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Marangon
Mecânica dos Solos II - Edição 2018
Figura 5.1 – Ruptura de massa de solo e sua movimentação sobre uma estrada
Figura 5.2 – Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento (LEROUEIL, 2001)
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c = f ( h)
Neste contexto de estudo da resistência dos solos, ressalta-se que o ensaio de campo
“SPT – Standard Penetration Test”, muito difundido e utilizado no país, não determina
diretamente os parâmetros de resistência de um solo (obtém o número de golpes para
perfurar determinado comprimento no furo – “30 cm” finais a cada metro...).
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65, e 88mm. A medida do momento é feito através de anéis dinamométricos e vários tipos
de instrumentos com molas, capazes de registrar o momento máximo aplicado.
O ensaio consiste em cravar a palheta e em medir o torque necessário para cisalhar
o solo, segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve no entorno da
palheta, quando se aplica ao aparelho um movimento de rotação. A instalação da palheta
na cota de ensaio pode ser feita ou por cravação estática ou utilizando furos abertos a trado
e/ou por circulação de água. No caso de cravação estática, é necessário que não haja
camadas resistentes sobrejacentes à argila a ser ensaiada. Com a palheta na posição
desejada, deve-se girar a manivela a uma velocidade constante de 6º/min, fazendo-se as
leituras da deformação no anel dinamométrico de meio em meio minuto, até rapidamente,
com um mínimo de 10 rotações a fim de amolgar a argila e com isto, determinar a
sensibilidade da argila (resistência da argila indeformada/ resistência da argila amolgada).
Figura 5.4 – Equipamento para ensaio de palheta no campo e em tamanho reduzido para
laboratório, do Laboratório de Ensaios Especiais em Mecânica dos Solos da UFJF
6 T
Su = .
7 D3
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Ensaio pressiométrico
Este ensaio é usado para determinação “in situ” principalmente do módulo de
elasticidade (e da resistência ao cisalhamento de solos e rochas), sendo desenvolvido na
França por Menard.
O ensaio pressiométrico consiste em efetuar uma prova de carga horizontal no
terreno, graças a uma sonda que se introduz por um furo de sondagem de mesmo diâmetro,
realizado previamente com grande cuidado para não modificar as características do solo.
O equipamento do ensaio, chamado pressiométrico, é constituído por três partes:
sonda, unidade de controle de medida pressão-volume e tubulações de conexão. A sonda
pressiométrica é constituída por uma célula central ou de medida e duas células extremas,
chamadas de células guardas, cuja finalidade é estabelecer um campo de tensões radiais em
torno da célula de medida.
Após a instalação da sonda na posição de ensaio, as células guardas são infladas
com gás carbônico, a uma pressão igual a da célula central. Na célula central é injetada
água sob pressão, com o objetivo de produzir uma pressão radial nas paredes do furo. Em
seguida, são feitas medidas de variação de volume em tempos padronizados (15, 30 e 60
segundos após a aplicação da pressão do estágio). O ensaio é finalizado quando o volume
de água injetada atingir 700 a 750 cm³.
Com a interpretação dos resultados de pares de valores (pressão x volume) obtidos
no ensaio, se determina o módulo pressiométrico, entre outros valores de pressão.
São diversos os tipos de ensaios de laboratório que buscam, com maior grau de
sofisticação, representar com fidelidade e exatidão as condições possíveis de ocorrências.
Dentre os principais ensaios de laboratório temos:
• Ensaio de Compressão Simples;
• Ensaio de Cisalhamento Direto;
• Ensaio de Compressão Triaxial;
Os dados da interpretação do ensaio podem ser visto na Figura 5.7. Então conclui-
se que o ensaio só é aplicável em solos puramente coesivos, onde = 0 .
Em função de seus resultados pode-se obter a sua classificação (Tabela 5.2) quanto
a sua consistência, em se tratando de ocorrência de solo argiloso (predominância de
“finos”), onde o valor “Rc” é dado como “resistência à compressão simples” do solo.
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Tabela 5.2 – Faixa de resistência à compressão simples, função da consistência das argilas
Argilas Faixa valor Rc Obs:
Muito mole Rc < 2,5 t/m2 (25 kPa) 1 kPa = 1 kN/m2
Mole 2,5 < Rc < 5,0 t/m2 1 t/m2 = 10 kPa
Média 5,0 < Rc < 10,0 t/m2 1 kg/cm2 = 10 t/m2
Rija 10,0 < Rc < 20,0 t/m2 1 kg/cm2 = 100 kPa
Muito rija 20,0 < Rc < 40,0 t/m2 1 t/m2 = 0,1 kg/cm2
Dura Rc > 40,0 t/m2 (400 kPa)
Figura 5.8 – Ensaio de cisalhamento direto: tensões atuantes e amostra após ruptura
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(a)
(b) (c)
Figura 5.9 – (a) Detalhe de um CP sendo talhado em um bloco de amostra indeformado,
(b) Aspecto do equipamento durante a realização de um ensaio, (c) Detalhe da caixa de
cisalhamento com o extensômetro para medição da deformação vertical do CP.
Figura 5.11 – Interpolação dos pontos de ruptura para obtenção da envoltória de Mohr-Coulomb
70
(parte da planilha de ensaio do CP01, está
20
que o valor da resistência, valor de 17
“pico”). 0
0 5 10 15
Os dados obtidos a partir dos
A Tabela 5.3, em arquivo Excel, apresenta um resumo dos dados de um dos ensaios
de cisalhamento direto, com tensão normal = 17,2 kPa (como se vê na 10a coluna),
sinalizado no gráfico como v =17) e de valores calculados ao longo da execução do
ensaio, para o posterior traçado da sua envoltória de resistência.
Tabela 5.3 – Trecho de planilha com dados e valores calculados de um ensaio de cisalhamento.
Planilha de Resultados Folha: 01 de 03
Leitura Leitura Anel de Desloc. Desloc. Área Força Tensão Tensão Índice
Extens. Extens. Carga Horiz. Vert. Corrig. Cisalh. Fcis/Fn Cisalh. Vert. de
Horiz. Vert. (mm) (mm) (cm²) (N) (kPa) (kPa) Vazios
0 1208,0 100,0 0,000 0,000 103,23 31,01 0,000 0,0 17,2 1,463
8 1207,8 114,0 0,175 0,000 103,05 66,83 0,376 6,5 17,2 1,463
10 1207,5 115,0 0,224 0,001 103,00 69,38 0,391 6,7 17,2 1,463
20 1204,2 118,0 0,472 0,008 102,75 77,06 0,434 7,5 17,3 1,463
Observa-se que nesse ensaio a área da seção crítica varia durante a aplicação do
esforço tangencial. Portanto, para sua real determinação deve-se ter um processo
continuado de sua correção.
Esse ensaio caracteriza claramente que a resistência ao cisalhamento dos solos é a
propriedade que os solos possuem de resistirem ao deslizamento de uma seção em relação
à outra contígua.
A Figura 5.15 ilustra resultados de ensaio de outro material, também como exemplo
para ilustração. Neste, são submetidos os corpos de prova a sete diferentes tensões
normais. Observam-se valores de resistência de “pico”, principalmente para os níveis
maiores de tensão.
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Tensões principais
A análise do estado de tensões durante o carregamento é bastante complexa no
ensaio de cisalhamento direto. O plano horizontal, antes da aplicação das tensões
cisalhantes, é o plano principal maior. Com a aplicação das forças cisalhantes, ocorre
rotação dos planos principais.
Uma das desvantagens deste ensaio é a impossibilidade de se conhecer os esforços
que atuam em planos diferentes daquele de rutura, com um único ensaio. Somente depois
de traçada a envoltória será possível determinar o círculo de Mohr referente á condição
de equilíbrio incipiente e determinar as tensões principais associada, uma vez que o
círculo tangencia a linha de rutura nesse ponto determinado (de tensão cisalhante), cujos
valores das tensões principais obtêm-se pelo traçado posterior, do correspondente círculo.
Como não existem tensões de cisalhamento nas bases e nas geratrizes do corpo de
prova, os planos horizontais e verticais são os planos principais. Se o ensaio é de
carregamento, o plano horizontal é o plano principal maior e o plano vertical, o plano
principal menor, onde atua a pressão confinante. A tensão devida ao carregamento axial é
denominada acréscimo de tensão axial ou tensão desviadora σd, sendo σd = (1 - 3).
Figura 5. 18 - Traçado dos círculos de Mohr correspondentes a realização de três ensaios triaxiais
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. Prensa de compressão;
. Unidade de controle de pressões;
. Compressor;
. Reservatório de água desgazificada;
. Microcomputador (monitoramento e
aquisição de dados automática)
(a) (b)
(c) (d)
Figura 5.20 – (a) Moldagem de um CP de areia sobre a própria base interna da câmara;
(b) Montagem na câmara triaxial, ainda fora da prensa de compressão, após montagem do CP na
base; (c) Aspecto da câmara montada na prensa, preenchida com água e sob pressão, durante a
realização do ensaio; (d) Registro de um corpo de prova rompido, em que se observa o plano de
cisalhamento do material ensaiado, no caso um solo argiloso compactado
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Como pode ser visto na figura 5.21 (esquema do ensaio), na base do corpo de prova
e na sua parte superior são colocadas pedras porosas, permitindo-se a drenagem através
destas peças, que são permeáveis. A drenagem pode ser impedida por meio de registros
apropriados (“torneiras”), como se vê na foto da referida Figura, sendo controladas as suas
posições (aberto/fechado) pelo operador do ensaio.
Figura 5.21 – Esquema do ensaio de compressão triaxial, com destaque para o sistema de
drenagem da amostra. Na foto ao lado vê-se o operador controlando as posições
(aberto/fechado) das “torneiras” e conseqüentemente da drenagem do CP
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Fases do Ensaio
Em resumo, têm-se duas fases distintas no ensaio triaxial:
Saturação
Em muitos casos o ensaio é iniciado com a saturação do CP. Para isto, faz-se
geralmente o uso do próprio sistema de pressão do equipamento para aplicar uma pressão
interna no CP (contra-pressão), aumentando o valor na câmara, de forma a se obter a
pressão 3 (por subtração). A obtenção da condição de saturação é verificada calculando-se
o coeficiente B de Skempton, também conhecido como coeficiente de pressão neutra.
Adensamento
Obtida a saturação do CP (se for o caso) aplica-se uma tensão de confinamento na
câmara do equipamento triaxial no sentido de levar o material ao adensamento. As
deformações são então lidas até a constância de valor, quando se considera o fim desta
fase.
Tabela 5.4 – Parte de planilha excel de resultados de ensaio triaxial do tipo CU (R)
Areias fofas:
Analise-se inicialmente, o comportamento das areias fofas. Ao ser feito o
carregamento axial, o corpo de prova apresenta uma tensão desviadora que cresce
lentamente com a deformação, atingindo um valor máximo só para deformações
relativamente altas, da ordem de 6 a 8%, chamada de resistência residual. Aspectos
típicos de curvas tensão-deformação estão apresentados na Figura 5.24(a) que mostra
também que ensaios realizados com tensões confinantes diferentes apresentam curvas com
aproximadamente o mesmo aspecto, podendo-se admitir, numa primeira aproximação, que
as tensões sejam proporcionais a tensão confinante do ensaio.
Ao se traçar os círculos de Mohr, correspondentes às máximas tensões desviadora
(que correspondem à ruptura) obtém-se círculos cuja envoltória é uma reta passando pela
origem (sem coesão), pois as tensões de ruptura foram admitidas proporcionais às tensões
confinantes. A resistência da areia fica definida pelo angulo de atrito interno efetivo,
como se mostra na Figura 5.24(c). A areia é então definida como um material não coesivo.
Figura 5.24 - Aspectos típicos de curvas tensão-deformação, deformações verticais e traçado das
envoltórias de resistência (máximas tensões desviadora - ruptura) para areias fofas - f (“a”, “b” e
“c”) e areias compactas - c (“d”, “e” e “f”), além de relação residual com a fofa (r = f)
(PINTO, 2006)
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Areias compactas:
Resultados típicos de ensaios drenados de compressão triaxial de areias compactas
estão apresentados na Figura 5.24 (d), (e), (f).
A tensão desviadora cresce muito mais rapidamente com as deformações até atingir
um valor máximo, sendo este valor considerado como a resistência máxima ou resistência
de pico. Nota-se por outro lado, que atingida esta resistência máxima, ao continuar a
deformação do corpo de prova, a tensão desviadora decresce lentamente até se estabilizar
em torno de um valor, definido como a resistência residual.
Os círculos representativos do estado de tensões máximas definem a envoltória de
resistência. Como, em primeira aproximação, as resistências de pico são proporcionais às
tensões de confinamento dos ensaios, a envoltória a estes círculos é uma reta que passa
pela origem, e a resistência de pico das areias compactas se expressa pelo angulo de atrito
interno correspondente.
Por outro lado, pode-se representar também, os círculos correspondentes ao estado
de tensões na condição residual. Estes círculos, novamente, definem uma envoltória
retilínea passando pela origem. O angulo de atrito correspondente, chamado angulo de
atrito residual, é muito semelhante ao ângulo de atrito desta mesma areia no estado fofo,
pois as resistências residuais são da ordem de grandeza das resistências máximas da
mesma areia no estado fofo.
Introdução:
As argilas se diferenciam das areias, por um lado, pela sua baixa permeabilidade,
razão pela qual adquire importância o conhecimento de sua resistência tanto em termos de
carregamento drenado como de carregamento não drenado. Por outro lado, o
comportamento de tensão-deformação das argilas quando submetidas a um carregamento
hidrostático ou a um carregamento típico de adensamento edométrico, é bem distinto do
comportamento das areias. Estas apresentam curvas tensão-deformação independentes
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para cada índice de vazios em que estejam originalmente. O índice de vazios de uma
areia é conseqüente das condições de sua deposição na natureza. Carregamentos
posteriores, que não criem tensões desviadoras elevadas, não produzem grandes reduções
de índices de vazios. Uma areia fofa permanece fofa ainda que submetida à elevada carga.
Para que esteja compacta, ela deve se formar compacta, ou ser levada a esta situação pelo
efeito de vibrações que provocam escorregamento das partículas.
As argilas sedimentares, ao contrário, se formam sempre com elevados índices de
vazios. Quando elas se apresentam com índices de vazios baixos, estes são conseqüentes de
um pré-adensamento. Em virtude disso, diversos corpos de prova de uma argila,
representativos de diferentes índices de vazios iniciais apresentarão curvas tensão-
deformação que apos atingir a pressão de pré-adensamento correspondente, fundem-se
numa única reta virgem (Figura 5.25).
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Por outro lado, observa-se que durante o carregamento axial, o corpo de prova
apresenta redução de volume, da mesma ordem de grandeza, sendo só ligeiramente maior
para confinantes maiores. Este resultado está indicado na Figura 5.26(c).
Entretanto, o pré-adensamento sob pressão 3 fez com que estes corpos de prova
ficassem nas condições de 0,5 e 2 na parte (a) da Figura 5.26, ou seja, com índice de vazios
menores do que os correspondentes aos corpos de prova nas condições de 0,5’ e 2’.
Menor índice de vazios significa maior proximidade entre as partículas, donde um
comportamento diferente que se manifesta pelos resultados indicados na Figura 5.26 (d) e
(e). A envoltória de resistência é uma curva até a tensão de pré-adensamento.
(e)
Figura 5.27 - Aspectos típicos de curvas tensão-deformação, pressão neutra (“a” e “b” – NA e
“c” e “d” – PA) e traçado das envoltórias de resistência a partir do ensaio do tipo CU,
em TE e em TT, em argila saturada sem estrutura (PINTO, 2006)
Quando o ensaio é feito com medida das pressões neutras, ficam conhecidas as
tensões efetivas na ruptura. Representando-se os círculos de Mohr em termos das tensões
efetivas (que são círculos de diâmetro igual aos das tensões totais deslocados para a
esquerda do valor da tensão neutra), pode-se determinar a envoltória de resistência em
termos de tensões efetivas, como se mostra na Figura 5.27(e). Esta envoltória de resistência
é, aproximadamente, igual à envoltória obtida nos ensaios CD.
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(a) (b)
Figura 5.28 - Avaliação comparativa do comportamento obtido nos ensaios CU e CD é
apresentada para corpos de prova de solo normalmente adensado (a) e pré-adensado (b)
Amostra saturadas
Existem situações, entretanto, em que se deseja conhecer a resistência do solo (a
tensão cisalhante de ruptura) no estado em que o solo se encontra.
É o caso, por exemplo, da análise da estabilidade de um aterro construído sobre
uma argila mole. Como na Figura 5.29, o problema é verificar se a resistência do solo ao
longo da superfície hipotética de ruptura é suficiente para resistir à tendência de
escorregamento provocada pelo peso do aterro. Uma eventual ruptura ocorreria antes
de ocorrer qualquer drenagem. Portanto, a resistência que interessa é aquela que existe
em cada ponto do terreno, da maneira como ele se encontra. É a resistência não drenada
do solo. A argila no estado natural se encontra sob uma tensão vertical efetiva que depende
de sua profundidade, da posição do nível d’água e do peso específico dos materiais que
estão acima dela. Seu índice de vazios depende da tensão vertical efetiva e das tensões
efetivas que já atuaram sobre ela.
Para se conhecer a resistência não drenada do solo (“Su”), pode-se empregar três
procedimentos: (a) por meio de ensaios de laboratório; (b) por meio de ensaio de campo
(ensaio “Vane Shear Test” ou de palheta); e (c) por meio de correlações.
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Em Laboratório:
Quando uma amostra é retirada do terreno, as tensões totais caem à zero.
Convém lembrar que, quando se aplicam acréscimos de tensão isotrópicos (de igual
valor nas três direções principais) num corpo de prova de solo saturado, sendo impedida a
drenagem, surge uma pressão neutra de igual valor, em virtude da baixa compressibilidade
da água perante a compressibilidade do solo, sendo este um dos pontos básicos do estudo
do adensamento. Da mesma forma, quando se reduzem tensões externas, ocorre uma
redução de pressão neutra de igual valor.
Por exemplo,
sendo v= 80, h= 62 e u= 30,
temos: ’v= 50, ’h= 32
a média das 3 tensões = 38
(admite-se que 38kPa corresponde ao
valor reduzido na tensão isotrópica
quando extraída a amostra) Figura 5.30 – Exemplo de tensões atuantes
no terreno e na amostra
Na amostra coletada u= -38, logo atua nos eixos esta magnitude de tensão:
’v= 38, ’h= 38
Isto implica no fato de que qualquer que seja a pressão confinante de ensaio, o corpo de
prova ficará com a mesma tensão confinante efetiva, veja:
5. 5. 4 - Trajetória de tensões
Nota-se que p é a média das tensões principais e q é a semi diferença das tensões
principais, ou ainda, p e q são, respectivamente, a tensão normal e tensão cisalhante no
plano de máxima tensão cisalhante.
Na Figura 5.33 estão representadas as trajetórias de tensões em termos de tensões
totais (TTT), para os diversos carregamentos.
As retas FDI e GCH se encontram no ponto A, sobre o eixo das abcissas. Então do
triângulo ABD tem-se BD=AB.tg. Do triângulo ABC tem-se BC=AB.sen. Sendo
BC=BD, resulta: sen = tan
Estas expressões são muito úteis, por exemplo, para se determinar à envoltória de
resistência mais provável de um número muito grande de resultados. A representação de
todos os círculos de Mohr faria o gráfico ficar muito confuso. A representação só dos
pontos finais das trajetórias de tensões permite a determinação da envoltória média mais
provável, e, dela, a envoltória de resistência.
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Tabela 5.10 – Exemplo de correlação entre SPT e ângulo de atrito para solos arenosos
SPT Compacidade (sondagem)
<4 < 25º Muito fofo
4 a 10 25º a 30º Fofo ou pouco compacto
10 a 30 30º a 36º Medianamente compacto
30 a 50 36º a 40º Compacto
> 50 > 40º Muito compacto
Tabela 5.11 – Exemplo de correlação entre SPT e coesão para solos argilosos
SPT C (t/m2) Consistência (sondagem)
<2 < 1,2 Muito mole
2a4 1,2 a 2,5 Mole
4a8 2,5 a 5,0 Média
8 a 15 5,0 a 10,0 Rija
15 a 30 10,0 a 20,0 Muito rija
> 30 > 20 Dura
A partir dos três ensaios triaxiais básicos (CD, CU e UU) pode-se associar, de
acordo com as condições previstas de ocorrência na obra, as condições de ensaio em
relação à compressão, condição de drenagem, condição de deformação, entre outras.
Como citações simples, para ilustração, temos alguns exemplos de aplicações dos
ensaios padronizados, em situações práticas de projetos e obras de Engenharia:
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Figura 5.36 – Terremoto na Indonésia causou liquefação do solo (Folha de São Paulo, 03/10/2018)
De modo geral:
Liquefação (ou mais estritamente fluxo por liquefação): designa o grupo de
fenômenos que apresentam em comum o surgimento de altas poropressões em areias
saturadas, devidas a carregamentos estáticos ou cíclicos, sob volume constante,
Mobilidade cíclica: designa a progressiva deformação de areias saturadas quando
sujeitas a carregamentos cíclicos sob teor de umidade constante.
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Resolução:
a) Para obtenção da equação da envoltória de resistência ( = c + tg ), faz-se
necessário obter o ser traçado (desenho) para identificar os parâmetros “c” e “”.
. Por se tratar de Cisalhamento direto lê-se as tensões e “diretamente” no gráfico
(condição de ruptura plástica ...) – pts (,) = (17,19), (27,25), (42,35) e (114, 90)
. Obtém-se o traçado como na figura abaixo (em papel milimetrado)
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b) Os valores numéricos para as tensões principais, maior (σ1) e menor (σ3), associadas ao
ensaio, podem ser determinados desenhando o correspondente círculo de Mohr para
esta tensão de ruptura ( = 30 kPa) – círculo é tangente ...
(determinação de forma indireta, já que o ensaio não utiliza os círculos para a
obtenção da envoltória)
Deve-se seguir a seguinte seqüência:
• Ressalta-se o ponto T (τ = 30) na envoltória, referente à tensão de cisalhamento do
corpo de prova que se quer determinar as tensões principais;
• Tira-se uma perpendicular a envoltória de rutura, passando por este ponto T.
Determina-se assim o raio e o centro do círculo (no eixo das abscissas);
• Traça-se o círculo (pelo ponto O’ - centro);
Tendo-se o círculo traçado podemos obter os valores de 3 e 1, sendo para o caso,
respectivamente, 18 kPa e 91 kPa.
τ = 30kPa
c) Considerando que a envoltória para o solo será a mesma, se obtida a partir de ensaios
de cisalhamento direto ou ensaios triaxial, nas mesmas condições de drenagem, o
ângulo de ruptura (α) esperado para os corpos de prova será:
= 45 + , como ilustrado pela tangência de
2
qualquer círculo de Mohr na sua envoltória,
então:
Sendo φ = 38,60, α = 450 + 19,3 = 64,30
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Tabela 5.11 - Dados de moldagem e ruptura dos corpos de prova submetidos ao ensaio triaxial
W (%) Massa Específica Aparente Seca (kN/m3)
Ótima Moldagem Máxima Moldagem Moldagem Moldagem Moldagem
Amostra (máx) (CP1) (CP2) (CP3) (CP4)
ZM10 26,5 26,48 14,83 14,89 14,90 14,86 14,91
Tensões de Confinamento (kPa)
Ensaios UU
20 50 70 150
Tensão Desvio Máxima – Ruptura (kPa) 237,3 512,4 797,4 879,0
Pede-se determinar:
a) Os pares de tensões atuantes nos corpos de prova, no momento da ruptura;
b) Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, para o solo ensaiado, determinado a
partir da trajetória de tensões fornecida na Figura 5.38.
Ensaio Triaxial - UU
Amostra ZM10
. 500
450
400
350
300
q ( kPa )
250
200
150 0,0
32,0
100
50
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650
p' ( kPa )
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Resolução:
a) As tensões atuantes nos corpos de prova, no momento da ruptura, correspondem aos
valores de 3 (confinamento) e 1 (axial).
. Então, os valores de 3 são: 20kPa, 50kPa, 70kPa e 150kPa
. Os valores de 1 obtém-se a partir das tensões desvio, 1 = σd + 3, então:
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