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DOSSIER

REVISTA FORMAR N.º 65


Editorial

Aumentar o nível de qualificação da população portuguesa é um im- Numa primeira tentativa de balanço, em que se dá início à avaliação
perativo essencial que se coloca na nossa sociedade. dos investimentos concretizados e dos resultados obtidos, consi-
derámos plenamente justificado retomar nesta edição da Formar o
E é essencial porque a intensidade dos níveis de competição e a tema da reforma da formação profissional e sobre ele reflectir, ex-
profundidade das mudanças que enfrentamos exigem-nos o contí- plicando, ainda que sucintamente, em que consistiu e de que for-
nuo aumento da produtividade, aposta que está em larga medida ma o próprio IEFP, I.P. dela se apropriou, repensando e reorientando
dependente do acréscimo das competências profissionais e pes- os seus centros de formação no sentido de potenciar novas formas
soais que formos capazes de proporcionar à nossa população. Tal é de actuação e respostas convergentes com os objectivos em pre-
o imenso desafio que temos pela frente. sença.

A necessidade de respondermos de forma eficiente e ágil às opor- Salientam-se ainda, nesta edição, entrevistas realizadas a respon-
tunidades que o presente e o futuro nos colocam suscitou a génese sáveis de entidades públicas e privadas empenhadas nas experiên-
da reforma do sistema de formação profissional, tornando-o mais cias dos Centros de Novas Oportunidades, bem como os relatos de
eficaz e exigente, assente na definição de objectivos, dotado de ins- formandos e trabalhadores envolvidos em processos de RVCC, des-
trumentos adequados e conferindo-lhe as soluções institucionais e tacando a forma como as suas histórias de vida se entrecruzaram
os recursos financeiros necessários à sua execução. E isto tendo nestes «novos» contextos formativos.
em atenção as metas definidas na Iniciativa Novas Oportunidades
e no Programa Operacional Potencial Humano.

A Iniciativa Novas Oportunidades, conjuntamente com o Plano Na-


cional de Emprego e o Plano Tecnológico, inscreve-se na aposta
estratégica de modernização e de incentivo à qualificação dos Por-
tugueses, a par de uma nova geração de políticas de formação con-
tínua, que visa alargar a participação dos activos e das PME nos
processos de qualificação.

Francisco Caneira Madelino


Director da Revista,
Presidente do Conselho Directivo do IEFP, I.P.


REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

Ficha Técnica

Propriedade: Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P.


FORMAR N.º 65
Director: Francisco Caneira Madelino
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2008
Responsável do Núcleo das Revistas Dirigir e Formar:
Maria Fernanda Gonçalves

Conselho Editorial: Acácio Ferreira Duarte, Ana Cláudia Valente, An-


tónio Oliveira das Neves, Cristina Paulo, Fernando Moreira da Silva,
Francisco Caneira Madelino, José Alberto Leitão, José Manuel Hen-
riques, Luís Imaginário, Maria de Fátima Cerqueira, Maria Fernanda
Gonçalves

Colaboraram neste número: Ana Paula Filipe, Ana Rita Lopes, Acácio
Duarte, Ana Teresa Penim, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Ribeiro,
Filomena Faustino, João Amaral, José Alberto Leitão, Leonor Rocha,
Lídia Serras, Margarida Ferreira dos Santos, Maria Fernanda Gonçal-
ves, Maria Manuela Nave Figueiredo, Marta Fagulha, Paulo Buchinho,
Paulo Cintra, Paulo Feliciano, Ruben Eiras, Vanda Vieira, Vânia Neto

Apoio administrativo: Ana Maria Varela

Concepção gráfica: Scatti Design (www.scattidesign.com)


Capa: Paulo Buchinho

Revisão: Laurinda Brandão

Montagem e impressão: SOCTIP – Sociedade Tipográfica, S. A.

Redacção: Departamento de Formação Profissional, Núcleo das Re-


vistas Dirigir e Formar
Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA
Tel.: 218 614 100 Fax: 218 614 621

Registo: Instituto de Comunicação Social


Data de publicação: Dezembro de 2008
Periodicidade: 4 números por ano
Tiragem: 11 000 exemplares
Depósito legal: 636959190
ISSN: 0872-4989

Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos autores, não


coincidindo necessariamente com as opiniões do Conselho Directivo do
lEFP. É permitida a reprodução dos artigos publicados, para fins não comer-
ciais, desde que indicada a fonte e informada a Revista.

Condições de assinatura: Enviar carta ou e-mail com nome, morada e fun-


ção desempenhada. Toda a correspondência deverá ser endereçada para:
Revista Formar, Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA, ou formar@iefp.pt


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Índice
Editorial

Dossier › 4
A Agenda de Reforma da Formação Instrumentos de Formação › 43
Profissional Formação com retorno garantido
Paulo Feliciano › 4 Ruben Eiras, Vanda Vieira › 43

Preparar os Centros de Formação para


Conhecer A Europa › 48
a mudança
França
José Alberto Leitão › 8
Ana Rita Lopes › 48
As novas oportunidades conquistam-se
Carlos Barbosa de Oliveira › 11
CFP de Santarém: cursos à medida Um Olhar Sobre... › 52
O método Pilates
Carlos Barbosa de Oliveira › 17
Vânia Neto › 52
 ormação em alternância (articulada)
F
de contextos de aprendizagem
Ana Paula Filipe › 23 Debaixo d’Olho › 55
A qualificação e o emprego das pessoas Aconteceu › 55
com deficiência Livros › 59
Acácio Duarte › 25

Divulgação › 61
Análise Crítica › 30 SkillsPortugal – campeonato das profissões
 á empresas que investem a sério
H Marta Fagulha › 61
na formação!
Ana Teresa Penim › 30
 edagogia das competências e mudança
P
de paradigma da educação-formação
Filomena Faustino, Leonor Rocha, Margarida Ferreira
dos Santos › 33

Actuais › 37
Educação para o empreendorismo
Carlos Ribeiro › 37
O ambiente competitivo dos mercados
e o esforço em formação
Maria Manuela Nave Figueiredo › 40


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› A Agenda de Reforma da Formação Profissional


› Preparar os Centros de Formação para a mudança
› As novas oportunidades conquistam-se
› CFP de Santarém: cursos à medida
› Formação em alternância (articulada) de contextos de aprendizagem
› A qualificação e o emprego das pessoas com deficiência

A AGENDA DE REFORMA DA FORMAÇÃO


PROFISSIONAL
O desenvolvimento de uma Agenda de Reforma da Formação Profissional ambiciosa em matéria de políticas de
educação e formação é uma condição indispensável para dar resposta ao necessário aumento das qualificações
da população activa do nosso país. Ambiciosa na aposta, definindo metas e recursos financeiros dimensionados
ao problema que enfrentamos, mas também na procura de instrumentos, quadros de regulação e soluções ins-
titucionais que contribuam para reforçar a eficácia destas políticas

› PAULO FELICIANO
Vice-Presidente da
Agência Nacional para a
Qualificação, I.P. (ANQ)

O contexto de partida profissionalizantes – e ao desenvolvimen- de desses jovens. No domínio da formação


Portugal tem feito um esforço continuado to de um sistema de formação contínua. No contínua, deve relevar-se o apoio dado pe-
de investimento em qualificação ao longo domínio da formação inicial, é significativo los instrumentos de política pública a estra-
das duas últimas décadas. No que se refe- o contributo dado por esta vias para o cres- tégias de modernização empresarial em do-
re a algumas das principais dinâmicas de cimento da taxa de escolarização de jovens mínios transversais como o das tecnologias
inovação, esse esforço tem sido alavanca- ao nível do ensino básico e secundário, bem de comunicação e informação, por exemplo,
do com o contributo do Fundo Social Euro- como os resultados alcançados na produ- ou de ajustamento estrutural de matriz sec-
peu, sobretudo no que diz respeito à estru- ção de qualificações procuradas no mer- torial a novos padrões produtivos.
turação de um sistema de formação inicial cado de trabalho e no desenvolvimento de Foram vinte anos riquíssimos do ponto de
– através das vias de educação e formação condições sustentadas de empregabilida- vista do desenvolvimento das políticas pú-


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blicas de educação e formação, em que as- de trabalho e aos jovens que abandonam lificações para que tenham novas oportu-
sistimos ao desenvolvimento da rede de precocemente a escola, também eles sujei- nidades de emprego passa, naturalmente,
Escolas Profissionais, do Sistema de Apren- tos a uma maior precarização das suas tra- por criar condições favoráveis a que estas
dizagem, da mobilização do ensino profis- jectórias profissionais. possam desenvolver percursos de aprendi-
sionalizante como recurso fundamental de Sabemos que o impacto deste défice de zagem que lhes permitam reforçar as suas
combate ao abandono escolar precoce e à qualificações tem implicações severas em competências.
consolidação de uma rede de centros de matéria de desenvolvimento social, pena-
formação profissional crescentemente arti- lizando as possibilidades de participação Principais apostas
culada com necessidades de base territorial cívica, cultural e de integração no mercado O desenvolvimento de uma agenda ambi-
e sectorial. Mais recentemente, e amplamen- de trabalho daqueles que por ele são afecta- ciosa em matéria de políticas de educação
te suportado no apoio do Fundo Social Euro- dos. A questão do emprego, sendo apenas e formação é, pois, uma condição indis-
peu a linhas de programação inovadoras no uma, não deixa de ser uma face importan- pensável para dar resposta a este desafio.
Ambiciosa na aposta, definindo metas e
recursos financeiros dimensionados ao
problema que enfrentamos, mas também
na procura de instrumentos, quadros de
regulação e soluções institucionais que
contribuam para reforçar a eficácia destas
políticas. É essa a ambição da Agenda de
Reforma da Formação Profissional.
Nesta perspectiva, o contexto anteriormen-
te descrito coloca dois grandes desafios às
políticas públicas de educação e formação:

›› o primeiro refere-se ao reforço da dis-


ponibilidade para o investimento em for-
mação, tanto por parte da população jo-
vem como por parte daqueles que já se
encontram inseridos no mercado de tra-
balho;
›› o segundo respeita à necessidade de re-
forçar o valor acrescentado desse inves-
timento, tornando relevante o seu con-
tributo para uma certificação escolar e
profissional e assegurando uma arti-
culação mais estreita entre as compe-
âmbito do QCA III, alcançou-se a consolida- te desta questão. Até muito recentemente tências produzidas e as necessidades
ção e expansão de novos instrumentos no Portugal manteve taxas de emprego eleva- do tecido produtivo.
domínio da educação de adultos. das para os menos escolarizados fruto, em
Apesar deste esforço, são ainda frágeis os grande medida, da relevância dos sectores A promoção de competências transver-
progressos alcançados em matéria de re- mais intensivos na utilização de mão-de- sais constitui um recurso fundamental de
cuperação do défice de qualificações que -obra. Com a progressiva internacionaliza- promoção dos desempenhos profissionais
marca a sociedade portuguesa. Esse défice ção da economia e a necessária transfor- em contextos de crescente diversidade e
assume uma dupla face: tem uma expres- mação do perfil de especialização produtiva complexidade funcional como os que hoje
são transversal ao conjunto da população do país, as oportunidades de emprego pou- vivemos, mas igualmente importante é fa-
que é evidenciada, sobretudo, através da co exigentes em qualificação reduzem-se e zer corresponder as competências técni-
comparação no quadro dos países da OCDE, aumenta o risco de exclusão dos portugue- cas detidas pela população activa às exi-
e apresenta especificidades que «alimen- ses com qualificações mais baixas. Este é gências colocadas pela transformação
tam» fracturas sociais muito vincadas, no- um cenário que não admite passividade por organizacional e tecnológica das empresas.
meadamente no que se refere aos adultos parte das políticas públicas. Criar condições O primeiro será o desafio de um ciclo de po-
poucos escolarizados que enfrentam um de maior empregabilidade das pessoas em líticas que se espera cumpra no horizonte
risco acrescido de segregação no mercado situação de desvantagem ao nível das qua- da Iniciativas Novas Oportunidades o objec-


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tivo de elevar para o patamar do nível se- a articulação da estratégia e dos critérios
cundário as qualificações mínimas da po- de financiamento.
pulação portuguesa. O segundo é um desa- Ao nível dos adultos importa destacar ain-
fio que agora se renova através da adopção da, além da diversificação da oferta de cur-
de novos instrumentos mas que tem esta- sos profissionalizantes, a organização dos
do, e continuará a estar, no centro das po- percursos de educação e formação em mó-
líticas de formação profissional, constituin- dulos de curta duração certificados, enco-
do um imperativo de resposta aos proces- rajando e facilitando o envolvimento dos
sos de mudança na actividade económica. activos empregados em trajectos de quali-
A mudança nos contextos de exercício pro- ficação.
fissional é incessante e, por isso, é contí-
nua a necessidade de dar resposta à solici- A educação e formação
tação de adaptabilidade e reconversão pro- de adultos e o dispositivo
fissional que lhe é inerente. de reconhecimento, validação
Sabemos, também, que o nível de qualifi- e certificação de competências
cações de base detido pelos indivíduos de- Neste plano, cumpre distinguir a forte ex-
termina de forma muito significativa a sua pansão e consolidação da Rede de Centros
disponibilidade para continuarem a inves- Novas Oportunidades enquanto disposi-
tir em formação ao longo da vida. Neste tivo privilegiado para promover o envolvi-
contexto, as opções assumidas na Agen- mento de activos em processos de apren-
da de Reforma da Formação Profissional dizagem ao longo da vida e a expansão da
valorizam uma forte articulação estratégi- oferta de educação e formação de adul-
ca entre as políticas de educação e forma- to da população jovem como junto daquela tos com dupla certificação. A valorização
ção, correspondendo ao reconhecimento que já se encontra na vida activa, assegu- das competências adquiridas por via da
de que dela depende uma resposta mais rar um quadro de regulação capaz de propi- experiência e a construção de percursos
coerente e eficaz, e propõem a concentra- ciar a aquisição de competências escolares de formação «à medida» são atributos
ção dos instrumentos de política na res- e profissionais certificáveis, mais do que fundamentais para promover os níveis de
posta aos objectivos centrais que guiam a uma conveniência, é um imperativo. participação dos adultos na aprendizagem
estratégia. Ao mesmo tempo, os resultados alcança- ao longo da vida.
dos pelas ofertas de dupla certificação mos- É hoje consensual que a recuperação da
As ofertas de dupla certificação tram a sua valia tanto no que se refere à pro- qualificação de adultos, sobretudo quando
Centrar a oferta de educação e formação, moção da escolarização de nível secundá- realizada em larga escala, requer a valoriza-
seja no âmbito da formação inicial, seja na rio como na promoção da empregabilidade. ção de contextos não formais de aprendiza-
perspectiva da aprendizagem ao longo da Nesta perspectiva, a diversificação de vias gem, na justa medida em que a valorização
vida, constitui uma opção de fundo para e estratégias de qualificação surge como das competências assim adquiridas é fun-
tornar relevante, social e individualmen- uma linha de aposta decisiva para promover damental para promover o (re)ingresso em
te, o investimento em formação e assegu- a participação de jovens e adultos em per- percursos de aprendizagem.
rar o seu contributo para a progressão das cursos de educação e formação. Os Centros Novas Oportunidades assumem,
qualificações escolares e profissionais. Um Assim, cumpre destacar a opção de valori- assim, um papel estruturante na coordena-
olhar retrospectivo sobre o investimento zar os cursos profissionalizantes como dis- ção da educação e formação de adultos,
em formação feito nas últimas décadas diz- positivo encorajador das taxas de partici- constituindo-se como plataformas de aces-
-nos que este é um princípio da maior im- pação de jovens e adultos em percursos de so ao reconhecimento de competências e,
portância para alcançarmos uma maior efi- qualificação, associada à adopção de uma em articulação com este, à formação. Esta
ciência na aplicação dos recursos públicos estratégia que coordena e integra as inter- é uma condição importante para promover
dirigidos a este fim. Com efeito, muito do venções ao nível dos sistemas educativo e a relevância do investimento em formação
investimento realizado não salvaguardou de formação profissional. Esta é, com efei- contínua, na medida em que a mediação
um quadro de organização curricular propi- to, uma condição primordial de eficácia da dos Centros contribui para que a procura
ciador da aquisição de competências esco- abordagem proposta, na medida em que de formação se dirija, fundamentalmente,
lares e profissionais certificáveis. No con- permitirá promover a articulação da rede para respostas formativas que se integrem
texto de baixas qualificações da sociedade de actores e equipamentos associados, o em percursos de certificação de competên-
portuguesa, em que não são dispensáveis planeamento integrado da determinação cias, respondendo assim a efectivas neces-
todos os progressos alcançáveis tanto jun- de necessidades e da definição da oferta e sidades individuais.


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O Catálogo Nacional de Qualificações
O Catálogo Nacional de Qualificações cons-
titui uma peça fundamental na procura de
uma maior articulação entre a oferta e a
procura de formação profissional. Dele se
espera um ajustamento qualitativo da ofer-
ta, alinhando a produção de qualificações
com as necessidades expressas no tecido
produtivo. A construção de um sistema de
produção de qualificações que suporte a
modernização produtiva das empresas e o
desenvolvimento económico do país é uma
opção incontornável que é indispensável
articular, também no quadro da Iniciativa
Novas Oportunidades, com a promoção de
qualificações de base.
Não se trata de privilegiar exclusivamen-
te a construção de um espaço de anteci-
pação da evolução do sistema produtivo e
de planeamento prospectivo da oferta de nização da actividade económica, tan- res de actividade é um primeiro passo para
recursos humanos – esse será um objec- to no sentido de preservar a ligação às o objectivo de alcançar uma maior territoria-
tivo, entre outros. A incerteza crescente da lógicas concretas de transformação da lização das políticas de educação e forma-
evolução da actividade económica cons- economia como no sentido de facilitar a ção. O segundo remete para a capacidade
titui um sério obstáculo a uma plena con- identificação dos diferentes interlocuto- de ajustar os referenciais de formação em
secução deste desiderato. Trata-se, acima res; função dos contextos territoriais, secto-
de tudo, de procurar que as qualificações e 2. c onsagrar lógicas de integração que me- riais e empresariais onde se inscreve o cur-
as competências visadas pelo Sistema Na- lhor se adeqúem à construção de qua- so. Por isso, constitui prioridade na evolu-
cional de Qualificações correspondam aos lificações que previnam um excessivo ção do Catálogo Nacional de Qualificações
modos de exercício da actividade e de in- afunilamento dos campos de exercício assegurar uma margem de flexibilidade na
corporação tecnológica que emergem nos profissional, assumindo-se a existên- gestão do referencial de formação associa-
diferentes sectores e de as procurar ali- cia de competências comuns aos pro- do a cada qualificação. A forma mais ime-
nhar com os espaços de inovação que vão fissionais de diferentes sectores de ac- diata de atingir este objectivo é fazer com
surgindo. tividade. que uma parte da carga horária da com-
A determinação destas necessidades é de- ponente de formação tecnológica do refe-
vedora de uma grande proximidade às em- O Catálogo é, também, o instrumento que rencial de formação possa ser constituída
presas e actores do sistema de formação permitirá que uma significativa fatia do in- de forma variável a partir de uma bolsa de
profissional, mas também do envolvimento vestimento em formação contínua feito por UFCD.
de especialistas dos diversos sectores de empresas e trabalhadores conte para a ob- Tendo aplicação progressiva ao conjun-
actividade. Por isso se assumem como pla- tenção de uma certificação escolar e profis- to das modalidades de dupla certificação,
taforma de actualização e renovação do Ca- sional. Esta é uma valia fundamental para os referenciais do Catálogo contribuirão
tálogo os Conselhos Sectoriais para a Quali- aproximar as pessoas da formação. A op- para dar maior racionalidade e coerência
ficação, que reúnem empresas, centros de ção de modularização dos referenciais de à oferta, definindo de forma harmonizada
formação, escolas, representantes dos par- formação em unidades de formação de cur- o núcleo de qualificações e o conjunto de
ceiros sociais e especialistas, entre outros ta duração (de 25 e 50 horas) constitui a competências a promover. Deste modo,
actores, que permitam ligar a sua evolução condição que viabiliza este objectivo. Cada o Catálogo contribui para dar maior legi-
às evoluções e necessidades da economia. uma das unidades de formação de curta du- bilidade à oferta de educação e formação
São dezasseis os Conselhos Sectoriais Pro- ração (UFCD) que compõem os referenciais organizando-a em torno das saídas pro-
postos, assumindo-se na sua delimitação a de formação é certificável autonomamente fissionais, no que se refere às aprendi-
preocupação de: e capitaliza para a obtenção gradual dessa zagens proporcionadas, e deixando para
qualificação. a delimitação entre modalidades a dife-
1. a ssegurar uma representação secto- A proximidade do processo de decisão so- renciação de práticas e estratégias for-
rial que tome em consideração a orga- bre as qualificações à dinâmica dos secto- mativas.


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› A Agenda de Reforma da Formação Profissional


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› Preparar os Centros de Formação para a mudança


› As novas oportunidades conquistam-se
› CFP de Santarém: cursos à medida
› Formação em alternância (articulada) de contextos de aprendizagem
› A qualificação e o emprego das pessoas com deficiência

PREPARAR OS CENTROS DE FORMAÇÃO


PARA A MUDANÇA
A passagem da lógica da oferta para a lógica da procura de formação, decorrente da operacionalização da nova
arquitectura do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ), obriga a repensar a estrutura de organização, ges-
tão e funcionamento dos Centros de Formação Profissional da rede do IEFP, I.P. Preparar os Centros para esta
mudança é o desafio que hoje se coloca à nossa intervenção. Valorizar a complementaridade da intervenção
territorial, flexibilizar as formas de actuação e melhorar a qualidade da formação são três das dimensões privile-
giadas neste processo de inovação organizacional

› JOSÉ ALBERTO LEITÃO


Director do Departamento
de Formação Profissional
do IEFP, I.P.

Novo Modelo funcional mação profissional cada vez mais flexíveis e mação flexível e dos diferentes papéis
para os Centros de Formação articuláveis com dispositivos de reconheci- que o indivíduo tem que desempenhar na
Profissional mento e validação de competências. sociedade, bem como a natureza do pró-
O Sistema Nacional de Qualificações (SNQ), O grande desafio que se coloca no presente prio trabalho – «uma carreira laboriosa ac-
actualmente em fase de implementação, é, então, o de responder às solicitações es- tiva que cubra toda a existência da pessoa
adoptou os princípios aprovados no acor- truturadas deste novo contexto nacional e será a excepção e não a regra» (Dahren-
do celebrado com os parceiros sociais e re- a uma economia mundializada marcada por dorf, A Quadratura do Círculo, 1996) –,
estruturou a formação profissional inserida um elevado grau de imprevisibilidade, sem conduz a uma revisão não apenas da or-
no sistema educativo e a inserida no merca- esquecer que todo o processo de educação ganização e do funcionamento das activi-
do de trabalho, integrando-as com objecti- e formação deve estar centrado no sujeito dades produtivas mas, também, dos sis-
vos e instrumentos comuns sob um enqua- aprendente que, ao apropriar-se do seu iti- temas de qualificação destinados a jovens
dramento institucional renovado. nerário formativo, reflecte sobre as suas e adultos.
Este novo ciclo no âmbito das qualificações práticas tendo, também, em consideração É neste contexto que se enquadra o pro-
em Portugal vem convergir com os desenvol- as relações que estabelece com os outros cesso, em marcha, de reforma do modelo
vimentos recentes do Quadro Europeu das e com o contexto em que se insere. Quer di- funcional dos Centros de Formação Profis-
Qualificações (QNQ) e do Sistema Europeu de zer, a formação deve privilegiar o «aprender sional assente em quatro eixos considera-
Créditos da Educação e Formação Profissional a aprender» preparando o indivíduo para dos estratégicos: (i) Organização e gestão;
(ECVET), enquanto instrumentos fundamen- intervir em todas as dimensões da vida em (ii) Front Office – valência Formação Pro-
tais para a transparência das qualificações, e sociedade: a família, a comunidade, o traba- fissional e valência Centro Novas Oportu-
a mobilidade dos cidadãos, reforçando a im- lho e o lazer. nidades; (iii) Articulação entre Centros de
portância dos resultados da aprendizagem e Neste sentido, o conceito de qualificação Emprego e Centros de Formação Profissio-
a emergência de sistemas de educação e for- que emerge do novo paradigma da auto- nal; (iv) Formação dos intervenientes.


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Organização e gestão ESQUEMA DE ENCAMINHAMENTO

Os Centros de Formação Profissional (CT/ PÚBLICOS E ORIGEM

FP) constituem-se como unidades orgânicas Via Directa Via Centros de Emprego

centrais no processo de modernização do

FRONT OFFICE
› Jovens › Jovens
› Activos empregados › Activos desempregados
país pela sua intervenção na qualificação dos › Empresas (Público caracterizado)

recursos humanos, nomeadamente na qua-


Atendimento
lificação dos activos, empregados e desem- (Recepção, 1.º Diagnóstico e Encaminhamento)
› Técnico Administrativo/Recepcionista
pregados, através da operacionalização da › Conselheiro de Orientação Profissional

Iniciativa Novas Oportunidades. Privilegia-se,


ainda, o papel que os CT/FP podem desem- Valência - CNO Valência - Formação Profissional

penhar na criação de dinâmicas territoriais Diagnóstico e Encaminhamento Constituição dos Grupos

Outros Centros/Entidades com respostas

Outras Entidades Formadoras


(Acolhimento 1)
baseadas no trabalho em rede com todos › Profissional de RVC Equipa de Apoio Técnico (EAT):

não existentes a nível interno


› Conselheiro de Orientação Profissional
os agentes de desenvolvimento local, numa (COP)
› Técnico de Serviço Social (TSS)
actuação que favorece uma estratégia de Reconhecimento › Médico/Enfermeiro do Trabalho (TMT)

complementaridade na intervenção, com os › Profissional de RVC


› Tutor Profissional Formação Profissional
Centros de Emprego, com os Centros de For- › Formadores (Acolhimento 2)

BACK OFFICE
mação de gestão participada, as escolas, Equipa Técnico-Pedagógica (ETP):
› EAT (COP/TSS/TMT)
autarquias, empresas e associações da socie- Validação › Equipa Formativa (Técnico de
Formação + Responsável Pedagógico
+ Formadores)
dade civil. Esta dimensão, agora aprofundada,
Autoformação e Formação em Posto de Trabalho

› Profissional de RVC
› Tutor RVC
deve ser reflectida, anualmente, na elabora- › Profissional de RVC

(Diferentes tipologias de
› Formadores

Cursos Especialização
ção dos respectivos planos de actividades.

› Formação Modular
› Avaliador Externo

Formação Contínua

› Outras formações

Cursos Educação e
› Certificada (CNQ)

Formação Jovens
Aprendizagem
Para dar resposta aos novos desafios pro-

Tecnológica
Cursos EFA
percurso)

(Nível 3)

(Nível 2)

(Nível 4)
cedeu-se a uma redefinição da estrutura Formação complementar
(até 50 horas)
orgânica e do modelo organizativo dos CT/
FP no sentido de lhes imprimir uma maior Certificação Certificação
eficácia e eficiência no seu funcionamento,
privilegiando-se os resultados obtidos atra-
vés de uma actuação flexível que facilite as privilegiadas de negócio dos Centros de For- do IEFP, I.P. ao definir as condições que fa-
articulações entre as actividades operacio- mação Profissional, bem como com outras cilitam a articulação entre os Centros de
nais e as actividades de suporte à gestão. entidades formadoras (outros centros de Emprego e os Centros de Formação Profis-
formação, escolas e outros CNO). Com esta sional. As novas soluções formativas e de
Front Office – valência Formação nova organização consolida-se, também, qualificação, ao serem disponibilizadas de
Profissional e valência Centro a integração do CNO no funcionamento do forma flexível, satisfazem, por um lado, as
Novas Oportunidades Centro de Formação, criando condições fí- necessidades das empresas – eliminando
Na relação directa com os públicos que pro- sicas, técnicas e de recursos humanos que os desajustamentos entre a oferta e a pro-
curam a qualificação é de salientar a opera- facilitam o acesso generalizado dos adultos cura de emprego – e, por outro, as necessi-
cionalização do conceito de Front Office, se- à procura de qualificação, diagnosticando dades e expectativas dos indivíduos. O pa-
gundo eixo estratégico, impondo uma nova as suas necessidades e encaminhando-os pel que passa a ter, agora, o Front Office dos
abordagem que valoriza o espaço e as con- para a resposta que seja mais adequada. O Centros de Formação e a intervenção dos
dições de atendimento ao assegurar, de for- CNO torna-se, assim, determinante para que respectivos CNO, implica uma adequação
ma adequada e integrada, as actividades de a formação passe da lógica da oferta para a das metodologias de encaminhamento que
recepção e de primeiro diagnóstico dirigido a lógica da procura, uma vez que responde, são desenvolvidas nos Centros de Emprego.
jovens e adultos, nomeadamente na supres- privilegiadamente, às necessidades identifi- As metodologias usadas nos Centros de Em-
são das barreiras arquitectónicas existentes cadas de cada adulto ou grupos de adultos, prego passam a privilegiar a sectorização
que permitirão criar condições para o acolhi- promovendo as respostas mais adequadas dos desempregados através da identificação
mento das pessoas com deficiências e inca- à certificação escolar e/ou profissional. do seu nível de adquiridos – activos desem-
pacidades. pregados sem competências relevantes ad-
O Front Office, cujo fluxograma se apresenta, Articulação entre Centros de quiridas e activos desempregados com com-
além de identificar a origem dos públicos e o Emprego e Centros de Formação petências adquiridas relevantes para efei-
seu percurso dentro do Centro de Formação, Profissional tos de reconhecimento e validação. Face a
mostra também a interface deste com as O terceiro eixo estratégico integra uma área esta diferenciação organiza-se, no Centro de
valências CNO e Formação, enquanto áreas crítica da intervenção da rede de Centros Formação, a recepção e o encaminhamento


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seu respectivo conteúdo funcional, definiu- mento local; (ii) o desenvolvimento de uma
-se uma estratégia de formação, articulada sensibilidade acrescida no domínio da evo-
entre diferentes serviços a nível central e re- lução das qualificações, oferecendo forma-
gional, que melhora os desempenhos profis- ção actualizada, organizada de forma flexí-
sionais e induz uma atitude favorável a uma vel, adequada às necessidades das pessoas,
resposta adequada aos actuais desafios. das empresas e da economia; (iii) o estreita-
A mudança da lógica de funcionamento dos mento de uma relação de proximidade com
Centros de Formação pretende provocar os empregadores que permita, por um lado,
mudanças essenciais também no sentido a formação de profissionais que satisfaçam
da flexibilização dos modelos de formação, as necessidades das empresas e, por outro,
passando estes a integrar a complexidade que promova a sua participação no proces-
das práticas quotidianas de todos os acto- so formativo, designadamente através do
res e experimentando metodologias de for- desenvolvimento da formação em contexto
mação diferenciadas. Pretende-se, assim, a de trabalho; (iv) a optimização da rede for-
requalificação dos colectivos de trabalho, mativa, consolidando a articulação com os
implicando que a estratégia de formação restantes operadores de formação que in-
seja integradora, quer dizer, destinada a to- tervêm no território, transformando-a numa
dos os elementos que intervêm no Centro, rede especializada e de prestígio reconheci-
e não só organizada por categorias profis- do, evitando desta forma o excesso ou o dé-
sionais. A formação que privilegia a equipa fice de oferta formativa e permitindo a satis-
dos candidatos, agilizando, a partir de pres- de trabalho apresenta melhores resultados fação das necessidades de jovens e adultos
tações técnicas, a sua integração em percur- na sustentabilidade dos efeitos produzidos que procuram um qualquer percurso de for-
sos de formação ou em processos de RVCC. bem como na melhoria dos desempenhos mação (estratégia de complementaridade
As condições que enquadram esta nova for- individuais e colectivos e, consequente- territorial); (v) a elevação dos níveis de qua-
ma de relacionamento entre as duas unida- mente, no desempenho e na qualidade dos lidade da formação nas vertentes pedagógi-
des orgânicas da rede do IEFP, I.P. encontram- serviços prestados pela organização. ca, científica, tecnológica e organizativa.
-se, actualmente, em fase de implementação, Em síntese, a mudança que se anuncia para
estando num período de observação que os Centros de Formação Profissional, que se
passa por um acompanhamento e avaliação encontra em fase de implementação, assen- Nota final: Este artigo foi elaborado com base no docu-
mento Modelo de Intervenção dos Centros de Forma-
com vista, no futuro próximo, a uma melhor ta num modelo organizativo inovador que
ção Profissional – Eixos Estratégicos, elaborado pelo
adequação da metodologia de encaminha- privilegia: (i) a abertura ao exterior, indu- Departamento de Formação Profissional a partir do
mento às diferentes necessidades identifica- zindo novas atitudes face aos territórios de trabalho desenvolvido por uma equipa constituída por
das. Este eixo estratégico revela-se de parti- inserção dos Centros e às empresas, cons- técnicos dos diferentes serviços que o integram, apro-
cular importância face à vocação do IEFP, I.P. tituindo-se estes como pólos de desenvolvi- vado pelo Conselho Directivo em Setembro de 2008.
enquanto serviço público de emprego e à ne-
cessidade de potenciar a capacidade instala-
da e o perfil dos técnicos que intervêm nos
Centros de Emprego e de Formação.

Formação dos intervenientes


O maior envolvimento dos dirigentes, che-
fias, técnicos e formadores é uma conse-
quência do seu nível de conhecimento, da
aquisição de competências de mudança e
do desenvolvimento de métodos, capacida-
des e ferramentas que permitam desempe-
nhos profissionais de qualidade facilitado-
res do processo de mudança em curso.
A formação dos recursos humanos está,
assim, enquadrada no quarto eixo estraté-
gico. Neste sentido, na sequência da iden-
tificação dos perfis dos intervenientes e do

10
DOSSIER DOSSIER

› A Agenda de Reforma da Formação Profissional

REVISTA FORMAR N.º 65


› Preparar os Centros de Formação para a mudança

› As novas oportunidades conquistam-se


› CFP de Santarém: cursos à medida
› Formação em alternância (articulada) de contextos de aprendizagem
› A qualificação e o emprego das pessoas com deficiência

as novas oportunidades conquistam-se


O reconhecimento e validação de competências escolares e profissionais por vias não formais tem assumido nos
últimos tempos uma maior acuidade ao nível das políticas de educação e de formação. Dada a importância que
neste âmbito tem vindo a ser assumida pelos Centros de Novas Oportunidades, a Formar foi de novo ao terreno
entrevistar alguns responsáveis pela implementação deste processo, desta vez em duas realidades distintas, uma
empresa privada – Unilever/Jerónimo Martins – e um Centro de Formação Profissional Protocolar – CEPRA.
Nestas entrevistas procurámos dar a conhecer o trabalho realizado, a forma como tem vindo a desenvolver-se
e como tem evoluído para dar resposta a este grande desafio nacional: aumentar as qualificações da população
activa

› Carlos Barbosa
de Oliveira
Jornalista

UNILEVER/Jerónimo Martins: Formação Profissional). Na verdade, pare- ga horária dos trabalhadores. Ao incluir no
aposta na formação interna ce fazer todo o sentido que, sendo o RVCC seu programa o método FACILA – desenvol-
Seguindo uma política de apoio ao desen- um processo de melhoria das pessoas, a vido na Suécia entre 1977 e 2002 –, a ULJM
volvimento de competências pessoais e empresa o tenha «agarrado» no intuito de teve em atenção os resultados obtidos na-
profissionais dos colaboradores com mais conferir aos seus colaboradores mais capa- quele país. Segundo alguns especialistas, o
baixos níveis de escolaridade, a Unilever/ cidades e competências. florescimento da economia sueca no último
Jerónimo Martins criou o projecto «Apren- Iniciado em Maio de 2007, com a certifi- quartel do século XX, que permitiu a mais de
der e Evoluir» no âmbito do programa do cação do 9.º ano, nos moldes concebidos um milhão de suecos subirem um patamar
governo «Novas Oportunidades». e aprovados pelo governo, o processo de no nível de educação e competências, está
Na Unilever/Jerónimo Martins (ULJM) exis- RVCC desenvolvido pela Unilever/Jerónimo intimamente relacionado com aquele pro-
te um lema que se aplica à forma de traba- Martins (ULJM) introduz no entanto uma grama.
lho interna: «Melhorar os processos, a se- pequena alteração, que favoreceu a sua Na opinião de Fátima Valério, «o proces-
gurança e a eficiência através da melhoria adaptação às exigências da empresa: o mé- so é um bocadinho mais exigente porque
das pessoas.» A Eng.ª Fátima Valério, ges- todo FACILA. Resultado de uma cooperação vamos buscar situações de trabalho real.
tora TPM (Total Productive Maintenance) da entre o governo português e a Câmara de Toda a certificação é feita com base em pro-
ULJM, resume, nesta frase, as razões que Comércio Luso-Sueca, o FACILA preenche os postas apresentadas pelas pessoas para a
levaram a empresa a implantar o RVCC para quesitos do RVCC mas introduz a especifi- melhoria do seu local de trabalho, eviden-
os trabalhadores das diversas fábricas, cidade de ser desenvolvido em contexto de ciando dessa forma as suas competências,
em colaboração com os CNO da Pontinha trabalho. Assim, todo o processo de certifi- especialmente nas áreas da Matemática e
(CFPSA – Centro de Formação Profissional cação é feito em horário laboral, duas tardes das TIC. O Referencial é o mesmo do RVCC,
Sector Alimentar) e de Tomar (Centro de por semana, não obrigando a uma sobrecar- com a particularidade de ser evidenciado

11
REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

o trabalho com as ferramentas do dia-a- – na opinião de Fátima Valério – «que as


-dia». pessoas interajam, numa espécie de po-
Como se pode ver (cf. caixa abaixo), sendo linização de boas práticas e resolução de
o processo desenvolvido em contexto de problemas comuns favorecida pela troca de
trabalho é acompanhado por formadores experiências». Por outro lado, as pessoas
do CNO, da ULJM e de uma empresa de for- ficam a conhecer melhor o universo da em-
mação contratada pela Câmara de Comér- presa, fortalecendo a corporate culture.
cio Luso-Sueca, que presta apoio a todas as A esmagadora maioria dos trabalhadores da
ULJM já concluiu o processo de RVCC (9.º
ano), sendo por isso a altura adequada para
Desenvolvimento fazer um balanço.
do processo Lê-se no rosto de Fátima Valério e conclui-
RVCC (12.º ano) da -se, pelas suas palavras, que os resultados
Unilever/Jerónimo são muito satisfatórios. «O RVCC consti-
Martins tui um processo extremamente importan-
Fátima Valério
te no processo de formação e valorização
das pessoas porque as leva a descobrirem
Duração: 1 ano
competências que não tinham interiori- prias e, em muitos casos, começam mesmo
N.º de participantes: 16
zado, o que as motiva a prosseguirem os a pensar em fazer o RVCC do 12.º ano.» Mas
N.º de sessões semanais: 1 a 2
estudos e, consequentemente, a valoriza- acredita que estas pessoas, concluído o
(3 horas por sessão)
rem-se. Independentemente da idade, vol- RVCC do 12.º ano, estarão preparadas para
Data de início: 7 de Outubro de
tam a acreditar em si próprias e é isso que entrar para a Universidade e completar uma
2008
mais me leva a sentir-me agarrada a este licenciatura, perguntámos.
processo», salienta com um brilhozinho Com excepção dos cursos de Engenharia
O processo iniciou-se com duas
nos olhos. Prosseguindo, realça também o e outros onde a Matemática tenha grande
sessões orientadas por formado-
«efeito bola de neve» que o RVCC desenca- peso, Fátima Valério não vê entraves a essa
res do CNO da Pontinha.
deou. «Quando abrimos as primeiras inscri- possibilidade. E se faz a ressalva em rela-
Até Janeiro de 2009 haverá duas
ções a receptividade parecia não ser muito ção àqueles cursos é porque considera que
sessões semanais, a cargo de
grande e tivemos que ser nós a incentivar a Matemática não tem a extensão necessá-
formadores da ULJM, que visam a
alguns trabalhadores, a quem reconhecía- ria no referencial que permita a aquisição
preparação dos participantes para
mos capacidades para irem mais longe, a de conhecimentos suficientemente vas-
os temas do referencial em que
participarem. Concluído o primeiro grupo tos para os frequentar. No entanto, acredita
cada um sente mais dificuldades.
de 13 formandos, começaram a suceder- que com esforço suplementar esses cursos
O referencial está ligado ao dia-a-
-se em catadupa as inscrições e, em ape- também não estarão vedados às pessoas
-dia dos participantes na empre-
nas um ano, praticamente concluímos o que concluem o RVCC do 12.º ano.
sa, contribuindo para melhorar as
processo de RVCC de quase todos os traba- Inevitavelmente, colocámos a questão que
competências das pessoas e a sua
lhadores da empresa.» muitas pessoas põem quando ouvem falar
inserção nas fábricas.
Os números parecem confirmar as previ- do Programa Novas Oportunidades: não ha-
A partir de Janeiro regressam os
sões optimistas da gestora TPM. Com efei- verá algum facilitismo neste processo de
formadores do CNO, durante um
to, iniciou-se em Outubro o primeiro grupo RVCC?
período de 9 meses.
de RVCC (12.º ano) e, ao contrário do que «Tenho amigos professores que pensam
aconteceu com o 9.º ano, não foi necessá- isso», confirma, para logo de seguida
rio fazer convites. Inscreveram-se 46 traba- acrescentar: «Sempre que alguém me diz
empresas associadas. Mas as diferenças lhadores para 16 vagas. isso eu convido-o a assistir a uma sessão.
não se ficam por aqui... Depois de nos relatar o caso de um traba- Penso que é muito injusto fazer esse juízo.
Desde logo, a constituição dos grupos de lhador que, quando foi a júri, já estava na Além dos conhecimentos e competências
formandos é feita de forma mais homogé- pré-reforma, Fátima Valério salientou ou- que adquirem, todas as pessoas enrique-
nea. Não há a preocupação de agrupar as tra das vantagens que vê no programa. «À cem a nível de linguagem, ficam melhor
pessoas em função da idade, mas sim das medida que as pessoas vão adquirindo co- preparadas em termos de cidadania, evo-
suas funções. Cada grupo (entre 13 e 18 nhecimentos vão percebendo melhor aqui- luem nos conhecimentos de Matemática e,
participantes) é constituído por trabalha- lo que lhes falta saber, vão ganhando novas em termos de TIC, não só se superam como
dores das várias fábricas, o que permite competências, voltam a acreditar nelas pró- se familiarizam de tal forma com as ferra-

12
DOSSIER

REVISTA FORMAR N.º 65


mentas que as tornam indispensáveis. E O processo de RVCC (12.º ano) da ULJM irá ano. A explicação é muito simples: de Abril
depois há um processo de entreajuda que prosseguir com mais cursos no próximo a Setembro/Outubro a ULJM contrata tra-
vale a pena destacar porque torna as pes- ano e só terminará quando não houver mais balhadores sazonais para dar resposta ao
soas mais colaborantes. Se todos os CNO trabalhadores interessados. Em relação ao acréscimo de procura de alguns produtos
trabalharem como estes dois – e tudo me 9.º ano, apesar de a quase totalidade dos durante essa época do ano. Como alguns
leva a crer que sim –, não acredito que haja trabalhadores já ter concluído o processo, a desses trabalhadores são contratados to-
facilitismo.» empresa continuará a fazer um ou dois por dos os anos, a ULJM proporciona a possibi-

a opinião dos formandos

› Hélder Ferreira, 33 anos


Escriturário

Deixou de estudar quando completou o 8.º ano, para começar a trabalhar. No início tentou continuar a estudar à
noite mas, como trabalhava por turnos, tinha dificuldade em conciliar horários e acabou por desistir.
Assim que abriram as inscrições para o RVCC foi dos primeiros a inscrever-se. Reconhece que no início teve
alguma dificuldade porque perdera os hábitos de estudo. A maior dificuldade foi encontrar o ritmo, mas uma vez
ultrapassado esse obstáculo decidiu que não iria parar e em Outubro iniciou o processo de RVCC para obter a certificação do 12.º ano.
Não pensa, no entanto, ficar por aqui e equaciona a hipótese de entrar para a Universidade, onde pretende obter a licenciatura em Eco-
nomia e Gestão. O processo RVCC «abriu-me novos horizontes, devolveu-me a confiança e agora quero progredir até onde puder».

› Armando Leitão, 57 anos


Supervisor de armazém

«As voltas da vida» obrigaram-no a deixar os estudos quando terminou a 4.ª classe, mas como sempre teve
vontade de aprender e evoluir aos 18 anos recomeçou a estudar e completou o 6.º ano. Teve que voltar a parar
porque, entretanto, constituiu família e não conseguia conciliar trabalho, estudos e compromissos familiares.
Aos 56 anos, com quase 40 na empresa, frequentou o primeiro curso de RVCC (9.º ano). Enaltece as van-
tagens deste processo, quer para a empresa quer para os trabalhadores, porque abre novas perspectivas e horizontes. Não es-
camoteia as dificuldades que encontrou em relação ao Portefólio. «Quando nos pedem para identificar o nosso percurso de vida,
sentimos alguma dificuldade. Inicialmente pensei que arrumava aquilo com três ou quatro páginas, mas à medida que o processo
se vai desenrolando e nos vamos identificando com ele vamos descobrindo novas coisas e acabei por escrever dezenas de pági-
nas.» O papel dos formadores – reconhece – foi fundamental para poder progredir.
Ao longo da sua vida profissional frequentou várias acções de formação, sempre no âmbito profissional, pelo que «a vertente de enri-
quecimento de conhecimentos que esta nova lógica de aprendizagem proporciona abre novos horizontes». Pensa, por isso, frequen-
tar o RVCC para obter a certificação do 12.º ano «e quem sabe, um dia mais tarde frequentar uma universidade sénior», conclui.

› Regina Antunes, 48 anos


Analista

Deixou de estudar aos 13 anos quando concluiu o 6.º ano de escolaridade. A trabalhar na ULJM há mais de
duas décadas, em 2007 foi incentivada a fazer o RVCC (9.º ano). Inseriu-se bem no processo mas inicialmen-
te sentiu grandes dificuldades na área das tecnologias. «Fazia-me tudo muita confusão... trabalhar com um
computador, enviar e-mails, era um bicho de sete cabeças, mas hoje não consigo passar sem estas ferra-
mentas todas.» Não pensa, por enquanto, prosseguir para o RVCC (12.º ano). Por agora a prioridade é aprender inglês. «Depois se
verá», remata.

13
REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

lidade, a quem estiver interessado, de fazer com os pés bem assentes no chão», es-
o RVCC (9.º ano). «Isso não implica qualquer clarece a coordenadora do CNO do CEPRA,
compromisso para o trabalhador contratado a Dr.ª Cármen Ruivo, que enaltece a impor-
sazonalmente, é apenas uma possibilida- tância do RVCC escolar para o sector auto-
de de valorização proporcionada pela em- móvel, «onde a maioria das pessoas tem
presa. Obtido o RVCC e terminado o contra- uma escolaridade muito baixa».
to sazonal, se o trabalhador quiser voltar no «A valorização académica corresponde a
ano seguinte volta, mas se não estiver inte- uma valorização pessoal e muitas pessoas
ressado e o RVCC até tiver contribuído para sentem-se motivadas a prosseguirem os
encontrar um emprego mais estável, a em- seus estudos. Completado o 9.º ano voltam
presa só tem a congratular-se com isso», para a escola porque lhes foi despertada, ao
faz questão de salientar Fátima Valério. E a longo do processo de RVCC, a necessidade
concluir lança um repto: «Se houvesse mais de enriquecerem os conhecimentos. Esta
empresas a desenvolverem processos idên- é uma das grandes virtudes e potenciali-
ticos, seria melhor para os trabalhadores, dades do processo de RVCC, pois aumenta
Carmen Ruivo
para as empresas e para o país.» a auto-estima e favorece o reconhecimen-
to das potencialidades que muitas vezes as
CEPRA: Centro de Novas transnacional iniciado em 2000 que desen- pessoas ignoravam possuir. Daí que o pro-
Oportunidades está em volvia uma metodologia de Reconhecimen- cesso de RVCC termine sempre com uma
crescimento to de Competências Profissionais para me- projecção das pessoas para o futuro, pois
O Centro de Novas Oportunidades (CNO) do cânicos de automóveis. consideramos importante que cada um dos
CEPRA (Centro de Formação Profissional de Até 2005 o processo RVCC apenas certifi- participantes se consciencialize das suas
Reparação Automóvel) completa, em 2008, cava competências escolares para o ensi- potencialidades e sinta vontade de as ex-
seis anos de actividade. no básico (6.º e 9.º ano), mas em 2005 o plorar na sua plenitude», afirma.
Criado em 2002, ainda com a designação CEPRA foi convidado pelo IEFP. I.P. a iniciar
de Centro de RVCC, surge na sequência da o RVCC Profissional e, em 2007, iniciou o Combater a ideia de facilitismo
participação do CEPRA – a convite do IEFP, RVCC de nível secundário (12.º ano). «Tem Por vezes, a comunicação social passa para
I.P. – no Programa Leonardo, um projecto sido um processo desenvolvido por etapas, a opinião pública uma ideia de facilitismo

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DOSSIER

REVISTA FORMAR N.º 65


em todo o processo de RVCC. Carmen Rui- cesso de reflexão interior e de reconheci- do aparecem candidatos nestas condições
vo não descarta a hipótese de poder haver mento de competências que é mais com- são normalmente reencaminhados para
casos em que isso aconteça, tal como acon- plexo do que muitas vezes se julga», ad- outras vias que lhes permitam concluírem
tece no sistema formal de ensino, onde há verte. E dá um exemplo: «Um candidato o 9.º ou o 12.º ano.
escolas que «facilitam» e outras que têm com vinte e poucos anos normalmente não «No entanto», reconhece, «há pessoas
um elevado nível de exigência para com os tem competências, experiência nem histó- que chegam ao CEPRA aliciadas pela celeri-
seus alunos, mas salienta que para algu- ria de vida, pessoal e profissional, para en- dade do processo (4 meses para o 9.º ano
mas pessoas é mais fácil irem para a esco- trar neste processo e obter a certificação, e 6 a 9 meses para o 12.º) mas ignoram as
la concluir o 9.º ou o 12.º ano do que entra- porque não lhe será possível sequer cons- sua exigências. Por isso é frequente ouvi-
rem num processo de RVCC. «Este proces- truir o Portefólio Reflexivo de Aprendiza- rem-se pessoas a dizerem “Vimos cá para
so, embora privilegiando o relacionamento, gem para apresentar perante o júri que lhe tirar o certificado”, como se bastasse fazer
é bastante individualizado e exige um pro- irá atribuir a certificação.» Por isso, quan- um requerimento para o obter.» Quando es-
tas situações ocorrem são-lhes explicadas,
durante a entrevista, as exigências do pro-
a opinião dos formandos cesso e muitos acabam por admitir que o
RVCC não é a via adequada para obterem as
habilitações que desejam, sendo reenca-
› CARLOS REBELO é responsável pelos armazéns e minhados para outras vias formativas. Os
manutenção do CEPRA. Tendo sido obrigado a interromper números, aliás, falam por si. Tendo iniciado
os estudos muito jovem, foi dos primeiros a inscrever-se no em 2007 o RVCC de nível secundário (12.º
RVCC para obter a certificação do 9.º ano. Tinha então 42 anos. ano), o CEPRA recebeu no primeiro ano 700
Como sempre teve vontade de progredir através dos estudos, candidatos, dos quais 650 foram encami-
inscreveu-se posteriormente no RVCC do nível secundário, ten- nhados para outras vias. Este ano (até Ju-
do obtido a certificação com 43 anos. nho), dos 1500 inscritos só 251 estão em
Confessa que foi um sonho que realizou e não descarta a hipótese de um dia fre- processo de certificação.
quentar a Universidade. Não foi, porém, um caminho sem escolhos. Reconhece que A maioria das pessoas que procuram o re-
teve algumas dificuldades na interpretação do referencial, mas com a ajuda dos conhecimento do 6.º e 9.º anos pertencem
formadores conseguiu ultrapassá-las. ao escalão etário acima dos 40 anos, en-
Rejeita, liminarmente, a ideia de facilitismo e assinala que algumas pessoas que quanto para o RVCC do 12.º ano os candida-
frequentam o CEPRA se vêem obrigadas a abandonar o processo de RVCC precisa- tos provêm, essencialmente, da faixa etá-
mente porque vinham iludidas com a ideia de que seria muito fácil mas depois, ao ria entre os 30 e os 40 anos e têm como
depararem com a realidade, acabam por desistir. habilitação o 4.º ou 6.º ano. Carmen Ruivo
observa que à medida que a Iniciativa No-
vas Oportunidades vai sendo mais conheci-
› PAULA GAMBUTAS trabalhou 12 anos numa empresa como da as empresas começam a enviar os seus
secretária de direcção. Quando a empresa encerrou deparou- trabalhadores para entrarem no proces-
-se com a situação de ter apenas o 11.º ano incompleto e de so RVCC, estabelecendo protocolos com o
não poder provar as competências adquiridas ao longo da sua CEPRA para esse efeito.
actividade profissional. O facto de a escolaridade dos profissionais
Andava há vários anos a tentar actualizar os seus conhecimen- do sector automóvel ser muito reduzida jus-
tos e completar o 12.º ano, mas o facto de ser mãe solteira im- tifica a opção, mas Carmen Ruivo esclarece
pedia-a de frequentar cursos nocturnos. Sucedeu-se um período em que trabalhou que também algumas autarquias (nomea-
com contratos temporários porque não conseguia justificar as suas competências damente Lisboa, Odivelas e Loures) recor-
e capacidades profissionais. rem ao CEPRA para integrarem funcioná-
Quando surgiu a oportunidade do RVCC inscreveu-se, tendo iniciado em Setembro. rios no sistema de RVCC. «No caso de fun-
Até ao momento não teve dificuldades em adaptar-se à metodologia do curso e em cionários das autarquias, os formandos
identificar-se com todo o processo. Faz uma análise positiva e espera conseguir, têm o aliciante suplementar de poderem
no final, obter a certificação que lhe permita encarar o mercado de trabalho com aspirar a uma promoção interna, o que au-
outras ferramentas. menta as vantagens do processo», conclui.
«A experiência a nível de secretariado e assessoria de direcção está cá, mas pro- Nem sempre, porém, os candidatos con-
vá-lo numa entrevista é muito difícil», remata. seguem obter a certificação total das suas
competências. Nestes casos são encami-

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REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

nhados para uma formação complementar Até ao momento, o CEPRA só está a fazer vantagens de incentivarem os seus colabo-
que pode passar, por exemplo, pelo ensino certificação profissional dos Mecânicos de radores a entrarem num processo de certi-
recorrente. Automóveis Ligeiros, tendo certificado as ficação integrada.»
competências de 260 profissionais num As acções de formação do CEPRA também
O RVCC PRO universo de 494 candidaturas apresenta- reflectem preocupações ambientais, fo-
O sector automóvel tem algumas caracte- das. Até final do ano, porém, a certificação mentando as boas práticas de cidadania in-
rísticas específicas em termos de mercado será alargada às áreas de Reparadores de tegradas nos conteúdos programáticos. As-
de trabalho. Se, por um lado, não há prati- Carroçarias de Automóveis Ligeiros e Meca- sim, dispõe de um Ecoponto para recolha
camente desemprego, por outro a maioria trónicos Automóveis. O objectivo do CEPRA de resíduos como o vidro, embalagens e pa-
dos mecânicos não tem certificação profis- é fazer a certificação integrada (valência pel, um contentor de pilhas e contentores
sional. Muitos começaram a trabalhar aos escolar e profissional) mas, como nos expli- para resíduos gerados na actividade for-
14/15 anos e deparam-se com a situação ca Carmen Ruivo, por agora a certificação mativa (acumuladores, baterias, óleos, em-
de, 20 ou 30 anos após terem iniciado a sua escolar e profissional são feitas em tempos balagens de plástico e metálicas, diluen-
actividade profissional, não poderem certi- e locais diferentes. O facto de o RVCC PRO tes de limpeza e aparelhos de pintura). O
ficar (comprovar) as suas competências. ser um processo muito mais rápido do que CEPRA procede, ainda, ao encaminhamento
Esta questão – aliada ao facto de a maioria o escolar (demora apenas entre 1 e 2 me- de plásticos, carroçarias e motores para re-
dos profissionais do sector apresentar uma ses) e corresponder, em grande número ciclagem.
escolaridade muito baixa – levou o CEPRA a de situações, a uma prioridade dos candi-
fazer uma forte aposta no RVCC PRO, corres- datos que o frequentam, leva a que muitos
pondendo assim ao convite que lhe foi en- descurem a vertente escolar e as suas po-
dereçado pelo IEFP, I.P. tencialidades em termos de enriquecimento
Iniciado em 2006, o RVCC PRO permite aos pessoal. De qualquer modo, o CEPRA procura
profissionais do sector de reparação auto- incentivar os profissionais que frequentam
móvel verem reconhecidas as suas com- o RVCC PRO a aproveitarem o seu portefólio
petências profissionais e obterem um Cer- para desenvolverem o RVCC escolar e vice-
tificado de Qualificação Profissional que as -versa. «A forma como este processo vai
comprove com base na sua experiência de evoluir também depende em parte da for-
trabalho. ma como as próprias empresas encaram as

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DOSSIER DOSSIER

› A Agenda de Reforma da Formação Profissional

REVISTA FORMAR N.º 65


› Preparar os Centros de Formação para a mudança
› As novas oportunidades conquistam-se
› CFP de Santarém: cursos à medida
› Formação em alternância (articulada) de contextos de aprendizagem
› A qualificação e o emprego das pessoas com deficiência

CFP de Santarém: CURSOS À MEDIDA


Dando continuidade ao seu trabalho de divulgação das ofertas formativas no âmbito da Iniciativa Novas Opor-
tunidades, a Formar considerou importante divulgar a experiência do Centro de Formação Profissional de Santa-
rém no âmbito dos cursos EFA-NS

› Carlos Barbosa
de Oliveira
Jornalista

Introdução ção que permite obter uma dupla certifica- lificações do CFP de Santarém. A Eng.ª Mó-
Ressalve-se desde já que, não sendo ain- ção (certificação escolar – 12.º ano e profis- nica Sousa, técnica de acções de formação
da possível fazer uma avaliação final so- sional – nível 3), as entidades promotoras a quem foi cometida a tarefa de coordenar
bre qualquer um dos cursos já implanta- públicas e privadas (escolas, autarquias, este primeiro curso EFA, corrobora a mes-
dos, cuja conclusão só ocorrerá em Julho empresas, sindicatos, associações e cen- ma opinião: «A forma de gestão destes cur-
de 2009, o objectivo desta reportagem no tros de formação profissional) disponibili- sos é muito flexível porque depende do gru-
CFP de Santarém visa essencialmente dar a zam igualmente aos interessados cursos po, do formador e do modelo adoptado para
conhecer a forma como o processo se está EFA-NS que conferem apenas certificação cada um.» A verdade, porém, é que as difi-
a desenvolver e qual tem sido o seu impac- escolar. culdades foram ultrapassadas com suces-
to a nível local. so, como o demonstra o facto de este ano
A implantação dos Cursos de Educação e Uma aposta ganha terem em funcionamento 11 cursos em 7
Formação de Adultos do Nível Secundá- Quando, em Novembro de 2007, o CFP de áreas diferentes.
rio (EFA-NS) insere-se na Iniciativa Novas Santarém iniciou o primeiro curso EFA-NS, Mas recuemos um pouco... e voltemos a
Oportunidades e tem como objectivo priori- para Técnicos de Acção Educativa (TAE), os 2007 para percebermos melhor, nas pa-
tário elevar os níveis de qualificação da po- técnicos e responsáveis envolvidos no pro- lavras de Jorge Reis, como tudo começou:
pulação portuguesa adulta, quer no âmbito cesso depararam-se com um conjunto novo «Quando iniciámos os cursos EFA-NS não
escolar, quer profissional. Tendo em consi- de conceitos e referências. «Tivemos que tínhamos muito bem a percepção da sua
deração o baixo nível de escolaridade da po- mudar mentalidades e trabalhar com con- necessidade e do impacto que poderiam ter
pulação adulta e a entrada precoce de um ceitos diferentes. Foi necessário alterar ins- na comunidade local. Foi o IEFP, I.P. que nos
grande número de jovens no mercado de trumentos e processos que estavam muito lançou o desafio, a que respondemos pron-
trabalho, compreende-se facilmente o im- enraizados na nossa forma de trabalhar e tamente.»
pacto que esta via formativa poderá ter na fazer uma gestão diferente dos cursos, por- De acordo com os dados obtidos junto do
melhoria dos padrões de vida de muitos que as novas regras não decalcavam com Governo Civil de Santarém (referentes a
adultos, quer a nível profissional e econó- o percurso e o modelo de Formação Profis- 2006), a população do distrito tem vindo a
mico, quer a nível social. sional a que estávamos habituados», diz o crescer mas a sua taxa de actividade é infe-
Embora os EFA-NS sejam, essencialmente, Eng.º Jorge Reis, Chefe de Serviços da Uni- rior à média nacional. Embora não seja dos
uma oferta integrada de educação e forma- dade de Gestão e Desenvolvimento de Qua- distritos mais afectados pelo desempre-

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REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

áreas profissionais diferentes mas, como


esclarece Jorge Reis, «mais importante do
que o número de cursos é a variedade da
procura». Efectivamente, essa diversida-
de manifesta-se, por exemplo, na realiza-
ção de um curso para técnicos instalado-
res de sistemas solares térmicos ou num
curso para esteticistas, que começará em
breve.
Uma das grandes vantagens que os cur-
sos EFA-NS vieram introduzir reside, na opi-
nião do Chefe de Serviços, na possibilidade
de alargarem a oferta de acordo com as ne-
Mónica Sousa Jorge Reis
cessidades da população. «Em vez de ter-
mos, por exemplo, 10 cursos estanques e
go, 93% da população desempregada pro- cente procura da população por esta nova ficarmos à espera de inscrições, como su-
cura um novo posto de trabalho, sendo que oferta formativa. cedia antes, agora há uma flexibilidade que
40% pertence ao escalão etário entre os 35 «Depois de iniciados os dois primeiros cur- permite gerir a oferta de acordo com as ne-
e os 54 anos. Acresce que a dificuldade em sos para Técnicos de Acção Educativa te- cessidades sentidas. É um processo muito
encontrar emprego está muito relaciona- mos vindo a sentir, desde o início do ano, mais dinâmico e que vai mais rapidamen-
da com os baixos índices de escolaridade uma grande procura por parte da popula- te de encontro às necessidades de forma-
(6,6% não possui qualquer habilitação es- ção, que é confirmada pelas informações ção sentidas localmente. Agora estamos
colar e 56% não tem a escolaridade obriga- que nos chegam através dos Centros de em condições de criar cursos à medida, ca-
tória). Estes dados permitem perceber me- Emprego», diz Jorge Reis. Esta procura pazes de dar resposta imediata às solicita-
lhor não só a importância da implantação justifica que durante o ano 2008 o CFP de ções do tecido social do distrito, que nos
dos cursos EFA-NS no distrito, como a cres- Santarém tenha iniciado 11 cursos em 7 são manifestadas pela procura das pes-

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DOSSIER

REVISTA FORMAR N.º 65


soas, das exigências das empresas ou dos estes cursos, que se adequam melhor às se as características do grupo e a sua ex-
Centros de Emprego.» suas características. periência de vida e o Referencial de Com-
Esta flexibilidade traduzir-se-á também no petências-Chave. É esse modelo que vai
plano de formação para 2009 que, embo- Processo de Aprendizagem definir o conjunto de actividades que vão
ra ainda não esteja aprovado superiormen- Era importante saber, também, o que dis- ser desenvolvidas ao longo da formação
te, procura adequar a oferta à procura. É tingue os cursos EFA-NS do ensino «regu- (na vertente escolar). Depois, em função da
previsível, por isso, que a resposta à ne- lar» e como se desenvolve o processo de saída profissional, cada curso terá também
cessidade de reconversão profissional de aprendizagem. as suas características específicas.»
desempregados se venha a traduzir em Mónica Sousa começou por salientar o facto Resumindo, cada curso tem um modelo que
novas ofertas. É o caso de um curso de Ter- de estes cursos trabalharem competências é determinado em função dos participan-
malismo que foi introduzido no Plano para e não conteúdos, o que «faz toda a diferen- tes, da saída profissional e do Referencial
2009 porque a procura de técnicos nessa ça». «Tudo é trabalhado através de activi- de Competências (Cidadania e Profissiona-
área o justificou. No entanto, outros cur- dades e auto-avaliação. É importante que, lidade; Sociedade, Tecnologia e Ciência; Cul-
sos em áreas não programadas poderão desde o início, os participantes percebam tura, Língua e Comunicação).
surgir, se tal se revelar necessário. Jorge essa diferença. A maioria está habituada Ao contrário do que acontece com a forma-
Reis clarifica: «Se um Centro de Emprego ao ensino regular, cujos conhecimentos ção escolar (em sala), cuja carga horária
nos diz, por exemplo, que vai encerrar uma são comprovados através de testes, e quan- pode variar entre as 1200 e as 2000 horas,
fábrica, gerando um determinado número do lhes dizemos que aqui nada se passa a vertente profissional dos cursos EFA-NS é
de desempregados que é necessário re- assim, porque se trata de um processo evo- composta por uma carga horária fixa (210
converter para dar resposta, suponhamos, lutivo, por vezes as pessoas reagem com horas).
à abertura de uma fábrica de painéis sola- alguma estranheza. Mas é muito importan- A formação é feita em contexto de trabalho
res, nós agora estamos em condições de te que as pessoas percebam isso logo de em empresas ou instituições da região e só
montar rapidamente os cursos necessá- início», salienta. se inicia depois de os participantes terem
rios para responder a essa exigência de re- Outra diferença fundamental é a inexistên- concluído a vertente escolar. Jorge Reis ex-
conversão.» cia de um modelo rígido, podendo quase di- plica esta opção com o facto de algumas
Mas há ainda outra via de entrada para os zer-se que cada curso tem um modelo pró- entidades, com necessidade de trabalha-
cursos EFA-NS: pessoas que não tendo prio. Mónica Sousa explica como tudo se dores em algumas áreas, «tentarem por
competências para concluir um processo passa: «A equipa formativa é que vai cons- vezes seduzir os trabalhadores antes de
de RVCC são encaminhadas pelos CNO para truir o modelo do curso, tendo como ba- terminarem o curso». Como se pode facil-

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REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

os formaDORES

Quisemos saber a opinião de dois › Cláudia Assis néfico, quer para os formandos, quer
formadores que trocaram o ensino para os formadores. A troca de ideias,
informal pelos cursos EFA, a quem de experiências e de atitudes enrique-
colocámos quatro questões: cem-nos a nós e, consequentemente,
aos formandos que nos rodeiam.
1. Q
 ue razões o levaram a trocar
o ensino regular (formal) pelos 3. I nconvenientes propriamente ditos não
cursos EFA? há.
Formadora da Unidade Cultura, Língua e A relação formandos/formadores é mais
2. Q
 uais as principais diferenças Comunicação, licenciada em Línguas e Li- frutífera e enriquecedora. A entrega tem
que encontrou? teraturas Clássicas e Portuguesa e com que ser total e entendo ambos os pó-
pós-graduação em Higiene e Segurança no los como um todo, que só se consegue
3. Q
 uais as principais vantagens e Trabalho. com uma grande entrega e harmonia;
inconvenientes que encontrou Dez anos de experiência no ensino regular. a metodologia é fantástica! O progra-
nos cursos EFA (nomeadamen- ma permite-nos ir de encontro às ex-
te a relação entre formadores e 1. «
 Educar não é repetir ideias, é criar, in- pectativas dos formandos em geral e
formandos, a metodologia e a ventar» e o ensino é um contrato de de cada um em particular, ao mesmo
participação/interesse/motiva- risco... assim, esta opção foi principal- tempo que usamos a nossa criativida-
ção dos formandos)? mente pelo desafio. de e originalidade; a participação/inte-
resse/motivação dos formandos (...)
4. Q
 uais as dificuldades que encon- 2. A s principais diferenças prendem-se Faz-me lembrar o apaixonante livro de
trou em se adaptar à metodolo- com o público-alvo, com os conteúdos Antoine de Saint Exupéry «– Tens de
gia dos cursos EFA? a ministrar e com o facto de haver co- ter muita paciência, respondeu a rapo-
-docências. sa. Primeiro, sentas-te um pouco afas-
Neste tipo de cursos deparamo-nos com tado de mim, assim, na relva. Eu olho
grupos demasiado heterogéneos, com para ti pelo rabinho do olho e tu não di-
percursos de vida diversificados e emo- zes nada. A linguagem é uma fonte de
cionalmente instáveis, o que faz com mal-entendidos. Mas, de dia para dia,
que, positivamente, nos tenhamos que podes sentar-te cada vez mais perto...
entregar de corpo e alma, obrigando- se vieres a uma hora qualquer, nunca
-nos a crescer muito mais rápido como posso saber a que horas hei-de vestir o
profissionais. meu coração...»
No que respeita aos conteúdos, estes Foi de mãos dadas com o Principezinho
cursos apresentam conteúdos muito que entrei no mundo fascinante e mági-
diversos, abrangendo diversas áreas do co de cada um dos formandos...
conhecimento e exigindo dos formado-
res um empenho mais sólido, multifa- 4. N
 ão entendo como dificuldades o ser
cetado e polivalente. formadora num curso EFA Secundário,
 Em relação à co-docência, entendo sem- mas sim um desafio, quer a nível profis-
pre que o trabalho em grupo é mais be- sional, quer a nível pessoal...

mente concluir, esse aliciamento – embo- a que se tornem mais capazes e competiti- entanto, há casos em que os participan-
ra possa ser sedutor para o formando e ali- vas no mercado de trabalho. tes apenas pretendem obter uma cer-
ciante para a empresa – acaba por penalizar tificação escolar. Nessas situações, os
os formandos e desvirtuar um pouco os ob- Certificação cursos são montados apenas com essa
jectivos dos cursos, que consistem em pro- Como já se referiu, os cursos EFA-NS con- vertente. Foi o que aconteceu num curso
mover a qualificação das pessoas de molde ferem no final uma dupla certificação. No iniciado em Outubro, na Chamusca. Não

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REVISTA FORMAR N.º 65


› Pedro Bairrada maioria são mais previsíveis, também  e
 sta variedade apresen-
são mais empenhados, interessados e ta-se como um incentivo por
Formador da Unidade de Sociedade, Tec- recompensadores do trabalho que nós, dois motivos: a metodologia a
nologia e Ciência, licenciado em Ensino de formadores, desenvolvemos. implementar em cada sessão é
Matemática. um desafio constante; e a riqueza
Um ano de experiência no ensino regular. 3. E stes cursos apresentam diversas van- de experiências e saberes parti-
Colaborador do CFP Santarém desde 2003. tagens dado que permitem envolver lhados entre os formandos e entre
adultos que à partida dificilmente se estes e o formador.
1. N  o meu caso pessoal não houve uma enquadrariam num sistema tradicional  Outro aspecto prende-se com a ne-
troca do ensino regular pelos cursos de ensino, sistema esse, aliás, no qual cessidade de desenvolver uma pla-
EFA dado que, na impossibilidade de muitos deles repetiram experiências de nificação adequada a todos e a cada
ingressar no ensino regular após a insucesso. um dos formandos e que, simulta-
conclusão do estágio pedagógico (no Outro aspecto importante é o desen- neamente, esteja enquadrada com
ensino regular) devido ao excesso de volvimento de competências nas No- o Referencial de Competências. Esta
candidatos ao concurso nacional de vas Tecnologias de Informação e Co- dificuldade resulta não só da hete-
professores, aproveitei a oportunidade municação que, desde o dealbar deste rogeneidade de cada grupo de for-
que me surgiu de ingressar no Centro século, se apresentam como um parâ- mandos, mas principalmente da ele-
de Formação Profissional de Santarém. metro indispensável em qualquer sis- vada subjectividade e complexidade
 A qualidade das equipas formativas e a tema de ensino/formação. do referencial, por vezes com uma
boa camaradagem que tem existido en-  A relação com os formandos tem sido linguagem dificilmente decifrável.
tre todos os colaboradores deste Centro uma das grandes mais-valias destes
têm-me dissuadido de procurar o ensi- processos dado que as sessões se
no regular. Outro aspecto importante é processam de uma forma harmonio-
a forma carinhosa com que os adultos sa, em que os formandos são actores
me têm recompensado pelo trabalho da sua própria aprendizagem e onde
que com eles venho desenvolvendo ao a simples transmissão de conheci-
longo destes anos. mentos por um professor dá lugar a
  uma partilha de experiências que, de
2. N  o ensino regular o trabalho é desenvol- uma forma organizada e harmoniosa,
vido sobretudo com jovens, enquanto permite o desenvolvimento de novas
os cursos EFA envolvem na sua grande competências.
maioria a participação de adultos. Des-  
de logo, este simples facto tem muitas 4. U  ma das grandes dificuldades destes
diferenças. cursos é o carácter heterogéneo dos
O maior estímulo no trabalho com jo- grupos de formandos, com conheci-
vens reside na maior imprevisibilida- mentos, competências, experiências,
de do decurso das sessões, dado o ca- motivações, sensibilidades, interesses
rácter irreverente e criativo das pes- e capacidades muito diferentes. Por ve-
soas desta faixa etária. Por outro lado, zes torna-se difícil gerir um grupo com
os adultos que, embora na sua grande géneses tão distintas. Por outro lado,

tendo sido possível uma concertação de in- tentes que permitam aos participantes ob- desde já que «é perceptível uma melhoria
teresses na vertente profissional, foi cria- terem a dupla certificação», faz questão muito considerável na autonomia das pes-
do um curso só com a componente escolar. em frisar Jorge Reis. soas; não ficam à espera de receber con-
«Este caso não pode ser encarado como E, embora não seja ainda possível fazer um ceitos e informações, vão à procura. Pen-
regra, mas sim como excepção. O nosso balanço conclusivo sobre os cursos EFA- samos ser fruto das estratégias aplicadas
objectivo é fazer cursos com as duas ver- -NS, Jorge Reis e Mónica Sousa salientam nesta modalidade. Sentimos também gran-

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REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

des progressos ao nível do saber-estar, mas


como estamos numa fase muito prematura
ao nível da operacionalização, estamos em
aprendizagem/crescimento diário...»

Os Formadores
Os cursos EFA-NS requerem formadores
com novas características e competências.
Se na vertente profissional não há grande
dificuldade em encontrar formadores com
as características exigidas, o mesmo não
se passa na vertente escolar. Ao contrário
do que acontece no ensino formal, exige-
-se que os formadores sejam polivalentes
pois aqui não se trata de ministrar conteú-
dos sobre uma matéria específica. Por ou-
tro lado, é necessário que os formadores se
insiram e adaptem a este modelo.

os formaNDOS

Ouvimos, também, a opinião de duas formandas do Curso de Técnicas de Acção de Educativa.

› Maria João Adão, 38 anos, 10.º ano, cortadora têxtil, deixou de exercer a sua actividade há vários anos
porque a fábrica onde trabalhava encerrou. Inicialmente trabalhou como empregada em cafés e restauran-
tes, mas o seu gosto por crianças sempre a fez pensar na oportunidade de vir a trabalhar numa «escolinha».
Faltavam-lhe, porém, as habilitações necessárias, pelo que encarou a possibilidade de frequentar este curso
como a oportunidade de cumprir o seu desejo. Não nega ter encontrado algumas dificuldades em retomar os
estudos, mas a ajuda dos formadores foi fundamental para as ultrapassar. Inicialmente sentiu-se incapaz
de manejar um computador «porque tudo aquilo me fazia uma grande confusão», mas depois da formação
que lhe foi dada e do apoio e entreajuda das colegas ultrapassou as dificuldades e hoje considera o computador uma ferramenta
essencial. Encara, com entusiasmo, a ideia de abraçar uma nova etapa da sua vida.

Entusiasmada está também Sofia Nunes, 27 anos, 9.º ano, desempregada. Tal como a sua colega sempre
gostou de crianças, por isso foi com grande alegria que recebeu a notícia de que fora seleccionada para fre-
quentar o curso. Não encontrou qualquer dificuldade e gosta do método utilizado nos cursos EFA-NS, onde
realça o empenho e a motivação que lhe é dada pelos formadores. «É muito diferente da escola, aqui pres-
tam-nos mais atenção e estão sempre dispostos a ajudar-nos a resolver os problemas.» O futuro? Com este
curso estou certa de que vou conseguir realizar o meu sonho de trabalhar com crianças.

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DOSSIER DOSSIER

› A Agenda de Reforma da Formação Profissional

REVISTA FORMAR N.º 65


› Preparar os Centros de Formação para a mudança
› As novas oportunidades conquistam-se
› CFP de Santarém: cursos à medida

› Formação em alternância (articulada) de contextos de aprendizagem


› A qualificação e o emprego das pessoas com deficiência

Formação em alternância (Articulada)


de contextos de aprendizagem
› Ana paula filipe
Directora de Serviços de
Organização da Formação

Introdução gica de convergências que potenciem a sua das competências visadas em cada perfil
No âmbito da Iniciativa Novas Oportuni- intervenção junto do público jovem e adul- de saída, ou a adopção gradual do Catálo-
dades, a centralidade das medidas que vi- to. Neste contexto, os Cursos de Aprendiza- go Nacional de Qualificações, na óptica da
sam o aumento das qualificações reflecte a gem, modalidade de formação da iniciativa transparência das qualificações), e optimi-
consciência de que é necessário actuar, de do IEFP, I.P., assumem-se como uma ofer- zar os investimentos efectuados, valorizan-
forma decisiva, para qualificar mais e me- ta de dupla certificação de nível secundá- do a sua característica diferenciadora – a al-
lhor os Portugueses, constituindo um pilar rio particularmente relevante, dirigida a um ternância dos contextos de aprendizagem.
essencial das políticas de emprego e de for- público com idades compreendidas entre Pretende-se, assim, criar as condições fa-
mação profissional. os 15 e os 25 anos e que privilegia a inser- voráveis à promoção de uma nova dinâ-
Simultaneamente, o Sistema Nacional de ção no mundo do trabalho sem limitar, no mica, mais actual e flexível e, deste modo,
Qualificações afirma, entre os seus objecti- entanto, o prosseguimento de estudos de mais consentânea com as necessidades e
vos primordiais, a promoção da generaliza- nível superior. as expectativas dos jovens e das respecti-
ção do nível secundário como qualificação vas famílias, assim como das empresas e
mínima da população; a elevação da forma- Revisão do enquadramento legal da economia nacional.
ção de base da população activa, possibili- Decorridos cerca de 10 anos sobre o pro- O reforço e a vitalidade dos Cursos de Apren-
tando a sua progressão escolar e profissio- cesso de revisão que culminou com a pu- dizagem passam assim, em grande medida,
nal; a estruturação de uma oferta relevante blicação do Decreto-Lei n.º 205/96, perío- pelo reconhecimento do potencial forma-
de formação inicial e contínua ajustada às do de tempo em que ocorreram mudanças tivo da situação de trabalho, encarando a
necessidades das empresas e do merca- significativas nos sistemas de educação e alternância não como uma mera sucessão
do de trabalho; a promoção de uma oferta de formação, a actual proposta de enqua- alternada de contextos de formação, cum-
formativa diversificada, no contexto da for- dramento legal para os Cursos de Aprendi- prindo cada um o seu papel com reduzido
mação ao longo da vida, geradora de quali- zagem pretende harmonizar, num quadro nível de interactividade, mas antes como
ficações baseadas em experiências e a ga- de co-existência com outras modalidades uma sucessão de contextos de formação,
rantia de que os cursos profissionalizantes de dupla certificação de nível secundário, articulados entre si, que promovam a reali-
de jovens conferem dupla certificação (es- os aspectos que são passíveis de harmoni- zação das aprendizagens com vista à aqui-
colar e profissional). zação e que se traduzem em vantagens di- sição das competências que integram um
Num quadro de co-responsabilidade na con- rectas para os destinatários (por exemplo, determinado perfil de saída.
secução destas políticas, o IEFP, I.P. tem su- a revisão das cargas horárias, no sentido da A valorização crescente da intervenção
blinhado, no seu papel de operador, uma ló- sua redução sem prejuízo para a aquisição e do contributo formativo das empresas,

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REVISTA FORMAR N.º 65 DOSSIER

sociocultural, científica e tecnológica, tam-


bém a prática em contexto de trabalho de-
verá passar a dispor de referenciais, nes-
te caso de actividades, de forma a garantir
que a formação desenvolvida na empresa
cumpre os objectivos que lhe estão atribuí-
dos e, simultaneamente, num momento
anterior, permite confirmar se as mesmas
dispõem, efectivamente, de condições e
meios adequados e suficientes para assu-
mir uma determinada formação prática em
contexto de trabalho.
Por forma a garantir que estas alterações
sejam devidamente implementadas torna-
-se necessária a preparação/actualização
dos diversos intervenientes para actuarem
em conformidade com esta concepção de
alternância, em particular no que concerne
ao planeamento da formação, à intervenção
da empresa e do tutor e à interacção dos di-
ferentes elementos da equipa formativa.
Por fim, associada a este esforço deverá,
ainda, considerar-se a adopção de medidas
que facilitem a percepção por parte das em-
presas, do público-alvo, das famílias e da
sociedade em geral do que são os Cursos
de Aprendizagem e da mais-valia que re-
presentam no processo de qualificação dos
Portugueses, afirmando como factor real
de competitividade, para os profissionais
que obtiverem a sua qualificação pela fre-
quência destes cursos, as aprendizagens e
as experiências desenvolvidas em contexto
de trabalho.

assumindo-se como verdadeiros espaços coordenação pedagógica e de articulação


de formação geradores de progressão das sistemática entre contextos de formação,
aprendizagens tem, naturalmente, implícito ou seja, pressupõe que subjacente à con-
um maior nível de exigência, quer por par- cepção e ao desenvolvimento curricular
te das empresas, quer dos restantes acto- esteja a interactividade e a complementa-
res que intervêm nos Cursos de Aprendiza- ridade entre componentes e contextos de
gem. Esta exigência acrescida verifica-se, formação e que se defina o respectivo qua-
desde logo, ao nível da estrutura curricular dro de suporte e de acompanhamento.
e dos respectivos referenciais de formação É neste entendimento que, à semelhan-
de suporte, mas também do trabalho de ça do que se verifica para as componentes

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DOSSIER DOSSIER

› A Agenda de Reforma da Formação Profissional

REVISTA FORMAR N.º 65


› Preparar os Centros de Formação para a mudança
› As novas oportunidades conquistam-se
› CFP de Santarém: cursos à medida
› Formação em alternância (articulada) de contextos de aprendizagem

› A qualificação e o emprego das pessoas com deficiência

A QUALIFICAÇÃO E O EMPREGO DAS PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA
No quadro geral da reflexão sobre a «Reforma da Formação Profissional» e tendo em conta o contexto global de
grande escassez de empregos em que vivemos, faz sentido uma reflexão específica sobre um importante seg-
mento da população activa nacional que se encontra, à partida, numa situação de grande desvantagem, quer no
acesso aos meios de qualificação existentes, quer na competição pelos empregos disponíveis

› Acácio Duarte
Consultor em formação
e desenvolvimento

Uma ainda mais estreita relação conta, e que, portanto, lhe coloca obstáculo tes de esforço que as sociedades actuais
entre a formação e o emprego a seguir a obstáculo, pondo-a em constan- poderão encontrar solução para o problema
Para a pessoa com deficiência que, mesmo te risco de exclusão, faz com que o conceito de acesso à formação e ao emprego, para o
quando colocada perante uma oportunida- «igualdade de oportunidades» não chegue problema da inclusão socioprofissional de
de de emprego em igualdade de qualificação para resolver o problema se não for cuida- todos os seus cidadãos com deficiência.
com outros candidatos, continua em risco dosa e sistematicamente articulado com o
de ser preterida, o problema essencial a re- conceito «discriminação positiva». Um amparo jurídico-normativo
solver é o do emprego, já que é este que lhe Para derrubar os obstáculos é necessário adequado e um dispositivo de
dá possibilidade de «governar a sua vida»; um esforço acrescido por parte de todos os intervenção atento e competente
a formação, sendo naturalmente importan- intervenientes: desde logo da própria pes- A Convenção das Nações Unidas sobre os Di-
te para a solução do problema, não deixa de soa com deficiência e das suas famílias (es- reitos das Pessoas com Deficiência cobre a
ser apenas um meio, um objectivo intermé- forço particular); também, naturalmente, área da qualificação e do emprego das pes-
dio. Pelo que uma boa política de formação dos que lhe estão próximos, dos amigos e soas com deficiência em vários dos seus
pressupõe uma boa política de apoio ao em- das organizações solidárias da comunidade artigos, nomeadamente: no art.º 24.º, rela-
prego e uma muito estreita articulação entre (esforço social); também, obviamente, das tivo ao Direito à Educação, no art.º 26.º, re-
elas; se assim não for, muito do investimen- entidades públicas que tenham a seu cargo lativo à Habilitação e Reabilitação, e no art.º
to feito em formação acabará por se perder. as políticas de formação, emprego e inclu- 27.º, relativo ao direito ao Trabalho e Empre-
são socioprofissional (esforço público); e go. A Convenção faz corresponder à afirma-
Um esforço acrescido por parte sobretudo, mesmo que não pareça tão ób- ção dos Direitos das Pessoas com Deficiên-
de todos os intervenientes vio, das empresas, dos empregadores, no cia a obrigação dos Estados de «salvaguar-
A diferença que a pessoa com deficiência quadro da sua função de responsabilidade darem e promoverem a realização desses
apresenta, num mundo que não foi conce- social (esforço privado). Será na conjuga- direitos adoptando medidas apropriadas,
bido e organizado tendo essa diferença em ção e articulação destas quatro componen- incluídas na legislação».

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balhos da Sociedade Portuguesa para o Es-


tudo Científico da Deficiência Mental. O que
é de recear é que possa vir a ocorrer que
uma parte importante dos alunos com de-
ficiência intelectual (não facilmente visível
«a olho nu», como acontece, de um modo
geral, com as deficiências físicas) acabem
embrulhados no segmento do insucesso,
da desmotivação, da indisciplina, do aban-
dono escolar, e que, transitando para o âm-
bito da formação profissional e o empre-
go, sem as competências supostas pelo
cumprimento da escolaridade obrigatória,
venham a encontrar-se de novo numa situa-
ção em que as suas necessidades específi-
cas permaneçam invisíveis, não atendidas.
Um segundo ponto para chamar a aten-
ção para a questão do ajustamento entre
a certificação escolar dos alunos que não
A meu ver, a aplicação da Convenção na reali- que alcancem pelo menos o patamar seguin- conseguem (em razão, nomeadamente, da
dade nacional, neste âmbito da qualificação te, uma qualificação de nível secundário, to- sua deficiência intelectual) alcançar a tota-
profissional e do emprego das pessoas com dos os alunos com deficiência cujo potencial lidade das competências de saída da esco-
deficiência, implica o envolvimento de qua- de aprendizagem não esteja limitado pelo laridade obrigatória/9.º ano e os requisitos
tro componentes-chave: o Sistema de Ensi- seu estádio de desenvolvimento cognitivo. de habilitação escolar («habilitações literá-
no, a Agência Nacional para a Qualificação, O Decreto-Lei n.º 3/2008 configura um gran- rias») expressos em diversas leis e regula-
o Instituto do Emprego e Formação Profis- de avanço no sentido do atendimento inte- mentos, por exemplo, para a admissão na
sional, I.P. e o sistema de trabalho do apare- grado das pessoas com deficiência nesta função pública, para assinatura de um con-
lho produtivo nacional. Implica, da parte de fase do seu percurso de vida, estabelecen- trato individual de trabalho, para obter uma
cada uma delas, esforços especiais, «me- do a universalidade do direito de acesso de licença, uma carta de condução, etc. (quan-
didas apropriadas incluídas na legislação», todas as crianças e do direito ao reconheci- do se redigem essas leis ou regulamentos
para que a activação dos direitos destes ci- mento da sua singularidade e à oferta de res- pode inadvertidamente pensar-se que só
dadãos possa efectivamente ocorrer. postas educativas adequadas. Não obstante, quem não quer é que não alcança a escola-
a consideração da bondade do diploma não ridade mínima obrigatória...).
Um Sistema de Ensino inclusivo, tem sido pacífica na sociedade portuguesa;
em que os alunos com deficiência assim, e no âmbito que ora aqui nos preo- Uma ANQ – Agência Nacional para a
tenham oportunidade e cupa, suscitaria dois pontos de reflexão. Qualificação – também ela atenta
possibilidade efectiva de se Um primeiro ponto refere-se à questão da às questões da Inclusão dos
qualificarem invisibilidade da «deficiência mental»; a lei activos portadores de deficiência
Para os ensinos Básico e Secundário, o am- prevê, no capítulo V, modalidades específi- O amparo jurídico-normativo é aqui pro-
paro jurídico-normativo dos alunos com de- cas de educação para alunos surdos, para porcionado pelo Despacho n.º 29176/2007
ficiência é fundamentalmente proporciona- alunos cegos e com baixa visão, para alu- dos Ministérios do Trabalho e da Solidarie-
do por um diploma recente, o Decreto-Lei n.º nos com perturbações do espectro do au- dade Social e da Educação. Prevê o acesso
3/2008. Trata-se de um diploma de grande tismo e para alunos com multideficiência de pessoas com deficiência ao RVCC, à edu-
relevância, já que é destes dois patamares e surdo-cegueira congénita, nada referindo cação e formação de adultos, suportados
que saem para a vida adulta e de trabalho a para os alunos com deficiência intelectual. pelos Referenciais de Competências-Cha-
maior parte dos alunos com deficiência. Recorde-se aqui os esforços feitos por mui- ve em vigor, e à correspondente habilitação
Saem no primeiro patamar, com o alicerce de tas pessoas, pelo menos a partir da déca- escolar (n.º 1).
qualificação correspondente à escolaridade da de 1970 até agora, para pôr na agenda, Prevê que não se desperdice o saber adqui-
obrigatória, praticamente a totalidade dos jo- para retirar da invisibilidade, as necessida- rido pelas entidades que têm vindo a traba-
vens com deficiência intelectual ou com de- des educativas especiais das pessoas com lhar com as pessoas com deficiência esta-
ficiência intelectual associada a outras defi- deficiência intelectual – nomeadamente no belecendo que, quando se justifique, haja
ciências («multideficiência») e é desejável quadro do movimento das CERCI e nos tra- Centros Novas Oportunidades operados

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REVISTA FORMAR N.º 65


por «entidades formadoras especializadas necessidades dos diferentes cidadãos, in- a celebração de um contrato individual de
no acolhimento de determinados públicos- cluindo aquelas que decorram da deficiên- trabalho.
-alvo» (n.º 3). cia, também se deve aplicar, naturalmente,
Prevê ainda a possibilidade de sujeitar a à construção dos referenciais de qualifica- Um IEFP, I.P. – um serviço público de
operacionalização do Referencial de Com- ção. Um segundo apontamento relativo à emprego e formação profissional
petências-Chave a adequação a pessoas intervenção dos Centros Novas Oportuni- – que considere, entre os seus
com diferentes tipos de deficiência, através dades e ao RVCC escolar e profissional para públicos prioritários, as pessoas
de um meio designado por «Instrumento sublinhar algumas questões relativas à de- com deficiência e assegure uma
de Referência» (n.º 8). ficiência intelectual. Desde logo, a já referi- efectiva cobertura nacional de
Cuida do processo de avaliação e desen- da tendência para uma menor visibilidade apoio à sua inclusão profissional
volvimento da medida mediante a criação da deficiência intelectual que poderá con- Neste âmbito, o amparo jurídico-normati-
de uma «Comissão de Acompanhamento» duzir a insuficiente especificidade no aten- vo é proporcionado pela própria Lei Orgâ-
em que estão representadas as entidades dimento. Depois, a indispensabilidade de nica e Estatuto do IEFP, I.P. (Decreto-Lei
públicas com maiores responsabilidades um maior recurso a equivalência de sabe- n.º 213/2007 e Portaria 637/2007) que pre-
na matéria: a própria ANQ, que coordena, o res, a equivalência de competências, em vê expressamente o apoio a prestar «à in-
Instituto Nacional para a Reabilitação, a Di- consequência das limitações que o está- serção profissional e à reabilitação profis-
recção-Geral para a Inovação e Desenvolvi- dio de desenvolvimento cognitivo coloca sional das pessoas com deficiência» e pelo
mento Curricular e o Instituto do Emprego e no domínio dos níveis de abstracção e de diploma legal que estabelece o «regime de
da Formação Profissional, I.P. (n.º 14). elaboração mental inerentes a certos con- apoio técnico e financeiro a prestar pelo Ins-
Não esquece a questão da qualificação e ceitos, a certas competências constantes tituto aos promotores dos programas relati-
da certificação profissional que se supor- do Referencial. vos a reabilitação profissional das pessoas
te no Catálogo Nacional das Qualificações Finalmente, a questão, paralela à acima as- deficientes» (Decreto-Lei n.º 247/89).
(n.º 25). sinalada para os jovens à saída da escola- O IEFP, I.P. sempre incluiu na sua missão o
Além da expressão do desejo que à bonda- ridade obrigatória, que é a da certificação apoio à reabilitação profissional e ao em-
de deste amparo normativo corresponda, escolar dos adultos com limitações cogniti- prego das pessoas com deficiência, organi-
no terreno, uma implementação determi- vas que lhes torna impossível corresponde- zando a sua acção em duas vertentes com-
nada, competente e muito diligente, acres- rem à totalidade do perfil de competências plementares:
centaria apenas dois pequenos apontamen- requerido pelo Referencial mas que neces-
tos. Um apontamento relativo ao Catálogo. sitam de vencer o requisito formal da «es- a) O apoio às pessoas com deficiência pres-
O princípio de que se deve avançar para colaridade obrigatória» para acederem a tado directamente pelos seus serviços:
um «design inclusivo» dos edifícios, dos outros direitos inerentes ao funcionamen- Centros de Emprego, Centros de Formação,
equipamentos, dos transportes, dos ser- to da vida quotidiana incluindo, nomeada- Centros de Reabilitação Profissional.
viços, capaz de ter em conta as diferentes mente, a admissão na função pública ou b) O apoio técnico e financeiro proporciona-
do pelo IEFP, I.P. a outras entidades da socie-
dade civil prestadoras de serviços de for-
mação profissional e de apoio ao emprego
de pessoas com deficiência.

A partir de 1986, a sua capacidade de in-


tervenção neste campo foi fortemente re-
forçada pelo acesso aos apoios da Comuni-
dade Europeia, sobretudo através do Fundo
Social Europeu.
Na presente conjuntura de reorganização
do sistema público de emprego e formação
profissional em matéria do atendimento
das pessoas com deficiência, traria à refle-
xão dois ou três apontamentos.
Um primeiro apontamento relativo ao direito
que todas as pessoas com deficiência têm
de aceder aos apoios necessários, à cober-
tura nacional do dispositivo de resposta, à

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articulação das intervenção do IEFP, I.P. e to; mas, a meu ver, temos também de conti- instrumental – adaptações, ajudas técni-
das instituições do sector social. nuar a contar com a intervenção comple- cas... – enquanto na deficiência intelectual
No que se refere à «procura» de serviços: mentar à dos serviços do IEFP, I.P, realiza- as limitações têm a ver com a própria com-
por um lado, temos as pessoas cuja defi- da pelas instituições do sector social, para preensão, a própria capacidade de aprendi-
ciência é de origem genética ou de estabele- resposta a segmentos de necessidades zagem, o patamar de desenvolvimento cog-
cimento precoce, que transitam do sistema cujas características tornam a sua solu- nitivo, o nível de abstracção e o nível de ela-
de ensino, da educação especial; por outro ção em contexto de atendimento integrado boração mental em que a pessoa opera e
lado, temos as pessoas cujas situações de muito complexa para as condições actuais as consequentes dificuldades também no
deficiência vão surgindo já em idade activa; e próximo-futuras de funcionamento dos campo do domínio de determinadas com-
e temos ainda uma outra componente cuja serviços de atendimento comuns. Estou a petências sociais de grande relevo para
dimensão, composição e necessidades são pensar, nomeadamente, em certas modali- um desempenho adequado nos complexos
pouco conhecidas, constituída pelos adul- dades de formação profissional e no apoio contextos da vida profissional (nas empre-
tos activos com deficiência que foram con- a certas modalidades atípicas de emprego sas, no mercado de trabalho).
duzindo a sua vida sem qualquer apoio dos para pessoas com deficiência intelectual No segmento da deficiência intelectual, de
serviços de (re)habilitação. ou com multideficiência. modo geral, o patamar cultural de partida
No que se refere ao dispositivo de resposta: Um segundo apontamento relativo à seg- é o da escolaridade obrigatória (e mesmo
temos, por um lado, o reforço da vertente de mentação metodológica do universo de assim, para muitos sem algumas das com-
prestação de serviços às pessoas com defi- problemas a resolver para que a diferentes petências de saída supostas pelo 9.º ano
ciência pelos próprios Centros de Emprego tipologias de problemas correspondam di- de escolaridade); normalmente transitam
e Centros de Formação Profissional do IEFP, ferentes tipologias de soluções. Desde logo, da educação especial para a área da for-
I.P, numa lógica de atendimento integra- a meu ver, uma segmentação que teria a ver mação profissional e do emprego; as acti-
do; temos, por outro lado, a mobilização de com a deficiência física, por um lado, e a de- vidades profissionais para que podem ser
competências técnicas específicas de ins- ficiência intelectual, por outro. Na deficiên- encaminhados situam-se na faixa inferior
tituições do sector social, numa lógica de cia física, limitações de visão, audição, mo- do universo das qualificações; para muitos,
«Centros de Recursos» de apoio ao aten- bilidade, manualidade, esforço físico, etc., sobretudo quando associada à deficiência
dimento prestado pelos centros do Institu- apontam para soluções de natureza mais intelectual se encontram outras deficiên-

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cias («multideficiência»), o próprio conteú- modo geral, tendem a ser menos exigentes Um sistema nacional de
do do emprego precisa de ser atípico (con- em matéria de capacidades físicas. trabalho e um sistema produtivo
junto de conteúdos de trabalho necessá- Um terceiro apontamento relativo a modali- assumidamente envolvidos na
rios à empresa mas agrupados ad hoc para dades atípicas de exercício do direito ao tra- missão de proporcionarem
poderem constituir um objecto de trabalho balho das pessoas com deficiência. emprego às pessoas com
completo para aquele trabalhador); para No quadro do objectivo de proporcionar a to- deficiência nas comunidades
muitos, o caminho a percorrer é inverso do dos a satisfação do seu direito ao trabalho em que estão inseridos
percurso típico: em vez de se ir da formação não pode ser esquecido um pequeno seg- Estou sinceramente convencido de que o
profissional para o emprego, será neces- mento (pequeno em termos percentuais escasso nível de sucesso que as socieda-
sário encontrar ou «construir», primeiro, mas enorme em termos da importância que des portuguesa, europeia, ocidental, foram
a oportunidade de emprego e depois fazer o exercício desse direito tem para a quali- conseguindo neste campo, ao longo de mais
a habilitação profissional específica para dade de vida desses cidadãos), que é aque- de meio século de importante investimento
o efeito, em grande parte no próprio posto le constituído por pessoas com deficiência em formação e apoios ao emprego das pes-
e contexto real de trabalho. cujas limitações não lhes permitem alcan- soas com deficiência, se ficou essencial-
No segmento da deficiência física, por sua çarem uma situação típica de emprego, ou mente a dever a não termos conseguido que
vez, embora o patamar cultural de partida seja, sem um déficite significativo de rendi- as empresas, os empregadores, compreen-
dominante possa ainda ir sendo, em muitos mento. Para estas situações é preciso pre- dessem, aceitassem e assumissem o papel
casos, o da escolaridade obrigatória, há que ver soluções atípicas de emprego, como é que efectivamente lhes deve caber na solu-
cultivar oportunidades para que possam o caso do «emprego apoiado», exercido nos ção do problema já que, sem ele, o problema
atingir patamares culturais de nível secun- contextos comuns de produção, ou o caso do não tem efectiva solução; e isso não neces-
dário e de nível superior e colocá-los peran- «emprego protegido» exercido em unidades sariamente por via de uma obrigação formal
te a possibilidade de acederem ao exercí- especiais de emprego operadas pelo sector (a antiga questão das «cotas»), mas por via
cio de profissões de níveis mais elevados social, ou ainda o caso de outras modalida- da implementação do moderno conceito de
de qualificação; acresce que estas, de um des de prestação remunerada de trabalho. «responsabilidade social das empresas».
Nesta quarta componente-chave há mui-
to ainda a fazer para que efectivamente
desempenhe o papel que lhe cabe neste
campo. Desde logo, a questão do enquadra-
mento juridico-normativo. Para a resolver
será necessário introduzir e tratar de forma
adequada esta matéria, nomeadamente no
Código do Trabalho, no conceito de «Respon-
sabilidade Social das Empresas» e na Con-
tratação Colectiva. Depois haverá que não
esquecer o contributo específico que deve
caber a cada um dos grandes sectores de ac-
tividade e de emprego: o sector privado, as
empresas, certamente; mas também, como
é óbvio, o sector público, os organismos do
Estado; e ainda, naturalmente, o sector so-
cial; neste caso, não apenas mediante inclu-
são de pessoas com deficiência no emprego
inerente ao funcionamento das suas organi-
zações, mas também na operação de unida-
des especiais de emprego e de outras moda-
lidades atípicas de trabalho remunerado.
Finalmente, um persistente esforço de pro-
moção de uma opinião pública, de uma cul-
tura social e de uma atitude em cada cida-
dão, favoráveis à plena inclusão das pessoas
com deficiência em todos os contextos, no-
meadamente no contexto socioprofissional.

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DOSSIER

ANÁLISEANÁLISE
CRÍTICA
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CRÍTICA

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› Há empresas que investem a sério na formação!


› Pedagogia das competências e mudança de paradigma
da educação-formação

HÁ EMPRESAS QUE INVESTEM A SÉRIO NA


FORMAÇÃO!
As empresas que investem a sério no desenvolvimento profissional das suas equipas não promovem Acções
de Formação. Promovem Projectos. Projectos integrados e continuados, ao longo dos quais os objectivos, a
estrutura e as dinâmicas da acção evoluem e se reinventam sempre que necessário. Sem complexos. Sem preo-
cupação de não estar a cumprir o itinerário pedagógico definido no princípio do projecto. Essas empresas não
estão preocupadas em saber se o itinerário pedagógico foi totalmente respeitado, mas sim se os resultados da
performance estão à vista!

› Ana Teresa Penim


(apenim@inv.pt)
Administradora Delegada
do INV – Instituto de
Negociação e Vendas

Empresas focadas nos resultados, mas também para a fidelização e motiva- Quem investe a sério na formação está
não no processo ção das suas equipas. também mais aberto a novas metodologias
«Lugar comum»: quem faz da formação a «Lugar fora do comum»: essas empresas in- pedagógicas, a novas práticas de promoção
sua vida profissional sabe bem que há em- vestem mesmo quando o mercado não está da aprendizagem e da motivação dos seus
presas que apostam e investem a sério na tão risonho. Elas sabem que é nesses mo- colaboradores. O motivo para essa disponi-
implementação de projectos de qualifica- mentos que uma boa atitude, comportamen- bilidade é simples: essas empresas estão li-
ção e de aprendizagem contínua dos seus tos adequados e competências sólidas mais vres de baias administrativas da organiza-
colaboradores, afectando-lhes recursos fi- contam para marcar a diferença. Para refor- ção da formação rigorosamente impostas,
nanceiros, físicos e humanos próprios mui- çar a competitividade e para conseguir en- nomeadamente nos planos de formação co-
to significativos. Essas empresas acredi- frentar novos mercados. Criar novos oceanos -financiados. Elas só têm uma preocupação:
tam que a formação é um caminho incon- que lhes permitam navegar mais à vontade, ver resultados! Para tal, investem muito na
tornável não só para a sua performance, em rotas distintas das da sua concorrência. preparação. Numa preparação a sério!

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ANÁLISE CRÍTICA

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Não, não se trata daquele tipo de preparação organização dinâmica. Em várias histórias em saber se o itinerário pedagógico foi to-
tradicional da formação, a qual passa geral- de vida absolutamente distintas e em evo- talmente respeitado, mas sim se os resulta-
mente por exigir ao formador planos de ses- lução constante. Objectivos que são forne- dos da performance estão à vista!
são muito bem detalhados (sabem, do tipo cidos pela organização e não pelo formador. As empresas que investem a sério na pro-
daqueles planos tradicionalmente certinhos Objectivos que dão origem a itinerários e moção de atitudes e competências dos seus
que ainda muitos cursos de formação pe- estratégias totalmente customizados à rea- colaboradores não contratam formadores.
dagógica de formadores continuam a apre- lidade da empresa. Objectivos que, além Contratam especialistas. Pessoas com per-
goar!). Já tive reuniões com algumas pes- disso, não podem ser iguais para todo um cursos de vida ricos e diversificados. Pes-
soas (clientes que pretendiam a colaboração grupo heterogéneo de participantes. Todos soas com mundo. Pessoas com brilho nos
do Instituto de Negociação e Vendas-INV) sabemos que as pessoas são diferentes. olhos! Pessoas que sabem fazer os partici-
que só sabiam trabalhar nesse paradigma. Para conseguirmos apoiar a progressão pantes vibrarem e quererem aprender. Pes-
É desesperante! O mais curioso, ou o mais soas que sabem surpreender. Pessoas que
dramático, é que muitas dessas pessoas sabem perguntar, em vez de afirmar. Pes-
são jovens licenciados em recursos hu- soas que sabem escutar, em vez de fa-
manos. Isto quer dizer que muitos cursos lar. Pessoas que
estão ainda a preparar futuros directo-
res de Recursos Humanos ou técnicos
de Formação numa lógica
perfeitamente ex-

temporânea e desenquadrada sabem enqua-


das estratégias que promovem drar, exemplificar, fomentar o de-
performances de sucesso. Ainda bate, desafiar para a acção e rema-
encontramos muita gente centrada no tar a reflexão com valor acrescentado.
ensino e nos inputs, não na aprendizagem e Pessoas que se sentem bem e com compe-
nos seus outputs. Pessoas que não enten- é preciso entendermos e «alcançarmos» tências pedagógicas para intervirem com
dem como é que um formador pode, e deve, o ponto onde elas estão. E partir daí. Mas, eficácia em contextos formativos on-job, in-
dinamizar as sessões a partir da interven- mais uma vez, não é necessário partir de -office, in-store, in-factory, on-road, on-line,
ção dos participantes e não daquilo que ele forma prévia e absolutamente sistemati- ou seja, no «terreno das operações» e não
próprio «tem para transmitir». zada. só numa tradicional sala de formação.
Pois é, as empresas que investem a sério As empresas que investem a sério no de- As empresas que investem a sério na sus-
na formação e na sua preparação estão so- senvolvimento profissional das suas equi- tentabilidade das competências dos seus
bretudo focadas nos resultados e na pro- pas não promovem Acções de Formação. colaboradores não contratam só especialis-
moção da evolução das suas pessoas. Para Promovem Projectos. Projectos integrados tas externos. Promovem também uma rede
tal, é preciso definirem-se objectivos! Não, e continuados, ao longo dos quais os objec- de aprendizagem a 360º no seio da organi-
também não me estou a referir aos objec- tivos, a estrutura e as dinâmicas da acção zação. Isto significa que todas as pessoas e
tivos fechados que tradicionalmente se evoluem e se reinventam sempre que ne- momentos podem ser encarados como im-
aprendem a definir nas acções de formação cessário. Sem complexos. Sem preocupa- portantes fontes de aprendizagem para to-
pedagógica de formadores. Estou a falar de ção de não estar a cumprir o itinerário pe- dos. Essas empresas sabem também que
objectivos de performance, enquadrados dagógico definido no princípio do projecto. as chefias precisam de passar de um para-
num contexto de mercado dinâmico. Numa Essas empresas não estão preocupadas digma de chefia-formadora a um paradigma

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REVISTA FORMAR N.º 65 ANÁLISE CRÍTICA

de líder-coach. Coaching não é formação! gramas de co-financiamento, não tan-


Coaching permite ir mais longe, promoven- to porque eles correspondam a neces-
do a auto-responsabilização e a autonomia. sidades reais do mercado mas porque
É verdade, há vinte e tal anos que contac- têm a ver com as competências que as
to profissionalmente com este magnífico entidades reúnem e que consequente-
campo profissional que é a formação e, fre- mente conseguem monitorar.
quentemente, dou comigo a rogar pragas às   ›› Indivíduos que frequentam acções de
empresas que não investem a sério em for- formação em áreas para as quais não
mação. E o mais curioso é que são essas estão minimamente vocacionados
que mais recorrem ou que só promovem e que nem sabem «o que fazer com
formação quando a mesma é co-financiada. elas».
O historial do sistema de co-financiamentos   ›› Empresas que promovem acções
da formação em Portugal tem sido compli- de formação apenas para
cado para a performance do nosso país. cumprirem as obrigações le-
Se, por um lado, a entrada de Portugal na gais previstas pelo Código
União Europeia permitiu a Portugal bene- do Trabalho.
ficiar de um conjunto alargado de apoios,   ›› Associações que inflacio-
sem os quais certamente não teria levado nam estudos e planos for-
por diante muitos dos projectos formativos mativos mais para sus-
e educativos úteis ao seu desenvolvimento, tentarem as estrutu-
por outro lado, todos sabemos que esses ras que criaram do
apoios geraram também uma multidão de que para respon-
subsídio-dependentes – indivíduos, empre- der a necessi-
sas privadas, associações, entidades públi- dades dos seus
cas, nomeadamente: associados, os
quais frequentemente
  ›› Entidades que concebem planos de sabem que terão que an-
formação e que os submetem a pro- dar a «pescar» para conse-
guirem «encher» os cursos de forma-
ção gratuita!
  ›› Entidades mais focadas no input que
recebem do que nos outputs que pro-
duzem.

Enfim, sejamos optimistas e acreditemos


que os programas que suportam os co-fi-
nanciamentos vão ser capazes de se rein-
ventar de modo a acolherem no seu seio
projectos dinâmicos, únicos, não estereo-
tipados e evolutivos na sua estruturação e
na sua prática: programas europeus, nacio-
nais, empresariais focados em apoiar quem
quer investir a sério nos resultados!

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DOSSIER
ANÁLISE CRÍTICA

› Há empresas que investem a sério na formação!

REVISTA FORMAR N.º 65


› Pedagogia das competências e mudança de paradigma da educação-formação

Pedagogia das competências e mudança


de paradigma da educação-formação
A identificação de qualificações baseadas em competências constitui uma ruptura em relação aos anteriores sis-
temas de qualificação. Os modelos baseados em competências são mais flexíveis e mais facilmente actualizados.
O principal objectivo deste artigo é o de apresentar um modelo pedagógico por competências que decorre, na-
turalmente, do modelo de qualificações por competências, que tem sido integrado em muitas organizações es-
colares e formativas, um pouco por todo o Mundo, do básico ao universitário, geral e equivalente, e que tem sido
matéria de reflexão e investigação também um pouco por todo o Mundo

› Filomena Faustino
Consultora-coordenadora da Quaternaire Portugal
› Leonor Rocha
Consultora da Nova-Etapa
› Margarida Ferreira dos Santos
Consultora independente

1. Contextualização que 85% das pessoas com 22 anos tenham os perfis de competências identificados
1.1. A abordagem das competências completado o nível secundário. O Governo como relevantes para o tecido produtivo e
na agenda da reforma da formação define, também para 2010, que as vias pro- os respectivos referenciais de formação.
profissional fissionalizantes representem 50% da oferta A identificação de qualificações baseadas
A agenda de reforma para a formação pro- de nível secundário, o que permitirá a Por- em competências constitui uma ruptura
fissional, doravante Agenda RFP, impõe al- tugal deixar de ser, nos países da OCDE, o em relação aos anteriores sistemas de qua-
terações profundas na área da formação país com o valor mais baixo de jovens in- lificação. Os modelos baseados em compe-
profissional centradas em cinco linhas seridos e a concluírem o nível secundário tências são mais flexíveis e mais facilmen-
fundamentais: estruturação da oferta com através desta via. te actualizados. Por outro lado, exigem (ou
critérios de relevância e de certificação, O seu principal instrumento de generaliza- têm sido acompanhados de) modalidades
reforma das instituições e regulação da for- ção do nível secundário como qualificação de organização da formação e de ensino/
mação (prioridades e modelos de financia- mínima da população é a Iniciativa Novas formação-aprendizagem diferentes do mo-
mento), promoção da qualidade da forma- Oportunidades, através dos Centros de No- delo predominante, centrados na transmis-
ção e facilitação do acesso. vas Oportunidades (CNO), que assumem são e aquisição de conhecimentos. A Agen-
Estas linhas aparecem num contexto de ne- um papel relevante no processo de reco- da da RFP faz referência à necessidade de
cessidade de superação dos défices estru- nhecimento, validação e certificação de adopção de modalidades de organização da
turais de qualificação, como condição es- competências, na diversificação das ofertas formação adequadas ao envolvimento dos
sencial para o desenvolvimento económico de educação e formação. Outro instrumen- trabalhadores de pequenas e médias em-
e social de Portugal. O patamar de qualifica- to de gestão estratégica das qualificações presas, nomeadamente a programas de for-
ção colocado pelo Governo português situa- de nível não superior é o Catálogo Nacio- mação-consultoria.
-se no nível secundário, à imagem da estru- nal de Qualificações (CNQ), que integra as Apesar do alinhamento do CNQ com as re-
tura de habilitações da população de países qualificações baseadas em competências, comendações europeias, nomeadamente
com melhores índices de desenvolvimento possibilita uma melhor adequação das res- com o European Qualifications Framework
e coerente com a meta estabelecida pela postas formativas às necessidades das em- e com as experiências de países mais de-
União Europeia, que estabelece para 2010 presas (Decreto-Lei n.º 396/2006), integra senvolvidos, não se identificam linhas de

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REVISTA FORMAR N.º 65 ANÁLISE CRÍTICA

orientação, nesta Agenda, relativamente a é um conceito polissémico e até há quem Relativamente ao confronto entre com-
modelos pedagógicos baseados nas com- diga que a competência é «um camaleão petência e qualificação, há autores que
petências, como seria de esperar, uma vez conceptual», o que se compreende porque defendem que o primeiro aparece em subs-
que se tem vindo a afirmar um modelo de este conceito é quase sempre confrontado tituição do segundo, como também há au-
produção de qualificações baseado em com o conceito de qualificação, também ele tores que defendem que existe um «deslo-
competências, e por conseguinte focaliza- classificado da mesma forma. camento conceptual» da qualificação para
do em resultados, e por outro lado, uma vez
que se tem o objectivo de intensificar a pro- Aprender, fazendo, o que Relação entre saberes
não se sabe fazer e sua utilização
cura de formação através da organização
modular dos percursos de formação, bem Função – destreza cognitiva
Philippe Meirieu Philippe Perrenoud Mobilizar os conhecimentos na situação

como ainda se preconiza a adequação da Sistema fixo de princípios geradores


oferta de formação às necessidades dos Comportamento –
Bernard Rey COMPETÊNCIAS Chomsky
saber fazer, resposta a uma situação
empregadores. Adaptação a toda situação
Acções ordenadas, objectivos definidos
Apesar do reforço dos mecanismos de vinculados a utilidade Guy Le Boterf Jean-Marie De Ketele

acompanhamento associado ao sistema de Resolver um conjunto de situações-problema


qualidade da formação, do reforço da quali- e não simples aplicações
Saberes mobilizáveis Ligados à acção
ficação dos formadores e da modularização Capacidade de mobilizar um conjunto de saberes,
de saberes-fazer, e de saber-ser
e flexibilização dos percursos de formação, Utilizar para resolver
situações-problema
permitido pela organização modular, pare-
ce-nos que a Agenda da RFP deveria inte-
Adaptado de: «Organização Curricular por Competência no Ensino Superior», Ribeiro, A. 2006
grar um conjunto de orientações ao nível
da organização curricular e do modelo pe-
dagógico por competências. Neste sentido, O conceito mais consensual parece ser o a competência, embora a primeira tese pa-
no quadro deste artigo parece-nos relevan- defendido por Le Boterf e outros, que pre- reça ganhar mais adeptos. Este confron-
te apresentar aqui esse modelo pedagógi- coniza a ideia de algo (recursos internos e to, contudo, não tem sido um obstáculo
co, que decorre, naturalmente, do mode- externos) que é mobilizado perante uma si- para que a competência esteja no centro
lo de qualificações por competências, cujo tuação-problema ou uma acção que se de- do ordenamento quer das relações educa-
modelo tem sido integrado em muitas orga- senvolve. Daí o autor falar em «agir com tivas-formativas, quer das relações de tra-
nizações escolares e formativas, um pou- competência», o que significa que a com- balho, quer ainda na organização dos sis-
co por todo o Mundo, do básico ao univer- petência não existe em si própria. A mobi- temas nacionais de qualificação, cujos
sitário, geral e equivalente, e que tem sido lização, segundo o autor, implica uma com- modelos mais inspiradores são o britâni-
matéria de reflexão e investigação também binação de vários recursos após a análise co, o australiano e o neozelandês. Mais
um pouco por todo o Mundo. da situação a resolver, como se ilustra na recentemente, resultado do Processo de
figura seguinte, em que se indicam as três Bolonha, evoca-se a centragem no desen-
1.2. A noção de competência: dimensões das competências segundo Le volvimento de competências em detrimen-
um conceito polissémico e que Boterf. to da transmissão de conhecimentos, o que
substitui, tendencialmente,
o conceito de qualificação Reflexão crítica
As novas exigências colocadas às organiza-
ções e aos indivíduos, pelo movimento per-
manente de mudança em que vivemos, têm Análise das
actividades
vindo a impor novos processos produtivos Conhecimentos
e novas formas organização do trabalho. A dos seus recursos
internos
tese de que dominar saberes e saberes-fa- Actividades
zer já não é sinónimo de ser competente profissionais
ganha terreno neste contexto de mudança
contínua. A noção de competência tem sido Recursos
alvo de reflexão de diversos autores das disponíveis
ciências sociais, humanas e cognitivas
desde a década de 1970 e tem dado ori-
Combinação/
gem à existência de diversos significados Mobilização
(cf. fig.), daí dizer-se que a competência

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ANÁLISE CRÍTICA

REVISTA FORMAR N.º 65


tem vindo a criar uma dinâmica, nas insti- Esta abordagem centra o ponto de parti- As questões de base orientadoras para o
tuições de ensino superior, de reorganiza- da para a organização e compreensão das processo são as seguintes: que competên-
ção curricular na lógica de competências, possibilidades de cada situação de ensino cias se pretendem desenvolver por parte
iniciada experimentalmente pelo conheci- e aprendizagem na identificação de situa- dos indivíduos? Quais os resultados a atin-
do Projecto Tuning Educational Structures ções-problema, consubstanciadas em pro- gir em termos de desempenho? Que conhe-
in Europe. jectos de trabalho que são colocados aos cimentos devem ser aplicados? Que capaci-
aprendentes/participantes para resolver. dades e aptidões deverá o profissional do-
2. A pedagogia das competências Estes, para os resolverem, podem e devem minar? Que atitudes deverá ser capaz de
e as suas implicações recorrer às disciplinas ou saberes, aos re- demonstrar e exibir? Partindo das Unidades
Este modelo encontra a sua expressão ini- cursos externos e ao seu próprio patrimó- de Competência (UC) identificadas, etapa
cial no ensino técnico e profissionalizante, nio experiencial. Esta situação faz com que prévia deste processo, através de metodolo-
no qual não existe a pressão da tradição o desempenho assuma um lugar central na gias próprias estabelecem-se os conteúdos
centrada na transmissão de um património pedagogia das competências e esse é en- formativos, definindo os conhecimentos re-
cultural a partir, segundo alguns autores, tendido como a possibilidade do indivíduo queridos para o desempenho competente
dos anos 80, cujas origens estão no movi- enfrentar e resolver situações concretas, definidos nas UC, os problemas que permi-
mento americano, dos anos 60, da pedago- mobilizando os recursos de que dispõe. tem desenvolver as competências e os de-
gia baseada no desempenho ou pedagogia Centrar as situações de ensino e aprendi- mais subprodutos explicitados no esquema.
de domínio. zagem na resolução de problemas e no de-
A pedagogia das competências parte do sempenho, como ponto de convergência de Que desafios para os docentes/
princípio que as competências são aqui- vários elementos relevantes perante uma formadores e os aprendentes/
sições, aprendizagens construídas, como situação, requer modificar não só o tipo participantes na pedagogia das
também que para o mesmo desempenho de desenho curricular, partindo da iden- competências?
podem ser mobilizadas competências di- tificação do referencial de competências, Quer para uns quer para outros, trata-se
ferentes. «Em síntese, em vez de partir de mas também alterar as práticas de ensino- sem dúvida da representação de novos pa-
um corpo de conteúdos disciplinares exis- -aprendizagem e de avaliação. péis que rompem com o paradigma do mo-
tente, com base no qual se efectuam es- delo baseado em disciplinas. Dos docentes/
colhas para cobrir os conhecimentos mais Que metodologia para o desenho formadores e dos aprendentes/participan-
importantes, parte-se das situações con- curricular por competências? tes esperam-se novas atitudes, sendo que
cretas, recorrendo-se às disciplinas na me- As normas de competências são a base e dos primeiros são expectáveis novas prá-
dida das necessidades requeridas por es- o fundamento para a concepção de currí- ticas pedagógicas capazes de desafiar os
sas situações» (Ramos, 2001). culos de formação por competências. O es- aprendentes/participantes a tomarem ati-
quema seguinte mostra-nos as suas princi- tudes crítico-reflexivas diante das circuns-
O que é a pedagogia por pais etapas metodológicas. tâncias ou situações-problema que lhes
competências?
A lógica das competências tende a dar im-
portância às diferenças e particularidades
individuais e centrar-se em palavras-chave Interpretar referencial de
Definir estrutura modular Determinar Unidades de Construir tabela de
competências e definir
como «individualização do ensino», «au- perfil de saída
(transversais e específicas) Aprendizagem (UA) saberes para cada UA

tonomia do indivíduo» e «pedagogia di-


ferenciada». Está ainda associada a três
Seleccionar estratégias de
fundamentos, a saber: (i) processo centra- Definir objectivos de
Definir modalidades ensino-aprendizagem Especificar conteúdos
aprendizagem para cada
do mais na aprendizagem do que no ensi- UA
formativas centradas na resolução de
problemas
temáticos por UA

no, (ii) valorização do aprendente/partici-


pante como sujeito da aprendizagem e (iii)
construção significativa do conhecimento. Definir critérios de
avaliação e evidências de
Seleccionar e conceber Definir e conceber recursos Definir perfil do
instrumentos de avaliação pedagógicos docente/formador
Segundo esta lógica, o processo educativo desempenho

tem que se preocupar com a transferência,


efectiva e contínua, das aquisições cogni-
tivas para contextos diferentes daqueles Currículo organizado
Validação técnica e metodológica por competências
em que foram adquiridas, situação não ga-
rantida pelo ensino centrado na transmis-
são e aquisição de conhecimentos. Fonte: Construído a partir da metodologia descrita pelo CINTERFOR/OIT.

35
REVISTA FORMAR N.º 65 ANÁLISE CRÍTICA

são colocados e, por conseguinte, a apli-


Abordagem tradicional baseada na instrução Abordagem baseada na aprendizagem
cação de novas práticas avaliativas. O do-
Fins
cente/formador deverá assumir um papel
de desafiador e de facilitador, em detrimen- › Veicular instruções › Produzir aprendizagens

to do transmissor de conhecimentos, pro- › Oferecer programa de formação › Criar ambientes de aprendizagem


curando despertar no sujeito aprendente › Rendimento a curto prazo › Autonomia, criatividade, adaptação constante
atitudes de autonomia de aprendizagem e Pedagogia/método de aprendizagem
aprendizagem autónoma. › Orientada para o instrutor › Orientada para o aluno
É lógico que estas mudanças devam ser
› Transmissão de conhecimentos pelo instrutor › Construção dos conhecimentos pelo aluno
acompanhadas de uma mudança na orga-
› Lugares de difusão limitados › Lugares de difusão múltiplos
nização e funcionamento escolar ou forma-
› Formação acessível em horários fixos › Intemporalidade – conteúdos acessíveis em qualquer
tiva, de modo a receber este novo paradig- momento
ma de ensino-aprendizagem e adaptar-se
› Standard: mesmo ritmo para todos › Individualizado: adaptado ao ritmo de cada um
para contribuir para a sua eficácia. É tam-
› Linear e cumulativa › Interactiva
bém expectável que, através da apropria-
› Avaliação no fim da formação › Avaliação ao longo de todo o processo de aprendizagem
ção da noção de competência pelas insti-
tuições de ensino-formação, estas sejam › Competitiva e individualista › Facilitar a aprendizagem e a autonomia

capaz de promover o encontro entre forma- Papel do docente/formador


ção e o emprego através da criação de con- › Orador: controla o processo de aprendizagem › Acompanhador: orienta o processo de aprendizagem
dições mais favoráveis de empregabilidade › Detentor e transmissor do saber › Facilitar a aprendizagem e a autonomia
aos aprendentes/participantes. Papel do aluno/participante
› Passivo, aceitação › Activo, confronta e questiona
3. Conhecimentos versus
Competências Fonte: Cabugueira, Artur Carlos Crespo Martins in «A nova economia e educação»,
A organização e o desenvolvimento curricular Revista Gestão e Desenvolvimento, 10 (2001), 305-318.
por competências tem sido, frequentemen-
te, confrontado com críticas e com exercícios Para concluir, socorremo-nos da seguinte cias da saúde, embora emergindo um efei-
de comparação entre o modelo organizado afirmação: «A pedagogia das competên- to de mais larga escala, nomeadamente em
por saberes ou por disciplinas e o modelo cias é, na contemporaneidade, a pedagogia consequência do Processo de Bolonha na
pedagógico por competências. Chamemos a da Sociedade do Conhecimento, da Socieda- União Europeia, de emergência de um novo
atenção para aquela que nos parece ser a crí- de Pós-Industrial ou da Sociedade Pós-Mo- paradigma de educação e formação. E, de
tica que assume um lugar central, que é a se- derna» (Ramos, 2001) que, em nosso en- resto, acrescentamos que é uma pena que
guinte: «Os saberes não têm lugar num cur- tender, dá força à tese, ainda que de forma o sistema de formação, nomeadamente no
rículo orientado para o desenvolvimento de restrita, focalizada em alguns casos, asso- nosso país, não esteja atento a esta reali-
competências.» Perrenoud (2003), um dos ciada particularmente ao ensino das ciên- dade.
grandes especialistas na matéria, responde
que «não existe competência sem saberes,
são ingredientes indispensáveis da compe- Bibliografia
tência [...]. A competência é uma mais-valia Catalano, A., Cols, S., Sladogna, M., Desenho curricular basado em normas de competencia laboral, OIT/Cinter-
for, 2004.
acrescentada aos saberes: a capacidade de
Faustino, F., Rocha, L., Ferreira dos Santos, Margarida, «Uma proposta metodológica para a construção de re-
a utilizar para resolver problemas, construir ferenciais de competências – contributos para a consolidação de um roteiro de aplicações a partir do referen-
estratégias, tomar decisões, actuar no senti- cial de competências», Revista Sociedade e Trabalho, 34, Ed. Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social,
do vasto da expressão». 2008.
Críticas à parte, centremo-nos na diferen- Le Boterf, Guy, De la competence: Essai sur un attracteur étrange, Paris, Editions d’Organisation, 1995.
ça entre o modelo tradicional, vigente na Perrenoud, Ph, Construire des competences dès L’école, Paris, ESF, 1999.
Perrenoud, Ph, «Porquê construir competências a partir da escola», Cadernos da Autonomia e Luta contra as
maioria das organizações escolares e for-
Desigualdades, n.º 28, CRIAPASA, ASA Editores, S.A, Abril de 2003.
mativas, que privilegia a instrução, onde fa- Ramos, Marise Nogueira, A Pedagogia de Competências: Autonomia ou Adaptação?, São Paulo, Cortez Edito-
cilmente se reconhece o modelo baseado ra, 2001.
em conhecimentos disciplinares, e o mo- RIBEIRO, A., Organização Curricular por Competências no Ensino Superior, Braga, Universidade do Minho,
delo baseado na aprendizagem, onde se re- 2006.
Vargas Zúñiga, F., Evaluation based on competency standards. A pillar in training management and human re-
conhece o modelo pedagógico baseado por
sources development, OIT/Cinterfor, 2004.
competências.

36
DOSSIER

ACTUAIS

REVISTA FORMAR N.º 65


› Educação para o empreendedorismo
› O ambiente competitivo dos mercados e o esforço em formação

Educação para o empreendedorismo


› Carlos Ribeiro
Presidente da ANOP

Nos últimos tempos as abordagens ao em- ção do Norte (Ministério da Educação)


preendedorismo, nos discursos e nos me- cujo director-adjunto, António Leite, em en-
dia, tenderam para uma clara demarcação trevista valorizou os resultados até agora
com as eternas lamúrias da última década obtidos, e destaque também
sobre o suposto défice de espírito empre- para o envolvimento da-
endedor dos Portugueses. As referências quele organismo re-
públicas são mais objectivas porque basea- gional num projec-
das em experiências concretas e preconiza- to europeu que po-
-se um papel decisivo da escola na forma- de ter repercussões
ção de novos empreendedores para que da maior importân-
melhore a acção empreendedora no país. cia nas acções de
Esta evolução tem facilitado a implementa- empreendedorismo
ção de programas nas escolas e nas univer- educacional que as
sidades que têm surgido quer por iniciati- escolas portuguesas
va central, quer por promoção dos próprios poderão vir a concre-
estabelecimentos de ensino, muitas vezes tizar no futuro.
apoiados em parcerias locais.
Das experiências mais recentes no domínio
do chamado Empreendedorismo Educacio-
nal há a destacar a actividade desenvolvida
nas escolas na Região Norte do país com o
apoio da DREN Direcção Regional da Educa-

37
REVISTA FORMAR N.º 65 ACTUAIS

Empreendedorismo Educacional

No Norte do país surgiram nos últimos tem- público que garantem. Neste momento, não e professores responsáveis, a
pos vários projectos nas escolas da região há uma única escola que não esteja em vá- nível de escola, foi também contem-
com a finalidade de promover o espírito em- rios programas e projectos de melhoria da plada no edital, tendo-se realizado se-
preendedor junto dos alunos e envolver a qualidade da educação. Temos que admitir minários e reuniões de formação e sensi-
comunidade escolar em acções com uma que o caminho percorrido por uma escola bilização ao longo do ano lectivo.
maior interactividade com o meio empre- não é necessariamente o mesmo que outra
sarial. A DREN – Direcção Regional de Edu- prossegue, mesmo que o objectivo final seja
cação do Norte tem incentivado as equipas o mesmo. A adesão a este programa tem C. R.: Quais são os resultados mais signi-
pedagógicas e as estruturas directivas nes- sido muito significativa e pude já observar o ficativos destes projectos de empreende-
se sentido e tem ainda criado as condições entusiasmo com que professores, órgãos de dorismo educacional? Tem sido possível
necessárias para que os projectos avancem gestão e, naturalmente, alunos se envolvem envolver entidades e pessoas exteriores à
com alguns apoios. nestas actividades. Não me parece, assim, comunidade educativa?
O director regional adjunto, António Leite, que a questão se possa colocar nos termos
clarificou o âmbito desses projectos e desta- que a pergunta apresenta, pois as escolas e A. L.: Uma das características emblemáti-
cou os seus resultados mais significativos: os seus profissionais têm vindo a demons- cas do Projecto Nacional Educação para o
trar que estão disponíveis para as grandes Empreendedorismo (PNEE) é a instituição
Carlos Ribeiro: Há anos que ouvimos mudanças (cursos de educação-formação, de parceiras entre os sectores público e
discursos sobre a importância decisiva e cursos profissionais, escola a tempo intei- privado, nomeadamente entre os estabele-
estratégica da educação para o empreen- ro, etc.). Não se trata, portanto, de conser- cimentos de ensino, as empresas e a comu-
dedorismo. No entanto, só recentemente vadorismo ou de passividade. Por outro lado, nidade. O trabalho de colaboração estabe-
começaram a surgir acções concretas nas a alegada falta de meios ou condições para lecido entre a comunidade local e a escola
escolas. A que se deve esta mudança re- concretizar este tipo de projecto não tem im- tem sido a chave do sucesso para a forma-
cente de atitude? pedido escolas que estão longe dos grandes ção dos alunos, revelando-se crucial para
centros urbanos ou dos pólos de produção a apropriação social do espírito empreen-
António Leite: A Educação tem vido a so- cultural, nas quais ocorre alguma instabili- dedor junto das escolas. Pretende-se, com
frer ao longo dos últimos três anos uma dade do corpo docente que não apresentam, este projecto, promover iniciativas que aju-
profunda mudança que procura centrar as ainda, as condições físicas ideais, dizia eu, dem a criar uma cultura de utilização e pro-
políticas educativas na escola e a activida- que tal não as tem impedido de participar. moção do espírito empreendedor nas esco-
de desta na constante construção do su- A explicação está, parece-me, na opção que las, favorecedora do desenvolvimento das
cesso educativo de todos e de cada um dos cada escola faz e, repito, no caminho que es- competências dos alunos, da qualidade das
alunos. Neste contexto, têm sido desenvol- colheu percorrer e fazer. aprendizagens e do sucesso escolar.
vidos projectos, medidas, programas e ini-
ciativas que procuram aprofundar a iden-
tificação dos alunos com a sua escola e C. R.: Como foi resolvida a questão da pre- C. R.: Que planos existem para a expansão
tendem a aumentar a auto-estima e a capa- paração dos professores para estas novas deste tipo de projectos nas escolas da re-
cidade realizadora de cada criança e jovem. funções e tarefas? gião norte do país?
O projecto do Empreendedorismo responde
a todas estas estratégias e abre caminho a A. L.: Não obstante o envolvimento da comu- A. L.: O Projecto Nacional Educação para o
um maior sucesso educativo e uma maior nidade educativa, cabe aos profissionais da Empreendedorismo foi concebido, numa pri-
abertura da escola e dos alunos ao contex- educação, ou agentes educativos, comum- meira fase, para ter a duração de três anos
to em que se inserem, sem nunca perder de mente falando, incentivarem o empreende- escolares, pelo que a sua continuidade esta-
vista qual é o papel e objectivo da escola. dorismo dos alunos valorizando o esforço, rá assegurada até ao término do ano escolar
analisando as suas propostas de projectos 2009-10 em moldes a definir em tempo opor-
de investigação/acção, propondo e/ou acei- tuno.
C. R.: Verificamos que em algumas escolas tando metodologias de trabalho que permi- Uma medida já contemplada pelo ME é a inclu-
existe entusiasmo e até criatividade em tor- tam a realização dos seus projectos numa são da temática da Educação para o Empreen-
no deste novo desafio. Mas trata-se ainda perspectiva de aprender fazendo, cometen- dedorismo nas áreas curriculares não disci-
de uma minoria. A maioria das escolas não do e aprendendo com os erros. É também da plinares, nomeadamente a Formação Cívica e
avança por razões de «atitude conserva- responsabilidade dos docentes a integração a Área de Projecto, orientações já consagradas
dora», por «passividade» ou por falta de das aprendizagens curriculares e dos pro- no Despacho 19308/2008, de 21 de Julho.
meios e de condições para concretizar este gramas das áreas disciplinares nos objecti- Gostava ainda de salientar que o desenvol-
tipo de projectos? vos e processos de trabalho que os alunos vimento de projectos de Educação para o
desenvolverão no âmbito da execução dos Empreendedorismo será capaz de criar nas
A. L.: As escolas são realidades muito dife- seus projectos de investigação/acção. escolas a vontade e a capacidade de autono-
rentes umas das outras, mas todas se cen- A formação e a sensibilização dos agen- mamente realizarem novos projectos e de
tram, cada vez mais, na melhoria da sua tes educativos, nomeadamente os órgãos avançarem para novas etapas. Contamos
actividade e no aprofundamento do serviço de gestão e os coordenadores de projecto com isso pois confiamos nas nossas escolas.

38
ACTUAIS

REVISTA FORMAR N.º 65


WANT2B – um projecto transnacional sobre empreendedorismo

De acordo com Luísa Orvalho, o projec-   ›› identificar os desafios, os benefícios e


to Want2B é um projecto multilateral para as recomendações para a utilização da
a transferência de inovação desenvolvi- formação em contextos diversificados
do pela Direcção Regional de Educação do e multiculturais, usando os ambientes
Norte, no âmbito do Programa Europeu LEO- virtuais de aprendizagem colaborativa
NARDO DA VINCI, Acção LIFELONG LEARNING em rede e a construção de materiais
PROGRAMME, em parceria transnacional com recursos a tecnologias digitais in-
com nove países (Noruega, Dinamarca, Sué- teractivas;
cia, Reino Unido, Bélgica, Grécia, República   ›› usar como ferramenta comunicacional
Checa, Letónia e Portugal), que envolve Uni- para o desenvolvimento do projecto o
versidades, Ministérios da Educação, Muni- website www.want2b.eu recorrendo às
cípios, Escolas e Centros de Formação e de boas práticas desenvolvidas pelos paí-
Educação de Adultos. O Koge Business Col- ses da parceria, ao longo de vários anos
lege, da Dinamarca, é o parceiro contratante de estreita cooperação, de geometria
e coordenador. variável, no desenvolvimento de outros
projectos.
Finalidade e Objectivos
Disseminar e transferir boas práticas, mé- Impactos previsíveis
todos, ferramentas, resultados e experiên- Espera-se com este projecto contribuir para
cias-chave na formação e aprendizagem de a compreensão da diversidade e inclusão
uma cultura empreendedora, tanto a nível no mercado de trabalho global, através da
individual como das organizações, poten- integração das perspectivas e das dinâ-
ciando os recursos oferecidos pelas actuais micas regionais dos diferentes parceiros,
ferramentas da Web, nomeadamente a flexi- enriquecendo deste modo as experiências
bilidade dos sistemas de formação em blen- sobre esta temática já em curso nos diferen-
ded learning (b-learning), é a finalidade des- tes países e também em Portugal e, assim,
te projecto. contribuir para o objectivo estratégico para
2010, estabelecido pela Estratégia de Lis-
Os objectivos específicos deste projecto boa, da Europa «tornar-se a economia do
são: conhecimento mais dinâmica e competiti-
  ›› discutir e definir os conceitos de entre- va do Mundo, capaz de garantir um cresci-
preneurship e intrapreneurship; mento económico sustentável, com mais e
  ›› conceber e construir um Entrepreneu- melhores empregos, e com maior coesão
rial Learning Menu transnacional sobre social».
o que deve ser a aprendizagem do em-
preendedorismo no século xxi; 2009 – Ano Europeu para a Criatividade
  ›› identificar os módulos e as competên- e a Inovação através da Educação e
cias interpessoais, sociais e culturais, Cultura
associadas às competências de em- Em 2009 comemora-se o ano Europeu para
preendedorismo, de criatividade e ino- a Criatividade e a Inovação através da Edu-
vação; cação e Cultura, por esse motivo a DREN
  ›› explorar as metodologias e as boas escolheu acolher o terceiro encontro trans-
práticas implementadas nas diferen- nacional da parceria, que terá lugar em Por-
tes instituições em contexto escolar, tugal, nos dias 23 e 24 de Abril de 2009, na Referência Webgráfica
empresarial e de formação ao longo cidade de Peso da Régua, no coração do
da vida, a utilização de programas so- Douro vinhateiro, envolvendo como parce- http://www.sthelens.ac.uk/want2learn/
bre business games, business ideas e rias nacionais a autarquia, as escolas, as links.asp
histórias de sucesso de empreendedo- empresas da região e ainda a Estrutura de www.wel-com-e.eu
res/as; Missão do Douro. www.khs.dk/eiem
  ›› testar e avaliar a b-formação, em pelo
www.khs.dk
menos 5 testusers, nos 9 países;
http://www.sthelens.ac.uk/want2learn/
want2b/
http://www.sthelens.ac.uk/want2learn/

A ssessora da Direcção – DREN. Doutoranda em www.want2b.eu
Ciências da Educação – FEP, UCP http://want2learn.cesae.pt

39
ACTUAIS ACTUAIS

› Educação para o empreendedorismo


REVISTA FORMAR N.º 65

› O ambiente competitivo dos mercados e o esforço em formação

O Ambiente Competitivo dos Mercados


e o Esforço em Formação
A capacidade de resposta das empresas aos mercados, cada vez mais dinâmicos e exigentes, está fortemente
dependente da actualização e do alargamento permanente do leque de conhecimentos

› maria manuela nave


figueiredo
Investigadora (Ph. D.)
do INETI

Introdução Estratégias competitivas cipalmente por grandes volumes de produ-


Na situação económica actual, em mer- relacionadas com a formação to de baixo valor acrescentado.
cados de elevada exigência, a competiti- No caso das pequenas empresas, essen- Nesta sequência, como as estratégias com-
vidade sustentável das empresas é indis- cialmente, a concorrência (independen- petitivas ainda estão demasiado centra-
sociável das competências dos recursos temente de o mercado ser doméstico ou das nos baixos custos, o desenvolvimento
humanos e de outros factores como a ca- internacional) pode não ter implicações con- das aptidões adequadas da força de traba-
pacidade de inovar, seja do ponto de vista sistentes nas actividades formativas. Na
tecnológico, organizacional ou ao nível do realidade, enquanto alguns emprega-
produto. A inovação torna-se um veículo dores optam pelo desenvolvimento
privilegiado para a utilização e aquisição de novas competências através da
de novos conhecimentos, implicando cada formação, outros, quando concor-
vez mais e melhores qualificações dos tra- rem fundamentalmente com base
balhadores. Ou seja, a capacidade de res- no preço dos produtos, limitam as
posta das empresas aos mercados está actividades formativas por inca-
fortemente dependente da actualização e pacidade de criarem as necessárias
do alargamento permanente do leque de margens para o investimento em
conhecimentos. (formação, Kitching e Black-
As empresas que implementam progra- burn, 2002).
mas de formação e fomentam uma cultu- É possível antever um
ra de aprendizagem contínua são as que efeito semelhante moti-
mais rapidamente compreenderam que a vado pela exiguidade de
capacidade da força de trabalho é um fac- recursos humanos. Nes-
tor crítico para a sua competitividade, es- tes casos as empresas
pecialmente em mercados internacionais. podem ser levadas a dis-
A flexibilidade e a adaptação às mudanças persarem o seu pessoal
do meio envolvente exigem processos de por actividades ligadas
reorganização que passam pelas relações ou não à produção, desig-
sociais do trabalho, pelo envolvimento dos nadamente nos casos em
trabalhadores, pelo desenvolvimento das que, pela natureza do merca-
qualificações e das competências adequa- do a que a empresa concorre, a
das (Bassi e McMurrer, 2001). competitividade se determina prin-

40
ACTUAIS

REVISTA FORMAR N.º 65


lecção esteve associada à natureza das
variáveis e às características da população
em estudo. Para uma análise da relação en-
tre as variáveis foram ainda utilizadas me-
didas de associação e de correlação.

Análise dos Resultados


As relações H1 e H2 formuladas foram es-
tatisticamente validadas, o que pressupõe
que as empresas da amostra que operam
maioritariamente em mercados internacio-
nais e que mais sentem a competição como
resultado da concorrência de empresas es-
trangeiras apresentam maior esforço em
formação. Tal pode resultar do facto de es-
tas empresas, que já atingiram um índice
de internacionalização significativo (expor-
tam mais do que 50% dos produtos/servi-
ços), serem obrigadas a manter o seu nível
de competitividade em patamar elevado, o
que se pode traduzir, designadamente, em
maiores exigências organizacionais, tecno-
lógicas e na aptidão e competência dos re-
cursos humanos, normalmente indutoras
de maior intensidade formativa. Os resul-
tados evidenciam relações significativas
entre a exportação e a concorrência de em-
presas estrangeiras e a variável represen-
tativa do esforço na actividade formativa.
O papel que a natureza da competição pode
desempenhar na actividade formativa das
lho tem sido negativamente afectado, ape- Grupo de Hipóteses empresas foi explorado através da hipóte-
sar de muitos empresários admitirem que a se H3, também validada estatisticamente,
concorrência é uma forma de pressão para pelo que as empresas que reconhecem que
As empresas que exportam a maioria dos
um maior envolvimento em actividades for- H1 seus produtos/serviços apresentam a competição no mercado é baseada princi-
maior esforço em formação.
mativas. No entanto, nem sempre é fácil palmente na qualidade dos produtos e ser-
traduzir as tendências do mercado em de- viços, e não no preço, apresentam maior
As empresas que reconhecem que a
cisões relacionadas com a formação, não competição no mercado resulta esforço em formação.
só para as empresas que competem em H2 fundamentalmente da concorrência de
empresas estrangeiras apresentam maior
mercados internacionais, mas também, e esforço em formação.
principalmente, para as empresas que não
actuam directamente nestes mercados As empresas que reconhecem que a
competição no mercado é baseada
(Stevens e Walsh, 1991). H3 principalmente na qualidade dos produtos 
T-Test para diferença de médias entre duas amos-
e serviços, e não no preço, apresentam
maior esforço em formação.
tras independentes, análise de variância simples
Metodologia utilizada paramétrica para comparação de médias em três
ou mais grupos e teste de Kruskal-Wallis, como uma
Com base na pesquisa, realizou-se um alternativa à análise de variância simples.
estudo empírico (Figueiredo, 2006) em A operacionalização deste estudo foi feita 
Como sejam o coeficiente de correlação linear de
que se propôs a formulação das seguintes com base numa amostra de 253 empresas Pearson e o coeficiente de Spearman.
relações (hipóteses), nas quais se tenta do sector da Metalurgia e Metalomecânica, 
Dada a natureza deste artigo, apresenta-se apenas
evidenciar que o facto de as empresas ac- através de inquérito por questionário. Fo- a síntese qualitativa dos resultados dos testes reali-
zados, omitindo-se o detalhe dos cálculos. Todas as
tuarem em mercados competitivos pode ram aplicados testes estatísticos adequa- relações formuladas foram estatisticamente valida-
constituir um incentivo à formação. dos à validação das hipóteses e a sua se- das, com um nível de confiança de 95%.

41
REVISTA FORMAR N.º 65 ACTUAIS

Existe uma clara sintonia com as conclu- quando se compete com base na qualida- objectivo. As respostas das empresas a es-
sões do estudo empreendido por Kitching de dos produtos ou serviços, fortalecendo tas questões podem reflectir unicamente
e Blackburn (2002), ao verificarem que se o papel estratégico da formação. as implicações mais tradicionais da pres-
podem apontar dois níveis de impacte no são competitiva a nível empresarial (os tais
esforço em formação: quando as empresas Resumo conclusivo drivers de mudança), tendo as empresas
competem com base no preço há pouco in- A maioria das empresas do sector da Meta- mais dificuldade em correlacionar essas
centivo à formação; e, pelo contrário, quan- lurgia e Metalomecânica que constituem a mudanças a novas necessidades de conhe-
do estas competem com base na qualidade amostra deste estudo consideram a quali- cimento e de competências e em sequên-
dos produtos, existem normalmente fortes dade dos produtos e serviços fundamental cia a acréscimos de actividades formati-
pressões para melhorar as competências para a sua competitividade e actuam, em vas que eventualmente tenham ocorrido.
da força de trabalho. geral, em mercados de maior exigência, que
Também Stevens e Walsh (1991), com as «obrigam» a evoluir constantemente e
base nos contributos teóricos e empíricos a criar dinâmicas próprias para estarem en-
desenvolvidos em torno dos factores deter- tre as «melhores». De acordo com os resul-
minantes da formação, afirmam que, quer tados do estudo, nestes casos as empre-
seja do ponto de vista do desenvolvimento sas envolvem-se mais em acções perspec-
de novos produtos – implicando alterações tivadas para o desenvolvimento das novas
nos processos de produção, nos métodos competências adequadas à sua evolução,
e nos equipamentos –, quer seja do ponto recorrendo à formação, entre outras vias
de vista das alterações estruturais das em- de valorização do seu capital humano. Não
presas – afectando, designadamente, a for- se pode, no entanto, estabelecer um efeito
ma como as tarefas são desempenhadas causal da concorrência sobre a formação.
–, a introdução de mudanças poderá cons- Ambas as variáveis, fortemente correlacio-
tituir um forte incentivo para melhorar o ní- nadas entre si, podem ser influenciadas por
vel das competências da força de trabalho outros factores.
Assim, a associação da formação com
a pressão competitiva pode de-
rivar de outros factores de
mudança que esta pressão
determina, se bem que a
questão do efeito indirec-
to da competição na for-
mação ainda não seja Bibliografia
Bassi, L. e McMurrer, D., Training Investment can
consensual, dado que Mean Financial Performance, Alexandria, Virginia,
alguns autores não con- American Society for Training e Development, 2001.
seguiram estabelecer re-
lações significativas em Figueiredo, M., «A Formação e o Desempenho Em-
estudos realizados com este presarial», Tese de Doutoramento - Área Científica -
Gestão - Especialidade: Gestão Global, Estratégia e
Desenvolvimento Empresarial, ISCTE, Lisboa, Portu-
gal, 2006.

Kitching, J. e Blackburn, R. (2002). The Nature of


Training and Motivation to Train in Small Firms, Small
Business Research Centre Kingston University. Dis-
ponível em URL: www.dfes.gov.uk/research/data/
uploadfiles/RR330.PDF . (Acedido em: 10 de Maio de
2002).

Stevens, J. e Walsh, T., «Training and Competitive-


ness», in John Stevens e Robert Mackay (Eds.), Trai-
ning and Competitiveness, Policy Issues Series, (pp.
25-58), Londres, National Economic Development
Office, 1991.

42
ACTUAIS

INSTRUMENTOS

REVISTA FORMAR N.º 65


DE FORMAÇÃO

› Formação com retorno garantido

Formação com retorno garantido


Como se manifesta o retorno da formação? De forma geral, o impacto da formação profissional revela-se na
maior adaptação das competências dos trabalhadores às exigências do posto de trabalho e na elevação do grau
de satisfação no trabalho. Neste âmbito, o presente artigo irá demonstrar como se poderá medir o retorno do
investimento da formação através de uma explicação prática e de estudos de caso demonstrativos

› Ruben Eiras
Investigador universitário em Capital Intelectual, Gestão do
Conhecimento e Sustentabilidade no Centro de Administração
e Políticas Públicas, do Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas; autor do blogue http://capitalintelectual.tv
› Vanda Vieira
Técnica de formação, Inovação e Desenvolvimento, CECOA

Introdução da actividade empresarial e organizacional. tegração de um mecanismo de avaliação,


Formação com retorno garantido é um dos Neste sentido, a própria Estratégia Euro- validação e reconhecimento das compe-
conceitos que entrou em definitivo para o peia para a Aprendizagem tem desenvolvi- tências adquiridas em contexto não for-
léxico do universo formativo. Isto porque se do um maior esforço junto dos organismos mal e informal, através da atribuição de
o resultado da formação não corresponder europeus não só na medição da formação créditos com base no reconhecimento de
ao esperado, algo correu de errado. E num profissional, mas também nas actividades saberes adquiridos no posto de trabalho
contexto competitivo como o nosso, esse formais, não formais e informais de apren- (ECVET, 2007).
erro pode significar perder negócio. dizagem. Então como se manifesta o retorno da for-
Com efeito, já não basta afirmar que quem É um facto que a formação assume diversos mação? De forma geral, o impacto da forma-
premeia a formação investe no capital hu- contornos e responde a várias problemáti- ção profissional revela-se na maior adapta-
mano, que os colaboradores melhor trei- cas. Neste respeito, as lacunas estruturais ção das competências dos trabalhadores às
nados e motivados contribuem para o au- da população portuguesa e o défice de qua- exigências do posto de trabalho e na eleva-
mento da produtividade, que os saberes lificações deram origem a uma maior ori- ção do grau de satisfação no trabalho. Nes-
devem ser incorporados no negócio das em- ginalidade das propostas formativas. Esta te âmbito, o presente artigo irá demonstrar
presas. Embora este «argumentário» fun- prima sobretudo no desafio de articular o como se poderá medir o retorno do investi-
cione bem em situações de negociação, é orçamento (reduzido) das empresas com mento da formação através de uma explica-
também crítico conseguir demonstrar qual as necessidades de formação. Mas, além ção prática e de estudos de caso demons-
o impacto qualitativo e quantitativo a nível disso, também é necessário clarificar a in- trativos.

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REVISTA FORMAR N.º 65 INSTRUMENTOS DE FORMAÇÃO

Como medir o ROI da formação gócio e, mais importante, um retorno ade- Os benefícios totais incluem o dinheiro pou-
passo-a-passo quado. pado pela organização, o dinheiro realizado
Num processo de avaliação do retorno da A medição dos níveis 3 e 4 pode ser realiza- e elementos que tenham acrescentado va-
formação em condições normais, a avalia- da através da aplicação de um inquérito ou lor, directa ou indirectamente, à empresa.
ção deverá ocorrer em todos os cinco níveis da recolha de dados de desempenho organi- Os custos totais incluem o óbvio (montante
de medição do retorno (ver Figura 1). zacional (vendas, número de reclamações, do investimento realizado, por exemplo) e o
nível de satisfação do cliente) após a reali- «não tão óbvio», como os custos de desen-
zação da formação. Mas é no nível 5 onde volvimento do produto e o material logístico
OS 5 NÍVEIS DE MEDIÇÃO DO RETORNO DA FORMAÇÃO
este desempenho é traduzido em dinheiro. utilizado, a título exemplificativo.
Nível 1 Medida do grau de satisfação A diferença entre o RCB e o ROI reside fun-
– Reacção face a um programa
O que medir com o nível de medição damentalmente na fórmula de cálculo. Em
Nível 2 Medida de mudança de atitudes
– Aprendizagem e aquisição de conhecimentos do retorno 5 (ROI) termos matemáticos, a diferença reside na
Nível 3 Medida das «modificações Para medir o Retorno do Investimento (ROI) escolha do numerador: enquanto o ROI uti-
– Comportamento comportamentais no da Formação primeiro há que compreender liza os resultados líquidos da formação, a
desempenho da função»
o Rácio de Custos-Benefícios (RCB). Estas análise custo-benefício recorre aos resul-
Nível 4 Medida do impacto da formação
– Resultados nos objectivos da organização metodologias têm sido muito desenvolvi- tados brutos. Considera quer resultados de
Nível 5 Medida do retorno do das por Jack Philips (1990; 1995; 2001). natureza tangível (aumento de produtivida-
– ROI investimento em formação Nas actividades de medição do retorno da de, aumento da carteira de clientes), quer
Adaptado de Kirkpatrick e Philips formação recomenda-se a utilização do intangível (elevação do grau de motivação
Figura 1 RCB em unidades e ROI em percentagem. do ex-formando, elevação do grau de satis-
A análise RCB quantifica e compara o valor fação dos clientes).
O que medir com os níveis de medição monetário gerado pelos benefícios da for- De acordo com Philips (1990), o ROI é sem-
do retorno 1 e 2 mação com os seus custos. Engloba toda pre inferior ao RCB, como pode ser verifica-
Os formandos têm que percepcionar va- e qualquer actividade, empreendida numa do com o seguinte exemplo:
lor na participação no programa de forma- base contínua, com um objectivo que vise
ção e utilidade para o desenvolvimento das melhorar conhecimentos, aptidões e compe- Benefícios do programa de formação A =
suas competências e conhecimentos. Nes- tências. É calculado pela seguinte fórmula: 1000 €
te respeito, os níveis 1 e 2 providenciam in-
formação para julgar o grau de satisfação e RCB = Benefícios da formação Custos do programa de formação A =
a aquisição de competências por parte do Custos da formação 450 €
grupo de clientes com o programa formati-
vo, que se efectua através da aplicação de Por sua vez, o Retorno do Investimento RCB = 1000 = 2.22 €
um inquérito. (ROI) é uma medida financeira tradicional 450
baseada em dados históricos, relativos aos
O que medir com os níveis de medição custos e benefícios (ver Figura 2). O ROI é RCB (%) = 1000 x 100 = 222.22%
do retorno 3 e 4 calculado pela seguinte fórmula: 450
Os dados recolhidos nos níveis 3 e 4 provi-
denciam grande parte da informação dese- (Benefícios totais – Custos totais) X 100 = ROI ROI (%) = 1000 – 450 x 100 = 122.22%
jada pela equipa de gestão no processo de Custos totais 450
decisão de continuar ou justificar futuros
programas de desenvolvimento de recur- CUSTOS BENEFÍCIOS
sos humanos – dois dos propósitos mais Custos directos: Aumento da produtividade
importantes para realizar a avaliação. › custos com os formadores; › ganhos de produtividade ao nível individual, do grupo de trabalho e da
› custos com o local de trabalho, organização que podem ser directamente mensuráveis ou não.
Sejam chefias intermédias, gestores ou equipamento, energia;
executivos de topo, todos estão preocupa- › outros custos – material de Reputação, screeming e avaliação
formação, custos externos. › formação como instrumentos de selecção e avaliação dos trabalhadores,
dos com o valor da formação. Desejam ob- ganhos de imagem da empresa, identificação dos trabalhadores com a
Custos indirectos: empresa.
servar mudanças de comportamento a par › horas não trabalhadas;
da aplicação de novos conhecimentos por › horas de lazer sacrificadas; Trabalho produtivo dos aprendizes para a empresa
› esforço pessoal de investimento › Medida como custo de trabalho necessário para um recrutamento
parte dos colaboradores. Almejam que o nas aprendizagens. alternativo de trabalhadores não qualificados ou semiqualificados no
seu investimento na formação e desenvol- mercado de trabalho.

vimento possa gerar um impacto mensurá- Fonte: Estudo sobre o retorno da formação profissional, GEP – MTSS, 2007
vel no desempenho dos indicadores de ne- Figura 2 – Custos e benefícios da formação

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INSTRUMENTOS DE FORMAÇÃO

REVISTA FORMAR N.º 65


A interpretação que deve ser dada aos valo- dades monetárias (benefício) [450 x   ›› O ROI também pode ser expresso em
res do RCB e do ROI é a seguinte: 2.22 = 1000]. unidades. No exemplo, teríamos um
  ›› Um ROI de 122.22% significa que se ob- resultado de 1.22 a interpretar nos
  ›› Um RCB de 2.22 € significa que por teve aquela percentagem de lucro líqui- mesmos moldes do ponto anterior
cada unidade monetária investida (cus- do face ao valor monetário inicialmente [450 x 1.22 = 550].
to) no programa de formação A, investido no programa de formação A
a respectiva entidade pro- [450 x 122.22% = lucro = 550]. Atenção que o RCB só representa uma re-
motora recuperou 2.22 uni- lação rentável entre custos e benefícios
quando o seu valor é superior a 1. Já o ROI
tem de ser superior a 0% para traduzir a
mesma realidade.
O ponto anterior pode ser mais facilmente
compreendido com o seguinte exemplo:

Benefícios do programa de formação B =


350 €

Custos do programa de formação B =


450 €

RCB = 350 = 0.78


450

ROI (%) = 350-450 x 100 = -22.22%


450

Ou seja, por cada unidade monetária inves-


tida, a entidade recuperou apenas 0,78 € ou
um prejuízo de cerca de 22%.
A análise custo-benefício também pode ser
entendida num plano menos matemático-
-formal, cumprindo uma missão de apoio à
decisão do investimento na formação. Nes-
se caso é usual proceder-se a uma listagem
completa dos custos e benefícios da forma-
ção, incluindo outros custos e benefícios
para além dos monetários. Os custos e be-

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REVISTA FORMAR N.º 65 INSTRUMENTOS DE FORMAÇÃO

nefícios gerados pela formação, não direc-


Nautel: Resultados
tamente quantificáveis em valor monetá-
qualitativos com
rio, designam-se por intangíveis.
impacto
Destaque-se ainda o facto de não existi-
rem valores considerados «óptimos» ou
A NAUTEL, Sistemas Electró-
«aceitáveis» associados a uma análise cus-
nicos, Lda iniciou a sua activi-
to-benefício. Os mesmos são, regra geral, dade em Março de 1990. Esta PME
estabelecidos para cada programa/projecto portuguesa tem como objectivo a impor-
formativo. Competirá ainda à organização tação e a distribuição, sendo representan-
estabelecer os seus próprios níveis de te oficial das mais conceituadas marcas
desempenho a alcançar. Uma análi- de equipamentos electrónicos das áreas
marítima, terrestre e aeronáutica, assim
se custo-benefício pode ser efec-
como dos serviços de assistência técnica
tuada antes, durante e após a dos mercados onde actua.
realização do programa/projecto A NAUTEL recorreu à oferta formativa do
objecto/alvo de análise. CECOA – Centro de Formação Profissio-
nal para o Comércio e Afins, destinada a
empresários de PME, técnicos de comér-
ESTUDOS DE CASO cio electrónico e consultores de comércio
electrónico. Os cursos de formação, em
formato de b-learning, possuem uma for-
Tzeretas LTD: Uma te componente avaliativa. Os participantes
ISO 9000 geradora foram acompanhados por um tutor e ava-
de lucro liados durante o percurso formativo, no fi-
nal de cada módulo.
Uma empresa grega do Esta avaliação formativa, realizada atra-
sector industrial, a Tzeretas vés de questionários de auto-avaliação, foi
LTD, vê na formação sobre a nor- acompanhada de uma avaliação final, pre-
ma ISO 9000 uma oportunidade de sencial, de carácter sumativo. Neste caso,
melhoria contínua. Os colaboradores foram aplicados os níveis de medição do
foram sensibilizados para a questão e retorno 1, 2, 3 e 4.
motivados para as mais-valias da for- Em termos de resultados para a NAUTEL, o
mação, na perspectiva desta permitir impacto da formação verificou-se na aqui-
maior reconhecimento da empresa a sição de conhecimentos na área do comér-
nível internacional. cio electrónico e na possibilidade de refor-
Também neste caso aplicou-se a me- çar a estratégia comercial baseada no e-
todologia de avaliação ROI: no final da -commerce.
formação foi avaliado o grau de satis-
fação dos formandos com a formação;
foi aferido o nível de conhecimentos
adquiridos que permitiram melhorar o
desempenho dos colaboradores e da CECOA OFERTA FORMATIVA «ROI DA FORMAÇÃO» – 5.ª Edição
empresa. Em relação a este último pon-
to, os resultados salientam melhorias
O Curso ROI – Avaliação do Retorno da Formação do CECOA, válido para renova-
de desempenho organizacional: melho-
ção do CAP – Certificação da Aptidão Pedagógica de Formador, destina-se aos pro-
ria dos processos de negócio, melhoria
fissionais de formação que pretendam desenvolver as suas competências de avalia-
da capacidade de negociação, melhoria
ção do retorno do investimento em formação no contacto com os seus clientes. O curso
da qualidade dos produtos, melhoria do
tem a duração de 15 horas e tem como objectivos:
serviço prestado. O curso teve um ROI
de 211%, ou seja, a percentagem de lu-
  ›› Identificar os factores intervenientes no processo de avaliação.
cro líquido face ao valor monetário in-
  ›› Articular metodologias de avaliação da formação com o ciclo formativo.
vestido pela empresa.
  ›› Definir e aplicar critérios de avaliação do ROI.
  ›› Utilizar o ROI como ferramenta para avaliar a relação custo/benefício da formação.
  ›› Utilizar o ROI como instrumento para a decisão estratégica e melhoria contínua.

Estudos de caso desenvolvidos no âmbito do Pro-
Para mais informação consulte o CECOA através do site em http://www.cecoa.pt/formacao/
jecto AVALNET – Training and Evaluation and ROI
Network, promovido pelo CECOA e financiado pelo form_cont.htm, do e-mail: parcerias.negocios@cecoa.pt, ou do telefone 213 11 24 00 (Lis-
Programa Leonardo da Vinci. Informação disponível boa), 223 39 26 80 (Porto) ou 239 85 13 60 (Coimbra). 
em http://avalnet.fdti.pt/.

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INSTRUMENTOS DE FORMAÇÃO

REVISTA FORMAR N.º 65


CENFIM: um CAP de elevado ROI

O CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalo-


mecânica testou a metodologia ROI junto de uma amostra controlada – 4 forman-
dos de um curso de instrumentos multimédia. O curso, dirigido aos coordenadores e
formadores internos, com a duração de 60 horas, teve como objectivo contribuir para a
renovação do CAP e a melhoria de competências ao nível da apresentação de produtos em
formação. Dado que os efeitos da formação no desempenho organizacional se verificaram
apenas no domínio intangível (melhoria das competências pedagógicas, por exemplo), op-
tou-se por aplicar a metodologia do grau de confiança nos indicadores de Philips para aferir
o nível de credibilidade do ROI (avaliação de nível 5). Desta forma, foram obtidos os seguin-
tes resultados:

Cálculo de Custos

N.º DE HORAS DE TRABALHO 20 HORAS POR FORMANDO

20 sessões de 3 horas, no entanto


somente uma hora decorreu Valor: 2100 euros
durante o horário de trabalho.

Custos com deslocações – 3


Valor: 500 euros
formandos x 20 x 100 km.

Custos com a organização da


formação e outros custos. Valor: 100 euros

Custos das inscrições. Valor: 2000 euros

Total de Custos: 4700 euros


Bibliografia
Bancaleiro, J., Scorecard de Capital Humano: como
Cálculo dos Benefícios da Formação medir o activo mais importante da sua empresa, Edi-
tora RH, Lda, Lisboa, 2006.
BENEFÍCIOS IDENTIFICADOS ECVET – Sistema Europeu de Créditos para a Educa-
Os formandos (os 4 colaboradores) identificaram que 95% dos benefícios da formação consistiram na ção e Formação Profissional
garantia da continuação da actividade formativa por mais 5 anos. Para este benefício, os formandos Relatório do Processo de Consulta Pública Nacional,
revelaram um grau de confiança de 70%. Consulta Pública Nacional, Março de 2007.
Os formandos identificaram que 5% dos benefícios da formação consistiram na melhoria dos produtos
multimédia. Para este benefício, os formandos manifestaram um grau de confiança de 50%. Estudo sobre o Retorno da Formação Profissional,
Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Mi-
nistério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS),
Colecção Cogitum, n.º 30, 2007.
Fitz-enz, J., ROI of human capital: measuring the eco-
CATEGORIA RESULTADO
nomic value of employee performance, American
N.º de horas trabalhadas Management Association, Nova Iorque, 2000.
(170 horas mês x 10 meses/ano x 5 anos) = 8500 horas 34 000 horas
(5 anos/formando): Kirkpatrick, D. e Kirkpatrick, D. J., Evaluating training
Percentagem de programs, Berrett-Koehler Publishers, Inc., São Fran-
actividade dependente (4 formandos) x 20% (34 000 x 0,2) = 6800 horas cisco, CA, 2006.
do CAP:
Paulsen, M. F. e V. Vieira (Eds.), State of the art report:
95% de benefícios: (6800 x 0.95) = 6460 horas e-learning quality in European SMEs – an analysis of
e-learning experiences in european small and me-
Grau de confiança no
indicador: 70% (6460 x 0,7) = 4522 horas dium-sized enterprises, Bekkestua, NKI, 2006.
Phillips, J., Return on investment in training and per-
Valor total dos formance improvement programs. Improving Human
benefícios: (4 formandos) (4522 x 15 ?) = 67 830 euros
Performance Series, Gulf Publishing Company, Hous-
ROI (Retorno do ton, Texas, 1997.
Investimento): (Benefícios-Custos/Custos) x 100 = (67 830 – 4700)/4700 X 100 = 1343%
Phillips, J., Investing in your company’s human ca-
pital: strategies to avoid spending too little or to
Este valor elevado de retorno do investimento evidencia a possibilidade de os formandos much, American Management Association, Nova Ior-
continuarem a sua actividade profissional durante os próximos 5 anos devido à obtenção que, 2005.
do CAP, caso contrário não poderiam exercer a actividade de formadores. Assim, o valor dos Vieira, V. (Cord.), Estado da Arte da Avaliação do Re-
benefícios é, no fundo, contabilizado pelo valor das horas que os formandos irão trabalhar torno em Formação, Projecto Piloto Retorno do inves-
no futuro. timento em formação, Lisboa, CECOA, 2003.

47
DOSSIER

CONHECER
REVISTA FORMAR N.º 65

A EUROPA

› FRANÇA

FRANÇA
› Nome Oficial › Língua Oficial › Capital
França Francês Paris
› Nome Comum Local › Situação Geográfica › Fronteiras
France Europa Espanha, Bélgica, Alemanha,
Suíça e Itália
› Sistema Político › Superfície Total
República 550 km2 › Clima
› Entrada na União Europeia › População Mediterrânico
Membro fundador 59,6 milhões de habitantes › Moeda
(25 de Março de 1957) Euro
› Densidade Populacional
114 hab./km2

› Ana RITA LOPES


Coordenadora do Núcleo
de Planeamento do CFP
de Alverca

História As conquistas de Carlos Magno (rei dos os princípios da monarquia do clero e da no-
Em meados do século iv, época em que o Francos de 771 a 814) e a definição do Im- breza, motivando assim o movimento que
Império Romano estava a entrar em de- pério Franco permitiram a existência da deu origem à Revolução Francesa, cuja in-
cadência, o imperador Juliano, com a in- França como um território separado. fluência do iluminismo e do movimento de
tenção de pacificar as tribos, cedeu aos Os sucessores de Carlos Magno dirigiram a independência americana deram origem, a
Francos (povo de origem germânica cuja França até 3 de Julho de 987, quando Hugo 14 de Julho de 1789, à Tomada da Bastilha e
designação significava «homens livres») a Capeto, duque de França e conde de Paris, à declaração e implantação da República.
Gália (nome romano dado, na Antiguidade, é coroado rei dos Francos, tornando Paris a A Revolução Francesa proclamou os princí-
ao território ocupado pelos Celtas na Euro- principal cidade do país. pios universais de «Liberdade, Igualdade e
pa Ocidental. Refere-se ao território actual A dinastia dos Capetos dirige a França até Fraternidade». Após a proclamação da Re-
ocupado pela França, uma parte da Bélgica, 1789. Nesse mesmo ano verifica-se uma pública surgiram diversas mudanças polí-
da Alemanha e o Norte da Itália). série de revoltas contra o Antigo Regime, ticas ao longo das quais o país se deparou

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CONHECER A EUROPA

REVISTA FORMAR N.º 65


Ensino Obrigatório
Escola Primária ou Elementar

  ›› Idade: 6 aos 11 anos


  ›› 5 anos escolares
  ›› Os 5 anos escolares são repartidos em
2 ciclos: ciclo de aprendizagens funda-
mentais e ciclo de aprofundamento.
  ›› O ciclo de aprendizagens fundamen-
tais compreende os dois primeiros
anos da escola primária, cujas maté-
rias leccionadas são língua materna,
língua estrangeira, matemática, mun-
do actual, educação artística (visual e
educação musical) e educação física e
desportiva.
  ›› O ciclo de aprofundamento compreen-
de os três anos seguintes, sendo al-
guns dos domínios a literatura, histó-
ria, geografia, ciências e tecnologia,
tecnologias de informação e comuni-
cação.

Ensino Secundário
O ensino secundário em França integra o
Colégio e o Liceu Geral ou Tecnológico

Colégio
  ›› Idade: 11 aos 15 anos
  ›› 4 anos escolares
  ›› O ensino secundário colegial é dividido
em 3 ciclos pedagógicos: ciclo de ob-
Torre Eiffel
servação e adaptação, ciclo central e o
ciclo de orientação.
com alguma instabilidade, embora se te- hoje designada de União Europeia, sendo   ›› O ciclo de observação e adaptação cor-
nha afirmado na Europa como um país onde membro fundador em 1957. responde ao ano de transição entre o
os princípios proclamados pela Revolução ensino primário e o secundário, cuja
Francesa são fundamentais para o cresci- O Sistema de Educação e Formação finalidade é o desenvolvimento e in-
mento de um país de direitos e oportunida- Profissional tegração dos alunos nos diferentes
des. O Sistema de Educação e Formação Profissio- métodos de ensino secundário. Este
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial nal é tutelado pelo Ministério da Educação. ano escolar designa-se por la sixième,
(1939-1945), em 1940, a Alemanha decla- 6ème, correspondendo ao sexto ano.
rou guerra à França e invadiu o país. Com a Ensino não Obrigatório   ›› O ciclo central, com uma duração de
ajuda dos países aliados, a França e o res- Educação Pré-Escolar – Ecole mater- dois anos, compreende as aprendi-
to dos países europeus começaram a ser li- nelle zagens de carácter transversal e ge-
bertados da ocupação alemã a 6 de Junho ral, sendo o principal objectivo desen-
de 1944, após a Batalha da Normandia (de-   ›› Idade entre 2 a 6 anos volver competências do saber-ser e
signado de Dia D).   ›› Todas as crianças com idade a partir saber-fazer. Estes anos escolares de-
Em 1949, a França tornou-se membro fun- dos 3 anos são integradas na escola signam-se por la cinquième, 5ème e
dador e permanente da Nato e, juntamen-   ›› Aquelas que tenham 2 anos são inte- la quatrième 4ème, correspondendo,
te com a Alemanha, foi o principal incenti- gradas de acordo com o número de va- respectivamente, ao sétimo ano e oi-
vador da criação da Comunidade Europeia, gas disponíveis tavo ano.

49
REVISTA FORMAR N.º 65 CONHECER A EUROPA

Museu do Louvre

  ›› O ciclo de orientação prepara os alunos


para o prosseguimento dos estudos ao
nível geral e tecnológico ou ensino pro-
fissional, podendo os alunos escolher
algumas disciplinas, de carácter facul-
tativo, no âmbito das línguas estran-
geiras. Este ano escolar designa-se
por: “la troisième, la 3ème”, correspon-
dendo ao nono ano.
  ›› A conclusão com sucesso permite a
obtenção de um diploma nacional de-
signado le brevet des collèges (BEPC:
Brevet d’études du Premier Cycle).

Liceu
  ›› Idade: 15 aos 18 anos
  ›› 3 anos escolares
  ›› O Liceu Geral e Tecnológico está orga- Catedral de Notre-Dame
nizado em 2 ciclos: ciclo da determi-
nação, ano designado por la seconde área de estudos (geral ou tecnológica), Liceu profissional
e que corresponde ao décimo ano, e o prosseguem os estudos. No ensino ge-   ›› Idade: a partir dos 15 aos 19 anos
ciclo final, cujos anos se designam por ral podem optar por três especialida-   ›› 4 anos escolares
a première et la terminale, correspon- des de formação: Económico-Social, Li-   ›› Estas escolas desenvolvem e aplicam
dendo ao décimo primeiro e ao décimo terária ou Científica. currículos mais técnicos, cujo objecti-
segundo anos.   ›› Aos alunos que obtenham êxito esco- vo é a aprendizagem e a qualificação
  ›› Durante o primeiro ano – ciclo de de- lar no percurso completo é-lhes emi- profissional.
terminação –, os alunos são prepara- tido um certificado de conclusão do   ›› Os dois primeiros anos visam a prepa-
dos através de currículos de nível geral ensino secundário – baccalauréat. ração dos alunos para o acesso ao di-
e tecnológico, cujo objectivo é a esco- Este exame é importante no percurso ploma “Brevet d’études professionnel-
lha da área de estudos para prossegui- escolar do aluno já que representa o les (BEP)”. Este diploma prepara os
mento na área pretendida. primeiro diploma do ensino superior, alunos para o prosseguimento de estu-
  ›› Os dois anos seguintes inserem o ciclo permitindo entrar na universidade sem dos no sentido de alcançarem, em dois
final, onde os alunos, após escolha da necessidade de outra prova. anos, o bacchalauréat professionnel

50
CONHECER A EUROPA

REVISTA FORMAR N.º 65


Sacré-Coeur

Rio Sena

(Bac Pró). Podem ainda optar por um Formação para Adultos Jardim das Tulherias
bacchalauréat technologique (via um Em França, os adultos poderão concluir a
ano de adaptação) ou integrar o mer- escolaridade pela via do ensino tradicional
cado de trabalho. e poderão, também, frequentar cursos de
formação profissional, desenvolvidos em FONTES
Ensino Superior centros de formação profissional. O objec- European Commission.
  ›› O acesso às instituições de ensino su- «Eurybase – The Information Database on Education
tivo é obter conhecimentos técnicos para a
Systems in Europe – Organisation du Système Édu-
perior só é possível para os alunos que realização de profissões especializadas e a catif en France 2007/208».
tenham obtido o certificado de conclu- integração no mercado de trabalho de pro- Sítios:
são do ensino secundário – baccalau- fissionais com competências distintas. Um Ploteus:
réat ou o Brevet de Tecnicien Superieur trabalhador, enquanto assalariado, tem di- http//Europa.eu.int/ploteus
(que se obtêm dois anos depois do Bac reito a períodos de formação profissional.
Ministério da Educação Nacional:
Pro).
www.education.gouv.fr
  ›› O ensino superior pode ser desenvolvi-
do em universidades, Grandes Écoles Portal da União Europeia:
(o número vagas é inferior ao das uni- http://europa.eu/index_pt.htm
versidades e os critérios de selecção
mais rigorosos), estabelecimentos pú- Enciclopédia Wikipédia:
http://pt.wikipedia.org
blicos de áreas especializadas ou esco-
las especializadas) e os institutos e es- Embaixada de França em Portugal
colas superiores privados.

51
DOSSIER

UM OLHAR
REVISTA FORMAR N.º 65

SOBRE...

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› O método Pilates

O MÉTODO PILATES
Modas relacionadas com a saúde e com o exercício físico desenvolvem-se e são abandonadas rapidamente. No
entanto, alguns dos métodos de exercício sobrevivem ao teste do tempo e conquistam adeptos leais. O Pilates,
método desenvolvido por Joseph Pilates por volta de 1920, vem ganhando terreno desde a década de 1980.
Muitas estrelas de Hollywood como Sharon Stone, Júlia Roberts, Courtney Cox e Madonna aderiram à técnica.
Como resultado o método Pilates foi-se generalizando, não sendo mais reservado a esta amostra rica e famosa,
podendo ser praticado na maioria dos ginásios e health clubs em todo o Mundo. O que é então o Pilates e o que
o torna tão popular?

› Vânia Neto
Professora de Educação
Física, personal trainer
e instrutora de Pilates

História as limitações físicas, já dominava boxe, gi- Joseph Pilates


nasceu em 1880 na
O criador do método Pilates, Joseph Pila- nástica, esqui e mergulho. Em 1926 Pilates Alemanha. Dedicou
tes, era um homem extremamente inteli- funda, em Nova Iorque, o primeiro estúdio a sua vida ao estu-
do da educação físi-
gente e intuitivo, muito à frente do seu pró- para ensinar o seu método, mais tarde cha- ca, desenvolvendo o
prio tempo, de tal forma que as suas ideias mado de Contrologia e que rapidamente se seu próprio sistema
de exercícios. Con-
e trabalho permaneceram interessantes e tornou popular entre bailarinos e famosos tinuou a estudar e
actuais até hoje. A sua infância foi marca- do meio artístico que necessitavam de rea- a aperfeiçoar o seu
da pela debilidade física (asma, raquitismo bilitação após lesões ou, dado que o méto- método até morrer
em 1967.
e febre reumática); talvez por isso, des- do Pilates propicia força sem grande ganho
de pequeno interessou-se por exercícios de massa muscular, como exercício efecti-
e saúde, tendo começado a estudar, como vo para este tipo de população que neces- ele trabalharam, tendo alguns deles funda-
autodidacta, anatomia, fisiologia humana e sita de se manter esguia. Após sua morte do as suas próprias escolas e chegando a
fundamentos da medicina oriental. Ao che- em 1967, o trabalho de Pilates foi continua- declarar a prática do método original. O que
gar à idade adulta, obcecado por superar do pela sua mulher e pelos poucos que com não é verdade, pois o método existente não

52
UM OLHAR SOBRE...

REVISTA FORMAR N.º 65


era específico, era sim muito próprio de Pi-
lates e indubitavelmente inimitável. É im-
portante referir que o seu método não se
centrava em exercícios padronizados, ser-
vidos como uma receita geral para todos os
sujeitos, mas sim repleto de individualida-
de perante cada sujeito. Pois Pilates altera-
va radicalmente os planos comuns de exer-
cícios, vindo estes do yoga, artes marciais
e meditação.
Para divulgar o seu método Joseph Pilates
publicou Regresso à Vida pela Contrologia,
livro dedicado aos exercícios no tapete.

Conceito
Pilates é um método de exercício, um regi-
me de treino físico que se baseia no esta-
do mais natural do corpo humano – o mo-
vimento. É uma técnica de reeducação do
movimento, composta por exercícios profun- da forma mais perfeita possível, garantindo nos refere um praticante regular desta mo-
damente alicerçados na anatomia humana, que o corpo se move sempre com um objec- dalidade
capaz de restabelecer e aumentar a flexibili- tivo e direcção.
dade, força muscular, melhorar a respiração,
corrigir a postura e prevenir lesões. Este mé- 4. Alinhamento – Uma boa postura é vi- VÂNIA NETO
todo é uma forma de arte, no sentido em que tal. Antes de se iniciar um exercício devem INSTRUTORA DE PILATES
precisa de ser melhorado diariamente. manter-se todas as articulações numa po-
Pilates é uma técnica de tal modo precisa e sição neutra, favorecendo o alinhamento Vânia Neto – Como tomou
concentrada que os resultados ficarão con- conhecimento do método Pi-
ideal dos ossos e músculos, promovendo
lates?
sigo para sempre. o equilíbrio e a coordenação dos movimen- Praticante – Contactei com o Pila-
tos. tes através da introdução destas au-
Princípios las num health club há cerca de 8 anos
O método Pilates assenta numa série de 5. Centralização – O corpo é feito para fun- atrás.
princípios-base, a saber: cionar como uma unidade completa. Deve-
V. N. – Quais os efeitos que vem experi-
1. Respiração – Tem de se aprender a res- mos treinar para criar um centro forte, para
mentando ao longo do tempo e que o fi-
pirar correctamente de forma a tornar a que este seja a base de todos os movimen- zeram aderir a esta modalidade?
respiração uma ferramenta eficaz para in- tos. Define-se por «centro» a parte que se P. – A minha qualidade de vida melho-
tensificar, controlar e simplificar os movi- estende das costelas e da região lombar até rou exponencialmente. Sentia dores
mentos. Usa-se a caixa torácica, inspirando ao soalho pélvico e nádegas. cervicais e grande dificuldade em mo-
pelo nariz e expirando pela boca, enquan- vimentar o pescoço, dado que tenho
hérnias nessa região. Rapidamente ga-
to se mantém uma suave contracção dos 6. Fluidez – Em Pilates os movimentos nhei mobilidade nessa zona e um bem-
músculos abdominais. devem fluir de forma lenta do início ao fim, -estar geral derivado da melhor postu-
formando uma sequência contínua. Esta é ra que adoptei no dia-a-dia.
2. Concentração – Cada exercício de Pila- uma característica que diferencia o Pilates
tes requer um processo mental de controlo de outras formas de exercício e que vai pro- V. N. – Aconselha outras pessoas a ade-
rirem ao Pilates? Porquê?
do movimento. É necessário bloquear qual- vocar uma melhoria no equilíbrio e coorde-
P. – Sim. Acho fundamental tanto para
quer tipo de pensamento fora da tarefa que nação, preparando o corpo para as exigên- quem pratica outras actividades físi-
se está a realizar, não havendo momentos cias rigorosas do dia-a-dia. cas, como para pessoas sedentárias,
de distracção ou desatenção. pois vão melhorar a sua consciência
Benefícios corporal, adoptar uma melhor postura
3. Controlo – Cada movimento executado e fortalecer a região abdominal e a co-
A prática de exercícios do método Pilates
luna, o que lhes permitirá prevenir fu-
deve ser meticulosamente calculado e pla- traduz-se em melhorias significativas no turos problemas ósseos e musculares.
neado. Os exercícios devem ser executados nosso bem-estar físico e psíquico, como

53
REVISTA FORMAR N.º 65 UM OLHAR SOBRE...

Principais exercícios a vértebra até atingir o topo (formando uma


O método Pilates é tradicionalmente pra- rampa dos ombros aos joelhos). Aí inspirar
ticado em sessões individuais de treino, e começar a descer pelo sentido oposto ao
onde se podem utilizar como base o tape- expirar, para que as nádegas sejam a última
te mas também outros materiais como Fi- parte a tocar no chão. Repita 5 a 10 vezes.
tball, Banda, Rolo, Reformer, Cadillac, Spi-
ne Corrector e Wunda Chair. Em função
das necessidades específicas de cada
aluno, os instrutores preparam um pro-
grama de treino utilizando os instrumen- One-leg circle – Posição inicial do Hun-
tos e exercícios que consideram mais dred. Expire elevando uma perna flectida
adequados a cada situação. Mas além e mantenha por cinco respirações. Depois
destes treinos individuais e personaliza- comece a realizar pequenos círculos com o
dos o método Pilates também pode ser joelho sobre a anca, expirando na parte ex-
experimentado em casa, não necessitan- terna do círculo e inspirando na parte inter-
do para isso de equipamentos especiais, na. Faça 5 vezes para cada sentido e depois Side Kick – Deitado de lado com o corpo
basta dispor de um tapete ou outra super- troque de perna. paralelo à linha do tapete, cabeça apoiada
fície acolchoada para proteger a coluna. sobre o braço de baixo, o outro ao longo do
Use uma roupa que lhe dê mobilidade de corpo e a coluna neutra. Ao expirar eleve as
movimentos e fique descalço. No entanto, duas pernas até altura da anca, ao inspirar
lembre-se que o método Pilates foi feito desça sem relaxar as pernas no chão. Repi-
a pensar no corpo saudável. Em caso de ta 10 vezes de cada lado.
lesão consulte o seu médico e nunca in-
sista se sentir alguma dor aguda, seja em
que local for.

Swimming – Em quatro apoios, com as


mãos por baixo dos ombros, os joelhos à
Vamos então à prática! largura da anca, a coluna neutra, a cabeça
no prolongamento da coluna e uma ligeira
contracção no centro abdominal. Ao expi-
rar alongue a perna direita atrás e o braço
esquerdo à frente um pouco abaixo do nível Spine Twist – Sentado com a coluna neutra
da coluna, de forma a manter o alinhamen- e os braços cruzados à frente do peito. Ex-
to da coluna. Inspirando desça os membros pirar rodando o tronco para a direita com a
e inicie tudo com os membros opostos. Re- cabeça a acompanhar o movimento. Ao ins-
pita 5 a 10 vezes de cada lado. pirar voltar ao centro. Repetir ao outro lado.
Fazer 5 a 10 vezes de cada lado.

The Hundred – Deitado de costas, com as


pernas flectidas no chão, braços ao longo
Bibliografia
do corpo e a coluna neutra (respeitando as
King, M. e Green, Y., Pilates the complete body system,
curvaturas naturais da coluna), comece ao Londres, 2003.
expirar por elevar uma perna flectida, inspi-
re e ao expirar novamente eleve também a Sites:
outra perna. Mantenha essa posição duran- Shoulder bridge – Posição inicial do Hun- http://pt.wikipedia.org/wiki/joseph_pilates
http://wikipédia.org/wiki/pilates
te 10 respirações torácicas e depois desça dred. Fazer a báscula da bacia ao expirar, de
http://saude.hsw.uol.com.br/pilates1.htm
uma perna de cada vez, de forma a manter forma a colar a região lombar ao colchão e http://sabermsaude.com.br/pilates%20historia.htm1
a coluna estável. começar a elevar a coluna do chão vértebra

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DOSSIER

DEBAIXO

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D’OLHO

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› Livros

Programa Aprendizagem – Assinatura de


Protocolos
O IEFP, I.P., assinou um protocolo com 50 empresas para a dinamização conjunta do Programa Aprendizagem/
Formação Profissional de jovens

Este modelo alterna formação teórica com


formação prática em contexto real de traba-
lho, constituindo-se como a única modali-
dade de formação que permite a aprendiza-
gem nas empresas, dotando os jovens com
competências técnicas, comportamentais e
relacionais que lhes permitam desenvolver,
com autonomia, as actividades que corres-
pondem ao exercício de uma profissão qua-
lificada, facilitando a sua integração profis-
sional e possibilitando o prosseguimento
dos estudos.  
O Instituto do Emprego e Formação Profis-
sional, I.P. tem consciência que para atingir
de forma plena os resultados que dele são
expectáveis o Programa Aprendizagem re-
quer a participação de empresas tecnologi-
camente avançadas, organizacionalmente
O Programa Aprendizagem tem, ao longo tificação: qualificação profissional e certifi- desenvolvidas e empenhadas com a quali-
dos últimos 20 anos, desempenhado um cação profissional até ao 12.º ano de esco- ficação de jovens profissionais, aptos a res-
papel importante na formação dos jovens laridade. Presentemente estão disponíveis ponder às exigências e aos desafios de uma
com idades compreendidas entre os 15 e 208 saídas profissionais, distribuídas por economia cada vez mais competitiva e glo-
os 25 anos, permitindo-lhes uma dupla cer- 31 áreas profissionais. bal.

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REVISTA FORMAR N.º 65 DEBAIXO D’OLHO

Foi neste pressuposto e reconhecendo a


este Programa a sua utilidade, a sua capa-
cidade de renovação e de adequação às ne-
cessidades de qualificação exigidas pelo
mercado de trabalho, e no sentido de pro-
mover a dinamização conjunta de cursos
de aprendizagem, que o IEFP, I.P. assinou no
passado dia 22 de Setembro de 2008 Proto-
colos de Cooperação com 50 entidades, em
cerimónia realizada no Centro de Formação
Profissional do Seixal com a presença do
Ministro do Trabalho e da Solidariedade So-
cial, António Vieira da Silva.

› ACIB – Associação Comercial e Industrial › Construtora Abrantina S.A. › OGMA – Indústria Aeronáuti-
da Bairrada › CRH, SGPS ca de Portugal, S.A.
› ACPP – Associação de Cozinheiros Profis- › Dom Pedro Investimentos Turísticos, S.A. › Riopele Têxteis, S.A.
sionais de Portugal › El Corte Inglés › Toyota Caetano Portugal, S.A.
› ANA – Aeroportos de Portugal, S.A. › Faculdade de Medicina Dentária da Univer- › SOLISFORM Formação e Serviços, Lda.
› AESBUC – Associação para a Escola Supe- sidade de Lisboa › UMP – União das Misericórdias Portugue-
rior de Biotecnologia da Universidade Ca- › FERNAVE S.A. sas
tólica › Corticeira Amorim SGPS S.A. › LITOALENTEJO Lda.
› APIRAC – Associação Portuguesa da In- › Grupo Auchan › GRUPO Nabeiro Delta Cafés – Delta Servi-
dústria da Refrigeração e Ar Condiciona- ços – Consultoria e Serviços Lda.
› Bizarro & Milho S.A. (grupo Cortefiel)
do/APIEF › Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A.
› Confespanha (grupo Cortefiel)
› ARSOPI – Indústrias Metalúrgicas Arlindo › MCoutinho Automotive SGPS, S.A.
S. Pinho, S.A. › Fundação Visabeira, IPSS
› Associação para o Ensino Profissional em › VICAIMA Madeiras SGPS
› AEP – Associação Empresarial de Portugal › Modelo Continente Hipermercados, S.A.
Transportes e Logística/IPTRANS
› Associação Portuguesa de Bancos/Insti- › KEMET Electronics Portugal, S.A.
tuto de Formação Bancária › ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade
› LEGRAND Eléctrica S.A. › GALP ENERGIA
› ATEC – Associação de Formação para a In-
› Lena Engenharia e Construções S.A. › IKEA Portugal – Móveis e Decoração Lda.
dústria
› Luís Simões, Gestão Empresarial e Imobi- › ACIB Barcelos
› Associação Técnico-Profissional D. Carlos I
liária, S.A. › SOMAGUE
› Câmara de Comércio e Indústria Luso-Ale-
mã › MARTIFER Inovação e Gestão, S.A. › Mercedes – Benz Portugal
› Câmara de Comércio Luso-Sueca › Metalúrgica Progresso de Vale de Cambra, › Pestana Turismo
› CHP – Comunidade Hindu de Portugal S.A. › SWEDWOOD
› CISCO Systems Portugal › Mota-Engil Serviços Partilhados, Adminis-
trativos e de Gestão, S.A.

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DEBAIXO D’OLHO
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› Livros

testemunhos – TRAJECTOS DE QUALIFICAÇÃO

Augusto Brázio
Patrícia Almeida

Augusto Brázio
Testemunhos – Trajectos de Qualificação nal, em que fotografou actividades, lificação social e profissional de cada
trata-se de um projecto promovido pelo IEFP, pessoas, tipos de formação e am- um dos sete personagens.
I.P cujo principal objectivo, de acordo com bientes socioprofissionais, e um con-   ›› Um documentário cinematográfico rea-
Francisco Madelino, Presidente do Conselho junto de sete ensaios fotográficos em lizado por Catarina Alves Costa, Na-
Directivo deste Instituto, consistiu em divul- que cada um dos autores define uma cional 206, em que procurou dar vi-
gar e valorizar a estreita relação da qualifi- narrativa sobre uma personagem. Os sibilidade a histórias de vida que se
cação com os percursos de vida e profissio- sete fotógrafos convidados foram Au- (re)construíram quando a qualificação
nais, associando testemunhos e fotografias gusto Brázio, António Júlio Duarte, se cruzou com a experiência na prepa-
que revelam histórias de vida, contextos de Sandra Rocha, André Cepeda, Pedro ração de novos futuros.
formação, perfis e actividades profissionais. Letria, Augusto Alves da Silva e João
Esta iniciativa comissariada por Sérgio Mah Serra. Sérgio Mah refere que entre imagens e pa-
teve três vertentes:   ›› O lançamento de um catálogo em que a lavras se procurou chamar a atenção sobre
jornalista Katheleen Gomes, juntamen- situações paradigmáticas, revelar dinâmi-
  ›› Uma exposição fotográfica, com foto- te com as fotografias seleccionadas, cas individuais e correlativas atitudes so-
grafias de Patrícia Almeida feitas em traçou o percurso, trajectórias e expec- cioculturais relativamente ao fenómeno da
cinco Centros de Formação Profissio- tativas relativamente ao tema da qua- qualificação.

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REVISTA FORMAR N.º 65 DEBAIXO D’OLHO

Futurália – Feira da Juventude, Qualificação e Emprego


Um evento de sucesso!

Encerrou no dia 13 de Dezembro aquele institutos politécnicos, escolas e institutos ro» promovida em parceria com o Progra-
que foi o maior evento nacional de Juven- superiores; a área da Formação Inicial (en- ma Operacional do Potencial Humano e a
tude, Educação, Qualificação e Emprego. A sino profissionalizante, incluindo cursos exposição de Robótica promovida pela So-
segunda edição do salão foi uma iniciativa profissionais, cursos de aprendizagem e ciedade Portuguesa de Robótica. Estes
da Associação Industrial Portuguesa/Feira cursos de educação/formação) Formação eventos contribuíram para reforçar a impor-
Internacional de Lisboa e um conjunto de Contínua; Inserção na vida Activa, Emprego tância da qualificação como base de uma
parceiros institucionais, destacando-se o e Empreendedorismo; Juventude, Serviços melhor cidadania e melhor emprego.
Instituto de Emprego e Formação Profis- e Equipamentos de apoio à Educação/For- A presença de universidades estrangeiras,
sional, I.P. (IEFP), o Ministério da Educa- mação. programas de intercâmbio e estágio no es-
ção, a Agência Nacional para a Qualifica- O grande objectivo da Futurália, designa- trangeiro resultou numa excelente platafor-
ção, o Programa Operacional do Potencial damente destacar a importância vital da ma de reforço da mobilidade e a área de In-
Humano, a Direcção-Geral do Ensino Supe- qualificação, ficou patente através da in- serção na Vida Activa constituiu uma forte
rior e a Câmara Municipal de Lisboa, entre tervenção quer dos diversos players en- ferramenta de apoio ao empreendedorismo
outros. volvidos quer dos eventos que se reali- jovem.
Milhares de visitantes, desde alunos do en- zaram ao longo dos seus quatro dias de A Futurália encerra a sua edição em
sino secundário a partir do 9.º ano de esco- duração e aos quais assistiram centenas 2008, tendo-se consolidado como evento
laridade ao ensino pós-graduado, passan- de visitantes. Destacam-se as Conferên- de referência na área do desenvolvimen-
do pelo ensino profissional e universitário, cias Internacionais promovidas pelo Mi- to humano em Portugal. De acordo com
passaram pelas várias áreas do certame: nistério da Educação e pelo IEFP, I.P. e o a Dra. Lídia Serras, gestora da Futurália,
Formação Avançada, onde puderam reco- Seminário promovido pelo Expresso Em- «a Futurália contribuiu de forma marcan-
lher informações sobre MBA, pós-gradua- prego intitulado «Profissionais Empreen- te para apoiar, inspirar e incentivar todos
ções, mestrados, doutoramentos e forma- dedores: novas competências e desa- aqueles que nos visitaram a reforçarem
ção especializada para quadros superiores; fios na gestão de pessoas», entre outros as suas qualificações e desenvolverem
a área do ensino superior onde estiveram eventos de relevo como a sessão de en- acções que optimizem a sua empregabi-
representadas as principais universidades, trega dos prémios «Dar a Volta ao Futu- lidade».

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DOSSIER
DEBAIXO D’OLHO

› Aconteceu...

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› Livros

Auditorias da Eficácia Organizacional


Esta obra é dirigida a especialistas de desenvol- Ficha Técnica
vimento organizacional e formadores, fornecen- Título: Auditorias da Eficácia
do um conjunto de ferramentas de avaliação que Organizacional
cobrem oito temas-chave de áreas não financei- Autor: Dave Francis e Mike Woodcock
ras no desempenho organizacional, vitais para
Editora: Monitor – Projectos e Edições, Lda
a eficácia da empresa: Agilidade, Comunicação
Colecção: Formador Prático
Eficaz, Trabalho Interdepartamental, Capacida-
N.º de páginas: 240
de de Inovação, Gestão da Informação e do Co-
nhecimento, Valores da Organização, Eficácia da Edição: Setembro de 2008
Equipa.
Os autores desenvolvem cada processo de audi-
toria não apenas com o propósito de executar a
avaliação mas também como experiência con-
junta de formação destinada a apoiar os respon-
sáveis na obtenção de formas para melhorar o
desempenho na organização.

O Segredo das Apresentações de Sucesso


Muitos de nós já tivemos que fazer apresenta- sagem, nas necessidades da audiência, no pa-
ções em público, e muitos de nós também co- drão da empresa e nos pormenores da apresen-
nhecemos a sensação de ansiedade inerente a tação. Persistência, dedicação e alguma práti-
falar em público. Este livro, simples e conden- ca podem fazer muito na tarefa de o tornar um
sado, revela 51 técnicas de apresentação testa- bom apresentador. Os pormenores são revela-
das, concisas, fáceis de aplicar e que facilitam a dos neste livro.
tarefa de falar em público.
Em primeiro lugar, ajuda o leitor a diagnosticar Ficha Técnica
as suas capacidades de eloquência. Em segundo Título: O Segredo das Apresentações
lugar, mostra-lhe os padrões do mercado. Passo- de Sucesso
-a-passo, irá encontrar as expectativas do mun- Autor: James O’Rourke
do empresarial e profissional. Por último, este li-
Editor: Centro Atlântico
vro fornece-lhe as ferramentas necessárias para
N.º de páginas: 215
se preparar, melhorar e apresentar.
Edição: Setembro de 2008
A verdade mais importante, contudo, é esta: os
grandes apresentadores não nasceram assim.
Tornaram-se bons ao concentrarem-se na men-

CORREIO DOS LEITORES › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › › ›


Na revista anterior introduzimos uma nova rubrica, o «Correio dos Leitores». Mantemos o convite aos nos-
sos leitores para que partilhem connosco as suas impressões. Queremos a sua opinião para podermos
melhorar o nosso trabalho e corresponder melhor às expectativas.
Envie-nos as suas impressões, dê-nos sugestões... escreva-nos!
www.formar.pt Porque a sua opinião conta!

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REVISTA FORMAR N.º 65 DEBAIXO D’OLHO

Gestão de projectos de Software – 3.ª Edição Actualizada


Esta obra apresenta uma abordagem metodoló- Aborda, entre outros, os seguintes temas:
gica precisa, rigorosa e moderna para a gestão
de projectos de software, desde o momento ini- ›› Enquadramento da gestão de projectos nas
cial de planeamento estratégico até à entrega e organizações
operação do sistema. Tem como base as meto- ››  Um modelo baseado no PMBOK Guide
dologias e boas práticas recomendadas no PM- ›› O processo de planeamento – metodologias
BOK Guide e integra as mais recentes percep- e ferramentas
ções em termos de gestão de custos, prazos e ››  Globalização do desenvolvimento de software
recursos, modelos de processo de desenvolvi- ››  Estimação de custos, prazos e recursos
mento, controlo de projectos e gestão da confi- ››  Classificação dos projectos de software
guração. ››  O perfil do moderno chefe de projectos
››  O CMMI e a gestão de projectos
Esta terceira edição contém uma versão actuali- ››  Monitorização e controlo do projecto
zada do modelo de maturidade CMMI do Softwa- ››  Análise do valor ganho (earned value)
re Engineering Institute, bem como uma visão ››  Encerramento do projecto
mais actual das tendências da globalização do ››  Auditoria pós-implementação
desenvolvimento de software.
Destina-se a todos os chefes de projecto e pro- Ficha Técnica
fissionais do software que pretendam imple- Título: Gestão de Projectos de Software
mentar metodologias comprovadas de ges- – 3.ª Edição Actualizada
tão de projectos nas suas organizações, bem Autor: António Miguel
como a professores e estudantes de licenciatu-
Editora: Grupo LIDEL, FCA – Editora
ras em Engenharia de Informática e Informáti-
de Informática
ca de Gestão e de cursos de pós-graduação e
N.º de páginas: 473
mestrados.
Edição: Maio de 2008

e-mail: Guia Prático do Correio Electrónico com Gmail,


Microsoft Outlook e Windows Mail
Este livro revela tudo o que é preciso saber para ›› Como ter sucesso no envio de ficheiros ane-
utilizar o correio electrónico – o suporte de comu- xos.
nicação mais eficaz, mais económico e mais uti- ›› Os cuidados a ter para manter as suas men-
lizado em todo o Mundo. Os exemplos apresenta- sagens privadas.
dos são ilustrados com os principais programas ››  Como evitar spam e mensagens com vírus.
de correio electrónico: Gmail, Microsoft Outlook e ››  Quais os aspectos legais a considerar.
Windows Mail. Os leitores, iniciados ou experien- ›› Quando escolher outras formas de comunica-
tes, mesmo utilizando outros programas, irão ção em detrimento do e-mail.
usufruir dos tutoriais, dicas e sugestões deste ››  A ética do e-mail.
livro, independentemente de utilizarem o e-mail ››  e muito mais!
em casa, nas escola ou na empresa.
Ficha Técnica
Nesta obra, o leitor poderá descobrir, entre outras: Título: E-mail: Guia Prático do Correio
›› As funcionalidades disponíveis nos princi- Electrónico com Gmail, Microsoft Outlook
pais programas de correio electrónico. e Windows Mail
›› Como estruturar as suas mensagens para ob-
Autor: Libório Manuel Silva
ter um maior impacto.
Editora: Centro Atlântico.pt
›› Como poupar tempo organizando a sua infor-
Colecção: Soluções
mação com pastas, etiquetas, assinaturas,
respostas automáticas e livro de endereços. N.º de páginas: 138
›› Como ordenar e filtrar automaticamente as Edição: Julho de 2008
mensagens.

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DOSSIER

DIVULGAÇÃO

REVISTA FORMAR N.º 65


© AndreasF. / photocase.com

› Campeonatos de Formação Profissional

skillsPortugal
– Campeonato das profissões
› Marta fagulha
Técnica Superior
Assessora no Gabinete de
Comunicação do IEFP, I.P.

Sob o lema Skills for a Strong Europe decor- mum para demonstrar, testar, comparar constituiu um instrumento para a promo-
reu, de 18 a 20 de Setembro, em Roterdão, e aperfeiçoar o nível de competências ge- ção da excelência e para o reconhecimento
Holanda, o primeiro EuroSkills – Campeo- rais da futura força de trabalho. No âmbito das competências e talento dos melhores
nato Europeu das Profissões. Neste cam- das competições promovidas, o EuroSkills formadores e formandos da Europa.
peonato, 434 jovens entre os 17-25 anos,
de 29 países europeus, puseram à prova
as suas competências profissionais em 49
profissões. Portugal esteve presente com
8 concorrentes às profissões de Electro-
mecânica de Frio, Carpintaria de Limpos,
Vitrinismo, Mecatrónica Auto, Electrónica
Industrial e Electricidade de Instalações.
Esta equipa ganhou, nada mais nada me-
nos, do que 3 medalhas de ouro e 4 meda-
lhas de bronze!
Contando com cerca de 40 000 visitantes
vindos de toda a Europa, o EuroSkills teve
como objectivo fundamental projectar uma
imagem de qualidade dos diversos siste-
mas de formação profissional e suscitar o
interesse dos jovens por esta via alterna-
tiva ao percurso escolar tradicional. Com
essa finalidade, criou uma plataforma co- Concorrentes nacionais

61
REVISTA FORMAR N.º 65 DIVULGAÇÃO

A recém-criada European Skills Promotion O que diferenciou o EuroSkills lhas de bronze, em Electricidade de Insta-
Organization (ESPO) é a organização promo- do WorldSkills? lações, Mecatrónica Auto, Frio e Climatiza-
tora destes Campeonatos Europeus, que al- Em primeiro lugar, a relação de medalhas ção – Equipa e Electricidade de Instalações
ternam com os Campeonatos Mundiais das por concorrente foi a melhor, desde há mui- – Equipa.
Profissões –  WorldSkills – a realizar nos to, em Campeonatos Internacionais. Ganhá- António Nabais viu reconhecidas as suas
anos ímpares. Esta primeira edição do Eu- mos 7 medalhas: 3 medalhas de ouro in- competências pessoais e profissionais –
roSkills resulta do empenho da União Euro- dividuais, nas saídas profissionais de Frio recebeu um prémio «The best of de best»
peia através do comissário para a Educação, e Climatização, Carpintaria de Limpos e Vi-
Formação, Cultura e Juventude, Ján Figel. sual Merchandising/Vitrinismo, e 4 meda-

Nome: Sandra Isabel de Amorim Antu-


nes Cordeiro
Idade: 20
Saída Profissional: Vitrinista/Visual
Merchandiser
Modalidade Formativa: Vitrinismo
Centro: CECOA Porto (Centro de Forma-
ção Profissional Comércio e Afins)
Resultado: Medalha de Ouro

Qual a importância que teve para si


participar neste concurso?
Espaço do evento Foi a minha primeira experiência numa
competição de profissões, e também
a primeira vez que a profissão de vi-
trinista foi a concurso. Por isso, des-
de logo sentimos uma grande respon-
sabilidade por sermos os pioneiros da
demonstração do trabalho de um vi-
trinista, até pelo facto de tal ser uma
enorme mais-valia para o reconheci-
mento da nossa profissão.
Foram três dias de captação de informa-
ções, de novos conhecimentos, novas
ideias. A convivência com profissionais
vitrinistas de outros países foi  bastan-
te enriquecedora, sobretudo pelo facto
de podermos ter conhecimento de ou-
tros métodos de ensino, nomeadamen-
te na Holanda. A participação na com-
petição e o lugar alcançado espero que
sejam um grande passo para o reco-
nhecimento desta profissão e do nos-
so trabalho, esperando também que no
meu caso contribua para abrir portas
para o mundo do trabalho como vitri-
nista/visual merchandiser.
Equipa portuguesa

62
DIVULGAÇÃO

REVISTA FORMAR N.º 65


e uma proposta de emprego da Associação SAÍDA CONCORRENTES IDADE MODALIDADE CENTRO RESULTADO
Europeia de Ar Condicionado e Refrigeração. PROFISSIONAL FORMATIVA

Obtivemos ainda um Prémio de Excelência, Visual


Joana Monteiro 24
Aprendizagem CECOA Medalha de Ouro
e o Prémio atribuído pela Toyota, patrocina- Merchandising
Sandra Cordeiro 20 Individual.
dor oficial do EuroSkills 2008.
Em segundo lugar, os critérios de selecção Medalha de Ouro – individual.
dos jovens. Ao contrário do Worldskills In- Frio e CFP de Castelo Medalha de Bronze – equipa.
Climatização António Nabais 21 Aprendizagem Branco Prémio «The Best of The Best»
ternacional cuja selecção é feita a partir de na profissão.
campeonatos regionais e nacional, no Cam- Proposta de emprego.

peonato Europeu a escolha incidiu sobre


os candidatos que participaram em cam- Carpintaria de Bruno Medeiros 22 Qualificação Escola Prof. De Medalha de Ouro – individual.
Limpos Profissional Capelas – Açores 2.º melhor pontuado.
peonatos internacionais anteriores e cujo
desempenho se considerou revelar poten-
Electricidade José Luís Qualificação Direcção Regional Medalha de Bronze –
cialidades para serem novamente concor- Instalações Correia
23
Profissional de Qualificação – individual.
rentes. Um outro critério de selecção de- Madeira Medalha de Bronze – equipa.

correu do convite dirigido aos Centros de


Mecatrónica Luís Filipe Educação e
Gestão Participada e Regiões Autónomas Formação de CEPRA Medalha de Bronze –
Auto Barbosa 24
Jovens – Tipo 7 individual.
que desenvolvem formação profissional
nas áreas em concurso. Tiago Soveral 21
Electrónica Prémio de Excelência – equipa
Em terceiro lugar, os sectores de activida- Industrial Aprendizagem CINEL 4.º lugar (5 equipas).
Vasco Vaz 23
de (clusters) foram escolhidos pela sua im-

Pódio

63
REVISTA FORMAR N.º 65 DIVULGAÇÃO

portância para a Europa, não só para o de-


senvolvimento da economia e fomento da
competitividade, mas também atendendo
às suas tradições, valores e herança cul-
tural.
Por último, as características do campeo-
nato. Em Roterdão, a par de competições
individuais, realizaram-se competições
por equipa que permitiram, pela primeira
vez, valorizar e distinguir, além das com-
petências técnicas e individuais dos con-
correntes, as suas competências enquan-
to grupo e a colaboração para a obtenção
de um objectivo comum. Este último as-
pecto é do maior relevo no mundo do tra-
balho.

Quais as vantagens e importância


da participação de Portugal?
O EuroSkills constituiu para os participan-
tes uma oportunidade ímpar de troca de ex-
Nome: Vasco Bernardo Vaz
periências, a qual proporcionou ganhos in-
Idade: 23 anos
Saída Profissional: Técnico de Electrónica dividuais e profissionais indiscutíveis, quer
Modalidade Formativa: Aprendizagem pela riqueza da vivência, quer pela janela de
Centro: CINEL (Centro de Formação Profissional da Industria Electró- oportunidades que poderá constituir para
nica) alguns dos concorrentes.
Resultado: Prémio de Excelência – equipa Em relação ao país, realçamos a oportu-
Qual a importância que teve para si participar neste concurso?
nidade de comparação das performances
Como seria de esperar, este concurso teve uma importância extrema na minha vida não só dos participantes portugueses (concorren-
por ser um concurso a nível europeu como também por marcar o culminar de um caminho tes, experts, jurados) ao nível, entre outros,
que iniciei há 3 anos quando troquei a escola pública pelo ensino profissional. Esta mudan- dos métodos e processos de trabalho, com
ça foi fundamental na minha vida depois de anos e anos num sistema de ensino com o qual o que é considerado «o melhor», tendo-se
não me identificava. Finalmente, tinha encontrado um sistema onde podia estudar e praticar
verificado que os resultados ultrapassaram
ao mesmo tempo, sendo sempre acompanhado por pessoas que, apesar de serem profes-
sores, não nos tratavam como alunos mas como possíveis futuros colegas. Esta maneira de a equiparação dos níveis de performance.
agir leva a que os alunos se empenhem mais e, consequentemente, à obtenção de melhores Foi ainda uma ocasião para projectar a ima-
resultados no fim do curso. No meu caso foi isso mesmo que aconteceu: a maturidade que gem de Portugal na Europa, em especial
já trazia, aliada ao modo de ensinar, levou a que no fim do curso fosse considerado o me- junto dos parceiros e de outras entidades,
lhor aluno e recebesse uma proposta para integrar o grupo de formadores do CINEL. Aceitei nomeadamente junto de potenciais empre-
o convite e foi o facto de estar no CINEL que proporcionou a minha ida ao EUROSKILLS, uma
vez que tinha já participado nos campeonatos regionais em 2006.
gadores.
Apesar do quarto lugar que obtive, a minha participação no concurso foi muito gratificante,
quer em termos pessoais, quer em termos profissionais. Foi a primeira vez que o CINEL par-
ticipou num evento desta dimensão e tanto eu como o expert que foi comigo não tínhamos
uma noção exacta de como o concurso funcionaria, pelo que foi também uma experiência de
aprendizagem a este nível. Percebemos que deveríamos ter dado maior atenção a alguns as-
pectos que no fim não foram levados em conta e que de certa maneira nos retiraram tempo.
Por outro lado, o contacto com outras experiências profissionais e outras culturas foi muito
importante, possibilitando tanto a mim como ao meu expert perceber como a formação pro-
fissional é leccionada em outros países europeus. É toda esta experiência que vamos agora
tentar transmitir no CINEL (Centro de Formação onde ambos trabalhamos) para que no fu-
turo sempre que voltemos a participar num concurso desta natureza os resultados sejam
sempre de bronze para cima!
Por tudo isto considero que foi uma das melhores semanas que já passei em contexto de
concurso/formação..

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