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CENTRO UNIVERSITÁRIO LA SALLE

Curso de Química
Disciplina: Química Inorgânica Aplicada
Profª Silvia Rosane Rodrigues

A RADIOATIVIDADE
Introdução

A radioatividade é um fenômeno apresentado por nuclídeos que se decompõem de maneira


espontânea ou artificial, provocando a emissão de radiações ou partículas subatômicas.
A palavra radioatividade deriva das palavras rádio + atividade, propriedade que corresponde à
desintegração espontânea efetuada por átomos de certos elementos instáveis que se transformam
em átomos de outros elementos, acompanhada de emissão de radiação.

História da radioatividade

Desintegração nuclear:

226 4
83Ra 2He + 22286Rn

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Tabela 1 – Tipos de partículas emitidas por elementos radioativos
Nome Símbolo Carga Massa
2He , 2α x 10-24
4 2+ 4
Alfa +2 6,65
-1e, -1β 9,11 x 10-28
0 0
Beta -1
0 γ, γ
0
Gama 0 0

Figura I – Comportamento das partículas α, β e γ quando submetidos ao campo elétrico

Figura II – Diferença no poder de penetração das partículas α e β

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Séries radioativas
Em vários casos, a emissão das partículas 42α ou 0-1β, resulta na formação de um isótopo
que também é instável e, portanto, radioativo. O novo isótopo radioativo pode também sofrer um
número de transformações sucessivas até que seja produzido um isótopo não radioativo. Tais
séries de reações são chamadas de séries radioativas.

Exemplo:
238 210
Início com: 92U Fim com: 84Po

238 4 234
92U 2He + 90Th
210 4 206
84Po 2He + 82Pb

Outros tipos de decaimento radioativo são:

Pósitron  0+1β
+1β
207 0
84Po + 20783Bi

Captura de elétron ou captura K (ocorre em um processo onde um elétron interno é capturado pelo
núcleo)
7 0 7
4Be + -1e 3Li

Estabilidade do núcleo atômico

Fe 26p + 30n  ∆ = 4n
Isótopos estáveis
Pt 78p + 117n  ∆ = 39n

t1/2 = (23892U) = 1 bilhão de anos t1/2 = (257103Lr) = 8 segundos

Meia-vida (t1/2)
É o tempo necessário para que metade da amostra decaia. Exemplo: Trítio (31H), um
radioisótopo do hidrogênio, tem uma meia-vida de 12,3 anos.

-1β
3 0
1H + 32He

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Velocidade de decaimento radioativo
Para determinarmos a meia-vida de um elemento radioativo, a velocidade de decaimento
deve ser medida, ou seja, devemos medir o número de átomos que se desintegram por segundo,
por hora ou por ano.
A velocidade de decaimento nuclear é frequentemente descrita em termos de atividade (A)
da amostra, o número de desintegrações observadas por unidade de tempo. A atividade é
proporcional ao número de átomos radioativos presentes (N), podendo expressar esta relação
através da equação (1):

A = k.N (1)

onde k é a constante de proporcionalidade ou constante de decaimento.

A equação (1) pode, em termos cinéticos, ser considerada como uma lei de velocidade de
1a ordem em relação ao número de átomos na amostra, sendo k a constante de velocidade.
A atividade de uma amostra pode ser medida com um aparelho chamado contador Geiger.
Consideremos então que a atividade é medida em algum tempo t0 e medida novamente
após alguns minutos, horas ou dias. A partir da atividade inicial Ao, relativa ao tempo t0, então a
segunda medida fornecerá uma atividade A menor, em um tempo t posterior. Da equação (1)
pode-se verificar que a razão entre a atividade (A) em um tempo t em relação a atividade no início
do experimento (Ao), deve ser igual a razão entre o número de átomos radioativos presentes, N, no
dado tempo t em relação ao que havia no início, No :

k.N A
A
= = N
No
= fração de átomos radioativos (2)
Ao k.No Ao ainda presentes na amostra após
passado um determinado tempo.
A equação (3) é extremamente útil pois relaciona o período de tempo através do qual a
amostra é observada (t) com a fração de átomos radioativos presentes após ter passado uma
quantidade de tempo:

ln N/N0 = -kt (3)

O sinal negativo na equação (3) indica que a razão N/No é menor que 1, porque N é sempre menor
que N0, e consequentemente o termo ln(N/N0) é negativo. A equação (3) possui três aplicações:

1) Se A/A0 ( e portanto, N/N0) é medida no laboratório, por um período t, então k pode ser
calculada. Conhecida a constante de decaimento k, pode-se determinar a meia-vida da amostra;
2) Se k é conhecida, a fração de amostra radioativa ainda presente após um tempo t pode ser
calculada;
3) Se k é conhecida para um isótopo radioativo em particular, você pode calcular o tempo
necessário para o isótopo decair a uma certa atividade.

Com a equação (3) podemos também determinar a meia-vida de um isótopo


radioativo, t1/2. Se a meia-vida é o tempo necessário para que metade do material presente no
início do experimento (N0) desapareça, então:
t = t1/2 N = ½ N0
ln (½ N0)/N0 = -k t1/2 ln1/2 = -k t1/2 t1/2 = 0,693/k (4)

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Cálculos de Energia de Ligação
Devemos ser capazes de predizer a massa de um átomo a partir das massas das partículas
subatômicas contidas nele. Um átomo de hélio, por exemplo, contém dois prótons (m = 1,0072765
u), dois nêutrons (m = 1,0086650 u) e dois elétrons (m = 0,0005486 u). A massa de um átomo de
hélio deveria ser, portanto, 4,0329802 u.

Verificamos, no entanto, que a massa do hélio quando medida, apresenta um valor


experimental menor que o valor calculado teoricamente. A diferença é de 0,0303769 u.

A diferença entre a massa de um átomo e o somatório das massas de prótons, nêutrons e


elétrons é chamada de defeito de massa e reflete a estabilidade do núcleo. O defeito de massa
equivale à energia liberada quando o núcleo é formado a partir de prótons e nêutrons e é
conhecido como energia de ligação do núcleo. A energia de ligação tem o mesmo significado para
as reações nucleares que o ∆Ho tem para reações químicas. Ela mede a diferença entre a
estabilidade dos produtos de reação e os materiais de partida. É a energia que mantém prótons e
nêutrons unidos. Quanto maior a energia de ligação, mais estável o núcleo.

A energia de ligação de um nuclídeo pode ser calculada a partir do defeito de massa com a
equação de Einstein que relaciona massa e energia:
E = m.c2
• Para obter e energia de ligação em Joules, devemos converter o defeito de massa das
unidades de massa atômica para quilogramas; e
• Aplicando a equação de Einstein, onde a velocidade da luz deve ser expressa em m/s,
teremos a energia de ligação de um único átomo de hélio igual a 4,53357 x 10-12 J;
• Multiplicando o resultado deste cálculo pelo número de átomos por mol, teremos a energia
de ligação para o Hélio igual a 2,730 x 1012 J/mol.

Estes cálculos nos dão uma compreensão da magnitude das reações nucleares. Por
exemplo, a energia liberada quando gás natural é queimado é de aproximadamente 800 kJ/mol. Já
a síntese de um mol de Hélio libera 3,4 milhões de vezes mais energia. No entanto, como as
reações nucleares são conduzidas em amostras muito pequenas, em geral a unidade de “mol” não é
a mais utilizada e sim as unidades de elétrons volts (eV) ou milhões de elétrons volts (MeV) por
átomo. A energia de ligação para o hélio é de 28,3 x 106 eV/átomo ou 28,3 MeV/átomo. Estes
valores são obtidos multiplicando energia de ligação expressa em J/átomo por 1ev/1,602 x 10-19 J,
transformando a energia de ligação para a unidade de eV/átomo. Ainda, podemos simplificar mais
os cálculos utilizando um fator de conversão entre defeito de massa, expresso em unidades de
massa atômica (u) e a energia de ligação em MeV:
1 u = 931, 5016 MeV
As energias de ligação aumentam gradualmente com o número atômico, apesar de elas
tenderem a uma estabilização próxima do final da tabela periódica. Uma quantidade mais prática é
obtida pela divisão da energia de ligação para um nuclídeo pelo número total de prótons e
nêutrons contidos neste nuclídeo. Esta quantidade é conhecida por energia de ligação por nucleon
e varia entre 7,5 a 8,8 MeV para a maioria dos núcleos. Ela alcança um máximo naquele que
possui massa atômica próxima a 60 u, sendo a maior energia de ligação por nucleon observada
para o 56Fe, que é o nuclídeo mais estável da tabela periódica.

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Idade de materiais orgânicos (Referência Masterton/Hurley)
Durante os anos de 1950, o Prof. W.F. Libby, da Universidade de Chicago e outros,
trabalharam em um método para determinação da idade de materiais orgânicos. O método baseado
na quantidade de carbono-14 pode ser aplicado a objetos possuindo idade desde poucas centenas a
mais de 50.000 anos. Este método tem sido usado para a determinação da autenticidade de
pinturas de pintores renascentistas e para verificar as idades de relíquias deixadas por habitantes
das cavernas pré-históricas.

O carbono-14 (C-14) é produzido na atmosfera pela interação de nêutrons da radiação


cósmica com átomos de nitrogênio únicos:
14
7N + 10n 14
6C + 11H

O C-14 formado por esta reação nuclear é eventualmente incorporado dentro do CO2 do ar.
Fica então estabelecida uma concentração de estado estacionário, contribuindo para 1 átomo de C-
14 para cada 1012 átomos de C-12 no CO2 atmosférico. Mais especificamente, a concentração de
C-14 é tal que uma amostra contendo 1 g de carbono, terá uma atividade de 13,6 átomos/min.
Uma planta viva, absorvendo CO2 tem esta mesma atividade, assim como os animais que se
alimentam de plantas ou, ainda, os seres humanos.
Quando uma planta ou animal morre, o consumo de carbono radioativo (C-14) pára.
Consequentemente, o decaimento radioativo de C-14 também diminui:
14 14
6C 7N + 0-1e t1/2 = 5730 anos

A atividade de uma amostra é então diretamente proporcional a quantidade de C-14, sendo a


equação (2) pode ser reescrita:

ln x0/x = kt ln A0/A = kt (5)

Onde: A0 é a atividade original, assumida como sendo 13,6 átomos/min;


A é a medida da atividade hoje;

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t é a idade da amostra.

Como se pode imaginar, não é fácil a determinação com exatidão, atividades da ordem de 1
átomo, decaindo por minuto, aproximadamente 1 “evento”a cada 6 segundos. Precauções têm sido
tomadas para excluir a radiação de fundo. Amostras relativamente grandes têm sido usadas para
aumentar a taxa de contagem. Recentemente uma técnica tem sido desenvolvida na qual os átomos
C-14 podem ser contados muito precisamente em um espectrômetro de massas especialmente
desenhado. Este método foi usado para datar o Sudário de Turin, usando 6 amostras com uma
massa total de 0,1 g. Análises realizadas por um time internacional de cientistas, em 1988 mostrou
o linho do qual o sudário foi confeccionado, cresceu no século de 14 d.C. Isto significa que esta
notável vestimenta de enterro não poderia ter sido usada no corpo de Cristo.

Fissão nuclear

Figura III – Figura exemplificando a fissão nuclear

Processo de fissão nuclear → descoberto em 1938 por Lise Meitner e Otto Hahn, na
Alemanha. Em Los Álamos, Novo México, liderados por J. Robert Oppenheimer trabalharam,
desenvolvendo a bomba atômica de fissão, vários membros da equipe e exilados da Alemanha
nazista, que fugiram com medo de que Hitler obtivesse primeiramente a bomba atômica.
A 1a bomba atômica explodiu em 16 de Julho de 1945, no deserto do Novo México, às 5 h
30 minutos. Menos de um mês depois, foi lançada a bomba em Hiroshima, matando 70.000
pessoas e devastando completamente uma área de 10 km2. Três dias depois, foi lançada a bomba
sobre Nagasaki quando em 14 de Agosto de 1945 ocorreu a rendição do Japão, findando a 2a
Guerra Mundial.

Processo de Fissão (23592U)


Vários isótopos de elementos pesados sofrem fissão se bombardeados por nêutrons de energia
suficientemente alta. Na prática, atenção tem sido centrada em dois isótopos em particular, 23592U

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e 23994Pu. Ambos podem se desmembrar em fragmentos com nêutrons de energia relativamente
baixa.
Mais especificamente em relação ao isótopo 23592U, ele constitui-se em somente 0,7% do
Urânio de ocorrência natural. O isótopo mais abundante U-238 não sofre fissão. O primeiro
processo usado para separar estes isótopos e até recentemente, o único disponível, era o de efusão
gasosa:

Câmara de Vácuo

Maior massa molar Menor massa molar

Figura IV – Efusão gasosa

Neste processo, um gás com uma maior massa molar efusiona para o vácuo mais
lentamente que um gás com uma massa molecular menor, onde o composto volátil UF6
(hexafluoreto de urânio), que sublima a 56°C, é usado para este propósito.

Quando um átomo de U-235 sofre fissão, ele se divide em fragmentos diferentes (não
equivalentes) e em um número de partículas beta e nêutrons. Este processo de fissão é complicado
pelo fato de que diferentes átomos de U-235 se dividem de várias formas diferentes:
90
37Rb + 14455Cs + 2 10n
1
0n + 23592U 87
35 Br + 14657La + 3 10n
72
30Zn + 16062Sm + 4 10n

Mais de 200 isótopos de 35 elementos diferentes têm sido identificados entre os produtos
de fissão do U-235.
A relação estável nêutron/próton, próxima do centro da Tabela Periódica, onde os produtos
de fissão estão localizados, é considerada menor (~ 1,2) do que a do U-235 (1,5). Portanto, os
produtos imediatos do processo de fissão contêm nêutrons demais para estabilidade; eles se
decompõem por emissão β. No caso do Rb-90, três etapas são necessárias para alcançar núcleos
estáveis:
90 90 0
37Rb  38Sr + -1e t½ = 2,8 min
90 90 0
38Sr  39Y + -1e t½ = 29 anos
90 90 0
39Y  40Zr + -1e t½ = 6,4 horas

O perigo da radiação associada com os testes de armas nucleares é devido aos isótopos
radioativos produzidos. Um dos mais perigosos é o Sr-90. Na forma de carbonato de estrôncio,
SrCO3, ele é incorporado nos ossos dos animais e seres humanos, onde permanecem por toda a
vida.
Observa-se que nas equações de fissão 2 a 4 nêutrons são produzidos por fissão para cada
um nêutron consumido. Com poucos átomos de U-235 se dividindo, são gerados nêutrons
suficientes para fissionar mais átomos de U-235. Isto cria a possibilidade de reação em cadeia,
cuja velocidade aumenta exponencialmente com o tempo. Isto é precisamente o que ocorre com a

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bomba atômica. A energia liberada em fissões sucessivas faz com que haja uma tremenda
explosão de poucos segundos.
Para que uma fissão nuclear resulte em uma reação em cadeia, a amostra deve ser grande o
suficiente de forma que a maioria dos nêutrons seja capturada inteiramente. Se a amostra é muito
pequena, a maioria dos nêutrons escapa, quebrando a cadeia. A massa crítica de U-235 requerida
para manter uma reação em cadeia em uma bomba parece ser de 1 a 10 kg. Na bomba lançada em
Hiroshima, a massa crítica foi alcançada usando um explosivo convencional para queimar um
pedaço de U-235 em outro. A bomba de Hiroshima foi equivalente a 20.000 toneladas de TNT.
A evolução de energia em um processo de fissão nuclear é diretamente relacionada com o
decréscimo de massa que ocorre. Aproximadamente 80.000.000 kJ de energia é liberada para cada
grama de 23592U que reage. Isto é aproximadamente 40 vezes maior que a variação de E para
reações nucleares simples, tais como de decaimento radioativo. O calor de combustão do carvão é
somente 30 kJ/g, ou seja, 1 g de 23592U produz mais energia que a combustão de 2700 kg de carvão
ou a explosão de 30 ton3 (3 x 104 kg) de TNT (trinitroglicerina).

Reatores Nucleares
Aproximadamente 18% da energia elétrica produzida nos EUA provêm de reatores
nucleares de fissão do U-235.
Na fig. 19.5 é mostrado esquematicamente um reator de água leve (light water reactor –
LWR):

 Os tubos de combustível são cilindros que contém material fissionável, pastilhas de


dióxido de urânio (UO2), em um tubo de liga de zircônio. O urânio nestes reatores é
“enriquecido” de modo que ele contém 3% de U-235, o isótopo fissionável;
 Os tubos de controle são cilindros compostos de substâncias, tais como B e Cd, que
absorvem nêutrons. O aumento da absorção de nêutrons diminui a velocidade de reação em
cadeia;
 Através da variação dos tubos de controle dentro do conjunto de tubos de combustível,
pode-se controlar a velocidade de reação em cadeia.

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 Água à pressão de 140 atm é passada através do reator para absorver calor liberado pela
fissão;
 A água sai do cerne do reator à 320°C, circula através de um circuito fechado contendo um
trocador de calor, que produz vapor à 270°C. Este vapor é usado para movimentar um
turbo gerador, que produz energia elétrica (EE);
 No reator de água livre, a água circulante serve também para outro propósito além de
transformação de calor. Ele atua para diminuir a velocidade ou para moderar os nêutrons
liberados pela fissão. É necessário se a reação em cadeia tiver que continuar; nêutrons
rápidos não são facilmente absorvidos pelo U-235.

Reatores no Canadá usam “água pesada”, D2O, que apresenta uma importante vantagem
sobre H2O. Suas propriedades moderadas são tais que o Urânio de ocorrência natural pode ser
usado como combustível; não é necessário o enriquecimento do U-235.
Há trinta anos foi proposto de forma geral que a fissão nuclear iria substituir combustíveis
fósseis (óleo, gás natural, carvão) como fonte de energia. Isto não aconteceu por no mínimo três
razões:
1) Energia Nuclear é mais cara, pelo menos nos EUA. Energia elétrica produzida em reatores
nucleares custam aproximadamente 7¢ por kw/hora, comparado com 3¢ por kw/hora de plantas de
combustíveis fósseis. Conforme levantamento realizado em 2001, no Brasil, foi verificado que a
energia gerada pela recém inaugurada Angra 2 teria um custo de R$ 45,00 por MW/h em
contraposição aos R$ 35,00 por MW/h da energia fornecida por uma hidrelétrica.
2) Acidentes Nucleares: em Three Mile Island, Pensilvânia, em 1979 e Chernobyl, Rússia, em
1986 tiveram efeito devastadores sobre a opinião pública dos EUA e Europa. Em Three Mile
Island, somente 50 curies foram liberados para o meio ambiente; não ocorreram mortes. Já a
explosão de Chernobyl liberou 100 milhões de curies, levando a, no mínimo, 31 fatalidades. Mais
de 135.000 pessoas tiveram que ser permanentemente evacuadas da área de Chernobyl.
3) Resíduos Radioativos – Disposição: tais resíduos tornaram-se sérios problemas políticos. A
síndrome de “NIMBY” (not in my back yard - não em meu jardim) aplica-se aqui. Existem planos
para depositar resíduos nucleares em leito de sal, numa profundidade de cerca da metade de uma
milha embaixo da terra, em Carlsbad, Novo México. Supõe-se que resíduos de altos níveis estejam
sendo enterrados em Yucca Mountain, Nevada.

Efeitos Biológicos da Radiação Ionizante


Desde o tempo em que a radioatividade foi descoberta é notável os danos causados por ela.
Já por volta de 1901, Pierre Curie descobriu que uma amostra de Ra colocado sobre a sua pele
produzia feridas que demoravam muito a curar. Existem surpreendentes diferenças de magnitude
entre os efeitos biológicos causados pelas radiações não ionizantes, como luz e microondas, e a
radiação ionizante, tais como radiação ultravioleta de alta energia, raios-X e raios- γ e partículas α
e β.
Radiações de baixa energia localizada na extremidade do espectro eletromagnético, tais
como ondas de rádio e microondas, excitam o movimento de átomos e moléculas, equivalendo a
um aquecimento de uma amostra. Radiações próxima da porção visível do espectro, excitam
elétrons para orbitais de maior energia. Quando o elétron eventualmente retorna ao estado de
menor energia, o excesso de energia é transferido para as moléculas vizinhas na forma de calor. O
principal efeito da radiação não-ionizante é, portanto um aumento da temperatura do sistema.
 Sabemos do fato que sistemas biológicos são sensíveis ao calor, como podemos
verificar quando cozinhamos com auxílio de um forno de microondas ou nos
expomos por muito tempo ao Sol. Mas é necessário uma grande exposição de
radiação não ionizante para produzir um aumento de aproximadamente 6ºC na
temperatura corporal para que ela seja fatal. Considerando que um ser humano

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possui em média uma massa corporal de 70 kg e que é constituído 80% de água,
podemos usar a capacidade calorífica da água para calcular que seriam necessários
absorver 1,5 milhões de Joules de radiação não-ionizante para matar um humano
médio. Se esta energia fosse transportada pela luz visível com uma freqüência de 5
x 1014 s-1, isto corresponderia a absorção de aproximadamente 7 mols de fótons.
Radiação ionizante por sua vez é muito mais perigosa. Uma dose de somente 300 Joules de
raios-X ou raios- γ seria fatal para um humano médio, mesmo que essa radiação cause somente um
aumento temperatura corporal de somente 0,001ºC. Radiação de partículas α são ainda mais
danosa; uma dose equivalente a 15 Joules já é o suficiente para matar um ser humano médio.
Enquanto é necessário 7 mols de fótons de luz visível para gerar uma dose fatal de radiação não-
ionizante, a absorção de somente 7 x 10-10 mols de partículas α emitidas por 238U são letais.

Existem três formas de medir radiação ionizante:


 Medida da atividade da fonte, em unidades de desintegrações por segundo ou
curies, que é a forma mais fácil de medir;
 Medida da radiação no qual um objeto é exposto, em unidades de roentgens, por
medida da quantidade de ionização produzida quando esta radiação passa através de
uma amostra de ar;
 Medida da radiação absorvida pelo objeto, em unidades de dose de radiação
absorvida ou “rads”. Esta é a quantidade mais prática, mas também a mais difícil de
se obter.

Uma dose de radiação absorvida (radiation absorbed dose) ou rad, corresponde a


absorção de 10-5 joules de energia por grama de massa corporal. Como esta quantidade é
equivalente a 0,01 J/kg, um rad produz um aumento na temperatura corporal de aproximadamente
2 x 10-6oC. À primeira vista esta unidade pode parecer ser de uma magnitude negligenciável. O
poder de destruição dos radicais produzidos quando a água é ionizada é tão grande que as células
são inativadas com uma dose de 100 rads e uma dose de 400 a 450 rads é fatal para um humano
médio.

Nem todas as formas de radiação têm a mesma eficiência de causar danos biológicos aos
organismos. Quanto mais rápida a perda de energia com a passagem da radiação através do tecido,
maiores os danos que ela causa. Para corrigir as diferenças na eficiência biológica da radiação
(radiation biological effectiveness)- RBE entre as várias formas de radiação, uma segunda unidade
de dose absorvida foi definida. A roentgen equivalent man ou rem, é a dose absorvida em rads
vezes a eficiência biológica da radiação:
rems = rads X RBE

Os valores de RBE das diferentes formas de radiação são dadas na tabela 15.2 abaixo:

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Estimativas de exposição per capita de radiação nos Estados Unidos são resumidas na
Tabela 15.3, onde estão incluídas tanto fontes externas quanto internas de radiação de fundo
natural:

Fontes externas incluem raios cósmicos do Sol e partículas α e γ emitidas por rochas e
solo. Fontes internas incluem-se nuclídeos que entram no corpo quando respiramos (14C, 85Kr,
220
Rn e 222Rn) e através da cadeia alimentar (3H, 14C, 40K, 90Sr, 131I e 137Cs). A dose real de
radiação natural depende de onde as pessoas vivem. Por exemplo, a população que habita a região
das Rocky Mountains recebem o dobro de radiação de fundo que a média nacional americana
porque há menos atmosfera filtrando os raios cósmicos do Sol. Já a dose média de raios-X
médicos decresceu nos últimos anos devido aos avanços na sensibilidade dos filmes fotográficos
usados para raios-X. Radiação de testes nucleares caiu também como resultado dos acordos em
banir testes nucleares atmosféricos, como por exemplo o que foi acordado quando testes chineses
em 1976 levaram à contaminação do leite em Harrisburg, Pensilvânia/EUA, a níveis próximos de
300 pCi (3,00 x 10-10 Ci) por litro, ou seja, aproximadamente 8 vezes o nível de contaminação (41
pCi/L) que resultou do acidente de Three Mile Island.
A contribuição da dose absorvida de radição dos consumidores e produtos industrializados
inclui a radiação dos materiais de construção, raios-X emitidos por televisores e fumaça de tabaco
inalada. A mais recente estimativa de radiação total emitida por uma mineradora e processadora de
Urânio, envolvida na fabricação de combustíveis para reatores, armazenamento de resíduos
radioativos e na operação de reatores nucleares foi de menos de 0,001 rem por ano.
A dose total de radiação ionizante de um americano médio é de aproximadamente 0,170
rem por ano. O Comitê de Efeitos Biológicos de Radiação ionizante da Academia Nacional de
Ciências recentemente estimou que um aumento na dose para o nível de 1 rem por ano poderia
resultar em 169 mortes adicionais por câncer por milhão de pessoas expostas. Isto pode ser
comparado com o dado de 170.000 mortes de câncer que normalmente ocorrerá em um população
deste tamanho, que não fosse exposta a este nível de radiação. O principal efeito de baixas doses
de radiação ionizante é o de induzir cânceres, que podem levar 20 anos para se desenvolver. Qual
é o efeito de altas doses de radiação ionizante? Células que estão ativamente se dividindo são mais
sensíveis a radiação do que células que não estão. Portanto, células do fígado, rins, músculos,

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cérebro e ossos são mais resistentes à radiação do que células da medula, órgãos reprodutivos,
epitélio do intestino e pele, que sofrem os principais danos da radiação. Danos à medula é a
principal causa de morte à exposição de níveis moderadamente altos (200 a 1000 rads). Danos no
trato intestinal é a principal causa de morte à exposição à ordem de 100 a 10.000 rads. Danos
massivos ao sistema nervoso central é a causa morte de exposições altas (maiores que 10.000
rads).

Referência Bibliográfica

SPENCER, James N. et al. Chemistry – Structure and Dynamics. 3a Ed. John Wiley & Sons, Inc.
ISBN 0-471-65552-X (2006).

MASTERTON, William L. & HURLEY, Cecile N. Chemistry: Principles and Reactions. 6ª Ed.
Brookes/Cole Cengage Learning (2004)

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