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LONDRINA
2019
INTRODUÇÃO
Diante dessa breve introdução acerca da juventude, já se torna claro o motivo
pelo qual esse é um assunto digno de relevância. Ademais, os atuais jovens são os
futuros adultos, considerados, na atualidade, os maiores produtores da realidade, dos
modos de subjetivação e produção. Inicialmente, portanto, é preciso pôr em pauta a
relação da juventude com as classes sociais, uma vez que essas também são
simultaneamente produto e produtoras dos processos de subjetivação. Isso acontece em
razão do atravessamento social que permeia todas as relações humanas, pontuado por
Guattari & Rolnik (1996), que afirmam que a subjetividade não pode ser considerada
como centralizada no indivíduo, ou seja, não implica posse por parte de cada um, e sim
uma constante produção intermitente a partir dos encontros vivenciados com outras
pessoas. O outro é, dessa maneira, o próprio social, que produz efeitos nos corpos e nas
formas de operacionalização da realidade (MANSANO, 2009).
SOBRE O LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE
Tendo em vista o atravessamento social vivenciado por toda essa juventude, é
preciso compreender como as classes sociais afetam as diferentes formas de viver e ver
a realidade de cada um. Podemos nos questionar, por exemplo, fazendo um recorte
específico, quais são as demandas da juventude da periferia ou até mesmo como sua
realidade socioeconômica influencia ou determina sua relação com o mundo. Quando
falamos dessa juventude da periferia, estamos nos referindo ao problema da
desigualdade social, da estratificação em classes inerente ao modelo capitalista. Nesse
sentido, ao buscar compreender suas demandas é preciso ter em vista suas condições
materiais subjacentes.
Segundo o estudo de Soeiro, Ferreira & Mineiro (2012), houve nas últimas
décadas um retraimento do mercado internacional, particularmente observado em países
emergentes como o Brasil, o qual foi exponencialmente impactante na realidade dos
jovens, em especial aqueles com menos de 25 anos. Esse fenômeno foi responsável pela
diminuição drástica das ofertas de emprego e no aumento da terceirização e das formas
informais de trabalho, além da precarização da proteção social. Essa exposição aos
vínculos trabalhistas precários afeta as condições subjetivas e objetivas dos jovens na
contemporaneidade, bem como a falta de relacionamentos e vivências proporcionadas
pelo mundo do trabalho. Esta última é capaz de promover, simultaneamente, uma
situação de maior precariedade da realidade jovem, uma vez que decorre do desemprego
e causa uma dessocialização (SOEIRO; FERREIRA; MINEIRO, 2012), a qual se faz
posteriormente necessária ao indivíduo, considerando a tese anterior de atravessamento
social. Dessa maneira, segundo os autores:
De facto, o aumento do desemprego entre os jovens empurra-os para
uma situação em que perdem laços sociais mantidos em circunstâncias
históricas anteriores através do mundo do trabalho, colocando questões
importantes ao nível das identidades e da participação social.
(SOEIRO; FERREIRA; MINEIRO, 2012, p. 3).
Nesse contexto social de desemprego e precariedade de direitos e proteção
social, surge e persiste uma pobreza - especialmente entre os jovens, como comentado
acima por Soeiro, Ferreira & Mineiro (2012) -, que demonstra a ineficiência da
proclamada universalidade de direitos, que não acontece de fato (ACIOLI, 2013).
Entretanto,apesar de esta ser, efetivamente, uma questão a todos os jovens no Brasil,
apresenta uma particularidade especial quando nos referimos aos jovens da periferia.
Essa população apresenta, por exemplo, menores índices de escolarização, frutos do
problema econômico que reflete na precarização da educação. Graças a isso, essa parte
da juventude participa de um cenário com níveis de desemprego maiores ainda, quase
que sem perspectiva de trabalhos formais com carteira assinada, apresentando maior
vulnerabilidade e desvantagem frente os demais jovens por conta de uma menor
qualificação profissional (SILVA & LOPES, 2009). Portanto, suas demandas envolvem
necessidades não só profissionais mas também educacionais, como consequência de
problemas estruturais do modelo social vigente.
Essas situações de pobreza estiveram, por sua vez, sempre presente nas
discussões políticas, apesar de ainda permanecerem como uma incógnita, devido ao fato
de haver a percepção de que essa é uma questão a ser urgentemente superada, mas que
não se faz capaz de suscitar o debate acerca de suas próprias origens: “a estrutura de
privilégios, a tradição hierárquica, a impossibilidade de ver o outro como portador de
direitos, sujeito de interesses válidos e legítimos” (ACIOLI, 2013, p. 2).
Haja vista os processos de subjetivação comentados, que abrangem esses jovens
em um contexto geral, no presente estudo, optou-se por pesquisar o movimento social
que surge para representar esses jovens e suas lutas principais, o Levante Popular da
Juventude (LPJ). O LPJ surge em 2006, no estado do Rio Grande do Sul, com um
grande estímulo de outros movimentos sociais. Sua demanda principal é promover o
engajamento de jovens e sua organização política, especialmente os da periferia de
grandes centros urbanos, em lutas pela realidade social visando um projeto de sociedade
futura. O movimento entende que há a necessidade de reformas estruturais no país e que
a juventude necessita se envolver politicamente por essa luta (SILVA; RUSKOWSKI,
2010).
O movimento é uma organização que procura promover o engajamento de
indivíduos em uma gestão compartilhada que realiza suas atividades principalmente,
mas não de forma exclusiva, no Rio Grande do Sul, responsável por agregar jovens de
diversos movimentos sociais, bem como de grupos culturais e estudantes (SILVA;
RUSKOWSKI, 2010). O perfil social desses jovens, segundo o mesmo estudo, de Silva
& Ruskowski (2010), é muito variado, ou seja, o movimento é composto por jovens das
classes mais baixas às mais altas.
Dessa forma, faz-se oportuno refletir acerca das conquistas do movimento LPJ,
constituído naturalmente pela juventude atual. Dentre as diversas participações em
questões políticas do LPJ, estão as ocupações que levaram à campanha em defesa da
“Educação Pública e Popular”, a qual promoveu atividades como oficinas e debates em
escolas sobre a situação política do Estado. A campanha teve como resultado uma
manifestação na Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul, onde houve uma
apresentação teatral, em 2008 (SILVA; RUSKOWSKI, 2010).
O movimento também teve participação por meio de debates em escolas de
Porto Alegre na campanha pela reestatização da Vale do Rio Doce, além de presenciar
marchas coordenadas pelo Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul, pelo
MST, no Dia Internacional da Mulher, no 1º de Maio, no Grito dos Excluídos, na
Marcha dos SEM, isto é, em variados protestos elaborados por movimentos sociais e
datas consideradas importantes pela esquerda (SILVA; RUSKOWSKI, 2010).
Tudo isso demonstra, de forma sucinta, o quão necessário é a atuação do
movimento no Brasil. Surge, como demanda nascente do levante, um olhar a essa
juventude e às suas reivindicações políticas, exige-se agora uma escuta particular dessa
população. Entendendo a participação política de forma pragmática, o LPJ, associado a
outros movimentos e a outras lutas, como o engajamento com o movimento estudantil,
tem proporcionado algo que, historicamente no Brasil, tem se constituído como lugar
político característico do jovem, isto é, a luta contra o sistema que, de alguma forma, o
aprisiona.
A juventude da década de 1960, pré golpe militar, por exemplo, era permeada de
ideais de rebeldia, de transformações, de transgressões de valores estabelecidos, por
uma forte contraposição advinda da contracultura (CARDOSO, 2005). Nesse sentido as
ações dos jovens no Brasil na época da ditadura militar, intimamente ligadas ao
movimento estudantil nas instituições universitárias e secundaristas ou a associações
com partidos de esquerda (NORONHA, 2012), visavam a luta contra o regime. Os
campos culturais foram, e são ainda hoje no movimento do levante popular da juventude
extremamente importantes para sua ação política. O LPJ, assim como a juventude da
década de 1960, tem demonstrado entender que “(..) as políticas públicas são respostas,
e enquanto não haja demandas e pressões sociais, as questões não são pautadas na
agenda pública e, por isso, se mantêm num ‘estado de coisas’ “ (LOPES & SILVA,
2009).
O ENGAJAMENTO JUVENIL NA SOCIEDADE
O MOVIMENTO E A PSICOLOGIA
DISCUSSÃO
Martins (2007), afirma que isoladamente, uma pessoa pode identificar seu
problema como sendo uma necessidade individual, exclusivo seu, porém quando essa
mesma pessoa se encontra em um grupo, ocorre uma percepção de que os participantes
do mesmo grupo sofrem de situações semelhantes às suas, dessa maneira, entende que
seus problemas são decorrentes da própria vida em sociedade e, assim, juntos, esses
indivíduos, diferentemente da ação individual e isolada, podem levar a resolução do
problema ou a satisfação de necessidades comuns.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Irene. A geração dos anos de 1960: o peso de uma herança. Tempo soc.
São Paulo, v. 17, n. 2, p. 93-107, novembro de 2005. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
20702005000200005&lng=en&nrm=iso>. acesso em 13 de outubro de 2019.