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Corumbá/MS
2014
MARIA CRISTINA FERREIRA MAIA
Corumbá – MS
2014
MARIA CRISTINA FERREIRA MAIA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Orientador: Dr. Gustavo Villela Lima da Costa
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
_______________________________________
1º Avaliador: Dr. Carlos Martins Junior
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
_____________________________________
2º Avaliador: Dr. Álvaro Banducci Junior
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
Aos meus amados pais (In memoriam)
Emília Ribeiro, Dirceu Ulisses Maia e Ana Ferreira Maia.
Minha eterna gratidão pela vida, pelo amor e fé. Onde quer que estejam estarão sempre em
meu coração.
AGRADECIMENTOS
A Tânia Márcia Rondon pela amizade que resiste aos anos e pelo acolhimento em
Cuiabá por ocasião da pesquisa no Arquivo Público de Mato Grosso.
A Ingracia Leite pela sua vivência cheia de sabedoria e amor que constantemente me
ensinam.
Ao meu irmão Newton Gonçalves Ferreira, sua esposa Odália Leite (in memoriam) e
filha Lucirene Rosa da Silva, pelas preces e por sempre desejarem o melhor da vida para mim.
Aos sobrinhos, Jucélia Celestino Ferreira e Elielton B. Ferreira, por me presentearem
com os pequenos João Pedro B. Ferreira, José Lucas B. Ferreira, que encantam meus olhos e
enchem de ternura meu coração. Obrigada por trazerem beleza e doçura a minha vida.
A psicanalista Gize de Bessa Catarineli, pela finesse na intervenção e escuta
psicanalítica, pela generosidade dessa riquíssima interlocução. Ademais, pelo tempo
dispensado na leitura, correção e considerações do texto inicial da dissertação, minha
gratidão.
Gostaria de agradecer em especial à família da amiga Edna Medeiros e sua mãe,
Matilde Medeiros, que abrem não somente a casa para me receber em Campo Grande, mas há
muito tempo, abrigam-me em seus corações.
A minha amiga irmã Catarina da Conceição Medeiros por existir e partilhar comigo o
meu caminho. Minha eterna gratidão.
As irmãs pelo coração Josiane Pina Bulhões Antunes e Sandra Angélia M. Alves pela
presença, apoio, ombros, e passos sempre juntas.
Ao amigo querido Hugo Landivar meu grande incentivador, pelo entusiasmo, cuidado
e orientações de vida minha gratidão.
Meus agradecimentos finais ao CNPq pela Bolsa de Estudos que oportunizou este
trabalho de pesquisa acadêmica.
“A mudança social não é causada apenas pelas novas forças
produtivas que entram em conflito com as formas mais antigas de
organização social, mas também pelo conflito entre as condições
sociais desumanas e as necessidades humanas inalteráveis. Pode-se
fazer quase tudo a um homem. Mas apenas quase. A história da luta
do homem pela liberdade é a manifestação mais expressiva desse
princípio”.
( Erich Fromm)
RESUMO
O regime escravista que alicerçou a sociedade brasileira por mais de trezentos anos terminou
através de um longo e paulatino processo iniciado, oficialmente, a partir da Lei Eusébio de
Queirós e findo, com a Lei Áurea. Dessa forma, objetiva-se investigar como ocorreram as
territorialidades escravistas na fronteira Oeste do Império do Brasil-cidade de Corumbá (BR)-
com a República da Bolívia- região de Puerto Suarez (BO) em fins do século XIX(1870-
1888). Além dos relacionamentos individuais e ou, coletivos do cativo com os demais grupos
sociais que vivenciaram a questão fronteiriça. A metodologia empregada foi o cruzamento das
fontes utilizadas na investigação; fonte bibliográfica e fonte primária, Sumário-Crime, e
Jornal, transcrito e digitalizado. Esta pesquisa é de cunho qualitativo, alicerçada nos pilares
conceituais da Antropologia, Geografia e História na perspectiva interdisciplinar como forma
de ampliar as interpretações sobre a relação das categorias Fronteira e Escravidão. A análise
dos dados empíricos indicou que a descontinuidade geopolítica da fronteira, representada pelo
limite internacional atrelado aos distintos enfoques da questão da política da escravidão entre
a República da Bolívia e o Império do Brasil oportunizou a ocorrência de fugas de cativos
além fronteira. Portanto, o cativo protagonizou sua história, ficou livre da escravidão ao
ultrapassar a fronteira do Brasil com a Bolívia e se refugiar em território boliviano de “Pedra
Branca”, onde o povoado de “Pedra Branca” marca a singularidade do território de fronteira
em questão. Em função da composição heterogênea dos agentes sociais estabelecidos em
“Pedra Branca”, as territorialidades foram igualmente específicas de acordo com o território
de fronteira.
El régimen esclavista que fundamentó la sociedad brasilera por más de trescientos años
terminó a través deun largoy paulatino proceso iniciado, oficialmente, desde la Ley Eusébio
de Queirósy finalizó con la Ley Áurea. Así, se objetiva investigar cómo ocurrieron las
territorialidades esclavistas en la frontera Oeste del Imperio de Brasil- ciudad de Corumbá
(BR)- con la República de Bolivia- región de Puerto Suarez (BO), en fines del siglo XIX
(1870-1888), además de las relaciones individuales e/o colectivas del cautivo con los demás
grupos sociales que experimentaron la cuestión fronteriza. La metodología utilizada fue el
cruce de las fuentes utilizadas en la investigación: bibliográfica e primaria, sumario-crimen y
periódico (trascrito y digitalizado). Esta investigación es de carácter cualitativo, basada en los
pilares conceptuales de Antropología, Geografía e Historia, en la perspectiva interdisciplinar
como forma de ampliar las interpretaciones sobre la relación de las categorías Frontera y
Esclavitud. El análisis de los datos empíricos indicóque la discontinuidad geopolítica de la
frontera, representada por el límite internacional vinculado a los distintos enfoquesde la
cuestión de la política la esclavitud entre la República de Bolivia e Imperio de Brasil,
favoreció la ocurrencia de las fugas de cautivos allá-frontera. Por lo tanto, el cautivo
protagonizó su historia, se quedó libre de la esclavitudal ultrapasar hacia el lado boliviano de
la frontera y se refugió en este territorio, “Pedra Branca”, marca la singularidad de la región.
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 17
PARAGUAI................................................................................................................ 22
DOS OITOCENTOS....................................................................................................... 37
Platina................................................................................................................................. 42
BRANCA”............................................................................................................................ 68
REFERÊNCIAS................................................................................................................... 89
APÊNDICE A....................................................................................................................... 96
17
INTRODUÇÃO
1
Princípio do Direito Internacional estabelece a posse de um território para os que de fato ocupam o território
18
[...] a fronteira vai muito além do fato geográfico que ela realmente é, pois
ela não é só isso. [...] é um fato social, biológico e também bio social: ela
delimita um „para cá‟ e outro „para lá‟, um „antes‟ e um „depois‟, com um
limite marcado e uma área de segurança.
poder) do cotidiano fronteiriço entre os distintos atores sociais e grupos que vivem a ena
fronteira.
Dessa forma, ao tratarmos de questões que envolvem ações políticas do Estado para
o território de fronteira apontam-se as reflexões de Machado (1998, p. 42):
[...] o moderno conceito de Estado, onde a soberania corresponde a um
processo absoluto de territorialização. O monopólio legítimo do uso da força
física, a capacidade exclusiva de forjar normas, de trocas sociais
reprodutivas (a moeda, os impostos), a capacidade de estruturar, de maneira
singular, as formas de comunicação (a língua nacional, o sistema educativo,
etc.) são elementos constitutivos da soberania do estado, correspondendo ao
território cujo controle efetivo é exercido pelo governo central (o estado
territorial).
Ainda sobre o caso, Sr. João Antônio Rodrigues deu uma segunda alternativa aos
vereadores caso não fosse viável a primeira providência: “[...] é arrematação do mencionado
imposto na forma do Decreto n 416 de junho de 1845, que autoriza as Câmaras arrematarem
as suas rendas, ou parte dellas, com as condições e cautellas necessárias”3.
2
Ofício s/nº dirigido à Câmara Municipal de Vereadores de Corumbá. 25/07/1883. Arquivo Público da Câmara
Municipal de Corumbá (MS).
3
Idem.
25
O próprio Sr. João Antônio Rodrigues afirma no documento que apesar das diligências
tomadas para aumentar a arrecadação de imposto ao cofre público municipal, elas estavam
sendo infrutíferas em função da falta de um posto avançado alfandegário localizado em lugar
estratégico, nos arredores da cidade, provavelmente próximo as estradas por onde passavam
carretasde bois, de maneira que pudesse ser efetivada a fiscalização e cobrança do imposto
sobre as reses que eram negociadas, segundo a Alfândega, ilicitamente. Logo, Sr. João
Antônio Rodrigues, não podendo repassar à Câmara Municipal da cidade os valores
monetários referentes aos tributos cobrados, na oportunidade da negociação de compra e
venda de gado vaccum, sugeriu que a Câmaraencontrasse outras formas de arrecadação
tributária a fim de aumentar a arrecadação da receita orçamentária do município.
Se por um lado a Alfândega atuava enquanto Estado na cobrança, controle e taxação
de impostos, por outro a população local reagia em sentido inverso, isto é, recorria a
estratégias e sentidos próprios na busca de se estabelecer e sobreviver em região de fronteira.
Entretanto, o documento ora estudado não permite constatarmos a localização da estrada por
onde era escoado o gado comercializado. Cabe aqui às considerações:
Nas fronteiras a tensão entre a legalidade e ilegalidade é parte constitutiva da
vida cotidiana. As transações comerciais entre as populações são
consideradas muitas vezes como “contrabando” pelo Estado, mas é uma
atividade mais natural para as pessoas do lugar (GRIMSON, 2000, p. 3).
O documento acima traz elementos para análise que permite entrever a proximidade da
relação entre o poder executivo e o setor eclesiásticode Cuiabá, capital da Província de Mato
Grosso, representada pelo Sr. José Antônio dos Reis, popularmente conhecido por bispo Dom
José, da diocese de Cuiabá. O bispo em seu parecer sobre a demarcação dos limites da cidade,
autoriza, justifica e legitima a ação do governo estabelecido na capital da província a
demarcar os limites territoriais de Corumbá. O aval do bispo Dom José, representante da
igreja católica, permite-nos depreender que a instituição religiosa estava com suas ações e
ideários consonantes com o aparelho hegemônico do Estado, uma vez que já estavam
demarcados os limites do território de Corumbá, conforme a Lei Provincial acima referida, no
entanto, a documentação foi enviada ao bispo para que este com o seu aval de autoridade
eclesiástica, conferisse legitimidade a ação política do governo provincial.
Para darmos prosseguimento as discussões desta investigação, é relevante neste
momento, abrirmos um parêntese, e apresentar a imprensa de Corumbá, representada pelo
jornal O Iniciador, dada a importância dessa fonte primária digitalizada, fio condutor desta
pesquisa que forneceu elementos, juntamente com as demais fontes, que permitiram apreender
as dinâmicas escravistas ocorridas em “Pedra Branca”. De forma que ao tratarmos de questões
publicadas no jornal O Iniciador estaremos recorrendo a transcrição. Entretanto, convém
registrar que o faremos, brevemente, uma vez que no terceiro capítulo iremos tratar da
problemática levantada para esta pesquisa através da imprensa.
Nessa perspectiva, o surgimento da imprensa corumbaense se deu com a criação do
jornal O Iniciador na ocasião em que se estabeleceram os imigrantes, comerciantes
portugueses, Silvestre Antônio Pereira, redator e editor, e Manoel Antônio Guimarães, diretor.
Lançaram (18/01/1877)5 a primeira edição do jornal cujo subtítulo trazia os dizeres
“Legalidade, Ordem, Justiça e Liberdade”. À disposição das matérias jornalísticas eram
publicadas nas seções intituladas “Campo Neutro”, “Cousas Locais”, “Noticioso”,
4
Cópia de Ofício nº 03 do Presidente da Província de Mato Grosso, Herculano FerreiraPenna.05/02/1863.
Arquivo Público da Câmara Municipal de Corumbá/MS.
5
Para estudo mais aprofundado sobre a imprensa corumbaense do século XIX consultar: SOUZA, João Carlos.
Imprensa e Jacobinismo no início da República em Corumbá (2003, p.218-241).
27
“Variedades”, “Social” e “Editais” sendo que em grande parte das matérias publicadas
apresentavam cunho político, enalteciam o arrojo e progresso da cidade promovido pelas
transações realizadas pelas casas comerciais no período.
De maneira geral, o jornal no século XIX retratava mais que o cotidiano urbano e a
notícia em si, era símbolo de poder, progresso e desenvolvimento. Importante frisar:
[...] que o discurso jornalístico não privilegia as lutas das classes sociais. [...]
e que essa relação de neutralidade realiza em larga escala tarefas ideológicas
de dominação ao se fazer passar como dado neutro da vida social (SILVA,
1986 apud SOUZA, 2003, p. 224).
6
A construção do mapa proposto baseia-se em imagens atuais da região para apontar a localização
aproximada do povoado, bem como do posto militar boliviano, ambos (re)conhecidos como “Pedra Branca”.
Para tal, pinçamos os vestígios das fontes sobre essa provável localização e o mapa foi traçado partir de
hipóteses. Temos que o Hito (marco de limite territorial) Tamarinero é o local onde passa a linha limítrofe do
Brasil com a Bolívia, determinada segundo as coordenadas geográficas Latitude (S) 18º58º46’’ e Longitude
057º43º09’’.
30
E sobre territorialidade:
O uso do território é uma forma que se pode denominar territorialidade. [...]
a territorialidade é uma ação própria do território, enquanto este é o resultado
das ações dos seus autores endógenos em confronto com as territorialidades
exógenas e com aquelas que o atravessam (COSTA, 2009, p. 65).
Essa matéria jornalística permite observar uma tensa negociação entre comerciantes
locais e estrangeiros, sobretudo, assegura empiricamente o que Valcuende (2008, p. 2) aborda
sobre o lícito/ilícito nas áreas de fronteira: “[...] se por um lado temos as estratégias estatais,
por outro lado temos as estratégias dos distintos atores que dividem o mesmo espaço e que
ocupam uma posição distinta em relação ao mesmo”. Ademais, incide sobre o território de
“Pedra Branca” territorialidades mercantis devido às relações estabelecidas naquele espaço,
principalmente por parte dos comerciantes.
Nessa medida o conflito: “[...] teve como pano de fundo o expansionismo do Paraguai,
a ação indireta dos ingleses na navegação e as frequentes competições entre Brasil, Paraguai,
Argentina e Uruguai pela navegação no Rio Paraguai” (BRAZIL, 1999, p.171). Dessa forma,
a Guerra do Paraguai foi, na verdade, resultado do processo de construção dos Estados
Nacionais no Rio da Prata e, ao mesmo tempo, marco nas suas consolidações (DORATIOTO,
2002).
Volpato (1993, p. 83) articula sobre a necessidade de se considerar a guerra como
parte de uma totalidade de ordem macro, pois:
[...] marcam o avanço do capitalismo, quando a Inglaterra deixou de ser a
única nação capitalista do mundo e teve que enfrentar a concorrência e a
disputa por mercados com países como a Alemanha, os Estados Unidos e o
Japão.
Acerca do contexto do fim da Guerra do Paraguai (1870), com seu término ocorreu a
reabertura da navegação no rio Paraguai e o governo Provincial de Mato Grosso a fim de
reconstruir economicamente a cidade de Corumbá, parcialmente arruinada no pós-guerra, e o
estabelecimento de leis de incentivos fiscais (isenção de impostos) para os comerciantes que
quisessem se fixar na localidade. Com essa política iniciou-se um novo ciclo econômico na
região que teve na pecuária, inicial e especificamentea carne bovina, em destaque, o charque
(carne-seca), o pilar de sustentação da economia local e da região. Portanto, deve-se
considerar que o ciclo econômico desenvolvimentista ocorrido se fortaleceu devido ao
estabelecimento do comércio de exportação e importação realizado pelos negociantes
capitalistas brasileiros, platinos e europeus, em que os derivados de gado vaccum foram
fundamentalmente responsáveis pelo desenvolvimento da economia local.
No bojo do desenvolvimento do setor econômico de Corumbá, navios de passageiros
atracaram no porto da cidade trazendo os imigrantes. Necessário atentar-se que no período de
guerra Corumbá contou com variada população de migrantes, oriundos de outras Províncias
do Império, causada pelo efetivo militar convocado para a Guerra do Paraguai.
A partir desse momento, em escala nacional, a política de incentivo e financiamento
do governo central brasileiro visava atender as demandas do capitalismo. Foi, portanto,
produto de forças exógenas, ou seja, determinações socioeconômicas, que preconizava a
divisão internacional do trabalho (especialização do trabalhador) em substituição a mão-de-
obra escrava.
Sobre o imigrante Sayad (1998) esclarece que é o fator econômico que origina a
imigração, em outras palavras, é a oferta de emprego que justifica o imigrante. Em escala
local, “os imigrantes europeus, platinos e migrantes nacionais que chegaram à Província de
Mato Grosso, vieram em busca de enriquecimento” (CORRÊA, 1999, p. 202).
Sob essa perspectiva Souza (2008), ao analisar o desenvolvimento da cidade
corumbaense no pós Guerra do Paraguai, recorreu ao termo “Corumbá cosmopolita”. Para o
autor o desenvolvimento econômico e social da cidade se vincula à presença de imigrante e de
comerciantes capitalizados, cuja materialidade está expressa na efervescência cultural,
econômica e social da cidade fronteiriça, tal como nas construções que serviram de morada e
comércio, localizado na Rua do porto fluvial da cidade.
Em mesmo viés interpretativo acerca dos imigrantes em Corumbá, é possível apontar
o desenvolvimento de alguns setores sociais:
[...] Corumbá contava com cerca de 20 nacionalidades diferentes convivendo
em torno de um intenso comércio regional e internacional. Eram franceses,
34
7
Canal hídrico que desagua no rio Paraguai, de soberania compartilhada entre Bolívia/Brasil e em suamaior
extensão em território brasileiro, navegável no século XIX.
35
8
Imperialismo segundo Lenin é a etapa superior ao capitalismo. Regime de transição do capitalismo para o
socialismo- e a contradição que o preside- o crescente antagonismo entre a socialização das forças produtivas em
escala mundial e a apropriação privada dos meios de produção por uma oligarquia financeira. In: Por que voltar
a Lenin? Imperialismo, barbárie e revolução. Edição eletrônica (e-book). Disponível em:
<www.navegandopublicações.net>. Acesso em: 13 fev. 2014.
38
Este documento aponta para a ocorrência do tráfico interprovincial. Sobre isso temos a
matéria publicada no O Iniciador (17/10/1880), comunicando à população fronteiriça a
chegada do vapor Dona Constança, procedente de Cuiabá, que trazia a bordo 41 passageiros e
cinco cativas, três do Coronel Antônio Pedro Alves de Barros, uma do Doutor Antônio José
d‟Sant‟anna e uma de Thiago José Mangine (comerciante atacadista e fazendeiro).
O documento mostra igualmente a fuga da cativa Violante ocorrida no ano de 1880.
Decorridos cinco anos a cativa ainda não havia sido capturada, conforme data do Auto de
Avaliação (12 de fevereiro de 1885). A cativa, à guisa de compreensão particular, protagoniza
sua história, possivelmente conquistando a liberdade desejada. Ainda que os vestígios
documentais não possibilitem afirmarmos para onde fugiu, há que se considerar que a ação de
fuga de Violante ocorreu em território de fronteira.
A respeito da presença de cativos vindos de outras regiões para Corumbá temos a
abertura do Inventário de Salvador Arruda Lobo nos autos de arrolamento dos bens a serem
inventariados, dentre eles, os bens considerados semoventes: Simplício (25 anos), Martinha
(18 anos), Antônio (5 anos) Candido (2 anos), Prudência (35 anos), Vicencio (35 anos), Joana
(30 anos), Eva (30 anos) e Theresa (16 anos), todos eles trabalhadores de lavoura da região de
Minas Gerais10.
Esse documento é relevante, pois fornece elementos para pensarmos na composição
variada de origem dos cativos presentes em Corumbá. Era prática do universo escravista a
mobilidade social do cativo inter e intraprovincial, fato que seria anos mais tarde proibido.
Em Corumbá, no intuito de coibir a chegada de mão-de-obra escrava como retaliação aos que
descumprissem o estabelecido, a Câmara de Vereadores estabeleceu um imposto no valor de
500#000 réis a cada cativo que chegasse à cidade, procedentes de outros lugares da
Província11.
9
Inventário de Thiago José Mangini (1885), fls 108-109. Arquivo do Fórum de Corumbá (MS).
10
Inventário de Salvador de Arruda Lobo fls26/27. 8/09/1872.Arquivo do Fórum Municipal de Corumbá(MS).
11
Relatório da Câmara Receita e Despesa Anual, nº 27, 1885.Arquivo do Fórum de Corumbá (MS).
39
Conforme o documento pode-se apreender que o valor cobrado pela Alfândega não
impediu que ocorresse mobilidade espacial do cativo, uma vez que haviam decorrido cinco
anos após a criação do imposto que proibia a entrada dos mesmos na cidade (1880). A
Câmara de Vereadores ainda trabalhava no sentido de arrecadar valor em espécie do Fundo de
Emancipação da cota destinada pelo governo para a indenização dos proprietários de cativos.
Desse modo, o discurso dos Vereadores no relatório é direcionado para o fim da escravidão
em Corumbá, uma vez que sugere, sutilmente, a liberdade de cativos promovida por iniciativa
particular complementada com ajuda do governo representada pelo Fundo de emancipação.
Sobre o ordenamento do território de Corumbá, a política do governo central autorizou
o governo regional de Mato Grosso a tomar medidas econômicas (isenção de impostos por
cinco anos para os comerciantes que se estabelecessem na localidade) e político-
administrativas de caráter militar, ocasião (1872) que foi autorizada a construção do Arsenal
da Marinha na fronteira, em Ladário, parte Leste dos arredores de Corumbá. Nessa época
chegaram militares da marinha de Cuiabá que foram transferidos para servir na fronteira e os
caixeiros-viajantes (comércio informal), com suas mercadorias abasteciam a tropa militar
(CORRÊA, 1980). Este registro agrega no sentido de apreendermos que o comércio local era
formado por atacadistas exportadores e importadores, como também por mascates que
movimentavam o comércio da fronteira.
A política econômica do governo incentivou os comerciantes capitalizados da região
platina e do interior de outras Províncias do Império a se estabelecerem na cidade. Este fato
oportunizou osurgimento de um novo grupo social, comerciantes atacadistas exportadores e
importadores que somados aos fazendeiros proprietários de charqueada, profissionais liberais
e agentes institucionais Alfândega, Câmara Municipal de Vereadores, Forças Armadas Militar
(Exército e Marinha), Poder Judiciário (Cadeia, Cartório, Delegacia de Polícia, Fórum)
compuseram - junto aos demais atores (cativos, (i) migrantes, locais (nativos), grupos étnicos
indígenas) - o tecido social da fronteira de Corumbá.
12
Idem.
40
13
Sumário Crime: réu José Maria Pessoa.3/2/1885, p.32.Arquivo Público do Fórum de Corumbá(MS).
41
casado e morador de Jacadigo (arredores de Corumbá), apresentou queixa contra José Maria
Pessoa (caracterizado no processo como chiquitano), arrolado como autor do crime praticado
contra Sr. Thimotéo, peão e morador do Jacadigo.
Este processo criminal é relevante, porque permite apreendermos para além das
interações entre bolivianos, imigrantes e locais, uma que a mobilidade espacial dos sujeitos de
regiões distintas, verificado neste caso envolveu uma dinâmica dos espaços urbano e rural,
que neste trabalho são analisados em conjunto, compreendidos como região de fronteira.
Já a corrente migratória de paraguaios para o Brasil, principalmente para a fronteira do
Brasil com a Bolívia, em Corumbá, ocorreu por causa da Guerra do Paraguai. Com o seu
término, em função da instabilidade política, houve crise financeira e miséria da população
paraguaia.
Sobre a presença dos imigrantes paraguaios em Corumbá:
[...] uma grande parte desses imigrantes é do sexo feminino e compõem-se
em sua quase totalidade de mulheres perdidas, da mais baixa espécie, [...]
que trazem consigo os vícios mais repugnantes e aqui se vêm entregar a mais
imunda devassidão fugindo completamente a todo e qualquer trabalho
(CORRÊA, 1999 apud SIQUEIRA, 2009, p. 42).
retratando uma sociedade pacífica e com oportunidades para os que ali retornassem.Cabem
aqui as reflexões de Grimson (2000) que, ao analisar a presença dos atores políticos
institucionais estabelecidos na área de fronteira, entende que o Estado central, regional e local
fixa normas e cria estruturas organizacionais administrativas que atendam aos interesses da
classe e/ou instituições que o representam:
[...] regulam o ingresso e egresso de mercadorias e pessoas [...] fixa e troca
normas comerciais e de segurança para as zonas de fronteira, edifica sede de
administrações, envia funcionários de outras regiões, intervém na vida
cotidiana da fronteira [...] tem delegações de aduanas, migrações,
consulados, policiais e regimentos do exército (GRIMSON, 2000, p. 4).
estabelecer um caís em Puerto Suarez, passou a reter para si a terça parte dos impostos de
exportação e importação das mercadorias provenientes do interior da Bolívia:
[...] Suarez Arana queda por casi dos jeneraciones du enõ de las terceras
partes de los derecho de importacion y exportacion por el total del Oriente
del Bolívia: isto sem garantia alguna al Fisco por la tercera parte de los
mismos derechos i para que los indios del distrito de Outuquis não puedem
negarse a los trabajos del Sr. Suarez. [...] y el comerciante no tenga
absolutamente recurso de reclamacion sino al supremo gobierno, assumió el
los poderes políticos, militares y consulares [...]. (O Iniciador, 08 de agosto
de 1880).
14
Ver ALVES, Gilberto Luiz. Mato Grosso e a História:1870-1929.
44
Acrescentando ainda que: “Inicialmente, o capital financeiro teria utilizado como canal
as próprias casas comerciais, que se tornam então, representantes (isto é, intermediárias) de
bancos nacionais e estrangeiros” (ALVES, 1984, p. 39).
Em perspectiva distinta Queiroz (2008), questiona a interpretação de Alves, uma vez
que aquele entende que o crescimento do setor econômico de Corumbá, após a Guerra do
Paraguai, não foi expressivo e a economia local, para Queiroz, só apresenta um desempenho
melhor ao se comparar com o movimento econômico de Corumbá no período antes da Guerra
do Paraguai. Nessa linha de pensamento, o autor pontua que Alves:
[...] superestima tanto quantitativamente como qualitativamente as
transformações verificadas após a liberação da navegação e, no mesmo
passo, supervaloriza também os papeis desempenhados tanto pelo capital
comercial quanto pelo capital financeiro(QUEIROZ, 2008, p. 136).
considera-se a ideia da existência de uma “rede” de integração entre diversos atores sociais e
institucionais na área de fronteira entre Corumbá e Puerto Suarez. A rede:
[...] apresenta a propriedade de conexidade, isto é, através da conexão de
seus nós, ela, simultaneamente, tem a potencialidade de solidarizar ou de
excluir de promover a ordem ou a desordem [...] tem as estratégias: de
circular e comunicar (DIAS, 1995, p, 147).
15
Ver SENA, Divino M. Camaradas: Livres e pobres em Mato Grosso. 1808-1850.
46
descritos em detalhes, a citar a cobertura diferenciada dos lugares, sendo a casa grande
principal, os três quartos de hóspedes e o quarto da enfermaria cobertos por telhas; as demais
dependências ou eram cobertas por zinco, “[...] galpões onde se guardava açúcar, ferramentas,
alambiques, moendas etc.[...] e sete galpões pequenos cobertos de palha e sapé que servem de
senzalas aos escravos e camaradas [...]” (O Iniciador, 1883, p.3).
No documento acima depreende-se que as características da construção e cobertura da
casa da viúva do barão de Vila Maria representa a distinção da posição social dos seus
moradores.
Dessa forma, percebe-se que em Piraputangas, na fazenda de mesmo nome, havia uma grande
concentração de cativos cuja propriedade era do Barão de Vila Maria, tal como foi apontado
pela pesquisadora Cancian (2006) no registro de Classificação dos escravos a serem libertos
pelo Fundo de Emancipação (1873): 84 mulheres escravizadas sendo 19 aproximadamente
23%, pertencentes ao barão de Vila Maria.
Com o exemplo acima tencionamos apontar para além da provável rede de
sociabilidades, solidariedades e conflitos entre esses agentes territoriais. Neste estudo, sobre
as interações dos cativos e demais agentes sociais que viviam a/na fronteira, a constituição de
uma rede de sociabilidades principalmente com os bolivianos, pensemos que “[...] a formação
de redes de sociabilidades sempre foi uma estratégia para os escravos tornarem-se livre, numa
sociedade em que, para eles, as oportunidades eram pouquíssimas e a desesperança muita”
(SOUSA, 1996, p. 70).
Conforme Dias (1995), os termos fluidez, fluxos, conexidade perpassam o conceito de
rede. Nesse sentido, com as “pistas” retiradas da análise da documentação, apresentamos a
cadeia pública de Corumbá como um provável espaço de articulação, comunicação, interação
e conhecimento entre cativos e bolivianos, que, provavelmente, repercutiram nas fugas de
cativos direcionadas ao território boliviano de “Pedra Branca”.
Nesse viés analítico passamos à discussão sobre como ocorreu o fim do trabalho
escravo na fronteira de Corumbá/Puerto Suarez- através das Cartas de Liberdade, todavia faz-
se necessário apresentarmos, primeiramente, o contingente de sujeitos escravizados existentes
na Província de Mato Grosso.
47
21 Amazonas 1.716 0
reuniam em um único mês do ano, este fato aponta para a morosidade com que eram tratados
os assuntos que se referiam a libertação dos cativos em Corumbá.
De forma que, no ano de 1874 a Junta Municipal de Classificação enviou relatório a
Coletoria Alfandegaria declarando que não poderia classificar muitos cativos residentes nos
distritos dos rios São Lourenço, Coxim e Taquary, pois os seus proprietários não os haviam
matriculado, nem averbado na alfândega local e que no caso essas pessoas estavam passiveis
de serem multados conforme o artigo 24 do Decreto n° 483516.
É possível relacionar a falta de exatidão da população de cativos existentes em
Corumbá visto que havia alguns possuidores de cativos que não os matriculavam para não
pagar o imposto devido a Alfândega local conforme o relatório da Junta que solicitou aos
possuidores de cativos inadimplentes com o fisco local para comparecerem e regularizar a
situação junto a Alfandega, entretanto “[...] nenhum se apresentou voluntariamente a dar
informações senão os que foram por ela chamados a esse fim17. Esse documento não traz a
relação dos nomes de proprietários de cativos que estavam com pendências junto a agência
arrecadadora. Esta é uma constatação que implica nas considerações sobre o quantitativo de
cativo em Corumbá pois suas presenças não foram registradas no mapa populacional local.
Entretanto, algumas vezes é possível enxergar vestígios de suas presenças, nos desvãos da
história oficial do cotidiano escravista de Corumbá. Nesse raciocínio, Cancian (2008, p. 144)
aponta para o ano de 1874 uma relação de sete cativos“(Candido, Cristina, Gabriela, Márcia,
Vicencia, Priscila e Rufino) que não estavam devidamente matriculados nem averbados na
Alfândega local”.
A respeito disso temos uma publicação do jornal O Iniciador:
16
Ofício avulso, s/n , dirigido à Câmara Municipal no ano de 1874 sobre trabalhos da Junta Classificadora de
Escravos. Arquivo Púbico da Câmara Municipal de Corumbá (MS).
17
Idem.
51
Figura 3- Infração e penalidade pela falta de registro de matrícula (Fonte: O Iniciador, 05/01/1883).
18
Circular nº 44 1ª seção. 1886.Arquivo da Câmara Municipal de Corumbá (MS).
19
Circular nº 53.1ª seção.12/08/1886.Arquivo da Câmara Municipal de Corumbá (MS).
53
dá-se uma abordagem de apenas duas modalidades de liberdade de cativos por meio desse
instrumento jurídico, objetivando apontar situações a fim de considerar o protagonismo desses
atores para conquistar a liberdade. De modo que, no quadro abaixo, há um panorama das
tipificações das cartas de alforria expedidas em Corumbá.
Coartação 2
Com condições 11
Com ônus 11
Pecúlio 2
Sem ônus 7
Testamento 2
TOTAL 43
Busca-se analisar as duas tipificações, alforria por coartação e pecúlio, pois ambas
possibilitam entrever as estratégias dos cativos para conseguir a carta de liberdade. A alforria
por coartacão “[...] uma espécie de acordo financeiro entre proprietário e cativo, sobre o
pagamento da carta de liberdade paga em parcelas pelo cativo, conforme este fosse juntando o
pecúlio para comprar a Carta de Alforria” (SOUZA, 1999, p.159). Já a alforria por pecúlio,
conforme a historiografia aponta, remete-nos a considerar a possibilidade de um acordo entre
o cativo e o seu senhor, para que aquele pudesse conseguir juntar o montante necessário para
comprar sua liberdade, [...] consistia em uma espécie de economia acumulada pelo escravo,
formado por legados, economias e doações, ou então por meio do trabalho realizados extra ao
seu senhor, a terceiro ou “sobre si” em dias santos, domingos ou reservados “para si”.
(OLIVEIRA, 2006, apud PERRUSATO, 2008, p. 4).
Em escala local, enquadrada na tipologia de alforria por coartação temos o caso de
Vicencia cativa da senhora Anna Izabel Rodrigues Pimenta, domiciliada na ocasião em
Cuiabá e representada em Corumbá pelo seu filho o Sr. José Simão de Lara Pinto. Vicencia se
apresentou no Cartório no dia 17 de março de 1877 ao Sr. Paulino José Soares das Neves,
tabelião em Corumbá um recibo de pagamento nos seguintes termos: “Recebi da minha
escrava Vicencia a quantia de trezentos e quarenta mil réis (340$000 réis) que fica em meu
poder, depositada para quando a mesma entrar com mais seiscentos e sessenta mil reis para
54
receber sua liberdade [...]” (PENTEADO, 1993, p. 58). O recibo do adiantamento da carta de
liberdade de Vicencia foi assinado por José Simão de Lara Pinto, filho e procurador da Sr.
Anna residente em Corumbá. Embora a documentação não forneça elementos para afirmar a
maneira pela qual a cativa conseguiu juntar o montante de 340$000 réis para comprar sua
alforria, é necessário considerar, conforme aponta a historiografia brasileira sobre a questão
das cartas de alforria conseguidas pelos cativos tipificadas como pecúlio, é relevante apontar
que o trabalho de ganho20 nos dizeres de Silva (2007, p. 52)foi uma prática generalizada no
decorrer do século XIX.
Neste caso não podemos considerar que Vicencia teve ajuda da Sociedade
Abolicionista Corumbaense uma vez que o grupo ainda não existia. Esse fato conduz a
trabalharmos com a possibilidade de relacionar o espaço urbano de Corumbá como um
elemento facilitador para comprar sua carta de liberdade. Isto não quer dizer que fosse a única
forma de juntar pecúlio e nem que fosse implicação única de serem conseguidos somente
pelos cativos de ganho.
Como exemplo temos o caso de outra cativa de mesmo nome, Vicencia, 20 anos,
solteira, matriculada no município de Rosário em 1872(nº da matricula 1721) e registrada na
Alfandega de Albuquerque em 1875. A proprietária de Vicencia, Carolina Alves Correa,
declarou em cartório que havia recebido da Sociedade Abolicionista Corumbaense a quantia
de 400$000 (quatrocentos mil) réis juntamente com: “[...] mais 100$000 réis (cem mil réis)
que a libertada obteve de donativos que com o meu consentimento andou pedindo para sua
liberdade, o que perfaz a importância de quinhentos mil réis em que ambas combinamos”
(PENTEADO, 1993, p. 41).
Este caso possibilita entrevermos as territorialidades escravistas na contribuição da
desarticulação do sistema escravista local. Ademais, observar o protagonismo ao adquirir aqui
ou acolá com o esforço de seu trabalho - paralelo às outras tarefas que deveria desempenhar
no interior da residência do Sr. José Simão de Lara Pinto, onde, provavelmente, Vicencia
residia.
Diante dos fatos, pode-se dizer que a modalidade de alforria por coartação tanto
quanto por condições- (prestação de serviços futuros) era uma “pre- liberdade”, que só iria se
efetivar no ato do pagamento do montante total pelo qual o cativo fora avaliado pelo seu
senhor.
20
Cativos que circulavam, com o consentimento de seu proprietário, nas ruas das cidades oferecendo seus
serviços ou produtos em tabuleiros.
55
Como exemplo, de alforria por pecúlio temos o caso do cativo Galdino, 32 anos,
solteiro, oficial de carpinteiro, recebeu sua carta de alforria no dia 14 de julho de 1884 de sua
senhora, Dona Delfina Rondon Serra. A relevância deste caso, para além da tipologia da carta
de liberdade concedida através de pagamento, reside no fato de Galdino ter conseguido o
valor de sua liberdade por meio da participação de diferentes sujeitos (situação que não foi
encontrada com outros cativos ao desenvolver esta pesquisa), sendo alto o seu valor, orçado
em 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis).
O episódio apresenta a dinâmica das territorialidades escravistas local, onde o cativo,
para conseguir a liberdade, através da carta de alforria, teve ajuda de dois segmentos sociais
existentes na cidade, quais sejam, a Sociedade Abolicionista e a Irmandade de São Benedicto.
O documento não esclarece qual foi o montante doado por cada entidade para alforriar
Galdino. Entretanto é relevante, pois foi o único caso encontrado na pesquisa que aponta para
a existência em Corumbá da Irmandade21Religiosa de São Benedicto.
Temos outro caso de alforria por pecúlio de Ignacia Maria do Espirito Santo, (nº de
matricula 193, nº de ordem 136), cabra, solteira, aptidão boa para o trabalho e profissão de
costureira, foi averbada na cidade de Cuiabá, em 13 de novembro de 1872, na época com 15
anos de idade, de propriedade do Sr. Antônio Vieira de Moraes. Decorridos cinco anos (1877)
a cativa foi comprada pelo Sr. Thiago José Mangini. Por ocasião da abertura do Inventário de
Thiago José Mangini (1884) o nome de Ignacia foi arrolado na lista dos bens, a serem
inventariados, como “peça semovente”.
Decorridos 12 anos do registro de Ignaciaem Cuiabá, ocorreu a abertura do inventário
feita pela viúva do Sr. Thiago J. Mangini, a Srª Leonor Mangini, residente na Villa de Nova
Friburgo Província do Rio de Janeiro e representada juridicamente pelo seu irmão, Manoel
José Moutinho. No decorrer do processo nos Autos da Juntada pinçamos dos dados do
inventário uma petição datada de 31de julho de 1884, no qual a cativa Ignacia, a essa data,
constava ter 27 anos. No documento a cativa comunicava ao Juiz de Orphãos que já tinha em
mãos o montante de 700$000 (setecentos mil réis) preço pelo qual fora avaliada dispunha,
portanto condições de comprar a sua carta de liberdade.
Este inventário apresenta um fato recorrente no que diz respeito à fonte empírica. Em
alguns documentos é por ocasião da abertura do inventário, na parte do Arrolamento dos bens
do inventariado, que a Alfândega local tomava conhecimento de casos de cativos que não
21
Irmandades Religiosas-tinham uma composição heterogênea(homens, mulheres, escravos, livres, brancos)
eram formadas por leigos que tinham como objetivo ajudar os seus membros e a comunidade.
56
tinham números de matricula, ou seja; seus proprietários não pagaram a taxa de matrícula dos
seus cativos a coletoria alfandegária conforme prescrevia a legislação. Nessa perspectiva de
análise, Thiago Mangini devia a Fazenda Nacional a importância total de 50$880 réis
referente à taxa de três escravos que não foram matriculados na Alfândega local, mas que
eram de sua propriedade. A dívida constava no valor de 48$000 réis e mais a multa de 2$880
réis.
Os cativos que deixaram de ser registrados na Alfandega local e que compunham os
bens semoventes da herança de Thiago José Mangini eram: Maria, preta, 20 anos de idade,
solteira, serviço doméstico, de Uberaba (MG) e averbada neste município sob nº 260; Luiza,
preta, 14 anos, solteira, serviço doméstico, matriculada em Cuiabánº deordem 691, e averbada
em Corumbá sob o número 126. Claudina, 32 anos, preta, solteira, cozinheira, matriculada em
Goyaz, nº de ordem 940, e em Corumbá com o nº 27022. A partir destes exemplos percebe-se
que a falta de registro de cativos na Alfândega local não foi pontual e não esteve relacionada
somente aos proprietários moradores das fazendas, porquanto Thiago José Mangine morava
na cidade e suas cativas desempenhavam trabalho doméstico, o que aponta para o fato que
alguns senhores não faziam a devida matricula por questões econômicas (custos da taxa de
matrícula do cativo) e não somente por questões de localização geoespacial das fazendas nos
arredores de Corumbá. Consta também do inventário na parte de arrolamento de bens, que
dona Leonor do Bom Jesus Murtinho Mangini, viúva do inventariado, recebeu por herança do
seu pai, Dr. José Antonio Murtinho que morava em Cuiabá “[...] Leopoldina, preta, Violante,
preta,Manoel 7 anos, Luisa 6 anos filha de Violante [...]esses escravos passarão a pertencer o
termo de Corumbá visto que a proprietária é residente lá”(Cuiabá/11/08/1877)23.
No inventário o caso dos cativos transmitidos por herança, permite considerar que os
laços entre escravizador e escravizado eram mantidos, não se rompiam pela morte de seu
senhor, no qual os cativos eram “repassados” de geração em geração uma forma sutil de
domínio senhorial familiar do patriarcado da Colônia e do Império.
22
Inventário de Thiago José Mangini, 1884.Arquivo do Fórum Municipal de Corumbá(MS).
23
Inventário de Thiago José Mangini, p. 96-97.
57
24
Ofício s/n expedido ao presidente da Sociedade Abolicionista Corumbaense. Em 09/06/1884.Arquivo da
Câmara Municipal de Corumbá (MS).
25
Ofício avulso s/nº ano de 1884. Arquivo da Câmara Municipal de Corumbá(MS).
26
Idem.
58
27
Idem.Arquivo da Câmara Municipal de Corumbá(MS).
59
No caso, a liberdade de Rosa estava estipulada para mais de 440$000 réis, não
podemos precisar o valor total de sua carta de liberdade visto o Sr. Antônio Delmiro não
especificou a quantia que a cativa tinha juntado para comprar sua liberdade.
Conforme a historiografia sobre escravidão sinaliza, em fins do período imperial
brasileiro, nas províncias que tiveram abolicionistas atuantes, os cativos escolhiam os
curadores para representa-los em juízo, estes eram homens que defendiam a causa
abolicionista. Nessa perspectiva, por ocasião da abertura do inventário de Victor Antônio
Rodrigues Coimbra (1874) surge no decorrer dos tramites processuais o nome da cativa
Luiza. Um ano depois (1875) esta compareceu à casa do Juiz de Orphãos e Ausentes, para
comprar sua carta de liberdade. O Sr. José Joaquim S. Franco registrou a “[...] a nomeação do
major João de Allencout nomeado depositário do dinheiro apresentado pela escrava Luzia
para comprar a sua liberdade”29 Continuando o processo da Carta de Liberdade de Luiza
ocorrido no dia 30 de abril de 1875:” [...] declaro que foi pago n‟ juízo pela citada escrava
28
PENTEADO,Yara. Como se de ventre livre nascido fosse...p.41-42.
29
Inventário de Victor Antônio Coimbra.p. 9. Arquivo do Fórum de Corumbá(MS).
60
Luiza em favor de sua liberdade, por esta declaro liberta, nos termos do art.4º, parágrafo 2º da
Lei nº 2040 de 28/09/1871”.
O documento não faz alusão a quantia arrecadada por Luiza para comprar sua carta de
alforria, entretanto, é um dos muitos exemplos do protagonismo cativo no sentido de alcançar
a liberdade. Pergunta-se: qual foi o recurso utilizado pela cativa para comprar a sua carta de
liberdade? É difícil estabelecer uma conclusão sobre como Luiza conseguiu sua liberdade.
Considerando que a escrava foi até a casa do juiz de órfãos acompanhada do Sr. João de
Alencout, seu depositário e curador, pode-se considerar que Luiza morava na área urbana de
Corumbá, embora o inventário forneça elementos que nos direcionam para a possibilidade do
Sr. Victor Coimbra ser proprietário rural, em função da relação de bens do inventariante
(tralha de montaria, enxadas, etc.) de maneira que nenhuma pista direciona a pensar na
possibilidade da cativa ser moradora da área rural30. Logo, no ambiente citadino Luiza pode
ter articulado suas redes de sociabilidades e amealhado pecúlio para a obtenção de sua
liberdade.
A fim de apreendermos a dinâmica abolicionista local temos o caso da cativa Angela,
de propriedade da Sra. Adelaide da Silva Rondon. Angela foi avaliada em 1100$000 réis,
preço correspondente ao valor de sua carta de liberdade. Em 1883 O Iniciador publicou a lista
de pessoas da sociedade local que contribuíram para a compra da carta de alforria da cativa:
30
. Inventário de Victor AntonioR. Coimbra.(1874) Arquivo Público do Fórum de Corumbá(MS)
61
31
Nota de Recibo Sociedade Abolicionista. 1884. Arquivo da Câmara Municipal de Corumbá (MS).
62
Observa-se que a quantia transferida para a sociedade abolicionista não foi entregue
em sua totalidade, visto que o dinheiro arrecadado por simpatizantes pró-abolição foi de
200$000 réis, não conferindo, portanto, com o dinheiro repassado pelo João Antônio
Rodrigues. Pelo exposto, os números nos conduzem a afirmar que a ajuda financeira pelos
que defendiam a causa abolicionista não despendeu somas vultosas, o que significa que,
conforme a documentação sugere que de maneira geral os discursos dos defensores
ideológicos da causa em Corumbá não foram acompanhados com a mesma expressividade
econômica para as compras das cartas de alforria. Como no exemplo supracitado, 136$000
réis foi uma colaboração irrisória, valor aproximado de pouco mais de 12%. Não fica claro de
que maneira foi utilizada a diferença (64$000 réis) do valor arrecadado em prol da carta de
alforria de Angela.
Atentamos para a atuação da Sociedade Abolicionista Corumbaense como uma das
financiadoras do fim da escravidão em Corumbá. Nota-se, contudo, que na grande maioria
dos casos observados, a contribuição da Sociedade Abolicionista não alcançava o valor da
carta de alforria. De maneira que, conforme os documentos apontam, o cativo necessitava
quase sempre de outros meios para conseguir o montante do valor da compra de sua
liberdade. Entretanto, não se pode desconsiderar a contribuição da sociedade para a
desarticulação do regime escravista em Corumbá.
Por fim, e pelo exposto, é possível afirmar que as ações da Junta Classificadora de
Escravos, a Sociedade Abolicionista Corumbaense e os cativos imprimiram uma marcante
dinâmica territorial local que envolveu setores sociais de âmbito público e privado para a
desarticulação do sistema escravista local, cujo dinamismo ecoou na República Platina do
Uruguai, conforme a edição do Jornal O Iniciador de 28 de junho de 1884, na coluna “Campo
Neutro” traz a relação, em sua maioria, de senhoras simpatizantes da causa abolicionista, da
sociedade uruguaia que agenciadas pelo Sr. F. Vierci enviaram a sociedade abolicionista de
Corumbá prendas para o Bazar promovido por esta entidade.
Não somente questões econômicas impediam que o fim do cativeiro pudesse ocorrer a
um contingente expressivo de cativos. Há o caso do Sr. João Antônio Rodriguez que se
dirigiu, por meio de ofício, ao presidente da sociedade abolicionista local:
[...] sendo muitos os meios que dão o direito aos escravos serem postos em
liberdade [...] mas que infelizmente a maior parte desses meios ainda não
foram postos em prática [...] devido a falta de não haver quem se tenha
encarregado e advogar essa causa justa e humanitária, e apesar de eu não
possuir as habilitações que serão precisos para bem desempenhar esse lugar
de advogado, porém convicto que a causa da liberdade não só é humana mas
também Divina, sendo o principal advogado dela o próprio Deos, (sic) [...]
venho oferecer-me a Sociedade Abolicionista Corumbaense para tratar
gratuitamente no foro d‟esta Comarca das causas de liberdade das pessoas
escravas [...] 32.
32
Ofício s/n. 10/05/1884.Arquivo da Câmara Municipal e Corumbá (MS).
64
Brazil (2002) sinaliza que as fugas alémfronteira eram implicação da violência praticada
contra o cativo, onde:
[...] o trabalhador escravizado era submetido a rígida disciplina escravista,
expressa na equação: ritmo/prolongamento da jornada de trabalho servil,
determinadas pelas circunstâncias, ensejava variadas formas de reação
(BRAZIL, p. 99).
33
Sumário Crime de Ulderico Colombo (réu). 26/09/1884.Arquivo do Fórum de Corumbá (MS).
65
Figura 4-Anúncio oferecendo recompensa pela captura do cativo. (Fonte: A Opinião, 28/01/1879).
Zaramella (2004) aponta que o jornal A Opinião, foi lançado no ano de 1878 em
Corumbá, com o subtítulo Periódico Literário e Noticioso. A matéria acima publicada pelo
jornal intitulada “Aviso. Negro Fugido” apresenta o Sr. João N. de B. Ferreira, proprietário de
cativo, oferecendo recompensa de 100&000 réis para quem capturasse Honorato, cativo de
sua propriedade que se encontrava fugido. Esta fonte empírica é relevante, visto ser a
materialidade da figura de “capitão do mato”, termo utilizado para se referir aos homens que
capturavam cativos fugidos, prática muito comum aos dois períodos escravista do Brasil.
Continuando sobre as fugas de cativos e de sujeitos livres para território boliviano,
temos a interessante crônica literária publicada no jornal O Iniciador, de 26 de abril de 1883.
Assim, conforme transcrição, O Iniciador publicouna coluna Campo Neutroa matéria
intitulada: “Conversa entre dois Irmãos”,um dos irmãos questiona o outro sobre por que
“abafou” o pobre patrício que estava doente. O irmão retrucou pedindo que não o “amolasse”
e que só fez isso porque o patrício queria ir pra Bonos Ares, do jeito que estava doente e “com
o perigo das republicas lá de baixo eu tive pena de ver ele sofrer e ser roubado”:
- Lá isso é verdade. Mas oh, Zé dizem tanta cousa por ahi...
- Deixa dizer, eu c’a tanto sou d’aqui como da Bolívia, e então adeus.
67
34
Tradução do Latim: dar a cada um o que lhe pertence.
69
porque permite apreender os embates das relações de poder estabelecidas no tecido social da
fronteira.
Sobre os jornais de época Souza (2003, p. 225), a exemplo de O Iniciador, aponta que
“[...] estiveram atrelados direta ou indiretamente a partidos políticos [...] e a parte essa
vinculação, a visão de mundo expressava as identificações com as elites sociais”. Esse fato se
constata em um editorial publicado em duas extensas colunas de O Iniciador, em que o editor
enalteceu o empreendimento do proprietário, Sr. Thomaz Laranjeira, explorador dos ervais de
mate localizados na província mato-grossense da fronteira com a República do Paraguai:
[...] incansável na luta contra os inúmeros obstáculos a vencer [...] o Sr.
Laranjeiras tem desenvolvido a mais decidida força de vontade e está hoje
habilitado para começar a exportação d‟esse produto de uma industria nova e
de que tantos e tão grandiosos resultados pode auferir a província (O
Iniciador, 1883, p. 1).
A ocorrência acima motivou a abertura de uma queixa crime impetrada na justiça por
parte do Sr. Manoel Marcelino Guerra, contra o Sr. Joaquim Timotheo autor da agressão e a
favor do cativo João do engenho. No processo acima, a partir de artigos publicados no
periódico O Iniciador, ocorreram acusações de ambas as partes, sendo que o Sr. Joaquim
Timotheo Ribeiro rebatia as acusações de seu opositor por meio de artigos no jornalO
Corumbaense, e Manoel Marcelino Guerra se posicionava em defesa dos “fracos e oprimidos”
em O Iniciador, inclusive solicitava aos editores do jornal, vejamos a transcrição:
A este jornal que tanto clama por providência e justiça entregaremos todos
os documentos a fim que sua redaçção com a calma que em nós se tornaria
talvez impossível attenta a parte que temos nas offensas já referidas, o
apreciar e trazer ao público a sua opinião a respeito.” (O Iniciador
19/02/1889, p.3).
1880 o filho do Sr. Timotheo, Francisco Agostinho Ribeiro, sofreu no interior da residência
deste uma emboscada, tentativa de um assassinato. O pai da vítima denunciou que os cativos
pertencentes à herança de Vila Maria e de Joaquim José Gomes da Silva andavam armados
pela cidade. Na matéria o Sr. Manoel Marcelino não deixa claro os possíveis autores ou
mandantes do crime. O fato é que nas edições dos dias 19 e 29 de fevereiro, 04 de março e 11
de julho de 1880 o jornal O Iniciador publicou uma matéria sobre a questão que mereceu
atenção do governo regional, em Cuiabá, que enviou para Corumbá uma autoridade policial
para averiguar como estava a situação da segurança local a fim de verificar se havia ou não a
necessidade de reforço policial para coibir a violência local. Registra-se que o nome da
autoridade que veio para Corumbá não foi citado no jornal.
O que importa desse episódio diz respeito àviolência sofrida pelo cativo onde também
é possível apreender a importância da imprensa na condução da política local bem como na
formação da opinião pública.
Nesse sentido, segundo as declarações do Sr. Manoel Marcelino de Carvalho, relata a
violência praticada pelo Sr. Joaquim T. Ribeiro contra João do engenho:
A prisão do escravo esbordoado e ferido por ele era necessária para que o
delinqüente pudesse passear tranqüila e impunemente. É proibido a algumas
pessoas terem armas dentro de suas casas [...] mas é permitido ao preclaro
cidadão usar d‟ellas esbordoando um transeunte em uma rua da cidade (O
Iniciador, 11/07 1880, p.3).
mais existia. Esse diferente contexto político entre os Estados teve implicações nas relações
político-diplomáticas da Bolívia com o Brasil uma vez que: “[...] o relacionamento político
dos Estados sul-americanos era constantemente abalado por contenciosos em relação às
definições de fronteira, comércio, extradição, taxas aduaneiras e navegação fluvial”
(CALDEIRA, 2008, p. 59).
Sobre a questão da extradição de cativos, Caldeira (2008, p. 59) sinaliza que residia no
fato de não haver uma legislação específica acercado assunto:
[...] determinando o que poderia ser considerado licito ou ilícito
internacional, em função, na época, de ser recente a formação dos Estados
nacionais na América Latina [...] o governo boliviano insistia em devolver os
cidadãos brasileiros, ou escravos fugitivos apenas nos casos em que
houvesse uma condenação transitada em julgado [...] o que se tornou uma
barreira intransponível, pois as fugas escravas nunca foram classificadas
pelo direito pátrio como um delito que demandasse a abertura de processo
contra o fugitivo impossibilitando, portanto, a condenação.
35
LIB em Sucre. In: AHI (211/01/18). Nota nº 1, de 14/12/1842, contendo a resposta do Ministro dasRelações
Exteriores da Bolívia Manuel de la Cruz Mendez ao Ministro e Secretário de Estado dosNegócios Estrangeiros
Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, apensa ao ofício n° 5, de 29/12/1842 apud CALDEIRA(2008,p. 64).
75
Este caso é relevante não só porque permite visualizarmos, em escala local, as tensões
ocorridas na fronteira boliviana, mas materializa o campo de lutas e o sentido que “Pedra
Branca” representava para o cativo- abrigo.
Ainda a respeito das contendas entre as Aduanas de Corumbá e da Bolíviasobre a
invasão do território boliviano para capturar cativos em “Pedra Branca”, à autoridade
boliviana estabelecida no destacamento militar conhecida por “Pedra Branca” foi quem “[...]
representara contra o fato ao comandante da fronteira de Corumbá que transmitiu a
representação ao senhor delegado” (O Iniciador, 20/05/1880, p. 1).Como forma de controle
da área de fronteira de Corumbá com a Bolívia o jornal local publicou o “Comunicado da
Delegacia de Polícia” prevenindo os moradores de Corumbá e da região sobre a gratuidade do
“passe” livre e gratuito para aqueles que se dirigiam à Pedra Branca.
[...] a partir do dia 17 de maio de 1880 ninguém transporá a linha limitrophe
com a república da Bolívia [...] deverá apresentar ao comandante do
destacamento estabelecido na Pedra Branca ao pé do respectivo marco; a fim
de evitar a fuga de escravos e criminosos. (O Iniciador, 13/05/1880, p, 4).
Não iremos nos deter nas discussões do Tratado de Ayacucho, abordaremos apenas a
questão sobre a extradição de cativos da Bolívia para o Brasil. Acerca dessa temática Caldeira
(2008, p. 170) argumenta: “[...] foi o acerto de uma extensa área de fronteira, o que
determinou o fim de uma antiga preocupação da diplomacia brasileira em um momento
crucial de conflito no subsistema platino”. O autor ainda afirma a respeito da devolução de
cativos brasileiros asilados na Bolívia:
[...] notamos que a concessão ou não do asilo territorial, bem como da
extradição [...] foi deixada em aberto, criando as condições ideais para que
cada parte contratante prestasse a interpretação que melhor atendesse aos
seus interesses (CALDEIRA, 2008, p. 97).
A esse respeito, em escala local não encontramos nenhum caso de devolução do cativo
que estivesse refugiado em “Pedra Branca” e seus arredores.
36
AHI 317/04/15 – Minuta do projeto de tratado de Antônio Couto de Sá e Albuquerque a Felipe Lopes Neto,
redigida no Rio de Janeiro em 24/11/1866.
37
Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros (RRNE), 1868, p. 63-74.In: CALDEIRA, 2008, p. 126.
77
Figura 6-Portos fluviais- Provável localização do destacamento militar boliviano de “Pedra Branca”(Fonte: Plan
de Desarrollo Departamental. Secretaria de Desarrollo Productivo, Gobierno Autónomo Departamental de Santa
Cruz).
O círculo localizado na borda extrema direita da figura, na qual hoje se localiza o farol
de vigilância boliviano, é o ponto mais próximo da região de Corumbá.
Tanto o povoado quanto o destacamento militar de “Pedra Branca” se situavam na
região do território boliviano (coordenadas aproximadas de latitude máxima onde está o posto
de vigilância boliviano: 18º58‟49‟‟04 (S) e 19º00‟49.45‟ (O). Quanto à forma de acesso para
“Pedra Branca”, poderia ocorrer via navegação no Canal do Tamengo ou por terra.
79
38
Acta de fundación de Puerto Suarez. In: Puerto Quijarro, passado e presente. 2011, p. 60.
80
conduzia até o limite do território do brasileiro, considerado neste trabalho, local situado em
frente de onde é hoje o Porto Gravetal, daí atravessar o Canal do Tamengo, para alcançar o
lado boliviano da fronteira, onde estava, possivelmente, o destacamento militar boliviano. De
outra maneira, o trajeto de chegada a Puerto Suarez, saindo de Corumbá, ocorria pelo
caminho fluvial, através do Canal do Tamengo desembocava na Laguna Cáceres (Puerto
Suarez). Entretanto, é relevante considerar que estamos tratando de uma extensa região de
fronteira (Brasil/Bolívia) e como tal há que se considerar uma de suas características, a
porosidade.
Era patente, conforme apontam os documentos, que por essas trajetórias passavam não
só mercadorias, mas sujeitos territoriais nos quais imprimiam um movimento pendular de
deslocamento (ir/vir) de Corumbá/Pedra Branca.
Dessa forma, não só cativos se dirigiam, passavam ou refugiavam por lá. Era uma
região de certa forma dinâmica. Como dado empírico, há o caso da paraguaia Maria Dolores,
morreu afogada “[...] na embocadura da baia do Tamengo quando seguiam para o
destacamento militar Pedra Branca, acontecendo ir a pique à montaria em que viajavam” (O
Iniciador, 19 de setembro de 1880, p. 1).
O Iniciador publicou que Maria Dolores estava acompanhada por dois soldados que
sobreviveram ao naufrágio. O corpo da paraguaia foi encontrado somente dois dias após o
sinistro acidente e no mesmo lugar onde havia afundado a embarcação. O delegado de polícia
acompanhou o médico Jayme Guimaraes e o pharmaceutico Tibério de Oliveira para
examinarem o cadáver.
Esse documento não nos permite afirmar se a paraguaia era moradora ou não de Pedra
Branca, entretanto, outros documentos jornalísticos permitem considerar que naquele povoado
estiveram firmados nativos cativos e outros sujeitos que se dirigiram à localidade.
Nesse sentido, há o documento que sinaliza para outra possível instrumentalização da
fronteira enquanto recurso social. O periódico O Iniciador traz na coluna “Campo Neutro”,
uma matéria de autoria de Sr. Pedro I. Franco, proprietário de um terreno situado em “Pedra
Branca”, conforme transcriçao:
[...] cujo terreno mede 4légoas de frente que desemboca na bahia seguindo
em direção ao poente sobre a margem da dita bahia avisa as pessoas que ali
tenhão occupado o dito terreno, com galpões caza ou gado a virem
entenderem-se com o infraescripto no prazo de 15 dias a fim de tratarem
desse assumpto sob pena de perderem as benfeitorias que no mesmo terreno
tenham feito sem sua previa licença. Para informações dirijam-se a casa de
Pedro Rodrigues39.
39
O Iniciador 04/06/1882. In: Hemeroteca Digital do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.
81
Compreendemos a questão acima como uma disputa por “Pedra Branca” entre atores
sociais no espaço fronteiriço, o que poderia ser também entre estes e sujeitos políticos
institucionais locais “[...] que em busca de seus interesses participam de uma disputa pelas
características e sentidos da fronteira através da qual a própria fronteira é construída e
redefinida” (GRIMSON, 2000, p.2-3).
Ademais, a relevância do documento assinado pelo delegado de polícia João Antônio
Rodrigues é relevante, pois permite apontarmos a localização provável de “Pedra Branca”,
nas proximidades da Laguna Cáceres, onde o marco demarcatório dos limites fronteiriços de
Corumbá com a Bolívia estava estabelecido da seguinte forma:
[...] prossegue a linha divisória pelo meio do Canal do Tamengo por cerca de
6,4 km até um ponto próximo à entrada da Lagoa de Cáceres, na altura da
Base Naval Boliviana Tamengo, que se encontra na margem sul do Canal e
defronte ao Marco Principal “Tamarinero”, erguido na margem norte do
mesmo canal40.
40
Segunda Comissão Brasileira demarcadora de limites. In: <http://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Scdl/pt-
br>. Acesso em: 21 set. 2013.
82
Para encerrar esse episódio o Sr. Polack protestou contra a caução solicitada pela
Alfândega para que esta liberasse suas mercadorias. Novamente, em outro momento o jornal
local publicou uma matéria, sem assinatura do autor, na coluna “Cousas Locaes” que tecia
crítica ao comerciante Sr. Polack, da seguinte maneira:
Afirmam-nos que a Bolívia trata de instalar uma Alfandega na Pedra Branca
já, e que está nomeado Inspectordella o Sr. Máximo Polack. Que
comentários não poderíamos nós fazer sobre essa nomeação... ficará para
depois (O Iniciador, 02/03/1879, p.2).
Com os casos dos Srs. Máximo Polack e Rafael Augustini, percebe-seum nó nas
relações estabelecidas entre o jornal O Iniciador, funcionários públicos (Máximo Polack e
Rafael Augustini) e a Alfândega local. A questão do Sr. Polack, acusado de descaminho das
mercadorias remete as considerações de Costa (2013, p. 485) a esse respeito:
É justamente por ser um espaço liminar que a fronteira se constitui, por um
lado, como uma área propícia à insubordinação de indivíduos e grupos
sociais em relação à legislação nacional, ou seja, como um lugar onde existe
relativa liberdade de ação (que a torna uma região mais fluida e não
totalmente estruturada), e, por outro, como um lugar onde se exerce mais
visivelmente o controle a repressão do Estado, que pretende controlar e
regular seu espaço soberano.
84
O autor acrescenta:
Para encerrar, sobre as fugas ocorridas para o lado boliviano da fronteira realizadas
por sujeitos livres, temos dois episódios. O primeiro refere-se ao Sumário Crime, em que era
réu o Sr. Joaquim Chaves e vítima o Sr. Manoel Soares dos Santos. O crime ocorreu em um
lugar denominado Bocaiuval, distante de Corumbá aproximadamente “uma légua”
(correspondente a cinco quilômetros). No ato de arrolamento das testemunhas, o denunciado,
camarada que trabalhava no corte de madeira em Bocaiuval,foi convocado pela Justiça
Pública local para ser ouvido como testemunha. Todavia, o oficial de justiça ao chegar ao
local onde havia ocorrido o crime tomou conhecimento, através da segunda testemunha-
Fellipe de Vera Ferreira (30 anos, índio Guaycuru, morador local e camarada que trabalhava
no corte de madeira no sitio Bocaiuval) comunicou ao oficial de justiça que o Sr. Joaquim
Chaves não se encontrava na localidade estava em “Pedra Branca”.
Importa neste documento não o desenrolar e desfecho do processo criminal cujo réu
era Joaquim Chaves, mas a possibilidade de assegurar, conforme algumas matérias publicadas
no jornal O Iniciador, que “Pedra Branca” servia como um lugar de refúgio de cativos,
criminosos e de outros sujeitos que se apropriaram daquele espaço de acordo com suas
necessidades.
O segundo caso sobre fuga de sujeitos livres para Bolívia, temos abertura do Inquérito
Policial no qual o réu, José Maria Pessoa, “boliviano de Chiquitos”, assassinou no lugar
denominado Jacadigo (arredores de Corumbá) Thimóteo de tal (boliviano). O crime ocorreu
em 22 de dezembro, por ocasião de uma festacom música de viola, momento que haviam
inúmeras pessoas presentes ou próximas da casa onde ocorria a comemoração. Neste caso, o
Sr. Pedro Vacca (boliviano, 40 anos de idade, profissão vaqueiro, morador do lugar
denominado de Jacadigo, proprietário de terras no local) declarouque ao se ausentar das terras
numa comitiva para campear gado tomou conhecimento horas depois de que seu peão José
Maria assinara Thimóteo com um tiro de espingarda. O Sr. Pedro Vacca relatou ao delegado
de polícia de Corumbá que o crime ocorreu porque José Maria estava em luta corporal com
Gregório, boliviano, seu camarada. Então, Thimotéo interviu na briga com o intuito de
apaziguar. Mais tarde, após a briga, José Maria, não gostando da atitude de Thimoteo, o
85
Valcuende (2008) aponta que apesar da fronteira ser um espaço controlado e vigiado
pelo governo, os atores sociais que vivem e movem a dinâmica dessa região, dá outro sentido
para a fronteira, usam-na conforme seus interesses, infringindo os procedimentos
convencionados pelas instituições.
Dessa forma, a circulação de indivíduos na região de fronteira, especialmente a fuga
de escravizados para a Bolívia, foi intensa, motivando a comunicação entre as autoridades dos
dois lados, a nível local, nacional e internacional (CALDEIRA, 2008).
A fuga de cativos para o território boliviano, especificamente, Pedra Branca, foi palco
do viver não só no território de fronteira, mas viver a fronteira, conforme entende Valcuende
(2008), no sentido de apropriar-se dos recursos oportunizados pela condição fronteiriça – o
limite territorial.
De maneira geral, as fontes não nos permitem apontar a localidade de destino de todos
os cativos caracterizados como “fugidos”, entretanto, ressalvamos que o território discrimina-
se de fronteira e a ele está implícita as especificidades próprias “[...] desses espaços, tornados
territórios, é preciso compreendê-los nas suas dinâmicas, nas suas peculiaridades”
(OLIVEIRA, 2011, p. 135).
41
Sumário Crime 1881. Réu: José Maria Pessoa. Arquivo do Fórum de Corumbá (MS).
86
Assim os cativos Abel42, Amaro (34 anos)43, Antonio (27 anos), Benedicto (45 anos)
44
, José (24 anos), Julião (30 anos), Moyses (27 anos), Raymundo (34 anos), Vicente (26
anos), Violante (47 anos)45, Thereza46, Maria Domingas (22 anos), Paula, 33 anos,
Martinha(42 anos) materializaram suas liberdades ao fugir.
Esta pesquisa apresentou empiricamente as permeabilidades e nodosidades da região
de fronteira de Corumbá com a da República da Bolívia analisadas no contexto escravista
local. Por fim “Pedra Branca” representou para os cativos a materialidade da liberdade, onde
estes, ao ultrapassarem os limites territoriais do Brasil com a Bolívia romperam com sua
condição de escravizado.
42
Carta de Liberdade Doc. 04, 1881. In:Como se de ventre livre nascido fosse, 1994, p.. 35.
43
Inventário de José de Souza Lima. 26/02/1887. Arquivo do Fórum de Corumbá(MS).
44
Documento nº 20 Averbação no livro sob nº 166. Arquivo do Fórum de Corumbá(MS).In: MOURA, Z.
Cativos nas terras dos pantanais, 2008, p. 216.
45
Inventário de Thiago José Mangini(1884). Arquivo do Fórum de Corumbá(MS).
46
Carta de Liberdade.Doc.06,1884. In: Como se de ventre livre nascido fosse, 1994, p. 79.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que, empregaram outro sentido a fronteira – refúgio - ao se deslocarem para o lado boliviano.
Ademais, com suas presenças, transformaram, moveram a dinâmica desse território
cumpriram, portanto, o papel de protagonistas histórico da região de fronteira.
90
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