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Carlos Michiles – Ètica e a Miséria da Política

“nos faltam pensadores que orientem o Brasil na busca de um novo modelo de


desenvolvimento. É como se estivéssemos em um barco em alto-mar tormentoso, reclamando
da falta de comandante, sem percebermos que os nortes mudaram de lugar e os faróis
apagaram”.

Os políticos continuam usando ideias do passado, que já não orientam a sociedade e a


economia para o “novo futuro”, surgido com a globalização, a robótica, a inteligência artificial,
o esgotamento financeiro e gerencial do Estado, o fortalecimento do individualismo pessoal
com os limites ecológicos do crescimento. Eles não levam em conta que a classe operária está
dividida em uma parcela moderna, com acesso a elevado consumo, sem consciência nem
interesse de classe, sem bandeiras transformadoras, apenas reivindicações corporativas; ao
lado, milhões vivem na exclusão social, sem emprego nem chance de se empregar.

A EDUCAÇÃO foi tratada como um serviço social a que a população tinha direito – como saúde,
agua e esgoto -, não como o VETOR do PROGRESSO.

O livro nos faz refletir sobre a criação de uma nova geração de pensamento social e econômico
capaz de perceber:

a) A realidade da GLOBALIZAÇÃO que exige economias competitivas internacionalmente;


b) Os limites do Estado, tanto na sua capacidade gerencial, quanto na disponibilidade de
recursos fiscais;
c) A necessidade de responsabilidade fiscal e de equilíbrio monetário;
d) Que a INFLAÇÃO foi usada como ferramenta para concentração da renda;
e) Os sinais teóricos e empíricos que indicam os limites do crescimento econômico,
exigindo que a velha bandeira de aumento do PIB seja substituída pela melhoria da
qualidade de vida;
f) Que o fim da ilusão do PIB e da abundancia vai exigir austeridade no uso dos recursos
naturais e fiscais, construindo sociedades justas e economias eficientes;
g) Que não se constrói sociedade justa sobre economia ineficiente; e
h) Que o motor do PROGRESSO econômico e da justiça social está na educação de
qualidade para todos.

ÉTICA cósmica de Aristoteles

Em “Ética a Nicomaco”, o tema ética é abordado como sinônimo de felicidade humana em


uma Polis. A felicidade plena acontece quando o individuo realiza o seu potencial e talento
para viver feliz. Viver bem leva a felicidade. A vida de uma pessoa é o resultado do meio em
que se vive, das leis, dos costumes e das instituições adotadas pela comunidade na qual a
pessoa existe. Para Aristoteles, o homem é um ser social por natureza e sua felicidade está
ligada a esse convívio e interação com as outras pessoas.

Esta noção fundamental do ser social e da convivência é a base da noção de VIRTUDE e da


ÉTICA em Aristoteles. Esta noção de ÉTICA está centrada na figura individual e na busca da
felicidade segundo a capacidade de manifestar o seu talento. Assim, uma vida vale a pena ser
vivida se durante a trajetória da existência esta vida atingiu as potencialidades do ser humano.

Aristoteles concebe a ÉTICA como a realização da felicidade individual em que se alcança a


excelência de uma existência, mas essa realização não ocorre de maneira isolada das outras
pessoas. Requer uma convivência com o outro porque é na convivência que a ÉTICA se faz
necessária.
Aristoteles tinha a sua concepção de mundo POLÍTICO como um todo harmônico onde tudo e todos
devem funcionar para a realização e felicidade individual. A vida terá valido a pena se ela foi capaz de ter
realizado as suas potencialidades de ser humano.

TEORIA: a contemplação do divino existente.

O universo e o cosmos, forma um todo harmonioso que facilita a realização da função e a finalidade que
cada pessoa deve ter nesse território definido pela harmonia de seu funcionamento. Cada um deve
encontrar seu papel para desempenhar a sua função nesse universo e assim atingir a plena realização de
suas virtudes. A vida feliz na POLIS é estar ciente de que viver bem é agir de acordo com o bem comum
onde cada um deve ter o seu lugar em um cosmos organizado e finito.

A vida bem sucedida para Aristoteles era a vida organizada de forma ÉTICA, ou seja, cada um tem o
seu devido lugar onde possa viver sua FELICIDADE.

ÉTICA Cristã – ruptura com o pensamento aristotélico

No pensamento ético cristão, o conceito se inovou na formulação de uma ética baseada na alteridade,
na maneira como nos relacionamos com os outros e não centrada no individuo como desenvolve o
pensamento grego.

Nota-se que a ênfase desse mundo organizado aristotélico o sujeito tem que encontrar a sua função no
mundo para ser feliz. Poucos, porem, teriam essa possibilidade para po gozo das VIRTUDES, porque os
TALENTOS não podem ser iguais.

Na visão cristã de mundo a autonomia da pessoa cede lugar a obediência, não existe mais a condição da
pessoa consultar sua consciência pessoal e sim seguir o caminho da FÉ em Deus.

Na parábola dos TALENTOS, Jesus prega que a desigualdade não é natural, nada a ver com a moral e a
politica. A VIRTUDE MORAL dos homens não está em seu TALENTO, mas no uso que esse homem faz do
seu TALENTO para o beneficio do outro. Reside aqui a incipiente noção da FRATERNIDADE que tornaria a
marca predominante dos valores cristãos.

O que conta para o cristianismo é a capacidade que todo homem tem em aprimorar o seu livre arbítrio
para que possa utilizar seus talentos que atendam ao outro, ou seja, o que devemos fazer com nossos
talentos. Colocá-los a serviço do egoísmo pessoal ou para fazer desses talentos um meio de
SOLIDARIEDADE.

Jesus introduz como valor universal da humanidade a noção do livre-arbitrio (liberdade), da igualdade
(todos iguais) e da fraternidade (amor). O livre-arbitrio é o espaço da liberdade para que os indivíduos
realizem o sentido do amor fraterno em relação a seus semelhantes.

A ética cristã está baseada em três noções inéditas: a noção de livre-arbitrio e a igualdade, o foro
pessoal, a CONSCIENCIA se torna um valor mais importante que uma lei exterior que controla o senso
comum e a noção de humanidade.

ÉTICA moderna e contemporânea – valores de conduta e ação

Para a ÉTICA moderna, o mais importante na vida não é o desabrochar dos talentos individuais, nem
apenas na solidariedade humana, mas decidir sobre as questões da vida cotidiana na contramão dos
desejos, instintos e impulsos.

A RAZÃO define o homem moderno, a todo instante temos que tomar decisões sobre o que fazer, e
fazer da melhor maneira, que expressa um VALOR que se aplica a todos os homens. Para Kant, o
impulso da natureza no homem deve silenciar diante da RAZÃO. Seu pressuposto para formular sua
concepção sobre ÉTICA é a autonomia da RAZÃO. No império da razão, o desejo que está no corpo
tem que se calar.
A ética moderna indica uma forma de comportamento baseada em VALORES que todos os indivíduos
devem estar sujeitos. Dignidade no uso da LIBERDADE com dialogo e entendimento visando
compartilhar a melhor vida possível em sociedade.

Os VALORES do BEM devem estar presentes em todos os momentos de decisão como valor a orientar as
ações que tem origem e o alvo na busca do que é melhor para todos.

A ÉTICA nessa nova concepção humana de sociedade deixa de ser um critério de vida para ser um
critério de conduta.

A ÉTICA política em Maquiavel passa a ter suas próprias regras e características. Encara a realidade
como é, a realidade política e social como é, a verdade efetiva.

A noção de ética moderna não é uma verdade estabelecida. As soluções para os problemas e desafios
não se impõem antes de um entendimento ou dialogo para construir uma solução.

A ética que temos que seguir hoje significa o uso da inteligência e a nossa capacidade de compartilhar o
entendimento a serviço do aperfeiçoamento da convivência humana. Uma vez definida
democraticamente as regras para uma finalidade, todos têm que seguir essas regras. O não
cumprimento dessas regras equivale ao comportamento de um canalha, cuja definição pode ser “aquele
que descumpre acordos definidos pelo entendimento da inteligência para satisfazer um apetite pessoal
em detrimento do outro”.

Nesse caso, o critério para a ação ética hoje é o exercício do dialogo permanente sobre a melhor e mais
adequada para manter o convívio de forma partilhada e não imposta de forma unilateral. Surge com a
presença e reconhecimento do outro. Todos coparticipam das respostas produzidas para enfrentar e
resolver os problemas da sociedade. Assim, a ética que devemos assumir como consciência dos tempos
atuais é o exercício de uma pratica de busca de resposta para problemas atuais. Trata-se de um desafio
coletivo e não individual.

A ética contemporânea, assim, é a vitória da convivência sobre a vontade individual. Vitória da


consciência, da inteligência, do interesse público sobre o interesse privado. Cabe ao homem, no convívio
com o outro, em suas relações sociais encontrar uma solução pela INTELIGENCIA para resolver seus
impasses da vida coletiva.

O homem se torna parte da civilização quando é capaz de servir-se de sua própria capacidade de
entender o mundo e isso acontece pela EDUCAÇÃO. A vida impulsiona o homem em sociedade para
aprender a viver e aperfeiçoar as condições de existência por meio da EDUCAÇÃO. A ÉTICA é o melhor
caminho para escolher a melhor maneira de organizar o convívio humano.

A Ética tem a ver com uma janela aberta para pensar sobre indagações e respostas que não foram
formuladas por nenhum outro pensador.

A Ética nos dias atuais deve ser a vitória da MORAL coletiva sobre o egoísmo individual; do interesse
público sobre os interesses privados e da vontade coletiva sobre a vontade individual.

A ÉTICA com o compromisso de honrar o interesse coletivo e a moral como uma expressão do equilíbrio
entre o desejo e a vontade individual. A pulsão do instinto e a predominância da RAZÃO.

Capitulo 2 – Dialética da Dependência


O uso da cartilha da drenagem de CAPITAL da periferia para o centro do CAPITALISMO
continua a sua marcha em direção aos grandes grupos financeiros e rentistas que se
enriquecem às custas do subdesenvolvimento dos países periféricos.
Continua-se na mesma vala da força de trabalho agora “flexibilizada” para produzir
lucros e juros de uma dívida externa inesgotável que são apropriados como
MERCADORIAS extraídas da MAIS-VALIA relativa cada vez mais barata. Trata-se de uma
imensa vala de trabalhadores e assalariados superexplorados abastecendo um sistema
mundial que usa e sempre usou, segundo a formação econômica do Brasil, as
matérias-primas da periferia para nos vender como MANUFATURADOS.
Há consenso da relação de dependência imanente à formação histórica na relação
entre uma economia desenvolvida e uma economia subdesenvolvida. Esse é o foco
central que define a sociedade brasileira, seus valores, aspirações, hábitos e cultura.
“o dilema fascismo ou socialismo era teoricamente sustentável, na medida em que a
superexploração requer a repressão e condiciona o desenvolvimento capitalista a
moldes socialmente restritivos, os quais só poderiam ser rompidos através da
REVOLUÇÃO. Assim, a aurora revolucionaria teria como incubadeira o acicate da
estagnação e da crise”, FHC.
“Tem desenvolvimento e não estagnação. Porque o que os outros diziam – se referia a
Frank, Marini e Theotonio dos Santos – é que a dependência é um estado, é uma
estagnação, exploração de matérias-primas e mão de obra e vai requerer SOCIALISMO
porque aqui vai haver sempre DITADURA. Mesmo O´Donnell nos livros dele sobre
regime autoritário, considerava os regimes autoritários como fase necessária da
acumulação capitalista, tal como ela se dava na periferia. Eu não. Nós dizíamos, aqui
não precisa haver socialismo. Quer dizer, socialismo ou fascismo, a tese de Theotonio
dos Santos. Eu respondo: Não é nada disso. Dá para fazer a DEMOCRACIA”. FHC.
A visão que a ESQUERDA tinha nos anos 70, prossegue Cardoso, “era de que haveria
dependência, marginalização crescente, pauperização e, portanto, só o socialismo
resolveria essa questão. E a minha visão não era essa”. Cardoso continua: “Aqui está
havendo uma transformação das relações de produção. Esta transformação está sendo
impulsionada pelo desenvolvimento capitalista. Um CAPITALISMO que não é dos
países centrais, mas, de toda maneira, ele é forte o suficiente para produzir uma
grande transformação”.
A análise tem que considerar as formações sociais particulares do CAPITALISMO nos
países com formações históricas diferentes. Em outras palavras, nas sociedades da
América Latina não se verifica o mesmo processo histórico dos países europeus. Por se
tentar aplicar modelos de analise em realidades históricas diferentes é que se origina o
equívoco entre método de interpretação e realidade. A crença de que é possível a
“quebra do Estado burguês” pela via armada ou revolucionária é exemplo dessa
analise divorciada da realidade.
Esse desafio perdura porque, enquanto a economia internacional passa por revolução
tecnológica na microeletrônica, aplicação da informática no processo de produção,
desenvolvimento da indústria aeroespacial e das telecomunicações, da fabricação de
novos materiais e das inovações no campo da biotecnologia, os países periféricos
seguem caminho inverso e continuam a aumentar o subdesenvolvimento ao continuar
transferindo recursos líquidos par o exterior, aprofundando a dependência pela
ausência de capacidade tecnológica e investimentos em ciência e educação.
Capitulo 3 – Ética do Centauro dos Pampas e o Realejo das Palavras
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