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ÍNDICE

PARTE

01
A dificuldade em narrar a
própria vida

PARTE

02
A responsabilidade e suas
camadas

PARTE

03
Exercício sobre terceirização
de culpa
1. O ser humano é o único animal que precisa contar a própria história.
E essa história precisa ter um sentido, do contrário à nossa percepção não é
preenchida, de maneira que tudo não passa de um devaneio. O problema é que
desde pequenos somos ensinados a brincar de contar histórias, e não de,
efetivamente, contá-las. E quando chegamos na vida adulta, já não podemos
mais brincar de contar histórias, pois um mundo de possibilidades concretas se
abre diante de nós – e com as possibilidades chegam os inimigos.

2. Além de não saber procurar as principais respostas para as


possibilidades concretas da vida, somos educados a não ter uma vida com
sentido, mas sim uma vida de sucesso. Os papéis sociais, então, tomam lugar
do eixo central que coordena a mais básica necessidade intelectual: ter uma
narrativa.
3. As ideologias revolucionárias se aproveitam disso, e dão uma
narrativa com um “aparente sentido” para as pessoas que precisam resolver
essa questão de contar a própria vida com sentido: é como se saíssemos da
infância com uma ferida aberta, e ao invés de limparmos, permitimos que joguem
terra nela: crescemos doente e não ligamos em ser contaminados cada vez mais.
4. Aos vinte e cinco anos de idade, chegamos desgastados. Ou por
quebrar a cabeça para descobrir como contaremos a própria história, ou porque
além disso, resistimos a ideologia a nossa volta. O auge da personalidade jovem-
adulta, que era ter um elemento de aventura, de abertura ao desconhecido, se
torna um cenário de medo: ansiedade e depressão são os principais sintomas
de que trocamos a clave da aventura pela do medo, e assim sempre estamos
preocupados com o que os outros vão achar de nós, sobre o que será de nós se
falharmos. Vivemos o medo, sem sequer pensar que ele não passa de uma
ilusão da vida que desarma nossa inteligência, nossa personalidade, que
desarma nossa vontade. O medo é a ilusão que desarma nós de nós
mesmos.
5. Mas há alguns poucos que sobrevivem ao náufrago. Encontram na
vida de estudos um canal para buscarem essa história, esse sentido de que tanto
precisam. Não temos um modelo de educação, como diria o professor Olavo de
Carvalho, e por isso não sabemos por onde começar: o que ler, o que estudar,
o que funciona e o que não funciona. E tudo isso pode até causar uma espécie
de desanimo se não houver outras pessoas, que sobreviveram ao náufrago e se
organizaram mais ou menos nesse sentido para dizer que há esperança, há cura,
e há uma narrativa que pode ser alcançada.

1. Etimologicamente a palavra responsabilidade significa responder.


Quando você cumpre uma responsabilidade, desde a mais banal até a mais
complexo, você fornece uma resposta para algo. Mais para a frente isso vai fazer
sentido para vocês.
2. Mas o principal problema quanto a isso é a rejeição das
responsabilidades. Se buscarmos as raízes dessa rejeição, chegamos a história
de Caim e Abel. Caim escolheu rejeitar as suas responsabilidades e por isso
decidiu usar o medo e a dor para justificar o assassinato cometido contra seu
irmão, Abel. Muitas vezes, criticamos Deus por permitir a existência do mal e por
nossas vidas estarem uma completa bagunça, mas nunca aceitamos a resposta
que ele, o próprio Deus, dá a Caim: “se as coisas estão dando errado para você,
a culpa é sua. Você precisa agir corretamente e não se queixar da natureza do
ser”.
3. Talvez por isso que o Ítalo tanto repete: sirva, trabalhe e não encha
o saco. São três pontos que tem tudo a ver com a busca de uma narrativa e de
uma vida com sentido: o servir é uma ação presente em quase todos os eixos
narrativos, até o próprio Cristo serviu – e aqui falamos de Cristo como símbolo
máximo que reuniu em si todos os eixos narrativos possíveis e inimagináveis.
Portanto, quando você está servindo o outro, você está se orientando em meio
a essa confusão, como quem diz: “realmente, se eu não tenho um sentido, se eu
não sei como contar uma história, e se não tenho uma vocação, o servir é algo
de valioso que tenho agora para me orientar”.
4. Já a questão do trabalho é algo básico para a nossa sobrevivência.
Ele existe porque temos que pagar nossas contas, comprar comida, comprar
roupa, sanar as principais necessidades práticas da vida humana. Mas é também
símbolo de honra as próprias responsabilidades. Caim e Abel trabalharam.
Moisés, Salomão e Cristo também trabalharam. Não tenha um homem que não
tenha trabalhado. Agora, por outro lado, quando ele diz: não encha o saco! Pode
parecer até um conselho prático, e até é mesmo, mas existe um sentido sublime
que vimos anteriormente, quando Deus fala para Abel: “não se queixe da
natureza humana”.
5. Essa introdução serviu para chegarmos ao assunto sobre a
responsabilidade.
6. A responsabilidade, como havia dito, é uma resposta. Uma resposta
a algo que ainda não sabemos. Ela cria uma espécie de ordem interior e deixa
as coisas mais ou menos arrumadas fora de nós. Jordan Peterson costuma dizer,
em seu livro 12 regras para vida, para você limpar o seu quarto.
7. Essa ideia nos remete a responsabilidade mais básica de todas: assim
que você acorda, após fazer as suas necessidades e ter seu momento de
meditação ou oração, a primeira responsabilidade que surge é você limpar o seu
quarto, organizar ele. Pode até parecer besta para quem lê isso pela primeira
vez, mas com o tempo nós notamos duas coisas: a primeira é que começar pela
responsabilidade mais básica do nosso dia, nos conduz as demais
responsabilidades. Depois de arrumar o nosso quarto, já passamos aos estudos
matinais ou o trabalho matinal. De repente, estamos preparando o almoço, e
quando nos damos conta, já estudamos e trabalhamos a tarde e chegou, então,
a noite.
8. Começa pelas pequenas responsabilidades, organizará a sua
narrativa diária – ou ao menos tentativa de narrativa diária – pois você não estará
tentando mudar o mundo ou alterar a estrutura da realidade, mas você estará
dando pequenas respostas a um chamado.
9. Temos a vaga ideia de que responsabilidade significa cumprir o
horário de estudo, de trabalho, pagar as contas em dia, fazer o mercado, etc.
Bom, isso é responsabilidade, mas é a mais baixa camada da responsabilidade.
Se você não consegue cumprir todas essas etapas dessa primeira camada da
responsabilidade, você não consegue enxergar a próxima, que é muito mais
trabalhosa. Portanto, não se sinta especial se você consegue cumprir as suas
responsabilidades cotidianas.
10. Com este panorama resumido, a próxima camada começa a ser vista
como um trabalho a longo prazo onde você precisa acumular habilidades, tanto
científicas, como aprender filosofia, psicologia ou teologia, como também
habilidades artísticas (violão, piano, etc.) ou até mesmo habilidades caseiras
(trocar a resistência do chuveiro, por exemplo), de modo que durante uns dez,
quinze anos você vai acumular tantas habilidades que você a sua vocação
começará a ficar mais esclarecida para você.
11. Se explicamos que a responsabilidade era uma resposta, uma
resposta a algo, agora já começamos a perceber que ela é uma resposta a um
chamado (vocatio, vocação). Só através disso é que conseguimos acessar a
nossa vocação, e é ela quem dá sentido à nossa narrativa. Para que vocês
entendam:
12. Se antes o problema era contar uma história com sentido, agora já
temos mais ou menos um mapa de como chegar lá. E para isso é imprescindível
que haja uma vida de estudos. Pois é ela quem lhe auxiliará no ganho dessas
habilidades. Se a vocação é um chamado, a responsabilidade é a resposta
a esse chamado.

Quando não cumprimos uma responsabilidade, sempre terceirizamos a


culpa. Nunca somos culpados, mas sempre as circunstâncias ou os outros. Por
isso, este exercício irá te ajudar.
Como ele é feito? Você vai chamar alguém de confiança, pode ser um
irmão, um amigo de infância, enfim, e sentar na frente dele. Você vai contar sobre
todos os seus fantasmas do passado, tudo aquilo que te afetou por dentro; vai
falar das pessoas que te magoaram, que te deixaram sem chão.
Mas não adianta fazer isso sozinho, pois não terá o mesmo impacto.
Você, após fazer o teste – que já adianto, poderá ser bem emotivo -, vai
fazer com que você perceba que a culpa de você não estar onde deveria estar é
TOTALMENTE SUA.
As pessoas que causaram um mal na sua vida eram pessoas, com
qualidade e defeitos, e por isso você também verá que elas não são tão malignas
como você pensava que era, o que te abre para uma coisa chamada perdão.
Fazendo isso, você também perceberá que deve parar de culpar o seu
passado, os seus erros, e enxergar que 99% da culpa é só sua.
Às vezes que terceirizamos a culpa, é porque não desenvolvemos este
exercício – e acredite, ele tem muito impacto quando você faz de frente com
outra pessoa de confiança.

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