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RESUMO:

Com o crescimento e a crise econômica enfrentados pelas empresas, empresários


foram forçados a despedir inúmeros funcionários, e para se reerguer, abriram o seu próprio
negócio. Porém, nem todos conseguiram se sustentar no mercado de trabalho devido à falta de
conhecimento e implementação adequada dos recursos logísticos. Tendo em vista as
dificuldades dos microempresários e a ausência de conhecimento sobre logística empresarial,
a elaboração do projeto foi dada a partir de uma pesquisa em 4 microempresas, em São
Gonçalo do Amarante/RN, onde aplicamos um questionário com 43 questões sobre estoque,
armazenagem, compras, transporte, finanças, marketing e recursos humanos. O objetivo com
a análise é propor soluções para que essas empresas se firmem e ascendam no mercado de
trabalho. Com a coleta dos dados da ferramenta utilizada, conseguiu-se visualizar a situação e
os problemas das organizações e foram propostas soluções para suas operações logísticas,
estratégias e a aplicação de ferramentas e princípios logísticos dentro da gestão de estoque e
armazenagem.

PALAVRAS CHAVES: Microempresas, Logística Empresarial, Soluções nas Operações.

1. INTRODUÇÃO

As MEPs (Micro e Pequenas Empresas), vêm crescendo consideravelmente ao longo


dos últimos anos. Mas nem sempre as pessoas estão cientes do que se trata de fato, ou não são
informadas de como abrir sua própria empresa e de como administrá-la corretamente. Para ser
considerado uma MEP são necessários alguns critérios de avaliação estipulados por leis (Lei
Complementar n° 123/06) que regem a regulamentação desse âmbito. De acordo com essa lei,
as microempresas têm um faturamento anual de no máximo R$240 mil, e as pequenas
empresas entre R$240 mil à R$24 milhões.

Um dos fatores que vem induzindo as pessoas a abrirem suas MEPs, é a crise
econômica, na qual por consequência, muitos indivíduos acabam desempregados e sendo
obrigados a arrumar outras vertentes para ganhar dinheiro e sustentar suas famílias. Logo, a
solução mais viável se torna abrir o seu próprio negócio.
Por muitas das vezes, os microempresários acabam não conseguindo administrar seus
negócios por falta de conhecimento logístico e de estratégias de mercado, como consequência,
podem vir a fechar.

A logística na visão de Martin Christopher, é definida como: “É o processo de


gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e
produtos acabados - e os fluxos de informações correlatas- através da organização e seus
canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futura através
do atendimento dos pedidos e baixo custo”. Assim, almejando sempre ascender o seu negócio,
obter um diferencial no mercado e otimizar os resultados de quem a aplica corretamente.

A conciliação da logística com as MEPs, pode ser a chave para a ascensão dos
microempresários, e assim podendo crescer e se tornar de fato grandes empresas com
excelentes resultados, sempre visando uma posição de destaque no mercado de trabalho.

2. JUSTIFICATIVA:

O projeto surgiu a partir de uma análise cotidiana, em que se percebeu uma carência
da implementação de processos logísticos nas micro e pequenas empresas na região de São
Gonçalo do Amarante/RN – local de circulação das pesquisadoras envolvidas na pesquisa.
Portanto, com o intuito de auxiliar nesse âmbito, começou o interesse na área e execução do
projeto visando a otimização dos processos das organizações que poderá culminar com o bem
comum. E, além disso, o conhecimento sobre a prática da logística nas micro e pequenos
empreendimentos podem ser mais discutidos na academia.

3. REFERENCIAL TEÓRICO:

3.1- As Micro e Pequenas Empresas no Brasil:

De acordo com Lei complementar n° 123/06 (Lei geral das Micro e Pequenas
Empresas), já citada anteriormente, as MEPs são classificadas de acordo com seu faturamento
anual.

Uma outra definição é a utilizada por órgãos federais, para a concessão de créditos. De
acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), uma
microempresa é aquela que tem receita bruta anual de até R$ 1,2 milhão; pequena empresa é
aquela na qual a receita bruta anual ultrapassa R$ 1,2 milhão, mas é inferior a R$ 10,5
milhões.

Por sua vez, a Serasa Experian, com uma análise em mais de 90 países, define as
micro e pequenas empresas como as que possuem um faturamento anual que não ultrapassa o
limite de R$ 4 milhões.

Quadro 1 - Classificação das MEPs por faturamento

Porte Faturamento Exportações


Microempresas No máximo, R$ 240 mil/ano. Até US$ 200 mil/ano (comércio e
serviços)

Até US$ 400 mil/ano (indústria)

Pequenas Empresas Entre R$ 240.000,01 e R$ 2,4 Acima de US$ 200 mil e até US$
milhões/ano. 1,5 milhão/ano (com./serv.)

Acima de US$ 400 mil e até US$


3,5 milhões/ano (indústria)
Fonte: Adaptado SEBRAE-SP

De acordo com o SEBRAE, as microempresas são aquelas que possuem até nove
pessoas, em casos de comércio e serviço, ou até 19, em casos de setores industriais ou de
construção. Pequenas Empresas são aquelas que empregam de 10 a 49 pessoas (comércio e
serviços) ou de 20 a 99 (indústria e construção).
Se tratando das empresas familiares, segundo Pereira (2009), de maneira mais
tradicional, é considerada assim se elas estiverem sendo comandadas por uma ou mais
pessoas que sejam parentes. Assim, concordando também com a definição de (WESTHEAD;
COWLING, 1998), onde diz que a administração, o crescimento e a sucessão entre indivíduos
do mesmo sangue podem definir uma empresa como familiar.

Outros autores como Allouche e Amann (2000) que dizem que empresas familiares
também podem ser em casos em que os donos são casados ou possuem laços consanguíneos.
Quadro 2 - Classificação baseada no número de empregados

Porte/ setor Indústria Comércio e serviços


Microempresas Até 19 empregados Até 9 empregados

Pequenas Empresas De 20 a 99 empregados De 10 a 49 empregados

Continua
Médias Empresas De 100 a 499 empregados De 50 a 99 empregados

Grandes Empresas 500 ou mais empregados 100 ou mais empregados


Fonte: Adaptado SEBRAE-SP

3.2- Operações Logísticas:

A princípio, a logística era utilizada por militares como estratégia de guerra, assim
garantindo recursos e suprimentos, que podiam ser: munição, comida, equipamentos e socorro
médico. Por isso, uma dentre suas diversas definições aborda como “Ramo da ciência militar
que lida com a obtenção, manutenção e transporte de material, pessoal e instalações”.

A partir da década de 1950, a logística passou a ser introduzida no âmbito empresarial,


onde sua estratégia passou a se direcionar para o cliente e o marketing. No fim da década de
1970 e o início da década de 1980 foi marcante para o estudo da administração da logística e
o início do conceito de logística integrada.
A logística pode ser dita, de acordo com Ballou (2009), como um processo com um
bom controle de fluxos, planejamento e aplicações que são feitas durante o procedimento com
as mercadorias e serviços fornecidos que vai desde o ponto de origem ao consumidor final,
com o objetivo de satisfazer os clientes. Concordando também com a definição de Ferreira
(1986) dentro do objetivo da logística também está incluso a busca pelo menor custo total. O
principal e mais conhecido propósito da logística é “o produto certo, na quantidade e
qualidade certas, na hora certa, no lugar certo e ao menor custo possível, para o cliente certo”.
Seguindo esses parâmetros pode-se perceber que o foco da logística está baseada nas
condições ditadas pelos clientes.

3.3- Operações logísticas nas MPE

3.3.1- Gestão de Estoque


Como alguns autores costumam dizer “estoque é dinheiro parado”, de acordo com
Accioly (2008) “Estoques são fatores geradores de custo”, porém eles auxiliam as receitas e
isso afeta diretamente e de boa maneira a competitividade e o, até mesmo, os resultados
financeiros obtidos pelas empresas. Que impor realmente é saber gerir esse estoque, para que
ele não seja apenas o dinheiro imobilizado.

Na administração de empresa tem-se o âmbito do gerenciamento de estoque, onde


acontece todo o planejamento e o controle de materiais, estoques ou produtos, de acordo om
Bertaglia (2016). Em complemento, Lira (2013) diz que “a gestão de estoques se faz
necessária para que não haja altos custos com os produtos”. Essa gestão será executada da
melhor maneira, com um bom controle de produtos e custos, para que sejam tomadas as
melhores decisões e, por meio disso, os empresários conseguirão comercializar aquilo que
eles oferecem aos consumidores de forma mais eficiente.

O planejamento e controle de produção tem uma relevância muito grande para as


empresas e evita que problemas como a falta de previsão de demanda e controle de estoque
venham surgir. Há a possibilidade de conseguir estabelecer qual a melhor quantidade de
estoque, mas isso só é possível se houver uma previsão de demanda feita antecipadamente,
segundo Dias (2010).

Existem diversas atividades que auxiliam para uma melhor gestão, como a prática do
inventário. O inventário é basicamente a contagem física dos materiais, que pode ser realizada
através de softwares ou na simples contagem em casos de empresas menores, devido à falta
de recursos. De acordo com Reis (2013), “O resultado do inventário é incontestavelmente um
dos elementos base para a confecção do balanço de qualquer empresa.”

É de grande importância ter o controle da entrada e saída dos materiais estocados e se


for perecível, da validade ou casos de obsolescência.

A gestão de demanda pode ser dita como um processo com muitas funcionalidades.
Para Ballou (2006), a definição dos itens disponíveis pode ser dada por meio do
desenvolvimento de metodologias para auxiliar o controle de estoque. Com isso, é adquirido
uma melhor gestão do nível de estoque, tendo em vista que a fiscalização, gestão das entradas
e saídas dos produtos fazem parte do processo de controle de estoque, de acordo com Viana
(2000).
Outra grande ferramenta da gestão de estoque é a curva ABC, nessa classificação, os
produtos são divididos por relevância. Seguindo o pensamento de Loprete (2009), “os
estoques são classificados em três grupos, por ordem decrescente de importância no tocante
ao investimento realizado em cada um.”

Produtos da categoria A demandam mais atenção, pois são materiais de grande


importância, mas são equivalentes à um menor número a ser estocado (10% a 20% dos itens).
Produtos de relevância B se caracterizam por ser de 20% a 30% do estoque, também se faz
necessária a conferência regular. E por fim, a classificação C são os materiais que ocupam a
maior porcentagem de estoque (50% a 70% dos itens), e necessitam apenas de revisão
simples.

Figura 1 - Relação das variáveis: relevância do material e nível de estoque

Fonte: autoria própria

3.3.2- Gestão de Armazenagem

A armazenagem está relacionada à prática de manuseio do estoque, na ação de


armazenar. Na visão de Russo (2009) a armazenagem não pode ser limitada a uma atividade
isolada, ela dever ser vista levando em consideração o seu “todo”, levando em consideração
que essa atividade vem após o ato de embalar e manusear. Ela pode ser definida como:
“denominação genérica e ampla, que inclui todas as atividades de um ponto destinado à
guarda temporária e a distribuição de materiais”, conforme Moura (1997), citado por Braga
(2008). Moura (2005) define o propósito dos armazéns como: “fornecer o material certo, na
quantidade certa, no lugar certo e no momento certo”.

A armazenagem, como todas as operações logísticas, deve ser vista como um setor
estratégico para a empresa. Uma má gestão de armazenagem pode acarretar custos
significativos, por isso se utiliza de ferramentas que auxiliam nesses processos. Deve-se
atentar para o endereçamento dos produtos e na forma como são armazenados, pois otimiza
tempo de procura. No caso de empresas maiores, a questão do combustível das empilhadeiras
também pode ser um gerador de custos. A embalagem e unitização de cargas auxiliam nos
outros processos como: estocagem, transporte e identificação.

Uma das ferramentas que pode ajudar na localização dos produtos nos armazéns é o
endereçamento. Ele determina o espaço para a armazenagem, dividindo-o em local, blocos,
ruas, colunas e níveis, para todo o material, facilitando assim a movimentação, inventários,
entre outras atividades, segundo Jacinto (2011).

As tecnologias de informações quando conectadas à armazenagem, pode trazer a


minimização de processo e facilidade de acesso aos itens nos armazéns. O inventário é uma
ferramenta que possui a capacidade de auxiliar a gestão das informações com relação aos
valores, estado de conservação, preservação, vulnerabilidade e capacidade de carga do sítio,
diante da visão de MILET (2002).

3.3.3- Gestão de Compras

A gestão de compras é essencial quando se relacionada ao âmbito empresarial, pois


uma má gestão de compras pode afetar diretamente no setor financeiro. De acordo com Slack
(1997), os gerentes de compras precisam compreender em detalhe tanto as necessidades de
todos os processos da empresa que estão servindo, quanto a capacitação dos fornecedores. As
compras não estão só restritas a parte de reposição de estoque da empresa, mas também aos
bens de uso interno, como produtos de almoxarifados.

Seguindo o pensamento de MORAES, 2005: A Gestão da aquisição – a conhecida


função de compras – assume papel verdadeiramente estratégico nos negócios de hoje em face
do volume de recursos, principalmente financeiros, envolvidos, deixando cada vez mais para
trás a visão preconceituosa de que era uma atividade burocrática e repetitiva, um centro de
despesa e não um centro de lucros.

Um dos importantes papeis da gestão de compras é a avaliação do fornecedor e a


pesquisa de campo em busca de uma melhor proposta, que gere lucratividade associada com a
qualidade. Ballou (2001) comenta sobre as atividades que se relacionam com a gestão de
compras e integram fatores como seleção dos fornecedores, qualificação de serviço, previsão
de preços e demanda, entre outros. Ter um bom relacionamento com a empresa fornecedora é
essencial, pois assim, poderá se fazer mais efetivo o poder de negociação, almejando um
benefício mútuo.

Simões, 2004 disse que ao longo do tempo, a função compras passou a ser
imprescindível para a administração de recursos materiais de uma empresa. Hoje saber
comprar de forma a beneficiar a organização é determinante não somente para a
competividade, como para a própria permanência da empresa no mercado. Deve- se fazer o
estudo da empresa antes de realizar a compra, mas para isso, há uma exigência da integração
dos setores com os responsáveis pela aquisição. Se faz necessário que cada setor avalie o que
precisa ser comprado, assim evitando a aquisição de um produto não desejado. Na visão de
Moraes (2005), as pessoas que trabalham nesta área estejam atualizadas, integradas e
devidamente informadas, além de praticarem as relações interpessoais, trabalho em equipe,
visando um bom fluxo de informação e uma melhor gestão de conflitos.

Quando pensamos em compras, remete logo ao pensamento de gastos ou de uma


função de baixo interesse, mas sabe-se que a gestão de compras deve ser vista como uma
forma de investimento, assim, gerando lucros e benefícios futuros para a empresa.

3.3.4- Gestão de transporte

Uma boa gestão de transporte pode influenciar diretamente no nível de serviço, que é
um indicador de desempenho fundamental para a empresa. Com um planejamento de
roteirização de entregas, pode-se otimizar tempo e redução de custos, assim conquistando a
confiança e a uma possível fidelização do cliente. Seguindo a linha de pensamento de Ballou
(2006), a falta de uma boa logística pode impactar de forma negativa a avaliação feita pelo
cliente, podendo ocasionar a perda de fidelidade ou a não repetição do pedido, pois o nível de
avarias, custos e prazos devem ser cuidadosamente analisados.

A questão da roteirização quando se trata de uma microempresa deve ser pensada de


forma estratégica, perceber de onde vem o seu público e até onde se torna vantajoso as
entregas de uma forma que não gere muitos custos. Organizar os pedidos de entrega por
endereço e montar uma sequência que favoreça o deslocamento utilizando menos combustível
é uma ótima saída. De acordo com Costa (2010) “a exigência dos clientes quanto aos prazos
de entrega cria uma maior competitividade no mercado”, por isso um grande ponto a ser
analisado na roteirização é a redução dos tempos de entrega.

4. OBJETIVO

Propor soluções nas operações de 4 microempresas que estejam situadas em São


Gonçalo do Amarante/RN. As soluções irão envolver a aplicação de ferramentas e princípios
da logística empresarial no âmbito da gestão de estoques e armazenagem.

5. METODOLOGIA

A pesquisa caracteriza-se como sendo descritiva, e tipologia de estudos de casos


múltiplos. O ponto inicial da pesquisa se deu através da pesquisa bibliográfica e documental,
optou-se pela análise, utilização e junção de dados secundários para o auxílio de formação de
uma opinião útil e que propicie o melhor entendimento do leitor. Alguns dos dados foram
transformados em quadros para assessorar o leitor, onde dinamiza a leitura e a assimilação das
informações.

Durante a revisão bibliográfica, foi efetuada a união de opiniões de autores distintos,


nos quais, suas definições se completavam e proporcionavam melhor entendimento. A revisão
se deu por meio de livros, artigos científicos e Leis.

A coleta de dados foi realizada através de um questionário no âmbito de estoque,


armazenagem, compras, transporte, financeiro, marketing e recursos humanos. O referido
instrumento foi formulado com 43 questões, envolvendo tanto perguntas abertas como
fechadas. Uma via foi entregue para cada proprietário, com perguntas objetivas sobre a
logística da empresa, focando na armazenagem e estoque.

Cada proprietário ficou responsável pelas respostas. Houve um aviso prévio em cada
empresa na qual procedeu a pesquisa da melhor forma como desejaram, duas empresas
optaram por responder só e outras duas aceitaram ser entrevistados pessoalmente.

As pesquisas e coletas de dados foram realizadas entre os dias 01/11/2020 e


15/11/2020. Com a aplicação do questionário nas 4 empresas, conseguiu-se obter dados e
foram analisados, qualitativamente, com o objetivo de identificar as falhas vivenciadas em
cada empresa pesquisada, podendo, assim, direcionar e auxiliar cada uma delas na tomada de
decisão para uma melhor atuação no âmbito da gestão do estoque e armazenagem, almejando
melhoria dos seus resultados organizacionais.

Para execução prevista inicialmente do projeto de pesquisa, havia uma estimativa de


realizar o estudo em dez microempresas. No entanto, em decorrência da pandemia causada
pelo COVID- 19, houve limitações para a concretização da coleta dos dados. Ações para
preservar a saúde dos envolvidos no processo (pesquisadores e respondentes) foram adotadas,
e com isso, a amostragem das empresas passou a ser por conveniência, adotando o critério de
pesquisar apenas as empresas que ficavam nas proximidades das residências de duas das
pesquisadoras responsáveis pela coleta dos dados. E, com isso, foi possível evitar que elas
fizessem uso de transportes coletivos para coleta dos dados. Ressalta-se ainda que foi pensado
em adotar uma adaptação do instrumento para o formato eletrônico, essa alternativa não foi
possível pela dificuldade de obtenção de respostas por parte dos entrevistados. Diante disso, o
quantitativo das empresas pesquisadas foi reduzido para quatro empresas.

Em se tratando do zelo em relação a preservação da identidade das empresas, ao invés


de apresentar o nome verdadeiro, para efeito deste estudo elas passaram a ser identificadas
como Empresa 1, Empresa 2, Empresa 3 e Empresa 4.

6. ANÁLISE DE DADOS

Durante a realização da análise de dados, foi possível perceber algumas similaridades das
respostas emitidas pelas organizações pesquisadas. Os principais pontos convergentes estão
apresentados no Quadro 03.
Quadro 03: Práticas vivenciadas por todas as empresas pesquisadas
Conteúdo das Respostas
Todo o processo de compras é realizado e gerenciado pelos proprietários. O critério
usado é o preço.
Utilizam do sistema de endereçamento nas prateleiras por ordem alfabética.
Os inventários são feitos através da simples contagem física, sem auxílio de softwares.
Todas se utilizam do indicador de estoque mínimo
O almoxarifado existente é apenas de material de limpeza. Todo o material estocado é
armazenado em prateleiras na área de vendas.
A gestão financeira é realizada pelos proprietários.
Todos fazem o marketing básico pela internet.
Para a contratação de funcionários é necessário ter conhecimento no âmbito
farmacêutico.
Como estratégia de fidelização, todos utilizam do “bom atendimento”.
Fonte: Dados da pesquisa, 2020

Foi possível evidenciar no estudo realizado que as empresas possuem práticas divergentes
além de ações que são realizadas de modo uniforme em cada uma delas. As informações
encontradas e que revelam tal particularidade serão descritas a seguir.

Empresa 1:

Por ser nova no mercado, trabalha com um sistema de entregas restrito. É composta
por 2 funcionários (1 farmacêutica e 1 vendedora). A farmácia além de vender os produtos,
também vende serviços, como verificação de glicose e pressão. Os itens com mais volume em
seu estoque são: Anti-inflamatórios, anticoncepcional, antigripal e analgésico. O estoque é
comprado para durar em média de 1 à 2 meses, mas também pode ocorrer a ruptura de
estoque.

Empresa 2:

Na atividade de transporte, só trabalham com entregas até 5km de distância, limitando


assim o número de vendas e clientes. Não possuem critério de roteirização, apenas intuitivo.
A equipe é composta por 2 funcionários, onde ambos administram a empresa.

Os produtos com mais volume em seu estoque são: Maxalgina, Cimegripe,


Paracetamol, Nimesulida e antialérgicos. Esses produtos são estocados para haver uma
duração de 30 dias sem que haja a ruptura de estoque.

Possui um software que auxilia nas atividades (HOS). E para propagação de imagem,
fazem uso de: internet, carro de som e ímãs.
Empresa 3:

Possui um sistema de entregas e roteirização mais completo, atendendo à mais regiões


do que as demais, assim, aumentando a clientela. Os remédios que possuem mais volume no
estoque são: Torsilax, Dipirona, Nimesulida e anticoncepcional. O estoque desses materiais
dura em média uma semana, então é realizado um novo pedido para que não haja a falta do
produto, mas, assim como a empresa 1, acontecem algumas rupturas de estoque.

A empresa conta com uma equipe de 4 funcionários (2 farmacêuticos, 1 entregador e 1


vendedor). Para ganhar visibilidade, trabalham com Instagram, pedidos via WhatsApp e ímãs.

Para o controle de avarias, quando o produto está vencido, é contratada uma empresa
incineradora para garantir que os produtos não serão comercializados ou consumidos.

Empresa 4:

A empresa não realiza entregas. Possui um sistema para auxiliar e otimizar a coleta de
dados.

Os produtos que possuem mais volume em seu estoque são: Dipirona, Torsilax,
Nimesulida, Dorflex e GripalC. Os estoques são feitos para durar em média 4 meses para que
não haja a ruptura. De acordo com o questionário, não há um controle de avarias, tudo o que
se sabe sobre o produto é o que é cadastrado no sistema assim que chega em loja.

Para ganhar visibilidade no mercado, trabalha com internet, panfletos e faz uso de
cartão fidelidade, o que é uma particularidade dentre as outras estudadas.

O que pode ser compreendido dessas ações praticadas de forma isolada por cada
empresa é que algumas delas, por atuarem no mesmo setor e estarem situadas na mesma
região, podem estar perdendo uma oportunidade de melhoria dos resultados na gestão dos
estoques, no atendimento ao cliente e distribuição física.

De outro modo, foi também constatado no estudo a presença de similaridade de ações


não entre todas, mas entre duas empresas, como pode ser observado no Quadro 04. Essa
similaridade indica que as ações podem estar gerando um efeito positivo para as organizações
que a executam.
Quadro 04: Similaridade de ações entre duas empresas
Empresas Envolvidas Ações
Empresas 01 e 02 Apenas fazem entregas nas proximidades da loja
Os materiais são movimentados por validade
Não fazem uso de cartão avaliação para feedbacks
Empresas 01 e 03 A roteirização é feita por endereços mais próximos
As vezes ocorre a ruptura de estoque
Empresas 01 e 04 Possuem 2 funcionários na equipe
Empresas 02 e 03 Trabalham com atendimento pelo aplicativo WhatsApp
Empresas 02 e 04 Não acontece ruptura de estoque durante o mês
Há um período de treinamento dos funcionários
Procuram vender os produtos
Empresas 03 e 04 Utilizam ímãs como estratégia de marketing
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

Proposta de melhorias:

Com base nas descrições dos dados e análises realizadas, percebeu-se a ausência de
indicadores logísticos que podem auxiliar nos processos e operações.

Os pontos de falhas identificados no estudo estão sistematizados no Quadro 5. Á partir


da análise de cada ponto de falha foi possível descrever algumas propostas de melhorias as
quais também estão descritas no Quadro 5.

Quadro 5 – Evidência de pontos de falhas e propostas de melhorias

Pontos de Falhas Propostas de melhorias


Empresas que não realizam entregas. As empreses podem oferecer o serviço de entrega, não
necessariamente assumindo os custos, mas podem
buscar parcerias como profissionais autônomos como
mototaxistas ciclistas. Delimitando um raio de atuação
para cada categoria indicando o limite de distância
percorrida e definir uma taxa de entrega viável para
ambas as partes, inclusive para o cliente de modo a
não elevar o preço do pedido e inviabilizar a venda.
Entregas sem planejamento apropriado. Com um melhor planejamento de rotas, a empresa
pode otimizar tempo, combustível e outros custos que
envolverem o processo de entrega. Para a roteirização
das entregas podem ser utilizados aplicativos gratuitos
como Google Maps e Waze, os quais podem reduzir
trajetos ou engarrafamentos ocasionados por acidentes
ou problemas de obras nas vias de acesso. A entrega
par mais de um cliente que estão no mesmo trajeto
também podem ser adotadas. O importante é evitar
atrasos nas entregas em caso de necessidade de desvio
ou por ter um número de entregadores reduzidos. O
nível de serviço pode ser afetado pelo atraso, para
tanto, o planejamento das rotas associado a correção
das falhas observadas pelo gestor e apontadas pelo
cliente são fundamentais.
Ausência ou investimento insuficiente em marketing. Uma opção que pode incorrer em menor custo é o uso
de redes sociais com perfis elaborados para as
empresas e/ou aplicativo. Parcerias com startups e
empresas incubadas que atuam com desenvolvimento
de aplicativo pode ser uma opção para o
desenvolvimento de uma ferramenta personalizada.
Ocorrências de avarias sem mensuração, A identificação do volume das avarias e os motivos
acompanhamento e avaliação. ocasionados deve ser controlada através de
indicadores. Registrar diariamente em uma planilha
eletrônica a ocorrências das avaliarias (quebra,
rompimento de embalagens, extrapolou o prazo de
validade etc.) pode ser gerado dois indicadores:
quantidade e motivo. E, esses indicadores devem ser
acompanhados mensalmente e adotado práticas de
melhorias contínuas.
Falhas na gestão dos estoques. Para uma melhor gestão, deve-se usar de estratégias,
como a curva ABC para definição de uma melhor
gestão dos estoques que comprometem mais os custos
com estoques, realização de inventário periódico,
identificação do giro do estoque, classificação e
registro padronizado de cada SKU (unidade de
estoque) no sistema, e mensuração do estoque de
segurança para evitar rupturas de estoques (falta de
estoques).
Estocagem de produtos por longos períodos No ato do cadastro do produto no sistema no registro
de entrada do produto no estoque é relevante
acrescentar a data de validade da unidade estocada. E,
através de uma planilha eletrônica do Software Excell
ou o sistema de informação utilizado pela empresa
deve-se realizar o acompanhamento diário dos
medicamentos que irão vencer. Pode-se criar um
critério de prazos (limite de XX dias para vencimento
por categoria de produtos: medicamentos, higiene e
beleza etc.). Esses prazos devem respeitar a legislação
vigente e devem também permitir que o gestor tenha
tempo hábil para colocar em promoção esses produtos,
contribuindo com isso um maior giro dos estoques e
evitando desperdícios de recursos por avarias.
Outra solução além do controle de tempo do produto
na prateleira é a realização de uma compra eficiente de
modo que permita manter as mercadorias em giro sem
causar rupturas de estoque.

As propostas de melhorias indicadas para cada ponto de dificuldade gerencial, se


trabalhada, pode contribuir com a redução de custos de estoques, redução de avarias, melhoria
no atendimento ao cliente, aumento do número de clientes, melhoria nas entregas, melhoria na
gestão de compras.

7. CONCLUSÃO

O estudo realizado nas 4 microempresas, situadas na cidade de São Gonçalo do


Amarante- RN, permitiu que fosse possível analisá-las e perceber incoerências nas atividades
de operações logísticas.

Após a aplicação do questionário composto por 43 questões e o estudo feito com base
nos dados coletados, percebeu-se que existem inúmeras falhas nos processos realizados em
grande parte de forma intuitiva, não estratégicas. Para uma empresa crescer no mercado,
deve-se estudá-lo primeiro e obter vantagem nos erros da concorrência. Foram propostas
melhorias para que venha parar a ocorrências desses erros comuns à algumas empresas
estudadas.

A empresa deve possuir pensamento estratégico, se não realizar entregas, estará


limitando o número de clientes, assim, podendo perdê-los para a concorrência, também como
a falta de planejamento de rotas ou uma colaboração com empresas de transporte na região.
Com a internet, passou a existir um modo de realizar um “marketing fácil” com o auxílio das
redes sociais como o instagram, por exemplo, que possibilita a propagação da imagem sem
necessariamente ter muitos recursos de investimento, porque todas as pessoas têm acesso, mas
não significa que não devam investir, pois a propagação da imagem é essencial para o ganho
de visibilidade.

Uma boa gestão de estoque deve possuir um rigoroso controle de avarias, a qualidade
do produto vendido é essencial para a imagem que a empresa irá passar. É melhor possuir um
estoque de menor tempo, mas aumentar o nível de serviço com a qualidade do produto,
reposição periódica, para que não ocorra rupturas e nem a possibilidade de vender um produto
fora da data de vencimento. Na logística estudam-se diversas estratégias para o controle de
estoque, como a curva ABC, giro de estoque, inventários, endereçamento, entre outros.

Portanto, pode-se concluir que houve correlações significativas entre as micro


empresas. Os pontos citados podem ser modificados de formas simples e acessíveis,
utilizando-se as ferramentas “globais” (no caso da internet), como as redes sociais; softwares
simples (Excel); um investimento em planejamento de rotas; melhor controle de estoque, pois
o processo de armazenagem, bem executado gera resultados incríveis e que refletem em todo
o desempenho operacional, como uma assertiva previsão de demanda, controle de avarias,
melhora a relação com os fornecedores e consequentemente o cliente terá o que deseja sempre
à disposição, pois não haverá ruptura de estoque. Desse modo, espera-se um maior êxito para
as farmácias que começarem a praticar a logística de forma integrada, aumentando o nível de
serviço, reduzindo custo e como consequência, a satisfação do cliente, alcançando o objetivo
principal da pesquisa.

8. REFERÊNCIAS

ACCIOLY, Felipe; AYRES, Antônio de Pádua Salmeron; SUCUPIRA, Cezar. Gestão de


estoques. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

ALLOUCHE, J.; AMANN, B. L’entreprise familiale: un état de l’art. Revue Finance


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