Você está na página 1de 4

Introdução

A questão da construção da identidade ao longo da vida, mas em especial na adolescência,


que constituiria um tempo de moratória psicossocial, está no centro da obra do psicanalista
germano-americano Erik Erikson (1902-1994). Nascido em Frankfurt, na Alemanha,
Erikson nunca conheceu o pai biológico, que abandonou sua mãe antes de seu nascimento.
De origem dinamarquesa, a mãe se casou com um pediatra alemão judeu. Erikson foi
educado sem conhecer sua própria história. Esconderam-lhe principalmente que seu pai era
dinamarquês e que deixara sua mãe.
Desenvolvimento

Ao longo de sua carreira, Erikson tornou-se professor na Escola de Medicina de Harvard,


onde criou um grupo de pesquisas com o seu nome. Ensinou também no Massachusetts
Institute of Technology. Redigiu várias psicobiografias de homens célebres como Jesus
Cristo, Charles Darwin, Sigmund Freud, entre outros. Sua obra sobre Gandhi recebeu o
Prêmio Pulitzer em 1970, e a que abordou a vida de Lutero foi considerada um clássico do
gênero. As psicobiografias introduzem uma perspectiva analítica, com o uso de uma teoria
da personalidade, sobre o sujeito biografado, conectando-o a fatores de seu contexto
associados à sua trajetória.

Entende a identidade psicossocial como a percepção de pertença a um grupo e de não pertença a


outro. ... A pertença a um grupo pode resultar da escolha da pessoa mas também de imposição
externa ou do acaso.
Adolescência como moratória psicossocial

Para Erikson, a formação da identidade não começa nem termina com a adolescência. É um
processo que dura toda a vida, amplamente inconsciente para o indivíduo. Suas raízes
remontam à infância com a experiência de reciprocidade entre pais e filhos. Quando as
crianças delimitam seu primeiro objeto de amor, começam a encontrar a autorrealização
acompanhada do reconhecimento mútuo.

No geral, a adolescência começa com a instância de identidade difusa, que segundo Erikson
é um estado de coisas em que o sujeito não estabelece compromissos firmes com nenhuma
atitude ideológica, ocupacional ou interpessoal, nem está vislumbrando tal possibilidade.
Qualquer compromisso que possa ocorrer tende a ser efêmero e a ser substituído com
rapidez por outros, igualmente provisórios.

Um aspecto interessante da teoria de Erikson é o conceito da adolescência como moratória


psicossocial, ou melhor, como um período intermediário admitido socialmente, durante o
qual o indivíduo pode encontrar uma posição na sociedade por meio da livre
experimentação de funções. Depois de ter chegado ao autoconhecimento nos aspectos
físicos, cognitivo, interpessoal, social e sexual, os adolescentes começam a refletir sobre os
tipos de compromissos que gostariam de assumir, o que seria o estado da identidade em
fase de moratória.
Identificações e crises da adolescência

Erikson modificou a teoria freudiana sobre o desenvolvimento psicossexual. De acordo


com ele, inspirado nos experimentos advindos da sociopsicologia e da antropologia, a tarefa
global do indivíduo seria adquirir uma identidade positiva, à medida que avança de uma
etapa de desenvolvimento para a seguinte.
A comunidade influencia e dá reconhecimento aos novos indivíduos que emergem em suas
sucessivas e provisórias identificações. A criança começa a construir expectativas de como
gostaria de ser no futuro a partir de como se sente como criança. O processo de formação
da identidade emergiria como uma configuração envolvente, gradualmente estabelecida por
meio de sucessivas elaborações e reelaborações do ego na infância.

Erikson destacou que a crise de identidade era mais pronunciada na adolescência e que,
durante outros períodos da vida adulta, também poderia ter lugar uma redefinição da
identidade individual: quando os indivíduos abandonavam os lares, casavam-se, eram pais
pela primeira vez, divorciavam-se ou mudavam de trabalho. O êxito com que enfrentavam
tais mudanças de identidade estava determinado parcialmente pela capacidade para superar
as crises de identidade adolescentes.

Você também pode gostar