Você está na página 1de 9

Jean Paul Sartre

Apresentação de trabalho prático por Alexandre Costa


Influências em Sartre:

Kant (1724-1804) Idealismo Transcendental


Hegel (1770-1831) Idealismo e Historicismo
Kierkegaard (1813-1855) Pai do Existencialismo
Marx (1818-1883) Materialismo Histórico e Dialético
Nietzsche (1844-1900) Niilismo Positivo e Vontade de Poder
Husserl (1859-1938) Fenomenologia
Heidegger (1889-1976) Fenomenologia Hermenêutica Ontológica e Existencialismo

Sartre (1905-1980) Existencialismo e Marxismo

As suas 3 principais Distinções - Conexões

Consciência = o ser-para-si - Objeto não consciente = o ser-em-si


o eu que descreve o eu descrito
Consciência - O Nada

Consciência - A Liberdade

Célebre frase existencialista: A existência precede a essência, pois o homem primeiro


existe, depois se define. Ou seja, não existe uma essência pré-determinada, pois o indivíduo
no princípio, apenas tem a existência comprovada, e somente com o passar do tempo, ele
incorpora a essência em seu Ser.

Influenciados por Sartre: Simone de Beauvoir (1908-1986) e Gilles Deleuze (1925-1995)


Assim como nos finais do séc. XIX com a revolução de Freud e o seu movimento psicanalítico, também
aqui nos existencialistas em geral há uma preocupação acentuada com o indivíduo em particular e com a
natureza da consciência. No entanto, podemos afirmar que o existencialismo como um todo, sendo um
movimento particularmente filosófico que abrange e se desenvolve em diversas áreas intelectuais e artísticas
da cultura em geral, contém como denominador comum 3 preocupações ou aspetos centrais que o unem
numa só base:

1º - O ser humano enquanto indivíduo e não como um todo, pois as teorias gerais remetem o individuo
e o seu carater único para 2º plano.

2º - E consequentemente, acima de qualquer verdade científica ou metafisica sobre o universo, a


preocupação com o sentido da nossa vida particular na sua experiência interior ou subjetiva, pois esta é
considerada mais importante que a verdade objetiva.

3º - E por ultimo, após a importância dada à unicidade do individuo e ao seu humanismo em detrimento da
ciência e da metafisica, a enfase inclina-se para a liberdade do individuo, como sendo a mais importante e
distinta propriedade humana, dada a capacidade de todo o individuo escolher as suas próprias atitudes,
objetivos, valores e formas de vida.

Então temos: a possibilidade de uma liberdade individual no seu sentido de vida interiormente ou
subjetivamente experienciada.

E assim, na minha opinião, entrámos numa dimensão ética (íntima) da ação humana, porém veremos que
nesta dimensão, a proposta de Sartre ficará em aberto devido à sua excessiva enfase numa radical liberdade
de escolha.

E seguindo a conclusão destas 3 premissas ou aspetos centrais, podemos concluir que para os
existencialistas, a única forma genuína de vida autêntica é aquela que em absoluto é livremente escolhida
pelo indivíduo.
Contudo, porque um filósofo existencialista só o é se tentar afirmar ou negar raciocínios gerais sobre a
condição humana, o existencialismo para além de outras formas divide-se mais radicalmente entre o ponto
de vista Religioso e o Ateu:

Kierkegaard, considerado o 1º existencialista moderno é um pensador crente e de raízes Cristãs.

Nietzsche mais contemporâneo de Sartre era agressivamente ateu. E porque considerava que as ilusões da
religião haviam sido desvendadas, pronunciou a célebre frase: Deus está morto. E assim abriu o caminho
para a necessidade de repensar todo o fundamento ético das nossas vidas e termos a possibilidade de
encontrar um novo sentido ou propósito simplesmente e somente em termos humanos e assim, mudar a base
dos nossos valores e transformar o individuo no super-homem do futuro, que rejeita os valores passivamente
baseados na religião e se torna adepto de valores reais baseados numa vontade de potência inteiramente
humana.

O movimento filosófico existencialista localizou-se na Europa e especialmente na Alemanha e em França,


as suas raízes remontam ao cristão Kierkegaard e ao ateu Nietzsche, mas também podemos incluir Husserl
e Heidegger, este 16 anos mais velho que Sartre.

Sartre, o mais famoso dos existencialistas franceses, absorveu influências especialmente de Hegel,
Husserl e Heidegger. A influência de Husserl e da sua fenomenologia pode ser detetada nos seus primeiros
livros, mas a obra central que expõe a sua filosofia da Existência Humana é o famoso, O Ser e o Nada de
1943. Já o seu Existencialismo Ateu é mais evidente em O Existencialismo é um Humanismo, uma
conferência de 1945. Mas note-se, ambas as obras surgem em plena 2ª guerra mundial.

E é de salientar o facto de que Sartre participou ativamente na resistência francesa à ocupação nazista. E
que como existencialista debruçou-se sobre a questão que se colocava naquela época a todos os franceses: a
escolha individual que tinha que ser feita entre: ou colaborar com a resistência, ou silenciosamente auto
preservarem a sua vida. Temas estes desenvolvidos na sua trilogia, Os caminhos da Liberdade.

No entanto, na sua Crítica da Razão Dialética, em 1960 e com 55 anos, Sartre terá corrigido o seu
Existencialismo radicalmente individualista e terá adotado um tipo de Marxismo, corrente esta considerada
por Sartre como a filosofia inescapável do nosso tempo. Contudo, iremos agora abordar não esta última fase
de Sartre, mas apenas a sua filosofia Existencialista de O Ser e o Nada.
E tal como já mencionámos, ser imperativo para o existencialista negar ou afirmar algo que seja de
carácter geral, na sua Teoria do Universo a sua afirmação mais importante é precisamente a negação da
existência de Deus.

Porém, embora defenda que a ideia de Deus é contraditória em si, ele não aprofunda esta sua conclusão
negativa, pois considera que esta já terá sido demonstrada por outros pensadores. E por isto, preocupa-se
acima de tudo em examinar as consequências da negação e sustenta que a ausência de Deus é de importância
fundamental para a existência humana, pois como já dissera Dostoievski: se Deus não existe, então tudo é
permitido, ou seja, não existindo valores transcendentais ou objetivos que sejam determinados, nem
tampouco leis divinas ou ideias platónicas, ou escatologicamente qualquer sentido ou propósito último, a
vida é pois um absurdo, nós estamos abandonados no mundo e temos é de cuidar de nós mesmo, logo, a
liberdade é o único fundamento axiológico para qualquer valor e não uma qualquer justificação objetiva
moral vinda do exterior, que alguém simplesmente adota como sendo uma escolha própria.

E igualmente na sua Teoria sobre o Homem, Sartre também infere a negação de uma típica rejeição
existencialista de cunho geral sobre o homem e nega a hipótese de uma natureza humana, afirmando a
célebre frase: a existência do homem precede a sua essência, pois não fomos criados com nenhum
objetivo, nem por Deus, nem pela evolução, nem por qualquer outra coisa, mas simplesmente descobrimos
em primeiro lugar que existimos e que temos então que decidir o que fazer de nós mesmos. Mas atenção,
Sartre não quer negar em absoluto que haja certas propriedades universais aos seres humanos, mas o que ele
quer dizer, é que não há pré-afirmações gerais verdadeiras sobre o que o homem deveria ser objetivamente.

Porém como Sartre tem também de fazer uma afirmação geral sobre a condição humana, enuncia a
célebre frase: estamos condenados à liberdade e não há limite para a nossa liberdade, exceto o limite de
que não somos livres para deixar de sermos livres.

Mas importa saber que foi através de uma análise da consciência que Sartre chegou a esta radical
conclusão, ao fazer uma distinção da consciência numa base dualística que resultou em várias
distinções/conexões:
Na 1ª distinção/conexão Sartre divide e conecta a Consciência e os Objetos:

A Consciência = o ser-para-si Os Objetos não conscientes = o ser-em-si

E diz que se existe um oposto objeto não consciente, logo, o oposto deste tem que ser um objeto
consciente. E que por isto, a consciência tem em-si necessariamente um objeto, e sendo assim, é sempre
consciência de alguma coisa que não é ela própria, ou seja, existe sempre como que uma
interdependência, daí o facto contingente de que livres, não somos livres para deixar de ser livres.

Na 2ª Sartre divide e conecta a Consciência e o Nada:

Pois se a consciência é sempre alguma coisa diferente de si: o objeto. E ao mesmo tempo está sempre
consciente de si mesma: o ser-para-si. A necessidade de uma distinção entre ela própria e o seu objeto
produz a nossa capacidade de fazer juízos de valor a respeito desses objetos. E porque um juízo pode
ser negativo ou positivo, ao admitirmos a possibilidade do Não, o ser consciente e por sua própria
natureza pode conceber um juízo negativo e assim por extensão ou acréscimo conceber o misterioso
conceito do Nada. E porque Sartre considera que há afirmações negativas porém verdadeiras, chega mesmo
a inferir a existência objetiva de um não-ser.

Na 3ª Sartre divide e conecta a Consciência e a Liberdade:

Nesta conexão Sartre afirma que ser consciente é ser livre, pois como já vimos, a capacidade da
consciência de fazer juízos de valor constitui a liberdade de fazer uma afirmação, uma negação ou uma
suspensão do juízo, assim como imaginar outras possibilidades ou hipóteses diferentes. Logo, o poder
consciente de afirmar, negar ou suspender um juízo é o mesmo que o poder da liberdade, tanto ao nível
do pensamento na imaginação de possibilidades, como ao nível da ação no tentar realizar essas
possibilidades, porque a noção de desejo de realizar algo, para além de envolver a noção de que falta alguma
coisa, envolve também paralelamente a noção de uma ação intencional, pois só posso tentar obter um
resultado se acredito que a minha intenção ainda não foi realizada. E por isto, Sartre considera que estamos
sempre inutilmente a tentar obter este estado de realização, ou seja, a tentarmos ser os objetos, isto é, o
ser-para-si, consciente das diversas possibilidades, tenta transformar-se e assim realizar-se no objeto não
consciente.

E por isto a descrição que Sartre faz da vida humana como uma consciência infeliz sem a possibilidade de
superar o seu estado infeliz, como por exemplo uma paixão inútil.
E porque Sartre sustenta que a consciência no ser-para-si é necessariamente transparente para si
mesma, pois todos os aspetos da nossa vida mental são intencionais, escolhidos e de nossa responsabilidade,
assim, ao contrário de Freud, aqui não há qualquer determinismo psíquico nem estados mentais
inconscientes, pois ao contrário do que se pensa com frequência, ou seja, que as emoções estão fora do
controle da nossa vontade, Sartre sustenta que se estou triste isto acontece porque escolhi ficar triste. Ou
seja, que posso conscientemente escolher mudar ou alterar este estado de espírito. E por isto, na sua teoria
das emoções, Sartre afirma que as emoções são maneiras pelas quais apreendemos o mundo e inclinam para
a maneira como escolhemos reagir ao mundo. E que assim sendo, somos também responsáveis pelas nossas
emoções.

E que esta mesma responsabilidade também nos é atribuída no que respeita a traços duradouros da nossa
personalidade, pois ser tímido não e um facto imutável, porque a timidez apenas representa a forma como
agimos, logo, podemos optar por agir diferentemente. E que mesmo uma premissa tipo sou feia ou sou
burro, não é mais do que antecipar a forma como as pessoas do sexo oposto ou a sociedade reagirão ao meu
comportamento no futuro, e quanto ao futuro nada sabemos até que este seja descoberto pela experiência, ou
seja, pela ação.

E para finalizar a sua teoria sobre o homem, Sartre usa o termo Angústia para descrever a consciência da
própria liberdade. É que devido à sua constante rejeição quer do passado quer do futuro, a importância e o
peso que a noção do aqui e agora exerce na sua teoria é tanta, que Sartre afirma que em momentos de
tentação e de indecisão, nenhum motivo ou resolução passada determina o que fazer, pois é o próprio
momento que requer do individuo uma escolha nova ou renovada e neste limbo, a angústia não é o medo de
um objeto exterior, mas é a consciência da imprevisibilidade última do próprio comportamento, é o
peso da liberdade de escolha em plena consciência e a consequente responsabilidade.

Como por exemplo o soldado que para além de temer a dor ou a morte, sente angústia quando se pergunta
se vai conseguir aguentar a próxima batalha. Ou aquela pessoa que à beira de um penhasco perigoso, para
além de ter medo de cair, sente a angústia ao pensar que nada o impede de se jogar lá em baixo, ou seja, que
não tem a liberdade de não ser livre.
E por último, como Diagnóstico da condição humana, Sartre conclui que como a angústia é a dolorosa
consciência da nossa liberdade nós tentámos evitá-la, mas como essa fuga é ilusória devido à verdade
intrínseca da própria liberdade, o conceito fundamental a ser diagnosticado é a Auto ilusão ou Má-fé: a
tentativa de fugir da angústia fingindo que não somos livres, numa omissão voluntária da verdade, pois
Sartre rejeita a explicação Freudiana da má-fé como o resultado de estados mentais inconscientes.

Sartre dá-nos o exemplo de uma rapariga que está ao lado de um homem e que sabe muito bem que ele
gostaria de seduzi-la. Mas que quando ele segura a sua mão, ela tenta evitar a necessidade dolorosa de uma
decisão e finge não notar, abandonando a sua mão na dele como se não percebe-se nada, fingindo assim para
si mesma ser um objeto passivo, uma coisa, e não um ser livre e consciente.

No entanto, a novidade de Sartre é a distinção que ele faz entre o que Freud chamaria de uma repressão
inconsciente, pois Sartre considera que temos de atribuir a repressão a uma instância consciente, a um
mecanismo ou censor que opera dentro da mente, mas um tipo de censura que conscientemente distingue,
delibera e decide, o que será reprimido e o que pode ficar consciente. E porque o próprio censor em
todos nós tem má-fé e auto ilude-se conscientemente, devemos então procurar o problema deste conceito
fundamental na visão da pessoa como um todo.

Porém, o ideal de sinceridade completa como antítese da má-fé ou auto ilusão consciente, numa primeira
análise parece estar condenado ao fracasso, pois apresenta o mesmo problema conceptual: isto é, quando
digo por exemplo que sou um filósofo, existe uma distinção entre: o eu que descreve e o eu descrito, ou
seja, aquela conexão que supra indicámos: o consciente ser-para-si e os objetos não conscientes do ser-em-
si, que resulta no facto de que a consciência tem necessariamente um objeto e que por isso é sempre
consciência de alguma coisa que não é ela própria. Ou seja, o que Sartre refere aqui é a insolúvel questão
da ilusão do eu. Mas paradoxalmente, ao referir a fórmula de que a realidade humana não deve ser
necessariamente o que é mas deve ser capaz de ser o que não é, Sartre volta assim de novo à base do seu
pensamento, ou seja, de que com a capacidade de concebermos uma afirmação negativa e a liberdade de
imaginarmos outras possibilidades ou hipóteses, estamos condenados a ser livres, e assim, mesmo que a
consciência esconda no seu ser um risco permanente de má-fé, existe sempre a possibilidade de evitar esse
auto engano e conseguir uma Autenticidade como antítese da má-fé ou auto ilusão.
Contudo, o problema da hipótese da liberdade, é que como resultado da sua rejeição de uma possível
existência de valores objetivos, a Prescrição ou solução de Sartre parece nula, pois curiosamente, para
além de condenar a má-fé ou a falsidade de qualquer tentativa de se fingir que não se é livre, a solução cai
num certo vazio axiológico, pois parece não haver nenhum tipo de ação específica ou tipo de vida que ele
recomende, para além de uma Autenticidade em fazermos as nossas escolhas individuais com a plena
consciência de que nada as determina a não sermos nós mesmos, e assim aceitar a nossa responsabilidade
em tudo o que nos diz respeito. Mas aquele espírito de seriedade que é a ilusão de que os valores existem
objetivamente no mundo, este deve ser repudiado. Logo, esta impossibilidade de uma prescrição sustentada
por Sartre, coincide com a sua noção de que nenhuma doutrina ética, seja ela a das virtudes, a cristã, a
kantiana, a utilitarista ou qualquer outra, nenhuma pode interferir na livre escolha.

Contudo, Sartre oferece-nos uma outra nova perspetiva à antiga virtude de autoconhecimento prescrita por
Sócrates, Freud e muitos outros, pois como já vimos, na psicanálise de Freud existem os estados mentais
inconscientes, que sendo os efeitos de uma qualquer causa antes determinada, a terapia consistia no
desvelamento dessas causas ocultas. Mas em Sartre, para além da ideia de causas inconscientes ser rejeitada,
ele considera que a verdadeira função não é procurar as causas passadas de uma pessoa mas o seu
sentido numa psicanálise existencial, para assim se conseguir um Autoconhecimento Genuíno.

E quanto à Crítica que é feita a Sartre pelo facto de ele nunca ter escrito o seu prometido livro sobre ética,
o seu motivo para essa ausência pode ter sido ele ter considerado mais que suficiente o seu contributo
prático e intimista para a procura de Unicidade em cada um de nós, nessa sua sugestão que incentiva a
tornar-nos mais verdadeiramente auto conscientes para que assim possamos exercer o nosso poder de
transformação sobre nós mesmos e consequentemente transformar a sociedade. Dai ele ter adotado o ponto
de vista marxista de lutar por condições sociais que tornassem possível o exercício da liberdade a todos os
homens.

Bibliografia:

Stevenson, Leslie (1976), Sete Teorias sobre a Natureza Humana, trad. de Ana Cristina César,
in texto nº7, pp. 101-115, Sartre: O Existencialismo Ateu; Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil S.A.

Você também pode gostar