando o anjo de sua presença os salvou” [Maurer]; ou,
como melhor concorda com o paralelismo: “Em todas as suas angústias,
ele, em sua bondade para com eles, não permitiu que experimentassem
penúria alguma” [Houbigant]. (Jz_10:16; Mq_2:7; 2Co_6:12).
o Anjo da sua presença — lit., de sua face, isto é, que está diante
dEle continuamente, ou seja, o Messias (Êx_14:19; Êx_23:20-21;
Pv_8:30), linguagem inaplicável a nenhuma criatura (Êx_32:34;
Êx_33:2, Êx_33:14; Nm_20:16; Ml_3:1).
os tomou — (Is_46:3, 4; 40:11; Êx_19:4; Dt_32:11-12).
10. contristaram — o ofenderam (Sl_78:40; Sl_95:10; At_7:51;
Ef_4:30; Hb_3:10, Hb_3:17).
pelejou — antes, “ele foi quem pelejou”, isto é, o Anjo de sua
presença [Horsley]. (Lm_2:5).
11. se lembrou — Não obstante a perversidade deles, não se
esqueceu de sua antiga aliança, razão pela qual não os abandonou
inteiramente (Lv_26:40-42, Lv_26:44, 45; Sl_106:45-46). Os judeus
fizeram sua esta alegação por escrito perante Deus para que Ele não os
abandonasse.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 396
disse — Aqui se representa a Deus como falando mentalmente
Consigo a respeito de Si mesmo e de Seus primeiros atos de amor para
com Israel, como fundamento da compaixão que sente para com esse
povo, não obstante sua rebelião.
mar — o Mar Vermelho.
pastor — Moisés, ou se se lê o hebraico no plural, pastores; estes
seriam Moisés, Arão e os outros chefes (assim Sl_77:20).
pôs nele o seu Espírito — heb., no interior dele, quer dizer, de
Moisés; ou se se refere ao rebanho, “em meio de seu povo” (Nm_11:17,
Nm_11:25; Ne_9:20; Ag_2:5).
12. A mão direita de Moisés só foi o instrumento; o braço de Deus
foi o verdadeiro motor (Êx_15:6; Êx_14:21).
fendeu as águas — (Ne_9:11; Sl_78:13).
13. abismos — lit., o agitado e rugidor mar.
deserto — antes, a muito larga planície [Horsley], onde nenhum
obstáculo havia para que um cavalo lançado à carreira corresse o perigo
de tropeçar.
14. Como o animal — descrição tomada de um rebanho
“conduzido” desde umas serras a um fértil e bem regado “vale”
(Sl_23:2); assim o Espírito de Deus “fez com que Israel descansasse” na
Terra Prometida, depois de ter vagado fatigosamente.
para te criares um nome — (Assim o v. 12; 2Sm_7:23).
15. Aqui começa uma fervente súplica a Deus para que Se
compadeça agora de Israel, tendo em conta Seus anteriores benefícios.
tua santa e gloriosa habitação — (Is_57:15; Dt_26:15;
2Cr_30:27; Sl_33:14; Sl_80:14).
zelo … obras poderosas — evidenciada no passado para com o
Seu povo.
A ternura do teu coração — Seus toques de compaixão (Is_16:11;
Jr_31:20; Jr_48:36; Os_11:8).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 397
16. tu és nosso Pai — quer dizer, de Israel, não meramente pelo
direito de criação, mas também de eleição e adoção (Is_64:8; Dt_32:6;
1Cr_29:10).
ainda que Abraão … Israel — A obcecante tentação dos judeus
tinha sido a de descansar sobre os meros privilégios de sua descendência
do fiel Abraão e de Jacó (Mt_3:9; Jo_8:39; Jo_4:12). Enfim, agora
renunciam a isso, para confiar unicamente em Deus, como seu Pai, não
obstante todas as aparências em contrário. Embora Abraão, nosso pai
terrestre, de quem nós nos orgulhamos, desconhece-nos, tu não farás isso
(Is_49:15; Sl_27:10). Isaque não é mencionado, porque nem toda sua
posteridade foi admitida à aliança, enquanto que foi toda a de Jacó; de
Abraão fala-se especificamente, porque ele foi o primeiro progenitor da
raça judia.
desde a antiguidade — uma razão pela qual Ele deveria ajudá-los,
ou seja, por causa de Sua eterna imutabilidade.
17. nos fazes desviar — quer dizer, permitido que errássemos e se
endurecesse nosso coração. Eles não querem dar a entender que neguem
sua culpabilidade, ao contrário, confessam que foi por causa de suas
faltas que Deus os entregou a uma mente réproba (Is_6:9, 10; Sl_119:10;
Rm_1:28).
Volta — (Nm_10:36; Sl_90:13).
18. teu santo povo — Israel, consagrado como santo a Deus
(Is_62:12; Dt_7:6).
país possuído — ou seja, a Terra Santa, ou Teu “santuário”,
palavra pertencente à cláusula seguinte, que é paralela desta (cf.
Is_64:10, 11; Sl_74:6-8).
teu — Um argumento em virtude do qual Deus deveria ajudá-los;
pois a causa deles era Sua causa.
19. nunca … teu — antes, “nós somos teus há muito tempo; tu
nunca dominaste sobre eles” [Barnes]. Lowth traduz: “Fomos por longo
tempo como aqueles sobre quem não exerceste teu poder, e que não se
chamam teu”. “Longo tempo” está em contraste com apenas por pouco
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 398
tempo” (v. 18). Mas, segundo a analogia do v. 18, é provável que a
primeira cláusula deste versículo se refira aos judeus, e a segunda, a seus
inimigos, que é como traduzem a Versão Inglesa e Barnes. Os inimigos
dos judeus são estrangeiros que injustamente se misturaram na herança
do Senhor.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 399
Isaías 64

Vv. 1-12. Transição da Queixa à Oração.


1. Oh! Se fendesses os céus — Saindo a executar vingança, desce
repentinamente sobre o inimigo de Seu povo (Sl_18:9; Sl_144:5;
Hc_3:5-6).
descesses — (Jz_5:5; Mq_1:4).
2. Ou se Tua ira consumisse os Teus inimigos como o fogo, etc.
Melhor: “como o fogo consome os secos sarçais” [Gesênio].
3. Quando — Suprir-se como quando, etc., do v. 2.
coisas terríveis (Sl_65:5).
não esperávamos — que excedem em muito a quanto poderia
esperar qualquer de nossa nação: coisas sem precedente (Êx_34:10;
Sl_68:8).
desceste — sobre o monte de Sinai.
os montes tremeram — Uma repetição do v. 1. Rogam a Deus que
faça agora em favor de Israel as mesmas coisas que fez nos primeiros
séculos. Gesênio, em lugar de “tremeram” aqui, e de “se escorressem”
do v. 1, traduz, atribuindo-o a uma raiz hebraica diferente, “tremesse” …
“tremeram”; mas “o fogo” derrete e faz fluir, em vez de fazer tremer (v.
2).
4. com ouvidos se percebeu — Paulo, em 1Co_2:9, tem em lugar
disto, “nem em coração de homem penetraram”, sentido virtual,
sancionado por sua inspirada autoridade; os humanos poderiam ouvir
com o ouvido físico, mas só com a ajuda do Espírito Santo poderiam
“perceber” com o “coração” o sentido espiritual dos atos de Deus, tanto
os relacionados com Israel, aludidos aqui em primeiro lugar, como os
relacionados com o evangelho, em segundo lugar, aos quais também se
refere Paulo.
nem com os olhos se viu Deus além de ti — “nem olho algum viu
um deus além de ti que tenha feito tais coisas”, etc. Essas coisas se
referem aos prodigiosos atos passados realizados por Deus em favor de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 400
Israel, mencionadas aqui como argumento para que agora intervenha em
favor de Seu povo; mas o Espírito, como o demonstra Paulo por
inspiração, contemplou uma revelação de Deus mais longínqua no
evangelho, que abundaria em paradoxos maravilhosos, nunca antes
ouvidas por nenhum ouvido carnal, as quais não se entenderiam
mediante a mera sagacidade humana; e quando os profetas as
predisseram não foram compreendidas nem cridas inteiramente. E depois
da manifestação de Cristo, não puderam entender-se exceto mediante o
ensino interior do Espírito Santo. Estas são em parte passadas e
presentes, e em parte futuras; por conseguinte, Paulo substitui “tem
feito” por “preparou”, embora por seu contexto demonstra que inclui os
três. Em lugar de “esperam”, ele pôs “o amam”; é que a piedosa
esperança nEle deve fluir do amor, e não do mero temor.
5. ao encontro — isto é, Fizeste a paz ou celebraste uma aliança
com ele (Nota, Is_47:3).
com alegria pratica — quer dizer, quem opera com alegre vontade
[Gesênio] (At_10:35; Jo_7:17).
daquele que — Saiu ao encontro “daquele que”, etc., em oposição
ao que representa uma classe cujas características “aqueles que”, etc.,
descreve-as mais diretamente.
se lembram de ti nos teus caminhos — (Is_26:8).
pecamos — lit., tropeçamos, o que prolonga a figura de
“caminhos”.
por muito tempo — É uma súplica pedindo que não continue a ira
de Deus; como se dissesse: Tua ira não é perdurável (Is_54:7, 8; Sl_30:5;
Sl_103:9), mas sim em teus caminhos, isto é, nos caminhos da aliança de
misericórdia com seu povo (Mq_7:18-20; Ml_3:6), sobre a força da
perpétua vigência de Sua aliança, eles inferem por fé que “serão salvos”.
Deus “lembrou” Sua aliança “por causa deles” (Sl_106:45), embora eles
frequentemente não se lembraram dEle (Sl_78:42). Castelio traduz:
“pecamos durante muito tempo neles (“em seus caminhos”) e podíamos
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 401
então ser salvos?”. Mas eles dificilmente empregariam semelhante rogo
quando seu verdadeiro objetivo era o de ser salvos.
6. como o imundo — impuros segundo a lei, como leprosos. Isto é
aplicável a Israel, separado atualmente, em qualquer lugar que, da
congregação dos santos, por sua incredulidade e os juízos de Deus.
justiças — plural, “impureza” comunicada a todos os atos
particulares deles, e até a suas orações e louvores. Aplicável às melhores
ações dos não regenerados (Fp_3:6-8; Tt_1:15; Hb_11:6).
trapo de imundícia — lit., pano de menstruação (Lv_15:33;
Lv_20:18; Lm_1:17).
como a folha — (Sl_90:5-6).
7. que se desperte — de seu torpor espiritual.
e te detenha — (Is_27:5).
8. Pai — (Is_63:16).
barro — (Is_29:16; 45:9). Incapazes de plasmar-se a si mesmos
devidamente, pedem à soberana vontade de Deus que os plasme para
salvação, como os fez no princípio, por cujo motivo é seu “Pai”.
9. (Sl_74:1-2).
nós somos o teu povo — (Jr_14:9, Jr_14:21).
10. As tuas santas cidades — Nenhuma cidade, fora de Jerusalém,
chama-se “a cidade Santa” (Is_48:2; 52:1); o plural, por conseguinte,
refere-se à parte alta e baixa da mesma cidade de Jerusalém [Vitringa];
ou, que toda a Judeia era santa para Deus, e por isso suas cidades eram
consideradas “santas” [Maurer]. Mas o paralelismo favorece a
interpretação de Vitringa. Sião e Jerusalém (a única cidade) que
responde a “santas cidades”.
11. O nosso templo — (Mc_13:1; At_3:2).
foi queimado — (Sl_74:7; Lm_2:7; 2Cr_36:19). Sua destruição,
por Nabucodonosor, prefigurou a de Tito.
as nossas coisas preciosas — Heb., objetos desejáveis, nossos
lares, nossa cidade e as gratas lembranças que eles suscitavam.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 402
12. sobre estas calamidades — Recusará Ele, não obstante estas
calamidades, Sua ajuda ao Seu povo? (Is_42:14)
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 403
Isaías 65

Vv. 1-25. Resposta de Deus Como Justificação de Seus


Procedimentos com Seu Povo.
Em Is_64:9, a alegação por escrito deles foi “todos nós
constituímos teu povo”; Deus, em resposta, declara que outros (os
gentios) seriam admitidos à Sua aliança enquanto que Seu antigo povo
seria descartado. Os judeus foram tardios para crer isto; daí que Paulo
diga em Rm_10:20, que Isaías foi “muito atrevido”, ao fazer uma
predição tão impopular, que dá a entender o que Paulo afirma em
Rm_2:28; Rm_9:6-7; Rm_11:1-31, de “que nem todos os que são de
Israel são israelitas”, em oposição à alegação por escrito dos judeus
(Is_64:9). A razão que assiste a Deus para tratar a Israel tão severamente
não é a de que haja mudança nEle, mas sim que se deve ao pecado que
há neles (vv. 2-7). Entretanto, nem toda a nação será destruída, mas sim
unicamente a parte dos ímpios; visto que um resíduo será salvo (vv. 8-
10, 11-16). Haverá, finalmente, uma bênção universal para Israel, pela
qual eles rogaram (vv. 17-25).
1. Fui buscado — Heb., “concedi-lhes acesso a minha presença”,
etc. (assim Ez_14:3; “tenho que ser consultado por eles?” Ef_2:18.
achado — Rm_10:20 traduz isto assim: “Manifestei-me”. Como
exemplo do sentido da cláusula “Fui buscado”, etc., veja-se Jo_12:21; e
do sentido desta, ver At_9:5. Cf. com o que diz dos conversos gentios
Ef_2:12-13.
a um povo que não se chamava do meu nome, eu disse: Eis-me
aqui — quer dizer aos gentios. Deus responde à apologia dos judeus
com suas próprias palavras (Is_63:19) de que o fato de ser “invocado seu
nome unicamente sobre eles” não lhes aproveitaria, porque o convite não
era tão exclusivo como eles pensavam (Rm_9:25; Rm_1:16).
2. Estendi as mãos — convidando-os fervorosamente (Pv_1:24).
todo dia — continuamente, tarde e cedo (Jr_7:13).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 404
a um povo rebelde — Israel, cuja rebelião foi a causa de Deus Se
voltar para os gentios (Rm_11:11-12, Rm_11:15).
caminho que não é bom — quer dizer, que é o reverso do bom,
isto é, muito mau (Ez_36:31).
3. me irrita abertamente — nenhum esforço faziam para ocultar
seu pecado (Is_3:9). Cf. “diante de mim” (Êx_20:3).
de contínuo — o que corresponde a “todo dia” (v. 2). Deus os
estava convidando continuamente, e eles continuamente O ofendiam
(Dt_32:21).
em jardins — (Nota, Is_1:29; 66:17; Lv_17:5).
sobre altares de tijolos — Deus tinha mandado que Seus altares
fossem de pedra sem lavrar (Êx_20:25). Isto tinha sido com a finalidade
de separá-los, até no exterior, dos idólatras; mais ainda: como lhes era
proibida toda forma de escultura, não podiam gravar símbolos
supersticiosos sobre elas, como faziam os pagãos. Nos tijolos se podiam
fazer traços mais facilmente que nas pedras; daí o fato de se usarem em
Babilônia para as inscrições cuneiformes, e igualmente para construir
altares idolátricos. Outros, não tão acertadamente, têm suposto que os
“tijolos” aqui significam os tetos planos das casas, feitos de tijolos, nos
quais se sacrificava ao sol, etc. (2Rs_23:12; Jr_19:13).
4. mora entre as sepulturas — ou seja, para entregar-se às práticas
da necromancia, a fim de sustentar conversações com os mortos
(Is_8:19, 20; cf. com Mc_5:3); ou por causa das purificações, geralmente
praticadas de noite entre os sepulcros, para apaziguar aos manes
[Maurer].
lugares misteriosos — heb., “passar a noite em lugares ocultos”,
ora nos santuários recônditos (“recintos sagrados”) [Horsley], onde
costumavam dormir, para manter comunicações divinas em sonhos
[Jerônimo]; ou melhor, por causa do paralelismo “sepulcros”, cavernas
sepulcrais [Maurer].
come carne de porco — coisa que estava proibida absolutamente
pela lei de Deus (Lv_11:7), mas seu delito aumentava, visto que a
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 405
comiam quando celebravam os sacrifícios idolátricos (cf. Is_66:17).
Varro (On Agriculture, 2.4), diz que os porcos ofereciam-se no princípio
em sacrifício; os latinos sacrificavam um desses animais a Ceres;
também o ofereciam com motivo de um tratado ou de um casamento.
no seu prato — quer dizer, o conteúdo deles. Os judeus, em nossos
dias e na época do Senhor, e sempre, desde sua volta de Babilônia,
mantiveram-se limpos da idolatria; entretanto, como esse abominável
pecado é o mais repugnante aos olhos de Deus e aquele que mais
preponderava em tempo de Isaías, ainda se emprega como imagem para
descrever o torpe pecado cometido por Israel em todos os séculos cuja
culminação foi a morte que deram ao Messias, a quem prosseguem
rejeitando.
ensopado — chamado assim, devido aos “pedaços” de pão sobre os
quais se vertia o líquido [Gesênio]. Esse caldo, feito de carne de porco,
oferecida em sacrifício, cria-se que era especialmente agradável ao ídolo,
e se empregava nos ritos mágicos. Ou talvez eram “fragmentos (ou
pedaços) de alimentos abomináveis”, etc. Esta quarta cláusula explica
mais de perto a terceira, o mesmo que a segunda a primeira [Maurer].
5. (Mt_9:11; Lc_5:30; Lc_18:11; Jd_1:19). Aplicável aos hipócritas
que se justificavam a si mesmos no tempo do Senhor.
fumaça — alusão à fumaça dos sacrifícios oferecidos pelos que
criam possuir uma justiça própria; o fogo da ira de Deus estava aceso à
vista, manifestado na fumaça que saía de seus narizes; em hebraico, o
nariz é o assento da irritação; e narizes dilatados com a ira, por assim
dizer, exalam fumaça [Rosenmuller]. (Sl_18:8).
6. está escrito diante de mim — está decretado por mim, quer
dizer, o que segue (Jó_13:26) Maurer; ou sua culpabilidade está escrita
diante de mim (cf. Dn_7:10; Ap_20:12; Ml_3:16).
no seu seio (RC) — Sl_79:12; Jr_32:18; Lc_6:38). Os orientais
tinham nas soltas dobras do vestido que cobria “o seio”, um como
receptáculo para levar coisas. O sentido é: Eu lhes repagarei seu pecado
tão copiosamente que o pagamento não lhes caberá na mão, mas sim
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 406
necessitarão a espaçosa dobra do seio para contê-lo. Rosenmuller diz
melhor: “Eu repagarei a cada pessoa de quem tem procedido”. Cf. “Todo
o mal dos homens de Siquém o tornou Deus sobre as suas cabeças
(Jz_9:57; Sl_7:16). [Gesênio],
7. Seu pecado se foi acumulando de século em século, até que, por
último, Deus lhes deu o pagamento completo.
montes — (Is_57:7; Ez_18:6; Ez_20:27-28; Os_4:13).
suas — Depois de falar com eles, ele passa a falar deles; isto indica
crescente afastamento deles, e maior distancia.
obras — a plena recompensa de sua obra (assim o Is_49:4).
8. cacho de uvas — como se fosse achado um cacho de uvas cujo
suco produz bom vinho e que o vinhateiro se dispusesse a desprezá-las
por serem más e alguém lhe dissesse, etc.
bênção — quer dizer, vinha que produz bom suco (cf. Jz_9:13;
Jl_2:14).
assim — perdoará ao piedoso “resíduo”, enquanto que a massa dos
ímpios da nação será destruída (Is_1:9; 6:13; 10:21; 11:11, 12:16).
meus servos — o resíduo dos piedosos. Mas Horsley traduz: “por
amor de Meu servo, o Messias”.
9. descendência — “a semente santa” (Is_6:13), a posteridade de
Jacó, destinada a possuir mais uma vez a Terra Santa, perdida pelo
pecado dos judeus primitivos.
meus montes — Jerusalém e o resto da Judeia, possessão peculiar
de Deus (cf. Is_2:2; 11:9; 14:32).
eleitos — (vv. 15, 22).
10. Sarom — (Notas. Is_33:9; 35:2).
Acor — que significa dificuldade: vale situado perto de Jericó,
chamado assim pela dificuldade causada a Israel pelo pecado de Acã. “O
vale do Acor”, frase proverbial para designar qualquer calamidade
intencionalmente causada, se converterá em provérbio de alegria e
prosperidade (Os_2:15)
11. meu santo monte — O Moriá, em que se levantava o templo.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 407
Fortuna — Gade, o deus babilônico da fortuna, o planeta Júpiter,
que corresponde a Baal ou Bel; os árabes o chamavam “A Boa Fortuna
Maior”; e ao planeta Vênus, que correspondia a Meni, “A Boa Fortuna
Menor” [Gesênio, Kimchi, etc.]. Estendiam-se mesas aos ídolos, as quais
continham toda variedade de comidas, e uma taça com uma mescla de
vinho e mel, especialmente no Egito, no último dia do ano [Jerônimo].
misturais vinho — antes, bebida misturada.
Destino — melhor: ao Meni; cria-se que esta, como deusa da
fortuna, assinalava o número dos eventos da vida dos homens. Vitringa
crê que Gade era o sol; Meni, a lua ou Astarote ou Astarte (1Rs_11:33).
12. vos destinarei — vos sentenciarei. É a retribuição na mesma
moeda, o castigo que corresponde ao pecado (cf. 2Cr_36:14-17).
chamei, e não respondestes — “Chamei”, embora “ninguém me
tinha invocado” (Is_64:7); entretanto, nem mesmo então “respondeu”
alguém (Pv_1:24). Contraste-se com isto a mútua comunhão que há entre
Deus e Seu povo na oração (v. 24).
13. comerão — desfrutarão de todas minhas bênçãos (Ct_5:1).
fome — (Am_4:6; Am_8:11). Pode ser que isto se refira ao sítio de
Jerusalém por Tito, durante o qual pereceram de fome 1.100.000
pessoas; assim o v. 15 se referirá ao povo de Deus, sem distinção de
judeus e gentios, os que recebem “outro nome”, ou seja o de cristãos
[Houbigat]. Pode ser que ainda reste um cumprimento ulterior, para
antes da nova criação dos novos céus e a nova terra, como se desprende
do contexto (v. 17).
14. uivareis — (Is_15:2; Mt_8:12).
15. maldição — O nome de “judeu” foi por longo tempo uma
fórmula de abominação (cf. Jr_29:22); se a pessoa quer amaldiçoar a
outro, não pode proferir nada pior que dizendo: “Deus te faça como um
judeu!” Contraste-se com a fórmula de Gn_48:20). [Maurer].
aos meus eleitos — a Minha igreja, composta de judeus e gentios,
chamados por “outro nome”: o de cristãos (At_11:26). Entretanto (nota,
v. 13), como a expressão “meus eleitos” (cf. v. 9, refere-se à “linhagem
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 408
de Jacó”, ou seja aos crentes judeus, destinados no futuro a possuir sua
terra (vv. 19, 22), alude-se a eles finalmente com a expressão “meus
eleitos”, em contraste com os judeus incrédulos. Estes judeus eleitos se
chamarão por “outro nome, isto é, por um novo nome, porque já não se
verão “abandonados” de Deus, por causa de sua incredulidade, mas sim
serão seu “deleite”, “casados” como estarão com Ele (Is_62:2, 4).
vos — alude ao Israel incrédulo. Aqui fala Isaías de Deus, enquanto
que nas cláusulas precedentes era Deus mesmo aquele que falava.
Semelhante mudança de sujeito, sem desígnio, demonstra que o profeta
compreendia que Deus estava com ele e nele, de tal sorte que passa sem
prévio anúncio formal, das próprias palavras de Deus às suas próprias, e
vice-versa, embora umas e outras são igualmente de Deus.
16. aquele que se abençoar — (Sl_72:17; Jr_4:2).
Deus da verdade — o Deus verdadeiro, por oposição aos falsos
deuses; heb., amém: o verdadeiro nome do Messias (2Co_1:20;
Ap_3:14), fiel a Suas promessas (Jo_1:17; Jo_6:32). Real, substancial,
espiritual e eterno, por oposição aos obscuros tipos da Lei.
jurar, etc. — Só se apelará a Deus como a tal (Is_19:18; Dt_6:13;
Sl_63:11).
angústias — isto é, pecados, provocações [Lowth], antes,
calamidades causadas por seus pecados; longe de que estas os visitem de
novo, a própria lembrança delas está “oculto a meus olhos”, por causa da
magnitude das bênçãos que lhes tenho que conceder (v. 17, etc.)
[Maurer].
17. Assim como Calebe herdou a terra que tinham pisado os seus
pés (Dt_1:36; Js_14:9), assim também o Messias e seus santos herdarão
a purificada terra que outrora foi pisada por eles quando era manchada
pelo inimigo (Is_34:4; 51:16; 66:22; Ez_21:27; Sl_2:8; Sl_37:11;
2Pe_3:13; Hb_12:26-28; Ap_21:1).
não haverá lembrança — Nota sobre “angústias”, v. 16: estas
palavras correspondem com “as primeiras serão esquecidas”, etc. As
primeiras angústias da terra, sob a queda, estarão tão longe de repetir-se,
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 409
que sua própria lembrança será apagada pelas muitas misericórdias que
farei descer sobre a nova terra (Ap_21:4-27).
18. vós folgareis e exultareis perpetuamente … Jerusalém —
(Is_51:11) “Eterna alegria … Sião”. Espiritualmente (1Ts_5:16).
19. (Is_62:5).
nunca mais … voz de choro — (Is_25:7, 8; 35:10; Ap_7:17;
Ap_21:4); em primeiro lugar, é uma predição referente a Jerusalém; em
segundo lugar, é-o a respeito de todos os redimidos.
20. A longevidade dos homens da primeira idade do mundo voltará
a desfrutar-se.
criança para viver poucos dias — isto é, um infante que só viverá
uns quantos dias; que será de curta vida.
nem velho que não cumpra os seus — ninguém morrerá sem ter
chegado a uma idade avançada.
morrer aos cem anos — quer dizer, que aquele que morrer aos
cem anos de idade morrerá jovem [Lowth].
quem pecar só aos cem anos será amaldiçoado — “O pecador
que morrer aos cem anos será tido por maldito”; quer dizer que sua
morte tão prematura, naqueles dias, quando cem anos serão olhados
como os anos da infância, será reputada como efeito da especial
visitação da ira de Deus [Rosenmuller]. Esta passagem demonstra que
embora a futura época da terra será muito melhor que a atual, contudo
não será um estado perfeito, visto que existirão o pecado e a morte (cf.
Ap_20:7-8); mas serão menos frequentes que agora.
21. (Nota, Is_62:8; Am_9:14).
22. Não experimentarão a maldição pronunciada em Lv_26:16 e
Dt_28:30).
árvore — estas figuram entre os objetos mais idosos da natureza.
Viverão tanto como as próprias árvores que eles “plantarem” (Is_61:3,
até o fim do versículo; Sl_92:12).
desfrutarão — heb., consumir; quer dizer, que viverão para
desfrutar disso até o fim (Is_62:9).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 410
23. nem terão filhos para a calamidade — Lit., para terror, quer
dizer: “Não darão à luz filhos para que morram rapidamente” (Lv_26:16;
Jr_15:8).
a posteridade bendita — (Is_61:9).
e os seus filhos estarão com eles — (Os_9:12). “Sua descendência
estará com eles” [Maurer]; não será dada à luz para ser cortada por
“morte prematura” (veja-se a cláusula paralela).
24. Contraste Is_64:7 “Já ninguém há que invoque o teu nome …”
etc., e a nota ao v. 12, “porquanto chamei, e não respondestes”. Maurer
traduz: “dificilmente (lit., ainda não) terão chamado, quando (lit., y) eu
responderei; ainda estarão falando, e eu já teria ouvido” (Sl_32:5;
Dn_9:20-21).
25. (nota a Is_11:6-9).
pó — antes, “só pó”, etc. Quer dizer que a maldição subsistirá sobre
a serpente [Horsley]. (Gn_3:14; Mq_7:17). Lamber o pó é linguagem
figurada, para denotar a total e perpétua degradação de Satanás e seus
emissários (Is_49:23; Sl_72:9). Satanás caiu, tentado por si mesmo; por
conseguinte, não se procurou expiação alguma para ele, como se
preparou para o homem, que caiu tentado por aquele (Jd_1:6; Jo_8:44).
Por sua peculiar conexão com a terra e o homem, conjeturou-se que a
causa que excitou Satanás a rebelar-se, foi a declaração de Deus de que a
natureza humana seria exaltada e unida com a Divindade; essa foi “a
verdade”, referente à pessoa do Filho de Deus, em que ele (Satanás) “não
permaneceu”; isso de que uma raça inferior tivesse que ser exaltada ao
nível a que ele tinha aspirado, irritou seu orgulho (1Tm_3:6). Com
quanto regozijo diria quando o homem, mediante sua intervenção, caiu:
“Deus quis exaltar a humanidade até Si, unindo-a Consigo mesmo, mas
eu a fiz descer mais baixo que as bestas, mediante o pecado”! Foi
naquele mesmo momento e lugar quando foi dito que a semente da
aborrecida raça, o homem, esmagar-lhe-ia a cabeça (1Jo_3:8). Ele foi
exaltado para isto: manifestar a glória de Deus (Êx_9:16; Rm_9:17). Em
seu estado anterior à queda, pode ser que tenha sido o vice-gerente de
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 411
Deus na terra e sobre o reino animal, antes de que o homem o fosse. Isto
talvez explique o por quê assumiu a forma de serpente (Gênesis 3).
Nesse ofício de vice-gerente foi sucedido pelo homem (Gn_2:19-20),
mas este o perdeu por seu pecado, daí o fato de Satanás se converter em
“príncipe deste mundo”; mas Jesus Cristo desaloja o usurpador, e como
Filho do homem recupera a herança perdida (Sl_8:4-8). Os passos para a
derrota de Satanás são estes: Primeiro, será lançado do céu (Ap_12:7-9)
à terra; segundo, será preso por mil anos (Ap_20:2-3); finalmente, será
lançado no lago de fogo para todo o sempre (Ap_20:10).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 412
Isaías 66

Vv. 1-24. O Humilde É Consolado, o Ímpio Condenado, ao


Aparecer o Senhor. Jerusalém Convertida na Alegria na Terra.
Este capítulo final é o sumário das profecias de Isaías referente aos
últimos dias, daí a similitude dos sentimentos com os das precedentes.

1. céu … trono … casa me edificareis — O mesmo sentimento se


expressa como prévia advertência referente à majestade de Deus, que se
digna possuir um templo terrestre próprio, como se Ele pudesse ser
contido pelo espaço (1Rs_8:27), ao inaugurar o templo de pedra; logo se
refere ao templo do Espírito Santo (At_7:48-49); finalmente, ao
“tabernáculo de Deus com os homens” (Is_2:2, 3; Ez_43:4, Ez_43:7;
Ap_21:3).
que casa ... ? — “Que casa é esta que me estão edificando?; que
lugar é este para meu repouso?” [Vitringa]
2. fez — quer dizer, feitas por mim. Ou: absolutamente, foram as
coisas feitas e portanto Me pertencem, que sou seu Criador [Jerônimo].
olharei — terei em consideração.
é pobre (TB) — humilde (Is_57:15).
treme da minha palavra — (2Rs_22:11, 2Rs_22:19; Ed_9:4). O
templo espiritual do coração, embora não anula o lugar exterior do culto,
é a habitação predileta de Deus (Jo_14:23). No estado final dos céus não
haverá “templo algum”, mas o Senhor Deus mesmo será o templo
(Ap_21:22).
3. Deus detesta os sacrifícios dos ímpios (Is_1:11; Pv_15:8;
Pv_28:9).
como o que — Lowth, com pouco acerto, omite estas palavras:
“Aquele que mata um boi e logo depois assassina a um homem” (como
em Ez_23:39). Mas a omissão de como que em hebraico acrescenta a
força da comparação. Os pagãos ofereciam frequentemente vítimas
humanas.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 413
degola um cão (RC) — que era uma abominação segundo a lei
judia (Dt_23:18): é provável que se fizesse isso por causa que os cães
eram venerados no Egito. Ele não honra esta abominação usando a
palavra sacrifício, mas sim o termo degradante degolar (Êx_13:13;
Êx_34:20). Os cães, por serem imundos, estão equiparados aos porcos
(Mt_7:6; 2Pe_2:22).
oblação — ofertas sem sangue: como antítese a sangue de porco
(Is_65:4).
incenso — heb., “aquele que oferece oblação como memorial”
(Lv_2:2).
escolheram — por oposição às duas primeiras cláusulas do v. 4:
“Assim como eles escolheram seus próprios caminhos, etc., assim eu
lhes escolherei o infortúnio”.
4. os seus infortúnios (TB) — (2Ts_2:11), que corresponde a “os
seus caminhos” (v. 3, assim Pv_1:31). Entretanto, a voz hebraica
significa, antes, vexames, calamidades, significado que também requer o
paralelismo “temores”; “escolher suas calamidades” significa escolher as
calamidades que eles pensavam evitar com “seus recursos”.
o que eles temem — para evitar o qual praticaram suas idolátricas
“abominações” (v. 3).
porque chamei, e ninguém respondeu — (Notas, Is_65:12, 24;
Jr_7:13).
e escolheram — não só cometeram ato ímpio, mas também o
fizeram deliberadamente, como algo que escolheram (Rm_1:32).
“Escolheram aquilo em que eu não me deleito”; portanto. “eu escolherei
aquilo em que eles não se deleitam, “as calamidades” e os “temores que
ansiosamente desejavam evitar.
aos meus olhos (TB) — (Nota. Is_65:3).
5. tremeis diante da sua palavra (RC) — são as mesmas
mencionadas no v. 2, os poucos crentes judeus.
vos rejeitam por causa do meu nome (RC) — vos excomungam,
como muito contaminados, para prestar culto junto com eles (Is_65:5).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 414
Assim foi durante a primeira estada de Cristo na terra (Mt_10:22;
Jo_9:22, Jo_9:34; Jo_16:2; Jo_15:21). Isso mesmo se voltará a repetir
nos últimos tempos quando o número dos crentes será reduzido
(Lc_18:8),
O SENHOR seja glorificado (RC) — A burlesca provocação dos
perseguidores, como se a violência que lhes fazem fosse motivada por
seu zelo para com Deus: “Que Jeová faça alarde de sua glória”, ou seja,
manifestando-se como seu defensor, como o requer o paralelismo: “O se
manifestará para sua alegria” (como em Is_5:19; cf. com Is_28:15;
57:4). Isso mesmo disseram de Cristo quando pendia da cruz (Mt_27:42-
43).
para que vejamos a vossa alegria — lhes dando “alegria” em
lugar de sua “recriminação” (Is_25:8, 9).
6. Deus, de Jerusalém e seu “templo”, tomará vingança do inimigo
(Ez_43:1-8; Zc_12:2-3; Zc_14:3, Zc_14:19-21). A abrupta linguagem
deste versículo demonstra o repentino da ação de Deus em destruir as
inimigas hostes de gentios; pois o v. 5 alude ao sobressalto dos judeus
incrédulos.
Voz de grande tumulto — é a ressonante voz de Jeová (Sl_68:33;
Sl_29:3-9; 1Ts_4:16).
7. Antes que estivesse de parto, deu à luz — Seu acréscimo em
número e em prosperidade será repentino e fora de toda expectativa, e
sem vir acompanhado de nenhum esforço doloroso (Is_54:1, 4, 5).
Contrastem-se com este caso da futura igreja judia, as dores da
iluminação da igreja cristã para dar à luz “um filho varão” (Ap_12:2,
Ap_12:5). No Oriente, o nascimento de um menino varão é motivo de
especial regozijo, enquanto que não o é o de uma menina; por
conseguinte, aqui se trata de filhos varões da restaurada igreja judia,
usando o singular com sentido coletivo, em lugar do plural; ou, pode ser
que os muitos filhos se considerem como um sob o Messias, quem se
manifestará então como sua única e representativa cabeça.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 415
8. uma terra — antes, para adaptá-lo ao paralelismo: “dará a luz
um país (tomado em lugar do povo) num dia?” [Lowth]. A Versão
Inglesa dá a entender que a terra produz seus frutos gradualmente, não
num dia (Mc_4:28).
num só dia? — no presente caso, contrariamente ao crescimento
natural das nações, que o é gradualmente, e não num dia. Israel entra na
maturidade imediatamente.
Pois — “nasce uma nação em seguida, para que Sião, assim que
sentiu as dores da iluminação, tenha dado a luz?” [Maurer].
9. Acaso, farei eu abrir a madre — antes, “eu que gero, tenho que
restringir os nascimentos?” [Lowth] (Is_37:3; Os_13:13), isto é, eu que
comecei, não tenho que terminar minha obra de restaurar a Israel?
(1Sm_3:12; Rm_11:1; Fp_1:6).
fecharei a madre? — (cf. Ap_3:7-8).
10. amais … os que por ela pranteastes — (Sl_102:14,
Sl_102:17, Sl_102:20; Sl_122:6).
11. para que mameis — (Is_60:5, 16; 61:6; 49:23).
vos farteis — heb., “as cristalinas correntes de sua opulência”, isto
é, com o leite que brota de seus exuberantes peitos (o que responde ao
paralelo “([os] peitos das suas consolações”) em correntes cristalinas
[Gesênio].
12. estenderei — Eu farei voltar a paz (a prosperidade) a ela, à
semelhança de um rio que desvia seu curso [Gesênio]. Ou: “Estenderei a
paz sobre ela como um rio transbordado” [Barnes]. (Is_48:18).
torrente que transborda — como o Nilo, que, mediante suas
inundações, fertiliza a todo o Egito.
nos braços vos trarão — (Nota, Is_60:4).
joelhos — Se o “serão” refere-se aos judeus, traduza-se: “Serão
trazidos sobre seus lados … sobre seus joelhos”, ou seja, os dos gentios,
como em Is_49:22: e assim o “mamar” (Is_60:16) refere-se aos judeus,
que mamam a riqueza dos gentios. Entretanto, o sentido da Versão
Inglesa é correto: Os judeus e todos os que amam a Jeová (v. 10),
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 416
“mamarão e serão levados por ela” (Jerusalém) como uma mãe costuma
fazer.
13. consola — (Is_40:1, 2).
sua mãe — (Is_49:15).
14. ossos — que outrora estavam “secos” pelo “fogo” da ira de
Deus (Lm_1:13), voltarão a viver (Pv_3:8; Pv_15:30; Ez_37:1, etc.).
revigorarão … erva — (Rm_11:15-24).
será notório — manifestada em favor de seus servos.
15. (Is_9:5; Sl_50:3; Hc_3:5; 2Ts_1:8; 2Pe_3:7).
os seus carros … torvelinho — Jr_4:13).
tornar — como o hebraico em outra parte (Jó_9:13; Sl_78:38),
Significa acalmar ou aplacar a ira. Maurer traduz assim: Ele não
reprime sua irritação senão com o furor, etc.; nada menos que
derramando Seu ardente furor satisfará Sua ira.
furor — “ardente calor” [Lowth] que corresponde com o paralelo
“chama de fogo”.
16. Antes, “Jeová julgará com fogo e com sua espada a toda carne”.
O paralelismo e a construção das palavras hebraicas favorecem este
sentido (Is_65:12).
com toda a carne — isto é, a todos os que devem ser os alvos de
Sua ira. Os piedosos serão escondidos por Jeová em lugar seguro, longe
da cena do juízo (Is_26:20, 21; Sl_31:20; 1Ts_4:16-17).
17. nos jardins — Segundo o hebraico e a LXX seriam os que
entram nos jardins para sacrificar neles [Maurer].
uns após outros (RC) — antes, seguindo um ao outro, isto é, a um
ou outro ídolo, que por desprezo não se nomeia [Maurer]. Vitringa, etc.,
creem que em hebraico, “um”, Ahhadh, deve ser o nome do deus
chamado Adad (que significa Um) em Síria (cf. At_17:23). O poder do
ídolo estava representado por raios inclinados, como os do sol projetados
sobre a terra. Gesênio traduz: “O seguinte,” ou seja, hierofante (o
sacerdote) que dirigia a outros na celebração dos ritos sagrados.
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 417
e o rato — animal impuro, segundo a lei (Lv_11:29); este era um
ídolo dos gentios (ver nota sobre Is_37:36; 1Sm_6:4). Traduza-se “rato
camponês” ou “ratazana” [Bochart]. Os fariseus com seus justificadoras
purificações e todas os formalistas, estão incluídos na mesma
condenação, descrita em linguagem tomada das predominantes idolatrias
do tempo de Isaías.
18. conheço — esta voz falta no original. Antes, é preciso entender
as palavras por aposiopesis (ou reticência); é frequente deixar que as
pessoas ameaçadas supram a interrupção mediante seus próprios
temores, motivados pela consciência de culpabilidade. “Pois eu entendo
suas obras e pensamentos …” Isto é, eu os castigarei [Maurer].
O tempo vem (RC) — Chegou o tempo em que Eu, etc. [Maurer].
para ajuntar todas as nações — contra Jerusalém, onde os judeus
ímpios perecerão; logo, por último, o Senhor pelejará por Jerusalém
contra as nações; e os sobreviventes (v. 19) “verão a glória de Deus”
(Zc_12:8-9; Zc_14:1-3, Zc_14:9).
línguas — as quais, por causa da confusão de Babel, devido ao
pecado, chegaram a ser muitas, contudo voltarão a ser uma só em Cristo
(Dn_7:14; Sf_3:9; Ap_7:9-10).
19. sinal — uma bandeira num lugar alto para indicar aos dispersos
judeus o lugar de sua concentração, como passo preparatório para
retornar à sua terra (Is_5:26; 11:12; 62:10)
e alguns dos que foram salvos — os gentios sobreviventes
poupados por Deus (Nota, v. 18; Zc_14:16). As passagens Is_2:2, 3;
Mq_5:7 e Zc_14:16-19, manifestam não que os judeus vão como
missionários aos gentios, mas sim que os gentios subirão a Jerusalém
para aprender lá os caminhos do Senhor.
Társis — no ocidente da Espanha.
Pul — O este e norte da África; é provável que seja o mesmo que
Philae, uma ilha do Nilo chamada pelos egípcios Pilak, isto é, o país
limítrofe, entre o Egito e Etiópia [Bochart].
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 418
Lude — os líbios da África (Gn_10:13). Ludim era filho de
Mizraim (Egito): povo etíope, famosos como atiradores de arco
(Jr_46:9), empregados como mercenários por Tiro e Egito (Ez_27:10;
Ez_30:5).
Tubal — os tibarienses, da Ásia Menor, ao sul do Cáucaso, situado
entre o Mar Negro e o rio Araxes. Ou: os iberos [Josefo]; Itália
[Jerônimo].
Javã — os gregos, chamados jônicos, nos quais estão
compreendidos todos os descendentes de Javã, tanto da Grécia como da
Ásia Menor (Gn_10:2-4).
minha glória … as nações — (Ml_1:11)
20. Trarão — os gentios (v. 19).
os vossos irmãos — os judeus, de retorno à Terra Santa (Is_49:22).
Isto não pode significar meramente o ingresso dos judeus na igreja cristã;
esse ingresso se faria pela fé, não “em cavalos, em liteiras e mulos”
[Houbigant]. “Presente” (oferta) é metafórica, como em Rm_15:16.
cavalos — pouco usados pelos judeus. Aqui estão representados os
gentios, ao usar seus métodos de transporte para “levar” os judeus a
Jerusalém.
carros — Estes não se acham nas caravanas orientais; traduza-se
“veículos” levados em peso, não atirados sobre rodas.
liteiras — cadeira de mãos coberta para os ricos.
dromedários — dromedários, de uma raiz hebraica que significa
dançar, por causa de dar saltos acelerados frequentemente pela música
[Bochart]. Sobre o lombo dos dromedários ficavam grandes cestos para
conduzir as mulheres mais pobres [Horsley].
21. deles — dos gentios.
para sacerdotes e para levitas — para o culto espiritual,
compartilhando assim o privilégio de chegar-se diretamente a Deus,
privilégio que antes só os ministros do templo desfrutavam (1Pe_2:9;
Ap_1:6).
22. (Is_65:17; 2Pe_3:13; Ap_21:1).
Isaías (Jamieson-Fausset-Brown) 419
23. Lit., “Tão com frequência como uma lua nova”, isto é, todos os
meses (Zc_14:16).
de um sábado a outro — o qual será perpetuamente obrigatório
sobre a terra.
toda a carne — (Sl_65:2; Sl_72:11).
perante mim — em Jerusalém (Jr_3:16-17).
24. Eles sairão e verão — à semelhança dos israelitas que
contemplaram os cadáveres dos egípcios destruídos no Mar Vermelho
(Êx_14:30; cf. Is_26:14-19; Sl_58:10; Sl_49:14; Ml_4:3).
os cadáveres, etc. — (v. 16), os mortos pelo Senhor na última
grande batalha livrada perto de Jerusalém (Zc_12:2-9; Zc_14:2-4); o que
será tipo da destruição de todos os pecadores.
o seu verme nunca morrerá — (Mc_9:44, Mc_9:46, Mc_9:48).
Imagem do inferno, tomada dos corpos insepultos do vale de Hinom (de
onde procede a palavra Gehenna ou inferno) que está ao sul de
Jerusalém, onde se mantinha aceso um fogo perpétuo para consumir os
resíduos lançados ali (Is_30:33). Isso não será incompatível com o
verdadeiro amor o fato de os piedosos olharem satisfeitos a vingança de
Deus sobre os ímpios (Ap_14:10).

Que o Senhor abençoe este comentário, e especialmente sua solene


terminação, para Sua glória e a edificação do autor e de seus leitores, por
amor de Jesus!
JEREMIAS
Original em inglês:
JEREMIAH -
The Book of the Prophet Jeremiah
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução
Jeremias 1 Jeremias 14 Jeremias 27 Jeremias 40
Jeremias 2 Jeremias 15 Jeremias 28 Jeremias 41
Jeremias 3 Jeremias 16 Jeremias 29 Jeremias 42
Jeremias 4 Jeremias 17 Jeremias 30 Jeremias 43
Jeremias 5 Jeremias 18 Jeremias 31 Jeremias 44
Jeremias 6 Jeremias 19 Jeremias 32 Jeremias 45
Jeremias 7 Jeremias 20 Jeremias 33 Jeremias 46
Jeremias 8 Jeremias 21 Jeremias 34 Jeremias 47
Jeremias 9 Jeremias 22 Jeremias 35 Jeremias 48
Jeremias 10 Jeremias 23 Jeremias 36 Jeremias 49
Jeremias 11 Jeremias 24 Jeremias 37 Jeremias 50
Jeremias 12 Jeremias 25 Jeremias 38 Jeremias 51
Jeremias 13 Jeremias 26 Jeremias 39 Jeremias 52
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes comuns, residente


em Anatote, terra de Benjamim (Jr_1:1), não foi o sumo sacerdote
Hilquias quem encontrou o livro da Lei (2Rs_22:8), pois se tivesse sido
ele mesmo, teria sido designado como "o sacerdote" ou "o sumo
sacerdote". Além disso, sua residência em Anatote, demonstra que
pertencia à linha de Abiatar, deposto do sumo sacerdócio por Salomão
(1Rs_2:26-35), e como resultado essa função passou à linha de Zadoque,
em que subsistiu. Faz-se menção de Jeremias em 2Cr_35:25; 2Cr_36:12,
2Cr_36:21. O ano 629 a.C., o décimo terceiro do rei Josias, quando ainda
era muito jovem (Jr_1:5), Jeremias recebeu sua chamada profética em
Anatote (Jr_1:2); e junto com Hilquias o sumo sacerdote, a profetisa
Hulda e o profeta Sofonias, contribuiu a levar adiante a reforma religiosa
empreendida por Josias (2Rs_23:1-25). Entre os primeiros cargos que
lhe foram confiantes, figura o de que devia ir a Jerusalém a proclamar a
mensagem de Deus (Jr_2:2). Empreendeu deste modo uma excursão
oficial pelas cidades de Judá para anunciar nelas o conteúdo do livro da
Lei, achado no templo (Jr_11:6), cinco anos depois de sua chamada a
profetizar. A sua volta a Anatote, seus conterrâneos, ofendidos por suas
recriminações, confabularam-se para matá-lo. Para escapar dessa
perseguição (Jr_11:21), como também da de sua própria família
(Jr_12:6), partiu de Anatote e se instalou em Jerusalém. Durante os
dezoito anos de seu ministério durante o reinado de Josias, foi deixado
em paz; também foi deixado em paz durante os três meses do reinado de
Jeoacaz ou Salum (Jr_22:10-12).
Com a ascensão de Jeoaquim ao trono, fez-se evidente que a
reforma de Josias não fez outra coisa senão reprimir energicamente a
idolatria e estabelecer o culto de Deus. Então os sacerdotes, os profetas e
o povo conduziram a Jeremias perante as autoridades, manifestando
insistentemente que devia ser condenado à morte por anunciar o mal que
viria sobre a cidade (Jr_26:8-11). Entretanto, os príncipes, especialmente
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 3
Aicão, interpuseram-se em seu favor (Jr_26:16, 24), mas foi detido ou ao
menos se estimou prudente que não aparecesse em público. No quarto
ano de Jeoaquim (606 a.C.) foi ordenado que escrevesse as predições que
verbalmente tinha proferido e as leis ao povo. Mas como estava detido,
ele não pôde ir em pessoa à casa de Jeová (Jr_36:5); em consequência,
delegou a Baruque, seu amanuense, a missão de lê-las em público no dia
do jejum. Os príncipes, então, aconselharam a Baruque e a Jeremias que
se escondessem para evitar o desagrado do rei. Nesse ínterim, eles leram
o rolo ao monarca, quem se zangou tanto que o rasgou com uma faca de
tabelionato e o jogou no fogo, e ao mesmo tempo ordenou que
prendessem o profeta e Baruque. Contudo, puderam evitar a violência de
Jeoaquim, o qual já tinha dado morte ao profeta Urias (Jr_26:20-23).
Baruque tornou a escrever em outro rolo as mesmas palavras, mas com
profecias adicionais, (Jr_36:27-32).
Durante os três meses do reinado de Joaquim ou Jeconias, Jeremias
profetizou a deportação do rei e da rainha mãe (Jr_13:18; 22:24-30; veja-
se 2Rs_24:12). Nesse reinado foi encarcerado por pouco tempo por
Pasur (Jeremias 20), principal governador da casa de Jeová; mas ao
ascender Zedequias ao trono, foi posto em liberdade (Jr_37:4), pois o rei
o enviou a Pasur e a Sofonias que lhe dissessem: "Pergunta agora por
nós ao SENHOR" quando Nabucodonosor subiu contra Jerusalém
(Jr_21:1-3, etc.; Jr_37:3). Os caldeus, ao ouvirem que o exército de
Faraó se aproximava, afastaram-se de Jerusalém (Jr_37:5); mas Jeremias
advertiu ao rei que os egípcios o abandonariam, e que os caldeus
retornariam e poriam fogo na cidade (Jr_37:7, 8). Os príncipes, irritados
ao ouvir isto, fizeram com que Jeremias se afastasse da cidade durante a
trégua, o que lhes serviu de pretexto para encarcerá-lo, alegando que
desertava para os caldeus (Jr_38:1-5). Jeremias teria perecido na
masmorra de Malquias, se Ebede-Meleque, o etíope, não tivesse
intercedido por ele (Jr_38:6-13). Embora Zedequias tenha consultado a
Jeremias em segredo, seus príncipes deram-se conta desta entrevista, e o
induziram a deixá-lo no cárcere (Jr_38:14-28) até que Jerusalém foi
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 4
tomada. Nabucodonosor ordenou a seu capitão, Nebuzaradã, que o
pusesse em liberdade, de sorte que pudesse fazer como melhor lhe
agradasse, já fosse ir a Babilônia, ou permanecer com o resto do povo na
Judeia. Mas ele, como verdadeiro patriota, não obstante os quarenta anos
e meio, durante os quais a sua pátria lhe tinha recompensado seus
serviços com o abandono e a perseguição, ficou com Gedalias,
governador da Judeia, designado por Nabucodonosor para esse cargo
(Jr_40:6).
Depois do assassinato de Gedalias por Ismael, Joanã, reconhecido
como chefe do povo, temeroso de que os caldeus vingassem o
assassinato de Gedalias fugiu com o povo ao Egito, e obrigou a Jeremias
e a Baruque a que o acompanhassem, apesar da admoestação do profeta
de que o povo pereceria em caso de descerem ao Egito; mas que seriam
protegidos se permanecessem em sua terra (Jeremias 41, 42, 43). Ao
chegar a Tafnes, cidade fronteiriça, situada no braço do Nilo chamado
Tanítico ou Pelúsio, Jeremias profetizou a derrota do Egito (Jr_43:8-13).
É tradição que morreu naquele país. Segundo o Pseudo-Epifânio, foi
apedrejado em Tafnes ou Tahpanhes. Tanto o veneraram os judeus, que
creram que ressuscitaria dentre os mortos para ser o precursor do
Messias (Mt_16:14).
Havernick observa que a combinação dos rasgos do caráter de
Jeremias prova o caráter divino de sua missão; suave, tímido e suscetível
à melancolia; e entretanto é intrépido no desempenho de suas funções
proféticas, visto que não perdoa o príncipe mais que ao mais ínfimo de
seus súditos. O espírito de profecia governa de tal maneira seu natural
temperamento que o qualifica para sua arriscada empresa, sem fazer
violência à sua individualidade. Sofonias, Habacuque, Daniel e Ezequiel
foram seus contemporâneos. O último forma um bom contraste com
Jeremias. O Espírito, em seu caso, age sobre um temperamento
marcadamente caracterizado pela firmeza, enquanto que o de Jeremias se
caracteriza por seu retraimento e delicada sensibilidade. Ezequiel
considera o pecado da nação como oposto à justiça; Jeremias, como
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 5
produtivo de miséria; aquele percebe os males dos tempos
objetivamente; este, subjetivamente. O estilo de Jeremias é próprio de
seu temperamento, visto que se caracteriza de maneira peculiar pelo
sentimento e a simpatia para com o desgraçado, como o exemplificam
suas Lamentações: a série total de suas elegias tem um só objeto:
expressar o desconsolo de seu abatido país; entretanto, as luzes e as
imagens com que pinta tudo isso são tantas, que o leitor, longe de as crer
monótonas, ao contrário, sente-se encantado pela variedade dos tristes
acentos que nelas preponderam. A linguagem distingue-se por suas
palavras aramaicas, as quais provavelmente constituíram o fundamento
para que Jerônimo qualificasse seu estilo de "rústico". Mas Lowth nega
essa acusação, considerando-o em algumas partes em nada inferior ao de
Isaías. Sua acumulação de frases sobre frases, a repetição de certas
formas estereotipadas, com frequência por três vezes, deve-se a seus
sentimentos afetados e ao desejo de tornar mais intensa a expressão dos
mesmos. Às vezes é mais conciso, enérgico e sublime, especialmente
contra as nações forâneas, assim como nos períodos rítmicos.
O princípio do acerto de suas profecias é de difícil averiguação. A
ordem dos reinadas foi: Josias (durante o qual profetizou por dezoito
anos); Jeoacaz (no qual profetizou três meses); no de Jeoaquim (onze
anos); no de Jeconias (três meses), e no de Zedequias (onze anos). Mas
suas profecias durante o reinado de Josias (Jeremias 1-20), estão
seguidas imediatamente por um fragmento do reinado de Zedequias
(Jeremias 21). De novo, Jr_24:8-10, que corresponde a Zedequias, ocorre
no centro da seção correspondente a Jeoacaz, Jeoaquim e Jeconias
(Jeremias 22, 23; e Jr_25:1, etc.). Assim os caps. 35 e 36, que se referem
a Jeoaquim, seguem os caps. 27, 28, 29, 33 e 34 com relação a
Zedequias; e o cap. 45, datado do quarto ano de Jeoaquim, segue após as
pregações relativas aos judeus que fugiram do Egito depois da queda de
Jerusalém. Ewald crê que o atual arranjo é substancialmente o mesmo de
Jeremias. As diversas seções estão introduzidas pela mesma fórmula: "A
palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor" (Jr_7:1; Jr_11:1;
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 6
Jr_18:1; Jr_21:1; Jr_25:1; Jr_30:1; Jr_32:1; Jr_34:1, 8; Jr_35:1; Jr_40:1;
Jr_44:1; veja-se Jr_14:1; Jr_46:1; Jr_47:1; Jr_49:34). Notas com relação
ao tempo assinalam outras divisões mais ou menos históricas (Jr_26:1;
Jr_27:1; Jr_36:1; Jr_37:1).
Há outras duas partes que são distintas em si mesmas (Jr_29:1;
Jr_45:1). Jeremias 2 contém a introdução mais breve que assinala o
começo de uma estrofe; Jeremias 3 parece imperfeito, pois tem
meramente como introdução a palavra "dizem" (Jr_3:1, hebraico). Assim
nas partes poéticas há vinte e três seções, divididas em estrofes de sete a
nove versículos, assinalados mais ou menos assim: "Disse-me o Senhor".
Compreende cinco livros:
I. A Introdução; cap. 1;
II. Repreensões aos judeus: Jeremias 2 a 24, que compreendem sete
seções
(1) capítulo 2;
(2) caps. 3 a 6;
(3) caps. 7 a 10;
(4) caps. 11 a 13;
(5) caps. 14 a 17;
(6) caps. 17-19 e 20;
(7) 21 a 24.
III. Revista a todas as nações em duas seções: caps. 25 e 26 a 49,
com um apêndice histórico de três seções:
(1) cap. 26;
(2) cap. 27;
(3) cap. 28 e 29.
IV. Duas seções que descrevem as esperanças de tempos mais
brilhantes:
(1) caps. 30 e 31;
(2) 32 e 33; e um apêndice histórico de três seções:
(1) Jr_34:1-7;
(2) Jr_34:8-22;
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 7
(3) Jr_35:1-19.
V. A conclusão, que consta de duas seções:
(1) Jr_36:2;
(2) Jr_45:1-5.
Mais tarde, no Egito, ele acrescentou o fragmento de Jr_46:13-26 às
anteriores profecias sobre o Egito, como também as três seções: os caps.
37 a 39; 40 a 43 e o 44. O cap. 52 foi provavelmente (veja-se Jr_51:64)
um apêndice de uma mão posterior, tirado de 2Rs_24:18, etc.;
2Rs_25:30. As profecias contra várias nações estrangeiras têm no
hebraico ordem diferente da LXX; as profecias contra elas que se acham
no texto hebraico, caps. 46 a 51, estão colocadas depois do cap. 25:14, e
formam os caps. 26 a 31; o resto do cap. 25 do hebraico é o cap. 32 da
LXX. Há algumas passagens no hebraico (Jr_27:19-22; Jr_33:14-26;
Jr_39:4-14; Jr_48:45-47), que não se acham na LXX. Os tradutores
gregos devim ter perante si um texto revisado; provavelmente um mais
primitivo. É provável que o hebraico seja a última e mais completa
edição saída da mão do próprio Jeremias. (Veja-se Nota a Jr_25:13).
A canonicidade de suas profecias está estabelecida por citações
delas no Novo Testamento (Veja-se Mt_2:17; Mt_16:14; Hb_8:8-12;
quanto a Mt_27:9, veja-se a Introdução a Zacarias. Também está
estabelecida pelo testemunho de Eclo_49:7, que cita Jr_1:10; pelo de
Filo, quem cita suas palavras como um "oráculo"; e pelo catálogo dos
livros canônicos de Melito, Orígenes, Jerônimo e o Talmude.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 8
Jeremias 1

Vv. 1-19. Título Geral ou Introdução (vv. 1-3); prefixado


provavelmente por Jeremias quando colecionou seus profecias e ás deu a
seus compatriotas para que as levassem consigo a Babilônia [Michaelis].
1. Anatote — Cidade de Benjamim, a vinte estádios ou uns três ou
quatro quilômetros a norte de Jerusalém, chamada agora Anata (veja-se
Is_10:30, e o contexto Is_10:28-32). Uma das quatro cidades dadas por
sorte aos coatitas no território de Benjamim (Js_21:18). Veja-se
1Rs_2:26-27; um estigma pesou desde então sobre toda a família
sacerdotal ali residente; pode ser que aqui se aluda a isto com as palavras
“um dos sacerdotes … em Anatote”. Deus escolhe “o fraco, o baixo e o
desprezado para confundir ao forte”.
2, 3. Josias … Jeoaquim … Zedequias — Jeoacaz e Joaquim
estão omitidos, por ter reinado só três meses cada um. O primeiro e o
último dos reis durante cujos reinados profetizou o profeta, estão
frequentemente especificados no título geral. Veja-se referente a isto reis
e a vida de Jeremias minha Introdução.
ano undécimo de Zedequias — (Jr_25:3).
quinto mês — (2Rs_25:8).

4-10. Chamada de Jeremias ao ofício profético.


a mim — Outros manuscritos leem “a ele”; mas a Versão Almeida
possivelmente represente o verdadeiro texto hebraico; esta inscrição é
sem dúvida do próprio Jeremias.
5. eu te conheci — Eu te aprovei como Meu instrumento escolhido
(Êx_33:12, Êx_33:17; veja-se Is_49:1, Is_49:5; Rm_8:29).
consagrei — melhor, separei. O sentido primário é separar do uso
comum para uso especial; daí surgiu o sentido secundário de santificar
cerimonial e moralmente. Não quer dizer aqui que Jeová limpasse a
Jeremias do pecado original ou que o regenerasse por Seu Espírito; mas
sim o separou para seu peculiar ofício profético, incluindo dentro de seu
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 9
alcance não meramente os hebreus, mas também as nações que lhes eram
hostis (Jr_25:12-38; 27:46-51) [Henderson]. Não é o efeito o significado
aqui pela santificação, mas sim a predestinação no secreto conselho de
Jeová (veja-se Lc_1:15-41; At_15:18; Gl_1:15; Ef_1:11).
6. Da longa duração de seu ministério (vv. 2, 3; Jr_40:1, etc. 43:8,
etc.), supôs-se que o profeta, ao tempo de sua chamada, tinha vinte e
cinco anos de idade.
criança — a mesma palavra está traduzida em 2Sm_18:5, “moço”.
A renúncia que mostram frequentemente os inspirados ministros de Deus
(Êx_4:10; Êx_6:12, 30; Jn_1:3), ao aceitar a chamada, demonstra que
não assumem o ministério sob o impulso de um enganoso fanatismo,
como frequentemente faziam os falsos profetas.
7. a todos a quem — a todos aos quais [Rosenmuller]. Antes, “a
todos contra os quais” [Rosenmuller]. Antes, “a todos contra os quais”
em sentido hostil (vejam-nos vv. 8, 17, 18, 19). [Maurer]. Era tal a
perversidade dos governantes e do povo da Judeia naquele tempo, que
aquele que quisesse ser fiel profeta precisava armar-se de intrepidez;
Jeremias era por si só tímido e sensível, mas o Espírito o moldou, dando-
lhe o grau necessário de coragem, sem o privar de sua peculiar
individualidade.
8. (Ez_2:6; Ez_3:9).
eu sou contigo — Êx_3:12; Js_1:5).
9. tocou sobre minha boca — Ato simbólico numa visão
sobrenatural, aquele que dá a entender que Deus lhe daria facilidade de
expressão, não obstante sua inabilidade para falar (v. 6). Da mesma
maneira foram tocados os lábios de Isaías, com o carvão aceso (Is_6:7;
veja-se com Ez_2:8-9, Ez_2:10; Dn_10:16).
10. te constituo — lit., te nomeei para vigiar. Devia vigiar as
nações, e predizer sua destruição ou restauração, segundo fosse sua
conduta, boa ou má. Dizia-se dos profetas que faziam o que eles
prediziam que se devia fazer, pois sua palavra era palavra de Deus; e sua
palavra é seu instrumento com que Ele faz todas as coisas (Gn_1:3;
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 10
Sl_33:6, Sl_33:9). A palavra e o fato são para Ele uma mesma coisa. O
que Seu profeta diz é tão certo como se já parecesse. A consciência do
profeta estava tão absorvida pela de Deus, tão intimamente unido sentia-
se com Deus, que as palavras e os atos de Jeová se descrevem como
deles. Em Jr_31:28, representa-se a Deus fazendo o mesmo que se diz
aqui que Jeremias faz (veja-se Jr_18:7; 1Rs_19:17; Ez_43:3).
para arrancares — (Mt_15:13).
e derribares — mudança da metáfora por uma da arquitetura
(2Co_10:4). No original há um jogo de palavras: Linthosh, Linthotz, no
hebraico, por arrancar … derribar.
para edificares … plantares — deve restaurá-los, prévio
arrependimento. Suas predições deviam ser principalmente e em
primeiro lugar cominatórias; em consequência, fica primeiro a destruição
das nações, e com maior variedade de termos que ao falar de sua
restauração.
11. vara — um broto ou ramo.
amendoeira — lit., o vigilante, porque desperta do sonho do
inverno antes que as demais árvores; esta floresce em janeiro, e dá fruto
em março. É o símbolo da anterior execução dos propósitos divinos; v.
12, “apresso minha palavra” (cf. Am_8:2).
12. eu velo — melhor, “estarei alerta quanto a minha palavra” etc.;
o que alude à amendoeira do v. 11 [Maurer].
13. Outra visão, que significa o que é a “palavra” prestes a ser
“executada” e por qual instrumentalidade.
a ferver (RC) — lit., que é soprada por baixo; daí que ferve por
causa da chama mantida viva mediante o sopro. É um símbolo oriental
do estalo de uma guerra.
do Norte — Lit., da face da região situada rumo ao norte (veja-se
vv. 14, 15) [Maurer]. A panela, no norte, descansava sobre um lado; sua
boca estava prestes a verter seu conteúdo rumo ao sul, ou seja, sobre a
Judeia. Babilônia, embora ficava ao oriente da Judeia, os hebreus a
consideravam situada ao norte, devido a ter aplicado o termo “oriente” à
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Arábia Deserta, a qual se estendia da Palestina até o Eufrates; ou,
segundo Bochart, a alusão que aqui se faz, não é ao sítio, mas sim à rota
seguida pelos babilônios; pois, não podendo cruzar o deserto, deviam
entrar na Terra Santa pela fronteira do norte, através de Ribla, em
Hamate (Jr_39:5; 52:9).
14. se derramará o mal — “se descobrirá”.
Do Norte — (Jr_4:6; 6:1, 22; 10:22; 25:9; Ez_26:7). Os caldeus
não sacudiram o jugo da Assíria até vários anos depois, durante o
reinado de Nabucodonosor. 625 a.C.; mas muito antes de isso, tinham
crescido tanto que tinham ameaçado a Assíria, a que ao presente tinha
começado a debilitar-se, e a outros povos vizinhos.
15. tribos — as tribos ou clãs que constituíam os diversos reinos de
Babilônia; a especificação destes agrava o quadro das calamidades
(Jr_25:9).
o seu trono à entrada — o lugar onde se administrava justiça. Os
príncipes conquistadores estabelecerão ali seu tribunal (Jr_39:3, 5; 52:9).
Pode ser que a alusão seja ao pavilhão militar (Jr_43:10). [Maurer].
16. Pronunciarei — As sentenças judiciais pronunciadas contra os
judeus, pelos príncipes invasores, seriam virtualmente os “juízos de
Deus” (Is_10:5).
obras das suas próprias mãos — os ídolos.
17. cinge os lombos — prepara-te resolutamente para a tarefa que
te foi atribuída. Metáfora tirada das roupas soltas usadas no Oriente, as
quais é preciso cingir com um cinturão para que não incomodem ao
empreender algum trabalho ativo (Jó_38:3; Lc_12:35; 1Pe_1:13).
não te espantes … espanto — é a mesma palavra hebraica; lit.,
romper. Não te desalentes perante sua face (diante deles), isto é, “não te
faça eu quebrantar diante deles” (Jr_49:37).
18. cidade fortalecida, etc. — isto é, dar-te-ei tal força que nenhum
de teus inimigos poderá te vencer (Jr_6:27; 15:20; Is_50:7; Is_54:17;
Lc_21:15; At_6:10).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 12
muros — a Versão Inglesa lê “muros”, [como a Almeida] para
expressar a muita força que lhe seria dada. Mas os MSS do Rossi leem
no singular, muro.
contra o seu povo — As massas em geral, como distintas dos
príncipes e os sacerdotes.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 13
Jeremias 2

Vv. 1-37. Debate Com os Judeus, em que São Lembrados de Sua


Primeira Devoção e o Resultante Favor de Deus. Anúncio da Vinda dos
Juízos de Deus por causa da Idolatria Deles.
É provável que isto ocorresse no ano treze do reinado de Josias
(Jr_1:2; veja-se Jr_3:6, “nos dias do rei Josias”). A admoestação a que
não confiassem (em ninguém) como tinham feito com o Egito (v. 18),
estava de acordo com a política de Josias, quem se tinha unido a Assíria
e a Babilônia contra o Egito (2Rs_23:29). Jeremias, indubitavelmente,
apoiava a reforma empreendida por Josias, no ano anterior (o 12.º de seu
reinado), e totalmente levada a cabo no ano dezoito.
2. clama — isto é, proclama.
Jerusalém — o reduto e centro de sua idolatria; por conseguinte, a
ela se dirige primeiro.
de ti — melhor, “Me lembre quanto a ti” [Henderson]; para
contigo [Maurer].
tua afeição quando eras jovem — nem tanto a misericórdia ou
bondade de Israel para com Deus, quanto a bondade que Israel
experimentou de parte de Deus em sua primitiva história (veja-se
Ez_16:8, Ez_16:22, Ez_16:60; Ez_23:38, Ez_23:19; Os_2:15). Pois
Israel, desde o começo, mostrou perversidade, em lugar de bondade,
para com Deus (veja-se Êx_14:11-12; Êx_15:24; Êx_32:1-7, etc.). Desde
o começo, quanto maiores eram os favores que Deus lhes dispensava,
mais detestável era sua ingratidão, evidenciada por um afastamento
maior dEle (vv. 3, 5, etc., etc.)
noiva — o intervalo entre os esponsais de Deus à saída do Egito, e
o formal contrato matrimonial no Sinai. Ewald interpreta a “bondade” e
o “amor” como de Israel para com Deus no princípio (Êx_19:8; Êx_24:3;
Êx_35:20-29; Êx_36:5; Js_24:16-17). Mas veja-se Dt_32:16-17 e
Ez_16:5-6, Ez_16:15, Ez_16:22 (“dias da tua mocidade”) quer dizer que
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 14
o amor a que se alude aqui, era o de Deus para com Israel e não o de
Israel para com Deus.
como me seguias no deserto — O ato seguinte do amor de Deus
foi o de havê-los guiado no deserto, sem necessidade da ajuda de
nenhum deus estranho como aquele que eles tinham adorado desde
então, para que O ajudasse (Dt_2:7; Dt_32:12). O v. 6 demonstra que se
fala de Deus, que os “guiava” e não de que eles O seguissem pelo
deserto, o qual está subentendido.
3. Israel era consagrado ao SENHOR — isto é, estava
consagrado ao serviço de Jeová (Êx_19:5-6). Eles assim ficavam em
harmonia com a inscrição da lâmina de ouro do sumo sacerdote, que
dizia “Santidade ao Senhor” (Dt_7:6; Dt_14:2, Dt_14:21).
primícias da sua colheita — isto é, da produção de Jeová: pois
assim como as primícias de toda a produção da terra eram consagradas a
Deus (Êx_23:19; Nm_18:12-13), assim Israel, como primícia e nação
representativa entre todas as demais nações, estava consagrada a Ele. O
mesmo ocorre com o Israel espiritual (Tg_1:18; Ap_14:4).
devoraram — É a continuação da descrição das primícias que
foram comidas na presença de Jeová pelos sacerdotes, como
representantes deles; todos os que comeram (danificaram) as primícias
de Jeová (isto é, machucaram a Israel) e se fizeram culpados, como por
exemplo, Amaleque, os amorreus, etc., que foram extirpados por terem
pecado contra Israel.
vinha — antes, veio.
4. Jacó … Israel — a totalidade da nação.
famílias — (Nota, Jr_1:15), que ouvem a palavra de Deus não só
coletivamente, mas também individualmente (Zc_12:12-14).
5. injustiça — que ofensa lhes fiz? (Is_5:4; Mq_6:3; cf. Dt_32:4).
indo após a nulidade — em contraste com “andava após mim” no
deserto (v. 2); então Eu era seu guia no estéril deserto; agora seus guias
são os seus ídolos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 15
se tornando nulos — um ídolo não só é vão (impotente e vácuo),
mas é a própria vaidade. Seus adoradores adquirem seu caráter, fazendo-
se vãos como ele (Dt_7:26; Sl_115:8). O caráter de um povo jamais se
eleva acima do de seus deuses, os quais expressam sua “verdadeira
natureza” [Bacon] (2Rs_17:15; Jn_2:8).
6. E não disseram: Onde…? (RC) — As mesmas palavras que
Deus emprega (Is_63:9, Is_63:11, Is_63:13), quando por assim dizer,
lembra-se a Si mesmo Seus anteriores atos de amor para com Israel,
como fundamento de Sua nova interposição em favor deles. Quando eles
não disseram: Onde está Jeová? etc., o próprio Deus o disse enfim por
eles (veja-se v. Nota 2 acima)
terra de ermos e de covas — O deserto entre o Monte Sinai e a
Palestina, abunda em fossas e gretas nas quais os animais de carga se
afundam até os joelhos. “Sombra de morte”. Esta frase refere-se às
trevas das cavernas no meio dos precipícios rochosos (Dt_8:15;
Dt_32:10).
7. terra fértil — Ou, terra bem cultivada; uma terra de jardins, em
contraste com “terra de ermos” (v. 6).
contaminastes — com as vossas idolatrias (Jz_2:10-17; Sl_78:58-
59; Sl_106:38). Aqui se passa da terceira pessoa “disseram” do v. 6, à
segunda: “comêsseis”, “terdes entrado”, “contaminastes”, etc., para
demonstrar a culpabilidade da presente geração.
8. As três classes principais, cujo verdadeiro ofício sob a teocracia,
era encaminhar o povo a Deus, O desprezaram valendo-se da mesma
linguagem da nação em sua totalidade: “Onde está o Senhor..? (Veja-se o
v. 6).
sacerdotes — cuja função era explicar a Lei (Ml_2:6-7).
tinham a lei — os que se ocupavam nos assuntos de seu ministério.
pastores — não os religiosos, mas sim os civis, isto é, os príncipes
ou governantes (Jr_3:15), cujo dever era cuidar de seu povo.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 16
profetas — que deviam ter dissuadido ao povo de sua apostasia,
estimularam-no a continuar nela mediante os pretendidos oráculos de
Baal, falso deus fenício.
por Baal — em seu nome e por sua autoridade (veja-se Jr_11:21).
andaram atrás de coisas de nenhum proveito — que concorda
com “indo após a nulidade”, quer dizer, após os ídolos (v. 5; cf. v. 11;
Hc_2:18).
9. pleitearei — infligindo-lhes maiores juízos ainda.
filhos de vossos filhos — três MSS. e Jerônimo omitem “dos
filhos”; por crer imprópria a expressão “os filhos dos filhos” por não vir
precedida da expressão “filhos”. Mas foi escrito assim intencionalmente
para insinuar que o juízo da nação, seria suspenso até passar muitas
gerações [Horsley]. (cf. Ez_20:35-36; Mq_6:2).
10. Passai às terras do mar — melhor “atravessem as ilhas”.
Quitim … Quedar (RC) — isto é, as nações pagãs, do este e do
oeste. Vão aonde quiserem, e não acharão exemplo algum de uma nação
pagã que tenha mudado seus deuses por outros alheios. Só Israel fez isto.
Não obstante, os deuses pagãos são deuses falsos; enquanto que Israel,
ao Me abandonar a Mim por outros deuses, abandonou sua glória” por
ídolos inúteis.
Quitim (RC) — Chipre [RA], colonizada pelos fenícios, os quais
fundaram nela cidade de Citium, ou seja a moderna Chitti. Mais tarde,
esse termo se aplicou a todas as costas marítimas do Mediterrâneo,
especialmente a Grécia (Nm_24:24; Is_23:1; Dn_11:30).
Quedar — os beduínos e os árabes, ao oriente da Palestina,
descendentes de Ismael.
11. Glória — Jeová, a glória de Israel (Sl_106:20; Rm_1:23). A
Shekinah ou nuvem que descansava sobre o santuário, era o símbolo da
“glória do Senhor” (1Rs_8:11; veja-se com Rm_9:4). O bezerro de ouro
tinha por objetivo representar a imagem do Deus verdadeiro (Veja-se
Êx_32:4-5), contudo, é chamado “ídolo” (At_7:41). Isso (o mesmo que
as imagens católicas romanas) foi uma violação do segundo
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 17
mandamento, como a pagã multiplicação dos deuses gentios é uma
violação do primeiro.
é de nenhum proveito — (v. 8).
12. Apaixonada personificação (Is_1:2).
Espantai-vos … horrorizai-vos — antes, apavorai-vos perante o
monstruoso espetáculo. Lit., vos seque ou vos devaste. Os lugares
devastados oferecem um horroroso aspecto. [Maurer].
13. dois males — não um meramente como os pagãos que carecem
de luz: meu povo além da simples idolatria, cometeu o pecado de
abandonar o verdadeiro Deus, a quem eles tinham conhecido. Os pagãos,
embora cometessem o pecado de idolatria, são inocentes quanto a mudar
o verdadeiro Deus pelos ídolos (v. 11).
a mim me deixaram — a construção hebraica coloca o único Deus
vivo em sobressalente contraste com a nulidade dos ídolos. “A mim me
deixaram, o manancial de águas vivas”, etc. (Jr_17:13; Sl_36:9;
Jo_4:14).
cisternas rotas — recipientes que contêm água de chuva muito
comuns no Oriente, onde escasseiam os mananciais. As cisternas não só
não podem prover água fresca de maneira perene, como as fontes, mas
sim nem sequer retêm a que como resultado de um aguaceiro penetra
nelas; pois estando quebrado seu revestimento interior de pedras, a terra
absorve a que ocasionalmente penetra nelas. Outro tanto ocorre em geral
com todos os meios terrestres para satisfazer os mais elevados anelos do
homem, comparados com os celestiais (Is_55:1-2, cf. Lc_12:33).
14. é Israel escravo — Não. Jeová disse assim: “Israel é meu filho,
meu primogênito” (Êx_4:22). Os vv. 16, 18 e 36 e a falta de todo
contraste rápido entre as duas partes da nação, estão contra a opinião de
Eichorn, de que o profeta lembra a Judá que até a data escapou, o caso de
Israel, o reino das dez tribos levadas cativas pelos assírios, como uma
advertência do que lhes poderia ocorrer, se persistirem ainda em pôr sua
esperança no Egito. Eram as dez tribos de Israel de inferior linhagem que
Judá? Não, por certo. Pois se aquelas foram vencidas pela Assíria, o que
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 18
pode esperar Judá do Egito diante de Assíria? “Israel” aqui é, antes, todo
o remanescente deixado ainda em seu país, ou seja, Judá. “Como pôde
ser que a nação que outrora esteve sob a proteção especial de Deus (v. 3)
tenha sido deixada agora à mercê do inimigo como uma indigna
escrava?” O profeta contempla este evento como se estivesse presente,
embora era ainda futuro (v. 19).
15. leões — os príncipes de Babilônia (Jr_4:7; veja-se Am_3:4).
Aqui se alude ao desastre causado pelos caldeus no quarto ano do
reinado de Jeoaquim, e ao ocorrido três anos mais tarde, quando
confiante no Egito, rebelou-se contra Nabucodonosor (Jr_46:2;
2Rs_24:1-2).
16. Mênfis … Tafnes — Mênfis, capital do Baixo Egito, na
margem ocidental do Nilo, perto da pirâmide de Gizé, diante da moderna
cidade do Cairo. Dafne, situada no braço do Nilo chamado Tanítico,
perto do Pelúsio, na fronteira da Palestina. Em Is_30:4, diz-se Hanes, por
contração. Estas duas cidades, uma das quais era a capital e a outra
aquela com a qual os judeus tiveram mais relacionamento, representam a
todo o Egito. Tafnes deriva seu nome da deusa Tafnet [Champollion].
Mênfis procede de Man-nofri, “a residência dos homens bons”, no
hebraico esse nome se escreve Moph (Os_9:6), ou Noph. A alusão é à
futura invasão de Judá pelo Faraó-Neco do Egito, em sua volta do
Eufrates, que foi quando depôs a Jeoacaz e impôs um forte tributo ao
país (2Rs_23:33-35). Provavelmente está incluída também a morte de
Josias na batalha travada com esse mesmo Faraó (2Rs_23:29-30).
te pastaram — melhor te desnutrirá o cocuruto, isto é, será vítima
da maior ignomínia, como era a calvície no Oriente (Jr_48:37;
2Rs_2:23). “Até” os egípcios, aqueles em quem confias, deixar-te-ão
desapontado em tuas esperanças [Maurer]. Jeoaquim se tinha aliado duas
vezes com os egípcios (2Rs_23:34-35): quando recebeu a coroa deles, e
quando se rebelou contra Nabucodonosor (2Rs_24:1-2, 2Rs_24:7).
Havendo os caldeus chegado a ser os senhores da Ásia, ameaçaram o
Egito. E Judeia, situada entre as potências beligerantes, viu-se exposta a
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 19
frequentes incursões de um ou outro dos exércitos inimigos. E
infelizmente, exceto no reinado de Josias, ela se pôs do lado do Egito,
contra as admoestações de Deus.
17. Lit: “Não te causou esta calamidade por haveres deixado ao
Senhor?” Assim traduz a LXX. Os acentos massoréticos fazem de “isto”
o sujeito do verbo, deixando o objeto para que se subentenda. Não te
granjeou isto (a iminente calamidade) aquele que abandonaste”, etc.?
(Jr_4:18).
te guiava — (Dt_32:10).
caminho — o artigo, no original hebraico, expressa o caminho reto,
o caminho de Jeová, ou seja, a educação moral que receberam mediante
a aliança de Moisés.
18. Agora — usado à maneira de raciocínio, não como advérbio de
tempo.
o caminho do Egito (RC) — O que tens que ver com o caminho,
isto é, para que desça ao Egito; ou o que, etc., para que vás à Assíria?
para beberes as águas — isto é para buscar a fortalecedora ajuda
deles; assim os vv. 13 e 36; veja-se com “águas”, que significam forças
numerosas (Is_8:7).
do Nilo — no hebraico sior, o rio Negro, em grego Melas (negro),
chamado assim por causa do depósito ou sedimento que deixa depois da
inundação (Is_23:3). A LXX o identifica com Giom, um dos rios do
Paraíso.
do Eufrates — chamado preeminentemente o Rio, tomado em
sentido figurado pelo poder assírio. Em 625 a.C., o ano dezessete de
Josias e o quarto do ministério de Jeremias, o reino da Assíria caiu antes
que o de Babilônia; Assíria é aqui mencionada por Babilônia, sua
sucessora. Assim ocorre em 2Rs_23:29; Lm_5:6. Havia, sem dúvida,
uma aliança entre a Judeia e a Assíria (isto é, Babilônia), que fez com
que Josias partisse contra Faraó-Neco do Egito, quando este saiu contra
Babilônia; as funestas consequências dessa aliança estão preditas no
versículo 36.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 20
19. castigará … repreenderão — antes, com sentido mais severo,
repreender-te-á … te corrigirá [Maurer].
tuas infidelidades — No original “apostasias”, no plural, para
expressar o número e a variedade de seus defecções. As mesmas alianças
que tinham contraído serviram em oferta para sua derrota (Pv_1:31;
Is_3:9; Os_5:5).
sabe … e vê — Imperativos por futuros: Saberá e verás em
prejuízo teu.
20. quebrava — O hebraico deveria tomar-se como a segunda
pessoa feminina, uma forma comum em Jeremias: “Tu quebraste”, etc.
Assim a LXX, e o sentido o requer.
teu jugo … tuas ataduras — o jugo e as ataduras que eu te impus,
ou seja, minhas leis (Jr_5:5).
Não quero servir-te — Segundo o Keri e muitos MSS., não
transgredirei. Mas a LXX e a maior parte das autoridades leem não
servirei, isto é, não obedecerei. O sentido da Versão Inglesa é: “Eu
quebrantei seu jugo (no Egito), etc., e (nesse tempo) disse: Não
transgredirei; enquanto que (desde então) andou vagando” (longe de
mim) (Êx_19:8).
outeiro … árvore frondosa — uma cena de atos idolátricos
(Dt_12:2; Is_57:5, Is_57:7).
deitavas — antes, te inclinaste, como para o ato de adultério, figura
da desavergonhada idolatria (Êx_34:15-16; veja-se Jó_31:10).
21. É a mesma figura que em Dt_32:32; Sl_80:8-9; Is_5:1, etc.
Eu mesmo te plantei — no que a Mim se refere.
22. salitre — (nitro). Não se trata do que agora se chama assim,
mas sim do natrão do Egito, um álcali mineral encravado no fundo dos
lagos, depois de o calor do verão ter evaporado a água; é usado para
lavar (Jó_9:30; Pv_25:20).
potassa — o carbonato da qual se obtém, em estado impuro,
mediante a combustão de distintas plantas, o Kali do Egito e Arábia.
Misturado com azeite usava-se para lavar.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 21
mácula — profundamente impregnado, indelevelmente marcado;
no hebraico catham, que equivale ao Cathab. Outros traduzem: “Está
entesourado”, do árabe. Maurer, está poluído; procedente de uma raiz
siríaca.
23. (Pv_30:12).
baalins — Plural, para expressar excelência multiforme; compare-
se com Elohim.
Vê — considera.
no vale — ou seja, de Hinom, ou Tofete, a sudoeste de Jerusalém,
aquele que se fez infame por causa dos sacrifícios humanos oferecidos
nele a Moloque (veja-se Jr_31:32; 19:2, 6, 13, 14; 32:25; Is_30:33,
Nota). O substantivo dromedária, que segue neste verso (e o do v. 24,
jumenta) está empregado em oposição ao subentendido pronome “tu”.
dromedária — antes, uma camela de poucos anos.
que andas ziguezagueando — lit., que (tudo) o complica; cujos
caminhos são tortuosos, vagando daqui para lá em busca de machos.
Quanto à luxúria moral dos judeus, veja-se Os_2:6-7.
24. (Jr_14:6; Jó_39:5). “Jumenta selvagem”, expressão que
concorda com o pronome “tu” (v. 23).
conforme o desejo da sua alma (RC) — antes, “em seu ardor”, ou
seja, que indo em busca de um macho, fareja o ar para encontrar alguém
[Maurer].
Os que a procuram — qualquer macho que deseje sua companhia
[Horsley].
não têm de fatigar-se — não têm necessidade de cansar-se para
buscá-la.
no mês dela — na época do ano quando seu ardor sexual é mais
forte, segue o caminho dos machos, de sorte que não lhes é difícil achá-
la.
a acharão — Ora de uma raiz hebraica, “encontrar”, “seu encontro
(com o macho para sua relação sexual), quem o pode evitar?”. Ou
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 22
melhor, de uma raiz árabe, “seu zelo” (ou impulso sexual) quem o pode
aquietar”? [Maurer].
25. Guarda-te — te afaste da incontinência; figuradamente, da
idolatria [Houbigant].
teus pés andem desnudos — não corras tão rapidamente atrás de
teus amantes, até o ponto de te desgastar os sapatos: não te mostres tão
irrefreavelmente “sedenta” de satisfazer seus apetites sexuais. Hitzig crê
que se alude às penitências que faziam à maneira de culto, rendido aos
ídolos com os pés descalços, e à sede que ocasionavam as contínuas
invocações que em alta voz lhes dirigiam.
Não há esperança (RC) — (Jr_18:12; Is_57:10). “Meu caso é
desesperado”; isto é, estou decididamente resolvida a seguir o meu
caminho.
estranhos — prescindindo da metáfora, deuses estranhos (Jr_3:13;
Dt_32:16).
26. Como se envergonha — o “ladrão” (Jo_10:1).
Israel — isto é, Judá (v. 28).
27. Tu és meu pai — (Contraste-se com Jr_3:4; Is_64:8).
em vindo a angústia — (dizem) a Deus (Sl_78:34; Is_26:16). As
dificuldades com frequência fazem com que a pessoa volte ao seu juízo
(Lc_15:16-18)
28. Eles que se levantem — Deus os remete aos deuses pelos quais
eles O abandonaram, para ver se eles os podem ajudar (Dt_32:37-38;
Jz_10:14).
tantos como as tuas cidades — além das deidades nacionais, cada
cidade tinha seu deus tutelar (Jr_11:13).
29. Por que contendeis comigo? — isto é, disputas comigo por te
haver aflito (v. 23, 35).
30. (Jr_5:3; 6:29; Is_1:5; Is_9:13).
vossos filhos — quer dizer, o teu povo, ou a vós.
espada devorou os vossos profetas — (2Cr_36:16; Ne_9:26;
Mt_23:29, Mt_23:31).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 23
31. Oh! Que geração! — A colocação hebraica é: Ó, a geração,
vós!, isto é, “Ó vós, os que agora viveis”. A geração só precisava ser
nomeada para pôr em realce sua degeneração, por ser esta muito
evidente.
deserto — onde faltam todas as coisas necessárias para a vida.
Jeová, pelo contrário, jamais foi uma fonte que tenha deixado de prover
a Israel no deserto de todas suas necessidades; isso mesmo foi depois em
Canaã.
da mais espessa escuridão — lit., trevas de Jeová, a mais forte
expressão hebraica para trevas; as trevas mais densas; veja-se com “terra
da sombra de morte” (v. 6).
Somos livres — isto é, somos nossos próprios amos, e adoraremos
os deuses que quisermos (Sl_12:4; Sl_82:6). Mas é melhor traduzir,
segundo uma raiz hebraica, diferentemente: “Vagaremos livremente”,
seguindo sem restrição nossas idolátricas luxúrias.
32. As mulheres do Oriente se orgulham sobremaneira de seus
ornamentos (veja-se Is_61:10).
adornos — cinturões para o peito.
se esqueceu de mim — (Jr_2:32; Os_8:14).
33. Como dispões — Maurer traduz: “Quão habilmente preparas o
teu caminho”. Mas, veja-se 2Rs_9:30. “Embelezar” quadra melhor com
a figura de uma que se engalana como uma rameira.
caminho — o curso da vida.
Pois — de tal sorte que … Ou melhor, “sim, até há”, etc.,
às mulheres perdidas — até às perversas rameiras, quer dizer
(deixando de lado a metáfora), até aos perversos gentios lhes ensinou a
ser ainda mais perversos [Grocio].
34. Até (RC) — Não só te manchaste com a idolatria, mas também
com o delito de ter vertido sangue inocente [Maurer]. Rosenmuller não
traduz tão bem “até em suas saias”, etc., não há uma só parte de seu
corpo (nem mesmo suas saias) que não esteja manchada de sangue
inocente (Jr_19:4; 2Rs_21:16; Sl_106:38). Quanto ao sangue inocente
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 24
derramado, não é o vertida em honra dos ídolos como aqui, mas sim é o
dos profetas mortos por eles, por tê-los censurado, v. 30; Jr_26:20-23.
almas (TB) — isto é, pessoas.
não surpreendidos — Eu não precisei “escavar profundamente”
para dar com a prova de seu delito, porque este se achava “sobre todas
estas” suas saias. Não perpetrou estas atrocidades em profundas
cavernas, mas sim abertamente no vale do Hinom e dentro do recinto do
templo.
35. (vv. 23, 29).
36. mudar leviano — correndo de um lado para outro, já buscando
a ajuda da Assíria (2Cr_28:16-21), já a do Egito (Jr_37:7, 8; Is_30:3).
37. daquele — o Egito.
de mãos na cabeça — como expressão de dor (2Sm_13:19).
por meio deles — nos apoios em que confiavas.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 25
Jeremias 3

Vv. 1-25. A Misericórdia de Deus não obstante a Baixeza de Judá.


Contrariamente a tudo precedente nos casos de adultério, Jeová
oferece a espiritual adúltera, recebê-la de novo (vv. 1-5). Uma nova parte
do livro termina com o cap. 6. Judá resulta pior que Israel; entretanto,
nos últimos dias, ambas serão restauradas (vv. 6-25).
1. dizem (RC) — ou melhor, segundo o hebraico, “dizendo”, em
consonância com a palavra “Jeová” do v. 37 do cap. precedente
[Maurer]. Ou, pode ser que equivalha a: “Suponha-se este caso”. Pôde
suceder que algum copista omitisse a frase “E veio a mim a palavra do
Senhor”, dizendo.
tornará a ela? — Voltá-la-á a receber por mulher? O qual era
ilícito (Dt_24:1-4).
Não se poluiria ... ? — Não seria manchada essa terra fazendo tal
coisa?
torna para mim — (v. 22; Jr_4:1; Zc_1:3; veja-se Ez_16:51,
Ez_16:58, Ez_16:60). “Não obstante”, etc. (Is_50:1, nota).
2. aos altos — teatro de atos idolátricos, que eram adultérios
espirituais.
Nos caminhos te assentavas à espera deles — esperando os
amantes como uma prostituta (Gn_38:14, Gn_38:21; Pv_7:12;
Pv_23:28; Ez_16:24-25), e à semelhança de um árabe que espreita os
viajantes. Os árabes do deserto, a leste e sul da Palestina, ainda são
célebres como salteadores de caminhos.
3. chuva serôdia — a chuva serôdia indispensável para as colheitas
na Palestina, que foi recusada, como castigo (Lv_26:19; cf. com
Jl_2:23).
a fronte de prostituta — (Jr_8:12; Ez_3:8).
4. agora mesmo — não se refere, como crê Michaelis, à reforma
iniciada no ano anterior, isto é, o doze do reinado de Josias; significa
agora mesmo, agora, finalmente.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 26
tu me invocas — em contraste com o “tronco” ao qual até então
haviam invocado como “pai” (Jr_2:27; Lc_15:18).
o guia da minha mocidade (RC) — quer dizer, marido (Jr_2:2;
Pv_2:17; Os_2:7, Os_2:15). Marido e pai são os dois termos mais
afetuosos.
5. Conservarás — A passagem da segunda à terceira pessoa indica
que consideram a Deus mais afastado deles que antes. Em lugar de
arrepender-se e abandonar os ídolos, limitam-se a deplorar o fato de
continuar o seu castigo. O versículo 12, e o Sl_103:9, respondem a sua
pergunta referente a sua penitência.
falas — (antes, é a resposta que Deus lhes dá): “Tu falaste (assim),
e entretanto, (em todo tempo) fizeste o mal”, etc.
cometes maldade a mais não poder — feitas com toda a tua força,
com incorrigível persistência [Calvino].
6. Desde aqui até Jer_6:30, se insere um novo discurso,
pronunciado no reinado de Josias; consta de duas partes; a primeira se
estende até Jr_4:3; nele se admoesta a Judá com o exemplo do que
sucedeu a Israel, e ainda se promete a este a final restauração; e Judá é
ameaçado com a invasão de Babilônia; como Nabopolassar fundou o
império caldeu em 625 a.C., ou seja o ano 17 do reinado de Josias, pode
ser que esta profecia não seja anterior a essa data (Jr_4:5, etc.; 5:14, etc.;
Jr_6:1, etc.; cap. 22); pode também que não seja posterior à segunda e
completa reforma, realizada no ano 18 do mesmo reinado.
a pérfida — lit., apostasia, não meramente apóstata, mas sim a
própria apostasia, sua essência (vv. 14, 22).
7. eu disse (RC) — (2Rs_17:13).
sua pérfida irmã — (Ez_16:46; Ez_23:2, Ez_23:4).
8. Eu vi que, embora era por esta muito mesmo razão que Israel
tinha cometido adultério, apostatando, que eu a tinha despedido
(2Rs_17:6, 2Rs_17:18) e lhe dado carta de repúdio, apesar de tudo isso,
Judá … (Ez_23:11, etc.).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 27
carta de divórcio — lit., “um escrito de cortes”. O plural denota o
completo da separação. O uso desta metáfora aqui, o mesmo que no
primeiro discurso (v. 1), indica estreita relação entre os dois discursos.
Os epítetos são característicos; Israel é “apóstata” (embora o hebraico
seria melhor traduzido por “reincidente”); Judá, embora ainda não seja
completamente apóstata, contudo, é uma traidora ou uma desleal.
ela mesma — ela também, à semelhança de Israel.
9. Alguns aplicam este versículo a Judá, a qual se refere o final do
v. 8. Mas o v. 10 contrasta a Judá com Israel. “E com tudo isso” que se
refere ao lamentável exemplo de Israel; se o v. 9 se referisse a Judá; teria
se usado no v. 10 o pronome “ela”, e não o nome “Judá”. Traduza-se:
“Isso (o despedir de Israel) sucedeu por causa de sua prostituição, ela
(Israel) tinha manchado a terra” [Maurer]. A Versão Inglesa, entretanto,
pode interpretar-se no sentido de que se refere a Israel.
prostituição — “infâmia” [Ewald]. Maurer, embora não muito
bem, toma da raiz hebraica “voz,” “fama”.
10. Apesar de tudo isso — não obstante a lição subministrada pelo
caso dos fatais resultados da apostasia de Israel.
não … de todo o coração — A reforma empreendida no ano
dezoito de Josias não foi completa por parte do povo; pois, uma vez
morto o rei, ele (o povo) recaiu na idolatria (2Cr_34:33; Os_7:14).
11. se mostrou mais justa — se mostrou quase justa (isto é,
relativamente inocente) por causa da sobrepujante culpa de Judá, a qual
acrescentou hipocrisia e traição ao seu pecado; pois ela tinha o exemplo
de Israel para a advertir; mas tudo foi em vão (veja-se Ez_16:51;
Ez_23:11).
12. Vai — não positivamente; mas antes, volta-te e proclama ao
norte (rumo à Medeia e a Assíria, onde foram estabelecidas as 10 tribos
por Tiglate-Pileser e Salmaneser, 2Rs_15:29; 2Rs_17:6; 2Rs_18:9,
2Rs_18:11).
Volta, ó pérfida — heb., Shubah, Meshubah paronomásia ou jogo
de sons. Com a finalidade de despertar em Judá zelos piedosos
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 28
(Rm_11:14), Jeová Se dirige às dez expatriadas tribos de Israel com um
amoroso convite.
não farei cair a minha ira — lit., não deixarei cair meu rosto
(veja-se Gn_4:5-6; Jó_29:3), isto é, não seguirei olhando-vos com cenho.
não manterei — se subentende a ira (Nota, v. 5).
13. Tão-somente reconhece — (Dt_30:1, Dt_30:3; Pv_28:13).
te prostituíste com os estranhos — (Jr_2:25). Não meramente os
bezerros em Betel e Dã, mas sim os ídolos em todo sentido foram os
objetos de seu culto (Ez_16:15, Ez_16:24-25).
14. eu sou o vosso esposo — Lit., Eu sou Senhor, isto é, seu marido
(assim o Jr_31:32; veja-se Os_2:19-20; Is_54:5). Gesênius, seguindo a
LXX, Jr_31:32, e a citação de Paulo dessa passagem em Hb_8:9, traduz:
“Eu vos desprezei”. Que essa maneira, da correspondente voz árabe e da
ideia de senhorio, pode ser que passe a de olhar com desprezo, e por
conseguinte, a de desprezar. Mas a LXX traduz nesta passagem: “Eu
serei Senhor sobre vós”. O “porque” tem muita mais força na Versão
Inglesa que em Gesênius. O hebraico quase não permite a tradução
embora [Hengstenberg].
e vos tomarei, um de cada cidade — Embora um ou dois israelitas
estivessem numa cidade (estrangeira), não serão esquecidos; todos serão
restaurados (Am_9:9). Assim ocorre no Israel espiritual: Deus recolhe
um converso aqui e outro ali, em Sua igreja; nem o mais mínimo se
perderá (Mt_18:14; Rm_11:5; veja-se Jr_24:40, 41).
de cada família — um clã ou tribo.
15. pastores — não religiosos, mas sim governantes civis, como
Zorobabel e Neemias (Jr_23:4; 2:8).
16. nunca mais se exclamará — Os judeus já não se glorificarão
na possessão da arca; dela já não se terá saudade, tão grandes serão as
bênçãos da nova dispensação. O trono do Senhor, estando ele mesmo
presente, eclipsará (e fará esquecer) a arca de aliança e o propiciatório
que estava entre os querubins no primeiro trono de Deus. A arca, que
continha as duas tábuas da lei, desapareceu por ocasião do cativeiro de
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 29
Babilônia, e não foi devolvida ao segundo templo, o que denota que a
“glória” simbólica devia ser substituída por uma “maior glória”
(Ag_2:9).
nem dela sentirão falta — antes, “nem se terá saudade dela”
(assim em Jr_23:4).
não se fará outra — “não será reconstruída (a arca); (isto é, não
será restaurada)” [Maurer]
17. Jerusalém — toda a cidade, não meramente o templo. Assim
como este foi o centro da teocracia hebréia, assim será o lugar de atração
para toda a terra (Is_2:2-4; Zc_2:10-11; Zc_14:16-21).
Trono do SENHOR — A Shekiná, o símbolo peculiar da
proximidade de Deus a Israel (Dt_4:7), será ultrapassado pelo antítipo, o
próprio Trono de Deus em Jerusalém (Sl_2:6, Sl_2:8; Ez_34:23-24;
Zc_2:5).
dureza do seu coração — antes, a obstinação ou teimosia.
18. Judá … Israel … juntas — duas apostasias distintas, a de
Israel e a de Judá, foram preditas (vv. 8, 10). As duas casa nunca foram
reunidas desde o cativeiro de Babilônia; portanto sua restauração
conjunta deve ser ainda coisa do futuro (Is_11:12-13; Ez_37:16-22;
Os_1:11).
terra do Norte — (v. 12).
terra que dei em herança — (Am_9:15).
19. A boa terra prometida a Abraão sob juramento, tem que ser
restituída a seus descendentes. Mas aqui surge uma pergunta: Como se
fará isto?
como te porei entre os filhos — A palavra grega para adoção
significa lit. posto entre os filhos.
entre os filhos — quer dizer, meus filhos. “Como te voltarei a
receber em minha família depois que me abandonaste por tanto tempo,
para ir após os ídolos?” A resposta é: Eles O reconhecerão como “Pai”, e
já não se afastarão dEle. Deus emprega a linguagem de um que se
maravilha de como tão temerários apóstatas poderiam ser restituídos à
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 30
sua família e aos privilégios desta (veja-se Ez_37:3); Calvino diz: Como
é possível que a raça de Abraão volte a propagar-se, estando, por assim
dizer, morta? Entretanto, como seu propósito decretou que assim seja,
ele nos mostra como isto deve fazer-se, ou seja, que eles receberão dEle
o espírito de adoção, que fará com que clamem: “meu pai”! (Jo_1:12;
Gl_4:6). No propósito de Deus os eleitos já são seus “filhos”; esse é o
fundamento da subsequente realização de tal relação (Ef_1:5; Hb_2:13).
terra desejável — (Jr_11:5; Ez_20:6; Dn_11:16, margem da
Versão Inglesa).
herança das nações — A herança da mais pia de todas as nações
[Maurer]; Ou: “Uma herança possuída por poderosas hostes” (Dt_4:38;
Am_2:9). À tradução “esplendores” em lugar de “hostes”, opõe-se o fato
de que a palavra hebraica para “esplendor” não se acha em plural.
20. marido — lit., amigo.
21. Em harmonia com as precedentes promessas de Deus, as
penitentes confissões de Israel serão ouvidas.
lugares altos — O cenário de seus atos idolátricos o é também de
suas confissões. Veja-se v. 23, aonde lançaram sua confiança nos altos
lugares idolátricos. A publicidade de sua penitência dá-se por
subentendida (veja-se Jr_7:29; 48:38).
22. O reiterado convite de Jeová (v. 12, 14) e a imediata resposta
deles.
curarei — perdoarei (2Cr_30:18, 2Cr_30:20; Os_14:4).
contigo — Antes, “em obediência a ti”; lit., para ti [Rosenmuller].
23. as orgias das montanhas — quer dizer, a multidão de deuses
adorados neles (veja-se Sl_121:1-2, margem da Versão Inglesa).
24. coisa vergonhosa — isto é, os ídolos, cuja adoração nos cobre
de vergonha (Jr_11:13; Os_9:10); pois, longe de nos trazer “salvação”,
acabaram com nosso gado e até com nossos filhos, aos quais os
sacrificamos.
25. Ed_9:7).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 31
Jeremias 4

Vv. 1-31. Continuação do Discurso às Dez Tribos de Israel (Vv. 1,


2). O Profeta Se Volta de novo para Judá, à qual Tinha Sido Enviado
Desde o começo (Vv. 3-31).
1. Se voltares … volta — Aqui há uma paronomásia ou jogo de
palavras: “Se queres voltar para sua terra (deve primeiro) te voltar (por
conversão e arrependimento) para Mim.”
não mais andarás — já não andarás vagando, inseguro, por uma
terra estranha. Tal sucedeu a Caim (Gn_4:12, Gn_4:14).
2. se jurares — “E se jurares, jurarás com verdade, dizendo: ‘Vive
Jeová’, etc.”; isto é, se O adorares (pois nós juramos pelo Deus a quem
adoramos; veja-se Dt_6:13; Dt_10:20; Is_19:18; Am_8:14) com
sinceridade, etc.
nele serão benditas as nações — antes, esta é uma apódose de
“se”; então os gentios se abençoarão nEle e por Ele (Is_65:16). A
conversão dos gentios será a consequência da conversão de Israel
(Sl_102:13, Sl_102:15; Rm_11:12, Rm_11:15).
3. É uma transição que é preciso suprir mentalmente, em virtude da
qual vai se falar de Judá. Tudo o que (o referente a Israel) aplica-se a
Judá.
e Jerusalém — isto é, e especialmente aos homens de Jerusalém,
por ser a cidade mais importante da Judeia.
Lavrai para vós outros campo novo — isto é, arrependei-vos de
vossa idolatria, e vos preparai assim para servir a Jeová com verdade
(Os_10:12; Mt_13:7). O coração altivo é semelhante ao terreno
suscetível de cultivo, arrendado para esse fim, mas como ainda está sem
semear, está coberto de erva daninha, seu fruto natural.
4. Eliminem sua natural corrupção do coração (Dt_10:16; Dt_10:30,
Dt_10:6; Rm_2:29; Cl_2:11).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 32
5. Anunciai ... fazei ouvir ... e dizei — antes, gritem fortemente ou
em alta voz. Admoesta-se os judeus a tomarem medidas contra a
iminente invasão dos caldeus (veja-se Jr_8:14).
6. Sião — A bandeira içada em Sião indicava que a nação do
contorno devia fugir a essa cidade, por ser a mais forte de suas
fortalezas.
7. leão — É Nabucodonosor e os caldeus (Jr_2:15; 5:6; Dn_7:14).
ramada — Babilônia.
destruidor das nações — (Jr_25:9).
8. Nada resta aos judeus senão lamentar sua desesperada situação.
a ira … não se desviou — (Is_9:12, Is_9:17, Is_9:21).
9. o coração (RC) — a sabedoria dos principais chefes se verá
completamente perplexa quanto a descobrir os meios de escapar.
10. enganaste a este povo — Deus, que tem em suas mãos até os
falsos profetas, diz-se dEle aqui que faz o que, com propósitos
inescrutáveis, permite que aqueles façam (Êx_9:12; 2Ts_2:11; veja-se
com Jr_8:15; passagem que demonstra que as vítimas do erro estavam
predispostas para isso, e que a predestinação de Deus não anulava sua
liberdade moral como agentes voluntários). Os falsos profetas lhes
profetizaram “paz”, e os judeus creram; Deus influiu em tudo isto para
cumprimento de Seus propósitos (Jr_5:12; 14:13; Ez_14:9).
alma — antes, “chegou até a vida”
11. Vento abrasador — o simum, terrível e destrutivo, que sopra
do sudeste através dos arenosos desertos orientais da Palestina; figura do
exército invasor de Babilônia (Os_13:15). Babilônia, por sua vez, será
visitada por “um vento destruidor” semelhante (Jr_51:1).
dos altos — quer dizer, que arrasa as alturas.
à filha — isto é, os filhos de Meu povo.
não para padejar — um vento muito diferente do que se costuma
utilizar-se para ventilar o grão das eiras.
12. Vento mais forte — (isto é, mais impetuoso) que aqueles
ventos (que ventilam o grão), (v. 11) [Rosenmuller].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 33
virá ainda de minha parte — por minha causa, como meu
instrumento para executar meu propósito.
sentença contra eles — (Jr_1:16).
13. nuvens — Continua a metáfora dos vv. 11 e 12. Trata-se de
nuvens de areia e pó que acompanham o simum, as quais depois de
rápidos giros, ascendem como um pilar.
águias — (Dt_28:49; Hc_1:8).
Ai de nós! — Apresenta-se ao povo graficamente a nossa vista, sem
expressá-lo formalmente, que estala em exclamações.
14. O único meio de libertação que resta aos judeus é: um completo
arrependimento. Gesênius traduz: “Até quando albergarás vãos
pensamentos?”, etc.
maus pensamentos — isto é, projetos de libertação, como o
chamar os egípcios a seu lado.
15. Uma voz … desde Dã — A relação é: Há perigo em demorar;
porque a voz de um mensageiro anuncia que se aproximam os inimigos
caldeus desde Dã, a fronteira setentrional da Palestina (Jr_8:16; veja-se
v. 6; Jr_1:14).
desde a região montanhosa de Efraim — cuja fronteira estava
perto de Judá, de sorte que o inimigo aproxima-se cada vez mais. Dã e
Betel, em Efraim, eram os lugares onde Jeroboão tinha colocado os dois
idolátricos bezerros (1Rs_12:29); retribuição justa.
16. As “nações” estrangeiras vizinhas são chamadas a presenciar os
juízos de Jeová sobre o Seu povo rebelde (Jr_6:18, 19).
sitiadores — (veja-se 2Sm_11:16); “cercaram” ou guardaram, isto
é, sitiaram.
a voz — é o grito de guerra.
17. guardas de um campo — metáfora tomada dos que guardam
um campo para dele afugentar as feras.
18. (Jr_2:17, 19; Sl_107:17).
a tua calamidade — isto é, o fruto de tua maldade.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 34
19. O profeta adota de repente a linguagem do estado judeu
personificado, que lamenta sua aflição (Jr_10:19, 20; 9:1, 10; Is_15:5;
veja-se Lc_19:41).
do meu coração — Heb.: as paredes do meu coração; os músculos
que rodeiam o coração. Há aqui um clímax: as “vísceras”, o pericárdio,
o próprio coração.
se agita — geme [Henderson].
alarido — ordem de atacar.
20. Golpe sobre golpe se anuncia — Brecha sobre brecha se
anuncia (Sl_42:7; Ez_7:26). A “trombeta” de guerra … a ordem de
ataque … as “destruições” … a ruína geral de toda a terra … o despojo
das “tendas” dos pastores (Jr_10:20; “tendas” talvez signifiquem cidades
que seriam destruídas tão facilmente como as tendas de campanha
[Calvino]), formam uma gradação.
21. Judá, em sua perplexidade, pergunta: Até quando deve
continuar este estado de coisas?
22. Resposta de Jeová: Eles não podem ser outra coisa senão
miseráveis, visto que perseveram no pecado. A repetição das cláusulas
dá maior força ao sentimento.
sábios para o mal e não sabem fazer o bem — uma regra
invertida: “sábios para o bem, mas simples para o mal” (Rm_16:19).
23. Descrição gráfica da completa desolação que ia visitar a
Palestina. “Olhei, e eis aqui”, repetido solenemente quatro vezes, realça
o horrível efeito da cena (veja-se com Is_24:19; Is_34:11).
sem forma e vazia — reduzida ao primitivo caos (Gn_1:2).
24. os montes — (Is_5:25).
tremiam — foram violentamente sacudidos.
25. não havia homem nenhum … e todas as aves … haviam
fugido — nenhum vestígio da humana ou alada criação chegará a ver-se
(Ez_38:20; Sf_1:3).
26. a terra fértil — no hebraico, “jardim fértil”.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 35
deserto — heb., “o deserto”, em contraste com “o lugar frutífero”;
o grande deserto, onde estava o Carmelo é agora o deserto da Arábia
[Maurer].
e todas as suas cidades — em contraste com o lugar ou campo
frutífero.
27. não a consumirei — completa destruição; deixarei alguma
esperança de restauração (Jr_5:10, 18; 30:11; 46:28; veja-se Lv_26:44).
28. Por isso — Por causa das desolações descritas (Is_5:30;
Os_4:3).
não me arrependo — (Nm_23:19).
29. todas as cidades — Jerusalém, para onde tinham fugido todos
os camponeses, em busca de refúgio; mas logo que esta estiver também
por cair, eles fugirão dela para esconder-se nos “bosques”. Henderson
traduz “toda cidade”.
clamor — o mero estrondo da cavalaria inimiga lhes porá em fuga.
30. pintes os teus olhos com o antimônio (TB) — As mulheres do
Oriente pintam os olhos com estíbio ou antimônio para parecer maiores e
faiscantes; o enegrecido bordo deles faz com que ressalte por contraste o
branco dos mesmos e pareçam mais brilhantes (2Rs_9:30). Ele usa o
termo dilatar para zombar de seus esforços para fazer com que pareçam
maiores [Maurer]; ou antes, rasgados, isto é, rasgados pela punção da
pálpebra, a fim de obter que o antimônio se pegue [Rosenmuller]. Assim
os judeus empregam todos os artifícios para obter a ajuda do Egito
contra Babilônia.
seus olhos — (Ez_23:40).
31. angústia — causada pelo ataque do inimigo.
filha de Sião — Há uma beleza peculiar na supressão do nome da
pessoa afligida, até que a “tribulação tenha sido amplamente descrita
[Henderson.].
que está ofegante — “aspira o alento” [Horsley].
ofegante … estende suas mãos — (Lm_1:17).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 36
Jeremias 5

Vv. 1-31. A Causa dos Juízos que Devem Infligir-se É a Corrupção


Universal da Nação.
1. homem — Como o bom Josias, Baruque e Sofonias viviam
naquele tempo em Jerusalém, Jeremias deve aludir aqui à massa do
povo, ao rei, a seus conselheiros, aos falsos profetas e aos sacerdotes,
como distintos dos poucos fiéis, aos quais Deus havia abertamente
separado dos réprobos. Entre estes não se acharia nenhum que fosse
justo (Is_9:16) [Calvino]; além do que se tinha proibido aos piedosos
interceder por eles (Jr_7:16; veja-se Gn_18:23, etc.; Sl_12:1; Ez_22:30).
buscai … a ver se achais — olhem e averiguem.
justiça — justiça e direito.
2. (Tt_1:16).
juram falso — não se trata de um juramento judicial, mas sim seu
juramento de que adoravam a Jeová, não era sincero (v. 7; Jr_4:2). A
reforma realizada por Josias, foi meramente superficial no caso da
maioria.
3. não atentam os teus olhos para a verdade? (RC) — (Dt_32:4;
2Cr_16:9). “Verdade” está em contraste com “juram falso” (v. 2). A
falsa profissão religiosa dos judeus não podia esperar outra coisa senão
juízos de parte do Deus da verdade.
Tu os feriste, e não lhes doeu — (Jr_2:30; Is_1:5; Is_9:13).
não quiseram receber a disciplina — (Jr_7:28; Sf_3:2).
4. pobres — Ele supõe no momento que esta depravação geral se
circunscreve aos pobres sem instrução, e que acharia um estado de coisas
muito diferentes nas classes mais altas; mas encontra que ali reina uma
desenfreada dissolução.
5. eles sabem o caminho do SENHOR — antes, “devem conhecer
…” O profeta supõe isto como provável, considerando sua posição.
mas estes, de comum acordo … — Mas achei que ocorria com
eles justamente o contrário.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 37
quebraram o jugo — desprezaram a Lei de Deus (Sl_2:3).
6. leão … lobo … leopardo — as mais fortes, vorazes e ágeis das
feras, respectivamente, que ilustram o formidável caráter dos babilônios.
da estepe (NVI) — Outros, embora não tão bem, traduzem dos
desertos. O plural significa que sai todas as tardes para buscar sua presa
(Sl_104:20; Hc_1:8; Sf_3:3).
um leopardo estará à espreita das suas cidades — (Os_13:7).
Estará espreitando as suas cidades.
7. Não seria congruente com a santidade de Deus permitir que tal
maldade ficasse impune.
juram pelos que — (v. 2; Jr_4:2); quer dizer, adoraram.
não são deuses — (Dt_32:21).
depois de eu os ter fartado — assim se lê no Keri, nota marginal
no hebraico. A liberalidade de Deus para com eles em contraste com sua
apostasia (Dt_32:15). A prosperidade, dom de Deus, que tem como
desígnio atrair os homens a Si, às vezes produz efeitos contrários. O
hebraico Quetib (texto) lê: “Eu os liguei comigo com juramento”; isto é,
na aliança nupcial, celebrado e selado no Sinai entre Deus e Israel, em
contraste com o que está o “adultério” deles; a antítese favorece esta
interpretação.
adulteraram e em casa de meretrizes — em sentido figurado,
refere-se à idolatria nos templos dos ídolos; mas também está
compreendida a prostituição literal, por fazer parte frequentemente do
culto rendido aos ídolos; sirva de exemplo o culto do deus babilônico
Mylitta.
8. pela manhã (RC) — (Is_5:11). “Levantam-se pela manhã”, é
uma frase que expressa incessante avidez no prosseguimento de um
propósito; tal era a avidez do judeu pelo culto rendido aos ídolos.
Maurer, de uma raiz hebraica diferente, traduz: “Vagam continuamente
de um a outro lado”, inflamados pela luxúria (Jr_2:23). Mas a Versão
Inglesa é mais clara (veja-se Jr_13:27; Ez_22:11).
9. (V. 29; Jr_9:9; 44:22).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 38
10. Apóstrofo abrupto dirigido aos babilônios, para que tomem
Jerusalém, mas que não destruam a nação completamente (Nota
Jr_4:27).
ameias (RC) — antes, os brincos [Maurer]; uma situação
comparável com a de uma vinha (Jr_12:10), cujo tronco é regulado,
enquanto que os brincos (os chefes) são eliminados.
11. (Jr_3:20).
12. Não é ele — isto é, o Deus único e verdadeiro (Jr_14:22;
Dt_32:39; Is_43:10, Is_43:13). Por sua idolatria O negaram virtualmente.
Ou se se refere ao que segue e ao v. 9, “(Jeová) não é”; isto é, não vai ser
o castigador de nossos pecados (Jr_14:13; Is_28:15).
13. Continuação da linguagem incrédula dos judeus.
os profetas — os que profetizaram que vem o castigo sobre nós.
palavra — o Espírito Santo, que fala por conduto dos verdadeiros
profetas, não está neles [Maurer]. Ou melhor, “neles não há palavra (isto
é, comunicação divina)” (Os_1:2) [Rosenmuller].
as suas ameaças — seus fatídicas profecias virão sobre eles.
14. na tua boca e a este povo — Deus deixa de falar com o povo
para dirigir a palavra ao profeta; o que indica que estabelece uma boa
distância entre Ele e eles, e que no futuro só se comunicará com eles
mediante Seu profeta (v. 19).
em fogo … em lenha — Suas predições de juízos se cumprirão, e
os consumirão como o fogo consome a lenha. Em Jr_23:29 o ponto de
comparação é a penetrante energia do fogo.
15. (cap. 1:15; 6:22). É uma alusão a Dt_28:49, etc.
Israel — isto é, Judá.
robusta — De uma raiz arábica que significa resistente. A
quádrupla repetição de “nação” aumenta a energia.
nação antiga — Os caldeus procediam das montanhas de Armênia
e da Carducia, ao norte da Mesopotâmia, de onde emigraram para
Babilônia. À semelhança de todos os montanheses, eram valentes e
robustos (Nota, Is_23:13).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 39
cuja língua ignoras — Is_36:11 demonstra que o aramaico não era
entendido pela multidão, mas unicamente pelas classes educadas
[Maurer]. Henderson o refere à língua original dos babilônios, a qual,
segundo ele, tinham levado de suas nativas montanhas; esta era afim do
persa, não do aramaico ou de qualquer outra língua semítica, e era a mãe
do moderno curdo.
16. sepultura aberta — (veja-se Sl_5:9). Sua aljava devora tudo, à
maneira de uma sepultura aberta para receber os mortos; pois todas as
suas flechas representam outras tantas mortes. 17. (Lv_26:16).
18. (v. 10; Jr_4:27).
Contudo — Nem mesmo naqueles dias de juízos exterminará Deus
inteiramente a Seu povo.
19. É um pagamento na mesma moeda. Assim como vós me
abandonastes, assim Eu também vos abandonarei; e do mesmo modo que
servistes a deuses estranhos em sua terra, assim servireis a estrangeiros
em terra não vossa. Veja-se uma retribuição semelhante em Dt_28:47-
48.
21. olhos e … ouvidos e .… — traduza-se “e entretanto” (veja-se
com Dt_29:4; Is_6:9). Pois tendo as faculdades de percepção, não as
usaram, apesar de serem responsáveis por seu exercício.
22. areia — embora composta de partículas que mudam facilmente
de lugar, Eu a faço capaz de reprimir a violência da mar. É tal sua
monstruosa perversidade, que o rugidor e insensível mar Me obedece
com mais presteza que vós que vos considerais inteligentes [Calvino].
(Jó_26:10; Jó_38:10-11; Pv_8:29; Ap_15:4).
23. (Jr_6:28).
24. chuva, a temporã e a tardia (RC) — a primeira cai de meados
de outubro até começos de dezembro. A “tardia” ou chuva primaveril cai
na Palestina antes da colheita, em março e abril, e é essencial para a
maturação das colheitas (Dt_11:14; Jl_2:23).
as semanas determinadas da sega — as sete semanas entre a
Páscoa e Pentecostes, que começa no dia 16 de Nisã (Dt_16:9). Por
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 40
causa da especial providência de Deus não chovia na Palestina durante as
semanas da colheita, de sorte que esta se podia realizar sem interrupção
(veja-se Gn_8:22).
25. As culpas da nação tinham causado a suspensão destas
misericórdias mencionadas no v. 24, (veja-se Jr_3:3).
26. (Pv_1:11, Pv_1:17-18; Hc_1:15).
como espreitam os passarinheiros — antes, “como se escondem
os caçadores” [Maurer].
armadilhas — lit., destruição: o instrumento de destruição.
e prendem os homens — não como Pedro, para salvá-los
(Lc_5:10), senão para destruí-los.
27. cheias de fraude — cheias de tesouros obtidos com engano.
poderosos — (Sl_73:12, Sl_73:18-20).
28. nédios — efeito da gordura sobre a pele (Dt_32:15). Esses
vivem uma vida regalada.
ultrapassam … dos malignos — excederam até aos gentios em sua
maldade (Jr_2:33; Ez_5:6-7).
não defendem ... dos órfãos — (Is_1:23).
para que prospere — (Jr_12:1).
29. (v. 9; Ml_3:5).
30. (Jr_23:14; Os_6:10).
31. dominam de mãos dadas com eles — lit., segundo suas mãos,
isto é, sob sua direção (1Cr_25:3). Como demonstração de que os
sacerdotes se prestavam aos enganos dos falsos profetas para obter
influência sobre o povo, veja-se o Jr_29:24-32.
é o que deseja — (Mq_2:11)
que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim? — o fatal
resultado desta pecaminosa conduta quando vier o juízo divino.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 41
Jeremias 6

Vv. 1-30. Os Inimigos de Sião Se Preparam para a Guerra Contra


Ela: A Causa São os Seus Pecados.
1. Benjamim — Jerusalém estava situada no território da tribo de
Benjamim, a qual estava separada do da de Judá pelo vale do Hinom.
Embora esta estava habitada em parte por benjamitas, e em parte por
judeus, contudo se dirige aos primeiros, por ser compatriotas deles.
tocai a trombeta em Tecoa — Tikeku, Tekoa formam um jogo de
sons. Esta era berço de Amós.
Bete-Haquerém — no hebraico significa casa do vinhedo. Esta e
Tecoa estavam a poucos quilômetros de Jerusalém. Quando os inimigos
vinham do norte, os habitantes das aldeias circunvizinhas naturalmente
fugiam rumo ao sul. O fogo aceso sobre as colinas era o sinal de alarme
contra o perigo que se aproximava.
2. eu deixarei em ruínas — melhor, “Deixei-te desolada”. Lit.,
“Como a bela e delicada, eu deixei desolada a filha de Sião”, isto é, a ti.
Assim Zc_3:9, “diante de Josué”, isto é, diante de ti [Maurer].
3. pastores — chefes inimigos com seus exércitos (Jr_1:15; 4:17;
49:20; 50:45).
apascentará — Eles consumirão cada um tudo o que está a seu
alcance, isto é, o lugar que ele ocupa (Nm_2:17; Nota, Is_56:5).
4, 5. Os soldados dos invasores se estimulam uns a outros a atacar
Jerusalém.
Preparai — lit., Santifiquem a guerra, isto é, proclamem
formalmente com solenes ritos; a invasão foi solenemente ordenada por
Deus (Veja-se Is_13:3).
subamos ao meio-dia — a parte mais calorosa do dia, quando os
ataques raramente se realizavam (Jr_15:8; 20:16). Era tal a sua
impaciência que desejavam realizar o ataque até nessa hora.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 42
Ai de nós — São palavras dos invasores, que lamentam a chegada
da noite quando teriam que suspender suas operações de ataque;
entretanto, apesar das trevas, renovaram o ataque de noite (v. 5).
6. levantai tranqueiras — heb., esvaziem; que se refere ao
esvaziar das cestas de terra para formar o baluarte, feito de madeiros e
terra, para dominar os muros da cidade. Também se empregavam as
árvores para fazer máquinas de guerra.
Esta — os invasores assinalam com o dedo a Jerusalém.
há de ser punida — isto é, “castigada”.
opressão … no meio dela — unindo “toda ela” com “visitada”,
deve ser completamente castigada [Maurer]
7. Como o poço — melhor, como poço cavado, do qual brota a
água, diferente de um manancial ou fonte natural.
conserva frescas as suas águas — faz com que flua a água; lit., faz
cavar; toma a causa pelo efeito (2Rs_21:16, 2Rs_21:24; Is_57:20).
diante de mim — isto é, de Jeová.
8. Uma tenra chamada em meio a ameaças.
eu não me aparte — lit., o hebraico, “afaste-se”; o afeto de Jeová
faz com que Ele Se afaste contra Sua vontade; Seu apego a Jerusalém era
tal que era preciso um esforço para Se separar dela (Ez_23:18; Os_9:12;
Os_11:8).
9. Os judeus são as uvas, seus cruéis inimigos, os que rebuscam.
vai metendo a mão — lança nos cestos de vez em quando novos
cachos de recém recolhidas uvas; que alude à reiterada condução de
cativos a Babilônia (Jr_52:28-30; 2Rs_24:14; 2Rs_25:11).
10. os seus ouvidos estão incircuncisos — são surdos aos preceitos
de Deus pelo prepúcio de sua carnalidade (Lv_26:41; Ez_44:7; At_7:51).
a palavra … é para eles coisa vergonhosa — (Jr_20:8).
11. ira do SENHOR — Suas acusações contra Judá comunicadas
ao profeta.
estou cansado de a conter — (Jr_20:9).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 43
Derramá-la-ei — ou, antes, no imperativo, qual mandado de Deus
(veja-se o v. 12). “Derramai” [Maurer].
o velho, com o decrépito — o primeiro significa um já
envelhecido; o Segundo, um ancião decrépito [Maurer] (Jó_5:26;
Is_65:20).
12. É o mesmo castigo com que Moisés os ameaçou no caso de
serem desobedientes a Deus (Dt_28:30).
passarão — serão transferidas.
13. (Jr_8:10; Is_56:11; Mq_3:11).
14. ferida — a ferida espiritual.
superficialmente — como se só fosse uma ferida insignificante, ou
com leviandade, declarando-a completamente curada, quando não está.
dizendo — ou seja, os profetas e os sacerdotes (v. 13). Em lugar de
advertir o povo sobre o iminente dos juízos e a necessidade de
arrepender-se, dizem-lhe que não é preciso temer.
paz — que inclui cura. O estado moral da nação é sadio; portanto,
terá completa paz no que corresponde à sua situação política (Jr_4:10;
8:11; 14:13; 23:17; Ez_13:5, Ez_13:10; Ez_22:28).
15. Rosenmuller traduz: “Eles deviam ter-se envergonhado por
causa de …” etc., “mas” etc. O verbo hebraico frequentemente expressa
não a ação, mas o dever de realizá-la (Gn_20:9; Ml_2:7). Maurer traduz:
“Serão envergonhados por ter cometido abominação; mais ainda (pois o
profeta se corrige), não têm vergonha” (Jr_3:3; 8:12; Ez_3:7; Sf_3:5).
cairão com os que caem — cairão com o resto de seu povo,
sentenciado a cair, isto é, Eu agora deixarei de palavras e executarei
vingança [Calvino].
16. Figura tomada dos viajantes que erraram o caminho, os quais se
detêm, e inquirem qual seja o caminho pelo qual tinham começado a
transitar e do qual se extraviaram.
veredas antigas — A idolatria e a apostasia são as sendas
modernas; o culto do verdadeiro Deus e a obediência a seus
mandamentos, as antigas. O mal não é coevo do bem, mas sim uma
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 44
moderna degeneração do bem. O abandono de Deus não é, propriamente
falando, “um caminho fácil” de seguir (Jr_18:15; Sl_139:24; Ml_4:4).
descanso — (Is_28:12; Mt_11:39).
17. atalaias — isto é, profetas, cujo dever era anunciar iminentes
calamidades, a fim de conduzir o povo ao arrependimento (Is_21:11;
Is_58:1; Ez_3:17; Hc_2:1).
18. congregação — paralelo de “nações”; esta frase significa, pois,
a reunião de todos os povos convidados a testemunhar sobre quão
grande é a perversidade dos israelitas (vv. 16, 17), e que merecem o
severo castigo que se lês vai infligir. Calvino].
19. (Is_1:2).
fruto dos seus pensamentos — (Pv_1:31).
rejeitam a minha lei — lit., “e (quanto à) minha lei, desprezaram-
na”. A mesma construção ocorre em Gn_22:24.
20. Lit., Que objeto tem para mim esse incenso que se me oferece?
incenso … cana aromática — (Is_43:24; Is_60:6). Deus não aceita
os atos externos se não ir acompanhados da obediência de coração e de
uma vida consagrada (Jr_7:21; Sl_50:7-9; Is_1:11; Mq_6:6, etc.).
aromática — Sua cana aromática cano não é aromática para mim.
É uma antítese. É o cálamo.
21. tropeços — instrumentos da ruína dos judeus (veja-se
Mt_21:44; Is_8:14; 1Pe_2:8). Deus mesmo os põe diante dos réprobos
(Sl_69:22; Rm_1:28; Rm_11:9).
pais e filhos … o vizinho e o seu companheiro — uma ruína geral.
22. da terra do Norte … confins da terra — Os antigos estavam
pouco familiarizados com o norte; daí, pois, que seja chamada a mais
remota das regiões (pois assim deve ter-se traduzido a voz hebraica que
se traduziu “confins”, veja-se nota, Is_14:13) da terra. É uma alusão aos
caldeus (Jr_1:15; 5:15). Surpreende o fato de se ameaçar os caldeus com
as mesmas calamidades que eles tinham infligido a Sião, como
retribuição por seu proceder por Jeová (Jr_50:41-43).
23. como o mar — (Is_5:30).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 45
como guerreiros ... batalha — não que fossem semelhantes a
guerreiros, pois na verdade o eram, mas sim “vestidos exatamente como
guerreiros” [Maurer].
24. sua fama — sua notoriedade.
25. Dirige-se à “filha de Sião” (v. 23); é uma advertência aos
cidadãos de Jerusalém para que não se exponham ao inimigo, saindo fora
dos muros da cidade.
o inimigo tem espada — lit., há uma espada para o inimigo; o
inimigo tem uma espada.
26. revolve-te na cinza — (Jr_25:34; Mq_1:10). Como eles quando
estavam de luto “lançavam cinza sobre a cabeça”, o revolver-se nela
significa algo mais que isso, pois se cobre tão completamente dela como
quem se pôs a rodar sobre ela (Ez_27:30).
como por filho único — (Am_8:10; Zc_12:10).
pranto de amarguras — lit., lamentação expressa mediante golpes
de peito.
27. acrisolador … fortaleza — (Jr_1:18), antes, “um acrisolador e
explorador”. Mediante uma metáfora tomada da metalurgia, Jeová, nos
vv. 27-30, confirma de maneira terminante o profeta em seu ofício, e este
resume a descrição do povo reprovado, entre o qual devia exercer o seu
ministério. A palavra hebraica traduzida na Valera “torre”, provém de
uma raiz que significa ensaio de metais. “Explorador” ou “fortaleza”, na
Versão Almeida, procede de uma raiz arábica que quer dizer “de olhar
penetrante”, ou de uma raiz hebraica que significa cortar, isto é, separar
o metal da escória [Ewald]. Gesênius traduz “fortaleza”, o que não
concorda com o precedente “acrisolador”.
28. rebeldes — lit., contumazes dos contumazes, quer dizer,
extremamente contumazes, que é o modo de expressar no hebraico o
superlativo. Assim “o forte entre os poderosos”, equivale a fortíssimo
(Ez_32:21). Veja-se Jr_5:23; Os_4:16.
andam espalhando calúnias — (Jr_9:4). “Andam de um lugar para
outro caluniando” [Maurer].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 46
são bronze — este e o “ferro”, sendo os metais mais vis e duros,
expressam o endurecido e obstinado caráter dos judeus (Is_48:4;
Is_60:17).
29. O fole bufa — tão intenso foi o fogo que por pouco ardem os
próprios foles. Rosenmuller não traduz tão bem de uma raiz hebraica que
significa “ofegar” ou “soprar”, que alude ao som dos foles, ao sopro com
força.
chumbo — empregava-se para separar a escória da prata, tal como
se faz agora com o mercúrio. Em outras palavras, fez-se todo o possível
para purificar Israel no forno da aflição, mas tudo foi em vão (Jr_5:3;
1Pe_1:7).
se consumiu com o fogo (RC) — No Quetib ou texto hebraico
“consumido” está suprido pelo precedente “se queimou”. Se se traduz
como Rosenmuller “resfolegar”, tal versão seria inadmissível; e a divisão
das palavras hebraicas do Keri (ou seja, a nota marginal do texto
hebraico) deverá se ler “foi consumido pelo fogo”, o qual é um
argumento em favor da versão “se queimou””.
o depurador — o refinador.
os iníquos não são separados — que responde à escória que não
contém nenhum metal bom para separá-lo, visto que tudo é escória.
30. Prata de refugo — é prata que contém tanta liga que resulta
completamente sem valor (Is_1:22). Os judeus não mereciam outra coisa
senão ser desprezados.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 47
Jeremias 7

Vv. 1-34. Capítulos 7-9. Pronunciado a Princípios do Reinado de


Jeoaquim, por ocasião de Alguma Festa Pública.
O profeta fala de pé na porta do templo, a fim de que as multidões
de camponeses possam ouvi-lo. Sua vida corre perigo, segundo se
depreende de Jr_26:1-9, por causa desta profecia, em que anuncia que a
mesma sorte de Siló ia sobrevir a Jerusalém. A profecia que se dá aqui
em detalhe está ali brevemente aludida. A nação, depois da morte de
Josias, devido à péssima influência de Jeoaquim, voltou a cair na
idolatria, cujas práticas se combinaram com o culto a Jeová (vv. 4, 10).
2. porta — isto é, a porta do átrio de Israel dentro do das mulheres.
Aqueles aos quais Jeremias se dirige penetravam pela porta que conduzia
ao átrio das mulheres, e pela porta que conduzia ao átrio exterior dos
gentios. (Daí a expressão “estas portas”).
3. vos farei habitar — vos permitirei ainda residir (Jr_18:11;
26:13).
4. Os judeus creem falsamente que porque seu templo tinha sido
escolhido por Jeová como sua peculiar habitação, jamais poderia ser
destruído. Há pessoas que pensam que as práticas cerimoniais equivalem
a substitutos da santidade (Is_48:2, Mq_3:11). A tríplice repetição de
“Templo do SENHOR” expressa a intensa confiança dos judeus (veja-se
Jr_22:29; Is_6:3).
este — O profeta assinala com o dedo para o edifício (v. 2).
5. justiça — juízo (Jr_22:3).
6. neste lugar — esta cidade e este país (v. 7).
para vosso próprio mal — assim o v. 19; “para confusão de seus
rostos” (Jr_13:10; Pv_8:36).
7. É a apódose de se … se” (vv. 5, 6).
habitar — farei que continuem morando.
para sempre — que devem unir-se com “habitar” e não com as
palavras “que dei a vossos pais” (veja-se Jr_3:18; Dt_4:40).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 48
8. que para nada vos aproveitam — Maurer traduz: “De sorte que
vós nada aproveitais” (veja-se v. 4; Jr_5:31)
9, 10. “Tereis que seguir roubando, etc., para logo vir e vos pôr
diante de mim?”
que não conheceis — Vocês não têm motivos de conhecer que
sejam deuses; pelo contrário, eu manifestei minha deidade, por minha
lei, pelos benefícios outorgados e pelos milagres feitos. Isto agravava o
seu delito [Calvino] (Jz_5:8).
10. vindes — E, entretanto, vêm (Ez_23:39).
Estamos salvos — ou seja de todas nossas iminentes calamidades.
Apesar das ameaças de profeta, nada temos a temer; oferecemos nossos
sacrifícios e, portanto, Jeová nos tem que “livrar”.
para continuardes a praticar estas abominações — ou seja, as
enunciadas no v. 9. Não é preciso conectar estas palavras com a frase
“Estamos salvos”, senão desta maneira: Ao vos apresentardes diante de
Mim nesta casa para oferecerdes vossos inúteis sacrifícios, perseguis
como desígnio o vos granjear o Meu favor para assim poder fazer
impunemente todas estas abominações? [Maurer].
11. covil de salteadores — Pensais que o Meu templo é o que os
ladrões creem ser sua guarida, ou seja, um asilo dentro do qual podereis
escapar ao castigo que mereceis por vossas abominações? (v. 10).
eu, eu mesmo, vi — isto é, que tratam a Minha casa como se fosse
covil de ladrões. Jeová quer dizer mais do que está expresso, ou seja: Eu
o vi, e o castigarei (Is_56:7; Mt_21:13).
12. ao meu lugar … em Siló — Deus fez com que Seu tabernáculo
fosse levantado em Siló, nos dias de Josué (Js_18:1; Jz_18:31); mas em
tempos de Eli, entregou a arca (que tinha estado em Siló) nas mãos dos
filisteus (Jr_26:6; 1Sm_4:10-11; Sl_78:56-61). Siló estava situado entre
Betel e Siquém, na tribo de Efraim.
no principio — o que quer dizer que Siló ultrapassava o templo em
antiguidade. Mas o favor de Deus não está ligado a localidades
(At_7:44).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 49
do meu povo Israel — Israel era o povo de Deus; entretanto, não
lhe perdoou quando se fez rebelde; pois tampouco perdoará agora a Judá,
por rebelar-se, mesmo quando tenha sido até agora o Seu povo.
13. de madrugada — o que envolve um infatigável zelo da parte
de Deus em Se mostrar solícito para com eles (v. 25; Jr_11:17;
2Cr_36:15).
14. que vos dei — e portanto, revogarei a doação (pois ainda é
minha, Lv_25:23), já que vós não cumpristes o único objetivo para o
qual foi dada: a promoção de minha glória.
Siló — Assim como deixei de habitar ali, trasladando o Meu templo
a Jerusalém, assim também deixarei de habitar neste último lugar.
15. vossos irmãos — filhos de Abraão tanto como vós.
posteridade de Efraim — Eles eram superiores a vós em número e
poderio, pois eram dez tribos, enquanto que vós sois apenas duas.
“Efraim”, por ser a tribo principal, representa o conjunto das dez
(2Rs_17:23; Sl_78:67-68).
16. Quando o povo é entregue como castigo judicial à dureza de
coração, a oração intercessora em seu favor resulta ineficaz (Jr_11:14;
14:11; 15:1; Êx_32:10; 1Jo_5:16).
17. Jeová deixa que o próprio Jeremias decida, não havia boas
razões para que Deus não ouça as orações em favor de tais rebeldes?
18. os filhos … os pais … as mulheres — não praticavam a
idolatria indivíduos isolados, mas sim jovens e anciãos, homens e
mulheres e famílias inteiras se mancomunavam para fomentá-la. Tomara
que mostrassem o mesmo zelo pelo culto de Deus que aquele que
mostravam para promover o erro! (Jr_44:17, 19; 19:13).
bolos à Rainha dos Céus — As tortas eram feitas com mel, flor de
farinha, etc., de forma plana e redonda para as assemelhar ao disco da
lua, em honra da qual se ofereciam. Outros leem, como a margem:
armação do céu, ou seja, os planetas em geral; também a LXX aqui; mas
em outras partes traduz “rainha dos céus”. Os fenícios chamavam a lua
Astarote ou Astarte, a mulher de Baal ou Moloque, o rei dos céus. O
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 50
casal formado por ambas as deidades simbolizavam as forças geradoras
da natureza: daí proveio a introdução da prostituição como parte do
culto. Os babilônios a adoravam como Mylitta, isto é, a geradora. Nossa
segunda-feira indica a primitiva prevalência do culto da lua (Nota,
Is_65:11).
para me provocarem à ira — o que envolve desígnio: ao adorar a
deuses estranhos pareceria que perseguiam o propósito de provocar a
Jeová.
19. Não é a Mim a quem eles provocam à ira? Não é, antes, a eles
mesmos? (Dt_32:16, Dt_32:21; Jó_35:6, Jó_35:8; Pv_8:36).
20. animais … árvores … da terra — Por que derramou Deus Sua
ira sobre esses elementos? Por causa do homem, para quem foram
criados, a fim de que tão triste espetáculo pudesse lhe infundir terror
(Rm_8:20-22).
21. Ajuntai os vossos holocaustos … comei carne —
Acrescentem os primeiros (que a lei exigia que fossem totalmente
consumidos pelo fogo) aos últimos (que eram consumidos só em parte) e
“comam carne”, até a dos holocaustos. Quanto a Mim, diz Jeová, podem
fazer o mesmo com a uma e com a outra. Eu não quero nem uma nem
outra (Is_1:11; Os_8:13; Am_5:21-22).
22. Estas palavras não estão em contradição com a obrigação divina
dos sacrifícios legais. Mas “Eu não exijo sacrifícios salvo se estiverem
acompanhados pela obediência moral aos Meus preceitos” (Sl_50:8;
Sl_51:16-17). A suprema demanda do cumprimento dos preceitos morais
da lei, mais que os preceitos positivos, estava assinalada pelos dez
mandamentos, dados no princípio, e pelas duas tábuas de pedra, as
únicas depositadas na arca (Dt_5:6). A negação no hebraico supre com
frequência a falta do comparativo, sem excluir a coisa negada, antes só
indica que a afirmação precedente da coisa negada está à maneira de
contraste (Os_6:6): “Misericórdia quero e não sacrifício” (1Sm_15:22).
O amor a Deus é o fim supremo, e as observâncias exteriores são tão
somente os meios para a obtenção desse fim. “O mero sacrifício não foi
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 51
tanto o que Eu mandei, quanto a sincera submissão à Minha vontade.
que comunica ao sacrifício toda a sua virtude”. [Magee, Atonement,
Nota, 57].
23. (Êx_15:26; Êx_19:5).
24. não deram ouvidos — Não me prestaram a menor atenção
(Sl_81:11-12).
seus próprios conselhos — antes, em “sua obstinação”.
para trás — (Jr_2:27; 32:33; Os_4:16).
25. de madrugada — (v. 13).
26. endurecestes a cerviz — Dt_31:27; Is_48:4; At_7:51).
pior do que seus pais (RC) — (Jr_16:12). No v. 22, ele havia dito
“vossos pais”; aqui diz “seus pais”; a passagem à terceira pessoa assinala
o progressivo afastamento deles. Ele já não se dirige a eles mesmos, pois
equivaleria a um esbanjamento de palavras no caso de tão endurecidos
rebeldes.
27. Dir-lhes-ás, pois — antes, “Embora fales, contudo, eles não te
escutarão” [Maurer]. (Ez_2:7). É esta uma dura prova para a fé do
profeta; embora ele soubesse que as suas admoestações seriam
desatendidas, contudo, as faz, em obediência a Deus.
28. Dir-lhes-ás — isto é, com referência a eles.
a nação — a palavra aplicada geralmente às nações gentílicas, aqui
se aplica aos judeus, como abandonados e classificados por Deus entre
os gentios.
não aceita a disciplina — (Jr_5:3).
pereceu a verdade (RC) — (Jr_9:3).
29. Jeremias dirige a palavra a Jerusalém sob a figura de uma
mulher que presa da dor causada pela perda de seus filhos, priva a sua
cabeça de seu melhor ornamento, e vai à serrania a chorá-los (Jz_11:37-
38; Is_15:2).
cabelos — os flutuantes cachos de cabelo, semelhantes aos de um
nazireu.
os altos — o cenário de sua idolatria será o de seu luto (Jr_3:21).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 52
a geração objeto do seu furor — a geração com a qual está irado
(assim Is_10:6; “o povo de minha ira”).
30. puseram os seus ídolos abomináveis na casa — (Jr_32:34;
2Rs_21:4, 2Rs_21:7; 2Rs_23:4; Ez_8:5-14).
31. os altos de Tofete — os altares de Tofete [Horsley], erigidos a
Moloque sobre os altos do Sul do vale que olhe para com Sião.
queimarem a seus filhos — (Sl_106:38).
o que nunca ordenei — pelo contrário, o proibi expressamente
(Dt_17:3; Dt_12:31). Veja-se o Jr_2:23; Is_30:33; Notas.
32. vale da Matança — chamado assim por causa da grande
matança de judeus que se ia efetuar em Jerusalém, como justa retribuição
de seu pecado de ter matado a seus filhos em honra de Moloque em
Tofete.
por não haver outro lugar — para enterrá-los, tantos serão os
mortos pelos caldeus (Jr_19:11; Ez_6:5).
33. os espante — afugentando-os (Dt_28:26). Isso seria tipo da
grande batalha entre as hostes de Jeová e os apóstatas (Ap_19:17-18,
Ap_19:21).
34. Refere-se aos alegres cantos e à música com que eram
escoltados a noiva e o noivo pelo cortejo que se dirigia da casa daquela a
deste, costume que se segue ainda no Oriente (Jr_16:9; Is_24:7-8;
Ap_18:23).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 53
Jeremias 8

Vv. 1-22. O Futuro Castigo dos judeus. Sua Geral e Incurável


Impenitência.
1. Os vitoriosos babilônios estavam prestes a violar os santuários
dos mortos para saqueá-los; pois os reis eram sepultados com os
ornamentos, as jóias e as insígnias da realeza. Antes, talvez o seu
propósito fosse fazer aos mortos a maior desonra (Is_14:19).
2. espalhá-los-ão ao sol — retribuição na mesma moeda. Os
mesmos objetos empregados em seus atos idolátricos seriam
testemunhas impassíveis de sua desonra.
tinham amado … serviram, e após quem tinham ido … se
tinham prostrado — as palavras se acumulam, como se não se tivesse
dito bastante a respeito do louco ardor de seu idolátrico culto tributado
aos corpos celestes (2Rs_23:5).
nem sepultados — (Jr_22:19).
esterco — (Jr_9:22; Ap_83:10).
3. Os sobreviventes estarão pior ainda que os mortos (Jó_3:21-22;
Ap_9:6).
nos lugares para onde os dispersei — “em todos os lugares para
onde conduzirei os que restarem” [Maurer].
4. “Não é instintivo no homem, se cair, levantar-se, e se se
extraviar, voltar ao ponto onde começou a extraviar-se? Por que
Jerusalém não faz isso mesmo?” O jogo com o duplo sentido da palavra
voltar, o literal e o metafórico (Jr_3:12; 4:1).
5. rebelde com rebeldia perpétua — antes, pois o hebraico diz o
mesmo que o v. 4, ao qual este se refere: “desviou-se com perpétuo
desvio”.
continuamente — em contraste com o “levantar-se”.
não quer voltar — em contraste com “não torna a voltar?” (v. 4;
Jr_5:3).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 54
6. não falam o que é reto — isto é, não falam como penitentes que
confessam que têm feito o mal. Compare-se com o que segue.
Cada um corre a sua carreira — O Keri diz carreira mas o
Quetib, carreiras. “Perseveram nas carreiras em que entraram”. Seus
perversos caminhos foram diversos.
como um cavalo que arremete — lit., que se arroja como a água
que tem quebrado a represa que a continha. A louca rapidez do cavalo de
guerra é o ponto de comparação (Jó_39:19-25).
7. O instinto das aves migratórias as conduz com infalível
regularidade a voltar cada primavera dos países onde passaram o inverno
aos climas estivais (Ct_2:12); mas o povo de Deus não quer voltar-se a
Ele, mesmo quando o inverno de Sua ira passou, e Ele os convida a
voltar para a primavera de Seu favor.
no céu — expressão enfática. As aves, cujo verdadeiro elemento é
o ar, no qual nunca estão imóveis, demonstram, entretanto, uma
invariável sagacidade, coisa que o povo de Deus não demonstra.
o tempo — isto é, o de seu migração, e o de seu retorno.
mas o meu povo — este honroso título agrava a antinatural
perversidade dos judeus para com o seu Deus.
não conhece — (Jr_5:4, 5; Is_1:3).
8. a lei … conosco — (Rm_2:17). Os judeus, possuindo a lei, da
qual se orgulhavam, poderiam ter sido a mais sábia das nações; mas a
inobservância de seus preceitos, resultou ser uma lei dada “em vão”, com
respeito a eles.
escribas — os copistas, isto é, em vão se multiplicaram as cópias.
Maurer traduz: “A falsa pena dos escribas a converteu (à lei) numa
mentira”. Veja-se a margem da Versão Inglesa, que concorda com a
Vulgata.
9. serão envergonhados — foram confundidos.
que sabedoria é essa que eles têm? — lit., a sabedoria do que?;
isto é, sabedoria em que sentido? A palavra de Deus é a única e
verdadeira fonte de sabedoria (Sl_119:98-100; Pv_1:7; Pv_9:10).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 55
10-12. É a repetição de Jer_6:12-15. Uma repetição semelhante
pode ver-se no v. 15; Jr_14:19.
a novos possuidores — a quem quer que caiba empossar-se delas.
11. (Ez_13:10).
13. Eu os consumirei — lit., juntando os juntarei, ou consumindo
os consumirei.
não haverá uvas … nem figos — (Jl_1:7; Mt_21:19).
já lhes designei os que passarão sobre eles — antes: Eu lhes
designarei os que os afligirão (oprimindo-os); quer dizer, suscitar-lhes-ei
um inimigo que os subjugará [Maurer]. A Versão Inglesa concorda com
o contexto: Embora suas uvas e figos amadureçam, não lhes será
possível desfrutá-los.
14. Reuni-vos — para a defesa.
e ali estejamos calados (RC) — não assaltemos o inimigo, antes
nos defendamos silenciosamente até que a tormenta tenha passado.
nos fez calar (RC) — nos trouxe para tal estado que já não
podemos resistir ao inimigo; o que indica calado desespero.
água venenosa — lit., água de planta venenosa, possivelmente a
papoula (Jr_9:15; 23:15).
15. Repete-se em Jr_14:19.
Espera-se a paz — devido à esperança infundida pelos falsos
profetas.
o tempo da cura — isto é, de recuperação da adversidade.
16. Desde Dã — situada na fronteira de Fenícia. Esta devia ser a
rota que devia seguir Nabucodonosor para invadir a Israel; a cavalaria,
avançando diante da infantaria, arrasaria o país.
se ouve — o passado profético pelo futuro.
dos seus cavalos — dos caldeus.
dos seus fortes (ACF, RC) — frase poética, por seus corcéis,
peculiar em Jeremias (Jr_47:3; veja-se Jr_4:13, 29; Jr_6:23).
17. envio — Jeová.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 56
serpentes — basiliscos (Is_11:8), isto é, inimigos cujo destrutivo
poder, de modo algum se pode rebater nem pela persuasão nem por
nenhum outro meio. No Oriente, os encantados de serpentes encantam
esses ofídios com certo ar musical e, mediante uma particular pressão
que lhes fazem sobre o pescoço, os inabilitam para morder (Sl_58:4-5).
18. (Is_22:4). A lamentação do profeta motivada pela iminente
calamidade que sobrevirá ao país.
minha tristeza — ou, com relação à dor. Maurer traduz: “Ó meu
regozijo referente à minha dor”; quer dizer, “Ó se o regozijo (o consolo,
de uma raiz arábica que significa brilhar como o sol nascente) brilhará
sobre mim (para que mitigasse) a minha dor!”
19. O profeta ouve numa visão o clamor dos judeus deportados, e se
maravilha de que Deus os tivesse entregue ao inimigo, sendo ele o Rei
de Sião, que habita nela. (Mq_3:11). Deus responde na segunda metade
do versículo, que a causa disso não foi porque Ele faltasse com Sua
fidelidade, mas pela idolatria deles.
de terra mui remota — antes, “de uma terra de distâncias”; quer
dizer, uma terra distante (Is_39:3). A Versão Inglesa entende que o grito
é dos judeus, lançado em sua própria terra, por causa do inimigo que
vem de seu longínquo país.
inúteis deuses estrangeiros (NVI) — deuses estranhos.
20. É uma expressão proverbial. Seu significado é: A estação da
esperança passou vez após vez, mas a esperada libertação jamais chegou,
e agora se desvaneceu toda esperança.
21. Estou quebrantado — com o semblante triste e o coração
aflito (Jl_2:6).
22. bálsamo — para aplicá-lo às feridas de meu povo. Foi levado
pela primeira vez da Arábia Feliz a Judeia, pela rainha de Sabá, na época
de Salomão (Josefo, Antiguidades, 8:2). É o opobálsamo de Plínio; ou,
antes, segundo Bochart, a resina extraída do terebinto. Abunda em
Gileade, a leste do Jordão, onde, como resultado, estabeleceram-se
muitos “médicos” (Jr_46:11; 51:8; Gn_37:25; Gn_43:11).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 57
cura — o hebraico diz lit., Por que não subiu nenhum
desenvolvimento..?; daí a longa bandagem usada em enfaixar a ferida.
Assim também o arábico. [Gesênius].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Jeremias 9

Vv. 1-26. Lamentação de Jeremias pelos Pecados dos judeus e o


Resultante Castigo.
1. Este versículo ficaria melhor unido ao capítulo precedente, pois o
hebraico faz parte dele como o v. 23 (veja-se Is_22:4; Lm_2:11;
Lm_3:48).
2. uma estalagem de caminhantes — uma estalagem de caravanas
ou grupo de viajantes no deserto, afastado de populações. Este era um
edifício quadrado que encerrava um curral. Apesar de ser este um lugar
solitário e sujo, Jeremias o teria preferido aos confortos de Jerusalém, a
fim de afastar-se das contaminações da capital (Sl_55:7-8).
3. a língua … seu arco … a mentira — isto é, lançavam suas
mentiras quais setas de arco: colocavam-nas sobre a língua como se
coloca a flecha no arco (Sl_64:3-4).
fortalecem-se ... mas não para a verdade — (Jr_7:28). Maurer
traduz: “Não sobressaem pela verdade”, ou a fidelidade (Sl_12:4). Sua
língua, não a fidelidade, é a sua arma.
na terra — antes, “no país”.
e não me conhecem — (Os_4:1).
4. todo irmão não faz mais do que enganar — lit., dá a rasteira
(Os_12:3).
anda caluniando — (Jr_6:28).
5. cansam-se de praticar a iniquidade — tomam penosas
dificuldades para agir perversamente [Maurer]. O pecado é uma dura
servidão (Hc_2:13).
6. Vivem no meio da falsidade — Deus Se dirige a Jeremias que
habitava no meio de homens enganosos.
recusam conhecer-me — sua ignorância de Deus é voluntária (v.
3; Jr_5:4, 5).
7. eu os acrisolarei e os provarei — enviando-lhes calamidades.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 59
porque de que outra maneira procederia eu com a filha do meu
povo? — “Que mais posso eu fazer pela filha de meu povo?” [Maurer].
(Is_1:25; Ml_3:3).
8. Flecha mortífera … a língua — antes, “uma flecha mortífera”
[Maurer]; (v. 3).
com a boca fala cada um de paz … no seu interior ... ciladas —
põe suas emboscadas [Henderson] (Sl_55:21).
9. (Jr_5:9, 29).
10. Jeremias interrompe as ameaças da ira de Jeová com uma
lamentação por seu desolado país.
montes — em outro tempo cultivados e frutíferos: os declives das
colinas se cultivavam mediante terraplenagens entre as rochas.
pastagens do deserto — antes, “a prazenteira ervagem (lit., as
partes escolhidas de uma coisa) da planície de pastoreio”. O deserto, no
hebraico não envolve a ideia de um terreno estéril, mas sim uma planície
não cultivada, apta para o gado pastar.
já estão queimadas — porque não houve quem as regasse, porque
todos os habitantes as abandonaram.
e ninguém passa por elas — muito menos quem as habitasse.
as aves dos céus — (Jr_4:25).
11. E (RC) — Omita-se o E [a RA já omitiu]. Jeová continua aqui
seu discurso do v. 9.
montões — (Nota, Is_25:2).
dragões (RC) — chacais [RA].
12. Quem é o homem sábio … etc. — Quer dizer, aquele que tenha
sabedoria inspirada (2Pe_3:15) compreenda isto (pese bem os males
iminentes e as causas porque o enviam); e aquele a quem a boca de
Jeová falou (isto é, quem quer que esteja profeticamente inspirado)
declare a seus compatriotas o que foi revelado, se por acaso talvez se
arrependam, pois nisso reside a única esperança de viver seguros.
13. Resposta à pergunta “por que razão pereceu a terra?” (v. 12).
14. (Jr_7:24).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 60
baalins — plural de Baal para expressar seus pretendidos múltiplos
poderes. Córsega
como lhes ensinaram os seus pais — (Gl_1:14; 1Pe_1:18). Nós
não temos que seguir nos erros de nossos pais, antes acatar a autoridade
da Escritura e de Deus [Jerônimo].
15. alimentarei este povo — (Jr_8:14; 23:15; Sl_80:5).
16. nem eles nem seus pais conheceram — alusão ao v. 14, “como
lhes ensinaram os seus pais”, a idolatria; por conseguinte, os filhos serão
espalhados por terras que nem seus pais nem eles conheceram.
e enviarei a espada após eles — nem mesmo na fuga estarão
seguros.
17. carpideiras — pagas para que prorrompessem em agudas
lamentações, mediante doloridos gritos, golpes no peito, o seio
descoberto e dando golpes nos braços e com os cabelos desgrenhados
(2Cr_35:25; Ec_12:5; Mt_9:23).
hábeis — as peritas em lamentar.
18. (Jr_14:17).
19. Os gritos das carpideiras”.
estamos arruinados — nos deixaram desolados.
nossas moradas — cumprindo-se assim Lv_18:28; Lv_20:22.
Calvino traduz: “O inimigo derrubou nossas habitações”.
20. pois — antes, somente [Henderson]. Esta partícula chama a
atenção ao que se segue.
ensinai … filhas — Serão tantos os mortos que haverá escassez de
carpideiras para lamentá-los. Por conseguinte, as mães devem ensinar a
suas filhas essa arte, para suprir sua falta.
21. a morte … pelas nossas janelas — Os sanguinários soldados
ao achar fechadas as portas, irrompem pelas janelas.
exterminou das ruas as crianças — Não quer dizer que a morte
penetrará pelas janelas para destruir as crianças nas ruas, mas que os
corta de tal maneira que já não brincam mais nas ruas (Zc_8:5).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 61
22. Assim diz o SENHOR — Continuação do fio do discurso
desde o v. 20.
esterco — (Jr_8:2).
gavela … não … quem a recolha — significando que o molho foi
tão pisoteado que nem sequer merece que o pobre o recolha. Ou
possivelmente se refira ao costume do Oriente, de ir um trabalhador
braçal cortando o trigo, seguido por outro que o recolhe. Esse grão não
valerá a pena de que ninguém o recolha. Quão amargo seria para o
orgulho dos judeus ouvir que seus cadáveres seriam desdenhosamente
pisados pelos pés dos inimigos!
23. sabedoria — sagacidade política. Como se isso o pudesse
livrar das iminentes calamidades.
força — ou arrojo militar.
24. Nada salvará a nação a não ser o conhecimento experimental da
vontade de Deus.
compreender-me (NVI) — teoricamente, com o intelecto.
conhecer-me (NVI) — praticamente, de maneira que andem nos
Meus caminhos (Jr_22:16; Jó_22:21; 1Co_1:31).
e faço misericórdia — A misericórdia é colocada no primeiro e
mais proeminente lugar, porque sem ela teríamos que fugir de Deus,
sobressaltados pelo temor e o desespero.
juízo ... justiça — benigno para com os piedosos; juízo para os
ímpios; justiça, a mais perfeita equidade em todos os casos [Grocio]. A
fidelidade em todas as Suas promessas para preservar o piedoso, como
também a severa execução de juízo sobre o ímpio estão compreendidos
na “justiça”.
na terra — o que é contrário ao dogma de alguns filósofos, de que
Deus não intervém nos assuntos terrestres (Sl_58:11).
porque destas coisas me agrado — tanto o fazê-las como o ver
outros fazê-las (Mq_6:8; Mq_7:18).
25. castigarei … incircuncisos — “Castigarei a todos os que estão
circuncidados em incircuncisão” [Henderson]. A palavra hebraica é
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 62
termo abstrato, não concreto, como o traduz a Versão Inglesa e como o é
o piedoso “circuncidado”. As nações especificadas: Egito, Judá, etc.,
estavam exteriormente “circuncidadas”; mas em seu coração eram
“incircuncisas”. As nações pagãs, a despeito de sua literal circuncisão,
mancharam-se com a idolatria. Os judeus, não obstante glorificar-se em
seus privilégios espirituais, não foram melhores (Jr_4:4; Dt_10:16;
Dt_30:6; Rm_2:28-29; Cl_2:11). Entretanto, a passagem de Ez_31:18;
Ez_32:19, pode dar a entender que os egípcios eram incircuncisos; e
quanto às outras nações mencionadas, é duvidoso que naqueles
primitivos tempos fossem circuncidados. Heródoto diz que os egípcios o
eram; enquanto que outros creem que isto só se referia aos sacerdotes e a
outros que tinham caráter sagrado, não à massa da nação; daí pode ser
que a Versão Inglesa esteja correta (Rm_2:28, 29).
26. Egito — posto primeiro para degradar a Judá, a qual, embora
superior em privilégios aos gentios, veio a ser inferior a eles por sua
infidelidade. O Egito, também, era a potência em que tanto estavam
acostumados a confiar os judeus, e por cuja instigação eles, assim como
as demais nações especificadas, rebelaram-se contra Babilônia.
todos os que cortam os cabelos nas têmporas — antes, “que têm
o cabelo barbeado ou cortado ao corte de barba em ângulos”, isto é, que
têm a barba das bochechas estreitada ou cortada. Era um costume
cananeu, proibido aos israelitas (Lv_19:27; Lv_21:5). Isto se refere aos
árabes (veja-se Jr_25:23; 49:32), como o manifestam as palavras em
aposto: “que habitam no deserto” (RC).
são incircuncisas … incircuncisa de coração — O agregado “de
coração”, no caso de Israel, indica que em proporção a seus grandes
privilégios, sua culpa é maior comparada com a do resto.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 63
Jeremias 10

Vv. 1-25. Contraste Entre os Ídolos e Jeová. Lamentação e Oração


do Profeta.
1. Israel — Os judeus, os representantes sobreviventes da nação.
2. Eichorn pensa que a alusão que se faz aqui é a algum portento
celeste que tinha aparecido por esse tempo, semeando o espanto entre os
judeus. É provável que a alusão compreenda principalmente os caldeus,
famosos como astrólogos, os quais por sua relação com os judeus,
induziram a estes a incorrer na mesma superstição.
caminho — os preceitos ou mandamentos (Lv_18:3; At_9:2).
sinais dos céus — Os gentios não reconheciam a Primeira Grande
Causa: muitos deles criam que os eventos dependiam do influxo das
estrelas, as quais, conforme opinavam alguns, como Platão, estavam
dotadas de espírito e razão. Na expressão se acham inclusos todos os
fenômenos celestes: eclipse, cometas, etc.
3. cortam ... madeiro — melhor, “cortam uma árvore do bosque”,
que é no que eles se ocupam; eis aí uma amostra de seus costumes
[Maurer].
4. com pregos e martelos o fixam, para que não oscile — ou seja,
para que se mantenha direito e não caia, coisa que o deus faria, se se
deixasse libertado a si mesmo (Is_41:7).
5. palmeira (RC) — ou “Os torneiam, dando-lhes figura de
palmeira” [Maurer]. O ponto de comparação do ídolo com a palmeira
está na semelhança vertical desta última com um pilar, e em que não tem
ramas senão na parte superior.
não podem falar — (Sl_115:5).
não podem andar — (Sl_115:7; Is_46:1, Is_46:7)
não ... e não está neles o fazer o bem — (Is_41:23).
6. Ninguém há — lit., nem uma partícula de nada: nada
absolutamente; é a negação mais forte possível (Êx_15:11; Sl_86:8,
Sl_86:10).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 64
7. (Ap_15:4).
isto é a ti devido — a ti propriamente pertence, ou seja, que você
deve ser “temido” (tirado do precedente “te não temeria”) (veja-se
Ez_21:27). Só Ele é o objeto próprio de adoração. Adorar a outro é
impróprio e ao mesmo tempo uma infração da Sua inalienável
prerrogativa.
ninguém há — nenhum absolutamente (Nota, v. 6; Sl_89:6).
8. todos — antes, todos igualmente [Maurer]. Até os chamados
“sábios” entre os gentios (v. 7) encontram-se ao mesmo nível dos brutos
e os parvos, pois fazem a vista grossa à idolatria (Rm_1:21-28). Daí que
em Daniel e Apocalipse a potência mundial esteja representada por uma
figura bestial. O homem, ao cortar sua relação com Deus, despoja-se de
sua verdadeira humanidade e desce ao nível do bruto (Sl_115:8; Jn_2:8).
seu ensino é vão … pedaço de madeira — O lenho (pelo culto de
todos os ídolos sem exceção, feitos de um tronco) fala por si mesmo de
que todo o mecanismo da idolatria é vaidade (Is_44:9-11). Castalio
traduz: “A própria madeira se encarrega de confutar a vaidade” (do
ídolo).
9. Tudo que tem relação com os ídolos é o resultado do esforço
humano.
prata batida — (Notas, Is_30:22; Is_40:19).
Társis — É a Tartessus, situada na Espanha, famosa por seus
metais preciosos.
Ufaz — (Dn_10:5). Como a LXX na margem da Hexapla síria do
Teodato e as versões síria e caldeia têm Ofir, Gesênius opina que Ufaz é
corrupção vulgar de Ofir, devido à mudança de uma só letra. Ofir, em
Gn_10:29, menciona-se entre os países árabes. É provável que o país
aludido seja Malaca, pois os nativos dela ainda chamam Ofires a suas
minas de ouro. Heeren opina que Ofir é o nome geral dado aos ricos
países meridionais situados nas costas da Arábia, da África e da Índia, à
semelhança de nossa denominação das Índias ocidentais (as Antilhas).
homens hábeis — obra de arte.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 65
10. o SENHOR … a verdade (RC) — na realidade de sua
essência, como oposta à “vaidade” ou a vacuidade dos ídolos (vv. 3, 8,
15; 2Cr_15:3; Sl_31:5; 1Jo_5:20).
Deus vivo — (Jo_5:26; 1Tm_6:17). Ele possui a vida em Si
mesmo, coisa que nenhuma criatura a tem. Tudo o mais “vive nele”
(At_17:28); o que está em contraste com os ídolos, carentes de vida.
eterno — (Sl_10:16), por via de contraste com a existência
temporal de todos os outros objetos de culto.
11. Este versículo está em caldeu. De modo que Jeremias
proporciona a seus compatriotas uma fórmula de resposta aos idólatras
caldeus em língua mais inteligível para estes. Possivelmente haja
também nisso uma imitação burlesca de seu bárbaro dialeto.
Rosenmuller objeta a esta opinião que não só estão em caldeu as
palavras que Jeremias põe em boca dos israelitas, mas também as que ele
usa em sua introdução: “Assim lhes direis”; e opina que são uma glosa
marginal. Mas a passagem se acha em todas as versões. Havia um antigo
dito grego que dizia: “Quem quer que se tem a si mesmo por Deus …
faça outro mundo” (Sl_96:5).
os céus — aquele que falava deveria assinalar com o dedo rumo ao
céu.
desaparecerão — (Is_2:18; Zc_13:2).
12. Continuação do v. 10, depois da interrupção do fio do discurso
no v. 11 (Sl_136:5-6).
13. Lit., “À voz de sua publicação”, isto é, quando troveja
(Jó_38:34; Sl_29:3-5).
águas — (Gn_1:7) sobre o firmamento; fortes chuvas acompanham
o trovão.
sobem os vapores — (Sl_135:7).
14. se tornou estúpido — “torna-se um bruto com sua arte”, ou
seja, a de fazer ídolos (vv. 8, 9). Desta maneira, o paralelo corresponde
com “envergonhe-se de sua vacuidade” (assim Jr_51:17). Outros,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 66
embora não tão bem, traduzem: “sem conhecimento”, ou seja, de Deus
(veja-se Is_42:17; Is_45:16; Os_4:6).
15. obra ridícula — enganos. De uma raiz hebraica que significa
gaguejar; logo significa mofar-se.
seu castigo — Quando Deus castigar os idólatras (por meio de
Ciro), os próprios ídolos serão destruídos [Rosenmuller] (v. 11).
16. Não é semelhante a estas — Não como os ídolos, um vão
objeto de confiança (Dt_32:31).
a Porção — de uma raiz hebraica cujo significado é “dividir”. Deus
é o todo-suficiente Bem do Seu povo (Nm_18:20; Sl_16:5; Sl_73:26;
Lm_3:24).
ele é o Criador de todas as coisas — O Formador como um oleiro
(Is_64:8), do universo.
a tribo da sua herança — a parte assinalada como Sua herança
pela vara de medir (Ez_48:21). Assim como Ele é a Porção deles, assim
o são eles dEle (Dt_32:9). Quer dizer, que é um laço recíproco (cf.
Jr_51:19; Sl_74:2, margem da V. I.). Outros fazem com que a vara se
refira ao cetro tribal.
17. mercadoria — seus efeitos ou bens móveis (Ez_12:3).
Preparem-se para emigrar como cativos para Babilônia. Estas palavras
estão dirigidas a Jerusalém, como representante de todo o povo.
moras em lugar sitiado — melhor, moradora da fortaleza. Embora
pareça que habita numa inexpugnável fortaleza, contudo, tem que ser
trasladada. “As terras” são as regiões do campo, por oposição às
“cidades fortificadas”. Tomado o “lugar forte”, todo o campo participará
do desastre. Henderson traduz: “Recolhe do solo suas confusões”.
Rosenmuller, por “lugar forte”, traduz “sítio”; quer dizer, a cidade
sitiada. Segundo esta opinião, supõe-se que os diversos artigos
encontram-se desordenados pelo solo durante o sítio.
18. desta vez — Neste tempo, agora.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 67
arrojarei para fora — o que expressa o violento e repentino do
traslado a Babilônia. Um quadro semelhante apresenta-se em Jr_16:13;
1Sm_25:29; Is_22:17,
18. para que venham a senti-lo — por experiência, isto é, que o
sintam (Ez_6:10). Michaelis traduz: “Lançá-los-ei (como com funda)
para que alcancem à meta” (Babilônia). A Versão Inglesa o verte
melhor: “Para que vejam que é assim como Eu disse” (Nm_23:19;
Ez_6:10).
19. A Judeia lamenta sua calamidade.
minha ferida — o golpe que sofri.
tenho de suportá-lo — não se trata de uma humilde submissão à
vontade de Deus (Mq_7:9), mas sim de áspera impenitência. Ou antes, é
profecia de seu final reconhecimento de que suas culpas são a causa de
sua calamidade (Lm_3:39).
20. tenda foi destruída — metáfora tirada das tendas dos nômades;
pois estas se desarmam em uns instantes, sem que fique vestígio algum
delas. Assim ocorreu com a Judeia (Jr_4:20).
cordas — com as quais se estendem e asseguram as tendas.
lonas — as das tendas.
21. pastores — isto é, os governantes civis e religiosos. Este
versículo expressa a causa da iminente calamidade.
22. rumor — o rumor da invasão. Esta antítese contrapõe a voz de
Deus em Seus profetas, a qual eles se mostraram surdos, ao grito do
inimigo, qual novo mestre a quem terão que escutar [Calvino].
terra do Norte — Babilônia (Jr_1:15).
23. Perdida a esperança de influir no povo, volta-se para Deus.
não cabe ao homem determinar o seu caminho — (Pv_16:1;
Pv_20:24; Tg_4:13-14). Eu sei, ó Jeová, que a marcha do conquistador
babilônio contra mim (Jeremias se identifica com o povo) não depende
de seu arbítrio, mas sim está governado por Ti. (Is_10:5-7; veja-se v.
19).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 68
que caminha — quando caminha, isto é, quando se propõe
empreender algo.
o dirigir os seus passos — para obter próspero evento (Sl_73:23).
24, 25. Visto que Minha nação deve ser corrigida (pois a justiça o
requer por causa da enorme culpa da nação), Eu não desaprovo todo o
seu castigo, mas só peço que seja moderado (Jr_30:11; Sl_6:1; Sl_38:1);
e que a plenitude do Teu furor se derrame sobre os pagãos invasores, por
sua crueldade para com Teu povo. Cf. o Sl_79:6-7, que deve referir-se ao
tempo do cativeiro, cujo autor repetiu isto tomando-o de Jeremias. O
imperativo “derrama” usa-se em lugar do futuro, para expressar
vividamente a certeza da predição, e que a própria palavra de Deus
efetua suas próprias declarações. De conformidade com ela, os judeus
foram restaurados depois de serem corrigidos; os babilônios tiveram que
ser completamente extintos.
não te conhecem … não invocam o teu nome — o conhecimento
de Deus é o princípio da piedade; invocá-lo, é o fruto.
devoraram a Jacó — Lembra a Deus da distinção que Ele mesmo
fez o Seu povo, ao qual Jacó representa, e os pagãos estrangeiros.
Corrige-nos como a Teus filhos adotivos, descendentes de Jacó; e
destrói-os como a desprezados (Zc_1:14-15, Zc_1:21).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 69
Jeremias 11

Vv. 1-23. Epítome da Aliança Achada no Templo no Reinado de


Josias. Judá o Desobedece. A Resultante Ira de Deus por Causa Disso.
2. Ouve — Havia outros além de Jeremias que deviam promulgar a
vontade de Deus ao povo; os sacerdotes tinham o dever de ler a Lei para
eles (Ml_2:7).
desta aliança — alusão ao livro da Lei achado no templo pelo
sumo sacerdote Hilquias, cinco anos depois da chamada de Jeremias ao
ministério profético (2Rs_22:8 a 23:25).
3. (Dt_27:26; Gl_3:10).
4. no dia — isto é, quando a aliança sinaítica foi celebrada algum
tempo depois do êxodo, mas estão vinculados de tal maneira os dois
eventos que se consideram como um.
fornalha de ferro — (Dt_4:20; 1Rs_8:51). “Fornalha” expressa
uma severa prova; “ferro”, sua longa duração. A fornalha era de terra,
não de ferro (Sl_12:6); uma fornalha com calor e duração suficiente para
derreter até o ferro. A libertação deles de tal prova agrava sua presente
culpa.
fazei tudo segundo o que vos mando — isto é, as palavras da
aliança (v. 3).
assim, vós me sereis, etc. — (Lv_26:3, Lv_26:12).
5. juramento — (Sl_105:9-10).
como se vê neste dia — Estas são as palavras terminantes de Deus
dirigidas aos israelitas quando os tirou da terra do Egito: “Obedecei, etc.,
para que vos possa cumprir neste tempo a promessa que fiz a vossos
pais, etc., de lhes dar” etc. [Maurer]. A Versão Inglesa faz com que as
palavras sejam aplicáveis ao tempo de Jeremias: “Como vós vedes neste
tempo que a promessa de Deus foi cumprida”, ou seja, a tomada de
Canaã por Israel.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 70
amém, ó SENHOR — Estas palavras estão tomadas de Dt_27:15-
26, com as quais Jeremias admite que as maldições pronunciadas ali são
justas (veja-se v. 3).
6. Jeremias devia fazer uma excursão profética por todo Judá para
proclamar em todas as partes as ameaças contidas no livro da Lei achado
no templo.
Ouvi ... e cumpri-as — (Rm_2:13; Tg_1:22).
7. desde cedo — (Jr_7:13).
8. a dureza do seu coração — antes, obstinação.
fiz cair — as palavras “até o dia de hoje” (v. 7), confirmam a
Versão Almeida, antes que a de Rosenmuller: “Eu traga sobre eles”.
as ameaças — (v. 3; Dt_27:15-26).
9. conspiração — uma deliberada confabulação contra Deus e a
reforma de Josias. Sua idolatria não é o resultado de um apressado
impulso (Sl_83:5; Ez_22:25).
11. clamarão a mim — em contraste com “clamarão aos deuses”
etc. (v. 12).
porém não os ouvirei — (Sl_18:41; Pv_1:28; Is_1:15; Mq_3:4).
12. clamarão aos deuses … porém, de nenhuma sorte, os
livrarão (RC) — (Dt_32:37-38). Veja-se com este versículo e o
princípio do v. 13, o Jr_2:28.
tempo do seu mal — quer dizer, de sua calamidade (Jr_2:27).
13. vergonhosa coisa — heb., vergonha, quer dizer que o ídolo não
só é vergonhoso, mas também é a essência de tudo o que é vergonhoso
(Jr_3:24; Os_9:10), o qual trará vergonha e confusão sobre vós mesmos.
[Calvino].
14. Há aqui uma progressão tal de culpabilidade que não é possível
que se siga intercedendo em seu favor (Êx_32:10; a versão caldeia diz:
“deixa de orar”; Jr_7:16; 1Sm_16:1; 1Sm_15:35; 1Jo_5:16). Nosso
entendimento devesse estar de acordo com Deus em tudo o que ele faz,
até no rechaço dos réprobos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 71
por causa do seu mal — por causa de sua aflição. Outros MSS.
dizem “no tempo de sua angústia”, que é uma glosa do v. 12,
15. minha amada — meu povo eleito, a Judeia; isto agrava a sua
ingratidão (Jr_12:7).
vilezas — (Ez_16:25). antes, “a grande (ou múltipla) enormidade”;
lit., a enormidade, a múltiplo, que converteu seu culto de Deus no
templo num escárnio (veja-se 7:10; Ez_23:39). [Henderson].
carnes sacrificadas — (Ag_2:12-14; Tt_1:15), ou seja, os
sacrifícios, que, por culpa dos judeus, já não eram santos, isto é,
aceitáveis a Deus. Por conseguinte, os sacrifícios em que descansavam já
não os protegerão. Judá está representada como a esposa de um
sacerdote, que, por ter adulterado, perdeu o seu direito de participar da
carne dos sacrifícios, e não obstante se gaba ao mesmo tempo de sua
prerrogativa [Horsley].
poderão afastar de ti o mal — lit., “quando sua maldade está
perto”. Piscator traduz: “Quando sua calamidade está perto (de acordo
com as ameaças de Deus), tu te glorificas” (contra Deus, em lugar de te
humilhar). A Versão Almeida está melhor. (Veja-se Pv_2:14).
16. te chamou — te fez.
oliveira — (Sl_52:8; Rm_11:17). A “oliveira” foi escolhida para
representar a adoção de Judá pela livre graça de Deus, pois seu azeite é a
imagem da riqueza (veja-se Sl_23:5; Sl_104:15).
à voz de grande tumulto — ou “ao ruído”, etc., isto é, ao tumulto
do exército invasor (Is_13:4). [Maurer]; ou antes, “com o som de uma
poderosa voz”, ou seja, a de Deus, ou seja o trovão; desta maneira não
há confusão de metáforas. A árvore alcançada pelo raio se incendeia, e
os ramos se rompem ao mesmo tempo [Houbigant]
17. te plantou — (Jr_2:21; Is_5:2).
para si mesmas — o delito do pecador redunda em seu próprio
dano (Nota a Jr_7:19).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 72
18-19. Jeremias aqui se separa de seu assunto para chamar a
atenção ao complô de seus convizinhos de Anatote para atentar contra
sua vida. Ele nada tinha suspeitado até que Deus o revelou (Jr_12:6).
O SENHOR mo fez saber — A mudança da terceira pessoa à
segunda concorda com os excitados sentimentos do profeta.
então — quando minha vida corria perigo.
as suas maquinações — as dos vizinhos de Anatote. O fato de
aludir desta maneira antes de mencionar seus nomes, deve-se a sua
comoção.
19. cordeiro — lit., cordeiro favorito, como aquele que os judeus
tinham frequentemente em suas casas para que seus filhinhos jogassem
com eles; é esse um costume que os árabes ainda têm (2Sm_12:3). Os
próprios amigos íntimos do profeta se confabularam contra ele. A
linguagem é exatamente o mesmo que o aplicado ao Messias (Is_53:7).
Cada profeta e patriarca exemplificava em sua pessoa um ou mais rasgos
dos múltiplos atributos e sofrimentos do Messias, o mesmo que sucedeu
aos santos depois de Sua vinda (Gl_2:20; Fp_3:10; Cl_1:24). Isto é
aplicável aos mais experimentados em testificar de Cristo.
projetos — (Jr_18:18).
a árvore com seu fruto — lit., em seu fruto ou alimento, isto é,
enquanto tem seu fruto. Expressão proverbial para expressar a destruição
da causa e o efeito simultaneamente. O homem é a árvore; seu ensino, o
fruto. Destruamos o profeta, e suas profecias, ou seja, as que ameaçavam
com a destruição da nação, as quais tanto os ofendiam. Veja-se Mt_7:17,
que também refere-se aos profetas e a suas doutrinas.
20. provas … o coração — (Ap_2:23).
revelei — encomendei a minha causa. O desejo de vingança de
Jeremias não era pessoal, mas sim ministerial, o qual era conforme ao
propósito de Deus, que havia sido revelado a ele; seus inimigos o eram
deles e de Deus (Sl_37:34; Sl_54:7; Sl_112:8; Sl_118:7).
21. Não profetizes — (Is_30:10; Am_2:12; Mq_2:6). Se Jeremias
não tivesse proferido suas denunciadoras predições, eles não se teriam
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 73
confabulado contra ele. Ninguém se sentia mais amargurado que seus
próprios convizinhos. Compare a conduta dos nazarenos para com Jesus
(Lc_4:24-29).
22. A retribuição de seu planejado assassinato será na mesma
moeda, exatamente como no caso do Messias (Sl_69:8-28).
23. (Jr_23:12).
no ano da sua punição — A LXX traduz “no ano de seu …”, etc.;
isto é, no tempo em que eu os visite em ira. Jerônimo apoia a Almeida,
“Ano” significa frequentemente um tempo indeterminável.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 74
Jeremias 12

Vv. 1-17. Continuação do Assunto do Final do Cap. 11.


Jeremias se aventura a debater com Jeová referente à prosperidade
dos ímpios que se tinham confabulado para lhe tirar a vida (vv. 1-4); em
resposta, diz-lhe que terá de suportar coisas piores, e isso de seus
parentes (vv. 5, 6). Os mais graves juízos, entretanto viriam sobre o povo
infiel (vv. 7-13). Depois, sobre as nações que tinham cooperado com os
caldeus na guerra contra Judá, mas com uma promessa de misericórdia
assim que se arrependessem (vv. 14-17).
1. (Sl_51:4).
falarei — Permita-me tão somente que raciocine meu caso perante
Ti: que Te pergunte as causas pelas quais esses ímpios que se
confabularam para me tirar a vida prosperam (veja-se Jó_12:6; Jó_21:7;
Sl_37:1, Sl_37:35; Sl_73:3; Ml_3:15). É justo que quando alguns atos da
Providência de Deus despertem em nós pensamentos atrevidos,
confirmemos nosso entendimento nos adiantando a justificar a Deus
(como Jeremias) mesmo antes de conhecer as razões de Suas ações.
2. eles deitaram raízes — Tu lhes deste sólidas habitações e
acrescentou sua prosperidade.
têm-te nos lábios, mas longe do coração — (Is_29:13; Mt_15:8).
Eram hipócritas.
3. me conheces (Sl_139:1).
provas o que sente o meu coração — (Jr_11:20).
para contigo — isto é, que está completamente consagrado a Ti: o
que forma um agudo contraste com os hipócritas (v. 2), “têm-te nos
lábios, mas longe do coração”. Sendo isso assim como é que eu o passo
tão mal, e eles tão bem?
Arranca-os — É uma metáfora tirada de uma bem “enraizada
árvore” (v. 2).
destina-os — lit, separa-os ou aparta-os como consagrados.
dia da matança — (Tg_5:5).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 75
4. estará de luto — “lamentará a terra” (Versão RC). É uma
personificação (Jr_14:2; 23:10).
Por causa da maldade — (Sl_107:34).
os animais — (Os_4:3).
Ele não verá o nosso fim — Jeová não sabe o que nos vai suceder
(Jr_5:12). [Rosenmuller]. Assim a LXX (Sl_10:11; Ez_8:12; Ez_9:9).
Antes, “o profeta (Jeremias, ao qual refere-se todo o contexto) é aquele
que não verá o nosso fim.” Não necessitamos, portanto, nos incomodar
por suas ignominiosas predições. Não seremos exterminados, como ele
diz (Jr_5:12, 13).
5. Jeová responde à queixa de Jeremias.
cavalos (RC) — isto é, os que vão a cavalo [RA]; é argumento por
mais forte razão, uma frase proverbial. Os danos que te fizeram teus
convizinhos de Anatote (“homens que vão a pé”) são poucos
comparados com os que te vão infligir os de Jerusalém (“os que vão a
cavalo”); se os primeiros te cansaram, como poderás disputar com o rei,
a corte e os sacerdotes, em Jerusalém?
Se em terra de paz não te sentes seguro — A Versão Inglesa
completa assim o pensamento com palavras em itálico para que responda
à cláusula paralela da primeira parte do versículo; entretanto, o
paralelismo se mantém suficientemente com uma elipse menor: “Se só
confias numa terra de paz”. [Maurer]
enchente do Jordão (RC) — Na época da colheita e anteriormente
(abril e maio) transborda-se (Js_3:15) e inunda o vale chamado de Ghor
ou “o orgulho do Jordão”, ou seja, suas mastreadas margens, nas quais
abundam os leões e outras feras (Jr_49:19; 50:44; Zc_11:3; veja-se
2Rs_6:2). Diz Maundrell que as margens do Jordão entre o Mar de
Tiberíades e o lago Merom se achavam tão densamente cobertas de
árvores que um não pode ver o rio por causa da espessura das árvores. Se
unicamente se sentir seguro na campina, como fará quando cair nas
agrestes guaridas das feras?
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 76
6. até os teus irmãos — Como no caso de Cristo (Sl_69:8;
Jo_1:11; Jo_7:5; veja-se com o Jr_9:4; 11:19, 21; Mt_10:36). A piedade
irritará até os ímpios da mesma família.
te perseguem — (Is_31:4). Jerônimo traduz: “clamam após ti em
alta voz”.
Não te fies deles ainda que te digam coisas boas — (Pv_26:25).
7. Desamparei a minha casa — Jeová abandonará o Seu templo e
a Seu povo peculiar. A menção do estreito laço que os unia a Deus,
como Seus que eram até recentemente, aumenta sua ingratidão, e
demonstra que seus passados privilégios não impedirão que Deus os
castigue.
a que mais eu amava — imagem tirada de uma mulher casada
(Jr_11:15; Is_54:5).
8. tornou-se-me — fez-se para mim; comportou-se comigo como
leão que ruge a um homem, de forma que este se afasta do lugar de onde
é ouvido bramar; assim Me afastarei de Meu povo, outrora amado, mas
agora objeto de aborrecimento por causa de seus rebeldes gritos contra
Mim.
9. ave de rapina de várias cores — Muitos traduzem “uma fera, a
hiena”; a correspondente palavra árabe significa hiena; assim a LXX.
Mas o hebraico, em outras passagens, sempre significa “uma ave de
rapina”. O hebraico “de muitas cores” procede de uma raiz que significa
“colorir”, que corresponde à expressão judia mesclar com o paganismo o
ritual mosaico, inteiramente distinto daquele. As nações vizinhas da
Judeia, aves de rapina como ela, (visto que se assemelhou
pecaminosamente com elas), estavam prontas a lhe dar o golpázio.
Ide, pois, ajuntai todos os animais do campo — Diz-se que os
caldeus reuniram a todos os povos pagãos como aliados contra Judá
(Is_56:9); Ez_34:5).
10. pastores — os chefes de Babilônia (Veja-se v. 12; Jr_6:3). [
minha vinha — (Is_5:1, Is_5:5).
pisaram o meu campo (RC) — (Is_63:18).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 77
11. a mim clama — isto é, diante de Mim. Eichorn traduz “por
causa de mim”, porque eu a entreguei à desolação (v. 7).
ninguém há que tome isso a peito — ninguém terá que, mediante
o arrependimento e a oração, buscar aplacar a ira de Deus. Ou:
“entretanto, ninguém toma a peito”; como em Jr_5:3. [Calvino].
12. os altos — antes tinha ameaçado às planícies; agora, às colinas.
deserto — não um despovoado deserto, mas sim as terras altas de
pastores, situadas entre a Judeia e a Caldeia (Jr_4:11).
13. Descrição detalhada da devastação do país (Mq_6:15).
Envergonhados sereis dos vossos frutos — A mudança de
pessoas, ao passar do discurso indireto ao direto, é frequente nos
profetas. Equivale a: “Sereis envergonhados perante o desengano
experimentado pelo exíguo de sua colheita”
14-17. Profecia referente às nações limítrofes: os sírios, os
amonitas, etc., aqueles que cooperaram para a ruína de Judá; esses
compartilharão a sua ruína; e quando os judeus se converterem, eles
terão parte na futura restauração. Esta é uma breve antecipação das
predições dos caps. 47, 48 e 49.
14. tocam (RC) — (Zc_2:8).
os arrancarei … de Judá — (Veja-se o fim do v. 16). Durante os
treze anos que os babilônios sitiaram Tiro, Nabucodonosor, logo que
teve submetido a Celesíria ou Coele-Síria, subjugou a Amom, Moabe,
etc., e, finalmente, ao Egito (Josefo, Antiguidades, 10, 9, sec. 7). Na
restauração destas nações tiveram que mudar lugares com os judeus, com
o qual estes deveriam ficar no meio daqueles, o quais estarão, ao ser
restaurados, no meio dos judeus em caráter de prosélitos do verdadeiro
Deus (veja-se Mq_5:7; Zc_14:16). “Os arrancarei” ou seja, as nações
gentílicas, em mau sentido. “Arrancar a Judá”, em bom sentido, usa-se
para expressar a força que se necessitava para tirar judá da tirania dessas
nações pelas quais tinham sido feitos cativos, ou às quais tinham fugido;
de outra maneira, nunca teriam deixado a Judá fosse embora.
Anteriormente lhe tinha sido proibido que rogasse pela massa do povo
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 78
judeu; mas aqui consola o resto dos escolhidos que estavam entre eles.
Façam os judeus o que fizerem, Deus Se mantém fiel à Sua aliança.
15. É esta uma promessa aplicável a Judá o mesmo que às nações
especificadas (Am_9:14). Quanto a Moabe veja-se Jr_48:47; e no que
toca a Amom, Jr_49:6;
16. jurando pelo meu nome — (Jr_4:2; Is_19:18; Is_65:16); isto é,
confessar solenemente o verdadeiro Deus.
edificados — espiritual e temporariamente; estabelecidos em
seguras habitações (veja-se Jr_24:6; 42:10; 45:4; Sl_87:4-5; Ef_2:20, 21;
1Pe_2:5).
17. (Is_60:12).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 79
Jeremias 13

Vv. 1-27. Profecia Simbólica (vv. 1-7).


Muitos destes atos figurados, não sendo possíveis nem prováveis
nem decorosos, parecem ter existido tão somente na mente do profeta
como parte de sua visão interior. [Assim Calvino]. O mundo em que
Jeremias se movia não era o sensível, mas sim o espiritual. Os atos
interiores, entretanto, sempre e quando isso era possível e próprio,
materializavam-se com sua execução externa, mas nem sempre nem
necessariamente sucedia isso. O ato interno fazia com que uma simples
declaração fosse mais impressiva, ao mesmo tempo que apresentava o
assunto quando se estendia através de grandes porções de tempo e
espaço mais concreto. A interrupção do dever oficial por Jeremias para
realizar uma viagem de mais de seiscentos e quarenta e três quilômetros
e meio entre a ida e a volta, não é provável que tenha tido literal
realização.
1. põe-no sobre os lombos — o que expressa a intimidade com que
Jeová tinha vinculado a Israel e a Judá consigo mesmo (v. 11).
linho — o que indica que era o objeto mais interior, imediato ao
corpo; não o mais externo.
não o metas na água — com o que se significa que a sujeira moral
de Seu povo é semelhante a literal de um objeto levado constantemente
imediata ao corpo, sem lavá-la (v. 10). Grocio entende que se trata de um
objeto não branqueado ao sol, mas sim de uma deixada em sua natural
aspereza, à semelhança de Judá, que, não tendo beleza, tinha sido
adotada só pela graça de Deus (Ez_16:4-6). “Nem foste lavada com
água”
4. Eufrates — Henderson, com o objetivo de sustentar o conceito
de que o ato de Jeremias era externo, pensa que a voz hebraica “Frath”
aqui é Efrata, nome original de Belém, a nove quilômetros e meio ao sul
de Jerusalém, uma viagem que Jeremias facilmente podia fazer. O não
ter-se agregado a palavra “rio”, que geralmente precede a Frath, quando
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 80
significa Eufrates, favorece esta opinião. Mas eu prefiro a Versão
Inglesa (ou da Almeida). O Eufrates é descrito como próximo a
Babilônia, e o futuro lugar do desterro dos judeus.
fenda — típico das prisões em que os judeus deviam ser
encerrados.
uma rocha — algum penhasco bem conhecido. Uma região estéril,
tal era aquela à qual os judeus foram levados (veja-se Is_7:19). [Grocio].
6. Passados muitos dias — foi-lhe dado tempo suficiente para que
o cinto se tornasse imprestável para ser usado. De igual modo, os judeus,
com o decurso do tempo, corromperam-se com a idolatria dos pagãos do
contorno, até o ponto de que deixaram de ser testemunhas de Jeová.
Devem, portanto, ser desprezados como um cinto quebrado ou estragado.
9. (Lv_26:19).
10. dureza — antes, obstinação.
11. (Jr_33:9; Êx_19:5).
glória — um ornamento para Me glorificar nele.
12. Nova figura.
Não sabemos … de vinho? — No Oriente se usam os odres, feitos
geralmente de couro de cabra. Visto que estes se usavam para água, leite
e outros líquidos, o que o profeta disse, de que todos eles seriam cheios
de vinho, não era um axioma nem literalmente como a vilipendiosa
resposta judia insinuava. O sentido figurado, que é o que principalmente
Jeremias quis dar a entender, fingiram não entendê-lo. Assim como o
vinho embriaga, assim a ira e os juízos de Deus os reduzirão a um estado
de tão desesperada distração, que se precipitariam para sua própria ruína
(Jr_25:15; 49:12; Is_51:17, Is_51:21-22; Is_63:6).
13. se assentam no trono de Davi — lit, que se assentam em lugar
de Davi sobre o seu trono; o que denota a sucessão da família de Davi
(Jr_22:4).
a todos — sem nenhuma distinção de posição.
14. Fá-los-ei em pedaços — (Sl_2:9). Como a uma vasilha de
barro (Ap_2:27).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 81
15. não vos ensoberbeçais — o orgulho foi a causa de sua
contumácia, como a humildade é o primeiro passo para a obediência (v.
17; Sl_10:4).
16. Dai glória — mostrem pelo arrependimento e a obediência a
Deus que reverenciam Sua majestade. Com efeito, Josué exortou a Acã a
que “desse glória a Deus” mediante a confissão de seu delito, e por esse
meio demonstrasse que reverenciava ao Deus onisciente.
tropecem — figura tomada dos viajantes que dão um tropeção de
noite e caem num fatal abismo (Is_5:30; Is_59:9-10; Am_8:9).
montes tenebrosos — lit., montes de crepúsculo, os quais projetam
tão escura sombra, que o viajante tropeça contra uma rocha, por não ter
alcançado vê-la (Jo_11:10; Jo_12:35).
sombra de morte — na mais densa escuridão; sombra mortal
(Sl_44:19). Luz e trevas são imagens de prosperidade e adversidade,
respectivamente.
17. ouvirdes — minha exortação.
em segredo — como alguém que chora e se humilha por causa do
próprio pecado, não condenando-os por crer-se justo a si mesmo
(Fp_3:18).
soberba — (nota v. 15; Jó_33:17).
o rebanho — (v. 20), do mesmo modo que os reis e chefes são
chamados pastores.
18. ao rei — Joaquim ou Jeconias.
rainha-mãe — que, como o rei não tinha mais de 18 anos, exercia
o poder supremo. Era Neústa, filha de Elnatã, levada cativa com Joaquim
por Nabucodonosor (2Rs_24:8-15).
Humilhai-vos — isto é, serão humilhados ou derrubados (Jr_22:26;
28:2).
a coroa — antes, “os ornamentos de suas cabeças”.
19. As cidades do Sul — ou seja, o sul da Judeia; o mais afastado
do inimigo, que avançava do norte.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 82
estão fechadas — isto é, abandonadas (Is_24:10), de sorte que não
ficará ninguém para tornar a abrir as portas aos viajantes e comerciantes
[Henderson.] Antes, tão bem fechadas estão pelas forças de
Nabucodonosor, enviadas de antemão (2Rs_24:10-11), que o inimigo
não permitirá que ninguém saia (cf. v. 20).
todo — lit., inteiramente.
20. os que vêm do Norte — Nabucodonosor e seu hostil exército
(Jr_1:14; 6:22).
o rebanho que te foi confiado — Jeremias, assombrado pelo
despovoamento causado pelas forças de Nabucodonosor, dirige-se a
Jerusalém (um nome de multidão que explica a mescla de plural e
singular, seus olhos … te … sua glória), e pergunta onde estão os seus
habitantes (v. 17. “rebanho”) que Deus lhe tinha dado.
21. ele puser por cabeça contra ti — lit., príncipes para que sejam
cabeças, ou sobre sua cabeça, ou seja, os caldeus. Traduza-se, antes, “O
que dirás quando Deus os colocar (aos inimigos v. 20) sobre ti. Visto que
tu mesmo os acostumaste a (estar) contigo como teus amantes nos
lugares altos, lit., a sua cabeça?” Não podes dizer que Deus te faz
injustiça, visto que deste ocasião para que assim proceda contigo, por tua
avidez em manter relações íntimas com eles. Veja-se Jr_2:18, 36;
2Rs_23:29, referente à liga de Judá com Babilônia, a qual induziu a
Josias a partir contra Faraó-Neco, quando este estava por atacar a
Babilônia [Maurer].
dores — angústias, penas.
22. Quando disseres — relacione-se este versículo, com o que dirá
você? (v. 21).
se levantaram as tuas fraldas — isto é, são-lhe levantadas para
expor a pessoa (v. 26; Is_3:17; Na_3:5).
os teus calcanhares sofrem violência — as sandálias eram
asseguradas mediante correias que iam do calcanhar à dobra superior do
pé. O hebraico diz: são violentamente dirigidos ou “rasgados”; isto é,
estás exposta à ignomínia. Figura de uma adúltera.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 83
23. o etíope — o cuxita da Abissínia. O hábito é uma segunda
natureza. Como é moralmente impossível que os judeus possam alterar
os seus inveterados hábitos de pecar, não resta mais que a aplicação de
um castigo extremo: sua expatriação (v. 24).
24. (Sl_1:4).
pelo vento — diante do vento.
do deserto — onde este varre tudo, sem que o detenha nenhum
obstáculo.
25. a porção que te será medida — a porção com que Eu te medi
(Jó_20:29; Sl_11:6).
confiaste em mentiras — (v. 27), nos falsos deuses e nas alianças
com os estrangeiros idólatras.
26. levantarei as tuas fraldas sobre o teu rosto — antes,
“levantarei as tuas saias sobre a tua face” ou cabeça; feito a modo de
ignomínia às mulheres cativas e às meretrizes (Na_3:5). O castigo dos
judeus seria o correspondente ao seu delito. Assim como seu pecado
tinha sido cometido nos lugares mais públicos, assim Deus os exporia ao
desprezo de outras nações da maneira mais manifesta (Lm_1:8).
27. os teus rinchos — (Jr_5:8), figura tomada da luxúria dos
cavalos; a avidez pelos ídolos rebaixa o idólatra ao nível do bruto.
os outeiros — onde, por estar mais próximos ao céu, cria-se que os
sacrifícios eram mais aceitáveis aos deuses.
Até quando ainda não te purificarás? — Lit., Não queres que ser
limpado. Por quanto tempo (há seguindo desta maneira) ainda?, (assim o
v. 23). Jeremias nega a possibilidade moral de que um endurecido por
tão longo tempo no pecado chegue a limpar-se logo. Mas veja-se o
Jr_32:17; Lc_18:27.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 84
Jeremias 14

Vv. 1-22. Profecias Na Ocasião de Uma Seca Enviada Como Juízo


Sobre a Judeia.
1. Lit., “O que foi a palavra de Jeová a Jeremias referente”, etc.
seca — Lit., retenção, ou seja, da chuva (Dt_11:17; 2Cr_7:13). A
razão pela qual se usou esta palavra especialmente com relação à
detenção da chuva nestas regiões, é porque a água é a mais necessária de
todas as coisas. (Jr_17:8, margem da Versão Inglesa).
2. portas — o lugar de afluência pública em cada cidade oferecia
um triste aspecto, por já não ser frequentado (Is_3:26; Is_24:4).
de luto — quer dizer, estão de luto (pois a cor negra é indício de
tristeza) (Jr_8:21).
até ao chão — inclinados até a terra.
o clamor — de angústia (1Sm_5:12; Is_24:11).
3. os criados — seus domésticos.
cisternas — para recolher a água da chuva, frequentes no Oriente,
onde não há mananciais.
cobrem a cabeça — (2Sm_15:30). Um sinal de humilhação e luto.
5. Os animais de toda espécie se veem reduzidos a extrema
necessidade por falta de alimento. A cerva, famosa por seu afeto por sua
cria, a abandona.
6. Os jumentos selvagens — subiam aos lugares altos”, onde
aspiram os fortes ventos frescos para aliviar sua sede.
os seus olhos — com “altos” a erva ou a água, agora “os ofuscam”.
chacais — a alusão, é, antes, às grandes jibóias e pítons, que
levantam verticalmente, até uma altura de três ou quatro metros, parte de
seu corpo, para observar acima dos arbustos que os rodeiam, o terreno
vizinho, e aspirar o ar, de boca bem aberta. Estas serpentes gigantes
deram lugar às difundidas noções de que tipificavam o dilúvio e todos os
agentes destrutivos, sob a forma de um dragão ou de uma serpente
monstruosa; daí que os templos dos dragões encontram-se sempre perto
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 85
da água, na Ásia, África e em Bretanha, como, por exemplo, em Abury,
Wiltshire; e que um símbolo da arca esteja frequentemente associado
com o dragão como o preservador das águas. [Kitto, Biblical
Cyclopaedia]
7. age — faze o que te pedimos; intervém para que cesse a seca.
Jeremias advoga em nome da nação (Sl_109:21). Assim, “faz por nós”,
usa-se de uma maneira absoluta em 1Sm_14:6.
por amor do teu nome — “porque nossas apostasias são tantas”,
que não podemos te rogar por amor de nossas ações, mas pela glória do
Teu Nome; não seja que se Tu não nos ajudas, diga-se que é por falta de
poder em ti (Js_7:9; Sl_79:9; Sl_106:8; Is_48:9; Ez_20:44). A mesma
apelação à misericórdia de Deus “por amor de Seu nome”, como nossa
única esperança, desde que nosso pecado nos impede de confiar em nós
mesmos, ocorre no Sl_25:11.
8. (Jr_17:13).
Esperança de Israel — A alusão não é à fé de Israel, que havia
quase desaparecido, mas sim à promessa e à aliança eterna de Deus.
Ninguém, fora do verdadeiro Israel, faz de Deus sua verdadeira
“esperança”.
que se desvia — Ao viajante pouco importa a terra onde se detém
só uma noite; mas Tu prometeste habitar sempre em meio do Teu povo
(2Cr_33:7-8). Maurer traduz: “estende”, ou seja, sua tenda.
9. surpreendido — semelhante a um “homem forte”, capaz de
ajudar em outro tempo (Is_59:1); mas agora, aturdido por uma repentina
calamidade, a esperança cifrada nele se desvaneceu.
estás em nosso meio — (Êx_29:45-46; Lv_26:11-12).
chamados pelo teu nome — (Dn_9:18-19) como povo
peculiarmente teu (Dt_9:29).
10. Resposta de Jeová à oração (vv. 7-9; Jr_2:23-25).
Assim — em grande medida.
Gostam de — (Jr_5:31).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 86
não detêm os pés — não obedeceram o mandamento de Deus;
“detém os teus pés” (Jr_2:25), ou seja, de seguir após os ídolos.
se lembrará da maldade deles — (Os_8:13; Os_9:9). Tão grande
é seu pecado que Deus tem que castigá-los.
11. (Jr_7:16; Êx_32:10).
12. não ouvirei — porque suas orações são hipócritas; seus
corações ainda são idólatras. Deus nunca recusa ouvir as orações
sinceras (Jr_7:21, 22; Pv_1:28; Is_1:15; Is_58:3).
pela espada, pela fome e pela peste — os três juízos mais
dolorosos ao mesmo tempo; qualquer um deles seria suficiente para
lavrar sua ruína (2Sm_24:12-13).
13. Jeremias alega que boa parte da culpa de seu povo deve-se à
influência dos falsos profetas.
verdadeira paz — sólida e duradoura paz. Lit., paz de verdade
(Is_39:8).
14. (Jr_23:21).
15. (Jr_5:12, 13)
dizem que nem espada, nem fome … À espada e à fome serão
consumidos — serão retribuídos com a mesma moeda tanto os falsos
profetas como os seus ouvintes (v. 16).
16. não ... quem os sepulte — (Sl_79:3).
derramarei sobre eles a sua maldade — isto é, o castigo merecido
por sua maldade (Jr_2:19).
17. (Jr_9:1; Lm_1:16). Jeremias quer chorar incessantemente pelas
calamidades que virão sobre a sua nação (chamada “virgem”, por não ter
estado jamais até então sob o jugo estrangeiro), (Is_23:4).
18. Se eu saio ao campo — isto é, se emigrar a uma terra de
deportação. Horsley traduz: “ir traficando através da terra (Jr_5:31;
2Co_4:2; 2Pe_2:3), e não receber conhecimento”, (isto é, e não prestar
atenção às misérias que vejam seus olhos (Is_1:3; Is_58:3). Em caso de
reter o sentido literal do verbo hebraico, eu interpretaria as palavras
como a Versão Inglesa, referindo-as a deportação à Babilônia; assim, “o
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 87
profeta e o sacerdote deverão ir à terra estranha para exercer seu tráfico
religioso” (Is_56:11; Ez_34:2-3; Mq_3:11).
19. O povo roga a Deus; Jeremias é proibido fazê-lo.
o tempo da cura — (Jr_15:18).
a paz, e nada há de bom — (Jr_8:15.
20. (Dn_9:8).
21. nos — “o trono de sua glória” pode ser o objeto do verbo
cubras de opróbrio ou “Sião” (v. 19).
o trono da tua glória; — Jerusalém, ou o templo, chamada
“estrado” e “habitação” de Deus (1Cr_28:2; Sl_132:5).
tua aliança — (Sl_106:45 Dn_9:19).
22. vaidades (RC) — os ídolos (Dt_32:21).
chover — (Zc_10:1-2).
céus — ou seja, por si mesmos, sem Deus (Mt_5:45; At_14:17);
eles não são a primeira causa e não devem ser deificados, como o eram
pelos pagãos. A copulativa “e” favorece a explicação de Calvino: “Nem
mesmo os próprios céus podem dar chuva, muito menos as vaidades dos
ídolos”.
Não és tu somente …? — quer dizer, Aquele que pode dar chuva?
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 88
Jeremias 15

Vv. 1-21. Resposta de Deus à Oração Intercessora de Jeremias.


1. Moisés … Samuel — Varões eminentes por suas intercessões
(Êx_32:11-12; 1Sm_7:9; Sl_99:6).
para este povo — não poderia ser favoravelmente inclinada para
com eles.
diante de mim — Deus fala como se o povo estivesse presente
diante dEle com Jeremias.
2. morte — praga mortal (Jr_18:21; 43:11; Ez_5:2, Ez_5:12;
Zc_11:9).
3. punirei — (Lv_26:16).
4. Entregá-los-ei para que sejam um espetáculo horrendo —
(Dt_28:25; Ez_23:46). Antes, “Entregá-los-ei ao vexame”. Farei com que
vaguem de forma que em nenhuma parte tenham repouso [Calvino].
(2Cr_29:8, “perturbação” na margem da V. Inglesa é “comoção”).
por causa de Manassés — já morto, mas os efeitos de seus
pecados ainda subsistiam. Quanto mal pode causar um mau homem! Os
seus maus frutos podem subsistir mesmo depois de ele haver-se
arrependido e sido perdoado. Pois o povo tinha seguido o seu mau
exemplo desde então; e só pela longa paciência de Deus as
consequências penais tinham sido suspensas até o presente. (Veja-se
1Rs_14:16; 2Rs_21:11; 2Rs_23:26; 2Rs_24:3-4).
5. Ou quem ... a perguntar pelo teu bem-estar? — quem se
deterá (ao passar) para te cumprimentar? (para te desejar “paz”).
6. estou cansado de me arrepender(RC) — (Os_13:14; Os_11:8).
Tão frequentemente me arrependi do mal com que ameacei (Jr_26:19;
Êx_32:14; 1Cr_21:15), perdoando-os, sem que minha tolerância os
levasse ao arrependimento, que agora não mudarei de propósito (Deus
por condescendência fala com o humano), mas agora me vingarei deles.
7. Cirandei-os com a pá — com tribulação (do latim tribulum, o
trilho, para debulhar), que separa a palha do trigo (Mt_3:12).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 89
portas da terra — isto é, os limites extremos da terra, pelos quais
se entra e sai. Maurer traduz: “ventilarei”, quer dizer, os lançarei “nas
portas da terra” (Na_3:13). “Nas portas”. A Versão Inglesa apresenta a
imagem de um homem que limpa o grão com um padejador; este se acha
à porta da eira, ao ar livre, para separar o trigo da palha, ventilando-o;
assim Deus ameaça a Israel afastando-o dos limites da terra [Houbigant].
8. As suas viúvas — do Meu povo (v. 7).
eu trouxe — passado profético, pelo futuro: Eu trarei.
a mãe de jovens — “mãe” se toma como coletivo; depois das
“viúvas”, menciona, naturalmente, sua privação de seus filhos, causada
às “mães” pelo despojador”; foi devido ao número de mortos que houve
tantas “viúvas” [Calvino]. Outros tomam a palavra “mãe”, como em
2Sm_20:19, como referindo-se a Jerusalém, a metrópole; “Eu tenho
trazido contra elas, contra a mãe, um jovem despojador”, ou seja,
Nabucodonosor, enviado por seu pai Nabopolassar, para rejeitar os
invasores egípcios (2Rs_23:29; 2Rs_24:1), e a ocupar a Judeia. Mas o v.
7 demonstra que se refere ao futuro, não ao passado; e se a voz “viúvas”
se toma literalmente, também se deverá tomar nesse sentido o de “mãe”.
ao meio-dia — a hora de mais calor do dia, quando se suspendiam
as operações militares; deste modo deveria significar inesperadamente,
respondendo ao paralelo “repentinamente”; abertamente, como outros o
explicam, não se acomodaria ao paralelismo (veja-se Sl_91:6).
sobre a mãe — “Farei com que caiam sobre as mães que estão
prestes a ver-se privadas de seus filhos, angústia e terrores repentinos”.
enchesse a cidade de terrores (RC) — terrores, antes, angústia,
consternação, da raiz “calor”. Assim traduz a LXX.
9. Aquela que tinha sete filhos — (1Sm_2:5). Como sete é o
número perfeito, indica plenitude de fecundidade.
desmaiou como para expirar — por não haver ficado nenhum
sequer de seus filhos (v. 8).
pôs-se-lhe o sol quando ainda era dia — a sorte a abandonou no
cimo de sua prosperidade (Am_8:9).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 90
envergonhada — as mães (ela tem sentido coletivo) veem-se
expostas à vergonha de esperanças defraudadas pela perda de seus filhos.
10. (Jr_20:14; Jó_3:1, etc.). Jeremias parece que era de
temperamento particularmente sensível; entretanto, o Espírito Santo o
capacitou para apresentar sua mensagem à custa de ser ferida sua
sensibilidade pelas inimizades daqueles aos quais suas palavras tinham
ofendido.
homem de contendas — exposto a ter contendas com toda a terra
(Sl_80:6).
Nunca lhes emprestei com usura — um dito proverbial, por “não
lhes dei motivo para que briguem comigo”
11. Na verdade — Lit., não será?; isto é, certamente será.
teus remanescentes (AV) — o resultado final de tua vida, que
agora te parece tão triste, terminará prosperamente. [Calvino]. Os que
creem que eles serão os remanescentes sobreviventes e que tu perecerás,
esses mesmos falecerão enquanto que tu subsistirás e serás favorecido
pelos conquistadores [Junius], (Jr_40:4, 5; 39:11, 12). O Keri diz: “Eu te
porei em liberdade (ou como Maurer: Eu te confirmarei) para o bem”
(Jr_14:11 Ed_8:22; Sl_119:122).
que o inimigo te dirija súplicas — de sorte que “te seja propício;
sim, que de seu próprio acordo se antecipe a encontrar-se contigo com
amostras de bondade”. [Calvino]. Eu prefiro esta tradução, por
acomodar-se com o evento (Jr_39:11, 12; 40:4, 5). Gesênius, por causa
de Jr_7:16; 27:18; Jó_21:15, traduz (não só te aliviarei dos vexames do
inimigo, mas também) “que farei que seu adversário (que agora te aflige)
dirija-se a ti com rogos” (Jr_38:14; 42:2-6).
12. ferro — antes, bronze ou cobre, o qual, misturado com o
“ferro” (pelos cálibes, vizinhos perto do Ponto Euxino, ao norte longe da
Palestina) faziam o metal mais duro, semelhante ao nosso aço. Podem os
judeus, embora sejam duros como o ferro comum, quebrantar os ainda
mais duros caldeus do norte (Jr_1:14), semelhantes ao ferro dos cálibes,
endurecido com o cobre? Certamente não [Calvino]. Henderson traduz:
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 91
“Pode alguém quebrar o ferro (e ainda mais) o ferro do norte e o
bronze?” — baseado no fato de que a Versão Inglesa considera o ferro
comum não tão duro como o bronze. Mas não é bronze, e sim uma
mescla particular de ferro e bronze que é representado como mais duro
que o ferro comum, que então era provavelmente de inferior textura,
devido à ignorância dos modos modernos de prepará-lo.
13. Os teus bens … os teus pecados — da Judeia, não de Jeremias.
entregarei gratuitamente ao saque — Deus lança fora o Seu povo
como coisa de nenhum valor (Sl_44:12). Pelo contrário, Jeová quando
restaurar o Seu povo, diz que dará o Egito como seu “resgate” (Is_43:3).
e em todos os teus territórios — une-se com “Os teus bens e ...
tesouros”, como também com “todos os teus pecados”; seu pecado e seu
castigo resultam proporcionados (Jr_17:3).
14. Levar-te-ei — Maurer substitui o te por os teus, aludindo a “os
teus tesouros”. Eichorn sem necessidade, por causa da Siríaca e da LXX,
diz: “Far-te-ei servir aos teus inimigos”, palavras sem dúvida
interpoladas de Jr_17:4.
fogo — (Dt_32:22).
15. Tu sabes (TB) — isto é, meu caso; que males me têm feito
meus adversários! (Jr_12:3).
vinga-me — (Nota, Jr_11:20). O profeta, ao pedir vingança, não
olhava aos seus sentimentos pessoais, mas sim à causa de Deus; ele
expressa, por inspiração, a vontade de Deus contra os ímpios. Contraste-
se neste caso a lei com o evangelho (Lc_23:34; At_7:60).
não me deixes ser arrebatado — embora haja sido muito paciente
para com eles, não lhes permita, entretanto, que me tirem a vida.
por amor de ti tenho sofrido afrontas — são as mesmas palavras
de antítipo Jesus Cristo (Sl_69:7; Sl_69:22-28), que estão de acordo com
a oração de Jeremias no princípio deste versículo.
16. as comi — (Ez_2:8; Ez_3:1, Ez_3:3; Ap_10:9-10). Assim que
achei as tuas palavras, avidamente as retive e me apropriei delas. O Keri
lê “Tua palavra”.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 92
tuas palavras … alegria — (Jó_23:12; Sl_119:72, Sl_119:111;
veja-se Mt_13:44).
pelo teu nome sou chamado — Eu sou Teu, Teu ministro. Assim o
antítipo, Jesus Cristo (Êx_23:21).
17. Minha “alegria” (v. 16), não a dos profanos zombadores
(Sl_1:1; Sl_26:4-5), nos festins. Longe de ter relação com estes, Jeremias
foi expulso da sociedade e obrigado a assentar-se “solitário” por causa de
suas fiéis profecias.
me encheste de indignação (TB) — Assim Jr_6:11, “cheio do
furor do Senhor”; tão cheio estava do assunto (a indignação de Deus
contra os ímpios) com a qual Deus o tinha inspirado, que não pôde
deixar de expressá-lo. A mesma comparação por via de contraste, entre o
efeito da inspiração, e o do vinho, que põe a alguém fora de si, ocorre
em At_2:13, At_2:15, At_2:18.
18. (Jr_30:15). “Dor”, quer dizer, a perpétua perseguição a que
estava exposto, assim como o ter sido deixado por Deus “solitário” e sem
consolo. Contraste-se o seu sentimento expresso aqui com o do v. 16,
quando desfrutava da plenitude da presença de Deus, e estava inspirado
por suas palavras. Daí que profira palavras próprias de sua natural
“fraqueza” (assim o faz Davi no Sl_77:10) aqui; pois antes falou
segundo a superior natureza espiritual que lhe tinha sido dada.
como águas que enganam — antes, “como (rio) enganoso …
como águas que não são estáveis” (duradouras); opostas a “águas vivas”
perenes (Jó_6:15, etc.). As correntes que o sedento viajante creu achar
cheias de água, por tê-lo estado no inverno, o desapontaram em meio de
sua angustiosa necessidade, por as ter secado os fortes calores do estio.
Jeová tinha prometido a Jeremias que o protegeria dos seus inimigos
(Jr_1:18, 19); sua fraqueza sugere que Deus tinha deixado de fazê-lo.
19. Deus responde a Jeremias.
Se tu te arrependeres, eu te farei voltar — Jeremias, com sua
impaciente linguagem, tinha deixado a devida atitude para com Deus; e
assim, Deus lhe disse: “Se tu voltares (ao anterior paciente desempenho
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 93
de sua funções proféticas), eu te voltarei para a tua primeira posição”.
No hebraico há um jogo de palavras: “voltar, te farei voltar” (Jr_8:4;
4:1).
estarás diante de mim — sirva-Me de maneira aceitável. (Dt_10:8;
1Rs_17:1; 1Rs_18:15).
se apartares o precioso do vil — figura tomada dos metais. “Se
separares o que tem que precioso em ti (as repartida graças divinas) pelo
que é vil (tua natural corrupção, a impaciência e as palavras
precipitadas), serás como minha boca”: meu porta-voz (Êx_4:16).
tu não passarás para o lado deles — que eles não te induzam a
seguir os seus profanos caminhos (pois Jeremias tinha falado
irreverentemente, v. 18), ao contrário, dirige-os tu aos caminhos da
piedade (vv. 16, 17). Ez_22:26, concorda com a outra interpretação, a
qual, entretanto, não se acomoda tão bem ao contexto: “Se separares da
promíscua massa os melhores e os induzires à conversão mediante fiéis
admoestações”, etc.
20, 21. A promessa de Jr_1:18, 19, expressa quase com as mesmas
palavras, mas com o agregado adaptado aos presentes ataques dos
formidáveis inimigos de Jeremias: “Eu te livrarei de … ímpios te
redimirei de terríveis …” A repetição tem por objeto assegurar a
Jeremias que Deus é o mesmo agora que quando lhe fez a primeira
promessa, em oposição à irreverente acusação de infidelidade feita pelo
profeta (v. 18).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 94
Jeremias 16

Vv. 1-21. Continuação da Precedente Profecia.


2. neste lugar — na Judeia. A indicação de que permanecesse
solteiro foi (seja que fosse literalmente obedecida ou que fosse
unicamente em visão profética) para simbolizar que as futuras
calamidades dos judeus (Ez_24:15-27) seriam tão severas que o estado
de solteiro seria então (contrariamente ao curso comum das coisas)
preferível ao de casado (veja-se 1Co_7:8, 1Co_7:26, 1Co_7:29;
Mt_24:19; Lc_23:29).
4. Morrerão vitimados de enfermidades — antes, de doenças
mortais (Jr_15:2).
não serão pranteados — tantos serão os mortos (Jr_22:18).
esterco — (Sl_83:10).
5. (Ez_24:17, Ez_24:22-23).
casa do luto — (Mc_5:38). Margem da Versão Inglesa: “Comidas
fúnebres”; tais comidas eram comuns nos funerais. O hebraico significa
em Am_6:7, o grito de alegria nos banquetes; aqui e em Lm_2:19, é o
grito de tristeza.
6. nem se farão por eles incisões — o que indica uma extravagante
dor (Jr_41:5; 47:5), proibido pela Lei (Lv_19:28).
se raparão — (Jr_7:29; Is_22:12).
7. Não se dará pão — quer dizer, o tomado nas comidas fúnebres
(Dt_26:14; Jó_42:11; Ez_24:17; Os_9:4). Deve-se suprir a palavra
“pão”, como em Lm_4:4; veja-se “tome” (alimento), (Gn_42:33).
nem lhe darão ... copo de consolação, pelo pai — Era costume no
Oriente que os amigos enviassem comida e vinho (“o copo de
consolação”’) aos parentes do defunto nas comidas de luto, para consolá-
los; por exemplo, aos filhos, por ocasião da morte do “pai” ou da “mãe”.
8. casa do banquete — de alegria, para a distinguir das comidas
fúnebres. Não tenha mais que ver com este povo, quer seja nas comidas
de luto, quer nas de alegria.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 95
9. (Jr_7:34; 25:10; Ez_26:13).
10. (Dt_29:24; 1Rs_9:8-9).
11. (Jr_5:19; 13:22; 22:8, 9).
12. Vós — enfático. Tão longe estivestes de afastá-los do mau
exemplo de vossos pais, que procedestes pior que eles (Jr_7:26;
1Rs_14:9).
segundo a dureza do seu coração maligno — antes, obstinada
perversidade.
para não me dar ouvidos a mim — antes, unindo-o “convosco”:
“caminhastes de tal maneira que não Me escutastes”.
13. servirão a deuses alheios — aquilo que constituiu seu pecado
em sua própria terra foi seu castigo no desterro. É a retribuição na
mesma moeda. Os tais abandonaram voluntariamente a Deus para servir
aos ídolos, em sua pátria; por isso não se lhes permitiu servir a Deus,
embora o desejassem, no cativeiro (Daniel 3 e 6).
de dia e de noite — é uma ironia. Ali poderão servir aos ídolos
após os quais correm como enlouquecidos, até não poder mais e sem
interrupção.
14. Portanto — Tão severa será a escravidão dos judeus, que sua
libertação desse estado será um benefício maior que aquele que lhes
prestou ao tirá-los do Egito. Aqui a consolação é incidental; o
pensamento proeminente é a severidade de seu castigo; tão grande será
este que o resgate será maior que o de Egito [Calvino]; assim o prova o
contexto, vv. 13, 17, 18 (Jr_23:7, 8; Is_43:18).
15. terra do Norte — a Caldeia. Mas enquanto a volta de Babilônia
é o que primeiro se insinua, o retorno, no futuro, é o pleno final
cumprimento que se contempla, pois a frase “de todas as terras” o prova.
“Israel”, salvo em sentido limitado, não foi “reunido de todas as terras”,
à volta de Babilônia (veja-se Jr_24:6; 30:3; 32:15, Notas).
16. mandarei — “Eu darei a comissão a muitos” (2Cr_17:7).
pescadores … caçadores — sucessivos invasores da Judeia
(Am_4:2; Hc_1:14-15). Daí “rede” (Ez_12:13). Quanto a “caçadores”,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 96
veja-se Gn_10:9; Mq_7:2; os caldeus eram famosos como caçadores,
como os egípcios, o outro inimigo de Judá, eram-no como pescadores.
“Pescadores”, para expressar o fácil de sua vitória sobre os judeus, como
a do pescador sobre os peixes; “os caçadores”, para denotar a tenacidade
de sua perseguição penetrando em todas as covas e esconderijos. É
notável que a mesma figura é usada em bom sentido com relação à
restauração dos judeus. Isso dá a entender que assim como seus inimigos
foram empregados por Deus para levá-los sob custódia à ruína, assim
também empregará a esses mesmos inimigos para sua restauração
(Ez_47:9-10). Assim, em sentido espiritual, aqueles que em outro tempo
foram seus naturais inimigos (muitos deles pescadores literais) Deus os
empregou, como arautos de salvação, como “pescador de homens” para
vida (Mt_4:19; Lc_5:10; At_2:41; At_4:4); veja-se este lugar com o v.
19, “a ti virão as nações” (2Co_12:16).
17. (Jr_32:19; Pv_5:21; Pv_15:3).
a sua iniquidade — esta foi a causa dos juízos de Deus vindos
sobre eles.
18. Primeiramente, pagarei em dobro — Horsley traduz: “Eu
recompensarei, etc., várias vezes”. Lit., a primeira vez repetida: o que
alude aos dois cativeiros — o de Babilônia e o de Roma. Maurer: “Eu
recompensarei seus primeiras iniquidades (as cometidas há muito tempo
por seus pais) e seus próprios reiterados pecados” (vv. 11, 12). A Versão
Inglesa dá o sentido correto: “Primeiramente (antes que eu os volte a
trazer para sua terra”), recompensarei em dobro” (isto é, completamente
e amplamente, Jr_17:18; Is_40:2).
os cadáveres — não sacrifícios de suave aroma, gratos a Jeová,
mas sim os “cadáveres” oferecidos aos ídolos, de ingrato aroma a Deus;
ou seja vítimas humanas (Jr_19:5; Ez_16:20), e animais impuros
(Is_65:4; Is_66:17). Maurer explica sobre os “cadáveres” dos ídolos, ou
seja, suas imagens privadas de sentido e de vida. Vejam-se os vv. 19, 20.
Este sentido é favorecido por Lv_26:30;
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 97
19, 20. O resultado dos juízos com que Deus visitou os judeus, será
que estes, uma vez restaurados, o mesmo que os gentios que tenham
presenciado esses juízos, renunciarão à idolatria, e adorarão a Jeová. Isto
se cumpriu só em parte quando os judeus retornaram de Babilônia,
depois do que estes abandonaram inteiramente os ídolos e conquistaram
numerosos prosélitos entre os gentios; mas isso não se verificará em sua
totalidade até a final restauração de todo o Israel (Isaías 2).
20. Jeremias protesta, indignado, contra os ídolos.
não são deuses — (Jr_2:11; Is_37:19; Gl_4:8). “Eles”, refere-se
aos ídolos. Que um homem (que também é uma criatura) faça um deus, é
uma contradição de termos. A Vulgata, referente a “eles” diz: “Tem que
fazer o homem deuses, visto que os homens mesmos não são deuses?”
21. Portanto — Para que todos se voltem dos ídolos a Jeová, ele
dará uma maravilhosa prova de Seu divino poder mediante os juízos que
Ele infligirá.
desta vez — Visto que os castigos que lhes tenho infligidos até aqui
não foram severos o bastante para corrigi-los.
o meu nome é SENHOR — (Sl_83:18): o nome incomunicável de
Deus, que seria blasfemo aplicá-lo aos ídolos. Jeová, aquele que cumpre
as Suas ameaças e promessas (Êx_6:3).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 98
Jeremias 17

Vv. 1-27. O Inveterado Amor dos Judeus à Idolatria.


A LXX omite os quatro primeiros versículos, mas outras versões
gregas os têm.
1. A primeira das quatro cláusulas se relaciona com a terceira, e a
segunda com a quarta, mediante um paralelismo alternativo. O sentido é:
Vão com tanta avidez após os ídolos como se a sua propensão estivesse
“gravada com pena de ferro (Jó_19:24) em seus corações”; ou: como se
estivesse sancionado por uma lei “escrita com ponta de diamante” sobre
os seus altares. Era costume entre os pagãos escrever os nomes de seus
deuses nas “pontas dos seus altares” (At_17:23). Como a frase “na tábua
do seu coração” refere-se à sua propensão interior, assim a frase “nas
pontas dos seus altares” à sua expressão externa. Outros referem a frase
“nas pontas dos seus altares” à sua contaminação com o sangue das
vítimas oferecidas à imitação do preceito levítico (Êx_29:12; Lv_4:7,
Lv_4:18); mas nesse caso, “escrita … gravado”, resultaria inapropriado.
na tábua … coração — em que Deus se propunha escrever coisas
muito diferentes, ou seja, Suas verdades (Pv_3:3; 2Co_3:3).
seus — Embora o possessivo “seu” vem primeiro, Ele se dirige
diretamente a eles para acusá-los de seu delito em particular.
2. Seus filhos se lembram — Em vez de abandonar as práticas
idolátricas de seus pais, persistem nelas (Jr_7:18). Isso se expressa como
prova de que seu pecado está “gravado ... nas pontas dos seus altares” (v.
1), quer dizer, que não é meramente temporal. Dessa maneira
corrompem a sua posteridade. Castalio, com menos probabilidade de
acerto, traduz: “Eles lembram seus altares com o mesmo afeto com que
lembram seus filhos”.
postes-ídolos — antes, imagens de Astarte, a deusa dos exércitos
celestes, representada como uma árvore sagrada, como se vê nas
esculturas assírias (2Rs_21:7; 2Cr_24:18). “Imagem do bosque”. No
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 99
hebraico, a voz vertida “bosque”, é Asera, quer dizer, Assarak, Astarte
ou Astarote.
junto às árvores frondosas — as árvores sagradas (símbolos) de
Astarte, eram colocadas no meio das árvores naturais. Desta maneira,
“árvores frondosas” se distinguem de “bosques”, ou seja árvores
artificiais. Henderson, para evitar o emprego da mesma partícula
hebraica na mesma oração com diferente sentido, “acima de”, traduz
“imagens de Astarte penduradas das árvores verdes”. Mas não é provável
que, imagens na forma de uma árvore sagrada, fossem penduradas das
árvores, mas antes, colocadas perto delas.
3. Ó minha montanha (RC) — Jerusalém e especialmente Sião e o
templo.
no campo (RC) — como Jerusalém estava rodeada de montanhas
(Sl_125:2), o sentido provável é: Vós confiais em vossa situação
montanhosa (Jr_3:23), mas Eu farei que “Minha montanha” seja como se
estivesse numa planície (ou campo raso) de modo que toda sua fazenda
seja presa fácil do inimigo [Calvino]. Entretanto, “campo” pode
significar toda a Judeia; esta e “minha montanha” expressaria em tal
caso o campo e sua capital. (Gesênius traduz, “junto com”, em lugar de
em; como se traduz o hebraico de Jr_11:19; Os_5:6; mas não é
absolutamente necessário), a “fazenda” de um e do outro “Deus
entregará ao saque”.
os teus altos — que corresponde, de acordo com o paralelismo, a
“minha montanha” (veja-se Is_11:9), como “todos os teus territórios” ao
“campo” (o que confirma o conceito de que “campo” significa toda a
Judeia).
por causa do pecado — relacionado com os “altos”; isto é,
profanado com o pecado dos sacrifícios idolátricos. Mas Jr_15:13, faz
com que seja provável a tradução: “Eu darei tua fazenda ao saque por
causa do teu pecado em todos os teus termos”.
4. por ti — antes, “por causa de ti mesmo”, isto é, por tua culpa
(Jr_15:13).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 100
te privarás — serás despojada, não só de sua riqueza, mas também
tu mesmo serás levado a uma terra estranha (Jr_15:14).
5. Refere-se à inclinação dos judeus a confiar no Egito por causa do
medo que tinham da Assíria e da Babilônia (Is_31:1, Is_31:3).
confia — esta voz é enfática. É lícito esperar ajuda dos homens
enquanto Deus os capacite para nos ajudar, mas nossa confiança deve
descansar unicamente em Deus (Sl_62:5).
6. arbusto solitário — no Sl_102:17; Is_32:11; Hc_3:9, a voz
hebraica se traduz (na Versão Inglesa) “necessitado”, “despido,
“despojado”, respectivamente; mas como o paralelo no v. 8 está
traduzido árvore, deve referir-se a alguma planta da qual este era seu
característico epíteto (veja-se o Jr_48:6, margem da Versão Inglesa),
“uma árvore despida”. Robinson traduz; “o zimbro”, que se acha em
Arabá ou no Grande Vale, chamado aqui “o deserto”, ao sul do Mar
Morto. A retama, segundo Plínio (13:21; 16:26), não era a empregada
nos atos religiosos, devido ao fato de que não produz fruto nem semente,
e assim nem é semeada nem plantada.
não verá … o bem — (Jó_20:17).
terra salgada e inabitável — (Dt_29:23), um solo estéril.
7. (Sl_34:8; Pv_16:20; Is_30:18). Jeremias arrancou primeiro a má
erva (a falsa confiança) para dar lugar à boa semente [Calvino].
8. (Sl_1:3).
não receia — isto é, não sentirá. Resposta ao v. 6; enquanto os
incrédulos “nem sequer verão o bem quando vier”, o crente não verá (a
ponto de ser afligido por ele) quando o calor (uma terrível prova) se
apresentar. As provas lhe virão como a todos os outros: mais ainda, virão
especialmente a ele (Hb_12:6), mas não será afligido por elas, porque
Jeová é a Sua força invisível, à semelhança das raízes que se estendem
junto a um rio (ou corrente), do qual extraem a umidade que as
sustentam (2Co_4:8-11).
não se perturba — não estará ansioso, como alguém que se
desaponta (Lc_12:29; 1Pe_5:7).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 101
sequidão — lit., suspensão, ou seja, a chuva (Jr_14:1); é provável
que Jeremias aluda aqui à seca que tinham padecido; mas ele a converte
em tipo de todo gênero de angústias.
9. enganoso — de uma raiz que significa “aquele que suplanta”,
“aquele que dá a rasteira”, por cujo ato recebeu Jacó o seu nome
(Os_12:3). Ao dizer dos judeus que são enganosos de coração, o profeta
usa com muita propriedade um termo que alude a seu antepassado, cujo
enganoso proceder, não sua fé, imitavam. Sua “suplantação” foi
realizada visando obter a bênção de Jeová. Abandonam a Jeová para
“confiar no homem” (v. 5), e logo creem que enganam a Deus, como se
escapasse ao Seu conhecimento que é no homem e não nEle em quem
confiam.
perverso — “incurável” [Horsley]. (Mq_1:9). Confiar no próprio
coração é tão néscio quanto confiar no próximo (Pv_28:26).
10. Para que ninguém infira das palavras do v. 9, “quem o
conhecerá?”, que nem mesmo Jeová o conhece, e que por isso não pode
castigar a oculta traição do coração, com razão, diz: “Eu Jeová, que
esquadrinho o coração”, etc. (1Cr_28:9; Sl_7:9; Pv_17:3; Ap_2:23).
para dar — e isso a fim de que eu dê (Jr_32:19).
11. a perdiz — (1Sm_26:20); heb., “korea”, de uma raiz que
significa chamar, o que alude ao seu chiado; esse nome o aplicam hoje
em dia os árabes ao sisão. Seu ninho, devido a achar-se no solo, está
exposto a ser pisado sob os pés ou a ser presa dos animais carnívoros,
não obstante todas as solícitas mutretas dos pais para salvar a sua cria. A
tradução “que cobre o que não pôs”, alude à antiga noção de que
roubava os ovos de outras aves e os incubava como próprios; e que a
cria, logo depois de enchente, deixavam-na para ir embora com a sua
verdadeira mãe. Não é necessário que a Escritura aluda a uma
desprezada noção como se fosse verdadeira. Maurer crê que é uma
alusão à usurpadora cobiça de Jeoaquim (Jr_22:13-17). É provável que o
sentido seja mais geral. Assim como anteriormente ele condenou aquele
que depositasse confiança no homem (v. 5), assim agora condena outro
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 102
objeto da enganosa confiança dos corações que acumulam riquezas
injustamente (Sl_39:6; Sl_49:16-17; Sl_55:23).
insensato — (Pv_23:5; Lc_12:20); “Sua insensatez”. (Sl_49:13).
Ele e todos perceberão enfim que não eram tão sábios como se
imaginavam ser.
12. Trono — O templo de Jerusalém era o trono de Jeová. Depois
de ter condenado o falso objeto de confiança, “os altos por causa do
pecado” (v. 3), passa a seguir a propor a Jeová e seu templo, o qual
sempre era acessível para os judeus, como o verdadeiro objeto de sua
confiança, e santuário ao qual podiam fugir. Henderson faz de Jeová, no
v. 13, o sujeito; e este versículo, o predicado: “Um trono de glória, alto
desde o começo, o lugar de nosso santuário, a esperança de Israel é
Jeová.” Dessa maneira trono se toma por Aquele que está sentado sobre
ele; veja-se tronos (Cl_1:16). Deus é chamado “santuário” de Seu povo
(Is_8:14; Ez_11:16). Assim o siríaco e arábico
13. de mim — de Jeová, não obstante lhe preceder o pronome te.
Esta repentina transição é corrente no estilo profético, devido à contínua
comprovação da presença de Jeová.
Todos aqueles que te deixam — (Sl_73:27; Is_1:28).
escrito no chão — isto é, relegados ao esquecimento. À
semelhança de Jesus ao escrever “no chão” (provavelmente os nomes
dos acusadores), (Jo_8:6). Os nomes escritos no pó são apagados pelo
mais leve sopro de vento. Suas esperanças e celebridade estão na terra,
não no livro da vida, nos céus (Ap_13:8; Ap_20:12, Ap_20:15). Os
judeus, embora se orgulhassem de ser o povo de Deus, não tinham parte
no céu, nem “posição” diante de Deus e de seus anjos. Veja-se, “escrito
nos céus”, isto é, na matrícula dos bem-aventurados (Lc_10:20). Veja-se
igualmente “escrito num livro” e “na rocha para sempre” (Jó_19:23-24).
águas vivas — (Jr_2:13).
14-18. Oração do profeta pedindo que Deus o livrasse dos inimigos
que ele tinha provocado com suas fiéis denúncias.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 103
Cura-me … salva-me — não me faça meramente são quanto aos
males da alma assim como do corpo, aos quais estou exposto por minha
relação com inimigos ímpios (Jr_15:18), mas mantém-me nesse estado.
meu louvor — Aquele a quem tenho de louvar pelos passados
favores, e, de conseguinte, único em quem espero para o futuro.
15. Onde está a palavra ... ? — (Is_5:19; Am_5:18). Onde está o
cumprimento das ameaças que você proferiu como procedentes de Deus?
Uma característica da última etapa da apostasia (2Pe_3:4).
16. Eu não recusei tua chamada para ser profeta (Jn_1:3), não
obstante o penoso que me seria o proferir o que com segurança irritaria
os ouvintes; por conseguinte, não deverias me abandonar. (Jr_15:15).
seguindo-te — como pastor subordinado a ti, o Sumo Pastor
(Ec_12:11; 1Pe_5:4).
nem tampouco desejei — Não desejei o dia da calamidade,
embora o predisse como prestes a vir sobre os meus compatriotas; em
consequência, não lhes assiste nenhuma razão para me perseguir.
tu o sabes — eu apelo a Ti quanto à verdade do que digo.
o que saiu dos meus lábios — Minhas palavras (Dt_23:23).
está no teu conhecimento — antes, “foi diante de Ti”; Te era
conhecido (Pv_5:21).
17. motivo de terror — ou seja, me abandonando: tudo o que eu
temo é que Me abandones; se Tu estivesses comigo, não terei temor do
mal que meus inimigos possam me fazer.
18. destrói-os com dobrada destruição — assim o hebraico
(Jr_14:17). Referente a “dobro”, veja-se Nota de Jr_16:18.
19-27. Pronunciado no reinado de Jeoaquim, quem anulou os bons
resultados efetuados pela reforma de Josias, especialmente no referente à
observância do sábado [Eichorn].
porta dos filhos do povo — Era a porta próxima ao palácio do rei,
chamada a porta de Davi e porta do povo, por ser a principal via pública;
agora se chama a porta de Jafa. É provável que seja a mesma que “a
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 104
porta da fonte”, ao pé da colina de Sião, perto da qual estavam o jardim e
o lago do rei (Jr_39:4; 2Rs_25:4; Ne_2:14; Ne_3:15; Ne_12:37).
20. reis — Principia com os reis, pois eles deviam ter reprimido
essa notória profanação.
21. Guardai-vos — lit., por suas almas. Maurer o explica “pois
amais as vossas almas”; frase usada aqui para dar maior peso ao
mandamento.
sábado — a inobservância desse dia foi a causa principal do
cativeiro, a duração da qual, sendo de setenta anos, concorda exatamente
com o número de setenta semanas de anos, ou sejam os 490 anos de
possessão de Canaã, contados desde Saul até seu desterro (Lv_26:34-35;
2Cr_36:21). Por isso, como resultado de sua restauração, deu-se especial
ênfase à observância do sábado (Ne_13:19).
Jerusalém — Isso teria sido escandaloso em qualquer parte, mas na
capital, Jerusalém, era um descarado insulto a Deus. A santificação do
sábado tem por objetivo simbolizar a santidade em geral (Ez_20:12), daí
o fato de se fazer tanta insistência sobre ele. A grave impiedade dos
judeus se manifesta em que têm em pouco a vontade de Deus no caso de
tão fácil e positivo mandamento.
23. (Jr_7:24, 26).
24. Aqui se toma a parte pelo todo: “Se guardardes o sábado e
minhas demais leis”.
25. reis ... em carros — O reino por este tempo tinha chegado tão
baixo que esta promessa era um especial favor.
será para sempre habitada — (v. 6; Is_13:20).
26. das planícies, das montanhas e do Sul — (Js_15:1-4). A
fronteira meridional se estendeu até o rio do Egito, mas agora tinha sido
cerceada pelas invasões egípcias (2Cr_35:20; 2Cr_36:3-4). A palavra
hebraica traduzida “meridional” significa seco, com o que se alude ao
deserto do Sul da Judeia. A enumeração de todas as partes da Judeia: a
cidade, o campo, a planície, a parte montanhosa e o deserto, indica que já
não faltará nada para a integridade do território judeu (Zc_7:7).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 105
sacrifícios — Como no v. 22 menciona-se um dos elementos que
constituem a prosperidade da Judeia, ou seja, seus reis, sentados no trono
de Davi, objeto de que Deus era seu guardião; assim, neste versículo
aparece outro elemento constitutivo, ou seja, seus sacerdotes, um objeto
de que Deus lhes era propício (Sl_107:22).
27. carga … pelas portas … fogo nas suas portas — retribuição
que responde ao pecado; a cena de seu pecado será a cena de castigo
(Jr_52:13; 2Rs_25:9).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 106
Jeremias 18

Vv. 1-23. Deus, Como o Único Soberano, Tem Direito Absoluto de


Tratar as Nações de acordo Com Sua Conduta para Com Ele;
Ilustrando-o, em Forma Tangível, Mediante a Feitura de Vasilhas de
Barro pelo Oleiro.
2. Dispõe-te — ou desce do alto nível em que estava o templo,
perto do qual Jeremias exercia seu ofício profético, ao baixio, onde um
bem conhecido oleiro (o artigo indica que era destacado) tinha sua
oficina.
3. rodas — lit., “sobre ambas as pedras”. O torno do oleiro, em
posição horizontal, consta de duas rodas. O inferior é maior; o superior,
menor. Originalmente eram de pedra, posteriormente, de madeira. Com a
superior o oleiro molda o barro, dando-lhe a forma que lhe agrada. São
encontradas representadas nas ruínas egípcias. Em Êx_1:16 só é a
palavra hebraica que se acha em outras partes, bem que com sentido
diferente.
4. se lhe estragou — “De barro” é a verdadeira tradução a qual
estava corrompida ao dizer “como barro” (na margem da V. I.), por causa
da semelhança das duas letras hebraicas, e do v. 6, “como o barro”.
6. Refutação da confiança dos judeus em seus privilégios externos
como povo eleito de Deus, como se Deus nunca pudesse desprezá-los.
Mas se o oleiro, uma mera criatura, tem faculdade de jogar a um lado um
copo estragado, e tomar outro barro do solo, “por mais forte razão”
Deus, o Criador, pode desprezar o povo que se mostrou infiel à sua
eleição, e levantar outros em seu lugar (cf. Is_45:9; Is_64:8; Rm_9:20.
21). É curioso que o Campo do oleiro fosse comprado com o preço da
traição de Judas (Mt_27:9-10; um copo de oleiro feito em pedaços. Veja-
se Sl_2:8-9; Ap_2:27), por não ter respondido aos desígnios do oleiro, o
que é uma verdadeira figura que representa o soberano poder de Deus
para entregar os réprobos à destruição, não por capricho, mas em
exercício dos Seus justos juízos. Mateus cita as palavras de Zc_11:12-13,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 107
como de Jeremias, porque este (caps. 18 e 19) era a fonte da qual aquele
derivou seu sumário em Jr_11:12, 13 [Hengstenberg]
7. No momento em que eu falar — Num momento, quando a
nação menos o esperar. Desta maneira lembra aos judeus quão
maravilhosamente Deus os havia libertado de sua original degradação,
quer dizer, num só e mesmo dia vós que fostes os mais desventurados
fostes feitos os mais favorecidos de todos os povos [Calvino].
8. maldade — como antítese ao “mal que tinha pensado lhes
fazer”.
eu me arrependerei — Deus aqui se adapta à maneira humana de
pensar. A mudança não está em Deus, mas nas circunstâncias que
regulam os procedimentos de Deus: é o mesmo que quando dizemos que
a terra se afasta de nós quando navegamos, sendo que somos nós os que
nos afastamos dela (Ez_18:21; Ez_33:11). O imutável princípio de Deus
é fazer o melhor que se puder fazer sob todas as circunstâncias; se, pois,
Ele não levasse em conta a mudança moral do Seu povo (suas orações e
demais), Ele não procederia de acordo com os Seus imutáveis princípios
(vv. 9, 10). Isto é praticamente aplicável no caso dos judeus (v. 11; veja-
se Jr_26:3; Jn_3:10).
11. estou forjando mal — isto alude a precedente figura “do
oleiro”, quer dizer, Eu, Jeová, sou agora, por dizer assim, o oleiro que
dispõe o mal contra vós; mas no caso de que se arrependam, está em
Meu poder dispor um novo curso de conduta para convosco.
convertei-vos, pois, agora, etc. — (2Rs_17:13).
12. Não há esperança — As Tuas ameaças e exortações as
desprezamos (Jr_2:25). O nosso é um caso desesperado; nos
abandonamos sem esperança a nossos pecados e seu castigo. Nesta e nas
seguintes cláusulas: “Caminharemos de acordo com nossas
imaginações”, Jeremias faz com que expressem o real estado de suas
vidas, antes, que os hipócritas subterfúgios a que estavam inclinados a
expressar. Assim ocorre em Is_30:10-11.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 108
13. (Jr_2:10; 11). Mesmo entre os próprios pagãos nunca se ouviu
dizer que uma nação desprezasse os seus deuses para adotar outros
estranhos, ainda que seus próprios deuses sejam falsos.
a virgem de Israel — (2Rs_19:21), o que agrava seu delito,
porquanto a nação de Israel era especialmente a virgem que Deus havia
desposado consigo.
Coisa sobremaneira horrenda — (Jr_5:30).
14. Há algum homem (que viva perto) do Líbano que deixaria a
neve desse monte (quer dizer, a água fresca proveniente do degelo da
neve desse monte, como ele mesmo o explica em seguida), que vem da
pedra do campo (nome poético do Líbano, que sobressai no meio do
campo ou quase planície que o rodeia)? Não há. Entretanto, Israel
abandonou a Jeová, a fonte de águas vivas, ao alcance de sua mão, por
cisternas quebradas. Jr_17:13; 2:13, segundo a Versão Inglesa neste
lugar. Maurer traduz: “Cessará a neve do Líbano da rocha para regar os
meus campos?” (por ser toda a terra do contorno peculiarmente de
Jeová.) Líbano significa a montanha branca, chamada assim por causa
da neve perpétua que cobre essa parte chamada Hermom, a qual se
estende ao nordeste da Palestina.
faltarão ... ? — que responde ao paralelo: “Deixará um homem”.
Maurer traduz: “se secarão” ou “faltarão” (Is_19:5). Neste caso o sentido
seria: Se desviará a natureza de seu curso natural? “As frescas águas”
(veja-se Pv_25:25) referem-se aos mananciais perenes, alimentados pelo
parcial degelo da neve na época dos calores.
que vêm de longe, frias e correntes? — que vêm de longe, quer
dizer, das distintas e elevadas rochas do Líbano. Henderson o traduz
assim: “as comprimida águas”, quer dizer, contraídas por um estreito
canal ao descer por entre as rochas; “fluir” pode ser que neste conceito
seja, antes, “descer” (Ct_4:15). Mas o paralelismo na Versão Inglesa é
melhor: “que vêm da rocha”; “que correm de longínquas terras”.
15. Contudo — antes: E entretanto; em oposição à ordem natural
das coisas.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 109
têm esquecido — (Jr_2:32). Isto indica o prévio conhecimento de
Deus, enquanto que Ele era desconhecido para os gentios; o
esquecimento de Deus de parte dos judeus proveio, por conseguinte, de
sua obstinada perversidade.
que os fizeram tropeçar — quer dizer, os falsos profetas e os
sacerdotes idólatras, fazem tropeçar aos judeus.
nas veredas antigas — (Jr_6:16): os caminhos que seus pios
antepassados seguiram. Não se celebra aqui indistintamente a
antiguidade, mas o exemplo daqueles pais que seguiram o caminho reto.
não aterradas — não preparadas convenientemente, que alude ao
erguido centro do caminho. Calvino traduz: “Não achado”. Eles não
tinham nenhum precedente dos primeiros santos que os induziu a
inventar por si mesmos um novo culto.
16. assobio — (1Rs_9:8). Como signo de desprezo. O que só ia ser
o evento, atribui-se ao propósito do povo, embora completamente
diferente do que gostariam de esperar. Seu propósito se declara que será
a destruição de seu país, por ser isso o inevitável resultado de seu curso
de conduta.
meneará a cabeça — em sinal de mofa (2Rs_19:21; Mt_27:39).
Assim como “menear a cabeça” responde a “assobio”, assim
“maravilhará” responde a “desolação”, pelo qual, Munster, etc., preferem
traduzir “objeto de admiração” (Jr_19:8).
17. Com vento oriental — Lit., “Eu os espalharei como vento
oriental” (que espalha tudo o que acha pela frente): é um vento muito
violento (Jó_27:21; Sl_48:7; Is_27:8). Trinta e dois MSS. dizem (sem
como) “com um vento oriental”.
mostrar-lhes-ei as costas — justa retribuição, pois “eles me
voltaram as costas … não o rosto” (Jr_2:27).
18. (Jr_11:19). Acusemo-lo de um delito capital, como falso
profeta; “pois (enquanto ele prediz que esta terra será deixada sem
sacerdotes que ensinem a lei, Ml_2:7; sem escribas, que expliquem suas
dificuldades, e sem profetas que revelem a vontade de Deus) a lei não
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 110
faltará do profeta”, etc., desde que Deus tem feito deles uma permanente
instituição em Sua Igreja, e a lei diz que elas serão perpétuas (Lv_6:18;
Lv_10:11; veja-se Jr_5:12). [Grocio].
ao sábio — os escribas e anciãos unidos aos sacerdotes. É provável
que eles queiram dizer: Nós temos o direito de nossa parte, apesar das
palavras de Jeremias contra nós e nossos profetas, etc. (Jr_28:15, 16;
29:25, 32; 5:31); “pois a lei não faltará”, etc. Eu prefiro a explicação de
Grocio.
vinde, firamo-lo com a língua — mediante falsa acusação
(Sl_57:4; Sl_64:3; Sl_12:4; Sl_50:19). Por causa da língua (Margem da
V. Inglesa), isto é, por falar contra nós. “Na língua”, isto é, matemo-lo
para que não fale contra nós. [Castalio].
19. Olha para mim — contraste-se com “não olhemos” (v. 18).
Como eles não olham para mim, olha Tu, ó Jeová, e permite que ao
menos minhas palavras sejam de peso para Ti.
20. Nos detalhes especificados aqui, Jeremias era tipo de Jesus
Cristo (Sl_109:4-5; Jo_15:25)
minha alma — minha vida (Sl_35:7).
eu compareci à tua presença … para desviar ... tua indignação
— Assim o fez Moisés (Sl_106:23; cf. Ez_22:30). Assim Jesus Cristo o
antítipo de certos anteriores intercessores (Is_59:16).
21. entrega seus filhos à fome e ao poder da espada — lit., pelas
mãos da espada. Assim Ez_35:5. Maurer com Jerônimo traduz:
“entrega-os ao poder da espada”. Mas veja-se Sl_63:10, margem da V.
Inglesa; Is_53:12. Nesta oração ele não se entrega à vingança pessoal,
como se estivesse sua própria causa em tela de juízo; mas sim fala sob o
ditado do Espírito Santo, cessando de interceder, e falando
profeticamente, sabendo como sabia que estavam condenados à
destruição como réprobos; pelo contrário, por aqueles que não eram
assim, sem dúvida não deixou de interceder por eles. Mas isto não temos
que tomar como exemplo, por tratar-se de um caso especial.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 111
sejam mortos de peste — ou como no Jr_15:2, “Pereçam por
praga mortífera” [Maurer].
seus maridos … e os seus jovens — Horsley distingue os
primeiros como homens casados de meia idade; os últimos como a flor
dos jovens solteiros.
22. clamor — por ter o inimigo entrado na cidade, fazendo com
que suas casas já não lhes sirvam de refugio em suas calamidades
[Calvino].
abriram cova — (1:20; Sl_57:6; Sl_119:85).
23. não lhes perdoes — (Sl_109:9-10, Sl_109:14).
nem lhes apagues — figura tirada de um livro de contabilidade
(Ap_20:12).
de diante da tua face — Os hipócritas supõem que Deus não está
perto, enquanto escapam ao castigo; mas quando Ele os castiga, então
dizem que estão em Sua presença, pois já não podem lisonjear-se de que
podem ocultar-se dos Seus olhos (Sl_90:8).
age contra eles — exerce Teu poder contra eles [Maurer].
no tempo da tua ira — Embora pareça que Deus demora, seu
tempo vem ao final (Ec_8:11, 12; 2Pe_3:9-10).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 112
Jeremias 19

Vv. 1-15. A Desolação dos Judeus Pelos Seus Pecados. Predita no


Vale de Hinom, o Símbolo da Ruptura da Vasilha.
Maurer lhe atribui como data os começos do reinado de Zedequias.
1. vasilha — hebreu, bakbuk, chamada assim por causa do gluglu
que faz quando se esvazia.
anciãos — como testemunhas dessa ação simbólica (v. 10; Is_8:1-
2), para que os judeus não pudessem depois alegar ignorância da
profecia. Os setenta e dois anciãos que compunham o Sinédrio ou
Grande Conselho, eram escolhidos em parte dentre “os sacerdotes”, e em
parte das outras tribos, isto é, “o povo”; aqueles presidiam os assuntos
espirituais; estes, os civis. Os setenta e dois representavam a todo o
povo.
2. vale do filho do Hinom — ou Tofete, ao sul de Jerusalém, onde
se imolaram vítimas humanas e os meninos eram passados pelo fogo, em
honra de Moloque.
porta oriental — na margem da V. Inglesa, portas do sol, por sair
o sol pelo este. Maurer traduz “a porta do oleiro”. Dessa porta parte o
caminho que conduz ao vale de Hinom (Js_15:8). Os oleiros dali
fabricavam vasilhas para o uso do templo. o qual estava muito perto
(veja-se vv. 10. 14; Jr_18:2; Zc_11:13). Essa porta era exatamente a
mesma que a das águas rumo ao este (Ne_3:26; Ne_12:37); chamada
assim por causa do arroio de Cedrom. Calvino traduz como a Versão
Inglesa e a margem da mesma: “Era uma monstruosa perversidade pisar
a lei sob os pés num lugar tão conspícuo em que a diária saída do sol
lhes lembrava a luz da lei de Deus.”
3. A cena de seu delito se escolhe como a cena da denúncia contra
eles.
reis — o rei e a rainha (Jr_13:18); ou inclui os seus conselheiros e
governadores.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 113
retinir-lhe-ão — como se fossem aturdidos pelo estrondo do trovão
(1Sm_3:11; 2Rs_21:12).
4. (Is_65:11).
profanaram este lugar — consagrando-o ao culto de deuses
estranhos; e alienaram uma parte da cidade Santa, de Deus, o legítimo
dono do templo, da cidade e do país inteiro.
nem seus pais — isto é, os piedosos entre eles; pois a seus infiéis
pais Deus não os tem em conta.
de inocentes — matando-os em honra de Moloque (Jr_7:31;
Sl_106:37).
5. o que nunca lhes ordenei — não; ainda mais, mandei-lhes o
contrário (Lv_18:21; veja-se Jr_7:31, 32).
6. já não se chamará Tofete — do hebreu tof, um tambor, porque,
ao sacrificar meninos a Moloque, tocavam-se tambores para afogar os
seus gritos. Assim o nome indica a alegria do povo, por imaginar-se que
propiciavam ao deus com tal sacrifício; isto como antítese a seu lutuoso
nome futuro.
vale da Matança — porque seria cenário de degola, não mais de
meninos, mas de homens; não de “inocentes” (v. 4), mas sim daqueles
que mereciam com excesso que compartilhassem em semelhante sorte. A
cidade não pôde tomar-se sem prévia ocupação do vale de Hinom onde
se encontrava a única fonte de água; daí que se livrasse nesse lugar uma
feroz batalha.
7. Porque dissiparei o conselho — Os seus planos para repelir o
inimigo foram frustrados (2Cr_32:1-4; Is_19:3; Is_22:9, Is_22:11). Ou,
suas esperanças de receber ajuda por ter recorrido aos ídolos [Calvino].
neste lugar — O vale de Hinom seria o lugar onde precisamente os
caldeus estabeleceriam o seu acampamento: o preciso lugar onde eles
esperavam receber ajuda dos ídolos, devia ser o teatro de sua própria
matança.
8. (Nota, Jr_18:16).
9. (Dt_28:53; Lm_4:10).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 114
10. quebrarás a botija — ação simbólica, explicada no v. 11.
homens — os anciãos do povo e dos sacerdotes (v. 1, veja-se
Jer_51:63, 64).
11. como se quebra o vaso do oleiro — que expressa a absoluta
soberania de Deus (Jr_18:6; Sl_2:9; Is_30:14; margem da Versão
Inglesa; Lm_4:2; Rm_9:20-21).
que não pode mais refazer-se — uma vasilha de barro já não pode
restaurar-se; só se pode fazer uma nova do mesmo material. De igual
maneira, Deus suscitou uma nova linhagem judia, não idêntica aos
destruídos rebeldes, mas sim substituindo-os por outra geração [Grocio].
não haverá outro lugar para os enterrar — (Jr_7:32).
12. farei desta cidade um Tofete — quer dizer, tão poluído com os
cadáveres como Tofete.
13. serão imundas — com cadáveres (v. 12; 2Rs_23:10).
todas as casas — antes, (explicação das frases anteriores “as casas
… e as casas”) “todas as casas”, etc. [Calvino].
terraços — Como estes eram planos usavam-se como altos para
oferecer sacrifícios ao sol e aos planetas (Jr_32:29; 2Rs_23:11-12;
Sf_1:5). Os nabateus, que habitavam ao sul e a leste do Mar Morto,
muito amigos dos judeus, segundo Estrabão, tinham esse mesmo
costume.
14. átrio da Casa do SENHOR — perto do Tofete. É o átrio maior
ao ar livre, onde estava a mais numerosa multidão (2Cr_20:5).
15. suas vilas — as aldeias e cidades suburbanas próximas a
Jerusalém, como Betânia.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 115
Jeremias 20

Vv. 1-18. O Encarceramento de Jeremias por Pasur, Principal


Dignitário do Templo, por Profetizar Dentro de Seu Recinto; Renova as
Predições Contra a Cidade, etc., Sobre Sua libertação.
1. filho — descendente.
do Imer — Um dos primeiros “governadores do santuário e da casa
de Deus”, num total de vinte e quatro, quer dizer, dezesseis dos filhos de
Eleazar e oito dos filhos de Itamar (1Cr_24:14). Este Pasur é distinto do
Pasur filho de Malquias (Jr_21:1). Os “magistrados” (Lc_22:4) parece
que tinham autoridade sobre os vinte e quatro guardas do templo, mas só
tinham poder de apreender a qualquer um que fosse culpado de ter
delinquido dentro de seu recinto; mas o Sinédrio tinha o poder judicial
para julgar a tais delinquentes [Grocio] (Jr_26:8, 10, 16).
2. O fato de Pasur ser da mesma ordem e da mesma família que
Jeremias, agrava a afronta do golpe recebido (1Rs_22:24; Mt_26:67).
tronco — instrumento de tortura, com cinco buracos, nos quais se
colocavam o cangote, as mãos e os pés, ficando o corpo curvado
(Jr_29:26). De uma raiz hebraica “torcer” ou “atormentar”. Isso
manifesta a crueldade de Pasur.
superior — quer dizer, a porta mais alta (2Rs_15:35).
porta superior de Benjamim — uma porta do muro do templo,
que correspondia à porta de Benjamim, chamada propriamente assim, no
muro da cidade, por ir ao território de Benjamim (Jr_7:2; 37:13; 38:7). A
porta do templo chamada de Benjamim, como estava em elevada
posição, chamava-se “a porta alta”, para distingui-la da outra do mesmo
nome pertencente ao muro da cidade.
3. Pasur — Composto de duas raízes que significam “amplitude” (e
por isso “segurança”) “por todos os lados”, como antítese a Magor-
Missabibe (RC), terror “em redor” (v. 10; Jr_6:25; 46:5; 49:29;
Sl_31:13).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 116
4. terror … e para todos os teus amigos — os que creram em suas
falsas promessas (v. 6). O sentido deve estar de acordo com o “terror ao
redor” (v. 3). Eu trarei terror sobre ti e seus amigos, aquele terror que
provém de ti mesmo, isto é, de tuas falsas profecias. O tempo
demonstrará, para tua consternação e de tuas incautas vítimas, que tu e
suas profecias fostes a causa de sua ruína e da tua. A tradução do Maurer
é por conseguinte desnecessária: “Eu entregarei a ti e a seus amigos ao
terror”.
5. riqueza — isto é, seus recursos.
trabalho — os frutos do trabalho, de seus lucros e toda sua riqueza.
6. profetizaste falsamente — ou seja, que Deus não deixará a esta
terra sem profetas, sacerdotes e mestres (ou “sábios”). (Jr_18:18; veja-se
cap. 5:31).
7. A queixa de Jeremias, que não difere da de Jó, respira algo da
fraqueza humana, por causa de seu encarceramento. Tu me prometeste
que nunca me entregaria à mercê de meus inimigos, e entretanto, fez
isso. Mas Jeremias compreendeu mal a promessa de Deus, a qual não
dizia que não teria que sofrer nada, mas sim Deus o livraria de seus
sofrimentos (Jr_1:19).
Persuadiste-me — Outros traduzem como a margem da V. Inglesa,
“Induziste-me ou persuadiste-me”, quer dizer, a dedicar-me a profetizar,
“e eu me persuadi”; quer dizer, deixei-me persuadir a empreender o que
encontrei que era muito difícil para mim. Desta maneira, a voz hebraica
usa-se em bom sentido (Gn_9:27, margem da Versão Inglesa; Pv_25:15;
Os_2:14).
mais forte foste do que eu — Tu, cuja força eu não pude resistir,
puseste esta carga sobre mim, e prevaleceste (me fazendo profetizar a
despeito de minha relutância), (Jr_1:5-7); entretanto, cada vez que
exerço meu ofício, me tratas com zombaria (Lm_3:14).
8. Antes, “sempre que falo, grito”. “No que concerne à violência e
ao despojo, sinto-me impulsionado a gritar”, isto é, a me queixar
[Maurer]. A Versão Inglesa, na última cláusula é mais gráfica: “Eu
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 117
clamo contra a violência e o despojo” (Jr_6:7). Eu não posso falar com
tom aprazível; sua terrível maldade me força “a gritar”.
Porque — antes, por conseguinte, é a apódose da oração
precedente; porque no desempenho de minha funções proféticas, eu não
falei meramente mas sim gritei; e gritei: violência, etc.; por conseguinte,
a palavra de Jeová me converteu em recriminação (v. 7).
9. sua palavra foi (AV) — ou lit., “houve em meu coração, por
assim dizer, um fogo ardente”; isto é, o divino estro, ou impulso a falar
foi, etc. (Jó_32:18; Sl_39:3).
estou fatigado de sofrer e não posso (RC) — “me esforcei por me
conter, mas não pude” (At_18:5; veja-se Jr_23:9; 1Co_9:16-17).
10. Porque — Não se refere às palavras imediatamente anteriores,
mas sim a “não farei menção dele”; da difamação ou detração do
inimigo em todos os sentidos (veja-se Sl_31:13), que o levou a já não
pensar mais em profetizar.
Denunciai, e o denunciaremos — São as palavras que os seus
adversários se dirigem uns aos outros; subministrem alguma informação
contra ele (verdadeira ou falsa) que sirva de pretexto para acusá-lo; e
“nós o delataremos”, ou seja, ao Sinédrio, a fim de esmagá-lo.
amigos — lit., homens de minha paz; aqueles que fingiam estar em
paz comigo (Sl_41:9). Jeremias é tipo do Messias, ao qual se refere
naquele salmo (veja-se Jr_38:22; Jó_19:19; Sl_55:13-14; Lc_11:53-54).
aguardam de mim que eu tropece — (Sl_35:15, margem da V.
Inglesa, “claudicaria” Sl_38:17; Sl_71:10, margem). Gesênius não o
traduz tão bem, segundo o modismo árabe: “os que guardam meu
flanco” (isto é, meus amigos mais íntimos que estão sempre a meu lado)
como aposto de “amigos”, sujeito de diziam. O hebraico significa
propriamente “lado”, depois “claudicar”; pois aquele que claudica se
inclina a um lado.
se deixe persuadir — se sentirá tentado a cometer algum pecado.
11. não prevalecerão — como eles o esperavam (v. 10; Jr_15:20).
não se houveram sabiamente — em sua conspiração.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 118
12. provas o justo — em contraste com os apressados juízos dos
homens (Jr_11:20; 17:10).
te confiei a minha causa — isto é, te encomendei a minha causa
(veja-se 2Rs_19:14; Sl_35:1).
13. livrou a alma (RC) — Esta libertação se efetuou quando
Zedequias sucedeu a Jeconias.
14-18. O contraste entre o espírito desta passagem e a precedente
ação de graças é preciso explicá-lo assim: para mostrar quão grande foi
a libertação (v. 13), acrescenta um quadro que reflete o que seu
entristecido espírito tinha sido antes de sua libertação; eu disse enquanto
estive encarcerado: “Maldito seja o dia, etc.” Os sentimentos de Jeremias
foram os mesmos que os de Jó (Jó_3:3, Jó_3:10-11, cujas palavras
copia). Embora o zelo do profeta foi aguilhoado, não foi tanto por causa
de si, como por causa da honra de Deus, menosprezado pelo rechaço das
palavras do profeta; contudo, Jeremias se mostrou destemperado ao fazer
objeto de maldição o dia de seu nascimento, o qual na realidade devia ser
motivo de ação de graças.
15. um filho — o nascimento do qual considerava-se no Oriente
como especial motivo de alegria; enquanto que o de uma menina não o é
normalmente.
16. as cidades — as de Sodoma e Gomorra.
ouça ele clamor pela manhã e ao meio-dia — quer dizer, que se
mantenha alarmado todo o dia (não meramente de noite, quando
comumente preponderam os terrores, mas sim durante o dia em que
ocorre algo extraordinário) com aterradores gritos de guerra, como os
que se ouvem numa cidade sitiada (Jr_18:22).
17. Por que — “aquele homem” (vv. 15, 16).
não me matou Deus no ventre materno — isto é, quando ainda
estava nas vísceras de minha mãe.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 119
Jeremias 21

Vv. 1-14. Zedequias Consulta a Jeremias Sobre Qual Será o


Resultado da Guerra: Resposta de Deus.
Escrito provavelmente quando os caldeus, depois de ter rejeitado os
egípcios que traziam socorros aos judeus (Jr_37:5-8; 2Rs_24:7), foram
pela segunda vez contra Jerusalém; mas ainda não tinham estreitado o
cerco (vv. 4, 13) [Rosenmuller]. É provável que este capítulo deva ser
colocado entre os capítulos 37 e 38, porquanto aquilo que os “príncipes”,
em Jr_38:2, apresentam a Jeremias como tendo dito, é exatamente o que
achamos no v. 9 deste cap. 21. Além disso, as mesmas pessoas que se
mencionam neste v. 1, mencionam-se em Jr_37:3 e Jr_38:1, ou seja,
Pasur e Sofonias. O que aqui se relata com mais amplitude, ali se remete
simplesmente à narração histórica. Veja-se Jr_52:24; 2Rs_25:18
[Maurer].
Zedequias — Um príncipe que tinha alguma reverência pelas
coisas sagradas, razão pela qual enviou uma bela embaixada a Jeremias;
mas carecia de valor moral para obedecer a seus melhores impulsos.
Pasur — filho de Malquias, da quinta ordem dos sacerdotes,
distinto do Pasur filho do Imer (Jr_20:1), da décima sexta ordem
(1Cr_24:9, 1Cr_24:14).
Sofonias — da vigésima quarta ordem. Estes não são nomeados
pelo nome de seu pai, mas pelo de sua família (1Cr_24:18).
2. Nabucodonosor — A forma mais comum de pronunciar este
nome em hebraico no livro de Jeremias é Nebuchadnezzar [NKJV].
Procede de raízes persas que significam “Nebo, o principal dos deuses”
ou “Nebo, o deus do fogo”. Era filho de Nabopolassar, quem o nomeou
comandante do exército que lutava contra o Egito, em Carquemis, e
contra a Judeia; ele era o príncipe herdeiro.
segundo todas as suas maravilhas — Zedequias espera a
intervenção especial de Deus, à semelhança da outorgada a Ezequias
quando foi atacado por Senaqueribe (2Rs_19:35-36).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 120
e o faça — Nabucodonosor.
retirar-se de nós — levantará o cerco que estabeleceu (Jr_37:5, 11,
margem da V. Inglesa; Nm_16:24, Nm_16:27; 1Rs_15:19, margem).
4. o Deus de Israel — Aquelas “suas maravilhas” (v. 2) não lhes
pertencem: Deus é fiel; mas vós perdestes os privilégios da aliança, por
vossa infidelidade. “Deus sempre continuará sendo o Deus de Israel,
embora destruirá a ti e ao teu povo”. [Calvino].
farei retroceder as armas … vossas mãos — Eu lhes darei um uso
muito diferente do que vos tínheis proposto. Vós lutais agora com elas
“fora dos muros” contra os caldeus (os soldados judeus ainda podiam
sair livremente e defender as fontes de água que estavam fora dos muros
no vale ao pé do monte de Sião; v. 13; Jr_19:6, 7), mas logo serão
rejeitados até dentro da cidade [Maurer] e “no meio dela” farei com que
suas armas sejam reunidas num mesmo lugar (“Eu as reunirei”, ou seja,
suas armas) pelos caldeus vencedores. [Grocio], os quais vos matarão
com elas (Menoquio).
5. Os judeus terão que confrontar não só os irritados caldeus, mas o
próprio Deus, irado por suas provocações, que luta contra eles. Cada
palavra realça o caráter da oposição de Deus: “Eu mesmo … com braço
estendido e mão poderosa (não como em Êx_6:6, e como no caso de
Senaqueribe, em seu favor, mas sim) com ira, com indignação e grande
furor”.
7. e o povo, e quantos desta cidade restarem — é, antes,
explicativa a frase “o povo que seja deixado”, etc.
procuram tirar-lhes a vida — não contentando-se com nada
menos que com sua morte; pois não se contentará em saqueá-los e
escravizá-los.
feri-los-á a fio de espada — Tal foi a sorte dos filhos de Zedequias
e de muitos dos nobres judeus. O próprio Zedequias, embora não fosse
sentenciado a morrer de morte violenta, morreu de tristeza. Veja-se
quanto ao exato cumprimento em Jr_34:4; Ez_12:13; 2Rs_25:6-7.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 121
8. “Vida”, se vos renderdes; “morte”, se persistirdes em resistir aos
caldeus (veja-se Dt_30:19). O caráter distintivo da missão que Jeremias
recebeu de Deus, se pode ver no fato de exortar à rendição incondicional;
enquanto que todos os profetas precedentes tinham exortado o povo a
opor-se aos seus invasores (Is_7:16; Is_37:33, Is_37:35).
9. (Jr_38:2, 17, 18).
o que sair … — Desertar.
a vida ... como despojo — dito proverbial para fazer com que a
pessoa escape com vida, à semelhança do valioso despojo ou presa que a
pessoa leva; o estreito do escape e a alegria que se sente por causa disso,
estão compreendidos na ideia (Jr_39:18).
10. voltei o rosto contra esta cidade — isto é, estou determinado a
castigá-la (Lv_17:10).
12. casa de Davi — A família real e todos os que exerciam alguma
função junto ao rei. Designa-os assim devido à maior desonra que
significava o fato de terem degenerado tanto da piedade de seu
antepassado Davi; e reprimi-los de se vangloriarem de serem os seus
descendentes, como se pelo fato de o serem fossem invioláveis; mas
Deus não lhes perdoará a apostasia.
pela manhã — alusão ao tempo de fazer justiça (Jó_24:17;
Sl_101:8); mas o sentido é principalmente de caráter proverbial, por isso
presteza” (Sl_90:14; Sl_143:8). Maurer traduz: “todas as manhãs”.
para que não seja o meu furor como fogo — O fato de já estar
aceso, e o decreto de Deus contra a cidade já tinha tido princípio de
execução (vv. 4, 5), mas o rei e sua casa podiam ainda ser preservados se
se arrependessem e reformassem. Deus os exorta à retidão, não como se
com isso pudessem escapar inteiramente do castigo, mas sim como
condição para que este fosse mitigado.
13. ó Moradora do vale, ó Rocha da campina — Jerusalém
personificada, situada em sua maior parte sobre colinas, com vales ao pé
delas, como o vale de Hinom, etc; e mais longe, outra vez vales e
montanhas, o que constituía uma posição muito fortificada, pela
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 122
natureza; daí que os habitantes se imaginavam que estavam fora do
alcance dos inimigos, mas como Deus está “contra eles”, sua posição de
nada lhes valerá. O vale entre o Monte de Sião e o de Moriá é o chamado
Tiropeom. Robinson entende por “Rocha da campina” o Monte de Sião,
sobre o qual há um terreno nivelado de alguma extensão. A este se alude
especialmente aqui, por ser o lugar da residência real da “casa de Davi”,
de que se fala no v. 12.
14. o fruto das vossas ações — (Pv_1:31; Is_3:10-11).
no seu bosque — ou seja, de sua cidade, tirado do v. 13. “Bosque”
é alusão à densa massa de casas, feitas de cedro, etc., do Líbano
(Jr_22:7; 52:13; 2Rs_25:9).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 123
Jeremias 22

Vv. 1-30. Exortação ao Arrependimento; Juízo de Salum, Jeoaquim


e Conias.
Isto pertence a um período anterior a este capítulo, ou seja, aos
reinados de Salum ou Jeoacaz, Jeoaquim e Jeconias (vv. 10, 13, 20).
Jeremias agrupa com frequência as suas profecias, não por ordem
cronológica, mas pela semelhança de assuntos; assim o v. 3 deste
capítulo corresponde a Jr_21:12. Grocio pensa que Jeremias repete aqui
a Zedequias o que lhes tinha anunciado anteriormente aos predecessores
do rei (ou seja, a seu irmão, e a seu sobrinho, filho deste) a respeito de
um tratamento semelhante, e que depois se cumpriu; é uma admoestação
para Zedequias. É provável que Jeremias, ao pôr em ordem as suas
profecias, as agrupasse, pela primeira vez, segundo o arranjo que agora
têm, sendo movido pelo Espírito Santo a falar da série dos quatro reis de
Judá que se tinham desviado do caminho da “justiça”, seguida no fim
pelo “Rei” (o Messias), o Renovo justo, suscitado a Davi na casa de
Judá, “Jeová nossa justiça” (Jr_23:6). A injustiça de Zedequias sugeria a
recapitulação do fracasso de seus predecessores nos mesmos respeitos, e
o resultante castigo, que deveria tê-lo admoestado; mas não foi assim.
1. Desce — O templo (onde Jeremias tinha estado profetizando)
estava mais alto que o palácio real, situado no monte de Sião (Jr_36:10,
12; 2Cr_23:20). Daí a expressão: “Desce”.
do rei de Judá — possivelmente inclua a cada um dos quatro
sucessivos reis, aos quais se tinha dirigido, um após outro, mas tomados
aqui em conjunto. Salum, v. 11; Jeoaquim vv. 13-18; Jeconias, v. 24;
Zedequias, na admoestação que lhe foi dirigida sugere-se a menção dos
restantes (Jr_21:1, 11, 12).
2. estas portas — as do palácio real.
3. Aqui se alude especialmente a Jeoaquim: Ele, valendo-se da
opressão, exigiu o tributo que lhe tinha sido imposto por Faraó-Neco, rei
do Egito (2Cr_36:3), e afligiu o povo com pesados impostos e até o fez
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 124
trabalhar sem pagamento para lhe construir suntuosos palácios (vv. 13-
17), e derramou sangue inocente, por exemplo, a do profeta Urias
(Jr_26:20-24; 2Rs_23:35; 2Rs_24:4).
4. sobre o seu trono — lit., em lugar de Davi sobre o seu trono
(veja-se Nota, Jr_13:13). Este versículo é em substância uma repetição
de Jr_17:25.
os seus servos — Assim o Keri. Mas o Quetib o dá como singular:
“o seu servo”, quer dizer, distributivamente “cada um com os seus servos”;
Jr_17:25, “os príncipes deles”.
5. por mim mesmo tenho jurado — (Hb_6:13, Hb_6:17). Deus
jura devido ao fato de que lhes parecia incrível que a família de Davi
fosse desprezada.
esta casa — a do rei, onde Jeremias estava falando (v. 4).
6. Embora seja tão belo como Gileade e tão majestoso aos meus
olhos (diante de mim) como o cimo do Líbano, contudo, certamente (no
hebraico é uma fórmula de juramento para expressar: Certamente: Se …
não te fizer, etc., não me cria mais no futuro. Assim: “Pela minha vida”,
Nm_14:28; “certamente”, Nm_14:35), etc. A menção de Gileade pode
ser que aluda não só à sua passada beleza, mas também (em forma
velada) à sua desolação, em virtude do juízo de Deus sobre Israel; trata-
se neste caso de uma admoestação a Judá e à casa de Davi. O “Líbano”
está mui apropriadamente mencionado, porque a casa do rei estava
construída com a madeira de seus majestosos cedros.
cidades — não se trata de outras cidades, mas sim das diferentes
partes da cidade de Jerusalém (2Sm_12:27; 2Rs_10:25). [Maurer].
7. Designarei — lit., santificarei ou porei solenemente à parte para
uma obra particular (veja-se com Is_13:3).
os teus cedros escolhidos — (Is_37:24). Os teus palácios
construídos de cedros escolhidos (Ct_1:17).
8. (Dt_29:24-25). As nações gentílicas, mais inteligentes que vós,
entenderão o que vós não entendeis, ou seja, que esta cidade é um
espetáculo da vingança de Deus [Calvino].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 125
9. (2Rs_22:17).
10, 11. Não choreis o morto — isto é, nem tanto por Josias, que
veio a morrer, sendo salvo do mal por vir (2Rs_22:20; Is_57:1), quanto
por Salum ou Jeoacaz, seu filho (2Rs_23:30), quem depois de um
reinado de três meses foi levado por Faraó-Neco ao Egito, para nunca
mais voltar a ver o seu país natal (2Rs_23:31-34). Os santos moribundos
merecem com justiça ser invejados, enquanto que os pecadores que lhes
sobrevivem são dignos de compaixão. Isto alude ao grande pranto da
nação por causa da morte de Josias e por ocasião dos aniversários de seu
falecimento, em cujas exéquias tomou parte proeminente o próprio
Jeremias (2Cr_35:24-25). O nome de Salum dá aqui ironicamente a
Jeoacaz, que reinou só três meses, como se fosse um segundo Salum,
filho do Jabes, o qual reinou tão somente um mês em Samaria
(2Rs_15:13; 2Cr_36:1-4). Salum significa retribuição, nome de muito
mau augúrio para ele [Grocio]. Ao princípio, o povo lhe chamou Shalom,
significativo de paz e prosperidade. Mas Jeremias o aplica ironicamente.
Em 1Cr_3:15, lhe chama Salum ao quarto filho de Josias. O povo o
colocou no trono antes que a seu irmão Eliaquim ou Jeoaquim, não
obstante ser este o maior (2Rs_23:31, 2Rs_23:36; 2Cr_36:1), devido
possivelmente a seus extravagâncias (vv. 13, 15). Jeoaquim foi posto em
lugar de Salum (Jeoacaz) por Faraó-Neco, lhe sucedendo no trono,
Jeconias, seu filho. Zedequias (Matanias), tio de Jeconias e irmão de
Jeoaquim e de Jeoacaz, foi ao final de todos posto no trono por
Nabucodonosor.
nunca mais tornará — É provável que o povo acariciasse a
esperança de que Salum retornaria do Egito; e em tal caso o restaurariam
ao trono, e por esse meio se eximiria dos opressivos tributos que
Jeoaquim lhes tinha imposto.
13. Jeoaquim não só impôs contribuições ao povo (2Rs_23:35) para
fazer frente ao tributo de Faraó, mas também o obrigou a trabalhar sem
pagamento alguma para lhe construir um esplêndido palácio, em
violação de Lv_19:13; Dt_24:14-15. Compare-se com Mq_3:10; Hc_2:9
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 126
Tg_5:4. Deus retribuirá em justiça aos que não quiseram pagar segundo
a sua justiça aos que os serviram.
14. espaçosa — lit., uma casa de grandes dimensões (“medidas”).
Veja-se Nm_13:32, margem da V. Inglesa, “homens de grande estatura”.
largos aposentos — da raiz hebraica “respirar” livremente. No
Oriente, as habitações superiores constituem os aposentos principais.
e lhe abre janelas — Se no hebraico trata-se de um substantivo,
então, antes, é preciso dizer “minhas janelas”; nesse caso, a tradução
deveria ser: “E que me façam janelas” (fala Jeoaquim); isto é, na casa;
ou, “e que (o operário) faça-lhe janelas”. Mas a palavra hebraica é, antes,
um adjetivo; “ele constrói a casa para si próprio, de tal forma que está
cheia de janelas”. As seguintes palavras concordam com esta construção
“e lhe faz teto de cedro”, etc. [Maurer]. Deve ter havido algo notável em
torno das janelas, visto que as julgava dignas de ver-se. Gesênius crê que
a voz é dual: “janelas duplas”, pois as persianas constavam de duas
folhas, tal como são vistas atualmente no continente europeu.
vermelhão — hebreu shashar, chamado assim por proceder de um
povo da Índia situado além do Ganges, que o exporta (Plínio, 6:19). O
antigo cobre em pó estava composto de enxofre e mercúrio; não de
chumbo vermelho, como o de nossos dias.
15. rivalizas com outro em cedro — antes, rivaliza com seus
antepassados, disputando com eles até ultrapassá-los na magnificência de
seus palácios.
não comeu, e bebeu ... ? — Josias, teu pai não desfrutou de tudo o
que um homem realmente necessita para satisfazer as necessidades do
corpo? Necessitou ele, por ventura, construir-se custosos palácios para
consolidar o seu trono? Não; ele o consolidou mediante o fazer “juízo e
justiça”; enquanto que tu, apesar do teu suntuoso edifício, se assenta num
vacilante trono.
Por isso — por essa causa, ou portanto.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 127
16. não é isso conhecer-me? — Ou seja, mostrar com atos que
alguém conhece a vontade de Deus, como no caso de Josias (veja-se com
Jo_13:17; contraste-se com Tt_1:16).
17. teu — como oposto a seu pai, Josias.
18. Ai, meu irmão! Ou: Ai, minha irmã! — Dirige-se a ele com
semelhantes títulos de afeto, como se dirigiria a um amigo defunto, como
se fosse um irmão ou irmã (veja-se 1Rs_13:30). Isto dá a entender que
eles não o chorarão com a lamentação dos indivíduos particulares
[Vatablo]; ou com a dos parentes consanguíneos [Grocio], como: “Ai,
Senhor!”, que expressa a lamentação pública no caso de um rei
[Vatablo] ou seja a dos súditos [Grocio]. Henderson pensa que “ai,
irmã!”, refere-se à rainha, esposa de Jeoaquim, a qual, embora fosse
levada à Babilônia e não foi deixada insepulta no caminho, como
Jeoaquim, contudo, não a honraram em sua morte com lamentações
reais, como as que teria recebido em Jerusalém. Ele nota a beleza de que
se valeu Jeremias em sua profecia contra Jeoaquim. Nos vv. 13, 14 o
descreve em termos gerais; logo, nos vv. 15-17, dirige-se diretamente a
ele, sem nomeá-lo; finalmente, no v. 18, nomeia-o, mas na terceira
pessoa, para dar a entender que Deus o afasta dEle. A ousadia dos
profetas hebreus demonstra o divino de sua missão; se assim não fosse,
suas recriminações aos reis hebreus que ocupavam o trono, por
autoridade divina, seriam consideradas como uma traição.
Ai, sua glória! — “Ai, sua majestade!”
19. Como se sepulta um jumento, assim o sepultarão — isto é,
terá a mesma sepultura que teria um asno, quer dizer, será abandonado
para presa das feras e das aves de rapina [Jerônimo]. Isto não está
formalmente referido. Mas em 2Cr_36:6 se expressa que
“Nabucodonosor ... o amarrou com cadeias a fim de o levar para
Babilônia”; o tratamento que lá recebeu não consta em nenhuma parte.
Esta profecia e a do Jr_36:30 harmonizam estes dois fatos. Esse monarca
foi morto por Nabucodonosor, quem mudando de parecer de levá-lo a
Babilônia ao retornar a essa cidade, deixou-o insepulto fora de
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 128
Jerusalém. A expressão de 2Rs_24:6, “Jeoaquim dormiu com seus pais”
não contradiz o anterior; só expressa sua reunião com seus progenitores
em sua morte, e não que fosse sepultado com eles (Sl_49:19). Essas duas
frases encontram-se juntas em 2Rs_15:38 e 2Rs_16:20, para expressar
duas ideias distintas.
20. Pronunciado no reinado de Joaquim (chamado também Jeconias
ou Conias), filho de Jeoaquim, como apêndice à anterior profecia
referente a Jeoaquim, por causa da semelhança das duas profecias. Ele
exorta a Jerusalém, representada por uma mulher vestida de luto, para
subir aos lugares mais altos, visíveis desde aquela cidade, para se
lamentar neles (Jr_3:21, Nota) de sua calamidade de se ver privado de
seus aliados e de seus príncipes, derrubados um após outro.
Basã — ao norte da região além do Jordão; alusão aos montes do
Anti-Líbano (Sl_68:15).
clama desde Abarim — ou, segundo a Versão Inglesa, das
passagens, ou seja, dos rios (Jz_12:6); ou, antes, as fronteiras do país
(1Sm_13:23; Is_10:29). Os passos (1Sm_14:4). Maurer traduz
“Abarim”, uma região montanhosa além do Jordão, diante de Jericó, e
ao sul de Basã. Isto concorda com a menção das montanhas do Líbano e
de Basã (Nm_27:12; Nm_33:47).
amantes — os aliados da Judeia, especialmente o Egito, agora
impotente para ajudar os judeus, quebrado por Babilônia (2Rs_24:7).
21. Eu te admoestei a tempo. Não pecaste por ignorância ou
inadvertência, mas sim voluntariamente.
prosperidade — que te foi outorgada por Mim; entretanto, não
quiseste prestar ouvidos a teu misericordioso Outorgante. Usa-se o plural
para expressar: “no cimo de sua prosperidade”; um caso semelhante
apresenta-se com a palavra “secas” (Is_58:11).
mas tu disseste — não com palavras, mas virtualmente, com tua
conduta.
tua mocidade — desde dia que te tirei do Egito e te constituí como
povo (Jr_7:25; 2:2; Is_47:12).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 129
22. teus pastores — quer dizer, teus reis (Jr_2:8). Há aqui um feliz
jogo de palavras. Os pastores, cujo ofício é apascentar as ovelhas, serão
eles mesmos apascentados. Os que levarem o rebanho de um lugar a
outro para apascentá-los, serão levados ao exílio pelos caldeus, qual
vento abrasador, que varre tudo rapidamente e murcha a vegetação
(Jr_4:11, 12; Sl_103:16; Is_40:7).
23. habitas no Líbano — quer dizer, em Jerusalém, cujo templo,
palácios e residências principais estavam feitos de cedros do Líbano.
Como gemerás — Acaso serás tratada afavelmente pelos caldeus
quando vierem sobre ti repentinamente, como as dores de parto de uma
mulher grávida? (Jr_6:24). Não; nenhum dos teus belos edifícios te
granjeará favor dos caldeus. Maurer e outros traduzem: “Como podes
esperar que se compadeçam de ti?
24. Tão certo como eu vivo — Muito solene forma de juramento
usada por Deus (Jr_46:18; 4:2; Dt_32:40; 1Sm_25:34).
Conias (NKJV, ACF) — Jeconias ou Joaquim. A contração do
nome é expressão de menosprezo.
anel — esses anéis de selar eram com frequência de maior valor
(Ct_8:6; Ageu 2:23). É provável que se aluda aqui à popularidade de
Joaquim.
da minha mão direita — a mão mais útil.
eu dali o arrancaria — (veja-se Ob_1:4) por causa dos pecados do
teu pai e dos teus (2Cr_36:9). Aqui há uma mudança, coisa frequente na
poesia hebraica, da terceira à segunda pessoa, a fim de que a ameaça lhe
fira mais em cheio. Depois de três meses e dez dias de reinado, os
caldeus o depuseram. Entretanto, em Babilônia, mercê ao favor de Deus,
foi finalmente tratado com mais consideração que os outros cativos reais
(Jr_52:31-34). Mas nenhum dos seus descendentes ascendeu jamais ao
trono.
25. Entregar-te-ei, ó rei, nas mãos — “Eu te arrancarei” da
“minha mão direita” e “te entregarei nas mãos dos que buscam a tua
vida”.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 130
26. e a tua mãe — Neústa, a rainha viúva (2Rs_24:6, 2Rs_24:8,
2Rs_24:15; veja-se Jr_13:18).
27. eles — Conias e sua mãe. Aqui passa da segunda à terceira
pessoa (v. 26) para expressar separação. O rei é, por assim dizer,
afastado da vista, como indigno de lhe falarem diretamente.
terra da qual eles têm saudades — (Jr_44:14; Sl_24:4; Sl_25:1).
Judeia era a terra para a qual em vão desejariam voltar quando
estivessem em Babilônia.
28. um vil utensílio quebrado (RC) — Conias foi em outro tempo
idolatrado pelos judeus; daí que Jeremias expresse na pessoa do povo seu
assombro referente a alguém de quem tanto se esperou, ao vê-lo agora
completamente descartado.
objeto de que ninguém se agrada? — (Sl_31:12; Os_8:8). A
reposta a esta pergunta é dada em Rm_9:20-23; contraste-se com
2Tm_2:21.
a sua geração (RC) — (Veja-se Nota, v. 29).
29, 30. Ó terra, terra, terra! — Na realidade, Jeconias não carecia
de descendência (veja-se v. 28, “sua semente”: 1Cr_3:17-18; Mt_1:12),
mas sim devia ser escrito como “homem sem sucessão”, à maneira de
admoestação para a posteridade, isto é, sem herdeiro em linha direta no
trono. A razão de ser invocada a terra três vezes é por causa dos três reis:
Salum, Jeoaquim e Jeconias [Bengel]. Essa tríplice invocação pode ser
que se tenha feito para dar intensidade à chamada de atenção referente ao
anúncio do fim da linha real no que se refere à linhagem de Joaquim.
Embora o Messias (Mateus 1), o herdeiro do trono de Davi, descia em
linha direta de Jeconias, era-o, entretanto, unicamente através de José, o
qual, embora era seu pai legal, não o era em sentido real. Mateus nos dá
a genealogia legal pelo ramo de Salomão até José; Lucas a genealogia
real, desde Maria, que era sua mãe real, pelo ramo de Natã, irmão de
Salomão, em sentido ascendente (Lc_3:31).
nenhum dos seus filhos ... no trono — isto explica em que sentido
é preciso tomar a frase “privado de geração”. Apesar de que a sucessão
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 131
no trono fracassou em sua linha, contudo a promessa feita a Davi
(Sl_89:30-37) cumpriu-se em Zorobabel, e se consumou em Cristo.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 132
Jeremias 23

Vv. 1-40. Os Maus Governantes Substituídos pelo Rei que Reinaria


Sobre os Povos de Israel e Judá Unidos Novamente.
Isto forma o epílogo das denúncias contra os quatro reis, nos
capítulos 21 e 22.
1. pastores — Salum, Jeoaquim, Jeconias e Zedequias (Ez_34:2).
2. não as visitastes ... visitarei sobre vós (RC) — Justa retribuição.
Jogo de palavras sobre o duplo sentido de “visitar sobre”, isto é, com ira
(Êx_32:34).
3, 4. A libertação de Judá do cativeiro de Babilônia, predita em
linguagem que em sua plenitude só se pode aplicar à restauração final de
ambos, “Judá” e “Israel” (veja-se v. 6); assim como de “todos os países”
neste versículo e no 8; “nem serão menosprezadas”, quer dizer, nenhuma
será perdida ou separada do resto. Esta é uma profecia que ainda não se
cumpriu em sua totalidade. Também é aplicável ao Israel espiritual, os
eleitos judeus e gentios (Ml_3:16-17; Jo_10:28; Jo_17:12). Também é
aplicável ao Israel literal, com relação a isto, veja-se Jr_32:37; Is_54:13;
Is_60:21; Ez_34:11-16).
que as apascentem — (Jr_3:15; Ez_34:23-31). Zorobabel, Esdras,
Neemias e os Macabeus só foram tipos do cabal cumprimento destas
profecias sob o Messias.
5. Como profecia messiânica se estendeu por muitos anos, durante
os quais se efetuaram muitas mudanças políticas preditas por estas
profecias; esta pôs de manifesto sua riqueza mediante uma mais efetiva
variedade de acontecimentos, que se os tivesse manifestado todos ao
mesmo tempo. Assim como a situação moral dos judeus o requeria,
assim o Messias se manifestava conforme o pedia o correspondente
aspecto de cada situação. Desta maneira se convertia cada vez mais na
alma da vida nacional. Daí que seja representado como o antitípico Israel
(Is_49:3).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 133
a Davi — Hengstenberg observa que Isaías detém-se mais no ofício
profético e sacerdotal de Cristo, no qual já tinha sido exposto em parte
(Dt_18:18; Sl_110:4). Ao contrário, outros profetas insistem mais sobre
seu ofício como Rei. Por conseguinte, aqui é associado com o rei “Davi”.
Mas em Is_11:1, com o então pobre e desconhecido Jessé.
Renovo justo — “o Renovo de justiça” (Jr_33:15). Em Zc_3:8;
Zc_6:12, simplesmente “o Renovo”. Em Is_4:2, “o Renovo de Jeová”.
agirá sabiamente — expressão aplicável à empresa do Messias
(Is_52:13; margem da V. Inglesa, Is_53:10). A retidão ou justiça é
também o característico do Messias em outras passagens, com relação à
nossa salvação ou justificação (Is_53:11; Dn_9:24; Zc_9:9). É assim
como no Novo Testamento Ele não é meramente “justo”, mas sim “nossa
justiça” (1Co_1:30), de sorte que “viemos a ser justiça de Deus nEle”
(Rm_10:3-4; 2Co_5:19-21; Fp_3:9).
executará o juízo e a justiça na terra — (Sl_72:2; Is_9:7; Is_32:1,
Is_32:18). Não será meramente um reinado espiritual no sentido em que
ele é “nossa justiça”, mas sim um reinado justo “na terra” (Jr_3:17, 18).
Em algumas passagens diz-se dEle que virá para julgar; em outros, para
reinar. Em Mt_25:34, é chamado “o Rei”. No Sl_9:7 fala-se dos dois.
Veja-se Dn_7:22, Dn_7:26-27.
6. Judá … Israel habitará seguro — veja-se Jr_33:16, onde o
“Israel” daqui está substituído ali por “Jerusalém”. Só Judá, e este só em
parte, retornou. Tão longe estão os judeus de ter desfrutado até agora das
bênçãos temporais aqui preditas, como resultado do reinado do Messias,
que sua sorte durante dezoito séculos foi pior que em qualquer época
anterior. Daí que o cumprimento deve ser ainda futuro, quando Judá e
Israel habitarão em sua terra certamente, sob uma aristocracia muito
mais privilegiada até que a antiga teocracia (Jr_32:37; Dt_33:28;
Is_54:60; Is_65:17-25; Zc_14:11).
será chamado: SENHOR — quer dizer, será (Is_9:6) “Jeová”, o
nome incomunicável de Deus. Contudo, quando é aplicado a coisas
criadas, expressa meramente alguma relação peculiar que essas coisas
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 134
têm com Jeová (Gn_22:14; Êx_17:15); entretanto, quando é aplicado ao
Messias deve expressar Sua Deidade, manifestada no poder justificador
para conosco (1Tm_3:16).
Nossa — assinala Sua humanidade, a qual também está entendida
no fato de que é um Renovo suscitado a Davi; daí seu título humano
“Filho de Davi” (veja-se Mt_22:42-45). “A justiça” indica Sua Deidade,
porque só Deus pode justificar o ímpio (veja-se Rm_4:5; Is_45:17,
Is_45:24-25).
7, 8. Repetição de Jr_16:14, 15. O profeta com frequência repetia as
mesmas coisas, a fim de que seus ditos causassem maior impressão. É a
mesma promessa que a dos vv. 3 e 4. A grande dispersão dos judeus
devido ao cativeiro de Babilônia se reflete em sua maior dispersão atual.
(Is_11:11; Jl_3:6). Sua segunda libertação deve exceder em muito a
anterior, a do Egito. Mas a libertação de Babilônia foi inferior à do Egito
com respeito aos milagres realizados e o número dos libertados. A
libertação final que o Messias realizará, necessita, portanto, que seja a
expressão da qual Babilônia foi só um objeto.
9. Acerca dos profetas — Assim o expressam os massoretas e os
Targuns. Mas a Vulgata, a LXX, etc., convertem esta frase em inscrição
da profecia: Referente aos Profetas: como em Jr_46:2; 48:1; 49:1.
Jeremias expressa seu horror para com os “pretensos profetas” que não
admoestam o povo, não obstante estender de modo espantoso a
iniquidade, a qual logo seria seguida de horríveis juízos.
os meus ossos estremecem — (Hc_3:16).
homem embriagado — Os juízos de Deus ele os representa tão
embriagantes como o vinho. Os efeitos do Espírito Santo também os
compara com os do vinho (Os At_2:17). O resultado em ambos os casos
foi o êxtase. Isto explica o por quê se recusava o vinho aos que
provavelmente seriam inspirados, os nazireus, etc. (Lc_1:15). Era
preciso evitar que os homens chegassem a atribuir o inspirado êxtase aos
efeitos do vinho.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 135
suas santas palavras — por causa das santas palavras de Jeová,
com as que ameaçou de infligir sem tardança severas penalidades aos
violadores de Sua lei.
10. adúlteros — espirituais, aqueles que abandonaram a Deus, o
verdadeiro marido de Israel (Is_54:5), para ir após os ídolos, por
instigação dos falsos “profetas” (vv. 9, 15). O “adultério” literal e a
fornicação, os habituais concomitantes da idolatria, também estão
aludidos.
por causa da maldição — Maurer e outros traduzem: “Por causa
da maldição (de Deus sobre ela), a terra está de luto” (Dt_27:15-26;
Dt_28:15-68; Is_24:6). As maldições da lei receberam uma notoriedade
fora do comum, em virtude do achado e leitura do livro desta no tempo
de Josias (2Rs_22:11, etc.). Mas Os_4:2-3, favorece a Versão Inglesa
(veja-se Jr_12:4). Deus tinha enviado uma seca sobre os pastos (“lugares
prazenteiros”, os oásis) do deserto, por causa da profanação dos
sacerdotes, profetas e povo (v. 11).
a carreira … é má — Eles (os profetas e o povo) correram à
impiedade (v. 21; Is_59:7).
a sua força não é reta — Não fazem uso de seus faculdades com
retidão, mas com falsidade.
11. contaminados — (Ez_23:39; Sf_3:4).
na minha casa — (Jr_7:30). Levantaram altares aos ídolos no
mesmo templo (2Rs_23:12; Ez_8:3-16). Veja-se quanto à cobiça sob o
teto do santuário, em Mt_21:13; Jo_2:16.
12. lugares escorregadios na escuridão — sua “caminho” é sua
falsa doutrina, que resulta fatal para eles (Jr_13:16; Sl_35:6; Pv_4:19).
trarei mal sobre eles … castigarei — mais calamidades até que as
que já lhes foram infligidas. Veja-se nota a Jr_11:23; “visitação”, ou
seja, com ira.
13. loucura — lit., insipidez, mau sabor (Jó_6:6), isto é, que lhe
falta o sal da piedade (Cl_4:6).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 136
da parte de Baal — em nome de Baal; com relação a seu culto
(veja-se Jr_2:8).
e faziam errar — (Is_9:16).
14. “Jerusalém” e Judá foram ainda piores que “Samaria” e as dez
tribos; quanto maiores foram os privilégios daquelas, tanto maior foi sua
culpa. Tinham o templo entre eles, coisa que as dez tribos não tinham;
mesmo assim, praticavam sua idolatria no próprio templo.
fortalecem as mãos dos malfeitores — (Ez_13:22).
como Sodoma — ( Dt_32:32; Is_1:10).
15. absinto — veneno (nota, Jr_8:14; 9:15).
16. vos enchem de vãs esperanças — vos induzem à vaidade, isto
é, à idolatria, que vos resultará uma vã esperança (Jr_2:5; 2Rs_17:15;
Jn_2:8). [Gesênius]. Antes, “eles enganam com vãs promessas de
segurança” (v. 17; Veja-se Sl_62:10). [Maurer].
do seu coração — de sua própria invenção (v. 21; Jr_14:14).
17. Dizem continuamente — Heb., dizem em dizer, isto é, dizem
continuamente.
Paz — (Jr_6:14; Ez_13:10; Zc_10:2).
dureza do seu coração — heb., obstinação.
Não virá mal — (Mq_3:11).
18. A razão que se dá pela qual os falsos profetas não serão
atendidos é: Eles não estiveram presentes nos conselhos de Jeová (figura
tomada dos ministros que estão presentes, de pé, nos conselhos dos reis
do Oriente) (veja-se v. 22; Jó_15:8). Só o homem espiritual tem esse
privilégio (Gn_18:17; Sl_25:14; Am_3:7; Jo_15:15; 1Co_2:16).
19. O povo, em vez de aguardar toda aquela prosperidade que os
falsos profetas lhe vaticinam, deveria esperar a ira que lhe está reservada.
tempestade — lit., que redemoinha, que excursiona ao redor; ou
seja o ciclone.
tempestuou — será lançada com violência.
20. nos últimos dias — isto é, “no ano de sua visitação” (v. 12). O
sentido, em primeiro lugar, é: os judeus não “tomarão” agora “em
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 137
consideração” as admoestações de Deus (Dt_32:29); mas, no seu exílio
em Babilônia, verão cumpridas as profecias, então as terão em conta e
advertirão por amarga experiência, sua pecaminosa loucura. O último
fim da profecia é que os judeus, em sua dispersão final, “refletirão”
enfim, sobre seu pecado, e se voltarão “perfeitamente” ao Messias
(Os_3:5; Zc_12:5, Zc_12:10-14; Lc_13:35).
21. Não mandei … não lhes falei — “mandei” refere-se à primeira
chamada; “falei”, às subsequentes instruções que lhes foram dadas para
que as executassem. Uma chamada precisa que não só seja externa, da
parte dos homens, mas sim interna, da parte de Deus, para que o
chamado exerça o ofício de pastor [Calvino].
22. estado no meu secreto — (v. 18)
o teriam feito voltar do seu mau caminho — Se tivessem dado
tais conselhos ao povo, que o teriam feito voltar de seus pecados
(Jr_25:5; Is_55:11), e desse modo teriam evitado o castigo. O fato de
deixarem de ensinar a lei, na qual se expõe o conselho de Deus, prova
que não são Seus profetas, embora se orgulham de sê-lo. (Mt_7:15-20).
23. Que não imaginem os falsos profetas que seus ardis Me sejam
desconhecidos (v. 25). São tão ignorantes para supor que Eu só posso ver
o que está perto de Mim, ou seja, as coisas do céu e não as da terra,
crendo-as muito remotas?
24. (Sl_139:7, etc.; Am_9:2-3).
não encho eu os céus e a terra? — com Minha onisciência, Minha
providência, poder e ser essencial (1Rs_8:27).
25. Sonhei — recebi uma comunicação profética em sonhos
(Nm_12:6; Dt_13:1; etc.; Jl_2:28).
26. profetas — uma forma hebraica diferente da usual,
“vaticinadores”. Até quando — clama Jeremias, impaciente perante sua
audácia ímpia — continuarão profetizando mentiras estes proféticos
traficantes? A resposta é dada nos vv. 29-34.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 138
27. Eles “se propõem” a fazer com que o Meu povo Me esqueça
inteiramente. Mas Eu oporei a estes sonhadores meus verdadeiros
profetas.
como seus pais … por causa de Baal — (Jz_3:7; Jz_8:33-34).
28. Deus responde à objeção que se poderia originar- se: “O que
devemos então nós fazer quando se proferem mentiras como verdades, e
os profetas se opõem aos profetas?” Fazei o mesmo que quando o trigo
está misturado com a palha: não desprezeis o trigo pelo fato de estar
misturado com a palha; antes, distingui as verdadeiras revelações das
falsas. A prova é: adesão a Mim ou esquecimento de Mim e de Minha lei
(v. 27).
O profeta que tem sonho — aquele que pretende ter uma
comunicação divina mediante um sonho, que o refira “fielmente”, para
que se compare com “minha palavra” (2Co_4:2). O resultado será:
primeiro, que logo se tornará a ver que (tanto os profetas como seus
visões) são palha; segundo, que (os verdadeiros profetas e a palavra de
Deus em suas bocas) são trigo (Sl_1:4; Os_13:3).
29. Pois assim como o fogo consome a “palha”, assim “minha
palavra” consumirá os falsos profetas (Mt_3:12; Hb_4:12). “Minha
palavra”, que é “trigo”, isto é, alimento para o verdadeiro profeta e seus
ouvintes, também é “fogo” que consome e “martelo” que quebranta
(Mt_21:44) os falsos profetas e os seus sequazes (2Co_2:16). Pode ser
que a palavra dos falsos profetas fosse conhecida pelo detalhe de
prometer paz aos homens mesmo quando vivessem em pecado. “Minha
palavra”, pelo contrário, queima e quebranta o coração endurecido
(Jr_20:9). “O martelo” simboliza o poder destrutivo (Jr_50:23; Na_2:1,
margem da V. Inglesa)
30. furtam as minhas palavras — um duplo plágio; a pessoa furta
ao outro, e todos furtam as palavras dos verdadeiros profetas de Jeová,
mas as aplicam mal (veja-se Jr_28:2; Jo_10:1; Ap_22:19).
31. usam (RC) — melhor, que “tomam” suas línguas: trata-se de
uma segunda classe (veja-se v. 30), a qual para referir uma revelação não
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 139
necessitam mais que de seus línguas, com as quais dizem: Ele (Jeová)
disse: com o que falseiam a verdadeira fórmula. Com efeito, em lugar da
fórmula usual “Jeová diz”, só acertam dizer: “(Ele) disse”.
32. Terceira classe: inventores de mentiras. Esta é a pior e mais
conspícua das três.
leviandades — extravagantes invenções (Sf_3:4).
proveito nenhum — isto é, que causaram grande dano.
33. Qual é a sentença pesada ... ? — esta frase tem duplo sentido
no hebraico. Significa: um oráculo e uma carga. Eles lhe perguntam
zombeteiramente: Tem ele alguma nova carga (um oráculo incômodo:
pois todas as suas profecias são desastres) para anunciar (Ml_1:1)?
Jeremias, indignado, repete a pergunta que eles lhe fizeram: Perguntam
que carga? Pois bem, esta é: “Eu vos arrojarei”. Minha palavra é
incômoda aos vossos olhos, e vós desejais desfazer-se dela. Obterão,
pois, vosso desejo. Já não haverá mais profecias: Eu vos abandonarei, e
isso será uma carga muito mais pesada para vós.
34. Sentença pesada — Quem quer que diga com escárnio que a
palavra de Jeová é “Sentença pesada”, será visitado com ira.
35. O resultado de Meus juízos será que acudirão daí em diante com
muito respeito ao profeta, não chamando mais a sua mensagem uma
carga, mas sim uma resposta ou palavra divina: “O que respondeu
Jeová?”
36. a cada um ... sentença pesada — Assim como eles chamam
com escárnio sentença pesada a todas as profecias, como se essas
calamidades fossem o único assunto da profecia, assim lhes tem que
resultar. Deus os tomará segundo sua própria palavra.
Deus vivo — não inanimado como os seus mudos ídolos, mas
sempre vivo para poder castigar.
39. vos arrojarei da minha presença — Justa retribuição por eles
O terem esquecido (Os_4:6). Mas não é possível que Deus esqueça os
Seus filhos (Is_49:15). Antes, em lugar de “esquecer” traduza-se: “Eu
vos levantarei” (à semelhança de uma “carga”, com o que se alude a seu
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 140
escárnio das mensagens de Deus) e vos abandonarei”. Deus faz com que
a perversa linguagem deles caia sobre as suas cabeças [Calvino]. Veja-se
v. 36, “a cada um lhe servirá de sentença pesada a sua própria palavra”.
40. o esquecimento — Se traduzirmos o v. 39 como na Versão
Inglesa, a antítese é: embora eu vos esqueça, vossa vergonha não será
esquecida.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 141
Jeremias 24

Vv. 1-10. Restauração dos Cativos em Babilônia, e a Destruição do


Partido da Judeia e Egito, Representado Sob o Tipo de Um Cesto de
Figos Bons e de Outro de Figos Maus.
1. Fez-me ver o SENHOR — Am_7:1, Am_7:4, Am_7:7;
Am_8:1, contém a mesma fórmula, com o agregado de “assim”
prefixado.
levou em cativeiro a Jeconias — (Jr_24:24; 2Rs_24:12; etc.;
2Cr_36:10).
os artífices, etc. — um milhar de artesãos foram levados a
Babilônia para lá trabalhar para o rei, e para privar a Jerusalém de seus
serviços em caso de um futuro assédio (2Rs_24:16).
2. figos temporãos — boccora, ou primeiros figos (Nota, Is_28:4).
Cestas de figos empregadas para as oferecer como primícias no templo.
Os bons figos representam Jeconias e os desterrados em Babilônia; os
maus, a Zedequias e aos judeus obstinados da Judeia. São chamados
bons e maus respectivamente, não em sentido absoluto, mas sim relativo,
e como alusão ao castigo dos segundos. Esta profecia estava destinada a
alentar os desesperados cativos e a censurar aos que tinham ficado na
Judeia, os quais se orgulhavam de ser superiores aos que estavam em
Babilônia, e abusavam da tolerância de Deus. (Veja-se Jr_52:31-34).
5. assim favorecerei — olharei com favor, do mesmo modo que
olhas favoravelmente os bons figos.
para seu bem (RC) — Sua deportação a Babilônia os livrou das
calamidades que lhe sobrevieram ao resto da nação, levando-os ao
arrependimento lá; com o qual Deus melhorou a sua condição
(2Rs_25:27-30). Daniel e Ezequiel estavam entre esses cativos.
6. (Jr_12:15).
plantá-los-ei e não os arrancarei — isto só se cumpriu em parte,
na volta de Babilônia; sê-lo-á antitipicamente, e de maneira plenária, no
futuro (Jr_32:41; 33:7).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 142
7. (Jr_30:22; 31:33; 32:38). Sua conversão da idolatria ao único
Deus verdadeiro, mediante o disciplinador efeito do cativeiro de
Babilônia, se expressa aqui em linguagem que, em sua plenitude, é
aplicável à mais completa conversão futura dos judeus, “de todo o seu
coração” (Jr_29:13), mediante a dolorosa disciplina de sua atual
dispersão. Diz-se aqui que a causa de sua conversão será a preveniente
graça de Deus.
se voltarão para mim — Embora o arrependimento não seja a
causa do perdão, é, entretanto, seu invariável concomitante: efeito de que
Deus dê um coração para O conhecer.
8. na terra do Egito — para onde tinham fugido muitos judeus.
Pois o Egito estava aliado com a Judeia contra Babilônia.
9. Eu os farei objeto de espanto, etc. — (Jr_15:4). Calvino traduz:
“Eu os entregarei a agitação em todas partes, etc.” Este versículo cita a
maldição de Dt_28:25, Dt_28:37. Veja-se cap. 29:18, 22; Sl_44:13-14.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 143
Jeremias 25

Vv. 1-38. Profecia dos Setenta Anos de Cativeiro, e Depois Disso,


a Destruição de Babilônia e de Todas as Nações que Oprimiram aos
Judeus.
1. ano quarto de Jeoaquim — chamado o terceiro ano em Dn_1:1.
Mas é provável que Jeoaquim fosse entronizado por Faraó-Neco em sua
volta de Carquemis, pelo mês de julho, enquanto que Nabucodonosor
subiu ao trono em 21 de janeiro de 604 a.C. Assim que o primeiro ano de
Nabucodonosor compreendeu parte do terceiro e parte do quarto de
Jeoaquim. Jeremias dá aqui primeiro dados específicos. Previamente,
Nabucodonosor tinha entrado na Judeia durante o reinado de seu pai
Nabopolassar.
3. Desde o ano décimo terceiro de Josias, que foi quando Jeremias
começou a profetizar (Jr_1:1), até o final desse reinado, passaram
dezenove anos (2Rs_22:1); os três meses (2Rs_23:31) de reinado de
Jeoacaz com os quatro anos incompletos do de Jeoaquim (v. 1),
acrescentados aos dezenove anos, somam no total vinte e três anos.
4. de madrugada — (Jr_7:13, nota). “Os profetas”, alusão a Urias,
Sofonias, Habacuque, etc. Agrava seu pecado o fato de que Deus não
enviou meramente um de Seus mensageiros, mas sim vários, os quais
eram além disso, profetas; e aquele que durante todos os anos
especificados, Jeremias e seus colegas profetas não pouparam esforço
nem fadiga; antes, vigiaram e madrugaram.
5. Convertei-vos … e habitai — O hebraico expressa aqui com
igualdade de sons a correspondência entre eles se voltarem a Deus e
Deus Se voltar a eles, para que lhes permitisse habitar em sua terra:
shubu … shebu, “Voltai-vos” … desta maneira “habitareis”.
Convertei-vos agora, cada um do seu mau caminho — deve cada
um individualmente, arrepender-se e voltar-se de seu pecado. Nenhum
está excetuado, para que não vá imaginar se que sua culpa se atenue por
causa de se ter generalizado o mal.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 144
6. Como representativo de todos os seus pecados, assinala à
maneira de exemplo o da idolatria; pois nada lhe é mais grato a Deus que
o adorar a Ele unicamente.
7. Embora provocam a ira (Dt_32:21), contudo, não é a Mim a
quem com isso danificam, mas sim a vós mesmos (Pv_8:36; Pv_20:2).
9. do Norte — (Nota, Jr_1:14, 15). Os medos e outros povos
setentrionais, confederados com os babilônios, incluem-se com os
caldeus.
meu servo — meu instrumento para castigar (Jr_27:6; 43:10; veja-
se Jr_40:2). Veja-se Is_44:28, Ciro, “meu pastor”. Deus Se vale até dos
incrédulos para que cumpram inconscientemente os Seus desígnios. É
uma recriminação aos judeus, que se orgulhavam de ser os servos de
Deus; entretanto, um rei pagão vai ser mais servo de Deus que eles, o
qual será o instrumento de seu castigo.
10. (Jr_7:34; Ap_18:23). O país ficará tão desolado que até as casas
que ficarem em pé, não terão quem as habite; reinará nelas um espantoso
silêncio; não se ouvirá ruído de moinho (composto de duas pedras
circulares sobrepostas, para moer o grão, dirigido por duas mulheres,
Êx_11:5; Mt_24:41; de uso diário em todas as casas; daí a proibição de
tomá-lo como garantia, Dt_24:6).
luz do candeeiro — tão geral, que na casa mais pobre do Oriente a
há para iluminar toda a noite (Jó_21:17; Jó_18:6).
11. setenta anos — (Jr_27:7). O número exato de anos dos
descansos da terra, correspondentes a 490 anos, que é o período que
decorreu desde Saul até o cativeiro de Babilônia; justa retribuição por
sua violação do sábado (Lv_26:34-35; 2Cr_36:21). É provável que os
setenta anos começassem a correr desde o quarto ano de Jeoaquim,
quando Jerusalém foi tomada pela primeira vez, e muitos foram levados
cativos, o mesmo que o tesouro do templo. Esses setenta anos terminam
com o ano primeiro de Ciro, o qual, ao apoderar-se de Babilônia
decretou a liberdade e volta dos judeus (Ed_1:1). As setenta semanas
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 145
proféticas de Daniel têm como fundamento os setenta anos do cativeiro
(veja-se Dn_9:2, Dn_9:24).
13. tudo ... escrito neste livro, que profetizou Jeremias contra
todas as nações — segue-se disto que as profecias contra as nações
estrangeiras (Jr_46:51) já teriam sido escritas. Daí que a LXX insira aqui
essas profecias. Mas se se tivessem inserido a seguir (v. 13), nenhuma
congruência haveria na observação que se faz neste versículo. A mesma
fraseologia das alusões demonstra que existiam em alguma outra parte
do livro, e não no contexto imediato. Este mesmo ano, o quarto de
Jeoaquim (Jr_36:1, 2), Jeremias recebeu pela primeira vez instruções
para que escrevesse num livro comum tudo o que tinha profetizado
contra Judá e as “nações” estrangeiras, desde o começo de seu
ministério. É provável que posteriormente, logo que terminou todo o seu
trabalho, inclusive os caps. 46 a 51, o próprio Jeremias inserisse a
cláusula “tudo quanto está escrito neste livro, que profetizou Jeremias
contra todas as nações”. As profecias em questão, à semelhança de
outras do próprio Jeremias, pode ser que tenham sido repetidas mais de
uma vez; de maneira que na incompleta compilação original estivessem
dispostas segundo a ordem primitiva; e na mais ampla que se fez
posteriormente, se dispusessem segundo a ordem que têm atualmente.
14. serão escravos de muitas nações — (Jr_27:7; 30:8; 34:10).
Elas se aproveitarão de seus serviços como escravos.
também eles — os caldeus, que costumavam até então fazer de
outras nações seus escravos, eles também a seu turno serão escravos
deles. Maurer traduz: “Os submeterá à servidão, a eles precisamente”.
lhes retribuirei — ou seja aos caldeus e outras nações contra os
quais havia Jeremias profetizado (v. 13), por terem oprimido os judeus.
segundo os seus feitos — antes, o seu proceder, pelo mau trato
dado aos judeus (Jr_50:29; 51:6, 24; veja-se 2Cr_36:17).
15. cálice do vinho — No que corresponde a esta imagem,
empregada para expressar juízos espantosos, veja-se Jr_13:12, 13; cf.
também Jr_49:12; 51:7. Jeremias incorpora frequentemente em suas
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 146
profecias as imagens de Isaías (Lm_4:21; Is_51:17-22; Ap_16:19;
Ap_18:6). Jeremias não deu literalmente o cálice do vinho aos
representantes das diversas nações, mas sim tão somente em simbólica
visão.
16. tremam — cambalearão (Na_3:11).
18. Jerusalém — Posta a primeira; pois “o juízo deve começar pela
casa de Deus”; sua culpa é tanto maior quanto possuem os maiores
privilégios religiosos (1Pe_4:17).
reis — Jeoaquim, Jeconias e Zedequias.
como este dia — o cumprimento da maldição já tinha começado
durante o reinado de Jeoaquim. Esta cláusula pode, entretanto, ter sido
inserida por Jeremias na revisão final de suas profecias, no Egito.
19. Faraó — Posto depois de Jerusalém, porque os judeus haviam
confiado principalmente nele, fora do fato que o Egito e Judeia estavam
em igualdade de condições (Jr_46:2, 25).
20. misto de gente — tropas mercenárias, estrangeiras que serviam
ao Faraó-Hofra no tempo de Jeremias. O emprego destes estrangeiros
induziu os egípcios nativos a derrocá-lo. Psamético, pai de Faraó-Neco,
também tinha dado aos aventureiros jônios e cáricos uma colônia no
Egito (Heródoto 2:152, 154). Veja-se Jr_50:37; nota, Is_19:2-3; Is_20:1;
Ez_30:5. O termo se acha pela primeira vez em Êx_12:38.
Uz — situado, segundo a ordem geográfica, entre o Egito e os
estados situados ao longo do Mediterrâneo; por conseguinte, não é o Uz
de Jó_1:1 (no norte da Arábia Deserta), mas sim a parte mais setentrional
da Arábia Pétrea, entre o mar e a Idumeia (Lm_4:21; veja-se Gn_36:20,
Gn_36:28).
resto de Asdode — chamado resto, porque Asdode tinha perdido a
maior parte de seus habitantes durante o sítio de 20 anos de Psamético.
Veja-se também nota a Is_20:1. Gate não é mencionada por ter sido
destruída nessa guerra.
21. Edom … Moabe … Amom — Conjuntamente, por estarem
relacionadas com Israel (veja-se Jr_48:49).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 147
22. todos os reis de Tiro — os reizinhos das várias colônias de
Tiro.
ilhas (RC) — termo que inclui todas as regiões marítimas
(Sl_72:10).
23. Dedã — no norte da Arábia (Gn_25:3-4).
Tema ... Buz — tribos vizinhas na Arábia setentrional.
todos os que cortam os cabelos nas têmporas — antes, “que têm
o cabelo cortado em ângulos”, um costume pagão (veja-se nota, Jr_9:26).
24. do misto de gente — não no mesmo sentido que no v. 20, a
mesclada multidão, chamada assim depreciativamente (veja-se Jr_49:28,
31; 50:37). Mediante diferente pontuação pode-se traduzir: os árabes;
mas isto suporia a repetição do nome, o que não é provável. Blaney crê
que havia duas divisões do que chamamos a Arábia, a ocidental (Arava)
e a oriental. A ocidental incluía a Arábia Pétrea e as partes que davam ao
mar limítrofe com o Egito, a terra de Cuxe; a oriental, a Arábia Feliz e a
Deserta. Nestas últimas reside “a raça mesclada”, a que habita o deserto.
25. Zinri — Possivelmente seja Zabra mencionada por Ptolomeu,
situada entre Meca e Medina. Zinrã foi, como Dedã, um dos filhos de
Abraão por meio de Quetura (Gn_25:2).
Elão — situada propriamente a oeste da Pérsia; mas se toma pela
Pérsia em geral.
26. Sesaque (ACF) — Babilônia; pois o paralelismo em Jr_51:41 o
prova. No sistema cabalístico (chamado Atbash, a primeira letra no
alfabeto hebraico se expressa pela última) Sesaque responderia
exatamente a Babel. É possível que Jeremias usasse este sistema (talvez
como em Jr_51:41) para ocultar o tempo desta predição, feita no quarto
ano de Jeoaquim, quando Nabucodonosor estava ainda diante de
Jerusalém. Em Jr_51:41 não houve encobrimento, pois a Babilônia a
menciona expressamente. Michaelis explica o termo com maior
simplicidade, chamando-o “porta de bronze” (veja-se Is_45:2). Outros,
“casa do príncipe”. Antes, provém da deusa babilônica Shach, por
reduplicação da primeira letra. Dela procede o nome Mesaque, que
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 148
puseram os babilônios a Misael. O vocábulo Shace designava uma festa
que se celebrava em Babilônia, aludida em Jr_51:39, 57; Is_21:5. Foi por
ocasião dessa festa que Ciro se apoderou de Babilônia (Heródoto, 1).
Nessa forma mística, Jeremias assinala o tempo de sua tomada mediante
esse testemunho [Glassio].
27. não torneis a levantar-vos — as nações pagãs em questão
cairiam para não levantar-se mais. Os judeus também cairiam por certo
tempo, para logo tornar a levantar-se. Por isso dá-se este epíteto, “o Deus
de Israel”.
28. Se recusarem receber o cálice — nenhum esforço da sua parte
para evitar sua destruição lhes adiantará.
29. Se eu não poupo o Meu povo eleito por causa do seu pecado,
muito menos pouparei a vós (Ez_9:6; Ob_1:16; Lc_23:31; 1Pe_4:17).
ficareis vós de todo impunes? — ou “sereis vós tratados como
inocentes?”
30. rugirá — figura de um destrutivo leão (Is_42:13; Jl_3:16).
da sua santa morada — melhor, “seu rebanho”; aqui se mantém a
figura de um leão que ruge frente ao rebanho que pasta. O rugido ia
deixar ouvir-se primeiro sobre a Judeia, onde se encontravam “as
ovelhas de seu pasto” (Sl_100:3), e dali se estenderia a todos os países
pagãos.
como o eia! dos que pisam as uvas — (Jr_48:33; Is_16:9-10).
31. juízo — motivo de disputa (Mq_6:2).
entrará em juízo contra toda carne — (Is_66:16). Deus faz todo
mundo ver que Ele, ao castigar, faz o que é absolutamente justo.
32. dos confins — Ou: “Das mais remotas regiões”. Semelhante à
tempestade que se levanta numa região e logo se estende por toda parte,
assim os juízos de Deus passarão “de nação a nação”, até que tudo se
tenha cumprido; não haverá distância que impeça o seu cumprimento.
33. não serão pranteados — (Jr_16:4, 6).
nem recolhidos — a seus pais, nos sepulcros de seus antepassados
(Jr_8:2).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 149
como esterco — (Sl_83:10).
34. pastores — príncipes (Jr_22:22). Aqui volta a ocupar-se dos
judeus e do seus governantes, fazendo uso da mesma figura que no v. 30,
“pasto”, ver nota.
revolvei-vos — cobri-vos com grossa capa de cinza em sinal de
luto, como quem se põe a rodar sobre ela (Jr_6:26; Ez_27:30). [Maurer].
donos — chefes. A LXX traduz carneiros, que conserva a figura
anterior (cf. Is_14:9. margem da V. I.; Zc_10:3).
os vossos dias de matardes e dispersardes — “vossos dias para a
matança (isto é, o tempo de serem mortos), e vossas dispersões (não “de
vossas dispersões”), estão cumpridos”, chegaram.
jarros preciosos — vós fostes em outro tempo um copo precioso;
mas caireis, com o qual sereis copo quebrado (veja-se nota, Jr_22:28,).
“Vossa passada excelência não vos fará agora seguros. Converterei em
ignomínia quanto de glorioso vos concedi” [Calvino].
35. Lit., “A fuga dos pastores e o escape dos principais lhes
resultará um fracasso.” (Am_2:14). Os caudilhos serão o objeto
preferencial da matança; escapar dela mediante a fuga não lhes será
possível.
37. malhadas — Os pastos onde, tranquilamente e sem a incursão
de feras, tinham os rebanhos seu alimento, as zonas onde até então havia
paz e segurança (alusão no nome de Salém, ou Jerusalém, “a que tem
paz”).
38. sua morada — o templo, onde até então, à semelhança de um
leão, qual seu defensor, pelo mero terror que infunde sua voz, a protegia
do inimigo; mas agora a deixa por presa aos gentios [Calvino].
furor da espada — como o hebraico; pois “opressor” [RC] é um
adjetivo feminino, subentendendo-a palavra espada, a qual em Jr_46:16;
50:16, está expressa (com efeito, alguns MSS. e a LXX aqui espada em
lugar de “ira”; é provável que seja uma interpolação de Jr_46:16), “a
espada que oprime”. A palavra hebraica para opressão também significa
pomba; pode, por conseguinte, que haja nisso uma velada alusão ao
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 150
estandarte caldeu, que tinha uma pomba nele, em honra de Semíramis, a
primeira rainha, a qual, segundo a superstição popular, tinha sido
alimentada por pombas quando a expuseram, como resultado de seu
nascimento; e que, ao morrer, foi transformada em pomba. Seu nome
pode ser que proceda de uma raiz que se refere ao arrulho de uma
pomba. Tal ave estava consagrada à deusa Vênus. A Vulgata traduz “a
ira da pomba”.
brasume — se o furor de Nabucodonosor não podia evitar-se,
quanto menos o de Deus (veja-se v. 37).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 151
Jeremias 26

Vv. 1-24. Jeremias É Declarado Digno de Morte, Mas Devido à


Interposição de Aicão, Salva-se. Aduzem-se em Favor do Profeta os
Casos Similares de Miqueias e Urias.
As profecias reputadas ofensivas foram as consignadas
detalhadamente nos caps. 7, 8 e 9 (compare-se o v. 6 deste cap. com os
vv. 12 e 14 do cap. 7); e citadas aqui sumariamente [Maurer], proferidas
provavelmente numa das grandes festas (a dos tabernáculos, segundo
Usher; pois aos habitantes de “todas as cidades de Judá” os representa
como presentes, v. 2). Veja-se Nota, Jr_7:1.
2. no átrio — o maior átrio, do qual podia ser ouvido por todo o
povo.
que vêm adorar — Adoração sem obediência é vã (1Sm_15:21-
22).
todas as palavras — (Ez_3:10).
não omitas nem uma palavra — (Dt_4:2; Dt_12:32; Pv_30:6;
At_20:27; 2Co_2:17; 2Co_4:2; Ap_22:19). Não devia suprimir nem
suavizar nada por medo de ofender; nem expor fria e indiretamente
aquilo que, exposto unicamente com energia, pode produzir bons
resultados.
3. Bem pode ser que ouçam — fala de acordo com as concepções
humanas, e não como se Deus não conhecesse de antemão todas as
contingências, senão para assinalar a teimosia do povo e o difícil de
curá-lo, assim para mostrar Sua bondade, fazendo-lhes um oferecimento
que os deixasse sem desculpa [Calvino].
5. os profetas — os intérpretes inspirados da lei (v. 4), os quais a
adaptaram ao uso do povo.
6. como Siló — (Nota, Jr_7:12, 14; 1Sm_4:10-12; Sl_78:60).
maldição — (Jr_24:9; Is_65:15).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 152
8. os sacerdotes — O capitão ou prefeito do templo tinha
autoridade para prender os que delinquiam nele, o qual contava com a
ratificação dos sacerdotes.
profetas — os falsos profetas. A acusação contra Jeremias era que
ele havia dito coisas falsas em nome de Jeová, fato que se castigava com
a pena de morte (Dt_18:20). Sua profecia contra o templo e a cidade (v.
11) podia expô-lo enganosamente como uma contradição das próprias
palavras de Deus (Sl_132:14). cf. At_6:13-14.
10. príncipes — membros do Conselho de Estado, ou Grande
Conselho, o qual conhecia de tais delitos.
Tendo ... ouvido — o clamor do tumulto popular.
subiram — da casa do rei ao templo, o qual estava em lugar mais
elevado que o palácio real.
se assentaram — como juízes, na porta o lugar comum para tratar
estes assuntos
da Porta Nova — construída originalmente por Jotão (2Rs_15:35,
“a porta mais alta”), a qual tinha sido recentemente restaurada.
12. O SENHOR me enviou — justificação válida contra quaisquer
leis que se alegassem contra ele.
contra … contra — antes, referente a. Jeremias evita
intencionalmente dizer “contra”, o que os irritaria sem necessidade. A
mesma palavra hebraica (v. 11) que se deveria traduzir referente,
tinham-na usado eles, embora lhe dando um sentido desfavorável,
Jeremias emprega essa mesma palavra em melhor sentido que eles, o que
dá a entender que ainda havia lugar para o arrependimento: de sorte que
suas profecias tendiam ao bem real da cidade; assim que corresponde ou
convém a esta casa … cidade [Grocio].
13. (vv. 3, 19).
14. Aqui fica de manifesto a humildade de Jeremias e a submissão
às potestades existentes (Rm_13:1).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 153
15. sobre vós — Em vez de escapardes dos males preditos, se
derramardes meu sangue, incorrereis em mais graves penalidades, por
causa de semelhante ato (Mt_23:35).
16. os príncipes e todo o povo — esse volúvel povo, influenciado
pouco antes pelos sacerdotes, pedia que o matassem (v. 8); agora, sob a
influência dos príncipes, exige que não se condene ele à mureta. Veja-se
com relação a Jesus, antítipo de Jeremias, os hosanas da multidão
proferidos uns dias antes, esse mesmo povo, persuadido pelos
sacerdotes, como neste caso, gritou: “Fora com ele, crucifica-o” (Mateus
21, e 27:20-25). Os sacerdotes, invejosos de seu zelo santo, eram mais
inimigos seus que os príncipes, cujas funções eram mais seculares que
religiosas. Um profeta não podia ser condenado legalmente à morte, a
menos que profetizasse em nome de outros deuses (por conseguinte,
diziam: “em nome do Senhor”), ou depois que sua profecia deixasse de
cumprir-se. Enquanto isso, se predizia alguma calamidade, poderia ser
preso. Compare-se com o caso de Miqueias (1Rs_22:1-28).
17. Veja-se a interposição de Gamaliel (At_5:34, etc.).
anciãos — alguns dos príncipes mencionados no v. 16, cuja idade e
dignidade dariam peso aos precedentes dos passados tempos aduzidos
por eles.
18. (Mq_3:12).
morastita — chamado assim por causa de ser natural da aldeia
desse nome na tribo de Judá.
Ezequias — Tal precedente durante o reinado de um bom rei,
provava que Jeremias não era o único profeta, nem o primeiro que tinha
ameaçado a cidade e o templo sem incorrer em pena de morte.
o monte do templo — o Moriá, sobre o qual se levantava o templo
(chamado por antonomásia “a casa”) se cobrirá de erva daninha em lugar
de edifícios. Ao citar profecias anteriores, Jeremias nunca o faz sem
alterações, mas adapta a linguagem a seu próprio estilo, demonstrando
assim sua autoridade no manejo das Escrituras, por estar ele próprio
inspirado.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 154
19. Ezequias, longe de matar a Miqueias, sentiu-se induzido a
“temer a Deus”, e a orar pela remissão da sentença contra Judá
(2Cr_32:26).
o SENHOR se arrependeu (RC) — (Êx_32:14; 2Sm_24:16).
traríamos nós tão grande mal …? — matando a Jeremias?
20. Como a fuga e captura de Urias deveu levar algum tempo, “o
começo do reinado de Jeoaquim” (v. 1) não pode significar o verdadeiro
princípio, mas o segundo ou terceiro ano de seus onze anos de reinado.
Também houve — possivelmente tenha relação com o v. 24, como
comentário do profeta, e não que seja a continuação do discurso dos
anciãos: “E embora houve um homem que profetizava … Urias, etc. (o
que prova quão grande era o perigo que Jeremias corria, e quão
maravilhosa se mostrou a providência de Deus em preservá-lo), não
obstante a mão de Aicão”, etc. [Glassio]. O contexto, entretanto, indica,
antes, que as palavras são a continuação do discurso precedente dos
anciãos. Estes aduzem outro exemplo além do de Miqueias, ainda que de
diferente caráter, ou seja, o de Urias, quem teve que sofrer por causa de
suas profecias; mas eles dão a compreender, embora não se aventuram a
expressá-lo, que com isso tinham acrescentado pecado a pecado; e que
tal ação nenhum bem tinha reportado a Jeoaquim, pois a notória
condição do Estado nesse tempo, demonstra que uma terrível vingança
os ameaça se persistirem em tais atos de violência. [Calvino].
Jeoaquim … Urias … foi para o Egito — Este tinha sido
entronizado por Faraó do Egito (2Rs_23:34), o que explica a presteza
com que conseguiu que os egípcios entregassem a Urias, assim que este
profeta entrou no Egito, buscando nele um asilo. Urias apresentou
fielmente sua mensagem, mas incorreu em falta, ao abandonar sua obra;
daí que Deus permitiu que perdesse sua vida, enquanto que Jeremias foi
libertado do perigo. O caminho do dever é com frequência o caminho de
segurança.
23. sepulturas da plebe — lit., filhos do povo (veja-se 2Rs_23:6).
Parece que havia um cemitério à parte para os profetas (Mt_23:29). Mas
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 155
ao cadáver de Urias foi negado essa honra, a fim de que não fosse tido
como verdadeiro profeta.
24. Aicão — filho de Safã, o escriba ou secretário real. Esse era um
daqueles aos quais o rei Josias, espantado pelas palavras do livro da lei,
enviou para perguntar a Jeová (2Rs_22:12, 2Rs_22:14). Daí que sua
intervenção aqui em favor de Jeremias é o que poderíamos esperar, dada
sua passada associação com aquele bom rei. Seu filho, Gedalias, seguiu
nas rastros de seu pai, de tal sorte que foi eleito pelos babilônios para que
se encarregasse da segurança de Jeremias depois da tomada de
Jerusalém; e vendo que podiam confiar em sua lealdade, puseram-no à
cabeça do resto do povo que foi deixado na Judeia (Jr_39:14;
2Rs_25:22).
nas mãos do povo, para ser morto — Com frequência, quando os
príncipes querem eliminar um homem bom, preferem valer-se de um
tumulto popular, em vez de o fazer por ordem sua, a fim de colher os
resultados do crime sem o risco da antipatia do povo (Mt_27:20).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 156
Jeremias 27

Vv. 1-22. A Futilidade de Resistir a Nabucodonosor, Ilustra-se


Com o Emblema dos Jugos Perante os Embaixadores dos Reis que
Desejavam Confederar-se Com o Rei de Judá. Jeremias Exorta a Eles e
a Zedequias a Render-se.
1. Jeoaquim — A profecia seguinte estava de acordo com esta
declaração dada no quarto ano de Jeoaquim, quinze anos antes de sua
publicação no reinado de Zedequias, ao qual se refere; esteve assim
albergada longo tempo no peito do profeta, a fim de que este pudesse
sustentar-se em meio das provas de sua profética carreira e nesse ínterim
[Calvino]. Mas pode ser que a verdadeira expressão seja “Zedequias”,
pois essa é a expressão das versões Siríaca e Árabe. Isto está confirmado
pelos vv. 3, 12; e por Jr_28:1. Está igualmente por um dos MSS. de
Kennicott. A lição da Versão Inglesa pode ser que se originou de
Jr_26:1. “Filho de Josias”, aplica-se a Zedequias com tanta propriedade
como a “Jeoaquim” ou a “Eliaquim”. O quarto ano pode chamar-se em
sentido geral aqui, como em Jr_28:1, “o princípio de seu reinado”, pois
este durou onze anos (2Rs_24:18). Ele se rebelou contra Nabucodonosor
não muito depois do quarto ano de seu reinado (Jr_51:59; 52:3;
2Rs_24:20), com violação do juramento feito perante Deus (2Cr_36:13).
2. correias — com as quais se assegura o jugo ao cangote (Jr_5:5).
canzis — lit., a peça de madeira esculpida acrescentada a ambos os
extremos dos jugos, que descansam sobre o cangote de uma junta de bois
para aparelhá-los. Aqui se denota o jugo em si. Usa-se no plural, pois ele
(Jeremias) devia levar um e entregar outro aos embaixadores (v. 3;
Jr_28:10, 12), o que prova o ato simbólico que havia neste exemplo
(embora não em outros, Jr_25:15), de levar-se a cabo (cf. Is_20:2, etc.;
Ez_12:3, Ez_12:11, Ez_12:18).
3. Apropriado símbolo, pois estes embaixadores tinham ido a
Jerusalém para consultar sobre como livrar-se do jugo de
Nabucodonosor. Segundo Ferecidas, chamado por Clemente de
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 157
Alexandria [Miscellanies, 567], Idantura, rei dos citas, manifestou a
Dario, quem tinha cruzado o Danúbio, que iria contra ele com seu
exército, por lhe haver enviado um rato, uma rã, um pássaro, uma flecha
e um arado, em lugar de uma carta. A tarefa encomendada a Jeremias
requeria uma grande fé, pois com segurança provocaria igualmente a
seus compatriotas e aos embaixadores estrangeiros e a seus soberanos,
por considerar sua atitude como um insulto no mesmo momento em que
todos tinham sua esperança cifrada na confederação.
5. Deus aqui, como em outros lugares, une-se ao ensino simbólico,
que é, por assim dizer, sua alma, sem a qual, esta não só seria fria e
frívola, mas sim morta. [Calvino]. A menção do supremo poder de Deus
tem por objetivo abater o orgulho dos que confiam em suas próprias
forças (Is_45:12),
e os dou àquele a quem for justo — (Sl_115:15-16; Dn_4:17,
Dn_4:25, Dn_4:32). Não por causa de seus méritos, mas só por minha
boa vontade [Estio].
6. os animais do campo — não meramente os cavalos para o
transporte de seu exército, e os bois para puxar os carros das provisões
[Grocio]; não só os desertos, as montanhas e os bosques, as guaridas das
feras, o que indica a ilimitada extensão do império [Estio], mas sim os
próprios animais, em virtude de um misterioso instinto da natureza. Isso
foi uma recriminação para os que não reconheciam a vontade de Deus, a
qual os próprios animais reconheciam (veja-se Is_1:3). Assim como os
animais estão sujeitos a Cristo, o Restaurador do domínio sobre a
natureza, perdido pelo primeiro Adão (veja-se Gn_1:28; Gn_2:19-20;
Sl_8:6-8), assim se decretou que estivessem sujeitas a Nabucodonosor,
representante do poder mundial e tipo do Anticristo; permitiu-se que esse
poder universal fosse retido por ele para demonstrar que outros eram
incapazes de exercê-lo, “até que venha Aquele a quem pertence de
direito” (Ez_21:27).
7. a seu filho e ao filho de seu filho — (2Cr_36:20).
Nabucodonosor teve quatro sucessores: Evil-Merodaque, seu filho;
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 158
Neriglissar, marido da filha de Nabucodonosor; seu filho Laboroso-
Arcod; e Nabonido (com quem seu filho Belsazar, compartilhou o
trono), filho de Evil-Merodaque. Mas Neriglissar e Laboroso-Arcod não
pertenciam à linha direta masculina; assim que a profecia se cumpriu
quanto a seu filho e ao filho de seu filho”, omitindo os dois monarcas
intermédios.
a vez da sua própria terra — isto é de sua sujeição ou de ser
“visitada” com ira (v. 22; Jr_25:12; 29:10; 50:27; Dn_5:26).
se servirão dele (RC) — fazendo-o seu servo (Jr_25:14; Is_13:22).
Assim “seu dia” usa-se pelo destinado dia de sua calamidade (Jó_18:20).
8. até que eu a consuma pela sua mão — até que, mediante estas
consumadoras visitações, Eu os tenha sob o seu poder.
9. Não deis ouvidos — especialmente os judeus, para quem ia
destinado o discurso dirigido às relíquias.
encantadores — agoureiros [Calvino]; da raiz, os olhos, isto é, os
que olham às estrelas e a outros meios para fazer presságios do futuro; de
outra raiz, tempo fixado, observadores dos tempos, o que estava proibido
pela lei (Lv_19:26; Dt_18:10-11, Dt_18:14).
10. para vos mandarem para longe — que expressa o evento que
resultaria. Exatamente aquilo mesmo que pretendem evitar com seus
encantamentos, trazem-no sobre nós por causa disso. Melhor é submeter-
se a Nabucodonosor e permanecer em seu país, que se rebelar e ser
proscritos dele.
11. o servir … e lavrá-la-á — A mesma raiz hebraica significa
servir e lavrar ou cultivar. Servi ao rei de Babilônia e a terra vos servirá
[Calvino].
12. Falei a Zedequias — trata-se de uma aplicação especial do
assunto de Zedequias.
13. Por que morrerias …? — correndo a vossa ruína, ao resistir a
Nabucodonosor depois desta admoestação? (Ez_18:31).
14. mentira — (Jr_14:14).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 159
15. em meu nome — o diabo se vale frequentemente do nome de
Deus para mentir (Mt_4:6; Mt_7:22-23; Jr_27:15-20, são os meios de
prova para conhecer os falsos profetas).
16. Os “vasos” tinham sido levados a Babilônia no reinado de
Jeconias (2Rs_24:13); também o tinham sido anteriormente no de
Jeoaquim (2Cr_36:5-7).
18. em Jerusalém — isto é, em outras casas que tinham tais vasos
além da casa de Deus e o palácio real. Nebuzaradã, capitão da guarda de
Nabucodonosor, os levou todos (2Rs_25:13-17; 2Cr_36:18). Os vasos
mais valiosos tinham sido levados previamente nos reinados de
Jeoaquim e Jeconias.
19. (Jr_52:17, 20, 21).
22. até ao dia em que os visitar (RC) — com ira por meio de Ciro
(Jr_32:5). Aos setenta anos, computados desde a primeira partida de
cativos, no reinado de Jeoaquim (Jr_29:10; 2Cr_36:21).
os farei trazer e os devolverei — pela mão de Ciro (Ed_1:7). Por
Artaxerxes (Ed_7:19).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 160
Jeremias 28

Vv. 1-17. Profecias Que Seguem Imediatamente às do Cap. 27.


Hananias Rompe os Jugos Para Significar que o Jugo de
Nabucodonosor Seria Quebrado. Jeremias Prediz que Jugos de Ferro
Devem Suceder os de Madeira, e que Hananias Morrerá.
1. no princípio do reinado de Zedequias — Os judeus estavam
acostumados a dividir qualquer período em duas metades, o princípio e o
fim. Como Zedequias reinou onze anos, o quarto ano se chamaria o
princípio do seu reinado, especialmente porque durante os primeiros três
anos os negócios do Estado estavam tão revoltos que ele possuía pouca
autoridade ou dignidade, por ser um rei tributário; mas no quarto ano
chegou a sentir-se forte no poder.
Hananias — Um dos três jovens piedosos que, possuídos do temor
de Deus, desafiam a ira de Nabucodonosor, chamava-se por este mesmo
nome (Dn_1:6-7; Dn_3:12). Provavelmente era um parente próximo,
pois Azarias se acha com ele como Azur com Hananias aqui. Os justos e
os ímpios encontram-se frequentemente na mesma família (Ez_18:14-
20).
Gibeão — uma das cidades dos sacerdotes, a cuja ordem deve ter
pertencido.
2. Quebrei o jugo — determinei rompê-lo. Refere-se à profecia de
Jeremias (Jr_27:12).
3. dois anos de dias (Versão Jünemann) — Assim “um mês de
dias”, isto é, todos seus dias completos (Gn_29:14, margem da V. I.,
Gn_41:1). Era uma presunção surpreendente falar com tanta precisão
sem ter alguma revelação divina.
4. a Jeconias ... eu tornarei a trazer a este lugar — não quer dizer
necessariamente que Hananias queria que Zedequias fosse substituído
por Jeconias. O assunto principal que se propunha era que a libertação do
cativeiro de Babilônia fosse completa. Mas o falso profeta predisse sem
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 161
dúvida a volta de Jeconias (2Rs_24:12-15), para congraçar-se com o
povo, do qual Jeconias era o favorito (Jr_22:24, Nota).
5. Jeremias, o profeta — O epíteto “o profeta” está prefixado a
“Jeremias” neste capítulo, para corresponder ao mesmo epíteto prefixado
a “Hananias”; exceto o v. 12, onde a expressão “o profeta” foi inserida
pela Versão Inglesa. Desta maneira, as rivais pretensões do verdadeiro e
do falso profeta destacam-se proeminentemente por via de contraste.
6. Amém — Jeremias roga pelo povo, por mais que se sinta forçado
a profetizar contra ele (1Rs_1:36). Duas predições contraditórias deviam
submeter-se à prova dos resultados (Dt_18:21-22). “Tomara que fosse
certo o que você diz!” Eu prefiro a segurança de meu país antes que
minha própria estimativa. Os profetas não se agradavam em anunciar os
juízos de Deus; só o faziam em cumprimento do duro dever, mas sem
despojar-se dos naturais e dolorosos sentimentos que lhes inspiravam os
infortúnios de seu país. Veja-se Êx_32:32; Rm_9:3, como exemplos de
como os servos de Deus, ávidos tão somente da glória de Deus e o bem-
estar de seu país, esqueciam-se de si mesmos, e proferiam seus desejos
em arroubo de entendimento. Assim, Jeremias não quis diminuir nada da
palavra de Deus, embora, como judeu, deu expressão aos desejos de seu
povo [Calvino].
8. profetas … antes de mim — Oseias, Joel, Amós e outros.
mal — uns quantos MSS. dizem fome, a qual se associa mais
frequentemente com a especificação de guerra e peste (Jr_15:2; 18:21;
27:8, 13). Mas o mal aqui inclui todas as calamidades que provêm da
guerra, não meramente a fome, mas também a desolação, etc. Aflição,
por ser mais difícil tradução, é menos provável que tenha sido
intercalada que fome, a qual se originou provavelmente ao copiar as
passagens paralelas.
9. paz — Hananias não fez nenhuma admoestação referente à
necessidade da conversão, mas sim havia predito prosperidade
incondicional. Jeremias não diz que sejam verdadeiros profetas todos os
que em certas ocasiões predizem verdades (coisa que se desaprova em
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 162
Dt_13:1-2), mas sim só o contrário, ou seja, que qualquer um que, à
semelhança de Hananias, prediz o que o evento não confirma, é um falso
profeta. Há dois ensaios de profetas: (1) O acontecimento, Dt_18:22; (2)
A palavra de Deus, Is_8:20.
10. os canzis — (Jr_27:2). É audácia ímpia romper o que Deus
tinha assinalado como objeto solene do cumprimento de Sua palavra. Daí
que Jeremias não se digne replicar (v. 11; Mt_7:6).
11. de sobre o pescoço de todas as nações — oposto a Jr_27:7.
13. Canzis de madeira quebraste … farei canzis de ferro —
Aqui não diz: “Tu quebraste … que madeira”, e “eu farei de ferro” (veja-
se v. 16). Os próprios falsos profetas, que por exortar os judeus a rebelar-
se, faziam que sacudissem o jugo relativamente fácil de Babilônia, por
cuja razão atraíram sobre si um jugo mais duro, imposto por aquela
cidade. “Canzis de ferro”, o que alude a Dt_28:48. É melhor levar a leve
cruz ao longo do caminho de nossa peregrinação, que carregar uma mais
pesada sobre nossas cabeças. Podemos escapar das providências que
destroem para nos submeter às providências que humilham. Desta
maneira estabelece-se um contraste entre o “jugo suave” de Cristo e o
“jugo escravizador” da Lei (At_15:10; Gl_5:1).
14. pus — Embora Hananias e os semelhantes a ele fossem
instrumentos secundários para submeter a Judeia a um jugo de ferro,
Deus era a Primeira Grande Causa (Jr_27:4-7).
15. tu fizeste que este povo ... mentiras — (Jr_29:31; Ez_13:22).
16. morrerás este ano — A predição foi feita no quinto mês (v. 1);
a morte de Hananias ocorreu no sétimo mês, isto é, dois meses depois da
predição, que correspondem com terrível significação aos dois anos
durante os quais Hananias havia predito que o jugo imposto por
Babilônia chegaria a seu fim.
rebeldia — manifestou sua oposição às claras indicações de Deus
de que todos se submetessem a Babilônia.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 163
Jeremias 29

Vv. 1-32. Carta de Jeremias aos Cativos em Babilônia para


Rebater as Seguranças Dadas pelos Falsos Profetas de Uma Pronta
Restauração.
1. ao resto dos anciãos — Os sobreviventes dos que tinham sido
levados a Babilônia com Jeconias; os outros anciãos cativos tinham
morrido ou de morte natural ou de morte violenta.
2. a rainha-mãe — Neústa, a rainha mãe, filha de Elnatã
(2Rs_24:8, 2Rs_24:15). (Elnatã, seu pai, possivelmente fosse o mesmo
que o de Jr_26:22). Ela compartilhou o trono com seu filho.
príncipes — Todos os homens constituídos em autoridade foram
levados cativos por temor de que fossem tramar alguma rebelião.
Jeremias escreveu a carta a pouco de lhes haver sucedido aquela
calamidade, para consolar os cativos.
3. Zedequias ... tinha enviado à Babilônia — Segundo Jr_51:59, é
o mesmo Zedequias que vai a Babilônia; aqui manda embaixadores.
Qualquer que fosse o objeto da embaixada, é evidente que Zedequias
reinava por vontade do rei de Babilônia, quem poderia ter restaurado a
Jeconias, se lhe tivesse agradado. Daí que Zedequias permitisse que se
enviasse a carta de Jeremias, não só porque agora dava mais crédito ao
profeta devido à morte de Hananias, mas também porque o teor da
mesma concordava com os seus desejos de que os judeus
permanecessem na Caldeia até a morte de Jeconias.
Hilquias — o sumo sacerdote que achou o livro da Lei na casa de
Jeová, e o mostrou a “Safã” o escriba (o mesmo provavelmente que o
mencionado aqui), quem o mostrou ao rei Josias (2Rs_22:8, etc.). Os
filhos de Hilquias e de Safã herdaram de seus progenitores o mesmo
respeito pelos escritos sagrados. E assim no Jr_36:25, vemos que
“Gemarias” rogou ao rei Jeoaquim que não queimasse o rolo do profeta.
5. Edificai casas — Em oposição às sugestões dos falsos profetas,
que disseram aos cativos que seu cativeiro logo cessaria, Jeremias lhes
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 164
diz que esta seria de longa duração, e que pelo mesmo edificassem casas,
pois Babilônia seria seu lar por longo tempo.
6. multiplicai-vos aí e não vos diminuais — A vontade de Deus
era que a linhagem de Abraão não desaparecesse; e assim, ao mesmo
tempo que os consola, infunde-lhes a esperança da volta, não em
seguida, mas posteriormente.
7. (Ed_6:10; Rm_13:1; 1Tm_2:2). Não têm que levar meramente o
jugo babilônico com paciência, mas têm que orar por seus dominadores,
ou seja, enquanto dure o cativeiro. O tempo da boa vontade de Deus viria
quando eles começassem a orar pela queda de Babilônia (Jr_51:35;
Sl_137:8). Esse tempo, eles não podiam antecipá-lo. A verdadeira
religião inculca a paciente submissão, não a rebelião, mesmo quando o
príncipe seja incrédulo. Não desprezemos jamais, em nenhum estado da
vida, o consolo que possamos obter pelo fato de que não tenhamos tudo
aquilo que gostaríamos de possuir. Há aqui um gozo antecipado do amor
evangélico para com nossos inimigos (Mt_5:44).
8. sonham segundo o vosso desejo — O adágio latino diz: “O
povo quer ser enganado; deixem, pois, que o seja”. Não é a mera
credulidade a que extravia os homens, mas sim seu perverso “amor às
trevas antes que à luz”. Não foram os sacerdotes os que inventaram o
engano clerical, mas o mórbido apetite do povo de ser enganado;
exemplo: Arão e o bezerro de ouro (Êx_32:1-4). De igual modo, os
judeus deram lugar a que os profetas lhes contassem sonhos que os
encorajassem (Jr_23:25, 26; Ec_5:7; Zc_10:2; Jo_3:19-21).
10. (Nota, Jr_25:11, 12; Dn_9:2). Isto prova que os setenta anos se
computam desde o cativeiro de Jeconias, não desde o último cativeiro. A
especificação de tempo era para conter a impaciência dos judeus para
que não se adiantassem ao tempo fixado pelo Senhor.
boa palavra — promessa de volta.
11. Eu é que sei — Eu sozinho; não os falsos profetas, que nada
sabem dos Meus propósitos, por mais que pretendam conhecê-los.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 165
que pensamentos tenho — (Is_55:9). É uma indireta aos judeus
que “não tinham pensamentos de paz”, mas só de “mal” (de desgraças),
porque não podiam conceber como poderia lhes vir a libertação. Duas
são as doenças morais do homem: a primeira é a vã confiança; a
segunda, o desespero, quando aquela o desapontou. Assim os judeus
riam no princípio das ameaças de Deus, confiantes em que logo
retornariam; logo, quando jogaram de si aquela confiança, entregaram-se
a inconsolável desalento.
o fim que desejais — lit., fim e expectação, isto é, um fim, e esse
fim, tal como o esperam. Aqui há dois nomes unidos pelo e, e os dois
equivalem a um substantivo e a um adjetivo. Assim, em Jr_36:27, “o
rolo com as palavras”, isto é, o rolo de palavras; Gn_3:16, “dor e
concepção” isto é, dor na concepção. Veja-se Pv_23:18, onde, como
aqui, fim significa feliz resultado.
12. Comprido (Dn_9:3, etc.). Quando Deus se propõe fazer
misericórdia, põe nos corações do Seu povo aquele que ore pela
misericórdia que Ele Se propôs outorgar. Quando esse espírito de oração
foi derramado, é sinal seguro de que a misericórdia deve vir.
passareis — ao templo e a outros lugares de oração, em contraste
com sua anterior preguiça referente a ir buscar a Deus.
13. (Lv_26:40-42, Lv_26:44, 45).
14. Serei achado — (Sl_32:6; Is_55:6).
farei voltar os vossos cativos (RC) — jogo de sons shabti …
shebith.
15. dizeis — Estas palavras não se referem ao precedentemente
dito, mas aos vv. 10 e 11. “Jeová te disse isto” (ou seja, a profecia sobre
a continuação do cativeiro durante setenta anos); “Porque dizeis: O
SENHOR nos levantou profetas na Babilônia” para nos predizer nossa
pronta libertação (mas esta sua profecia é suposta, não expressa; em
consequência, os vv. 16-19, contradizem esta falsa esperança, assim
como os vv. 8, 9, 21). Jeremias neste v. 15 deixa de falar com os
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 166
piedosos, para dirigir-se (vv. 12-14) aos ímpios que escutam os falsos
profetas.
16. e de todo o povo que habita nesta cidade … que não saíram
— Tão longe estais vós de retornar disposto a Jerusalém que até os
vossos irmãos que foram deixados nela também serão desterrados. Ao
fazer menção “do trono de Davi”, é para que não fossem pensar que,
porque o reino de Davi devia ser perpétuo, não lhes sobreviriam severos
castigos que o interrompessem nem mesmo temporariamente (Sl_89:29-
36).
17. como a figos podres — No hebraico, “horríveis”,
nauseabundos, de uma raiz que significa olhar com asco (veja-se
Jr_24:8, 10).
18. dá-los-ei … entre todos os reinos — (Jr_15:4; Dt_28:25).
maldição, etc. — (Jr_29:6; 18:16; 19:8).
21. Zedequias — irmão de Sofonias (v. 25), sendo ambos dois
filhos de Maaseias. Provavelmente, eram da mesma família que o falso
profeta do tempo de Acabe de Israel (1Rs_22:11, 1Rs_22:24).
22. surgirá … maldição — isto é, uma fórmula de imprecação.
o SENHOR te faça como a Zedequias — (Veja-se Gn_48:20;
Is_65:15).
assou no fogo — castigo caldeu (Dn_3:6).
23. loucuras — lit., pecaminosa loucura (Is_32:6).
24-32. Segunda comunicação que envia Jeremias a Babilônia,
depois que o mensageiro que tinha levado sua primeira carta, retornou
trazendo uma carta do falso profeta Semaías para Sofonias, etc., em que
condena a Jeremias, e reprova às autoridades o fato de não lhe terem
aceso.
de Neelão (NTLH) — nome derivado de seu pai ou de algum lugar:
isso ao mesmo tempo alude ao significado que tem no hebraico: um
“sonhador” (veja-se v. 8).
25. no teu nome — sem a sanção “de Jeová dos exércitos, Deus de
Israel”, cujas palavras encontram-se em antítese a teu nome (Jo_5:43).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 167
Sofonias — O segundo sacerdote ou substituto (Sagan) do sumo
sacerdote. Era um dos enviados a consultar a Jeremias por Zedequias
(Jr_21:1); o qual foi morto por Nabucodonosor na tomada de Jerusalém
(2Rs_25:18-21). Dirige-se em particular a Sofonias, por haver-se
elevado contra a predição do profeta Jeremias, contrária a seu irmão
Zedequias em Babilônia (v. 21). Sofonias devia ler aos sacerdotes no
templo, na presença de todo o povo.
26. em lugar do sacerdote Joiada — A promoção de Sofonias à
posição de segundo sacerdote, por achar-se então Joiada no desterro, foi
algo inesperado. Daí que Semaías o acuse como ingrato para com Deus,
o qual o tinha elevado a tão alta posição antes do tempo regular.
sejas encarregado … sobre todo homem — Vocês, visto que
exercem o governo do templo (Jr_20:1, Nota), deveriam apreender a
todo falso profeta como Jeremias.
fanático — Os ímpios chamavam frequentemente assim os profetas
inspirados (2Rs_9:11; At_26:24; At_2:13, At_2:15, At_2:17-18). Nisto
Jeremias é tipo de Cristo, a quem foi feita a mesma acusação (Jo_10:20).
na prisão — antes, na armadilha (Jr_20:2, Nota).
tronco — da raiz confinar; daí ser um calabouço estreito. Segundo
Dt_17:8-9, o sacerdote agia como juiz em tais casos, mas não tinha
direito a pôr a alguém na armadilha; entretanto, ele se tinha atribuído
esse direito por causa do caótico estado daqueles tempos.
27. de Anatote (TB) — dito depreciativamente, como de Jesus “de
Nazaré”.
que vos profetiza — constituindo-se a si mesmo.
28. Refere-se à primeira carta que Jeremias tinha remetido a
Babilônia (v. 5).
29. Sofonias … aos ouvidos do profeta Jeremias — Parece que
este alimentava menos preconceitos contra Jeremias que contra outros,
por isso lê a acusação ao próprio profeta, para que não fosse condenado
sem ser ouvido. Isto concorda com a imputação de Semaías a Sofonias
por falta de zelo para proceder contra Jeremias (vv. 26, 27). Daí que este
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 168
fosse escolhido pelo rei Zedequias como um dos integrantes da
deputação enviada a Jeremias (Jr_21:1; 37:3).
30. Isto reata o fio da cláusula que começou no v. 25, mas que foi
deixada incompleta. Esta se completa aqui, no v. 30, embora não
ininterruptamente, mas sim mediante um mero período. A mesma
construção ocorre em Rm_5:12-15.
32. ele não terá ninguém que habite — (Dt_28:18).
não verá o bem — ele desprezou o tempo legal, e como quis
retornar antes do tempo que Deus havia expressamente anunciado, em
justa retribuição, não participaria absolutamente no retorno de Babilônia.
rebeldia — indo contra a revelada vontade de Deus quanto ao
tempo da volta (Jr_28:16).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 169
Jeremias 30

Vv. 1-24. Retorno dos judeus de Babilônia Depois da Tomada


Desta, e Suscitar do Messias.
2. Escreve num livro — depois da destruição de Jerusalém, não se
ordena a Jeremias, como antes, que fale, mas sim escreva a profecia
subsequente (v. 4, etc.,) para que dessa maneira a pudessem ler os seus
compatriotas onde quer que se achassem por causa da dispersão.
3. farei tornar do cativeiro … Israel e Judá (RC) — Neste
capítulo 30 não se trata meramente da volta dos judeus, mas também das
10 tribos (ou seja de “Israel”, do que se fala no cap. 31), que formam em
conjunto a totalidade da nação (v. 18; Jr_32:44; Ez_39:25; Am_9:14-15).
Israel é mencionado primeiro, porque seu desterro foi mais longo que o
de Judá. Alguns cativos dos israelitas pertencentes às dez tribos
retornaram com os de Judá (Lc_2:36, onde se menciona “Aser”). Mas
estes não são senão um objeto da plena restauração no futuro (Rm_11:26
“todo Israel”) Veja-se Jr_16:15. Este versículo 3 é uma breve declaração
do assunto antes que a profecia foi proferida.
5. Ouvimos uma voz de tremor — Deus introduz os judeus
falando daquilo a que seriam reduzidos no fim, a despeito de sua
obstinação. A ameaça e a promessa se combinam; daquela fala-se
brevemente, ou seja, da miséria que experimentariam os judeus no
cativeiro de Babilônia até “tremor” e “temor”, causados pela
aproximação do exército medo-persa de Ciro contra a Babilônia; na
promessa se estende muito mais, expressando que seu “tremor”
terminará com sua libertação, a qual será tão rápida como o é a transição
das dores de parto de uma mulher à alegria que sente por ter dado à luz
um menino (v. 6).
Perguntai — consultem a todas as autoridades, homens e livros,
que possam, e não acharão um só caso. Entretanto, nesse futuro tempo se
verá os homens com as mãos sobre os lombos, como fazem as
parturientes para mitigar suas dores. Deus forçará os homens a fazer
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 170
gestos mais próprios de mulher que de homem (Jr_4:31; 6:24). Esta
metáfora emprega-se frequentemente para expressar de antemão a dor
seguida da repentina libertação de Israel, como no caso de uma mulher
no trabalho de parto (Is_66:7-9).
pálidos — propriamente, da cor da erva murcha e sem cor: a
esverdeada palidez de um ictérico; a doentia palidez do terror.
7. Que grande — caracterizado por grandes calamidades (Jl_2:11,
Jl_2:31; Am_5:18; Sf_1:14).
não há outro semelhante … porém, será livre — (Dn_12:1). A
parcial libertação, quando caiu Babilônia, prefigura a final e completa
libertação de Israel, literal e espiritual, quando cair a mística Babilônia
(Apocalipse 18 e 19).
8. o seu jugo de sobre o teu pescoço — teu, isto é, de Jacó (v. 7), o
jugo que foi imposto. A transição à segunda pessoa é frequente: Deus
fala de Jacó ou Israel ao mesmo tempo que se dirige a ele diretamente.
Assim achamos em seguida “este” na frase: “nunca mais estrangeiros
farão escravo este povo” (Jr_25:14). Depois da libertação por Ciro,
Pérsia, Alexandre, Antíoco e Roma submeteram a Judeia à servidão. A
total libertação que se insinua aqui deve, portanto, ser ainda futura.
9. Em lugar de servir a estranhos (v. 8), servirão a Jeová, seu
legítimo Rei, na teocracia (Ez_21:27).
Davi, seu rei — Do cativeiro, nenhum rei da linhagem de Davi
empunhou o cetro; pois Zorobabel, embora fosse da estirpe de Davi,
nunca pretendeu o título de “rei”. Por conseguinte, o aludido deve ser o
Messias, o filho de Davi. Assim o sustenta o Targum (Veja-se Is_55:3-4;
Ez_34:23-24; Ez_37:24; Os_3:5; Rm_11:25-32). Ele é o assinalado para
ocupar o trono de Davi (Is_9:7; Lc_1:32). Ele figura aqui associado a
Jeová como reclamando igual obediência. Deus é nosso “Rei” só quando
nos sujeitamos a Cristo; Deus não nos governa imediatamente, mas por
meio de Seu Filho (Jo_5:22-23, Jo_5:27).
lhe levantarei — se alude aos Juízes, aos quais Deus suscitou como
libertadores de Israel do domínio de seus opressores (Jz_2:16; Jz_3:9).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 171
O mesmo ocorreu com Cristo que foi suscitado como o antitípico
libertador (Sl_2:6; Lc_1:69; At_2:30; At_13:23).
10. de longe — Não temam, como se a distância dos lugares onde
se encontram dispersos impedisse a possibilidade da volta.
descendência — Embora por causa do longo tempo que devem
passar em cativeiro, não pudessem ver a restauração, contudo a promessa
será cumprida a seus descendentes, primeiro, na volta de Babilônia, e de
uma maneira completa na restauração final.
ficará tranqüilo … e não haverá quem o atemorize — (Jr_23:6;
Zc_14:11).
11. darei cabo de todas as nações … de ti, porém, não darei
cabo — (Am_9:8). O castigo dos réprobos é final e fatal; o do povo de
Deus é temporal e corretivo. Babilônia foi inteiramente destruída; Israel,
depois do castigo, foi libertado.
em justa medida — isto é, com moderação, não com todo o rigor
da justiça (Jr_10:24; 46:28; Sl_6:1; Is_27:8).
de todo não te inocentarei — Não te deixarei totalmente impune.
(Êx_34:7).
12. As desesperadas circunstâncias em que se acham os judeus.
estão representadas aqui como uma ferida incurável. Seu pecado é tão
grave que sua esperança de que o castigo (seu exílio) logo terminará é vã
(Jr_8:22; 15:18; 2Cr_36:16).
13. Não há quem defenda a tua causa — nova imagem tomada de
um tribunal de justiça.
para a tua ferida — que vendem sua ferida.
remédios nem emplasto — lit., remédios curativos, ou antes,
aplicações de medicamentos.
14. os teus amantes — os povos que antes foram os seus aliados,
Assíria e Egito (veja-se Lm_1:2).
já não perguntam por ti — se desentenderam de tudo o que te
interessa em sua desgraça.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 172
com ferida de inimigo — uma ferida tal como um inimigo te
poderia infligir. Deus condescende em empregar uma linguagem
adaptada à capacidade humana. Ele é incapaz de proceder com
“inimizade” ou “crueldade”: o muito grave pecado deles demandava com
justiça um grave castigo, como se Ele fosse um “inimigo” (Jr_5:6;
Jó_13:24; Jó_30:21).
15. Por que gritas? — como se a severidade de Deus fosse
excessiva. Você não tem razão para se queixar, porque sua aflição é
justa. Seu grito é muito tardio, porque o tempo do arrependimento e da
misericórdia passou [Calvino].
16. Por isso — Unido com o v. 13, pois “Não há quem defenda a
tua causa”; “porém” Eu julgarei a tua causa e curarei tua ferida.
aniquilando a seus inimigos. O v. 15 se inseriu para amplificar o dito no
final do v. 14. Logo que os falsos caminhos de paz, sugeridos pelos
pseudo-profetas, terminaram na irremediável ruína do povo, adianta-se o
verdadeiro profeta para anunciar a graça de Deus que brinda
arrependimento e saúde.
os que te devoram serão devorados … os que te despojam serão
despojados … ao saque todos os que te saqueiam — lhes pagará com
a mesma moeda (veja-se Nota. Jr_2:3; Êx_23:22; Is_33:1).
17. (Jr_8:22; 33:6).
a repudiada — como esposa despedida por seu marido (Is_62:4,
contrastado com o v. 12).
Sião — É uma alusão a seu significado hebraico, de secura, a qual
“ninguém busca”, como ocorria com uma região árida (Is_62:12). A
extrema situação do povo, longe de constituir um obstáculo para a graça
de Deus, será uma oportunidade para recebê-la.
18. Eis que acabarei o cativeiro (RC) — (Jr_33:7, 11).
tendas — voz empregada para denotar que suas atuais habitações
na Caldeia eram só temporais como as tendas de campanha.
e me compadecerei das suas moradas — (Sl_102:13).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 173
sobre o seu montão — sobre a mesma colina, isto é, sítio, pois
uma colina era o sítio que se costumava escolher para fundar uma cidade
(veja-se Js_11:13, margem da V. Inglesa). Isto concorda melhor com a
cláusula paralela: “segundo sua forma” (isto é, na mesma forma
adequada que antes), em vez de a traduzir: “sobre o seu montão de
ruínas”, como emJr_49:2.
o palácio — do rei, situado sobre o monte Sião.
será habitado — (Nota, Jr_17:6, 25). Isto confirma a Versão
Almeida “palácio”, e não como traduzem outros: “o templo” (veja-se
1Rs_16:18; 2Rs_15:25).
19. ações de graças — A palavra hebraica inclui confissão como
louvor; pois no caso de Deus, os maiores louvores que Lhe podemos
oferecer consistem em confessar o que é Deus na realidade [Bengel].
(Jr_17:26; 13:12, 13; 33:11; Is_35:10; Is_51:11).
Multiplicá-los-ei — (Zc_10:8).
20. como na antiguidade — tão florescentes como na época de
Davi.
21. O seu príncipe procederá deles — melhor. “o Glorioso” ou
“Caudilho” (veja-se At_3:15; Hb_2:10), o que responde a seu “príncipe”
ou “governador”, na cláusula paralela.
do meio deles sairá — será de sua nação, quer dizer, será judeu,
não estrangeiro; o qual é aplicável a Zorobabel ou a J. Hircano (pois o
sumo sacerdócio e o governo eram hereditários) só como tipos de Cristo
(Gn_49:10; Mq_5:2; Rm_9:5), o antitípico “Davi” (v. 9).
fá-lo-ei aproximar — como o sumo sacerdote (Êx_19:22;
Lv_21:17), por meio do qual os crentes também têm acesso a Deus
(Hb_10:19-22). Seu caráter sacerdotal e real encontram-se igualmente
combinados (Sl_110:4; Zc_6:13).
quem de si mesmo ousaria aproximar-se de mim — lit.,
empenhou seu coração, isto é, sua vida; uma coisa única; só o Messias
deu a Sua vida em objeto de segurança (Hb_7:22; Hb_9:11-15), a fim de
nos obter o acesso não só a Ele mesmo, mas também a Deus. O coração
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 174
se toma aqui em lugar de vida, para expressar a ousadia que se requer
para sair fiador de tão tremenda responsabilidade. O assunto causa
admiração de que se desse com alguém que por Sua dupla natureza,
divina e humana, fosse capaz de realizar essa tarefa. Cf. a interrogação
(Is_63:1-3).
22. Vós sereis o meu povo — A aliança será renovada entre Deus e
o Seu povo pela mediação do Messias (v. 21; Jr_31:1, 33; 32:38;
Ez_11:20; Ez_36:28).
23, 24. (Jr_23:19). A vingança que Deus tira dos Seus inimigos
sempre vai acompanhada de manifestações de Sua graça para com o Seu
povo.
um redemoinho tempestuou — lit., que se prolonga, sem
interrupção; o que é muito apropriado aqui, tratando do caso de
Babilônia, a qual ia ser destruída com caráter permanente (Jr_23:19, 20.
vejam-se as notas nesse lugar), onde se fala da queda temporal da Judeia.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 175
Jeremias 31

Vv. 1-40. Continuação da Profecia do Cap. 30.


Do mesmo modo que nesse capítulo se prediz a restauração de Judá,
assim também se prediz neste a das dez tribos de Israel.
1. Naquele tempo — “Nos últimos dias” (Jr_30:24).
serei o Deus — que manifesto Minha graça (Gn_17:7; Mt_22:32;
Ap_21:3).
de todas as tribos de Israel — não só dos desterrados do reino do
Sul, ou de Judá, mas também dos do reino do Norte ou das dez tribos; e
não meramente de Israel em geral, mas sim “de todas as tribos de Israel”.
Isto ainda não se cumpriu (Rm_11:26).
2. Sobre a graça manifestada a Israel quando estavam “no deserto”,
Deus fundamenta Seu argumento de lhes renovar os Seus favores agora
que estão no desterro, pois Sua aliança é eterna (v. 3), e não muda. O
mesmo argumento apresenta-se em Os_13:5, Os_13:9-10; Os_14:4-5,
Os_14:8. Babilônia é comparada muito apropriadamente com o
“deserto”, pois Israel foi em um e outro caso semelhante a um
estrangeiro que se acha longe do apetecido descanso de seu lar, e a
Babilônia é chamada um “deserto” em Is_40:3 (cf. Jr_50:12).
Eu irei e darei descanso a Israel — ou seja, na coluna de nuvem e
fogo, o símbolo da presença de Deus, que ia adiante de Israel para
buscar lugar de repouso (Nm_10:33; Is_63:14) para o povo: um
descanso temporal em cada parada que faziam no deserto, e outro
permanente em Canaã (Êx_33:14; Dt_3:20; Js_21:44; Sl_95:11;
Hb_3:11).
3. Israel, em resposta, reconhece com gratidão para com Deus Sua
passada graça. Mas a expressão “Há muito” [RC] denota ao mesmo
tempo, tacitamente, que agora Deus já não lhe aparecia. “Deus
antigamente me aparecia, mas agora estou abandonada”. Deus lhe
responde: Não; eu te amo agora com o mesmo amor de antes. Meu amor
não é um impulso momentâneo, mas sim procede de Meus eternos
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 176
conselhos, e continuará “eternamente”; daí se originou a aliança pela
qual Eu te adotei por pura graça (Ml_1:2; Rm_11:28-29). No margem da
Versão Inglesa se traduz: “de longe” [RA], o que não responde tão bem
como “há muito tempo” [RC] a “no deserto” (v. 2), que se refere aos
antigos tempos da história de Israel.
com benignidade te atraí — (Os_11:4). Antes, estendi
continuamente minha benevolência sobre ti. Assim o Sl_36:10,
“Continua (outorgando) a tua benignidade”. Por causa do Meu amor
eterno, ainda estenderei sobre ti a Minha benevolência. Assim Is_44:21:
“Não me esquecerei de ti”.
4. Ainda te edificarei ... serás edificada — A combinação das
vozes ativo e passivo para expressar o mesmo fato, indica a infalível
certeza de seu cumprimento. “Edificá-los-ei”, isto é, estabelecê-los-ei em
prosperidade (Jr_33:7).
adornada com os teus adufes — (1Sm_18:6). Ou: “adorna-te com
os teus pandeiros”; instrumentos usados pelos jovens nos regozijos
públicos (Êx_15:20; Jz_11:34). Israel em seu desterro tinha lançado de si
todos os instrumentos de alegria (Sl_137:4).
dos que dançam — Trata-se de alegria to, não de uma alegria
carnal.
5. Samaria — a metrópole das 10 tribos; aqui equivale a Israel. O
montanhoso território de seu país se prestava para o cultivo da videira.
e comerão dela como coisas comuns (AV) — lit., profaná-la-ão,
isto é, será de uso comum. Não se podia comer o fruto da videira até
passar três anos desde sua plantação; o fruto do quarto devia ser
“santidade de louvores a Jeová”; o quinto ano, seu fruto podia ser
comido por todos; já não estava limitado aos usos santos (Lv_19:23-25;
cf. Dt_20:6; Dt_28:30, margem da Versão Inglesa). Desta maneira a
ideia que aqui se encerra é: “As mesmas pessoas que plantaram, colherão
os frutos”; já não sucederá mais que um plante e outro colha o fruto.
6. Os vigias colocados nas eminências (tipos dos pregadores do
evangelho) convocarão as dez tribos a subirem às festas anuais de
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 177
Jerusalém (“Sião”), como estavam acostumados a fazer antes da revolta
e da colocação dos ídolos dos bezerros em Dã e Berseba (Ez_37:21-22).
região montanhosa de Efraim — não uma simples montanha, mas
sim toda a região montanhosa das dez tribos.
nosso Deus — contra quem antes nos rebelamos, mas agora é nosso
Deus. Uma amostra desse bom tempo futuro nos é dada êxito do
Evangelho ao ser pregado pela primeira vez em Samaria (João 4; At_8:5-
25).
7. Exorta-se ao povo a que com louvores e orações rogue por sua
restauração universal. Jeová é representado no contexto (vv. 1, 8), como
prometendo restaurar imediatamente a Israel. Por esta razão, eles
louvarão a Deus por sua restauração, estando tão certos disso como se já
se houvesse realmente completado; ao mesmo tempo rogam por isso,
pois a oração era o meio para alcançar o desejado fim. A oração não
move a Deus a nos outorgar nossos desejos, mas quando Ele determinou
conceder-nos isso, influi em nossos corações para que oremos pela coisa
desejada. Cf. Sl_102:13-17, no que respeita à conexão da restauração de
Israel com as orações do Seu povo, com Is_62:1-6.
a Jacó — por causa de Jacó; por causa de aproximar-se sua
libertação por Jeová.
por causa — por causa de, quadraria mais exatamente com o
paralelismo “quanto a Jacó”.
cabeça das nações — Israel, como o prova o paralelismo “a Jacó”
(veja-se Êx_19:5; Sl_135:4; Am_6:1). Deus estima a grandeza das
nações, não pelo nível das riquezas materiais do homem, mas pelo favor
de havê-los eleito.
8. terra do Norte — Assíria, Media, etc. (Nota, Jr_3:12, 18; 23:8).
os congregarei das extremidades da terra — (Ez_20:34,
Ez_20:41; Ez_34:13).
cegos e aleijados — nem mesmo os mais doentes e os não aptos
para viajar serão deixados atrás, tão universal será a restauração.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 178
em grande congregação — retornarão aqui “em grande
companhia” [Maurer].
9. choro — por seus pecados que foram causa de que terem sido
levados ao cativeiro (Sl_126:5-6). Embora partam ao exílio chorando,
voltarão com alegria (Jr_50:4, 5).
súplicas — (veja-se vv. 18, 19; Jr_3:21-23; Zc_12:10). A margem
traduz “favores”, como Js_11:20; Ed_9:8; desta maneira os favores ou
compaixões de Deus estão em oposição ao choro do povo; suas lágrimas
se converterão em alegria. Mas a Versão Inglesa concorda melhor com o
paralelo,
guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho reto — (Is_35:6-
8; Is_43:19; Is_49:10-11). Deus lhes dará a água que satisfará sua sede,
como quando vinham pelo deserto do Egito. Isso mesmo é como se fará
espiritualmente (Mt_5:6; Jo_7:37).
Efraim — as dez tribos já não separadas de Judá, mas sim
formarão um só povo com ela.
meu primogênito — (Êx_4:22; Os_11:1; Rm_9:4). Assim a igreja
eleita (2Co_6:18; Tg_1:18).
10. As gratas novas da intervenção de Deus em favor de Israel
atrairão a atenção das mais remotas nações gentílicas.
Aquele que espalhou a Israel o congregará — Aquele que o
espalhou sabe onde está; aquele que feriu também pode curar.
guardará — não apenas o ajuntará, mas sim o guardará
certamente até o fim (Jo_13:1; Jo_17:11).
como o pastor — (Is_40:11; Ez_34:12-14).
11. o livrou da mão do que era mais forte — nenhum inimigo,
por forte que seja, pode impedir que Jeová livre a Jacó (Is_49:24-25).
12. na altura de Sião — ( Ez_17:23).
correrão (RC) — haverá um grande concurso de adoradores que
irão ao templo de Sião (Is_2:2; Mq_4:1).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 179
aos bens do SENHOR (RC) — (veja-se v. 14). A bondade de
Jeová, que é a fonte de todo o bem (Os_3:5), os levará a orar a Ele e a
louvá-Lo por estas bênçãos, das quais Ele é a fonte principal.
jardim regado — (Is_58:11). Não meramente por certo tempo,
mas sim continuamente cheios de santo bem-estar.
nunca mais desfalecerão — refere-se à igreja triunfante, assim
como ao literal Israel (Is_35:10; Is_65:19; Ap_21:4).
13. jovens … velhos — (Zc_8:4-5).
14. com a minha bondade — (v. 12).
15. Ramá — Na tribo de Benjamim, a leste do grande caminho do
norte, a duas horas de caminho de Jerusalém. Raquel, tendo desejado
toda sua vida ter filhos (Gn_30:1), morreu de dor ao dar à luz a
Benjamim (Gn_35:18-19, margem da V. I.; 1Sm_10:2), e foi sepultada
em Ramá, perto de Belém. O profeta a representa como levantando a
cabeça da tumba e rompendo em “pranto”, ao ver toda a terra privada de
seus filhos, os efraimitas. Ramá foi o lugar onde Nabucodonosor
concentrou a todos os judeus e os encadeou para levá-los a Babilônia
(Jr_40:1). Porém Deus a consola com a promessa de restaurá-los.
Mt_2:17-18 cita isto, como cumprido na matança dos inocentes, por
ordem de Herodes. “Um acontecimento menor e outro maior em tempos
diferentes, pode ser que respondam ao simples sentido de uma passagem
da Escritura, até que a profecia se esgote” [Bengel]. Além da alusão
temporal aos exílios a Babilônia, o Espírito Santo prefigurou
principalmente a fuga do Messias ao Egito e a desolação causada por
Herodes na vizinhança da tumba de Raquel mediante a matança de
meninos cujas mães, ao dá-los à luz, puderam chamá-los, como Raquel,
“filhos de dor” (Benoni). A volta do Messias (o representante de Israel)
do Egito e a futura volta desse povo, tanto em sentido literal como
espiritual (inclusive os meninos inocentes) na segunda vinda do Senhor,
são antitípicos da volta de Israel de seu exílio de Babilônia, que é o que
Jeremias lhes oferece neste lugar. A cláusula, “porque pereceram”, quer
dizer, morreram (Gn_42:13), não tem tão estrita aplicação aos exilados
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 180
em Babilônia, como à história do Messias e do Seu povo no passado,
presente e futuro. De sorte que as palavras, “esperança há também para
seu fim”, devem se cumprir no final, quando Raquel se encontre na
ressurreição com seus filhos assassinados ao mesmo tempo que o Israel
literal seja restaurado. “Porque já não são”, isto é, morreram. No
hebraico está no singular: morreu cada um (deles). Na matança de
Belém, cada mãe só tinha um filho para lamentar, como o dá a entender
a ordem de Herodes: “De dois anos para baixo”. Este uso do singular em
sentido distributivo (as mães choram separadamente, cada qual por seu
filho), é uma coincidência entre a profecia da matança de Belém e o
acontecimento, tanto mais notável quanto que não é óbvio; o emprego do
singular é também apropriado no que corresponde ao Messias em seu
desterro no Egito, o qual devia ser o principal objeto da lamentação de
Raquel.
16. porque há recompensa para as tuas obras — seu maternal
pranto por seus filhos [Rosenmuller]. Tua aflição pela perda dos teus
filhos, assassinados por causa de Cristo, não será estéril para ti, como
quando deste à luz o “filho da tua dor”, Benjamim. Em primeiro lugar,
tua pena tampouco será perpétua, pois os exilados voltarão e a terra
tornará a ser povoada [Calvino].
voltarão — (Os_1:11).
17. Há esperança para o teu futuro — todas as tuas calamidades
terão um próspero resultado.
18. Efraim — que representa as dez tribos.
se queixava — O espírito de penitente súplica se derramará enfim
sobre Israel como o necessário precursor de sua restauração (Zc_12:10-
14).
Castigaste-me, e fui castigado — Na primeira cláusula se insinua
o castigo; na segunda, o benéfico efeito do mesmo, ao ensinar ao
penitente verdadeira sabedoria.
como novilho ainda não domado — Uma descrição semelhante
apresenta-se em Dt_32:15. Cf. com “de dura cerviz” em At_7:51;
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 181
Êx_32:9, é uma imagem tomada de bois refratários. Antes de meu
castigo, eu necessitava a severa correção que recebi, tanto como um
indomado bezerro necessita da aguilhada. Cf. At_9:5, onde se emprega a
mesma figura com relação ao Saulo antes da sua conversão. Israel
recebeu um castigo mais longo que Judá, não sendo restaurado quando
os judeus voltaram de Babilônia. No futuro, quando forem restaurados,
confessarão que a dolorosa disciplina a que foram submetidos foi
inteiramente necessária para “acostumá-los” a tomar o “jugo suave” de
Deus (Mt_11:29-30).
converte-me — mediante o convertedor Espírito (Lm_5:21). Mas,
por que Efraim roga por sua conversão, visto que já está convertido?
Porque nos convertemos mediante progressivos passos, e necessitamos o
mesmo poder de Deus para seguir adiante para originar nossa conversão
(Jo_6:44, Jo_6:65; cf. com Is_27:3; 1Pe_1:5; Fp_1:6).
19. depois que me converti, arrependi-me — O arrependimento,
no pleno sentido da palavra, segue, não precede, a nossa conversão a
Deus, e é produzido por Deus (Zc_12:10). “O olhar dos judeus àquele a
quem transpassaram”, dará como resultado que “façam pranto por ele”.
O arrependimento é a lágrima que flui do olho da fé voltado para Jesus.
Ele mesmo o dá; nós não o produzimos de nós mesmos, mas sim temos
que ir a Ele para que nos dê (At_5:31).
fui instruído — aprendi a me conhecer mediante o castigo.
Frequentemente o Espírito de Deus opera através das correções de sua
providência.
bati na coxa (TB) — (Ez_21:12). Como sinal de indignado
remorso, de vergonha e pesar, por causa de seu passado pecado.
levei o opróbrio da minha mocidade — “Pois as calamidades que
sofri foram o justo castigo de meus escandalosos desmandos contra
Deus em minha juventude”. Uma alusão aos ídolos estabelecidos em Dã
e Betel imediatamente depois de as dez tribos se terem separado de Judá.
Seu sentido de vergonha demonstra que já não se deleita no pecado.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 182
20. Não é Efraim meu precioso filho ... ? — A pergunta indica
que se esperava uma resposta negativa. Quem teria pensado que um filho
tão desobediente a seu Pai celestial como o era Efraim, seria olhado por
Deus como um filho em quem seu Pai sente prazer? Certamente que não
o era com relação a seu pecado. Mas em virtude do “amor eterno” de
Jeová, ao “voltar-se” Efraim a Ele (v. 3), ao ponto de ser acolhido por
Ele como “seu bem amado filho”. Este versículo 20 nos revela a presteza
de Deus em receber com agrado ao penitente (vv. 18, 19), adiantando-se
à sua conversão mediante sua preveniente graça e amor. Cf. Luc_15:20 :
“Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão”, etc.
falo — ameaçando-o por sua idolatria.
me lembro — com favor e interesse, como em Gn_8:1; Gn_30:22.
Comovem-se as minhas entranhas por ele (TB) — (Dt_32:36;
Is_63:15; Os_11:8), ou seja, com anelos de compassivo amor. As
“entranhas” incluem a região do coração, o assento dos afeiçoados.
21. Põe-te marcos — marcos para assinalar o caminho para a volta
dos exilados. As caravanas colocam pilares ou montões de pedras, para
assinalar o caminho através do deserto, para não extraviar-se à volta. É
por isso que Deus disse a Israel que assinalasse o caminho por onde iam,
ao partir de seu país para o exílio, pois deviam voltar por esse mesmo
caminho.
caminho — (Is_35:8, Is_35:10).
22. andará errante — ou seja, em busca de auxílios humanos
(Jr_2:18, 23, 36). Por que não te voltas para mim imediatamente?
Maurer traduz como em Ct_5:6: Até quando te tens que apartar? Basta
com os teus passados desvios, agora que se aproxima para ti uma nova
era. A falta que Deus descobre neles é que olhavam par um e para outro
lado, buscando o apoio das contingências, em vez de confiar sem demora
na palavra de Deus que prometia restaurá-los. Para os assegurar disso,
Deus lhes promete criar uma nova coisa em sua terra, uma mulher
rodeará a um varão. Isto Calvino explica assim: Israel, que é fraco como
uma mulher, será superior aos guerreiros caldeus; os cativos reduzirão os
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 183
seus aprisionadores ao cativeiro. Para Hengstenberg a “mulher” é a
igreja judia, e o “homem”, Jeová, seu marido, cujo amor ela voltará a
buscar (Os_2:6-7). Maurer traduz: Uma mulher protegerá a um homem
(Dt_32:10, margem; Sl_32:10), isto é, não precisam temer a nenhum
inimigo ao retornar, porque todas as coisas lhes serão tão pacíficas que
uma mulher seria capaz de ocupar o lugar do homem e constituir-se em
sua protetora. Mas os “pais” da Igreja (Agostinho, etc.) aplicaram-no
quase unanimemente à Virgem Maria, a qual rodearia a Cristo em suas
entranhas. Esta interpretação está respaldada:
(1) Pela relação; visto que expressa a razão pela qual os exilados
desejariam voltar a seu país, devido ao fato de que o Cristo teria que ser
concebido nele.
(2) A palavra “criará” dá a entender que o poder divino se revelaria
em tal grau na criação de um corpo humano nas entranhas de Maria
mediante a ação do Espírito Santo, para a formação do segundo Adão,
como Aquele que se requereu para a criação do primeiro (Lc_1:35;
Hb_10:5).
(3) A frase “uma nova coisa” supõe algo sem precedente; ou seja,
que seria um homem tal como nunca tinha existido outro igual, pois seria
Deus e homem ao mesmo tempo; e uma mãe e virgem mediante
extraordinário processo de geração, como o conceber pelo Espírito
Santo, sem o concurso de varão.
(4) A especificação “sobre a terra”, ou seja, de Judá, onde
provavelmente o Cristo devia ser concebido, em Hebrom (veja-se
Luc_1:39, Luc_1:41-42, Luc_1:44, com Js_21:11), ou antes, em Nazaré,
“no território” de Israel, ao qual se referem os vv. 5, 6, 15, 18, 21; seu
nascimento foi em Belém (Mq_5:2; Mt_2:5-6). Como se especifica o
lugar de Seu nascimento em que deveria ser criado (Mt_2:23), assim
como o de seu pregação (Ag_2:7; Ml_3:1), é provável que o Espírito
Santo designasse deste modo o lugar onde devia ser concebido.
(5) A palavra “mulher” no hebraico indica um ser individual, como
a Virgem Maria, , antes, que um conjunto de pessoas.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 184
(6) A restauração de Israel se funda na aliança de Deus em Cristo,
ao que faz por isso mesmo alusão, por ser a base da esperança de Israel
(veja-se Is_7:14). A concepção do Messias, pela Virgem Maria, responde
à “Virgem de Israel” (por isso chama-se assim, v. 21), isto é, Israel e
seus filhos em sua restauração final, quando aceitariam a Jesus como o
Messias (Zc_12:10).
(7) A alusão à concepção do menino Messias concorda com a
menção da matança de “meninos”, referida no v. 15 (veja-se Mt_2:17).
(8) A palavra hebraica traduzida “homem” é propriamente “homem
forte”, termo que se aplica a Deus (Dt_10:17); e a Cristo (Zc_13:7; cf.
Sl_45:3; Is_9:6). [Calovius].
23. Jerusalém voltará a ser a metrópole de toda a nação, o assento
da “justiça” (Sl_122:5-8; Is_1:26), assim como o centro do culto divino
(“santidade”, Zc_8:3) no “Monte Moriá.
24. Judá … cidades … os lavradores e os que pastoreiam os
rebanhos — duas classes, cidadãos e camponeses, estes divididos em
agricultores e pastores, todos igualmente seguros, embora estes últimos
deviam estar fora da proteção dos muros da cidade. “Judá” está aqui no
lugar de campo, como distinto de suas cidades.
25. A fadiga, a tristeza e o estado de indigência de Israel não serão
obstáculo para que eu os ajude.
26. As palavras de Jeremias: Nisto (ou por causa disto), ou seja, do
anúncio de uma feliz restauração, despertei do profético sonho com que
fui favorecido (Jr_23:25) com a doce impressão do mesmo, impressa em
minha memória. Dormir aqui significa sonhar, como no Sl_90:5.
27. O profeta faz ver como uma terra tão despovoada voltará a ser
povoada. Deus fará com que homens e animais se multipliquem nela de
maneira extraordinária (Ez_36:9-11; Os_2:23).
28. (Jr_44:27). O mesmo Deus que, por assim dizer (em linguagem
humana), buscou todos os meios para destruir, buscará igualmente todos
os meios para conseguir sua restauração.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 185
29. Naqueles dias — Logo que seu castigo se cumpriu e a
misericórdia os visita novamente.
Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos … se
embotaram — Era um provérbio entre os filhos dos exilados nascidos
em Babilônia, para expressar que eles sofriam as consequências dos
pecados de seus pais , em vez dos deles (Lm_5:7; Ez_18:2-3).
30. (Gl_6:5, 7).
31. vêm dias … farei uma nova aliança … Israel … Judá (TB)
— A nova aliança se fará com o Israel literal e com Judá, não com o
Israel espiritual, isto é, os crentes, salvo em sentido secundário e como
enxertados no tronco de Israel (Rm_11:16-27). Pois o único assunto de
que tratam os caps. 30 e 31 é a restauração dos hebreus (Jr_30:4, 7, 10,
18; 31:7, 10, 11, 23, 24, 27, 36). A nova aliança com o “resto segundo a
eleição de graça” em Israel, já se efetuou; mas no que respeita a toda a
nação, sua realização está reservada para os últimos dias, aos quais Paulo
atribui esta profecia em forma abreviada (Rm_11:27).
32. Não como a aliança que fiz com seus pais — A aliança do
Antigo Testamento é contrastada com nossa aliança evangélica (Hb_8:8-
12; Hb_10:16-17, onde se cita esta profecia, para provar a ab-rogação da
lei pelo evangelho) cujos rasgos distintivos são a obtenção do perdão dos
pecados mediante uma adequada expiação dos mesmos, e a operação
interior da graça eficaz que assegura uma obediência permanente. Um
objeto disto a temos em parte na eclética ou eleita composição da igreja,
de judeus e gentios. Mas a promessa que se dá aqui ao Israel dos últimos
dias é nacional e universal, a qual se fará efetiva mediante um
extraordinário derramamento do Espírito (vv. 33, 34; Ez_11:17-20),
independentemente de qualquer mérito da parte deles (Ez_36:25-32;
Ez_37:1-28; Ez_39:29; Jl_2:23-28; Zc_12:10; 2Co_3:16).
tomei pela mão — (Dt_1:31; Os_11:3).
não obstante eu os haver desposado — (Veja-se Jr_3:14; Os_2:7-
8). Mas a LXX, a Siríaca e Paulo (Hb_8:9) traduzem “Não os tive em
consideração”; e Gesênio, etc., justificam esta tradução do hebraico
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 186
mediante o árabe. Os hebreus não tiveram a Deus em consideração, e
assim Deus tampouco os teve a eles.
33. eu serei o seu Deus — (Jr_32:38).
34. Certo, especialmente no que se refere a Israel (Is_54:13); e em
segundo lugar, aos verdadeiros crentes (Jo_6:45; 1Co_2:10; 1 Jo_2:20).
perdoarei as suas iniquidades e ... jamais me lembrarei —
(Jr_33:8; 50:20; Mq_7:18); o que se aplica particularmente a Israel
(Rm_11:27), e secundariamente, a todos os crentes (At_10:43).
35. que agita o mar e faz bramir as suas ondas; SENHOR dos
Exércitos é o seu nome — chamado em Is_51:15, ficando assim
estabelecida a autenticidade da passagem pela autoridade de Jeremias.
36. de ser uma nação — O sistema de governo de Israel foi
interrompido pelos romanos. Mas sua preservação como povo distinto
em meio de violentas perseguições, não obstante achar-se disseminados
entre todas as nações durante dezoito séculos sem amalgamar-se com
elas, enquanto que os demais povos sob circunstâncias semelhantes
foram absorvidos pelas nações em meio das quais se achavam dispersos,
é um permanente milagre (veja-se Jr_33:20; Sl_148:6; Is_54:9-10).
37. (Veja-se 33:22).
por tudo quanto fizeram — ou seja, todos os pecados. Deus
atenderá, antes, à promessa de Sua aliança que aos méritos deles.
38. Torre de Hananel — A cidade se estenderá para além de seus
anteriores limites (Ne_3:1; Ne_12:39; Zc_14:10).
Porta da Esquina — (2Rs_14:13; 2Cr_26:9).
39. cordel de medir — (Ez_40:8; Zc_2:1).
Garebe — da raiz hebraica, rasgar; Siríaco, lepra; o sítio fora da
cidade aonde os leprosos eram levados.
Goa — da raiz hebraica, trabalhar, que se refere à trabalhosa
ascensão a esse lugar, fora da cidade de Davi, rumo ao sudoeste, pois
Garebe ficava a noroeste [Junius].
40. vale dos cadáveres — Tofete, aonde se lançavam os corpos dos
malfeitores (Is_30:33), ao sul da cidade.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 187
os campos até ao ribeiro Cedrom — assim 2Rs_23:4. Estes, nos
subúrbios, chegavam até o arroio de Cedrom, a leste da cidade.
Porta dos Cavalos — através da qual eram tirados os cavalos do
rei para refrescá-los no arroio de Cedrom (2Rs_11:16; Ne_3:28).
jamais será desarraigada ou destruída — A cidade não só será
espaçosa, mas também santa ao Senhor, isto é, livre de toda
contaminação, e eterna (Jl_3:17, Jl_3:20; Ap_21:2, Ap_21:10,
Ap_21:27).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 188
Jeremias 32

Vv. 1-14. Prendem a Jeremias por causa de Sua Profecia Contra


Jerusalém. Compra Uma Propriedade Patrimonial (de Seu Parente
Hananel), a fim de dar Seguranças aos Judeus de Seu Futuro Retorno de
Babilônia.
1. no ano décimo — O sítio de Jerusalém já tinha começado no
décimo mês do nono ano de Zedequias (Jr_39:1; 2Rs_25:1).
2. no pátio da guarda — isto é, no espaço aberto ocupado pelo
guarda, de onde não lhe era permitido sair, mas onde qualquer dos seus
amigos podia visitá-lo (v. 12; Jr_38:13, 28). Surpreendente obstinação a
sua, pois em momentos quando experimentavam a verdade das palavras
de Jeremias, no rigoroso cerco que padeciam, até persistiam em manter o
profeta encarcerado [Calvino]. As circunstâncias narradas nos vv. 3-5,
ocorreram no princípio do sítio, quando Jeremias predisse a tomada da
cidade (v. 1; Jr_34:1-7; 39:1). Por esse então desfrutava de certa
liberdade no pátio da guarda. Ao ser o sítio levantado pelo Faraó-Hofra,
Jeremias se dispunha a partir para a terra de Benjamim, quando foi
detido e posto no “calabouço”; mas lhe foi permitido trasladar-se ao
pátio da guarda (Jr_37:12-21). Quando exortava aos judeus, no segundo
avanço dos caldeus para reatar o sítio, para se salvarem rendendo-se a
Nabucodonosor (Jr_38:2, 3); como consequência disto, o rei, por
instigação dos príncipes, lançou-o na masmorra (Jr_38:4-6): logo foi
trasladado ao pátio da guarda, por ter intercedido em seu favor um dos
cortesãos (vv. 7-13); ali permaneceu até a tomada da cidade (v. 28),
quando foi posto em liberdade (Jr_39:11, etc.; 40:1, etc.)
4. com ele falaria boca a boca, e o veria face a face — isto é,
unicamente antes de chegar a Babilônia, a qual não devia ver. Jr_39:6, 7
harmoniza esta profecia (Jr_32:4) com a aparentemente contrária
profecia de Ez_12:13 : “não a verá”.
5. até que eu o visite (RC) — em bom sentido (Jr_27:22); referente
às honras fúnebres rendidas a Zedequias por ocasião de seu falecimento
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 189
e sepultura (veja-se Jr_34:4, 5). Pode ser que antes de sua morte fosse
tratado por Nabucodonosor com alguma benevolência.
ainda que pelejásseis … não seríeis bem sucedidos — (Jr_21:4).
6. Disse, pois, Jeremias — reata o fio do v. 1, que tinha
interrompido pelo parêntese (vv. 2-5).
7. filho de teu tio Salum — e por conseguinte, primo irmão de
Jeremias.
o meu campo … em Anatote — uma cidade sacerdotal, e por isso
tinha um exido de mil côvados de campo suburbano fora do muro que a
rodeava (Nm_35:4-5). A proibição de vender estes terrenos suburbanos
(Lv_25:34) refere-se à alienação deles pelos levitas a outra tribo; de sorte
que este capítulo não transgride essa proibição. Fora do que o que aqui
se dá a entender é que a aquisição era para o uso do campo até o ano do
jubileu. Em caso de quebra do dono, o parente mais próximo tinha o
direito de redimi-lo (Lv_25:25, etc.; Rt_4:3-6).
8. Então conheci — Não que Jeremias tivesse duvidado jamais da
realidade da comunicação divina, mas os efeitos seguintes e o
conhecimento experimental do profeta confirmaram sua fé, o qual foi
como o selo da visão. O historiador romano Floresço (Rt_2:6), refere um
exemplo semelhante: Durante o sítio de Roma por Aníbal, o próprio
campo onde este estava acampado foi posto à venda em Roma, achando-
se quem o comprasse, o que indicava que o povo romano alentava
tranquila confiança no êxito final.
9. dezessete siclos de prata — como o siclo só valia uns cinquenta
centavos ouro, o todo valeria uns dez pesos oro, soma bem pequena, até
tendo em conta o fato da ocupação do país pelos caldeus e a incerteza
quanto a quando poderia tomar possessão da fazenda de Jeremias ou seus
herdeiros. Os “sete siclos” que no hebraico (veja-se a margem da V. I.)
distingue-os das “dez peças de prata”, talvez fossem de ouro [Maurer]
10. Assinei — escrevi a escritura “a carta de compra” (v. 12).
balança — não se usava moeda cunhada naqueles primitivos
tempos; daí que se pesava o dinheiro (Gn_23:16).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 190
11. a escritura … selada ... como a cópia aberta — As duas
escritura redigidas como contrato de venda; uma era o original, e
autenticada e selada com o selo público; não assim a outra, que era
aberta, e por isso de menos autoridade, por ser uma mera cópia. Gataker
crê que o comprador selava uma das duas com seu selo; a outra a
mostrava às testemunhas para que escrevessem seus nomes no dorso da
mesma e se inteirassem do conteúdo; e que alguns detalhes, por
exemplo, as condições e o tempo da redenção, estavam na cópia selada,
a qual as partes podiam decidir não fazer as testemunhas conhecerem,
pois não figuravam na aberta. A selada, quando se abrisse depois dos
setenta anos de cativeiro, confirmaria a fé dos que nesse tempo
vivessem. Pela “lei do costume” é provável que não se refira meramente
ao selado das condições e detalhes da compra, mas também à lei de
redenção, de acordo com a qual, ao voltar à Judeia, a escritura provaria
que Jeremias tinha comprado o campo em virtude de seu direito de
parente mais próximo (Lv_25:13-16) [Ludovico de Deus].
12. Baruque — Amanuense e agente de Jeremias (Jr_36:4, etc.).
na presença de todos — nas vendas se evitava toda ação
clandestina; exigia-se a publicidade. Assim ocorre aqui no pátio da
guarda, onde se encontra Jeremias encerrado, em que tinha soldados e
outras pessoas presentes que tinham acesso a ele (Jr_38:1).
14. vaso de barro — para que os documentos não sofressem
nenhuma deterioração causada pela umidade da terra; e ao mesmo
tempo, enterrando-os, não poderiam roubá-los, mas sim subsistiriam
como objeto de libertação para os judeus até a chegada do tempo fixado
por Deus.
15. (Veja-se vv. 24, 25, 37, 43, 44).
16. Jeremias, que não compreende como a ameaça de Deus de
destruir a Judá podia reconciliar-se com a ordem que Deus lhe tinha
dado de que comprasse o campo como se estivesse num país livre,
recorre ao grande remédio para os momentos de perplexidade: a oração.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 191
17. eis que fizeste os céus — Jeremias exalta o poder criador de
Deus, como fundamento de sua humilhação como homem: quem sou eu,
ó muito poderoso Deus, para Te pedir contas dos Teus caminhos (veja-se
12:1).
nada há que seja demasiado difícil para ti (TB) — No v. 27, a
resposta de Deus se acomoda exatamente com a oração de Jeremias
(Gn_18:14; Zc_8:6; Lc_1:37).
18. (Êx_34:7; Is_65:6).
Isto foi tirado do Decálogo (Êx_20:5-6). Trata-se de uma segunda
consideração tendente a reprimir os juízos precipitados a respeito dos
atos de Deus. Tu és o clemente e justo Juiz do Universo.
19. conselho … obras — em idear e executar (Is_28:29).
os teus olhos estão abertos sobre todos — (Jó_34:21; Pv_5:21).
para dar … segundo o seu proceder — (Jr_17:10).
20. até ao dia de hoje — deste “sinais” de Teu poder desde o dia
em que livraste a Israel do Egito mediante prodigiosos milagres, até o
tempo presente [Maurer]. Calvino o expõe assim: “Memorável até o dia
de hoje”.
entre outros homens — não só em Israel, mas também entre os
povos estrangeiros. Veja-se quanto a “outros”, Sl_73:5.
te fizeste um nome — (Êx_9:16; 1Cr_17:21; Is_63:12).
qual o que tens neste dia — um nome de poder, como aquele que
você alcançaste este dia.
21. (Sl_136:11-12).
22. e lhe deste … juramento — Deus a deu em virtude de uma
aliança de graça, não por seus merecimentos.
23. de tudo o que lhes mandaste ... nada fizeram … todo este
mal — desta maneira receberam um castigo proporcional a seu pecado;
não foi um evento fortuito.
24. trincheiras — montículos de terra, levantados pelo exército
sitiador, atrás dos quais colocavam suas máquinas de guerra, com as
quais atacavam as muralhas da cidade.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 192
O que disseste … tu mesmo o vês — conectado com o v. 25. Vês
tudo isto com os Teus próprios olhos, e, entretanto (o que parece
contraditório), Tu me mandas comprar um campo.
25. embora já esteja a cidade — A RA traduziu corretamente.
27. Jeová responde às palavras de Jeremias: Eu sou na verdade
como dizes (v. 17), o Deus e criador de “toda carne”, e “nada é difícil
para mim”: as tuas próprias palavras deveriam te haver ensinado que,
embora a Judeia e Jerusalém sejam agora entregues aos caldeus, pelos
pecados dos judeus, contudo, não será difícil para Mim, quando Eu
quiser, restaurar o estado de tal maneira que possuirão certamente casa e
terras nela (vv. 36-44).
29. porão fogo a esta cidade e queimarão as casas sobre cujos
terraços … incenso a Baal — retribuição na mesma moeda. Eles
queimaram incenso a Baal, sobre as casas; assim também as casas serão
queimadas (Jr_19:13). O deus do fogo era o objeto de seu culto; assim o
fogo será o instrumento de seu castigo.
para me provocarem — o que indica o desígnio, não meramente o
fato. Parece que suscitavam a “ira” de Deus e O “provocavam”
intencionalmente.
30. não fizeram senão — lit., estiveram fazendo; o que indica uma
ação contínua.
não fizeram senão provocar-me — nada mais estiveram fazendo
com que o mal; seu único desígnio parece ter sido o me provocar.
desde a sua mocidade — na época em que estavam no deserto,
pouco antes de começar a sua existência como nação.
31. para minha ira e para meu furor — Por isso Calvino une
estas palavras às do fim do versículo: “esta cidade foi para mim motivo
para me provocar a ira” (quer dizer, por causa da provocação
mencionada, v. 30), etc., para que Eu a deportasse, etc. Assim, não
haverá repetição do sentido, v. 30, como na Versão Inglesa; o hebraico
também favorece esta tradução. Mas Jeremias se deleita nas repetições.
Na Versão Inglesa, as palavras “para que eu a deportasse” figuram
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 193
independentes, como resultado do que precede. O tempo é propício para
tomar vingança deles (2Rs_23:27).
desde o dia em que a edificaram — Salomão completou a
construção dessa cidade; mas foi também o primeiro dos reis judeus que
a arrastaram à idolatria. Seus primitivos fundadores foram os idólatras
cananeus.
32. seus sacerdotes e os seus profetas — (Ne_9:32, Ne_9:34).
Daqui aprendamos que embora os ministros de Deus apostatem, nós
temos que continuar sendo fiéis.
33. (Jr_2:27; 7:13).
34. (Jr_7:30, 31; Ez_8:5-17).
35. passassem pelo fogo (RC) — por via de purificação, passavam
através dele com os pés descalços (Lv_18:21).
Moloque — que significa rei; é o mesmo que Milcom (1Rs_11:33).
o que nunca lhes ordenei — Isto elimina das superstições o
argumento de que se faz com boa intenção. Todo culto caprichoso expõe
ao que o rende à ira de Deus (Cl_2:18, Cl_2:23).
36. Agora, pois — antes: Mas agora, entretanto. Não obstante, que
sua culpa merecesse duradoura vingança, Deus, por amor dos escolhidos
e de Sua aliança, restaurá-los-á, o que será contrário a tudo o que se
pudesse esperar.
Dizeis ... entregue nas mãos do rei da Babilônia — O réprobo
passa do extremo da própria confiança ao da desesperança de que Deus
cumpra a sua promessa de restaurá-los.
37. (Nota, Jr_16:15). “Todas” as terras dá a entender uma futura
restauração de Israel mais universal que a de Babilônia.
38. (Jr_30:22; 24:7).
39. um só coração — todos buscarão a Jeová unanimemente; um
contraste com seu estado quando só O buscavam indivíduos isolados
(Ez_11:19-20; Sf_3:9).
para seu bem — (Sl_34:12-15).
40. (Jr_31:31, 33; Is_55:3).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 194
para que nunca se apartem de mim — ainda não se cumpriu
plenamente no que corresponde aos israelitas.
não deixarei de lhes fazer o bem — (Is_30:21). Jeová se compara
a diligente preceptor que segue a seus discípulos por toda parte para
dirigi-los em seu falar, em seus gestos, etc.
e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem
de mim — Tanto a conversão como a perseverança são obra exclusiva
de Deus mediante a operação do Espírito Santo.
41. Alegrar-me-ei por causa deles — (Dt_30:9; Is_62:5; Is_65:19;
Sf_3:17).
e os plantarei nesta terra certamente (RC) — isto é,
permanentemente, para sempre (Jr_24:6; Am_9:15).
42. (Jr_31:28). A restauração desde Babilônia foi tão somente um
fraco gozo antecipado da graça, que Israel experimentaria no fim por
meio de Jesus Cristo.
43. (v. 15).
da qual vós dizeis: Está deserta — (Jr_33:10).
44. Que se refere às formas de um contrato (vv. 10-12).
Benjamim — especificado como Anatote, lugar de residência de
Jeremias onde estava o campo (v. 8).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 195
Jeremias 33

Vv. 1-26. Profecia a Respeito da Restauração dos Judeus de Seu


Cativeiro de Babilônia. E Referente ao Messias Rei e Sacerdote.
1. encarcerado — (Jr_32:2, 3; 2Tm_2:9). Embora Jeremias
estivesse preso, a palavra de Deus “não o estava”.
2. que faz estas coisas — melhor, o fazedor dela, isto é, a profecia
que Jeremias está prestes a proferir referente à volta de Israel, um evento
que agora se considera impossível, mas que o Todo-poderoso tem que
efetuar.
que as forma — ou seja, a Jerusalém (Jr_32:44). [Calvino]. Antes,
que formou, isto é, que amoldou os Seus propósitos em devida forma
para executá-los (Is_37:26).
SENHOR é o seu nome — (Êx_3:14-15).
3. Invoca-me, e te responderei — (Jr_29:12; Sl_91:15). Deus
exorta a Jeremias como o representante de Seu povo, a que ore por
aquilo que Deus determinou conceder-lhes, ou seja, a restauração. As
promessas de Deus não devem amortecer, mas antes, avivar o espírito de
oração de Seu povo (Sl_132:13, Sl_132:17; Is_62:6-7).
coisas grandes — heb., “coisas inacessíveis”, isto é, incríveis e
difíceis para a inteligência do homem [Maurer], ou seja, a volta dos
judeus, um evento de que se me desesperasse. “Ocultas” ou “recônditas”
[Piscator].
que não sabes — Deus já lhe tinha revelado tais coisas a Jeremias,
mas a incredulidade do povo, ao desprezar a graça de Deus, fez com que
esquecesse sua promessa, como se seu caso já não tivesse remédio.
4. casas … derribadas para a defesa contra as trincheiras e a
espada — isto é, com armas de lançamento, lançadas das trincheiras
pelos sitiadores (Jr_32:24); “e a espada”, que vem a seguir, pois logo que
os projéteis tiveram preparado o caminho, o inimigo avançou em seguida
para estreitar o cerco com “a espada”,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 196
5. Eles entraram a pelejar contra os caldeus (RC) — os judeus;
os defensores das casas” (v. 4), “avançaram para pelejar com os
caldeus”, aqueles que irrompem na cidade “através das casas
derrubadas”, mas tudo o que eles conseguem é enche-las (as casas) com
seus próprios “cadáveres”.
6. (Jr_30:17). Resposta dada à lúgubre pergunta de Jeremias
(Jr_8:22).
cura — lit., uma longa atadura de linho, empregada para enfaixar
as feridas.
verdade — isto é, estabilidade; proporcionar-lhes-ei abundante e
permanente paz, quer dizer, prosperidade.
7. E removerei o cativeiro — isto é, os farei voltar para seu estado
(v. 11; Jr_32:44). A especificação de “Judá” e “Israel” só se pode aplicar
totalmente à futura restauração.
como no princípio — (Is_1:26).
8. Purificá-los-ei — (Ez_36:25; Zc_13:1; Hb_9:13-14). Com o que
alude aos ritos legais de purificação.
de toda a sua iniquidade … todas as suas iniquidades — tanto o
princípio interior do pecado como suas manifestações nos atos. A
repetição faz-se para que os judeus considerem quão grande é a graça de
Deus em não os perdoar meramente (no que corresponde ao castigo),
mas também em purificá-los (quanto à contaminação da culpa); não
meramente uma iniquidade, mas sim todas (Mq_7:18).
9. me servirá — a cidade.
por nome, por louvor — (Jr_13:11; Is_62:7).
faço — aos habitantes de Jerusalém.
todo o bem … e tremerão — (Sl_130:4). Os gentios serão
induzidos a “temer” a Deus mediante as provas de Seu poder desdobrado
em favor dos judeus; os ímpios que houver entre eles “tremerão” de
medo dos juízos que Deus enviará sobre eles; enquanto o penitente O
temerá reverentemente, e se converterá a Ele (Sl_102:15; Is_60:3)
10. vós dizeis que está deserto — (Jr_32:43).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 197
11. (Jr_7:34; 16:9).
Rendei graças ao SENHOR — Palavras do Sl_136:1, que foram
empregadas realmente pelos judeus ao serem restaurados (Ed_3:11).
ações de graças — (Sl_107:22; Sl_116:17). Isto continuará quando
todos os outros sacrifícios chegarem ao fim.
12. morada de pastores … rebanhos — Em contraste com o v. 10,
“sem homens, sem animais” (Jr_32:43; veja-se Jr_31:24; 50:19;
Is_65:10).
13. passarão … pelas mãos de quem os conte — Os pastores
tanto ao tirar suas ovelhas como ao colocá-las às pressas, contam-nas,
golpeando a cada uma que passa com uma vara, o que indica o
providente cuidado do pastor de que nenhuma se perca (Lv_27:32;
Mq_7:14; veja-se Jo_10:28-29; Jo_17:12).
14. cumprirei — “Eu farei que se levante”. Por ter parecido
durante algum tempo que a promessa de Deus jazia morta qual abortivo
[Calvino].
15. Repetição de Jr_32:5.
na terra — A Terra Santa: Israel e Judá (Jr_23:6).
16. Jerusalém — Em Jr_23:6, em vez de “Jerusalém”, acha-se
“Israel”. “O nome” no original hebraico é preciso supri-lo aqui,
tomando-o de tal passagem; e quanto a “Ele” (que se refere ao Messias,
o antitípico “Israel”) é ali o antecedente (Is_49:3), enquanto que aqui
temos “ela”, isto é, Jerusalém, a qual é chamada pelo mesmo nome que o
Messias, “Jeová nossa justiça”, em virtude da mística unidade entre ela
(como a literal representante da igreja espiritual) e seu Senhor e Marido.
Desta maneira, o que pertence à cabeça pertence igualmente aos
membros (Ef_5:30, Ef_5:32). Daí que a igreja é chamada “Cristo”
(Rm_16:7; 1Co_12:12). Por isso é que a igreja professa derivar sua
justiça de Cristo (Is_45:24-25). Deus o Pai, por amor de Jerusalém, a
literal e a espiritual, dá-lhe este nome: (“Jeová, Tsidkenu — Jeová,
justiça nossa”) a Cristo.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 198
17. As promessas de perpetuidade do trono de Davi se cumprem no
Messias, o filho de Davi (2Sm_7:16; 1Rs_2:4; Sl_89:4, Sl_89:29,
Sl_89:36; veja-se Lc_1:32-33).
18. O sacerdócio literal do Messias (Hb_7:17, Hb_7:21, Hb_7:24-
28) e o sacerdócio espiritual de Seus seguidores e de seus sacrifícios (v.
11; Rm_12:1; Rm_15:16; 1Pe_2:5, 1Pe_2:9; Ap_1:6), nunca cessarão,
de acordo com a aliança celebrada com Levi, violado pelos sacerdotes,
mas cumprido pelo Messias (Nm_25:12-13; Ml_2:4-5, Ml_2:8).
20. a minha aliança com o dia — a qual se corresponde com a
“aliança com Davi” (v. 21, também v. 25, “com o dia”; veja-se Jr_31:35,
36; Lv_26:42; Sl_89:34, Sl_89:37).
22. (Gn_15:5; Gn_22:17). A bênção prometida aqui pertence a
todas as tribos; mas aqui se restringe à família de Davi e à tribo de Levi
porque destas dependia todo o bem-estar geral de todo o povo. Quando
florescer o reino e o sacerdócio na pessoa do Messias, toda a nação
prosperará temporal e espiritualmente.
24. este povo — alguns dos judeus, especialmente os que falaram
com Jeremias no pátio da guarda (Jr_32:12; 38:1).
As duas famílias — Judá e Israel.
rejeitou — segundo seu critério. Eles supõem que Eu desprezei
completamente a Israel, para que já não constituam mais uma nação. A
expressão “meu povo” demonstra evidentemente que Deus não
desprezou para sempre a Israel. 25. (Jr_31:35, 36; Gn_8:22; Sl_74:16-
17). Eu que estabeleci as leis da natureza, sou o mesmo Deus que fiz
uma aliança com a igreja.
26. Isaque — (Sl_105:9; Am_7:9, Am_7:16).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 199
Jeremias 34

Vv. 1-22. Cativeiro de Zedequias e do Povo Predita Por Sua


Desobediência e Perfídia.
A profecia (vv. 1-7) referente a Zedequias é uma amplificação de
Jr_32:1-5, em consequência da qual Jeremias foi então encerrado no
pátio da guarda. A profecia (vv. 8-22) refere-se aos judeus, os quais,
temerosos da tomada da cidade, concederam, em obediência à lei,
liberdade a seus escravos, no fim de sete anos; mas durante a
intermitência do assédio os reduziram de novo à servidão.
1. Jerusalém e … todas suas cidades — (Nota, Jr_19:15). Quão
surpreendente era a cegueira do rei para que rejeitasse em tão
desesperada situação a divina admoestação!
3. (Jr_32:4).
4. O castigo de Zedequias mitigado.
5. como se queimaram a teus pais — em seu funeral será honrado
com a queima de especiarias aromáticas, como as queimadas nos
funerais de seus pais (2Cr_16:14; 2Cr_21:19). As honras fúnebres aqui
mencionadas foram negadas a Jeoaquim (Jr_22:18).
Ah! Senhor! — mencionam o lamento feito por ele: Ah, o rei
Zedequias morreu, bebendo os sedimentos (isto é, pagando a pena dos
pecados) das primeiras épocas.
7. só estas ficaram — (veja-se 2Cr_11:5, 2Cr_11:9).
8. Um hebreu, segundo a lei, depois de ter vivido em servidão por
seis anos, no fim do sétimo ano, devia ser deixado livre (Êx_21:22;
Dt_15:12).
Zedequias fez aliança — com uma solene cerimônia no templo
(vv. 15, 18, 19).
para lhes apregoar a liberdade — aos escravos (v. 9).
9. ninguém retivesse como escravos hebreus — (Lv_25:39-46).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 200
11. Durante a interrupção do sítio com a intervenção do Faraó-
Hofra (veja-se vv. 21, 22, com Jr_37:5-10), os judeus reduziram outra
vez a escravidão a seus servos.
13. O último ano de Zedequias era o ano sabático. Quão justa foi a
retribuição que receberam, consistente em que eles, que contrariamente
ao preceituado pela lei de Deus e Sua aliança, tinham escravizado de
novo a seus irmãos, fossem sentenciados a ser por sua vez escravizados,
e que os seus escravos desfrutassem da liberdade sabática outorgada pelo
inimigo (Jr_52:16), coisa que seus amos lhes tinham negado!
14. Ao fim de sete anos — quer dizer, não o oitavo ano, mas no
transcurso do sétimo, isto é, antes de que este expirasse (Êx_21:2;
Êx_23:10; Dt_15:12). Assim “ao fim de cada terceiro ano” (Dt_14:28;
2Rs_18:10), e “depois de três dias ressurgirei” (Mt_27:63), quer dizer,
no terceiro dia (veja-se Mt_27:64).
15. na casa que se chama pelo meu nome — o lugar de consertar
tais alianças (2Rs_23:3; veja-se 1Rs_8:31; Ne_10:29).
16. profanastes o meu nome — ao violar seu juramento (Êx_20:7).
17. para apregoardes a liberdade — Embora os judeus haviam
ostensivamente emancipado a seus escravos, virtualmente não o fizeram,
visto que anularam a liberdade que lhes tinham outorgado. Deus não
olha as aparências exteriores, mas sim a sinceridade dos corações.
Eu vos apregoo a liberdade — retribuição que corresponde à
ofensa (Mt_7:2; Mt_18:32-33; Gl_6:7; Tg_2:13). Os judeus que não
quiseram dar liberdade a seus irmãos, eles mesmos receberão “uma
liberdade” calamitosa. Deus os emancipará de seu feliz e saudável
serviço (Sl_121:3), que é uma positiva “liberdade” (Sl_119:45; Jo_8:36;
2Co_3:17), unicamente para serem submetidos à terrível escravidão de
outros capatazes, e à “espada”, etc.
farei que sejais um espetáculo horrendo — o hebraico expressa
agitação (Nota 15:4). Veja-se Dt_28:25, Dt_28:48, Dt_28:64-65, no
referente à incessante agitação que teriam os judeus em seus contínuos
traslados de um lugar para outro, durante sua dispersão.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 201
18. o bezerro que dividiram em duas partes — pelas partes
contratantes na “aliança” (não se trata aqui da lei em geral, mas sim de
sua aliança feita na presença de Deus em Sua casa, de que emancipariam
a seus escravos vv. 8, 9) passaram por entre as partes do animal dividido
em dois, o que dava a entender que tinham pedido, em oração de que se
faltavam ao combinado, fossem divididos em dois pedaços, à
semelhança do bezerro (Mt_24:51; onde o grego diz cortado em dois) se
eles quebrassem a aliança (Gn_15:10, 17).
20. entregá-los-ei — reassume a cláusula começada, mas não
completada (v. 18), “E entregarei” (RC), etc.
procuram a sua morte — implacavelmente, os quais não se
contentam com nada menos que com seu próprio sangue; pois não se
conformam somente com o despojo.
e os cadáveres deles — os violadores da aliança serão feitos em
pedaços, como o bezerro por entre as partes do qual passaram.
21. que já se retiraram de vós — Os caldeus levantaram o cerco a
fim de sair ao encontro do Faraó-Hofra (Jr_37:7-10). A partida dos
caldeus foi uma espécie de emancipação que Deus deu aos judeus; mas
como anularam a liberdade que estes deram a seus escravos, Deus
também anulou a que lhes tinha outorgado ao livra-los dos caldeus.
22. eu darei ordem — a Nabucodonosor, o qual foi impelido
inconscientemente por divina instigação a retornar, ao retirar os egípcios.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 202
Jeremias 35

Vv. 1-19. Profecia Proclamada no Reinado de Jeoaquim Quando


os Caldeus, em União Com os Sírios e os Moabitas, Invadiram Judeia.
Com a obediência dos recabitas a seu pai, Jeremias condena a
desobediência dos judeus a Deus Pai. O Espírito Santo ordenou as
profecias de Jeremias seguindo, antes a ordem moral que a cronológica.
Mediante o relato de um evento acontecido 15 anos antes, ensina aos
judeus que haviam tornado a escravizar de novo a seus emancipados
escravos, como Deus ama e recompensa a obediência e aborrece e
castiga a desobediência.
2. Recabitas — uma tribo nômade, pertencente aos queneus de
Hamate (1Cr_2:55), da família de Jetro ou Hobabe, sogro de Moisés
(Êx_18:9, etc.; Nm_10:29-32; Jz_1:16). Entraram em Canaã com os
Israelitas; mas, com objetivo de preservar sua independência, preferiram
viver em tendas, sem residência fixa (1Sm_15:6). Além do ramo
associado com Judá, a que se estendia até Amaleque, havia outra divisão
deles em Cades, na tribo de Naftali (Jz_4:11, Jz_4:17). Parece que eram
prosélitos da porta. Jonadabe, filho de Recabe, quem lhes tinha
encarregado de não beber vinho, preceito que eles obedeceram
estritamente, era zeloso de Deus (2Rs_10:15-23). Os nabateos da Arábia
observavam as mesmas regras (Diodorus Siculus, 19:94).
leva-os à Casa do SENHOR — por encontrar-se ali testemunhas
aptas entre os sacerdotes e a pessoa principal, e igualmente porque
poderia dirigir ao ponto a palavra ao povo ali reunido (v. 13). Pode ser
que também tenha sido como uma recriminação destinada aos
sacerdotes, que bebiam vinho além da conta, apesar de que se lhes tinha
mandado abster-se dele quando desempenhassem os deveres de seu
cargo [Calvino].
câmaras — que rodeavam o templo, destinadas a vários misteres,
por exemplo, a conter as vestimentas sacerdotais e os copos sagrados,
etc.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 203
3. Jazanias — por ser o de mais idade e chefe do clã.
4. homem de Deus — um profeta (Dt_33:1; 1Sm_2:27; 1Rs_12:22;
2Rs_4:7), e também “um servo de Deus” em geral (1Tm_6:11), que não
se pertence a si mesmo mas a Deus, que se desprendeu de tudo para dar-
se inteiramente a Deus (2Tm_3:17). Tão reverenciado era que ninguém
poria em dúvida o que fizesse em sua câmara.
guarda do vestíbulo — É provável que o aludido ofício fosse o do
sacerdote que tinha a seu cargo a captação do dinheiro pago para a
conservação do templo e as ofertas votivas, tais como: os vasos sagrados,
etc. Havia sete guardas [Grocio]. Veja-se 2Rs_12:9; 2Rs_25:18;
1Cr_9:18-19, que apoiam a Versão Inglesa.
5. e lhes disse: Bebei — Jeremias não disse: Jeová disse: Bebam;
porque então eles se veriam obrigados a obedecer. Contraste o presente
caso com 1Rs_13:7-26.
6. Jonadabe … nosso pai — isto é, nosso antepassado e diretor,
300 anos antes (2Rs_10:15). Eles se chamavam recabitas, não
jonadabitas, derivado de Recabe, seu pai, tendo recebido seu nome antes
de adotar os preceitos de seu filho Jonadabe. Tal fato não nos oferece
nenhuma razão justificativa para que prestemos escrava deferência às
opiniões religiosas dos pais do cristianismo; pois o mandado de
Jonadabe só se relacionava com assuntos da vida presente, além de que
não obrigava a suas consciências, desde que não cressem ilícito o ir a
Jerusalém durante a invasão (v. 11). O que se celebra aqui não é o
mandado de seu pai, mas sim a obediência dos filhos [Calvino].
7. tendas — (Jz_4:7).
para que vivais muitos dias — de acordo com a promessa
relacionada com o quinto mandamento (Êx_20:12; Ef_6:2-3).
viveis peregrinando — Os recabitas não eram da estirpe de Jacó,
mas forasteiros em Israel. Eram tipos dos filhos de Deus que peregrinam
na terra, e consideram o céu como seu lar. Estes têm tão pouco a perder,
em épocas de crises econômicas, que quase não se mostram alarmados,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 204
despreocupando-se inteiramente do que têm (Hb_10:34; Hb_11:9,
Hb_11:13-16).
8. em tudo quanto nos ordenou … em todos os nossos dias, nem
nós … mulheres … filhos … filhas — uma obediência sem reserva em
todos os aspectos, em todos os tempos e da parte de todos sem exceção;
enquanto que no que respeita à obediência de Israel a Deus, deixou a
desejar. Contrastem-se 1Sm_15:20-21; Sl_78:34-37, 41, 56-57.
11. caldeus … da Síria — quando Jeoaquim se rebelou contra
Nabucodonosor (2Rs_24:1-2). A necessidade faz caso omisso de todas
as demais leis. Esta é a desculpa dos recabitas quanto à sua aparente
desobediência ao mandamento de Jonadabe, a estabelecer-se
temporariamente numa cidade. Aqui se pode ver a presciente sabedoria
que revelam os mandamentos de Jonadabe; eles podiam perante um
aviso de perigo, emigrar, por não terem posses imóveis que os atassem a
elas.
14. antes, obedecem às ordens de seu pai; a mim — (Ml_1:6).
começando de madrugada, vos tenho falado — O próprio Deus
fala tarde e cedo mediante as várias maneiras de Sua providência e graça.
No v. 15; 2Cr_36:15, alude-se a um modo distinto de dirigir a palavra,
ou seja, o de que Deus envie a Seus servos.
15. (Jr_18:11; 25:6). Eu não lhes mandei nada que não fosse
razoável, mas simplesmente que Me servissem, e até acrescentei ao
mandamento uma misericordiosa promessa, mas em vão. Se os
mandamentos de Jonadabe, que foram arbitrários e não obrigações
morais em si mesmas, foram obedecidos, muito mais o devem ser os
Meus, que são justos.
17. pois lhes tenho falado, e não me obedeceram, clamei a eles, e
não responderam — (Pv_1:24; Is_65:12).
19. Nunca faltará homem a Jonadabe ... na minha presença —
Sempre haverá representantes do clã para Me adorar (Jr_15:1, 19); mas
pode ser que “na minha presença” signifique meramente existência,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 205
porque todas as coisas que existem estão à vista de Deus (Sl_89:36). Os
recabitas retornaram do cativeiro. Wolff achou rastros deles na Arábia.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 206
Jeremias 36

Vv. 1-32. Baruque Escreve e Lê Publicamente as Profecias de


Jeremias, Colecionadas num Volume. Jeoaquim Queima o Rolo; Mas
Baruque Volta escreve-las, Ditadas por Jeremias.

1. No quarto ano — A ordem de escrever o rolo foi dada no quarto


ano, mas não foi lido publicamente até o quinto ano. Assim como Isaías
acrescentou a suas predições uma história dos eventos, para confirmar
suas profecias (Isaías 36, 37, 39), assim também o faz Jeremias nos caps.
37; 38; 39; 40; 42; 43; embora ele comece sua história com o relato de
um incidente ocorrido algum tempo antes, que demonstra que ele, não só
pela palavra, mas por escrito, e por duas vezes, tinha testificado que tudo
o que ele está prestes a manifestar tinha acontecido posteriormente
[Grocio]. No fim do terceiro ano do reinado de Jeoaquim,
Nabucodonosor preparou um exército para subir contra Jerusalém, a qual
tomou a fins do quinto ano ou princípios do sexto, e levou cativos a
Jeoaquim, a Daniel, etc. Jeoaquim retornou no mesmo ano, e durante três
anos foi tributário de Nabucodonosor. Mais tarde, como se negou a
seguir pagando o tributo, voltou Nabucodonosor e tomou a Jerusalém,
levando a Jeoaquim, o qual morreu no caminho. Isto harmoniza com 2
Reis 24, e com Daniel 1. Veja-se a Nota de Jr_22:19.
2. o rolo dum livro (TB) — era um livro feito de peles, preparadas
e unidas em forma de rolo. Veja-se com “o pacote do livro”, isto é, o
Pentateuco (Sl_40:7). Não se segue disto que suas profecias não
tivessem sido antes postas por escrito; o que quer significar é que agora
tinham sido escritas continuadamente para que formassem um volume, a
fim de se poder ler continuamente pelos judeus no templo.
contra todas as nações — (Jr_25:15, etc.)
desde os dias de Josias — (Jr_25:3). Desde ano treze de Josias
(Jr_1:2).
3. ouçam — tomará com séria consideração.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 207
converter-se cada um do seu mau caminho — (Jn_3:8).
4. todas as palavras que a este o SENHOR — Deus lhe sugeriu
especialmente o que de outra maneira poderia haver ido da memória, e o
dirigiu na seleção das palavras, como na substância do que devia dizer
(Jo_14:26; Jo_16:13).
5. Estou encarcerado — não no cárcere, pois não há nenhuma
relação de seu encarceramento nos dias de Jeoaquim, e o teor dos vv. 19
e 26 é incompatível com tal coisa; antes, quis dizer: Estou
impossibilitado por algum impedimento; ou por temor do rei, a cuja ira
Baruque estava menos exposto, por não ser o autor da profecia.
6. Entra — no ano seguinte (v. 9).
dia do jejum — Um jejum extraordinário no nono mês, pois o
grande jejum do dia da expiação se efetuava no dia 10 do sétimo mês
(Lv_16:29; Lv_23:27-32), prescrito para conjurar a calamidade que
ameaçava quando Nabucodonosor derrotou a Faraó-Neco, no ano
anterior (o quarto de Jeoaquim) em Carquemis, e se temia que atacasse a
Judeia, como aliada do Egito (2Rs_23:34-35). É provável que o jejum
fosse ocasião favorável para que Jeremias achasse os corações dos
judeus mais abrandados, assim como para que se achasse presente maior
número deles.
7. súplicas sejam bem acolhidas — lit., súplica cairá; alusão ao
costume de os suplicantes se prostrarem (Dt_9:25; Mt_26:39), como no
Oriente os peticionários caem aos pés de um rei. Assim o hebraico,
Jr_38:26; Dn_9:18, margem da V. Inglesa.
9. apregoaram … a todo o povo … como também a todo, etc. —
antes, “todo o povo … todo o povo proclamou jejum” [Michaelis]. Esse
jejum foi proclamado pelos chefes por vontade do povo. Numa versão e
na outra, o ímpio rei não tomou parte alguma na proclamação de tal
jejum.
10. na câmara — Baruque leu da janela ou balcão da câmara, que
dava ao átrio onde o povo estava reunido; entretanto, algumas das
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 208
câmaras eram bastante grandes para conter considerável número de
pessoas (Ne_13:5).
11. Gemarias — distinto do Gemarias, filho de Hilquias, de
Jr_29:3.
Safã — é a mesma pessoa que 2Rs_22:3.
escriba — secretário de estado, ou aquele que presidia sobre os
registros públicos.
átrio superior — o dos sacerdotes, pois o átrio do povo ficava a
um nível mais baixo (2Cr_4:9).
Porta Nova — (Jr_26:10). Era a porta do Este.
12. câmara do escrivão — departamento do palácio, ocupado pelo
secretário de estado.
príncipes — aqueles que celebravam nesse momento um conselho
de Estado.
Elnatã — quem já tinha sido um instrumento para o mal em mãos
de Jeoaquim (Jr_26:22, 23).
Ananias — o falso profeta (Jr_28:10-17).
14. Jeudi — de boa família, conforme parece por sua genealogia
tão completa, embora ocupava uma posição subordinada.
vem — em lugar de pedir a Baruque que se apresentasse perante
eles, eles deveriam ter ido ao templo e manifestar ali seu
arrependimento. Mas o orgulho o estorvou [Calvino].
16. entreolharam-se atemorizados — se voltaram um ao outro
(veja-se com Gn_42:28). Isto demonstra vacilação de sua parte, e certo
grau de temor de Deus, mas não o suficiente para decidi-los a sacrificar o
favor de um monarca terrestre.
Sem dúvida nenhuma, anunciaremos ao rei todas estas palavras
— Não as ameaças, mas estas palavras insinuam que o assunto é de tal
gravidade que devem fazer saber ao rei, para buscar a forma de aplacar a
ira divina.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 209
17. O que eles desejavam saber era se o que Baruque lhes tinha lido
o tinha escrito de cor, por ter ouvido Jeremias repetir continuamente suas
profecias, ou o tinha tomado por ditado do próprio profeta.
18. Ditava-me pessoalmente — Baruque responde que o profeta o
tinha ditado; o v. 2 concorda com isto, ao contrário da noção de que
Jeremias repetia suas profecias, lendo-as nos MSS.
tinta — a especificação da “tinta” indica isto: Eu nada acrescentei,
salvo o emprego da mão, a pena e a tinta.
19. Este versículo demonstra que eles estavam totalmente privados
de melhores sentimentos (veja-se vv. 16, 25).
20. câmara — no palácio do rei havia câmaras ao redor do pátio,
como no templo (v. 10). O rolo foi “depositado” ali para maior
segurança entre outros documentos públicos.
21. enviou … a Jeudi — Note-se como os incrédulos fogem de
Deus; e como, entretanto, O buscam mediante algum impulso
involuntário [Calvino]. Jeudi parece que era o fácil instrumento do rei
para realizar o mal.
22. casa de inverno — (Am_3:15).
nono mês — do ano religioso, isto é, novembro ou dezembro.
um braseiro aceso — diante dele. No Oriente não se usam nem
chaminés nem fornos; em dias de frio se empregam recipientes de
bronze, nos quais se queima carvão de lenha; quando esta se converte em
brasas, é posta uma tampa ao braseiro para reter o calor.
23. três ou quatro folhas do livro — não distintas como as de um
livro, mas sim os espaços consecutivos existentes num longo rolo, em
forma de portas (de onde se deriva o nome hebraico), em que se divide o
escrito; pois os livros de Moisés, nas sinagogas de hoje em dia, estão
escritos em longos pergaminhos unidos a dois cilindros, cujo escrito está
dividido em colunas, semelhantes a páginas.
canivete de escrivão — com que se a cana, usada como uma
caneta, era remendada. “Cortou-o”, refere-se ao rei (v. 22). Assim que
Jeudi leu três ou quatro colunas, o rei cortou a parte lida do rolo em dois
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 210
pedaços, fazendo o mesmo com todo ele, até que todas as partes lidas
foram consecutivamente rasgadas e queimadas (v. 24). A frase “todas
estas palavras” indica que todo o volume foi lido, e não meramente as
três ou quatro primeiras colunas (1Rs_22:8).
24. O rei e seus “servos” se endureceram mais que os “príncipes” e
os conselheiros (vv. 12-16, Notas). Contraste o humilde temor
manifestado por Josias na leitura da lei (2Rs_22:11).
25. (Nota, v. 16). Ele “embora” acrescente o pecado do rei; embora
Deus quis fazê-lo desistir mediante o rogo deles, ele persistiu; eis aí um
caso de cegueira e reprovação judicial!
26. Hameleque — não filho “do rei”. Jeoaquim por este tempo (o
quinto ano de seu reinado) não tinha nenhum filha grande. Jeconias, seu
sucessor, era então um rapaz de onze anos (comp. 2Rs_23:36, com 24:8).
os havia escondido — (Sl_31:20; Sl_83:3; Is_26:20).
27. o rolo com as palavras — isto é, o rolo que continha as
palavras.
28. todas as palavras que estavam no original — É em vão que
os ímpios resistam ao poder de Jeová: visto que nenhuma de suas
palavras cairá ao solo (Mt_5:18; At_9:5; At_5:39).
29. a Jeoaquim, rei de Judá, dirás — não em pessoa, pois
Jeremias estava “escondido” (v. 26), mas pela palavra profética escrita.
dizendo: Por que escreveste ... ? — Isto é o que o rei tinha
desejado que se dissesse a Jeremias, no caso de ser encontrado. Os reis
se desgostam frequentemente que lhes seja dito a verdade.
30. Ele não terá quem se assente no trono — o que se cumpriu
(2Rs_24:8, etc., 25); teve sucessores, sim, mas não descendentes diretos
(exceto seu filho Jeconias, cujo reinado de três meses, não se tem em
conta absolutamente. Zedequias não era filho de Jeconias, mas sobrinho;
este foi elevado ao trono com desprezo dele e de seu pai, Jeoaquim
(Jr_22:18, 19).
ao calor do dia e à geada da noite — No Oriente produzem-se
estas variações atmosféricas entre o noite e o dia (Gn_31:40).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 211
32. ainda se lhes acrescentaram muitas palavras semelhantes —
Os pecadores, ao desprezar a palavra de Jeová, não ganham outra coisa
senão que o castigo seja até maior. A lei, depois que as primeiras tábuas
foram quebradas por causa da idolatria de Israel, voltou-se a escrever em
termos similares (Êxodo 32 e 34).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 212
Jeremias 37

Vv. 1-21. Seções Históricas, Caps. 37 a 44. Os Caldeus Levantam o


Sítio, Partem e Se Enfrentam Com O Faraó-Hofra. Zedequias Pede a
Jeremias que Ore a Favor dos judeus; Mas Em Vão. Jeremias Trata de
Escapar a Seu Povo Natal, Mas o Prendem. Zedequias Mitiga o Rigor
de Sua Prisão.
1. Conias — Abreviação de Jeconias à maneira de recriminação.
a quem — refere-se a Zedequias, não ao Conias (2Rs_24:17).
2. Surpreendente estupidez, visto que o castigo de Jeconias deveria
lhes servir de admoestação [Calvino],( 2Cr_36:12, 2Cr_36:14).
3. mandou … Zedequias — Temem que se os caldeus derrotarem
ao Faraó-Hofra, aqueles voltem a sitiar Jerusalém. Veja-se a Nota no
princípio do cap. 21; o lugar cronológico que corresponde a esse capítulo
é entre os caps. 37 e 38. A mensagem do rei a Jeremias neste cap. 37, é,
entretanto, algo anterior ao do cap. 21; este foi enviado enquanto a luta
entre os caldeus e o Faraó mantinha-se indecisa; aquele foi quando,
depois da derrota do Faraó, os caldeus avançavam de novo contra
Jerusalém. Daí que enquanto Sofonias é mencionado como formando
parte de ambas as embaixadas, Jucal o acompanha nesta e Pasur naquela.
Mas como Pasur e Jucal são mencionados em Jr_38:1, 2, escutando a
resposta que lhes dá Jeremias, a qual é idêntica à de Jr_21:9, é provável
que entre as duas mensagens mediasse um curto intervalo, e que o de
Jr_37:3 e sua resposta, vv. 7-10, seja anterior à rebelião contra Deus
(Jr_29:25), embora menos virulento que muitos (v. 29; cap. 29) é
castigado equitativamente (Jr_52:24-27).
4. Jeremias … não o tinham posto no … cárcere — ele já não
estava no pátio do cárcere, onde tinha estado antes (Jr_32:2; 33:1),
passagens que se referem ao começo do sítio, não ao tempo em que os
caldeus renovaram o cerco, depois de haver-se retirado por um tempo
para ir ao encontro do Faraó.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 213
5. Depois desta distração, causada pelo Faraó em favor de
Jerusalém, os egípcios não voltaram em sua ajuda (2Rs_24:7). A Judeia
tinha a desgraça de estar situada entre as duas grandes potências rivais,
Babilônia e Egito, e por isso exposta a alternadas invasões de uma ou de
outra. Josias, tendo tomado partido por Assíria, caiu na batalha do
Megido com Faraó-Neco (2Rs_23:29). Zedequias, por ter-se aliado com
o Egito, pela violação do juramento prestado, estava agora prestes a ser
tomado prisioneiro por Nabucodonosor (2Cr_36:13; Ez_17:15,
Ez_17:17).
7. voltará — sem fazer nada por seu libertação.
8. (Jr_34:22).
10. ainda ... apenas — uns quantos feridos serão suficientes para
sua destruição.
12. Benjamim — a sua cidade de Anatote.
para receber o quinhão de uma herança — A margem da Versão
Inglesa diz “escapulir-se”, de uma raiz hebraica que significa “suavizar”,
e assim escapulir-se como algo deslizante que não pode deter-se. Mas
não é provável que o profeta de Deus fugisse de uma maneira desonrosa;
fora do “meio do povo”, antes, dá a entender um aberto afastamento
junto com outros, que uma escapulida clandestina, misturado com a
gente que se afastava; antes, significa separar-se ou dividir o lugar de
residência, de maneira que vivesse parte do tempo em um, e parte em
outro, sem residência fixa, indo de um lado para outro, no meio do povo
[Ludovicus de Dieu]. Maurer traduz “para receber sua parte dali”, ou
converter em dinheiro os produtos de sua propriedade de Anatote
[Henderson]; ou tomar possessão da terra que tinha comprado de
Hananel [Maurer].
13. capitão — isto é, chefe da guarda.
Hananias — aquele cuja morte havia Jeremias predito (Jr_28:16);
seu neto, como vingança, prende a Jeremias, acusando-o de querer
desertar (“tu foges”, Jr_38:19; 52:15; 1Sm_29:3) ao inimigo. Suas
profecias tinham certa cor para justificar a acusação (Jr_21:9; 38:4).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 214
15. escriba — um dos secretários do tribunal; no Oriente é
frequente que uma parte da moradia particular de um funcionário público
sirva de cárcere.
16. celas do calabouço — o cárcere constava de um fossa (a
“masmorra”) com celas curvas ao redor. As “celas”, da raiz curvar-se.
17. em secreto — Zedequias tinha vergonha de que seus cortesãos
se inteirassem de que tinha consultado a Jeremias (Jo_12:43; Jo_5:44;
Jo_19:38).
serás entregue — Se Jeremias tivesse consultado seus interesses
terrestres, teria respondido de uma maneira bem diferente. Contraste
Jr_6:14; Is_30:10; Ez_13:10.
18. Em que — Em que faltei?
19. Onde estão agora os vossos profetas ... ? — O acontecimento
demonstrou que eram uns mentirosos, e com a mesma certeza com que
veio o rei de Babilônia, apesar da profecia deles, voltará a vir.
20. Que a minha humilde súplica seja bem acolhida por ti —
antes, “permite que minha súplica seja humildemente apresentada”
(Jr_36:7, Nota). [Henderson].
para que eu não venha a morrer ali — no calabouço subterrâneo
(v. 16) por falta do conveniente sustento (v. 21). O profeta naturalmente
se retrai da morte, o qual faz com que sua firmeza espiritual seja tão
mais notável; ele estava antes disposto a morrer que a se desviar do
cumprimento do dever [Calvino].
21. no átrio da guarda — (Jr_32:2; 38:13, 28).
Rua dos Padeiros — Nas cidades do Oriente as pessoas do mesmo
ofício residem na mesma rua.
até acabar-se todo pão da cidade — Proveu Jeremias de pão até
que foi lançado no calabouço de Malquias, tempo durante o qual se
consumiu todo o pão que havia na cidade. Veja-se este versículo com
Jr_38:9. Isso deveu suceder muito pouco antes de tomada da cidade
(Jr_52:6). Deus disse a respeito de seus filhos: “Nos dias da fome se
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 215
fartarão” (Sl_37:19; Is_33:16). Uma sincera repreensão (v. 17) enfim
conquista o favor do repreendido, em lugar da lisonja (Pv_28:23).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 216
Jeremias 38

Vv. 1-28. Jeremias Prediz a Tomada de Jerusalém, pelo que É


Lançado na Masmorra, Mas o Trasladam ao Pátio da Guarda por
Intercessão de Ebede-Meleque. E Celebra Uma Entrevista Secreta Com
Zedequias.
Tudo isto sucedeu depois de seu encarceramento na casa de Jônatas,
e de sua soltura, devido à sua intercessão perante Zedequias. Esta última
ocorreu antes que os caldeus voltassem a reatar o sítio; os fatos similares
que se narram neste capítulo sucederam depois.
1. Jucal — Jeucal (Jr_37:3).
Pasur — (Jr_21:1; compare-se Jr_21:9 com Jr_38:2); se os
componentes da deputação de Jr_21:1, aos quais Jeremias deu esta
resposta, não são os mesmos que ouvem o profeta em Jr_38:1, os quais
devem ter sido enviados antes que estes lhe ouvissem falar as mesmas
palavras. Sofonias não está mencionado aqui, como em Jr_21:1, mas o
está em Jr_37:3. Jucal está mencionado aqui e entre os integrantes da
deputação anterior (Jr_37:3), mas não no Jr_21:1. Sefatias e Gedalias,
mencionados aqui, não figuram em Jr_21:1, nem em Jr_37:3. A
similitude de suas palavras em ambos os casos é natural, por terem sido
proferidas umas depois de um curto intervalo das outras, figurando Pasur
em ambas as ocasiões entre os ouvintes.
a todo o povo — Este tinha livre acesso ao profeta no pátio da
guarda (Jr_32:12).
2. a vida lhe será como despojo — escapará com vida, embora
perca tudo o mais como num naufrágio, ele conservará sua vida como
um lucro, por se passar aos caldeus (Nota, Jr_21:9).
4. Se Jeremias não tivesse tido uma missão divina, poderia ser
acusado justamente de traição, mas, tendo-a, fez com que o anúncio do
cerco resultasse certo, e assim agiu humanamente como intérprete da
vontade de Deus numa teocracia, aconselhando a rendição (Jr_26:11).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 217
5. o rei nada pode contra vós — Zedequias era um príncipe fraco,
e agora, em meio de seus apuros, teme se opor a seus príncipes. Ele
dissimula o desgosto que lhe causa seu arrogante poder, com lisonjeiros
discursos. Essa prepotência lhe impedia de proteger a Jeremias, coisa
que lhe agradaria fazer. “Não é justo que o rei negue nada a tão fiéis e
sábios estadistas”; o rei não é pessoa que se negue a seus desejos, dir-
lhes-ia [Jerônimo].
6. no calabouço (RC) — lit., a cisterna. Esta não era um cárcere
subterrâneo, como o da casa de Jônatas (Jr_37:15), mas um fosso ou
cisterna, que tinha estado cheio de água, mas que se tinha esgotado
durante o sítio, de sorte que já só continha “lodo”. Essas cisternas vazias
empregavam-se frequentemente como cárceres (Zc_9:11); sua
profundidade não deixava nenhuma esperança de escape.
Hameleque (AV) — (Jr_36:26). Seu filho tinha seguido os rastros
de seu pai sendo um fácil e maligno instrumento.
se atolou na lama — Jeremias aqui foi tipo do Messias (Sl_69:2,
Sl_69:14). “Estou afundado em lama profunda”.
7. Ebede-Meleque — O nome hebraico dado a este etíope,
significa servo do rei. Já desde o princípio Deus quis mostrar quão justas
razões havia para chamar os gentios à salvação. Um estrangeiro, etíope,
salva o profeta, a quem seus próprios patrícios, os judeus, procuravam
eliminar. Assim os gentios creram em Cristo, a quem os judeus
crucificaram, enquanto que os etíopes figuraram entre os primeiros
conversos (At_2:10, At_2:41; At_8:27-39). Ebede-Meleque era
provavelmente guarda do harém real, e assim tinha acesso particular ao
rei. No presente, os eunucos dos haréns procedem em sua maioria da
Núbia ou da Abissínia.
8. saiu ... da casa … e lhe falou — não em particular mas em
público, prova de intrépida magnanimidade.
9. no lugar onde se acha, morrerá de fome … já não há pão na
cidade — (Veja-se Jr_37:21). Até então tinha desfrutado de um pedaço
de pão. “É tão absoluta a carência de pão na cidade que, mesmo quando
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 218
houver abundância dele, já não se lhe poderia prover normalmente ao
profeta dele, e muito menos agora que está num lugar onde ninguém se
lembra ou compadece dele, de maneira que é provável que se morra de
fome”. “Não há mais pão”, isto é, não ficou mais nos depósitos públicos
da cidade (Jr_37:21); ou quase não ficou pão em nenhuma parte.
[Maurer].
10. Toma contigo — heb., “em tua mão”, isto é, à “tua disposição”
(1Sm_16:2). “Daqui”, quer dizer, da Porta de Benjamim, onde o rei
estava sentado (v. 7).
trinta homens — não para tirar meramente a Jeremias, mas
também para proteger a Ebede-Meleque contra qualquer oposição da
parte dos príncipes (vv. 1-4), ao executar a ordem do rei. Ebede-Meleque
foi recompensado por sua fé, seu amor e intrepidez, mostrados em
momentos quando ele poderia temer a ira dos príncipes, diante da qual
até o rei teve que ceder (Jr_39:16-18).
11. trapos velhos (RC) — “trapos rasgados” [Henderson].
roupas usadas — “vestidos puídos”. Deus pode converter as coisas
mais vis em instrumentos de Sua bondade para com o Seu povo
(1Co_1:27-29).
12. nas axilas — “sob as juntas das mãos”, isto é, na parte onde os
dedos se unem com a mão. Os trapos eram para impedir que as mãos se
machucassem com as cordas [Maurer].
13. no átrio da guarda — Ebede-Meleque foi prudente em pô-lo
ali fora do alcance dos seus inimigos.
14. à terceira entrada — Os hebreus, ao determinar a posição dos
lugares, olham ao leste, ao qual qualificam “do que está em frente”; daí
que chamassem o sul “o que está à direita”; e o norte, “o que está à
esquerda”; e o oeste, “o que está atrás”. Assim, começando com o este,
podiam designá-la como a primeira ou principal entrada; o sul, como a
segunda; o norte, a “terceira” entrada do átrio exterior ou interior
[Maurer]. A terceira porta do templo ficava na frente do palácio. Por esta
se passava do palácio ao templo (1Rs_10:5, 1Rs_10:12). Esta ficava
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 219
rumo ao oeste (1Cr_26:16, 1Cr_26:18; 2Cr_9:11). [Grocio]. Mas no
futuro templo ficará rumo ao este (Ez_46:1-2, Ez_46:8).
15. não me atenderás — Zedequias não responde a esta última
pergunta. À primeira lhe é respondida no v. 16. Traduza-se, antes, assim:
“Não queres me escutar”. Jeremias forma esse juízo a respeito do rei por
causa de sua passada conduta. Veja-se o v. 17 com o 19.
16. o SENHOR ... nos deu a vida — (Is_57:16). Como querendo
dizer: “que minha vida (minha alma) se perca se eu te enganar”
[Calvino].
17. aos príncipes — (Jr_39:3). Ele não se o diz “ao próprio rei”,
porque este estava em Ribla, em Hamate (Jr_39:5; 2Rs_25:6). “Se te
renderes” (quer dizer, se te entregares, 2Rs_24:12; Is_36:16), Deus prevê
as contingências condicionais do futuro, e ordena não só os fins, mas
também os meios para a obtenção dos fins.
19. Receio-me dos judeus — mais que de Deus (Pv_29:25;
Jo_9:22; Jo_12:43).
escarneçam de mim — me tratem injuriosamente (1Sm_31:4).
22. as mulheres — Assim o mesmo mal que Zedequias queria
evitar desobedecendo a ordem de sair, sobrevir-lhe-ia em sua pior forma.
Não serão meramente os judeus que desertaram os que lhe escarneceriam
(v. 19), mas também as próprias “mulheres” de seu palácio e harém, para
gratificar a seus novos senhores, desprezariam um rei que na verdade tão
nobre permitisse que assim o enganem!
Os teus bons amigos — Hebraico, os homens da tua paz (veja-se
Jr_20:10; Sl_41:9, margem da Versão Inglesa). Os ministros do rei e os
falsos profetas que o extraviaram.
se atolaram ... na lama — dita proverbial por: Estás envolto em
inextricáveis dificuldades pelos conselhos dos “teus amigos”. A frase
pode ser que aluda ao v. 6; uma justa retribuição pelo tratamento dado a
Jeremias, o qual se “afundou literalmente na lama”.
voltaram atrás — havendo-te enredado na calamidade, buscarão
sua própria segurança, passando para os caldeus (v. 19).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 220
23. teus filhos — (Jr_39:6; 41:10). “Mulheres … filhos ... tu”,
clímax ascendente.
24. Ninguém saiba — Se não disseres nada disso ao povo, eu
respondo por tua segurança.
25. Com frequência os reis o são só quanto ao título, visto que na
realidade se acham submetidos a seus súditos.
26. Apresentei — lit., fiz com que minha súplica caísse; o que quer
dizer uma súplica com humilde prostração (Nota, Jr_36:7).
casa de Jônatas — (Jr_31:15), diferente do calabouço de Malquias
(v. 6). Esta declaração era verdadeira, embora não fosse toda a verdade;
os príncipes não tinham direito à informação; a Escritura não nos dá aqui
nenhuma informação de que a súplica que Jeremias fez ao rei, fosse a
causa de ter vindo ao rei. A causa foi o medo. Veja-se Gn_20:2,
Gn_20:12; quanto ao outro, veja-se 1Sm_16:2, 1Sm_16:5.
27. e o deixaram em paz — Heb., “guardaram silêncio referente a
ele”, quer dizer, retiraram-se dele, lhe deixando tranquilo (1Sm_7:8,
margem, V. Inglesa).
28. Ficou Jeremias ... até ao dia em que foi tomada Jerusalém
— Estas palavras formam o princípio do cap. 39, para muitos; mas os
acentos e o sentido apoiam à Versão Almeida.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 221
Jeremias 39

Vv. 1-18. Tomada de Jerusalém. Destino de Zedequias. Proteção


de Jeremias. Promessa Feita a Ebede-Meleque.
Este capítulo consta de duas partes: a primeira descreve a tomada
de Jerusalém, a deportação do povo a Babilônia, e a sorte de Zedequias e
a de Jeremias. A segunda, as seguranças dadas a Ebede-Meleque.
1. o nono ano … o décimo mês — e no décimo dia (Jr_52:4;
2Rs_25:1-4). Pelas frases “o undécimo ano de Zedequias, no quarto
mês”, do v. 2, sabemos que o sítio durou um ano e meio, exceto a
suspensão deste causada por Faraó. Nabucodonosor esteve presente no
princípio do sítio, mas no seu fim se achava em Ribla (v. 3, 6; veja-se
Jr_38:17).
3. e se assentaram — o que expressa ocupação ou acampamento
militar.
Porta do Meio — a porta da cidade alta (na qual se acha o monte
Sião) que dá para a cidade baixa (a norte da primeira, que era muito mais
baixa); foi nesta última (situada no lado norte) onde os caldeus
penetraram, forçando a entrada, e tomaram a parte alta, oposta à porta do
muro intermédio, entre a cidade alta e a baixa. Zedequias fugiu em
direção oposta, isto é, rumo ao sul (v. 4).
Nergal-Sarezer, Sangar-Nebo — nomes próprios, formados pelos
ídolos, Nergal e Nebo (2Rs_17:30; Is_46:1).
Rabe-Saris — que significa chefe dos eunucos.
Rabe-Mague — chefe dos magos, levado com a expedição para
que se pudesse saber seus resultados de antemão mediante sua
astrológica arte. Mag é palavra persa, que significa grande, poderoso. Os
magos constituíam a casta sacerdotal entre os medos, escoras da religião
mazdeísta.
4. jardim do rei — a “porta” da cidade alta que conduzia a esse
jardim era só para os reis. Havia “degraus” do monte Sião e o palácio até
o jardim (Ne_3:15).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 222
os dois muros — Zedequias poderia ter retido por mais tempo a
cidade alta, mas a falta de provisões o induziu a fugir através do duplo
muro ao sul de Sião, rumo às planícies de Jericó (v. 5), a fim de escapar
através do Jordão à Arábia Deserta. Ele fez uma abertura no muro para
escapar (Ez_12:12).
5. Ribla — a norte da Palestina (veja-se o Jr_1:14; Nm_34:11).
Hamate é identificada pelos comentaristas com Antioquia da Síria, sobre
as margens do Orontes, chamada Epifania, por causa de Antíoco
Epifânio.
que lhe pronunciou a sentença — lit., falou juízos com ele, isto é,
submeteu-o a processo como a vulgar criminoso, não como a rei, pois
tinha violado o seu juramento (Ez_17:13-19; 2Cr_36:13).
6. matou ... os filhos de Zedequias diante dos seus olhos (TB) —
antes de lhe vazar “os olhos” (v. 7); lit., os cavou. Nos edifícios assírios
se representa o prazer com que os reis assírios tiravam os olhos dos
príncipes cativos, às vezes com suas próprias mãos. Esta passagem
concorda com Jr_32:4, “os seus olhos verão os olhos dele”, e com
Ez_12:13, “não a verá [a Babilônia], ainda que venha a morrer ali”.
matou a todos os príncipes — (Jr_27:20).
8. queimaram … as casas (Jr_52:12, 13). Não logo de ter tomado
a cidade, mas no mês seguinte, ou seja, no quinto mês (veja-se v. 2). O
atraso foi devido a que os príncipes mandaram queimaram perguntar ao
rei o que se faria com a cidade.
9. o resto (RC) — exceto os mais pobres (v. 10), os quais não
causavam apreensões a Nabucodonosor.
os desertores que se entregaram a ele — os desertores daqueles
que se desconfiava; ou, pode ser que tenham sido levados a seu pedido,
por temor de que o povo descarregasse sua raiva sobre eles como
traidores, depois da partida dos caldeus.
o sobrevivente do povo — distinto do anterior “resto”; aqueles
formam o resto dos sitiados na cidade, aos quais Nabucodonosor
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 223
poupou; estes são os dispersos pelos vários distritos do país que não
tinham sido sitiados [Calvino].
10. dos mais pobres da terra, que nada tinham — os pobres têm
pouco a perder; é uma das providenciais compensações de sua sorte. Os
que anteriormente tinham sido despojados de suas possessões pelos
judeus mais ricos, obtêm não só o que é seu, mas também o dos outros.
11. Nabucodonosor teve conhecimento das profecias de Jeremias
mediante os desertores (v. 9; Jr_38:19), assim como também pelos
judeus levados a Babilônia com Jeconias (veja-se Jr_40:2). Daí procede
a bondade do rei para com o profeta.
12. cuida dele — o hebraico: ponha seus olhos sobre ele; proveja o
seu bem-estar.
13. ordenou a Nebusazbã — ele estava em Ramá (Jr_40:1).
14. Gedalias — filho de Aicão, o primeiro sustentador de Jeremias
(Jr_26:24). Gedalias era o principal dos desertores que tinham passado
para os caldeus, sendo nomeado chefe dos que ficaram na Judeia, como
alguém que com certeza seria leal a Nabucodonosor. Sua residência
estava em Mispa (Jr_40:5).
o seu palácio — a casa de Gedalias, aonde Jeremias poderia
permanecer, como num seguro asilo. Como em Jr_40:1 se representa a
Jeremias “preso com algemas” ao chegar a Ramá entre os cativos que
seriam levados a Babilônia, Maurer pensa que esta soltura de Jeremias é
distinta da de Jr_40:5, 6. Mas parece que primeiro tinha sido tirado do
átrio do cárcere, e levado a Ramá algemado ainda, e logo entregue a
Gedalias.
habitou entre o povo — isto é, em liberdade.
15-18. Isto corresponde ao tempo em que a cidade ainda não tinha
sido tomada e Jeremias ainda estava no pátio do cárcere (Jr_38:13). Se
insere aqui esta passagem porque é agora que a boa ação de Ebede-
Meleque (Jr_38:7-12; Mt_25:43) é recompensada com sua libertação.
16. Vai — não literalmente, porque estava detido, mas sim
figuradamente.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 224
diante de ti — a sua vista.
17. de aqueles daqueles que você teme — (Jr_38:1, 4-6). Os
cortesãos e príncipes que te são hostis, por ter salvado a Jeremias, serão
atacados por um perigo tal que já não poderão te danificar. Ebede-
Meleque, intrépido até então, agora tem medo; daí que esta profecia
fosse muito bem recebida por ele.
18. te será como despojo — (Notas, Jr_21:9; 38:2; 45:5).
confiaste em mim — (Jr_38:7-9). A confiança em Deus foi a raiz
de não temer aos homens, ao mostrar sua humanidade para com o profeta
(1Cr_5:20; Sl_37:40). A “vida” que ele assim arriscou devia ser sua
recompensa, sendo-lhe regulada contra toda esperança, quando seus
inimigos perderiam a sua (“à maneira de presa”).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 225
Jeremias 40

Vv. 1-16. Jeremias Posto em Liberdade em Ramá, Dirige-se à Casa


de Gedalias, Aonde se Encaminha o Resto dos judeus. Joanã Adverte em
Vão a Gedalias que Ismael Conspira Contra Ele.

1. Palavra que veio — cabeçalho de uma nova parte do livro (caps.


41 a 44), ou seja, as profecias referente aos judeus da Judeia e Egito,
depois de tomada a cidade, mescladas com relatos históricos. A profecia
não começa até Jr_42:7, e a precedente história é uma introdução.
atado com cadeias — embora tinha sido tirado do átrio da guarda
(veja-se Nota, Jr_39:14), dada a confusão causada pela queima da
cidade, parece que tinha sido levado com cadeias junto com os outros
cativos, e que não foi posto em completa liberdade até chegar a Ramá.
Nebuzaradã tinha seu acampamento em Ramá, em território de
Benjamim, onde reuniu seus cativos antes de levá-los a Babilônia
(Jr_31:15). Ao pôr em liberdade a Jeremias, ele obedeceu ordens do rei
(Jr_39:11). O fato de Jeremias ter sido mantido atado se deveu à
negligência daqueles aos quais tinha sido encomendado, ou, antes, ao
desejo do Nebuzaradã de repreender o povo sua perversa ingratidão ao
aprisionar a Jeremias [Calvino]; daí que se dirija a Jeremias assim como
ao povo (v. 2, 3).
2. Os babilônios sabiam até certo ponto, pelas profecias de Jeremias
(Jr_39:11), que eram os instrumentos da indignação de Deus para com o
Seu povo.
3. pecastes — (nota, v. 1). Suas palavras se dirigem aos judeus
como também a Jeremias. Deus faz com que os próprios pagãos
testifiquem por Ele contra os judeus (Dt_29:24-25).
4. eu cuidarei bem de ti — são as mesmas palavras do encarregado
de Nabucodonosor (Jr_39:12).
toda a terra está diante de ti; para onde julgares bom e próprio
ir, vai — (Gn_20:15, margem da V. Inglesa). Só a Jeremias foi dada
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 226
opção de estabelecer-se onde ele achasse melhor, enquanto que o resto
foi deportado ou obrigado a permanecer ali.
5. visto que ele tardava em decidir-se — É um parêntese. Como
Jeremias vacilava quanto a se seria melhor para ele ir-se, Nebuzaradã
prosseguiu lhe dizendo: “Vai, então até Gedalias”, etc., (e não como a
Versão Inglesa: “Retire-se também”) se você preferir (pois Nebuzaradã o
inferiu pela vacilação de Jeremias) ficar aqui, em vez de ir comigo.
mantimento e um presente — (Is_33:16). Isto deve ter sido um
oportuno socorro para o profeta, que provavelmente tinha perdido tudo
durante o sítio.
6. a Mispa — em território benjamita, a noroeste de Jerusalém
(Jr_41:5, 6, 9). Não a Mispa de Gilgal, além do Jordão (Jz_10:17).
Jeremias demonstrou seu patriotismo e piedade ao permanecer em seu
país, em meio de aflições, e apesar da ingratidão dos judeus, antes que ir
desfrutar de honras e prazeres numa corte pagã (Hb_11:24-26). Isto
vindica a pureza de seus motivos quando se retirou (Jr_37:12-14).
7. os capitães … no campo — Os chefes do exército judeu se
“dispersaram” pelo campo quando Zedequias foi capturado (Jr_52:8), a
fim de zombar da vigilância dos caldeus.
8. netofatita — da Netofa, cidade de Judá (2Sm_23:28).
maacatita — do Maacati, situada ao pé do Monte Hermom
(Dt_3:14).
9. Nada temais — Estavam temerosos de não obter perdão dos
caldeus pelos atos que tinham cometido. E assim lhes dá seguranças
mediante juramento.
servi — lit., estejam em pé diante (v. 10; Jr_52:12), isto é, estejam
preparados a executar os mandados do rei de Babilônia.
10. eis que habito em Mispa — a qual se encontra no caminho de
Babilônia a Judá, e por isso muito convenientemente situada para a
realização de negócios entre os dois países.
eis que … vós, porém — ele, artificiosamente, para conciliar-lhe
representa-lhes a carga do serviço prestado aos caldeus como gravitando
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 227
sobre ele, enquanto que eles podem recolher livremente seu vinho, seus
frutos e seu azeite. Por agora não acrescenta que estes mesmos deviam
constituir a parte principal do tributo que se devia pagar a Babilônia; a
como se bem produzisse cereais, não era tão produtiva de uvas, figos e
azeitonas [Heródoto, 1.193]. A concessão de vinhas aos “pobres”
(Jr_39:10) daria lugar a que os descontentes alentassem a esperança de
desfrutar dos melhores frutos (v. 12).
11. judeus … em Moabe — fugidos para lá assim que se
aproximaram os caldeus. Desta maneira, Deus temperou a severidade de
sua vingança, para que subsistisse um remanescente.
13. no campo — não na cidade, mas sim dispersos pelo campo (v.
7).
14. Baalis — chamado assim do ídolo Baal, pois era frequente o
uso de nomes pagãos,
filhos de Amom — Com efeito, Ismael se refugiou entre eles
depois do assassinato de Gedalias (Jr_41:10).
tirar-te a vida — lit., te ferir na alma; isto é, te ferir mortalmente.
Ismael — que era da linhagem real de Davi (Jr_41:1), tinha inveja
de que Gedalias ocupasse a presidência, a qual ele se cria com direito; e
assim se ligou com o antigo inimigo pagão de Judá.
não lhes deu crédito — foi uma generosa mas imprudente
ingenuidade a sua (Ec_9:16).
16. isso que falas ... é falso — é um meio da providência o fato de
que Deus permitisse que um justo, a despeito de ter sido avisado, caísse
na armadilha que lhe tinham armado. Is_57:1, sugere a solução.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 228
Jeremias 41

Vv. 1-18. Ismael Assassina a Gedalias e a Outros, Logo se Refugia


Entre os Amonitas. Joanã o Persegue, Recupera os Cativos, e se Dispõe
a Fugir ao Egito por Temor dos Caldeus.
1. no sétimo mês — o segundo mês depois da queima da cidade
(Jr_52:12, 13).
e dez homens, capitães — não está no caso nominativo. E os
príncipes vieram; pois os “príncipes” não se mencionam nem no v.
seguinte nem em 2Rs_25:25; “só Ismael era da linhagem real e dos
príncipes do rei” [Maurer]; mas os dez homens eram os “príncipes do
rei”; desta maneira, a objeção de Maurer não tem peso; assim a Versão
Inglesa.
comeram pão — Ismael assassinou a Gedalias, quem o tinha
recebido hospitaleiramente, com violação do sagrado direito da
hospitalidade (Sl_41:9).
2. matando, assim, aquele que o rei da Babilônia nomeara
governador da terra — Isto explica a causa de havê-lo matado, e
mostra deste modo a magnitude de seu crime (Dn_2:21; Rm_13:1).
3. Também matou Ismael a todos os judeus — ou seja, aos
ajudantes e ministros de Gedalias; ou: quantos militares o
acompanhavam; traduza-se: “e até aos homens de guerra” (e não e a,
como a Versão Inglesa). Ismael levou cativo a parte principal do povo
que estava com Gedalias, inclusive Jeremias, (vv. 10, 16).
4. sem ninguém o saber — isto é, fora de Mispa. Antes que as
novas do assassinato chegassem ao estrangeiro.
5. com a barba rapada — o que indica sua profunda tristeza pela
destruição do templo e da cidade.
e o corpo retalhado — um costume pagão proibido (Lv_19:27-28;
Dt_14:1). Estes homens em sua maioria procediam de Samaria, onde as
dez tribos, antes de sua deportação, tinham adotado práticas pagãs.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 229
oferta — sem derramamento de sangue, visto que não traziam
vítimas para os sacrifícios, mas sim “incenso”, etc., para testemunhar sua
piedade.
Casa do SENHOR — quer dizer, ao lugar onde tinha estado a casa
do Senhor (2Rs_25:9). O lugar onde o templo tinha estado, mesmo
quando este tinha sido destruído, era tido como sagrado [Papinian]. Os
que “vinham de Siló” buscariam naturalmente a casa de Jeová,
porquanto esta tinha sido no princípio levantada em Siló (Js_18:1).
6. chorando — fingia chorar, como eles, pela ruína do templo.
Vinde a Gedalias — como se ele fosse um do séquito de Gedalias.
7. e os lançou num poço (RC) — não os matou dentro da cisterna
(veja-se v. 9); as palavras em itálico se inseriram com muita propriedade
na Versão Almeida Corrigida.
poço — este poço ou cisterna foi feito pelo rei Asa para prevenir-se
contra a falta de água quando Baasa ia sitiar a cidade (v. 9; 1Rs_15:22).
A sarjeta ou fossa em redor da cidade [Grocio]. O motivo de Ismael para
o assassinato parece ter sido a suspeita de que deviam pôr-se sob a
proteção de Gedalias.
8. depósitos — era costume ocultar o grão em cavidades
subterrâneas em tempos difíceis. “Temos depósitos”, que te daremos se
nos poupar a vida.
e não os matou — (Pv_13:8). A avareza de Ismael e a necessidade
prevaleceram sobre sua crueldade.
9. por causa de Gedalias (RC) — antes, “perto de Gedalias”, ou
seja aqueles aos quais Ismael interceptou no avanço em viagem de
Samaria a Jerusalém, e foram mortos em Mispa, onde vivia Gedalias.
Assim 2Cr_17:15, “junto a”; Ne_3:2, margem da V. Inglesa; lit., como
aqui, “à mão”, perto. “No reinado de Gedalias” [Calvino]. Entretanto, a
Versão Almeida Corrigida nos dá o sentido exato. A razão pela qual
Ismael os matou foi suspeitar deles em conivência com Gedalias.
10. as filhas do rei — (Jr_43:6); eram filhas de Zedequias. Ismael
se teria granjeado novos sequazes (atraídos pela esperança de lucro),
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 230
além dos que originalmente o seguiram (v. 1), de tal forma que pôde
transportar a todo o remanescente do povo. É provável que se propusesse
vendê-los como escravos aos amonitas (Jr_40:14, Nota).
11. Joanã — o amigo de Gedalias, quem tinha admoestado a este
da traição de Ismael, mas inutilmente (Jr_40:8, 13).
12. grandes águas … em Gibeão — (2Sm_2:13). Um grande
depósito ou lago.
Gibeão — situada no caminho de Mispa a Amom; uma das cidades
sacerdotais de Benjamim, a seis quilômetros a noroeste de Jerusalém,
agora chama-se El-jib.
13. se alegrou — diante da perspectiva de contar com alguém que
os libertasse de seu cativeiro.
14. virou as costas — dando um rodeio.
16. homens valentes de guerra — “os homens de guerra” que,
segundo o que expressa o v. 3, foram mortos por Ismael, deve referir-se
a aos militares que custodiavam a pessoa de Gedalias. Mas “homens
valentes de guerra” aqui não são aqueles.
eunucos — Os reis de Judá tinham adotado a má prática dos reis
pagãos vizinhos, de ter haréns e eunucos.
17. e pararam — por um tempo, até que estiveram em condições
de partir para o Egito (cap. 42;).
pararam em Gerute-Quimã — sua hospedaria, perto de Belém.
Davi, como recompensa da lealdade de Barzilai, tomou a seu filho
Quimã sob o seu patrocínio, e o constituiu sobre suas terras patrimoniais
de Belém. Desde então se chamou a morada de Quimã (Gerute-Quimã),
embora esta voltasse para os herdeiros de Davi no ano do jubileu.
Caravanseray (palavra persa composta, significa “a casa de um grupo de
viajantes”), difere de nossas estalagens em que não há hoteleiro para
prover alimento, mas cada viajante deve levar consigo seu provisão.
18. porque os temiam — Não foi que os caldeus suspeitassem de
que todos os judeus estivessem complicados na traição de Ismael, como
se os judeus tentassem ter um príncipe da casa de Davi (v. 1). A melhor
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 231
forma de ganhar o favor de Deus teria sido atribuir a culpa ao verdadeiro
culpado e ter-se justificado a si mesmos. Um proceder tortuoso gera o
temor, enquanto que a retidão inspira ousadia (Sl_53:5; Pv_28:1).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 232
Jeremias 42

Vv. 1-22. Os Judeus e Joanã Perguntam a Deus Por Meio de


Jeremias, quanto a Passar-se ao Egito, Prometendo Obedecer Sua
Vontade. Lhes Previne que Seu Segurança Depende de que Permaneçam
na Judeia, Assim Como Sua Destruição em Caso de Passar-se ao Egito
Seu Hipocrisia em Pedir Um Conselho que Não se Propõem Seguir, É
Reprovava Se For Contrário a Sua Determinação.
2. Jeremias — Provavelmente era do número dos levados de Mispa
e que residiam com Joanã (Jr_41:16). Daí que a expressão no v. 1 é:
“chegando-se” não “enviando”.
Apresentamos-te a nossa humilde súplica — (Nota, Jr_36:7;
37:20).
rogues ... por nós — (Gn_20:7; Is_37:4; Tg_5:16).
teu Deus — (v. 5). Os judeus usam este forma para expressar sua
crença na relação peculiar em que se encontrava Jeremias com relação a
Deus, como seu acreditado profeta. Jeremias, em sua resposta, lembra-
lhes que Deus é o Deus deles, tanto como dele (“teu Deus”), visto que é
o povo da aliança (v. 4). Eles, por sua vez, reconhecem isto no v. 6,
“SENHOR, nosso Deus” (Lv_26:22).
3. Eles consultaram a Deus, à semelhança de tantos, não para saber
o que era justo, quanto porque queriam autorizar o que já tinha
determinado, fosse ou não agradável à Sua vontade. Assim procedeu
Acabe ao consultar a Miqueias (1Rs_22:13). Veja-se a resposta de
Jeremias (v. 4) com a de Miqueias (1Rs_22:14).
4. Já vos ouvi — isto é, acedo ao seu pedido.
vosso Deus — sendo vosso por adoção, já não vos pertenceis a vós
mesmos, estão à Sua vontade, seja qual for (Êx_19:5-6; 1Co_6:19-20).
vos responder — ou seja, por meu meio.
não vos ocultarei nada — (1Sm_3:18; At_20:20).
5. o SENHOR testemunha verdadeira — (Gn_31:50; Sl_89:37;
Ap_1:5; Ap_3:14; Ap_19:11).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 233
6. má — não em sentido moral, o qual Deus não pode mandar
(Tg_1:13), mas sim o que pode ser duro e desagradável para nós. A
piedade obedece a Deus, sem perguntar, custe o que custar. Veja-se nisto
o exemplo deficiente que eles só obedeceram naquilo que lhes era
agradável (1Sm_15:3, 1Sm_15:9, 1Sm_15:13-15, 1Sm_15:20-23).
7. dez dias — Jeremias não falou por si só, mas esperou que
chegasse o momento oportuno para a revelação de Deus, com o que
demonstrou que estava realmente inspirado por Deus. Um homem
deixado a si mesmo teria dado uma resposta imediata ao povo, o qual se
mostrava impaciente pela demora. A demora tinha por desígnio pôr à
prova a sinceridade de sua professada disposição a obedecer, e para que
tivesse tempo suficiente para deliberar (Dt_8:2). A verdadeira obediência
submete-se aos momentos escolhidos por Deus, a Sua linha de conduta e
a Sua vontade.
10. Se permanecerdes — ou seja, sob a autoridade de Babilônia, a
qual Deus tinha assinalado para que todos se submetessem a Ele
(Dn_2:37-38). Resistir-lhe era resistir a Deus.
vos edificarei … plantar-vos-ei — metáfora que significa: Eu lhes
estabelecerei solidamente (Jr_24:6).
estou arrependido do mal — (Jr_18:8; Dt_32:36). Estou satisfeito
com o castigo que lhes infligi, contanto que não incorram em novos
delitos [Grocio]. Diz-se de Deus que “se arrepende”, quando altera Suas
externas maneiras de proceder.
12. Eu vos serei propício — antes, despertarei seus sentimentos de
misericórdia para convosco [Calvino].
e vos faça voltar (RC) — permitirá sua volta ao gozo pacífico das
posses de que vós quereis vos afastar por medo dos caldeus. Ao partir,
desobedecendo assim a Deus, incorreram nos mesmos males que
tratavam de evitar por esse meio, enquanto que se se tivessem ficado,
teriam obtido as bênçãos que temiam perder.
13. se vós disserdes — manifestando abertamente sua rebelião
contra Deus, quem tinha proibido frequentemente, como agora
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 234
(Dt_17:16), que voltassem para o Egito, não ocorresse que se
envolvessem na idolatria.
14. não veremos guerra — Aqui deixam claro sua impiedade, ao
não crer na promessa de Deus (vv. 10, 11), como se Ele fosse mentiroso
(1Jo_5:10).
15. Se tiverdes o firme propósito — tomando a firme resolução
(Lc_9:51), a despeito de todas as admoestações (Jr_44:12).
16. a espada que vós temeis vos alcançará — Os mesmos males
de que cremos escapar, pecando os atrairemos sobre nós por fazer isso.
Aquilo a que nossos corações frequentemente nos incitam, ao final nos
resultará fatal. Os que supõem que evitarão as tribulações por mudar de
lugar, encontrá-las-ão onde quer que vão (Ez_11:8). A “espada” aqui é a
de Nabucodonosor, quem cumpria a predição em sua expedição a África
(de acordo com Megastenes, escritor pagão), 300 a.C.
17. todos os homens — exceto o reduzido número mencionado
(Jr_44:14, 28), ou seja, os que foram obrigados a ir ao Egito contra sua
vontade, como Jeremias, Baruque, etc., e os que aceitaram o conselho de
Jeremias e escaparam do Egito antes da chegada dos caldeus.
18. Como … a minha ira — Como já o comprovastes, para vosso
mal, que sou fiel à Minha palavra, assim o comprovareis mais uma vez
(Jr_7:20; 18:16).
e não vereis mais este lugar — não retornareis à Judeia, como o
fareis os que fordes levados a Babilônia.
19. que vos adverti hoje — isto é, que vos tenho solenemente
admoestado, pelo que vós mesmos me sois testemunhas; de sorte que se
perecerem, tereis que confessar que foi por vossa culpa (não por
ignorância).
20. Porque vós ... a vós mesmos vos enganastes — antes, “por que
enganastes a vossas (próprias) almas?” Não é a Deus a quem enganais,
mas a vós mesmos, para vossa ruína e tudo por vossa hipocrisia (Gl_6:7)
[Calvino]. Mas as palavras seguintes concorda melhor com a Versão
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 235
Inglesa: vós disfarçais vossos corações (v. 3, nota) para comigo, quando
me enviaram a consultar a Deus a respeito de vós.
21. tendo-vos declarado isso — ou seja, a divina vontade.
não destes ouvidos — É uma antítese. Eu fiz Minha parte; mas vós
não fizestes a vossa. Não é Minha a falta de não procederem retamente.
22. para morar — por um tempo, até que pudessem voltar para seu
país. Esperavam portanto que seriam restituídos, apesar de ser Deus
quem lhes dizia o contrário.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 236
Jeremias 43

Vv. 1-13. Os Judeus Levam Jeremias e Baruque ao Egito. Jeremias


Prediz, Mediante um Tipo. A Conquista do Egito por Nabucodonosor e a
Sorte dos Fugitivos.
2. Azarias — o autor do plano de trasladar-se ao Egito. Este
homem era muito diferente do Azarias que estava em Babilônia (Dn_1:7;
Dn_3:12-18).
soberbos — o orgulho é pai da desobediência e do menosprezo de
Deus.
3. Baruque — por ser o mais jovem, falou com franqueza e com
mais veemência das revelações que tinha recebido de Jeremias; e devido
a isso e ao fato de saber eles que estavam a favor dos caldeus, despertou
neles suspeitas contra si. Sua perversa inconstância era surpreendente.
No cap. 42, eles reconheceram a integridade de Jeremias, da qual tantas e
tão prolongadas provas tinham tido; entretanto, acusam-no aqui de
mentiroso. Não há dúvida que a mente dos não regenerados está cheia de
engano.
5. resto ... havia ... dentre todas as nações — (Jr_40:11, 12).
6. filhas do rei — de Zedequias (Jr_41:10).
7. Tafnes — (Jr_2:16). Dafne, situada no braço do Nilo chamado
Tanítico, perto do Pelúsio. É natural que chegassem primeiro a ele, por
estar situado na fronteira do Egito e Palestina.
9. pedras — para as colocar como fundamento debaixo do trono de
Nabucodonosor (v. 10).
argamassa — mescla.
forno de tijolos (AV) — os tijolos naquele quente país se secam
geralmente ao sol; não se cozem. Por esse tempo se estava construindo
ou reparando o palácio de Faraó; daí que figurem à entrada a argamassa
e o forno de tijolos. Dos mesmos materiais com que foi construída a casa
de Faraó foram os fundamentos do trono que teria que construir-se para
Nabucodonosor. Mediante um símbolo evidente, insinua-se que o trono
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 237
deste último seria levantado sobre as ruínas do palácio do primeiro.
Egito, por esse então, disputava com Babilônia pelo império do Oriente.
10. meu servo — Deus converte com frequência um homem
perverso ou uma nação ímpia em instrumento de castigo para outro
(Ez_29:18-19, Ez_29:20).
seu baldaquino — a rica tapeçaria (lit., ornamento) que pendura ao
redor do trono de cima.
11. quem é para a morte, para a morte — isto é, de praga mortal.
Ele fará com que alguns morram pela praga que sobrevirá por causa da
insuficiência de alimentos; outros, à espada; outros serão levados
cativos, de conformidade com as disposições de Deus (Jr_15:2, nota).
12. casas dos deuses — não poupará nem mesmo o templo, tal será
sua fúria. É uma recriminação dirigida aos judeus por haver-se
trasladado ao Egito, terra cuja segurança dependia dos impotentes ídolos.
Lançará fogo às casas dos deuses … levará cativos — os ídolos
egípcios feitos de madeira, e se levará a Babilônia os de oro e de outros
metais.
vestir-se-á da terra (TB) — Is_49:18 contém a mesma metáfora.
como se veste o pastor (TB) — se converterá em amo do Egito
com a rapidez e facilidade com que um pastor veste a roupa ao se dispor
a passar de um a outro lugar com o seu rebanho.
13. colunas — ou obeliscos.
Bete-Semes — isto é, a casa de sol no hebraico; chamada pelos
gregos Heliópolis, e pelos egípcios Om (Gn_41:45), ao oriente do Nilo e
a poucos quilômetros ao norte de Mênfis. Efraim Siro diz que as estátuas
tinham 60 côvados de altura, e a base dez côvados. Em cima havia uma
mitra de quinhentos quilogramas de peso. O único obelisco que subsiste
atualmente que contém hieróglifos tem dezenove ou vinte e dois metros
de altura. No quinto ano da queda de Jerusalém. Nabucodonosor,
abandonando o sítio de Tiro, empreendeu sua expedição ao Egito
(Josefo, Antiguidades, 10.9, 7). Os egípcios, segundo os árabes, têm uma
tradição de que sua terra foi devastada por Nabucodonosor, por causa de
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 238
haver seu rei recebido os judeus sob sua proteção; e que permaneceu
desolada quarenta anos. Mas, veja-se a nota a Ez_29:2, Ez_29:13.
queimará — aqui se atribui esta ação a Nabucodonosor, o
instrumento, enquanto que no v. 12, atribui-se a Deus. Se os templos não
foram regulados, muito menos o foram as casas particulares.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 239
Jeremias 44

Vv. 1-30. Jeremias Repreende os Judeus Por Sua Idolatria no


Egito, e Prediz os Juízos de Deus Sobre Eles e Igualmente Sobre o Egito.

1. Migdol — que significa uma torre. Era esta uma cidade situada a
leste do Egito, rumo ao Mar Vermelho (Êx_14:2; Nm_33:7).
Mênfis — atualmente O Cairo (Jr_2:16).
Patros — O Alto Egito (Is_11:11).
2. o mal … sobre Jerusalém — Se Eu não poupei a Minha cidade
santa, muito menos salvareis o Egito, que eu abomino.
3. indo queimar — o que indica perversa assiduidade: desviaram-
se do seu caminho para queimar incenso (uma espécie de idolatria como
expressão de todos os gêneros da mesma).
4. (2Cr_36:15).
7. Agora, pois — depois de tantas admoestações.
fazeis vós tão grande mal contra vós mesmos — (Jr_7:19;
Nm_16:38; Pv_8:36). Não é a Deus a quem fazeis mal, ao fazerdes isso,
mas vós mesmos.
8. terra do Egito — onde se mancharam para congraçar-se com os
egípcios.
aonde viestes para morar — não compelidos pelo temor, mas por
vossa própria vontade, e isso não obstante Eu vos ter proibido isso, e
quando éreis donos de ficar na Judeia.
vos elimineis — eles mesmos cortejaram, por assim dizer, a
propósito, sua própria ruína.
9. Vocês esqueceram que as maldades de seus pais foram a causa
das grandes calamidades que lhes sobrevieram?
das suas mulheres — as rainhas judias foram as grandes
promotoras da idolatria (1Rs_11:1-8; 1Rs_15:13; 1Rs_16:31).
na terra de Judá — elas contaminaram a terra que era santa para
Deus.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 240
10. Não se humilharam … de vós — O uso da terceira pessoa os
põe à distância de Deus, por causa de eles mesmos se terem afastado
dEle. A segunda pessoa indica que Deus se dirigiu antes a eles.
Não se humilharam — Lit., não sentaram contrição (Sl_51:17).
não temeram — (Pv_28:14).
11. eliminar a todo o Judá — isto é, a todos os idólatras; o v. 28
demonstra que alguns retornaram a Judeia (veja-se 42:17).
14. não haverá quem escapa … para tornar — Os judeus tinham
ido ao Egito com a ideia de que a volta a Judeia, coisa que consideravam
impossível para seus irmãos em Babilônia, seria fácil para eles no Egito;
o contrário era o que esperava a uns e a outros respectivamente. Os
judeus que Deus desterrou para Babilônia deixaram para sempre a
idolatria e foram restaurados à sua terra; os que foram ao Egito por sua
perversa vontade se endureceram na idolatria, e ali pereceram.
não tornarão senão alguns fugitivos — quer dizer, “o pequeno
número” (v. 28) que foi levado pela força ao Egito, como Jeremias e
Baruque, e os que de acordo com o conselho de Jeremias, fugiriam do
Egito antes da chegada dos caldeus (Nota, Jr_42:17). Calvino, com
menos probabilidade, atribui estas palavras à volta dos deportados a
Babilônia, o que os judeus do Egito olhavam como algo desesperado.
15. suas mulheres — A idolatria começou com elas (1Rs_11:4;
1Tm_2:14). O consentimento de seus maridos os complicou no mesmo
delito.
16. não te obedeceremos — (Jr_6:16).
17. toda a palavra que saiu da nossa boca — seja qual for o voto
que tenhamos feito a nossos deuses (v. 25; Dt_23:23; Jz_11:36). A fonte
de todas as superstições consistem em que os homens opõem sua própria
vontade e seus sonhos aos mandamentos de Deus.
Rainha dos Céus — (Nota Jr_7:18). Astarote ou Astarte.
nossos pais, nossos reis — O mal não preponderava numa só
classe, mas em todas; pois das mais altas até as mais baixa eram
culpados desse delito.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 241
tínhamos fartura — Os parvos atribuem sua falsa aparência de
prosperidade à tolerância de Deus para com seus pecados; mas veja-se
Pv_1:32; Ec_8:11-13. Com efeito, Deus os castigou frequentemente por
sua idolatria (veja-se Jz_2:14), mas precisamente a maldição da
impiedade consiste em não perceber a mão de Deus nas calamidades.
de pão — O homem despreza o pão da alma pelo pão que perece
(Dt_8:3; Jo_6:27). Assim procedeu Esaú (Hb_12:16).
18. Eles imputam suas calamidades ao fato de servir a Deus, mas
essas calamidades são com frequência sinais de Seu favor, antes, que de
Sua ira, para fazer bem a Seu povo em seus descendentes (Dt_8:16).
19. fizemos-lhe bolos para a adorar — Maurer traduz: “para
formar sua imagem”. Ofereciam à lua tortas que tinham a forma do
quarto crescente. Mas a Vulgata apoia a Versão Inglesa.
sem nossos maridos — Aqui falam as mulheres mencionadas no v.
15, “uma grande concorrência”. Não nos entregamos a orgias secretas e
noturnas que nossos maridos pudessem com justiça considerar pouco
propícias; nossos sagrados ritos foram celebrados abertamente e com seu
conhecimento e anuência. Elas querem demonstrar quão irrazoável é o
fato de Jeremias ter sido o único a opor-se ao ato de todos, não
meramente das mulheres, mas também dos homens. Os culpados, à
semelhança destas mulheres, desejam defender-se sob a cumplicidade de
outros. Em lugar de ajudar-se mutuamente a encaminhar-se rumo ao céu,
os cônjuges o fazem frequentemente rumo ao inferno.
21. Quanto ao incenso ... não se lembrou disso o SENHOR …?
— Jeremias confessa que eles fizeram como haviam dito, mas em
resposta lhes pergunta: Não lhes pagou Deus com a mesma moeda sua
má ação? Sua própria terra, com sua presente desolação, o está
testemunhando (v. 22), conforme foi predito (Jr_25:11, 18, 38).
23. na sua lei — seus preceitos morais.
nos seus estatutos (TB) — os cerimoniais.
nos seus testemunhos — os judiciais (Dn_9:11-12).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 242
25. Vós … fizestes por vossa boca, senão também que
cumpristes por vossas mãos — É um louvor irônico. Alegaram sua
obrigação de cumprir seus votos, como desculpa de sua idolatria. Ele
lhes responde: Ninguém pode acusar vocês de descumprimento de seus
idolátricos votos; mas a constância para com Deus deveria lhes haver
impedido de fazer tais votos, ou no caso de tê-los feito, se guardarem de
cumpri-los.
Confirmai, pois, perfeitamente, os vossos votos — Com isto
Jeremias os abandona à sua fatal obstinação.
26. eu juro — Eu também tenho feito voto, o qual tenho que
cumprir. Visto que vocês não Me querem ouvir falar nem admoestar, Me
ouçam jurar.
pelo meu grande nome — isto é, por Mim mesmo (Gn_22:16); é o
maior porque Deus pode jurar (Hb_6:13-14).
nunca mais será pronunciado o meu nome — Até então, os
judeus, apesar de sua idolatria, tinham retido a forma de recorrer ao
nome de Deus e à lei, que era a glória que distinguia a sua nação; Deus já
não lhes permitirá fazer isso (Ez_20:39), pois não deixará que ninguém
profane o Seu nome por mais tempo dessa maneira.
27. vigio sobre eles para mal — (Jr_1:10; Ez_7:6). Deus, cuja
providência está sempre vigiando solicitamente por Seu povo para seu
bem, vigiará, por assim dizer, solicitamente para dano deles. Contraste-
se com Jr_31:28; 32:41.
28. poucos em número — (Notas, vv. 14, 23; Jr_42:17; Is_27:13).
Veja-se “serão consumidos” (v. 27). Um grupo fácil de contar, enquanto
que eles esperavam retornar triunfantemente em grande número.
saberão — por experiência a maioria deles e a seu custo.
a minha palavra ou a sua — Hebraico, a que (procede) de mim e
deles. As palavras de Jeová são Suas ameaças de destruição dirigidas aos
judeus. A deles, é a asserção de que esperavam todos os bens de seus
deuses (v. 17), etc. “A minha” é aquela pela qual lhes predigo ruína. A
“sua” consiste em que se entregam livremente à iniquidade.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 243
subsistirá (Sl_33:11).
29. Isto vos será sinal — a calamidade do Faraó-Hofra (nota v. 30)
ser-lhes-á um sinal de que assim como ele deve cair perante o inimigo,
assim vocês cairão posteriormente na presença de Nabucodonosor
(Mt_24:8). [Grocio]. Calvino diz que o “sinal” é simultâneo com o
acontecimento, e não anterior a este, como em Êx_3:12. Os judeus criam
que o Egito era inexpugnável, por estar protegido por barreiras naturais.
Os judeus, ao serem castigados nesse lugar, seriam um signo de que sua
opinião era falsa, e a ameaça de Deus, verdadeira. Ele a chama “um sinal
(ou signo) para vós”, porque a divina predição era equivalente ao próprio
evento, de sorte que eles podiam tomá-lo já por um sinal, porque quando
se cumprisse, deixaria de ser um sinal para eles, porquanto já teriam
morrido.
30. Hofra — Heródoto o chama Apries. Era o sucessor de
Psamético, sucessor por sua vez de Faraó-Neco, vencido por
Nabucodonosor em Carquemis, junto ao Eufrates. Amasis se rebelou
contra ele e o venceu na cidade de Sais.
procuram a sua morte — Heródoto, com surpreendente
conformidade com isto, diz que Amasis, depois de tratar bem a Hofra no
princípio, pessoas que julgavam que não estaria seguro a menos que o
matassem, instigaram-no a que o estrangulassem. “Seus inimigos”
refere-se a Amasis, etc; as palavras foram cuidadosamente selecionadas
para que não se referissem a Nabucodonosor, que não se menciona até o
fim do versículo, e isso com relação a Zedequias (Ez_20:3; Ez_30:21). A
guerra civil entre Amasis e Hofra preparou o caminho para a invasão de
Nabucodonosor no ano vinte e três de seu reinado (Josefo, Antiguidades,
10.11).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 244
Jeremias 45

Vv. 1-5. Jeremias Consola a Baruque.


Depois do término das profecias e das relatos históricos a respeito
do povo e dos monarcas judeus, Jeremias acrescenta uma de caráter
individual referente a Baruque, à semelhança de Paulo, quem
acrescentou às epístolas dirigidas às igrejas umas quantas escritas a
indivíduos, algumas das quais eram anteriores às primeiras quanto a
data. Logo fecham o livro as profecias referentes a outras nações
[Grocio]. Os eventos narrados aqui se efetuaram dezoito anos antes de
tomada da cidade; com relação ao tempo, este capítulo segue ao 36.
Parece que Jeremias empregou regularmente a Baruque para que lhe
escrevesse as profecias (Jr_36:1, 4, 32).
1. aquelas palavras — suas profecias desde o ano treze de Josias
até o quatorze de Jeoaquim.
3. Disseste — Jeremias não poupa a seu discípulo, e sim revela sua
falta, ou seja, seu temor de perder sua vida por causa das suspeitas que
tinha despertado em seus patrícios (Jr_36:17), de que simpatizava com
os caldeus (Jr_43:3), e que instigava a Jeremias; também o faz por sua
ingratidão, ao falar de sua “dor”, quando deveria julgar-se altamente
favorecido por ter sido empregado por Deus para consignar suas
profecias por escrito (Jr_36:26). Pois eu, diz-lhe, vejo-me de novo
envolto num perigo semelhante. Ele reprova a Deus pelo fato de o tratar
com dureza.
não acho descanso — isto é, um lugar de tranquilo descanso.
4. o que edifiquei e arrancando o que plantei — (Is_5:5). Toda
esta nação (os judeus) que eu estabeleci e plantei com tão extraordinário
cuidado e favor, transtorná-la-ei.
5. E procuras tu grandezas? — Está você muito vexado e se
mostra excessivamente egoísta. Quando Meu povo peculiar, a nação
“inteira” (v. 4), e o templo são objeto de ruína, espera você se eximir das
penalidades? Baruque havia posto suas esperanças em coisas deste
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 245
mundo, muito altas, e isto fez com que sua tristeza lhe resultasse mais
difícil de suportar. As vicissitudes da vida não nos inquietariam
principalmente se não buscássemos com avidez que nos fossem
propícias. Que loucura buscar aqui grandes coisas para nós mesmos,
quando tudo é pequeno e inseguro!
sobre toda carne — isto é, sobre toda a nação dos judeus e até
sobre os povos estrangeiros (Jr_25:26).
eu te darei a tua vida como despojo — Estima bastante que numa
crise geral como esta se concederá a você o escapar com vida. Contente-
se com lhe ser outorgada a graça da vida, a qual eu resgatarei de morte
iminente como quando tudo se entrega à pilhagem, que se o povo
escapasse com alguma coisa, tem algo que salvou à maneira de “presa”
(Jr_21:9). Surpreende o fato de Jeremias, quem em certa ocasião
empregou uma linguagem semelhante, possa agora permitir-se dar a
Baruque o conselho requerido pelas circunstâncias, ao cair no mesmo
pecado (Jr_12:1-5; 15:10-18). É que faz parte do desígnio de Deus o
permitir que os Seus servos sejam tentados, para que seus tentações os
tornem aptos a ministrar a seus conservos quando forem tentados.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 246
Jeremias 46

Vv. 1-28. As Profecias Compreendidas nos Caps. 46 a 52 se


Referem a Povos Estrangeiros.
O profeta começa com o Egito, por ser o país ao qual tinha sido
levado. O capítulo 46 contém duas profecias referente a ele: a derrota do
Faraó-Neco por Nabucodonosor em Carquemis e a subsequente longa
conquista do Egito pelo mesmo rei, assim como a preservação dos
judeus (vv. 27, 28).
1. Cabeçalho geral dos seis capítulos seguintes de profecias
referente aos gentios; estas profecias estão dispostas segundo as nações,
não por datas.
2. Título da primeira profecia.
Faraó-Neco — Este, quando saía a pelejar contra Carquemis (a
antiga Cerusium, perto do Eufrates), encontrou-se com Josias, rei de
Judá (aliado da Assíria), em Megido, e ali o matou (2Rs_23:29;
2Cr_35:20-24); mas isto sucedeu quatro anos depois que Nabucodonosor
tinha tomado Carquemis, como se prediz aqui; e perdeu todo o território
que tinha estado submetido aos Faraós a oeste do Eufrates, e entre este e
o Nilo. Esta predição mitigaria a pena dos judeus, causada pela morte de
Josias, demonstrando que sua morte tinha sido vingada (2Rs_24:7). Ele é
famoso porque tendo preparado uma frota de descobrimento, partiu do
Mar Vermelho, que, dobrando o cabo de Boa Esperança, retornou ao
Egito pelo Mediterrâneo.
3. Convocação irrisória à batalha. Apesar de todos seus preparativos
bélicos para conter a invasão de Nabucodonosor, quando se encontrarem
com ele, serão presa do “desalento” (v. 5). Suas fortes ameaças
terminarão em nada.
escudo — menor, usado pela cavalaria, ligeiramente armada.
pavês — é de maior tamanho que o precedente, e usado pela
infantaria fortemente armada.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 247
4. Selai os cavalos — ou seja, para os carros de guerra, que tanta
fama deram ao Egito (Êx_14:7; Êx_15:4).
montai, cavaleiros — subam aos carros. Maurer, por causa do
paralelo “cavalos”, traduz: “Montem os corcéis”. Mas aqui se descrevem
os sucessivos passos para equipar os carros de guerra; primeiro, ponham
as guarnições nos cavalos e atem os carros, logo deixem os cavaleiros
montarem neles.
couraças — ou cotas de malha.
5. (Nota, v. 3). Que um exército tão bem equipado pudesse
retroceder, apavorado, é algo espantoso. O profeta vê tudo isto em visão.
e vão fugindo — lit., fugiram com ímpeto, isto é, fugiram
precipitadamente.
sem olhar para trás — nem mesmo se atrevem a voltar a cabeça a
olhar a seus perseguidores.
6. Não fuja — equivalente a mais forte negação. Que nenhum dos
guerreiros egípcios pense escapar por sua ligeireza ou força;
lado do Norte — no que respeita ao Egito ou Judeia, à região que
olha rumo ao norte, junto ao Eufrates (veja-se o v. 2).
7. como rios — inundação (Jr_47:2; Is_8:7-8; Dn_11:22). A figura
é apropriada para dirigir-se aos egípcios; pois o Nilo, seu grande rio,
alaga anualmente suas terras com uma turva e lamacenta inundação.
Assim seu exército, inchado com a arrogância, alagará a região do sul do
Eufrates; mas este, à semelhança do Nilo, se retirará com a mesma
presteza com que avançou.
8. Responde a pergunta do v. 7.
como rios cujas águas se agitam — a enchente do Nilo é suave;
mas na desembocadura, a diferença da maioria dos rios, é muito agitado,
devido aos bancos de areia que impedem seu curso, e assim se precipita
no mar como uma catarata.
9. É uma exortação irônica, como no v. 3. Os egípcios, devido ao
calor de seu clima e à abstinência de carne, eram fisicamente fracos; daí
que empregassem soldados mercenários.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 248
os etíopes — No hebraico Cush; Abissínia e Núbia.
líbios (Versão Jünemann) — Pute, Mauritânia, a oeste do Egito
(veja-se Gn_10:6).
escudo — Os líbios copiaram do Egito o uso de longos escudos que
chegavam até os pés (Xenofonte, Cyropaedia, 6, e 7).
lídios — Não se trata dos lídios do oeste da Ásia Menor (Gn_10:22;
Ez_30:5), mas sim da Lídia, uma nação africana descendente do Egito
(Mizraim). (Gn_10:13; Ez_30:5; Na_3:9).
manejam e entesam o arco — O emprego de dois verbos expressa
a maneira de dobrar o arco: faz-se pressão no centro, com o pé, enquanto
que com as mãos se sujeitam os extremos.
10. vingança — por causa da morte de Josias (2Rs_23:29).
a espada devorará … e se embriagará — personificação poética
(Dt_32:42).
um sacrifício — (Is_34:6; Ez_39:17). A matança de egípcios se
representa como um sacrifício para satisfazer Sua justa vingança.
11. Gileade … bálsamo — (Nota, Jr_8:22); quer dizer, mediante a
cura das feridas, mas nenhum remédio adiantará, tão desesperada será a
matança.
virgem — O Egito é chamado assim por causa de seu efeminado
luxo, e por não ter sido jamais submetido ao jugo estrangeiro.
não há remédio para curar-te — (Jr_30:13; Ez_30:21). Não é que
o reino do Egito cessasse de existir, mas que não recuperaria sua
primitiva força. O golpe seria irreparável.
12. valente, tropeçou no valente, e ambos caíram juntos — sua
própria multidão resultará um impedimento em sua confusa fuga,
pisoteando-se uns aos outros.
13. Profecia da invasão do Egito por Nabucodonosor, a qual se
efetuou dezesseis anos depois da tomada de Jerusalém. Como pusesse
sítio a Tiro pelo espaço de treze anos, sem obter nenhum resultado de
seu esforço, Deus lhe promete que lhe dará o Egito como recompensa
por ter humilhado a Tiro (Ez_29:17-20; e caps. 30 e 31). As comoções
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 249
intestinas entre Amasis e Faraó-Hofra lhe prepararam o caminho
(Is_19:1, etc. Nota).
14. Anunciai … fazei ouvir — como se pronunciasse uma
sentença de um tribunal.
Migdol … Mênfis … Tafnes — este, sul e norte. Menciona estes
três pontos cardeais, e omite o oeste, porque os caldeus não avançam
para lá. Estas cidades eram as melhor conhecidas dos judeus, por ficarem
na direção de seu país.
a espada já devorou o que está ao redor de ti — ou seja, a
comarca dos sírios, judeus, moabitas e amonitas (Nota, Jr_48:1). Esta
exortação é irônica, como nos vv. 4, 10.
15. teu Touro — MSS., a LXX e a Vulgata leem “teu valente”. É o
boi Apis, ídolo vivente, adorado em Nofe ou Mênfis. Evidentemente, o
contraste faz-se entre a evidente impotência do ídolo e o poder que lhe
era atribuído por seus devotos egípcios. O termo hebraico forte ou
valente, aplica-se aos touros (Sl_22:12). Cambises, ao invadir ao Egito,
matou o touro sagrado.
o abateu — (veja-se v. 5). A palavra hebraica usa-se com relação a
uma chuva torrencial (Pv_28:3).
16. multiplicou — Isto é, Jeová.
também caíram uns sobre os outros — (Veja-se 6:12). Mesmo
antes que o inimigo os ferisse (Lv_26:37).
voltemos ao nosso povo — é a linguagem dos confederados e
mercenários, que se exortam mutuamente a desertar do exército egípcio e
a voltar para seus respectivos países (vv. 9, 21).
da espada que oprime — da espada cruel, quer dizer, dos caldeus
(veja-se Jr_25:38).
17. Ali — os soldados estrangeiros cada um em seu respectivo país
(v. 16): “Faraó”, etc. Ele ameaça muito, mas quando se apresenta a
necessidade não faz nada; suas ameaças são puro ruído (veja-se
1Co_13:1). Maurer traduz: “arruinou-se”, lit., (numa apropriada
brutalidade de linguagem): “Faraó, rei, etc., uma ruína”. O contexto,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 250
entretanto, apoia a Versão Inglesa. Seus jactâncias do que ele faria,
chegado o momento da batalha, demonstraram que não eram mais que
vãos sons. Fez com que passasse o tempo fixado (para a batalha com os
caldeus).
18. Como os montes Tabor e Carmelo sobressaem sobre outros
montes da Palestina, assim quando chegar Nabucodonosor (v. 26) se
mostrará superior a todos os seus inimigos. O Carmelo forma um
imponente promontório que se interna no Mediterrâneo. O Tabor é o
mais alto dos dois; por isso se diz que “está entre os montes”; e o
Carmelo “junto ao mar”.
o Rei … SENHOR dos Exércitos — (Jr_48:15). Em contraste com
“Faraó, rei do Egito, é apenas um som” (v. 17, RC); Deus o verdadeiro
Rei, o Senhor dos exércitos, fará com que venha Nabucodonosor.
Considerando que Faraó não virá à batalha ao tempo assinalado, não
obstante suas jactâncias, Nabucodonosor pelo contrário virá de acordo
com a predição do Rei, que tem todos os exércitos em Seu poder, por
mais que vocês, egípcios, desprezem a predição.
19. Prepara a tua bagagem — (isto é, que contenham alimentos e
outras coisas necessárias para a viagem) para o cativeiro.
moradora — isto é, os habitantes do Egito, os egípcios,
representados como as filhas do Egito (Jr_48:18; 2Rs_19:21).
“Moradora” insinua que se criam estar certamente estabelecidos em seus
habitações fora do alcance do invasor.
filha — assim no v. 11.
20. Novilha — solta, semelhante a uma novilha gorda e bravia
(Os_10:11). Apropriado ao Egito, onde o deus Apis era objeto de
adoração, sob a forma de um belo touro que se distinguia por algumas
manchas.
destruição (RC) — isto é, um destruidor: Nabucodonosor. A
Vulgata traduz “um espetão”, o que responde à metáfora “um que
espetará a novilha” e a amansará. A língua árabe favorece este sentido
[Rosenmuller].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 251
vem … vem — a repetição indica que vem segura e rapidamente
(Sl_96:13).
do Norte — (Nota, Jr_1:14; 47:2).
21. Traduza-se: “Também seus mercenários (vv. 9, 10) que estão no
meio dela quais bezerros engordados, eles também se voltaram”, isto é,
voltaram suas costas para fugir. A mesma imagem de “novilha …
bezerros” (vv. 20, 21), é aplicável aos mercenários estrangeiros, assim
como a ela. Mimados com as branduras do Egito, acham-se enervados
para a batalha como os próprios nativos.
22. O grito do Egito quando for invadido, será parecido com o
assobio de uma serpente despertada em seu ninho pelos lenhadores. Já
não lançará bramidos como novilha, mas sim um sob murmúrio de
temor, qual serpente que silva.
com machados — arma usada pelos citas. Os caldeus virão tão
confiantes como se não tivessem que lutar com soldados, mas sim a
cortar árvores que não oferecem resistência.
23. o seu bosque — (Is_10:34).
ainda que impenetrável — Cortam seu bosque, por mais denso e
incontável que possa parecer (Jó_5:9; Jó_9:10; Jó_36:26); isto se refere
às densamente situadas cidades do Egito, que somavam mil e vinte.
porque — a razão pela qual os caldeus poderão derrubar tão denso
bosque de cidades egípcias, é porque eles mesmos são inumeráveis.
gafanhotos — (Jz_6:5).
25. Amom de Nô — o mesmo que Tebas ou Diospolis, no Alto
Egito, onde Júpiter Amom tinha seu famoso templo. A seguinte menção
de “seus deuses” faz com que a tradução mais provável seja “Amom de
Nô”, isto é, Nô e seu ídolo Amom; assim diz a Versão caldeia. Chama-
se assim, quer por provir de Cam, o filho de Noé, quer de nutridor, que é
o que a palavra significa.
e aos seus reis — os reis das nações ligadas com o Egito.
26. depois será habitada — Sob Ciro quarenta anos depois da
conquista do Egito por Nabucodonosor, Amom sacudiu o jugo
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 252
babilônico, mas nunca recuperou seu anterior poderio (v. 11; Ez_29:11-
15).
27, 28. Repetição de Jr_30:10, 11. Quando a igreja (e o Israel
literal) pareçam inteiramente consumidos, restará uma esperança oculta,
porque Deus levantará Seu povo, por assim dizer, dentre os mortos
(Rm_11:15). Pelo contrário, as “nações” sem Deus se consomem,
embora sobrevivam, como ocorreu ao Egito depois de sua derrota; por
ter sido definitivamente amaldiçoados e sentenciados a desaparecer.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 253
Jeremias 47

Vv. 1-7. Profecia Contra os Filisteus.


1. É provável que Faraó-Neco destruísse Gaza quando voltava após
derrotar a Josias em Megido (2Cr_35:20). [Grocio]. Ou se alude ao
Faraó-Hofra (Jr_37:5, 7); provavelmente, ao retornar de seu inútil intento
por salvar a Jerusalém dos caldeus, atacou a Gaza, a fim de que não se
fosse pensar que sua expedição tinha sido completamente vã [Calvino]
(Am_1:6-7).
2. águas — (Is_8:7). Os caldeus que vêm do norte são comparados
às águas impetuosas do Eufrates. A destruição de Gaza só foi o prelúdio
de um desastre maior para os filisteus. Nabucodonosor deixou a
Nebuzaradã, depois de ter tomado a Jerusalém, para que subjugasse às
cidades adjacentes e o campo.
3. (veja-se Jr_4:29).
Os pais não atendem aos filhos — cada um só olhará para sua
segurança. Nem mesmo os pais atender]ao aos seus filhos. Tão
desesperada será a calamidade que os homens renunciarão aos seus
afetos naturais.
por se afrouxarem as suas mãos — as mãos, os principais
instrumentos para a ação, terão perdido toda a força, e assim toda sua
esperança a porão nos pés.
4. a todo ajudador — Os filisteus, os quais, sendo vizinhos dos
fenícios de Tiro e Sidom, fariam, naturalmente, causa comum com eles
em caso de invasão. Essas cidades não teriam quem as auxiliasse quando
os filisteus fossem derrotados.
Caftor — os caftorins e os filisteus provinham de Mizraim
(Gn_10:13-14). Diz-se que os filisteus tinham sido livrados de Caftor por
Deus (Am_9:7). É provável que antes da época de Moisés, estes
habitassem perto, e fossem subjugados pelos caftorins (Dt_2:23), e
livrados posteriormente. Por “o resto” se significa aqui aos que
subsistiram depois que os egípcios atacaram a Gaza e Palestina: ou os
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 254
sobreviventes dos caftorins depois de terem sido atacados pelos caldeus,
antes que estes atacassem os filisteus. Alguns identificam Caftor com a
Capadócia; Gesênio, com a Creta (Ez_25:16, queratitas); Kitto, Chipre.
Entre a Palestina e a Idumeia havia uma cidade chamada Caparorsa; e
sua estreita relação com a Palestina por um lado e o Egito (Mizraim,
Gn_10:13-14) por outro, faz com que esta localidade seja provavelmente
a aludida.
5. calvície — A Palestina é representada como mulher que se
arrancou o cabelo e se rachou a pele, que era a demonstração pagã de
luto (Lv_19:28; Jr_48:37).
seu vale — a longa faixa de terra ocupada pelos filisteus na costa
mediterrânea da Palestina, a oeste das montanhas da Judeia. A LXX lê
anaquim, o resto dos que se estabeleceram naquelas regiões (Nm_13:28).
Josué os desalojou, de maneira que não ficaram mais que os da Gaza,
Gate e Asdode (Js_11:21-22). Mas o paralelo (v. 7) “Ascalom, e à
ribeira da mar”, confirma aqui a Versão Inglesa (e a Almeida Corrigida)
“Asquelom, com o resto do seu vale”.
6. Jeremias, na pessoa dos filisteus afligidos (v. 5) apostrofa à
espada de Jeová, pedindo misericórdia (veja-se Dt_32:41; Ez_21:3-5,
Ez_21:9, 10).
Volta para a tua bainha — Heb., “Junta-te”, isto é, Retire-se ou
volte-se. Jeremias deixa de dirigir-se à espada na segunda pessoa, e se
volve a seus ouvintes e lhes fala na terceira pessoa.
7. o SENHOR te deu uma ordem — (Ez_14:17).
as bordas do mar — a faixa de terra entre as montanhas e o
Mediterrâneo, ocupada pelos filisteus: “seu vale” (Nota, v. 5).
é para onde ele te dirige — (Mq_6:9). Ele ordenou que faça
estragos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 255
Jeremias 48

Vv. 1-47. Profecia Contra Moabe.


Esta se tinha unido com os caldeus contra a Judeia (2Rs_24:2).
Nabucodonosor cumpriu esta profecia cinco anos depois da destruição de
Jerusalém, ao atacar também o Egito (Jr_43:8-13) e Amom (Jr_49:1-6).
[Josefo, Antiguidades, 10:9, 7.] Jeremias, nesta profecia, emprega a de
Is_15:16, ampliando-a e adaptando-a a seu propósito por inspiração
divina, ao mesmo tempo que confirma sua divina autoridade. Mas Isaías,
em sua profecia, refere-se à devastação de Moabe, como realizada pelo
rei assírio: Salmaneser; Jeremias refere-se a tal coisa como feita por
Nabucodonosor.
1. Nebo — Uma montanha e cidade de Moabe; seu significado é “o
que frutifica”.
Quiriataim — Uma cidade de Moabe, formada por duas cidades,
como o significa a palavra; originalmente dominada pelos emins
(Gn_14:5).
Misgabe (RC) — significa elevação.
2. já não é — (Is_16:14).
em Hesbom tramaram contra ela — O inimigo tinha tomado a
Hesbom, a principal cidade de Moabe (v. 45), e maquinado nela maus
desígnios contra Moabe, dizendo: Venham, etc. Hesbom estava a meio
caminho entre os rios Arnom e Jaboque; era a corte de Siom, rei dos
amorreus; mais tarde chegou a ser cidade levítica, em território de Gade
(Nm_21:26). No hebraico, “Hesbom, Hasbú” é um jogo de palavras.
Hesbom significa um lugar de invenção ou de conselho. A cidade,
chamada em outro tempo o Assento do Conselho, achará outros
conselheiros, que tramarão sua destruição.
também tu, ó Madmém, serás reduzida a silêncio — em virtude
de um jogo de palavras sobre o significado de Madmém (silêncio). Você
será reduzida ao silêncio, de tal maneira que você seja merecedora de
seu nome (Is_15:1). Você não se atreverá a emitir um som.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 256
3. Horonaim — É a cidade de Avara, mencionada por Ptolomeu. A
palavra significa duas cavernas (Ne_2:10; Is_15:5).
4. seus filhinhos fizeram ouvir gritos — cena culminante da
aflição. O inimigo não poupa nem aos infantes.
5. subida de Luíte … descida de Horonaim — Horonaim está
situada numa planície; Luíte, numa altura. Por conseguinte, fugirão dos
caldeus a esta, “chorando sem cessar”, como a lugar seguro. Lit.,
Chorando subirá com choro.
6. exortam-se uns aos outros a fugir.
arbusto solitário — ou o zimbro (veja-se a nota ao Jr_17:6).
Maurer traduz: “Sede como alguém despido no deserto”. Mas o sentido
é: Vivam no deserto, como a retama, ou o zimbro; não “confiem” em
muralhas (v. 7) [Grocio] (veja-se Mt_24:16-18).
7. tuas obras — isto é, fortificações construídas mediante o
trabalho. Moabe era famosa por suas fortalezas (v. 18). A antítese é ao v.
6, “venhais a ser como o arbusto solitário no deserto”, onde não há
cidades fortificadas,
também tu — como o resto das nações limítrofes, Judá, etc.
Quemos — o deus tutelar de Moabe (Nm_21:29; Jz_11:24;
1Rs_11:7; 2Rs_23:13). Quando uma nação era conquistada, os
vencedores também levavam os seus deuses (Jr_43:12).
8. perecerá o vale — isto é, os que habitam no vale.
9. Dai asas, etc. — (Sl_55:6). A menos que tenha asas, não poderá
escapar do inimigo. “Asas”, o significado da raiz hebraica é uma flor
(Jó_14:2), com efeito, a flor é semelhante à plumagem de uma ave.
10. a obra do SENHOR — a total devastação de Moabe,
divinamente decretada. Para representar que isto estava de acordo com a
soberana vontade de Deus, pronuncia-se uma maldição sobre os caldeus,
seus instrumentos, em caso de procederem negligentemente (Margem da
Versão, Inglesa) ou por parte (Jz_5:23); veja-se com o pecado de Saul
referente a Amaleque (1Sm_15:3, 1Sm_15:9), e o de Acabe quanto a
Síria (1Rs_20:42).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 257
11. Despreocupado ... e tem repousado nas fezes do seu vinho —
(Nota, Is_25:6; Sf_1:12). Como o vinho deixando assentar seu sedimento
retém seu próprio gostinho e força — propriedades que perderia se fosse
mudasse para outra vasilha — assim Moabe, por causa de nunca ter sido
desalojado de seu lugar, retém seu orgulho de possuir intacta sua
fortaleza.
não foi mudado de vasilha para vasilha — para torná-lo apto para
o consumo, filtrando-o ao passar de uma vasilha para outra.
o seu aroma — com o que se retém a imagem: o nariz ou perfume
do vinho.
12. trasfegadores — a palavra retém a imagem do v. 11, isto é, os
caldeus tirarão de seu lugar a Moabe da maneira como se limpa o vinho,
trasfegando-o a outros recipientes. “Suas vasilhas” são as cidades de
Moabe. As quebradas “vasilhas” são os mortos [Grocio]. A voz hebraica
e sua afim árabe significam inclinar para um lado, para esvaziar uma
vasilha [Maurer].
13. terá vergonha — se envergonhará pelas decepções recebidas
por causa das esperanças que alentava de que receberia ajuda de
Quemos, seu ídolo.
Betel — (1Rs_12:27, 1Rs_12:29) — isto é, o bezerro de ouro,
colocado ali por Jeroboão.
15. subiu das suas cidades, e os seus jovens ... desceram — antes,
“Moabe e suas cidades subiram”, isto é, desapareceram como a fumaça
de sua conflagração (Js_8:20-21; Jz_20:40). Quando isto se efetuou, os
jovens guerreiros desceram das incendiadas cidadelas tão somente para
encontrar-se com a morte [Grocio].
16. prestes a vir — ao alcance da vista do profeta, apesar de
provavelmente ter transcorrido vinte e três anos desde que se proferiu a
profecia, no quarto ano de Jeoaquim (2Rs_24:2) e seu cumprimento no
quinto ano de Nabucodonosor.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 258
17. Condoei-vos dele — não que Moabe mereça ser compadecido,
mas esta forma de expressão descreve com maior viveza a gravidade das
calamidades de Moabe.
e todos os que lhe sabeis o nome — os que residiam longe dela até
aqueles que a fama do “nome” de Moabe tinha chegado, como distintos
dos que residiam perto dela.
a vara forte —Moabe é chamado assim pelo terror que infundia e a
opressão que exercia sobre outros povos (Is_9:4; Is_14:4-5); também é
chamado assim por causa de sua dignidade e poder (Sl_110:2; Zc_11:7).
18. (Is_47:1).
assenta-te em terra sedenta — Dibom, situada à beira de Arnom,
tinha abundante água (Is_15:9). Por via de triste contraste com este
estado e com sua “glória” em geral, não só será envergonhada, mas
também privada do mais indispensável (como é a falta de água) no árido
deserto (v. 6).
moradora — a que no presente vive tranquilamente como em
sólida habitação.
19. Aroer — situada na margem setentrional de Arnom; era uma
cidade de Amom (Dt_2:36; Dt_3:12). Como se achava no caminho dos
moabitas que fugiram ao deserto, seus habitantes “perguntaram” qual era
a causa da fuga de Moabe; o que foi motivo de que soubessem a sorte
que lhes esperava (veja-se 1Sm_4:13, 1Sm_4:16).
20. Resposta dada pelos moabitas fugitivos aos amonitas que os
interrogavam (v. 19; Is_16:2). Enumera extensamente as cidades
moabitas, por parecer uma coisa completamente incrível o fato de que
todas devessem ser destruídas. Muitas delas tinham sido dadas aos
levitas enquanto Israel subsistiu.
Arnom — Dividia pelo norte os territórios de Moabe e Amom (v.
19; Nm_21:13).
21. campina — (v. 8). Não só serão devastadas as regiões
montanhosas, mas também a campina.
Holom — (veja-se Js_15:51).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 259
Jasa — (Nm_21:23; Is_15:4).
Mefaate — Js_13:18; Js_21:37).
22. Bete-Diblataim — a casa de Diblataim: “Almom-Diblataim”
(Nm_33:46); “Dibla” (Ez_6:14, NVI); não longe do Monte Nebo
(Nm_33:46-47).
23. Bete-Gamul — cujo significado é a cidade de camelos.
Bete-Meom — a casa de habitação: Bete-Baal-Meom (Js_13:17).
Agora suas ruínas se chamam Miun
24. Queriote — (Js_15:25; Am_2:2).
Bozra — veja-se nota a Is_34:6. Em outro tempo esteve sob o
domínio de Edom, embora em sua origem pertencesse a Moabe
(Gn_36:33; Is_63:1). Outros creem que a Bozra de Edom é distinta da de
Moabe. “Bezer” (Js_21:36).
25. chifre (TB) — emblema de força e soberania: os animais que os
têm se valem deles para atacar e defender-se (Sl_75:10; Lm_2:3).
26. Embriagai-o — (Nota, Jr_13:12; 25:17). Embriagado com a
taça da ira divina, a fim de que se veja desesperadamente confundido.
contra o SENHOR se engrandeceu — alardeou arrogantemente
contra o povo de Deus, de maneira que enquanto Israel estava abatido,
Moabe se manteve florescente.
Moabe se revolverá no seu vômito — prosseguindo com a
imagem de um ébrio, acrescenta que vomitará seu passado orgulho, suas
riquezas e sua vanglória, e que cairá em vergonhosa degradação.
e será ele também objeto de escárnio — em meio de seus
desastres será objeto de nossa zombaria do mesmo modo que fomos nós
no meio dos nosso para ele (v. 27). É a retribuição em espécie.
27. (Sf_2:8).
escárnio — O hebraico tem o artigo. Aludindo ao v. 26, expressa:
“Não foi Israel (a nação inteira) o objeto de escárnio para ti?” Por
conseguinte, assim como se alegrou anteriormente pela calamidade
sobrevinda às dez tribos (2Rs_17:6) no tempo do assírio Salmaneser
(Is_15:16), assim também por alegrar-se agora da queda de Judá, sob o
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 260
domínio de Nabucodonosor, Moabe deve padecer. Deus toma por Sua
conta a causa de Deu povo como se fosse Sua (Ob_1:8-13.
entre ladrões — (Jr_2:26). Proverbial. O que fez Israel para
merecer semelhante escárnio? Foi tomado no ato de furtar para que você
se alegrasse disso ao falar dele? Embora culpado para com Deus, para
contigo era inocente.
desde (RC) — desde que começou a falar dele.
te ris (RC) — saltando de prazer por causa da calamidade de Israel
[Calvino]; ou “moveu a cabeça” em sinal de “escárnio” [Maurer].
28. As pombas costumam fazer seus ninhos a ambos os lados das
cavernas. Já não terás cidades onde te refugiar: e assim terá que fugires
às covas e desertos para te refugiares neles (Sl_55:6, Sl_55:8; Ct_2:14).
29. sua arrogância — (Is_16:6-7). Moabe era o leiloeiro de sua
própria fama. Jeremias acrescenta “soberba e arrogância” ao quadro de
Isaías, de sorte que Moabe não só não tinha sido melhorada pelo castigo
que havia anteriormente sofrido, tal como Isaías o havia predito, mas até
se tornou pior; de sorte que sua culpa, e, portanto, o castigo a que tinha
sido sentenciado, foi-lhe acrescentado. O orgulho de Moabe menciona-se
por seis vezes com esse nome ou mediante sinônimos, para significar a
extraordinária odiosidade de seu pecado.
30. Conheço — a “orgulhosa arrogância” de Moabe (v. 29) ou sua
ira” contra Meu povo não Me é desconhecida,
mas isso nada é — o resultado não será como ela imagina: suas
mentiras não terão o efeito que ela se propõe com elas. Calvino traduz:
“suas mentiras não são justas (isto é, seus jactâncias são vãs, porque
Deus não permitirá que tenham efeito); elas não causarão o “dano” que
eles pensavam, porque Deus reduzirá a nada seus planos.
31. uivarei por Moabe — não porque seja digno de lástima, mas
sim o “grito” do profeta representa vividamente a magnitude de sua
calamidade.
Quir-hares — Quir-Haresete; veja-se a nota Is_16:7. Este nome
significa a cidade dos oleiros, ou antes, a cidade do sol [Grocio]; “os
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 261
homens de Quir-hares” neste lugar estão substituídos pelos fundamentos
de Quir-Haresete” de Is_16:7. A mudança responde provavelmente a
diferente relação do desastre infligido por Nabucodonosor em
comparação com o infligido anteriormente por Salmaneser.
32. Com o choro (RC) — com o mesmo choro com que Jazer,
agora conquistada, chorou a destruição de seus vinhedos. A mesma
calamidade que sobreveio a Jazer, sobrevirá a ti, ó Sibma. A preposição
hebraica aqui é diferente da que ocorre em Is_16:9, razão pela qual
Maurer traduz: “Com um pranto maior que o de Jazer”. A Versão
Inglesa o expressa como a continuação do pranto; logo depois de ter
lamentado a Jazer, se apresentará um novo motivo de lamentação: a
desolação da Sibma, a dos abundantes vinhedos.
os teus ramos passaram … chegaram até ao mar de Jazer —
Como a LXX diz: “cidades de Jazer”, e não se encontra vestígio algum
de um lago perto de Jazer, a lição da Versão Inglesa é duvidosa. Retendo
a atual lição, evitamos a dificuldade traduzindo como Grocio: “teus
ramos, isto é, teus cidadãos, o que alude à vinha, passaram o mar (isto é,
serão transportados além do mar, ao Chipre, e às terras longínquas
sujeitas a Babilônia; e isto sucederá na estação do estio), enquanto que
Jazer (isto é, os homens de Jazer) chegará até o mar” (até sua margem
somente, mas não serão transportados a além-mar); de sorte que sucederá
a ti pior que a Jazer.
destruidor — Nebuzaradã.
33. campo fértil — antes, o Carmelo; pois o paralelo “terra de
Moabe” o requer, embora em Is_16:10, diz “campo fértil”. Assim como
as próximas regiões (Canaã e Palestina) foram privadas de sua alegria,
assim se fará com a mais longínqua “terra de Moabe”; o que aconteceu a
Judá sucederá também a Moabe (vv. 26, 27). [Maurer]. Entretanto, aqui
parece que só se fala de Moabe. O paralelismo não se opõe a que “campo
fértil” responda a “Moabe”. Em consequência, a Versão Inglesa é mais
exata.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 262
júbilo — esta voz está repetida, porque no fim da colheita de uvas
os vindimadores cantam repetidas vezes o mesmo cântico de alegria.
o júbilo não será júbilo — se ouvirá um grito, mas não o grito
alegre dos operários que pisam nas uvas, mas sim o terrível grito de
ataque do inimigo.
34. o grito de Hesbom — Os que fugirem de Hesbom depois de
capturada, seguirão gritando até chegar a Eleale, etc. Se ouvirão
continuados gritos em todas as partes, desde um a outro limite, porque
por toda parte haverá matança e desolação.
bezerra de três anos (RC) — Moabe, não havia até então
conhecido o jugo estrangeiro, e achando-se em toda sua força, a compara
a uma bezerra de três anos que ainda não foi jungida nem se debilitou
com os muitos partos (veja-se nota Is_15:5).
as águas de Ninrim (TB) — isto é, os bem regados e portanto
viçosos pastos do Ninrim.
virão a ser desolação (TB) — O hebraico é mais expressivo: não
serão meramente “destruídas”, mas sim sua desolação se acrescentará;
denota-o o plural: desolações. Os espaços mais férteis se secarão.
35. quem sacrifique — ou seja, todo tipo de holocaustos, como o
exige o hebraico [Grocio]. Veja-se com o horrível holocausto devotado
pelo rei de Moabe (2Rs_3:27).
nos altos — ( Is_16:12)
36. Vejam-se as Notas, Is_15:7; Is_16:11.
como flautas — instrumento músico, usado nos funerais e os lutos
em geral.
a abundância que ajuntou — lit., a abundância, o excesso do
necessário para viver. Grocio traduz: “Os que ficaram perecerão”; os que
não foram mortos pelo inimigo perecerão por fome e doença.
37. (Nota a Jr_47:5; Is_15:2-3).
todas as mãos — isto é, braços, nos quais se faziam cortes, em
sinal de aflição (veja-se Zc_13:6).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 263
38. vasilha de barro que não agrada — (Nota, Jr_22:28). Um
copo descartado pelo oleiro, por não responder a seu desígnio.
39. Trata-se de Moabe.
Como … Como — por prodigioso que pareça, tem que suceder
infalivelmente.
Como virou ... as costas — não atrevendo-se a mostrar seu rosto.
objeto de escárnio e de espanto — escárnio para alguns, e espanto
para outros, ao contemplar o juízo de Deus, fazendo-os temer que lhes
sobrevenha algo semelhante.
40. Alude a Nebuzaradã, comandante-em-chefe de Nabucodonosor.
como a águia — não para levá-los “sobre asas de águias”
(Êx_19:4; Dt_32:11-12) como faz Deus com o Seu povo, senão para cair
sobre eles como sobre uma presa (Jr_49:22; Dt_28:49; Hc_1:8).
41. como o coração da mulher ... em dores de parto — (Is_13:8).
42. (Nota, v. 26).
43, 44. (Nota Is_24:17-18).
44. Quando imaginares que escapaste de certo tipo de perigo, virá a
te assaltar um novo.
45. à sombra de Hesbom — Eles se imaginavam que estariam
seguros em Hesbom.
Os que fogem param sem forças — quer dizer, “os que fugiram
por causa da força” do inimigo; isto é, os que fugiram dele. Glassio
traduz “por falta de força”. Assim está traduzida a partícula hebraica no
Sl_109:24. “Falta de gordura”, isto é, “desfalecida por falta de gordura”;
também em Lm_4:9.
porém sai fogo — copiado em parte do hino da vitória de Seom
(Nm_21:27-28). O antigo “provérbio” voltará a ter aplicação. Assim
como em tempos antigos Seom, rei dos amorreus, saiu de sua cidade, de
Hesbom, como uma “chamada” devoradora que consumiu a Moabe,
assim também agora os caldeus, fazendo de Hesbom o seu ponto de
partida, avançarão dali para destruir a Moabe.
do meio de Seom — isto é, da cidade de Siom.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 264
as têmporas de Moabe — quer dizer, Moabe, desde um a outro
canto.
o alto da cabeça — os pontos mais elevados de Moabe. O copia
aqui, com algumas alterações, a profecia de Balaão (Número 24:17). Ali
a palavra têmporas” se traduz na margem da Versão Inglesa por
“príncipes”; sendo assim, “o alto da cabeça” aqui significaria os nobres.
filhos do tumulto — são os que desertaram tumultuosamente de
Babilônia. Hesbom passou do domínio dos amorreus ao de Israel. Moabe
tinha arrebatado a Israel, e ainda ajudou os caldeus em sua luta com os
judeus; mas os desertores da Babilônia atraíram por sua vez ruína sobre
si mesmos.
46. Copiado de Nm_21:29.
47. A restauração prometida a Moabe, por amor do justo Ló, seu
progenitor (Gn_19:37; Êx_20:6; Sl_89:30-33). Veja-se no que respeita
ao Egito, com Jr_46:26; e referente a Amom, Jr_49:6; e a Elão, Jr_49:39.
As bênçãos evangélicas, temporais e espirituais, reservadas para os
gentios nos últimos dias, estão subentendidas.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 265
Jeremias 49

Vv. 1-39. Predições Referente a Amom, Idumeia, Damasco,


Quedar, Hazor e Elão.
O evento da profecia referente a Amom precedeu o de Moabe (ver
nota ao v. 3), e em Ez_21:26-28, a destruição de Amom está
acrescentada à deposição de Zedequias.
1. não tem Israel … herdeiro? — isto é, para ocupar a terra de
Gade, depois que esta tribo foi levada cativa por Salmaneser. Amom,
que, à semelhança de Moabe, descendia de Ló, achava-se ao norte de
Moabe, da qual estava separada pelo rio Arnom, e a leste de Rúben e de
Gade (Js_13:24-25) na mesma margem do Jordão. Amom se apoderou
de Gade quando Israel foi levado cativo. Judá era por direito de
parentesco o herdeiro, não Amom; mas este se uniu a Nabucodonosor
contra Judá e Jerusalém (2Rs_24:2), e se alegrou por sua queda
(Sl_83:4-7; Sf_2:8-9). Já nos dias de Jeroboão, durante a aflição de
Israel, buscou “estender sua fronteira” (2Rs_14:26; Am_1:1, Am_1:13).
herdou Milcom a Gade — (Am_1:15); referindo-se a Milcom, seu
ídolo tutelar (Sf_1:5) por isso a LXX tomou como nome próprio
(1Rs_11:5, 1Rs_11:33; 2Rs_23:13). Dizia-se que o deus amonita fazia o
que eles faziam, ou seja, ocupar a terra israelita de Gade. A terra
pertencia por direito a Jeová, o teocrático “Rei” de Israel; de sorte que
seu Moloque ou Milcom era um rei usurpador.
seu povo — o povo do Milcom, “seu rei”. Veja-se “povo de
Quemos”, Jr_48:46.
2. Rabá — a grande, metrópole de Amom (2Sm_12:26-30). Sua
destruição se prediz também em Ez_25:5; Am_1:14-15.
suas aldeias — as populações e aldeias, as quais dependiam da
metrópole (Js_15:45).
herdará aos que o herdaram — possuirá os que o possuíram. O
total cumprimento disso é ainda coisa futura; cumpriu-se em parte no
tempo dos macabeus (1Mc_5:6).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 266
3. Hesbom … Ai — Nabucodonosor, vindo pelo norte, primeiro
atacou ao Amom, logo a sua irmã e vizinha, Moabe. Como Ai do Amom
já tinha sofrido a destruição, como Hesbom de Moabe estava perto, bem
podia temer que lhe sucedesse o mesmo.
por entre os muros — tendo sido destruídas suas cidades, os
proscritos não tinham outro lugar de refugio senão atrás das “cercas” dos
vinhedos e jardins; em caso contrário, nos recintos de seus aldeias.
Milcom — o ídolo, como o demonstra a menção de “seus
sacerdotes” (veja-se 48:7).
4. teus luxuriantes vales — antes, “seu vale fluirá”, ou seja, com o
sangue dos mortos; em triste contraste com seus “vales”, dos quais até
então se “glorificaram”, os quais fluíam leite e mel [Grocio].
rebelde — apóstata de Jeová, Deus de seu pai Ló, para adorar a
Moloque.
tesouros — seus recursos para resistir ao inimigo.
Quem virá contra mim? — Quem pode vir?, etc. (Jr_21:13).
5. cada um de vós será lançado em frente de si — para onde quer
que a casualidade o leve (Jr_46:5; Gn_19:17); direto diante de si,
avançando ao acaso (Am_4:3).
não haverá quem recolha — não haverá ninguém que recolha os
errantes fugitivos, para os tratar com atenção e devolvê-los a seus lares.
6. (Veja-se Jr_48:47). Por amor ao “justo” Ló, seu progenitor.
cumpriu-se em parte no tempo de Ciro; mais amplamente, na época do
evangelho.
7. de Edom — Uma profecia distinta, copiada em parte de Obadias,
mas com a liberdade daquele que está inspirado e prediz uma futura
calamidade. A de Obadias se cumpriu provavelmente no tempo de
Senaqueribe (Veja-se Is_34:5; Am_1:11); a de Jeremias se cumpriu pelo
mesmo tempo que seus anteriores (v. 12; Ez_25:12).
sabedoria — pela qual os árabes e os habitantes de Temã (cidade
de Edom) em particular, eram famosos (Gn_36:15; 1Rs_4:30; veja-se Jó
em todo o corpo desse livro; Ob_1:8)
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 267
Corrompeu-se (RC) — lit., esgotou-se, isto é, ficou exausto (veja-
se Is_19:3, margem da Versão Inglesa) [Maurer]. Ou: consumido,
conforme o sentido que tem a voz congênere em etíope [Ludovicus De
Dieu].
8. voltai — isto é, voltem suas costas para fugir.
para as cavernas — em desfiladeiros e covas [Grocio]. Estes
abundam em Idumeia. Outros aludem ao costume árabe de retirar-se ao
mais interior do deserto para escapar de um inimigo ofendido (v. 30)
Dedã — uma tribo fronteiriça subjugada pela Idumeia; descia de
Jocsã, filho de Abraão e de Quetura (Gn_25:1-3)
Esaú — A menção do progenitor de Edom, reprovado por Deus,
traz à memória a velha maldição de que foi objeto por sua profanação,
perpetuando-se em seus descendentes seu pecado e seu castigo
(Hb_12:16-17).
9. (Ob_1:5). Os vindimadores e até os ladrões deixam algo atrás de
si, mas os caldeus varrerão com tudo o que houver na Idumeia,
despojando-a completamente.
10. Edom deixou de existir politicamente depois da época dos
romanos.
descobri os seus esconderijos — nos quais ele se escondeu (v. 8) e
ocultou os seus tesouros (Is_45:3). Eu fiz com que nada estivesse tão
oculto que o conquistador não o achasse.
seus irmãos — Amom.
vizinhos — os filisteus.
11. “Seus órfãos e suas viúvas devem depositar sua esperança
unicamente em Deus, visto que nenhum adulto será deixado vivo, tão
desesperado será o caso de Edom. Além desta ameaça, o versículo
envolve uma promessa de misericórdia para com Esaú no tempo da
bondade de Deus, como houve para com Moabe e Amom (v. 6;
Jr_48:47); a ideia predominante no versículo é a extinção dos varões
adultos (veja-se v. 12).
12. (Jr_25:15, 16, 29).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 268
os que não estavam condenados a beber o cálice — os judeus,
aos quais em virtude de sua relação com a aliança, não lhes correspondia
beber a taça, se poderia esperar que seriam eximidos disso. Deus não
atende aos méritos dos judeus (visto que eram tão maus como os outros
ou piores), mas sim à graça e à adoção de Deus. Era, pois, justo e natural
que Deus perdoasse a seus filhos com mais presteza que aos alheios
[Calvino].
13. Bozra — (Nota, 48:24).
14. (Ob_1:1-3.
mensageiro — um mensageiro de Deus para despertar os caldeus
contra Edom.
15. Davi e Joabe já tinham humilhado a Edom (2Sm_8:14).
16. terror — o terror que inspirou a outros.
te enganaram — te fizeste orgulhosamente confiante de que
ninguém se atreveria a te assaltar.
habitas nas fendas das rochas — Petra, a principal cidade da
Idumeia, cujas casas foram esculpidas nas rochas. Suas ruínas são muito
notáveis. Em todo o sul da Idumeia abundam as rochas e casas lavradas
nelas.
ainda que ... teu ninho como a águia — (Jó_39:27; Ob_1:3,
Ob_1:4). As águias fazem seus ninhos nas mais escarpadas alturas.
17. (Veja-se 1Rs_9:8).
18. (Veja-se Jr_50:40; Dt_29:23; Am_4:11).
não habitará ninguém ali — isto é, dos idumeus. Os romanos
tiveram ali uma guarnição.
19. Refere-se a Nabucodonosor e a Nebuzaradã; o nome seria logo
sugerido ao entendimento dos ouvintes (Jr_48:40; 46:18).
enchente (RC) — como um leão ao qual os transbordamentos do
Jordão forçam a sair de sua guarida e subir às alturas vizinhas [Calvino].
Quanto à tradução “orgulho do Jordão”, veja-se a nota de Jr_12:5.
pasto verde — as fortificações da Idumeia (veja-se Nm_24:21).
Maurer traduz: “Os pastos sempre verdes” (lit., perenes), quer dizer, que
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 269
a Idumeia tinha desfrutado até então de ininterrupta tranquilidade; daí
que no v. 20 se preserve a imagem; neste versículo se compara os
idumeus a “um rebanho” e a seu rei a “um pastor” e ao inimigo a “um
leão” (veja-se Jr_50:17-19). A Versão Inglesa é a que melhor concorda
com o hebraico.
num momento — num abrir e fechar de olhos, como o denota o
hebraico.
arrojarei dali a Edom — Farei com que Nebuzaradã entre na
Idumeia, e então, feita a conquista num abrir e fechar de olhos, irá
rapidamente a outro lugar. Grocio traduz “farei correr sobre ela ou a
ela”, em lugar de “correr dela”. Maurer o subentende de isso: “Fá-lo-ei
correr (ao idumeu) dela” (isto é, de sua própria terra); a mudança similar
de alusão aos pronomes (Jr_50:44) favorece este sentido.
a quem eu escolher — Deus chama a si os melhores guerreiros
para pô-los na obra de devastar a Idumeia. Deus certamente cumprirá
Seu propósito, visto que pode tirar de onde quer os agentes que quiser.
quem é semelhante a mim? — (Êx_15:11).
Quem me pedirá contas? — ou seja, para entrar em juízo comigo
(veja-se a margem da Versão Inglesa). Imagem tomada dos tribunais de
justiça (Jó_9:19).
pastor — o chefe dos idumeus; prossegue a imagem anterior de
“um leão”: nenhum pastor idumeu enfrentará o leão enviado por Jeová
(Jó_41:10), nem salvará o rebanho idumeu.
20. os menores do rebanho — os mais fracos e humildes do
exército dos caldeus. Veja-se Jr_6:3, onde os chefes inimigos e seus
hostes se chamam “pastores” e “rebanhos”.
serão arrastados — os levarão ao rastro cativos [Grocio]; serão
arrastados de um a outro lado, como o faz um leão com uma fraco
ovelha (v. 19) [Maurer].
as suas moradas — isto é, a habitação que possuem.
21. se ouviu — quer dizer, se ouvirá.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 270
mar Vermelho — fica a uma distância considerável da Idumeia;
embora o distrito da baía Elanítica do Mar Vermelho, originalmente
pertencia a Idumeia, e o mesmo mar chamava-se Mar de Edom, isto é
Vermelho (Gn_25:30, margem da Versão Inglesa). Outros traduzem “o
mar cheio de ervas daninhas”. Seu nome de “Mar Vermelho” o deriva de
suas algas vermelhas; é de preferir, entretanto, o primeiro sentido.
22. (Veja-se Jr_48:40, 41).
Bozra — (Nota Jr_48:24).
23. É uma profecia referente a Damasco, etc. (Is_17:1; Is_10:9). O
reino de Damasco foi destruído pela Assíria; mas a cidade reviveu, e é
precisamente a respeito desta última que profetiza Jeremias. O
cumprimento é provável que se tenha efetuado uns cinco anos depois da
destruição de Jerusalém por Nabucodonosor (Josefo, Antiguidades, 10:9, 7).
Envergonhou-se Hamate — ao ouvir as novas da ruína da vizinha
Damasco.
são como o mar agitado — isto é, os habitantes de Damasco estão
alarmados. Outros MSS., dizem “como o mar”. “Há ansiedade
(intranquilidade) como no mar; não podem estar sossegados”, isto é, não
podem tranquilizar-se (Is_57:20); quaisquer pessoas que sejam os
habitantes, não podem estar quietos.
25. cidade de louvor (NKJV) — O profeta, na pessoa de um
cidadão de Damasco que deplora sua calamidade, chama-a “cidade de
louvor”, isto é, celebrada com louvores em todas as partes por causa de
sua beleza (Jr_33:9; 51:41). “Como é possível que uma tal cidade não
tenha sido deixada incólume?, isto é, que não tenha sido poupada pelo
inimigo?” Veja-se “deixada”, Lc_17:35-36. Assim fez Israel ao deixar
em pé algumas cidades cananeias (Js_11:13).
cidade da minha alegria (TB) — isto é, a cidade em que Me
deleitava.
26. Portanto — isto é, visto que Damasco foi sentenciada à ruína,
portanto, etc.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 271
27. os palácios de Ben-Hadade — esse palácio do qual tantos
males e tanta crueldade para com Israel tinham emanado, explica a causa
do descalabro de Damasco. Este Ben-Hadade não é o de 2Rs_13:3;
Am_1:4; esse era o nome comum dos reis da Assíria (veja-se 1Rs_15:18,
cujo significado era filho de Hadade, o ídolo).
28. Quedar — filho de Ismael (Gn_25:13). Os quedarenos
andavam errantes e entregues à pilhagem como os árabes beduínos
(2Cr_21:16-17; Sl_120:5). Quedar significa negrume (Ct_1:5).
Hazor — não a cidade da Palestina, mas sim um distrito da Arábia
Pétrea. “Reinos” refere-se às diversas combinações de clãs, governados
cada um por um xeque.
os filhos do Oriente — Quedar e Hazor estavam a leste da Judeia
(Jz_6:3; Jó_1:3).
29. suas tendas — nas quais habitavam, daí que sejam chamados
citas, isto é, os que habitam em tendas.
cortinas (RC) — isto é, com as quais as tendas eram cobertas
(Jr_4:20; 10:20; Sl_104:2).
e lhes gritarão: Há horror — O inimigo, ao gritar medo, etc.,
derrotá-los-á (aos quedarenos) com seu mero grito.
30. (Nota ao v. 8). Nenhum conquistador se aventuraria a segui-los
no deserto.
31. nação que habita em paz — antes, tranquila (1Cr_4:40).
nem têm portas, nem ferrolhos — Os árabes vivem longe das
rotas das potências em luta da Ásia e África; daí que não tomavam
medidas de defesa nem tinham cidades muradas nem portas (Ez_38:11),
por crer que dada a pobreza de seus recursos e o residir no deserto não
tentariam a nenhum inimigo.
habitam a sós — separados de outros povos e sem aliados, e
separados um do outro. Referente ao isolamento de Israel, veja-se
Nm_23:9; Dt_33:28; Mq_7:14).
32. seus camelos — eram suas posses principais, pois não tinham
campos nem vinhedos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 272
a todo vento — ao que parece, seria pouco provável que fossem
dispersos. Ou, cortaram-se os bordes do seu cabelo (Jr_9:26; 25:23).
[Grocio].
de todos os lados … ruína — que obrigue a dispersar-se até os que
estão nos últimos rincões.
33. (Ml_1:3).
34. Elão — parte da Susiana, ao ocidente da Pérsia propriamente
dita, mas empregada para designar a Pérsia em geral. Elão propriamente
dito ou Elymais, mais próxima à Judeia que Pérsia, é provável que seja a
que se alude aqui. Esta tinha ajudado a Nabucodonosor em sua luta
contra a Judeia. Daí seu castigo. Pode ser que fosse idólatra, enquanto
que a Pérsia era em geral monoteísta.
35. arco — Elão era famosa por seus arqueiros (Is_22:6).
a fonte do seu poder — “arco”, quer dizer, arqueiros, que
constituíam a sua força principal.
36. quatro ventos — O exército de Nabucodonosor se compunha
de soldados dos quatro pontos cardeais.
37. consumi-los — como a nação distinta (Dn_8:2-27). Isto se
cumpriu em tempos de Alexandre e seus sucessores.
38. Eu Me manifestarei como Rei, mediante os Meus juízos ali,
como se Meu tribunal estivesse ali assentado. Possivelmente se aluda ao
trono de Ciro, o instrumento de Deus, estabelecido sobre a Média, da
qual Elão formava parte [Grocio]. Ou antes, se refere ao de
Nabucodonosor (Jr_43:10). Logo, a restauração de Elão (v. 39) se
referirá em parte para a que se efetuou na tomada de Babilônia por Ciro,
príncipe medo-persa.
39. Nos últimos dias — A restauração total pertence aos tempos do
evangelho. Entre os primeiros em ouvir o evangelho e aceitá-lo se
achavam os elamitas. (At_2:9).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 273
Jeremias 50

Vv. 1-46. Aproxima-se o Momento da Queda de Babilônia;


Redenção de Israel.
Depois de predizer os juízos que se infligiriam a outras nações por
Babilônia, vem a seguir o juízo contra a própria Babilônia; esta constitui
a mais extensa profecia, pois consta de 100 versículos. Foi proferida no
quarto ano de Zedequias quando Seraías foi comissionado para levá-la à
Babilônia (Jr_51:59, 60). As repetições que se observam nela é provável
que se devam ao fato de constar de profecias pronunciadas em diferentes
épocas, e colecionadas agora por Jeremias para consolar os judeus
exilados, e de passagem justificar os caminhos do Senhor, ao manifestar
a sentença definitiva de Babilônia, inimiga do povo de Deus, depois de
sua prolongada prosperidade. O estilo, as imagens e os diálogos provam
sua autenticidade, em oposição aos que a negam. Ela demonstra a
fidelidade do profeta; pois embora se sentisse agradecido para com o rei
de Babilônia, mais o estava ainda para com Deus, que o dirigia a
profetizar contra Babilônia.
1. Veja-se Isaías 45 a 47. Mas como o tempo do cumprimento está
agora mais próximo, as profecias resultam relativamente mais claras que
então.
2. Anunciai entre as nações — as quais se alegrariam pela queda
de Babilônia que as oprimia.
arvorai estandarte — para indicar o lugar de reunião para escutar
a boa nova da queda de Babilônia [Rosenmuller]; ou, o sinal para
convocar às nações contra Babilônia (Jr_51:12, 27). [Maurer].
Bel — o deus tutelar de Babilônia, era o mesmo ídolo que o Baal
dos fenícios, quer dizer, o Senhor, o sol (Is_46:1).
confundido — por ser incapaz de defender a cidade que estava sob
sua proteção.
Merodaque — outro ídolo de Babilônia, que na Síria queria dizer
pequeno senhor; dele tomou seu nome Merodaque-Baladã.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 274
3. uma nação — Os medos, do norte de Babilônia (Jr_51:48). A
devastação de Babilônia predita aqui inclui não só a de Ciro, mas
também a mais completa, realizada por Dario, quem que tomou a
Babilônia mediante um artifício quando esta se havia amotinado contra a
Pérsia, e matou sem piedade os habitantes, enforcando a quatro mil
nobres; também inclui a final deserção dessa cidade devido à fundação
de Selêucia, perto dela, por Seleuco Nicanor.
4. Completo tão somente em parte quando algumas das dez tribos
de “Israel” se uniram a Judá na “aliança” feita com Deus no tempo da
volta de Judá a seu país (Ne_9:38; Ne_10:29). O pleno cumprimento
deve-se realizar no futuro (Jr_31:9; Os_1:11; Zc_12:10).
chorando — de alegria, por motivo de sua restauração quando
menos a esperavam; e de tristeza causada pela lembrança de seus
pecados e aflições (Ed_3:12-13; Sl_126:5-6).
buscarão ao SENHOR — (Os_3:5).
5. para lá — o ponto do olhar profético de Jeremias é para Sião.
“De rostos voltados para lá”, indica a firmeza de propósito de não
apartar-se a parte alguma diante das dificuldades do caminho.
em aliança eterna — em contraste com a velha aliança “que
tinham quebrantado” (Jr_31:31, etc.; 32:40). Se voltarão primeiro para
Deus, logo para sua terra.
6. (Is_53:6).
para os montes — onde ofereciam sacrifícios aos ídolos (Jr_2:20;
3:6, 23).
esqueceram-se do seu redil — ou, do lugar de descanso das
“ovelhas” (Mt_11:28); prossegue a imagem: Jeová é o lugar de descanso
de Suas ovelhas, porque descansam em Seu “regaço” (Is_40:11). Seu
templo em Sião também é o “descanso” deles, porque é o de Deus
(Sl_132:8, Sl_132:14).
7. as devoraram — (Sl_79:7). A expressão “as acharam” dá a
entender que estavam expostos aos ataques de quaisquer pessoas que os
encontravam.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 275
seus adversários — por exemplo, Nebuzaradã (Jr_40:2, 3;
Zc_11:5). Os gentios admitiam a existência de certa divindade suprema.
O delito dos judeus era tão evidente que até a juízo dos pagãos eram
imperdoáveis. Os invasores pagãos tinham obtido mediante os profetas
(Jr_2:3; Dn_9:16) alguma noticia a respeito da particular relação de
Deus com a Judeia; daí em enérgica linguagem que usam aqui referente
a Deus, não porque fossem adoradores deles, mas por crê-lo o Deus
tutelar de Judá (“a esperança de seus pais”, Sl_22:4; não dizem nossa
esperança), porque cada país cria ter seu deus local, cujo poder não se
estendia para além de suas fronteiras.
morada — (Sl_90:1; Sl_91:1). É uma alusão ao tabernáculo, ou a
um redil, como em Ez_34:14, que envolve a imagem do v. 6, de “um
lugar de descanso” para as “ovelhas”. Mas só pode significar uma
morada (Jr_31:23), confirmando dessa maneira a Versão Inglesa neste
lugar.
esperança de seus pais — Isto condenava especialmente os judeus,
os quais tinham apostatado do Deus cuja fidelidade seus pais tinham
experimentado. “Estes inimigos” usam inconscientemente uma
linguagem que encerra um corretivo para seus próprios países. A aliança
consertada com os “pais” dos judeus não foi totalmente anulado por
causa de seu pecado, como seus adversários imaginavam; pois há ainda
uma habitação ou refúgio para eles no Deus de seus maiores.
8. (Jr_51:6, 45; Is_48:20; Zc_2:6-7; Ap_18:4). Aproveitai sem
tardança a oportunidade de escapar.
sede como os bodes que vão adiante do rebanho — que cada um
busque ser o primeiro em retornar, animando os fracos, como os bodes
que vão adiante do rebanho; tais foram os companheiros de Esdras
(Ed_1:5-6).
9. dali (RC) — isto é, do país do norte.
destro — lit., próspero. Além disso, ser “valente” e “destro” é
necessário para que um arco atinja o alvo. A margem da Versão Inglesa
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 276
contém uma expressão hebraica diferente; que destrói, que deixa sem
filhos (Jr_15:7). A LXX e a Siríaca confirmam a Versão Inglesa.
sem efeito — sem matar a quem atiravam (2Sm_1:22).
11. (Is_47:6).
saltais — e assim saltaram desenfreadamente.
bezerros na relva — gorda e brincalhona. Mas no original
hebraico há falta de concordância em gênero dizendo assim. Como diz
Keri é melhor: “uma bezerra que debulha”; as mais fortes usavam-se
para debulhar; e, como a lei não permitia que lhes fosse atada a boca
enquanto debulhavam (Dt_25:4), seu pulo aumentava com sua fartura.
como cavalos — lit., como “fortes”, expressão poética para corcéis
(Nota, a Jr_8:16) [Maurer].
12. vossa mãe — Babilônia, a metrópole do império.
será a última — O fato de Babilônia, outrora a rainha do mundo,
chegar agora a ser a última das nações, e que no final se convertesse
numa “terra seca”, cessando de ser nação, é uma mudança maravilhosa.
13. (Is_13:20).
14. Chama-se ao exército medo para atacar Babilônia.
pecou contra o SENHOR — ao oprimir a Seu povo, pois a causa
deste é a causa de Deus. E também por ter profanado Seus vasos
sagrados (Dn_5:2).
15. Gritai — Se estimulavam uns aos outros ao ataque com o grito
de combate.
desmaiadas estão suas mãos (Versão Jünemann) — É um
idiotismo, para “se submeteu” [RA: “se rendeu”] aos conquistadores
(1Cr_29:24, margem; Lm_5:6).
fazei-lhe a ela o que ela fez — justa retribuição em espécie. Ela
tinha destruído a muitos, assim também se deve fazer a ela (Sl_137:8).
Assim sucederá com a Babilônia espiritual (Ap_18:6). Isso é justo,
porque é “a vingança do Senhor”; isto, entretanto, não justifica a
vingança particular em gênero (Mt_5:44; Rm_12:19-21); até a própria lei
no Antigo Testamento proibia tal coisa, apesar de que respirava um
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 277
espírito mais severo que a do Novo Testamento (Êx_23:4-5; Pv_25:21-
22).
16. Babilônia tinha mais a extensão de uma nação que de uma
cidade. Por isso mesmo se colhia dentro do muro da cidade suficiente
para resistir um longo sítio (Aristóteles, Politics, 3.2; Pliny, 18.17). Por
regra geral, os conquistadores poupavam a vida aos lavradores, mas no
presente caso foram todos igualmente “exterminados”.
para o seu povo — dos quais tinham sido levados a Babilônia de
todas as partes pelos conquistadores caldeus (Jer_51:9; Is_13:14).
17. leões — quer dizer, reis hostis (Jer_4:7; 49:19).
Assíria — (2Rs_17:6, Salmaneser; Esd_4:2; Esar-Hadom).
Nabucodonosor — (2Rs_24:10, 2Rs_24:14).
18. castigarei o rei da Babilônia — Nabonido ou Labynito.
como castiguei o rei da Assíria — Senaqueribe e outros reis.
[Grocio] (2Rs_19:37).
19. (Is_65:10; Ez_34:13-14).
20. A especificação de “Israel” como de Judá demonstra que a
alusão é ainda para tempos por vir.
a iniquidade … já não haverá — não meramente a idolatria, que
tinha cessado entre os judeus do cativeiro de Babilônia, mas sim
principalmente por ter rejeitado o Messias. Como ocorre com uma conta
cancelada, a “iniquidade” será como se nunca tivesse existido. Deus, por
amor de Cristo, tratá-los-á como inocentes (Jer_31:34). A remissão do
castigo sem a purificação do pecado não redundaria nem em honra de
Deus nem dos supremos interesses dos eleitos.
aos remanescentes que eu deixar — o remanescente dos
escolhidos (Is_1:9). O “resíduo” (Zc_14:2; Zc_13:8-9).
21. Merataim (RC) — nome simbólico de Babilônia, a duplamente
rebelde, ou seja, para com Deus. Veja-se v. 24, “contra o SENHOR te
entremeteste”; e v. 29, “se houve arrogantemente contra o SENHOR”. A
palavra “duplamente” refere-se, primeiro, à opressão da Assíria sobre
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 278
Israel; segundo, a congênere opressão de Judá pelos caldeus (veja-se vv.
17-20, 33; especialmente o v. 18).
Pecode (RC) — (Ez_23:23); uma das principais províncias da
Assíria, em cujo território se levantava a cidade de Nínive, agora em
ruínas. Entretanto, como em Merataim a alusão é referente no sentido de
Pecode, que significa visitação; também o é aos habitantes, cujo tempo
de merecida visitação para castigo chegou; entretanto, não deixa de
aludir-se à atual província babilônica de Pecode. A visitação de
Babilônia seguiu-se à da Assíria.
após eles — inclusive sua posteridade, e até tudo o que de
Babilônia restou, até seu próprio nome se desvaneceu [Grocio].
Devastem a cidade logo que seus habitantes a tenham abandonado.
tudo o que te mandei — por meio de Isaías (Is_13:1, etc.).
23. o martelo — isto é, Babilônia, chamada assim por causa de seu
grande poder destruidor; assim como “Martel”, um pequeno martelo,
apelido de um rei dos francos (Is_14:6).
24. Lancei-te o laço — sabe que trata com Deus, e não meramente
com homens.
não o soubeste — Heródoto refere que a metade da cidade foi
tomada antes que os que residiam na outra metade “se informassem” do
sucedido. Ciro desviou as águas do Eufrates para outro canal para um
depósito feito por seus soldados, e assim entraram na cidade pelo canal
em seco de noite pela porta superior e inferior (Dn_5:30-31).
25. armas da sua indignação — os medos e persas (Is_13:5).
26. de todos os confins – ou de todos os lados [Ludovicus De Dieu].
seus celeiros — “suas casas cheias de bens” [Michaelis]. Quando
Ciro tomou a cidade, as provisões achadas nelas eram suficientes para
muitos anos.
montões — converter em montão de ruínas aquela que foi em outro
tempo magnífica cidade. Agora extensos montículos de escombros
assinalam o lugar da antiga Babilônia. “Pisoteiem como os montões de
grão que se costumava debulhar nas eiras” [Grocio].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 279
27. touros — isto é, príncipes e valentes guerreiros (Jr_46:21;
Sl_22:12; Is_34:7).
desçam eles para o matadouro — Os matadouros estavam nas
proximidades da parte inferior do rio; daí que se diga “desçam”,
aplicável a Babilônia sobre o Eufrates, a avenida pela qual os matadores
entraram na cidade.
28. em Sião … seu templo — Alguns judeus, fugindo de Babilônia
depois que esta foi tomada, contariam na Judeia como Deus tinha
vingado a causa de Sião e de seu templo, que tinham sido profanados
(Jr_52:13; Dn_1:2; Dn_5:2).
29. a multidão dos que manejam o arco — lit., muitos e
poderosos; por isso usa-se a palavra hebraica que designa os arqueiros
(Jó_16:13) por causa do grande número e força de suas flechas.
conforme tudo o que fez — (Notas, v. 15).
se houve arrogantemente contra o SENHOR — não só foi cruel
com os homens (Is_47:10).
30. (Nota, Jr_49:26).
nas suas praças — tão desalentados estavam os babilônios, por ter
perdido algumas batalha, que se retiraram ao interior de suas muralhas e
não quiseram sair de novo ao encontro de Ciro em campo aberto.
31. ó orgulhosa — lit., orgulho, quer dizer, homem orgulhoso;
alusão ao rei de Babilônia,
te hei de visitar (RC) — te castigarei (v. 27).
33. Os filhos de Israel e os filhos de Judá sofrem opressão
juntamente — Antecipa uma objeção a fim de responder a ela: Vós
fostes “oprimidos”, que dúvida cabe!, mas lembrai que vosso “Redentor
é forte”, e que por isso vos pode livrar.
34. forte — em oposição ao poder do opressor de Israel (Ap_18:8).
pleiteará a causa deles — como advogado dele. Esta figura,
tomada de um tribunal de justiça, expressa que Deus livra a Seu povo
não só em virtude de Seu poder, mas também de Sua justiça. Seu
argumento contra Satanás e todos os seus inimigos é Seu eterno amor,
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 280
que reconcilia a misericórdia e a justiça, mediante a pessoa e obra do
Redentor (Mq_7:9; Zc_3:1-5; 1Jo_2:1).
aquietar a terra e inquietar — Há aqui um jogo baseado na
semelhança de sons dos dois verbos hebraicos para expressar o contraste
mais vividamente: “para que dê tranquilidade à terra de Judá
(intranqüilizada até o presente por Babilônia); e intranqüilizar os
habitantes de Babilônia (aqueles que se sentem tranquilos e seguros até o
presente)” (Is_14:6-8).
35-37. A repetição de “A espada” no princípio de cada versículo,
mediante a figura chamada anáfora, realça o efeito; o reiterado juízo
alcançará a todos sem distinção; todos os relacionados com a culpada
Babilônia serão passados à espada;
sábios — (Is_47:13). Babilônia se orgulhava de ser o centro
peculiar da sabedoria e dos sábios, especialmente com referência à
astronomia e à astrologia.
36. adivinhos (BJ) — aqueles aos quais anteriormente qualificou de
“sábios” os chama aqui de “mentirosos” (impostores), ou seja, aos
astrólogos (veja-se Is_44:25; Rm_1:21-25; 1Co_1:20).
37. como mulheres — privados de toda virilidade (Na_3:13).
38. A espada — Modificando a pontuação, este versículo deve
começar como os três anteriores com “A espada”. Entretanto, segundo a
pontuação dos MSS., começa com “Aridez”, como na Bíblia de
Jerusalém. Ciro desviou as águas do Eufrates por um novo canal, com o
qual foi possível aos invasores penetrar na cidade pelo leito seco do rio
(Jr_51:32). Babilônia era famosa em outro tempo por seu grão, o qual
produzia frequentemente desde um a duzentos [Heródoto]. Isto se devia
a sua rede de canais de irrigação, que partiam do Eufrates, dos quais
ainda se podem ver vestígios por toda parte, mas secos e estéreis
(Is_44:27).
coisas horríveis — lit., terrores. Seguem como enfeitiçados após
os ídolos, feitos para aterrar, em lugar de para atrair (Jr_5:44, 47, 52;
Dn_3:1). Eram meros espantalhos para assustar os meninos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 281
39. feras do deserto — gatos monteses, notáveis por seu miado
[Bochart].
chacais — (Nota, Is_13:21).
avestruzes — avestruzes fêmeas, as quais se deleitam em viver em
lugares solitários. Lit., filhas do lamento. Veja-se no que corresponde à
Babilônia espiritual (Ap_18:2).
nem habitada de geração em geração — a acumulação de frases é
para expressar a final e completa extinção de Babilônia, que se cumpriu,
não imediatamente, mas por graus: Ciro lhe tirou a supremacia; Dario
Histaspes a privou de suas fortificações quando se rebelou. Seleuco
Nicanor trasladou seus cidadãos e suas riquezas a Selêucia, que ele tinha
fundado em sua vizinhança, e os partos trasladaram o que ficou ao
Ctesiphon. Nada foi deixado exceto suas muralhas, sob o reinado de
Adriano, imperador romano.
40. (Is_13:19). Repetição de Is_49:18.
41-43. (Cf. Jr_6:22-24). A mesma linguagem usada para descrever
os males que Babilônia causou a Sião, emprega-se aqui para descrever os
males que os medos causariam a ela. É a retribuição na mesma moeda.
reis — os aliados e sátrapas das províncias do império medo-persa,
como: Armênia, Hircânia, Lídia, etc.
confins da terra — as partes remotas.
42. cruéis — Tal era o caráter dos persas e até o de Ciro, apesar de
seus desejos de que o considerassem magnânimo (Is_13:18).
em ordem de batalha — Tão ordenada e unida é a ordem de
batalha, que todo o exército se move como um só homem [Grocio].
43. desfaleceram as suas mãos — não tentaram nenhuma
resistência; foram vencidos imediatamente, segundo nos conta Heródoto.
44-46. Repetição principalmente de Jr_49:19-21. A semelhança da
norma de Deus em seu trato com Edom e Babilônia está entendida na
semelhança de linguagem usada referente a ambos.
46. o grito se ouviu entre as nações — No que corresponde a
Edom, reza: “O som de seu grito foi ouvido no Mar Vermelho”. A
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 282
mudança indica que o estrépito da queda de Babilônia se ouvirá numa
extensão muito maior.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 283
Jeremias 51

Vv. 1-64. Continuação da Profecia Contra Babilônia Iniciada no


Cap. 50.
1. os que habitam ... que se levantam contra mim (RC) — lit., no
coração deles, etc. Veja-se Sl_46:2, “no meio da mar”. Margem, “o
coração dos mares”; Ez_27:4; Mt_12:40. No centro dos caldeus. “Contra
mim”, porque perseguem a Meu povo. O modo cabalístico de interpretar
as palavras hebraicas (mediante o tomar as letras na ordem inversa à do
alfabeto, de modo que a última letra represente a primeira, e assim
sucessivamente, Jr_25:26) daria aqui a mesma palavra caldeus; mas o
método místico não se pode aplicar neste caso, porque a Babilônia é
evidentemente assim chamada na cláusula paralela imediata anterior.
vento — Deus não necessita armas de guerra para “destruir” a Seus
inimigos; um vento ou rajada é suficiente; embora seja indubitável que o
“vento” aqui são as hostes invasoras dos medos e persas (Jr_4:11;
2Rs_19:7).
2. padejadores — (Nota, Jr_15:7). Os padejadores separavam o
trigo da palha; assim os juízos de Deus aventarão a culpada Babilônia
como a palha (Sl_1:4).
3. O flecheiro — Melhor a Versão Inglesa: contra aquele que
arma, ou seja, o arco, isto é, o flecheiro babilônio.
O flecheiro arme o seu arco — isto é, o flecheiro persa …
(Jr_50:4). A Versão Caldeia e Jerônimo mediante uma mudança dos
pontos vocais, dizem: “Que o babilônio que entesava seu arco não o
entese”. Mas o final do versículo está dirigido aos invasores medos;
portanto, é mais provável que a primeira parte do versículo se dirija a
eles, como na Versão Inglesa, e não aos babilônios, para os dissuadir de
resistir, visto que seria em vão, como na Versão Caldeia. A palavra
entesar se repete três vezes: “Contra aquele que entesa, entese o arco
aquele que entesa”, para expressar a extrema tensão do arco.
4. (Notas, Jr_49:26; Jr_50:30, 37).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 284
5. enviuvaram — Israel não foi separado de seu marido, Jeová
(Is_54:5-7), por um divórcio perpétuo.
mas … cheia de culpas — embora a terra de Israel esteja repleta de
pecado, quer dizer, do castigo por seu pecado, ou seja, de sua
devastação. Mas como o vocábulo hebraico significa para ou em
consequência, e não embora; deve-se pois traduzir “e em consequência
sua terra (a dos caldeus) está repleta (das consequências penais de) seu
pecado” [Grocio].
6. Advertência dirigida aos cativos israelitas para que fujam de
Babilônia, a fim de que não sejam alcançados pelo castigo de sua
“iniquidade”. Isto também é aplicável à Babilônia espiritual e a seus
cativos (Ap_18:4).
7. Babilônia se compara com um copo, por ter sido o copo na mão
de Deus para embriagar com o vinho de Sua vingança a outros povos
(Jr_13:12; 25:15, 16). No que corresponde à Babilônia espiritual, veja-se
Ap_14:8; Ap_17:4. O copo diz-se que é de “ouro” para expressar o
esplendor e a opulência de Babilônia; por isso também a cabeça da
imagem que viu Nabucodonosor (Dn_2:38), que representa a Babilônia,
era de ouro (veja-se Is_14:4).
8, 9. Os amigos e confederados dela, os que contemplam sua queda,
são convidados a lhe prestar ajuda; ao que eles replicam que seu caso é
incurável, e que devem deixá-la entregue à sua sorte.
8. Is_21:9; Ap_14:8; Ap_18:2, Ap_18:9).
bálsamo — (Jr_8:22; 46:11).
9. Queríamos curar — Tentamos curá-la.
seu juízo — seus crimes provocaram “os juízos” de Deus [Grocio].
chega até ao céu — (Gn_18:21; Jn_1:2; Ap_18:5). Até as nações
pagãs percebem que sua queda horrível deve ser um juízo de Deus por
seus clamorosos pecados (Sl_9:16; Sl_64:9).
10. Depois de falarem os confederados de Babilônia, falam os
judeus, que celebram com ação de graças a manutenção da prometida
fidelidade do seu Deus da aliança.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 285
trouxe ... à luz — (Sl_37:6).
nossa justiça — não os méritos dos judeus, e sim a fidelidade de
Deus para Consigo mesmo e para com Sua aliança, que constituía a
“justiça” de Seu povo, isto é, a justificação deles em sua controvérsia
com Babilônia, a cruel inimiga de Deus e de Seu povo. Veja-se Jr_23:6,
“Jeová nossa justiça”; Mq_7:9; a justiça deles é a justiça dEle.
anunciemos em Sião — (Sl_102:13-21).
11. Aguçai as flechas — lit., purifiquem-nas. Deem polimento
nelas e as agucem.
Preparai os escudos — lit., encham. Quer dizer, reúnam em sua
totalidade, de maneira que não falte nenhum. Gesênius não traduz tão
bem: “Encham os escudos com seus corpos” (veja-se Ct_4:4). O sentido
é que se diga aos babilônios: Façam todos os preparativos que quiseram,
pois tudo será em vão (veja-se Jr_46:3-6).
reis dos medos — Ele menciona os medos em vez dos persas,
porque Dario ou Ciáxares era superior a Ciro em poder e na grandeza de
seu reino.
vingança do seu templo — (Jr_50:28).
12. Apesar de todos os vossos esforços, vossa cidade será tomada.
estandarte — para reunir os defensores em qualquer ponto
ameaçado pelos sitiadores.
13. muitas águas — (Vv. 32, 36; Nota, Is_21:1). O Eufrates
circundava a cidade, e como estava dividido em muitos canais, formava
ilhas. Referente à Babilônia espiritual, veja-se Ap_17:1, Ap_17:15,
“águas”, isto é, “muitos povos”. Também havia um grande lago perto de
Babilônia.
a medida — lit., côvado, que era a medida mais comum, daí que se
lhe designe por uma medida em geral. O tempo para fixar um limite a
seu cobiça [Gesênius]. Maurer supõe que a figura está tomada da
tecelagem; “o côvado onde você está vai ser cortado”; pois o tecido se
corta logo que o requerido número de côvados se completou (Is_38:12).
14. por si mesmo — lit., por sua alma (2Sm_15:21; Hb_6:13).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 286
Encher-te-ei … como de gafanhotos — (Na_3:15). sendo tão
numerosos os habitantes de Babilônia, os invasores o serão mais.
15-19. Repetição de Jr_10:12-16; exceto que “Israel” não está no
original hebraico do v. 19, o qual deveria, portanto, traduzir-se: “ele é o
formador de todas as coisas, e, por isso, da vara de sua herança” (isto é,
da Sua própria nação peculiar). No cap. 10 o contraste é entre os ídolos e
Deus; aqui é entre o poder da populosa Babilônia e o de Deus: “Ó tu que
habitas sobre muitas águas” (v. 13); mas Deus pode, com apenas
“proferir sua voz”, criar “muitas águas” (v. 16.) A “terra” (em seu
aspecto material) é o resultado de Seu “poder”; o “mundo” (visto em seu
ordenado sistema) é o resultado de Sua “sabedoria”, etc. (v. 15). Tal Ser
todo-poderoso pode, sem míngua alguma de Seus recursos, efetuar Seu
propósito contra Babilônia.
20. (Nota, Jr_50:23). “Despedacei” refere-se ali ao “martelo” (veja-
se Na_2:1, margem da Versão Inglesa). A clava também se usava
frequentemente pelos antigos guerreiros.
22. o velho e o moço — (2Cr_36:17).
24. O detalhe dos pormenores (vv. 20-23) tem por objetivo referir
as matanças em massa perpetradas por Babilônia em Sião, as quais,
como justa retribuição, todas devem sobrevir a ela, (Jr_50:15, 29).
ante os vossos próprios olhos — são palavras dirigidas aos judeus
25. monte destruidor (RC) — chamado assim, não por sua
posição, pois estava numa planície (v. 13; Gn_11:2, Gn_11:9), mas por
sua eminência sobre outras nações, muitas das quais tinha “destruído”;
também é chamada assim por seus altos palácios, suas torres e jardins
pendentes, que descansavam sobre arcos, e suas muralhas de cinquenta
côvados reais de largura e duzentos de altura.
te revolverei das rochas — isto é, das fortificações e muros,
semelhantes a rochas.
monte em chamas — (Ap_8:8), à semelhança de um vulcão, que
depois de ter-se consumido vomitando sua “destruidora” lava, sobre os
campos do contorno, cai no vazio e se extingue, não ficando mais que as
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 287
rochas que o circundam, para assinalar o lugar da cratera. Tal foi a
aparência de Babilônia depois de sua destruição; e assim como as
pedras-pomes de um vulcão que ficaram em seu lugar, são impróprias
para a construção, assim Babilônia nunca ressurgiria de suas ruínas.
26. pedras ... para o ângulo … fundamentos — A pedra angular
era a mais importante de um edifício, seguindo em importância as
fundamentais (Ef_2:20). De maneira que o sentido é: assim como não
haverá pedra alguma tua deixada que sirva para edificar, assim tampouco
surgirá dentre teus habitantes nenhum príncipe ou governante.
27. (Jr_50:29). Como no v. 12 diz aos babilônios que “levantem a
bandeira”, assim aqui diz a seus inimigos que façam o mesmo: estes,
para bons fins; aqueles, em vão.
Ararate — a Armênia Maior ou Alta, as regiões em contorno do
monte Ararate.
Mini — A Armênia Inferior ou Baixa. Rawlinson diz que Vão era a
capital do Mini. Esta foi tomada pela Tettarrassa, general de Tetembar II,
rei assírio cujas guerras estão consignadas no Obelisco Negro,
atualmente no Museu Britânico.
Asquenaz — descendente de Jafé (Gn_10:3), o qual deu seu nome
ao mar que agora se chama Mar Negro; a região que o bordeja é
provável que seja a aludida aqui, ou seja, a Ásia Menor, inclusive os
lugares denominados Ascania, na Frígia e Bitínia. Ciro tinha subjugado a
Ásia Menor e as regiões vizinhas, e delas recrutou soldados para
proceder contra Babilônia.
gafanhotos eriçados — a multidão de soldados de cavalaria,
eriçados de armas e cristas, eram semelhantes a “gafanhotos eriçados”
(Na_3:15).
28. reis dos medos — (v. 11). Os sátrapas e reis tributários de
Dario ou Ciáxares.
do seu domínio — O domínio do rei da Média.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 288
29. Estremece … porque cada um dos desígnios do SENHOR
está firme — elegante antítese entre o tremor da terra e a estabilidade
“do pensamento” do Senhor (veja-se Sl_46:1-3).
30. cessaram de peleja — porque a cidade não foi tomada pela
força das armas, mas sim mediante um estratagema, de acordo com o
conselho que deram a Ciro dois eunucos desertores de Belsazar.
permanecem nas fortalezas — não atrevendo-se a sair a pelejar.
Muitos, com Nabonido, se retiraram a Borsipa, cidade fortificada.
31. (Nota, Jr_50:24).
Sai um correio ao encontro de outro correio — correio após
correio anunciará a captura da cidade. Os correios despachados das
muralhas por onde Ciro entra, se encontrarão com os enviados pelo rei.
Seu confuso andar daqui para lá seria o resultado do repentino pânico
causado pela entrada de Ciro na cidade, a qual tinha sitiado por tanto
tempo inutilmente; os babilônios se riram de seus intentos; e enquanto
isso, celebraram festins, sem nenhum temor.
de todos os lados — o que não se fez saber ao rei e a seus
cortesãos, por longo tempo, os quais se banqueteavam no centro da
cidade. Era tão grande essa cidade, que três dias depois de ter caído em
poder do inimigo, ignorava-se o fato em alguns bairros da mesma
[Aristóteles, Politics, 3, 2].
32. os vaus estão ocupados — os guardado vaus do Eufrates
estavam ocupados pelo inimigo (Nota, Jr_50:38).
as defesas, queimadas — lit., os brejos. Ciro depois de dragar o
rio, “queimou” a paliçada das densas árvores, semelhantes a canas de
suas margens que formavam a obra avançada das fortificações da cidade.
A queima destas daria a aparência de que os pântanos ou o próprio rio
estavam “ardendo”.
33. como a eira quando é aplanada e pisada; ainda um pouco, e
o tempo da ceifa lhe virá — antes, “semelhante a uma eira de debulha
no tempo da debulha”. Ou “ao tempo em que esta é pisada”. O pisar e o
debulhar ficam aqui antes da colheita, contra a ordem natural, devido ao
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 289
fato de que o pensamento predominante é a pisadela ou destruição de
Babilônia. No Oriente a debulha do grão se efetuava unicamente no
tempo da colheita. Babilônia é semelhante a uma era que não tinha sido
pisada por muito tempo; mas o tempo da colheita quando seus cidadãos
serão pisoteados sob os pés, virá [Calvino]. “À semelhança de uma eira
cheia de grão, Babilônia estava cheia de riqueza, mas o tempo da
colheita virá quando toda sua prosperidade será suprimida” [Ludovicus
De Dieu]. Grocio distingue a “colheita” da “debulha”; aquela é a
matança dos cidadãos; esta, a pilhagem e destruição da cidade (veja-se
Jl_3:13; Ap_14:15, Ap_14:18).
34. nos devorou — Fala Sião. Seus gemidos são a causa de que
Babilônia receba na mesma moeda sua retribuição (Jr_50:17; Sl_102:13,
Sl_102:17, Sl_102:20).
vaso vazio (RC) — me esgotou.
como dragão (RC) — a serpente costuma tragar inteira sua presa.
Ou o monstro marinho [Grocio].
encheu o seu ventre … lançou-me fora — como uma besta que,
havendo-se saciado até não poder mais, expulsa o resto [Calvino].
Depois de encher seus depósitos de meus bens, expulsou-me desta terra
[Grocio].
35. minha carne — a qual tinha “devorado” Nabucodonosor (v.
34). Assim chama Sião a seus filhos (Rm_11:14), mortos por todo o país
ou levados cativos a Babilônia [Grocio]. Ou, como segue a expressão
“meu sangue”, esta e “minha carne” constituem o homem todo, ou seja,
Sião em sua totalidade: seus cidadãos e toda sua riqueza foram presa da
violência de Babilônia (Sl_137:8).
36. pleitearei a tua causa — (Jr_50:34).
seu mar — o Eufrates (v. 13; Jr_50:38). Veja-se Is_19:5, “mar”,
quer dizer, o Nilo (Is_21:1).
37. (Jr_50:26, 39; Ap_18:2).
38, 39. A tomada de Babilônia se efetuou na noite de uma festa em
honra de seus ídolos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 290
rujam … rosnem — os babilônios gritavam, bêbados, em sua
reunião de amigos (veja-se Dn_5:4).
39. Estando eles esquentados, preparar-lhes-ei um banquete
(TB) — No meio do ardor do vinho lhes darei suas “poções”, uma taça
que embriague, mas será a que merecem: a taça de vinho de Minha
estupefaciente ira (Jr_25:15; 49:12; Is_51:17; Lm_4:21).
para que se regozijem e durmam sono eterno — para que se
alegrem, e em meio de seu jubiloso regozijo durmam o sono da morte (v.
57; Is_21:4-5).
41. Sesaque (ACF) — Babilônia (veja-se Nota, Jr_25:26).
Chamada assim por causa da deusa Sac, em honra da qual se celebrava
uma festa de cinco dias, durante os quais, como nas saturnais romanas,
permitia-se a mais desenfreada licença; os escravos governavam a seus
amos, e em cada casa um chamado Zogan, vestido de roupa real, era
escolhido para governar a outros. O profeta chama babilônia “Sesaque”
para denotar que foi tomada durante essa festa. [Scaliger].
42. O mar — A hoste dos invasores medos. A imagem (veja-se
Jr_47:2; Is_8:7-8) está tomada muito apropriadamente do Eufrates, o
qual, transbordando na primavera, é semelhante a um mar perto de
Babilônia (vv. 13, 32, 36).
43. suas cidades — As cidades dependentes dela. Por exemplo,
“Jerusalém e suas cidades” (Jr_34:1). Ou pode ser que as “cidades”
sejam a mais interior e a mais exterior, as duas partes em que estava
dividida pelo Eufrates [Grocio].
44. Bel … o que havia tragado — alusão aos muitos sacrifícios
oferecidos ao ídolo, que os sacerdotes pretendiam que os tragasse de
noite; ou, antes, as preciosas ofertas tiradas de outras nações, as quais lhe
eram oferecidas (ao que se dizia que as “tragava”; veja-se “devorado”,
“tragado”, v. 34; Jr_50:17), as quais teria vomitado (veja-se v. 13;
Jr_50:37). Entre essas ofertas figuravam os vasos do templo de Jeová em
Jerusalém (2Cr_36:7; Dn_1:2). A restituição de tais vasos, segundo se
prediz aqui, está consignada em Ed_1:7-11.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 291
nunca mais concorrerão — como rio; descrição apropriada da
concorrência dos peregrinos de todas as “nações” ao santuário do ídolo
45, 46. (Nota, v. 6).
46. Não desfaleça o vosso coração — Veja-se quanto à mesma
elipse, Gn_3:22; Êx_13:17; Dt_8:12. “E para que não desmaie vosso
coração ao (primeiro) rumor” (de guerra), eu vos darei alguma indicação
do tempo. No primeiro “ano” virá algo “como um rumor” de que Ciro
prepara a guerra contra Babilônia. “Depois disso, em outro ano virá um
rumor”, ou seja, que Ciro se aproxima, que já entrou na Assíria. Então
será o tempo de que “Saí do meio dela” (v. 45). Babilônia foi tomada no
segundo ou terceiro ano do reinado de Belsazar [Grocio].
violência na terra — de Babilônia (Sl_7:16);
dominador contra dominador — ou “governante sobre
governante”, uma mudança contínua de governantes num curto espaço
de tempo. Belsazar e Nabonido, suplantados por Dario ou Ciáxares, o
qual sucede a Ciro.
47. Grocio traduz: “Porque então (isto é, no terceiro ano) o tempo
terá vindo, etc.”
será envergonhada — ao ver que seus deuses são incapazes de
ajudá-los.
os seus cairão traspassados — em retribuição pelos mortos de
Israel (v. 49) às mãos dela. Grocio traduz “seus bailarinos”, como em
Jz_21:21, Jz_21:23; 1Sm_18:6, a mesma palavra hebraica se traduz
aludindo à dançante orgia do festim durante o qual Ciro tomou a
Babilônia.
48. os céus, e a terra … jubilarão sobre Babilônia — (Is_14:7-
13; Is_44:23; Ap_18:20).
49. foi causa que caíssem — lit., foi para a queda, isto é, assim
como o único desígnio de Babilônia foi o de encher todos os lugares dos
mortos por ela em Israel, assim em Babilônia cairão os mortos de toda
aquela terra (não “de toda a terra”, como diz a Versão Inglesa [Maurer].
Henderson traduz: “Babilônia também cairá, ó vós os mortos de Israel.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 292
Os de Babilônia cairão, ó vós os mortos de toda a terra”. Mas “no meio
dela” responde evidentemente “a Babilônia”, v. 49.
50. escapastes da espada — dos medos. Será tão grande a matança
que até alguns do povo de Deus serão alcançados por ela, pois a terão
merecido.
de longe — embora estejam desterrados longe da terra onde
costumam a adorar a Deus.
suba Jerusalém à vossa mente — enquanto vos achais no desterro,
lembrai-vos de seu templo e cidade até o ponto de preferi-los a todo o
resto do mundo em que vos podeis achar (Is_62:6).
51. O profeta se antecipa a responder à confissão dos judeus: Eu sei
que vós, em vosso desespero, direis: “Achamo-nos confundidos, etc.”
“Por isso (Deus lhes disse) eis aqui … que Eu, etc.,” v. 52 [Calvino]. Eu
prefiro tomar o v. 51 como a oração que os judeus se propõem elevar no
desterro (v. 50), “lembrai-vos de Jerusalém” (e dizei a Deus em oração):
“Estamos envergonhados”. Esta interpretação é confirmada pelas
passagens: Sl_44:15-16; Sl_79:4; Sl_102:17-20; Is_62:6-7.
porque … estrangeiros — A “recriminação” que de modo especial
nos doeu foi quando nos disseram com escárnio que eles tinham
queimado o templo, nossa maior glória, como se nossa religião fosse
coisa de nada.
52. Portanto — Por causa destes suspiros dos judeus dirigidos a
Deus (v. 21).
visitarei as suas imagens de escultura (RC) — em oposição ao
desprezo de Babilônia de que a religião dos judeus era coisa de nada,
desde que eles tinham queimado o templo (v. 51); mostrar-lhes-ei que
embora visitei dessa forma o desdém dos judeus para comigo, contudo
os deuses de Babilônia não poderão salvar-se a si mesmos, e muito
menos a seus devotos, os quais jazerão tendidos por toda sua terra,
feridos e “proferindo gemidos”.
53. Veja-se Ob_1:4. referente a Edom (Am_9:2).
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 293
Ainda que a Babilônia subisse … de mim — Não temos que
medir o poder de Deus pelo que pareça provável a nossas percepções.
55. a sua grande voz — ali onde em outro tempo se ouvia o ruído
de uma grande cidade, reinará o silêncio da morte [Vatablo]. Ou a
“grande voz” dos licenciosos (vv. 38, 39; Is_22:2). Ou a voz de poderosa
jactância [Calvino], (veja-se v. 53).
as ondas do inimigo — “quando” suas calamidades a obrigarem a
gritar com prolongada e distinta “voz” tal como a que causa o embate
das ondas ao se arrojar contra a costa (v. 42). [Grocio]. Ou, se se
conectar “quando” assim: “a grande voz dentro dela quando suas ondas”,
etc. (veja-se v. 13). Calvino traduz, “suas ondas”, isto é, os medos se
jogam sobre ela quais impetuosas ondas; assim o v. 42. Mas o paralelo
“uma grande voz”, pertence também a ela; por conseguinte, a “onda”,
como “o rugido da voz deles” deve pertencer também a ela (veja-se v.
54). A “grande voz” do confuso vozerio comercial, que se gaba e se
diverte, é sufocada; mas em seu lugar está a onda semelhante ao rugido
da voz dela em sua “destruição” (v. 54).
56. estão presos — quando menos o esperavam e numa forma tal
que a resistência era impossível.
57. (v. 39; Dn_5:1, etc).
58. Os largos muros — Estes tinham 25 metros de largura
[Rosenmuller]; ou cinquenta côvados [Grocio]. Um carro puxado por
quatro cavalos na frente podia passar junto a outro sem roçar-se. Os
muros tinham duzentos côvados de altura, e quatrocentos e oitenta e
cinco estádios de extensão, quer dizer, cem quilômetros.
portas — o número destas era cem, todas de bronze; vinte e cinco
em cada um dos quatro lados, pois a cidade era quadrada. Entre porta e
porta havia duzentas e cinquenta torres. Berosus diz que a cidade
exterior estava cercada por tríplice muro, e o mesmo a interior. Ciro
ordenou que os muros exteriores se demolissem. Se se estimar sua
extensão em trezentos e sessenta e cinco estádios, conforme afirma
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 294
Diodoro, duzentos mil homens completavam a demolição de um estádio
cada dia, de sorte que tudo ficou derrubado no espaço de um ano.
em vão … o fogo — O acontecimento demonstrará que os
construtores “trabalharam” tão somente para o “fogo” em que serão
consumidos. “No fogo” responde ao paralelo “queimadas a fogo”.
Traduza-se: “Terão trabalhado em vão”, etc. Veja-se Jó_3:14, “edificar
para si os lugares desolados”, isto é, grandes lugares que logo se
converterão em desoladas ruínas. Jeremias tem aqui em vista a Hc_2:13.
59-64. Uma cópia especial desta profecia, preparada por Jeremias,
foi entregue a Seraías, para consolar os judeus em seu desterro
babilônico. Embora devia arrojá-la no Eufrates, como símbolo da sorte
que esperava a Babilônia, é indubitável que ele reteve a substância na
memória, de sorte que foi possível comunicá-la verbalmente a seus
conterrâneos.
indo este com Zedequias — antes, “da parte de Zedequias”,
enviado por Zedequias para aplacar a ira de Nabucodonosor em sua
rebelião [Calvino].
ano quarto — de sorte que a predição de Jeremias sobre a queda de
Babilônia foi assim solenemente escrita e selada como um ato simbólico,
seis anos completos antes da tomada de Jerusalém pelos caldeus.
um príncipe pacífico (RC) — Veja-se 1Cr_22:9, “varão de
repouso”. Seraías não era dos cortesãos hostis ao profeta de Deus, mas
sim “pacífico” e dócil; disposto a executar a comissão de Jeremias, não
obstante o risco a se expor. Glassio traduz: “príncipes de Menucah”
(veja-se 1Cr_2:52, margem da Versão Inglesa). Maurer o verte assim:
“Comandante da caravana”, a quem incumbia o assinalar o lugar onde
deviam passar a noite. A Versão Inglesa concorda melhor com o
contexto.
61. vê que leias — não em público, pois os caldeus não haveriam
entendido o hebraico, mas em particular, como se infere do fato de que
se dirige inteiramente a Deus (v. 62). [Calvino].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 295
Ó SENHOR — Como o autor desta profecia não é só Jeremias ou
algum outro homem, eu aqui em Tua presença, admito como certo tudo o
que leio.
63. atá-lo-ás a uma pedra — (Ap_18:21). Assim os focenses, ao
deixar seu país, quando partiram para fundar Marselha, arrojaram
chumbo ao mar, obrigando-se a si mesmos a não retornar enquanto o
chumbo não flutuasse.
64. os seus moradores sucumbirão — os babilônios se
consumirão até o ponto de não poder recuperar suas forças.
Até aqui … Jeremias — Daqui se deve inferir que o último
capítulo não está incluído nos escritos de Jeremias, mas sim foi
acrescentado por algum homem inspirado; isto se infere principalmente
da passagem de 2Rs_24:18 ao cap. 25, que explica e confirma o que
precede [Calvino].
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 296
Jeremias 52

Vv. 1-34. Escrito Não Por Jeremias, Mas por Algum Outro
(Provavelmente Esdras) Como Suplemento às Anteriores Profecias.
(Nota, Jr_51:64).
Havendo Jeremias consignado (caps. 39 e 40) a história em seu
próprio lugar, não era de esperar-se que se repetisse aqui. Sua autoridade
canônica como inspirado vê-se no que está na LXX. Contém a tomada e
incêndio de Jerusalém, etc., o castigo de Zedequias e o melhor
tratamento de Joaquim sob Evil-Merodaque até sua morte. Estes últimos
acontecimentos foram provavelmente posteriores ao tempo de Jeremias.
3. causa da ira do SENHOR … Zedequias rebelou-se — Sua
“ira” contra Jerusalém, a qual O determinou a expulsar o Seu povo “de
sua presença”, manifestada anteriormente, induziu-O a permitir que
Zedequias se rebelasse (2Rs_23:26-27; veja-se Êx_9:12; Êx_10:1;
Rm_9:18). Essa rebelião, em aberta violação de ter jurado “por Deus”
traria com segurança a vingança de Deus (2Cr_36:13; Ez_17:15-16,
Ez_17:18).
4. tranqueiras — antes, torres de madeira [Kimchi], para observar
os movimentos dos sitiados do alto delas e incomodá-los com armas de
lançamento.
7. (Nota, Jr_39:4).
9. e este lhe pronunciou a sentença — como culpado de rebelião e
perjúrio (v. 3; veja-se Ez_23:24).
11. Ez_12:13 : “E o levarei para Babilônia … contudo não a verá”.
no cárcere — lit., a casa da visitação, ou castigo, isto é, onde havia
um trabalho penal que os prisioneiros eram obrigados a fazê-lo, como o
de moer. Daí que a LXX traduza “a casa do moinho”. Assim ocorreu
com Sansão, depois que lhe vazaram os olhos, “girava moinho” no
cárcere dos filisteus (Jz_16:21).
12. No décimo dia — mas em 2Rs_25:8, diz-se “no sétimo dia”.
Nebuzaradã partiu de Ribla no dia “sete” e atracou a Jerusalém no
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 297
“décimo”. Discrepâncias aparentes, uma vez esclarecidas, confirmam a
autenticidade das Escrituras, pois mostram que não houve conluio algum
entre os escritores, pois em todas as obras de Deus há uma latente
harmonia dentro de certas variedades exteriores.
13. todas as casas … também … todos os edifícios importantes
— O “também” determina de que edifício se trata, ou seja, as casas dos
grandes.
15. pobres do povo — isto está acrescentado ao relato em
2Rs_25:11. “Os pobres do povo” são os da cidade, para distingui-los
“dos pobres da terra”, isto é, os do campo.
17. cortaram em pedaços — para poder transportá-las mais
facilmente. É o cumprimento da profecia de Jr_21:19. Veja-se 1Rs_7:15,
1Rs_7:23, 1Rs_7:27, 1Rs_7:50. Nada há tão minuciosamente referido
aqui como a condução dos equipamento do templo. A lembrança da
beleza e preciosidade de tais coisas aumenta a amargura de sua perda e a
maldade do pecado que a causou.
bronze … bronze — antes, cobre … de cobre.
18. (Êx_27:3).
19. tudo quanto fosse de ouro ou de prata — o que indica que os
artigos eram de ouro e prata maciços respectivamente, não de diferente
metal interiormente, ou batidos as asas [Grocio]. Tudo inteiro, não
quebrados, como se fez com o bronze (v. 17).
20. bois … no lugar das bases — os bois não estavam “debaixo
das bases”, mas sim do mar (1Rs_7:25, 1Rs_7:27, 1Rs_7:38); as dez
bases não estavam debaixo do mar, mas sim debaixo das dez fontes. Na
Versão Inglesa, “bases” devem portanto significar as partes inferiores
do mar, sob o qual estavam os bois. Traduza-se,: “Os bois estavam no
lugar de (isto é, por via de; assim o hebraico, 1Sm_14:9), as bases” ou
sustentos do mar [Buxtorf]. Assim a LXX. 2Rs_25:16 omite “bois”, e
tem “e as bases”; Grocio diz “os bois (os que estavam) debaixo (do mar)
e as bases”.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 298
21. dezoito côvados — mas em 2Cr_3:15, diz “trinta e cinco
côvados”. A discrepância se elimina assim: Cada coluna tinha dezoito
côvados comuns. As duas juntas, deduzida a base, tinham trinta e cinco,
tal como se afirma em 2Cr_3:15 [Grocio]. As outras formas propostas
para a solução desta discrepância consistem, por exemplo, em referir o
assunto à diferença entre o côvado comum e o sagrado. Embora não
possamos decidir positivamente agora qual seja o verdadeiro caminho
que se deve seguir, pelo menos os propostos mostram que as
discrepâncias não são irreconciliáveis.
22. cinco côvados — Assim 1Rs_7:16. Mas 2Rs_25:17 tem “três
côvados”. O capitel consta de duas partes: a interior e plana, de dois
côvados; a outra, mais elevada e curiosamente esculpida, de três
côvados. O primeiro se omite em 2Rs_25:17, como pertencente à haste
da coluna; o último se menciona só ali. Aqui se refere a todo o capitel de
cinco côvados.
23. aos lados — lit., (pelo lado) rumo ao ir ou vento, quer dizer, o
lado exterior dos capitéis das colunas, o qual resultava visível aos olhos,
oposto ao das quatro restantes granadas, as quais não se viam de fora. As
granadas aqui são noventa e seis; mas em 1Rs_7:20, são 200 em cada
capitel e 400 nos dois (2Cr_4:13). Parece que havia duas fileiras delas,
uma acima da outra, e em cada fileira havia 100. Aqui se diz que havia
noventa e seis, mas pouco depois, 100; e o mesmo em 1Rs_7:20. Quatro
parece que eram invisíveis para quem olhasse desde certo ponto; e
noventa e seis eram as únicas que se podiam ver [Vatablo]; ou: as quatro
omitidas aqui são as que separam os quatro lados, uma granada em cada
ponto de separação (ou seja nos quatro ângulos) entre os quatro lados
[Grocio].
24. Seraías — diferente do Seraías de Jr_51:59, filho de Nerias. É
provável que fosse filho de Azarias (1Cr_6:14).
Sofonias — filho de Maaseias (Nota de Jr_21:1; Jr_29:25).
25. sete homens — mas em 2Rs_25:19 são “cinco”. É provável que
dois deles fossem menos ilustres, e assim foram omitidos.
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 299
ao escrivão-mor do exército — (Is_33:18). Sua função era a de
presidir o recrutamento e inscrever os recrutas. Rawlinson observa que
os anais assírios não contêm as exageradas expressões que há nos
egípcios. Foi feita uma conta detalhada dos despojos. Em todos os
baixos-relevos podem ver-se a dois secretários da milícia anotando os
vários objetos que lhes eram trazidos; as cabeças dos mortos; os
prisioneiros, o gado mais velho, as ovelhas, etc.,
28. no sétimo ano — Em 2Rs_24:12, 2Rs_24:14, 2Rs_24:16, diz-
se “no oitavo ano” de Nabucodonosor. Sem dúvida foi parte nos fins do
sétimo, e parte nos princípios do oitavo. Diz-se também em 2 Reis 24
que foram levados dez mil homens (v. 14), e sete mil homens de guerra e
mil artesãos (v. 16). Mas aqui se diz que são 3.023. Provavelmente estes
3.023 eram da tribo de Judá, e os restantes sete mil dos dez mil eram das
outras tribos, dos quais muitos dos israelitas tinham sido deixados no
país. Os mil “artesãos” não estavam compreendidos nos dez mil, como
se demonstra comparando 2Rs_24:14 com o v. 16. É provável que os
3.023 de Judá fossem os primeiros levados a fins “do sétimo ano”, e os
7.000 e 1.000 artesãos, fossem o “oitavo ano”. Estes foram os primeiros
cativos no reinado de Joaquim.
29. no ano décimo oitavo — quando Jerusalém foi tomada. Mas o
v. 15 e 2Rs_25:8, no ano dezenove. Provavelmente, isto foi a fins do ano
dezoito e o princípio do dezenove [Lyra].
30. Isto não está consignado nem nos livros dos Reis nem das
Crônicas. Provavelmente se efetuou durante as comoções que se
seguiram por ocasião da morte de Gedalias (Jr_41:18; 2Rs_25:26).
quatro mil e seiscentas — É a soma total exata dos números aqui
especificados, ou seja, 3.023, 832, 745, não incluindo a multidão geral e
as mulheres e os meninos (v. 15; Jr_39:9; 2Rs_25:11).
31. (2Rs_25:27-30).
vinte e cinco do mês (RC) — mas em 2Rs_25:27, é “no dia 27”.
Provavelmente no dia 25 se publicou o decreto para sua exaltação, e se
Jeremías (Jamieson-Fausset-Brown) 300
fizeram os preparativos para sua saída da prisão; e no dia 27 se levou a
efeito.
Evil-Merodaque — filho e sucessor de Nabucodonosor [Lyra]; os
escritores hebreus dizem que durante a exclusão de Nabucodonosor do
meio dos homens para viver entre os animais, Evil-Merodaque exerceu o
governo, e que quando no fim dos sete anos Nabucodonosor foi
restabelecido, informado da má conduta de seu filho, e que se tinha
alegrado da calamidade de seu pai, lançou-o no cárcere, onde se
encontrou com Jeconias, e contraiu amizade com ele. Daí procedeu o
favor que posteriormente lhe mostrou. Deus, em sua elevação,
recompensou-o por se haver rendido a Nabucodonosor (veja-se Jr_38:17
com 2Rs_24:12).
levantou a cabeça (RC) — (Veja-se Gn_40:13, Gn_40:20; Sl_3:3;
Sl_27:6).
32. pôs o seu trono acima dos tronos dos reis (RC) — como sinal
de respeito.
reis — o texto hebraico diz (os outros) “reis”. “Os reis” é correção
massorética.
33. Mudou-lhe as vestes — deu-lhe vestidos próprios de um rei.
passou a comer pão na sua presença — (2Sm_9:13).
34. todos os dias — antes, “sua porção”, margem da Versão
Inglesa (Compare-se com 1Rs_8:59, da Versão Inglesa).
LAMENTAÇÕES
Original em inglês:

LAMENTATIONS -

The Lamentations of Jeremiah

Commentary by A.R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Introdução Lamentações 3

Lamentações 1 Lamentações 4

Lamentações 2 Lamentações 5
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Na Bíblia hebraica, estas Elegias de Jeremias, em número de cinco,


encontram-se entre os Ketubim, ou Hagiógrafos (os Salmos, Provérbios,
etc., Lc_24:44), entre Rute e o Eclesiastes. Mas embora na classificação
de composições pertence aos Ketubim, é provável que em sua origem
estivessem após as profecias de Jeremias. Pois só assim podemos dar
razão dos livros proféticos enumerados por Josefo (Contra Apion), que
são treze; é que ele deveu ter computado a Jeremias e as Lamentações
como um só livro, o mesmo que os Juízes e Rute, os dois livros de
Samuel, etc., Esdras e Neemias. As Lamentações naturalmente seguem o
livro que expõem as circunstâncias que constituem o assunto das elegias.
Lamentações semelhantes ocorrem em 2Sm_1:19, etc., 2Sm_3:33. Os
judeus as liam nas sinagogas no dia 9 do mês de Abe, em que se jejuava
pela destruição da cidade santa. Como em 2Cr_35:25 diz-se que
Jeremias escreveu umas "lamentações" por ocasião da morte de Josias,
além de ter-se estabelecido como "ordenança em Israel" que as
"cantoras" falariam daquele rei em lamentações, Josefo (Antiguidades, 1.
6), Jerônimo, etc., creram que estavam contidas na atual coleção. Mas
evidentemente o assunto deste livro é a ruína da cidade e o povo dos
judeus, como a LXX o afirma expressamente num versículo inicial a sua
versão. O mais provável é que esteja incorporada nestas Lamentações
boa parte da linguagem de sua elegia original referente a Josias, segundo
o expressa 2Cr_35:25; mas agora se aplica à calamidade maior de toda a
nação, da qual foi precursora a deplorável morte de Josias. É assim como
Lm_4:20, aplicado originalmente a Josias, escreveu-se" com uma alusão
subsequente nem tanto a ele, quanto ao trono de Judá em geral, cujo
último representante, Zedequias, acabava de ser banido. A linguagem,
que se ajusta ao bom Josias, é muito forte em favor de Zedequias, exceto
quando o contempla como representante geral da coroa. Era, pois,
natural que a linguagem da elegia referente a Josias se incorporasse nas
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 3
lamentações mais gerais, pois sua morte foi o presságio do último
desastre que transtornou o trono e o Estado.
O título mais frequentemente dado a estas elegias é: "Como"
(hebraico, Eechah), que é a primeira palavra com que começam, ao
modo que o Pentateuco se designa similarmente com a primeira palavra
de Gn_1:1. A LXX as chamam Cantos fúnebres, que significam
lamentações, que é o nome com que nós as conhecemos. Não alude nelas
meramente aos eventos ocorridos na tira de Jerusalém, mas sim aos
sofrimentos dos cidadãos (a pena do pecado nacional) desde o começo
do sítio; e possivelmente desde antes, no reinado de Manassés e de Josias
(2Cr_33:11; 2Cr_35:20-25); no de Jeoacaz, Jeoaquim e Zedequias
(2Cr_36:3-4, 2Cr_36:6-7, 2Cr_36:10-11 etc.) Lowth expressa: "Cada
letra foi escrita com uma lágrima, e cada palavra expressa o som de um
coração quebrantado".
O estilo figura entre a simples elevação dos escritos proféticos e o
mais elevado ritmo de Moisés, de Davi e Habacuque. Uma limpa
concisão caracteriza o original hebraico, apesar do difuso do estilo de
Jeremias em seus demais escritos. As elegias se agrupam em estrofes à
medida que surgem em seu pensamento, sem nenhum acerto artificial
dos pensamentos. As cinco elegias estão em acróstico; cada uma se
divide em vinte e duas estrofes ou versículos. Nas três primeiras, aquelas
constam de tercetos (exceto Lm_1:7; Lm_2:19, que contêm quatro linhas
cada uma), começando cada uma com as letras do alfabeto hebraico,
segundo a ordem regular (de vinte e duas letras). Duas letras foram
transpostas em três casos (em Lm_2:16, 17; 3:46-51; 4:16, 17). Na
terceira elegia, cada linha das três que formam as estrofes, começa com a
mesma letra. As estrofes da quarta e quinta elegia constam de duas linhas
cada uma. A quinta elegia, embora conste de vinte e duas estrofes, que é
o número das letras do alfabeto hebraico, como já se disse, a semelhança
das quatro primeiras, não é, entretanto, alfabética; seus linhas são mais
curtas que as dos outros poemas hebraicos, e contêm doze sílabas,
assinaladas por uma cesura rumo à metade, que as divide em duas partes
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 4
desiguais. O acerto alfabético se adotou originalmente para auxiliar a
memória. Grocio crê que a razão de se inverter as duas letras hebraicas
em Lm_2:16, 17; 3:46-51; 4:16, 17, é que os caldeus, à semelhança dos
árabes, empregavam distinta ordem que os hebreus; na primeira elegia,
Jeremias fala como hebreu, nas seguintes, como súdito dos caldeus. Mas
isto é duvidoso.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 5
Lamentações 1
Álef, ‫א‬
1. Como está sentada solitária a cidade que estava cheia de
povo! (TB) — A Versão Inglesa está de acordo com os acentos. Mas os
membros de cada cláusula se equilibram melhor mediante uma antítese,
assim: “Como é que a que era grande entre as nações veio a ser como
viúva! (como) a que era princesa entre as províncias, isto é, a que
governava as províncias circunvizinhas, do Nilo até o Eufrates
(Gn_15:18; 1Rs_4:21; 2Cr_9:26; Ed_4:20) foi feita tributária!”
[Maurer].
sentada — no solo; a postura dos que estão de luto (Lm_2:10;
Esd_9:3). A moeda cunhada por Tito por ocasião da tomada de
Jerusalém, que representa a Judeia qual mulher sentada solitária debaixo
de uma palmeira, com a inscrição “Judaea Capta”, a que por modo
singular, corresponde à figura que se descreve aqui. Em consequência, a
linguagem deve ser profética de seu estado subsequente a Tito. Também
se refere retrospectivamente a seu cativeiro de Babilônia.

Bêt, ‫ב‬
2. de noite — até durante a noite, o período de descanso e
esquecimento das tristezas (Jó_7:3).
os que a amavam … amigos — os estados pagãos aliados de Judá
e seus ídolos, aos quais ela “amava” (Jr_2:20-25) não a puderam
consolar. Seus aliados anteriores não quiseram: não; alguns se uniram
traiçoeiramente a seus inimigos contra ela (2Rs_24:2, 2Rs_24:7;
Sl_137:7).

Guímel, ‫ג‬
3. (Jr_52:27).
por causa da grandeza da sua servidão (RC) — isto é, em estado
“de grande servidão”, imposta pelos caldeus. “Por causa” segundo
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 6
Vatablo indica o motivo de seu cativeiro, ou seja, o ter “afligido” e
injustamente submetido à “servidão” os escravos libertos (Jr_34:8-22).
Maurer o explica assim: “Judá deixou seu país (não foi” literalmente “em
cativeiro”) por causa do jugo que lhe impôs Nabucodonosor”.
não acha descanso — (Dt_28:64-65).
o apanharam nas suas angústias — figura tomada dos ladrões. No
Oriente, estes detêm os viajantes nas passagens estreitos das regiões
montanhosas.

Dálet, ‫ד‬
4. reunião solene — a Páscoa, Pentecostes, a Festa das Semanas e
a dos Tabernáculos.
portas — os lugares de concurso em outros tempos.

He, ‫ה‬
5. triunfam — a governam (Dt_28:43-44).
os seus inimigos prosperam; porque o SENHOR — Todos os
esforços do inimigo teriam fracassado se Deus não tivesse entregue a
Seu povo em suas mãos (Jr_30:15)

Vav, ‫ו‬
6. já se passou todo o esplendor — seu templo, seu trono e o
sacerdócio.
como corços que não acham pasto — animal tímido e veloz,
especialmente quando busca pastos e “não pode achá-los”.

Zain, ‫ז‬
7. quando caía o seu povo (RC) — isto é, depois daqueles dias de
prosperidade, “caiu seu povo”.
lembra-se — antes, lembra-se agora em seu aflito estado. Na época
de sua prosperidade não apreciou como devia os favores que Deus lhe
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 7
fez. Agora tendo despertado de sua passada letargia, dá-se conta de quão
altos privilégios tem caído.
escarneceram de seus sábados (AV) — Os pagãos estavam
acostumados a mofar-se dos sábados judeus, evidência de sua
ociosidade, e os qualificavam de sabatarios (Marcial 4:4). Agora, dizem-
lhes ironicamente, podem observar um sábado contínuo. Por isso Deus
fixou a duração do cativeiro (setenta anos), que fossem exatamente a da
soma dos sábados em que durante 490 anos, no transcurso dos quais a
terra foi privada de seus sábados (Lv_26:33-35). Maurer o traduz
“ruína”. Mas a Versão Inglesa expressa melhor a finalidade de seu
“mofa”, ou seja, seus “sábados” involuntários, isto é, a cessação de todas
as atividades nacionais. A esta estrofe foi acrescentada uma quarta linha,
enquanto que as restantes só têm três. Tal ocorre com Lm_2:19.

Hêt, ‫ח‬
8. (1Rs_8:46).
se tornou repugnante — como mulher separada da congregação
de Deus por causa de alguma impureza legal, que é tipo da impureza
moral. Assim v. 17; Lv_12:2; Lv_15:19, etc.
lhe viram a nudez — A trataram tão depreciativamente como a
cortesãs despojadas de seus roupas.
se retira envergonhada — como fazem por pudor as mulheres
honradas; isto é, perdeu-se toda esperança de recuperação [Calvino]

Tét, ‫ט‬
9. Continua a imagem do v. 8. Sua desonra e miséria não podem
ocultar-se, pois são visíveis a todos, como o fluxo de uma mulher que
padecesse uma hemorragia tão copiosa que lhe chegasse até a borda de
seus saias.
ela não pensava no seu fim — (Dt_32:29; Is_47:7). Ela se
esqueceu de quão fatal devia ser o fim de sua iniquidade. Ou como o
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 8
insinuam as palavras seguintes: Em seu desespero, não pode levantar-se
para agarrar-se das promessas de Deus referente a seu “fim” [Calvino].
de modo espantoso — o hebraico, maravilha-se, isto é, com
surpreendente abatimento.
Vê, SENHOR — Judá intervém aqui a falar em favor de si mesma.
o inimigo se torna insolente — o que pareceria servir de motivo
para o desespero, o altivo insulto do inimigo, é, antes, motivo para
alimentar uma boa esperança.

Iode, ‫י‬
10. ela viu — certamente ela viu, etc.
as nações … acerca das quais proibiste que entrassem na tua
congregação — por exemplo, os amonitas e os moabitas (Dt_23:3;
Ne_13:1-2). Se os pagãos, como tais, não tinham permissão de entrar no
santuário para prestar culto, muito menos lhes ia permitir que entrassem
para roubar e destruir.

Caf, ‫כ‬
11. (Jr_37:21; Jr_38:9; Jr_52:6).
deram eles as suas coisas mais estimadas a troco de mantimento
— (2Rs_6:25; Jó_2:4).
para restaurar as forças — lit., para fazer com que a alma ou a
vida retornasse.
pois me tornei desprezível — seus pecados e suas consequentes
tristezas constituem a alegação por escrito para implorar a misericórdia
de Deus. Veja-se para um alegação por escrito semelhante Sl_25:11.

Lâmed, ‫ל‬
12. A patética apelação de Jerusalém, não só a seus vizinhos, mas
também aos forasteiros que “passam” pelo caminho, pois sua tristeza é
tal que deveria despertar a compaixão até dos que nenhuma relação têm
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 9
com ela. Aqui prefigura a Cristo, ao qual se acomoda a linguagem que é
profético, mais que a Jerusalém. Veja-se Israel, isto é, o Messias,
Is_49:3. Veja-se com “passam”, Mt_27:39; Mc_15:29. Quanto a
Jerusalém, ver Dn_9:12. Maurer, por causa de um idiotismo árabe,
traduz: “não lhes afastem em seu caminho”, quer dizer, os detenha,
sejam quaisquer pessoas que passam. A Versão Inglesa é mais singela.

Mem, ‫מ‬
13. meus ossos — Um fogo que não só consome a pele e a carne,
mas sim penetra até “meus ossos” (quer dizer, até minhas forças vitais).
se assenhoreou — não como Rosenmuller: “Ele (Jeová) os
quebrantou”, sentido que não o hebraico contém.
rede — Ez_12:13). Figura tomada do caçador de feras. Ele me
enredou em Seus juízos de tal maneira, que não posso escapar.
arrojou-me para trás — de tal sorte que não posso avançar, e
escapar de Suas malhas.

Nun, ‫נ‬
14. jugo … atado pela sua mão — (Dt_28:48). Metáfora tomada
dos lavradores, os quais depois de prender o jugo ao cangote dos bois,
têm firmemente enlaçada a soga à mão. Nesse caso esta versão seria “em
sua mão”. Ou , antes, “o jugo de minhas transgressões” (isto é, o jugo do
castigo de minhas transgressões) está tão firmemente sujeito por Deus,
que não há afrouxamento dele. Assim a Versão Inglesa “por sua mão”.
entretecidas — meus pecados são semelhantes a laços em volta do
pescoço dos bois para sujeitá-los ao jugo.
nas mãos daqueles contra os quais … — nas mãos daqueles dos
quais, etc. Maurer traduz: “daqueles diante dos quais não poderei me
manter em pé”.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 10
Sâmeq, ‫ס‬
15. dispersou — Maurer, por causa de uma raiz siríaca, traduz
“descartado”; assim em 2Rs_23:27. Mas o Sl_119:118, apoia a Versão
Inglesa.
no meio de mim (RC) — Caíram não no campo de batalha, mas no
próprio coração da cidade, o qual é um signo da ira divina.
ajuntamento — as forças de Babilônia reunidas; uma “assembleia”
bem diferente das solenes que se efetuavam em outro tempo em
Jerusalém nas grandes festividades. O vocábulo hebraico significa uma
“assembleia” ou festa muito solene (veja-se 2:22).
pisou, como num lagar, a virgem filha de Judá — fez com que
seu sangue saltasse como o vinho vermelho das uvas pisadas no lagar
(Is_63:3; Ap_14:19-20; Ap_19:15).

Áin, ‫ע‬
16. (Jr_13:17; Jr_14:17). Fala Jerusalém.
os meus olhos, os meus olhos — Assim em Lm_4:18. “nosso fim
… nosso fim”: a repetição é enfática.

Pê, ‫פ‬
17. À semelhança de uma mulher em dores de parto (Jr_4:31).
como coisa imunda — tida por impura, e que todos esquivam:
separada de seu marido e do templo (veja-se v. 8; Lv_14:19, etc.)

Tsade, ‫ץ‬
18. Sinal seguro de seu arrependimento, em virtude do qual justifica
a Deus e se condena a si mesma (Ne_9:33; Sl_51:4; Dn_9:7-14).
contra a sua palavra — li., “boca”. A palavra de Deus na boca dos
profetas.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 11
Cof, ‫ק‬
19. amigos — (v. 2; Jr_30:14).
anciãos — em dignidade, não meramente em idade.
à procura de mantimento — sua dignidade não os eximia de ter
que ir buscar seu pão (v. 11).

Rêsh, ‫ר‬
20. turbada está a minha alma — Jó_30:27; Is_16:11; Jr_4:19;
Jr_31:20). Uma extremada dor mental afeta as vísceras e todo o
organismo.
meu coração … transtornado — (Os_11:8), está agitado ou
sacudido.
fora, a espada … em casa, anda a morte — (Dt_32:25; Ez_7:15).
É uma personificação na forma de fome e de pestilência (2Rs_25:3;
Jr_14:18; Jr_52:6). Assim Hab_2:5, “como a morte” [Michaelis].

Shin, ‫שׁ‬
21. folgam, porque tu o fizeste — Eles criam que Judá estava
irreparavelmente arruinada (Jr_40:3).
o dia que apregoaste — mas Tu trarás sobre eles o dia da
calamidade que anunciaste, ou seja, pelos profetas (Jeremias 50;
Jr_48:27).
serão semelhantes a mim — com calamidades (Sl_137:8-9;
Jr_51:25, etc.)

Tau, ‫ת‬
22. Semelhantes orações contra os inimigos são lícitas, se os
inimigos também o forem de Deus, e se nosso assunto não é para
satisfazer nossos sentimentos pessoais, senão para a glória de Deus e o
bem-estar de Seu povo.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 12
Venha toda a sua iniqüidade à tua presença — Assim Ap_16:19,
“Babilônia veio em memória diante de Deus” (veja-se Sl_109:15).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 13
Lamentações 2

Álef, ‫א‬
1. Como — O título da compilação se repete aqui e em Lm_4:1.
cobriu de nuvens, na sua ira — isto é, com as trevas da ignomínia.
Precipitou do céu à terra — (Mt_11:23). Lançou-a da mais alta
prosperidade à mais abjeta miséria.
a glória de Israel — seu belo templo (Sl_29:2; Sl_74:7; Sl_96:9;
Is_60:7; Is_64:11).
estrado de seus pés — a arca (veja-se 1Cr_28:2, com o Sl_99:5;
Sl_132:7). Antes se tinham gloriado mais na arca que em Deus, do qual
era símbolo; agora compreendem que era só o “estrado” de seus pés, não
obstante ter sido uma grande glória para eles o fato de Deus se dignar
usá-la como tal.

Bêt, ‫ב‬
2. profanou — entregando-a em mãos de um profano inimigo.
Veja-se Sl_89:39, “profanou … a coroa”.

Guímel, ‫ג‬
3. força — lit., chifre, levado no Oriente como ornamento sobre a
fronte e como emblema de autoridade e majestade (1Sm_2:10;
Sl_132:17; Jr_48:25, Nota).
retirou a sua destra — (Sl_74:11). Deus lhes retirou a ajuda que
antes lhes tinha dado. Não como Henderson: “voltou atrás a mão direita
(de Israel)” (Sl_89:43).

Dálet, ‫ד‬
4. (Is_63:10).
firmou a sua destra — tomou posição para usar sua mão direita
como adversário. Para Henderson trata-se da figura de um arqueiro que
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 14
com mão firme aponta ao alvo. Não só retirou sua ajuda a Israel, mas
também tomou armas contra ele.
tudo o que era formoso à vista — (Ez_24:25). Tudo o que era
atraente para a juventude: a beleza. a posição, etc.
na tenda — as casas de Jerusalém.

Hê, ‫ה‬
5. como inimigo — (Jr_30:14).
o pranto e a lamentação — No original há um jogo de sons para
realçar o efeito (Jó_30:3, no original hebraico; Ez_35:3 margem da
Versão Inglesa).

Vau, ‫ו‬
6. seu tabernáculo — antes, “ele tirou violentamente sua Sebe (a
sebe do lugar que era sagrado para ele, Sl_80:12; Sl_89:40; Is_5:5) como
de um jardim” [Maurer]. Calvino confirma a Versão Inglesa: “Sua tenda
(isto é, seu templo) como (um que tirasse a cabana ou choça) de um
jardim”. Is_1:8 concorda com isto (Jó_27:18).
o lugar da sua congregação — o templo e as sinagogas (Sl_74:7-
8).
as festas — (Lm_1:4).

Zain, ‫ז‬
7. deram gritos na Casa do SENHOR, como em dia de festa —
O grito de triunfo do inimigo no templo conquistado tinha certa
semelhança com as alegres ações de graças que estavam acostumados a
oferecer-se nesse mesmo lugar em nossas “festas solenes”; mas que triste
contraste entre uma ocasião e a outra! (veja-se v. 22).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 15
Hêt, ‫ח‬
8. estendeu o cordel — Os filhos do Oriente usavam corda de
medir não só para construir edifícios, senão para destruí-los (2Rs_21:13;
Is_34:11). Aqui se dá a entender a inclemente rigidez com que os
castigaria.

Tét, ‫ט‬
9. Suas portas não podem impedir que o inimigo entre na cidade,
porque se encontram jogadas por terra entre os escombros.
despedaçou os seus ferrolhos — (Jr_51:30).
seu rei … entre as nações — (Dt_28:36).
já não vigora a lei — (2Cr_15:3). As leis civis e religiosas eram as
mesmas sob a teocracia. “Todas as ordenanças legais (proféticas, assim
como sacerdotais) da teocracia, já não existem” (Sl_74:9; Ez_7:26).

Iode, ‫י‬
10. (Jó_2:12-13). Os “anciãos”, com seu exemplo, induziriam aos
outros a uma inconsolável tristeza.
as virgens — as quais em geral se mostram ansiosas de pôr em
relevo suas aparências pessoais para tirar vantagem disso.

Caf, ‫כ‬
11. O meu fígado derramou-se (TB) — isto é, como se supunha
que o fígado era o assento das paixões, todos os meus sentimentos estão
derramados e humilhados, etc. “O fígado” está posto aqui pela bílis
(veja-se Jó_16:13, “o fel”; Sl_22:14), da vesícula biliar, existente sobre o
fígado, a qual se derrama copiosamente quando as paixões se agitam.
desfalecem — por efeitos da fome.

Lâmed, ‫ל‬
12. como o ferido — A fome era tão mortífera como a espada
(Jr_52:6).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 16
exalam a alma nos braços de sua mãe — Instintivamente se
voltam para os seios maternos, buscando leite, mas, não o achando,
entregam sua vida, por assim dizer, “no regaço de sua mãe”.

Mem, ‫מ‬
13. Que testemunho te trarei? (RC) — O que posso eu te trazer
como testemunha ou exemplo para demonstrar que outros sofreram tão
grandes males como tu? Eu não te posso consolar com o consolo com
que frequentemente são consolados os que estão de luto, dizendo-te que
tua sorte é como a de outros que sofrem igual a ti. O “mar” oferece o
único emblema apropriado de teus infortúnios, com sua ilimitada
extensão e profundidade (Lm_1:12; Dn_9:12).

Nun, ‫נ‬
14. Os teus profetas — Não os de Deus (Jr_23:26).
viram para ti vaidade — para satisfazer o seu apetite, não em
consideração à verdade, mas sim à falsidade.
não manifestaram a tua maldade — em oposição ao mandamento
de Deus dado a Seus verdadeiros profetas (Is_58:1). Lit., eles (os falsos
profetas) não tiraram o véu que cobria sua iniquidade para pô-la diante
de ti.
sentenças falsas — eram consoladoras e aduladoras, mas o
resultado delas foram as pesadas calamidades que ocorreram ao povo,
piores ainda que aquilo com que as profecias de Jeremias, que eles, por
mofa, chamavam “sentenças”, ameaçavam. Daí que ele chame seus
pretendidas profecias “falsas cargas”, as quais foram para os judeus “a
causa de seu desterro” [Calvino].

Sâmeq, ‫ס‬
15. batem palmas — por mofa (Jó_27:23; Jó_34:37).
meneiam a cabeça — (2Rs_19:21; Sl_44:14).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 17
a perfeição da formosura, a alegria de toda a terra — (Sl_48:2;
Sl_50:2). Os inimigos dos judeus citam suas próprias palavras com
escárnio.

Pê, ‫פ‬
16, 17. Referente à transposição das letras hebraicas (Pê e Ain) na
ordem dos versículos, veja-se a Introdução.
abrem … a boca — como feras vorazes e rugidoras (Jó_16:9-10;
Sl_22:13). Daí que Jerusalém fosse tipo do Messias.
rangem os dente — com vingativa malignidade.
vimo-lo — (Sl_35:21).

Áin, ‫ע‬
17. o SENHOR — Que não se alegre o inimigo como se fosse obra
dela. Foi “o SENHOR”, que cumpriu assim Suas ameaças proferidas
mediante os Seus profetas, por causa da culpa da Judeia (Lv_26:16-25;
Dt_28:36-48, Dt_28:53; Jr_19:9).

Tsade, ‫ץ‬
18. muralha — (v. 8). Personificado. “Seu coração”, quer dizer,
dos judeus; enquanto seu coração se eleva a Deus em oração, seu
discurso dirige-se à “muralha” (a parte posta por toda a cidade).
corram as tuas lágrimas — (Jr_14:17). O muro é convidado a
chorar sua própria ruína e a da cidade. Veja-se uma personificação
semelhante (Lm_1:4).
a menina de teus olhos — as pupilas dos olhos (Sl_17:8).

Cof, ‫ק‬
19. clama de noite (Sl_119:147).
no princípio das vigílias — isto é, a primeira das três divisões
iguais (de quatro horas cada uma) em que os antigos judeus dividiam a
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 18
noite, ou seja, desde o pôr-do-sol até as dez. A segunda, chamada “a
vigília do meio” (Jz_7:19), das dez até as duas da manhã. A terceira, “a
vigília da manhã”. desde as duas até a saída do sol (Êx_14:24;
1Sm_11:11). Depois, sob o domínio dos romanos, tiveram quatro
vigílias (Mt_14:25; Lc_12:38).
pela vida de teus filhinhos — para que se Deus não quer te
perdoar, preserve ao menos a “teus tenros filhos”.
à entrada de todas as ruas — (Is_51:20; Na_3:10).

Rêsh, ‫ר‬
20. as mulheres comer o fruto de si mesmas — conforme tinham
sido ameaçadas (Lv_26:29; Dt_28:53, Dt_28:57; Jr_19:9).
as crianças do seu carinho — ou, antes, “os meninos que levam
em seus braços” [Maurer].

Shin, ‫שׁ‬
21. (2 Cr_36:17).

Tau, ‫ת‬
22. Convocaste de toda parte terrores contra mim, como num
dia de solenidade — Convocaste contra mim a meus inimigos de todas
as partes, tal como as multidões costumavam reunir-se em Jerusalém nas
festas solenes. O objeto com que respectivamente se reuniam os inimigos
e as multidões (de Israel) formavam um triste contraste. Veja-se
Lm_1:15: “apregoou contra mim um ajuntamento”.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 19
Lamentações 3

Vv. 1-66. Jeremias propõe sua experiência nas aflições como


exemplo de como os judeus deviam comportar-se sob as suas, a fim de
alentar a esperança de uma restauração; daí a mudança do singular ao
plural (vv. 22, 40-47). As estrofes constam de três linhas, cada uma das
quais começa com a mesma letra hebraica.

Álef, ‫א‬
1-3. viu a aflição — a sua no calabouço de Malquias (Jr_38:6), e a
de seus compatriotas no cerco. Ambas eram tipos de Cristo.
2. em trevas — calamidades.
luz — prosperidade.
3. revolveu sua mão — para infligir repetidas vezes novos golpes.
“Sua mão” a que em outro tempo me protegia. “Voltou e revolveu” dá a
entender repetidas inflições.

Bêt, ‫ב‬
4-6. (Jó_16:8).
5. Edificou — montículos, como contra uma cidade sitiada, a fim
de que nenhum escape (assim os vv. 7, 9).
6. Fez-me habitar — Henderson aplica isto ao costume de colocar
os mortos sentados.
em lugares tenebrosos — os sepulcros. Como os “mortos de muito
tempo”, assim Jeremias e seu povo estavam condenados ao
esquecimento (Sl_88:5-6; Sl_143:3; Ez_37:13).

Guímel, ‫ג‬
7-9. Cercou-me — (Jó_3:23; Os_2:6).
grilhões de bronze — lit., cadeias de bronze.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 20
8. fechou (AV) — figura de uma porta fechada, pela qual não se
pode passar (Jó_30:20). Assim é o antítipo, Cristo (Sl_22:2).
9. Fechou … com pedras — a qual está tão unida que não permite
abrir-se passagem através dela.
fez tortuosas as minhas veredas — desbaratou nossos planos e
esforços, de sorte que nenhum teve êxito.

Dálet, ‫ד‬
10-12. (Jó_10:16; Os_13:7-8).
11. Desviou — me fez vagar fora do caminho reto, de maneira que
vim a ser presa das feras.
me fez em pedaços — (Os_6:1), como um “urso” ou “leão”
(Lm_3:10).
12. (Jó_7:20).

He, ‫ה‬
13-15.
13. flechas — lit., os filhos de sua aljava (veja-se Jó_6:4).
14. (Jr_20:7).
a sua canção — (Sl_69:12). Aqui Jeremias era tipo do Messias.
“Todo o meu povo” (Jn_1:11).
15. absinto — Jr_9:15). Ali é considerado como alimento, ou seja,
as folhas; aqui como bebida, o suco.

Vav, ‫ו‬
16-18. pedrinhas de areia — refere-se à areia que se mescla
frequentemente com o pão cozido sobre as cinzas, segundo o costume de
cozê-lo no Oriente. (Pv_20:17). Nós passamos tanta dificuldade como os
que comem esse pão. A mesma alusão se acha em “me cobriu com
cinzas”, quer dizer, como pão.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 21
17. Afastou de mim toda esperança de prosperidade não só
presente, mas também futura; tanto assim é que me vejo como alguém
que nunca foi prosperado (“esqueci a prosperidade”)
18. no SENHOR — isto é, minha esperança provinha dEle
(Sl_31:22).

Zain, ‫ז‬
19-21. (Jr_9:15).
Lembra-te — isto explica o motivo pelo qual cedeu à tentação de
se desesperar.
20. Minha alma lembrando com frequência essas coisas (minha
aflição, meu abatimento, etc.), sente-se humilhada ou abatida.
21. o que — ou seja, o que segue; a contemplação do caráter divino
(vv. 22, 23). Calvino refere “o que” à fraqueza de Jeremias. Sua própria
fraqueza (vv. 19, 20) dá-lhe esperança de que Deus interporá Seu poder
em seu favor (cf. Sl_25:11, Sl_25:17; Sl_42:5, Sl_42:8; 2Co_12:9-10).

Hêt, ‫ח‬
22-24. (Mal_3:6).
23. (Is_33:2).
24. (Nm_18:20; Sl_16:5; Sl_73:26; Sl_119:57; Jr_10:16). Ter a
Deus como nossa porção é o único fundamento da esperança.

Tét, ‫ט‬
25-27. A repetição da voz “bom” no princípio dos três versículos,
realça o efeito.
esperam — (Is_30:18).
26. aguardar em silêncio (RC) — lit., em silêncio. Veja-se v. 28 e
Sl_39:2, Sl_39:9, isto é, estar pacientemente tranquilo sob as aflições,
descansando na vontade de Deus (Sl_37:7). Como Arão, Lv_10:2-3; e Jó
(Jó_40:4-5).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 22
27. jugo — o ensino disciplinador do Senhor (Sl_90:12;
Sl_119:71). Calvino o interpreta: a doutrina do Senhor (Mt_11:29-30),
que se deve receber com espírito dócil, e quanto antes melhor, porque os
velhos estão cheios de preconceitos (Pv_8:17; Ec_12:1). O próprio
Jeremias recebeu o jugo, a doutrina e o castigo em sua juventude (Jr_1:6-
7).

Iode, ‫י‬
28-30. O fruto da verdadeira docilidade e paciência. Ele não luta
contra o jugo (Jr_31:18; Hch_9:5), mas se amolda a ele.
solitário — Os pagãos aplaudiam a magnanimidade, mas a
praticavam por ostentação, para granjear o louvor dos homens. Um filho
de Deus, pelo contrário, “solitário”, sem testemunhas que o observem,
submete-se silenciosamente à vontade de Deus.
Deus pôs sobre ele — isto é, por estar habituado a levá-lo sobre si.,
antes, “porque ele (Jeová, v. 26) o pôs sobre ele” [Vatablo].
29. (Jó_42:6). A boca no pó é a atitude da suplicante e humilde
submissão aos procedimentos de Deus, por ser feito com objetivos justos
e amorosos (Veja-se Esd_9:6; 1Co_14:25).
talvez ainda haja esperança — Isto não expressa dúvida referente
a se Deus estiver disposto a receber ao penitente, mas sim a dúvida é do
penitente referente a si mesmo; sussurrando-se a si mesmo por via de
consolação: “Possivelmente haja esperança para mim”.
30. Isto se cumpriu no Messias, o antítipo, concordando Sua
conduta com Seu ensino (Is_50:6; Mt_5:39). Muitos suportam
pacientemente as aflições que Deus os envia, mas quando um homem os
ofende se impacientam. O piedoso suporta resignadamente tais ofensas,
como também que as provas que Deus lhe envia (Sl_17:13).

Caf, ‫כ‬
31-33.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 23
31. O verdadeiro arrependimento sempre vai acompanhado de
esperança (Sl_94:14).
32. Os castigos se aplicam ao piedoso só por curto tempo.
33. Pois Deus não aflige a ninguém por prazer (lit., de seu coração,
isto é, como se Ele sentisse prazer em fazê-lo) (Ez_33:11), muito menos
tratando-se do piedoso (Heb_12:10).

Lâmed, ‫ל‬
34-36. Este terceto tem um infinitivo no princípio de cada versículo.
O verbo finito regente encontra-se no final do versículo 36: “não o veria
o Senhor?”, o que deve repetir-se em cada versículo. Jeremias antecipa e
responde aqui às objeções que os judeus poderiam lhe fazer de que era
por seu consentimento que estavam “esmagados sob os pés” dos que
tinham “despojado a um homem de seu direito”. Deus passa (lit., vê,
Hab_1:13; assim “contempla”, “vê”, isto é, vê com aprovação) não os
atos de semelhante injustiça; e assim os judeus podem esperar a
libertação de mãos de seus inimigos e o castigo destes.
35. perante o Altíssimo — qualquer “desvio” da justiça num
tribunal faz-se perante a face do Senhor, quem está presente e observa,
embora invisível (Ec_5:8).
36. subverter — fazer mal.

Mem, ‫מ‬
37-39. Quem é que pode (como Deus, Sl_33:9) realizar com uma
palavra qualquer coisa sem a vontade de Deus?
38. tanto o mal como o bem — A calamidade e a prosperidade
procedem igualmente de Deus (Jó_2:10; Is_45:7; Am_3:6).
39. vivente — e por isso tem ainda uma oportunidade que Deus lhe
deu para se arrepender. Se o pecado fosse castigado como o merece, o
pecador perderia o direito de viver. “Queixar-se” (murmurar) mal
convém ao que desfruta de um favor como o da vida (Pv_19:3).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 24
um dos seus próprios pecados — Em lugar de culpar a Deus por
seus sofrimentos, deve reconhecer neles a justiça de Deus e a justa
recompensa de sua própria culpa.

Nun, ‫נ‬
40-42. Esquadrinhemos —Jeremias e seus compatriotas, em sua
calamidade. Esquadrinhar, em oposição ao estupor com que os homens
descansam só em seus sofrimentos exteriores, sem reparar na causa que
os motiva, Sl_139:23-24.
41. com as mãos — o antídoto da hipocrisia (Sl_86:4; 1Ti_2:8).
42. tu não nos perdoaste — O cativeiro ainda não tinha terminado.

Sâmeq, ‫ס‬
43-45. te encobriste — (assim o v. 44), para não ver nossas
calamidades e te compadecer delas; pois até os mais cruéis, em vendo
um triste espetáculo, sentem-se movidos à piedade. Veja-se quanto a que
Deus “encobriu o seu rosto”, Sl_10:11; Sl_22:55.
44. (v. 8). A “nuvem” são nossos pecados, e a ira de Deus vem por
causa deles (Is_44:22; Is_59:2).
45. Assim foram tratados os apóstolos; mas em lugar de murmurar,
alegraram-se disso (1Co_4:13).

Pê, ‫פ‬
46-48. Pê fica antes que Ain, como na Elegia 2:16, 17.
46. (Lm_2:16).
47. À semelhança dos animais que fogem espantados, nós caímos
no laço que foi tendido.
48. (Jr_4:19).

Áin, ‫ע‬
49-51. e não cessam — ou antes, “porque não há intermissão”
[Piscator], ou seja, para minhas misérias.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 25
50. até — sua oração não está isenta de esperança, no qual se
diferencia da cega tristeza dos incrédulos.
veja — (Is_63:15).
51. Os meus olhos entristecem a minha alma — isto é, fizeram-
me derramar contínuas lágrimas; ou “afetaram minha vida”, isto é,
minha saúde [Grocio].
as filhas da minha cidade — as cidades do contorno, dependentes
de Jerusalém, tomadas pelo inimigo.

Tsade, ‫ץ‬
52-54. ave — particular de razão e de força — A alusão parece ser
a Pv_1:17 [Calvino].
sem motivo — (Sl_69:4; Sl_109:3-4). Tipo do Messias (Jn_15:25).
53. na masmorra (TB) — (Jr_37:16).
pedra (TB) — geralmente a punham na entrada do calabouço, para
assegurar aos detentos (Js_10:18; Dn_6:17; Mt_27:60).
54. Águas — não literais, visto que “não havia água” no lugar onde
Jeremias tinha sido encerrado (Jr_38:6), mas é emblema de
entristecedoras calamidades (Sl_69:2; Sl_124:4-5).
estou perdido — (Is_38:10-11). Estou abandonado por Deus. Fala
de acordo com o sentido carnal.

Cof, ‫ק‬
55-57. Da mais profunda cova ... invoquei o teu nome — Desta
maneira o espírito resiste à carne, e a fé rejeita a tentação [Calvino]
(Sl_130:1; Jon_2:2).
56. Ouviste a minha voz — ou seja, anteriormente (assim nos vv.
57, 58).
meu suspiro (RC) — dois gêneros de oração; a silenciosa é um
suspiro; a em alta voz é um ardente clamor (veja-se Is_26:16).
57. te aproximaste — com Tua ajuda (Tg_4:8).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Rêsh, ‫ר‬
58-60. Jeremias cita as misericordiosas respostas de Deus às suas
orações para alentar a seus compatriotas a confiar nEle.
Pleiteaste — (Sl_35:1; Mq_7:9).
59. Os passados livramentos e seu conhecimento dos males de Judá
servem de fundamento para pedir socorro.
60. seus pensamentos — suas invenções (Jr_11:19). “Sua
vingança” quer dizer sua malícia. Jeremias refere sua conduta de quando
seus inimigos conspiravam contra ele, como exemplo de como os judeus
deveriam levar perante Deus as injustiças recebidas dos caldeus.

Shin, ‫שׁ‬
61-63. suas afrontas — sua oprobriosa linguagem contra mim.
62. acusações — discursos.
63. quando se assentam e quando se levantam — ora se sentem,
ora se levantem, isto é, seja que estejam ativamente ocupados ou levem
vidas sedentárias, descansando “todo o dia” (v. 62), sou o objeto de suas
burlescas canções (v. 14).

Tau, ‫ת‬
64-66. (Jr_11:20; 2Tm_4:14).
65. cegueira — ou dureza; lit., um “véu” que cobre o seu coração,
de sorte que corram para sua ruína (Is_6:10; 2Co_3:14-15).
66. de debaixo dos céus do SENHOR — destrói-os de tal maneira
que possa ver-se em todos os lugares debaixo do céu que Tu estás
assentado no alto, como Juiz do Universo.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 27
Lamentações 4

Vv. 1-22. A Lamentável Tomada de Jerusalém, a Esperança da


Restauração e a Retribuição que Espera a Idumeia por Ter-se Unido à
Babilônia Contra a Judeia.

Álef, ‫א‬
1. ouro — o esplêndido adorno do templo [Calvino] (Lm_1:10;
1Rs_6:22; Jr_52:19); ou: os homens principais da Judeia [Grocio] (v. 2).
as pedras do santuário — as gemas do peitoral do sumo sacerdote,
ou, metaforicamente, os sacerdotes e levitas.

Bêt, ‫ב‬
2. comparáveis a puro ouro — (Jó_28:16, Jó_28:19).
objetos de barro — ( Is_30:14; Jr_19:11).

Guímel, ‫ג‬
3. chacais — as baleias e outros cetáceos monstruosos são
mamíferos. Até eles lactam a sua cria; mas a miséria das mulheres judias
durante o cerco era tão desesperada que comeram os seus próprios filhos
(v. 10; Lm_2:20).
como os avestruzes — veja-se Nota, Jó_39:14-16 referente a que
abandonam sua cria.

Dálet, ‫ד‬
4. pela sede — As mães não têm leite para lhes dar de mamar, por
causa da fome.

He, ‫ה‬
5. de comidas finas — de guloseimas.
desfalecem — ou perecem.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 28
os que se criaram entre escarlata — os grandes que se criaram em
leitos de escarlate, agora devem jazer em calabouços.
se apegam aos monturos — Os que outrora se retraíam
melindrosamente de pisar em um solo qualquer, agora se abraçam
alegremente aos montões de esterco, como seu único lugar de descanso.
Veja-se “abraçam as penhas” (Jó_24:8).

Vav, ‫ו‬
6. maior … do que o pecado de Sodoma — (Mt_11:23). A
Sodoma não se enviaram profetas, como a Judeia; portanto o castigo
desta devia ser maior do que o daquela.
que foi subvertida como num momento — enquanto os judeus
tiveram que sofrer as múltiplos e prolongadas privações de um assédio.
sem o emprego de mãos nenhumas — nenhuma força hostil,
como a dos caldeus no caso de Jerusalém, que continuamente a investia
antes de sua ruína. Jeremias demonstra assim quanto mais severo foi o
castigo de Jerusalém que o de Sodoma.

Zain, ‫ז‬
7. seus nazireus (RC) — lit., separados (Números 6). Estes, em
outro tempo, foram tidos em alta estimativa, mas agora se acham
degradados. A bênção de Deus em outro tempo fez com que seus corpos
não fossem menos belos e loiros, devido à sua abstinência de bebidas
alcoólicas. Veja-se o caso parecido de Daniel, etc. (Dn_1:8-15), como
também o de Davi (1Sm_16:12; 1Sm_17:42). Este foi tipo de Cristo
(Ct_5:10).
corais — Gesênius traduz “corais” da raiz hebraica dividir em
ramos, por causa da forma ramosa dos corais.
safira — Eram semelhantes às safiras esquisitamente esculpidas e
polidas. As “safiras” talvez representem as veias azuis venha de uma
pessoa sã.
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 29
Hêt, ‫ח‬
8. escureceu-se-lhes o aspecto mais do que a fuligem — (Jl_2:6;
Na_2:10).
secou-se como uma madeira — tão murcha como um madeiro
seco.

Tét, ‫ט‬
9. Ser morto instantaneamente à espada é melhor que morrer
lentamente de fome.
se definham — lit., flui, aludindo ao fluir do sangue. Esta
expressão “flui” se infere de “mortos à espada”.
falta do produto dos campos — (Gn_18:28; Sl_109:24).

Iode, ‫י‬
10. (Lm_2:20; Dt_28:56-57).
compassivas — Certamente, compassivas em outros tempos
(Is_49:15). Josefo diz que esse ato antinatural se efetuou durante o sítio
de Tito Vespasiano.

Caf, ‫כ‬
11. acendeu fogo … consumiu os seus fundamentos —
(Dt_32:22; Jr_21:14). Foi este um evento raríssimo. O fogo normalmente
só consome a superfície; mas este chegou até os fundamentos, cortando
assim toda esperança de restauração.

Lâmed, ‫ל‬
12. Jerusalém estava tão fortificada que todos criam inexpugnável.
Por isso só a mão de Deus, não a força do homem, pôde vencê-la.

Mem, ‫מ‬
13. dos pecados dos seus profetas — os falsos profetas (Jr_23:11,
Jr_23:21). O sentido fica completo assim: “Estas calamidades lhe
aconteceram pelos pecados, etc.”
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 30
se derramou ... o sangue dos justos — (Mt_23:31, Mt_23:37). Isto
se cumpriu plenamente ao matarem o Messias e a consequente dispersão
dos judeus (Tg_5:6).

Nun, ‫נ‬
14. como cegos — por seu mental extravio.
contaminados de sangre — com o sangue de uns e de outros,
mutuamente derramado (por exemplo, Jr_2:34), e com o sangue deles
mesmos, vertido pelo inimigo [Glassio].
que ninguém lhes pode tocar nas roupas — por estar manchadas
de sangue (Nm_19:16).

Sâmeq, ‫ס‬
15. Apartai-vos … gritavam-lhes — até os próprios gentios,
olhados como impuros pelos judeus, cuja religião lhes prescrevia que
evitassem toda contaminação, diziam a estes “separai-vos”, por estarem
contaminados: tão general era a contaminação da cidade com o sangue.
Quando fugiram errantes — como os falsos profetas e seus
sequazes que tinham “vagado” pela cidade cegos e satisfeitos por causa
do néscio crime de sua idolatria; par isso mesmo devem agora “vagar”
entre os gentios, possessos de cega consternação e vítimas das
calamidades.
dizia-se entre as nações — quer dizer, os gentios diziam entre
outros pagãos: “Os judeus já não residirão mais em sua terra” [Grocio].
Ou, Onde quer que vão em seu errante desterro, “não ficarão muito
tempo”. [Ludovicus De Dieu], (Dt_28:65).

Pê, ‫פ‬
Áin e Pê estão aqui transpostos, como em Lm_2:16, 17; 3:46-51.
16. A ira do SENHOR — O rosto irado de Jeová, que com Sua
expressão manifesta ira (Sl_34:16). Gesênio traduz: “a pessoa de Jeová”;
a presença de Jeová, isto é, o próprio (Êx_33:14; 2Sm_17:11).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 31
os espalhou — dispersou os judeus.
não honra os sacerdotes — Esta linguagem é dos gentios: “Os
judeus não alentam nenhuma esperança de retorno, por não ter respeitado
nem mesmo os bons sacerdotes”. (2Cr_24:19-22) [Grocio]. Maurer o
explica assim: “O vitorioso inimigo não respeita os sacerdotes judeus
quando estes lhe imploram sua misericórdia” (Lm_5:12). De que há uma
antítese entre a frase: “Até nos desfaleceram nossos olhos” (v. 17), e a
linguagem dos pagãos” no final do v. 15, do qual é continuação o v. 16, é
evidente, o que favorece a primeira opinião.

Áin, ‫ע‬
17. Os nossos olhos ainda — esta tradução forma a melhor antítese
à linguagem dos pagãos (vv. 15, 16). Calvino traduz: “Subsistindo até
como estado, nossos olhos desfaleceram, etc.,”
temos olhado das vigias para um povo que não pode livrar — o
Egito. (2Rs_24:7; Is_30:7; Jr_37:5-11).

Tsade, ‫ץ‬
18. Espreitavam — são os caldeus.
de maneira que não — sem perigo.

Cof, ‫ק‬.
19. Os últimos dias anteriores à tomada da cidade, nos quais não
houve escape; o inimigo se interpôs diante daqueles que queriam escapar
da fome da cidade “às montanhas do deserto”.
mais ligeiros do que as aves — alusão à cavalaria caldeia
(Jr_4:13).
nos perseguiram — Lit., arderam daí perseguir ardorosamente
(Gn_31:36). Daí que perseguissem e alcançassem a Zedequias (Jr_52:8-
9).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 32
Rêsh, ‫ר‬
20. ungido do SENHOR — nosso rei, cuja vida está ligada à
nossa. A alusão original parece referir-se a Josias (2Cr_35:25), morto na
batalha contra Faraó-Neco; mas a declaração aqui se aplica a Zedequias,
quem, embora indigno, era ainda o representante hereditário de Davi, e
tipo do Messias, o “Ungido”. Considerado pessoalmente, a linguagem é
muito favorável para se aplicar a ele.
viveremos entre as nações — Isto é, sob cujo governo nós
esperávamos viver certamente, a despeito das nações pagãs que nos
rodeiam [Grocio].

Shin, ‫שׁ‬
21. Regozija-te e alegra-te — por nossas calamidades (Sl_137:7).
Esta declaração é uma profecia de que Edom se alegraria pela queda de
Jerusalém. Dá a entender ao mesmo tempo que a alegria de Edom seria
de curta duração. Diz-lhe ironicamente: Alegra-te enquanto te for
possível (Ec_11:9).
o cálice — Referente a esta figura dos desoladores efeitos da ira de
Deus, veja-se Jr_13:12; Jr_25:15-16, Jr_25:21; e quanto a Edom, ver
Jr_49:7-22.

Tau, ‫ת‬
22. (Is_40:2). Como já foi bastante castigada, o fim de seu castigo
está próximo.
nunca mais te levará para o exílio — isto é, pelos caldeus; pois os
romanos os levaram cativos posteriormente. O cumprimento plenário
desta profecia deve portanto referir-se à final restauração dos judeus.
descobrirá — Pela severidade de seu castigo que trará sobre ti,
Deus fará com que os homens vejam quão grande foi o teu pecado
(Jr_49:10). Deus cobre o pecado quando o perdoa (Sl_32:1, Sl_32:5).
“Descobre-o” ou “revela” quando o castiga (Jó_20:27). A passagem de
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 33
Jr_49:10, demonstra que a lição marginal da V. Inglesa está errada:
“levada cativa” (esta tradução é como a de Na_2:7, Veja-se com a
margem da Versão Inglesa).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 34
Lamentações 5

Vv. 1-22. Epifonema ou Recapitulação Final das Calamidades


Tratadas nas Elegias Precedentes.
1. (Sl_89:50-51).
2. A nossa herança — “A tua herança” (Sl_79:1). A terra que
antigamente nos deste como Teu dom.
3. órfãos — Toda nossa terra está cheia de órfãos [Calvino]. Ou
“somos órfãos”, estando como abandonados de ti, que é nosso “Pai”.
(Jr_3:19). [Grocio].
4. A nossa água, por dinheiro — os judeus foram obrigados a
pagar ao inimigo a água que bebiam de suas próprias cisternas depois da
destruição de Jerusalém. Pode ser que se refira ao seu exílio em
Babilônia onde deviam pagar um imposto para poder ter acesso aos rios
e fontes. Nesta forma, “nossa” significa a água que necessitamos, a coisa
mais imprescindível da vida.
A nossa lenha — Na Judeia cada um podia abastecer-se de lenha
sem pagamento algum; em Babilônia, “nossa lenha”, a lenha que
precisamos é preciso pagá-la.
5. Lit., sobre nossos pescoços somos perseguidos; quer dizer, a
nação oprime nossos pescoços (Sl_66:12; Is_51:23; veja-se Js_10:24).
Era esta a máxima opressão. O inimigo fustigava não só os rostos, as
costas e os flancos dos judeus, mas sim seus pescoços, como justa
retribuição por ter sido teimosos em levar o jugo de Deus (2Cr_30:8,
margem da Versão Inglesa; Ne_9:29; Is_48:4).
6. Submetemo-nos — em sinal de submissão (veja-se a Nota a
Jr_50:15).
aos egípcios — por ocasião da morte de Josias (2Cr_36:3-4).
aos assírios — isto é, os caldeus, que possuíam o império que tinha
sido da Assíria. Assim, Jeremias, 2Cr_2:18.
para nos fartarem de pão — (Dt_28:48).
7. (Jr_31:29).
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 35
levamos o castigo — isto é, o castigo deles. Os pecados de nossos
pais acumulados através dos séculos, assim como os nossos, visitam-nos.
Dizem isto como um alegação por escrito para que Deus se compadeça
deles (veja-se Ez_18:2, etc.).
8. Escravos dominam sobre nós — escravos subordinados aos
governadores caldeus governavam os judeus (Ne_5:15). Israel, em outro
tempo “um reino de sacerdotes” (Êx_19:6), converteu-se, como Canaã,
“em servo de servos”, segundo a maldição de Gn_9:25. Os caldeus
estavam destinados a ser escravos de Sem, por descer de Cam
(Gn_9:26). Agora, por causa do pecado dos judeus, os papéis foram
invertidos.
9. Com perigo … providenciamos o nosso pão — quer dizer, os
que de nós fomos deixados na cidade, depois de tomada pelos caldeus.
por causa da espada do deserto — por causa de estar expostos aos
ataques dos salteadores do deserto, por entre os quais deviam passar os
judeus para conseguir seu pão no Egito (veja-se v. 6).
10. Assim como um forno se abrasa com o excessivo fogo, assim o
está nossa pele com o ardente sopro da fome (propriamente, com as
“tormentas”, como a do Simum). A fome seca os poros de tal sorte que a
pele chega a tornar-se como se tivesse sido abrasada pelo sol (Jó_30:30;
Sl_119:83).
11. Assim Babilônia, em justa retribuição, deve ter um mau fim.
Jerusalém terá que sofrer estas angústias, pela última vez, antes de sua
final restauração (Zc_14:2).
12. Foram pendurados pelas mãos (TB) — Suplício de
desnaturalizada crueldade, inventado pelos caldeus. Grocio traduz: “Os
príncipes foram pendurados pela mão do inimigo”. O pendurada era o
modo usual de executar a um réu (Gn_40:19).
As faces dos anciãos — dos funcionários (Lm_4:16).
13. Os jovens levaram a mó — o trabalho das escravas mais
inferiores foi encomendado aos jovens (Jz_16:21; Jó_31:10);
Lamentações (Jamieson-Fausset-Brown) 36
os meninos tropeçaram debaixo das cargas de lenha —
garotinhos de muito curta idade deviam levar cargas de lenha tão pesadas
que os esmagavam.
14. Os anciãos no Oriente reuniam-se ao ar livre junto aos portões
das muralhas, para tratar assuntos judiciais e conversar familiarmente
(Jó_29:7-8).
16. Caiu a coroa — Toda nossa glória, o reino e o sacerdócio
(Jó_19:9; Sl_89:39, Sl_89:44).
17. (Lm_1:22; 2:11).
18. Pelo monte Sião ... andam as raposas — estas frequentam os
lugares desolados, pelos quais podem vagar livremente, sem temor.
19. (Sl_102:12). Apesar da perpetuidade do governo de Deus sobre
os assuntos humanos, pareceria, entretanto, que ele permite que Seu
povo seja oprimido por certo tempo; tal é o fundamento da esperança da
restauração.
20. Por que te esquecerias de nós para sempre? — isto é, “por
tão longo tempo”.
21. (Sl_80:3; Jr_31:18). “Restitui-nos a Teu favor, e assim seremos
restituídos à nossa antiga posição” [Grocio]. Jeremias não fala aqui de
conversão espiritual, mas sim de voltar-se exteriormente, por causa do
qual Deus recebe os homens em seu paternal favor, manifestando-lhe
mediante a outorga de sua tal prosperidade [Calvino]. Entretanto, como
Israel é tipo da igreja, os bens temporais tipificam as bênçãos espirituais,
e assim o pecador pode usar esta oração para que Deus o converta.
22. Por que nos rejeitarias totalmente? — Melhor: “A menos que
nos tenhas rejeitado inteiramente e que estejas irado fora de toda medida
contra nós”. Quer dizer, a menos que te mostres implacável, o que é
impossível, ouve nossa oração [Calvino]. Ou como diz a margem da
Versão Inglesa: “Por que haverias de nos desprezar inteiramente?” Não;
isso não pode ser. Os judeus neste livro e no de Isaías e Malaquias, para
evitar o mau presságio de uma lúgubre oração final, repetem o penúltimo
verso depois do último [Calvino].
EZEQUIEL
Original em inglês:
EZEKIEL -
The Book of the Prophet Ezekiel
Commentary by A.R. Faussett
Tradução: Carlos Biagini

Introdução
Ezequiel 1 Ezequiel 13 Ezequiel 25 Ezequiel 37
Ezequiel 2 Ezequiel 14 Ezequiel 26 Ezequiel 38
Ezequiel 3 Ezequiel 15 Ezequiel 27 Ezequiel 39
Ezequiel 4 Ezequiel 16 Ezequiel 28 Ezequiel 40
Ezequiel 5 Ezequiel 17 Ezequiel 29 Ezequiel 41
Ezequiel 6 Ezequiel 18 Ezequiel 30 Ezequiel 42
Ezequiel 7 Ezequiel 19 Ezequiel 31 Ezequiel 43
Ezequiel 8 Ezequiel 20 Ezequiel 32 Ezequiel 44
Ezequiel 9 Ezequiel 21 Ezequiel 33 Ezequiel 45
Ezequiel 10 Ezequiel 22 Ezequiel 34 Ezequiel 46
Ezequiel 11 Ezequiel 23 Ezequiel 35 Ezequiel 47
Ezequiel 12 Ezequiel 24 Ezequiel 36 Ezequiel 48
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

O nome Ezequiel significa "ao qual Deus fortalecerá" [Gesênius];


ou "Deus prevalecerá" [Rosenmuller]. Seu pai era Buzi (Ez_1:3),
sacerdote, e é provável que Ezequiel mesmo tenha exercido o ofício
sacerdotal em Jerusalém, antes de ser tomado cativo, julgando-se pelo
caráter sacerdotal refletido em suas profecias, circunstância esta que
aumentou grandemente sua influência sobre seus compatriotas cativos
em Babilônia.
A tradição indica a Sarera como o lugar de seu nascimento.
Ezequiel foi chamado a profetizar cinco anos depois de ter sido levado
cativo por Nabucodonosor junto com Joaquim rei de Judá, (veja-se
2Rs_24:11-15) em 599 a.C. Parece que entre aqueles primeiros cativos
encontrava-se o melhor do povo judeu. (Ez_11:16; Jr_24:2-7, Jr_24:8,
10). Os israelitas ímpios estavam dispostos a fazer qualquer coisa a fim
de ficar em sua terra; enquanto que os fiéis creram nos profetas e se
renderam à primeira chamada, compreendendo que este era o único
caminho de segurança. Estes últimos havendo-se aderido aos princípios
teocráticos, foram dos primeiros que os caldeus trasladaram a Babilônia
crendo que desta maneira a nação desapareceria por si só. Além disto,
foram desprezados por seus irmãos livres que ficaram na Terra Santa, os
quais ainda não tinham sido levados cativos porque longe de Jerusalém
não podiam participar nos sacrifícios do templo. Portanto, o ministério
de Ezequiel embora exercido no cativeiro, foi mais feliz e menos
embaraçado por seus compatriotas e companheiros de exílio, que o de
Jeremias em Jerusalém. Um lugar próximo ao rio Quebar, o qual deságua
no Eufrates, perto de Circesio, foi o primeiro cenário das profecias de
Ezequiel (Ez_1:1). O profeta residia em Tel-Abibe (agora Thallaba,
Ez_3:15), e ali se juntavam os anciãos do povo para lhe perguntar a
respeito das mensagens que recebia de Deus com relação aos exilados.
Eles desejavam retornar a Jerusalém, mas Ezequiel lhes ensinou que
primeiro deviam voltar a Deus. Continuou profetizando pelo menos vinte
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 3
e dois anos, quer dizer, até o vigésimo sétimo ano do cativeiro
(Ez_29:17), e é provável que se tenha ficado com os cativos junto ao rio
Quebar durante o resto de sua vida. Um tratado, atribuído falsamente a
Epifânio, declara que o profeta foi morto em Babilônia por um príncipe
de sua nação a quem ele tinha repreendido por sua idolatria.
Ezequiel foi contemporâneo de Jeremias e Daniel, mas Jeremias
tinha profetizado já 34 anos antes de Ezequiel, e continuou por seis ou
sete anos mais depois dele. A chamada de Ezequiel aconteceu no ano
depois de que foram comunicadas as predições de Jeremias a respeito de
Babilônia (Jr_51:59), e foi divinamente destinado como sequela daquelas
predições. As predições de Daniel, em sua maioria, são posteriores às de
Ezequiel, mas a santidade e sabedoria do vidente tinham chegado a ser
proverbiais na primeira etapa do ministério de Ezequiel (Ez_14:14, 16;
28:3). Ambos os profetas se assemelham muito, especialmente quanto às
visões e imagens grotescas, que respectivamente usam. É uma prova
extraordinária da autenticidade do livro, o fato de que em Ezequiel não
se encontre nenhuma profecia contra Babilônia entre aquelas dirigidas
contra os inimigos do povo da aliança. É provável que ele tenha querido
evitar ofender inutilmente ao governo sob o qual vivia. O resultado de
seu trabalho profético, se manifesta no caráter melhorado do povo rumo
ao fim do cativeiro, e seu abandono geral da idolatria e sua volta à lei
divina. Foi pouco mais de trinta anos depois do fim de seu trabalho,
quando se decretou a restauração dos judeus em sua pátria.
A característica sobressalente no profeta Ezequiel é sua energia
realista e decidida, o que admiravelmente o capacitou a opor-se à "casa
rebelde de Israel", de "fronte obstinada e duros de coração", e para
manter ao mesmo tempo a causa de Deus entre seus compatriotas numa
terra estranha, quando a armação ou motivo exterior da nacionalidade
israelita se havia desfeito. Seu estilo é plano e singelo; seus conceitos são
precisos, e os detalhes, até os que têm a ver com as partes simbólicas e
enigmáticas de suas profecias, relatam-se com uma minuciosidade
natural. A escuridão se manifesta , antes, na substância, não na forma, de
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 4
seus comunicações. O elemento sacerdotal prepondera em suas profecias
devido a seu treinamento prévio como sacerdote. Ezequiel se deleita no
templo, e acha em suas formas simbólicas as imagens ou ilustrações
necessárias para comunicar suas instruções. Tudo isto foi ordenado
divinamente para satisfazer a necessidade espiritual que se fazia sentir no
povo, devido à ausência do templo visível e de seus sacrifícios. Na
descrição de suas imagens, Ezequiel se mostra magnífico, embora
austero e um tanto áspero. Abunda em suas repetições, não para adornar
senão para dar força e peso à sua mensagem. Somente em muito poucas
porções de seu livro encontra-se o paralelismo poético, como em
Ezequiel 7; 21; 27; 28; 29-31. Seu objeto principal foi o de estimular as
mentes inativas dos judeus, e para isto, nada melhor que o uso dos
símbolos misteriosos, expressos com as palavras mais singelas. Os
homens superficiais, voláteis e voluntariamente incrédulos, ficariam
deste modo numa cegueira judicial (Is_6:10; Mt_13:11-13, etc.),
enquanto os que tinham melhor disposição a respeito da verdade seriam
conduzidos e estimulados a fazer uma investigação mais profunda
quanto às coisas de Deus, devido à própria escuridão dos símbolos. O
descuido praticado com relação a este propósito divino levou os judeus
de hoje a engrandecer esta escuridão a tal grau que se ordenou que
ninguém lesse este livro enquanto não tivesse completado os trinta anos
de idade.
Diz-se que o Rabino Hananias chegou a resolver satisfatoriamente
as dificuldades (Mischna) que se alegaram contra a canonicidade do
livro de Ezequiel. Eclo_49:8 refere-se a este livro, como também o faz
Josefo [Antiquities, 10.5.1]. Além disso, como parte do cânon,
menciona-se no catálogo de Melito (Eusebius, Ecclesiastical History,
4.26) e também em Orígenes, Jerônimo, e no Talmude. A unidade de
tom através do livro e a repetição de algumas expressões favoritas do
autor excluem a suspeita de que certas porções isoladas não sejam
genuínas. A primeira parte, Ezequiel 1-32, que trata principalmente do
pecado e o juízo, é a chave para interpretar a segunda que contém mais
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 5
esperança e alegria, mas mais remotas quanto à data. Desta maneira se
reparte uma unidade e um caráter ordenado e progressivo ao livro
inteiro. A destruição de Jerusalém é o ponto central em todo o livro.
Antes de que isto ocorresse o profeta chama o povo ao arrependimento, e
o adverte do perigo de pôr uma confiança cega no Egito (Ez_17:15-17;
Veja-se Jr_37:7) ou em qualquer outro apoio humano. Depois consola os
cativos prometendo-lhes uma libertação e restauração futuras. Suas
profecias contra as nações estrangeiras se colocam entre estas duas
grandes divisões, e foram pronunciadas no intervalo compreendido entre
a intimação de que Nabucodonosor estava sitiando a Jerusalém e a
chegada das notícias de que tinha tomado a cidade (Ez_33:21).
Havernick divide o livro em nove seções:
1. A chamada de Ezequiel para profetizar (Ez_1:1 – 3:15);
2. Predições simbólicas sobre a destruição de Jerusalém (Ez_3:16 a
Ezequiel 7);
3. Um ano e dois meses mais tarde a visão do templo profanado
pelo culto a Tamuz ou Adônis; o conseguinte derramamento de
fogo que Deus envia sobre a cidade e o abandono do templo para
mostrar-se a um povo que o busca no desterro. Depois virão
tempos melhores e mais puros. (Ezequiel 8-11);
4. Exposição dos pecados peculiares prevalecentes entre as diversas
classes: sacerdotes, profetas e príncipes (Ezequiel 12-19);
5. Um ano mais tarde a admoestação de que sobrevirá o juízo por
causa da culpabilidade nacional, repete-se com maior clareza ao
se aproximar o tempo de seu cumprimento (Ezequiel 20-23);
6. Dois anos e cinco meses mais tarde, o mesmo dia em que fala
Ezequiel, é anunciado como o dia em que começa o sítio de
Jerusalém; a cidade será derrubada (Ezequiel 24);
7. Predições contra as nações estrangeiras durante o intervalo de seu
silêncio divino a respeito de Seu próprio povo. Se o juízo
começar pela casa de Deus com muita mais razão visitará o
ímpio, (Ezequiel 25-32). Algumas destas predições foram
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 6
pronunciadas muito mais tarde que outras, todas começaram a ser
divulgadas depois da queda de Jerusalém.
8. No décimo segundo ano do cativeiro, quando os fugitivos de
Jerusalém (Ez_33:21) tinham aparecido na Caldeia, o profeta
prediz melhores tempos, o restabelecimento de Israel, e o triunfo
do reino de Deus na terra sobre seus inimigos: Seir, os pagãos, e
Gogue (Ezequiel 33-39);
9. Depois de um intervalo de treze anos chega a divisão final da
ordem e a beleza do reino restaurado (Ezequiel 40-48).
A particularidade dos detalhes quanto ao templo e suas ofertas
tende a desfavorecer a ideia de que esta visão fosse apenas simbólica e
de maneira nenhuma literal. O próprio acontecimento pode esclarecer
isto. Em todo caso não se cumpriu ainda; seu cumprimento pertence ao
futuro. Ezequiel foi o único profeta (no sentido estrito da palavra) entre
os judeus de Babilônia. Daniel foi, antes, um vidente que profeta, porque
o espírito de profeta foi dado não para capacitá-lo no exercício de um
ofício de caráter espiritual, senão para revelar acontecimentos futuros.
Sua posição no palácio de um rei pagão lhe facilitou a ocasião de tornar
públicas as revelações concernentes às relações externas do reino de
Deus com os reinos do mundo, pelo qual seu livro está classificado pelos
judeus entre os "Hagiógrafos", ou "Escritos Sagrados", e não entre as
escrituras proféticas. Por outro lado, Ezequiel foi distintamente um
profeta, e alguém que teve que ver com os assuntos internos do reino
divino. Como sacerdote, ao ser banido, seu ministério somente foi
transferido do templo visível de Jerusalém ao templo espiritual de
Caldeia.
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 7
Ezequiel 1

Vv. 1-28. A Visão de Ezequiel Junto ao Rio Quebar. Quatro


Querubins e Rodas.
1. Aconteceu — Assim como em Js_1:1, esta expressão refere-se à
história escrita no passado, também aqui; e em Rt_1:1, e Et_1:1 refere-se
à história não escrita que tinha estado na mente do escritor. Por meio
desta fórmula, por assim dizer, o profeta continua a história de tempos
anteriores. No quarto ano do rei Zedequias (Jr_51:59), Jeremias enviou
por meio de Seraías uma mensagem aos cativos (Jeremias 29) no qual os
persuadia a que se submetessem a Deus e abandonassem suas vãs
esperanças de uma pronta restauração. Esta comunicação foi feita no
seguinte ano, ou seja no quinto, e no quarto mês do mesmo rei (porque o
cativeiro de Joaquim e o acordo de Zedequias coincidem quanto ao
tempo) e foi continuada mais tarde por um profeta levantado dentre os
próprios cativos, o enérgico Ezequiel.
no trigésimo ano — quer dizer, contando desde o começo do
reinado de Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, a era do império
babilônico, 625 anos a.C., cuja época coincide com o décimo oitavo ano
de Josias, quando foi achado o livro da lei e começou a reforma
conseguinte [Scaliger], ou no trigésimo ano da vida de Ezequiel. Assim
como o Senhor ia ser “um pequeno santuário” (Ez_11:16) para os
desterrados junto ao rio Quebar, assim Ezequiel ia ser o sacerdote em
funções; portanto, ele assinala desde o começo de seu ministério sua
relação sacerdotal com Deus e com o povo; o final que descreve o
templo futuro explica o princípio. Ao designar-se a si mesmo
expressamente como “sacerdote” (v. 3), e tendo chegado aos trinta anos,
o ano em que os sacerdotes costumavam começar sua vida sacerdotal.
Ezequiel declara seu ofício como sacerdote entre os profetas. Desta
maneira a primeira visão descreve naturalmente a instituição formal do
templo espiritual no qual ele deve ministrar [Fairbairn].
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 8
Quebar —o mesmo que Chabor ou Habor; é o lugar onde tinham
sido transportadas as dez tribos israelitas por Tiglate-Pileser e
Salmaneser (2Rs_17:6; 1Cr_5:26). O rio Quebar deságua no rio Eufrates
perto do Carquemis ou Circesio, trezentos quilômetros a norte de
Babilônia.
visões de Deus — Quatro expressões se usam quanto à revelação
feita a Ezequiel, relacionadas às três primeiras com o que foi apresentado
de fora para lhe assegurar de sua realidade, e a quarta relacionada com
sua preparação pessoal e interior que o capacitou para receber a
revelação; “os céus se abriram” (assim como em Mt_3:16; At_7:56;
At_10:11; Ap_19:11); “e vi visões de Deus”; “veio ... a palavra do
SENHOR a Ezequiel” (v. 3). “A palavra de Jeová foi verdadeiramente”
(sendo este seu significado, antes, que expressamente, como indica a
Versão Almeida, v. 3) a ele” (não foi nenhuma alucinação); “ali esteve
sobre ele a mão do SENHOR” (Is_8:11; Dn_10:10, Dn_10:18;
Ap_1:17). O Senhor, com Sua mão sobre ele, fortaleceu-o para que
levasse a cabo seu ministério grande e árduo para que pudesse testificar e
informar corretamente a respeito das revelações feitas a ele.
2. cativeiro do rei Joaquim — no terceiro ano ou quarto de
Jeoaquim, pai de Joaquim, aconteceu o primeiro desterro dos judeus
levados cativos de Jerusalém a Babilônia, e entre eles se encontrava
Daniel. O segundo cativeiro ocorreu no reinado de Joaquim, quando foi
levado Ezequiel. O terceiro e último se levou a cabo quando se tomou a
cidade de Jerusalém sob Zedequias.
4. vento tempestuoso — simbólico dos juízos de Deus (Jr_23:19,
Jr_25:32).
vinha do Norte — quer dizer, de Caldeia, cujas forças hostis
invadiriam a Judeia desde o norte. O profeta se imagina estar no templo.
com fogo a revolver-se — abrangendo tudo o que estava perto e
atraindo-o a si mesmo para devorá-lo. Literalmente “prendendo-se a si
mesmo”, quer dizer, inflamando-se. [Fairbairn]. A mesma palavra
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 9
hebraica é mencionada em Êx_9:24, onde se fala de “fogo misturado
com a saraiva”.
resplendor ao redor dela — quer dizer ao redor da nuvem.
e no meio disto — do meio do fogo.
como metal brilhante — cintilava como bronze muito polido.
Literalmente, “o olho”, e daí a aparência reluzente do metal polido. A
palavra hebraica “chasmal” compõe-se de duas raízes: “liso” e “bronze”
(veja-se v. 7, e Ap_1:15) [Gesênius]. A LXX e a Vulgata traduzem
“electrum”, um metal brilhante composto de ouro e prata.
5. O próprio Ezequiel era de uma natureza gigantesca, e portanto
apto para rebater o espírito babilônico daquele tempo, que gostava de
manifestar-se em formas gigantescas e grotescas. [Hengstenberg.]
seres viventes — assim se devia ter traduzido o grego de uma
passagem paralela, Ap_4:6, e não “animais”, pois um dos quatro era um
homem, e um homem não pode ser descrito como “animal”. Ez_10:20
demonstra que eram querubins.
semelhança de homem — O homem, o mais nobre dos quatro é o
modelo ideal pelo qual são formados os seres viventes (v. 10; Ez_10:14).
O ponto de comparação entre o homem e os animais que se mencionam,
é a postura erguida de seus corpos, embora sem dúvida inclui a aparência
geral. Também “as mãos” (Ez_10:21).
6. Não somente havia seres viventes distintos, mas sim cada um
deles tinha quatro rostos, perfazendo um total de dezesseis. Os quatro
seres viventes ou querubins, correspondem, por contraste, às quatro
monarquias mundiais representadas por quatro “animais”, ou seja:
Assíria, Pérsia, Grécia e Roma (Daniel 7). Os “Pais” os identificavam
com os quatro Evangelhos: Mateus o leão, Marcos o boi, Lucas o
homem, e João a águia. Dois querubins somente pousavam sobre a arca
no templo; mas agora se acrescentam dois mais para dar a entender que
embora a lei se retém como base, é necessário lhe dar uma nova forma
para lhe repartir nova vida. O número quatro pode corresponder às
quatro partes do mundo, significando que os anjos de Deus executam
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 10
Suas ordens em todas partes. Cada uma das quatro cabeças tinha na
frente o rosto de homem, como o primário, e mais proeminente; à direita,
rosto de leão; à esquerda, o de boi; atrás o da águia. Os querubins
mosaicos eram similares, somente que os rostos humanos foram postos
olhando um ao outro e, ao mesmo tempo, olhando para o propiciatório,
que estava entre eles, sendo formados os querubins de ouro puro como
também o propiciatório. (Êx_25:19-20).
Em Is_6:2 fala-se dos serafins que tinham seis asas, com duas das
quais cobriam seus rostos, mas neste caso os serafins estão ao lado do
trono; enquanto que os “seres viventes” de que fala Ezequiel, estão sob o
trono. Ali Deus Se digna consultá-los, e ao fazê-lo Sua condescendência
evoca nos serafins a humildade de tal maneira que se cobrem o rosto
diante dEle. No relato de Ezequiel, os querubins de que fala, executam
os mandamentos divinos. O rosto expressa sua inteligência; as asas sua
rapidez em cumprir a vontade de Deus. A Shekiná, ou chama, que
significava a presença de Deus e a palavra escrita, JEOVÁ, ocupavam o
espaço existente entre os querubins. Gn_4:14, Gn_4:16; e 3:24 (“posto”,
propriamente, “pôr num tabernáculo”), que os querubins foram
designados, ao o primeiro homem cair em pecado, como símbolos da
presença de Deus num lugar consagrado, e que ali o homem devia adorá-
Lo. Na dispensação patriarcal, quando o dilúvio tinha causado a
mudança dos querubins do Éden, os serafins ou terafins (dialeto caldeu)
foram feitos como modelos daqueles para uso domestico (Gn_31:19,
margem 30). O silêncio de Êxodo 25 e 26 com relação à configuração
dos querubins, enquanto que tudo o mais está minuciosamente descrito,
deve-se ao fato de que sua forma era tão bem conhecida por Bezalel e
todo Israel, pela tradição, que não era necessária uma descrição
detalhada. Portanto, Ezequiel (Ez_10:20) imediatamente os reconhece,
porque os tinha visto repetidas vezes na madeira esculpida do santuário
exterior do templo de Salomão (1Rs_6:23-29). O profeta consola, pois,
aos desterrados com a esperança de ter os mesmos querubins no templo
renovado que se edificaria mais tarde, e lhes assegura que o mesmo Deus
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 11
que habitou entre os querubins do templo, estaria também com seu povo
junto ao Quebar.
Entretanto, devemos notar que no templo que Zorobabel edificou
não havia querubins, de modo que o templo prometido por Ezequiel, se
se tomar literalmente, quanto a se ele refere, pertence ao futuro. O boi é
escolhido como o principal dos animais domesticados, o leão entre os
selvagens, a águia entre as aves, e o homem como a cabeça de todos, em
seu ideal verificado pelo Senhor Jesus, combinando assim todas as
excelências do reino animal. Os querubins provavelmente representam
os poderes reinantes, pelos quais Deus age no mundo natural e moral.
Por conseguinte, às vezes respondem aos anjos que ministram; outras
vezes, aos santos redimidos (a igreja escolhida), por aqueles que, de
igual maneira que por meio dos anjos Deus governará o mundo no futuro
e proclamará sua múltipla sabedoria (Mt_19:28; 1Co_6:2; Ef_3:10;
Ap_3:21; Ap_4:6-8). Os “leões” e “bois” entre as “palmas” e “flores”
esculpidos no templo, eram os querubins de quatro rostos, que estando
calcados sobre uma superfície plana, apresentavam somente um aspecto
dos quatro que possuem. Os bois com asas, e cabeças humanas e os
deuses com cabeça de águia, achados em Nínive, esculpidos entre
palmeiras e flores com forma de tulipas, foram copiados de uma tradição
adulterada dos querubins colocados no Éden perto dos frutos e as flores
daquele jardim. Assim também o bezerro de Arão (Êx_32:4-5) e os
bezerros de Jeroboão em Dã e Betel, foram imitações dos símbolos
sagrados que se viam no templo de Jerusalém; o mesmo podemos dizer
das figuras de bois de Apis que aparecem nas arcas sagradas do Egito.
7. pernas … direitas — quer dizer, pernas direitas, sem estar
torcidas em alguma parte como ocorre com as patas do boi, mas sim
direitas como as pernas do homem [Grocio]. ou como colunas sólidas
que não se podem dobrar, e não como as pernas de homem que se
dobram nos joelhos. Em lugar de caminhar, deslizavam-se: seus
movimentos eram seguros, acertados e produzidos sem esforço. [Kitto,
Enciclopédia.]
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 12
a planta de cujos pés era como a de um bezerro — Henderson
supõe portanto que “pernas direitas” significa que os passos não se
projetavam para frente como o pé humano, mas sim verticalmente como
o faz a pata de um boi. A sólida firmeza da pata redonda de um boi
parece ser o ponto de comparação.
luzia — “a aparência resplandecente”, que indica a “pureza” de
Deus.
8. As mãos de cada um eram as mãos de um homem. A mão é o
símbolo do poder ativo guiado pela perícia (Sl_78:72).
Debaixo das asas — significando isto que seus atos ou movimentos
estão escondidos de nossa observação muito curiosa; e assim como as
“asas” significam algo mais que o humano, quer dizer, a secreta
insinuação de Deus, também dá a entender que são movidas por ela e
não por seu próprio poder; portanto, não fazem nada por acaso, mas tudo
segundo sabedoria divina.
aos quatro lados; assim todos os quatro tinham rostos e asas —
O profeta volta a indicar o que já havia dito no v. 6; isto explica por que
tinham mãos nos quatro lados. moviam-se na direção que queriam, não
somente por energia ativa, mas também com conhecimento (expresso
por seus rostos) e a direção divina (expressa por suas “asas”).
9. cada qual andava — não tinham necessidade de voltar-se
quando mudavam de direção, porque tinham um rosto (v. 6) olhando
para com cada um dos quatro pontos do céu. Não se equivocavam, e seu
trabalho não tinha necessidade de ser feito de novo. Suas asas se
estendiam acima juntando-se por pares (veja-se v. 11).
10. A forma de seus rostos era como o de homem — quer dizer,
de frente. O rosto humano era o primeiro e o mais proeminente, e a parte
fundamental do composto inteiro. No lado direito tinha o rosto de leão:
no esquerdo, o de boi (chamado “querubim”, Ez_10:14), e por trás, de
cima, a cabeça de águia.
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 13
11. As pontas das duas asas abertas se tocavam, enquanto que as
outras duas, em sinal de temor reverente e humilde. Formavam um véu
que tampava a parte inferior de seus corpos.
se abriam em cima — antes, estavam “partidas desde acima”
(veja-se Margem. Is_6:2, Nota). A união de suas asas na parte superior
significa que embora os movimentos da providência neste mundo podem
parecer confusos e antagônicos, entretanto, se a gente levantar os olhos
ao céu. Verá que se ligam admiravelmente para alcançar no fim o objeto
proposto.
12. A mesma ideia encontramos no v. 9. A repetição deve-se a que
nós, os seres humanos, somos tardos para chegar a reconhecer a
sabedoria das ações de Deus; elas nos parecem tortuosas e confusas, mas
todas tendem invariavelmente a um mesmo propósito.
o espírito — o impulso secreto por meio do qual Deus move a Seus
anjos rumo ao fim designado. Eles não se viram para trás nem aos lados
enquanto não tenham completado a tarefa que lhes foi encomendada.
13. à semelhança … parecer (RC) — não é tautologia. pois
“semelhança” expressa a forma geral, enquanto que “parecer”, refere-se
ao aspecto particular de uma coisa.
carvão em brasa — que denota a justiça intensamente pura e
ardente pela qual Deus castiga por meio de seus anjos àqueles que que,
como Israel, endureceram-se contra Sua grande paciência. Assim
também em Is_6:2, 6, em vez de querubins, aparece o nome “serafins”,
“acesos” ou “ardentes”, termo que se aplica para indicar a justiça
consumidora de Deus, e pelo que suas vozes se dirigem a Ele. dizendo:
“Santo! santo! santo!” e o carvão aceso é aplicado aos lábios do profeta
porque a mensagem que pronunciaria ia ser a mensagem de separação
judicial entre os fiéis e os ímpios, levando estes à ruína.
tochas; o fogo corria — O fogo emitia faíscas e relâmpagos de luz,
como fazem as tochas, expressando o vigor maravilhoso do Espírito de
Deus em todos os Seus movimentos, nunca descansando e nunca
cansado.
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 14
fogo ... resplendente — indicando assim a glória de Deus.
do fogo saíam relâmpagos (RC) — A retidão e justiça de Deus
enfim farão que um raio de Sua ira caia sobre os culpados; como agora ia
ocorrer sobre Jerusalém.
14. corriam e tornavam (RC) — O movimento incessante e
incansável dos querubins indica a plenitude de vida que possuem, assim
também em Ap_4:8, diz-se que: “não têm descanso nem de dia nem de
noite” (Zc_4:10).
à semelhança de relâmpagos — melhor dizendo, distintos de
relâmpagos (v. 13); o relâmpago de um meteoro ou descarga muito
extensa [Fairbairn].
15. uma roda — a “altura espantosa” da roda (v. 18) indica a
energia gigantesca e terrível das revoluções complicadas da providência
de Deus em cumprir Seus propósitos com certeza inequívoca. Uma roda
aparecia transversalmente dentro da outra, para que o movimento se
efetuasse sem dar nenhuma volta onde quer que os querubins
avançassem (v. 17). Desta maneira cada roda se compunha de dois
círculos, um dentro do outro em ângulos retos, “um” só que parecia tocar
a terra, de acordo com a direção em que queria mover o querubim.
cada um dos seus quatro rostos (RC) — quer dizer, “de acordo
com suas quatro caras” ou lados; visto que havia um lado ou direção por
cada um destes quatro animais, também havia uma roda para cada um de
seus lados [Fairbairn]. Os quatro lados, ou semicírculos de cada roda
composta apontava, do mesmo modo que os quatro rostos de cada um
destes animais, aos quatro pontos cardeais dos céus. Havernick atribui ou
relaciona a palavra “seus” às rodas. Os querubins e suas asas e rodas
estavam postos em contraste com as figuras simbólicas, algo parecidas,
que existiam então na Caldeia, figuras encontradas nas ruínas da Assíria.
Tais figuras embora derivadas da revelação original pela tradição,
vieram por vias corrompidas a simbolizar ao zodíaco astronômico, ou o
sol e a esfera celestial, por um círculo com asas ou irradiações. Mas os
querubins de Ezequiel se levantam acima dos objetos naturais, os deuses
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 15
dos pagãos, para representar ao Deus verdadeiro quem os fez e
continuamente os sustenta.
16. O aspecto das rodas e a sua estrutura — sua forma e o
material de seu trabalho.
berilo — ou seja a aparência fulgurante da pedra de Társis; o
crisólito ou topázio trazido de Társis, ou Tarteso na Espanha. Foi uma
das jóias engastadas na estola sacerdotal do sumo sacerdote (Êx_28:20;
Ct_5:14; Dn_10:6).
as quatro a mesma aparência — a semelhança das rodas entre si,
põe de manifesto que não há nenhuma desigualdade em todas as obras de
Deus; que tudo tem uma analogia e proporção belas.
17. andavam pelos quatro lados deles (RC) — Isto é, aqueles
rostos ou lados das quatro rodas, os quais se moviam correspondendo
com a direção para onde queria mover-se o querubim; enquanto que os
círculos transversais em cada uma das rodas compostas, permaneciam
levantados do solo para não impedir os movimentos dos demais.
18. cambotas — quer dizer, circunferências das rodas.
olhos — a multiplicidade de olhos aqui nas rodas e (Ez_10:12) nos
próprios querubins, simboliza a plenitude de vida inteligente, sendo o
olho a janela pela qual olhava “o espírito dos animais” nas rodas (v. 20)
(veja-se Zc_4:10). Assim como as rodas significam a providência de
Deus, assim os olhos dão a entender que Ele vê todas as circunstâncias
de cada caso, e que não faz nada por impulso cego.
19. andavam as rodas ao lado deles — iam a seu lado.
20. Para onde o espírito queria ir, iam — sua vontade era ir onde
o espírito ia.
se elevavam juntamente com eles — antes, ao lado de ou junto a
eles.
espírito dos seres viventes — que indica coletivamente os “seres
viventes”: os querubins. Havendo primeiro observado os querubins
separadamente, agora o profeta os observa juntos como uma só criatura
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 16
na qual reside o Espírito. A vida assinalada é essa vida relacionada com
Deus, santa e espiritual em toda a plenitude de Seu poder ativo.
21. elevando-se eles … também as rodas juntamente com eles —
iam junto [Henderson,] ou “ao lado” [Fairbairn.]
22. Sobre a cabeça — melhor dizendo, acima das cabeças
[Fairbairn.]
algo semelhante ao firmamento — cristal maravilhoso e terrível
que deslumbrava ao que olhava.
23. estendidas — erguidas [Fairbairn], estendidas para cima.
cada um tinha outras duas asas com que cobria o corpo de um e
de outro — não é, conforme parece, uma contradição ao v. 11. As duas
asas estendidas para cima, embora utilizadas principalmente para voar,
entretanto, até a parte superior da figura onde se separavam uma da
outra, cobriam a parte superior do corpo, enquanto que as outras duas
asas cobriam a parte inferior.
24. voz do Onipotente — o trovão (Sl_29:3-4).
estrondo tumultuoso — a voz do que fala ou “som de tumulto”
como em Jr_11:16. De uma raiz árabe que significa o impetuoso ataque
de uma chuvarada. “Voz, como de um exército”. (Is_13:4; Dn_10:6).
25. Parando eles, abaixavam as asas — enquanto o Onipotente
fazia ouvir Sua voz, deixavam cair com reverencia suas asas, para
escutar silenciosamente Sua comunicação.
26. A Deidade aparece aqui à semelhança da humanidade
entronizada, como em Êx_24:10. Ao lado do “ladrilhado de safira
semelhante ao céu quando está sereno” ali, temos aqui o “trono” e Deus
“como um homem” com “a aparência de fogo ao redor”. Este último era
um prelúdio da encarnação do Messias, mas em seu caráter de Salvador e
Juiz (Ap_19:11-16). A safira azul representa a cor do céu. Assim como
outros são chamados “filhos de Deus”, mas Ele é “o Filho de Deus”,
assim alguns são chamados filhos do homem (Ez_2:1, 3), mas Ele é “o
Filho do homem” (Mt_16:13), sendo o representante corporal da
humanidade e toda a raça humana assim como também por outro lado
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Ele é o representante de “toda a plenitude da divindade” (Cl_2:9).
Enquanto que os querubins são mutáveis, o trono que está em cima, e
Jeová quem os move, são firmes e inamovíveis. Estas são boas novas
para o homem, que o trono ali acima está ocupado por Um que até em tal
lugar tem a semelhança de “um homem”.
27. cor de âmbar (RC) — “o brilho abismal” [Fairbairn]; veja-se a
nota ao v. 4; ou seja “cintilação de bronze” [Henderson]. O Messias se
descreve aqui como em Dn_10:5-6; Ap_1:14-15.
28. o aspecto do arco … em dia de chuva — símbolo da aliança
segura de misericórdia para com o povo de Deus lembrado à hora do
juízo sobre os ímpios, do mesmo modo que ocorreu no dilúvio nos dias
de Noé (Ap_4:3). Como se se hasteasse do trono do Eterno um
estandarte de paz, assegurando a todos que o propósito do céu era
preservar em vez de destruir. Mesmo quando a obra divina necessite um
dilúvio de ira, a fidelidade de Deus brilharia enfim mais forte ainda em
favor dos filhos da promessa como resultado das tribulações necessárias
para prepará-los para receber o bem final [Fairbairn] (Is_54:8-10).
caí com o rosto em terra — a atitude correta, espiritualmente
falando, antes de entrar em qualquer obra ativa para Deus (Ez_2:2; 3:23,
24; Ap_1:17). Neste primeiro capítulo Deus reuniu numa visão a
substância de tudo o que ocuparia a atividade profética de Ezequiel;
assim como também foi feito posteriormente na visão preliminar do
Apocalipse, que teve João.
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 18
Ezequiel 2

Vv. 1-10. A Comissão de Ezequiel.


1. Filho do homem — termo muitas vezes aplicado a Ezequiel;
uma só vez a Daniel (Dn_8:17), mas a nenhum outro profeta. Sem
dúvida, a frase foi tomada do uso caldeu, durante a estadia de Daniel e
Ezequiel na Caldeia. Mas o espírito que sancionou as palavras do
profeta, deu a entender por elas a baixeza e fragilidade do profeta como
homem “menor que os anjos”, embora agora tinha sido admitido a ter
visão dos anjos e do próprio Deus, “para que não se enalteça
sobremaneira” (2Co_12:7). É chamado assim apropriadamente como
sendo um tipo do divino “Filho do homem” aqui revelado como
“homem” (Veja-se nota a Ez_1:26). Este título aplicado ao Messias,
indica em seguida sua humildade e sua exaltação, em suas manifestações
como o homem representativo, em Sua primeira e segunda vindas
respectivamente (Sl_8:4-8; Mt_16:13; Mt_20:18; e por outro lado
Dn_7:13-14; Mt_26:64; Jo_5:27).
2. entrou em mim o Espírito, quando falava comigo — a palavra
divina sempre é acompanhada pelo Espírito (Gn_1:2-3).
e me pôs em pé — antes tinha estado “sobre seu rosto” (Ez_1:28):
a humilhação da nossa parte é seguida pela exaltação da parte de Deus
(Ez_3:23, 24; Jó_22:29; Tg_4:6; 1Pe_5:5). “Em pé”, esta era a atitude
adequada quando o profeta foi chamado a caminhar e trabalhar por Deus
(Ef_5:8; Ef_6:15).
ouvi — ou melhor dizendo “então ouvi”.
3. nações rebeldes — palavras geralmente usadas em conexão com
os pagãos ou gentios; mas aqui se refere aos judeus, que estavam
paganizados por sua idolatria. Assim também em Is_1:10 se chamam
“Sodoma” e “Gomorra”. Agora deveram ser “Lo-Ami”, não meu povo
(Os_1:9).
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 19
4. filhos são de duro semblante — (Ez_3:7, 9). Voltando a referir-
se àqueles daqueles de que fala no v. 3; os “filhos” seguem nas pegadas
dos “pais”.
Eu te envio — Deus faz frente com Seu mandamento a todo
obstáculo. Os deveres são nossos; os acontecimentos são de Deus.
Assim diz o SENHOR Deus — Deus opõe Seu nome à teimosia da
nação.
5. hão de saber — mesmo quando não escutem; pelo menos não
terão desculpa por sua perversidade (Ez_33:33).
6. sarças — não como na margem e Gesênius, “rebeldes”, o qual
não corresponderia tão bem a “espinhos”. A palavra hebraica vem de
uma raiz que significa “picar” como a urtiga. Este termo se aplica com
frequência aos ímpios (2Sm_23:6; Ct_2:2; Is_9:18).
escorpiões — um réptil do comprimento de umas seis polegadas,
com um aguilhão mortífero na ponta da cauda.
não temas — (Lc_12:4; 1Pe_3:14).
7. são rebeldes — literalmente, a própria “rebelião”, sua própria
essência.
8. come — (Jr_15:16, Nota; Ap_10:9-10). A ideia é apoderar-se,
totalmente da mensagem ele mesmo e digeri-la em sua mente; não se
trata de comer literalmente, mas sim de apropriar-se de tal modo o
conteúdo desagradável da mensagem que chegasse a ser como uma parte
do mensageiro, e pudesse assim reparti-lo vivamente a seus ouvintes.
9. o rolo — a forma em que se apresentavam os livros antigos.
10. por dentro e por fora — sobre ambos os lados do pergaminho.
Geralmente se escrevia somente sobre um lado que ficava no interior do
pergaminho quando este se enrolava, mas desta vez tão cheia estava a
mensagem de Deus da ira iminente, que se escreveu também na parte
exterior.
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 20
Ezequiel 3

Vv. 1-27. Ezequiel Come o Rolo; Recebe a Comissão de Ir ao


Lugar Onde os Israelitas Estão em Cativeiro e Vai a Tel-Abibe Junto a
Quebar. Outra Vez Vê a Glória da Shekinah. É-lhe Pedido para se
Retirar a Seu Lar e Somente Falar Quando Deus lhe Abrir a Boca.
1. come … e fala — O mensageiro de Deus deve apropriar-se para
si a verdade de Deus, antes de “falar” dela com outros (Nota, Ez_2:8).
As ações simbólicas, sempre que possível e adequado, eram efetuadas
visivelmente; de outra maneira, interiormente e em forma de visão
espiritual; a ação assim narrada faz com que as manifestações sejam
mais intuitivas e impressionantes por apresentar o objeto numa forma
concentrada e incorporada.
3. doce como o mel — Sl_19:10; Sl_119:103; Ap_10:9, onde,
como aqui no v. 14, a “doçura” é seguida pela “amargura”; “amargo”
pela natureza dolorosa da mensagem, mas “doce” porque ele se achava
no serviço do Senhor. O comer o rolo e achá-lo doce, significava que,
despojando-se a si mesmo de todo sentir carnal, fazia com que a vontade
de Deus fosse a sua própria, por doloroso que fosse a mensagem que
Deus lhe pedisse para anunciar. O fato de que Deus seria assim
glorificado, era seu maior prazer.
5. Veja-se a Margem, e o texto hebraico: “profundos de lábio e
obscuros de língua”, quer dizer, homens que falam uma língua obscura e
ininteligível. Até estes teriam escutado o profeta; mas os judeus, até lhes
falando em seu próprio idioma, não queriam ouvi-lo.
6. muitos povos — Se tivesse aumentado a dificuldade, se tivesse
sido enviado o profeta, não só a um povo, mas também a “muitos povos”
de idiomas distintos, o que teria feito necessário que o missionário
aprendesse os idiomas respectivos. Entretanto, a missão posterior dos
apóstolos a muitos povos e o dom de línguas para tal fim, vislumbra-se
já aqui, (Veja-se 1Co_14:21, com Is_28:11).
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 21
se eu aos tais te enviasse, certamente, te dariam ouvidos —
(Mt_11:21, Mt_11:23).
7. Israel não te dará ouvidos, porque não me quer dar ouvidos a
mim — (Jo_15:20). Aceita com paciência o fato de te rejeitarem porque
Eu, teu Deus, suporto-o junto contigo.
8. Ezequiel quer dizer alguém que é “fortalecido por Deus”. Tal era
ele em firmeza santa, apesar da oposição de seu povo, e de acordo com o
mandamento divino dado à tribo sacerdotal, à qual Ezequiel pertencia
(Dt_33:9).
9. mais dura do que a pederneira — Assim o Messias, do qual era
o antítipo (Is_50:7; veja-se Jr_1:8, Jr_1:17).
10. mete no coração … os teus ouvidos — A transposição da
ordem natural, ou seja: receber primeiro com os ouvidos, logo com o
coração, é feita a propósito. A preparação do coração para a mensagem
deve preceder à recepção desta mensagem pelos ouvidos. (Veja-se
Pv_16:1; Sl_10:17).
11. teu povo — que deveria ter melhor disposição para lhe escutar,
sendo você seu compatriota da que teria tido, por ter sido você profeta
estrangeiro (vv. 5, 6.)
12. (At_8:39). A residência de Ezequiel até aquele momento não
tinha sido muito adequada para seu trabalho. Ele é guiado, pois, pelo
Espírito a Tel-Abibe, o povo principal dos cativos judeus, e chegado ali,
sentou-se no solo, “o trono do miserável” (Ed_9:3; Lm_1:1-3), sete dias
esteve assim o período habitual para aquele que se manifestava um
profundo pesar (Jó_2:13; veja-se Sl_137:1), ganhando assim a confiança
dos exilados pela simpatia que para com eles mostrou em sua grande
tristeza. Em seu deslocamento é acompanhado pelos querubins
manifestados no Quebar (Ez_1:3, 4), depois de sua partida de Jerusalém.
Agora fazem-se ouvir, movendo-se com “grande estrondo” (veja-se
At_2:2), e dizendo: “Bendita seja a glória do SENHOR, desde o seu
lugar” [RC], quer dizer, movendo-se de onde tinham estado junto ao
Quebar para acompanhar a Ezequiel a seu novo destino (Ez_9:3), ou
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 22
“desde o seu lugar” significando “em seu lugar e manifestada dali”.
Embora Deus pode ter abandonado aparentemente a Seu templo, ainda
está nele, e ali restaurará a Seu povo. Sua glória “é bendita” em contraste
com aqueles judeus que falaram mal dEle, como se tivesse sido
injustamente rigoroso com sua nação [Calvino].
13. tocavam — literalmente, “beijavam-se”, abraçavam-se
estreitamente.
sonido de um grande estrondo — típico dos grandes desastres que
ameaçavam os judeus.
14. eu fui amargurado — tristeza por causa das grandes
calamidades que viriam, das quais era necessário que o profeta fosse
mensageiro embora mal recebido. Mas a “mão” ou o impulso poderoso
de Jeová foi sobre mim.
15. Tel-Abibe — Tel significa elevação; identificada por Michaelis
com a Thallaba junto ao Chabor. Talvez o nome significa as esperanças
dos judeus quanto à sua restauração, ou também, a fertilidade da região.
Abibe quer dizer as verdes espigas de grão, as quais aparecem no mês de
Nisã, promessa da colheita.
assentei-me — Mas o texto hebraico é: “Observei-os sentados ali”
[Gesênius]; ou, “E os que estavam sentados ali,” etc. quer dizer, os
habitantes mais antigos, como separados dos chegados recentemente, aos
quais se refere na cláusula anterior. As dez tribos fazia tempo que
habitavam junto ao rio Quebar ou Habor (2Rs_17:6). [Havernick.]
17. atalaia — Só Ezequiel entre os profetas é chamado “atalaia”,
não meramente para simpatizar mas para dar em seu tempo a devida
advertência de perigo a seu povo onde eles não esperavam que houvesse
perigo. Habacuque (2Rs_2:1) fala de “vigiar”, mas era somente a fim de
estar à espera da manifestação do poder de Deus assim como também em
Is_52:8; Is_62:6, não como Ezequiel que devia agir como atalaia para
outros.
18. tu não o avisares e nada disseres para o advertir — a
repetição faz entender que não é suficiente advertir uma vez ao passar,
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 23
mas sim a advertência deve ser inculcada continuamente (2Tm_4:2; “a
tempo e fora de tempo”; At_20:31, “dia e noite com lágrimas.”)
para lhe salvar a vida — Ez_2:5, aparentemente fazia perder toda
esperança de salvação; mas a referência ali tinha a ver com a grande
massa do povo, cuja situação estava perdida; uns quantos indivíduos,
entretanto, podiam ser reclamados.
morrerá na sua iniquidade — (Jo_8:21, Jo_8:24). Os homens não
devem fazer-se ilusão de que seu ignorância, devido à negligência de
seus mestres, salvá-los-á (Rm_2:12, “Os que sem lei pecaram, também
sem lei perecerão”)
19. impiedade ... caminho ímpio (RC) — maldade interior do
coração e externa da vida, respectivamente.
tu salvaste a tua alma — (Is_49:4-5; At_20:26).
20. quando o justo se desviar da sua justiça — não quer dizer
“justo” quanto à raiz e espírito da regeneração (Sl_89:33; Sl_138:8;
Is_26:12; Is_27:3; Jo_10:28; Fp_1:6), mas quanto à aparência exterior e
as ações. Assim o “justo” (Pv_18:17; Mt_9:13). De modo que segundo o
v. 19, o ministro deve levar os ímpios rumo ao bem assim como que
segundo o v. 20, deve confirmar os que estão bem dispostos a cumprir o
seu dever.
fizer maldade — quer dizer dar-se completamente à maldade
(1Jo_3:8-9), porque até os melhores caem com frequência embora não
voluntária e habitualmente.
e Eu puser diante dele um tropeço — Deus não nos prova para
pecar (Tg_1:13-14), mas Deus entrega os homens à cegueira judicial e a
suas próprias corrupções (Sl_9:16-17; Sl_94:23), quando “não lhes
pareceu bem ter a Deus em seu conhecimento” (Rm_1:24, Rm_1:26,
Rm_1:28), assim como o contrário, Deus “endireita o caminho do justo”
(Pv_4:11-12; Pv_15:19) para que não tropecem. Calvino refere
“tropeço” não à culpabilidade mas sim a seu castigo; “trarei ruína sobre
ele”. O primeiro significado é o melhor. Acabe, depois de certa forma de
justiça (1Rs_21:27-29), teve uma recaída e consultou a espíritos
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 24
mentirosos que moravam nos falsos profetas; de modo que Deus
permitiu a um destes ser seu “tropeço”, tanto para pecar como para seu
castigo correspondente. (1Rs_22:21-23).
o seu sangue da tua mão o requererei — (Hb_13:17).
22. A mão do SENHOR — (Ez_1:3).
sai para o vale — a fim de que ali, num lugar solitário, longe dos
incrédulos, pudesse o profeta receber uma nova manifestação da glória
divina que o animasse em sua árdua tarefa.
23. a glória do SENHOR — (Ez_1:28).
24. me pôs em pé — tendo estado prostrado, sem poder levantar-se,
até quando foi levantado pelo poder divino.
Vai e encerra-te dentro da tua casa — dando a entender que no
trabalho que devia fazer, não podia esperar nenhuma simpatia dos
homens, mas sim devia estar muito a sós com Deus e receber dele sua
força [Fairbairn]. “Não saia de sua casa enquanto Eu não te revelar o
futuro com sinais e palavras”, o qual Deus faz nos capítulos seguintes até
o capítulo onze. Desta maneira dá-se uma representação da cidade
fechada pelo sítio [Grocio] e ao mesmo tempo, Deus prova a obediência
de Seu servo, e Ezequiel demonstra a realidade de sua chamada
procedendo, não de acordo com seus impulsos mas sim de acordo com as
direções de Deus [Calvino].
25. porão cordas sobre ti — não literal mas espiritualmente; a
influência tenaz e deprimente que exerceriam os israelitas sobre o
espírito do profeta, com sua conduta rebelde. A perversidade deles como
cordas, reprimiria sua liberdade na pregação. Assim em 2Co_6:12. Paulo
diz sentir-se “estreito” porque seu ensino não lhes chegava facilmente.
Também poderia ter sido dito para consolar o profeta porque estava
encerrado; se tivesse que lhes anunciar a mensagem de Deus em seguida,
eles se lançariam sobre ti e te atariam com “cordas” [Calvino].
26. Farei que a tua língua se pegue ... ficarás mudo — Israel
tinha rejeitado os profetas, portanto Deus priva a Israel dos profetas e de
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 25
Sua palavra, o qual seria o juízo mais terrível de Deus (1Sm_7:2;
Am_8:11-12).
27. quando eu falar contigo, abrirei a tua boca (RC) — contrário
ao silêncio imposto ao profeta para castigar o povo (v. 26). Depois que o
intervalo de silêncio tiver despertado a atenção do povo quanto ao
motivo do mesmo, quer dizer, seus pecados, então escutarão
possivelmente as profecias, o que não queriam fazer antes.
Quem ouvir ouça, e quem deixar de ouvir deixe — quer dizer,
cumpriste tua parte, ouçam eles ou deixem de ouvir. Quem se negar a
ouvir, será para seu próprio perigo; quem ouvir, será para seu bem eterno
(Ap_22:11).
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 26
Ezequiel 4

Vv. 1-17. Uma Visão Simbólica do Sítio da Cidade e da


Culpabilidade do Povo.
1. um tijolo — tijolo cozido ao sol, muito comuns em Babilônia,
cobertos por inscrições cuneiformes, com frequência de dois pés de
comprimento e um de largura.
2. fortificações — melhor dito, torre de vigia (Jr_52:4) aonde os
sitiadores podiam observar o movimento dos sitiados [Gesênius]. Um
muro de redondeza [LXX e Rosenmuller]. uma espécie de aríete
[Maurer.] A primeira opinião é a melhor.
tranqueiras — onde os caldeus poderiam proteger-se dos projéteis
que lhes arrojavam.
aríetes — literalmente, “furadores”. Em Ez_21:22, a mesma
palavra hebraica se traduz “capitães”.
3. assadeira de ferro — o decreto divino a respeito do exército
caldeu que sitiava a cidade.
põe-na por muro de ferro entre ti e a cidade — Em nome de
Deus. Ezequiel lhes representa um muro de separação como de ferro
entre o profeta e o povo; e o exército invasor caldeu como instrumento
infranqueável, que Deus usava para separar dEle mesmo a Seu povo
dirige para ela o rosto — inexoravelmente (Sl_34:16). Os
desterrado invejavam a seus irmãos que tinham permanecido em
Jerusalém, mas o desterro era melhor que a estreiteza de um sítio.
4. Outro ato simbólico executado ao mesmo tempo que o anterior,
em visão, não em ação exterior, o qual teria sido só um ato pueril:
narrado como algo efetuado idealmente, devia fazer uma impressão
vivida sobre aqueles que o escutavam. A segunda ação é suplementar da
primeira, para dar ênfase à mesma ideia profética.
o teu lado esquerdo — referindo-se à posição das dez tribos, o
reino do norte, como Judá era o do sul e corresponderia ao “lado direito”
(v. 6). Os orientais, olhando a leste a seu modo, tinham o norte à sua
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 27
esquerda, e o sul à sua direita (Ez_16:46). Também o lado direito era
mais honorável que o esquerdo: assim Judá, sendo o assento do templo,
era-o mais que Israel.
levarás sobre ti a iniquidade dela — a maldade aqui é
considerada como uma “carga”; portanto quer dizer, levar o castigo de
sua maldade (Nm_14:34). A profecia apresenta aqui um tipo dAquele
que levou os pecados de todos, não numa demonstração figurada como o
fez Ezequiel, mas em realidade (Is_53:4, Is_53:6, Is_53:12).
5. trezentos e noventa dias — os 390 anos de castigo assinalados
para Israel e quarenta para Judá, não podem referir-se ao sítio de
Jerusalém. Este sítio é aquele que se refere nos vv. 1-3, não num sentido
restringido ao sítio literal, mas sim compreendendo todo o processo do
castigo merecido por seus pecados; portanto aqui só lemos a respeito da
pressão dolorosa que ocasionaria o sítio, não de seus resultados. A soma
de 390 e 40 anos é 430, um período famoso na história do povo da
aliança, quer dizer, aquele que passaram no Egito (Êx_12:40-41;
Gl_3:17). Os quarenta referem-se aos quarenta anos no deserto. Em
outra parte (Dt_28:68; Os_9:3) Deus ameaçava fazê-los voltar ao Egito,
o que pode significar não ao Egito num sentido literal precisamente, mas
sim a uma escravidão tão má como a do Egito. Agora, pois, Deus os
reduziria a uma nova espécie de escravidão egípcia ao mundo: Israel, o
maior transgressor, estaria por um período mais longo que Judá. (Veja-se
Ez_20:35-38). Entretanto, nem todos os 430 anos do estado egípcio se
aplicam a Israel; o período é cortado pelos quarenta anos de estada no
deserto, dando-se a entender que há um caminho aberto para sua volta à
vida, pois tinham fundido em um sua estadia no Egito e sua peregrinação
no deserto, quer dizer, por cessar da idolatria e por buscar em suas
dolorosas e terríveis dificuldades mediante uma aliança com Deus, uma
restauração à justiça e à paz. [Fairbairn]. Os 390 anos com referência ao
pecado de Israel também foram literalmente verdadeiros, sendo os anos
transcorridos desde que levantaram os bezerros por ordem de Jeroboão
(1Rs_12:20-33). quer dizer, desde 975 a 585 a.C., mais ou menos no ano
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 28
do cativeiro babilônico, e talvez os 40 anos de Judá se referem a essa
parte do reinado de 55 anos de Manassés em que tal rei não se tinha
arrependido e que conforme nos é dito expressamente, foi a causa de que
Deus deslocasse a Judá apesar da reforma de Josias (1Rs_21:10-16;
1Rs_23:26-27).
6. um dia para cada ano (NVI) — Lit., “um dia por um ano, um
dia por um ano”. Repetido duas vezes, para dar maior ênfase à referência
de Nm_14:34. A descrição do futuro sob a imagem do passado em que
seu significado estava longe de aparecer sobre a superfície, tinha por fim
o elevar ao povo a uma maneira menos superficial de pensar, assim
como o esconder parcialmente a verdade nas parábolas de Jesus tendia a
estimular a investigação; também para fazer lembrar aos homens que os
caminhos de Deus no passado são uma chave para entender o futuro,
porque Ele se move sempre segundo os mesmos princípios eternos,
sendo transitivas somente as formas
7. com o teu braço descoberto — estando assim preparado para a
ação, o que de outro modo impediria o longo vestido oriental que o
cobria. (Is_52:10)
profetizarás contra ela — este gesto do profeta seria uma tácita
profecia contra a cidade.
8. cordas — (Ez_3:25).
não te voltarás de um lado para o outro — para dar a entender
assim a impossibilidade de livrar-se de seu castigo.
9. trigo e cevada, etc. — em lugar da simples farinha usada para
massas delicadas (Gn_18:6), os judeus teriam assim uma mescla tosca de
seis diferentes classes de grãos, similar ao que somente os mais pobres
comiam.
trezentos e noventa dias — os quarenta dias se omitem aqui
porque estes tipificam o período passado no deserto, quando Israel
permaneceu separado dos gentios e sua contaminação, embora fossem
parcialmente disciplinados por falta de pão e água (v. 16). O comer pão
imundo nos 390 dias quer dizer uma residência forçada “entre os
Ezequiel (Jamieson-Fausset-Brown) 29
gentios”, que estavam contaminados pela idolatria (v. 13). Isto se diz de
“Israel” em primeiro lugar por ser o mais depravado (vv. 9-15); com
efeito tinham descido espiritualmente ao nível dos pagãos, e portanto
Deus faria com que sua condição, exteriormente falando, correspondesse
a este estado. Judá e Jerusalém não terão um castigo tão pesado por não
serem tão culpados; eles “comerão o pão por peso e com angústia”; quer
dizer, com escassez, sendo castigados por uma disciplina menos severa
que a do período no deserto. Mas Judá

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