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ISSN: 2358-8411
Nº 5, volume 4, article nº 2, October/December 2017
D.O.I: http://dx.doi.org/10.17115/2358-8411/v4n5a2
ANAIS VII SEMINÁRIO E III CONGRESSO DIREITO E
MEDICINA - DIREITOS DE PERSONALIDADE
Introdução
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Uenf, Centro de Ciências do Homem, Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem,
Campos dos Goytacazes, Brasil, e-mail: iedatboechat@hotmail.com
Alucinações e Autismo”.
Ainda segundo Silva (2012), Dr. Leo Kanner foi o primeiro a postular
clinicamente o autismo, quando escreveu, em 1943, seu famoso artigo Distúrbio
Autista do Contato Afetivo, no qual descreveu 11 crianças com prévio diagnóstico
de esquizofrenia, porém tendo apenas descrito o mal pela categoria “autismo”.
Cabe salientar que o autismo passou a ser chamado “Síndrome de Kanner” em
referência ao médico que o descreveu.
No início de suas pesquisas, Kanner se inclinou pela explicação biológica
do autismo. No último parágrafo de seu artigo, afirma o seguinte:
Devemos, portanto, supor que estas crianças vieram ao mundo
com uma incapacidade biologicamente inata de formar laços
afetivos comuns de base biológica com as pessoas, assim como
outras crianças vêm ao mundo com a incapacidades físicas ou
intelectuais inatas. (KANNER, 1943 apud GRANDIN; PANEK,
2015, p. 14 )
Por fim, vale salientar que o Transtorno do Espectro Autista aparece no DSM-
5 (2014) dividido em níveis de gravidade: no Nível 3, “exigindo apoio muito
substancial”, há déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não
verbal com prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em iniciar
interações sociais e responder minimamente a aberturas sociais vindas de outros;
quanto ao comportamento, há grande dificuldade em lidar com a mudança ou outros
comportamentos restritos/repetitivos, comprometendo o funcionamento em todas as
esferas, gerando sofrimento; há, ainda, dificuldade para redirecionar o foco ou a
ação. No Nível 2, “exigindo apoio substancial”, percebem-se déficits graves nas
habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes
mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta
reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Ademais, há
inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros
comportamentos restritos/repetitivos que aparecem com frequência suficiente para
serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma
variedade de contextos; sofrimento e/ou dificuldade de mudar o foco ou as ações.
No Nível 1, “exigindo apoio”, veem-se déficits na comunicação social que causam
prejuízos notáveis, bem como dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos
claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros; é
possível, ainda, que apresente interesse reduzido por interações sociais. Por fim,
cabe salientar que há inflexibilidade de comportamento, o que causa uma
interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos; dificuldade
em trocar de atividade e problemas para organização e planejamento que obstam a
independência.
Grandin e Scariano (2010, p. 18) afirmam, assim, o autismo é “[...] um
distúrbio do desenvolvimento. Uma deficiência nos sistemas que processam a
informação sensorial recebida faz a criança reagir a alguns estímulos de maneira
excessiva, enquanto a outros reage debilmente”. Inquieta com o
diagnóstico,
Ainda outra reação que precisa ser observada é que o “[...] autismo coloca a
família frente a uma série de emoções de luto pela perda da criança saudável,
apresentando com isto sentimentos de desvalia e de culpa, caracterizando uma
situação de crise” (RIBEIRO, 2011).
Em sua autobiografia, Temple Grandin, ao relatar aspectos da relação
interpessoal mãe-filha, comenta: “tinha seis meses de idade, quando minha mãe
percebeu que eu não me aninhava mais e ficava rígida quando ela me segurava
surgir nos primeiros meses de vida. O bebê não responde da mesma forma que os
demais. Não é surdo, pois reage aos sons. Mas suas reações a outros estímulos
sensoriais são inconscientes” (GRANDIN; SCARIANO 2010, p.19). Vale salientar,
segundo ela, que é um equívoco afirmar que a criança autista não apresenta
nenhuma reação às outras pessoas. Apresentam sim, porém, em determinadas
situações, as reações podem variar de acordo com o que a criança está sentindo
no momento.
Ao perceber que sua filha se comportava de um modo diferente do
“comum”, a mãe de Grandin fez o que lhe pareceu mais acertado à época, levou
sua filha a um neurologista. O médico, por sua vez, após examinar a criança a
encaminhou para uma fonoaudióloga, ao perceber que não tinha dano cerebral e
que, certamente, aprenderia a falar. A fonoaudióloga auxiliou Grandin,
principalmente, a compreender as consoantes, quando faladas rapidamente.
Concomitantemente, a mãe de Temple, contratou uma babá. De acordo com
Grandin, em sua autobiografia, “A atitude da babá era semelhante à dos
terapeutas comportamentais de hoje em dia. Em todas as brincadeiras tínhamos
que esperar a nossa vez”. A autora acrescenta: “O único momento em que podia
regressar ao autismo era uma hora a cada dia, após o almoço. No resto do dia
tinha de viver num mundo que não balançava nem girava” (GRANDIN; SCARIANO
2010, p. 12).
Observa-se, assim, como a vida familiar pode ser, de fato, impactada pelo
diagnóstico de autismo, pois a família tem sua rotina completamente alterada, nela
serão incluídos atendimentos a diversos profissionais, como se demonstra a
seguir.
conflitos que tendem a se iniciar tanto individualmente quanto nas relações entre
os envolvidos dentro e fora da família. Como afirma Ribeiro (2011),
idade, além disso as possibilidades de trabalho são raras, acabando por deixar os
jovens e adultos com autismo muitas vezes em casa”, (RIBEIRO, 2011).
Observando a história de Temple Grandin, percebe-se todo o esforço
empregado por sua família, ao longo de sua vida, especialmente pela sua mãe, no
sentido de auxiliá-la em seu desenvolvimento. O autista, devido a sua limitação no
contato com o mundo, precisa do auxílio das pessoas que lhe são mais próximas,
por esse motivo, é imprescindível que a família tenha participação ativa no
tratamento do portador do espectro.
Através da autobiografia de Grandin, relatada por Grandin e Scariano
(2010), por exemplo, podemos observar a importância da participação familiar,
Conclusão
que os anos passam novas descobertas são feitas. O que se sabe hoje sobre o
autismo já tem proporcionado grande melhora na qualidade de vida dos
portadores do espectro, bem como na vida dos seus familiares.
De modo geral, o nascimento de um filho é precedido por uma grande
expectativa, há diversas especulações sobre a cor dos olhos, cabelo, tamanho,
temperamento, dentre outras que inserem no pensamento familiar um ideal do
filho perfeito. Quando o diagnóstico de autismo é dado à família, várias reações
podem ocorrer, dentre as quais podemos destacar um luto pela perda do ideal filho
perfeito. As expectativas, então, são redirecionadas, visto que os pais se veem
ante a uma necessidade de aprender a lidar com esta nova situação para atender
às demandas da criança e também às suas.
A importância do diagnóstico de Autismo se dá pelo fato de direcionar as
ações da família e dos profissionais que assistem o portador, no sentido de
proporcionar a ele um progresso nas áreas em que tem mais dificuldade. Ao longo
do tempo, muitas famílias sofreram por não terem dado o devido tratamento aos
seus filhos, por muitos motivos, principalmente a desinformação a respeito do que
é o autismo.
É extremamente importante atender às demandas do portador do Espectro
de Autismo, porém tão importante quanto isso é assistir sua família e auxiliá-la a
lidar com o autista. Há uma tendência por parte da família de procurar um
atendimento especialmente para o autista, porém, já existem estudos que
demonstram uma grande presença do estresse na família gerado em decorrência
do autismo dado a um de seus membros, o que demonstra a necessidade de um
atendimento a todos os familiares.
Por este motivo, o presente trabalho se propõe a incentivar o
acompanhamento e tratamento do Espectro de Autismo em todas as fases da
vida, uma vez que isto proporciona ao autista e sua família uma vida com mais
qualidade. Cabe destacar que há certa propensão em tratar o espectro de autismo
apenas durante a infância, momento doloroso, em que, geralmente, a família
recebe o diagnóstico. Porém, é de suma importância uma assistência continuada,
visando a um progresso maior em todos os aspectos da família do portador do
Espectro.
Por fim, como se percebe muitas mudanças ocorrerão no seio familiar, a
partir do diagnóstico de autismo dado a um de seus membros, visando favorecer o
desenvolvimento do autista, porém tais mudanças devem ser bem orientadas para
que não prejudiquem a estrutura familiar e assim todos os envolvidos no processo
Referências