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ANJOS E DEMÔ NIOS (parte 1)

Olá , meu irmã o e irmã . Se você acompanha o “Voz” e esta acostumado a ler
“Servindo à Verdade” já deve saber que tenho a honra de desenvolver na Igreja
atividades de natureza formativa (catequese, apologética...). Pois bem, em razã o
dessas atividades, à s vezes me deparo com questõ es que, para minha surpresa, sã o
surpresas de muitas pessoas. Uma dessas questõ es refere-se à existência dos anjos
e dos demô nios.

Na verdade essa dú vida é dirigida de maneira mais direta á existência ou nã o


de Sataná s. Nos meios e encontros de catequeses e espiritualidade essa é uma
dú vida constante. Tenho escutado essas perguntas há bastante tempo. Considero o
assunto delicado e ao mesmo tempo necessá rio. Se o povo nã o tem uma catequese
clara pode buscar respostas em “filosofias” como a “Nova Era”, pode se dirigir ao
mundo da superstiçã o ou para a negaçã o das realidades espirituais e cair no
materialismo que é tã o perigoso quanto as superstiçõ es. Tal dú vida se manifesta
em perguntas como: Sataná s existe realmente ou nã o? Como age? Existe
possessã o? Afinal eles existem ou seriam somente fá bulas? Existem ou sã o
somente recursos de um modo de falar poético? E muitas outras perguntas.

Prorroguei por mais de ano escrever algo sobre o assunto. As pessoas


perguntavam e eu respondia de modo superficial já que eu mesmo nã o sabia quase
nada. Comecei a ler sobre o tema a isso tenho me dedicado por mais de um ano. É
preciso dizer que há vá rias reflexõ es teoló gicas, mas existe também muitas
opiniõ es sem fundamento algum, que mistura catolicismo com religiõ es orientais
fazendo uma “salada” muito indigesta e nada recomendá vel.

Antes de entrar diretamente no tema permita-me dizer o itinerá rio que segui.
Sei que raramente isso é feito em uma publicaçã o jornalística. Mas o “Voz” é um
jornal diferenciado e quer, dentre outras coisas oferecer ao povo conteú do
formativo. Isso permite – e me sinto obrigado por um princípio de honestidade –
prestar esse esclarecimento. Minha principal referência, logicamente, é a Doutrina
da Igreja (Escritura, Tradiçã o e Magistério), depois oferecerei algumas reflexõ es e
pareceres a partir de autores respeitados que tratam do assunto. Que fique claro:
só somos obrigados a aderir ao que ensina dogmaticamente a Doutrina. Já os
outros pareceres e estudos servem como uma proposta para expandir a presente
catequese, sempre com ponderaçõ es pautadas na Sã Doutrina.

Logo esclareço que nossa conversa se estenderá por algumas ediçõ es do


“Voz”. Se o assunto lhe interessa, sinta-se, desde já convidado a me acompanhar.

Para que nossa catequese esteja de acordo com a Verdade iniciemos com um
pressuposto fundamental e indispensá vel: o dogma acerca da criaçã o.
De acordo com o ensinamento da Igreja, Deus criou, do nada, tudo o que
existe (cf. CIC 282). Tudo o que existe nã o é fruto do acaso. Tudo o que existe tem
um sentido, uma razã o de ser.

E por qual razã o Deus criou tudo? A Igreja ensina que Deus tudo fez para sua
gló ria (cf CIC, 293). Nã o para aumenta-la, pois Ele é absoluto, mas para manifestar
sua gló ria. Ou seja, a criaçã o é a manifestaçã o da gló ria de Deus. Tal gló ria
comunica a bondade divina. Logo, tudo que Deus fez é bom: “A gló ria de Deus
consiste em que se realize esta manifestaçã o e esta comunicaçã o de sua bondade
em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nó s ‘filhos adotivos por Jesus
Cristo: conforme o beneplá cito de sua vontade para louvor da sua graça’(Ef 1m 5-
6)”.

Se o Senhor nã o tivesse feito a criaçã o, sua gló ria em nada seria diminuída.
Entã o, que fique claro: Ele nã o criou por uma necessidade. Se Deus nã o tivesse
criado, Ele continuaria a Ser Deus em sua divina majestade. Nó s, o Sol, a Lua, o
universo... Nã o existiríamos, porém, Deus seria Deus. Ele nã o criou seguindo uma
obrigaçã o qualquer. Ele criou tudo com absoluta liberdade. Diz o CIC (295):
“Cremos que Deus criou o mundo segundo sua sabedoria. O mundo nã o é um
produto de uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do acaso. Cremos
que o mundo procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas
participarem de seu ser, de sua sabedoria e de sua bondade: ‘Pois Tu criaste todas
as coisas; por tua vontade é que elas existem e foram criadas’ (Ap 4,11)”.

E o que quer dizer criar do nada? Somos acostumados a dizer que o homem
cria, mas essa afirmaçã o, rigorosamente falando, nã o é adequada. Criar quer
significar fazer do nada, ou seja, sem nenhum “material” pré-existente. Nó s, seres
humanos, fazemos as coisas a partir daquilo que a natureza nos oferece. O homem
faz uma ponte de madeira, mas nã o faz a madeira. Com Deus é diferente: Ele fez a
madeira. Assim diz a Doutrina que é a inteligência da fé: “Cremos que Deus nã o
precisa de nada pré-existente nem de nenhuma ajuda para criar. A criaçã o também
nã o é uma emanaçã o necessá ria da substâ ncia divina. Deus cria livremente “do
nada’”(CIC, 296).

Sendo que a criaçã o nã o é resultado de um acaso, entendemos que há em seu


interior uma ordem que foi posta por Deus: “Já que Deus tudo cria com sabedoria, a
criaçã o é ordenada: ‘Tu dispuseste tudo com medida, nú mero e peso (Sb 11,20)”
(CIC, 299). É essa ordem interna na natureza e que permite com que o homem
entenda a natureza. Sã o as chamadas “Leis Naturais”.

Retomando: Deus fez tudo por sua sabedoria, fez tudo do nada, fez sem ser
obrigado por nada, fez para manifestar sua gló ria, fez para comunicar seu amor; fez
de modo ordenado, organizado. Entã o, tudo o que Deus fez é bom certo? Mas o mal
existe, nã o temos como negar. A resposta para isso nã o é simples, o pró prio CIC
(309) reconhece.
Na verdade, Deus criou tudo bom, porém em caminhada, isto é, as coisas sã o
boas, mas podem se tornar perfeitas, pois esse é a Sua divina vontade (cf. CIC,
310). Assim, anjos e homens foram feitos bons, mas devem melhorar e isso
acontece fazendo uso da liberdade. Mas sobre isso tratamos no pró ximo “Servido à
Verdade”.

Sigamos em frente buscando pensar com a Igreja no serviço da Verdade.


Fiquem com Nossa Senhora e Sã o José.

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