Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PRIMEIRA ORELHA
JARRI ROBERTO ALMEIDA DESDE 1988 REALIZA PALESTRAS PÚBLICAS,
E COORDENA GRUPOS DE ESTUDOS. É TRABALHADOR DA SOCIEDADE
ESPÍRITA AMOR E CARIDADE, EM OSÓRIO, OCUPANDO TAMBÉM
DIVERSAS FUNÇÕES NO MOVIMENTO ESPÍRITA DO LITORAL NORTE DO
RS. EM SUAS REFLEXÕES, BUSCA O DIÁLOGO ENTRE ESPIRITISMO E
CIÊNCIAS HUMANAS, DEFENDENDO A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO DO
CONHECIMENTO ESPÍRITA NO CONJUNTO DO SABER HUMANO.
ATUALMENTE, TEM SE VOLTADO PARA O ESTUDO DA CONVIVÊNCIA E
DAS RELAÇÕES FAMILIARES, REALIZANDO PALESTRAS E SEMINÁRIOS.
É HISTORIADOR E PROFESSOR. É CASADO COM A PROFESSORA
GISELDA QUADROS, PAI DE GERMANO.
SEGUNDA ORELHA
ALLAN KARDEC OFERECEU VALIOSAS INSTRUÇÕES, ALGUMAS
ESQUECIDAS OU IGNORADA, MAS QUE REPRESENTAM BASE
FUNDAMENTAL PARA A REAL COMPREENSÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA.
EM SEUS DISCURSOS, POR OCASIÃO DA ABERTURA E ENCERRAMENTO
DO ANO SOCIAL DA SOCIEDADE PARISIENSE, E EM SUAS VÁRIAS
VIAGENS, NÃO SE FURTAVA EM CONCLAMAR OS ESPÍRITAS AO
CULTIVO DOS VALORES RENOVADORES DA ALMA.
POR ISSO BUSCAMOS SUAS OBSERVAÇÕES SOBRE A QUESTÃO DOS
MELINDRES, RESSENTIMENTOS, DAS DISSIDÊNCIAS, DO PAPEL DOS
DIRIGENTES E SOBRE O QUE ESTAMOS REALMENTE APRENDENDO E
APLICANDO NO COTIDIANO DE NOSSAS INSTITUIÇÕES.
O TEMA, BEM SABEMOS, É DELICADO E URGENTE EM NOSSO MEIO!
FICAMOS GRATOS SEU CONTEÚDO AQUI APRESENTADO PUDER
COLABORAR DE ALGUMA FORMA, NOS ESTUDOS INDIVIDUAIS OU EM
GRUPOS QUE PRETENDAM APROFUNDAR REFLEXÕES SOBRE A
QUALIDADE DE NOSSA CONVIVÊNCIA NAS CASAS ESPÍRITAS.
Jerri Roberto Almeida
A Convivência na
Casa Espírita
Reflexões e apontamentos
Com base nas instruções de
Allan Kardec
@ Jarri Roberto Almeida, 2011
Projeto Editorial:
Federação Espírita do Rio Grande do Sul
Capa:
Demitrius Gutierrez (Jimi Mars)
Editoração Eletrônica:
52C Produção Gráfica
Revisão:
Otávio Xavier Lokschin
Almeida, Jerri R. S. de
A convivência na casa espírita - reflexões e comportamentos com base
nas instruções de Allan Kardec. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2011
16 x 23 cm 150p
CDD CDU
ISBN: 978-85-61520-15-1
Agradecimentos
Paz e bem,
Vinicius Lousada
Bagé, dezembro de 2010.
Kardec e o calcanhar de Aquiles
A palavra tolerância provém do latim toleratia, que por sua vez procede
de tolero, e significa suportar um peso ou a constância em suportar algo. Ao
longo do tempo, acabou ganhando uma conotação negativa circula por
designar as atitudes permissivas diante do erro. Atualmente, no entanto, ganha
espaço como um valor positivo diante das múltiplas manifestações da
intolerância.
Existe um limite para a tolerância? Poderemos estabelecer uma relação
de proximidade entre tolerância e indulgência? Como administrar a tolerância
com o dever? Tais são as questões que pretendemos refletir neste capítulo.
Na sessão de 30 de abril de 1869 na Sociedade Parisiense, temos uma
comunicação de Allan Kardec, ocorrida após a sua desencarnação
(31/03/1869), sobre o título: "O exemplo é o mais poderoso agente de
propagação". Seu propósito era oferecer orientação sobre a continuidade da
obra a que ele havia derrotado grande parte de seu tempo. Ele, então, enfatiza:
"O que vos aconselho antes de mais nada e sobretudo, é a tolerância, a
afeição, a simpatia de uns para com os outros e também para com os
incrédulos. "(Revista Espírita, junho, 1869).
Pois bem, temos referência direta ao princípio da tolerância na
convivência. Este princípio, no entanto, decorre de uma compreensão mais
ampla sobre a incompletude humana e sua evolução espiritual. Desta forma,
cada indivíduo transita dentro de uma faixa de experiência que lhe é própria,
com suas conquistas e seus limites. Como vivemos numa cultura pendular de
extremos, enfrentamos, também, o problema da intolerância.
O fundamentalismo, por exemplo, é uma atitude de intolerância e
inflexibilidade na defesa de uma "verdade única" e absoluta. Diante disto,
irrompem conflitos graves, principalmente, no âmbito religioso, com guerras
insidiosas que têm gerado milhares de vítimas.
A ideia de possuir a verdade absoluta fecha o indivíduo para o diálogo,
ensejando-lhe posturas autocráticas e combativas. Mas o fundamentalismo não
se restringe a dimensão religiosa. Abrange outras dimensões, como racial,
política e ideológica... Há também os fundamentalismos do comportamento
individual que se radicalizam na convivência familiar e social.
Posturas intransigentes, ideias impostas, autoritarismo, entre outros, vão
permeando os relacionamentos e produzindo crises na convivência. É
necessário, pois, construirmos uma convivência inter-humana regada de maior
grandeza. A intolerância não vence a intolerância. Atitude de amorosidade
vence a intransigência e respeita a coexistência das diferentes opiniões,
crenças e saberes.
Mas, qual o limite entre a tolerância e a permissividade? Na Casa
Espírita, por exemplo, onde a disciplina é condição fundamental para o bom
andamento das atividades, como lidar com o trabalhador que não cumpre com
os seus compromissos? Com o irmão de ideal que, sob o argumento de
aprofundar novos conhecimentos, propõe mudanças que descaracterizam os
objetivos do Centro Espírita? Onde situar a tolerância diante daquele servidor
que, por qualquer desagrado, explode em críticas corrosivas?
Uma atitude de passividade diante do erro sob o pretexto de tolerância,
é uma visão distorcida que em nada contribui para o melhoramento dos
indivíduos e, ainda, perverte as instituições. O erro pode ser "tolerado" no
sentido de que é compreendido dentro dos quadros da ignorância e dos limites
evolutivos do Espírito. Partindo-se dessa premissa, deve-se buscar o caminho
educativo da reparação. A tolerância assume uma atitude dinâmica associada
ao nosso processo evolutivo. Mas, em nenhum momento, aproximar-se do
conceito de permissividade. É o eminente professor J. Herculano Pires, em seu
livro Na Hora do Testemunho, que nos oferece um valioso exemplo, no texto
"Antes do cantar do galo":
I- Autoridade moral
II- Dar a impulsão
III- Estimular os zelos
IV- Sustentar os ânimos vacilantes
V- Ajudar com os conselhos da experiência
VI- Fixar opinião sobre os pontos incertos
VII- Não se crer infalível
a) Estudo
b) Reflexão
c) Observação continua
Nota
(1) Sobre o sentido de religiosidade espírita, diz Kardec:
"[...] o espiritismo é, assim, uma religião? Sim, sem dúvida, senhores: no sentido
filosófico o Espiritismo é uma religião, e disso nos honramos, pois que é a
doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos
não em uma simples convenção, mas sobre a mais sólida das bases: as próprias
leis da Natureza". (Revista Espírita, dezembro de 1868)
O que é espiritualidade?
Para muitos, "espiritualidade" é a vida no mundo espiritual. Todavia, não
é esse o sentido que desejamos atribuir à palavra. Diante da incompletude
humana o termo "espiritualidade" refere-se a um processo de mudança interior.
Mas não é qualquer mudança! Trata-se de um melhoramento dos sentimentos
humanos, um alargamento dos potenciais capazes de tornar os indivíduos mais
sensíveis ao bem e ao amor.
O tema está associado à forma como o ser humano poderá administrar
seus estados mentais, na intenção do equilíbrio psicológico e emocional,
decorrentes de uma convicção de que podemos ser melhores. A mudança é
fruto dessa convicção pessoal. Espiritualidade é, portanto, tudo aquilo que
desenvolvemos internamente, e nos completam o Espírito e nos permite paz na
alma. Significa, portanto, afirmar que espiritualidade se refere a um
aprimoramento dos conteúdos de natureza subjetiva do sujeito.
A piedade, ao invés da cólera, a indulgência, ao invés da intemperança,
pois o progresso individual, como alertou Kardec, não consiste somente no
desenvolvimento da inteligência, na aquisição de alguns conhecimentos sobre
a vida no mundo espiritual. Para o Espiritismo, progresso consiste,
principalmente, no melhoramento moral, no progresso que nos conduz sempre
ao bem.
Pessoas espiritualizadas são aquelas que, entre outras coisas,
aprendem a administrar a sede de consumo, a febre da ambição, a inveja, o
ciúme, orgulho, o egoísmo e a intolerância, tornando-se referenciais de
benevolência e de equilíbrio espiritual. A conquista da espiritualidade, indica
Kardec, é também a conquista da calma.
A espiritualidade é construída não no isolamento pessoal, mas no
intercâmbio da vida relacional. Não devemos ignorar que estamos em contato
com o Espiritismo, justamente, para esse fim precípuo. O homem elevado
intelectualmente, poderá ainda fazer muito mal, mas o que é elevado
moralmente, apesar de não ter atingido as culminâncias evolutivas estará
compromissado com a prática do bem. O progresso pessoal tem um fim, uma
utilidade efetiva, com reflexos na vida social. Por isso, asseverou Kardec, em
Obras Póstumas, ao escrever sobre o Credo Espírita: "Vivam os homens
animados destes sentimentos e serão tão felizes quanto você pode na Terra".
E nós, espíritas, estamos compromissados com nossa espiritualidade?
Vivemos dentro das instituições, trabalhamos doando um pouco de nosso
tempo para transmitir consolo e esclarecimentos aos outros. Mas estamos nós,
nos abastecendo de tudo isso que levamos aos outros? Estamos
administrando evangelicamente, nossas mágoas? Estamos perdoando
possíveis ofensas e ofensores? Transmitimos paz e segurança com nossa
presença, ou geramos discórdia e instabilidade no grupo?
Certo, somos espíritas, mas antes de tudo somos humanos! Todavia,
qual a aplicação segura que temos feito do Espiritismo em nossas vidas? Por
exemplo: quando nos indispomos com alguém no grupamento espírita, como
administramos isto em nós? O que a Doutrina nos orienta nessa situação, nós
aplicamos na prática ou assumimos outras atitudes já convencionados pelo
mundo?
Na questão 905 de O Livro dos Espíritos, estudamos que a moral sem
as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho. De que serve a semente,
se não a fazemos dar frutos? A convivência na Casa Espírita deve se nutrir dos
frutos da Doutrina, e isso somente é possível com a espiritualização dos
dirigentes e trabalhadores espíritas. O princípio é simples, cumpre-nos o
esforço por praticarmos o que oferecemos aos outros. Por isso, a qualidade da
convivência, entre nós, deve poutar-se num clima de muita fraternidade e
respeito. Mas, para isso, a chave do progresso moral é o conhecimento de si
mesmo. A base desse raciocínio foi apresentada por Santo Agostinho, na
questão 919 de O Livro dos Espíritos. E nos orienta sobre o princípio do
melhoramento pessoal: "Quando estiver indeciso sobre o valor de uma de
vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa".
Créditos da imagem: Hostílio Ferreira
Na internet
www.jerrialmeida.blogspot.com