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3.

3 ECONOMIA MARGINALISTA OU NEOCLÁSSICA

As idéias marginalistas surgiram por volta de 1870 como reação aos


movimentos socialistas de meados do século XIX, que eclodiram devido à
concentração de renda e à intensa migração rural-urbana decorrentes da
industrialização. Os marginalistas ou neoclássicos combatiam a teoria
clássica baseada no valor-trabalho e na idéia de que a renda da terra não era
socialmente justa. Novas teorias foram desenvolvidas para o valor,
distribuição e formação dos preços.

Suas suposições são as de que a economia é formada por um grande


número de pequenos produtores e consumidores, incapazes de influenciar
isoladamente os preços e as quantidades no mercado. Os consumidores, de
posse de determinada renda, adquirem bens e serviços de acordo com seus
gostos, a fim de maximizarem sua utilidade total, derivada do consumo ou
da posse das mercadorias. Essa é uma concepção hedonista, segundo a qual
o homem procura o máximo prazer, com um mínimo de esforço.

Dados os preços de mercado, os produtores adquirem os fatores de


produção necessários a fim de combiná-los racionalmente e produzir as
quantidades que maximizarão seus lucros. Os fatores têm preços
determinados por sua escassez e utilidade no processo produtivo. Não há
mais conflito entre as classes sociais na distribuição do produto, como na
Economia clássica, mas harmonia entre os agentes. Isso se explica porque,
no pensamento marginalista, a distribuição do produto efetua-se segundo as
produtividades marginais de cada fator; os salários passaram a ser flexíveis
(determinados pela interação entre a oferta e a demanda de trabalho) e não
mais de subsistência (fixos), como no pensamento clássico.

A essência do pensamento marginalista pode ser sintetizada em 10 pontos


(Oser & Blanchfield, 1983, p. 207): 1) raciocínio na margem: a decisão de
produzir ou consumir vai depender do custo ou benefício proporcionado
pela última unidade; 2) abordagem microeconômica: o indivíduo e a firma
estão no centro da análise, cada bem levado ao mercado é único ou
homogêneo, possuindo um preço que equilibra sua oferta com a demanda;
3) método abstrato-dedutivo: abstração teórica, argumentação lógica e
conclusão; 4) concorrência pura nos mercados, sendo o monopólio uma
exceção: muitos vendedores e compradores concorrem no mercado por
bens e serviços; as firmas são pequenas e individualmente não conseguem
influenciar o preço de equilíbrio de mercado; 5) ênfase na demanda como
elemento crucial para determinar os preços, ao contrário dos clássicos que
enfocavam a oferta, ou custo de produção;

8 Termo empregado por Keynes em 1936. A demanda efetiva foi definida


como sendo o ponto em que, em um determinado momento, a demanda
agregada torna-se igual ao produto total da economia (Keynes, 1990, p.
38).

6) teoria da utilidade: a utilidade que as pessoas têm no consumo dos bens,


determinada por seus gostos, influencia as quantidades demandadas de
cada bem e, então, seus preços. Há uma ênfase em aspectos psicológicos,
com a consideração da abordagem hedonista de prazer (satisfação) e
sofrimento (custos); 7) teoria do equilíbrio: as variáveis econômicas
interagem e o sistema manifesta uma tendência ao equilíbrio pelo jogo das
livres forças de mercado; 8) direitos de propriedade: cada proprietário
recebe pela posse de um fator de produção, o que reabilitou a renda da
terra, considerada por Ricardo como um pagamento desnecessário e
improdutivo; 9) racionalidade: as firmas e consumidores maximizam lucro
ou satisfação e não agem por impulso, capricho ou por objetivos
humanitários. Embora este último ponto possa ser louvável, ele não faz
parte das suposições econômicas marginalistas; 10) laissez-faire, ou
liberdade de mercado: toda e qualquer interferência nos automatismos do
mercado gera custos e reduz o bem-estar social.

Em sua obra Princípios de Economia, de 1890, o inglês Alfred Marshall


(1842-1924) realizou a chamada primeira síntese neoclássica, tentando
conciliar os pensamentos clássico e marginalista, dando nascimento ao
termo neoclássico (Marshall, 1982).

Segundo os economistas neoclássicos, a utilidade de um produto determina


o valor dos bens, a quantidade demandadas e, então, o preço de equilíbrio
do mercado de cada bem. Isso foi representado por Marshall em um gráfico
de duas dimensões, determinando o equilíbrio parcial pela interação da
oferta e da demanda de cada bem, segundo os seguintes passos:

1o - quanto maior a utilidade do bem, tanto mais ele será procurado pelas
pessoas e tanto maior será o seu valor e seu preço;

2o - quanto maior for o preço, tanto mais as firmas querem produzir e


vender tal produto;

3o - o equilíbrio do mercado é aquele em que há um preço único para


vendedores e compradores, em que a quantidade demandada é igual à
quantidade ofertada, como se pode ver na Figura 2.1. Nessa figura,
observa-se que quando os preços são baixos, as pessoas desejam comprar
maiores quantidades do produto. Assim, quando o preço (P) for igual a 1,
as quantidades demandadas (Q) do bem são iguais a 40; com P = 2, Q = 30;
P = 3, Q = 20; P = 4, Q = 10; P = 5, Q = 0.

Essa relação inversa entre quantidades demandadas e preços gera uma


curva de demanda negativamente inclinada. Para derivar esta curva de
demanda negativamente inclinada, Marshall supôs que, no curto prazo, as
utilidades marginais de cada indivíduo permanecem constantes, isto é, que
os consumidores são racionais e que os gostos não mudam.

A oferta apresenta-se regulada pelos custos de produção e uma série de


quantidades são produzidas em função de um conjunto de preços. Quando
os preços são altos, as empresas desejam produzir e vender maiores
quantidades. Com o preço igual a 5, as quantidades ofertadas pelas
empresas são iguais a 40 unidades do produto; com P = 4, Q = 30; P = 3, Q
= 20; P = 2, Q = 10; P = 1, Q = 0. A relação direta entre quantidades
ofertadas e preços gera uma curva de oferta positivamente inclinada.

A interação entre a oferta e a demanda determina o preço e as quantidades


de equilíbrio de mercado. Na Figura 2.1, observa-se que quando o preço do
produto for igual a 3, a quantidades demandadas são iguais a 20, as mesmas
quantidades que as firmas estão dispostas a ofertar no mercado. Este é o
preço de equilíbrio, em que não falta nem sobra produto no mercado.

Marshall manteve os princípios clássicos da “mão invisível” da


concorrência e a liberdade de mercado (laissez-faire). Esses princípios
asseguram que a maximização de lucros leva os proprietários dos fatores a
receber de acordo com a contribuição de cada um no processo produtivo
(produtividade marginal). A produtividade marginal de um fator
corresponde ao acréscimo do produto total proporcionado pelo emprego de
uma unidade a mais do mesmo. O empresário terá interesse em empregar
essa unidade adicional (por exemplo, o operador de uma máquina) até o
ponto em que o valor da produtividade marginal for igual a seu preço
(salário) (raciocínio pela margem).

Os salários e os preços, perfeitamente flexíveis, são regulados pela oferta e


demanda de trabalho, ou pela oferta e demanda de bens e serviços no
mercado. A produção obtém-se com proporções variáveis de capital e
trabalho, cujo emprego dependerá de seus custos: um mesmo nível de
produto pode ser obtido com mais capital e menos trabalho e vice-versa. Na
economia clássica, pelo contrário, a função de produção apresentava
proporções fixas: todo acréscimo de produção necessitava de adição
simultânea de capital e trabalho.

Uma diferença fundamental entre a Escola neoclássica e a Escola clássica


diz respeito à teoria do valor. Enquanto nesta última o valor é determinado
pela quantidade de trabalho incorporado nos bens, na primeira o valor
depende da utilidade marginal. Desse modo, pelo pensamento neoclássico,
quanto mais raro e útil for um produto, tanto mais ele será demandado e
valorizado e tanto maior será o seu preço.

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