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Simpósio Brasileiro de Tecnologia da Informação e Comunicação na
Construção
10º Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção
8 a 10 de novembro de 2017 ‐ Fortaleza ‐ Ceará ‐ Brasil
RESUMO
A situação econômica atual tem remodelado o setor da construção em diversos aspectos. A ausência de
responsáveis técnicos, atuando em obras de pequeno porte, reflete na diminuição da qualidade, aumento de
perdas e elevação dos custos de produção. Porém, a conscientização da população, o aumento da
fiscalização, exigências de órgãos financeiros e o desaquecimento do setor da construção, têm contribuído
na migração de profissionais habilitados para estas construções. Há uma concentração de pesquisas voltadas
para a análise de diversos assuntos em obras de médio e grande porte, deixando uma lacuna quanto ao
desenvolvimento de estudos em pequenas obras. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi identificar boas
práticas em obras de pequeno porte. A metodologia foi baseada em um estudo de campo em diversas obras,
que, através de observações diretas, possibilitou a identificação de boas práticas nos canteiros. Para isto,
previamente foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, possibilitando definir, quatro eixos de
análise: tecnologias dos materiais de construção; tecnologias construtivas; gerenciamento da construção;
segurança do trabalho e canteiro de obras. Como resultados, foram identificadas 28 boas práticas em todos
os eixos pré-definidos, sendo apresentadas as análises de cada uma delas a partir da teoria da construção
enxuta. O grupo tecnologia dos materiais foi o que mais apresentou boas práticas. Segurança do trabalho
foi o mais deficitário, seguido por gerenciamento da construção. Como contribuições, a pesquisa insere-se
em um tema pouco estudado, além de trazer boas práticas que podem ser replicadas e aprimoradas em
outras obras.
Palavras-chave: Pequenas obras; Boas práticas; Construção enxuta.
ABSTRACT
The current economic situation has remolded the construction sector in several aspects. The absence of
responsible technicians, acting in small works, reflects in the decrease of the quality, more waste and
increase of the costs of production. However, the population awareness, the increase in inspection, the
demands of financial agencies and the slowdown in the construction sector have contributed in the
migration of qualified professionals for these constructions. There is a concentration of research focused
on the analysis of several issues in medium and large works, leaving a gap in the development of studies in
small works. In this sense, the aim of this study was to identify best practices in small works. The
methodology was based on a field study in several works, which, through direct observations, allowed the
identification of best practices in construction sites. For this, a bibliographic research was previously done,
allowing to define, four areas of analysis: materials technologies; constructive technologies; construction
management; safety and construction site. As a result, 28 best practices were identified in all the pre-
defined axes, presented analyses of each one from the theory of lean construction. The materials technology
group presented the most of best practices. Job security was the most deficient, followed by construction
management. As contributions, the research is inserted into a topic little studied, in addition to bringing
best practices that can be replicated and improved in other works.
Keywords: Small works; Best practices; Lean construction.
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1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o mercado da construção civil brasileira sofreu um desaquecimento por
conta da crise econômica do país. Isto tem provocado mudanças em vários aspectos do
setor, que tem um importante papel na economia brasileira, porém é um dos mais
sensíveis com as variações desta (ABRANTES; IYOMASA, 2017). A remodelagem do
setor, com a atual situação financeira, faz com que as empresas construtoras busquem
novos nichos e um diferencial para se destacarem no mercado.
A maior concentração de profissionais técnicos sempre ocorreu nas grandes metrópoles,
especificamente em construções de médio e grande porte. Porém, a conscientização da
população, o aumento da fiscalização e os requisitos de órgãos financeiros têm aumentado
as exigências quanto à segurança e à qualidade construtiva pelos
consumidores/contratantes, crescendo a procura por profissionais técnicos nas pequenas
construções.
Grande parte das obras de pequeno porte utiliza o modelo tradicional de construção, com
pouca inserção de tecnologias construtivas e modelos gerenciais. A aplicação dos
conceitos da construção enxuta, notória em grandes e médios empreendimentos, tem sido
pouco utilizada em pequenas construções, podendo ser uma alternativa de melhoria.
Nessa perspectiva, o trabalho tem o objetivo de identificar boas práticas em obras de
pequeno porte, através de uma metodologia de pesquisa de campo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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Dado o contexto das pequenas obras, que tende a ser negativo se comparado com as
grandes obras em termos de eficiência organizacional, cabe a discussão de medidas para
a sua melhoria, que são conhecidas como boas práticas.
É válido salientar que o reconhecimento de uma medida como boa prática tem caráter
singular, devendo-se analisar o contexto como um todo em que a mesma está sendo
observada. Variando este contexto, aquela medida pode deixar de ser uma boa prática,
passando a ser considerada algo comum. Por exemplo, aquilo que pode ser tomado como
uma boa prática para uma pequena obra, pode ser tido como uma medida comum ou até
obrigatória ao considerar uma obra inserida em um contexto diferente.
As boas práticas têm larga aplicação em diversas situações e finalidades no ambiente da
construção, tais como as listadas pelos autores a seguir.
O planejamento e controle da produção pode ser alvo de boas práticas. É o que trata
Moura e Formoso (2008), indicando a melhoria através de boas práticas nos canteiros de
obras com ênfase na aplicação do Last Planner System (LPS), que tem o objetivo de
melhorar o desempenho dos empreendimentos. Já Souza (2005) avaliou o índice de boas
práticas nos canteiros de obras, afirmando que o planejamento do layout e da logística do
canteiro pode ser definido sob aspectos como as instalações provisórias, segurança da
obra, sistema de movimentação e armazenamento de materiais e gestão de resíduos da
construção.
Ceotto, Banduk e Nakakura (2005) apresentaram pontos na cadeia produtiva que
impediam o desenvolvimento e as boas práticas construtivas dos revestimentos
argamassados. Avaliaram ainda as boas práticas no projeto, execução e avaliação.
Fernandes (2013) apresentou exemplos de boas práticas da gestão de Resíduos da
Construção Civil (RCC). Foram identificadas boas práticas em municípios brasileiros
com o objetivo de formular propostas para gestão de RCC.
Cleto et al. (2011) afirmaram que existem em diversos países sistemas para elaboração
de documentos técnicos que consolidam as boas práticas do processo de produção de
edifícios. No Brasil, é um tema recente, mas de grande importância para o projeto,
execução e manutenção de edifícios.
Melo, Santos e Serra (2012) analisaram Sistemas de Proteção Coletiva (SPC) conforme
os requisitos legais, aspectos de projetos e de produção e identificaram boas práticas no
canteiro em nível administrativo e de projeto.
3. METODOLOGIA
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Estes grupos de boas práticas foram elaborados a partir da literatura sobre o assunto, com
o objetivo de agrupar atitudes em comum. O grupo 1 trata da utilização de materiais
inovadores ou não-convencionais para pequenas obras. Já o grupo 2 engloba a
mecanização dos serviços, execução racionalizada, tecnologias inovadoras ou não-
convencionais para pequenas obras. O grupo 3 está ligado com o planejamento e controle
da obra e gerenciamento dos serviços. O último, grupo 4, refere-se às atividades de
segurança do trabalho e de instalações do canteiro de obras.
A partir do estudo de campo foi elaborado um quadro contendo as boas práticas
identificadas. Para cada uma delas buscou-se então analisar em qual dos quatro grupos
eram inseridas, quais as suas vantagens, os serviços impactados pela atividade e o
princípio enxuto relacionado.
4 RESULTADOS
Foram identificados 28 tipos de boas práticas entre as cinco pequenas obras visitados,
sendo levantadas 62 aplicações referentes a estes tipos. A figura 2, mostra a quantidade
de boas práticas classificadas em cada um dos quatro grupos de análise.
Gerenciamento
da construção Tecnologia
5; 18% dos materiais
12; 43%
Tecnologia
construtiva
9; 32%
Fonte: Os autores
O grupo 1 (tecnologia dos materiais de construção) foi aquele que apresentou mais boas
práticas (43%), seguido do grupo 2 (tecnologias construtivas) (32%). Na terceira
colocação está o grupo 3 (gerenciamento da construção) (18%) e por último está o grupo
4 (segurança e canteiro de obras) (7%).
O Quadro 1, traz a descrição das boas práticas observadas, as vantagens, os serviços
impactados, os princípios enxutos relacionados e o local de observação.
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Observa-se que as boas práticas mais aplicadas foram a 3 (utilização de bloco calha),
seguida da 8 (impermeabilização do cintamento), 15 (armação cortada e dobrada) e 18
(execução de lastro de concreto acima do cintamento). Observa-se que das quatro mais
aplicadas, as três últimas estão ligadas ao grupo 2 (tecnologias construtivas). Dez boas
práticas tiveram somente uma aplicação.
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Aditivo impermeabilizante na
Melhora a impermeabilização ; Previne Aumentar valor do produto ; Obra 2 ; Obra 3 ;
10 argamassa de reboco utilizada Reboco ; Acabamentos
patologias nas vedações Reduzir variabilidade Obra 4
até 1,5 metros
Simplificar o número de etapas e
Utilização de concreto usinado Aumenta a confiabilidade no concreto ; passos ; Reduzir atividades que Obra 2 ; Obra 3 ;
11 Estrutura
para concretagem de laje agiliza a etapa de concretagem não agregam valor ; Reduz o Obra 4
tempo de ciclo
Aplicação de desmoldante nas Proporciona maior qualidade nas peças
12 Estrutura Aumentar valor do produto Obra 3
fôrmas estruturais ; Aumenta o reuso das fôrmas
Fonte: Os autores
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Outra análise importante é quanto aos serviços impactados pelas boas práticas. Foram
identificados nove serviços que podem ser impactados diretamente, além de outros que
podem ser impactados indiretamente, como os acabamentos ou, até mesmo, todos os
serviços. A figura 3 detalha a porcentagem de boas práticas que podem impactar cada
serviço.
Fonte: Os autores
O serviço que mais teve boas práticas associadas foi o de estrutura (19%) seguido de
elevação (18%) e reboco (14%). Por estes dois primeiros serem considerados de extrema
importância no processo construtivo, apresentar estas quantidades de boas práticas é um
resultado positivo.
As boas práticas dos grupos 3 (gerenciamento da construção) e 4 (segurança e canteiro
de obras) impactaram todos os serviços, equivalendo a 16%. Isto se dá pelas influências
do gerenciamento, da segurança do trabalho e do canteiro de obras que estão relacionados
com todo o processo de construção.
O Quadro 2 traz a quantidade de boas práticas para cada princípio enxuto, percebe-se que
nem todas os onze tiveram alguma boa prática associada.
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5 CONCLUSÕES
A identificação das boas práticas através das observações em campo permitiu pontuar 28
tipos distintos, que representaram 62 aplicações nas obras visitadas. Dentre os grupos de
boas práticas, o 1 (tecnologia dos materiais) apresentou mais aplicações, sendo apontada
uma possível deficiência relacionada ao grupo 4 (segurança do trabalho e canteiro de
obras) que apresentou somente duas atividades. É válido constatar também que as técnicas
de gerenciamento utilizadas podem ser melhoradas e ampliadas no contexto das pequenas
obras.
As boas práticas levantadas impactaram nove serviços de forma direta, e em alguns casos,
todos os serviços de forma indireta. Foi observado que dois serviços importantes
(estrutura e elevações) foram os que mais apresentaram boas práticas.
Dos onze princípios enxutos, somente oito apresentaram boas práticas associadas, sendo
a redução do tempo de ciclo, aumento do valor do produto e redução da variabilidade
aqueles em que mais se observaram ligações.
Durante o processo de revisão bibliográfica da pesquisa, não foram encontradas
referências sobre a aplicação de conceitos enxutos em pequenas obras, sugerindo que há
uma lacuna de conhecimento na literatura. As pesquisas de construção geralmente
apresentam como objetos de estudos as obras de médio e grande porte, possivelmente por
estas terem mais interesses do mercado e por representarem a maior fatia dos
investimentos do setor.
Apesar das pequenas obras estarem às margens dos estudos acadêmicos para melhorias,
o presente trabalho pôde constatar que muitas boas práticas estão sendo empregadas para
potencializar positivamente esta realidade. Salienta-se também que muitas das medidas
foram tomadas como boas práticas considerando o contexto das pequenas obras que
foram observadas. A identificação e análise destas boas práticas podem contribuir para a
aplicação futura das mesmas em outras pequenas obras.
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