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IREE

CURSO: FEMINISMO PARA UMA OUTRA SOCIEDADE


Profa. Dra. Marcia Tiburi (Université Paris 8)

Feminismo dialógico: notas para a fundamentação de um projeto


epistemológico e ético-político ∗

Feminismo dialógico é uma formulação que visa dar conta de uma abordagem ético-
política do feminismo favorecendo a compreensão de seu caráter processual no
tempo e no espaço geopolítico, bem como do seu caráter coletivo, pragmático e
transformador. A exposição dessa abordagem se dará em quatro passos, a saber,
(1) o feminismo entre episteme e paradigma, (2) o feminismo e a ética, (3) o diálogo
como metodologia feminista e (4) a passagem da ética à política feminista.

1- O feminismo entre a epistême e o paradigma

Podemos definir o feminismo em termos de transformação epistêmica na


linha de um potencial epistemológico radical (DE LAURENTIS, 1994). O feminismo é
uma epistemologia (ALLCOF, 1993: RAGO, 1998) no sentido de ser uma
organização conceitual analítica e crítica capaz de fundamentar teorias e práticas.
Nesse sentido, podemos dizer que o feminismo é uma “teoria crítica” em relação à
“teoria tradicional” patriarcal.
Porém, mais do que isso, o feminismo vem se constituindo no que podemos
definir como sendo uma outra epistême a partir da questão colocada por Foucault
(1966) acerca da história das ciências e do conhecimento em geral. Foucault não é
um pensador feminista, evidentemente, e o meu interesse ao citá-lo é apenas usar
de modo proveitoso esse conceito em específico. O conceito de epistême nos ajuda
a entender o que está em jogo na produção teórica e cultural a partir do
aparecimento do sujeito mulher como agente do conhecimento. Conhecimento é um
conceito reservado, ou até mesmo sequestrado pelo patriarcado, e que precisa ser
levado em conta a partir de uma perspectiva feminista.
O conceito de epistême de Foucault nos permite compreender não apenas a
questão do sentido histórico do conhecimento, mas as próprias condições de
possibilidade do conhecimento. Historicamente, o que as teóricas feministas vem

                                                                                                               

  Trabalho no prelo, favor não passar adiante antes da publicação. Se houver desejo
 

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fazendo é produzir uma epistemologia feminista, mas não só. Em um trabalho de
séculos, acredito que seja possível que um cenário histórico e cultural, o cenário da
epistême, esteja sendo alterado. Nesse sentido, o feminismo pode ser considerado
ele mesmo uma outra epistême que vem sendo construída nas sombras da história
tradicional por um movimento que une teóricas e ativistas nas profundezas dos
movimentos tectônicos da história dos quais o conhecimento surge como construção
e acontecimento. Algumas dessas teóricas e ativistas chegaram a se tornar
personagens da história patriarcal, aquela que foi contada até agora. Outras tantas
ficam soterradas junto a suas obras sob as camadas de escombros do patriarcado.
Esses escombros foram lançados pelo sistema de poder patriarcal sobre a memória
e a atividade intelectual, artística e política das mulheres. Evidentemente, todas as
demais atividades femininas também foram tornadas invisíveis por processos de
produção ideológicos próprios da epistême patriarcal em níveis diversos de
violência. Não é um exagero dizer que a grande caça às bruxas promovida no
século XVI, foi uma espécie de solução final que se aplicou às mulheres visando
exterminar o indesejável que elas vinham representar.
Foucault usou o conceito de epistême para pensar tempos históricos:
Renascença, Antiguidade e Modernidade. Nessa abordagem pretendo ultrapassar
definições temporais estanques e defender a hipótese de que o feminismo
contemporâneo vem sendo criado não apenas como um enfrentamento teórico e
prático do patriarcado, mas sob condições históricas que só aos poucos vem
irrompendo à luz do dia, ele vem, de fato, causando abalos sísmicos, interrompendo
o continuum da história, pelo próprio trabalho de historiadoras e teóricas feministas.
Nesse sentido, compreender o entrelaçamento entre feminismo e o que podemos
chamar de pré-feminismo, o entrelaçamento entre a história passada e a história
presente das mulheres, é muito oportuno.
É nesse sentido, que se pode considerar o feminismo como a irrupção de
uma outra epistême que vem sendo construída nos subterrâneos da história oficial
patriarcal, ela mesma um processo de apagamento e recalcamento da história das
mulheres, e que vem à tona em função de novas condições psicossociais e
antropológico-políticas produzidas pelas mulheres. Evidentemente, essas
transformações também são éticas, pois implicam a produção de um outro sujeito,
aquele que o patriarcado, como Deus na Terra, jamais gostaria de ver vivo.
A epistême de um tempo é a sua “cientificidade”, a saber, aquilo que define o
que é válido ou inválido em termos de conhecimento. Algo que é tanto produzido
institucionalmente quanto culturalmente. Não é apenas a ciência, mas o que faz uma
teoria ou prática ser tratada como ciência. Nesse sentido, me parece correto dizer

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que o patriarcado se estabeleceu como uma epistême pela qual se constituiu um
parâmetro machista na ciência tanto no que concerne à produção da pesquisa
quanto no que concerne à ideia da verdade que dela deriva. Desse modo, o
feminismo vem a ser a epistême que vem desmontar o patriarcado analítica e
criticamente escancarando as suas contradições e limites. Conseguimos entender
porque o feminismo se torna tão perseguido, por ser ameaçador para uma visão de
mundo pré-estabelecida como verdadeira e que sustenta pesados jogos de poder na
base dessa “verdade”. Por isso, podemos dizer que o feminismo vem a ser um
profundo questionamento sobre a “verdade” patriarcal.
Podemos então, seguir dizendo que o feminismo é um sistema conceitual
que transforma as condições de possibilidade nas quais se desenvolve o próprio
conhecimento. Nesse sentido ele implica uma ruptura, em termos do que em
BACHELARD (2006) é uma revolução epistemológica, ou uma revolução científica
no sentido de mudança de concepção de mundo (KUHN, 1998). Mas não só, dessa
revolução epistemológica deriva também uma revolução ético-política como
veremos mais adiante. Como o feminismo produz essas operações? Colocando
“mulher” e “gênero” como categorias de análise (FEDERICI, 2017; SCOTT, 1991), e
compreendendo feministas como agentes éticos e políticos no sentido da “poético-
política” que vem sendo feita há séculos por mulheres que, ao questionarem o
patriarcado e ao defenderem os direitos das mulheres, podem ser chamadas de
feministas mesmo antes do surgimento dessa palavra ocorrido apenas no século
XIX (FRAISE, 1989).
O termo paradigma importa também para compreender a relação entre a
filosofia feminista e o todo da história da filosofia tradicional. Se podemos concordar
que na história da filosofia vamos do paradigma do ser, passamos para o da
consciência e chegamos ao da linguagem (APPEL, 2000), podemos afirmar que o
feminismo inaugura um novo paradigma, no sentido de modelo de pensamento que,
contudo, permaneceu até pouco tempo ocultado, mas aos poucos vem atingindo a
sua manifestação mais radical. Isso quer dizer que a história da filosofia não será
mais a mesma. E que não será mais possível pensar filosoficamente sem levar em
conta as categorias fundantes do feminismo, tanto “mulher”, quanto “gênero”.
Se a abordagem de Foucault acerca da epistême nos permite pensar o pano
de fundo no qual se desenvolvem perspectivas científicas, sejam no campo das
ciências naturais, sejam das ciências humanas, se é possível a partir dela pensar
uma “arqueologia” capaz de fazer aparecer as bases a partir das quais se funda o
saber, podemos dizer que as feministas vem fazendo essa arqueologia por seus
próprios meios há bastante tempo, talvez desde Christine de Pizan (1363-1430) e

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que, nesse momento histórico, elas tem avançado em termos de pesquisa nas mais
diversas áreas, da história política à história da arte, da história da ciência à história
da vida cotidiana, da história da literatura à história da caça às bruxas. O que se
descobre nessa história é o esquecimento (DUBY; PERROT, 1993) como um fator
fundamental. A filosofia feminista, nesse caso, está intimamente conectada a
história.
Além disso, percebe-se que as mulheres travaram uma guerra sem fim por
sua sobrevivência e que foram constantemente vencidas por seus algozes,
opositores e assassinos, que, no tempo histórico, destruíram inclusive os sinais de
sua presença. A história das mulheres sempre foi a história da luta contra a
violência. Atualmente vivemos a história da luta por reconhecimento, mas apenas
porque estamos, enquanto mulheres, produzindo um outro cenário onde isso seja
possível. Tal luta por reconhecimento passa pela reconstrução e análise filosófica de
nossa história. E isso que permite hoje a produção de biografias e autobiografias
que eram absolutamente interditas no patriarcado. Não podemos contar nossa
história como pessoas concretas se não nos envolvermos com o sentido da história
passada que implica o nosso passado comum como mulheres.
Pesquisas nessa linha vem redesenhando a cultura do conhecimento a partir
de um novo sujeito, o sujeito que levanta a questão da mulher e do gênero como
categorias de análise. Não se trata, portanto, apenas de recuperarmos o
conhecimento comum, mas de mergulharmos nos subterrâneos da história para
avaliar sua parte não contada. O sujeito do feminismo, portador da consciência
sobre mulher e gênero, é um intruso nessa história e precisa ser levado a sério
como fator fundamental da consciência feminista.
Cabe analisar a formação desse sujeito.

2- O feminismo e a ética:

Ética é uma área da filosofia ligada à ação humana. Nessa abordagem, vou
usar conceito de ética que desenvolvi em um livro chamado “Filosofia Prática, ética,
vida cotidiana, vida virtual” (2014). Naquele trabalho ética era definida como a
experiência com o conhecimento e a ação que respondia às perguntas: “como me
torno quem sou?”, “o que estamos fazendo uns com os outros?” e “como viver
junto?”. Portanto, a ética era uma práxis, ou seja, a junção entre teoria e prática, a
reflexão e a ação. Em termos mais diretos, a ética era a reflexão capaz de nos levar
à autocompreensão do “sujeito”, sendo sujeito uma posição mental, afetiva e ativa.
O patriarcado seria uma processo de “assujeitamento” das mulheres, enquanto que

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feminismo seria o processo pelo qual as mulheres se livram do jugo patriarcal e
criam sua própria história. A autonomia subjetiva é resultado de uma construção
autônoma que só pode acontecer a partir da consciência das heteroconstrução
sofrida. O patriarcado é um processo pelo qual o gênero nos é imposto. Ele é parte
do processo de assujeitamento do capitalismo como um todo, especializado em
submeter corpos através de instituições, de discursos e práticas de poder.
O sujeito do feminismo implica a consciência feminista, a saber, a
consciência que um indivíduo heterodenominado mulher têm acerca da condição na
qual se encontra enquanto objeto de “gendramento” (DE LAURENTIS, 1994) ou
“generificação” (BUTLER, 2017). Generificação é o conjunto das práticas e técnicas
pelas quais corpos são transformados em papéis. Gênero é, nesse sentido, uma das
categorias fundamentais para que possamos compreender a opressão vivida pelas
mulheres.
Sobre o conceito de “condição”, vale lembrar a pergunta de Simone de
Beauvoir acerca da dificuldade e até mesmo da impossibilidade de um ser humano
alcançar sua transcendência sob a condição feminina” (BEAUVOIR, 2019). Em seu
livro O Segundo Sexo, Beauvoir fala da mulher enquanto “Outro” do homem, como
um ser criado justamente para servir ao homem e não para viver a experiência de
ser, ela mesma, um ser humano com direito a transcender sua imanência, ou seja,
de fazer a descoberta de si como um ser capaz de liberdade.
A questão do feminismo como uma ética está dada no processo de produção
da subjetividade como elo entre pensamento, afetividade e ação. Compreendendo a
ética não como uma teoria moral ou moralista, mas como a filosofia prática, na qual
entra em questão a formação do sujeito autônomo, ou seja, o sujeito livre e
responsável, o feminismo surge como a filosofia capaz de questionar as opressões
sobre o corpo feminino e a experiência de ser um ser humano enquanto “mulher”. A
categoria de gênero é aquela que permite analisar as produções opressivas sobre o
corpo deste ser heterodenominado “mulher”. Nesse contexto, o feminismo não é
apenas um questionamento sobre o lugar do sujeito masculinista, ou o sujeito do
privilégio, ou do sujeito em sentido “essencial” por oposição ao “inessencial” da
mulher como foi percebido por Beauvoir, mas, ao contrário, o sujeito que, em luta
com o patriarcado, constrói o seu próprio lugar. É a partir do lugar subjetivante do
feminismo que as mulheres se descobrem como sujeitos capazes de lutar por
direitos e por reconhecimento, por equidade e justiça. A construção de uma outra
comunidade é o que está em jogo para as feministas, sendo essa outra comunidade
que se constrói na luta o que nos permite construir a luta.

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O patriarcado é a face de gênero do capitalismo, do racismo e do
capacitismo em um grande sistema de opressão articulado. A condição de sujeito
implica a autonomia que sempre foi negada às mulheres e pela qual elas foram
caçadas como bruxas (FEDERICI, 2017), o que continua acontecendo até hoje e
que é nosso dever ultrapassar.

3 - Diálogo como metodologia feminista

Nesse projeto o diálogo se apresenta como método, como um operador


feminista que permite estabelecer a ligação entre os diversos modos de pensar e
fazer feministas preservando a singularidade das agentes e avançando na produção
de novos elos, de novas interações. Facilitando, assim, a ascensão do sujeito
feminista como agente de práticas libertadoras e transformadoras.
Contudo, o diálogo não é um elemento externo ao feminismo, algo alheio que
deveríamos introduzir no feminismo, ao contrário, ele é uma potência do feminismo
em todos os tempos de sua história e fundamental na teoria de algumas
pensadoras. Por isso, ao falar do feminismo dialógico é preciso entrar em contato
com as camadas arqueológicas do feminismo compreendendo que o próprio
feminismo se constrói como um diálogo no tempo e no espaço, ou seja, na história e
na geopolítica. O feminismo é uma pluralidade de mundos.
Falo em mundos no sentido de espaços hermenêuticos e simbólicos em
construção. O patriarcado é um mundo e, nesse sentido, também um sistema
simbólico, contudo, no sentido de ser uma ideologia, ou seja, uma perspectiva
acobertadora e estanque, a única e verdadeira “ideologia de gênero” (DE
LAURENTIS, 1994; TIBURI, 2018). Considerando a condição de mundos ou sistema
simbólicos em construção, o feminismo, ao contrário do patriarcado, vai na direção
da arte por sua potência desconstrutiva. A afinidade metodológica entre arte e
feminismo é imensa. O trabalho violento do patriarcado está em tentar evitar a todo
custo que as mulheres construam seu próprio sistema simbólico, tendo em vista que
isso se dará também por meio da desconstrução do sistema simbólico do
patriarcado. A construção do feminismo depende do sentido das relações que seus
sujeitos, principalmente as mulheres que o colocam em movimento, desenvolvem no
tempo. Não é à toa que na história da misoginia, ou seja, do ódio às mulheres, a
violência física e a psíquica, bem como a simbólica, tenham o objetivo de destruir a
mulher que se expressa livremente e a mulher que se une à outras mulheres. Nesse
sentido, o patriarcado usa a intriga como uma metodologia contra a potencial
unidade das mulheres. A ideia de que as mulheres falam demais, de que são seres

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tagarelas e inadequados, e que disputam entre si é uma constante nos discursos
misóginos ao longo da história (BLOCH, 1995).
Vamos buscar na arqueologia dessa questão, alguns dos seus momentos
importantes que, a meu ver, se situam no processo pelo qual se funda o próprio
conhecimento, a ética e a política, a saber, o diálogo.
Walter Benjamin em um trecho chamado “A Conversação” (2002) de seu
livro chamado “Metafísica da juventude”, nos ajuda a pensar nas potências do
diálogo ao fazer a seguinte pergunta: “Como conversavam Safo e suas amigas?”.
Essa pergunta se constrói no contexto de um elogio do silêncio que, na visão de
Benjamin, as mulheres conheceriam muito melhor do que os homens. Não é
possível entrar na complexidade do tema do silêncio nesse momento, mas gostaria
de guardar apenas a oposição silêncio e diálogo que surge nessa pergunta.
Enquanto os homens fazem a experiência da fala, enquanto eles dialogam, as
mulheres fazem a experiência do silêncio. Contudo, o silêncio também é parte do
diálogo. Enquanto um participante fala, o outro escuta e essa é uma relação
dialética. O que nos importa, contudo, é o movimento que Benjamin realiza com sua
pergunta. Direi até que esse texto de Benjamin nos serve de alegoria metodológica
do que se produz em termos de um potencial e processual feminismo dialógico.
Benjamin evoca Safo distante das conversas socrático-platônicas e desloca a
atenção sobre o diálogo socrático para o desconhecido, complexo e misterioso
diálogo entre as mulheres.
A reflexão de Benjamin nos levaria a outras questões, mas o que nos importa
agora é a sua pergunta. Ela nos permite comparar dois mundos, o masculino
“falogocêntrico” (DERRIDA, 1980) com seu domínio sobre a produção narrativa, e
por consequência, a vasta historiografia que lotam bibliotecas e livrarias nas quais a
biografia dos homens, seus cânones auto-honoríficos em literatura e filosofia, suas
teorias constantemente misóginas são guardadas como documentos de cultura.
Parafraseando Benjamin para quem “nunca houve um documento de cultura que
não fosse também um documento de barbárie” (1994), podemos dizer que “todo
documento de cultura é, ao mesmo tempo, um documento patriarcal”. O patriarcado
é análogo à barbárie.
O mesmo podemos dizer da produção imagética de autoria masculina que
repete o “phallogocentrismo” contra a experiência do mundo feminino cuja
característica seria o silêncio, justamente por não ser falogocêntrico. A assimetria
não é apenas entre silêncio e fala, mas está inscrita em uma verdadeira ordem do
discurso. Ela se dá entre antifalogocentrismo x falogocentrismo. Nesse mundo, há

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de fato o silêncio. Mas, infelizmente, todos os tipos de silenciamento encontram
lugar.
Benjamin sugere esse deslocamento. O lugar do qual ele parte é Platão e
seu eterno personagens Sócrates. Para esses filósofos que, de fato, inauguram
alguma coisa de muito importante em termos de filosofia, o diálogo é a forma
filosófica por excelência, mas é também uma forma discursiva e literária. A filosofia
ocidental se organiza principalmente a partir dessa forma textual, ela mesma um
questionamento da textualidade e um apontamento para o que a transcende. Platão
é o autor de uma formulação dialética fundamental: escrever para mostrar que é
preciso ir além da escrita. O diálogo implica essa potência.
O diálogo continua sendo a forma própria da filosofia, embora os pensadores
e filósofos atuais prefiram expor suas ideias em textos acadêmicos que realizam o
diálogo em diversos níveis, bem como em forma de ensaios. Mesmo assim, o
diálogo é o pano de fundo de toda textualidade filosófica e literária. Mas as mulheres
sempre estiveram excluídas do diálogo. E é isso o que podemos ver em um diálogo
como o Banquete de Platão(2016), por exemplo, justamente na cena em que as
mulheres devem se retirar para que a conversa filosófica comece a ter lugar. É
verdade que Platão coloca na conta de Diotima, uma outra mulher, a autoria do
conceito fundamental do diálogo, a saber, o amor. Mas para compreender por que
Diotima é autora de uma ideia tão importante, reconhecida por Sócrates, não se
pode esquecer a simetria entre os dois modos de ser “mulher” no diálogo diante da
“homossexualidade” masculina em cena. O termo homossexualidade aqui, não se
refere apenas aos jogos amorosos ou sexuais que possa haver entre os
participantes, todos homens, interessados no tema do “eros” que se traduz por
amor, mas de um “hegemonia” do sexo masculino que deve excluir os corpos
femininos em sua presença física, enquanto mantém uma presença metafísica, por
assim dizer, ou idealizada, a de Diotima. Diotima não é uma flautista ou uma
serviçal, ela é uma sacerdotisa e não está presente como estão as suas colegas de
sexo que se devem retirar.
Sócrates fala de Diotima através de uma memória, eliminando o problema de
ter que bani-la da sala, caso ela estivesse fisicamente presente. Não é difícil ver que
o interesse de Platão está na alteridade idealizada e incorporal da sacerdotisa e não
nas mulheres corporais e presentes que devem ser afastadas. Diotima está além do
espaço físico, e sua própria condição a define como a imagem conceitual. Sua
presença na cena a coloca como imagem de uma mediação para o conceito de
Eros. Diotima é o “não-presente” que é aceita por oposição àquelas que, estando
presente, são banidas e que, se continuassem presentes seriam “intrusas”. A

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presença dos corpos femininos é indesejável e a permanência de uma mulher na
esfera do não-corporal, imaterial e ideal, seria o desejável. O sentido de Diotima no
diálogo tem mais a função de colocar em cena a diferença em relação aos corpos
implicados na homossexualidade, seja ela uma prática ou uma construção simbólica
de mundo, do que de dar lugar ao feminino. Nesse sentido, os limites do diálogo
platônico são os limites dessa linguagem construída em um mundo ou sistema
simbólico homossexual. O diálogo entre os homens tem algo de “monólogo” ou de
“homogêneo” e Platão sabe que a diferença precisa ser demarcada para que o
homolinguismo seja superado.
Para os fins desse texto, podemos agora trazer a cena os conceitos de
dialogicidade e de polifonia, a “multiplicidade de vozes e consciências
independentes” que encontramos em Bakhtin (2013). Eles nos ajudam a pensar o
feminismo como uma anti-monologia. Ou seja, mais vale buscar no feminismo a
multiplicidade de visões, de questões e, sobretudo, de singularidades que se
expressam construindo o seu campo de ação, do que uma visão unitária –
homossexual como vemos em Platão - sob a qual devem se encaixar os discursos,
teorias e práticas feministas. A visão unitária remete a um padrão, à ideia de
patamar e de “regra”. O feminismo não é uma “regula” (HAIDU, 2003) sob a qual
surge um “inferior”, e a partir da qual surge o sujeito como um demônio incarnado.
Ao contrário, o feminismo é um “aberto” diante da “regula” do patriarcado a ser
superado.
Infelizmente, ainda é bastante desconhecido do público um livro de Cristine
de Pizan chamado Cidade das Mulheres, publicado pela primeira vez em 1405
(CALADO, 2006). Podemos dizer que Cristine é uma feminista, mesmo que esse
termo ainda não existisse naquela época. Aliás, a própria Cristine não é muito
conhecida do grande público acostumado ao cânone patriarcal que define os textos
a serem lidos e considerados como sendo importantes. Cristine que foi uma mulher
emancipada econômica e intelectualmente, e bastante diferente para seu tempo,
elabora no livro citado um diálogo entre ela e algumas personagens tendo como
foco uma crítica da sociedade misógina. A consciência da misoginia foi naquela
época, o mesmo que a consciência do obscurantismo foi para o Iluminismo.
Em A Cidade das Mulheres, Cristine construirá um diálogo muito criativo e
rico no qual intercalará vozes de três figuras femininas que são personificações de
virtudes: a “Senhora Razão”, a “Senhora Retidão” e a “Senhora Justiça” que se
apresentam como aparições fantásticas.
Não é um exagero dizer que o discurso dessas “mulheres” na forma de
aparições mágicas mostram as “virtudes” gerais que elas personificam como

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virtudes tipicamente feministas. O diálogo é uma apologia das mulheres: seja por
que as personagens são apresentadas como imagens de mulheres empoderadas,
como vozes potentes, seja por estarem em defesa de altos valores e na crítica
daqueles que negam o valor das mulheres. Essa apologia se torna ainda mais
radical, quando essas vozes deixam claro que o projeto de construção de um
“Cidade das Mulheres” que elas tem em mente só poderá ser construído por uma
mulher que seria um ser capaz de um ato tão grandioso enquanto é, ao mesmo
tempo, um ser tão modesto.
A cidade das mulheres é uma obra de crítica ao patriarcado, de crítica à
misoginia. Cristine visa mostrar seu estarrecimento diante dos discurso dos homens,
das contradições que eles cometem e dos seus erros em relação às mulheres, mas
não perde de vista o compromisso ético e político do seu projeto intelectual. Nesse
sentido, podemos dizer que o diálogo de Cristine não é apenas uma forma literária
ou filosófica, mas está no cerne de um projeto a ser construído com a participação
de outras mulheres.
Vou reconstituir brevemente os pontos do texto que nos podem ser úteis na
fundamentação do feminismo dialógico que buscamos aqui.
Cristine está em seu gabinete a estudar e lhe cai nas mãos um texto de um
tal Mateolo que ela resolve ler para divertir-se. Logo desiste por que o texto não
merece muita dedicação. Porém, ao ler as maldades e bobagens de Mateolo, ela
percebe que discursos como o seu são muito comuns em textos sérios. Ela começa
a se perguntar sobre discursos imaginando que tais filósofos e pensadores incríveis
devem ter razão acerca do que dizem sobre as mulheres. Cristine está já pensando
se Deus teria cometido um grande erro ao criar a mulher e está apavorada por ele a
ter colocado em um corpo feminino. Então, a primeira aparição se faz ver.
O primeiro pronunciamento se dá no momento em que Cristine está
duvidando de si mesma. A primeira mulher é a “Senhora Razão”. Ela chama a
atenção de Cristine para sua própria consciência, para a sua capacidade de
discernir o certo do errado e analisa a habitual misoginia (sem usar essa palavra)
dos homens. A Senhora Razão fará Cristine ver que contra ofensas e injustiças a
postura correta não é a de se deixar levar pelos discursos carregados de más
intenções dos homens. A difamação contra as mulheres é parte da história humana
e depõe contra seus autores. As mulheres não se devem deixar atingir, afirma a
dona da palavra. No momento da aparição, Cristine está sendo atingida moral e
intelectualmente pelo discurso misógino. Tomada por uma falácia de autoridade,
afinal são os grandes filósofos que dizem mal das mulheres, ela se questiona se ela
mesma não estará errada. A Senhora Razão segue a apresentar seus argumentos a

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Cristine quem, segundo ela, precisa superar essa má influência que só a entristece.
A aparição explica-lhe que está ali para ajuda-la e para ajudar as mulheres frente a
uma guerra sem defesa, na qual as mulheres se veem desamparadas. É então que
esta imagem de mulher lhe anuncia a construção de um edifício, do qual Cristine
será a autora. Ela fala de uma cidade indestrutível apesar de todos os ataques que
ela vai sofrer. Será, além de tudo, uma cidade mais forte que o império das
Amazonas.
A segunda mulher a falar-lhe é a Retidão que lhe apresenta o apoio moral e
ético, lhe fala da bondade e do Bem Comum, da defesa da verdade e do obstáculo
aos perversos que ela vem a ser. A terceira é a Justiça que explica como habita no
céu, na terra e no inferno e fala da complexidade de seu dever de dar a cada um o
que lhe é devido. É a Justiça que lhe explica o trabalho conjunto que ela realiza com
as companheira, as virtudes da Razão e da Retidão. Sua tarefa, na cidade de
Cristina, é justamente concluir a cidade. Cristine responde com uma típica
autocritica relativa a seus limites, mas aceita com alegria e coragem a proposta que
lhe é feita.
A estrutura do texto é alegórica. As três aparições são personificações de
virtudes e portam objetos: um espelho, um bastão e um cálice com seus significados
próprios relacionados às virtudes. Na sequência, Cristine vai conversando com as
aparições, tirando suas dúvidas e obtendo respostas bastante desconstrutivas do
patriarcado, considerando a época e, sobretudo, quando percebemos que taos
colocações ainda têm validade cultural hoje. Infelizmente, os tempos atuais ainda
guardam certas características insuperadas dos tempos passados.
Os textos de Cristine inscrevem-se na tradição dos specula e exempla
(LEITE, 2008) dedicando-se à defesa das mulheres como seres de direitos. Na
sequência do texto, Cristine continua seu diálogo com as aparições levantando
questões mais teóricas e são apresentados vários exemplos de personagens
femininas todas consideradas importantes na construção da cidade das mulheres.
Destaca-se um embate contra a misoginia, o puro preconceito contra as mulheres e
uma defesa da educação para as mulheres. Cristine é a primeira mulher a
desconstruir de maneira sistemática a visão dos homens sobre esses seres
marcados por preconceitos.
Certamente, ela é uma pensadora medieval e os pensadores medievais não
podiam ocupar-se livremente de quaisquer assuntos sem passar por um louvor a
Deus. A Igreja exercia um papel de censura informal ou formal importante conforme
épocas e contextos. Cristine faz o mesmo que seus contemporâneos, mas parece
ser sincera em relação a sua crença em Deus. Mas o que importa é que a sua crítica

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aos misóginos colaborou para uma verdadeira nova onda que faz parte da “Querela
das mulheres” e que durou pelo menos até o século XVIII (CALADO, 2006)
envolvendo diversos setores da sociedade.
A posição de Cristine e seus textos já colocam o feminismo, embora na fase
histórica em que ele ainda não havia sido nomeado, como uma postura crítica e
analítica que visa modificar condições sociais injustas produzidas a partir do
operador de gênero. O método de Cristine tanto como forma, mas também como
impulso político do texto, foi o diálogo. Em Cristine, o diálogo é uma forma, mas
também uma busca por fundamentação. Com sua reflexão ela mostra o papel
político do texto para as mulheres e para a cultura que deseja superar o machismo,
o sexismo e todas as opressões patriarcais.

4 - Da ética à política feminista.

Como afirma Ilze Zirbel: “O feminismo é político. Qualquer que seja sua
vertente, linha de pensamento e proposta de atuação, ela será política. Trata-se de
uma reação à uma realidade social injusta, marcada por desigualdades e hierarquias
pautadas nas diferenças (físicas ou não) de seus indivíduos.” (ZIRBEL, no prelo). A
concepção de política dessa definição de Zirbel implica a luta diante de uma cenário
de injustiças. Ela coloca o feminismo como uma reação ao patriarcado enquanto
sistema de injustiças, uma reação que é necessariamente política.
A proposta de um feminismo dialógico que busco fundamentar aqui está de
acordo com essa definição acima, pois nela fica claro o aspecto da luta feminista.
Uma luta que nasce de desejo de emancipação de um estado de coisas injusto.
Porém, podemos dizer que o feminismo é político em um sentido anterior, enquanto
ele faz parte do todo das construções humanas que levam à cultura, à sociedade e
até mesmo à noção de Estado.
Aqui temos um problema histórico para resolver. Por muito tempo, a cultura
patriarcal se estabeleceu como “a cultura”, como “a sociedade”, como “o Estado” e,
para não ficar apenas nas estruturas objetivas, também como “o sujeito”. O
surgimento do feminismo – seja pensado em termos genealógicos ou arqueológicos
– provocou uma verdadeira falha geológica no sistema patriarcal, auto-intitulado
“humanista”.
O feminismo, portanto, é político de um modo muito amplo. De um lado, os
seres que fundam e refundam diariamente o feminismo, a saber, as mulheres,
sempre foram objeto de disputa quanto à sua “humanidade”. Se os seres que
fundaram o feminismo não eram reconhecidos exatamente como seres humanos e

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se a política é uma coisa humana, fica claro que política e humanidade estavam do
mesmo lado e mulheres estavam de outro lado. Se a politica patriarcal se entendeu
como uma coisa humana, e se ela excluiu as mulheres, é porque o patriarcado
nunca foi humano, ou porque as mulheres não eram consideradas pelo patriarcado
como humanas. A contradição da política patriarcal é auto-implosiva. Se o
feminismo é político, não o é no sentido que os homens davam a esse termo. Nesse
sentido, podemos dizer que o feminismo vem livrar a política do seu aprisionamento
patriarcal.
Se a política patriarcal se erigiu expatriando as mulheres das esferas
decisórias, das esferas de poder, o feminismo vem a ser a consciência dessa
condição injusta e o movimento que dela surge. Se levamos em conta a estrutura da
política grega, as mulheres foram confinadas em um lugar que, em um texto seminal
como a Política de Aristóteles, vem a ser o oikos, lugar interno à pólis e, ao mesmo
tempo, dela separado. É como se as mulheres devessem habitar um campo de
concentração. O lar seria a zona de exceção dentro da pólis que atravessa de
maneira genealógica a história dos corpos femininos(TIBURI, 2008).
A passagem da ética à política é um dos pontos essenciais da construção do
feminismo. Isso quer dizer que o sujeito singular faz laço com o coletivo. Tal laço é
político. Mas esse laço não se estabelece apenas na contemporaneidade. Ele se
estabelece também na dimensão da história. Temos, nós que somos mulheres, um
passado comum (FEDERICI, 2017) que nos torna herdeiras de uma mesma
tradição, dos mesmos problemas, das mesmas opressões. Elas só poderão ser
superadas se o nosso passado comum for reconhecido.
Na construção de um ponto de vista que nos permita reconhecer o passado
comum, temos o trabalho das historiadoras feministas. E um ponto fundamental é a
teoria da história. O conceito de gênero como categoria de análise (SCOTT, 1991),
cuja consciência vem sendo o elemento fundamental da construção feminista há
algumas décadas (BUTLER, 2017) nos permite reformular não apenas o cenário da
produção teórica e das práticas feministas, mas nos leva o fundamento do que nos
une. O diálogo feminista depende da consciência de um passado comum.
Nesse contexto é preciso destacar o que vem sendo chamado de feminismo
interseccional (CRENSHAW, 1991; COLLINS, Patricia Hill, 2017) que se apresenta
hoje como a forma muito bem elaborada de dialogicidade feminista que recupera a
ancestralidade das feministas negras e latinoamericanas. Quando falo de feminismo
dialógico, refiro-me ao reconhecimento das vozes na profusa polifonia em
movimento nas produções teóricas e práticas, algo que é meta do feminismo
interseccional.

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Hoje a produção feminista é de tal maneira profícua que já não temos como
ler todos os textos produzidos, não é possível para uma pessoa acompanhar cada
nova teoria, cada nova pesquisa, cada nova perspectiva que se abre. Isso é um
excelente sinal, porque mostra que o feminismo avança como processo de
construção de multidão (o que nos faz pensar na “multitudo” de Spinoza), um
processo de construção de coletividade na qual as singularidades se encontram
preservadas. Não se trata, portanto, quando falamos de feminismo de um fenômeno
de massa, mas de um processo político em que as pessoas, seus corpos vivos,
entram em cena refazendo a política.

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