Você está na página 1de 5

Scientific Electronic Archives: Especial Edition

Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste


_____________________________________________________________________________

ANAIS

APOIO:

1
Scientific Electronic Archives: Especial Edition
Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste
_____________________________________________________________________________

Organização

Diretoria Regional Centro-Oeste


Rafael Arruda (Presidente)
Germano Guarim Neto (Vice-Presidente)
Maria Antonia Carnielo (Secretário)
Larissa Cavalheiro (Tesoureiro)

Diretoria Nacional
Renata Maria Strozi Alves Meira (Presidente)
Ariane Luna Peixoto (1ª Vice-Presidente)
Marcus Alberto Nadruz Coelho (2º Vice-Presidente)
Andréa Pereira Luizi Ponzo (1ª Secretária)
Vânia Gonçalves Lourenço Esteves (2ª Secretária)
João Augusto Alves Meira Neto (1º Tesoureiro)
Luzimar Campos da Silva (2ª Tesoureira)
Micheline Carvalho Silva (Secretária Geral)
Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara (Secretário Adjunto)

Comissão Organizadora Local


Rafael Arruda (Presidente)
Catiane Micheli Alcantara Tiesen
Germano Guarim Neto
Josiane Fernandes Keffer
Larissa Cavalheiro
Maria Antonia Carnielo
Milton Omar Córdova Neyra

Comissão Científica
Beatriz Marimon (Presidente)
Adilson Sinhorin
Ben-Hur Marimon
Carla Regina Andrighetti
Célia Regina Araújo Soares Lopes
Cláudia dos Reis
Eliane Paixãoaix
Flávia Rodrigues Barbosa
Francielli Bao
Francisco de Paula Athayde Filho
Hélder Nagai Consolaro
Larissa Cavalheiro
Maria Antonia Carnielo
Milton Omar Córdova Neyra
Pedro V. Eisenlohr
Rafael Arruda
Rogerio Añez
Silane Silva

2
Scientific Electronic Archives: Especial Edition
Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste
_____________________________________________________________________________

Biogeografia das orquídeas da Chapada dos Guimarães


1 2
Adarilda Petini-Benelli *, Fernando Zagury Vaz-de-Mello
1
Doutoranda em História Natural, Ecologia e Sistemática de Organismos pelo Programa de Pós-graduação
em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá – MT.
2
Departamento de Biologia e Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso.
Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
*ada.benelli@gmail.com

Resumo. A região da Chapada dos Guimarães abriga duas unidades de conservação importantes para a biodiversidade
do Bioma Cerrado (o PARNA e a APA), sendo a realização de uma análise panbiogeográfica necessária para conhecer
os componentes bióticos envolvidos. Foram registradas 80 espécies (três endêmicas, duas a serem descritas), com
base em inventário realizado no período de 1997 a 2004, em 23 pontos no PNCG, na APA e no seu entorno. Dessas, 55
são epífitas, 19 terrícolas e duas espécies exclusivamente rupícolas. Situada na Província do Pantanal, subregião
Amazônica da Região Neotropical, essa área funcionou como importante corredor para o fluxo de espécies, propiciando
a ligação entre as regiões andina e subandina até a região atlântica, atuando como refúgio (abrigando espécies
amazônicas, andinas e chaquenhas) e como centro de endemismos e especiações. Configura-se como um nó
panbiogeográfico de relevância para a conservação da biodiversidade regional.
Palavras-Chaves: Biodiversidade; Componentes Bióticos; Orchidaceae.

Introdução
Os estudos biogeográficos visam estabelecer um modelo tipológico hierárquico do território (sistemas de
eco regiões), com expressão espacial, baseando-se na análise da distribuição atual e/ou pretérita, de
diferentes táxons vegetais nativos e da distribuição espacial, a diferentes escalas, das respectivas
comunidades (Costa et al., 1998). A Análise de Traços ou Panbiogeografia enfoca a dimensão espacial ou
geográfica da biodiversidade, permitindo melhor compreensão dos padrões e processos evolutivos (Liria,
2008; Silva, 2006), por comparar traços individuais de diferentes táxons para detectar traços generalizados
ou componentes bióticos (Grehan, 1994; Morrone, 2000; 2009). Traços superpostos indicam um nó
panbiogeográfico (Silva, 2006), que pode ser caracterizado como sítio de endemismo ou de alta diversidade
biológica, fronteira de distribuição, ausências anômalas, populações disjuntas, incongruência taxonômica,
paralelismo e anomalias altitudinais (Heads, 2004), assim como os traços generalizados são hipóteses de
homologia biogeográfica primária e indicam a preexistência de componentes bióticos ancestrais que foram
fragmentados por eventos geológicos ou tectônicos (Morrone, 2009).
Os nós são, geralmente, interpretados como zonas de convergência tectônica ou biótica (Morrone, 2009), a
área onde dois ou mais traços generalizados convergem ou se superpõem (Liria, 2008) e é interpretado
como uma região complexa, formada por fragmentos de duas ou mais biotas ancestrais (Grehan, 1994),
configurando-se uma área com alta biodiversidade que inclui elementos taxonômicos de diversas origens,
indicando prioridade para a conservação (Silva, 2006).
Apesar de alguns estudos florísticos terem sido desenvolvidos na região de Chapada dos Guimarães - CG,
poucos trabalhos têm enfocado a família e suas relações com os componentes ambientais. O presente
trabalho visa relacionar as espécies com outras localidades onde ocorrem no Brasil e países vizinhos,
considerando os componentes bióticos envolvidos e determinando um padrão de distribuição para os
cenocrons identificados.

Métodos
A região da CG está situada na Província do Pantanal, Sub-região Amazônica da Região Neotropical
(Morrone, 2001) e apresenta relevo marcado pela formação de costas e pela presença de superfícies altas
e planas que podem atingir entre 600 a 800 metros de altitude (Piaia, 1997), proporcionando uma grande
variedade de paisagens marcadas por formas e cores exuberantes. Possui clima tropical alternadamente
seco e úmido, predominando as altas temperaturas com médias de 26º C; com exceção das áreas mais
elevadas, onde a média é 22º C. Esse clima caracteriza-se por apresentar invernos secos e verões
chuvosos com pluviosidade média de 1.500 mm/ano. Os solos são arenosos e estão sujeitos a perdas de
estoque de águas armazenadas, que são eliminadas através de um processo intensivo de
evapotranspiração, isto é, o tipo de solo aliado ao fator climático pode favorecer o processo erosivo (Piaia,
1997).
São várias as tipologias vegetais (Piaia, 1997), grande parte no PARNA (BRASIL, Decreto nº 97.656, de 12
de abril de 1989) e na APA (BRASIL, Lei Estadual nº 7.804, de 05 de dezembro de 2002). As riquezas da
fauna e da flora, além da variabilidade microclimática, propiciam à região características muito particulares
como presença de espécies raras, migratórias e algumas ameaçadas de extinção (Brown Jr, 1970).

359
Scientific Electronic Archives: Especial Edition
Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste
_____________________________________________________________________________

Os dados foram obtidos em 23 áreas localizadas na porção centro-sul do PNCG, na APA e no seu entorno.
Extensa consulta em herbários e na bibliografia foi realizada para levantar a distribuição dos táxons. A
nomenclatura foi atualizada pelo International Plant Names Index (IPNI, 2016).

Resultados e discussão
Foram registradas 80 espécies de Orchidaceae (de 48 gêneros) na área estudada e comparados com
acervos dos herbários CNMT, RB, UPCB e UFMT (acrônimos segundo Thiers, 2015). Os gêneros mais
representados em número de espécies são Catasetum (6), Encyclia (5), Epidendrum (5), Galeandra (4) e
Vanilla (3). Esses gêneros exibem distribuição ampla em todo o Brasil, ocupando diferentes tipos de
vegetação (Petini-Benelli, 2012; Petini-Benelli; Vaz-de-Mello, 2013).
Do total, três espécies são pantropicais, enquanto a maioria (52 spp., 64,95%), apresenta distribuição
ampla, ocorrendo em combinações de ambientes nos diversos biomas brasileiros, em condições ambientais
distintas, sendo referidas também para países das América Central e do Sul. Das 77 espécies americanas,
51 são registradas apenas para a América do Sul, principalmente para a grande porção tropical ao norte,
envolvendo áreas de Floresta Amazônica e de Cerrado. Ao todo, 25 espécies (31,25%) foram reportadas
apenas para o território brasileiro, nos biomas que o compõem, principalmente, na Amazônia e no Cerrado
do Planalto Central, onde uma nova espécie foi descrita: Epidendrum strobilicaule (Hágsater & Petini-
Benelli, 2008). Exclusivas para o estado de Mato Grosso, apenas quatro espécies (Amblostoma sp., Chysis
sp., Epidendrum strobilicaule e Lycaste rossiana var. mattogrossensis), das quais duas são prováveis
espécies novas, ainda em análise.
Dentre as espécies da região da CG, Chysis sp. destaca-se por caracterizar um cenocron de história
biogeográfica bem distinta das outras espécies. Provavelmente, a espécie observada em CG tenha forte
relação filogenética com Chysis aurea Lindley, cuja distribuição vai desde o México até a Venezuela e Peru,
pois apresenta características morfológicas muito próximas.

Conclusão
As orquídeas têm, em geral, uma distribuição fitogeográfica bem definida, mostrando que uma adaptação
limitada climática e ecologicamente impede, em parte, sua livre disseminação (Barros, 1990). Com tão largo
espectro de distribuição, as espécies de orquídeas registradas para a CG são forte indicação de que essa
região se configura um centro de biodiversidade com importância para a conservação, sobre a qual deve-se
estabelecer planos de manejo que visem a manutenção dos habitats e dos componentes bióticos da fauna e
da flora nativas.

Referências
BARROS, F. Diversidade taxonômica e distribuição geográfica das Orchidaceae brasileiras. Acta Botanica
Brasilica 4 (1):177-187, 1990.

BROWN Jr, KS. Proposta: Uma Reserva Biológica na Chapada de Guimarães, Mato Grosso. Brasil Florestal
1 (4): 17-29, 1970.

COSTA, J.C., AGUIAR, C., CAPELO, J.H., LOUSÃ, M., NETO, C. Biogeografia de Portugal Continental.
Quercetea 5-56, 1998.

GREHAN, J.R. The Beginning and End of Dispersal: The Representation of ‘Panbiogeography’. Journal of
Biogeography 21 (5): 451-462, 1994.

HÁGSATER, E., PETINI-BENELLI, A. Epidendrum strobilicaule Hágsater & Benelli. In: Hágsater E. Ícones
Orchidacearum 11: 1184, 2008.

HEADS, M. What’s is a node? Journal of Biogeography 31: 1883-1891, 2004.

LIRIA, J. Sistemas de información geográfica y análisis espaciales: um método combinado para realizar
estúdios panbiogeográficos. Revista Mexicana de Biodiversidad 79: 281-284, 2008.

MORRONE, J.J. La importancia de los Atlas Biogeográficos para la conservación de la biodiversidad.


Monografias Tercer Milenio 1: 69-78, 2000.

MORRONE, J.J. Biogeografía de América Latina y el Caribe. M&T–Manuales & Tesis SEA, vol. 3. Zaragoza.
2001.

360
Scientific Electronic Archives: Especial Edition
Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste
_____________________________________________________________________________

MORRONE, J.J. Evolutionary biogeography: an integrative approach with case studies. New York: Columbia
University Press. 2009.

PETINI-BENELLI, A. Orquídeas de Mato Grosso, genus Catasetum L.C.Rich. ex Kunth. Rio de Janeiro: PoD
Editora. 2012.

PETINI-BENELLI, A., VAZ-DE-MELLO, F.Z. Biogeografia das Orquídeas da Chapada dos Guimarães, Mato
Grosso, Brasil. Orquidário 26 (3): 77-85, 2012.

PETINI-BENELLI, A., VAZ-DE-MELLO, F.Z. Orquídeas da Chapada dos Guimarães. Guia Field Museum
398. 2013. http://fieldmuseum.org/IDtools.

PIAIA, I.I. Geografia de Mato Grosso. Cuiabá: Editora Unic. 1997.

SILVA, V.M. Análise biogeográfica da distribuição de primatas neotropicais (Primates, Platyrrhini).


(Dissertação de Mestrado em Zoologia) – Pontifícia Universidade Católica, RS, 2006.

THIERS, B.M. Index Herbariorum: A global directory of public herbaria and associated staff. New York
Botanical Garden's Virtual Herbarium. 2016. http://sweetgum.nybg.org/ih/.

361

Você também pode gostar