Você está na página 1de 12

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios PJe - Processo Judicial Eletrônico

25/01/2021

Número: 0705811-12.2020.8.07.0006
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 2º Juizado Especial Cível e Criminal de Sobradinho
Última distribuição : 10/07/2020
Valor da causa: R$ 1.004,00
Assuntos: Rescisão do contrato e devolução do dinheiro, Práticas Abusivas
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
LEONARDO ROCHA RODRIGUES (AUTOR)
T4F ENTRETENIMENTO S.A. (REU)
TAIS BORJA GASPARIAN (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
70993570 27/08/2020 Contestação - devolução lolla 2020 - Leonardo Contestação
23:26 Rocha Rodrigues
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do 2º Juizado Especial Cível e
Criminal da Comarca de Sobradinho/DF

Processo no 0705811-12.2020.8.07.0006

T4F ENTRETENIMENTO S/A.,


sociedade por ações com sede na Rua Bento Branco de Andrade Filho, nº 400, térreo,
1º ao 3º andares, Vila Almeida, CEP: 04757-000 São Paulo/SP, inscrita no CNPJ sob
o nº 02.860.694/0001-62, por sua advogada, nos autos da ação de restituição de
quantia certa em referência, que lhe move LEONARDO ROCHA RODRIGUES,
vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar sua contestação,
consubstanciada nas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.
I – SÍNTESE DOS FATOS

1. Trata-se de ação de indenização por


danos materiais e morais ajuizada pelo autor em razão de alegada não devolução dos
valores pagos referentes à compra de um ingresso para o festival de Música
Lollapalooza 2020, que ocorreria nos dias 03, 04 e 05 de abril de 2020, e que devido a
atual pandemia de Covid 19, fato público e notório, por razões óbvias de saúde pública,
foi reagendado com previsão para acontecer nos dias 04, 05 e 06 de dezembro de 2020.

2. Diante da não devolução do valor pago


pelo ingresso do evento remarcado, o autor requereu a condenação da ré a devolução
dos valores pagos.

3. No entanto, conforme se demonstrará a


seguir, não merecem prosperar os pedidos do autor, posto que não se vislumbra
qualquer ilícito na conduta da ré.

I I - M ÉRITO
R AZÕES DA IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA QUANTO AO PEDIDO DE
D EVOLUÇÃO DO VALOR DOS INGRESSOS DO FESTIVAL L
OLLAPALOOZA 2020 – SITUAÇÃO DE PANDEMIA

a ) Da inexistência de conduta ilícita da ré. Situação de calamidade pública.


Aplicação do artigo 2º da MP 948/20, atual Lei 14.046 de 24 de agosto de 2020

4. A ré é empresa idônea que tem por objeto


social a realização, organização e produção de espetáculos artísticos e musicais de
grande porte como, no caso dos autos, o festival Lollapalooza 2020, que atraem, por
sua própria natureza, um grande público e, inevitavelmente, geram aglomeração de
pessoas.

2
5. Como é de conhecimento geral e notório,
o mundo atravessa um momento de crise generalizada na saúde, em decorrência de fato
excepcional e de força maior causado pela pandemia do vírus Covid-19. A orientação
geral é a de que se evite aglomeração de pessoas, considerando que tal conduta é um
dos métodos mais eficientes para contenção e prevenção da doença.

6. Nesse sentido, foi editado o Decreto


Estadual 64.881/2020, alterado pelos Decretos Estaduais 64.946/2020 e 64.967/2020,
que estabelecem medida de quarentena no Estado de São Paulo, com a restrição de
atividades que possam acarretar a propagação do vírus. No âmbito Municipal, houve a
edição do Decreto 59.298/2020, alterado pelo Decreto 59.405/2020, que suspendeu o
exercício dos serviços não essenciais como enquadrado o da T4F.

7. Como se vê, foram proibidas as


atividades não essenciais, em especial as que acarretam aglomerações, tal como a de
entretenimento ao vivo.

8. Por esse motivo e, sem perspectiva para


retomada das atividades, o festival Lollapalooza 2020, originalmente previsto para
ocorrer nos dias 03, 04 e 05 de abril de 2020, teve que ser adiado para os dias 04, 05 e
06 de dezembro de 2020, como vem sendo amplamente anunciado ao público.

9. Além de cada consumidor ter recebido a


informação do adiamento individualmente por e-mail, tal informação consta de forma
expressa na página do show w ww.lollapalooza.com :
(https://www.lollapaloozabr.com/ - print de 13.05.2020)

10. A comunicação sobre alteração da data


do festival e sobre as opções garantidas aos consumidores, diante do adiamento, foram
enviadas por e-mail a todos aqueles que adquiriram os ingressos, conforme modelo,
através de postagens nas páginas oficiais da T4F no Instagram e no Facebook (doc n), e
na página oficial do festival ( https://www.lollapaloozabr.com/), com o seguinte texto:

MP 948/201, editada justamente para regular o


cancelamento de serviços, de reservas e de eventos dos setores
de turismo e cultura em razão do estado de calamidade pública
reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de
2020, e da emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus (covid-19)” , a T4F
disponibiliza aos consumidores as opções de reutilização dos
ingressos adquiridos nos novos dias do Festival (art. 2, inc. I), ou

1
https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/141495
a utilização do crédito em outros eventos (art.2, inc. II), razão pela
qual a política divulgada2

11. O adiamento, como resta claro, decorreu


de fato de força maior, não imputável à T4F, que, visando unicamente a segurança de
seus consumidores, colaboradores e artistas e seguindo as orientações do Ministério da
Saúde e a legislação vigente, adiou o evento para dezembro de 2020 período em que
espera-se que a situação tenha se normalizado.

12. Veja-se que as informações sobre a nova


data, foi devidamente divulgada: no site da empresa, em suas mídias sociais
(Instagram, Facebook, Twitter), e foi matéria de diversos sites de notícias.

13. O que se pode afirmar é que a conduta da


T4F, com relação ao show em questão, vem se desenvolvendo em estrita conformidade
com a Lei e com as informações fornecidas aos consumidores, motivo pelo qual não
vislumbra qualquer ilicitude.

14. No tocante à pretensão do autor de reaver


os valores pagos pelos ingressos, cumpre esclarecer que a conduta da ré está respaldada
pela MP 948/203, atual Lei 14.046/204, a qual tem como finalidade regular o
cancelamento de serviços, de reservas e de eventos dos setores de turismo e cultura
em razão do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6,
de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus (covid-19)” .

2
https://www.lollapaloozabr.com/politica-de-ingressos
3
https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/141495
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14046.htm
4
https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/141495
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14046.htm
15. Ainda, quanto ao requerimento da parte
autora, alegando a inconstitucionalidade da Medida Provisória, cabe a esta Ré ressaltar
que a MP 948/20 foi recentemente aprovada, e no dia 25.08.2020, foi convertida na Lei
14.46 de 25 de agosto de 2020.

16. Como dito, referido evento, a


nteriormente previsto para abril de 2020, foi adiado para dezembro de 2020 em v
irtude da pandemia do Coronavírus, de modo que se enquadra perfeitamente na
situação tutelada pela medida provisória.

17. Sendo assim, a T4F disponibilizou lhe as


opções de reutilização dos ingressos adquiridos nas novas datas do festival (art. 2, inc.
I), ou a utilização do crédito em outros eventos (art.2, inc. II).

18. Veja-se que, conforme o artigo 2 da Lei


14.046/20, “ o prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados
a
reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem” qualquer uma
das opções listadas nos incisos, o que foi feito pela T4F:

Art. 2º Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de


reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, em razão do
estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo
nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente da pandemia da Covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que
assegurem:
I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos
cancelados; ou
II - a disponibilização de crédito para uso ou abatimento na
compra de outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas
respectivas empresas.
19. O texto do artigo não deixa dúvida
quanto à regra geral de não reembolso dos valores, contanto que seja assegurada
UMA DAS DUAS opções listadas, tal como fez a ré. Tratam-se de obrigações
alternativas.

20. Veja-se que a política de ingressos está


devidamente anunciada no site do evento e traz informações claras e objetivas para os
consumidores que poderão ou não comparecer em uma nova data, não contemplando, a
princípio, a devolução de valores:
21. Desse modo, nos termos da Lei 14.046, é
certo que o autor pode optar pela manutenção dos ingressos adquiridos para o festival,
para utilização oportuna, ou obtenção de crédito para outro evento, o que poderá ser
feito no prazo de 12 meses a contar do fim do estado de calamidade, exatamente como
disposto na Lei.

22. Asseguradas tais hipóteses, previstas nos


incisos I e II do artigo 2º, da Lei 14.046, não pode ser exigido da ré a devolução em
dinheiro do valor dos ingressos, conforme pretende o autor.

23. Logo, resta evidenciado, sob qualquer


ângulo que se analise a questão, ausência de ilicitude na conduta adotada pela T4F a
justificar os pleitos aqui deduzidos pelo autor, de modo que a improcedência da
demanda é medida que se impõe.

III – CONCLUSÃO

24. Pelo exposto, requer sejam julgados


totalmente improcedentes os pedidos deduzidos pelo autor.
25. Protesta provar o alegado por todos os
meios em direito admitidos, especialmente por meio de prova documental suplementar,
além de outras que se fizerem necessárias.

26. Por fim, requer sejam as futuras


publicações do presente feito realizadas, exclusivamente, em nome da advogada Taís
Borja Gasparian, inscrita na OAB/SP sob o n° 74.182, s ob pena de nulidade.

São Paulo, 27 de agosto de 2020.

Tais Borja Gasparian


OAB/SP 74.182

10

Você também pode gostar